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AULA 2 – DIREITO CIVIL - I

RELAÇÃO JURÍDICA.

O homem em sua vida social interage entre si criando situações de fato. Quando
estas situações de fato são disciplinadas por normas jurídicas, temos uma relação jurídica.

Assim, relação jurídica é o vinculo disciplinado pela ordem jurídica entre pessoas,
onde cada indivíduo é obrigado a uma determinada conduta em relação ao outro.

Na relação jurídica os sujeitos possuem proteção jurídica, que é a autorização


normativa para ingressar em juízo e ver seu direito garantido em caso de não cumprimento da
obrigação pelo outra parte. Em outras palavras: caso uma das partes não realize a conduta
determinada pela norma que disciplina a relação jurídica, a parte prejudicada possui
autorização normativa (proteção normativa) para ingressar em Juízo e ver, através da ação, o
seu direito garantido, dirigindo a sanção prevista na norma, contra a parte que se conduziu
contrariamente ao seu dever.

A parte geral do Código Civil objetiva regular os elementos da relação jurídica,


quais sejam: as pessoas, os bens e os fatos jurídicos em sentido amplo.

CONCEITO DE PESSOA.

A palavra pessoa advém do latim persona, emprestada à linguagem teatral na


antiguidade romana. Primitivamente, significava máscara, pois os atores adaptavam ao rosto
uma máscara especial destinada a dar eco às suas palavras. Personare significava dar eco as
palavras do ator. Personare queria dizer fazer ressoar. A máscara era uma persona que fazia
ressoar a voz do ente humano.

Mais tarde a palavra passou a significar o papel representado pelo ator.


Completando o ciclo evolutivo, passou a indicar o próprio ator, o próprio homem que
representava o papel.

Vulgarmente, “pessoa” significa humano. Na acepção filosófica, pessoa é o ente


dotado de razão. Na acepção jurídica, pessoa é todo ente físico e moral, suscetível de
direitos e obrigações. É nesse sentido que “pessoa” é sinônimo de sujeito de direito ou sujeito
na relação jurídica. Normalmente o termo pessoa é empregado na acepção de ser humano.

O Professor Washington Monteiro explica que “duas são as espécies de pessoas


reconhecidas pela ordem jurídica: a pessoa natural, também chamada de física (o homem, ou
melhor, o ente humano, o ser humano) e a pessoa jurídica, igualmente denominada pessoa
moral ou pessoa coletiva (agrupamento de humanos visando a interesses comum)”.

Art. 1° Toda pessoa é capaz de direitos e


deveres na ordem civil.

O código Civil brasileiro afastou as incertezas quanto ao momento exato do início


da personalidade jurídica, estabelecendo, em seu artigo 2°, que seu início se dá com o
nascimento com vida, embora coloque a salvo os direitos daquele que já foi concebido, mais
ainda não nasceu (nascituro). Portanto, se o bebê nasce morto, não adquire e não transmite
direitos.

Art. 2° A personalidade civil da pessoa


começa do nascimento com vida; mas a lei
põe a salvo, desde a concepção, os direitos
do nascituro.

Ao nascituro, seja qual for sua definição, há uma expectativa de vida humana,
sendo uma pessoa em formação. Desta forma a lei não o ignora salvaguardando os eventuais
direitos. O nascituro é considerado pessoa condicional, a aquisição de sua personalidade
acha-se na dependência de seu nascimento com vida.

Se a criança nasce morta, não chega a adquirir personalidade, não recebe nem
transmite direitos. Se nascer com vida, ainda que efêmera, recobre-se de personalidade,
adquire e transfere direitos.

PERSONALIDADE JURÍDICA.

Personalidade está ligada à idéia de pessoa, e exprime a aptidão genérica para


adquirir direitos e contrair obrigações na ordem civil. Toda pessoa, física ou jurídica, é
dotada de personalidade.

CAPACIDADE.

É a medida jurídica da personalidade.

Para ser “pessoa” basta estar vivo, para ser “capaz”, o ser humano precisa
preencher os requisitos necessários para agir por si, como sujeito ativo ou passivo de uma
relação jurídica.

Da análise do art. 1° do Código Civil surge a noção de capacidade, que é maior ou


menor extensão dos direitos e das obrigações de uma pessoa.

Da aptidão para adquirir e contrair obrigações na vida civil dá-se o nome de


capacidade de gozo ou de direito.

A capacidade de gozo ou de direito não pode ser limitada ou recusada ao


indivíduo, sob pena de se negar sua qualidade de pessoa, despindo-o dos atributos da
personalidade. A capacidade de gozo ou de direito é ínsita ao ente humano, todas as pessoas
a possuem.

Entretanto, a capacidade pode sofrer restrições legais quando ao seu


exercício, face a ocorrência de um fator genérico como idade ou insuficiência somática
(deficiência mental). Aos que assim são tratados por lei o direito denomina de “incapazes”.
Assim, somente a capacidade de exercício é que poderá sofrer restrições. A
capacidade de exercício pressupõe a capacidade de gozo, mas esta pode subsistir sem aquela
(capacidade de exercício ou de fato).

Daí, a capacidade jurídica da pessoa natural pode ser limitada, pois uma pessoa
pode ter o gozo de um direito, sem ter o seu exercício por ser considerado pela lei como
incapaz. O exercício dos direitos em nome do incapaz são realizados por seus representantes
legais.

A capacidade de exercício ou de fato esta relacionada com a aptidão para


exercitar direitos. O exercício de direitos pressupõe consciência e vontade, por conseguinte,
a capacidade de exercício (ou de fato) não suprime a capacidade de gozo ou de direito. A
capacidade de exercício ou de fato poderá ser suprida pelo instituto da representação.

INCAPACIDADE.

É a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. O instituto da incapacidade


deverá ser sempre encarado estritamente, considerando-se o princípio que “a capacidade é
regra e a incapacidade é exceção”.

A incapacidade não deve ser confundida com a proibição legal de realizar


determinados negócios jurídicos com certas pessoas ou em atenção a bens a ela
pertencentes.

Ex:

- proibição do tutor adquirir os bens do tutelado.

- do pai vender bens ao filho sem consentimento dos demais (CC 496).

- o indigno de herdar (CC 1814).

A proibição legal refere-se aos impedimentos para prática de certos atos


jurídicos, não se confundindo com capacidade do tutor, do ascendente ou do indigno, que
conservam o pleno exercício de seus direitos civis.

A proibição legal para prática de determinados atos está ligada à legitimação,


que é a competência para prática de um ato jurídico em razão de sua posição especial em
relação a certas pessoas, bens e interesses.

O instituto da incapacidade visa proteger os que são portadores de uma


deficiência jurídica apreciável, graduando a forma de proteção. Para os absolutamente
incapazes (CC 3°) a proteção se dá através da representação, enquanto que para os
relativamente incapazes (CC 4°) a proteção se dá através da assistência. Dessa forma os
negócios jurídicos se realizam regularmente.

Art. 3°. São absolutamente incapazes de


exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I – os menores de 16 (dezesseis) anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência


mental, não tiverem o necessário
discernimento para prática dos atos da vida
civil;

III – os que, mesmo por causa transitória, não


puderem exprimir sua vontade.

Art. 4°. São incapazes, relativamente a


certos atos, ou à maneira de os exercer:

I - maiores 16 (dezesseis) e menores 18


(dezoito) anos;

II - os ébrios habituais, viciados em tóxicos,


e os que, por deficiência mental, tiverem
discernimento reduzido.

III - excepcionais, sem desenvolvimento


mental completo.

IV – os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios


será regulada por legislação especial.

O art. 3° e 4° são normas de imperatividade absoluta ou impositiva ou cogente,


pois determinam o estado das pessoas com a convicção de que certas relações e
determinados estados da vida social não podem ser deixados ao arbítrio individual, o que
acarretaria graves prejuízos a ordem social.

* Lembrando que normas de imperatividade absoluta ou impositivas ou cogentes –


são normas que ordenam ou proíbem algo de modo absoluto (obrigação de fazer ou não
fazer).

EXERCÍCIOS:

1) DIFERENCIE CAPACIDADE DE DIREITO E CAPACIDADE DE FATO.

2) COMPARE OS ARTIGOS 3° E 4° DO ATUAL CÓDIGO CIVIL, COM


OS ARTIGOS 5° E 6° DO VELHO CÓDIGO CIVIL (1917),
APONTANDO AS DIFERENÇAS.

3) O CONCEITO DE PESSOA NO CÓDIGO CIVIL ATINGE SOMENTE O


SER HUMANO? EXPLIQUE.

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