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Passado dos trinta busquei junto aos meus descobrir algo sobre os Teixeira da Silva. Teriam
vindo de Portugal, seriam filhos de portugueses? Sabíamos que José Teixeira, meu bisavô,
nascera em Bom Jardim, na serrania fluminense. Que perdera a mãe e seu pai voltara a casar.
Não se deu lá muito bem com a madrasta, deixou a casa paterna para mascatear por estradas
ínvias e um hipotético acidente com uma das mulas do patrão fez com que em, 1868, aos
dezoito anos, se voluntariasse para a Guerra do Paraguai.
Logo descobri que as entrevistas com pai e tios renderiam pouco. O passado, nem tão distante,
estava soterrado por ignorância e superstição. Conceição, minha bisavó, instou José a enterrar a
espada com que lutara e de sua história menos ainda se saberia não fosse o registro de sua
atividade no exército imperial. Nunca entendera por que razão se criara tamanho vazio
biográfico, a meu ver inconcebível, frustrante para minha vontade de conhecer mais. Redigi uma
monografia do que consegui e para tanto concorreram algumas informações de família e poucos
documentos, como a página de O Progresso que noticiou sua morte, ou duas ou três crônicas de
meu avô Jerônimo, que traem a admiração que tinha pelo pai, que cedo lhe faltara.
Marchou com as forças expedicionárias comandadas pelo General João Manoel Menna Barreto,
morto no combate de Peribebuí, conforme narrado nas “Memórias do Visconde de Taunay”:
Depois de duas horas de intenso bombardeio, a fumaça subia, tangida pelo vento. À frente de
todos, montado num cavalo branco, solito, Osório começou a descer a encosta com “calma e
majestade, embora logo se tornasse alvo de nutrida fuzilaria”. Sua coragem arrebatou a tropa.
Menna Barreto emparelhou, mas pouco depois tombaria.
Peribebuí era então a improvisada capital paraguaia. Taunay apanhou alguns livros que
pertenciam a Lopez e protagonizou uma cena incrível, que me fez lembrar uma foto que vi no
museu que um dia foi a casa de Wagner em Bayreuth. Bombardeada em 1945, seu interior tem
poeira e caliça das explosões, que não impedem que um soldado norte-americano sente à frente
do piano que pertenceu ao músico. Sobre o piano, um capacete, uma taça e um castiçal de uma
só vela. A mão direita do soldado, junto ao teclado, sugere que improvisará algo
(https://www.ludwig-van.com/toronto/wp-content/uploads/sites/2/2012/10/soldier.jpg ).
O que teria pensado meu bisavô acerca de tudo aquilo? Tomando parte deste e de outros
combates, por certo avistou, pelo menos uma vez, ainda que de longe, Osório, Taunay, Conde d
´Eu e outros oficiais. Talvez também tenha visto Caxias, porquanto lutou em Itororó, combate
difícil para as tropas do Império e que exigiu a intervenção do patrono do Exército.
Taunay desabafa em seus relatos: “Oh! a guerra, sobretudo a guerra do Paraguai! Quanta
criança de dez anos, e menos ainda, morta quer de bala, quer lanceada junto às trincheiras que
percorri a cavalo, contendo a custo as lágrimas!”.
Segundo Marc Bloch “O passado é, por definição, um dado que nada mais modificará, mas o
conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e
aperfeiçoa”. Suspeito que tenha encontrado razões para que meu bisavô, muito além de suas
limitações, tenha deixado ao relento suas memórias, para que o vento do tempo as varresse.