Você está na página 1de 12

CÂMARA DOS DEPUTADOS

COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

Impugnação oferecida pela empresa


JME SERVIÇOS INTEGRADOS E
EQUIPAMENTOS LTDA. aos termos
do Edital do Pregão Eletrônico n.
38/2018.

Senhor Diretor-Geral,

O Pregão Eletrônico n. 38/2018 tem por objeto a prestação de


serviços continuados na área de operação técnica, arquivo integrados, bem
como na área de assistência técnica em equipamentos de áudio e vídeo da TV
e da Rádio Câmara, envolvendo serviços de manutenção preventiva e corretiva
e de instalação, pelo período de doze meses, de acordo com as quantidades e
especificações técnicas descritas no Edital.

2. A empresa JME SERVIÇOS INTEGRADOS E


EQUIPAMENTOS LTDA. ofereceu impugnação aos termos do edital do pregão
eletrônico em epígrafe, nos seguintes termos:

ILMO. SENHOR DANIEL DE SOUZA ANDRADE, PREGOEIRO DA


CÂMARA DOS DEPUTADOS

PREGÃO ELETRÔNICO Nº 038/2018


Processo n. 233.773/2017
UASG: 10001

JME SERVIÇOS INTEGRADOS E EQUIPAMENTOS LTDA, pessoa jurídica


de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 38.036.000/0001-14, sediada em
Brasília/DF, na SCRLN Qd. 716 Bloco F Ed. JME Ent. 55 – Bairro Asa Norte
– Brasília - Distrito Federal, comparece respeitosamente perante Vossa
Senhoria, para, na forma do art. 18 do Decreto 5.450/2005, apresentar
IMPUGNAÇÃO AO EDITAL DE LICITAÇÃO, cumulada com PEDIDO DE
ESCLARECIMENTOS, pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir
expostos:

DOS FUNDAMENTOS DA IMPUGNAÇÃO

I - DA QUALIFICAÇÃO TÉCNICA – QUALIFICAÇÃO TÉCNICO-


OPERACIONAL:

II. RESSALVA PRÉVIA

A Signatária manifesta, preliminarmente, seu respeito pelo trabalho do


Pregoeiro, da equipe de apoio, e de todo o corpo da Comissão Permanente
de Licitação.

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

As divergências objeto da presente impugnação referem-se unicamente à


aplicação da Constituição Federal, da Lei de Licitações, da Lei do Pregão e
do Decreto 5.450/2005 em relação ao procedimento licitatório em exame.
Não afetam, em nada, o respeito da Signatária pela instituição e pelos
ilustres profissionais que a integram.
No mais, a peticionária afirma seu total interesse e disposição em vir a
prestar serviços a esta Casa. No entanto, não pode deixar de questionar
algumas inconsistências presentes no Pregão Eletrônico nº 38/2018 ora
promovido.

III. CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE

Inicialmente, faz-se necessário esclarecer a tempestividade da presente


impugnação. Em consonância com a legislação em vigor e o disposto no
item 2.1 do Edital que estabelece o prazo para impugnação em até 2 (dois)
dias uteis antes da data fixada para a abertura da sessão pública.
Assim, tendo em vista que a realização do certame será no dia 25/04/2018,
o prazo para impugnar o Edital deve expirar em 23/04/2018.
Portanto, na forma da Lei (art. 18, Decreto 5.450/2005), esta licitante
encaminha a presente Impugnação ao Ato Convocatório, inequivocamente,
cabível e tempestiva.

IV. DA ILEGALIDADE NAS EXIGÊNCIAS DE COMPROVAÇÃO DE


QUESTÕES SUBJETIVAS PARA FINS DE QUALIFICAÇÃO TÉCNICA

No que se refere a qualificação técnica, prevê o instrumento o ato


convocatório a necessidade de apresentação de atestados de capacidade
técnica (o que é plenamente legal), mas fixar e quantificar o número mínimo
de 80 (oitenta) postos de trabalho, bem como limitar a comprovação das
funções de no mínimo 13 (treze) categorias (item 10.3). De modo que, tais
exigências são flagrantemente ilegais e, também por isso, restringem
ilegalmente a participação de diversas empresas no certame, portanto
devem ser extirpadas do instrumento convocatório como será claramente
demostrado adiante.

a. DA ILEGALIDADE DA EXIGÊNCIA DA APRESENTAÇÃO DE


COMPROVAÇÃO DE PELO MENOS 13 (TREZE)
CATEGORIAS/FUNÇÕES, PARA VALIDAÇÃO DA CAPACIDADE
TÉCNICA DA EMPRESA.

O item 10.3 do Edital determina:

“d.1) atestado(s) e/ou declaração(ões) de capacidade técnico-operacional,


em nome da licitante, emitido(s) por pessoa(s) jurídica(s) de direito público
ou privado que comprove(m) aptidão na gestão de recursos humanos,
demonstrando que a licitante administra ou administrou, satisfatoriamente,
no mínimo, 80 (oitenta) postos de trabalho, envolvendo pelo menos 13
(treze) das categorias/funções relacionadas no Anexo n. 2;”

É este o item impugnado.

A ilegalidade constante no Edital consiste, mais especificamente, em exigir


que os licitantes apresentem, para comprovar sua qualificação técnica, não
só Atestados de Capacidade Técnica, emitidos por pessoas jurídicas de
direito público ou privado às quais já tenha prestado serviços semelhantes,
como também o quantitativo mínimo de 13 (treze) categorias e suas
respectivas funções.

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

Tais exigências infringem, como demonstraremos, dispositivos da Lei nº


8.666/93 e os princípios que devem nortear a relação da Administração com
o particular, no âmbito do procedimento licitatório.

Dispõe o artigo 30 da Lei 8.666/93:

“Art. 30 A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a: (...)


II – comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e
compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da
licitação, (...)
§ 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do caput deste artigo, no
caso de licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados
fornecidos por pessoas ou jurídicas de direito público ou privado,
devidamente registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas
as exigências a: (...)
§ 5º É vedada a exigência de comprovação de atividade ou de aptidão com
limitações de tempo ou época ou ainda em locais específicos, ou quaisquer
outras não previstas nesta Lei, que inibam a participação na licitação”.

Uma leitura atenta do artigo 30 da Lei de Licitações e seus respectivos


incisos e parágrafos nos leva inequivocamente a concluir pela ilegalidade da
exigência do tipo de função desenvolvida, muito menos quantificar o mínimo
de funções junto aos Atestados de Capacidade Técnica pelas licitantes.

O caput do referido artigo é bastante claro ao anunciar que ele elenca


apenas aquilo o que é permitido à Administração exigir para fins de
comprovação da aptidão técnica da empresa. Delimita, assim, o limite
máximo de exigências que pode ser feito ao particular.

Ora, para se avaliar a experiência anterior dos licitantes – seja na


habilitação, seja no âmbito do julgamento da proposta técnica – basta o
exame dos atestados apresentados (que já reproduzem os dados
necessários à avaliação dos serviços prestados). Não é exigível que sejam
também apresentados pelos licitantes seja no atestado ou em documento
anexo o tipo de cargo ocupacional ou função que deram origem a esses
atestados, nem mesmo limitar o número mínimo 13 (treze) dos tipos cargos
ou funções.

É inegável que, assim como o artigo 27 da Lei de Licitações limita as


exigências que a Administração Pública pode fazer na fase de Habilitação
da empresa ao procedimento licitatório, o artigo 30 destina-se a especificar
o que pode ser exigido como quesito de qualificação técnica na licitação, em
termos não só de “aptidões” que a licitante deve possuir, como também de
documentação exigida para comprová-la.

Para além dessas exigências, a Lei faculta à Comissão apenas a


possibilidade de “promover diligências destinadas a esclarecer ou
complementar a instrução do processo” (art. 43, § 3º da Lei 8.666/93).

Na ausência de qualquer previsão legal expressa de que devem os


Atestados de Capacidade Técnica apresentados pelas licitantes vir
acompanhados de quantidades mínimas das categorias, ocupações ou
funções, entende-se abusiva e ilegal a exigência constante no edital acima
referido.

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

Ressalte-se que este entendimento não é fruto de uma leitura


excessivamente formalista e restritiva da Lei 8.666/93, mas encontra
amparo na própria Constituição Federal e na interpretação doutrinária
dominante acerca do disposto no artigo 30 da Lei de Licitações.

Conforme prevê o inciso XXI do artigo 37 da Constituição Federal:


“ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia
do cumprimento das obrigações (grifo nosso)”.

A respeito do dispositivo constitucional acima citado e do disposto no artigo


30 da Lei 8.666/9, ensina Marçal Justen Filho que:

“a legislação vigente não proíbe as exigências de qualificação técnica, mas


reprime exigências desnecessárias ou meramente formais (...)
Especialmente em virtude da regra constitucional (artigo 37, XXI), somente
poderão ser impostas exigências compatíveis com o mínimo de segurança
da Administração Pública. A regra é sempre a mesma: não poderão ser
impostas exigências excessivas ou inadequadas” (JUSTEN FILHO, Marçal.
Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, p. 305-306).

E continua, mais adiante:


“na linha de proibir cláusulas desarrazoadas, estabeleceu-se que somente
podem ser previstas no ato convocatório exigências autorizadas na Lei (art.
30, § 5º). Portanto, estão excluídas tanto as cláusulas expressamente
reprovadas pela Lei 8.666 como aquelas não expressamente por ela
permitidas (idem, p. 310)”

Sobre o assunto pronuncia-se também Carlos Pinto Coelho Motta, aludindo


ao papel de “guardião” do princípio da igualdade desempenhado pelas
limitações impostas pelo artigo 30 da Lei de Licitações:

“Os chamados ‘requisitos limítrofes’ da habilitação, circunscritos por lei (arts.


27 ao 31 da lei 8.666/93) e autorizados pela própria Carta Magna (art. 37,
XXI), situam-se em favor do princípio da igualdade, estabelecendo critérios
para a delimitação do que, em última análise, representará a ‘idoneidade’ do
proponente em dada licitação” (MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas
licitações e contratos, p. 227).

Para além da inequívoca ilegalidade da exigência de que a licitante


apresente não só atestados, mas também os detalhes excludentes
(quantidade de cargos e funções), com a finalidade de comprovar sua
qualificação técnica para fins de avaliação de sua proposta técnica. É uma
exigência discrepante em relação tanto às normas que regem os contratos
na esfera privada, quanto ao próprio sentido das exigências relativas à
qualificação técnica da empresa no procedimento licitatório.

A relação entre o particular e a Administração Pública, bem como o contrato


entre ambos celebrado é, como se sabe, regida por regras e princípios
específicos, com vistas a garantir o melhor atendimento do interesse
público. O requisito de forma escrita do contrato administrativo está previsto
no §único do art. 4º da Lei 8.666/93.

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

Tal aptidão, por sua vez, deriva da experiência anterior da empresa na


execução de serviços similares, que comprovem a aptidão para o
desempenho de atividade pertinente e compatível ao objeto licitado (art. 30,
II e § 3º da Lei 8.666/93).

Nesse sentido, a exigência constante no instrumento convocatório


configura-se, além de formalista, descabida: se o que importa é que o
licitante comprove a sua qualificação técnica, através de Atestados de
Capacidade Técnica. De modo que não faz sentido desconsiderar o serviço
prestado e, consequentemente, a real experiência que a licitante possui, em
função da ausência de uma informação formal, qual seja, de uma função ou
ocupação escrita celebrado entre a licitante e a empresa à qual o serviço foi
prestado.

Indo adiante, a exigência padece de absoluta falta de razoabilidade.

Não é razoável exigir dos licitantes que, apresentem, além dos atestados
comprovando a execução anterior de serviços similares aos do objeto do
Edital, como também a quantidade mínima de funções ali desempenhadas
nos contratos.

Ora, a exigência não encontra amparo racional: se o serviço é comprovado


pelo atendimento ao objeto da licitação, (exceto, é claro, em caso de
fundada dúvida a respeito do teor do atestado, caso que a Lei confere a
prerrogativa da diligência ao administrador).

Em outras palavras, a exigência formulada no Edital não se presta a


qualquer finalidade – senão restringir (sem qualquer motivação) a forma de
comprovação dos requisitos exigidos em sede de habilitação, restringindo
indevidamente a participação idônea de empresas que possuem diversos
contratos e clientes.

Nem mesmo visa ao atendimento do interesse público que, como


demonstrado acima, pode ser resguardado pela realização de diligências
(art. 43, §3º, da Lei 8.666/93), em caso de qualquer dúvida a respeito dos
atestados apresentados juntamente com a proposta.

Ademais, e considerando que a licitação sempre deve visar ampliar o


universo de competidores, as normas do edital devem ser interpretadas em
favor da ampliação da disputa.

A Lei 8.666/93, quando dispõe sobre a documentação que poderá ser


exigida para fins de aferição da qualificação técnica das licitantes, prevê:

Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica LIMITAR-SE-Á A:

§ 1o (...) no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por
atestados fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado,
devidamente registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas
as exigências a:

I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em


seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta,
profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela
entidade competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por
execução de obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas
exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou


prazos máximos;
II - (Vetado).
a) (Vetado).
b) (Vetado).

§ 2o As parcelas de maior relevância técnica e de valor significativo,


mencionadas no parágrafo anterior, serão definidas no instrumento
convocatório.

§ 3o Será sempre admitida a comprovação de aptidão através de certidões


ou atestados de obras ou serviços similares de complexidade tecnológica e
operacional equivalente ou superior.

§ 4o Nas licitações para fornecimento de bens, a comprovação de aptidão,


quando for o caso, será feita através de atestados fornecidos por pessoa
jurídica de direito público ou privado.

§ 5o É vedada a exigência de comprovação de atividade ou de aptidão com


limitações de tempo ou de época ou ainda em locais específicos, ou
quaisquer outras não previstas nesta Lei, que inibam a participação na
licitação.

§ 6o As exigências mínimas relativas a instalações de canteiros, máquinas,


equipamentos e pessoal técnico especializado, considerados essenciais
para o cumprimento do objeto da licitação, serão atendidas mediante a
apresentação de relação explícita e da declaração formal da sua
disponibilidade, sob as penas cabíveis, vedada as exigências de
propriedade e de localização prévia.

§ 7º (Vetado).
I - (Vetado).
II - (Vetado).

§ 8o No caso de obras, serviços e compras de grande vulto, de alta


complexidade técnica, poderá a Administração exigir dos licitantes a
metodologia de execução, cuja avaliação, para efeito de sua aceitação ou
não, antecederá sempre à análise dos preços e será efetuada
exclusivamente por critérios objetivos.

§ 9o Entende-se por licitação de alta complexidade técnica aquela que


envolva alta especialização, como fator de extrema relevância para garantir
a execução do objeto a ser contratado, ou que possa comprometer a
continuidade da prestação de serviços públicos essenciais.

§ 10. Os profissionais indicados pelo licitante para fins de comprovação da


capacitação técnico-profissional de que trata o inciso I do § 1o deste artigo
deverão participar da obra ou serviço objeto da licitação, admitindo-se a
substituição por profissionais de experiência equivalente ou superior, desde
que aprovada pela administração. (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)

Ora, da leitura do artigo supra, verifica-se que em nenhum momento a lei


menciona a possibilidade de exigir das licitantes o quantitativo mínimo de
cargos ou funções no atestado de capacidade técnica.

E a Lei de Licitações, assim como o Código Civil, não condicionam a


validade do atestado de capacidade técnica a esse requisito.

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

Suponha-se que determinado licitante (o que pode ser o caso desta


Impugnante), possua em seu poder atestados de capacidade técnica que
comprova 10 (dez) cargos vinculado ao Edital e outras dezenas de funções
similares, então esta licitante não poderá participar do pregão?

Aqui, novamente, a Administração pode lançar mão de seu poder de polícia


para efetuar diligencias e comprovar a veracidade das informações, sem
para tanto restringir indevidamente a competição.

Por isso, referida exigência causa afronta direta ao princípio da legalidade


(art. 37, caput da CF), segundo o qual à Administração Pública só é
permitido fazer o que a lei autoriza.

Consoante as lições de Carlos Ari Sundfeld, “a ligação da Administração


Pública com a lei é, portanto, extensa e inafastável, podendo ser resumida
como segue:

a) seus atos não podem contrariar, implícita ou explicitamente, a letra, o


espírito ou a finalidade da lei;
b) a Administração não pode agir quando a lei não autorize expressamente,
pelo que nada pode exigir ou vedar aos particulares que não esteja
previamente imposto nela”. (g.n.)

Além de a referida exigência ser ilegal, caso a Administração suspeite da


veracidade ou das informações prestadas no atestado de capacidade
técnica, deve valer-se da possibilidade de realização de diligência, prevista
no §3º do art. 43 da Lei 8.666/93:
Art. 43 § 3o É facultada à Comissão ou autoridade superior, em qualquer
fase da licitação, a promoção de diligência destinada a esclarecer ou a
complementar a instrução do processo, vedada a inclusão posterior de
documento ou informação que deveria constar originariamente da proposta.
(g.n.)

Diante disso, poderá ocorrer a situação da experiência da licitante existir,


mas não poder ser comprovada devido à exigência completamente ilegal
em comento, causando, por conseguinte, uma violação ao princípio da
competitividade, na medida em que nem todas as licitantes que detêm
experiência no objeto licitado poderão concorrer, simplesmente por não
possuírem determinadas funções emitentes no atestado.
Diante do exposto, e da ilegalidade da exigência supra, requer seja a
mesma suprimida do edital.

Então, trata-se da única forma de se preservar o caráter competitivo do


presente pregão, possibilitando a outros licitantes formular suas respectivas
propostas para participar do certame.

V. DO PEDIDO

Face ao exposto a Signatária requer, respeitosamente, que seja a presente


impugnação recebida e conhecida pela Administração, sendo atribuído o
efeito suspensivo, conforme o §2º do Art. 109 da Lei de Licitações. Assim,
pede-se que este Órgão republique o edital em questão, nos termos do
disposto no artigo 21, § 4º, da Lei de Licitações e Contratos Administrativos.

Por fim, em caso de indeferimento ou de ausência de resposta à presente


impugnação no prazo previsto no art. 18, § 1º do Decreto 5.450/2005, a

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

Signatária requererá as providências cabíveis ao Tribunal de Contas da


União, conforme lhe autoriza o §1º do art. 113 da Lei nº. 8.666/1993.

Nestes Termos
Pede deferimento,
Brasília, 20 de abril de 2018

É o relatório.

Parecer

3. A impugnação foi apresentada tempestivamente e atende aos


requisitos estabelecidos na lei, no regulamento e no edital, devendo, por isso, ser
recebida.

4. Em resumo, a empresa JME SERVIÇOS alega que é ilegal a


exigência disposta no item 10.3, “d.1”, do edital, de apresentação de atestado de
capacidade técnica que comprove que a empresa gerenciou o mínimo de 80 postos
de trabalho, envolvendo pelo menos 13 (treze) das categorias/funções relacionadas
no Anexo n. 2.

5. No mérito, o órgão técnico desta Casa Legislativa foi instado,


manifestando-se nos seguintes termos:
À CPL,

Apresenta-se, a seguir, a manifestação desta Secretaria, em atenção ao


pedido de impugnação formulado pela empresa JME Serviços Integrados e
Equipamentos Ltda., do edital do Pregão Eletrônico nº 38/18, no qual
sugere ser ilegal a exigência de fixar a quantidade mínima de postos de
trabalho, bem como de limitar a comprovação de quantidade mínima de
funções.

O referido edital tem por objeto a prestação de serviços continuados na área


de operação técnica, arquivo integrados, bem como na área de assistência
técnica em equipamentos de áudio e vídeo da TV e da Rádio Câmara,
envolvendo serviços de manutenção preventiva e corretiva e de instalação.

Como o certame envolve altos valores e número elevado de


profissionais e de categorias específicas para garantir o
funcionamento da TV e da Rádio Câmara, veículos de comunicação
essenciais na transparência das atividades legislativas da Câmara dos
Deputados, é essencial para a Administração garantir uma qualificação
mínima da futura empresa a ser contratada. É importante garantir a
aptidão na administração de mão-de-obra com número razoável de
funcionários e das categorias envolvidas, de modo a obter a
qualificação técnico-operacional necessária para a futura execução
contratual de serviço tão complexo e extremamente importante para a
Casa e para a sociedade.

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

Nesse sentido, no item 10 do edital – DA HABILITAÇÃO, de modo a


comprovar a qualificação técnico-operacional, será exigido da licitante
classificada provisoriamente em primeiro lugar, dentre outros documentos o
seguinte documento (item 10.3, alínea d.1):

“d.1) atestado(s) e/ou declaração(ões) de capacidade técnico-operacional,


em nome da licitante, emitido(s) por pessoa(s) jurídica(s) de direito público
ou privado que comprove(m) aptidão na gestão de recursos humanos,
demonstrando que a licitante administra ou administrou, satisfatoriamente,
no mínimo, 80 (oitenta) postos de trabalho, envolvendo pelo menos 13
(treze) das categorias/funções relacionadas no Anexo n. 2;”

Cabe esclarecer que o edital prevê, pelo menos, 172 (cento e setenta e
dois) profissionais, como quantidade mínima necessária para a prestação
do serviço. Esses profissionais estarão distribuídos em 39 (trinta e nove)
categorias, conforme se pode verificar no quadro de pessoal previsto no
item 2 do Anexo 2 do referido edital; Desconsiderando as categorias que
trabalharão em jornada reduzida, as quais possuem as mesmas atribuições
dos que trabalharão durante toda a semana, perfaz-se um total de 31 (trinta
e uma) categorias diferentes.

Pode-se verificar, portanto, que os quantitativos mínimos exigidos


para o atestado de capacidade técnico-operacional estão abaixo de
50% do total de funcionários e das categorias (para ser exato - 46,5%
em relação ao quantitativo total mínimo de funcionários e 41,9% das 31
categorias).

Importante ressaltar que tal exigência está, inclusive, abaixo, do


recomendado pelo Tribunal de Contas da União - TCU, em seu Acórdão
nº 1214/2013, conforme se pode verificar no item 9.1.12,

“9.1.12 seja fixada em edital, como qualificação técnico-operacional,


para a contratação de até 40 postos de trabalho, atestado
comprovando que a contratada tenha executado contrato com um
mínimo de 20 postos e, para contratos de mais de 40 (quarenta)
postos, seja exigido um mínimo de 50%;”.

Ademais, o próprio art. 30 da Lei 8.666/93, citado pela empresa, em seu


inciso II, prevê a “comprovação de aptidão para desempenho de atividade
pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o
objeto da licitação, (...)”.

Assim, a comprovação da características ficam comprovadas pela exigência


de comprovação de administração de mão-de-obra em, pelo menos, 13
(treze) categorias muito específicas como é o caso do presente edital e, em
relação à comprovação da quantidade mínima, observando-se o limite
recomendando pelo próprio TCU.

Diante do exposto, conclui-se que os argumentos apresentados pela


empresa JME Serviços Integrados e Equipamentos Ltda., não são passíveis
de serem aceitos pela Administração como motivo de impugnação do edital.

6. Em sua manifestação, a área técnica trouxe as razões que a


motivaram a exigir atestado de capacidade técnica nos termos constantes do edital e
refutou a tese de ilegalidade, trazida pela impugnante, ressaltando que as
exigências são razoáveis e guardam conformidade com a Lei 8666/93 e com as
9

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

recomendações do Tribunal de Contas da União.

7. Além disso, conforme bem destacou o órgão técnico, os


quantitativos exigidos no item 10.3, “d.1”, do edital correspondem a parcela menor
que 50% do número total de funcionários e categorias exigidas para a prestação do
serviço objeto do pregão em comento. Em verdade, os quantitativos de 80 postos de
trabalho, abrangendo pelo menos 13 categorias representam o mínimo de exigência
que a Administração pode estabelecer com o fim de assegurar a contratação de
empresa que demonstre capacidade técnica na prestação do serviço.

8. Em complemento à manifestação da área técnica, cabe


mencionar que as licitantes poderão apresentar mais de um atestado de capacidade
técnica para comprovar as referidas exigências, ou seja, será admitido o somatório
de atestados, não sendo necessário que a licitante comprove a quantidade de
postos de trabalho e de categorias somente por um único atestado.

9. Ademais, quanto à suposta ilegalidade aduzida na peça da


impugnante, destaque-se que o entendimento que prevalece atualmente na doutrina
e no âmbito do TCU é no sentido de ser válida exigência de quantitativos mínimos
quanto à qualificação técnico-operacional da empresa, desde que seja essencial
para a execução satisfatória da futura contratação.

10. Nessa linha de raciocínio, é o entendimento do professor


Marçal Justen Filho, em sua obra comentários à Lei de licitações e contratos
administrativos, p. 594, 16ª ed., 2014, a seguir transcrito:
“Admitindo-se, porém, que a lei autoriza exigências de capacitação técnica
operacional, ter-se-á de convir que tal se dá através da previsão direta do
próprio inc. II do art. 30.
Ora, esse dispositivo explicitamente autoriza exigência de experiência
anterior “compatível com as características, quantidades e prazos com
o objeto da licitação”. Ou seja, o mesmo dispositivo que dá supedâneo à
exigência de qualificação técnica operacional se refere a que deverá ela ser
compatível em termo de quantidade, prazo e outras características
essenciais ao objeto licitado.
Logo, se o objeto for uma ponte com quinhentos metros de extensão,
não é possível que a Administração se satisfaça com a comprovação
de que o sujeito já construiu uma “ponte” – eventualmente, com cinco
metros de extensão. Sempre que a dimensão quantitativa, o local, o
prazo ou qualquer outro dado for essencial à execução satisfatória da
prestação objeto da futura contratação ou retratar algum tipo de
dificuldade peculiar, a Administração estará no dever de impor
requisito de qualificação técnica operacional fundado nesses dados.”
(grifos nossos)

11. No âmbito do TCU, podemos citar o próprio Acórdão n.


1214/2013, mencionado pela área técnica, em sua manifestação, bem como o
Acórdão n. 1932/2012 – Plenário, do qual retiramos alguns trechos a seguir
transcritos:
26. Conforme destacado na instrução, e que igualmente constou da
decisão concessória da cautelar, a jurisprudência deste Tribunal é no
10

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO Proc. 233.773/2017

sentido de que não devem ser estabelecidos percentuais mínimos


acima de 50% dos quantitativos dos itens de maior relevância da obra
ou serviço, salvo em casos excepcionais, cujas justificativas devem estar
devidamente explicitadas no respectivo procedimento administrativo da
licitação.
27. Com efeito, quantitativos acima desse patamar de 50% podem
ser exigidos dos licitantes para fins de comprovação, mas a
Administração deve demonstrar de forma inequívoca as razões
técnicas que justificam o percentual adotado, o que, no meu sentir, não
restou comprovado no presente caso.
28. Bem de ver que não se está a questionar a exigência de
capacidade técnico operacional para o item assentamento de tubos, mas
sim o elevado quantitativo mínimo de comprovação constante do
edital, no caso de 63% para o assentamento de tubulação com DN maior
ou igual a 400 mm. (grifos nossos)

12. Portanto, observa-se que não procede a alegação da


impugnante de que haveria ilegalidade quanto às exigências de quantitativos de
postos de trabalho e de categorias a serem comprovados por meio de atestado de
capacidade técnica.

13. Ante o exposto, este pregoeiro apoia-se na manifestação da


área técnica para entender que a impugnação oferecida pela empresa JME
SERVIÇOS INTEGRADOS E EQUIPAMENTOS LTDA. não deve ser acolhida,
mantendo-se inalterados os termos do Edital do Pregão Eletrônico n. 38/2018.

Brasília, 23 de abril de 2018.

Daniel de Souza Andrade


Pregoeiro
/rj

11

Documento assinado por: Daniel de Souza Andrade, Marcelo Oliveira de Azevedo


Selo digital de segurança: 2018-WAAB-ZVET-OYNE-EGTB.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Diretoria-Geral

Processo n. 233773/2017

Assunto: Impugnação oferecida pela empresa JME SERVIÇOS INTEGRADOS E


EQUIPAMENTOS LTDA. aos termos do Edital do Pregão Eletrônico n. 38/2018

Em 23/4/2018

À vista das informações prestadas, DENEGO a impugnação oferecida pela


empresa JME SERVIÇOS INTEGRADOS E EQUIPAMENTOS LTDA. aos termos do
Edital do Pregão Eletrônico n. 38/2018, por julgar improcedentes os argumentos
apresentados, na forma do parecer do Pregoeiro.

À COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO, para as providências


cabíveis.

Assinado eletronicamente
Lúcio Henrique Xavier Lopes
Diretor-Geral

Documento assinado por: Lucio Henrique Xavier Lopes


Selo digital de segurança: 2018-EXVQ-WVGH-FQQQ-GLIL.

Você também pode gostar