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DIFICULDADES GEOPOLÍTICAS E BUROCRÁTICAS PARA REALIZAÇÃO

DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE REDUÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL NO


BRASIL.

Edney Firmino Abrantes1

Resumo

Este artigo trata-se de uma pesquisa que demonstra as dificuldades de implementação


das políticas públicas de redução da desigualdade social no Brasil. Traça uma espécie de
clivagem trazendo as divisões e obstáculos existentes entre a legislação constitucional
com as práticas das políticas públicas no país. Para tanto, necessário entender o sistema
presidencialista e os conflitos do Poder Executivo e da coalizão junto ao Poder
Legislativo. O dorso do trabalho se baseou no autor Humberto Dantas e sua obra:
“Introdução à política brasileira” para definir e compreender a estrutura institucional do
Estado e Rodrigo Costa da Rocha Loures e sua obra: “Para o Brasil voltar a crescer” e a
necessidade de reflexão sobre a vontade política e reformas para uma efetiva mudança.

Palavras-chave: Desenvolvimento social, Desigualdade, Políticas Públicas, Coalizão.

Abstract

This paper is a research that demonstrates the difficulties of implementing public


policies to reduce social inequality in Brazil. It traces a kind of cleavage bringing the
divisions and obstacles existing between constitutional legislation and public policy
practices in the country. To do so, it is necessary to understand the presidential system
and the conflicts of the executive branch and the coalition with the legislative branch.
The back of the work was based on the author Humberto Dantas and his work:
"Introduction to Brazilian politics" to define and understand the institutional structure of
the State and Rodrigo Costa da Rocha Loures and his work: "For Brazil to grow again"
and the need for reflection on political will and reforms for effective change.

Keywords: Social development, Inequality, Public Politics, Coalition.

1
Advogado e cientista político. Mestre em Ciências Humanas pela UNISA e Doutorando em
Comunicação Social pela Umesp. Professor convidado na Escola de Comunicações e Artes na
ECA/USP, onde ministra a disciplina: “Produção de Textos Persuasivos.” Bolsista CAPES.
Artigo apresentado e publicado no evento ConiPub 2020 no endereço eletrônico:
https://www.caedjus.com/wp-content/uploads/2021/01/03-miolo-perspectivas-sobre-politicas-
publicas.pdf?utm_campaign=resposta_automatica_da_landing_page_lp_-
Introdução

Falar de políticas públicas no Brasil é também transmitir esperança a população carente


residente nos rincões do país. Em uma visão tridimensional dos níveis da administração
pública brasileira (municipal, estadual e federal), é perceptível a compreensão das mais
diferentes e diversas realidades existentes.

Primeiramente, temos o Município onde seria considerada a primeira instância de


localização de um conjunto de moradores desse território. Essa unidade territorial possui
uma administração pública governada pelo Chefe do Poder Executivo municipal e pela
Câmara municipal. Há, portanto, um entrecruzamento de poder para juntos governar a
cidade.

Segundo, temos o Estado onde seria considerada a segunda instância de localização de


um conjunto de moradores dessa unidade. É de fato e de direito, uma divisão territorial
e administrativa no Brasil governado pelo Chefe do Poder Executivo Estadual e pela
Assembleia Legislativa do Estado. Há, portanto, também um entrecruzamento de poder
para juntos governar o Estado.

Terceiro, temos o nível Federal. Seria uma espécie de terceira instância de localização
da sociedade brasileira. Também é uma unidade territorial que possui uma
administração pública governada pelo Chefe do Executivo Federal e pelo Congresso
Nacional e suas duas Casas Legislativas, ora a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal. Há, portanto, um entrecruzamento de poder para juntos governar a União.

Nessa linha de raciocínio, temos essas instâncias e sua visão tridimensional


administrativa prevista na Carta Política de 1988, denominada de Pacto Federativo com
o significado contratual entre esses entes federativos e suas respectivas competências,
funções, sistemas, calcados no bicameralismo e na descentralização política. Tal
engenhosidade normativa é regida pelo princípio da soberania da União prevista no
artigo 1º que reza o seguinte:

“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Município e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos...”
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, artigo 1º, 2013, p. 1). (Grifo nosso).
Nesse sentido, por mais que o Pacto Federativo2 seja considerado cláusula pétrea no
artigo 60, § 4º, inciso I, da própria Carta Magna, a sua interdisciplinaridade se torna
complicada e complexa por consequência das convicções e ideologias de cada
governante, ou seja, a forma de governar e o pensamento, tanto do prefeito, quanto do
governador e do presidente da República não estarem em consonância político-
ideológico e partidário pode ser negativo. Além disso, existe a corrupção e a
incompetência dos governantes que esvaziam os cofres do erário público sem contar
com o mínimo de zelo e transparência. Esses atos acabam conflitando os interesses que
podem prejudicar a população.

Além dos percalços acima mencionados, há toda uma imbricação técnica que causa
entrave para a administração pública das três instâncias, ou seja, a deficitária
distribuição da receita arrecadada entre os entes federativos, onde alguns estados e
municípios arrecadam muito e recebem – a título de repasse – receitas com numerários
inferiores e desproporcionais. O exemplo clássico do Estado de São Paulo, considerada
a locomotiva dos estados federados, arrecada muito mais do que recebe de repasse,
gerando dificuldades para a sua autogestão, embora se saiba que, outros entes que não
tem esta capacidade de arrecadação, acabam recebendo parte desse bolo, no intuito de
ocasionar equidade, em nome o bem-estar social.

Portanto, as dificuldades geopolíticas e burocráticas somadas ao Pacto Federativo


deficitário, (onde beneficia alguns entes em detrimento de outros), agregadas as
convicções político-ideológico e partidário atrapalham na realização de políticas
públicas de qualidade e consequentemente, não conseguindo reduzir a desigualdade, –
esta uma patologia social – adquirida pela ausência de respostas imediatas dos governos

2
Federação é uma forma de organização do Estado, composta por diversas entidades territoriais, com
autonomia relativa e governo próprio para assuntos locais, unidas numa parceria que visa ao bem
comum. Essa parceria é regulada pela constituição de cada país, que estabelece a divisão do poder e a
dinâmica das relações entre as unidades federadas, além de toda a moldura jurídica, como direitos e
deveres que determinam a atuação dos entes federados. De acordo com a Constituição de 1988, a
República Federativa do Brasil é composta pela parceria indissolúvel de estados, municípios e distrito
federal. A organização político-administrativa brasileira compreende a União, os estados, o Distrito
Federal e os municípios, todos autônomos, nos termos da Constituição. O pacto federativo é o conjunto de
dispositivos constitucionais que configuram a moldura jurídica, as obrigações financeiras, a arrecadação
de recurso e os campos de atuação dos entes federados. O debate em torno do pacto federativo que está
sendo travado atualmente no Congresso Nacional gira em torno, sobretudo, de questões fiscais. Fonte:
Agência Senado. https://www12.senado.leg.br/noticias/entenda-o-assunto/pacto-federativo. Acesso em
02/08/2020.
que não podem ou não atendem ás demandas existentes no bojo da sociedade,
infringindo os direitos e garantias fundamentais, individuais e coletivas, descritos na
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Políticas públicas ineficientes

Hodiernamente, dentro de um cenário caótico no campo social brasileiro, onde há


inúmeras variáveis para verificar, primeiramente, um diagnóstico, não sendo possível
falhar mediante as condições humanas precárias em que a população se encontra nas
periferias do país de dimensão continental, se torna uma obrigação do governo,
independentemente de sua instância tridimensional, dar respostas no sentido de mitigar
os problemas notórios e existenciais.

As demandas são latentes e a ineficiência dos governantes são reais e visíveis. Aliás, são
tão flagrantes que não fazem questão de violar direitos e garantias fundamentais
constitucionais do cidadão-contribuinte em cascata. Os atores (públicos e privados)
envolvidos na possibilidade de emanação das políticas públicas são amortecidos pelo
costume da ausência de compaixão muito por conta da massificação da mídia em geral
sobre a ineficiência do Poder Público em solucionar problemas do populacho. Isto,
infelizmente, se torna normal e reflete na sociedade negativamente, momento em que
esta recepciona a incredulidade sobre os atos públicos.

Não é difícil detectar a ineficiência, pois, por ser a política pública um conjunto
concatenado de atos desferidos dentro de um processo, obviamente que,
necessariamente, tem que ter um resultado, haja vista, ser fruto de procedimentos
planejados obrigatoriamente. Mas, se é uma obrigação porque não se conclui o
planejamento e a entrega da política pública ventilada na plataforma de governo do
candidato vencedor no pleito eleitoral?

Infelizmente, esta é uma realidade macabra no Brasil, principalmente, em pequenos


municípios dos rincões do interior do Brasil. Aqui, muito se promete e quase nada se
cumpre. É a problemática da ineficiência governamental em que quase nada se apura e
quase nenhum político com cargo é punido. Nesses municípios periféricos do interior
brasileiro, ainda há o famoso coronelismo que cria barreiras no desenvolvimento
estrutural da cidade e por consequência, de sua população sofrida.
A falta de grandeza política dos governantes é outro fator preponderante que atravanca
o crescimento do país. Isto gera a descontinuidade de políticas sequenciais intermitentes
entre um mandato e outro de governantes distintos que acaba prejudicando o equilíbrio
social, bem como, inclusive a continuidade de políticas públicas não implementadas
apenas pela mudança do mandatário que possui outra ideologia, convicção ou crença
político-partidária, ou seja, o impacto é direto nas periferias e classes menos abastadas.

A falta de continuidade, regras eleitorais frouxas e propícias a um


individualismo político exacerbado, tudo isso contribuiu para a
debilitação do processo de reabilitação do processo de representação.
Reitero aqui a necessidade de evitarmos idealizações, do contrário não
chegaremos a debater reformas sérias (LAMOUNIER, 2013, p. 58).

Existe também a ineficiência para o exercício do cargo e função, ou seja, a falta de


preparo administrativo para impulsionar e implementar atos públicos em benefício da
população. Surgem hipóteses palpáveis para análise política. Senão vejamos.

Ineficiência para o exercício do cargo e função por consequência da corrupção? Ou por


conta da falta de preparo administrativo? Ou por assunção no poder do coronelismo 3?
Ou por força do assistencialismo4? Ou pelo patrimonialismo5?

3
O jurista brasileiro Victor Nunes Leal foi o criador do termo, em 1948, no livro “Coronelismo, Enxada e
Voto”. Em suas próprias palavras: “Concebemos o coronelismo como resultado da superposição de
formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada (…) o
coronelismo é, sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público,
progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente, os senhores
de terras”. Ou seja, o coronelismo era uma troca de favores entre os menos favorecidos e os coronéis, e
entre estes e o poder público. https://www.politize.com.br/coronelismo-entenda-o-conceito/. Acesso em
03/08/2020.

4
O assistencialismo é uma forma de prestar assistência: ajuda, colaboração ou apoio. O conceito costuma
utilizar-se, em geral, com relação à obrigação dos governos de ajudar seus cidadãos para satisfazer as
necessidades básicas quando as pessoas não podem fazê-lo por conta própria. Devido às diversas questões
econômicas e sociais, é comum que muitos indivíduos não consigam pagar suas despesas essenciais
(ligadas à habitação, saúde, educação, etc.). Por este motivo, o Estado tem que ajudá-los. Essa
particularidade estabelece uma relação de dependência que ameaça a dignidade individual: o sujeito
depende do Estado, mais precisamente dos governantes que o administram, para sobreviver.
https://conceito.de/assistencialismo. Acesso em 03/08/2020.

5
Patrimonialismo é um conceito desenvolvido pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), no fim
do século XIX, e aplicável tanto à disciplina de história quanto à sociologia. Esse conceito tem o objetivo
de compreender um modo específico de dominação, ou de poder, que atinge as esferas econômica e
sociopolítica. Como o próprio termo indica, patrimonialismo deriva das
palavras patrimônio e patrimonial e pode ser definido como uma concepção de poder em que as
esferas pública e privada confundem-se e, muitas vezes, tornam-se quase indistintas. Assim sendo, um
líder político é qualificado como patrimonialista quando, ao assumir um cargo na esfera pública (o de
governador, por exemplo), acaba “instrumentalizando”, isto é, criando mecanismos de controle, a
estrutura estatal para satisfazer as suas necessidades pessoais, ou seja, privadas.
https://brasilescola.uol.com.br/politica/patrimonialismo.htm. Acesso em 04/08/2020.
Vejam independente da sequência de hipóteses supraditas, há parâmetros legais
constitucionais que devem ser seguidos. No artigo 37 da Carta Política, especificamente,
no Capítulo VII, denominado: “DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA”, fixada na Seção
I, Das Disposições Finais, descreve o seguinte ipsis literis:

“A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência e, também, ao seguinte...” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988, 2013, p.60), (Grifo nosso).

Enfim, a ineficiência das políticas públicas executadas com falhas ou não concluídas ou
desviadas por violação de conduta do governante, afetam em cheio os princípios
constitucionais que permeiam a administração pública. Portanto, ao infringirem o artigo
37 da Carta Magna violam a Lei Maior do país, devendo responder por dolo ou culpa –
na medida do seu ato – pelos crimes culposos ou dolosos contra a Administração
Pública, como por exemplo, improbidade administrativa e peculato, bem como
civilmente, responder pelos danos causados ao erário com o ressarcimento dos valores
supostamente desviados ou com o bloqueio dos bens particulares para futuras penhoras,
sequestros e arrestos como garantia de devolução aos cofres públicos atenuando e
amortizando o prejuízo ocorrido.

As políticas públicas ineficientes agravam negativamente todo tipo de condição


humana. A população sofre com os problemas sociais existentes no Brasil continental e,
quando é enganada pelas promessas divulgadas nas plataformas de governo vencedoras
nos pleitos eleitorais, a crise local – onde seria efetivamente executada a política pública
necessária – se intensifica gerando embates práticos e teóricos, afundando a sociedade
daquele perímetro em uma maior desigualdade social do que antes, haja vista, tal
política pública que seria até então executada fora rechaçada pela ineficiência criando
um caos coletivo.

Políticas públicas eficientes

Saindo daquilo que é comum no Brasil, ou seja, a ineficiência das políticas públicas
pelos casos elencados no item anterior, denominado de “Políticas públicas ineficientes”,
partimos para aquilo que, de fato e de direito, deveria ser real, enfim, a realização de
uma política pública eficaz, de acordo com a realização de estudos e avaliação do seu
impacto na sociedade.
A observação do cenário é imprescindível para a formulação e edificação da execução
da política pública desejada. É de suma importância verificar quais são os problemas
sociais existentes, como por exemplo, quais as regiões de maior desemprego, bem como
de maior exclusão social, como também da existência de superpopulação em alguns
locais de concentração e também a ausência de saúde, saneamento básico e segurança.
Não há como deixar de estudar e avaliar os problemas sociais para dimensionar a
capacidade econômica e financeira do erário público e a respectiva capacidade técnica
dos servidores públicos ou quiçá da abertura de editais para a chamada e futura
convocação de empresas privadas com tecnologia de ponta para a realização e
implementação das políticas públicas e seus aspectos materiais (pragmatismo) e
imateriais (leis, normas e decretos) no intuito de solucionar as demandas necessárias a
população.

Assim, políticas públicas eficientes são aquelas que seguem o roteiro de todo um
planejamento elaborado pelo Poder Público, depois de ter analisado todos os aspectos
materiais e imateriais, bem como os problemas sociais relevantes do local da demanda,
os atores envolvidos no projeto, a realização de audiências públicas com os
representantes da população para que juntos debatam e discutam a viabilidade e
inviabilidade do impacto da política pública a ser efetuada.

O governante tem que ter ciência do que pode e não pode fazer. Ele tem que ter a
capacidade de governança para identificar a possibilidade ou a impossibilidade
econômica, financeira e técnica de realizar a política pública pretendida e necessária,
caso contrário corre sérios riscos negativos e fadado ao fracasso pelo não cumprimento
de uma promessa divulgada.

Outra característica importante que o governante deve possuir é a governabilidade, ou


seja, conforme mencionado na “Introdução” deste artigo, o equilíbrio governamental só
existe quando há um governo sólido entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo que,
em consonância, tratam da demanda em conjunto, com aprovações recíprocas em
benefício da população. O apoio aos atos do Chefe do Poder Executivo deve ter
respaldo na Casa Legislativa, como também o carisma para mobilizar as devidas forças
políticas, (sejam a favor ou contrárias, sendo estas convencidas pela demonstração da
relevância da política pública a ser realizada), bem como as lideranças sociais (a favor
ou contrárias), obtendo o maior apoio possível para o deslinde do ato.
Importante ressaltar que o Estado é de fato e de direito um ente organizado e
burocrático. Esta característica tem que ser respeitada, pois, se houver a realização dos
atos públicos seguindo a burocracia, melhor se adequa a execução da política pública
necessária, evitando a prática da corrupção e da ineficiência pela incapacidade técnica e
administrativa do governante.

Desigualdade social

A desigualdade é uma verdadeira patologia social. É, de fato, um abismo entre as


classes sociais, principalmente, no Brasil, ora país de dimensões continentais.
Destacam-se negativamente as diferenças brutais na economia e no trato entre as
pessoas e grupos. As relações sociais ficam contaminadas com a existência de
privilégios de etnia, financeiro, de gênero e de classes que se sobrepõe uns sobre os
outros fragilizando aqueles que estão presentes na base da pirâmide societária.

Os privilegiados recebem os louros da melhor estrutura social remanescendo aos pobres


e miseráveis, infelizmente, as migalhas de uma sociedade elitista e aproveitadora, que
concentra o dinheiro em grandes centros tendo como fator gerador a sua má
distribuição. Sequer há o respeito na concessão dos direitos constitucionais básicos
descritos nas cláusulas pétreas da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, dentre estes, a realização da erradicação da miséria e da pobreza, bem como a
marginalização e redução das desigualdades, fixado no artigo 3º, III, que reza:

“Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil: III- “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
2013, p.2).

Nesse sentido, as instâncias da administração pública (municípios, estados e União)


devem estar em sintonia com a redução da desigualdade social. As instituições públicas
e privadas podem agir concomitantemente, na feitura de melhorias materiais e imateriais
para as classes menos abastadas.

Assim, relevante o surgimento de leis e decretos que possam ensejar melhorias sociais
com a aplicação e respeito aos direitos e garantias fundamentais do cidadão, lhes
proporcionando o uso dos princípios constitucionais da soberania popular, cidadania,
valores sociais como o trabalho, saúde, educação e habitação, projetando
pragmaticamente, o desenvolvimento social almejado.
É importante que as classes mais baixas da população tenham acesso real aos direitos e
garantias fundamentais, individuais e coletivas, para seguirem independentes econômica
e financeiramente para se desenvolver e, paralelamente, impactar a economia do país
gerando uma melhor distribuição de oportunidades.

Em meio aos direitos e garantias fundamentais, individuais e coletivas, está a aplicação


prática dessas realidades, ou seja, as políticas públicas são relevantes para que a
população receba em troca daquilo que contribui com impostos caros que pagam em
todas as circunstâncias, inclusive quando estão desempregadas. Um dos motivos do
surgimento da desigualdade social é falta de investimento nas áreas sociais, em cultura,
em assistência a populações mais carentes, em saúde, educação. É aqui que o Poder
Público deve concentrar o seu propósito!

Infelizmente, a desigualdade social é um problema sistêmico no Brasil. Não há como se


fazer Justiça Social enquanto houver o desrespeito aos direitos e garantias fundamentais
do cidadão pobre e miserável. Ledo engano daqueles que acham e pensam diferentes,
pois, uma nação forte requer um povo forte e satisfeito, vide o índice de GINI 6 e suas
catastróficas demonstrações de dados negativos sobre o desenvolvimento precário do
Brasil.

Autonomia e coalizão entre os Poderes Executivo e Legislativo

Por consequência da existência do Pacto Federativo descrito na Carta Política de 1988,


cada município, cada estado, o Distrito Federal e a União são considerados entes
federativos e cada qual possui autonomia para o exercício da administração pública. Até
aqui e na teoria, esse engendramento parece funcionar e se encaixar muito bem.

Mas, retroagindo a parte inicial do trabalho, denominada: “Introdução”, em seus


primeiros parágrafos, mencionamos que, para o exercício de um governo no período do
6
O conceito se refere ao método que mede a desigualdade de um país ou região. Há uma medida que é
utilizada para medir a desigualdade de renda. Ela recebe a denominação de Índice de Gini e indica qual o
tamanho da diferença entre os mais pobres e ricos, seja em uma região ou país. O objetivo desse medidor
é apontar se há muita uma pouca diferença. Dessa forma, os valores de seus coeficientes são
representados entre 0 e 1. Assim sendo, quanto mais próximo de zero menor é desigualdade social. Em
contrapartida, 1 é o máximo em que a desigualdade pode chegar. O italiano Corrado Gini desenvolveu e
publicou o Índice de Gini, em 1912. O sistema se tornou um dos principais indicadores de desigualdade
social no mundo. https://editalconcursosbrasil.com.br/blog/economia_indice-de-gini/. Acessado em
04/08/2020.
seu mandato popular há que se ter o entrecruzamento dos Poderes Executivo e
Legislativo, independentemente das esferas instanciais (município, estado e união), para
a tomada de decisões em conjunto, pois, quase todos os atos administrativos do
Executivo passam para análise, aprovação ou reprovação do Legislativo.

É o que se chama de fiscalização (prevista nos artigos 31, 49, X e 70 da Constituição


Federal da República Federativa do Brasil de 1988) onde existe a mola propulsora dos
freios e contrapesos para não ferir princípios constitucionais da autonomia dos entes
federativos que se molda a cada inserção de vigília do Legislativo com o fito de
verificar o andamento ou cumprimento dos atos do Executivo. Cria-se uma espécie de
controle externo que visa fiscalizar todas as ações internas e externas oriundas da
administração pública.

Assim, para que o Poder Executivo possa atuar por intermédio do seu mandatário,
necessariamente, deve compor com o Poder Legislativo no sentido de fazer uma maioria
no Parlamento. Essa maior parte de parlamentares atuará em conjunto na intenção de
auxiliar o Executivo na aprovação de leis e projetos de lei previstos desde a plataforma
de governo fixada na campanha eleitoral até os diagnósticos verificados após a
realização de pesquisas em benefício da população.

Essa aproximação que resulta em um entrecruzamento do Poder Executivo com o Poder


Legislativo fazendo a maioria de parlamentares o apoiarem se denomina de coalizão.
Esta forma um monólito no sentido de pavimentar o caminho do Poder Executivo até o
Parlamento que aprova ou não os pedidos encaminhados oficialmente, ou seja, quando
posto em pauta para julgamento na Casa de Leis pelo seu Presidente.

Obviamente, temos o Poder Judiciário que também é independente e harmônico dos


demais, – ora Poder Executivo e Poder Legislativo – que, também ajuda na fiscalização
dos atos dos outros dois poderes, mas, também os julga quando provocada a sua
jurisdição mediante um ato judicial de protocolo de petição, devidamente encaminhada
a um magistrado para exarar uma decisão provisória ou definitiva.

“Quando a mesma pessoa ou no mesmo corpo de Magistratura, o


Poder Legislativo é reunido ao Executivo, não há liberdade. Porque
pode temer-se que o mesmo Monarca ou mesmo o Senado faça leis
tirânicas para executá-las tiranicamente. Também não haverá
liberdade se o Poder de Julgar não estiver separado do Legislativo e
do Executivo. Se estivesse junto com o Legislativo, o poder sobre a
vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário: pois o Juiz seria o
Legislador. Se estivesse junto com o Executivo, o Juiz poderia ter a
força de um opressor. Estaria tudo perdido se um mesmo homem, ou
um mesmo corpo de principais ou nobres, ou do Povo, exercesse estes
três poderes: o de fazer as leis; o de executar as resoluções públicas; e
o de julgar os crimes ou as demandas dos particulares” (Montesquieu),
(MALDONADO; DANTAS, 2007, p. 31).

É de suma relevância entender a relação entre os Poderes Executivo, Legislativo e


Judiciário e o princípio dos freios e contrapesos que os permeia, pois, todo ato público
deve obrigatoriamente ter prestação de contas e, creio que seja determinante na prática
das políticas públicas para se evitar tanto a sua ineficiência quanto para ajudar na sua
eficiência que irá impactar de fato no equilíbrio e num melhor desenvolvimento social.

Considerações finais

Falar sobre os entes federativos calcado no Pacto Federativo é uma tarefa árdua, pois,
tal instituto é considerado cláusula pétrea. Não há como modificá-la, salvo elaborando
uma nova Constituinte Originária alterando de alguma forma o respectivo contrato
constitucional e adequando-o a uma nova realidade.

Nesse sentido, partimos então para a reflexão sobre uma reforma política a ser realizada,
pois, em muitos aspectos esta pode ser efetuada sem tocar nas cláusulas imutáveis.
Quando tratamos sobre políticas públicas em um país de dimensões continentais como o
Brasil sob a vertente centralizadora da União, temos que pensar e agir geopoliticamente
numa macropolítica, da mesma forma e importância, com os estados e municípios, mas,
estes com perspectivas menores e proporcionais a regiões e locais mais ou menos
pujantes.

Assim, a reforma política é o mote para a realização eficaz de políticas públicas e a


redução da desigualdade social. As tentativas de reformas dentro da perspectiva do
sistema presidencialista se tornam contraditórias, haja vista, a Carta Política ter a sua
essência baseada na substância do parlamentarismo daí a contradição. Essas remendas
transformam a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em uma espécie
de Frankenstein (o monstro consagrado na literatura mundial que possui pedaços do
corpo pertencentes a outras pessoas diferentes), por isso a dificuldade de liga.

Para Abranches, as reformas propostas pelos candidatos a Presidência


em geral são inócuas, tendo em vista baixa capacidade de absorção
pela sociedade, para ele, é necessário que se desenvolva uma
construção coletiva que rompa com o modelo político vigente. A
reforma político-institucional precisa ser feita mediante uma escolha
coletiva com uma sociedade mobilizada para esse intento (GALLO,
2018, p. 4).

Portanto, quase todas as reformas realizadas e contraditórias não são eficazes em todas
as instâncias administrativas do Poder Público. Mas então qual seria a solução? Por
conta desses entraves somados ao sistema caótico partidário onde existe um número
grande de partidos políticos sedentos pela participação no poder, desejando cada qual o
seu respectivo quinhão?

Infelizmente, a solução momentânea e a mais utilizada, seria a compatibilização da


formação da coalizão para a tomada de decisões em conjunto pelos Poderes Executivo e
Legislativo, com a salvaguarda do Judiciário que aguarda com cautela qualquer tipo de
provocação para julgar. Tal formação em sua maioria se torna propensa à prática da
troca inviável e nada republicana trazendo riscos aos cofres públicos com a prática da
corrupção. Esses atos afetam em cheio a realização de políticas públicas levando ao
sofrimento cada vez maior da população brasileira menos abastada tendo como fato
gerador o desequilíbrio e um péssimo desenvolvimento social.

Referências

GALLO, Zildo. Resenha do livro: Presidencialismo de coalizão: raízes e evolução do


modelo político brasileiro. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2018.

https://www.researchgate.net/publication/328047592_Resenha_do_Livro_-
_Presidencialismo_de_Coalizao_de_Sergio_Abranches. Acessado em 12/08/2020.
MORAES, Alexandre de. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de
outubro 1988. Editora Atlas S.A., São Paulo, 2013, p. 1, p. 2, p. 60.

DANTAS, Humberto (org.). Introdução à política brasileira. Editora Paulus. São


Paulo, 2007, p. 27.

LOURES, R. C. da Rocha (org.). Para o Brasil voltar a crescer: evidências, reflexões


e caminhos. LAMOUNIER, Bolívar. Capítulo II, Participação social é um dos
caminhos para o desenvolvimento. Editora Intersaberes. Curitiba, 2013, p. 58.

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