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Capítulo 16
Introdução
A degradação do solo é resultado de vários processos de interferência no ecossistema que
causam perda de funções importantes para a sua manutenção; caracteriza-se pela redução
da capacidade do solo em sustentar a vida dos organismos produtores e consumidores,
assim como dos serviços ecológicos, ocasionando declínios sobre a estrutura e a funcio-
nalidade dos ecossistemas. As interferências podem ocorrer tanto nos ecossistemas natu-
rais como nos agrossistemas, sendo resultantes, na maioria das vezes, de ação antrópica
indevida. Estas incluem a remoção ou a substituição da vegetação; a perda da camada su-
perior do solo, da matéria orgânica do solo, da biodiversidade, da atividade de biota e da
própria fertilidade do solo; tendo como consequência a perda de processos e funções-
chave na sustentabilidade do solo (Siqueira et al., 2007). Desta forma, a degradação é re-
sultante de vários processos que, operando em sequência, provocam a perda da funciona-
lidade do ecossistema até atingir um grau de mau funcionamento irreversível, caracterizado
por elevado grau de degradação (Figura 1).
Os ecossistemas submetidos à ação antrópica podem sofrer degradação em diferen-
tes níveis, atingindo até a perda da capacidade regenerativa levando, em alguns casos,
à desertificação (Souza & Silva, 1996; Foley et al., 2005). As ações recuperadoras se ini-
ciam com a adequação das condições físicas e químicas do solo visando à introdução
sustentável de plantas que garantem o retorno de processos fundamentais ao funcio-
namento do novo ecossistema e sua estabilização, principalmente relacionado ao ciclo
Editora UFLA 2008. Micorrizas: 30 anos de pesquisas no Brasil. (eds J.O. Siqueira et al.)
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Tabela 16.1: Efeitos das micorrizas arbusculares sobre as plantas e favorecimento de processos
reabilitadores de áreas degradadas (Siqueira, s/d).
2
, N2) Confere maior proteção ao solo (estabilização)
Efeitos indiretos:
• Raízes e micélio (agregação)
• Relações entre plantas: Estimula a transformação e ciclagem dos nutrientes
- Competição Favorece a estruturação e sucessão vegetal
- Espécies coexistentes
do carbono (C) e do nitrogênio (N) (Siqueira et al., 2008). A revegetação do solo garan-
te a proteção e a sua recuperação por meio da alocação e incorporação de C e ciclagem
dos nutrientes, permitindo o reestabelecimento da cadeia trófica, a regulação térmica e
hídrica, criando um novo hábitat para microrganismos do solo.
Entre os microrganismos que atuam auxiliando o processo de recuperação de áreas
degradadas encontram-se os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) que representam
um componente quantitativo e qualitativo significativo nos ecossistemas, pois exercem
grande influência no crescimento e na adaptação das plantas aos estresses bióticos e
abióticos do solo (Moreira & Siqueira, 2006). A associação entre FMA e raízes está pre-
sente na maioria das plantas superiores, como pode ser observado nos vários levanta-
mentos realizados em diferentes ecossistemas do Brasil (Stürmer & Siqueira, 2008).
As micorrizas exercem efeito marcante e consistente sobre o crescimento das plan-
tas, especialmente em condições de estresse – como já referido anteriormente em alguns
capítulos deste livro –, atuando por mecanismos diversos, conforme apresentado resu-
midamente na Tabela 1 e discutido em Souza & Silva (1996), Klauberg-Filho et al. (2005)
e Siqueira et al. 2007, 2008). Estudos realizados nas mais diversas situações de degra-
dação no mundo todo – como solos agrícolas, áreas desmatadas, áreas mineradas, áreas
de construção civil, solos contaminados por metais e produtos químicos e áreas deser-
tificadas – têm demonstrado a importância e o potencial das micorrizas como agentes
recuperadores de áreas impactadas (Jasper, 1994; Rao & Tak, 2002; Bi et al., 2005).
Os benefícios das MA para o crescimento e a sobrevivência das plantas resultam de
vários efeitos e mecanismos nutricionais e não nutricionais, os quais possibilitam o seu
uso em programas de recuperação de áreas degradadas. Os efeitos nutricionais são os
mais evidentes e consistentes, e determinam o caráter biofertilizante dos FMA que re-
sulta, principalmente, da ação direta do fungo na absorção e na utilização de nutrien-
tes, e na ação indireta na fixação biológica de N, mineralização e/ou solubilização de
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Tabela 16.2: Trabalhos pioneiros relacionados aos efeitos da inoculação de FMA em solos
degradados publicados nas edições da Reunião Brasileira Sobre Micorrizas (REBRAM).
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Figura 16.2 - A contribuição dos FMA no estabelecimento da biocenose e recuperação ambiental: mecanis-
mos e processos (Siqueira et al., 2007).
Solo de área desmatada Glomus sp., G. etunicatum, G. Angico-do-cerrado (Anadenanthera falcata) A inoculação com FMA aumentou o crescimento em altura Almeida & Raymundo-
de cerrado melanosporum, A. denticulata, e número de folhas da parte aérea da planta hospedeira e Júnior (2006)
A. lacunos, Gigaspora sp. e G. aumentou o número de nódulos viáveis.
dexcipiens
Solo de baixa fertilidade G. etunicatum e vários FMA Aroeira, trema, açoita-cavalo e sesbânia Santos et al. (2008)
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extração de argila (casa e Entrophospora colombiana Sesbania virgata diâmetro do colo e matéria seca da parte aérea em relação
de vegetação e campo) Eucalyptus camaldulensis às plantas não inoculadas. As espécies em plantio na cava
de extração de argila apresentaram rápido crescimento e
elevada sobrevivência (> 80%) devido à inoculação.
Solo degradado pela Gigaspora margarita Sclerolobium paniculatum, Acacia Franco et al. (1994);
mineração de extração de mangium, A. auriculiformis, Enterolobium leguminosas associada a abubação de P e K favoreceram a Franco et al. (1996)
bauxita contortisiliquum e Stryphnodendrum revegetação tanto de áreas estéreis como também de rejeito
purpureum da mineração de bauxita.
Solo degradado pela Glomus clarum e Gigaspora Sclerolobium paniculatum A inoculação com FMA favoreceu a nodulação e a produção Teles et al. (1999)
mineração de bauxita margarita
Rejeito da lavra de G. clarum, G. intraradices e 5 espécies leguminosas (feijão-de-porco, A inoculação associada à adubação orgânica produziu Mendes Filho (2004)
cassiterita Gigaspora rosea feijão guandu, acácia mangium, parkia da maiores incrementos no crescimento da maioria das plantas
Amazônia) e uma não leguminosa (aroeira do que a adução com composto orgânico sem inoculação. A
pimenteira) inoculação com FMA estimulou a nodulação nas leguminosas
nodulíferas.
Solo degradado de área G. etunicatum, G. clarum, G. Várias espécies forrageiras (estilosantes, A inoculação mista de FMA aumentou o crescimento e Carneiro et al. (1999)
de empréstimo margarita e A. scrobiculata capim-gordura e braquiária) o acúmulo de N e P nas forrageiras. Apesar da baixa
colonização, o estilosantes foi muito responsivo à
inoculação, enquanto o capim gordura foi pouco dependente
MA NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
aos FMA
|
Solos salinos G. clarum, G. intraradices e Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) Plantas micorrizadas apresentaram maior crescimento com Tavares (2007)
Glomus AZ112 consequente aumento na absorção de nutrientes quando
comparadas com as plantas não inoculadas
7 ]
Continua
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metais pesados extração de Cu, Cd, Pb e Zn, com efeito diferenciado entre
os fungos
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Solo contaminado por A. scrobiculata, P. occultum, G. Nove espécies herbáceas Benefício para o crescimento das plantas e redução da Carneiro et al. (2001)
|
metais pesados etunicatum e G. margarita translocação de Cd e Pb das raízes para a parte aérea
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Solo contaminado por A. morrowiae, G. albida e G. Brachiaria decumbens Efeito amenizante da inoculação com redução da Soares & Siqueira
metais pesados clarum transferência de metais para a parte aérea das plantas (2008)
Mineração de cobre G. etunicatum, A. longula Leucena (Leucaena leucocephala) A. longula e FMA nativos favoreceram o desenvolvimento Lins et al. (2007)
FMA nativos das mudas nas áreas impactadas
Solo de landfarming de G. clarum e Paraglomus Alfafa (Medicago sativa), kudzu tropical A inoculação de FMA aumentou a colonização micorrízica e Paula et al. (2006)
resíduos petroquímicos occultum (Pueraria phaseoloides), braquiária favoreceu o crescimento da maioria das espécies testadas
(Brachiaria brizantha), mucuna-preta
(Styzolobium aterrinum), capim-elefante
(Pennisetum purpureum) e sorgo (Sorghum
vulgare)
Área contaminada por Gigaspora margarita e Glomus Mimosa caesalpiniifolia e Acacia holosericea O efeito dos FMA na parte aérea das leguminosas foi Bento et al. (2007)
hidrocarbonetos de clarum
petróleo vermiculita nas doses iniciais de contaminação por petróleo
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Figura 16.3 - Efeitos da inoculação de FMA no crescimento de espécies herbáceas em solos degradados
pela erosão e pela construção civil. a) Efeitos da aplicação de P e inoculação de FMA no crescimento do
estilosantes em solo decapitado de área de empréstimo para a construção de barragem de hidrelétrica
(Carneiro et al., 1999); b) Efeito da inoculação de FMA no crescimento do estilosantes e braquiária em solo
erodido (cortesia de J.O. Siqueira).
Figura 16.4 - Efeito de FMA em plantas de cobertura em solo de área de empréstimo (Carneiro et al., 1999).
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Figura 16.5 - A) Infectividade de FMA em solo de área de mineração de bauxita em Poços de Caldas (MG)
em diferentes cronosseqüencias de reabilitação (Melloni et al., 2003); B) Densidade de esporos de FMA em
áreas revegetadas após mineração de bauxita em Porto Trombetas-PA (Caproni et al., 2003).
Miranda, 1997), indicando que o solo está sob estresse. Em áreas degradadas reflores-
tadas com araucária, verificou-se um índice de riqueza aproximadamente a metade em
relação às áreas não impactadas (Moreira-Souza et al., 2004). Do mesmo modo, a den-
sidade de esporos diminuiu de 3.354 esporos 100 g solo-1 na floresta nativa para 890
na área reabilitada. Os impactos dessas mudanças na diversidade dependem das con-
dições biológicas do ecossistema, por exemplo, da diversidade de fungos que coloni-
zam as raízes antes da interferência e também da intensidade do distúrbio imposto ao
ecossistema conforme estudos apresentados a seguir.
A intensidade de uso do solo na região do semiárido brasileiro provocou redução
no número de esporos viáveis quando comparado à área referência (Lima et al., 2007).
Em estudo em um Neossolo quartzarênico degradado pelo pastejo excessivo foi obser-
vada redução na densidade de esporos de FMA e redução da colonização micorrízica em
plantas nativas quando comparados com áreas sem alterações antrópicas (Cordeiro et
al., 2005). Em outro estudo, verificou-se que o processo de degradação pela arenização
do solo provocou redução na diversidade da comunidade dos FMA de no mímino 30%
e máximo de 70% (Silva et al., 2008). Esta perda da diversidade interfere no processo
de recuperação/estabilização destas áreas.
A mecanização intensiva do solo pode também causar a compactação do solo e fa-
cilitar a erosão. Também em solos compactados, a absorção de água e nutrientes é di-
ficultada, favorecendo a ocorrência de estresses abióticos às plantas. Essas alterações
físicas do solo podem reduzir as micorrizas, que são importantes fatores de crescimento
das plantas nessas condições. Em sistema de plantio direto, em virtude da não ruptura da
rede de hifas extrarradicular e ambiente edáfico mais equilibrado, há favorecimento
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da colonização micorrízica. Isso foi constatado para a cultura do trigo em Londrina (PR),
na qual a colonização micorrízica foi maior no plantio direto em relação ao sistema con-
vencional; no entanto, houve uma maior esporulação nesse último sistema (Collozzi-
Filho, 1991), isso se deve, principalmente, pelo ambiente estressante no sistema con-
vencional que, como já mencionado, dependendo do grau de estresse, pode favorecer
a esporulação.
Em solo de Cerrado no Brasil, nas áreas sob rotação soja/milho e pastagens cultiva-
das onde se aplicam corretivos e fertilizantes, foram encontradas maiores quantidades
e diversidade de esporos de FMA em relação ao Cerrado nativo (Miranda et al., 2005),
fato também relatado por Siqueira et al. (1989). Essas mudanças resultam de alterações
nas características do solo, nas espécies de plantas (raízes) e rotação de culturas, as
quais determinam a infectividade do solo, as espécies fúngicas e contribuição da sim-
biose para as culturas.
Áreas degradadas representam ambientes desfavoráveis para o crescimento vegetal,
sejam pelas deficiências nutricionais ou pela presença de fatores tóxicos como os me-
tais pesados ou resíduos orgânicos tóxicos. As MA podem melhorar o crescimento das
plantas nessas situações como no caso do excesso de metais pesados no solo. Isto foi
demonstrado por Klauberg-Filho (1999) que avaliou a eficiência simbiótica de diferentes
isolados de FMA em promover o crescimento da parte aérea de Panicum maximum em
relação a um tratamento não inoculado e observou que a inoculação de Glomus clarum
e Scutellospora fulgida, oriundos de área contaminada com metais pesados, apresen-
taram maior eficiência, aumentando a produção de matéria seca em 47% e 31%, res-
pectivamente. Em outro estudo recente, Soares & Siqueira (2008) demonstraram que a
adição de P juntamente com a inoculação de FMA isolados de áreas contaminadas com
metais pesados, propiciou incrementos superiores a 200% na produção de matéria seca
da parte aérea da Brachiaria decumbens (Figura 6). Respostas semelhantes foram obti-
das para espécies arbóreas em estudo realizado por Siqueira et al. (1999) os quais ve-
rificaram que, apesar dos decréscimos acentuados nos valores de colonização micorrí-
zica devido à contaminação por metais pesados, houve um favorecimento no crescimento
de Senna multijuga (cássia verrugosa), Luehea grandiflora (açoita-cavalo), Enterolobium
contortisiliquum (tamboril), Albizia lebbeck (albizia) e Senna macranthera (fedegoso) em
solo que continha concentrações moderadas destes elementos. Estes resultados eviden-
ciam os benefícios dos FMA para o crescimento de gramíneas e espécies arbóreas que
têm um importante papel no recobrimento de solos contaminados, reduzindo o poten-
cial erosivo comumente encontrado neste tipo de degradação. Além disso, o maior cres-
cimento associado à micorrização pode beneficiar a fitoextração de metais pesados con-
forme demonstrado em estudo realizado em solo multi-contaminado por Silva et al.
(2006) com Brachiaria decumbens, onde verificou-se que a inoculação com FMA aumen-
tou a capacidade extrativa dos metais desta espécie em até 58%, 79%, 205% e 930%
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em relação ao controle não inoculado para cádmio (Cd), zinco (Zn), chumbo (Pb) e cobre
(Cu), respectivamente. Entretanto, estudos como esses ainda não foram conduzidos no
campo e merecem atenção especial. Os mecanismos pelos quais os benefícios dos FMA
para as plantas hospedeiras ocorrem são complexos e têm sido objeto de estudos em
várias partes do mundo. Para maiores informações consultar Klauberg-Filho et al.
(2005), sendo os trabalhos brasileiros sobre este assunto apresentados detalhadamen-
te no capítulo 17 desta publicação.
Trabalhos pioneiros sobre o efeito da inoculação de FMA no crescimento vegetal em
solos degradados pela poluição química de derivados de petróleo foram realizados por
Paula et al. (2006) os quais verificaram elevada ocorrência de FMA que colonizavam es-
pontaneamente plantas introduzidas, variando de 35% a 40% para o sorgo, capim-ele-
fante e mucuna-preta e de 52% a 62% para braquiária brizanta, alfafa e kudzu tropical.
Em outro estudo, empregando o mesmo solo, Nakatani et al. (2008) avaliaram a colo-
nização micorrízica após 14 meses de crescimento de espécies introduzidas e espontâ-
neas, encontrando colonização micorrízica, média de várias espécies, de 42%, variando
entre 14% e 56%, para Cyperus sp e Brachiaria decumbens, respectivamente. A baixa
taxa de colonização micorrízica observada em Cyperus sp. pode ser atribuída ao fato de
membros da família Cyperaceae serem pouco micotróficos. A ocorrência de micorrizas
nessa condição de solo pode favorecer o estabelecimento e aumentar a tolerância da
vegetação aos contaminantes, o que pode ser atribuído, além da maior absorção de
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Figura 16.7 - Ilustração de estudos conduzidos no Brasil envolvendo a inoculação de FMA em espécies ar-
bóreas de interesse para a recuperação ambiental. a) efeito da inoculação no crescimento de Solanum gra-
nuloso-leprosum (gravitinga) em solo de baixa fertilidade; b) efeito da inoculação em leguminosas arbó-
reas em solo degradado; c) benefício da inoculação na produção de mudas de Jacaranda mimosaefolia (ja-
carandá mimoso) em viveiro; d) aplicação de mudas de espécies arbóreas micorrizadas na recomposição
de mata ciliar após construção de hidrelétrica em Itutinga-MG (Fotos: cortesia J.O. Siqueira).
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Tabela 16.5: Estudos realizados no Brasil sobre os efeitos dos FMA em espécies arbóreas de
interesse para recuperação ambiental.
elevação do P no solo3
Dependência e responsividade (casa 29 espécies inoculadas com Glomus A maioria das espécies foi MA-dependente,
de vegetação) etunicatum sendo que o teor de P no solo inibe a
colonização, a resposta à inoculação e a
dependência micorrízica das plantas4
Efeito da pré-colonização no 7 espécies inoculadas com mistura Plantas sem micorriza não crescem em solo
crescimento de espécies tropicais de fungos de baixa fertilidade5
(casa de vegetação)
Crescimento pós-transplantio em solo 5 espécies inoculadas com mistura Favorecimento no crescimento devido à
com excesso metais pesados (casa de fungos menor absorção Cd e Zn6
de vegetação)
Resposta à micorrização em função 28 espécies inoculadas com G. Benefício relacionado com o grau de
do grupo sucessional (casa de etunicatum e G. margarita colonização, inverso ao avanço na sucessão
vegetação) e tamanho da semente7
Micorriza, N e P no crescimento Trema micrantha, Senna macranthera Redução da dose de P necessária para
(vaso-Brasil) e G. etunicatum atingir o crescimento ótimo das plantas e
ausência de efeito em relação ao N.8
Crescimento de espécies nativas da 12 espécies inoculadas com mistura Maior resposta em baixa fertilidade, sendo
mata atlântica a campo e vaso de fungos isolados da mata as pioneiras mais responsivas; a resposta
das tardias não depende da fertilidade9
Relação micorrízica com 78 espécies inoculadas com fungos Correlação positiva entre a resposta e a
características de plantas da mata nativos da mata colonização. Taxa de colonização inversa
atlântica a campo e vaso ao avanço da sucessão ecológica, peso das
10
Referência: 1= Pouyú-Rojas et al., 2006; 2= Matsumoto et al., 2005; 3= Flores-Aylas et al., 2003; 4= Siqueira & Saggin-Júnior, 2001; 5=
Pouyú-Rojas et al., 2000; 6= Siqueira et al., 1999; 7= Siqueira et al., 1998; 8= Paron et al., 1997; 9= Zangaro et al., 2007; 10= Zangaro
et al., 2005; 11= Moreira-Souza & Cardoso (2002); 12= Zandavalli et al., 2004; 13= Zangaro et al., 2003; 14= Zangaro et al., 2002; 15=
Zangaro et al., 2000; 16= Pralon & Martins, 2001; 17= Burity et al., 2000; 18= Marques et al., 2001; 19= Patreze & Cordeiro, 2004; 20=
Scotti & Corrêa, 2004; 21= Tótola & Borges, 2000, 22= Santos et al., 2008.
que a maioria das espécies apresentou colonização micorrízica superior a 20% e que
apenas cinco espécies (guatambu – Aspidosperma parvifolium, pinha-do-brejo – Talau-
ma ovata, tento – Ormosia arborea, jatobá – Hymenaea courbaril e angico-amarelo –
Pelthoporum dubium) não apresentaram sinais de colonização micorrízica. A adição con-
junta de micorriza e P exibiu efeito sinergístico para várias espécies e aumentou a pro-
dução de matéria da parte aérea seca, em até 30.500%. As espécies foram categoriza-
das quanto à responsividade à inoculação de FMA e aplicação de P, sendo encontradas
oito altamente responsivas (> 1.000% sobre o controle), seis muito responsivas (1.000%
- 500%), oito responsivas (500% - 100%), seis pouco responsivas (<100%) e apenas três
espécies não responsivas. Ficou evidenciada neste estudo a importância dos FMA e da
adição de P para o crescimento inicial da maioria das espécies estudadas em solos ou
substratos de baixa fertilidade desprovidos de FMA.
Mais tarde, Siqueira et al. (1998) avaliaram o micotrofismo de 28 espécies arbóreas
nativas do Brasil pertencentes a diferentes grupos sucessionais, sendo cinco pioneiras,
oito secundárias iniciais, oito secundárias tardias e sete clímax. Neste estudo, os auto-
res constataram diferenças na colonização, crescimento microtrófico e resposta a fosfa-
to pelas espécies, assim como diferenças marcantes entre os grupos sucessionais. Por
exemplo, as plantas de estágios iniciais são mais responsivas à micorriza que a P, en-
quanto as “clímax” não respondem à micorriza e respondem menos a P, apresentando
resposta média quase cinco vezes menor a P que as pioneiras. Um aspecto marcante é
a contribuição do P e das micorrizas na concentração e acúmulo de nutrientes nas pio-
neiras (Figura 8). Isso indica que em solos exauridos em nutrientes disponíveis, como
N e P, situação normalmente encontrada em áreas tropicais, a presença de propágulos
de FMA é de fundamental importância para o crescimento das pioneiras.
Trabalhos recentes com espécies arbóreas nativas do Sul do Brasil de diferentes gru-
pos sucessionais foram realizados por Zangaro et al. (2002) nos quais se avaliou a in-
cidência da colonização de micorriza arbuscular e a resposta à inoculação em 81 espé-
cies arbóreas nativas da bacia do Rio Tibagi (PR). Neste estudo, os autores verificaram
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Figura 16.8 - Razão (tratamento inoculado/controle sem inoculação) dos teores e acúmulos de P na maté-
ria seca da parte aérea de diferentes grupos sucessionais e tratamentos de P e inoculação de FMA. P =
superfosfato adicionado; M = inoculação de FMA, MP = M+P (Siqueira et al., 1998).
que a resposta à inoculação das espécies com espécies indígenas de FMA foi geralmente
elevada entre as espécies pioneiras e secundárias iniciais, sendo baixa entre as secun-
dárias tardias e muito baixa entre as espécies clímax. Dentre as espécies estudadas por
estes autores, apenas Peltophorum dubium (canafístula), Zeyheria tuberculosa (ipê-fel-
pudo) e Aspidosperma polyneuron (peroba-rosa) não responderam à inoculação e não
apresentaram colonização micorrízica, enquanto as demais espécies apresentaram co-
lonização que variou de muito elevada a muito baixa, indicando que a ocorrência da co-
lonização de MA é generalizada entre as espécies arbóreas nativas. Zangaro et al. (2005
e 2007) avaliaram também a influência da fertilidade do solo e da morfologia radicular
sobre a colonização micorrízica durante o estabelecimento e crescimento de mudas de
espécies arbóreas nativas do Sul brasileiro. Os autores verificaram que, independente-
mente da fertilidade do solo, as espécies pioneiras e as secundárias iniciais inoculadas
com FMA apresentaram uma tendência de reduzir o comprimento e a incidência pelos
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Figura 16.10 - Exemplos de respostas diferenciadas de mudas de espécies arbóreas nativas a fósforo (P) e
a micorriza (M). C – controle não inoculado (Foto: cortesia J.O. Siqueira).
P. Há também espécies tais como o jatotá (Hymanea courbaril) em que verifica-se baixa
resposta à inoculação com FMA, adição de P ou aplicação conjunta desses fatores (Car-
neiro et al., 1996; Siqueira & Saggin Júnior, 2001).
Em programas visando ao emprego de micorrizas na revegetação é necessário ava-
liar todas as espécies vegetais de interesse, os isolados fúngicos e suas respectivas
combinações. Os efeitos de diferentes fungos, em diferentes hospedeiros, têm sido bas-
tante estudados e um exemplo do tipo de resposta é apresentado na Figura 11 mostran-
do que a responsividade das plantas hospedeiras depende do comportamento do fungo
em relação a essas. No estudo de Pouyú-Rojas et al. (2006), avaliando o comportamen-
to de 16 espécies arbóreas combinadas com 8 isolados fúngicos mais duas populações
de FMA nativos, foi possível categorizar as plantas quanto à promiscuidade micotrófica
em: promíscuas (generalistas): estabeleceram relação mutualística com a maioria (90%)
dos fungos estudados; intermediárias: com índice de promiscuidade entre 50% e 75%
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Figura 16.11 - Massa de matéria seca da parte aérea de cedro, açoita-cavalo e embaúba (g planta-1, con-
forme escala no eixo número 1) aos 9-10 meses após a germinação, inoculadas ou não com diferentes FMA.
1- S. pellucida, 2- A. scrobiculata, 3- E. colombiana, 4- G. gigantea, 5- G. margarita, 6- G. etunicatum, 7- S.
gregaria, 8- Espécies de agrossistema, 9- G. clarum, 10- Espécies da floresta, 11- Controle. Círculos com li-
nhas contínuas ao centro das figuras correspondem à matéria seca do controle. Tratamentos cuja produ-
ção extrapola o círculo diferem (P 0,05, Tukey) do controle sem inoculação (Pouyú-Rojas et al., 2006).
Figura 16.12 - Micorriza arbuscular: fator determinante do crescimento pós-transplante de espécies arbó-
reas em condições de baixa fertilidade (Pouyú-Rojas & Siqueira, 2000).
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Considerações Finais
Os estudos sobre as micorrizas arbusculares em áreas degradadas têm despertado gran-
de interesse nas últimas décadas, inclusive no Brasil, onde avanços consideráveis acon-
teceram no conhecimento do papel biocontrolador dos FMA em diversas situações de
solos degradados e seu potencial de aplicação na recuperação de áreas degradadas.
Os FMA são de ocorrência generalizada mesmo em ambientes com avançado grau
de degradação e vários aspectos do seu ciclo de vida são muito sensíveis às interferên-
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cias no ecossistema que levam à degradação do solo. Portanto, são importantes sen-
sores ambientais e, consequentemente, têm grande importância no monitoramento des-
tas áreas. Além disso, a seleção de isolados de FMA destes ambientes com funções be-
néficas às plantas hospedeiras pode contribuir para o estabelecimento da vegetação e
recuperação de áreas degradadas. De fato, vários estudos foram conduzidos no Brasil
nos últimos 30 anos envolvendo o papel da simbiose micorrízica no crescimento de vá-
rias gramíneas e espécies arbóreas de interesse para a recuperação ambiental, incluindo
várias espécies de leguminosas, com potencial de emprego em ambientes degradados.
No entanto, a maioria destes estudos foi realizada em condições controladas, havendo
a necessidade de avanços científicos reais sobre a aplicação de FMA no campo de modo
a se obter tecnologias para uso na recuperação de áreas degradadas.
Em função de sua grande extensão e condições de solo e clima diferentes e com vo-
cação para sistemas de produção agrícola e atividades de mineração, o Brasil necessi-
ta de uma política governamental para fomentar as pesquisas de tal maneira a propor-
cionar a integração entre os diversos grupos de pesquisa existentes em cada região
priorizando as características regionais, reduzindo assim pesquisas isoladas e com
pouco impacto. Neste sentido, várias questões ainda não foram totalmente esclarecidas
sobre o papel das micorrizas sob diferentes situações de solos degradados, tornando-
se um dos grandes desafios para os micorrizologistas brasileiros.
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