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À SUPRAM TMAP

ILMA Dra Kamila Borges Alves

M.D. Superintendente

Prezada Superintendente

Ricardo Caetano de Lima apresenta resultado da visita para fins de verificação das condições
ambientais locais e regionais de dois empreendimentos no âmbito do CEA – Centro Empresarial
de Araxá, conforme se segue:

Em 29 de Outubro de 2020 fomos contratados para iniciarmos procedimento e avaliação


ambiental, bem como estudos ambientais afins, referente a dois empreendimentos que
pretendem se instalar no CEA em Araxá MG, um de indústria alimentícia e outro de
emoldurentes.

A consultoria do Arquiteto especializado em saneamento ambiental não formalizou contrato


com estes empreendedores considerando a situação encontrada, servindo este relatório como
denúncia para que se proceda a imediata e urgente suspensão da atividade do frigorífico Nelore
LTDA.

Ambos os empreendimentos dependem da avaliação local especialmente dos recursos


ambientais, com destaque para os cursos hídricos e vegetação.

Recursos hídricos como manancial (ais) para captação e lançamento.

Vegetação a considerar as matas ciliares, reserva legal (se for o caso), e os corredores de fauna
e flora.

A região se mostra bastante alterada, com mata ciliar depauperada, os empreendimentos não
respeitam a mínima proteção e nenhuma medida compensatória verificamos em nossa
avaliação.

Chama bastante a atenção o Frigorífico Carnes Nelore LTDA, trata-se de um antigo matadouro
municipal, que sofreu modificações para retomar suas atividades.

O MPE – Ministério Público Estadual através de sua promotoria de defesa do cidadão


recomendou a reabertura do empreendimento com as seguintes condições:

 Que o abastecimento de Araxá MG fosse reativado, com carnes de qualidade, SIF


(Sistema de Inspeção Federal ou correspondente SIE ou SIM), pois o abate clandestino
era comum no município;

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 Que todas as normas ambientais e de tratamento de efluentes fossem cumpridas e as
comunidades locais protegidas;
 Ao município ficaria facultado a possibilidade de concessão desde que conforme a lei de
licitações;
 Que a vigilância sanitária municipal promovesse uma fiscalização intensa em açougues
similares e supermercados, para controle das carnes comercializadas no município
garantindo assim a saúde da população de Araxá – MG.

ITEM 1: Cumprimento do selo SIF ou similar ...

Comentário: Preceitua a regra que todos os animais devem ser inspecionados e após abate
receber o selo SIF ou similar tipo carimbo e respectivo certificado. Tal durante os dias em que
fizemos a visita no frigorífico não se verificou, a veterinária não se encontrava no local mesmo
sendo obrigatório especialmente durante o abate. A olho nu verificamos que várias rezes
encontravam-se aparentemente com doenças, muito magras e algumas que estavam mortas
seguiram para a sangria e demais procedimentos para serem aproveitadas.

Ilustrações do cenário encontrado

Foto 1 – Animal em péssimo estado (salvo melhor juízo) sendo encaminhado para o abate.

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Foto 2 – Carga de animais mortos sendo encaminhada para o setor de abate e processamento.

Foto 3 - Rês agonizando prestes a vir a óbito.

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Foto 4 - Rês que veio a óbito.

Foto 5 - Rês que veio a óbito, jogada na canaleta.

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Foto 6 – Conjunto de reses que vieram a óbito, separadas para seguir para o setor de abate.

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ITEM 2: Cumprimento da condição “Que todas as normas ambientais e de tratamento de
efluentes fossem cumpridas e as comunidades locais protegidas”;

Comentário: O projeto assim como os estudos foram apresentados pela empresa ENGENHO9
engenharia ambiental ltda.

O procedimento seria o seguinte: Recebimento dos animais, curral, segue para o abate, com
atordoamento, sangria, escaldamento, depilação, evisceração, toalete e lavagem, divisão da
carcaça, resfriamento da carcaça, expedição. Na sangria segue o sangue para a graxaria (linha
vermelha) e a proposta é a produção de farinha de sangue, que deveria ser comercializada. Na
evisceração as tripas e miúdos não comestíveis seguem para a graxaria.

Abaixo ilustraremos através do GOOGLE EARTH o cenário encontrado com diversas


irregularidades.

 Uso abusivo da APP sem as compensações ambientais exigíveis para o caso;


 O lançamento de efluentes tratados destinados ao córrego do Retiro que não possui
capacidade de auto-depuração, contribuído significativamente para a poluição local,
inviabilizando o cenário da vizinhança inclusive empreendimentos do CEA Centro
Empresarial de Araxá MG que dependem do manancial.

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Chacreamento que sofre com
o odor forte, configurando
elevada incomodidade aos
moradores.

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Drástica
intervenção e área
de preservação
permanente sem
nenhuma
conpensação

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Detalhe da drástica
intervenção e área
de preservação
permanente sem
nenhuma
conpensação

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O curso dágua que recebe os efluentes do sistema de tratamento (Lagoas) é o Retiro, abaixo
apresentamos fotos da amostragem e qualidade a montante e a jusante do lançamento.

À Montante

Foto 7 – Córrego Retiro montante lançamento, Vazão = 0,00280


Q710= 0,00084, Qmlp = 0,000578, 30%Q710=0,00058
Período de Chuvas (Litros/s por Km2).

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Foto 8 – Córrego Retiro montante lançamento, Vazão = 0,00280
Q710= 0,00084, Qmlp = 0,000578, 30%Q710=0,00058 (Ponto monitorado pela COPASA).
Vazão em Litros por segundo por Km2

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Foto 9 – Córrego Retiro montante lançamento.
Ponto de coleta da nossa equipe.
Período Chuvoso, vazão regular e confere com dados da COPASA para período climático normal.
Local monitorado pela COPASA

Foto 10 – Córrego Retiro montante lançamento.


Detalhe da coleta da nossa equipe.
Período Chuvoso, vazão regular e confere com dados da COPASA para período climático normal.
Local monitorado pela COPASA

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À jusante:

Foto 11 – Córrego Retiro jusante lançamento.


Detalhe da coloração da água e do pequeno volume do córrego do Retiro, demonstrando a poluição.

Em entrevista com os moradores locais os mesmos declararam que o odor


elevado tem incomodado o dia inteiro, que os peixes sumiram do córrego do
Retiro, e ainda que suas criações, galinhas, cães, gatos etc tem que ficar presos
pois do contrário bebem e se servem da água contaminada.

Em período seco, de Maio a Agosto em geral, a vazão cai pela metade e neste
período os impactos negativos do empreendimento são mais intensos.
Tal vazão demonstra ainda que o córrego do Retiro não possui capacidade de
receber os EFLUENTES TRATADOS DO FRIGORÍFICO NELORE.

A seguir apresentamos nossos cálculos para autodepuração dos efluentes lançados pelo
empreendimento.

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AUTODEPURAÇÃO
Considerando uma média de 125 cabeças de gado, 100 cabeças de suínos e 100 funcionários e usuários
teremos:

item Quantidade total em m3/d


caracterização
Bovino Suino Funcionários e Usuários

1 125 100 150

2 em m3 por dia

2.1 1,5 m3/bovino 0,5m3/suino 10,5 m3/dia 248,00


Lavanderia
2.2
1,0 m3/dia 249,00
Lavação de veículos caminhões e carrocerias
2.3
2,0 m3/dia
Restaurante
2,4
2,0 m3/dia 251,00

2.5 Outros (Jardins etc)


9,00

Total em m3/d 260,00

Carga Orgânica

Item Efluente Vazão m3/d DBO mg/L Carga Orgânica KgDBO/d

1 linha vermelha 212,17 2000,00 424,34


2 linha verde 35,83 3000,00 107,49
lavação de
3 veículos
2,00 200,00 0,4
4 Restaurante 2,00 250,00 0,5
5 Outros 9,00 200,00 1,8

Equivalente Populacional

EP 7858,15 1990,56 7,41 9,26 33,33 9898,70


EP ESTIMADO 9900 PESSOAS

DBO mg/L 5650,00


Considerando o sistema implantado
DBO mg/L Pós Trat 847,50

O sistema terá que sofrer um procedimento pós tratamento para ajustar o efluente aos padrões
toleráveis para destinação final em corpo receptor, pois a DBO final encontra-se elevadíssima. Não

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permitindo o lançamento direto nos corpos dágua locais, especialmente no córrego RETIRO como hoje
é realizado.

O curso dágua mais próximo com capacidade para receber os efluentes tratados deste
empreendimento é o ribeirão CAPIVARA, entretanto a DBO final de lançamento deve se situar entre
60mg/L a 120mg/L.

Ainda assim deverá ser monitorado pois o ideal é o lançamento DBO = 60mg/L pois são diversos os
usuários destes corpos dágua especialmente os PIVOTs de irrigação.

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Conclusão: Concluímos que as irregularidades encontradas no frigorífico Nelore durante nossa
avaliação preliminar do cenário, inviabiliza qualquer empreendimento a ser instalado no CEA –
CENTRO EMPRESARIAL DE ARAXÁ MG em especial instalação de empreendimentos que venham a
necessitar do córrego do RETIRO tanto como manancial para fornecimento de recursos hídricos e ainda
como corpo receptor.

Neste caso para viabilizar os empreendedores possuem algumas alternativas, a primeira lançar no
Ribeirão Capivara: Latitude – -19°66’75”
Longitude - - 47°02’69”
Qmlp = 2,0977;
Q7,10 = 0,3054;
30% Q7,10 = 0,0916
70% Q7,10 = 0,2138
(Litros/s por Km2)

Mesmo para destinação no ribeirão CAPIVARA recomendamos que a DBO de lançamento se situe entre
60,0 mg/L a 120,0 mg/L.

A seguir desenvolvemos alguns fundamentos para ilustração deste relatório:

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A outra alternativa aos empreendedores que pretendem se instalar no CEA de Araxá MG é encaminhar
o efluente tratado para a ETE da COPASA, às margens da Br – 262, conforme mapa que se segue:

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A destinação final dos efluentes tratados pode seguir a faixa de servidão do DER e depois do DNIT, até
a ETE COPASA, entretanto é necessário negociar a destinação final destes efluentes com a COPASA que
pode aceitar ou não. Não é possível destinar os efluentes em PV da copasa uma vez que os mesmos
não terão capacidade como corpo receptor.

À SUPRAM TMAP solicitamos a suspensão imediata e urgente da atividade até a correção dos
problemas verificados e demonstrados neste relatório.

Ao MPE – solicitamos a suspensão da atividade.

Ricardo Caetano de Lima – CAU BR A13684 - O

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