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CENTRO UNIVERSITÁRIO MARIO PONTES JUCÁ

Curso de Graduação em Psicologia

Wilma Costa Mesquita

O APOIO PSICOLÓGICO PARA PACIENTE E FAMÍLIA DIANTE DO RISCO DE


MORTE DO PACIENTE.

MACEIÓ-AL
2021
WILMA COSTA MESQUITA

O APOIO PSICOLÓGICO PARA PACIENTE E FAMÍLIA DIANTE DO RISCO DE


MORTE DO PACIENTE.

Artigo Acadêmico apresentado ao curso de


Psicologia, sob orientação da Prof.ª Fabiola
Brandão como pré-requisitos do trabalho de
conclusão do curso.

MACEIO
2021
2

O APOIO PSICOLÓGICO PARA PACIENTE E FAMÍLIA DIANTE DO RISCO DE


MORTE DO PACIENTE.
Fabiola Brandão¹
Wilma Costa Mesquita²

RESUMO: O ambiente hospitalar é acometido de situações que podem mudar toda a


estrutura psíquica de um paciente, que esteja diante do risco de morte, e de sua família. Neste
contexto, o psicólogo hospitalar pode vir a identificar possíveis sofrimentos psíquicos e
contribuir para a vivência do processo de hospitalização. Por esse motivo, a presente pesquisa
bibliográfica tem como objetivo identificar possíveis sofrimentos psíquicos em pacientes e
famílias diante do risco de morte e como pode ocorrer o apoio psicológico nestes casos, de
modo que seja possível trazer a valorização da subjetividade de cada um nesse momento de
inquietações ao qual pode vir a vivenciar. Destarte, o apoio psicológico especializado trará
para o paciente e família, que estão diante deste processo, ajuda para o enfrentamento desta
experiência, tendo como técnica de procedimento uso de tecnologias leves e duras neste
ambiente de apoio.
Palavras- chave: Apoio psicológico. Apoio psicológico- Paciente-Família. Risco de morte.
SUMMARY: The hospital environment is beset by situations that can change the entire
psychic structure of a patient, who is facing the risk of death, and his family. In this context,
the hospital psychologist may identify possible psychological suffering and contribute to the
experience of the hospitalization process. For this reason, this research aims to identify
possible psychic suffering in patients and families facing the risk of death and how
psychological support can occur in these cases, so that it is possible to bring the valorization
of the subjectivity of each one in this moment of uneasiness that they may experience.
Therefore, the specialized psychological support will bring to the patient and family, who are
facing this process, help to face this experience, having as a procedure technique the use of
soft and hard technologies in this support environment.
Keywords: Psychological support. Patient, family. Risk of death.
Fabiola Brandão Graduada em Psicologia - Universidade Federal de Alagoas (2013),
Especialista pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso,
no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (2015), Mestre em Psicologia pelo
Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Alagoas (2017), Especialista em
Cuidados Paliativos - Hospital Israelita Albert Einstein (2019), Psicóloga na instituição
hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Maceió e Docente na Fundação Alagoana de
Pesquisa, Educação e Cultura / Faculdade de Tecnologia de Alagoas.
Wilma Costa Mesquia- Gaduanda de Pesicologia pelo Centro Universitário Mario Pontes
Jucá. Pos graduanda em Psicanálise, pelo Centro Universitario FAVENI. Formação em
Psicologia Hospitalar pelo Instituto Escutha, foi estagiária de Psicologia Hospitalar no
Hospital Misto Senador Arnon de Mello.
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1 INTRODUÇÃO

O ambiente hospitalar é acometido de situações que podem mudar toda a estrutura


psíquica de um paciente e familiares que estejam diante do risco de morte. Neste contexto, o
psicólogo hospitalar pode vir a identificar possíveis sofrimentos psíquicos e contribuir para
que paciente e família possam vivenciar este processo com recursos para o enfrentamento. A
partir disso, surge o problema de como identificar, no apoio psicológico, o sofrimento
psíquico nestes indivíduos diante do risco de morte. Paciente e/ou família que enfrenta o
adoecimento podem vir a vivenciar sentimentos de negação, medo, insegurança, ansiedades,
pânico, entre outros. Tais sentimentos podem ser identificados pelo profissional de Psicologia
como mobilizadores, tanto para paciente quanto para família, principalmente diante do risco
de morte.

E de repente, as coisas simples da vida não podem ser obtidas de maneira


simples, a rotina é interrompida, as restrições colocadas no dia a dia, a dor, o medo e
frustração se fazem presentes, sem que haja tempo suficiente para um processo de
elaboração psíquica. (SANTOS, 2013 p. 35).

O ambiente hospitalar propicia mudanças de rotina com todos que ali estão envolvidos
nesse processo de adoecimento, situações vivenciais aparecem de forma que assusta a família
envolvida, uma espera que não tem fim, um resultado favorável que não chega, a falta de uma
assistência profissional a depender do local ao qual se encontra, uma preocupação com o que
espera fora desse espaço. Diante disso, percebe-se que são situações que família e paciente
não escapam, produzindo inquietações e incertezas com o que virá. É momento de reconstruir
uma rotina, uma família e uma vida; é um tempo ao qual aprende a ser resiliente.

Em um processo de hospitalização, a morte é vista como algo temeroso, monstruoso,


que todos acreditam que passará por ela um dia, mas, quando esse dia está prestes a chegar, a
depender de como ocorrer, pode gerar sentimentos mobilizadores como insegurança, medo,
pânico, entre outros. Tais sentimentos podem vir a expor familiares e paciente a um
importante sofrimento psíquico.

Diante do exposto, a presença do profissional de Psicologia torna-se importante e a


partir desta é possível realizar uma escuta clínica e assim identificar os sentimentos
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apresentados pela família e/ou paciente diante do risco de morte. Nesse sentido, Arantes
(2016, p. 42) afirma que “o sofrimento emocional é muito intenso. Nele, o doente toma
consciência de sua mortalidade. E essa consciência o leva à busca do sentindo de sua
existência”.

Assim, pode se entender que o sofrimento é único e individual, sendo o mesmo um


despertar sobre a existência. Neste momento pode aparecer questionamentos sobre a própria
biografia, ou até mesmo um silêncio questionador. Neste sentido, Peralva (2008) destaca que
a “presença e a escuta do psicanalista permitem que algo deste confronto com a finitude possa
ser encaminhado pela fala”.

No estado de adoecimento, a ferramenta primordial ao qual o profissional de


Psicologia se depara é a escuta técnica, essa utilizada para facilitar o processo de sofrimento
ao qual o outro está vivenciando. Mediante a fala, é dado ao paciente, o caminho de ajuda
para elaborar os sintomas atuais que o mesmo tem vivenciado. Dessa forma, o paciente ao
falar começa a fazer uma autoanálise do que tem sentido, entendendo de forma gradual seus
sintomas.

Numa perspectiva clínica, muitos podem ser os sintomas apresentados pelo paciente
na proximidade da morte, ou no processo de finitude, pode-se, assim, destacar alguns:

1.1 Sentimento de Dor

Cada dor é a dor de uma pessoa, é subjetiva e cada indivíduo aprende a utilizar
esse termo através de suas experiências traumáticas. Kubler-Ross (2005) declara que, no
contato, deparamo-nos com os doentes gravemente enfermos, com dores muito complexas e
profundas, existenciais, que se referem ao significado da vida e da morte.

A dor é um sentimento que surge de forma diferenciada em cada sujeito, trazendo


consigo significados representativos para cada envolvido. Podendo ser ela física, espiritual
e/ou psíquica. A dor física pode ser sancionada por fármacos e assim solucionada ou
amenizada, ao contrário da dor psíquica que não segue por esse caminho, pois pode ter o
auxílio da medicação, a depender da gravidade, mas o que emerge a um tratamento de êxito é
está acoplado ao acompanhamento multiprofissional onde uma equipe de especialistas poderá
auxiliar esse processo de dor ao qual o indivíduo se encontra.
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Pois bem, independente de qual dor o indivíduo é acometido, esta repercute no seu
contexto geral ao qual vivência, como Ismael e Santos (2013, p. 77) relatam abaixo:

A presença da dor física muitas vezes pode limitar e impedir a realização do


atendimento, sendo importante que o psicólogo possa perceber e entender isto e
busque identificar o sentido desta dor para o paciente e o significado que ela pode
representar para cada um. A sensação da dor concretiza a todo o instante a doença
para o paciente e isto pode repercutir de diversas maneiras, dependendo da
subjetividade de cada sujeito.

Dessa forma, no processo avançado das doenças, qualquer dor manifestada, seja
psicológica, espiritual ou física, pode e deve ser controlada, e se possível, eliminada, visando
um morrer sem sofrimento, tranquilo e em paz.

A escuta no processo de finitude pode auxiliar ao paciente em adoecimento a passar


pelo dor de maneira mais ciente. Quando o profissional de Psicologia pára e escuta ao
paciente, valorizando as incertezas, trará para o mesmo uma possibilidade de elaborar,
ressignificar e levar consigo o sentido da vida. Assim, o paciente consegue trazer para si o seu
protagonismo de ser existente naquele espaço, não se conformando com a morte de maneira
simples, mas podendo passar pelo processo de adoecimento de maneira que consiga aprender
com o outro e com sua própria experiência, conseguindo compartilhar seus conhecimentos de
vida.

Falar da dor é pensar também sobre os vários sentimentos dolorosos que são
manifestados pelo paciente. Saunders (1990) percebeu a presença de um estado complexo de
sentimentos dolorosos: dor física; dor psíquica (medo do sofrimento e da morte, tristeza,
raiva, revolta, insegurança, desespero, depressão); dor espiritual (falta de sentido da vida e da
morte, medo do pós morte, culpas perante a Deus), dor social (rejeição, dependência,
inutilidade); dor familiar (mudança de papéis, perda do controle, perda de autonomia). Logo,
os sentimentos apresentados pela dor são de interesse e do cuidado do profissional de
Psicologia que acompanha o paciente, podendo facilitar e dar o suporte necessário ao paciente
e família ali envolvidos.
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2 LUTO ANTECIPADO

A origem do luto antecipado teve uso inicial nas observações feitas pelo psiquiatra
Lindemann (1994), em que as esposas dos soldados que iam para guerras tinham reações
lutuosas pela separação física de seus maridos diante da possibilidade deles morrerem em
batalha. Sendo um período que essas esposas vivenciavam a depressão, com a dúvida da volta
dos maridos, elas viviam a um luto antecipatório. Isso acontecia como uma forma de proteção,
já que as mortes efetivas de seus maridos teriam efeitos mais avassaladores ainda.
(FONSECA & FONSECA, 2002).

Logo, o estudo acerca do luto antecipado trata-se diretamente de um trabalho


minucioso com famílias e pacientes que tem passado por um tempo longo de internação no
hospital, é nesta hora que são colocadas a mostra sentimentos variados de perdas entre a
descoberta do diagnóstico até a morte propriamente dita do paciente.

Como diz Kavács (1992), o processo psicoterápico, em muitos momentos, pode


auxiliar o processo do luto e configurar-se como um método preventivo para que não se
desenvolva um processo de luto patológico.

Assim, o luto antecipado, possibilita um período para lidar com questões inacabadas,
sendo entendido como um processo facilitado para a vivência do morrer, possibilitando uma
autoanálise aos envolvidos frente às questões presentes.

2.1 Família e a Finitude

A família, no processo de finitude chamado de morte e morrer, é formada pelos


indivíduos que sofrem junto com o paciente. Com a certeza do diagnóstico ouvido por
profissionais da saúde, as inquietações psicossociais familiares surgem. Neste momento, a
família do paciente vivencia junto dele todo o processo ao ver o ente querido diante da morte
e com a presença do sentimento de impotência.
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Soares (2007, p. 482) afirma que:

...os familiares têm necessidades próprias e apresentam frequências


elevadas de estresse, distúrbios de humor e ansiedade durante o acompanhamento da
internação, e muitas vezes persiste após a morte de seu ente querido. No processo da
doença, os familiares desempenham papel preponderante, e suas reações muito
contribuem para a própria reação do paciente.

Dessa forma, o profissional de Psicologia tenta entender as necessidades dos


familiares, encontrando subsídios importantes para a melhoria da compreensão, satisfação e
da importância de cuidar das decisões relacionadas ao paciente, que às vezes não decide por
si.

Como diz Arantes (2016, p.95) “Quando dou ao paciente a chance de saber sobre a
gravidade de sua condição, a verdade dá à pessoa a oportunidade de ser vista o tempo que lhe
resta de maneira consciente, assumindo o protagonismo de sua vida, de sua história”.

Sendo assim, é imprescindível a prática do profissional de Psicologia na realização de


atividades de intervenção frente a este ambiente de incertezas, desenvolvendo técnicas e
práticas que possam favorecer o processo de adoecimento, internação e o risco de morte.
Portanto, o Psicólogo terá um objetivo direto de conseguir identificar possível sofrimento
psíquico para o paciente e família diante do risco de morte, ajudando para o enfrentamento
desta experiência. Mas de que forma o profissional de Psicologia pode atuar nas estratégias de
intervenção neste contexto?
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3 METODOLOGIA

Para fins desta pesquisa foi realizada uma revisão de literatura em que se buscou
artigos na base de dados na Biblioteca Virtual em Saúde - BVS, utilizando os descritores:
“escuta psicológica”, “família”, “morte”, “luto”, “família”, “intervenção psicológica”. Tais
descritores foram combinados entre eles por pares e trios. Foi realizado um recorte das
pesquisas dos últimos 5 anos por ser os mesmos mias atuais e, assim, contava-se com um total
de 27.700 artigos que foram filtrados conforme língua portuguesa e texto completo. Após esse
passo, foram lidos títulos, resumos e texto completo, assim findou com um total de 45 artigos
que serão utilizados e analisados neste trabalho.

Os artigos serão analisados a partir das práticas discursivas e produção de sentido, que
de acordo com Spink (2003 p. 23) é compreendida como um fenômeno sociolinguístico e
busca entender tanto as práticas discursivas que atravessam o cotidiano, como os repertórios
interpretativos utilizados nas produções discursivas.

Dessa forma, o estudo fará a análise das práticas discursivas presentes nos artigos
selecionados. Conseguindo assim, compreender as emergências e consolidação dos fatos em
questão. Logo, alcançamos o objetivo de identificar possíveis sofrimentos psíquicos em
pacientes e famílias diante do risco de morte e como pode ocorrer o apoio psicológico nestes
casos.
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4 RESULTADOS

Com base na análise a partir dos 45 artigos, foram encontradas possibilidades de


intervenções nos sofrimentos apresentados por pacientes e famílias no contexto hospitalar,
como: avaliar consciência sobre a doença; avaliar o desejo de conhecer sobre a doença;
elaboração do momento de despedida; autorização da partida; luto antecipado; identificar os
desejos dos pacientes; educação para morte; família como ponto de acesso; atendimento ao
paciente e à família enlutada. Que posteriormente foram agrupados em categorias,
possibilitando uma reflexão sobre como identificar possíveis sofrimentos psíquicos em
pacientes e famílias diante do risco de morte e como pode ocorrer o apoio psicológico nestes
casos.

Assim, o quadro abaixo apresenta as categorias que foram agrupadas:

1.Quadro sobre as intervenções


Categorias de análise Propostas de intervenções
O PACIENTE E A FAMÍLIA  Avaliar consciência sobre a
doença;
 Avaliar o desejo de conhecer sobre
a doença.
ENFRETAMENTO DA MORTE  Elaboração do momento de
IMINENTE. despedida;
 Autorização da partida;
 Luto antecipado;
 Identificação dos desejos dos
pacientes;
 Educação para morte;
ESCUTA PSICOLÓGICA.  Família como ponto de acesso;
 Atendimento ao Paciente;
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 Atendimento à família enlutada.


Fonte: ROMANO, 2002

Abordaremos a seguir sobre cada um dos sofrimentos apresentados pontuando as


intervenções encontradas a partir da revisão de literatura.

4.1 Paciente e a família

O sofrimento trazido pelo paciente e pela família envolve a relação do paciente e da


família frente ao diagnóstico. Onde partimos da construção de duas intervenções que indicam
o papel do psicólogo: avaliar consciência sobre a doença; e avaliar o desejo de conhecer a
doença.

Neste contexto os artigos abordam, que muitas das vezes os pacientes não sabem do
seu diagnóstico, e perguntado, responde que a morte está próxima. É visto que alguns
pacientes demonstram não desejar saber sobre seu estado de saúde e quer vivenciá-lo dia a
dia; já há casos que o paciente deseja saber e os familiares não contam, no intuito de poupá-lo
e preservá-lo, todos estes aspectos podem trazer sofrimento psíquico para o paciente.

Angerami-Camon (1998) ressalta que para o profissional que atua na área da saúde no
ambiente hospitalar com pacientes terminais, a dor que estes pacientes sentem tem relação
com o conhecimento ou o desconhecimento do seu adoecimento. Sobre isto, Romano (2002)
também salienta sobre a importância de o diagnóstico ser abordado com o paciente e com a
família, pelo fato de que ele tem grande influência no sistema familiar e nos papéis
desenvolvidos dentro do lar. Questiona-se, até que ponto poderá ser inquietante para o
paciente saber do seu próprio diagnóstico? Ou, se o não saber sobre o diagnóstico não poderá
também causar ao paciente tanta angústia e sofrimento que isso poderá desencadear uma série
de sintomas?

Relacionado a isto, é notável que este questionamento é referente aos pacientes, porém
os seus familiares vivenciam também o processo do adoecimento dos pacientes e sofrem junto
com eles. Então, o saber ou não do diagnóstico por parte da família, também deve ser
abordado pela Psicologia.

Portanto, ao psicólogo hospitalar cabe acompanhar o paciente e os familiares na


avaliação do conhecimento ou desconhecimento sobre o quadro clínico, respeitando as
decisões, sejam elas quais forem.
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4.2 Enfrentamento da morte iminente

A segunda categoria de análise é o enfrentamento da morte iminente, ou seja, aqui


aborda-se a ideia da morte que está próxima, aquela que está porvir. Neste sofrimento,
surgiram cinco intervenções possíveis denominadas: elaboração do momento de despedida;
autorização da partida; luto antecipado; identificar desejos do paciente, e educação para
a morte.

Logo, ressaltamos que no momento em que o paciente terminal está se despedindo, é


preciso que o profissional da psicologia o auxilie nesse processo. Fonseca (2004), sobre as
despedidas, diz que o psicólogo tem um importante papel nesta elaboração, auxiliando
também seus familiares. Os familiares e o paciente podem estar enfrentando a situação de
morte iminente de formas diferentes, visto que nem todas as pessoas vivenciam igual o
processo de morrer. Assim sendo, é importante que o profissional de Psicologia, nos
momentos de despedidas, possa auxiliar a organização familiar frente às questões
burocráticas, é preciso tentar resolver as situações necessárias, identificar se tem algum
familiar que ainda não veio e que o paciente quer ver; se algo precisa ser dito. Há ainda a
necessidade de tentar minimizar problemas e verificar as suas questões pendentes.

Portanto, há casos de pacientes que se preparam para a morte, pois cansam e/ou
aceitam este processo de finitude e só desejam se despedir dos seus familiares para depois
partir.

Na intervenção autorização da partida, autorizar que alguém possa partir é permitir


que ela possa ir embora e deixe seus familiares. Às vezes, o paciente terminal está há muito
tempo já esperando uma ligação, ou a visita de alguém que ainda não veio vê-lo, ou o perdão
de alguém; e quando esse alguém vem visitá-lo, o paciente falece. Lisboa e Crepaldi (2003)
salientam sobre esse tipo de intervenção, a autorização da partida, em seu estudo com
pacientes que estão em processo de terminalidade, onde relata que, as intervenções dos
profissionais da área da saúde que trabalham com pessoas enlutadas, mostram a necessidade
de oferecer cuidados às mesmas, como medida de prevenção em saúde mental. A perda e o
luto afetam as pessoas, causando sintomas emocionais, como a depressão e a ansiedade, assim
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como sintomas físicos. Portanto, os autores salientam sobre a necessidade da prevenção destes
sintomas, a oferta de apoio e o encorajamento aos familiares para que expressem seus
sentimentos.

Quando os pacientes terminais se hospitalizam, eles começam a viver processos de


lutos, ou seja, perdas constantes. Neste sentido, luto antecipatório mostra uma das formas de
intervenções realizadas pelos profissionais de Psicologia. Este é um momento ao qual o
psicólogo consegue intervir com uma escuta qualificada, conseguindo abordar sintomas de
ansiedade, tristezas, angústias, e até um silêncio vindo de familiares e do paciente. É um
momento que descreve a vivência deste luto que não é só pela saúde que está acabando, mas
também é pela morte que se aproxima, e pelas coisas que está deixando para trás.

Logo, os lutos que o paciente vivencia se iniciam desde o momento em que ele entra
no hospital. Pois, é o luto pela perda da sua saúde, o luto pela perda do contato com o seu
familiar, o luto pela perda da sua rotina de trabalho, o luto pela perda de seu lazer, entre
outros. Kovács (1992) salienta que as perdas começam a serem elaboradas com a pessoa ainda
viva.

Enfim, luto antecipatório são os lutos diariamente vivenciados por esse paciente que
agora precisa lidar com esta nova realidade que se apresenta para ele. Os familiares também
vivenciam lutos antecipatórios, na medida em que eles não contam mais com a presença de
seu familiar em casa.

Porém, por mais que o paciente esteja hospitalizado, e esteja elaborando os seus lutos,
ele é um ser humano que apresenta vontades e desejos. Nesse caso, foi encontrada a
intervenção: identificar desejos do paciente, como uma ação que deve ser desenvolvida pelo
psicólogo hospitalar, onde cabe ao profissional ressaltar sobre o paciente ter autonomia de
poder decidir algumas coisas relativas ao seu processo de morrer, e, sendo possível, levado
em consideração.

O psicólogo, que atua em hospitais, deverá estar sempre disponível com a sua escuta
voltada ao que o paciente está trazendo, ao seu desejo, para desta forma conseguir contribuir
com o processo vivenciado.

Portanto, o psicólogo hospitalar deve ter atenção nessa hora, pequenos impulsos
atendidos revelam essa completude do paciente, pois além do orgânico que está sendo tratado,
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têm também as questões psíquicas e dentre elas, os desejos deste paciente, o que faz com que
a soma das partes, o torne completo, dando o sentido de integralidade.

No sentido de contribuir com o paciente que está próximo a enfrentar a morte de um


jeito mais natural, surge a intervenção educação para a morte, a qual aborda o papel do
psicólogo em conseguir ajudar o paciente a elaborar o processo de morrer como algo corrente
da vida. A educação para a morte é essencial na medida de desmistificar o significado de
morte na sociedade como algo ruim, como sendo o fim. E, desta forma, compreendendo-a
como um processo natural da vida.

Hennezel e Leloup (1999) ressaltam sobre a falta de educação para a morte, pois eles
dizem que o mundo esconde a dor da perda e só se fala da vida, como se a morte não
existisse. Deste modo, educar-se para a partida é fazer com que as pessoas vejam a finitude
como algo que acontece com todos, no entanto, é notável como o falecimento, muitas vezes, é
percebido de forma negativa e, neste sentido, o psicólogo que está trabalhando assuntos
relacionados à morte com o paciente terminal, que está hospitalizado, precisa desmistificar a
morte como algo pejorativo e passar a percebê-la como um acontecimento natural da vida
humana.

4.3 Escuta psicológica

A terceira e última categoria de análise é denominada: escuta psicológica, e aborda


sobre os atendimentos do psicólogo aos pacientes e familiares de pacientes terminais. Nesta
categoria inclui-se as seguintes intervenções: família como ponto de acesso; e, atendimento
ao paciente e atendimento à família enlutada. Escutar a família é importante no
atendimento psicológico a pacientes em fase terminal, visto que ambos estão elaborando os
seus processos de luto. A intervenção: família como ponto de acesso, reforça a ideia, de que
o familiar é um ponto de acesso para contribuir com o processo vivenciado pelo paciente.

No caso do atendimento aos pacientes terminais, seus familiares poderão ser as


pessoas que estarão mais acessíveis a este atendimento psicológico. E de tal forma, além de
disponíveis, estes familiares possivelmente poderão estar precisando desse atendimento
também. Kovács (2006) ressalta a importância de a escuta psicológica ser um momento que
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propicie ao paciente e aos seus familiares um conforto, trazendo um espaço de alívio,


respeitando o seu momento.

No atendimento ao paciente, a escuta torna-se um meio ao qual o psicólogo


hospitalar trará significados sucintos sobre a vida e morte, trabalhando também o psicossocial
do paciente, trazendo a importância do espaço de fala do mesmo. Conseguindo com isso, que
o paciente se sinta acolhido mesmo no momento de incertezas ao qual vivencia.

Ainda sobre atendimentos, atendimento à família enlutada indica a possibilidade de


atendimentos oferecidos aos familiares após a morte do paciente, sobretudo, quando estas
mortes ocorrem em dias e horários em que o psicólogo não se encontra no hospital. A vista
que muitas mortes ocorrem durante a noite, ou nos finais de semana, é neste momento que o
psicólogo faz o contato com os familiares após a morte do paciente se disponibilizando para
atendê-los, caso eles sintam a necessidade. Nestes casos, ele faz um acolhimento inicial e os
encaminha para um outro profissional da rede de saúde.

Portanto, é interessante pensar em pesquisas que melhor descrevam os procedimentos


e técnicas de acolhimento que os psicólogos utilizam com os familiares dos pacientes que se
encontrem no fim da vida, ou foram a óbito, no sentido de ajudar e auxiliar os profissionais da
Psicologia a lidar com a situação e com a própria multiprofissional.

No que diz respeito aos transtornos apresentados dentre as leituras, a ansiedade e


depressão são as duas patologias psíquicas mais presentes em famílias e pacientes que estão
frente a morte e morrer, logo, aumenta a necessidade do apoio psicológico nessa ocasião.
Assim podemos sugerir pesquisas e intervenções mais precisas para as intervenções tendo em
vista estas patologias psíquicas identificadas.

Portanto, as intervenções propostas são necessárias para que seja possível alcançar os
sentimentos mobilizadores trazidos pelo paciente e família, podendo facilitar uma escuta e
prática assertiva para esses envolvidos. Com isso, conseguimos evidenciar uma recodificação
das relações familiares nos diferentes papéis e funções, obter uma autonomia dos envolvidos,
elaborar um processo de luto tanto para o paciente quanto para a família e auxiliar a equipe de
saúde com os manejos que precisam ser realizados.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por tudo que foi exposto, pode-se salientar que todas estas intervenções descritas neste
artigo são essenciais e importantes, visando que o paciente vivencia o processo de risco de
morte de modo elaborado e a equipe de saúde possa desenvolver melhor o seu trabalho com
estes pacientes. Deste modo, pesquisas como esta devem ser divulgadas dentro dos hospitais,
no intuito de contribuir com a prática dos profissionais de Psicologia, bem como a equipe de
saúde, objetivando uma atuação mais eficaz diante do risco de morte.

Neste sentido, as estratégias pessoais que o psicólogo utiliza por trabalhar com a
finitude, também são de grande importância, visto que auxiliam este profissional na
manutenção da sua saúde física, psíquica e emocional, para que ele possa continuar
desempenhando bem o seu papel como um especialista que promove a saúde.

É preciso ainda que os profissionais estejam capacitados para realizar as intervenções


necessárias diante do contexto do risco de morte. Sendo assim, cursos de capacitações são um
grande gerador de mudanças para as equipes que se deparam diretamente com essas
experiências, conseguindo conciliar com isto a teoria com a prática, findando um trabalho
empático.

Por fim ao psicólogo é possível apoiar o paciente e família no momento exato de sua
necessidade, ajudando a ampliar sua consciência de si. É possível, ainda, perceber a
importância de seu papel de facilitador no processo de sofrimento ao qual o sujeito em
questão vive. Cuidar do morrer implica em buscar garantir dignidade e conforto até o último
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minuto de vida do paciente. Para tal, é preciso que aja um ambiente apoiador, que ajude a
diminuir as dores, e aliviar a angústia, e a reduzir os danos difíceis de evitar, decorrente de um
corpo em queda gradativa, permitindo uma travessia de paz.

REFERÊNCIAS:

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Sextante, 2016.
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ISMAEL.S.M.C; SANTOS. J. X. A. Psicologia hospitalar: sobre o adoecimento.
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