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D

JUCIANE ARALDI BELTRAME


O home studio como espaço de criação e aprendizagem musical E
DEBATES | UNIRIO, n. 18, p.136-161, maio, 2017.

B
O home studio como espaço de criação e
A
aprendizagem musical
____________________________________________ T
Juciane Araldi Beltrame E
Universidade Federal da Paraíba
Resumo: Este artigo é um recorte da pesquisa de doutorado que investigou a S
educação musical que emerge das práticas de produção musical, considerando as
ações de produzir e compartilhar música como características da cultura digital e
participativa. A partir dos dados construídos na pesquisa, neste texto são 18
discutidas as aprendizagens presentes nas práticas de produção musical dos
entrevistados nos seus home studios. O perfil dos entrevistados é de
músicos/produtores envolvidos em práticas de gravação e edição sonora próprias
da cultura digital participativa tais como: música eletrônica (mashup, techno),
gravação multipista (autoprodução). Os dados são discutidos a partir de estudos
sobre cultura digital e participativa na educação e educação musical. As
discussões sobre o home studio como espaço de aprendizagem musical a partir
das experiências dos entrevistados em articulação com o referencial teórico são
apresentadas em três eixos: gravação de grupos, gravação como processo de
produção e edição sonora, tendo a aprendizagem entre pares, a autoavaliação, a
escuta musical como transversais em toda a análise dos dados. As experiências
relatadas pelos entrevistados trazem elementos para analisar, do ponto de vista
pedagógico musical, como a gravação, a edição sonora, as trocas entre músicos
no home studios mobilizam diferentes aprendizados para todos os envolvidos.
Palavras-chave: Produção musical. Cultura digital e participativa. Gravação
musical. Aprendizagem musical entre pares. Home studio.
____________________________________________
Home studio as a space for creation and musical learning

Abstract: This text is part of the doctoral research that investigated the musical
education that emerges from music production practices, considering the actions
of producing and sharing music as characteristical of participatory and digital
culture. From the data constructed in the research, this text discusses the present
learning in the practices of music production of the interviewees in their home
studios. The profile of the interviewees is of musicians/producers involved in
sound recording and editing practices specific to participatory digital culture, such
as: electronic music (mashup, techno), multitrack recording (self productions).
The data are discussed from studies on digital culture and participatory in
education and music education. The discussions about home studio as a space for
musical learning from the experiences of the interviewees in articulation with the
theoretical framework are presented in three parts: recording groups, recording as
a production process and sound editing, having peer learning, self-assessment
and the musical listening as transverse in all data analysis. The experiences
reported by the interviewees bring elements to analyze, from the musical
pedagogical point of view, such as recording, sound editing, exchanges between
musicians in home studios mobilize different learning for all involved.
Keywords: Music production. Digital and participatory culture. Musical recording.
Peer learning. Home studio.

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compartilhamento, e
Introdução
oferece algum tipo de
orientação informal pelo
Este artigo trata das
qual o conhecimento dos
aprendizagens musicais que estão
mais experientes é
imbricadas nas práticas de criação e
passado adiante para os
gravação musical realizadas em
iniciantes. A cultura
home studios. Essa discussão é um
participativa é também
recorte da pesquisa de doutorado1
onde os membros
que tratou de uma educação
acreditam que suas
musical que emerge das práticas de
contribuições são
produção musical, considerando as
importantes e onde os
ações de produzir e compartilhar
membros sentem algum
música como características da
grau de conexão social
cultura digital e participativa
com os outros (ao menos
(ARALDI-BELTRAME, 2016).
se importam com o que
A cultura digital se constrói
os outros pensam sobre o
na forma como as pessoas
que criaram). (JENKINS
interagem com as informações a
et al., 2006:3).
partir das possibilidades do
tratamento digital de som, da
imagem e do texto de forma ativa Considerando esses aspectos
na produção e veiculação de na cultura digital, as possibilidades
conteúdo (ver SANTOS e SANTOS, de produzir e compartilhar
2013). conteúdos, realizar atividades e
A participação e o interagir virtualmente trazem
compartilhamento são aspectos de uma cultura
características da cultura participativa, no sentido da
participativa que se desenvolve nas definição2 de Jenkins et al. (2006),
relações entre as pessoas em que se amplia para o espaço das
comunidades, nas gestões redes virtuais que se sustentam da
municipais e estaduais (orçamento participação dos seus membros.
participativo) e nas tradições orais Parte-se do pressuposto que as
que envolvem diferentes formas de mídias digitais possibilitam e
se relacionar com o conhecimento e incentivam a produção de
que incentivam a participação de conteúdos diminuindo a fronteira
cada pessoa na realização do todo. entre produtor e consumidor,
Uma definição de cultura propiciando outras formas de se
participativa é que trata-se de relacionar com as informações que
circulam pelas mídias.
uma cultura que impõe A discussão dessa questão no
relativamente poucas contexto da Mídia-Educação
barreiras à expressão realizada por Jenkins et al. (2006)
artística e ao destaca que as características da
engajamento cidadão, cultura participativa incluem
forte apoio à criação e ao “oportunidade de aprendizagem
entre pares; uma mudança de
1
Doutorado cursado na Universidade
2
Federal do Estado do Rio de Janeiro Isso porque existem diferentes lentes
(UNIRIO) entre os anos de 2012 a teóricas para conceituar a cultura
2016 sob orientação do Prof. Dr. José participativa. O conceito adotado aqui é
Nunes Fernandes. apenas um dentre muitos.

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atitude frente a propriedade construídos por meio de diferentes


intelectual, a diversificação das processos de “apropriação e
expressões culturais, o transmissão musical” (KRAEMER,
desenvolvimento de habilidades 2000: 51).
validadas nos espaços de trabalhos Compreender esses
modernos e uma concepção mais diferentes processos de apropriação
empoderada de cidadania”3 e transmissão musical se alinha
(JENKINS et al. 2006: 3). com o que Souza (2009: 8) discute
No campo da pedagogia acerca das “novas formas de
musical, Tobias (2015: 98) ressalta aprender e ensinar música
que as possibilidades de criar e presentes na educação musical
compartilhar produções musicais, contemporânea” e as demandas
bem como conversar sobre e criar que são geradas na formação do
novas versões a partir de músicas educador musical para compreender
já existentes, faz com que a e dialogar com as diferentes
internet se torne palco que aglutina práticas musicais dos alunos.
diferentes experiências, pessoas e No que se refere à
culturas, diminuindo distâncias metodologia, a investigação se
geográficas e propiciando um orientou na abordagem qualitiativa
espaço de trocas e experiências de pesquisa (DENZIN; LINCON,
musicais. 2006; GASKEL, 2002), na proposta
Nesse contexto a pesquisa de Salmons (2016) acerca da
teve como objetivo geral pesquisa qualitativa online
compreender as aprendizagens que (Qualitative e-research) e nos
emergem das práticas de produzir e estudos sobre metodologias da
compartilhar música na cultura pesquisa para internet (FRAGOSO;
digital/participativa. Para a área de RECUERO; AMARAL, 2011). A coleta
Educação Musical, o interesse desta de dados se desenvolveu por meio
pesquisa se concentra nas relações de entrevistas online e observações
músico-pedagógicas que se virtuais a partir das postagens dos
estabelecem nas práticas de participantes nas suas redes de
produção musical que surgem e se relacionamento4. As entrevistas
fortalecem na cultura digital e foram realizadas em duas fases
participativa. Nesse contexto, sendo, a primeira, entre os meses
escolher e organizar elementos de abril a agosto de 2014 e, a
sonoros, tocar/executar, recortar, segunda, de junho a setembro de
gravar sons, escolher interfaces e 2015.
dispositivos, revelam O perfil dos participantes na
conhecimentos musicais que são primeira fase foi onze de músicos,
estudantes e professores de música
3
No original: [...] opportunities for que se utilizam das mídias digitais
peer-to-peer learning, a changed na aprendizagem e atuação
attitude toward intelectual property, musical. Na segunda fase foram
the diversification of cultural selecionados, dentre os
expression, the development of skills participantes, três que
valued in the modern workplace, and a desenvolviam atividades de
more empowered conception of produção musical, delimitando
citizenship.
Nota: todas as traduções do inglês e
espanhol foram feitas por mim, com as
4
citações originais apresentadas em Basicamente: Facebook, SoundCloud,
nota de rodapé. Youtube e Mixcloud.

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assim o foco da pesquisa a partir partir da produção e disseminação


deste perfil de participantes. de conteúdos por seus usuários.
Dentro desse contexto Para além das mídias,
investigativo, o recorte deste artigo autores como Jenkins (2009a),
está nas práticas realizadas pelos Dueñas Salmán e García López
entrevistados nos seus home (2012) chamam a atenção para
studios. Assim, este texto se divide essa forma de participação como
em duas partes, sendo a primeira a prática cultural, não como um
apresentação do referencial teórico fenômeno produzido pela internet,
sobre cultura digital e participativa mas que teve nela a ampliação de
na educação musical e a segunda possibilidades. Jenkins (2009b), ao
as discussões em torno das discutir sobre o YouTube, aponta
aprendizagens que emergem das que "muito do que foi escrito sobre
práticas dos entrevistados no o YouTube sugere que ele não teve
estúdio. predecessores [...]. Aparentemente,
grande parte da imprensa (e um
Referencial teórico bom número de acadêmicos) parece
não ser capaz de se lembrar o que
Cultura participativa e aconteceu antes do YouTube"
mídia-educação (JENKINS, 2009b: 144). O autor
O termo cultura participativa alerta para o ponto de origem das
(CP) tem sido utilizado, nos estudos práticas culturais que são vistas nas
sobre mídia, para representar as redes e plataformas virtuais.
mudanças no consumo e produção Os estudos sobre cultura
midiática a partir da adesão popular participativa desenvolvidos na área
à internet. Principalmente no de Educação discutem o papel das
contexto da web 2.0 que facilitou o instituições de ensino no fomento e
manuseio de tecnologias para na promoção de ações que
produzir e publicar conteúdos – envolvam pais, estudantes
textos, áudio, audiovisuais (GÓMEZ professores e gestão escolar. Trata-
ISASSI, 2015; CASTELLS, 2012). se envolver os vários níveis de
Para Jenkins et al. (2006), a CP ensino e que essa perspectiva seja
emerge “como a cultura que garantida ao longo do processo de
absorve e responde à explosão de formação dos estudantes. Para
novas tecnologias de mídia que Jenkins et al. (2006:4) “escolas,
tornam possível aos consumidores programas extra-escolares e os pais
arquivar, anotar, apropriar e têm um importante papel a
recircular o conteúdo de mídia em desempenhar, com o que podem,
novas e poderosas maneiras”5 em seus próprios espaços, para
(JENKINS, et al., 2006: 8). Um incentivar e cultivar essas
exemplo é a plataforma YouTube, habilidades6 (JENKINS, et al., 2006:
como um espaço que se sustenta a 4).
A ideia de participação plena
na sociedade é abordada também
5
No original: Participatory culture is por Dueñas Salmán e García López
emerging as the culture absorbs and
responds to the explosion of new
6
media technologies that make it No original: Schools, afterschool
possible for average consumers to programs, and parents have distinctive
archive, annotate, appropriate, and roles to play as they do what they can
recirculate media content in powerful in their own spaces to encourage and
new ways. nurture these skills.

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(2011) quando concebem a da atualidade. Tal preocupação


participação como uma construção perpassa a ideia de promover o uso
social e defendem que a formação responsável e cidadão das
de uma cultura participativa faz tecnologias.
parte de um processo de No que se refere aos
aprendizagem. Enfatizam o papel conceitos que transversalizam a
dos sistemas de ensino na discussão pedagógica sobre cultura
“promoção de habilidades mentais participativa, além do eixo
para uso inteligente da informação produzir/compartilhar como um dos
e meios tecnológicos” buscando conceitos chave, o conceito de
assim “promover uma cultura de aprendizagem entre pares perpassa
recepção crítica de informações, de os estudos que interligam CP e
valores cívicos e morais, como educação. Segundo Losh e Jenkins
atitudes e habilidades que (2012: 18) a CP apoia a
permitam aos alunos o aprendizagem entre pares na
envolvimento ativo na melhoria de medida em que os jovens se
suas comunidades e manter um reúnem a partir de interesses
desenvolvimento social comuns e criam suas redes de
7
sustentável” (GARCÍA LOPEZ, amizades8. Sobre o conceito de
2011). aprendizagem entre pares que
Nesse contexto da permeia o documento produzido por
informação, partindo de uma Jenkins et al. (2006), trata-se de
realidade na qual muitos estudantes um conceito discutido tanto no
ocupam papéis mais ativos na âmbito do ensino/aprendizagem em
produção e circulação de mídia, espaços formais, quanto em outros
autores como Jenkins et al. (2006), contextos, tais como comunidades
Losh e Jenkins (2012), Clinton et al. virtuais, grupos, mídias no geral,
(2013), Girardello et al. (2013), família, igrejas etc.
discutem os potenciais e desafios Nesse conceito de
da cultura participativa para a área aprendizagem entre pares
de Mídia-educação, enfatizando as encontra-se a articulação
necessidades em educar para as desenvolvida no contexto desta
mídias. Estudos como o de Jenkins pesquisa que se desenvolve a partir
et al. (2006:19) sugerem que as de experiências construídas pelos
escolas promovam uma entrevistados tanto em contextos
compreensão crítica da mídia como sistematizados de ensino (cursos,
mais uma importante instituição universidades) quanto em cursos
social, econômica, política e cultural livres e contextos que não são, a
priori, espaços oficializados de
7 ensino/aprendizagem, como os
Ideias traduzidas de: los sistemas de
educación deben encaminarse al home studios, por exemplo. Assim,
fomento de habilidades mentales para a articulação entre o dentro/fora da
el uso inteligente de la información y escola que é apresentada no
sus medios tecnológicos, lo que referencial teórico é a que constitui
significa fomentar una cultura de
recepción crítica de información y al
8
impulso de valores cívicos y morales, No original: Participatory culture has
actitudes y habilidades que le permitan many mechanisms to support peer-to-
a los alumnos involucrarse activamente peer learning as Young people enter
en el mejoramiento de sus interest-driven and friendship-driven
comunidades y mantener un desarrollo networks.
social sustentable.

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a análise dos dados desta pesquisa além do


que se dá fora do âmbito escolar. desempenho/performanc
e e onde o aspecto social
Cultura digital e é mais distribuído ao
participativa na educação longo do tempo e espaço
musical através da mediação
9
digital . (TOBIAS, 2015:
Os estudos que envolvem 98).
cultura participativa e educação
musical, principalmente na Como exemplos de
literatura internacional, foram engajamento musical na cultura
realizados no contexto escolar, tais participativa Tobias (2013; 2015)
como os de Tobias et al. (2015), ressalta as versões cover, arranjos,
Tobias (2013, 2014) e em paródias, sátiras, produções
comunidades e escolas de música multipistas, remixes, produções
online, como os de Waldron (2013a baseadas em samples, mashups10 e
e 2013b). Nesses trabalhos, são tutoriais que são compartilhadas em
analisados o engajamento que mídias sociais como YouTube,
estudantes, professores e músicos Facebook, SoundCloud. O
em geral estabelecem com as engajamento pode ser percebido
mídias nas suas produções, ensino nos comentários e postagens
e performance musical. audiovisuais que trazem feedbacks,
Tobias (2015) traz exemplos novas ideias e novas versões a
de como o engajamento musical partir das que são disponibilizadas,
ocorre nesse contexto da cultura dentre outros fatores.
digital/participativa e quais práticas Aprofundando as discussões
musicais ganham força neste em torno da cultura participativa e
espaço que mistura online, ensino/aprendizagem musical,
presencial, música eletrônica e Waldron (2013b) analisa os
acústica. A ideia de engajamento resultados de duas pesquisas
está marcada pelas possibilidades desenvolvidas em contextos
de criar e compartilhar músicas distintos: a comunidade Banjo
(autorais, covers) com o intuito de Hangout e a Academia online de
criar espaços para discussões música tradicional Irlandesa (Online
musicais, feedbacks e colaboração Academy of Irish Traditional Music-
entre as pessoas que compartilham OAIM). Considerando o contexto da
dos mesmos interesses musicais. cultura participativa, no qual os
usuários geram conteúdos e
Enquanto os vídeos e
músicas que as pessoas 9
No original: While the vídeos and
criam e compartilham
music people create and share may be
podem ser considerados considered presentational, the practices
apenas apresentações, as and ways that others engage with
práticas e as maneiras these various versions of music can be
que as outras pessoas viewed as existing within participatory
vão se envolver com cultures that extend beyond performing
essas várias versões de and where the social aspect is more
música podem ser vistas distributed across time and space via
como práticas existentes digital mediation.
10
Práticas como mashup, paródia, se
nas culturas participativas
articulam com as discussões sobre
que se estendem para
intertextualidade (KOCH, et al. 2008).

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compartilham, a autora procura dança, bem como nas comunidades


compreender “as maneiras virtuais que os DJs fazem parte, os
diferentes que as pessoas resultados da pesquisa apontam
empregam UGC (user-generated para uma trajetória de formação e
content), como vídeos do YouTube, atuação que segue geralmente o
para a aprendizagem e ensino de percurso de participar das festas,
música nas comunidades online têm tornar-se DJ e depois produtor. É a
implicações significativas para a partir da compreensão da dinâmica
aprendizagem de música e ensino da pista que a formação vai se
em contextos online e off-line11” delineando (VAZQUEZ, 2011: 131).
(WALDRON, 2013b: 257). Na mesma direção os estudos
As diferentes formas de de Gohn (2010) sobre tecnologias
aprender, presentes nas duas digitais e educação musical trazem
comunidades estudadas, são importantes discussões em torno da
analisadas na perspectiva teórica gravação para o ensino e
dos estudos sobre novas mídias, aprendizagem musical,
incluindo principalmente conteúdos possibilitando importantes
gerados por usuários (UCG), cultura articulações com os dados desta
participativa, web 2.0 e pesquisa. Assim, estes trabalhos
prosumerism12. A partir dessas discutem, dentre outros aspectos, a
discussões, Waldron (2013b) traz o relação do fazer e aprender música
conceito de “sincretismo com a mediação das diferentes
pedagógico” considerando as tecnologias, articulando assim, com
misturas de contextos, as práticas de aprendizagem
metodologias e formas de ensinar e musical na cultura
aprender que estão dentro das digital/participativa ainda que estes
comunidades analisadas. autores não abordem esse
Sobre as práticas de referencial teórico.
produção musical analisadas sob o Cabe salientar que os estudos
olhar da educação musical, a de Jenkins et al. (2006), Tobias
pesquisa de Vazquez (2011) acerca (2013, 2015), Waldron (2013)
das aprendizagens de produtores de problematizam o acesso às
música eletrônica de pista discute o diferentes tecnologias,
processo de criação e aprendizagem considerando principalmente a
musical dos produtores questão de desigualdade social em
entrevistados. A partir dos relatos países com menor
dos DJs entrevistados e a imersão desenvolvimento. Eles vislumbram
de Vazquez (2011) na cena, as diferenças sobre acesso e
permitindo uma observação participação e buscam na promoção
participante nas festas, na pista de da CP nas escolas contribuir para
que todos tenham oportunidades de
11
No original: The different ways vivenciar a participação midiática,
people employ UGC such as YouTube como uma das formas de trabalhar
videos for music learning and teaching na sociedade contemporânea. Suas
in online participatory communities has experiências e práticas nas salas de
significant implications for music aula possibilitam articulações com
learning and teaching in on and offline as aprendizagens que ocorrem nos
contexts. processos de produção musical
12
Significa a mesma pessoa produzir e
apontados pelos entrevistados, que
consumir conteúdo, diminuindo as
neste artigo estarão focadas nos
fronteiras entre quem produz e quem
consome. home studios.

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Aprendizagem musical em home cidade. Além da edição, Victor


studio no contexto da cultura trabalha com gravações de músicos
digital/participativa. da região, principalmente a parte
vocal de grupos de rap. Nesse
Os participantes da pesquisa, contexto, Victor considera seu
Dante, Raphael Ota e Victor Hugo home studio como um espaço
desenvolvem diferentes práticas na acessível para que músicos
área de produção musical. Dante iniciantes tenham suas primeiras
tem 2913 anos, reside em Curitiba e experiências com gravação e
é produtor de música techno. Atua também possam desenvolver
também como professor de criatividade, utilizando da gravação
produção musical, mixagem e como um momento de escuta e
masterização. Raphael Ota tem 24 autoavaliação.
anos, mora em São Paulo. É músico Interligando com a
multi-instrumentista, desenvolve experiência de Victor, Raphael Ota
produções autorais e covers traz a gravação multipista como um
executando todas as faixas. Victor recurso fundamental para que ele
tem 30 anos, mora em Rio das desenvolva suas atividades como
Ostras-RJ, produz mashups e re- multi-instrumentista gravando
edits, trabalha com produção de todas as faixas das música. Nesse
grupos e músicos em seu home processo de gravação Raphael
studio e ministra aulas de produção realiza seus arranjos, faz diferentes
musical. experiências e modifica a música a
Tendo em vista o perfil dos partir de cada nova escuta. Além
entrevistados, seus home studios se disso, desenvolve trabalhos em
configuram como os principais parceria nas quais ele geralmente
espaços para fazer música, fica responsável pelo arranjo,
considerando as diferentes etapas: gravação e edição das letras e
criação, arranjo, gravação, edição músicas de autoria dos seus
sonora e finalização. Dante, como parceiros.
produtor de música eletrônica, A prática dos entrevistados
retrata na sua experiência a edição revela a importância dos seus home
sonora a partir de músicas já studios como espaços de criação e
gravadas, samples e todo o desenvolvimento musical,
processo de construção dentro do deslocando a função do estúdio
contexto da música techno, que é o como um local para gravar a música
gênero de música eletrônica que ele pronta. Um home studio é um
mais trabalha. Traz também as estúdio de gravação construído no
experiências docentes quando contexto doméstico. Ele pode ser
ministra aulas de produção criado inicialmente com
envolvendo outros gêneros de equipamentos de baixo custo, algo
música eletrônica. que o barateamento dos
Na mesma direção, Victor equipamentos de informática
traz suas experiências com edição contribuiu para que os músicos
sonora na criação de mashups e re- tenham seus próprios estúdios
edits, além da composição de sets (WOODSIDE e JIMÉNEZ, 2012). A
para as festas que ele toca na sua experiência dos entrevistados foi de
começar com equipamentos simples
13 e de baixo custo e que foram sendo
A idade dos entrevistados é referente
melhorados na medida em que seus
ao ano de 2014, quando foi realizada a
primeira fase da pesquisa. trabalhos de produção tiveram

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maior alcance. Até mesmo as nutrem a prática de produção


possibilidades de quais materiais e musical.
recursos utilizar já representam Do ponto de vista da criação
importantes fases de aprendizado musical, ter um home studio
destes entrevistados que vão possibilita ao músico que o trabalho
aprimorando suas relações com os com a produção aconteça a
equipamentos em busca de qualquer hora, sem a preocupação
melhores resultados sonoros para com o pagamento de hora/estúdio,
suas produções. contribuindo para que esse espaço
Essa relação com os seja de criação e estruturação
equipamentos foi abordada por musical. Sem essa medida de
Vazquez (2011) ao analisar como tempo os home studios se
os seus entrevistados trabalham transformam em importantes
com as tecnologias de produção, laboratórios de criação musical,
“eles não necessitam de grandes individual e coletiva, principalmente
estúdios ou instrumentos para quando são utilizados para
produzir suas músicas, com os gravações de terceiros e/ou
softwares e instrumentos virtuais trabalhos em parceria.
aprendem a compor, compondo” As práticas desenvolvidas
(VAZQUEZ, 2011: 132), sendo o pelos entrevistados se relacionam
conhecimento construído na prática. ao que Tobias (2013) elenca como
Pontuam que o “próprio software dá práticas emblemáticas no contexto
um feed back sonoro de suas da cultura digital participativa,
experimentações. Aprendem a como por exemplo: gravações
lógica do programa e isto é multipistas e covers (que é a
fundamental para conseguir experiência de Raphael Ota),
desenvolver suas ideias musicais criação remix (que é a experiência
[...] o melhor software é aquele que de Victor com mahups e re-edits
você sabe usar” (VAZQUEZ, 2011: que se articulam com o remix) e as
132). edições sonoras com a música
Nesse contexto, as escolhas eletrônica (a prática de Dante com
acerca dos equipamentos que são música techno). Essas práticas
utilizados perpassam diferentes geralmente são desenvolvidas com
aprendizados. Eles testam diferentes tipos de parceria, seja
frequentemente os programas que online ou presenciais, trocas de
podem responder às suas ideias com pares em fóruns sobre
expectativas e ao tipo de som que equipamentos, processos de
produzem, trocam ideias com gravação, além da criação e
outros músicos para saber manutenção de grandes bancos de
novidades e outras formas de músicas e sons que estão
utilizar os programas. disponibilizados na internet que os
Concomitantemente, realizam entrevistados tanto utilizam como
pesquisas nos tutoriais e páginas os retroalimentam quando colocam
específicas na internet que podem na rede as suas produções.
contribuir, tanto para sanar Analisando sob o olhar pedagógico,
possíveis dúvidas, quanto para se as aprendizagens construídas pelos
atualizar sobre os novos entrevistados nos seus home
equipamentos. Cada equipamento studios serão aqui discutidas a
foi escolhido a partir de um partir das seguintes subdivisões:
conjunto de experiências e gravação de grupos, gravação como
aprendizados que fortalecem e

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processo de criação musical e assim” (Victor Hugo, 27/07/15).


edição sonora. Victor pondera que passar por essa
experiência mais exploratória pode
contribuir para que os músicos
Gravações de grupos iniciantes tenham mais firmeza e
possam futuramente investir em
Dentre as práticas realizadas uma produção profissional. Além
por Victor em seu home studio, disso, ele cobra um preço acessível.
destaca-se a gravação de músicos Nesse processo de gravação,
iniciantes. Nessas experiências ele embora Victor defina o seu trabalho
relata: como técnico que ajuda a captar o
áudio e trabalha-lo da melhor
Tento ajudar na própria
maneira, ele desempenha um papel
independência criativa de
que contribui na formação musical
cada um. Essa questão de
de quem está gravando. Dessa
você ter um home studio,
forma, “se o cara deixar aberto pra
gravar o músico, o seu
eu dar pitaco, eu só falo assim, olha
instrumento e deixar
tenta mudar isso aí que não está
aquilo soando bom pra
ficando legal, uma coisa mais de
ele. Isso é o meu lado de
ouvido assim” (Victor Hugo,
produzir, de botar aquele
27/07/15).
som totalmente “nossa,
Desempenhar esse papel de
eu consegui tirar uma
contribuir no processo de produção
ideia, passar para um
dos músicos que procuram seu
instrumento e escutar
home studio fez com que Victor
isso”. Aqui no home
buscasse aprimorar seus
studio é uma coisa mais
conhecimentos musicais: “por isso
assim incubadora de
que eu estou estudando música
ideias. (Victor Hugo,
agora, pra dar uns toques de
27/07/15).
arranjo. Eu não tinha essa coisa de
produtor não, eu ficava mais na
Victor se refere à parte execução, o operador, o técnico. E
técnica, de como conseguir a agora que eu montei o estúdio eu
melhor qualidade de áudio e estou estudando isso” (Victor Hugo,
também como ajudar para que os 28/05/14).
músicos iniciantes tenham uma boa Victor voltou a estudar
experiência com a gravação, que música se utilizando de um dos
exige algumas habilidades formatos de ensinar/aprender
diferentes de tocar em casa, tocar próprio da cultura participativa, a
ao vivo, demarcando uma dimensão troca. Victor relata: “eu montei um
mais pedagógica do seu trabalho. estúdio e aí eu troquei com um
Abre possibilidades, pois considera músico que faz gravação aqui e ele
importante que eles tenham essa me dá aula. Basicamente isso, e é
experiência antes de ir para um algo que eu estou aprendendo
estúdio profissional, “para ver se é agora. Eu sempre quis tocar
possível, se soa bem, até pra teclado, piano. Tô tentando! Eu toco
conhecer bem o trâmite do estúdio. violão e guitarra, mas sei o básico”
Porque tem muita gente que vem (Victor Hugo, 28/05/14).
aqui que nunca tinha gravado, não Nessa gravação de outros
estava acostumado com o fone. É músicos, Victor relata sua
uma primeira passagem, digamos experiência com a gravação de um

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O home studio como espaço de criação e aprendizagem musical
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grupo de hip hop, na qual é possível Por que o meu não fica bom? Por
sinalizar vários tipos de que a gente não consegue tirar o
aprendizados. O primeiro deles é som igual ao daquele cara? E aí vai
acerca de testar e escolher qual o a discussão” (Victor Hugo,
melhor local da sala para que a voz 27/07/15). Essa discussão parece
fique boa. Victor enfatiza: “eles fazer parte de um processo de
escolhem o local. Eu ensinei uma autoavaliação, de escuta
técnica de percepção; assim na compartilhada, de busca por
sala, e eles ficam assim pelo feedback para ver o que precisa ser
quartinho, aí acharam um canto, melhorado. Trata-se de uma
‘não, a voz aqui fica boa’” (Victor aprendizagem que ocorre
Hugo, 07/07/14). Tal prática coletivamente no espaço do home
possibilita que os músicos possam studio, no qual quem grava e quem
testar o espaço e, ao ver as está sendo gravado contribuem
diferenças de sonoridade, apurar a juntos para chegar ao resultado
percepção para encontrar locais final. Um exemplo de aprendizagem
para a música soar melhor. entre pares (JENKINS, et al., 2006).
O segundo aprendizado se dá Nesses casos citados, Victor
na apreciação de cada música foca mais na gravação da voz,
gravada, propiciando autoanálise. enfatizando que os “toques e
Nas palavras de Victor, “o tempo ajudas” são somente “quando
que esse pessoal do hip hop passou aquela pessoa realmente está muito
aqui a gente fez vários testes e eles desafinada e coisa e tal. Eu até
foram sacando. Olha ficou desse indico professor de canto” pois o
jeito assim! Vamos ver se dá pra normal é durante a gravação os
fazer desse jeito, pra ir percebendo” próprios músicos se ajudarem, “eles
(Victor Hugo, 27/07/15). Essas próprios assim, eles se produzem”
“sacadas” estão relacionadas à (Victor Hugo, 07/07/14). Esse
forma de captar o som, explicando exemplo demonstra uma prática
que não adianta “gravar ruim pra que os músicos trazem para o
mixar depois. Ah então por que que estúdio e que aparece de forma
eu não gravo direito? Ah por que a semelhante no contexto de
acústica não tá dando certo? Aí vai comunidades online estudadas por
começando a saber, vai Waldron (2013a), nas quais
destrinchando até chegar no “através de hiperlinks e posts, os
princípio do porquê não tá saindo membros da comunidade
legal” (Victor Hugo, 27/07/15). coproduzem e criam significados e
Esse processo de detalhar cada identidade por meio da prática em
parte da música, ouvir novamente, comunidade”14 (WALDRON,
perceber o que pode ser melhorado, 2013a:101). A autora enfatiza que
regravar, faz parte da metodologia esta comunidade é um exemplo de
que Victor está implementando para aprendizagem entre pares, pois
contribuir com os músicos que cada membro participa com o seu
passam no seu estúdio. conhecimento musical e assim
Confirmando a sua proposta de ser retroalimenta a rede
um espaço laboratório. compartilhando o que sabe e
Nessa direção, Victor analisa
as necessidades de feedbacks por 14
No original: Through hyperlinks and
parte de quem está gravando,
posts, community members co-produce
“ficou bom? Consegui fazer? Ah
and create menaing and identity
deixa eu ver como é que você faz. through practice in community.

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aprendendo com as partilhas dos contexto da gravação de bandas


outros membros. Dessa forma, a finalistas de um Festival de Música
comunidade opera com diversidade Estudantil. Alguns entrevistados
de níveis de conhecimento, relatam que as dicas do produtor na
opiniões, ideias, interpretações hora da gravação contribuíram para
musicais e repertório que o aprendizado musical dos
demonstra possibilidades de integrantes das bandas,
aprendizado que se movimentam influenciando não somente o
com o interesse e background de produto final, mas também os
cada membro. As práticas relatadas próximos ensaios e apresentações
por Waldron (2013a) no contexto do grupo.
online, se articulam com as que Victor considera que a partir
Victor encontrou no seu estúdio, no das gravações os músicos podem
contexto presencial. desconstruir a ideia de que gravou
Contudo, mesmo nesse no estúdio já está bom, ele pondera
processo de autoprodução, são que, “tem um pouquinho dessa
necessárias intervenções, como o mentalidade, grava e vai sair bom.
caso de um menino que faz a voz E a pessoa já vê que não é assim”
principal, (Victor Hugo, 27/07/15), o que
revela uma aprendizagem por parte
que a respiração dele dos músicos. Além disso, Victor
[imita a respiração costuma perguntar para os
puxando o ar músicos, antes de iniciar o processo
sonoramente], de puxar o de gravação “pra quê que você quer
ar assim, mas isso faz fazer esse registro, se é pessoal? Se
parte da sonoridade dele, é pessoal, pra ver como soam?”
e aí ninguém fala, mas (Victor Hugo, 27/07/15). Tal
todo mundo zoa e ele fica preocupação demonstra o quanto
puxando o ar. [Durante a está conectado com o objetivo de
gravação] tem vezes que ser um estúdio “incubadora de
ele não aguenta fazer um ideias” e para que as ideias sejam
take inteiro, então uma trabalhadas é fundamental saber os
coisa de dois minutos eu sentidos da gravação pra quem está
tenho que fazer em gravando.
quatro de 30 segundos, Além das aprendizagens que
pro cara poder respirar. ocorrem por meio da gravação, um
Aí eu falo, isso num show destes grupos foi incentivado por
ele vai cair no chão, sem Victor para que criassem um home
ar, porque ele vai ter que studio. Nas palavras de Victor:
cantar os dois minutos “Esse rapaz, dessa banda que eu tô
direto. (Victor Hugo, gravando, ele tem um laptopzinho
07/07/14). HP das antigas, esse programa e
um fone e o cara faz tanta batida
Essa dica, que surgiu durante boa que eu fico impressionado com
a gravação, pode contribuir para a qualidade. O cara tá fazendo
que ele reveja esse aspecto e nas muito bem!” (Victor Hugo,
próximas composições tome o 28/05/14).
cuidado para não ocorrer o mesmo O que era pra ser apenas
problema. Fialho (2014) discute uma gravação do vocal do grupo
sobre esse espaço de em cima das batidas já prontas
aprendizagens em estúdio, no passou a ser uma forma de

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aprender como funciona e o que é possibilidades de aprendizado entre


preciso para montar um home pares no contexto dos estúdios.
studio. Victor tem acompanhado e Isso dialoga com o que Dante traz
ministrado aulas para que eles como “cumplicidade” entre as
possam trabalhar posteriormente pessoas envolvidas.
no home studio próprio, conforme
relato. Você vai na casa de
alguém que tem um
Ele começou a gravar e estudiozinho, fica lá, faz
viu que dava pra fazer um som e troca essas
em casa, ainda mais experiências. Da mesma
porque eu sempre forma que a banda
incentivei, porque ele já também, o cara está
faz a batida com sempre conversando com
qualidade razoável assim, o técnico de som. O cara
que já é sample. A voz lá está usando um pré
você compra uma amp diferente “ah vamos
plaquinha e um microfone passar por aquele cubo
bom, trata aí, deixa seco ali que a gente tem aqui,
o negócio, faz a batida e aquele cubo é legal, tem
começa a gravar em uma sonoridade assim.
cima. Aí eles estão agora Vamos usar uma
acabando de montar o pedaleira assim”. Sempre
estúdio, já compraram a rola essa cumplicidade.
placa, o microfone, o (Dante, 11/09/15).
computador tá chegando
e só falta então o Essa cumplicidade e as trocas
tratamento [acústico] lá de experiências entre músicos
no quarto pra poder produtores são elementos
gravar. (Victor Hugo, importantes para aprender a
27/07/15). produzir na prática, no espaço
dedicado às experimentações que é
Esse incentivo de Victor para o estúdio. Segundo Dante, “a parte
os integrantes do grupo demonstra prática a gente acaba aproveitando
o seu interesse em socializar a muito em sessões de estúdio, que
prática de produção em estúdio. Ao você senta com outra pessoa e essa
propor, incentivar e ministrar aulas, pessoa pode saber mais ou menos
está propiciando que esse grupo que você, mas ela pode ter
tenha maior autonomia nas suas procedimentos diferentes,
produções bem como iniciem o interpretações diferentes da música
processo de gravar outras bandas. em si, e coisas que podem fazer
Analisando sob a ótica da cultura você aprender” (Dante, 07/07/14).
digital/participativa, Victor não está As aprendizagens que
centralizando a experiência apenas ocorrem nesse processo podem ser
no seu home studio, mas, a partir vistas por três ângulos diferentes:
do interesse demonstrado pelos primeiro, o dos músicos que
integrantes do grupo atuou como buscam o home studio para gravar
um facilitador, contribuindo para seus trabalhos; segundo, o do
ampliar essa experiência. produtor que disponibiliza esse
A experiência relatada por espaço e o faz com a característica
Victor abre a discussão acerca das de ser um espaço “incubadora de

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ideias” e, terceiro, quando os Gravação como processo


músicos se juntam no estúdio e de criação
estão abertos para ver outras
formas de trabalhar e outras Outro aspecto abordado na
interpretações sobre uma mesma pesquisa foi a gravação como um
música. Percebe-se que são processo de criação musical,
aprendizados que envolvem tanto principalmente, nas experiências de
os aspectos técnicos de Raphael Ota com autoprodução e
equipamentos que estão no estúdio, nas de Victor com as criações
quanto musicais, relacionados às musicais dentro do home studio.
músicas que estão sendo Um traço marcante no perfil de
trabalhadas naquele momento. Raphael Ota é a experimentação
Desse modo, é possível ver o através da gravação. É a partir dela
home studio como um espaço que que ele constrói o arranjo. Nas suas
potencializa essas trocas e palavras: “é porque eu vou
aprendizagem entre pares. Jenkins mudando muitas coisas no meio do
et al. (2006) tratam deste tema no caminho. Já aconteceu de eu gravar
contexto escolar, enfatizando a um violão e depois gravar de novo.
importância de promover espaços Dessa música eu tinha terminado
para esse formato de ela ontem. Aí hoje, ah vou gravar o
aprendizagem, que trazem as vocal de novo, aí gravei” (Raphael
possibilidades de um aprender com Ota, 19/08/15). Nesse processo,
o outro, não apenas entre os enfatiza que gravar em casa, no
alunos, mas pessoas com idades, seu próprio home studio “é bem
conhecimentos e ideias diferentes. mais fácil, não tem essa
Por isso defendem as trocas que preocupação com horas” (Raphael
sejam realizadas entre os alunos Ota, 19/08/15).
em sala de aula por meio de Raphael explica esse
trabalhos em grupos (aprendizagem processo exemplificando com a
colaborativa) e em extensão para gravação dos violões:
fora da sala de aula, envolvendo
comunidades de prática, online, Eu costumo gravar dois
presenciais, trocas com alunos de violões nas músicas, aí eu
outras séries, por exemplo. Cenário boto um do lado esquerdo
esse que pode ser visto no home e outro no direito. Aí um
studio que acolhe pessoas com violão eu faço com
diferentes conhecimentos musicais, palhetada pra baixo no
ideias e concepções acerca da ataque, e outro eu faço
música e da produção musical. O com ataque pra cima...
contato entre eles possibilita novos com palhetada pra cima e
aprendizados. dá um efeito bem
bacana! Essas coisinhas
que eu vou observando e
vou testando. Como não
pago estúdio, posso ficar
o tempo que eu quiser
pra ficar testando.
(Raphael Ota, 08/05/14).

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Essa possibilidade de “testar” A gravação multipista amplia


e “ficar o tempo que quiser” as possibilidades para a produção
enfatiza a gravação como uma musical uma vez que,
estratégia de criação musical
utilizada por Raphael. Esta tem a com o aperfeiçoamento
ver com a especificidade da sua do sistema multipista foi
prática, pois é somente com a possível isolar totalmente
gravação de todos os instrumentos o som de cada
que ele pode ter uma ideia de como instrumento gravado em
ficou a música. Além disso, diferentes canais. Dessa
considerando que é possível retirar, forma, não é mais
modificar, regravar trechos necessário que todas as
separadamente, os registros podem partes de uma
ser temporários e fazer parte dos composição sejam
testes durante o processo de executadas por um grupo
arranjo musical. A forma como de músicos tocando
Raphael trabalha demonstra um juntos. Cada indivíduo
processo de criação musical que se pode gravar em
constrói oralmente, de modo que a momentos diferentes,
gravação pode representar o que a sem mesmo se
notação musical representa para os encontrarem, ou um
músicos que se utilizam desse único artista, trabalhando
registro escrito. sozinho, pode gravar
Contrapondo à dimensão todas as partes. (GOHN,
coletiva e participativa que 2010: 31).
fundamenta este estudo, nesse
relato de Raphael vislumbra-se que Outra experiência do uso da
nesta fase de testar as diferentes gravação como recurso para
sonoridades na gravação da música autoavaliação e o estúdio como um
ele trabalha sozinho no seu home espaço para criar música em
studio. Dessa forma, na prática de conjunto é trazida por Victor.
Raphael, a gravação multipista é a
condição sine qua non para que ele Eu tenho um amigo que
seja o único músico. Ele comenta: está vindo gravar violão
“é engraçado que as pessoas ficam aqui direto. [...]. E a
impressionadas quando eu falo que gente vai fazendo por
tudo o que eles estão ouvindo eu fiz partes, duas horas assim,
em casa. Eu fiz sozinho [...] e o por semana, ele vem aqui
lance dos vocais que as pessoas e a gente faz alguma
ficam mais impressionadas, que coisa. E aí tem uma
uma pessoa só pode fazer15” troca, aquela coisa de
(Raphael Ota, 09/09/15). amizade, e aí eu já dou
toque de algumas coisas,
não de acorde assim, mas
15
de balanço, de pegada né
Seu primeiro CD solo, “Ultrapassaro” dele lá [...] é, de você
foi gravado, mixado e masterizado no pode fazer isso ou aquilo
seu home studio. Neste link o clipe de
no violão. E assim a
“Pano para” uma das músicas deste
álbum: https://www.youtube.com/
gente vai estruturando a
watch?v=BQzzO-MYSI0 música juntos. E tem
uma outra questão, ele

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O home studio como espaço de criação e aprendizagem musical
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me procurou nesse Nessa experiência a gravação


sentido, pra ele vir e extrapola o espaço físico do estúdio
explorar a criatividade e as trocas das versões via
dele e a minha também. aplicativos reforçam o papel da
(Victor Hugo, 27/07/15). gravação no processo de criação
musical.
Nesse caso, a gravação tem a
Raphael Ota: A gente
função de autoavaliação do músico
grava. Primeiro eles
e é também um meio para criar e
mandam e aí eu ouço,
estruturar as músicas em conjunto,
vejo o que eu faço e
com dicas e ideias que surgem na
mudo alguma coisa,
abertura do espaço do estúdio para
gravo, envio de novo,
“explorar a criatividade” dos dois,
mais ou menos assim.
conforme apontado por Victor. No
Juciane: E muda muito a
que se refere à autoavaliação, Melo
música na medida em
(2015) discute essa dimensão da
que cada um vai dando
gravação: “trata-se, então, de um
opiniões?
processo de registro que traz a
Raphael Ota: Até que
possibilidade de o músico poder
não, muda mais a letra.
estudar-se, a qualquer hora em que
Mas na música, o arranjo
sentir necessário, realizando a
fica mais por minha conta
audição crítica de gravações de
mesmo. Eles não opinam
suas performances” (MELO, 2015:
tanto. (Raphael Ota,
67).
09/09/15).
Ainda sobre gravação e
criação, Raphael cita experiências
com a gravação em relação às Nesse processo, a edição e
músicas que ele compõe em até mesmo a gravação já com o
parceria com músicos de outras arranjo continuam sendo feitas no
cidades: “eu tenho uns amigos de home studio. Percebe-se que as
Passos, Belo Horizonte, e a gente facilidades de comunicação e envio
vai fazendo música por WhatsApp, de arquivo via aplicativos e
face” (Raphael Ota, 19/08/15). tecnologias móveis favorece o
desenvolvimento de trabalho em
Eu não acho que eu sou parceria com colegas de outras
um bom letrista (risos). cidades. Esse formato de parcerias
Então eu recorro a alguns e trocas é incentivado pelos autores
amigos. E aí, no caso, a Jenkins et al. (2006), quando
“Viver Só” eu terminei. As enfatizam a importância de borrar
outras, a “Um Segundo fronteiras e proporcionar trocas
Imortal” eu troquei com pessoas de culturas diferentes,
algumas palavras e a cuja distância geográfica pode ser
outra, “Perto de Mim”, a diminuída por meio de conversas
letra inteira é de um online.
outro amigo e eu só fiz a Dante também comenta
música. E todos são acerca da criação de músicas em
mineiros e foi tudo feito parceria. Para ele existem duas
por WhatsApp e Skype. formas: uma é ir para o estúdio e
(Raphael Ota, 09/09/15). trabalhar as ideias em conjunto e
outra é um produzir uma parte,
mandar para a outra pessoa ver,

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ela acrescenta algo, desenvolve “cada um tem as suas


uma nova ideia, e a música vai particularidades, existem muitos
sendo concebida a partir de várias produtores que trabalham em
trocas de arquivos, como mostra a grupo, mas tem que rolar uma
experiência de Raphael Ota. Dante sinergia assim muito forte” (Dante,
prefere trabalhar dessa forma, 07/08/15).
conforme seu relato: Outro fator referente aos
estudos sobre cultura participativa
Então eu também vejo na educação, que se articulam com
que pra mim funciona um a prática relatada por Raphael e
pouco melhor assim, eu Dante, refere-se ao trabalho em
preciso um pouco mais de conjunto que não necessariamente
tempo sozinho com as ocorre em todas as fases. No relato
músicas pra fazer a coisa fica evidente que a contribuição dos
acontecer. Tem até uma colegas é mais na letra e música, já
música que eu comecei que no arranjo eles opinam pouco.
com o Vinícius16 que é um Contudo, trata-se de um trabalho
aluno meu, a gente foi, construído a partir do coletivo, um
desenvolveu, fez uma exemplo do que Jenkins et al.
parte, mas a partir desse (2006) discutem sobre cada um
momento agora eu acho contribuir com sua própria
que a gente vai trabalhar expertise.
separado, ele mexe lá e Nos relatos dos entrevistados
eu mexo aqui. Porque eu é possível sinalizar diferentes
não consigo render muito formatos de trabalhar em parceria e
bem assim, em duas funções do home studio. No caso de
pessoas sabe, eu gosto Raphael e Victor, trata-se de um
de ter paciência, de fazer local de experimentação, e, nesse
as coisas com calma, de aspecto a gravação torna-se um
testar as coisas milhões importante recurso e estratégia de
de vezes. Cada novo avaliação e criação musical. Já as
elemento que eu coloco parcerias, no relato de Raphael, não
na track eu procuro parecem estar presentes no
trabalhar ele até que momento da construção da música,
fique da forma que eu mas sim nas partes mais definidas
quero pra poder partir de quem faz a letra, quem faz o
pro próximo. Cada um arranjo e após juntar todas as
tem suas partes avaliam os resultados. Na
particularidades. Tem experiência de Victor, a ideia de
pessoas que gostam de construir a música junto no estúdio,
jogar um monte de ideia mostra uma forma de parceria que
e depois voltar pra trás e não há papel definido de quem faz
arrumar. (Dante, o que, mas sim o coletivo.
07/08/15). Nesse contexto, Victor vai
firmando a proposta do seu estúdio
O entrevistado enfatiza a com ênfase na experimentação, nas
importância de respeitar a forma de trocas de conhecimentos onde cada
trabalho de cada um, quando se um contribui com sua expertise
trabalha em parceria, logo que (JENKINS, et al. 2006) e no relato
que segue ele revela aprendizados
16
Nome fictício que vai construindo na medida em

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que grava pessoas e tem contato processos que realiza nas suas
com diferentes músicos. produções:
Essa questão de eu
No mashup do Arnaldo
testar, porque só você
Antunes com Antonio
testando, fazendo,
Carlos e Jocafi17. Eu
testando, fazendo,
mudei o pitch, a
testando. Quando mais
sonoridade, eu baixei o
você fizer nessa, vai
pitch do Antonio Carlos
ficando mais ciente,
pra poder soar com a voz
pegando macete. Tem
do Arnaldo, isso por
uma diferença quando
ouvido. E toda a vez que
você pega um músico
eu escuto a original o
porreta e grava ali na
pitch é alto, eu não
hora. Mas, como também
consigo mais escutar, eu
tem essa coisa de
gosto mais da versão que
autoprodução, de
eu baixei o pitch. (risos)
autoexploração, então
(Victor Hugo, 28/05/14).
fica nessa, fica sempre
nesse loop, tá
entendendo? De querer Esse trecho mostra que no
sempre estar ali, só trabalho de juntar músicas torna-se
experimentando. Porque fundamental reconhecer as
acho que mais vale isso tonalidades de cada música. Aqui
do que pegar uma coisa e Victor enfatiza que foi ajustando “de
fazer e pô, acabou. É ouvido”. O fato de procurar ouvir
mais essa coisa do sempre nessa nova tonalidade
experimento mesmo! demonstra o quanto Victor se
(Victor Hugo, 27/07/15). apropriou dessa nova escuta, a
partir da sua recriação. Esse
Essa experimentação está exemplo dialoga com Tobias (2013)
muito presente nas edições sonoras quando traz as possibilidades de
que, no caso das produções de aguçar a percepção sonora por
techno, mashup e re-edit meio do trabalho com práticas
representam o cerne da criação como remix e mashup.
sonora e no caso das gravações, as No caso do re-edit, a
edições são realizadas sobreposição de elementos sonoros
principalmente nas fases de em uma música pronta, a mudança
mixagem e masterização. na equalização para que uma parte
possa aparecer melhor, configura
diferentes passos da criação
Edição sonora musical. Victor procura ver quais
partes da música podem ser
O trabalho de Dante e Victor melhoradas, seguindo o seu padrão
com música eletrônica são de gosto e preferência musical, “se
desenvolvidos por meio de edição eu tivesse quando o cara tivesse
de músicas prontas, no caso dos gravando ou fazendo a música eu ia
mashups e re-edits e na criação,
edição e manipulação de diferentes 17
Disponível em:
sons, modificados eletronicamente, https://soundcloud.com/victorhugomafr
no caso da música techno. Nesse a/ossain-oxala
contexto, Victor detalha os

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falar não, troca, bota aquilo ali, esquerda, uma no meio,


bota isso. Então o re-edit é mais outra pra direita. Mas eu
uma coisa de você conseguir gostei mais da sonoridade
acrescentar ali a música, uma coisa se eu dobrasse e botasse
pessoal sua que você viu, que você todas do lado esquerdo,
pode” (Victor Hugo, 27/07/15). todas do direito. Que
Outro aspecto da edição deixasse um pouquinho,
sonora está nas etapas de mixagem milissegundos adiantado
das gravações. De acordo com uma da outra, pra dar
Dante, o processo de mixagem efeito. Umas coisinhas
bobas que, na verdade,
é aquele processo em que não precisa nem usar
a gente vai tratar todos plugins, efeito pronto,
os elementos pra que você cria ali. (Raphael
eles ocupem o mesmo Ota, 08/05/14).
espaço de tempo na
música, de forma
Essa fala de Raphael é
harmoniosa. A gente vai
emblemática para entender as
trabalhar com volumes,
atitudes de experimentação e
com a distribuição dos
criatividade no uso dos recursos
elementos de estéreo, a
disponíveis. Trata-se de trabalhar
caixa da esquerda, a
os efeitos de forma mais artesanal,
caixa da direita. Trabalha
não ficando na dependência de
com profundidade,
recursos, plugins, programas
ambientação, efeito,
sofisticados que teriam tais efeitos.
trabalha com efeitos de
Esse relato foi antes dele fazer um
dinâmica, trabalha com
curso de áudio no Instituto de Áudio
equalização e às vezes
e Vídeo (IAV), e assim, ainda
alguns recursos criativos
dispunha de equipamentos que
nessa parte aí também.
considerava mais simples em
(Dante, 07/08/15).
relação aos que ele está utilizando
agora. Contudo, é possível perceber
Raphael Ota exemplifica como a apropriação dos recursos
recursos criativos que fez na etapa disponíveis, por mais simples que
de mixagem do CD Ultrapassa-ro sejam, pode trazer resultados nesse
enfatizando as experimentações processo de tratamento dos sons.
realizadas durante o processo de Para realizar tais tarefas, Raphael
gravação e mixagem: está juntando seus conhecimentos
musicais e técnicos, proporcionando
Eu me divirto em gravar aprendizados constantes em cada
e testar. Eu fico experimentação, audição do
reparando muito nos resultado e modificações que realiza
discos de outros artistas, num processo contínuo, “então é
os efeitos que dá pra bom ser você o produtor e
fazer, o lance do pan nas engenheiro ali da gravação [...]. É
caixas. Uma das últimas cansativo, mas eu preferi o
coisas que eu fiz foram os resultado” (Raphael Ota, 08/05/14).
backings, eu fiz meio à la A experiência de Raphael
Roupa Nova, como demonstra o quanto a fase de
separar nas caixas. Antes mixagem e masterização, embora
eu separava uma voz pra

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possa ser trabalhada por outras meninos adoraram, não


pessoas, quando realizadas pelo quiseram nem saber se
próprio produtor se configura em isso vai ficar contra
um momento de experimentações e todos os padrões de
oportunidades de maior autoria em mixagem e de
todas as fases da produção. Por masterização, porque
esses motivos Raphael prefere fazer quando eles forem tocar
a mixagem em casa defendendo o isso numa caixa mono vai
quanto essa etapa pode ser juntar a voz de um da
influenciada pela criatividade dos esquerda com a da direita
músicos. e vai soar outra coisa e aí
Victor traz uma experiência eu tô fazendo isso pra
semelhante sobre os processos de eles pra mostrar agora. Aí
mixagem e masterização como pra eles saberem que se
fases de decisão que foram tocar mono vai soar
tomadas coletivamente com um desse jeito estranho, mas
grupo que ele gravou. Victor os caras toparam. E eu
detalha uma parte do processo de tenho muito disso, assim,
gravação na qual estão eu dei a ideia e eles
entrelaçados conhecimentos toparam. (Victor Hugo,
técnicos que normalmente ficariam 07/07/14; grifos nossos).
na parte de mixagem e
masterização, mas que são Considerando os relatos dos
apresentadas para o grupo como entrevistados, a etapa de mixagem
possibilidades e a tomada de mobiliza os conhecimentos musicais
decisões passa a ser coletiva, e com relação aos equipamentos de
gravação. Nessa etapa de
É que eles sempre fazem
esmerilhar o som, buscar efeitos, os
uma take com a voz
papéis de músicos e engenheiros de
principal e duas dobras.
áudio se interligam. Mixar significa
São três rapazes então a
também dar continuidade às ideias
música tem três /quatro
que surgiram nas etapas anteriores
partes, as três são pra os
(concepção e ideia, arranjo) e os
rapazes e uma pra fazer
efeitos que podem parecer mais
uma brincadeira, com
sutis vão se tornando responsáveis
batidas no meio, ou no
por qualificar, trazer suas
final. Aí o primeiro cantou
identidades, seus modos de ver a
numa track e aí botou a
música, na intenção de finalizá-la. É
segunda e basicamente
possível visualizar que a prática de
dobrou. É que a dobra é
produção que realizam nos seus
só em momentos chave,
home studios pode também
eles falam outra coisa pra
empoderá-los a buscar novos
complementar a própria
efeitos, testar, experimentar. Uma
voz. Só que eu fiz uma
forma de autoria nas escolhas
coisa de separar uma
dessa fase que é a última antes de
voz pra caixa esquerda
masterizar e terminar a música.
e uma voz pra caixa
A masterização, diferen-
direita e a dobra no
temente das outras etapas que se
meio. Então é um tipo
apresentam em constante mudança
de coisa que não se faz
durante o processo de produção
muito. Mas assim, os

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musical, é a finalização do projeto lá e entrar canal por canal,


como um todo. É o momento em cada um dos instrumentos,
que o arquivo é fechado e gravado tratar e tal, é um processo
no formato que vai ser distribuído. bem oneroso e trabalhoso.
É uma fase que vai depender de Então ele vai gastar aí
como as etapas anteriores foram entre R$ 1.000,00 e R$
desenvolvidas revelando aspectos 1.500,00. Aí eu falo pro
importantes e aprendizados de base cara, “vem fazer um curso
sobre qualidade sonora. e aí você aprende a fazer”.
Esses aprendizados Se quiser eu faço, mas aí
consistem principalmente na eu vou ficar uma semana
importância de cuidar com o trabalhando na música do
material sonoro que é utilizado, isso cara. (Dante, 11/09/15).
implica em buscar a melhor forma
de captar o som, quando é Essa ideia de propor as aulas
gravação de instrumentos acústicos pode funcionar como uma forma do
e voz, e no caso de sons já músico se inteirar das
gravados (samples, trechos de especificidades dessa etapa de
música, dentre outros) que a masterização. Passar por esse
gravação tenha uma boa qualidade. processo pode ser um caminho de
Esse aspecto demanda atenção de aprendizado sobre as outras etapas,
quem está produzindo, na visão dos o que saiu certo, o que não saiu
entrevistados, uma vez que há uma certo, quais os problemas nas fases
grande quantidade de sons de captação do som, dentre outros
disponíveis na internet que já são assuntos. Com um conhecimento
compactados com menor qualidade mais apurado sobre as bases da
sonora para poder ser produção musical, mesmo
compartilhado. A utilização de considerando as dificuldades
gravações com pouca qualidade técnicas da masterização, é possível
sonora nas produções influencia que os músicos tenham uma
diretamente no resultado final, experiência ainda mais sólida do
mudando a visão de que tudo pode que se tivessem apenas contratado
ser “arrumado” na mixagem e o serviço de masterização.
masterização. Além disso, esse A experiência dos
processo depende de uma escuta entrevistados demonstra que nos
apurada por parte de quem está seus trabalhos autorais eles
produzindo, aguçando também a realizam todas as etapas e para
percepção musical. tanto estão sempre fazendo cursos
Nesse contexto Dante afirma e procurando aprimorar a formação
que na música eletrônica é comum na área de masterização. Nos
próprio produtor realizar todas as trabalhos de finalização para
etapas, então, quando alguém o terceiros enfatizam as
procura apenas para finalizar a complexidades e limites na
música, ele comumente oferece realização do trabalho, no entanto
outra opção: podem ser espaços de trocas de
ideias e aprendizagem para quem
Eu faço masterização para
procura o estúdio apenas para
algumas pessoas, mas o
masterizar.
que acontece é o cara vem
A articulação das práticas em
me procurar [...] para
home studio, seja na gravação
mixar uma música, pegar

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como processo, na edição como técnicas, de engenharia de áudio,


processo, arranjo e finalização com de acústica, em uma estrutura que
os estudos sobre cultura seja capaz de suportar o tipo de
digital/participativa e educação trabalho que os produtores se
musical se dá na forma de olhar comprometem a realizar. Os três
esses processos de aprendizagem entrevistados investem em
que se constituem através das equipamentos e cursos buscando
prática. Em cada criação de uma assim extrair o máximo que podem
música encontram-se diferentes desse espaço.
elementos: musicais, técnicos, Tendo o espaço com as
sociais, pessoais que vão características técnicas necessárias,
adensando os conhecimentos os conhecimentos musicais
musicais construídos nesses começam a ocupar o seu papel
processos. Essa construção advém privilegiado em um home studio.
de uma relação próxima com as Noções de arranjo, estilo, forma,
mídias tanto no acesso a tutoriais, como captar sons acústicos e como
cursos e trocas entre pares para trabalhar com sons já gravados são
saber como resolver alguma fundamentais. Mesmo que a
questão técnica e musical, quanto proposta seja apenas gravar outros
na utilização direta destas músicos, sempre há espaço para
tecnologias na edição e gravação sugerir, melhorar, reorganizar,
sonora. Tais questões são testar outras possibilidades. Esse
enfatizadas por Tobias (2013), espírito de experimentação
Jenkins et al. (2006) com ênfase na constante está presente nas
promoção destas práticas nos práticas dos entrevistados.
contextos institucionais, como a No home studio se aprende a
escola por exemplo, mas o olhar trabalhar com o outro, a reconhecer
para essas aprendizagens perpassa os limites do que pode ou não ser
o que os alunos já realizam fora da mudado, como por exemplo quando
escola, e esse aspecto foi o que Dante elenca os limites de fazer a
possibilitou o olhar para os masterização em uma música cujos
produtores musicais neste estudo e processos iniciais tenham tido
resultando no estúdio como um falhas. Nesses contatos com outros
espaço potencial de aprendizagem músicos, se aprende a ser produtor,
musical. na prática, percebendo as
diferenças de atuação de acordo
com o que os músicos buscam
Para concluir: o que se aprende dentro desse espaço.
no home studio? Desse modo, se aprende a
trabalhar com a diversidade de
Este artigo tratou das estilos musicais, de visões de
aprendizagens que emergem das mundo, de jeitos de tocar. Faz-se
práticas de produção e criação necessário aprender a lidar com o
musical no home studio a partir da outro e suas expectativas. Mesmo
perspectiva da cultura digital e podendo ser apenas um lugar pra
participativa na educação musical. gravar, Victor, por exemplo,
O funcionamento de um demonstra que vai além disso, um
home studio depende do espaço para expor sua opinião, para
conhecimento e manuseio das explorar a sua criatividade e a de
tecnologias de gravação e edição quem está ali para testar e gravar.
sonora, envolvendo noções Nessa exploração e criação, aparece

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a dimensão do estúdio como um que deve ser aprendido, como e em


local para o “processo” e não quanto tempo, os testes,
apenas para o produto final, o que é experimentações, escutas e
exemplificada na forma como autoavaliação, a busca por novos
Raphael produz música. conhecimentos, vão fazendo do
Nas práticas dos estúdio uma comunidade de
entrevistados aparece a mescla aprendizagens. Nela, os membros
entre atividades individuais e são itinerantes, mas sempre deixam
coletivas no estúdio. Esse coletivo algo de si e levam algo consigo, do
se articula com o conceito de que vivenciaram na prática em
aprendizagem entre pares que estúdio, mesmo que essa tenha
Jenkins et al. (2006) discutem no sido apenas a gravação de um
contexto da cultura participativa. vocal.
Tal campo abrange diferentes É possível afirmar que as
formatos de aprender experiências dos entrevistados no
coletivamente, seja entre grupos de home studio se articulam com um
estudantes, seja entre grupos de tipo de aprendizagem em rede, na
professores e estudantes, e até qual cada membro é também
mesmo trocas com pessoas de responsável por tudo o que
outras salas de aulas, outros locais acontece e não existe uma
(via internet), cujos papéis de quem linearidade ou uma ordem pela qual
ensina e quem aprende aparecem os conhecimentos são construídos.
cada vez mais mesclados. Os dados Essa construção parte de uma
das entrevistas revelam os música, de um grupo de músicos,
aprendizados que os entrevistados trazendo novos desafios e
constroem nas suas experiências oportunidades de aprendizado.
coletivas, seja nas parcerias Tomando o home studio
principalmente com a criação da como um laboratório de cultura
letra e arranjo, citadas por Raphael digital e participativa, como uma
Ota, nas gravações de grupos no comunidade de aprendizagens e
home studio de Victor Hugo, e nos como possibilidade de
trabalhos de terceiros citados por aprendizagem em rede, ele se torna
Victor Hugo e Dante. Parcerias que um espaço aglutinador de
possibilitam interação presencial e experiências de apreciação,
virtual entre pessoas de diferentes performance e criação musical.
idades, locais, escolarização, Nos home studios se aprende
podendo durar apenas o tempo da a trabalhar em grupo, a dialogar e
produção de uma música. ver o que pode ser individual e
Considerando uma educação coletivo dentro do processo de
musical emergente na cultura criação musical, enfatizando
digital e participativa, o que o também os limites da cultura
espaço do estúdio revela para o participativa nesse processo. As
ensino/aprendizagem de música? O experiências relatadas pelos
home studio traz algumas lições, entrevistados trazem elementos
como, a de ser um espaço aberto para analisar, do ponto de vista
cujos papéis de quem ensina e pedagógico musical, como a
quem aprende podem ser gravação, a edição sonora, as
negociados a partir da forma como trocas entre músicos nos home
produtores e músicos se colocam no studios mobilizam diferentes
processo. Por ser um espaço aprendizados para todos os
aberto, sem uma ordem definida do envolvidos.

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