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//primeira palavra

A CARTA DE PAULO AOS ROMANOS

N
enhuma dúvida existe de que foi Paulo o escritor
desta carta. Nascido no meio de uma família de pu-
ra raça judaica, orgulhosa de suas origens e apegada
à sua fé, cresceu fora da Palestina, na cidade de Tar-
so. Seu pai, apesar de judeu, tinha a cidadania romana. Pau-
lo herdou essa cidadania e a usou em alguns momentos para
sobreviver às perseguições.
Paulo era um fariseu. Educado no rigor do farisaísmo judai-
co. Foi discípulo de Gamaliel, um dos mais importantes pro-
fessores judeus da Escritura do primeiro século da era cristã.
Nesta carta Paulo denuncia, pela forma como escreve, todo o
seu vigor literário. Homem de mente brilhante, gastou sua vi-
da para disseminar o evangelho que ele, nesta epistola, expõe.
A melhor síntese de Romanos pode ser encontrada em
1.16.17: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primei-
ro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus
se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O jus-
to viverá por fé.”
As passagens de Romanos tendem a provocar duas coisas no
leitor. Ansiedade ou gratidão pela salvação de Deus. O primei-
ro sentimento aparece no coração daqueles que ainda não
são filhos de Deus. A esses a epístola apela para que se ou-
ça a voz do Espírito Santo através da pregação do evangelho.
O segundo sentimento, gratidão, brota no coração daqueles
que já foram regenerados por Cristo. Afinal, estes não têm
mais sobre si nenhuma condenação, seus pecados foram
perdoados e são considerados justos por Deus. Têm paz e vi-
vem esperando o momento da glorificação, quando residirão
eternamente com o Pai. Presentes de Deus, independentes
de qualquer merecimento.
Um bom estudo,

Pr. Dr. Valtair A. Miranda

//ALUNO .1
ISSN 1984-8633

LITERATURA BATISTA
ANO CXII – NO 445

Atitude Aluno é uma revista que destina-se


aos jovens (18 a 35 anos), contendo lições
para a Escola Bíblica Dominical, artigos gerais,
passatempos bíblicos e outras matérias que
promovem o aperfeiçoamento do jovem nas
mais diferentes áreas AUTOR DOS
ESTUDOS DA EBD
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2.
2 //ALUNO
//ALUNO
//sumário

//EBD
LIÇÃO 1 – Uma difícil chamada.................................................................................................... 9
LIÇÃO 2 – Uma contenda com Deus........................................................................................... 14
LIÇÃO 3 – As consequências do pecado..................................................................................... 19
LIÇÃO 4 – A exortação ao arrependimento............................................................................... 24
LIÇÃO 5 – A promessa da efusão do Espírito............................................................................. 28
LIÇÃO 6 – Uma terrível descrição................................................................................................ 34
LIÇÃO 7 – O chamamento ao perdão......................................................................................... 39
LIÇÃO 8 – A promessa da restauração....................................................................................... 44
LIÇÃO 9 – A visão de um povo em pecado................................................................................. 49
LIÇÃO 10 – A reação do profeta.................................................................................................. 54
LIÇÃO 11 – Dentro de um peixe: crer ou não crer.................................................................... 59
LIÇÃO 12 – A pregação do Evangelho no Antigo Testamento................................................. 64
LIÇÃO 13 – Uma lição para o profeta.......................................................................................... 69

//SEMPRE EM ATITUDE
Leitura bíblica ................................................................................................................................ 4
Tema da EBD ................................................................................................................................. 5
Poesia ............................................................................................................................................. 81

//CRESCIMENTO JOVEM
A síndrome de Belchior ................................................................................................................ 73
Metanoia: o que isto tem a ver com a juventude? ................................................................... 75
O padrão bíblico de nossos dias ................................................................................................. 83
A igreja também precisa de autoanálise ................................................................................... 91
O caminho do perdão .................................................................................................................. 93

//ALUNO .3
»LEITURA
BÍBLICA

Semana 1 Semana 2 Semana 3


SEG Rm 1.1-7 SEG Rm 2.1-4 SEG Rm 3.1-4
TER Rm 1.8-10 TER Rm 2.5-11 TER Rm 3.5-8
QUA Rm 1.11-15 QUA Rm 2.12-16 QUA Rm 3.9-18
QUI Rm 1.16,17 QUI Rm 2.17-21 QUI Rm 3.19-20
SEX Rm 1.18-21 SEX Rm 2.22-24 SEX Rm 3.21-23
SÁB Rm 1.22-25 SÁB Rm 2.25-27 SÁB Rm 3.24-26
DOM Rm 1.26-32 DOM Rm 2.28,29 DOM Rm 3.27-31

Semana 4 Semana 5 Semana 6


SEG Rm 4.1-3 SEG Rm 5.1-3 SEG Rm 6.1-4
TER Rm 4.4-6 TER Rm 5.4-6 TER Rm 6.5-7
QUA Rm 4.7-10 QUA Rm 5.7-9 QUA Rm 6.8-10
QUI Rm 4.11-14 QUI Rm 5.10,11 QUI Rm 6.11-14
SEX Rm 4.15-18 SEX Rm 5.12-15 SEX Rm 6.15-18
SÁB Rm 4.19-22 SÁB Rm 5.16-18 SÁB Rm 6.19-21
DOM Rm 4.23-25 DOM Rm 5.19-21 DOM Rm 6.22,23

Semana 7 Semana 8 Semana 9


SEG Rm 7.1-3 SEG Rm 8.1-5 SEG Rm 9.1-5
TER Rm 7.4-6 TER Rm 8.6-11 TER Rm 9.6-13
QUA Rm 7.7,8 QUA Rm 8.12-17 QUA Rm 9.14-16
QUI Rm 7.9-12 QUI Rm 8.18-23 QUI Rm 9.17-21
SEX Rm 7.13-16 SEX Rm 8.24-27 SEX Rm 9.22-24
SÁB Rm 7.17-21 SÁB Rm 8.28-30 SÁB Rm 9.25-29
DOM Rm 7.22-25 DOM Rm 8.31-39 DOM Rm 9.30-33

Semana 10 Semana 11 Semana 12 Semana 13


SEG Rm 10.1-3 SEG Rm 11.1-8 SEG Rm 13.1-4 SEG Rm 15.1-13
TER Rm 10.4-7 TER Rm 11.9-14 TER Rm 13.5-7 TER Rm 15.14-21
QUA Rm 18,9 QUA Rm 11.15-24 QUA Rm 13.8-14 QUA Rm 15.22-29
QUI Rm 10.10-12 QUI Rm 11.25-32 QUI Rm 14.1-6 QUI Rm 15.30-33
SEX Rm 10.13-16 SEX Rm 11.33-36 SEX Rm 14.7-12 SEX Rm 16.1-9
SÁB Rm 10.17,18 SÁB Rm 12.1-8 SÁB Rm 14.13-18 SÁB Rm 16.10-18
DOM Rm 10.19-21 DOM Rm 12.9-21 DOM Rm 14.19-23 DOM Rm 16.19-27

4. //ALUNO
TEMA DA EBD

QUEM ERA PAULO

Nonono
Xxx Xx, RJ
Desde o séc. VI antes de Cristo que era possível encontrar um núcleo,
os judeus não estavam mais concen- mesmo que pequeno, de judeus que
trados na sua Terra Santa, ou mais queriam viver suas vidas e adorar a
propriamente, a Palestina. Após a Deus ainda que longe da Palestina. A
derrota para os exércitos de Nabu- este fenômeno os estudiosos deram
codonozor, muitos judeus foram leva- o nome de diáspora. Isso significa que
dos compulsoriamente para a Meso- após o fim dos reinos de Israel e Judá,
potâmia. Outros, entretanto, debaixo os descendentes de Abraão não ti-
da grande crise que se abateu sobre nham por casa apenas a Palestina.
o antigo reino de Judá e seu último rei
Como era a vida destes judeus longe
Joaquim, preferiram fugir da região.
do Templo? Ainda era possível man-
O caso de Jeremias é evidência do
ter suas crenças e práticas religiosas
que pode ter acontecido em muitas
tão longe de Jerusalém e do Templo?
outras situações. Ele queria ficar na
Uma comunidade judaica que vivia
região até o desfecho dos conflitos
em Cartago, por exemplo, não podia
com Babilônia, mas foi forçado a fugir
dar-se ao luxo de continuar com os
com um grupo para o Egito.
ritos sacrificiais. Estavam muito longe
Egito, norte da África, Península Ibé- do Templo de Jerusalém para isso.
rica, Gália, Península Itálica, Grécia, Eles viviam em torno de outra institui-
Ásia Menor, e regiões ainda mais ção: a sinagoga. Era na sinagoga que
distantes, em todas estas regiões os judeus da diáspora mantinham

//ALUNO .5
seu culto e sua fé em Deus. Nela eles Marcada por grandes regionalismos,
ensinavam as suas tradições religio- os governantes romanos a adminis-
sas para seus filhos. Nela eles cul- travam com a ajuda das elites locais,
tuavam a Deus, não com sacrifícios, o que preservava seus interesses e a
porque não se sacrificava qualquer mantinha sem muitas mudanças em
animal numa sinagoga. O culto na relação ao período anterior à chegada
sinagoga consistia de alguns poucos dos romanos.
atos: oração, leitura das Escrituras,
Estrabão, um geógrafo romano nas-
explicação das escrituras, cântico de
cido na província do Ponto, não muito
algum hino ou salmo. Percebe-se que
longe da Cilicia, em algum momento
o centro da prática sinagogal eram as
entre 7 e 23 depois de Cristo, assim
Escrituras e não mais os ritos sacri-
descreveu a cidade de Tarso:
ficiais. A marca deste judaísmo que
se desenvolvia longe de Jerusalém “Os habitantes de Tarso são tão apai-
era justamente sua independência xonados pela filosofia, têm uma forma-
do Templo e dos ritos para sua vida ção tão enciclopédica, que sua cidade
religiosa, que agora giravam em torno acabou por eclipsar Atenas, Alexandria
dos textos sagrados. e todas as outras cidades conhecidas
como estas por terem dado origem
Isso não quer dizer que os judeus de a alguma seita ou escola filosófica...
Roma ou Éfeso não se importavam Como Alexandria, Tarso tem escolas
com o Templo. Pelo menos uma vez para todos os ramos das artes liberais.
por ano, vários deles faziam pere- Acrescentai a isso o número elevado de
grinações para Jerusalém e ali fes- sua população e a sua hegemonia sobre
tejavam a grande casa de Deus em as cidades vizinhas e compreendereis
cima do monte Sião. O importante é que ela pode reinvidicar o nome e a
entender que estes judeus já sabiam posição de metrópole da Cilícia” (Es-
como viver sem Templo e sacrifícios trabão, Geografia, XIV, V, 13).
muito antes de seus irmãos da Judéia.
Esta descrição de Estrabão ajuda-nos
Tarso era uma destas cidades onde a entender a cidade de ondem surgiu
havia uma colônia judaica. A cidade uma das figuras mais importantes
se localizava na província da Cilicia. para os primórdios do Cristianismo.
Era uma província imperial, ou seja, Seu nome era Saulo, nome judaico.
governada por um procurador im- Nasceu em Tarso em torno do ano
perial, normalmente um senador 1 de nossa era. E como muitas crian-
romano. A região foi anexada ao ças judaicas da diáspora cujos pais
Império desde as ações do general tinham uma situação social razoável,
Pompeu no ano 64 a.C. Depois de foi educado tanto nas tradições ju-
muitas mudanças no quadro provin- daicas quanto nas gregas. A confiar
cial da região, ela acabou reduzida na exposição positiva de Estrabão,
a um trecho cercado ao norte pela Tarso viabilizava para um jovem
Capadócia, ao sul pelo mar, ao leste como Saulo toda a cultura clássica
pela Síria e ao Oeste pela Panfília. para ele se tornar um jovem culto.

6. //ALUNO
Não se sabe ao certo se o jovem era Neste período ele se envolverá com o
aluno de alguma de suas escolas de movimento farisaico, possivelmente
filosofia, mas não seria algo imprová- por causa de seu zelo com as Escri-
vel. Posteriormente ele demonstrará turas.
uma grande desenvoltura literária,
por meio de cartas, e cultural, com Paulo não teve contato com Jesus
conhecimento de pelo menos alguns durante seu curto ministério de três
filósofos gregos. anos, mas logo se envolveu no con-
flito com seus discípulos da diáspora.
Tarso era uma cidade de grande porte. É desta forma que ele é apresentado
Possivelmente a maior da província. no Novo Testamento pela primeira
Talvez contasse, nos tempos de Paulo, vez, no livro de Atos, participando
com 300 mil habitantes. Uma de suas da ação violenta contra Estêvao, o
principais obras de exportação era líder do movimento de Jesus entre
conhecida pelo nome de “cilício”, em os judeus helenistas.
homenagem à província. Era um te-
cido rústico feito de pele de cabra, e No caminho de Damasco
utilizado para confeccionar as tendas Parece haver algum intervalo entre
dos muitos nômades de passagem a perseguição aos helenistas do livro
pela região. Paulo aprendeu esta pro- de Atos e a viagem que Paulo faz a
fissão, e, com alguma probabilidade, Damasco. Quando Paulo chega lá, já
essa também era a profissão de seus há uma igreja na cidade, talvez fruto
pais. Ele era um fazedor de tendas, da missão dos helenistas. Seria pre-
um comerciante, acostumado com ciso algum intervalo de tempo. Pos-
a arte da persuasão desde cedo, um teriormente, quando escreverá uma
cosmopolita, profundo conhecedor da carta aos Gálatas, Paulo dará algumas
vida urbana típica das muitas cidades indicações cronológicas. Ele fala de
parecidas com a sua espalhadas por um intervalo de 3 anos entre sua
todo o império. conversão no caminho de Damasco
e sua primeira ida a Jerusalém (Gl
Em algum momento após sua forma-
1.18). Fala também de um intervalo
ção inicial, ele foi enviado para Jeru-
de 14 anos até outra visita para o
salém, o núcleo do Judaísmo, para
evento que ficou conhecido como
continuar seus estudos religiosos.
o Concílio de Jerusalém (Gl 2.1). Os
Isso demonstra que seus pais eram
números deveriam bastar, mas não
judeus piedosos e de grande zelo
é tão simples. Isso porque era cor-
religioso. Não bastava criar o filho
rente na época que os anos fossem
numa sinagoga da cidade. Ele precisa
contados a partir do momento em
ser educado rigorosamente por um
que ele começou. Apenas começado,
dos rabinos de Jerusalém.
já se contava como um ano inteiro.
É neste contexto que Saulo transfere Por isso, não basta somar estes anos.
sua formação para a Judeia, para É preciso compara-los com outros
aprender com Gamaliel, um dos ra- elementos para uma data relativa.
binos mais importantes do período. Alguns autores sugerem, então, o

//ALUNO .7
ano 36 como o ano da viagem a Da- O que ele precisava fazer daqui para
masco. As notícias de um núcleo de frente era reler toda a sua cultura ju-
discípulos de Jesus naquela cidade daica, tudo o que aprendera de seus
deveriam ter chegado até a liderança pais, professores da sinagoga, e de
de Jerusalém, discípulos estes que Gamaliel, tudo o que conhecia das
deveriam girar predominantemente Escrituras Sagradas, a partir do fato
em torno de uma fé do tipo helenista. de que Jesus era o messias.
As comunidades plantadas pelos he-
lenistas, mesmo tendo uma abertura Após a manifestação de Jesus no
maior para os gentios, ainda eram caminho, Paulo cai do cavalo, ouve
parte da base judaica na cidade, ou o recado, mas agora não consegue
seja, dos núcleos judaicos. Esse ca- mais enxergar. Sua visão só retornará
ráter da comunidade de Damasco quando chegar à cidade de Damasco,
incomodou a liderança de Jerusalém. auxiliado já pelos discípulos de Jesus
que lá encontrou.
Damasco era uma importante cidade
da Síria, a pouco mais de 200 quilôme- Auxiliado por Ananias, um líder da co-
tros de distancia de Jerusalém, numa munidade local, Paulo não só aceita a
viagem que na época poderia durar mensagem de que Jesus era o Messias
uma semana. Algo, entretanto, aconte- enviado de Deus, que morreu, ressus-
ceu nesta viagem. O homem que saiu citou e agora está ao lado de Deus, mas
de Jerusalém não era mais o mesmo também é aceito pela comunidade que
quando chegou à cidade da Síria. a pouco tempo antes perseguira.

O próprio Paulo não deixou muitas A descrição curta do que aconteceu


informações sobre o que aconte- após a conversão aparece nas pa-
ceu. Mas a narrativa de Atos é mais lavras do próprio Paulo em Gálatas
próspera em detalhes, mencionando 1.16-18. Segundo ele, após algum
sua conversão em três momentos tempo na cidade, ele parte para Ará-
diferentes. Uma enquanto narra a bia. Atualmente, Arábia pode signi-
viagem (At 9.1-19), e outras duas du- ficar toda a Península que começa
rante diálogos de Paulo com judeus ao sul da Palestina e Mesopotamia
em Jerusalém (At 22.4-21) e com o e se estende para dentro do Oceano
governador Festo e o rei Agripa (At Ìndico, margeada, à leste pelo Golfo
26.9-18). O que aconteceu com Paulo Pérsico e a oeste pelo Mar Vermelho.
foi a manifestação de uma visão do Mas no tempo de Paulo o termo era
Cristo ressuscitado. Ele viu o próprio usado para se referir simplesmente
Jesus. Aquele encontro mudou tudo. aos territórios a oeste do Jordão.
Jesus diz algumas poucas palavras Parte da região estava sob controle
para Paulo, mas não eram necessá- romano, outra sob controle do rei dos
rias muitas outras. Aquela visão foi nabateus. Possivelmente Paulo ficou
o suficiente para que ele entendesse na região durante alguns meses pre-
que Jesus era realmente o messias gando a fé que acabara de abraçar,
profetizado pelos antigos profetas. mas não deixou nada escrito sobre o

8. //ALUNO
resultado da sua missão. Ele retorna homenagem à sua sinagoga; con-
para Damasco, mas nesta sua volta cederam-lhes, além disso, os mes-
não é bem recebido pela comunidade mos direitos de cidadania dos quais
judaica da cidade, que preciona a li- gozavam os gregos... [os judeus da
derança da cidade para prendê-lo. Ele cidade] atraíram sucessivamente
precisou fugir da cidade descendo em ao seu culto um grande número
uma cesta para o lado externo dos de gregos, os quais, desde então,
muros da cidade. Foi somente então se tornaram, de certa forma, parte
que ele decide voltar a Jerusalem. Nos de sua comunidade”. Noutra obra,
cálculos de Paulo, três anos após sua desta vez Antiguidades Judaicas (16,
conversão, período que para os estu- 148), ele escreve: “aos habitantes de
diosos deve estar situado entre em Antioquia, a principal cidade da Siria,
algum momento do ano 38 ou 39. atravessada em toda a sua exten-
são por uma larga avenida, ofere-
Em Jerusalém, procurou abrigo na ceu ele pórticos margeando-a dos
igreja dirigida pelos apóstolos, e dois lados e pavimentou a sua parte
conseguiu com a ajuda de um hele- descoberta com pedras polidas,
nista de nome Barnabé, natural da contribuindo assim singularmente
ilha de Chipre. Parece que a igreja para a beleza da cidade e para a
não se mostrou muito entusiasmada comodidade dos seus habitantes”.
com a conversão do ex-perseguidor,
apesar de Atos 9.28 o descrever com Pelo relato de Josefo é possível per-
a igreja em franca atividade de pre- ceber elementos tanto da cidade
gação. Segundo Atos, ele “entrava e quanto da colônia judaica que ali
saia” com os apóstolos , pregando havia. Antioquia era uma grande ci-
“ousadamente em nome do Senhor”. dade, enriquecida em sua estrutura
urbana pelos governantes helênicos
Não deveria ser confortável para li- que a construíram. Ela foi fundada
derança judaica ver um antigo aliado em 301 a.C. por Seleuco da Siria, um
agora filiado ao movimento de Jesus. dos generais de Alexandre o grande,
Quando ameaças de morte começa- e na época romana era a terceira
ram a surgir, Paulo saiu da cidade, maior cidade do império. Só perdia
desta vez para Cesareia, e depois para Roma e Alexandria. Estrabão,
para sua cidade natal, Tarso. o geógrafo, escreveu que ela tinha
A igreja de Antioquia 500.000 habitantes e muralhas que
abraçavam um circunferência urbana
Josefo, em alguns momentos de sua
de 15 km de extensão.
obra, falou com distinção da cidade
de Antioquia da Síria. No livro Guerra Sua posição a deixava no limiar de
Judaica (VII, 44-45), ele escreveu que mundos antigos. Perto do mar, ela
governantes sucessores de Antíoco recebia caravanas do Oriente e do
Epífanes “restituíram aos judeus Ocidente, interligando-as. Esse es-
de Antioquia todos os objetos voti- pírito multicultural se manifestou
vos de bronze, oferecendo-os em também entre os judeus da cidade,

//ALUNO .9
que como Josefo os descreve, criaram como Simeão (o Niger), Lúcio (de
uma comunidade com a presença Cirene) e Manaém, lideravam a co-
de um grande número de “gregos”, munidade formando uma espécie
ou prosélitos. de liderança colegiada. O apelido
de Simeão, Níger, o vincula com o
Não é difícil perceber, então, que
norte da África. Afinal, Niger era o
esse clima tanto da cidade quanto
nome de um Rio que cortava o oci-
do judaísmo local abriu ainda mais
dente do continente africano. Lúcio
os horizontes da missão dos hele-
veio de Cirene, a principal cidade da
nistas. Segundo Atos 11.20, em An-
província romana de Cirenaica, tam-
tioquia eles pregavam também aos
bém no continente africano, a meia
gregos. Isso indica que mesmo os
distância de Cartago e Alexandria.
helenistas tinham a pratica de pre-
De Manaém não se tem nenhuma
gar, até este momento, apenas para
outra informação a não ser que ele
grupos judaicos. Mas ao chegar em
tinha sido criado junto com Herodes
Antioquia, encontrando uma comuni-
o Tetrarca. Isso diz algo sobre sua
dade judaica formada por um grande
situação social e econômica, mas não
número de gentios, eles não perce-
diz muito sobre sua situação étnica.
bem dificuldade em dirigir a estes de
Com exceção de Manaem, então, os
forma direta a mensagem sobre Je-
demais líderes da igreja eram de fora
sus, palavra que deve ter surtido um
da Palestina. Se eram judeus, eram
grande efeito. A igreja que nasce na
da diáspora, dois deles, inclusive, afri-
cidade é marcada pelo tom gentílico,
canos. O perfil da liderança deveria
o que preocupou os líderes da igreja
se repetir na membresia da igreja.
de Jerusalém quando eles tomaram
Esta era uma igreja de perfil étnico
conhecimento do perfil étnico dos
bem diferente da igreja de Jerusalém.
novos convertidos.
Os seus membros deveriam ser na
A igreja de Jerusalém se vê como res- maioria helenistas (judeus da diás-
ponsável pelo movimento de Jesus, e pora) ou gentios convertidos (oriun-
envia um de seus membros, um he- dos do circulo sinagogal da cidade).
lenista, Barnabé, natural de Chipre,
Uma igreja como esta não sente qual-
para verificar o tipo de fé que os no-
quer falta do templo de Jerusalém
vos crentes experimentavam. Ele logo
ou mesmo das tradições legais ju-
soube reconhecer a autenticidade
daicas. Sua estrutura de culto girava
da fé que havia naqueles corações
em torno da pregação das Escrituras
(At 11.23), e, por algum motivo não
judaicas, hinos e orações. Foi em uma
apontado, foi em busca de Saulo de
destas reuniões que um dos profe-
Tarso para ajudá-lo na organização
tas da igreja teve uma experiência
da igreja de Antioquia, coisa que deve
espiritual de natureza missionária.
ter se situado no ano de 44.
O que ele ouviu está em Lucas 13.2:
Durante alguns anos, Barnabé, Paulo, “Separai-me, agora, Barnabé e Saulo
e outros, denominados em Atos 13 para a obra que os tenho chamado”.

10 . //ALUNO
Paulo, inicialmente com Barnabé, e Paulo não conhecia a igreja pessoal-
depois com outros companheiros mente, e não faz qualquer menção
de viagem, levou “o evangelho à de quem a fundou. Esta comunidade
ilha de Chipre, às várias cidades cristã pode ter sido fundada por ju-
da Ásia Menor, à Grécia, à Chipre, deus que se converteram no sermão
às várias cidades da Ásia Menor, de Pedro, durante o Pentecostes. Ju-
à Grécia, à Roma, e talvez até a deus de todas as partes do mundo
Espanha”. estavam em Jerusalém naquela opor-
Sob a imposição das mãos da con- tunidade. Na verdade, qualquer outro
gregação, gesto que indicava solida- grupo de convertidos poderia tê-la
riedade na missão, Barnabé e Saulo fundado, já que todas as estradas
se dispuseram a iniciar a missão. Os conduziam à capital do Império. Os
missionários precisavam não apenas planos de Paulo eram de, ao termi-
das orações daquela igreja, mas da nar de escrever a carta, ir à Jerusalém
sua ajuda na forma de víveres e di- entregar uma oferta levantada pelas
nheiro para custearem as viagens. igrejas de fora da Palestina. Como ele
não sabia se seria bem recebido, pede
Isso não significa que Barnabé e orações pela sua viagem. Após esse
Paulo foram os primeiros missio- último compromisso, começaria sua
nários. É bom lembrar que quando viagem para Roma.
Paulo chegou a Damasco, já tinha
discípulo de Jesus ali. Quando ele Seu propósito era usar a capital como
escreve para Roma, já haviam entreposto para ir até a Espanha e
muitos seguidores de Jesus por lá. outras regiões do ocidente (Ro 15.23s)
Como o movimento se espalhava, para pregar nesses lugares a mesma
então? Os crentes se espalhavam mensagem que foi pregada na Pa-
por motivos de viagem, persegui- lestina e Ásia. Através da leitura de
ção ou mesmo vocação missioná- Atos 21.1s descobrimos que Paulo
ria. A atividade missionária não foi, realmente foi para Roma, apesar de
aparentemente, a causa primeira não ser na situação que gostaria de
da expansão do movimento de Je- ter ido. Ao chegar em Jerusalém, foi
sus, e sim as viagens, o comercio, preso. Só conseguiu chegar na Capital
as peregrinações religiosas etc. do Império na situação de prisioneiro
Isso significa que a maior contribui- (Atos 27.1s). Alguns anos depois desta
ção de Paulo não é mesmo a via- Epístola ter sido lida pelos irmãos de
gem missionária, mas suas cartas, Roma, Paulo finalmente estava ali.
que entraram no cânon e influen- Preso, é verdade, mas de uma forma
ciaram toda a igreja subsequente. A que não o impedia de pregar e in-
carta aos Romanos foi uma destas, fluenciar Roma com o Evangelho de
escrita de Corinto no ano de 58, Cristo. O futuro mostraria que sua
quando fazia planos para depositar mensagem dominaria não só a ci-
uma coleta em Jerusalém, e logo dade, mas todo o Império. O Evan-
partir para Roma (At 19.21). gelho prevaleceu!

//ALUNO .11
1
//EBD

L I Ç Ã O

O RETRATO
DO HOMEM
TEXTO BÍBLICO

ROMANOS 1.1-32 DA CIDADE


ONTEM E HOJE
ROMANOS 1.16-17
TEXTO ÁUREO

ESDRAS 3.11

Se alguém pedisse para você mencionar um adjetivo que resu-


»PRA COMEÇAR

misse o estado de “ser humano”, qual seria essa palavra? Alguns


talvez usassem “inteligente”, “belo”, “criatura”, “frágil”. Mas, in-
felizmente, se quisermos um atributo que resuma o conjunto da
humanidade teríamos que optar mesmo pelo terrível adjetivo
“pecador”.
Ao Bíblia não é muito otimista quando descreve a principal das
criaturas de Deus. Resume-a como uma obra rebelde, corrupta e
perdida, cuja única chance de salvação está no próprio Criador.

12 . //ALUNO
»COMENTANDO
O TEXTO BÍBLICO

Introdução (Romanos 1.1-7) Exuberância e riqueza, mas também


Paulo escreve como um escravo de sujeira, bagunça, superpopulação.
Jesus Cristo na função de um simples Ruas repletas de pessoas, a maioria
apóstolo (aquele que é enviado pelo suja e malvestida. Casas minúsculas
seu senhor para levar uma mensagem amontoam-se pelas ladeiras. Crianças
para outros servos). Ele estava convicto e mendigos esmolam por toda parte.
quem era seu Senhor e da importância Muitos pobres dormem ao relento, em
da mensagem que recebera para os frente a comércios, mercados e fontes.
discípulos de Cristo que moravam Nos muros, propagandas políticas e de-
na grande cidade de Roma, capital clarações de amor. A sujeira contrasta
do Império Romano. Ele sabia que com modernos e belíssimos prédios
os habitantes de Roma precisavam de mármore, endereço de instituições
ouvir a mensagem do Evangelho. As- públicas. Nas regiões mais nobres da
sim ele escreve já para os discípulos cidade, construções majestosas e impo-
que habitavam a grande cidade e já nentes abrigam as famílias ricas e seus
desfrutavam da fé em Cristo. escravos. Dentro dos palacetes, não
raro as festas, com fartura de comida e
Roma – o desafio da grande cidade bebida, evoluem para uma orgia. Viver
(Romanos 1.8-10) na primeira megalópole do mundo era
Paulo desejava visitar a cidade de uma experiência de contrastes.
Roma. Era um sonho de Paulo chegar Este texto nos mostra que a extensão
à capital romana. A cidade parecia da nossa fé em Cristo é alcançar o
uma miniatura do mundo: a primeira mundo todo (1.8); também nos ensina
megalópole da história tinha gente a interceder por aqueles que estão
de todas as raças e línguas, além de anunciando o evangelho nas cidades
ser rica e exuberante. Também uma (1.9,10); e desejar participar de uma
cidade muito bagunçada e perigosa. visita no campo missionário e ver de
Mas Paulo tinha um objetivo - levar perto os desafios da evangelização em
o evangelho de Cristo para os habi- grandes centros urbanos.
tantes daquela metrópole. Ele sabia
que o evangelho poderia fazer muita A pregação necessária para a cida-
diferença na vida daquela gente. de (Romanos 1.11-15)
Ele sabia que os romanos também Mesmo tendo tantos impedimentos,
tinham o direito de ouvir sobre a Paulo não desistia de sua viagem
esperança do evangelho de Cristo. missionária. Mesmo diante de tantos
O jornalista Reinaldo José Lopes impedimentos não permitia sufocar
descreve a Roma antiga cheia de seu anseio de chegar a Roma. Ele

//ALUNO .13
confessa algo precioso para nós. Seu pessoas por quilômetro quadrado
desejo de compartilhar a fé mútua. (hoje, a cidade mais apertada do mun-
A possibilidade de compartilhar um do é Mumbai, na Índia, com 29650
dom espiritual e mutuamente serem pessoas por quilômetro quadrado).
fortalecidos e encorajados (1.11,12). Mesmo superpovoada e tumultuada,
Ele confessa que está de prontidão, Roma nunca sofreu de baixa auto-es-
pronto para anunciar o evangelho em tima. Prova disso era o costume de
qualquer lugar. Ele nos ensina sobre começar as proclamações oficiais com
o desprendimento de conhecer novos a expressão latina Urbi et Orbi, ou seja,
lugares e novas culturas e testemu- “à cidade e ao mundo”. Era como se
nhar do Evangelho. aquele formigueiro humano, sozinho,
Impossibilitado de estar presente es- tivesse tanto peso quanto todo o resto
creve uma das cartas mais ricas sobre do planeta junto – o que não estava
a graça de Deus na vida humana. assim tão longe da verdade. (Reinaldo
José Lopes | 01/09/2008)
O segredo da mensagem do evange-
Assim ele denuncia como a Glória
lho para a cidade (Romanos 1.16,17)
de Deus foi substituída pela glória
Aqui está nossa confissão de fé. Paulo humana através das imagens idóla-
afirma que não se envergonha do tras e da imoralidade sexual pagã.
Evangelho de Cristo. O evangelho é Denunciando que substituíram a
o poder de Deus para salvação de verdade pela mentira, adoravam a
todo aquele que crê (tanto do judeu criatura em lugar do Criador.
como do não judeu). Você pode grifar
em sua Bíblia estes versos. É o texto A degradação humana em uma
áureo de toda a carta. Você precisa cidade (Romanos 1.26-32)
memorizar este verso. Aqui está o retrato de uma cidade.
Paulo descreve de forma literária
A glória humana revelada numa como uma fotografia do ser humano.
cidade (Romanos 1.18-25) Todos nós estamos incluídos nesta
A cidade gerou uma cultura de distancia- fotografia. Em algum momento eu e
mento de Deus. Cremos que a criação e você fomos mencionados. Saímos na
todas as coisas criadas manifestam os foto. Não dá para escapar. Em algum
atributos invisíveis de Deus. Isto significa momento ele me encontrou no meu
que a natureza revela a glória de Deus. pecado. Paulo não se excluiu desta
Glória significa a visibilidade da presença imagem. A imagem do homem que
e existência de Deus. busca conhecer a Deus do seu modo.
Roma, em seu ápice, ela era quase Na primeira impressão parece que
idêntica às metrópoles atuais (mas Paulo exagerou, mas quando leio os
sem a poluição no ar, claro). Aliás, historiadores daquela época descu-
Roma era ainda mais apinhada que bro que Paulo foi até comedido em
os exemplos anteriores: no ano 200 sua descrição. Os autores da época
alcançou 1 milhão de habitantes e sua descreveram de forma muito mais
densidade demográfica atingiu 66 mil voraz a cidade de Roma.

14 . //ALUNO
Quando olhamos nossa cidade, nos- milhões de pessoas somente nestas
sa cultura, descobrimos que “ainda 10 cidades.
somos os mesmos”, como diz a Há uma previsão que em 2050 exis-
canção de um compositor brasileiro. tam cerca de 30 cidades com mais
E o mesmo espírito de Paulo deve de 10 milhões de habitantes. Como
também nos impulsionar para nossa estarão vivendo os habitantes dessas
cidade e ver o ser humano carente cidades nos próximos anos? Como o
de encontrar Deus verdadeiramente. evangelho pode reverter a situação
dessas cidades? Calcula-se que ha-
Uma visão geral
verá escassez de água, alimentos e o
O capítulo termina falando de pessoas crescimento de doenças epidêmicas e
que conhecerão bem os decretos di- a degradação moral serão as marcas
vinos, porém confrontarão as leis da dessas cidades. Assim era a grande
vida humana desobedecendo estes metrópole romana.
decretos e aprovando aqueles que Certamente novas tecnologias surgi-
as praticam. rão que modificarão o modus viven-
Quando falamos nas maiores cidades dus das grandes cidades. O desafio é
do mundo, estamos claramente a preparar líderes para fazer discípulos
classificá-las pela densidade popula- de casa em casa, de pessoa a pessoa.
cional. Para quem não sabe, mais de Atuando nas áreas mais miseráveis da
metade da população mundial está cidade, com os excluídos e crianças
distribuída pelas grandes cidades. que nascerão neste ambiente.
Uma revista ranqueou as 10 maiores Deus não está fora da cidade... O seu
cidades do mundo: Tóquio, Déli, São amor inundará a cidade de pequenas
Paulo, Mumbai, Cidade do México, comunidades que transformaram pe-
Nova Iorque, Xanguai, Calcutá, Da- lo poder do evangelho estas pessoas

{}
ca, Los Angeles. Totalizando 200 carentes da graça de Deus.

»A LIÇÃO
EM FOCO

1) Uma das grandes dificuldades dos leitores da Bíblia hoje é aplicarem-na


às suas próprias vidas. Se o estudo bíblico for feito sem aplicação, numa
classe de Escola Bíblica ou num momento individual, não haverá cresci-
mento. O texto ficará sem vida, irrelevante para a alimentação diária dos
filhos de Deus. Por isso, recomendamos a cada leitor que procure aplicar
pessoalmente as passagens bíblicas à sua vida. Para ajudar nesse proces-
so, atente sempre, após o estudo, para as seguintes perguntas: há, nesta
passagem, algum pecado para manter-me afastado? Alguma promessa

//ALUNO .15
que eu poderia apropriar-me? Algum mandamento para eu obedecer? Al-
guma bênção que eu possa desfrutar? Alguma falha a partir da qual eu
possa aprender? Alguma vitória que eu deva alcançar? Algum novo pensa-
mento sobre Deus, o Senhor Jesus, o Espírito Santo, Satanás, ou o homem?
2) Você deve ter orgulho do Evangelho de Cristo, pois ele é poderoso. Quer
prova maior do seu poder do que a transformação da sua vida? Olhe em
volta e veja quantas pessoas tiveram suas vidas transformadas pelo poder do
Evangelho. Traficantes de drogas transformam-se em proclamadores da gra-
ça de Jesus, prostitutas em respeitáveis divulgadoras do Evangelho, ladrões
em zelosos praticantes da Lei de Deus, homossexuais em honrados defen-
sores da moral divina. Só mesmo o Evangelho pode transformar uma vida.
3) O Evangelho de Cristo é justo. É a expressão máxima da justiça de
Deus. Ao mesmo tempo em que demonstra a condenação, aponta a sal-
vação. Isso sem distinção. Sejam ricos ou pobres, feios ou bonitos, ma-
gros ou gordos, brasileiros ou estrangeiros.
4) Não envergonhe o Evangelho de Cristo com sua vergonha do mesmo.
Encha o peito e grite: “eu sou de Cristo e só ele pode salvar!” Não é raro
ver jovens cristãos terem vergonha de testemunhar da sua fé numa si-
tuação escolar. Seus colegas zombam dele por ele ser e pensar diferente
da maioria. Nesta situação, influencie, em vez de ser influenciado.
5) Contemplar o ser humano como a passagem descreve não é pessimis-
mo ou melancolia. É realismo. Esta visão deve provocar em nós duas coi-
sas: gratidão a Deus pelo que ele fez por nós e desejo de proclamar o Evan-
gelho, como Paulo proclamou, para que Deus continue salvando pessoas,
libertando-as da situação miserável e irremediável em que se encontram.

»PRA TOMAR
UMA ATITUDE
A imoralidade da sociedade contemporânea não é
fruto dos novos tempos. É consequência do pecado
humano. Nossos pais diziam que no passado a imo-
ralidade era menor. Como os corações dos homens
nunca deixaram de ser imorais, o que era diferente
era a visibilidade dessa corrupção. A corrupção exis-
tia, mas de uma forma disfarçada.

16 . //ALUNO
2
//EBD

L I Ç Ã O

O PERFEITO TEXTO BÍBLICO

EROMANOS 2.1-29

JUÍZO DE DEUS TEXTO ÁUREO

ROMANOS 2.2

Quando Paulo descreve a natureza pecaminosa da cidade de


Roma, ele inclui também os judeus. Estes se orgulhavam de te-
»PRA COMEÇAR

rem a lei e a herança judaica. Mas Paulo mostra que a religião


não deixa o homem isento de condenação. Pelo contrário ele
acusa a hipocrisia religiosa dos judeus que embora ensinassem
uma vida correta, não conseguiam colocar na prática seus man-
damentos. Assim Paulo argumenta que todos os rituais judaicos
como a observância de suas tradições e sua circuncisão não re-
presentavam que estariam fora do juízo de Deus. Ele fala de uma
fé interior que sobrepuja a religiosidade exterior. Tanto os judeus
como os não judeus precisavam da graça de Deus.

//ALUNO
//ALUNO .17
.17
»COMENTANDO
O TEXTO BÍBLICO

Certo pastor, ao perceber que preci- farisaico da época de Paulo. Eles não
saria esperar bastante pelo próximo eram simplesmente exagerados ou
ônibus numa rodoviária do nosso excêntricos. Eram legalistas, pessoas
país, resolveu aproveitar o tempo que imaginavam que alcançariam o
para evangelizar alguém. Foi quando favor de Deus se conhecessem e pra-
descobriu um jovem numa típica ticassem a sua Lei dada aos profetas
situação de miséria social, destas do passado.
comuns em nossas grandes cidades.
No capítulo 1 Paulo demonstrou que
Durante a conversa, o jovem demons-
as pessoas no mundo estão normal-
trou ter um conhecimento de Igreja
mente entregues à devassidão, imora-
e Bíblia incomum para alguém na
lidade, corrupção, pecado, como uma
sua situação. Sua memória treinada
forma de juízo antecipado de Deus,
conseguia antecipar os versículos
por não terem atentado para o conhe-
que o pastor usava para pregar-lhe
cimento e revelação que dEle tiveram.
o Evangelho.
Eram as pessoas denominadas pelos
Isto despertou a curiosidade do pas- judeus na época de gentias e por nós
tor, que acabou descobrindo que ele hoje de “mundanas”.
já fora membro ativo de uma Igreja
Ao chegar ao final dessa argumentação
Evangélica. Entretanto, pela sua vida
ele percebe que talvez alguém pos-
e comportamento atual, seus dias
sivelmente estivesse concordando e
numa igreja local não conseguiram
gritando com ele: “é isso mesmo Paulo!
tira-lo da perdição, apesar de tê-lo
Eles estão perdidos. Merecem o infer-
feito um conhecedor de Bíblia.
no!” Paulo se volta para estas pessoas
Conhecer a Bíblia não implica ne- imaginárias e diz: “vocês estão errados
cessariamente em conhecer a Deus. em julgar as pessoas mundanas. Vocês
Os judeus demonstraram isso para também são pecadores e merecedores
nós. Apesar de possuírem todas as da ira de Deus.” Os religiosos também
revelações do Antigo Testamento, são merecedores da ira divina.
mataram o Filho de Deus quando
Uma das principais teses desse capítulo
este apareceu no meio deles.
de Romanos é que o conhecimento
Não há distinção no julgamento das ordenanças não é suficiente para
divino (2.5-11) salvar. Somente a prática completa
dos mandamentos poderia satisfazer
Já ouve gente que só comia um ovo
a justiça divina.
posto no sábado se a galinha que o
botou fosse morta no dia seguinte. Pelo Infelizmente essa via, se bem que real,
menos assim prescrevia um ensino é impossível de ser trilhada. Ninguém

18 . //ALUNO
pode cumprir cabalmente todos os as ações, a vida eterna está separada
mandamentos. Não há uma só pessoa para quem faz o bem, que busca a
que consiga cumprir a Lei de Deus do glória, a honra e a imortalidade.
fundo do coração. Se o afirma, é men-
Deus não é imparcial. Os judeus não
tirosa. Somente Jesus, o Deus-homem,
poderiam considerar serem privilegia-
o conseguiu.
dos e isentos das consequências de
É uma crítica direta de Paulo ao judaís- seus pecados. Para entender a graça
mo, ou a qualquer sistema religioso de Deus é necessário começar com a
que afirme conseguir levar o homem consciência do julgamento divino. As
até Deus. Os judeus, especialmente, nossas ações e nossos pensamentos
achavam que eram muito melhores nos condenam. O homem sabe que
que as pessoas mundanas (gentias, no é rebelde, teimoso, egoístas e obede-
vocabulário deles) pela sua herança cem ao pecado em vez de obedecer
religiosa e suas tradições. A falsidade a verdade. Assim o destino do ser
dessa auto-imagem é desfeita nas humano é de tribulação e angústia.
perguntas retóricas de Paulo: “você Assim o arrependimento surge como
julga, mas faz as mesmas coisas que exigência para todos, tantos dos judeus
eles. Como escapará do julgamento como para os não judeus.
de Deus?” A resposta é enfática: a
salvação não pode vir das obras. O julgamento divino (Romanos
2.12-16)
Mesmo que alguém consiga esforçar-
-se até os limites da sua humanidade Paulo está convicto do dia do julga-
para cumprir todos os itens das or- mento divino que julgará os pensa-
denanças divinas, o estará fazendo mentos secretos dos homens. Ele
por medo de punição ou por amor entende que o homem foi criado com
à recompensa, e não por livre dispo- a lei gravada no coração. Mesmo os
sição para obedecer. Preferiria agir povos que não tinham os dez man-
de outro modo, se não houvesse os damentos das Escrituras, tem esses
mandamentos. Isso significa que no mandamentos em seu coração. Assim
fundo do coração está em rebeldia a própria consciência humana traz a
com os mandamentos, apesar de ideia do certo e do errado, da verdade
tentar obedece-los. e da mentira. A consciência humana
tem poder para acusar e também para
Os judeus eram antipáticos e despre- defender as intenções de seus atos.
zavam aqueles que não seguiam o
A moralidade humana parte do princí-
judaísmo. Mesmo na cidade de Roma,
pio de que a vida tem suas leis e ordens
eles não gozavam de simpatia de seus
naturais da vida. Todo ser humano
habitantes. Achavam que não seriam
tem a propriedade de consciência do
julgados pelas suas ações, mas pelas
seu pecado.
sua herança religiosa. O cumprimento
de suas tradições seria a base de sal- Este texto ajuda-nos a compreender a
vação e não seus atos pecaminosos. doutrina bíblica do julgamento divino.
A base do julgamento de Deus será Indistintamente, todas as pessoas

//ALUNO .19
deverão passar pelo tribunal de Deus, chegar nele, o nosso destino já estará
quando terão que prestar contas a ele determinado, pela nossa relação com
de cada palavra, gesto, ação, pensa- Deus aqui em vida, apesar de ainda
mento ou omissão. termos os atos julgados por Deus.
Este julgamento é para todos, religio- Segunda, cada pecador será julgado
sos, não-religiosos, salvos, não-salvos, segundo a luz que tiver. Apesar dessa
crianças, adultos. Todos deverão verdade não isentar-nos do trabalho
passar pelo juízo. Duas grandes missionário, deixa claro que ninguém
verdades sobre esse julgamento poderá dizer, diante do tribunal ce-
apareceram aqui. lestial, que chegou ali inocente, pois
Primeira, cada pecador será julgado não sabia sobre Deus. Para Paulo,
segundo suas obras. Apesar da Escritu- a consciência de cada homem, na
ra deixar claro que a salvação é pela fé ausência da revelação direta da Es-
(Ef 2:8), o julgamento será pelas obras. critura, assume o papel de apontar
Observe que, para isso, o juízo não para a vontade de Deus, para o que

{}
guardará relação com a salvação. Ao é certo ou errado.

»A LIÇÃO
EM FOCO

1. Analise sua reação à lição da semana passada. Se ao final dela sua sensa-
ção foi de alívio, algo como “que bom que não sou assim”, ou “eles merecem
a ira de Deus”, você está mais perto do legalismo do que imagina. O capítulo 2
de Romanos foi escrito diretamente para você. Você é tão pecador quanto os
outros. A diferença é que eles são pecadores perdidos, e você é um pecador
resgatado pela graça de Deus. A nossa reação diante da doutrina da deprava-
ção humana deve ser sempre de humildade e gratidão a Deus. Ela serve para
revelar quem nós somos de fato, sem máscaras de retidão ou de religiosida-
de, no íntimo do nosso ser. Cuidado, porque normalmente um legalista não
imagina ser um legalista.
2. Grande parte da religião de alguns consiste em achar defeito nos outros.
O ambiente de algumas igrejas, em vez de confortável e restaurador, tem
se transformado em neurótico e destrutivo. Há um clima de “caça às bru-
xas”, onde os mais “santos” ficam o tempo todo procurando pecado e erro
na vida do outro. Se for alguém ainda não resgatado por Deus, a situação
se torna ainda maior, pela quantidade de perseguição e discriminação que
pode existir. Você já deve ter visto como é difícil para um jovem que veio de
um ambiente mundano permanecer em nosso meio. Normalmente as igrejas
obrigam o jovem a mudar de vida e comportamento antes de participar da

20 . //ALUNO
comunidade eclesiástica. Dizemos para ele: “mude de vida primeiro, e depois
participe conosco.” Não foi esse o apelo de Jesus, que chama todos do jeito
que estão. Não é possível que uma pessoa mude para depois vir até Jesus.
Ninguém consegue mudar de vida sem o auxílio de Jesus, por causa do seu
coração pecaminoso.
3. Talvez os mais rápidos em julgar sejam os mais culpados. Geralmente ob-
servamos nos outros as faltas que existem e nos incomodam. Quando al-
guém tem problemas de natureza sexual, passa a ser um moralista procu-
rando esta falha nos outros. Quando encontra, de forma sarcástica e cruel,
humilha e disciplina. Devemos ter cuidado com os nossos corações. A Escritu-
ra diz que “enganoso é o coração mais do que todas as coisas.”
4. Paulo levanta uma questão muito importante para os nossos dias. A hipo-
crisia religiosa que se apega nas tradições de uma religião, mas que na prática
vivem como se Deus não existisse. A aparência e o coração. Aquilo que se vê e
aquilo que não se vê. O Falar e o viver. O agir que não corresponde com o que
prega. Berkouwer descrevendo sobre o pecado conclui que “há no pecado
tal cegueira que tira do homem a possibilidade de perceber corretamente a
vida dos outros, mas especialmente a sua própria vida e conhecer-se na sua
própria profundez e natureza. A cegueira e o esconder são próprios do ho-
mem. O homem aponta vários defeitos, primeiramente nos outros, e depois
limitadamente também de si mesmo”. (p.128)

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»PRA TOMAR .
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UMA ATITUDE
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Nas cidades estão as maiores concentrações


religiosas. Os templos de todas as religiões
encontram adeptos nos grandes centros. Os
evangélicos estão em quase todos os bairros
das capitais dos estados brasileiros. Mas pare-
ce que a cidade nem percebe a presença dos
discípulos de Jesus. Muitas vezes a arrogância
dos crentes torna o evangelho uma mensa-
gem distante das pessoas. Elas buscam nos
templos a Deus, mas não conseguem ver a
presença de Deus na vida de seus discípulos.

//ALUNO .21

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