COLÉGIO ESTADUAL DONA ISABEL / Ensino Remoto /2021
Atividades remota de: FILOSOFIA Nome do Professor(a): GRASIELE PAULA MOSCHETTA
Série: TERCEIRO Turma:MC1, MC2, NC3 Trimestre: PRIMEIRO Semana nº: 15 E 16
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JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980) Foi uma das figuras que mais contribuíram para a formação de um pensamento e de uma filosofia contemporâneos. Figura irreverente, o filósofo e escritor possui extensa obra escrita em prosa, na qual consta ensaios e tratados filosóficos, romances, além de peças de teatro e roteiros para o cinema. Sartre pode ser considerado o filósofo existencialista que mais se desdobrou para teorizar essa corrente de pensamento, tendo escrito a sua obra magna: O ser e o nada, na qual descreve os principais conceitos da teoria existencialista do século XX. Sartre nasceu em Paris, em 21 de junho de 1905. Seu pai, Jean-Baptiste Marie Aymard Sartre, faleceu em 1906. Sua mãe, Anne-Marie Schweitzer, mudou-se com o seu bebê para a casa de seu pai, o professor de alemão Charles Scweitzer, em Meudon. A criação de Jean-Paul Sartre, tipicamente burguesa, proporcionou-lhe uma boa educação voltada para a literatura e para o aprendizado de idiomas e das culturas. Até os 10 anos de idade, fora educado pelo avô e por preceptores em casa. Desde cedo, o avô proporcionou ao neto o contato com grandes escritores, como Goethe, Mallarmé, Victor Hugo e Flaubert (este último influenciou decisivamente a filosofia de Sartre). Em 1924, o jovem Sartre entra para o curso de Filosofia na Escola Normal Superior de Paris. O seu círculo social aumenta, tendo conhecido, além de Nizan e do professor Bergson, Raymond Aron. Lá conhece a filósofa que viria a ser sua companheira para o resto da vida, Simone de Beauvoir. Os dois mantiveram um relacionamento aberto, fora dos padrões aceitos para a época, além de nunca terem sido casados legalmente. Em 1928, Sartre conclui o curso de Filosofia e ingressa no serviço militar obrigatório, servindo até 1931 como meteorologista. Em seguida, ensina filosofia numa escola secundária. Nessa época, ele escreve um romance recusado pelos editores e, em 1933, vai para Berlim, onde se aprofunda na fenomenologia de Husserl, no existencialismo de Jaspers e Heidegger, além das obras de Kierkegaard. As ideias dos precursores da fenomenologia e do existencialismo, aliadas à leitura de Sartre de Nietzsche, fizeram-no fundar uma nova teoria existencialista. Ainda na Alemanha, redige o romance que viria a ser publicado mais tarde sob o título de A náusea. Nesse período, Sartre rompe de vez com o círculo intelectual burguês parisiense, com o qual já se desentendia desde 1924, e entra em um ciclo mais engajado politicamente, defendendo o socialismo marxista, o pacifismo e o antinacionalismo. Sartre também era contra o antissemitismo, a xenofobia e o racismo. Em 1941 ele funda o Socialismo e Liberdade — um grupo de resistência socialista e antifacista que ficou conhecido pelo engajamento e pela luta contra os ideais totalitários e nacionalistas fanáticos que assolavam a Europa. Em 1943 o filósofo concluiu a sua obra O ser e o nada, iniciada em 1939, que daria luz total ao seu existencialismo. Sartre funda, com seus amigos, e também intelectuais franceses, Maurice Merleau-Ponty e Raymond Aron, a revista Os Tempos Modernos. Sartre profere a conferência O existencialismo é um humanismo e publica-a sob forma de livro, no qual aponta o caráter ético de pensar-se no sentido de um existencialismo filosófico. Em 1964, Sartre publica seu penúltimo livro, As palavras. No mesmo ano, ele foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, honraria que rejeitou. Em carta endereçada aos produtores do prêmio, o existencialista explica que a sua filosofia e a sua literatura são livres de amarras e de autoridades, e que “receber a honraria significa reconhecer a autoridade dos juízes, o que considera inadmissível concessão” Em maio de 1968, quando estouraram os protestos estudantis em Paris que se espalharam pelo mundo, Sartre foi às ruas e manifestou-se junto aos estudantes, empunhando cartazes e enfrentando a polícia. Nessa época, o pensador também manteve contato com os filósofos franceses que se despontavam como jovens promissores, Michel Foucault e Gilles Deleuze. Sartre era um defensor incondicional da liberdade. Em seus escritos, o filósofo deixa claro que o ser humano estava, paradoxalmente, condenado a ser livre. Isso era o pressuposto para a sua teoria existencialista e, mais profundamente, deixava claro a recusa dele por qualquer tipo de amarra social. Na filosofia, o pensador francês encontrará em Nietzsche a afirmação da vida material e corpórea; em Kierkegaard, uma defesa de uma filosofia voltada para o ser humano e para a vida; em Heidegger, o início do existencialismo; e em Husserl, o método fenomenológico, que defende uma espécie de aprofundamento dos sentidos como maneira de imergir no mundo e no pensamento. Todo esse conjunto de ideias servirá de base para a formulação do existencialismo sartriano. EXISTENCIALISMO DE SARTRE Antes de Sartre, o existencialismo já encontrava seus ecos nas artes, na sociedade e na filosofia heideggeriana desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Desolados com o horror da guerra, os europeus começaram a pensar em sua situação e em sua condição enquanto seres finitos. É nesse aspecto que Heidegger identifica o ser humano como um ser-para-a-morte, o que nos levaria à angústia, pois temos consciência de nossa finitude. O existencialismo sartriano parte das ideias de Heidegger, mas vai além, pois o filósofo francês identifica a liberdade, o abandono, a primazia da existência e o não reconhecimento de si como fatores para a angústia. Em primeiro lugar, estamos condenados a ser livres. Isso implica nossa atitude, qualquer que seja ela, como fruto de nossa escolha, e também significa que estamos vivendo uma condenação, pois, por mais que queiramos livrar- nos de nossa liberdade, não é possível fazê-lo. Também há a questão do abandono. O ser humano, para Sartre, está abandonado, largado no mundo, pois, ao contrário do que diz a religião e as concepções metafísicas medievais, não há um Deus que nos guie. Outro fator de angústia é a falta de essência que nos determine. Para Sartre, existência precede a essência, e “se realmente a existência precede a essência, o homem é responsável pelo que é”. O ser humano tem responsabilidade total por si e, ao mesmo tempo, não tem uma essência predefinida. Sartre critica toda a filosofia desde Platão até Kant, que tentou enquadrar o ser humano num conceito de humanidade, numa essência que precedia a existência e dava à vida humana uma forma. Sartre é contra qualquer maneira de determinismo, e o fato de a existência preceder a essência, para o filósofo, é fator de angústia. Existência preceder a essência significa que não há algo totalizante que defina todos os espécimes humanos. Não há um conceito de humano pronto e acabado que abarque todos, indiscriminadamente. Para Sartre, as pessoas fazem-se, constroem-se, na medida em que vivem e exercem a sua liberdade, pela qual estão condenadas. Dessa maneira, não há uma essência humana, mas uma condição humana. Isso é angustiante porque tira do ser humano uma de suas certezas otimistas: a de que ele é, necessariamente, um ser dotado de características que o distinguem dos outros. O SER-EM-SI: é o que Heidegger chamou de Dasein (ser-aí). São as coisas do mundo, os fenômenos. É o modo como as coisas mostram-se, aparecem para nós. A fenomenologia de Husserl e Heidegger é importante para Sartre porque ela entra nesse primeiro aspecto: das coisas materiais e fenomênicas. O SER-PARA-SI: é a consciência e o modo como ela se relaciona com o ser-em-sí. É a nossa mente, é o imaterial que reconhece o nosso corpo (material e ser-em-sí) — encontra-se em conflito ao contrastar-se com o outro ser e reconhecer que não há uma forma definida como ele. Isso nos leva à angústia. Isso significa dizer que o ser humano, ao fazer as suas escolhas, projeta nelas a imagem que ele quer passar para a humanidade e que define, para si, o que é humanidade. Desse modo, cada escolha singular não é egoísta e individual, mesmo que prejudique a humanidade. Para aprofundar-se nessa teoria filosófica, acesse: O existencialismo em Sartre. PRINCIPAIS OBRAS DE SARTRE As obras de Sartre, tanto literárias quanto filosóficas e dramatúrgicas, sempre tiveram o existencialismo como ponto de partida conceitual. Destacamos, a seguir, os seus principais escritos: A náusea: primeiro romance publicado de Sartre, o texto foi escrito como se fosse um diário do personagem principal. O protagonista perambula pelas ruas de uma cidade e, em suas vivências, nota coisas corriqueiras e absurdas, o que, por vezes, coloca-o de frente à questão da condição humana. Nesse livro já existem as ideias existencialistas de Sartre. O ser e o nada: nesse tratado filosófico, o escritor francês expõe a sua filosofia existencialista, enraizada em Kierkegaard, Heidegger e Jaspers, definindo conceitos e explicando os significados de termos corriqueiros do vocabulário existencialista. Sartre tenta explicar o mundo e a sua (des)ordem via concepção existencialista. O existencialismo é um humanismo: aqui há o intuito de rebater críticas de marxistas e cristãos ao mostrar que existe uma dimensão otimista do existencialismo (a liberdade) e uma dimensão coletiva e ética (a escolha individual estendida à humanidade).