Você está na página 1de 55

Santa Maria

Madalena
22 de Julho
“O Senhor a fez tão grande através de sua graça, que depois da Santíssima
Virgem, não há outra mulher mais reverenciada em todo o mundo e com
maior glória no céu.”

Venerável Humberto de Romans sobre Santa Maria Madalena


Oração Inicial
(para todos os dias)
Oração inicial

Santa Maria Madalena, das Virgens a primeira, que


ouvistes da boca de Cristo estas palavras "Muito lhe foi
perdoado porque muito amou", alcançai de Deus o
perdão de meus erros e pecados, deixai-me participar
do ardente amor que inflamou o vosso coração, para
que eu seja capaz de seguir a Cristo até o Calvário se for
preciso, e assim, mais cedo ou mais tarde, tenha a
felicidade de abraçar e beijar os pés do Divino Mestre.

Ó Apóstola dos Apóstolos, como Jesus ressuscitado vos


chamou pelo nome: "Maria!", chame Ele também pelo
meu nome, e eu nunca mais me desvie de seu Santíssimo
Amor, com recaídas nos erros de meu passado (o fiel
pode aqui pedir alguma graça particular).

Santa Maria Madalena, Flor de Magdala, eu vos peço


esta graça, por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Jesus remédio para as feridas, única esperança dos penitentes.


Pelas lágrimas de Madalena, perdoai nossos pecados.
Ladainha à Santa Maria Madalena

Senhor tenha piedade. Senhor tenha Santa Maria Madalena, que escolhestes a
piedade melhor parte, rogai por nós
Ó Cristo, tenha piedade. Ó Cristo, tenha Santa Maria Madalena, que obteve a
piedade ressurreição de seu irmão Lázaro, rogai
Senhor tenha piedade. Senhor tenha por nós
piedade Santa Maria Madalena, contemplante da
Santíssima Trindade que sois um só Deus, Cruz, rogai por nós
tende piedade de nós Santa Maria Madalena, que não fugistes
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós na paixão, rogai por nós
Santa Maria Madalena, rogai por nós Santa Maria Madalena, primeira dos
discípulos a merecer ver Cristo
Santa Maria Madalena, que levou ressuscitado, rogai por nós
perfumes à Cristo, rogai por nós Santa Maria Madalena, marcada na testa
Santa Maria Madalena, que lavou os pés pelo toque de sua gloriosa mão, rogai por
de Jesus com suas lágrimas, rogai por nós nós
Santa Maria Madalena, enxugando-o com Santa Maria Madalena, Apóstola dos
seus cabelos, rogai por nós Apóstolos, rogai por nós
Santa Maria Madalena, beijando-os com Santa Maria Madalena, Apóstola da
piedade, rogai por nós Provença, rogai por nós
Santa Maria Madalena, a quem muitos Santa Maria Madalena, protetora da
pecados foram perdoados, rogai por nós Ordem dos Pregadores, rogai por nós
Santa Maria Madalena, inflamada com o Santa Maria Madalena, doce advogada dos
ardor da Caridade, rogai por nós penitentes, rogai por nós
Santa Maria Madalena, agradável ao
Senhor, rogai por nós Para que mereçamos desfrutar um dia
Santa Maria Madalena, querida de Jesus, com você a Presença do Senhor para
rogai por nós sempre, rogai por nós

Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, perdoa-nos, Senhor,


Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, tende piedade de nós.
V. Intercede e suplica sem cessar por nós diante do Senhor Jesus, ó bem-aventurada Maria Madalena,
R. Para que nos tornemos dignos das promessas de Cristo.

Oremos: Ó Pai misericordioso, espalha amplamente sobre nós os vossos dons, para que, por intercessão da
bem-aventurada Maria Madalena, que, amando acima de tudo o nosso Senhor Jesus Cristo, obteve o
perdão dos seus pecados, também nós obtenhamos da vossa misericórdia o bem-aventurança eterna. Por
Jesus, o Cristo, nosso Senhor.
Primeiro Dia

A Escravidão do pecado

Assim como outros santos homens e mulheres do Novo


Testamento, pouco se sabe desta personagem tão
fascinante dos evangelhos. Sabe-se porém que era
natural da cidade de Magdala (localidade na qual se
origina seu nome nos evangelhos, 'Madalena'), na costa
do mar da Galiléia.
É verdade também que dos poucos versículos que
narram sua trajetória já são notórias as características
de um alma padecente do pior dos cativeiros, da qual
nem mesmo Moisés no Exôdo foi capaz de libertar seus
patrícios: a do pecado.

Os Santos Evangelhos e a tradição da Igreja apontam-


nos uma Maria Madalena abastada, dona de uma
fortuna considerável gasta em, por exemplo, perfumes
e balsamos.
Mas os evangelhos também nos levam a pensar que esta
mesma riqueza foi a causa de seus tormentos. Vivendo
uma vida comoda, Madalena teria se submetido a luxos,
vicios e esbórnia, como era comum no mundo
helenizado de então - mesmo entre os judeus.
A Escravidão do pecado

Assim também, desafortunadamente, foi a vida da


jovem Maria. Crê-se que muito bela, mas afeita das
paixões do mundo e sua devassidão, e talvez para
muitos de seu tempo - e quem sabe para ela mesma, sem
salvação.

Mas lembra-te fiel e leitor, o que escreveu São Paulo


Apóstolo em sua carta à Igreja de Roma: "onde abundou
o pecado, superabundou a graça" (Romanos 5:20). E
quem irá dizer que não existe razão em tão
confortantes palavras?
Alegremo-nos neste Deus que, por misericórdia, deixou
sua Luz Inacessível para visitar-nos, assim como
visitará Madalena.
Maria Madalena
antes de sua conversão
James Tissot, séc XIX
Segundo Dia

A Conversão

A Sagrada Escritura não nos narra com detalhes como


se deu o processo de conversão desta jovem de uma
cidade e família ricas.
Podemos suspeitar que, o ouvir das palavras de um
jovem pregador que operava milagres sobre a Judéia
pode ter-lhe chamado a atenção por seus ensinos. Ou
mesmo o predecessor deste, que por pregar o
arrependimento foi feito prisioneiro e morto por
Herodes.
Mas, é verdade que a conversão dos indivíduos se dá por
uma série de ponderações puramente intímas. Não
sabemos o que se passou no interior desta alma, mas
podemos dizer que houve uma atitude.
Mais que sentir, mais que querer; a conversão é agir.

Foi este agir que levou o santo mártir Expedito a dizer:


"Não Amanhã. Hoje!" ou que levou a Madre Santa Teresa
na distante Espanha orientar suas irmãs do Carmelo
quanto à necessidade da "Determinada Determinação".
Eis a Ação necessária a todos os fiéis.
A Conversão

Não percamos o tempo de nossas vidas nas mais


diversas vaidades que afastam-nos do único propósito
que nos vale realmente: amar a Deus.

Queiramos também nós, como quis Madalena,


reconhecer nossa miséria como reconheceu Adão a sua
nudez, e peçamos a Deus a misericórdia por nossos
erros e a graça para superá-los. Assim, quando Cristo
diz: "Desejei Ardentemente comer convosco esta Páscoa,
antes de padecer" (São Lucas 22:15) possamos também
nós, com Ele, desejar tê-lo inteiramente como quer Ele
inteiramente a nós, sem meias-entregas ou condições,
mas sim como o filho pródigo que retorna à seu pai, ao
qual já o esperava em sua porta.

Que com a graça da Confissão e da penitência,


possamos nós, como Santa Maria Madalena,
permanecermos sempre em Cristo, não desviando-nos
nos erros de nosso passado.
Madalena Arrependida
Caravaggio, 1596
Terceiro Dia

Contra as Hostes Malignas

Um dos grandes (se não o maior) triunfo do demônio é


convencer os homens de que ele não existe, ou se existe,
não é lá tão ativo no nosso mundo.
Este grande erro não é coisa nova, na verdade, mesmo
na época de Cristo vários movimentos dentro do
judaísmo não criam na existência do demônio, e hoje,
dentro da Igreja há quem pregue hereticamente contra
sua existência, em especial, em meios modernistas
inflados por cientificismo, capaz de negar até mesmo os
milagres que cercam a vida de Nosso Senhor.

Mas o demônio,"o deus deste mundo" (II Coríntios 4:4),


desde o momento de sua queda e da queda dos homens
pelo pecado de nossos pais no Éden, tornou-se um
agente incansável que quer a todo o custo fazer perder
as almas e arrastá-las à sua morada nos infernos.
Apresentando-nos os vícios e paixões do mundo que a
ele pertence, este anjo de trevas quer que, como ele,
percamos nossa pureza original que faz-nos imagem e
semelhança de Deus para tomarmos sobre nós o pútrido
odor do pecado.
Contra as Hostes Malignas

Este pai da mentira enganou também à Madalena,


vitimada por ele a carregar sobre si a perturbação de
sete imundos espíritos. Entende-se que os sete aludem
aos sete pecados capitais, que são cabeça e princípio de
todos os pecados possíveis de serem cometidos por um
indivíduo.
São Lucas relata-nos em seu Evangelho: "Depois disso,
Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a Boa-
Nova do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele, como
também algumas mu­lheres que tinham sido livradas de
espíritos malignos e curadas de enfermidades: [dentre
elas] Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído
sete demônios;" (São Lucas 2:1-2)

Quando Cristo deu aos Apóstolos o poder sobre os


demônios e estes falharem ao tentar libertar um
menino padecente do poder das trevas, questionaram
ao Mestre do motivo que os levou a não conseguir
expulsar aquele espírito em especifico. Nosso Senhor
prontamente respondeu: "Esta casta de demônios não se
pode expulsar senão pela penitência e oração" (São
Marcos 9:29)
Contra as Hostes Malignas

Considere Leitor: temos nós atendido a recomendação


de Cristo? Pois se nem mesmo os Santos Apóstolos
puderam com seus extraordinários dons recebidos do
Mestre expulsar o maligno, sendo este repreendido
apenas com as orações e sacrificíos, temos nós nos
nossos dias motivos para desprezar ou procastinar tais
práticas tão necessárias à salvação de nossas almas?

Peçamos à Nosso Senhor pela intercessão e méritos de


Santa Maria Madalena a graça de ter amor na piedade e
dedicarmos com maior fervor em práticas tão salvíficas
como a oração e a penitência que se feitas com grande
amor a Deus, parafraseando Santiago, podem muito em
seus efeitos (Santiago 5:16).
Madalena e os sete demônios
anônimo
Quarto Dia

"Tua fé te salvou"

"Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus


entrou na casa dele e pôs-se à mesa. Uma mulher
pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa
em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio
de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele,
começou a chorar. Pouco depois, suas lágrimas ba­nha­-
vam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos,
beijava-os e os ungia com o perfume. Ao presenciar isso,
o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo:
“Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual
é a mulher que o toca, pois é pecadora”. Então, Jesus lhe
disse: “Simão, tenho uma coisa a dizer-te”. – “Fala,
Mestre” – disse ele. “Um credor tinha dois devedores: um
lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. Não
tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua
dívida. Qual deles o amará mais?” Simão respondeu: “A
meu ver, aquele a quem ele mais perdoou”. Jesus
replicou-lhe: “Julgaste bem”.
"Tua fé te salvou"

E voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Vês esta


mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para
lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me
os pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o
ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-
me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta,
com perfume, ungiu-me os pés. Por isso, te digo: seus
numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela
tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se
perdoa, pouco ama”. E disse a ela: “Perdoados te são os
pecados”. Os que estavam com ele à mesa começaram a
dizer, então: “Quem é este homem que até perdoa
pecados?”. "Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe:
“Tua fé te salvou; vai em paz”. (São Lucas 7:36-50)

Deste episódio citado acima da vida de Santa Maria


Madalena, não pode haver melhor descrição que a dos
Evangelhos a qual citou-se acima literalmente. Quantos
de nós, leitor e fiel, não tivemos também uma grande
dívida perdoada por tão Bom Mestre, o mesmo que
escandalizou os fariseus ao oferecer seu perdão à
Maria?
"Tua fé te salvou"

Pensemos, conforme guia-nos o intelecto ao meditar em


tão doce verdade narrada por São Lucas: Como
retribuir a Nosso Senhor pelo perdão oferecido a nós
que constantemente O ofendemos com nossos pecados?

Para resolver-nos diante desta indagação, imitemos,


mesmo que do nosso modo, o que fez Madalena,
oferecendo a Cristo um coração contrito,
determinando-nos a não recair em nossos antigos
vícios, endireitar nossas paixões e buscar a Nosso
Senhor sem reservas como fez esta que desfez-se de
seus bens para honrar aquEle que restaurou-lhe a
dignidade desfigurada pelo pecado.

Crê a Igreja que tão grande foi a ação da graça nesta fiel
discípula, que mesmo sua pureza virginal lhe foi
restaurada, sendo esta mencionada na Ladainha de
Todos os Santos como a primeira do coro das virgens.
Peçamos nós, pelas lágrimas derramadas por Madalena
aos pés de Cristo, a graça de um arrependimento
sincero e desejo ardente pela confissão e penitência.
Santa Maria Madalena
na Casa de Simão, o Fariseu
Jean Béraud, 1891
Quinto Dia

A que escolheu a melhor parte

Apesar de não nos oferecer dados precisos sobre a vida


de Maria Madalena, as Sagradas Escrituras relatam-
nos que esta possuía dois irmãos, Santa Marta e São
Lázaro. Esta família, segundo o texto sagrado, era
amiga de Cristo o qual sempre lhes quis bem.
Pelas andanças de Cristo na Galiléia, passou por
Betânia, onde residiam os três irmãos e repousou.

Lá, as duas anfitriãs O receberam e Maria, já próxima


do mestre, assentou-se aos pés do Senhor enquanto
"Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e
disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me
deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude”. Respondeu-lhe
o Senhor: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te
preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa
é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não
será tirada”" (São Lucas 10:40-42).

Marta, atarefada em seu serviço de dona de casa, talvez


não se tenha pegado refletindo sobre a graça de receber
tal hóspede, mesmo conhecendo a importância deste.
A que escolheu a melhor parte

Vemos que, ambas abriram a porta de sua casa e


receberam ao Mestre, mas apenas Maria deu-lhe
companhia e soube da importância de ouvi-lo.
Assim também, quantos de nós, que apesar de cristãos e
filhos da Igreja, não nos atentamos ao que é necessário
para salvar-nos, criando uma fé de rotina, que é cabível
quando sobra-nos tempo ou quando lembramo-nos
dela, fazendo pouca questão do Deus que habita em
nossas almas pelo batismo.
Marta ao recebê-lo, mesmo que alegre pela visita, não
permitiu-se descuidar de seus próprios afazeres. Não
julguemos esta santa mulher por tal atitude, ó leitor,
pois nós mesmos quantas vezes deixamos de lado a
companhia de Deus por nossos próprios cuidados ainda
mais supérfulos que o cuidado de uma casa.
Mas tenhamos a humildade de Santa Marta, e
observando Santa Maria Madalena aos pés do Senhor,
venhamos a imitar-lhe a piedade e não querer outra
coisa senão a companhia dEste que é causa de toda
alegria, mesmo nas angústias do cotidiano.
Cristo na casa de Marta e Maria
Henryk Siemiradzki, 1886
Sexto Dia

Um morto de Betânia

"Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e


sua irmã Marta. Maria era quem ungira o Senhor com o
óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus
cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão.
Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: “Senhor,
aquele que tu amas está enfermo”. A essas palavras,
disse-lhes Jesus: “Esta enfermidade não causará a
morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela
será glorificado o Filho de Deus”."(São João 11:1-4)

Por fim, esta família que Cristo tão bem queria, seria
causa e testemunha de um dos últimos milagres
públicos de Nosso Senhor.
Lázaro, irmão de Marta e Maria, foi acometido por uma
enfermidade. As irmãs amigas de Cristo Taumaturgo
(que quer dizer, fazedor de milagres) cuja fama
ultrapassava as fronteiras da Judéia, prontamente O
convocaram. Nos relatam os Evangelhos que Jesus
tardou sua ida à Betânia, tendo lá chegado quando seu
amigo próximo já estava morto.
Um morto de Betânia

Chegando com seus discípulos na casa das enlutadas,


cumprimentou Marta e depois Madalena veio a seu
encontro: "Quando, porém, Maria chegou onde Jesus
estava e o viu, lançou-se aos seus pés e disse-lhe:
“Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria
morrido!”. Ao vê-la chorar assim, como também todos
os judeus que a acompanhavam, Jesus ficou
intensamente comovido em espírito. E, sob o impulso de
profunda emoção, perguntou: “Onde o pusestes?”.
Responderam-lhe: “Senhor, vinde ver.”Jesus pôs-se a
chorar." (São João 11:32-35).

O Mestre, pondo-se a chorar com os que choram como


dirá São Paulo na carta aos Romanos, tão pronto irá ao
túmulo de Lázaro e ordenará que lhe tire a pedra que o
tampa. "Lázaro, sai para fora!" (43) bradou e
prontamente o defunto retornou à vida.
Um morto de Betânia

E os judeus presentes - dentre os quais muitos mestres


do templo dirão entre si espantados: "Este Homem
multiplica os milagres. Que faremos?" (47)

Por fim, Caifás, sumo sacerdote daquele ano, tomou a


resolução que daria cabo do nazareno milagreiro e seus
seguidores. "E desde aquele momento resolveram tirar-
lhe a vida. " (53)

E procederam os judeus como estava já profetizado nas


linhas do Antigo Testamento: "Façamo-lo cair em nossas
armadilhas, porque é contrário ao nosso modo de viver,
nos repreende das transgressões à Lei e nos desonra
manifestando a incoerência da nossa conduta. Ele diz
que possui a ciência de Deus e se diz Filho de Deus. Veio
censurar até nossos pensamentos e seu olhar nos é
insuportável. A vida dEle não é semelhante aos de
outros; Ele segue uma conduta totalmente diferente da
nossa” (Sabedoria 2:12-15)
Ressurreição de Lázaro
Giotto di Bondone, 1306
Sétimo Dia

A Paixão

E foi Cristo uma última vez à Betânia. Faltando seis dias


para a festa da Páscoa, data de guarda indispensável
para os judeus, foi visitar a casa de Lázaro e suas irmãs
junto de seus discípulos.
Enquanto Marta servia a mesa, Maria tomou uma
atitude inesperada - mas não menos louvável. Diz o
Evangelho: "Tomando Maria uma libra de bálsamo de
nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e
enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do
perfume do bálsamo." (São João, 12:3)

Repetindo o gesto que fizera outrora na casa de Simão, o


fariseu, Madalena ungia Cristo para o evento de maior
importância que estava para acontecer ainda naqueles
dias. Era a concretização da redenção, a páscoa das
páscoas, na qual os judeus já tramavam matar ao
Mestre, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo
expiando em sua carne o preço de nossa salvação.
Em seguida, Judas inquieto com a atitude da anfitriã
disse: "“Por que não se vendeu este bálsamo por
trezentos denários e não se deu aos pobres?”.
A Paixão

"Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres,


mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que
nela lançavam. Jesus disse: “Deixai-a; ela guardou este
perfume para o dia da minha sepultura. Pois sempre
tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me
tereis. Em verdade vos digo: onde quer que for pregado
em todo o mundo o Evangelho, será contado para sua
memória o que ela fez”" (São João, 12:5-9)
Uma semana depois, no Getesêmani, o Mestre foi traído
pelo mesmo que queixou-se do 'desperdício' de
Madalena, por míseras trinta moedas de prata.

Assim é terminada a Agonia e inicia-se a Paixão de


Nosso Senhor. Preso; levado ante Anás, julgado por
Caifás, escarnecido por Herodes e condenado por
Pilatos; flagelado, coroado de espinhos, apresentado e
condenado pelo povo; tomou sua cruz e seguiu na via
dolorosa. Caindo, sendo açoitado, escarnecido, despido
e pregado pelas mãos e pelos pés no madeiro, não
contou com outro consolo senão a presença de sua
Santíssima Mãe, do discípulo amado e de Santa Maria
Madalena, suas três companhias ao pé de sua cruz.
A Paixão

Nisto, às três horas da tarde daquela primeira Sexta-


Feira Santa, suspirou o Mestre e entregou seu espírito
ao Pai.
Assim padeceu por nossos pecados o Filho de Deus,
aquEle que não tinha crimes e foi injustamente julgado
por seus patrícios, o Rei dos Judeus e Redentor de todo o
genêro humano.

"Era desprezado, era a escória da humanidade, homem


das dores, experimentado nos sofrimentos; como
aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era
amaldiçoado e não fazíamos caso dEle. Em verdade, Ele
tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os
nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um
castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas Ele foi
castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas
iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele;
fomos curados graças às suas chagas." (Isaías, 53:3-5)
A Paixão

Era véspera do sábado dos judeus, havendo assim pouco


tempo para o velório e enterro do Senhor morto. Assim
que foi deposto da cruz, o corpo carregado pelo
silencioso cortejo desceu o Gólgota em direção a um
túmulo doado por São José de Arimatéia.
Ali depostaram o Mestre, lavando-o às pressas com uma
mistura de mirras e aloés, cobrindo-o com um caríssimo
tecido doado também por Arimatéia.
Deste modo, as santas mulheres envolveram-no e após
depositarem algumas flores silvestres, saíram todos,
com exceção de algumas discípulas que guardaram
ainda alguns penosos minutos de silêncio junto à cova
do Senhor: "Ora, Maria Madalena e Maria, mãe de José,
observaram onde ele foi posto." (São Marcos 15:47)
Crucificação com Maria
Madalena Chorando
Francesco Hayez, séc XIX
Oitavo Dia

A Testemunha da Ressurreição

"[...] Busquei o meu amado; procurei-o, sem encontrá-


lo.Vou levantar-me e percorrer a cidade, as ruas e as
praças, em busca daquele que meu coração ama;
procurei-o, sem encontrá-lo. Os guardas encontraram-
me quando faziam a sua ronda na cidade. “Vistes acaso
aquele que meu coração ama?”" (Cânticos 3:1-3)

Findou o Sábado. Era Páscoa; mais uma para os judeus -


e a primeira para os cristãos.
Antes que a aurora despontasse os primeiros raios do
sol, Madalena levanta-se, prepara seus bálsamos e
perfumes, providencia outros no comércio da cidade e
segue enlutada ao túmulo do Mestre afim de terminar o
sepultamento realizado às pressas na sexta.
A memória dos dias passados ainda turbava seu
coração, não apenas o dela, mas de todos os discípulos,
aos quais escondiam-se por medo da vileza dos
sacerdotes do templo.
Considerai, ó leitor, o espanto desta santa mulher e das
demais que a acompanhavam ao ver o sepulcro de
Cristo aberto, e quanto mais sofreu o duro golpe ao ver
que não havia corpo algum em seu interior.
A Testemunha da Ressurreição

São João narra-nos em seu Evangelho, que ao ver tal


cena, Maria correu aos discípulos e alertou-os sobre o
desaparecimento do corpo. São Pedro e o próprio São
João correram, entraram na tumba e atestaram o
desaparecimento daquEle que velaram há três dias,
correram novamente para avisar aos demais.

"Entretanto, Maria se conservava do lado de fora perto


do sepulcro e chorava. Chorando, inclinou-se para olhar
dentro do sepulcro. Viu dois anjos vestidos de branco,
sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira
e outro aos pés. Eles lhe perguntaram: “Mulher, por que
choras?”. Ela respondeu: “Porque levaram o meu
Senhor, e não sei onde o puseram”." (São João 20:11-13)

Que grande graça é ver os santos anjos, tão grande que


Deus reservou a apenas poucos indivíduos em toda a
história. Mas note leitor, a quase indiferença de Maria
Madalena ao vê-los e ao dirigir-se a eles. Realmente,
aqueles que estavam lá a guardar a tumba para ela
pouco significavam, pois em verdade, nada eram perto
daquEle que estava ausente de seus olhos.
A Testemunha da Ressurreição

Quem de nós não se consolaria com tão extraordinária


visão? Madalena porém não se deixa consolar. Aqueles
que amam a Deus não deixam saciar-se com breves
consolações enquanto não obtiverem a eterna alegria
de admirar, por toda a eternidade, a face dEste que é
razão de todas as coisas. Consideremos a grandeza do
amor de Deus, pois aquela que outrora era atormentada
por sete demônios, agora sequer os anjos a podem
confortar.

"Ditas essas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus


em pé, mas não o reconheceu. Perguntou-lhe Jesus:
“Mulher, por que choras? Quem procuras?”. Supondo ela
que fosse o jardineiro, res­pondeu: “Senhor, se tu o
tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar”. Disse-
lhe Jesus: “Maria!” Voltando-se ela, exclamou em
hebraico: “Rabôni!” (que quer dizer Mestre)."

Pode-se dizer, que toda a vida desta mullher de Magdala


ocorreu para este momento. Um diálogo curto entre ela
e seu Deus e Senhor no momento de sua Ressurreição,
por mais breve que fosse, valeria-lhe toda a existência.
A Testemunha da Ressurreição

"Mal passara por eles, encontrei aquele que meu


coração ama." (Cânticos 3:4)

Diz-lhe em seguida o Senhor: "“Não me retenhas, porque


ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-
lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso
Deus”. Maria Madalena correu para anunciar aos
discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele
lhe tinha falado." (São João 20:17-18)

É deste episódio que a Igreja atribui à Santa Maria


Madalena o título de 'Apóstola dos Apóstolos', pois
tendo esta sido a primeira testemunha da verdade da
Ressurreição, prontamente contou com júbilo aos
Apóstolos clamando: "Vi o Senhor!" (São João 20:18)
verdade que estes anunciariam até o último de seus dias
e que a Santa Madre Igreja cantará até o fim das eras.

Este mesmo trecho é a última citação direta de


Madalena nos evangelhos.
A Testemunha da Ressurreição

Assim escreveu São Romano Melodista (490-556 d.C.) no


seu 'Cântico de Madalena':

"E de repente o meu luto fez-se júbilo, em tudo vi alegria.


Não hesito em dizê-lo : recebi glória igual à de Moisés
(Exôdo 33:18). Vi, ouvi, vi, não no monte mas no
sepulcro, velado não pela nuvem, mas por um corpo, o
Senhor dos seres incorpóreos e das nuvens, seu Senhor
de ontem, de agora e de todo sempre. Ele disse-me :
"Maria, apressa-te! Como pomba que em seu bico leva
um raminho de oliveira, vai anunciar a boa nova aos
descendentes de Noé (Gênesis 8:11). Diz-lhes que a morte
foi aniquilada e que ressuscitou aquEle que aos
pecadores oferece a ressurreição"."
Noli me Tangere
Paolo Veronese, séc XVI
Último Dia

"Porque muito amou"

A história nunca mais foi a mesma após aquele


primeiro domingo, que para sempre seria o chamado
'Dia do Senhor'. Quarenta dias após a sua vitória sobre
a morte, Cristo retorna aos céus na sua Ascensão, mas
antes, prometeu à seus Apóstolos e fiéis a descida do
Espírito Santo, que se deu nove dias depois na festa de
Pentecostes.
Podemos crer que Madalena esteve presente neste
episódio de nascimento da Igreja, juntamente de Nossa
Senhora e outras mulheres: "Todos eles perseveravam
unanimemente na oração, juntamente com as
mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos
dEle." (Atos 1:14)

Após isto, os judeus, os mesmos que perseguiram à


Cristo e O fizeram condenar, passam também a caçar os
seus sucessores; logo, São Pedro e os demais Apóstolos
passam por sequenciais perseguições pelas autoridades
do templo. É possível que após estes eventos, São João
levou a Bem-Aventurada Mãe de Deus em companhia de
Santa Maria Madalena até Éfeso, Turquia, refugiando-
se da fúria dos
"Porque muito amou"

judeus e liderando a primeira diocese cristã na região,


uma das chamadas sete Igrejas da Ásia.
Mas também, crê-se que a jovem de Magdala
(possivelmente, após a Assunção da Santíssima Virgem)
juntamente de seus irmãos, Marta e Lázaro além de um
padre (talvez ordenado por São João), dirigiram-se até o
sul da então província romana da Gália, atual França, e
lá estabeleceram-se afim de criar um novo ponto de
propagação da fé cristã.

Lá chegando, o fiel grupo manteve-se constante no


serviço de conversão dos pagãos. A Legenda Áurea
chega a narrar-nos:
"Quando a abençoada Maria Madalena viu as pessoas
reunidas no santuário para oferecer sacrifícios aos
ídolos, ela avançou, com seus modos calmos e sua face
serena, e, com palavras bem escolhidas, chamou-os
para longe do culto aos ídolos e pregou Jesus Cristo
fervorosamente a eles."
"Porque muito amou"

Após esta e outras aventuras na pregação do


Evangelho, Santa Maria Madalena retirou-se para uma
localidade isolada da região, a gruta de Sainte Baume,
para lá viver como ermitã em fervorosas orações,
penitências e jejuns.
De seus jejuns, acredita-se que por vezes passou dias
inteiros sem ingerir alimento algum, e após o fim destes
períodos, os próprios anjos traziam-lhe o que comer.

Até hoje, os que visitam o atual santuário em memória


da santa localizado na gruta percebem que, no local
onde atribui-se que viveu esta vida ascética, há um
contraste entre a temperatura e a umidade, sendo mais
quente e seco que o restante da caverna.
Coincidência ou não, é dito pela tradição da Provença
que o padre que os acompanhou na travessia do
Mediterrâneo era bispo, São Máximo (ou Maxime em
francês) foi o primeiro responsável pela diocese recém-
inaugurada e pela saúde das almas dos fiéis, dentre as
quais, a da ermitã da Sainte Baume, a qual confessava e
ministrava a Comunhão.
"Porque muito amou"

E assim, viveu, segundo a Legenda: "de forma


desconhecida por trinta anos num lugar preparado
pelas mãos dos anjos." Um dia, pressentindo a morte
(algumas fontes dizem que anunciada pelos anjos),
chamou por uma última vez o bom bispo Máximo.Este
prontamente veio em sua presença, confessou-a e deu-
lhe a Sagrada Comunhão.
Assim, em algum momento entre os anos 60 e 70 depois
de Cristo, nascia para a eternidade a mulher que, como
poucos da história cristã, personificou o sentido da
Redenção.

Pois se "o amor é forte como a morte" (Cânticos 8:6),


convinha que aquela que "muito lhe foi perdoado,
porque muito amou" (São Lucas 7:47) conhecesse
também um martírio, não o dos carrascos, mas o
martírio sereno do amor que a salvou. A vida, leitor e
fiel, não é outra coisa ao cristão se não aguardar o dia
em que verá a face de seu Deus, tal qual Madalena que
viu seu Senhor ressucitado e agora O vê por toda a
eternidade, donde olha por todos aqueles que nos
últimos nove dias contemplaram os mistérios do amor
de Deus em sua vida.
Omnia Vanitas
William Dyce, 1848
Madalena Penitente
Mateo Cerezo, séc. XVII
Madalena em Glória
Giovanni di Stefano, séc. XVII
"Em verdade vos digo: onde quer que for pregado em todo o mundo o
Evangelho, será contado para sua memória o que ela fez”

São João 12:9

Você também pode gostar