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GRANDES TRADIÇÕES RELIGIOSAS: RELIGIÕES TRIBAIS

Existe um patrimônio religioso na humanidade

A humanidade possui um patrimônio religioso e cultural que não pode ser desprezado e do
qual somos herdeiros. Ilustrando a antiguidade desse patrimônio, temos os testemunhos
claros do enterro ritual. O homem de Neandertal, nosso longínquo antepassado, parente do
homo sapiens e que viveu entre os anos 95.000 e 35.000 a. C., sepultava os seus mortos. Os
animais nunca fariam algo semelhante.

Na Austrália, foi encontrado um primeiro testemunho claro da cultura e da religião entre os


homo sapiens: um esqueleto de homem do sexo masculino, com 30 mil anos de idade, coberto
de ocre – o sinal da ideai de uma vida após a morte. Tudo indica que esse homem foi
enterrado ritualmente. O que significou isso? Uma mudança de atitude para com os mortos e a
morte. O ser humano buscou ligar-se aos seus mortos e, portanto, a um misterioso além da
morte. A palavra religião, lembramos, significa “ligar de novo” – religare.

Culturas tribais

Hoje em dia, não é possível reconstituir ou encontrar, empiricamente, a religião primitiva ou


original. Ela não está presente sequer nos povos aborígenes – como são chamados os
habitantes primitivos dos continentes, em palavra que vem do latim, ab origene: “desde o
início”. Embora suas técnicas sejam simples, sua cultura, como toda cultura, é complexa, viava
e se transforma com o tempo e as novas necessidades.

Encontramos ainda vários povos aborígenes no mundo inteiro. Por exemplo: os aborígenes na
Austrália; os mongóis na China; os maoris na Nova Zelândia; os bantos, grupo que abrange
diferentes grupos étnicos, na África; os indígenas norte e sul-americanos. Para eles, as raízes
espirituais da tribo desempenham um papel um papel importante.

Para conhecer as religiões tribais ou aborígenes, é necessário um sério estudo de seus mitos,
ritos, costumes, normas éticas não escritas. É necessário também se desprover dos
preconceitos que inferiorizam sua religião e cultura.

Essa linha de pensamento, atualmente muito criticada, mostrou-se insustentável e fundada


em preconceitos. Hoje, aceita-se que esses fenômenos se interpenetram e podem ser
encontrados em estágios, fases ou épocas de desenvolvimento totalmente diversos- eles não
se sucedem em ordem cronológica. Nesse sentido, não se deve identificar, sem mais, os povos
aborígenes com a magia ou com o animismo. Há uma diversidade e complexidade na
religiosidade desses povos.

Outro preconceito a ser desfeito diz respeito à noção de cultura. Segundo uma visão
etnocêntrica, os povos primitivos possuiriam uma cultura primitiva em oposição aos povos
cultos. Por trás do termo primitivo há, na verdade, uma discriminação. Por primitivo não se
entende apenas original ou natural, mas, sim inferior, subdesenvolvido, rude, atrasado.
Estariam relacionados, segundo a antropologia de Frazer e de outros, povos primitivos com
religiões primitivas.
Por que se deve evitar a expressão cultura primitiva? Porque ela reforça a idéia de que a
cultura está relacionada unicamente ao desenvolvimento da escrita, da ciência ou da
tecnologia. Ao contrário, o conceito de cultura, em perspectiva multicultural, estende-se às
construções que podem ser vistas e apreendidas socialmente, como, por exemplo, a prática
econômica e política, ou simbolicamente, como os mitos e as obras de arte, e também ao
conjunto de sentidos, significações, valores, padrões, critérios de vida e ação presentes no
grupo humano, sempre complexos e não facilmente apreendidos pela observação externa (cf.
AZEVEDO, 1991).

No sentido anterior, não se pode dizer que exista um povo sem cultura. Todos os grupos
humanos têm uma cultura, mesmo que seja diferente da nossa. As culturas exigem, de quem e
externo a elas, observação e respeito, abandonando a idéia de que a própria culutura é melhor
ou superior.

O teólogo Hans Kung propõe identificar as culturas primitivas como culturas aborígenes ou
tribais e suas religiões como religiões aborígenes ou tribais. Essas culturas têm suas buscas, sua
representação do mundo, sua linguagem, sua organização, seus valores...

O grande desafio para os aborígenes do mundo inteiro apresenta-se hoje sobretudo aos
jovens: resolver a sua forma de vida no encontro/choque entre a grande herança cultural que
receberam e a cultura moderna, com a globalização e as fortes mudanças culturais da
atualidade.

Bibliografia

AZEVEDO, Marcelo. Entroncamentos e entrechoques: vivendo a fé em um mundo plural. São


Paulo: Loyola, 1991.

DELUMEU, Jean; MELCHIRO-BONNET, Sabine. De religiões e de homens.São Paulo: Loyola,


2000[1997].

HELLERN, Vítor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.

KUNG, Hans. Religiões do mundo: em busca dos pontos comuns. Campinas: Verus, 2004.

Webliografia

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Debate

Dê exemplos de culturas tribais, conhecidas ou pesquisadas. Por que não podemos dizer que
uma pessoa “não tem cultura”, ou que sua religião é primitiva”? Em que isso altera nossas
atitudes com relação essas religiões?

Filme(sugestão): Austrália- Baz Luhermann

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