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LITERATURA

ESTUDO DIRIGIDO
PROF: LUDMILA S. LOPES
Aluno: Thiago
SIMBOLISMO

1. Momento histórico

Após a euforia da Segunda Revolução Industrial, quando se incrementou a


construção de ferrovias, a economia mundial entra em crise, devido ao aumento
da concorrência e da falta de mercado consumidor.

Surgem os primeiros trustes (fusão de empresas do mesmo ramo), já que as


empresas pequenas não conseguiam sobreviver e eram encampadas pelas
grandes e têm início os cartéis, isto é, grandes empresas de determinado ramo
industrial começam a monopolizar a comercialização de um produto, mediante
estabelecimento de condições de venda, pagamento, entre outras.

Como o capitalismo não se desenvolveu de maneira uniforme no mundo,


houve concentração de capital em países como França, Inglaterra e Estados
Unidos (este último aparecendo agora como potência), que passaram a buscar
mercado em países menos desenvolvidos, dando início ao que hoje conhecemos
como "imperialismo econômico".

2. A cultura e a sociedade

Com a evolução da ciência, da tecnologia e do capitalismo, o mundo começa a


caminhar cada vez mais em direção dos interesses materiais.

Diferentemente dos empreendedores capitalistas, a classe trabalhadora não


melhorou suas condições de vida, já que a exploração da mão-de-obra é um dos
meios de auferir grandes lucros. Surgem os partidos socialistas, reivindicando
reformas sociais.

Apesar de tanta luta, o homem comum não consegue realizar-se


financeiramente. A esperança cede lugar à frustração e esta leva à busca do lado
místico, espiritual do universo.

Contrariamente ao cientificismo e objetivismo anterior, a arte passa a


representar o subjetivo, o inconsciente, buscando a unidade do ser.

A reação da burguesia foi referir-se a esses artistas como boêmios, decadentes,


malditos.

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Apesar das diferenças, o Simbolismo é considerado uma espécie de
continuação do Romantismo, na medida em que anseia por reformas e, ao
mesmo tempo, busca refúgio fora do mundo real.

3. Características principais da produção artística

1. Predominância da emoção.
2. O objeto deve estar subentendido, não mostrando claramente – daí o
"símbolo".
3. Musicalidade (através de aliterações, assonâncias e outras figuras de estilo.
4. Referências a cores.
5. Presença de motivos religiosos; a poesia representaria uma espécie de ritual.
6. Sonho e imaginação.
7. Espiritualismo.
8. Subjetividade.
9. Culto da forma, com influências parnasianas.
10. Uso da figura de linguagem chamada sinestesia, que representa a fusão de
sensações (beijo amargo, cheiro azul).
11. Abordagem vaga de impressões subjetivas e/ou sensoriais
(Impressionismo), sobretudo na pintura.

4. Principais autores e obras

Portugal

* Eugênio de castro: Oaristos, Horas, Tirésias.


* Antônio Nobre: Só, Despedidas, Primeiros versos.
* Camilo Pessanha: Clépsidra.

Brasil

* Cruz e Sousa: Broquéis, Missal, Evocações, Faróis, Últimos sonetos.


* Alphonsus de Guimaraens: Setenário das dores de Nossa Senhora, Câmara
ardente, Dona Mística, Kiriale.
* Pedro Kilkerry: Re-visão de Kilkerry (organizado por Augusto de Campos).

Na França, destacaram-se principalmente Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud


e Paul Verlaine.

TEXTO

Correspondências

Charles Baudelaire

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A Natureza é um templo vivo em que os pilares
Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.

Como ecos lentos que a distância se matizam


Numa vertiginosa e lúbubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.

Há aromas frescos como a carne dos infantes,


Doces como o oboé, verdes como a campina,
E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,

Com a fluidez daquilo que jamais termina,


Como o almíscar, o incenso e as resinas do oriente,
Que a glória exaltam dos sentidos e da emente.

(As flores do mal. Traduzido por Ivan Junqueira. RJ. 1985).

Questões para Interpretação

1. Releia a primeira estrofe e responda:

1. Quem seriam os "insólitos enredos"?


Os acontecimentos desagradáveis do cotidiano.
2. Que seria o "bosque de segredos"?
Mistérios que o ser humano ainda não conhecem.
3. Qual o significado de "olhos familiares"?
O ser humano familiariza os mistérios, mas não conseguem desvendá-los.

1. A que unidade o eu poético se refere na Segunda estrofe?


Relação entre todos os elementos da natureza.
2. Retire um exemplo de sinestesia da terceira estrofe.
“Aroma amargo”
3. Que características simbolistas você encontra no poema?
Sinestesia, sonho e imaginação, referência a cores, emoção.
4. Relacione o título do poema a seu conteúdo.
“Correspondências” faz referência com som, cor etc.
SIMBOLISMO NO BRASIL

1. Cruz e Sousa

3
João da cruz e Sousa nasceu em desterro, (atual Florianópolis) em 1861 e
morreu em Sítio, Minas gerais, em 1898. Filho de negros escravos libertados,
viveu sob a tutela de um Marechal, o que lhe propiciou fazer os estudos
secundários. Vítima de preconceito racial, não pôde assumir um cargo público
em Laguna, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde participou do primeiro
grupo de poetas simbolistas.

Em 1896, perde o pai, a esposa enlouquece e, no ano seguinte, ele descobre que
está tuberculoso.

Trabalhou em teatro, quando se frustrou por apaixonar-se por uma artista


branca, e, com o escritor Virgílio Várzea, lançou um jornal de cunho republicano
e abolicionista.

Considerado um dos maiores poetas simbolistas, Cruz e Sousa buscou a


unidade com o mundo cósmico, destacando-se em sua obra a evocação da cor
branca, provavelmente pelos problemas que enfrentou por ser negro.

TEXTO

Regina Coeli

Ó Virgem branca, Estrela dos altares,


Ó Rosa pulcra dos Rosais polares!

Branca, do alvor das âmbulas sagradas


E das níveas camélias regeladas.

Das brancas da seda sem desmaios


E da lua de linho em nimbo e raios.

Regina Coeli das sidérias flores,


Hóstia da Extrema-Unção de tantas dores.

Aves de prata e azul, ave dos astros...


Santelmo aceso, a cintilar nos mastros.

Gôndola etérea de onde o Sonho emrge...


Água Lustral que o meu Pecado asperge.

Bandolim do luar, Campo de giesta,


Igreja matinal gorjeando em festa.

Aroma, Cor e Som das Ladainhas

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De Maio e Vinha verde dentre as vinhas.

Dá-me, através de cânticos, de rezas,


O Bem, que almas acerbas torna ilesas.

O Vinho d’ouro, ideal, que purifica


Das seivas juvenis a força rica.

Ah! Faz surgir, que brote e que floresça


A Vinha d’ouro e o vinho resplandeça.

Pela Graça imortal dos teus Reinados


Que a Vinha os frutos desabroche iriados.

Que frutos, flores, essa Vinha brote


Do céu sob o estrelado chamalote.

Que a luxúria poreje* de áureos cachos


E eu um vinho de sol beba aos riachos.

Virgem, Regina, Eucaristica, Coeli, (regina (latim): rainha)


Vinho é o clarão que teu Amor impele. (Coeli (latim): celestial)

Que desabrocha ensagüentadas rosas


Dentro das naturezas luminosas.

Ó Regina do Mar! Coeli! Regina!


Ó Lâmpada das naves do Infinito!

Todo o Mistério azul desta Surdina


Vem d’estranhos Missais de um novo Rito!...

(In: Tasso da Silveira. Org. Cruz e Sousa; poesia. RJ, Agir, 1975.)

Questões para Interpretação

1. Podemos dividir o poema em duas partes: evocação e pedido. Delimite as


estrofes.
Evocação: estrofes 1 a 8
Pedido: estrofes 9 a 17
2. Retire do poema três elementos que remetem à cor branca.
Virgem branca, branca e lua de linho em nimbo.
3. Que elementos do poema nos lembram um ritual religioso?
“Dá-me, através de cânticos, de rezas,

5
O Bem, que almas acerbas torna ilesas
O Vinho d’ouro, ideal, que purifica
Das seivas juvenis a força rica.”
“Virgem, Regina, Eucaristica, Coeli
Vinho é o clarão que teu Amor impele”

4. Que características simbolistas detectamos no poema?


Espiritualismo, palavras religiosas, musicalidade, emoção, sinestesia e
referência a cores.
5. Identifique e explique as personificações presentes na última estrofe.

2. Alphonsus de Guimaraens

Afonso Henriques da Costa Guimarães nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais,


em 1870 e morreu em Mariana, Minas Gerais, em 1921.

Em sua obra notamos a presença do místico, do religioso e considerações com


relação à morte, estas provavelmente em função da perda de uma prima e
namorada na adolescência, o que muito o abalou.

TEXTO

Hão de chorar por ela os cinamomos

Hão de chorar por ela os cinamomos*,


Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão: - "Ai! Nada somos,


Pois ela se morreu silente* e fria..."
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A Lua, que lhe foi mãe carinhosa,


Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...


E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"

*cinamomos: canela (substancia aromática usada pelos antigos)

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*silente: mudo
(Apud Manuel Bandeira, org. Apresentação da poesia brasileira)

Questões para Interpretação

1. Que há no poema que nos remete ao Romantismo? Explique.


O sentimentalismo exacerbado, idealização pelo amor e pela mulher, tom
depressivo pela tristeza após morte de namorada e prima na adolescência.
2. Que elemento do poema contraria os princípios parnasianos? Explique.
O sentimentalismo, pois o Parnasianismo defendia uma arte sem sentimentos
humanos apenas com importância para o belo e perfeito.
3. Que características simbolistas encontramos no poema?
Emoção, referência a cores, sonho e imaginação.

TEXTO

A catedral

Entre brumas, ao longe, surge a aurora.


O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.


Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os mus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce


A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:

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"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu é todo trevas: o vento uiva.


Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:


"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

(Apud Manuel Bandeira. Org. Apresentação da poesia brasileira)

Interpretação

1. Que características simbolistas você encontra no poema?


Uso da sinestesia, referência a cores, palavras religiosas.
2. Sabendo que ebúrneo significa "liso como o marfim", explique o trajeto da
"catedral" dos sonhos do eu-poético.
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.
3. Explique o significado do refrão em cada estrofe, considerando o verbo
utilizado em cada um e a presença da palavra "lúgubre".

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