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RBTI Artigo Original

2007:19:3:342-347

Avaliação Prospectiva da Ocorrência de Infecção


em Pacientes Críticos de Unidade de Terapia Intensiva*
Prospective Assessment of the Occurrence of Infection
in Critical Patients in an Intensive Care Unit
Mery Ellen Lima1, Denise de Andrade2, Vanderlei José Haas3

RESUMO ocorrências de infecção destacam-se, 29 (37,6%) cor-


rente sanguínea, 20 (26%) respiratórias e 13 (16,9%)
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A assistência em uni- urinárias. As cepas multiresistentes mais freqüentes fo-
dade de terapia intensiva ��������������������������
(UTI)���������������������
é constantemente de- ram: 14 (10,85%) Pseudomonas aeruginosa, 4 (3,1%)
safiada por infecções relacionadas a procedimentos Staphylococcus sp. coagulase-negativa e 4 (3,1%)
invasivos, que resultam no aumento da morbimortali- Staphylococcus aureus. ����������������������������
Os �������������������������
antimicrobianos mais uti-
dade, no tempo de internação e nos custos. O objetivo lizados foram carbapenem (22,4%), glicopeptídeo
deste estudo foi avaliar prospectivamente os pacientes (21,6%) e cefalosporina (21,6%). Do total dos �������
pacien-
críticos segundo idade, condições clínicas, tempo de tes, 29 (40,8%) foram a óbito.
hospitalização, ocorrência de infecção hospitalar, to- CONCLUSÕES: A infecção hospitalar é agravada se
pografia da infecção hospitalar, ocorrência ou não de associada ao aumento da resistência dos microrganis-
multiresistência microbiana, uso de procedimentos in- mos aos antibióticos.
vasivos e de antimicrobianos. Unitermos: Infecção hospitalar, resistência bacteriana
MÉTODO: Estudo prospectivo, observacional, de na- a fármacos, UTI.
tureza clínica, realizado em uma UTI no período de fe-
vereiro a julho de 2006. Foram incluídos os pacientes SUMMARY
críticos com tempo de hospitalização superior a 24
horas na UTI, acompanhados desde a admissão até a BACKGROUND AND OBJECTIVES: Care in the in-
alta, transferência ou óbito. tensive care unit �������������������������������������
(ICU)��������������������������������
is constantly challenged by in-
RESULTADOS: Totalizou-se 71 pacientes com ��� mé- fections related to invasive procedures, which result in
dia de idade de 53,5 ± 18,75 anos. Quarenta e sete increased morbidity and mortality, hospitalization term
(66,2%) pacientes adquiriram infecção hospitalar. Das and costs. This study aimed to prospectively evaluate
critical patients according to age, clinical conditions,
1. Graduanda da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP e hospitalization term, occurrence of hospital infection,
Bolsista PIBIC-CNPq.
2. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Geral e
topography of hospital infection, occurrence of micro-
Especializada da EERP-USP. bial multi-resistance or not, use of invasive procedures
3. Professor Doutor (PRODOC-CAPES) do Departamento de Enfer- and antimicrobial agents.
magem Geral e Especializada. EERP-USP.
METHODS: This is a prospective, observational, clinical
*Recebido da Unidade de Terapia Intensiva do  Hospital das Clinicas research, carried out at an ICU between February and
da Faculdade de Medicina da USP, Ribeirão Preto, SP. July 2006. The research subjects were critical patients
hospitalized for more than 24 hours at the ICU, followed
Apresentado em 07 de maio de 2007
Aceito para publicação em 09 de agosto de 2007 from admission until discharge, transference or death.
RESULTS: The study group consisted of 71 patients
Endereço para correspondência: with a mean age of 53.5 ± 18.75 years. Forty-seven
Denise de Andrade
Avenida Bandeirantes, 3900 - Campus Universitário
of these patients (66.2%) acquired hospital infection.
14040-902 Ribeirão Preto, SP Twenty-nine infections (37.6%) occurred in the blood
Tel: (16) 3602-3409 stream, 20 (26%) respiratory and 13 (16.9%) urina-
E-mail: dandrade@eerp.usp.br
ry. The most frequent multi-resistant strains were: 14
©Associação de Medicina Intensiva Brasileira, 2007 (10.85%) Pseudomonas aeruginosa, 4 (3.1%) coagula-

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Avaliação Prospectiva da Ocorrência de Infecção
em Pacientes Críticos de Unidade de Terapia Intensiva

se-negative Staphylococcus sp and 4 (3.1%) Staphylo- grande porte, público e de ensino. Essa unidade possui
coccus aureus. The most used antimicrobial agents 9 leitos ativos destinados a UTI geral e admite pacien-
were carbapenem (22.4%), glycopeptides (21.6%) and tes com idade superior a 14 anos em situação crítica ou
cephalosporin (21.6%). Twenty-nine (40.8%) of these semicrítica. Os dados foram coletados diariamente de
patients died. prontuários e planilhas da Comissão de Controle de In-
CONCLUSIONS: Hospital infection is aggravated if as- fecção Hospitalar (CCIH) no período de fevereiro a julho
sociated to the increased resistance of the microorga- de 2006, mediante aprovação do Comitê de Ética em
nisms to the antibiotics. Pesquisa. Os pacientes incluídos no estudo foram os
Key Words: cross infection, drug resistance bacterial, ICU que permaneceram hospitalizados por período superior
a 24 horas na UTI. Cabe explicar que os pacientes parti-
INTRODUÇÃO cipantes do estudo não apresentaram infecção hospita-
lar nas primeiras 24h e que foram acompanhados desde
O século XXI revela um novo cenário no cuidado à a admissão, alta, transferência ou óbito.
saúde em conseqüência do intenso avanço científico Vale mencionar que o referido hospital tem comissão
e tecnológico, do reconhecimento cada vez maior de de controle de infecção hospitalar (CCIH) atuante e que
novos agentes infecciosos e do ressurgimento de in- realiza a vigilância epidemiológica dos casos de infec-
fecções que até pouco tempo estavam controladas1,2. ção por meio de busca ativa. Outro destaque se repor-
Em termos de infecção hospitalar a problemática é mais ta a Comissão de Uso e Controle de Antimicrobianos
séria na unidade de terapia intensiva (UTI). Neste ambien- (CUCA) que atua ostensivamente no controle do uso
te o paciente está mais exposto ao risco de infecção, haja de antimicrobianos subsidiado, dentre outros recursos,
vista sua condição clínica e a variedade de procedimen- por atividades educativas e pelo sistema de prescrição
tos invasivos rotineiramente realizados. É destacado que médica eletrônica.
na UTI os pacientes têm de 5 a 10 vezes mais probabili- A identificação das bactérias multiresistentes foi rea-
dades de contrair infecção e que esta pode representar lizada pelo Laboratório de Microbiologia, segundo os
cerca de 20% do total das infecções de um hospital3. métodos convencionais de isolamento e identifica-
Cabe ressaltar que o risco de infecção é diretamente ção bacteriana. Empregou-se o método Kirby-Bauer,
proporcional à gravidade da doença, as condições nu- de difusão-de-disco, a partir do disco colocado na
tricionais, a natureza dos procedimentos diagnósticos superfície de Agar para testar in vitro a sensibilidade
ou terapêuticos, bem como ao tempo de internação, das bactérias isoladas, de acordo com a padronização
dentre outros aspectos4,5. do NCCLS – National Comittee for Clinical Laboratory
Assim, como já mencionado a UTI �����������������������
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tem mostrado eleva- Standards 9,10 (Quadro 1).
dos índices de infecção hospitalar, incluindo a ocorrên-
Quadro 1 - Resistência in vitro das Principais Bactérias aos Fár-
cia de micro-organismos multiresistentes6. A despeito macos Antimicrobianos
desta multiresistência microbiana os pesquisadores, em Bactérias Resistência
âmbito mundial, estão conscientes da problemática que Staphylococcus aureus Oxacilina
ameaça a sociedade, particularmente a indústria farma- Staphylococcus sp. coagulase- Oxacilina
cêutica, que se encontra sem resposta terapêutica4,5,7,8. negativa
O objetivo deste estudo foi avaliar prospectivamente Streptococcus pneumoniae Oxacilina
os pacientes críticos segundo idade, condições clíni- Klebsiella spp., E. coli, Entero-
Cefoxitima, ceftazidima, cef-
bacter spp., Citrobacter spp. triaxona, aztreonam
cas, tempo de hospitalização, ocorrência de infecção Serratia spp. Gentamicina, amicacina, cef-
hospitalar, topografia da infecção hospitalar, ocorrên- triaxona, cefotaxima e cipro-
cia ou não de multiresistência microbiana, uso de pro- floxacina
cedimentos invasivos e de antimicrobianos. Burlkoderia cepacia Todas
Stenotrophomonas maltophilia Todas
Acinetobacter baumanni Todos exceto imipenem e
MÉTODO
ampicilina/sulbactam
Pseudomonas aeruginosa Todas exceto imipenem, cefta-
Trata-se de um estudo prospectivo, observacional, de zidima, cefepime e polimixina
natureza clínica, realizado em Unidade de Terapia Inten- Streptococcus do grupo viridans Penicilina
siva (UTI) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Me- Morganella Morgani Ciprofloxacina
dicina de Ribeirão Preto, hospital de nível terciário, de (HCFMRP/USP – 2004)

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Lima, Andrade e Haas

Utilizou-se como conceito e critérios diagnósticos da 45 (95,7%) fizeram uso de cateter venoso central (14,6
infecção hospitalar (IH) aquele estabelecido pelo Mi- ± 10,9 dias); 43 (91,5%) utilizaram cateter vesical de de-
nistério da Saúde segundo a Portaria nº 2616/9811 mora (15,1 ± 13,8 dias); 14 (29,8%) receberam nutrição
Foram coletados os seguintes dados: idade, sexo, diag- parenteral (10,6 ± 4,9 dias); utilizou-se intubação traqueal
nóstico médico principal, motivo da internação na UTI, em 36 (76,6%) pacientes (9,2 ± 3,8 dias); 19 (40,4%) fi-
comorbidades, presença de dispositivos invasivos (aces- zeram uso de traqueostomia (25,6 ± 18,8 dias); 44 (93,6)
so central, cateteres vesicais de demora, intubação, ven- utilizaram ventilação mecânica (18,3 ± 10,9). Quanto aos
tilação mecânica, traqueostomia), nutrição parenteral, antimicrobianos, todos fizeram uso (14,2 ± 11 dias). Vinte
procedimentos cirúrgicos, uso de antimicrobianos, cul- e dois pacientes (46,8%) passaram por algum tipo de pro-
turas clínicas, tempo de permanência na UTI, tempo de cedimento cirúrgico. Pacientes sem infecção somaram
permanência com cateterização vesical de demora, cate- 24 (33,8%), sendo 11 (45,8%) masculinos, com média
ter venoso central, intubação traqueal, ventilação mecâ- de idade de 53,3 ± 19,6 anos, APACHE II com média de
nica, traqueostomia, nutrição parenteral, dias em uso de 31,4% ± 12,7%. As comorbidades mais freqüentes foram
antimicrobiano. Além disso, foram coletados também da- 10 (25%) hipertensão arterial sistêmica, 5 (12,5%) infarto
dos referentes à ocorrência ou não de infecção hospitalar agudo do miocárdio, 4 (10%) diabete melito, 4 (10%) in-
e ocorrência ou não de bactéria multiresistentes. suficiência renal aguda e crônica e 3 (7,5%) acidente vas-
Os dados foram analisados através de codificação cular encefálico. O tempo de hospitalização correspon-
apropriada de cada uma das variáveis em banco de deu à média de 11,2 ± 8,2 dias, e aos dias hospitalizados
dados no programa Microsoft Excel. Após a validação na UTI obteve-se média de 4,5 ± 2,5 dias. Em relação
mediante dupla digitação, os resultados foram expor- aos procedimentos invasivos, 11 (45,8%) fizeram uso de
tados para o Software Statistical Package for Social cateter venoso central (4 ± 3 dias); 18 (75%) utilizaram
Sciences (SPSS) versão 11.5. cateter vesical de demora (4,3 ± 2,3 dias); 7 (29,2%) fo-
ram intubados com média de 2,7 ± 0,7 dias; ventilação
RESULTADOS mecânica foi utilizada por 8 (33,3%) com média de 3,25
± 2,5 dias. Nenhum paciente fez uso de traqueostomia
Totalizou-se 71 pacientes com média de idade de 53,5 e nutrição parenteral. Onze (45,8%) fizeram uso de anti-
± 18,75 anos, sendo 39 (54,9%) masculinos. Deste total microbianos (3,6 ± 2,4 dias). Seis (25%) pacientes foram
vinte e nove (40,8%) foram a óbito. Como causas da in- submetidos a algum tipo de cirurgia.
ternação dos pacientes na UTI teve-se: 69 (97,2%) emer- A taxa de mortalidade em pacientes que adquiriram in-
gências clínicas variadas e 2 (2,8%) traumas por conse- fecção hospitalar correspondeu a 57,5% enquanto que
qüência de acidentes. No geral, as principais doenças de em paciente sem infecção a taxa foi de 8,3%.
base foram hipertensão arterial sistêmica, insuficiência Além disso, dos pacientes que apresentaram IH, em
cardíaca e infarto agudo do miocárdio (26,2%), diabete 15 (31,9%), foram identificadas bactérias multi-droga-
melito (14,75%), leucemia e anemia (11,5%), insuficiência resistentes (MDR), sendo 10 (66,7%) masculinos, com
renal (10,65%), neoplasia (9,9%), hepatopatias, encefalo- média de 59,3 ± 19,15 anos, APACHE II com média de
patia hepática e hepatite (9,9%), doença pulmonar obs- 65,7% ± 11,3%. As comorbidades mais freqüentes fo-
trutiva crônica (5,8%) e acidente vascular encefálico (4%). ram: 8 (25%) hipertensão arterial sistêmica, 6 (18,7%)
O tempo de internação hospitalar variou de 3 a 147 dias diabete melito, 4 (12,5%) neoplasia, 4 (12,5%) leucemia
com média de 25,9 ± 23,6. O período que permaneceram e 3 (9,4%) hepatopatia. Estes pacientes tiveram de 9 a
na UTI foi de 2 a 81 dias, com média de 15,11 ± 16,2. 87 dias hospitalizados, com média de 39 ± 24,8, e na
Pacientes com infecção hospitalar somaram 47 (66,2%) UTI tiveram variação de 2 a 81 dias (26,4 ± 25,9 dias).
com média de idade de 53,63 ± 18,48 sendo 28 (59,6%) Com relação aos procedimentos invasivos, todos usa-
masculinos e APACHE II com média de 58,3% ± 15,5%. ram cateter vesical de demora (20 ± 17,4 dias) e ventila-
As comorbidades mais freqüentes foram 16 (17,2%) hi- ção mecânica (25,8 ± 26,2 dias). Deste total, 7 (46,6%)
pertensão arterial sistêmica, 14 (15%) diabete melito, 12 foram traqueostomizados (37,28 ± 22,9 dias) e 12 (80%)
(12,9%) leucemia, 11 (11,8%) hepatopatia, 10 (10,7%) intubados (10,4 ± 4,77 dias). Quatorze (93,3%) foram
neoplasia e 9 (9,7%) insuficiência renal aguda e crônica. submetidos a implante de cateter venoso central (18,21
O tempo de hospitalização correspondeu à média de 28 ± 15,4 dias) e apenas dois pacientes (13,3%) receberam
± 25,4 dias e o tempo de hospitalização na UTI média de nutrição parenteral (5,5 ± 3,5 dias). Seis (40%) pacientes
20,5 ± 17,6 dias. Quanto aos procedimentos invasivos: realizaram algum tipo de cirurgia.

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Dos 32 pacientes com infecção por bactérias sensíveis, Quanto a letalidade dos 15 pacientes com infecção por
18 (56,25%) eram do sexo masculino, com média de bactéria multiresistente, 14 (93,3%) foram a óbito e dos
idade de 50,9 ± 17,8 anos e APACHE II com média de 32 pacientes com infecção por bactéria sensível, 13
46,3% ± 12,6%. As comorbidades mais freqüentes foram (40,6%) foram a óbito.
8 (13,1%) hipertensão arterial sistêmica, 8 (13,1%) diabe- Neste estudo, os métodos microbiológicos específicos
te melito, 8 (13,1%) hepatopatia, 8 (13,1%) leucemia e 6 identificaram bactérias multiresistentes: 11 (18,6%) no
(9,9%) neoplasia. Estes tiveram de 6 a 147 dias de inter- sangue, 7 (31,1%) na urina, 3 (20%) no lavado bron-
nação hospitalar (30,7 ± 25,7 dias), sendo que os dias na coalveolar e 3 (16,7%) na ponta de cateter. Os resul-
UTI variaram de 4 a 49 (17,7 ± 11,46 dias). Outro aspecto tados obtidos com relação às cepas multiresistentes
importante se reporta ao uso de procedimentos invasi- foram: 14 (10,85%) Pseudomonas aeruginosa, 4 (3,1%)
vos. Nos pacientes com infecção por bactérias sensíveis, Staphylococcus sp. coagulase-negativa, 4 (3,1%) Sta-
28 (87,5%) fez uso de cateter vesical de demora (14,57 ± phylococcus aureus e sensíveis: 18 (13,95%) Staphylo-
11 dias); em 30 (96,9%) implantação de cateter venoso coccus sp. coagulase-negativa, 16 (12,4%) Staphylo-
central (13,9 ± 7,7 dias); 12 (37,5%) foram submetidos à coccus aureus e 10 (7,7%) Pseudomonas aeruginosa.
nutrição parenteral (11,5 ± 4,7 dias); 24 (75%) intubação (Tabela 3).
traqueal (8,6 ± 3,28 dias); 12 (37,5%) necessitaram de
traqueostomia (18,75 ± 12,4 dias) e 29 (90,6%) necessi- Tabela 3 – Antimicrobianos Utilizados na Unidade de Terapia In-
tensiva
taram de ventilação mecânica (14,5 ± 10,38 dias). Dezes-
Antimicrobianos Número* %
seis pacientes (50%) foram submetidos a algum tipo de
Carbapenem 30 22,4
procedimento cirúrgico (Tabelas 1 e 2).
Glicopeptídeo 29 21,7
Cefalosporina 29 21,7
Tabela 1 - Distribuição das Infecções em Pacientes Internados
Fluoroquinolona 11 8,2
em Unidade de Terapia Intensiva
Sulfonamida 7 5,2
Infecção Número* %
Aminoglicosídeo 6 4,5
Pneumonia 20 25,3
Sepse 19 24 Lincosamida 5 3,7
Urinária 13 16,45 Penicilina 5 3,7
Bacteremia 10 12,65 Nitroimidazol 5 3,7
Celulite 5 6,3 Macrolídeo 3 2,2
Peritonite 3 3,8 Polimixina 3 2,2
Ferida cirúrgica 3 3,8 Rifampicina 1 0,8
Conjuntivite 2 2,5
*resultados múltiplos
Gastrintestinal 1 1,3
Hospital Geral-Escola Ribeirão Preto/SP – 2006.
*resultados múltiplos
Hospital Geral-Escola Ribeirão Preto/SP – 2006.
DISCUSSÃO
Tabela 2 – Distribuição dos Microrganismos Isolados em Pacien-
tes Internados em Unidade de Terapia Intensiva Os avanços tecnológicos relacionados aos proce-
Bactérias Isoladas Número* % dimentos invasivos, diagnósticos e terapêuticos, e o
Pseudomonas aeruginosa 24 18,55 aparecimento de microrganismos multiresistentes aos
Staphylococcus sp. coagulase-negativa 22 17
antimicrobianos tornaram as infecções em UTI um pro-
Staphylococcus aureus 20 15,5
Enterobacter spp. 14 10,85
blema de saúde pública e um desafio aos seus profis-
Klebsiella spp. 12 9,3 sionais12.
Acinetobacter baumannii 10 7,75 Estudo recente na UTI do hospital de emergências, per-
Escherichia coli 6 4,6 tencente à mesma instituição em estudo, apontou que
Stenotrophomonas maltrophilia 5 3,9 de 68 pacientes com infecção hospitalar portadores
Proteus mirabilis 5 3,9
Citrobacter spp. 5 3,9
de bactérias multiresistentes (31,9%) tiveram pneumo-
Streptococcus pneumoniae 2 1,55 nia, (29,3%) septicemia, (24,2%) infecção urinária. O
Corynebacterium spp. 2 1,55 Staphylococcus sp. coagulase-negativa foi a bactéria
Serratia marcenses 1 0,8 mais freqüente (36,4%), seguido do Staphylococcus
Plesiomonas shighelloide 1 0,8 aureus (19,0%), sendo que a maioria (55,7%) apresen-
*resultados múltiplos tou resistência a oxacilina13.
Hospital Geral-Escola Ribeirão Preto/SP – 2006.

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Lima, Andrade e Haas

As condições clínicas, comorbidades e extremos de ocorrência de infecção, bem como a multiresistência


idade elevam os riscos de infecção, a exemplo, ido- e quais serão os critérios utilizados para definir cepas
sos, diabete, neoplasias, hipertensão, insuficiência multiresistentes.
renal, tabagismo, alcoolismo, obesidade, desnutrição, A eficácia dos programas de controle de infecção hos-
anemia e outras. Também, o uso de procedimentos pitalar bem estruturados foi comprovada nos Estados
invasivos pode contribuir significativamente na ocor- Unidos, onde 33% das infecções hospitalares foram
rência de infecção, justificando a existência de diver- prevenidas entre 1970 e 1976 nos hospitais que dispu-
sas topografias infecciosas como respiratória, urinária, nham de tais programas21.
corrente sangüínea, área cirúrgica, cutâneas e gastrin- No Brasil, os dados sobre infecção hospitalar são
testinais14. pouco divulgados. Além disso, esses dados não são
Outro aspecto importante é que desde a introdução consolidados por muitos hospitais, o que dificulta o
do mais antigo antimicrobiano até o mais recente, vem conhecimento da dimensão do problema no país12.
se registrando uma pressão seletiva dos microrganis- Adiciona-se a essa realidade que um país marcado
mos causada, principalmente, pelo uso indiscrimina- pelas desigualdades sócio-econômicas, as institui-
do de antibióticos, resultando no desenvolvimento de ções hospitalares se revelam heterogêneas quanto a
espécies resistentes. Cabe ressaltar que ao longo da padrões de atendimento, estrutura física, organização
história a estreptomicina, tetraciclina, quinolonas, anti- financeira, população atendida e índice de infecção
fúngicos, antiparasitários, antivirais, coletivamente re- hospitalar.
duzem as complicações das infecções, dentre outras Isso justifica as ações de prevenção e controle das in-
contribuições. Atualmente, início do novo milênio, um fecções hospitalares, particularmente, nas unidades
número considerável de microrganismos desenvolveu de terapia intensiva, as quais incluem a vigilância do
resistência aos antimicrobianos convencionais, como perfil microbiológico e de sensibilidade dos microrga-
também alguns estão impenetráveis aos novos fárma- nismos; o uso racional de antimicrobianos e de proce-
cos2,15,16. dimentos invasivos, a redução do período de hospitali-
Com relação ao tipo de microrganismo, neste estu- zação, o desempenho consciente e eficiente da equipe
do, Pseudomonas aeruginosa, o Staphylococcus sp. de saúde, bem como a conscientização dos usuários
coagulase-negativa e Staphylococcus aureus foram quanto aos riscos biológicos, dentre outras condutas.
os mais freqüentes, os quais também são apontados Devem ser consideradas as diferenças na disponibili-
como preocupantes em todas as épocas17-20. zação e utilização de testes laboratoriais para o diag-
Desde o primeiro caso de Staphylococcus resistente, o nóstico das infecções hospitalares, na intensidade da
problema da resistência antimicrobiana tem sido uma vigilância dessas infecções e na acurácia em relatá-las
grande preocupação para a saúde pública com sérias e a falta de um índice para ajustá-las à gravidade das
implicações econômicas, sociais e políticas que afe- ­doenças dos pacientes.
tam nossa espécie em âmbito global, cruzando todos
os limites ambientais e étnicos. CONCLUSÃO
A despeito dos avanços tecnológicos em relação ao
desenvolvimento de fármacos de maior potência anti- Frente aos resultados, evidenciou-se que as taxas
bacteriana, suas características naturais de resistência de infecção hospitalar bem como de multiresistên-
a mantém em papel de destaque referente às dificul- cia aos fármacos antimicrobianos são elevadas.
dades terapêuticas. A microbiologia tem contribuído Adiciona-se ainda que os pacientes com IH apre-
ao entendimento epidemiológico desses eventos ao sentavam comorbidades diversas, uso significativo
identificar a origem clonal das bactérias, permitindo de procedimentos invasivos, aumento da perma-
correlacionar eventuais fatores, como: colonização e nência em UTI, elevado uso de antimicrobianos e
infecção, contaminação ambiental e colonização, mu- valores maiores do APACHE II, se comparados aos
dança do padrão de sensibilidade antimicrobiana, além pacientes sem infecção hospitalar.
de outros. Esses conhecimentos propiciam um melhor Dessa forma, como princípio da prevenção deve-se,
equacionamento de medidas de controle de infecção sem dúvida, atuar sobre as situações problema e no
hospitalar. contexto de nocividade. Essa atuação deve ser em to-
É de extrema importância que cada instituição defina dos os níveis da hierarquia da casualidade e não so-
sua situação em termos de microbiota hospitalar, a mente sobre a exposição direta aos fatores de risco.

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em Pacientes Críticos de Unidade de Terapia Intensiva

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