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CURSO DE FORMAÇÃO EM INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA

INSTRUMENTA
ÇÃO CIRÚRGICA
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O HOSPITAL
A palavra hospital deriva da palavra latina “hopes”, que significa hóspede.

Existem várias definições de hospital, e dentre as mais conceituadas destacamos


as de Everett Jones T. Mac Earchern. Everett Jones assim se expressou “O hospital é
uma estrutura planejada em moldes que apresenta o ideal dos serviços profissionais na
concepção dos médicos, enfermeiras e demais pessoas empenhadas nos cuidados do
doente. Deve ser previsto de tal forma que atenda àquelas múltiplas atividades
funcionais que, congregadas sob o teto comum e administração unificada, constituem a
complexa instituição moderna de cura, pesquisa, educação e saúde pública”.

Para Maolcom T. Mac Earchern é: “A expressão do direito à saúde, inalienável


ao homem e o reconhecimento formal da coletividade quanto à obrigação que lhe cabe
em fornecer ao indivíduo ao meio de mantê-la ou de recuperá-la”.

O relatório técnico de nº 122 de 1957, da Organização Mundial da Saúde contém


a seguinte definição: “O hospital é elemento de uma organização de caráter médico e
social, cuja função consiste em assegurar assistência médica completa, curativa e
preventiva à população, e cujos serviços externos se irradiam até a célula familiar
considerada em seu meio; é um centro de medicina e de pesquisa biossocial”.

Numa conceituação muito ampla podemos afirmar que doente é todo o indivíduo
portador de uma doença e paciente é todo indivíduo submetido a tratamento e
observação. Todo doente deve ser conceituado à luz das características gerais do ser
humano, acrescentando-se a isto sua situação de portador de uma doença. Doente é,
pois, aquele que ao lado da problemática humana associa a problemática de
enfermidade tanto do ponto de vista biofísico, como psicológico.

Funções do Hospital

Constituem funções do hospital moderno:

Proporcionar assistência aos doentes, visando a sua recuperação;

Colaborar nos programas gerais de saúde pública e estabelecer planos de ação e


educação sanitária para a comunidade, integrando as atividades de medicina curativa e
profilática;

Participar ativamente na formação de médicos, de enfermeiros e de outros


profissionais da equipe de saúde;

Promover pesquisas de campo da medicina e das ciências correlatas (ou afins),


inclusive administração hospitalar.
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Classificação

Os hospitais são classificados sob vários aspectos. Os mais usados são:

 Clínicos

Os aspectos clínicos podem ser:

Geral – o qual oferece uma variedade de clínicas, como: médica, cirúrgica,


obstétrica, ou somente de um grupo etário, como por exemplo: hospital infantil, hospital
geriátrico.

Especial – que admite pacientes com tipo particular de doença. Exemplo:


tuberculose, câncer, psiquiatria. Atualmente a tendência é colocar os pacientes, seja qual
for o tipo clínico em hospitais gerais, construídos com unidades adequadas a cada
especialidade.

 Administrativos

Os de aspectos administrativos, de acordo com a propriedade e


manutenção, podem ser:

Governamentais - federais, estaduais, municipais.

Particulares

Os hospitais particulares, dependentes de instituições especiais ou propriedade


de uma ou mais pessoas associadas para esse fim; como a Cruz Vermelha, Santa Casa,
Sociedades Beneficentes, Instituições Religiosas, Organizações Industriais, podem ser
de finalidades lucrativas, não lucrativas e mistas.

Organização

O hospital é dirigido por um Conselho Administrativo que tem como delegado


executivo o diretor. Subordinados diretamente ao diretor, estão os chefes dos vários
departamentos administrativos que congregam os serviços prestados pelo hospital.

Os departamentos administrativos existentes num hospital dependem da


capacidade do hospital, da clientela a ser atendida, das especialidades clínicas abrigadas
no hospital e dos serviços oferecidos à comunidade.

Os serviços encontrados na maioria dos hospitais são:

Serviços médicos – enfermarias e ambulatórios;


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Serviços de diagnostico e tratamento – raios X, laboratórios, banco de sangue,


anatomia patológica;

Serviços técnicos – e enfermagem, serviço social, de dietética, arquivo médico e


de estatística.

Admissão

O internamento ou admissão significa a entra do paciente no hospital.

O paciente pode procurar o hospital de várias maneiras:

 Por sua própria vontade ou a pedido de sua família;

 Seguindo o conselho médico;

 Diante de um processo legal, como no caso de uma doença mental ou de


doenças infectocontagiosas.

Ao recebermos um paciente devemos dar a este a maior atenção possível.

São vários os fatores que vão influenciar o paciente nas suas impressões, boas ou
más.

O paciente desligou-se de seus familiares, de seus amigos, de seu lar, de suas


ocupações e vai entrar em contato com um ambiente totalmente estranho. E esse
conjunto de fatores causa, na maioria das vezes, um sofrimento que se pode dizer moral,
que vem a ser mais doloroso que a própria dor física, pois no mais das vezes o paciente
traz seus problemas não só pessoais, mais também os da família, e terão de ser
decididos pelo enfermeiro ou por ele encaminhados ao Serviço Social.

Ao lado do paciente admitido, vamos observar dois fatores muito importantes:


fator psíquico e fator físico.

Devemos tratar o paciente como pessoa humana, que tem suas preferências e
suas aversões. O paciente deve ser recebido no hospital com toda a cordialidade e
atenção. A primeira impressão que o paciente tem é sempre de grande importância para
inspirar-lhe confiança no hospital e no tratamento que ali vai receber. Da maneira como
ele é recebido na enfermaria depende o seu ajustamento ao meio, fator indispensável à
recuperação da saúde. Quando agimos desta maneira, o paciente sente-se estimulado a
colaborar com todos os tratamentos, por mais cruciantes que estes sejam.

Este bom acolhimento influirá também nos seus familiares ou pessoas que o
acompanham.
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Prontuário

O prontuário constitui uma soma total de todos os relatórios, quer médicos, quer
da enfermagem, que de origem administrativa, usados durante a estada do paciente no
hospital. Os relatórios são compilados durante a estada do paciente, e após a alta são
arquivados na seção de arquivo médico.

Unidade do paciente

Entende-se por unidade do paciente, a área ocupada pelo mesmo.

Material pertencente à unidade do paciente:

 Cama;

 Escadinha;

 Colchão;

 Travesseiros;

 Roupas;

 Mesa de cabeceira;

 Cadeira.

Alta

A alta significa a saída do paciente do hospital. Na maioria dos casos, o médico


do paciente, sabendo não serem mais necessários os serviços do hospital, dá por escrito
uma permissão formal. Em raras ocasiões o paciente poderá desejar ir embora,
contrariando o conselho médico. Para isso assina um termo de responsabilidade,
isentando o médico e o hospital de quaisquer complicações que possam advir de sua
saída. O paciente pode querer abandonar o hospital contra a vontade do médico por
causa de condições sociais ou econômicas ou porque sente saudades do lar.

Os preparativos para a saída são feitos no sentido de devolver ao paciente todos


os seus pertences, protegendo, assim, o hospital e cooperando no trabalho dos demais
departamentos.

Após uma doença aguda, a vitalidade, em geral, encontra-se diminuída e todos


os processos orgânicos mais ou menos deprimidos. Os músculos estão fracos pela falta
de exercícios e qualquer esforço é cansativo. O sistema nervoso pode estar alterado, as
emoções são difíceis de controlar e o paciente mostra-se provavelmente irritadiço e
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exigente. A volta ao estado normal de saúde física e mental é um processo gradativo. A


excitação e apreensão associadas à alta, bem como a viagem de volta aumentarão a
sensação de cansaço físico do paciente.

Na despedida o paciente deve merecer a mesma atenção que lhe foi dispensada
no momento da admissão. As últimas impressões, como as primeiras, são as que ficam.
Todos devem regozijar-se com o paciente, pelo fato de poder voltar à casa tratando, não
só a ele, como ais seus familiares, como hospedes que se despedem.

A alta representa o último contato do paciente com o hospital. Usualmente, é


uma hora alegre. O objetivo do tratamento hospitalar é o de restaurar a saúde do
paciente, de modo que ele se sinta bem.

A Federação Brasileira de Hospitais, entidade representativa de parcela


significativa dos prestadores de serviços de saúde do país, ao longo dos últimos anos,
vem buscando desenvolver projetos e programas voltados para a melhoria da qualidade
e desempenho de seus filhos.

Perseguindo esta meta, diuturnamente, logrou êxito ao encontrar apoio e


respaldo de entidades internacionais que vinham atuando nesta área, inclusive, com a
elaboração de documentos que pudessem levar aos hospitais as informações,
orientações, parâmetros e regras facilmente absorvíveis, permitindo sua adequação a
uma nova realidade.

A Federação Latinoamericana de Hospitais e a Organização Panamericana de


Saúde, em atuação conjunta, abriram suas portas para a Federação Brasileira de
Hospitais.
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O PACIENTE
O paciente que adentra ao hospital, e em particular o paciente cirúrgico,
necessita ser tratado com amabilidade, pois considera sua operação como algo
transcendental. Do trato que lhe dermos dependerá em grande parte, a tensão emocional
que traz consigo.

Seu nome deve ser recordado por todos, e por ele chamado.

O estabelecimento de uma firme relação de simpatia e confiança por parte do


paciente é um tento na terapêutica que o médico não deve desprezar.

“Paciência, gentileza e humanidade, nunca serão demais para aqueles que


depositam em nós toda a esperança e, em nossas mãos,sua própria vida”.

Aspectos do Paciente

RELIGIOSO – levando-se em consideração que a maioria das necessidades do


indivíduo hospitalizado decorrem, das características gerias do ser humano, o aspecto
religioso assume real importância.

O ser humano, naturalmente, busca a Deus. Experiências com todos os grupos


humanos revelam que todos crêem numa força suprema que rege o mundo. O ser
humano tem consciência da limitação de suas forças, avalia e critica a sua própria
conduta, medindo assim a maneira pela qual envolve os outros. O ponto de partida de
tal julgamento reside no sentimento de responsabilidade. Existe uma estreita ligação
entre aspectos sociais, psicológicos e religiosos. Desta forma a crença, seja qual for a
sua denominação e qualquer que seja o mecanismo através do qual se revela, assume
importância fundamental no indivíduo hospitalizado.

Os doentes apresentam diferenças no seu ponto de vista religioso. No hospital


entra-se em contato com o material, com o espírita, com o israelita, com o protestante,
com o católico. Enfim, com pessoas que têm um conceito vago ou uma crença religiosa
arraigada, e , nas condições específicas em que se encontram, devem merecer de nós os
cuidados espirituais de que necessitam.

A presença de um capelão no hospital é imprescindível para o católico. Para os


pacientes de outras crenças religiosas, que não a católica, é também indispensável no
Hospital a presença de um mentor espiritual. A ele cabe a responsabilidade de zelar pela
vida espiritual dos pacientes hospitalizados. Sua presença é para o doente um conforto,
uma esperança. Entretanto, o essencial não é somente levantar a moral do doente,
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iluminar de esperanças as fisionomias; sua missão é a de salvar a alma que tem diante
de si.

É junto à cabeceira, esgotados todos os recursos da medicina, todos os meios


humanos, que estará o capelão, para o seu conforto espiritual.

Entretanto, todo o pessoal do hospital ainda que em grau diferente, deve zelar
pelo bem espiritual do enfermo.

SOCIAL – fatores físicos, sociais e psicológicos têm íntima relação com a saúde
e a doença.

Uma pessoa sobrecarregada de problemas não está preparada para suportar a


enfermidade. O tratamento de um paciente pode ser retardado, interrompido ou
fragmentado em consequência de circunstâncias a adversas. O desejo de restabelecer-se
pode ser abalado, se o paciente tiver que enfrentar sozinho toda uma série de problemas
pessoais, familiares e sociais. A identificação precoce e a solução imediata destes
problemas são essenciais para que o tratamento médico dê os melhores resultados
possíveis, para diminuir os efeitos da doença ou traumatismos, e para impedir a
evolução ou recidiva dos fenômenos patológicos. Frequentemente o enfermeiro é o
primeiro a descobrir os problemas existentes, em relação aos pacientes hospitalizados, e
se tiver interesse e habilidade, poderá encontrar uma solução satisfatória. Se a situação
for complicada, pode recorrer a diversos órgãos de assistência social, que o ajudarão a
tratar do problema.

PSICOLÓGICO – o homem é o único ser que possui o privilégio de manipular


consciente ou inconscientemente a matéria-prima do seu sofrimento e o dom de estender
sua desventura ao meio que o cerca.

Todo indivíduo normal tem medo da dor. O medo da dor é tão generalizado, que
quem não o sente é tido como anormal; há diferenças entre sexos a respeito da dor. A
mulher, muitas vezes, é mais idealista e por isso suporta com mais facilidade crises a
respeito da dor. A mulher, muitas vezes, é mais idealista e por isso suporta com mais
facilidades crises dolorosas intensas. O homem é mais realista e não suporta
determinadas crises de dor.

O temor da enfermidade não está baseado apenas na dor que aquela lhe acarreta,
mas, também, no temor da morte ou da invalidez que ela possa determinar.

Cada pessoa tem apreensões específicas em relação às doenças. Cada um de nós


teme determinada enfermidade.

A solidão e o tédio são outros fatores psicológicos que interferem na conduta de


um indivíduo hospitalizado.
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Do estudo dos diferentes comportamentos humanos diante da enfermidade,


encontramos vários tipos de pacientes classificados de acordo com esse mesmo
comportamento.

Assim temos: tipo superinformado; tipo medroso; tipo multissintomático; tipo


agressivo e tipo excessivamente loquaz.

A hospitalização é um dos eventos da vida moderna que envolve profunda


adaptação do homem às várias mudanças que acontecem em seu dia-a-dia. Este
reajustamento pode ocorrer de forma mais fácil em certas pessoas; em outras entretanto,
apresenta-se de forma difícil, exigindo mais tempo, grande esforço e intensa assistência.

As dificuldades de adaptação ao hospital aparecem quando, por exemplo, o


paciente, sentindo-se vítima, exige condições especiais de tratamento, ou se isola
inteiramente dos outros, sedimentando atitudes de parasitismo, de oposição ou de
negação da realidade.

Além disso, a própria situação da doença pode favorecer o aparecimento de


estados frequentes de depressão, de instalação, de insegurança, reações de agressividade
e outros.

Todos os profissionais que militam na área da saúde devem se esforçar de várias


maneiras, afim de amenizar o mais possível o sofrimento dos pacientes e de seus
familiares.
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A CIRURGIA
A cirurgia é a ciência e arte, e como tal deve ser aprendida. Como todas as artes,
exigirá um aprendizado manual paciente e bem conduzido; como ciência, é a renovação
dinâmica e constante de preceitos e conceitos em função de sua própria evolução.

Aprendê-la-ão mais facilmente aqueles que nasceram com vocação, enquanto


que outros precisarão de maior esforço e perseverança para alcançar resultados
satisfatórios.

A operação ou intervenção cirúrgica é o tratamento cruento de transtornos


orgânicos ou funcionais.

Em épocas passadas, era considerada o último recurso aplicável àqueles para os


quais não se dispunha de mais remédios que lhes restabelecessem a normalidade
biológica. Com o evoluir dos conhecimentos, a cirurgia passou a ter seu lugar específico
no tratamento de algumas moléstias e é hoje uma especialidade plenamente definida.
Não mais encarada como apenas a técnica das manobras manuais e instrumentais
visando a uma finalidade terapêutica, exige hoje dos cirurgiões esfera de conhecimento
mais vasta, que abrange desde os fundamentos anatômicos e fisiológicos, até à
compreensão psicológica do paciente, passando pelos domínios da bioquímica,
imunologia, bacteriologia e metabologia. O conceito antigo de cirurgia é hoje apenas
um de seus capítulos, a Técnica Cirúrgica.

A Técnica Cirúrgica geral estuda o ambiente operatório, os instrumentos e seu


manejo, e as manobras cirúrgicas básicas.

A Técnica Cirúrgica Especial estuda os tempos operatórios de cada


intervenção em particular. Resulta da integração das manobras básicas da técnica
cirúrgica geral, com visitas à realização de determinado ato operatório.

Todas as intervenções cirúrgicas têm, em comum, tempos fundamentais que são:

 Diérese;

 Hemostasia;

 Exérese;

 Síntese.
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Na Diérese, incisam-se os tecidos e adentram-se as cavidades naturais,


receptáculos dos órgãos a tratar. A incisão e abertura dos tecidos implica na lesão de
vasos sanguíneos, cuja hemorragia deverá ser estancada sob pena de alterações
hemodinâmicas primeiro, e metabólicas depois, com potencialidades perniciosas para o
doente. É a Hemostasia.

Tecidos separados, cavidade aberta, eis-nos face a um órgão mal-funcionante ou


doente, cujo funcionamento deverá ser alterado ou simplesmente extirpado, é a Exérese.

Realizado o tratamento cirúrgico específico, terá o cirurgião de consertar os


danos causados ao organismo, porém necessários à realização da cirurgia; é tempo de
Síntese: unem-se os tecidos, fecham-se cavidades, restitue-se a normalidade.

É dentro do capitulo de Técnica Cirúrgica Geral que desenvolveremos este


trabalho.

Sendo a cirurgia o resultado da integração de conhecimentos básicos, justifica-se


seu aprendizado, começando pelos fundamentos e evoluindo numa complexidade
crescente, até à realização do primeiro ato operatório sob a supervisão de um cirurgião
experiente.

A primeira etapa, na sequência da aprendizagem progressiva é, portanto, o


contato com os instrumentos cirúrgicos, saber para que servem e como manejá-los; é a
intimidade com a sala de operações e com o campo cirúrgico; é a integração numa
equipe cirúrgica e, finalmente, o aprendizado de manobras básicas e das atividades
específicas a cada elemento, para que, chegando ao comando da equipe, o novo
cirurgião possa saber compreender e orientar seus auxiliares, de forma a tornar
harmônico seu relacionamento e eficaz seu trabalho.

A instrumentação e o auxílio ao cirurgião são, dentro do aspecto técnico, os


primeiros passos.

Evolução Histórica da Cirurgia

O termo cirurgia significa trabalho com as mãos, uma vez que em grego o
vocábulo cirurgia é formado por Kein (mãos) e Ergon (trabalho). De acordo com Alves
(1974), existe também a doutrina de que cirurgia derive de Chiron, o centauro
benfazejo, a quem se confiou a educação de Aquiles.

A cirurgia nasceu com o primeiro ferimento do homem, sendo que os registros


iniciais de procedimentos cirúrgicos são instrumentos primitivos encontrados em
escavações. Em escritos de 1500 a.C., encontram-se referências às operações de hérnias,
aneurismas arteriais, fraturas do crânio e luxações de vértebras.
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A concepção moderna de cirurgia está muito distante da que era realizada pelos
cirurgiões-barbeiros da Idade Média, cujas operações eram tão frequentemente
acompanhadas de complicações que os cirurgiões, muitas vezes, operavam e
desapareciam (BELAND & PASSOS, 1979).

A sobrevida, após as intervenções cirúrgicas era uma raridade; os óbitos


decorriam de parasitoses, acrescidas de estafilococias; cólera e a febre tifóide
disseminavam-se pelos hospitais e as infecções puerperais eram um verdadeiro terror.

As bases sólidas da antissepsia e da assepsia cirúrgica só foram lançadas a partir


do século XIX, notadamente no transcurso de sua metade, com o advento da “Era
Bacteriológica”, com Louis Pasteur, Robert Koch e Lister. Já em 1827, Alcooch,
voltava suas atenções para o hipoclorito, como agente desinfetante. Semmelweis, em
1847 verificou em um hospital de Viena que o alto grau de mortalidade, decorrente de
infecções puerperais, resultava da ausência de limpeza das mãos de estudantes que,
vindos da sala de autópsia, atendiam, na enfermaria, as parturientes lá internadas.

Na área da Enfermagem, um vulto de mulher surgiu e cresceu, quando em 1854,


Florence Nightingale, iniciou um trabalho espetacular nos hospitais de campanha, na
guerra da Criméia, criando condições de higiene que contribuíram decisivamente para a
redução da taxa de infecções e de mortalidade dos soldados feridos em campos de
batalha.

Verifica-se, portanto, que diversos fatores contribuíram para solidificar as bases


modernas da cirurgia, entre as quais: o aprimoramento da anestesia, melhor
conhecimento dos agentes causadores de infecções, estudo da fisiopatologia e da
resposta do organismo ao trauma cirúrgico, a valorização da técnica cirúrgica
atraumática e asséptica criada e aperfeiçoada por renomados pesquisadores como Lister,
Langenbeck, Billroth, Hasted entre outros.

Classificação das cirurgias

Podemos definir cirurgias como a parte da medicina que se ocupa


principalmente de lesões externas e dos processos manuais ou operações que conduzem
à cura, bem como de intervenções que facilitam ou tornam possível o tratamento de
lesões internas. Essas intervenções podem ter como finalidade o diagnostico, a
terapêutica ou a estética.

Esses procedimentos podem ser classificados segundo a sua urgência, o risco


cardiológico, o tempo cirúrgico, o potencial de contaminação e quanto a sua finalidade
(POSSARI, 2004).

 Urgência Cirúrgica – São classificadas como:


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Eletivas – são aquelas em que o tratamento proposto pode aguardar o momento


mais propício para ser realizado, ou seja, pose ser programado. Ex: blefaroplastia,
artroplastia de quadril (desde que não seja por fratura), tireoidectomia, safenectomia.
Todas as correções ortopédicas desde que não sejam decorrência de traumas.

Urgência – o tratamento cirúrgico deve ser realizado dentro de 24 a 48 horas.


Ex: apendicectomia, oclusão intestinal.

Emergência – o paciente está em situação crítica e requer cuidado imediato, pois


corre risco eminente de morte. Ex: hematoma subdural, abdômen agudo.

 Risco cardiológico – também classificados como pequeno, médio e


grande porte, de acordo com a probabilidade de perda de sangue e fluidos
durante o procedimento.

Pequeno porte – pequena possibilidade de perda de sangue e fluidos. Ex:


endoscopia digestiva, colecistectomia via laparoscópica;

Médio porte – quando há média probabilidade de perda sanguínea e fluidos. Ex:


RTU (ressecção transuretral de próstata);

Grande porte – procedimento com grande possibilidade de perda de sangue e


fluidos. Ex: ressecção de aneurisma na aorta abdominal e, em geral, as cirurgias
emergências.

 Tempo Cirúrgico – o tempo previsto para a duração do procedimento


cirúrgico classifica em cirurgias de porte I, II, III e IV.

Porte I - como tempo de duração de até 2 horas;

Porte II - de 2 a 4 horas;

Porte III - de 4 a 6 horas;

Porte IV - acima de 6 horas.

 Potencial de Contaminação – são classificadas em limpas,


potencialmente contaminadas, contaminada e infectada.

Limpas – são cirurgias eletivas realizadas em tecidos estéreis sem processo


infeccioso ou inflamatório no local e não ocorre penetração nos tratos respiratório,
digestório ou urinário. Ex: mamoplastia, prótese de joelho.
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Potencialmente contaminada – são aquelas realizadas em tecidos colonizados,


de difícil descontaminação, sem processo infeccioso ou inflamatório. Ocorre penetração
nos tratos digestório, respiratório inferior ou superior, genito-urinário, cirurgias oculares
e de vias biliares. Ex: colecistectomia, ureterotomia, gastrestomia.

Contaminadas – ocorrem em tecidos recentemente traumatizados, colonizados


por flora bacteriana abundante, de descontaminação difícil. Não há supuração no local.
Consideram-se contaminadas as cirurgias realizadas no colón, reto e ânus; em tecidos
com lesões cruentes e cirurgias de traumatismo crânio encefálicos abertos. Ex:
anastomose bileodigestiva, hemorroidectomia.

Infectadas – são as realizadas em qualquer tecido, na presença de processo


infeccioso local, tecido necrótico e corpos estranhos. Ex: retossigmoidectomia com
secreção purulenta, apendicectomia supurada.

 Finalidade do Tratamento – de acordo com a finalidade do tratamento


são classificadas em paliativa, radical, reconstrutiva, diagnóstica,
transplante e plástica.

Paliativa – refere-se aos procedimentos que visam melhorar as condições do


paciente, aliviando a dor, proporcionando melhor qualidade de vida, sem, contudo
proporcionar a cura. Ex: exérese de tumores avançados.

Radical – ocorrem quando há a remoção parcial ou total de um órgão. Ex:


mastectomia, nefrectomia.

Reconstrutiva – são realizadas com o objetivo de reconstruir o tecido lesado e a


sua capacidade funcional. Ex: queiloplastia (reconstrução labial), mamoplastia
reconstrutora.

Diagnóstica – quando a finalidade é realizar o diagnóstico ou mesmo confirma-


lo. Ex: biópsia hepática, laparotomia exploratória.

Transplante – ocorre quando há substituição de estruturas ou órgãos deficientes.


Ex: transplante de córnea, medula.

Plástica – tem por finalidade a estética ou a correção. A cirurgia plástica


reparadora tem como objetivo corrigir lesões deformantes, defeitos congênitos ou
adquiridos. É considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção cirúrgica. A
cirurgia plástica estética é aquela realizada pelo paciente com o objetivo de realizar
melhoras à sua aparência. Ex: mamoplastia, ritidoplastia, rinoplastia, otoplastia.

 Tempos da cirurgia – são etapas, fases, que o cirurgião segue para


realizar a técnica cirúrgica. O instrumentador deve conhecer e
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acompanhar a evolução dos tempos cirúrgicos para agir no momento


exato, passando ao cirurgião o material adequado.

1° tempo – Preparo da área operatória – durante este tempo é feita a limpeza da


área e a antissepsia. Portanto, o instrumentador passa às mãos do cirurgião o material
necessário (cheron com gaze, cuba com antisséptico).

2° tempo – Delimitação da área operatória – para delimitar a área operatória


usa-se campos esterilizados, presos com pinça backaus.

3° tempo – Incisão cirúrgica – aqui é feito o corte na pele e/ou musculatura para
que o cirurgião tenha acesso a área ou órgão a ser operado.

4° tempo – Hemostasia – após o corte ou incisão é realizada a hemostasia com


auxilio de pinças hemostáticas (Kelly, Crile, Kocher, Halsted,...).

5° tempo – Cirurgia propriamente dita – este é o tempo principal, onde ocorre


isolamento do órgão, secção do órgão, revisão do órgão. São usados os instrumentos
especiais, de acordo com o tipo de cirurgia e/ou especialidade.

6° tempo – Sutura da incisão – é o fechamento da incisão por planos em ordem:


músculos, subcutâneo e por ultimo pele.

7° tempo – Confecção do curativo – neste tempo ocorre a limpeza da área onde


foi feita a incisão e colocação do curativo.
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INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO

Neste contexto, verifica-se a importância do instrumentador como membro da


equipe cirúrgica, uma vez que o êxito de um procedimento operatório depende de um
conjunto de fatores que favoreçam ao cirurgião conduzir o ato cirúrgico de maneira
consciente, segura e racional, dentre eles: ambiente cirúrgico seguro, equipamentos e
instrumentais cirúrgicos adequados e movimentos e manobras assépticas.

De acordo com Margarido (2001), o instrumentador é o componente da equipe


que estabelece a interface com o circulante de sala. Ele monta a mesa de instrumentos,
solicita os materiais necessários e atua com habilidade, tanto no campo operatório,
quanto no âmbito da mesa de instrumentação. Portanto, o instrumentador deve estar
habituado com o ato cirúrgico, e em especial com a sequência de ações próprias do
cirurgião.
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Legislação

1. Conselho Nacional de Saúde: considera a instrumentação Cirúrgica uma


especialidade, cuja qualificação é atribuída a profissionais com formação
básica na área de saúde.

2. A instrumentação cirúrgica deve ser ministrada em disciplina regular da


grade curricular do Curso de Enfermagem.

3. O Decreto 94.406 de 08/06/87 regulamenta a Lei 7.498/86, que dispõe


sobre o exercício da enfermagem, atribui ao Auxiliar de Enfermagem
“circular em sala de cirurgia e, se necessário, instrumentar”.

4. A Instrumentação é uma atividade de enfermagem não sendo, entretanto,


ato privativo da mesma.

5. O profissional de enfermagem, atuando como instrumentador cirúrgico,


subordina-se exclusivamente ao enfermeiro responsável pela Unidade de
Centro Cirúrgico.

Atribuições do Instrumentador Cirúrgico

 Planejar antecipadamente os recursos materiais e equipamentos


necessários ao procedimento cirúrgico, considerando as características
individuais do paciente e equipe cirúrgica.

 Montar a mesa de instrumentação cirúrgica, dispondo os instrumentais de


acordo com os grupos específicos antes do início da operação.

 Observar o cumprimento da técnica asséptica por parte da equipe


cirúrgica.

 Auxiliar na delimitação da área operatória.

 Passar os instrumentos com segurança e técnica correta.

 Manter a mesa de instrumentação “limpa” e organizada.

 Conferir e controlar o uso de compressas, gazes e instrumentais.

 Conhecer os tempos cirúrgicos básicos e fornecer os instrumentos


adequados a cada etapa do procedimento.
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 Manter silêncio e atenção durante o procedimento cirúrgico,


acompanhando os tempos cirúrgicos de forma a prover os materiais com
exatidão.

 Possuir preparo técnico e científico para desempenhar a função.

 Conhecer os sinais convencionais utilizados pelos cirurgiões no intuito de


agilizar o ato operatório.

 Retirar o instrumental da SO, encaminhando-o à CME após revisão,


destinando adequadamente o material pérfuro-cortante utilizado na
cirurgia.

 Adotar técnica asséptica e antisséptica na realização dos procedimentos:


degermação das mãos e antebraços, paramentação cirúrgica, montagem
da mesa de instrumentos e técnica de instrumentação.

 Auxiliar na realização do curativo da ferida cirúrgica.

 Solicitar material complementar ao circulante da sala.

 Responsabilizar-se pelo encaminhamento das peças anatomopatológicas,


conforme rotina da instituição.

Para que o trabalho da instrumentadora se harmonize com o dos outros


elementos da equipe, sua atuação deve ser norteada por regras que estabelecem direitos
e deveres que deverão ser respeitados, de tal modo que cada elemento exerça funções
específicas sem invadir as suas. Tais regras constituem os decálogos dos deveres e
direitos da instrumentadora.

Decálogo dos Deveres do Instrumentador

1. Conhecer os instrumentos pelos nomes próprios e colocar em sua mesa aqueles


necessários, segundo a operação a efetuar-se.

2. Manter Assepsia rigorosa e ter pronto todo o material de diérese, de síntese e de


hemostasia.

3. Diligência e ajuste de ações manuais.

4. Ordem e método na arrumação do instrumental.

5. Limpeza e acomodação do instrumental usado, quando o cirurgião o deixa


manchado de sangue.
CURSO DE FORMAÇÃO EM INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA

6. Entregar o instrumento com presteza, ao pedido verbal do cirurgião, colocando-o


na mão, em forma, modo e precisão exatas para imediato uso, sem que ele tenha
que reacomodá-lo em sua mão, ao utilizá-lo.

7. Entregar o instrumento que, por sinais manuais possa fazer o cirurgião, de modo
que o ato operatório se faça silencioso e admirável.

8. Entregar sucessivamente os instrumentos sem que os peçam, quando o cirurgião


realiza, com tempos padronizados, uma sucessão de atos operatórios invariáveis.

9. Sincronizar tempos e ações manuais com o cirurgião e o primeiro assistente,


segundo técnicas e detalhes bem estudados.

10. Deve Guardar um silêncio absoluto.

Decálogo dos Direitos da Instrumentadora

1. Que seja dona absoluta da mesa do instrumental.

2. Que lhe peçam os instrumentos com precisão.

3. Que não lhe modifiquem a técnica padronizada.

4. Que lhe permitam o tempo necessário para sincronizar ações manuais.

5. Que não lhe peçam vários instrumentos ao mesmo tempo, o cirurgião e o


assistente.

6. Que não lhe invadam a liberdade de tomar os instrumentos de sua mesa,


seja o cirurgião ou os assistentes.

7. Que não se perturbe sua tranquilidade com expressões chocantes.

8. Que não se precipitem os pedidos do instrumental.

9. Que requeira do cirurgião ordem e método ajustados às ações manuais


interdependentes.

10. Que exija o perfeito estado do material de sutura e dos instrumentos de


diérese e hemostasia, entregues pela enfermeira da sala de operações.
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TERMINOLOGIA CIRÚRGICA
Os termos cirúrgicos são designados por prefixos, ou palavras que assinalam o
órgão, e por sufixos que indicam o ato cirúrgico realizado tais como: (PARRA, SAAD,
2000, SENAC, 1996; ROSA, 2009; CARVALHO, BIANCHINI, 2007).

Entende-se por nomenclatura “o conjunto determos de uma arte ou de uma


ciência; terminologia”. Assim sendo, a nomenclatura cirúrgica é o conjunto de termos
utilizados para indicar o procedimento cirúrgico a ser realizado (POSSARI, 2004).

A terminologia técnica adotada pelos profissionais da área da saúde é


constituída, em sua maior parte, por palavras criadas pela composição de elementos
latinos e gregos.

Os termos, do ponto de vista etimológico, são compostos de:

Raiz: é a parte básica da estrutura do termo.

Afixos: constituídos de prefixos e sufixos, partes que podem ser acrescidas antes
e após a raiz. Na nomenclatura cirúrgica, então, a raiz significa o segmento anatômico e
os afixos a intervenção cirúrgica a ser realizada.

Os termos cirúrgicos são designados por prefixos, ou palavras que assinalam o


órgão, e por sufixos que indicam o ato cirúrgico realizado tais como: (PARRA, SAAD,
2000, SENAC, 1996; ROSA, 2009; CARVALHO, BIANCHINI, 2007).

Os principais objetivos da nomenclatura cirúrgica são:

 Fornecer sob forma verbal ou escrita uma definição do procedimento


cirúrgico realizado;
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 Preparar o instrumental cirúrgico, artigos, equipamentos e acessórios


apropriados a cada tipo de cirurgia.

Classificação da nomenclatura cirúrgica

Na nomenclatura cirúrgica, os termos são formados por um prefixo, que designa


a parte do corpo relacionada com a cirurgia, e por um sufixo, que indica o ato cirúrgico
realizado.

QUADRO 1 - PREFIXOS (primeiro) da nomenclatura cirúrgica e seus significados

PREFIXO RELATIVO A (O)


Adeno Glândula
Angio Vaso
Artro Articulação
Blefaro Pálpebra
Cisto Bexiga
Cole Vesícula
Colo Cólon
Colpo Vagina
Entero Intestino delgado
Flebo Veia
Gastro Estômago
Hepato Fígado
Hístero Útero
Laparo Cavidade abdominal
Laringo Laringe
Nefro Rim
Neuro Nervo
Oftalmo Olho
Oofor Ovário
Orqui Testículo
Osteo Osso
Oto Ouvido
Procto Reto
Rino Nariz
Salpingo Trompa
Traqueo Traqueia

QUADRO 2 - SUFIXOS (fim) na nomenclatura cirúrgica e seus significados (indicam


o procedimento cirúrgico realizado)

SUFIXO SIGNIFICADO
Anastomose Formação de passagem entre dois órgãos.
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Centese Punção.
Clise Fechamento.
Dese Ação de ligar, fixação, fusão.
Ectomia Extirpação, excisão, remoção parcial ou total.
Lise Dissolução, liberação.
Pexia Fixação de um órgão.
Plastia Alteração da forma e ou função de um órgão.
Ráfia Sutura.
Visualização do interior do corpo em geral por meio de
Scopia
aparelhos com lentes especiais.
Síntese Composição.
Stasia Detenção, parada.
Abertura de uma nova boca, exteriorização de um órgão
Stomia
para drenagem.
Strofia Torção.
Tomia Abertura de um órgão.
Tripsia Esmagamento.

QUADRO 3 - Principais procedimentos cirúrgicos de remoção com sufixo ECTOMIA

CIRURGIA PARA REMOÇÃO


Apendicectomia Apêndice
Cistectomia Bexiga
Colicistectomia Vesícula biliar
Colectomia Cólon
Craniectomia Calota óssea
Embolectomia Êmbolo
Esofagectomia Esôfago
Esplenectomia Baço
Fistulectomia Fístula
Gastrectomia Parcial ou total do estômago
Hemorroidectomia Hemorroidas
Hepatectomia Parcial do fígado
Histerectomia Útero
Mastectomia Mama
Miomectomia Mioma
Ooforectomia Ovário
Pancreatectomia Pâncreas
Pneumectomia Pulmão
Prostatectomia Próstata
Retosigmoidectomia Retossigmóide
Salpingectomia Trompa
Segmentos selecionados do sistema nervoso simpático,
Simpatectomia
produzindo vasodilatação
Tireoidectomia tireoide
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QUADRO 4 - Principais procedimentos cirúrgicos para fixação com sufixo PEXIA

CIRURGIA PARA FIXAÇÃO


Cistopexia Bexiga
Histeropexia Útero à parede abdominal
Nefropexia Rim à parede abdominal
Retinopexia Retina
Orquiopexia Testículo em sua bolsa

QUADRO 5 - Principais procedimentos cirúrgicos para alterar a forma e ou a função de


um órgão com sufixo PLASTIA

CIRURGIA ALTERAR FORMA E OU FUNÇÃO


Artroplastia Articulação, para restaurar movimento e função
Blefaroplastia Pálpebras
Mamoplastia Mama
Piloroplastia Piloro
Queiloplastia Lábio
Rinoplastia Nariz
Ritidoplastia Rugas da face
Salpingoplastia Trompa, para sua recanalização
Toracoplastia Parede torácica

QUADRO 6 - Principais procedimentos cirúrgicos de sutura com sufixo RÁFIA

PROCEDIMENTO SUTURA DE (A) (O)


Blefarorrafia Pálpebra
Colporrafia Vagina
Gastrorrafia Estômago
Herniorrafia Hérnia
Osteorrafia Sutura ou colocação de fio metálico no osso
Palatorrafia Fenda palatina
Perineorrafia Períneo
Tenorrafia Tendão

QUADRO 7 - Principais procedimentos cirúrgicos para visualização com sufixo


SCOPIA

PROCEDIMENTO VISUALIZAÇÃO
Artroscopia Articulação
Broncoscopia Brônquios
Cistoscopia Bexiga
Colonoscopia Cólons
Colposcopia Vagina
Duodenoscopia Duodeno
Endoscopia Órgãos internos
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Esofagoscopia Esôfago
Gastroscopia Estômago
Laringoscopia Laringe
Laparoscopia Cavidade abdominal
Sigmoidoscopia Sigmóide
Ureteroscopia Ureter
Uretroscopia uretra

QUADRO 8 - Principais aparelhos para visualização direta

APARELHO FINALIDADE
Artroscópio Artroscopia
Broncoscópio Broncoscopia e laringoscopia
Cistoscópio Cistoscopia, uretroscopia e ureteroscopia
Colposcópio Colposcopia
Colonoscópio Colonoscopia
Endoscópio digestivo Esofagoscopia, gastroscopia, duodenoscopia
Laringoscópio Laringoscopia
Sigmoidoscópio Sigmoidoscopia
QUADRO 9 - Principais procedimentos cirúrgicos para ABERTURA com
sufixo TOMIA OU STOMIA

CIRURGIA PARA ABERTURA


Artrotomia Da articulação
Broncotomia Dos brônquios
Cardiotomia Da cárdia
Cistostomia Bexiga para drenagem por sonda
Colecistostomia E colocação de dreno na vesícula biliar
Coledocolitotomia Do colédoco para retirada de cálculo
Coledocotomia E exploração do colédoco
Duodenotomia Do duodeno
Enterostomia Do cólon através da parede abdominal
Flebotomia E dissecção de veia
E colocação de uma sonda no estômago através da parede
Gastrostomia
abdominal
Hepatotomia Do fígado
Ileostomia E colocação de sonda ou dreno no íleo
Jejunostomia E colocação de sonda no jejuno para alimentação
Laparotomia Da cavidade abdominal
Nefrostomia E colocação de sonda no rim
Tenotomia Do tendão
Toracotomia Da parede torácica
Toracostomia Da parede do tórax para drenagem
Traqueostomia Da traqueia para facilitar a entrada de ar
Ureterolitotomia Do ureter para retirada do cálculo
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QUADRO 10 - Terminologias que não seguem as regras citadas

CIRURGIA PARA ABERTURA E:


Remoção de um membro ou parte necrosada do
Amputação
corpo
Anastomose Conexão e sutura de dois órgãos ou vasos
Artrodese Fixação cirúrgica de articulações
Bartholinectomia Retirada de cisto de Bartholin
Abertura do local e remoção de um tecido vivo para
Biópsia
diagnóstico
Destruição de tecido através de agente cáustico ou
Cauterização
calor
Retirada do feto por incisão através da parede
Cesariana
abdominal
Circuncisão Ressecção da pele do prepúcio que cobre a glande
Cistocele Queda da bexiga
Curetagem uterina Raspagem e remoção do conteúdo uterino
Deiscência Separação de bordos previamente suturados e unidos
Dissecção Corte, retalhamento
Divertículo Bolsa que sai da cavidade
Enxerto Transplante de órgão ou tecido
Incisão perineal destinada a evitar a ruptura do
Episiotomia
períneo durante o parto
Evisceração Saída de víscera de sua cavidade
Orifício que põe em comunicação parte de um
Fístula órgão, cavidade ou foco supurativo, com a superfície
cutânea ou mucosa.
Goniotomia Cirurgia de glaucoma
Litíase Calculo
Onfalectomia Remoção do umbigo
Operação de bursh Levantamento da bexiga
Operação de Hammsted Correção de estenose pilórica
Operação de Manchester Correção de prolapso de útero
Paracentese Punção cirúrgica da cavidade para retirada de líquido
Queda de um órgão, especialmente quando este
Prolapso
surge em um orifício natural.
Ptose Queda de um órgão
Ressecção Ressecção cirúrgica de parte de órgão
Retocele Protusão de parte do reto
Toracocentese Punção cirúrgica na cavidade torácica.
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INFEÇÃO
A pela é o revestimento externo do corpo, considerado o maior órgão e tem
como uma de suas funções proteger o organismo da penetração de microrganismos
existentes no ar, agua e nos objetos.

Quando essa proteção é rompida seja intencionalmente ou não, ocorre a


penetração de microrganismos causando, a princípio, a reação do organismo para
combater essa invasão ao que chamamos de inflamação. Quando há um desequilíbrio
entre o poder defensivo do hospedeiro e o poder agressivo do microrganismo ocorre à
infecção.

De acordo com a Portaria nº 2.616/98 do Ministério da Saúde, infecção


hospitalar é “Qualquer infecção adquirida após a internação do paciente e que se
manifeste durante a internação ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com
a internação ou procedimentos hospitalares”.

As infecções hospitalares são classificadas em endógenas e exógenas. A flora


endógena é a que compõem a flora humana, ou seja, dos pacientes e ou profissionais e,
flora exógena composta por microrganismos que não compõem a flora humana normal.

No caso dos procedimentos cirúrgicos, onde o rompimento desta barreira é


intencional, utilizasse técnicas assépticas, para evitar a penetração de tais agentes,
causadores de infecção. Nesses procedimentos contamos com materiais esterilizados,
degermação da pele do paciente e de técnicas de paramentação adequadas.
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A principal fonte de infecção do paciente cirúrgico é a sua própria flora,


principalmente a da pele e dos tratos respiratórios, urinário, gastrintestinal e genital
feminino. Outros fatores também podem ser responsáveis pela infecção no paciente:
doenças de base (ex: diabetes), stress, extremos de idade (idosos e recém-nascidos),
obesidade mórbida ou desnutrição, dentre outras. A maioria dos casos de infecção do
sítio cirúrgico se manifesta após a alta hospitalar. A equipe cirúrgica, o instrumental e o
ambiente também constituem fontes importantes de infecção no procedimento cirúrgico.

A presença de infecção ativas ou latentes nas vias respiratórias, furúnculos,


doenças de pele, e outras ligadas a equipe cirúrgica são fatores relacionados à infecção
do sítio cirúrgico.

No sentido de controlar esses possíveis fatores de transmissão de infecção,


algumas preocupações devem ser tomadas tais como: degermação rigorosa das mãos,
uso de gorro e máscara, técnica de paramentação adequada, circulação restrita no centro
cirúrgico.

As mãos devem ser levadas assim que se chega ao centro cirúrgico e a


degermação antes da paramentação. A touca deve ser usada a partir do vestuário,
colocando-a de forma que todo o cabelo fique coberto e que não entre em contato com a
roupa privativa. A máscara deve ser guardada no bolso do uniforme privativo e ser
colocada somente quando for degermar as mãos. A permanência no pescoço permite a
colonização com microrganismos do pescoço, promovendo sua saturação microbiana.
Pelo mesmo motivo devem ser manuseadas pelas tiras.

Quanto ao material cirúrgico todo controle é necessário, desde o processo de


limpeza, desinfecção, esterilização, armazenamento e sua manipulação propriamente
dita.

Apesar de o ambiente ter papel secundário no que diz respeito à contaminação


do sítio cirúrgico, não deve ser ignorado. O ar ambiente está praticamente livre de
bactérias ou partículas quando não há pessoas no local e por outro lado, está
suficientemente provado que a maior fonte de contaminação ambiental na sala de
operações deve-se as pessoas, portanto o uso adequado de máscaras e o comportamento
apropriado devem ser seguindo rigorosamente.

Infecção do Sítio Cirúrgico

Historicamente, a infecção do sítio cirúrgico (ISC), ao lado da dor e do


sangramento, foi um dos três fatores limitantes do ato cirúrgico. Sem dúvida, apesar dos
grandes avanços que tivemos nos últimos 150 anos, o controle da dor e do sangramento
foi mais efetivo que o da infecção.

As infecções de sítio cirúrgico devem ser divididas em:


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 Superficiais, que acometem só a pele e o tecido celular subcutâneo;

 Incisionais profundas, que podem acometer os mesmos tecidos moles


mais fáscias e camadas musculares.

Infecção do sítio cirúrgico de órgãos ou espaços profundos manipulados durante


o ato cirúrgico.

A infecção de sítio cirúrgico prolonga a internação do paciente, gera a


necessidade de utilização de antimicrobianos, prolonga o tempo que o paciente
permanece afastado do trabalho e pode levar a danos permanentes à saúde.

Fatores de risco para aquisição de infecções do sítio cirúrgico e as medidas de


controle e prevenção da infecção.

 Riscos relacionados ao paciente:

- Condições físicas;

- Condições emocionais.

 Riscos relacionados ao período pré-operatório:

- Internação;

- Controle laboratorial e complementar;

- Procedimentos invasivos.

 Riscos relacionados ao período intra-operatório:

- Preparação das mãos e antebraços: é um procedimento de comprovada


eficácia para o controle de infecção cruzada. Visa a remoção da flora transitória, células
descamativas, suor, oleosidade e diminuição da flora residente.

- Recomendações: os membros da equipe cirúrgica devem manter unhas curtas,


não usar unhas artificiais, realizar a degermação por pelo menos 3-5 minutos. Na
degermação, devem ser utilizadas soluções degermantes de polivinilpirrolidona-iodo
(PVPI) ou clorexidina (tem-se mostrado menos irritante e com maior efeito residual).
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ROUPAS E VESTIMENTAS CIRÚRGICAS

Máscara Cirúrgica

Procura impedir que os microrganismos existentes na boca e nariz da equipe


cirúrgica depositem-se sobre o campo operatório.

- Características: ser confortável, ter boa adaptação, não tocar nos lábios e ponta
do nariz, não ser irritante, não ter odor e possuir alta eficiência de filtração.

As máscaras convencionais descartáveis de fibra de lã de camada dupla, com


adaptadores de metal ao nariz, apresentam vida útil por duas horas, sendo recomendada
a troca após esse período. Deve-se utilizar máscara que cubra por total a boca e o nariz
quando da entrada na sala de operação.

Gorro/Touca
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As evidências científicas sobre a efetividade do gorro na prevenção de infecções,


embora sejam poucas, no mínimo, ele previne a queda de cabelo dentro da ferida. Os
gorros/toucas devem cobrir por completo os cabelos.

Propés ou Sapatilhas

Tem como finalidade original a formação de uma barreira para prevenir a


contaminação do chão e de áreas críticas contra microrganismos de áreas externas
carreados nos calçados, principalmente em suas solas. Com o mesmo objetivo, tais
coberturas também podem ser substituídas por sapatos privativos, exclusivos às
unidades de centro cirúrgico. O uso de propés em condições adequadas, atua como
barreira de microrganismos oriundos das solas dos sapatos. Porém, as fontes de
microrganismos do chão não vêm exclusivamente das solas de sapatos. Mesmo que o
uso de propés possa diminuir a quantidade de microrganismos, não há como impedir a
transferência ou dispersão de bactérias do chão, ainda que determinados materiais
aumentem ou diminuam essa dispersão. A maior ou menor dispersão de
microrganismos do chão está dependente das condições e periodicidade de limpeza do
mesmo, além das formas como as pessoas se movimentam, sendo necessária a troca de
propés sempre que houver cruzamento com áreas não críticas ou pisoteamento em solo
úmido.

Luvas Cirúrgicas

Utilizadas em procedimentos invasivos como barreira microbiológica de


proteção tanto do paciente quanto do profissional.

- Recomendações: usar luvas imediatamente antes de procedimentos em que há


risco de as mãos entrarem em contato direto com sangue e outros fluidos orgânicos.

Retirada imediata das luvas após o procedimento ou contato com substâncias


orgânicas.

Retirada das luvas pelo avesso, evitando contato da pele com as superfícies
externas, contaminadas.

Substituição das luvas por instrumentos de preensão como pinça cheron, sempre
que possível. Por exemplo, ao separar roupas, compressas e luvas.
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Fechamento e retirada de hampers, caixas com objetos descartáveis,


instrumentos e cestos de lixo com técnica de isolamento, tocando apenas no lado
externo dos mesmos e, portanto, não necessitando de luvas.

Evitar tocar as luvas em locais comumente tocados por mãos sem luvas, como
maçanetas, portas, carros de equipamentos anestésicos.

Lavar as mãos após cada retirada de luvas.

Aventais cirúrgicos

São empregados como parte do equipamento de proteção individual (EPI), para


minimizar a passagem de microorganismos para os pacientes cirúrgicos e também a
exposição dos profissionais de saúde aos agentes infecciosos, particularmente os
transmitidos pelo sangue.

Campos Cirúrgicos

São usados durante procedimentos invasivos para impedir ou minimizar a


passagem de microorganismos de áreas contaminadas para estéreis, reduzindo o risco de
infecção hospitalar. A utilização de campos estéreis é uma estratégia importante para
minimizar esse risco.

Os campos cirúrgicos somente reduzem os riscos de infecção da ferida


operatória se forem à prova de água, porque quando esses materiais de cobertura se
encontram úmidos, bactérias podem ser transportadas pela água, quebrando a barreira
microbiana.

TÉCNICAS DE ESCOVAÇÃO

Anti-sepsia Cutânea

A importância de degermação pré-operatória das mãos e antebraços da equipe


cirúrgica já está bem estabelecida, e seus propósitos são a remoção de bactérias, gordura
e outros elementos da pele, além de ação residual que previne o crescimento bacteriano
durante o ato operatório (GALLE e col., 1978).

Classicamente é realizada com o uso de escova e sabão, numa ação de


descamação e lavagem mecânica, que faz diminuir a flora em proporções logarítmicas,
com remoção de 50 por cento da população bacteriana a cada 6 minutos (PRICE, 1938).
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Todavia a regeneração da flora também começa imediatamente. Verificou-se


que em condições normais de vida sua recuperação total se processa em
aproximadamente uma semana, segundo uma curva sigmoide como a do crescimento
das culturas bacterianas (PRICE, 1938; HOEVEN & HINTON, 1968), sendo bastante
acelerada pelo uso de luvas e aventais.

Para aumentar o rendimento do processo está comprovado o valor do emprego


de soluções anti-sépticas na degermação pré-operatória das mãos (DINEEN, 1969;
ZANON & MACEDO, 1981; COELHO e col., 1983ª).

Iodóforos (iodopovidona), clorhexedine e hexaclorofeno, estão entre os anti-


sépticos mais recomendados (PETERSON e col., 1978; ARMÔA e col., 1981; ZANON
& MACEDO, 1981; COELHO e col., 1983a). São encontrados em soluções aquosas,
detergentes e alcoólicas, em concentrações diversas.

Iodóforos – a eficácia do iodo como anti-séptico é conhecida há longo tempo,


todavia o iodo livre é fracamente solúvel em água e fortemente irritante e sensibilizante
para a pele e mucosas.

Estes inconvenientes foram contornados com a união do iodo e um agente


transportador, a polivinilpirrolidona (PVP), que o liberta quando em contato com a água
ou a pele, formando um composto, chamado iodóforo.

Atualmente o mais empregado é a iodopovidona (PVP-I) germicida efetivo


contra bactérias Gram-negativas, Gram-positivas, fungos, e protozoários
(JORESS,1962), espectro semelhante ao da atuação das soluções de iodo, pois já foi
demonstrado que a ação germicida dos iodóforos corre por conta do iodo por eles
liberado e que o complexo PVP-iodo é, microbiologicamente, inativo (BLATT &
MALLONEY, 1961).

Detém todas as propriedades anti-sépticas do iodo metálico sem nenhum de seus


efeitos alérgicos ou irritantes (JORESS, 1962), produzindo menos dor do que as
preparações de iodo elementar quando aplicado a feridas.

Clorhexedine é um anti-séptico fenólico do grupo das biguanidas com boa


atividade contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas e ainda um bom efeito
antibacteriano cumulativo. É praticamente atóxico e não alergênico.

Hexaclorofeno é um derivado fenólico cujo principal espectro de ação são as


bactérias Gram-positivas e fungos patogênicos. Possui ação limitada sobre os Gram-
negativos e esporos. Seu início de ação é lento (HOEVEN & HINTON, 1968),
tornando-se mais eficaz com o seu uso repetido.

Embora não se conheçam efeitos adversos de seu uso em adultos, foram todavia,
descritos efeitos tóxicos em condições especiais de uso, sobretudo em crianças
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(KIMBROUGH, 1971; STEERE & MALLISON, 1975), devido à sua absorção,


inclusive através da pele normal.

Deixa na superfície da pele uma camada ativa que lhe confere ação residual, que
todavia é removida com uma única lavagem com sabão comum ou pela imersão no
álcool (ZINTEL, 1956).

A comparação das eficácias destas soluções tende a mostrar ligeira superioridade


da iodopovidona e da clorhexedine sobre o hexaclorofeno mas, devido ao seu grande
efeito residual, a eficácia destas três soluções anti-sépticas é similar duas horas após a
lavagem das mãos (GRAVENS e col., 1973; COELHO e col., 1983a).

Na prática, tais diferenças parecem menos relevantes e todos eles satisfazem


plenamente, atendidas as peculiaridades de cada um.

Em alguns centros cirúrgicos de nosso meio é ainda habitual, por tradição e


medida de economia, o uso de sabão comum ou de glicerina para escovar as mãos. Seu
uso isolado é pouco eficiente e não recomendado (DINEEN, 1969; ATEERE &
MALLISON, 1975; ARMÔA e col., 1981; COELHO e col., 1983a).

Contudo, este processo é geralmente complementado com a imersão das mãos e


antebraços em álcool a 70% ou solução alcoólica iodada (iodo 1% a 2% em álcool a
70%).

Quando efetuada por no mínimo 2 minutos, torna-se tão eficaz quanto os


procedimentos anteriores, e em alguns estudos até superior (LOWBURY & LILLY,
1960; KING & PRICE, 1963; ZANON & MACEDO, 1981).

Deve-se ter cuidado de fazer um bom enxaguamento, pois o iodo é inativado


pelos resíduos do sabão aderidos à pele.

Diferentemente do sabão, além do feito imediato, aquelas soluções apresentam


ainda ação residual que pendura por várias horas que, atuando como uma “luva
química”, conferem proteção adicional (DINEEN, 1969; GALLE e col., 1978;
COELHO e col., 1983a).

Embora alguns autores tenham sugerido o uso dos anti-sépticos sem escovação
(GRAVENS e col., 1973; GALLE e col., 1978), para assepsia pré-cirúrgica é
imprescindível o uso da escova, pelo menos por um curto período, a fim de remover
parte da flora residente, restos de queratina depositada em sulcos naturais da pele e
destruição da camada gordurosa, que permite a atuação dos antissépticos sobre o
restante dos microrganismos (PRICE, 1938; JORESS, 1962; LOWBURY & LILLY,
1960).

Apesar de tudo, as técnicas de degermação atualmente usadas ainda estão longe


de serem perfeitas. Representam o esforço de se reduzir ao máximo a flora cutânea das
mãos dos cirurgiões e instrumentadores.
CURSO DE FORMAÇÃO EM INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA

Escovação das mãos e ante-braços – Técnica 1

Para efeitos de anti-sepsia, a mão e o antebraço são divididos em dois territórios,


a saber: a mão e o punho formam o primeiro que é também a “área mais nobre” por
entrar em contato direto com os órgãos a operar. O segundo é constituído pelo resto do
antebraço, até o cotovelo.

Uma vez abertas as torneiras, o que pode ser feito por meio de alavancas, com as
mãos ainda não escovadas, através de botões acionados com o pé, ou por células
fotoelétricas, regula-se a temperatura da água.

Molham-se as mãos e antebraços com a água escorrendo das mãos para os


cotovelos, o que se consegue colocando-as sempre acima do nível destes.

Isto é de importância capital e será seguido durante todo o processo, com o que
se evita que a solução já contaminada ao nível dos cotovelos escorra sobre a “área
nobre”.

Molhada a área a escovar, ensaboa-se cada braço com a mão oposta como se
fora uma simples lavagem higiênica e novamente se retira o sabão ou degermante anti-
séptico, escorrendo a água no sentido mãos-cotovelos.
CURSO DE FORMAÇÃO EM INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA

Este tempo é aproveitado para se limpar completa e meticulosamente as unhas


sob água corrente, com palito apropriado.

Quando se usam soluções anti-sépticas, estas costumam vir envazadas em


dispensadores de plástico adaptados a suportes fixos na parede. A ejeção do anti-séptico
é acionada com a ponta do pé sobre um pedal de borracha, ficando as mãos totalmente
livres, sem nenhum contato com o dispensador.

Pega-se então uma escova esterilizada que se ensaboa, assim como toda a área
de pele a ser tratada, e começa-se a escovação por uma das “áreas nobres”. (mão e
punho).

Escova-se primeiro uma face, depois a outra, as áreas interdigitais e sob as


unhas. Pode-se recorrer de novo aos limpadores de unhas, pequenas peças de plástico
que costumam acompanhar cada escova em sua embalagem.
CURSO DE FORMAÇÃO EM INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA

Troca-se a escova de mão e repete-se o processo no lado oposto.

Adequadamente escovadas as “áreas nobres”, escova-se agora o restante dos


antebraços, primeiro um, depois o outro, tendo porém, o cuidado de não voltar agora
com a escova às mãos e punhos já preparados.

Enxaguam-se mãos e antebraços para retirar o sabão respeitando-se o sentido já


apontado para escoamento da água. Ao final do processo, a torneira deverá ser fechada
com o cotovelo, poupando as mãos de tocarem qualquer outro objeto não esterilizado.

Contatos acidentais momentâneos das mãos molhadas com algum objeto limpo
não esterilizado (vestuário, torneira, etc.), durante o processo de degermação,
acontecem algumas vezes, todavia seu potencial de contaminação é desprezível (PRICE,
1938) e o processo pode continuar normalmente.

Como vimos, a “esterilização” da flora cutânea, não significa erradicação total


das bactérias da pele, pois tal procedimento é impossível. Todavia, a porcentagem de
bactérias eliminada é muito grande e depende, sobretudo, da técnica e metodização
utilizadas.

As unhas dos componentes da equipe cirúrgica devem permanecer bem


aparadas, sendo isto válido sobretudo para as mulheres. Não devem usar esmalte que,
quando fendido poderá acumular bactérias em suas frestas. Anéis ou alianças também
dificultam a degermação.
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Continua ainda bastante controverso o tempo requerido para uma escovação


eficiente. Tradicionalmente aceita-se como ideal o tempo de 10 minutos (ZINTEL,
1956; COLE & BERNARD, 1964; DINEEN, 1969; GRAVENS e col., 1973).
Entretanto alguns trabalhos recentes mostraram que este tempo pode ser excessivo e
mesmo prejudicial por poder provocar pequenas abrasões e dermatites (GRAVENS e
col., 1973; GALLE e col., 1978).

Quando se combina a ação mecânica da escovação com os efeitos de um anti-


séptico de ação rápida como a iodopovidona, DINEEN (1969) conclui que não há
diferença significativa entre os tempos de 5 a 10 minutos e COELHO e col., (1983),
num estudo semelhante, chegaram à mesma conclusão para os tempos de 3,5 e 10
minutos.

Todavia não parece prudente sugerir-se um tempo de escovação inferior a 5


minutos.

Por outro lado, a escovação sendo feita por áreas e da forma metódica já descrita
enseja a possibilidade de se estabelecer como critério um número determinado de
passagens da escova em cada área.

JORESS (1962) e WALTER (1978) propõem executar uma escovação


anatômica, de forma que todas as áreas da pele recebam o número de passagens da
escova (escova em posição longitudinal) indicadas a seguir.

Para os que fazem este preparo com intervalos superiores a 10 dias:

 30 passagens da escova na pele;

 50 passagens da escova nas unhas.

Para os que fazem o preparo com intervalos inferiores a 10 dias:

 15 passagens da escova na pele;

 25 passagens da escova nas unhas.

Com as mãos levantadas acima dos cotovelos e a água escorrendo por estes,
vamos completar a anti-sepsia com álcool a 70% ou solução alcoólica iodada, sobretudo
se a escovação foi realizada com sabão comum.

O uso dos anti-sépticos modernos pode dispensar esta etapa, sobretudo o


hexaclorofeno que é removido pelo álcool.
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Em uma bacia contendo tais soluções mergulham-se primeiro as mãos, depois


estas formam uma concha que, cheia de solução e levantada acima do nível dos
cotovelos, deixa escorre-la para baixo.

O tempo de contato da pele com a solução alcoólica deve ser de 2 minutos para
se obter anti-sepsia adequada (PRICE, 1950; KING & PRICE, 1963), se a escovação foi
feita com sabão.

Por outro lado, a ação desidratante do álcool facilita enormemente o ato de


enxugar as mãos e calçar as luvas, próximos passos do processo.

A degermação com soluções aquosas detergentes de PVP-I e clorhexedine pode


ser complementada por suave fricção com as respectivas soluções alcoólicas que, por
evaporação do álcool, deixam depositado na pele o princípio ativo.

Com as mãos erguidas acima dos cotovelos e o álcool escorrendo destes,


aproximamo-nos da mesa onde se encontram os campos, aventais e junto com cada um
destes uma toalha ou compressa esterilizadas para enxugar as mãos.
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Tomamo-la por uma ponta, abrimo-la e enxugamos sem fricção, em primeiro


lugar, uma “área nobre” com uma das faces.

Em seguida fazemos o mesmo com a outra mão, na outra face da compressa.

Isto terminado, com um movimento helicoidal descemos pelo respectivo


antebraço, enxugando até o cotovelo.

Não mais podemos enxugar partes nobres deste membro com essa face da
compressa.
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Esta, ainda segura pela mesma mão, é virada, ajeitada e passada à mão já enxuta,
que a segura pela mesma face utilizada anteriormente para o seu enxugamento.

Repete-se o movimento helicoidal do punho para baixo e joga-se fora a


compressa.

Quando o anti-séptico final por uma solução alcoólica como a iodada, pode-se
dispensar o enxugo com a compressa, permitindo que a evaporação do álcool deixe o
elemento desinfetante depositado sobre a pele, aproveitando assim sua ação residual.

Escovação das mãos e ante-braços – Técnica 2

Abrindo o Lavabo Molhando a escova estéril


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Uso do cotovelo para acionar a Ensaboando as mãos

alavanca e umedecer a escova com

PVPI degermante

Começando o processo pelas unhas E seguindo pelos dedos

Escovar todas as áreas interdigitais Em ambas as mãos


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Palma das mãos Dorso da mão

Subindo ao antebraço Em movimentos rotatórios escovar

laterais

Escovar a face interna Escovar a face externa


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E os cotovelos Enxaguam-se as mãos

E os ante-braços obedecendo ao escoamento da água para os cotovelos sem


voltar os movimentos de 1 para 2

Fechando o lavabo Usar o cotovelo para fechar o lavabo


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PARAMENTAÇÃO

Colocação do avental

É o passo seguinte. O avental cirúrgico convencional é feito de algodão espesso,


tipo brim, estendendo-se do pescoço ate abaixo dos joelhos e para os pulsos. Deve ter
punhos bem ajustados para que se possam sobrepor os punhos das luvas.

Ele vem dobrado de tal forma que ao se pegar em duas pontas especialmente
ajeitadas e deixando-o desdobrar-se por ação da gravidade, ficamos com ele na nossa
frente em posição de ser vestido.
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Seguro com ambas as mãos, estas são introduzidas ao mesmo tempo nas
respectivas mangas, enquanto a enfermeira da sala traciona para trás o avental,
segurando-o pelo lado interno.

Enquanto os cintos são mantidos afastados do corpo pelo cirurgião, a enfermeira


amarra os diversos cordões posteriores.

Finalmente apanha os cintos pela ponta, sem tocar o avental, e amarra-os.

A parte dorsal daqueles aventais, fechados unicamente por alguns cordões e um


cinto, não oferece proteção adequada, uma vez que suas bordas ficam algo abertas e os
cordões, amarrados pela enfermeira, deixaram de ser estéreis. Por este motivo, as mesas
auxiliares de instrumental correm sempre o risco de serem contaminadas.
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Hoje em dia usam-se, cada vez com maior frequência e sobretudo nas grandes
operações que necessitam de maior número de assistentes e mesas auxiliares, aventais
“envolventes”, que protegem também o dorso de quem os veste.

Sem cinto, possuem a mais que anteriores uma aba ou opa, de formato
triangular, cuja base é a própria borda direita do avental. Seu ápice vem amarrado em
um cordão anterior.

Vestido do mesmo modo que os aventais simples e após amarradura dos cordões
posteriores pela enfermeira, o cirurgião solta a laçada anterior, liberta a ponta da opa e
passa-a por trás de seu corpo, amarrando-a de novo no mesmo cordão anterior, só que
pelo lado oposto e após ter-se envolvido completamente no avental.

Deste modo consegue-se uma proteção mais adequada.

No desenrolar da operação, pode acontecer que o avental se molhe, sobretudo as


mangas, o que recomenda sua troca.

O tecido úmido perde rapidamente seu poder de barreira contra bactérias


oriundas da flora residente do cirurgião (LAUFMAN e col., 1979 e 1980). Este fato é
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sobretudo relevante em relação à malha que normalmente forma os punhos do avental,


bem menos hermética ao cruzamento de bactérias do que o restante do tecido
(LAUFMAN e col., 1979).

Por este motivo os punhos, não sendo feitos dos mesmo tecido do restante do
avental, devem ficar sempre bem protegidos debaixo das luvas.

Para evitar que durante a operação eles se desloquem para cima e para fora da
proteção das luvas, os punhos da maioria dos aventais apresentam uma alça de cadarço,
que os prende aos polegares.

Calçamento das luvas

É o próximo passo do processo. As luvas são fabricadas em látex natural ou


sintético, devendo cobrir os dedos e as mãos e estenderem-se sobre os punhos do
avental, numa delgada camada, lisa e sem falhas.

Na extremidade proximal, uma banda espessada de borracha impede que seu


punho se enrole. Uma banda larga e plana é mais eficaz do que uma redonda e pequena.

Vêm acondicionadas aos pares em carteiras de papel ou pano, com a


identificação de seu tamanho estampada no invólucro.

Seu calçamento é bastante facilitado pelo uso de um lubrificante.

Uma das substância ainda usada para este fim em nosso meio tem sido o talco.
Pré-talcadas em seu interior, podem também apresentar-se acompanhadas por uma gaze
dobrada, contendo o talco com que se empoam as mãos.

Todavia, deve-se ter o cuidado de evitar que ele se deposite nas mesas de
instrumentos, sobre os campos ou incisão cirúrgica. As luvas devem ser enxugadas em
água esterilizada logo após serem calçadas. Além de ser de difícil esterilização, o talco é
inorgânico e não absorvível, constituindo um corpo estranho para os tecidos,
provocando a formação de granulomas, aderências e processos inflamatórios
inconvenientes.

Por esse motivo, o talco foi substituído (LEE & LEHAMAN, 1947), em alguns
países em caráter compulsório, por um lubrificante orgânico, absorvível pelo
organismo, derivado do amido de milho quimicamente modificado (Biosorb 60). Este
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pó facilita igualmente o escorregamento das luvas sobre a pele, praticamente sem


provocar os inconvenientes granulomas e aderências do talco (LEE & LEHMAN, 1947;
POSTLETHWAIT e col., 1949; PELLING & BUTTERWORTH, 1980).

As luvas vêm dispostas na embalagem com o punho virado para fora, de forma
que podem se manejadas utilizando a aparte exposta de sua face interna.

Pega-se por aí umas das luvas e veste-se a mão oposta.

Com a mão ainda despida, pega-se a outra luva também pelo punho, enfiam-se
os dedos da mão já calçada na dobra do punho e pela face palmar e calçar-se a outra
mão.

Só agora, com ambas as mãos calçadas, são ajustadas as luvas. Primeiro ajeitam-
se os dedos e depois cobre-se o punho do avental com a própria luva.
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Para isto, everte-se o punho da luva e estica-se o punho do avental, que é


dobrado e preso com os dedos da mesma mão.

Em seguida, cobre-se o punho do avental com o punho da luva.

Alguns cirurgiões costumam calçar as luvas com a ajuda da instrumentadora.


Neste caso, após terminar a montagem dos instrumentos, ela reservará um par de luvas
sobre a mesa do auxiliar.

Quando o cirurgião se aproximar, dar-lhe-á a gaze com talco e enquanto ele o


passa nas mãos, segurará a luva direita pelo dobro do punho com a face palmar virada
para o cirurgião. Este, com seu indicador esquerdo, abre o punho da luva e introduz a
mão direita. Ato contínuo, a instrumentadora puxa-a para cima, cobrindo o punho do
avental. A manobra repete-se para a luva esquerda.

Ao final da operação ambos, avental e luvas, devem ser retirados de forma que
suas superfícies externas contaminadas não toquem a pele ou as roupas de circulação do
centro cirúrgico.
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O primeiro a ser retirado deve ser o avental. Conservando as luvas, afrouxam-se


os punhos do avental que são passados sobre os punhos das luvas. Depois, com uma
mão, segura-se o ombro oposto do avental (já desamarrado atrás) que é tracionado para
fora do respectivo braço flexionado, com a manga virada pelo avesso.

Segura-se depois o outro ombro com a mão oposta e despe-se o respectivo


braço, retirando todo o avental longe do corpo, com sua face externa contaminada
dobrada para dentro.
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A retirada das luvas se-gue orientação similar.

Umas das mãos enluvada pega a outra luva pelo lado externo, descalça-a e
mantém-na segura na ponta dos dedos. A mão sem luva pega agora a outra pelo lado
interno e descalça por sobre a primeira de forma que ambas, unidas por telescopagem
parcial, são desprezadas com suas faces externas contaminadas viradas para dentro.

Colocação dos campos cirúrgicos

Na impossibilidade de desinfetar toda a pele do paciente, o resto do corpo, afora


a área a operar, deve ser coberto com “campos” (panos esterilizados) para que a equipe
cirúrgica, vestida assepticamente, não contamine suas roupas e infete a incisão.

Os “campo” têm a finalidade de isolar o campo operatório asséptico do resto do


corpo do paciente.

Os campos são peças quadradas de pano, com aproximadamente 1,50m de lado.


Existem nas cores branca, cinza, verde e azul, tendo as três ultimas a finalidade de
proporcionar um melhor repouso visual.

Existem também campos descartáveis de papel, com margens adesivas, que


dispensam o uso de pontos ou pinças de campo para sua fixação.

Apresentam-se acondicionados em tambores metálicos ou pacotes de pano,


dobrados de duas formas: campo simples e campo duplo. Ambos apresentam duas
dobras especiais de suas pontas chamadas “orelhas”, e quando seguros por elas e
deixados desdobrar-se por ação da gravidade, ficarão completamente desdobrados no
caso do simples, ou dobrados pela metade no caso do duplo.
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Padroniza-se um tamanho único dos campos para facilitar o trabalho na


lavanderia e arsenal, durante seu acondicionamento.

O comprimento de um metro e meio de lado corresponde à envergadura de um


homem de tamanho médio que, quando da colocação do campo, terá de desdobrá-lo
completamente com os braços esticados em sentido oposto.

Compressas cirúrgicas são também usadas, por cima dos campos anteriores (1°
campo ou campo pele), protegendo as bordas das incisões (2° campo ou campo de
borda) e no interior de cavidades, isolando órgãos e servindo de suporte para o
afastamento das vísceras vizinhas (3° campo ou campo de profundidade).

Para pequenas operações, usa-se às vezes um campo único, de tamanho variável,


com um orifício no centro, através do qual se opera: é o “campo fenestrado”.

Colocação dos campos para operações no tronco

Nas operações sobre o tronco (abdome e tórax), os campos são colocados de


forma padronizada, obedecendo sempre a uma racionalização dos movimentos e
manobras da equipe cirúrgica.

Campos e aventais que vêm da autoclave ainda molhados ou úmidos, são


considerados contaminados.

Além dos 2 campos que cobrem as mesas auxiliares, a cirurgia abdominal exige
mais 8 campos.

Terminada a montagem das mesas, a instrumentadora deverá arrumá-los em


mesa própria ou no lado direito da mesa do auxiliar, na seguinte ordem; um simples,
quatro duplos e três simples.

Esta será a ordem de entrega e a regra mnemônica é “143”: um simples, quatro


duplos e três simples.
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Enquanto o cirurgião procede à anti-sepsia da pele do doente, a instrumentadora


coloca em seu dedo mínimo esquerdo u, “Backhaus”, segura a pilha campos com sua
mão esquerda e desloca-se para os pés do paciente. O auxiliar coloca-se no lado oposto
ao cirurgião.

O primeiro campos (simples) é passado ao cirurgião de tal forma que caia em


sua mão em posição de ser facilmente desdobrado a partir das duas “orelhas”.

O cirurgião coloca-o sobre as pernas do paciente.

A instrumentadora passa o segundo e terceiro (duplos), respectivamente, ao


cirurgião e auxiliar que, desdobrando-os simultaneamente, colocam-nos cobrindo os
lados do paciente.
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Passa o quarto e quinto (duplos), respectivamente, ao cirurgião e auxiliar que,


virados com sua direita para o paciente, colocam-nos perpendicularmente aos anteriores.

O duplo, colocado nas pernas do paciente, tem sua folha superior levantada pelo
cirurgião e assistente.
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A instrumentadora passa o sexto e sétimo (simples) ao cirurgião e auxiliar para a


construção da “barraca” que isola a equipe cirúrgica do anestesista.

O cirurgião pede um “Backhaus”, que lhe é entregue pela instrumentadora e com


o qual prenderá os dois campos da “barraca”.

Somente após ter passado o “Backhaus”, e enquanto se completa a formação da


“barraca” com a ajuda das enfermeiras que fixam as duas pontas externas em suportes
de soro, a instrumentadora desdobra o último campo (simples) e coloca-o sobre os pés
do paciente e sobre a folha inferior do campo duplo, recobrindo-o, depois, com sua
folha superior.
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Colocados os campos, a instrumentadora e o auxiliar deverão aproximar suas


respectivas mesas do campo operatório. Elas serão seguras e empurradas pelo lado
interno, isto é, o lado que ficou em contato com os aventais esterilizados durante a
montagem. Nunca pelo lado oposto ou laterais.

As laterais e o lado oposto das mesas podem ter sido tocados inadvertidamente
pelas vestes das circulantes e estariam, portanto, contaminadas.

Em seguida a enfermeira coloca o bisturi elétrico aos pés do paciente, aproxima


o cesto para gazes sujas, acerta a luz e coloca as bacias com água fenicada para lavagem
das luvas, tudo isto segundo a disposição já comentada.

Isto será feito somente após as mesas auxiliares terem sido colocadas em suas
posições a fim de facilitar este procedimento.

A fixação dos campos entre si e com a pele do paciente pode ser feita com
pinças de campo (“backhaus”) ou com pontos de fio grosso. Mais adiante mostraremos
como fazê-lo.

Colocação dos campos para operações de posição ginecológica

Colocado o paciente em posição ginecológica, um primeiro campo, totalmente


desdobrado (campo simples), é seguro pelo cirurgião por dentro de uma dobra de
aproximadamente trinta centímetros, a fim de protege suas luvas de eventual
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contaminação, e colocado por baixo da nádegas do paciente.

Um segundo campo, também totalmente desdobrado, é colocado por cima de


uma das pernas, de forma a cobri-la totalmente desde a raiz da coxa até o pé, inclusive.

O terceiro campo (simples) é colocado sobre a outra perna, de modo idêntico.

O último campo, dobrado ao meio (duplo), é então jogado sobre o abdome do


paciente, cobrindo-o a partir dos pelos pubianos e ficando sobreposto às extremidades
proximais dos campos que cobrem as pernas.
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Ficados entre si por pinças de Backhaus nos quatro ângulos, limitam deste modo
uma área do períneo aproximadamente retangular, onde se pode incluir ou excluir tanto
a vagina quanto o Ânus, pelo deslocamento vertical dos campos superior ou inferior,
respectivamente.

Montagem das mesas

Montagem das mesas é o ato de dispor sobre elas os instrumentos cirúrgicos em


ordem lógica, de forma a racionalizar e tornar mais eficiente o trabalho da equipe.

A racionalização do trabalho da instrumentadora é de grande importância para


que ela possa acompanhar com antecipação o trabalho do cirurgião, e não se torne fator
limitante em termos de velocidade e eficiência no desenrolar da intervenção cirúrgica.

Para montar as mesas, o auxiliar e a instrumentadora já paramentados, deverão


selecionar um dos lados da sala de menos movimento por parte dos circulantes, e aí,
entre a parede e as mesas, de frente para o resto da sala, iniciar essa fase do ritual
cirúrgico.

A instrumentadora e o auxiliar montarão as respectivas mesas, colocando em


cada uma os instrumentos específicos para uso próprio.

As mesas devem ser protegidas com uma folha de borracha que, ao mesmo
tempo que amortece o choque dos instrumentos com o tampo metálico, impermeabiliza
a cobertura da mesa que, se molhada inadvertidamente por soro ou secreções, perderia
seu poder de barreira anti-bacteriana, com possibilidade de contaminação dos objetos
sobre ela colocados.

A folha de borracha com as mesmas dimensões do tampo da mesa vem enrolada


e protegida por panos de campo de duas formas diferentes, que condicionam maneiras
diversas de cobrir a mesa.
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A folha de borracha pode vir enrolada em um único campo que, dobrado sobre sí
mesmo, protege-a completamente.

Colocado tal conjunto em um extremo da mesa, a circulante de sala desenrola-o


e desdobra suas abas, sem tocar a folha de borracha. A mesa é então coberta com um
campo esterilizado por um dos elementos da equipe, já paramentado. Este pano protege
assim o tampo e as laterais da mesa.
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Outros hospitais adotam sistemática um pouco diferente.

A folha de borracha é coberta em cada uma de suas faces por um pano de


campo, e os três dobrados sobre si mesmo. Este conjunto é envolvido por um terceiro
campo externo, protetor da condição de esterilidade dos anteriores.

Colocado sobre a mesa, a circulante de sala abre cuidadosamente o campo


externo expondo o conjunto esterilizado. Este é então desdobrado pela instrumentadora
ou auxiliar, já paramentados, que cobrem assim o tampo da mesa e suas laterais. A folha
de borracha fica portanto já coberta por um pano de campo estéril.
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Colocados os campos protetores sobre as mesas a circulante deverá aproximar a


caixa dos instrumentos sobre uma outra mesinha menor.

A regra geral que prevalece na montagem das mesas é a seguinte:

Colocam-se mais perto da mesa operatória (lado direito da mesa de


instrumentação e esquerdo da do auxiliar) os instrumentos que serão usados com maior
frequência no decorrer da operação, colocados de tal maneira que facilite a tomada pela
instrumentadora e passagem ao cirurgião, e a tomada pelo 1° auxiliar.

A mesa da instrumentadora abaixo é uma mesa simplificada quanto ao número e


variedade dos instrumentos mostrados. Claro que, de acordo com o tipo de intervenção
e o órgão a operar, variam os instrumentos complementares, porém os comuns a todas
as operações ocuparão sempre as mesmas áreas nas mesas auxiliares.
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Para melhor situar os comentários adicionais, enumeramos as diversas áreas da


mesa.

Área 1 – Coloca-se o bisturi com a lamina para baixo e o corte para a esquerda.
Certas operações requerem tipos especiais de bisturis (lâminas).

Área 2 – Tesouras curvas, delicada (“metzenbaum”) e forte (“Mayo”), pontas


viradas para a instrumentadora e curvatura para baixo, contra a mesa.

Área 3 – Pinças hemostáticas tipo “Kelly”, colocadas do mesmo modo que as


tesouras. De preferencia curvas e no mínimo de seis a oito.

Como o sentido de tomada é da direita para a esquerda (da proximal para a


distal), por questão de economia de espaço acham-se sobrepostas, estando a da direita
superiormente colocada em relação às outras, e assim sucessivamente.

Área 4 – Área de uso versátil: colocam-se instrumentos do tipo “Mixter” (2 e 4),


“Moynihan” (2 e 4), e outros do tipo hemostático, de acordo com a cirurgia.

Área 5 – “Kocher” reto (4).

Área 6 – Pinças com e sem dentes.

Área 7 – Porta-agulhas (2), única exceção na mesa da instrumentadora que se


coloca com os anéis para baixo. No caso, já segurando agulhas montadas. Nota-se que a
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ponta da agulha aponta para cima a fim de não furar o pano da mesa e não se
contaminar.

Área 8 – Colocam-se pinças de preensão do tipo “Babcock” (4), “Allis” (4) e


“Duval” 92 a 4), ou outros instrumentos complementares do mesmo tipo, ditados pelas
necessidades da intervenção cirúrgica em causa.

Área 9 – “Backhaus”, no mínimo 4.

Área 10 – Pinças, tesouras e porta-agulhas, longos.

Área 11 – Uma compressa dobrada, que segura fios pré-cortados como seda ou
algodão, e sobre ela os outros tipos de fios e agulhas.

Área 12 – De uso versátil, no caso apresentando agrafes.

Do mesmo modo, a mesa do 1° auxiliar deverá ser montada segundo os


princípios de lógica e racionalidade usados na mesa da instrumentadora.

Da mesma forma, dividamo-la em áreas numeradas.


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Nesta mesa, a tesoura, os clampes intestinais, assim como todos os instrumentos


de anéis e cremalheiras, são montados com os anéis para baixo, isto é, no sentido do
assistente, pois assim ele os empunhará já na posição a serem usados.

Área 1 – Coloca-se uma tesoura, em geral reta, com a qual o assistente contará
fios.

Área 2 – Ficam as pinças, em regra, uma com “dente de rato” e a outra sem
dentes.

Área 3 – É reservada aos afastadores de “Gosset”, valvas de “Doyen” (tamanhos


vários) e “Farabeuf” (par).

Área 4 – Colocam-se algumas pinças auxiliares, como no caso pinças intestinais


de coprostase (2 e 4), de preferência curvas,e as espátulas tipo sapata e valvas
maleáveis. É uma área de emprego versátil, pois receberá instrumentos complementares
de uso do assistente, de acordo com o tipo de operação.

Área 5 – Também de locação versátil, pois receberá recipientes para soro ou


desinfetantes, seringas, aspirador, ponta do bisturi elétrico e outros instrumentos de uso
restrito a determinados tempos da intervenção cirúrgica.

Área 6 – Colocam-se finalmente compressas, gazes e campos.

Operações há que, por fugirem à rotina – como por exemplo a necessidade


imprevista de estender para o tórax uma laparotomia, ou o tempo perineal de uma
amputação abdômino-perineal de reto – necessitam de instrumental complementar e
nestes casos este pode ser arrumado em uma outra mesinha menor. Com esta terceira
mesa tem-se a vantagem de não se desalinharem as duas mesas obrigatórias ou, como
no segundo exemplo, é ela usada exclusivamente para instrumentos de um tempo
cirúrgico de precária assepsia e como tal considerados contaminados.

Às vezes o cirurgião se vê na contingência de operar sem instrumentadora, seja


pelo pequeno porte da cirurgia, seja por condições outras.

Neste caso o auxiliar, além de montar sua mesa da forma já apontada, montará
também a mesa do cirurgião de forma que este possa assumir também as funções de
instrumentador.

Portanto, a regra acima apontada ainda é válida e a mesa ficará assim arrumada.

Todos os instrumentos serão colocados na mesma ordem, porém agora da


esquerda para a direita e todos aqueles com anéis ficarão com eles para baixo (como na
mesa do assistente).

O bisturi será colocado com o cabo para baixo e o corte virado para a esquerda.

O cirurgião é agora seu próprio instrumentador.


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DEGERMAÇÃO

Previamente ao início da cirurgia, após exame criterioso das condições do local


da incisão e áreas adjacentes da pele, e consequente tomada de decisão da necessidade
ou não da remoção de pelos (procedimentos realizados no pré-operatório) deve-se
proceder a degermação e, em seguida, o preparo cirúrgico da pele do paciente
(antissepsia pré-operatória), visando a redução de infecção do sítio cirúrgico.

A degermação é um procedimento de enfermagem, geralmente realizado pelo


circulante de sala, devendo ser efetuada em área bastante ampla em relação ao local da
incisão cirúrgica, visando impedir ao máximo a migração de microrganismos
transitórios de áreas não tratadas e a inibição do rápido crescimento de bactérias
residentes.

Antes de iniciar a degermação, deve-se providenciar o material necessário


(cúpula inox grande, solução antisséptica, água esterilizada ou solução fisiológica,
compressas e luvas cirúrgicas esterilizadas).

De acordo com Molina (2004), todos os materiais utilizados em procedimentos


de degermação deverão estar estéreis. Ao efetuar a degermação, o profissional deverá
observar criteriosamente os princípios da técnica antisséptica, lavando minuciosamente
o campo operatório, realizando movimentos circulares do centro (local da incisão) para
as áreas adjacentes. Após o procedimento, enxugar toda área com compressa estéril,
observando a mesma sequência anterior.

Cuidados especiais dever ser dispensados ao ambiente, roupas, instrumental e


elementos da equipe cirúrgica, no sentido de impedir ou reduzir o acesso de bactérias ao
campo cirúrgico, que certamente levariam ao aparecimento de infecções.
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Princípio básico de técnica cirúrgica: tudo que entre em contato com a incisão
deve estar isento de germes.

As mãos e ante-braços dos componentes da equipe deverão passar por um


processo que reduza ao máximo a flora bacteriana da pele, o que se chama degermação.

Em seguida, cada elemento da equipe cirúrgica veste roupas apropriadas


(avental) e protege mãos e punhos com luvas de borracha, ambos esterilizados. Este
processo é conhecido como paramentação.

As luvas, avental, gorro, máscara e proteção para os pés constituem os


paramentos.

Apesar do uso de luvas e avental esterilizados, a necessidade e a importância de


proceder a uma rigorosa degermação de mãos e antebraços, explica-se por dois motivos
principais:

O manuseio do avental e das luvas durante sua colocação é suficiente para


contaminá-los se as mãos não tiverem sido previamente preparadas;

Há sempre a possibilidade eventual das luvas se romperem durante o ato


operatório, o que acontece com 10 a 30 por cento (WISE e col., 1959; TAYLOR, 1961;
GOLDENBERG e col., 1962; POSTLETHWAIT, 1972). Sabendo-se que até 18.960
estafilococus podem passar através de um único furo de agulha em um dedo da luva
num período de 20 minutos (COLE & BERNARD, 1964), pode-se entender a
importância daquela medida. A incidência de infecção em feridas cirúrgicas limpas é
triplicada quando ocorrem furos nas luvas no decorrer da operação (CRUSE & FOORD,
1973).

Bacteriologia da Pele Normal

A superfície epidérmica é composta de células achatadas e translucidas,


formando um revestimento hermético para todo o corpo. As mais superficiais sofrem
um processo de morte fisiológica e tornam-se facilmente destacáveis. Estas são
substituídas pelas células de camadas mais profundas que, no seu deslocamento para a
superfície perdem suas conexões, permitindo a invasão bacteriana.

A maioria destes microrganismos encontra-se na camada superficial da pele,


mas 10 a 20 % do total localiza-se no interior dos folículos pilosos (GIBBS &
STUTTARD, 1967).

As glândulas e ductos sudoríparos têm poucas bactérias por ser o suor uma
solução ligeiramente ácida e bactericida, e pelo constante fluxo de dentro para fora
(PRICE, 1938).
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Em condições normais de uso das mãos a flora bacteriana apresenta-se em


quantidade relativamente estável e característica para cada indivíduo (PRINCE, 1938;
HOEVEN & HINTON, 1968).

De acordo com os conceitos de PRICE (1938) a flora bacteriana da pele pode ser
classificada em flora de transição e flora residente.

A flora de transição é composta por todos os tipos de germes, especialmente


aqueles com os quais o indivíduo mais entra em contato: são germes facilmente
transmissíveis de um indivíduo a outro. Nela existem germes Gram-positivos e Gram-
negativos, tanto saprófitas como patogênicos, incluindo aqueles que comumente causam
infecções hospitalares, tais como Streptococcus pyogenes, Pseudomonas aeruginosa,
Klebsiella, Escherichia coli, Staphilococcus aureus e outros (STEERE & MALLISON,
1975).

Estes microrganismos não estão firmemente aderidos à pele e usualmente são


removidos rápida e eficazmente por lavagem ou anti-sépticos.

A flora residente é composta por populações bacterianas relativamente estáveis


em tamanho e composição (PRICE, 1938).

Difere qualitativa e quantitativamente em diferentes partes do corpo e em


diferentes pessoas. Difteróides anaeróbicos são encontrados principalmente em áreas
como o rosto, que produzem grandes quantidades de sebo (STEERE & MALLISON,
1975).

Em áreas de pele mais seca a flora é representada principalmente por germes


Gram-positivos alojados em ductos sebáceos e folículos pilosos e entre as escamas
epidérmicas extremamente aderentes às células vivas da epiderme. Dificilmente são
removidos por processos de assepsia, pois os métodos físicos e químicos dificilmente
atingem esta porção anatômica da pele (LOVEL, 1945; MONTES 7Wilborn, 1969).

Daqui se depreende que não é possível esterilizar a pele sem destruí-la.

Felizmente a flora residente é usualmente de baixa virulência a não ser que lhe
seja facilitada a entrada no organismo por uma solução de continuidade na barreira
cutânea (STEERE & MALLISON, 1975).

A grande variabilidade na distribuição, densidade e tipos da bactérias da pele é


função de fatores tais como integridade da epiderme, pH, presença de ácidos graxos,
umidade e capacidade de sobrevivência das bactérias (REBELL e col., 1950; BLANK
& DAWES, 1958).

Certos fatores propiciam o desenvolvimento ou mudança da flora cutânea


habitual, especialmente em pacientes debilitados (STRATFORD e col., 1968), pacientes
com sudorese ou em clima quente e úmido (MARPLES, 1969). Nestes casos costuma
diminuir a flora Gram-positiva e aumentar a Gram-negativa.
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A idade do indivíduo é, de certa forma, determinante do tipo e distribuição das


bactérias cutâneas.

No recém-nascido predominam os estafilococos e difteróides. Nas crianças os


enterococos e bacilos Gram-negativos podem ser considerados residentes cutâneas. Nos
adultos, além de estafilococos e difteróides, encontram-se estreptococos, leveduras e
flora Gram-negativa, estes últimos tendendo a aumentar gradativamente com a idade
(MARPLES, 1969, SOMERVILLE, 1969).

As diferentes regiões do corpo também apresentam variações no espectro


bacteriano.

Na áreas secas a flora é relativamente pequena, predominando os estafilococos e


difteróides. Nas regiões úmidas, como axilas e dobras cutâneas, aumenta
consideravelmente a flora, com tendência ao predomínio dos Gram-negativos. Nas áreas
interdigitais existem ainda Cândida albicans e outras leveduras.

No períneo e região inguinal aumenta a presença de Streptococcus faecalis,


Escherichia coli, Proteus vulgaris, Pseudomonas e outros (MARPLES, 1969;
SOMERVILLE, 1969).

Normalmente o cabelo pode ser um reservatório de inúmeras bactérias,


especialmente a barba, mesmo após lavagem cuidadosa. Bactérias podem sobreviver por
mais de 6 horas nestes locais, incluindo germes Gram-negativos (MARPLES, 1969).

Anti-sepsia na enfermaria

Na véspera da operação o paciente deverá tomar um banho completo, pondo


especial ênfase na limpeza de pregas cutâneas como o umbigo, axilas, pregas inguinais,
unhas, etc. Não devemos esquecer que, após a operação, ele fica vários dias
impossibilitado de fazer uma boa higiene.

A tricotomia da área a operar deverá ser feita pela manhã, antes de transportar o
paciente para o centro cirúrgico e não na véspera. Os pequenos cortes deixados pela
gilete, as vezes quase imperceptíveis, são colonizados por bactérias e após várias horas
são focos importantes de contaminação.

Imagina-se o bisturi incisando a pele sobre vária escoriações infetadas...

Recomenda-se usar lâmina nova e de preferência um aparelho gilete do tipo


descartável. Sabão ou detergente apropriado deve ser usado não só para facilitar a
remoção dos pelos e diminuir o trauma à pele, como também para diminuir o resíduo
contaminante de células descanadas e fragmentos de pelos.
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A área a depilar deve ser ampla o suficiente para permitir margens adequadas em
torno do campo operatório. Lembrar da necessidade que muitas vezes existe de
prolongar a incisão ou colocar drenos.

Feita a tricotomia, a pele deve sofrer um processo de degermação que começa


pela lavagem com água e sabão, de preferência degermante anti-séptico como a
iodopovidona e suave escovação. Este início da preparação pode ser feito debaixo do
chuveiro, durante o banho pré-operatório.

Após ser enxuta com compressa esterilizada, a área cirúrgica é tratada com um
anti-séptico que tenha ação residual como a tintura de iodo ou a iodopovidona.

Nova compressa, esterilizada e aberta, isolará a pele, sendo fixada em sua


periferia por fitas de esparadrapo. Esta compressa será retirada na sala cirúrgica
imediatamente antes do cirurgião proceder à “pintura” do campo.

Em condições de emergência, tal lavagem poderá ser feita na própria sala


cirúrgica, após proteção lateral da mesa operatória, com panos de campo que, molhados,
serão retirados ao final do processo.

Para orientação de quem se propuser a preparar a pele da área cirúrgica do


paciente, os desenhos seguintes delimitam-na de acordo com o tipo de operação.
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O paciente, vestido com um pijama ou camisola larga de tecido não sintético e já


sedado pelo pré-anestésico, será transportado à sala cirúrgica deitado numa maca a fim
de evitar o trauma psíquico representado pela visão do ambiente cirúrgico. Pelo mesmo
motivo, devem reduzir-se ao mínimo os ruídos e choques de instrumentos na montagem
das mesas. Sua colocação na mesa operatória será orientada pelos componentes da
equipe cirúrgica, que aguardam atrás das mesas auxiliares.
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Anti-sepsia do Campo Operatório

Anestesiado o paciente, a enfermeira descobrirá amplamente a região a operar,


respeitando contudo seu pudor. Nas operações sobre o tronco, deve-se tirar toda a roupa,
deixando porém cobertos os genitais.

O assistente preparará vários “pinceis” com três ou quatro gazes que deverão ser
dobradas de forma a não ficarem com pontas pendentes, que possibilitam o gotejamento
do anti-séptico.

Coloca um na ponta de uma pinça longa (geralmente um “Cheron”), e as outras


entre os dedos da mão esquerda. Na palma desta mão, uma gaze para evitar o eventual
gotejamento do anti-séptico no chão.

Isto evita que, por descuido, a luva esterilizada de quem “pinta” entre em contato
com a pele ou vestes do paciente.

Tomando posição ao lado do doente, onde permanecerá no decorrer da operação,


aguarda que a circulante aproxime uma pequena mesa com o recipiente contendo a
solução anti-séptica (tintura de iodo ou iodopovidona) ou que o auxiliar lhe apresente
pelo lado oposto do enfermeiro.

Pode-se usar o anti-séptico na forma de “spray”, dispensando todas estas


manobras.
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Molha o “pincel” na solução até meia altura, e aproxima-o do doente,


protegendo o chão do gotejamento com a gaze da mão esquerda.

Desta maneira a capilaridade da parte superior, seca, impede que o anti-séptico


pingue da gaze.

Delimita-se o campo, por exemplo o abdome, com um risco transversal na altura


dos mamilos e outro vertical na linha mediana, que partindo do primeiro estende-se até
a região púbica.

Com movimentos de cima para baixo e do meio para a periferia, “pinta-se” a


primeira metade do abdome sem jamais voltar a mesma gaze às porções já pintadas.

Isto feito, despreza-se tal gaze, coloca-se uma nova na pinça e processe-se da
mesma maneira na metade do abdome.

Se considerarmos que a incisão será feita na região mediana do abdome, e que


portanto esta é a área nobre do campo, entende-se porque não se deve repassar sobre ela
uma gaze já usada até a periferia.

Esta regra deve ser seguida para qualquer região do corpo: começar a anti-sepsia
sobre a área da incisão em movimentos paralelos, do centro para a periferia. O primeiro
risco, como se fora a própria incisão, divide o corpo em duas metades. Usar uma gaze
para cada hemicampo e nunca repassá-la sobre áreas já “pintadas”.

Fazem exceção a esta regra, área contaminadas, como o períneo ou uma


colostomia. Aqui, faz-se um círculo em volta do orifício contaminado (anus ou
colostomia), “pinta-se” a parte externa e por fim, com gaze própria, o orifício a operar.

Com o propósito de reduzir ainda mais a probabilidade de contaminação da


ferida operatória, alguns cirurgiões usam uma folha de plástico adesivo transparente
(Steri-drapesR), que acolam sobre a pele preparada do modo habitual. Seu uso propicia
a possibilidade de fazer a incisão sobre o plástico, cujas bordas permanecem aderentes à
pele, impedindo o acesso de bactérias das áreas adjacentes. Muitas vezes o suor, o
sangue ou os fluídos teciduais descolam as margens do plástico, pelo que sua eficácia é
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negada por alguns autores. Contudo, seu uso tem-se mostrado útil para isolar a área de
incisão de reservatórios bacterianos como colostomias e fístulas.

Completada a degermação do campo operatório, caberá ao cirurgião e


auxiliares,a realização de antissepsia pré operatória. A área a ser “pintada” dependerá do
tipo de cirurgia, não devendo, entretanto, se estender além da área anteriormente
degermada.

Materiais: cúpula inox pequena, pinça cheron, gazes e solução antisséptica.

A solução antisséptica deverá possuir o mesmo princípio ativo da solução


utilizada para a degermação (Molina, 2004).

Após a montagem das mesas, o passo seguinte é a anti-sepsia do campo


operatório. Esta tarefa é atribuição do cirurgião, porém algumas vezes seus auxiliares, e
o sobretudo o 1° assistente, terão de fazê-la e é por isso que incluímos aqui noções de
como executá-la corretamente.

As considerações feitas para a pele das mãos e antebraços da equipe cirúrgica


também são válidas para a pele do paciente. Os cuidados de anti-sepsia são assim
extensivos a ele e mais particularmente à área cutânea a ser incisada.

Todavia duas particularidades devem ser aqui destacadas.

Enquanto as mãos do cirurgião são submetidas com frequência ao processo de


degermação, o que gera uma ação supressora continuada em sua flora, a pele do
paciente é tratada uma única vez e eventualmente em caráter de urgência.

Por outro lado um novo fator passível de aumentar o risco de infecção é a


liberação de bactérias da flora profunda a partir da incisão cutânea.

Estes fatos justificam a atenção redobrada que se deve dispensar a esta tarefa,
visando reduzir ao mínimo o número de bactérias e seu acesso à ferida cirúrgica.
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A EQUIPE CIRÚRGICA

No perfil dos profissionais que trabalham em Centro Cirúrgico é imprescindível


que haja a habilidade de trabalho em equipe já que o quadro de pessoal do CC é
composto pelas equipes de enfermagem, cirúrgica, anestesiologia, administrativa e de
higiene, todas objetivando a assistência às necessidades do paciente, portanto os
membros que compõe estas equipes devem trabalhar de forma organizada, equilibrada,
unificada no sentido de oferecer segurança e eficiência ao indivíduo que esteja passando
pelo processo anestésico-cirúrgico (SOBECC, 2009).

A equipe cirúrgica é formada pelo cirurgião, auxiliar ou assistente e


instrumentadora, sendo poucas as vezes em que há necessidade de um quarto elemento,
o 2º assistente. São ainda indispensáveis o anestesista e as circulantes de sala.

Ao cirurgião cabe a integral responsabilidade do ato operatório. É ele o chefe do


conjunto e deverá conduzir a intervenção desde a abertura ao fechamento da parede,
seccionando e suturando tecidos, pinçando vasos e manejando instrumentos, cujo uso é
interditado aos outros elementos da equipe. Será o mantenedor da ordem, disciplina e
harmonia.

O assistente tem como função precípua auxiliar o cirurgião, abrindo o campo,


expondo as vísceras da melhor maneira, de forma a permitir que aquele realize as
manobras cirúrgicas com a mínima dificuldade. A apresentação do campo é tão
importante que ele não deverá soltar as vísceras para pegar um instrumento, cortar um
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fio ou enxugar o sangue que se acumula. Se assim fizer, as vísceras cairão por sobre a
área que se opera e a visão se perderá, estabelecendo-se a desordem. Perde-se a
eficiência e gasta-se tempo. Nesses momentos, é a instrumentadora que funcionará
como 2º auxiliar, enxugando, cortando fios ou apresentando pinças.

Nos tempos cirúrgicos em que não há necessidade de conter as vísceras para


exposição do campo, como na abertura e fechamento da parede, o assistente será o
auxiliar direto do cirurgião, por estar livre para executar manobras mais especificas
como enxugar, cortar fios ou mesmo dar nós.

Tomará diretamente de sua mesa auxiliar os instrumentos de uso próprio,


podendo solicitar à instrumentador, pelos sinais convencionais, outros que o momento
exija. Sua devolução será feita também pela maneira convencional.

São ainda atribuições deste:

 Providenciar para que cheguem à sala operatória, juntamente com o


doente, seu prontuário e exames radiológicos.

 Providenciar cuidados pré-operatórios imediatos, tais como sondagem da


bexiga, sondagem do estomago, dissecção de veia.

 Colaborar com a instrumentador na montagem das mesas e nos pedidos


de material à circulante de sala.

 Orientar a posição do doente na mesa operatória e fazer a antissepsia, se


solicitado pelo cirurgião.

 Permanecer junto ao doente após o despertar da anestesia, até sua


colocação no leite.

A instrumentadora é elemento fundamental em nossa equipe cirúrgica.

Tem-se verificado que a mulher adapta-se psicologicamente melhor que o


homem a este tipo de função. Por este motivo, será ela o elemento central e mais
enfatizado desta apostila, não significando, com isto, que tudo o que a seu respeito for
dito não se aplique também aos futuros cirurgiões. A ênfase é dirigida à função e não à
pessoa.

Ela exerce suas próprias funções e a de 2º auxiliar quando o primeiro estiver


ocupado, segurando uma valva ou expondo o campo.

Assim, como uma instrumentadora capacitada é uma ajuda inestimável, uma


instrumentador inapta pode ser causa de fracasso ou de complicações intra e pós
operatórias.

Deve ser gentil e amável, respeitar e acatar as ordens do cirurgião e auxiliar, por
serem eles os responsáveis pela intervenção.
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O cirurgião necessita confiar em sua instrumentadora: esta deve denunciar de


pronto, sincera e honestamente, qualquer transgressão à assepsia e todo o erro que haja
cometido ou presenciado por parte dos circunstantes. Esta honradez é elemento
indispensável ao caráter de qualquer dos componentes da equipe.

A instrumentadora deverá conhecer a técnica a seguir na realização da


intervenção cirúrgica em causa, para poder se antecipar em preparativos ao cirurgião.
Antes de iniciada a operação deve assegurar-se de que tudo está em ordem, desde os
fios e agulhas, aos instrumentos especiais.

Não deverá distrair-se durante a intervenção. Será os olhos e ouvidos,


entendendo o que se passa, prevendo todas as manobras do cirurgião e de seu ajudante.
Sua mente estará sempre na frente da mão, e na execução de tempos padronizados, em
que a sucessão de atos operatórios é invariável, entregará os instrumentos dispensando
seu pedido pelo cirurgião.

Sua conversação com os circunstantes e circulantes da sala restringir-se-á às


necessidades de solicitar fios, gazes, compressas, etc.

O instrumentador cirúrgico deve ter equilíbrio emocional, competência técnica,


boa comunicação interpessoal, ser organizado, atento, demonstrar flexibilidade, inspirar
confiança e credibilidade (POSSARI, 2004).

Atenção, diligências e responsabilidades são requisitos que a todo o instante


devem presidir a atuação de uma boa instrumentadora.

Em resumo, suas atribuições principais são:

 Conhecer os instrumentos por seus nomes e coloca-los sobre as mesas


auxiliares, sempre na mesma ordem, bem como ter preparados agulhas e
fios adequados a cada tempo operatório;

 Ser responsável pela assepsia, limpeza e acomodação ordenada e


metódica dos instrumentos, desde o início ao fim da operação;

 Entregar o instrumento com presteza ao sinal ou pedido verbal do


cirurgião, colocando-o em sua mão de forma precisa e exata para uso
imediato, sem que ele tenha necessidade de reacomodá-lo antes do uso;

 Intervir eventualmente no campo operatório como 2º auxiliar, quando


solicitada pelo cirurgião;

 Fazer os pedidos necessários às circulantes da sala (fios, gazes,


compressas, drenos, etc.);

 Sincronizar tempos e ações manuais com o cirurgião e assistente,


segundo a técnica da equipe;
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 Verificar os materiais e equipamentos necessários para o procedimento


cirúrgico;

 Paramentar-se com técnica asséptica cerca de 15 minutos antes de se


iniciar o procedimento cirúrgico;

 Auxiliar o cirurgião e assistentes na paramentação e na colocação dos


campos estéreis;

 Desprezar o material perfurocortante e contaminado de forma adequada;

 Conferir o material após o uso;

 Encaminhar o material à CME;

 Auxiliar no curativo e encaminhamento do paciente à SRPA.

O instrumentador cirúrgico deve acatar e respeitar as ordens do cirurgião e do


auxiliar, pois estes são os responsáveis pela intervenção e segundo a Resolução nº
214/1998 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) a instrumentação cirúrgica “é
uma atividade de enfermagem, não sendo, entretanto, ato privativo da mesma”. O
profissional de enfermagem atuando como instrumentador cirúrgico, por força da lei, “é
subordinado exclusivamente ao responsável técnico pela unidade”.

Suas condutas são regidas pelo Código de Ética da Enfermagem. Conforme o


Capítulo V, Art. 26, as disposições contidas nesse Código aplicam-se, também no que
couber, ao pessoal das outras categorias compreendidas nos serviços de enfermagem.

Como qualquer dos outros elementos da equipe, a instrumentadora deverá reger-


se por normas de conduta pertinentes à sua posição, bem como guardar sigilo
profissional, obrigações que são em tudo semelhantes às da enfermeira e de cujo Código
de Ética, segundo o Conselho Federal de Enfermagem, transcrevemos os seguintes
tópicos:

Capítulo II, Art. 8. São deveres do enfermeiro: Parágrafo 2º. – manter segredo
sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, e
exigir o mesmo comportamento do pessoal sob sua direção; Parágrafo 7º. – respeitar o
natural pudor e a intimidade do cliente.

Capítulo IV, Art. 21. O enfermeiro trata os colegas e outros profissionais com
respeito e cortesia.

Capítulo V, Art. 26. As disposições contidas neste Código aplicam-se, também,


no que couber, ao pessoal das outras categorias compreendidas nos serviços de
enfermagem.
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Ao anestesista cabe colaborar com o cirurgião na escolha da melhor anestesia


para cada caso, executar a anestesia perfeita e informar o cirurgião do seu andamento
quando interrogado, ou advertí-lo de intercorrências que surjam.

É responsabilidade também desta equipe o encaminhamento do paciente à SRPA


o controle do seu estado e a alta para unidade de internação (POSSARI, 2004).

À enfermeira da sala ou circulante cabe o atendimento pronto e eficiente aos


pedidos da instrumentadora. Jamais deverá abandonar a sala cirúrgica, sendo sua
ligação com o exterior feita através de uma segunda circulante.

O circulante de sala tem como atribuições: montar a SO de acordo com a


especialidade do procedimento; checar o funcionamento dos gases medicinais,
temperatura; iluminação e equipamentos; auxiliar o anestesiologista na indução,
manutenção e reversão anestésica; auxiliar na paramentação da equipe cirúrgica;
auxiliar no posicionamento do paciente e prover artigos ao cirurgião, assistente,
anestesiologista e instrumentador.

Finalmente, algumas considerações sobre o elemento central de toda esta


elaboração que, sem pertencer à equipe, é o mais importante: o paciente.

O paciente que adentra o hospital, e em particular o paciente cirúrgico, necessita


ser tratado com amabilidade, pois considera sua operação como algo transcendental. Do
trato que lhe dermos dependerá, em grande parte, a tensão emocional que traz consigo.

Seu nome deve ser recordado por todos, e por ele chamado. Poucas coisas são
tão desagradáveis como ouvir, com referencia a um doente, a “úlcera gástrica” ou “o
número tal”.

O estabelecimento de uma firme relação de simpatia e confiança por parte do


paciente é um tento na terapêutica que o médico não deve desprezar.

Paciência, gentileza e humanidade, nunca serão demais para aqueles que


depositam em nós toda a esperança e, em nossas mãos, sua própria vida.

Disposição da equipe cirúrgica


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A equipe cirúrgica é constituída pelo cirurgião, um assistente e a


instrumentadora. Poucas são as intervenções cirúrgicas que necessitam de mais um
elemento em campo (2° assistente).

Seus componentes adotam sempre uma disposição fixa, que raramente varia e
que constitui um fator importante para a sistematização dos movimentos e manobras
cirúrgicas.

Tal disposição depende essencialmente do órgão a operar.

No que concerne à cirurgia abdominal, o mesocolo transverso costuma ser o


ponto de reparo para dividir a cavidade em dois andares: o supranesocólico e o
enframesocólico.

Um cirurgião destro tem mais facilidade em operar um estomago (andar


supramesocólico) pela direita, ou um útero (andar inframesocólico) pela esquerda (do
paciente).

De uma forma geral as disposições a serem apresentadas também se aplicam às


operações sobre p tórax, pescoço e face.

O cirurgião, enquanto opera, não deve desviar sua atenção do campo operatório
e, para se comunicar com a instrumentadora, faz-se mister que se enquadre mentalmente
no conjunto cirúrgico e desenvolva o reflexo de esticar o braço direito para receber ou
lhe entregar os instrumentos.

Em nossa concepção, a instrumentadora faz também as funções de segundo


auxiliar, e fa-las-á muito melhor se colocada no lado oposto da mesa, onde sua visão e
campo de ação serão melhores.

Operações no andar supramesocólico


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Operações no andar inframesocólico

Desta maneira, serão sempre conservadas as mesmas relações especiais entre os


elementos da equipe, possibilitando a racionalização e sistematização dos movimentos e
manobras cirúrgicas.

Não concordamos com alguns cirurgiões, que nas operações do andar


inframesocólico colocam a instrumentadora no lado oposto à direita do auxiliar, isto é,
aos pés do paciente. Nestas condições, as relações especiais no conjunto cirúrgico
mudam conforme a intervenção. Para receber os instrumentos, terá de cruzar o braço
direito entre sua visão e o campo operatório, e as possibilidades de usar a
instrumentadora como segundo auxiliar ficam diminuídas.
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Chamamos a atenção ainda para a mesa do auxiliar colocada no seu lado direito
e não nas costas, o que facilita a pegada de qualquer instrumento sem que se desvie
demasiadamente do campo operatório.

Este é mais um argumento que contraindica a adoção da posição anterior, onde a


mesa auxiliar do assistente teria de ficar às suas costas.

A anestesia deverá ser orientado quanto à escolha do braço do paciente que


deverá receber a infusão venosa e o esfigmimanômetro. O braço a ser colocado
perpendicularmente ao corpo serão o do lado do cirurgião, pois nas operações do andar
supramesocólico, no outro lado, estará a mesa do auxiliar e nas do andar
inframesocólico estará a mesa da instrumentadora. Cabe a esta, ou ao assistente, tal
providencia no começo da operação.

O cesto para recolher gazes e compressas usadas deverá ficar à direita e


ligeiramente atrás do cirurgião. O bisturi elétrico aos pés do paciente, e como
equipamento opcional, duas bacias com água fenicada ou soro esterilizado, colocadas
atrás do cirurgião e do auxiliar, para lavar das luvas o sangue ou secreções sépticas que
venham a sujá-las.

Nas operações de pequeno porte, ou quando não se dispõe de instrumentadora, é


o cirurgião obrigado a operar somente com o assistente.

Nestas circunstâncias, será seu próprio instrumentador e por isso a mesa fica à
sua direita com os instrumentos em posição invertida, conforme já visto na montagem
das mesas.
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As operações sobre o períneo, executadas com o paciente em posição


ginecológica, devem ser realizadas com o cirurgião em pé, e não sentado, e por isso o
paciente será erguido praticamente a altura máxima permitida pela mesa cirúrgica.

Desta forma, o assistente à esquerda e a instrumentadora à direita, podem


participar do ato cirúrgico movimentando-se por baixo dos membros do paciente
suspensos nas perneiras.

A mesa da instrumentadora fica à direita e ligeiramente atrás do cirurgião. Esta


disposição permite a manutenção da mesma relação espacial entre o braço direito do
cirurgião e a instrumentadora e ainda, quando esta atuando como 2° assistente não
puder servi-lhe os instrumentos, faculta-lhe a possibilidade de se servir diretamente na
mesa de instrumentação.

Posicionamento Cirúrgico

A posição do paciente deve facilitar a exposição e o acesso ideal ao local da


cirurgia, manter o alinhamento corporal, preservar as funções circulatória e respiratória,
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sem comprometimento das estruturas vasculares e da integridade da pele, e tornar mais


fácil o acesso para a administração de infusões venosas, medicamentos e agentes
anestésicos (SOBECC,2009).

Normalmente quem determina a posição do paciente é o cirurgião, mas a


responsabilidade final pela manutenção do bem estar do indivíduo é tanto do cirurgião
quanto do anestesista e do enfermeiro.

A indicação da posição cirúrgica depende do tipo de cirurgia a ser realizada e da


técnica cirúrgica a ser empregada.

Quanto ao paciente, as principais posições em que poderá ser colocado, de


acordo com o tipo de intervenção cirúrgica a realizar, são:

 Decúbito dorsal – deitado horizontalmente sobre o dorso.

É aquela em que o dorso do paciente e a coluna permanecem repousando sobre o


colchão da mesa cirúrgica. Modificações da posição permitem abordar as grandes
cavidades do corpo, como a craniana, a torácica e a peritoneal, além das quatro
extremidades e do períneo. Os braços do individuo ficam sobre um suporte com
angulação menor que 90 graus, ou ao longo do corpo, e as pernas permanecem
estendidas. Um pequeno coxim, colocado sob a cabeça, permite que a musculatura do
pescoço e coluna relaxem e previne a tensão dos mesmos. A posição da cabeça deve
manter as vertebras numa linha reta. As pernas têm de estar paralelas e descruzadas para
evitar traumas dos nervos, atritos e comprometimento circulatório. Podem ainda ser
colocados travesseiros pequenos e moles sob a curvatura do dorso e sob os joelhos, de
modo as manter a concavidade normal da região lombar e evitar tensões nos músculos
dorsais e ligamentos (MEEKER e ROTHROCK, 1997; SOBECC, 2009).

 Decúbito ventral – deitado horizontalmente sobre o ventre.

O paciente se deita com o abdome em contato com a superfície do colchão da


mesa cirúrgica, de modo a permitir a abordagem da coluna cervical, área retal e
extremidades inferiores.

É necessário evitar o deslocamento do ombro nessa posição, que pode ser


superestendido, a menos que os cotovelos estejam flexionados e as palmas viradas para
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baixo. Já os cotovelos devem receber acolchoamento e as áreas de pressão, como


proeminências da face, orelha, patela e dedos, precisam ser examinadas
(SOBECC,2009).

Devemos atentar também ao posicionamento correto dos pés e aos olhos que
podem ficar entreabertos e em contato com os campos cirúrgicos, à genitália masculina
e às mamas, nas mulheres.

 Decúbito lateral direito ou esquerdo – deitado sobre um dos lados,


sendo o equilíbrio obtido pela flexão da perna inferiormente colocada e
extensão da superior, separadas por uma pequena almofada e com auxílio
de uma fita larga de esparadrapo passada transversalmente sobre o
quadril do paciente, fixando-o à mesa operatória.

Nessa posição o paciente fica deitado sobre o lado não afetado, oferecendo
acesso à parte superior do tórax, à região dos rins e à parte superior do ureter. Há
necessidade de observar a segurança do paciente, devendo ser usados mecanismos de
proteção para evitar a queda do paciente e também para a manutenção da posição
adequada, tais como o uso de cito protetor na altura da crista ilíaca (SOBECC, 2009).
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 Posição de TRENDELENBURG – decúbito dorsal com a cabeça em


nível inferior dos pés.

Consiste em uma variação do decúbito dorsal, na qual a parte superior do dorso é


abaixada e os pés elevados, oferecendo melhor visualização dos órgãos pélvicos durante
a abertura e em cirurgias laparoscópicas de abdome inferior e da pelve. Também pode
ser utilizada para melhorar a circulação no córtex cerebral quando a pressão arterial cai
repentinamente (MEEKER e ROTHROCK, 1997; SOBECC, 2009).

 Proclive – decúbito dorsal com a cabeça em nível superior dos pés.

A cabeceira é elevada e os pés abaixados oferecendo melhor acesso à cabeça e


ao pescoço. Dessa forma, a força da gravidade desloca as vísceras abdominais para
adiante do diafragma, na direção dos pés (SOBECC, 2009).

 Posição ginecológica e semiginecológica – decúbito dorsal com as


pernas abertas e suspensas em suportes próprios (perneiras). Na segunda
variedade, as coxas e joelhos ocupam o mesmo plano horizontal do resto
do corpo.

O paciente permanece em decúbito dorsal, com as pernas flexionadas, afastadas


e apoiadas em perneiras acolchoadas, para expor a região perineal em procedimentos
que envolvem os órgãos pélvicos e genitais. Devemos nos atentar à flexão extrema das
coxas, capaz de comprometer a função respiratória por causa do aumento da pressão
abdominal contra o diafragma.
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Um cuidado especial precisa ser dispensado aos pacientes com limitações na


amplitude de movimento em decorrência de condições como prótese de quadril, artrite,
contraturas, gessos, amputação ou obesidade (SOBECC,2009).

 Posição de DEPAGE, KRASKE ou canivete semi-aberto – deitado


sobre o ventre, com as nádegas expostas em plano superior pela flexão
do tronco sobre as coxas, lembrando um canivete semi-aberto ou “V”
invertido. Esta posição é usada em cirurgia proctológica.

Consiste em uma modificação do decúbito ventral, onde o paciente se encontra


com o quadril levemente inclinado para cima, sendo usada para procedimentos
proctológicos e de coluna lombar.

 Posição Fowler – Na posição Fowler ou sentada o paciente permanece


semi-sentado na mesa de operação. Usada também como posição de
conforto quando há dispinéia após cirurgias de tireoide, mamoplastia e
abdominoplastia (POSSARI, 2004).
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Tal variabilidade de posições é obtida pelo manuseio adequado da mesa


operatória. O conhecimento de suas diferentes alavancas, manivelas e rodas-manivelas
de controle, por parte de todos que trabalham na sala de operações (elementos da equipe
cirúrgica, anestesista e circulantes de sala) é da máxima importância, para que tais
manobras sejam executadas prontamente à solicitação do cirurgião, sem erros ou
vacilações que possam perturbar o ritmo normal do ato cirúrgico.

Ao se colocar o paciente em posição, deve-se levar em conta os seguintes


pontos: facilidade de movimentação respiratórios; não comprimir terminações nervosas
ou vasos sanguíneos, para isso protegendo com algodão qualquer parte do corpo que
exija restrições, que devem ser relativamente frouxas e confortáveis; não deixar
pendentes da mesa operatória os membros do paciente; evitar, sempre que possível,
distensões musculares em qualquer parte do corpo.

Cuidados no posicionamento do paciente no período operatório

 Não comprimir ou hiperestender terminações nervosas;

 Proteger proeminências ósseas, principalmente em pacientes obesos,


idosos e desnutridos;

 Cuidar para que os MMII e os MMSS nunca fiquem pendentes na mesa


de operação;

 Aplicar movimentos firmes, delicados e seguros em quaisquer parte do


corpo;

 Evitar contato de partes do corpo do paciente com superfícies metálicas


na sala de operação;

 Registrar intercorrências, para permitir a continuidade da assistências no


pós-operatório;
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 O posicionamento deve ser feito de maneira segura, levando em


consideração a anatomia e fisiologia do paciente e a técnica cirúrgica a
ser empregada.

Cuidados com o posicionamento do paciente no pós-operatório

 Após o termino do procedimento, da mesma maneira, ao retirar o


paciente da posição cirúrgica, algumas medidas devem ser tomadas:

 Manipular lentamente, mas com movimentos firmes e seguros, o paciente


anestesiado, pois a mudança repentina de posição pode provocar a queda
da PA;

 Retirar alternadamente as pernas da perneira, a fim de prevenir o afluxo


rápido do sangue da porção superior do corpo para os MMII, o que
levara a queda da PA;

 Manter a cabeça voltada para o lado com uma cânula de Guedel na boca
(quando submetidos a anestesia geral) sempre que for possível, quando o
paciente permanecer em decúbito dorsal, a fim de prevenir aspiração de
secreções.

INSTRUMENTAIS

Divisão do Material Cirúrgico

O material cirúrgico, didaticamente, está dividido em sete grupos, sendo que, um


somente, o de instrumentos especiais, será diferente para cada especialidade cirúrgica.

 Grupo 1 – Instrumentos de Diérese – corte: bisturi e tesoura.

São instrumentos de corte, representados pelo bisturi d cabo móvel e cabo fixo e
tesouras dos mais variados tipos e tamanhos. Devem ocupar na mesa do instrumentador,
o lugar de maior proximidade do instrumentador, sempre exigindo menor esforço para
chegar à mão do cirurgião.

Os bisturi móvel pode ser de vários tipos e tamanhos, mais os principais são o
cabo n°3 e cabo n°4.

Cabo n° 3 – adapta-se às lâminas de n° 9 a n°19.


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Cabo n°4 – adapta-se às lâminas de n° 20 em diante.

As tesouras são classificadas em dois tipos principais – tesouras curvas para


cortas tecidos e na mesa devem permanecer com a parte côncava para baixo. Tesouras
retas, usadas para cortar fio.

 Grupo 2 – Instrumentos de Hemostasia – parar fluxo sanguíneo:


pinças e fios para sutura.

Este grupo é formado por pinças destinada a fazer parada do fluxo sanguíneo ou
hemostasia. São de variados tipos e tamanhos. Exemplo:
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Kelly – pode apresentar a ponta reta ou curva, sem dente e com ranhura até o
meio.

Crile – pode apresentar a ponta reto ou curva, sem dente e com ranhura até o
final.

Kocher – pode apresentar a ponta reta ou curva com dente de rato.


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Hastead – com ponta curva ou reta, é pequena e delicada, recebe, também a


denominação de mosquito. Existe um tipo de Hastead com dente, que não é comum nos
serviços hospitalares.

Mixter – pinça com ponta curva acotovelada encontrada nos tamnhos com 17cm,
cm, e 24 cm.

Heiss – pinça longa (20 cm), com a ponta curva ou reta, delicada, com ranhuras
ou estrias até o final.

Rochester – pinça hemostática forte, com ranhuras de ponta grossa, reta ou


curva.

Pean – pinça hemostática com ranhuras só na ponta reta 914 e 16 cm).

Schnidt – pinça hemostática longa com ponta curva.

Faure – pinça hemostática forte com ponta reta ou curva e dente de rato.

Lower – pinça hemostática curva de ponta acotovelada e ranhuras verticais.

Estes instrumentos devem ser colocados agrupados, de acordo com o tipo,


tamanho em ordem crescente.

 Grupo 3 – Instrumentos de Síntese – sutura: agulha, porta-agulhas, fios


agulhados e não agulhados.

São instrumentos utilizados para sutura da ferida operatória incluem as agulhas


de vários tipos e tamanhos, porta-agulhas e os fios.

As AGULHAS podem ser classificadas em:


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Retas – utilizadas com a mão.

Curvas – de ½ circulo ou 1/3 de circulo, em tamahos variados, utilizadas com


porta-agulhas.

Segundo o tipo da ponta são:

Traumática – ou agulhas cortantes, tem a ponta triangular.

Atraumática – ou não cortante, a ponta cilíndrica. Usadas para sutura de tecidos


mais sensíveis.

PORTA-AGULHAS são instrumentos utilizados com a finalidade de prender a


agulha curva na sua ponta, possibilitando a sutura. Os mais comuns são o tipo de
Matirux e de Hega.
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FIOS DE SUTURA são de natureza variada, classificados em absorvíveis e


inabsorvíveis.

 Grupo 4 – Instrumentos Auxiliares – auxiliar na cirurgia se necessário.

Como sua própria denominação indica, a finalidade é auxiliar o uso de todos os


instrumentos dos outros grupos, por isso, na maioria das vezes, são utilizados
concomitantemente com outros instrumentos. Exemplo:

Pinça Anatômica sem Dente – ou pinça de dissecção, é utilizada na mão


esquerda do cirurgião, enquanto a direita ocupa-se com bisturi ou porta-agulhas.

Pinça Anatômica com Dente – denominada comunmente de dente de rato, possui


dentes para apreensão de tecidos.
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Pinça Russa – com a ponta em forma de pata de gata, auxilia a utilização do


porta-agulhas.

Pinça Adson – é pequena com ponta fina e delicada, podendo apresentar ou não
dente de rato.

 Grupo 5 – Instrumentos Especiais

Estes instrumentos constituem o grupo mais variado. São diversos, conforme as


diferentes modalidades da cirurgia.

De acordo com as classificações, os instrumentos especiais se agrupam e são


utilizados em geral. Somente no tempo principal da operação, por isso devem ser
colocados no lugar de maior distância.

As Cirurgias Neurológicas mais comunmente realizadas são: Craniotomia,


Válvula Dura Mater e Laminectomia. Os instrumentos mais utilizados para
neurocirurgia são: Kerrison, Pinças Goivas para trepanação, Serras de Gigli e Lâminas
descoladoras de meninges entre outros.

Pinças Goivas

As Cirurgias Ortopédicas mais comunmente realizadas são: Osteossíntese,


Artrodese, Artroplastia e Meniscectmia. Os instrumentos mais utilizados para ortopedia
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são: Sacabocados de vários tipos (Luer, Jansen, ...), Curetas de vários tipos (Bruns,
Volkmann, Buck, ...) e Serra de Gigli.

Cureta Bruns

As Cirurgias Urológicas e Nefrológicas mais comunmente realizadas são:


Cistectomia, Cistostomia, Nefrectomia, Nefropexia, Prostatectomia, Postectomia e
Uretrolitotomia. Os instrumentos mais utilizados para urologia são: Pinça Mathieu,
Sondas metálicas e Clamp para rim modelo suiço.

Pinça Mathieu

As Cirurgias Ginecológias mais comunmente realizadas são: Werthein,


Histerectomia, Colpoperineoplastia, Miomectomia e Ooforectomia. Os instrumentos
mais utilizados para ortopedia são: Pinard, Forceps de vários tipos (Anderson, Tarnerm
Simpson, ...), Pinça Jolly, Curetas de vários tipos (Simon, Pozzi, Sims, ...), Pinça Faure,
Pinça Foerster, Pinça Museux, Sacafibroma de Doyen, Dartigues e Esoéculos variados.

Pinça Faure
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As Cirurgias Gastroenterológicas mais comunmente realizadas são:


Gastrectomia, Colecistectomia, Esplenectomia, Herniorrafia inguinal e umbilical e
Apendicectomia. Os instrumentos mais utilizados para ortopedia são: Clamps de vários
tamnhos, Abadie, Mixter, Allis, Duval e Babcock.

Pinça Duval

 Grupo 6 – Pinças de Campo

Este grupo é constituído por pinças destinadas à fixação dos campos estéreis, na
delimitação da área operatória (2° tempo), na borda da ferida cirúrgica. Faz ainda parte
deste grupo a pinça usada para anti-sepsia. Exemplo:

Backhaus – para fixar campos.

Cheron – prende a gaze para anti-sepsia.


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 Grupo 7 – Afastadores

Como o próprio nome indica, são utilizados para afastar tecidos e músculos,
pelo1° assistente, e devem ser arrumados em mesa auxiliar. Os menores são usados em
... estruturas superficiais, e os maiores servirão no afastamento das estruturas profundas.
Exemplos:

Farabeuf, Collin, Parker, Mathieu, Roux, Langenbeck, Kocher, Senn-Miller,


Volkmann, Ollier, Balfour, Gosset, Doyen, Deaver, entre outros.

Farabeuf, Volkmann

Instrumental Básico de Cirurgia Geral

Dividem-se os instrumentais em especiais e comuns. Os especiais são usados


apenas em alguns tempos de determinadas cirurgias. Os comuns fazem parte do
instrumental básico a qualquer tipo de intervenção cirúrgica, devendo estar presente em
todas elas, independente da especialidade, em seus tempos fundamentais de diérese,
hemostasia e síntese. Assim, o instrumentador devera conhecê-lo muito bem, tendo em
vista o bom desempenho de suas funções.

São estes instrumentos básicos de cirurgia geral, que procuraremos mostrar neste
capítulo, os outros, específicos para tempos particulares de cada operação, ficarão sendo
conhecidos a medida que forem aparecendo na prática diária.

 Os instrumentos para diérese compreendem os bisturis e tesouras em


seus vários tamanhos e modalidades.
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Os bisturis se apresentam com tipos e tamanhos variados. São compostos de um


cabo de tamanho variável, acoplado a uma lâmina móvel, descartável que também varia
de tamanho.

As tesouras, assim como os bisturi, têm diferentes formas e tamanhos.

 Os instrumentos para hemostasia compreendem todos aqueles destinados


ao pinçamento de vasos impedindo o sangramento, como o Halsted,
Kelly, Rochester, Moynihan entre outros. Essas pinças podem ser retas ou
curvas e têm tamanhos variados.
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As pinças hemostáticas são conhecidas pelos nomes de seus criadores como


Kelly, Kocher, Crile, Mixter. São dispostas na mesa do instrumentador em grupos do
mesmo tipo em ordem crescente de tamanho, sempre da direita para a esquerda.

 As pinças de dissecção são instrumentos auxiliares que apoiam o ato


cirúrgico. Elas existem em grande variedade, sendo diferentes em forma
e tamanho, com ou sem dentes. Aquelas com dentes são comunmente
chamadas de “pinças dente de rato”.

 As pinças de preensão têm o objetivo de prender e segurar tecidos e


órgãos, mas também são usadas para prender gaze dobrada, como a Allis,
Collin, Durval Foerster, entre outros.
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 No grupo dos instrumentos para separação, encontramos todos os tipos


de afastadores, como Gosset, Finhochietto, Farabeuf, entre outros; que
também são instrumentos auxiliares, destinados a facilitar exposição do
campo operatório. Eles variam quanto ao tipo e ao tamanho, podendo ser
manuais ou auto estáticos. Esses últimos são chamados assim porque
afastam os tecidos por si próprios.
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Os afastadores são ordenados na mesa de instrumental por tamanho e pela ordem


em que são empregados. Os menos são usados, em geral, nos planos superficiais, como
as camadas de tecido, e de acordo com o tamanho do paciente. Já os maiores são
empregados posteriormente, para afastamento das estruturas profundas, como os órgãos.

 Instrumentos para síntese são basicamente os porta-agulhas que têm a


função de prender as agulhas, para a execução da sutura. Eles se
apresentam de diferentes formas e tamanhos.

À exceção dos demais instrumentos, os porta-agulhas devem ficar na mesa de


instrumental com os cabos sempre voltados para o instrumentador.

 As pinças de campo, ou pinças backhaus, são instrumentos auxiliares


destinados à fixação dos campos que limitam a área operatória.
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Este tipo de pinça está presente na mesa de instrumental somente no início da


operação. Posteriormente, o espaço ocupado por elas é utilizado para melhor acomodar
instrumentos de hemostasia, instrumentos especiais, compressas, gazes ou cubas.

 Finalmente, no grupo dos especiais encaixam-se todos os outros


destinados a tempos específicos de determinadas operações. É aquele que
varia de acordo com as múltiplas especialidades cirúrgicas e, em geral, é
utilizado apenas no tempo principal da operação.

Este tipo de instrumental deve ser colocado em local afastado da mesa do


instrumentador ou, então, em mesa auxiliar secundaria, no caso de serem muito
numerosos.
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Todos os instrumentos devem ser manipulados com cuidado a fim de não serem
danificados por uso indevido.

Tesouras delicadas não devem ser usadas para seccionar fios grossos ou gazes e
compressas, por perderem rapidamente seu corte.

Eletrotermocautério

O bisturi elétrico, é um aparelho eletrônico que tem a finalidade de transformar a


corrente elétrica alterada comum, em corrente elétrica de alta frequência, mas que,
apesar da intensidade, não ocasiona alterações orgânicas.

A corrente elétrica, de alta frequência, aquece a ponta metálica do eletrodo


positivo “ponta do bisturi”, passa através do corpo do paciente e é eliminada através da
placa dispersiva, “placa do paciente”, que está direta ou indiretamente ligada ao “fio
terra”. Este equipamento cirúrgico é utilizado com o objetivo de promover a
eletrocoagulação e eletrodissecção. A eletrocoagulação é a oclusão dos vasos
sanguíneos (parada do fluxo sanguíneo), através da solidificação das substâncias
proteicas ou retração dos tecidos. A eletrodissecção consiste na secção (corte) dos
tecidos, através da dissolução da estrutura molecular das células.

A circulante deve ser encarregada da colocação da placa dispersiva no paciente


observando:

Contato homogêneo da placa dispersiva com o corpo do paciente, para permitir a


distribuição da corrente elétrica.

Os locais mais utilizados são a panturrilha, face posterior da coxa e glúteos.

Evitar a colocação da placa em proeminência ósseas ou áreas pilosas, porque


diminuem o contato da mesa com o corpo do paciente.
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SINALIZAÇÃO CIRÚRGICA E MANJO DOS


INSTRUMENTOS
O bom entendimento entre os componentes da equipe obriga a que os
procedimentos cirúrgicos e manobras básicas sejam perfeitamente padronizados e
conhecidos de todos e executados de maneira racional, de forma a propiciar eficiência,
rapidez e beleza. Um bisturi passado de forma inadequada pode ser um perigo à
integridade física do cirurgião ou da instrumentadora, e já tivemos oportunidade de
presenciar acidentes lamentáveis por falta de entrosamento ou desconhecimento de
como fazer essa manobra corretamente. Agulhas, que na melhor das hipóteses furam a
luva, pinças que, passadas de forma errada, obrigam a movimentos de correção,
adicionando segundos que no cômputo geral prolongam a intervenção cirúrgica, são
justificativas bastantes para se procurar a metodização e padronização das manobras
básicas.

Neste sentido, adotamos alguns sinais convencionais para pedir os instrumentos


de uso mais frequente, o que proporciona à equipe cirúrgica o mínimo de movimentos
inúteis e um entendimento recíproco tão grande que o ato operatório decorrerá quase em
silencio absoluto, em perfeita ordem, reduzindo o tempo de cirurgia e dando ao
conjunto o aspecto de precisão e beleza técnica.

Os instrumentos de uso menos frequente serão solicitados verbalmente pelo seu


nome, como “Mixter”, “Moynihan”, coprostase, etc., e entregues pela instrumentadora,
que seguirá a padronização estabelecida para instrumentos similares.

Vejamos, então, como se pede, recebe e entrega casa instrumento.

De maneira geral a instrumentadora tomará da mesa e entregará o instrumento


ao cirurgião usando a mão correspondente àquela com que ele o empunhará. Assim,
quando o cirurgião pede um “Kelly” com a direita, a instrumentadora usará a direita.

BISTURI - para pedir o bisturi, o cirurgião manterá os dedos da mão direita


semifletidos e juntos, fazendo dois ou três movimentos pendulares. Em seguida, rodará
a mão e a estenderá aberta com o antebraço em supinação, de modo a poder receber
diretamente o cabo do instrumento.

Ato contínuo, a instrumentadora pega o bisturi pelo cabo junto à lâmina e pelo
seu lado não cortante, descreve um arco de círculo e deposita o cabo na mão do
cirurgião. Este, que recebe com a borda cortante da lâmina para cima, descreve agora
um arco de círculo em sentido contrário, com isso aproximando a lâmina da pele.
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Usado o bisturi, a devolução é feita com os mesmos movimentos em sentido


contrário e em ordem inversa, até ser depositado pela instrumentadora na posição
inicial.

PINÇAS – pede-se a pinça com os três últimos dedos juntos e semifletidos,


enquanto que o indicador e o polegar repetem movimentos de aproximação e separação.
A pinça é apanhada pela mão direita ou esquerda da instrumentadora (dependendo da
mão com que foi solicitada pelo cirurgião), que a segura fechada pelas pontas e coloca-a
entre o indicador e o polegar do cirurgião, pronta para ser usada.

A devolução é feita da mesma maneira, segura pelas pontas fechadas e entregue


pela base à instrumentadora. A importância da pinça ser entregue fachada e segura pelas
pontas reside no fato de seus dentes poderem rasgar a luva de quem a entrega.

A pinça sem dentes é pedida da mesma maneira, complementada com instrução


verbal.

São os únicos instrumentos que ocasionalmente serão solicitados com a esquerda


pelo cirurgião e, portanto, entregues também com a esquerda, geralmente
acompanhados de um hemostático, tesoura ou outra pinça na direita, simultaneamente.
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TESOURA – com os dedos indicador e médio estendidos, fazendo movimentos


repetidos de aproximação e separação e os outros fletidos, o cirurgião solicita a tesoura.

E instrumentadora toma-a de sua mesa com a ponta virada contra a face palmar
da mão, aperta-a entre o polegar e o indicador fletidos ao máximo, com a mão em
pronação (virada para baixo) fará um movimento circular no plano horizontal,
colocando-a com certa pressão na mão aberta do cirurgião.

A devolução é feita no mesmo sentido contrário e com os movimentos em ordem


inversa.

HEMOSTÁTICO “Kelly” – o cirurgião pede o “kelly” com o anular e o


mínimo fletidos, enquanto o polegar, indicador e médio são estendidos mais ou menos
paralelos.

A instrumentadora pega o “Kelly” com a direita, com a ponta virada contra a


palma da mão (para os instrumentos curvos) e, com o mesmo movimento usado para
entregar a tesoura, entrega também o “Kelly”. Todos os instrumentos curvos tipo
hemostáticos e tesouras deverão ser tomados da mesa com suas pontas viradas para a
face palmar, porque assim cairão na mão do cirurgião com a ponta virada para baixo,
isto é, acompanhando o sentido dos dedos em flexão e, portanto sem situação correta de
serem usados.

Vez por outra o cirurgião precisará usar tais pinças com a ponta para cima. Neste
caso ele mesmo se encarregará de corrigir sua posição.

Este problema desaparece para os instrumentos retos, que serão entregues do


mesmo modo, porém sem a preocupação de posicionar suas pontas.

A instrumentadora receberá, devolução, a ponta do instrumento, colocando-o em


seu respectivo lugar, com a cremalheira fechada no primeiro dente.
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Manter sempre os instrumentos fechados no primeiro dente da cremalheira.

PINÇAS DE PREENSÃO – “Allis”, “Babcock” e similares são pedidos com os


3 últimos dedos fletidos contra a palma da mão e o polegar e indicador em meia flexão,
como se puxando um gatilho.

A instrumentadora toma o instrumento de sua mesa pela ponta, seguro entre o


polegar e indicador fletidos ao máximo, e com a mão em pronação fará um movimento
circular no plano horizontal, colocando-o com certe pressão na mão aberta do cirurgião
(mesma tomada e movimento de entrega usado para tesoura, “Kelly” e todos os
instrumentos de anéis e cremalheira).

A flexão máxima do polegar e indicador é importante para que estes dedos não
fiquem presos junto com o instrumento na mão do cirurgião.

A devolução é também feita pela ponta e em sentido contrario.

“BACKHAUS” – pede-se com a mão fechada e o polegar entre o indicador e o


médio (sinal de figa).

Para ser entregue, a instrumentadora deverá ter o máximo cuidado para que suas
pontas não lhe rasguem a luva. Assim, será tomado da mesa com a mão direita e seguro
entre os dedos médio e anular, com as pontas saindo por trás destes. O movimento de
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entrega é sempre o mesmo para todos os instrumentos de anéis: movimento circular no


plano horizontal com a mão em pronação.

PORTA-AGULHAS – pede-se com os últimos quatro dedos juntos e


semifletidos e o polegar parcialmente fletido no lado oposto, executando a mão
pequenos movimentos de rotação.

Neste momento a agulha e fio certos devem já se encontrar montados e prontos


para entrega, numa atitude de antecipação que caracteriza a boa instrumentação.

A agulha deve ser colocada bem na ponta do porta-agulhas, com sua ponta
virada para a esquerda (sentido do ponto: da direita para esquerda ) e presa ligeiramente
atrás de sua porção média.

Coloca-se o fio tomando a base do porta-agulhas com a esquerda, segurando


uma extremidade com o polegar e indicador esquerdos, e a outra com os dedos da mão
direita. Passando-o por baixo da ponta do porta-agulhas, que serve de apoio, com certa
pressão é encaixado no fundo da agulha. Ficam assim duas partes assimétricas, devendo
a menor, ter aproximadamente 5 centímetros.

Troca-se de mão, pois o porta-agulhas é entregue por sua base, sendo seguro
entre o polegar e indicador direito com a agulha virada pra cima e para a direita e o fio
caindo sobre a mão. O movimento é o mesmo, circular no plano horizontal e coma mão
em pronação.

A devolução é feita com movimentos inversos.


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“GOSSET” – pede-se este afastador com o indicador e médio de ambas as mãos


semifletidos e com os demais dedos completamente fletidos sobre a palma da mão,
fazendo um movimento de afastar, que imita os ramos do “Gosset”.

Este instrumento, que repousa na mesa do assistente, é por ele tomado por seus
ramos e colocado na incisão cirúrgica, conforme veremos adiante.

VALVA DE DOYEN – pede-se com os dedos juntos, estirados e em ângulo


reto sobre o resto da mão.

Como é instrumento de uso do assistente, este toma-lo-á diretamente de sua


mesa para uso próprio. Em raras ocasiões a instrumentadora colaborará na entrega de tal
afastador.
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“FARABEUF” – O mesmo se aplica a este instrumento. Solicitado com o dedo


indicador semifletido e os demais completamente fletidos é tomado e seguro pelo
assistente entre o indicador que circunda uma de suas extremidades, e o polegar que lhe
dá apoio por cima.

Desta maneira visa-se a afastar ao máximo a mão do assistente do campo


operatório, para que a visão e mobilidade do cirurgião sejam totais.

FIOS – Fio em carretel pede-se com a mão estendida em supinação (palma para
cima) e as pomtas dos dedos fletidas.

O carretel é colocado na palma da mão pela instrumentadora e sua ponta passada


entre os dedos para a face dorsal.

Fio solto, pré-cortado, pede-se com a mão em pronação (palma para baixo) e
dedo ligeiramente fletidos. A instrumentadora, num movimento de baixo para cima e
segurando o fio pelas extremidades, coloca-o atrás dos dedos do cirurgião, com certa
pressão para que ele o perceba.
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COMPRESSAS – pedem-se com a mão estendida em supinação e os dedos


juntos.

A instrumentadora coloca-las-á dobradas sobre a palma da mão, segurando suas


extremidades.

Às vezes haverá solicitação verbal para compressa totalmente aberta.

SERINGA – é entregue pela instrumentadora ao cirurgião, segura pela ponta


entre o indicador e o dedo médio, apoiada no polegar que tapa seu bico. Desta forma
fica livre a extremidade do êmbolo por onde o cirurgião a tomará e ao mesmo tempo a
obstrução do bico impede que o êmbolo se desloque a caia.

Esta é a sinalização e manejo dos instrumentos básicos de maior uso. Todos os


outros aqui mencionados deverão ser manejados de forma racional, com base no
exposto, de forma que seu trânsito se faça com movimentos simples, porém eficazmente
dirigidos a seus objetivos, e que a perda de tempo e manobras de correção não sejam
necessárias.
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AGULHAS E FIOS

Agulhas

As agulhas transpassam os tecidos, perpassando juntamente com elas os fios de


sutura, que permanecerão até serem retirados (fios inabsorvíveis) ou serem absorvidos
pelo próprio organismo. Podem ser de diferentes tipos:

 Retas – utilizadas para transpassar um fio, com a mão, sem o porta-


agulhas. Seu uso tem sido cada vez mais raro.

 Curvas – são as mais utilizadas, atualmente, normalmente com o auxílio


de um porta-agulhas.

 Atraumáticas, cilíndricas ou rombas - já vêm com o fio acoplado a elas de


fabrica, sendo em corpo único e com menor dano tecidual.

 Traumáticas, cortantes ou triangulares - necessitam de montar o fio na


agulha e essa junção fica volumosa, lesando mais tecido.
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Nas agulhas com fundos fixos, o fio é introduzido em seu orifício, como nas
agulhas de costura. Já nas agulhas com fundo falso o fio é introduzido no canal, sob
pressão. Atualmente, a maioria dos fios já vem agulhado de fábrica, havendo uma
preferência dos cirurgiões por este tipo de fio, que são mais práticos e traumatizam
menos os tecidos.

Fios

Os fios são utilizados para duas finalidades básicas: ligadura de vasos


sanguíneos (impedindo o sangramento), e sutura dos tecidos orgânicos (com a
finalidade de aproximar os bordos de uma incisão cirúrgica ou traumática, facilitando a
cicatrização). Os fios são divididos em duas categorias principais:

ABSORVÍVEIS – são produzidos com material que pode ser eliminado pelas
células e líquidos corporais, durante e após a cicatrização dos tecidos. Eles são de dois
tipos:

 De origem animal: produzidos a partir do intestino de boi ou de


carneiro, sendo conhecidos como:

Categut (categute) – é fabricado com fitas de tecido colágeno, extraídas da


serosa da primeira porção do intestino delgado do carneiro ou de outro animal herbívoro
sadio, tratadas por um processo físico-químico de purificação, torcidas, formando um
fio só, de espessura variável, determinada pelo número de fitas que foram torcidas
juntas. Passa por processo de secagem e depois embalado em recipiente (tubo) ou
invólucro que contenha líquido (solução alcoólica) para conservação do produto. Podem
ser classificados quanto:

Categut simples – é o que não sofre nenhum tratamento que altere seu período
de absorção, cuja perda da resistência se da por volta do 5° ou 6° dia e a absorção total
de 15 a 18 dias.
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Categut cromado – é o tipo simples (1ª porção de intestino delgado torcida ao


qual foi impregnado sal de cromo, cuja perda da resistência se da por volta do 10° dia e
a absorção total depende da quantidade do sal. Levemente cromado – totalmente
absorvido de 10 a 20 dias; Meio cromado – totalmente absorvido de 20 a 30 dias;
Fortemente cromado – totalmente absorvido de 30 a 40 dias.

A apresentação tanto o simples como o cromado podem ser sertix (montado com
agulhas na ponta) ou de “rolinho”. Quanto ao diâmetro tanto o simples quanto o
cromado a numeração vai de 0 a 7-0, que são mais fino, e de 1 a 2m que são mais
grossos.

Fitagut – é fabricado com intestino delgado (1ª porção) de animais bovinos


sadios, pelo mesmo processo de fabricação do categut. Pode ser simples ou cromado,
com agulha ou sem agulha. É usado sempre que necessite de um suporte para grande
superfície.

 De origem sintética: produzidos em laboratório, têm absorção total após


60-120 dias de operação, como por exemplo o Vicryl.

Vicryl – fabricado a partir do ácido glicólico e ácido láctico, os multifilamentos


são trançados num fio só, resistente, mantendo os tecidos coaptados durante todo o
período critico de cicatrização, sendo absorvidos dentro de 60 a 90 dias.
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Dexon – fabricado a partir de ácido poliglicólico, de absorção uniforme,


mantém-se resistente no período crítico da cicatrização.

Pode apresentar-se montado (com agulha) ou bobinado (sem agulha). As agulhas


podem ser traumáticas ou atraumáticas.

INABSORVÍVEIS – são aqueles que mesmo sofrendo ação de enzimas


orgânicas não são absorvidos, permanecem envolvidos por um tecido fibroso no interior
do organismo, mesmo sofrendo ação dos líquidos do corpo. São retirados após 7 dias
após colocação e se for interno não há rejeição. Eles são de três tipos:

 De origem natural: Seda, Algodão ou Linho;

Seda – derivado dos filamentos de seda (goma gluteínica do “casulo do bicho da


seda”), é impermeabilizado, não permite a infiltração de líquidos através de suas
malhas.

Pode ser classificado quanto a:

COR – pode ser seda branca ou preta;

APRESENTAÇÃO – pode ser montado, com agulha ou sem agulha. A agulha


poderá ser cortante (traumática) ou não cortante (atraumática);

DIÂMETRO – sua numeração vai de 1 e 2 (mais grosso) e 0 a 9-0 (mais fino).

Algodão – extraído dos filamentos ou fibras de algodão, é inabsorvível, de


origem vegetal, que oferece baixa reação tissular.

Classifica-se quanto a:

COR – pode ser branca ou preta;

APRESENTAÇÃO – montado ou não;

DIÂMETRO – vai de 0 a 5-0.


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Linho – fio inabsorvível, de origem vegetal, é extraído das fibras do caule do


linho, longos, especialmente selecionados para uso cirúrgico, sendo torcidas juntas para
se obter uma alta resistência tênsil.

Pode se classificar quanto a:

APRESENTAÇÃO – com ou sem agulhas;

DIÂMETRO – mais fino vai de 0 a 4-0 mais grosso é n°1 e n°2.

 De origem sintética: Nylon, Poliéster, Polipropileno, entre outros;

Nylon – é feito de proteínas sintéticas provenientes de derivados do carvão e


alcatrão. Pode ser:

MONOFILAMENTO – um fio só;

MULTIFILAMENTO – vários fios torcidos ou trançados;

SERTIX – com agulha curva ou reta.

Sua vantagem é a sutura forte, elástica e resistente a água.


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Prolene – é monofilamento de propipropileno, fio sintético, insensível às


enzimas dos tecidos, portanto é inabsorvível.

Classifica-se quanto a:

COR – pode ser incolor ou azul;

APRESENTAÇÃO – com agulha traumática ou atraumática;

DIÂMETRO – vai de 0 a 7-0.

 Metálicos: Prata, Bronze, Ouro, Aço inoxidável.

Aço Inoxidável - como o próprio nome indica, é fabricado com aço inoxidável, e
constitui material de sutura que produz baixa reação tissular. Ex: Aciflex é feito de aço,
sua formula é 316L, pode aparecer montado ou não.

Os fios ainda são classificados quanto a sua estrutura em:

 Monofilamento: são fios lisos, como mononylon e categute.

 Polifilamentares: fios trançados, como seda e vicryl.

Quanto à espessura dos fios cirúrgicos, há uma grande variedade com que são
encontrados; respeitando uma escala numérica para sua identificação:

... 5-0; 4-0; 3-0; 2-0; 1-0; 1; 2; 3; 4; 5...

... 5-0; 4-0; 000; 00;0; 1; 2; 3; 4; 5...

O fio número 0 (zero) é sempre a referência como fio de espessura média, os


fios com numeração acima de 0 são de espessura maior do que ele (1, 2,3, ...). Quanto
maior o número, mais grosso o fio será.

Por outro lado, os fios com numeração abaixo de zero ou com muitos zeros são
mais finos do que ele (2-0, 3-0, ou 00, 000). Assim, quanto mais zeros na numeração
mais fino é o fio.

Observe que depois de 000 não se repete mais os zeros para representar, usando-
se apenas 4-0, 5-0, 6-0, para facilitar a leitura da embalagem.
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DRENOS E SONDAS
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Drenos

São usados em cirurgia com objetivo de drenar líquidos acumulados em


cavidade, tais como: sangue, suco pancreático, plasma, exudatos diversos. A drenagem
evita o espaço morto com acúmulo de secreções e a presença de processo infeccioso.
Deve ser retirado, gradualmente, alguns centímetros de cada vez, assim que termine sua
função, ou seja, cesse a drenagem.

Os drenos mais usados são:

 Dreno flexível de Penrose;

 Cateteres de borracha e polivinil flexíveis;

 Drenos de cigarrete de vários calibres;

 Dreno de kher ou em T;

 Dreno de Suctor;
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 Dreno de Black;

 Dreno de Sheller;

 Dreno de tórax.

Sondas
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São usadas tanto em clínica médica como em clínica cirúrgica, com objetivo de:

 Esvaziar cavidades;

 Lavagens;

 Alimentação;

 Hemostasia.

Classificam-se em:

 Moles – podem ser confeccionadas de borracha vulcanizada ou material


plástico (polovinil e polietileno). Sonda vesical.

 Semi-rígidas – fabricadas com fios de seda e gomas, tem as paredes mais


firmes. São as velas gomadas. Sonda nasoenteral.

 Rígidas – são as sondas metálicas (Mandril e Condutos). Sonda


nasogástrica.

Os tipos mais usados são:

 Sonda gástrica – esvaziamento durante ou após a cirurgia;

 Sonda uretral – de polivinil;

 Sonda Fouchet – para lavagens gástrica;

 Sonda vesical de Mallecot;

 Sonda Foley de duas ou 3 vias para controle de diurese;

 Sonda Petzzer – vesical de demora;

 Sonda de aspiração;

 Cateter para oxigenação;

 Sonda endotraqueal – para entubação.


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DINÂMICA DO CONJUNTO CIRÚRGICO

Conhecidas as atribuições individuais, estamos agora em condições de integrar


as atividades dos elementos da equipe num trabalho conjunto, visando o objetividade a
realização de uma intervenção cirúrgica.

Devemos dizer que o funcionamento integrado da equipe requer muito treino,


até que cada tarefa seja executada automaticamente.

A instrumentadora deverá se adaptar à técnica do cirurgião. Conhecendo suas


preferências, deverá antecipar-se e fornecer o instrumental ou material que certamente
será utilizado na sequência do ato operatório. Enfim, deverá aplicar com lógica os
conhecimentos básicos aqui aprendidos.

Vejamos, então, como se processa a dinâmica do conjunto cirúrgico.

A instrumentadora colocar-se-a, virada de frente para o ângulo formado por sua


mesa com a mesa operatória e aguardará as ordens do cirurgião. Nesta posição, pode
quase simultaneamente com o simples rodar de cabeça e / ou do corpo, ouvir a ordem,
perceber o tempo operatório, pegar o instrumento em sua mesa e passa-lo ao cirurgião.
Deverá permanecer assim no decorrer de toda a operação, salvo nos momentos em que,
atuando como 2ºauxiliar, tiver de se aproximar mais do cirurgião.

Deverá evitar movimentos parasitas, isto é movimentos desnecessários à


realização de uma tarefa. Por exemplo, se uma pinça é passada com a mão direita, será
esta e não a esquerda a ir busca-la à mesa, enquanto que a esquerda repousa sobre seu
abdome.

Evitar movimentos parasitas.

É um erro comum a instrumentadora segurar vários instrumentos numa das mãos


enquanto com a outra os passa ao cirurgião, ou ao contrário, quando os recebe de volta,
em vez de coloca-los na mesa, acumula-os na mão esquerda para depois depositá-los.
Ora se por um imprevisto da cirurgia o cirurgião necessitar de um outro instrumento
diferente ou de simples ajuda para segurar uma pinça ou afastar as vísceras, esta
instrumentadora verse-á em dificuldades e acabará por jogar os instrumentos sobre a
mesa, desordenando-a completamente. Portanto, cada instrumento deverá ser retirado e
colocado individualmente sobre a mesa.

Como regra, cada instrumento deverá ser retirado e colocado individualmente na


mesa.

Também não é funcional, pelos mesmos motivos, permanecer com gazes ou


compressa nas mãos, a não ser que haja solicitação para enxugar o campo. Quando do
recebimento de várias pinças em série, como após cauterização do subcutâneo, poderá
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ter uma compressa na mão esquerda para limpar os instrumentos que recebe com a
direita. Após utiliza-la, jogá-la-á no hamper.

Sobre as pernas do paciente, além das gazes e compressas, não se permitem


instrumentos. Estes passarão diretamente das mãos da instrumentadora às do cirurgião e
vice versa. Contudo, situações há em que, por solicitação do cirurgião, alguns
instrumentos, como tesoura, pinça hemostático, deverão ser deixados sobre o paciente,
enquanto a instrumentadora exercendo funções de 2°assistente,estiver,impossinilitada
de recebe-los ou entrega-los.

Deve-se instruir a circulante de sala para que não coloque compressas ou gazes
sobre a mesa de instrumentação, o que atrapalha o trabalho da instrumentadora. Elas
deverão ser colocadas sobre as pernas do paciente ou na mesa do assistente, no espaço
para isso reservado.

Deve-se instruir a circulante de sala para que não coloque compressas ou gazes
sobre a mesa de instrumentação.

As compressas e gazes sobre as pernas do paciente deverão ser colocadas de


forma que as gazes (menores) fiquem mais próximas em relação ao cirurgião, depois as
compressas grandes e mais distalmente as compressas grandes(em escadinha).

Na ordem inversa, as compressas grandes poderiam funcionar como barreira e


dificultar a tomada das pequenas gazes. Por outro lada, estas também são usadas com
maior frequência; por isso, devem ser locadas mais próximas do cirurgião.

Os tempos contaminados de uma determinada intervenção cirúrgica, como


abertura ou anastomose sobre o colo, deverão ser executados com instrumentos que não
podem ser misturados com os demais. Para isso usa-se uma terceira mesa auxiliar se o
tempo em si constituir uma boa parte da operação, como o tempo perineal de uma
amputação de reto. No caso de procedimentos de pequena duração, muitas vezes
imprevistos, montar uma terceira mesa não seria funcional e o caso resolva isolando tais
instrumentos sobre uma ou duas compressas colocadas a um canto da mesa ou sobre as
pernas do paciente. Tais instrumentos deverão ser desprezados após a realização do
tempo contaminado, para que não transmitam germes aos tecidos vizinhos.

Cirurgia contaminada é aquela em que haja extravasamento de pus, fezes ou


líquidos contaminados. As preocupações apontadas visam evitar infecções cruzadas,
proteger a equipe cirúrgica, evitar a disseminação de microrganismos aos locais que não
os contenham.

Pelo mesmo motivo as luvas dos componentes da equipe também devem ser
trocadas.

As pequenas frações de minutos em que o cirurgião dispensar a ajuda da


instrumentadora, serão usadas para arrumar a mesa ou para preparar um porta- agulhas
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que será usado em tempo imediato. Por isto é que o conhecimento da sequência tática
do cirurgião em cada operação em particular é de fundamental importância para que a
instrumentadora possa se antecipar e não se tornar o fator limitante da equipe.

Exemplificaremos a atuação do conjunto com a abertura e fechamento da parede


abdominal, procedimento para nós perfeitamente padronizado e no qual podem ser
aprendidas praticamente todas as manobras básicas aplicáveis a outras situações
cirúrgicas.

Abertura da parede (incisão paramediana, pararretal interna)

Inicia-se pelo o ato operatório pelo pedido e entrega do bisturi. O cirurgião


incisa-se a pele e subcutâneo e devolve-o à instrumentadora, que o colocará em seu
respectivo lugar.

O assistente com a ajuda de quatro ou cinco gazes em cada mão, comprime a


ferida evitando a hemorragia.

As gazes enxugam apenas enquanto mantiverem uma parte seca, que detenha
poder de capilaridade. Por isso é que devem ser desprezadas após uma ou duas
“enxugadas” embora ainda apresentem regiões limpas.

O cirurgião faz um duplo pedido de pinça com a mão esquerda e “Kelly” com a
direita, sendo atendido pela instrumentadora que lhe passa os instrumentos tomados da
mesa, a pinça com a esquerda e o Kelly com a direita para as mãos homólogas(esta é
uma das poucas ocasiões em que o instrumento é tomado e passado com a esquerda),
através de discreta cruzada de braços.

O cirurgião, mediante pinça que lhe apresenta o vaso sangrante ou que everte a
borda da ferida, vai pinçando em sequência, solicitando “Kelly” após “Kelly”, enquanto
o assistente vai retirando as gazes num movimento de escorregamento progressivo, da
esquerda para a direita, descobrindo assim uma das extremidades da ferida operatória e
mantendo a parte restante comprimida para sustar a hemorragia.
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Ao enxugar o assistente ou a instrumentadora deve manter suspensa a mão que


segura a gaze suja de sangue e não apoiá-la nos campos, para que estes permaneçam
limpos, o máximo possível.

Terminado o pinçamento dos vasos sangrantes, o cirurgião pega o bisturi


elétrico, suspende cada hemostático com a ajuda da pinça e da direita para esquerda vai
cauterizando cada vazo. O assistente, com sua mão esquerda, vai soltando os
hemostáticos e passando-os à instrumentadora. Esta, com uma compressa na mão
esquerda, vai limpando cada um à medida que os recebe e deposita-os ordenadamente
sobre a mesa, em seus lugares respectivos.

Esta sequência da direita para a esquerda (do cirurgião) visa retirar primeiro os
hemostáticos do lado da instrumentadora, e sendo feito com a mão esquerda do
assistente, ele não terá de cruzar o braço sob seu campo visual, o que aconteceria se
usasse a mão direita para soltar os instrumentos e passá-los À instrumentadora.

Outras vezes o cirurgião usa, em vez do bisturi elétrico, categute 00 simples para
laquear os vasos pinçados. Neste caso faz o sinal convencional e recebe da
instrumentadora o rolinho de fio. Enquanto isso, o assistente, pelo canto do olho e com
ligeira rodada de cabeça, localiza sua tesoura reta e a toma com a mão direita, pronta a
cortar os fios. Segura os hemostáticos com a esquerda, apresenta sua ponta ao cirurgião
que amarra os vasos. Solta o “Kelly” após a ligadura, passa-o à instrumentadora e corta
o categute junto ao nó, na mesma sequência anterior.

Faz-se em seguida a proteção das bordas da ferida com os campos cirúrgicos. A


instrumentadora passa primeiro ao cirurgião, e depois ao auxiliar, um porta-agulhas
montado com agulha grande e fio forte (seda1). De cada lado, ambos prendem o campo
À borda da ferida com dois pontos e um em cada ângulo (último ponto), dados no
sentido da direita par a esquerda.

Repare que a extremidade direita da incisão para um, é a esquerda para o outro.
Portanto, o cirurgião e o auxiliar passando os pontos simultaneamente em extremidades
diferentes nãos se atrapalham mutuamente.

A instrumentadora vai cortando os fios (com a esquerda) após cada nó.

O cirurgião pede o bisturi e incisa a primeira aponevrose, expondo o músculo


reto abdominal. O auxiliar pede dois “Kochers” retos à instrumentadora e prende a
borda interna da aponevrose, apresentando-a ao cirurgião. Este, com o bisturi e uma
pinça, vai desinserindo o músculo de sua loja até expor o “peritônio cirúrgico” (segunda
aponevrose + peritônio).
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Neste tempo, enquanto o assistente fica imobilizado segurando os “Kochers” a


instrumentadora atua como 2° auxiliar. Ela permanece com um “kelly” em sua mão
direita, pronta para entrega-lo ao cirurgião enquanto com a esquerda vai secando com
gazes o sangue que porventura apareça na incisão.

Se o cirurgião usar o bisturi elétrico ela irá, ato contínuo, soltando os


hemostáticos com a esquerda e depositando-os na mesa. Se o cirurgião usar categute,
este ser-lhe-á passado de maneira convencional. A instrumentadora apresenta a ponta do
“Kelly” com a mão direita para que o cirurgião possa fazer a laqueadura, com a
esquerda corta o fio.

O assistente tem como função precípua a abertura de campo para que o cirurgião
possa atuar. Jamais deverá soltar a apresentação para tentar retirar uma pinça, enxugar
ou cortar um fio, porque nesse momento as vísceras caem sobre o campo e toda a visão
será obstruída. É nestes momentos que a instrumentadora funciona como 2° auxiliar.

A justificativa para que a instrumentadora use a esquerda, sempre que possível,


reside no fato de poder entrar facilmente com seu braço esquerdo por cima do paciente,
entre o cirurgião e o auxiliar. Se usar o braço direito, terá dificuldades, pois seu cotovelo
esbarra no corpo ou no rosto do assistente.
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Para a abertura do peritônio; o cirurgião pega um dos “Kochers” do auxiliar e


levanta o peritônio com seu lado. O auxiliar prende o peritônio com seu “Kocher”,
enquanto o cirurgião o solta e prende-o de novo ao lado do pinçamento feito pelo
auxiliar. Pede o bisturi e faz pequena incisão até adentrar a cavidade. Devolve o bisturi,
pede a tesoura (forte) enquanto o auxiliar, com o “Farabeuf” em sua mão direita,
apresenta-lhe o ângulo superior da ferida. Introduzindo a tesoura na incisão, completa-a
para cima, repetindo-se a manobra para baixo.

A parede está aberta e seus lábios afastados pela tração dos “Kochers”. O
cirurgião devolve a tesoura, pede uma pinça, e a instrumentadora, após passa-la, segura
o “Kocher” do auxiliar. Este, toma o “Gosset” em sua mesa, coloca-o na incisão. O
cirurgião ajuda com sua pinça, afastando o ligamento redondo do fígado ou alguma alça
intestinal.

São colocadas duas compressas limpas e dobradas ao meio por baixo de cada
ramo do “Gosset”, e fixas aos campos inferiores com “Backhaus”. A instrumentadora
coloca uma compressa aberta sobre as pontas iferiores das outras duas, e deverá trocá-la
sempre que vier a se sujar com sangue.

Estas compressas, por não estarem ficadas Às bordas da incisão, poderão ser
substituídas sempre que estiverem manchadas por sangue ou secreções. Eis por que
preferimos fixar os próprios campos e não compressas.

Está terminado o tempo de abertura da parede. A seguir, inicia-se a operação


proposta.

Fechamento da Parede

O cirurgião retira o “Gosset” e entrega-o ao assistente, que o coloca em sua


mesa; a instrumentadora entrega-lhe simultaneamente um pinça com dentes ma
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esquerda e dois “Kochers”, um após o outro, com os quais suspende as bordas do


peritônio.

O assistente coloca um dos anéis de cada “Kocher” nos dedos polegar e


indicador da mão direita, e com um “Farabeuf” na esquerda apresenta o ângulo inferior
(direito do cirurgião) da incisão.

A instrumentadora passa ao cirurgião porta-agulhas montado com agulha


cilíndrica meio-círculo e seda 0.

O cirurgião passa um ponto em “U” no ângulo, devolve o porta-agulhas e dá o


nó.

A instrumentadora coloca com a direita novo “Kocher”, reparando esse fio, e


com a tesoura na esquerda corta o excesso.

O assistente, que havia retirado o “Farabeuf” do ângulo da incisão, segura este


“Kocher” com a mão esquerda e assim apresenta o peritônio ao cirurgião para que este o
suture.

A cada ponto passado, o cirurgião dá o nó e a instrumentadora, com a tesoura na


esquerda e o porta-agulhas na direita pronto para entrega, vai cortando os fios após cada
nó.
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Quando o fio seguro pelo “Kocher” do assistente fica muito atrás do último nó,
dificultando a apresentação, a instrumentadora corta este fio, o assistente abre o
“Kocher” e ela retira a ponta do fio, prendendo-o com a tesoura sobre o campo. O
assistente prende o novo fio apresentando pelo cirurgião e novamente a instrumentadora
corta o excesso de fio.

Fechado assim o peritônio, o assistente coloca dois “Farabeuf” novamente no


ângulo inferior, apresentando a aponevrose ao cirurgião.

Continuando com agulha cortante e o mesmo fio, o cirurgião amarra o primeiro


nó por precisar ainda da exposição feita pelo assistente. Daí para a frente será este a dar
os nós e a cortar os fios, usando a tesoura que existe em sua mesa.

Terminada a sutura da aponevrose, com uma pinça na mão esquerda, o cirurgião


pede o bisturi. O auxiliar pega também sua pinça e ambas levantam o campo enquanto o
bisturi corta em sequência os pontos de seda que o prendem ao subcutâneo.

Será agora a vez da pele. A agulha é semi-reta cortante e o fio geralmente


lagodao ou mononylon. Continua sendo o assistente quem amarra os nós e corta os fios.

Caberá a ele também fazer o curativo.

Com o intuito de melhorar esta atividade conjunta, representaremos em


sequencia as manobras cirúrgicas de cada componente da equipe, relacionando-as
cronologicamente com as dos demais.
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VÍDEO CIRURGIA

Vídeo Laparoscopia

Histórico

A laparoscopia surgiu no inicio do século XX. Na época, revestia-se de caráter


meramente diagnostico de afecções existentes nos órgãos do interior da cavidade
abdominal.

Seu progresso foi lento e a evolução somente se tornou possível à medida que
avanços tecnológicos tornaram factíveis a concepção e equipamentos ópticos
adequados.

Intervenções cirúrgicas laparoscópicas na área de gastroenterologia somente


vieram a ocorrer na década de 80, resumindo-se a biopsias em parênquima hepático.

Em 1983, o medico alemão Kirt Semm realizou a primeira apendicectomia por


via totalmente laparoscópica.

Alem de realizar cerca de 75% dos seus procedimentos por via laparoscópica,
ensinou suas técnicas na Europa e Estados Unidos.

Modificação radical se manifestou quando houve a incorporação de sistemas de


vídeo ao equipamento, com o surgimento da cirurgia videolaparoscópica com imagens
intracavitárias captadas por microcâmeras e transmitidas para um monitor, permitindo a
visualização do ato operatório por toda a equipe cirúrgica.

A primeira colecistectomia laparoscópica foi realizada em 1987, pelo cirurgião


com vasta experiência em cirurgias ginecológicas, chamado Phillipe Monret.

No Brasil, as cirurgias laparoscópicas tomaram impulso por meio dos


procedimentos realizados por Thomas Szego, em 1990, em São Paulo; Celio Nogueira,
em Minas Gerais; Aureo L. de Paula, em Goiânia; e em 1991, Osmar Creuz, no Rio de
Janeiro. Desde então, os procedimentos laparoscópicos passaram a ser desenvolvidos e
realizados por outros cirurgiões.

Conceitos
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Não há diferença significativa entre a cirurgia convencional e a cirurgia vídeo


laparoscópica. Ambas atuam sob os mesmos princípios e com o intuito de solucionar
distúrbios que afetem os órgãos.

As diferenças básicas são as vias de acesso empregadas para a realização das


intervenções.

Na cirurgia tradicional - efetuam-se aberturas, por secção, nos tecidos


constituintes da parede abdominal, expondo-se amplamente as estruturas a serem
abordadas.

Na cirurgia vídeo laparoscópica - a via de acesso é inteiramente distintas: são


feitos orifícios diminutos na parede abdominal, por onde são introduzidos instrumentos
especiais, por meio dos quais se realiza manipulação cirúrgica das estruturas dos
diversos aparelhos.

Os órgãos são visualizados por uma câmera introduzida na cavidade por um dos
orifícios produzidos; tal equipamento óptico fornece imagem que é transmitida a um
monitor de vídeo, ao alcance visível de toda a equipe. A menor secção dos tecidos da
parede abdominal, com consequente menor agressão cirúrgica, constitui a vantagem
básica do método.

Princípios da cirurgia laparoscópica

Na cirurgia laparoscópica há uma sequência de eventos inexistentes na cirurgia


tradicional ou convencional. Após assepsia e colocação de campos cirúrgicos, executa-
se a punção do abdome e a insuflação da cavidade peritoneal com gás carbônico,
promovendo-se um pneumoperitônio, com distinção da parede abdominal. Introduz-se,
então a câmera, que transmitirá, ao sistema de vídeo, a imagem das estruturas situadas
dentro da cavidade abdominal.

São feitas perfurações na parede abdominal, através das quais se introduzem os


diversos instrumentos cirúrgicos. As estruturas anatômicas são manipuladas e tocadas
exclusivamente pelos instrumentos especiais. Não há contato manual direto com os
órgãos abordados. Concluído o tempo cirúrgico principal, os equipamentos são retirados
e o ar insulflado extravasa livremente pelos orifícios da parede abdominal. Tais
aberturas são ocluídas por síntese manual. Estará terminada a intervenção após mínima
manipulação dos tecidos do paciente.

Vantagens da Técnica

O uso de micro incisões na parede abdominal para execução oferece diversas


vantagens:
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 Menor trauma cirúrgico;

 Redução do período de internação hospitalar;

 Decréscimo do intervalo de tempo necessário a recuperação do paciente;

 Redução da incidência e da intensidade de dor no período pós-operatório;

 Decréscimo da ocorrência de complicações na cicatriz cirúrgica:


hematomas, infecções, deiscência, evisceração e hérnias incisionais;

 Obtenção de melhor resultados estéticos;

 Retorno precoce às atividades do cotidiano.

Nomenclatura

Sinônimos de Cirurgia Laparoscópica:

 Cirurgia Minimamente Invasiva;

 Cirurgia com Pequenas Incisões;

 Cirurgia Vídeo Laparoscópica;

 Cirurgia por Vídeo.

LAPAROTOMIA – é uma manobra cirúrgica que envolve uma incisão através


da parede abdominal para aceder à cavidade abdominal. A laparotomia pode ser para
fins de diagnóstico (quando a natureza da doença e desconhecida) e terapêutica (quando
a causa é identificada, Ex: câncer de cólon – e o procedimento é requerido para sua
terapia).

“Laparos” vem do grego e significa Abdômem.

LAPAROSCOPIA – maneira de olhar dentro do abdomem, através de uma


pequena incisão por onde se introduz uma lente = laparoscópico.

Evolução da Vídeo Cirurgia

Cirurgia é uma palavra composta por termos de origem grega, Cheir = mão e
Ergou = obra. O significado etimológico, portanto, é obra com as mãos.

A prática cirúrgica é tão antiga quanto à existência do homem. A cirurgia


apareceu antes do cirurgião. Os cirurgiões apareceram na Babilônia, no ano de 2.000 a.
C.
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Hipócrates definiu a cirurgia como a arte de curar com as mãos.

Os procedimentos endoscópicos obrigaram a equipe médica a utilizar cada vez


mais as mãos, atuando em campo cirúrgico tátil e visual (imagem tridimensional,
limitado, associado a uma dependência da atuação da equipe multiprofissional e do
desempenho da equipe.

Até chegarmos a esta nova maneira de operar muitos foram os que contribuíram,
acreditaram e investiram nesta tecnologia, no entanto, muitos foram os que
desacreditaram e ridicularizaram as iniciativas e tentativas de evolução.

Cirurgias Realizadas por Vídeo

Vídeo cirurgia na criança

 Laparoscopia Diagnóstica;

 Refluxo Gastresofágico;

 Colecistectomia;

 Testículos Impalpáveis;

 Varicocele;

 Toracoscopia Pediátrica (diagnostico de massa mediastinal, biopsia


pulmonar, enpiema);

 Apendicectomia.

Cirurgia Vídeo Urológica

 Laparoscopia Diagnóstica;

 Laparoscopia Terapêutica (Tratamento: renal, supra-renal, ureter, bexiga,


próstata, testículos, linfadenectomia, marsupialização de linfocele,
incontinência urinaria de esforço).

Cirurgia Ginecológica Laparoscópica

 Vídeo Laparoscopia Diagnóstico;

 Ooforectomia;

 Miomectomia;
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 Histerectomia;

 Vídeo Histerectomia;

 Histeroscopia Diagnostica;

 Histeroscopia Cirúrgica;

 Biopsia Dirigida;

 DIU e Corpos Estranhos;

 Sinequias Uterinas;

 Pólipos Endometriais;

 Ablação Endometrial;

 Miomas.

Cirurgia Torácica

As indicações são para diagnóstico e terapêutica das diferentes doenças pleurais,


pulmonares, pericárdicas e mediastinais.

Indicações diagnósticas:

 Doença Pleural - Diagnóstico Diferencial de Exsudação; Tuberculose;


Mesotelioma.

 Doença Pulmonar - Doenças Intersticiais; Nódulo Solitário de Pulmão.

 Tumores Mediastinais - Linfomas; Linfonodos Metastáticos.

 Doença Pericárdica - Biópsia; Exsudação.

 Procedimentos de Estadiamento - Neoplasia de Pulmão; Neoplasia de


Esôfago.

Indicações terapêuticas:

 Doenças Pleurais - Pleurodese; Empiemectomia; Decorticação Precoce.

 Doenças Pulmonares - Pneumotórax; Doença Bolhosa/Bulectomia;


Metastasectomia; Ressecção Pulmonares Econômicas em Pacientes de
Alto Risco.
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 Doenças Pericárdicas - Pericardiectomia; Janela Pleuropericárdica;


Doença Mediastinal; Timectomia; Ressecção de Cistos Mediastinais;
Ressecção de Tumores do Mediastino Posterior.

 Tratamento do Quilotórax - Simpatectomia; Hiperidrose; Síndrome de


Raynaud; Distrofia Simpática Reflexa.

Cirurgia do Esôfago

 Vagotomia;

 Miotomia de Cárdia;

 Procedimentos Anti-refluxo;

 Ressecção de Leiomioma.

Outras Indicações: Hérnia Diafragmática; Exploração no Trauma.

Cirurgia Colorretal Vídeo Laparoscópica

 Amputação;

 Abdominoperineal do Reto e Ressecção Anterior do Reto;

 Colostomias e Ileostomias;

 Colectomia Direta;

 Colectomia Esquerda e Sigmoidectomia.

Cirurgia Endoscópica Cerebral

Indicações: lesões intraventriculares, tumores dentro das cavidades ventriculares


são as principais indicações da neuroendoscópia.

 Hidrocefalia;

 Tumores Císticos;

 Cistos Aracnóides;

 Tumores da Base do Crânio;

 Cirurgia Vascular;
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 Endoscopia para Coluna.

Cirurgia Vídeo Artroscópica

Das patologias tratáveis pela artroscópia articular, as mais comuns são:

 Condromalacia;

 Realinhamento de Patela;

 Corpos Livres;

 Sinovectomias;

 Plícas Sinoviais;

 Meniscopatias;

 Lesões Condrais e Osteocondrais;

 Rupturas – ligamentores;

 Pinçamento anterior do tornozelo;

 Lesões do labrum do Ombro e Quadril;

 Lesões do Manguito Rotador;

 Lesões do Tendão do Bíceps;

 Instabilidade Glemoumeral.

Quanto ás articulações mais frequentemente tratadas por vídeo artroscópia,


temos:

 Joelhos;

 Ombro;

 Tornozelos.

Outras patologias tratáveis pela cirurgia endoscópica percutânea são:

 Acromioplastia;

 Ressecção do Terço Distal da Clavícula;


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 Bursite Oleocraneana;

 Patela Bicuda com Pinçamento do Ligamento Patelar;

 Seqüela de Osgood-Schatter;

 Oxostose Calcânea;

 Cotovelo de Tenista.

Cirurgia Geral

 Hernioplastia Inguinofemoral;

 Fundoplicaturas (DRGE);

 Obesidade - (Bypass jejunoileal, Bypass gástrico em Y – de – Rony;


derivação biliopancreática; gastroplástica vertical com banda;
gastroplastia vertical com banda + Bypass gástrico, banda gástrica
ajustável de silicone (Lap-Band);

 Colecistectomia Vídeo Laparoscópica;

 Apendicectomia Vídeo Laparoscópica.

Cirurgia Plástica

Indicações da cirurgia de rejuvenescimento facial endoscópico. A técnica esta


indicada sempre que houver necessidade de tratar o envelhecimento da região frontal,
rugas desta região e se não houver um excesso muito grande de pele.

Função do Instrumentador

O profissional de instrumentação atua segundo os mesmos princípios que regem


sua participação na cirurgia convencional.

É necessário que conheça ambas as bases do procedimento e os diversos


instrumentos utilizados, para que possa bem acompanhar e auxiliar o cirurgião.

Cuidados especiais destinados ao equipamento também devem ser conhecidos e


executados.

Exige-se do instrumentador cuidados especiais ao instrumental que é frágil e


caro. Tais cuidados serão tomados durantes o ato cirúrgico e após sua conclusão, para
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garantir a durabilidade e confiabilidade do material, evitando desgaste precoce e


inutilização dos instrumentos.

Equipamentos Utilizados em Vídeo Cirurgia

Torre de Vídeo Cirurgia:

 Monitor de Vídeo;

 Processador de Câmera;

 Microcâmera;

 Fontes de Luz (halógena; HTI; Xenônio, considerada a melhor fonte de


luz, durabilidade 500 a 1.000 horas);

 Cabos Ópticos;

 Telescópios ou óptica;

 Laparoflator ou Insulflador;

 Vídeo Gravador;

Instrumental Básico para Vídeo Cirurgia:

 Agulha de veress - é o primeiro instrumental a ser utilizado e serve para


conduzir o CO2 até a cavidade abdominal, possibilitando criar o
pneumoperitônio.

 Trocaters - dispositivos utilizados para fornecer acesso a cavidade,


podem ser de 5, 10, 12, 13 ou 15mm.

 Instrumentais para dissecção – espátulas, ganchos e tesouras revestidas


com material isolantes, possibilitando a sua utilização associada ao
eletrocautério (ECT). Pinças de dissecção – possuem pontas mais finas e
são utilizadas para afastar estruturas delicadas sem cortá-las, estão
disponíveis em vários calibres, comprimentos e ângulos de curvatura da
mandíbula.

 Instrumentais de preensão – estas pinças destinam-se a realizar a


preensão das estruturas a serem manipuladas. Possuem em suas pontas
estruturas denteadas e ou ranhuras, que definem o seu grau de
traumatismo e função.
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 Instrumentais de retração - como na cirurgia convencional, a técnica


laparoscópica exige a exposição adequada do local a ser operado. Para
obter esta visualização, faz-se necessário a utilização de instrumentais
específicos os afastadores.

 Instrumentais de Irrigação/Aspiração – são instrumentais que possuem


ductos e foram desenvolvidos para permitir a aspiração ou irrigação da
cavidade.

 Instrumentais de Diatermia / Endotermia - para atender a necessidade de


corte e coagulação em cirurgia laparoscópica, os instrumentos foram
revestidos com material isolante.

 Instrumentais de síntese – a principio, todas as suturas laparoscópicas


podem ser realizadas utilizando-se fio cirúrgico, porta agulha e / ou
aplicados de nós.

 Clipadores - os clipadores são considerados, mais seguros e precisos,


possuem um sistema de rotação com controle externos, podem ser
permanentes e descartáveis.

 Outros instrumentais – suturas mecânicas, clampes vasculares, pinças


para biopsia, agulha para biopsia, entre outros.

Processamento do Instrumental

A limpeza começa a ser realizada durante o procedimento cirúrgico, para evitar


o acumulo e ressecamento de sangue e fluidos, utilizando-se água destilada estéril.

Ao termino da cirurgia, o instrumental é recolhido e acondicionado em caixas


tampadas com identificação de contaminado, onde é emerso em solução, e só então será
desmontado e submetido a um processo de limpeza propriamente dito, seja de forma
manual ou automatizada.

Aconselha-se o uso de detergente enzimático onde o mecanismo de ação ocorre


pela ação das enzimas sobre a matéria orgânica, decompondo o sangue e os fluidos
corpóreos aderidos aos artigos, facilitando sua remoção e promovendo uma limpeza
adequada.

Desmontagem – para proceder a uma limpeza adequada do instrumental, este


deverá ser desmontado por profissionais treinados antes de ser submetido ao método de
limpeza escolhido. Com atenção especial a peças pequenas, evitando o seu extravio.

Limpeza manual – a limpeza manual é demorada, trabalhosa e expõe mais


intensamente os profissionais ao contato com material biológico. Para a remoção da
sujidade, deve-se utilizar escovas apropriadas e nunca produtos ou materiais abrasivos
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(lã de aço ou similares), pois estes tornam as superfícies ásperas, possibilitando o abrigo
e proliferação de microorganismos.

Limpeza automatizada – a limpeza automatizada reduz a necessidade de


escovação do instrumental, reduzindo os riscos ocupacionais pela diminuição da
exposição dos trabalhadores ao contato com vírus HIV, HBV e HCV, além de
padronizar os processos de limpeza. Entre as lavadoras automatizadas, a mais adequada
para processar a limpeza do material VLP é a lavadora Ultra – sônica.

Secagem, lubrificação e montagem do material – a utilização de panos macios e


secos auxilia na secagem externa do material, e o ar comprimido promove a secagem
dos seus lumes. A lubrificação adequada protege o instrumental quanto ao desgaste de
peças articuladas, além de facilitar a sua manipulação durante o procedimento cirúrgico.
No momento da montagem do instrumental, este deve ser submetido a rigorosa
inspeção, com o objetivo de identificar danificações e falhas de funcionamento,
possibilitando solucioná-las precocemente.

Desinfecção / Esterilização – os instrumentais utilizados em vídeo cirurgia são


considerados artigos críticos, segundo classificação de Spaulding, pois ultrapassam
áreas estéreis do corpo, devendo ser submetidos a um processo de esterilização.
Entretanto, a desinfecção de alto nível é utilizada até hoje como o tratamento mínimo a
ser aplicado a estes materiais. As soluções de glutaraldeído, formaldeído e ácido
peracético possuem propriedades quimioesterilizadoras. O processo de esterilização tem
como objetivo promover a destruição de todas as formas de vida microbianas, inclusive
as esporuladas, proporcionando segurança ao paciente, à equipe multiprofissional e à
instituição, além de causar a mínima ou nenhuma deterioração do instrumental. A
esterilização em autoclaves a vapor é o método mais prático, seguro atóxico e
econômico. O óxido de etileno é o quimioesterilizador mais conhecido. Atinge um
amplo espectro microbiano, possui boa penetrabilidade, não é corrosivo e nem danifica
objetos.

Sterrad NX – esterilizador à baixa temperatura (40 ºC a 55 ºC) baseado na


tecnologia de plasma de gás de peróxido de hidrogênio. Não utiliza água (não necessita
de canalizações); tem como residual de processo apenas água e oxigênio, sem nenhum
tipo de toxidade; não necessita de sistemas de exaustão; compatível com metais,
plásticos, borrachas, silicones, fibras ópticas, acrílicos, vidros e materiais elétricos em
geral; liberação dos materiais para uso em 28 ou 38 minutos.

Cuidados Básicos com o Equipamento de Cirurgia Vídeo Laparoscópica

 Evitar quedas e manipulações bruscas;

 Não apoiar materiais pesados sobre o instrumental;


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 Evitar raspagem das lentes do laparoscópio; manter o material óptico


separado dos demais instrumentais;

 Verificar a existência de danos nos materiais, comunicando as alterações


encontradas, para que se proceda à substituição dos componentes
defeituosos ou sua separação;

 E cuidados especiais devem ser tomados com o material de fibra óptica;

 São complexas a preparação e a utilização dos equipamentos e do


instrumental;

 É interessante que se assista ao desempenho de equipes treinadas antes de


se iniciar na instrumentação dessa variedade de atuação em cirurgia;

 Não é importante tentar fornecer o material solicitado com rapidez que


interfira na perfeição da ação;

 A experiência e o empenho suprimirão inabilidade e ansiedade iniciais;

 Equipes diversas atuam com material com certas diferenças entre si. Os
preceitos básicos serão sempre os mesmos;

 Dúvidas devem ser comunicadas ao cirurgião, que prontamente as


resolverá.

Outras Considerações

Todos os profissionais envolvidos no preparo, esterilização e armazenamento do


material de VLP devem conhecer a finalidade a que estes se destinam, saber desmontá-
los e montá-los, e até mesmo o seu custo, visto que a durabilidade destes está
diretamente relacionada com o cuidado a eles dispensados.

Lembramos que a manipulação cuidadosa destes instrumentais deve também ser


observada durante o procedimento cirúrgico, pois na maioria das vezes a sua
danificação ocorre na sala de operação.
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ÉTICA PROFISSIONAL PARA O INSTRUMENTADOR DE


CIRURGIA

“A maioria dos homens praticamente passa a vida no exercício de uma profissão.


A escolha da profissão quase sempre determinada pelas condições sociais, é um
verdadeiro nó existencial. Devido à complexidade da sociedade e à organização do
trabalho, as profissões contam-se às centenas e aumentam a cada dia que passa.
Profissão é o trabalho organizado por indivíduos em função da comunidade social. Uma
vez que o homem vive em sociedade movido pelo imperativo de que nós necessitamos
uns dos outros, a profissão é uma verdadeira necessidade social.”

“A ética profissional é uma parte da ciência moral. Mais do que limitar-se a um


feixe de normas, ela procura a humanização do trabalho organizado, isto é, procura
coloca-lo a serviço do homem, da sua promoção, da sua finalidade social. É tarefa ainda
da ética profissional detectar os fatores que, numa determinada sociedade, esvaziam a
atividade profissional tornando-a alienada. Mais do que formular determinadas normas
e cristalizá-la num código, é tarefa da ética profissional realizar uma reflexão crítica,
questionadora, que tenha, por finalidade, salvar o humano, a hipoteca social de toda
atividade profissional.

É nesse sentido que afirmou João Paulo II: “a é tica tem sempre a primazia sobre
a técnica e o homem sobre as coisas” (Discurso aos construtores da Sociedade
Pluralista, em: A palavra do Papa no Brasil. Ed. Paulinas, São Paulo, 1980, p.222). a
partir da própria noção de profissão supramencionada, penso que podemos elencar
alguns pontos relevantes da ética profissional.

(Leocir Pessini Christian de Paul de Barchifontaine) “Problemas atuais de


Bioética”

Comentários

Os seres humanos dependem uns dos outros, somos os únicos animais que
nascem tão pouco desenvolvidos e precisam de assistência durante muitos anos. Mesmo
adultos continuamos dependendo dos outros para trabalhar, ter abrigo, comida.
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Somos feitos para depender do GRUPO porque o GRUPO depende de nós. E


quanto mais contribuirmos para sobrevivência do GRUPO tanto mais somos sadios e
consequentemente mais valiosos para o Grupo.

A instrumentação cirúrgica é essencialmente uma profissão de EQUIPE (grupo).

A necessidade que todos nós temos de sermos aceitos e aprovados faz com que
muitas e muitas vezes cometamos a insensatez de esconder os nossos erros. O resultado
é aquela preocupação angustiada que não nos abandona; será que alguém viu, ou está
vendo, ou vai ver? Perdemos a tranquilidade e ficamos como a pessoa que cometeu um
assassinato e escondeu o cadáver no porão. Mas a coisa cheira mal, e “será que alguém
está percebendo”?

Não é que errar atrai um castigo. Errar já é o castigo, mas como temos medo ou
vergonha de confessar nossos erros.

Será que vão nos perdoar? Muito provável que sim. O escritor libanês Gibran
Kalil Gibran, com muita sabedoria diz que “se nós contarmos uns aos outros os nossos
maiores erros, acabaremos rindo juntos, pela falta de originalidade”.

E então, porque esconder? Erro contado e perdoado é libertação na certa. Para


que manter o cadáver no porão? Melhor enterrá-lo no cemitério.

Considerações Gerais

Os artigos 1523 e 1525 do Código civil recordam o principio geral de que cada
um é responsável pelos danos que cause por sua culpa, negligencia ou imprudência e de
que a responsabilidade civil é independente da criminal, podendo, pois, haver
responsabilidade concomitante, civil e criminal devendo o responsável responder pelas
duas, além da responsabilidade ético-profissional.

Todas as pessoas, no exercício ou não de uma profissão, respondem pelos danos


que causou ou possam causar a outra pessoa.

Existe um grande movimento mundial relacionado com o estudo, o ensino e a


aplicação da Ética para reforçar os valores no exercício das diversas profissões.

Em Instrumentação Cirúrgica, nosso “Código de Ética” data de 26/09/86 quando


foi aprovado pela ANIC- AASOCIAÇÃO NACIONAL DE INSTRUMENTADORES
CIRÚRGICOS em Assembléia Geral Ordinária.

O estudante e o profissional de Instrumentação Cirúrgica devem se preparar para


enfrentar situações que exigem postura ética quanto a:

1 - Avanços tecnológicos e científicos, tais como: transplantes, reprodução


assistida e outros.
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2 - Inter-relação:

 Paciente

 Familiares do paciente

 Equipe do Centro Cirúrgico

 Equipe Médico-cirúrgica

 Associação de classe

A instrumentação cirúrgica á uma profissão, com funções específicas próprias,


portanto, com responsabilidades éticas, morais e legais em suas atuações profissionais.

Todos os profissionais que se dedicam a ajudar o próximo tem códigos de


comportamentos e ética e o instrumentador cirúrgico não constitui exceção.

Código de Ética da Associação Nacional Dos Instrumentadores Cirúrgicos

Considerando que o instrumentador Cirúrgico, desempenha papel da maior


relevância junto á equipe cirúrgica no ato operatório;

Considerando que a formação da consciência profissional é fator imprescindível


na formação do instrumentador Cirúrgico;

Considerando que um Código de Ética fundamentado em princípios do direito


natural, constitui-se em instrumento de grande valia na orientação da atividade
profissional do instrumentador cirúrgico;

A ANIC-Associação Nacional de Instrumentadores Cirúrgicos, resolveu aprovar


o seguinte Código:

Art.1° - O instrumentador Cirúrgico defenderá com todas as suas forças e em


todas as circunstâncias o direito fundamental da vida humana.

Art.2° - O instrumentador Cirúrgico dedicará atenção especial ao doente,


prescindindo de raça, nacionalidade e religião.

Art.3° - O instrumentador Cirúrgico procurará familiarizar-se com os vários


aspectos organizacionais e administrativos do hospital e com a dinâmica do bloco
operatório, objetivando uma integração adequada no seu ambiente de trabalho.

Art.4° - O instrumentador Cirúrgico ciente de que o desempenho de sua função


requer formação aprimorada, procurará ampliar e atualizar seus conhecimentos técnicos,
científicos e culturais em benefício do paciente cirúrgico e do desenvolvimento da
própria profissão.
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Art.5° - O instrumentador Cirúrgico, executará com rigor e presteza, as


orientações do cirurgião, com vistas ao pleno sucesso do ato Cirúrgico.

Art.6° - O instrumentador Cirúrgico, evitará abandonar o paciente em meio ao


ato operatório sem causa justa e sem garantia de solução de continuidade de sua
atividade.

Art.7° - O instrumentador Cirúrgico, negará sua participação em pesquisas que


violem os direitos inalienáveis da pessoa humana.

Art.8° - O instrumentador Cirúrgico, procurará manter relações cordiais, espirito


de colaboração e integração com todos os membros da equipe cirúrgica.

Art.9° - O instrumentador Cirúrgico, guardará segredo sobre os fatos que tenha


conhecido no exercício de sua profissão.

Art.10° - O instrumentador Cirúrgico, fará valer seu direito à remuneração


compatível com o trabalho realizado e com a dignidade da profissão.

Art. 11 – o Instrumentador Cirúrgico, colocará seus serviços profissionais à


disposição da comunidade em casos de urgência independente de qualquer proveito
pessoal.

Na instituição Hospitalar, uma das equipes mais importantes é a EQUIOE


CIRÚRGICA, da qual participa como elemento imprescindível, o Instrumentador
Cirúrgico. Este funcionário ou não do hospital, deve imbuir-se dos ideais do mesmo,
absorver suas políticas organizacionais, aceitar sua normas administrativas, executar sua
rotinas e contribuir como instrumento consciente na obtenção dos objetivos de saúde do
mesmo.

“O instrumentador é o elemento de maior mobilidade no campo cirúrgico, pois


mantém contato com as enfermeiras de sala, solicitando antecipadamente todo o
material necessário para a cirurgia; cuida da mesa do instrumental e participa
ativamente do ato cirúrgico, suprindo as funções do assistente nos momentos em que se
encontra imobilizado afastando os tecidos” (Dr. Fábio S. Goffi).

Em princípio, o cirurgião necessita confiar em seu (ua) instrumentador (a) que


deverá denunciar imediatamente, com a mais absoluta honestidade qualquer
transgressão à assepsia e todo erro que haja cometido ou presenciado por parte dos
circunstantes.

As intervenções cirúrgicas por mais complexas que sejam constituem o


somatório dos movimentos simples e repetidos, característicos das operações
fundamentais. Por isso, é possível estabelecer nas intervenções de rotina a sequência
destes gestos com o conhecimento e participação da equipe.
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A sequência dos movimentos nas cirurgias de rotina é perfeitamente conhecida,


podendo ser adotados sinais especiais para solicitação dos instrumentos. A sinalização
cirúrgica elimina a troca de palavras durante o ato operatório, evitando a contaminação
e garante maior presteza na tarefa do instrumentador. As palavras de cortesia ou
agradecimento são dispensáveis dada a disciplina que deve comandar a intervenção
cirúrgica.

O ato cirúrgico só atingirá a perfeição quando chegar ao término da maneira


como se iniciou, com a limpeza, ordem e disciplina mantidas pelos elementos da
equipe, empenhados conjuntamente em executar esta complexa e nobre tarefa. Vejamos
então quais são as principais atribuições d tarefa:

1 – conhecer todos os instrumentos por seus nomes e também a finalidade de


cada um;

2 – montar corretamente, sempre na mesma ordem, as mesas cirúrgicas e


auxiliares, bem como ter preparados agulhas e fios adequados a cada tempo cirúrgico;

3 – ser responsável pela assepsia, limpeza e acomodação ordenada e metódica


dos instrumentos e materiais cirúrgicos, desde o início ao fim da cirurgia;

4 – entregar prontamente o instrumento ou material cirúrgico, ao sinal ou pedido


verbal do cirurgião, colocando-o em sua mão de forma precisa e exata para uso
imediato, sem que ele tenha necessidade de reacomodá-lo entes do uso;

5 – fazer todos os pedidos às circulantes da sala (fios, gazes, compressas, drenos,


etc...);

6 – sincronizar tempos e ações manuais com o cirurgião e assistente, segundo a


técnica da equipe;

7 – ser pontual – procurar chegar antes ao Centro Cirúrgico para assegurar-se de


que tudo está em ordem desde os fios e agulhas, instrumentos e materiais especiais a
serem utilizados naquela cirurgia;

8 – ser dedicada, respeitar e acatar ordens do cirurgião e auxiliar, por serem eles
os responsáveis pela intervenção;

9 – jamais distrair-se durante a intervenção. Com toda atenção e presteza


procurando entender o que se passa, prevendo todas as manobras do cirurgião e de seu
auxiliar, sua mente estará sempre à frente da mão;

Na execução dos tempos padronizados, em que a sucessão de atos operatórios é


invariável, entregará os instrumentos dispensando seu pedido pelo cirurgião;

10 – manter silêncio, conversando apenas em casos de necessidade, como por


exemplo: solicitar fios, gazes, compressas, etc... ou quando interpelado;
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11 – intervir eventualmente no campo operatório como 2° auxiliar, quando


solicitada pelo cirurgião;

Como qualquer dos outros elementos da equipe, o instrumentador deverá reger-


se por normas de conduta pertinentes à sua posição.

REFERÊNCIAS

 PARRA, O.M. SAAD, W.A. FARIA, P. B. N.; Instrumentação Cirúrgica;


Edição – Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde,
Apoio Editorial – Medicus Mundi Holanda; São Paulo; 1993.

 PARRA, O.M. SAAD, W.A; Instrumentação Cirúrgica – Guia de


Instrumentação Cirúrgica e de Auxílio Técnico ao Cirurgião; Editora Atheneu,
3ª Edição; São Paulo; 2005.

 ROSA, M. T. L; Manual de Instrumentação Cirúrgica; Editora Rideel; 3ª


Edição; São Paulo; 2009.

 SERTORI, A.W.T. TONELLI, S.R; Centro Cirúrgico: aspectos gerais – Guia


para a prática da Instrumentação Cirúrgica; Editora Andreoli, 1ª Edição; São
Paulo; 2011.

 CRUZ VERMELHA BRASILEIRA – CENTRO DE FORMAÇÃO ANA NÉRI;


Curso de Instrumentação Cirúrgica.

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