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O autor inicia este item, Uma escrita, enfatizando que “a representação histórica”,
enquanto ciência do historiador, se conecta com o lugar social, com campos institucionais
(como empresas financiadoras de pesquisas, realidades histórico-sociais dos arquivos,
diferentes áreas e abordagens historiográficas que dividem os pares da profissão etc), não
somente, com linguagens técnicas “ligadas a uma prática do desvio”. Este conceito, prática
do desvio, pode ser entendido como uma atividade que demanda do historiador, ao elaborar o
seu produto, o texto, a tentativa de se desligar de seu presente, assim como dos modelos
teóricos já fixados na banalidade do cotidiano e, por muitas vezes, compreendidos
semanticamente em nosso presente como fruto de uma ‘obviedade’.
Assim, o produto do historiador, a sua escrita, deve tentar fugir das obviedades
conceituais. O desvio está na proposta do texto se desarraigar do lógico e, assim, inverter o
processo de formação do entendimento estabelecido – pensado, talvez, como único ou como
certo –, demonstrando os possíveis meios e condições que levaram à sua atual construção.1
Percebe-se a ênfase dada pelo autor ao espaço representativo do historiador, que
necessita saber intercambiar os trabalhos da pesquisa aos da escrita. No item seguinte, A
inversão escrituária, há um certo teor de indagação, a do tipo: como o historiador deve
escrever? Michel de Certeau relembra um termo utilizado pelo autor H. I. Marrou, a “servidão
da escrita”, que pode ser entendida no sentido de o texto, às vezes, tomar rumos diferentes
daqueles teóricos, anteriormente, apenas pensados num “plano das ideais2” do pesquisador.
Neste sentido, a escrita parece em alguns momentos ganhar vida própria e tal como nós,
organicamente, tende a querer falar por si. Desta dificuldade, endossa-se no presente
fichamento a seguinte fala do autor: “a construção de uma escrita é uma passagem, sob muitos
aspectos, estranha.”.
Novamente, a prática do desvio indica outro caminho a ser trilhado com cuidado, pois
enquanto as ideias fecundas na pesquisa são infinitas, o texto é finito e, logo, deve seguir as
técnicas institucionais e profissionais. Por isso, o autor descreve a “servidão” do discurso do
historiador, ou seja, a do seu texto, à pesquisa. O historiador ao escrever é defrontado
constantemente com hiatos que por ele são preenchidos. Apenas a “representação escrituária é
‘plena’ ” (aqui entendida como, por exemplo, os acervos de arquivos ou a responsabilidade, a
2
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7
Ibidem, p. 98.
8
Ibidem, p. 99.
9
Ver detalhes – da produção semântica com a seleção e da inteligibilidade literária; da narrativização e da
semantização; do caráter misto etc –, pp. 100-101.
10
Ibidem, p. 102.
11
Ibidem, p. 103.
4