Você está na página 1de 16

Universidade Federal do Ceará - UFC

Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

Rota acessível entre edificações culturais: uma revisão sistemática da


literatura

Clarissa Fonseca Azevedo de Melo

Resumo
A partir do final da década de 1980, o Brasil tem dado importantes passos no
tratamento do tema da acessibilidade e inclusão social das pessoas com
deficiência e mobilidade reduzida. Com a promulgação da “Constituição Cidadã”
de 1988, é declarada a igualdade de todas as pessoas perante a lei, e que os
espaços devem se adaptar às condições de acessibilidade para promoção
equidade de oportunidade para todos. Além disso, a constituição ampliou o
conceito de patrimônio cultural e abordou o direito do acesso à cultura por todos,
inclusive aos centros históricos. Este artigo tem por objetivo investigar a
produção acadêmica relacionada à estudos de casos e análises de rotas
acessíveis em centros históricos ou que interliguem edificações culturais. Para
isto foi feita uma revisão sistemática de literatura utilizando o portal Google
Acadêmico considerando os trabalhos desenvolvido neste século (2000 - 2021),
e conforme os critérios de inclusão e exclusão pré-definidos pela autora.

Palavras chaves: Acessibilidade; Rota acessível; Centro histórico; Edifícios


culturais.

1. Introdução
Discussões sobre a eliminação de barreiras e adequação do espaço para
pessoas com deficiência iniciaram no mundo a partir da década de 60 com
convenções e assembleias internacionais. No Brasil, a temática da
acessibilidade ganhou maior notoriedade a partir da publicação da norma de
acessibilidade em 1985 (NBR 9050/1985) com revisões em 2004, 2015 e 2020.
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

Um marco para o assunto foi a Constituição de 1988, conhecida como


“constituição cidadã”, na qual previa acesso adequado em edifícios e transportes
públicos pelas pessoas com deficiência. O artigo 227, § 2º (Brasil, 1988) prevê
que “a lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios
de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência”. Além disso, o
artigo 5º desta mesma constituição prescreve que “todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza”, o que representa o princípio jurídico da
isonomia, fundamental para o cumprimento da cidadania por parte de todas as
pessoas. Portanto, aplicando este conceito à acessibilidade, entende-se que a
promoção de espaços acessíveis é essencial para garantir que todas as
pessoas, independentemente de suas condições físicas, sensoriais e
psicológicas tenham igualdade de oportunidades em todas as situações.
Segundo a norma NBR 9050/2020 (ABNT/2020, pg.2) acessibilidade é
definida como:
A possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para
utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários,
equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e
comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros
serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de
uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com
deficiência ou mobilidade reduzida (ABNT, 2020)

A partir da Constituição 1988 a temática da acessibilidade foi ganhando


cada vez mais notoriedade e foram surgindo outras normas que asseguram o
direito de ir e vir das pessoas com deficiência. Segundo a Lei Brasileira de
Inclusão (Brasil, 2015), deficiência é “uma restrição física, mental ou sensorial,
de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma
ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente
econômico e social”. Vale ressaltar que a promoção da acessibilidade não
beneficia somente as pessoas com deficiência, e sim a todos, pois ambientes
acessíveis são mais adequados para utilização dos espaços e dos equipamentos
com mais segurança e autonomia.
A primeira lei vinculada às pessoas com deficiência é a Lei nº 7.405 de 12
de novembro de 1985, a qual torna obrigatória a colocação do “Símbolo
Internacional de Acesso” em todos os locais e serviços que permitam sua
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

utilização por pessoas com deficiência. Logo depois, em 1988, veio a Nova
Constituição Brasileira já comentada anteriormente, que trouxe a acessibilidade
para um direito constitucional. No ano 2000 foram elaboradas duas importantes
leis: a Lei 10.048/2000, a qual garante prioridade de atendimento às pessoas
com deficiência, idosos e gestantes nas repartições públicas e empresas
concessionárias de serviço público, garante reservas de assentos em
transportes públicos, e delibera a necessidade de normas de construção
específicas para logradouros, sanitários públicos e edifícios públicos que facilite
seus acessos e usos pelas pessoas com deficiência; e a Lei 10.098/2020, que
“estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida” (BRASIL,
2000). Apesar da importância dessas leis, somente com o Decreto 5296/2004
elas foram regulamentadas juntamente com a criação do Programa Nacional de
Acessibilidade.
Por fim, em 2015 foi instituída a legislação nacional mais recente que
corrobora para tais questões, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência descrita pela Lei 13146/2015 “destinada a assegurar e a promover,
em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
cidadania”. (BRASIL, 2015)
Apesar da existência das leis, das normas e da extensa discussão sobre
o tema, elas não são respeitadas. Percebe-se que a adaptação dos espaços à
igualdade de acesso por todas as pessoas, incluindo as que possuem algum tipo
de deficiência ou mobilidade reduzida, não é algo que se encontra em todos os
lugares, muitas edificações não obedecem às normas, a começar pelas calçadas
urbanas que normalmente apresentam grandes desníveis, pisos inadequados e
obstáculos que impedem a plena circulação de todos. Tais descumprimentos às
leis e normas se aplicam também às edificações históricas que, além de haver a
falta de aplicação das leis de acessibilidade, há a particularidade de serem
protegidas por órgãos de preservação, sendo a intervenção física ainda mais
limitada.
Os edifícios históricos constituem o patrimônio cultural e histórico de um
determinado lugar. Entende-se como patrimônio cultural de uma cidade todos os
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

vestígios da cultura que ela vivenciou em determinada época e tudo que já teve
um significado relevante na sua história. No caso do patrimônio cultural edificado,
é composto pelas edificações que possuem valor histórico e cultural, seja pelo
seu estilo arquitetônico, por suas técnicas construtivas ou até mesmo pela
importância do uso atribuído a ela em determinado período da história.
A Constituição Federal de 1988, expõe o conceito de patrimônio em seu
Art. 216 como: “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira” (Brasil,1988). A Carta de Burra (1979, p. 04) explica: “As
edificações históricas estão ligadas à comunidade e seu passado, à paisagem
urbana, e às experiências vividas. Elas refletem a diversidade das comunidades,
dizendo-as quem são e qual foi o passado que as formou”.
Analisar a acessibilidade dos edifícios culturais sem analisar como o
usuário chega às edificações equivale a uma análise incompleta da
acessibilidade. “Todo o percurso até a edificação deverá estar pronto a
proporcionar acesso livre, seguro e confortável ao usuário” (REIS, 2015, pg.42),
e é a partir disso que é necessária uma análise da acessibilidade urbana, focada
no ambiente dos centros e sítios históricos considerando a existência de rotas
acessíveis em seus espaços e o entorno das edificações. Como sugere Costa,
2015: “os percursos pedonais são importantes na estruturação de uma cidade
acessível, e fundamentalmente na valorização do património histórico-cultural de
uma cidade histórica.”
Segundo a NBR 9050/2020 (ABNT, 2020, pg. 05), pode-se definir rota
acessível como:
Trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecte os ambientes
externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser
utilizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas, inclusive
aquelas com deficiência e mobilidade reduzida. A rota acessível pode
incorporar estacionamentos, calçadas rebaixadas, faixas de travessia
de pedestres, pisos, corredores, escadas e rampas, entre outros.

Quando se relaciona o patrimônio histórico à dimensão urbana pode-se


conceituar Sítio Histórico e Centro Histórico. Os Sítios Históricos são locais ou
grupos de locais que possuem relevância histórica, normalmente com a
presença de edificações, sendo testemunho de experiências coletivas e
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

princípios de identidade. O Centros Histórico é o local geográfico onde surgiu o


núcleo urbano da cidade, normalmente sua parte mais antiga da cidade.
A implantação de rotas acessíveis em sítios históricos é um desafio
necessário para garantir o acesso à cultura assegurado pelo Estado conforme
prevê o Artigo 215º da constituição. É um desafio, pois considerando a
importância histórica do lugar e considerando que são área protegidas pelo
Estado, as intervenções físicas devem ocorrer respeitando as especificidades do
local, sem descaracterizá-lo, e mediante órgão competente que no Brasil é o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan (criado pelo Decreto
nº 25 de 1937).

As necessidades atuais de uso e circulação em sítios e edifícios


históricos na maior parte das vezes entram em conflito com as normas
e indicações de preservação do patrimônio, pois os elementos e
referências históricas devem ser respeitados na sua autenticidade.
Encontrar soluções exige conhecimento e criatividade, além de
respeito e valorização do passado e da evolução histórica e urbana da
localidade. (IPHAN, 2014, pg. 07)

Embora a implantação de rotas acessíveis em centros históricos não seja


fácil, com a tecnologia e o conhecimento que se possui atualmente, o cenário da
coexistência de acessibilidade e patrimônio é possível, podendo se ter como
exemplo os casos de sucesso principalmente no continente europeu.
Considerando as temáticas acessibilidade e patrimônio histórico
apresentadas, o objetivo deste trabalho é investigar a produção de trabalhos
sobre análise ou propostas de rotas acessíveis em centros ou sítios históricos
considerando um percurso entre edificações culturais. A justificativa para
realização dessa pesquisa baseia-se pelo desafio de correlacionar essas duas
temáticas, considerando que edificações históricas e sítios históricos muitas
vezes são protegidos por lei, sendo assim mais complexo quaisquer
intervenções nesses locais. Considera-se também o fato do acesso à cultura por
todos ser um direito amparado por lei e, uma vez que tais locais não possuem
acessibilidade há uma consequente exclusão social das pessoas com deficiência
e de pessoas com mobilidade reduzida, como idosos, grávidas e obesos,
dificultando ou até mesmo impedindo-lhes de acessar tais locais de cultura; e,
além disso, é uma temática pouco explorada, estando os trabalhos relacionados
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

mais a um objeto cultural edificado, e pouco se fala do seu entorno urbano e as


condições para acessá-lo.
A metodologia utilizada baseia-se na Revisão Sistemática da Literatura
que consiste numa investigação científica, com bastante rigor metodológico, na
qual, a partir de uma questão formulada, é feita uma busca reunindo estudos
relevantes dentro do que se espera responder à questão.
Esse tipo de revisão é utilizado como forma de obter, a partir de
evidências, informações que possam contribuir com processos de tomada de
decisão, sendo conduzida de acordo com uma metodologia clara e possível de
ser reproduzida por outros pesquisadores. (BOTELHO, CUNHA e MACEDO,
2011). Galvão e Ricarte (2019) assinalam que:

É uma modalidade de pesquisa, que segue protocolos específicos, e


que busca entender e dar alguma logicidade a um grande corpus
documental, especialmente, verificando o que funciona e o que não
funciona num dado contexto. Está focada no seu caráter de
reprodutibilidade por outros pesquisadores, apresentando de forma
explícita as bases de dados bibliográficos que foram consultadas, as
estratégias de busca empregadas em cada base, o processo de
seleção dos artigos científicos, os critérios de inclusão e exclusão dos
artigos e o processo de análise de cada artigo.

Para realização de uma revisão sistemática de literatura primeiramente


realiza-se a delimitação da questão da pesquisa, que serve como elemento
norteador e determina a abrangência da pesquisa. A partir disso é possível
definir as palavras chaves que serão fundamentais para elaborar estratégias de
buscas. A elaboração de estratégia de buscas é definida por aspectos de
inclusão e exclusão na análise dos documentos pesquisados e feita a
combinação das palavras chaves para busca em uma base de dados. Após isso,
é feita a seleção da base de dados onde serão feitas as consultas do material
bibliográfico. Iniciando as pesquisas serão aplicados testes de relevância para
filtrar os documentos encontrados e por fim selecionar os mais convenientes
para uma análise e elaboração do artigo.
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

2. Metodologia
Para a condução deste estudo, foi utilizado o modelo de Revisão
Sistemática da Literatura, dividido em 6 etapas.
Primeiramente foi definida a questão central de abordagem, em forma de
pergunta para conduzir a pesquisa: “Qual a produção científica existente sobre
rotas acessíveis urbanas em centros históricos ou sítios históricos?”.
O segundo passo foi a definição dos critérios de avaliação, divididos em
critérios de inclusão e critérios de exclusão, os quais estão expostos a seguir:
1. Inclusão: 1) Pesquisas que tratam de rotas acessíveis entre
edificações culturais; 2) Pesquisas que abordam rotas acessíveis em
sítios históricos; 3) Pesquisas que abordam rotas acessíveis para
acesso à um edifício histórico; 4) Artigos publicados no século XXI
(2000-2021); 5) Artigos publicados em português e inglês; 6) Artigos
revisados por pares; e 7) Artigos, teses ou dissertações;
2. Exclusão: 1) Publicações que não tratam de rotas acessíveis; 2)
Publicações que não tratam da acessibilidade física; 3) Publicações
que não trate de sítios históricos ou edificações históricas; e 4)
Publicações repetidas.
Vale salientar que as pesquisas foram feitas ordenando os trabalhos por
ordem decrescente de relevância, e selecionados os 100 primeiros para
realização de testes de relevância.
O terceiro passo foi a pesquisa no portal Google Acadêmico, que se deu
pelas combinações das palavras chaves nos dois idiomas citados. Foram 08
pesquisas no total, e as combinações foram: acessibilidade AND "rota
acessível"; accessibility AND "accessible route"; acessibilidade AND edifício
culturais AND "rota acessível"; accessibility AND "cultural buildings" AND
"accessible route"; "rota acessível" AND "edifícios culturais"; "accessible route"
AND "cultural buildings"; "rota acessível" AND "centro histórico"; "accessible
route" AND "historic center".
O quarto passo foi a aplicação do teste de relevância 1 – TR1, o qual
dentre os 100 primeiros trabalhos achados para cada termo, é selecionado os
que possuem os títulos mais atrativos de acordo com a questão central definida
pela pergunta já apresentada. Em seguida vem o quinto passo, o teste de
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

relevância 2 – TR2 que constitui na leitura dos elementos pré e pós textuais,
como o resumo, a introdução e a conclusão, aplicando os critérios de exclusão
e selecionando os que mais cabem ao tema, resultando em 20 trabalhos. Por
fim, o sexto passo equivale a TR3 e contemplou a leitura completa dos trabalhos
selecionados no TR2. Foram excluídos 12 trabalhos e os que restaram foram
utilizados para análise e desenvolvimento dos resultados.

Tabela 01: Resultados das buscas no Portal Google Acadêmico.


ARTIGOS
TERMO PESQUISADO TR1 TR2 TR3
ENCONTRADOS
acessibilidade AND "rota acessível" 914 15 8 3
accessibility AND "accessible route" 4340 4 1 0
acessibilidade AND edifícios culturais AND 622 20 1 1
"rota acessível"
accessibility AND "cultural buildings" AND 3 3 1 1
"accessible route"
"rota acessível" AND "edifícios culturais" 8 9 2 0

"accessible route" AND "cultural 5 1 1 0


buildings"
"rota acessível" AND "centro histórico" 105 6 4 2
"accessible route" AND "historic center" 13 1 0 0
Total de trabalhos: 59 20 07

3. Resultados
Após a aplicação da metodologia, finalizada com o teste de relevância 03,
resultou em uma análise de 07 trabalhos, sendo 04 artigos científicos – 02
publicados em eventos nacionais e 02 publicados em eventos internacionais, 01
TCC e 02 dissertações – 01 nacional e 01 internacional. O estudos dos trabalhos
baseou-se em identificar o objetivo da pesquisa dentro do que esta pesquisa
propõe a avaliar com a temática de rotas acessíveis (análise ou proposta); a
forma que foi realizada o diagnóstico do objeto de estudo, expondo os problemas
e potencialidades existentes; os instrumentos adotados para realizar o
diagnóstico; e por último, as soluções propostas.
Dos 07 trabalhos analisados, 05 fizeram análise de rotas acessíveis
existentes e 02 fizeram proposições de novas rotas acessíveis. A maioria dos
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

trabalhos foram realizados em centros históricos, exceto um trabalho que


estudou um conjunto arquitetônico de relevância histórica para o local.
Identificou-se que os trabalhos possuem abordagens sob as seguintes
perspectivas: uma análise crítica de rotas acessíveis implantadas em centros
históricos; uma análise crítica de rotas e caminhos existentes em centros
históricos como forma de identificar as barreiras que podem ser superadas para
a promoção da acessibilidade; e uma proposição de rotas acessíveis em centros
ou sítios históricos de acordo com diretrizes pré definidas pelos autores.
O diagnóstico das pesquisas, quando relacionados às rotas acessíveis
implementadas pelo poder público, busca identificar as alterações que foram
realizadas para adaptar o espaço a norma de acessibilidade e identificar as
barreiras remanescentes que precisam ser eliminadas. Quando se trata de
centros históricos sem uma rota acessível implantada, é realizado um
levantamento para diagnóstico dos pontos críticos que necessitam serem
adaptados. Por último, os trabalhos que propuseram uma rota acessível fizeram
um diagnóstico do local, além do levantamento das barreiras e dos pontos que
necessitam de melhoria para propor uma rota adequada.
De um forma geral, os principais pontos levantados nas análises foram as
dificuldades com a implantação da acessibilidade começando por uma
característica eminente de vários centro históricos brasileiros que é a topografia
acidentada, apresentado ruas com grandes declividades; outro ponto foi a falta
de colaboração dos proprietários de estabelecimentos comerciais da região, que
colocam objetos nas calçadas, atrapalhando o fluxo; majoritariamente as
calçadas se apresentam com dimensões inapropriadas e com pisos irregulares
ou escorregadios, sendo inadequados para passeios públicos e estando em
desconformidade com a norma; e por último, quando há a presença de rampas,
muitas vezes são inadequadas, estando com a inclinação fora do que a norma
de acessibilidade prevê.
Dentre os instrumentos utilizados para a realização do diagnóstico
percebe-se que em todos foi necessária uma visita no local com a realização de
levantamento físico e fotográfico, e nos casos de rotas pré existentes foi
necessário o autor realizar o percurso para perceber o ambiente (método
walkthrough). Os levantamentos foram realizados mediante check list para
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

comparação com a norma de acessibilidade NBR 9050, planilhas e tabelas dos


problemas encontrados, além da descoberta de novos métodos, como o Método
do percurso comentado de Jean Paul, o método da Tabela de Rotas
desenvolvido pelo Núcleo Pró-acesso(Núcleo de Pesquisa, Ensino e Projeto
sobre acessibilidade e desenho universal) da UFRJ, e uma análise estilo
SWOT1 adaptada, pontuando os pontos fortes e pontos fracos, as oportunidades
e ameaças, e estabelecendo áreas prioritárias de intervenção para propor uma
rota acessível. Além disso, percebe-se a consulta de usuários do local por meio
de questionários, entrevistas, e acompanhamento de pessoas com deficiência e
mobilidade reduzida nos seus deslocamentos pelo trajeto para identificar as
principais dificuldades e identificar a impressão delas.
De um modo geral, as barreiras encontradas nos diagnósticos dos
trabalhos são superáveis e passível a serem enquadradas na NBR 9050/2020.
As soluções mais propostas para as rotas acessíveis foram: alargamento das
calçadas; travessias em cruzamentos transversais com piso adequado; melhoria
nos pisos dos passeios públicos; e nivelamento da rua e calçada.

Tabela 02: Panorama dos trabalhos analisados.


Trabalhos Local Análise Proposta Instrumento para diagnóstico
Levantamentos; Avaliação Pós-ocupação
T01 CH x
(APO); Planilha Deficiência Motora
Levantamentos; Análise qualitativa
T02 CH x aprofundada; Método walkthrough; Método do
percurso comentado Jean Paul
Levantamentos; Tabela de Rotas - Núcleo Pró-
T03 CA x
acesso - UFRJ.
Levantamentos; Análise qualitativa
aprofundada: nível da acessibilidade e
mobilidade, áreas com potencial para a
T04 CH x
valorização; principais acessos; áreas
permeáveis; e áreas de maior relevância;
Método SWOT adaptado
T05 CH x Levantamentos de dados; Intinerário
T06 CH x Levantamentos; Check list
T07 CH x Levantamentos; Pesquisas
Legenda - CH: Centro Histórico; SH: Sítio Histórico; CA: Complexo Arquitetônico

1
A matriz SWOT é uma metodologia utilizada para o planejamento estratégico de projetos, nos mais
diversos campos de aplicação, realizada por meio de análise de fatores externos e internos para
prevenir e prever pontos negativos e identificar possível potencialidades. A sigla em inglês se deve a
junção da primeira letra de quatro palavras estruturais desta metodologia, sendo S de stregths (força),
W de weakenesses (fraquezas), O de opportunities (oportunidades), e T de threats (ameaças). No Brasil
esse método é conhecido como matriz FOFA.
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

4. Discussão
Primeiramente, no processo de pesquisa bibliográfica um fato que
chamou atenção foi a escassez de trabalhos que abordam o tema deste artigo
que foca a rota acessível em centros ou sítios históricos, tanto que a quantidade
de trabalhos analisados não foi alta. Percebeu-se que a maioria dos trabalhos
que discorrem sobre rotas acessíveis estão relacionados com equipamentos
educacionais, como universidades e escolas.
A acessibilidade em sítios históricos representa para as pessoas uma
forma de inclusão social e garantia de direitos de todos, além de, como Costa
(2015) menciona, as intervenções de acessibilidade contribuem para a afirmação
da centralidade do espaço e representa uma oportunidade de reabilitação do
espaço público, melhorando as suas acessibilidades e mobilidades, tornando-o
mais apelativo e convidativo, atraindo e gerando o mais variado tipo de vivências
e contrariando os processos de abandono e degradação que os sítios históricos
tem sofrido nas últimas décadas. “Intervenções realizadas na Espanha, como os
trabalhos realizados em Madri trouxeram melhoria do entorno urbano e
qualidade de vida a todas as pessoas. (REIS, 2015)
Apesar de escasso, este assunto é bastante extenso, tanto que os
trabalhos mais completos foram descritos nas dissertações abordadas.
Outro ponto observado foi que nos trabalhos, as rotas acessíveis nos
ambientes culturais são muito relacionadas ao turismo cultural como forma de
preservação do patrimônio cultural do lugar, como expõe Cartier (1996) citado
por Rodrigues, Rosa e Rebelo (2017): “Em determinados casos, a preservação
e conservação do património passa por um projeto de gestão direcionado para
atração turística, onde inclui a paisagem, a população - num contexto de
enquadramento de uma cultura global”.
Apesar dos centros ou sítios históricos muitas vezes não serem
acessíveis em sua totalidade, as rotas possuem um aspecto em comum que é
priorizar a passagem dos visitantes aos principais pontos, de maior relevância
histórica.
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

5. Conclusões
A Constituição Federal de 1988 foi um grande marco para a garantia do
direito das pessoas com deficiência e sua inclusão social. O Brasil já havia
participado de encontros internacionais relacionados ao tema, mas somente a
partir da publicação da norma de acessibilidade em 1985 (NBR 9050/1985) e da
Constituição de 1988, a temática da acessibilidade começou a ser mais
discutida, surgindo leis e normas para garantia e promoção da acessibilidade
como direito de igualdade a todos os cidadãos.
No que diz respeito ao Patrimônio Cultural Brasileiro, o interesse em
salvaguardar os elementos históricos, na maioria das vezes edificados, iniciou-
se no começo do século XX, mas somente em 1937 com o Decreto nº 25/1937,
a proteção do patrimônio passou a ser amparada por lei. Vale destacar também
que a constituição de 1988 teve bastante importância nas questões do
patrimônio, pois ampliou o seu conceito estabelecendo novas perspectivas para
a salvaguarda, e prevê a garantia de seu acesso a todas as pessoas.
Embora amparado por lei, o direito à acessibilidade e à cultura não é
completamente cumprido pelas instituições. No primeiro caso, edifícios públicos
e privados não possuem adequação às normas de acessibilidade para acesso
independente por parte das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida,
ainda não há uma cultura inclusiva e efetiva na construção de edificações
acessíveis; e no segundo caso, os equipamentos culturais, incluindo o
patrimônio histórico edificado, na maioria das vezes não possui adequação
física, sensorial e ambiental para as pessoas com deficiência.
Para além da adaptação dos ambientes internos das edificações culturais,
é necessário tratar do seu entorno e das rotas de acesso à edificação. As
intervenções pontuais só serão realmente eficazes se forem pensadas para além
da edificação, afinal, até que se adentre no edifício há um trajeto a ser percorrido.
Para isso, é relevante estudar os percursos em centros e sítios históricos com o
propósito de ter uma um percurso acessível completo.
Após a aplicação da metodologia de revisão sistemática da literatura e da
análise aprofundada dos 07 trabalhos selecionados, percebe-se que são muitas
as dificuldades em implantar rotas acessíveis em centros históricos, pois em
muitos casos a topografia do local é muito acidentada, o que implica em soluções
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

mais complexas, e pelas atitudes dos comerciantes em se apropriar das


calçadas para a venda de seus produtos. Percebe-se que as intervenções
adotadas em edifícios ou centros históricos, normalmente, contemplam mais
pontos específicos e não considera um contexto geral de acessos para
acessibilidade.
Embora haja as dificuldades apresentadas, as adequações são possíveis
com a união dos interesses públicos e privados na promoção de uma cidade
mais igualitária e no compromisso em cumprir com as leis vigentes. Tais
comprovações pode-se tirar com base em diversos exemplos de intervenções
apresentados como estudos de caso, que aconteceram em cidades europeias e
em cidades brasileiras.
Conclui-se que para propor uma rota acessível eficaz, é importante adotar
metodologias participativas que possuam um contato direto com o grupo focal
do estudo, no caso, as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, para que
se perceba as necessidades desse grupo e as dificuldades que encontram
quando se trata de ambientes culturais; além disso é necessário um
conhecimento da norma de acessibilidade em sua versão mais atual, NBR
9050/2020, para que as soluções adotadas estejam dentro dos parâmetros do
desenho universal que constam na norma; é necessário também um estudo
macro de todo o contexto histórico do local, das características topográficas, da
identificação dos pontos mais importantes historicamente, e mais visitados pelas
pessoas para que se determine o percurso da rota acessível; é necessário o
conhecimentos de materiais e soluções construtivas adequadas para serem
utilizadas em área de relevância histórica para não haver uma descaracterização
do contexto; e é imprescindível a vistoria in loco, a percepção do lugar por meio
de percursos a pé, para se ter a visão real do local e a realidade que as pessoas
que passarão pelo trajeto da rota acessível irão se deparar, pois assim como as
pessoas sem deficiência percorrem a pé as rotas acessível, as pessoas com
deficiência percorrerão por meio de suas respectivas formas de locomoção.

Referências Bibliográficas
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 9050:


Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em:
http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/uploads/1596842151Emenda_1_AB
NT_NBR_9050_em_03_de_agosto_de_2020.pdf. Acesso em: 24 de março de
2021.

BRASIL. Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do


patrimônio histórico e artístico nacional. Diário Oficial da União, Brasília/DF,
06/12/1937.

BRASIL. Constituição Federal. Diário Oficial da República Federativa do


Brasil, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
21 março de 2021.

BRASIL. Decreto 5.296, de 02 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis


nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às
pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das
pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 3 dez. 2004. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm.
Acesso em: 21 de março de 2021.

BRASIL. Lei nº 10.048, de 19 de dezembro de 2000. Dá prioridade de


atendimento às pessoas que especifica, e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, 09 nov. 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10048.htm. Acesso em: 21 de março
de 2021.

BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas


gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm. Acesso em: 21 de março
de 2021.

BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de


Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Diário Oficial da União, Brasília, 7 jul. 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm.
Acesso em: 21 de março de 2021.

BOTELHO, Louise Lira Roedel; CUNHA, Cristiano Castro de Almeida; MACEDO,


Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais.
Gestão e sociedade, v. 5 n. 11, p.121-136, 2011. Belo Horizonte/MG.
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

Carta de Burra, ICOMOS, Austrália, 1980. Disponível em: <


http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Carta%20de%20Burra%201
980.pdf>. Acesso em: 23 de março de 2021

COSTA, Andréa Katiane Ferreira; LANDIM, Paula da Cruz; PASCHOARELLI,


Luis Carlos. Design e acessibilidade: Pessoas com deficiência em centros
históricos. 17° Ergodesign – Congresso Internacional de Ergonomia e
Usabilidade de Interfaces Humano Tecnológica: Produto, Informações
Ambientes Construídos e Transporte e 17° USIHC – Congresso Internacional
de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano Computador. Rio de
Janeiro/RJ, 2019.

COSTA, Angelina Dias Leão; MATIAS, Emanoella Bella Sarmento S. E.;


MEDEIROS, Haendel Lopes Virgulino de. Resgatando a habitabilidade local:
Inserção de rota acessível no centro histórico de João Pessoa – PB. VI
Encontro Nacional de Ergonomia no Ambiente Construído e VII Seminário
Brasileiro de Acessibilidade Integral. Recife/PE, 2016.

COSTA, Raissa de Keller. Acessibilidade e preservação no patrimônio


cultural da cidade de ouro preto, minas gerais. Dissertação (Mestrado em
Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável). Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG. Belo Horizonte/MG, 2016.

COSTA, Sónia Silva. Acessibilidade e mobilidade no espaço público dos


centros históricos. Proposta de um percurso histórico-cultural acessível
no Núcleo histórico vila adentro de faro. Dissertação (Mestre em Arquitetura
Paisagista). Universidade do Algarve. Faro/PT, 2015.

FERREIRA, F. M. C.; SOUZA H. A. Um olhar sobre o patrimônio:


levantamento da acessibilidade do conjunto arquitetônico da Basílica do
Senhor Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas – MG. Ação Ergonômica, v.
7, p. 76-88, 2012. João Pessoa/PB.

GALVÃO, Maria Cristiane Barbosa; RICARTE, Ivan Luiz Marques. Revisão


sistemática da literatura: conceituação, produção e Publicação. LOGEION:
Filosofia da informação, v. 6 n. 1, p.57-73, 2019/2020. Rio de Janeiro/RJ.

IPHAN. Mobilidade e acessibilidade urbana em centros históricos.


Brasília/DF, 2014.

RODRIGUES, Ana; ROSA, Manuela; REBELO, Efigénio. Análise urbanística


dos percursos pedonais dos centros históricos das cidades de Portimão
e de Loulé. Um contributo para o turismo cultural e acessível. IX
International Tourism Congress. Portugal, 2017.

REIS, Rosana Santana dos. Acessibilidade a edifícios históricos de


interesse turístico por pessoas com mobilidade reduzida: Um estudo de
exemplos representativos situados na Rota Acessível do Centro Histórico
de Salvador. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo).
Universidade Federal da Bahia – UFBA. Salvador/BA, 2015.
Universidade Federal do Ceará - UFC
Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo

VILLAROUCO, Vilma Maria; ARAÚJO, Maiana Cunha; SANTOS, Ana Tereza


de Assis. Avaliação de acessibilidade física em universidades Federais no
brasil: uma revisão sistemática da Literatura. 16° Ergodesign – Congresso
Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano Tecnológica:
Produto, Informações Ambientes Construídos e Transporte, 16° USIHC –
Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano
Computador, e Congresso Internacional de Ambientes Hipermídia
para Aprendizagem. Santa Catarina, 2017.

Você também pode gostar