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PROTOCOLO
DE
CETOACIDOSE
DIABÉTICA
(CAD)
EM
CRIANÇAS
Desiree
Cilião
Crippa
Calil
Roberta
Belletti
Speretta
1) INTRODUÇÃO
v A
cetoacidose
diabética
(CAD)
é
a
descompensação
aguda
mais
grave
em
crianças
e
adolescentes
diabéticos,
podendo
ser
responsável
por
50%
das
mortes
destes
pacientes
nessa
faixa
etária
v As
complicações,
como
edema
cerebral,
acidose
e
distúrbios
hidroeletrolíticos
graves,
constituem
a
principal
causa
de
morte
v Representa
a
forma
inicial
de
manifestação
da
doença
(primodescompensação
diabética)
em
25
a
40%
das
crianças
e
adolescentes
diabéticos
2) DEFINIÇÃO
v Conjunto
de
alterações
clínico-‐laboratoriais
decorrentes
da
ação
insuficiente
do
hormônio
da
insulina
e
do
aumento
da
produção
de
hormônios
contrarreguladores
da
insulina
em
resposta
a
alguma
situação
de
estresse
v Caracterizada
por
hiperglicemia,
cetose,
academia
e
graus
variados
de
desidratação,
com
ou
sem
coma
3) FISIOPATOLOGIA
v Deficiência
relativa
da
insulina
(pacientes
com
DM2)
ou
absoluta
(pacientes
com
DM1)
que
impede
a
captação
adequada
de
glicose
pelos
tecidos,
ativando
os
hormônios
contrarreguladores
(glucagon,
catecolaminas,
cortisol
e
hormônio
do
crescimento)
v Estado
de
catabolismo
celular
à
alteração
do
metabolismo
de
carboidratos,
lipídeos
e
proteínas
à
aumento
de
glicose
pela
via
hepática
(glicogenólise
e
neoglicogênese)
e
de
lipólise
§ A
lipólise
gera
ácidos
graxos
livres
que,
na
ausência
de
insulina,
são
direcionados
para
a
cetogênese,
produzindo
corpos
cetônicos
(acetoacetato
e
β-‐hidroxibutirato)
que
se
dissociam
no
pH
fisiológico
e
originam
a
acidose
metabólica
§ A
cetona
também
é
produzida,
mas
não
se
dissocia
em
pH
fisiológico
e
gera
apenas
hálito
cetônico
(cetonemia)
–
contribui
para
aumento
de
vômitos
v Diminuição
da
captação
periférica
de
glicose
e
aumento
da
resistência
à
insulina
§ Hiperglicemia
+
cetonemia
geram
cetonúria,
glicosúria
e
diurese
osmótica
com
espoliação
corporal
de
água,
Na,
K,
fosfato
e
magnésio
-‐
hipovolemia
e
desidratação
o Pela
desidratação,
existe
redução
da
perfusão
periférica
e
aumento
do
ácido
láctico
(agrava
ainda
mais
a
acidose
metabólica)
v Ativação
do
sistema
renina-‐angiotensina-‐aldosterona
que
exacerba
a
excreção
renal
de
potássio
(hipocalemia)
v Redução
da
filtração
glomerular
da
glicose
e
aumento
da
osmolaridade
plasmática
v Produção
dos
osmóis
idiogênicos
(células
do
SNC)
que
podem
culminar
na
principal
complicação
da
CAD
que
é
o
edema
cerebral
FISIOPATOLOGIA
DA
CAD
4) ETIOLOGIA
v Infecções
(virais
ou
bacterianas)
v Falta
de
aderência
ao
tratamento
v Estresse
emocional
v Idiopática
(25%)
v Abuso
de
álcool
(adolescentes)
5) DIAGNÓSTICO
v Manifestações
clínicas
§ DM
o Poliúria
e
polidpsia
(glicosúria)
o Polifagia
e
perda
de
peso
(perda
excessiva
de
glicose
e
inabilidade
de
utilizá-‐la
como
substrato
energético)
§ CAD
o Dor
abdominal,
fadiga,
náuseas,
vômitos,
taquipneia,
alteração
do
padrão
respiratório,
hálito
cetônico
e
alteração
do
nível
de
consciência
(cetonemia
e
acidose
metabólica)
o Desidratação
(glicosúria)
v Achados
no
exame
físico
§ Hálito
cetônico,
rubor
facial,
desidratação
(pele
e
mucosa
secas,
turgor
cutâneo
diminuído,
taquicardia,
perfusão
diminuída),
hipotensão,
hiperventilação
(respiração
de
Kussmaul),
fraqueza
muscular,
hipertermia
(infecção
viral
e
bacteriana)
e
dor
abdominal
(que
pode
ser
tão
intensa
a
ponto
de
simular
uma
pancreatite
e
abdome
agudo
cirúrgico
como
apendicite)
§ Nos
casos
mais
graves,
além
dos
sinais
e
sintomas
descritos,
deve-‐se
salientar
as
alterações
do
SNC:
sonolência,
rebaixamento
do
nível
de
consciência
e
coma
v Exames
laboratoriais:
§ Critérios
laboratoriais
para
o
diagnóstico:
o Hiperglicemia
(glicemia
>
200mg/dl)
o Acidose
metabólica
(pH
<
7,3
com
bicarbonato
sérico
<
15
mEq/L)
o Cetonemia
(cetonas
séricas
>
3mmol/L)
ou
Cetonúria
(cetonas
urinárias
>
80
mg/dl)
6) CLASSIFICAÇÃO
10) DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL
v Acidose
láctica
(como
por
erro
inato
do
metabolismo,
em
que
o
nível
plasmático
de
lactato,
geralmente
é
superior
a
7mM/L)
v Intoxicação
por
salicilato
e
teofilina
v Coma
hiperosmolar
v Outras
causas
de
acidose
(como
acidose
tubular
renal)
11) TRATAMENTO
v Objetivos
§ Manter
vias
aéreas
pérvias
em
caso
de
alteração
do
nível
de
consciência
§ Correção
da
desidratação
§ Correção
dos
distúrbios
hidroeletrolíticos
e
ácido-‐básicos
§ Redução
da
hiperglicemia
e
da
osmolaridade
§ Identificação
e
tratamento
do
fator
precipitante:
estresse
(infecção
ou
outras
causas),
uso
inadequado
de
insulina,
uso
de
medicações
(corticoide)
§ Monitoramento
das
complicações
da
CAD
e
do
tratamento
v Etapas
§ 1ª
Fluidoterapia
§ 2ª
Insulinoterapia
§ 3ª
Terapia
eletrolítica
§ 4ª
Tratamento
das
causas
precipitantes
§ 5ª
Tratamento
das
complicações
v Avaliação
inicial/admissão:
§ Estimativa
do
grau
de
desidratação
§ Aferição
do
peso
§ Avaliação
neurológica
(ECG)
§ 2
acessos
periféricos:
um
para
hidratação
e
outro
para
administração
de
insulina
§ Monitorização
contínua
com
oximetria
de
pulso
nas
primeiras
12h
§ Monitoramento
cardíaco
e
da
pressão
arterial
nas
primeiras
48h
§ Coleta
de
exames
§ Jejum
SC
=
via
subcutânea;
SG
=
soro
glicosado;
Bic
=
bicarbonato
sérico
11.3)
Terapia
Eletrolítica
Potássio
(K+)
v dosar
no
início
da
insulinoterapia
ou
imediatamente
se
houver
sinais
de
hipocalemia
(cãibra,
contrações
involuntárias,
paralisia,
fraqueza
muscular,
alterações
no
ritmo
cardíaco)
v Manter
K+
sérico
entre
4
e
5mEq/L
v Velocidade
máxima
de
reposição
de
Potássio
=
0,5
mEq/Kg/h
§ >
5,5mEq/L:
não
necessita
de
reposição,
realizar
ECG
§ 3,5-‐5,5
mEqL:
repor
20-‐30
mEq/L
§ ≤
3,5
mEq/L:
repor
40
–
60
mEq/L,
realizar
ECG
§ <
2,5:
repor
K
0,5
mEq/kg/hora
por
até
6
horas
(respeitar
infusão
na
concentracão
de
até
40-‐60mEq/L
em
acesso
periférico
e
100-‐120
mEq/L
em
acesso
central)
Sódio
(Na+)
v ver
fluxograma
de
reposição
volêmica
na
CAD
v Considerar
hipernatremia
moderada
(Na
150-‐160
mEq/L)
como
medida
protetora
Bicarbonato
v Utilização
controversa
e
indicação
restrita
de
sódio
v Indicações:
pH
<6,9
e
bicarbonato
<
5mEq/L
após
a
primeira
(HCO3 )
-‐ hora
de
hidratação,
com
repercussão
clínica
v Cálculo:
1-‐2
mEq/Kg
em
1-‐2
horas
v Solução
de
Bicarbonato
de
Sódio
a
8,4%
tem
1mEq/mL
e
osmolalidade
de
2000
mOsm,
portanto,
o
volume
a
ser
infundido
deve
ser
diluído
na
proporção
1:2
ou
1:3
(AD
ou
SG5%)
v Efeitos
colaterais:
hipocalemia,
hiperosmolaridade,
acidose
intracellular,
acidose
paradoxal
no
SNC,
desvio
da
curva
de
dissociação
da
Hb
para
a
esquerda
(diminuição
da
oferta
de
O2
para
os
tecidos),
redução
mais
lenta
da
cetonemia,
hipernatremia
e
hipocalemia
Cálculo:
Bicarbonato
(ml)
=
(15
–
Bic
encontrado)
x
0,3
x
Peso
(kg)
Cálcio
v Considerar
correção
se
hipocalcemia
(Ca
<
8)
Fósforo
v Indicação
:
disfunção
cardíaca,
depressão
respiratória
e/ou
fosfato
sérico
<
1,0
mg/dL
v Repor
em
fosfato
diácido
de
potássio
(KH2PO4
-‐
1mL
=
2mEq
de
K+
e
PO4-‐)
v Administrar
1/3
do
Potássio
na
forma
de
KH2PO4
(fosfato
de
potássio)
v Complicações:
hiperfosfatemia,
hipocalcemia
e
hipomagnesemia
11.4)
Tratamento
das
Causas
Precipitantes
v Iniciar
antibioticoterapia
conforme
evidência
de
infecção,
sendo
mais
comum
ITU
e
pneumonia
12) COMPLICAÇÕES
v Hipoglicemia:
reduzir
a
infusão
de
insulina
e/ou
aumentar
a
infusão
de
glicose
v Arritmias
cardíacas
(devido
DHE
–
hipo
ou
hiperK,
hipoCa,
hipoMg)
v Aspiração
de
vômito
v SARA
v Tromboembolismo
(associação
com
cateter
venoso
central):
Anticoagulação
profilática
em
adolescentes,
e
em
crianças
com
acesso
venoso
central,
imobilizadas
por
mais
de
24
a
48h
v Rabdomiólise
não-‐traumática
v Hipopotassemia
v Acidose
hiperclorêmica
(por
perda
urinária
de
ânions
cetoácidos
e
administração
excessiva
de
fluidos
ricos
em
cloreto)
v ICC
por
sobrecarga
hídrica
v Edema
pulmonar
(baixa
pressão
oncótica,
aumento
da
permeabilidade
capilar,
edema
pulmonar
neurogênico)
§ tratamento:
O2,
diuréticos
e
suporte
ventilatório
v Edema
cerebral
§ Mais
comum
nas
primeiras
12h
do
iníco
do
tratamento
§ Fatores
de
risco
o Primodescompensação
o <
5
anos
o Duração
prolongada
dos
sintomas
o Hipocapnia
menor
que
PaCO2
esperada
(corrigida
para
acidose
metabólica)
o Acidoses
graves
no
início
do
quadro
o Correção
com
bicarbonato
o Administração
de
grandes
volumes
nas
primeiras
4h
ou
>
4.000ml/m2/dia
o Hiperosmolaridade
plasmática
à
admissão
(>
375mOsm/kg)
–
elevação
da
uréia
o Aumento
do
sódio
desproporcional
à
queda
da
glicemia
o Queda
rápida
da
osmolaridade
plasmática
para
valores
<
272
mOsm/kg
durante
a
terapêutica
(hiper-‐hidratação
e
insulinoterapia
excessiva)
o Hiperglicemia
acentuada
(>
800
mg/dl)
à
admissão
o Hipernatremia
relativa
(Na
corrigido
>
145
mEq/L)
à
admissão
o Hiponatremia
relativa
(Na
corrigido
<
130
mEq/L)
o Hipoperfusão
cerebral
e
liberação
das
interleucinas
inflamatórias
o Insulina
administrada
na
primeira
hora
(principalmente
se
em
bolus)
§ Diagnóstico
o Presença
de
2
critérios
maiores
ou
o Presença
de
1
critério
maior
e
2
critérios
menores
ou
ainda
o Presençade
um
dos
seguintes
critérios:
resposta
motora
ou
verbal
anormal
à
dor,
postura
de
decorticação
e/ou
descerebração,
padrão
respiratório
neurológico,
paralisia
de
pares
de
nervos
faciais
(III,
IV
e
VI
principalmente)
Critérios
maiores
Critérios
menores
Alteração
mental
ou
flutuação
Vômito
do
nível
de
consciência
Incontinência
inapropriada
Cefaleia
para
a
idade
Queda
maior
que
20%
na
FC
Letargia
ou
hiporresponsividade
(não
atribuída
a
restauração
Idade
<
5
anos
volêmica)
PAD
>
90
mmHg
§ Tratamento
o Jejum
e
sonda
nasogástrica
(evitar
broncoaspiração)
o Diminuir
a
infusão
de
fluidos
para
1/3
do
volume
total
calculado;
o Elevar
a
cabeceira
a
300
o Fazer
uso
de
terapia
hiperosmolar
• Manitol:
0,5
a
1g/kg
(IV)
em
10
a
15min
–
repetir
se
não
houver
melhora
em
30
minutos
a
2
horas
• Salina
hipertônica
a
3%:
2,5
a
5ml/kg
(IV)
por
30min
–
se
não
houver
resposta
ao
manitol
o Não
há
benefícios
no
uso
de
diuréticos
ou
corticosteróides
o Após
estabilidade
clínica,
deve
ser
realizada
tomografia
de
crânio
a
fim
de
excluir
casos
neurocirúrgicos
ou
trombose
cerebrovascular
(com
necessidade
de
anticoagulação)