BOLETIM DA ONU Centro de Informação das Nações Unidas No. 10, Agosto/Setembro de 2001
AS NAÇÕES UNIDAS E O 11 DE SETEMBRO DE 2001
Respondendo com consternação e lotaram o auditório da Assembleia dariedade sem precedentes, os membros repúdio à “maldade e crueldade” dos Geral em Nova Iorque, para par- do Conselho de Segurança puseram-se ataques terroristas nos Estados Unidos, ticipar numa cerimónia solene de pé para votar a resolução 1368 (2001) o Secretário-Geral Kofi Annan exortou, organizada pelo seu sindicato para que condenou “nos termos mais enérgicos” a 12 de Setembro, todos os países a demonstrar solidariedade com o Go- os ataques terroristas contra os Estados unirem forças para localizar os verno e o povo dos Estados Unidos e Unidos. A 28 de Setembro, o Conselho responsáveis e os apresentar perante a manifestar pesar às pessoas aprovou a resolução 1373 (2001) que justiça. “O país anfitrião e a cidade que afectadas pelos ataques terroristas. define uma estratégia abrangente para nos acolhe foram alvo de um ataque Esta cerimónia foi transmitida via combater o terrorismo internacional. O terrorista que nos horroriza a todos”, Internet para os escritórios da ONU nosso Boletim de Agosto/Setembro entrou disse. Dois dias depois, funcionários da em todo o mundo. Em consequên- pelos primeiros dias de Outubro, porque Organização, muitos deles envergando cia dos trágicos acontecimentos do queríamos esperar a conclusão do debate o traje tradicional do seu país, super- dia 11, a Sede da ONU em Nova sobre medidas para a eliminação do Iorque teve de ser terrorismo que terminou no dia 5 no evacuada, a aber- plenário da Assembleia Geral. Participa- tura da Assembleia ram do debate 167 representantes de Geral foi adiada Estados e 4 entidades com estatuto de para o dia seguinte, observador, o maior número de sempre o seu debate de alto de oradores sobre um mesmo item da nível vai realizar-se agenda da Assembleia. Também impres- com quase dois sionante tem sido o apoio aos esforços meses de atraso, a humanitários das Nações Unidas noAfega- 54ª. reunião do nistão. Os nossos colegas em Islamabade Departamento de estão recebendo inúmeras cartas de Informação Pú- pessoas preocupadas com a situação dos O Secretário-Geral da ONU cumprimentando bombeiros e blica com as ONG Afegãos, no país e fora dele, em campos socorristas na visita que fez à zona de impacto («Ground Zero»). foi interrompida e de refugiados, querendo saber como (UN Photo #DU4) terminou um dia ajudar. Uma destas cartas chegou de um depois do previsto cidadão americano que sobreviveu ao e não na Sede da ataque ao World Trade Center em que ONU, a sessão perdeu 225 colegas que trabalhavam com extraordinária da ele numa empresa que tinha os seus Assembleia Geral escritórios numa das torres. Disse na carta: sobre a criança, “Este é um momento na minha vida em que deveria rea- que tenho a energia, o espírito e a vontade lizar-se de 19 a 21 de ajudar da maneira que puder.” Des- de Setembro, foi pedimo-nos com a esperança de que esta adiada e ainda não atitude tão positiva de um sobrevivente tem nova data para de uma tragédia tão hedionda seja o que Kofi Annan, acompanhado de sua mulher Nane, quando assinava um a sua realização. A prevalecerá. livro de condolências em memória das vítimas dos ataques terroristas. 12 de Setembro, Maria Costa Pinto (UN Photo by Sophie Paris) num gesto de soli- Directora, Centro de Informação da ONU Boletim da O N U Página 2
56ª Sessão da Assembleia Geral inicia trabalhos
A primeira resolução aprovada pela 56ª que as Nações Unidas devem manter uma Afirma Kofi Annan: “A 29 de Junho sessão da Assembleia Geral condenou forte adesão aos princípios em que de 2001, os Estados Membros em termos enérgicos “os horrendos assentou a sua formação, ao mesmo concederam-me a grande honra actos de terrorismo que causaram uma tempo que se preparam para os novos de me nomear para um segundo enorme perda de vidas humanas, desafios. Enfatizando a necessidade de a mandato como Secretário-Geral.(...) destruição e prejuízos nas cidades de ONU se ajustar a condições internacio- Conseguimos muito nos últimos Nova Iorque – a cidade que acolhe a nais em transformação, o Secretário-Geral anos. No entanto, creio firmemente ONU —, Washington D.C. e noutro afirma: “Devemos preservar a tradição da que podemos e devemos fazer lugar.” Os trágicos acontecimentos nos inovação, ao mesmo tempo que man- melhor.” A 19 de Setembro, quando Estados Unidos coincidiram com o dia temos os princípios da Carta que orientam aprovou a sua agenda de 176 pontos da abertura prevista para a Assembleia. esta Organização há 56 anos.” Simul- para a 56ª sessão, a Assembleia Geral Os trabalhos iniciaram-se no dia 12 de taneamente, é preciso preparar-se “para decidiu também avançar o mais Setembro, com a eleição de Han as possibilidades futuras e para ir ao rapidamente possível para um debate Seung-soo, Ministro dos Negócios encontro das novas exigências feitas às no plenário sobre “medidas para Estrangeiros da República da Coreia, Nações Unidas.” O relatório dá um pano- eliminar o terrorismo internacional”, para o cargo de Presidente da 56ª. que decorreu entre 1 e 5 de Outubro. sessão. No seu primeiro discurso como Entre os novos tópicos incluídos na Presidente, Han Seung-soo recordou agenda da 56ª sessão figura a que a ONU nascera no meio da elaboração de uma convenção inter- esperança de uma paz duradoura, após nacional contra a clonagem humana duas guerras mundiais, e expressou o e a proclamação de um Dia de seu empenhamento em reforçar este Prevenção da Exploração do papel da Assembleia. Também eleitos Ambiente na Guerra e em Conflito na primeira reunião da nova sessão Armado. A 20 de Setembro teve foram os Presidentes das seis início na Assembleia Geral um comissões temáticas principais através diálogo de alto nível de dois dias de das quais a Assembleia conduz seus duração sobre o reforço da coope- trabalhos. O Representante Perma- ração económica para o desenvol- nente de Portugal junto das Nações vimento, através de parcerias. As Unidas, Embaixador Francisco Seixas discussões centraram-se no impera- da Costa, foi eleito Presidente da tivo de responder à globalização, Segunda Comissão, que trata de facilitando a integração dos países questões económicas e financeiras. O em desenvolvimento na economia O Secretário-Geral Kofi Annan cumprimenta o debate geral, o segmento de alto nível recém-eleito Presidente da 56ª Sessão da mundial e gerando novos recursos que inicia as sessões anuais da Assembleia Geral, Dr. Han Seung-soo, Ministro para ajudar esses Estados a alcança- dos Negócios Estrangeiros da República da Assembleia foi adiado, para não rem o progresso. A Vice-Secretária- Coreia. (UN Photo) sobrecarregar os serviços de segurança -Geral da ONU, Louise Fréchette, de Nova Iorque, já que significa a rama minucioso dos esforços da ONU pediu aos participantes que focassem presença na cidade de Chefes de para encontrar soluções para os problemas a sua atenção no problema premente Estado e de Governo e de Ministros. fundamentais com que o mundo se vê da pobreza, que qualificou de um As novas datas do debate geral já foram confrontado. No âmbito da paz e dos mais urgentes com que a decididas: terá lugar de 10 a 16 de segurança internacionais, Kofi Annan comunidade internacional se vê Novembro. O item que precede o sublinha a necessidade de se passar de confrontada no século XXI. Disse início do debate geral, entretanto, uma cultura de reacção para uma cultura ainda que deve ser dada aos países manteve-se. É a apresentação pelo de prevenção. Na secção sobre ajuda em desenvolvimento uma oportu- Secretário-Geral do seu Relatório sobre humanitária, o relatório denuncia a falta nidade justa de competir, pelo que o Trabalho da Organização. Kofi de fundos suficientes para fazer face às pediu aos países desenvolvidos Annan afirma em seu relatório anual necessidades mundiais. que abram os seus mercados aos Boletim da O N U Página 3
produtos daqueles. No seu discurso Necessidade de apoio para esforço
de conclusão, o Presidente da Assem- bleia Geral disse que os participantes humanitário da ONU no Afeganistão tinham sublinhado a necessidade de humanizar a globalização, tendo em vista ajudar os países em vias de desenvolvimento a integrarem-se na economia mundial. Este é precisamen- te um dos temas de que trata um novo relatório do Secretário-Geral, divulga- do a 19 de Setembro, que analisa em pormenor como a comunidade inter- nacional e as Nações Unidas estão a tentar alcançar os objectivos definidos na declaração histórica aprovada no ano passado, pela Cimeira do Milénio. Com 59 páginas, na sua versão em inglês, o “Plano com vista à imple- mentação da Declaração do Milénio”, apresenta “estratégias para avançar” Alimentar os refugiados afegãos: uma das grandes preocupações das Nações Unidas. (Foto: World Food Programme/Clive Shirley) nos oito objectivos da Declaração, que abrangem questões que vão desde a A 27 de Setembro, o Secretário -Geral manutenção da paz e da segurança lançou um apelo para obter 584 milhões internacionais ao desenvolvimento e à de dólares para apoiar o esforço erradicação da pobreza, passando pelo humanitário do sistema da ONU em reforço do sistema da ONU. O relatório relação ao Afeganistão, um país propõe indicadores para avaliar a ajuda devastado por anos de guerra e de externa ao desenvolvimento, o acesso seca, onde as condições se estão a aos mercados e a sustentabilidade do agravar. Esta quantia destina-se a problema da dívida externa, a fim de prestar assistência a cerca de 7,5 determinar os progressos no âmbito milhões de afegãos – quer vivam no da criação de uma parceria global para seu país quer procurem refúgio nos o desenvolvimento. Concluindo, Kofi países vizinhos – que precisam de Annan propõe que, nos próximos três ajuda externa para sobreviver. Kofi anos, os relatórios sobre a imple- Annan disse que a ONU estava a mentação da Declaração do Milénio trabalhar no sentido de aumentar a tratem dos progressos alcançados em sua capacidade de responder a esta matéria de prevenção de conflitos situação de emergência. “Estamos a armados, tratamento e prevenção de adaptar as nossas estruturas de gestão doenças, particularmente SIDA e (Foto: World Food Programme/Clive Shirley) no terreno, de modo a enfrentarmos malária, estratégia para o desenvol- esta crise com todas as suas amplas vimento, redução do “fosso digital” e repercussões regionais”, disse. Reite- contenção do crime transnacional. rando que “os civis inocentes não “Não precisamos de mais estudos deveriam ser punidos pelos actos do técnicos ou de viabilidade”, afirma. seu governo”, lembrou que o mundo “O que os Estados devem fazer é estava unido contra o terrorismo e demonstrar a vontade política para afirmou que deveria “estar igualmen- pôr em prática compromissos já te unido para proteger e prestar assumidos e aplicar estratégias já assistência às vítimas de situações definidas.” de emergência e de catástrofes.” Boletim da O N U Página 4
Conferência de Durban propõe medidas para eliminar
racismo, discriminação, intolerância A discriminação e a intolerância são humano e a trágica situação de milhões o subdesenvolvimento, a margina- flagelos que precisam de ser conde- de homens, mulheres e crianças, em lização, a exclusão social, as dispari- nados e erradicados pela comunidade consequência da escravatura, do dades económicas, a instabilidade e a internacional, onde quer que existam. comércio de escravos, do comércio insegurança que afectam muitas Esta foi uma das conclusões da transatlântico de escravos, do apartheid, pessoas em diferentes partes do mundo, Conferência Mundial contra o do colonialismo e do genocídio. Ao em particular nos países em vias de Racismo, a Discriminação Racial, a reconhecer que se trataram de terríveis desenvolvimento. A Conferência Xenofobia e a Intolerância Conexa, que tragédias da história da humanidade, a reconheceu também a necessidade de terminou a 7 de Setembro, em Durban, Conferência afirmou ainda que a criar programas para o desenvol- na África do Sul. Após deliberações escravatura e o comércio de escravos, vimento económico e social dessas intensas e muitas vezes difíceis, a em especial o comércio transatlântico sociedades e da diáspora, no quadro Conferência, que iniciou os seus de escravos, são um crime contra a de uma nova parceria baseada no trabalhos a 31 de Agosto, aprovou espírito de solidariedade e de uma Declaração e um Programa respeito mútuo, nas seguintes de Acção que recomendam aos esferas: redução da dívida externa, Estados Membros uma série de erradicação da pobreza, estabe- medidas para combater o racismo lecimento ou consolidação de a nível internacional, regional e instituições democráticas, promo- nacional. Quanto ao Médio ção do investimento directo Oriente, a Conferência pediu o fim estrangeiro e acesso aos mercados. da violência e um rápido recomeço Reconhecendo os esforços dos das negociações de paz; o respeito dirigentes africanos para enfren- pelos direitos humanos e pelo tar os desafios da pobreza, a direito humanitário; o respeito Conferência pediu aos países pelo princípio da autodeter- desenvolvidos, bem como ao minação; e o fim de todo o sofri- sistema das Nações Unidas, que mento, de modo a permitir que apoiem a Nova Iniciativa para Israel e os Palestinos retomem o África e outros mecanismos processo de paz e se desenvolvam inovadores, como o Fundo e prosperem em segurança e liberdade. humanidade e deveriam tê-lo sido Mundial de Solidariedade para a Expressando preocupação com a difícil sempre. Convidando a comunidade Erradicação da Pobreza. Sobre as situação do povo palestino sob internacional a honrar a memória das vítimas do racismo, outra questão ocupação estrangeira, a Conferência vítimas dessas tragédias, a Conferência que fora difícil de resolver, a reconheceu, na sua Declaração, o referiu também que alguns Estados Conferência acordou num texto direito inalienável do povo palestino à tomaram a iniciativa de lamentar ou genérico que afirma que “as vítimas autodeterminação e à criação de um expressar remorso ou de apresentar do racismo, da discriminação racial, estado independente. Também desculpas, e pediu a todos os que ainda da xenofobia e da intolerância conexa reconheceu o direito de todos os não contribuíram para que a dignidade são indivíduos ou grupos de indivíduos Estados da região, incluindo Israel, à das vítimas fosse restabelecida que que são ou foram afectados por esses segurança e pediu a todos os Estados encontrassem maneiras de o fazer. flagelos ou foram submetidos a eles ou que apoiem o processo de paz e o Sobre compensação e reparações, alvo deles.” Relativamente aos motivos conduzam rapidamente a bom termo. pelos chamados “Estados pertinentes”, de discriminação, a Conferência Sobre a questão da escravatura, a devidas pela escravatura, o comércio reconheceu que o racismo, a discri- Conferência chegou a acordo sobre de escravos e outras injustiças históricas, minação racial, a xenofobia e a intole- um texto que reconhece e lamenta a Conferência reconheceu que essas rância conexa ocorrem com base na profundamente o enorme sofrimento injustiças contribuíram para a pobreza, raça, cor, ascendência ou origem Boletim da O N U Página 5
restabelecer a dignidade e humanidade étnica exigem novos instrumentos para
daqueles que sofreram. Isso permitira enfrentar o racismo. Todas estas ques- que Durban fosse um começar de novo tões foram discutidas não só pelo e proporcionasse a orientação para plenário da Conferência mas também combater o racismo. em eventos paralelos, que incluíram uma mesa redonda de Chefes de Mary Robinson, Alta Comissária das Estado e de Governo, entre outras, e Nações Unidas para os Direitos diversas iniciativas de relevo, Humanos e Secretária-Geral da Confe- promovidas pelo Gabinete da Alta rência, disse que não afirmava que a Comissária das Nações Unidas para os Conferência resolvera os problemas do Direitos Humanos, pelo Representante racismo, da discriminação racial, da do Secretário-Geral para as Crianças xenofobia e da intolerância conexa, mas e Conflitos Armados, e por agências estabelecera um quadro. A verdadeira especializadas do sistema da ONU. medida iria ser se o trabalho realizado Os trabalhos da Conferência orienta- produziria alterações reais nas vidas das ram-se em torno de cinco temas: vítimas do racismo e da intolerância. fontes, causas, formas e manifestações “A principal mensagem que gostaria Nkosazana Dlamini Zuma, Ministra dos contemporâneas de racismo, dis- Negócios Estrangeiros da África do Sul de vos deixar é que Durban tem de ser criminação racial e intolerância e Presidente da Conferência Mundial um começo e não um fim. Deve ter contra o Racismo . conexa; vítimas do racismo e da seguimento”, disse. E acrescentou que discriminação; medidas de prevenção, agora havia uma série de recomen- nacional ou étnica e que as vítimas educação e protecção; reparações, dações concretas sobre planos e pro- podem sofrer de discriminação com compensação e outras medidas; e gramas nacionais, melhor tratamento base noutros motivos ou em motivos das vítimas, uma legislação e relacionados com estes, nomeadamente medidas administrativas anti- a língua, o sexo, a religião, a opinião discriminação mais duras, política ou de outro tipo, a origem social, ratificação e aplicação uni- os bens, o nascimento ou outra versal da Convenção Inter- condição. nacional sobre a Eliminação Na reunião final do encontro, várias de Todas as Formas de Dis- delegações expressaram as suas reservas criminação Racial e de outros ou demarcaram-se em relação a deter- tratados internacionais perti- minadas questões, nomeadamente as nentes, como reforçar a edu- relacionadas com o Médio Oriente e o cação, como melhorar as legado do passado. soluções e sobre os recursos Nkosazana Dlamini Zuma, Ministra à dis-posição das vítimas, e dos Negócios Estrangeiros da África muitas mais. Mary Robinson, Alta Comissária das Nações Unidas do Sul e Presidente da Conferencia, A decisão de realizar esta para os Direitos Humanos, foi a Secretária-Geral da Conferência. no seu discurso de encerramento, Conferência foi tomada pela afirmou que a Conferência acordara em Assembleia Geral da ONU em 1997. estratégias para alcançar uma igualdade que os sistemas de escravatura e Fundamentou-se na constatação de plena e efectiva. Participaram da colonialismo haviam tido um impacte que apesar de alguns progressos Conferência 2300 representantes de extremamente degradante e profun- alcançados nos últimos 50 anos, entre 163 países, entre eles 16 Chefes de damente debilitante sobre aqueles que os quais se deve salientar a derrota do Estado, 58 Ministros dos Negócios são negros, na sua definição mais apartheid na África do Sul, um mundo Estrangeiros e 44 Ministros. Foram ampla. Acordara também que a sem ódio e preconceitos raciais concedidas credenciais a 4000 parti- escravatura era um crime contra a continua a ser um sonho por realizar. cipantes e a mais de 1100 repre- humanidade e que era necessário um Por outro lado, a crescente com- sentantes dos meios de comunicação pedido de desculpas, não para se plexidade dos problemas relacionados social. obterem ganhos monetários, mas para com a discriminação racial e a violência Boletim da O N U Página 6
O Canto de Timor Constituição que irá determinar, entre
várias outras questões, que tipo de sistema político irá ser adoptado por Timor Leste. Vinte e dois (27%) dos 88 deputados são mulheres. Timorenses opinam sobre constituição Foi criada uma Comissão Cons- titucional em cada um dos 13 distritos com a finalidade de colher as opiniões do povo de Timor Leste quanto à futura constituição de um Timor independente e democrático. Cada Comissão teve de realizar pelo menos uma audiência pública em cada um dos 65 subdistritos. As opiniões também foram recolhidas com re- curso a outros meios, tais como O Chefe da Administração da Transição, Sérgio Vieira de Mello, preside à cerimónia de relatórios escritos. Realizaram-se no juramento da Assembleia Constituinte eleita a 30 de Agosto de 2001. total 212 audiências públicas, entre (Foto: Publications Unit, OCPI, UNATET) 18 de Junho e 14 de Julho. Partici- param cerca de 38 000 pessoas, apre- Posse do novo governo sição, Sérgio Vieira de Mello, ao discursar sentando os seus pontos de vista Os 24 membros do novo Conselho na cerimónia do juramento. Acrescentou pessoais ou em representação de uma de Ministros do Segundo Governo que o novo Governo é composto por um aldeia. Os Comissários davam início de Transição, todo formado por “número justo, mas manifestamente à audiência explicando os elementos timorenses e que substitui o Gabinete inadequado de mulheres” e “tantos repre- básicos de uma constituição, escla- de Transição, prestaram juramento, sentantes da nova geração quanto foi recendo longamente esses temas, que perante uma vasta assistência, em possível”. Mari Alkatiri afirmou que os eram novos para os participantes, Díli, a 20 de Setembro. O novo Ministros satisfazem os critérios de seguia-se então um debate. Todas as Governo foi nomeado três semanas competência técnica e dedicação, inde- audiências foram gravadas para a após as primeiras eleições pendentemente da filiação partidária. elaboração de relatórios e subse- democráticas de Timor Leste, em “Fostes nomeados porque acredito que quentemente arquivadas para uso da que a Fretilin foi o partido que obteve ireis colocar o interesse nacional acima dos Assembleia Constituinte nos seus a maioria dos votos. O Governo tem vossos interesses pessoais e partidários”, trabalhos. Cada distrito elaborou um 10 membros da Fretilin, três do disse. Esse Segundo Governo irá coman- relatório final. Estes documentos Partido Democrático e 11 indepen- dar Timor Leste durante o restante período foram entregues ao Chefe da dentes; conta com cinco mulheres e de transição até à sua independência como Administração de Transição, a 16 de representantes de todo o país. O Estado democrático e soberano, que se Agosto, e posteriormente transmitidos Conselho de Ministros é liderado espera venha a ocorrer no início do próximo à Assembleia Constituinte a 18 de pelo Secretário-Geral da Fretilin, ano. Setembro. Um sentimento repetido Mari Alkatiri, como Ministro-Chefe Deputados em muitos dos relatórios finais é que e Ministro da Economia e Desen- a constituição é um documento tão volvimento; José Ramos-Horta é o prestam juramento importante que deveria ser distribuído Ministro Principal para os Negócios Os novos deputados prestaram juramento e discutido em todos os distritos antes Estrangeiros e a Cooperação. “Os a 15 de Setembro, no recém-remodelado de ser ratificado. O direito da nação desafios que o Governo terá de edifício da Assembleia Constituinte, timorense de decidir sobre o seu enfrentar são enormes”, afirmou o financiado pelo Governo da Austrália. Têm próprio destino como um Estado Chefe da Administração de Tran- 90 dias para redigir e aprovar uma independente foi um ponto de vista Boletim da O N U Página 7
direitos das mulheres, ma-
nifestou-se o sentimento geral de que estes deveriam basear- -se nos princípios da Decla- ração Universal dos Direitos Humanos. As sugestões de símbolos nacionais foram muitas e variadas, mas incluíram os seguintes, em diversas combinações: casa tradicional, Monte Ramelau (como sendo o local dos O novo Conselho de Ministros do segundo governo de transição formado inteiramente por timorenses. antepassados), uma espada, «Os desafios que o Governo terá de enfrentar são enormes», afirma Sérgio Vieira de Mello. (Foto: Publications Unit, OCPI, UNTAET) lança ou adaga tradicionais (simbolizando a longa luta recorrente em todo o território. Muitos também nas escolas para utilização pela independência), algodão, arroz, a pensam que Timor Leste não precisa nos negócios (com a Indonésia e outros ilha de Timor, crocodilo (representando de um novo nome, e o mais países da ASEAN) e para promover a forma da ilha de Timor, bem como frequentemente escolhido talvez as relações internacionais. Muitas imagens da mitologia popular), pomba tenha sido República de Timor Loro pessoas apoiaram a manutenção da (representando a paz, ou o Espírito Sa’e, para reflectir um pequeno país utilização do dólar norte-americano Santo a dar notícias de paz), galo (re- com um forte sentimento de unidade. para promover a estabilidade e presentando a época dos Portugueses), Registou-se um número quase igual incentivar o investimento estrangeiro. imagens de pessoas em trajes tradi- de apoiantes dos sistemas presi- Foi expresso igual apoio ao cionais (representando a sociedade dencialista e semipresidencialista. É estabelecimentoo, a longo prazo, de cultural), a Bíblia ou a cruz (repre- justo dizer que a maioria da popula- uma moeda nacional que deveria sentando a importância da religião), ção deseja ter um presidente eleito chamar-se “Dólar de Timor”, “Murak e o sol. directamente pelo povo, com um Timor” ou “Dinel Timor”. As mandato de 4-5 anos, e possibilidade bandeiras da RDTL e do de reeleição para um segundo CNRT receberam igual e vigo- mandato.O governo descentralizado roso apoio, dado que ambas ou uma ampla autonomia regional foram usadas na luta pela foram considerados os sistemas mais independência, e uma incor- adequados. O consenso prevaleceu em poração dessas duas bandeiras torno da ideia de que um sistema pareceu ser o compromisso multipartidário é o que permitiria mais popular. Foi enfatizada a que o povo tivesse as suas opiniões necessidade da continuação do melhor representadas. Para tal, as recurso a formas tradicionais de mulheres devem estar activas na elaboração e aplicação da lei política. Uma economia de mercado como complemento das leis livre foi reconhecida como a mais convencionais. O papel do desejável. Foi expressado um apoio “Adat” (direito consuetudinário esmagador para o tétum como língua não escrito) relativamente ao nacional, embora fosse amplamente sistema de justiça do Estado foi reconhecido que seria necessário um um tópico comum. Foi subli- período de 5-10 anos para o nhado que a preservação do desenvolver e padronizar antes de “Adat” deveria estar reflectida poder vir a ser também a língua oficial. na futura Constituição. Embora Entretanto, o português deveria ser a tenha havido muita discussão Campanha contra a violência: uma prioridade da língua oficial, mas o bahasa indonésio sobre questões de direitos UNTAET em Timor Leste. (Foto: Publications Unit, OCPI, UNTAET) e o inglês deveriam ser ensinados humanos e, em especial, os Boletim da O N U Página 8
Kofi Annan disse...
“Há também, acredito, uma civilização As Nações Unidas são um espelho do frentar as principais causas a que aludiu mundial que somos chamados a de- mundo e o seu trabalho reflecte (o Presidente Chirac) – ou seja, o fender e a promover, numa altura em exactamente aquilo que nos divide, bem conflito, a pobreza, a ignorância e o que entramos num novo século. (...) como aquilo que nos une. Isto pode racismo. De facto, as pessoas deses- É uma civilização baseada na convicção ser doloroso, mas, por vezes, é neces- peradas são facilmente recrutáveis por de que a diversidade é algo que deve sário, uma vez que só vendo claramente organizações terroristas. ” ser celebrado e não temido. Na rea- as nossas divergências podemos tentar lidade, muitas guerras têm origem no ultrapassá-las.” (Em conferência de imprensa medo que as pessoas sentem daqueles (Em declaração sobre os resultados conjunta com o Presidente de que são diferentes delas. Só através do da Conferência Mundial contra o França, Jacques Chirac, Nova diálogo é possível ultrapassar esses Racismo) Iorque, 19 de Setembro) medos.” “Digo que o voluntariado é um impulso “A única via que oferece qualquer (Em discurso na Conferência de humano básico, que se encontra em esperança de um futuro melhor para Salzburgo sobre o Diálogo entre quase todos os países. Em muitos toda a humanidade é a da cooperação Civilizações, Salzburgo, Áustria, 28 países em vias de desenvolvimento, os e das parcerias, em que todas as forças de Agosto) voluntários são frequentemente consi- sociais (...) conjuguem os seus esforços “É sempre mais fácil pensar nas derados a espinha dorsal da sociedade. em prol de objectivos concretos e injustiças que a nossa sociedade sofreu. Outro mito acerca do voluntariado é alcançáveis. E, no centro de todas essas É menos agradável pensar na possível que é altruísmo ou caridade. Hoje, parcerias, deve encontrar-se esta relação entre a nossa sorte e o sofrimen- sabemos que todos ganham, talvez Organização que, há um ano, os vossos to de outros, no passado ou no presente. sobretudo aqueles que dão.” Chefes de Estado e de Governo se Mas, se formos sinceros no nosso desejo comprometeram a reforçar e a tornar (Em discurso na 54ª. Conferência do de ultrapassar os conflitos do passado, mais eficaz, porque a consideraram ‘a Departamento de Informação todos deveremos tentar fazer esse casa comum indispensável da família Pública/ONG, Nova Iorque, 10 de esforço mental.” humana’.” Setembro) (No discurso de abertura da (Em discurso na Assembleia Geral, “O terrorismo é uma ameaça mundial. Nova Iorque, 24 de Setembro) Conferência Mundial contra o Pede uma resposta unida e mundial. Racismo,Durban, África do Sul, 31 Para o vencer, todas as nações devem “Os civis inocentes não deveriam ser de Agosto) consultar-se mutuamente e agir em punidos pelos actos do seu governo. O “Nem todos os problemas do mundo uníssono. É por essa razão que temos mundo está unido contra o terrorismo. podem ser resolvidos nas Confe- as Nações Unidas.” Que se una também para proteger e rências das Nações Unidas. E precisa- (Num serviço religioso no Templo dar assistência às vítimas inocentes de mos ter consciência de que, quando os Emanuel, Nova Iorque, 18 de situações de emergência e de catás- Estados Membros decidem realizar Setembro) trofes.” essas Conferências, estas reflectirão, no (Em declaração sobre a crise que se refere a algumas questões, zonas “Penso que, no contexto dessa luta humanitária no Afeganistão e nos de verdadeira discordância, em que a (contra o terrorismo), deveríamos in- países vizinhos, Nova Iorque, 25 de comunidade internacional está dividida. tensificar os nossos esforços para en- Setembro)
Biblioteca do Centro de Informação da ONU
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