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FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS SOCIAIS E


SERVIÇO SOCIAL

A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO ÂMBITO EDUCACIONAL

Vivian Nascimento Menezes dos Santos

FEIRA DE SANTANA / BAHIA


AGO / 2016
FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL

A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO ÂMBITO EDUCACIONAL

Artigo elaborado pela aluna Vivian


Nascimento Menezes dos Santos,
como requisito obrigatório para
obtenção do título de especialista em
Políticas Sociais e Serviço Social pela
Faculdade Nobre de Feira de
Santana, sob a supervisão da
professora MSc. Conceição Eliana.

FEIRA DE SANTANA / BAHIA


AGO / 2016
“Chegamos,

Depois dessas montanhas

Você encontrará outros vales,

planícies e mais montanhas...

Esse é o caminho.

Não há findar, nem repousar”.

(V. A. Angerami-Camon).
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .........................................................................................5

CAPITULO I : POLÍTICA DE EDUCAÇÃO NO BRASIL.....................................8

CAPITULO II : ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO NO ÂMBITO

EDUCACIONAL................................................................................................13

CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................23
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1. INTRODUÇÃO

A educação sempre esteve relacionada a um mecanismo de controle de


massas para atender a um sistema vigente, marcado pela desigualdade e
opressão, no qual uma classe dominadora, minoritária, tenta perpetuar-se pela
violência, exploração e injustiças. Educar surge como uma exigência, segundo
Aranha (1996), no período do Renascimento, num contexto em que o homem
desvia-se do céu para a terra ocupando-se mais com as questões do cotidiano,
contrapondo-se assim ao Teocentrismo.
Freire (2003) fala sobre o conceito de uma educação bancária
caracterizada como se a mesma fosse um depósito, uma dádiva, uma ação
assistencializadora. Sob esta visão, o saber é uma doação fundamentada na total
ignorância dos sujeitos e tem como objetivo transformar a mentalidade do
oprimido e não a situação que o oprime.
A educação tem essencial importância na dinâmica da reprodução da vida
social, principalmente numa sociedade dividida entre quem produz e quem
explora. Sua função social é caracterizada pelas contradições e não se encerra
nas instituições educacionais embora tendo nelas espaço privilegiado de
objetivação. O ambiente escolar é um dos mais importantes em nossa sociedade,
é nele que nos primeiros anos de nossa vida passamos um período diário,
recebemos bases para formação social e nos são passados valores morais e
éticos que contribuem para construção da identidade de cada individuo.
Silva (2000) declara que a compreensão que temos sobre nosso eu envolve
os pensamentos e as emoções conscientes e inconscientes que constituem
nossas construções sobre quem somos e a influência de nossas representações.
Entretanto, nós vivemos nossa subjetividade em um contexto social no qual a
linguagem e a cultura dão significado à experiência que temos de nós mesmos e
no qual adotamos uma identidade.
Segundo Silva e Dallanol (2008) a escola é o local que contribui de forma
determinante na formação de identidades devido aos diversos grupos inseridos
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em seu contexto, e como o homem é um ser cultural por essência, precisa do


convívio social para assim entender a si mesmo, podendo transformar o meio em
que vive e também ser transformado por ele.
A vinculação do Serviço Social com a Política de Educação existe desde o
início da profissão, sendo mais uma das exigências impostas pelas classes
dominantes à questão relacionada à formação intelectual da classe trabalhadora
necessária às condições de reprodução do capital.
O Serviço Social, atualmente, tem sido reconhecido como uma profissão de
grande importância nas perspectivas da educação e vem ocupando espaços
fundamentais no processo de execução da política educacional. Suas atividades
têm finalidade de identificar e propor alternativas de enfrentamento aos fatores
sociais, políticos, econômicos e culturais que intervêm no sistema educacional,
com vistas a cooperar com a efetivação da educação como um direito para
conquista da cidadania (PIANA, 2009). É importante que a atuação do profissional
de Serviço Social na Política de Educação se efetive em consonância com os
processos de fortalecimento do projeto ético-político do Serviço Social,
contribuindo para intensificação da luta pela educação como direito social e como
prática emancipatória.
É notório que o profissional de Serviço Social tende a contribuir para a
melhoria do processo de ensino aprendizagem. Para que aconteça uma melhor
visão da realidade social é necessário aprofundar as discussões em relação à
função social da escola, aproximando a família ao contexto escolar, isso é devido
à escola ser um local onde as concretizações dos problemas sociais ocorrem.
Dessa forma, o Assistente Social está inserido nas escolas para contribuir com a
realização de diagnósticos sociais, e com isso começar uma alternativa para
problematizar as expressões da questão social (SCANDELAI; CARDOSO, 2010).
A educação contribui na formação dos indivíduos inserindo-os na
coletividade, direcionando para o exercício da cidadania, construindo valores
morais e éticos para o bem-estar pessoal e coletivo, devendo o profissional de
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Serviço Social exercer sua autonomia com competência crítica, propositiva numa
perspectiva de totalidade.
Diante do contexto discutido, desenvolveu-se como problema de
investigação, a seguinte questão: Como os profissionais de Serviço Social se
inseriram no âmbito educacional e de que forma atuam?
Portanto, através deste estudo busca-se investigar a inserção dos
profissionais de Serviço Social no âmbito educacional e suas formas de atuação
na contemporaneidade. Os objetivos específicos são: Analisar as necessidades
que levaram os profissionais de Serviço Social a serem inseridos no âmbito
educacional e descrever as formas de atuação dos profissionais de Serviço Social
no âmbito educacional.
Nesta construção, a metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica por
método qualitativo, utilizando conceitos de serviço social, atuação profissional,
política de educação, ensino aprendizagem, questão social e escola, entre outros,
em bancos de dados acadêmicos.
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2 POLÍTICA DE EDUCAÇÃO NO BRASIL

A chegada dos padres jesuítas no Brasil, a partir de 1500, marca o início da


história da educação brasileira. Nesse contexto é importante destacar o
predomínio da igreja católica no sistema educacional, que evolui a medida da
expansão territorial da colônia. Além de um sistema educacional que divulgava o
cristianismo e a cultura europeia, destaca-se o modelo agroexportador implantado
na colônia que tinha como objetivo proporcionar lucro à metrópole por meio de
produtos como café, borracha, açúcar, dentre outros.
É importante também caracterizar a estrutura social da colônia que era
formada de escravos, senhores de engenho, grandes latifundiários e funcionários
da coroa, desta forma, com essa formação de estrutura social da colônia,
constata-se que desde o início o sistema educacional é excludente e seletivo visto
a inexistência de uma política educacional de caráter estatal por parte da
metrópole, por não haver interesse em ampliar a escolarização para a classe
subalterna, mantendo a educação somente para a elite.
Piana (2009) destaca que o baixo nível cultural da colônia refletia inclusive
na falta de conhecimentos técnicos para atividades da agricultura e mineração que
utilizavam métodos rudimentares e predatórios apontados como causa de sua
decadência. Não havia preocupação com a estruturação econômica, política e
educacional do Brasil, ao contrário, as necessidades educacionais eram impostas
pelas necessidades econômicas e políticas da época, deixando evidente que o
objetivo dos portugueses era explorar e usufruir toda riqueza do país.
A transferência da família real e da corte para o Brasil, em 1808, provoca
uma nova organização administrativa na colônia, ao mesmo tempo em que gera
uma crise na mesma, visto que o país produzia para exportação e não para
atender suas próprias necessidades. Com esta nova realidade, muitas mudanças
ocorreram para atender as demandas como a abertura dos portos, ampliação do
comércio, modernização da economia, não sendo diferente com a política de
educação que também se modificou com o surgimento dos primeiros cursos
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superiores de Direito, Medicina e Engenharia, fundação de escolas técnicas e


academias, como a Academia Real da Marinha, o curso de cirurgia e anatomia,
posteriormente a criação dos cursos de Medicina, Economia, Botânica, dentre
outros.
Em 1827, foi determinada a lei para criação de escolas primárias em todas
as cidades e vilas mais populosas, mas, somente em 1834, segundo Guiraldelli
Junior (2003), a responsabilidade da educação primária passa para as províncias.
Segundo Piana (2009), a criação do Colégio Pedro II, foi um dos fatos mais
marcantes ocorridos no setor educacional no período de 1834 a 1889. Outro fator
de destaque é o crescimento da iniciativa particular no período de 1860 a 1890 em
contraposição à ausência do Estado no sistema educacional. Em 1890 cria-se o
Ministério de Educação, Correios e Telégrafos, tendo surgido logo em seguida
para tratar os assuntos educacionais o Ministério da Justiça.
As grandes transformações na política educacional aparecem após a
Primeira Guerra Mundial, com o surgimento de grandes educadores como Anísio
Teixeira, que promovem várias reformas no ensino. Neste período surgem
também as primeiras universidades brasileiras.
Em 1924 surge a Associação Brasileira de Educação (ABE), organização
criada por educadores, intelectuais e políticos a qual foi possível impulsionar as
discussões sobre as questões educacionais. Na época foram promovidos cursos,
palestras, semanas de educação, destacando-se as grandes conferências
realizadas entre 1927 a 1929.
A partir de 1930, com Getúlio Vargas, o país foi assumindo uma política de
industrialização que trouxe mudanças também no campo educacional brasileiro,
destacando nesse período a criação do Ministério de Educação e Saúde,
integração entre as escolas primárias, secundárias e superior, elaboração do
estatuto da universidade brasileira, ensino superior gratuito e obrigatório e ensino
religioso facultativo.
A Constituição de 1937 introduz na legislação o ensino profissionalizante,
visto que nesse período era fundamental preparar os filhos dos operários para as
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indústrias. Este cenário concretiza-se com a criação em 1942 do SENAI (Serviço


Nacional de Aprendizagem Industrial e em 1946 do SENAC (Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial).
Em 1961 é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
sendo esta, segundo Piana (2009), a medida mais importante em relação à
política educacional, visto que o governo assume como sua competência a
definição desta política, descentralizando sua execução para Estados e
Municípios.
Para Piana (2009), a educação sempre esteve a serviço de um modelo
econômico concentrador de renda e socialmente excludente, por isso nunca foi
vista como prioritária, sendo em muitos momentos conduzida a segundo plano.
Com a mudança do padrão produtivo para o toyotismo, oriundo do Japão
pós – 45, cujas principais características são: produção flexível, informatizada e
heterogênea, existência de equipes de trabalho, forte processo de terceirização e
precarização do trabalho, o mundo vivencia a expressão mais profunda da crise
estrutural do capital a partir do início dos anos 70. Destroem-se os direitos sociais,
torna-se predatória a relação produção x natureza, surgindo uma sociedade do
descartável, brutalizam-se homens e mulheres que vivem do trabalho.
Assim, com a expansão do neoliberalismo a partir de fins da década de 70
e crise do Welfare State, no qual o Estado de Bem-Estar Social, intervencionista,
garante mínimos sociais como saúde, educação e habitação, têm-se uma
regressão da social democracia.
Harvey (1992) cita que os traços marcantes do neoliberalismo são:
desmonte dos direitos sociais dos trabalhadores, combate ao sindicalismo,
propagação de um subjetivismo e individualismo exacerbado e uma clara
animosidade contra qualquer proposta socialista contrária aos valores do capital.
Aliados a esses traços tem-se também uma privatização acelerada, enxugamento
do Estado, políticas fiscais e monetárias alinhadas com organismos de hegemonia
do capital.
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É importante destacar que outro fator que contribuiu para a implantação do


novo projeto societário foi a crise, no final dos anos 80, que desestruturou os
partidos comunistas tradicionais da União Soviética e do Leste Europeu
desarticulando também o movimento operário sindical.
Diante desse contexto, as políticas educacionais, mesmo com alguns
avanços legais, após a Constituição de 1988, através do ECA – Estatuto da
Criança e do Adolescente em 1990 e da Lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional em 1996, ainda apresenta-se como uma política enfraquecida visto que
não garante o direito à educação previsto nas leis brasileiras. Aqui é importante
destacar que a Constituição de 88 apresenta o mais longo capítulo sobre a
educação de todas as Constituições Brasileiras.
Na Constituição brasileira de 1988 ressaltam-se algumas conquistas como
o reconhecimento da educação como direito público (Art. 208); o princípio da
gestão democrática do ensino público (Art. 206); o dever do Estado em prover
creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos (Art. 208); o ensino fundamental
obrigatório e gratuito (Art. 208); o atendimento especializado aos portadores de
necessidades especiais (Art. 208). Outra conquista importante na Constituição de
88 faz referência ao princípio que garante a descentralização político-
administrativa que dá o direito à sociedade de formular e de controlar políticas,
provocando mudanças nas relações entre Estado e sociedade civil.
Com a política de descentralização cria-se um espaço privilegiado para a
participação da comunidade escolar, como famílias, estudantes, funcionários da
escola e educadores em geral, sendo o conselho escolar um dos mais importantes
mecanismos de democratização da gestão escolar.
Assim, a gestão escolar passa a ser o meio pelo qual se vislumbra a
definição de novos rumos à educação, já que esse modelo de gestão garante a
participação de todos os segmentos que compõem o processo educativo. Por isso
é tão importante definir a função social da escola, ou seja, para que e a quem
serve, isto é pensar em democratização do ensino garantindo uma educação de
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qualidade, pensando na escola como um espaço de produção e socialização do


saber, como formadora de sujeitos éticos, participativos, críticos e criativos.
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3 ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO NO ÂMBITO EDUCACIONAL

Segundo Netto (1972, p.13), “não há dúvidas em relacionar o aparecimento


do Serviço Social com as mazelas próprias à ordem burguesa, principalmente
àquelas concernentes ao binômio industrialização/urbanização do século XIX”.
Assim, entende-se que o surgimento do Serviço Social é fruto das
demandas oriundas de uma sociedade capitalista, opressora e excludente que
institucionaliza a profissão como suporte às práticas cristãs, ligadas à Igreja
Católica, para o enfrentamento da “questão social”.
“A questão social não é senão as expressões do processo de formação e
desenvolvimento da classe operária e seu ingresso no cenário político da
sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e
do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o
proletariado e a burguesia.” (Iamamoto, in Iamamoto e Carvalho, 1983: 77).
Sobre a influência da Igreja Católica, Yasbek (2000b, p. 92) sinaliza que a
questão social é vista sob forte influência do pensamento social da igreja, que a
trata como questão moral, com enfoque individualista, como se os problemas
fossem responsabilidade dos próprios sujeitos mesmo situados nas relações
capitalistas.
As décadas de 1930 e 1940 no Brasil são marcadas por transformações
sociais, econômicas e políticas advindas de uma sociedade capitalista industrial e
urbana que também influenciaram o surgimento do Serviço Social. Nesta época, a
industrialização desenvolvia-se dentro de um modelo conservador, favorecido pelo
Estado que também se apresentava centralizador e autoritário. Neste cenário, a
burguesia industrial e os grandes produtores rurais, visando alcançar seus
projetos, buscavam apoio, principalmente, no Estado, sendo este responsável por
encontrar estratégias de enfrentamento da questão social.
Segundo Piana (2009) uma das estratégias utilizadas pelo Estado era
apoiar-se na classe operária por meio de uma política que ao mesmo tempo em
que a defendia, através de uma legislação protetora ou até mesmo de uma
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estrutura sindical, subtraia-lhe a possibilidade de uma organização política


autônoma, criando um aparato institucional assistencial que atendia muito mais ao
mercado do que as necessidades da população.
É nesse contexto que a institucionalização do Serviço Social começa a
existir e a formação dos primeiros assistentes sociais brasileiros recebe importante
influência europeia que tinha como princípio a salvação do corpo e da alma e
como propósito servir ao outro. Também nessa época as intervenções sociais
eram feitas pela Igreja, pela burguesia e pelo segmento feminino. Assim, entende-
se que a gênese do Serviço Social está ligada aos princípios católicos e a ideias
como caridade, benevolência e filantropia.
A profissionalização do Serviço Social passa por mudanças na década de
1940 com o surgimento de grandes instituições assistenciais que exigiu do Serviço
Social uma nova conduta que valorizasse o método, a técnica e o planejamento
como referenciais importantes.
Segundo Piana (2009), o Serviço Social surgiu no campo educacional em
1906, nos Estados Unidos, quando os Centros Sociais designaram visitadoras
para estabelecer uma ligação com as escolas do bairro, para averiguar por que as
famílias não enviavam seus filhos às escolas. No Brasil, em 1946, os estados de
Pernambuco e Rio Grande do Sul foram os pioneiros no debate e no início dos
trabalhos acerca do Serviço Social Escolar.
Observando as fragilidades que as escolas brasileiras têm mostrado,
compreende-se que é necessário que o Estado implemente políticas que
intervenham em favor de melhorias na educação, com foco no ensino, na
aprendizagem analisando que fatores impedem o ensino-aprendizagem e como
pode ocorrer a intervenção para solucioná-los.
No Brasil observa-se que muitos atos ferem os direitos dos cidadãos e
estes tem passado despercebidos não sendo levados em consideração por que
não têm um olhar investigativo sendo feito por um profissional sensível e
comprometido para atender a esta demanda. Logo, entende-se que o Assistente
Social é o profissional qualificado para trabalhar com as questões de cunho social,
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podendo exercer sua profissão no espaço escolar, buscando emponderar e


fortalecer a autonomia dos envolvidos como também a das suas famílias. Sobre
isso Faleiros explica que:
O fortalecimento da autonomia implica o poder
viver para si no controle das próprias forças, e
de acordo com as próprias referências. […] A
capacitação para assumir e enfrentar a
sobrevivência pode ser uma das mediações de
fortalecimento dos sujeitos[…](2010, p. 63).

Sob essa perspectiva concebe-se que o Assistente Social deve trabalhar


para que os sujeitos dentro dos espaços educacionais sejam incentivados a
refletirem sobre a realidade social a qual eles fazem parte, sintam-se motivados a
transformá-la, além de conduzi-los nesse processo focando em apreender a
realidade dos sujeitos, reconhecendo sua complexidade.
Sarita Amaro sobre olhar diz que:
O olhar simplificado é um olhar redutor, marcado
pela visão atomizada e atomizadora; caracteriza-
se por praticar um isolamento mutilante dos
fatores que compõem o fenômeno, além de
retalhar a compreensão de sua totalidade […]
(2003 p. 36-37).
Ao conceber que a educação é um dos espaços de atuação do Assistente
Social destaca-se que dentre os princípios éticos fundamentais da profissão pode-
se enumerar:
Reconhecimento da liberdade como valor ético
central e das demandas políticas a ela inerentes
– autonomia, emancipação e plena expansão
dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos
direitos humanos […]; Ampliação e consolidação
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da cidadania […]; Posicionamento em favor da


equidade de justiça social […]; Empenho na
eliminação de todas as formas de preconceitos
[…] e exercício do Serviço Social sem
discriminar, nem discriminar por questões de
inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, opção sexual, idade e condição
física (CFESS,1993, p. 23).
A inserção do Assistente Social na educação deve ser constituída, em
especial, por uma prática política, compreendendo que o conceito de política,
segundo Oliveira, caracteriza-se como:
A atividade humana está estritamente ligada ao
conceito de poder que, para Hobbes, p.e.,
consistia nos meios adequados à obtenção de
qualquer vantagem e, para Russel, como
conjunto de meios pelos quais se permitia
alcançar os efeitos desejados (2007, p. 20).

Por tanto, considera-se que a política perpassa pelas diversas dimensões


da vida social, e é extremamente necessária para se alcançar objetivos quer
sejam pessoais ou sociais. Nesta perspectiva, o entendimento de todos estes
aspectos citados, considerando a complexidade dos mesmos, é o que possibilitará
a formulação de propostas de intervenção profissional “em um sentido de ação
política, tomando-a como base da possibilidade de transformações, de mudanças,
do surgimento do novo” (BAPTISTA, 2006, p.93).

Deste modo, entende-se que o objetivo principal do assistente social contra


as debilidades da educação no país precisa ser notado nos espaços políticos,
construindo ações mobilizadoras que norteiem os sujeitos e profissionais
envolvidos com a educação e representantes políticos a pensarem a respeito
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destas questões, e se unirem nesse propósito, compreendendo que este projeto


defende “a consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania”
(CFESS, 1993, p. 34).
Nessa concepção, os espaços educacionais devem buscar articular o
conhecimento que é trabalhado no seu contexto com a realidade social do aluno,
com o intuito de atender seus problemas e necessidades sociais. Por tanto, se
torna imprescindível e fundamental que o ambiente educacional conheça a
realidade social dos seus alunos, para diminuir a distância que o separa do
universo familiar. Sob este olhar, a importância do trabalho com grupos de famílias
nesse contexto é fundamental para fortalecer e direcionar a sociedade.

É no universo educacional que se constroem diversas expressões da


questão social como: desemprego, subemprego, trabalho infanto-juvenil, baixa
renda, fome, desnutrição, problemas de saúde, habitações inadequadas, drogas,
violência doméstica, pobreza, desigualdade social, exclusão social, dentre outros.
Tais problemas são oriundos e resultados das questões sociais. Sendo assim, a
inserção do profissional do Serviço Social, nesse contexto, tem com o objetivo
receber e encaminhar estas demandas.

Iamamoto (1998) afirmar:

O desafio é re-descobrir alternativas e


possibilidades para o trabalho profissional no
cenário atual; traçar horizontes para a formulação
de propostas que façam frente à questão social e
que sejam solidárias com o modo de vida
daqueles que a vivenciam, não só como vítimas,
mas como sujeitos que lutam pela preservação e
conquista da sua vida, da sua humanidade. Essa
discussão é parte dos rumos perseguidos pelo
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trabalho profissional contemporâneo


(IAMAMOTO, 1998, p.75).

A fim de desempenhar o seu papel político, as instituições de educação


devem despertar o senso crítico dos envolvidos, e estar articulada com a realidade
dos mesmos, como também da comunidade na qual ela se encontra.

O assistente social desenvolve seu trabalho no sentido educativo de


revolucionar consciências, de proporcionar novas discussões, de trabalhar as
relações interpessoais e grupais (MARTINELLI, 1998). Colocando-se frente às
mudanças sociais, pode desempenhar um trabalho de articulação e
operacionalização, de interação de equipe, de busca de estratégias de proposição
e intervenção, resgatando-se a visão de integralidade e coletividade humana e o
real sentido da apreensão e participação do saber, do conhecimento.

Segundo o CFESS (2001), o assistente social na área da educação deve


combater os seguintes problemas: rendimento escolar baixo; evasão escolar;
desinteresse pelo aprendizado; problemas com disciplina; insubordinação a
qualquer limite ou regra escolar; vulnerabilidade às drogas; atitudes e
comportamentos agressivos e violentos (CFESS, 2001, p.23).

Para Martins (1999), os objetivos da prática profissional do Serviço Social


no setor educacional são: contribuir para o ingresso, regresso, permanência e
sucesso da criança e adolescente na escola; favorecer a relação família-escola-
comunidade ampliando o espaço de participação destas na escola, incluindo a
mesma no processo educativo; ampliar a visão social dos sujeitos envolvidos com
a educação, decodificando as questões sociais; proporcionar articulação entre
educação e as demais políticas sociais e organizações do terceiro setor,
estabelecendo parcerias, facilitando o acesso da comunidade escolar aos seus
direitos.
19

Percebe-se que uma das mais significativas contribuições que o Serviço


Social pode fazer na área educacional é a aproximar a família desse contexto.
Intervindo na família, por meio de trabalhos de grupo com os pais, ou ações em
que se constata à importância da relação escola-aluno-família. Nessa perspectiva,
o Serviço Social poderá identificar fatores sociais, culturais e econômicos que
indicam a problemática social no campo educacional e, consequentemente,
trabalhar de forma preventiva destes, com o objetivo de evitar que o ciclo se repita
ou continue. O profissional de Serviço Social trabalhará com ações de ordem
educativas e não somente com soluções de problemas, concebendo que a
educação se insere numa política social cujo objetivo visa garantir os direitos
sociais.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreende-se que Serviço Social Escolar é um desafio para o Assistente


Social, por que ainda é um campo a ser explorado e efetivado. Nota-se que não
existem políticas implementadas suficientes para garantir uma atuação de
qualidade que valorize as habilidades, competências e atribuições do Assistente
Social.
Nos espaços educacionais é importante ressaltar que as ações são
idealizadas e realizadas em equipe, pela comunidade escolar, onde o profissional
de Serviço social age como um parceiro das atividades desempenhadas na escola
juntamente com outros profissionais (pedagogos, psicólogos, Supervisão e
Direção).
É imprescindível que a equipe valorize todos que fazem parte do processo
de ensino e aprendizagem. As ações e reações serão oriundas de um trabalho
feito em conjunto com um único objetivo que é o de priorizar a permanência do
aluno na escola, com uma educação de qualidade, para a promoção do mesmo
como sujeito social.
Em relação a família é necessário que haja um trabalho de intervenção e
orientação no sentido de sensibilizar a mesma da importância de sua aproximação
com a escola, pois só assim as ações serão significativas. O Estatuto da Criança
e do Adolescente afirma que: “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do
processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas
educacionais”. (Lei 8069. 1990).
O trabalho de construção dessas ações deve ser feito em conjunto, pois é
comum a família depositar na escola a responsabilidade pela condução plena do
processo educacional de seus filhos, reflexo da sociedade capitalista e do
crescimento acelerado e globalizado que se vive hoje. Verifica-se que a cada dia
se tem menos tempo para o dialogo com isso a família não consegue mais
orientar e acompanhar o aluno nas suas responsabilidades. O crescimento do
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aluno na vida escolar dependerá muito do envolvimento familiar nesse processo


no sentido de facilitar o processo educativo desenvolvido na escola.
A ação do Assistente social compreende ainda a articulação com
instituições públicas, privadas, assistenciais caracteriza-se como uma das
estratégias que visam o atendimento das demandas socioeconômicas, em
específico no âmbito da educação.
Esta atuação configura-se como um conjunto de ações integradas de
orientação a serem executadas de forma a proporcionar a melhoria no
desempenho acadêmico do aluno e consequentemente da sua qualidade de vida.
A formação educacional da criança e do adolescente não se realiza
somente na sala de sula, mas abrange um conjunto de atividades que,
desempenhadas pela escola, proporcionará a eles a esperança de uma vida
adulta satisfatória como pessoas e cidadãos.
Cabe ao Assistente social realizar uma atuação pautada na ética, com
posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure
universalidade de acesso aos bens e serviços, tido como um dos princípios
fundamentais a serem seguidos.
No âmbito do ensino superior, a assistência aqui explicitada é aquela
inserida no campo dos direitos, da universalização dos acessos, das ações pró-
permanência de qualidade, e da responsabilidade estatal com a educação, isto é,
a democratização do ensino superior público, gratuito e de qualidade.
Apesar das dificuldades com relação a implementação e execução das
ações de assistência estudantil, em especial a falta de recursos financeiros, é
inegável a sua relevância dentro da universidade por todos os aspectos
Sendo também inegável a importância de um profissional que identifique as
necessidades desses alunos destacando a figura do Assistente Social, como o
profissional que ira viabilizar a igualdade de condições para promover o ingresso,
a permanência e conclusão destes alunos, numa perspectiva de autonomia,
direitos e cidadania plena.
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No refletir dessas questões, torna-se clara a importância de compreender a


necessidade do Serviço Social nos espaços educacionais como instrumento de
luta contra a violência, a exclusão social, a evasão escolar e as diferentes formas
de violação dos direitos, além de focalizar a instituição familiar e toda a sua
estrutura como parte importante para o aprendizado dos alunos.
Faz-se necessária, portanto, a apreensão desse novo desafio, de inclusão
do Assistente Social na escola, pela sociedade civil e política, e pelos profissionais
de Serviço Social, reconhecendo que essa luta pertence à nação e não
especificamente a uma categoria. Vale ressaltar, que esta luta consiste em
consolidar bases de sustentação no espaço escolar através do estabelecimento
de relações de diálogo, socialização e acolhimento, buscando a efetivação de
direitos, para assim avançar na superação de suas fragilidades.
Diante disso, pode-se considerar que atentar para a inclusão do Serviço
Social nos espaços educacionais se faz fundamental para a formação dos sujeitos
que devem priorizar a busca por um país mais justo socialmente e que preocupa-
se com aqueles que encontram-se a margem da sociedade, criando estratégias de
inclusão social.
23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2003.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


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GHIRALDELLI JÚNIOR. P. Filosofi a e história da educação brasileira. Barueri/SP:


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