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Disciplina: PMCAUD
Professor: Paulo Alcobia
Aluna: Clarissa Melo
Resumo
A partir do final da década de 1980, o Brasil tem dado importantes passos no
tratamento do tema da acessibilidade e inclusão social das pessoas com
deficiência e mobilidade reduzida. Com a promulgação da “Constituição Cidadã”
de 1988, é declarada a igualdade de todas as pessoas perante a lei, e que os
espaços devem se adaptar às condições de acessibilidade para promoção
equidade de oportunidade para todos. Além disso, a constituição ampliou o
conceito de patrimônio cultural e abordou o direito do acesso à cultura por todos,
inclusive aos centros históricos. Este artigo tem por objetivo investigar a
produção acadêmica relacionada à estudos de casos e análises de rotas
acessíveis em centros históricos ou que interliguem edificações culturais. Para
isto foi feita uma revisão sistemática de literatura utilizando o portal Google
Acadêmico considerando os trabalhos desenvolvido neste século (2000 - 2021),
e conforme os critérios de inclusão e exclusão pré-definidos pela autora.
1. Introdução
Discussões sobre a eliminação de barreiras e adequação do espaço para
pessoas com deficiência iniciaram no mundo a partir da década de 60 com
convenções e assembleias internacionais. No Brasil, a temática da
acessibilidade ganhou maior notoriedade a partir da publicação da norma de
acessibilidade em 1985 (NBR 9050/1985) com revisões em 2004, 2015 e 2020.
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utilização por pessoas com deficiência. Logo depois, em 1988, veio a Nova
Constituição Brasileira já comentada anteriormente, que trouxe a acessibilidade
para um direito constitucional. No ano 2000 foram elaboradas duas importantes
leis: a Lei 10.048/2000, a qual garante prioridade de atendimento às pessoas
com deficiência, idosos e gestantes nas repartições públicas e empresas
concessionárias de serviço público, garante reservas de assentos em
transportes públicos, e delibera a necessidade de normas de construção
específicas para logradouros, sanitários públicos e edifícios públicos que facilite
seus acessos e usos pelas pessoas com deficiência; e a Lei 10.098/2020, que
“estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida” (BRASIL,
2000). Apesar da importância dessas leis, somente com o Decreto 5296/2004
elas foram regulamentadas juntamente com a criação do Programa Nacional de
Acessibilidade.
Por fim, em 2015 foi instituída a legislação nacional mais recente que
corrobora para tais questões, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência descrita pela Lei 13146/2015 “destinada a assegurar e a promover,
em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
cidadania”. (BRASIL, 2015)
Apesar da existência das leis, das normas e da extensa discussão sobre
o tema, elas não são respeitadas. Percebe-se que a adaptação dos espaços à
igualdade de acesso por todas as pessoas, incluindo as que possuem algum tipo
de deficiência ou mobilidade reduzida, não é algo que se encontra em todos os
lugares, muitas edificações não obedecem às normas, a começar pelas calçadas
urbanas que normalmente apresentam grandes desníveis, pisos inadequados e
obstáculos que impedem a plena circulação de todos. Tais descumprimentos às
leis e normas se aplicam também às edificações históricas que, além de haver a
falta de aplicação das leis de acessibilidade, há a particularidade de serem
protegidas por órgãos de preservação, sendo a intervenção física ainda mais
limitada.
Os edifícios históricos constituem o patrimônio cultural e histórico de um
determinado lugar. Entende-se como patrimônio cultural de uma cidade todos os
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vestígios da cultura que ela vivenciou em determinada época e tudo que já teve
um significado relevante na sua história. No caso do patrimônio cultural edificado,
é composto pelas edificações que possuem valor histórico e cultural, seja pelo
seu estilo arquitetônico, por suas técnicas construtivas ou até mesmo pela
importância do uso atribuído a ela em determinado período da história.
A Constituição Federal de 1988, expõe o conceito de patrimônio em seu
Art. 216 como: “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira” (Brasil,1988). A Carta de Burra (1979, p. 04) explica: “As
edificações históricas estão ligadas à comunidade e seu passado, à paisagem
urbana, e às experiências vividas. Elas refletem a diversidade das comunidades,
dizendo-as quem são e qual foi o passado que as formou”.
Analisar a acessibilidade dos edifícios culturais sem analisar como o
usuário chega às edificações equivale a uma análise incompleta da
acessibilidade. “Todo o percurso até a edificação deverá estar pronto a
proporcionar acesso livre, seguro e confortável ao usuário” (REIS, 2015, pg.42),
e é a partir disso que é necessária uma análise da acessibilidade urbana, focada
no ambiente dos centros e sítios históricos considerando a existência de rotas
acessíveis em seus espaços e o entorno das edificações. Como sugere Costa,
2015: “os percursos pedonais são importantes na estruturação de uma cidade
acessível, e fundamentalmente na valorização do património histórico-cultural de
uma cidade histórica.”
Segundo a NBR 9050/2020 (ABNT, 2020, pg. 05), pode-se definir rota
acessível como:
Trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecte os ambientes
externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser
utilizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas, inclusive
aquelas com deficiência e mobilidade reduzida. A rota acessível pode
incorporar estacionamentos, calçadas rebaixadas, faixas de travessia
de pedestres, pisos, corredores, escadas e rampas, entre outros.
2. Metodologia
Para a condução deste estudo, foi utilizado o modelo de Revisão
Sistemática da Literatura, dividido em 6 etapas.
Primeiramente foi definida a questão central de abordagem, em forma de
pergunta para conduzir a pesquisa: “Qual a produção científica existente sobre
rotas acessíveis urbanas em centros históricos ou sítios históricos?”.
O segundo passo foi a definição dos critérios de avaliação, divididos em
critérios de inclusão e critérios de exclusão, os quais estão expostos a seguir:
1. Inclusão: 1) Pesquisas que tratam de rotas acessíveis entre
edificações culturais; 2) Pesquisas que abordam rotas acessíveis em
sítios históricos; 3) Pesquisas que abordam rotas acessíveis para
acesso à um edifício histórico; 4) Artigos publicados no século XXI
(2000-2021); 5) Artigos publicados em português e inglês; 6) Artigos
revisados por pares; e 7) Artigos, teses ou dissertações;
2. Exclusão: 1) Publicações que não tratam de rotas acessíveis; 2)
Publicações que não tratam da acessibilidade física; 3) Publicações
que não trate de sítios históricos ou edificações históricas; e 4)
Publicações repetidas.
Vale salientar que as pesquisas foram feitas ordenando os trabalhos por
ordem decrescente de relevância, e selecionados os 100 primeiros para
realização de testes de relevância.
O terceiro passo foi a pesquisa no portal Google Acadêmico, que se deu
pelas combinações das palavras chaves nos dois idiomas citados. Foram 08
pesquisas no total, e as combinações foram: acessibilidade AND "rota
acessível"; accessibility AND "accessible route"; acessibilidade AND edifício
culturais AND "rota acessível"; accessibility AND "cultural buildings" AND
"accessible route"; "rota acessível" AND "edifícios culturais"; "accessible route"
AND "cultural buildings"; "rota acessível" AND "centro histórico"; "accessible
route" AND "historic center".
O quarto passo foi a aplicação do teste de relevância 1 – TR1, o qual
dentre os 100 primeiros trabalhos achados para cada termo, é selecionado os
que possuem os títulos mais atrativos de acordo com a questão central definida
pela pergunta já apresentada. Em seguida vem o quinto passo, o teste de
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relevância 2 – TR2 que constitui na leitura dos elementos pré e pós textuais,
como o resumo, a introdução e a conclusão, aplicando os critérios de exclusão
e selecionando os que mais cabem ao tema, resultando em 20 trabalhos. Por
fim, o sexto passo equivale a TR3 e contemplou a leitura completa dos trabalhos
selecionados no TR2. Foram excluídos 12 trabalhos e os que restaram foram
utilizados para análise e desenvolvimento dos resultados.
3. Resultados
Após a aplicação da metodologia, finalizada com o teste de relevância 03,
resultou em uma análise de 07 trabalhos, sendo 04 artigos científicos – 02
publicados em eventos nacionais e 02 publicados em eventos internacionais, 01
TCC e 02 dissertações – 01 nacional e 01 internacional. O estudos dos trabalhos
baseou-se em identificar o objetivo da pesquisa dentro do que esta pesquisa
propõe a avaliar com a temática de rotas acessíveis (análise ou proposta); a
forma que foi realizada o diagnóstico do objeto de estudo, expondo os problemas
e potencialidades existentes; os instrumentos adotados para realizar o
diagnóstico; e por último, as soluções propostas.
Dos 07 trabalhos analisados, 05 fizeram análise de rotas acessíveis
existentes e 02 fizeram proposições de novas rotas acessíveis. A maioria dos
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A matriz SWOT é uma metodologia utilizada para o planejamento estratégico de projetos, nos mais
diversos campos de aplicação, realizada por meio de análise de fatores externos e internos para
prevenir e prever pontos negativos e identificar possível potencialidades. A sigla em inglês se deve a
junção da primeira letra de quatro palavras estruturais desta metodologia, sendo S de stregths (força),
W de weakenesses (fraquezas), O de opportunities (oportunidades), e T de threats (ameaças). No Brasil
esse método é conhecido como matriz FOFA.
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4. Discussão
Primeiramente, no processo de pesquisa bibliográfica um fato que
chamou atenção foi a escassez de trabalhos que abordam o tema deste artigo
que foca a rota acessível em centros ou sítios históricos, tanto que a quantidade
de trabalhos analisados não foi alta. Percebeu-se que a maioria dos trabalhos
que discorrem sobre rotas acessíveis estão relacionados com equipamentos
educacionais, como universidades e escolas.
A acessibilidade em sítios históricos representa para as pessoas uma
forma de inclusão social e garantia de direitos de todos, além de, como Costa
(2015) menciona, as intervenções de acessibilidade contribuem para a afirmação
da centralidade do espaço e representa uma oportunidade de reabilitação do
espaço público, melhorando as suas acessibilidades e mobilidades, tornando-o
mais apelativo e convidativo, atraindo e gerando o mais variado tipo de vivências
e contrariando os processos de abandono e degradação que os sítios históricos
tem sofrido nas últimas décadas. “Intervenções realizadas na Espanha, como os
trabalhos realizados em Madri trouxeram melhoria do entorno urbano e
qualidade de vida a todas as pessoas. (REIS, 2015)
Apesar de escasso, este assunto é bastante extenso, tanto que os
trabalhos mais completos foram descritos nas dissertações abordadas.
Outro ponto observado foi que nos trabalhos, as rotas acessíveis nos
ambientes culturais são muito relacionadas ao turismo cultural como forma de
preservação do patrimônio cultural do lugar, como expõe Cartier (1996) citado
por Rodrigues, Rosa e Rebelo (2017): “Em determinados casos, a preservação
e conservação do património passa por um projeto de gestão direcionado para
atração turística, onde inclui a paisagem, a população - num contexto de
enquadramento de uma cultura global”.
Apesar dos centros ou sítios históricos muitas vezes não serem
acessíveis em sua totalidade, as rotas possuem um aspecto em comum que é
priorizar a passagem dos visitantes aos principais pontos, de maior relevância
histórica.
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5. Conclusões
A Constituição Federal de 1988 foi um grande marco para a garantia do
direito das pessoas com deficiência e sua inclusão social. O Brasil já havia
participado de encontros internacionais relacionados ao tema, mas somente a
partir da publicação da norma de acessibilidade em 1985 (NBR 9050/1985) e da
Constituição de 1988, a temática da acessibilidade começou a ser mais
discutida, surgindo leis e normas para garantia e promoção da acessibilidade
como direito de igualdade a todos os cidadãos.
No que diz respeito ao Patrimônio Cultural Brasileiro, o interesse em
salvaguardar os elementos históricos, na maioria das vezes edificados, iniciou-
se no começo do século XX, mas somente em 1937 com o Decreto nº 25/1937,
a proteção do patrimônio passou a ser amparada por lei. Vale destacar também
que a constituição de 1988 teve bastante importância nas questões do
patrimônio, pois ampliou o seu conceito estabelecendo novas perspectivas para
a salvaguarda, e prevê a garantia de seu acesso a todas as pessoas.
Embora amparado por lei, o direito à acessibilidade e à cultura não é
completamente cumprido pelas instituições. No primeiro caso, edifícios públicos
e privados não possuem adequação às normas de acessibilidade para acesso
independente por parte das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida,
ainda não há uma cultura inclusiva e efetiva na construção de edificações
acessíveis; e no segundo caso, os equipamentos culturais, incluindo o
patrimônio histórico edificado, na maioria das vezes não possui adequação
física, sensorial e ambiental para as pessoas com deficiência.
Para além da adaptação dos ambientes internos das edificações culturais,
é necessário tratar do seu entorno e das rotas de acesso à edificação. As
intervenções pontuais só serão realmente eficazes se forem pensadas para além
da edificação, afinal, até que se adentre no edifício há um trajeto a ser percorrido.
Para isso, é relevante estudar os percursos em centros e sítios históricos com o
propósito de ter uma um percurso acessível completo.
Após a aplicação da metodologia de revisão sistemática da literatura e da
análise aprofundada dos 07 trabalhos selecionados, percebe-se que são muitas
as dificuldades em implantar rotas acessíveis em centros históricos, pois em
muitos casos a topografia do local é muito acidentada, o que implica em soluções
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Referências Bibliográficas
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