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Arte Conceitual

Definição
Para a arte conceitual, vanguarda surgida na Europa e nos Estados Unidos no fim da década de
1960 e meados dos anos 1970, o conceito ou a atitude mental tem prioridade em relação à
aparência da obra. O termo arte conceitual é usado pela primeira vez num texto de Henry Flynt,
em 1961, entre as atividades do Grupo Fluxus. Nesse texto, o artista defende que os conceitos
são a matéria da arte e por isso ela estaria vinculada à linguagem. O mais importante para a arte
conceitual são as idéias, a execução da obra fica em segundo plano e tem pouca relevância.
Além disso, caso o projeto venha a ser realizado, não há exigência de que a obra seja construída
pelas mãos do artista. Ele pode muitas vezes delegar o trabalho físico a uma  pessoa que tenha
habilidade técnica específica. O que importa é a invenção da obra, o conceito, que é elaborado
antes de sua materialização.

Devido à grande diversidade, muitas vezes com concepções contraditórias, não há um consenso
que possa definir os limites do que pode ou não ser considerado como arte conceitual. Segundo
Joseph Kosuth, em seu texto Investigações, publicado em 1969, a análise lingüística marcaria o
fim da filosofia tradicional, e a obra de arte conceitual, dispensando a feitura de objetos, seria uma
proposição analítica, próxima de uma tautologia. Como, por exemplo, em Uma e Três Cadeiras,
ele apresenta o objeto cadeira, uma fotografia dela e uma definição do dicionário de cadeira
impressa sobre papel.

O grupo Arte & Linguagem, surgido na Inglaterra entre 1966 e 1967, formado inicialmente por
Terry Atkinson, Michael Baldwin, David Bainbridge e Harold Hurrel, que publica em 1969 a
primeira edição da revista Art-Language, investiga uma nova forma de atuação crítica da arte e,
assim como Kosuth, se beneficia da tradição analítica da filosofia. O grupo se expande nos anos
1970 e chega a contar com cerca de vinte membros. E Sol LeWitt, em Sentenças, 1969, sobre
arte conceitual, evita qualquer formulação analítica e lógica da arte e afirma que "os artistas
conceituais são mais místicos do que racionalistas. Eles procedem por saltos, atingindo
conclusões que não podem ser alcançadas pela lógica".

Apesar das diferenças pode-se dizer que a arte conceitual é uma tentativa de revisão da noção
de obra de arte arraigada na cultura ocidental. A arte deixa de ser primordialmente visual, feita
para ser olhada, e passa a ser considerada como idéia e pensamento. Muitos trabalhos que usam
a fotografia, xerox, filmes ou vídeo como documento de ações e processos, geralmente em
recusa à noção tradicional de objeto de arte, são designados como arte conceitual. Além da
crítica ao formalismo, artistas conceituais atacam ferozmente as instituições, o sistema de
seleção de obras e o mercado de arte. George Maciunas, um dos fundadores do Fluxus, redige
em 1963 um manifesto em que diz: "Livrem o mundo da doença burguesa, da cultura 'intelectual',
profissional e comercializada. Livrem o mundo da arte morta, da imitação, da arte artificial, da arte
abstrata... Promovam uma arte viva, uma antiarte, uma realidade não artística, para ser
compreendida por todos [...]". A contundente crítica ao materialismo da sociedade de consumo,
elemento constitutivo dasperformances e ações do artista alemão Joseph Beuys, pode ser
compreendida como arte conceitual.

Embora os artistas conceituais critiquem a reivindicação moderna de autonomia da obra de arte,


e alguns pretendam até romper com princípios do modernismo, há algumas premissas históricas
que podem ser encontradas em experiências realizadas no início do século XX. Os ready-mades
de Marcel Duchamp, cuja qualidade artística é conferida pelo contexto em que são expostos,
seriam um antecedente importante para a reelaboração da crítica dos conceituais. Outro
importante antecedente é oDesenho de De Kooning Apagado, apresentado por Robert
Rauschenberg em 1953. Como o próprio título enuncia, em um desenho de Willem de Kooning,
artista ligado à abstração gestual surgida nos Estados Unidos no pós-guerra, Rauschenberg, com
a permissão do colega, apaga e desfaz o seu gesto. A obra final, um papel vazio quase em
branco, levanta a questão sobre os limites e as possibilidades de superação da noção moderna
de arte. Uma experiência emblemática é realizada pelo artista Robert Barry, em 1969, com
a Série de Gás Inerte, que alude à desmaterialização da obra de arte, idéia cara à arte conceitual.
Uma de suas ações, registrada em fotografia, consiste na devolução de 0,5 metro cúbico de gás
hélio à atmosfera em pleno deserto de Mojave, na Califórnia.

O brasileiro Cildo Meireles, que participa da exposição Information, realizada no The Museum of


Modern Art - MoMA [Museu de Arte Moderna] de Nova York, em 1970, considerada como um dos
marcos da arte conceitual, realiza a série Inserções em Circuitos Ideológicos. O artista intervém
em sistemas de circulação de notas de dinheiro ou garrafas de coca-cola, para difundir
anonimamente mensagens políticas durante a ditadura militar.

Fontes de Pesquisa

FREIRE, Cristina. Poéticas do processo: arte conceitual no Museu. São Paulo: MAC/USP : Iluminuras, 1999. 197 p.,
il. p.b. color.

GODFREY, Tony. Conceptual art. London: Phaidon, 1998. 447 p., il.

WOOD, Paul. Arte Conceitual. Tradução Betina Bischof. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. 80 p., il. p&b. (Movimentos
da Arte Moderna).

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