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Cuidados Paliativos e Comunicac807a771o Como Estrate769gia de Cuidado
Cuidados Paliativos e Comunicac807a771o Como Estrate769gia de Cuidado
ARTIGO ARTICLE
Cuidados paliativos: a comunicação como estratégia de cuidado
para o paciente em fase terminal
Palliative care:
communication as a strategy of care for the terminal patient
difíceis de compreender, por serem caracteriza- base na confiança, o enfermeiro favorece um vín-
das pela dor e pelo sofrimento, que geram an- culo de cuidado com ele, que embasa o relacio-
gústia e depressão. Portanto, a comunicação é namento interpessoal, tem a sensação de missão
uma das habilidades que devem ser empregadas desempenhada e sente-se realizado e satisfeito14.
pelo enfermeiro, para que ele possa expandir a Destarte, é primordial que o enfermeiro de-
habilidade de apreender as mensagens – implíci- senvolva conhecimento, habilidades e sensibili-
tas ou explícitas – que permeiam sua relação com dade no relacionamento interpessoal, com base
o paciente e os familiares. em suas próprias ações, constituindo uma inte-
No âmbito dos cuidados paliativos, a comu- ração pautada no encontro verdadeiro com os
nicação realizada de forma adequada é considera- pacientes na finitude da vida, em que a intencio-
da como um pilar fundamental para a implemen- nalidade do agir e a compreensão de cada profis-
tação de tal prática. Trata-se de um suporte que o sional no processo de cuidar sejam manifestos15.
paciente pode empregar para expressar seus an-
seios. Para isso, precisa de um cuidado integral e Comunicação em cuidados paliativos como
humanizado, que só é possível quando o profissi- estratégia para fortalecimento do vínculo
onal recorre às suas habilidades de comunicação, entre enfermeiro e paciente terminal
essencialmente, com o paciente em fase terminal,
para estabelecer uma relação efetiva com ele10. A comunicação é um processo de envolvi-
Verifica-se que o paciente em fase terminal, mento que deve ser constituir com o estabeleci-
deseja ser compreendido como um ser humano mento de vínculo entre o enfermeiro e o paciente
que sofre, porque, além da dor física, passa por terminal, de maneira verbal e não verbal. Logo,
conflitos existenciais e necessidades que os fár- trata-se de um processo ativo, de atenção e de
macos ou os aparelhos de alta tecnologia não escuta ativa. Esse aspecto é referenciado pelos
podem prover. Assim, além de compartilhar seus enfermeiros, conforme os relatos, a seguir:
medos e anseios relacionando-se com seus pa- Utilizo tanto a verbal, através da fala, como a
res, através da comunicação, ele necessita sentir- não verbal por meio do olhar, de gestos, do toque,
se cuidado, amparado, confortado e compreen- do carinho e do conforto. (Enf.21)
dido pelos enfermeiros. Expressões de compai- [...] sempre é importante verbalizar todas as
xão e de afeto na relação com o paciente trazem a ações realizadas previamente, transmitindo segu-
certeza de que ele é parte importante de um con- rança, com empatia e otimismo. Comunicando
junto, o que ocasiona sensação de proteção, de procedimentos, elogiando a sua contribuição.
consolo e de paz interior11. (Enf.13)
No momento em que o profissional se co- Chegando perto do mesmo, muitas vezes segu-
munica com o paciente que vivencia a terminali- rando sua mão, conversando, olhando em seus
dade de maneira adequada, fortalece o vínculo, olhos e deixando que ele fique a vontade para ex-
adquire confiança e quase sempre, consegue de- pressar seus sentimentos. (Enf.28)
cifrar informações essenciais e amenizar-lhe a [...] podendo-se estabelecer uma comunicação
ansiedade e a aflição12. Ressalta-se, então, que a verbal ou não verbal, no intuito de atender a ne-
comunicação se for explanada de maneira com- cessidade do paciente em todas as suas dimensões.
preensível, ao paciente em fase terminal, contri- (Enf.26)
bui para que ele tenha consciência de sua digni- Nas falas desses enfermeiros, é nítida a preo-
dade durante toda a assistência prestada e lhe cupação em atender às necessidades dos pacien-
proporciona autonomia, quando precisa tomar tes por meio da comunicação verbal e da não
decisões sobre sua vida e seu tratamento13. verbal. Eles destacam a importância do olhar, do
A literatura esclarece13 que o enfermeiro ao toque, do carinho e do conforto, inseridos no
prestar assistência ao paciente de forma holísti- universo do modo não verbal de se comunicar,
ca, fazendo o uso da comunicação como uma na relação direta com o paciente terminal.
ferramenta para o estabelecimento de uma rela- Assim sendo, a participação no cuidado de
ção de confiança, atende as suas necessidades e se maneira verbal e não verbal, depende da abertu-
fortalece diante do enfrentamento de perdas, de ra estabelecida entre as pessoas envolvidas, de
doença, de incapacidades e de morte. Esse forta- forma que isso permita a sua proximidade no
lecimento incide do resultado do cuidado, pela relacionamento existencial, e elas apresentem sua
promoção do conforto, do alívio da dor e da própria singularidade16.
preservação da autoestima do paciente. Portan- Convém ressaltar que o emprego apropria-
to, ao estabelecer relação com o paciente, com do da comunicação verbal e não verbal é uma
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Colaboradores
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