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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E SAÚDE


CURSO DE PSICOLOGIA

BIANCA ALONSO VASQUES


FIORELLA BRUNELLI DOMINGUES
PAULA PINTO SPIRANDELI

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO PROFISSINAL EM


PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

SANTOS
2021
BIANCA ALONSO VASQUES
FIORELLA BRUNELLI DOMINGUES
PAULA PINTO SPIRANDELI

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO PROFISSINAL EM


PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

Relatório de Estágio Profissional em


Psicologia Organizacional apresentado à
disciplina de Supervisão e Estágio
Profissional em Psicologia III do curso de
Psicologia da Universidade Católica de
Santos, como requisito parcial para a
obtenção do título de psicólogo(a).

Orientador: Prof. Me. Antônio Carlos


Simonian dos Santos

SANTOS
2021
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 5
1 IDENTIFICAÇÃO DA ESTAGIÁRIA ............................................................................ 6
2 DESCRIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO .............................................................................. 7

2.1 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA EMPRESA .................................................................. 7


2.2 ORGANOGRAMA .......................................................................................................... 7
2.3 DIAGRAMA DE BLOCOS ............................................................................................... 8
2.4 DESCRIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E QUADRO PESSOAL ................................................ 8

3 PLANEJAMENTO DO DIAGNÓSTICO ..................................................................... 10

3.1 MATRIZ CONCEITUAL ................................................................................................ 10


3.2 CONTRATO E CONDIÇÕES DAS ENTREVISTAS ......................................................... 15
3.3 QUESTÕES REALIZADAS NA ENTREVISTA ................................................................ 16
3.4 CRONOGRAMA .......................................................................................................... 18

4 ENTREVISTAS .............................................................................................................. 19

4.1 ENTREVISTA COM A PROPRIETÁRIA ......................................................................... 19


4.2 ENTREVISTA COM O MÉDICO .................................................................................... 29
4.3 ENTREVISTA COM O AUXILIAR ADMINISTRATIVO ...................................................... 33
4.4 ENTREVISTA COM UMA CUIDADORA (APOIO) ........................................................... 37

5 TABULAÇÃO ................................................................................................................. 41

5.1 HISTÓRIA, VALORES E TAREFA PRIMÁRIA ................................................................ 41


5.2 SUBSISTEMAS TÉCNICO E SOCIAL ........................................................................... 42
5.3 SENTIDO DO TRABALHO E MOTIVAÇÃO .................................................................... 43
5.4 AUTORIDADE E CONTRATO PSICOLÓGICO................................................................ 44
5.5 COMUNICAÇÃO E INTEGRAÇÃO ................................................................................ 46
5.6 ALIENAÇÃO................................................................................................................ 48
5.7 COLABORAÇÃO ......................................................................................................... 49
5.8 SAÚDE ORGANIZACIONAL ......................................................................................... 51
5.9 SOBREVIVÊNCIA E CRESCIMENTO ORGANIZACIONAL ............................................... 51

6 ANÁLISE DOS DADOS E DIAGNÓSTICO .............................................................. 53

6.1 HISTÓRIA, VALORES E TAREFA PRIMÁRIA ................................................................. 53


6.2 SUBSISTEMAS TÉCNICO E SOCIAL............................................................................. 55
6.3 SENTIDO DO TRABALHO E MOTIVAÇÃO ..................................................................... 56
6.4 AUTORIDADE E CONTRATO PSICOLÓGICO ................................................................ 59
6.5 COMUNICAÇÃO E INTEGRAÇÃO ................................................................................. 61
6.6 ALIENAÇÃO................................................................................................................ 62
6.7 COLABORAÇÃO ......................................................................................................... 64
6.8 SAÚDE ORGANIZACIONAL ......................................................................................... 66
6.9 SOBREVIVÊNCIA E CRESCIMENTO ORGANIZACIONAL ............................................... 67

7 PLANO DE AÇÃO......................................................................................................... 70
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 72
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INTRODUÇÃO

Este relatório é baseado no Estágio Profissional em Psicologia Organizacional,


realizado durante os meses de março a junho de 2021 – ainda sobre as
consequências de isolamento causadas pela pandemia do vírus Covid-19. As
supervisões aconteceram todas as segundas-feiras às 18 horas e 45 minutos, com o
Prof. Me. Antônio Carlos Simonian dos Santos, sendo este o supervisor responsável
do Estágio Profissional. O estágio foi realizado em uma Instituição de Longa
Permanência para Idosos (ILPI), situada em Santos, no bairro do Boqueirão. O
objetivo do estágio era realizar um diagnóstico organizacional, com atributos advindos
de entrevistas estruturadas com a equipe de funcionários da instituição, bem como,
com a proprietária. O propósito desse estágio é desenvolver meios de trazer
benefícios para a instituição e, também, proporcionar uma experiência organizacional
de grande valia para os estudantes participantes.
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1 Identificação da Estagiária

Nome: Bianca Alonso Vasques


Idade: 22 Anos
Matrícula da Faculdade: 1756454
Curso: Psicologia – 9º semestre do período noturno
Supervisor: Prof. Me. Antônio Carlos Simonian dos Santos

Nome: Fiorella Brunelli Domingues


Idade: 24 Anos
Matrícula da Faculdade: 5019389
Curso: Psicologia – 9º semestre do período noturno
Supervisor: Prof. Me. Antônio Carlos Simonian dos Santos

Nome: Paula Pinto Spirandeli


Idade: 22 Anos
Matrícula da Faculdade: 1951936
Curso: Psicologia – 9º semestre do período noturno
Supervisor: Prof. Me. Antônio Carlos Simonian dos Santos
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2 Descrição da Organização

2.1 Localização e histórico da empresa

O Residencial Santa Terezinha é uma Instituição de Longa Permanência para


Idosos, na cidade de Santos/SP, na Rua Dr. Lobo Viana, 21 – Boqueirão. A instituição
está ativa há mais de 20 anos, tendo iniciado com duas sócias, e agora está sob a
supervisão de apenas uma das antigas proprietárias. É equipado com um grupo
multiprofissional de funcionários, visando atender às demandas do público-alvo; como
médico, nutricionista, enfermeira, técnicas de enfermagem, cuidadores, gerontóloga e
psicóloga. Oferece acolhimento a pessoas acima de 60 anos e dispõem de atendimento
integral em caráter residencial com condições de liberdade e dignidade afim de trazer
qualidade de vida para esses indivíduos.

2.2 Organograma
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2.3 Diagrama de Blocos

2.4 Descrição da Organização e Quadro Pessoal

QUADRO DE PESSOAL
Gerontóloga/Psicóloga/Enfermeira 1
Médico 1
Secretária/Gerente 1
Nutricionista 1
Cozinheira 1
Técnica de Enfermagem 4
Cuidadores (Apoio) 8
Auxiliar Administrativo 1
Serviços Gerais 4
TOTAL 22

A empresa conta com ao todo 22 funcionários sendo eles: 1 gerontóloga,


psicóloga e enfermeira, que é a própria proprietária da instituição, e é responsável
tanto pela avaliação do bem-estar mental dos pacientes quanto pelos cuidados de
saúde física dos moradores e acompanhamento nas visitas médicas, além da
elaboração de relatórios; 1 médico, que realiza visitas semanais à instituição afim de
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realizar pequenos procedimentos invasivos e prescrição de medicamentos, se


necessário; 1 secretária/gerente, que auxilia na gestão dos funcionários, na
elaboração de relatórios financeiros, no controle do estoque de materiais da instituição
etc.; 1 nutricionista encarregada pelos cuidados alimentares e avaliação física
referente a nutrição; abaixo da nutricionista está a cozinheira, que aplica na prática os
conhecimentos técnicos da profissional de nutrição; 4 técnicas de enfermagem,
encarregadas a cuidar diretamente do paciente, administrando medicações e
auxiliando a enfermeira; em apoio às técnicas de enfermagem existem 8 cuidadores,
também denominados de “apoio”, que exercem os cuidados gerais do idoso, como a
higiene e alimentação; 1 auxiliar administrativo, que auxilia na área administrativa da
empresa; e 4 profissionais de serviços gerais incumbidos dos cuidados com a limpeza
e a manutenção da casa.
A instituição se encontra num bairro bem localizado em Santos/SP, no
Boqueirão, e a instalação é de uma casa com arquitetura antiga, mas extremamente
ampla. Ao entrar podemos nos deparar com o jardim, com plantações feitas pelos
próprios pacientes como forma de recreação, e com duas salas administrativas. O
residencial tem duas entradas para as áreas de convivência, sendo a primeira entrada
por uma das salas da administração que abre espaço para a sala de televisão. Saindo
da sala de televisão, à esquerda, tem a escada que direciona ao andar superior, este
que conta com 6 quartos e 3 banheiros, sendo uma suíte e os outros dois divididos
por gênero. Voltando ao andar de baixo, passando pela escada e seguindo o corredor,
encontra-se alguns dos quartos e o postinho, local em que são armazenadas as
medicações e local de trabalho da enfermeira e das técnicas de enfermagem. Ao
passar pelo postinho existe uma área de estar que, também conta com a presença de
alguns quartos e, ao lado, fica a lavanderia. Passando por esses espaços, chegamos
ao quintal, local que também conta com a presença de alguns cômodos e o refeitório,
bem como a cozinha e a dispensa. O andar térreo conta com 8 quartos e 6 banheiros,
totalizando na casa 14 quartos, 9 banheiros e 42 leitos.
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3 Planejamento do Diagnóstico

3.1 Matriz Conceitual

Legendas
P: Proprietário
F: Funcionário

Conceito  Descrição  Perguntas

História, Valores A identidade conceitual de uma Você sabe como a empresa foi
e Tarefa Primária empresa é estabelecida pelos fundada? (F)
valores que ela possui, e a
Você sabe quais são os valores da
história que ela viveu, sendo
empresa? (F)
assim, como a empresa se porta
e age é derivada desses fatores.  Qual foi o ano e o motivo de ter
fundado a sua empresa? (P) 
Já a tarefa primária, são os
objetivos centrais que guiam a Quais objetivos você tem para a sua
empresa. Tudo que uma empresa? Esses objetivos e valores
empresa faz, segue esses são compartilhados com a equipe?
objetivos, portanto é importante (P)
que a equipe tenha ciência não
somente da história e valores,
como a tarefa primária.
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Subsistemas O subsistema social engloba Qual é o seu cargo aqui na empresa?


Técnico e Social toda a equipe de uma empresa, (F) 
as relações entre eles, e suas
Você acha que o subsistema técnico
habilidades e personalidades; o
e subsistema psicossocial trabalham
subsistema técnico compreende
bem em conjunto? (F)
o espaço e locação em que a
empresa existe e funciona, os O seu ambiente de trabalho é
equipamentos, técnicas e confortável? Como ele
tecnologias utilizados, e todas as influencia no seu bem-estar? (F)
atividades e funções que devem
ser cumpridas. Os dois Quais são os materiais utilizados pela

subsistemas existem em equipe? Os equipamentos/materiais

simbiose, com um afetando e fornecidos pela empresa suprem as

transformando o outro, necessidades dos funcionários? (P/F) 

trabalhando em conjunção para


Quais profissionais fazem parte do
manter a empresa funcionando.
serviço proposto? (P)

Sentido do A motivação é um conceito tanto Você se vê realizando esses


Trabalho intrínseco como extrínseco, que serviços a longo prazo? (F)
e Motivação  afeta os funcionários no seu
Quando você enfrenta desafios na
trabalho diário. A motivação pode,
sua função, que estratégias você usa
portanto, ser
para superá-los e para se sentir
incentivada de diversas maneiras,
motivado apesar deles? (P/F) 
dependendo do indivíduo em
questão.  Fora o retorno financeiro, o seu
trabalho te traz que tipo de
Já o sentido do trabalho é
benefícios? (P/F)
subjetivo, e varia de acordo com
seus próprios valores. Um Sua empresa tem estratégias para
funcionário que percebe que seu manter os funcionários motivados?
trabalho, e os objetivos da (P) 
empresa, são semelhantes ou
alinhados deriva um sentido
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positivo, que afeta o seu


funcionamento dentro do seu
cargo, e na empresa, incentivando
a ambos manterem uma relação
benéfica mútua.

Autoridade e O contrato psicológico é Você tem algum tipo de expectativa


Contrato composto das normas e regras profissional? A empresa conhece
psicológico que uma organização estabelece suas expectativas e as leva em
e impõe; guiam a relação, e a consideração? (F) 
estrutura da empresa e seus
Você realiza as suas funções
funcionários. É importante que o
designadas, ou faz além do que é
contrato seja explicado e
proposto e combinado? (F)
entendido pelos funcionários, e
seja respeitado por ambos os Como se dão as normas para a
lados, empresa e funcionário.  realização do trabalho? (P/F) 

A hierarquia, divisão e Como é realizada a distribuição


distribuição de tarefas, e o de tarefas entre os funcionários, e
desempenho são todas partes quem é responsável por distribuir e
importantes decorrentes da organizar? (P/F)
estrutura estabelecida pelo
contrato. Por consequência afeta
marcadamente o trabalho dos
funcionários; um contrato injusto,
não esclarecido, ou
constantemente desrespeitado
criam insegurança e
ressentimento prejudicando
todos os envolvidos.
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Comunicação e Este conceito inclui todos os As tarefas são repassadas


Integração  formatos de comunicação dentro de maneira clara? (F) 
de uma empresa, incluindo entre
O contato entre as hierarquias é
os funcionários e chefia. O modo
realizado de maneira amigável? (F)
como as ordens e informações
são repassadas, sendo concisas, Quando você entrou para a empresa,
claras e direcionadas é como foi sua recepção? Você se
fundamental para que uma sentiu acolhido? Como você se sente
empresa continue funcionando hoje em relação a equipe? (F)
corretamente, e os
relacionamentos entre a equipe Quando necessário atendimento

seja saudável.  interdisciplinar, a equipe funciona de


maneira respeitosa, assertiva e
Já a integração engloba a colaborativa? (F)
sensação de pertença a grupos,
equipe e organização que os Como se dá o contato com outros

participantes possuem, afetam funcionários além do horário de

as interações entre os expediente? (F)

funcionários, e como trabalham


Como é a relação entre os
em conjunto.
funcionários? E na pandemia, mudou
algo? (P/F) 

Existe comunicação via redes


sociais? Se sim, qual a função? Em
que horário essas redes funcionam?
(P/F)
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Alienação  Tarefas repetitivas, desconexas e Você vê propósito nas suas


mecanizadas, em que os atividades? (F)
funcionários devem realizar, e
Existe alguma tarefa que você faz e
assim prejudicam ativamente o
que é muito repetitiva, sem sentido ou
foco, concentração e envolvimento
pouco eficiente? (P/F)
com os seus trabalhos.

Colaboração  Este conceito inclui aspectos Você sente que os funcionários se


importantes das empresas. ajudam e complementam? Existe
Nenhuma organização existe competição? (P/F)
sozinha, e é a somatória do todo. 
A equipe trabalha com um mesmo
Se não existe colaboração entre proposito e objetivo? (P/F)
seus membros,
Você sente que suas dificuldades e
as consequências são
erros são trabalhados, ou somente
várias como um ambiente
repreendidos? (F)
nocivo, relações tensas, e falta
de produtividade. Quando fazem as coisas
corretamente são reforçados por seu
superior? (F)

Saúde A organização influencia Você se vê tomando iniciativa em seu


Organizacional ativamente na saúde psicológica trabalho? (F)
e física de seus participantes. 
Você se sente reconhecido no
Para uma organização se manter seu trabalho? (P/F) 
saudável, deve se adaptar às
Você sente que valoriza o serviço da
situações que aparecem,
equipe? Existe algum mecanismo de
e constantemente desenvolver
incentivo? (P)
práticas e atividades que
promovam a saúde de seus
membros.
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Sobrevivência e Este conceito se refere a todas Você sente que tem um espaço para
Crescimento as estratégias, atos e práticas trazer dúvidas, críticas, ideias? E
Organizacional que uma empresa adota para se você sente que
manter no mercado, e ter são ouvidos ou implementados? (F)
crescimento. A participação dos
Por ser um atendimento
funcionários é um aspecto que
interdisciplinar, existe diálogo entre a
cada vez mais ganha espaço,
equipe para a melhoria do
pois trazem novas ideias, e
atendimento? (P/F)
conhecimentos que se
relacionam com a prática diária Há um espaço para que os
de suas funções. funcionários expressem suas ideias,
opiniões e críticas? Como você lida
com essas informações? (P)

Existem estratégias para manter o


conforto dos pacientes? (P)

Houve adaptações frente a


pandemia? (P)

Fonte: REIS et al (2019, p.9-12)


3.2 Contrato e Condições das Entrevistas

Nosso primeiro contato com a instituição foi por meio da proprietária, onde
realizamos a entrevista por meio do Google Meet, juntamente com o professor
supervisor do Estágio Profissional. Por já conhecermos a proprietária, a entrevista
ocorreu de forma descontraída e confortável pelo fato de uma das estagiárias ser filha
dela, e teve duração de cerca de uma hora.

A segunda entrevista foi realizada com o auxiliar administrativo da clínica,


contatado por uma das estagiárias, a qual realizou a entrevista de forma presencial,
no setting da própria clínica. A terceira entrevista também foi realizada
presencialmente, dessa vez com o médico, novamente no setting da clínica. A quarta
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e última entrevista foi realizada pela mesma estagiária, porém via meet, devido a
agenda cheia da entrevistada, esta que é uma das cuidadoras da instituição.

Sempre deixamos claro que todos os entrevistados deveriam ficar à vontade


para responder ou não a quaisquer perguntas que fizemos, além de reforçarmos o
sigilo dessas respostas dadas, as quais serviriam exclusivamente para auxiliar-nos a
realizar um diagnóstico, com a finalidade de concluirmos nosso estágio em psicologia
organizacional.

3.3 Questões Realizadas na Entrevista

História, Valores e Tarefa Primária

• Você sabe como a empresa foi fundada? (F)


• Você sabe quais são os valores da empresa? (F)
• Qual foi o ano e o motivo de ter fundado a sua empresa? (P)
• Quais objetivos você tem para a sua empresa? Esses objetivos e valores são
compartilhados com a equipe? (P)

Subsistemas Técnico e Social

• Qual é o seu cargo aqui na empresa? (F)


• Você acha que o subsistema técnico e subsistema psicossocial trabalham bem
em conjunto? (F)
• O seu ambiente de trabalho é confortável? Como ele influencia no seu bem-
estar (F)
• Quais são os materiais utilizados pela equipe? Os equipamentos/materiais
fornecidos pela empresa suprem as necessidades dos funcionários? (P/F)
• Quais profissionais fazem parte do serviço proposto? (P)

Sentido do Trabalho e Motivação

• Você se vê realizando esses serviços a longo prazo? (F)


• Quando você enfrenta desafios na sua função, que estratégias você usa para
superá-los e para se sentir motivado apesar deles? (P/F)
• Fora o retorno financeiro, o seu trabalho te traz que tipo de benefícios? (P/F)
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• Sua empresa tem estratégias para manter os funcionários motivados? (P)

Autoridade e Contrato psicológico

• Você tem algum tipo de expectativa profissional? A empresa conhece suas


expectativas e as leva em consideração? (F)
• Você realiza as suas funções designadas, ou faz além do que é proposto e
combinado? (F)
• Como se dão as normas para a realização do trabalho? (P/F)
• Como é realizada a distribuição de tarefas entre os funcionários, e quem
é responsável por distribuir e organizar? (P/F)

Comunicação e Integração

• As tarefas são repassadas de maneira clara? (F)


• O contato entre as hierarquias é realizado de maneira amigável? (F)
• Quando você entrou para a empresa, como foi sua recepção? Você se sentiu
acolhido? Como você se sente hoje em relação a equipe? (F)
• Quando necessário atendimento interdisciplinar, a equipe funciona de maneira
respeitosa, assertiva e colaborativa? (F)
• Como se dá o contato com outros funcionários além do horário de expediente?
(F)
• Como é a relação entre os funcionários? E na pandemia, mudou algo? (P/F)
• Existe comunicação via redes sociais? Se sim, qual a função? Em que horário
essas redes funcionam? (P/F)

Alienação

• Você vê propósito nas suas atividades? (F)


• Existe alguma tarefa que você faz e que é muito repetitiva, sem sentido ou
pouco eficiente? (P/F)

Colaboração

• Você sente que os funcionários se ajudam e complementam? Existe


competição? (P/F)
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• A equipe trabalha com um mesmo proposito e objetivo? (P/F)


• Você sente que suas dificuldades e erros são trabalhados, ou somente
repreendidos? (F)
• Quando fazem as coisas corretamente são reforçados por seu superior? (F)

Saúde Organizacional

• Você se vê tomando iniciativa em seu trabalho? (F)


• Você se sente reconhecido no seu trabalho? (P/F)
• Você sente que valoriza o serviço da equipe? Existe algum mecanismo de
incentivo? (P)

Sobrevivência e Crescimento Organizacional

• Você sente que tem um espaço para trazer dúvidas, críticas, ideias? E você
sente que são ouvidos ou implementados? (F)
• Por ser um atendimento interdisciplinar, existe diálogo entre a equipe para
a melhoria do atendimento? (P/F)
• Há um espaço para que os funcionários expressem suas ideias, opiniões e
críticas? Como você lida com essas informações? (P)
• Existem estratégias para manter o conforto dos pacientes? (P)
• Houve adaptações frente a pandemia? (P)

3.4 Cronograma

Março: Início da supervisão, acesso ao referencial teórico e escolha da instituição.


Abril: Desenvolvimento da matriz conceitual.
Maio: Elaboração do organograma, diagrama de blocos e entrevista com a proprietária
da instituição.
Junho: Entrevista com os funcionários, processamento dos dados e finalização.
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4 Entrevistas

4.1 Entrevista com a Proprietária

Qual foi o ano e o motivo de ter fundado a sua empresa?

Olha, eu fundei em 97, o motivo foi: eu saí de uma grande empresa onde eu
trabalhava como psicóloga com o Maluff, em São Paulo, e essa empresa fechou e eu
vim pra Santos. E aí eu conheci uma pessoa, que ela tinha uma clínica, e queria abrir
uma outra com alguém que fosse jovem, na época eu tinha 40 anos, mais ou menos,
e ela queria alguém que fosse jovem que fizesse uma sociedade com ela, que tivesse
corrida, tivesse disposição. E aí nós nos associamos e montamos essa empresa e já
estamos... eu já to com essa empresa a 20 e poucos anos. (A sociedade se
mantém? Ou hoje você tá sozinha?). Não, graças a Deus, a sociedade não se
mantém porque nós temos... nós tínhamos pensamentos muito diferentes. O meu
pensamento sempre foi o melhor para o ser humano, não só... pra mim o ser humano,
ali dentro, não é só dinheiro, ele tem muito mais coisas que eu tenho que dar pra ele
e muitas coisas eu recebo dele. Nós pensávamos diferente. Eu sempre pensei no
paciente, no cliente da casa como um ser humano que eu tinha que cuidar, e ela era
uma pessoa mais prática que só pensava no dinheiro, então, por isso, a sociedade
não deu certo, ela acabou saindo e eu me mantive solo e to até hoje.

Quais objetivos você tem para a sua empresa? Esses objetivos e valores são
compartilhados com a equipe?

Ah sim, todos os objetivos que eu tenho... Eu faço muitas reuniões com os


funcionários, nós sentamos e conversamos, tem épocas que, que começou a
pandemia, a empresa deu uma balançada porque todo mundo com muito medo, todo
mundo se guardou, se fechou em casa, então eu chamei a equipe, os objetivos que
seriam pra gente vencer a pandemia e, graças a Deus, vencemos e, assim, hoje, o
que eu posso te dizer, o meu grande objetivo é um dia poder comprar o imóvel que
eu alugo. Então esse é meu objetivo, porque quanto a empresa, quanto a realização
do negócio, eu acho que to no caminho certo.

Quais são os materiais utilizados pela equipe? Os equipamentos/materiais


fornecidos pela empresa suprem as necessidades dos funcionários?
20

Ah sim, materiais que você deve tá falando são os EPIs, né? Os equipamentos
individuais. Não, eu forneço todos os materiais, touca, luva, avental, tudo que for
necessário a minha equipe tem. Se hoje lançam, que nem lançaram agora o spray,
que é superbacana, ele é muito melhor que o álcool gel, eu vou atrás, eu pesquiso,
eu compro pra equipe, faço todo mundo usar essa espuma, que mata 99,9 das
bactérias, ensino semanalmente os cuidados que tem que se ter, por causa do corona,
por causa das bactérias da rua, e tudo que eu vejo de material, que eu leio, que eu
vejo em televisão ou que eu pesquiso na internet, eu procuro adquirir pra trazer pra
equipe, pra gente ter mais segurança e ter o melhor conforto.

Quais profissionais fazem parte do serviço proposto?

Olha, eu sou psicóloga, gerontóloga e enfermeira... e só não terminei o curso de


fisioterapia, que faltou muito pouco. Mas eu tenho meu médico, que já está comigo
há mais de 20 anos, é um amigo pessoal, nós temos todo o apoio de enfermagem,
que são as técnicas de enfermagem, eu tenho nutricionista na casa e... sempre tive
fisioterapeuta, mas agora, por causa da pandemia, todas as clínicas cortaram os
fisioterapeutas, porque são pessoas muito ligadas ao corona, eles estão na linha de
frente dentro de hospitais, então, pra resguardar a nossa população lá dentro, nós
tivemos que cortar. Então, eu faço exercícios com os idosos, assim, muito na base da
brincadeira, e é o que eles gostam. Equipe de apoio compreende: a pessoa que cuida
da roupa, eu tenho a cozinheira, eu tenho as meninas que limpam a casa. Eu tenho
na casa 30 pacientes, hoje, e eu tenho uma média de 27 funcionários. (Divididos
entre a equipe principal e a equipe de apoio?). Isso, a minha equipe, eu tenho 4
equipes, né? Quer dizer, trabalha 12 horas e folga as outras 36. Então, eu tenho uma
equipe que entra às 7 da manhã e sai às 7 da noite, essa mesma equipe não trabalha
amanhã, ela vai trabalhar depois de amanhã. Então, eu tenho 4 equipes formadas, 2
equipes dia e 2 equipes noite.

Quando você enfrenta desafios na sua função, que estratégias você usa para
superá-los e para se sentir motivado apesar deles?

Ah sim, eu quanto sofro algumas dificuldades, a primeira coisa: eu paro, eu penso e


eu escrevo. Qual é a dificuldade? Eu passo pro papel, eu releio aquilo diversas vezes
21

pra tentar entender aonde que tá a falha, onde que tá o problema e qual a solução
que eu posso tomar. Eu reflito, eu discuto comigo mesmo, e aí até tomar uma decisão,
uma posição pra... Mas o escrever, o estar ali, é... tenho que escrever pra eu ler o
que que é, e aí tentar entender onde é que tá a falha, onde que tá a brecha. E eu
monto as metas, vai, tá difícil? Por exemplo, no começo da pandemia, todos os gastos
estavam lá, eu cheguei a um ponto de ficar com 20 pacientes, numa casa com 42
camas, eu tava no vermelho. Então, eu tive que sentar, colocar no papel, ver quais
eram as falhas, o que que eu tinha que fazer. Aonde que tava a falha? Não era
comigo, a falha tava no mundo, com o começo da pandemia e todo mundo com medo.
Então, eu tive que traçar estratégias, pra não ter que cortar equipe porque não dava,
eu sempre acreditei que a coisa vai melhorar, e melhorou, mas assim, você sempre
tem que estar muito atenta, mas o ideal, se puder escreve lá, qual é o problema? Pra
você tentar entender.

Fora o retorno financeiro, o seu trabalho te traz que tipo de benefícios?

Ah, olha, eu não coloco o retorno financeiro, claro, ninguém trabalha de graça, eu
tenho retorno financeiro, já tive muito mais, hoje é bem menos, mas não é isso que
me agrada lá. O que me agrada lá é o prazer de cuidar do outro, é o prazer de tirar
alguém de uma crise, de receber alguém que não tinha amor, que não tinha
compreensão onde ela vivia, e eu transformar a vida dela, esse é o grande benefício
da minha vida. O dinheiro, hoje em dia eu posso dizer, é muito bom, faz muita falta,
eu preciso dele, mas tá em segundo plano pra mim.

Sua empresa tem estratégias para manter os funcionários motivados?

Ah sim, sim, uma coisa que o funcionário gosta são de reuniões, reuniões assim, que
você coloque umas... ele sente a gente mais próximo dele. Então, ele gosta de sentir
o patrão, o dono da empresa... às vezes eles me colocam num pedestal, que eu não
gosto disso, eles acham que eu compreendo tudo... a maioria vem me contar os seus
problemas, adoram sentar no sofazinho da minha sala pra fazer terapia, e eu tento
tirar deles esse endeusamento. Tenho meus erros, tenho os meus acertos, mas,
assim, eu sempre procuro trazer a equipe muito perto, eles sabem que ali eles vão
sempre ter um líder, que sou eu, eu vou sempre ser o líder daquela matilha, mas eles
têm que tá junto comigo pro caminhar ser mais fácil, não adianta eu querer liderar e
22

eu querer dominar tudo, não. Eu preciso deles caminhando lado a lado, junto comigo.
Então isso é uma coisa que eu sempre converso muito com eles, muito, quando eu
vejo alguém errando ou fazendo as coisas mecanicamente, sem amor, eu chamo pra
explicar, trago comigo, me aproximo mais da função dele, procuro ajudar, às vezes
até num banho, eu entro no banheiro e “vamo lá, vamo ensinar de novo como é que
se faz” e, dessa forma, a equipe vai ter muita confiança no seu líder, entendeu? O
endeusamento é ruim, mas ele confiar nessa liderança e seguir a liderança é muito
importante.

Como se dão as normas para a realização do trabalho?

Tranquilas, as normas... é muito assim, nossas normas são muito pequenas, quando
o funcionário entra na empresa, eu já coloco tudo que pode, tudo que não pode, tudo
que deve ser feito, tudo que o paciente precisa, o respeito que ele tem que ter com o
paciente. Se um paciente... eu tenho, por exemplo, hoje, que já me é permitido,
pacientes com problemas mentais, né, com doenças mentais, até então eu não podia,
eu só deveria ter os idosos com a demência senil, com Parkinson, não, hoje eu já
posso abrir pra uma outra área. Então eu explico muito pro funcionário o que que é
aquela doença, o que que é a esquizofrenia, o que que é... ele tem que entender pra
ele estar experiente quando o paciente toma certas atitudes, ele tem que saber até
onde ele pode ir e onde ele deve me chamar. Então, isso que eu acho que, também,
é uma coisa muito importante, o funcionário tem que saber quais as doenças que
estão ali dentro, e como se deve proceder, o que que ele tem fazer, o que é esperado
dele pra fazer perante o paciente, entendeu?

Como é realizada a distribuição de tarefas entre os funcionários, e quem é


responsável por distribuir e organizar?

É assim, se disser que sou eu, não dá. A minha grande... gerir a empresa
financeiramente, administrar, não dá pra eu ficar vendo o que cada funcionário tem
que fazer. Tem uma pessoa abaixo de mim, que é a C., que é a minha secretária, o
meu faz-tudo, a minha gerente, né? Ela contrata, geralmente, no final, eu participo da
entrevista, mas ela contrata, ela faz a planilha do que cada um tem que realizar, por
exemplo, fulano tem que dar 4 banhos e 5 comidas, ela faz essa divisão do trabalho
de cada um. Não dá pra eu cuidar da administração da empresa, da parte financeira...
23

eu cuido muito do paciente, eu procuro tá muito junto do paciente, eu escuto todos os


problemas, eu convivo muito com eles, então, tudo isso já me enche o dia inteiro.
Então, cuidar do funcionário diretamente eu passo pra C.

Como é a relação entre os funcionários? E na pandemia, mudou algo?

Ah, afetou, aproximou muito. Tinha uns que quase não se falavam e hoje são
superamigos, eu digo até que eles saem hoje em dia em bando. Todos saem juntos,
todos saem grudados, coisa que antes, antigamente, não era. Cada um pegava sua
bicicletinha, sua motinha e ia embora, hoje não, eu vejo que eles estão muito mais
unidos, sabe? Como que um protegendo o outro, trocam muita confidência. Então, eu
acho, que essa... esse último ano aproximou muito as pessoas, as pessoas passaram
a apoiar quem tá do lado, então eu acho que foi muito bom.

Existe comunicação via redes sociais? Se sim, qual a função? Em que horário
essas redes funcionam?

Nós temos um WhatsApp, eu tenho um WhatsApp, qualquer funcionário que quiser


conversar comigo, principalmente os... os do dia, eu tô lá o dia inteiro, né? Mas os da
noite, por exemplo, 6 horas da tarde eu venho pra casa, então quem quer, é... trabalha
a noite e precisa falar comigo, entra no WhatsApp e fala. Nós temos Facebook... Eu
procuro não participar da rede social particular do funcionário, eu não participo, nem
sou curiosa de abrir lá... o Instagram dele, o Face dele, não, não me interessa. Eu
quero conhecer o meu funcionário ali dentro, o que ele publica lá fora, pra mim, não
vai me interessar... não preciso saber disso. Mas eles são muito curiosos, eles entram
nas minhas páginas do Face, do Instagram, procurando fotos, procurando
publicações da minha vida... não acham nada porque eu nem tenho tempo pra isso,
né?

Existe alguma tarefa que você faz e que é muito repetitiva, sem sentido ou
pouco eficiente?

Não, eu... quando eu vejo que uma tarefa... por exemplo, vou dar um exemplo pra
vocês. Quando a gente faz um... uma brincadeira com o paciente, ah... semana da
jardinagem, então vamo todo mundo pegar um vasinho... Vocês vão ver que meu
24

jardim tá lindo, cheio de vasinho. Só que em 10, 15 dias eles já cansaram, aquela
atividade já passou. Então eu tenho que ter um olhar pra ver que aquilo cansou, tá na
hora da gente ver outra atividade. Uma atividade que eles gostam é... chama-se a
roda de conversa. Nós sentamos muito no jardim, todos sentam por ali, e eles sabem
que aonde eu estou tem comida, e pro paciente, pro idoso, é muito importante a
comida, eles valorizam demais a comida, e a minha comida é: pipoca, bolacha,
salgadinho, chocolate. Então nós sentamos em roda, ali no... no nosso jardim e
conversamos, aí começamos a falar de namorados, quando você menos pensa, tá
todo mundo contando das suas vidas, do que eles lembram, do que eles têm
saudades, então ali eles trocam informações das vidas, e os funcionários que tão
perto acabam participando, e também acabam contando sobre suas vidas. Então a
roda de conversa é uma atividade que nunca acaba, essa sempre vai permanecer.
Agora, as outras que a gente vai fazendo ao longo do tempo, como jardinagem,
pintura, isso vai cansando com o tempo. (Vocês fazem a roda de conversa toda
semana?). É, toda semana, todos os dias têm roda de conversa. (E aí tem um tema
que você implementa ou é livre? Qualquer um pode começar a falar?). É livre, é
livre, a gente pega o gancho na hora. Às vezes uma música, hoje um paciente, senhor
Carlos, ele me pediu uma música do Pixinguinha e, graças a Deus, a minha filha me
ensinou a mexer, como é que chama o canal? (Spotify?). Spotify. E aí no Spotify
você acha tudo, e eu achei o tal do Pixinguinha, adoro Pixinguinha também, e baixei
a música que ele me pediu, que chama-se Felicidade. Vocês precisam ver a
transformação, nós estávamos em 25 ali, todos conversavam sobre a música, todos
cantaram, a maioria lembrava da letra da música, foi, assim, superinteressante. E aí,
a partir do tema, felicidade, todo mundo começou a contar um motivo de felicidade
das suas vidas, motivo que eles lembravam. Então, uma senhora me contou que
felicidade, pra ela, era chegar do escolar que ela estudava e sentir o cheiro da comida
da mãe, que até hoje parece que ela sente o cheiro da comida da mãe. Aí outro já
contou que felicidade é quando ele podia sair no domingo com o pai, e passear, e
jogar bola no campinho. Então, você vê, que eu não escolhi o tema, o tema apareceu
por causa de uma música, e isso rodou acho que mais de 1 hora, 1 hora e meia, nós
ficamos ali conversando e fluiu, fomos em frente. (E você que é a mediadora desses
grupos?). Sempre, sempre.
25

Você sente que os funcionários se ajudam e complementam? Existe


competição?

Não, competição tem, quem estudou um pouquinho mais se julga superior a quem
estudou menos, e isso é um problema na área da saúde. Eles acham que eu tô num
patamar muito alto igual ao médico porque, meu médico, ele quando chega na
empresa, a gente anda junto, a gente discute muito caso, eu sugiro qual é a
medicação que o paciente tem que tomar porque eu convivo com o paciente, ele só
vai lá duas vezes por semana. Então, eu acabo relatando o que que tá acontecendo
e dou a sugestão de medicação, então entre eu e ele não tem nenhum problema.
Agora, as técnicas de enfermagem, elas se acham absolutamente acima do pessoal
de apoio, e o que que elas fazem de diferente? O que elas fazem de diferente é o que
eu passo pra elas: ajudar num curativo, dar uma injeção, separar medicação... Mas
isso não é nada demais, né? Mas elas se julgam superiores ao pessoal do apoio, que
faz a mesma coisa que elas: dão o banho, cuidam do paciente, dão alimentação, elas
só não mexem na medicação. Então, nessa área, eu sempre tenho muito conflito, e
aí eu sou obrigada a chamar as partes, conversar e tentar entrosar, e se eu vejo que
ficou alguma coisa mal resolvida eu mudo a pessoa da equipe, faço uns rodízios de
equipe. (Mas isso melhorou, né? Depois da pandemia.). Ah, 100%, as pessoas, por
um motivo ruim, que é a pandemia, que tá todo mundo apavorado com isso, mas
mexeu no coração de todo mundo, as pessoas estão ouvindo, elas querem ouvir o
outro, elas querem falar, mas elas também querem ouvir o outro. Então isso acabou
aproximando e fazendo com que amizades que eram mornas, que eram chochas,
desabrochassem numa bela amizade. (A galera tá se ajudando mais então?).
Muito mais, muito mais, e se eu percebo que não, eu vou atrás. Aí eu começo a ajudar,
elas ficam sem graça, aí elas começam a fazer a parte. (E como se davam esses
conflitos entre as equipes?). Olha, eu já tive brigas entre funcionários de rolarem
no chão. É muito complicado, o ser humano, ele se julga muito perante o outro, eles
gostam de se comparar e gostam de ganhar na comparação, e quem é comparado
que é menor, não gosta. Então, o que que eles fazem, se agridem, né? Sabem brigar,
então eu tenho que tá muito atenta nisso, se eu percebo que de uma discussãozinha
um começou a provocar o outro ao longo do dia, eu já tenho que parar e chamar, eu
tenho que acabar com aquilo ali, por quê? Isso mexe com o emocional do meu
paciente, o meu paciente percebe, eles sabem quando um não gosta do outro e eles
26

ficam aflitos com isso. Então eu, por bem da equipe, e por bem dos pacientes, eu
tenho que intervir na hora, na hora, e separo, e tento... chamo as duas pessoas,
converso individualmente primeiro com cada um, e depois trago as duas pessoas pra
gente tentar aparar as arestas.

A equipe trabalha com um mesmo proposito e objetivo?

Hoje todos nós trabalhamos com o mesmo objetivo, mesmo objetivo, ali todo mundo
quer ver o bem de todo mundo, quer crescer, e eu falo pra eles: quanto mais eu
crescer, e quanto melhor a empresa tiver, melhor é pra vocês. Então, hoje todos
estamos unidos no mesmo propósito.

Você se sente reconhecido no seu trabalho?

Muito, muito porque eu vejo o feedback das famílias, do próprio paciente, né? Hoje
chegou uma família lá que faz 3, 4 dias que colocou o paciente e o paciente deu um
feedback, explicou pra família como é que eu era, como é que a casa era... Aquilo me
encheu de orgulho! Pronto, não preciso fazer propaganda, ele próprio falou de tudo,
de tudo que ele viveu esses 3, 4 dias, como ele tá feliz lá dentro. Então, não tem coisa
melhor do que isso.

Você sente que valoriza o serviço da equipe? Existe algum mecanismo de


incentivo?

Não, não vejo nenhum mecanismo não. O que incentiva a equipe é você tá junto, é
você conversar, é você ter o olho atento e ele ver que você teve o olho atento, que
você percebeu que ele fez alguma coisa... eu quando vejo alguém fazer uma coisa
super bem, eu paro, vou lá, abraço, elogio, “poxa, olha que legal, você melhorou muito
nesse aspecto!”. Então isso pra eles é o melhor que tem. O salário, tem uma faixa
salarial, todos do apoio ganham a mesma coisa, todas as técnicas ganham um pouco
mais, mas é o mesmo salário, e os multiprofissionais são outros salários. Mas eles,
é... não fazem a diferenciação pelo salário, eles fazem a diferenciação quando eu me
aproximo, que eu elogio ou que a C. elogia, que vai lá e fala “legal, você aprendeu
mesmo, muito bem, gostei de ver como você conversou com o paciente, como você
tratou o paciente”, então isso é o melhor que a gente pode fazer.
27

Por ser um atendimento interdisciplinar, existe diálogo entre a equipe para a


melhoria do atendimento?

Ah sim, eu tenho, inclusive, é... nós somos muito vigiados e comandados pela
Vigilância Sanitária. É uma praga nas nossas vidas, às vezes atrasa, ao invés de
permitir um progresso eles atrasam a gente. Então eu tenho um livro de interação
multiprofissional, e nesse livro eu tenho que relatar as nossas reuniões. Então, às
vezes, eu, o médio e a nutricionista sentamos e conversamos sobre tais pacientes, o
que que preciso, o que que não precisa, o que que tá falhando, a nutricionista vem e
me coloca “olha, nós estamos na época de tal coisa, eu acho que a senhora deveria
de comprar mais isso, que vai melhorar”, o médico também fala as coisas dele, então
a gente procura sempre tá junto, se não dá pros 3, os 4 estarem juntos, mas a gente
procura sempre tá conversando, ou pelo WhatsApp ou pessoalmente, e tudo isso é
relatado no livro multiprofissional, que é pra poder provar pra Vigilância que a equipe
é uma equipe coesa.

Há um espaço para que os funcionários expressem suas ideias, opiniões e


críticas? Como você lida com essas informações?

De boa, a minha sala... eu tinha uma sala lá em cima, que eu tenho até meu divã, ela
tá montada lá em cima, mas eu não tô usando. Então, a minha sala debaixo que vai,
hoje seria a administração, é uma sala muito gostosa, tem duas poltronas deliciosas,
ar-condicionado, som. Então, quando algum funcionário quer conversar comigo e ele
fala que é particular, então eu tiro o telefone do gancho, desligo o meu celular, fecho
a porta, ele entra, liga o ar-condicionado e ali a gente conversa. Na maioria das vezes,
ele vem falar sobre problemas deles, problemas internos de família, de filho, um filho
que caiu nas drogas, e eles não tão sabendo como lidar. Tem uma lá que ela tá com
problemas com o filho que tá... alguns problemas mentais, ela também não sabia
aonde procurar ajuda, já que as faculdades tavam fechadas nos atendimentos, e
parece que ele se tratava numa faculdade. Então, às vezes, a pessoa quer conversar
um assunto dele, familiar, mas muitas vezes ele vem me dar sugestão. Porque como
ele tá muito perto do paciente, ele vem me contar “olha, eu acho que a senhora
deveria mudar fulano de quarto porque ela tá tão amiga de fulana, que se a senhora
mudar ela de quarto, ela vai ficar superfeliz”, então, às vezes, eu não percebi aquela
coisa, aquela proximidade entre os dois pacientes, e ele como tá ali perto, dando
28

alimentação, cuidando, conversando, ele tem um outro olhar. Então ele vem me
contar, então aí eu posso concordar ou não, vai depender muito... porque, às vezes,
a pessoa se dá bem ali fora, no pátio, mas dentro do seu quarto, na sua intimidade, a
pessoa é outra, né? Então tem que ter uma análise mais profunda, mas, na maioria
das vezes, a gente aceita, eu vejo “ah, é isso mesmo”, então eu faço a mudança que
ele sugeriu, e aí o funcionário se sente super gratificado com isso.

Existem estratégias para manter o conforto dos pacientes?

Ah sim, eu tô sempre pesquisando o que que eu posso melhorar pro conforto dele,
então, vai... Eu vi numa pesquisa da internet umas cadeiras que são feitas no Ceará,
com uma... agora não vou saber dizer, é tipo de uma palha, de uma resina de uma
planta, que pode tomar sol, pode tomar chuva, é ergonômica, então ela tem a... o
tamanho da coluna de uma pessoa. Eu pesquisei, foi difícil, porque é caro, mas eu
compre, vai, 20 cadeiras daquela. Então você percebe depois que a pessoa muda até
o humor. Antes ela tava numa cadeira, num sofá, e ela começava a cair, então aquela
cadeira que eu comprei fez melhor pra ele, foi muito melhor. E você vai vendo, eu vou
pesquisando sempre assim, o conforto do paciente é muito físico, entendeu? O que
eu posso dar de físico pra ele, uma cama, um colchão, uma cadeira melhor, tá? Agora,
o conforto dele que eu posso dar de uma outra forma, é o conforto espiritual e o
conforto mental, esse eu não abro mão, esse eu vou tá sempre atento e é uma coisa
muito individual, o que é bom pra um, não é bom para o outro. Então tem pessoas
que desejam que o padre vá lá, ou que o pasto vá lá, nossa! É pra hoje mesmo que
eu providencio. Então eu tenho que tá atento não só a esse conforto físico, mas
conforto mesmo mental do paciente, o que que é bom, o que que vai fazer ele feliz, o
que que ele tá precisando pra melhorar. Então isso é um olhar que a gente tem que
ter sempre.

Houve adaptações frente a pandemia?

Ah, muitas adaptações. Nós tivemos que, por exemplo, separar o horário da refeição.
Antigamente todo mundo entrava e comia todo mundo junto, agora não, tem que ser
de 20 em 20. Visitas, todo mundo vinha, tinha muitas festas, eu sempre comemorei
Dia das Mães, Dia dos Namorados, todos os dias, dias de santo... tudo que a gente
pode a gente comemora lá dentro, hoje eu já não posso fazer mais isso, mas chegou
29

um ponto que eu também não podia mais cercear a entrada da visita lá dentro, tá?
Então eu desenvolvi uns protocolos, eu tenho aventais... Agora como já tá a maioria
da população que frequenta lá já vacinada, então eu marco, através no WhatsApp,
grupos de visitas. Então, você quer visitar seu avô, você vai me dizer o dia e a hora,
aí eu marco. E eu procuro marcar só 2, 3 famílias naqueles horários, então teve muita
mudança porque antigamente as famílias vinham, sentavam junto, conversavam,
trocavam informações, e hoje não, hoje eu tenho que deixar cada paciente apenas
com a sua família.

4.2 Entrevista com o Médico

Você sabe como a empresa foi fundada?


A clínica? Eu cheguei aqui ela já tinha sido fundada. Eu sei que tinha uma sócia e
depois a V. ficou sozinha.

Você sabe quais são os valores da empresa?


Os valores da empresa é o bem cuidar dos moradores daqui, tanto psicologicamente
quanto fisicamente.

Qual é o seu cargo aqui na empresa?


Eu sou o médico que visita os moradores.

O seu ambiente de trabalho é confortável? Como ele influencia no seu bem-


estar?
É um bom ambiente de trabalho. Eu me dou bem com todas as pessoas, eu não
participo do dia a dia, venho uma vez por semana, mas eu fico bem aqui.

Quais são os materiais utilizados pela equipe? Os equipamentos/materiais


fornecidos pela empresa suprem as necessidades dos funcionários?
O material mais usado por mim são os materiais que eu trago. Mas a V. sempre traz
os exames atualizados [...] Veja, aqui não é um hospital né, é como se fosse a casa
das pessoas.

Você se vê realizando esses serviços a longo prazo?


Olha, enquanto eu tiver saúde, porque eu gosto do que eu faço... acho que a longo
prazo depende mais de Deus do que de mim.
30

Quando você enfrenta desafios na sua função, que estratégias você usa para
superá-los e para se sentir motivado apesar deles?
[...] a medicina é dinâmica, então a gente tem que estar sempre encarando os
desafios com a ciência, temos sempre que estar estudando e se atualizando para
lidar com esses desafios.

Fora o retorno financeiro, o seu trabalho te traz que tipo de benefícios?


É uma satisfação pessoal toda vez que eu venho visitar os pacientes aqui da clínica.
É satisfatório ver as pessoas em bom estado.

Você tem algum tipo de expectativa profissional? A empresa conhece suas


expectativas e as leva em consideração?
Aqui na clínica eu não tenho expectativa profissional. Eu já faço esse trabalho aqui
há muito tempo, não mudou meu cargo e nem acho que vai mudar. Agora na minha
parte pessoal, eu sempre procuro melhorar na minha vida médica.

Você realiza as suas funções designadas, ou faz além do que é proposto e


combinado?
Eu procuro fazer o que eu acho necessário, muitas vezes pode ser além do
combinado, mas procuro fazer o necessário para o bem-estar para os pacientes.

Como se dão as normas para a realização do trabalho?


As normas a gente aprende desde a formação médica, pelo estudo do CRM, as
normas de examinar e fazer devoluções.

Como é realizada a distribuição de tarefas entre os funcionários, e quem é


responsável por distribuir e organizar?
Então essa parte de funcionários eu não conheço muito. O que eu sei é que a V. que
é a enfermeira encarregada da clínica que contrata e da função para cada funcionário,
isso não compete a mim.

As tarefas são repassadas de maneira clara?


Não se aplica.

O contato entre as hierarquias é realizado de maneira amigável?


31

Sim! Não tenho problema com ninguém aqui.

Quando você entrou para a empresa, como foi sua recepção? Você se sentiu
acolhido? Como você se sente hoje em relação a equipe?
Sim eu sempre fui muito bem acolhido pela dona. Nunca tive problema com isso.
Desde que eu entrei até hoje, sempre fui muito bem acolhido.

Quando necessário atendimento interdisciplinar, a equipe funciona de maneira


respeitosa, assertiva e colaborativa?
Sim, a gente tem outras pessoas, outras funções na clínica, os fisioterapeutas, os
nutricionistas, os enfermeiros... a gente procura sempre fazer uma coisa bem
colaborativa entre as equipes.

Como se dá o contato com outros funcionários além do horário de expediente?


Não, normalmente eu estou sempre em contato com a V. para caso tenha alguma
intercorrência, ela me liga, ou manda um WhatsApp, para eu estar sempre antenado
com o que ocorre com os pacientes.

Como é a relação entre os funcionários? E na pandemia, mudou algo?


A pandemia mexeu mais com o cuidado que foi aumentado com os pacientes, em
relação as visitas dos familiares. Mas em relação aos funcionários nada mudou,
apenas maiores cuidados.

Existe comunicação via redes sociais? Se sim, qual a função? Em que horário
essas redes funcionam?
Sim, WhatsApp com a V.

Você vê propósito nas suas atividades?


O propósito é manter os moradores da clínica sempre com bem-estar e sem
sofrimento.

Existe alguma tarefa que você faz e que é muito repetitiva, sem sentido ou
pouco eficiente?
Não é uma tarefa repetitiva, porque cada vez que a gente vem, é um problema
diferente, é um outro paciente, são outros problemas.
32

Você sente que os funcionários se ajudam e complementam? Existe


competição?
Então como eu venho uma vez por semana, eu não posso afirmar se tem competição
entre os funcionários..., mas no período que eu estou aqui eu não vejo
competitividade.

A equipe trabalha com um mesmo proposito e objetivo?


Ah! Eu acho que sim.

Você sente que suas dificuldades e erros são trabalhados, ou somente


repreendidos?
Repreensão eu não sinto..., mas a gente procura trabalhar com os erros para corrigi-
los.

Quando fazem as coisas corretamente são reforçados por seu superior?


Graças a deus eu e a V. temos um bom relacionamento, sempre quando tem alguma
coisa, como de um como de outro, a gente sempre procura tratar num bom diálogo,
sem problemas.

Você se vê tomando iniciativa em seu trabalho?


Sempre procuro tomar iniciativa para o bem do grupo né.

Você se sente reconhecido no seu trabalho?


Aí tem que perguntar para a chefe. Eu acho que sim. Pelo menos, quando eu estou
de férias ela fala que sentiu falta.

Você sente que tem um espaço para trazer dúvidas, críticas, ideias? E você
sente que são ouvidos ou implementados?
Espaço para ideias novas ou dúvidas sempre vai ter, porque a gente visa sempre
melhorar, então nunca nada é perfeito, então sempre tem espaço para dúvidas.

Por ser um atendimento interdisciplinar, existe diálogo entre a equipe para a


melhoria do atendimento?
Com certeza, a gente sempre procura falar com outras pessoas que fazem parte do
grupo para que tenha uma melhoria do atendimento.
33

4.3 Entrevista com o Auxiliar Administrativo

Você sabe como a empresa foi fundada?


A empresa foi fundada pela Dona V. e uma sócia, lá há 20 anos atrás, aí ela foi ficando
sozinha e está sozinha até hoje. Hoje ela comanda a empresa sozinha.

Você sabe quais são os valores da empresa?


(Entrevistado se confunde com o significado da palavra valor e explicado). O valor da
empresa é cuidar do paciente, recuperar o paciente, cuidar bem do paciente, ter uma
boa equipe de apoio que cuida do paciente que a família nos dá a confiança para
cuidar.

Qual é o seu cargo aqui na empresa?


Meu cargo é administrativo, eu faço parte da equipe de apoio.

O seu ambiente de trabalho é confortável? Como ele influencia no seu bem-


estar?
Ah é bastante confortável! Porque eu me sinto bem, apesar de algumas desavenças
(risos). Tenho um patrão que é meio rígido, mas tem que ser né, patrão tem que puxar
a orelha do pessoal mesmo. Mas é muito confortável, eu saio a hora que quero, entro
a hora que quero, não tem aquela coisa rígida.

Quais são os materiais utilizados pela equipe? Os equipamentos/materiais


fornecidos pela empresa suprem as necessidades dos funcionários?
Meu material aqui na minha área é mais caneta e chave mesmo. Porque eu tenho
que ficar na portaria, tenho que ver quem entra quem sai, quem ta de férias, quem
não tá... o pagamento, quem tem que receber. No meu caso meu material é a caneta
mesmo.

Você se vê realizando esses serviços a longo prazo?


Ah eu já to a longo prazo aqui. Eu pretendo ir mais longe, enquanto a empresa estiver
funcionando a gente vai. A empresa tem 22 anos, eu to aqui tem 12... então enquanto
a empresa existir eu vou ajudando.

Quando você enfrenta desafios na sua função, que estratégias você usa para
superá-los e para se sentir motivado apesar deles?
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Eu tento procurar alguém que me ajude a resolver o problema.

Fora o retorno financeiro, o seu trabalho te traz que tipo de benefícios?


Benefício para mim, é o conhecimento. Cada dia que passa a gente vai tendo
conhecimento de mais coisas, muitas pessoas, muitos amigos. Então é isso.

Você tem algum tipo de expectativa profissional? A empresa conhece suas


expectativas e as leva em consideração?
Eu não tenho expectativas mais, porque eu to com 68 anos. Eu to mais na empresa
para não ficar parado em casa, sem fazer nada. De expectativa de vida, o que eu
tinha para fazer eu já fiz né. Para não ficar parado eu to ajudando na empresa com o
que eu sei

Você realiza as suas funções designadas, ou faz além do que é proposto e


combinado?
Ah sim, com certeza, além das minhas funções eu faço muita coisa além do que não
é combinado, porque eu quero ajudar né. Se eu fizer só o que está combinando a
empresa não vai para frente né. É uma equipe né, é uma engrenagem, todo mundo
tem que se ajudar no que for possível.

Como se dão as normas para a realização do trabalho?


A minha diretriz de trabalho é a dona. Ela que me fala “você tem que fazer isso e tem
que fazer aquilo”. Ela dá as diretrizes, ela orienta. Eu faço meu serviço, mostro para
ela, ela aprova ou desaprova.

Como é realizada a distribuição de tarefas entre os funcionários, e quem é


responsável por distribuir e organizar?
Aqui é uma hierarquia né. Aí tem a dona, depois tem a gerente, depois tem os
enfermeiros, os técnicos, os apoios. A dona V. passa as diretrizes para gerente e a
gerente passa para os demais – e cada um tem a sua função, mas tudo com
hierarquia.

As tarefas são repassadas de maneira clara?


Sim, é tudo bem claro, bem escrito, bem instruído. Nada fica no ar. Todo mundo tem
tudo bem explicado.
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O contato entre as hierarquias é realizado de maneira amigável?


Totalmente. Nada é feito com autoritarismo, imposição, nada assim. Tem muito
diálogo.

Quando você entrou para a empresa, como foi sua recepção? Você se sentiu
acolhido? Como você se sente hoje em relação a equipe?
Com certeza. A empresa tem um lado que ninguém percebe, quem entra aqui não é
mandado embora, é difícil ser mandado embora. Claro! Só se fizer algo muito errado,
que não queira trabalhar. Mas somos sempre acolhidos com muito carinho, com
profissionalismo obvio, mas tem que fazer a coisa certa.

Quando necessário atendimento interdisciplinar, a equipe funciona de maneira


respeitosa, assertiva e colaborativa?
Com certeza! Tudo feito dentro das normas, nada é feito além e nem com
autoritarismo. Se puder explicar, orientar... nada feito com autoritarismo.

Como se dá o contato com outros funcionários além do horário de expediente?


Normal! A gente tem muita amizade entre os funcionários, tem muita festa de
aniversário aqui, um barzinho ali, uma festinha ali. Lá fora, logico! Aqui dentro é
sempre com muito profissionalismo.

Como é a relação entre os funcionários? E na pandemia, mudou algo?


A relação tem muita amizade, muito respeito e muito profissionalismo. Logico, na
pandemia houve um certo medo, depois o pessoal começou a conhecer a receber
mais informações. A dona da clínica passou orientações pros funcionários, de que é
perigoso, tem que tomar cuidado, mas que não é o fim do mundo então tem que
trabalhar unido pra não ter problema futuro.

Existe comunicação via redes sociais? Se sim, qual a função? Em que horário
essas redes funcionam?
Não tem uma rede social específica. O que acontece, é que pela empresa ser muito
grande, as vezes o pessoal ta lá no fundo e precisa falar com a dona da clínica aqui
na frente, então eles usam o whatsapp... é o meio mais usado.

Você vê propósito nas suas atividades?


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Ah sim! Meu propósito é fazer a coisa direitinho e fazer bem-feita. Pra não deixar o
patrão descontente.

Existe alguma tarefa que você faz e que é muito repetitiva, sem sentido ou
pouco eficiente?
Eu faço muita coisa repetitiva: é abrir e fechar porta toda hora. Mas não é nada
ineficiente. É eficiente, porque se eu não fechar a porta e deixar aberto, vai entrar
gente, vai sair gente.

Você sente que os funcionários se ajudam e complementam? Existe


competição?
Eles se ajudam e não tem competição. Cada um tem a sua função né. Não é uma
empresa que a pessoa vai começar como apoio e depois de um tempo vai ser auxiliar
de enfermagem, não é assim. Porque para ser auxiliar de enfermagem ai precisar
fazer um curso, vai precisar se especializar lá fora, para depois fazer alguma coisa
aqui dentro.

A equipe trabalha com um mesmo proposito e objetivo?


Trabalha! Sempre tem um proposito e objetivo. Qual é o objetivo? É tratar bem,
recuperar os pacientes.

Você sente que suas dificuldades e erros são trabalhados, ou somente


repreendidos?
São trabalhados, as vezes o erro da gente, a gente conversa. O patrão chega e
conversa, fala que tem que ser feito assim, assim e tá tudo certo.

Quando fazem as coisas corretamente são reforçados por seu superior?


Lógico. Quando fazemos a coisa certa tem mais um reforço do superior, não elogios
né. A gente faz porque tem que ser feito, mas aí eles reforçam a necessidade de
sempre melhorar. De maneira verbal mesmo, não financeira.

Você se vê tomando iniciativa em seu trabalho?


Eu não tomo iniciativa. Porque minha função é sempre a tarefa, eu sempre faço a
mesma coisa, então não tem que mudar muito.

Você se sente reconhecido no seu trabalho?


37

Muito muito! A patroa é muito profissional, ela reconhece tudo. Foi como eu falei, a
gente faz a coisa bem-feita porque tem que fazer, então o reconhecimento é a pessoa
falar “muito bem! Você fez... isso você fez aquilo”. O reconhecimento do funcionário
é só não ser chamado atenção, esse já é um grande reconhecimento.

Você sente que tem um espaço para trazer dúvidas, críticas, ideias? E você
sente que são ouvidos ou implementados?
Tem muito espaço. Na minha área não tem muito o que fazer. Mas lá dentro, na parte
administrativa, do pessoal de enfermagem, tem muita coisa que eles podem trazer e
eles trazem e a dona da clínica sempre recebe muito bem.

Por ser um atendimento interdisciplinar, existe diálogo entre a equipe para a


melhoria do atendimento?
Existe, lógico! Aqui é uma equipe, tudo tem que ser trabalhado em equipe.

4.4 Entrevista com uma Cuidadora (Apoio)

Você sabe como a empresa foi fundada?


A clínica? Não sei como foi fundada, mas sei que tem um bom tempo.

Você sabe quais são os valores da empresa?


Valores financeiros, não, mas amor, respeito, carinho e acolhimento têm muito.

Qual é o seu cargo aqui na empresa?


Meu cargo é de apoio.

O seu ambiente de trabalho é confortável? Como ele influencia no seu bem-


estar?
Pra mim é bom e me sinto muito bem.

Quais são os materiais utilizados pela equipe? Os equipamentos/materiais


fornecidos pela empresa suprem as necessidades dos funcionários?
Pra mim supre todas minhas necessidades.

Você se vê realizando esses serviços a longo prazo?


Eu gosto do que faço, sabe... eu pretendo fazer pra sempre.
38

Quando você enfrenta desafios na sua função, que estratégias você usa para
superá-los e para se sentir motivado apesar deles?
Ah! Eu procuro enfrentar da melhor maneira, né, vou pedindo ajuda a quem for meu
superior.

Fora o retorno financeiro, o seu trabalho te traz que tipo de benefícios?


Ah... eu me sinto muito bem fazendo o que eu faço aqui, né, é gratificante pra mim.

Você tem algum tipo de expectativa profissional? A empresa conhece suas


expectativas e as leva em consideração?
Minha expectativa? É continuar fazendo o meu trabalho e tentar melhorar né e
aprender cada vez mais.

Você realiza as suas funções designadas, ou faz além do que é proposto e


combinado?
Faço minha função e se vejo algum colega que tá precisando de ajuda não custa
nada fazer um pouco além, claro né.

Como se dão as normas para a realização do trabalho?


As normas se dão de maneira clara e objetiva... cada um sabe sua função é o que
fazer.

Como é realizada a distribuição de tarefas entre os funcionários, e quem é


responsável por distribuir e organizar?
Cada um faz sua função, né, mas na minha equipe, todos se ajudam mesmo, mas a
responsável por isso né, por organizar e distribuir as tarefas, agora é a A.

As tarefas são repassadas de maneira clara?


Pra mim, é muito claro as tarefas e como são passadas, eu acho assim.

O contato entre as hierarquias é realizado de maneira amigável?


Ah sim! Rola tudo de forma bem respeitosa e amigável.

Quando você entrou para a empresa, como foi sua recepção? Você se sentiu
acolhido? Como você se sente hoje em relação a equipe?
Fui bem recebida por todos e me senti muito bem.
39

Quando necessário atendimento interdisciplinar, a equipe funciona de maneira


respeitosa, assertiva e colaborativa?
A minha equipe sempre funciona bem viu, nos entendemos muito bem nada assim
para reclamar.

Como se dá o contato com outros funcionários além do horário de expediente?


Muito pouco contato só o necessário e pelo whats sabe, uma coisa ou outra.

Como é a relação entre os funcionários? E na pandemia, mudou algo?


Tem pouco contato, como eu disse né

Existe comunicação via redes sociais? Se sim, qual a função? Em que horário
essas redes funcionam?
Pelo whats né, assim, pra avisos essas coisas.

Você vê propósito nas suas atividades?


Sim o propósito de dá o meu melhor.

Existe alguma tarefa que você faz e que é muito repetitiva, sem sentido ou
pouco eficiente?
Todas tarefas são necessárias, rotineiras são sim, mas não indispensável, tem que
fazer né.

A equipe trabalha com um mesmo proposito e objetivo?


Eu acredito que todos no mesmo propósito que é o bem-estar dos idosos, claro.

Você sente que suas dificuldades e erros são trabalhados, ou somente


repreendidos?
Os erros são conversados sempre.

Quando fazem as coisas corretamente são reforçados por seu superior?


Ah sim!

Você se vê tomando iniciativa em seu trabalho?


Claro, as vezes precisa né, assim...
40

Você se sente reconhecido no seu trabalho?


Sinto meu trabalho reconhecido, sim.

Você sente que tem um espaço para trazer dúvidas, críticas, ideias? E você
sente que são ouvidos ou implementados?
Quando tenho dúvida eu sempre pergunto pra quem pode responder ou resolver,
sabe.

Por ser um atendimento interdisciplinar, existe diálogo entre a equipe para a


melhoria do atendimento?
Graças a Deus minha equipe sempre tenta se entender da melhor maneira.
41

5 Tabulação

Legenda: M. (Médico)
AA. (Auxiliar Administrativo)
A. (Apoio)
Fonte em negrito no meio das respostas: Questões realizadas pela
estagiária para esclarecimentos.

5.1 História, Valores e Tarefa primária

• Você sabe como a empresa foi fundada?

M. A clínica? Eu cheguei aqui ela já tinha sido fundada. Eu sei que tinha uma sócia e
depois a V. ficou sozinha.
AA. A empresa foi fundada pela Dona V. e uma sócia, lá há 20 anos atrás, aí ela foi
ficando sozinha e está sozinha até hoje. Hoje ela comanda a empresa sozinha.
A. A clínica? Não sei como foi fundada, mas sei que tem um bom tempo.

Pré-Análise: Nota-se que pelos funcionários mais antigos da empresa, o


conhecimento de uma antiga sócia é comum, contudo, informações a respeito dos
motivos que impulsionaram a abertura da empresa não foram mencionadas, apenas
a respeito da antiga sócia. A funcionária A. mostrou desconhecer de qualquer
informação sobre o início da empresa.

• Você sabe quais são os valores da empresa?

M. Os valores da empresa é o bem cuidar dos moradores daqui, tanto


psicologicamente quanto fisicamente.
AA. (Entrevistado se confunde com o significado da palavra valor e a estagiária
explica). O valor da empresa é cuidar do paciente, recuperar o paciente, cuidar bem
do paciente, ter uma boa equipe de apoio que cuida do paciente que a família nos dá
a confiança para cuidar.
A. Valores financeiros, não, mas amor, respeito, carinho e acolhimento têm muito.

Pré-Análise: Apesar da dificuldade em alcançar o propósito da pergunta, pelas


respostas adquiridas, é possível chegar a um consenso quanto aos objetivos e valores
da empresa, que é o cuidado com os pacientes que ali são abrigados. Contudo, devido
42

as respostas generalizadas, é percebido que são objetivos advindos de um senso


comum, e não que tenha sido explicado pelos responsáveis pela instituição.

5.2 Subsistemas Técnico e Social

• Qual é o seu cargo aqui na empresa?

M. Eu sou o médico que visita os moradores.


AA. Meu cargo é administrativo, eu faço parte da equipe de apoio.
A. Meu cargo é de apoio.

Pré-Análise: Todos os funcionários parecem estar bem cientes das


responsabilidades de seus cargos, apesar disso, o cargo de apoio aparenta ser
atribuído a alguns profissionais da empresa além dos cuidadores.

• O seu ambiente de trabalho é confortável? Como ele influencia no seu


bem-estar?

M. É um bom ambiente de trabalho. Eu me dou bem com todas as pessoas, eu não


participo do dia a dia, venho uma vez por semana, mas eu fico bem aqui.
AA. Ah é bastante confortável! Porque eu me sinto bem, apesar de algumas
desavenças (risos). Tenho um patrão que é meio rígido, mas tem que ser né, patrão
tem que puxar a orelha do pessoal mesmo. Mas é muito confortável, eu saio a hora
que quero, entro a hora que quero, não tem aquela coisa rígida.
A. Pra mim é bom e me sinto muito bem.

Pré-Análise: Parece ser um ambiente que faz bem e contribui para o bem-estar dos
funcionários.

• Quais são os materiais utilizados pela equipe? Os


equipamentos/materiais fornecidos pela empresa suprem as
necessidades dos funcionários?

M. O material mais usado por mim são os materiais que eu trago. Mas a V. sempre
traz os exames atualizados [...] Veja, aqui não é um hospital, né, é como se fosse a
casa das pessoas.
43

AA. Meu material aqui na minha área é mais caneta e chave mesmo. Porque eu tenho
que ficar na portaria, tenho que ver quem entra quem sai, quem tá de férias, quem
não tá... o pagamento, quem tem que receber. No meu caso meu material é a caneta
mesmo.
A. Pra mim supre todas minhas necessidades.

Pré-Análise: Os materiais disponibilizados satisfazem a rotina de trabalho dos


funcionários.

5.3 Sentido do Trabalho e Motivação

• Você se vê realizando esses serviços a longo prazo?

M. Olha, enquanto eu tiver saúde, porque eu gosto do que eu faço... acho que a longo
prazo depende mais de Deus do que de mim.
AA. Ah eu já to a longo prazo aqui. Eu pretendo ir mais longe, enquanto a empresa
estiver funcionando a gente vai. A empresa tem 22 anos, eu to aqui tem 12... então
enquanto a empresa existir eu vou ajudando.
A. Eu gosto do que faço, sabe... eu pretendo fazer pra sempre.

Pré-Análise: Os participantes da amostra mostraram estar motivados pelos objetivos


da empresa e querem se manter na área pelo tempo que houver pela frente.

• Quando você enfrenta desafios na sua função, que estratégias você usa
para superá-los e para se sentir motivado apesar deles?

M. [...] a medicina é dinâmica, então a gente tem que estar sempre encarando os
desafios com a ciência, temos sempre que estar estudando e se atualizando para
lidar com esses desafios.
AA. Eu tento procurar alguém que me ajude a resolver o problema.
A. Ah! Eu procuro enfrentar da melhor maneira, né, vou pedindo ajuda a quem for
meu superior.

Pré-Análise: Pela fala dos funcionários AA. e A., aparenta que não há problema no
diálogo vertical entre as hierarquias, frente a dúvidas e dificuldades. M. por outro lado,
levou em consideração os aspectos advindos da profissão, de maneira
individualizada.
44

• Fora o retorno financeiro, o seu trabalho te traz que tipo de benefícios?

M. É uma satisfação pessoal toda vez que eu venho visitar os pacientes aqui da
clínica. É satisfatório ver as pessoas em bom estado.
AA. Benefício para mim, é o conhecimento. Cada dia que passa a gente vai tendo
conhecimento de mais coisas, muitas pessoas, muitos amigos. Então é isso.
A. Ah... eu me sinto muito bem fazendo o que eu faço aqui, né, é gratificante pra mim.

Pré-Análise: Os funcionários trazem contentamento com o propósito da organização


e com a sua atuação.

5.4 Autoridade e Contrato psicológico

• Você tem algum tipo de expectativa profissional? A empresa conhece


suas expectativas e as leva em consideração?

M. Aqui na clínica eu não tenho expectativa profissional. Eu já faço esse trabalho aqui
há muito tempo, não mudou meu cargo e nem acho que vai mudar. Agora na minha
parte pessoal, eu sempre procuro melhorar na minha vida médica.
AA. Eu não tenho expectativas mais, porque eu to com 68 anos. Eu to mais na
empresa para não ficar parado em casa, sem fazer nada. De expectativa de vida, o
que eu tinha para fazer eu já fiz né. Para não ficar parado eu to ajudando na empresa
com o que eu sei
A. Minha expectativa? É continuar fazendo o meu trabalho e tentar melhorar né e
aprender cada vez mais.
Pré-Análise: Aqui as respostas não se diferem tanto bastante, os funcionários não
mostraram ter muitas expectativas e aspirações dentro da empresa, mas todo
procuram aprender mais e evoluir em sua atuação atual.

• Você realiza as suas funções designadas, ou faz além do que é proposto


e combinado?

M. Eu procuro fazer o que eu acho necessário, muitas vezes pode ser além do
combinado, mas procuro fazer o necessário para o bem-estar para os pacientes.
AA. Ah sim, com certeza, além das minhas funções eu faço muita coisa além do que
não é combinado, porque eu quero ajudar né. Se eu fizer só o que está combinando
45

a empresa não vai para frente né. É uma equipe né, é uma engrenagem, todo mundo
tem que se ajudar no que for possível.
A. Faço minha função e se vejo algum colega que tá precisando de ajuda não custa
nada fazer um pouco além, claro né.

Pré-Análise: É um consenso entre os funcionários a procura de fazer sempre mais


que suas funções, para colaborar com a equipe.

• Como se dão as normas para a realização do trabalho?

M. As normas, a gente aprende desde a formação médica, pelo estudo do CRM, as


normas de examinar e fazer devoluções.
AA. A minha diretriz de trabalho é a dona. Ela que me fala “você tem que fazer isso
e tem que fazer aquilo”. Ela dá as diretrizes, ela orienta. Eu faço meu serviço, mostro
para ela, ela aprova ou desaprova.
A. As normas se dão de maneira clara e objetiva... cada um sabe sua função é o que
fazer.

Pré-Análise: Todos mostraram tem conhecimento das normas que acercam seus
afazeres; contudo M. novamente partiu de uma perspectiva mais individualista e não
acerca das normas da organização e equipe.

• Como é realizada a distribuição de tarefas entre os funcionários, e quem


é responsável por distribuir e organizar?

M. Então essa parte de funcionários eu não conheço muito. O que eu sei é que a V.
que é a enfermeira encarregada da clínica que contrata e da função para cada
funcionário, isso não compete a mim.
AA. Aqui é uma hierarquia né. Aí tem a dona, depois tem a gerente, depois tem os
enfermeiros, os técnicos, os apoios. A dona V. passa as diretrizes para gerente e a
gerente passa para os demais – e cada um tem a sua função, mas tudo com
hierarquia.
A. Cada um faz sua função, né, mas na minha equipe, todos se ajudam mesmo, mas
a responsável por isso né, por organizar e distribuir as tarefas, agora é a A.
46

Pré-Análise: No geral as tarefas são distribuídas pelos seus supervisores, tanto M.


quanto AA. respondem a organização de V., e A. disse que responde a outra
funcionária.

5.5 Comunicação e Integração

• As tarefas são repassadas de maneira clara?


M. Acho que não se aplica a mim.
AA. Sim, é tudo bem claro, bem escrito, bem instruído. Nada fica no ar. Todo mundo
tem tudo bem explicado.
A. Pra mim, é muito claro as tarefas e como são passadas, eu acho assim.

Pré-Análise: Consenso de que o repasse de tarefas ocorre de maneira objetiva e


clara.

• O contato entre as hierarquias é realizado de maneira amigável?

M. Sim! Não tenho problema com ninguém aqui.


AA. Totalmente. Nada é feito com autoritarismo, imposição, nada assim. Tem muito
diálogo.
A. Ah sim! Rola tudo de forma bem respeitosa e amigável.

Pré-Análise: Novamente consenso de que o ambiente interpessoal é agradável e que


existe espaço para diálogo.

• Quando você entrou para a empresa, como foi sua recepção? Você se
sentiu acolhido? Como você se sente hoje em relação a equipe?

M. Sim eu sempre fui muito bem acolhido pela dona. Nunca tive problema com isso.
Desde que eu entrei até hoje, sempre fui muito bem acolhido.
AA. Com certeza. A empresa tem um lado que ninguém percebe, quem entra aqui
não é mandado embora, é difícil ser mandado embora. Claro! Só se fizer algo muito
errado, que não queira trabalhar. Mas somos sempre acolhidos com muito carinho,
com profissionalismo obvio, mas tem que fazer a coisa certa.
A. Fui bem recebida por todos e me senti muito bem.
47

Pré-Análise: AA. revela a característica familiar a respeito da organização, contendo


afeto entre os funcionários e a gerência, o que é bem notado na fala de M. e A.
também.

• Quando necessário atendimento interdisciplinar, a equipe funciona de


maneira respeitosa, assertiva e colaborativa?

M. Sim, a gente tem outras pessoas, outras funções na clínica, os fisioterapeutas, os


nutricionistas, os enfermeiros... a gente procura sempre fazer uma coisa bem
colaborativa entre as equipes.
AA. Com certeza! Tudo feito dentro das normas, nada é feito além e nem com
autoritarismo. Se puder explicar, orientar... nada feito com autoritarismo.
A. A minha equipe sempre funciona bem viu, nos entendemos muito bem nada assim
para reclamar.

Pré-Análise: Novamente pudemos perceber um funcionamento colaborativo entre as


equipes.

• Como se dá o contato com outros funcionários além do horário de


expediente?

M. Não, normalmente eu estou sempre em contato com a V. para caso tenha alguma
intercorrência, ela me liga, ou manda um whatsapp, para eu estar sempre antenado
com o que ocorre com os pacientes.
AA. Normal! A gente tem muita amizade entre os funcionários, tem muita festa de
aniversário aqui, um barzinho ali, uma festinha ali. Lá fora, logico! Aqui dentro é
sempre com muito profissionalismo.
A. Muito pouco contato só o necessário e pelo whats sabe, uma coisa ou outra.

Pré-Análise: M. e A. relatam que o contato realizado ocorre apenas por meio do


WhatsApp com função de informação. Por outro lado, AA. menciona eventos sociais
como festas, aniversários e bares entre os funcionários.

• Como é a relação entre os funcionários? E na pandemia, mudou algo?


48

M. A pandemia mexeu mais com o cuidado que foi aumentado com os pacientes, em
relação as visitas dos familiares. Mas em relação aos funcionários nada mudou,
apenas maiores cuidados.
AA. A relação tem muita amizade, muito respeito e muito profissionalismo. Logico, na
pandemia houve um certo medo, depois o pessoal começou a conhecer a receber
mais informações. A dona da clínica passou orientações pros funcionários, de que é
perigoso, tem que tomar cuidado, mas que não é o fim do mundo então tem que
trabalhar unido pra não ter problema futuro.
A. Tem pouco contato, como eu disse né.

Pré-Análise: A relação normalmente se dá de forma amigável e profissional, mas


durante a pandemia houve um afastamento.

• Existe comunicação via redes sociais? Se sim, qual a função? Em que


horário essas redes funcionam?

M. Sim, whatsapp com a V.


AA. Não tem uma rede social específica. O que acontece, é que pela empresa ser
muito grande, as vezes o pessoal ta lá no fundo e precisa falar com a dona da clínica
aqui na frente, então eles usam o whatsapp... é o meio mais usado.
A. Pelo whats né, assim, pra avisos essas coisas.

Pré-Análise: Os funcionários entrevistados relatam o uso do WhatsApp para melhor


comunicação sobre o trabalho.

5.6 Alienação

• Você vê propósito nas suas atividades?

M. O propósito é manter os moradores da clínica sempre com bem-estar e sem


sofrimento.
AA. Ah sim! Meu propósito é fazer a coisa direitinho e fazer bem-feita. Pra não deixar
o patrão descontente.
A. Sim o propósito de dá o meu melhor.
49

Pré-Análise: Os funcionários entrevistados veem propósito nas atividades


desenvolvidas por eles, além disso, AA. e A. relataram que o propósito de seus
trabalhos é dar o melhor de si e fazer tudo corretamente. Já M. tem o propósito de seu
trabalho alinhado com os valores da empresa.

• Existe alguma tarefa que você faz e que é muito repetitiva, sem sentido ou
pouco eficiente?

M. Não é uma tarefa repetitiva, porque cada vez que a gente vem, é um problema
diferente, é um outro paciente, são outros problemas.
AA. Eu faço muita coisa repetitiva: é abrir e fechar porta toda hora. Mas não é nada
ineficiente. É eficiente, porque se eu não fechar a porta e deixar aberto, vai entrar
gente, vai sair gente
A. Todas tarefas são necessárias, rotineiras são sim, mas não indispensável, tem que
fazer né.

Pré-Análise: AA. e A. parecem enxergar que algumas tarefas são repetitivas devido
a função que exercem, mas os dois funcionários veem como tarefas eficientes, veem
valor naquilo que fazem. M. não vê suas tarefas como repetitivas, talvez por exercer
um outro papel dentro da instituição ou por não estar presente realizando aquelas
tarefas todos os dias.

5.7 Colaboração

• Você sente que os funcionários se ajudam e complementam? Existe


competição?

M. Então como eu venho uma vez por semana, eu não posso afirmar se tem
competição entre os funcionários... mas no período que eu estou aqui eu não vejo
competitividade.
AA. Eles se ajudam e não tem competição. Cada um tem a sua função né. Não é
uma empresa que a pessoa vai começar como apoio e depois de um tempo vai ser
auxiliar de enfermagem, não é assim. Porque para ser auxiliar de enfermagem ai
precisar fazer um curso, vai precisar se especializar lá fora, para depois fazer alguma
coisa aqui dentro.
A. Não respondeu.
50

Pré-Análise: M. e AA. relatam não tem competição no ambiente de trabalho, e AA.


até justifica dizendo que isso não ocorre devido a necessidade de um curso
profissionalizante para que alguém suba de cargo ali dentro da instituição. Já A. não
respondeu.

• A equipe trabalha com um mesmo proposito e objetivo?

M. Ah! Eu acho que sim.


AA. Trabalha! Sempre tem um proposito e objetivo. Qual é o objetivo? É tratar bem,
recuperar os pacientes.
A. Eu acredito que todos no mesmo propósito que é o bem-estar dos idosos, claro.

Pré-Análise: Todos os funcionários responderam em consenso, que sempre há um


propósito e um objetivo, o bem-estar dos pacientes.

• Você sente que suas dificuldades e erros são trabalhados, ou somente


repreendidos?

M. Repreensão eu não sinto... mas a gente procura trabalhar com os erros para
corrigi-los.
AA. São trabalhados, as vezes o erro da gente, a gente conversa. O patrão chega e
conversa, fala que tem que ser feito assim, assim e tá tudo certo.
A. Os erros são conversados sempre.

Pré-Análise: Tanto AA. quanto A. relatam a conversa como forma de trabalhar os


erros e as falhas cometidas, pelas suas descrições as conversas ocorrem de maneira
tranquila e elucidativa. M. afirma não se sentir repreendido ao ter alguma dificuldade
ou cometer um erro.

• Quando fazem as coisas corretamente são reforçados por seu superior?

M. Graças a Deus eu e a V. temos um bom relacionamento, sempre quando tem


alguma coisa, como de um como de outro, a gente sempre procura tratar num bom
diálogo, sem problemas.
51

AA. Lógico. Quando fazemos a coisa certa tem mais um reforço do superior, não
elogios né. A gente faz porque tem que ser feito, mas aí eles reforçam a necessidade
de sempre melhorar. De maneira verbal mesmo, não financeira.
A. Ah sim!

Pré-Análise: Nessa questão nem todas as respostas foram suficientes para realizar
uma Pré-Análise.

5.8 Saúde Organizacional

• Você se vê tomando iniciativa em seu trabalho?

M. Sempre procuro tomar iniciativa para o bem do grupo né.


AA. Eu não tomo iniciativa. Porque minha função é sempre a tarefa, eu sempre faço
a mesma coisa, então não tem que mudar muito.
A. Claro, as vezes precisa né, assim...

Pré-Análise: Tanto M. quanto A. se veem tomando iniciativa, tendo M. especificado


que isso ajuda a relação entre o grupo. Já AA. expressa ter tarefas repetitivas que
não exigem tomar muitas iniciativas.

• Você se sente reconhecido no seu trabalho?

M. Aí tem que perguntar para a chefe. Eu acho que sim. Pelo menos, quando eu estou
de férias ela fala que sentiu falta.
AA. Muito muito! A patroa é muito profissional, ela reconhece tudo. Foi como eu falei,
a gente faz a coisa bem-feita porque tem que fazer, então o reconhecimento é a
pessoa falar “muito bem! Você fez... isso você fez aquilo”. O reconhecimento do
funcionário é só não ser chamado atenção, esse já é um grande reconhecimento.
A. Sinto meu trabalho reconhecido, sim.

Pré-Análise: Todos relatam ter seu trabalho reconhecido somente por meio de
elogios, apesar de AA. dizer que se sente reconhecido no fato de não ser chamado
atenção.

5.9 Sobrevivência e Crescimento organizacional


52

• Você sente que tem um espaço para trazer dúvidas, críticas, ideias? E você
sente que são ouvidos ou implementados?

M. Espaço para ideias novas ou dividas sempre vai ter, porque a gente visa sempre
melhorar, então nunca nada é perfeito, então sempre tem espaço para dúvidas.
AA. Tem muito espaço. Na minha área não tem muito o que fazer. Mas lá dentro, na
parte administrativa, do pessoal de enfermagem, tem muita coisa que eles podem
trazer e eles trazem e a dona da clínica sempre recebe muito bem.
A. Quando tenho dúvida eu sempre pergunto pra quem pode responder ou resolver,
sabe.
Pré-Análise: Todos transmitiram se sentir abertos para expor duvidas e possíveis
queixas.

• Por ser um atendimento interdisciplinar, existe diálogo entre a equipe para a


melhoria do atendimento?

M. Com certeza, a gente sempre procura falar com outras pessoas que fazem parte
do grupo para que tenho uma melhoria do atendimento.
AA. Existe, logico! Aqui é uma equipe, tudo tem que ser trabalhado em equipe.
A. Graças a Deus minha equipe sempre tenta se entender da melhor maneira.
Pré-Análise: Mais uma vez deixaram claro que funcionam muito bem em equipe que
existe colaboração e diálogo entre eles.
53

6 Análise dos Dados e diagnóstico

Legenda: P (Proprietária)
M. (Médico)
AA. (Auxiliar Administrativo)
A. (Apoio)
Fonte em negrito no meio das respostas: Questões realizadas pela estagiária
para esclarecimentos.

6.1 História, valores e tarefa primária

• Qual foi o ano e o motivo de ter fundado a sua empresa?

P. Olha, eu fundei em 97, o motivo foi: eu saí de uma grande empresa onde eu
trabalhava como psicóloga com o Maluff, em São Paulo, e essa empresa fechou e eu
vim pra Santos. E aí eu conheci uma pessoa, que ela tinha uma clínica, e queria abrir
uma outra com alguém que fosse jovem, na época eu tinha 40 anos, mais ou menos,
e ela queria alguém que fosse jovem que fizesse uma sociedade com ela, que tivesse
corrida, tivesse disposição. E aí nós nos associamos e montamos essa empresa e já
estamos... eu já to com essa empresa a 20 e poucos anos. (A sociedade se
mantém? Ou hoje você tá sozinha?). Não, graças a Deus, a sociedade não se
mantém porque nós temos... nós tínhamos pensamentos muito diferentes. O meu
pensamento sempre foi o melhor para o ser humano, não só... pra mim o ser humano,
ali dentro, não é só dinheiro, ele tem muito mais coisas que eu tenho que dar pra ele
e muitas coisas eu recebo dele. Nós pensávamos diferente. Eu sempre pensei no
paciente, no cliente da casa como um ser humano que eu tinha que cuidar, e ela era
uma pessoa mais prática que só pensava no dinheiro, então, por isso, a sociedade
não deu certo, ela acabou saindo e eu me mantive solo e to até hoje.

Pré-Análise: Nota-se que pelos funcionários mais antigos da empresa, o


conhecimento de uma antiga sócia é comum, contudo, informações a respeito dos
motivos que impulsionaram a abertura da empresa não foram mencionadas, apenas
a respeito da antiga sócia. A funcionária A. mostrou desconhecer de qualquer
informação sobre o início da empresa.
54

Análise entre a proprietária e os funcionários: Percebe-se que a história contada


pela proprietária é similar ao que é conhecido pelos funcionários, mesmo que
contendo poucos detalhes – com exceção de A. que disse não saber da origem da
instituição. Pela escassez de detalhes, parece que a história da instituição não é
contada para os funcionários.

Análise Final: Com base no exposto, considera-se um fator que pode ser trabalhado,
visto que, o conhecimento da história da empresa, pelo grupo de funcionários, permite
que a noção de valores e subjetividade da empresa pela equipe. Compreende-se
como um aspecto negativo, mas não de grande risco.

• Quais objetivos você tem para a sua empresa? Esses objetivos e valores
são compartilhados com a equipe?

P. Ah sim, todos os objetivos que eu tenho... Eu faço muitas reuniões com os


funcionários, nós sentamos e conversamos, tem épocas que, que começou a
pandemia, a empresa deu uma balançada porque todo mundo com muito medo, todo
mundo se guardou, se fechou em casa, então eu chamei a equipe, os objetivos que
seriam pra gente vencer a pandemia e, graças a Deus, vencemos e, assim, hoje, o
que eu posso te dizer, o meu grande objetivo é um dia poder comprar o imóvel que
eu alugo. Então esse é meu objetivo, porque quanto a empresa, quanto a realização
do negócio, eu acho que to no caminho certo.

Pré-Análise: Apesar da dificuldade em alcançar o propósito da pergunta, pelas


respostas adquiridas, é possível chegar a um consenso quanto aos objetivos e
valores da empresa, que é o cuidado com os pacientes que ali são abrigados.
Contudo, devido as respostas generalizadas, é percebido que são objetivos advindos
de um senso comum, e não que tenha sido explicado pelos responsáveis pela
instituição.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A fala da proprietária se alinha as


respostas dos funcionários, visto que, ela diz se empenhar para que a equipe tenha
um mesmo propósito de atuação, e quando questionados acerca deste, a resposta
por mais genérica que tenha sido, foi consensual.
55

Análise Final: A proprietária por mostrar empenhada em repassar os valores da


empresa, e ver que a equipe reconhece esse, se mostra muito positivo para o
desenvolvimento organizacional, já que serve como um propósito para a atuação,
tanto para os funcionários, quanto para a própria dona.

6.2 Subsistemas técnico e social

• Quais são os materiais utilizados pela equipe? Os


equipamentos/materiais fornecidos pela empresa suprem as
necessidades dos funcionários?

P. Ah sim, materiais que você deve tá falando são os EPIs, né? Os equipamentos
individuais. Não, eu forneço todos os materiais, touca, luva, avental, tudo que for
necessário, a minha equipe tem. Se hoje lançam, que nem lançaram agora o spray,
que é superbacana, ele é muito melhor que o álcool gel, eu vou atrás, eu pesquiso,
eu compro pra equipe, faço todo mundo usar essa espuma, que mata 99,9 das
bactérias, ensino semanalmente os cuidados que tem que se ter, por causa do corona,
por causa das bactérias da rua, e tudo que eu vejo de material, que eu leio, que eu
vejo em televisão ou que eu pesquiso na internet, eu procuro adquirir pra trazer pra
equipe, pra gente ter mais segurança e ter o melhor conforto.

Pré-Análise: Os materiais disponibilizados satisfazem a rotina de trabalho dos


funcionários.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A dona se mostra muito preocupada


com a segurança dos funcionários da equipe, suprindo procurando ir além das
necessidades diárias. O que condiz com a fala dos funcionários, que se mostram
contentes com os materiais disponibilizados pela organização.

Análise Final: A clínica disponibiliza o espaço e material necessários para que cada
funcionário possa realizar sua função com máxima eficiência e segurança, ainda mais
dentro do contexto da pandemia, sendo esse um fator muito positivo para a
organização.

• Quais profissionais fazem parte do serviço proposto?


56

P. Olha, eu sou psicóloga, gerontóloga e enfermeira... e só não terminei o curso de


fisioterapia, que faltou muito pouco. Mas eu tenho meu médico, que já está comigo
há mais de 20 anos, é um amigo pessoal, nós temos todo o apoio de enfermagem,
que são as técnicas de enfermagem, eu tenho nutricionista na casa e... sempre tive
fisioterapeuta, mas agora, por causa da pandemia, todas as clínicas cortaram os
fisioterapeutas, porque são pessoas muito ligadas ao corona, eles estão na linha de
frente dentro de hospitais, então, pra resguardar a nossa população lá dentro, nós
tivemos que cortar. Então, eu faço exercícios com os idosos, assim, muito na base da
brincadeira, e é o que eles gostam. Equipe de apoio compreende: a pessoa que cuida
da roupa, eu tenho a cozinheira, eu tenho as meninas que limpam a casa. Eu tenho
na casa 30 pacientes, hoje, e eu tenho uma média de 27 funcionários. (Divididos
entre a equipe principal e a equipe de apoio?). Isso, a minha equipe, eu tenho 4
equipes, né? Quer dizer, trabalha 12 horas e folga as outras 36. Então, eu tenho uma
equipe que entra às 7 da manhã e sai às 7 da noite, essa mesma equipe não trabalha
amanhã, ela vai trabalhar depois de amanhã. Então, eu tenho 4 equipes formadas, 2
equipes dia e 2 equipes noite.

Pré-Análise: Todos os funcionários parecem estar bem cientes das


responsabilidades de seus cargos.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A dona conhece bem seu quadro


de funcionários e a função de cada um ali dentro, inclusive a de si própria, que além
de proprietária, também é gerontóloga, psicóloga e enfermeira; bem como os
funcionários também estão conscientes de suas funções na empresa.

Análise Final: As equipes são bem distribuídas em turnos, 4 equipes no total, e cada
funcionário parece estar ciente de suas funções, horários e com disponibilidade de
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para a realização de seu trabalho. Essa
estrutura, é muito benéfica para a instituição, se mostrando favorável até o presente
momento.

6.3 Sentido do trabalho e motivação

• Quando você enfrenta desafios na sua função, que estratégias você usa
para superá-los e para se sentir motivado apesar deles?
57

P. Ah sim, eu quanto sofro algumas dificuldades, a primeira coisa: eu paro, eu penso


e eu escrevo. Qual é a dificuldade? Eu passo pro papel, eu releio aquilo diversas
vezes pra tentar entender aonde que tá a falha, onde que tá o problema e qual a
solução que eu posso tomar. Eu reflito, eu discuto comigo mesmo, e aí até tomar uma
decisão, uma posição pra... Mas o escrever, o estar ali, é... tenho que escrever pra
eu ler o que que é, e aí tentar entender onde é que tá a falha, onde que tá a brecha.
E eu monto as metas, vai, tá difícil? Por exemplo, no começo da pandemia, todos os
gastos estavam lá, eu cheguei a um ponto de ficar com 20 pacientes, numa casa com
42 camas, eu tava no vermelho. Então, eu tive que sentar, colocar no papel, ver quais
eram as falhas, o que que eu tinha que fazer. Aonde que tava a falha? Não era
comigo, a falha tava no mundo, com o começo da pandemia e todo mundo com medo.
Então, eu tive que traçar estratégias, pra não ter que cortar equipe porque não dava,
eu sempre acreditei que a coisa vai melhorar, e melhorou, mas assim, você sempre
tem que estar muito atenta, mas o ideal, se puder escreve lá, qual é o problema? Pra
você tentar entender.

Pré-Análise: Pela fala dos funcionários AA. e A., aparenta que não há problema no
diálogo vertical entre as hierarquias, frente a dúvidas e dificuldades. M. por outro lado,
levou em consideração os aspectos advindos da profissão, de maneira individualizada.

Análise entre a proprietária e os funcionários: Com a proprietária é possível


observar uma postura atenta e motivada a resolver quaisquer problemas eventuais
que apareçam, de modo racional e eficaz, principalmente no cenário da pandemia,
em contrapartida, os funcionários mostraram ter uma postura menos independente
como a de V., porém mantendo a liberdade de diálogo.

Análise Final: Aqui se compreende um bom entendimento da proprietária com os


seus funcionários frente a situações de adversidade e dificuldade, em que ocorre um
diálogo vertical sem autoritarismo e opressão. Aspectos que tendem a favorecer
muito o fluxo organizacional.

• Fora o retorno financeiro, o seu trabalho te traz que tipo de benefícios?

P. Ah, olha, eu não coloco o retorno financeiro, claro, ninguém trabalha de graça, eu
tenho retorno financeiro, já tive muito mais, hoje é bem menos, mas não é isso que
me agrada lá. O que me agrada lá é o prazer de cuidar do outro, é o prazer de tirar
58

alguém de uma crise, de receber alguém que não tinha amor, que não tinha
compreensão onde ela vivia, e eu transformar a vida dela, esse é o grande benefício
da minha vida. O dinheiro, hoje em dia eu posso dizer, é muito bom, faz muita falta,
eu preciso dele, mas tá em segundo plano pra mim.

Pré-Análise: Os funcionários trazem contentamento com o propósito da organização


e com a sua atuação.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A proprietária, assim como os


funcionários, deixa esclarecido que apesar do retorno financeiro ser importante, os
maiores benefícios trazidos a si é o cuidar dos moradores da casa, com amor,
compreensão e transformar aquelas vidas.
Análise Final: É um fator positivo para a organização existir outros benefícios além
do retorno financeiro, fato esse que se mostra presente na empresa, alinhando a fala
dos funcionários e da dona sobre a satisfação pessoal que tiram desse trabalho.

• Sua empresa tem estratégias para manter os funcionários motivados?

P. Ah sim, sim, uma coisa que o funcionário gosta são de reuniões, reuniões assim,
que você coloque umas... ele sente a gente mais próximo dele. Então, ele gosta de
sentir o patrão, o dono da empresa... às vezes eles me colocam num pedestal, que
eu não gosto disso, eles acham que eu compreendo tudo... a maioria vem me contar
os seus problemas, adoram sentar no sofázinho da minha sala pra fazer terapia, e eu
tento tirar deles esse endeusamento. Tenho meus erros, tenho os meus acertos, mas,
assim, eu sempre procuro trazer a equipe muito perto, eles sabem que ali eles vão
sempre ter um líder, que sou eu, eu vou sempre ser o líder daquela matilha, mas eles
têm que tá junto comigo pro caminhar ser mais fácil, não adianta eu querer liderar e
eu querer dominar tudo, não. Eu preciso deles caminhando lado a lado, junto comigo.
Então isso é uma coisa que eu sempre converso muito com eles, muito, quando eu
vejo alguém errando ou fazendo as coisas mecanicamente, sem amor, eu chamo pra
explicar, trago comigo, me aproximo mais da função dele, procuro ajudar, às vezes
até num banho, eu entro no banheiro e “vamo lá, vamo ensinar de novo como é que
se faz” e, dessa forma, a equipe vai ter muita confiança no seu líder, entendeu? O
endeusamento é ruim, mas ele confiar nessa liderança e seguir a liderança é muito
importante.
59

Pré-Análise: Não se aplica.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A proprietária usa como mecanismo


de motivação reuniões que mantenham a equipe perto de si, mesmo deixando claro
que não gosta de se sentir colocada em um pedestal, como alguns funcionários – de
acordo com ela – fazem.

Análise Final: A resposta da Dona parece estar em consenso com o das funcionárias,
todos se sentem gratificados em trabalhar no local, por motivos além do retorno
financeiro, e essa gratificação se mostra como motivação. A motivação pode ser
incentivada de diversas maneiras, dependendo do indivíduo em questão, por estarem
alinhados os sentidos e objetivos de todos.

6.4 Autoridade e contrato psicológico

• Como se dão as normas para a realização do trabalho?

P. Tranquilas, as normas... é muito assim, nossas normas são muito pequenas,


quando o funcionário entra na empresa, eu já coloco tudo que pode, tudo que não
pode, tudo que deve ser feito, tudo que o paciente precisa, o respeito que ele tem que
ter com o paciente. Se um paciente... eu tenho, por exemplo, hoje, que já me é
permitido, pacientes com problemas mentais, né, com doenças mentais, até então eu
não podia, eu só deveria ter os idosos com a demência senil, com Parkinson, não,
hoje eu já posso abrir pra uma outra área. Então eu explico muito pro funcionário o
que que é aquela doença, o que que é a esquizofrenia, o que que é... ele tem que
entender pra ele estar experiente quando o paciente toma certas atitudes, ele tem
que saber até onde ele pode ir e onde ele deve me chamar. Então, isso que eu acho
que, também, é uma coisa muito importante, o funcionário tem que saber quais as
doenças que estão ali dentro, e como se deve proceder, o que que ele tem que fazer,
o que é esperado dele pra fazer perante o paciente, entendeu?

Pré-Análise: Todos mostraram tem conhecimento das normas que acercam seus
afazeres; contudo M. novamente partiu de uma perspectiva mais individualista e não
acerca das normas da organização e equipe.
60

Análise entre a proprietária e os funcionários: Tanto os funcionários quanto a dona


se mostraram cientes das normas e de seus afazeres dentro do ambiente de trabalho,
a dona da as diretrizes inicialmente e quando é necessário disponibiliza informações
adicionais para cada caso.

Análise Final: Os funcionários e a proprietária terem completa noção das diretrizes


da empresa se coloca como um ponto muito benéfico, isso é, diminuem as chances
de conflitos advindos de normas previamente estabelecidas e acordadas em conjunto.

• Como é realizada a distribuição de tarefas entre os funcionários, e quem


é responsável por distribuir e organizar?

P. É assim, se disser que sou eu, não dá. A minha grande... gerir a empresa
financeiramente, administrar, não dá pra eu ficar vendo o que cada funcionário tem
que fazer. Tem uma pessoa abaixo de mim, que é a Cláudia, que é a minha secretária,
o meu faz-tudo, a minha gerente, né? Ela contrata, geralmente, no final, eu participo
da entrevista, mas ela contrata, ela faz a planilha do que cada um tem que realizar,
por exemplo, fulano tem que dar 4 banhos e 5 comidas, ela faz essa divisão do
trabalho de cada um. Não dá pra eu cuidar da administração da empresa, da parte
financeira... eu cuido muito do paciente, eu procuro tá muito junto do paciente, eu
escuto todos os problemas, eu convivo muito com eles, então, tudo isso já me enche
o dia inteiro. Então, cuidar do funcionário diretamente eu passo pra C.

Pré-Análise: No geral as tarefas são distribuídas pelos seus supervisores, tanto M.


quanto AA. respondem a organização de V., e A. disse que responde a outra
funcionária.

Análise entre a proprietária e os funcionários: De acordo com a proprietária quem


é responsável por organizar a área administrativa é a secretária, a qual faz planilhas
de ação para o restante dos funcionários e, além disso, é quem contrata (com a
participação da dona na entrevista). Por meio das respostas dos funcionários, é de se
notar que está de acordo com a perspectiva de V., isso é, a distribuição de tarefas
ocorre de maneira hierárquica e de maneira mais clara possível.

Análise Final: Compreende-se como um aspecto favorável para a empresa, os


funcionários terem a noção de tarefas e hierarquia, para que as equipes possam
61

seguir um fluxo de funcionamento com diálogo e cumprindo o que é esperado pela


organização.

6.5 Comunicação e integração

• Como é a relação entre os funcionários? E na pandemia, mudou algo?

P. Ah, afetou, aproximou muito. Tinha uns que quase não se falavam e hoje são
superamigos, eu digo até que eles saem hoje em dia em bando. Todos saem juntos,
todos saem grudados, coisa que antes, antigamente, não era. Cada um pegava sua
bicicletinha, sua motinha e ia embora, hoje não, eu vejo que eles estão muito mais
unidos, sabe? Como que um protegendo o outro, trocam muita confidência. Então, eu
acho, que essa... esse último ano aproximou muito as pessoas, as pessoas passaram
a apoiar quem tá do lado, então eu acho que foi muito bom.

Pré-Análise: A relação normalmente se dá de forma amigável e profissional, mas


durante a pandemia houve um afastamento.

Análise entre a proprietária e os funcionários: Houve uma divergência entre a


resposta da proprietária e a resposta dos funcionários, visto que a dona relatou ter
acontecido uma aproximação entre eles, e os funcionários falaram que esse contato
foi reduzido ou não houve alteração.

Análise Final: Devida a essa convergência de percepção quanto as relações


interpessoais da empresa por parte da proprietária, pode-se dizer que este aspecto
pode ocasionar dificuldades para o fluxo organizacional, devido a essa falta de
atenção detalhada da dona em função de seu pessoal.

• Existe comunicação via redes sociais? Se sim, qual a função? Em que


horário essas redes funcionam?

P. Nós temos um WhatsApp, eu tenho um WhatsApp, qualquer funcionário que quiser


conversar comigo, principalmente os... os do dia, eu tô lá o dia inteiro, né? Mas os da
noite, por exemplo, 6 horas da tarde eu venho pra casa, então quem quer, é... trabalha
a noite e precisa falar comigo, entra no WhatsApp e fala. Nós temos Facebook... Eu
procuro não participar da rede social particular do funcionário, eu não participo, nem
sou curiosa de abrir lá... o Instagram dele, o Face dele, não, não me interessa. Eu
62

quero conhecer o meu funcionário ali dentro, o que ele publica lá fora, pra mim, não
vai me interessar... não preciso saber disso. Mas eles são muito curiosos, eles entram
nas minhas páginas do Face, do Instagram, procurando fotos, procurando
publicações da minha vida... não acham nada porque eu nem tenho tempo pra isso,
né?

Pré-Análise: Os funcionários entrevistados relatam o uso do WhatsApp para melhor


comunicação sobre o trabalho.

Análise entre a proprietária e os funcionários: As respostas coincidem, tanto a


dona quanto os funcionários relatam fazer uso da ferramenta WhatsApp como meio
de veiculação de comunicados e informações relevantes para a funcionalidade da
clínica.
Análise Final: O uso das redes sociais apenas como um veiculo de informações
interno é um grande facilitador para a dinâmica do dia-a-dia dos funcionários. Não
somente, fazer um bom uso, sem invadir a privacidade dos funcionários e da gerência,
é um grande aspecto benéfico para a saúde organizacional.

6.6 Alienação

• Existe alguma tarefa que você faz e que é muito repetitiva, sem sentido
ou pouco eficiente?

P. Não, eu... quando eu vejo que uma tarefa... por exemplo, vou dar um exemplo pra
vocês. Quando a gente faz um... uma brincadeira com o paciente, ah... semana da
jardinagem, então vamo todo mundo pegar um vasinho... Vocês vão ver que meu
jardim tá lindo, cheio de vasinho. Só que em 10, 15 dias eles já cansaram, aquela
atividade já passou. Então eu tenho que ter um olhar pra ver que aquilo cansou, tá na
hora da gente ver outra atividade. Uma atividade que eles gostam é... chama-se a
roda de conversa. Nós sentamos muito no jardim, todos sentam por ali, e eles sabem
que aonde eu estou tem comida, e pro paciente, pro idoso, é muito importante a
comida, eles valorizam demais a comida, e a minha comida é: pipoca, bolacha,
salgadinho, chocolate. Então nós sentamos em roda, ali no... no nosso jardim e
conversamos, aí começamos a falar de namorados, quando você menos pensa, tá
todo mundo contando das suas vidas, do que eles lembram, do que eles têm
saudades, então ali eles trocam informações das vidas, e os funcionários que tão
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perto acabam participando, e também acabam contando sobre suas vidas. Então a
roda de conversa é uma atividade que nunca acaba, essa sempre vai permanecer.
Agora, as outras que a gente vai fazendo ao longo do tempo, como jardinagem,
pintura, isso vai cansando com o tempo. (Vocês fazem a roda de conversa toda
semana?). É, toda semana, todos os dias têm roda de conversa. (E aí tem um tema
que você implementa ou é livre? Qualquer um pode começar a falar?). É livre, é
livre, a gente pega o gancho na hora. Às vezes uma música, hoje um paciente, senhor
Carlos, ele me pediu uma música do Pixinguinha e, graças a Deus, a minha filha me
ensinou a mexer, como é que chama o canal? (Spotify?). Spotify. E aí no Spotify
você acha tudo, e eu achei o tal do Pixinguinha, adoro Pixinguinha também, e baixei
a música que ele me pediu, que se chama Felicidade. Vocês precisam ver a
transformação, nós estávamos em 25 ali, todos conversavam sobre a música, todos
cantaram, a maioria lembrava da letra da música, foi, assim, superinteressante. E aí,
a partir do tema, felicidade, todo mundo começou a contar um motivo de felicidade
das suas vidas, motivo que eles lembravam. Então, uma senhora me contou que
felicidade, pra ela, era chegar do escolar que ela estudava e sentir o cheiro da comida
da mãe, que até hoje parece que ela sente o cheiro da comida da mãe. Aí outro já
contou que felicidade é quando ele podia sair no domingo com o pai, e passear, e
jogar bola no campinho. Então, você vê, que eu não escolhi o tema, o tema apareceu
por causa de uma música, e isso rodou acho que mais de 1 hora, 1 hora e meia, nós
ficamos ali conversando e fluiu, fomos em frente. (E você que é a mediadora desses
grupos?). Sempre, sempre.

Pré-Análise: AA. e A. parecem enxergar que algumas tarefas são repetitivas devido
a função que exercem, mas os dois funcionários veem como tarefas eficientes, veem
valor naquilo que fazem. M. não vê suas tarefas como repetitivas, talvez por exercer
um outro papel dentro da instituição ou por não estar presente realizando aquelas
tarefas todos os dias.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A dona relata não haver tarefas


repetitivas, que está sempre a inovar pois os pacientes logo cansam das mesmas
dinâmicas. Os funcionários não apontaram suas tarefas como repetitivas, no entanto,
um deles divergiu relatando fazer muita coisa repetitiva sim (como abrir e fechar
64

portas), mas que são tarefas eficientes, outra funcionária utilizou até o termo “tarefas
rotineiras”, mas também declarou a importância delas.

Análise Final: A dona mostrou engenhosidade em realizar atividades diferenciadas


com os pacientes para que estes não cansem destas, já os funcionários seguiram por
uma linha diferente, relatando sobre suas atividades de trabalho, a qual alguns julgam
como rotineiras, mas necessárias, por fim, é de extrema importância para a
organização que haja essa dinâmica de atividades, bem como a ciência da
importância das ações realizadas pelos funcionários.

6.7 Colaboração

• Você sente que os funcionários se ajudam e complementam? Existe


competição?

P. Não, competição tem, quem estudou um pouquinho mais se julga superior a quem
estudou menos, e isso é um problema na área da saúde. Eles acham que eu tô num
patamar muito alto igual ao médico porque, meu médico, ele quando chega na
empresa, a gente anda junto, a gente discute muito caso, eu sugiro qual é a
medicação que o paciente tem que tomar porque eu convivo com o paciente, ele só
vai lá duas vezes por semana. Então, eu acabo relatando o que que tá acontecendo
e dou a sugestão de medicação, então entre eu e ele não tem nenhum problema.
Agora, as técnicas de enfermagem, elas se acham absolutamente acima do pessoal
de apoio, e o que que elas fazem de diferente? O que elas fazem de diferente é o que
eu passo pra elas: ajudar num curativo, dar uma injeção, separar medicação... Mas
isso não é nada demais, né? Mas elas se julgam superiores ao pessoal do apoio, que
faz a mesma coisa que elas: dão o banho, cuidam do paciente, dão alimentação, elas
só não mexem na medicação. Então, nessa área, eu sempre tenho muito conflito, e
aí eu sou obrigada a chamar as partes, conversar e tentar entrosar, e se eu vejo que
ficou alguma coisa mal resolvida eu mudo a pessoa da equipe, faço uns rodízios de
equipe. (Mas isso melhorou, né? Depois da pandemia.). Ah, 100%, as pessoas, por
um motivo ruim, que é a pandemia, que tá todo mundo apavorado com isso, mas
mexeu no coração de todo mundo, as pessoas estão ouvindo, elas querem ouvir o
outro, elas querem falar, mas elas também querem ouvir o outro. Então isso acabou
aproximando e fazendo com que amizades que eram mornas, que eram chochas,
65

desabrochassem numa bela amizade. (A galera tá se ajudando mais então?).


Muito mais, muito mais, e se eu percebo que não, eu vou atrás. Aí eu começo a
ajudar, elas ficam sem graça, aí elas começam a fazer a parte. (E como se davam
esses conflitos entre as equipes?). Olha, eu já tive brigas entre funcionários de
rolarem no chão a muito tempo atrás. É muito complicado, o ser humano, ele se julga
muito perante o outro, eles gostam de se comparar e gostam de ganhar na
comparação, e quem é comparado que é menor, não gosta. Então, o que que eles
fazem, se agridem, né? Sabem brigar, então eu tenho que tá muito atenta nisso, se
eu percebo que de uma discussãozinha um começou a provocar o outro ao longo do
dia, eu já tenho que parar e chamar, eu tenho que acabar com aquilo ali, por quê?
Isso mexe com o emocional do meu paciente, o meu paciente percebe, eles sabem
quando um não gosta do outro e eles ficam aflitos com isso. Então eu, por bem da
equipe, e por bem dos pacientes, eu tenho que intervir na hora, na hora, e separo, e
tento... chamo as duas pessoas, converso individualmente primeiro com cada um, e
depois trago as duas pessoas pra gente tentar aparar as arestas.

Pré-Análise: Os funcionários relatam não ter competição no ambiente de trabalho,


justificam dizendo que isso não ocorre devido a necessidade de um curso
profissionalizante para que alguém suba de cargo ali dentro da instituição.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A dona relatou já ter havido brigas


e discussões entre a equipe por conta de superioridade, no entanto essas brigas
aconteceram a muito tempo atrás, já a equipe atual relata não haver competição no
ambiente de trabalho, visto que cada um ali tem seu curso profissionalizante
específico para a função.

Análise Final: O fato de a proprietária relatar já terem ocorrido desavenças e


comportamentos de competitividade na equipe do passado, é bem diferente do que
é compreendido na equipe que hoje está na clínica. Os funcionários que hoje ali
trabalham, declaram uma vivência positiva entre os colaboradores, o que é muito bom
para a saúde da empresa. As relações que não davam certo no ambiente empresarial
foram findadas para dar espaço a relações saudáveis, respeitosas e benéficas

• A equipe trabalha com um mesmo proposito e objetivo?


66

P. Hoje todos nós trabalhamos com o mesmo objetivo, mesmo objetivo, ali todo
mundo quer ver o bem de todo mundo, quer crescer, e eu falo pra eles: quanto mais
eu crescer, e quanto melhor a empresa tiver, melhor é pra vocês. Então, hoje todos
estamos unidos no mesmo propósito.

Pré-Análise: Todos os funcionários responderam em consenso, que sempre há um


propósito e um objetivo; o bem-estar dos pacientes.

Análise entre a proprietária e os funcionários: Tanto a dona quanto os funcionários


responderam à questão de forma consensual, onde o objetivo do trabalho é o bem-
estar dos moradores.

Análise Final: Para a empresa é extremamente benéfico todos estarem em consenso


sobre os objetivos desta, assim funcionam unidos e com um único propósito.

6.8 Saúde Organizacional

• Você se sente reconhecido no seu trabalho?

P. Muito, muito porque eu vejo o feedback das famílias, do próprio paciente, né? Hoje
chegou uma família lá que faz 3, 4 dias que colocou o paciente e o paciente deu um
feedback, explicou pra família como é que eu era, como é que a casa era... Aquilo
me encheu de orgulho! Pronto, não preciso fazer propaganda, ele próprio falou de
tudo, de tudo que ele viveu esses 3, 4 dias, como ele tá feliz lá dentro. Então, não
tem coisa melhor do que isso.

Pré-Análise: Todos relatam ter seu trabalho reconhecido somente por meio de
elogios, apesar de AA. dizer que se sente reconhecido pelo fato de não ser chamado
atenção.

Análise entre a proprietária e os funcionários: Tanto a dona quanto os funcionários


relatam sentirem-se reconhecidos no trabalho, os funcionários por meio de elogios –
ou então ausência de advertências, e a proprietária tem seu reconhecimento
evidenciado por meio de feedback dos pacientes e suas famílias.

Análise Final: A medida de reconhecimento que a proprietária relata receber é por


meio de feedbacks, já dos funcionários somente por elogios. Mesmo estes relatando
67

sentirem-se reconhecidos, medidas mais eficientes seriam aquelas iguais a recebida


pela dona: feedbacks. Portanto, o reconhecimento dos funcionários se mostra
parcialmente ineficaz para a organização.

• Você sente que valoriza o serviço da equipe? Existe algum mecanismo de


incentivo?

P. Não, não vejo nenhum mecanismo não. O que incentiva a equipe é você tá junto,
é você conversar, é você ter o olho atento e ele ver que você teve o olho atento, que
você percebeu que ele fez alguma coisa... eu quando vejo alguém fazer uma coisa
super bem, eu paro, vou lá, abraço, elogio, “poxa, olha que legal, você melhorou muito
nesse aspecto!”. Então isso pra eles é o melhor que tem. O salário, tem uma faixa
salarial, todos do apoio ganham a mesma coisa, todas as técnicas ganham um pouco
mais, mas é o mesmo salário, e os multiprofissionais são outros salários. Mas eles,
é... não fazem a diferenciação pelo salário, eles fazem a diferenciação quando eu me
aproximo, que eu elogio ou que a Cláudia elogia, que vai lá e fala “legal, você
aprendeu mesmo, muito bem, gostei de ver como você conversou com o paciente,
como você tratou o paciente”, então isso é o melhor que a gente pode fazer.

Pré-Análise: Não se aplica.

Análise entre a proprietária e os funcionários: Como relatado anteriormente, os


funcionários de maneira superficial e genérica demonstraram sentir-se reconhecidos
em seu ofício, e ainda houve relação do reconhecimento com a ausência de
advertência. Isso fica fácil de ser compreendido no discurso da proprietária referente
a inexistência de propostas e mecanismos de valorização do serviço prestado pelos
colaboradores.

Análise Final: Para um bom desenvolvimento e evolução da equipe, é preciso


valorização dos feitos positivos, e frente aos relatos expostos esse ainda é um
expecto negativo e que se pode ser aprimorado para melhor construção do grupo de
colaboradores.

6.9 Sobrevivência e crescimento organizacional


68

• Por ser um atendimento interdisciplinar, existe diálogo entre a equipe


para a melhoria do atendimento?

P. Ah sim, eu tenho, inclusive, é... nós somos muito vigiados e comandados pela
Vigilância Sanitária. É uma praga nas nossas vidas, às vezes atrasa, ao invés de
permitir um progresso eles atrasam a gente. Então eu tenho um livro de interação
multiprofissional, e nesse livro eu tenho que relatar as nossas reuniões. Então, às
vezes, eu, o médio e a nutricionista sentamos e conversamos sobre tais pacientes, o
que que preciso, o que que não precisa, o que que tá falhando, a nutricionista vem e
me coloca “olha, nós estamos na época de tal coisa, eu acho que a senhora deveria
de comprar mais isso, que vai melhorar”, o médico também fala as coisas dele, então
a gente procura sempre tá junto, se não dá pros 3, os 4 estarem juntos, mas a gente
procura sempre tá conversando, ou pelo WhatsApp ou pessoalmente, e tudo isso é
relatado no livro multiprofissional, que é pra poder provar pra Vigilância que a equipe
é uma equipe coesa.
Pré-Análise: Mais uma vez deixaram claro que funcionam muito bem em equipe que
existe colaboração e diálogo entre eles.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A fala dos funcionários entra em


consenso com a da proprietária, todos trabalham bem de forma interdisciplinar,
utilizando-se sempre do diálogo.

Análise Final: Essa relação de interdisciplinaridade se coloca como um ponto


extremamente positivo em uma organização, visto que, há diversos cargos que devem
trabalhar em conjunto, com esse diálogo e boa interação, facilita e impulsiona o
funcionamento da empresa.

• Há um espaço para que os funcionários expressem suas ideias, opiniões


e críticas? Como você lida com essas informações?

P. De boa, a minha sala... eu tinha uma sala lá em cima, que eu tinho até meu divã,
ela tá montada lá em cima, mas eu não tô usando. Então, a minha sala debaixo que
vai, hoje seria a administração, é uma sala muito gostosa, tem duas poltronas
deliciosas, ar-condicionado, som. Então, quando algum funcionário quer conversar
comigo e ele fala que é particular, então eu tiro o telefone do gancho, desligo o meu
celular, fecho a porta, ele entra, liga o ar-condicionado e ali a gente conversa. Na
69

maioria das vezes, ele vem falar sobre problemas deles, problemas internos de
família, de filho, um filho que caiu nas drogas, e eles não tão sabendo como lidar.
Tem uma lá que ela tá com problemas com o filho que tá... alguns problemas mentais,
ela também não sabia aonde procurar ajuda, já que as faculdades tavam fechadas
nos atendimentos, e parece que ele se tratava numa faculdade. Então, às vezes, a
pessoa quer conversar um assunto dele, familiar, mas muitas vezes ele vem me dar
sugestão. Porque como ele tá muito perto do paciente, ele vem me contar “olha, eu
acho que a senhora deveria mudar fulano de quarto porque ela tá tão amiga de fulana,
que se a senhora mudar ela de quarto, ela vai ficar superfeliz”, então, às vezes, eu
não percebi aquela coisa, aquela proximidade entre os dois pacientes, e ele como tá
ali perto, dando alimentação, cuidando, conversando, ele tem um outro olhar. Então
ele vem me contar, então aí eu posso concordar ou não, vai depender muito... porque,
às vezes, a pessoa se dá bem ali fora, no pátio, mas dentro do seu quarto, na sua
intimidade, a pessoa é outra, né? Então tem que ter uma análise mais profunda, mas,
na maioria das vezes, a gente aceita, eu vejo “ah, é isso mesmo”, então eu faço a
mudança que ele sugeriu, e aí o funcionário se sente super gratificado com isso.

Pré-Análise: Todos transmitiram se sentir abertos para expor dúvidas e possíveis


queixas.

Análise entre a proprietária e os funcionários: A fala da proprietária traz um viés


de acolhimento, de escuta dos funcionários, em um ambiente reservado e com a
devida atenção. Aspecto também percebido na narrativa dos funcionários, que foi
transmitida essa abertura para expor dúvidas e possíveis queixas.

Análise Final: É um ponto extremamente positivo para a organização esse espaço


para dúvidas e reclamações ser de fácil acesso, como mostra ser pelo relato tanto da
dona quanto dos funcionários.
70

7 PLANO DE AÇÃO

Como pôde ser observado, a instituição na qual foi realizado o Diagnóstico


Organizacional obtém muitos pontos positivos e favoráveis, como a comunicação
vertical entre as hierarquias, já que foi possível observar que os funcionários
entrevistados estavam cientes dos valores da empresa, de suas funções e
responsabilidades, além de terem a possibilidade de se queixarem de dúvidas e
dificuldades. Os materiais, denominados de EPIs, que são disponibilizados pela
empresa aparentam ser suficientes e o ambiente de trabalho aparenta ser confortável
e contribuir para o bem-estar dos trabalhadores. Além disso, é possível notar a
abertura que a proprietária deixa para que tomem iniciativas e desenvolvam seu
trabalho com qualidade e eficiência.
Apesar dos funcionários enxergarem algumas de suas tarefas como
repetitivas, eles ainda conseguem ver algum propósito nelas e, para que essas
atividades não caiam na rotina e passem a ser realizadas de qualquer forma, seria
interessante haver algum tipo de projeto para motivar os trabalhadores a continuar
desenvolvendo suas atividades de maneira responsável e eficiente.
Um dos pontos negativos ou desfavoráveis foi o aspecto da Saúde
Organizacional, que pode ser definida como um conjunto de fatores que exercem
impacto direto na produtividade e na lucratividade do negócio, como a qualidade dos
processos organizacionais, as políticas internas, a satisfação dos colaboradores, a
postura dos líderes e o correto alinhamento de metas e objetivos, já que aspectos
como o reconhecimento e o incentivo se mostraram pouco claros ou desfavoráveis.
Por conta disso, seria de extrema valia que fossem tomadas medidas para reconhecer
o trabalho dos funcionários e incentivá-los a manter um bom trabalho na empresa.
Notou-se que a proprietária se utiliza de feedbacks, dados tanto pelos
pacientes quanto pelas famílias ou responsáveis deles, para se manter motivada,
incentivada e sentir-se reconhecida na sua profissão. Sendo assim, uma das
atividades que poderiam ser realizadas para fortalecer esses pontos mencionados
seria a repassagem desses feedbacks, tanto negativos quanto positivos, recebidos
pela proprietária para os funcionários, para que eles também pudessem usufruir das
vantagens de se ter um retorno sobre seu trabalho. Sugerimos que seja desenvolvida
uma cultura de feedbacks dentro do ambiente empresarial, de forma que esses
feedbacks sejam repassados aos funcionários há cada 60 dias.
71

Além disso, poderiam ser realizadas algumas dinâmicas nas reuniões de


funcionários, dinâmicas tanto para integração quanto para o reconhecimento dos
pontos fortes e desenvolvimento dos pontos mais fracos. Um exemplo seria a
dinâmica das Qualidades e Deficiência, na qual os participantes tracejam suas duas
mãos sobre uma folha em branco e escrevem algumas de suas qualidades na mão
direita e algumas de suas deficiências na mão esquerda. Dessa forma, fica em
evidência que todos têm tanto qualidades quanto dificuldades, sendo o dever do
facilitador elogiar essas qualidades e propor intervenções para as falhas.
72

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FELKER, Reginald D.H. Pela Janela do Tempo – IV O Trabalho nas reduções


Jesuíticas Missioneiras.

KATZ, Robert; KAHN, Daniel. Psicologia Social das Organizações, São Paulo: Atlas,
1987.

REIS, R. S. dos; ANDRADE, F. L de; GÓIS, A. P. C. de; SILVA, A. S. Relatório de


Estágio Supervisionado em Psicologia Organizacional e do Trabalho, Diagnóstico
Organizacional: Correia Materiais Para Construção. Santos: Universidade Católica
de Santos, 2019.

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