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MACEIÓ-AL
2021
WILMA COSTA MESQUITA
MACEIO
2021
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1 INTRODUÇÃO
O ambiente hospitalar propicia mudanças de rotina com todos que ali estão envolvidos
nesse processo de adoecimento, situações vivenciais aparecem de forma que assusta a família
envolvida, uma espera que não tem fim, um resultado favorável que não chega, a falta de uma
assistência profissional a depender do local ao qual se encontra, uma preocupação com o que
espera fora desse espaço. Diante disso, percebe-se que são situações que família e paciente
não escapam, produzindo inquietações e incertezas com o que virá. É momento de reconstruir
uma rotina, uma família e uma vida; é um tempo ao qual aprende a ser resiliente.
apresentados pela família e/ou paciente diante do risco de morte. Nesse sentido, Arantes
(2016, p. 42) afirma que “o sofrimento emocional é muito intenso. Nele, o doente toma
consciência de sua mortalidade. E essa consciência o leva à busca do sentindo de sua
existência”.
Numa perspectiva clínica, muitos podem ser os sintomas apresentados pelo paciente
na proximidade da morte, ou no processo de finitude, pode-se, assim, destacar alguns:
Cada dor é a dor de uma pessoa, é subjetiva e cada indivíduo aprende a utilizar
esse termo através de suas experiências traumáticas. Kubler-Ross (2005) declara que, no
contato, deparamo-nos com os doentes gravemente enfermos, com dores muito complexas e
profundas, existenciais, que se referem ao significado da vida e da morte.
Pois bem, independente de qual dor o indivíduo é acometido, esta repercute no seu
contexto geral ao qual vivência, como Ismael e Santos (2013, p. 77) relatam abaixo:
Dessa forma, no processo avançado das doenças, qualquer dor manifestada, seja
psicológica, espiritual ou física, pode e deve ser controlada, e se possível, eliminada, visando
um morrer sem sofrimento, tranquilo e em paz.
Falar da dor é pensar também sobre os vários sentimentos dolorosos que são
manifestados pelo paciente. Saunders (1990) percebeu a presença de um estado complexo de
sentimentos dolorosos: dor física; dor psíquica (medo do sofrimento e da morte, tristeza,
raiva, revolta, insegurança, desespero, depressão); dor espiritual (falta de sentido da vida e da
morte, medo do pós morte, culpas perante a Deus), dor social (rejeição, dependência,
inutilidade); dor familiar (mudança de papéis, perda do controle, perda de autonomia). Logo,
os sentimentos apresentados pela dor são de interesse e do cuidado do profissional de
Psicologia que acompanha o paciente, podendo facilitar e dar o suporte necessário ao paciente
e família ali envolvidos.
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2 LUTO ANTECIPADO
A origem do luto antecipado teve uso inicial nas observações feitas pelo psiquiatra
Lindemann (1994), em que as esposas dos soldados que iam para guerras tinham reações
lutuosas pela separação física de seus maridos diante da possibilidade deles morrerem em
batalha. Sendo um período que essas esposas vivenciavam a depressão, com a dúvida da volta
dos maridos, elas viviam a um luto antecipatório. Isso acontecia como uma forma de proteção,
já que as mortes efetivas de seus maridos teriam efeitos mais avassaladores ainda.
(FONSECA & FONSECA, 2002).
Assim, o luto antecipado, possibilita um período para lidar com questões inacabadas,
sendo entendido como um processo facilitado para a vivência do morrer, possibilitando uma
autoanálise aos envolvidos frente às questões presentes.
Como diz Arantes (2016, p.95) “Quando dou ao paciente a chance de saber sobre a
gravidade de sua condição, a verdade dá à pessoa a oportunidade de ser vista o tempo que lhe
resta de maneira consciente, assumindo o protagonismo de sua vida, de sua história”.
3 METODOLOGIA
Para fins desta pesquisa foi realizada uma revisão de literatura em que se buscou
artigos na base de dados na Biblioteca Virtual em Saúde - BVS, utilizando os descritores:
“escuta psicológica”, “família”, “morte”, “luto”, “família”, “intervenção psicológica”. Tais
descritores foram combinados entre eles por pares e trios. Foi realizado um recorte das
pesquisas dos últimos 5 anos por ser os mesmos mias atuais e, assim, contava-se com um total
de 27.700 artigos que foram filtrados conforme língua portuguesa e texto completo. Após esse
passo, foram lidos títulos, resumos e texto completo, assim findou com um total de 45 artigos
que serão utilizados e analisados neste trabalho.
Os artigos serão analisados a partir das práticas discursivas e produção de sentido, que
de acordo com Spink (2003 p. 23) é compreendida como um fenômeno sociolinguístico e
busca entender tanto as práticas discursivas que atravessam o cotidiano, como os repertórios
interpretativos utilizados nas produções discursivas.
Dessa forma, o estudo fará a análise das práticas discursivas presentes nos artigos
selecionados. Conseguindo assim, compreender as emergências e consolidação dos fatos em
questão. Logo, alcançamos o objetivo de identificar possíveis sofrimentos psíquicos em
pacientes e famílias diante do risco de morte e como pode ocorrer o apoio psicológico nestes
casos.
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4 RESULTADOS
Neste contexto os artigos abordam, que muitas das vezes os pacientes não sabem do
seu diagnóstico, e perguntado, responde que a morte está próxima. É visto que alguns
pacientes demonstram não desejar saber sobre seu estado de saúde e quer vivenciá-lo dia a
dia; já há casos que o paciente deseja saber e os familiares não contam, no intuito de poupá-lo
e preservá-lo, todos estes aspectos podem trazer sofrimento psíquico para o paciente.
Angerami-Camon (1998) ressalta que para o profissional que atua na área da saúde no
ambiente hospitalar com pacientes terminais, a dor que estes pacientes sentem tem relação
com o conhecimento ou o desconhecimento do seu adoecimento. Sobre isto, Romano (2002)
também salienta sobre a importância de o diagnóstico ser abordado com o paciente e com a
família, pelo fato de que ele tem grande influência no sistema familiar e nos papéis
desenvolvidos dentro do lar. Questiona-se, até que ponto poderá ser inquietante para o
paciente saber do seu próprio diagnóstico? Ou, se o não saber sobre o diagnóstico não poderá
também causar ao paciente tanta angústia e sofrimento que isso poderá desencadear uma série
de sintomas?
Relacionado a isto, é notável que este questionamento é referente aos pacientes, porém
os seus familiares vivenciam também o processo do adoecimento dos pacientes e sofrem junto
com eles. Então, o saber ou não do diagnóstico por parte da família, também deve ser
abordado pela Psicologia.
Portanto, há casos de pacientes que se preparam para a morte, pois cansam e/ou
aceitam este processo de finitude e só desejam se despedir dos seus familiares para depois
partir.
como sintomas físicos. Portanto, os autores salientam sobre a necessidade da prevenção destes
sintomas, a oferta de apoio e o encorajamento aos familiares para que expressem seus
sentimentos.
Logo, os lutos que o paciente vivencia se iniciam desde o momento em que ele entra
no hospital. Pois, é o luto pela perda da sua saúde, o luto pela perda do contato com o seu
familiar, o luto pela perda da sua rotina de trabalho, o luto pela perda de seu lazer, entre
outros. Kovács (1992) salienta que as perdas começam a serem elaboradas com a pessoa ainda
viva.
Enfim, luto antecipatório são os lutos diariamente vivenciados por esse paciente que
agora precisa lidar com esta nova realidade que se apresenta para ele. Os familiares também
vivenciam lutos antecipatórios, na medida em que eles não contam mais com a presença de
seu familiar em casa.
Porém, por mais que o paciente esteja hospitalizado, e esteja elaborando os seus lutos,
ele é um ser humano que apresenta vontades e desejos. Nesse caso, foi encontrada a
intervenção: identificar desejos do paciente, como uma ação que deve ser desenvolvida pelo
psicólogo hospitalar, onde cabe ao profissional ressaltar sobre o paciente ter autonomia de
poder decidir algumas coisas relativas ao seu processo de morrer, e, sendo possível, levado
em consideração.
O psicólogo, que atua em hospitais, deverá estar sempre disponível com a sua escuta
voltada ao que o paciente está trazendo, ao seu desejo, para desta forma conseguir contribuir
com o processo vivenciado.
Portanto, o psicólogo hospitalar deve ter atenção nessa hora, pequenos impulsos
atendidos revelam essa completude do paciente, pois além do orgânico que está sendo tratado,
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têm também as questões psíquicas e dentre elas, os desejos deste paciente, o que faz com que
a soma das partes, o torne completo, dando o sentido de integralidade.
Hennezel e Leloup (1999) ressaltam sobre a falta de educação para a morte, pois eles
dizem que o mundo esconde a dor da perda e só se fala da vida, como se a morte não
existisse. Deste modo, educar-se para a partida é fazer com que as pessoas vejam a finitude
como algo que acontece com todos, no entanto, é notável como o falecimento, muitas vezes, é
percebido de forma negativa e, neste sentido, o psicólogo que está trabalhando assuntos
relacionados à morte com o paciente terminal, que está hospitalizado, precisa desmistificar a
morte como algo pejorativo e passar a percebê-la como um acontecimento natural da vida
humana.
Portanto, as intervenções propostas são necessárias para que seja possível alcançar os
sentimentos mobilizadores trazidos pelo paciente e família, podendo facilitar uma escuta e
prática assertiva para esses envolvidos. Com isso, conseguimos evidenciar uma recodificação
das relações familiares nos diferentes papéis e funções, obter uma autonomia dos envolvidos,
elaborar um processo de luto tanto para o paciente quanto para a família e auxiliar a equipe de
saúde com os manejos que precisam ser realizados.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por tudo que foi exposto, pode-se salientar que todas estas intervenções descritas neste
artigo são essenciais e importantes, visando que o paciente vivencia o processo de risco de
morte de modo elaborado e a equipe de saúde possa desenvolver melhor o seu trabalho com
estes pacientes. Deste modo, pesquisas como esta devem ser divulgadas dentro dos hospitais,
no intuito de contribuir com a prática dos profissionais de Psicologia, bem como a equipe de
saúde, objetivando uma atuação mais eficaz diante do risco de morte.
Neste sentido, as estratégias pessoais que o psicólogo utiliza por trabalhar com a
finitude, também são de grande importância, visto que auxiliam este profissional na
manutenção da sua saúde física, psíquica e emocional, para que ele possa continuar
desempenhando bem o seu papel como um especialista que promove a saúde.
Por fim ao psicólogo é possível apoiar o paciente e família no momento exato de sua
necessidade, ajudando a ampliar sua consciência de si. É possível, ainda, perceber a
importância de seu papel de facilitador no processo de sofrimento ao qual o sujeito em
questão vive. Cuidar do morrer implica em buscar garantir dignidade e conforto até o último
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minuto de vida do paciente. Para tal, é preciso que aja um ambiente apoiador, que ajude a
diminuir as dores, e aliviar a angústia, e a reduzir os danos difíceis de evitar, decorrente de um
corpo em queda gradativa, permitindo uma travessia de paz.
REFERÊNCIAS:
ARANTES, Ana Claudia Quintanda. A morte um dia que vale a pena viver. Rio de Janeiro:
Sextante, 2016.
ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (organizador). Urgências psicológicas no
hospital. São Paulo: Pioneira, 1998.
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Articulando conceitos com a prática clínica. São Paulo, Atheneu, 2013.
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PERALVA. E.L.M; O confronto com a Finitude na Clínica Hospitalar: Da Morte como
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