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Desfecho de um caso de concubinato

O segredo foi descoberto – a suspensão de António Mendes de Almeida do cargo de


provedor e intendente da fazenda real de Goiás por se casar em segredo – sem a
autorização de S. Majestade – com a filha de uma viúva pobre de São Paulo, após
ter sido pego a sós com a mesma. (1763, AHU, 1188, 1189, 1196, 1198, 1218).

Explicação de Antonio Mendes de Almeida para o rei, D. José, sobre o casamento


as escondidas – AHU, novembro de 1763 – ref. 1189.

Senhor,

Sendo certo, que conforme as ordens de V. Mag.de nenhum Mistro pode contrahir
esponsaes do prezente, sem que preceda licença de V. Mag.de, pelo contrario,
Senhor, tenho obrado; por quanto tendo familiarid.e em Caza de hua viuva pobre,
porem pessoa grave natural da m.ª Patria São Paulo, sucedeo obrigarem-me por me
acharem em hua occazião só com hua filha sua a cazar, pois de outra sorte me
havião tirar a vida, porq.to não estava bem a honra daSua caza.
Expuz a contraria.te, que havia, e nada foy bastante, e obrigado de algua traição,
que já se me ameaçava, convim. Procurou ad.ª viuva por via de hum sobrinho seu
clérigo as licenças necessarias, e receby-a por mulher occultam.te.
Conheço, Senhor, q. fiz mal, porem as angustias, em que me vi, obrigarão-me a (---)
as ordens de V. Mag.de, a cujos pés prostrado rogo hua e mil vezes pela innata (---)
de V. Mag.de, pelas chagas de Jezus Christo, pela pureza de sua Santissima May, e
por São Francisco de Paula o perdão, pois a m.ª mizeria deu cauza, oq nunca obrara
tanto por não incorrer no dezagrado de V. Mag.de, como pela pobreza da Caza d d.ª
viúva, e m.ª, a qual hoje lamento, porem sem remédio algum mais, do que a pied.e
de V. Mag.de. V.ª de Guayaz 25 de Novembro de 1763.

Explicação de Antonio Mendes de Almeida para o secretário de estado dos


Negócios Estrangeiros, Conde de Oeiras, sobre o casamento as escondidas – AHU,
novembro de 1763 – ref. 1189.

Ill.mo, e Ex.mo Senhor

Não pode deixar de ser vêr confuzo na prezença de V.Ex.ª quem vay confessar a
sua culpa.
Por ocazião de ter conhecim.to familiar em Caza de hua viuva pobre, porem grave
da m.ª Patria S. Paulo, foy achadosó com hua filha sua, e obrigado a cazar com
ameaças de se me tirar a vida, protestey q. me cazaria, porem q. o não podia
executar sem licença deV. Mag.de, e ponderando-se adita e q. poderia frustra-se
com ademora, por nada se esteve. Sujeytey-me a tudo, e por hum sobrinho clérigo
mandou ad.ª viuva diligenciar as licenças occultam.te, e se fez o cazam.to pelo
mesmo modo occulto.
A m.ª mizeria, Senhor, deu cauza a transgredir as ordens de V. Maj.de, pois sendo
vista a pobreza da Caza dad.ª viuva, e am.ª nada me obrigou se não o medo, q.
nestas al: horas não he pequena cauza.
Rogo aV.Ex.ª pelas chagas de Jezus Christo, e Reverencia de Sua S.S. May me hão
depompare, pois vejo-me pobre, q.do todos daqui sahirão ricos. D.s g.de a pessoa
da V.Ex.ª m.to, e felizes an.os. Guayaz 25 de Novembro de 1763.
De V.Exª.
O mais Reverente e fiel Servo
Antonio Mendes de Almeida

1218- 1764, Junho,6, Vila Boa


OFÍCIO do (governador e capitão-general de Goiás), João Manuel de Melo, ao
( secretário de estado dos Negócios Estrangeiros), conde de OEIRAS,
( Sebastião José de Carvalho e Melo), solicitando suas intervenção a favor de
um sobrinho preso no Reino; sobre os fatos principais acontecidos na
capitania; a suspensão do intendente e provedor ( da Fazenda Real de Goiás).
António Mendes de Almeida e a guerra com os castelhanos.
Anexo: 1 doc.
AHU-Goiás
AHU_ACL_CU_008,Cx.20, D. 1218

Conde de Oeyras

............... Depois que declarou a guerra tenho padecido uma grande falta de notícias
particulares della corte, e não tenho recebido cartas de minha casa, a que me motiva
incessante cuidado, ainda mais depois que o Conde Vicerey deste Estado, me
participou em Carta particular, do mês de junho.Estevam se achava preso em uma
torre, seguramente quando devia estar obrigado V. Magess . por semelhante
castigo; pois fora dirigido pra reformados dos costumes, mas não me diria quais
estiveram. Agradeço a V, Ex. tudo o que obrasse neste particular; pois tenho por
certo, que havia de concurrer mas pra a emenda della capaz pelo antigo favor que
sempre me deve a nossa casa, e pela generosa promessa que me fez de que não
havia prejudicar na minha ausência, pois a tomava debaixo de sua proteção.
Tenho dado contas a V.Ex. nas repetidas cartas, que me tenho escrito do que
tem succedido por esta America depois do surgimento da Guerra, segundo as
notícias que chegavam a Esta V. que sempre eram retardadas. V. Ex. já tem em
pleno conhecimento de todas os referidos factos, e ainda tenho por indubitável , que
os Jesuítas tinham canetas/cávecta(?) parciais, que concurriam pra humilhantes
desordens; pois a não haver traidores, não podiam fingirse tanto prejudiciar
imposturas como se espalharam, nem os castelhanos tomariam com tanta facilidade
a colônia, e o Riogrande; porque vejo, que no Matogrosso onde tínhamos tão pouco
poder, que fez uma resistência tão vigorosa, e obraram acões dignas de valor
Portugues.Não acho outra razão mais, que não haver naquella remota Capitania
inteligências com castelhanos, luguares.
Tambem dirigi duas cartas a V. Ex. sobre o caso do Intendente Provedor
desta Capitania. Antonio Mendes de Almeida águem suspendi por uma atestação
que fez o Dr. Manoel da Fonseca Brandão em que certifica que ele ocultando tinha
contraído matrimonio sem licença de S. Mages, e como tal estura incurso nas penas
da ley. O Pombo(?) que recebes em um oratória particular, e um clérigo, que envio
de testemunha, foram a mesmas que me facilitaram este matrimonio, segurar do
me(?) que ficava debaixo de um inviolável segredo, de sorte que me não fizeram
alerta no cisma dos casamentos e depois foram os mesmo que o relevaram.
V. Ex. verá perur remessas, que vão este ano, e por outras mais reflexões a
falta que fez este Ministro á leal Fazenda de quem er um grande zelador,motivo
porque adquiro tantos inimigos, que a quem faz direito também a sua obrigação
cabe no ódio de todos os magnates. Desde outro que estão nas mão dos Desr.
(?)vendicanta todas as execuções que elle tinha feito das dividas atrazadas, que as
fossem obrando, não experimentaria tanto falta esta Provedoria, não obstante a
decadência do contrato das Entradas pela diminuição das tropas.Não sey em que
pararão estas grandes contas, que o V. Ders(?) anda tirando dos antigos
tesoureiros, quando este aqui chegar me disse, que dentro em seis meses, concluía
os negócios de que vinha acarregado, eu me respondi que sempre me haviam levar
um anno;mas já vão passando dois, e não sey quando terão fim, o ponto que de tão
largas averiguações resulte alguma concideravel utilidade à leal Fazenda.
Mas estas Minas; mas também as Gerais tem experimentado a dois annos
uma grande seca, e sem agora não se pode extrair ouro. O gentio combate por
todos os lados esta Capitania Iadesbaratemos(?) um corpo de mais de cem
Cayapós, que destruio varias lojjas;mas foy bem castigado. Agora estão armando os
Arrayaes do Plar(?), e Crixás à sua custa, com licença minha uma Bandeira de
duzentos homens contra o gentio Xavante, que devemos aos bons e gentio dos
Jesuitas Hespanhoes surgerirem estes Gentios a nos faserem continuar
hostilidades, quando dantes conservaram sempre conosco uma boa visinhança,
como V. Ex. veras nas cartas que vires.
No dia de Janeiro chegaram varias cartas, que affirmam que os castelhanos
entregaram a Colonia quase de sexta de gente, e vem território para frutos, e que
não querem restituir o Riogrande. Visto e uma declarada infração do Tratado
definitivo da Paz. Espero que me venham notícias mais certas e favorareis, que me
tirem da desconfiança em que estou.Tendo estes sertões mil coisas intoleráveis, o
que mais me mortifica estarde que cá nos chegam as noticias não desse Reino;
mas desta mesma America, V.Ex. me livre delles sua piedade, que é o mesmo que
tirar uma alma do Purgatorio, mais que tudo deste que V.Ex. logre completa saúde,
e que me conceda o apptecido gosto de executar seus preceitos.
Despeço a V.Ex. como peço, e sey de mister. V.Boa de Goyaz 6 de Junho de
1764.

Beijos as mãos de V.Ex.


Amo fiel e capitão muito obrigo.
João Manoel de Mello.

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