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O tipo histológico mais comum é o carcinoma de células


escamosas, representando cerca de 85 a 90% dos casos,
seguido pelo tipo adenocarcinoma. O principal fator de risco
para o desenvolvimento de lesões intraepiteliais de alto grau
(lesões precursoras do câncer de colo do útero) e do câncer de
colo do útero é a infecção pelo papilomavírus humano (HPV).
Infecções persistentes por HPV podem levar a transformações
intraepiteliais progressivas, que podem evoluir para lesões
intraepiteliais precursoras do câncer de colo do útero, as quais,
se não diagnosticadas e tratadas oportunamente, evoluem para
o câncer de colo do útero. A infecção por HPV é a Infecção
Sexualmente Transmissível (IST) mais comum em todo o
mundo e a maioria das pessoas sexualmente ativas, homens e
mulheres, terá contato com o vírus durante algum momento da
vida. Entretanto, mais de 90% dessas novas infecções por HPV
regridem espontaneamente em seis a 18 meses. Existem hoje 13
tipos de HPV reconhecidos como oncogênicos pela IARC
(International Agency for Research on Cancer). Desses, os mais
comuns são o HPV 16 e o HPV 18.

Contudo, a infecção pelo HPV, por si só, não representa uma


causa suficiente para o surgimento dessa neoplasia, sendo
necessária a persistência da infecção. A associação com outros
fatores de risco, como o tabagismo e a imunossupressão (pelo
vírus da imunodeficiência humana – HIV ou outras causas),
influencia no surgimento desse câncer. A vacina contra o HPV é
um dos instrumentos para o combate ao câncer de colo do
útero. Vale ressaltar que, mesmo as mulheres vacinadas,

DOENÇAS DO COLO UTERINO quando alcançarem a idade preconizada, deverão realizar a


colpocitologia, pois a vacina não protege contra todos os
O câncer de colo do útero é considerado um importante subtipos oncogênicos do HPV.
problema de saúde pública. Sua taxa de incidência vem
diminuindo, ao longo das últimas três décadas, na maioria dos Este capítulo se propõe a resumir os aspectos mais importantes
países em processo de transição socioeconômica. Tal fato sobre as lesões precursoras e o câncer de colo uterino. Vamos
reflete, principalmente, as implementações de programas de com tudo!
prevenção.

Pontos Principais
Sua incidência é maior em países menos desenvolvidos, quando
comparada aos países mais desenvolvidos. Em geral, o câncer ● Saber interpretar o estudo citológico.
cervical começa a partir dos 30 anos, aumentando seu risco ● Conhecer as condutas após os achados citológicos.
rapidamente até atingir o pico etário entre 50 e 60 anos.
● Saber os fatores de risco para o câncer de colo uterino.
● Saber o novo estadiamento do câncer de colo uterino.

● Conhecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem das


malignidades cervicais.

● Conhecer as divergências sobre o assunto. Sempre que existir algo


controverso na literatura, você encontrará um símbolo para que você
fique de vivo! Todas as divergências serão listadas ao final do
capítulo.

LESÕES INTRAEPITELIAIS E CÂNCER DE COLO


UTERINO

HISTOLOGIA E FISIOLOGIA DO COLO UTERINO


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O colo uterino (Figuras 1 e 2) tem a forma cilíndrica e apresenta uma parte
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
interna, que constitui o chamado canal cervical ou endocérvice, e uma parte
externa, que mantém contato com a vagina e é identificada como A Tabela 1 detalha importantes conceitos para melhor compreensão das
ectocérvice. A endocérvice é revestida por uma camada única de células lesões cervicais.
cilíndricas produtoras de muco, chamada de epitélio colunar simples.

TAB. 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE O COLO UTERINO.

Epitélio colunar (cilíndrico) simples: é o epitélio


característico da região endocervical, constituído por uma única
camada de células responsáveis pela secreção do muco
cervical (epitélio cilíndrico simples ou epitélio glandular).

Epitélio escamoso estratificado não queratinizado: é o


epitélio característico da região da ectocérvice, formado por
várias camadas de células, o que confere maior proteção à
região. Esse epitélio também reveste os fundos de saco e a
vagina em toda sua extensão.

JEC (Junção Escamocolunar): consiste no ponto de encontro


entre o epitélio colunar simples com o epitélio escamoso
FIG. 1
estrati cado não queratinizado. O estudo da topogra a do colo
uterino identi ca duas zonas: a ectocérvice e a endocérvice.

A JEC é um ponto dinâmico, de localização variável, que se


modi ca em resposta à faixa etária, gravidez, paridade,
menopausa, traumatismos, infecções e estimulação hormonal
(anticoncepção hormonal). Quando a JEC se localiza no orifício
externo tem-se o colo uterino padrão.

Metaplasia escamosa do colo uterino: indica a substituição


siológica do epitélio colunar evertido na ectocérvice por um
epitélio escamoso recém-formado através das células
subcolunares de reserva.
FIG. 2 DIAGRAMA DO COLO E DA ENDOCÉRVICE.
Como a metaplasia escamosa é um processo siológico e
comum em mulheres na menacme, a sua presença em um
esfregaço de colpocitologia ou no laudo de biópsia do colo
Já a ectocérvice é revestida por um tecido de várias camadas de células uterino não indica nenhum tipo de tratamento ou de cuidado
planas, chamado de epitélio escamoso e estratificado. especial.

A metaplasia escamosa é um processo irreversível. O epitélio


Entre esses dois epitélios, encontra-se a Junção Escamocolunar (JEC), transformado, agora de natureza escamosa, não pode ser
que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na endocérvice, revertido à epitélio colunar. Vale ainda complementar que a
dependendo da situação hormonal da mulher. metaplasia escamosa pode progredir em uma velocidade
diferente nas diversas áreas do colo uterino, sendo que é
Na infância e no período pós-menopausa, geralmente a JEC situa-se possível visualizar muitas áreas de graus bem diferentes de
dentro do canal cervical. maturidade no epitélio escamoso metaplásico, com ou sem
ilhotas de epitélio colunar. O epitélio metaplásico imaturo
recém-formado pode se desenvolver em duas direções. Na
No período da menacme, fase reprodutiva da mulher, geralmente a JEC
grande maioria das mulheres, este se converte em um epitélio
situa-se na altura do orifício externo ou para fora desse e recebe o
escamoso metaplásico maduro, semelhante ao epitélio
nome de ectopia ou eversão. Nessa situação, o epitélio colunar fica em
escamoso original normal, o qual contém glicogênio. Em uma
contato com um ambiente vaginal ácido, hostil a essas células. Assim, minoria, o mesmo pode se transformar em um epitélio atípico
células subcilíndricas bipotenciais, de reserva, se transformam por meio de pela in uência dos agentes carcinogênicos, principalmente o
metaplasia em células mais adaptadas (escamosas), dando origem a um HPV.
novo epitélio situado entre os epitélios originais, chamado de terceira
mucosa ou zona de transformação. Nessa região pode ocorrer
obstrução dos ductos excretores das glândulas endocervicais subjacentes,
dando origem a estruturas císticas sem significado patológico, chamadas de
cistos de Naboth.
Zona de Transformação (ZT): é a região do colo uterino onde
a metaplasia escamosa ocorre. Na maioria das vezes, a infecção cervical pelo HPV é transitória e regride
espontaneamente, entre seis meses a dois anos após a exposição.
A identi cação da zona de transformação é de grande
importância na colposcopia, pois quase todas as manifestações
No pequeno número de casos nos quais a infecção persiste e, especialmente,
da carcinogênese cervical ocorrem nessa zona. Portanto, é na
é causada por um tipo viral oncogênico, pode ocorrer o desenvolvimento de
zona de transformação que se localizam mais de 90% das
lesões precursoras, cuja identificação e tratamento adequado possibilita a
lesões precursoras ou malignas do colo do útero.
prevenção da progressão para o carcinoma cervical invasivo.
Assim, ela corresponde à área do colo uterino unida pela
junção escamocolunar original na extremidade distal e, na Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV (tipo e
extremidade proximal, pela maior distância de alcance da carga viral, infecção única ou múltipla), outros fatores ligados à
metaplasia escamosa de nida pela nova junção imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem
escamocolunar. Em outras palavras, ela consiste na região
influenciar os mecanismos ainda incertos que determinam a regressão ou a
entre a JEC primitiva (original) e a nova JEC (JEC
persistência da infecção e a progressão para lesões precursoras ou câncer. A
siologicamente ativa).
idade também interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções

Ectopia ou ectrópio: a JEC ativa deslocada para fora do por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao
passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente. O tabagismo
orifício externo do colo uterino de ne a ectopia ou ectrópio.
aumenta o risco para o desenvolvimento do câncer do colo do útero,
Esta alteração topográ ca é clinicamente referida como mácula
proporcionalmente ao número de cigarros fumados por dia e ao início em
rubra durante o exame especular. Como a mácula rubra não é
idade precoce.
um achado patológico, não há necessidade de realizar nenhum
outro exame complementar.
Vários estudos analisaram a história natural do câncer do colo do útero e
Cisto de Naboth: como resultado do processo metaplásico, suas lesões precursoras, e importantes revisões e metanálises foram
pode ocorrer a formação desses cistos, em razão da oclusão realizadas, mas a interpretação dos seus dados deve considerar a
das criptas endocervicais pelo epitélio escamoso metaplásico. possibilidade de viés de seleção e de aferição.

Apesar dessas limitações, os estudos sobre história natural indicam que as


lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (do inglês Low-
EPIDEMIOLOGIA grade Squamous Intraepithelial Lesions – LSIL) simplesmente
Para o Brasil, estimam-se 16.590 casos novos de câncer de colo do útero refletem a manifestação citológica da infecção pelo HPV e não
para cada ano do triênio 2020-2022, com um risco estimado de 15,43 casos representam lesões verdadeiramente precursoras do câncer do
a cada 100 mil mulheres. colo do útero, regredindo espontaneamente na maior parte dos
casos.

Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil, existem cerca de seis


milhões de mulheres, entre 35 a 49 anos, que nunca realizaram o exame Em contrapartida, as lesões intraepiteliais escamosas de alto grau
citopatológico do colo do útero. Nesta faixa etária, ocorrem mais casos (do inglês High-grade Squamous Intraepithelial Lesions – HSIL)
positivos de câncer de colo do útero do que em qualquer outra. Como apresentam efetivamente potencial para progressão, tornando sua
consequência, são milhares de novas vítimas de câncer de colo uterino a detecção, o objetivo primordial da prevenção secundária do
cada ano. câncer do colo do útero.

As mulheres com câncer identificadas pelo rastreio têm, em média, dez anos
HISTÓRIA NATURAL de idade a mais que as mulheres com lesões precursoras, indicando que a

A presença do HPV na quase totalidade dos casos de câncer de colo uterino eventual progressão dessas lesões para câncer ocorre lentamente.

e as altas medidas de associação demonstradas implicam na maior


atribuição de causa específica já relatada para um câncer em humanos. Dados do Ministério da Saúde ratificam a evolução natural do câncer
Dessa forma, está determinado que a infecção pelo HPV é causa de colo uterino e o descrevem como uma afecção iniciada com
necessária para o desenvolvimento do câncer de colo do útero. transformações intraepiteliais progressivas que podem evoluir
para uma lesão cancerosa invasora em um prazo de dez a
A infecção pelo HPV é muito comum. Estima-se que até 80% das quinze anos.

mulheres sexualmente ativas irão adquiri-la ao longo de suas vidas.


Entretanto, a comparação desse dado com a incidência anual mundial da
malignidade indica que o câncer de colo uterino é um desfecho raro, mesmo
FATORES DE RISCO
na presença da infecção pelo HPV.
INFECÇÃO PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV)

A dedução é que a infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não


suficiente para o desenvolvimento do câncer do colo do útero.
Consiste no principal fator de risco para o desenvolvimento de OUTRAS INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (IST)
atipias na zona de transformação. De modo que, a presença do HPV é
responsável por 99% dos casos de câncer de colo uterino. A presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, como herpes,
gonorreia, sífilis ou clamídia, aumenta o risco de câncer de colo uterino.
O HPV consiste em um parasita intracelular, capaz de acelerar a velocidade
das mitoses celulares, o que aumenta a chance de desenvolvimento de
USO DE ANTICONCEPCIONAL ORAL (ACO)
atipias. Estudos recentes revelaram que o HPV possui proteínas que
interagem com os genes supressores de tumor p53 e erb.
São necessários estudos adicionais para desvendar qual a real participação
destes medicamentos na etiopatogenia do câncer de colo uterino.
Os HPV são vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas. Existem mais Provavelmente, a relação com o câncer de colo uterino não se deve só aos
de 150 tipos diferentes de HPV, dos quais 40 podem infectar o trato genital. efeitos da pílula, mas possivelmente ao comportamento sexual deste grupo
Destes, 12 são de alto risco e podem provocar câncer (são oncogênicos) e de mulheres, que se expõem mais a infecções sexualmente transmissíveis ao
outros podem causar condilomas (verrugas) genitais. não utilizarem preservativos rotineiramente.

O HPV pode ser classificado em tipos de baixo e de alto risco de Alguns autores propuseram que o uso de contraceptivos orais poderia
desenvolver câncer. Como já dito, existem 12 tipos identificados como de aumentar a incidência de anormalidades glandulares cervicais. No entanto,
alto risco (HPV tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59) que têm essa hipótese não apresentou apoio consistente.
probabilidade maior de persistir e estarem associados a lesões pré-
cancerígenas. Os tipos 16 e 18 são responsáveis por aproximadamente 70%
de todos os carcinomas cervicais, por serem os mais mitogênicos. Eles DEFICIÊNCIAS VITAMÍNICAS
também são responsáveis por até 90% dos casos de câncer de ânus, até 60%
dos cânceres de vagina e até 50% dos casos de câncer vulvar. No colo do útero, a vitamina A parece ser um importante fator na
manutenção da integridade do epitélio escamoso. A carência desta vitamina

O tipo 16 é o mais prevalente e o mais frequente entre os carcinomas de está associada ao aumento da incidência do câncer de colo, e os níveis
séricos de vitaminas A e C tendem a ser progressivamente mais baixos à
células escamosas.
medida que a doença se torna mais avançada. Em estudos recentes, a
deficiência de oligoelementos também foi descrita. Entretanto, são
O tipo 18 é o responsável por 20% dos tumores e o mais comum entre os
necessários estudos adicionais antes que qualquer recomendação nutricional
adenocarcinomas.
seja empregada na prevenção do câncer de colo uterino.

Os HPV de tipo 6 e 11, de baixo risco e encontrados na maioria dos


condilomas genitais e papilomas laríngeos, parecem não oferecer TABAGISMO

nenhum risco de progressão para malignidade. Também são descritos como


É um importante fator na gênese do câncer de colo. Está diretamente
tipos de baixo risco o 42, 43 e 44.
relacionado com a carga tabágica (tempo de consumo e número de
cigarros). O mecanismo de ação está relacionado com o efeito
INÍCIO PRECOCE DA ATIVIDADE SEXUAL carcinogênico direto da nicotina e cotinina no muco cervical e com a
(COITARCA OU SEXARCA PRECOCE) redução da resposta imune a partir da menor atividade das células natural
killer e da redução de IgG e IgA.
É um importante fator de risco. A coitarca precoce (idade menor que 16
anos) deve ser desestimulada nos primeiros dois anos após a menarca.
IMUNIDADE

NÚMERO DE PARCEIROS SEXUAIS Pacientes HIV positivas, lúpicas, diabéticas, transplantadas em uso de
corticoterapia ou quimioterapia e/ou radioterapia apresentam
Este fator é ainda mais importante que o anterior. Quanto maior o número comprometimento da sua imunidade e estão sob maior risco de desenvolver
de parceiros sexuais, maior a chance de um dos parceiros ser portador de câncer de colo uterino. Cabe aqui a lembrança de que o carcinoma invasor
um vírus de alto risco e, consequentemente, maior a chance da parceira do colo uterino em paciente HIV positiva é considerado neoplasia
desenvolver uma lesão de alto grau ou mesmo um câncer invasor. definidora de caso de aids.

PARCEIRO SEXUAL DEFICIÊNCIAS DE ALFA-1-ANTITRIPSINA

Há um risco quatro a cinco vezes maior de câncer de colo em mulheres que A deficiência de alfa-1-antitripsina é rara e é a única alteração genética
tiveram parceiros com câncer de pênis. Além disso, parceiros com início associada ao câncer de colo uterino. É mais comum na raça negra.
precoce da atividade sexual, com vários episódios prévios de IST, com
visitas frequentes a profissionais do sexo e tabagistas aumentam a chance da
parceira apresentar câncer cervical. BAIXO NÍVEL SOCIOECONÔMICO
Todos os fatores de risco são mais prevalentes em mulheres de nível A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à
socioeconômico mais baixo, o que, somado às dificuldades de acesso aos diminuição do risco de contágio pelo HPV.
meios de diagnóstico e tratamento precoce, confere a esta população uma
alta incidência da doença.
USO DE PRESERVATIVO

OUTROS FATORES A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente
por meio de abrasões microscópicas na mucosa ou na pele da região
São também descritos como fatores de risco para o câncer de colo uterino: anogenital.
● Multiparidade;
Consequentemente, o uso de preservativos (condom) durante a relação
● Desnutrição;
sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que
● Má higiene genital; também pode ocorrer por intermédio do contato com a pele da vulva, região
● Agentes químicos; perineal, perianal e bolsa escrotal.

● Exposição à radiação ionizante.


VACINAS ANTI-HPV

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Atualmente, há duas vacinas aprovadas e comercialmente disponíveis no


Brasil: a bivalente e a quadrivalente. Ambas são eficazes contra as
A infecção pelo HPV apresenta-se, na maioria das vezes, de forma
lesões precursoras do câncer do colo do útero, principalmente se
assintomática, com lesões subclínicas (inaparentes) visíveis apenas após
utilizadas antes do contato com o vírus. Ou seja, os benefícios
aplicação de reagentes, como o ácido acético e a solução de Lugol, e por
são significativos antes do início da vida sexual.
meio de técnicas de magnificação (colposcopia).

Não há diferença de eficácia entre as duas vacinas em relação à prevenção


As lesões clínicas podem ser únicas ou múltiplas, restritas ou difusas, de
de lesões intraepiteliais cervicais. Existem ainda lacunas de conhecimento
tamanho variável, planas ou exofíticas, sendo também conhecidas como
sobre a vacinação, relacionadas à adesão ao esquema vacinal, à duração da
condiloma acuminado, verruga genital ou crista de galo.
eficácia, à eventual necessidade de dose de reforço e à proteção cruzada
para outros tipos virais.
As localizações mais frequentes são a vulva, o períneo, a região perianal, a
vagina e o colo do útero. Menos comumente podem estar presentes em
Além disso, a adoção das vacinas anti-HPV não elimina a necessidade
áreas extragenitais, como conjuntiva, mucosa nasal, oral e laríngea.
da prevenção secundária por meio do rastreamento pela colpocitologia, pois
Dependendo do tamanho e localização anatômica, as lesões podem ser
as mesmas não oferecem proteção para 30% dos casos de câncer do colo do
dolorosas, friáveis e/ou pruriginosas.
útero causados por outros tipos virais oncogênicos.

LESÕES PRECURSORAS
PARTICULARIDADES DAS VACINAS ANTI-HPV

As lesões precursoras do câncer do colo do útero são assintomáticas, Como já mencionado, duas vacinas estão disponíveis para comercialização
podendo ser detectadas por meio da realização periódica do exame no Brasil, a vacina quadrivalente da Merck Sharp & Dohme (MSD), que
citopatológico e confirmadas pela colposcopia e exame histopatológico. protege contra os tipos não oncogênicos 6 e 11 e os tipos oncogênicos 16 e
18, e a vacina bivalente da Glaxo Smith Kline (GSK), que protege contra os
VIDEO_01_GIN5 tipos oncogênicos 16 e 18. Vale salientar que apenas a vacina quadrivalente
(HPV4) foi licenciada para ambos os sexos. A bivalente (HPV2) foi
licenciada apenas para o sexo feminino.
CÂNCER DE COLO UTERINO

Ambas as vacinas se compõem de VLP (em inglês, Virus-Like Particle)


No estágio invasor da doença, os principais sintomas são sangramento
vaginal (espontâneo, após o coito ou esforço), leucorreia e dor pélvica, que ou partículas semelhantes ao vírus. Estas partículas ocas não contêm o DNA
podem estar associados com queixas urinárias ou intestinais nos casos mais infectante do vírus, mas sim seu capsídeo viral, a proteína L1 do HPV sem
avançados. poder infectante. Essas VLP são produzidas em um fungo
(Saccharomyces cerevisiae). Cada tipo viral tem uma VLP
correspondente para uso como vacina. Assim, uma vacina bivalente tem
Ao exame especular, podem ser evidenciados sangramento, tumoração,
duas VLP (16, 18), enquanto uma vacina quadrivalente possui quatro VLP
ulceração e necrose no colo do útero. O toque vaginal pode mostrar
(6, 11, 16, 18).
alterações na forma, tamanho, consistência e mobilidade do colo do útero e
estruturas subjacentes.

PREVENÇÃO PRIMÁRIA
A via de administração de ambas as vacinas é intramuscular (0,5 ml). Após No entanto, convém lembrar que o intervalo entre as doses da vacina
a administração da dose de vacina contra HPV por via intramuscular, recomendado pelo MS sempre foi diferente daquele preconizado pelo
acontece uma enorme produção de anticorpos circulantes no sangue fabricante. A recomendação inicial era a administração da segunda dose seis
periférico, que se mantém em níveis elevados durante anos. Atualmente, meses após a primeira e a terceira cinco anos após a primeira dose. E desde
sabe-se que a proteção, após esquema vacinal completo (três doses), possui janeiro de 2016, o MS passou a recomendar apenas duas doses da
duração de mais de cinco anos. Ainda não está definido se haverá vacina (esquema 0 e 6 meses), pois estudos mostraram que a produção
necessidade de uma quarta dose de reforço. Já existe um estudo em de anticorpos com duas doses nesta idade se assemelha à produção de
andamento, mas será necessário aguardar seus resultados para uma resposta anticorpos após três doses em idade maior. Ressalta-se que, nos meninos
definitiva. que iniciarem a primeira dose aos 14 anos, a segunda dose deve ser feita
com intervalo mínimo de seis meses e máximo de 12 meses.
Como as vacinas não protegem contra todos os tipos do HPV, a
colpocitologia deve continuar a ser coletada mesmo em
mulheres vacinadas. O esquema de vacinação para meninas e meninos menores de 15 anos é
de duas doses com intervalo de seis meses (0-6 meses).

Não foram descritos efeitos colaterais graves. Os efeitos adversos mais


descritos foram mal-estar tipo gripe e dor no local da injeção, mas de leve Para adolescentes com idade ≥ 15 anos, não imunizados anteriormente,
o esquema é de três doses (0-1 ou 2-6 meses).
intensidade.

Até a presente data, não há qualquer relato de dano para o feto caso a
Outra novidade importante é que a vacina também passou a ser ofertada
mulher engravide durante esquema vacinal contra HPV. No entanto, é
para pacientes vivendo com HIV dos sexos feminino e masculino,
preciso aguardar mais evidências para não se tirar conclusões precipitadas.
de 9 a 26 anos. Mas, atenção: o esquema vacinal é diferente do
A maioria dos especialistas recomenda que uma mulher que queira
atualmente proposto pelo Ministério da Saúde. São administradas três
engravidar em seguida à administração das doses de vacina contra HPV
doses no esquema 0-2-6 meses (segunda dose dois meses após a
espere, pelo menos, um mês após a aplicação da terceira dose. Caso ocorra
gravidez entre os intervalos das doses, o médico deve ser avisado. primeira; terceira dose seis meses após a primeira), que nada mais é do que
o esquema habitualmente proposto pelo fabricante. Caso eles já tenham
recebido as duas doses no esquema estendido (zero e seis meses), será
RECOMENDAÇÕES POSOLÓGICAS DO FABRICANTE indicada a terceira dose com o intervalo mínimo de quatro meses após a
segunda dose. É necessária a prescrição médica para mulheres e
A vacina quadrivalente é administrada em três doses, a saber: data escolhida
homens vivendo com HIV, a qual deverá ser apresentada no ato da
(1ª dose), 60 dias (2ª dose) e 180 dias (3ª dose). A vacina bivalente também
vacinação.
é administrada em três doses, a primeira na data escolhida, a segunda aos 30
dias e a terceira aos 180 dias.
Desde janeiro de 2017, a vacina também foi disponibilizada nos Centros de
Inicialmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou Referência para Imunobiológicos Especiais – CRIE – para indivíduos

a vacina quadrivalente para uso em meninas e mulheres com 9 a 26 anos de imunodeprimidos (indivíduos submetidos a transplantes de órgãos
idade. A Anvisa aprovou também a vacina bivalente para administração em sólidos, transplantes de medula óssea ou pacientes
meninas e mulheres na faixa etária de 10 a 25 anos. Atualmente, ambas as oncológicos), que deverão receber o esquema de 3 (três) doses (0, 2
vacinas podem ser administradas até os 45 anos nas mulheres. e 6 meses) para ambos os sexos, na faixa etária entre 9 e 26
anos. É também obrigatória a prescrição médica para esses pacientes, a
qual deverá ser apresentada no ato da vacinação.
A HPV4 foi licenciada para meninas e mulheres de 9 a 45 anos de idade e
meninos e homens de 9 a 26 anos.
Convém salientar que outros grupos etários podem dispor das vacinas em
serviços privados, se indicadas por seus médicos. Entretanto, ambas as
Já a HPV2 foi licenciada para meninas e mulheres a partir dos 9 anos de vacinas possuem maior indicação para meninas e meninos que ainda não
idade. iniciaram a vida sexual, uma vez que apresentam maior eficácia na proteção
de indivíduos não expostos aos tipos virais presentes nas vacinas.
A HPV4 é preferível à HPV2 para ampliar a proteção para verrugas
genitais.
saiba mais
SOBRE A VACINA NONAVALENTE

INCLUSÃO NO CALENDÁRIO NACIONAL DE VACINAÇÃO


Uma nova vacina aprovada pela Anvisa, em dezembro de 2017, ampliou a
A vacina quadrivalente contra o vírus HPV foi incluída no Calendário proteção contra o papilomavírus humano (HPV). O novo medicamento é o
Nacional de Vacinação pelo Ministério da Saúde (MS) em 2014. A partir de Gardasil 9®, registrado pelo laboratório Merck Sharp & Dohme
2017, foi disponibilizada para meninas de 9 a 14 anos. De forma Farmacêutica LTDA, que inclui cinco novos subtipos contra o HPV, os
análoga, nesse mesmo ano, ela também foi introduzida de forma escalonada subtipos 31, 33, 45, 52 e 58, que são responsáveis por mais de 20% dos
para os meninos, com orientação de vacinação entre 11 a 14 anos cânceres de colo uterino.
em 2020.
O Gardasil 9® (6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58) foi aprovado com indicação 1. VALE A PENA VACINAR MULHERES QUE JÁ INICIARAM A ATIVIDADE
para pessoas de 9 a 26 anos, do sexo masculino e feminino. O ideal é que a SEXUAL?
imunização seja feita antes do início da vida sexual. Ela está indicada para Após o início da atividade sexual a possibilidade de contato com o
a prevenção de cânceres do colo do útero, da vulva, da vagina e do ânus; HPV aumenta progressivamente: 25% das adolescentes apresentam
lesões pré-cancerosas ou displásicas; condilomas genitais e infecções infecção pelo HPV durante o primeiro ano após iniciação sexual e
persistentes causadas pelo papilomavírus humano (HPV). três anos depois esse percentual sobe para 70%.
Não há, até o momento, evidência científica de benefício
Convém frisar que ainda não está disponível para comercialização. estatisticamente significativo em vacinar mulheres previamente
expostas ao HPV. Isso quer dizer que algumas mulheres podem se
beneficiar e outras não. Nesses casos, a decisão sobre a vacinação
ATENÇÃO deve ser individualizada, levando em conta as expectativas e a
DÚVIDAS FREQUENTES SOBRE A VACINAÇÃO CONTRA O HPV relação custo-benefício pessoal.
Não existe risco à saúde caso uma pessoa que já tenha tido contato
com o HPV seja vacinada.

2. APÓS SER VACINADA CONTRA HPV, A PESSOA PODE FAZER SEXO


SEM PRESERVATIVO?
Uma vacina protege contra um agente infeccioso específico. Assim,
uma pessoa vacinada contra alguns tipos de HPV ficará protegida
apenas contra as doenças causadas por esses tipos virais da vacina.
Portanto, o uso de preservativo (masculino ou feminino) é
fundamental contra outras infecções sexualmente transmissíveis que
ainda não têm vacina, como HIV, herpes genital, clamídia, sífilis, etc.

3. MULHERES ACIMA DE 26 ANOS PODEM FAZER USO DA VACINA?


A princípio, não existem contraindicações para vacinação em
pacientes acima dos 26 anos. E mais, a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) aprovou, em março de 2015 (publicação em
09/03/2015 em Diário Oficial da União), a indicação da vacina
quadrivalente contra HPV para mulheres até 45 anos. A ampliação da
faixa etária, no entanto, vale apenas para as vacinas aplicadas na
rede privada.

4. QUEM TEVE EXAME POSITIVO PARA HPV PODE TOMAR A VACINA?


Ter um exame positivo para um tipo de HPV não significa que a
pessoa está ou terá as lesões causadas pelo HPV. Na verdade, é
possível que ocorra apenas uma positividade transitória, situação
bastante frequente. Ou seja, a pessoa entrou em contato com o vírus,
mas o sistema imune, sozinho, conseguiu debelar a infecção. Como
as vacinas possuem mais de um tipo viral haverá, de rotina, o
desenvolvimento de proteção para os tipos de HPV não envolvidos no
exame positivo. Porém, não se pode omitir que os estudos recentes
publicados sobre vacina contra HPV (bivalente ou quadrivalente)
foram com pessoas com exames prévios negativos, tanto para DNA-
HPV como para anticorpos contra HPV.

5. VALE A PENA VACINAR MULHERES JÁ TRATADAS PARA LESÕES NO


COLO DO ÚTERO, VAGINA OU VULVA?
Existe evidência científica de pequeno benefício em vacinar mulheres
previamente tratadas, que poderiam apresentar menos recidivas.
Nesses casos, a decisão sobre a vacinação deve ser individualizada.

6. AS MENINAS OU MULHERES VACINADAS PODEM DISPENSAR A


REALIZAÇÃO DO EXAME PREVENTIVO?
Não. É imprescindível manter a realização da colpocitologia, pois as
vacinas protegem apenas contra dois tipos oncogênicos de HPV,
responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo do útero.
Ou seja, 30% dos casos de câncer causados pelos outros tipos
oncogênicos de HPV continuarão ocorrendo se não for realizada a
prevenção secundária.
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA MEMORIZE

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as estratégias para a SINAIS E SINTOMAS


detecção precoce são: rastreamento e diagnóstico precoce. As lesões intraepiteliais cervicais e os tumores em fases iniciais são
geralmente assintomáticos.

Entende-se por rastreamento, a aplicação de um teste ou exame Os tumores em estágios mais avançados normalmente apresentam
em uma população assintomática, aparentemente saudável, sintomas inespecíficos, como dor, corrimento vaginal e perdas
com objetivo de identificar lesões precursoras ou sugestivas de sanguíneas anormais.
câncer e encaminhá-las para investigação e tratamento.

Já o diagnóstico precoce, é definido pela abordagem de indivíduos EXAME FÍSICO


com sinais e/ou sintomas da doença.
Na prática médica, esta etapa é obrigatória! O acesso ao colo é fácil ao
simples exame especular de rotina.
Ambos serão aprofundados a seguir.

Inspeção cuidadosa da vulva, vagina e colo: deve ser observado o
aspecto, a forma, a presença de lesões ou tumores (pólipos, condilomas,
DIAGNÓSTICO PRECOCE papilomas), a aparência, a cor, a fluidez ou a viscosidade das secreções
cervicovaginais. É importante lembrar que o espéculo deve ser
ANAMNESE mobilizado, pois pode ocultar lesões.

O câncer de colo do útero é uma doença de crescimento lento e silencioso. ●


Toque vaginal: procurar por espessamentos ou irregularidades nas
paredes vaginais, que muitas vezes não são visualizadas no exame
A história clínica coletada de maneira criteriosa e detalhada é fundamental especular. Investigar a extensão do tumor para os fórnices vaginais. O
para a identificação de fatores de risco (tópico a seguir). Eles se relacionam tamanho do tumor deve ser estimado pelo toque bimanual, que deve ser
aos processos que levam à formação de atipias celulares no colo do útero, gentil para minimizar a dor e o sangramento da lesão. O exame deverá
ou seja, eles são verdadeiros fatores de agressão à região. A zona de ser bimanual para avaliação do útero e dos anexos.
transformação, definida no quadro sobre conceitos fundamentais, está mais ●
Toque retal: é o exame clínico mais importante na avaliação da
suscetível à ação desses agentes.
infiltração dos paramétrios. Os objetivos deste exame incluem: avaliação
do volume do tumor, avaliação da extensão para os paramétrios e, em
As lesões intraepiteliais cervicais e o câncer de colo uterino em fases caso de acometimento dos paramétrios, avaliação da presença de fixação
iniciais podem ser totalmente assintomáticos ou podem se manifestar por à parede pélvica.
corrimento vaginal, dor e perda sanguínea anormal. Estas queixas são
frequentes na clínica ginecológica. Portanto, não há sintomas específicos.
saiba mais

A hemorragia vaginal é o sintoma mais comum em pacientes com câncer EVOLUÇÃO DAS LESÕES DO COLO UTERINO

cervical. A perda sanguínea normalmente não se associa ao período Nos estádios pré-invasivos, o câncer cervical só apresenta alterações à
menstrual e ocorre muitas vezes durante ou após o coito (sinusiorragia). Na colposcopia (mais detalhes adiante). A avaliação à vista desarmada é
pós-menopausa, comumente surge como sangramento uterino anormal. normal. Em outras palavras, o câncer de colo uterino pode estar presente
em colo macroscopicamente normal, bem epitelizado.
Queixas de corrimento vaginal fétido e dor pélvica, geralmente encontradas Com a progressão do tumor, o colo começará a apresentar lesões que já
em estágios mais avançados do câncer de colo uterino, resultam de poderão ser identificadas na colposcopia, ou até mesmo ao exame
processos inflamatórios, associados ou não à infecção secundária do tumor. especular. Essas lesões podem evoluir de diferentes formas, a saber:

● Lesões tipo couve-flor: crescimento com vegetações para a


O câncer de colo pode se propagar diretamente – por
ectocérvice;
continuidade/contiguidade (vagina, corpo uterino, paramétrios,
paracolpos, bexiga e reto) – e indiretamente por via linfática ou
● Lesões de aspecto nodular: as lesões tornam-se infiltrativas e
hematogênica. endurecidas;

● Lesões tipo barrel-shaped (formato de barril): as lesões podem se


Em casos mais avançados, mais detalhes no tópico “Estadiamento”, a expandir para endocérvice;
extensão para a parede pélvica pode causar dor ciática ou dor lombar ● Ulcerações: podem estar acompanhadas de necrose e/ou infecção,
associada à hidronefrose. com odor desagradável característico;

● Associação de áreas vegetantes com áreas ulceradas e/ou áreas


O envolvimento metastático dos linfonodos ilíacos e para-aórticos pode se
infiltrativas.
estender para as raízes nervosas lombossacras e também provocar dor
lombar.

A invasão retal ou vesical no estágio avançado da doença pode produzir RASTREAMENTO


sintomas retais ou urinários (por ex.: hematúria e hematoquezia).
Seguindo as estratégias de detecção precoce da OMS, o rastreamento do
câncer de colo uterino é realizado pela coleta da colpocitologia.

Um cuidado especial para as provas, a partir de agora: as


informações disponibilizadas a partir desse tópico foram
extraídas das “Diretrizes Brasileiras de Rastreamento do Câncer
do Colo do Útero” do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do
Ministério da Saúde, divulgadas em agosto de 2016 (http://www
1.inca.gov.br/inca/Arquivos/diretrizes_rastreamento_cancer_colo
_utero_2016_3.pdf).

Diretrizes são recomendações de boas práticas resultantes do julgamento


pelos atores envolvidos no cuidado em situações específicas e baseado nas
melhores evidências científicas disponíveis.
QUAL É A COLETA PRECONIZADA: TRÍPLICE OU SÓ DA ECTO E
ENDOCÉRVICE?
COLETA DA COLPOCITOLOGIA Como anteriormente mencionado, os Manuais do Ministério da Saúde
recomendam apenas a coleta de amostra da ectocérvice e endocérvice (
VIDEO_03_GIN5
Figuras 3A e 3B, respectivamente). Segundo estes manuais, o material
O exame citopatológico é conhecido popularmente como exame preventivo.
contido no fundo de saco vaginal possui baixa qualidade para o diagnóstico
Como já mencionado, ele é o método de rastreamento do câncer do colo
oncótico. Convém lembrar que alguns serviços ainda realizam a coleta
uterino e de suas lesões precursoras.
tríplice (fundo de saco vaginal, ectocérvice e endocérvice).

Citologia = Diagnóstico Citológico = Preventivo QUAL É A PERIODICIDADE RECOMENDADA PELO MINISTÉRIO


DA SAÚDE NA NOVA DIRETRIZ PARA O RASTREAMENTO DO
COLO DO ÚTERO?
A seguir, serão respondidas perguntas práticas, que são
O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres
comumente objeto de prova…
que já tiveram atividade sexual. Os exames devem seguir até os 64
anos e podem ser interrompidos quando, após essa idade, as mulheres
O QUE É CITOLOGIA?
tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco
É a ciência que estuda células esfoliadas, natural ou artificialmente. Ela anos. A periodicidade entre os exames deve ser de três anos,
fornece informações sobre a higidez ou estado patológico de um órgão ou após dois exames consecutivos negativos, com intervalo anual.
tecido, que no caso é o colo uterino (colpocitologia).
Para mulheres com mais de 64 anos e que nunca realizaram o exame
citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três
QUAL É A TÉCNICA REALIZADA?
anos. Se ambos forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de
No Brasil, o método usado é o convencional, que emprega a espátula de exames adicionais.
Ayre e a escova endocervical (Figura 3A) ou cito-brush (Figura 3B). A Um detalhe que merece atenção: a Lei 11.664/08, que entrou em vigor em
combinação da espátula e da escova é o método mais eficiente para diminuir 29 de abril de 2009, garante exame citopatológico do colo uterino a
a porcentagem de falso-negativos. A técnica de coloração para citopatologia todas as mulheres que já tenham iniciado sua vida sexual,
mais utilizada é a de Papanicolaou. Existe ainda outra técnica, em meio
independentemente da idade. Agora vejam como ela é falha: em
líquido, mas não é empregada nos serviços públicos brasileiros. Ambos os
nenhum momento ela menciona a periodicidade recomendada para a coleta.
métodos têm suas vantagens e desvantagens (Tabela 2). Convém salientar
Em resumo: para as provas, saiba que existe a lei, mas siga as
que os autores divergem entre elas, mas foram listadas aquelas consensuais.
recomendações da última diretriz do INCA/MS.
Para completar, será apresentada uma informação a
contragosto. A intenção é simplificar sempre, mas nem sempre
isso é possível!!!
As Diretrizes de Rastreamento do Câncer de Colo do Útero do
Ministério da Saúde e da American Cancer Society (ACS) são
diferentes (Tabela 3).
E NA PÓS-MENOPAUSA?
Mulheres na pós-menopausa, sem história de diagnóstico ou
tratamento de lesões precursoras do câncer de colo uterino,
apresentam baixo risco para desenvolvimento de câncer. O
rastreamento citológico em mulheres menopausadas pode
levar a resultados falso-positivos causados pela atro a
secundária ao hipoestrogenismo, gerando ansiedade na
paciente e procedimentos diagnósticos e terapêuticos
desnecessários. É fato que o diagnóstico de casos novos de
câncer do colo uterino está associado, em todas as faixas
etárias, com a ausência ou irregularidade do rastreamento. O
seguimento de mulheres na pós-menopausa deve levar em
QUAL É O INTERVALO RECOMENDADO PARA SUA
conta seu histórico de exames. Assim, estas pacientes devem
REALIZAÇÃO?
ser rastreadas de acordo com as orientações para as demais
O intervalo entre as coletas deve variar de um a três anos, baseado na mulheres. Se necessário, proceder à estrogenioterapia
presença dos fatores de risco. A periodicidade do exame citológico previamente à realização da coleta.
recomendada pelo Ministério da Saúde é de três anos, após a obtenção de
dois resultados negativos com intervalo de um ano. No entanto, existem QUAL É A CONDUTA NAS MULHERES SUBMETIDAS À
recomendações especiais para mulheres imunossuprimidas. A Tabela 4 HISTERECTOMIA (HISTERECTOMIZADAS)?
detalha “Situações Especiais Previstas na Nova Diretriz”. O rastreamento realizado em mulheres sem colo do útero
devido à histerectomia por condições benignas apresenta
menos de um exame citopatológico alterado por mil exames
TAB. 4 SITUAÇÕES ESPECIAIS PREVISTAS NA NOVA DIRETRIZ. realizados. Assim, mulheres submetidas à histerectomia total
por lesões benignas, sem história prévia de diagnóstico ou
O PREVENTIVO PODE SER REALIZADO EM MULHERES tratamento de lesões cervicais de alto grau, podem ser
SEM HISTÓRIA DE ATIVIDADE SEXUAL (VIRGENS OU excluídas do rastreamento, desde que apresentem exames
VIRGO)? anteriores normais. Em casos de histerectomia por lesão
Considerando os conhecimentos atuais em relação ao papel do precursora ou câncer de colo do útero, a mulher deverá ser
HPV na carcinogênese do câncer do colo uterino e que a acompanhada de acordo com a lesão tratada. Mulheres com
infecção viral ocorre por transmissão sexual, o risco de uma história de histerectomia subtotal devem ser submetidas à
mulher que não tenha iniciado atividade sexual desenvolver rotina normal.
essa neoplasia é desprezível. Portanto, não há indicação para
rastreamento do câncer de colo do útero e de seus QUAL É A CONDUTA NAS MULHERES COM IST?
precursores nesse grupo de mulheres. Devem ser submetidas à citopatologia mais frequentemente
pelo seu maior risco de serem portadoras do câncer de colo do
O PREVENTIVO PODE SER REALIZADO EM GRÁVIDAS? útero ou de seus precursores. Já as mulheres com condilomas
Grávidas têm o mesmo risco que não gestantes de em genitália externa não necessitam de coletas mais
apresentarem câncer de colo do útero ou suas lesões frequentes do que as demais, salvo em mulheres
precursoras. O achado destas alterações durante o ciclo imunossuprimidas.
grávido puerperal re ete a oportunidade do rastreamento
durante o pré-natal. Apesar de a JEC no ciclo gravídico- O QUE FAZER EM CASOS DE ATROFIA GENITAL?
puerperal encontrar-se exteriorizada na ectocérvice na maioria Recomenda-se o uso de estrogênios tópicos previamente à
das vezes, o que dispensaria a coleta endocervical, a coleta de coleta, pois os esfregaços atró cos podem di cultar a
espécime endocervical não parece aumentar o risco sobre a identi cação de lesões intraepiteliais ou mesmo invasivas do
gestação quando utilizada uma técnica adequada. Assim, o colo uterino.
rastreamento em gestantes deve seguir as recomendações de
periodicidade e faixa etária como para as demais mulheres,
sendo que a procura ao serviço de saúde para realização de
pré-natal deve sempre ser considerada uma oportunidade para
o rastreio.

E NAS PUÉRPERAS?

No pós-parto, é recomendável aguardar seis a oito semanas


para que o colo uterino readquira suas condições normais.
E A COLETA TAMBÉM PRECISA DE CUIDADOS?
QUAL É A RECOMENDAÇÃO EM PACIENTES
IMUNOSSUPRIMIDAS? Alguns cuidados devem ser tomados para se efetuar uma coleta adequada e
confiável:
Alguns fatores de risco diretamente relacionados à resposta
imunológica têm sido associados à maior chance de ●
Não utilizar duchas vaginais aproximadamente 48 horas antes do exame;
desenvolvimento de Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC). ●
Abstinência sexual nas 48 a 72h que precedem a coleta;
Mulheres infectadas pelo vírus da imunode ciência humana
(HIV), mulheres imunossuprimidas por transplante de órgãos

Não utilizar cremes vaginais nos sete dias precedentes ao exame;

sólidos, em tratamentos de câncer e usuárias crônicas de ●


Não utilizar nenhuma espécie de lubrificante no espéculo.
corticosteroides constituem os principais exemplos deste
grupo. A prevalência da infecção pelo HPV e a persistência QUAL É A MELHOR ÉPOCA DO CICLO PARA COLHER O
viral, assim como a infecção múltipla por mais de um tipo de PREVENTIVO?
HPV, são mais frequentes nesse grupo de mulheres. Em
A época mais propícia é o período periovulatório. Não é recomendável a
mulheres infectadas pelo HIV, o desaparecimento do HPV
coleta no período menstrual, pois o sangue dificulta a leitura da lâmina. No
parece ser dependente da contagem de células CD4+, e
entanto, isto não quer dizer que diante de uma paciente com um
lesões precursoras tendem a progredir mais rapidamente e a
sangramento anormal, que não melhora com nada, a coleta não possa ser
recorrer mais frequentemente do que em mulheres não
realizada em algumas situações particulares. Cabe aqui lembrar que no
infectadas pelo HIV. Entretanto, mulheres imunocompetentes
pedido do exame deve constar esta informação.
infectadas pelo HIV e tratadas adequadamente com terapia
antirretroviral de alta atividade (HAART) apresentam história
natural semelhante às demais mulheres. Existem NOMENCLATURA CITOLÓGICA BRASILEIRA
questionamentos quanto à e cácia do exame citopatológico
Ao longo dos anos, surgiram várias nomenclaturas citológicas
em mulheres infectadas pelo HIV em razão da maior
das amostras obtidas. Como é um assunto que pode divergir
prevalência de citologias com atipias de signi cado
entre as bancas examinadoras de provas, apresentaremos a
indeterminado e maior frequência de infecções associadas.
seguir um breve resumo das classificações de Bethesda, de
Para minimizar os resultados falso-negativos, alguns autores
Papanicolaou, OMS e Richart.
preconizam a complementação colposcópica. A recomendação
é de realizar o exame citopatológico neste grupo após o início
da atividade sexual com intervalos semestrais no primeiro ano A nomenclatura de Papanicolaou, que utiliza classes numéricas, e a da
e, se normais, manter seguimento anual enquanto se mantiver OMS, que usa o termo displasia, não devem ser mais empregadas, pois
o fator de imunossupressão. Nas mulheres HIV positivas com diferenciam indevidamente graus de doença pré-invasiva.
CD4 abaixo de 200 células/mm³, deve ser priorizada a correção
dos níveis de CD4 e, enquanto isso, devem ter o rastreamento A nomenclatura dos exames citopatológicos utilizada no Brasil foi baseada
citológico a cada seis meses. no Sistema Bethesda. O Sistema Bethesda 2001, integrando e refletindo o
conhecimento científico contemporâneo sobre a história natural da infecção
pelo HPV, denomina de lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (do
HÁ INDICAÇÃO DE COLETA EM PACIENTES QUE AINDA NÃO
inglês Low-grade Squamous Intraepithelial Lesion – LSIL) as
INICIARAM A ATIVIDADE SEXUAL?
alterações citológicas anteriormente classificadas por Richart como
Considerando os conhecimentos atuais em relação ao papel do HPV na Neoplasia Intraepitelial Cervical grau 1 (NIC1) e/ou as alterações
carcinogênese do câncer do colo uterino e que a infecção viral ocorre por citopáticas decorrentes de infecção por HPV. Esse sistema intitula de lesão
transmissão sexual, o risco de uma mulher que não tenha iniciado atividade intraepitelial escamosa de alto grau (do inglês High-grade Squamous
sexual desenvolver essa neoplasia é desprezível. Portanto, não há indicação Intraepithelial Lesion – HSIL) as alterações citológicas anteriormente
para rastreamento do câncer de colo do útero e seus precursores nesse grupo
classificadas por Richart como Neoplasia Intraepitelial Cervical grau 3
de mulheres.
(NIC3).

SÃO NECESSÁRIOS ALGUNS CUIDADOS NA SOLICITAÇÃO DO


Como a citologia é um teste de rastreio, a distinção simplificada entre lesões
EXAME?
de baixo e alto grau é prática e segura para a aplicação clínica. Porém, a
Sim. Na solicitação do exame, deve constar a idade da paciente, dados histologia representa o diagnóstico final das lesões detectadas pela citologia
clínicos e epidemiológicos de importância, data da última menstruação, e, portanto, define a conduta subsequente. É recomendado o uso da
número de gestações, uso de DIU, presença de sangramento na pós- classificação de Richart para laudos histopatológicos.
menopausa e história de cirurgias ginecológicas.

A Tabela 5, a seguir, expõe a nomenclatura citopatológica e histopatológica


utilizada desde o início do uso do exame citopatológico para o diagnóstico
das lesões cervicais escamosas e suas equivalências (Figura 4).

Células escamosas atípicas:

» De signi cado indeterminado (ASC-US): células do


epitélio estrati cado com signi cado indeterminado;

» Não é possível excluir LIEAG (ASC-H).


LIEBG ou LSIL ou Low-SIL ou SIL Baixo Grau:

» Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau, que inclui


HPV/displasia leve/NIC I.

LIEAG ou HSIL ou High-SIL ou SIL Alto Grau:

» Lesão intraepitelial escamosa de alto grau, que


compreende displasia moderada/grave, NIC II e NIC III e
carcinoma in situ.

Com características suspeitas de invasão:

» Carcinoma de células escamosas.

ANORMALIDADES DAS CÉLULAS EPITELIAIS


GLANDULARES
ATIPIAS CELULARES GLANDULARES

» Células endocervicais, possivelmente neoplásicas.

FIG. 4 » Células glandulares, possivelmente neoplásicas.


Adenocarcinoma endocervical in situ.

Na versão digital desta apostila, estão disponíveis as



Adenocarcinoma:

considerações mais importantes em relação às classificações de » Endocervical;


Papanicolaou, OMS e Richart.
» Endometrial;
A Tabela 6 detalha a classificação atualmente mais empregada que é a de
» Extrauterino;
Bethesda.

» SOE.

TAB. 6 CLASSIFICAÇÃO DE BETHESDA.


ATIPIAS DE ORIGEM INDEFINIDA

NORMAL

Atipias de:
DENTRO DOS LIMITES DA NORMALIDADE NO MATERIAL
EXAMINADO » Células endocervicais Sem Outras Especi cações (SOE),
ou especi car nos comentários;

Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade. » Células endometriais Sem Outras Especi cações (SOE),
ou especi car nos comentários;
ALTERAÇÕES CELULARES BENIGNAS
» Células glandulares Sem Outras Especi cações (SOE), ou
especi car nos comentários.

In amação.

Reparação. OUTRAS ATIPIAS CELULARES

Metaplasia escamosa imatura.

Outras neoplasias malignas.

Atro a com in amação.

Presença de células endometriais na pós-menopausa ou

Radiação.
acima de 40 anos, fora do período menstrual.

Outras (especi car).

ANORMALIDADES DAS CÉLULAS EPITELIAIS


ESCAMOSAS

ATIPIAS CELULARES ESCAMOSAS


Fonte: Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condutas
Preconizadas (2006).
http://www.inca.gov.br/inca/Arquivos/Titulos/Nomenclatura_colo_do_utero.pdf
Obs. 1: essa classificação incorporou vários conceitos e conhecimentos
adquiridos que, resumidamente, são: o diagnóstico citológico deve ser
diferenciado para as células escamosas e glandulares; inclusão do
diagnóstico citomorfológico sugestivo da infecção por HPV, devido às fortes
evidências do envolvimento desse vírus na carcinogênese dessas lesões,
dividindo-as em lesões intraepiteliais de baixo e alto graus, ressaltando o
conceito de possibilidade de evolução para neoplasia invasora; e a introdução
da análise da qualidade do esfregaço.
Obs. 2: a principal mudança da classificação de Bethesda foi a adoção do
termo lesão intraepitelial em substituição ao termo neoplasia, separando as
lesões com potencial morfológico de progressão para neoplasia daquelas mais
relacionadas com o efeito citopático viral, com potencial regressivo ou de
persistência. Foi ainda incluída a possibilidade diagnóstica de suspeição de
microinvasão. Recomenda-se enfaticamente que seja evitado o uso de outras
nomenclaturas e classificações, evitando-se a perpetuação de termos
eventualmente já abolidos ou em desuso, os quais nada contribuem para o
esclarecimento diagnóstico.

INTERPRETAÇÃO E CONDUTAS DE ACORDO COM OS


ACHADOS CITOLÓGICOS

ORIENTAÇÕES DAS DIRETRIZES BRASILEIRAS DE


RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DO ÚTERO – MS/INCA,
2016

A Tabela 7 lista os possíveis diagnósticos citopatológicos anormais e


resume as respectivas recomendações iniciais.

O detalhamento seguirá ao longo do texto.

Os procedimentos adicionais para o diagnóstico, tratamento, seguimento e


fluxogramas de conduta, baseados nas Diretrizes Brasileiras para o
Rastreamento do Câncer do Colo do Útero (Brasil, 2016), estão disponíveis
na versão digital desta apostila.

EXAME CITOPATOLÓGICO NORMAL

É atribuição do profissional da saúde que atua na Atenção Básica orientar as


mulheres com resultado de exame citopatológico normal a seguir a rotina de
rastreamento.

ADEQUABILIDADE DA AMOSTRA
Na atual nomenclatura citológica brasileira, a adequabilidade da amostra é
definida como satisfatória ou insatisfatória. O termo anteriormente utilizado
“satisfatório, mas limitado” foi abolido.

AMOSTRA SATISFATÓRIA PARA AVALIAÇÃO

Designa amostra que apresente células em quantidade representativa, bem


distribuídas, fixadas e coradas, de tal modo que sua observação permita uma
conclusão diagnóstica.
Células Presentes na Amostra Caracterizada pela presença de alterações celulares epiteliais, geralmente
Podem estar presentes células representativas dos epitélios do colo do útero: determinadas pela ação de agentes físicos, os quais podem ser radioativos,
mecânicos ou térmicos, ou, ainda, químicos, como medicamentos abrasivos

Células escamosas;
ou cáusticos, quimioterápicos e acidez vaginal sobre o epitélio glandular.

Células glandulares (não inclui o epitélio endometrial); Ocasionalmente, podem-se observar alterações, em decorrência do uso do
Dispositivo Intrauterino (DIU), em células endometriais e mesmo

Células metaplásicas.
endocervicais. Casos especiais com alterações citológicas do tipo exsudato
são observados. A colpocitologia apresenta evidentes limitações no estudo
Recomendações: esfregaços normais contendo somente células
microbiológico, de forma que tais alterações podem se dever a patógeno não
escamosas devem ser repetidos com intervalo de um ano e, com dois identificado. Os achados colposcópicos comuns são ectopias, vaginites e
exames normais anuais consecutivos, o intervalo passará a ser de três anos. cervicites.
Para garantir boa representação celular do epitélio do colo do útero, o
exame citopatológico deve conter amostra do canal cervical,
Recomendações: em caso de queixa de corrimento ou conteúdo vaginal
preferencialmente, coletada com escova apropriada, e da ectocérvice,
anormal, a paciente deverá ser conduzida conforme diretriz direcionada para
coletada com espátula tipo ponta longa (espátula de Ayre).
o tratamento de corrimento genital e de infecções sexualmente
transmissíveis. Seguir a rotina de rastreamento citológico como para as
Observação:
mulheres com resultado normal. Na ausência de queixa ou evidência clínica
Embora a indicação dos epitélios representados na amostra seja informação de colpite, não há necessidade de encaminhamento para exame ginecológico
obrigatória nos laudos citopatológicos, seu significado deixou de pertencer à ou tratamento ou repetição do exame citopatológico. Vale frisar que o
esfera de responsabilidade dos profissionais que realizam a leitura do exame citopatológico não deve ser utilizado para diagnóstico dos processos
exame. Desde 2006, a avaliação da adequabilidade no que diz respeito à inflamatórios ou infecciosos vaginais.
representatividade da JEC passou a ser de responsabilidade do
ginecologista. RESULTADO CITOLÓGICO INDICANDO METAPLASIA ESCAMOSA IMATURA

A palavra “imatura”, em metaplasia escamosa, foi incluída na Nomenclatura


A amostra satisfatória para o patologista tem relação com o material
Brasileira para Laudos Citopatológicos buscando caracterizar que esta
coletado (número de células adequado, lâmina íntegra, sem danos, não
apresentação é considerada como do tipo reparativa.
existe excesso de sangue na amostra etc.). A presença de células
metaplásicas ou células endocervicais, representativas da Junção
Escamocolunar (JEC), tem sido considerada como indicador da qualidade Recomendação: seguir a rotina de rastreamento citológico.
da coleta, pelo fato dessa coleta objetivar a obtenção de elementos celulares
representativos do local onde se situa a quase totalidade dos cânceres do ATENÇÃO
colo do útero. Assim, a presença exclusiva de células escamosas deve ser
avaliada pelo médico assistente. A metaplasia escamosa, com sua diferenciação já definida, não deve ser
considerada como inflamação e, eventualmente, nem necessita ser
É muito importante que os profissionais de saúde atentem para a citada no laudo, exceto na indicação dos epitélios representados para
representatividade da JEC nos esfregaços cervicovaginais, sob pena de não caracterizar o local de coleta.
propiciar à mulher todos os benefícios da prevenção do câncer de colo do
útero.
RESULTADO CITOLÓGICO INDICANDO REPARAÇÃO

RESULTADO NORMAL Decorre de lesões da mucosa com exposição do estroma e pode ser
(DENTRO DOS LIMITES DA NORMALIDADE NO MATERIAL EXAMINADO) originado por quaisquer dos agentes que determinam inflamação. É,
geralmente, a fase final do processo inflamatório.
É um diagnóstico completamente normal. A inclusão da expressão “no
material examinado” visa a estabelecer, de forma clara e inequívoca,
Recomendação: seguir a rotina de rastreamento citológico.
aspectos do material submetido ao exame.

RESULTADO CITOLÓGICO INDICANDO ATROFIA COM INFLAMAÇÃO


Recomendação: seguir a rotina de rastreamento citológico.

INFLAMAÇÃO SEM IDENTIFICAÇÃO DE AGENTE


Na ausência de atipias, é um achado fisiológico após a menopausa, pós- Recomendação: seguir a rotina de rastreamento citológico. A
parto e durante a lactação. Existem evidências apontando para dificuldade radioterapia ou a quimioterapia prévias devem ser mencionadas na
em se fazer o diagnóstico diferencial entre atrofia vaginal e lesões requisição do exame.
intraepiteliais escamosas de baixo e alto grau. O uso de terapia estrogênica
tópica diminui as alterações celulares degenerativas e proporciona um ACHADOS MICROBIOLÓGICOS
esfregaço com um fundo limpo (evidência moderada). Não foram
encontradas evidências para embasar uma conduta com objetivo de Achados, como Lactobacillus sp., cocos, outros bacilos são considerados
melhorar a qualidade do esfregaço. Por outro lado, foram encontradas normais, pois fazem parte da microbiota normal da vagina. Na ausência de
evidências de qualidade para o tratamento da vaginite atrófica, que pode ser sinais e sintomas, sua presença não caracteriza infecção que necessite de

usado para melhorar a qualidade do esfregaço. A síntese dessas evidências tratamento.


favorece o tratamento tópico com estrogênios conjugados ou estriol. Apesar
das evidências favoráveis às duas possibilidades terapêuticas, não foram Recomendações: seguir a rotina de rastreamento citológico.
encontrados estudos comparativos que permitam recomendar uma das duas
opções. Embora a absorção sistêmica do estrogênio tópico seja mínima, seu A paciente com sintomas, como corrimento, prurido ou odor genital
uso deve ser cauteloso nas mulheres com história de carcinoma de mama ou anormal, na presença de agentes patogênicos (Gardnerella/Mobiluncus
que fazem uso dos inibidores da aromatase. sp., Trichomonas vaginalis, Candida sp.), deve ser encaminhada para
avaliação ginecológica e seguir conduta específica.
Recomendações: seguir a rotina de rastreamento citológico.

ACHADOS MICROBIOLÓGICOS ANORMAIS



População geral: na eventualidade do laudo do exame citopatológico
mencionar dificuldade diagnóstica decorrente da atrofia, a
estrogenoterapia deve ser feita através da via vaginal com creme de
● Candida sp.: é um fungo Gram-positivo, dimorfo, saprófita do trato

estrogênios conjugados em baixa dose (0,5 g de um aplicador, o que genital e gastrointestinal, que pode se multiplicar por esporulação,
contém 0,3 mg do princípio ativo) ou estriol vaginal, um grama com tornando-se patogênico em condições específicas.
aplicador vaginal toda noite, durante 21 dias. A nova citologia será ● Trichomonas: a taxa de falso-positivos é alta para a citologia por
coletada entre cinco a sete dias após a parada do uso. Papanicolaou.

População de risco: nas pacientes com história de câncer de mama ou ● Herpes-simplex: pode produzir mudanças citopatológicas
outras contraindicações, o uso de estrogênios deve ser criteriosamente características, como a presença de células gigantes multinucleadas.
avaliado para cada paciente individualmente. O esquema recomendado ● Actinomyces: achado típico de pacientes usuárias de DIU.
pode ser o mesmo utilizado para as mulheres da população geral, como
descrito anteriormente, pelo período máximo de 21 dias.

saiba mais
RESULTADO CITOLÓGICO INDICANDO ALTERAÇÕES DECORRENTES DE
RADIAÇÃO OU QUIMIOTERAPIA O EFEITO CITOPÁTICO COMPATÍVEL COM HPV

Este achado pode ocorrer nos casos de mulheres tratadas por radioterapia
O efeito citopático compatível com o HPV quer dizer o seguinte: o exame
pélvica. A combinação de alterações celulares e anatômicas pós-radioterapia
citopatológico não diagnostica a infecção pelo HPV e nem o seu tipo, mas
pode complicar tanto a coleta como a avaliação do esfregaço citológico pós-
existem alterações celulares que sugerem a presença deste vírus.
radiação. Embora os efeitos da radiação sobre as células cervicais diminuam
após seis semanas do término da radioterapia, eles são definitivos e podem
O chamado efeito citopático do HPV consiste na presença de coilocitose,
ser observados por muitos anos. As mulheres submetidas à radioterapia
discariose e disceratose. Estes achados sugerem infecção pelo HPV.
pélvica com ou sem braquiterapia frequentemente apresentam sintomas
vaginais crônicos, tais como estenose (59%), ressecamento (47%),
inflamação (29%), sangramento (31%), entre outros. O comprometimento A disceratose significa um distúrbio no metabolismo celular devido a um
vaginal é mais frequente e acentuado quando a radioterapia é associada à excesso de maturação epitelial, que se caracteriza por acúmulo de
quimioterapia. A Sociedade Americana para Estudos sobre a Menopausa queratina no citoplasma que leva a célula a apresentar intensa coloração
indica uso de estrogênio tópico em baixa dose para estimular a regeneração eosinofílica. A disceratose isolada não deve ser valorizada, pois é
epitelial, cicatrização e elasticidade da vagina. encontrada em processos irritativos crônicos (uso de DIU ou pessários),
em uso prolongado de diafragma e em casos de prolapso uterino. Em
vigência do HPV, a disceratose pode se manifestar por paraceratose (onde
A quimioterapia também pode afetar as células do colo do útero. O
encontramos grupamentos de pequenas células escamosas
esfregaço mostra células anormalmente aumentadas, com núcleos que
queratinizadas nucleadas) ou ceratose (células queratinizadas
parecem discarióticos, porém os demais elementos celulares presentes na
anucleadas).
amostra aparentam ser perfeitamente normais. Também pode ser observada
multinucleação de células não neoplásicas.
A coilocitose (koylos = buraco) corresponde a um imenso espaço vazio em
torno do núcleo.
O tratamento radioterápico e/ou quimioterápico prévio deve ser mencionado
na requisição do exame.
A discariose significa núcleo de m orfologia anormal.
CITOLOGIA COM CÉLULAS ENDOMETRIAIS NORMAIS FORA DO PERÍODO ASC-US
MENSTRUAL OU APÓS A MENOPAUSA (CÉLULAS ESCAMOSAS ATÍPICAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO,
POSSIVELMENTE NÃO NEOPLÁSICAS)
A presença de células endometriais espontaneamente esfoliadas, em uma
amostra citopatológica obtida fora do período menstrual ou de mulher na Estudos de variação entre observadores demonstram concordância entre
pós-menopausa, sem uso de terapia hormonal, ainda que mostrando citopatologistas, que varia entre 35 a 45%. Baseando-se neste fato e na
aparência típica, demanda investigação da cavidade endometrial visto a correlação com doença de baixa gravidade para a grande maioria das
possibilidade de sinalizarem uma anormalidade glandular no endométrio. mulheres, uma conduta conservadora, pouco invasiva, parece razoável.
Fatores como rastreamento citológico prévio sem suspeita de doença pré-
A revisão de Bethesda 2014 recomenda o relato da presença de células invasiva ou invasiva e idade da mulher devem ser considerados nessa
endometriais fora do período menstrual após os 45 anos de idade, pois decisão, pois nas situações de menor risco, uma conduta conservadora
estudos comprovam o aumento do valor preditivo desse achado nessa faixa também parece adequada. Na avaliação do risco de doença pré-invasiva ou
etária. invasiva, deve-se considerar que a lesão invasiva do colo do útero é
claramente mais prevalente na quarta e quinta décadas de vida da mulher
(entre 35 e 55 anos), quando se justifica uma investigação mais acurada da
Recomendações: seguir a rotina de rastreamento citológico. Avaliar
doença.
indicação de investigação da cavidade uterina.

Recomendações: diante de um resultado de exame citopatológico de


SITUAÇÕES ESPECIAIS
ASC-US, a conduta na mulher com 30 anos ou mais será a repetição desse
Mulheres na pós-menopausa, gestantes e imunodeprimidas com alterações
exame em um intervalo de seis meses. A segunda coleta deve ser precedida,
celulares benignas não demandam recomendações especiais.
quando necessário, do tratamento de processos infecciosos e de melhora do
trofismo genital, com uso prévio de estrogênio (para mulheres após a
EXAME CITOPATOLÓGICO ANORMAL menopausa, conforme recomendado em Citologia Normal – resultado
indicando atrofia com inflamação), na unidade de atenção primária. Para as
AMOSTRA INSATISFATÓRIA PARA AVALIAÇÃO mulheres com idade inferior a 30 anos, a repetição do exame citopatológico
deverá ser realizada em 12 meses.
É considerada insatisfatória a amostra cuja leitura esteja prejudicada pelas
razões expostas abaixo, algumas de natureza técnica e outras de amostragem
celular, podendo ser assim classificada: Se dois exames citopatológicos subsequentes com intervalo de seis (no caso
de mulheres com 30 anos ou mais) ou doze meses (no caso de mulheres
com menos de 30 anos) forem negativos, a mulher deverá retornar à rotina
1. Material acelular ou hipocelular (< 10% do esfregaço);
de rastreamento citológico trienal. Porém, se o resultado de alguma
2. Leitura prejudicada (> 75% do esfregaço) por presença de sangue, citologia de repetição for igual ou sugestiva de lesão intraepitelial ou câncer,
piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos ou intensa a mulher deverá ser encaminhada à unidade de referência para colposcopia.
superposição celular.
Vale frisar que considerando a baixa prevalência de doença pré-invasiva e
Recomendação: o exame deve ser repetido em seis a doze semanas com câncer nas mulheres com citologia de ASC-US, o tratamento é baseado
correção, quando possível, do problema que motivou o resultado somente no aspecto colposcópico (“Ver e Tratar” é inaceitável).
insatisfatório.

SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM ASC-US NA CITOLOGIA:


CITOLOGIA COM CÉLULAS ENDOMETRIAIS NORMAIS FORA DO PERÍODO
MENSTRUAL OU APÓS A MENOPAUSA Mulheres até 24 anos
Pacientes com idade inferior a 25 anos representam um grupo com maior
A presença de células endometriais espontaneamente esfoliadas, em uma
incidência e prevalência de infecção por HPV, porém a maioria destas
amostra citopatológica obtida fora do período menstrual ou de mulher na
infecções têm resolução espontânea. Apesar desta faixa etária não ser alvo
pós-menopausa, sem uso de terapia hormonal, ainda que mostrando
do rastreamento do câncer de colo do útero, as recomendações que seguem
aparência típica, demanda investigação da cavidade endometrial visto a
visam a orientar os profissionais como proceder na situação em que
possibilidade de sinalizarem uma anormalidade glandular no endométrio.
recebam estas mulheres com este diagnóstico citológico.

A revisão de Bethesda 2014 recomenda o relato da presença de células


Recomendações: se a mulher até 24 anos tiver sido submetida ao exame
endometriais fora do período menstrual após os 45 anos de idade, pois
citopatológico e apresentar ASC-US, a citologia deverá ser repetida em três
estudos comprovam o aumento do valor preditivo deste achado nesta faixa
anos.
etária.

Caso se mantenha essa atipia, deverá manter seguimento citológico trienal.


Recomendações: seguir a rotina de rastreamento citológico.

No caso de novo exame normal, reiniciar o rastreamento aos 25 anos.


Avaliar indicação de investigação da cavidade endometrial.

No caso da citologia se manter ASC-US ou de maior gravidade, a partir dos


25 anos deverá ser encaminhada para colposcopia.
Gestantes Estudos revelam frequência de lesão de alto grau entre 12,2 e 68% e de
A incidência do câncer de colo do útero na gestação é rara, ocorrendo de um câncer em torno de 1,3 a 3% nas mulheres com citologia de ASC-H. As
a quinze casos para dez mil gestações. Diretrizes Internacionais, em consonância com as Recomendações
Brasileiras, preconizam que o encaminhamento dessas pacientes para
colposcopia é a conduta padrão, considerando-se o maior risco de presença
Recomendação: a abordagem na citologia de ASC-US não deve ser
de lesões intraepiteliais ou invasoras em mulheres com diagnóstico
diferente na gestante. Na colposcopia, realizar biópsia apenas se houver
citopatológico ASC-H.
suspeita de lesão invasiva.

Nas Diretrizes Brasileiras consta a informação adicional de que o uso do


Mulheres na Pós-Menopausa
teste de DNA-HPV poderia contribuir na avaliação das mulheres com
Alterações nucleares em citologia de mulheres na pós-menopausa colposcopia sem achados anormais ou com achados anormais menores.
classificadas como ASC-US podem representar apenas atrofia.

Recomendações: todas as mulheres com laudo citopatológico de ASC-H


Estudos observaram que a maior parte das alterações citológicas
devem ser encaminhadas para uma unidade de referência para colposcopia.
classificadas como ASC-US poderiam, na verdade, ser apenas alterações
Realizada a colposcopia, deve-se considerar se a JEC é visível. No caso de
reativas no epitélio atrófico.
colposcopia com visão total da JEC (ou seja, nas ZT tipos 1 ou 2) e achados
maiores, deve ser realizada a biópsia, mas a excisão tipo 1 ou 2 são
Recomendações: em mulheres na pós-menopausa ou com atrofia aceitáveis.
diagnosticada clinicamente, é recomendável o preparo com estrogênio antes
da colposcopia, prescrito pelo médico na unidade básica de saúde, antes de Na presença de achados colposcópicos anormais, sem visão da JEC (ZT tipo
ser submetida a nova citologia ou colposcopia. 3), deve-se proceder à biópsia e avaliação do canal endocervical, e a
conduta dependerá deste resultado. Caso seja confirmada a presença de NIC
A mesma orientação se aplica quando indicado o seguimento citológico. II ou mais relevante, na biópsia ou material endocervical, seguir
recomendação específica. Caso mostre NIC I ou o resultado dessa
Imunossuprimidas investigação for negativo, iniciar o seguimento, repetindo a citologia e a

Existem evidências de que a infecção por HPV em pacientes infectadas pelo colposcopia em seis meses.
vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) é mais persistente, o que está
relacionado à carga viral de HIV mais alta (> 400 HIV-1 cópias RNA/ml) Nos casos em que a JEC não é visível ou parcialmente visível (ZT
ou níveis de CD4+ abaixo de 350 células/μl, favorecendo uma maior tipo 3) e a colposcopia não revela achados anormais, também
incidência de lesões cervicais mais graves. deverá ser investigado o canal endocervical. Se o exame deste
material mantiver o resultado ou mais grave, excluída lesão
Estudos mostraram que mulheres infectadas pelo HIV, principalmente vaginal, é recomendável a excisão tipo 3 para diagnóstico. Caso o
aquelas com contagem de células CD4+ < 200 células/mm³ e com exame deste material seja negativo, indicam-se novas citologia e
diagnóstico citopatológico de ASC-US, tinham maior percentual de colposcopia em seis meses. Se os novos exames, realizados em seis meses
diagnóstico de lesão intraepitelial, em menor período de tempo (doze após a colposcopia forem negativos, retornar à unidade de atenção primária
meses), quando comparadas às não infectadas. e repetir a citologia em seis meses. Caso a citologia em seis meses
mantenha o diagnóstico ou mais grave, na ausência de achados
Há consenso de que mulheres imunossuprimidas têm, em geral, maior colposcópicos anormais, mantida a impossibilidade de visão da JEC e
probabilidade de apresentarem lesões pré-invasivas, motivando excluída lesão vaginal, é recomendada a excisão tipo 3. Nesses casos, se a
recomendações específicas de rastreamento. JEC for visível, é recomendável a revisão das lâminas iniciais. Caso esse
diagnóstico seja mantido ou mais grave, é recomendável a excisão tipo 3.
Recomendações: mulheres imunodeprimidas com este resultado Caso a revisão não mantenha esse diagnóstico, seguir conduta específica.
Caso não seja possível a revisão, uma nova citologia deve ser realizada em
citológico devem ser encaminhadas para colposcopia já no primeiro exame
seis meses. Caso a nova citologia mostre um novo resultado alterado, seguir
alterado, seguindo as recomendações para as demais mulheres nesta
conduta específica.
situação.

SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM ASC-H NA CITOLOGIA:


O seguimento citológico, quando não evidenciada lesão intraepitelial, deve
ser semestral, até dois exames negativos. Após esse período, deve seguir a Mulheres até 24 anos
recomendação de rastreamento específico para essas mulheres. Existem evidências de maior probabilidade de regressão das lesões pré-
invasivas nesta faixa etária, o que indica a possibilidade de uma conduta
ASC-H mais conservadora. Como mencionado anteriormente, apesar desta faixa
(CÉLULAS ESCAMOSAS ATÍPICAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO, etária não ser prioridade no rastreamento do câncer de colo do útero, as
QUANDO NÃO SE PODE EXCLUIR LESÃO INTRAEPITELIAL DE ALTO GRAU) recomendações que seguem visam a orientar os profissionais sobre como
proceder nessa situação.
Recomendações: a conduta inicial, de encaminhamento para Prejudica o diagnóstico das lesões glandulares, durante a colposcopia, a
colposcopia, não deve ser diferente para esta faixa etária, mas achados dificuldade de acesso ao canal endocervical e a possibilidade de ausência de
normais ou menores na colposcopia podem indicar seguimento citológico achados colposcópicos anormais em epitélio glandular, bem como a
com intervalo de 12 meses. Nos casos de achados colposcópicos maiores, a possibilidade de existirem lesões multifocais. Os achados anormais também
mulher até 24 anos deve ser submetida à biópsia e, se esta for compatível podem estar presentes na ZT à semelhança do observado na doença
com NIC II/III, deve-se seguir a recomendação específica. Nessas mulheres escamosa.
a adoção do método “Ver e Tratar” é inaceitável.
Um aspecto clinicamente relevante é que as afecções endometriais,
Gestantes possivelmente encontradas em pacientes com esse diagnóstico citológico,
A conduta para a gestante com ASC-H deve ser o encaminhamento para a são mais frequentes em mulheres com mais de 35 anos e, naquelas mais
colposcopia e para a realização da biópsia, apenas se houver suspeita de jovens, com sangramento uterino anormal, anovulação crônica e obesidade,
lesão invasiva. A paciente deverá ser reavaliada em 90 dias após o parto na o que aponta para a necessidade de investigação endometrial nessas
unidade secundária, para confirmação diagnóstica e decisão terapêutica. situações. Células endometriais atípicas devem ser sempre consideradas
anormais, independentemente da idade ou status menstrual. Estudos

Mulheres na Pós-Menopausa recomendam que, na presença de células endometriais atípicas, o exame do


endométrio deve ser feito em primeiro lugar.
Em pacientes no climatério ou com atrofia diagnosticada clinicamente é
recomendável o preparo com estrogênio antes da colposcopia, prescrito pelo
Doença invasiva ou pré-invasiva, escamosa ou glandular mostraram
médico na unidade básica de saúde. A mesma orientação se aplica quando
associação com a presença de DNA-HPV oncogênico; porém, a
indicado o seguimento citológico.
probabilidade de presença de lesão intraepitelial pode chegar a apenas 40%
dos casos quando presentes tipos oncogênicos de HPV e a 4% quando um
Imunossuprimidas
desses tipos de HPV está ausente.
A prevalência de lesões pré-invasivas em mulheres imunodeprimidas é mais
alta do que a observada em mulheres imunocompetentes, principalmente em
Recomendações: pacientes com diagnóstico citológico de AGC devem
pacientes com níveis de CD4 abaixo de 200 células/mm³. Entretanto, a falta
ser encaminhadas para colposcopia. À colposcopia, deve ser realizada nova
de evidências científicas impediu a recomendação para uma conduta
coleta de material para citologia com especial atenção para o canal cervical.
diferenciada em pacientes imunossuprimidas. Portanto, a conduta na
Concomitantemente, é recomendável a avaliação endometrial com
paciente HIV positiva ou com outra forma de imunossupressão é a mesma
ultrassonografia em pacientes acima de 35 anos e, caso anormal, estudo
das demais pacientes, ou seja, encaminhamento para colposcopia.
anatomopatológico do endométrio. Abaixo dessa idade, a investigação
endometrial deverá ser realizada se presente sangramento uterino anormal
AGC
ou se a citologia sugerir origem endometrial. A investigação da cavidade
(DENOMINAÇÃO ANTIGA DE AGUS – CÉLULAS GLANDULARES ATÍPICAS
endometrial será prioritária em relação à investigação da ectocérvice e do
DE SIGNIFICADO INDETERMINADO, POSSIVELMENTE NÃO NEOPLÁSICAS
canal endocervical sempre que mencionada a possível origem endometrial
OU CÉLULAS GLANDULARES ATÍPICAS EM QUE NÃO SE PODE EXCLUIR
dessas células atípicas.
LESÃO INTRAEPITELIAL DE ALTO GRAU)

Apesar da baixa prevalência de AGC e da variabilidade dos estudos, esse A investigação de doença extrauterina também estará indicada nos casos em
diagnóstico se torna relevante pela possibilidade de se tratar de neoplasia que persistir o diagnóstico de AGC e se, ao final da investigação, não tiver
intraepitelial escamosa, AIS, adenocarcinoma invasor do colo uterino, sido possível concluir o diagnóstico de doença uterina (canal endocervical e
adenocarcinoma do endométrio e, mais raramente, neoplasia extrauterina, cavidade endometrial), independentemente da idade da mulher.
além de outras derivações müllerianas. Achados de benignidades, como
hiperplasia microglandular, adenose vaginal, pólipos endometriais, Durante a colposcopia, se encontradas alterações, quaisquer que sejam, deve
endocervicais, quadros inflamatórios, endometriose, efeitos radiógenos, ser realizada a biópsia. Caso o exame histopatológico do material desta
gestação, uso prolongado de progestogênios, artefatos da própria escovação, biópsia seja compatível com adenocarcinoma in situ/invasor, seguir
metaplasia tubária, uso do DIU e alterações reativas (após conização, recomendações específicas. No caso de diagnóstico de NIC II/III, deve-se
cauterizações ou biópsias) também podem ser responsáveis por essas atipias buscar excluir doença glandular simultânea, considerando o diagnóstico da
celulares. citologia do material obtido no momento da colposcopia e outros exames
solicitados para avaliação do endométrio ou de outros órgãos pélvicos.
Considera-se a categoria atipias em células glandulares de alto risco, pois
nela encontra-se uma associação com NIC II/III ou câncer em 15 a 56% dos Na persistência de AGC na citologia, após o fim das investigações no colo e
casos, sendo as NIC mais comuns em pacientes com menos de 40 anos e as corpo uterinos, além de órgãos adjacentes, sem evidência de doença, as
neoplasias invasivas mais frequentes em pacientes acima dessa idade. Essa mulheres devem ser mantidas em seguimento citológico e colposcópico
grande variabilidade pode ser devida, em parte, à baixa reprodutibilidade semestral até a exclusão de doença pré-invasiva ou invasiva.
desse diagnóstico citológico com níveis de concordância pobres
intraobservadores.
Se a nova citologia sugerir doença escamosa ou for negativa, seguir
recomendação específica. Nos casos biopsiados, considerar o diagnóstico
obtido e confrontar com o da nova citologia, definindo a conduta a seguir
em função do resultado mais relevante.
Se a citologia do material obtido no mesmo momento da colposcopia for Entretanto, a positividade dos testes de DNA-HPV é dependente da
negativa, a mulher deverá ser seguida com citologia semestral na unidade prevalência da infecção pelo HPV que, por sua vez, é dependente da idade.
secundária. Após dois anos com exames semestrais normais, a paciente Estudos mais recentes demonstraram que vários testes de detecção de HPV
deve retornar ao rastreamento trienal. apresentam especificidade crescente com o aumento da idade, além de alta
sensibilidade, para detecção de NIC II ou lesões mais graves em mulheres
Quando indicada a excisão tipo 3, deve-se preferir uma técnica que produza com LSIL. Assim, as evidências científicas atuais sugerem que os testes de
um espécime íntegro e adequado para avaliação histopatológica. detecção de DNA-HPV podem ser úteis para a triagem de mulheres com
LSIL com mais idade, contudo, em decorrência da falta de dados
estratificados por idade, não é possível atualmente definir com segurança
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM AGC NA CITOLOGIA: um ponto de corte em função dessa característica.
Mulheres até 24 anos, na Pós-Menopausa e Imunossuprimidas
Devem ser investigadas da mesma forma que as demais mulheres. Recomendações: mulheres com diagnóstico citopatológico de LSIL
devem repetir o exame citopatológico em seis meses na unidade de atenção

Gestantes primária. Processos infecciosos ou atrofia genital identificados devem ser


tratados antes da nova coleta. Se a citologia de repetição for negativa em
Devem ser investigadas da mesma maneira, exceto pelo estudo endometrial,
dois exames consecutivos, a paciente deve retornar à rotina de rastreamento
que não é factível. A biópsia do colo do útero deverá ser realizada apenas na
citológico trienal na unidade de atenção primária. Se uma das citologias
suspeita de doença invasiva.
subsequentes no período de um ano for positiva, encaminhar à unidade de
referência para colposcopia.
LIEBG OU LSIL OU LESÃO INTRAEPITELIAL DE BAIXO GRAU

A LSIL representa a manifestação citológica da infecção causada pelo HPV, À colposcopia, se presentes achados anormais no colo do útero, deve-se
altamente prevalente e com potencial de regressão frequente, especialmente realizar a biópsia. Presente NIC II/III ou câncer deve-se seguir conduta
em mulheres com menos de 30 anos. específica. Caso presente NIC I, a paciente deverá ser mantida em
seguimento citológico. Quando presentes achados menores, a biópsia
As recomendações preconizadas internacionalmente para a conduta inicial poderá ser dispensada, considerando-se outros fatores, como idade menor
de pacientes com diagnóstico citopatológico de LSIL variam entre o do que trinta anos, rastreamento prévio negativo e ausência de história de
encaminhamento imediato para a colposcopia, a repetição da citologia em doença cervical pré-invasiva (NIC II/III). As pacientes não submetidas à
intervalos variáveis, com encaminhamento para colposcopia caso o biópsia devem ser seguidas com citologia em doze meses até dois exames
resultado subsequente mantenha LSIL ou apresente outras atipias, e a seguidos negativos, seguindo-se conduta específica a partir dos resultados
realização do teste de detecção de DNA-HPV, com encaminhamento para subsequentes. Considerando-se a alta possibilidade de sobretratamento e
colposcopia caso o resultado seja positivo. efeitos adversos, o método “Ver e Tratar” é inaceitável nas mulheres com
citologia de LSIL. Na ausência de achados colposcópicos anormais no colo
e na vagina, é recomendado repetir a citologia. A nova citologia deverá ser
O encaminhamento imediato para colposcopia como conduta inicial de
realizada a cada seis meses em mulheres com mais de trinta anos ou
pacientes com diagnóstico citológico de LSIL é apoiado no argumento de
anualmente, nas mulheres até trinta anos. Caso o exame citopatológico seja
que há, nesses casos, a possibilidade da presença de lesões mais graves.
negativo em dois exames seguidos, a mulher deve retornar à rotina de
Contudo, essa conduta desconsidera a história natural da infecção pelo HPV,
rastreamento citológico trienal. Mantido o diagnóstico citopatológico de
que embasa o adiamento da investigação, evitando o sobrediagnóstico ou
LSIL, a mulher deverá ser mantida em seguimento citológico até que os
sobretratamento induzido pela abordagem de lesões que tendem à regressão
exames retornem à normalidade. Caso, neste seguimento, seja obtido um
espontânea.
diagnóstico mais relevante (ASC-H, HSIL, AGC ou câncer), a conduta
deverá ser definida em função do novo resultado. Na persistência de LSIL
O comportamento benigno deste grau de alteração associado ao risco de
por 24 meses, a mulher deve ser reencaminhada para colposcopia.
ocorrência de efeitos adversos psíquicos e físicos, como hemorragia,
infecção e desfechos obstétricos significativos, relacionados a
Na persistência de NIC I por 24 meses, a manutenção do seguimento ou o
procedimentos diagnósticos e terapêuticos, tem levado a recomendações
tratamento são aceitáveis, sendo recomendada a individualização
mais conservadoras.
considerando a idade, paridade e preferências da paciente. Se a opção for
pelo tratamento, nos casos de JEC visível e a menos de um centímetro no
Em mulheres com LSIL e teste de DNA-HPV positivo para tipos
canal (ZT tipo 1 ou 2) pode-se optar por métodos destrutivos
oncogênicos, o risco em cinco anos para detecção de NIC II ou lesões mais
(eletrocauterização, criocauterização ou laserterapia) ou excisão tipo 1 ou 2.
graves e NIC III ou lesões mais graves é significativamente maior do que
Quando a decisão for tratar e a ZT for tipo 2 (com JEC além do primeiro
em mulheres com LSIL e DNA-HPV negativo. Porém, a aplicação de testes
centímetro do canal) ou 3, a indicação de um procedimento excisional
de detecção de DNA-HPV para a triagem de mulheres com LSIL para a
(excisão tipos 2 ou 3) deve ser criteriosamente avaliada frente ao risco
colposcopia apresenta sensibilidade significativamente maior, mas
obstétrico.
especificidade significativamente menor, em comparação à citologia de
repetição. A baixa especificidade dos testes de DNA-HPV é decorrente de
sua alta positividade em mulheres com LSIL (76,9%), o que determinaria o SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM LIEBG NA CITOLOGIA:
encaminhamento da maioria das mulheres para colposcopia,
comprometendo a efetividade dessa estratégia.
Mulheres até 24 anos Imunossuprimidas
Nessa faixa etária existem evidências de maior incidência, maior As evidências de maior prevalência de lesões precursoras e câncer nessas
probabilidade de regressão de LSIL e raridade de lesões invasivas, o que mulheres têm levado a recomendações de que, diante de qualquer
vem norteando recomendações de conduta mais conservadora. Nesse grupo anormalidade citológica, mulheres imunossuprimidas devem ser
de pacientes, foi observada regressão de LSIL em 60% dos casos em um encaminhadas imediatamente para colposcopia.
período de doze meses e de até 92% em três anos. Tal fato, aliado a
possíveis danos decorrentes da investigação e tratamento de lesões Recomendações: mulheres imunossuprimidas, como as infectadas pelo
intraepiteliais, demonstra que a conduta deve ser expectante e menos HIV, em situação de imunocomprometimento ou em uso de
invasiva. imunossupressores, devem ser encaminhadas para colposcopia após o
primeiro exame citopatológico mostrando LSIL.
A alta prevalência de infecção pelo HPV em adolescentes exclui a utilização
de testes de detecção de DNA-HPV na prática assistencial. Cerca de 90% Quando indicado o tratamento, ele deve ser excisional. O seguimento pós-
das infecções por HPV na adolescência são transitórias, e o HPV não é mais tratamento deve ser citológico anual e poderá incluir a colposcopia a critério
detectado em até dois anos. Recomendações internacionais têm sido do serviço.
modificadas no sentido de evitar tratamentos desnecessários.

LIEAG OU HSIL OU LESÃO INTRAEPITELIAL DE ALTO GRAU


Apesar de as mulheres até esta idade não fazerem parte da faixa etária para
o rastreamento do câncer de colo do útero, as recomendações a seguir Cerca de 70 a 75% das mulheres com laudo citopatológico de lesão
pretendem orientar os profissionais a como lidar com esta situação. intraepitelial escamosa de alto grau apresentam confirmação histopatológica
deste grau de doença e, em 1 a 2%, de carcinoma invasor.

Recomendações: mulheres até 24 anos, caso tenham sido submetidas ao


A partir da nova nomenclatura colposcópica da International Federation
exame citopatológico e apresentem alterações citológicas compatíveis com
LSIL, devem repetir a citologia em três anos. Caso se mantenha essa atipia, of Colposcopy and Cervical Pathology (IFCPC) – Rio de Janeiro,
deverão manter seguimento citológico trienal. No caso de novo exame 2011 –, os procedimentos excisionais passaram a ser denominados excisões
normal, reiniciar rastreamento aos 25 anos. A qualquer momento, caso dos tipos 1, 2 ou 3, na dependência da profundidade de tecido que é
apresentem citologia com alterações mais graves, deverão ser encaminhadas determinada pelo tipo de Zona de Transformação (ZT tipos 1, 2 ou 3).
para colposcopia.
A prática considerada mais efetiva é conhecida como “Ver e Tratar”. Nesse
Frente ao diagnóstico histológico de NIC I, o tratamento deve ser evitado e caso, o tratamento é ambulatorial e pode ser realizado na primeira consulta.
mantido o seguimento citológico trienal até que completem os 25 anos. A Isso reduz o tempo entre a captação e o tratamento dessas mulheres,
partir desta idade, devem ser conduzidas como as demais mulheres. podendo garantir menos perdas no seguimento. Esse método foi
Métodos excisionais não estão indicados antes dos 25 anos. considerado viável e com boa aceitabilidade, quando comparado à conduta
com biópsia prévia. Uma preocupação com a adoção desse método é o

Gestantes sobretratamento. Quando realizada em mulheres com diagnóstico citológico


de HSIL, colposcopia adequada evidenciando achados maiores, JEC visível
As alterações fisiológicas que ocorrem durante a gestação podem dificultar
e no máximo até o primeiro centímetro do canal endocervical (ZT tipo 1),
a interpretação dos achados, requerendo maior experiência por parte dos
lesão restrita ao colo e ausência de suspeita de invasão ou doença glandular
colposcopistas. Os achados colposcópicos durante a gestação tendem a ser
tem reduzido o risco de histologia negativa.
classificados como maiores e a presença de deciduose pode levar a
sobrediagnóstico e sobretratamento. Considerando suas limitações durante a
Recomendações: mulheres que apresentarem laudo citopatológico de
gestação, especialistas na área recomendam que a colposcopia não deve ser
realizada durante a gestação de mulher com LSIL. HSIL deverão ser encaminhadas à unidade de referência para realização de
colposcopia. A repetição da citologia é inaceitável como conduta inicial.
Quando a colposcopia se mostrar inadequada devido a processos
Recomendações: qualquer abordagem diagnóstica deve ser realizada
inflamatórios ou qualquer outra situação que inviabilize a sua realização,
após três meses do parto.
esta deverá ser realizada assim que possível.

Mulheres na Pós-Menopausa
Na presença de achados maiores, JEC visível (ZT tipos 1 ou 2), lesão
Em razão da deficiência de estrogênio, essas mulheres apresentam restrita ao colo e ausente suspeita de invasão ou doença glandular deverá ser
alterações celulares no colo uterino e vagina, que podem acarretar realizado o “Ver e Tratar”, ou seja, a excisão tipo 1 ou 2, de acordo com o
resultados falso-positivos da citologia. A terapia por meio de estrogênio tipo da ZT. Em locais em que não esteja garantida a qualidade da citologia
tópico melhora a qualidade desse exame. ou quando o colposcopista não se sentir seguro quanto à relevância dos
achados, a biópsia será aceitável.
Recomendações: mulheres na pós-menopausa com diagnóstico
citopatológico de LSIL devem ser conduzidas como as demais mulheres, Quando a abordagem “Ver e Tratar” não for possível devido a processo
mas a segunda coleta deve ser precedida de tratamento da colpite atrófica, inflamatório ou outras contraindicações temporárias, esta deverá ser
quando presente. realizada logo após a sua correção. Nos casos em que esse método estiver
indicado, a biópsia de colo não é recomendada.
Na colposcopia com JEC não visível ou parcialmente visível (ZT tipo 3) e A regressão de NIC III também tem sido observada em adolescentes ou
achados maiores, deverá ser realizada excisão tipo 3. Em mulheres jovens, mulheres jovens e tem motivado recomendações mais conservadoras. Entre
todos os esforços para tentar expor a JEC devem ser empreendidos. elas, tem sido sugerida a possibilidade de tratamentos destrutivos. Estes têm
mostrado a mesma eficácia que os excisionais, desde que seja atingida a
Na colposcopia com JEC visível e achados menores realizar biópsia. base de glândulas. Isso inclui a eletrocauterização, a crioterapia e a
Quando o resultado da biópsia for compatível com NIC II/III, realizar destruição a laser, porém estas têm a desvantagem de não fornecer
excisão tipo 1 ou 2 conforme o tipo de ZT. Se a biópsia for negativa ou informação quanto ao tratamento da totalidade da lesão ou existência de
apresentar diagnóstico de NIC I, deve-se repetir a citologia e a colposcopia microinvasão ou invasão não suspeitada ou diagnosticada por estudo
em seis meses a contar do dia da realização da biópsia e adotar conduta histopatológico, o que é muito raro nessa faixa etária. Tratamentos
específica de acordo com o novo laudo citopatológico. destrutivos têm sido recomendados quando não há suspeita de lesão
invasiva ou glandular, a lesão é completamente visível e não se estende ao
canal endocervical.
Na colposcopia com JEC não visível ou parcialmente visível e achados
menores, a biópsia será opcional e o canal deverá ser investigado. A
ausência de lesão vaginal deve ser assegurada. Caso a avaliação do canal Mulheres até esta idade não estão incluídas na faixa etária alvo do
endocervical mantenha a suspeita de lesão pré-invasiva ou invasiva, realizar rastreamento do câncer de colo do útero, mas é importante orientar os
excisão tipo 3. Caso negativo ou LSIL/NIC I, repetir a citologia e profissionais quanto às condutas adequadas nesta situação, para reduzir a
colposcopia em seis meses. probabilidade de malefícios decorrentes de procedimentos diagnósticos e
terapêuticos desnecessários, principalmente relacionados à função
reprodutiva.
Na colposcopia com achados sugestivos de invasão, realizar biópsia. Caso o
diagnóstico histopatológico seja de doença invasiva ou microinvasiva, a
paciente deverá ser conduzida conforme recomendação específica. Caso a Recomendações: na vigência de exame citopatológico com diagnóstico
biópsia apresente resultado diferente, realizar excisão conforme o tipo de de HSIL, encaminhar para colposcopia. A repetição da citologia é
ZT. inaceitável como conduta inicial. O método “Ver e Tratar” também é
inaceitável nessas mulheres.
À colposcopia sem achados colposcópicos anormais, independentemente da
visão da JEC, a ausência de lesão vaginal deve ser assegurada. Se possível, Se o achado colposcópico for menor, a paciente deverá ser mantida em
solicitar revisão de lâmina, de preferência por outro profissional. seguimento anual citológico por dois anos.

Nos casos em que a revisão de lâmina for possível, o seu resultado deverá Na presença de achado colposcópico maior, realizar biópsia. Se a biópsia
substituir o resultado anterior. Mantido o diagnóstico de HSIL, sem achados revelar NIC II, dar preferência à conduta expectante por 24 meses, porém o
anormais, se a JEC não for visível ou parcialmente visível (ZT tipo 3), tratamento também é aceitável caso não possa ser assegurado esse
deve-se investigar o canal endocervical. Caso a avaliação do canal seguimento. O seguimento deverá ser feito com exame citopatológico e
endocervical mantenha a suspeita de lesão pré-invasiva ou invasiva realizar colposcopia semestrais nos primeiros dois anos. Após esse período, se
excisão tipo 3. Se o resultado dessa investigação for negativo ou LSIL/NIC houver persistência da lesão, optar pelo tratamento, que poderá ser de forma
I, repetir a citologia e colposcopia em seis meses. Caso a JEC seja visível, excisional ou destrutiva. O tratamento destrutivo somente poderá ser
uma nova citologia deverá ser realizada em seis meses. realizado, nesses casos, se a lesão é restrita à ectocérvice e JEC visível (ZT
tipo 1). Se houver regressão da lesão, a mulher deverá ser mantida em
Ainda nos casos sem achados anormais, se a citologia realizada em seis seguimento citológico com intervalo de 12 meses até que apresente dois
meses apresentar o mesmo resultado (HSIL), assegurada inexistência de exames consecutivos negativos e, a seguir, trienal na unidade básica de
lesão vaginal, deve-se realizar procedimento excisional de acordo com o saúde. Se durante o seguimento o exame citopatológico mostrar-se alterado,
tipo de ZT. Caso o resultado da citologia de seis meses seja negativo a conduta deverá ser definida segundo o novo resultado. Se a biópsia for
(normal), deve-se manter controle citológico semestral na unidade negativa ou NIC I, deve-se repetir o exame citopatológico em seis meses e
secundária. Após dois exames negativos, a mulher poderá retornar ao adotar conduta específica de acordo com o novo laudo.
rastreamento trienal. A colposcopia poderá ser adicionada durante esse
seguimento para rever a impressão inicial. A informação de que se trata de Se a biópsia revelar NIC III, o seguimento citológico e colposcópico
uma amostra para seguimento de citologia anterior positiva deve ser semestral por dois anos é recomendado nas mulheres até 20 anos. Nas
registrada nos pedidos de exame. demais, entre 21 e 24 anos, é recomendado tratamento excisional (EZT) ou
destrutivo (B), mas o seguimento citológico e colposcópico semestral por
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM LIEAG NA CITOLOGIA: dois anos ou até completar 25 anos também é aceitável.

Mulheres até 24 anos


Nos casos em que a colposcopia mostrar achados colposcópicos sugestivos
Esta população apresenta elevada prevalência de infecção pelo HPV, no
de invasão, a mulher deverá ser biopsiada e, se o exame histopatológico não
entanto, mostra baixa incidência de HSIL e de carcinoma invasor.
confirmar esse diagnóstico, a mulher deverá ser reavaliada para excluí-lo.

Estudos mostram que a história natural da NIC II nesta população está


muito próxima daquela da NIC I. Em doze meses de seguimento de NIC II
em adolescentes e mulheres jovens, é observada probabilidade de regressão
em torno de 60% em alguns estudos, mas pode chegar até 75% em três anos
de seguimento.
Na ausência de achado colposcópico anormal, o que inclui minucioso Recomendações: a conduta inicial para pacientes imunossuprimidas com
exame da vagina, uma nova citologia deverá ser realizada em seis meses. Se exame citopatológico de HSIL é o encaminhamento para colposcopia, e a
o resultado da nova citologia mantiver HSIL, deve-se manter controle investigação deverá ser a mesma já descrita para as mulheres
citopatológico e colposcópico semestrais até dois exames negativos. Após imunocompetentes.
esse período, manter seguimento citológico trienal na unidade básica de
saúde. Se durante o seguimento o exame colposcópico ou citopatológico Todavia, como este grupo tem maior risco de recidiva, a continuação do
mostrar-se alterado, diferente de HSIL, a conduta deverá ser definida seguimento citopatológico após tratamento de NIC II/III deverá ser anual
segundo o novo resultado. Nos casos de persistência, é considerado durante toda a vida.
aceitável manter o seguimento ou o tratamento excisional (I). Caso o
resultado da nova citologia seja negativo (normal), deve-se manter controle
Nessas mulheres, considerando limitações dos tratamentos destrutivos e
citopatológico e colposcópico semestrais por um ano. Caso mantenha-se
maior risco de recorrência, quando necessário tratamento, deve-se preferir o
negativo, retornar ao rastreamento aos 25 anos. Após esse período, estando
excisional.
os exames normais, retornar ao rastreamento citológico trienal na unidade
básica de saúde.
Histerectomizadas
Mulheres submetidas à histerectomia com história de tratamento prévio para
Nos casos sem achados anormais em que for possível a revisão de lâmina, o
novo resultado deverá ser considerado e definirá a conduta a ser seguida. NIC II/III apresentam risco de desenvolver Neoplasia Intraepitelial Vaginal
(NIVA) em 1 a 4% dos casos e câncer de vagina em 0,6%.

Gestantes
Recomendações: com base no contexto supracitado, pacientes com
A colposcopia pode ser realizada em qualquer época da gestação. A biópsia
história de tratamento prévio de NIC II/III com margens livres deverão ser
pode ser realizada com segurança, não havendo risco de eventos adversos
submetidas a exame citopatológico em seis e 12 meses após a histerectomia.
sobre a gravidez, existindo apenas maior probabilidade de sangramento. As
Se ambos os exames forem negativos, o rastreamento citológico deverá ser
lesões de alto grau detectadas na gestação possuem mínimo risco de
trienal, independentemente da idade.
progressão para invasão e algum potencial de regressão após o parto. Por
essa razão, a reavaliação colposcópica e citológica durante a gravidez
poderá desencadear intervenções desnecessárias. No caso de margens comprometidas ou na ausência dessa informação, o
seguimento deverá ser realizado com exame citopatológico e colposcopia
semestrais nos primeiros dois anos. Após os dois primeiros anos, o
Recomendações: diante de exame citopatológico mostrando HSIL,
seguimento deverá ser feito com a citologia de forma isolada anualmente até
encaminhar a gestante para unidade de referência em colposcopia. Realizar
cinco anos. Após esse período, assegurada a inexistência de lesão residual, a
biópsia, caso a colposcopia apresente achados sugestivos de invasão. Se o
mulher deverá retornar para o rastreamento citológico trienal na unidade
resultado histopatológico revelar invasão, encaminhar a mulher para
básica de saúde, independentemente da idade.
tratamento na unidade terciária.

Em ambas as situações, a época da interrupção do rastreamento deve ser


Caso o resultado evidencie NIC II/III, a mulher deverá ser reavaliada 90
decidida pelo médico assistente, considerando o baixo risco de lesão vaginal
dias após o parto.
e o desconforto introduzido pelo avanço da idade. A história de doença
intraepitelial tratada deve ser informada no pedido do exame citopatológico.
Caso a biópsia revele NIC I ou for negativa, deve seguir recomendação
específica. Caso não tenha sido realizada biópsia, dever-se-á realizar uma
LESÃO INTRAEPITELIAL DE ALTO GRAU NÃO PODENDO EXCLUIR
nova citologia em 90 dias após o parto. Não há contraindicação ao parto
MICROINVASÃO OU CARCINOMA EPIDERMOIDE INVASOR
vaginal para essas gestantes.
Os diagnósticos citopatológicos de lesão de alto grau não podendo excluir
Mulheres na Pós-Menopausa microinvasão ou carcinoma epidermoide invasor são infrequentes: foram
registrados no Brasil, em 2013, respectivamente, em 0,03 e 0,01% dos
O exame citopatológico pode ter pior desempenho diagnóstico neste grupo
exames citopatológicos considerados satisfatórios e em 0,9 e 0,5% de todos
de mulheres devido à atrofia, o que resulta em diminuição do número de
os exames alterados.
células ectocervicais e endocervicais disponíveis para a amostragem.

No Sistema Bethesda, a categoria lesão de alto grau não podendo excluir


Recomendações: a conduta para pacientes na menopausa é a mesma para
microinvasão existe apenas como uma observação a ser mencionada em
as demais mulheres. Com o objetivo de melhorar tanto o exame
casos de HSIL. Em consequência, existe apenas um estudo que demonstra
colposcópico quanto o novo exame citopatológico, deve-se administrar
um risco significativamente maior de lesão pré-invasiva e invasiva nesses
previamente estrogênio tópico.
casos em relação à HSIL.

Imunossuprimidas
Mulheres imunossuprimidas, especialmente as infectadas pelo HIV, têm
maior chance de desenvolverem lesão intraepitelial escamosa cervical e de
apresentarem maior frequência de recidiva após o tratamento.
O carcinoma microinvasor constitui o estadiamento IA da Federação Nos casos de colposcopia com achados sugestivos de invasão, realizar
Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e também é denominado biópsia. Nos demais casos, a mulher deverá ser submetida a um
microcarcinoma. É uma lesão definida microscopicamente e se subdivide procedimento excisional conforme a ZT. Quando o resultado da biópsia for
em duas categorias ou estádios: IA1 (profundidade de invasão ≤ 3 mm e compatível com NIC I, II ou III e JEC visualizada, deverá ser realizada
extensão ≤ 7 mm no epitélio) e IA2 (profundidade de invasão > 3 e ≤ 5 mm excisão conforme o tipo de ZT. Caso a JEC não seja completamente
e extensão ≤ 7 mm no epitélio). Medidas de profundidade de invasão > 5 visualizada, ou a biópsia sugerir microinvasão, a conduta recomendada é a
mm ou extensão > 7 mm caracterizam estádios a partir de IB. A invasão do excisão tipo 3. Preferencialmente, devem ser utilizadas técnicas de
espaço linfovascular, apesar de não mudar o estadiamento deverá ser conização a frio, mas técnicas eletrocirúrgicas que garantam um espécime
relatada, pois indicará mudança na abordagem dessas mulheres. íntegro e com margens avaliáveis adequadamente são aceitáveis em serviços
com essa experiência. É inaceitável a utilização de técnicas excisionais que
O diagnóstico de carcinoma microinvasor é realizado em espécime obtido produzam mais de um segmento. Se o resultado da biópsia revelar lesão
por EZT (excisões tipos 1 e 2) ou conização (excisão tipo 3), desde que as francamente invasiva, a mulher deverá ser encaminhada para unidade
margens cirúrgicas estejam livres. Alguns autores recomendam que a terciária (alta complexidade) para procedimento específico.
conização seja efetuada utilizando-se o bisturi frio, pois as técnicas
eletrocirúrgicas (uso do eletrodo em alça ou agulha) propiciam maior Especialmente nos casos de lesão macroscópica ou sugestiva de invasão,
probabilidade de fragmentação do espécime e pela presença de artefatos pela maior possibilidade de fragmentação e necrose, deverá ser garantido
térmicos que podem dificultar a avaliação da profundidade de invasão e do que a amostra contenha epitélio escamoso e estroma subjacente.
envolvimento de espaços linfovasculares.
Nos casos de carcinoma microinvasor IA1 detectado em peça de
No estádio IA1, a histerectomia extrafacial é considerada o procedimento procedimento excisional com margens livres sem comprometimento do
padrão, mas já existem evidências de que mulheres conizadas ou espaço linfovascular, a mulher com prole incompleta poderá ser considerada
histerectomizadas não têm diferenças de sobrevida. Assim, se há desejo de tratada. Nessas mulheres, se as margens estiverem comprometidas por NIC
manter a fertilidade ou nos casos em que o procedimento cirúrgico é II/III, devem ser submetidas a um novo procedimento excisional conforme
contraindicado, a conização pode ser um tratamento suficiente: se as o tipo de ZT.
margens cirúrgicas se mostrarem negativas para invasão ou NIC II/III, a
mulher poderá ser considerada tratada desde que assegurado um seguimento A mulher com diagnóstico de carcinoma microinvasor deverá ser
rigoroso. encaminhada para unidade terciária (alta complexidade) numa das seguintes
situações: tenha prole completa, impossibilidade de seguimento, apresente
O envolvimento do espaço linfovascular e o comprometimento das margens comprometimento do espaço linfovascular na peça do cone ou com
da peça do cone são fatores prognósticos para a recorrência e definem a estadiamento IA2 ou mais avançado ou, ainda, na presença de indícios
necessidade de nova conduta. Estudos recomendam que a histerectomia clínicos de invasão, sem a possibilidade de biópsia ou conização para
radical modificada e a linfadenectomia pélvica estarão indicadas nos casos confirmação histopatológica.
em que há invasão do espaço linfovascular. E nos casos de margens
comprometidas, defendem a realização de uma nova conização. Caso o resultado do exame de um espécime resultante de EZT ou conização
exclua invasão, a paciente deverá ser seguida conforme o diagnóstico
Já no estadiamento IA2, existe consenso de que a histerectomia radical obtido.
modificada com linfadenectomia pélvica (classe II de Piver) é o tratamento
mais adequado, pois as metástases para linfonodos, nesses casos, acontecem ADENOCARCINOMA IN SITU (AIS) E INVASOR
em torno de 8%. Segundo estudos, nesses casos, quando existe desejo de
Cerca de 48 a 69% das mulheres com laudo citopatológico sugestivo de
engravidar, a traquelectomia radical com linfadenectomia pélvica pode ser
adenocarcinoma in situ apresentam confirmação da lesão no exame de
uma opção cirúrgica para preservação da fertilidade.
histopatologia e, dessas, 38% apresentam laudo de invasão.

Recomendações: todas as pacientes que apresentem exame


Em cerca de 5 a 15% dos casos de AIS as lesões são multifocais. Ademais,
citopatológico com diagnóstico de lesão de alto grau não podendo excluir
as lesões podem não ser contíguas, implicando no fato de que, mesmo se as
microinvasão ou carcinoma epidermoide invasor, ou tenham suspeita clínica
margens se mostrarem livres de doença em espécimes obtidos por
de câncer na unidade básica, devem ser encaminhadas à unidade secundária
conização, não há garantia de que a lesão tenha sido totalmente extirpada.
para colposcopia.
Com base nesse risco, a maioria dos autores recomenda a histerectomia total
como tratamento definitivo em pacientes com prole completa. No entanto, a
conização pode ser suficiente para o tratamento de AIS em pacientes sem
prole constituída e cone com margens livres.

Em relação à avaliação endometrial em mulheres com diagnóstico


citológico de adenocarcinoma in situ ou invasor do colo uterino,
a American Society for Colposcopy and Cervical Pathlogy –
ASCCP – recomenda a avaliação endometrial em conjunção com a
colposcopia e a amostragem endocervical para todas as
mulheres acima de 35 anos e para as mais jovens com risco de
câncer do endométrio.
A Ultrassonografia Transvaginal (USGTV) tem demonstrado utilidade para Nos casos em que a excisão tipo 3 for considerada tratamento (prole
o diagnóstico de doenças endometriais na pós-menopausa. Contudo, alguns incompleta) e o exame histopatológico da peça cirúrgica mostrar margens
autores têm questionado seu valor nas mulheres em idade reprodutiva, pois livres de doença ou comprometidas por NIC I, a mulher deverá ser
pode ter menor sensibilidade em diagnosticar a doença endometrial nessas submetida à citologia seis e 12 meses após o procedimento. A colposcopia
mulheres. Nas mulheres na perimenopausa e pós-menopausa, a poderá ser realizada a critério do serviço. Depois, o seguimento deverá ser
histeroscopia com biópsia parece ser o melhor exame para diagnosticar feito com a citologia de forma isolada anualmente até cinco anos do
hiperplasia endometrial. Independentemente da idade, a USGTV apresenta procedimento. Após esse período, assegurada a inexistência de lesão
menor acurácia do que a histeroscopia no diagnóstico de doença residual, a mulher deverá retornar para o rastreamento citológico trienal na
endometrial. unidade básica de saúde. A história de doença intraepitelial tratada deve ser
informada no pedido do exame citopatológico. Na evidência de lesão
O teste de DNA-HPV negativo para tipos oncogênicos pode ser útil para residual ou recorrente, a mulher deverá ser conduzida da mesma forma
identificar mulheres com maior risco de doença endometrial que cervical, quando da lesão inicial ou tratada com histerectomia. As pacientes
sobretudo em pacientes acima de cinquenta anos de idade. Adicionalmente, histerectomizadas devem manter seguimento citológico anual por cinco
o teste DNA-HPV negativo após o tratamento identifica pacientes com anos e trienal a seguir.
menor risco de persistência e de recidiva de AIS. No entanto, o risco per se
não dispensa a avaliação endometrial, nem é suficiente para estabelecer uma SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM ADENOCARCINOMA IN
conduta diagnóstica ou terapêutica. SITU/INVASOR NA CITOLOGIA:

Mulheres até 24 Anos, na Pós-Menopausa e Imunossuprimidas


Existe controvérsia quanto à possibilidade de uso de técnicas
eletrocirúrgicas para tratamento excisional de doença pré-invasiva glandular Devem ser investigadas da mesma forma que as demais mulheres.

devido a relatos de danos térmicos significativos, dificultando a análise das


margens cirúrgicas. Ainda, a conização com bisturi mostra proporção mais Gestantes
elevada de margens livres quando comparada com a eletrocirurgia. No Devem ser investigadas da mesma maneira, exceto pelo estudo endometrial,
entanto, pode-se realizar a conização com eletrocirurgia, desde que se que não é factível. A biópsia do colo do útero deverá ser realizada apenas na
obtenha um espécime intacto e com margens cirúrgicas interpretáveis. Não suspeita de doença invasiva e o procedimento excisional, caso indicado,
foram encontradas evidências práticas de seguimento após tratamento do deverá ser realizado 90 dias após o parto.
AIS que ofereçam maior efetividade.

COLPOSCOPIA
Recomendações: mulheres com exame citopatológico sugestivo de
adenocarcinoma in situ ou invasor devem ser encaminhadas para
COLPOSCOPIA + BIÓPSIA
colposcopia na atenção secundária.
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Perguntas práticas:
Estas pacientes terão indicação de excisão tipo 3, exceto se, à colposcopia,
forem observados achados sugestivos de invasão. Nesta situação, a biópsia
deve ser realizada. Caso o diagnóstico histopatológico confirme esta EM QUE CONSISTE A COLPOSCOPIA?
suspeita, encaminhar para atenção terciária (alta complexidade). Caso a Consiste na visualização do colo uterino através do colposcópio, após a
biópsia seja negativa ou tenha outro diagnóstico que não de doença aplicação de ácido acético a 5% (entre 3 e 5% de acordo com o Manual do
invasiva, a indicação de conização do colo uterino deve ser mantida. A Ministério da Saúde) e lugol.
escolha da técnica de excisão deve considerar a necessidade de fornecer um
espécime único e com margens adequadas para avaliação. QUAIS SÃO AS INDICAÇÕES DA COLPOSCOPIA?
Resultado citológico de LIEAG.
É recomendável a avaliação endometrial em pacientes com 35 anos ou mais. Duas citologias consecutivas com resultado citológico de ASC-US.
Abaixo dessa idade, a investigação endometrial deverá ser realizada se Duas citologias consecutivas com resultado citológico de LIEBG.
presente sangramento uterino anormal ou condições sugestivas de Resultado citológico ASC-H.
anovulação crônica. Resultado citológico de AGC (antigo AGUS) → o canal cervical tem que
ser obrigatoriamente avaliado!
O resultado de AIS no espécime de excisão indica a histerectomia simples, Colposcopia insatisfatória (JEC não visualizada) → o canal cervical tem
exceto nas pacientes com prole incompleta, para as quais a conização que ser obrigatoriamente avaliado!
poderá ser considerada suficiente. Na eventualidade de margens Pacientes imunossuprimidas (HIV positivas, usuárias crônicas de
comprometidas no espécime cirúrgico e mulher com prole completa, uma corticoides) com lesões intraepiteliais de baixo grau na citologia.
nova excisão deverá ser realizada, sempre que possível, para excluir doença Alteração à inspeção visual do colo uterino à especuloscopia ou à
invasiva. No diagnóstico de câncer, a mulher deve ser encaminhada para colposcopia com ácido acético e lugol → visualização de um colo uterino
unidade terciária. de aspecto sugestivo de malignidade é uma indicação de encaminhamento
direto à colposcopia com biópsia, mesmo na vigência de um estudo
citopatológico negativo para malignidade, pois a coleta pode ter sido
realizada em área necrótica que justificaria um resultado falso-negativo.
QUAL É A UTILIDADE DA COLPOSCOPIA? QUANDO O TESTE DE SCHILLER É POSITIVO?
Os achados colposcópicos normais são o epitélio escamoso original, o O teste de Schiller é positivo quando o iodo é negativo.
epitélio colunar e a zona de transformação. As variações de espessura,
contorno, relevo, cor do epitélio e alterações vasculares constituem os
elementos de avaliação colposcópica que as definem como alterações SIGNIFICADO DO TESTE DE SCHILLER POSITIVO
maiores e menores. O método permite a identificação da área acometida, Um teste positivo não significa necessariamente a presença de lesão
sua extensão, orienta o local da biópsia e contribui para planejar o suspeita. O fator determinante é saber que tipo de imagem colposcópica
tratamento adequado. Além disso, é eficaz no diagnóstico das lesões está presente na área não corada.
precursoras e nas fases mais incipientes do câncer invasor.

Atenção: a interpretação do teste de Schiller cai em prova!


QUAL É A CLASSIFICAÇÃO ATUALMENTE EMPREGADA?
● O teste é positivo quando o iodo é negativo (coloração amarelo-
A classificação atual de colposcopia foi elaborada pelo Comitê de
mostarda).
Nomenclatura da International Federation of Cervical Pathology
● O teste é negativo quando o iodo é positivo (coloração marrom-
and Colposcopy (IFCPC). Essa classificação (vide versão digital desta
escuro).
apostila) inclui colo do útero e vagina. A vulva não foi acrescentada pela
IFCPC na época de sua homologação. ● Um é o contrário do outro!!!

Três aspectos são relevantes durante a realização deste procedimento:


QUANDO UMA COLPOSCOPIA É CONSIDERADA
1º. Especificar se o exame é adequado ou inadequado. Caso seja SATISFATÓRIA?
inadequado, descrever sua causa (inflamação, sangramento, cicatriz);
A colposcopia é considerada satisfatória quando a JEC é visualizada.
2º. Descrever a visão da junção escamocolunar: completamente visível, Quando isso não acontece, o exame é considerado indeterminado e o canal
parcialmente visível ou não visível; endocervical deve ser formalmente investigado. Inicialmente, pode ser
3º. Classificar a Zona de Transformação (ZT) em: empregado o uso de um afastador, instrumento para melhor avaliação da
JEC. Se esta não é visualizada, o canal cervical deve ser avaliado pelo

Tipo 1: a ZT é completamente ectocervical e visível, podendo ser escovado endocervical ou pela curetagem do canal cervical ou através da
pequena ou grande; histeroscopia.

Tipo 2: a ZT tem um componente endocervical, totalmente visível,
não importando o tamanho do componente ectocervical; QUANDO UMA COLPOSCOPIA É CONSIDERADA
INSATISFATÓRIA?

Tipo 3: a ZT tem um componente endocervical que não é
completamente visível, podendo ter um componente ectocervical Classicamente, são quatro os principais critérios:

que pode ser pequeno ou grande. ●


JEC não visível;

Processo inflamatório intenso no colo (colpocervicite);
QUAL É A AÇÃO DO ÁCIDO ACÉTICO?

Atrofia intensa;
O ácido acético coagula as proteínas citoplasmáticas do epitélio alterado.
Portanto, quanto mais proteínas, mais esbranquiçada fica a lesão. Este ●
Quando não é possível visualizar o colo.
processo esconde a congestão do tecido conjuntivo. Por esta razão, é OBS.: alguns autores também consideram trauma como critério para
importante observar antes do ácido acético se há áreas avermelhadas que
colposcopia insatisfatória.
denotam neovascularização e se as mesmas tornam-se brancas após a ação
do ácido acético (30-40 segundos após).
QUANDO HÁ INDICAÇÃO DE BIÓPSIA DIRIGIDA?
Os achados colposcópicos normais são o epitélio escamoso original, o
E QUAL É A AÇÃO DO LUGOL?
epitélio colunar e a zona de transformação. As variações de espessura,
O lugol é uma solução iodo-iodetada, cuja aplicação tem a finalidade de
contorno, relevo, cor do epitélio e alterações vasculares, constituem os
corar o epitélio. Ele cora o glicogênio das células, tornandoas mais escuras
elementos de avaliação colposcópica que as definem como alterações
quanto maior o teor dessa substância. As células normais do colo são ricas
maiores e menores. Assim, a necessidade de realização de biópsia dirigida
em glicogênio e tornam-se mais escuras, enquanto as células alteradas, que
será direcionada pelos achados colposcópicos, ou seja, pela imagem
possuem baixo teor de glicogênio, são as que não se coram pelo lugol.
colposcópica encontrada. Em geral, ela estará indicada nos seguintes
achados:
NO QUE CONSISTE O TESTE DE SCHILLER?

Alterações colposcópicas maiores, como epitélio acetobranco denso,
Este teste consiste na embrocação do colo uterino com o lugol. A finalidade
mosaico grosseiro, pontilhado grosseiro, iodo negativo, vasos atípicos;
deste teste é identificar áreas de epitélio escamoso desprovidas de
glicogênio, que assumiram tonalidade suave de amarelo, denominado

Achados colposcópicos sugestivos de câncer invasor, como superfície
“amarelo-mostarda” com limites nítidos e contornos caprichosamente irregular, erosão ou ulceração; epitélio acetobranco denso, pontilhado e
recortados à semelhança de mapa geográfico. Em contraposição, o restante mosaico amplos e irregulares, vasos atípicos.
do epitélio escamoso, rico em glicogênio, apresentará coloração marrom-
escuro.
A Tabela 8 resume os achados colposcópicos. Não há necessidade, a
Padrão anormal de pequenos
princípio, de saber o significado das alterações colposcópicas. No entanto, é
vasos sanguíneos assemelhando-
imprescindível a distinção de achados colposcópicos normais, anormais,
se a uma con uência de tijolos ou
sugestivos de câncer invasor e insatisfatórios.
Mosaico mosaico. Surgem também nas
áreas acetobrancas e possuem o
mesmo signi cado dos vasos
TAB. 8 pontilhados.

ACHADOS COLPOSCÓPICOS Vasos anormais (saca-rolhas, alça,


forma de J), atípicos e irregulares,
Epitélio escamoso original. com cursos e padrões abruptos. É
Achados colposcó‐ o achado colposcópio de maior
Epitélio colunar.
picos normais suspeição de malignidade.
Zona de transformação. Vasos atípicos
Também apresentam mudanças
Epitélio acetobranco tênue. bruscas de direção, irregularidade
de calibre e stops bruscos.
Epitélio acetobranco denso. (*)
Geralmente, indicam invasão do
Mosaico no. estroma.
Mosaico grosseiro. (*)
Todo orifício glandular se
Achados colposcó‐ Pontilhado no. apresenta, após aplicação de ácido
picos anormais
Orifícios glandulares acético, com um pequeno halo
Pontilhado grosseiro. (*) com halo espessado branco que, quando saliente e
Iodo parcialmente positivo. espesso, con gura um elemento
de grave alteração.
Iodo negativo. (*)

Vasos atípicos. (*) VIDEO_04_GIN5

(*) Alterações maiores.


MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO CANAL ENDOCERVICAL E DA JEC
Superfície irregular, erosão ou
ulceração. AVALIAÇÃO DO CANAL ENDOCERVICAL

Achados colposcó‐ Epitélio acetobranco denso. Em várias situações nas recomendações anteriores há a indicação de
picos sugestivos de investigação da endocérvice, o que pode mudar a conduta, indicando uma
câncer invasor Pontilhado e mosaico amplos e conização ou seguimento. Considerando as evidências extraídas dos ensaios
irregulares. clínicos encontrados que compararam o desempenho da curetagem

Vasos atípicos. endocervical frente ao escovado endocervical, se conclui que ambas as


técnicas têm desempenho diagnóstico semelhante quando se obtêm
JEC não visível. espécimes adequados para análise em mulheres sem lesões macroscópicas e
Achados colposcó‐ sem doença ou procedimento cervical prévio. Também não se encontraram
In amação ou atro as intensas.
picos insatisfatórios evidências de danos às gestantes submetidas à curetagem endocervical, mas
Colo uterino não visível. existe consenso de que esse procedimento deve ser evitado nessa situação.
Já para o escovado, não se encontraram objeções.
SIGNIFICADO DAS ALTERAÇÕES COLPOSCÓPICAS

Recomendações: nas situações em que for necessária a avaliação do


ACHADO SIGNIFICADO
canal endocervical antes de indicar uma conização, é preferível a utilização

Área espessa do epitélio que se do escovado endocervical para exame citopatológico por menor

torna esbranquiçada após aplicação probabilidade de material inadequado para exame. O escovado endocervical
Epitélio acetobranco deve ser realizado de forma cuidadosa, introduzindo todas as cerdas da
de ácido acético, re etindo
imaturidade celular. escova e rodando por três a cinco giros por toda a extensão do canal. Na
solicitação do exame, deve ser enfatizada a indicação orientando o
Pontos vermelhos nos ou citopatologista para a suspeita diagnóstica e justificando a possível ausência
grosseiros, frequentemente de epitélio escamoso.
Pontilhado vascular encontrados em áreas
acetobrancas, correspondentes às
MEDIDAS PARA AVALIAR A VISÃO DA JUNÇÃO
extremidades de vasos capilares. ESCAMOCOLUNAR (JEC)
As lesões intraepiteliais cervicais são, na maioria das vezes, visíveis à No Brasil se observa certa confusão entre os termos CAF e conização. O
colposcopia em toda sua extensão, especialmente em pacientes jovens. A termo CAF (Cirurgia de Alta Frequência), introduzido no final dos anos
proporção de lesões localizadas no canal endocervical aumenta com a idade, 1980, serviu para popularizar o método de excisão da ZT com Junção
uma vez que a JEC e a ZT movem-se em direção ao interior do canal no Escamocolunar (JEC) visível e até o primeiro centímetro do canal. Esse
climatério. termo foi utilizado em material para orientação profissional preparado pela
Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia
A ZT tem sido reconhecida como a região preferencial para as lesões pré- (ABPTGIC) e mantido nas diretrizes brasileiras de 2006. Todavia, o termo
invasivas do colo uterino. Dessa maneira é de suma importância ver a JEC CAF passou a ser utilizado indistintamente para biópsias e, com a
em toda a sua circunferência. disseminação de técnicas de conização por eletrocirurgia, tornou-se muito
difícil saber qual o procedimento realizado quando havia relato de uma
mulher ter sido submetida a uma CAF. Para disciplinar o uso desses termos,
A frequência de colposcopias em que a JEC não é completamente visível
o Ministério da Saúde definiu, em 2010, que o tratamento excisional
varia de 4 a 53% dos exames, sendo influenciada pela experiência do
ambulatorial deveria ser chamado de Exérese da Zona de Transformação
colposcopista, idade da paciente e a idade de instalação da menopausa. A
(EZT). Qualquer outra abordagem que tenha por objetivo retirar a ZT
dificuldade na visão completa da JEC em pacientes com anormalidades
endocervical era denominada conização, independentemente do método
citológicas leva em algumas situações à conização diagnóstica. No entanto,
utilizado para sua realização (por eletrocirurgia, por laser ou bisturi
a possibilidade de examinar o canal endocervical e se ver a JEC nestas
situações poderia evitar esse procedimento, ou adaptar a profundidade do convencional).

cone à extensão da lesão dentro do canal.


Além da confusão de termos, existe evidência consistente de que a excisão

Algumas manobras durante o exame colposcópico podem expor a JEC e incompleta, suposta a partir da verificação de margens cirúrgicas

lesões endocervicais, tais como maior abertura do espéculo ou pressão por comprometidas por doença pré-invasiva, é o fator prognóstico mais

meio de pinça na transição entre colo e vagina, entre outras. relevante para doença residual ou recorrente, o que levou Prendiville a
propor um tipo de excisão para cada tipo de zona de transformação, em uma
tentativa de diferenciar os procedimentos excisionais e assegurar a excisão
Recomendações: nas situações em que for necessária a avaliação do
completa da zona de transformação. Posteriormente, a nova nomenclatura
canal endocervical antes de indicar uma conização, é preferível a utilização
colposcópica internacional, adotada nessa versão das Diretrizes, mencionou
do escovado endocervical para exame citopatológico por menor
três tipos de excisão: 1, 2 e 3, definidas conforme o tipo de zona de
probabilidade de material inadequado para exame. O escovado endocervical
transformação.
deve ser realizado de forma cuidadosa, introduzindo todas as cerdas da
escova e rodando por três a cinco giros por toda a extensão do canal. Na
solicitação do exame, deve ser enfatizada a indicação orientando o EXCISÃO TIPO 1
citopatologista para a suspeita diagnóstica e justificando a possível ausência
A EZT, procedimento destinado a tratar a doença ectocervical ou que não se
de epitélio escamoso.
estende mais de 1 cm no canal endocervical, o que define a ZT do tipo 1
(Figura 11), é classificada por Prendiville como excisão do tipo 1.
Nos serviços com boa experiência em obter material de curetagem
endocervical com pequena proporção de espécimes inadequados, este
procedimento poderá ser uma alternativa, embora produza mais desconforto
na paciente. Nessa opção, todo o material obtido deve ser depositado no
formol, sem qualquer procedimento com o objetivo de separar o material
tecidual de coágulos. A curetagem endocervical deve ser evitada em
gestantes.

TIPOS DE EXCISÃO

A constatação de que alguns termos têm sido usados indistintamente para


FIG. 11 TIPOS DE ZONA DE TRANSFORMAÇÃO.
procedimentos excisionais diferentes motivou a inclusão de uma
classificação de tipos de excisão em função de cada tipo de ZT na nova
nomenclatura colposcópica recomendada pela IFCPC a partir de 2011.

EXCISÃO TIPO 2

Para tratar a doença que ocupa uma ZT do tipo 2 (Figura 11), é necessário
retirar maior porção do canal endocervical, o suficiente para ultrapassar a
JEC, o que usualmente será obtido com excisão de profundidade entre 1,5 e
2,0 cm, sendo então denominada excisão do tipo 2.

EXCISÃO TIPO 3
Quanto às ZT do tipo 3 (Figura 11), é necessária maior profundidade de O tripé citologia-colposcopia-histologia (Figura 12) é que vai definir a
excisão. Segundo alguns autores, a quase totalidade das NIC III situa-se até localização das lesões, seu grau histológico, sua extensão em profundidade
o segundo centímetro do canal, incluindo as glandulares. Essa observação e sua ocupação glandular. A conduta terapêutica depende totalmente dos
foi reforçada por outro estudo, que observou que em 99% dos casos essas resultados desta avaliação. Os métodos que permitem o estudo
lesões situam-se no primeiro centímetro do canal. histopatológico são preferidos.

Dessa forma, para excisar uma ZT do tipo 3, a recomendação é para se


retirar entre 2 e 2,5 cm de canal, o que caracteriza uma excisão do tipo 3.

saiba mais
EXCISÃO TIPO 3

A excisão tipo 3 equivale à antiga conização. Ela consiste na retirada de FIG. 12


um tronco em forma de cone de colo uterino. Retira-se cirurgicamente
grande parte da ectocérvice e do canal cervical.

Está indicada para diagnóstico em mulheres com HSIL de acordo com o


exame de Papanicolaou nas seguintes condições: MEMORIZE

● Os limites da lesão não podem ser visíveis por colposcopia; CÂNCER DE COLO UTERINO

● Não é observada JEC à colposcopia; Para rastreio: citologia.

● Os achados histológicos da curetagem endocervical são positivos para Para confirmação diagnóstica: histologia (biópsia).
NIC II ou NIC III;
● Não há correlação entre os resultados de citologia, biópsia e
colposcopia; CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA
● Há suspeita de microinvasão com base nos resultados de biópsia,
É importante lembrar que o carcinoma epidermoide é o tipo
colposcopia ou citologia;
histológico mais frequente dos tumores epiteliais do colo uterino.
● O colposcopista é incapaz de excluir câncer invasivo. Responde por 80% dos casos.
É um procedimento diagnóstico, que passa a ser terapêutico nos casos de
carcinoma in situ. Cabe aqui salientar que o diagnóstico de carcinoma in O adenocarcinoma apresenta incidência crescente nos últimos anos. Estudos
situ do colo só é definitivo após realização da excisão tipo 3 com estudo recentes revelam que ele responde por 15% dos tumores de colo uterino,
histopatológico da peça cirúrgica, que é capaz de descartar a presença de seguido pelo carcinoma adenoescamoso 3 a 5%, e em porcentagem ainda
invasão. Ela exclui câncer invasivo com segurança, pois a quantidade de menor pelo carcinoma neuroendócrino ou pequenas células.
tecido retirada é muito maior do que na biópsia.

Assim, nos casos em que houve confirmação histopatológica de A Tabela 9 apresenta os principais tipos histológicos do câncer de colo
carcinoma in situ, a excisão tipo 3 foi também terapêutica. uterino.

ESTUDO HISTOPATOLÓGICO TAB. 9 CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA.

O estudo histopatológico permanece como método diagnóstico


padrão-ouro no diagnóstico das afecções cervicais. É ele que vai
definir a conduta terapêutica.

O material para este estudo pode ser obtido por meio de biópsia incisional
dirigida, biópsia em cone, curetagem endocervical ou biópsia excisional
através de cirurgia de alta frequência. Imediatamente após sua exérese, as
amostras devem ser submersas em solução fixadora (formol a 10%).

Na requisição do estudo histopatológico deve constar a identificação do


procedimento cirúrgico realizado, seguida pela descrição macroscópica da
peça. A análise microscópica deve incluir a identificação da natureza da
lesão (caráter benigno, pré-neoplásico ou neoplásico). Em caso de lesões
pré-malignas ou malignas, é fundamental definir o grau de diferenciação, a
extensão do tumor e as margens cirúrgicas.
O estadiamento da FIGO baseava-se principalmente no exame clínico, com

Carcinoma de células
a recomendação da adição de certos exames de imagem e procedimentos,
escamosas:
incluindo a Ressonância Magnética (RM), em casos mais avançados da
» Grandes células não doença. No entanto, os exames opcionais, como a própria RM, a tomografia
queratinizantes; por emissão de pósitrons, entre outros, não eram permitidos pela FIGO para
» Grandes células modificar o estadiamento clínico.

queratinizantes;
Contudo, no final de 2018, a revisão do estadiamento pelo Comitê de
» Pequenas células;
Oncologia Ginecológica da FIGO, passou a permitir que exames de imagem
» Carcinoma verrucoso. e de patologia estejam designados a definir estadiamento (Tabela 10), quan‐
do disponíveis, lembrando que se deve respeitar o tamanho e a extensão do

Adenocarcinoma: tumor em todos os estádios. Outro ponto reforçado foi o de que a
ressonância magnética é o melhor método de avaliação radiológica dos
» Padrão comum;
Tumores epiteliais tumores primários maiores que 10 mm.
» Adenoma maligno;

» Mucinoso; TAB. 10 PROCEDIMENTOS DE ESTADIAMENTO.

» Papilífero; Palpar linfonodos.

» Endometrioide; Examinar a vagina.


Exame físico
» Células claras; Exame retovaginal bimanual
(recomendado sob
» Adenoide cístico. anestesia).


Carcinoma adenoes‐ Pielogra a intravenosa.
camoso.
Enema baritado.
Exames radiológicos

Sarcoma estromal Radiogra a do tórax.
endocervical.
Radiogra a óssea.

Carcinossarcoma.

Tumores mesenquimais ●
Adenossarcoma. Biópsia.


Leiomiossarcoma. Conização.

Rabdomiossarcoma Histeroscopia.
embrionário.
Colposcopia.
Procedimentos
Tumor do ducto de Gartner _
Curetagem endocervical.

Tumores metastáticos. Cistoscopia.

Linfomas.
Outros Proctoscopia.

Melanomas.
Laparoscopia.

Carcinoides.
Tomogra a axial
computadorizada.

ESTADIAMENTO Linfangiogra a.

VIDEO_06_GIN5
Ultrassonogra a.

Didaticamente, este tópico será dividido em duas partes: Exames de imagem


Ressonância magnética.

Procedimentos de estadiamento;
Tomogra a por emissão de

Estadiamento da FIGO. pósitrons.

Cintigra a com
PROCEDIMENTOS DE ESTADIAMENTO radionuclídeos.

ESTADIAMENTO DA FIGO
Neste momento, vamos lembrá-lo de algo que já falamos: o
tripé citologia-colposcopiahistologia é que vai definir a
localização das lesões, seu grau histológico, sua extensão em
profundidade e sua ocupação glandular.

A conduta terapêutica dependerá totalmente dos resultados


desta avaliação.

TRATAMENTO DAS LESÕES INTRAEPITELIAIS CERVICAIS

Atualmente, as possibilidades terapêuticas são inúmeras e as indicações


possuem muitas controvérsias. De forma geral, como já foi dito, dá-se
preferência aos métodos que permitem o estudo histopatológico.

A seguir, detalhamos os métodos físico-destrutivos e as exéreses mais ou


menos extensas.

MÉTODOS FÍSICO-DESTRUTIVOS

Esses métodos possuem em comum a ausência de controle histológico.


Portanto, a avaliação prévia das lesões deve ser rigorosa e deve-se eliminar
a possibilidade de invasão.

FIG. 13 ESTADIAMENTO DE COLO UTERINO.


Crioterapia ou Criocauterização
Processo que utiliza um transdutor manual conectado a uma fonte de gás ou
nitrogênio líquido que promove uma temperatura muito baixa na ponta do
transdutor congelando superficialmente a ectocérvice, resultando em morte
celular. Realiza-se a técnica do congelamento-descongelamento-con‐
PROPAGAÇÃO DO CÂNCER DE COLO UTERINO gelamento, isto é, congela-se a superfície epitelial por cerca de três a cinco
O câncer de colo pode se propagar diretamente, por continuidade (vagina e minutos; espera o descongelamento e torna-se a congelar por mais de cinco
corpo uterino) e contiguidade (paramétrios, paracolpos, bexiga e reto), e minutos. Este processo promove uma destruição tecidual de cerca de 6 mm
indiretamente, por via linfática ou hemática. de profundidade. Forma-se uma crosta que se desprende por volta do
décimo dia podendo ocorrer um sangramento. A grande vantagem do

Extensão direta por contiguidade: inicialmente envolve a região procedimento é ser indolor.
paracervical e parametrial, propagando-se em direção à parede óssea.
Pode causar obstrução ureteral, uropatia obstrutiva e hidronefrose. Em
Vaporização com Laser
seguida, pode invadir a porção superior da vagina (50% dos casos) e, até
Neste procedimento, o tecido é destruído por vaporização. O mais usado em
mesmo, todo o seu restante. A extensão para a parede pélvica pode
ginecologia é o CO2 laser. A literatura não revela vantagens no emprego
causar dor ciática ou dor lombar associada à hidronefrose. A
disseminação para a bexiga e para o reto é incomum, mas pode acontecer deste método em relação aos outros e a relação custo-benefício torna
em fases avançadas da doença, levando a achados como hematúria e inviável seu uso corrente.
hematoquezia.
Eletrocoagulação

Disseminação linfática: segue um padrão ordenado e razoavelmente
previsível. A propagação se faz inicialmente para o grupo primário Técnica que utiliza um eletrodo de esfera conectado a um eletrocautério que
promove a coagulação e destruição tecidual por calor. Geralmente pode
(linfonodos paracervicais, parametriais, obturadores, ilíacos internos,
haver dor durante o procedimento, o que pode ser aliviado com anestesia
externos e sacros) e, posteriormente, para o grupo secundário (ilíacos
subepitelial em quatro quadrantes com seringa de Carpule. Embora seja um
comuns, para-aórticos e inguinais). O envolvimento metastático dos
linfonodos ilíacos e para-aórticos pode se estender para as raízes procedimento simples e de pouco custo, tem o inconveniente dos episódios

nervosas lombossacras e também provocar dor lombar. álgicos e das sequelas de cicatrização, como as escleroses retráteis, que
muitas vezes são responsáveis pela estenose do orifício externo. Possui

Disseminação hematogênica: pouco comum e tardia (5% dos ainda o inconveniente de que a profundidade da destruição não pode ser
casos). Os órgãos mais acometidos são: fígado, pulmões, ossos, cavidade avaliada e pode não ser suficiente para destruir a lesão.
peritoneal, linfonodos supraclaviculares e cérebro.

EXÉRESES
TRATAMENTO Permitem a retirada da lesão com a possibilidade de estudo histopatológico.
Chegamos à reta final do capítulo...
Cirurgias de Alta Frequência (CAF) ou Excisão Eletrocirúrgica por É um procedimento diagnóstico, que passa a ser terapêutico nos casos de
Alça × Exérese da Zona de Transformação carcinoma in situ. Cabe aqui salientar que o diagnóstico de carcinoma in
No Brasil se observa certa confusão entre estes termos. situ do colo só é definitivo após realização da conização com estudo
histopatológico da peça cirúrgica, que é capaz de descartar a presença de
O termo CAF (Cirurgia de Alta Frequência), introduzido no final dos anos invasão. Exclui câncer invasivo com segurança, pois a quantidade de tecido
1980, serviu para popularizar o método de excisão da ZT com Junção retirada é muito maior do que na biópsia.
Escamocolunar (JEC) visível e até o primeiro centímetro do canal. Esse
termo foi utilizado em material para orientação profissional preparado pela Assim, nos casos em que houve confirmação histopatológica de carcinoma
ABPTGIC e mantido nas diretrizes brasileiras de 2006. Todavia, o termo in situ, a conização foi também terapêutica.
CAF passou a ser utilizado indistintamente para biópsias e, com a
disseminação de técnicas de conização por eletrocirurgia, tornou-se muito
SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO DE NIC II/III
difícil saber qual o procedimento realizado quando havia o relato de uma
mulher ter sido submetida a uma CAF. Várias evidências demonstram um pequeno risco de recorrência de lesões
pré-invasivas do colo do útero ou de carcinoma invasor, após tratamento
Para disciplinar o uso desses termos, o Ministério da Saúde definiu, em conservador de NIC II/III. Esse risco tende a diminuir com o passar dos
2010, que o tratamento excisional ambulatorial deveria ser chamado de anos, mas o risco de câncer é progressivo nessas mulheres e presente por
Exérese da Zona de Transformação (EZT). Qualquer outra abordagem que décadas. Essa discrepância sugere pobre adesão ao seguimento após
tenha por objetivo retirar a ZT endocervical era denominada conização, tratamento.
independentemente do método utilizado para sua realização (por
eletrocirurgia, por laser ou bisturi convencional). O principal fator de risco para doença residual ou recorrente tem sido o
relato de margens comprometidas no espécime resultante de tratamentos
A EZT, procedimento destinado a tratar a doença ectocervical ou que não se excisionais. Apesar do relato de margens comprometidas por NIC II/III
estende mais de 1 cm no canal endocervical, é classificada por Prendiville aumentar o risco de lesão residual ou recorrente, a maioria das mulheres
como excisão do tipo 1. nessa situação não terá lesão residual podendo, dessa forma, ser assumida
uma conduta conservadora, não havendo necessidade de novo tratamento na
grande maioria dos casos. Nos casos em que é detectada lesão residual, na
Para tratar a doença que ocupa uma ZT do tipo 2, é necessário retirar maior
maioria das vezes, o diagnóstico é feito nos dois primeiros anos de
porção do canal endocervical, o suficiente para ultrapassar a JEC, o que
usualmente será obtido com excisão de profundidade entre 1,5 e 2,0 cm, seguimento.

sendo então denominada excisão do tipo 2.


Outros fatores se mostram relacionados à recorrência, tais como idade

Quanto às ZT do tipo 3, é necessária maior profundidade de excisão. acima de 50 anos, grau de doença tratada, persistência de HPV oncogênico,
tabagismo, multiparidade, imunocomprometimento e existência de lesões
Segundo alguns autores, a quase totalidade das NIC III situa-se até o
fora da zona de transformação.
segundo centímetro do canal, incluindo as glandulares. Essa observação é
reforçada por outros autores que observaram que em 99% dos casos essas
lesões situam-se no primeiro centímetro do canal. Dessa forma, para excisar Os vários protocolos desenhados para o seguimento de pacientes tratadas
uma ZT do tipo 3, há uma recomendação para se retirar entre 2 e 2,5 cm de por NIC II/III parecem ser arbitrários, estando menos baseados no
canal, o que caracteriza uma excisão do tipo 3. desempenho diagnóstico de cada método do que no hábito do médico ou no
custo de cada um deles. Alguns autores afirmam que o seguimento dessas
Conização a Frio mulheres poderá ser realizado com a citologia, colposcopia ou com o teste
de DNA-HPV. Este teste tem demonstrado maior sensibilidade do que a
Equivale, atualmente, à excisão do tipo 3. Consiste na retirada de um
citologia no diagnóstico de lesão residual ou recorrente. Todavia, a citologia
tronco em forma de cone de colo uterino. Retira-se cirurgicamente grande
tem demonstrado valor preditivo negativo muito próximo daquele obtido
parte da ectocérvice e do canal cervical.
pelo teste de DNA-HPV. Isto significa que, quando um ou outro teste é
Ela é indicada para diagnóstico em mulheres com HSIL de acordo com o negativo, uma nova lesão é muito improvável. Um pequeno ensaio clínico
exame de Papanicolaou nas seguintes condições: comparando o desempenho diagnóstico da citologia ou combinação de
citologia e teste de DNA-HPV oncogênico no diagnóstico de lesões

Os limites da lesão não podem ser visíveis por colposcopia;
residuais ou recorrentes encontrou diferenças significativas apenas na

Não é observada JEC à colposcopia; especificidade, maior na estratégia combinada.

Os achados histológicos da curetagem endocervical são positivos para
NIC II ou NIC III; Uma revisão sistemática e metanálise que incluiu quinze estudos sobre o
uso do teste do HPV verificou que a taxa de doença residual e de

Não há correlação entre os resultados de citologia, biópsia e colposcopia;
recorrência em até dois anos após tratamento de lesão de alto grau variou de

Há suspeita de microinvasão com base nos resultados de biópsia, 4-18%, com média de 8%. Esse risco é maior nas mulheres acima de
colposcopia ou citologia; cinquenta anos, o que é consistente com a observação de que a persistência

O colposcopista é incapaz de excluir câncer invasivo. da infecção viral aumenta com a idade. Estudos de seguimento de longo
prazo indicam que as mulheres tratadas para NIC II/III estão sob maior risco
de desenvolverem câncer cervical subsequente em comparação com a
população geral, durante pelo menos dez anos e talvez até vinte anos após o
tratamento.
O acompanhamento ideal para detecção de doença residual ou recorrente No entanto, existem algumas situações nas quais a histerectomia ainda é
parece ser a citologia associada à colposcopia. Apesar do seguimento um método válido e apropriado (embora não obrigatório) de tratamento da
realizado apenas com o exame citopatológico determinar que um menor NIC: microinvasão; NIC III nos limites de amostra de conização em
número de mulheres seja encaminhado para a colposcopia, apontando para pacientes selecionadas; má adesão ao acompanhamento; outros
melhor relação custo-benefício, a conduta inicial com o exame colposcópico problemas ginecológicos que exigem histerectomia, como miomas,
pode aumentar a identificação da doença, reduzindo a taxa de falso- prolapso, endometriose e doença inflamatória pélvica.
negativos da citologia.

Um estudo brasileiro verificou que 74,75% das pacientes submetidas a TRATAMENTO DO CÂNCER DE COLO UTERINO
tratamento excisional para lesão de alto grau apresentaram teste negativo
para DNA-HPV seis meses após o procedimento. O tratamento do câncer de colo uterino assemelha-se ao de qualquer outro
tipo de malignidade, já que tanto a lesão primária quanto os possíveis locais
Recomendações: nos casos em que o exame histopatológico da peça de disseminação devem ser avaliados e tratados. As modalidades
cirúrgica mostrar margens livres de doença ou comprometidas por NIC I, a terapêuticas incluem tratamento primário com cirurgia, radioterapia,
mulher deverá ser submetida à citologia seis e doze meses após o quimioterapia ou quimiorradioterapia.
procedimento. A colposcopia poderá ser realizada a critério do serviço.
Após o primeiro ano, o seguimento deverá ser realizado com citologia anual
OPÇÕES DE TRATAMENTO
até completar cinco anos do tratamento na unidade básica de saúde.
ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO CIRÚRGICO
Nos casos em que o exame histopatológico da peça cirúrgica mostrar
EXCISÃO TIPO 3
qualquer uma das margens comprometidas por NIC II/III, o seguimento
deverá ser feito com exame citopatológico e colposcopia semestrais nos Era anteriormente denominada de conização. Já foi previamente descrita.
primeiros dois anos. Após os dois primeiros anos, o seguimento deverá ser
feito com a citologia anual até completar cinco anos do tratamento, na
O diagnóstico do estádio Ia é cirúrgico, ou seja, é necessária a excisão
unidade básica de saúde.
tipo 3 com limites livres.

Em ambos os casos, após os primeiros cinco anos do tratamento a mulher


Então, entenda: na suspeita de microinvasão, a excisão tipo 3
deverá retornar para o rastreamento citopatológico trienal. A história de
(anteriormente denominada de conização) está indicada para
doença intraepitelial tratada deverá ser informada no pedido do exame
estadiamento. A conização cervical é necessária para avaliar
citopatológico. Um novo procedimento excisional estará indicado quando
corretamente a profundidade e extensão linear do acometimento, ou
houver comprometimento das margens cirúrgicas por NIC II/III, seja ecto
seja, para o estadiamento dos casos iniciais com lesão microscópica.
ou endocervical, e não for possível o seguimento por questões técnicas ou
da mulher.
Não se deve traçar conduta cirúrgica definitiva mais radical sem haver a
confirmação da real necessidade desta abordagem.
Na evidência de lesão residual ou recorrente, a mulher deverá ser conduzida
da mesma forma quando da lesão inicial.

HISTERECTOMIA TIPO I OU HISTERECTOMIA SIMPLES OU HISTERECTOMIA


saiba mais EXTRAFASCIAL

A CONDUTA NAS NIC E SOBRE A HISTERECTOMIA PARA TRATAMENTO É um tratamento apropriado para pacientes com tumores em estágio Ia1 sem
DA NIC II E III invasão do espaço vascular linfático, que não desejam mais engravidar.
A taxa de regressão espontânea de NIC I comprovada por biópsia é de 60
a 85% em estudos prospectivos. Essa informação levou à recomendação TRAQUELECTOMIA RADICAL
de que pacientes com diagnósticos de biópsia de NIC I com colposcopia
satisfatória e que concordam com a avaliação a cada seis meses podem
ser observadas com a citologia aos seis e doze meses. Após dois
resultados negativos, pode ser reiniciado o rastreamento anual. Se as
lesões progredirem durante o acompanhamento ou persistirem após dois
anos, deve ser realizado tratamento ablativo (preferível) ou excisional.

Todas as lesões histopatológicas de NIC II exigem tratamento. Esta


recomendação baseia-se em uma metanálise que mostra que a NIC II
progride para carcinoma in situ em 20% dos casos e para invasão em 5%
dos casos.

Todas as lesões histopatológicas de NIC III exigem tratamento.

Atualmente, a histerectomia é considerada muito radical para tratamento


das NIC II e III.
A traquelectomia consiste na remoção da maior parte ou totalidade do colo
É menos extensa que uma
do útero, de um segmento proximal contíguo dos paramétrios e dos fundos
histerectomia radical e
de saco vaginais adjacentes, por via vaginal, associada a uma
remove a metade medial dos
linfadenectomia pélvica, preferencialmente por via laparoscópica. É um
ligamentos cardinais e
procedimento que vem se popularizando como opção de tratamento
uterossacros.
cirúrgico para mulheres em estágio Ia2 e Ib1 que desejam preservar o útero.
Também é indicado nas pacientes no estádio Ia1 com invasão linfovascular Ela difere da histerectomia
que desejam preservar a fertilidade. Pode ser realizada por via vaginal ou radical (tipo III) nos seguintes
abdominal, geralmente acompanhada de linfadenectomia pélvica e aspectos:
cerclagem cervical. A experiência com esta modalidade terapêutica é ●
A artéria uterina é
limitada, mas os resultados iniciais comparando esta técnica com o
seccionada em nível do
tratamento convencional são promissores. Os dados sobre resultados de
ureter, com preservação
gravidez subsequente à traquelectomia radical são escassos, mas foram
do ramo ureteral até o
descritos casos de sucesso. É importante lembrar que embora a
ureter;
traquelectomia radical e a linfadenectomia pélvica sejam realizadas com
intenção curativa, o risco de recorrência depende da boa definição dos

O ligamento cardinal não é
fatores de risco. Em caso de recorrência, está indicado tratamento definitivo seccionado próximo da
com cirurgia ou radioterapia. Piver II ou histerectomia parede lateral, mas
radical modificada ou aproximadamente em sua
HISTERECTOMIA RADICAL histerectomia tipo II porção média próximo à
dissecção ureteral;
São classificadas em tipos radical modificada (tipo II), radical (tipo III) e

O ligamento vesicuterino
radical estendida (tipos IV e V). A Tabela 12 detalha a diferença entre as
anterior é seccionado, mas
histerectomias radicais.
o ligamento vesicuterino
posterior é conservado;

TAB. 12 TIPOS DE HISTERECTOMIA RADICAL. ●


É removida uma margem
menor da vagina.

Obs.: Piver II ou
histerectomia tipo II envolve
a remoção de parte dos
paramétrios e uterossacros,
terço superior da vagina,
linfadenectomia pélvica
sistemática e linfadenectomia
paraaórtica seletiva.

Consiste na histerectomia
com remoção de todo
paramétrio acompanhada da
dissecção dos linfonodos
pélvicos (ilíacos externos,
internos, comuns e
obturadores) juntamente com
Wertheim-Meigs ou retirada da maior parte dos
histerectomia radical ou ligamentos uterossacros e
histerectomia tipo III cardinais e do terço superior
da vagina.

Obs.: vale lembrar que essa


cirurgia pode preservar os
ovários, caso haja desejo de
manutenção da função
hormonal.

Na operação tipo IV, o tecido


Histerectomia radical periureteral, a artéria vesical
estendida tipo IV superior, e até três quartos
da vagina são removidos.
A Tabela 13 descreve o tratamento de acordo com o novo
Na operação tipo V, são
Histerectomia radical estadiamento do câncer de colo uterino. Mais uma vez, vamos
ressecadas partes do terço
estendida tipo V aproveitar para sedimentá-lo…
distal do ureter e da bexiga.

EXENTERAÇÃO

Existem três tipos:


Anterior: inclui a remoção da bexiga, vagina, colo e útero;

Posterior: inclui a remoção do reto, vagina, colo e útero;

Total: somatório da exenteração anterior e posterior.

O tipo de exenteração indicado depende do comprometimento da doença. O


termo “primária” significa que a exenteração deverá ser a abordagem
terapêutica inicial para a paciente.

TRATAMENTO PRIMÁRIO OU ADJUVANTE

RADIOTERAPIA PRIMÁRIA

É uma opção de tratamento em todos os estádios de câncer de colo uterino,


exceto o IVB, com taxas de cura estimadas de 70% no estádio I, 60% no
estádio II, 45% no estádio III e 18% no estádio IV. Geralmente, é realizada
em duas fases, a RT externa (convencional) e, posteriormente, a
braquiterapia.

Ainda que a radioterapia possa ser usada em todos os estádios da doença, a


cirurgia é indicada para as pacientes com câncer invasivo em estágios I e IIa
por apresentar menos efeitos colaterais.

QUIMIORRADIOTERAPIA CONCOMITANTE

A quimioterapia para sensibilizar as células à radioterapia melhora o


controle locorregional. É chamada de “QT radiossensibilizante”. A
medicação utilizada geralmente é a cisplatina, em dose semanal, durante a
radioterapia. Esta pode ser utilizada isoladamente ou associada a outros
quimioterápicos, como o 5-fluoracil e a gencitabina, dependendo do
protocolo adotado.
PROGNÓSTICOS
RADIOTERAPIA ADJUVANTE A avaliação dos fatores prognósticos (Quadro 1) é imprescindível para
avaliar as chances de recidiva local ou sistêmica.
A maioria dos autores concorda que a radioterapia pós-operatória é
necessária na presença de margens cirúrgicas positivas. O emprego da
radioterapia em pacientes com outros fatores de risco é controverso. Alguns QUADRO 1
autores advogam seu uso na presença de metástases para linfonodos
pélvicos, invasão do tecido paracervical e invasão cervical profunda. VARIÁVEIS DE PROGNÓSTICO NO CÂNCER CERVICAL

E AS PACIENTES ESTÁGIO IVB?

Neste caso, não há indicação imediata de radioterapia pélvica, pois não


há intenção curativa (essas são as pacientes que apresentam
metástases à distância). O manejo é feito com quimioterapia exclusiva,
visando controle sintomático e prolongamento da sobrevida. A
radioterapia deve ser reservada para as complicações, como dor
refratária (RT antiálgica) e sangramento importante (RT anti-
hemorrágica).
Invasão da Vagina
● Variáveis de prognóstico no câncer cervical em estágio inicial
(Ia2-IIa): Os tumores que invadem a vagina têm pior prognóstico do que aqueles que
não a invadem.
Variáveis de prognóstico no câncer cervical em estágio inicial (Ia2-
IIa):
Envolvimento Parametrial
● Fatores de risco intermediários para doença recorrente:
Os tumores que invadem o paramétrio têm pior prognóstico.
» Tumor grande;
Metástase Linfonodal
» Invasão do estroma cervical até o terço médio ou profundo;
Varia com o estadiamento do tumor. O acometimento dos linfonodos
» Invasão do espaço vascular linfático. pélvicos é de aproximadamente 15% no estádio I, 28% no estádio II e 47%
no estádio III.
● Fatores de alto risco para doença recorrente:
Invasão Linfovascular
» Margens positivas ou próximas;
A sobrevida em cinco anos é de aproximadamente 97%, sem invasão, e de
» Linfonodos positivos; 88%, com invasão.

» Acometimento microscópico do paramétrio.


Idade da Paciente
Alguns autores consideram que a idade não altera o prognóstico do câncer
de colo uterino. Outros admitem ser o prognóstico pior nas pacientes mais
Estadiamento jovens, por serem os tumores mais indiferenciados nessa faixa etária. Outros
Quanto mais inicial for o tumor, melhores as chances de cura. A sobrevida ainda consideram ser o prognóstico melhor nas pacientes mais jovens pelo
varia de 80% no estádio IB, a dois a três meses, no estádio IVB. fato de elas responderem melhor a qualquer tipo de tratamento. Perceba,
então, que esta é mais uma grande divergência da ginecologia.
Tipos Histológicos
O Carcinoma de Células Escamosas (CCE) tem melhor prognóstico do que
SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO DO CÂNCER
o adenocarcinoma, segundo a maioria dos estudos, e igual, segundo outros.
DE COLO UTERINO
Entre os CCE, os de grandes células não queratinizantes têm melhor
prognóstico do que os de pequenas células.
SEGUIMENTO APÓS TRATAMENTO CONSERVADOR DE
CARCINOMA MICROINVASOR DO COLO UTERINO
Grau de Diferenciação

Quanto mais indiferenciado, pior o prognóstico. Inexistem estudos que investiguem a melhor forma de seguir mulheres
tratadas conservadoramente para carcinoma microinvasor do colo uterino.

Diâmetro do Tumor
Está diretamente relacionado com o acometimento linfonodal. Quanto RECOMENDAÇÕES
maior o diâmetro, pior o prognóstico.
Mulheres tratadas conservadoramente para carcinoma microinvasor do colo
uterino devem ser acompanhadas como as mulheres tratadas para NIC II/III
Volume do Tumor
e maior risco de recorrência. Assim, o seguimento deverá ser feito com
É melhor parâmetro do que o estadiamento da FIGO para condução do caso. exame citopatológico e colposcopia semestrais nos primeiros dois anos.
Não é necessária a retirada de todo paramétrio nos tumores com menos de Após os dois primeiros anos, o seguimento deverá ser feito com a citologia
10 cm³. de forma isolada anualmente até cinco anos. Após esse período, assegurada
a inexistência de lesão residual, a mulher deverá retornar para o
Comprometimento do Tumor rastreamento citopatológico trienal na unidade básica de saúde. A história
de doença microinvasiva tratada conservadoramente deve ser informada no
Os tumores exofíticos têm melhor prognóstico do que os infiltrados ou
pedido do exame citopatológico.
ulcerados.

Infiltração Extensa do Colo Na evidência de lesão residual ou recorrente, a mulher deverá ser conduzida
da mesma forma quando da lesão inicial.
Quando a profundidade de invasão é menor do que 15 mm, a sobrevida em
cinco anos é de 90% e, quando maior que 15 mm, a sobrevida cai para 70%.
A invasão da serosa do colo piora muito o prognóstico. SEGUIMENTO APÓS TRATAMENTO DE CARCINOMA INVASOR DO
COLO UTERINO
Invasão do Corpo
PRIMEIRO ANO
A invasão do endométrio piora o prognóstico.
O seguimento preconizado inclui: Embora a indicação dos epitélios representados na amostra seja
informação obrigatória nos laudos citopatológicos, seu significado deixa de

Exame ginecológico de três em três meses no primeiro ano (para todos
pertencer à esfera de responsabilidade dos profissionais que realizam a
os estádios);
leitura do exame. As células glandulares podem ter origem em outros

Coleta de citopatológico e colposcopia do fundo de saco vaginal órgãos que não o colo do útero, o que nem sempre é identificável no exame
semestral. Em serviços que não lidem com a limitação de recursos, a citopatológico.
citologia pode ser dispensada, pois na ausência do colo a sensibilidade da
colposcopia é muito maior, a qual deverá ser realizada semestralmente;

Toque vaginal e retal; CONDUTAS DIVERGENTES DIANTE DO ACHADO
CITOLÓGICO DE LIE DE BAIXO GRAU

Ultrassonografia abdominal total e transvaginal aos seis e doze meses;
DIRETRIZES BRASILEIRAS PARA RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO

Radiografia de tórax aos doze meses (nos estádios III e IV);
DO ÚTERO (2016)

Hemograma na suspeita de anemia.
A informação consta em nosso texto.

SEGUNDO AO QUINTO ANO WILLIAMS GYNECOLOGY (2016)


As consultas devem ser semestrais. Este livro indica a colposcopia para a maioria dos casos de LIE de baixo
grau na citologia.

Todas as rotinas esmiuçadas acima devem ser mantidas.

BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020)


APÓS O QUINTO ANO
Este livro indica a colposcopia em LIE de baixo grau, mesmo diante de um

As consultas, bem como os exames, devem apresentar periodicidade único achado citológico.
anual.

Outros exames complementares, como TC e cintilografia óssea, serão MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª EDIÇÃO, 2017) E
solicitados conforme as queixas da paciente e se outros achados assim os MANUAL PARA CONCURSOS/TEGO DA SOGIMIG (5ª EDIÇÃO, 2012)
impuserem. A 6ª edição (2017) não deixa claro o seu posicionamento. Já a 5ª edição
(2012) recomenda colposcopia.

[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre as Este livro preconiza a realização de nova colpocitologia em seis meses
doenças do colo uterino. Algumas delas já foram exploradas nas provas de diante das LIE de baixo grau (basta um exame alterado para indicar
residência médica. Por este motivo, nas provas de Ginecologia e Obstetrícia colposcopia). Convém lembrar que processos infecciosos ou atrofia genital
vale sempre a pena conferir as referências bibliográficas dos concursos que devem ser tratados previamente caso necessário.
você irá se submeter.
OBS.: caso o concurso não apresente referências bibliográficas, siga as recomendações do
Ministério da Saúde.
AMOSTRA SATISFATÓRIA PARA AVALIAÇÃO

DIRETRIZES BRASILEIRAS PARA RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO


CLASSIFICAÇÕES CITOLÓGICAS
DO ÚTERO (2016) E CADERNO DE ATENÇÃO BÁSICA – CONTROLE DOS
CÂNCERES DO COLO DO ÚTERO E DA MAMA, DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Ao longo dos anos, surgiram várias nomenclaturas citológicas das amostras
(2013) obtidas. Como é um assunto que pode divergir nos livros de referência para
Designa amostra que apresente células em quantidade representativa, bem as provas de residência médica, apresentaremos a seguir um breve resumo
distribuídas, fixadas e coradas, de tal modo que sua observação permita das classificações de Papanicolaou, OMS e Richart.
uma conclusão diagnóstica.

CLASSIFICAÇÃO DE PAPANICOLAOU (1943)


Podem estar presentes células representativas dos epitélios do colo do
útero:
● Classe I: células normais (ausência de células atípicas ou anormais).

● Células escamosas;
● Classe II: células atípicas sem evidência de malignidade.

● Células glandulares (não inclui o epitélio endometrial);


● Classe III: células com atipias sugestivas, mas não conclusivas, de
malignidade.
● Células metaplásicas.
● Classe IV: células fortemente sugestivas de malignidade.
● Classe V: células com evidência conclusiva de malignidade.

Obs.: esta classificação se preocupava pouco com os aspectos


histológicos das lesões.
Estudos têm mostrado desaparecimento dessas alterações (células
CLASSIFICAÇÃO DA OMS
escamosas atípicas de significado indeterminado possivelmente não
No Congresso Mundial da Federação Internacional de Ginecologia e neoplásicas) em 70 a 90% das pacientes mantidas sob observação e
Obstetrícia (FIGO), realizado em Viena em 1961, o Comitê Internacional de tratamento das infecções pré-existentes. A colposcopia é, portanto, um
Nomenclaturas elaborou os conceitos de displasia e de carcinoma in método desfavorável como a primeira escolha na condução das pacientes
situ. que apresentam alterações escamosas FIG. 5 FLUXOGRAMA DE
Em 1970, a OMS dividiu as displasias em três grupos: RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA PARA MULHERES COM
● Displasia leve; DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO DE ASC-US. atípicas de significado
indeterminado possivelmente não neoplásicas.
● Displasia moderada;
● Displasia acentuada. A conduta preconizada na mulher com 30 anos ou mais será a repetição do
Além disso, a OMS distinguiu o carcinoma in situ como uma situação exame citopatológico em um intervalo de seis meses, precedida, quando
diferente. necessário, do tratamento de processos infecciosos e de melhora do trofismo
genital, com preparo estrogênico após a menopausa, na Unidade da Atenção
Obs.: o termo “displasia” foi introduzido na classificação, levando em
Primária. Para as mulheres com idade entre 25 e 29 anos, a repetição da
conta alterações histológicas correspondentes, identificando displasias
colpocitologia está recomendada no intervalo de 12 meses. E naquelas com
leves, moderadas e acentuadas. Todos os graus de displasias eram
idade inferior a 25 anos, o controle citológico deverá ser realizado em três
grosseiramente referentes à classe III de Papanicolaou,
anos.
correlacionando também a classe IV com carcinomas escamosos in
situ. A classe V continuou a indicar carcinoma invasor.
A Figura 5 resume a conduta diante do achado citológico de ASC-US.

CLASSIFICAÇÃO DE RICHART (1967)


Richart (1967) considerou as displasias como um processo de
proliferação neoplásica intraepitelial e introduziu o termo Neoplasia
Intraepitelial Cervical (NIC). Agrupou as lesões precursoras em três
graus:
● NIC I: presença de células atípicas em até 1/3 do epitélio;
● NIC II: presença de células atípicas em 1/3 a 2/3 do epitélio;
● NIC III: presença de células atípicas em mais de 2/3 do epitélio.
Quando a atipia celular atinge toda a espessura do epitélio, mas não
ultrapassa a membrana basal, a lesão é denominada de carcinoma in
situ. É importante perceber que, nesta classificação, NIC III engloba
displasia acentuada e carcinoma in situ, já que a diferenciação entre
as duas lesões é difícil. Além disso, ambas possuem o mesmo
prognóstico.

Obs.: essa classificação estabeleceu o conceito de neoplasia


intraepitelial e no caso da cérvice uterina, de Neoplasia Intraepitelial
Cervical (NIC) subdividida em três graus, que se mantém para os FIG. 5 FLUXOGRAMA DE RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA PARA MULHERES
diagnósticos histológicos. COM DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO DE ASC-US.

IMPORTANTE: a Classificação de Richart foi proposta para diagnósticos


histopatológicos. No entanto, posteriormente, passou a ser empregada
na citopatologia.
Células Escamosas Atípicas de Signi cado Indeterminado,
Quando Não se Pode Excluir Lesão Intraepitelial de Alto Grau –
ASC-H
FLUXOGRAMAS E SEGUIMENTO ESPECÍFICO
Embora o diagnóstico de células escamosas atípicas de significado
DAS ALTERAÇÕES CITOLÓGICAS
indeterminado, quando não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau
Células Escamosas Atípicas de Signi cado Indeterminado seja menos comum que o de células escamosas atípicas de significado
Possivelmente Não Neoplásicas – ASC-US indeterminado possivelmente não neoplásicas, o risco de lesão de alto grau
(NIC II e NIC III) subjacente é alto (24 a 94%). Portanto, a conduta para
todas as pacientes com esse laudo é a colposcopia imediata.

A Figura 6 resume a conduta diante do achado citológico de ASC-H.


As LIEBG apresentam 15 a 30% de chance de biópsia compatível com NIC
II e NIC III. A conduta preconizada é a repetição do exame citopatológico
em seis meses nas pacientes com 25 anos ou mais ou 36 meses (três anos)
nas pacientes com até 24 anos, já que os estudos demonstram que na
maioria das pacientes portadoras de lesão de baixo grau há regressão
espontânea.

Como a colposcopia apresenta alta sensibilidade (96%), baixa


especificidade (48%), alta taxa de sobrediagnóstico e de sobretratamento,
torna-se desfavorável como primeira escolha na condução das pacientes.

As Figuras 8 e 9 resumem a conduta diante do achado citológico de LIEBG


ou LSIL.

FIG. 6 FLUXOGRAMA DE RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA PARA MULHERES


COM DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO DE ASC-H.

Células Glandulares Atípicas de Signi cado Indeterminado

As pacientes com atipias glandulares apresentam em 9 a 54% dos casos NIC


II e III, 0 a 8% adenocarcinoma in situ e 1 a 9% adenocarcinoma invasor no
exame histopatológico. Portanto, a conduta preconizada é a colposcopia
imediata.

A Figura 7 resume a conduta diante do achado citológico de AGC.

FIG. 8 FLUXOGRAMA DE RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA PARA MULHERES


COM 25 ANOS OU MAIS E DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO DE LSIL.

FIG. 7 FLUXOGRAMA DE RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA PARA MULHERES


COM DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO DE AGC.

Lesão Intraepitelial de Baixo Grau – LIEBG ou LSIL


FIG. 9 FLUXOGRAMA DE RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA PARA MULHERES FIG. 10 FLUXOGRAMA DE RECOMENDAÇÕES DE CONDUTA PARA MULHERES
ATÉ 24 ANOS COM DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO DE LSIL. COM 25 ANOS OU MAIS E DIAGNÓSTICO CITOPATOLÓGICO DE HSIL.

Lesão Intraepitelial de Alto Grau – LIEAG ou HSIL


CLASSIFICAÇÃO ATUAL DE COLPOSCOPIA DO
Cerca de 70 a 75% das pacientes c om laudo citológico de lesão COMITÊ DE NOMENCLATURA DA
intraepitelial de alto grau apresentam confirmação diagnóstica INTERNATIONAL FEDERATION OF CERVICAL
histopatológica e 1 a 2% terão diagnóstico histopatológico de carcinoma PATHOLOGY AND COLPOSCOPY (IFCPC)
invasor. Assim, todas as pacientes que apresentarem citologia sugestiva de
lesão de alto grau, na Unidade da Atenção Básica, deverão ser
encaminhadas imediatamente para a colposcopia como conduta inicial.

A Figura 10 resume a conduta diante do achado citológico de LIEAG ou


HSIL.
● Conhecer as lesões precursoras e as condutas preconizadas para
elas.
● Saber os fatores de risco para o câncer de corpo uterino.
● Conhecer os fatores protetores.
● Saber os sinais, sintomas e achados nos exames complementares
sugestivos desta malignidade.
● Conhecer as principais características dos tipos histológicos do
câncer de endométrio.
● Saber o estadiamento do câncer de endométrio (FIGO).
● Conhecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem das
malignidades endometriais.
● Conhecer as divergências sobre o assunto. Sempre que existir algo
controverso na literatura, você encontrará um símbolo para que você
fique de vivo! Todas as divergências serão listadas ao final do
capítulo.

Neste capítulo serão enfatizadas as relações entre o HE e o CE


que fornecerão os alicerces para um estudo mais aprofundado
dessas afecções nos seus capítulos específicos.

CONCEITOS FUNDAMENTAIS
LESÕES PRECURSORAS A HE é definida como alterações morfológicas da mucosa endometrial, em

ENDOMETRIAIS E CÂNCER DE que a proliferação anormal de glândulas endometriais resulta em


aumento da relação glândula/estroma, quando comparado ao
ENDOMÉTRIO endométrio na fase proliferativa do ciclo hormonal feminino. As glândulas
da hiperplasia endometrial têm epitélio proliferativo, mas podem variar em
NOÇÕES INICIAIS SOBRE A HIPERPLASIA tamanho, forma e complexidade arquitetural. Além disso, atipias nucleares
ENDOMETRIAL E O CÂNCER DE ENDOMÉTRIO podem estar presentes. Neste contexto, sua grande relevância clínica está
associada com o risco, em longo prazo, de desenvolvimento de CE.
A Hiperplasia Endometrial (HE) e o Câncer de Endométrio (CE)
são entidades clínicas intimamente relacionadas. A O CE é definido pela habilidade de invadir tecidos locais e de produzir
compreensão da epidemiologia, fisiopatologia e estratégias de
metástases. A carcinogênese do CE é descrita por meio do modelo
abordagem para essas doenças permite que todo ginecologista
dualístico, que divide os tumores em tipo I (estrógenos dependentes) e tipo
e obstetra contribua para a redução ou eliminação de fatores de
II (independentes de estrógenos).
risco e para que o diagnóstico e tratamento sejam realizados de
maneira segura, eficiente e menos invasiva para a paciente.

FATORES PREDISPONENTES
Diferente de outros cânceres, para os quais não há grande
diferença na magnitude entre as taxas de incidência e A maior parte das HE/CE se desenvolvem, presumivelmente, a partir da
mortalidade, a taxa de mortalidade do CE é substancialmente estimulação crônica do endométrio por estrógenos, sem
mais baixa do que a taxa da incidência. Sua sobrevida global em oposição da progesterona em decorrência de alguma condição clínica
cinco anos fica em torno de 80%. relacionada à exposição ou ao metabolismo estrogênico (Tabela 1).

pontos principais
Para fins didáticos, dividiremos a apresentação do quadro clínico em
sintomas e sinais.

SINTOMAS

PÓS-MENOPAUSA

METRORRAGIA E CORRIMENTO VAGINAL

Cerca de 90% das pacientes com câncer de endométrio apresentam um


destes sintomas. A hemorragia decorre de áreas de necrose tumoral. Vale
lembrar que pode não haver hemorragia em pacientes mais idosas devido à
estenose da cérvice.

Convém salientar que não é só a hiperestimulação crônica por estrógenos A perda sanguínea na pós-menopausa é o sintoma mais comum do câncer
que se associa às HE. Estudos sugerem que a imunossupressão é um de endométrio. No entanto, apenas 10% das pacientes com sangramento na
fator de risco importante, uma vez que mulheres transplantadas renais com pós-menopausa têm esta malignidade.
sangramento uterino anormal apresentam aumento de 100% (34% na
população imunocompetente versus 69% nas transplantadas) no risco de HEMATOMÉTRIO (COLEÇÃO SANGUÍNEA NO INTERIOR DO ÚTERO) OU
desenvolver HE. PIOMÉTRIO (COLEÇÃO DE PUS NO INTERIOR DO ÚTERO)

Especialmente em pacientes mais idosas, estes sintomas podem surgir em


função de estenose cervical. O hematométrio ou piométrio podem causar
Os fatores de risco para o desenvolvimento de HE coincidem com corrimento vaginal purulento. Estes achados normalmente se associam a um
aqueles relacionados ao CE. pior prognóstico.

PRESSÃO OU DESCONFORTO PÉLVICO

APRESENTAÇÃO CLÍNICA Esses sintomas podem decorrer do aumento uterino produzido por
hematométrio ou disseminação extrauterina da doença.
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL

PRÉ-MENOPAUSA
Clinicamente, a maioria das mulheres com HE se apresentará com
sangramento uterino anormal. As HE são responsáveis por Em geral, manifesta-se com um sangramento uterino anormal, que costuma
aproximadamente 5% de todos os casos de sangramento na pós- se caracterizar como intervalos irregulares com duração prolongada e fluxo
menopausa. excessivo ou intervalos irregulares, de duração variável e fluxo escasso, ou
sangramento cíclico que persiste após idade habitual da menopausa.

CÂNCER DE ENDOMÉTRIO A possibilidade de câncer de endométrio em pacientes na pré-menopausa


deve ser aventada quando o sangramento for persistente ou recorrente,
Aproximadamente 95% das mulheres com diagnóstico de câncer de
principalmente em pacientes obesas.
endométrio possuem algum sinal ou sintoma da doença.

Felizmente, no início do desenvolvimento do câncer de endométrio, a SINAIS

maioria das pacientes manifesta episódios de sangramento uterino Na ausência de sintomas, o câncer de endométrio é normalmente detectado
anormal na peri ou na pós-menopausa, quando o tumor ainda está pela investigação de resultados anormais na colpocitologia, avaliação de
limitado ao útero. Aproximadamente 75% dos casos de câncer de achado anormal à ultrassonografia transvaginal ou tomografia
endométrio são detectados no estádio I da doença. Neste contexto, o computadorizada (realizada na investigação de outras afecções) e, por fim,
emprego de um método diagnóstico apropriado e preciso, como a biópsia descoberta de câncer em útero removido por outras indicações.
endometrial dirigida por histeroscopia, permite um diagnóstico precoce,
tratamento adequado e altas taxas de cura.
EXAME FÍSICO

Os sangramentos na perimenopausa e pós-menopausa devem ser sempre Raramente evidencia qualquer alteração sugestiva de câncer de endométrio,
valorizados e impõem investigação apropriada, mesmo que sejam pouco exceto nos casos avançados. A obesidade e a hipertensão arterial são fatores
expressivos ou transitórios. constitucionais geralmente associados. A atenção deve estar direcionada
para os locais comuns de metástases. Inclui as seguintes particularidades:
Menos de 5% das mulheres com câncer de endométrio são assintomáticas.
Neste caso, o câncer de endométrio pode ser suspeitado pela demonstração EXAME ABDOMINAL
da espessura endometrial em exames ultrassonográficos de rotina, ou mais
Geralmente, não apresenta alterações significativas. Mas, em casos
raramente pela presença de Atipias Glandulares de Significado avançados, pode revelar a presença de ascite, metástases palpáveis hepáticas
indeterminado (AGC, antigamente chamada de AGUS) na colpocitologia. ou omentais.
Convém salientar que a avaliação de linfonodos periféricos é recomendável.

EXAME GINECOLÓGICO

Inclui também a avaliação cuidadosa das mamas.

O introito vaginal, a área suburetral, toda a vagina e colo uterino devem ser
cuidadosamente inspecionados. Geralmente, os tumores invasivos do colo,
vagina e vulva são evidentes ao exame. O exame é geralmente normal em
tumores pequenos.

O toque vaginal bimanual (Figura 1) é mandatório, já que permite a


avaliação do tamanho e mobilidade do útero e a investigação de massas
anexiais.

FIG. 2

PROPEDÊUTICA PARA HE/CE

Devem ser avaliadas as mulheres com sintomas para HE/CE.

É conveniente que um ginecologista familiarizado com a propedêutica para


CE conduza essa investigação, embora a maioria dos procedimentos
FIG. 1 Toque vaginal bimanual.
realizados na fase de diagnóstico seja de domínio do ginecologista geral.

VIDEO_09_GIN5
Inclui também o toque retal (Figura 2), que permite a avaliação da
disseminação do tumor através da identificação de endurecimentos no
COLPOCITOLOGIA
paramétrio e nodularidades em fundo de saco vaginal.

Um dado que deve ser valorizado é a presença de células


endometriais na colpocitologia após o 10º dia do ciclo menstrual,
principalmente em mulheres após os 40 anos ou na pós-
menopausa. Entretanto, estes achados só estão presentes em 30-50% das
pacientes com câncer de endométrio. Por esta razão, a colpocitologia não
pode ser considerada procedimento satisfatório para rastreamento ou
diagnóstico.

ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL (USGTV)

É um exame simples, não invasivo. Permite a avaliação do endométrio,


através do estudo do eco endometrial, tanto na menacme quanto na pós-
menopausa, e nas diferentes fases do ciclo menstrual.

Embora o rastreamento do câncer de endométrio não seja preconizado, na


prática clínica, a USGTV na pós-menopausa é empregada como método de
rastreio de alterações endometriais (Figura 3). Ela acaba selecionando as
pacientes que deverão ser submetidas à avaliação histopatológica do
endométrio.
Em mulheres na pré-menopausa, a utilidade da ultrassonografia para
excluir anormalidades endometriais não está estabelecida. Ela é
definitivamente menos útil na avaliação endometrial dessas pacientes, pois
tais mulheres apresentam um endométrio mais espesso. Assim, não há um
limite máximo estipulado para endométrio normal em mulheres
na pré-menopausa. No entanto, nessas pacientes sem sangramento
vaginal, é recomendada avaliação endometrial caso a espessura endometrial
seja maior que 8 a 11 mm, segundo alguns autores, e até mesmo maior que
15 mm segundo outros, mas este ponto de corte não é consenso na
literatura. Em linhas gerais, a avaliação adicional dessas pacientes deve ser
baseada na situação clínica, incluindo a persistência de sangramento apesar
de medidas terapêuticas, ou suspeita de anormalidade estrutural, como
pólipo, o qual deverá ser removido.

ACHADOS ECOGRÁFICOS

Sugestivos de câncer de endométrio:

● Coleções líquidas intrauterinas;


● Espessamento endometrial;
● Massa endometrial polipoide;
● Endométrio hiperecogênico ou irregular com ecogenicidade mista.

IMPORTANTE

OBSERVAÇÕES:

● De uma forma geral, a presença de um endométrio heterogêneo à


USGTV na pós-menopausa, independentemente de sua espessura,
requer investigação com histeroscopia e biópsia dirigida, caso se
evidencie alguma lesão. A imagem heterogênea pode corresponder a
uma área de hipertrofia focal ou um pólipo endometrial. Neste caso, a
necessidade de estudo histopatológico se impõe, pois, como
anteriormente mencionado, tais lesões podem representar uma
hiperplasia endometrial ou até mesmo um câncer de endométrio;
FIG. 3 ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS ENDOMETRIAIS. Atrofia endometrial
(A), coleção líquida (B) e espessamento endometrial (C). ● Segundo algumas fontes bibliográficas, a USGTV não parece ser uma
ferramenta útil na avaliação de mulheres em uso de terapia
estrogênica isolada. A espessura limite considerada normal não foi
estabelecida e, portanto, a avaliação endometrial é o padrão-ouro
A espessura endometrial máxima nas pacientes na pós- para excluir hiperplasia ou câncer de endométrio em mulheres
menopausa sem uso de terapia hormonal é de 4 ou 5 mm, dependendo da sintomáticas;
referência bibliográfica. Valores superiores a estes indicam anormalidade. O ● Em mulheres em uso de terapia hormonal, a USGTV deve ser
risco de câncer do endométrio é inferior a 1% no caso de espessura
considerada apenas nas indicações clínicas tradicionais, como na
endometrial menor que 5 mm. Acima desse limite, o risco pode ser de
avaliação de massas anexiais ou na presença de sangramento
aproximadamente 20%.
anormal, quando a biópsia não puder ser realizada. Sangramento
persistente sempre requer biópsia endometrial, independentemente
A espessura endometrial máxima nas pacientes na pós- dos achados ultrassonográficos.
menopausa em uso de Terapia Hormonal (TH) é de 8 mm.

saiba mais
RECOMENDAÇÕES DO MANUAL DE ATENÇÃO À MULHER NO
CLIMATÉRIO/MENOPAUSA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

De acordo com este Manual, a indicação da investigação endometrial na


rotina está relacionada a sintomas genitais, como sangramentos
irregulares na pré, durante ou após a instalação da menopausa.
Entretanto, há um detalhe que não pode ser esquecido: o Ministério da
Saúde recomenda a propedêutica inicial por métodos não invasivos, mais
especificamente pela ultrassonografia pélvica. Este exame,
preferentemente por via transvaginal, possibilita a mensuração e
observação do aspecto endometrial.

DOPPLERFLUXOMETRIA

Seu papel ainda não está totalmente esclarecido.

Índices de pulsatilidade inferiores a 1,5 nos ramos ascendentes das artérias


uterinas são bastante sugestivos de neoplasia maligna. Entretanto, falso-
positivos podem ser encontrados em mulheres em uso de terapia hormonal
estrogênica ou em quadros de infecção intrauterina.

HISTEROSSONOGRAFIA

Consiste na instilação de 20 a 30 ml de soro fisiológico na cavidade uterina,


por intermédio de um cateter introduzido pelo colo, durante a realização de
USGTV. Objetiva um melhor estudo da cavidade uterina. Possibilita a
identificação, localização e avaliação da extensão de espessamentos
endometriais. Permite também a identificação de miomas submucosos e
pólipos endometriais, bem como sua diferenciação com processos
expansivos neoplásicos (Figura 4).

FIG. 4 Imagem nodular e hiperecogênica localizada no fundo da cavidade uterina


compatível com pólipo endometrial.

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM)


FIG. 5 RM. Adenocarcinoma de endométrio. Estágio IA (A), estágio IB (B e C).

A RM não é capaz de diferenciar doença maligna de benigna. É excelente


para diferenciar miométrio de endométrio, permitindo a avaliação da
invasão miometrial. Pode também detectar tumores extrauterinos e
envolvimento do colo uterino (Figura 5).
HISTEROSCOPIA

A Histeroscopia (HSC) é empregada para diagnóstico de hiperplasia e


câncer de endométrio em mulheres com sangramento uterino anormal,
sangramento pós-menopausa ou com anormalidades endometriais à
USGTV.
É o método propedêutico mais eficaz para a investigação de anormalidades BIÓPSIA DIRIGIDA POR HISTEROSCOPIA
da cavidade uterina, pois possibilita a visualização direta, avaliação da
É atualmente o método de escolha.
localização, profundidade e extensão das lesões endometriais. Além disso,
orienta ou dirige a biópsia endometrial (Figura 6).
Representa a única técnica semiótica que permite uma avaliação pré-
operatória segura da invasão cervical pelo tumor.

Permite uma real avaliação do tumor, fornecendo informações sobre seu


aspecto macroscópico, localização, extensão em relação à cavidade
endometrial e ao canal cervical. A biópsia dirigida com pinças endoscópicas
permite o direcionamento da biópsia que foi imprescindível para o
diagnóstico oportuno de lesões focais e de pouca extensão.

ASPIRAÇÃO ENDOMETRIAL SIMPLES

Pode ser realizada no consultório como primeiro passo na avaliação da


FIG. 6 Adenocarcinoma focal (A) e adenocarcinoma difuso (B).
paciente. Caracteriza-se por boa precisão diagnóstica apenas em carcinomas
invasivos. Tem baixo custo e não gera desconforto para a paciente.

Na presença de biópsia com hiperplasia ou resultados negativos com


persistência de sangramento ou espessamento endometrial à
ESTUDO ANATOMOPATOLÓGICO ultrassonografia, está indicada a curetagem uterina ou histeroscopia com
biópsia.
Para obtenção de amostra tecidual do endométrio, diversos métodos podem
ser empregados, além da biópsia dirigida por histeroscopia, como a
BIÓPSIA ENDOMETRIAL COM CURETA DE NOVAK
aspiração endometrial a vácuo, cureta de Novak, dilatação e curetagem
uterina. Pode ser realizada em ambulatório, às cegas, sem conhecimento prévio da
lesão. É também muito empregada imediatamente após o estudo
A Tabela 2 resume as indicações de estudo histopatológico na pré e pós- histeroscópico. Nestes casos, a ponta da cureta é orientada para a parede
menopausa. uterina onde se encontra a alteração que se deseja no estudo histopatológico
(biópsia orientada) – Figura 7.

TAB. 2: INDICAÇÕES DE ESTUDO HISTOPATOLÓGICO.

PRÉ-MENOPAUSA


Obesidade extrema.

Anovulação crônica.

Sangramento anormal.

PÓS-MENOPAUSA


Obesidade extrema.
FIG. 7

Hematométrio.

Piométrio.

Presença de células endometriais na citologia vaginal
(mesmo que de aspecto benigno).
CURETAGEM UTERINA FRACIONADA

Eco endometrial superior a 4 ou 5 mm na presença de
sangramento (USGTV). É o método de escolha na ausência de histeroscopia. É também realizada
sem prévio conhecimento da localização da lesão. É um método às cegas, de

Sangramento persistente, mesmo se eco endometrial < 4
valor limitado nas doenças focais, tanto benignas (pólipos e miomas) quanto
ou 5 mm.
malignas, localizadas no fundo uterino e/ou cornos tubários.

Qualquer sangramento na pós-menopausa (segundo alguns
autores).
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Nem todo Sangramento Uterino Anormal (SUA) na pós-menopausa,


MÉTODOS DE OBTENÇÃO DE AMOSTRA ENDOMETRIAL
período onde a HE e o CE são mais prevalentes, é ocasionado por eles.
Neste contexto, as principais causas de SUA nesse período incluem:
DEFINIÇÃO

Estrogênios exógenos (TH) – 30%;
A Hiperplasia Endometrial (HE) é definida como aumento anormal (volume

Endometrite atrófica/vaginite atrófica – 30%; e espessura) do endométrio proliferativo que mostra desorganização

Câncer de endométrio – 15%; estrutural, estratificação epitelial e atipia citológica.


Pólipos endometriais ou cervicais – 10%;

Hiperplasia endometrial – 5%; EPIDEMIOLOGIA

Outras causas (ex.: câncer de colo, sarcoma uterino, trauma) – 10%. Há poucos dados epidemiológicos que permitem saber com exatidão a
prevalência de HE, com estimativas em torno de 200.000 casos por ano em
As neoplasias endometriais, cervicais e ovaria-nas devem ser sempre países desenvolvidos.
descartadas na presença de sangramento uterino na pós-menopausa.

FISIOPATOLOGIA
Convém salientar que a causa mais provável de um sangramento na
A HE resulta de um estímulo estrogênico persistente, endógeno ou exógeno,
pós-menopausa é a atrofia endometrial. No entanto, é imprescindível
em um endométrio proliferativo, não necessariamente excessivo, porém não
descartar a possibilidade de câncer de endométrio.
antagonizado pela progesterona.

Pode, ainda, resultar de uma resposta endometrial inadequada a estes


DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO esteroides (alterações na receptividade aos esteroides) ou mesmo de um
estado imunossupressivo, já que mulheres transplantadas renais com
sangramento uterino anormal apresentam aumento no risco de
A HE e o CE são diagnósticos histopatológicos! desenvolvimento de HE.

As hiperplasias endometriais são clinicamente importantes por várias


A hiperplasia endometrial é a lesão precursora de todas as razões, a saber:
neoplasias endometriais relacionadas ao excesso de estrógenos ●
Podem cursar com episódios de sangramento uterino anormal;
sem a contraposição de progestogênios. Entretanto, cerca de 20%
das neoplasias malignas de endométrio não se relacionam à exposição

Podem estar associadas a tumores ovarianos produtores de estrógenos;
crônica aos estrógenos. Em tais casos, a hiperplasia endometrial não está ●
Podem derivar de terapia hormonal exclusivamente estrogênica e
presente. anteceder ou coexistir com o câncer endometrial.

Atualmente, já se questiona se a fisiopatologia da neoplasia do câncer passa


por um processo contínuo de transformação através de uma lesão CLASSIFICAÇÕES DAS HIPERPLASIAS
precursora. ENDOMETRIAIS

CLASSIFICAÇÃO DA HIPERPLASIA ENDOMETRIAL DA


HIPERPLASIA ENDOMETRIAL ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS (1994)

A Hiperplasia Endometrial (HE) corresponde a um espectro de Em 1994, a OMS propôs uma classificação da HE com base nas suas
alterações morfológicas e biológicas das glândulas e do estroma características histomorfológicas. Podem ser classificadas em simples ou
endometriais. Varia de um estado fisiológico exagerado ao complexa, com ou sem atipias. Optamos por apresentá-la, pois é ela
carcinoma in situ. que ainda consta na maioria dos livros didáticos de Ginecologia.

Atualmente, já se questiona se a fisiopatologia da neoplasia do Como as taxas de progressão para o carcinoma de endométrio foram
câncer passa por um processo contínuo de transformação, estabelecidas por apenas um estudo, com número relativamente pequeno de
através de uma lesão precursora. Especula-se que existam duas casos e cujos resultados não foram estatisticamente significantes, a própria
entidades clínicas distintas: a hiperplasia endometrial e a OMS reconheceu a superioridade da classificação baseada na NIE, que será
neoplasia endometrial. As hiperplasias endometriais atípicas descrita adiante, e a ratificou.
seriam as precursoras da neoplasia de endométrio e referidas
como Neoplasia Intraepitelial do Endométrio (NIE). Já as
CLASSIFICAÇÃO SOB O PONTO DE VISTA ARQUITETURAL
hiperplasias endometriais típicas não estariam associadas ao
processo, sendo apenas chamadas de hiperplasia endometrial. HIPERPLASIA SIMPLES (Figura 8)
Ambas sofrem influência dos estrógenos e podem coexistir em
um mesmo endométrio.

Nas linhas que seguem, será apresentado o que é mais


importante sobre as HE.
FIG. 9 HIPERPLASIA COMPLEXA.

FIG. 8 HIPERPLASIA SIMPLES.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE ATIPIA CITOLÓGICA

São glândulas dilatadas ou císticas, com formatos redondos ou ligeiramente São células com grandes núcleos de tamanho e formato variáveis que
irregulares, sem aumento da razão glândula-estroma (com estroma perderam a polaridade, com presença de aumento das razões núcleo-
interposto proporcionalmente à população glandular), sem aglomeração citoplasma, nucléolos proeminentes e cromatina irregularmente condensada
glandular e nenhuma atipia citológica. A presença de câncer após com eliminação da paracromatina.
diagnóstico de hiperplasia simples sem atipias foi descrita em 1% dos casos
(Tabela 3).
HIPERPLASIA ATÍPICA

Caracteriza-se pela presença de células epiteliais alargadas, hipercromáticas


TAB. 3: CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DAS HIPERPLASIAS
ENDOMETRIAIS.
com nucléolos proeminentes e aumento da relação núcleo/citoplasma
(Figura 10). É a verdadeira precursora do câncer endometrial. São também
TIPO DE HIPERPLASIA PROGRESSÃO PARA O consideradas como neoplasia intraepitelial endometrial. Pode ser
CÂNCER (%) considerada como simples ou complexa, em função da arquitetura glandular
correspondente.
Típica simples
1
(cística sem atipia)

Típica complexa
3
(adenomatosa sem atipia)

Atípica simples 8

Atípica complexa 29

Fonte: Berek & Novak’s Gynecology (2012).


Observações:
1. O risco de a hiperplasia evoluir para carcinoma está relacionado à presença e à
intensidade da atipia citológica;
2. Dica: se a hiperplasia é a típica, é porque ela é diferente do normal, “esquisita”. Então,
maior será o risco de evoluir para carcinoma de endométrio!
FIG. 10 Hiperplasia atípica.

HIPERPLASIA COMPLEXA

São glândulas de arquitetura complexa (brotamento e invaginação), A hiperplasia simples atípica evolui para o câncer em cerca de 8% dos
aglomeradas com menos estroma interposto (aumento da relação casos. Já a hiperplasia complexa atípica evolui para câncer em
glândula/estroma), sem atipias (Figura 9). A presença de câncer após aproximadamente 29% dos casos (Tabela 3).
diagnóstico de hiperplasia complexa sem atipias foi descrita em 3% dos
casos (Tabela 3).
TAB. 3: CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DAS HIPERPLASIAS
ENDOMETRIAIS.
Para seu diagnóstico, todos os seguintes critérios devem ser encontrados:
TIPO DE HIPERPLASIA PROGRESSÃO PARA O
CÂNCER (%) ●
Proporção das glândulas endometriais excede o estroma;

A área problema mostra padrão citológico que difere da mucosa
Típica simples 1
endometrial de fundo, conceituando-se a atipia nuclear;
(cística sem atipia)

Dimensão linear máxima da lesão excede 1 mm;
Típica complexa 3 ●
Devem ser diferenciadas de condições benignas com critérios que se
(adenomatosa sem atipia) sobrepõem e excluído o câncer endometrial.

Atípica simples 8 Dados clínicos publicados sugerem que 40% das mulheres com NIE
desenvolverão câncer de endométrio em um período de 12 meses, enquanto
Atípica complexa 29
aquelas que não desenvolverem câncer de endométrio em 12 meses tem
Fonte: Berek & Novak’s Gynecology (2012). probabilidade aumentada em 45 vezes de desenvolver câncer em algum
Observações: momento.
1. O risco de a hiperplasia evoluir para carcinoma está relacionado à
presença e à intensidade da atipia citológica;
Embora, ainda não conste na maioria dos livros didáticos, a classificação
2. Dica: se a hiperplasia é a típica, é p orque ela é diferente do normal,
“esquisita”. Então, maior será o risco de evoluir para carcinoma de NIE tem excelente associação com progressão da HE e evolução para
endométrio!
câncer de endométrio. Além disso, pode ser empregada para guiar as
condutas. Mais detalhes serão encontrados no tópico tratamento, mais
adiante.
CLASSIFICAÇÃO DA HIPERPLASIA ENDOMETRIAL DO
INTERNATIONAL ENDOMETRIAL COLLABORATIVE GROUP (2000)
TRATAMENTO DAS HIPERPLASIAS
Incontáveis dificuldades relacionadas à reprodutibilidade das avaliações ENDOMETRIAIS
patológicas da HE apontavam que uma nova classificação, mais objetiva,
seria necessária. CONDUTAS TERAPÊUTICAS NAS HIPERPLASIAS ENDOMETRIAIS
COM BASE NA CLASSIFICAÇÃO DA OMS

Assim, graças aos avanços na biologia molecular, foi desenvolvido um


Como a maioria dos livros didáticos baseia a conduta terapêutica das
sistema de classificação que subdividiu a Hiperplasia Endometrial (HE) em
hiperplasias endometriais na classificação da OMS (1994), optamos por
dois grupos:
disponibilizá-las primeiramente. Confira todos os detalhes a seguir.
● HE benigna ou Hiperplasia Sem Atipia (HSA);
● Hiperplasia Atípica (HA) ou Neoplasia Intraepitelial
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL
Endometrial (NIE).
A terapêutica das hiperplasias dependerá da presença ou não de atipias
citológicas, da idade da paciente e do seu interesse em engravidar.
A seguir, serão destacados seus aspectos mais importantes.

O tratamento das hiperplasias simples e complexas sem atipias visa


HE BENIGNA OU HIPERPLASIA SEM ATIPIA (HSA) basicamente controlar o sangramento e evitar a progressão para câncer,
É policlonal e ocorre difusamente, graças a hiperestimulação estrogênica embora este risco seja pequeno e controverso.
crônica, sem oposição da progesterona.
Atualmente, a melhor opção neste sentido consiste no emprego de
progestogênios, os quais revertem a hiperplasia através da ativação de
HIPERPLASIA ATÍPICA (HA) OU NEOPLASIA INTRAEPITELIAL
receptores de progesterona, resultando em decidualização e adelgaçamento
ENDOMETRIAL (NIE)
do endométrio. A exposição aos progestogênios também diminui os
A NIE é conceituada como proliferação monoclonal de glândulas receptores de estrogênio e progesterona, ativando enzimas que convertem
endometriais alteradas citológica e arquiteturalmente, que é propensa à estradiol em seu metabólito menos ativo, a estrona. Apesar da eficácia dos
progressão para CE. Assim, seu conceito pressupõe, ao contrário, que progestogênios em reverter a hiperplasia endometrial estar comprovada,
alterações genômicas do endométrio ocorrem muito antes de serem ainda se discute a necessidade de se tratar as hiperplasias sem atipias.
detectáveis à microscopia óptica e que essas alterações latentes podem estar
presentes no endométrio por muitos anos. O acúmulo de alterações
HIPERPLASIA TÍPICA
genômicas predispõe ao estabelecimento de clones de alto risco, que
resultam no aparecimento da NIE. O estrógeno seria apenas um promotor Nas hiperplasias sem atipias (simples ou complexas) admitem-se três
para o estabelecimento fenotípico destes clones anteriormente presentes. Já condutas distintas: expectante com biópsias em intervalos regulares,
os progestogênios funcionariam como supressores. tratamento medicamentoso e tratamento cirúrgico. Elas serão esmiuçadas a
seguir.

SEGUIMENTO COM BIÓPSIAS EM INTERVALOS REGULARES


O intervalo de realização das biópsias endometriais não é
consensual. Em geral, varia entre três a seis meses. TRATAMENTO DAS HIPERPLASIAS ENDOMETRIAIS ATÍPICAS

Na pós-menopausa
EMPREGO DE PROGESTOGÊNIOS

Baseia-se no emprego de progestogênio cíclico ou contínuo, oral ou Embora na prática clínica seja realizada histerectomia total
intramuscular, podendo ser utilizados o acetato de medroxiprogesterona ou acompanhada de anexectomia bilateral, todos os livros didáticos mais
acetato de megestrol. recentes da especialidade e o Manual de Atenção à Mulher no
Cimatério/Menopausa do Ministério da Saúde consideram apenas a
histerectomia total como medida terapêutica para as hiperplasias
Nova amostra endometrial (controle histológico) deve ser realizada em três
atípicas. Esta não é uma divergência na literatura!
a seis meses após o tratamento. É necessário aguardar três a quatro semanas
após o término da progestogênioterapia para realização da biópsia de
endométrio e, consequentemente, avaliação da resposta terapêutica.

CONDUTAS TERAPÊUTICAS NAS HIPERPLASIAS ENDOMETRIAIS


HISTERECTOMIA COM BASE NA CLASSIFICAÇÃO DO INTERNATIONAL
A histerectomia pode ser sugerida em pacientes com hiperplasia sem atipias ENDOMETRIAL COLLABORATIVE GROUP

que se encontrem na pós-menopausa e apresentem persistência da lesão e do


As condutas baseadas na classificação da NIE encontram-se resumidas a
sangramento apesar da terapia progestínica.
seguir.

HIPERPLASIA ATÍPICA
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL BENIGNA OU HIPERPLASIA SEM
Nos casos de hiperplasias com atipias, o tratamento preferencial consiste na ATIPIAS (HSA)
histerectomia, porém o emprego de progestogênios pode ser aceitável em
As mulheres com HSA devem ser tratadas por meio da abordagem
condições específicas.
medicamentosa com progestogênios e com mudança/controle dos
fatores de risco. A progesterona se opõe ao efeito mitogênico do
Assim, na presença de atipias, duas condutas podem ser aventadas:
estrogênio, além de promover a diferenciação secretora. Convém salientar
tratamento clínico e cirúrgico.
que o tratamento com progestogênio oral ou SIU de
levonorgestrel deve ocorrer por pelo menos seis meses para
EMPREGO DE PROGESTOGÊNIOS ORAIS, INJETÁVEIS OU SIU LIBERADOR
regressão completa da lesão endometrial. Além disso, vale lembrar que a
DE LEVONORGESTREL
mulher em uso de terapia medicamentosa tem necessidade de reavaliação
Em mulheres que ainda desejam engravidar, o uso de SIU liberador de periódica com biópsias de endométrio. As mulheres com HSA com alto
levonorgestrel representa a primeira linha de tratamento, pois apresenta risco de recorrência, como aquelas com IMC ≥ 35 e as tratadas com
maiores taxas de regressão do que os progestogênios orais.
progestogênios por via oral, devem ser submetidas a biópsias de
endométrio a cada seis meses. Após duas biópsias de
Em relação a estes últimos, quando se opta por eles, o regime de tomada endométrio consecutivas negativas, o seguimento será com
não deve ser cíclico, pois é menos eficaz nas taxas de regressão. O uso de biópsia anual.
acetato de megestrol 200 mg ao dia, diariamente, pode ser uma
alternativa. Outra opção inclui acetato de medroxiprogesterona 10 a
Nas mulheres com HSA que não desejam preservar a fertilidade, a
20 mg ao dia, também de forma contínua.
histerectomia pode ser indicada nas seguintes situações:

Além disso, é necessário ressaltar que a mulher em uso de terapia



Progressão para HA/NIE durante o seguimento;
medicamentosa progestínica tem necessidade de reavaliação periódica com ●
Quando não houver regressão da hiperplasia apesar de 12 meses de
biópsias de endométrio, preferencialmente dirigidas por histeroscopia, em tratamento;
três meses. ●
Quando houver recorrência da hiperplasia após completar o tratamento
com progestogênios;
Em caso de persistência da lesão, a histerectomia está indicada.

Na persistência de sangramento uterino;

Por fim, convém salientar que a progestogenioterapia também pode ser ●


Quando a paciente recusar o seguimento ou o tratamento
uma opção em mulheres na pós-menopausa sem condições medicamentoso.
cirúrgicas.

HA/NIE
HISTERECTOMIA
Diante desse achado, é mandatória a exclusão de malignidade. A
É a terapia de escolha nas mulheres que não desejam mais
histerectomia total com ou sem salpingo-ooforectomia bilateral
engravidar ou com adesão insatisfatória à terapia e seguimento.
é uma opção segura tanto para exclusão de câncer quanto para o tratamento
da condição pré-maligna. A via cirúrgica pode ser laparoscópica ou
laparotômica ou, até mesmo, vaginal.
Se a paciente estiver em um centro cirúrgico com ginecologista oncológico
disponível e a congelação do útero no intraoperatório evidenciar CE, a
cirurgia de estadiamento cirúrgico pode ser realizada, desde que a paciente
tenha sido informada sobre essa possibilidade e tenha autorizado em termo
de consentimento. É importante salientar que a histerectomia com ou sem
salpingo-ooforectomia bilateral com coleta de lavado peritoneal,
aguardando-se o resultado histopatológico em parafina, também é uma
conduta aceitável.

A histerectomia subtotal, o morcelamento uterino e a ablação endometrial


não são tratamentos aceitáveis para a HA/NIE, devido ao potencial de se
diagnosticar o câncer de endométrio incidentalmente.

Por fim, quando a paciente com HA/NIE deseja preservar a fertilidade


ou não é candidata ao tratamento cirúrgico, o tratamento
medicamentoso de primeira linha é com SIU liberador de
levonorgestrel. No tratamento de segunda linha, incluem-se os
progestogênios orais. Essas pacientes devem ser submetidas à biópsia
FLUXOGRAMA 1 FLUXOGRAMA DE CONDUTA PARA O MANEJO INICIAL DA
de endométrio a cada três meses e, após duas biópsias HIPERPLASIA ENDOMETRIAL. Adaptada de: Royal College of Obstetricians and
consecutivas com resultados negativos, podem ser submetidas a Gynaecologists Green-top Guideline, 2016. * SOB: Salpingo-Ooforectomia Bilateral.

biópsias de endométrio a cada seis ou 12 meses, até que seja


possível realizar a histerectomia total.

A Tabela 4 e o Fluxograma 1 apresentam as opções de tratamento


medicamentoso das hiperplasias endometriais. CÂNCER DE ENDOMÉTRIO

Classicamente, o câncer de endométrio (CE – Figura 11) é


dividido em dois tipos histológicos: tipo I e tipo II. E por que é
TAB. 4: OPÇÕES TERAPÊUTICAS MEDICAMENTOSAS DAS
HIPERPLASIAS ENDOMETRIAIS – HIPERPLASIAS SEM importante esta distinção? Porque o comportamento e o
ATIPIAS (HSA) E HIPERPLASIA ATÍPICA/NEOPLASIA prognóstico variam entre eles.
INTRAEPITELIAL ENDOMETRIAL (HA/NIE).

OPÇÕES DE PROGESTO‐ DOSAGEM, ESQUEMA


GÊNIOS TERAPÊUTICO E VIA DE
ADMINISTRAÇÃO

Acetato de medroxipro‐ 10 a 20 mg/dia, via oral.


gesterona

Acetato de medroxipro‐ 150 mg, a cada três meses,


gesterona de depósito via intramuscular.

Progesterona micronizada 100 a 200 mg/dia, via vaginal


(creme).

Acetato de megestrol 40 a 200 mg/dia, via oral.


FIG. 11 Visão macroscópica de um câncer de endométrio.
Sistema intrauterino 20 mcg a cada 24 horas, total
liberador de levonorgestrel de 52 mcg em cinco anos,
intrauterino.
A propósito, o tipo histológico característico dos tumores do
tipo I é o adenocarcinoma endometrioide, que é o mais
comumente diagnosticado e que possui bom prognóstico.

Por outro lado, o tipo II inclui o carcinoma uterino seroso


papilar, o carcinoma de células claras e outros tipos histológicos
mais agressivos. Consequentemente, possuem pior
prognóstico.
Tanto a incidência quanto a mortalidade por CE vêm
aumentando nos últimos anos. É exatamente essa tendência
que reforça a importância do seu estudo tanto para a prática
clínica quanto para fins de prova.

Respira fundo e vai com tudo...

EPIDEMIOLOGIA

Para o Brasil, estimam-se 6.540 casos novos de câncer do corpo do útero,


para cada ano do triênio 2020-2022, com um risco estimado de 6,07 casos
novos a cada 100 mil mulheres.

Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do corpo do Desconsiderando as situações de uso clínico de estrógenos
útero ocupa a oitava posição mais frequente no país. Quanto à distribuição exógenos, como, por exemplo, tratamento de sintomas climatéricos e
geográfica, na Região Sudeste (7,45/100 mil), ocupa a sexta posição. Na uso de tamoxifeno para câncer de mama, a exposição prolongada a
Região Centro-Oeste (5,27/100 mil), ocupa a sétima posição; na Região estrógenos sem oposição de progesterona é mais comum em duas
Nordeste (5,10/100 mil), a oitava posição; na Região Norte (2,41/100 mil), circunstâncias:
a décima posição; e na Região Sul (6,53/100 mil), ocupa a décima primeira
posição. 1ª. Obesidade;

2ª. SOP.
Analisando a distribuição desse câncer nas regiões do globo, as taxas de
incidência e de mortalidade são maiores nas regiões mais desenvolvidas. As
maiores taxas de incidência de câncer do corpo do útero foram estimadas
A seguir, serão detalhados os fatores de risco mais importantes.
para a América do Norte e para o Norte da Europa Ocidental.

IDADE
FATORES DE RISCO
O pico de incidência manifesta-se entre a quinta e sexta décadas de
VIDEO_08_GIN5
vida. Aproximadamente 75% dos casos ocorrem em mulheres acima
Os principais fatores de risco (Tabelas 5 e 6) associam-se aos efeitos
proliferativos da exposição prolongada do estrogênio, dos 50 anos. A idade média das portadoras do câncer de endométrio é
principalmente quando contínua e sem oposição de 60 anos. Assim, pode-se traçar a seguinte analogia: “o câncer de
progestogênica. O estímulo hormonal acarreta alterações proliferativas endométrio é o câncer das avós, ao passo que o câncer de colo é o das
no tecido endometrial, que podem culminar em hiperplasia e precipitar a mães”.

transformação maligna.

RAÇA BRANCA

TAB. 5 FATOR DE RISCO PARA CÂNCER ENDOMETRIAL.


O câncer de endométrio é mais frequente entre mulheres de raça branca e
mulheres ocidentais.
FATOR DE RISCO RISCO

Obesidade 2.5-4.5× CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA

Nuliparidade
O câncer de endométrio é mais comum em mulheres abastadas. Supõe-se
Comparada com uma 2× que a alimentação rica em gorduras acarretaria maior ganho de
criança
3× peso e maior índice de estrogenicidade.
Comparada com cinco ou
mais crianças
ANTECEDENTES FAMILIARES
Menopausa tardia 2.4×
Apesar do impulso oncogênico genético do câncer de endométrio não ser
tão acentuado quanto nas mamas e ovários, parece existir uma certa
predisposição familiar.

HEREDITARIEDADE
Aproximadamente 10% dos casos de câncer de endométrio são Quanto à idade da menopausa, existem fontes que a consideram
hereditários. As alterações genéticas mais comumente envolvidas com tardia quando ela se manifesta após os 52 anos. Outras a definem
esta neoplasia são: mutações nos oncogenes K-ras e HER2-neu e nos como tardia quando ela ocorre após os 55 anos. O Manual do
supressores tumorais p53, p21, p16 e pTEN1. Alterações nos genes Ministério da Saúde considera como menopausa tardia, aquela
MMAC1, hMLH1 e hMSH6 têm sido relatadas. instalada após os 50 anos.

SÍNDROME DE LYNCH II
TERAPIA HORMONAL ESTROGÊNICA
Há tendência familiar entre os cânceres de cólon e endométrio.
A síndrome de Lynch II ou câncer de cólon não polipoide hereditário é uma A terapia hormonal estrogênica, sem progesterona, na menopausa
doença autossômica dominante. A predisposição é para o câncer aumenta em quatro a oito vezes o risco de câncer endometrial. Este
colorretal e para tumores ginecológicos, especialmente o carcinoma de risco aumenta com doses maiores e com o uso prolongado.
endométrio (principal, ocorrendo em 45% das mulheres da família
afetada) e de ovário. O problema está na mutação disfuncional de genes
USO DE TAMOXIFENO
que regulam o reparo do DNA, tal como o hMSH2 e o hMSH3, mutação
essa conhecida como instabilidade de microssatélites. Estes
É um agente antiestrogênico usado no tratamento adjuvante do câncer de
indivíduos desenvolvem câncer colorretal em uma idade precoce
mama, mas que possui efeito estrogênico no endométrio. O uso
(média 35-45 anos), quase sempre no cólon direito ou ceco e
contínuo por um a dois anos aumentou em 50% os casos de câncer
frequentemente sincrônicos (em dois pontos distintos do colorreto ao
de endométrio.
mesmo tempo) e metacrônicos (surgimento de um novo câncer em local
distinto do colorreto mais de seis meses após a ressecção do primeiro). A
chance de desenvolver a neoplasia chega a 70%. Uma característica TUMORES OVARIANOS PRODUTORES DE ESTRÓGENOS
marcante é o não desenvolvimento de pólipos típicos antes do
adenocarcinoma, que se desenvolve a partir de lesões planas (“pólipos Os tecomas, mais frequentemente que os tumores de células granulosas,
planos adenomatosos”). O risco se torna mais alto a partir dos 21 anos. A causam alterações hiperplásicas endometriais.
síndrome de câncer colorretal não polipoide hereditário aumenta em dez
vezes o risco de câncer de endométrio.
OBESIDADE (IMC > 30)

PASSADO DE ANOVULAÇÃO CRÔNICA É o fator de risco mais importante na gênese da doença,


independentemente do status menopausal. O sobrepeso aumenta o risco
Todos os estados anovulatórios são considerados fatores de risco. Muitas
em 1,5 vez. Já a obesidade aumenta o risco em mais de 2,5 vezes.
vezes estão associados à infertilidade. Coíbem a formação do corpo lúteo e
a secreção de progesterona na segunda metade do ciclo. Dessa forma,
O ganho excessivo de peso está associado ao hiperestrogenismo endógeno
caracteriza-se pela ação estrogênica não balanceada pela
através de várias vias: aumento da conversão periférica tecidual dos
progesterona. Neste grupo, destacamos a síndrome de ovários
androgênios, diminuição da globulina transportadora de
policísticos.
esteroides e maior ocorrência de anovulação crônica.

MENARCA PRECOCE, MENOPAUSA TARDIA E NULIPARIDADE O ganho recente de peso parece representar maior probabilidade de risco,
enquanto a distribuição da gordura corporal ainda não tem papel bem
Estes aspectos da vida reprodutiva relacionados com o definido na gênese do câncer de endométrio.
hiperestrogenismo aumentam o risco de câncer de endométrio.

DIABETES MELLITUS (DM)


A menopausa natural após os 52 anos aumenta o risco em 2,4 vezes, em
comparação com mulheres cuja menopausa ocorreu antes dos 49 anos.
O DM aumenta em 1,3 a 2,8 vezes o risco de câncer de endométrio.
Segundo alguns autores, as diabéticas apresentam menopausa mais
As nulíparas correm risco duas a três vezes maior do que as mulheres com
tardia, fato que acarretaria uma ação estrogênica mais prolongada no
prole.
endométrio. Além disso, a maioria das pacientes diabéticas é obesa.

A obesidade favorece, conforme mencionado anteriormente, a conversão


O critério cronológico para definição de menarca precoce e
menopausa tardia é polêmico na literatura. periférica de andrógenos (por exemplo, androstenediona em estrona).

Algumas fontes consideram a menarca precoce quando a primeira


menstruação acontece antes dos 11 anos. Outras a definem como a
idade da primeira menstruação antes de 12 anos.
Outra hipótese para explicar a associação seria um possível aumento da MULTIPARIDADE
produção de somatotropina. O excesso de somatotropina
condicionaria o típico aspecto somático das células cancerosas do A remoção de células malignas pela gravidez é considerada um fator
endométrio. Além disso, seu excesso pode ocasionar aumento de ácidos protetor. No entanto, os efeitos da progesterona no endométrio na
graxos livres e colesterol, ocorrendo hipertensão, aumento dos gestação são seguramente o fator principal nesta proteção.
níveis de glicemia, hiperinsulinismo e DM.

USO DE ANTICONCEPCIONAIS COMBINADOS ORAIS (ACO)


HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS)
Reduz em 50% o risco de câncer de endométrio com a utilização do
A HAS foi associada ao câncer de endométrio durante muitos anos. No esquema combinado por um período superior a doze meses. A proteção
entanto, segundo alguns autores como o Disaia (Clinical Gynecology máxima ocorre após três anos de uso ininterrupto de pílula. O uso de ACO

Oncology), não foi confirmada a relação causal. A HAS é uma condição confere proteção contra o desenvolvimento do câncer
endometrial, em virtude de alguns efeitos da progesterona.
clínica frequentemente associada ao diabetes mellitus e à obesidade, e
provavelmente este é o fator de confundimento.

RELAÇÃO DO USO DE ANTICONCEPCIONAIS COMBINADOS ORAIS E


Por outro lado, algumas fontes a consideram como fator de risco
DO RISCO DE CÂNCER DE OVÁRIO E ENDOMÉTRIO
independente, como o Tratado de Ginecologia da FEBRASGO.

Sedimentando alguns conceitos importantes para as provas:

HIPOTIREOIDISMO
Fator protetor dos contraceptivos orais para o câncer de ovário
De forma análoga à HAS, o hipotireoidismo também foi associado ao
câncer de endométrio, mas também não foi confirmada a sua relação causal O uso de contraceptivos orais é um fator protetor à carcinogênese
com essa malignidade. ovariana, reduzindo os riscos em aproximadamente 50%. Ele é o único
modo de quimioprevenção documentado para tumores ovarianos.

ANTECEDENTES DE IRRADIAÇÃO PÉLVICA


Fator protetor dos contraceptivos orais para o câncer de endométrio
No passado, as portadoras de sangramento uterino anormal eram tratadas
com radioterapia. Estas mulheres estavam predispostas a maior incidência A medicação também reduz em 50% o risco de câncer de endométrio
de câncer de endométrio. com a utilização do esquema combinado por um período superior a
doze meses. A proteção máxima ocorre após três anos de uso
ininterrupto de pílula. Seu uso confere proteção contra o
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL ATÍPICA desenvolvimento do câncer endometrial em virtude de alguns efeitos
promovidos pela progesterona, tais como:
Esta alteração morfológica e biológica das glândulas endometriais e do
● Diminuição do número de receptores estrogênicos nas células
estroma aumenta em 8 a 29 vezes o risco de câncer de endométrio.
endometriais;
● Estímulo das células endometriais na produção de enzimas que
FATORES DE PROTEÇÃO convertem o estradiol em sulfato de estrona, que é biologicamente
menos ativo;
A Tabela 7 resume os fatores de proteção para o câncer de endométrio.
● Supressão da transcrição de oncogenes estrogênio-mediado.

TAB. 7 FATORES DE PROTEÇÃO PARA O CÂNCER DE


ENDOMÉTRIO.
TABAGISMO

Multiparidade.
Diminui o risco de câncer de endométrio devido ao seu efeito

Uso de anticoncepcionais orais combinados.
antiestrogênico.

Tabagismo.

Uso de SIU liberador de progesterona.
USO DE SISTEMA INTRAUTERINO (SIU) LIBERADOR DE

Perda de peso. LEVONORGESTREL, PERDA DE PESO E USO CRITERIOSO DE
ESTRÓGENOS DE FORMA COMBINADA

Terapia Hormonal (TH) combinada.

Obs.: se exposição a estrógenos é fator de risco, a diminuição dos níveis de Constituem boas medidas preventivas.
estrógeno é fator de proteção. Lembre-se também de que a progesterona
antagoniza os efeitos dos estrógenos!

RASTREAMENTO
POPULAÇÃO GERAL

Atualmente, não é preconizado o rastreamento do câncer de


endométrio para a população geral, pois não existe um exame
apropriado, econômico e aceitável que reduza a mortalidade.

Portanto, não existe recomendação para rastreamento em


mulheres sem risco definido. Não há recomendação de rastreio em
mulheres obesas, diabéticas, usuárias de TH ou usuárias de tamoxifeno.

POPULAÇÃO DE ALTO RISCO

SÍNDROME DE LYNCH TIPO II

Mulheres com predisposição a desenvolver câncer colorretal não TIPO I


polipoide hereditário (síndrome de Lynch II) apresentam alto risco de
O tipo mais frequente (75 a 85% dos casos) acomete mulheres mais
desenvolver câncer de endométrio. E essa pode ser a primeira manifestação
jovens, na perimenopausa, com história de exposição estrogênica sem
da síndrome. Assim, para essas pacientes que desejam manter seu
a oposição da progesterona. Em geral, origina-se a partir de um
status reprodutivo, a American Cancer Society (ACS) recomenda
endométrio hiperplásico que evolui para carcinoma. Tende a ser bem ou
exame pélvico, USG transvaginal e biópsia de endométrio, com
moderadamente diferenciado. Apresenta melhor prognóstico (invasão
periodicidade anual a partir dos 35 anos, até a realização da
superficial do miométrio) do que aqueles não associados ao
histerectomia com salpingo-ooforectomia profilática. Outras
hiperestrogenismo. Em geral, são do tipo endometrioide e são
fontes advogam que essa vigilância pode ser iniciada a partir dos 25 anos.
diagnosticados em idade mais precoce.

Em pacientes com essa síndrome, o Cancer Study Consortiu m sugere a


TIPO II
realização da colonoscopia, a partir dos 25 anos, a cada um ou
três anos. Esta variedade não possui associação com hiperestrogenismo e
hiperplasia endometrial. Origina-se a partir do endométrio

TUMORES DE CÉLULAS DA GRANULOSA DO TIPO ADULTO atrófico. Tende a acometer mulheres mais velhas, magras e na
pós-menopausa. Normalmente, é menos diferenciado e menos
Mulheres com tumores das células da granulosa do tipo adulto que não sensível aos progestogênios. Correlaciona-se com um pior
foram submetidas à histerectomia devem ser submetidas à biópsia de
prognóstico (tendência à invasão profunda do miométrio e alta frequência
endométrio. Se não houver evidência de doença, não há
de disseminação metastática para linfonodos pélvicos).
necessidade de realizar mais exames.

CLASSIFICAÇÃO EM GRAUS HISTOLÓGICOS


HISTÓRIA DE TRATAMENTO DE CARCINOMA DE OVÁRIO COM
PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE
Em relação ao grau histológico (Tabela 9) é importante lembrar alguns
Pacientes que foram submetidas ao tratamento de carcinoma de ovário com aspectos: quanto maior o grau histológico, maior a agressividade
preservação da fertilidade deverão ter uma amostra endometrial no e a velocidade de invasão do tumor. Isso ocorre porque, quanto maior
momento do diagnóstico da neoplasia. o grau, mais indiferenciadas serão as células neoplásicas.

CLASSIFICAÇÕES DO CE
TAB. 9 CLASSIFICAÇÃO EM GRAUS HISTOLÓGICOS DO
CÂNCER DE ENDOMÉTRIO.
VIDEO_10_GIN5
Grau I (G1) – bem diferenciado: padrão de crescimento de
células indiferenciadas menor ou igual a 5%. Responde por
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS TIPOS PATOGÊNICOS
20% dos casos.

A Tabela 8 resume a diferença entre os dois tipos de câncer de endométrio.


Grau II (G2) – moderadamente diferenciado: padrão de
crescimento de células indiferenciadas entre 6 e 50%.
Responde por 60% dos casos.

Grau III (G3) – indiferenciado: padrão de crescimento de


células indiferenciadas maior do que 50%. Responde por 20%
dos casos.
São tumores com comportamento semelhante ao do carcinoma seroso do
MACETE ovário e das tubas. São considerados tumores de alto grau, com
tendência à disseminação peritoneal.
Se o tumor é indiferenciado, é porque está crescendo tão rápido que
não deu tempo de diferenciar!!! Então, é bem agressivo!
CARCINOMA DE CÉLULAS CLARAS

São tumores mais incidentes em mulheres idosas, com

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS TIPOS HISTOLÓGICOS comportamento muito agressivo, frequentemente de padrão misto
com alto grau de invasão miometrial no momento do diagnóstico.
Os adenocarcinomas representam o tipo histológico mais comum. Está mais comumente associado com o tipo II do câncer de
endométrio.
A Tabela 10 expõe os subtipos de CE.
CARCINOMA ESCAMOSO

TAB. 10 SUBTIPOS DE CÂNCER DE ENDOMÉTRIO. São tumores raros que se caracterizam pela apresentação de epitélio
escamoso, frequentemente associados à estenose cervical e
TIPO NÚMERO (%) piométrio.

Endometrioide 84
INVESTIGAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
Adenoescamoso 4,2
AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
Mucinoso 0,9
Após a confirmação diagnóstica de CE, o próximo passo é a avaliação da
Uterino seroso papilar 4,5
paciente para determinar a melhor e mais segura abordagem terapêutica

Células claras 2,5 para a doença.

Células escamosas 0,04


Esta avaliação consiste em um “pré-estadiamento do CE”. A extensão
Outros 3,8 da cirurgia deve ser adequada à condição clínica da paciente.
Adaptado do Clinical Gynecologic Oncology – Disaia et al.

AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO DA DOENÇA


ADENOCARCINOMA ENDOMETRIOIDE
O estadiamento do CE é eminentemente cirúrgico, o que diminui
Descreve em torno de 84% dos cânceres de endométrio, assemelhando-se significativamente a complexidade da avaliação pré-operatória.
histologicamente com glândulas endometriais normais. À medida que esses
tumores se tornam mais indiferenciados, aumenta seu componente sólido e
A avaliação pré-operatória inclui uma anamnese cuidadosa com
de atipias, bem como sua agressividade biológica. Portanto, a
investigação da história familiar para identificar fatores de risco
determinação do grau de diferenciação destes tumores é muito
associados à síndrome de Lynch, avaliação meticulosa de todas
importante, pois ela possui alto valor prognóstico.
as comorbidades, sobretudo nas pacientes idosas, exame físico,
exame ginecológico, ultrassonografia transvaginal –
preferencialmente realizada por ultrassonografista experiente, o que permite
MACETE
avaliações do tamanho do tumor, presença de doença ovariana,
Se o câncer é de endométrio, o tipo histológico mais comum é o quantificação da invasão miometrial e envolvimento de estroma cervical – e
endometrioide! avaliação completa da histologia e grau histológico da biópsia
endometrial.

Para as pacientes com indícios de doença extrauterina ou alto risco


ADENOCARCINOMA MUCINOSO
de metástases, outros exames de imagem devem ser cogitados.
Possui padrão mucinoso e comportamento semelhante ao do
adenocarcinoma endometrioide. Na maioria dos casos, possui bom
OUTROS EXAMES DE IMAGEM
prognóstico.

CARCINOMA SEROSO PAPILAR


Os principais fatores diagnósticos necessários para a avaliação A cistoscopia poderá ser solicitada se houver suspeita de invasão de
pré-operatória do câncer endometrial são: bexiga.

1. Determinação do risco de metástases para linfonodos, a fim


A colonoscopia deve ser indicada apenas para as pacientes com presença
de disponibilizar uma consulta cirúrgica habilitada;
de sangue oculto nas fezes ou história de mudança do hábito intestinal, em
2. Diagnóstico de uma invasão cervical profunda, o que exige
razão da pequena possibilidade de câncer de cólon concomitante.
radioterapia pré-operatória ou um plano de tratamento diferente,
isto é, histerectomia radical em vez de uma histerectomia abdominal
total; e VIAS DE DISSEMINAÇÃO
3. Detecção de doença em estágio avançado.
O modo mais comum de metástase do câncer de endométrio é
a linfática. Ela está muito associada com a presença de invasão miometrial
Assim, o papel do exame por imagem é retratar a invasão miometrial que e o grau de diferenciação.
não atinge planos profundos, avaliar a presença de linfadenopatia e estadiar
a extensão do tumor antes do planejamento do tratamento.
O câncer de endométrio também pode se disseminar por:

Além disso, o exame diagnóstico por imagem pode também ser útil na

Extensão direta: responsável pela invasão do miométrio e da cérvice;

população obesa, idosa, para a qual a radioterapia, mais do que a cirurgia, ●


Via transtubária: pode levar à metástase do peritônio e do ovário;
pode ser defendida como tratamento principal ou como um auxiliar pré-

Via hematogênica: responsável pelas metástases à distância, cujos
operatório.
principais sítios são o pulmão e fígado.

Neste contexto, a RM, a TC e o Positron Emission Tomography T C


(PET-TC) são as modalidades de imagem com suspeita de CE metastático.
ESTADIAMENTO

Em geral, esses exames são usados para detectar linfonodos


O estadiamento de todas as neoplasias ginecológicas é cirúrgico,
acometidos: o ponto de corte de 8 a 10 mm é o mais aceito.
exceto o estadiamento da neoplasia de colo uterino.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES EM RELAÇÃO AOS EXAMES DE


IMAGEM ESTADIAMENTO DA FIGO

RM, TC, PET-TC:


A Figura 12 e a Tabela 11 apresentam o estadiamento do CE da Federação
1. A RM de pelve é importante para observar tanto a profundidade da Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO).
invasão miometrial quanto do envolvimento cervical;

2. A TC e a RM são equivalentes em termos de avaliação de


metástases linfonodais, mas nenhum destes exames é bom o
suficiente para substituir a avaliação linfonodal cirúrgica;

3. O desempenho do PET-TC é similar para a detecção de metástases


à distância;

4. Convém pontuar que embora o desempenho desses exames seja


muito bom, não há estudos que demonstrem o benefício clínico do
escrutínio universal de metástases nas pacientes com CE, em
virtude da adição de custos elevados que raramente resultam em
mudanças importantes na condução dos casos.

EXAMES LABORATORIAIS

A solicitação de marcadores tumorais, como o CA-125, não é obrigatória,


embora possa ser solicitada para pesquisar câncer de ovário concomitante.

Além disso, alguns estudos mencionam que o nível sérico aumentado do


CA-125 apresenta correlação positiva com a doença em estádio avançado e
doença linfonodal. FIG. 12 ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE ENDOMÉTRIO – FIGO.

EXAMES ENDOSCÓPICOS
O procedimento cirúrgico padrão seria uma histerectomia total extrafascial
com salpingo-ooforectomia bilateral.

A histerectomia é necessária para se determinar o grau de invasão


miometrial e o envolvimento cervical. A remoção da bainha vaginal é
desnecessária e não há benefício de excisar o tecido parametrial nos casos
habituais. Entretanto, se o envolvimento cervical estromal é demonstrado no
pré-operatório por meio da RM ou notado no intraoperatório, a
histerectomia radical pode ser a mais apropriada.

A remoção anexial é recomendada mesmo se os anexos se apresentarem


como normais, pois eles podem conter micrometástases. Por esta razão, a
princípio, deverão ser sempre retirados. Sua manutenção só deve ser
cogitada em casos muito específicos, em pacientes jovens sem risco de
neoplasia ovariana, com neoplasia de baixo grau e estádio precoce, sem
doença extrauterina.

A biópsia por congelação deve ser imediatamente executada para


avaliação do grau histológico do tumor, presença de invasão cervical
ESTADIAMENTO CIRÚRGICO DO CE e profundidade da invasão miometrial.

VIDEO_11_GIN5
O estadiamento do câncer de endométrio é cirúrgico desde 1988. Mas,
infelizmente, ainda não há um modelo clínico que se permita LINFADENECTOMIA PÉLVICA E PARAÓRTICA
definir qual é a extensão ideal desse estadiamento e nem para Embora recomendado pelo sistema de estadiamento, a linfadenectomia das
quais mulheres ele conferiria um benefício clínico efetivo. cadeias pélvicas e para-aórticas permanece controversa. A amostragem
seletiva é de valor duvidoso como um procedimento de rotina. A
Sabe-se que mesmo para pacientes com doença aparentemente em estádios linfadenectomia completa é reservada para casos com características de alto
iniciais, o estadiamento cirúrgico identifica doença avançada em cerca de risco. Vale lembrar que qualquer suspeita de invasão de linfonodos
20% dos casos. (radiológica ou por palpação) é indicação para sua remoção.

O tópico a seguir resume os procedimentos geralmente indicados no São indicações para Linfadenectomia Para-Aórtica (LPA):
estadiamento cirúrgico. ●
Linfonodos ilíacos externos ou comuns positivos;

Linfonodos aórticos suspeitos;
ETAPAS DO ESTADIAMENTO DO CE

Anexos grosseiramente positivos;
COLETA DE LÍQUIDO PERITONEAL PARA AVALIAÇÃO

Linfonodos pélvicos grosseiramente positivos;
CITOLÓGICA

Tumores de alto grau mostrando envolvimento miometrial profundo;
Na ausência de líquido peritoneal, deve-se proceder um lavado da cavidade
com 20-50 ml de solução salina. ●
Pacientes com tumores de células claras ou seroso papilífero.

EXPLORAÇÃO DO ABDOME E DA PELVE


PRESENÇA DE CÉLULAS CARCINOMATOSAS NO LAVADO
A etapa que se segue é a exploração cuidadosa do conteúdo intra- PERITONEAL
abdominal. O omento, fígado, diafragma, intestinos, superfície peritoneal e
anexos devem ser examinados e palpados para avaliação de quaisquer É indicação de linfadenectomia?
lesões possíveis, complementada pela palpação cuidadosa de linfonodos
A presença de células de carcinoma no lavado peritoneal é uma
aumentados ou suspeitos em cadeias pélvicas e para-aórticas.
controvérsia que persiste sobre a função da linfadenectomia.

Em geral, a presença de citologia peritoneal positiva indica que a


Deve ser realizada biópsia ou excisão de quaisquer lesões doença é extensa. E neste caso, a linfadenectomia é recomendável.
extrauterinas sugestivas de metástases.
Vale lembrar que o resultado da citologia deve ser relatado
separadamente, pois não alterará o estadiamento.

HISTERECTOMIA TOTAL ABDOMINAL E SALPINGO-


OOFORECTOMIA BILATERAL
De acordo com a maioria dos livros didáticos, a linfadenectomia pode MANEJO TERAPÊUTICO DAS PACIENTES COM HA/NE E CE
ser prescindida no estádio IAG1 e em casos selecionados do IAG2. ENDOMETRIOIDE G1

Alguns autores advogam que ela só pode ser dispensada em tumores Tratamento medicamentoso e seguimento
menores que 2 cm.
Mulheres com o diagnóstico histopatológico supracitado que desejam
preservar a fertilidade devem ser encaminhadas para centros de
referência, para iniciar o tratamento medicamentoso e seguimento.
BIÓPSIA DOS LINFONODOS RETROPERITONEAIS, MESMO Entretanto, elas devem ser informadas da necessidade futura de
CLINICAMENTE NEGATIVOS realização de histerectomia como tratamento futuro.
Está indicada nas seguintes circunstâncias:
A terapia medicamentosa administrada é o acetato de

Histologia tumoral agressiva (seroso, epidermoide, células claras e medroxiprogesterona 400 ou 600 mg por dia, ou acetato de megestrol
adenocarcinoma endometrioide grau 3); 160 ou 320 mg por dia. O tratamento com SIU de levonorgestrel,

Invasão superior à metade do miométrio; associado ou não ao análogo do hormônio liberador de
gonadotrofinas (GnRH) também é uma opção.

Extensão istmocervical do tumor;

Tamanho tumoral maior do que 2 cm; Após seis meses do início da terapia medicamentosa, devem ser
realizadas USGTV, histeroscopia (preferencialmente) ou curetagem

Presença de doença extrauterina.
uterina.

Na falha do tratamento medicamentoso, o tratamento cirúrgico


OMENTECTOMIA INFRACÓLICA
padrão deve ser efetuado.
A omentectomia é importante no estadiamento cirúrgico do CE
serosopapilífero, mas não é mandatória nos CE dos tipos Por outro lado, se a terapêutica for bem-sucedida, a gestação deve
histológicos de células claras, endometrioide G3 e ser encorajada e a paciente encaminhada para clínica especializada
carcinossarcoma. em fertilidade. Caso a paciente deseje postergar a gestação, deve ser
submetida à reavaliação clínica a cada seis meses. Quando a prole
estiver completa, a histerectomia com salpingo-ooforectomia deve
TRATAMENTO ser realizada.

O paradigma do tratamento para o CE é a remoção cirúrgica completa Convém assinalar que a preservação ovariana pode ser considerada
da doença. E o pilar terapêutico é a remoção do útero e dos dependendo da idade e de fatores de risco genéticos, a saber:
anexos. No entanto, a experiência acumulada aponta para a ampliação ● Pacientes com idade inferior a 45 anos com CE endometrioide,
da abordagem cirúrgica em diversas circunstâncias clínicas, o grau 1, sem comprometimento dos ovários ou presença de doença
que se convencionou denominar de estadiamento cirúrgico, detalhado extrauterina;
acima. ● Pacientes sem história familiar de risco para câncer de ovário,
como, por exemplo, mutações de BRCA, síndrome de Lynch, entre
outras.
A abordagem cirúrgica preferencialmente deve ser realizada por via
laparoscópica, embora não haja diferenças em termos de desfecho Nos casos selecionados para preservação ovariana, a salpingectomia
oncológico em relação à laparotomia. é recomendada.

ESTÁDIO IB (INVASÃO > 50%) GRAUS I OU II OU ESTÁDIO IA GRAU 3


TRATAMENTO CIRÚRGICO
Essas pacientes de risco intermediário, por não terem apresentado
CE ENDOMETRIOIDE benefício em relação ao aumento de sobrevida, podem ser candidatas à
linfadenectomia para fins de estadiamento da doença.
CE ENDOMETRIOIDE ESTÁDIO I

O estadiamento cirúrgico para as pacientes aparentemente em estádio I de


histologia endometrioide compreende a histerectomia total com CIRURGIA MINIMAMENTE INVASIVA
salpingo-ooforectomia bilateral, sem necessidade de exérese de
margem vaginal. Recomendações de acordo com as evidências

A Cirurgia Minimamente Invasiva (CMI) engloba a via laparoscópica e


ESTÁDIO IA (INVASÃO < 50%) GRAU 1 OU 2
a laparoscopia assistida por robótica.
Em relação à linfadenectomia, essas pacientes são de baixo risco para
comprometimento linfonodal. Portanto, não há indicação de
linfadenectomia para esses casos.
A CMI é indicada para o tratamento cirúrgico dos CE de riscos baixo e
A omentectomia é importante no estadiamento do CE seroso
intermediário:
papilífero, mas não é mandatória nos casos dos tipos histológicos
● Risco baixo: estádio IA, grau 1 ou 2, invasão linfovascular (-); endometrioide G3, de células claras e carcinossarcoma.
● Risco intermediário: estádio IB, grau 1 ou 2, invasão linfovascular
(-).

CE TIPO NÃO ENDOMETRIOIDE ESTÁDIO II


Em relação ao CE de alto risco, a CMI pode ser oferecida para tratar
essas pacientes, já que evidências demonstraram maior número de A histerectomia radical não é recomendada para doença em estádio
linfonodos pélvicos e para-aórticos retirados, menos complicações II, mas pode ser considerada para garantir as margens livres.
perioperatórias, menor tempo de internação e mesma taxa de
sobrevida, em comparação à laparotomia, embora o tempo cirúrgico
Entretanto, a salpingo-ooforectomia bilateral é mandatória.
seja maior.

CE TIPO NÃO ENDOMETRIOIDE ESTÁDIOS III E IV


ESTÁDIO IB (INVASÃO > 50%) GRAU 3
A citorredução completa pode ser considerada nos casos de doença
Como se trata de pacientes de alto risco, a linfadenectomia é avançada.
recomendada.

LINFADENECTOMIA
A omentectomia não é mandatória no CE do tipo histológico
endometrioide G3. Técnica indicada

A linfadenectomia, quando realizada, deve remover os linfonodos


pélvicos e para-aórticos até o nível das veias renais, de forma
CE ENDOMETRIOIDE ESTÁDIO II sistemática.

Para o estádio II, a realização de histerectomia radical não mostrou nenhum


Estudos mostraram que a retirada de 10 a 12 linfonodos foram
benefício em termos de sobrevida, quando comparada à histerectomia associados à melhor sobrevida das portadoras de CE, sendo o número
simples. de linfonodos retirados uma medida indireta da qualidade da
linfadenectomia.
Assim, de forma geral, a histerectomia radical não é recomendada para o
CE em estádio II, salvo em casos de óbvio envolvimento do paramétrio. No Recomenda-se a retirada de pelo menos 10 linfonodos para o
entanto, a histerectomia radical modificada com ressecção do paracérvice tratamento de CE.
(tipo B) ou a histerectomia radical limitada (tipo A) devem ser consideradas
em caso de necessidade para obtenção de margens livres.

TRATAMENTO ADJUVANTE
A linfadenectomia está indicada.

Em relação ao tratamento adjuvante para CE, há uma classificação de


CE ENDOMETRIOIDE ESTÁDIOS III E IV grupos de risco para orientação de conduta conforme descrito na Tabela 12.

Estudos retrospectivos mostraram uma vantagem estatisticamente


significativa da sobrevida livre de progressão e sobrevida global quando a
cirurgia de citorredução ótima foi realizada em pacientes com esses
TAB. 12 CLASSIFICAÇÃO DE GRUPOS DE RISCO PARA GUIAR
O TRATAMENTO ADJUVANTE DO CÂNCER DE
estadiamentos. ENDOMÉTRIO.

GRUPOS DE RISCO PARA CARACTERÍSTICAS


No entanto, convém salientar que as condições clínicas debilitadas
RECORRÊNCIA
das pacientes, podem limitar a conduta cirúrgica e, muitas
vezes, a radioterapia como primeiro tratamento é a melhor CE endometrioide estádio I,
escolha, com boa tolerância e bom controle local da doença. grau 1 ou 2, < 50% de
Baixo
invasão miometrial, invasão
linfovascular (-).
CE SEROSO OU CÉLULAS CLARAS OU CARCINOSSARCOMA
(TIPO NÃO ENDOMETRIOIDE)
CE endometrioide, grau 1 ou
CE TIPO NÃO ENDOMETRIOIDE ESTÁDIO I 2, ≥ 50% de invasão
Intermediário
miometrial, invasão
O tratamento cirúrgico do CE do tipo não endometrioide é similar ao do tipo linfovascular (-).
endometrioide. A histerectomia e a salpingo-ooforectomia bilateral
associadas à linfadenectomia estão indicadas, pois se trata de
pacientes de alto risco.

CE endometrioide estádio ● CE endometrioide estádio IA (< 50% de invasão miometrial), grau 3,
I, grau 3, < 50% de
independentemente do status de invasão linfovascular.
invasão miometrial,
independentemente do ● CE endometrioide grau 1 ou 2, invasão linfovascular positiva,
status de invasão independentemente do grau de invasão miometrial.

Intermediário alto linfovascular.



CE endometrioide, grau 1
ou 2, invasão linfovascular ESTADIAMENTO LINFONODAL REALIZADO COM LINFONODOS
(+), independentemente NEGATIVOS
do grau de invasão
Duas condutas são admissíveis:
miometrial.

Braquiterapia adjuvante para diminuir a recorrência vaginal;

CCE endometrioide

Outra opção é não fazer terapia adjuvante.
estádio I, grau 3, ≥ 50% de
invasão miometrial,
independentemente do ESTADIAMENTO LINFONODAL NÃO REALIZADO
status de invasão
linfovascular. Aqui, a radioterapia externa adjuvante é indicada para tumores com

Alto invasão linfovascular presente, para diminuir a recorrência pélvica.



CE estádio II.

CE endometrioide estádio Preconiza-se a braquiterapia somente para tumores G3 com invasão
III, sem doença residual.
linfovascular negativa para diminuir recorrência vaginal.

CE seroso ou células
claras, ou indiferenciado ou
carcinossarcoma. Ainda não está estabelecido se realmente existem benefícios com a
terapia sistêmica para os CE de risco intermediário alto.
CE estádio III com doença
Avançado
residual e CE estádio IVa.

Metastático CE estádio IVb. CE DE ALTO RISCO


Adaptado do Tratado de Ginecologia – FEBRASGO.

● CE endometrioide estádio Ib (> 50% de invasão miometrial), grau 3,


independentemente do status de invasão linfovascular.
CE DE BAIXO RISCO
● CE endometriode estádio II.
● CE endometrioide estádio III, sem doença residual.
CE endometrioide estádio IA (< 50% de invasão miometrial), grau 1 ou
2, invasão linfovascular negativa.
● CE seroso ou células claras ou indiferenciado ou carcinossarcoma.

A terapia adjuvante não é necessária. CE ESTÁDIO IB

A terapia adjuvante varia se foi realizado ou não o estadiamento cirúrgico


CE DE RISCO INTERMEDIÁRIO dos linfonodos e, em caso de avaliação, se não foi constatada invasão.

SE O ESTADIAMENTO DOS LINFONODOS FOI REALIZADO COM


CE endometrioide estádio IB (> 50% de invasão miometrial) grau 1 ou
LINFONODOS NEGATIVOS
2, invasão linfovascular negativa.
A radioterapia externa com campos limitados pode ser considerada
para diminuir a recorrência locorregional.
A braquiterapia adjuvante é indicada para evitar recorrência
vaginal. A braquiterapia pode ser considerada para diminuir a recorrência vaginal.

No entanto, não fazer nenhum tratamento adjuvante também é uma opção, A terapia adjuvante sistêmica está sob investigação.
sobretudo para as pacientes com menos de 60 anos.
SE O ESTADIAMENTO CIRÚRGICO DOS LINFONODOS NÃO FOI REALIZADO

CE DE RISCO INTERMEDIÁRIO ALTO


Está indicada radioterapia externa adjuvante para controle pélvico e ●
A quimioterapia é recomendada.
melhora da sobrevida livre de recorrência, associada à quimioterapia ●
A radioterapia externa deve ser considerada.
adjuvante para melhora da sobrevida livre de progressão e sobrevida
específica relacionada ao CE.
CE DE RISCO AVANÇADO OU RECORRENTE

A associação de QT e RT externa tem mais evidências do que a CE estádio III com doença residual e CE estádio IVa.
aplicação dos tratamentos de forma isolada.

CIRURGIA
CE ESTÁDIO II

A cirurgia só é preconizada se a citorredução ótima puder ser obtida.
A terapia adjuvante varia conforme a abordagem cirúrgica, invasão
linfovascular ou grau tumoral.

Em casos selecionados, a cirurgia paliativa é recomendada para aliviar
sintomas específicos.

SE FOI REALIZADA HISTERECTOMIA SIMPLES COM ESTADIAMENTO ●


A cirurgia de exenteração pode ser considerada para pacientes
CIRÚRGICO DOS LINFONODOS, COM LINFONODOS NEGATIVOS selecionadas, com tumores localmente avançados e para recorrência local
Para tumores grau 1 ou 2 com invasão linfovascular ausente, central isolada após cirurgia, para mulheres com CE em estádio inicial,
desde que seja possível obter margens livres.
recomenda-se braquiterapia vaginal para melhora do controle local.

Para tumores grau 3 ou invasão linfovascular presente, recomenda- RADIOTERAPIA


se radioterapia externa de campo limitado, boost de
A Radioterapia (RT) com intenção curativa é recomendada para pacientes
braquiterapia. A quimioterapia para esses casos está sob investigação. com recorrência vaginal isolada após cirurgia, para mulheres com CE em
estádio inicial.
SE FOI REALIZADA HISTERECTOMIA SIMPLES, SEM ESTADIAMENTO
LINFONODAL CIRÚRGICO
O uso de terapia sistêmica ou cirurgia antes de radioterapia para recorrência
Recomenda-se radioterapia externa e a braquiterapia deve ser vaginal ou em linfonodo pélvico pode ser considerado.
considerada.
A RT pode ser ainda indicada:
PARA TUMORES GRAU 3 OU COM INVASÃO LINFOVASCULAR PRESENTE

Quimioterapia adjuvante sequencial deve ser considerada.



Tratamento paliativo de sintomas, como sangramento vaginal,
metástases ósseas ou recorrência linfonodal dolorosa;
● Tratamento primário de tumores irressecáveis, ou quando há
CE ESTÁDIO III
contraindicação cirúrgica por razões médicas.
Está indicada a associação de radioterapia externa (para diminuir a
recorrência pélvica, melhorar a sobrevida livre de progressão, melhorar a A reirradiação pode ser considerada em pacientes selecionadas, utilizando
sobrevida) à quimioterapia (para melhorar a sobrevida livre de técnicas especializadas.
progressão e sobrevida específica relacionada ao câncer de endométrio).

QUIMIOTERAPIA

Na literatura, existem mais evidências para administrar quimioterapia Para recorrência vaginal ou em linfonodos pélvicos, a quimioterapia com
e radioterapia combinadas do que para administrá-las de forma radioterapia pode ser considerada em pacientes com alto risco para
isolada. recorrência sistêmica.

FATORES PROGNÓSTICOS
CE NÃO ENDOMETRIOIDE DE ALTO RISCO

SEROSO OU CÉLULAS CLARAS APÓS ESTADIAMENTO COMPLETO



Considerar quimioterapia.

Para tumores Ia, sem invasão linfovascular, considerar
braquiterapia vaginal somente, sem quimioterapia.

Para estádio ≥ Ib, considerar radioterapia externa, além da
quimioterapia, sobretudo para doença linfonodal positiva.

CARCINOSSARCOMA E TUMORES INDIFERENCIADOS


Os fatores prognósticos a serem considerados no carcinoma do endométrio Por outro lado, outras fontes advogam que sua realização não é custo-
incluem: efetiva e mencionam que a maioria das recorrências são clinicamente
palpáveis ou associadas a sintomas. Além disso, após a radioterapia (vaginal

Estadiamento;
ou pélvica), podem ocorrer mudanças citológicas difíceis de classificação,

Grau de invasão miometrial; aliado ao fato de que as recorrências são incomuns.

Presença de metástases (linfáticas, anexiais, vaginais e à distância);
Vale pontuar, ainda, que as recorrências isoladas de cúpula vaginal podem

Tipo histológico;
ocorrer em pacientes não submetidas à radioterapia no pós-operatório.

Diferenciação histológica;

Citologia peritoneal; EXAMES DE IMAGEM E ENDOSCÓPICOS

Aumento da expressão do gene p53.
Pacientes de risco baixo e moderado não requerem exames de imagem de
rotina para pesquisa de recorrências.

O prognóstico está relacionado diretamente ao estadiamento


Em pacientes com novas queixas ou piora das queixas abdominais e
cirúrgico e presença de invasão linfovascular. Os tipos histológicos
pélvicas, pode-se considerar estudos adicionais, como TC e colonoscopia.
não endometrioides se relacionam a pior prognóstico.

CA-125

Foi sugerido que o CA-125 pode ser empregado para monitorizar pacientes
SOBREVIDA
com doença avançada ou recorrente. Entretanto, estudos adicionais são
A sobrevida de cinco anos após o tratamento é de 76% no estádio I, 59% no necessários para confirmar este benefício.
estádio II, 29% no estádio III e 10% no estádio IV.

[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
SEGUIMENTO
A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre as
Após a cirurgia, com ou sem terapia adjuvante, pacientes com câncer de hiperplasias endometriais e o câncer de corpo uterino. Algumas delas já
endométrio devem entrar em um programa de vigilância de rotina. foram exploradas nas provas de residência médica. Por este motivo, nas
provas de Ginecologia e Obstetrícia vale sempre a pena conferir as
referências bibliográficas dos concursos que você irá se submeter.
PERIODICIDADE DA AVALIAÇÃO

PRIMEIROS DOIS ANOS EM RELAÇÃO À ESPESSURA ENDOMETRIAL NORMAL


Estão indicadas avaliações clínicas a cada três a quatro meses, pois a
maioria das recorrências ocorre neste período. TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)

Não define uma recomendação de ponto de corte para espessura


APÓS DOIS ANOS endometrial. Apenas apresenta as seguintes informações:

É preconizada avaliação clínica anual.


Dados compilados de estudos que estabelecem 5 mm como ponto de corte
para a espessura endometrial normal em USG de mulheres menopausadas,
mostraram que é possível obter sensibilidade de 90% e especificidade de
PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO
54%. Nessas circunstâncias (espessura > 5 mm), a probabilidade de a
ANAMNESE E EXAME FÍSICO mulher ter um câncer de endométrio é de aproximadamente 10%. No entan‐
to, reduzindo esse ponto de corte para 3 mm, a sensibilidade da avaliação
A vigilância clínica inclui uma revisão objetiva dos aparelhos e sistemas endometrial aumenta para 98%, enquanto a especificidade cai a apenas
(questões relacionadas à pelve; dor em membros inferiores ou lombares; 35%. A fonte ainda informa que de acordo com o guideline recente da
sangramento vaginal; mudanças urinárias; mudanças nos hábitos intestinais) British Gynaecological Cancer Society, mulheres com sangramento na
e do exame físico, incluindo o exame pélvico.
pós-menopausa e espessamento endometrial ≥ 4 mm devem ser
investigadas. Em caso de espessura endometrial < 4 mm, não é necessário
CITOLOGIA VAGINAL realizar mais exames, a menos que haja recorrência do sangramento sendo,
portanto, necessária a biópsia endometrial.
A realização de citologia vaginal é controversa.

MANUAL DE ATENÇÃO À MULHER NO


A maioria das fontes bibliográficas tende a indicá-la visando uma detecção CLIMATÉRIO/MENOPAUSA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (2008)
precoce de recorrências na cúpula vaginal.
Este manual informa que a ultrassonografia pélvica transvaginal é um OBS. 1: perceba que alguns livros didáticos ainda consideram 5 mm o ponto de corte para avaliação
da espessura endometrial. Então, não tem jeito: fique atento às referências dos concursos que você se
método de rastreamento de patologia endometrial, que fornece informações
submeterá!
referentes ao volume do útero, espessura e características do endométrio. O
exame deve ser sempre realizado imediatamente após o término do OBS. 2: neste caso, o mais importante parece ser a informação de que quanto maior a espessura,
sangramento, seja menstrual ou provocado (após o teste da progesterona) maior o risco de neoplasia maligna.
para visualização da camada basal do endométrio, possibilitando o
diagnóstico de possíveis alterações, sem o efeito proliferativo induzido
pelos hormônios, aumentando assim sua acurácia. CONDUTA RECOMENDADA NAS HIPERPLASIAS
ENDOMETRIAIS
Nestas condições e em mulheres após a menopausa sem terapia hormonal e com a espessura
endometrial a partir de 5 milímetros deverá ser investigado. Em outras palavras, um endométrio
TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
menor ou igual a 4 mm em mulheres após a menopausa sem terapia hormonal dispensa investigações.

BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020) A conduta terapêutica foi descrita no texto, no tópico específico com base
na classificação do International Endometrial Collaborative Group.

Este livro informa que uma espessura do endométrio maior que 4 mm,
MANUAL DE ATENÇÃO À MULHER NO
uma massa endometrial polipoide ou uma coleção de líquido no
CLIMATÉRIO/MENOPAUSA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (2008)
útero exigem avaliação adicional.

A conduta nas hiperplasias pode ser assim resumida:


Ele informa, ainda, que embora a maioria dos estudos concorde que a
espessura endometrial igual ou menor que 5 mm em mulheres na pós- ●
Hiperplasia simples sem atipia na transição menopausal – acetato de
menopausa é compatível com atrofia, são necessários mais dados antes que medroxiprogesterona 20 mg/dia por seis meses;
os achados da ultrassonografia possam ser considerados suficientes para ●
Hiperplasia simples com atipia na transição menopausal – histerectomia;
eliminar a necessidade de biópsia de endométrio em pacientes sintomáticas.

Após a menopausa – histerectomia, exceto nos casos em que não há
condições cirúrgicas, quando então a opção é o uso do acetato de
GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
medroxiprogesterona em altas doses 200 mg IM a cada dois meses, em
CIENTÍFICAS (2016)
um total de três doses. O acompanhamento deverá ser realizado em seis
meses.
Este livro informa que muitos estudos clínicos suportam a ideia de que a
espessura endometrial determinada na ultrassonografia transvaginal
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020)
abaixo de 5 mm pode ajudar a excluir malignidade e pacientes com
sangramento uterino anormal. Ele informa, ainda, que o risco de câncer de
Este livro informa que se recomenda a histerectomia nas mulheres com
endométrio é menor que 1% na presença de espessura endometrial abaixo
hiperplasia complexa atípica que não desejam mais engravidar.
de 5 mm e pode ser 20% acima desse ponto de corte. No entanto, ele
adverte que alguns autores recomendam a biópsia endometrial em toda
mulher assintomática com espessura acima de 11 mm na ultrassonografia Mais detalhes sobre o tratamento recomendado nas hiperplasias encontram-
endometrial. se disponíveis no corpo do capítulo.

GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS


Ele conclui que não há consenso em relação ao ponto de corte ideal para
exclusão de malignidade em mulheres sintomáticas. Portanto, a CIENTÍFICAS (2016) E MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E
OBSTETRÍCIA (6ª EDIÇÃO, 2017)
ultrassonografia não deve excluir a necessidade de estudo histopatológico
do endométrio devido à possibilidade de perda de 4% dos casos de câncer.
Este livro não faz menção ao tratamento das hiperplasias endometriais.
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
EDIÇÃO, 2017) ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)

Este livro cita que o risco de neoplasia endometrial é menor que 1% na Para as hiperplasias simples ou complexas sem atipias, recomenda o
presença de espessura endometrial abaixo de 5 mm. tratamento medicamentoso com progestogênio, com o objetivo de controlar
o sangramento anormal e prevenir a progressão para câncer.
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
Em pacientes portadoras de hiperplasias com atipias, o tratamento de

Este livro cita que medidas menores ou iguais a 5 mm estão associadas escolha é a histerectomia. Alternativas a esse tratamento podem ser
oferecidas às pacientes que desejam gerar ou sem condições clínicas para a
a baixo risco para patologia endometrial, incluindo o carcinoma. Vários
cirurgia.
estudos mostram um valor preditivo negativo de 100% para o diagnóstico
de hiperplasia ou câncer endometrial com espessura total menor que 5 mm.
OBS. 1: perceba que todas as fontes bibliográficas anteriores consideram a histerectomia total como
tratamento padrão para as hiperplasias atípicas.
OBS. 2: esta não é uma divergência da literatura! Fique atento a possíveis recursos nas questões de Este livro informa que o procedimento cirúrgico deve abranger coleta de
residência médica.
líquido peritoneal para avaliação citológica, exploração do abdome e da
pelve ou excisão de qualquer lesão extrauterina sugestiva de câncer
metastático, histerectomia extrafascial e salpingo-ooforectomia bilateral.
EM RELAÇÃO À LINFADENECTOMIA
Linfonodos pélvicos e para-aórticos suspeitos devem ser removidos para
Ainda não existe consenso na literatura quanto à necessidade de exame patológico. Linfonodos retroperitoneais clinicamente negativos
linfadenectomia rotineira, sua extensão e tipos de linfonodos que devem ser devem ser biopsiados em todas as pacientes com um ou mais fatores de
retirados. risco:

TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)

Apresenta a seguinte informação: INDICAÇÕES DE DISSECÇÃO SELETIVA DE LINFONODOS


PÉLVICOS E PARA-AÓRTICOS NO CÂNCER DE

Pacientes com adenocarcinoma endometrioide grau 1 ou 2 com invasão ENDOMÉTRIO
miometrial < 50% são de baixo risco para comprometimento linfonodal,
portanto, não há indicação de linfadenectomia nesses casos; Histologia tumoral de células claras, seroso, escamoso ou
endometrioide de grau 2-3.

Pacientes de risco intermediário (invasão miometrial > 50% ou grau 3
com invasão miometrial < 50%), por não terem apresentado benefício em Invasão de mais da metade do endométrio.
relação ao aumento de sobrevida, podem ser candidatas à
linfadenectomia para fins de estadiamento da doença; Extensão istmocervical.


Pacientes de alto risco (grau 3 com invasão miometrial > 50%) ou Tumor maior que 2 cm.
histologia do tipo seroso, células claras ou carcinossarcoma, a
linfadenectomia é recomendada. Doença extrauterina.

A fonte informa ainda que a linfadenectomia, quando realizada, deve


remover os linfonodos pélvicos e para-aórticos até o nível das veias renais,
de forma sistemática. E recomenda a retirada de pelo menos dez linfonodos GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
para o tratamento do câncer de endométrio. CIENTÍFICAS (2016)

WILLIAMS GYNECOLOGY (2016) Este livro informa que o procedimento cirúrgico deve abranger coleta de
líquido peritoneal para avaliação citológica, exploração do abdome e da
Esse livro informa que o American College of Obstetricians and pelve ou excisão de qualquer lesão extrauterina sugestiva de câncer
Gynecologistis recomenda estadiamento cirúrgico completo com metastático, histerectomia extrafascial e salpingo-ooforectomia bilateral.
linfadenectomia pélvica e para-aórtica para todas as pacientes com câncer Ele recomenda a linfadenectomia pélvica e para-aórtica seletiva e biópsia
de endométrio. Mas, ao mesmo tempo, informa que o estadiamento das goteiras parietocólicas apenas para os tumores G2 ou G3, com
linfonodal em todos os casos de câncer de endométrio é controverso. Por infiltração de metade ou mais do miométrio, propagação para endocérvice
fim, conclui que, no mínimo, quaisquer linfonodos pélvicos ou para-aórticos ou anexos e tipo histológico de pior prognóstico (carcinoma
suspeitos devem ser retirados. adenoescamosos de células claras ou seroso papilífero).

MANUAL DE ATENÇÃO À MULHER NO MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª


CLIMATÉRIO/MENOPAUSA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (2008) EDIÇÃO, 2017)

A abordagem cirúrgica consiste de lavado peritoneal, da histerectomia total Este livro recomenda a linfadenectomia pélvica sistemática e para-aórtica
abdominal, extrafascial, salpingo-ooforectomia bilateral, linfadenectomia seletiva apenas nos estádios IA e IB de alto grau (G3) e IC. A
para-aórtica e pélvica seletiva e omentectomia. Realiza-se o inventário da linfadenectomia para-aórtica rotineira estaria indicada no estádio IIB em
cavidade abdominal e linfonodos retroperitoneais. Cirurgias mais extensas diante.
são recomendadas para os casos de tumores que invadem o colo do útero,
entretanto, é mais frequente o uso da combinação de histerectomia ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
extrafascial e radioterapia pélvica externa.
Este autor preconiza a linfadenectomia pélvica de forma sistemática, com
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020) exceção para os tumores G1 restritos ao endométrio, quando, segundo o
autor, a chance de metástase linfonodal é nula. A linfadenectomia para-
aórtica é realizada em casos seletivos.

FIGO
A FIGO recomenda biópsia de qualquer linfonodo intraperitoneal ou ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
retroperitoneal suspeito e amostragem de linfonodos retroperitoneais.
Entretanto, o tipo e extensão da dissecção linfonodal ainda não foram Este livro preconiza que a omentectomia é parte fundamental do
determinados. estadiamento cirúrgico, especialmente para tumores não endometrioides.

ACOG
EM RELAÇÃO À RADIOTERAPIA
A ACOG recomenda a linfadenectomia pélvica em todas as pacientes com
diagnóstico de câncer de endométrio. TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)

As informações dessa fonte bibliográfica foram citadas no corpo do texto.


EM RELAÇÃO À OMENTECTOMIA

A omentectomia também é motivo de controvérsia na literatura. MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
EDIÇÃO, 2017)

TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)


Este livro recomenda que nos estádios IA G3, IB G3 e IC G1, G2 e G3 o
tratamento inclua a histerectomia com ooforectomia e salpingectomia,
A fonte informa que a omentectomia é importante no estadiamento
linfadenectomia pélvica sistemática e para-aórtica seletiva. Se o estudo
cirúrgico do câncer de endométrio seroso papilífero, mas não é mandatória
histopatológico pós-operatório revelar comprometimento linfonodal ou
nos casos de câncer de endométrio dos tipos histológicos de células claras,
outro fator prognóstico relevante, estão indicadas a radioterapia adjuvante,
endometrioide G3 e carcinossarcoma.
externa e braquiterapia.

MANUAL DE ATENÇÃO À MULHER NO


ROTINAS DE GINECOLOGIA (2017)
CLIMATÉRIO/MENOPAUSA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (2008)

De forma geral, pacientes com risco baixo de recidiva (estádios IA G1/2 e


A abordagem cirúrgica inclui a omentectomia em todos os casos.
IB G1) não têm indicação de tratamento complementar. Nos demais
estádios, a radioterapia poderá ser utilizada sob a forma de radioterapia
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020)
externa e/ou braquiterapia (RT intracavitária vaginal). Convém lembrar que,
atualmente, o tratamento combinado sequencial (cirurgia seguida de
A edição de 2012 recomenda a omentectomia nos cânceres não quimioterapia sistêmica seguida de radioterapia) parece ser a melhor opção
endometrioides e nos estádios III e IV. para o tratamento primário da doença avançada.

GINECOLOGIA AMBULATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS ROTINAS EM GINECOLOGIA (2011)


CIENTÍFICAS (2016)

Este livro recomenda a braquiterapia de cúpula vaginal nos estádios IA G3 e


Este livro informa que a omentectomia está indicada nos subtipos IB G2. As do grupo IB G3 e IC devem ser submetidas à radioterapia pélvica
histológicos seroso-papilar e de células claras. e braquiterapia.

MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª OBS. 1: sugerimos que você memorize o tratamento adjuvan-te pós-operatório recomendado pelo
EDIÇÃO, 2017) Berek & Novak´s Gynecology (2020) disponibilizado em nosso capítulo.

Este livro cita que a omentectomia deve ser incluída em casos de


adenocarcinoma seroso papilífero e de células claras.

DOENÇAS DA VULVA CONCEITOS FUNDAMENTAIS

NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR O termo Neoplasia Intraepitelial Vulvar (NIV) inclui todas as lesões pré-
malignas escamosas e não escamosas da vulva. A simplicidade deste termo
pontos principais apresenta a vantagem de identificar claramente as lesões com risco real de
progressão para o câncer. Por outro lado, afecções vulvares com diferenças
● Saber o que é neoplasia intraepitelial vulvar.
biológicas no potencial oncogênico e, por conseguinte, no manejo clínico,
● Conhecer as classificações da NIV. estão agrupadas em uma mesma nomenclatura.
● Reconhecer os fatores de risco para a ocorrência da NIV.
● Distinguir os principais diagnósticos diferenciais da NIV. CARCINOGÊNESE VULVAR
● Estabelecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem das
malignidades vulvares.
A NIV escamosa consiste na lesão precursora do câncer escamoso da vulva.
Fundamentadas na presença ou ausência do HPV duas vias com diferenças
epidemiológicas, clínicas, histológicas e moleculares têm sido admitidas
para explicar a carcinogênese vulvar. De um lado, existem os tumores HPV
positivos. Por outro lado, há os tumores que não estão associados à infecção
induzida por HPV e ao comportamento sexual. Portanto, identificam-se dois
tipos de câncer escamoso de vulva:
● Carcinoma escamoso queratinizado – tumores HPV
induzidos: acometem pacientes jovens e estão intrinsecamente
relacionados com atividade sexual, tabagismo e multicentricidade de
lesões;
● Carcinoma escamoso não queratinizado – tumores HPV não
induzidos: incidem em pacientes mais idosas, não estão associa
associados à infecção induzida por HPV, nem ao comportamento sexual.
Com frequência, estes tumores se associam às dermatoses vulvares,
como o líquen escleroso e o líquen plano, especialmente em áreas de
hiperplasia epitelial.
SUBDIVISÃO DA NIV 3 EM NIV DIFERENCIADA E NIV
INDIFERENCIADA
CLASSIFICAÇÕES
A NIV indiferenciada pode se apresentar como uma lesão levemente
Em linhas gerais, as classificações para as doenças da vulva têm o objetivo elevada, demarcada, uni ou multifocal, nas cores preta, branca, cinza,
de facilitar o diagnóstico, o estudo das doenças e, principalmente, permitir vermelha ou marrom, dependendo da raça, da idade e das
uma abordagem homogênea por parte de todos os especialistas da área. características da pele da paciente.

A NIV diferenciada tende a ser unifocal em pacientes idosas, em


Várias alterações ocorreram ao longo dos anos. Este tópico se propõe a
alguns casos, se desenvolve sobre um substrato de líquen escleroso.
discorrer sobre estas modificações que resultaram na classificação
A lesão pode ser uma úlcera, pápula verrucosa ou placa
atualmente empregada.
hiperceratótica.

CLASSIFICAÇÕES PASSADAS O diagnóstico é histopatológico de ambos os tipos de NIV.

Até pouco tempo, as NIV escamosas subdividiam-se em NIV 1, 2, 3 de


acordo com a espessura do epitélio acometida. A NIV 1 correspondia ao
CLASSIFICAÇÃO ATUAL
acometimento de apenas um terço da distância entre a membrana basal e a
superfície do epitélio. Quando dois terços eram atingidos, denominava-se
Em uma nova tentativa de simplificar e uniformizar a nomenclatura das
NIV 2. E na NIV 3, toda a espessura do epitélio estava comprometida.
lesões intraepiteliais neoplásicas escamosas da vulva, a International
Society Study Vulvo-vaginal Disease (ISSVD) formulou uma nova
Posteriormente, com base em diferenças histopatológicas, a NIV 3 foi,
classificação da neoplasia intraepitelial vulvar. A princípio, dois fatores
então, subdividida em indiferenciada (HPV induzida) e diferenciada (líquen
motivaram esta mudança:
induzida). As características que as diferenciam estão resumidas na
Tabela 1. 1. Não há evidência de que o espectro morfológico das NIV 1, 2 e 3 reflita
um continuum biológico;

2. Não há evidência de que a história natural da NIV seja semelhante a da


NIC.

O termo NIV 1 foi eliminado e passou a equivaler à infecção causada por


HPV, sendo a tradução do condiloma plano no epitélio vulvar,
representando, simplesmente, uma infecção transitória por HPV. E a NIV 3,
refere-se à lesão com grande potencial invasor.

A classificação empregada atualmente é: NIV tipo usual e NIV tipo


diferenciada.

NIV TIPO USUAL


O termo “tipo usual” deve-se à facilidade com que essas lesões são A NIV do tipo usual pode se apresentar como pápulas, máculas,
reconhecidas macroscopicamente, pois são as mais frequentemente coalescentes ou individuais, simples ou múltiplas, de aspecto
observadas. Ela inclui as antigas NIV 2 e NIV 3, cujos termos clínicos hiperpigmentado (escuro), liquenificado e hiperceratótico (branca),
antigos eram: doença de Bowen e papulose Bowenoide. eczematoide e descamativo (róseo) ou eritroplásico (vermelho), dependendo
de sua localização (mucosa ou superfície cutânea). Também podem ser
Já os termos histológicos eram: displasia e carcinoma in situ. Estas lesões observadas lesões de aspecto verrucoso e de pápulas mescladas de cinza e
estão associadas aos HPV oncogênicos, principalmente, o HPV 16. No branco, assemelhando-se ao condiloma acuminado.
entanto, possuem menor probabilidade de progressão para o carcinoma
escamoso de vulva, quando comparada à NIV tipo diferenciada.
EXAMES COMPLEMENTARES

Histologicamente, são subdivididas em: VULVOSCOPIA



NIV verrucoide (condilomatosa): incide em mulheres jovens com
Consiste no exame colposcópico da vulva após aplicação de ácido acético a
lesões de aspecto verrucoso e multifocal; 5%. Não tem grande importância para o diagnóstico da NIV, já que quase

NIV basaloide: é comum em mulheres mais velhas com lesões únicas e todos os casos podem ser diagnosticados com a visão desarmada. Um
bem delimitadas; estudo desenvolvido em 1997, concluiu que a coloração acetobranca da
mucosa vulvar regular é comum em mulheres sadias, sem enfermidade
● NIV mista (verrucoide e basaloide).
vulvar e que a vulvoscopia não pode ser usada como um teste definitivo
para o diagnóstico da NIV.
ATENÇÃO
Tanto a NIV verrucoide quanto a NIV basaloide tem capacidade de ATENÇÃO
evoluir para o câncer de vulva, mas a primeira se encontra menos
1- Exploração vulvoscópica subentende duas grandes verdades
envolvida nos casos de invasão.
absolutas que devem ser respeitadas, a saber:
● Não existe correlação vulvoscopia-histologia;

NIV TIPO DIFERENCIADA ● Somente a biópsia pode gerar o diagnóstico.

O termo “diferenciada” refere-se ao aspecto histológico da lesão que exibe


2- Vulvoscopia não faz parte da colposcopia
atipia apenas na camada basal de um epitélio com diferenciação mantida.
Apesar da denominação “diferenciada”, este tipo de NIV possui maior A vulvoscopia, no sentido estrito da palavra, é o exame da vulva com o
potencial oncogênico. Além disso, é rara e observada no tecido adjacente ao colposcópio.
carcinoma escamoso de vulva associado ao líquen escleroso. A colposcopia é olhar através/dentro da vagina.
No entanto, cabe aqui salientar que a exploração vulvar é o
Não se associa à infecção por HPV e incide em pacientes mais jovens. prolongamento lógico e mesmo indispensável do exame cervicovaginal
em afecção viral causada por HPV.

DIAGNÓSTICO
VIDEO_12_GIN5 COLPOSCOPIA

O exame colposcópico deve se estender ao colo uterino e vagina.


ANAMNESE

TESTE DE COLLINS
Os sintomas da NIV são inespecíficos.
Consiste na aplicação de azul de toluidina sobre a vulva com posterior
Aproximadamente 20% das pacientes são assintomáticas. A doença é, aplicação do ácido acético a 5%. Os locais em que ocorrer a fixação do azul,
então, descoberta no curso de um exame ginecológico rotineiro. serão os indicados para realização de biópsias. Pelo fato de poder apresentar
falso-positivos e/ou falso-negativos, o método está caindo em desuso. Áreas
O sintoma mais comum é o prurido, seguido de queimação, irregularidades impregnadas pelo azul de toluidina podem corresponder apenas a
ou mancha na superfície vulvar e dispareunia. escoriações (falso-positivo), enquanto áreas hiperqueratóticas, que não se
coram, podem conter NIV (falso-negativo).

EXAME FÍSICO
BIÓPSIA VULVAR

O exame mais importante no diagnóstico da NIV é inspeção vulvar. É o exame definitivo para o diagnóstico da NIV.

A NIV não apresenta uma aparência macroscopicamente uniforme. Pelo Como a aparência clínica da NIV é muito variável, é imperativo biopsiar
contrário, a lesão apresenta uma grande variedade de aspectos, considerando todas as lesões suspeitas, para que seja feito o diagnóstico precoce da lesão
o número, a localização, a extensão e a coloração. intraepitelial e, principalmente, da invasão inicial.
A biópsia pode ser única ou múltipla dependendo da extensão da doença e Outro aspecto importante, principalmente nas pacientes jovens, é a
de suas características. Pode-se utilizar um punch, bisturi a frio ou alça por conservação do clitóris, mesmo quando forem realizados procedimentos
cirurgia de alta frequência. maiores.

A enxertia ou a rotação de retalhos cutâneos devem ser empregadas em caso


DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL de necessidade para diminuir a taxa de deiscência e melhorar o efeito
estético.
O diagnóstico diferencial é realizado com:

Micropapilas fisiológicas: este achado é muito comum e
Ressecção com Laser ou Alça Diatérmica
frequentemente visualizado na face interna dos pequenos lábios e no
introito vaginal. É visto, também, em mulheres virgens. Deve-se tomar São técnicas ambulatoriais que podem preservar a estrutura anatômica e
cuidado ao examinar e diagnosticar esta entidade para que não sejam função sem interferir no resultado.
utilizadas substâncias cáusticas de forma indevida, levando à vulvodínia;

Condilomas: podem atingir grandes dimensões, porém estão A alça diatérmica apresenta limitação quanto à extensão da doença.
normalmente relacionados aos tipos de HPV de baixo risco;
● Ceratose seborreica; Vaporização por Laser
● Carcinoma basocelular; É eficaz em pequenas e múltiplas lesões localizadas em mucosa ou pele
● Nevos. glabra (pele espessa e sem pelos). No entanto, como é um método
destrutivo, não fornece amostra de tecido para exame histopatológico.
Portanto, as biópsias prévias deverão ser múltiplas para afastar invasão
TRATAMENTO oculta.

OBJETIVOS saiba mais

1- CIRURGIA CONVENCIONAL NO TRATAMENTO DA NIV


O tratamento tem os seguintes objetivos:
A excisão ampla a frio é o tratamento cirúrgico preferencial, pois permite a

Controlar os sintomas e prevenir a progressão para o carcinoma invasor; avaliação microscópica e das margens. A grande limitação deste

Empregar os métodos mais conservadores possíveis, considerando a procedimento terapêutico consiste na possível ocorrência de
idade da paciente, localização, extensão e multifocalidade das lesões. deformidades estéticas.

2- VANTAGEM DO TRATAMENTO NÃO DESTRUTIVO


ESCOLHA DO TIPO
A grande vantagem do tratamento não destrutivo é permitir avaliação
Assim, a escolha do tipo de tratamento deve levar em consideração os histopatológica precisa, com análise dos apêndices cutâneos nas lesões
seguintes fatores: em áreas pilosas, diagnosticar o carcinoma superficialmente invasor, além
da possibilidade da avaliação microscópica de múltiplas lesões. Deve-se

Facilidade técnica;
atentar, de forma especial, à reparação estética neste tipo de cirurgia.

Baixa morbidade;

Baixo custo; 3- TRATAMENTO PELO LASER
O tratamento pelo laser pode ser feito sob a forma de excisão ou

Resultados satisfatórios em longo prazo;
vaporização.

Minimizar distorções anatômicas e funcionais, principalmente em
pacientes mais jovens.

TRATAMENTOS TÓPICOS

MODALIDADES TERAPÊUTICAS Imiquimod Creme a 5% (Aldara®)

TRATAMENTOS CIRÚRGICOS Como se trata de um tratamento tópico, está indicada a realização de mais
de uma biópsia para afastar invasão, principalmente em pacientes mais
Excisão Ampla da Lesão (Excisão Local ou Vulvectomia Parcial
idosas.
Super cial)

A excisão ampla com margem de segurança de pelo menos 1 cm é o É um modulador da imunidade mediada por células com a propriedade de
tratamento padrão da NIV. Essa abordagem oferece resultado estético aumentar os níveis locais de interferons e interleucinas.
satisfatório e a possibilidade de estudo histopatológico. A dimensão da
excisão cirúrgica dependerá da idade da paciente, do número, da extensão e
É uma boa alternativa terapêutica conservadora na NIV tipo usual,
da localização das lesões.
principalmente em pacientes jovens, com lesões pequenas e múltiplas, e de
localização de difícil abordagem cirúrgica, como os pequenos lábios e o
Em alguns casos, quando as lesões são muito extensas, a vulvectomia clitóris.
simples está indicada.
É aplicado em dias alternados, três vezes por semana, por até 16 semanas. O câncer de vulva representa 3 a 5% das neoplasias genitais femininas. Em
Existem relatos de boa tolerância e aderência ao tratamento. Também foram outras palavras, dessas neoplasias é o quarto mais prevalente.
descritos discretos efeitos colaterais locais (eritema, prurido e descamação
vulvar) decorrentes da própria ação do medicamento. Não foram relatados É uma doença típica de mulheres idosas, com pico de incidência na 7ª e 8ª
efeitos colaterais sistêmicos. década de vida. No entanto, nos últimos anos, houve um aumento de sua
incidência em virtude, provavelmente, de um aumento da expectativa de
vida da população feminina e do aumento da prevalência de infecção pelo
SEGUIMENTO HPV. Consequentemente, constatou-se uma incidência crescente em
mulheres mais jovens, ainda na fase reprodutiva.
Após a realização do tratamento específico e confirmação histopatológica, a
paciente deverá ser examinada semestralmente em busca de novas lesões
suspeitas de NIV, já que a recorrência de lesões intraepiteliais é fato
ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA
esperado. Entretanto, cabe aqui destacar que o intervalo para a recorrência
da doença é variável. O programa mais efetivo para reduzir a mortalidade do câncer de vulva é a
detecção precoce. É importante lembrar que o exame clínico periódico é
a etapa fundamental para este fim.
PROGNÓSTICO

A taxa de progressão da NIV para carcinoma invasor em pacientes não


ANAMNESE
tratadas é extremamente alta, variando de 87 a 100%. Já em pacientes
tratadas varia de 2 a 10%.
A queixa principal mais comum das pacientes corresponde à
presença de prurido vulvar, normalmente de longa evolução, presente
As taxas de recorrência variam de 20 a 26%. em aproximadamente 70% dos casos.

Parece que alguns fatores estão envolvidos nas recorrências ou na Pode decorrer do próprio tumor ou de lesões distróficas associadas. Pelo
progressão, tais como presença do HPV, caráter multifocal e multicêntrico fato do prurido aparecer, pelo menos nas fases iniciais, como sintoma único
das lesões, grande variedade de modalidades terapêuticas, e ser queixa bastante comum, é muitas vezes pouco valorizado pela paciente
comprometimento de margens cirúrgicas e de anexos da pele. e pelo médico, que recorrem a tratamentos paliativos empíricos,
contribuindo para retardo no diagnóstico. Aliás, uma vez que a doença tem
Os estudos de biologia molecular demonstram que as alterações genéticas e grande incidência em mulheres idosas, não é raro que, por pudor, até
epigenéticas (modificações do genoma durante a divisão celular, que não queixas mais graves sejam menosprezadas e escondidas e, por conseguinte,
envolve uma mudança na sequência de DNA) que ocorrem durante o seja postergada a consulta médica e o diagnóstico.
processo de carcinogênese vulvar, associadas ou não à infecção induzida
por HPV, seriam pré-requisitos para o desenvolvimento do câncer de vulva. A dor, sintomas irritativos e urinários, como ardência e frequência, podem
A literatura, apesar de escassa, revela que mutação no gene p53 possui estar presentes mesmo em fases iniciais. Em estados mais avançados, há
íntima relação nos casos de recidiva e progressão da NIV. relato de massa tumoral, ulceração e sangramento.

CÂNCER DE VULVA
QUADRO CLÍNICO DO CÂNCER DE VULVA

pontos principais VIDEO_13_GIN5


● Conhecer os principais fatores de risco para o câncer de vulva. Os sintomas mais comuns são prurido, lesão nodular visível ou
palpável, dor, sangramento, ulceração, disúria e corrimento vaginal.
● Conhecer a apresentação clínica sugestiva desta neoplasia maligna.
Cabe aqui lembrar que as lesões vulvares descobertas durante o
● Conhecer os principais métodos diagnósticos. exame físico devem ser biopsiadas (no centro da lesão) para excluir
● Saber o estadiamento e os principais tipos histológicos do câncer de neoplasia.
vulva.
● Conhecer as vias de disseminação da doença.
● Conhecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem das
malignidades vulvares.
● Saber as principais complicações dos procedimentos terapêuticos.
● Saber o prognóstico e taxas de recidiva da afecção.
● Conhecer o seguimento necessário para as pacientes acometidas
por esta enfermidade.

EPIDEMIOLOGIA E RELEVÂNCIA CLÍNICA


Durante a história clínica, devem ser investigados fatores de risco para o As localizações mais comuns, de lesões circunscritas, são os grandes lábios,
câncer de vulva, a saber: pequenos lábios e clitóris. Mais precisamente, as lesões neoplásicas
(Figura 1) situam-se na seguinte topografia e frequência:

Infecção pelo papilomavírus (HPV): a infecção pelo HPV também
tem sido observada em lesões pré-invasivas e invasivas da vulva, assim ●
Grandes lábios – 70%;
como nas neoplasias de todo trato genital inferior, com destaque para os ●
Clitóris e região perineal – 15 a 20%.
subtipos 16, 18, 31, 33, 35. Vale aqui lembrar que em muitos casos
coexistem as infecções granulomatosas e o condiloma genital;

Infecções granulomatosas venéreas: de acordo com algumas
fontes bibliográficas, o linfogranuloma venéreo é a infecção
granulomatosa venérea mais frequentemente relacionada com o câncer
de vulva;
● Baixo nível socioeconômico;
● Promiscuidade sexual;
● Tabagismo; FIG. 1

● Imunossupressão crônica;
● Obesidade;
É importante salientar que lesões mais avançadas tornam-se evidentes e têm
● Diabetes;
aspecto característico verrucoso, exofítico, nodular ou ulcerado, que
● Hipertensão. facilitam o diagnóstico clínico.

ATENÇÃO
EXAMES COMPLEMENTARES
Concomitância com outras neoplasias malignas
VULVOSCOPIA
Um percentual importante de pacientes portadoras do câncer de vulva
são acometidas, simultaneamente, de neoplasias malignas em outras Consiste no exame colposcópico da vulva após aplicação de ácido acético a
localizações, genitais ou extragenitais. É frequente coincidir com 5%. É útil para evidenciar áreas suspeitas que devem ser submetidas à
neoplasias intraepiteliais ou invasoras do colo do útero. biópsia.

A exploração vulvoscópica subentende três grandes verdades

EXAME FÍSICO absolutas que devem ser respeitadas, a saber:



Não existe correlação vulvoscopia-histologia;
O exame da vulva é metódico. A habilidade de definir se há ou não

Somente a biópsia pode gerar o diagnóstico;
alterações é o pré-requisito para o diagnóstico e o tratamento de muitos
casos de doença vulvar, seja ela relacionada com condições dermatológicas, ●
A vulvoscopia serve somente para localizar as imagens anômalas a
infecciosas ou malignas. serem biopsiadas.

O diagnóstico clínico tem como passo primordial a inspeção, favorecida por TESTE DE COLLINS
ser a vulva a porção externa da genitália. Entretanto, apesar da facilidade
que a situação anatômica oferece, não é raro que essa etapa do exame seja Consiste na aplicação de azul de toluidina sobre a vulva com posterior
omitida ou pouco cuidadosa, fazendo com que muitas lesões passem aplicação do ácido acético a 5%. Os locais em que ocorrer a fixação do azul,
despercebidas ou sejam negligenciadas. Toda extensão da vulva, serão os indicados para realização de biópsias. Pelo fato de poder apresentar
particularmente dobras e sulcos, deve ser cuidadosamente inspecionada. As falso-positivos e/ou falso-negativos, o método está caindo em desuso.
lesões iniciais podem ser placas brancas, hiper ou hipotróficas, mais ou
menos abrangentes, causando retração do introito, porém sem característica
BIÓPSIA DE VULVA
específica. Alterações traumáticas por coçadura, ou infecções secundárias
concorrem para confundir o examinador. As lesões vulvares descobertas durante o exame físico devem ser biopsiadas
(no centro da lesão) para excluir neoplasia.
A palpação avalia a mobilidade, extensão a tecidos adjacentes e a
consistência das lesões, pelo geral, endurecidas, mas pode se apresentar, O diagnóstico definitivo é sempre histopatológico. As biópsias da vulva
também, como nódulos sólidos, císticos ou fibroelásticos. As regiões devem ser indicadas rotineiramente, mesmo quando se trata de lesões
inguinocrurais são, também, palpadas para avaliação de volume, aparentemente inocentes, desde que de longa evolução, geralmente
consistência e mobilidade dos linfonodos. O exame físico é finalizado com distróficas acompanhadas de prurido, que não regridam ou cicatrizem, ou
a realização do toque vaginal e do toque retal para avaliar infiltração de ainda, afastadas ou tratadas eventuais infecções ou dermatoses associadas.
tecidos adjacentes, como uretra, paredes vaginais e septo reto-vaginal.
Em lesões extensas, as biópsias devem ser múltiplas, orientadas pelo
Lesões escamosas
emprego do ácido acético a 5% e/ou do azul de toluidina, ou ainda, pela
palpação da região acometida, à procura de área mais endurecida. Só essa ● Neoplasias Intraepiteliais escamosas Vulvares (NIV)
prática permitirá presenciar lesões iniciais, intraepiteliais, que permitem » Diferenciada
tratamento mais conservador com melhor prognóstico.
» Indiferenciada
A biópsia, também, não pode ser dispensada em lesões clinicamente
● Carcinoma epidermoide
malignas, uma vez que só o estudo microscópico define o diagnóstico e
permite traçar a conduta. Além disso, é importante no diagnóstico » Típico
diferencial com as infecções granulomatosas, úlceras distróficas, cancro e
condilomas planos ou acuminados. » Basaloide

» Verrucoso

Os sintomas mais comuns do câncer de vulva são: prurido, lesão


» Condilomatoso
nodular visível ou palpável, dor, sangramento, ulceração, disúria e
corrimento vaginal. » Outros
Lesões vulvares descobertas durante o exame físico devem ser
biopsiadas (no centro da lesão) para excluir neoplasia.
● Carcinoma basocelular

Lesões glandulares
● Doença de Paget

CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA Carcinomas da glândula de Bartholin


● Tumores originários de tecido mamário ectópico


O carcinoma escamoso é o tipo histológico mais frequente.
Ocorre aproximadamente em 90% dos casos, seguido pelo melanoma, que
● Carcinoma de glândulas sudoríparas
contribui com menos de 5% dos tumores malignos da vulva. Outros tipos ● Outros adenocarcinomas
histológicos menos comuns incluem: adenocarcinoma da glândula de
Bartholin, adenocarcinoma basocelular, sarcoma, carcinoma de células II – TUMORES DE PARTES MOLES
basais e doença de Paget invasiva.
● Rabdomiossarcoma embrionário (sarcoma botrioide)

A Tabela 2 resume a classificação histológica dos tumores malignos da ● Leiomossarcoma (mais frequente)
vulva segundo a OMS.
● Fibro-histiocitoma maligno
● Angiossarcoma

TAB. 2: CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DOS TUMORES


MALIGNOS DA VULVA SEGUNDO A OMS.
● Lipossarcoma

I – TUMORES EPITELIAIS III – MISCELÂNEA

● Melanoma
● Linfoma

IV – TUMORES SECUNDÁRIOS

TIPOS HISTOLÓGICOS ESPECIAIS

CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS

Conforme já foi mencionado, é o tipo histológico mais frequente.


Incide em cerca de 90 a 92% dos casos. Leva metástases ganglionares
precoces aos linfonodos inguinais. Em 50% dos casos, a lesão localiza-se
nos pequenos lábios. Subdivide-se em: típico, basaloide, verrucoso,
condilomatoso, que apresentam características bem distintas.
Cerca de 30 a 60% dos casos de Carcinoma de Células Escamosas (CCE) É uma forma especial de carcinoma in situ da vulva. Pode estar ou não
possuem área de NIV adjacente, e o líquen escleroso está presente em 15 a associado ao adenocarcinoma invasor. Caracteriza-se pela presença de
40% dos outros casos de CCE. Portanto, o CCE pode ser dividido em dois células neoplásicas glandulares na espessura do epitélio escamoso. São
grupos distintos, a saber: células grandes, claras e com citoplasma vacuolado, as chamadas células de
Paget. Ao exame, apresenta-se como uma placa aveludada, frequentemente

Casos associados à infecção pelo HPV (NIV indiferenciada);
erodida e de crescimento lento. É dolorosa e menos pruriginosa que as

Casos associados a líquen escleroso/hiperplasia de células escamosas. dermatoses benignas.

CARCINOMA VERRUCOSO SARCOMAS

É um subtipo do câncer de células escamosas. É neoplasia rara (menos de São tumores raros, e o tipo epitelioide é o mais comum. Devem ser
1% dos casos), e como o nome indica, tem padrão de crescimento exofítico lembrados por sua rápida recidiva após excisão cirúrgica.
verrucoso, com aspecto de couve-flor. O tumor é bem diferenciado, com
queratinização na superfície do epitélio e tem pouca tendência à invasão e
disseminação linfática. O tratamento recomendado é uma ampla incisão METASTÁTICOS
local.
Podem originar metástases vulvares, cânceres de colo, endométrio, ovário,
vagina, ânus, mama, rim e tireoide.
MELANOMA

Apesar de raro, é a segunda malignidade mais comum da vulva. VIAS DE DISSEMINAÇÃO


Incide em 2 a 4% dos casos. Caracteriza-se por lesão pigmentada, elevada,
mais frequente nos grandes lábios e no clitóris. Cerca de 10% das lesões não O câncer de vulva se dissemina das seguintes formas:
são pigmentadas.

Extensão Direta
O prognóstico depende do tamanho da lesão e da profundidade da invasão.
Envolve estruturas adjacentes como a vagina, uretra e ânus.

O estadiamento da FIGO não se aplica a esse tipo de câncer.


Embolização Linfática
Existem três sistemas de estadiamento:
Disseminação aos linfonodos inguinais e femorais.

Estadiamento de Clark: fundamenta-se na microanatomia da pele,
medindo a profundidade de invasão;
Hematogênica

Estadiamento de Breslow: fundamentado na espessura vertical da
Disseminação para sítios distantes, incluindo pulmões, fígado e osso.
lesão;

Estadiamento de Chung: combina aspectos do estadiamento de
Clark e Breslow. ESTADIAMENTO [
O estadiamento clínico do câncer de vulva adota como critérios o tamanho
A cirurgia é o ponto principal do tratamento. A lesão deve ser retirada com
do tumor, a invasão de estruturas perineais, o comprometimento linfonodal
ampla margem de segurança, dependendo do estádio da lesão. A
e a metastatização à distância (TNM). Como havia altas taxas de falha na
vulvectomia radical não é necessária para a maioria das lesões, já que a
avaliação linfonodal, o sistema de estadiamento foi alterado para cirúrgico,
excisão com 2 cm de margem juntamente com o diafragma urogenital é
incorporando, assim, o status anatomopatológico dos linfonodos inguinais
conduta terapêutica adequada e não compromete a sobrevida da paciente.
(Tabela 3).

CARCINOMA DE CÉLULAS BASAIS DA VULVA

Pode se originar da pele ou dos folículos pilosos da vulva. É raro e


responsável por aproximadamente 2 a 3% de todos os tumores de vulva. Em
geral, ocorre em mulheres com mais de 50 anos de idade e é invasivo, mas
raramente dá metástase. O tratamento consiste em ampla incisão local.

DOENÇA DE PAGET DA VULVA


TRATAMENTO

O tratamento de eleição para o câncer de vulva é cirúrgico, porém não é


padronizado, devendo ser considerado o tamanho da lesão, o estado
linfonodal e a busca da técnica mais conservadora possível, sem
comprometer a sobrevida das pacientes.

A radioterapia, como primeira escolha, deve ficar restrita aos casos sem
condições clínicas para abordagem cirúrgica.

ESCOLHA DO TIPO DE TRATAMENTO CIRÚRGICO

A modalidade cirúrgica escolhida deve ser a mais conservadora possível.


Em outras palavras, deve ser aquela que não resulte em comprometimento
da sobrevida da paciente e que considere as particularidades de cada caso.

MODALIDADES DE TRATAMENTO CIRÚRGICO

Convencionalmente, as opções de tratamento cirúrgico são:

RESSECÇÃO AMPLA DA LESÃO

Corresponde à ressecção da lesão com margem cirúrgica livre de no mínimo


5 mm. Mas cabe aqui salientar que a margem ideal é de 10 mm.

VULVECTOMIA SIMPLES

Consiste na ressecção dos grandes e pequenos lábios, vestíbulo, incluindo a


região clitoridiana, com coxim gorduroso até o nível da aponeurose dos
músculos superficiais do períneo.

VULVECTOMIA CUTÂNEA

Visa à preservação de estruturas vulvares, principalmente o clitóris. Há


também conservação do coxim gorduroso. A ressecção não atinge o plano
aponeurótico.

VULVECTOMIA AMPLIADA

Algumas observações: Inclui a ressecção da região púbica, os sulcos genitofemorais e toda região
- O estadiamento supracitado não está disponível em todos os livros perineal até a margem anal.
didáticos;

- Como a maioria das fontes ainda faz menção ao estadiamento da VULVECTOMIA RADICAL
FIGO (2009), ainda o deixaremos disponível na seção de divergências
Consiste na vulvectomia ampliada com linfadenectomia inguinofemoral
na literatura.
bilateral.

ATENÇÃO VULVECTOMIA SUPRARRADICAL

1. O estadiamento da American Joint Committee on Cancer entrou em É a vulvectomia radical acrescida de linfadenectomia pélvica.
vigor em janeiro de 2018. Apesar disto, nenhum livro didático de
Ginecologia ainda o apresenta. Por esta razão, optamos por
ATENÇÃO
disponibilizar a versão encontrada em nossas fontes.
Em decorrência das consequências psicossexuais e da morbidade
1. O estadiamento do melanoma vulvar acompanha o estadiamento do
associadas às cirurgias radicais extensas, há tendência atual de
melanoma cutâneo.
conservar a vulva e individualizar o tratamento segundo a extensão da
lesão, sua localização, se uni ou multifocal, profundidade da invasão e
eventual comprometimento linfonodal.
As complicações precoces (após 48h, de acordo com alguns autores) são a
infecção da ferida operatória, a necrose e a deiscência da ferida operatória
CONDUTA TERAPÊUTICA CONFORME O ESTADIAMENTO (considerada por alguns autores como complicação imediata).

Para facilitar a memorização, apresentamos a conduta terapêutica de acordo As complicações tardias incluem o linfedema crônico (acomete 30% das
com o estadiamento. pacientes), as tromboses venosas, as distopias genitais, a incontinência
urinária de esforço (10% das pacientes) e as cicatrizes retráteis. A estenose
de introito vaginal pode causar dispareunia.
ESTÁDIO I

CIRURGIA
SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO
● Estádio IA (lesões com profundidade estromal < 1 mm):
excisão local radical sem linfadenectomia, já que a taxa de metástase No primeiro ano, as pacientes devem ser avaliadas a cada três meses.
linfonodal é < 1%.
● Estádio IB (lesões com profundidade estromal ≥ 1 mm): No segundo ano, a reavaliação deve ocorrer a cada quatro meses.
excisão local radical associada à linfadenectomia. Como o
comprometimento linfonodal é em torno de 8%, o uso da técnica de Do terceiro ao quinto ano, a avaliação deve ser semestral. Após cinco anos
linfonodo sentinela tem sido descrito como método preciso e seguro. de seguimento, a avaliação será anual.

A maioria das recorrências pode ser detecta-da pelo exame físico, mas a
RADIOTERAPIA (RT)
vulvoscopia pode ajudar no diagnóstico de lesões pré-invasoras.
A RT pode ser considerada uma alternativa nos casos de margens
comprometidas, entretanto, a ampliação das margens cirúrgicas deve ser
considerada. PROGNÓSTICO E SOBREVIDA

O principal fator prognóstico é o acometimento linfonodal,


ESTÁDIO II particularmente do linfonodo inguinal, sendo que a metástase no linfonodo
CIRURGIA sentinela > 2 mm implica em piores resultados. A sobrevida em cinco anos
é de 90% na ausência de linfonodos comprometidos, diminuindo para 70%
Vulvectomia radical com dissecção dos linfonodos inguinais e femorais – se houver comprometimento unilateral – e 25% se for bilateral.
(sobrevida de 80 a 90% em cinco anos). A técnica cirúrgica mais
conservadora é a excisão radical da lesão com margens cirúrgicas
Outros fatores prognósticos importantes são a profundidade de invasão,
livres de pelo menos 1 cm.
grau de diferenciação do tumor e presença de invasão vascular.

RADIOTERAPIA (RT)
[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
A RT adjuvante pode ser considerada uma alternativa nos casos de margens
comprometidas ou exíguas, devendo ser considerada a ampliação das A seguir, apresentaremos uma divergência na literatura sobre o
margens cirúrgicas. Também pode ser indicada nos casos de invasão estadiamento do câncer de vulva. Nas provas de Ginecologia, vale sempre a
angiolinfática e invasão estromal > 5 mm. pena conferir as referências bibliográficas dos concursos que você se
submeterá. Fique atento!

ESTÁDIOS III E IV

Cerca de 40% das pacientes com neoplasia de vulva apresentam-se ao


ESTADIAMENTO FIGO (2009)
diagnóstico com doença avançada, nos estádios III e IV. Nesses casos, a
A maioria dos livros didáticos ainda apresenta o estadiamento da Federação
ressecção cirúrgica (apenas vulvectomia radical ou vulvectomia radical Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), revisado em 2009, o
associada à exenteração pélvica) é bastante extensa, com altas taxas de
qual inclui fatores prognósticos, como tamanho da lesão, tamanho e número
morbidade e mortalidade de até 10%. de metástases linfonodais.

O tratamento padrão é a realização de radioterapia associada à A recomendação para estadiamento inclui exame pélvico (ginecológico e
quimioterapia, por apresentar melhores resultados em termos de resposta retal) realizado por ginecologista especializado em oncologia, Ressonância
clínica e recidiva quando comparada à radioterapia isolada. Magnética (RM) ou Tomografia Computadorizada (TC) de abdome e pelve
e radiografia de tórax.

COMPLICAÇÕES O estadiamento é clínico-cirúrgico, e a avaliação linfonodal é feita pelo


A hemorragia é a complicação peroperatória e imediata mais frequente. exame anatomopatológico.
ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE VULVA (ATUALIZADO EM IIIa2 Uma ou duas metástases linfonodais menores
2009 PELA FIGO) que 5 mm.

ESTÁDIO I – TUMOR CONFINADO À VULVA E/OU IIIb1 Duas metástases linfonodais menores que 5
PERÍNEO, SEM METÁSTASE LINFONODAL mm.

Ia Lesões com 2 cm ou menos de tamanho, IIIb1 Duas metástases linfonodais menores que 5
con nadas à vulva ou períneo e invasão menor mm.
ou igual a 1 mm, sem metástase linfonodal.
IIIb2 Três ou mais metástases linfonodais menores
Ib Lesão > 2 cm em tamanho ou com invasão que 5 mm.
estromal > 1 mm, con nada à vulva ou
IIIc Linfonodos acometidos com extensão
períneo, com linfonodos negativos.
extracapsular.
ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE VULVA (ATUALIZADO EM
ESTÁDIO IV – O TUMOR ESTENDE-SE ALÉM DA PELVE
2009 PELA FIGO) (CONTINUAÇÃO)
VERDADEIRA OU ENVOLVE A MUCOSA DA BEXIGA OU
DO RETO
ESTÁDIO II – TUMOR DE QUALQUER TAMANHO, COM
EXTENSÃO PARA ESTRUTURAS PERINEAIS ADJACENTES
IVa Tumor de qualquer tamanho com invasão da
(1/3 INFERIOR DA URETRA, 1/3 INFERIOR DA VAGINA,
uretra superior, mucosa da bexiga, mucosa
ÂNUS), SEM METÁSTASE LINFONODAL
retal ou osso pélvico e/ou metástase para o
ESTÁDIO III – TUMOR DE QUALQUER TAMANHO COM OU linfonodo regional bilateral.
SEM EXTENSÃO PARA AS ESTRUTURAS PERINEAIS
IVb Qualquer metástase à distância, incluindo
ADJACENTES (1/3 INFERIOR DA URETRA, 1/3 INFERIOR
linfonodos pélvicos.
DA VAGINA, ÂNUS), COM LINFONODOS INGUINOFEMO‐
RAIS ACOMETIDOS

IIIa1 Uma metástase linfonodal maior ou igual a 5


mm.
As mudanças são confinadas ao epitélio escamoso acima da membrana
basal. As NIVA são classificadas de grau I a III, em função da porcentagem
DOENÇAS DA VAGINA de células acometidas desde a membrana basal até a superfície.

NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VAGINAL


EPIDEMIOLOGIA
pontos principais
A NIVA representa 1% de todas as neoplasias intraepiteliais do trato genital
● Saber o que é neoplasia intraepitelial vaginal. inferior e 0,1 a 0,2% de todos os cânceres. Sua incidência é de 0,2 a 0,3 por
100.000 mulheres nos Estados Unidos, ou seja, consiste em 100 vezes
● Conhecer os fatores de risco para a ocorrência da NIVA.
menos a incidência de NIC. Possui distribuição multifocal. É mais frequente
● Saber a classificação das NIVA. no terço superior da vagina (80 a 90%).
● Conhecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem da
NIVA. A NIVA tende a ocorrer em idade 10 anos mais elevada que a da NIC, com
média de 51 anos.

O fator principal de associação é a infecção pelo HPV, que está presente em


CONCEITOS FUNDAMENTAIS aproximadamente 70% dos casos de NIVA, principalmente os tipos 16 e 18.
É, por este motivo, considerado o provável agente carcinogênico.
Neoplasia Intraepitelial Vaginal (NIVA) é o termo usado para nomear um
espectro de mudanças intraepiteliais que apresentam, inicialmente, uma
neoplasia bem diferenciada, que pode progredir para carcinoma invasor, O tabagismo e a infecção pelo herpes tipo II são importantes cofatores.
mas a incidência de NIVA e a progressão para doença invasiva são
desconhecidas. São pacientes de risco ao desenvolvimento de NIVA:

Antecedente de NIC;
Convém, no entanto, lembrar que o desenvolvimento das lesões vaginais é

Histerectomia por NIC ou câncer;
mais lento que o das lesões cervicais, uma vez que a vagina não possui
células imaturas presentes no colo do útero, principal alvo da infecção pelo ●
Radioterapia prévia para tratamento de câncer de colo uterino;
HPV. ●
Infecção por HPV;

Imunossupressão.
ATENÇÃO Em relação ao diagnóstico clínico, a maioria das pacientes é assintomática.

Exposição ao dietilestilbestrol
A lesão geralmente se localiza, em ordem de frequência no terço
superior da vagina em 54 a 92% das vezes, 32% no terço inferior e 14%
A exposição ao dietilestilbestrol está associada ao adenocarcinoma de
no terço médio. Em 50% dos casos, a doença é multifocal.
células claras e não à NIVA ou ao câncer escamoso de vagina.

Habitualmente, o diagnóstico é realizado a partir de uma colpocitologia


anormal e a colposcopia identifica as áreas de eleição para a realização da
CLASSIFICAÇÃO biópsia.

Como já foi mencionado, as NIVA são classificadas de grau I a III, em


Durante a colposcopia, é importante examinar as quatro paredes da vagina
função da porcentagem de células acometidas desde a membrana basal até a
do ápice para o introito. Em pacientes histerectomizadas, examinar a cúpula
superfície. Em outras palavras, a NIVA também é classificada pelo grau de
vaginal, 3h e 9h. As alterações encontradas são lesões esbranquiçadas,
alteração celular (Tabela 1).
eritematosas ou ulceradas.

TAB. 1: CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DAS NIVA. Faz-se necessário avaliar ao colposcópio a superfície, as bordas e a
vascularização dessas lesões, e a realização de biópsia. O teste com iodo
NIVA I pode ser útil para delinear essas lesões.

Alterações histológicas con nadas ao terço inferior do epitélio. Nas pacientes após a menopausa pode-se indicar uso de estrogênio
tópico três a quatro semanas antes da realização da
NIVA II
colposcopia. Dez por cento das pacientes com NIVA têm NIV, logo a
Alterações histológicas acometem os dois terços inferiores do vulva deve também ser adequadamente examinada.
epitélio.

NIVA III TERMINOLOGIA COLPOSCÓPICA DA VAGINA RECOMENDADA


PELA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE PATOLOGIA CERVICAL E
Lesão intraepitelial em mais de dois terços da espessura do COLPOSCOPIA (IFCPC)
epitélio.
Essa terminologia foi recomendada pela IFCPC para uniformizar o laudo
e propiciar melhor qualidade ao exame.
Foi sugerido o emprego dos termos lesão intraepitelial escamosa de baixo
grau vaginal para NIVA I e lesão intraepitelial escamosa de alto grau
Terminologia colposcópica da vagina (IFCPC, 2011):
vaginal para NIVA II e III, mas sua utilização não é consensual.

DESENVOLVIMENTO DAS LESÕES VAGINAIS

O desenvolvimento das lesões vaginais requer período mais longo do


que as lesões cervicais devido à presença de células imaturas no
colo uterino.

HISTÓRIA NATURAL

A história natural e o potencial maligno da NIVA não estão bem


documentados na literatura.

A NIVA I corresponde a alterações induzidas pelo HPV, sem


estabelecer potencial progressivo para câncer de vagina. Entretanto, se
associa ao HPV de alto risco em 64 a 84% dos casos.

Na prática clínica, apenas os graus II e III da NIVA são considerados


verdadeiramente cancerígenos.

DIAGNÓSTICO
1. Avaliação geral: colposcopia adequada ou inadequada (especificar o NIVA II E NIVA III
motivo sangramento, inflamação, cicatriz, etc.);
Existem várias opções terapêuticas. A escolha do tratamento deve levar em
2. Achados colposcópicos normais: epitélio escamoso original:
consideração:
maduro ou estrófico;

Idade da paciente;
3. Achados colposcópicos anormais:

Quantidade e localização das lesões.
» Princípios gerais:

❯ Terço inferior/dois terços inferiores;


TÉCNICA EXCISIONAL
❯ Anterior/posterior/lateral (direito ou esquerdo).
Em virtude do potencial evolutivo da NIVA II e III para câncer de vagina, a
» Grau 1 (menor):
abordagem por técnica excisional é a mais indicada.
❯ Epitélio acetobranco tênue;

❯ Mosaico fino; Existem situações em que se pode optar pelo tratamento mais conservador,
como em pacientes jovens com lesão multifocal. Nesses casos, pode-se usar
❯ Pontilhado fino.
imiquimod a 5% guiado pelo colposcópio, por quatro a oito semanas. O
» Grau 2 (maior): imiquimod estimula resposta imune por induzir a secreção do interferon-α,
❯ Epitélio acetobranco denso; interleucina 12 e fator de necrose tumoral pelas células mononucleares.

❯ Mosaico grosseiro;
Evidências apontam que a colpectomia é eficaz em cerca de 80% dos
❯ Pontilhado grosseiro. casos das pacientes operadas por NIVA II e III. Esse procedimento levou ao
» Suspeita de invasão: diagnóstico de câncer de vagina oculto em 12% dessas mulheres.

❯ Vasos atípicos;
Afastada a possibilidade de invasão, a vaporização a laser CO2 pode ser
❯ Sinais adicionais: vasos frágeis, superfície irregular, lesão
realizada, com sucesso terapêutico de 70,8% com uma ablação e de 79,2%
exofítica, necrose, ulceração (necrótica), neoplasia
com mais de uma ablação.
tumoral/grosseira.

» Não específico: A radioterapia deve ser evitada devido a altas taxas de complicações.
❯ Epitélio colunar (adenose); Contudo, está indicada nos casos não responsivos aos outros tipos de
tratamento.
❯ Captação da solução de lugol: positiva (corado) ou negativa (não
corado) – teste de Schiller negativo ou positivo.

» Miscelânea: erosão (traumática), condiloma, pólipo, cisto, OBSERVAÇÕES QUANTO AO TRATAMENTO DA NIVA II E III
endometriose, inflamação, estenose vaginal, zona de transformação
congênita. 1. O uso tópico do ácido tricloroacético não é eficaz.

2. De acordo com as evidências, quando analisados os tratamentos


excisional, eletrocoagulação e 5-fluoracil, foram observadas as
TRATAMENTO seguintes taxas de cura: 69%, 25% e 46%, respectivamente.

No planejamento terapêutico deve-se levar em consideração os seguintes


preceitos:

CÂNCER DE VAGINA

Prevenir o aparecimento de câncer;

Preservar a forma e a função da vagina. Pontos Principais
● Conhecer a apresentação clínica sugestiva desta neoplasia maligna.
NIVA I ● Indicar os principais métodos diagnósticos.
● Saber o estadiamento e os principais tipos histológicos do câncer de
A NIVA I e HPV não requerem tratamento, pois não são consideradas
vagina.
de risco oncológico e, geralmente, regridem espontaneamente.
● Conhecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem das

No entanto, devem ser controladas e nos casos de dúvidas quanto a malignidades vaginais.

evolução da lesão, deve-se realizar outra biópsia. ● Saber as taxas de sobrevida em cinco anos por estadiamento.

Quando persistente, o tratamento destrutivo (eletrocauterização ou


aplicação de ácido tricloroacético) pode ser realizado.
RELEVÂNCIA CLÍNICA
O câncer primário de vagina é um tumor raro. É por definição, aquele que Dores à evacuação, constipação ou tenesmo podem ocorrer em
surge na vagina, sem envolvimento do colo uterino ou da vulva. Isto quer tumores localizados na parede posterior.
dizer que uma biópsia do colo uterino ou da vagina positiva na fase inicial
do diagnóstico não pode ser considerada lesão vaginal primária. Além disso,
o diagnóstico de MEMORIZE

QUADRO CLÍNICO DO CÂNCER DE VAGINA


câncer primário de vagina requer a ausência de história de câncer cervical
O sangramento vaginal anormal é o sintoma inicial em 50 a 75% das
por cinco anos.
pacientes. Disúria e dor pélvica são queixas menos frequentes e,
geralmente, ocorrem em tumores mais avançados.
ATENÇÃO
Tumor primário de vagina
Durante a história clínica, devem ser investigados fatores de risco para o
Como a vagina é sede frequente de metástases ou recidivas de outros câncer de vagina, a saber:
cânceres ginecológicos, em mulheres com antecedentes de doença ●
Infecção pelo papilomavírus (HPV): a infecção pelo HPV também
maligna do trato genital é necessário intervalo mínimo livre de doença
tem sido observada em lesões pré-invasivas e invasivas da vagina;
entre o aparecimento das duas neoplasias, para considerar primário o
tumor de vagina.
● Imunossupressão;

Atualmente, de acordo com as evidências mais atuais, o intervalo livre


● Irradiação prévia;
de doença adotado é de cinco anos. ● Exposição ao dietilestilbestrol durante a vida intrauterina.
Convém assinalar que existem fontes que empregam dez anos. Por outro
lado, alguns autores excluem todos os casos que porventura surjam em
EXAME FÍSICO
pacientes com antecedentes de neoplasia genital maligna em qualquer
época da vida.
No exame físico, o diagnóstico clínico é possível quando se visualiza a
Assim, a questão do intervalo mínimo livre de doença para classificar o lesão. Portanto, é fundamental a inspeção sistemática e cuidadosa de todas
tumor como um primário de vagina não é um consenso na literatura. as paredes vaginais, para que não sejam perdidas alterações que podem ser
bem discretas. É aconselhável girar o espéculo para expor todas as paredes
vaginais, evitando que alguma lesão fique camuflada pelas pás do mesmo.
O tumor vaginal pode se apresentar tanto como úlcera quanto como lesão
EPIDEMIOLOGIA
vegetante. Na maioria dos casos, o câncer de vagina apresenta-se como
O câncer primário de vagina corresponde a 1-2% dos cânceres lesão ulcerativa. A maioria das lesões encontra-se no terço superior,
ginecológicos e ocupa o quinto lugar em incidência do trato genital. ápice vaginal e, mais comumente, na parede posterior.

Cerca de 70 a 80% das pacientes têm mais de 60 anos, com exceção Os toques vaginal e retal permitirão a palpação de úlcera ou massa
dos tumores associados à exposição ao Dietilestilbestrol (DES) intraútero vegetante na vagina, bem como a avaliação da presença de infiltração de
(adenocarcinoma de células claras), que aparecem entre os 17 e 21 anos. paracolpos e paramétrios.

As lesões metastáticas são duas a três vezes mais frequentes


EXAMES COMPLEMENTARES
que o carcinoma primário e são provenientes do colo, endométrio,
ovário, vulva, reto, uretra, bexiga e do coriocarcinoma. COLPOCITOLOGIA

A colpocitologia pode se mostrar alterada em lesões incipientes, da mesma


ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA forma que lesões macroscópicas podem revelar a presença de células
malignas.
Na maioria dos casos, o diagnóstico é tardio, porque o câncer da vagina é
assintomático nos estádios iniciais, acrescido da pouca frequência de
consultas ginecológicas. COLPOSCOPIA/BIÓPSIA DE VAGINA

O diagnóstico só é definitivo com o estudo histopatológico da lesão. Por


Cerca de 80% dos casos surgem em mulheres previamente tratadas por
este motivo, a biópsia deve ser realizada em todos os casos.
câncer de colo uterino e os 20% restantes após histerectomia por lesões
benignas.
Nas lesões iniciais, a colposcopia é um importante recurso para orientar a
biópsia. As NIVA aparecem como áreas iodo-negativas.
ANAMNESE
Vale lembrar que se biópsias do colo uterino ou da vulva são positivas no
Os sintomas de sangramento, sinusiorragia ou corrimento vaginal anormal – tempo do diagnóstico inicial, o tumor não pode ser considerado lesão
que pode apresentar odor fétido – comumente presentes, são bastante primária de vagina.
inespecíficos. Sintomas urinários podem acompanhar tumores da
parede anterior da vagina.
OUTROS EXAMES Raro. Corresponde a menos de 1% dos melanomas que ocorrem no sexo
feminino. A idade varia de 22 a 83 anos, e predomina na pós-menopausa.
Como o estadiamento do carcinoma vaginal é clínico e não cirúrgico deve
Mais comumente, aparece no terço distal e na parede anterior. Surge nos
ser solicitada a cistoscopia, a urografia excretora, a retossigmoidoscopia e
melancólicos presentes em cerca de 3% do epitélio vaginal normal.
radiografia do tórax, com o propósito de avaliar a extensão da doença. A
Comumente, apresenta-se como uma massa solitária pedunculada. As três
ressonância magnética de abdome e da pelve substitui a cistoscopia, a
vias de disseminação tumoral são possíveis (mais detalhes adiante). Em
urografia excretora e a retossigmoidoscopia.
caso de disseminação à distância, comumente são acometidos o fígado e os
pulmões. O prognóstico é pior do que o melanoma de vulva.

TIPOS HISTOLÓGICOS
SARCOMAS
A seguir, apresentamos os tipos histológicos e a incidência dos tumores
vaginais:
Correspondem a 3% dos cânceres primários de vagina.


Carcinoma de células escamosas – 85%;
O sarcoma botrioide normalmente acomete crianças com menos de oito

Adenocarcinoma – 6%; anos de idade. O sintoma mais comum é o sangramento. Assemelha-se a um
cacho de uva que se expande rapidamente ocupando toda a vagina,

Melanoma – 3%;
disseminando-se pela camada subendotelial.

Sarcoma – 3%;

Misto – 3%. TUMOR DE SEIO ENDODÉRMICO

É um tumor de células germinativas descrito mais comumente no ovário,


TIPOS HISTOLÓGICOS ESPECIAIS
raramente encontrado na vagina. Acomete crianças com cerca de dois anos
de idade, com queixa de sangramento. Assim como nos casos de
CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS
acometimento ovariano, pode elevar os níveis de alfafetoproteína.

É o tipo histológico mais frequente. Normalmente ocorre em mulheres Clinicamente, apresenta-se como um tumor polipoide, rosa-avermelhado e

acima de 50 anos. O CCE está relacionado com radioterapia prévia, HPV e friável. É altamente agressivo e leva a maioria das pacientes ao óbito.

pessário vaginal. A localização mais frequente é no terço superior e parede


posterior. A maioria dos tumores com este tipo histológico é ulcerada. Pode
ocorrer disseminação local e ganglionar.
DISSEMINAÇÃO

A invasão inicial é para a parede vaginal e, posteriormente, para os tecidos


Classicamente, à microscopia, evidencia-se invasão do estroma por células paravaginais e paramétrios.
escamosas pleomórficas com grânulos de queratina.

As metástases à distância ocorrem comumente para fígado e pulmões.


CARCINOMA VERRUCOSO
Assim, a disseminação do câncer de vagina pode ocorrer de três formas:
É uma variante incomum do carcinoma de células escamosas e se apresenta
basicamente como uma massa vegetante verrucosa. Histologicamente, é
composto por papilas largas recobertas por queratina densa. Raramente EXTENSÃO DIRETA PARA ESTRUTURAS ADJACENTES
(CONTINUIDADE)
produz metástases, mas pode ter infiltração extensa nos tecidos adjacentes,
incluindo o reto e o cóccix. Classicamente, o tumor de vagina dissemina-se por continuidade,
infiltrando tecidos adjacentes, os septos vesicovaginal e retovaginal,
estendendo-se para as paredes pélvicas laterais e ligamentos uterossacros. O
ADENOCARCINOMA DE CÉLULAS CLARAS
reto e a bexiga também podem ser comprometidos por continuidade.
Ocorre mais frequentemente em mulheres jovens, em uma faixa etária que
varia dos 7 aos 34 anos. Normalmente, há história de exposição intraútero O câncer vaginal facilmente se estende aos planos profundos, em
ao Dietilestilbestrol (DES). É importante salientar que quando a exposição decorrência da falta de barreira anatômica. Em geral, lesões na parede
ao DES ocorre antes de seis semanas de gestação, o risco é maior. A vaginal anterior penetram o septo vesicovaginal, enquanto lesões na parede
incidência relacionada a esta etiologia tem diminuído, devido à menor posterior invadem a camada retovaginal profunda. Pode haver invasão do
utilização do DES. paracolpo e do paramétrio, estendendo-se para a fossa do obturador,
ligamento cardinal, parede pélvica lateral e ligamento uterossacro.

MELANOMA
EMBOLIZAÇÃO PARA NÓDULOS LINFÁTICOS REGIONAIS

A disseminação linfática é influenciada pela localização do tumor. Aqueles


localizados no terço superior e médio drenam para os linfonodos pélvicos e
no terço inferior para linfonodos inguinofemorais.
HEMATOGÊNICA Estudos mostram que o tipo histológico de adenocarcinoma tem
um aumento de recorrência, maior incidência de metástases e
A disseminação hematogênica é mais comum nos sarcomas. Pode originar
menor sobrevida em dez anos quando comparado ao carcinoma
metástases ósseas, hepáticas e pulmonares.
escamoso de vagina.

ESTADIAMENTO Em relação ao tratamento cirúrgico, a localização do tumor é de


fundamental importância. Uma vez indicado o tratamento cirúrgico, as
O estadiamento é clínico, mas pode ser auxiliado por cistoscopia,
pacientes devem ser selecionadas dando a preferência àquelas que
proctoscopia e radiografia de tórax. Ele é resumido na Tabela 2.
apresentam estádios I e II com lesões no terço superior,
posterior ou lateral, além de que a cirurgia promove um controle local
da doença e cura.
TAB. 2 ESTADIAMENTO DO CARCINOMA DE VAGINA (FIGO).

A seguir, serão apresentadas as abordagens cirúrgicas de acordo com a


Estádio 0
localização da lesão:
Carcinoma in situ - NIVA III.


Nos tumores pequenos do terço superior da vagina, a cirurgia
Estádio I
indicada é Wertheim-Meigs com colpectomia parcial;
Tumor con nado à parede vaginal.

No terço inferior indica-se vulvectomia radical e colpectomia
com linfadenectomia inguinofemoral;
Estádio II
Tumor invade o tecido perivaginal (paracolpos, paramétrios),

No terço médio ou lesões extensas que atinjam outro terço, a
mas não se estende à parede pélvica. melhor opção terapêutica é a radioterapia exclusiva, pois a cirurgia
combinada apresenta morbidade elevada.
Estádio III
Tumor se estende à parede pélvica ou está localizado nos 2/3 A associação de cisplatina e radioterapia para o tratamento do câncer
superiores da vagina com metástases para os linfonodos primário de vagina mostrou sobrevida em cinco anos de 66%
pélvicos ou está localizado no terço inferior da vagina com considerando todos os estádios.
metástases unilateral para os linfonodos inguinais.
Exenteração pélvica é um tratamento aceitável em termos de sobrevida
Estádio IV na doença avançada ou na recorrência, mas deve ser considerada a
Tumor estende-se além da pelve verdadeira ou envolve a morbidade deste procedimento.
mucosa da bexiga ou do reto:
Há relatos de 75% de complicações pós-operatórias imediatas e

IVa – Tumor invade uretra superior, mucosa da bexiga,
85% de complicações tardias, com uma sobrevida global em cinco
mucosa do reto; osso pélvico e/ou linfonodos regionais
anos de 40%.
bilaterais; comprometimento dos órgãos adjacentes;

IVb – Qualquer metástase à distância.
TRATAMENTO SEGUNDO O ESTADIAMENTO

Levando em consideração o estadiamento da doença, o tratamento


TRATAMENTO recomendado pode ser sintetizado de acordo com a Tabela 3.

A escolha do tratamento deve se basear no estadiamento, na


localização do tumor, do tamanho e do tipo histológico, além
das condições clínicas da paciente podendo ser cirúrgico, TAB. 3 TRATAMENTO DO CARCINOMA DE VAGINA SEGUNDO O
ESTADIAMENTO.
quimioterápico, radioterápico ou a associação de tratamentos.
ESTÁDIO CONDUTA
Muitos estudos mostraram uma sobrevida melhor e uma diminuição
Estádio I Cirurgia: tumor localizado terço superior
de recorrência em pacientes com lesão na metade proximal do
e inferior.
que as lesões em metade distal.
Radioterapia exclusiva: quando localizado
no terço médio, está indicada
Lesões menores que 5 cm tem 20% de recorrência local em dez
radioterapia.
anos. Já lesões maiores que 5 cm tem 40% de recorrência local.

Estádio II-IV Radioterapia e quimioterapia.

SEGUIMENTO
O seguimento no primeiro ano deve ser de quatro em quatro meses, O estádio clínico é o mais importante indicador prognóstico.
a seguir de seis em seis meses, com avaliação clínica e exame
ginecológico.
SOBREVIDA
No primeiro controle após o tratamento e, anualmente, deve ser A sobrevida é menor nas pacientes acima de 60 anos de idade, sintomáticas
solicitada radiografia de tórax, ultrassonografia pélvica e no momento do diagnóstico, com lesões localizadas no terço médio e
abdominal. inferior da vagina e com tumores indiferenciados.

PROGNÓSTICO

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