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ALC ALVES
1ª Edição
2016
Bianca
Se tem uma coisa que gosto de fazer é correr na praia logo cedo, o cheiro
do mar, o sol dando o privilégio de vê-lo em toda sua glória, isso me acalma e
me faz muito bem. Ao som de Britney Spears, corro empolgada, até o meu
corpo começar a protestar, paro um pouco, buscando fôlego, de repente alguém
esbarra em mim e caio com a bunda no chão. Que ótimo! Era só o que me
faltava! Começo a xingar a pessoa, mas quando olho para o idiota...
Que merda é essa que eu estou pensando? Saio do meu devaneio quando
escuto a sua voz. Que voz!
— Como é que é? É cada doida que me aparece! Você que não olha por
onde anda. — Abusado!
O que é bom, dura pouco e aqui estou para mais um dia de trabalho. O
Café já estava aberto e tudo organizado, porém não vejo Bruno — meu chefe e
dono do estabelecimento — em lugar nenhum. Logo os clientes começariam a
chegar enchendo o local e iniciando a correria de sempre, todo mundo se
mobiliza para atender a todos sem demora e na qualidade de sempre, até quem
trabalha na administração, como eu.
Pablo
Olho por um bom tempo para a loira gostosa da praia e não consigo
acreditar que em meio a tanta gente eu tinha que conquistar a antipatia logo
com a gerente do meu primo, ele vai querer me matar! Agora toda arrumada,
com um ar de mulher séria, não consigo conter o sorriso ao lembrar de vê-la
furiosa com o nosso esbarrão.
— Ora, ora se como o mundo é pequeno! Parece que você não é muito
sortuda, aqui estamos nós — digo dando um sorriso torto.
— Não que seja da sua conta, mas sou sim, e daí? — Esse queixo
empinado desafiador, olhos hipnotizantes... não me disseram que ia ser tão
interessante vir passar esses dias por aqui.
— Ah! Então você é o Pablo! Não acredito que o meu amigo, uma pessoa
tão interessante, pode ter um ser tão desagradável como primo. — A voz dela
está um pouco trêmula. Não sei se é de nervosismo ou raiva. — Eu já deveria
saber!
— Eu trabalho para seu primo há três anos e ele já havia falado sobre
você... — Interessante, então eles conversaram sobre mim. Mas o que será que
ele falou?
— Nada demais. Apenas o que precisava saber. Como por exemplo, que é
o seu contador pessoal desde que João se aposentou há seis meses. — Ela
levanta subitamente a cabeça e olha em volta. — Por falar em Bruno, cadê ele,
hein? Não o vi o dia todo, isso é muito estranho. Sendo responsável do jeito que
é...
— Primeiro, não acredite em tudo que ele fala, meu primo às vezes
exagera. Segundo, tia Maria passou mal e ele foi levá-la ao hospital. Por isso
estou aqui, Bruno me pediu para assumir os negócios já que os médicos
decidiram interná-la porque a pressão dela estava muito alta. — Bianca fica
pálida na hora.
— Como assim? Dona Maria passou mal e você não me disse logo,
estrupício? Preciso ir vê-la imediatamente — praticamente grita.
— Eu nem sabia quem você era até alguns minutos atrás, sua maluca!
Meu primo está cuidando dela, os médicos a internaram por medidas de
precaução, vai ficar tudo bem. — Tento não demonstrar minha preocupação,
da outra vez que isso aconteceu quase a perdemos.
— Ela é forte, Bianca, não vamos ficar tão nervosos. — Respiro fundo,
Bianca até tenta disfarçar, mas vejo quando limpa algumas lágrimas
discretamente. Nessa hora, faço uma coisa que não fazia há muito tempo —
puxo uma mulher para um abraço. Ela se encaixa nos meus braços chorando
baixinho, sinto seu cheiro e isso mexe com algo dentro mim.
— Certo. Mas não espere que eu caia de amores por você, agradeço o seu
apoio, mas preciso ir trabalhar agora. Por favor, me avise se tiver notícias. —
Entra na defensiva e desfaz o abraço me deixando mais uma vez sem palavras.
Capítulo 2
Bianca
— Quem é? — Sua voz está rouca e tenho certeza que devo tê-lo
acordado.
— Ah! — Boceja. — É você, já vou abrir. — Entro e dou de cara com uma
cena que me deixa de queixo caído, Pablo está somente de toalha! Como não
sou de ferro dou uma boa secada no seu corpo, braços fortes, barriga
tanquinho e tento em vão não olhar o resto, mas não consigo. Que calor, meu
pai do céu! Minha boca fica seca e nem preciso dizer que o meu corpo está em
festa. Suspiro lentamente.
— Escute, seu idiota! Não vim aqui para ficar olhando você quase pelado.
— Gesticulo e respiro fundo. — Vim para pegar uns documentos. Pode me
indicar onde fica? — Falo tentando não olhar para “as partes” dele.
— Esse pedido não ficou bom, mas vou considerar, já que você não tem
muita prática. — Se vira me dando uma visão magnífica da sua bela bunda e
segue para um cômodo à minha esquerda.
— É aqui — indica e olha para mim. — Não fique triste por eu ter que ir
me trocar, Bianca, haverá outras oportunidades para que me veja nu. — Chega
bem perto do meu rosto e sussurra contra os meus lábios. — Mas fique
sabendo, quando essa oportunidade chegar... Não serei a única pessoa sem
roupas. — Olha meu corpo descaradamente e dá um sorriso torto. Meu rosto
queima por ter dado tanta bandeira. Pigarreio limpando a garganta, arqueio as
sobrancelhas e falo com um sorriso desafiador.
— Vamos logo que a purpurina que habita em mim, não aceita essa
situação. — Pega na minha mão e entramos no carro. Olho pelo retrovisor e
vejo o Pablo bufando de raiva. — Agora conta tu-do!
— Nossa, amor, você hoje está vestida para matar! — diz encenando
duas pistolas com os dedos e fazendo o barulho dos tiros com a boca. — Pena
que eu não gosto dessa fruta. — Faz um biquinho lindo. — Vamos que hoje eu
quero arrasar, dançar até o dia amanhecer... E de quebra conhecer um bofe
lindíssimo! — Essa criatura não tem um pingo de juízo!
A boate é simplesmente demais! Luzes por todo lado, gente dançando,
bebendo e se divertindo. Guel como sempre, vai pegar as bebidas e volta todo
animado, começamos com uns coquetéis e logo vamos para a pista de dança.
Gettin' Over You do Guetta e a purpurina que habita no meu amigo
simplesmente o faz surtar ao ouvir o “divo” dele. Dançamos muito, até que não
aguento e vou beber. Peço ao barman uma dose de tequila e enquanto espero,
dou uma olhada em volta, tomo o maior susto ao sentir alguém se aproximar
de mim, ainda de costas torço para não ser nenhum babaca.
— Sempre venho aqui — falo ainda de costas para ele, que passa o dedo
indicador por ela e sinto minha pele arder com o contato. O barman chega com
as doses de tequila e Pablo aproxima os lábios do meu ouvido, quase o
beijando.
— Você sabe como tomar tequila? — diz com uma voz sexy. Engulo em
seco sentindo minha pulsação acelerar.
Pablo
— Minha vez. — Olho para a segunda dose e antes que ela reaja pego
sua mão e passo a língua em seu pulso sem desviar os meus olhos do dela,
passo o sal pego a fatia de limão e falo com a voz rouca. — Chupa! — Bianca
me surpreende, obedecendo sem contestar. Ela chupa, tomo a tequila e colo os
meus lábios nos seus novamente, mas dessa vez ela conduz o beijo.
— Não preciso de tequila para fazer isso e com certeza você também não.
— Prenso-a contra o balcão e nossos lábios se encontram mais uma vez. Sinto
uma atração, um desejo tão forte e quando a imensidão azul me encara meu
coração acelera. — Não sei o que você tem, sei que não deveria ter esse desejo
louco, mas é mais forte do que eu.
— Também não sei o que me faz desejar um babaca como você, Pablo
Rodrigues, devo estar ficando louca mesmo. — Sorri.
— Ok.
Capítulo 3
Bianca
— Se deu bem, hein viada! — Guel grita por cima da música me fazendo
rir.
— Não foi nada demais, só uns beijos. — Dou de ombros enchendo a
cara.
Aff, isso só pode ser uma provação! Ele tinha que ser tão gostoso?
Bebemos tanto que mal ficamos em pé, pegamos um táxi e quando chego
em casa desabo num sofá e Guel em outro. Antes de apagar completamente,
vem-me a visão de um par de olhos azuis que tem um dono que beija
maravilhosamente bem.
Acordo com o celular tocando e uma baita dor de cabeça, vejo Guel
dormindo e babando a minha almofada, numa bagunça total. Que maravilha!
Atendo o celular com os olhos fechados massageando as têmporas.
— Ela pediu que você fosse vê-la, até tentei convencer a teimosa, mas
você sabe que quando Dona Maria cisma com uma coisa ninguém consegue
argumentar. — Percebo riso na sua voz.
— Pensei que fosse incomodar, mas já que é uma ordem, quem sou eu
para não a obedecer! — Rimos um pouco e nos despedimos, com ele ficando de
me avisar quando chegassem.
Como sei que não irei dormir mais, levanto tomo um bom banho e coloco
um short jeans, com uma regata e rasteirinha. Prendo o cabelo num rabo de
cavalo, tomo um remédio e vou para cozinha fazer alguma coisa para o almoço.
Pego os ingredientes e preparo o meu prato favorito: lasanha ao molho branco.
Um Guel muito resmungão, de banho tomado e sonolento, reclama que
precisou acordar porque o estômago roncou com o cheiro. A tarde se arrasta
preguiçosamente quando decidimos assistir filmes e comer chocolate, mas Guel
logo fica entediado e escolhe a vítima para atormentar: Eu.
— Credo Guel, você cismou com isso hein? Não era ninguém. Um cara
que conheci e troquei um beijo, nem era interessante, dispensei. — Pisco um
olho e sorrio.
Ah, tá! Bia, como se você tivesse conseguido esquecer os beijos que
aquele estrupício te deu!
— E você precisa acordar pra vida! — Joga uma almofada na minha cara
e começamos uma guerra no meio da sala.
— Aquilo? Ah, minha filha, não foi nada, já passou; estou ótima! —
Defende-se com um sorriso no rosto.
— Espertinho!
— Bia, que saudades da sua comida; aquilo que era servido no hospital
não tem nem cristão que aguente! Me livrei de um médico chatérrimo e agora
Bruno parece que assumiu o lugar dele.
— O quê? Não, ficou doido? — nego desviando o olhar para Dona Maria
que nos encara pensativa e dou um sorriso amarelo.
Dona Maria que não é boba nem nada nota logo o clima.
— Só queria te dizer que o Pa não é uma pessoa ruim. Sofre muito e você
nem pode imaginar o quanto — fala pensativa. — Não posso te falar muita
coisa, mas posso te garantir que ele um dia já foi um coração mole, mas... —
Abaixa a cabeça e suspira como se lembrasse de algo triste. — A vida já lhe
tirou tantas pessoas que agora sempre que pode ele se afasta das pessoas.
Tenha paciência Bia e verá que Pablo é mais amoroso do que jamais você
poderá imaginar. Só se perdeu no meio do caminho... — Abraço-a e dou um
beijo na bochecha. — Minha menina... — murmura. — Não seja tão insegura, o
amor é uma coisa linda, abra o seu coração. — Sua voz é suave e carinhosa.
— Quer dizer que você, além de brigar e beijar bem, ainda sabe cozinhar?
— pergunta com aquele sorriso que eu ador... odeio.
— Bom, só para esclarecer, você também não é bem o meu tipo — diz
atrás de mim. — Gosto de mulheres com curvas. — Vejo de esguelha, no
reflexo do vidro do carro, ele olhando a minha bunda. — Você até tem um
corpo bonito... Não é lá grandes coisas, mas dá pro gasto!
— Como é que é? Escuta aqui, seu idiota, ou você sai agora de perto do
meu carro ou eu te tiro daí com as minhas próprias mãos! — falo baixo, mas a
minha vontade é gritar e esganá-lo.
Vou até ele, possessa de raiva e tento empurrá-lo, sem sucesso, é claro!
Levanto a mão para lhe dar um tapa, mas não consigo porque sou segurada,
por Pablo claramente se divertindo as minhas custas. Levanto a outra e ele a
segura também. Antes que eu possa reagir ele me beija, prendendo meu corpo
contra o carro. Tento resistir, mas acabo cedendo já que também quero esse
contato tanto quanto ele. Seu beijo é urgente e cheio de promessas. Retribuo,
sentindo meu corpo corresponder, queimar a cada toque firme de suas mãos.
— Não sei...
— Por mais que quase sempre queiramos nos matar, — sorrimos. — Nós
dois sabemos que essa atração é evidente. É só olhar para você que perco todo
controle. — Passa o polegar nos meus lábios. — Sei que isso não tem como
acabar bem, você mexe comigo mais do que deveria. — Tento recuperar meu
bom senso ignorando as batidas frenéticas do meu coração.
Com um olhar de quem parece que carrega o mundo nas costas volta
para a casa me deixando pensativa.
Capítulo 4
Pablo
— Bom dia.
Conversamos mais um pouco e dirijo até o Café enquanto ele segue para
o B&M2. Com a tia doente, tanto eu quanto Bruno, preferimos ficar na casa
dela para o caso de acontecer alguma coisa, por mais que ela diga que está
tudo bem, sabemos que quer bancar a durona e não dar trabalho.
— Bom dia. Ele te falou por quê? — Eu já sabia, mas não resisto e tento
prolongar a conversa.
— Não. Disse que falaria depois. E pediu que déssemos uma passada nos
outros cafés para olhar como está o funcionamento, as instalações, além de
analisar a frequência e a papelada.
— Tá bom. Vou ligar para o meu táxi e nos encontramos lá. — Ligar para
o táxi? E o carro dela?
— Você vai de táxi? O que aconteceu com seu carro? — Ela franze a testa
e parece confusa com a minha pergunta.
— Bom, te dou uma carona então, afinal, estamos indo para os mesmos
locais.
Chego a sua sala e verifico que a porta está apenas encostada, então
entro sem fazer barulho e vejo de cara com uma cena completamente
inusitada. Bianca está sentada em sua cadeira, com as pernas cruzadas,
enrolando uma mecha do seu cabelo, enquanto está concentrada no papel que
lê, completamente absorta. A blusa vermelha realça sua pele, dando um ar
sexy e delicado. Poderia observá-la durante horas, ela parece tão pacífica, doce
e meiga. De repente vira subitamente e sou pego no flagra encarando seu
corpo.
— Não desculpo não! Quem você pensa que é para entrar na minha sala
desse jeito? Eu poderia estar... — Corto-a e provoco.
— Calma, tá! Só entrei e achei você tão relaxada, não queria te deixar
assustada. — Em parte, é até verdade.
Eu e você,
E eu já nem preciso
Desligo-o imediatamente.
— Bia, Pablo já sabe, mas fiz questão de tê-lo aqui, porque é uma
conquista nossa. Do nosso trabalho. Um empresário do ramo alimentício,
famoso por ter ações nas melhores redes, se interessou pela nossa marca e
depois de negociarmos durante meses, conseguimos fechar contrato, a B&M
Coffee agora será conhecida mundialmente! — fala com uma felicidade
contagiante. Levanto-me lhe dou um abraço e um beijo na bochecha.
— E a ruim é que irei precisar me ausentar por algum tempo das filiais
daqui e depois de conversar com Pablo, ele finalmente aceitou, toda a
responsabilidade dos negócios aqui no Brasil durante a minha ausência ficará
a cargo dele e como vocês trabalharam muito bem juntos, decidi que ele será o
seu chefe temporário, até que você consiga dar conta de tudo, Bia. — “Tem
como piorar essa droga de dia?”, penso tentando fazer cara de paisagem.
— Pablo é Rayanne ela precisa falar com você disse que não conseguiu
ligar para o seu celular. — Pablo praticamente pula da cadeira e atende com o
rosto preocupado.
— Oi Ray, pode falar. — Ele vai ouvindo e seu rosto vai ficando um pouco
relaxado.
Faço sinal de levantar para deixa-lo à vontade, mas Bruno diz que não
precisa. Fico um pouco desconfortável com a situação e ele continua falando.
— Preciso de um tempo para a mudança, você sabe que não poderei tirá-
la de lá assim, Bruno. Preciso de no mínimo dois meses. — De quem será que
ele está falando? Será que é alguma namorada iludida? Em todo caso não é da
minha conta mesmo.
— Você falando algo indiscreto? Estou ansiosa por isso. — Finjo espanto
e ele sorri.
— Você está parecendo uma menininha com esse vestido, nem parece
àquela mulher séria que trabalha para mim. — Dou um soco fraco em seu
braço.
— Desculpa, não é isso. É que você está parecendo uma adolescente sem
aquela roupa formal. É isso, está sim. — Não aguento e começo a gargalhar.
Ele finge estar emburrado, mas depois cede, rindo comigo.
— Não se preocupa seu bobo, além de meu chefe, você foi o meu primeiro
amigo aqui em São Paulo, lembra?
— Claro que sim. Lembro quando você entrou lá no café pela primeira
vez, parecia encantada com tudo. — Sorri.
— Estava mesmo. Aquela decoração nos faz sentir que estamos em outro
século. É mágica.
Damos muitas risadas com Lily e suas caras e bocas. Depois do almoço
vamos para o quintal, onde uma tenda grande, com mesas e cadeiras, está
armada. Porém o que me chama atenção é um tapete rosa muito macio com
bichinhos de pelúcia, bonecas, um fogãozinho, uma pia, almofadas coloridas.
Tinham brinquedos para umas dez crianças.
— Bincar, bincar, bincar — diz pulando. Olho para dona Maria que troca
um olhar cúip1o a8126.
suas necessidades especiais. Mas, tudo vale a pena quando olhamos pra ela.
Lily consegue desenvolver seus sentidos quase como uma criança sem a
síndrome. É muito carinhosa e se apega muito fácil às pessoas, você teve a
prova disso.
— O seu pai é viúvo, mas cuida da filha com muito amor e carinho. —
Olha bem para mim e muda o tom, semicerra os olhos. — O que você achou
dela?
— Hum, entendo... — Porra nenhuma! Claro que não vou falar isso, mas
não entendo mesmo.
— Está certo, minha filha, qualquer dia desses você bem que poderia ir
ao shopping com a gente, para tomar um sorvete. O que acha?
— Eu adoraria!
— Está ótimo! Ela vai adorar sair com a “tia Bia”. — Rimos baixinho para
não acordar “minha sobrinha” e combinamos tudo.
Dou-lhe um abraço apertado, um beijo na bochecha e vou embora para
casa. Afinal quem será o pai misterioso da Lily?
Deve ser alto, loiro, ter os olhos azuis, simpático, atencioso, amoroso e
muito corajoso, cuidar de uma filha sozinho não deve ser fácil. Será que um dia
eu irei conhecê-lo? Espero que sim!
Capítulo 6
Pablo
— Boa noite, tudo bem, deseja comer alguma coisa? Posso esquentar
uma sopa que eu fiz... é só um minutinho... — diz levantando-se.
— Obrigado, mas não precisa, estou sem fome. Quero mesmo conversar
com você, por isso te liguei para me esperar aqui. — Sento no sofá e ela volta a
sentar-se na poltrona. — O meu primo Bruno conseguiu fechar sociedade com
um empresário, por isso irá para os Estados Unidos ampliar nossos negócios e
precisarei manter tudo funcionando aqui no Brasil. Você, melhor do que
ninguém sabe que ele me ajudou muito.
— Sim?
Bianca
Estou em meu escritório, Bruno vem até minha sala, dizendo que
Rodolfo, um dos maiores empresários do Brasil, está vindo ao Café para
conhecê-lo o e quem sabe no futuro próximo, fazer um bom investimento. O
problema é que, justamente hoje, meu chefe precisará ir ao centro resolver
assuntos importantes e eu terei que recebê-lo.
Eu era quem deveria estar puta da vida, afinal, essa reunião era para ser
assumida por ele. Tudo parece dar errado hoje. É impressionante.
— Não corro o risco de ser uma conquista fácil, afinal, não fui feita para
ser só mais uma. Porém, como diz o meu amigo Guel, a vida foi feita para ser
aproveitada. De repente, isso pode ser divertido... — provoco-o.
— Você está certa. Quer saber de uma coisa? Eu tenho é pena desse
Rodolfo.
— Ciúmes de você? Ah, por favor! Eu tenho mais o que fazer! — Passa
uma mão no cabelo, parecendo aflito. Chego bem perto do rosto dele.
— Você finge que não sente ciúmes de mim e eu finjo que acredito. —
Dou um sorriso malicioso. — Agora sai da minha frente porque minha sala me
espera, tenho muito trabalho a fazer. — Ordeno encarando-o.
Sua mão segura minha cintura com força, obrigando-me a ficar quieta no
lugar e a outra agarra minha nuca. Sem permissão nem nada, sua boca cola-se
a minha, saqueando, mordiscando e me fazendo desejar mais e mais. Vejo-me
segurando seus cabelos entre os dedos e colando meu corpo ao seu.
Fico roxa que nem beterraba ao olhar para Bruno nos encarando.
— Hã, Bia... — Parece tão sem graça quanto eu, falo por mim, porque
nem me dignei dirigir o olhar ao cretino do primo dele. — Preciso falar com
você. Só confirmo e vamos para sala dele. No caminho tocos meus lábios que
devem estar vermelhos. Não consigo esquecer a sensação deliciosa, que babaca
para beijar bem, se o beijo é assim...
Dou graças a Deus que ele não toca no incidente do corredor e depois de
falar como foi minha reunião com Rodolfo, faço a pergunta que está me
corroendo.
— Bruno, desde o almoço na casa da sua mãe, que estou com uma
curiosidade imensa, posso te fazer uma pergunta que não é da minha conta?
— Por que não? Que bobagem! Parece até segredo, por que ninguém pode
saber quem é pai dela? — resmungo irritada.
— Bianca — fala sério como se meu nome fosse amargo em sua boca. —
Só para matar a sua maldita curiosidade... — Arregalo os olhos com a
linguagem dele. — O pai da Lily... Sou eu! Satisfeita?
Capítulo 7
Bianca
— Ah, Guel, te falei sobre Rodolfo, não foi? — ele confirma tomando um
gole do seu drink. — Ele me ligou outro dia e conversamos um pouco, amigo,
ele é do tipo que te faz queimar só com o olhar. E em contrapartida tem o
Pablo, aquele ordinário, que beija bem pra cacete. Não consigo me conter
quando estou perto dele. — Guel faz sinal de se abanar com a mão e sorrio.
— Está doido?
— Guel?! Para! Eu sei muito bem com se faz um bom sexo, mas o
problema é que fico pensando nas consequências...
— Você pensa demais amiga, esse é o seu problema. Pega logo os dois e
pronto.
— Pois é, Guel. E Pablo fala comigo, mas nem toca no assunto da filha;
já faz uma semana, caramba! Deve pensar que sou preconceituosa. Poxa, está
me julgando sem nem ao menos ter falado comigo.
Entre uma cerveja e outra, conheço Arthur: lindo, alto, sarado, gostoso,
muito extrovertido e que sorriso! Aproxima-se da nossa mesa e para minha
surpresa engatamos num papo leve.
— Posso te pagar uma cerveja? — Quando vou responder o intrometido
do Guel, responde por mim:
— Fique à vontade, então — fala todo solícito. Aposto que Guel vai dar
um jeito de deixá-lo mais “próximo” ainda.
Arthur chama o garçom e faz um gesto pedindo três cervejas, logo depois
de sentar na cadeira ao meu lado.
Guel chega todo animado com um tal de Henrique. Quando digo que vou
para casa, ele quase me esgana.
— Okay. Desisto. Quer morrer sem sexo? Problema é seu. Eu, hoje, meu
amor, tiro a barriga da miséria, ou melhor, o ...
— Já entendi. — Faço sinal para ele parar.
O dia mal amanhece e não consigo mais dormir, fico enrolando mexendo
no celular e depois pego o carro para ir ao mercado comprar os ingredientes
para o escondidinho de macaxeira com charque, prato escolhido por Guel e
Bruno, minhas cobaias culinárias. Estou terminando minha lista de
ingredientes e meu celular toca.
— Okay, então eu aceito. Levarei o vinho. Até mais tarde, meu anjo.
— Guel, obrigada, meu amor, mas não precisava disso não, fiz com
muito carinho... — digo, dando-lhe um sorriso.
— Que nada!
— Bê, vou tomar um banho, você olha as travessas que estão no forno? E
se chegar o pessoal, recepciona enquanto eu termino de me arrumar, por
favor?
— Ai Best, que ótimo, todo mundo junto! Agora vai se arrumar que você
está parecendo a Gata Borralheira. — Faz uma cara de desgosto.
— Xaudade.
— Lily, meu anjinho, fiz brigadeiro só para você. — Ela se anima, desce
do meu colo e pega minha mão e vamos ao encontro dos outros. Ignoro Pablo
propositalmente.
Estamos todos na maior conversa, quando Lily pede para fazer xixi. Dona
Maria e Pablo fazem menção de levantar, mas me ofereço e levo-a ao lavabo.
Quando saímos, ele está na porta.
— Filha, por que você não vai lá brincar o tio Guel? Ele está te chamando
— diz sorrindo. A menina completamente encantada concorda e sai gritando
pelo tio Guel.
Pablo interrompe minha fala com outro beijo, mais intenso e molhado.
Quando ele para, respiro fundo e falo com a voz rouca:
— Agora não tenho tempo. Tenho que ir. — Ele me dá um meio aceno e
vamos para sala como se nada tivesse acontecido.
Naturalidade, Bia...
Faço uma nota mental. Quando olho para frente tem um par de olhos
verdes me analisando.
— Uma surpresa simples para uma mulher tão especial! — fala todo
galanteador.
— Hum. — Coça o queixo — Acho que aqui não é o local apropriado para
te servir de tudo que eu sei e tenho. — Ele me dá um sorriso carregado de
promessas. Tenho certeza que fiquei vermelho carmesim. Vou abrir a boca para
falar e ele me interrompe, rindo.
— Não precisa ficar vermelha com tudo que eu falo, Bianca. Eu só estou
brincando... —
—
— Não andei pesquisando sobre sua vida, querido, pois tenho muitas
coisas para fazer e não tenho tempo para me dedicar a coisas tão fúteis. E não
que seja da sua conta, mas a minha vida sexual está ótima. — Mentira!
Merda!
Quando menos espero sou imprensada contra parede e sua boca toma a
minha num beijo urgente, suas mãos tocam o meu corpo com firmeza,
deixando rastros de fogo pela minha pele. Coloco minhas pernas ao redor do
seu quadril e Pablo segura a minha bunda nos encaixando, mostrando-me o
quando está excitado e isso me deixa ainda mais pronta para ele, rebolo sobre
sua excitação, gemendo na sua boca, o que parece deixá-lo louco, porque me
beija ainda mais intensamente.
— Diz agora que não sei do que uma mulher gosta! — sussurra com a
voz entrecortada, ao mesmo tempo que me penetra rápido e forte. — Me
provoca agora, Bianca. Não sabe quantas vezes quis fazer isso... — Morde o
meu pescoço, segura os meus cabelos e em seguida me beija com fúria. Então
vejo em seus olhos o que a sua boca não tem coragem de dizer.
— Pablo... — Mal consigo falar quando sinto meu corpo inteiro se
preparar para receber um orgasmo delicioso. Ele não dá trégua e continua com
o mesmo ritmo acelerado, estamos tão grudados um no outro que sinto nossos
corações batendo fortes como se estivessem competindo um com o outro.
Ficamos nos encarando por alguns minutos e soube que jamais, por
mais que eu tente, não vou esquecer esse momento, nunca!
Capítulo 8
Bianca
— Boa noite — diz passando os olhos por meu corpo. Tenho certeza que
corei furiosamente. — Você está deslumbrante. Muito sexy, no entanto, na
medida certa. — Ele me olha nos olhos. — Sabia que não iria me decepcionar.
— Boa noite, obrigada. E você não está nada mal nesse smoking.
— Tudo está muito lindo, hum? — Olho para ele. — Mas, não chega aos
seus pés, minha deusa. — Eu lhe dou um sorriso tímido.
— Nossa, vocês ouviram a risada dela? Nunca ouvi algo tão irritante —
falo sem dar descrição, pois vejo que há alguém em um dos banheiros. — Sério,
o cara tem que estar muito louco para não reparar.
— Ou... ela deve fazer um você sabe.... "aquilo" muito bem para que ele
ignore... — Carina sorri maliciosamente deixando Júlia completamente sem
graça.
Não acredito!
— O que você está fazendo com ele? — Respira com dificuldade. — Esse
homem não presta, Bianca. Ele não é homem pra você.
— Estou acompanhado, mas isso foi antes, Bianca. Convidei a Paty para
me acompanhar, mas não tenho nada com ela. — Segura o meu rosto. —
Você... — Ele me olha de uma forma diferente.
Assim que ele sai, retoco meu batom — de novo — e vou ao encontro de
Rodolfo. Ele e os amigos estão em uma conversa calorosa sobre os recursos da
ONG e ele limita a olhar para mim e sorrir quando me sento ao seu lado. Acho
que não percebeu a minha cara de algo aconteceu no banheiro e segura minha
mão por baixo da mesa, alisando a minha palma com o polegar. Retiro
discretamente e dou um sorriso amarelo.
Puta desastre!
Preparo o meu olhar mais fulminante possível para olhar para aquela
hiena miserável causadora de tudo isso e dou de cara com Pablo olhando para
trás, direto para mim da mesa dela.
Tá de brincadeira?!
Ela sussurra algo e ri. Trinco os dentes. A voz é fina e enjoativa. Arghh!
Pablo entorta a boca. Ah, ele não gosta também, estou certa? Então, devo
apostar que ela tem um bom... Aff, merda! O que eu tenho a ver com isso?
Eles se sentam nas cadeiras que o garçom trouxe e olho para a mesa e
tem um novo guardanapo e um novo garfo perfeitamente lustrados. Também
não vi o garçom chegar. Onde estou com a cabeça?
— Bianca. — Sorri. Sem som, ufa! Graças aos céus! — Acabamos de ser
apresentadas.
— Ah... — Vou falar mais o quê? Não quero papo com essa aí! Para
minha sorte o jantar é servido.
Sinto-me completamente satisfeita, mas sei que não comi quase nada.
Minha cabeça está em outro lugar. Num homem de olhos azuis sentado a
poucos centímetros de mim. Olho para ele que não me olha, sempre me
ignorando. Em compensação, a Patrícia não para de falar. Ela até que é bonita,
mas sua voz aguda agride meus tímpanos e seu cabelo oxigenado está
precisando de um retoque.
— Adorei o seu colar, queridinha — diz para Júlia que está com um colar
com pequenas pedras de turquesa. A coitada dá um sorriso sem graça e olha
para o pescoço da Patrícia procurando algo que elogiar de volta. Os minutos
passam se arrastando e olhando em volta vejo as pessoas irem para a pista de
dança.
I am thinking of you
Thinking of you
(Pensando em você)
Pablo
Hoje o dia era para ser maravilhoso. A vida só pode estar de sacanagem
comigo. Venho para esquecer Bianca, tirá-la de uma vez por todas da minha
cabeça e acabo a encontrando. E ainda por cima com Rodolfo! Para completar
fiz a burrice de chamar Paty para me acompanhar!
— Que povo escandaloso! — A voz irritante de Paty me tira dos meus
devaneios. Aponta para uma mesa perto do palco está bem animada nos
chamando atenção.
— Mas agora quero. Se não tiver disposta... — Ela para de fazer doce,
pega em meu braço e seguimos para a pista de dança, logo começa a tocar
November Rain, do Guns N' Roses.
Bianca
Começa a tocar Any Way You Want It, do Journey. Pelo menos não é uma
música lenta. Mas a letra é foda e ter Pablo cantando junto mexe comigo.
e nós cantamos
— Diz pra mim que você está sentindo essa vontade sem fim de nos
beijarmos tanto quanto eu — sussurra ao meu ouvido, passando levemente os
dedos pelas minhas costas causando uma onda de arrepios por todo meu
corpo.
— Nós dois podemos até nos iludir, mas sabemos que não é em vão,
Bianca. Você sabe que não é a Paty que eu quero, assim como não é ele que
você quer na sua cama hoje à noite. — Termina de falar e sai, deixando-me
sozinha na pista, sinto raiva por ele está completamente certo. Arghh! Estou
tão absorvida pelo que o Pablo falou que nem noto que Rodolfo se aproxima.
— Bianca, está tudo bem? — Ah, Rodolfo, não estou nada bem, só
preciso fugir de tudo e de todos.
Pablo
Ao ver que Bianca foi embora com aquele bastardo resolvo ir embora
também. Procuro Patrícia e a vejo conversando com um cara e decido ir para
casa, sozinho.
Sinto seu perfume e logo adormeço nos braços da única mulher que deve
habitar os meus pensamentos, a dona do meu coração!
Capítulo 9
Pablo
Como é final de semana, tempo que geralmente tiro para ficar com Lily,
porque a semana é sempre corrida para nós dois. Estou determinado a
esquecer Bianca ou vou acabar enlouquecendo, ao mesmo tempo que não
posso colocá-la na minha vida, é só olhar para ela que tudo muda! Meus
desejos, minha determinação se esvai como se não existissem. Preciso me
distrair. Já sei! Lily ainda dorme preguiçosa e levanto, vou até a cozinha
encontro minha tia preparando o café da manhã de Lily.
— Bom dia, tia. — Beijo sua testa.
— Tia, preciso que peça para preparar uma cesta de piquenique, quero
sair com Lily hoje.
— Que bom, meu menino, você precisa mesmo passar um tempo com a
sua filha. Pode deixar.
— Então está certo. — Levanto. — É uma pena você está dormindo, logo
hoje que eu ia te levar para um piquenique no parquinho. Mas não tem
problema, fica para outro di...— Mal termino de falar e ela dá um pulo da
cama.
— Aham.
— Vou dar uma olhada na minha agenda e ligo para te dar a minha
resposta. Pode ser? — questiono-o.
— Claro. E, Bianca... Gostaria muito que você pudesse ir. Adoro a sua
companhia.
— Sim?
— Sonhou comigo?
— Ainn Bia, não faz merda... não faz... tarde demais! — falo tramando
tudo... Pablo Rodrigues que me aguarde!
Chega o dia da viagem e já me arrependi mil vezes por ter dito sim.
Minha cabeça está latejando, trabalhei a manhã inteira e agora Guel está
azucrinando a minha paciência.
Seu telefone toca, ele sorri e atende todo carinhoso, quando desliga fala
maravilhas desse tal de “Rique” e não falo nada, apenas o escuto. Rodolfo liga
avisando que virá me buscar e Guel decide ir embora antes, para nos deixar a
sós.
Filho da puta!
— Mas, prometo que esse final de semana eu serei todo seu nos horários
vagos. — Ele me dá um beijo na bochecha e eu apenas sorrio para ele.
— Bianca, creio que você está cansada, vou te deixar descansar e nos
vemos no jantar. Tudo bem? — confirmo acenando. Quando menos espero ele
me puxa para um beijo carregado de promessas.
Não sinto a menor vontade de sair de onde estou, mas o celular toca e
ainda com as pernas frouxas me levanto e vou atendê-lo.
— Oi, Guel.
— Nem para ligar para os amigos saberem que você chegou bem, né, sua
vaca? — Parece irritado.
— Tudo bem, vou fingir que acredito nisso. Me conta o babado! Como foi
a viagem?
— Ah, não vai me dizer que não rolou nada daqui até aí? — Lembro-me
do beijo e mordo o lábio.
— A-ha! Sua vaca! Eu sabia! E ele é bom na cama como parece? — Meu
Deus como essa criatura não tem um pingo de juízo!
— Ainda? Quer dizer que vai acontecer então? — Lá vai ele soltar mais
gritinhos ensurdecedores.
— Eu não quis dizer isso, foi só forma de falar. Você sabe que estou de
olho em outra pessoa...
— Certo. Beijos.
Não me lembro de como dormi, mas sei que apaguei totalmente. Depois
de um jantar maravilhoso, Rodolfo e eu tomamos um bom vinho e conversamos
um pouco. Até nos beijarmos. Ele beija muito bem, mas falta algo. Aquela
química e desejo que te faz querer mais e mais. Aquele idiota só pode ter me
rogado uma praga para ficar excitada somente com ele, só pode! Abro olhos me
espreguiçando e olho para o relógio: 07h52.
— Você está com ele, não é? Rodolfo não presta, Bianca! Ele é perigoso...
fica longe antes que algo de ruim aconteça com você também... Porque não me
houve pelo menos uma vez? — fala descontrolado e nunca vi Pablo desse jeito.
— Você está adorando isso, depois não reclama!
Pablo
Perfeito!
Bianca
Ninguém merece!
Pablo
— Não, acho melhor você ir para seu quarto, quero ficar sozinho!
Capítulo 10
Pablo
Sai daquele restaurante antes de fazer uma besteira, ainda bem que Paty
não quis me acompanhar porque sinceramente, hoje não estou com paciência
para suas reclamações.
Penso em Bianca, será que ela não vê que aquele bastardo está usando-a
para me provocar? E pior! Ela está gostando, aposto que deve estar rindo com
Rodolfo pelas minhas costas! Mas se Bianca pensa que terá uma noite
“agradável” enquanto eu estou aqui na merda por causa dela está muito
enganada!
Parto em disparada para o quarto dela — que descobri mais cedo qual é,
dois andares acima do meu — bufando e almejando ver a reação de seu rosto
quando eu revelar que saquei o joguinho medíocre dela. Quando chego ao
corredor do quarto dela, estaco com o que vejo: Ela e Rodolfo se beijando.
Bianca
Rodolfo me beija e tenho a certeza que falta algo! Não que ele beije mal,
pelo contrário! Mas... ainda assim... falta aquele desejo desenfreado que só
tenho com o...
— Você não vê que ele está te usando desde o maldito jantar? Esse
canalha não presta, Bianca! Não presta! — grita para mim completamente
descontrolado. — Depois quando quebrar a cara, não diga que não foi avisada!
— Rodolfo faz menção de avançar para cima dele, mas para.
— Vamos embora, vadia! — Pablo fala para todos ouvirem e Paty para de
rir enquanto é puxada.
Fico sem reação depois dessa confusão toda e Rodolfo apenas me olha.
Estende a mão e eu percebo que é o cartão magnético do meu quarto que ele
quer, entrego sem falar nada e assim que entramos ele me olha por alguns
minutos.
— Bianca, eu quero que seja sincera. — Começa e sinto um frio na
espinha.
— Sim... — Balbucio.
— O que houve entre você e Pablo? — Seu olhar é sério e não demonstra
nenhuma reação.
— Bianca, parecia que ele não entendeu que foi apenas sexo. Será que
você não deu liberdade para ele pensar que você pertence a ele? Ele parecia ter
um motivo muito forte, não acha?
— Rodolfo, o que ouve entre Pablo e eu, não teria como dar certo. —
Tento parecer indiferente, mas por dentro sinto o aperto no peito e me assusto
com a hipótese de que eu queria muito que tivesse dado certo!
— Você quer voltar ainda hoje para São Paulo? Porque, se quiser, eu
entenderei — falo completamente sem graça.
— Estamos cansados. Voltamos amanhã, pode ser? — Confirmo com um
aceno.
— Ah, — ele passa a mão na boca. — Não foi nada — responde após dar
um sorriso fraco.
— Não me lembro de você ter me dado nenhum soco. — Sorri e faz uma
rápida careta de dor pelo movimento que por pouco não percebo.
— Bia, não precisa ficar envergonhada, afinal você não tem culpa. — Ele
me dá um beijo suave na testa e sorri fracamente. — Descansa, amanhã
voltaremos a Sampa.
Com isso, ele sai me deixando com mais raiva daquele desgraçado do
Pablo!
Pablo
— Não é da sua conta! E o que as suas coisas estão fazendo aqui no meu
quarto? — Respiro fundo reunindo o único pingo de paciência que me resta!
— Então... achei você tão estressado e pensei que podia ficar aqui um
pouco. — Ela dá de ombros. — E é uma pena você ter brigado justamente com
Rodolfo. Eu estava indo conversar com ele na hora que você saiu... — Ignoro-a
e começo a jogar furiosamente todas as minhas roupas na mala e Paty me
assiste com uma cara de espanto.
— Pa, o que você está fazendo? Não acredito que você já quer ir embora
por causa daquela mulherzinha...
— Mas eu queria ver o pôr do sol aqui no Rio... fazer compras e...
Bianca, sua maldita, sai dos meus pensamentos... Sai da minha vida!
Bianca
Conto tudo para ele, todas as minhas dúvidas e como sempre ele é o meu
anjo, mesmo não aprovando minha possível escolha. Depois do jantar ele fica
comigo e caio de volta num sono profundo nos braços quentinhos do meu anjo
Miguel.
— Ai, Guel, porque não me apaixonei por você, hein? Seria tudo tão mais
fácil! Você é perfeito! — Murmuro comendo o pão quentinho.
— Não seria não! Meu bem... da fruta que você gosta, eu como é tudo! —
Engasgo com o café numa crise de risos e ele ri. — Portanto nem brinca com
uma coisa dessas... — aponta o dedo para mim.
— Bia?!
— Oi, dona Maria, que saudades. Como vão as coisas? Tudo bem?
— Na verdade, minha filha, as coisas não estão nada bem. — Sua voz sai
calma, mas parece bem preocupada.
— Eu estou bem... quem não está é a Lily. Ela... — Meu corpo congela e
corto-a.
— Ela passou mal e... começou a chorar dizendo que estava sentindo
dor. Eu e o Pa a levamos ao seu pediatra e ele fez alguns exames. — Engulo em
seco. — E diagnostico foi que ela está com uma grave infecção urinária.
Estamos preocupados, Bia. — Sua voz treme e sei que está chorando. — Ela já
estava com um pouco de febre ontem a noite e o Pa assim que chegou a levou
no hospital.
— Ah, meu Deus! Isso é muito sério! Ela é apenas uma criança e... —
Não consigo evitar a emoção e sinto as lágrimas rolarem. — Dona Maria, a
senhora está em casa?
— Minha filha, me escuta. Agora você não poderá vê-la ou ficar aqui.
Mais tarde você vem, está bom assim?
— Está certo. Mas... Dona Maria, qualquer coisa que acontecer me liga,
por favor? — falo com o coração apertado.
Por mais que eu esteja muito chateada com Pablo, Lily não tem culpa e
só espero que as horas passem rápido!
Pablo
Quando cheguei em casa tomei um susto ao ver a minha tia com Lily aos
prantos, chorando de dor, sem conseguir urinar, foi uma das piores sensações
que já tive. Seu eu pudesse pegar aquela dor e trazer para mim, eu faria isso,
sem dúvidas. Agora, vendo a minha princesa deitada nessa cama, com o
rostinho pálido e tomando soro na veia, isso me corta o coração. Passo a mão
em seus cabelos delicadamente e sinto as lágrimas descendo em meu rosto.
— Fica boa logo, amor da minha vida. — Imploro. — Papai te ama tanto!
Melhora por mim, você é o meu mundo! — Seguro sua mão e tento me
convencer que vai ficar tudo bem. Fico olhando-a por um bom tempo e me
assusto quando ouço uma leve batida na porta, acabo saindo de perto dela
para atender.
Para minha surpresa, Bianca aparece no meu campo de visão, com o tal
amigo Guel, que segura uma ovelha de pelúcia gigante.
— Oi. — Eu que não esperava vê-la tão cedo... — Vocês vieram vê-la?
Está dormindo, o remédio lhe dá muito sono.
— Sim, se não for incomodar, claro. — Dou espaço para os dois, que
entram como se pisassem em ovos.
— Ah, é? Então vou comer tudo! — ameaço pegar os seus tão sagrados
morangos e como sempre funciona.
— Oi, fique à vontade — aponto para o sofá, ela mal senta e Lily corre
para o seu colo.
— Estava com saudade, tia Bia. — Coloca a cabeça no ombro dela e fico
olhando para a cena a minha frente.
Ela é perfeita, Lily... pena que seu pai como sempre estragou tudo!
Devo ter divagado por algum tempo, porque quando levanto o olhar as
duas estão me encarando. Para evitar mais constrangimento, saio sem dizer
nenhuma palavra e vou ao escritório guardar os documentos. Depois de uns
minutos, volto à sala e não encontro nenhuma das duas, então ouço risadas
vindo do quarto de Lily. Caminho até lá e paro para não as atrapalhar.
— Oi, Bianca. — Ele me olha e caminha até a cama. — Oi, princesa. —
Beija a testa da filha.
— Oi, descansou?
— E...?
— E aí, princesa Lily, pronta para ir pra casa? — Pablo brinca com Lily e
observo, achando linda a interação entre eles.
— Isso, ela não é a mãe da minha filha, doutor — Pablo confirma sem
graça.
— Não tem problema. Diga para a renomada princesa Lily que não
poderá fazer nenhuma travessura. — Pablo sorri e ameniza o clima.
Bia, Bia... você precisa tomar uma decisão do que fazer da sua vida. —
Uma voz dentro de mim ecoa. E ao som de That's The Way It Is de Celine Dion,
concordo, totalmente.
Pablo
Graças a Deus, a minha princesa está em casa onde posso cuidar dela
com todo amor e carinho. Agora não consigo parar de pensar no quão idiota eu
fui ao dar aquele showzinho patético no hotel.
Depois de uma noite tranquila, acordo um pouco tarde e percebo que Lily
ainda dorme, calmamente, em meus braços. Levanto devagarzinho e a deixo
dormindo profundamente. Depois de um banho, decido preparar um café da
manhã para Lily e preparo uma bandeja colorida para chamar sua atenção e
ver se consigo fazê-la comer alguma coisa.
— Ah, é? Então vou comer tudo! — ameaço pegar os seus tão sagrados
morangos e como sempre funciona.
— Oi, fique à vontade — aponto para o sofá, ela mal senta e Lily corre
para o seu colo.
— Estava com saudade, tia Bia. — Coloca a cabeça no ombro dela e fico
olhando para a cena a minha frente.
Ela é perfeita, Lily... pena que seu pai como sempre estragou tudo!
Devo ter divagado por algum tempo, porque quando levanto o olhar as
duas estão me encarando. Para evitar mais constrangimento, saio sem dizer
nenhuma palavra e vou ao escritório guardar os documentos. Depois de uns
minutos, volto à sala e não encontro nenhuma das duas, então ouço risadas
vindo do quarto de Lily. Caminho até lá e paro para não as atrapalhar.
Nunca imaginei Bianca sentada num tapete brincando com Lily, que
tenta pentear seus cabelos como se ela fosse sua boneca, mas é justamente
isso que se passa a minha frente, Bianca sorri com os olhos fechados e Lily fala
algo em seu ouvido e faz um penteado — que não consigo identificar qual é — e
lhe entrega um espelho. Bianca ao olhar cai na gargalhada incentivando Lily a
fazer algo melhor. Minha princesa olha para porta e me vê, mas faço um sinal
para que ela faça silêncio e ela assente com a cabeça.
Elas ficam brincando por alguns minutos, até que Bianca vira e me vê.
— Eu... você sumiu... trouxe Lily para brincar aqui no quarto dela antes
que ela levasse todos os brinquedos lá para sala. — Parece um pouco sem
graça por ter sido pega no flagra.
— Amor, fica aqui no quarto, que o papai já vem. Não apronta nada, tá?
— peço sabendo que com certeza ela irá aprontar.
— Bianca, quero agradecer pelo carinho que você tem dado à minha filha
ultimamente. Ela está muito feliz com as suas visitas, para um pai isso não
tem preço, muito obrigado — falo realmente agradecido.
— Não tem que me agradecer, eu gosto muito da Lily, ela é uma criança
muito amável, você tem feito um bom trabalho.
— Pablo, fique com a nossa princesa o tempo que precisar, sem pressa.
Estou conseguindo conciliar as coisas. A saúde de Lily é mais importante —
assinto sem palavras. Ela realmente se preocupa com a minha filha.
— Sim? — Antes que ela se mova, beijo-a do jeito que desejei nos últimos
dias, não um daqueles beijos urgentes e cheios de tesão, esse foi diferente, era
como se ela quisesse tanto quanto eu, segura o meu rosto e quando o beijo
termina, vejo em seus olhos a mesma pergunta que martela em minha mente
nesses últimos dias. Não trocamos mais nenhuma palavra e quando ela sai,
volto para o quarto e fico com a minha princesa, a cena dela com Bianca não
sai da minha cabeça.
Pablo
— Obaaa! Tá bom! — Ela se anima ainda mais, mas antes de ir, agarra
as minhas pernas e as abraça, como se isso fosse o maior gesto de carinho do
mundo. E para mim é.
Noto uns olhares furtivos e ignoro todos, essas mulheres são chave de
cadeia. Umas são casadas, outras solteiras e a pior classe: As enroladas! Elas
são um perigo, acredite em mim, eu já passei por cada situação por causa
desse tipo de mulher...
Sorrio ao lembrar de uma vez que saí correndo pelado com as roupas nas
mãos, quando um dos namorados me pegou na hora “H” com uma delas.
Suspiro e dou um olhar divertido à Lily enquanto passo repelente nas
perninhas dela. Ela sai correndo em direção aos amiguinhos e aproveito para
conversar com algumas amigas — apenas amigas mesmo — e dialogamos
bastante.
Percebo que realmente foi uma ótima ideia passar o dia aqui, na maior
tranquilidade...
Aproveitamos a tarde e fico feliz ao ver Lily rodeada de amiguinhos, ao
contrário dos adultos, as crianças não foram contaminadas com o preconceito
mesquinho, pelo contrário, brincam todas juntas sem diferenças, nos dando
uma grande lição de cidadania.
Tudo está como o planejado, até que repente vejo uma cena que me
deixa com o sangue fervendo, uma mãe puxa bruscamente o braço do seu filho
que estava brincando de pega-pega com a minha princesa.
— Filho, quantas vezes tenho que falar que não quero você perto desse
tipo de gente? Eles são doentes e podem te passar... sabe lá Deus que tipos de
doenças! Vem comigo agora! — Chego a tempo de ouvi-la esbravejar enquanto
tenta arrastar o menino pelo braço.
Olho com os olhos arregalados para Lily que está branca, pálida,
paralisada e com cara de choro. Corro em sua direção, pego-a no colo e ela
explode em lágrimas, entre soluços. Procuro a mulher, que agora está cercada
de mães furiosas tentando defender a minha princesa.
— O papai está aqui princesa, não chora! — Tento acalentá-la, mas por
dentro a raiva cresce a cada lágrima e soluço sofrido que ouço a minha filha
chorar baixinho.
— Ela não gota de eu, papai — fala com os olhos banhados em lágrimas.
— O papai te ama, isso nos basta meu anjo. Eu te amo pelo mundo
inteiro e muito mais!
Porra, não acredito que essa mulher conseguiu estragar o meu dia
perfeito com a Lily!
Uns dias depois daquele terrível e triste episódio lá do parque, Lily já até
esqueceu as palavras cruéis daquela mulher e voltou a ser a criança linda e
alegre que o papai babão tanto ama. Concentro-me em um documento no meu
escritório em casa quando ela entra correndo.
— Papaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiii! — Dá um grito estridente, dando-me um
susto.
— Princesa, você lembra que o papai falou que criança não pode ir à
festa do tio Bruno?
— Lembo.
Desde que o meu primo decidiu marcar essa festa, Lily não fala em outra
coisa. Levanto, pego a carteira, penteio os cabelos dela, coloco um vestido rosa
cheio de babados, um sapato e vamos ao shopping. Passamos a tarde toda
batendo perna e comendo besteiras, compramos um relógio Rolex e um porta-
retratos onde mandei colocar uma foto de Lily abraçada com ele. Claro que,
como um pai coruja, eu não poderia deixar de comprar mais brinquedos para
minha princesa. Estou tão distraído com Lily que quando o meu celular toca e
atendo sem olhar quem é.
— Oi.
— Não posso falar agora, estou ocupado — digo olhando para minha
princesinha, que olha com atenção.
— Entendi. Deve estar com alguma cadela. Mas Pablito, estou com
saudades de você...
— Não princesa, era uma amiga do papai. Por quê? Você gosta da
Bianca?
— Amor, princesas não exis... — paro. Seu idiota, ela é apenas uma
criança de cinco anos! — Filhinha, princesas não podem viver como pessoas
normais.
— Mas ele vai para o outro lado do mundo! E se não comer direito? E
ficar doente? Quem vai cuidar dele? — Faz o maior drama e tento em vão
consolá-la, mas não consigo.
— Quando você e Lily forem embora, vou ficar sozinha... nessa casa
enorme!
Bianca
— Existe alguém importante que não está aqui? Fora o seu pai, é claro.
— Aperto sua mão e ele sorri cumprimentando uma amiga que está do outro
lado.
— Sim, Bia, existe. Mas se ela não está aqui, é porque deveria ter deixado
de ser importante há muito tempo! — Parece chateado e acho estranho, Bruno
nunca tocou nesse assunto. Existe uma mulher em sua vida? Eu paro de
andar e me coloco à sua frente, envolvo seu rosto em minhas mãos.
— Não fica assim, meu amigo, você é muito importante para todos nós.
— Ele cora e sorri e eu lhe dou um beijo demorado na bochecha.
— É toda sua, Rodolfo — Bruninho diz para ele e depois sussurra para
mim: — É ele? — Dou um sorriso tímido e ele entende que sim. — Cuidado,
Bia. Nem tudo que reluz, é ouro! — Sorri forçado, pede licença e sai. Deixando-
me confusa. O mundo inteiro agora resolveu conspirar contra Rodolfo?
— Bruno pediu isso, para passarmos mais tempo juntos. Poucas horas
dele no Brasil, sabe como é... — A frase de Bruno não me sai da cabeça... Nem
tudo que reluz, é ouro!
— Sei sim, querida. Tem que ser assim mesmo. Mas, isso não muda a
minha vontade de te ter perto de mim a cada segundo da minha vida. — Dou
um sorriso ainda um pouco tensa e enlaço meu braço no seu e entramos para
o meio do povo, cumprimentando hora um, hora outro, seguindo aproveitando
a festa.
Rodolfo me pede licença para ir ao toalete e procuro Guel olhando entre
todos e não encontro. A festa estava bombando quando encontrei Tina, uma
amiga minha e do Guel. Tina é uma figura, deve ter seus 35 anos, mas é uma
garotona. Usa piercings, têm várias tatuagens, alargadores, cabelo rosa,
cortado num meio moicano, é roqueira e muito namoradeira. Com outro foco
de luz em seu rosto, eu a confundiria com a cantora Pink. Tina é um amor de
pessoa. Muito doida ao me ver, vem me cumprimentar.
Vejo que Rodolfo fica vermelho igual a um tomate. Não aguento e caio na
gargalhada.
— Bia, essa sua amiga é uma figura! — Rodolfo mal consegue segurar o
riso ao ver os dois dançando que nem doidos.
— Não posso deixar você terminar essa festa sem que eu te dê uns
cascudos verbais, né? — Ele ri e o povo também. Eu faço uma pausa. — O que
eu posso falar de você sem parecer uma mulherzinha, cara? — Ouço
gargalhadas da plateia. Penso um pouco. — Você, primo, esteve comigo em
todos os momentos bons ou ruins da minha vida. Como há o provérbio que diz
que há amigos mais chegados que um irmão, reformulando, você é mais
chegado do que um primo. — Ele ri sem jeito. — Eu não sou muito bom com as
palavras, mas... Eu não poderia deixar de dizer que você foi, é e sempre será
importante em minha vida. Se há algo que eu aprendi nesse tempo que
passamos juntos é que a força de vontade supera tudo e não devemos
abandonar as pessoas mais vulneráveis e sim amá-las, porque isso é o escudo
defensor delas contra a sociedade cruel. — Vejo Bruno rindo e chorando ao
mesmo tempo e percebo que também estou. Eu pigarreio. — Desculpe, me
empolguei. — Olho para o povo e meus olhos encontram os de Bianca, que está
com os olhos marejados, ao lado do Rodolfo. Percebo que ela virá ao palco.
Tento ignorá-la e viro-me para Bruno. — Obrigado por todas as tristezas em
qual me consolou e todas as gargalhadas que já demos juntos. Confesso que
você é muito especial para mim... mas é um mané!
Bruno joga a cabeça para trás e dá uma risada divertida, seguido pela
galera, que logo aplaude. Dou um abraço apertado nele, com tapas fortes nas
costas e leves na cabeça. Quando vou descer a escada, Bianca está subindo.
Nossos braços se tocam rapidamente e pego o exato momento que seus olhos
encaram os meus lábios, com um meio sorriso me junto aos outros para vê-la
falando.
— Bom, o que dizer desse bofe? — Miguel diz e todos riem. — Eu poderia
ficar a noite inteira falando das qualidades desse gato, algo como “uma pessoa
maravilhosa, dedicado ao trabalho e aos amigos” que ele é, mas vou parar por
aqui para não pagar mico. — Dou risada e todos também dão. — Bruninho, eu
até poderia também te desejar sucesso nos Estados Unidos, mas, bofe... Com
essa carinha de anjo, sucesso é que não vai faltar, se é que me entende. — Meu
primo ri, e parece sem jeito, olhando em volta. — É o seguinte, meu amigo, seja
feliz e transe! Porque isso é que vale a pena na vida, e, se encontrar um bofe
escândalo, mande-o para mim.
— Que grande ironia você dizer isso, já que vê Bianca com aquele
covarde e não faz nada para mudar isso. — Bate no meu ombro devolvendo o
gesto.
Bianca
Ah, merda!
Caramba!
Sou pega totalmente de surpresa por Rodolfo com seu pedido de namoro.
— Bia, eu sei que pode parecer um pouco precoce, mas eu quero que
você seja minha. Prometo que, se você aceitar meu pedido, irei te fazer a
mulher mais feliz do mundo. Agora vem cá, me deixa te dar um incentivo para
aceitar. — Ele me puxa e passa a mão pelo meu pescoço, depois segura a
minha nuca e cola seus lábios no meu, dando-me um beijo que me faz
esquecer por um minuto quem sou e onde estou. Nossa!
— Tudo bem, Bia, podemos ir com calma se isso é o melhor pra você,
certo? — confirmo com um aceno e nos despedimos depois de mais alguns
beijos e ao entrar em casa, tomo um banho e me enfio debaixo das cobertas,
pensando no pedido dele.
Capítulo 14
Pablo
Enfim, posso buscar minha pequena arteira para conhecer nosso novo
lar. Vou à casa da minha tia ver Lily e ao chegar lá, ela ainda está dormindo.
Converso com Ray, que me conta às novidades enquanto minha tia fica
tagarelando sobre uma suposta viajem que vai fazer e me distraio quando meu
celular toca e peço licença para atender.
— Oi, Pablo Rodrigues falando. Quem fala, por favor?
— Ah, enfim. Oi, Pa, quanto tempo! Sou eu, Alícia... — Fico em silêncio,
pois já conheci ao menos umas três Alícias. — ...Scherzinger. Lembra?
— Hum... — ela parece ficar sem jeito — Obrigada. Liguei para convidá-lo
para uma festa de reencontro com a nossa turma, será hoje à noite. Já está
sabendo?
— Ah, sim, sim. E, com certeza, eu irei. Aliás, estou muito ansioso para
rever alguns dos nossos amigos. E uma amiga em particular. — Jogo charme.
— Posso até está sendo indiscreta, mas espero que essa amiga seja eu. —
Ri um pouco.
— Sim. Mas não sei se ele é o cara certo, sabe? Quero ser amada,
constituir família, cansei de relacionamentos vazios e só por sexo, Guel. -Rimos
com uma cena do filme e Guel volta a atenção para mim.
— Você acha que valerá a pena? Sabe... se disser sim, a parte ruim é que
você vai ter de gastar dinheiro para comprar presentes para ele em datas
comemorativas. Menos Finados, é claro. — Dou uma gargalhada divertida. — E
a parte boa é que você vai receber milhares dele também. E do jeito que aquele
bofe escândalo é, vai ser um presente por dia. E... Você não vai precisar mais
tomar banho gelado por causa do fogo na periquita, pois aposto que o Rodolfo
vai ser o seu bombeiro particular. — Pisca um olho. — Até imagino a
mangueira dele... — Dá um sorriso safado e me olha com o polegar na boca,
depois continua a lambê-lo, obscenamente, de propósito. Com um tapa de leve,
faço-o parar com aquilo e logo, ambos caímos na gargalhada.
— Miguel!
— Best, sua vaca, olha bem para mim. — Guel segura minhas
bochechas, sujando-me do chocolate que tinha nas mãos. Faço uma careta e
ele me dá um selinho. — Se o seu coração não o quer, não adianta meu amor,
você só estará perdendo tempo! Ninguém é feliz estando ao lado de alguém
somente porque é a saída mais fácil. E a saída mais difícil você bem qual/quem
é — fala sério.
— Aquele papi é gostosão né? Ainnn, até eu fiquei indeciso! — Ele cutuca
o dedo entre meus olhos. — Escolha um, sua vaca e deixe o outro pra mim...
Depois de uma noite revigorante, com meu doido dão coração, sinto que
tomei a decisão certa em ir com calma com Rodolfo. Ele é um cara legal e gosto
da sua companhia, não quero estragar isso. Como eu tinha algumas roupas na
casa de Guel, dormi ali mesmo. Chegando ao Café, levo um susto ao encontrar
Pablo em meu escritório, sentado em minha cadeira, com as pernas cruzadas
em cima da minha cadeira.
— Que negócios?
— Você não precisa fazer praticamente nada. Relaxe. Deixe que eu tome
a dianteira. — Dá de ombros.
Oi?
Eu abro a boca para falar alguma coisa, — perguntar quem é e o que ela
realmente quer com o Pablo — mas ela sai, com seu salto alto, desfilando como
uma deusa.
Quem é essa maluca?
Rodolfo.
Curiosa como sou não perco tempo aproveitando mais uns minutinhos
longe daquela chatice de reunião.
— Oi, querida. Que bom que ligou, saudades de ouvir a sua voz.
— Oi, Rodolfo. Não posso falar muito, acabei de fugir de uma reunião
chata por alguns minutos, li a sua mensagem e fiquei curiosa. — Retoco o
batom colocando o celular no viva— Voz.
— Aposto que se eu estivesse nessa reunião, não seria tão chata assim...
— Beijos!
Pablo
Antes de sair de casa, fiz questão de ler uma estória para Lily e colocá-la
para dormir. Ela adormeceu e saí do quarto devagarzinho e peguei o carro, ao
chegar ao local que está bem movimentado, fui recepcionado por uma moça
muito simpática e gostosa chamada Rebeca. Entrei, cumprimentei algumas
pessoas e fui surpreendido ao ver Alícia que vinha em minha direção. Antes,
ela já era bonita, mas agora está um mulherão de tirar o fôlego!
— Quero sim, vamos ao bar. — Ofereço o braço que ela segura e vamos
para o bar.
— Ainda gosta de cantar? — Lembro que a música era uma das paixões
dela.
— Sua voz é inesquecível. Quero te ouvir cantar outra vez, nem que seja
só para mim. — Sorrio um pouco dando um gole na minha bebida, um
coquetel de frutas para ela e um uísque para mim. Tomamos entre uma
conversa e outra.
Bianca
Nessa hora a campainha toca e tenho certeza que é Rodolfo. Guel vai
atender enquanto eu tento não ficar muito nervosa com o que ele vai achar da
minha produção. Ele entra e cumprimenta Guel e vem em minha direção.
— Boa noite, minha linda, você está belíssima. E eu imaginei que não
teria como ficar mais bela. Uma verdadeira diva, como diz Guel — fala,
sorrindo. — Minha diva.
— Bia, se você não der pra esse homem, eu dou! Apesar... que eu acho
que o seu homem é outro e está mais perto do que imagina. — Sorri tomando
um gole generoso do seu drink.
Começo a olhar ao redor para ver os amigos de Rodolfo antes que ele os
apresente a mim e, de repente, vejo uma cena que me deixa congelada.
— Ele estava quase fazendo um vídeo pornô com uma mulher que não
me é estranha. — Olho para eles no meio da multidão e continuam se
esfregando um no outro. — Merda, não consigo ver o rosto dela, mas o corpo...
— O que... Guel?!
— Até eu queria ser hétero! Que corpo. — Ele me cutuca, sem tirar os
olhos dela. — Best, olha a perfeição daqueles peitos... — Olha de relance para
os meus seios. — E nem é silicone.
— Eca, claro que não. Se bem que com aquele corpo... — ele simula
pensar. — Virar homem não é uma má ideia...
Sou tirada dos meus devaneios quando Guel passa a mão no meu
queixo.
— Está doido?
— Reflexo, sei... Conta outra. Conheço você Bianca. — Guel não cansa.
— Bia, contente-se com um bofe só, ou você fez a escolha errada? — pergunta,
arqueando a sobrancelha.
— Não é por nada não, mona... mas se você pensou que o papi gostosão
ia ficar sentadinho enquanto você aproveita a vida com Rodolfo está enganada
né? — Aff! Guel como eu te odeio as vezes! — Ainda há tempo, Bia. Por
enquanto, você não perdeu ninguém... — encerra o assunto quando Rodolfo se
aproxima e tento disfarçar o clima tenso.
Rodolfo olha atento para mim e perde o ritmo da música por alguns
milésimos de segundo.
— Quando?
— Aham — respondo, olhando para ele, sem saber direito o que ele disse
e volto a olhar Pablo por sobre o ombro do Rodolfo, mas não o encontro mais. A
música termina e todos aplaudem pedindo mais uma.
— Bia, eu só quero que você seja feliz, fazendo a escolha certa para o seu
coração. Rodolfo é um cara legal, romântico e te daria o céu se fosse preciso.
Mas, se ele não conseguiu tocar seu coração, não adianta, miga. Coração é
terra que ninguém anda e não podemos escolher quem pode morar nele.
— A culpa foi minha... Guel, sempre falo que quero um cara que me faça
amar e ser amada, construir uma família e o que eu faço? Quando ele
aparece...
Ele vem até mim e me prende em seus braços. As lágrimas que eu estava
derramando antes eram um rio escasso comparando ao que rola em meu rosto
agora. Uma cachoeira de angústia e desabafo, entre soluços que cortam e
sufocam o meu peito.
— Oi... — parece sem graça e minha cara não deve ter ajudado muito.
— Amo...muito. Não sai da minha vida! Não por um erro tão bobo em
meio a tantos acertos. — Ele me dá um olhar esperançoso.
— Tenho que usar todas as armas para não te deixar escapar. — Pisca
um olho.
Um mês depois...
— Ok. Mas algo me diz que isso não vai acabar bem. Sou seu amigo e te
amo, fico do seu lado, mas escuta o que estou te dizendo... esse Rodolfo não é
flor que se cheire, ah, mas não é mesmo! — Ignoro sua implicância e mau
humor e faço as compras que faltam para a minha surpresa inesquecível,
afinal, nada hoje vai estragar o meu dia!
Pablo
A praça de alimentação está lotada, por isso ficamos numa mesa mais
perto da porta e me divirto com Lily, ela está uma graça com o rosto todo
melecado de sorvete de flocos, enquanto a coitada da Ray tenta limpá-la. De
repente, paraliso ao ver Bianca olhando uma vitrine à nossa frente. Ela está
linda, radiante. Sorri com alguma besteira que o Guel fala e vendo o seu
sorriso perfeito, sinto aquele maldito frio na barriga.
Lily ao vê-la, sai gritando como louca — para variar — e Ray vai atrás
dela, consegue alcançá-la e limpar o seu rosto. Bianca sorri surpresa e se
abaixa e minha princesa passa os bracinhos no pescoço dela que a pega no
colo, dando-lhe atenção e fazendo cócegas em sua barriguinha. Fico assistindo
hipnotizado e nem percebo que Guel está ao meu lado falando comigo, até que
a minha tia me dá uma cotovelada.
— Oi, Pablo. — Ela me olha nos olhos e o mais foda é que vejo tudo que
sinto refletido neles.
— Nada disso, só gostamos uma da outra, não é amor? — Bia beija Lily
na testa.
— Cla... claro que não. — Tento convencê-la, mas minha voz falha
miseravelmente.
— Claro que você não gosta, na verdade, você a ama, só não quer admitir
para você mesmo. Eu não sou burra, filho, percebo os olhares que vocês
trocam. Mas, se serve de consolo, ela também está fazendo a mesma coisa. —
Ela me olha nos olhos.
Mas, eu sei que minha ela tem razão... Eu amo Bianca. Com todas as
minhas forças.
Bianca
— Vai começar tudo outra vez. — Reviro os olhos, sou salva quando o
meu celular toca e vejo que é Rodolfo — Oi, Rô — enfatizo para Guel que me
olha com desdém.
— Ok. Beijos!
Ele desliga e olho para Guel que faz menção de tagarelar, mas diante do
meu olhar mortal se cala.
— Ok, então. Já que ele tem esse jantar aí que surgiu de uma hora pra
outra, que tal se você fizesse uma surpresa?
— Ué, se ele vai para um jantar hoje à noite, o apartamento vai ficar livre
e aí... — Arqueia as sobrancelhas sugestivamente.
— Exagerado!
— Ah, ela está por aqui direto já que o sobrinho mora aqui no prédio. —
Só vejo a besteira que fiz quando Rodolfo muda completamente de expressão.
— Ele não está me perseguindo e... além do mais, hoje não é dia para
aborrecimentos. — Chego mais perto e sento em seu colo, beijando seu
pescoço, subindo as mãos pelos seus braços. Ele me beija e finalmente consigo
desviar sua atenção do assunto, até que o seu celular toca insistentemente.
Pego o elevador junto a uma loira muito bonita e subimos juntas uns
sete andares. Durante a espera, começo sentir um mau cheiro invadindo o
elevador. Por um instante eu penso ser a tubulação de encanamento sanitário
do edifício com defeitos, mas depois caio em mim que é a tubulação da mulher
que está vazando. Olho para ela com discrição e ela faz cara de paisagem, como
se não fosse ela quem tivesse estourado aquela bomba com aroma de podridão.
Viro-me para o lado contrário dela e discretamente prendo as narinas entre os
dedos.
Capítulo 16
Bianca
— Não!
— Bianca! Quer parar e me escutar? — Rodolfo tenta me alcançar pelo
braço pela terceira vez, enquanto eu avanço pelo corredor. Assim que
presenciei a cena que mais temia presenciar e que ocultava por baixo do tapete
do conforto, deixei a raiva nocautear a dor e dei um basta nesse
relacionamento, reagindo por impulso disparando pelo corredor afora. Fujo
dele, desta vida e não olho para trás.
— A próxima vez que você tocar em mim, será a última vez que você vai
ter mãos — falo entredentes e ganho um sorriso irônico de lado como se
desacreditasse em minhas palavras. Algumas pessoas aparecem nas portas dos
apartamentos para matar a curiosidade do que acontece ali. Eu não me
importo com isso, porque sei que a esperada feição de fracasso não é aparente
em meu semblante. Mas, o lugar e o momento fazem-me lembrar da cena do
Rio de Janeiro quando o Pablo avançou para cima do Rodolfo acusando-o de
aproveitador desgraçado. Eu devia ter percebido naquele momento que não era
somente um impulso ciumento dele e que não existem homens perfeitos.
— Meu amor, — ele tenta voltar ao seu tom calmo que eu tanto me
habituei. — Eu só quero que você me deixe explicar. Não... interrompo-o na
hora.
— O que? Vai me dizer agora que eu estou vendo coisas que não
existem? Que não aconteceu nada do que eu vi? Tem mesmo a cara-de-pau de
me dizer isso, Rodolfo? Ou prefere se vangloriar me dizendo quantas amantes
mais você tem, ou melhor, se não sou eu que sou a amante nessa história,
hum? — Dou um sorriso incrédulo e amargo. — E não me chame de amor!
— Olha, eu...
Ele olha para si e parece perceber somente agora que está seminu.
Enquanto ele está indeciso se volta para o quarto para vestir uma roupa ou se
tenta me convencer que suas pilantragens são banais ou não existiram, me
viro e aproveito o elevador com as portas quase fechando e fujo desse coliseu
de frustrações, contendo as lágrimas que ardem os meus olhos querendo
explodir para o universo notar que a dor existe. E é real.
Pablo
— Você estava certo. Vai, joga na minha cara! — ela esbraveja. — Fala
“eu te avisei”, fala que você tinha razão. — Passa as costas da mão no rosto na
tentativa de secar as lágrimas e grita. — Fala, porra! — Logo escapa um soluço
e ela chora copiosamente.
— Pablo, ele... ele estava com outra mulher no apartamento. Eu fui lá e...
— Ela soluça e chora. Não aguento e mesmo com a sirene de alerta me
mandando ignorar e seguir em frente, afinal eu avisei, fiz a minha parte,
avisando-a que ele não prestava — puxo-a para um abraço. Ela me agarra e
solta um soluço.
— Bianca, agora que você já está mais calma, me conta o que aconteceu
— peço baixinho.
— Bianca, eu...
— Você sabia, não era? — Parece muito angustiada — Na verdade, você
tinha certeza que ele não prestava. Pablo, — olha para minha mão na sua e
volta a me olhar, dentro de mim. — Você sabia o tempo todo que Rodolfo me
traía?
— Sempre?
— O que aconteceu? O que ele te fez para você odiá-lo tanto assim?
— Tenho todo tempo de mundo — Bianca diz e pega uma mecha de seu
cabelo e brinca com ela.
— E então?
— Sim, ela era incrível e para minha sorte, se apaixonou por mim e
começamos a namorar. O bastardo, é claro, não se conformou. — Só de
lembrar de Laura meu coração dói.
— E...?
— Até antes dela ele ficava feliz se eu me desse bem. O mesmo acontecia
comigo no caso dele. Mas, daquele momento em diante, ele passou a se
comportar estranhamente.
— De que forma?
— Bom, ele começou a inventar desculpas sem sentido para não sairmos
juntos da faculdade, ou contava alguma mentira para que eu só fosse a algum
lugar com ele se ela fosse junto. Eu não sabia que ele gostava dela, Bia. Nunca
fui desleal aos meus amigos. — Olho para o chão da sala. — Eu estava tão
apaixonado por ela que não percebia detalhes alheios, não sacava o que ele
estava fazendo. Na minha visão, nós três estávamos felizes. — Passo a mão no
rosto, da testa ao queixo, para tentar fazer com que as lembranças não me
atinjam tão intensamente. — Então, um belo dia... nós tínhamos combinado de
sair para uma festa no centro e eles ficaram de me esperar perto da minha
casa. Quando cheguei ao local um pouco mais cedo, Rodolfo estava tentando
agarrá-la. Era uma rua segura, porém não muito bem iluminada. Talvez, se eu
não tivesse chegado bem na hora, ele teria a forçado a fazer sexo com ele. —
Fecho os punhos com a lembrança, até o nó dos dedos ficarem brancos.
— Meu Deus, Pablo! E ele era o seu melhor amigo! Não acredito que
namorei esse homem... — Olho para ela, amargurado.
Volto a olhar para Bianca que tem a testa franzida e parece aflita. Não sei
se a dor que ela sente é a que o Rodolfo causou a ela ou se ela sente a minha
dor. Ou as duas.
— Não, ele reviveu. Mas, isso nem se compara ao que ele fez alguns anos
depois...
— Vadia!
Sinto a raiva queimar meu rosto. Não acredito que esse é o mesmo
homem que eu namorava. Pablo faz menção de avançar e dessa vez eu não o
impeço. Ele se aproxima do Rodolfo com fúria e dá um soco na boca dele que
recua com o choque, sem tempo para se defender. Ele dá um sorriso sarcástico
e tenta limpar o filete de sangue com as costas da mão.
— Tema por sua vida, Pablo, e não brinque comigo. Tema pela vida dessa
piranha aí também. — Ele semicerra os olhos, como uma afronta, — Lembra-se
da Laura? — E dá uma risada feroz. — Coincidências acontecem, hum?
— Isso, dê queixa mesmo. Vai lá e diz que eu estraguei essa sua carinha
de mau caráter e aproveite e se entregue para a Polícia, seu bandido! — Rodolfo
sorri de lado, evitando fazer careta pela dor. — Eu devia é te fazer acordar
amanhã em um necrotério. Vou até Pablo e coloco a mão em seu ombro,
olhando para meu maldito ex-namorado.
— Pablo, já chega, por favor — murmuro com os olhos cheios de
lágrimas que me recuso a derramar. — Seus ombros descem um pouco, como
se relaxasse da tensão e eu deixo minha mão onde está. Rodolfo dá um sorriso
maldoso até o limite que as dores permitem e aponta para nós.
Ele vira as costas antes que um de nós dois retruque, abre a porta e sai,
fechando-a atrás de si. Pablo respira profundamente, vira-se para mim e me
olha com uma emoção estampada em suas pupilas.
Capítulo 17
Pablo
Pego a mão de Bia que senta ao meu lado e ficamos perdidos em nossos
pensamentos até que pergunto o que está me corroendo.
— Bianca, por favor, me diz que você não ama aquele crápula — digo isso
e sinto minha respiração ficar presa aguardando a resposta.
— Eu...eu gostava dele, Pablo, mas nunca consegui amá-lo. O que é pior,
porque isso faz de mim exatamente o que ele falou, uma putinha que se derrete
com qualquer coisa. — Quando ela diz isso fico com mais ódio daquele filho-da-
puta!
— Nunca mais repita isso, ouviu? — Pego seu rosto em minhas mãos, ela
fecha os olhos e acena. — Você é perfeita, aquele bastardo não era homem pra
você. Só isso. — Seco suas lágrimas. Perfeita demais. — Ei, cadê a Bianca
implicante, insuportável e mandona que eu conheço? Aquela que não me...
— Sim, você é mandona. “Pablo quero isso!”, “Pablo quero aquilo!”, “Isso
não está certo, faz desse jeito que é melhor!” — Eu a imito e ela não resiste e dá
um sorriso, não chega a alcançar os olhos, mas ainda assim é um sorriso.
— Obrigada, eu nem sei o que teria feito se não fosse você. Eu... —
silencio seus lábios, passando delicadamente meus dedos, sinto uma corrente
elétrica passando por entre as minhas veias e apenas por um minuto acho que
ela sentiu a mesma coisa. Ficamos nos olhando em silêncio, até que um
barulho quebra o encanto do momento. Um “ronco” surge do estômago de
Bianca, ela cora furiosamente, eu não aguento e começo a sorrir.
— Ai meu Deus que vergonha... — ela cobre o rosto que está vermelho
igual tomate.
— Bom, então vou fazer alguma coisa para você comer. — Ela até faz
menção de dizer algo, mas eu a interrompo. — Nem adianta protestar, vai
comer e ponto final. Enquanto isso... — olho em volta. — Faça alguma coisa,
sei lá. — Dou de ombros e vou para cozinha.
— Claro. — Finjo que não aconteceu nada. — Põe a mesa, estou fazendo
uma macarronada à bolonhesa.
— Pode deixar, ela já está bem sonolenta, passou sim, não tossiu mais.
Até mais tarde, tchau.
— Bianca relaxa, está tudo bem. Até porque, depois do trabalhão que eu
tive para fazer esse mega jantar é lógico que não irei embora sem que você se
alimente. — Dou um sorriso.
— Seu bobo!
— Não saberia o que fazer se não fosse por você, me desculpe pelo
transtorno. — Ela parece constrangida.
— Na verdade, você me fez um favor Bianca, fazia um bom tempo que eu
queria quebrar a cara daquele bastardo — digo.
— Bianca, a qualquer hora que você precisar de mim, por favor, não
hesite em nenhum momento. É só você ligar que eu venho correndo está bem?
— Ela responde que sim e ficamos abraçados mais alguns segundos até que ela
se afasta.
— Bom, então nos vemos depois, afinal agora você é meu vizinho — diz
estreitando os olhos.
— Por pura coincidência, quando comprei não sabia que você morava
aqui nesse prédio. Quando soube já não tinha mais como voltar a trás e nem
quis. — Passo a mão pelo seu rosto. — Fica bem, tá? — Eu lhe dou um beijo na
testa e saio, com a sensação de ter deixado metade do meu coração com ela.
Chego em casa, tomo um banho, como não estou com fome, já deitado
na minha cama fico refletindo sobre os últimos acontecimentos e adormeço
com um rosto de um anjo... Bianca.
Bianca
— Você não é burra Bia, apenas deu uma chance a pessoa errada. Mas
quer saber? Foi até bom, assim certo papi gostosão...
— Best, eu estava pensando... Acho que vou visitar meus pais. Falarei
com Pablo e perguntarei se posso tirar um mês de férias adiantado, preciso
arejar minhas ideias e nada melhor que minha cidade, a praia, as piscinas
naturais — suspiro ao lembrar-me de como tudo é muito lindo
— Safado! Mas tudo bem, só assim mainha não fica no meu pé. Vou falar
com o Pablo e depois combinamos tudo.
Pablo
— Bom, se você quer fazer isso por causa daquele crápula, fique sabendo
que nós estamos encerrando a parceria com ele. — Recolho os papéis que
estavam na minha mesa e coloco na sua frente; ela pega e começa a ler. —
Estava acabando de ler a rescisão agorinha. Ela me olha com os olhos
arregalados.
— Como assim? Você encerrou uma das principais parcerias do Café por
minha causa? — Parece espantada, franzo a testa.
— Hum, então ele também vai? — falo mais para mim do que para ela.
— Então qualquer coisa você me avisa. Vou para minha sala, qualquer
eventualidade é só chamar. — Caminha até a porta.
— Bianca...? — Ela está prestes a sair, mas vira ao ouvir seu nome.
— Sim?
Bianca
Chego à empresa e todos dizem que irão sentir a minha falta, dou um
abraço nas meninas e logo em seguida vou até a sala de Pablo, com um frio na
barriga. Como Larissa já tinha avisado que eu tinha chegado, ele avisou que eu
podia entrar. Paro um momento, respiro fundo e abro a porta.
— Pablo? — Ele está tão concentrado em um documento que está lendo,
que preciso chamar para ser notada.
— Bom...
Seguro a sua mão e ele deposita e um beijo nela. Pego a minha bolsa e,
quando estou chegando à porta, meu coração bate bem mais forte do que já
estava batendo enquanto Pablo me encurrala na parede mais próxima...
Pablo
— Eu... Eu... — Roço nossos lábios e ela me olha desejosa por alguns
segundos. — Estou confusa e frustrada comigo mesma. Você estava certo o
tempo todo e te julguei tão mal. Ainda agiu como amigo quando eu só merecia
o seu desprezo. É um bom pai, bom amigo e eu só conseguia enxergar um lado
que criei para justificar minhas escolhas erradas. Ainda tem o fato de que uma
hora estamos brigando e em outra, você é a pessoa mais amável do mundo. —
Abre os olhos e me encara, com a voz emocionada e os olhos lacrimejados. —
Tudo está sendo demais para mim. Traição, atração e... sei como processar
todas essas coisas... — Começa a chorar e eu me arrependo amargamente em
tê-la provocado. Sem pensar, colo meus lábios nos seus. Ela resiste por alguns
segundos, mas depois os abre lentamente. Beijo-a com paixão, explorando o
céu de sua boca com a língua e trazendo um arrepio suave pelo corpo,
enquanto seguro levemente a sua nuca, a trazendo mais perto de mim. Beijo
suas lágrimas e a abraço forte. Ela faz menção de falar, mas a silencio com um
beijo casto em seus lábios. E neste silêncio, seguimos para o aeroporto.
— Estou torcendo por vocês, ela te ama, Pablo e pela sua cara de ciúmes,
sei que esse sentimento é recíproco — sussurra sorrindo em tom de
conspiração
Ele sai, vai ao encontro de Bianca e fala algo que a faz ficar com as
bochechas vermelhas e me olhar, envergonhada.
— Será um mês muito difícil para mim, mas eu vou te esperar, Bianca.
— Abraço-a passando a mão em sua cintura e fecho os olhos. — Não importa o
tempo que você precisar, vou estar te esperando... Sempre.
— Promete que você vai voltar para mim, Bianca. Promete que essa
espera não será em vão. — Reprimo as lágrimas e engulo um nó que se formou
em minha garganta. Ela fala alguma coisa tão baixo que não entendo, pois mal
consigo ouvir.
Fico parado, olhando sem reação. Penso em correr e implorar para ela
ficar, mas tenho que respeitar o seu tempo...
É porque a nossa mente diz uma coisa e o coração diz outra. — Minha
consciência me responde.
Capítulo 19
Bianca
Já faz uns 30 minutos que embarcamos, não consigo tirar a tristeza que
insiste em ficar no meu coração, nunca pensei que um dia tivesse esse
sentimento de perda que senti ao me despedir do Pablo. Suspiro ao lembrar
dele falando “Promete que você vai voltar para mim, Bianca. Promete que essa
espera não será em vão”. Seco as lágrimas discretamente e respiro fundo. Você
vai superar, Bia...
— Se você prefere se iludir... eu que não vou ser o chato que fica
tagarelando sobre todos os motivos que me fazem acreditar que vocês se
amam. O tempo se encarregará disso, quero só ver você passar um mês sem
pensar nele, ou melhor, um mês não, — reconsidera. — Um dia. Agora vou
dormir, temos três horas e meia aqui dentro ainda. Vocês cansam minha
beleza. — Coloca uma venda nos olhos com estampa de oncinha. — E você,
Bia, deveria fazer o mesmo, a não ser que queria ficar parecendo um defunto.
Que horror, depois de todos esses meses sua família te ver assim com essa
cara de merda. Dorme, amiga. — Dá umas palminhas na minha mão e me
ignora. Sorrio e fico pensando por mais alguns minutos e depois adormeço,
seguindo o conselho de Guel.
Pablo
Fiquei parado alguns segundos, vendo Bianca partir, mas depois decidi
voltar para o Café, afinal, agora que eu estou praticamente sozinho, não posso
deixar passar nada. Ainda bem que ainda hoje esse problema será resolvido.
Quando chego ao Café dou de cara com Larissa pálida, igual um fantasma.
— Larissa, se acalme.
— É que o doutor Rodolfo chegou e como viu que o senhor não estava na
empresa, praticamente invadiu a sua sala, eu pedi para que ele saísse, mas ele
ameaçou fazer um escândalo com o Café lotado — fala rápido e tudo de uma
vez mal tendo tempo para respirar. — E eu...— Não escuto mais nada e vou
para minha sala em passos largos.
— Olhe para mim. — Levanta os olhQq19.73 Tm(, )r.2.1,m0 parecer tcer tcer tcer
— Não perdi nada para você, Rodolfo, apenas não sujei as minhas mãos
como você fez. Mas, não se preocupe, meus negócios estão muito bem,
obrigado — indico para Bryan sentar e ele já senta abrindo a pasta tirando
alguns papéis de dentro.
— Você está pensando que irá se livrar de mim assim? Está muito
enganado. — Ri rancoroso. —
cama, tomo um banho e como não sinto fome, não janto e me junto a Lily na
cama. Ela se aninha a mim com um sorriso sonolento e preguiçoso.
Quero que a nossa princesa tenha os seus olhos, amor. Seu olhar
passando a mão pela barriga enorme é de puro amor e me sinto o homem mais
feliz do mundo.
E eu, quero que ela tenha o seu sorriso, é o mais lindo do mundo, Laura.
Beijo seus lábios e em seguida sua barriga encantado com a festa que Lily faz
enquanto converso com ela.
— Obrigado por ter dado o seu sorriso para nossa filha, Laura. — Penso
sorrindo, enquanto olho o nosso anjo, pego o porta-retratos com uma foto
nossa, que sempre deixo no criado-mudo. — Você devia ter tido a chance de ver
o quanto ela é linda e preciosa. — Minha voz sai rouca e vejo algumas lágrimas
caindo. — Te perder doeu e ainda dói demais... você foi tirada de mim de uma
maneira tão brusca... — Passo os dedos pela imagem dela na foto. — Eu
cumpri a minha promessa, Laura, amo Lily mais que tudo! Mesmo sem ter
forças, me reergui para ser o que ela precisava. As cicatrizes por te perder não
sangram mais, acho que você gostaria de saber que essas lágrimas não são
mais de amargura, são apenas saudade...
Assim que desembarcamos seguimos direto para a casa dos meus pais
que fica de frente para o mar e quando táxi para somos recepcionados por um
mar tão lindo, de um azul tão profundo, que mais parece uma pintura, a
imensidão dele faz com que nossos problemas não pareçam nada diante das
águas que dançam em seu próprio ritmo, Guel e eu ficamos alguns minutos
abraçados, admirando a vista, o cheiro do mar, o sol queimando a pele e
tirando a frieza da minha alma.
O taxista tira as malas do carro, Guel o paga e vamos para minha casa.
Toco o interfone e ao ouvir a minha voz, minha mãe abre a porta
imediatamente.
— Estou bem, de verdade. Esse é meu amigo Guel, se lembra dele nas
nossas conversas pelo Skype?
— Claro. Oi, Guel, meu filho, você é mais bonito ainda pessoalmente —
diz com aquele sorriso gentil e lindo em seu rosto. Que saudades disso! Percebo
que Guel também está emocionado.
— Ah, dona Rosa, a senhora que é lindona, viu? Por dentro e por fora. —
Beija o rosto dela várias vezes nos fazendo rir.
— E painho? Onde está? — pergunto sentindo falta dos seus abraços
apertados.
Dou a desculpa esfarrapada que estou muito cansada, vou para o meu
quarto e me jogo na cama olhando em volta.
Fico feliz quando olho para um quadro e me emociono não por não terem
desfeito das minhas medalhas das corridas que participei ainda na
adolescência, mesmo que insistindo para desfazerem de qualquer coisa que me
lembrasse daquele crápula, que além de me iludir ainda me traiu com a minha
melhor amiga.
Ah, Pablo... quando nos esbarramos na praia eu deveria ter visto que
você havia roubado o meu coração...
Capítulo 20
Bianca
Acordamos cedo e resolvemos dar uma volta pela praia. Sinto o vento
bater em meu rosto, o cheiro da praia, coroada pela imensidão do céu azul sem
nuvens, refletindo no mar de águas tão límpidas e profundas que chega a ser
hipnotizante. Não que lá em Sampa não tenha praias assim, mas aqui em Porto
é diferente, é como estar em casa.
— Ah miga, como você criou coragem para deixar tudo isso aqui e ir
morar em Sampa? Nossa, nunca vi um lugar tão lindo assim! E aqueles
peixinhos coloridos... ownnnn, que lindinhos! Até me deu vontade de roubar
uns e colocar em meu aquário. — Guel tagarela se referindo as piscinas
naturais que se formam quando a maré está baixa.
— Acho que nasci para essa vida, sombra, água de coco gelada e esses
homens gostosões, isso que é vida! — Guel solta assim dois homens
musculosos passam por nós.
— Olha lindinha, não precisa bater nela não, ok? Da fruta que vocês
gostam... eu como caroço, casca e poupa! — Pisca um olho.
— Também sinto falta... — Minha voz sai abafada contra o seu peito.
Pablo
Merda, até a minha filha agora vai me lembrar dela? Olho para Ray que
dá de ombros, tímida. Volto para Lily.
— Guel?!
— Claro que sim! Aliás, vou reservar as passagens hoje mesmo, para o
final de semana!
— Não acha que já ficamos separados tempo demais? Já fui covarde uma
vez, Guel e quase a perdi. — Engulo em seco. — Não vou deixar que ela me
escape outra vez!
— Arrasou, gato! — Cantarola, feliz. — Agora sim, estou colocando fé em
você! Vamos fazer assim, você reserva tudo e deixa que o lindo-maravilhoso
aqui faz o reencontro do século acontecer! — Dou um sorriso feliz e escuto
Guel tagarelar no meu ouvido enquanto faço as reservas para Ray, Lily e eu.
— Eu sei, Guel. Todos nós fazemos escolhas erradas, mas chegou a hora
de recomeçar, esquecer tudo que passou e olhar pra frente que é de lá que vem
o futuro. — Conversamos mais um pouco ele me conta mais do seu plano “I
Love You” e depois conversa com uma Lily muito animada, depois que ele
desliga, pego Lily nos braços e a rodopio arrancando risadas gostosas.
— Ray, prepare a suas malas e as de Lily, temos uma viajem para fazer.
— Destino: Porto de Galinhas. Missão: Conquistar o amor da minha vida!
— Claro que sim! Todo mundo dessa casa vai! — Pego uma Lily muito
feliz e abraço o meu anjo tagarelando sem parar.
Guel nos leva até o hotel mais próximo de onde eles estão, trocamos de
roupas e passamos protetor, seguimos Guel, Lily e eu para a praia, Ray
preferiu descansar um pouco. O sol não está tão quente e assim que chegamos,
uma brisa gostosa nos recebe dando as boas-vindas para o nosso recomeço.
Lily me olha nos olhos e me abraça com um sorriso feliz e com uma doçura
contagiante, eu sinto que Deus me mandou um anjo porque sabia que ela me
tornaria uma pessoa melhor.
Caminho até ela, segurando a mão de Lily que saltita cantarolando uma
musiquinha. Quando menos imagino seu olhar se choca com o meu.
A mulher que esbarrou comigo na praia, que me mostrou ainda que sem
saber, que eu podia sentir algo no meu coração além da dor, além do ódio. E
mesmo não querendo admitir na época, eu me apaixonei por ela e nem percebi.
Agora recebendo um olhar tão grato e emocionado, repleto de sentimentos e
lágrimas não derramadas, vejo-me acreditando que iria até o outro lado do
mundo para trazê-la para minha vida.
Abro os braços e Bianca corre ao meu encontro. Corre com pressa, com
força e a determinação de quem esperou por isso a vida toda. Ela se joga em
meus braços, abraçando-me com força, finalmente estava no lugar que deveria
estar desde o início... na minha vida e no meu coração.
Capítulo 21
Bianca
Nunca na minha vida senti o meu coração disparar tão forte. Nem sei na
verdade o que senti quando vi Pablo e Lily na minha frente, parados me
olhando. Agora estou aqui nos braços de Pablo, com Lily entre nós dois nos
abraçando. Ele me olha com um sorriso e Lily beija as minhas lágrimas com
carinho.
— Você tá dodói? Vou besar pa sarar logo, tá?! — fala passando a mão
no meu rosto e me beijando, aproveito e a seguro em meus braços.
— Não vim porque ele tramou, estou aqui porque quero você, Bianca.
Estou aqui, porque cansei de fugir de tudo que sinto. Não dá mais para negar o
que o coração já sente, desde o dia que você esbarrou em mim na praia, nunca
mais fui o mesmo. Eu também errei, mas quero recomeçar... com você!
— Nós aprendemos a lição, Bia. — Ele segura o meu rosto entre as mãos.
— Vai valer a pena...
Ele toca os meus lábios devagar, seus lábios acariciam os meus como se
quisesse gravar cada sensação, nossas línguas se tocam e sinto meu corpo
estremecer. É tão certo, tão lindo, que é impossível não saber que isso é amor,
amor daqueles que queima até a alma da gente, tirando tudo de ruim que se
instalou sem pedir licença. Nós nos beijamos, sentindo o gosto da felicidade de
quem finalmente enxergou o que quer.
Quando menos imagino, Pablo me pega nos braços e corre para o mar,
eu me debato, gritando, mas ele não para. A água gelada nos recebe como se
fizesse parte da brincadeira.
— Tia Bia, o meu papai disse que eu vou vê pexinhos amanhã. — Lily
conta empolgada ao lado de Guel que carrega umas conchinhas.
— Vai sim, mas temos que acordar cedo para ver as piscinas naturais.
São lindas, você vai amar! — Pego a mãozinha dela e entramos na água, Lily
gruda em mim com as perninhas entrelaçadas e os bracinhos ao redor do meu
pescoço. Pablo e Guel se juntam a nós, jogando água na direção dela, que ri e
tenta se esquivar. Com lágrimas nos olhos vi o quanto isso era certo.
— Sou mesmo, não é? Ele é lindo, Guel! Por dentro e por fora! — suspiro
e ele me imita.
— Ainda não — falo olhando para ele que revira as minhas roupas.
— Esse! Está perfeito! — Pega um com estampa chique que ele mesmo
me deu de presente de aniversário. Justo no busto e soltinho embaixo com um
decote generoso, mas nada exagerado.
Pego o carro do meu pai e vou até o hotel onde Pablo está hospedado e o
encontro na recepção me esperando. Seco ele com o olhar descaradamente,
calça jeans, camisa preta polo e com o sorriso que é capaz de revirar o meu
mundo. Vejo as mulheres, assim como eu babando e aproveito para matá-las
de inveja beijando-o na frente de todo mundo.
— Sim, Bia. Ela é prioridade em tudo na minha vida, meu anjo precisa
de atenção extra, como você deve saber. Não é manha de criança mimada, ela
se apega rápido, Lily não sabe amar pouco, quando ama é sempre demais e
muita gente não entende isso. — Parece pensativo.
— Eu entendo, Pablo. Não tenho filhos, mas com certeza se tivesse eles
viriam em primeiro lugar. — Dou de ombros. — Quando a conheci na casa da
sua tia fiquei apaixonada. — Sorrio com a lembrança. — Ela me encantou com
o seu jeitinho doce e amoroso.
— É só olhar pra ela que sabemos que tem feito um bom trabalho. — O
garçom chega e anota os nossos pedidos, conversamos sobre um pouco de
tudo: trabalho, falo sobre a minha infância e Pablo me conta os raros
momentos que ele teve ao lado dos seus pais e do fatídico acidente que o fez
perder pai, mãe e tio.
Logo depois resolvemos dar uma volta na praia, aproveitando a lua linda
refletida no mar calmo nos dando uma visão e tanto, poucos turistas também
aproveitam, alguns até mesmo se arriscam a entrar na água, mas nós apenas
observamos em silêncio, abraçados e trocando beijos e carinhos.
— Fica aqui comigo hoje. — Ele pede com uma voz sensual e um sorriso
que me deixa molhada só de imaginar o que esse homem pode fazer comigo.
Enlaço os braços ao redor do pescoço dele e o beijo de volta, estamos tão
colados que nem mesmo o vento conseguiria passar entre nós dois.
— Pode apostar que de tudo que quero fazer com você hoje, gentileza não
é a palavra! — Pisca um olho e morde o meu lábio.
— Que abusado! Acho que vou de táxi então... — Ele me segura mais
firme e minha respiração acelera quando sinto o quanto ele está excitado.
— Quero fazer amor com você, Bia... — A voz dele soa rouca. — A noite
toda... — Completa prendendo o lóbulo da minha orelha entre os lábios e
mordendo de leve, sinto até o último fio de cabelo se arrepiando.
— Pablo... — Minha voz sai baixa e afetada enquanto sinto suas mãos
me tocando.
— Estive fugindo por muito tempo, quando eu pensei que o amor não era
mais pra mim, você chegou e mudou tudo, e por isso, estou decidido a não
deixar as oportunidades passarem sem que eu aproveite o máximo cada
segundo, quero fazer as escolhas certas a partir de agora e preciso que fique ao
meu lado, Bia. Como mulher, amiga e amante. Sei que não será fácil, mas se
estivermos juntos venceremos todas as incertezas que surgirem em nosso
caminho. — Há tanta certeza na sua voz que é impossível não sentir cada
palavra no meu coração.
— Por uma escolha errada quase te perdi, quase deixei escapar a chance
que eu tinha para ser feliz. Mas, dizem que você enxerga o lado errado primeiro
e só assim descobre qual o lado certo, não é? O destino me fez descobrir que eu
te amo, Pablo Rodrigues. Te amei desde o dia que esbarrei com você na praia,
só não sabia disso ainda. Depois que vim pra cá fui obrigada a ver a realidade
de frente sobre os meus sentimentos e lá estava você, com esses olhos azuis
brilhantes e um sorriso sedutor. Sou sua, de corpo alma e coração, eu te amo,
Pablo. — Termino sorrindo e emocionada e beijo a sua boca quase com
adoração, sentindo que finalmente eu havia encontrado o amor lindo e sincero
que passei a vida toda nos filmes e nos livros e quis para mim.
— Ahhh vocês deveriam ficar mais uns dias! — Dona Rosa, a mãe de Bia,
— É. — Dá de ombros como e estende os braços para que eu a pegue.
Pablo
— O que houve, Larissa? — De repente sinto uma coisa ruim e fico com
um nó preso na garganta.
— Por favor, fale devagar... — Tento fazê-la falar algo coerente, mas ela
continua não falando coisa com coisa.
— Larissa! — Dou um grito para que ela se acalme e me fale algo que eu
entenda.
Meu mundo está desabando. Meu Deus, não deixe a história se repetir...
— Pablo tenta se acalmar que vou ver o que posso fazer, sua namorada
vai ficar bem, tenha fé! — Vejo quando ele conversa com a moça da recepção e
aponta para mim.
— Então, Arthur? — pergunto assim que ele volta, passo a mão pelos
cabelos nervoso.
— Eles... eles disseram que ela está passando por exames, Pablito. Não
posso perder a Bia, ela é a única família do coração que eu tenho. — Ele me
abraça chorando.
— Vai ficar tudo bem, Guel. Bianca é forte e vai ficar bem — falo para
confortar a nós dois.
Assim ficamos com o coração aflito e pedindo muito a Deus para que
Bianca escapasse dessa ilesa!
Guel
Sabe aquela hora que você sente tudo que você ama sendo arrancando
das suas mãos e não pode fazer nada para mudar isso?
Por isso que estou com o coração destruído, destroçado por dentro como
se o tivessem arrancado e esmagado.
Pablito coitado está tão nervoso que parece que vai abrir um buraco de
tanto andar de um lado para o outro. Sua mente está longe, dá para sentir
isso, seus olhos estão perdidos assim como os seus pensamentos.
— Ela vai ficar bem, doutor... — Pablo olha para o jaleco dele. —
Giovanni?
— Desde que demorem muito, posso autorizar — ele fala com uma
enfermeira que está acabando de sair do quarto e ela confirma com um aceno.
— Um por vez, por favor.
Peço a Pablo para entrar primeiro e assim que ponho os olhos na minha
Best, inspiro profundamente tentando ser mais forte do que o medo sufocando
o meu peito.
Pablo
Com muito custo consigo ficar ao lado dela, mas só depois de promoter
revezar com um Guel muito preocupado. Sento na poltrona, ao lado da cama,
segurando a mão dela e perco as contas de quantas vezes o médico entra e sai
examinando-a, mas não me diz uma palavra sobre o estado dela.
— Na verdade, já era para ter acordado. — Sinto uma dor, como se uma
flecha rasgasse o meu coração. — Mas isso já era esperado.
— O que pode acontecer com ela? Não esconda nada de mim — ele
suspira.
Bianca
Espera... Como eu vim parar aqui? Quem sou? Meu Deus, eu não me
lembro de nada!
Sinto minha garganta arder e minha cabeça parece que vai explodir.
Tento levantar, mas sinto uma dor tão forte na cabeça que gemo alto. O
homem dá um salto da cadeira antes que eu possa sequer respirar novamente,
confesso que isso acaba me assustando.
— Oi, meu anjo. Que bom que acordou! Graças a Deus! — Anjo? Será
que ao invés de hospital estou no céu? Eu sempre desconfiei que os anjos
fossem lindos, mas esse está de parabéns!
— Tudo dói — falo tão baixo que não tenho certeza se ouviu. Ele aperta
um botão ao lado da minha cama e me olha com esses olhos de anjo.
Pisco os olhos várias vezes e um flash passa diante dos meus olhos. É
como se conectasse um fio de meus neurônios. Lembro de estar dirigindo... as
pancadas... meu corpo sendo chacoalhado e depois tudo fica escuro.
— Pablo... — Abro um sorriso e ele retribui com o sorriso mais lindo que
já recebi.
— Fiquei com tanto medo que você não acordasse, nunca mais me dê um
susto desses! O Guel, coitado! Quase morreu, juntamente comigo, esperando
você voltar pra nós. — Uma lágrima cai dos seus olhos e na hora que vou falar,
o médico entra. Continuo sustentando o olhar no de Pablo que não desvia do
meu.
— Oi, meu amor — fala com uma voz rouca. — Está com dores? —
Levanta, abatido, com olheiras e um semblante cansado. — Eu vou chamar o
médico.
— Seriíssimo, foi um sacrilégio ficar aqui. Quase tive que sair no tapa
com ele. Se bem que... — Faz uma cara safada arqueando as sobrancelhas.
— E nem vou contar, seu tarado! — Dou língua para ele e dou um
sorriso sonolento.
— Descansa meu amor, eu estou aqui velando o seu sono. — Ele diz
baixinho e me entrego ao sono que vai me vencendo aos poucos...
Dias depois...
Pablo
Esses dias tem sido uma loucura com Bia, no hospital, estou
praticamente me virando em três para dar conta de tudo. Trabalho, Lily e ficar
aqui com ela. Guel e eu revezamos trocando os horários para não deixá-la
sozinha por muito tempo.
Abro a porta e vejo Bia acordada e com um sorriso lindo no rosto, está
toda arrumada, provavelmente Guel deve ter ajudado.
— Dormi sim. E você? Parece cansado, eu amo quando você fica comigo,
mas precisa descansar também, eu não vou fugir daqui. — Faz graça.
— Acho melhor não. — Sonhei com ela nua em meus braços, sendo
minha. O que é? Eu não mando nos meus sonhos! — Depois te conto. Aliás,
tenho ótimas notícias. — Mudo de assunto rapidamente. Faço uma trilha de
beijos pelo seu pescoço até o queixo.
— Bianca, você já pode ir para casa, o médico disse que precisará voltar
daqui a quinze dias para refazer alguns exames, mas no geral está tudo bem.
— Nossos lábios estão a centímetros de distância.
— Que bom, não aguento mais ficar aqui! Pode me beijar agora para
comemorarmos? — sussurra e sinto um cheiro delicioso de menta.
— Com todo prazer. — Seus lábios macios estão exigentes e tento beijá-la
delicadamente, mas ela aprofunda o beijo, não resisto e a toco de volta na
mesma intensidade. Ouvimos uns pigarros e depois uma voz irritante que já
conhecemos muito bem, apenas nos atormentando.
— Certos pombinhos, podem parar com essa agarração toda, porque a
mocinha fogosa tem que ir para casa. — O filho-da-puta ainda sorri.
— Pablo, não estou querendo te expulsar nem nada, mas se você quiser
ir tudo bem. Precisa de descanso. — Ele é quem parece exausto.
— Então, era sobre isso que eu queria falar com você. Eu não vou, quero
ficar um pouco com ela hoje, aproveitar que Ray e Lily vão dormir na minha tia
e ter uma noite das meninas, como elas mesmas disseram.
— Okay, por mim tudo bem. Então hoje você dorme aqui?
— Sim, estou precisando, só irei me despedir dela. — Ele vai até o quarto
se despedir de Bianca, mas logo volta falando que ela já está dormindo.
— Pode deixar.
Assim que ele sai, pego o meu celular ligo para Ray, peço para trazer um
par de roupas e meu notebook antes de ir para casa da minha tia. Assim que
ela me traz tudo, passo horas trabalhando para adiantar as coisas mais
urgentes e respondendo os e-mails de Bryan, que tem me ajudado e muito
nessa correria.
— Guel... Guel vem aqui, por favor? — Tomo o maior susto quando Bia
fala e me aproximo dela, largando tudo o que estava fazendo.
— Ele já foi, estava cansado. Hoje à noite eu vou ficar aqui com
você. — Ela sorri um pouco dando, um aceno.
— Obrigada por estar cuidando de mim e ter ficado ao meu lado. Tudo
ainda é tão recente entre nós que eu pensei, que... — Toco em seus lábios para
silenciá-la.
— Eu fiquei ao seu lado porque a minha vida não tem mais sentido sem
você. — Lágrimas caem em seu rosto e eu passo a mão delicadamente,
secando-as. — Sei que a minha vida não é fácil, tenho uma filha que exige
muito de mim e se entrar na nossa vida de vez, irá exigir de você também. Mas
eu te amo, meu anjo. Agora você tem o poder de esmagar meu coração se
quiser, pois ele é todo seu.
Colo meus lábios nos dela. É um beijo voraz e amoroso ao mesmo tempo,
que vale por mil palavras. Nossas línguas se encontram e parecem matar a
saudade que sentiam. Bianca geme na minha boca e sinto todo o sangue do
meu corpo seguir para a minha virilha. Passo a mão pela sua nuca, puxando-a
delicadamente para mim e aprofundo o beijo. Após alguns minutos, nós nos
separamos ofegantes, nossas testas quase encostadas e percebo que sua boca
está vermelha, comprovando o que acabou de acontecer e sorrio.
— Eu nunca falei com ninguém sobre isso, quero dizer... você conseguiu
o que a minha tia e o Bruno tentaram a vida toda. — Engulo com dificuldade o
nó que se formou em minha garganta. — Eu quero te contar tudo, porque não
sei se sou capaz de falar sobre isso outra vez. Você me entende? — Ela acena e
me olha intensamente, então eu vejo tanto amor e compreensão que não hesito
e abro velhas feridas dentro de mim para que Bianca possa me ver como eu
sou — falar sobre Laura ainda dói muito.
— Nossa, eu achava que esse tipo de amor só tinha nos filmes — fala
mais para ela do que para mim.
— Acredite em mim, ele existe. O que eu vivi com a Laura foi mais do que
mágico, foi real. Nós vivíamos um amor inexplicável, eu era o homem mais feliz
do mundo. — Por um minuto, eu me transporto ao passado e parece que se
passa um filme em minha mente. — Quando recebi a notícia que Laura estava
grávida, senti uma felicidade que não cabia em meu peito de tão grande que
era. — Sorrio ao lembrar. — Queria gritar aos quatro cantos do mundo que eu
era o homem mais sortudo do universo. Mais tarde descobrimos que era uma
menina, aí percebi que a nossa felicidade estava completa, nós teríamos uma
princesa — suspiro. — Começamos a procurar os nomes, mas sempre sem
sucesso. Um dia, Laura me sugeriu que fosse Lilyan e assim ficou seu nome:
Lilyan Oliveira Rodrigues. A nossa Lily. — Sinto minha garganta secar e engulo
com dificuldade. — Bia percebe e me interrompe.
— Não. Irei contar tudo agora. Preciso. — Não sei se teria coragem de
relembrar. Bia cruza os nossos dedos segurando a minha mão com força e
ficamos nos olhando por alguns minutos. Continuo falando mesmo com o
coração apertado.
— Tudo estava indo super bem... Até que um dia... ela me liga
perguntando a que horas eu iria chegar do trabalho, pois estava preparando
um jantar especial, era o nosso segundo aniversário de casamento. Laura
estava animada porque Lily não parava de chutar e que iria ao mercado fazer
algumas compras, mas que assim que chegássemos, precisaríamos ter uma
conversa séria relacionada a bebê. Eu insisti tanto para que ela me esperasse.
— Fecho os olhos sentindo uma dor sufocante. — Insisti tanto, Bia, mas Laura
não me ouviu! Então praticamente implorei para que tomasse cuidado, afinal já
estava com sete meses de gestação e era muito perigoso.
Cerca de meia hora depois, senti uma dor imensa em meu coração, um
vazio enorme e aquilo não passava... — Lágrimas rolam em meu rosto não
consigo mais me conter. Bia passa a mão delicadamente em meus cabelos, é
uma sensação boa e calmamente volto a contar a minha história.
— Então, peguei o carro e fui para casa, sentia que algo estava errado.
Quando já estava perto, reparei que no caminho tinha acontecido um acidente,
desci do carro pra ver se eu podia ajudar em algo, me juntando a grande
multidão de curiosos, notei que todos olhavam com compaixão, uns com pena
e outros horrorizados. Então quando cheguei próximo ao local e as pessoas
abriram caminho para que eu passasse. Foi aí que avistei o carro dela, meu
coração parou, meu sangue gelou e corri procurando por minha mulher. —
Alguns flashes me lembram exatamente como as coisas aconteceram naquele
dia. Levanto o olhar e vejo Bianca chorando.
Capítulo 24
Bianca
Dizer que estou chocada com tudo que Pablo me contou é pouco! Como
eu poderia imaginar que ele já passou por tudo isso? Quanto sofrimento meu
Deus! Ainda não consigo acreditar na última frase que ouvi, sinto até um frio
na espinha quando um pensamento horrível passa rapidamente na minha
mente.
— Você me disse que ia contar tudo, Pablo. Não quero que me esconda
nada. — Ele me olha indeciso e não desvio o olhar do seu desafiando-o a ir até
o final
Sim. Ela está na incubadora e já pode vê-la, mas antes o doutor que fez
o parto quer conversar com o senhor. a enfermeira respondeu me dando um
sorriso gentil que não consigo retribuir.
No meio de tudo isso, Deus lhe deu um presente, uma razão para
continuar vivendo. Não é fácil cuidar de uma criança com Síndrome de Down,
mas seja forte. Minha mente parou quando ouvi suas últimas palavras.
Essa criança doente não é a minha filha! Não pode ser. Olhei para as
máquinas, a forma como ela parecia respirar com dificuldade e me desesperei.
Me diga que isso é um pesadelo, doutor. Minha voz saiu estrangulada. Ela
não tem síndrome de Down, a minha filha é completamente normal falei sem
querer acreditar no que os meus olhos viam.
Mas... ouvi a voz do médico zumbindo nos meus ouvidos, porém cada
vez ficava mais distante. Apressei os passos querendo sair desse lugar o mais
rápido possível. O meu peito sufocou com a imagem que se repetia por várias
vezes na minha cabeça sem trégua.
Saí sem rumo, a procura de um alívio que me tirasse desse pesadelo que
insistia em me perseguir...
Percebo que Bia está me olhando há muito tempo. Levanto e sem dizer
nenhuma palavra, ligo para o restaurante aqui perto e peço sopa para o jantar,
assim que chega jantamos em silêncio.
— Vo-Você não sentiu amor pela Lily? — Bia pergunta com lágrimas nos
olhos.
— Eu não me orgulho disso, mas não senti nada por ela naquele
momento. Fiquei cego, me revoltei com a vida e ignorei a minha própria filha.
Os dias foram passando e eu me recusava a vê-la ou tocá-la. Ela passou dois
meses e meio no hospital, Bia, e eu não fui vê-la. Estava bebendo e saindo com
mulheres estranhas enquanto a minha filha lutava pela vida, sozinha naquele
hospital. Nunca irei me perdoar por isso.
— Eu queria poder te dizer que assim que a Lily foi para casa da minha
tia, eu me arrependi e a aceitei como filha, mas não foi isso que aconteceu.
Fiquei assim por duas semanas até que um dia a minha tia Maria me
chamou...
Pablo, você sabe que eu te amo! Faria tudo por você e pela Lily, mas
isso acaba aqui! A partir de hoje não cuidarei dela. Olhei e vi que tia Maria
estava arrumada, pisquei surpreso.
A senhora sabe que não quero ver essa criança respondi secamente.
Não posso cui...
Tia, a senhora não vai fazer isso! falei aflito e entrando em pânico.
Eu não sei o que fazer...
Sim, você sabe, tem uma mamadeira pronta, é só dar a ela e depois
colocá-la para arrotar.
Preste atenção... ela me disse como fazer uma criança arrotar e sai
sem olhar para trás.
Entrei no quarto receoso, pois aqui dentro estava a única pessoa que eu
não tinha coragem de olhar nos olhos. Mesmo morrendo de culpa e vergonha me
aproximei do berço e vi uma garotinha com os olhos fechados chorando
estrondosamente. Cheguei mais perto e ainda hesitante comecei a passar os
dedos nos cabelinhos loiros daquela pequena princesinha chorona. De repente,
ela abriu os olhos e senti o meu coração parar.
— Eu amo a pessoa mais linda que já vi na vida. Não só por fora, mas
por dentro, o que é mais importante. — Segura o meu rosto e encosta os seus
lábios nos meus, delicadamente e começamos a fazer amor com as nossas
línguas em uma dança que só elas entendiam. É isso que o amor faz, ele nos
permite sentir coisas inexplicáveis.
Capítulo 25
Bianca
— Cristo amado, como eu estou horrível, cruzes! Não acredito que Pablo
me viu assim! Meu cabelo está parecendo um ninho de passarinho, e o meu
rosto nem se fala, parece que saí de um filme de terror! — Faço minha higiene
matutina e ouço Pablo entrando no quarto com uma bandeja nas mãos.
— Ah, deixa de ser chata e se não vou te deixar com fome! — Antes que
ele se vire, seguro o braço dele que me olha confuso.
Tomamos café tranquilamente e falo um pouco com Lily, que está toda
preguiçosa e sem querer ir à escola, ficamos conversando até que Guel chega
com seu jeito espalhafatoso me enchendo de beijos e me xingando ao mesmo
tempo por tê-lo deixado tão preocupado nos últimos dias.
O interfone toca, ele atende e nos avisa que é o delegado Paulo Rocha
que veio falar comigo e olho apreensiva para ele e Pablo que me tranquilizam.
Guel me ajuda a tomar um banho e troco de roupa, quando chego na sala
percebo que o Delegado me olha minuciosamente e coro até o último fio de
cabelo, olhando para Pablo que também deve ter percebido porque está com
cara de pouquíssimos amigos.
— Hum, sim. Mas vou logo adiantando que não me lembro de muita
coisa. — Faço uma narração do pouco que lembro e ele anota tudo
rapidamente.
— É uma lástima que não lembre de alguns detalhes, mas mesmo assim,
obrigado por contribuir com as investigações — fala com um sorriso
incrivelmente branco com dentes perfeitos, passando a mão pelos cabelos
despenteando-os de uma forma sexy. Não creio que ele está me dando o maior
mole! — Tenha um bom dia e tomara que se recupere logo, mulheres lindas
assim não podem ficar em casa, devem ir para rua embelezar nossa cidade.
— Viiiiiii... Ele estava me dando o maior mole você viu? Ainda bem que
Pablo foi ver a Lily, caso contrário iria preso por desacato, tenho certeza! —
Ficamos sérios por alguns segundos e depois caímos na risada.
— Vaca sortuda! Ainnnn, bem que você podia inventar uma desculpa
para encontrarmos com ele né? — Guel dá um salto andando pela casa com
uma carinha pensativa de quem vai aprontar.
— Ele com aquelas algemas, só de colete, com aquela voz sexy dizendo,
Miguel... Aí eu diria, “Me prende delícia, me joga na parede e me mostra o
tamanho da sua pistola!” — diz se abanando dramaticamente. Tenho uma crise
de risos e ele depois se junta a mim.
— Será?
— Se não tinha câmeras perto do local e o covarde sumiu no carro, acha
que vão fazer o quê?
— Pablo...
— Ele tem que pagar, Bia. Pela Laura e por você também; dessa vez
Rodolfo tentou e falhou, mas com certeza ele pode querer tentar novamente e
dessa vez pode não haver falhas. — Pablo me olha sério realmente preocupado.
Assim que ele sai fico com o coração na mão, sinto que o Pablo está
prestes a fazer uma besteira...
Pablo
— Senhor...?
— Pablo Rodrigues.
Depois que eu narro toda a história, vejo dúvida nos olhos do delegado
Rocha. Ele não sabe se acredita ou não no meu relato.
— Sr. Pablo, acho que sabe que não podemos prender alguém sem
provas.
— Caramba! Eu estou dizendo tudo o que ele fez, sou uma testemunha.
— Sr. Pablo, o que pensa em fazer? — Como não respondo ele continua.
— Fazer justiça com as próprias mãos não é a melhor saída, devemos confiar
na lei, sempre!
— Por causa da lei perdi a mãe da minha filha e até hoje o assassino dela
está ileso. Ficar sem fazer nada também não é a melhor saída. Eu vou lá tirar
toda a verdade daquele assassino!
— Já pensou se ele tenta algo contra você também? — Ele me faz pensar
numa consequência que eu não tinha pensado antes.
Mas não tenho medo daquele imbecil. — Tenho que arriscar é a minha
família que está em risco.
— Não sei do que está falando. — Ele sorri me olhando de baixo em cima.
— Você parece inteiro. — Dá de ombros tomando um gole da bebida.
— Bom, ela sobreviveu, não foi? Está se recuperando e tudo mais, então
tecnicamente eu não cumpri... ainda. — Pisca um olho como se degustasse o
líquido que desce pela sua garganta e sinto vontade de esganá-lo lentamente...
— Tenho os meus contatos. Por que veio aqui, Pablo? Quer ouvir como
eu fiz? Se quiser, conto os detalhes. — Dá de ombros.
— Na verdade, eu vim aqui para quebrar a sua cara. E tirar uma boa foto
para todos verem essa carinha vaidosa de merda toda estragada.
— Você sempre teve senso de humor, meu amigo. — A risada dele agora
vira uma gargalhada.
— Eu não sou seu amigo há muito tempo. — Ao ouvir a minha frase eu o
vejo recuar por alguns segundos e parar de rir.
— Eu roubei de você? Eu? Ela se apaixonou por mim! E você disse que
estava tudo bem e que queria que eu fosse feliz — grito.
— Humm, sim eu disse. Mas era ao lado de uma puta qualquer, não
junto dela — aponta para si mesmo. — Ela era para ser minha. Minha! E você
se intrometeu em meu caminho estragando tudo.
— Não me venha com essa desculpa absurda, você sabia muito bem que
se ela chegasse até você, eu não me intrometeria. Ao contrário do que você fez,
não é? Você arruinou a vida dela. — Termino a última frase sentindo a minha
voz sumir.
— Só que com a Bianca... — instigo para ver até onde ele vai.
— Ah, a Bianca! Com ela, eu tive que forçar que o destino colaborasse
comigo, sabe como é... sou um homem de palavra! E...
— Está sim. Venha aqui, por favor. — Quando a dona da voz aparece na
sala não consigo acreditar.
— Olha quem está aqui... — A voz irritante dela zune nos meus
tímpanos.
— Paty, por quê? — pergunto confuso. — Você não era assim! Você era
uma pessoa legal, íntegra, meio sem noção, mas não era uma bandida. Porque
deixou ele te corromper? — Ela ri como uma hiena esganada.
— Pablo, Pablo... até que você deduziu bem. Mas não. Você é quem
queria as mulheres que era para serem minhas.
— Eu vou relatar à Polícia cada palavra que você me disse, seu canalha!
— Ele gargalha e a Patrícia acompanha com sua risada irritante.
— Blá, blá, blá, blá, blá. E depois dessa tagarelice toda, você me dá uns
murros de mulherzinha e depois eu vou à delegacia e dou queixa por agressão
— desdenha com a mão e ergue uma sobrancelha — Simples!
Capítulo 26
Bianca
— Oi amor, conta logo o que foi que você aprontou? — Mordo o dedão,
roendo a unha de ansiedade.
— Bom amor, só passei para te dar um beijo de boa noite, hoje é o dia de
Guel dormir com você.
— Vou sentir falta do seu corpo também meu anjo — Pablo fala, sedutor,
passando a mão lentamente pela minha coxa. Cada fibra do meu corpo fica
arrepiada. Colo meus lábios nos dele. Depois de muitos beijos ele me deixa na
cama e nos despedimos e nem se quer vejo Guel entrando no quarto para
dormir.
— Sim.
Como não cair de amores por essa criaturinha tão linda? Impossível!
Bianca
Acordo cedo e não consigo mais dormir, Pablo me liga e noto que estava
ansioso e muito feliz com a certeza que Rodolfo finalmente pagará pelos seus
crimes. Combinamos de esperarmos juntos o delegado ligar informando como
irá proceder e Pablo resolveu vir para cá com Lily que já estava reclamando de
saudades.
— Lily, a tia Bia está dodói lembra? Você não pode pular ou gritar perto
dela, a cabeça da tia dói. — Pablo deve ter percebido algum vestígio de dor em
meu rosto.
— Deixa isso pra lá, vem cá amor, me dá um beijo. A tia estava morrendo
de saudade de você, princesa. — Recebo um abraço gostoso, Lily me abraça
com se eu fosse um cristal que quebra com um sopro.
— Tô melhorando princesa.
— Quer bincar? — Pega uns papéis e lápis coloridos que o pai estava
segurando.
— Quero sim. — Pablo nos deixa sozinhas e vai falar com Guel. Ficamos
brincando por uns minutos até que ele volta com o rosto tenso.
— Eu também vou, não quero ficar aqui. Preciso ver o canalha sendo
preso, Pablo — falo determinada e vejo seu rosto se contorcer de raiva.
— Você não vai Bianca e está decidido. Olhe o seu estado, mal aguenta
se mexer direito. Além de tudo não vou colocar sua vida em risco. Porra! —
grita. — Eu te amo demais para aguentar ver você se machucar novamente.
Então fique aqui e não me questione mais!
— Mas... mas eu... — Paro de reclamar quando olho em seus olhos e vejo
o que ele está sentindo. Está sofrendo com a possibilidade de me perder como
perdeu Laura. Eu o abraço apertado, não me importando com as dores. —
Toma cuidado, não quero que você se machuque ou... — sinto as lágrimas
descendo.
— Xiiiiiii, não vai acontecer nada, aquele canalha vai ser preso e ficará
tudo bem. — Passa a mão pelo meu rosto. — Eu te amo.
Pablo
Nessa hora suspiro de alívio, para o bastardo ser preso é só uma questão
de minutos. Tudo fica em silêncio quando, de repente, ouço um barulho de
algo quebrando.
Bianca
— Oi Guel. — Bocejo.
— Já ligou?
— Sim, nossa bem que você falou. A coisa deve ser séria, olha a
quantidade de policiais.
Por favor...
Pablo
— Mas que porra é essa que ele está fazendo? Esse bastardo é louco! —
Está ziguezagueando na pista ainda por cima com o asfalto molhado! Caralho!
Não acredito...
Capítulo 27
Bianca
— Mas não perdeu, amiga, isso que é o mais importante. — Ele está
chorando também.
— É. Guel preciso ligar pra ele... ouvir a sua voz saber se ele está bem. —
Uma aflição tão grande toma conta do meu coração.
— Beijo. — Ele desliga e eu não perco tempo, ligo para Pablo, o celular
chama e logo depois dá caixa postal. Ligo outras vezes e acontece o mesmo. —
Por favor, Deus, por favor, que ele não tenha se machucado... — choro
angustiada.
— Sim, temos que ir o mais rápido possível para delegacia, ele vai
precisar de você por perto.
— Infelizmente, sim.
Pablo
— Aham.
— Ponto vai ficar bom. — Sorrio e respiro aliviado. Lily é a minha cura, a
inocência que faz a minha vida mais leve.
— Sim, vai ficar — digo e Ray que me olha discretamente
— Que bom que não se feriu Pablo, fiquei preocupada. Precisa de algo,
quer que eu fique esse final de semana?
— Não precisa Ray, pode deixar que eu e a princesa aqui ficaremos bem.
— Ela se aproxima e me abraça com Lily entre nós dois. Nessa hora a porta se
abre e Bianca nos olha curiosamente.
— Oi Bianca, não deixe Pablo aprontar outra dessas — Ray fala e depois
dá um tchauzinho pra Lily que retribui.
— Não deixei dessa vez, mas pode ficar tranquila, vou cuidar muito bem
dele — diz séria.
Ray dá um tchau sem graça e vai embora. Bianca se aproxima, beija Lily,
na bochecha, que dá uma risadinha esticando os bracinhos para que Bianca a
pegue no colo.
— Ela ainda está dodói princesa, não pode te pegar. Lily, dá um beijo na
tia que ela ficou triste. — Agarra o pescoço de Bianca, ainda em meu colo e dá
vários beijos. Sorrio. Depois do feito a senhorita se contorce em meu colo e sai
correndo pela casa. Aproveito que Lily está distraída e dou um beijo em Bianca.
— Vou querer mais que isso, amor. — Beijo seu pescoço. — Agora me
fala, ficou com ciúmes foi?
— Ficou sim. Mas não precisa, sou todinho seu. — Mordo sua orelha
preguiçosamente, seguro seus cabelos e beijos seus lábios profundamente.
Nessa hora Lily chega querendo atenção e entre risos interrompemos o
momento. Ligo para o restaurante e peço comida enquanto Bianca assiste TV
com ela. Isso parece tão certo, ver as duas esparramadas no sofá, agarradas
uma a outra. Fico hipnotizado assistindo a cena.
— Aqui. — Lily fica batendo para que eu sente ao seu lado. Sento e estico
o braço sobre o encosto do sofá e faço um carinho na nuca de Bianca, que
geme baixinho com o contato. Minha princesa pula para o meu colo
encostando sua cabeça em meu ombro Bianca se aproxima mais, pela primeira
vez em muitos anos sinto que tenho uma família completa novamente. Após
um almoço tardio para mim e Bianca, Lily come seu lanche e vamos para o
meu quarto, ligo o ar condicionado, fico no meio das mulheres da minha vida.
Bianca faz cafuné em mim, enquanto Lily adormece primeiro. Ficamos nos
encarando até que colo os meus lábios no dela.
— Eu te amo.
Bianca
— Tenho ótimas notícias para você então. — Passo a mão pelo seu
abdômen.
— Quais?
— Porra Bia, você está me matando. — Ele esfrega sua ereção em mim.
— Terá que esperar mais um pouquinho amor. Tenho uma surpresa pra
você, hoje à noite — digo me afastando, mas ele me prende em seus braços.
— Hoje à noite, vou te deixar tão louca, que você vai implorar para me ter
dentro de você, Bianca. — Toma minha boca com exigência, confirmando cada
palavra que acabou de falar. Sinto sua mão se fechando em torno do meu seio,
massageando-o. Gemo com o contato, sua mão para e ele sorri sedutoramente.
— Isso é para você saber como eu me sinto com as suas provocações. —
Simplesmente sai de perto de mim. Respiro fundo sentindo minhas pernas
bambas.
— É justo sim, mas não pense que é só você quem reserva surpresas...
eu também tenho meus segredos. — Passa a mão pelo meu pescoço.
Meu celular toca e tenho quase certeza que é Guel. Faço sinal pedindo
um minuto a Pablo e atendo.
— Oi Guel.
— Já cheguei aqui na frente do Café.
Pablo
Porra, como vou me concentrar agora? Mas se ela pensa que isso vai
ficar assim, está muito enganada. Cacete, essas preliminares estão me
matando! Para minha sorte, Bryan chega com uns contratos para discutimos e
consigo me concentrar temporariamente no trabalho. Depois de algumas horas
terminamos tudo e ao chegar no nosso prédio o meu celular toca e aparece a
foto de Bia.
Se ela acha que é só ela que sabe surpreender... Bianca que me aguarde.
— Guel?!
— Oi, Pablito.
— O que precisas?
Faço um resumo de tudo que vou precisar, ele me escuta com atenção e
diz que está anotando tudo.
— Pode deixar vai estar tudo exatamente como pediu, vou fazer esse
sacrifício.
— Ah, deixa de besteira que nem vai demorar tanto assim, só não faço eu
mesmo porque levantaria muitas suspeitas.
— Só se for a tarde mesmo, porque pelo visto a noite será de vocês — diz
irônico e desliga.
Bianca
— Convencido.
— Você está tão linda com esse vestido. — Passa a mão pela minha nuca
e segura firme. — Apesar disso, mal vejo à hora de tirá-lo.
— Humm.
— Agora vamos antes que eu não consiga me conter e arranque ele agora
mesmo. — Dá um tapa na minha bunda.
— Ele me ligou e falou que vai depois, tem algumas coisas para fazer. —
Acho um pouco estranho, mas não contesto.
Sem entregar
E repartir
— Já volto. — Ele sai e fico sozinha com Guel, que a pega minha mão e
vamos para pista de dança, ficamos de frente para o bar onde Pablo pudesse
nos ver.
— Guel, eu te conheço muito bem. Fala logo o que você está escondendo!
— questiono.
— Tá
Levo-a para a pista de dança e começa uma música muito sexy. Bianca
começa a rebolar dando um verdadeiro show.
— Já chega, nós vamos pra casa agora, quero tirar esse seu vestido e...
— A provocadora me interrompe dando uma risada.
Bianca
— Bia, faz muito anos não fazia amor com ninguém. Não existia
sentimento, até eu conhecer você. Quero que saiba que cada toque meu em seu
corpo hoje, estarei fazendo amor com ele. Cada beijo meu. — Beija meu queixo,
depois pescoço. — É para você saber que eu te amo. Cada vez que eu passar a
minha mão assim. — Desce o zíper do meu vestido e toca as minhas costas. —
É para acariciar a tua pele, transmitindo meu amor através do toque. — Desce
meu vestido, deixando-me só de lingerie, fica olhando o meu corpo por um
tempo e depois toma a minha boca com urgência. Começo a desabotoar sua
camisa, impacientemente fazendo com que seus botões voem por toda parte,
beijo seu abdômen pedacinho por pedacinho.
Olho curiosamente para uma tigela com pétalas de rosas dentro — não
tenho a mínima ideia para o servirá. O quarto está iluminado por velas, dando
um ar romântico, olho em seus olhos e seu rosto está banhado pelas luzes das
velas lhe deixando mais lindo do que já é.
— Eu faria muito mais, só para ver esse brilho nos seus olhos.
— Não me agradeça, Bia, quando fazemos algo para quem amamos, não
necessitamos de agradecimentos, precisamos apenas que a pessoa amada nos
ame ainda mais. — Ele me beija, como se sua vida dependesse disso.
— A minha noite já está sendo linda, porque você está aqui comigo. —
Abre o fecho do meu sutiã e o deixa cair, pega meus seios acariciando-os e me
fazendo gemer.
— Hummm.
Pablo
Isso sim vale a pena e mostra que tudo fica mais lindo e intenso quando
se tem amor envolvido...
Capítulo 29
Pablo
Depois de fazer minha higiene matinal — pedi a Guel para deixar uma
mochila aqui no apartamento ontem — vou para sala e vejo que precisa ser
limpa. Enquanto coloco no fogão a chaleira com água para ferver, pego a
vassoura e uma pá para limpar a bagunça. Termino tudo, faço o café e preparo
a mesa com tudo que temos direito. Ouço um barulho e deduzo que Bia deve
ter acordado. Vou até o quarto e ela está saindo do banheiro enrolada no lençol
é uma das visões mais sexy que já vi na vida.
— Bom dia, vem cá minha dorminhoca linda. — Dou beijo nela sentindo
o gosto mentolado. Puxo-a com o meu corpo até cair de costas na cama com ela
por cima.
Bianca
Pablo vai buscar Lily, aproveito e dou um jeito no meu quarto, depois vou
para cozinha fazer um almoço especial. Preparo uma torta de frango e assim
que ponho no forno e ligo para Guel.
— Estou com uma torta de frango aqui no forno, quer vim al...
— Beijos!
— Oi, Guel vem para o almoço. — Ele fica sério de repente. — Tem algum
problema?
— Safado!
— Pablo a Lily está aqui... — Tento ser racional, mas não resisto e
empurro meus quadris contra ele.
— Hummm. — Ele me beija, um beijo carregado de desejo. De repente,
escutamos um barulho de algo quebrando. Nó nos separamos rapidamente e
Pablo grita por Lily.
— Lily não pode mexer nas coisas de vidro, você poderia ter se
machucado — Pablo a repreende e ela começa a chorar, ele até tenta pegá-la,
mas Lily se contorce chorando.
— Tadinha, vem cá, amor... — Ele me entrega umas sacolas e pega Lily
nos braços.
Nossa refeição segue tranquila, Lily faz graça — parece ter se esquecido
do acontecimento anterior — e nos divertimos muito.
Pablo
— Humm, você está tão cheirosa. — enlaça suas mãos ao redor do meu
pescoço e me beija profundamente, esfrego minha ereção nela e escuto-a gemer
na minha boca. — Bianca...
— Mais tarde você não me escapa! — Passo a mão pelo queixo dela.
— Pode apostar que não. — Pisca o olho ao mesmo tempo que aperta
minha bunda.
— Papaiiii, quelo domi com você. — Dá um bocejo. Ray chama por Lily
fora do quarto, de costas para porta. — Ray pode ir dormir, minha princesa
manhosa vai dormir com o papai, né Lily? — Ray responde um “okay” e sai.
“Bons sonhos amor, sonha comigo que eu sonharei com você, te amo”
Capítulo 30
Pablo
Meses depois...
O tempo passa rápido e cada dia que Bianca e eu passamos juntos traz
consigo um aprendizado e se torna especial. Ela me dá possibilidade de sonhar,
de querer algo mais para minha vida, não imagino meu dia sem vê-la. Não
imagino um futuro sem ela. Eu sei, eu sei que estou feito mulherzinha
suspirando pelos cantos, mas isso que é o bom de amar e ser amado. Ligo para
confirmar a reserva em um dos melhores restaurantes da cidade, quero que
essa noite seja especial, meu amor merece. Confirmo a reserva e quando acabo
de desligar Larissa liga para minha sala, avisando que Ray quer falar comigo.
Porra, quando Ray liga é porque aconteceu algo com Lily. Ligo para ela
imediatamente.
— Pablo, a Lily está com um pouco de febre, nada preocupante, acho que
é a garganta que deve estar irritada. Já dei a medicação correta que o pediatra
dela receitou se isso acontecesse, liguei pra você somente para informá-lo, já
que faz questão de ficar sabendo de tudo que acontece com a sua princesa. —
Quando ela termina de falar, sinto um pouco de alívio... um pouco.
— Na cama, descansando.
— Fique com ela, não saia de perto, qualquer coisa ligue e me mantenha
atualizado.
— Humm, que bom. — Cheira meu pescoço. — Amo seu cheiro — diz
baixinho. — Podia ficar aqui por horas — murmura, com a cabeça na curva do
meu ombro, mas meu chefe é exigente e mandão, preciso ir amor. — Ela me
beija e esfrega a sua bunda deliciosa na minha ereção.
— Se você fizer isso mais uma vez, juro que não respondo por mim. —
Mordo o pescoço dela.
— Por mais que eu queira ficar aqui o dia inteiro — diz ofegante. —
Preciso ir, caso contrário, terei que trabalhar até tarde e creio que você não
gostará nenhum pouco. — Dou um tapa em sua bunda quando ela se levanta
do meu colo.
Ela sai e volto ao trabalho, que me engole assim que mergulho nele.
Bianca
— Você que está lindo, aposto que todas aquelas mulheres vão babar
quando você entrar no restaurante. — Reviro os olhos.
— Está gostando?
Após a nossa refeição ela foi ao banheiro retocar o seu batom, aproveitei
a oportunidade e liguei pra Ray.
— Oi, Pablo.
— Não, ela está aqui acordada, não dormiu ainda por causa da febre que
a fez dormir a tarde toda, fique tranquilo, qualquer coisa ligarei para você.
— Okay, tchau.
Encerro a ligação e fico mais aliviado, tudo está perfeito, minha filha sem
febre, uma boa comida, a mulher que eu amo e um clima de pura sedução.
Bianca
— Ultimamente estou tão feliz que tenho medo que alguém chame e
acabe me despertando do meu sonho. — Sorri preguiçosamente, enquanto sua
mão toca meus cabelos.
— Você não vai me perder Pablo, só perdemos o que não é nosso, o que
não é o caso porque eu te amo e sou completamente sua. — Beijo sua boca
apaixonadamente.
Pablo
— O que é mamolar? — pergunta confusa. Claro que ela não sabe o que é
namorar, seu retardado! — Eu me repreendo internamente.
— Sim.
— Obaaaa!
Chamo Ray e peço que ela arrume Lily e depois a leve para o apê da Bia.
Enquanto isso vou lá dá um beijo na minha mamolada...
Bianca
— Família. Tia Bia... — Ela para por um momento e depois volta a falar.
— Você vai tá lá?
— Por favor, Deus, que ela diga que sim! Se ela disser “não” vai quebrar o
coração da minha princesa... — Suplico em silêncio.
— Obaaaaa, você vai! — Percebo que Lily fala sorrindo e isso me deixa
feliz, muito feliz.
— Meior amiga?
— Sim, melhor amiga é quando uma pessoa conta todos seus segredos
pra outra e a outra amiga faz o mesmo.
— Own, meu amor, a Bia te amo muito, viu? — Sua voz sai abafada.
Entro no quarto e vejo uma das cenas que, com toda certeza do mundo,
nunca irei esquecer: Bianca sentada na cama de frente para Lily e minha
princesinha de joelhos enxugando as lágrimas dela.
— Tá meor?
— Tô sim, amor — ela fala com um sorriso para tranquilizar Lily. — Ei!
— Olha para mim. — Já veio nos apressar?
— Nada disso! Vamos, Lily, ele quer fugir. — Elas correm e sou
“encurralado” pelos meus dois amores. Bia pega Lily nos braços e me beijam
pelo pescoço e bochecha até que a princesa inquieta sai e vai correr pela casa.
— Desculpa, amor, não resisti. Quero que saiba que a cada dia que
passa amo mais você. — Toco o rosto dela com ternura.
Bianca
— Você não deveria ter feito isso. — Com um sorriso malicioso ele pega
um pouco do seu sorvete e meleca minha bochecha inteirinha. Vejo Lily
gargalhar com a situação. Então, para que ela participe também, sujo sua
bochecha. Brincamos mais um pouco e antes de irmos nos limpar, pego meu
celular e tiro uma foto dela toda lambuzada, Pablo sugere que eu tire uma de
nós três, sorrindo e melecados. O resultado foram várias fotos engraçadas, sem
nos preocuparmos com os olhares curiosos ou reprovadores.
Ela sai toda saltitante e Pablo passa a mão pela minha cintura e me atrai
colando seu corpo no meu, ele me dá um beijo e sentamos num banquinho,
próximo, de onde podemos ver Lily se socializando com outras crianças. Pablo
coloca seu braço por cima dos meus ombros e deito minha cabeça em seu
ombro, cheirando seu pescoço.
— Amo seu pescoço, seu cheiro é tão gostoso — suspiro e ele ri.
— Sério? Será que você é uma vampira e eu ainda não sei? — brinca com
os meus cabelos.
— Não sei, mas você parece com o Damon, meu vampiro favorito.
— Tia Bia é a mamolada do meu pai, Gus. — Lily fala para o menininho.
— Humm, é... Oi, Gus. — Dou um sorriso para ele que me observa
atentamente.
— Oi, Ali.
— É, faz um tempo que não venho aqui mesmo. Ali, essa é a minha
namorada, Bianca — diz segurando minha mão e sorrindo para mim — Bia,
essa é a Aliane, minha amiga. Ela me dá um sorriso que me parece muito
simpática. Pelo visto, amiga mesmo do Pablo.
— O prazer é todo meu — falo sorrindo, por que é impossível não sorrir
para ela.
— Vem Gus, vamo bincar. — Eles pegam na mão um do outro e vão para
um balanço pequeno.
— Não, Ali, a Lily adora o Gus. — Pablo fala, sorrindo. Aliane fica na
ponta dos pés e fala algo no ouvido de Pablo que o faz sorrir. Fico morrendo de
curiosidade, mas incrivelmente não sinto ciúmes. Então, ela sai para olhar as
crianças.
— Já?! Está assim tão louco para nos amarrar? — Faço graça.
— Nunca vou te deixar, meu coração já está unido ao seu, sou sua.
— Toda minha? — Olha dentro dos meus olhos, dentro da minha alma.
— Tô mesmo, princesa, nem sei por quê! Eu hein, nunca fui assim! —
Pablo limita-se a dar um “huuum” e voltamos ao filme. Como sempre acontece,
Lily pega no sono antes do filme terminar.
— Pablo, a Lily pode dormir com a gente hoje? — peço. — É que queria
ficar perto dela. Ele levanta uma sobrancelha.
— Por tudo. Por me amar, por deixar minha filha ser parte das nossas
vidas e o mais importante, por amá-la com tudo que teremos que enfrentar.
— Pablo. — Toco seu rosto com as duas mãos. — Eu não vou a lugar
algum. Você me ensinará tudo que eu tenho que fazer. Quero ser mais que
uma tia que brinca de boneca com a Lily, quero ser alguém que ela possa
confiar, alguém que secará suas lágrimas quando ela não suportar os
momentos difíceis, alguém que ela dividirá suas conquistas. E com certeza
estarei na primeira fila aplaudindo suas vitórias. Se eu for metade do que você
é para ela, então serei uma pessoa realizada e feliz.
Pablo
Acordo e vejo Bianca ao meu lado alisando os cabelos de Lily, que ainda
dorme tranquilamente. Envolvo meu braço ao redor da cintura de Bia e ela
descansa a cabeça em meu peito.
— Porque você estava dormindo tão tranquilo, não foi nada demais.
Contei uma história e ela voltou a dormir — fala baixinho. Beijo seus cabelos —
Pablo...
— Sim?
Bianca
— Oi, meu amor, a mamãe está aqui — falo e não contenho as lágrimas
de emoção, enxugo-as rapidamente e cheiro sua cabecinha.
Lily abre um sorriso tão lindo que meu coração bate mais forte. Agarra-
me com seus bracinhos em volta do meu pescoço.
— Tá.
— E eu? Não vai me chamar? — Pablo faz bico para ela e sorrio.
— Sim.
— Você quer, só não sabe ainda — diz me encarando — Por que todo
esse medo?
— Isso é impossível!
— E você acha que eu não sei disso? — Ele sorri e lhe dou uma tapa no
braço.
— Sim, é o que mais quero. Pois, mesmo com essas manias, você é doce,
amável, linda, generosa, a única que consegue me surpreender todos os dias —
diz todo apaixonado. — A pessoa que desejo ter ao meu lado e ao lado da
minha filha para sempre, eu te amo.
— Sou louco mesmo, totalmente louco por você! — Ele me beija com
tanto amor e desejo que acabo gemendo em sua boca, saboreando o amor
verdadeiro que é capaz de fazer com que duas pessoas se amem apesar de
tantos defeitos.
— Sabe que com esses beijos eu poderia até me casar com você agora...
— falo, com um sorriso preso aos lábios, ao mesmo tempo que mordo seu lábio
inferior.
— Hummm, e se eu fizer isso. — Ele passa a mão pelo meu seio e aperta
meu mamilo deliciosamente. — Consigo te convencer? — Tento me controlar
para não gemer alto.
— Pablo... — e suspiro.
— Droga! Eu devia ter mandado Ray vim pegá-la pelo menos agora de
manhã.
— Egoísta. — Sorrio.
— Não tenho culpa se você me faz pensar com a cabeça de baixo — diz e
se esfrega em mim.
— Bia, nós precisamos conversar com ela, Lily tem que ser instruída
desde pequena que não é sua filha de sangue. Ela nunca teve uma mãe antes.
— Engole em seco. — Terá que ter paciência.
— Mas é minha filha, ela nasceu no meu coração e nada nem ninguém
pode dizer o contrário. — Abraço-o.
— Convencida.
Ele sorri.
Pablo
Bia está a mais ou menos uma hora com Lily nessa loja para escolher
algumas roupas para nossa princesa, a princípio seriam apenas cinco peças,
mas pela montanha que ela mandou separar já deve ter umas cem. E você deve
estar se perguntando o que eu estou fazendo. Apenas segurando sacolas, sou o
carregador das madames. No momento estou sentado há uns 30 minutos,
tentando disfarçar meu tédio, quando meu telefone toca, olho no visor e ao ver
que é Bruno atendo imediatamente.
— Decidi ficar mais um pouco, digamos que as coisas por aqui estão
ótimas. Tudo fluindo como o planejado! — Ele realmente parece feliz.
— Pablo, meu caro, todo mundo percebeu que vocês soltam faíscas
quando estão juntos, você sabe que se tu não se resolver, eu pego, aquela loira
é gosto...
— Nunca mais fale assim da minha mulher, seu imbecil! — falo nervoso
e morto de ciúmes.
— Tá bom. Tá bom. Pelo visto já se entenderam. Fico muito feliz por isso.
Pensei que você tinha que quebrar a minha cara depois de eu ter dado uns
pegas nela.
— Idiota.
— Sim?
— Nós também sentimos, tomara que esse tempo que você precisa ficar
aí passe logo. — Sinto uma emoção e mudo logo o assunto. Coisas de homens.
— Preciso de férias. Hoje a Bia vai conhecer os médicos de Lily. — Deixo
escapar.
— Eu não vou me amarrar nunca, mas desejo que vocês sejam muito
felizes. Sério mesmo, Pa.
— Pode deixar.
Bianca
Notei que Pablo me olhava de uma forma esquisita, porém iniciou logo
um assunto antes que eu lhe enchesse de perguntas. Começou a falar que
Bruno tinha ligado e que decidiu passar mais uns dias lá. O garçom chega
servindo nossos pratos e nos oferece um ótimo vinho, mas ele recusa e pede
três sucos de laranja. Okay, isso está começando a ficar esquisito. Penso em
protestar e pedir o vinho, mas me contenho, não quero estragar o clima gostoso
que há entre nós. Começo a tentar comer civilizadamente, mas quem disse que
eu me contenho?
— Pelo visto você gostou mesmo da comida daqui, deveríamos vir mais
vezes. — Fico vermelha na hora! Merda, ele também notou minha fome
desgovernada!
— Eu.. eu.. não sei o que deu em mim, eu nunca comi tão rápido em
toda minha vida. Definitivamente hoje não estou normal!
— Estou gosta
Opa! Disso eu não sabia...
— Tá.
— Mas estou, além do mais quero ver minha menininha arrasando hoje.
Já passou, Pablo, é sério.
Bianca
— Boa tarde, Juliana, já falei para não me chamar de senhor... — ela fica
com as bochechas vermelhas — essa aqui é minha namorada Bianca.
— Oi, Arthur...
— Sim, mas já faz um tempão que não nos vimos. Como está o seu
amigo... Como é mesmo o nome dele?
Olho para Pablo e logo vejo pela cara dele que está morrendo de ciúmes.
Capítulo 33
Pablo
— Estava falando o quanto Guel é uma figura e que fico muito feliz pelo
relacionamento de vocês. — diz ele olhando firmemente para mim.
— Hum.
— Então, Bianca, Pablo me contou que você viria hoje para conhecer o
quadro clínico da Lily. Posso te adiantar que ela é uma criança perfeitamente
saudável e tem energia como qualquer outra criança, mais isso você já deve ter
constatado — diz enquanto Lily brinca com uns brinquedos colocados
estrategicamente por ele na sua sala.
— Arthur não vou negar que estou tendo pensamentos assassinos nesse
exato momento, porém como isso foi há um tempo atrás e eu e Bianca não
estávamos nos relacionando estou me controlando. Mas se eu pegar você
olhando para algo que não seja seus olhos quando “ — enfatizo o Ela — lhe
dirigir a palavra, ai sim, você é um homem morto. E pare de mostrar esses
dentes malditos toda vez que fala com a minha mulher, porra!
— Nossa, em todos esses anos que sou médico da Lily, nunca vi você
com essa possessividade com nenhuma mulher. Isso só pode ser amor mesmo.
— Ri.
— Você tem sorte de ser médico da minha filha, caso contrário, suas
bolas não estariam no lugar agora. — O filho da puta ainda sorri.
— Calma aí valentão e pare de se comportar como um idiota, você não
percebeu como sua mulher estava desconfortável? Deixa de ciúmes, está nítido
que Bianca te ama.
— Idiota!
— Arthur muito obrigado por ter nos recebido apesar de não ser dia de
consulta. — Levanto e aperto sua mão.
— Por nada, qualquer coisa é só marcar com a Juliana. — Ele olha pra
Lily e diz: — Tchau princesa.
— Xau tio — fala sorrindo, mas não lhe dá muita atenção, está mais
interessada no seu pirulito.
Bianca fica me ignorando, não sei por que, afinal que tem direito de ficar
zangado aqui sou eu.
Bianca
Percebo a cara feia de Pablo e ignoro. Afinal, não tive nada demais com
Arthur, foram só uns beijos e nada mais. Já tive que ignorar coisas piores por
ele e caso que queira lidar com uma bobagem dessas, problema é dele!
Logo uma moça muito bem vestida nos cumprimenta e descubro que seu
nome é Lígia. Ela nos informa que a doutora irá nos receber e ao entrar em seu
consultório me surpreendo com a decoração, tem muitos brinquedos no lado
direito da sala. Sentamos em umas cadeiras que estavam disponíveis de frente
para sua mesa e logo entra uma mulher morena, alta, magra com porte de
modelo, seus olhos castanhos são gentis e olha para Lily com ternura, gostei
dela.
Ela me explica tudo com muita paciência, diz que é de suma importância
que Lily pratique exercícios físicos e elogia Pablo por ter sempre ensinado a
Lily, desde cedo, a praticar esportes. Aproveita e me dá algumas dicas e sua
assistente vem buscar Lily que está numa euforia só. Sandy explica que ela irá
prepará-la para a hidro.
— Eu posso?
— Imagina, claro que não, eu levo a Bia. — Nós nos levantamos e ele
pega na minha mão, beijando-a com carinho. Acho que a infantilidade já deve
ter passado.
Pablo me leva a uma sala com portas duplas e ao abrir encontro Lily
vestida num maiô rosa com uma touca também rosa, brincando com duas
garotinhas, uma já é quase uma mocinha e duas mulheres conversando e
olhando-as.
— Famosa eu? Não sei nada disso não hein. — Elas sorriem.
— Aham, com a Dudinha — ela aponta para uma menina linda que me
dá um sorriso amoroso e um “tchauzinho”, ela é a maiorzinha. Marlene me diz
que é sua filha Maria Eduarda, mas que todos a chamam de Dudinha, ela tem
13 anos e além de ter a Síndrome de Down, também tem outra Síndrome
chamada Moia Moia, mas que é uma guerreira e não tira o seu lindo sorriso do
rosto. Lily interrompe nossa conversa e diz: — Atela é a Mimim — aponta para
a outra que presumo ser a filha de Wana, como presumi, ela me diz que o
nome da filha dela é Yasmim, mas que depois que a minha princesa chamou
pela primeira vez de Mimim, todos a chamam assim agora. Ela tem atraso no
desenvolvimento mental e motor, mas Wana diz com orgulho que a filha é uma
criança muito carinhosa e tagarela. Acho que despertamos a atenção delas que
deixam de brincar e sentam no colo das mães. Como se fosse para confirmar o
que a mãe disse a pouco, Yasmim me abraça e depois me dá vários beijos pelo
rosto e imediatamente viro a “tia Bia”. Nosso momento de beijos e abraço é
interrompido quando a doutora fala que está na hora da Lily ir para água. Ela
entra com a minha princesa em uma das grandes piscinas e sinto um frio na
barriga. Ela é tão pequena aquela piscina enorme, parece que vai engoli-la,
acho que Pablo notou minha tensão e me puxou para sentar em um banquinho
de frente para as duas.
— Oi Guel.
Guel mal chega e já começa a tagarelar sobre o seu mais novo “super-
bofe-escândalo” que cisma em não me dizer o nome. Conversamos, digo
algumas coisas sobre eu e Pablo, sem muito detalhes, mas Guel exagerado
como sempre infernizando inventando mil cenários para Pablo e eu não
aguentei e cai na risada, brincamos e nos empanturramos de pipoca, sorvete e
chocolate. Depois caímos exaustos na cama. Fico refletindo o quanto eu sou
sortuda, tenho o melhor namorado do mundo e não só um melhor amigo mais
um irmão que a vida escolheu me dar. Olho para Guel sonolenta.
— Eu te amo Guel. — Ele olha dentro dos meus olhos e vejo uma lágrima
discreta cair devagarzinho.
Bianca
— Você está atrasada. Já era para estar pronta! — diz puxando meu
lençol, filho da mãe! — Já estou indo, obrigado por me deixar de mau humor
logo pela manhã, seu chato!
— Por nada — fala olhando as unhas. — Como você vai demorar, irei
fazer um café para nós dois. — Sai para a cozinha, aproveito para tomar banho
e me arrumar o mais rápido possível, tenho certeza que ele vai me atormentar
se eu demorar. Visto uma calça jeans, uma regata vermelha, calço um par de
sapatilhas confortáveis e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo, vou para a
cozinha encontrar o esquentadinho.
— Rá, rá, rá. — Imito uma risadinha sem graça. — Engraçadinho, passe
logo uma xícara de café pra cá pois só a cafeína é capaz de me acalmar após
ser enxotada da minha própria cama.
— Se ficar malcriada não faço mais comida para você! E cuida que
precisamos dar um jeito nessa juba!
— Você é pior que um carrasco. Minha mente não funciona tão rápido
quando acordo, até chegar no trabalho ainda estou processando as
informações. — Dou de ombros e ele revira os olhos.
Vou ao meu quarto pegar minha bolsa e sinto aquele enjoo que insiste
em aparecer toda manhã, corro para o banheiro — e como quase sempre —
meu café da manhã, já era.
— Há uns dias, acho que estou com problemas no meu estômago, sei lá,
meu café da manhã geralmente não fica mais aqui — digo, apontando para o
meu estômago, ainda enjoada.
— Quando foi a última vez que você menstruou? Porque pelas minhas
contas era pra você estar com o cão no couro gritando e tentando matar todo
mundo! Essa tal de TPM, dizem que é uma prévia do parto, Deus me livre,
ainda bem que não tenho isso, Ele é pai não é padrasto! — diz fazendo uma
careta. Faço as contas e sinto o sangue fugir do meu rosto, não pode ser... ai
meu Deus, ai meu Deus...
— Ai Jesus eu vou ter um troço, eu vou ter um troço. — Coloca uma mão
no peito e finge um desmaio trágico caindo em cima da minha cama. — Ai
caramba, não posso morrer, vou ser titio! — Dá um salto da cama.
— Ai amiga, é que estou tão feliz, mais tão feliz, que poderia sair
borboletando por ai... — diz dando pulinhos.
— Bia, você acha mesmo que o Pablito não vai querer esse bebê? Acorde
para vida meu anjo, ele te ama, e esse bebê é um pinguinho de gente, que tem
um pouco de vocês dois batendo em um coraçãozinho forte, não há motivo para
você se desesperar, você tem ao seu lado um homem maravilhoso, esse anjinho
virá apenas para aumentar o amor que vocês sentem um pelo outro. — Tenta
me acalmar secando as minhas lágrimas.
Nunca trinta minutos foram tão longos na minha vida, ando de um lado
para o outro, na sala, umas mil vezes, até que resolvo sentar no sofá e começo
a lembrar dos meus momentos com o Pablo, do nosso primeiro beijo
apaixonado, do seu sorriso lindo, das suas declarações enquanto fazíamos
amor, Guel está certo, é só olhar o cuidado que ele tem com a nossa princesa
para saber que o meu filho jamais poderia ter um pai melhor, fico emocionada
porque sei que nosso bebê foi gerado com muito amor. Guel chega eufórico e
me entrega três testes de gravidez. Arqueio as sobrancelhas.
— E ai? Fala Guel, ou então quem vai ter um troço sou eu!
— Os três deram o mesmo resultado, parabéns minha menina, positivo!
— Guel me abraça emocionado. — Eu vou ser titio — completa com a voz rouca
de emoção.
— Coruja não! Meu bicho é veado! — Solta, fazendo-me sorrir. Até que
ele fica de joelhos e diz: — Coisinha linda do tio Guel?! Você é o bebê mais
sortudo do mundo, ganhou os melhores papais que um bebê pode querer. —
Dá um beijo na minha barriga.
— Sempre! Agora vamos fazer uma surpresa para o seu papi gostosão? —
diz imitando uma vozinha de criança e alisando minha barriga, fazendo-me
derreter com esse carinho com um bebê que a pouco nem sabíamos da
existência.
Então partimos para o shopping, comprar tudo que precisamos para dar
a “grande notícia" que segundo ele vai "lacrar"! Andamos bastante até que vejo
o celular de Guel avisando que chegou uma mensagem que ele responde
imediatamente num ritmo frenético. Logo em seguida chega uma no meu
também e ao ver que é do meu amor um sorriso brota dos meus lábios.
Beijos, Te amo"
Olho pra Guel que faz cara de desentendido. Droga, ele não vai me falar
nada!
Passamos a manhã inteira no SPA, recebendo uma massagem
maravilhosa, logo depois almoçamos, em seguida, como diz Guel realizamos "a
operação de guerra" incluindo cabelo, depilação e unhas. Está exigente dizendo
que tenho que arrasar hoje a noite.
— Abre logo, vaca sortuda, ai meu Deus, eu quero um boy feito o Pablito.
— Pode deixar.
O interfone toca, ele atende e me diz que é Pablo, dou um selinho nele e
vou ao encontro do meu amor.
Pablo
Ou um belo amanhecer
— É linda — sussurra.
— Eu te amo, meu anjo — digo e percebo que minha voz saiu rouca.
— Bom não era esse o motivo inicial, mas já que funcionou... então sim.
— Ela começa a sorrir junto comigo.
— Amor, antes de sairmos, preciso passar no meu apê, tudo bem? — Ela
confirma franzindo as sobrancelhas. Ignoro e faço cara de paisagem. Ao
chegarmos, ajudo-a a descer do carro e vamos em direção a surpresa que
passei o dia preparando para ela.
Bianca
Pablo abre a porta e eu fico sem saber o que poderia encontrar, mas
fiquei maravilhada quando vi uma seta gigante feita por pétalas de rosas e
velas indicando em direção à sala. Olho para Pablo que devolve com um olhar
ansioso. Seguimos em direção a sala e sinto meu coração bater violentamente
no peito quando vejo que está escrito no chão com velas.
— Bia, — Pablo chama minha atenção de volta para ele. — Você acabou
com todas as incertezas do amor, graças ao que sinto por você, quando falei
“Eu te amo” para você, pela primeira vez,
discretas escaparem dos seus olhos, ao contrário da minha mãe e de dona
Maria, que nada discretas estão chorando horrores. Guel é o primeiro a vir nos
cumprimentar e nos dá um abraço de urso.
— Pablo, um dia te pedi para que cuidasse da pessoa que mais amo na
vida, pedi também que não machucasse mais o seu coração, hoje posso dizer
com toda convicção: Até que fim se entenderam! — Levanta as mãos para o céu
de forma dramática e começamos a rir. —
Minha pior distração, meu ritmo e minha melodia
Eu não posso parar de cantar, está tocando, em minha mente para você
— Sim, mas não é só você que tem surpresas, senhor Pablo — falo
cheirando seu pescoço.
Bianca
— Aproveitem a noite enquanto ainda podem. Depois não diz que não te
avisei, Pablito. — Ele nos dá um abraço coletivo e sai.
— Não tanto quanto você. — Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha. — Quero a minha surpresa. — O safado me dá um sorrisinho sexy que
faz minhas pernas virarem gelatinas. Ele beija meu pescoço lentamente e diz
sussurrando. — Promessas foram feitas, Bianca e quero tudo o que eu tenho
direito.
— Se o que está aqui dentro for tão terrível a ponto de você ter um treco,
não quero nem ver. Por que está tão nervosa?
Pablo
Abro a caixa e vejo que tem três testes de gravidez todos com o resultado
cobertos. Pego os três de uma só vez e todos estão com o resultado positivo.
Minha respiração fica presa, meu coração parece que vai explodir... Além dos
testes tem algo que parece ser uma roupinha de neném toda branca, ao tirá-la
da caixa vejo que tem escrito: “Sou fofinho(a), mamãe é linda e papai é
sortudo!”. Sinto minhas mãos trêmulas e olho para o meu anjo, que tem
lágrimas nos olhos, meu olhar é direcionado para sua barriga. Apesar de
desconfiar que ela estivesse grávida, faltam-me palavras para descrever o
turbilhão de emoções que se passam em meu coração.
— Pablo, eu... eu sei que foi não foi planejado, mas aqui no meu ventre
carrego um pedacinho da nossa felicidade. — Levanto-me, passo a mão na sua
cintura e a beijo com todo amor que há em mim. Seguro seu rosto com as duas
mãos e beijo suas lágrimas com verdadeira adoração.
— Fiz a mesma coisa com a Lily. Comprei a boneca que ela amava até
você dar aquela ovelhinha pra ela. — Faço uma careta e ela ri.
— Eu nem sei o que falar... obrigada, meu amor, você como sempre me
surpreendendo. — Ela se joga em meus braços, beijando-me.
Desço o zíper do seu vestido, que cai lentamente acariciando sua pele,
acompanhado por minhas mãos fazendo o tecido roçar na sua pele arrepiada.
Fico de joelhos e ajudo-a a sair do vestido caído no chão. Olhando para ela,
vejo com está linda, de tirar o fôlego. Sua lingerie vermelha causa um contraste
lindo com sua pele clara. Faço uma trilha de beijos até chegar a sua barriga,
na qual deposito vários beijos.
— Vou ficar mais chorona do que já estou, comer por dez e ficar bipolar.
— Chora parecendo insegura.
Ela me beija e logo fazemos amor, de um jeito puro, lindo e gostoso como
sempre.
Quando você ama uma mulher, você conhece seus passos pela intuição.
Sinto-a sorrir, sua boca encosta na minha pele e logo ela deita
novamente, absorvendo a música assim como eu.
Existe um sinal dourado que brilha espreitando algum lugar... Oh, sim.
Quando você enxerga os passos dela e olha dentro dos olhos dela.
Quando você ama uma mulher você vê seu mundo dentro dos olhos dela
Quando você ama uma mulher, bem, você nivela o plano dela com o seu.
Existe um sinal dourado que brilha quando você ama uma mulher.
Quando você ama uma mulher você vê seu mundo dentro dos olhos dela.
— Obrigada, Pablo.
— Agora se me der licença, vou ver como estão minhas crianças e minha
mulher. — Ela arregala os olhos e digo. — Bia está grávida, fiquei sabendo
ontem.
— Pode deixar.
— Aaaah — diz desanimada — Quelia bincar com ele agola. — Faz bico e
cruza os bracinhos.
Não resisto, pego-a em meus braços e faço cócegas nela que fica
tagarelando sobre o “imãozio” nos fazendo rir. Podemos ter quantos filhos for,
mas Lily nunca deixará de ser especial, pelo simples fato de ser única... de ser
a nossa Lily.
Bianca
— Você está bem? — pergunta levantando-se, mas faço sinal para que
ele permaneça sentado.
— Bia, me promete que enquanto estiver grávida, não irá dirigir? — Ele
me abraça como se sua vida dependesse disso e diz baixinho ao meu ouvido.
Meu coração dói ao notar a angústia em sua voz.
— Mas, por que você está me... — minha pergunta morre quando
percebo que ele está com medo e logo que chego à conclusão que seja por
causa de Laura.
— Você, nossos filhos, são tudo pra mim, Bia, são o meu mundo, meu ar!
Sem vocês eu não sobreviveria. — Toca o meu rosto com os olhos
atormentados.
Ele encaixa sua cabeça em meu pescoço e coloca uma mão sobre a
minha barriga.
— Eu amo vocês — ele diz e minutos depois sinto sua respiração pesada
ao meu ouvido presumo que já deve ter dormido e adormeço logo em seguida.
Mas, graças a Deus, está tudo entrando nos trilhos; decidimos que
iremos morar no apartamento de Pablo, por ser bem maior que o meu. Porém
não me mudei definitivamente porque está em obras. O tio mais babão que eu
conheço está eufórico e meio louco por não saber o sexo dos bebês para pode
fazer “a decoração mais fashion que existe” para o quarto deles. Até mesmo
Bruno, lá nos Estados Unidos, liga constantemente para Pablo só para saber
como estamos.
— Ei, posso saber o motivo desse risinho bobo? — Pablo diz, abraçando-
me, enquanto termino de pentear meus cabelos.
— Humm. Achei que era por causa do pai deles. — Dou um beijo em sua
boca.
— Seu bobo! Agora só vou calçar os sapatos e já poderemos ir — falo já
prevendo os protestos dele. Pablo, desde que soube dos gêmeos, também
dobrou seus cuidados e de vez em quando acaba exagerando. Sua implicância
da vez são os meus sapatos de salto.
— Bia, acho melhor você não calçar esses saltos. — Ele começa. — Você
pode se desequilibrar e...
— Mas, Bia...
— Pablo, para. Pelo amor de Deus! Eu uso salto há anos, você está me
deixando louca. São só sapatos, Pablo.
— Desculpa, amor, mas às vezes você exagera. — Toco seu rosto e lhe
dou um beijo.
Pablo
— Estão preparados?
Nesse momento, meu coração bate acelerado, ela não excluiu Lily. O
médico termina o ultrassom, advertindo Bia para que ela procure repousar,
pois a gravidez de gêmeos exige cuidado redobrado. Após sairmos da clínica,
vamos direto para a casa, onde Guel deve estar a ponto de cavar um buraco no
chão de tanta curiosidade. Bia falou que tinha umas vinte chamadas dele no
celular dela. Algo me diz que ele será o melhor tio que os meus filhos poderiam
ter.
Bianca
— Bebê, a mamãe não pode te pegar no colo por causa da barriga dela —
Pablo diz. A carinha que ela fez partiu meu coração, então me abaixo e beijo
sua bochecha.
— Coisinhas mais lindas do tio Guel, prometo que vocês irão andar mais
fashion possível. — Sorrio porque só Guel mesmo para falar uma coisa dessas.
— Tio Guel, tio Guel. — Lily puxa a calça dele, atraindo sua atenção e
com cara de brava, puxando a calça dele impaciente. — Quelo bezo também. —
Faz um biquinho lindo.
— Não fique com ciúmes, princesinha, o tio Guel é todo seu também. —
Ele a pega no colo, dando-lhe beijos e fazendo uma dança bizarra,
cantarolando algo indecifrável, arrancando gargalhadas da minha menininha.
Pablo senta ao meu lado puxando-me para os seus braços — que eu vou
de bom grado — enquanto assistimos ao show de Guel e Lily pela nossa sala.
— Ela vai epodi? — De onde ela tirou a ideia que minha barriga vai
explodir?
— Hum... não.
— Bia, eu não mereço você, meu anjo. — Ele me abraça com os olhos
repletos de gratidão.
— Agora tenho que ir, tem reunião via Skype com Bruno.
— Mais tarde te dou até dois. — Sorrio, porque sei que ele vai responder
com algo sacana.
— Tchau.
Se o espelho não vai torná-lo mais claro eu vou ser quem lhe vai dizer.
Claro que eu choro igual criança, seria impossível não amar esse homem,
ele simplesmente consegue ser tudo que eu preciso e por mais que eu tentasse,
nunca conseguiria não me apaixonar perdidamente por ele. Só depois de algum
tempo que percebo que há uma mensagem dele a ser lida, de seis minutos
atrás.
Adoro quando Pablo vem para casa mais cedo, é sempre bom quando
ficamos curtindo um ao outro. Para esperá-lo, resolvo tomar um banho bem
relaxante, e quando estou terminando de vestir a roupa, o meu celular toca. Ao
ver que é Guel, atendo imediatamente. Ele deve estar com preguiça de digitar e
resolveu me ligar.
— Oi, Guel.
— Ele se foi... Ele... ele... morreu, Bia. No carro... — Sua voz está sem
vida, como se tivesse me respondendo automaticamente.
— Guel, quem morreu? — ele não responde minha pergunta, apenas fica
repetindo “ele morreu... ele morreu”. — Guel, me espera tá bem? Só me diz
quem sofreu o acidente? Quem morreu? Estou confusa.
Capítulo 36
Bianca
Após ficar quase uma hora num trânsito infernal, finalmente chego no
apê de Guel. Subo direto, já que o porteiro me conhece, e abro a porta com a
chave extra. Fico em choque com o que vejo! A casa de Guel que antes era
impecavelmente arrumada e decorada com tudo de luxuoso que existe e está
disponível no mercado, está completamente destruída. A televisão de plasma
gigante, que ele comprou para assistir o tão sagrado futebol está toda quebrada
jogada no canto da sala. Vasos, quadros, e até mesmo uma coluna de vidro
nobre que segundo ele havia lhe custado uma pequena fortuna estava
destruída. E ele estava jogado no chão sentado no tapete soluçando, abraçado
as suas pernas. Tentei me abaixar, mas não consegui por conta do peso da
minha barriga.
— Guel... Meu Guel — falo passando a mão em seus cabelos, que está
uma bagunça completa. Parece que somente agora ele nota minha presença.
Levanta-se e me abraça com força, chorando descontroladamente.
Miguel,
Se você está lendo essa carta provavelmente eu já devo ter morrido, mas
não poderia "ir" antes de te fazer o meu último pedido: cuide da sua irmã,
Mônica, ela não tem nada a ver como os meus erros, cuide dela, Miguel. Eu sei
que não tenho direito de te pedir isso, mas eu imploro. Quando te expulsei de
casa, não houve um dia sequer que ela não me perguntasse por você, era só
uma garotinha e hoje é uma mulher feita.
Hoje vejo que o meu preconceito me tirou uma das pessoas mais
importantes da minha vida; que o meu orgulho foi burrice. Eu poderia ter
vivido mais, ser mais feliz. Ah, Miguel, como senti falta das suas risadas, das
suas piadas e do seu senso de humor, mesmo nas horas mais difíceis. Eu te
amo, meu filho e me orgulho do homem que se tornou. Minha maior tristeza é
saber que não fui o responsável por isso. Meu Júnior, meu Miguel, meu filho.
— Po-por que ele tinha que esperar morrer para me dizer isso, Bia? —
pergunta tão ferido, tão vulnerável, que me corta o coração.
— Não houve um dia sequer que eu não imaginei ouvir isso da boca dele.
Agora ele morreu, Bia.
— Guel, não fica assim, anjo, me corta o coração te ver assim. Você
nunca me contou que tinha uma irmã.
— Ela é mais nova que eu três anos, é filha da minha madrasta. Fui
impedido de vê-la, a Moni é linda, um amor de pessoa, dona de uma bondade e
generosidade sem tamanho. — Vejo seus olhos brilhando de admiração.
— Eu te entendo — suspiro.
— Eu soube hoje, ele estava com câncer. — Ele parece engolir um caroço
em sua garganta. — O médico o havia proibido de dirigir, mesmo assim, o
teimoso inventou de pegar o carro. Acabou acontecendo um acidente, tudo
indica que ele desmaiou e perdeu o controle da direção. — Seus olhos estão
sem o brilho que lhe ilumina, mas reunindo forças, sabe-se Deus de onde,
respira fundo e me encara. — Ele morreu na hora.
Ficamos abraçados até que Guel pare de chorar, coitado, não aguento
ver meu anjo assim, ele não merece passar por tudo isso. O telefone dele toca e
me pede licença, acho estranho, mas respeito. Aproveito para me levantar e vou
fazer algo para ele comer, tenho certeza que não deve ter almoçado.
Como havia previsto ele não almoçou e ainda ficou fazendo birra igual a
Lily quando não quer comer verduras, mas eu o convenci a comer pelo menos
um dos dois sanduíches que fiz para ele. Após Guel tomar banho, deitamos em
sua cama, ele deita todo atravessado e coloca a cabeça em meu colo, faço
cafuné e sinto suas lágrimas molharem o tecido da minha legging. Meu menino
está quebrado, foi uma notícia que o fez desmoronar. O interfone toca e ele dá
um salto, vamos até a sala — Guel com mais pressa do que eu — um homem
alto, sarado, moreno, aparece na porta não consigo ver o seu rosto, Guel se
joga em seus braços e vejo nesse momento que ele também achou alguém que
o console, além de mim.
— Oi — Guel sussurra.
Ok, isso está meio esquisito. Como se lesse a minha mente, sentamos no
sofá, onde Guel me explica que ele e Rick mantiveram contato após a viagem e
que acabaram se apaixonando. Fico observando Guel com a cabeça encostada
no ombro de Rick, é como se ele me passasse uma mensagem dizendo “vai ficar
tudo bem, ele está aqui comigo” respiro tranquila, sabendo que o meu amigo
também encontrou o amor. Estamos conversando sobre o relacionamento
deles, uma conversa tranquila para amenizar a tensão do momento. Quando o
interfone toca, Guel atende e de repente um furacão cabelos negros e olhos
azuis, fervendo de raiva praticamente invade a casa, pousando seu olhar sobre
mim.
Oh, merda! Ele descobriu que peguei o carro, estou completamente
ferrada!
Pablo
Cheguei em casa animado, ansioso para ver o meu amor, mas não a
encontrei. Liguei para o seu celular e o escutei tocar no sofá. Odeio quando Bia
sai sem o celular! E se tiver acontecido algo? E se ela passou mal? Ó, céus!
Que não tenha sido isso. Como não consegui entrar em contato com ela
aproveitei para tomar um banho. As horas passaram e nada da Bia aparecer,
comecei a ficar preocupado; liguei para Guel e caiu na caixa postal, então
peguei o celular dela e vi que a última ligação foi dele. Não pensei duas vezes,
peguei a chave do carro e fui imediatamente para a casa dele. Ele abriu a porta
e murmurou alguma coisa, mas eu não lhe dei atenção. Praticamente invadi a
sua casa e a cena que vi me fez ferver de raiva. Tem um homem com a cabeça
encostada na barriga dela que sorri com alguma coisa que ele fala, até que ela
me vê e seu rosto fica pálido. Eu falo da forma mais fria que consigo.
— Pablo, eu...
— Não precisa me explicar, afinal, foi para não me dar explicações que
você deixou seu celular em casa.
— Eu esqueci. E por que você está agindo assim, Pablo? — Ela parece
confusa. Como ela ainda não percebeu que morri mil vezes só de imaginar que
algo poderia ter acontecido com ela e os bebês? Olho para a barriga dela e vejo
que o cara está com a mão em cima. — Tire. Suas. Mãos. Da. Barriga. Da.
Minha. Mulher. Agora!
— Pablito, para! Você está exagerando! A Bia esqueceu o celular, e veio
aqui, é tudo minha culpa. — Olho para Guel e percebo que ele andou
chorando.
— Pare de agir como um idiota — Bia fala atraindo minha atenção para
ela novamente.
— Agora eu sou um idiota? Você está certa! Sou um idiota mesmo! Fiquei
em casa, morrendo de preocupação e você aqui se divertindo! — esbravejo.
— Tudo bem — ela diz, mas percebo que está chateada. Ótimo, eu
também estou.
Bianca
Pablo e eu não trocamos uma palavra, ele está irritado porque quebrei
minha promessa e estou irritadíssima com ele por ter agido feito um idiota na
frente dos meus amigos. Após o jantar resolvo ir deitar, meus pés doem e os
bebês estão agitados. Fico virando de um lado para o outro e não consigo
arrumar uma posição para dormir. Acabo levantando-me e indo ao escritório,
Pablo tomou banho e se trancou lá desde que chegamos. Abro a porta devagar
e vejo-o concentrado em sua leitura.
— Oi. Você está bem? — Porra, eu amo esse homem, até quando está
bravo, cuida de mim.
— Vem cá. — Vou até ele e sento no seu colo. Ele cheira meus cabelos
passa a mão delicadamente pela minha barriga, inevitavelmente sinto um
arrepio pelo meu corpo.
— Desculpa.
— Como se não bastasse, você ainda quebrou a promessa que me fez,
como posso confiar em você e não ficar te ligando toda hora? Você não pensa
nos nossos filhos, Bia.
— Pablo, eu não admito que você fale isso! Meu amigo, meu irmão, o cara
que por várias vezes segurou minha mão, que está ao lado quando eu preciso,
eu posso ser tudo nessa vida, menos ingrata. Eu errei por ter quebrado minha
promessa, mas você não tem o direito de dizer que eu não me importo com os
meus filhos!
— Ai... — Prendo a respiração, acho que um dos bebês deve ter enfiado o
pé entre as minhas costelas, só pode.
— Eu sei. E sou todo seu. Hoje foi um dia tão agitado e olha que eu vim
para casa mais cedo só para podermos ficar um pouquinho a sós. — Morde
suavemente meu pescoço e depois faz uma trilha de beijos até o meu queixo
parando centímetros da minha boca. — Eu te amo, mesmo quando você me faz
surtar.
— Eu agirei como um idiota várias vezes, mas sempre tenha uma coisa
em mente.
— O quê? — mal consigo falar com a sua mão está tocando meu seio.
— Sou o seu idiota. — Sua boca desce sobre a minha, nossa respiração
está acelerada, praticamente arrancamos nossas roupas.
Desabo sobre ele cansada e ainda tremendo por causa do orgasmo tão
intenso, minutos depois ele se junta a mim entregando-se e sentindo seu
próprio prazer chegar. Saio de cima dele e desabo na cama, Pablo me puxa
para os seus braços e diz baixinho ao ouvido.
— Eu também te amo.
— Oi, minha grávida favorita. — Beija minha testa. — Oi, bebês do tio
Guel. — Beija minha barriga e praticamente se joga na cama.
— Oi, Guel. Como você está hoje? — Desde que perdeu seu pai, percebi
que Guel perdeu toda sua alegria, seus olhos não brilham como antes e ele se
recusa a conversar sobre isso. Eu, como toda amiga deve fazer, respeito o
tempo dele, mesmo que me doa vê-lo assim, porém acredito que o Rick deve
estar fazendo muito bem a ele, pois é só falar no nome dele que Guel fica todo
apaixonado.
— Bia, falei com a Moni hoje... — ele diz baixinho. Desde a morte do pai,
Mônica, a irmã de Guel tenta conversar com ele, mas Guel se recusava. Ainda
bem que finalmente ele acordou para a vida.
— E....?
— Fico feliz que está tentando, Guel... sei que não está sendo fácil, mas
irá conseguir.
— Guel...
— Esse dinheiro foi mais importante na vida dele, meu pai preferiu seu
dinheiro e status ao invés do próprio filho! — Sua voz está embargada.
— Eles podem!
— Lóóóóógico que sim! São bebês, estão sempre certos. Agora — ele diz
me ajudando a levantar. — Vai logo fazer o seu xixi e depois traga seu traseiro
até aqui. Repouso será o seu sobrenome.
— Ai... — Puta merda, parece que minha barriga está pesando uns
duzentos quilos.
— O que foi? Os bebês vão nascer? — Ele dá um salto da cama e vem me
observar. — Ai, meu Deus, e agora? Eu não sei fazer partos. Meus lindinhos,
não façam isso com o tio Guel — diz todo dramático.
— Calma, Guel, falta uma semana ainda, é só uma dor nas costas, seu
escandaloso.
— Aff, Guel, ele tem várias reuniões hoje. Se não passar esse mal-estar,
aí você liga, pode ser?
— Tá certo.
Após o almoço, Lily chega da escola suada e com a corda toda, Jully a
leva para tomar banho antes de comer. Mesmo sobre o protesto de Guel, fiz
uma macarronada com molho à bolonhesa deliciosa. Claro que como sempre,
ela faz uma festa e Guel a incentiva a bagunçar ainda mais.
— Tio Guel, a mamãe fê xixi na tama, biga cum ela, é feio — Lily diz toda
bravinha.
— Miguel, liga logo! Se eu sentir essa dor novamente não respondo por
mim — esbravejo. Nossa, como dói.
— Oi amor, você está bem? Está doendo muito? — O semblante dele está
tenso e preocupado.
— Estou bem, só com algumas dores, mas deve ser normal. As coisas
estão prontas, eu já estou pronta, vamos logo, é hoje que conheceremos os
nossos bebês — digo, chorando.
— Vamos sim, amor, Jully ficará aqui com Lily, Guel já está no carro. —
Ele me pega em seus braços e carrega até o carro, onde Guel senta ao meu
lado segurando a minha mão, enquanto Pablo dirige da forma mais rápida que
consegue.
— Ai, amor vai mais rápido — grito de dor, esmagando a mão de Guel.
— Ainda bem que viado não tem isso; obrigado, my God, caso contrário
eu virava macho — ele diz e eu aperto ainda mais a sua mão quando as
contrações chegam.
— Seu...
— Você acha que eu estou bem? — digo com os dentes cerrados por
causa das dores e da raiva que se apoderou de mim. Ele nega. — Então não me
pergunte se estou bem! — grito. — E juro por Deus: se aquele médico vier aqui
novamente me dizer que está tudo bem, que é normal essa dor do caralho que
estou sentindo agora... Eu vou dar na cara dele! — grito mais alto ainda.
— Credo! Agora entendi porque nasci viado, se tivesse nascido mulher,
nunca que passaria por isso, com certeza, seria uma sapatona das grandes.
Cara, como eu amo ser gay!
— Amor, vai dar tudo certo, pensa que, logo iremos estar com os nossos
bebês no colo. — As palavras de Pablo conseguem me acalmar. Ele segura
minha mão e sussurra palavras de conforto ao meu ouvido.
Pablo
A enfermeira retira Laurinha assim como fez com Lorenzo. Bia começa a
bocejar.
— Pablo, eu estou com sono. — Bia aperta a minha mão. — Não sai
daqui, estou com medo.
— Obrigado, tia.
— Não sei, meu filho, ele só disse que precisava ir, mas que voltava o
mais rápido possível.
— Estranho, ele não perderia o nascimento dos bebês por pouca coisa.
Espero que esteja tudo bem.
— Claro que sim, seu idiota. Bruno, não esperava que você chegasse a
tempo. — Dou-lhe um abraço.
— Com licença, mas o mocinho aqui não pode esperar mais. — A
enfermeira entra no quarto, empurrando um carrinho e com um sorriso no
rosto.
Bianca
Fui liberada para receber visitas, dona Maria chega toda sorridente
tagarelando sobre os bebês e para minha surpresa Bruno entra no quarto,
trazendo presentes para os bebês e me dando beijo na testa. Pablo entra no
quarto e meu olhar vai diretamente para o pequeno birrento que chora,
descontroladamente, exigindo ser alimentado. Todos saem para me dar
privacidade, somente Pablo fica assistindo, seus olhos me transmitem um
amor sem fim.
— Como ele pode sumir assim? Logo no dia mais importante da minha
vida?
— Meu amor, deve ter sido algo importante. — Fico mais triste ainda.
Guel me deixou no dia em que eu precisava compartilhar minha felicidade com
ele.
— Não fica assim, meu amor. — Pablo beija minha cabeça e ficamos
observando nosso Lorenzo todo preguiçoso abandonar meu seio após estar
saciado. Como das outras vezes Pablo pega-o para que eu amamente Laurinha,
que chega sempre silenciosa ao contrário do irmão. Enquanto ela mamava,
quietinha, eu aproveito e pergunto a Pablo:
— E Lily, já ligou para saber como ela está? Comeu direitinho? — Ele
sorri.
— Oi — ele sussurra.
— Oi, Guel.
— Sim. Decidimos que iremos fazer com a nossa herança. Nem adianta
perguntar, não te contarei, mas prometo que você sentirá orgulho do seu Guel.
— Eu já tenho. — Ele me abraça e beija minha bochecha várias vezes me
fazendo sorrir.
— O seu Guel voltou... e com tudo que tenho direito! — diz levantando as
sobrancelhas sugestivamente.
— Então, Bia essa é Monica, mas pode chamar de Moni, ela prefere.
— Mas meu amor, eles têm o quarto deles, esqueceu? Tem a caminha
deles, assim como você tem a sua.
— Mamãe, não é pa ri de mim. — Ela fita-oss com curiosidade. — Poque
estão domindo? Nem tá na hola de domi ainda!
— Nãooooooo.
— Mas eles são meu. — Ela faz bico e corre atrás de Lannah, descobri
recentemente que Lily é ciumenta e foi uma luta para que ela se adaptasse a
Jully. Ai meu Deus, vai começar tudo outra vez!
Recebo uma ligação de Pablo, avisando que ele está levando Bruno ao
aeroporto houve uma emergência comercial e ele precisaria voltar às pressas.
Segundo, Pablo uma proposta irrecusável. É como dizem, a vida segue seu
rumo e tudo volta ao lugar quando tem que ser, suspiro de satisfação e
felicidade.
Um ano depois...
Pablo
— Ah, boa tarde Pablito, estou tão empolgado! — diz batendo umas
palminhas meio bizarras. — Então... — faz um pigarreio dramático. — Pablito,
eu gostaria de pedir uma autorização sua para tirar umas fotos de Lily, para
uma causa muito nobre.
— Claro que eu assino Guel. Muito obrigado, por escolher a minha filha.
— Lily é especial, Pablito, e será a minha forma de agradecer a Bia, por
tudo que ela fez e faz por mim.
— Ah, semana que vem, invente uma desculpa, Bia não pode desconfiar
— diz todo sério.
— Bom, vamos indo Pablito, até semana que vem. — Ele me abraça
exageradamente e me despeço da Moni e da Kathryne, que sorriem da
empolgação de Guel.
Bianca
Os gêmeos estão com a corda toda! Às vezes não dou conta tanta energia.
Lily está cada vez mais amorosa com os irmãos e me ajuda a “cuidar” deles, é
uma verdadeira princesa. Enfim, a noite chegou e eu como sempre coloco a
mesma música para pôr os bebês para dormir, Além do arco íris, na voz de
Luiza Possi. Essa música os acalma, torna o momento mágico, depois de
alguns minutos eles adormecem e vou ficar com Lily, não abro mão de colocá-
la para dormir também, não quero que ela se sinta menos amada, eu não
admitiria isso.
— Oi, meu anjo — diz dando aquele sorrisinho sexy que eu tanto amo.
— Isso não teve graça, seu Pablo! — Ouço seu riso vindo do banheiro.
Jogo-me na cama e começo a lembrar do nosso casamento, um sorriso brota
dos meus lábios espontaneamente.
Pablo
Tive que fazer o maior esforço para omitir de Bia o ensaio fotográfico que
Lily fará hoje, inventei uma desculpa, tendo minha tia como cúmplice, dizendo
que levaria Lily para passar a tarde com ela. Chego ao estúdio que Guel passou
o endereço e o encontro todo animado, minha princesa está animada, ela adora
tirar fotos.
— Oi, Guel.
— Oi tio, quando começa lá as fotos? Estou ansiosa, muto ansiosa. —
Sorri e esfrega as mãozinhas ansiosa.
— Oi princesa, a tia vai deixar seu cabelo mais lindo do que já é. — Ela
sorri e Lily concorda movendo a cabeça animadamente. Elas somem e minutos
depois minha princesa volta com um pouco de maquiagem e o cabelo com o
uma trança que envolveu seu cabelo inteiro, percebo que também trocaram
sua roupa colocaram um vestidinho lilás claro e delicado.
— Você é linda meu amor, muito linda — digo orgulhoso, ela se joga em
meus braços e beijo sua testa. Uma mulher, morena de olhos simpáticos, entra
na sala com uma câmera e atrai totalmente a atenção de Lily.
— Boa tarde, meu nome é Graziela, é essa a mocinha linda que irei
fotografar? — Lily concorda balançando a cabeça exageradamente e acaba nos
fazendo sorrir, ela está adorando tudo isso. — Mas que menininha linda!
Parece uma bonequinha.
A sessão de fotos começa com Lily fazendo caras e bocas, poses e mais
poses, Graziela diverte-a fazendo minha princesa sorrir espontaneamente. Após
algumas horas fomos para casa com uma Lily toda sorridente e com um
“segredo” só nosso.
Bianca
— Você está mais que linda, minha princesa. — Ela rodopia em seu
vestido rosa com pequenas pedrinhas em todo corpete que dão um chame e
sofisticação. Seus cabelos soltos, apenas com uma presilha lateral lhe dão um
ar angelical, sou uma mãe coruja, eu sei, mas não resisto. Antes de irmos, dou
um beijo em Laurinha, que como sempre está calma e sorri quando beijo sua
barriguinha. Já Lorenzo faz o maior drama agarrando meu pescoço e só solta
quando Lannah entrega um chocalho. Sair e deixá-los parte o meu coração,
mas infelizmente não poderemos levá-los.
— Ai Best, que bom que você chegou, estou tão nervoso. — Ele estende a
sua mão que treme devido ao seu nervosismo
— Oi Guel, está tudo muito lindo. Não precisa ficar assim. — Ele
cumprimenta Pablo e beija a cabeça de Lily.
— Boa noite a todos, como minha irmã já agradeceu, irei ser breve.
Gostaria de convidar aqui a frente minha amiga Bianca e sua filha Lily. — Meu
corpo inteiro congela. O ar foge dos meus pulmões e levanto automaticamente,
segurando a mão de Lily, antes de ir, olho para Pablo que sorri. Ele sabe o que
irá acontecer. Teremos uma conversinha mais tarde. Chegamos até Guel que
sussurra ao meu ouvido para ter calma.
— Nossa Guel, estou sem palavras, obrigada meu amigo, estou muito
orgulhosa em ser sua amiga.
Pablo
A nossa vida anda bem corrida, mas é gratificante saber que nossos
filhos estão crescendo com saúde e isso faz tudo valer à pena. Bia como sempre
tem se mostrado uma mulher incrível e uma mãe exemplar. Estou indo agora
buscá-la na ONG, onde ela vai todos os sábados à tarde enquanto as crianças
dormem, minha mulher tem o coração enorme e sinto muito orgulho disso, de
sua vontade de querer ajudar o próximo. Chego a ONG e cumprimento Lívia, a
recepcionista, que me informa que ela está na ala infantil — onde ficam os
bebês que são abandonados ou precisaram ficar internados — eu me dirijo até
lá e vejo uma cena que me deixa hipnotizado. Bia está sentada em uma cadeira
de balanço com um bebê no colo, cantarolando uma canção de ninar, estou tão
concentrado que só noto que Guel está ao meu lado quando ele toca o meu
ombro.
— O nome dele é Miguel, a mãe dele lhe deu esse nome poucas horas
antes de abandoná-lo aqui. Miguelzinho tem síndrome de Down — ele fala
sério. — Ela disse que não queria uma criança doente e que iria ser um atraso
na vida dela. Ele é usuária de drogas, tentamos ajudá-la, mas ela se negou e
sumiu. Isso faz seis meses.
— Bia está se apegando a ele e sofrerá muito caso... — Ele não termina a
frase, não precisou eu entendi.
— Caso ele seja adotado — ele confirma. — Bia geralmente ajuda com
todos, o que te faz pensar que ele é especial pra ela?
— Isso, — ele aponta para onde Bia está, ela cantarola e sorri para o
menino, beijando sua cabecinha loirinha. — Ela está tratando-o como se
fosse...
— Um filho.
— Bia, me fala o que está te deixando triste. Tem alguns dias que venho
percebendo que tem algo te incomodando. — Ela me abraça forte e sinto suas
lágrimas molharem minha camisa.
— Estou bem.
— Amor, não tem pelo que se desculpar, mas você precisa se conformar,
ele irá ser adotado e você vai sofrer ainda mais.
— Eu sei, mas é tão difícil. — Ela fica agarrada a mim. Sinto um aperto
enorme no peito, fico a madrugada praticamente acordado, pensando, eu
preciso fazer algo. Olho para minha mulher, que dorme serenamente ao meu
lado, eu poderia fazer o impossível para fazê-la feliz, aprendi a amá-la de uma
maneira tão grande que ultrapassa tudo. Adormeço com a visão do meu anjo
de olhos serenos, sorriso meigo e coração grande.
Bianca
Fiquei um pouco nervosa, com tudo que Pablo me falou, mas ele está
certo, eu não devo me apegar ao Miguelzinho, ele não é meu — infelizmente —
sinto uma dor no peito só de imaginar alguém levando-o para longe. Estou
deitada no sofá pensativa, quando Pablo chega, senta e me puxa para os seus
braços.
— Amor, Guel acabou de ligar, estava preocupado, disse que faz uma
semana que você não aparece na ONG.
— Só tem um probleminha...
— Ele está bem, já o mediquei, mas a febre não baixa é febre emocional,
Bia. — Ela me entrega o meu pequeno anjo, que segura o meu dedo com força.
Nanda se despede e vejo Pablo encostado na porta me observando.
— Oi amorzinho, desculpa passar todos esses dias sem vir te ver — falo
chorando. — Não irei te deixar sozinho outra vez, eu prometo. — Fico ninando-
o por alguns minutos até que ele chora, deve ser fome, concluo. — Amor,
segura ele só um minutinho que irei pegar uma mamadeira? — Pablo pega
Miguel nos braços e fica olhando-o. Saio, preparo uma mamadeira e quando
volto, Pablo está brincando com Miguelzinho que dá gritinhos de alegria com as
caras e bocas que Pablo faz, assisto encantada, incapaz de interromper o
momento.
Pablo
Pablo
— Meu amor, se você errar, não tem problema, a tia vai ficar aqui te
olhando, tá bem? — Lily confirma. — Além do mais... O seu pai está lá com
você, é só segurar a mão dele. — Minha princesa relaxa visivelmente. Mas
agora quem ficou nervoso foi eu!
Bianca
Me desespelo a pocular
E para minha surpresa, ela passa o microfone para Pablo que começa a
cantar olhando nos olhos da nossa princesa:
— Está vendo minha princesa, essas palmas são para você, vai lá amor.
— Ela se solta do meu abraço e sobe no palco encantada por ver todos a
aplaudindo de pé. Os gêmeos e Miguelzinho ficaram em casa, mas um dia
mostrarei essa apresentação de Lily a eles, quando forem maiores e sei que
assim como eu, também aplaudirão a irmã e a terão como fonte de inspiração.
Epílogo
— Não sei, amor. Ele me disse que o Rafael não estava bem... talvez
ainda esteja com um pouco de febre. — O garçom nos entrega o cardápio e
Pablo se ocupa com os pedidos enquanto eu fico olhando-o, mais apaixonada
do que nunca. Tantos anos de casamento depois e eu ainda ajo como uma
boba ao olhar para ele cuidando dos nossos amores dessa forma. Já Guel, o
meu anjo para a vida toda, mesmo não querendo casar nunca — palavras dele
— adotou o Rafa e tem sua própria família. Dizer que tenho orgulho pelo meu
Guel é pouco para o que tenho no meu coração.
— Não telo.
— Mamãe! — Lily levanta e sento abrindo os braços para ela que se joga
e nino-a como se fosse um bebê, então eu sinto braços fortes nos abraçando.
Assim ficamos até que ela para de chorar e seco suas lágrimas. Imediatamente
lembro do que Pablo sempre me fala. O amor sempre nos dirá o que fazer e nos
ajudará a transformar o que é motivo para tristeza em riso. Ficamos nos
olhando sentadas no chão do restaurante sem fazer nada.
— Sabe Bianca, todos os dias tenho certeza que não poderia ter escolhido
uma mulher melhor para ser a mãe dos meus filhos e amar para o resto dos
meus dias. — Ele me olha nos olhos e toca o meu rosto com ternura.
FIM