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Pontos Principais
Sua incidência é maior em países menos desenvolvidos, quando
comparada aos países mais desenvolvidos. Em geral, o câncer ● Saber interpretar o estudo citológico.
cervical começa a partir dos 30 anos, aumentando seu risco ● Conhecer as condutas após os achados citológicos.
rapidamente até atingir o pico etário entre 50 e 60 anos.
● Saber os fatores de risco para o câncer de colo uterino.
● Saber o novo estadiamento do câncer de colo uterino.
Ectopia ou ectrópio: a JEC ativa deslocada para fora do por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao
passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente. O tabagismo
orifício externo do colo uterino de ne a ectopia ou ectrópio.
aumenta o risco para o desenvolvimento do câncer do colo do útero,
Esta alteração topográ ca é clinicamente referida como mácula
proporcionalmente ao número de cigarros fumados por dia e ao início em
rubra durante o exame especular. Como a mácula rubra não é
idade precoce.
um achado patológico, não há necessidade de realizar nenhum
outro exame complementar.
Vários estudos analisaram a história natural do câncer do colo do útero e
Cisto de Naboth: como resultado do processo metaplásico, suas lesões precursoras, e importantes revisões e metanálises foram
pode ocorrer a formação desses cistos, em razão da oclusão realizadas, mas a interpretação dos seus dados deve considerar a
das criptas endocervicais pelo epitélio escamoso metaplásico. possibilidade de viés de seleção e de aferição.
As mulheres com câncer identificadas pelo rastreio têm, em média, dez anos
HISTÓRIA NATURAL de idade a mais que as mulheres com lesões precursoras, indicando que a
A presença do HPV na quase totalidade dos casos de câncer de colo uterino eventual progressão dessas lesões para câncer ocorre lentamente.
O HPV pode ser classificado em tipos de baixo e de alto risco de Alguns autores propuseram que o uso de contraceptivos orais poderia
desenvolver câncer. Como já dito, existem 12 tipos identificados como de aumentar a incidência de anormalidades glandulares cervicais. No entanto,
alto risco (HPV tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59) que têm essa hipótese não apresentou apoio consistente.
probabilidade maior de persistir e estarem associados a lesões pré-
cancerígenas. Os tipos 16 e 18 são responsáveis por aproximadamente 70%
de todos os carcinomas cervicais, por serem os mais mitogênicos. Eles DEFICIÊNCIAS VITAMÍNICAS
também são responsáveis por até 90% dos casos de câncer de ânus, até 60%
dos cânceres de vagina e até 50% dos casos de câncer vulvar. No colo do útero, a vitamina A parece ser um importante fator na
manutenção da integridade do epitélio escamoso. A carência desta vitamina
O tipo 16 é o mais prevalente e o mais frequente entre os carcinomas de está associada ao aumento da incidência do câncer de colo, e os níveis
séricos de vitaminas A e C tendem a ser progressivamente mais baixos à
células escamosas.
medida que a doença se torna mais avançada. Em estudos recentes, a
deficiência de oligoelementos também foi descrita. Entretanto, são
O tipo 18 é o responsável por 20% dos tumores e o mais comum entre os
necessários estudos adicionais antes que qualquer recomendação nutricional
adenocarcinomas.
seja empregada na prevenção do câncer de colo uterino.
NÚMERO DE PARCEIROS SEXUAIS Pacientes HIV positivas, lúpicas, diabéticas, transplantadas em uso de
corticoterapia ou quimioterapia e/ou radioterapia apresentam
Este fator é ainda mais importante que o anterior. Quanto maior o número comprometimento da sua imunidade e estão sob maior risco de desenvolver
de parceiros sexuais, maior a chance de um dos parceiros ser portador de câncer de colo uterino. Cabe aqui a lembrança de que o carcinoma invasor
um vírus de alto risco e, consequentemente, maior a chance da parceira do colo uterino em paciente HIV positiva é considerado neoplasia
desenvolver uma lesão de alto grau ou mesmo um câncer invasor. definidora de caso de aids.
Há um risco quatro a cinco vezes maior de câncer de colo em mulheres que A deficiência de alfa-1-antitripsina é rara e é a única alteração genética
tiveram parceiros com câncer de pênis. Além disso, parceiros com início associada ao câncer de colo uterino. É mais comum na raça negra.
precoce da atividade sexual, com vários episódios prévios de IST, com
visitas frequentes a profissionais do sexo e tabagistas aumentam a chance da
parceira apresentar câncer cervical. BAIXO NÍVEL SOCIOECONÔMICO
Todos os fatores de risco são mais prevalentes em mulheres de nível A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à
socioeconômico mais baixo, o que, somado às dificuldades de acesso aos diminuição do risco de contágio pelo HPV.
meios de diagnóstico e tratamento precoce, confere a esta população uma
alta incidência da doença.
USO DE PRESERVATIVO
OUTROS FATORES A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente
por meio de abrasões microscópicas na mucosa ou na pele da região
São também descritos como fatores de risco para o câncer de colo uterino: anogenital.
● Multiparidade;
Consequentemente, o uso de preservativos (condom) durante a relação
● Desnutrição;
sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que
● Má higiene genital; também pode ocorrer por intermédio do contato com a pele da vulva, região
● Agentes químicos; perineal, perianal e bolsa escrotal.
LESÕES PRECURSORAS
PARTICULARIDADES DAS VACINAS ANTI-HPV
As lesões precursoras do câncer do colo do útero são assintomáticas, Como já mencionado, duas vacinas estão disponíveis para comercialização
podendo ser detectadas por meio da realização periódica do exame no Brasil, a vacina quadrivalente da Merck Sharp & Dohme (MSD), que
citopatológico e confirmadas pela colposcopia e exame histopatológico. protege contra os tipos não oncogênicos 6 e 11 e os tipos oncogênicos 16 e
18, e a vacina bivalente da Glaxo Smith Kline (GSK), que protege contra os
VIDEO_01_GIN5 tipos oncogênicos 16 e 18. Vale salientar que apenas a vacina quadrivalente
(HPV4) foi licenciada para ambos os sexos. A bivalente (HPV2) foi
licenciada apenas para o sexo feminino.
CÂNCER DE COLO UTERINO
PREVENÇÃO PRIMÁRIA
A via de administração de ambas as vacinas é intramuscular (0,5 ml). Após No entanto, convém lembrar que o intervalo entre as doses da vacina
a administração da dose de vacina contra HPV por via intramuscular, recomendado pelo MS sempre foi diferente daquele preconizado pelo
acontece uma enorme produção de anticorpos circulantes no sangue fabricante. A recomendação inicial era a administração da segunda dose seis
periférico, que se mantém em níveis elevados durante anos. Atualmente, meses após a primeira e a terceira cinco anos após a primeira dose. E desde
sabe-se que a proteção, após esquema vacinal completo (três doses), possui janeiro de 2016, o MS passou a recomendar apenas duas doses da
duração de mais de cinco anos. Ainda não está definido se haverá vacina (esquema 0 e 6 meses), pois estudos mostraram que a produção
necessidade de uma quarta dose de reforço. Já existe um estudo em de anticorpos com duas doses nesta idade se assemelha à produção de
andamento, mas será necessário aguardar seus resultados para uma resposta anticorpos após três doses em idade maior. Ressalta-se que, nos meninos
definitiva. que iniciarem a primeira dose aos 14 anos, a segunda dose deve ser feita
com intervalo mínimo de seis meses e máximo de 12 meses.
Como as vacinas não protegem contra todos os tipos do HPV, a
colpocitologia deve continuar a ser coletada mesmo em
mulheres vacinadas. O esquema de vacinação para meninas e meninos menores de 15 anos é
de duas doses com intervalo de seis meses (0-6 meses).
Até a presente data, não há qualquer relato de dano para o feto caso a
Outra novidade importante é que a vacina também passou a ser ofertada
mulher engravide durante esquema vacinal contra HPV. No entanto, é
para pacientes vivendo com HIV dos sexos feminino e masculino,
preciso aguardar mais evidências para não se tirar conclusões precipitadas.
de 9 a 26 anos. Mas, atenção: o esquema vacinal é diferente do
A maioria dos especialistas recomenda que uma mulher que queira
atualmente proposto pelo Ministério da Saúde. São administradas três
engravidar em seguida à administração das doses de vacina contra HPV
doses no esquema 0-2-6 meses (segunda dose dois meses após a
espere, pelo menos, um mês após a aplicação da terceira dose. Caso ocorra
gravidez entre os intervalos das doses, o médico deve ser avisado. primeira; terceira dose seis meses após a primeira), que nada mais é do que
o esquema habitualmente proposto pelo fabricante. Caso eles já tenham
recebido as duas doses no esquema estendido (zero e seis meses), será
RECOMENDAÇÕES POSOLÓGICAS DO FABRICANTE indicada a terceira dose com o intervalo mínimo de quatro meses após a
segunda dose. É necessária a prescrição médica para mulheres e
A vacina quadrivalente é administrada em três doses, a saber: data escolhida
homens vivendo com HIV, a qual deverá ser apresentada no ato da
(1ª dose), 60 dias (2ª dose) e 180 dias (3ª dose). A vacina bivalente também
vacinação.
é administrada em três doses, a primeira na data escolhida, a segunda aos 30
dias e a terceira aos 180 dias.
Desde janeiro de 2017, a vacina também foi disponibilizada nos Centros de
Inicialmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou Referência para Imunobiológicos Especiais – CRIE – para indivíduos
a vacina quadrivalente para uso em meninas e mulheres com 9 a 26 anos de imunodeprimidos (indivíduos submetidos a transplantes de órgãos
idade. A Anvisa aprovou também a vacina bivalente para administração em sólidos, transplantes de medula óssea ou pacientes
meninas e mulheres na faixa etária de 10 a 25 anos. Atualmente, ambas as oncológicos), que deverão receber o esquema de 3 (três) doses (0, 2
vacinas podem ser administradas até os 45 anos nas mulheres. e 6 meses) para ambos os sexos, na faixa etária entre 9 e 26
anos. É também obrigatória a prescrição médica para esses pacientes, a
qual deverá ser apresentada no ato da vacinação.
A HPV4 foi licenciada para meninas e mulheres de 9 a 45 anos de idade e
meninos e homens de 9 a 26 anos.
Convém salientar que outros grupos etários podem dispor das vacinas em
serviços privados, se indicadas por seus médicos. Entretanto, ambas as
Já a HPV2 foi licenciada para meninas e mulheres a partir dos 9 anos de vacinas possuem maior indicação para meninas e meninos que ainda não
idade. iniciaram a vida sexual, uma vez que apresentam maior eficácia na proteção
de indivíduos não expostos aos tipos virais presentes nas vacinas.
A HPV4 é preferível à HPV2 para ampliar a proteção para verrugas
genitais.
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SOBRE A VACINA NONAVALENTE
Entende-se por rastreamento, a aplicação de um teste ou exame Os tumores em estágios mais avançados normalmente apresentam
em uma população assintomática, aparentemente saudável, sintomas inespecíficos, como dor, corrimento vaginal e perdas
com objetivo de identificar lesões precursoras ou sugestivas de sanguíneas anormais.
câncer e encaminhá-las para investigação e tratamento.
A hemorragia vaginal é o sintoma mais comum em pacientes com câncer EVOLUÇÃO DAS LESÕES DO COLO UTERINO
cervical. A perda sanguínea normalmente não se associa ao período Nos estádios pré-invasivos, o câncer cervical só apresenta alterações à
menstrual e ocorre muitas vezes durante ou após o coito (sinusiorragia). Na colposcopia (mais detalhes adiante). A avaliação à vista desarmada é
pós-menopausa, comumente surge como sangramento uterino anormal. normal. Em outras palavras, o câncer de colo uterino pode estar presente
em colo macroscopicamente normal, bem epitelizado.
Queixas de corrimento vaginal fétido e dor pélvica, geralmente encontradas Com a progressão do tumor, o colo começará a apresentar lesões que já
em estágios mais avançados do câncer de colo uterino, resultam de poderão ser identificadas na colposcopia, ou até mesmo ao exame
processos inflamatórios, associados ou não à infecção secundária do tumor. especular. Essas lesões podem evoluir de diferentes formas, a saber:
E NAS PUÉRPERAS?
●
LIEBG ou LSIL ou Low-SIL ou SIL Baixo Grau:
●
Adenocarcinoma endocervical in situ.
» SOE.
NORMAL
●
Atipias de:
DENTRO DOS LIMITES DA NORMALIDADE NO MATERIAL
EXAMINADO » Células endocervicais Sem Outras Especi cações (SOE),
ou especi car nos comentários;
●
Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade. » Células endometriais Sem Outras Especi cações (SOE),
ou especi car nos comentários;
ALTERAÇÕES CELULARES BENIGNAS
» Células glandulares Sem Outras Especi cações (SOE), ou
especi car nos comentários.
●
In amação.
●
Reparação. OUTRAS ATIPIAS CELULARES
●
Metaplasia escamosa imatura.
●
Outras neoplasias malignas.
●
Atro a com in amação.
●
Presença de células endometriais na pós-menopausa ou
●
Radiação.
acima de 40 anos, fora do período menstrual.
●
Outras (especi car).
ADEQUABILIDADE DA AMOSTRA
Na atual nomenclatura citológica brasileira, a adequabilidade da amostra é
definida como satisfatória ou insatisfatória. O termo anteriormente utilizado
“satisfatório, mas limitado” foi abolido.
RESULTADO NORMAL Decorre de lesões da mucosa com exposição do estroma e pode ser
(DENTRO DOS LIMITES DA NORMALIDADE NO MATERIAL EXAMINADO) originado por quaisquer dos agentes que determinam inflamação. É,
geralmente, a fase final do processo inflamatório.
É um diagnóstico completamente normal. A inclusão da expressão “no
material examinado” visa a estabelecer, de forma clara e inequívoca,
Recomendação: seguir a rotina de rastreamento citológico.
aspectos do material submetido ao exame.
estrogênios conjugados em baixa dose (0,5 g de um aplicador, o que genital e gastrointestinal, que pode se multiplicar por esporulação,
contém 0,3 mg do princípio ativo) ou estriol vaginal, um grama com tornando-se patogênico em condições específicas.
aplicador vaginal toda noite, durante 21 dias. A nova citologia será ● Trichomonas: a taxa de falso-positivos é alta para a citologia por
coletada entre cinco a sete dias após a parada do uso. Papanicolaou.
●
População de risco: nas pacientes com história de câncer de mama ou ● Herpes-simplex: pode produzir mudanças citopatológicas
outras contraindicações, o uso de estrogênios deve ser criteriosamente características, como a presença de células gigantes multinucleadas.
avaliado para cada paciente individualmente. O esquema recomendado ● Actinomyces: achado típico de pacientes usuárias de DIU.
pode ser o mesmo utilizado para as mulheres da população geral, como
descrito anteriormente, pelo período máximo de 21 dias.
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RESULTADO CITOLÓGICO INDICANDO ALTERAÇÕES DECORRENTES DE
RADIAÇÃO OU QUIMIOTERAPIA O EFEITO CITOPÁTICO COMPATÍVEL COM HPV
Este achado pode ocorrer nos casos de mulheres tratadas por radioterapia
O efeito citopático compatível com o HPV quer dizer o seguinte: o exame
pélvica. A combinação de alterações celulares e anatômicas pós-radioterapia
citopatológico não diagnostica a infecção pelo HPV e nem o seu tipo, mas
pode complicar tanto a coleta como a avaliação do esfregaço citológico pós-
existem alterações celulares que sugerem a presença deste vírus.
radiação. Embora os efeitos da radiação sobre as células cervicais diminuam
após seis semanas do término da radioterapia, eles são definitivos e podem
O chamado efeito citopático do HPV consiste na presença de coilocitose,
ser observados por muitos anos. As mulheres submetidas à radioterapia
discariose e disceratose. Estes achados sugerem infecção pelo HPV.
pélvica com ou sem braquiterapia frequentemente apresentam sintomas
vaginais crônicos, tais como estenose (59%), ressecamento (47%),
inflamação (29%), sangramento (31%), entre outros. O comprometimento A disceratose significa um distúrbio no metabolismo celular devido a um
vaginal é mais frequente e acentuado quando a radioterapia é associada à excesso de maturação epitelial, que se caracteriza por acúmulo de
quimioterapia. A Sociedade Americana para Estudos sobre a Menopausa queratina no citoplasma que leva a célula a apresentar intensa coloração
indica uso de estrogênio tópico em baixa dose para estimular a regeneração eosinofílica. A disceratose isolada não deve ser valorizada, pois é
epitelial, cicatrização e elasticidade da vagina. encontrada em processos irritativos crônicos (uso de DIU ou pessários),
em uso prolongado de diafragma e em casos de prolapso uterino. Em
vigência do HPV, a disceratose pode se manifestar por paraceratose (onde
A quimioterapia também pode afetar as células do colo do útero. O
encontramos grupamentos de pequenas células escamosas
esfregaço mostra células anormalmente aumentadas, com núcleos que
queratinizadas nucleadas) ou ceratose (células queratinizadas
parecem discarióticos, porém os demais elementos celulares presentes na
anucleadas).
amostra aparentam ser perfeitamente normais. Também pode ser observada
multinucleação de células não neoplásicas.
A coilocitose (koylos = buraco) corresponde a um imenso espaço vazio em
torno do núcleo.
O tratamento radioterápico e/ou quimioterápico prévio deve ser mencionado
na requisição do exame.
A discariose significa núcleo de m orfologia anormal.
CITOLOGIA COM CÉLULAS ENDOMETRIAIS NORMAIS FORA DO PERÍODO ASC-US
MENSTRUAL OU APÓS A MENOPAUSA (CÉLULAS ESCAMOSAS ATÍPICAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO,
POSSIVELMENTE NÃO NEOPLÁSICAS)
A presença de células endometriais espontaneamente esfoliadas, em uma
amostra citopatológica obtida fora do período menstrual ou de mulher na Estudos de variação entre observadores demonstram concordância entre
pós-menopausa, sem uso de terapia hormonal, ainda que mostrando citopatologistas, que varia entre 35 a 45%. Baseando-se neste fato e na
aparência típica, demanda investigação da cavidade endometrial visto a correlação com doença de baixa gravidade para a grande maioria das
possibilidade de sinalizarem uma anormalidade glandular no endométrio. mulheres, uma conduta conservadora, pouco invasiva, parece razoável.
Fatores como rastreamento citológico prévio sem suspeita de doença pré-
A revisão de Bethesda 2014 recomenda o relato da presença de células invasiva ou invasiva e idade da mulher devem ser considerados nessa
endometriais fora do período menstrual após os 45 anos de idade, pois decisão, pois nas situações de menor risco, uma conduta conservadora
estudos comprovam o aumento do valor preditivo desse achado nessa faixa também parece adequada. Na avaliação do risco de doença pré-invasiva ou
etária. invasiva, deve-se considerar que a lesão invasiva do colo do útero é
claramente mais prevalente na quarta e quinta décadas de vida da mulher
(entre 35 e 55 anos), quando se justifica uma investigação mais acurada da
Recomendações: seguir a rotina de rastreamento citológico. Avaliar
doença.
indicação de investigação da cavidade uterina.
Existem evidências de que a infecção por HPV em pacientes infectadas pelo colposcopia em seis meses.
vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) é mais persistente, o que está
relacionado à carga viral de HIV mais alta (> 400 HIV-1 cópias RNA/ml) Nos casos em que a JEC não é visível ou parcialmente visível (ZT
ou níveis de CD4+ abaixo de 350 células/μl, favorecendo uma maior tipo 3) e a colposcopia não revela achados anormais, também
incidência de lesões cervicais mais graves. deverá ser investigado o canal endocervical. Se o exame deste
material mantiver o resultado ou mais grave, excluída lesão
Estudos mostraram que mulheres infectadas pelo HIV, principalmente vaginal, é recomendável a excisão tipo 3 para diagnóstico. Caso o
aquelas com contagem de células CD4+ < 200 células/mm³ e com exame deste material seja negativo, indicam-se novas citologia e
diagnóstico citopatológico de ASC-US, tinham maior percentual de colposcopia em seis meses. Se os novos exames, realizados em seis meses
diagnóstico de lesão intraepitelial, em menor período de tempo (doze após a colposcopia forem negativos, retornar à unidade de atenção primária
meses), quando comparadas às não infectadas. e repetir a citologia em seis meses. Caso a citologia em seis meses
mantenha o diagnóstico ou mais grave, na ausência de achados
Há consenso de que mulheres imunossuprimidas têm, em geral, maior colposcópicos anormais, mantida a impossibilidade de visão da JEC e
probabilidade de apresentarem lesões pré-invasivas, motivando excluída lesão vaginal, é recomendada a excisão tipo 3. Nesses casos, se a
recomendações específicas de rastreamento. JEC for visível, é recomendável a revisão das lâminas iniciais. Caso esse
diagnóstico seja mantido ou mais grave, é recomendável a excisão tipo 3.
Recomendações: mulheres imunodeprimidas com este resultado Caso a revisão não mantenha esse diagnóstico, seguir conduta específica.
Caso não seja possível a revisão, uma nova citologia deve ser realizada em
citológico devem ser encaminhadas para colposcopia já no primeiro exame
seis meses. Caso a nova citologia mostre um novo resultado alterado, seguir
alterado, seguindo as recomendações para as demais mulheres nesta
conduta específica.
situação.
Apesar da baixa prevalência de AGC e da variabilidade dos estudos, esse A investigação de doença extrauterina também estará indicada nos casos em
diagnóstico se torna relevante pela possibilidade de se tratar de neoplasia que persistir o diagnóstico de AGC e se, ao final da investigação, não tiver
intraepitelial escamosa, AIS, adenocarcinoma invasor do colo uterino, sido possível concluir o diagnóstico de doença uterina (canal endocervical e
adenocarcinoma do endométrio e, mais raramente, neoplasia extrauterina, cavidade endometrial), independentemente da idade da mulher.
além de outras derivações müllerianas. Achados de benignidades, como
hiperplasia microglandular, adenose vaginal, pólipos endometriais, Durante a colposcopia, se encontradas alterações, quaisquer que sejam, deve
endocervicais, quadros inflamatórios, endometriose, efeitos radiógenos, ser realizada a biópsia. Caso o exame histopatológico do material desta
gestação, uso prolongado de progestogênios, artefatos da própria escovação, biópsia seja compatível com adenocarcinoma in situ/invasor, seguir
metaplasia tubária, uso do DIU e alterações reativas (após conização, recomendações específicas. No caso de diagnóstico de NIC II/III, deve-se
cauterizações ou biópsias) também podem ser responsáveis por essas atipias buscar excluir doença glandular simultânea, considerando o diagnóstico da
celulares. citologia do material obtido no momento da colposcopia e outros exames
solicitados para avaliação do endométrio ou de outros órgãos pélvicos.
Considera-se a categoria atipias em células glandulares de alto risco, pois
nela encontra-se uma associação com NIC II/III ou câncer em 15 a 56% dos Na persistência de AGC na citologia, após o fim das investigações no colo e
casos, sendo as NIC mais comuns em pacientes com menos de 40 anos e as corpo uterinos, além de órgãos adjacentes, sem evidência de doença, as
neoplasias invasivas mais frequentes em pacientes acima dessa idade. Essa mulheres devem ser mantidas em seguimento citológico e colposcópico
grande variabilidade pode ser devida, em parte, à baixa reprodutibilidade semestral até a exclusão de doença pré-invasiva ou invasiva.
desse diagnóstico citológico com níveis de concordância pobres
intraobservadores.
Se a nova citologia sugerir doença escamosa ou for negativa, seguir
recomendação específica. Nos casos biopsiados, considerar o diagnóstico
obtido e confrontar com o da nova citologia, definindo a conduta a seguir
em função do resultado mais relevante.
Se a citologia do material obtido no mesmo momento da colposcopia for Entretanto, a positividade dos testes de DNA-HPV é dependente da
negativa, a mulher deverá ser seguida com citologia semestral na unidade prevalência da infecção pelo HPV que, por sua vez, é dependente da idade.
secundária. Após dois anos com exames semestrais normais, a paciente Estudos mais recentes demonstraram que vários testes de detecção de HPV
deve retornar ao rastreamento trienal. apresentam especificidade crescente com o aumento da idade, além de alta
sensibilidade, para detecção de NIC II ou lesões mais graves em mulheres
Quando indicada a excisão tipo 3, deve-se preferir uma técnica que produza com LSIL. Assim, as evidências científicas atuais sugerem que os testes de
um espécime íntegro e adequado para avaliação histopatológica. detecção de DNA-HPV podem ser úteis para a triagem de mulheres com
LSIL com mais idade, contudo, em decorrência da falta de dados
estratificados por idade, não é possível atualmente definir com segurança
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM AGC NA CITOLOGIA: um ponto de corte em função dessa característica.
Mulheres até 24 anos, na Pós-Menopausa e Imunossuprimidas
Devem ser investigadas da mesma forma que as demais mulheres. Recomendações: mulheres com diagnóstico citopatológico de LSIL
devem repetir o exame citopatológico em seis meses na unidade de atenção
A LSIL representa a manifestação citológica da infecção causada pelo HPV, À colposcopia, se presentes achados anormais no colo do útero, deve-se
altamente prevalente e com potencial de regressão frequente, especialmente realizar a biópsia. Presente NIC II/III ou câncer deve-se seguir conduta
em mulheres com menos de 30 anos. específica. Caso presente NIC I, a paciente deverá ser mantida em
seguimento citológico. Quando presentes achados menores, a biópsia
As recomendações preconizadas internacionalmente para a conduta inicial poderá ser dispensada, considerando-se outros fatores, como idade menor
de pacientes com diagnóstico citopatológico de LSIL variam entre o do que trinta anos, rastreamento prévio negativo e ausência de história de
encaminhamento imediato para a colposcopia, a repetição da citologia em doença cervical pré-invasiva (NIC II/III). As pacientes não submetidas à
intervalos variáveis, com encaminhamento para colposcopia caso o biópsia devem ser seguidas com citologia em doze meses até dois exames
resultado subsequente mantenha LSIL ou apresente outras atipias, e a seguidos negativos, seguindo-se conduta específica a partir dos resultados
realização do teste de detecção de DNA-HPV, com encaminhamento para subsequentes. Considerando-se a alta possibilidade de sobretratamento e
colposcopia caso o resultado seja positivo. efeitos adversos, o método “Ver e Tratar” é inaceitável nas mulheres com
citologia de LSIL. Na ausência de achados colposcópicos anormais no colo
e na vagina, é recomendado repetir a citologia. A nova citologia deverá ser
O encaminhamento imediato para colposcopia como conduta inicial de
realizada a cada seis meses em mulheres com mais de trinta anos ou
pacientes com diagnóstico citológico de LSIL é apoiado no argumento de
anualmente, nas mulheres até trinta anos. Caso o exame citopatológico seja
que há, nesses casos, a possibilidade da presença de lesões mais graves.
negativo em dois exames seguidos, a mulher deve retornar à rotina de
Contudo, essa conduta desconsidera a história natural da infecção pelo HPV,
rastreamento citológico trienal. Mantido o diagnóstico citopatológico de
que embasa o adiamento da investigação, evitando o sobrediagnóstico ou
LSIL, a mulher deverá ser mantida em seguimento citológico até que os
sobretratamento induzido pela abordagem de lesões que tendem à regressão
exames retornem à normalidade. Caso, neste seguimento, seja obtido um
espontânea.
diagnóstico mais relevante (ASC-H, HSIL, AGC ou câncer), a conduta
deverá ser definida em função do novo resultado. Na persistência de LSIL
O comportamento benigno deste grau de alteração associado ao risco de
por 24 meses, a mulher deve ser reencaminhada para colposcopia.
ocorrência de efeitos adversos psíquicos e físicos, como hemorragia,
infecção e desfechos obstétricos significativos, relacionados a
Na persistência de NIC I por 24 meses, a manutenção do seguimento ou o
procedimentos diagnósticos e terapêuticos, tem levado a recomendações
tratamento são aceitáveis, sendo recomendada a individualização
mais conservadoras.
considerando a idade, paridade e preferências da paciente. Se a opção for
pelo tratamento, nos casos de JEC visível e a menos de um centímetro no
Em mulheres com LSIL e teste de DNA-HPV positivo para tipos
canal (ZT tipo 1 ou 2) pode-se optar por métodos destrutivos
oncogênicos, o risco em cinco anos para detecção de NIC II ou lesões mais
(eletrocauterização, criocauterização ou laserterapia) ou excisão tipo 1 ou 2.
graves e NIC III ou lesões mais graves é significativamente maior do que
Quando a decisão for tratar e a ZT for tipo 2 (com JEC além do primeiro
em mulheres com LSIL e DNA-HPV negativo. Porém, a aplicação de testes
centímetro do canal) ou 3, a indicação de um procedimento excisional
de detecção de DNA-HPV para a triagem de mulheres com LSIL para a
(excisão tipos 2 ou 3) deve ser criteriosamente avaliada frente ao risco
colposcopia apresenta sensibilidade significativamente maior, mas
obstétrico.
especificidade significativamente menor, em comparação à citologia de
repetição. A baixa especificidade dos testes de DNA-HPV é decorrente de
sua alta positividade em mulheres com LSIL (76,9%), o que determinaria o SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM LIEBG NA CITOLOGIA:
encaminhamento da maioria das mulheres para colposcopia,
comprometendo a efetividade dessa estratégia.
Mulheres até 24 anos Imunossuprimidas
Nessa faixa etária existem evidências de maior incidência, maior As evidências de maior prevalência de lesões precursoras e câncer nessas
probabilidade de regressão de LSIL e raridade de lesões invasivas, o que mulheres têm levado a recomendações de que, diante de qualquer
vem norteando recomendações de conduta mais conservadora. Nesse grupo anormalidade citológica, mulheres imunossuprimidas devem ser
de pacientes, foi observada regressão de LSIL em 60% dos casos em um encaminhadas imediatamente para colposcopia.
período de doze meses e de até 92% em três anos. Tal fato, aliado a
possíveis danos decorrentes da investigação e tratamento de lesões Recomendações: mulheres imunossuprimidas, como as infectadas pelo
intraepiteliais, demonstra que a conduta deve ser expectante e menos HIV, em situação de imunocomprometimento ou em uso de
invasiva. imunossupressores, devem ser encaminhadas para colposcopia após o
primeiro exame citopatológico mostrando LSIL.
A alta prevalência de infecção pelo HPV em adolescentes exclui a utilização
de testes de detecção de DNA-HPV na prática assistencial. Cerca de 90% Quando indicado o tratamento, ele deve ser excisional. O seguimento pós-
das infecções por HPV na adolescência são transitórias, e o HPV não é mais tratamento deve ser citológico anual e poderá incluir a colposcopia a critério
detectado em até dois anos. Recomendações internacionais têm sido do serviço.
modificadas no sentido de evitar tratamentos desnecessários.
Mulheres na Pós-Menopausa
Na presença de achados maiores, JEC visível (ZT tipos 1 ou 2), lesão
Em razão da deficiência de estrogênio, essas mulheres apresentam restrita ao colo e ausente suspeita de invasão ou doença glandular deverá ser
alterações celulares no colo uterino e vagina, que podem acarretar realizado o “Ver e Tratar”, ou seja, a excisão tipo 1 ou 2, de acordo com o
resultados falso-positivos da citologia. A terapia por meio de estrogênio tipo da ZT. Em locais em que não esteja garantida a qualidade da citologia
tópico melhora a qualidade desse exame. ou quando o colposcopista não se sentir seguro quanto à relevância dos
achados, a biópsia será aceitável.
Recomendações: mulheres na pós-menopausa com diagnóstico
citopatológico de LSIL devem ser conduzidas como as demais mulheres, Quando a abordagem “Ver e Tratar” não for possível devido a processo
mas a segunda coleta deve ser precedida de tratamento da colpite atrófica, inflamatório ou outras contraindicações temporárias, esta deverá ser
quando presente. realizada logo após a sua correção. Nos casos em que esse método estiver
indicado, a biópsia de colo não é recomendada.
Na colposcopia com JEC não visível ou parcialmente visível (ZT tipo 3) e A regressão de NIC III também tem sido observada em adolescentes ou
achados maiores, deverá ser realizada excisão tipo 3. Em mulheres jovens, mulheres jovens e tem motivado recomendações mais conservadoras. Entre
todos os esforços para tentar expor a JEC devem ser empreendidos. elas, tem sido sugerida a possibilidade de tratamentos destrutivos. Estes têm
mostrado a mesma eficácia que os excisionais, desde que seja atingida a
Na colposcopia com JEC visível e achados menores realizar biópsia. base de glândulas. Isso inclui a eletrocauterização, a crioterapia e a
Quando o resultado da biópsia for compatível com NIC II/III, realizar destruição a laser, porém estas têm a desvantagem de não fornecer
excisão tipo 1 ou 2 conforme o tipo de ZT. Se a biópsia for negativa ou informação quanto ao tratamento da totalidade da lesão ou existência de
apresentar diagnóstico de NIC I, deve-se repetir a citologia e a colposcopia microinvasão ou invasão não suspeitada ou diagnosticada por estudo
em seis meses a contar do dia da realização da biópsia e adotar conduta histopatológico, o que é muito raro nessa faixa etária. Tratamentos
específica de acordo com o novo laudo citopatológico. destrutivos têm sido recomendados quando não há suspeita de lesão
invasiva ou glandular, a lesão é completamente visível e não se estende ao
canal endocervical.
Na colposcopia com JEC não visível ou parcialmente visível e achados
menores, a biópsia será opcional e o canal deverá ser investigado. A
ausência de lesão vaginal deve ser assegurada. Caso a avaliação do canal Mulheres até esta idade não estão incluídas na faixa etária alvo do
endocervical mantenha a suspeita de lesão pré-invasiva ou invasiva, realizar rastreamento do câncer de colo do útero, mas é importante orientar os
excisão tipo 3. Caso negativo ou LSIL/NIC I, repetir a citologia e profissionais quanto às condutas adequadas nesta situação, para reduzir a
colposcopia em seis meses. probabilidade de malefícios decorrentes de procedimentos diagnósticos e
terapêuticos desnecessários, principalmente relacionados à função
reprodutiva.
Na colposcopia com achados sugestivos de invasão, realizar biópsia. Caso o
diagnóstico histopatológico seja de doença invasiva ou microinvasiva, a
paciente deverá ser conduzida conforme recomendação específica. Caso a Recomendações: na vigência de exame citopatológico com diagnóstico
biópsia apresente resultado diferente, realizar excisão conforme o tipo de de HSIL, encaminhar para colposcopia. A repetição da citologia é
ZT. inaceitável como conduta inicial. O método “Ver e Tratar” também é
inaceitável nessas mulheres.
À colposcopia sem achados colposcópicos anormais, independentemente da
visão da JEC, a ausência de lesão vaginal deve ser assegurada. Se possível, Se o achado colposcópico for menor, a paciente deverá ser mantida em
solicitar revisão de lâmina, de preferência por outro profissional. seguimento anual citológico por dois anos.
Nos casos em que a revisão de lâmina for possível, o seu resultado deverá Na presença de achado colposcópico maior, realizar biópsia. Se a biópsia
substituir o resultado anterior. Mantido o diagnóstico de HSIL, sem achados revelar NIC II, dar preferência à conduta expectante por 24 meses, porém o
anormais, se a JEC não for visível ou parcialmente visível (ZT tipo 3), tratamento também é aceitável caso não possa ser assegurado esse
deve-se investigar o canal endocervical. Caso a avaliação do canal seguimento. O seguimento deverá ser feito com exame citopatológico e
endocervical mantenha a suspeita de lesão pré-invasiva ou invasiva realizar colposcopia semestrais nos primeiros dois anos. Após esse período, se
excisão tipo 3. Se o resultado dessa investigação for negativo ou LSIL/NIC houver persistência da lesão, optar pelo tratamento, que poderá ser de forma
I, repetir a citologia e colposcopia em seis meses. Caso a JEC seja visível, excisional ou destrutiva. O tratamento destrutivo somente poderá ser
uma nova citologia deverá ser realizada em seis meses. realizado, nesses casos, se a lesão é restrita à ectocérvice e JEC visível (ZT
tipo 1). Se houver regressão da lesão, a mulher deverá ser mantida em
Ainda nos casos sem achados anormais, se a citologia realizada em seis seguimento citológico com intervalo de 12 meses até que apresente dois
meses apresentar o mesmo resultado (HSIL), assegurada inexistência de exames consecutivos negativos e, a seguir, trienal na unidade básica de
lesão vaginal, deve-se realizar procedimento excisional de acordo com o saúde. Se durante o seguimento o exame citopatológico mostrar-se alterado,
tipo de ZT. Caso o resultado da citologia de seis meses seja negativo a conduta deverá ser definida segundo o novo resultado. Se a biópsia for
(normal), deve-se manter controle citológico semestral na unidade negativa ou NIC I, deve-se repetir o exame citopatológico em seis meses e
secundária. Após dois exames negativos, a mulher poderá retornar ao adotar conduta específica de acordo com o novo laudo.
rastreamento trienal. A colposcopia poderá ser adicionada durante esse
seguimento para rever a impressão inicial. A informação de que se trata de Se a biópsia revelar NIC III, o seguimento citológico e colposcópico
uma amostra para seguimento de citologia anterior positiva deve ser semestral por dois anos é recomendado nas mulheres até 20 anos. Nas
registrada nos pedidos de exame. demais, entre 21 e 24 anos, é recomendado tratamento excisional (EZT) ou
destrutivo (B), mas o seguimento citológico e colposcópico semestral por
SITUAÇÕES ESPECIAIS EM PACIENTES COM LIEAG NA CITOLOGIA: dois anos ou até completar 25 anos também é aceitável.
Gestantes
Recomendações: com base no contexto supracitado, pacientes com
A colposcopia pode ser realizada em qualquer época da gestação. A biópsia
história de tratamento prévio de NIC II/III com margens livres deverão ser
pode ser realizada com segurança, não havendo risco de eventos adversos
submetidas a exame citopatológico em seis e 12 meses após a histerectomia.
sobre a gravidez, existindo apenas maior probabilidade de sangramento. As
Se ambos os exames forem negativos, o rastreamento citológico deverá ser
lesões de alto grau detectadas na gestação possuem mínimo risco de
trienal, independentemente da idade.
progressão para invasão e algum potencial de regressão após o parto. Por
essa razão, a reavaliação colposcópica e citológica durante a gravidez
poderá desencadear intervenções desnecessárias. No caso de margens comprometidas ou na ausência dessa informação, o
seguimento deverá ser realizado com exame citopatológico e colposcopia
semestrais nos primeiros dois anos. Após os dois primeiros anos, o
Recomendações: diante de exame citopatológico mostrando HSIL,
seguimento deverá ser feito com a citologia de forma isolada anualmente até
encaminhar a gestante para unidade de referência em colposcopia. Realizar
cinco anos. Após esse período, assegurada a inexistência de lesão residual, a
biópsia, caso a colposcopia apresente achados sugestivos de invasão. Se o
mulher deverá retornar para o rastreamento citológico trienal na unidade
resultado histopatológico revelar invasão, encaminhar a mulher para
básica de saúde, independentemente da idade.
tratamento na unidade terciária.
Imunossuprimidas
Mulheres imunossuprimidas, especialmente as infectadas pelo HIV, têm
maior chance de desenvolverem lesão intraepitelial escamosa cervical e de
apresentarem maior frequência de recidiva após o tratamento.
O carcinoma microinvasor constitui o estadiamento IA da Federação Nos casos de colposcopia com achados sugestivos de invasão, realizar
Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e também é denominado biópsia. Nos demais casos, a mulher deverá ser submetida a um
microcarcinoma. É uma lesão definida microscopicamente e se subdivide procedimento excisional conforme a ZT. Quando o resultado da biópsia for
em duas categorias ou estádios: IA1 (profundidade de invasão ≤ 3 mm e compatível com NIC I, II ou III e JEC visualizada, deverá ser realizada
extensão ≤ 7 mm no epitélio) e IA2 (profundidade de invasão > 3 e ≤ 5 mm excisão conforme o tipo de ZT. Caso a JEC não seja completamente
e extensão ≤ 7 mm no epitélio). Medidas de profundidade de invasão > 5 visualizada, ou a biópsia sugerir microinvasão, a conduta recomendada é a
mm ou extensão > 7 mm caracterizam estádios a partir de IB. A invasão do excisão tipo 3. Preferencialmente, devem ser utilizadas técnicas de
espaço linfovascular, apesar de não mudar o estadiamento deverá ser conização a frio, mas técnicas eletrocirúrgicas que garantam um espécime
relatada, pois indicará mudança na abordagem dessas mulheres. íntegro e com margens avaliáveis adequadamente são aceitáveis em serviços
com essa experiência. É inaceitável a utilização de técnicas excisionais que
O diagnóstico de carcinoma microinvasor é realizado em espécime obtido produzam mais de um segmento. Se o resultado da biópsia revelar lesão
por EZT (excisões tipos 1 e 2) ou conização (excisão tipo 3), desde que as francamente invasiva, a mulher deverá ser encaminhada para unidade
margens cirúrgicas estejam livres. Alguns autores recomendam que a terciária (alta complexidade) para procedimento específico.
conização seja efetuada utilizando-se o bisturi frio, pois as técnicas
eletrocirúrgicas (uso do eletrodo em alça ou agulha) propiciam maior Especialmente nos casos de lesão macroscópica ou sugestiva de invasão,
probabilidade de fragmentação do espécime e pela presença de artefatos pela maior possibilidade de fragmentação e necrose, deverá ser garantido
térmicos que podem dificultar a avaliação da profundidade de invasão e do que a amostra contenha epitélio escamoso e estroma subjacente.
envolvimento de espaços linfovasculares.
Nos casos de carcinoma microinvasor IA1 detectado em peça de
No estádio IA1, a histerectomia extrafacial é considerada o procedimento procedimento excisional com margens livres sem comprometimento do
padrão, mas já existem evidências de que mulheres conizadas ou espaço linfovascular, a mulher com prole incompleta poderá ser considerada
histerectomizadas não têm diferenças de sobrevida. Assim, se há desejo de tratada. Nessas mulheres, se as margens estiverem comprometidas por NIC
manter a fertilidade ou nos casos em que o procedimento cirúrgico é II/III, devem ser submetidas a um novo procedimento excisional conforme
contraindicado, a conização pode ser um tratamento suficiente: se as o tipo de ZT.
margens cirúrgicas se mostrarem negativas para invasão ou NIC II/III, a
mulher poderá ser considerada tratada desde que assegurado um seguimento A mulher com diagnóstico de carcinoma microinvasor deverá ser
rigoroso. encaminhada para unidade terciária (alta complexidade) numa das seguintes
situações: tenha prole completa, impossibilidade de seguimento, apresente
O envolvimento do espaço linfovascular e o comprometimento das margens comprometimento do espaço linfovascular na peça do cone ou com
da peça do cone são fatores prognósticos para a recorrência e definem a estadiamento IA2 ou mais avançado ou, ainda, na presença de indícios
necessidade de nova conduta. Estudos recomendam que a histerectomia clínicos de invasão, sem a possibilidade de biópsia ou conização para
radical modificada e a linfadenectomia pélvica estarão indicadas nos casos confirmação histopatológica.
em que há invasão do espaço linfovascular. E nos casos de margens
comprometidas, defendem a realização de uma nova conização. Caso o resultado do exame de um espécime resultante de EZT ou conização
exclua invasão, a paciente deverá ser seguida conforme o diagnóstico
Já no estadiamento IA2, existe consenso de que a histerectomia radical obtido.
modificada com linfadenectomia pélvica (classe II de Piver) é o tratamento
mais adequado, pois as metástases para linfonodos, nesses casos, acontecem ADENOCARCINOMA IN SITU (AIS) E INVASOR
em torno de 8%. Segundo estudos, nesses casos, quando existe desejo de
Cerca de 48 a 69% das mulheres com laudo citopatológico sugestivo de
engravidar, a traquelectomia radical com linfadenectomia pélvica pode ser
adenocarcinoma in situ apresentam confirmação da lesão no exame de
uma opção cirúrgica para preservação da fertilidade.
histopatologia e, dessas, 38% apresentam laudo de invasão.
COLPOSCOPIA
Recomendações: mulheres com exame citopatológico sugestivo de
adenocarcinoma in situ ou invasor devem ser encaminhadas para
COLPOSCOPIA + BIÓPSIA
colposcopia na atenção secundária.
VIDEO_05_GIN5
Perguntas práticas:
Estas pacientes terão indicação de excisão tipo 3, exceto se, à colposcopia,
forem observados achados sugestivos de invasão. Nesta situação, a biópsia
deve ser realizada. Caso o diagnóstico histopatológico confirme esta EM QUE CONSISTE A COLPOSCOPIA?
suspeita, encaminhar para atenção terciária (alta complexidade). Caso a Consiste na visualização do colo uterino através do colposcópio, após a
biópsia seja negativa ou tenha outro diagnóstico que não de doença aplicação de ácido acético a 5% (entre 3 e 5% de acordo com o Manual do
invasiva, a indicação de conização do colo uterino deve ser mantida. A Ministério da Saúde) e lugol.
escolha da técnica de excisão deve considerar a necessidade de fornecer um
espécime único e com margens adequadas para avaliação. QUAIS SÃO AS INDICAÇÕES DA COLPOSCOPIA?
Resultado citológico de LIEAG.
É recomendável a avaliação endometrial em pacientes com 35 anos ou mais. Duas citologias consecutivas com resultado citológico de ASC-US.
Abaixo dessa idade, a investigação endometrial deverá ser realizada se Duas citologias consecutivas com resultado citológico de LIEBG.
presente sangramento uterino anormal ou condições sugestivas de Resultado citológico ASC-H.
anovulação crônica. Resultado citológico de AGC (antigo AGUS) → o canal cervical tem que
ser obrigatoriamente avaliado!
O resultado de AIS no espécime de excisão indica a histerectomia simples, Colposcopia insatisfatória (JEC não visualizada) → o canal cervical tem
exceto nas pacientes com prole incompleta, para as quais a conização que ser obrigatoriamente avaliado!
poderá ser considerada suficiente. Na eventualidade de margens Pacientes imunossuprimidas (HIV positivas, usuárias crônicas de
comprometidas no espécime cirúrgico e mulher com prole completa, uma corticoides) com lesões intraepiteliais de baixo grau na citologia.
nova excisão deverá ser realizada, sempre que possível, para excluir doença Alteração à inspeção visual do colo uterino à especuloscopia ou à
invasiva. No diagnóstico de câncer, a mulher deve ser encaminhada para colposcopia com ácido acético e lugol → visualização de um colo uterino
unidade terciária. de aspecto sugestivo de malignidade é uma indicação de encaminhamento
direto à colposcopia com biópsia, mesmo na vigência de um estudo
citopatológico negativo para malignidade, pois a coleta pode ter sido
realizada em área necrótica que justificaria um resultado falso-negativo.
QUAL É A UTILIDADE DA COLPOSCOPIA? QUANDO O TESTE DE SCHILLER É POSITIVO?
Os achados colposcópicos normais são o epitélio escamoso original, o O teste de Schiller é positivo quando o iodo é negativo.
epitélio colunar e a zona de transformação. As variações de espessura,
contorno, relevo, cor do epitélio e alterações vasculares constituem os
elementos de avaliação colposcópica que as definem como alterações SIGNIFICADO DO TESTE DE SCHILLER POSITIVO
maiores e menores. O método permite a identificação da área acometida, Um teste positivo não significa necessariamente a presença de lesão
sua extensão, orienta o local da biópsia e contribui para planejar o suspeita. O fator determinante é saber que tipo de imagem colposcópica
tratamento adequado. Além disso, é eficaz no diagnóstico das lesões está presente na área não corada.
precursoras e nas fases mais incipientes do câncer invasor.
Achados colposcó‐ Epitélio acetobranco denso. Em várias situações nas recomendações anteriores há a indicação de
picos sugestivos de investigação da endocérvice, o que pode mudar a conduta, indicando uma
câncer invasor Pontilhado e mosaico amplos e conização ou seguimento. Considerando as evidências extraídas dos ensaios
irregulares. clínicos encontrados que compararam o desempenho da curetagem
Área espessa do epitélio que se do escovado endocervical para exame citopatológico por menor
torna esbranquiçada após aplicação probabilidade de material inadequado para exame. O escovado endocervical
Epitélio acetobranco deve ser realizado de forma cuidadosa, introduzindo todas as cerdas da
de ácido acético, re etindo
imaturidade celular. escova e rodando por três a cinco giros por toda a extensão do canal. Na
solicitação do exame, deve ser enfatizada a indicação orientando o
Pontos vermelhos nos ou citopatologista para a suspeita diagnóstica e justificando a possível ausência
grosseiros, frequentemente de epitélio escamoso.
Pontilhado vascular encontrados em áreas
acetobrancas, correspondentes às
MEDIDAS PARA AVALIAR A VISÃO DA JUNÇÃO
extremidades de vasos capilares. ESCAMOCOLUNAR (JEC)
As lesões intraepiteliais cervicais são, na maioria das vezes, visíveis à No Brasil se observa certa confusão entre os termos CAF e conização. O
colposcopia em toda sua extensão, especialmente em pacientes jovens. A termo CAF (Cirurgia de Alta Frequência), introduzido no final dos anos
proporção de lesões localizadas no canal endocervical aumenta com a idade, 1980, serviu para popularizar o método de excisão da ZT com Junção
uma vez que a JEC e a ZT movem-se em direção ao interior do canal no Escamocolunar (JEC) visível e até o primeiro centímetro do canal. Esse
climatério. termo foi utilizado em material para orientação profissional preparado pela
Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia
A ZT tem sido reconhecida como a região preferencial para as lesões pré- (ABPTGIC) e mantido nas diretrizes brasileiras de 2006. Todavia, o termo
invasivas do colo uterino. Dessa maneira é de suma importância ver a JEC CAF passou a ser utilizado indistintamente para biópsias e, com a
em toda a sua circunferência. disseminação de técnicas de conização por eletrocirurgia, tornou-se muito
difícil saber qual o procedimento realizado quando havia relato de uma
mulher ter sido submetida a uma CAF. Para disciplinar o uso desses termos,
A frequência de colposcopias em que a JEC não é completamente visível
o Ministério da Saúde definiu, em 2010, que o tratamento excisional
varia de 4 a 53% dos exames, sendo influenciada pela experiência do
ambulatorial deveria ser chamado de Exérese da Zona de Transformação
colposcopista, idade da paciente e a idade de instalação da menopausa. A
(EZT). Qualquer outra abordagem que tenha por objetivo retirar a ZT
dificuldade na visão completa da JEC em pacientes com anormalidades
endocervical era denominada conização, independentemente do método
citológicas leva em algumas situações à conização diagnóstica. No entanto,
utilizado para sua realização (por eletrocirurgia, por laser ou bisturi
a possibilidade de examinar o canal endocervical e se ver a JEC nestas
situações poderia evitar esse procedimento, ou adaptar a profundidade do convencional).
Algumas manobras durante o exame colposcópico podem expor a JEC e incompleta, suposta a partir da verificação de margens cirúrgicas
lesões endocervicais, tais como maior abertura do espéculo ou pressão por comprometidas por doença pré-invasiva, é o fator prognóstico mais
meio de pinça na transição entre colo e vagina, entre outras. relevante para doença residual ou recorrente, o que levou Prendiville a
propor um tipo de excisão para cada tipo de zona de transformação, em uma
tentativa de diferenciar os procedimentos excisionais e assegurar a excisão
Recomendações: nas situações em que for necessária a avaliação do
completa da zona de transformação. Posteriormente, a nova nomenclatura
canal endocervical antes de indicar uma conização, é preferível a utilização
colposcópica internacional, adotada nessa versão das Diretrizes, mencionou
do escovado endocervical para exame citopatológico por menor
três tipos de excisão: 1, 2 e 3, definidas conforme o tipo de zona de
probabilidade de material inadequado para exame. O escovado endocervical
transformação.
deve ser realizado de forma cuidadosa, introduzindo todas as cerdas da
escova e rodando por três a cinco giros por toda a extensão do canal. Na
solicitação do exame, deve ser enfatizada a indicação orientando o EXCISÃO TIPO 1
citopatologista para a suspeita diagnóstica e justificando a possível ausência
A EZT, procedimento destinado a tratar a doença ectocervical ou que não se
de epitélio escamoso.
estende mais de 1 cm no canal endocervical, o que define a ZT do tipo 1
(Figura 11), é classificada por Prendiville como excisão do tipo 1.
Nos serviços com boa experiência em obter material de curetagem
endocervical com pequena proporção de espécimes inadequados, este
procedimento poderá ser uma alternativa, embora produza mais desconforto
na paciente. Nessa opção, todo o material obtido deve ser depositado no
formol, sem qualquer procedimento com o objetivo de separar o material
tecidual de coágulos. A curetagem endocervical deve ser evitada em
gestantes.
TIPOS DE EXCISÃO
EXCISÃO TIPO 2
Para tratar a doença que ocupa uma ZT do tipo 2 (Figura 11), é necessário
retirar maior porção do canal endocervical, o suficiente para ultrapassar a
JEC, o que usualmente será obtido com excisão de profundidade entre 1,5 e
2,0 cm, sendo então denominada excisão do tipo 2.
EXCISÃO TIPO 3
Quanto às ZT do tipo 3 (Figura 11), é necessária maior profundidade de O tripé citologia-colposcopia-histologia (Figura 12) é que vai definir a
excisão. Segundo alguns autores, a quase totalidade das NIC III situa-se até localização das lesões, seu grau histológico, sua extensão em profundidade
o segundo centímetro do canal, incluindo as glandulares. Essa observação e sua ocupação glandular. A conduta terapêutica depende totalmente dos
foi reforçada por outro estudo, que observou que em 99% dos casos essas resultados desta avaliação. Os métodos que permitem o estudo
lesões situam-se no primeiro centímetro do canal. histopatológico são preferidos.
saiba mais
EXCISÃO TIPO 3
● Os limites da lesão não podem ser visíveis por colposcopia; CÂNCER DE COLO UTERINO
● Os achados histológicos da curetagem endocervical são positivos para Para confirmação diagnóstica: histologia (biópsia).
NIC II ou NIC III;
● Não há correlação entre os resultados de citologia, biópsia e
colposcopia; CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA
● Há suspeita de microinvasão com base nos resultados de biópsia,
É importante lembrar que o carcinoma epidermoide é o tipo
colposcopia ou citologia;
histológico mais frequente dos tumores epiteliais do colo uterino.
● O colposcopista é incapaz de excluir câncer invasivo. Responde por 80% dos casos.
É um procedimento diagnóstico, que passa a ser terapêutico nos casos de
carcinoma in situ. Cabe aqui salientar que o diagnóstico de carcinoma in O adenocarcinoma apresenta incidência crescente nos últimos anos. Estudos
situ do colo só é definitivo após realização da excisão tipo 3 com estudo recentes revelam que ele responde por 15% dos tumores de colo uterino,
histopatológico da peça cirúrgica, que é capaz de descartar a presença de seguido pelo carcinoma adenoescamoso 3 a 5%, e em porcentagem ainda
invasão. Ela exclui câncer invasivo com segurança, pois a quantidade de menor pelo carcinoma neuroendócrino ou pequenas células.
tecido retirada é muito maior do que na biópsia.
Assim, nos casos em que houve confirmação histopatológica de A Tabela 9 apresenta os principais tipos histológicos do câncer de colo
carcinoma in situ, a excisão tipo 3 foi também terapêutica. uterino.
O material para este estudo pode ser obtido por meio de biópsia incisional
dirigida, biópsia em cone, curetagem endocervical ou biópsia excisional
através de cirurgia de alta frequência. Imediatamente após sua exérese, as
amostras devem ser submersas em solução fixadora (formol a 10%).
queratinizantes;
Contudo, no final de 2018, a revisão do estadiamento pelo Comitê de
» Pequenas células;
Oncologia Ginecológica da FIGO, passou a permitir que exames de imagem
» Carcinoma verrucoso. e de patologia estejam designados a definir estadiamento (Tabela 10), quan‐
do disponíveis, lembrando que se deve respeitar o tamanho e a extensão do
●
Adenocarcinoma: tumor em todos os estádios. Outro ponto reforçado foi o de que a
ressonância magnética é o melhor método de avaliação radiológica dos
» Padrão comum;
Tumores epiteliais tumores primários maiores que 10 mm.
» Adenoma maligno;
●
Carcinoma adenoes‐ Pielogra a intravenosa.
camoso.
Enema baritado.
Exames radiológicos
●
Sarcoma estromal Radiogra a do tórax.
endocervical.
Radiogra a óssea.
●
Carcinossarcoma.
Tumores mesenquimais ●
Adenossarcoma. Biópsia.
●
Leiomiossarcoma. Conização.
●
Rabdomiossarcoma Histeroscopia.
embrionário.
Colposcopia.
Procedimentos
Tumor do ducto de Gartner _
Curetagem endocervical.
●
Tumores metastáticos. Cistoscopia.
●
Linfomas.
Outros Proctoscopia.
●
Melanomas.
Laparoscopia.
●
Carcinoides.
Tomogra a axial
computadorizada.
ESTADIAMENTO Linfangiogra a.
VIDEO_06_GIN5
Ultrassonogra a.
Cintigra a com
PROCEDIMENTOS DE ESTADIAMENTO radionuclídeos.
ESTADIAMENTO DA FIGO
Neste momento, vamos lembrá-lo de algo que já falamos: o
tripé citologia-colposcopiahistologia é que vai definir a
localização das lesões, seu grau histológico, sua extensão em
profundidade e sua ocupação glandular.
MÉTODOS FÍSICO-DESTRUTIVOS
nervosas lombossacras e também provocar dor lombar. álgicos e das sequelas de cicatrização, como as escleroses retráteis, que
muitas vezes são responsáveis pela estenose do orifício externo. Possui
●
Disseminação hematogênica: pouco comum e tardia (5% dos ainda o inconveniente de que a profundidade da destruição não pode ser
casos). Os órgãos mais acometidos são: fígado, pulmões, ossos, cavidade avaliada e pode não ser suficiente para destruir a lesão.
peritoneal, linfonodos supraclaviculares e cérebro.
EXÉRESES
TRATAMENTO Permitem a retirada da lesão com a possibilidade de estudo histopatológico.
Chegamos à reta final do capítulo...
Cirurgias de Alta Frequência (CAF) ou Excisão Eletrocirúrgica por É um procedimento diagnóstico, que passa a ser terapêutico nos casos de
Alça × Exérese da Zona de Transformação carcinoma in situ. Cabe aqui salientar que o diagnóstico de carcinoma in
No Brasil se observa certa confusão entre estes termos. situ do colo só é definitivo após realização da conização com estudo
histopatológico da peça cirúrgica, que é capaz de descartar a presença de
O termo CAF (Cirurgia de Alta Frequência), introduzido no final dos anos invasão. Exclui câncer invasivo com segurança, pois a quantidade de tecido
1980, serviu para popularizar o método de excisão da ZT com Junção retirada é muito maior do que na biópsia.
Escamocolunar (JEC) visível e até o primeiro centímetro do canal. Esse
termo foi utilizado em material para orientação profissional preparado pela Assim, nos casos em que houve confirmação histopatológica de carcinoma
ABPTGIC e mantido nas diretrizes brasileiras de 2006. Todavia, o termo in situ, a conização foi também terapêutica.
CAF passou a ser utilizado indistintamente para biópsias e, com a
disseminação de técnicas de conização por eletrocirurgia, tornou-se muito
SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO DE NIC II/III
difícil saber qual o procedimento realizado quando havia o relato de uma
mulher ter sido submetida a uma CAF. Várias evidências demonstram um pequeno risco de recorrência de lesões
pré-invasivas do colo do útero ou de carcinoma invasor, após tratamento
Para disciplinar o uso desses termos, o Ministério da Saúde definiu, em conservador de NIC II/III. Esse risco tende a diminuir com o passar dos
2010, que o tratamento excisional ambulatorial deveria ser chamado de anos, mas o risco de câncer é progressivo nessas mulheres e presente por
Exérese da Zona de Transformação (EZT). Qualquer outra abordagem que décadas. Essa discrepância sugere pobre adesão ao seguimento após
tenha por objetivo retirar a ZT endocervical era denominada conização, tratamento.
independentemente do método utilizado para sua realização (por
eletrocirurgia, por laser ou bisturi convencional). O principal fator de risco para doença residual ou recorrente tem sido o
relato de margens comprometidas no espécime resultante de tratamentos
A EZT, procedimento destinado a tratar a doença ectocervical ou que não se excisionais. Apesar do relato de margens comprometidas por NIC II/III
estende mais de 1 cm no canal endocervical, é classificada por Prendiville aumentar o risco de lesão residual ou recorrente, a maioria das mulheres
como excisão do tipo 1. nessa situação não terá lesão residual podendo, dessa forma, ser assumida
uma conduta conservadora, não havendo necessidade de novo tratamento na
grande maioria dos casos. Nos casos em que é detectada lesão residual, na
Para tratar a doença que ocupa uma ZT do tipo 2, é necessário retirar maior
maioria das vezes, o diagnóstico é feito nos dois primeiros anos de
porção do canal endocervical, o suficiente para ultrapassar a JEC, o que
usualmente será obtido com excisão de profundidade entre 1,5 e 2,0 cm, seguimento.
Quanto às ZT do tipo 3, é necessária maior profundidade de excisão. acima de 50 anos, grau de doença tratada, persistência de HPV oncogênico,
tabagismo, multiparidade, imunocomprometimento e existência de lesões
Segundo alguns autores, a quase totalidade das NIC III situa-se até o
fora da zona de transformação.
segundo centímetro do canal, incluindo as glandulares. Essa observação é
reforçada por outros autores que observaram que em 99% dos casos essas
lesões situam-se no primeiro centímetro do canal. Dessa forma, para excisar Os vários protocolos desenhados para o seguimento de pacientes tratadas
uma ZT do tipo 3, há uma recomendação para se retirar entre 2 e 2,5 cm de por NIC II/III parecem ser arbitrários, estando menos baseados no
canal, o que caracteriza uma excisão do tipo 3. desempenho diagnóstico de cada método do que no hábito do médico ou no
custo de cada um deles. Alguns autores afirmam que o seguimento dessas
Conização a Frio mulheres poderá ser realizado com a citologia, colposcopia ou com o teste
de DNA-HPV. Este teste tem demonstrado maior sensibilidade do que a
Equivale, atualmente, à excisão do tipo 3. Consiste na retirada de um
citologia no diagnóstico de lesão residual ou recorrente. Todavia, a citologia
tronco em forma de cone de colo uterino. Retira-se cirurgicamente grande
tem demonstrado valor preditivo negativo muito próximo daquele obtido
parte da ectocérvice e do canal cervical.
pelo teste de DNA-HPV. Isto significa que, quando um ou outro teste é
Ela é indicada para diagnóstico em mulheres com HSIL de acordo com o negativo, uma nova lesão é muito improvável. Um pequeno ensaio clínico
exame de Papanicolaou nas seguintes condições: comparando o desempenho diagnóstico da citologia ou combinação de
citologia e teste de DNA-HPV oncogênico no diagnóstico de lesões
●
Os limites da lesão não podem ser visíveis por colposcopia;
residuais ou recorrentes encontrou diferenças significativas apenas na
●
Não é observada JEC à colposcopia; especificidade, maior na estratégia combinada.
●
Os achados histológicos da curetagem endocervical são positivos para
NIC II ou NIC III; Uma revisão sistemática e metanálise que incluiu quinze estudos sobre o
uso do teste do HPV verificou que a taxa de doença residual e de
●
Não há correlação entre os resultados de citologia, biópsia e colposcopia;
recorrência em até dois anos após tratamento de lesão de alto grau variou de
●
Há suspeita de microinvasão com base nos resultados de biópsia, 4-18%, com média de 8%. Esse risco é maior nas mulheres acima de
colposcopia ou citologia; cinquenta anos, o que é consistente com a observação de que a persistência
●
O colposcopista é incapaz de excluir câncer invasivo. da infecção viral aumenta com a idade. Estudos de seguimento de longo
prazo indicam que as mulheres tratadas para NIC II/III estão sob maior risco
de desenvolverem câncer cervical subsequente em comparação com a
população geral, durante pelo menos dez anos e talvez até vinte anos após o
tratamento.
O acompanhamento ideal para detecção de doença residual ou recorrente No entanto, existem algumas situações nas quais a histerectomia ainda é
parece ser a citologia associada à colposcopia. Apesar do seguimento um método válido e apropriado (embora não obrigatório) de tratamento da
realizado apenas com o exame citopatológico determinar que um menor NIC: microinvasão; NIC III nos limites de amostra de conização em
número de mulheres seja encaminhado para a colposcopia, apontando para pacientes selecionadas; má adesão ao acompanhamento; outros
melhor relação custo-benefício, a conduta inicial com o exame colposcópico problemas ginecológicos que exigem histerectomia, como miomas,
pode aumentar a identificação da doença, reduzindo a taxa de falso- prolapso, endometriose e doença inflamatória pélvica.
negativos da citologia.
Um estudo brasileiro verificou que 74,75% das pacientes submetidas a TRATAMENTO DO CÂNCER DE COLO UTERINO
tratamento excisional para lesão de alto grau apresentaram teste negativo
para DNA-HPV seis meses após o procedimento. O tratamento do câncer de colo uterino assemelha-se ao de qualquer outro
tipo de malignidade, já que tanto a lesão primária quanto os possíveis locais
Recomendações: nos casos em que o exame histopatológico da peça de disseminação devem ser avaliados e tratados. As modalidades
cirúrgica mostrar margens livres de doença ou comprometidas por NIC I, a terapêuticas incluem tratamento primário com cirurgia, radioterapia,
mulher deverá ser submetida à citologia seis e doze meses após o quimioterapia ou quimiorradioterapia.
procedimento. A colposcopia poderá ser realizada a critério do serviço.
Após o primeiro ano, o seguimento deverá ser realizado com citologia anual
OPÇÕES DE TRATAMENTO
até completar cinco anos do tratamento na unidade básica de saúde.
ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO CIRÚRGICO
Nos casos em que o exame histopatológico da peça cirúrgica mostrar
EXCISÃO TIPO 3
qualquer uma das margens comprometidas por NIC II/III, o seguimento
deverá ser feito com exame citopatológico e colposcopia semestrais nos Era anteriormente denominada de conização. Já foi previamente descrita.
primeiros dois anos. Após os dois primeiros anos, o seguimento deverá ser
feito com a citologia anual até completar cinco anos do tratamento, na
O diagnóstico do estádio Ia é cirúrgico, ou seja, é necessária a excisão
unidade básica de saúde.
tipo 3 com limites livres.
A CONDUTA NAS NIC E SOBRE A HISTERECTOMIA PARA TRATAMENTO É um tratamento apropriado para pacientes com tumores em estágio Ia1 sem
DA NIC II E III invasão do espaço vascular linfático, que não desejam mais engravidar.
A taxa de regressão espontânea de NIC I comprovada por biópsia é de 60
a 85% em estudos prospectivos. Essa informação levou à recomendação TRAQUELECTOMIA RADICAL
de que pacientes com diagnósticos de biópsia de NIC I com colposcopia
satisfatória e que concordam com a avaliação a cada seis meses podem
ser observadas com a citologia aos seis e doze meses. Após dois
resultados negativos, pode ser reiniciado o rastreamento anual. Se as
lesões progredirem durante o acompanhamento ou persistirem após dois
anos, deve ser realizado tratamento ablativo (preferível) ou excisional.
Obs.: Piver II ou
histerectomia tipo II envolve
a remoção de parte dos
paramétrios e uterossacros,
terço superior da vagina,
linfadenectomia pélvica
sistemática e linfadenectomia
paraaórtica seletiva.
Consiste na histerectomia
com remoção de todo
paramétrio acompanhada da
dissecção dos linfonodos
pélvicos (ilíacos externos,
internos, comuns e
obturadores) juntamente com
Wertheim-Meigs ou retirada da maior parte dos
histerectomia radical ou ligamentos uterossacros e
histerectomia tipo III cardinais e do terço superior
da vagina.
EXENTERAÇÃO
●
Anterior: inclui a remoção da bexiga, vagina, colo e útero;
●
Posterior: inclui a remoção do reto, vagina, colo e útero;
●
Total: somatório da exenteração anterior e posterior.
RADIOTERAPIA PRIMÁRIA
QUIMIORRADIOTERAPIA CONCOMITANTE
Quanto mais indiferenciado, pior o prognóstico. Inexistem estudos que investiguem a melhor forma de seguir mulheres
tratadas conservadoramente para carcinoma microinvasor do colo uterino.
Diâmetro do Tumor
Está diretamente relacionado com o acometimento linfonodal. Quanto RECOMENDAÇÕES
maior o diâmetro, pior o prognóstico.
Mulheres tratadas conservadoramente para carcinoma microinvasor do colo
uterino devem ser acompanhadas como as mulheres tratadas para NIC II/III
Volume do Tumor
e maior risco de recorrência. Assim, o seguimento deverá ser feito com
É melhor parâmetro do que o estadiamento da FIGO para condução do caso. exame citopatológico e colposcopia semestrais nos primeiros dois anos.
Não é necessária a retirada de todo paramétrio nos tumores com menos de Após os dois primeiros anos, o seguimento deverá ser feito com a citologia
10 cm³. de forma isolada anualmente até cinco anos. Após esse período, assegurada
a inexistência de lesão residual, a mulher deverá retornar para o
Comprometimento do Tumor rastreamento citopatológico trienal na unidade básica de saúde. A história
de doença microinvasiva tratada conservadoramente deve ser informada no
Os tumores exofíticos têm melhor prognóstico do que os infiltrados ou
pedido do exame citopatológico.
ulcerados.
Infiltração Extensa do Colo Na evidência de lesão residual ou recorrente, a mulher deverá ser conduzida
da mesma forma quando da lesão inicial.
Quando a profundidade de invasão é menor do que 15 mm, a sobrevida em
cinco anos é de 90% e, quando maior que 15 mm, a sobrevida cai para 70%.
A invasão da serosa do colo piora muito o prognóstico. SEGUIMENTO APÓS TRATAMENTO DE CARCINOMA INVASOR DO
COLO UTERINO
Invasão do Corpo
PRIMEIRO ANO
A invasão do endométrio piora o prognóstico.
O seguimento preconizado inclui: Embora a indicação dos epitélios representados na amostra seja
informação obrigatória nos laudos citopatológicos, seu significado deixa de
●
Exame ginecológico de três em três meses no primeiro ano (para todos
pertencer à esfera de responsabilidade dos profissionais que realizam a
os estádios);
leitura do exame. As células glandulares podem ter origem em outros
●
Coleta de citopatológico e colposcopia do fundo de saco vaginal órgãos que não o colo do útero, o que nem sempre é identificável no exame
semestral. Em serviços que não lidem com a limitação de recursos, a citopatológico.
citologia pode ser dispensada, pois na ausência do colo a sensibilidade da
colposcopia é muito maior, a qual deverá ser realizada semestralmente;
●
Toque vaginal e retal; CONDUTAS DIVERGENTES DIANTE DO ACHADO
CITOLÓGICO DE LIE DE BAIXO GRAU
●
Ultrassonografia abdominal total e transvaginal aos seis e doze meses;
DIRETRIZES BRASILEIRAS PARA RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO
●
Radiografia de tórax aos doze meses (nos estádios III e IV);
DO ÚTERO (2016)
●
Hemograma na suspeita de anemia.
A informação consta em nosso texto.
●
As consultas devem ser semestrais. Este livro indica a colposcopia para a maioria dos casos de LIE de baixo
grau na citologia.
●
Todas as rotinas esmiuçadas acima devem ser mantidas.
[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre as Este livro preconiza a realização de nova colpocitologia em seis meses
doenças do colo uterino. Algumas delas já foram exploradas nas provas de diante das LIE de baixo grau (basta um exame alterado para indicar
residência médica. Por este motivo, nas provas de Ginecologia e Obstetrícia colposcopia). Convém lembrar que processos infecciosos ou atrofia genital
vale sempre a pena conferir as referências bibliográficas dos concursos que devem ser tratados previamente caso necessário.
você irá se submeter.
OBS.: caso o concurso não apresente referências bibliográficas, siga as recomendações do
Ministério da Saúde.
AMOSTRA SATISFATÓRIA PARA AVALIAÇÃO
● Células escamosas;
● Classe II: células atípicas sem evidência de malignidade.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
LESÕES PRECURSORAS A HE é definida como alterações morfológicas da mucosa endometrial, em
FATORES PREDISPONENTES
Diferente de outros cânceres, para os quais não há grande
diferença na magnitude entre as taxas de incidência e A maior parte das HE/CE se desenvolvem, presumivelmente, a partir da
mortalidade, a taxa de mortalidade do CE é substancialmente estimulação crônica do endométrio por estrógenos, sem
mais baixa do que a taxa da incidência. Sua sobrevida global em oposição da progesterona em decorrência de alguma condição clínica
cinco anos fica em torno de 80%. relacionada à exposição ou ao metabolismo estrogênico (Tabela 1).
pontos principais
Para fins didáticos, dividiremos a apresentação do quadro clínico em
sintomas e sinais.
SINTOMAS
PÓS-MENOPAUSA
Convém salientar que não é só a hiperestimulação crônica por estrógenos A perda sanguínea na pós-menopausa é o sintoma mais comum do câncer
que se associa às HE. Estudos sugerem que a imunossupressão é um de endométrio. No entanto, apenas 10% das pacientes com sangramento na
fator de risco importante, uma vez que mulheres transplantadas renais com pós-menopausa têm esta malignidade.
sangramento uterino anormal apresentam aumento de 100% (34% na
população imunocompetente versus 69% nas transplantadas) no risco de HEMATOMÉTRIO (COLEÇÃO SANGUÍNEA NO INTERIOR DO ÚTERO) OU
desenvolver HE. PIOMÉTRIO (COLEÇÃO DE PUS NO INTERIOR DO ÚTERO)
APRESENTAÇÃO CLÍNICA Esses sintomas podem decorrer do aumento uterino produzido por
hematométrio ou disseminação extrauterina da doença.
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL
PRÉ-MENOPAUSA
Clinicamente, a maioria das mulheres com HE se apresentará com
sangramento uterino anormal. As HE são responsáveis por Em geral, manifesta-se com um sangramento uterino anormal, que costuma
aproximadamente 5% de todos os casos de sangramento na pós- se caracterizar como intervalos irregulares com duração prolongada e fluxo
menopausa. excessivo ou intervalos irregulares, de duração variável e fluxo escasso, ou
sangramento cíclico que persiste após idade habitual da menopausa.
maioria das pacientes manifesta episódios de sangramento uterino Na ausência de sintomas, o câncer de endométrio é normalmente detectado
anormal na peri ou na pós-menopausa, quando o tumor ainda está pela investigação de resultados anormais na colpocitologia, avaliação de
limitado ao útero. Aproximadamente 75% dos casos de câncer de achado anormal à ultrassonografia transvaginal ou tomografia
endométrio são detectados no estádio I da doença. Neste contexto, o computadorizada (realizada na investigação de outras afecções) e, por fim,
emprego de um método diagnóstico apropriado e preciso, como a biópsia descoberta de câncer em útero removido por outras indicações.
endometrial dirigida por histeroscopia, permite um diagnóstico precoce,
tratamento adequado e altas taxas de cura.
EXAME FÍSICO
Os sangramentos na perimenopausa e pós-menopausa devem ser sempre Raramente evidencia qualquer alteração sugestiva de câncer de endométrio,
valorizados e impõem investigação apropriada, mesmo que sejam pouco exceto nos casos avançados. A obesidade e a hipertensão arterial são fatores
expressivos ou transitórios. constitucionais geralmente associados. A atenção deve estar direcionada
para os locais comuns de metástases. Inclui as seguintes particularidades:
Menos de 5% das mulheres com câncer de endométrio são assintomáticas.
Neste caso, o câncer de endométrio pode ser suspeitado pela demonstração EXAME ABDOMINAL
da espessura endometrial em exames ultrassonográficos de rotina, ou mais
Geralmente, não apresenta alterações significativas. Mas, em casos
raramente pela presença de Atipias Glandulares de Significado avançados, pode revelar a presença de ascite, metástases palpáveis hepáticas
indeterminado (AGC, antigamente chamada de AGUS) na colpocitologia. ou omentais.
Convém salientar que a avaliação de linfonodos periféricos é recomendável.
EXAME GINECOLÓGICO
O introito vaginal, a área suburetral, toda a vagina e colo uterino devem ser
cuidadosamente inspecionados. Geralmente, os tumores invasivos do colo,
vagina e vulva são evidentes ao exame. O exame é geralmente normal em
tumores pequenos.
FIG. 2
VIDEO_09_GIN5
Inclui também o toque retal (Figura 2), que permite a avaliação da
disseminação do tumor através da identificação de endurecimentos no
COLPOCITOLOGIA
paramétrio e nodularidades em fundo de saco vaginal.
ACHADOS ECOGRÁFICOS
IMPORTANTE
OBSERVAÇÕES:
saiba mais
RECOMENDAÇÕES DO MANUAL DE ATENÇÃO À MULHER NO
CLIMATÉRIO/MENOPAUSA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
DOPPLERFLUXOMETRIA
HISTEROSSONOGRAFIA
PRÉ-MENOPAUSA
●
Obesidade extrema.
●
Anovulação crônica.
●
Sangramento anormal.
PÓS-MENOPAUSA
●
Obesidade extrema.
FIG. 7
●
Hematométrio.
●
Piométrio.
●
Presença de células endometriais na citologia vaginal
(mesmo que de aspecto benigno).
CURETAGEM UTERINA FRACIONADA
●
Eco endometrial superior a 4 ou 5 mm na presença de
sangramento (USGTV). É o método de escolha na ausência de histeroscopia. É também realizada
sem prévio conhecimento da localização da lesão. É um método às cegas, de
●
Sangramento persistente, mesmo se eco endometrial < 4
valor limitado nas doenças focais, tanto benignas (pólipos e miomas) quanto
ou 5 mm.
malignas, localizadas no fundo uterino e/ou cornos tubários.
●
Qualquer sangramento na pós-menopausa (segundo alguns
autores).
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
●
Pólipos endometriais ou cervicais – 10%;
●
Hiperplasia endometrial – 5%; EPIDEMIOLOGIA
●
Outras causas (ex.: câncer de colo, sarcoma uterino, trauma) – 10%. Há poucos dados epidemiológicos que permitem saber com exatidão a
prevalência de HE, com estimativas em torno de 200.000 casos por ano em
As neoplasias endometriais, cervicais e ovaria-nas devem ser sempre países desenvolvidos.
descartadas na presença de sangramento uterino na pós-menopausa.
FISIOPATOLOGIA
Convém salientar que a causa mais provável de um sangramento na
A HE resulta de um estímulo estrogênico persistente, endógeno ou exógeno,
pós-menopausa é a atrofia endometrial. No entanto, é imprescindível
em um endométrio proliferativo, não necessariamente excessivo, porém não
descartar a possibilidade de câncer de endométrio.
antagonizado pela progesterona.
A Hiperplasia Endometrial (HE) corresponde a um espectro de Em 1994, a OMS propôs uma classificação da HE com base nas suas
alterações morfológicas e biológicas das glândulas e do estroma características histomorfológicas. Podem ser classificadas em simples ou
endometriais. Varia de um estado fisiológico exagerado ao complexa, com ou sem atipias. Optamos por apresentá-la, pois é ela
carcinoma in situ. que ainda consta na maioria dos livros didáticos de Ginecologia.
Atualmente, já se questiona se a fisiopatologia da neoplasia do Como as taxas de progressão para o carcinoma de endométrio foram
câncer passa por um processo contínuo de transformação, estabelecidas por apenas um estudo, com número relativamente pequeno de
através de uma lesão precursora. Especula-se que existam duas casos e cujos resultados não foram estatisticamente significantes, a própria
entidades clínicas distintas: a hiperplasia endometrial e a OMS reconheceu a superioridade da classificação baseada na NIE, que será
neoplasia endometrial. As hiperplasias endometriais atípicas descrita adiante, e a ratificou.
seriam as precursoras da neoplasia de endométrio e referidas
como Neoplasia Intraepitelial do Endométrio (NIE). Já as
CLASSIFICAÇÃO SOB O PONTO DE VISTA ARQUITETURAL
hiperplasias endometriais típicas não estariam associadas ao
processo, sendo apenas chamadas de hiperplasia endometrial. HIPERPLASIA SIMPLES (Figura 8)
Ambas sofrem influência dos estrógenos e podem coexistir em
um mesmo endométrio.
São glândulas dilatadas ou císticas, com formatos redondos ou ligeiramente São células com grandes núcleos de tamanho e formato variáveis que
irregulares, sem aumento da razão glândula-estroma (com estroma perderam a polaridade, com presença de aumento das razões núcleo-
interposto proporcionalmente à população glandular), sem aglomeração citoplasma, nucléolos proeminentes e cromatina irregularmente condensada
glandular e nenhuma atipia citológica. A presença de câncer após com eliminação da paracromatina.
diagnóstico de hiperplasia simples sem atipias foi descrita em 1% dos casos
(Tabela 3).
HIPERPLASIA ATÍPICA
Típica complexa
3
(adenomatosa sem atipia)
Atípica simples 8
Atípica complexa 29
HIPERPLASIA COMPLEXA
São glândulas de arquitetura complexa (brotamento e invaginação), A hiperplasia simples atípica evolui para o câncer em cerca de 8% dos
aglomeradas com menos estroma interposto (aumento da relação casos. Já a hiperplasia complexa atípica evolui para câncer em
glândula/estroma), sem atipias (Figura 9). A presença de câncer após aproximadamente 29% dos casos (Tabela 3).
diagnóstico de hiperplasia complexa sem atipias foi descrita em 3% dos
casos (Tabela 3).
TAB. 3: CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DAS HIPERPLASIAS
ENDOMETRIAIS.
Para seu diagnóstico, todos os seguintes critérios devem ser encontrados:
TIPO DE HIPERPLASIA PROGRESSÃO PARA O
CÂNCER (%) ●
Proporção das glândulas endometriais excede o estroma;
●
A área problema mostra padrão citológico que difere da mucosa
Típica simples 1
endometrial de fundo, conceituando-se a atipia nuclear;
(cística sem atipia)
●
Dimensão linear máxima da lesão excede 1 mm;
Típica complexa 3 ●
Devem ser diferenciadas de condições benignas com critérios que se
(adenomatosa sem atipia) sobrepõem e excluído o câncer endometrial.
Atípica simples 8 Dados clínicos publicados sugerem que 40% das mulheres com NIE
desenvolverão câncer de endométrio em um período de 12 meses, enquanto
Atípica complexa 29
aquelas que não desenvolverem câncer de endométrio em 12 meses tem
Fonte: Berek & Novak’s Gynecology (2012). probabilidade aumentada em 45 vezes de desenvolver câncer em algum
Observações: momento.
1. O risco de a hiperplasia evoluir para carcinoma está relacionado à
presença e à intensidade da atipia citológica;
Embora, ainda não conste na maioria dos livros didáticos, a classificação
2. Dica: se a hiperplasia é a típica, é p orque ela é diferente do normal,
“esquisita”. Então, maior será o risco de evoluir para carcinoma de NIE tem excelente associação com progressão da HE e evolução para
endométrio!
câncer de endométrio. Além disso, pode ser empregada para guiar as
condutas. Mais detalhes serão encontrados no tópico tratamento, mais
adiante.
CLASSIFICAÇÃO DA HIPERPLASIA ENDOMETRIAL DO
INTERNATIONAL ENDOMETRIAL COLLABORATIVE GROUP (2000)
TRATAMENTO DAS HIPERPLASIAS
Incontáveis dificuldades relacionadas à reprodutibilidade das avaliações ENDOMETRIAIS
patológicas da HE apontavam que uma nova classificação, mais objetiva,
seria necessária. CONDUTAS TERAPÊUTICAS NAS HIPERPLASIAS ENDOMETRIAIS
COM BASE NA CLASSIFICAÇÃO DA OMS
Na pós-menopausa
EMPREGO DE PROGESTOGÊNIOS
Baseia-se no emprego de progestogênio cíclico ou contínuo, oral ou Embora na prática clínica seja realizada histerectomia total
intramuscular, podendo ser utilizados o acetato de medroxiprogesterona ou acompanhada de anexectomia bilateral, todos os livros didáticos mais
acetato de megestrol. recentes da especialidade e o Manual de Atenção à Mulher no
Cimatério/Menopausa do Ministério da Saúde consideram apenas a
histerectomia total como medida terapêutica para as hiperplasias
Nova amostra endometrial (controle histológico) deve ser realizada em três
atípicas. Esta não é uma divergência na literatura!
a seis meses após o tratamento. É necessário aguardar três a quatro semanas
após o término da progestogênioterapia para realização da biópsia de
endométrio e, consequentemente, avaliação da resposta terapêutica.
HIPERPLASIA ATÍPICA
HIPERPLASIA ENDOMETRIAL BENIGNA OU HIPERPLASIA SEM
Nos casos de hiperplasias com atipias, o tratamento preferencial consiste na ATIPIAS (HSA)
histerectomia, porém o emprego de progestogênios pode ser aceitável em
As mulheres com HSA devem ser tratadas por meio da abordagem
condições específicas.
medicamentosa com progestogênios e com mudança/controle dos
fatores de risco. A progesterona se opõe ao efeito mitogênico do
Assim, na presença de atipias, duas condutas podem ser aventadas:
estrogênio, além de promover a diferenciação secretora. Convém salientar
tratamento clínico e cirúrgico.
que o tratamento com progestogênio oral ou SIU de
levonorgestrel deve ocorrer por pelo menos seis meses para
EMPREGO DE PROGESTOGÊNIOS ORAIS, INJETÁVEIS OU SIU LIBERADOR
regressão completa da lesão endometrial. Além disso, vale lembrar que a
DE LEVONORGESTREL
mulher em uso de terapia medicamentosa tem necessidade de reavaliação
Em mulheres que ainda desejam engravidar, o uso de SIU liberador de periódica com biópsias de endométrio. As mulheres com HSA com alto
levonorgestrel representa a primeira linha de tratamento, pois apresenta risco de recorrência, como aquelas com IMC ≥ 35 e as tratadas com
maiores taxas de regressão do que os progestogênios orais.
progestogênios por via oral, devem ser submetidas a biópsias de
endométrio a cada seis meses. Após duas biópsias de
Em relação a estes últimos, quando se opta por eles, o regime de tomada endométrio consecutivas negativas, o seguimento será com
não deve ser cíclico, pois é menos eficaz nas taxas de regressão. O uso de biópsia anual.
acetato de megestrol 200 mg ao dia, diariamente, pode ser uma
alternativa. Outra opção inclui acetato de medroxiprogesterona 10 a
Nas mulheres com HSA que não desejam preservar a fertilidade, a
20 mg ao dia, também de forma contínua.
histerectomia pode ser indicada nas seguintes situações:
HA/NIE
HISTERECTOMIA
Diante desse achado, é mandatória a exclusão de malignidade. A
É a terapia de escolha nas mulheres que não desejam mais
histerectomia total com ou sem salpingo-ooforectomia bilateral
engravidar ou com adesão insatisfatória à terapia e seguimento.
é uma opção segura tanto para exclusão de câncer quanto para o tratamento
da condição pré-maligna. A via cirúrgica pode ser laparoscópica ou
laparotômica ou, até mesmo, vaginal.
Se a paciente estiver em um centro cirúrgico com ginecologista oncológico
disponível e a congelação do útero no intraoperatório evidenciar CE, a
cirurgia de estadiamento cirúrgico pode ser realizada, desde que a paciente
tenha sido informada sobre essa possibilidade e tenha autorizado em termo
de consentimento. É importante salientar que a histerectomia com ou sem
salpingo-ooforectomia bilateral com coleta de lavado peritoneal,
aguardando-se o resultado histopatológico em parafina, também é uma
conduta aceitável.
EPIDEMIOLOGIA
Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do corpo do Desconsiderando as situações de uso clínico de estrógenos
útero ocupa a oitava posição mais frequente no país. Quanto à distribuição exógenos, como, por exemplo, tratamento de sintomas climatéricos e
geográfica, na Região Sudeste (7,45/100 mil), ocupa a sexta posição. Na uso de tamoxifeno para câncer de mama, a exposição prolongada a
Região Centro-Oeste (5,27/100 mil), ocupa a sétima posição; na Região estrógenos sem oposição de progesterona é mais comum em duas
Nordeste (5,10/100 mil), a oitava posição; na Região Norte (2,41/100 mil), circunstâncias:
a décima posição; e na Região Sul (6,53/100 mil), ocupa a décima primeira
posição. 1ª. Obesidade;
2ª. SOP.
Analisando a distribuição desse câncer nas regiões do globo, as taxas de
incidência e de mortalidade são maiores nas regiões mais desenvolvidas. As
maiores taxas de incidência de câncer do corpo do útero foram estimadas
A seguir, serão detalhados os fatores de risco mais importantes.
para a América do Norte e para o Norte da Europa Ocidental.
IDADE
FATORES DE RISCO
O pico de incidência manifesta-se entre a quinta e sexta décadas de
VIDEO_08_GIN5
vida. Aproximadamente 75% dos casos ocorrem em mulheres acima
Os principais fatores de risco (Tabelas 5 e 6) associam-se aos efeitos
proliferativos da exposição prolongada do estrogênio, dos 50 anos. A idade média das portadoras do câncer de endométrio é
principalmente quando contínua e sem oposição de 60 anos. Assim, pode-se traçar a seguinte analogia: “o câncer de
progestogênica. O estímulo hormonal acarreta alterações proliferativas endométrio é o câncer das avós, ao passo que o câncer de colo é o das
no tecido endometrial, que podem culminar em hiperplasia e precipitar a mães”.
transformação maligna.
RAÇA BRANCA
Nuliparidade
O câncer de endométrio é mais comum em mulheres abastadas. Supõe-se
Comparada com uma 2× que a alimentação rica em gorduras acarretaria maior ganho de
criança
3× peso e maior índice de estrogenicidade.
Comparada com cinco ou
mais crianças
ANTECEDENTES FAMILIARES
Menopausa tardia 2.4×
Apesar do impulso oncogênico genético do câncer de endométrio não ser
tão acentuado quanto nas mamas e ovários, parece existir uma certa
predisposição familiar.
HEREDITARIEDADE
Aproximadamente 10% dos casos de câncer de endométrio são Quanto à idade da menopausa, existem fontes que a consideram
hereditários. As alterações genéticas mais comumente envolvidas com tardia quando ela se manifesta após os 52 anos. Outras a definem
esta neoplasia são: mutações nos oncogenes K-ras e HER2-neu e nos como tardia quando ela ocorre após os 55 anos. O Manual do
supressores tumorais p53, p21, p16 e pTEN1. Alterações nos genes Ministério da Saúde considera como menopausa tardia, aquela
MMAC1, hMLH1 e hMSH6 têm sido relatadas. instalada após os 50 anos.
SÍNDROME DE LYNCH II
TERAPIA HORMONAL ESTROGÊNICA
Há tendência familiar entre os cânceres de cólon e endométrio.
A síndrome de Lynch II ou câncer de cólon não polipoide hereditário é uma A terapia hormonal estrogênica, sem progesterona, na menopausa
doença autossômica dominante. A predisposição é para o câncer aumenta em quatro a oito vezes o risco de câncer endometrial. Este
colorretal e para tumores ginecológicos, especialmente o carcinoma de risco aumenta com doses maiores e com o uso prolongado.
endométrio (principal, ocorrendo em 45% das mulheres da família
afetada) e de ovário. O problema está na mutação disfuncional de genes
USO DE TAMOXIFENO
que regulam o reparo do DNA, tal como o hMSH2 e o hMSH3, mutação
essa conhecida como instabilidade de microssatélites. Estes
É um agente antiestrogênico usado no tratamento adjuvante do câncer de
indivíduos desenvolvem câncer colorretal em uma idade precoce
mama, mas que possui efeito estrogênico no endométrio. O uso
(média 35-45 anos), quase sempre no cólon direito ou ceco e
contínuo por um a dois anos aumentou em 50% os casos de câncer
frequentemente sincrônicos (em dois pontos distintos do colorreto ao
de endométrio.
mesmo tempo) e metacrônicos (surgimento de um novo câncer em local
distinto do colorreto mais de seis meses após a ressecção do primeiro). A
chance de desenvolver a neoplasia chega a 70%. Uma característica TUMORES OVARIANOS PRODUTORES DE ESTRÓGENOS
marcante é o não desenvolvimento de pólipos típicos antes do
adenocarcinoma, que se desenvolve a partir de lesões planas (“pólipos Os tecomas, mais frequentemente que os tumores de células granulosas,
planos adenomatosos”). O risco se torna mais alto a partir dos 21 anos. A causam alterações hiperplásicas endometriais.
síndrome de câncer colorretal não polipoide hereditário aumenta em dez
vezes o risco de câncer de endométrio.
OBESIDADE (IMC > 30)
MENARCA PRECOCE, MENOPAUSA TARDIA E NULIPARIDADE O ganho recente de peso parece representar maior probabilidade de risco,
enquanto a distribuição da gordura corporal ainda não tem papel bem
Estes aspectos da vida reprodutiva relacionados com o definido na gênese do câncer de endométrio.
hiperestrogenismo aumentam o risco de câncer de endométrio.
Oncology), não foi confirmada a relação causal. A HAS é uma condição confere proteção contra o desenvolvimento do câncer
endometrial, em virtude de alguns efeitos da progesterona.
clínica frequentemente associada ao diabetes mellitus e à obesidade, e
provavelmente este é o fator de confundimento.
HIPOTIREOIDISMO
Fator protetor dos contraceptivos orais para o câncer de ovário
De forma análoga à HAS, o hipotireoidismo também foi associado ao
câncer de endométrio, mas também não foi confirmada a sua relação causal O uso de contraceptivos orais é um fator protetor à carcinogênese
com essa malignidade. ovariana, reduzindo os riscos em aproximadamente 50%. Ele é o único
modo de quimioprevenção documentado para tumores ovarianos.
Obs.: se exposição a estrógenos é fator de risco, a diminuição dos níveis de Constituem boas medidas preventivas.
estrógeno é fator de proteção. Lembre-se também de que a progesterona
antagoniza os efeitos dos estrógenos!
RASTREAMENTO
POPULAÇÃO GERAL
TUMORES DE CÉLULAS DA GRANULOSA DO TIPO ADULTO atrófico. Tende a acometer mulheres mais velhas, magras e na
pós-menopausa. Normalmente, é menos diferenciado e menos
Mulheres com tumores das células da granulosa do tipo adulto que não sensível aos progestogênios. Correlaciona-se com um pior
foram submetidas à histerectomia devem ser submetidas à biópsia de
prognóstico (tendência à invasão profunda do miométrio e alta frequência
endométrio. Se não houver evidência de doença, não há
de disseminação metastática para linfonodos pélvicos).
necessidade de realizar mais exames.
CLASSIFICAÇÕES DO CE
TAB. 9 CLASSIFICAÇÃO EM GRAUS HISTOLÓGICOS DO
CÂNCER DE ENDOMÉTRIO.
VIDEO_10_GIN5
Grau I (G1) – bem diferenciado: padrão de crescimento de
células indiferenciadas menor ou igual a 5%. Responde por
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS TIPOS PATOGÊNICOS
20% dos casos.
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS TIPOS HISTOLÓGICOS comportamento muito agressivo, frequentemente de padrão misto
com alto grau de invasão miometrial no momento do diagnóstico.
Os adenocarcinomas representam o tipo histológico mais comum. Está mais comumente associado com o tipo II do câncer de
endométrio.
A Tabela 10 expõe os subtipos de CE.
CARCINOMA ESCAMOSO
TAB. 10 SUBTIPOS DE CÂNCER DE ENDOMÉTRIO. São tumores raros que se caracterizam pela apresentação de epitélio
escamoso, frequentemente associados à estenose cervical e
TIPO NÚMERO (%) piométrio.
Endometrioide 84
INVESTIGAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
Adenoescamoso 4,2
AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA
Mucinoso 0,9
Após a confirmação diagnóstica de CE, o próximo passo é a avaliação da
Uterino seroso papilar 4,5
paciente para determinar a melhor e mais segura abordagem terapêutica
Além disso, o exame diagnóstico por imagem pode também ser útil na
●
Extensão direta: responsável pela invasão do miométrio e da cérvice;
EXAMES LABORATORIAIS
EXAMES ENDOSCÓPICOS
O procedimento cirúrgico padrão seria uma histerectomia total extrafascial
com salpingo-ooforectomia bilateral.
VIDEO_11_GIN5
O estadiamento do câncer de endométrio é cirúrgico desde 1988. Mas,
infelizmente, ainda não há um modelo clínico que se permita LINFADENECTOMIA PÉLVICA E PARAÓRTICA
definir qual é a extensão ideal desse estadiamento e nem para Embora recomendado pelo sistema de estadiamento, a linfadenectomia das
quais mulheres ele conferiria um benefício clínico efetivo. cadeias pélvicas e para-aórticas permanece controversa. A amostragem
seletiva é de valor duvidoso como um procedimento de rotina. A
Sabe-se que mesmo para pacientes com doença aparentemente em estádios linfadenectomia completa é reservada para casos com características de alto
iniciais, o estadiamento cirúrgico identifica doença avançada em cerca de risco. Vale lembrar que qualquer suspeita de invasão de linfonodos
20% dos casos. (radiológica ou por palpação) é indicação para sua remoção.
O tópico a seguir resume os procedimentos geralmente indicados no São indicações para Linfadenectomia Para-Aórtica (LPA):
estadiamento cirúrgico. ●
Linfonodos ilíacos externos ou comuns positivos;
●
Linfonodos aórticos suspeitos;
ETAPAS DO ESTADIAMENTO DO CE
●
Anexos grosseiramente positivos;
COLETA DE LÍQUIDO PERITONEAL PARA AVALIAÇÃO
●
Linfonodos pélvicos grosseiramente positivos;
CITOLÓGICA
●
Tumores de alto grau mostrando envolvimento miometrial profundo;
Na ausência de líquido peritoneal, deve-se proceder um lavado da cavidade
com 20-50 ml de solução salina. ●
Pacientes com tumores de células claras ou seroso papilífero.
Alguns autores advogam que ela só pode ser dispensada em tumores Tratamento medicamentoso e seguimento
menores que 2 cm.
Mulheres com o diagnóstico histopatológico supracitado que desejam
preservar a fertilidade devem ser encaminhadas para centros de
referência, para iniciar o tratamento medicamentoso e seguimento.
BIÓPSIA DOS LINFONODOS RETROPERITONEAIS, MESMO Entretanto, elas devem ser informadas da necessidade futura de
CLINICAMENTE NEGATIVOS realização de histerectomia como tratamento futuro.
Está indicada nas seguintes circunstâncias:
A terapia medicamentosa administrada é o acetato de
●
Histologia tumoral agressiva (seroso, epidermoide, células claras e medroxiprogesterona 400 ou 600 mg por dia, ou acetato de megestrol
adenocarcinoma endometrioide grau 3); 160 ou 320 mg por dia. O tratamento com SIU de levonorgestrel,
●
Invasão superior à metade do miométrio; associado ou não ao análogo do hormônio liberador de
gonadotrofinas (GnRH) também é uma opção.
●
Extensão istmocervical do tumor;
●
Tamanho tumoral maior do que 2 cm; Após seis meses do início da terapia medicamentosa, devem ser
realizadas USGTV, histeroscopia (preferencialmente) ou curetagem
●
Presença de doença extrauterina.
uterina.
O paradigma do tratamento para o CE é a remoção cirúrgica completa Convém assinalar que a preservação ovariana pode ser considerada
da doença. E o pilar terapêutico é a remoção do útero e dos dependendo da idade e de fatores de risco genéticos, a saber:
anexos. No entanto, a experiência acumulada aponta para a ampliação ● Pacientes com idade inferior a 45 anos com CE endometrioide,
da abordagem cirúrgica em diversas circunstâncias clínicas, o grau 1, sem comprometimento dos ovários ou presença de doença
que se convencionou denominar de estadiamento cirúrgico, detalhado extrauterina;
acima. ● Pacientes sem história familiar de risco para câncer de ovário,
como, por exemplo, mutações de BRCA, síndrome de Lynch, entre
outras.
A abordagem cirúrgica preferencialmente deve ser realizada por via
laparoscópica, embora não haja diferenças em termos de desfecho Nos casos selecionados para preservação ovariana, a salpingectomia
oncológico em relação à laparotomia. é recomendada.
LINFADENECTOMIA
A omentectomia não é mandatória no CE do tipo histológico
endometrioide G3. Técnica indicada
TRATAMENTO ADJUVANTE
A linfadenectomia está indicada.
No entanto, não fazer nenhum tratamento adjuvante também é uma opção, A terapia adjuvante sistêmica está sob investigação.
sobretudo para as pacientes com menos de 60 anos.
SE O ESTADIAMENTO CIRÚRGICO DOS LINFONODOS NÃO FOI REALIZADO
A associação de QT e RT externa tem mais evidências do que a CE estádio III com doença residual e CE estádio IVa.
aplicação dos tratamentos de forma isolada.
CIRURGIA
CE ESTÁDIO II
●
A cirurgia só é preconizada se a citorredução ótima puder ser obtida.
A terapia adjuvante varia conforme a abordagem cirúrgica, invasão
linfovascular ou grau tumoral.
●
Em casos selecionados, a cirurgia paliativa é recomendada para aliviar
sintomas específicos.
QUIMIOTERAPIA
Na literatura, existem mais evidências para administrar quimioterapia Para recorrência vaginal ou em linfonodos pélvicos, a quimioterapia com
e radioterapia combinadas do que para administrá-las de forma radioterapia pode ser considerada em pacientes com alto risco para
isolada. recorrência sistêmica.
FATORES PROGNÓSTICOS
CE NÃO ENDOMETRIOIDE DE ALTO RISCO
CA-125
Foi sugerido que o CA-125 pode ser empregado para monitorizar pacientes
SOBREVIDA
com doença avançada ou recorrente. Entretanto, estudos adicionais são
A sobrevida de cinco anos após o tratamento é de 76% no estádio I, 59% no necessários para confirmar este benefício.
estádio II, 29% no estádio III e 10% no estádio IV.
[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
SEGUIMENTO
A seguir, apresentaremos algumas das divergências encontradas sobre as
Após a cirurgia, com ou sem terapia adjuvante, pacientes com câncer de hiperplasias endometriais e o câncer de corpo uterino. Algumas delas já
endométrio devem entrar em um programa de vigilância de rotina. foram exploradas nas provas de residência médica. Por este motivo, nas
provas de Ginecologia e Obstetrícia vale sempre a pena conferir as
referências bibliográficas dos concursos que você irá se submeter.
PERIODICIDADE DA AVALIAÇÃO
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020) A conduta terapêutica foi descrita no texto, no tópico específico com base
na classificação do International Endometrial Collaborative Group.
Este livro informa que uma espessura do endométrio maior que 4 mm,
MANUAL DE ATENÇÃO À MULHER NO
uma massa endometrial polipoide ou uma coleção de líquido no
CLIMATÉRIO/MENOPAUSA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (2008)
útero exigem avaliação adicional.
Este livro cita que o risco de neoplasia endometrial é menor que 1% na Para as hiperplasias simples ou complexas sem atipias, recomenda o
presença de espessura endometrial abaixo de 5 mm. tratamento medicamentoso com progestogênio, com o objetivo de controlar
o sangramento anormal e prevenir a progressão para câncer.
ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
Em pacientes portadoras de hiperplasias com atipias, o tratamento de
Este livro cita que medidas menores ou iguais a 5 mm estão associadas escolha é a histerectomia. Alternativas a esse tratamento podem ser
oferecidas às pacientes que desejam gerar ou sem condições clínicas para a
a baixo risco para patologia endometrial, incluindo o carcinoma. Vários
cirurgia.
estudos mostram um valor preditivo negativo de 100% para o diagnóstico
de hiperplasia ou câncer endometrial com espessura total menor que 5 mm.
OBS. 1: perceba que todas as fontes bibliográficas anteriores consideram a histerectomia total como
tratamento padrão para as hiperplasias atípicas.
OBS. 2: esta não é uma divergência da literatura! Fique atento a possíveis recursos nas questões de Este livro informa que o procedimento cirúrgico deve abranger coleta de
residência médica.
líquido peritoneal para avaliação citológica, exploração do abdome e da
pelve ou excisão de qualquer lesão extrauterina sugestiva de câncer
metastático, histerectomia extrafascial e salpingo-ooforectomia bilateral.
EM RELAÇÃO À LINFADENECTOMIA
Linfonodos pélvicos e para-aórticos suspeitos devem ser removidos para
Ainda não existe consenso na literatura quanto à necessidade de exame patológico. Linfonodos retroperitoneais clinicamente negativos
linfadenectomia rotineira, sua extensão e tipos de linfonodos que devem ser devem ser biopsiados em todas as pacientes com um ou mais fatores de
retirados. risco:
●
Pacientes de alto risco (grau 3 com invasão miometrial > 50%) ou Tumor maior que 2 cm.
histologia do tipo seroso, células claras ou carcinossarcoma, a
linfadenectomia é recomendada. Doença extrauterina.
WILLIAMS GYNECOLOGY (2016) Este livro informa que o procedimento cirúrgico deve abranger coleta de
líquido peritoneal para avaliação citológica, exploração do abdome e da
Esse livro informa que o American College of Obstetricians and pelve ou excisão de qualquer lesão extrauterina sugestiva de câncer
Gynecologistis recomenda estadiamento cirúrgico completo com metastático, histerectomia extrafascial e salpingo-ooforectomia bilateral.
linfadenectomia pélvica e para-aórtica para todas as pacientes com câncer Ele recomenda a linfadenectomia pélvica e para-aórtica seletiva e biópsia
de endométrio. Mas, ao mesmo tempo, informa que o estadiamento das goteiras parietocólicas apenas para os tumores G2 ou G3, com
linfonodal em todos os casos de câncer de endométrio é controverso. Por infiltração de metade ou mais do miométrio, propagação para endocérvice
fim, conclui que, no mínimo, quaisquer linfonodos pélvicos ou para-aórticos ou anexos e tipo histológico de pior prognóstico (carcinoma
suspeitos devem ser retirados. adenoescamosos de células claras ou seroso papilífero).
A abordagem cirúrgica consiste de lavado peritoneal, da histerectomia total Este livro recomenda a linfadenectomia pélvica sistemática e para-aórtica
abdominal, extrafascial, salpingo-ooforectomia bilateral, linfadenectomia seletiva apenas nos estádios IA e IB de alto grau (G3) e IC. A
para-aórtica e pélvica seletiva e omentectomia. Realiza-se o inventário da linfadenectomia para-aórtica rotineira estaria indicada no estádio IIB em
cavidade abdominal e linfonodos retroperitoneais. Cirurgias mais extensas diante.
são recomendadas para os casos de tumores que invadem o colo do útero,
entretanto, é mais frequente o uso da combinação de histerectomia ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
extrafascial e radioterapia pélvica externa.
Este autor preconiza a linfadenectomia pélvica de forma sistemática, com
BEREK & NOVAK´S GYNECOLOGY (2020) exceção para os tumores G1 restritos ao endométrio, quando, segundo o
autor, a chance de metástase linfonodal é nula. A linfadenectomia para-
aórtica é realizada em casos seletivos.
FIGO
A FIGO recomenda biópsia de qualquer linfonodo intraperitoneal ou ROTINAS EM GINECOLOGIA (7ª EDIÇÃO, 2017)
retroperitoneal suspeito e amostragem de linfonodos retroperitoneais.
Entretanto, o tipo e extensão da dissecção linfonodal ainda não foram Este livro preconiza que a omentectomia é parte fundamental do
determinados. estadiamento cirúrgico, especialmente para tumores não endometrioides.
ACOG
EM RELAÇÃO À RADIOTERAPIA
A ACOG recomenda a linfadenectomia pélvica em todas as pacientes com
diagnóstico de câncer de endométrio. TRATADO DE GINECOLOGIA – FEBRASGO (2019)
A omentectomia também é motivo de controvérsia na literatura. MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª
EDIÇÃO, 2017)
MANUAL SOGIMIG DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (6ª OBS. 1: sugerimos que você memorize o tratamento adjuvan-te pós-operatório recomendado pelo
EDIÇÃO, 2017) Berek & Novak´s Gynecology (2020) disponibilizado em nosso capítulo.
NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR O termo Neoplasia Intraepitelial Vulvar (NIV) inclui todas as lesões pré-
malignas escamosas e não escamosas da vulva. A simplicidade deste termo
pontos principais apresenta a vantagem de identificar claramente as lesões com risco real de
progressão para o câncer. Por outro lado, afecções vulvares com diferenças
● Saber o que é neoplasia intraepitelial vulvar.
biológicas no potencial oncogênico e, por conseguinte, no manejo clínico,
● Conhecer as classificações da NIV. estão agrupadas em uma mesma nomenclatura.
● Reconhecer os fatores de risco para a ocorrência da NIV.
● Distinguir os principais diagnósticos diferenciais da NIV. CARCINOGÊNESE VULVAR
● Estabelecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem das
malignidades vulvares.
A NIV escamosa consiste na lesão precursora do câncer escamoso da vulva.
Fundamentadas na presença ou ausência do HPV duas vias com diferenças
epidemiológicas, clínicas, histológicas e moleculares têm sido admitidas
para explicar a carcinogênese vulvar. De um lado, existem os tumores HPV
positivos. Por outro lado, há os tumores que não estão associados à infecção
induzida por HPV e ao comportamento sexual. Portanto, identificam-se dois
tipos de câncer escamoso de vulva:
● Carcinoma escamoso queratinizado – tumores HPV
induzidos: acometem pacientes jovens e estão intrinsecamente
relacionados com atividade sexual, tabagismo e multicentricidade de
lesões;
● Carcinoma escamoso não queratinizado – tumores HPV não
induzidos: incidem em pacientes mais idosas, não estão associa
associados à infecção induzida por HPV, nem ao comportamento sexual.
Com frequência, estes tumores se associam às dermatoses vulvares,
como o líquen escleroso e o líquen plano, especialmente em áreas de
hiperplasia epitelial.
SUBDIVISÃO DA NIV 3 EM NIV DIFERENCIADA E NIV
INDIFERENCIADA
CLASSIFICAÇÕES
A NIV indiferenciada pode se apresentar como uma lesão levemente
Em linhas gerais, as classificações para as doenças da vulva têm o objetivo elevada, demarcada, uni ou multifocal, nas cores preta, branca, cinza,
de facilitar o diagnóstico, o estudo das doenças e, principalmente, permitir vermelha ou marrom, dependendo da raça, da idade e das
uma abordagem homogênea por parte de todos os especialistas da área. características da pele da paciente.
DIAGNÓSTICO
VIDEO_12_GIN5 COLPOSCOPIA
TESTE DE COLLINS
Os sintomas da NIV são inespecíficos.
Consiste na aplicação de azul de toluidina sobre a vulva com posterior
Aproximadamente 20% das pacientes são assintomáticas. A doença é, aplicação do ácido acético a 5%. Os locais em que ocorrer a fixação do azul,
então, descoberta no curso de um exame ginecológico rotineiro. serão os indicados para realização de biópsias. Pelo fato de poder apresentar
falso-positivos e/ou falso-negativos, o método está caindo em desuso. Áreas
O sintoma mais comum é o prurido, seguido de queimação, irregularidades impregnadas pelo azul de toluidina podem corresponder apenas a
ou mancha na superfície vulvar e dispareunia. escoriações (falso-positivo), enquanto áreas hiperqueratóticas, que não se
coram, podem conter NIV (falso-negativo).
EXAME FÍSICO
BIÓPSIA VULVAR
O exame mais importante no diagnóstico da NIV é inspeção vulvar. É o exame definitivo para o diagnóstico da NIV.
A NIV não apresenta uma aparência macroscopicamente uniforme. Pelo Como a aparência clínica da NIV é muito variável, é imperativo biopsiar
contrário, a lesão apresenta uma grande variedade de aspectos, considerando todas as lesões suspeitas, para que seja feito o diagnóstico precoce da lesão
o número, a localização, a extensão e a coloração. intraepitelial e, principalmente, da invasão inicial.
A biópsia pode ser única ou múltipla dependendo da extensão da doença e Outro aspecto importante, principalmente nas pacientes jovens, é a
de suas características. Pode-se utilizar um punch, bisturi a frio ou alça por conservação do clitóris, mesmo quando forem realizados procedimentos
cirurgia de alta frequência. maiores.
TRATAMENTOS TÓPICOS
TRATAMENTOS CIRÚRGICOS Como se trata de um tratamento tópico, está indicada a realização de mais
de uma biópsia para afastar invasão, principalmente em pacientes mais
Excisão Ampla da Lesão (Excisão Local ou Vulvectomia Parcial
idosas.
Super cial)
A excisão ampla com margem de segurança de pelo menos 1 cm é o É um modulador da imunidade mediada por células com a propriedade de
tratamento padrão da NIV. Essa abordagem oferece resultado estético aumentar os níveis locais de interferons e interleucinas.
satisfatório e a possibilidade de estudo histopatológico. A dimensão da
excisão cirúrgica dependerá da idade da paciente, do número, da extensão e
É uma boa alternativa terapêutica conservadora na NIV tipo usual,
da localização das lesões.
principalmente em pacientes jovens, com lesões pequenas e múltiplas, e de
localização de difícil abordagem cirúrgica, como os pequenos lábios e o
Em alguns casos, quando as lesões são muito extensas, a vulvectomia clitóris.
simples está indicada.
É aplicado em dias alternados, três vezes por semana, por até 16 semanas. O câncer de vulva representa 3 a 5% das neoplasias genitais femininas. Em
Existem relatos de boa tolerância e aderência ao tratamento. Também foram outras palavras, dessas neoplasias é o quarto mais prevalente.
descritos discretos efeitos colaterais locais (eritema, prurido e descamação
vulvar) decorrentes da própria ação do medicamento. Não foram relatados É uma doença típica de mulheres idosas, com pico de incidência na 7ª e 8ª
efeitos colaterais sistêmicos. década de vida. No entanto, nos últimos anos, houve um aumento de sua
incidência em virtude, provavelmente, de um aumento da expectativa de
vida da população feminina e do aumento da prevalência de infecção pelo
SEGUIMENTO HPV. Consequentemente, constatou-se uma incidência crescente em
mulheres mais jovens, ainda na fase reprodutiva.
Após a realização do tratamento específico e confirmação histopatológica, a
paciente deverá ser examinada semestralmente em busca de novas lesões
suspeitas de NIV, já que a recorrência de lesões intraepiteliais é fato
ESTRATÉGIA DIAGNÓSTICA
esperado. Entretanto, cabe aqui destacar que o intervalo para a recorrência
da doença é variável. O programa mais efetivo para reduzir a mortalidade do câncer de vulva é a
detecção precoce. É importante lembrar que o exame clínico periódico é
a etapa fundamental para este fim.
PROGNÓSTICO
Parece que alguns fatores estão envolvidos nas recorrências ou na Pode decorrer do próprio tumor ou de lesões distróficas associadas. Pelo
progressão, tais como presença do HPV, caráter multifocal e multicêntrico fato do prurido aparecer, pelo menos nas fases iniciais, como sintoma único
das lesões, grande variedade de modalidades terapêuticas, e ser queixa bastante comum, é muitas vezes pouco valorizado pela paciente
comprometimento de margens cirúrgicas e de anexos da pele. e pelo médico, que recorrem a tratamentos paliativos empíricos,
contribuindo para retardo no diagnóstico. Aliás, uma vez que a doença tem
Os estudos de biologia molecular demonstram que as alterações genéticas e grande incidência em mulheres idosas, não é raro que, por pudor, até
epigenéticas (modificações do genoma durante a divisão celular, que não queixas mais graves sejam menosprezadas e escondidas e, por conseguinte,
envolve uma mudança na sequência de DNA) que ocorrem durante o seja postergada a consulta médica e o diagnóstico.
processo de carcinogênese vulvar, associadas ou não à infecção induzida
por HPV, seriam pré-requisitos para o desenvolvimento do câncer de vulva. A dor, sintomas irritativos e urinários, como ardência e frequência, podem
A literatura, apesar de escassa, revela que mutação no gene p53 possui estar presentes mesmo em fases iniciais. Em estados mais avançados, há
íntima relação nos casos de recidiva e progressão da NIV. relato de massa tumoral, ulceração e sangramento.
CÂNCER DE VULVA
QUADRO CLÍNICO DO CÂNCER DE VULVA
● Imunossupressão crônica;
● Obesidade;
É importante salientar que lesões mais avançadas tornam-se evidentes e têm
● Diabetes;
aspecto característico verrucoso, exofítico, nodular ou ulcerado, que
● Hipertensão. facilitam o diagnóstico clínico.
ATENÇÃO
EXAMES COMPLEMENTARES
Concomitância com outras neoplasias malignas
VULVOSCOPIA
Um percentual importante de pacientes portadoras do câncer de vulva
são acometidas, simultaneamente, de neoplasias malignas em outras Consiste no exame colposcópico da vulva após aplicação de ácido acético a
localizações, genitais ou extragenitais. É frequente coincidir com 5%. É útil para evidenciar áreas suspeitas que devem ser submetidas à
neoplasias intraepiteliais ou invasoras do colo do útero. biópsia.
O diagnóstico clínico tem como passo primordial a inspeção, favorecida por TESTE DE COLLINS
ser a vulva a porção externa da genitália. Entretanto, apesar da facilidade
que a situação anatômica oferece, não é raro que essa etapa do exame seja Consiste na aplicação de azul de toluidina sobre a vulva com posterior
omitida ou pouco cuidadosa, fazendo com que muitas lesões passem aplicação do ácido acético a 5%. Os locais em que ocorrer a fixação do azul,
despercebidas ou sejam negligenciadas. Toda extensão da vulva, serão os indicados para realização de biópsias. Pelo fato de poder apresentar
particularmente dobras e sulcos, deve ser cuidadosamente inspecionada. As falso-positivos e/ou falso-negativos, o método está caindo em desuso.
lesões iniciais podem ser placas brancas, hiper ou hipotróficas, mais ou
menos abrangentes, causando retração do introito, porém sem característica
BIÓPSIA DE VULVA
específica. Alterações traumáticas por coçadura, ou infecções secundárias
concorrem para confundir o examinador. As lesões vulvares descobertas durante o exame físico devem ser biopsiadas
(no centro da lesão) para excluir neoplasia.
A palpação avalia a mobilidade, extensão a tecidos adjacentes e a
consistência das lesões, pelo geral, endurecidas, mas pode se apresentar, O diagnóstico definitivo é sempre histopatológico. As biópsias da vulva
também, como nódulos sólidos, císticos ou fibroelásticos. As regiões devem ser indicadas rotineiramente, mesmo quando se trata de lesões
inguinocrurais são, também, palpadas para avaliação de volume, aparentemente inocentes, desde que de longa evolução, geralmente
consistência e mobilidade dos linfonodos. O exame físico é finalizado com distróficas acompanhadas de prurido, que não regridam ou cicatrizem, ou
a realização do toque vaginal e do toque retal para avaliar infiltração de ainda, afastadas ou tratadas eventuais infecções ou dermatoses associadas.
tecidos adjacentes, como uretra, paredes vaginais e septo reto-vaginal.
Em lesões extensas, as biópsias devem ser múltiplas, orientadas pelo
Lesões escamosas
emprego do ácido acético a 5% e/ou do azul de toluidina, ou ainda, pela
palpação da região acometida, à procura de área mais endurecida. Só essa ● Neoplasias Intraepiteliais escamosas Vulvares (NIV)
prática permitirá presenciar lesões iniciais, intraepiteliais, que permitem » Diferenciada
tratamento mais conservador com melhor prognóstico.
» Indiferenciada
A biópsia, também, não pode ser dispensada em lesões clinicamente
● Carcinoma epidermoide
malignas, uma vez que só o estudo microscópico define o diagnóstico e
permite traçar a conduta. Além disso, é importante no diagnóstico » Típico
diferencial com as infecções granulomatosas, úlceras distróficas, cancro e
condilomas planos ou acuminados. » Basaloide
» Verrucoso
Lesões glandulares
● Doença de Paget
A Tabela 2 resume a classificação histológica dos tumores malignos da ● Leiomossarcoma (mais frequente)
vulva segundo a OMS.
● Fibro-histiocitoma maligno
● Angiossarcoma
● Melanoma
● Linfoma
IV – TUMORES SECUNDÁRIOS
É um subtipo do câncer de células escamosas. É neoplasia rara (menos de São tumores raros, e o tipo epitelioide é o mais comum. Devem ser
1% dos casos), e como o nome indica, tem padrão de crescimento exofítico lembrados por sua rápida recidiva após excisão cirúrgica.
verrucoso, com aspecto de couve-flor. O tumor é bem diferenciado, com
queratinização na superfície do epitélio e tem pouca tendência à invasão e
disseminação linfática. O tratamento recomendado é uma ampla incisão METASTÁTICOS
local.
Podem originar metástases vulvares, cânceres de colo, endométrio, ovário,
vagina, ânus, mama, rim e tireoide.
MELANOMA
Extensão Direta
O prognóstico depende do tamanho da lesão e da profundidade da invasão.
Envolve estruturas adjacentes como a vagina, uretra e ânus.
A radioterapia, como primeira escolha, deve ficar restrita aos casos sem
condições clínicas para abordagem cirúrgica.
VULVECTOMIA SIMPLES
VULVECTOMIA CUTÂNEA
VULVECTOMIA AMPLIADA
Algumas observações: Inclui a ressecção da região púbica, os sulcos genitofemorais e toda região
- O estadiamento supracitado não está disponível em todos os livros perineal até a margem anal.
didáticos;
- Como a maioria das fontes ainda faz menção ao estadiamento da VULVECTOMIA RADICAL
FIGO (2009), ainda o deixaremos disponível na seção de divergências
Consiste na vulvectomia ampliada com linfadenectomia inguinofemoral
na literatura.
bilateral.
1. O estadiamento da American Joint Committee on Cancer entrou em É a vulvectomia radical acrescida de linfadenectomia pélvica.
vigor em janeiro de 2018. Apesar disto, nenhum livro didático de
Ginecologia ainda o apresenta. Por esta razão, optamos por
ATENÇÃO
disponibilizar a versão encontrada em nossas fontes.
Em decorrência das consequências psicossexuais e da morbidade
1. O estadiamento do melanoma vulvar acompanha o estadiamento do
associadas às cirurgias radicais extensas, há tendência atual de
melanoma cutâneo.
conservar a vulva e individualizar o tratamento segundo a extensão da
lesão, sua localização, se uni ou multifocal, profundidade da invasão e
eventual comprometimento linfonodal.
As complicações precoces (após 48h, de acordo com alguns autores) são a
infecção da ferida operatória, a necrose e a deiscência da ferida operatória
CONDUTA TERAPÊUTICA CONFORME O ESTADIAMENTO (considerada por alguns autores como complicação imediata).
Para facilitar a memorização, apresentamos a conduta terapêutica de acordo As complicações tardias incluem o linfedema crônico (acomete 30% das
com o estadiamento. pacientes), as tromboses venosas, as distopias genitais, a incontinência
urinária de esforço (10% das pacientes) e as cicatrizes retráteis. A estenose
de introito vaginal pode causar dispareunia.
ESTÁDIO I
CIRURGIA
SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO
● Estádio IA (lesões com profundidade estromal < 1 mm):
excisão local radical sem linfadenectomia, já que a taxa de metástase No primeiro ano, as pacientes devem ser avaliadas a cada três meses.
linfonodal é < 1%.
● Estádio IB (lesões com profundidade estromal ≥ 1 mm): No segundo ano, a reavaliação deve ocorrer a cada quatro meses.
excisão local radical associada à linfadenectomia. Como o
comprometimento linfonodal é em torno de 8%, o uso da técnica de Do terceiro ao quinto ano, a avaliação deve ser semestral. Após cinco anos
linfonodo sentinela tem sido descrito como método preciso e seguro. de seguimento, a avaliação será anual.
A maioria das recorrências pode ser detecta-da pelo exame físico, mas a
RADIOTERAPIA (RT)
vulvoscopia pode ajudar no diagnóstico de lesões pré-invasoras.
A RT pode ser considerada uma alternativa nos casos de margens
comprometidas, entretanto, a ampliação das margens cirúrgicas deve ser
considerada. PROGNÓSTICO E SOBREVIDA
RADIOTERAPIA (RT)
[ DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA
A RT adjuvante pode ser considerada uma alternativa nos casos de margens
comprometidas ou exíguas, devendo ser considerada a ampliação das A seguir, apresentaremos uma divergência na literatura sobre o
margens cirúrgicas. Também pode ser indicada nos casos de invasão estadiamento do câncer de vulva. Nas provas de Ginecologia, vale sempre a
angiolinfática e invasão estromal > 5 mm. pena conferir as referências bibliográficas dos concursos que você se
submeterá. Fique atento!
ESTÁDIOS III E IV
O tratamento padrão é a realização de radioterapia associada à A recomendação para estadiamento inclui exame pélvico (ginecológico e
quimioterapia, por apresentar melhores resultados em termos de resposta retal) realizado por ginecologista especializado em oncologia, Ressonância
clínica e recidiva quando comparada à radioterapia isolada. Magnética (RM) ou Tomografia Computadorizada (TC) de abdome e pelve
e radiografia de tórax.
ESTÁDIO I – TUMOR CONFINADO À VULVA E/OU IIIb1 Duas metástases linfonodais menores que 5
PERÍNEO, SEM METÁSTASE LINFONODAL mm.
Ia Lesões com 2 cm ou menos de tamanho, IIIb1 Duas metástases linfonodais menores que 5
con nadas à vulva ou períneo e invasão menor mm.
ou igual a 1 mm, sem metástase linfonodal.
IIIb2 Três ou mais metástases linfonodais menores
Ib Lesão > 2 cm em tamanho ou com invasão que 5 mm.
estromal > 1 mm, con nada à vulva ou
IIIc Linfonodos acometidos com extensão
períneo, com linfonodos negativos.
extracapsular.
ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE VULVA (ATUALIZADO EM
ESTÁDIO IV – O TUMOR ESTENDE-SE ALÉM DA PELVE
2009 PELA FIGO) (CONTINUAÇÃO)
VERDADEIRA OU ENVOLVE A MUCOSA DA BEXIGA OU
DO RETO
ESTÁDIO II – TUMOR DE QUALQUER TAMANHO, COM
EXTENSÃO PARA ESTRUTURAS PERINEAIS ADJACENTES
IVa Tumor de qualquer tamanho com invasão da
(1/3 INFERIOR DA URETRA, 1/3 INFERIOR DA VAGINA,
uretra superior, mucosa da bexiga, mucosa
ÂNUS), SEM METÁSTASE LINFONODAL
retal ou osso pélvico e/ou metástase para o
ESTÁDIO III – TUMOR DE QUALQUER TAMANHO COM OU linfonodo regional bilateral.
SEM EXTENSÃO PARA AS ESTRUTURAS PERINEAIS
IVb Qualquer metástase à distância, incluindo
ADJACENTES (1/3 INFERIOR DA URETRA, 1/3 INFERIOR
linfonodos pélvicos.
DA VAGINA, ÂNUS), COM LINFONODOS INGUINOFEMO‐
RAIS ACOMETIDOS
Exposição ao dietilestilbestrol
A lesão geralmente se localiza, em ordem de frequência no terço
superior da vagina em 54 a 92% das vezes, 32% no terço inferior e 14%
A exposição ao dietilestilbestrol está associada ao adenocarcinoma de
no terço médio. Em 50% dos casos, a doença é multifocal.
células claras e não à NIVA ou ao câncer escamoso de vagina.
TAB. 1: CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DAS NIVA. Faz-se necessário avaliar ao colposcópio a superfície, as bordas e a
vascularização dessas lesões, e a realização de biópsia. O teste com iodo
NIVA I pode ser útil para delinear essas lesões.
Alterações histológicas con nadas ao terço inferior do epitélio. Nas pacientes após a menopausa pode-se indicar uso de estrogênio
tópico três a quatro semanas antes da realização da
NIVA II
colposcopia. Dez por cento das pacientes com NIVA têm NIV, logo a
Alterações histológicas acometem os dois terços inferiores do vulva deve também ser adequadamente examinada.
epitélio.
HISTÓRIA NATURAL
DIAGNÓSTICO
1. Avaliação geral: colposcopia adequada ou inadequada (especificar o NIVA II E NIVA III
motivo sangramento, inflamação, cicatriz, etc.);
Existem várias opções terapêuticas. A escolha do tratamento deve levar em
2. Achados colposcópicos normais: epitélio escamoso original:
consideração:
maduro ou estrófico;
●
Idade da paciente;
3. Achados colposcópicos anormais:
●
Quantidade e localização das lesões.
» Princípios gerais:
❯ Mosaico fino; Existem situações em que se pode optar pelo tratamento mais conservador,
como em pacientes jovens com lesão multifocal. Nesses casos, pode-se usar
❯ Pontilhado fino.
imiquimod a 5% guiado pelo colposcópio, por quatro a oito semanas. O
» Grau 2 (maior): imiquimod estimula resposta imune por induzir a secreção do interferon-α,
❯ Epitélio acetobranco denso; interleucina 12 e fator de necrose tumoral pelas células mononucleares.
❯ Mosaico grosseiro;
Evidências apontam que a colpectomia é eficaz em cerca de 80% dos
❯ Pontilhado grosseiro. casos das pacientes operadas por NIVA II e III. Esse procedimento levou ao
» Suspeita de invasão: diagnóstico de câncer de vagina oculto em 12% dessas mulheres.
❯ Vasos atípicos;
Afastada a possibilidade de invasão, a vaporização a laser CO2 pode ser
❯ Sinais adicionais: vasos frágeis, superfície irregular, lesão
realizada, com sucesso terapêutico de 70,8% com uma ablação e de 79,2%
exofítica, necrose, ulceração (necrótica), neoplasia
com mais de uma ablação.
tumoral/grosseira.
» Não específico: A radioterapia deve ser evitada devido a altas taxas de complicações.
❯ Epitélio colunar (adenose); Contudo, está indicada nos casos não responsivos aos outros tipos de
tratamento.
❯ Captação da solução de lugol: positiva (corado) ou negativa (não
corado) – teste de Schiller negativo ou positivo.
» Miscelânea: erosão (traumática), condiloma, pólipo, cisto, OBSERVAÇÕES QUANTO AO TRATAMENTO DA NIVA II E III
endometriose, inflamação, estenose vaginal, zona de transformação
congênita. 1. O uso tópico do ácido tricloroacético não é eficaz.
CÂNCER DE VAGINA
●
Prevenir o aparecimento de câncer;
●
Preservar a forma e a função da vagina. Pontos Principais
● Conhecer a apresentação clínica sugestiva desta neoplasia maligna.
NIVA I ● Indicar os principais métodos diagnósticos.
● Saber o estadiamento e os principais tipos histológicos do câncer de
A NIVA I e HPV não requerem tratamento, pois não são consideradas
vagina.
de risco oncológico e, geralmente, regridem espontaneamente.
● Conhecer as condutas terapêuticas possíveis na abordagem das
No entanto, devem ser controladas e nos casos de dúvidas quanto a malignidades vaginais.
evolução da lesão, deve-se realizar outra biópsia. ● Saber as taxas de sobrevida em cinco anos por estadiamento.
Cerca de 70 a 80% das pacientes têm mais de 60 anos, com exceção Os toques vaginal e retal permitirão a palpação de úlcera ou massa
dos tumores associados à exposição ao Dietilestilbestrol (DES) intraútero vegetante na vagina, bem como a avaliação da presença de infiltração de
(adenocarcinoma de células claras), que aparecem entre os 17 e 21 anos. paracolpos e paramétrios.
TIPOS HISTOLÓGICOS
SARCOMAS
A seguir, apresentamos os tipos histológicos e a incidência dos tumores
vaginais:
Correspondem a 3% dos cânceres primários de vagina.
●
Carcinoma de células escamosas – 85%;
O sarcoma botrioide normalmente acomete crianças com menos de oito
●
Adenocarcinoma – 6%; anos de idade. O sintoma mais comum é o sangramento. Assemelha-se a um
cacho de uva que se expande rapidamente ocupando toda a vagina,
●
Melanoma – 3%;
disseminando-se pela camada subendotelial.
●
Sarcoma – 3%;
●
Misto – 3%. TUMOR DE SEIO ENDODÉRMICO
É o tipo histológico mais frequente. Normalmente ocorre em mulheres Clinicamente, apresenta-se como um tumor polipoide, rosa-avermelhado e
acima de 50 anos. O CCE está relacionado com radioterapia prévia, HPV e friável. É altamente agressivo e leva a maioria das pacientes ao óbito.
MELANOMA
EMBOLIZAÇÃO PARA NÓDULOS LINFÁTICOS REGIONAIS
●
Nos tumores pequenos do terço superior da vagina, a cirurgia
Estádio I
indicada é Wertheim-Meigs com colpectomia parcial;
Tumor con nado à parede vaginal.
●
No terço inferior indica-se vulvectomia radical e colpectomia
com linfadenectomia inguinofemoral;
Estádio II
Tumor invade o tecido perivaginal (paracolpos, paramétrios),
●
No terço médio ou lesões extensas que atinjam outro terço, a
mas não se estende à parede pélvica. melhor opção terapêutica é a radioterapia exclusiva, pois a cirurgia
combinada apresenta morbidade elevada.
Estádio III
Tumor se estende à parede pélvica ou está localizado nos 2/3 A associação de cisplatina e radioterapia para o tratamento do câncer
superiores da vagina com metástases para os linfonodos primário de vagina mostrou sobrevida em cinco anos de 66%
pélvicos ou está localizado no terço inferior da vagina com considerando todos os estádios.
metástases unilateral para os linfonodos inguinais.
Exenteração pélvica é um tratamento aceitável em termos de sobrevida
Estádio IV na doença avançada ou na recorrência, mas deve ser considerada a
Tumor estende-se além da pelve verdadeira ou envolve a morbidade deste procedimento.
mucosa da bexiga ou do reto:
Há relatos de 75% de complicações pós-operatórias imediatas e
●
IVa – Tumor invade uretra superior, mucosa da bexiga,
85% de complicações tardias, com uma sobrevida global em cinco
mucosa do reto; osso pélvico e/ou linfonodos regionais
anos de 40%.
bilaterais; comprometimento dos órgãos adjacentes;
●
IVb – Qualquer metástase à distância.
TRATAMENTO SEGUNDO O ESTADIAMENTO
SEGUIMENTO
O seguimento no primeiro ano deve ser de quatro em quatro meses, O estádio clínico é o mais importante indicador prognóstico.
a seguir de seis em seis meses, com avaliação clínica e exame
ginecológico.
SOBREVIDA
No primeiro controle após o tratamento e, anualmente, deve ser A sobrevida é menor nas pacientes acima de 60 anos de idade, sintomáticas
solicitada radiografia de tórax, ultrassonografia pélvica e no momento do diagnóstico, com lesões localizadas no terço médio e
abdominal. inferior da vagina e com tumores indiferenciados.
PROGNÓSTICO