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Cap 01
Cap 01
Os solos são cruciais para a vida na Terra. Desde a destruição da camada de ozônio e o
aquecimento global até o desmatamento das florestas tropicais e a poluição da água, os
ecossistemas terrestres são impactados de maneira diversificada por processos que aconte-
cem no solo. A qualidade do solo determina, de forma significativa, a natureza dos ecossis-
temas das plantas e a capacidade da terra em sustentar a vida animal e a dos seres humanos.
À medida que nos tornamos mais urbanizados, menos contato direto temos com o solo,
e perdemos de vista o quanto dependemos dele para nossa prosperidade e sobrevivência.
A verdade é que, no futuro, nosso grau de dependência do solo tende a aumentar, e não a
diminuir.
Os solos continuarão a nos suprir com quase todo o nosso alimento (com exceção
daquele que pode ser retirado dos oceanos). Quantos, ao comermos uma fatia de
pizza, se lembram de que a massa teve origem em um campo de trigo; e de que o
queijo surgiu com o capim, o trevo e o milho enraizados no solo de uma fazenda
de gado leiteiro? A maioria das fibras que usamos para a fabricação de papel,
compensados de madeira e roupas originaram-se de plantas que fincaram suas
raízes em solos de terras agrícolas e florestas naturais. Embora possamos usar,
como substitutos, plásticos e fibras sintéticas derivados de combustíveis fósseis,
ainda assim continuaremos a depender dos ecossistemas terrestres para que as
nossas necessidades sejam supridas.
Além disso, a biomassa que cresce sobre os solos, provavelmente, se tor-
nará um importante estoque para combustíveis e manufaturados, à medida
que as fontes finitas de petróleo se esgotem durante este século. Os primeiros
sinais do mercado nessa direção podem ser vistos nos biocombustíveis
fabricados a partir de produtos vegetais, nas tintas feitas do óleo de soja
e nos plásticos biodegradáveis sintetizados a partir do amido de milho
(Figura 1.1).
Uma dura realidade do século XXI é a de que o aumento da popu-
lação humana fará a demanda por bens materiais crescer em questão
de bilhões, ao mesmo tempo em que os recursos naturais disponíveis
para prover esse abastecimento encontram-se ameaçados, devido, em grande
parte, à degradação do solo e à sua urbanização. É evidente que devemos aprofundar nosso
conhecimento e manejo do solo como fornecedor de recursos vitais, se desejarmos sobreviver
enquanto espécie, sem comprometer o habitat das gerações presentes e futuras de todos os
seres vivos.
A Terra, nosso único lar na vastidão do universo, está coberta pelos elementos que susten-
tam a vida: ar, água e solo. No entanto, estamos vivendo em uma época em que as atividades
humanas vêm alterando a própria natureza desses elementos. Além disso, a destruição da ca-
mada de ozônio na estratosfera representa uma ameaça de maior incidência de radiação ultra-
violeta sobre nós. As concentrações crescentes de gases, como o dióxido de carbono e metano,
estão aquecendo o planeta e desestabilizando o clima global. As florestas tropicais úmidas – e a
extraordinária variedade de espécies vegetais e animais que elas contêm – estão desaparecendo
em um ritmo sem precedentes. Fontes de água subterrânea têm sido contaminadas em muitas
áreas e exauridas em outras. Em várias partes do planeta, a capacidade de os solos produzirem
alimentos vem diminuindo, e o número de pessoas que precisam ser alimentadas, aumen-
tando. Por todos esses motivos, promover um desenvolvimento global balanceado é o nosso
grande desafio.
Para isso, serão necessários novos conhecimentos e tecnologias para proteger o ambiente e,
paralelamente, garantir a produção de alimentos e biomassa a fim de atender às demandas da
sociedade. Assim, o estudo da ciência do solo nunca foi tão importante para os agricultores,
silvicultores, engenheiros civis, ecólogos e gestores de recursos naturais.
* N. de T.: As palavras e expressões que aparecem na Figura 1.1 podem ser traduzidas da seguinte forma:
Biodiesel: biodiesel; no smoking: proibido fumar; powered by soy biodiesel: funcionando à base de biodiesel de soja;
printed with soy ink: impresso com tinta de soja.
Modificador
da atmosfera
Sistema para
suprir e
purificar a água
Meio para obras de engenharia
Figura 1.2 As muitas funções do solo podem ser agrupadas em seis papéis ecológicos vitais.
A massa do solo fornece sustentação física, ancorando o sistema radicular para que a
planta não tombe. Às vezes, o vento forte ou a neve pesada derruba uma planta cujo sistema
radicular teve seu crescimento restringido em razão de o solo ser raso ou devido a outras con-
dições adversas (Figura 1.3).
Para obter energia, as raízes das plantas dependem do processo de respiração. E, já que
a respiração da raiz, assim como a nossa, consome oxigênio (O2) e exala dióxido de carbono
(CO2), uma importante função do solo é a aeração – a qual permite que o CO2 saia e o O2 do
ar fresco entre na rizosfera. Essa aeração é feita por meio da rede de poros do solo.
Os poros do solo têm outra função igualmente importante: a de absorver a água da chuva
e retê-la, de modo que ela possa ser aproveitada pelas raízes das plantas. Quando as folhas das
plantas estão expostas à luz solar, necessitam de um fluxo contínuo de água que será usado
na sua refrigeração, no transporte de nutrientes, na manutenção do turgor e na fotossíntese.
Mas, como as plantas usam a água de forma contínua, e na maioria dos lugares chove apenas
ocasionalmente, a capacidade de retenção de água do solo é essencial para a sobrevivência da
planta. Um solo profundo pode armazenar água em quantidade suficiente para permitir que
as plantas sobrevivam por muito tempo, mesmo em períodos de chuvas escassas (Figura 1.4).
O solo também controla as variações de temperatura. Talvez você se lembre de quando
escavava a terra do seu jardim, em uma tarde de verão, e percebia o quanto a superfície do solo
estava quente e, apenas alguns centímetros abaixo, estava bem mais fria. A explicação para isso
é que as propriedades isolantes do solo protegem a parte mais profunda do sistema radicular
das grandes oscilações de temperatura que muitas vezes ocorrem na sua superfície.
As substâncias fitotóxicas podem estar presentes nos solos como resultado da atividade
humana, ou podem ser produzidas pelas raízes das plantas, micro-organismos ou, ainda, por
reações químicas naturais. Um solo em boas condições irá proteger as plantas das concentra-
ções tóxicas de tais substâncias por meio da ventilação de gases, da decomposição ou adsorção
de toxinas orgânicas ou, ainda, da supressão de organismos produtores de substâncias tóxicas.
Por outro lado, alguns micro-organismos do solo produzem substâncias estimuladoras do
crescimento que podem melhorar o vigor das plantas.
Os solos fornecem nutrientes minerais às plantas. Um solo fértil irá fornecer, continua-
mente, nutrientes de origem mineral dissolvidos em quantidades e proporções relativas e ade-
quadas para um saudável crescimento das plantas. Os nutrientes incluem elementos metálicos
como potássio, cálcio, ferro e cobre, assim como elementos não metálicos como nitrogênio,
fósforo, enxofre e boro. A planta extrai todos esses elementos da solução do solo e incorpora a
maioria deles em milhares de diferentes compostos orgânicos que constituem os tecidos vege-
tais. Os animais, normalmente, obtêm nutrientes minerais indiretamente do solo pela inges-
tão de plantas. Em algumas circunstâncias, comer solo significa satisfazer a necessidade que os
animais (incluindo o homem) têm de ingerir sais minerais (Quadro 1.1).
Dos 92 elementos químicos que ocorrem naturalmente, 17 já foram compro-
Observe os elementos
essenciais na tabela vados como sendo elementos essenciais, o que significa que as plantas não podem
periódica interativa: crescer e completar seus ciclos de vida sem eles (Tabela 1.1). Os elementos essenciais
www.webelements.com utilizados pelas plantas em quantidades relativamente significativas são chamados de
macronutrientes; e aqueles usados em quantidades menores são conhecidos como
micronutrientes.
Além dos nutrientes minerais essenciais mencionados, as plantas também podem usar
pequenas quantidades de compostos orgânicos dos solos. No entanto, a absorção dessas subs-
tâncias não é necessária para o crescimento normal das plantas. Os metabólitos orgânicos,
enzimas e componentes estruturais que compõem a matéria seca das plantas consistem prin-
cipalmente em carbono, hidrogênio e oxigênio, que a planta obtém do ar e da água (por meio
da fotossíntese), e não do solo.
As plantas podem ser cultivadas sem qualquer tipo de solo em soluções nutritivas (um
método denominado hidroponia); mas, nestas condições, mecanismos que cumpram as fun-
ções de sustentação física para as plantas, exercidas pelo solo, devem ser incluídos nas casas
de vegetação onde se fazem os cultivos hidropônicos – mantidos a um alto custo de tempo,
de energia e de práticas de manejo. Embora a produção hidropônica em pequena escala para
algumas plantas de alto valor comercial seja viável, a produção mundial de alimentos e fibras,
bem como a manutenção dos ecossistemas naturais, sempre dependerá de milhões de quilô-
metros quadrados de solos produtivos.
QUADRO 1.1
Barro para o jantar?a
Tabela 1.1 Elementos essenciais para o crescimento das plantas e suas fontesa
As formas químicas que as plantas mais comumente absorvem são mostradas entre parênteses, com o símbolo
químico do elemento em negrito.
Micronutrientes: usados em
Macronutrientes: usados em quantidades quantidades relativamente pequenas
relativamente grandes (>0,1% do peso seco da planta) (<0,1% do peso seco da planta)
parte pode infiltrar-se lentamente através das camadas do solo até chegar aos lençóis fre-
áticos ou, finalmente, emergir nos mananciais (nascentes) que abastecem os rios durante
meses ou anos na forma de fluxos de base. Mesmo se a água estiver contaminada, à medida
que for penetrando nas camadas superiores do solo, ela vai sendo purificada por processos
nele atuantes, os quais removem muitas impurezas e eliminam possíveis organismos cau-
sadores de doenças.
Agora, compare o cenário anterior com outro em que o solo é pouco profundo ou
impermeável, de maneira que a maior parte da água da chuva não possa penetrá-lo e, por
isso, escorre sobre sua superfície morro abaixo, erodindo o solo e arrastando-o junto com
os detritos existentes sobre sua superfície, na forma de enxurrada lamacenta que, ganhando
cada vez mais velocidade, deságua de uma vez só em um rio. Nota-se, então, que o tipo de
solo e o sistema de manejo têm uma grande influência sobre a pureza, bem como a quanti-
dade de água que segue em direção aos sistemas aquáticos. Para aqueles que vivem em uma
casa na zona rural perto de um terreno com drenos de um tanque séptico, o solo – que atua
como um filtro purificador – é a principal barreira que se interpõe entre as descargas do
vaso sanitário e água corrente da pia da cozinha!
para a atmosfera como dióxido de carbono, o qual, novamente, irá se tornar parte dos or-
ganismos vivos por meio da fotossíntese das plantas. Alguns solos podem acumular grandes
quantidades de carbono na forma de matéria orgânica, tendo assim um grande impacto sobre
as mudanças globais, como o tão discutido efeito estufa (Seções 11.1 e 11.9).
“Terra firma” (terra firme!). Isto é o que costumamos pensar: o solo como sendo a base
firme e sólida sobre a qual é possível caminhar, construir estradas e todos os tipos de edifica-
ções. De fato, a maioria das construções se apoia no solo e necessita que ele seja escavado. In-
felizmente, como pode ser visto na Figura 1.7, alguns solos são menos estáveis do que outros.
Assim, para que edificações seguras sejam construídas sobre os solos (e com o material do solo)
é necessário conhecer muito bem a sua diversidade – o que será discutido, mais adiante, neste
capítulo. Os projetos elaborados para leitos de estradas ou fundações de edifícios podem ser
adequados para certo local, com um determinado tipo de solo, mas podem não ser apropria-
dos para outros, cujos solos têm outras características.
Trabalhar com solos naturais ou materiais escavados do solo não é como trabalhar com
concreto ou aço. Propriedades como a capacidade de carga, a compressão, a resistência ao cisa-
lhamento e a estabilidade são muito mais variáveis e difíceis de serem previstas para os solos do
que para os materiais de construção industrializados. O Capítulo 4 apresenta uma introdução
a algumas propriedades relacionadas ao solo como matéria-prima para obras de engenha-
ria. Muitas outras propriedades físicas discutidas terão aplicação direta para esses usos. Por
exemplo, o Capítulo 8 aborda a propriedade de expansão de certos tipos de argilas em solos.
Assim, o engenheiro civil deve estar ciente de que, quando os solos com argilas expansíveis são
umedecidos, elas se expandem com força suficiente para quebrar fundações e pavimentações.
Grande parte da informação sobre as propriedades e a classificação dos solos, que serão trata-
das em capítulos posteriores, será de grande valia para os profissionais que precisam planejar o
uso do solo como meio de construção ou escavação.
rg ssa
do
dos ciclos globais e da vida dos
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a
Ar
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ecossistemas terrestres. Na escala
de metros (b), o solo forma uma
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zona de transição entre a rocha
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as dura, abaixo, e a atmosfera, acima,
o
ad
l
do
Minerais em solo Águ Água e através da qual uma zona de fluxos
rochas, argilas substâncias
e sedimentos nela dissolvidas
de águas superficiais e subterrâ-
Litosfera Hidrosfera neas favorece o crescimento de
plantas e de outros organismos
vivos. Na escala de milímetros (c),
as partículas minerais formam o
Hidrosfera esqueleto do solo que define seus
(a) Biosfera espaços porosos – alguns preen-
Atmosfera Litosfera chidos com ar e outros, com água
– nos quais vivem pequenas criatu-
Biosfera ras. Finalmente, nas escalas micro
Litosfera e nanométrica (d), os minerais do
1m Sand
Areia Areia solo (litosfera) apresentam cargas
Solo Atmosfera (d) elétricas, superfícies reativas que
Hidrosfera
adsorvem água e cátions dissolvi-
(Água subterrânea) Biosfera dos em água (hidrosfera), gases (at-
mosfera), complexas macromolécu-
Litosfera Hidrosfera las de húmus e bactérias (biosfera).
(Rocha) 1 mm (Diagrama: cortesia de R. Weil)
(b) (c)
encontrar carvalhos, abetos e muitas outras espécies de árvores em uma floresta em particular,
assim como também se podem encontrar solos denominados “Christiana franco-argilosa”,
“Sunnyside areia-franca”, “Elkton franco-siltosa”* e outros tipos de solos em uma determinada
paisagem**.
Os solos são corpos naturais compostos de solo*** (o material que acabamos de descrever),
mais raízes, animais, rochas, artefatos e muitos outros materiais. Se você mergulhar um balde
em um lago, poderá amostrar um pouco de sua água. Da mesma maneira, escavando ou “tra-
dando” um buraco em um solo, você poderá retirar um pouco do material do solo. Dessa for-
ma, você pode levar uma amostra de solo ou de água a um laboratório e analisar seu conteúdo,
mas terá que ir ao campo para estudar um solo ou um lago.
Na maioria dos lugares, a rocha exposta na superfície da Terra se desintegrou e se alterou
para produzir uma camada de detritos inconsolidados que cobrem a rocha dura, não mete-
orizada. Essa camada não consolidada é chamada de regolito e, em alguns lugares, varia de
* N. de T.: Cristhiana, Sunnyside e Elkton referem-se a nomes de séries de solos identificadas nos Estados Unidos.
As séries, na taxonomia pedológica, são consideradas como equivalentes à categoria de espécies, na taxonomia
biológica; franco-argilosa, areia-franca e franco-sitosa referem-se ao nome da classe textural do horizonte mais su-
perficial do solo (Figura 4.4).
** N. de T.: Paisagem (landscape), neste livro, significa a extensão de território que se alcança em um lance de vista.
*** N. de T.: Aquilo a que os autores deste livro referem-se como solo (a soil), algumas vezes traduzimos como “ma-
terial do solo” nesta obra.
Horizonte O
Horizonte A
Solum
Horizonte B
Regolito
Horizonte C
Rocha
matriz
Figura 1.9 Posições relativas do regolito, seu solo e sua rocha matriz subjacente. Note que o solo é uma parte do
regolito e que os horizontes A e B fazem parte do solum (do latim, “solo” ou “terra”). O horizonte C é a parte do re-
golito subjacente ao solum, mas sua parte superior pode estar sendo lentamente transformada em solo. Às vezes, o
regolito é tão delgado que todo ele pode ter sido transformado em solo; neste caso, o solo permanece diretamente
assentado sobre a rocha. (Foto: cortesia de R. Weil)
Os animais do solo e a água que nele se infiltra deslocam alguns desses materiais orgâ-
nicos para baixo para se misturarem às partículas minerais do regolito. Estes, por sua vez,
juntam-se à decomposição de restos de raízes de plantas para formarem materiais orgânicos
que escurecerem a camada mineral mais superior. Além disso, uma vez que o intemperismo
tende a ser mais intenso perto da superfície, em muitos solos as camadas mais superiores
perdem, por lixiviação, para os horizontes situados mais abaixo, parte de sua argila ou de
outros produtos de intemperismo. Dessa forma, os horizontes A são as camadas mais pró-
ximas da superfície onde dominam partículas minerais que foram escurecidas devido ao
acúmulo de matéria orgânica.
Um horizonte mais superficial e enriquecido com matéria orgânica é, por vezes, chamado
de solo superficial. Os horizontes mais superficiais, de 12 a 25 cm de espessura, quando são
arados e cultivados, se modificam para formar uma camada arável. Em muitos solos, a maior
parte das raízes mais finas que alimentam as plantas é encontrada na camada mais superficial
ou camada arável do solo. Às vezes, alguns comerciantes removem a camada arável de um
determinado local e a vendem ou empilham esse solo para posterior utilização no plantio de
gramados ou arbustos ao redor de edifícios recém-construídos (Prancha 44).
Alguns solos que são muito intemperizados e lixiviados possuem, geralmente logo abaixo
do A, outro horizonte que não tem acúmulo de matéria orgânica – designado como horizon-
te E (Figura 1.10).
As camadas subjacentes aos horizontes A e O contêm relativamente menos materiais or-
gânicos do que os horizontes mais próximos da superfície. Quantidades variáveis de argilas
silicatadas, óxidos de ferro e de alumínio e gesso (ou carbonato de cálcio), podem se acumular
nesses horizontes subsuperficiais. Esses materiais que se acumulam podem ter sido levados
para baixo dos horizontes que os sobrepõem, ou podem ter sido formados in situ por meio dos
processos de intemperismo. Essas camadas subjacentes (por vezes referidas como subsolo) são
os horizontes B (Figura 1.10).
Muitas vezes, as raízes das plantas e os micro-organismos se estendem até abaixo do ho-
rizonte B, especialmente em regiões úmidas, causando mudanças químicas na água do solo,
algum intemperismo bioquímico do regolito e a formação do horizonte C, que é a parte do
perfil do solo menos intemperizada.
Em alguns perfis de solo, os horizontes que os compõem são muito diferentes em relação à
cor e têm transições nítidas que podem ser vistas facilmente até mesmo por observadores inex-
perientes. Em outros solos, as mudanças de cor entre os horizontes podem ser muito graduais,
e os seus limites, mais difíceis de serem identificados. A delimitação dos horizontes presentes
em um perfil do solo, muitas vezes, requer um exame cuidadoso, utilizando-se todos os nossos
sentidos. O pedólogo, além de ver as cores de um perfil, pode tatear, cheirar e ouvir o solo
(como exemplificado no Quadro 4.1), bem como realizar testes químicos para distinguir os
horizontes aí presentes. No Quadro 1.2 há um relato salientando a importância dos vários
horizontes do solo.
Sais
C
QUADRO 1.2
Usando informações do perfil do solo como um todo
Os solos são corpos tridimensionais, e todas as par- Por outro lado, é igualmente importante não limi-
tes de seus perfis participam de importantes proces- tar a nossa atenção para a porção mais superficial e
sos dos ecossistemas. Dependendo do tipo de estudo de mais fácil acesso do solo, já que muitas das suas
aplicado a finalidades práticas, a informação necessá- propriedades só podem ser identificadas nas camadas
ria para tomar decisões sobre o manejo adequado da mais profundas. Os problemas referentes ao cresci-
terra deve se basear nas camadas (horizontes) do solo: mento das plantas estão muitas vezes relacionados
tanto a mais superficial (por vezes tão delgada quanto com as condições inóspitas que restringem a pene-
o primeiro ou o segundo centímetro mais superficial), tração de raízes nos horizontes B ou C. Da mesma
como a mais profunda (por vezes tão espessa como forma, o grande volume dessas camadas mais profun-
todo o saprolito) (Figura 1.11). das pode controlar a quantidade de água disponível
Por exemplo, os primeiros centímetros da parte no solo para as plantas. Para efeito da identificação
mais superior do solo muitas vezes detêm as chaves ou mapeamento de diferentes tipos de solos, as pro-
para o entendimento sobre o crescimento das plantas priedades dos horizontes B são muitas vezes funda-
e a diversidade biológica, bem como certos processos mentais. Esta não é somente a zona de importantes
hidrológicos. Na interface solo-atmosfera, os seres vi- acúmulos de argilas, mas as camadas mais próximas
vos são mais numerosos e diversificados. Grande par- da superfície do solo também são mais suscetíveis de
te das árvores de florestas dependem desta delgada rápidas alterações pelo manejo da terra e pela ero-
zona para a absorção de nutrientes pelo denso manto são do solo; por isso não costumam ser consideradas
de raízes finas que aí crescem. As condições físicas como uma fonte confiável de informações para a clas-
dessa fina camada superficial pode também determi- sificação dos solos.
nar se a chuva vai se infiltrar ou escoar sobre a superfí- Nos regolitos profundamente intemperizados, os
cie de uma encosta. Determinados poluentes, como o horizontes C mais inferiores e o saprolito desempe-
chumbo dos gases dos escapamentos de veículos de nham papéis importantes. Essas camadas, geralmen-
uma estrada, também estão concentrados nessa zona. te em profundidades abaixo de 1 ou 2 m (e muitas
Para muitos tipos de investigações sobre o solo, será vezes atingindo profundidades de 5 a 10 m), afetam
necessário amostrar estes poucos centímetros da por- grandemente a aptidão dos solos para a maioria dos
ção superior à parte, de forma que importantes condi- usos urbanos nos quais são necessárias construções
ções não sejam negligenciadas. ou escavações. O bom funcionamento de sistemas de
tratamento de esgoto no local (tanques sépticos)
e a estabilidade das fundações de edificações
Aumento da importância de cada aplicação são muitas vezes determinados pelas proprieda-
0 0 des do regolito presente nessas profundidades.
A Da mesma forma, os processos que controlam o
movimento de poluentes para as águas subterrâ-
B
neas ou o desgaste de materiais geológicos po-
dem ocorrer em profundidades de muitos metros.
1
Essas camadas profundas também têm grandes
influências ecológicas porque, embora a intensi-
Profundidade do solo (m)
Textura do solo
A proporção de partículas, de acordo com esses limites de diferentes tamanhos, é descrita
como textura do solo. Termos como arenosa, argila-siltosa, argilosa e franca são usados para
identificar a textura do solo – a qual tem uma profunda influência sobre diversas propriedades
do solo e afeta a aptidão de um solo em relação à maioria de seus usos. Para entender o quanto
a textura interfere nas propriedades do solo, imagine primeiro tomar um banho de sol em
uma praia arenosa (com areia solta) e, em seguida, em uma praia argilosa (com lama pegajosa).
Para prever o efeito da argila no comportamento de um solo, é necessário conhecer os
tipos de argilas, bem como a quantidade presente. Como os responsáveis pela construção de
casas e pelo traçado das rodovias sabem muito bem, os solos contendo determinadas argilas
de alta atividade fazem com que qualquer de seus materiais, com o qual vão trabalhar, seja
instável – uma vez que eles expandem quando molhados e contraem quando secos. Essa ex-
pansão e contração podem facilmente rachar fundações e causar o colapso das fundações que
sustentam as paredes. Essas argilas também podem se tornar extremamente pegajosas e difíceis
de se trabalhar quando estão molhadas. Em contraste, as argilas de baixa atividade, formadas
em diferentes condições, podem ser muito estáveis e fáceis de serem trabalhadas. Aprender
sobre os diferentes tipos de minerais das argilas nos ajudará a entender as muitas diferenças
físicas e químicas existentes entre os solos das várias partes do mundo (Quadro 1.3).
Estrutura do solo
Partículas de areia, silte e argila podem ser imaginadas como os blocos de construção a partir
dos quais o solo é montado. A maneira como esses blocos estão posicionados é chamada de
estrutura do solo. As partículas individuais podem permanecer relativamente independentes
umas das outras, mas mais comumente se organizam em agregados de diferentes tamanhos de
partículas, os quais podem assumir a forma de grânulos arredondados, blocos, placas planas
ou outras formas. A estrutura do solo (ou a forma como as partículas são organizadas em con-
junto) é tão importante quanto a sua textura (quantidades relativas de diferentes tamanhos
de partículas) em relação ao movimento da água e do ar nos solos. Tanto a estrutura como a
textura influenciam, significativamente, muitos processos que ocorrem no solo, incluindo o
crescimento das raízes das plantas.
QUADRO 1.3
Observando os solos na vida diária
Os seus estudos sobre o solo podem ser aperfeiçoa- de análises do solo encontrado em sapatos, pneus ou
dos se você prestar atenção aos vários contatos diários ferramentas usadas no local do delito.
com muitos solos, cujas influências passam desperce- Outras pistas da presença de certos tipos de solos
bidas pela maioria das pessoas. Quando você cavar podem ser encontradas ainda mais perto de sua resi-
um buraco para plantar uma árvore ou construir uma dência. A próxima vez que você trouxer para casa aipo
cerca, observe as diferentes camadas de solo encon- ou alface do supermercado, olhe com cuidado para os
tradas e o aspecto de cada uma delas. Se você passar restos de solo grudados nas raízes do caule ou nas fo-
por um canteiro de obras, terá a chance de observar os lhas (Figura 1.14). Esfregue este solo entre o polegar e
horizontes expostos pelas escavações. Uma viagem de o indicador. Uma terra lisa e muito escura pode indicar
avião é uma ótima oportunidade para observar como que a alface foi cultivada em solo orgânico, como os
a paisagem dos solos varia entre as zonas climáticas. existentes no Estado de Nova York ou no sul da Flóri-
Se você estiver voando durante o dia, escolha um as- da (EUA). Um solo marrom, que produz uma sensação
sento à janela. Procure identificar a forma externa de suave e apenas ligeiramente áspera, é mais caracterís-
cada solo nos campos arados, considerando se você tico da região produtora da Califórnia, enquanto uma
está viajando na primavera ou no outono (Figura 1.13). cor clara e de sensação de areia grossa é comum em
Solos podem lhe dar pistas para compreender produtos originários das regiões produtoras de hor-
como funcionam os fenômenos naturais que ocorrem taliças do sul da Geórgia ou do norte da Flórida. Em
ao seu redor. Se estiver passeando ao longo de um um saco de feijão, você pode se deparar com alguns
riacho, preste atenção no seu fundo ou nos bancos pedaços de terra que, por serem do mesmo tamanho
arenosos e use uma lupa de bolso para examinar a do feijão, permaneceram após o processo de limpeza.
areia neles depositada. Ela pode conter minerais não Muitas vezes, esse solo é de cor escura e textura mui-
encontrados em rochas e solos locais, mas que se ori- to pegajosa, proveniente da área central do Estado
ginaram de muitos quilômetros rio acima. Quando de Michigan, onde uma grande parte do feijão dos
lavar o seu carro, veja se a lama dos pneus e do para- Estados Unidos é cultivada.
-lama tem cor e consistência diferentes das dos solos Considere que você tem boas oportunidades para
existentes perto de sua casa. Será que a “sujeira” do observar o solo tanto sob escalas maiores, com senso-
seu carro pode lhe dizer por onde você andou dirigin- res remotos, até as menores e microscópicas. À medi-
do? Investigadores forenses têm sido orientados pe- da que aprender mais sobre o solo, você irá, sem dúvi-
los pedólogos em seu trabalho de localizar vítimas de da, ser capaz de perceber mais exemplos de como ele
crimes ou na identificação de um criminoso por meio está presente em várias situações de sua vida.
Figura 1.13 Os corpos de solo com cores claras e Figura 1.14 O solo escuro e lamacento, grudado na
escuras podem ser vistos a partir de um avião, sobre- base deste talo de aipo indica que ele foi cultivado
voando a região central do Texas (EUA), e refletem em solos orgânicos, provavelmente do Estado de
as diferenças na drenagem e no relevo da paisagem. Nova York (EUA). (Foto: cortesia de R. Weil)
(Foto: cortesia de R. Weil)
A matéria orgânica também aumenta a quantidade de água que um solo pode reter,
bem como a proporção de água disponível para o crescimento das plantas (Figura 1.16).
Além disso, a matéria orgânica é uma importante fonte dos nutrientes fósforo e enxofre,
além de ser a principal fonte de nitrogênio para a maioria dos vegetais. À medida que a
matéria orgânica do solo se decompõe, esses elementos nutrientes, que estão presentes em
compostos orgânicos, são liberados como íons solúveis que podem ser absorvidos pelas
raízes das plantas. Finalmente, a matéria orgânica, incluindo os resíduos de plantas e ani-
mais, é o principal alimento para abastecer de carbono e energia os organismos do solo.
Sem ela a atividade bioquímica, tão essencial para o funcionamento do ecossistema, quase
se estagnaria.
O húmus, geralmente de cor preta ou marrom, é um conjunto de compostos orgânicos
complexos que se acumulam no solo porque são relativamente resistentes à decomposição. Da
mesma forma que a argila, ele é uma fração coloidal da matéria mineral do solo. Por causa de
suas superfícies com cargas elétricas, tanto o húmus como a argila atuam como ligantes entre
as partículas maiores do solo e, por isso, ambos têm um papel importante na formação da sua
estrutura. As cargas na superfície do húmus, como as da argila, atraem e mantêm tanto os
íons de nutrientes como as moléculas de água. No entanto, grama por grama, a capacidade do
húmus em reter nutrientes e água é muito maior do que a da argila. Além disso, uma peque-
na quantidade de húmus pode aumentar extremamente a capacidade do solo de promover o
crescimento das plantas.
Figura 1.15 À esquerda: a matéria orgânica abundante, incluindo a das raízes das plantas, ajuda a criar condições
físicas favoráveis para o crescimento das plantas superiores, bem como o dos micróbios. À direita: em contraste, solos
pobres em matéria orgânica, especialmente se ricos em silte e argila, são muitas vezes compactos e não adequados
para um ótimo crescimento das plantas. (Fotos: cortesia de N. C. Brady)
Figura 1.16 Solos com conteúdo mais elevado de matéria orgânica têm maior capacidade de
retenção de água do que os com pouca matéria orgânica. Em ambos os recipientes, o solo tem
a mesma textura, mas o da direita tem menos matéria orgânica. A mesma quantidade de água
foi adicionada em cada recipiente. A profundidade de penetração da água foi menor no solo
com maior concentração de material orgânico (à esquerda), devido à sua maior capacidade de
retenção de água. Foi necessária uma maior quantidade de material de solo com pouca matéria
orgânica para que a mesma quantidade de água pudesse ser mantida. (Foto: cortesia de N. C. Brady)
A água é retida dentro dos poros do solo com diferentes graus de tenacidade, dependendo
da sua quantidade presente e do tamanho dos poros. A atração entre a água e a superfície das
partículas do solo limita fortemente a capacidade de a água fluir.
Quando o teor de umidade do solo é ideal para o crescimento da planta (Figura 1.12), a
água pode se mover no solo por intermédio dos poros de grande e médio porte e assim ser fa-
cilmente utilizada pelas plantas. No entanto, quando uma planta cresce, suas raízes removem
primeiro a água dos poros maiores. Quando isso acontece, esses poros detêm apenas ar, e a
água remanescente permanece apenas nos poros de tamanho intermediário ou menor. Nesses
poros menores, ela permanece tão fortemente retida nas superfícies de partículas que as raízes
das plantas não podem retirá-la. Consequentemente, nem toda a água do solo ficará disponível
às plantas.
Solução do solo
Uma vez que a água do solo não se encontra em estado puro, porque contém centenas de
substâncias inorgânicas e orgânicas nela dissolvidas, ela deve ser mais precisamente chamada
de solução do solo. Os sólidos do solo, principalmente as diminutas partículas coloidais or-
gânicas e inorgânicas (argila e húmus), liberam elementos nutrientes para a solução do solo,
a partir da qual eles são absorvidos pelas raízes das plantas. Essa solução tende a resistir a alte-
rações na sua composição, mesmo quando alguns compostos são adicionados ou removidos
do solo. Essa capacidade de resistir à mudança é denominada capacidade tampão do solo
e depende quimicamente de muitas reações biológicas, incluindo a atração e a liberação de
substâncias por partículas coloidais (Capítulo 8).
Muitas reações químicas e biológicas dependem dos níveis relativos de íons de hidrogênio
(H ) e hidroxila (OH-) na solução do solo, que são comumente determinados medindo-se o
+
pH do solo. O pH é uma escala logarítmica usada para expressar o grau de acidez ou alcalini-
dade do solo (Figuras 1.17 e 1.18). Ele é considerado uma variável-chave em química do solo
e é de grande importância para quase todos os aspectos da ciência do solo.
H OH
+
Neutra
–
H
OH
+
Alcalina
são 100 vezes mais numerosos do que pH = 6,0 pH = 7,0 pH = 8,0
os íons H+. Por isso, uma solução com
pH 8 é alcalina.
Neutralidade
Acidez Alcalinidade
Muito forte
Moderada
Moderada
Neu-
Forte
Forte
Leve
Leve
3 4 5 6 7 8 9 10 11
pH extremo Faixa de pH Só atingido por
comum para Faixa de pH
para solos solos minerais
solos minerais comum para
orgânicos alcalinos
de regiões solos minerais
ácidos e
úmidas de regiões áridas
solos ácidos-
-sulfatados Faixa máxima de pH para a
(tiomórficos) maioria dos solos minerais
Figura 1.18 Faixa extrema de pH para a maioria dos solos minerais e faixas comumente encon-
tradas em solos de regiões úmidas e áridas. São também indicados a alcalinidade máxima para
solos alcalinos e o pH mínimo para solos orgânicos muito ácidos.
de poros menores cheios de água, onde são intensas as atividades metabólicas das raízes,
plantas e micro-organismos.
A composição do ar do solo varia muito de um local para outro. Em compartimentos
pequenos e isolados, alguns gases são consumidos pelas raízes das plantas ou pelas reações
microbianas, enquanto outros são liberados, modificando de forma significativa a compo-
sição do ar do solo. Geralmente, esse ar tem um maior teor de umidade do que o da atmos-
fera; a umidade relativa do ar do solo se mantém perto de 100%, a menos que ele esteja
muito seco. O conteúdo de dióxido de carbono (CO2) é geralmente muito mais elevado
do que o de oxigênio (O2) e um pouco menor do que o teor desses gases quando estão na
atmosfera.
O teor e a composição do ar do solo são determinados, em grande parte, pelo seu teor de
água, uma vez que o ar é encontrado naqueles poros não ocupados pelo líquido. À medida que
o solo vai sendo drenado, depois de ter sido molhado com uma forte chuva (ou um trabalho
de irrigação), e que a água vai sendo removida pela evaporação ou transpiração das plantas, os
poros primeiro abandonados pela água são os grandes, seguidos daqueles de tamanho médio
e, finalmente, pelos menores. Isso explica a tendência de os solos com uma elevada proporção
de poros muito pequenos possuírem aeração deficiente. Em casos extremos, a falta de oxigê-
nio, tanto no ar do solo como no ar dissolvido na sua água, pode alterar fundamentalmente
as reações químicas que ocorrem na solução do solo. Isto é de particular importância para a
compreensão das funções dos solos das terras úmidas (Capítulo 7).
1
Adsorção se refere à atração de íons em direção à superfície das partículas; absorção é o processo pelo qual os íons
são captados para o interior das raízes. Os íons adsorvidos podem ser trocados pelos da solução do solo.
ção eletrostática sobre superfícies coloidais e passam para a solução do solo. No exemplo
abaixo, um íon H+ na solução do solo é mostrado trocando de lugar com um íon K adsorvido
na superfície coloidal:
Manejo de nutrientes das O íon K+ assim liberado pode ser facilmente repassado (absorvido) pelas plantas.
plantas cultivadas Alguns cientistas consideram que esse processo de troca iônica é uma das mais im-
na África: portantes reações químicas da natureza.
http://www.fao.org/ag/
magazine/spot3.htm
Os íons nutrientes também vão sendo liberados para a solução do solo à medida
que seus micro-organismos decompõem os tecidos orgânicos. As raízes das plantas
podem facilmente absorver todos esses nutrientes da solução do solo sempre que o O2 do seu
ar seja suficiente para sustentar seu metabolismo.
A maioria dos solos contém grandes quantidades de nutrientes relativas às necessidades
anuais para o crescimento das plantas. No entanto, a maior parte dos elementos nutrientes
está retida no interior da estrutura dos minerais primários e secundários e da matéria orgânica.
Apenas uma pequena fração do teor total de nutrientes de um solo está presente em formas
prontamente disponíveis para as plantas. A Tabela 1.2 vai lhe dar uma ideia das quantidades
de vários elementos essenciais presentes em diferentes formas em solos característicos de re-
giões úmidas e áridas.
A Figura 1.19 ilustra como os dois componentes sólidos do solo interagem com a fase
líquida (a solução do solo) para fornecer elementos essenciais para as plantas. As raízes das
plantas não ingerem partículas do solo, por menores que elas sejam, porque são somente ca-
pazes de absorver os nutrientes dissolvidos na solução do solo. Como os elementos contidos
na estrutura dos minerais da fração do solo podem ser apenas muito lentamente liberados
para a solução do solo, a maior parte dos nutrientes não está prontamente disponível para ser
usada pela planta. Elementos nutrientes contidos no interior das partículas coloidais podem
ser um pouco mais rapidamente liberados para as plantas, porque essas minúsculas partículas
se alteram com mais rapidez devido à sua maior área de superfície. Dessa forma, os nutrientes
contidos na estrutura dos minerais primários são o principal depósito e, em alguns solos, uma
fonte significativa de elementos essenciais.
Tabela 1.2 Quantidades dos seis elementos essenciais encontrados nos primeiros 15 cm de solos
representativos de regiões temperadas
Solo de região úmida Solo de região árida
COO
OOC
Raiz da planta
R
WE TR
E R T
TY
B
• 197
I Y
OD
IN
B E R
BOND
777 Pearly Gates Lane L
I T
Mansiontown, PA 10101 19
Y
IN GOD
Pay To TRUSTWE
$
D $
The Order Of IN GOD WE
BON
19
74 TRUST
L
Mansiontown Office
D WE TRU
RT
Mansiontown, PA 10101
$ $
Y • 1972
$ $ For IN GOD WE
GO
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LI
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ST 197 4 I
U
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D W TR
TY
E
• 197
O
G
IN
Figura 1.19 Os elementos nutrientes existem nos solos sob várias formas e caracterizados por diferentes padrões
de acessibilidade às raízes (mostrados aqui em analogia às aplicações financeiras, de acordo com os seus graus de
liquidez). A parte maior dos nutrientes está retida na estrutura dos minerais primários, das argilas, da matéria orgânica
bruta e do húmus. Uma proporção menor de cada nutriente está adsorvida em um aglomerado de íons próximo à su-
perfície dos coloides (argilas e húmus). Desse aglomerado de íons adsorvidos, uma quantidade ainda menor é dispo-
nibilizada para a solução do solo, onde as raízes das plantas podem absorvê-los. (Diagrama: cortesia de R. Weil)
massa, que acontece quando os nutrientes dissolvidos são transportados junto com a água
do solo que flui em direção a uma raiz e por esta é sugada. Esse tipo de movimento dos íons
de nutrientes pode ser comparado às folhas flutuando na corrente de um rio. No entanto, as
plantas podem continuar a absorver os nutrientes, mesmo à noite, quando a água é absorvida
muito lentamente para as raízes. Para isso, os íons nutrientes se movimentam continuamente
por difusão, partindo de áreas com maior concentração de nutrientes para as de menos con-
centração, estas situadas em torno da superfície da raiz.
Uma vez que a absorção de nutrientes é um processo metabólico ativo, as condições que
inibem o metabolismo da raiz também podem inibir a sua absorção. Exemplos de tais condi-
ções inibidoras incluem o conteúdo excessivo de água ou a compactação do solo, resultando
em aeração deficiente, temperaturas muito quentes ou frias e condições acima da superfície
que resultam em baixa translocação de açúcares para as raízes das plantas. Dessa forma, po-
demos notar que a nutrição das plantas envolve processos biológicos, físicos e químicos, bem
como interações entre os diversos componentes dos solos e do ambiente.
Radicela
delas são a textura e a composição mineral. Outras propriedades do solo, como a estrutura e
o teor de matéria orgânica, podem ser significativamente alteradas pelo manejo. Essas pro-
priedades mais mutáveis do solo podem indicar o grau de sua qualidade em relação ao seu
potencial, à semelhança com que a turbidez ou o teor de oxigênio indica o grau da qualidade
da água de um rio.
1.18 CONCLUSÃO
O solo da Terra consiste em numerosos indivíduos solo, cada um dos quais é um corpo tridi-
Provérbios sobre o solo. mensional natural na paisagem. Cada solo em particular é caracterizado por um con-
Yoseph Araya. Vá até a junto único de propriedades e horizontes, expressos no seu perfil. A natureza das ca-
p.40: madas de solo, visto em um determinado perfil, está estreitamente relacionada com a
http://www.iuss.org/
natureza das condições ambientais em um determinado local.
Bulletins/IUSS%20
Bulletin%20103.pdf Os solos realizam seis grandes funções ecológicas. Eles (1) agem como o principal
meio para o crescimento das plantas; (2) regulam o abastecimento de água; (3) mo-
dificam a atmosfera; (4) reciclam matérias-primas e produtos residuais; (5) fornecem o habitat
para muitos tipos de organismos; e (6) servem como um meio importante para a engenharia
na construção civil. Portanto, o solo é um ecossistema importante por si só. Os solos do mun-
do são extremamente diversos, cada tipo podendo ser caracterizado por um conjunto único de
horizontes. Um solo superficial característico em boas condições para o crescimento da planta
é composto por cerca de metade de material sólido (principalmente minerais, mas também
com um importante componente orgânico) e metade dos poros preenchidos com diferentes
proporções de água e ar. Esses componentes interagem para influenciar uma miríade de fun-
ções complexas do solo; portanto, conhecer bem os solos é essencial para o bom manejo dos
nossos recursos terrestres.
Se reservarmos algum tempo para aprender a linguagem da terra, o solo falará conosco.
REFERÊNCIAS
Abrahams, P. W. 2005. “Geophagy and the involuntary Food and Agriculture Organization of the United Nations.
ingestion of soil,” pp. 435–457, in O. Selinus (ed.), 2005. Global forest resources assessment 2005. www.fao.org/
Essentials of medical geology. Elsevier, The Hague. forestry/site/fra2005/en (verified 17 November 2008).
Epstein, E., and A. J. Bloom. 2005. Mineral nutrition of plants: Stokes, T. 2006. The earth-eaters. Nature 444:543–554.
Principles and perspectives, 2nd ed. Sinauer Associates,
Sunderland, MA.