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Ainda aprendendo a orar

Há um versículo na Bíblia que tem orientado a minha vida de oração. Na


verdade, são muitos os versículos e passagens da Bíblia que me orien-
tam, mas este, em particular, tem sido uma fonte inesgotável de medita-
ção ou de motivação para minha experiência com a graça de Deus.

É um versículo que procuro ter em mente todas as vezes que oro.

Talvez, por sua profundidade teológica, ele sempre se apresente com


formas e conteúdos desafiadores que me levam a considerar realidades e
promessas ainda não exploradas.

Bem, o versículo é a afirmação (e pergunta) do apóstolo Paulo, que diz:


“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o
entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as
coisas?”
Paulo traz a nós uma das mais extraordinárias revelações sobre o Evan-
gelho da graça de Jesus.

Somente alguém que mergulhou nas águas profundas do significado da


cruz, na natureza do sofrimento e morte de Cristo, é que pode ter um dis-
cernimento como este.

Por que este versículo deve nos inspirar na nossa vida de oração?

Penso que um dos motivos é que sempre achamos, que precisamos só ba-
talhar para ter o que precisamos.

Muitos aprenderam que nada cai do céu; tudo é conquistado com traba-
lho, dedicação, disciplina e perseverança – enfim, temos aquilo que me-
recemos ter.

Talvez, por ter sido criado assim, crescemos com uma sensação de que
não deveria esperar certas coisas de Deus; não deveria sequer expressá-
las em oração.
Não as merecemos, achamos indigno.

Agimos como se alguma parte da ação divina dependesse do nosso es-


forço e empenho, mas como na maioria das vezes não nos consideramos
esforçado o suficiente para as demandas de Deus, não podemos também
esperar dele algo maior.

No entanto, Paulo nos apresenta esta preciosidade.

Se Deus para satisfazer a sua justiça e demonstrar o seu grande amor ao


seu povo deu, sem que merecêssemos. Teve compaixão do nosso estado,
quis ver-nos salvos, redimidos da condenação, do pecado, da morte eter-
na.
Deus o entregou para sofrer a minha pena e beber o cálice amargo do
meu pecado, e fez tudo isto graciosamente, sem exigir nada em troca,
nenhum esforço.
Se ele não poupou seu próprio Filho, antes, o entregou por mim e por vo-
cê; se a cruz nos revela que o amor de Deus é de tal natureza que o levou
a nos oferecer o que tinha de mais precioso, o bem maior, seu próprio Fi-
lho, Paulo então, levanta a pergunta: “Porventura, não nos dará graci-
osamente com ele todas as coisas?”

A oração é o lugar onde os nossos desejos mais íntimos são apresenta-


dos.

Não, necessariamente, para serem atendidos irresponsavelmente, como


quem atende os desejos voluntariosos de uma criança mimada, mas para
serem transformados, reordenados e, por fim redimidos.

É possível que, por não termos nossos desejos mais íntimos atendidos,
relutemos em apresentá-los na oração. No entanto, Deus se preocupa co-
nosco, com nossas necessidades mais pessoais, com nossos desejos se-
cretos, e é isto que Paulo nos revela neste precioso versículo.

Este é o espírito com que devemos nos aproximar junto do trono da gra-
ça. É o amor revelado na cruz que deve nos motivar a orar.
Deus, diante de quem nos prostramos, não é mesquinho, não nega bem
algum aos seus filhos, não rejeita nenhuma de nossas orações.

Seu interesse e amor por nós tem sido revelado desde a criação e mani-
festou-se de forma gloriosa e definitiva no Calvário.

Ele sempre se empenhou por nós e por nossa redenção; fez tudo o que
era necessário para nos libertar da culpa e condenação do pecado, olhou
para mim e para você de forma única e singular.

Contemplou-nos em nossa miséria, veio a nós com graça salvadora e nos


deu seu Filho. Tendo feito tudo isto, o que poderia nos negar?
Haveria alguma coisa que nos fosse necessária à salvação, ao cumpri-
mento dos propósitos de Deus, à vida santificada, que ele nos negaria?
Alguma bênção? Algum favor? Algum milagre? Se ele não nos negou
seu Filho, nos negaria o quê?

Tenho orado por muitas coisas que não aconteceram.


Tenho suplicado por milagres que não vi.
Tenho intercedido por situações que não mudaram.
No entanto, nada disto muda a convicção que esta afirmação de Paulo me
dá.

George McDonald está correto quando afirma: “As minhas orações fluem
daquilo que eu não sou, mas as respostas de Deus fazem de mim o que
de fato devo ser”.

Minhas orações e desejos brotam dos meus medos, inseguranças, rejei-


ção, mas as respostas de Deus me transformam e fazem de mim uma pes-
soa mais verdadeira e ordena os meus desejos confusos.

Deus, ao me dar o seu unigênito Filho, tem me dado, graciosamente, jun-


to com ele, todas as outras coisas.

Esta afirmação de Paulo me ajuda a viver pela fé e também a compreen-


der o que ele diz quando afirma: “Todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus.”
Ou seja, todas as coisas fazem parte da resposta de Deus às nossas ora-
ções e nos conduzem pelos caminhos verdadeiros, mesmo quando não
desejamos andar por eles.

Vivo entre o “já” e o “ainda não”, entre a consciência de um Deus eter-


no, bom, misericordioso, justo e santo e uma vida limitada, temporal,
confusa, injusta e marcada pelo pecado.

Se aqui no mundo precisamos nos esforçar e batalhar para termos o que


precisamos; diante de Deus, a batalha, o esforço, o empenho foi feito pe-
lo Filho eterno que, por causa de seu amor, deu-se por nós e, juntamente
com a dádiva de sua vida, nos deu também de graça todas as outras coi-
sas.

Agora dá para compreender porque Jesus, ao ensinar seus discípulos a


orar, disse: “Vosso Pai sabe do que necessitais antes que lho peçais.”
Como é bom orar sabendo destas coisas.

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