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Incertezas do Amor

ALC ALVES

1ª Edição

2016

Pablo, um homem sedutor dono de olhos e sorrisos cativantes que escondem a


dor de ter perdido a esposa, cria a filha Lily, uma menina especial e para
proteger seu coração e de sua filha, prometeu a si mesmo jamais se envolver
novamente. Até conhecer Bianca, uma mulher linda e independente, que a
cada dia conquista o coração de Lily, e para a sua surpresa o seu também.
Juntos os três descobrem nessa história, que o carinho, amizade e paixão
transforma todas as incertezas da vida em amor.
Capítulo 1

Bianca

Se tem uma coisa que gosto de fazer é correr na praia logo cedo, o cheiro
do mar, o sol dando o privilégio de vê-lo em toda sua glória, isso me acalma e
me faz muito bem. Ao som de Britney Spears, corro empolgada, até o meu
corpo começar a protestar, paro um pouco, buscando fôlego, de repente alguém
esbarra em mim e caio com a bunda no chão. Que ótimo! Era só o que me
faltava! Começo a xingar a pessoa, mas quando olho para o idiota...

Meu pai do céu! Que homem é esse?

Alto, moreno, olhos azuis, corpo atlético... Caramba, benza Deus!

— Moça, você está bem?

Que merda é essa que eu estou pensando? Saio do meu devaneio quando
escuto a sua voz. Que voz!

— Machucou? — Noto certa má vontade em seu tom de voz.

— Não, estou bem — respondo, limpando a areia da regata com as mãos.


Olho para aqueles lindos olhos e me controlo para parecer furiosa. — Mas, da
próxima vez, preste mais atenção, podia ter me machucado seriamente. —
Levanto, ignorando a sua mão estendida, e limpo o meu short.

— Como é que é? É cada doida que me aparece! Você que não olha por
onde anda. — Abusado!

— Agora a culpada sou eu? Você é sempre mal-educado assim?

— Inacreditável! — diz cruzando os braços sorrindo ironicamente.

Ok, isso sim, pode matar um!


— Quer saber de uma coisa? Tenho mais o que fazer, até nunca! —
Reúno o último pingo de força que me resta e volto a correr, minha bunda dói e
com certeza vai ficar roxa. O gostosão é lindo, mas a educação passou longe!
Não olho para trás, mas com certeza ele não deve ter ficado nada feliz.

O que é bom, dura pouco e aqui estou para mais um dia de trabalho. O
Café já estava aberto e tudo organizado, porém não vejo Bruno — meu chefe e
dono do estabelecimento — em lugar nenhum. Logo os clientes começariam a
chegar enchendo o local e iniciando a correria de sempre, todo mundo se
mobiliza para atender a todos sem demora e na qualidade de sempre, até quem
trabalha na administração, como eu.

De repente, entra o cara mal-educado da praia, ele vem em direção ao


balcão e ao contrário do que imaginei, está mais gato ainda vestindo um terno,
com os cabelos molhados e a barba por fazer. Seus olhos encontram os meus e
sinto um frio na barriga, mas não consigo desviar do seu olhar e algo me diz
que isso pode ser muito interessante...

Pablo

Olho por um bom tempo para a loira gostosa da praia e não consigo
acreditar que em meio a tanta gente eu tinha que conquistar a antipatia logo
com a gerente do meu primo, ele vai querer me matar! Agora toda arrumada,
com um ar de mulher séria, não consigo conter o sorriso ao lembrar de vê-la
furiosa com o nosso esbarrão.

— Ora, ora se como o mundo é pequeno! Parece que você não é muito
sortuda, aqui estamos nós — digo dando um sorriso torto.

— É, parece que alguém lá em cima, resolveu brincar comigo hoje! — fala


revirando os olhos. — O que você está fazendo aqui?
— O mesmo que você, pelo visto — aponto para a pasta que ela segura.
— Só falta me dizer que seu nome é Bianca! — Vejo-a franzir as sobrancelhas,
confusa. Agora entendi o porquê de Bruno ficar com aquela ladainha para que
eu não me envolvesse com as funcionárias dele. É... parece que algumas
promessas vão ser quebradas...

— Não que seja da sua conta, mas sou sim, e daí? — Esse queixo
empinado desafiador, olhos hipnotizantes... não me disseram que ia ser tão
interessante vir passar esses dias por aqui.

— Bruno me coloca em cada situação. Era só o que me faltava, trabalhar


com uma descontrolada.

— Ah! Então você é o Pablo! Não acredito que o meu amigo, uma pessoa
tão interessante, pode ter um ser tão desagradável como primo. — A voz dela
está um pouco trêmula. Não sei se é de nervosismo ou raiva. — Eu já deveria
saber!

Espera um minuto! Como ela sabe o meu nome?

— Como sabe meu nome? Não me apresentei é vidente por acaso?

— Eu trabalho para seu primo há três anos e ele já havia falado sobre
você... — Interessante, então eles conversaram sobre mim. Mas o que será que
ele falou?

— O que Bruno andou falando sobre mim? — pergunto realmente


curioso, ainda mais com o olhar de desgosto que passa rapidamente pelo olhar
dela.

— Nada demais. Apenas o que precisava saber. Como por exemplo, que é
o seu contador pessoal desde que João se aposentou há seis meses. — Ela
levanta subitamente a cabeça e olha em volta. — Por falar em Bruno, cadê ele,
hein? Não o vi o dia todo, isso é muito estranho. Sendo responsável do jeito que
é...

— Primeiro, não acredite em tudo que ele fala, meu primo às vezes
exagera. Segundo, tia Maria passou mal e ele foi levá-la ao hospital. Por isso
estou aqui, Bruno me pediu para assumir os negócios já que os médicos
decidiram interná-la porque a pressão dela estava muito alta. — Bianca fica
pálida na hora.

— Como assim? Dona Maria passou mal e você não me disse logo,
estrupício? Preciso ir vê-la imediatamente — praticamente grita.

— Eu nem sabia quem você era até alguns minutos atrás, sua maluca!
Meu primo está cuidando dela, os médicos a internaram por medidas de
precaução, vai ficar tudo bem. — Tento não demonstrar minha preocupação,
da outra vez que isso aconteceu quase a perdemos.

— E se ela não aguentar? Dona Maria é cardíaca... — Sua voz falha. —


Bruno, coitado, deve estar precisando de uma amiga. Eu vou para lá agora
mesmo!

— Bianca me escuta — peço segurando seu braço quando ela insinua


sair. — Ele pediu para eu te avisar, que é pra você ficar aqui cuidando do Café,
já que não sabe quando volta. Só assim ficará mais tranquilo; e quando houver
alguma novidade, irá nos avisar.

— Ok, eu fico, mas estou muito preocupada. — Faz uma expressão de


pena que quase me fez ir abraçá-la, mas resisto. — E se ela não suportar? —
Meu corpo fica tenso, pois é o meu maior medo no momento, minha tia e
Bruno além de Lily, são as únicas pessoas que tenho nessa vida. Agora tenho
certeza que quem ficou pálido fui eu, mas mesmo assim, tento confortá-la.

— Ela é forte, Bianca, não vamos ficar tão nervosos. — Respiro fundo,
Bianca até tenta disfarçar, mas vejo quando limpa algumas lágrimas
discretamente. Nessa hora, faço uma coisa que não fazia há muito tempo —
puxo uma mulher para um abraço. Ela se encaixa nos meus braços chorando
baixinho, sinto seu cheiro e isso mexe com algo dentro mim.

— Sua tia praticamente me adotou quando me mudei pra cá — sussurra.


— É como se fosse uma segunda mãe pra mim, vou pedir muito a Deus para
não acontecer nada mais sério.

— Não vai. Ela é uma guerreira — Bianca confirma com um aceno. — E


sei que você me odeia e tal... — Tento distraí-la. E ganho um sorriso contido. —
Mas que tal uma trégua pelo menos hoje?

— Certo. Mas não espere que eu caia de amores por você, agradeço o seu
apoio, mas preciso ir trabalhar agora. Por favor, me avise se tiver notícias. —
Entra na defensiva e desfaz o abraço me deixando mais uma vez sem palavras.

Capítulo 2

Bianca

Os dias passam e Bruno nos matem informados sobre o quadro de Dona


Maria, que está se estabilizando aos poucos e graças a Deus está bem melhor.
Encaro a quantidade de papéis em cima da minha mesa dando um suspiro.
Desde que Bruno se ausentou, tenho me desdobrado para conseguir fazer tudo
na melhor qualidade possível, claro que o estrupício do primo dele também
está trabalhando muito — inclusive pela madrugada e é por isso que hoje virá
mais tarde — e quase sempre nos estranhamos, mas nada tão insuportável
quanto imaginei. Lendo os contratos que Bruno havia deixado separados para
análise, percebo que preciso de alguns documentos, ligo para Bruno e ele me
diz que estão em seu escritório pessoal. Subo até sua casa já sabendo que
Pablo vai querer me esganar por interromper o seu merecido descanso.

— Quem é? — Sua voz está rouca e tenho certeza que devo tê-lo
acordado.

— Adivinha quem é, Coração? — respondo sarcástica.

— Ah! — Boceja. — É você, já vou abrir. — Entro e dou de cara com uma
cena que me deixa de queixo caído, Pablo está somente de toalha! Como não
sou de ferro dou uma boa secada no seu corpo, braços fortes, barriga
tanquinho e tento em vão não olhar o resto, mas não consigo. Que calor, meu
pai do céu! Minha boca fica seca e nem preciso dizer que o meu corpo está em
festa. Suspiro lentamente.

— Eu durmo assim... — sussurra convencido. — Só que sem toalha,


claro. — Ergo a cabeça bruscamente, e me deparo com um par de olhos azuis
que me encara e com um sorriso no rosto se aproxima, fico totalmente sem
reação. Passa o dedo indicador em minha boca, como se a desenhasse. Franzo
a testa confusa.

— Pronto — diz recuando. — Acabei de tirar a última gota de baba da


sua linda boca. — Dá um sorriso cínico. — Calma, Bianca, se quiser, tiro à
toalha da frente para você conferir a parte mais interessante do meu corpo. —
Sua voz sai sexy e quero que um buraco se abra sob os meus pés. Sinto
minhas bochechas ficarem vermelhas na hora.

— Escute, seu idiota! Não vim aqui para ficar olhando você quase pelado.
— Gesticulo e respiro fundo. — Vim para pegar uns documentos. Pode me
indicar onde fica? — Falo tentando não olhar para “as partes” dele.

— Só se você pedir “por favor” — diz me desafiando e reúno o restinho de


paciência que eu tenho guardada. Não sei de onde para responde-lo sem
apertar esse pescocinho que as vezes tenho vontade de sentir o cheiro.
— Vossa Majestade Pablo, poderia, por favor, me indicar onde fica o
escritório do meu lindo e ausente chefe? — Minha voz pinga sarcasmo.

— Esse pedido não ficou bom, mas vou considerar, já que você não tem
muita prática. — Se vira me dando uma visão magnífica da sua bela bunda e
segue para um cômodo à minha esquerda.

— É aqui — indica e olha para mim. — Não fique triste por eu ter que ir
me trocar, Bianca, haverá outras oportunidades para que me veja nu. — Chega
bem perto do meu rosto e sussurra contra os meus lábios. — Mas fique
sabendo, quando essa oportunidade chegar... Não serei a única pessoa sem
roupas. — Olha meu corpo descaradamente e dá um sorriso torto. Meu rosto
queima por ter dado tanta bandeira. Pigarreio limpando a garganta, arqueio as
sobrancelhas e falo com um sorriso desafiador.

— Vai srnha0 g02sa.


— Você terá. Eu prometo. — Aliso o seu rosto e sorrio para ele.

— Vamos logo que a purpurina que habita em mim, não aceita essa
situação. — Pega na minha mão e entramos no carro. Olho pelo retrovisor e
vejo o Pablo bufando de raiva. — Agora conta tu-do!

— Ah, não é nada demais, só uma brincadeirinha com o dono do maior


ego que já vi! — Dou de ombros e começo a rir. Guel me olha com as
sobrancelhas levantadas, como se eu estivesse enlouquecido de vez. Aproveito
o caminho do restaurante e conto tudo para ele, que morre de rir comigo.
Conversamos, almoçamos e quando dei por mim já era hora de voltar ao
trabalho; então ele me leva de volta para o Café. Vou direto ao meu escritório e
começo a trabalhar. Não vejo Pablo a tarde toda, o que me leva a estudar os
documentos com um sorriso satisfeito no rosto.

Quando o expediente termina tudo que eu quero é chegar em casa e


dormir. O problema é que já havia combinado com Guel uma saída, não posso
nem cogitar a ideia de deixá-lo no vácuo. Escolho um vestido preto, justo,
curto, com paetês, que deixa as costas praticamente inteira à mostra.
Descanso por alguns minutos e logo começo a operação de guerra.

Penteio e depois bagunço o cabelo, para ficar um desarrumado sexy.


Esfumo os olhos, coloco um batom vermelho, um salto preto. Quando termino
de me arrumar, Guel chega vestido numa calça jeans justa, que realça suas
pernas malhadas, uma camisa cinza social e um All Star vermelho, fazendo
uma cara que não tenho com não rir.

— Nossa, amor, você hoje está vestida para matar! — diz encenando
duas pistolas com os dedos e fazendo o barulho dos tiros com a boca. — Pena
que eu não gosto dessa fruta. — Faz um biquinho lindo. — Vamos que hoje eu
quero arrasar, dançar até o dia amanhecer... E de quebra conhecer um bofe
lindíssimo! — Essa criatura não tem um pingo de juízo!
A boate é simplesmente demais! Luzes por todo lado, gente dançando,
bebendo e se divertindo. Guel como sempre, vai pegar as bebidas e volta todo
animado, começamos com uns coquetéis e logo vamos para a pista de dança.
Gettin' Over You do Guetta e a purpurina que habita no meu amigo
simplesmente o faz surtar ao ouvir o “divo” dele. Dançamos muito, até que não
aguento e vou beber. Peço ao barman uma dose de tequila e enquanto espero,
dou uma olhada em volta, tomo o maior susto ao sentir alguém se aproximar
de mim, ainda de costas torço para não ser nenhum babaca.

— Está me perseguindo? — Sinto um arrepio ao reconhecer o dono da


voz.

— Sempre venho aqui — falo ainda de costas para ele, que passa o dedo
indicador por ela e sinto minha pele arder com o contato. O barman chega com
as doses de tequila e Pablo aproxima os lábios do meu ouvido, quase o
beijando.

— Você sabe como tomar tequila? — diz com uma voz sexy. Engulo em
seco sentindo minha pulsação acelerar.

Que droga! Logo ele corpo traidor?

Pablo

Quando saí de casa decidido a me divertir e desopilar a mente, nunca em


um milhão de anos imaginei encontrar Bianca por aqui ainda mais tão...
diferente. Fico vidrado olhando-a sorrir despreocupadamente, dançando solta e
tomando alguns drinks. Fico de longe observando-a, uma mulher linda com
jeito de menina e que me faz ficar fascinado. Passa por mim e não me vê, mas
vou atrás dela até o bar e escuto-a pedindo uma tequila ao barman, não resisto
a vontade de provocá-la e como sempre ela já tem a resposta na ponta da
língua.
— Sei muito bem, por quê? Quer que eu te ensine? — Levanta uma
sobrancelha em sinal de desafio. Inalo profundamente e sinto o cheiro dos
cabelos dela, o que me deixa extasiado, alienado...

— Adoraria — falo irônico.

Bianca endireita o corpo suavemente e se aproxima, passa a língua no


meu lábio inferior, põe sal na minha boca, pega uma fatia de limão com uma
mão e o copo de tequila com a outra. Chupa meu lábio e toma a tequila,
chupando o limão em seguida tirando a minha sanidade de vez. Seguro sua
cintura beijando-a devorando esses lábios atrevidos que tanto me provocam,
ela retribui o gesto e isso me excita, fazendo-me segurar seus cabelos, seu
cheiro me atinge deixando uma sensação de quero mais.

— Minha vez. — Olho para a segunda dose e antes que ela reaja pego
sua mão e passo a língua em seu pulso sem desviar os meus olhos do dela,
passo o sal pego a fatia de limão e falo com a voz rouca. — Chupa! — Bianca
me surpreende, obedecendo sem contestar. Ela chupa, tomo a tequila e colo os
meus lábios nos seus novamente, mas dessa vez ela conduz o beijo.

Beija-me lentamente e sinto a textura da sua boca macia, nossas línguas


dançam sensualmente uma com a outra. Completamente ofegante beijo o seu
pescoço lentamente, sinto-me perdendo o juízo aos poucos.

— Se amanhã tocar nesse assunto, eu direi que foi culpa da tequila. —


Sorri contra os meus lábios e encerra o beijo e quando vai sair toco suavemente
sua cintura.

— Não preciso de tequila para fazer isso e com certeza você também não.
— Prenso-a contra o balcão e nossos lábios se encontram mais uma vez. Sinto
uma atração, um desejo tão forte e quando a imensidão azul me encara meu
coração acelera. — Não sei o que você tem, sei que não deveria ter esse desejo
louco, mas é mais forte do que eu.
— Também não sei o que me faz desejar um babaca como você, Pablo
Rodrigues, devo estar ficando louca mesmo. — Sorri.

Meu celular toca e vejo que é importante.

— Preciso ir — falo enfiando o celular no bolso novamente com uma


pontada de frustração.

— Ok.

— Nos veremos outro dia? — brinco.

— Infelizmente não tenho opção, você é o desgraçado do meu chefe


temporariamente. — Sai devagar. — E obrigada por me lembrar que estou
quebrando a minha regra de ouro — resmunga e sai sorrindo me fazendo sorrir
também.

Logo sei que estou muito fodido.

Como farei se decidi que o meu coração pertence a uma pessoa e é só


dela? Não posso me dar o luxo de colocar mais alguém... Mesmo que esse
alguém seja você, Bianca.

Só preciso me lembrar disso quando colocar os olhos em você


novamente!

Capítulo 3

Bianca

— Se deu bem, hein viada! — Guel grita por cima da música me fazendo
rir.
— Não foi nada demais, só uns beijos. — Dou de ombros enchendo a
cara.

— Conta outra, te conheço! — O assunto morre quando dançamos e


bebemos todas, ainda bem, porque Guel quando quer saber das coisas é pior
que detetive.

Fecho o os olhos e lembro de Pablo e dos nossos beijos. Até ontem


brigávamos e hoje estávamos aos beijos. Que loucura, meu Deus!

Aff, isso só pode ser uma provação! Ele tinha que ser tão gostoso?

Bebemos tanto que mal ficamos em pé, pegamos um táxi e quando chego
em casa desabo num sofá e Guel em outro. Antes de apagar completamente,
vem-me a visão de um par de olhos azuis que tem um dono que beija
maravilhosamente bem.

Acordo com o celular tocando e uma baita dor de cabeça, vejo Guel
dormindo e babando a minha almofada, numa bagunça total. Que maravilha!
Atendo o celular com os olhos fechados massageando as têmporas.

— Bia? Desculpa te incomodar, liguei para avisar que o médico decidiu


dar alta para a minha mãe e mais tarde estaremos em casa.

— Que notícia maravilhosa! — respondo muito feliz e aliviada. Pena que


a minha cabeça não concorda com a minha empolgação.

— Ela pediu que você fosse vê-la, até tentei convencer a teimosa, mas
você sabe que quando Dona Maria cisma com uma coisa ninguém consegue
argumentar. — Percebo riso na sua voz.

— Pensei que fosse incomodar, mas já que é uma ordem, quem sou eu
para não a obedecer! — Rimos um pouco e nos despedimos, com ele ficando de
me avisar quando chegassem.
Como sei que não irei dormir mais, levanto tomo um bom banho e coloco
um short jeans, com uma regata e rasteirinha. Prendo o cabelo num rabo de
cavalo, tomo um remédio e vou para cozinha fazer alguma coisa para o almoço.
Pego os ingredientes e preparo o meu prato favorito: lasanha ao molho branco.
Um Guel muito resmungão, de banho tomado e sonolento, reclama que
precisou acordar porque o estômago roncou com o cheiro. A tarde se arrasta
preguiçosamente quando decidimos assistir filmes e comer chocolate, mas Guel
logo fica entediado e escolhe a vítima para atormentar: Eu.

— A quem você quer enganar, Bia? Desembucha! — diz pegando um


bombom e estirando as pernas no sofá. — Eu te vi aos beijos com um cara, só
não conseguir ver o rosto dele, mas tenho a sensação de que o conheço de
algum lugar... — fala pensativo e engasgo com um pedaço de chocolate.

— Credo Guel, você cismou com isso hein? Não era ninguém. Um cara
que conheci e troquei um beijo, nem era interessante, dispensei. — Pisco um
olho e sorrio.

Ah, tá! Bia, como se você tivesse conseguido esquecer os beijos que
aquele estrupício te deu!

— Que pena! Perdeu a chance de tirar o atraso. Quem manda ser


exigente? Vai ficar com a periquita cheia de teias de aranhas eternamente. Tem
que saber aproveitar as oportunidades, Bia, se uma coisa linda daquelas chove
na minha horta eu não pensaria nem duas vezes. — Abana-se exageradamente.

— Porque você é um guloso!

— E você precisa acordar pra vida! — Joga uma almofada na minha cara
e começamos uma guerra no meio da sala.

Como eu amo esse doido!


Assim que Bruno liga, dou uma carona a Guel e vou visitar a minha
segunda mãe. Quando chego lá, sou recepcionada por meu chefe, aproveitamos
para colocamos a conversa em dia, adiantar alguns assuntos de trabalho e
quando menos esperamos dona Maria chega.

— Bia, minha filha, quanto tempo! Já estava com saudades de você. —


Levanto e lhe dou um abraço apertado.

— Era eu quem estava com saudades. A senhora nos deu um baita


susto! E deveria era estar descansando isso sim! — Ela faz um gesto de desdém
com as mãos.

— Aquilo? Ah, minha filha, não foi nada, já passou; estou ótima! —
Defende-se com um sorriso no rosto.

— Mas, a senhora tem que se cuidar, ainda está se recuperando...

— Credo, até parece meu médico falando! Vamos mudar de assunto. —


Faz uma careta.

— Ah, lembrei! — Dou um sorriso. — Trouxe lasanha, mas não sei se a


senhora já está liberada.

— Não está — Bruno diz e ganha um beliscão da mãe. — Mas eu estou e


como sou anti desperdício, faço esse papel. — Toca no peito como se tivesse
fazendo um gesto solene.

— Espertinho!

— Bia, que saudades da sua comida; aquilo que era servido no hospital
não tem nem cristão que aguente! Me livrei de um médico chatérrimo e agora
Bruno parece que assumiu o lugar dele.

— Quem mandou a senhora ser teimosa? Ele está certo! — Ganho um


olhar nada amável.
— Já que não tem essa delícia para uma pobre senhora como eu, vou
comer uma fruta sem graça porque está na hora. — Gira sob os calcanhares,
indo para a cozinha e me levando junto. Encontramos Pablo só de bermuda,
bebendo água, tinha esquecido do detalhe que iríamos nos encontrar e sinto
um frio na barriga quando seus olhos me encaram por uma fração de
segundos. Ele tem mesmo que ficar exibindo esse corpo por aí? Que droga!

— Oi — falo tímida de repente.

— Oi... — Aproxima-se um pouco. — Antes de ir embora quero falar com


você. — Roça os lábios no lóbulo da minha orelha.

— O quê? Não, ficou doido? — nego desviando o olhar para Dona Maria
que nos encara pensativa e dou um sorriso amarelo.

— Ok — diz simplesmente e sai.

Dona Maria que não é boba nem nada nota logo o clima.

— Bia, aconteceu alguma coisa? Você e o meu sobrinho discutiram? —


Franze o cenho. — Ele geralmente é tão falador, gosta de brincar com as
pessoas, principalmente com mulheres bonitas como você.

— Eu e Pablo brigamos antes mesmo de nos conhecermos, dona Maria.


Sente-se que eu corto a melancia e lhe sirvo. Enquanto a senhora come, eu
conto sobre nossa antipatia mútua.

Passamos um tempão conversando, falo tudo — omitindo alguns


detalhes, claro. Entre uma conversa e outra, quando menos imaginamos
entram Bruno e Pablo na cozinha em uma discussão acalorada por causa do
futebol. Dona Maria oferece a lasanha e fala que foi eu quem a fez. Eles se
servem sem cerimônias.
Após conversamos mais um pouco, resolvo que é hora de ir embora, mas
dona Maria não quer me deixar ir. Então, com a promessa que depois eu volto,
ela me libera e me acompanha até a garagem.

— Só queria te dizer que o Pa não é uma pessoa ruim. Sofre muito e você
nem pode imaginar o quanto — fala pensativa. — Não posso te falar muita
coisa, mas posso te garantir que ele um dia já foi um coração mole, mas... —
Abaixa a cabeça e suspira como se lembrasse de algo triste. — A vida já lhe
tirou tantas pessoas que agora sempre que pode ele se afasta das pessoas.
Tenha paciência Bia e verá que Pablo é mais amoroso do que jamais você
poderá imaginar. Só se perdeu no meio do caminho... — Abraço-a e dou um
beijo na bochecha. — Minha menina... — murmura. — Não seja tão insegura, o
amor é uma coisa linda, abra o seu coração. — Sua voz é suave e carinhosa.

— Dona Maria, o amor me deixa frágil e vulnerável, isso sim! — digo em


tom de amargura. — Mas, pode deixar que irei me esforçar para não ficar
brigando com o seu Pa. — Faço aspas com os dedos enquanto falo “Pa” e ela
sorri. — Agora eu preciso mesmo ir embora.

Despedimo-nos — de novo — e quando já estou chegando ao meu carro,


vejo Pablo encostado nele com um sorriso no rosto e coçando sua barba
fininha, lembro-me da sensação dela ralado em minha pele. Hesito nos passos,
respiro profundamente, mas continuo andando. Vem em minha mente à visão
de seu corpo praticamente pelado. Céus, estou muito encrencada!

— Quer dizer que você, além de brigar e beijar bem, ainda sabe cozinhar?
— pergunta com aquele sorriso que eu ador... odeio.

— Está tentando me elogiar? Continue tentando... — Ele me ignora com


um sorriso. — Aliás, sei fazer muitas coisas, querido, mas você nunca saberá.
— Enfatizo o “querido” e o vejo sorrir ainda mais, como se gostasse da
provocação. — Digamos que você não é... — Passo os olhos em seu corpo
gostoso e minto descaradamente. — O tipo que eu gosto.
— Okay. Não faço o seu tipo. — Cruza os braços. — Mas não era o que
parecia ontem, na balada. Você é uma péssima mentirosa. Continue
tentando...

— Aquilo foi um erro, nunca acontecerá de novo — falo apontando o


dedo, com o pequeno molho de chaves na mão e usando todo meu
autocontrole, resolvo seguir caminho antes de não conseguir conter-me. —
Agora, com licença que eu preciso ir.

— Bom, só para esclarecer, você também não é bem o meu tipo — diz
atrás de mim. — Gosto de mulheres com curvas. — Vejo de esguelha, no
reflexo do vidro do carro, ele olhando a minha bunda. — Você até tem um
corpo bonito... Não é lá grandes coisas, mas dá pro gasto!

— Como é que é? Escuta aqui, seu idiota, ou você sai agora de perto do
meu carro ou eu te tiro daí com as minhas próprias mãos! — falo baixo, mas a
minha vontade é gritar e esganá-lo.

— Essa eu quero ver! — Desafia-me, sorrindo.

Vou até ele, possessa de raiva e tento empurrá-lo, sem sucesso, é claro!
Levanto a mão para lhe dar um tapa, mas não consigo porque sou segurada,
por Pablo claramente se divertindo as minhas custas. Levanto a outra e ele a
segura também. Antes que eu possa reagir ele me beija, prendendo meu corpo
contra o carro. Tento resistir, mas acabo cedendo já que também quero esse
contato tanto quanto ele. Seu beijo é urgente e cheio de promessas. Retribuo,
sentindo meu corpo corresponder, queimar a cada toque firme de suas mãos.

— Porra, porque não consigo resistir a você, Bianca? — pergunta colando


as nossas testas, completamente ofegante como eu.

— Não sei...
— Por mais que quase sempre queiramos nos matar, — sorrimos. — Nós
dois sabemos que essa atração é evidente. É só olhar para você que perco todo
controle. — Passa o polegar nos meus lábios. — Sei que isso não tem como
acabar bem, você mexe comigo mais do que deveria. — Tento recuperar meu
bom senso ignorando as batidas frenéticas do meu coração.

— Qual é o seu problema, Pablo? Porque não deixa ninguém se


aproximar? — Toco seu rosto num gesto carinhoso.

— Você não entenderia, Bianca...

Com um olhar de quem parece que carrega o mundo nas costas volta
para a casa me deixando pensativa.

O que será que aconteceu para te deixar assim, Pablo Rodrigues?

Entro no carro rapidamente, acelero e vou embora, enquanto essa dúvida


continua me corroendo.

Capítulo 4

Pablo

Essa mulher vai me enlouquecer, tenho certeza! Preciso me controlar,


mas ela simplesmente me deixa sem nenhum pingo de controle, parece que
temos um ímã nos puxando para cada vez mais perto. Resolvo ligar para casa e
falar com o meu amor, tenho certeza que me fará muito bem. Lily me acalma,
enche a minha vida de amor, seu sorriso ilumina os meus dias. Só ela conhece
minha verdadeira essência, só para minha filha entreguei o meu coração. Sinto
saudades dela e faço o que tem funcionado desde sempre, afundo-me no
trabalho, esquecendo tudo e todos.
Bruno ao me ver trabalhando pede para atualizá-lo sobre os negócios e
investimentos, desde o dia que tia Maria passou mal que ele anda um tanto
afastado, ele aproveita nossa conversa e me conta uma coisa que cai como uma
bomba! Eu querendo me afastar dela e a vida parece que me empurra ainda
mais.

Depois de uma noite praticamente em claro, culpa de uma maldita


insônia que não me larga. Eu me arrumo para mais um dia de trabalho,
encontro Bruno também arrumado e já tomando seu café da manhã.

— Bom dia.

— Bom dia. Hoje darei a notícia. — Toma um gole do suco e eu encho a


xícara com café preto, tenho um pressentimento que precisarei de muitos hoje!
— Isso vai nos fazer crescer, Pa. Nossa franquia valerá milhões! — diz
empolgado.

— Você se dedicou por muito tempo sozinho antes da sociedade, merece


muito mais! Estou muito orgulhoso de você, irmão. — Ele me encara e
agradece com um sorriso contido. Bruno e eu somos primos no sangue, mas no
coração ele é um irmão, a verdade é que apoiamos um no outro, juntamente
com a tia e seguimos em frente.

— Obrigado, cara. Essa conquista é nossa.

Conversamos mais um pouco e dirijo até o Café enquanto ele segue para
o B&M2. Com a tia doente, tanto eu quanto Bruno, preferimos ficar na casa
dela para o caso de acontecer alguma coisa, por mais que ela diga que está
tudo bem, sabemos que quer bancar a durona e não dar trabalho.

Começo a contabilidade do mês enquanto ele não chega. Escuto alguém


bater na porta e para minha surpresa é Bianca.
— Bom dia, Pablo. Bruno pediu para que eu te avisasse que a reunião
será à tarde.

— Bom dia. Ele te falou por quê? — Eu já sabia, mas não resisto e tento
prolongar a conversa.

— Não. Disse que falaria depois. E pediu que déssemos uma passada nos
outros cafés para olhar como está o funcionamento, as instalações, além de
analisar a frequência e a papelada.

— Okay. Só preciso arquivar isso aqui, rapidinho. — Junto os papéis


espalhados pela mesa.

— Tá bom. Vou ligar para o meu táxi e nos encontramos lá. — Ligar para
o táxi? E o carro dela?

— Você vai de táxi? O que aconteceu com seu carro? — Ela franze a testa
e parece confusa com a minha pergunta.

— Ele está na revisão.

— Bom, te dou uma carona então, afinal, estamos indo para os mesmos
locais.

— Vou aceitar. Já que você está em seu dia de bom samaritano. — Dá de


ombros.

— Você tem que me provocar sempre? — Levanto e ela recua


discretamente.

— Eu? Jamais! — Fecha a porta e me deixa com um sorriso no rosto.

Chego a sua sala e verifico que a porta está apenas encostada, então
entro sem fazer barulho e vejo de cara com uma cena completamente
inusitada. Bianca está sentada em sua cadeira, com as pernas cruzadas,
enrolando uma mecha do seu cabelo, enquanto está concentrada no papel que
lê, completamente absorta. A blusa vermelha realça sua pele, dando um ar
sexy e delicado. Poderia observá-la durante horas, ela parece tão pacífica, doce
e meiga. De repente vira subitamente e sou pego no flagra encarando seu
corpo.

— Está doido? Quer me matar de susto? — Repreende-me ao mesmo


tempo em que noto que suas bochechas estão coradas.

— Eu... Só vim te chamar como pediu. — Dou de ombros e acabo me


desculpando.

— Não desculpo não! Quem você pensa que é para entrar na minha sala
desse jeito? Eu poderia estar... — Corto-a e provoco.

— Poderia estar o que? Imaginando como seria se nós dois... — Coloco as


mãos sobre sua mesa, aproximando o rosto ficando na altura do seu. — Dos
pensamentos para a realidade é só uma questão de tempo, se você quiser...

— Seu crápula! Como se atreve?

— Calma, tá! Só entrei e achei você tão relaxada, não queria te deixar
assustada. — Em parte, é até verdade.

— Sério? — diz com os olhos semicerrados. — Se você tiver com deboche


para o meu lado...

— Estou falando sério, Bianca. Mas chega de brigar, vamos, temos


trabalhos a fazer. A propósito, fecha os botões da blusa que está dando para
ver seu sutiã, é um preto básico e apesar de simples, fica lindo em você! —
Pisco um olho para ela que me olha perplexa. Saio e fecho a porta antes que
fale algo.
Bianca

Chego ao seu carro, entro e não lhe dirijo a palavra, simplesmente


ignoro-o. Pablo ainda tenta puxar assunto sobre o Café, mas eu respondo
apenas com “sim” ou “não”, até que ele percebe que não estou a fim de
conversar e cala-se. Liga o rádio e uma música desconhecida sela a paz, até
que Ana Carolina começa a cantar e me pego pensando na letra.

Eu e você,

não é assim tão complicado, não é difícil perceber

Quem de nós dois

Vai dizer que é impossível, o amor acontecer

Se eu disser que já nem sinto nada

Que a estrada sem você é mais segura

Eu sei, você vai rir da minha cara

Eu já conheço o teu sorriso,

Leio o teu olhar

Teu sorriso é só disfarce

E eu já nem preciso

Desligo-o imediatamente.

Enfim chegamos e começamos a trabalhar, trocamos o almoço por


sanduíches e recomeçamos o trabalho, depois de tudo pronto, voltamos para a
bendita reunião, minha cabeça latejando e os pés doendo com esses saltos
assassinos, presente de grego esses sapatos que Guel me deu.

— Bia, Pablo já sabe, mas fiz questão de tê-lo aqui, porque é uma
conquista nossa. Do nosso trabalho. Um empresário do ramo alimentício,
famoso por ter ações nas melhores redes, se interessou pela nossa marca e
depois de negociarmos durante meses, conseguimos fechar contrato, a B&M
Coffee agora será conhecida mundialmente! — fala com uma felicidade
contagiante. Levanto-me lhe dou um abraço e um beijo na bochecha.

— E a ruim é que irei precisar me ausentar por algum tempo das filiais
daqui e depois de conversar com Pablo, ele finalmente aceitou, toda a
responsabilidade dos negócios aqui no Brasil durante a minha ausência ficará
a cargo dele e como vocês trabalharam muito bem juntos, decidi que ele será o
seu chefe temporário, até que você consiga dar conta de tudo, Bia. — “Tem
como piorar essa droga de dia?”, penso tentando fazer cara de paisagem.

Neste momento o telefone da sala de Bruno toca e em um tom hesitante


pede que transfiram a ligação.

— Pablo é Rayanne ela precisa falar com você disse que não conseguiu
ligar para o seu celular. — Pablo praticamente pula da cadeira e atende com o
rosto preocupado.

— Oi Ray, pode falar. — Ele vai ouvindo e seu rosto vai ficando um pouco
relaxado.

Faço sinal de levantar para deixa-lo à vontade, mas Bruno diz que não
precisa. Fico um pouco desconfortável com a situação e ele continua falando.

— Sim. — Pausa. — Oi amor, também estou morrendo de saudades,


acho que amanhã irei te ver, ela está cuidando de você direitinho? — Outra
pausa. — Claro, que eu te amo!
Nessa hora me controlo para não abrir a boca num O gigante! Que cara
de pau! Como ele pode falar uma coisa dessas? É por isso que ele não pode se
envolver com ninguém! Está bem claro agora! Burra. Como sou burra!

— Olha princesa mais tarde eu te ligo, estou no trabalho. — Pausa. —


Ok, mando sim e me espera que amanhã vamos dormir de conchinha! — Ah,
por favor, só falta ele querer entrar em detalhes! — Beijos bebê, também te
amo! Está aqui, tá bom digo sim. Tchau.

— Desculpem a intromissão, Bruno, ela te mandou um beijo. — Bruno


abre um sorrisão e eu claro, fico morrendo de curiosidade, mas não pergunto
nada.

— Quanto ao assunto anterior, eu assumo o Café com uma condição. —


E quando penso que não podia piorar, a vida se supera! Estou completamente
ferrada!

— Qual? — Bruno pergunta tão confuso quanto eu.

— Preciso de um tempo para a mudança, você sabe que não poderei tirá-
la de lá assim, Bruno. Preciso de no mínimo dois meses. — De quem será que
ele está falando? Será que é alguma namorada iludida? Em todo caso não é da
minha conta mesmo.

— Eu entendo, mas creio que não haverá nenhum problema. — Mamãe


vai ficar tão feliz Pa, ela morre de amores por ela... — Para de falar e me olha.
— Bia, você deve estar morta de cansada! Agora que já estamos em parte,
resolvidos, por hoje chega.

Despedimo-nos e Pablo me oferece uma carona, estava muito cansada,


mas recuso e pego um táxi. Chegando em casa tomo banho, pego uma taça de
vinho, coloco no meu Ipod minha playlist da Alicia Keys e me perco em Brand
New Me... E aquela maldita ligação que Pablo recebeu não sai da minha
cabeça.
Pablo, ao contrário do primo, Bruno é loiro, tem músculos bem malhados e é
dono de um carisma admirável, além de ser um ótimo amigo, sentirei falta dele.

— Oi, Bia, que bom que você veio. — Levanta e me dá um abraço.

— Ah, para vai, você já me tolera a semana toda — brinco.

— Que nada! Posso te fazer um comentário indiscreto? — pergunta


divertido.

— Você falando algo indiscreto? Estou ansiosa por isso. — Finjo espanto
e ele sorri.

— Você está parecendo uma menininha com esse vestido, nem parece
àquela mulher séria que trabalha para mim. — Dou um soco fraco em seu
braço.

— Hum, espertinho, quer dizer que eu fico parecendo uma velha no


trabalho, é? — Ergo uma sobrancelha. Bruno fica sem graça na hora e passa a
mão pela cabeça.

— Desculpa, não é isso. É que você está parecendo uma adolescente sem
aquela roupa formal. É isso, está sim. — Não aguento e começo a gargalhar.
Ele finge estar emburrado, mas depois cede, rindo comigo.

— Sua diabinha, me enganou direitinho! Estava com saudades de brincar


com você, ultimamente fomos engolidos pelo trabalho, mal tivemos tempo de
conversar.

— Não se preocupa seu bobo, além de meu chefe, você foi o meu primeiro
amigo aqui em São Paulo, lembra?

— Claro que sim. Lembro quando você entrou lá no café pela primeira
vez, parecia encantada com tudo. — Sorri.
— Estava mesmo. Aquela decoração nos faz sentir que estamos em outro
século. É mágica.

Começamos a recordar as boas lembranças, ele toca no nome do primo e


meu coração aperta quando lembro que provavelmente ele deve estar com a tal
de “Ela” por aí... Tento esquecer isso e conversamos até o almoço ficar pronto.

Damos muitas risadas com Lily e suas caras e bocas. Depois do almoço
vamos para o quintal, onde uma tenda grande, com mesas e cadeiras, está
armada. Porém o que me chama atenção é um tapete rosa muito macio com
bichinhos de pelúcia, bonecas, um fogãozinho, uma pia, almofadas coloridas.
Tinham brinquedos para umas dez crianças.

— Nossa, isso é... — Fico gesticulando, tentando achar uma resposta


coerente.

— Um exagero. — Dona Maria me corta. — Mas se o se o pai dela quer...


— Dá de ombros. — Bia, tenho que admitir, eu também não resisto, sempre
que vejo alguma coisa de criança, eu compro. Mas, não sou só eu não, — Sorri.
— Bruno é pior que eu — aponta um dedo em direção a ele, que chega com Lily
nas costas brincando de cavalinho.

— Fazer o que, se minha nobre princesa merece? — diz tirando a


meninas das costas. — Compro tudo e mais um pouco. — Faz cócegas nela,
que consegue se livrar e vem ao meu encontro.

— Tia Bia, “bincar”? — pede com os olhinhos brilhando.

— Princesa, a tia não sabe brincar. — Faço um biquinho e ela imita.

— Bincar, bincar, bincar — diz pulando. Olho para dona Maria que troca
um olhar cúip1o a8126.
suas necessidades especiais. Mas, tudo vale a pena quando olhamos pra ela.
Lily consegue desenvolver seus sentidos quase como uma criança sem a
síndrome. É muito carinhosa e se apega muito fácil às pessoas, você teve a
prova disso.

— Mas, e sua família? — indago curiosa.

— O seu pai é viúvo, mas cuida da filha com muito amor e carinho. —
Olha bem para mim e muda o tom, semicerra os olhos. — O que você achou
dela?

Nossa, agora ela foi direta...

— Quando cheguei fui recepcionada com um sorriso lindo. Como poderia


pensar diferente? Lily é uma criança muito doce, meiga e carinhosa, que me
encantou com seu jeitinho natural de ser. — Dou um sorriso sincero.

— Aquela pequena é uma guerreira, teve que aprender a superar as


dificuldades antes mesmo de nascer. Mas isso é história para outro dia. — Dá
um meio sorriso. — Bia, ela irá passar uns dias aqui. Seu pai está precisando
de ajuda. Ele é pai solteiro, sabe? Tadinho... — suspira. Fico curiosa para
saber quem é esse “pai misterioso”, mas me limito a ser educada.

— Hum, entendo... — Porra nenhuma! Claro que não vou falar isso, mas
não entendo mesmo.

— Está certo, minha filha, qualquer dia desses você bem que poderia ir
ao shopping com a gente, para tomar um sorvete. O que acha?

— Eu adoraria!

— Está ótimo! Ela vai adorar sair com a “tia Bia”. — Rimos baixinho para
não acordar “minha sobrinha” e combinamos tudo.
Dou-lhe um abraço apertado, um beijo na bochecha e vou embora para
casa. Afinal quem será o pai misterioso da Lily?

Dúvidas, dúvidas... E as respostas não aparecem!

Entro no elevador do prédio onde moro e, na sala de recepção, Filó, uma


senhora muito fofoqueira me cumprimenta.

— Oi, Bianca, boa noite!

— Boa noite, Filó. — Dou um sorriso amarelo.

— Quanto tempo, menina, você anda trabalhando muito ultimamente.


Quase não tem tempo para conversar com as amigas. Vive correndo.

Amigas? Sério? Alguém dá um chá de semancol para ela, por favor?

— É... ando trabalhando muito mesmo. — Ela sorri, com os olhos


brilhando para mexericar.

— Mas mudando de assunto... — Hora da fofoca. Aff! — Você está


sabendo que venderam um apartamento no seu andar? — Balanço a cabeça
negando e ela continua — dizem que é um homem muito bonito, mas o
problema é a filha dele, a menina tem necessidades especiais. Como é que
chamam mesmo? — Pensa um pouco. — Mongoloide — sussurra a palavra
como se tivesse nojo.

— O nome é Síndrome de Down! — respondo furiosa. — Isso é... — Não


chego a terminar a frase, como sempre ela me interrompe.

— Eu não sabia o nome, querida. — Faz um gesto de desdém com a mão.


— Se fosse por mim, eu não teria nenhum tipo de contato com pessoas assim,
mas infelizmente somos obrigados a conviver. Chato, né? — No momento que
eu vou responder, o elevador chega. Mas, antes de entrar, dou-lhe uma
resposta!
— Você deveria ter vergonha de si mesma. Pessoas com necessidades
especiais merecem respeito como qualquer outra, ou até mais. Se coloque no
lugar desse pai e pense se fosse sua filha. Como iria reagir vendo alguém se
referir a ela por mongoloide? — A porta do elevador abre e eu entro. Viro-me e
olho-a que está com o rosto em chamas. — Revoltante mesmo é ter que
conviver com alguém igual à senhora. E faça-me o favor de nunca mais me
dirigir à palavra. Tenha uma boa noite, se a sua consciência deixar.

As portas se fecham e a vontade que tenho mesmo é de dizer mais coisas


a essa ignorante. No mesmo instante, me vem à mente Lily, tão linda e
amorosa. Não sei como ainda existem pessoas tão desprezíveis no mundo.

Já em casa, depois de um banho relaxante, para esquecer a mesquinhez


da minha vizinha, resolvo assistir uns filmes ruins e sem mais opções decido ir
deitar, mas antes de adormecer, começo a idealizar o pai de Lily.

Deve ser alto, loiro, ter os olhos azuis, simpático, atencioso, amoroso e
muito corajoso, cuidar de uma filha sozinho não deve ser fácil. Será que um dia
eu irei conhecê-lo? Espero que sim!

Capítulo 6

Pablo

Ontem passei praticamente o dia indo de um lado para o outro, depois de


pegar Lily e deixar com a minha tia, fui ver alguns apartamentos e depois de
muito procurar, acabei achando um bem espaçoso, perto do Café e da escola
que Lily irá estudar. Como ontem não deu muito tempo, precisei voltar a Bauru
para pagar as despesas e acertar tudo com Rayanne, a babá da minha
princesa, porque ela está entrando de férias e se não quiser se mudar para
Santos e continuar trabalhando para mim, terei que acrescentar mais uma
coisa para providenciar na minha lista.

Chego exausto depois de dirigir de um lado para o outro, tomo banho,


visto uma bermuda e uma camiseta de algodão. Encontro Ray me esperando
sentada na poltrona da sala lendo um livro.

— Boa noite, Ray, tudo bem?

— Boa noite, tudo bem, deseja comer alguma coisa? Posso esquentar
uma sopa que eu fiz... é só um minutinho... — diz levantando-se.

— Obrigado, mas não precisa, estou sem fome. Quero mesmo conversar
com você, por isso te liguei para me esperar aqui. — Sento no sofá e ela volta a
sentar-se na poltrona. — O meu primo Bruno conseguiu fechar sociedade com
um empresário, por isso irá para os Estados Unidos ampliar nossos negócios e
precisarei manter tudo funcionando aqui no Brasil. Você, melhor do que
ninguém sabe que ele me ajudou muito.

— Nossa, ele deve estar muito feliz!

— Está sim. Bruno segurou as pontas sozinho por muito tempo.


Portanto, chegou a hora de retribuir um pouco do que ele me fez. Agora sou eu
quem te pergunto, você quer continuar cuidando da Lily lá em Santos?
Permanecem as mesmas regras, folgas nos finais de semana, você poderá ficar
na nossa casa, o salário permanece o mesmo, mas pagarei suas passagens
quando vier visitar sua família.

— Nossa, nem consegui assimilar tudo — diz sorrindo e respira fundo. —


Mas, aceito sim. Amo cuidar da Lily! Quando eu voltar de férias, tomarei todo
cuidado para adaptá-la a essa nova rotina.
— Muito obrigado, Ray. Você fez parecer tudo mais fácil. Pensei que você
nos abandonaria. — Dou um sorriso grato.

— Nunca farei isso. E se um dia precisar fazer, comunico


antecipadamente. E, Pablo...

— Sim?

— Muito obrigada por me deixar cuidar da Lily. Ela é uma criança


extraordinária. — Recebo um sorriso tímido e ela se levanta indo em direção a
porta.

— Eu que o diga. — Sorrio de orelha a orelha, levanto-me e vou dormir


contente.

Bianca

Estou em meu escritório, Bruno vem até minha sala, dizendo que
Rodolfo, um dos maiores empresários do Brasil, está vindo ao Café para
conhecê-lo o e quem sabe no futuro próximo, fazer um bom investimento. O
problema é que, justamente hoje, meu chefe precisará ir ao centro resolver
assuntos importantes e eu terei que recebê-lo.

Nem para estar aqui e recebê-lo, o idiota do Pablo presta!

Começo a trabalhar e cerca de uma hora depois, Rodolfo chega e Larissa


o encaminha imediatamente para minha sala.

Quando Rodolfo entra paro de respirar por alguns segundos. Andei


dando uma pesquisada sobre ele, mas as fotos que achei no Google não fizeram
jus à sua beleza. Rodolfo Freitas tem 38 anos, é um dos empresários mais ricos
do Brasil; formou-se em direito, mas tem se arriscado também no ramo
empresarial. Moreno, alto, olhos verdes, forte, solteiro convicto, pelo menos foi
isso que disseram nos sites de fofocas. Aproxima-se e me cumprimenta.
— Bom dia, meu nome é Rodolfo Freitas.

— Bom dia, doutor Rodolfo, meu nome é...

— Bianca. — Ele me interrompe com um sorriso galanteador. — E sem


essa de doutor, pode me chamar de Rodolfo.

— Bom, então... Rodolfo seja bem-vindo! — Ganho uma piscadela e coro


discretamente. — Deseja uma água? Um café? — Tento soar o mais natural
possível.

— Não, obrigado. Na verdade, estou surpreso com a qualidade do serviço


de vocês. Os papéis e as recomendações não fizeram jus a tudo que estou
vendo — fala olhando ao redor e voltando os olhos diretamente para mim. Fico
vermelha outra vez. Meu Deus, que homem é esse?

— Fico muito honrada, trabalhamos em conjunto para manter o nível de


qualidade altíssimo.

Ele sorri e senta na cadeira à frente, então começamos a reunião.

Depois de falarmos horas e horas sobre a parte burocrática, finalmente


chega o horário do almoço e Rodolfo me convida para almoçar, em um
restaurante aqui perto. Tento recusar educadamente, mas ele é muito
convincente e acabo aceitando.

A comida está maravilhosa. O clima é ótimo. De vez em quando, Rodolfo


joga charme e ajo da forma mais profissional possível, é um homem quase
irresistível, mas não correspondo, ultimamente estou com encrenca demais na
minha vida.

— Obrigada pelo almoço, foi muito agradável, Rodolfo.

— O almoço estava ótimo, mas, a companhia foi melhor ainda. — Depois


de uma piscadela ele me dá um sorriso sexy.
Um aperto de mão e ele me entrega seu cartão, isso marca oficialmente o
fim do almoço. Ao nos despedimos e vou ao elevador. Encontro Pablo com cara
de poucos amigos, disparando olhares mortais.

Que bicho o mordeu?

Eu era quem deveria estar puta da vida, afinal, essa reunião era para ser
assumida por ele. Tudo parece dar errado hoje. É impressionante.

— Pelo visto a reunião foi muito produtiva — diz irônico enquanto


esperamos o elevador.

— Com certeza. Sempre faço meu trabalho bem-feito. — Pega essa,


idiota!

— Você sabe que Rodolfo é conhecido por ter muitas conquistas? E,


geralmente, muito fáceis... — Semicerra os olhos.

— Não corro o risco de ser uma conquista fácil, afinal, não fui feita para
ser só mais uma. Porém, como diz o meu amigo Guel, a vida foi feita para ser
aproveitada. De repente, isso pode ser divertido... — provoco-o.

— Você realmente vai querer ser só uma conquista dele? — Parece


irritado e abro um sorriso.

— Se eu quiser, é problema meu e você não tem absolutamente nada


com isso! — O elevador para e entramos juntos.

— Você está certa. Quer saber de uma coisa? Eu tenho é pena desse
Rodolfo.

— Pablo, Pablo... — Fecho os olhos e balanço a cabeça em negação. —


Tsc, tsc, tsc, realmente não sei avaliar seus sentimentos!

— Como assim? — Realmente parece confuso.


— Realmente não sei se você está com ciúmes, raiva ou amor incubado!
— Ironizo.

— Ciúmes de você? Ah, por favor! Eu tenho mais o que fazer! — Passa
uma mão no cabelo, parecendo aflito. Chego bem perto do rosto dele.

— Você finge que não sente ciúmes de mim e eu finjo que acredito. —
Dou um sorriso malicioso. — Agora sai da minha frente porque minha sala me
espera, tenho muito trabalho a fazer. — Ordeno encarando-o.

As portas do elevador se abrem e saio primeiro, cumprimentando as


pessoas, chegamos ao corredor que dá as nossas salas e antes que eu possa
reagir, sou jogada contra parede.

— Cuidado. Quem brinca com fogo se queima, Bianca. — Seus lábios


deliciosos dão aquele sorrisinho que faz as minhas pernas ficarem bambas.
Merda!

Sua mão segura minha cintura com força, obrigando-me a ficar quieta no
lugar e a outra agarra minha nuca. Sem permissão nem nada, sua boca cola-se
a minha, saqueando, mordiscando e me fazendo desejar mais e mais. Vejo-me
segurando seus cabelos entre os dedos e colando meu corpo ao seu.

De repente ouvimos um “cof cof” e me separo de Pablo como se ele


tivesse pegando fogo.

Ele, eu não sei, mas eu, estou queimando.

Fico roxa que nem beterraba ao olhar para Bruno nos encarando.

Céus, que vergonha!

— Hã, Bia... — Parece tão sem graça quanto eu, falo por mim, porque
nem me dignei dirigir o olhar ao cretino do primo dele. — Preciso falar com
você. Só confirmo e vamos para sala dele. No caminho tocos meus lábios que
devem estar vermelhos. Não consigo esquecer a sensação deliciosa, que babaca
para beijar bem, se o beijo é assim...

Porra, Bia, concentre-se, mulher!

Dou graças a Deus que ele não toca no incidente do corredor e depois de
falar como foi minha reunião com Rodolfo, faço a pergunta que está me
corroendo.

— Bruno, desde o almoço na casa da sua mãe, que estou com uma
curiosidade imensa, posso te fazer uma pergunta que não é da minha conta?

— Claro. Fique à vontade, você é praticamente da família.

— Quem é o pai da Lily? — pergunto logo na lata. Acho estranho quando


ele muda de expressão.

— Bia, eu não sei se você precisa saber disso... — Hesita.

— Por que não? Que bobagem! Parece até segredo, por que ninguém pode
saber quem é pai dela? — resmungo irritada.

— Tudo bem... — Bufa derrotado. — O pai dela é o...

De repente, Pablo entra e me dirige um olhar mortal.

Credo, se olhares matassem, eu teria sido fulminada agora mesmo! Deve


ser terrível conviver com ele!

— Bianca — fala sério como se meu nome fosse amargo em sua boca. —
Só para matar a sua maldita curiosidade... — Arregalo os olhos com a
linguagem dele. — O pai da Lily... Sou eu! Satisfeita?

Diz isso e sai, deixando-me surpresa.


Caramba, nunca em um milhão de anos eu imaginaria que logo esse
traste fosse o pai daquela princesinha!

A vida é surpreendente mesmo!

Capítulo 7

Bianca

Uma semana depois...

Guel e eu vamos a um barzinho muito aconchegante chamado “Bar dos


Amigos”, um ambiente simples, uma decoração aconchegante, música ao vivo,
gente bacana. Aqui estamos nós, discutindo sobre a minha vida para variar.

— Ah, Guel, te falei sobre Rodolfo, não foi? — ele confirma tomando um
gole do seu drink. — Ele me ligou outro dia e conversamos um pouco, amigo,
ele é do tipo que te faz queimar só com o olhar. E em contrapartida tem o
Pablo, aquele ordinário, que beija bem pra cacete. Não consigo me conter
quando estou perto dele. — Guel faz sinal de se abanar com a mão e sorrio.

— Vaca sortuda! Está reclamando de barriga cheia!

— Está doido?

— Best, acorda! — diz estalando os dedos. — Você tem dois gostosões e


ainda está sem transar a... sabe lá Deus quanto tempo!

— Guel, não é assim tão fácil...

— É sim. Quer que eu te explique? Abra as pernas e peça para...

— Guel?! Para! Eu sei muito bem com se faz um bom sexo, mas o
problema é que fico pensando nas consequências...
— Você pensa demais amiga, esse é o seu problema. Pega logo os dois e
pronto.

— Só você para me dar esse conselho. — Faço uma careta. Então me


lembro de outra coisa e conto a ele sobre Lily e o pai misterioso dela, já não
mais misterioso.

— Vish, Bia, isso está parecendo novela mexicana! Que complicado!

— Pois é, Guel. E Pablo fala comigo, mas nem toca no assunto da filha;
já faz uma semana, caramba! Deve pensar que sou preconceituosa. Poxa, está
me julgando sem nem ao menos ter falado comigo.

— Amiga, mas a sociedade não é assim? Julgam antes e conhecem


depois. Deixe Pablo descobrir como você é, sozinho. Ele deve estar acostumado
a conviver com pessoas desse tipo por aí. — E não é que de vez em quando sai
alguma coisa que presta dessa cabeça doida dele?

— Não pensei nisso... — Fico passando o dedo nas estampas do forro da


mesa, perdida em pensamentos. Depois de uns minutos de silêncio, Guel
cutuca meu ombro.

— Bia, voltando ao assunto “dois bofes”, você precisa mesmo é encher a


cara e deixar o primeiro que te der mole, ou melhor, duro... Assim você não
pensa em nada — fala sorrindo, arqueando as sobrancelhas sugestivamente.

— Seu doido! — Rimos cúmplices e logo em seguida começo a ouvi-lo


contar sobre seu encontro “mega interessante”.

Entre uma cerveja e outra, conheço Arthur: lindo, alto, sarado, gostoso,
muito extrovertido e que sorriso! Aproxima-se da nossa mesa e para minha
surpresa engatamos num papo leve.
— Posso te pagar uma cerveja? — Quando vou responder o intrometido
do Guel, responde por mim:

— Ela aceita sim. A propósito, — passa os olhos no corpo dele. — Você já


tem uma mesa?

— Ainda não. Acabei de chegar.

— Fique à vontade, então — fala todo solícito. Aposto que Guel vai dar
um jeito de deixá-lo mais “próximo” ainda.

Arthur chama o garçom e faz um gesto pedindo três cervejas, logo depois
de sentar na cadeira ao meu lado.

Aos poucos, saio da defensiva. Começamos a conversar e percebo que ele


não tira os olhos de mim. Estávamos em uma conversa muito interessante
sobre música, quando chega um bilhete na mesa para Guel. Fico morrendo de
curiosidade, mas ele sai — nada discreto — e nos deixa sozinhos.

Começa a tocar “Como nunca amei ninguém”, do Exaltasamba. Arthur


pergunta se eu quero dançar. Eu aceito, e não é que ele dança super bem?
Dançamos agarradinhos, mas para o meu azar, não consigo me concentrar
nele, só lembro daquele infeliz e me sinto frustrada com isso, dando um sorriso
todo sem graça para Arthur que entende a deixa e começa a puxar assunto me
deixando confortável.

Guel chega todo animado com um tal de Henrique. Quando digo que vou
para casa, ele quase me esgana.

— Vaca, aproveita a oportunidade, sua fresca, olha esse gato! — Bufa.

— Guel, o combinado não foi esse!

— Okay. Desisto. Quer morrer sem sexo? Problema é seu. Eu, hoje, meu
amor, tiro a barriga da miséria, ou melhor, o ...
— Já entendi. — Faço sinal para ele parar.

— Nada que eu diga vai te convencer a ficar, né? — nego. Ele me dá


outro selinho e diz baixinho ao meu ouvido:

— Bebê, você está ferrada! — E sai me deixando totalmente confusa.

O dia mal amanhece e não consigo mais dormir, fico enrolando mexendo
no celular e depois pego o carro para ir ao mercado comprar os ingredientes
para o escondidinho de macaxeira com charque, prato escolhido por Guel e
Bruno, minhas cobaias culinárias. Estou terminando minha lista de
ingredientes e meu celular toca.

— Oi, dona Maria.

— Oi Bia, que saudades de você.

— Também estou com saudades da senhora e da Lily.

— Ela tem perguntado muito por você esses dias.

— Jura!? Que linda.

— Então, nosso lanche está de pé hoje?

— Putz, esqueci e acabei marcando um almoço lá em casa. Desculpe-me.


Só não esqueço a cabeça porque está colada no corpo! — Como eu pude
esquecer? Estou ficando velha! Ah, encontro uma saída! — Não é um almoço
tão importante assim, apenas convidei Bruno e Guel para comer o prato
favorito deles. Já que dei essa mancada, convido também a senhora, Lily e até
o chato do Pablo para virem almoçar aqui todo mundo junto, o que a senhora
acha? Assim posso me redimir.

— Não vai te atrapalhar? É muito trabalho. Podemos marcar para outro


dia.
— Não é trabalho nenhum. Estão convidados e ponto.

— Okay, então eu aceito. Levarei o vinho. Até mais tarde, meu anjo.

— Ótimo. Beijos, até mais tarde.

Termino as compras e ao chegar em casa, começo a preparar, já estou


quase terminando tudo, quando Guel chega com um jarro de orquídeas azuis e
uma caixa de bombons importados.

— Guel, obrigada, meu amor, mas não precisava disso não, fiz com
muito carinho... — digo, dando-lhe um sorriso.

— Que nada!

— Bê, vou tomar um banho, você olha as travessas que estão no forno? E
se chegar o pessoal, recepciona enquanto eu termino de me arrumar, por
favor?

— Como assim o pessoal? Não era eu, você e Bruno?

— Esqueci de te falar: convidei Dona Maria, Lily e Pablo por tabela. —


Dou de ombros.

— Ai Best, que ótimo, todo mundo junto! Agora vai se arrumar que você
está parecendo a Gata Borralheira. — Faz uma cara de desgosto.

— Okay. Já vou... não precisa pegar pesado!

Depois do banho, coloco um vestido longo estampado e muito


confortável. Faço uma maquiagem básica, solto os cabelos e coloco uma
rasteirinha. Mal chego a sala e o interfone toca. Ao abrir a porta me deparo
com uma das visões mais lindas da minha vida: Pablo com Lily nos braços. Ela
está com um vestidinho de princesa com duas marias-chiquinhas e botinhas
lilás. Os dois vêm sorrindo como se tivessem compartilhando uma piada
particular, alheios a todos em sua volta. Fico assistindo hipnotizada.

Bruno e dona Maria me cumprimentam e de repente sinto mãozinhas


agarrando as minhas pernas, olho para baixo e vejo Lily sorrindo, estendendo
os braços para que eu a pegue.

— Princesa, que saudades... — falo, pegando-a. Fecho os olhos e cheiro


os seus cabelos, sentindo o seu cheirinho de criança.

— Xaudade.

— Lily, meu anjinho, fiz brigadeiro só para você. — Ela se anima, desce
do meu colo e pega minha mão e vamos ao encontro dos outros. Ignoro Pablo
propositalmente.

Estamos todos na maior conversa, quando Lily pede para fazer xixi. Dona
Maria e Pablo fazem menção de levantar, mas me ofereço e levo-a ao lavabo.
Quando saímos, ele está na porta.

— Filha, por que você não vai lá brincar o tio Guel? Ele está te chamando
— diz sorrindo. A menina completamente encantada concorda e sai gritando
pelo tio Guel.

Que mulher resiste a esse sorriso?

— Então, o que é que você quer? — pergunto como queixo erguido e as


mãos na cintura.

— Quero o meu abraço e meu beijo — fala dando um sorriso idiota.

— E desde quando você merece abraço e beijo?

— Desde que você ficou me comendo com os olhos.

— Você tem sérios problemas de falta de humildade.


Ele me empurra contra a porta e me beija. Tento empurrá-lo para não
ceder o beijo, mas não consigo, é mais forte que eu. É um beijo intenso, gostoso
e carregado de desejo.

— Escuta aqui seu safado... — Tento elaborar uma frase descente.

Pablo interrompe minha fala com outro beijo, mais intenso e molhado.
Quando ele para, respiro fundo e falo com a voz rouca:

— Só não te dou um tapa no meio do focinho, porque depois eu teria


que explicar para todo mundo. — Estou quase saindo, quando sinto sua mão
segurando meu braço.

— Bia... — Começa. — Eu... quero te pedir desculpas por sexta-feira, e...

— Bessssssssst está tudo bem aí? — Guel grita lá da sala e me livra de


ter que ouvir as explicações de Pablo.

— Agora não tenho tempo. Tenho que ir. — Ele me dá um meio aceno e
vamos para sala como se nada tivesse acontecido.

A tarde foi bastante agradável, muita conversa e risos. De vez em quando


meu olhar encontrava com o de Pablo, mas desviava rapidamente. Mais tarde
quando saíram e depois de arrumar tudo, eu me joguei na cama, levando a
mão aos lábios lembrando dos beijos roubados com um sorriso besta no rosto.

Hoje é um daqueles dias infernais. Estou atolada de tanto trabalho,


novos clientes, — fornecemos bolos, doces, cafés para outros estabelecimentos
— fazendo a contabilidade dos outros cafés. Pablo não pode vir na parte da
manhã — motivos pessoais — e sobrou tudo para uma pessoa só, no caso: Eu.
Larissa avisa que chegou alguém e nem presto muita atenção mandando entrar
logo de uma vez.
— Você deixa todo mundo entrar na sua sala? — Congelo ao reconhecer
a voz. Rodolfo!

Percebo que estou com o cabelo solto, provavelmente todo desgrenhado,


mas agora é tarde.

Tente agir com naturalidade...

Naturalidade, Bia...

Meu Deus, por que esse homem me afeta tanto?

Deve ser falta de uma boa transa. Preciso resolver isso!

Faço uma nota mental. Quando olho para frente tem um par de olhos
verdes me analisando.

— Oi, Rodolfo. Que surpresa! — digo, levantando para cumprimentá-lo.

— Uma surpresa simples para uma mulher tão especial! — fala todo
galanteador.

Nossa Senhora das calcinhas molhadas!

Coro na mesma hora.

— Nossa, quanta honra ser servida por Rodolfo Freitas. — Sorrio.

— Hum. — Coça o queixo — Acho que aqui não é o local apropriado para
te servir de tudo que eu sei e tenho. — Ele me dá um sorriso carregado de
promessas. Tenho certeza que fiquei vermelho carmesim. Vou abrir a boca para
falar e ele me interrompe, rindo.

— Não precisa ficar vermelha com tudo que eu falo, Bianca. Eu só estou
brincando... —

— Não andei pesquisando sobre sua vida, querido, pois tenho muitas
coisas para fazer e não tenho tempo para me dedicar a coisas tão fúteis. E não
que seja da sua conta, mas a minha vida sexual está ótima. — Mentira!

— Não acredito em você, Bianca. Nossos corpos são atraídos um pelo


outro, nós brigamos, mas não resistimos a isso. — Ele levanta e vem em minha
direção com um olhar predador, fazendo meu corpo queimar.

Merda!

Quando menos espero sou imprensada contra parede e sua boca toma a
minha num beijo urgente, suas mãos tocam o meu corpo com firmeza,
deixando rastros de fogo pela minha pele. Coloco minhas pernas ao redor do
seu quadril e Pablo segura a minha bunda nos encaixando, mostrando-me o
quando está excitado e isso me deixa ainda mais pronta para ele, rebolo sobre
sua excitação, gemendo na sua boca, o que parece deixá-lo louco, porque me
beija ainda mais intensamente.

Descartamos as nossas roupas como dois adolescentes cheios de tesão,


sua boca desce sobre os meus seios e sua mão entra na minha calcinha,
deixando-me na borda. Respiro tão rápido quanto ele, beijo-o com vontade e
nunca parece termos o suficiente um do outro. Olho em seus olhos que agora
estão mais lindos do que nunca e sorrio provocante. Pablo caminha até a
minha mesa limpando-a, afastando todos os papéis, alguns caem no chão e
antes que o xingue por isso, ele continua a me beijar e no momento certo
nossos corpos se encaixam nos envolvendo numa névoa de prazer.

— Diz agora que não sei do que uma mulher gosta! — sussurra com a
voz entrecortada, ao mesmo tempo que me penetra rápido e forte. — Me
provoca agora, Bianca. Não sabe quantas vezes quis fazer isso... — Morde o
meu pescoço, segura os meus cabelos e em seguida me beija com fúria. Então
vejo em seus olhos o que a sua boca não tem coragem de dizer.
— Pablo... — Mal consigo falar quando sinto meu corpo inteiro se
preparar para receber um orgasmo delicioso. Ele não dá trégua e continua com
o mesmo ritmo acelerado, estamos tão grudados um no outro que sinto nossos
corações batendo fortes como se estivessem competindo um com o outro.

— Vem comigo... — Sua voz rouca sussurra sedutora ao meu ouvido e


não consigo me segurar, atinjo o clímax e ele logo depois.

Ficamos nos encarando por alguns minutos e soube que jamais, por
mais que eu tente, não vou esquecer esse momento, nunca!

Capítulo 8

Bianca

A noite chega e começo a me arrumar para o jantar com Rodolfo, mesmo


sem a mínima vontade! Coloco o vestido vermelho que comprei, longo, com um
decote discreto na frente mostrando apenas um pouco nas costas, uma fenda
em baixo não muito grande, apenas para deixá-lo mais sexy. Opto por um par
de brincos de esmeralda que ganhei de presente de minha mãe e resolvo
prender meu cabelo em um coque, a maquiagem, com olhos marcantes e um
batom suave para não carregar o look.

Às 20h em ponto, já estou pronta esperando o motorista e muito


nervosa. Ando de um lado para o outro durante uns 5 minutos, já imaginando
se ele não vem, quando o interfone toca e aviso que já estou descendo.
Encontro Rodolfo encostado no carro. Nossa, como ele está mais sexy ainda
com esse smoking!

— Boa noite — diz passando os olhos por meu corpo. Tenho certeza que
corei furiosamente. — Você está deslumbrante. Muito sexy, no entanto, na
medida certa. — Ele me olha nos olhos. — Sabia que não iria me decepcionar.
— Boa noite, obrigada. E você não está nada mal nesse smoking.

— Lady Bianca — fala fazendo uma reverência, indicando a porta do


carro aberta. — Entre, por favor.

— Ah, com prazer, milorde. — Entro na brincadeira.

Levamos um papo descontraído e aproveito para esquecer um pouco de


Pablo e essa confusão que ronda a minha cabeça, falando sobre nossos gostos
e percebemos muitas em comum. Quando chegamos ao local, tento esconder o
meu espanto. O lugar é lindo e tudo é muito bem organizado. Desço do carro,
entrelaço meu braço ao dele e vamos à recepção.

A decoração é magnífica. Toda em tons de branco com bege, as mesas e


cadeiras muito bem decoradas, três lustres enormes impressionantes clareiam
o ambiente. Estou perdida em meu devaneio quando Rodolfo fala ao meu
ouvido:

— Tudo está muito lindo, hum? — Olho para ele. — Mas, não chega aos
seus pés, minha deusa. — Eu lhe dou um sorriso tímido.

A caminho da nossa mesa, conheço os amigos de Rodolfo, Renan, César


e suas esposas, Carina e Júlia, ambas muito simpáticas. Somos convidados
para sentarmos todos juntos. Chega um homem muito bonito e cumprimenta a
todos da mesa.

— Bianca, esse é Alexandre Lima, o fundador da ONG. Alexandre, essa é


Bianca, uma amiga. — Rodolfo nos apresenta.

— Parabéns, é um gesto muito nobre! — Aperto a mão dele.

— Obrigado, Bianca! Fiquem todos à vontade. — Ele pede licença e vai


cumprimentar a próxima mesa.
O jantar está bombando, conversas e sorrisos, até que ouço uma risada
feminina irritante, vindo da mesa atrás da nossa. Horrível mesmo! Parecendo
uma hiena sendo esganada ou recebendo cócegas infernais. Olho
discretamente para trás, mas não vejo a perua porque há um homem à frente
dela e de costas para mim, tapando a minha visão. Ela ri imoderada e
estridentemente. Comento isso com Júlia e Carina que caem na risada,
deixando os homens curiosos. Peço licença e vou ao toalete e as meninas me
acompanham. Começamos a retocar a maquiagem e não aguentamos,
começamos a comentar.

— Nossa, vocês ouviram a risada dela? Nunca ouvi algo tão irritante —
falo sem dar descrição, pois vejo que há alguém em um dos banheiros. — Sério,
o cara tem que estar muito louco para não reparar.

— Ou tem problemas de audição — Júlia sugere em meio às risadas.

— Ou... ela deve fazer um você sabe.... "aquilo" muito bem para que ele
ignore... — Carina sorri maliciosamente deixando Júlia completamente sem
graça.

— Carina! — repreende a amiga.

— Okay, não falo mais nada! — fala levando os braços me sinal de


rendição e sorrindo.

A mulher que estava no banheiro sai, lava as mãos e as seca na toalha e,


antes de sair, analisa-me da cabeça aos pés com total indiferença e me dá um
sorriso bastante falso. Estou começando a acreditar a suposição das meninas.

— Vocês viram isso? Essa mulher me deu um olhar fulminante.

— Liga não, querida, isso é inveja. — Júlia me tranquiliza.


— Com aquele vestido horrível e vulgar, até eu teria inveja de você com
esse corpinho lindo. — Carina diz, fazendo-nos sorrir. — Meninas, eu já acabei.
— Fecha sua bolsa de mão. — Irei na frente. Afinal, não posso deixar meu
marido solto por aí, ele insiste em ciscar em outro galinheiro quando não estou
por perto — fala com ar de tédio.

— Eu também já vou — complementa Júlia olhando para Carina. Vira-se


para mim. — Bianca, você irá agora?

— Só retocar o meu batom e já vou. Podem ir, se quiserem.

Ambas saem comentando como sou “agradável e extrovertida”.

Termino de retocar meu batom, abro a porta e esbarro no smoking de um


homem. Quando olho para cima fico completamente surpresa. Pablo. Paro de
respirar por alguns segundos.

Não acredito!

— Além de perseguidor, mudou de time? — enfim falo, arqueando uma


sobrancelha. — Lamento informar que aqui é um banheiro feminino.

— Você mesma provou muito bem quão homem eu posso ser. —


Bloqueia minha saída. — E não estou te perseguindo.

— Nããão? — Dou-lhe um olhar irônico.

— Não. Vim aqui apenas para fazer isso...

— Isso o que...? — Antes que eu consiga reagir ele segura a minha


cabeça e me beija, pegando-me totalmente desprevenida. Sinto meu corpo
reagir como se tivesse ansiando por seu toque cada segundo do dia. Ele
interrompe o beijo tão rápido como começou deixando-me com um mero sabor
de quero mais.
Bastardo, idiota, tinha que ser tão bom?

— O que você está fazendo com ele? — Respira com dificuldade. — Esse
homem não presta, Bianca. Ele não é homem pra você.

— Desde quando é você que decide isso? Eu estou apenas o


acompanhando, já que se acha no direito de interferir na minha vida, vou
tomar a liberdade de te perguntar... Você está sozinho? — Espero a resposta e
como esperava ela não vem. — Para de ser hipócrita!

— Estou acompanhado, mas isso foi antes, Bianca. Convidei a Paty para
me acompanhar, mas não tenho nada com ela. — Segura o meu rosto. —
Você... — Ele me olha de uma forma diferente.

— Eu... preciso ir. — Engulo em seco.

— Você está tirando a minha sanidade — fala baixo contra os meus


lábios. — Volta comigo hoje...

— Não posso. — Fecho os olhos. — Vai parecer grosseria, estamos


acompanhados, lembra?

— Não deixa ele te tocar, Bia. Eu não suportaria... — Pablo parece


agoniado e isso chama a minha atenção, franzo a testa.

— Não suportaria, o quê? — Toco seu rosto.

— Rodolfo não é quem você imagina, Bia. Só me promete... Por favor? Me


promete pra que eu fique em paz.

— Prometo, mas estou muito confusa e não gosto de me sentir assim.

— Na hora certa você saberá de tudo, eu prometo.

Assim que ele sai, retoco meu batom — de novo — e vou ao encontro de
Rodolfo. Ele e os amigos estão em uma conversa calorosa sobre os recursos da
ONG e ele limita a olhar para mim e sorrir quando me sento ao seu lado. Acho
que não percebeu a minha cara de algo aconteceu no banheiro e segura minha
mão por baixo da mesa, alisando a minha palma com o polegar. Retiro
discretamente e dou um sorriso amarelo.

Carina imita bem baixinho a risada da hiena e Júlia e eu tentamos


segurar o riso, mas não conseguimos e gargalhamos discretamente.

— Qual a piada? — Rodolfo vira-se para nós sorrindo, curioso.

— Coisas de mulher. — Júlia defende e voltamos a rir.

Estamos quase terminando o jantar quando ouço a risada estridente


novamente. Tento ignorá-la quando ela solta uma gargalhada.

Poxa, bom senso cai bem, né?

Viro-me bruscamente para mandá-la calar a maldita boca e arrasto o


meu guardanapo sobre a mesa junto, sem querer. O garfo que estava em cima
dele vai ao chão. Como se não bastasse eu ter que pegá-lo, ele faz um barulho
alto demais para o meu gosto. Metade das pessoas vira-se para me olhar.

Puta desastre!

Quando faço menção de me levantar, Rodolfo segura gentilmente meu


braço e levanta a mão e chama o garçom que pega o garfo e sai. Sorrio
timidamente para ele.

Gargalhar horrivelmente pode que ninguém liga, mas deixar cair um


garfo, não. Sociedade hipócrita!

Preparo o meu olhar mais fulminante possível para olhar para aquela
hiena miserável causadora de tudo isso e dou de cara com Pablo olhando para
trás, direto para mim da mesa dela.
Tá de brincadeira?!

— Pablo?! — Rodolfo o cumprimenta e tenho a confirmação que


realmente não se dão tão bem assim. Ao ver a pessoa que está na mesa com ele
meu queixo vai ao chão. Puta que pariu! É a louca do banheiro!

Olho para Carina e Júlia e percebo-as tão espantadas quanto eu.


Certamente o debate que nós três tivemos no banheiro, não passou
despercebido por ela. Ao voltar a olhar para Rodolfo, vejo Pablo e a hiena louca
vindo para a nossa mesa. O que ele está fazendo? Remexo-me completamente
desconfortável na cadeira.

— Amigos — Rodolfo chama nossa atenção, sorrindo sem mostrar os


dentes. — Mais amigos para se juntarem a nós — indica os dois. Nãooooo! —
Pablo Rodrigues e... — Vira-se para a hiena. — Como é mesmo, querida?

Ela sussurra algo e ri. Trinco os dentes. A voz é fina e enjoativa. Arghh!

Pablo entorta a boca. Ah, ele não gosta também, estou certa? Então, devo
apostar que ela tem um bom... Aff, merda! O que eu tenho a ver com isso?

— Já foram convidados a se juntarem a nós. Sintam-se à vontade.

Nem ouvi o nome da perua!

Eles se sentam nas cadeiras que o garçom trouxe e olho para a mesa e
tem um novo guardanapo e um novo garfo perfeitamente lustrados. Também
não vi o garçom chegar. Onde estou com a cabeça?

— Como é o nome dela? — sussurro para Rodolfo. Nem sei o porquê


quero saber, afinal.

— Patrícia, queridinha. — Ouve e interfere na conversa. — Mas, pode me


chamar de Paty.
— O meu é...

— Bianca. — Sorri. Sem som, ufa! Graças aos céus! — Acabamos de ser
apresentadas.

O que? Quando? Ando tão desvairada assim?

— Ah... — Vou falar mais o quê? Não quero papo com essa aí! Para
minha sorte o jantar é servido.

Sinto-me completamente satisfeita, mas sei que não comi quase nada.
Minha cabeça está em outro lugar. Num homem de olhos azuis sentado a
poucos centímetros de mim. Olho para ele que não me olha, sempre me
ignorando. Em compensação, a Patrícia não para de falar. Ela até que é bonita,
mas sua voz aguda agride meus tímpanos e seu cabelo oxigenado está
precisando de um retoque.

Quando me esforço em desligar do mundo para não a ouvir, a sua


risada de grasnar de pato sendo enforcado me faz voltar à realidade e quase
erguer o braço para dar um baita tabefe. Júlia e Carina seguram o riso
enquanto eu ranjo os dentes. Pablo parece alheio a tudo e a todos e só
responde o que lhe é perguntado.

— Adorei o seu colar, queridinha — diz para Júlia que está com um colar
com pequenas pedras de turquesa. A coitada dá um sorriso sem graça e olha
para o pescoço da Patrícia procurando algo que elogiar de volta. Os minutos
passam se arrastando e olhando em volta vejo as pessoas irem para a pista de
dança.

— O que você faz da vida, queridinha? — Novamente a hiena tagarela


puxando assunto.

Se ela me chamar de queridinha mais uma vez, eu quebro essa taça na


cabeça sem cérebro dela!
Quando vou responder alguma coisa, Rodolfo se levanta.

— Concede-me esta dança, milady? — Sorri para mim e estende o braço.

Salva pelo gongo!

— Com prazer. — Sorrio de volta, levanto-me e passo o braço dentro do


seu, não olhando para trás. Na pista de dança, dançamos colados ao som de
Thinking Of You da Katy Perry.

Cause when I'm with him

(Porque quando eu estou com ele)

I am thinking of you

(Eu estou pensando em você)

Thinking of you

(Pensando em você)

Por mais que eu me esforce, meu subconsciente insiste em manter em


Pablo nos meus pensamentos...

Pablo

Hoje o dia era para ser maravilhoso. A vida só pode estar de sacanagem
comigo. Venho para esquecer Bianca, tirá-la de uma vez por todas da minha
cabeça e acabo a encontrando. E ainda por cima com Rodolfo! Para completar
fiz a burrice de chamar Paty para me acompanhar!
— Que povo escandaloso! — A voz irritante de Paty me tira dos meus
devaneios. Aponta para uma mesa perto do palco está bem animada nos
chamando atenção.

Mesmo? E a gargalhada dela é o que? Discreta? Ao menos, ela manda


bem no boque...

— Estão apenas se divertindo — resmungo olhando a nossa volta e vejo


Bianca e Rodolfo dançando colados e ele sussurrando algo em seu ouvido e ela
sorrindo discretamente. Sou tomado por um sentimento de posse e sem pensar
duas vezes não desviando os olhos do “casal” levanto de uma só vez.

— Paty, vamos dançar!

— Mas você nunca dança! — afirma e eu me seguro para não revirar os


olhos.

— Mas agora quero. Se não tiver disposta... — Ela para de fazer doce,
pega em meu braço e seguimos para a pista de dança, logo começa a tocar
November Rain, do Guns N' Roses.

When I look into your eyes

(Quando eu olho em seus olhos)

I can see a love restrained

(Eu posso ver um amor reprimido)

But darlin' when I hold you

(Mas, querida, quando te abraço)

Don't you know I feel the same?

(Você não sabe que eu sinto o mesmo?)


'Because nothing' last forever

(Pois nada dura para sempre)

And we both know hearts can change

(E ambos sabemos que corações podem mudar)

And it's hard to hold a candle

(E é difícil carregar uma vela)

In the cold November rain

(Na fria chuva de novembro)

Essa noite não poderia ser pior!

Bianca

Rodolfo fala coisas doces e quentes ao meu ouvido e me distraio. O DJ


avisa que agora serão tocadas músicas dos anos 80, devido os grandes
números de pedidos. As pessoas vão ao delírio e divirto-me. Começa a tocar
Pintura Íntima de Kid Abelha e a sala é invadida por assobios e gritos:

“Fazer amor de madrugada, amor com jeito de virada.”

Pablo me olha divertido.

O que se passa por sua cabeça, seu pervertido gostoso?

— Todos devem trocar os pares. — O DJ anuncia e há um burburinho no


lugar, as pessoas se divertem. Nessa hora, o espertinho se aproxima.
— Bianca, me dá a honra desta dança? — diz com uma voz sexy como
inferno.

— Bianca, dança com ele — Rodolfo diz sorrindo. — Enquanto isso, eu


danço com Patrícia.

— Ok. — Pablo deposita um beijo na palma da minha mão e me conduz


olhando nos olhos como se através dele eu pudesse ler todos os seus segredos.

Começa a tocar Any Way You Want It, do Journey. Pelo menos não é uma
música lenta. Mas a letra é foda e ter Pablo cantando junto mexe comigo.

“Eu estava sozinho,

eu nunca soube o que

um bom amor poderia fazer

Ooh, então nós nos tocamos

e nós cantamos

Sobre as coisas amáveis.

— Diz pra mim que você está sentindo essa vontade sem fim de nos
beijarmos tanto quanto eu — sussurra ao meu ouvido, passando levemente os
dedos pelas minhas costas causando uma onda de arrepios por todo meu
corpo.

— Você está louco, só pode.

— Estou e a culpa é sua. — Passa o nariz pelo meu pescoço sentindo o


meu cheio.
— Não tenho culpa se você é imaturo e não consegue suportar seus
impulsos — provoco, sentindo nossos corpos se inflamarem atraídos por essa
áurea de desejo que surge sempre que nos aproximamos.

— Eu tenho controle, mas nesse exato momento só penso em tirar esse


maldito vestido do seu corpo e beijar cada centímetro de sua pele — fala bem
próximo aos meus lábios. Fico tensa e desejosa. Prometi para mim mesma que
não cederia mais a esse desejo louco, mas tenho certeza que se ele me beijar
não irei ter forças para resistir.

— Já te falei que isso nunca mais irá acontecer. Foi um erro e se


depender de mim, não irá se repetir. — Tento soar convincente até para mim
mesma.

— Você está mentindo — afirma, enquanto seguimos o ritmo da música.


— Tenho certeza que nesse momento está toda molhada. Discutir comigo te
excita, eu sei. — Como ele pode saber tanto de mim? Sou tão transparente
assim?

— Sai daqui agora. Vai procurar aquela mulherzinha da risada de hiena


que ela, sim, combina exatamente com você.

— Risada de hiena? — Ri com vontade arqueando as sobrancelhas.

— A risada dela é horrível, não sei como você aguenta. — O infeliz ri


ainda mais.

— Você está com ciúmes?

— Me poupe! Eu — aponto para mim — com ciúmes de você? Nunca, seu


idiota! — grunho impaciente. Essa música não termina nunca?

— Nós dois podemos até nos iludir, mas sabemos que não é em vão,
Bianca. Você sabe que não é a Paty que eu quero, assim como não é ele que
você quer na sua cama hoje à noite. — Termina de falar e sai, deixando-me
sozinha na pista, sinto raiva por ele está completamente certo. Arghh! Estou
tão absorvida pelo que o Pablo falou que nem noto que Rodolfo se aproxima.

— Bianca, está tudo bem? — Ah, Rodolfo, não estou nada bem, só
preciso fugir de tudo e de todos.

— Estou com dor de cabeça e exausta. — Tento fazê-lo acreditar.

— Vamos nos despedir do pessoal e te deixarei em casa. — Caminhamos


até a mesa e me despeço de Júlia e Carina com a promessa de nos
encontrarmos outras vezes. Seguimos o carro onde Rodolfo me deixa quieta e
encosto minha cabeça em seu ombro.

— Muito obrigada pelo jantar maravilhoso, a noite foi sensacional — falo


quando descemos do carro.

— Imagina, Bianca, você merece muito mais. — Fico vermelha quando


ele se aproxima. — Viu como me comportei direitinho? Mereço até um beijo
como recompensa — fala com um sorriso sedutor. Coloca as mãos em minha
cintura e me beija lentamente, como se quisesse saborear cada segundo ao
contrário de mim que fico tensa quando lembro-me do pedido de Pablo.
Encerro o beijo e desabo no banco com os pensamentos a mil!

Pablo

Ao ver que Bianca foi embora com aquele bastardo resolvo ir embora
também. Procuro Patrícia e a vejo conversando com um cara e decido ir para
casa, sozinho.

Tomo banho, deito e inevitavelmente penso em Bianca nos braços de


Rodolfo. Dou um soco na cama em frustração.
Porra, o que aquela mulher está fazendo comigo? Por que sinto por ela
essa obsessão? Definitivamente estou ficando louco!!! Nem com a mãe da
minha filha eu era assim, e eu a amava com todas as minhas forças! Lembrar
de Laura me deixa sem sono, levanto-me vou à cozinha, bebo água e depois
resolvo dar uma passadinha no quarto da Lily, só ela me acalmará. Abro a
porta devagarzinho e vejo seu quarto iluminado apenas com a luz noturna.
Sento na sua cama e passo a mão em seus cabelos. Lembro-me de quando ela
era bebê e percebo o quanto o tempo passa rápido. Seus primeiros passos, a
primeira vez que me chamou de papai — algumas lágrimas descem pela
lembrança. Afasto as cobertas e deito-me ao seu lado, ela logo vira e me agarra.

— Papai — Fala baixinho, ainda dormindo.

— Sim, princesa, sou eu. Sempre estarei aqui para você...

Sinto seu perfume e logo adormeço nos braços da única mulher que deve
habitar os meus pensamentos, a dona do meu coração!

Capítulo 9

Pablo

Como é final de semana, tempo que geralmente tiro para ficar com Lily,
porque a semana é sempre corrida para nós dois. Estou determinado a
esquecer Bianca ou vou acabar enlouquecendo, ao mesmo tempo que não
posso colocá-la na minha vida, é só olhar para ela que tudo muda! Meus
desejos, minha determinação se esvai como se não existissem. Preciso me
distrair. Já sei! Lily ainda dorme preguiçosa e levanto, vou até a cozinha
encontro minha tia preparando o café da manhã de Lily.
— Bom dia, tia. — Beijo sua testa.

— Bom dia. Aonde vai com tanta pressa?

— Tia, preciso que peça para preparar uma cesta de piquenique, quero
sair com Lily hoje.

— Que bom, meu menino, você precisa mesmo passar um tempo com a
sua filha. Pode deixar.

— Enquanto a senhora prepara, vou arrumá-la.

— Onde ela está? — Olha em volta.

— Ainda deitada, fazendo manha para não levantar. — Sorrio.

— É bem a cara dela mesmo.

Vou até o seu quarto e a encontro deitada, agarrada ao seu coelhinho de


pelúcia. Parece um anjo, o meu anjo. Sento-me na cama e percebo que já está
acordada, mas finge dormir.

— Princesa, acorda, já está na hora de levantar. — Passo a mão em seus


cabelos e ela continua fingindo.

Ah, minha Lily...

— Então está certo. — Levanto. — É uma pena você está dormindo, logo
hoje que eu ia te levar para um piquenique no parquinho. Mas não tem
problema, fica para outro di...— Mal termino de falar e ela dá um pulo da
cama.

— Codei! — grita sorrindo e estende os braços para que eu a pegue. Subo


na cama e começo a fazer cócegas e ela gargalha.
— Sua malandrinha, estava fingindo esse tempo todo — confirma com
um sorriso. — Lily, sabia que você é a única mulher da minha vida?

— Sabia — diz sorrindo.

— Você sabe que papai te ama mais que tudo?

— Aham.

— Então, vem cá e me dá um abraço bem forte. — Abro os braços e ela


se joga, abraçando-me com todas as suas forças.

— Te amo, papai — fala agarrada ao meu pescoço.

— Papai também te ama muito. Agora levanta, tenho que te arrumar.

Minha tia chega e se oferece para ajudá-la a se arrumar enquanto eu


coloco tudo que precisaremos no carro. Quando volto para dentro, Lily já está
arrumadinha, só me esperando.

Coloco-a na sua cadeirinha e seguimos ao nosso lugar favorito, como


sempre ela está eufórica, muito animada, cantarolando alguma coisa,
sacolejando as perninhas e mexendo a cabeça — não consigo entender o que
está tentando “cantar” — acho que é uma musiquinha infantil.

Quando chegamos a coloco no chão e ela sai correndo em meio ao campo


repleto Aham.
— Quero te convidar para ir comigo a uma viagem que precisarei fazer
relacionada à ONG. Alexandre decidirá o que fazer com o dinheiro arrecadado
no jantar, mas a reunião não poderá ser aqui, Bianca, será no Rio de Janeiro.
Espero que isso não seja um problema.

— Nossa. — Por essa eu não esperava! — Rodolfo, tenho que pensar.


Quando será?

— No próximo final de semana.

— Vou dar uma olhada na minha agenda e ligo para te dar a minha
resposta. Pode ser? — questiono-o.

— Claro. E, Bianca... Gostaria muito que você pudesse ir. Adoro a sua
companhia.

— Prometo que irei pensar com muito carinho.

— Ah, e só mais uma pergunta.

— Sim?

— Sonhou comigo?

— Ah, se eu sonhei não me lembro. — Não lembro mesmo. Depois que


durmo praticamente desmaio.

— Não tem problema. A realidade é melhor que o sonho. — Uh! — Até


outra hora, querida.

— Até outra hora. Tchau.

— Tchau. — Espero ele desligar. Dona Maria me olha com um olhar


curioso.
— Antes que a senhora me pergunte, — adianto sorrindo. — Irei lhe
contar tudo. — No caminho da sua casa conto, omitindo alguns detalhes,
principalmente os que incluem Pablo.

— Que interessante... o Pa também vai viajar justamente nesse final de


semana! — Ela diz pensativa e me dá um sorriso antes de descer do carro me
deixando pensativa.

E... se eu aceitasse esse convite, mas por outros motivos?

— Ainn Bia, não faz merda... não faz... tarde demais! — falo tramando
tudo... Pablo Rodrigues que me aguarde!

Chega o dia da viagem e já me arrependi mil vezes por ter dito sim.
Minha cabeça está latejando, trabalhei a manhã inteira e agora Guel está
azucrinando a minha paciência.

— Bia, eu já te falei, no seu caso, eu já tinha pegado o Rodolfo — diz


olhando para as suas unhas. — E o pai gostosão também! Já tinha pegado
geral!

— Guel, eu já te expliquei, para de me encher o saco. Estou ficando mais


ansiosa do que já estava — reclamo ameaçando estrangular o lindo pescoço
dele com as mãos.

— Isso é porque vai viajar com Rodolfo... e quer pegar o outro! —


Cantarola. Dou-lhe um olhar fulminante.

— Okay, eu não falo mais nada. — Levanta as mãos dramaticamente.

Seu telefone toca, ele sorri e atende todo carinhoso, quando desliga fala
maravilhas desse tal de “Rique” e não falo nada, apenas o escuto. Rodolfo liga
avisando que virá me buscar e Guel decide ir embora antes, para nos deixar a
sós.

Filho da puta!

Rodolfo, muito educado, cumprimenta-me e seu motorista nos leva ao


aeroporto. No caminho, faz algumas ligações e resolvo ouvir uma música
calma. Coloco um fone de ouvido e deixo outro fone fora da orelha. Fecho os
olhos e esqueço-me por alguns segundos, do mundo. Quando abro os olhos,
vejo que ele colocou o outro fone. Sorrio e encosto minha cabeça em seu
ombro, ele pega a minha mão e começa a massagear a palma, fazendo-me
relaxar. Embarcamos com uns minutos de atraso e após um cochilo demorado,
chegamos e vamos direto ao hotel para descansar.

— Desculpa não ter te dado tanta atenção. — Desculpa-se baixinho ao


meu ouvido.

— Imagina, você é um homem muito ocupado, compreendo isso.

— Mas, prometo que esse final de semana eu serei todo seu nos horários
vagos. — Ele me dá um beijo na bochecha e eu apenas sorrio para ele.

Ele reservou duas suítes no melhor hotel da cidade. Já no elevador,


passa o braço em meus ombros, chegamos à porta do meu quarto — ao lado do
seu e pega minha mão gentilmente.

— Bianca, creio que você está cansada, vou te deixar descansar e nos
vemos no jantar. Tudo bem? — confirmo acenando. Quando menos espero ele
me puxa para um beijo carregado de promessas.

— Uau! — Solto sem querer.

— E isso é bom ou ruim? — pergunta sorrindo, ainda me abraçando.

Segura a língua, Bia...


— Er...

— Não precisa dizer agora. — Pisca um olho. — Venho te buscar à noite.


Divirta-se.

Estou ferrada com esse homem!

Não sinto a menor vontade de sair de onde estou, mas o celular toca e
ainda com as pernas frouxas me levanto e vou atendê-lo.

— Oi, Guel.

— Nem para ligar para os amigos saberem que você chegou bem, né, sua
vaca? — Parece irritado.

— Guel, meu amigo... — falo, respirando com dificuldade.

— Amigo, o cacete! — Tenta soar irritado. — Deve estar curtindo a vida


adoidada e nem dá satisfação para os "amigos". — Esse é o meu maluquinho,
não aguento e solto um risinho.

— E ainda fica rindo!

— Não, não! Eu não estava rindo de você. — Desconverso.

— Sei... — Não esconde nem um pouco que está desconfiado.

— Me escuta. Acabei de chegar. O avião atrasou um pouco. Eu ia te ligar


em alguns minutos. — Silêncio do outro lado. — Guel?

— Tudo bem, vou fingir que acredito nisso. Me conta o babado! Como foi
a viagem?

— Cansativa, mas agradável.

— Hummm, sinto um clima. — Solta gritinhos.


— Guel!

— Ah, não vai me dizer que não rolou nada daqui até aí? — Lembro-me
do beijo e mordo o lábio.

— Bom... — Começo esperando o surto dele.

— A-ha! Sua vaca! Eu sabia! E ele é bom na cama como parece? — Meu
Deus como essa criatura não tem um pingo de juízo!

— Guel!! Ainda não aconteceu nada. Só um beijo. Pare de complicar as


coisas, tá?

— Ainda? Quer dizer que vai acontecer então? — Lá vai ele soltar mais
gritinhos ensurdecedores.

Droga! O que estou dizendo?

— Eu não quis dizer isso, foi só forma de falar. Você sabe que estou de
olho em outra pessoa...

— Aham, conta outra. — Ri. — Você parece cansada. Vá descansar e


depois me liga.

— Certo. Beijos.

Não me lembro de como dormi, mas sei que apaguei totalmente. Depois
de um jantar maravilhoso, Rodolfo e eu tomamos um bom vinho e conversamos
um pouco. Até nos beijarmos. Ele beija muito bem, mas falta algo. Aquela
química e desejo que te faz querer mais e mais. Aquele idiota só pode ter me
rogado uma praga para ficar excitada somente com ele, só pode! Abro olhos me
espreguiçando e olho para o relógio: 07h52.

Droga! O café da manhã!


Levanto atordoada e corro para o banheiro. Arrumo-me o mais rápido
possível, coloco um macacão azul de seda sem decote, mas muito bonito — um
presente do Guel — prendo o cabelo em um coque e faço uma maquiagem leve.
Corro para o elevador, ao encontro de Rodolfo — que me espera há 20 minutos
— e quando o elevador chega, eu quase tenho um treco!

— O que você está fazendo aqui? — pergunto fingindo surpresa.

— Eu que te pergunto. O que você está fazendo aqui? — Os olhos azuis,


encaram-me exigindo uma explicação. — Ah, claro que veio com aquele babaca!

— O que eu faço aqui não é da sua conta. — Entro no elevador. — Afinal,


vou onde quero. E com quem eu quero.

— Sinceramente, perseguição em Sampa é uma coisa. Migrar para o Rio


é o cúmulo do absurdo! — fala sarcástico.

— Escuta aqui, Pablo, eu não tenho tempo para te perseguir. Tenho


coisas mais importantes e estou muito atrasada! — Dou um olhar de cima a
baixo, desdenhando do seu corpo gostoso.

— Você está com ele, não é? Rodolfo não presta, Bianca! Ele é perigoso...
fica longe antes que algo de ruim aconteça com você também... Porque não me
houve pelo menos uma vez? — fala descontrolado e nunca vi Pablo desse jeito.
— Você está adorando isso, depois não reclama!

— Se você quer saber, já me arrependi de ter vindo e Rodolfo não tem


absolutamente nada com isso e até agora me tratou muito bem, obrigada! —
Nesse momento de discussão acalorada, Rodolfo, que provavelmente me viu de
longe, resolve vir ao meu encontro.

— Bom dia. Dormiu bem? — pergunta, passando os dedos levemente em


meu rosto.
— Dormi sim, obrigada. — Dou um sorriso contido.

— A propósito, vejo que já se encontraram — fala olhando para Pablo. —


Estamos indo tomar café da manhã. Nos acompanha Pablo?

— Não obrigado. Já tenho uma mesa a minha espera. Se me dão


licença... — diz com despeito e sai.

— Está tudo bem? — Rodolfo me pergunta um pouco desconfiado.

— Sim. — Finjo desdém e ele sorri contente.

— Bianca, ele é um dos benfeitores da nossa ONG, o maior, se quer


saber. Por isso, também foi chamado para a reunião. Deve ter chegado hoje
pela manhã ou ontem à noite. — Toma um gole do seu suco.

— Entendo. — Limito-me a dizer.

Rodolfo e eu conversamos bastante sobre a programação e ele me explica


melhor como é aplicada a verba que recebem, quando olho para mesa de Pablo
percebo que ele fala sem parar no celular e decido ignorá-lo, depois da
conversa fazemos os nossos pedidos de café da manhã e depois de quase meia-
hora vejo a hiena chegando.

Ótimo, era só o que me faltava!

Pablo

A vida resolveu conspirar contra mim, só pode!

Cheguei ao hotel hoje cedo e Paty — que também é benfeitora da ONG,


praticamente exigiu comparecer nessa reunião, grudou em mim e não para de
falar merda e sorrir. Tudo que eu mais queria é que era que ela calasse essa
maldita boca só um minuto. Olho Bianca conversando com aquele bastardo e
morro de raiva ao ver que os sorrisinhos bestas que trocam.
Puta merda! Tinha como ser mais ferrado?

Arrependo-me imediatamente por ter aceitado esse convite que até já


havia recusado, mas por causa de Rodolfo me enchendo o saco, mandando sua
secretária me atormentar, reconsiderei, porém agora vejo que estava mais do
que certo! Ainda mais quando Paty começa a reclamar do cansaço da viagem,
da comida do avião, do mal atendimento das aeromoças, da indigestão do voo.
Aff! E depois ainda tem sua crise de risos — irritante — fazendo todos olharem
para a nossa mesa.

Perfeito!

Bianca

Estamos esperando um dos amigos de Rodolfo chegar quando de repente


a hiena solta uma risada estridente, quase estourando os tímpanos de todos ali
presente. Por impulso, levanto a mão para tapar o ouvido. Tento conter o riso
ao ver o rosto espantado das pessoas, mas não consigo e rio baixinho. Nem
mesmo Rodolfo aguenta e ri.

Depois de um tempo, nós quatro nos dirigimos ao local da reunião, em


uma empresa gigante no centro da cidade e Alexandre nos recebe com um
sorriso no rosto.

Várias questões são abordadas durante a reunião e cada decisão é


pensada para a boa distribuição do dinheiro em prol de ajudar ainda mais
pessoas carentes. A hiena fica sorrindo sem parar, dando opiniões fora de hora.

Ninguém merece!

Só quando solicitada, eu dou a minha opinião. Fico imaginando várias


formas de esganar esse pescoço de ganso ou enfiar uma enorme bola de papel
goela abaixo para ver se ela para se grasnar perto do meu ouvido. Graças a
Deus, a reunião termina. Ufa!
Circulamos um pouco entre as pessoas e discretamente nos retiramos
após nos despedirmos de Alexandre.

— Bianca, tenho que confessar que eu queria sair da reunião o mais


rápido possível — Rodolfo confessa quando chegamos ao estacionamento do
hotel.

— Por quê? — pergunto, já imaginando a resposta.

— Aquela risada estridente da Patrícia já estava a ponto de me


ensurdecer — diz não conseguindo conter o riso. Levanta as mãos. — Agradeço
aos céus por você ter essa bela voz. — Começo a rir também.

— Nem me fale. Estava imaginando várias maneiras de estrangular


aquela hein... digo, Patrícia. — Ele sorri e saímos do carro em um clima
descontraído.

Chegamos aos nossos quartos e nos despedimos. Afinal, à noite teremos


um jantar especial, segundo ele, e me sinto feliz e animada. Como há muito
tempo não me sentia.

Pablo

Quando aquele desgraçado do Rodolfo me convenceu a vir para essa


reunião, ele não citou o nome da Bianca dizendo se ela viria. Manipulador
tarado!

Após a reunião que tentei ignorar a Bianca, Patrícia e eu voltamos para o


hotel com intuito de descansar. Mas, estou com tanta raiva daqueles dois
juntos — não é ciúme, é raiva — e agradeço mentalmente por Patrícia está
distraída mexendo no celular, certamente fofocando com as amigas que a
suportam, porque são iguais.
Fecho os olhos e apoio a cabeça no encosto da poltrona, quando sinto
mãos massagearem os meus ombros, descendo sobre os meus braços, em
seguida pelo tórax, beijando o meu pescoço dando leves mordidas, chegando ao
cós da minha calça, meu corpo corresponde ao estímulo, louco para sentir o
toque das mãos macias.

— Agora que maldita reunião acabou, precisamos nos divertir um pouco


antes de voltarmos, não acha? — A voz de Patrícia trinca os meus ouvidos
quebrando a ilusão que o toque era da pessoa que anda rondando os meus
pensamentos: Bianca.

Sempre a maldita Bianca!

— Não, acho melhor você ir para seu quarto, quero ficar sozinho!

— Mas Pablo... — Tenta argumentar enfiando a mão pela minha calça


desabotoada. Seguro seus punhos e praticamente a enxoto daqui. Só então me
dou conta...

Bianca já começou a foder com a minha vida!

Capítulo 10

Pablo

Sai daquele restaurante antes de fazer uma besteira, ainda bem que Paty
não quis me acompanhar porque sinceramente, hoje não estou com paciência
para suas reclamações.

Penso em Bianca, será que ela não vê que aquele bastardo está usando-a
para me provocar? E pior! Ela está gostando, aposto que deve estar rindo com
Rodolfo pelas minhas costas! Mas se Bianca pensa que terá uma noite
“agradável” enquanto eu estou aqui na merda por causa dela está muito
enganada!

Parto em disparada para o quarto dela — que descobri mais cedo qual é,
dois andares acima do meu — bufando e almejando ver a reação de seu rosto
quando eu revelar que saquei o joguinho medíocre dela. Quando chego ao
corredor do quarto dela, estaco com o que vejo: Ela e Rodolfo se beijando.

Filho da puta desgraçado!

Lanço-me em sua direção.

Bianca

Rodolfo me beija e tenho a certeza que falta algo! Não que ele beije mal,
pelo contrário! Mas... ainda assim... falta aquele desejo desenfreado que só
tenho com o...

— Seu maldito canalha!

Interrompemos o beijo bruscamente e olhamos assustados para Pablo


que está vermelho, furioso, quase em cima de nós, avançando. Rodolfo me
segura, passando e ficando em minha frente.

— Pablo, o que... — Ele começa a questionar quando recebe um soco


violento no rosto. Desequilibrado, Rodolfo apoia na parede.

— Rodolfo você está bem? — pergunto com os olhos arregalados. — Você


enlouqueceu, seu idiota?

— Filho da puta! — Pablo está brada para Rodolfo. — Aproveitador


desgraçado!

Tento passar à frente de Rodolfo, mas ele estende o braço e me impede


de fazer. Parece-me que não vai revidar o soco. As pessoas começam a aparecer
nas portas dos quartos, curiosas. Eles ficam se batendo e não sei como agir
sem levar um belo soco na cara, então permaneço onde estou com os olhos
esbugalhados ao máximo e o coração pulsando a toda velocidade. As pessoas
se aglomeram ao nosso redor e quando penso que nada pode piorar essa cena,
ouço uma famosa e maldita risada de hiena esganada logo atrás dos hóspedes.
Aposto que ela nem faz ideia do motivo de qual está rindo, essa perua! As
pessoas olham para trás e consigo visualizá-la com os dedos na boca e
gargalhando irritantemente. Puta! Olho para Pablo que me devolve o olhar, com
raiva.

— Você não vê que ele está te usando desde o maldito jantar? Esse
canalha não presta, Bianca! Não presta! — grita para mim completamente
descontrolado. — Depois quando quebrar a cara, não diga que não foi avisada!
— Rodolfo faz menção de avançar para cima dele, mas para.

— Vamos embora, vadia! — Pablo fala para todos ouvirem e Paty para de
rir enquanto é puxada.

— Ei, mas... — A hiena olha para trás e nossos olhares de cruzam. —


Franze a testa e tenta me encarar enquanto é praticamente arrastada.

Ela entendeu tudo. Deduzo.

As pessoas começam a voltar para seus quartos. O show acabou. Olho


para Rodolfo que me olha, com um filete de sangue na boca. Tento limpá-la
com o dedo e ele não diz nada, limita-se a me olhar nos olhos. Experimento dar
um sorriso sem graça e nem isso consigo.

E ele também entendeu!

Fico sem reação depois dessa confusão toda e Rodolfo apenas me olha.
Estende a mão e eu percebo que é o cartão magnético do meu quarto que ele
quer, entrego sem falar nada e assim que entramos ele me olha por alguns
minutos.
— Bianca, eu quero que seja sincera. — Começa e sinto um frio na
espinha.

— Sim... — Balbucio.

— O que houve entre você e Pablo? — Seu olhar é sério e não demonstra
nenhuma reação.

Ai, meu Deus! E agora?!

— Rodolfo, serei sincera com você — suspiro profundamente — Eu e o


Pablo, nós... — Começo, constrangida.

— Ok, já entendi. Mas, houve ou há algo a mais? — Continua no mesmo


tom e não gosto disso.

— Nã... Não. E se depender de mim, não haverá mais nada. — Mesmo


que o meu corpo diga o contrário.

— Não sei se você me entende, — ele enxuga a testa molhada de suor. —


Mas preciso ter certeza que não estou atrapalhando alguma coisa entre vocês...

— Não, Rodolfo! — Deixo claro. — Eu estou totalmente livre, te juro.

— Bianca, parecia que ele não entendeu que foi apenas sexo. Será que
você não deu liberdade para ele pensar que você pertence a ele? Ele parecia ter
um motivo muito forte, não acha?

— Rodolfo, o que ouve entre Pablo e eu, não teria como dar certo. —
Tento parecer indiferente, mas por dentro sinto o aperto no peito e me assusto
com a hipótese de que eu queria muito que tivesse dado certo!

— Ótimo — diz simplesmente como se isso resolvesse tudo e se levanta.

— Você quer voltar ainda hoje para São Paulo? Porque, se quiser, eu
entenderei — falo completamente sem graça.
— Estamos cansados. Voltamos amanhã, pode ser? — Confirmo com um
aceno.

— Mas, antes de ir dormir, — levanto-me. — Me deixa cuidar do seu


ferimento?

— Ah, — ele passa a mão na boca. — Não foi nada — responde após dar
um sorriso fraco.

— Desculpe pelo soco. — Passo a mão no rosto dele.

— Não me lembro de você ter me dado nenhum soco. — Sorri e faz uma
rápida careta de dor pelo movimento que por pouco não percebo.

— De qualquer forma a culpa foi minha. — Ele balança a cabeça


discordando, dá um passo mais perto e segura meu queixo e levanta levemente
a minha cabeça.

— Bia, não precisa ficar envergonhada, afinal você não tem culpa. — Ele
me dá um beijo suave na testa e sorri fracamente. — Descansa, amanhã
voltaremos a Sampa.

Com isso, ele sai me deixando com mais raiva daquele desgraçado do
Pablo!

Pablo

Chego ao meu quarto fumegando de tanta raiva.

Bastardo, maldito! Filho da puta desgraçado! Quer saber de uma coisa?!


Fodam-se os dois, eles se merecem!

— Pablo, o que aconteceu? — Paty fala cacarejando — Eu estava saindo


do banheiro quando você saiu... Mas, que briga foi aquela? Quando eu cheguei,
vocês estavam se atacando. Não entendi nada, mas foi engraçado. — Começa a
rir, mas para quando eu a olho.

— Não é da sua conta! E o que as suas coisas estão fazendo aqui no meu
quarto? — Respiro fundo reunindo o único pingo de paciência que me resta!

— Então... achei você tão estressado e pensei que podia ficar aqui um
pouco. — Ela dá de ombros. — E é uma pena você ter brigado justamente com
Rodolfo. Eu estava indo conversar com ele na hora que você saiu... — Ignoro-a
e começo a jogar furiosamente todas as minhas roupas na mala e Paty me
assiste com uma cara de espanto.

— Pa, o que você está fazendo? Não acredito que você já quer ir embora
por causa daquela mulherzinha...

— Eu vou agora mesmo! Se quiser ir comigo, arruma a tuas porcarias e


vê se não me atormenta!

— Mas eu queria ver o pôr do sol aqui no Rio... fazer compras e...

— Paty — interrompo-a. — Cala essa maldita boca e me deixa em paz,


porra! — Passo a mão nos cabelos, respiro fundo e falo mais calmo. — Paty,
acabou a graça, quero ir pra casa. Se você quiser ficar e fazer suas baboseiras,
fica, eu vou embora ainda hoje. — Ela me olha abatida. — Você tem
exatamente 15 minutos para arrumar tudo — digo furioso.

Eu tentei, mas Bianca preferiu o bastardo, que arque com as


consequências e agora para nós é tarde demais! A vida segue!

Bianca, sua maldita, sai dos meus pensamentos... Sai da minha vida!

Bianca

Acordo cedo arrumo as minhas coisas e fico pronta. Combinamos de


tomar café e em seguida iremos embora, sinceramente não vejo a hora de
entrar no avião e esquecer os últimos acontecimentos! Tomamos o nosso café
em um clima um pouco tenso nos primeiros minutos, mas bem descontraído
depois. Embarcamos para uma viagem que apesar de tensa, transcorre sem
incidentes, desembarcamos sem tocar mais no assunto “Pablo”. Assim que
chego em casa, tomo banho e tento descansar, acabo dormindo e quando
acordo, já está de noite, aproveito e ligo para Guel, preciso do meu amigo.
Depois de alguns minutos, ele chega trazendo várias besteiras: sorvete,
chocolate, salgadinhos e a nossa janta.

— Bia, minha flor, vem cá dar um abraço no seu amigo. — Abre os


braços e me jogo neles abraçando-o com força. Deixo cair algumas lágrimas
que tentei segurar durante esse tempo. — O que aconteceu meu anjo?

— Aí Guel, estou tão confusa! — Minha voz sai abafada.

— É a vida, meu anjo! Ela nos prega cada peça, às vezes...

Conto tudo para ele, todas as minhas dúvidas e como sempre ele é o meu
anjo, mesmo não aprovando minha possível escolha. Depois do jantar ele fica
comigo e caio de volta num sono profundo nos braços quentinhos do meu anjo
Miguel.

Acordo com um cheiro de café maravilhoso preparado pelo melhor amigo


do mundo, tomo logo o meu banho e quando desço já pronta ele abre um
sorriso me entregando uma xícara de café deliciosa.

— Bom dia, meu amor! — Dou um beijo na bochecha dele.

— Bom dia, minha vida!

— Ai, Guel, porque não me apaixonei por você, hein? Seria tudo tão mais
fácil! Você é perfeito! — Murmuro comendo o pão quentinho.
— Não seria não! Meu bem... da fruta que você gosta, eu como é tudo! —
Engasgo com o café numa crise de risos e ele ri. — Portanto nem brinca com
uma coisa dessas... — aponta o dedo para mim.

— Ok. Sim senhor! — Dou língua e nesse clima descontraído começo o


meu dia.

Mal chego ao trabalho e Larissa me entrega uma pilha de papéis que


precisa de minha assinatura e de Pablo. Leio, assino tudo e ligo para ela levar
até a sala dele — não quero vê-lo. Para minha surpresa Larissa afirma que ele
não chegou e acho muito estranho, ele pode ser um crápula na sua vida
pessoal, mas é um profissional muito competente. Tomo maior susto quando o
meu celular toca e vejo que é dona Maria atendo, e sinto um pressentimento
que algo não está bem.

— Bia?!

— Oi, dona Maria, que saudades. Como vão as coisas? Tudo bem?

— Na verdade, minha filha, as coisas não estão nada bem. — Sua voz sai
calma, mas parece bem preocupada.

— O que aconteceu? A senhora está bem? — Levanto da cadeira sem


conseguir ficar parada.

— Eu estou bem... quem não está é a Lily. Ela... — Meu corpo congela e
corto-a.

— O que... o que aconteceu com a Lily? — Sinto um aperto na garganta.

— Ela passou mal e... começou a chorar dizendo que estava sentindo
dor. Eu e o Pa a levamos ao seu pediatra e ele fez alguns exames. — Engulo em
seco. — E diagnostico foi que ela está com uma grave infecção urinária.
Estamos preocupados, Bia. — Sua voz treme e sei que está chorando. — Ela já
estava com um pouco de febre ontem a noite e o Pa assim que chegou a levou
no hospital.

— Ah, meu Deus! Isso é muito sério! Ela é apenas uma criança e... —
Não consigo evitar a emoção e sinto as lágrimas rolarem. — Dona Maria, a
senhora está em casa?

— Estou no hospital com ele e Bruno. Mas, daqui a pouco eu e Bruno


iremos para casa, Lily ficará internada porque está com febre e está tomando
soro. Tenho certeza que Pablo não vai querer ir pra casa.

— Eu irei aí a senhora agora mesmo. — Pego minha bolsa.

— Minha filha, me escuta. Agora você não poderá vê-la ou ficar aqui.
Mais tarde você vem, está bom assim?

— Ok, mas eu vou mesmo! — Determino e ela ri um pouco.

— Tá bom. Agora preciso desligar, estão me chamando.

— Está certo. Mas... Dona Maria, qualquer coisa que acontecer me liga,
por favor? — falo com o coração apertado.

— Ligo sim, menina. Beijos! — Desliga o celular e não consigo me


concentrar em nada, ligo para Guel e marcamos de ir vê-la juntos.

Por mais que eu esteja muito chateada com Pablo, Lily não tem culpa e
só espero que as horas passem rápido!

Só então me dou conta do quando gosto daquela pequena... gosto não...


amo. Lembro do seu sorriso, seu jeitinho manhoso que nos cativa e faço uma
prece a Deus para que a minha princesa se recupere logo!
Capítulo 11

Pablo

Quando cheguei em casa tomei um susto ao ver a minha tia com Lily aos
prantos, chorando de dor, sem conseguir urinar, foi uma das piores sensações
que já tive. Seu eu pudesse pegar aquela dor e trazer para mim, eu faria isso,
sem dúvidas. Agora, vendo a minha princesa deitada nessa cama, com o
rostinho pálido e tomando soro na veia, isso me corta o coração. Passo a mão
em seus cabelos delicadamente e sinto as lágrimas descendo em meu rosto.

— Fica boa logo, amor da minha vida. — Imploro. — Papai te ama tanto!
Melhora por mim, você é o meu mundo! — Seguro sua mão e tento me
convencer que vai ficar tudo bem. Fico olhando-a por um bom tempo e me
assusto quando ouço uma leve batida na porta, acabo saindo de perto dela
para atender.

Para minha surpresa, Bianca aparece no meu campo de visão, com o tal
amigo Guel, que segura uma ovelha de pelúcia gigante.

— Oi. — Eu que não esperava vê-la tão cedo... — Vocês vieram vê-la?
Está dormindo, o remédio lhe dá muito sono.

— Sim, se não for incomodar, claro. — Dou espaço para os dois, que
entram como se pisassem em ovos.

— Oi, pai gost... Pablo. — Guel estende a mão e aperto.


— Não quelo. — Faz bico.

— Ah, é? Então vou comer tudo! — ameaço pegar os seus tão sagrados
morangos e como sempre funciona.

— É meu! — Dou um sorriso satisfeito e assim tomamos o nosso belo


café da manhã a dois.

Passamos o dia assistindo desenhos e brincando, é nessas horas que me


sinto feliz, quando estou com a minha Lily, um anjo especial que Deus mandou
para me tornar alguém melhor. Mesmo assim, ligo para o escritório e peço à
Larissa que, por favor, mandasse os documentos urgentes do dia para não
sobrecarregar Bianca, já que Bruno está resolvendo os últimos detalhes para
sua viagem. Para a minha surpresa Bianca chega e Lily logo fica eufórica com
sua presença.

— Oi... — Morde o lábio e me entrega a papelada. Pega Lily no colo e lhe


dá beijinhos no rosto.

— Oi, fique à vontade — aponto para o sofá, ela mal senta e Lily corre
para o seu colo.

— Estava com saudade, tia Bia. — Coloca a cabeça no ombro dela e fico
olhando para a cena a minha frente.

Ela é perfeita, Lily... pena que seu pai como sempre estragou tudo!

Devo ter divagado por algum tempo, porque quando levanto o olhar as
duas estão me encarando. Para evitar mais constrangimento, saio sem dizer
nenhuma palavra e vou ao escritório guardar os documentos. Depois de uns
minutos, volto à sala e não encontro nenhuma das duas, então ouço risadas
vindo do quarto de Lily. Caminho até lá e paro para não as atrapalhar.
— Oi, Bianca. — Ele me olha e caminha até a cama. — Oi, princesa. —
Beija a testa da filha.

— Oi, descansou?

— Sim, um pouco. Tenho ótimas notícias. — Parece animado.

— Quais? Conta logo!

— O médico disse que os remédios estão surtindo efeito...

— E...?

— E... se continuar assim, logo a minha princesa poderá ir para casa! —


diz feliz e beijando a bochecha de uma Lily sorridente.

— Graças a Deus! — No impulso, levanto da cadeira e abraço Pablo. —


Desculpa, eu... foi um impulso. — Quando percebo o que eu fiz, fico sem
completamente graça.

— Bianca, não precisa pedir desculpas. Na verdade, eu quem tenho que


te pedir desculpas, e... — Interrompo-o.

— Já conversamos sobre isso, aqui não é o lugar ideal. — Dou um olhar


em direção à Lily, que nos observa com atenção. Ele também percebe e muda
de assunto.

— E aí, princesa Lily, pronta para ir pra casa? — Pablo brinca com Lily e
observo, achando linda a interação entre eles.

— Aham — ela grita acenando animada.

— Não ouvi! — Pablo brinca.

— Aham. Aham. Aham — grita animada, agarrada à ovelhinha que lhe


dei de presente.
— Logo, logo minha princesa, vamos voltar aos seus aposentos reais. —
Faz uma reverência, nos fazendo sorrir. Nessa hora o médico entra e a distrai
para poder examiná-la.

— Bom... A febre cedeu e como já está medicada, poderá ir para casa. E


a senhora mamãe, faça-a tomar muito líquido — aponta em minha direção.

— Hã hã... — Pigarreio. — Eu não sou a mãe dela. — Dou um sorriso


amarelo.

— Isso, ela não é a mãe da minha filha, doutor — Pablo confirma sem
graça.

— Ah... desculpe-me ... eu... — Fica desconcertado completamente


constrangido.

— Não tem problema. Diga para a renomada princesa Lily que não
poderá fazer nenhuma travessura. — Pablo sorri e ameniza o clima.

— Isso mesmo, mocinha, — o doutor apontando para a Lily. —


Repouso... e bastante líquido. Logo depois do sermão do médico, saímos do
hospital e Lily não desgruda do pai. Ofereço-me para levá-los até em casa — já
que Pablo veio de táxi, pois não estava em condições de dirigir. Deixo-os na
casa de Maria, dou um beijinho na Lily e quando estou chegando ao meu carro,
ouço Pablo me chamar.

— Bianca, — ele começa. — Eu só queria te agradecer por tudo. E, claro,


me desculpar por ter sido um babaca outro dia. — Passa as mãos pelos
cabelos.

— Esquece. Já passou. — Tranquilizo-o. — Agora já vou indo. Posso


visitar a Lily depois?
— Claro, nem precisava pedir. É... — Ele olha para a esquerda, meio sem
graça, e volta a olhar para mim. — Posso te dar um abraço de agradecimento?

— Pode... — Engulo em seco, ele se aproxima e quando me abraça sinto


o seu cheiro. Ficamos longos segundos abraçados até que nos soltamos
vagarosamente. Sinto a sua respiração bem próxima à minha. Quando percebo
o que possivelmente vai acontecer, recuo imediatamente e digo um simples
“tchau”. Ele responde com um sorriso triste, entro no carro e dirijo para a
minha casa, ligando o som na maior altura para tentar bloquear os
pensamentos, porém depois de alguns minutos, vejo que não adianta.

Bia, Bia... você precisa tomar uma decisão do que fazer da sua vida. —
Uma voz dentro de mim ecoa. E ao som de That's The Way It Is de Celine Dion,
concordo, totalmente.

Pablo

Graças a Deus, a minha princesa está em casa onde posso cuidar dela
com todo amor e carinho. Agora não consigo parar de pensar no quão idiota eu
fui ao dar aquele showzinho patético no hotel.

A culpa é sua, Bianca! Eu sempre perco a última gota de controle


quando o assunto é você.

Depois de uma noite tranquila, acordo um pouco tarde e percebo que Lily
ainda dorme, calmamente, em meus braços. Levanto devagarzinho e a deixo
dormindo profundamente. Depois de um banho, decido preparar um café da
manhã para Lily e preparo uma bandeja colorida para chamar sua atenção e
ver se consigo fazê-la comer alguma coisa.

— Princesa, já está na hora de levantar, olha o que o papai trouxe?! —


Sento em sua cama e ela senta também, levo-a nos braços, muito manhosa
para escovar os dentes e depois voltamos para o meio das cobertas.
— Não quelo. — Faz bico.

— Ah, é? Então vou comer tudo! — ameaço pegar os seus tão sagrados
morangos e como sempre funciona.

— É meu! — Dou um sorriso satisfeito e assim tomamos o nosso belo


café da manhã a dois.

Passamos o dia assistindo desenhos e brincando, é nessas horas que me


sinto feliz, quando estou com a minha Lily, um anjo especial que Deus mandou
para me tornar alguém melhor. Mesmo assim, ligo para o escritório e peço à
Larissa que, por favor, mandasse os documentos urgentes do dia para não
sobrecarregar Bianca, já que Bruno está resolvendo os últimos detalhes para
sua viagem. Para a minha surpresa Bianca chega e Lily logo fica eufórica com
sua presença.

— Oi... — Morde o lábio e me entrega a papelada. Pega Lily no colo e lhe


dá beijinhos no rosto.

— Oi, fique à vontade — aponto para o sofá, ela mal senta e Lily corre
para o seu colo.

— Estava com saudade, tia Bia. — Coloca a cabeça no ombro dela e fico
olhando para a cena a minha frente.

Ela é perfeita, Lily... pena que seu pai como sempre estragou tudo!

Devo ter divagado por algum tempo, porque quando levanto o olhar as
duas estão me encarando. Para evitar mais constrangimento, saio sem dizer
nenhuma palavra e vou ao escritório guardar os documentos. Depois de uns
minutos, volto à sala e não encontro nenhuma das duas, então ouço risadas
vindo do quarto de Lily. Caminho até lá e paro para não as atrapalhar.
Nunca imaginei Bianca sentada num tapete brincando com Lily, que
tenta pentear seus cabelos como se ela fosse sua boneca, mas é justamente
isso que se passa a minha frente, Bianca sorri com os olhos fechados e Lily fala
algo em seu ouvido e faz um penteado — que não consigo identificar qual é — e
lhe entrega um espelho. Bianca ao olhar cai na gargalhada incentivando Lily a
fazer algo melhor. Minha princesa olha para porta e me vê, mas faço um sinal
para que ela faça silêncio e ela assente com a cabeça.

Minha garotinha tão esperta...

Elas ficam brincando por alguns minutos, até que Bianca vira e me vê.

— Eu... você sumiu... trouxe Lily para brincar aqui no quarto dela antes
que ela levasse todos os brinquedos lá para sala. — Parece um pouco sem
graça por ter sido pega no flagra.

— Sem problemas, podem continuar com a brincadeira — digo dando um


meio sorriso, começando a virar as costas.

— Pablo, preciso ir — diz para mim e olha para Lily. — Princesa,


continuamos a brincadeira outro dia, pode ser? Lily fica desanimada, mas
concorda. Para animá-la, Bianca chega perto dela e fala algo ao seu ouvido que
a faz sorrir. Calça os sapatos arruma o cabelo e dá um beijo em minha filha.

— Amor, fica aqui no quarto, que o papai já vem. Não apronta nada, tá?
— peço sabendo que com certeza ela irá aprontar.

— Tá bom, papai. Beso, tia Bia. — Solta um beijo para Bianca.

— Beijo, amor. — Bianca sorri e acompanho-a até a porta.

— Bianca, quero agradecer pelo carinho que você tem dado à minha filha
ultimamente. Ela está muito feliz com as suas visitas, para um pai isso não
tem preço, muito obrigado — falo realmente agradecido.
— Não tem que me agradecer, eu gosto muito da Lily, ela é uma criança
muito amável, você tem feito um bom trabalho.

— Ah, e me desculpa estar te sobrecarregando lá na empresa. — Esfrego


minhas pálpebras — Amanhã voltarei a trabalhar, não posso negligenciar o
meu trabalho.

— Pablo, fique com a nossa princesa o tempo que precisar, sem pressa.
Estou conseguindo conciliar as coisas. A saúde de Lily é mais importante —
assinto sem palavras. Ela realmente se preocupa com a minha filha.

O celular dela toca e ela procura freneticamente em sua bolsa. Que


parece mais uma mala. Mulheres... Pede licença um minuto e fica a menos de
um metro de mim, parece perceber uma notícia que não lhe agrada muito pois
os brilhos dos seus olhos se vão assim que encerra a ligação.

— Preciso ir, mas pretendo visitar a Lily, se não se importar.

— Claro, sem problemas e... Bianca...

— Sim? — Antes que ela se mova, beijo-a do jeito que desejei nos últimos
dias, não um daqueles beijos urgentes e cheios de tesão, esse foi diferente, era
como se ela quisesse tanto quanto eu, segura o meu rosto e quando o beijo
termina, vejo em seus olhos a mesma pergunta que martela em minha mente
nesses últimos dias. Não trocamos mais nenhuma palavra e quando ela sai,
volto para o quarto e fico com a minha princesa, a cena dela com Bianca não
sai da minha cabeça.

Será que a minha filha conquistou aquele coração de pedra?


Capítulo 12

Pablo

Duas semanas depois...

— Papai! Coda... paque, papai, quelo paque, paqueeeeeee... — Sou


acordado por uma Lily saltitante e que me sacoleja, ainda meio grogue, abro os
olhos. Só então entendo que ela quer ir ao parque que tem aqui perto.

— Amor, calma, o papai já vai levantar — falo ainda atordoado.

— Levanta logo... — Mal se contém, de tão animada.

— Okay, princesa. — Sorrio — Desce e pede para a vovó Maria preparar


uma cesta de piquenique beeeeeem grande! — Abro os braços para demonstrar
o tamanho.

— Obaaa! Tá bom! — Ela se anima ainda mais, mas antes de ir, agarra
as minhas pernas e as abraça, como se isso fosse o maior gesto de carinho do
mundo. E para mim é.

— Lily, você é a mulher da minha vida. — Sussurro, pegando-a no colo e


distribuindo beijos na sua cabeça.

— Só eu? — pergunta ansiosa.

— Só você. — Cheiro os seus cabelos. — Só você... Agora, vai lá que o


papai vai se arrumar. — Ela desce do meu colo e sai correndo em direção à
cozinha, gritando pela minha tia. Tomo um banho rapidamente e me arrumo.
Desço até a cozinha e já está tudo pronto, dou um beijo na minha tia e coloco
tudo no carro com uma Lily, muito inquieta em sua cadeirinha, vibrando de
alegria.
O parquinho que estamos a caminho é um clube que tem uma área verde
muito bonita, minha filha adora ir lá e eu, como um pai muito bobo, sempre
acabo cedendo.

Depois de poucos minutos, chegamos ao parque que está cheio de


crianças brincando com suas mães. Lily sai em disparada saltitando e logo
arruma uns coleguinhas para brincar. Uma das mães é a minha amiga, Aliane,
que toma conta de Lily enquanto eu arrumo tudo em baixo de uma árvore perto
da dela. Após tudo arrumado, Lily chega querendo lanche e lhe dou uma
salada de frutas.

Depois do lanche, começo a brincar com ela. Corro, dou cambalhotas,


brinco de futebol com os garotos e pago o maior mico ao brincar de boneca-
princesa com a Lily e viro a atenção da meninada e da mulherada também, que
me olha com os olhos brilhando. Aposto que ouvi um “que fofo!” de alguma.

Acho que é porque só tem eu de homem aqui. — Deduzo, olhando


discretamente em volta.

Noto uns olhares furtivos e ignoro todos, essas mulheres são chave de
cadeia. Umas são casadas, outras solteiras e a pior classe: As enroladas! Elas
são um perigo, acredite em mim, eu já passei por cada situação por causa
desse tipo de mulher...

Sorrio ao lembrar de uma vez que saí correndo pelado com as roupas nas
mãos, quando um dos namorados me pegou na hora “H” com uma delas.
Suspiro e dou um olhar divertido à Lily enquanto passo repelente nas
perninhas dela. Ela sai correndo em direção aos amiguinhos e aproveito para
conversar com algumas amigas — apenas amigas mesmo — e dialogamos
bastante.

Percebo que realmente foi uma ótima ideia passar o dia aqui, na maior
tranquilidade...
Aproveitamos a tarde e fico feliz ao ver Lily rodeada de amiguinhos, ao
contrário dos adultos, as crianças não foram contaminadas com o preconceito
mesquinho, pelo contrário, brincam todas juntas sem diferenças, nos dando
uma grande lição de cidadania.

Tudo está como o planejado, até que repente vejo uma cena que me
deixa com o sangue fervendo, uma mãe puxa bruscamente o braço do seu filho
que estava brincando de pega-pega com a minha princesa.

— Filho, quantas vezes tenho que falar que não quero você perto desse
tipo de gente? Eles são doentes e podem te passar... sabe lá Deus que tipos de
doenças! Vem comigo agora! — Chego a tempo de ouvi-la esbravejar enquanto
tenta arrastar o menino pelo braço.

Olho com os olhos arregalados para Lily que está branca, pálida,
paralisada e com cara de choro. Corro em sua direção, pego-a no colo e ela
explode em lágrimas, entre soluços. Procuro a mulher, que agora está cercada
de mães furiosas tentando defender a minha princesa.

— O papai está aqui princesa, não chora! — Tento acalentá-la, mas por
dentro a raiva cresce a cada lágrima e soluço sofrido que ouço a minha filha
chorar baixinho.

— Ela não gota de eu, papai — fala com os olhos banhados em lágrimas.

— O papai te ama, isso nos basta meu anjo. Eu te amo pelo mundo
inteiro e muito mais!

Depois que ela para de chorar um pouco, caminho lentamente em


direção àquela filha-da-puta, preconceituosa.

— Minha senhora, — ela me olha surpresa. — Minha filha Lilyan não


possui nenhum tipo de doença transmissível, muito menos é uma criança
doente, ainda que fosse, não justificaria sua atitude. Como todas as mães
puderam observar, menos a senhora, é claro. A minha filha tem energia para
duas crianças. — Olho para o menino — Só lamento que seu filho, uma criança
inocente, possa ser contaminado pelo seu preconceito porque isso sim é uma
doença e com certeza, é um caso muito sério — ela ameaça falar, mas eu a
interrompo. — E que fique bem claro que eu nunca trocaria a minha Lily por
uma criança “perfeita”. — Faço sinal de aspas com os dedos para enfatizar a
minha ironia. — Aos seus olhos ou aos olhos de qualquer outra pessoa
preconceituosa. Minha. Filha. Pode. Não. Ser. Perfeita. Para. Você — aponto o
dedo para ela. — Mas. É. Perfeita. — E cutuco o polegar em meu próprio peito.
— Para. Mim. — Saio sem olhar para trás.

Porra, não acredito que essa mulher conseguiu estragar o meu dia
perfeito com a Lily!

Cheiro os cabelos de Lily e sinto um nó na garganta e uma vontade


enorme de chorar. Minha princesa tão linda e amável... Como pode existir
tanta gente ruim no mundo?

Consolo-a em meus braços e as meninas arrumam tudo para mim,


porque Lily está abatida e não quer me soltar. Em seguida, nos despedimos e
dirijo de volta para a casa, sentindo o meu coração doer ao olhar a minha filha
triste e desanimada, tão diferente de quando íamos para o parque. Sofro tanto
que sinto as lágrimas descerem timidamente e tento disfarçar.

Não posso fraquejar. — Soluço em silêncio, com amargura. — Lily


precisa que eu seja forte, por nós dois.

Uns dias depois daquele terrível e triste episódio lá do parque, Lily já até
esqueceu as palavras cruéis daquela mulher e voltou a ser a criança linda e
alegre que o papai babão tanto ama. Concentro-me em um documento no meu
escritório em casa quando ela entra correndo.
— Papaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiii! — Dá um grito estridente, dando-me um
susto.

— Lily, desse jeito você me mata do coração, sua pestinha! — digo. —


Mas, o que traz a princesa Lily até aqui? — Não me responde e corre pulando
no meu colo.

— Festa tio Buninho — diz animada. — Pesente.

— Você quer comprar um presente para o seu tio?

— Aham — confirma me dando um beijo.

— Princesa, você lembra que o papai falou que criança não pode ir à
festa do tio Bruno?

— Lembo.

— Ok. Então vamos lá comprar o presente!

Desde que o meu primo decidiu marcar essa festa, Lily não fala em outra
coisa. Levanto, pego a carteira, penteio os cabelos dela, coloco um vestido rosa
cheio de babados, um sapato e vamos ao shopping. Passamos a tarde toda
batendo perna e comendo besteiras, compramos um relógio Rolex e um porta-
retratos onde mandei colocar uma foto de Lily abraçada com ele. Claro que,
como um pai coruja, eu não poderia deixar de comprar mais brinquedos para
minha princesa. Estou tão distraído com Lily que quando o meu celular toca e
atendo sem olhar quem é.

— Oi.

— Pá, queridinho, que saudade... — Paty! Não acredito nisso!

— Não posso falar agora, estou ocupado — digo olhando para minha
princesinha, que olha com atenção.
— Entendi. Deve estar com alguma cadela. Mas Pablito, estou com
saudades de você...

— Já disse não posso falar agora. Tchau. — Desligo o telefone na cara


dela.

Mulherzinha de gene irritante!

— É a Bia? — Lily pergunta com expectativa.

Pego-a no colo, deve estar cansada.

— Não princesa, era uma amiga do papai. Por quê? Você gosta da
Bianca?

— Aham, gosto. Ela binca comigo — diz animada.

— Hum. Eu também brinco com você... a vovó e o tio Bruno... — Tento


persuadi-la curioso.

— Difeleeeeente. — Revira os olhos como se isso explicasse tudo.

— É diferente por que, minha linda? — insisto curioso.

— Tia Bia é — sussurra ao meu ouvido como se fosse um segredo. —


Uma pincesa de vedade.

Está mais para uma bruxa, isso sim!

— Amor, princesas não exis... — paro. Seu idiota, ela é apenas uma
criança de cinco anos! — Filhinha, princesas não podem viver como pessoas
normais.

— Pode sim — diz, colocando as mãos na cintura.

— Tá bom... se você diz... — Nossa conversa é encerrada quando ela


deita a cabeça no meu ombro e dá um bocejo.
Quando chegamos em casa, Lily já está exausta. Minha tia lhe dá banho,
janta e sem dar trabalho nenhum, ela vai dormir e cai num sono pesado.
Aproveito para conversar um pouco com a minha tia que já está toda chorosa
porque seu filhinho irá embora.

— Mas ele vai para o outro lado do mundo! E se não comer direito? E
ficar doente? Quem vai cuidar dele? — Faz o maior drama e tento em vão
consolá-la, mas não consigo.

— Quando você e Lily forem embora, vou ficar sozinha... nessa casa
enorme!

E a conversa vai longe...

Bianca

Já faz duas semanas desde que Rodolfo precisou ir a Londres a trabalho


e nos falamos apenas pelo celular ou Skype, ele tem sido um bom amigo, com
todo charme e o jeito sedutor que me deixa com o rosto quente de vergonha.
Como voltará quase no mesmo dia da festa de despedida de Bruno,
combinamos de nos encontrarmos lá — ideia dele.

Passo a manhã inteira com Guel fazendo compras para ir à festa de


Bruno. Esses últimos dias tem sido uma loucura no trabalho e não tive tempo
de comprar nem roupa, nem sapatos. Termino de me arrumar, quando o
anfitrião faz questão de vir me buscar em casa, se não conhecesse Bruno tão
bem, diria que ele parece muito curioso em relação a mim ultimamente...

— Quais as novidades? — grita da sala.

— Nada muito importante — devolvo no mesmo tom, do quarto.

— Tem certeza? — Parece brincalhão e me encaro no espelho, prendendo


a respiração por alguns segundos.
Será que o Pablo disse que eu estava saindo com o Rodolfo? Não, ele é
orgulhoso demais para mencionar meu nome para o Bruno com algo que não
seja trabalho. Pode ser que ele mesmo tenha me visto com Rodolfo...

— Talvez. — Pego a minha bolsa apagando a luz do quarto.

— Talvez? — Ele me vê entrando na sala e levanta as sobrancelhas


espantado. — Uau! Você está linda!

— Obrigada. — Dou um sorriso sem graça.

Ele se levanta do sofá e estende o braço dobrado. Enquanto eu passo o


meu dentro, ele diz:

— Se você talvez não estivesse com alguém, eu te pegava. — Ele pisca


um olho e eu solto uma gargalhada, jogando a cabeça para trás. — Por quem
você me trocou? Espero que seja pelo menos alguém que valha a pena. —
Parece pensativo por um minuto.

— Espere e verás. — Beijo a bochecha dele.

— Ansioso por isso.

Chegamos à festa, num salão alugado no centro da cidade, apesar de ser


bem discreto, Bruno sempre investe no que há de melhor. Há uma mesa com
vários tipos de docinhos e garçons por todos os lados. Compulsão por doces, lá
vou eu!

— Quis fazer uma festa inesquecível, pelo menos para as pessoas


importantes que estão presentes. — Vejo um laivo de tristeza em seu olhar.

— Existe alguém importante que não está aqui? Fora o seu pai, é claro.
— Aperto sua mão e ele sorri cumprimentando uma amiga que está do outro
lado.
— Sim, Bia, existe. Mas se ela não está aqui, é porque deveria ter deixado
de ser importante há muito tempo! — Parece chateado e acho estranho, Bruno
nunca tocou nesse assunto. Existe uma mulher em sua vida? Eu paro de
andar e me coloco à sua frente, envolvo seu rosto em minhas mãos.

— Não fica assim, meu amigo, você é muito importante para todos nós.
— Ele cora e sorri e eu lhe dou um beijo demorado na bochecha.

— Posso roubar-lhe a dama? — Olhamos para o lado e Rodolfo está —


lindo — nos olhando, sorrindo.

— É toda sua, Rodolfo — Bruninho diz para ele e depois sussurra para
mim: — É ele? — Dou um sorriso tímido e ele entende que sim. — Cuidado,
Bia. Nem tudo que reluz, é ouro! — Sorri forçado, pede licença e sai. Deixando-
me confusa. O mundo inteiro agora resolveu conspirar contra Rodolfo?

— Eu deveria ter ciúmes? — Quando me viro, levando Rodolfo a sério,


vejo que está sorrindo.

— Bruno é só um amigo — explico mesmo assim.

— Sei disso. — Ele me dá um beijo suave na boca. — E é um ótimo


profissional. — Limito-me a assentir. — Você está cada dia mais linda, como
pode? — Os olhos dele brilham. — Eu queria ter te buscado em casa...

— Bruno pediu isso, para passarmos mais tempo juntos. Poucas horas
dele no Brasil, sabe como é... — A frase de Bruno não me sai da cabeça... Nem
tudo que reluz, é ouro!

— Sei sim, querida. Tem que ser assim mesmo. Mas, isso não muda a
minha vontade de te ter perto de mim a cada segundo da minha vida. — Dou
um sorriso ainda um pouco tensa e enlaço meu braço no seu e entramos para
o meio do povo, cumprimentando hora um, hora outro, seguindo aproveitando
a festa.
Rodolfo me pede licença para ir ao toalete e procuro Guel olhando entre
todos e não encontro. A festa estava bombando quando encontrei Tina, uma
amiga minha e do Guel. Tina é uma figura, deve ter seus 35 anos, mas é uma
garotona. Usa piercings, têm várias tatuagens, alargadores, cabelo rosa,
cortado num meio moicano, é roqueira e muito namoradeira. Com outro foco
de luz em seu rosto, eu a confundiria com a cantora Pink. Tina é um amor de
pessoa. Muito doida ao me ver, vem me cumprimentar.

— Oi, Bia, minha linda. — Ela me dá um abraço e um beijo na bochecha.

— Oi Tina, lindona, aproveitando a festa? — pergunto animada.

— Claroooooo, imagina se a Tininha aqui não ia aproveitar? Ei, mas vem


cá, menina, — puxa pelo meu braço delicadamente e pergunta baixinho: —
Quem é aquele bofe lindíssimo e super fodível que estava ao seu lado agorinha?
Aonde você encontrou tem mais? — Não aguento e caio na gargalhada, logo em
seguida, ela também se rende.

— Infelizmente, é edição limitada. — Finjo drama e ela faz biquinho —


Mas, tem muito bofe amigo do Bruno por aí, aproveita.

— Ninguém merece. — Ela devolve o drama fingido.

Nessa hora, Guel chega e a festa é completa.

— Oi, meninas. — Dá um selinho em mim e outro na Tina. — Qual o


problema?

— Nenhum. Só... — começo a dizer.

— Nenhum, uma porra. — Tina me interrompe. — Estou querendo um


bofe, mas esse da Bia é edição limitada. Arruma um bofe pra mim, Guel? —
Solta e começamos a rir. Rodolfo chega e eu o apresento a Tina.
— Tina, esse é Rodolfo, um amigo — digo olhando para ele. — Rodolfo,
essa é Tina, minha amiga e de Guel.

— Muito prazer, Tina. — Cumprimenta com um sorriso torto.

— Prazer só mais tarde, gracinha. — Sorri, apertando sua mão.

Vejo que Rodolfo fica vermelho igual a um tomate. Não aguento e caio na
gargalhada.

— Calma, bonitão, — Tina ri. — Não precisa ficar constrangido. A não


ser, é claro, que você não queira a Bia e prefira a Tininha aqui.

— Rodolfo, não repara porque a Tina é doidinha — digo ainda sorrindo.

— Hum. Tina, você é engraçada — fala um pouco sem graça, mas


sorrindo.

— Droga! Quando os bofes dizem isso é por que iremos ficar só na


amizade mesmo — constata séria.

— Desculpa te desiludir, Tina, mas a Bia eu não largo por ninguém. —


Olha diretamente para mim.

— Crianças, — ela apronta para mim e Rodolfo. — Vou deixar vocês em


paz. Vamos, Guel. — Pega no braço dele. — Vamos tomar todas por aí!
Divirtam-se, lindinhos. — Pisca para nós e sai praticamente arrastando Guel
no meio do povo.

— Bia, essa sua amiga é uma figura! — Rodolfo mal consegue segurar o
riso ao ver os dois dançando que nem doidos.

— É sim, — concordo. — Mas a amo de paixão. Simplesmente, essa


a minha atenção e vejo Bruno subindo no palco lá na frente. A música para, o
silêncio e a expectativa pairam no salão.

— Bom, — Bruno tosse discretamente. — Em primeiro lugar, eu quero


agradecer a Deus por me presentear com pessoas tão chatas e maravilhosas
como vocês. — Todos riem — Irei passar esse tempo lá nos Estados Unidos,
mas não pensem que irão fazer corpo mole, estarei de olho! — Há mais
gargalhadas. — Sentirei muita falta de cada um e os levarei comigo no coração,
mas não vamos fazer drama, porque volto logo para infernizar vocês! — De
repente noto que ele fixa o olhar em uma direção, e eu acompanho o seu olhar
e percebo que há uma mulher muito bonita e o meu primo parece vidrado,
porém, engole em seco e parece se recuperar. Mais aplausos e mais assobios
enchem o salão e Bruno faz menção de deixar o palco. É óbvio que não vou
deixar esse momento passar em branco! Então, eu me adianto e em segundos
já estou com o microfone na mão.

— Não posso deixar você terminar essa festa sem que eu te dê uns
cascudos verbais, né? — Ele ri e o povo também. Eu faço uma pausa. — O que
eu posso falar de você sem parecer uma mulherzinha, cara? — Ouço
gargalhadas da plateia. Penso um pouco. — Você, primo, esteve comigo em
todos os momentos bons ou ruins da minha vida. Como há o provérbio que diz
que há amigos mais chegados que um irmão, reformulando, você é mais
chegado do que um primo. — Ele ri sem jeito. — Eu não sou muito bom com as
palavras, mas... Eu não poderia deixar de dizer que você foi, é e sempre será
importante em minha vida. Se há algo que eu aprendi nesse tempo que
passamos juntos é que a força de vontade supera tudo e não devemos
abandonar as pessoas mais vulneráveis e sim amá-las, porque isso é o escudo
defensor delas contra a sociedade cruel. — Vejo Bruno rindo e chorando ao
mesmo tempo e percebo que também estou. Eu pigarreio. — Desculpe, me
empolguei. — Olho para o povo e meus olhos encontram os de Bianca, que está
com os olhos marejados, ao lado do Rodolfo. Percebo que ela virá ao palco.
Tento ignorá-la e viro-me para Bruno. — Obrigado por todas as tristezas em
qual me consolou e todas as gargalhadas que já demos juntos. Confesso que
você é muito especial para mim... mas é um mané!

Bruno joga a cabeça para trás e dá uma risada divertida, seguido pela
galera, que logo aplaude. Dou um abraço apertado nele, com tapas fortes nas
costas e leves na cabeça. Quando vou descer a escada, Bianca está subindo.
Nossos braços se tocam rapidamente e pego o exato momento que seus olhos
encaram os meus lábios, com um meio sorriso me junto aos outros para vê-la
falando.

— Bruno... eu também não poderia deixar de dizer algumas palavras... —


Ela abaixa o olhar, parece pensar e olha para ele outra vez. — Te desejo todo o
sucesso do mundo para onde você está indo. Nesse tempo em que nos
conhecemos, eu te tive como exemplo em meu cotidiano, superando os desafios
e jamais me esquecerei dos dias em que a sua generosidade e companheirismo
foram relevantes diante dos dilemas dessa vida. Além de meu patrão, você é
meu amigo. Sei que muitas vezes você tentava compreender os teus problemas
e eu surgia com as minhas dúvidas e você se aproximava de um jeito ímpar e
deixava os seus quebra-cabeças de lado por um momento e se esforçava em
entender os meus e resolvê-los. E quando não podia, oferecia teu ombro como
consolo para as minhas lágrimas. — Ela respira fundo. — Eu nunca vou me
esquecer disso. Como você mesmo disse, o tempo é incapaz de apagar esses
momentos... Obrigada, obrigada mesmo.

A plateia aplaude entre assovios. Bianca está chorando, Bruno mais


ainda. E quando caio em mim, vejo que eu também estou. Droga, deixe de ser
sentimental, Pablo! Enxugo os olhos e olho ao redor e vejo aquele bastardo
sorrindo de orelha a orelha para Bianca e aplaudindo como se estivesse todo
orgulhoso dela. Miserável!
Olhando de volta para o palco, vejo-a abraçando meu primo
demoradamente. Sinto um nó na garganta e uma angústia no peito, como se
além de Bruno, Bianca também estivesse indo embora. Seria um presságio?
Chacoalho a cabeça para me livrar das ideias que não me importam mais. Eu
sou um homem livre, afinal; apegado de verdade somente à minha filha.

— Minha vez! — Miguel grita, arrancando risadas e olhos assustados da


galera e sobe correndo para o palco. — Minha vez! — Ele pega o microfone.
Bruno e Bianca param o abraço e enxugam as lágrimas. Bianca desce as
escadas e volta para o lado do bastardo.

— Bom, o que dizer desse bofe? — Miguel diz e todos riem. — Eu poderia
ficar a noite inteira falando das qualidades desse gato, algo como “uma pessoa
maravilhosa, dedicado ao trabalho e aos amigos” que ele é, mas vou parar por
aqui para não pagar mico. — Dou risada e todos também dão. — Bruninho, eu
até poderia também te desejar sucesso nos Estados Unidos, mas, bofe... Com
essa carinha de anjo, sucesso é que não vai faltar, se é que me entende. — Meu
primo ri, e parece sem jeito, olhando em volta. — É o seguinte, meu amigo, seja
feliz e transe! Porque isso é que vale a pena na vida, e, se encontrar um bofe
escândalo, mande-o para mim.

A plateia é toda risos. Bruno abraça o amigo entre risadas e recebe um


beijo na bochecha. Alguns outros amigos discursam algumas palavras, todos
entregam seus presentes como recordação e depois Bruno volta para
agradecer, fazendo geral cair no choro, com saudade antecipada. A festa acaba
tarde, mas ninguém se importa. Aproveito que o encontro sozinho e peço duas
cervejas, ele pega a dele brindamos e bebemos.

— Desembucha. Porque estava olhando aquela mulher? — Mando logo


na lata fazendo-o arquear as sobrancelhas. — Nem pense em mentir.

— Por um momento achei que era ela, primo. — Engole em seco. —


Aquela maldita nunca saiu da minha cabeça. — Fecha os olhos.
— Então vai atrás dela. Do que adianta, viver assim, Bruno? — Toco o
ombro dele.

— Que grande ironia você dizer isso, já que vê Bianca com aquele
covarde e não faz nada para mudar isso. — Bate no meu ombro devolvendo o
gesto.

— Touché! — Ergo a garrafa e ele ri.

— Vamos beber, porra!

Esse é o meu primo!

Bianca

Depois dessa festa linda e emocionante, Rodolfo se oferece para me levar


em casa. Despeço-me de Guel que conversa com o Henrique e de Tina que está
abraçada com dois homens sarados, um de cada lado e Rodolfo e eu vamos
para meu apartamento.

— Festa inesquecível. — Ele sorri de um jeito charmoso.

— Como o Bruno queria. — Dou de ombros.

— Conhece ele há muito tempo, não? — Parece curioso.

— Há alguns anos. — Dou de ombros.

— Dá para criar muitos laços com esse tempo.

— Verdade... — Eu me perco em pensamentos, lembrando-me de


algumas vezes que estava entediada e Bruno vinha me dizer coisas banais me
fazendo alegrar e um sorriso surge em meus lábios. Os dedos de Rodolfo tocam
o meu rosto e erguem o meu queixo.
— Bianca... quero te ter em meus braços. — Seus lábios beijam o meu
pescoço e sua mão toca as minhas costas num gesto lento e envolvente. —
Sentir seu perfume... e fazer amor com você a noite inteira é o meu maior
desejo desde o momento que coloquei os olhos em você. Mas antes... —
pigarreia. — Preciso te fazer uma pergunta. Eu realmente não me seguro de
saudades quando estou longe de você e não me sinto mais feliz em outro lugar
que não seja ao seu lado. Bianca, você é tudo o que me importa nessa vida. É
toda a perfeição que eu jamais imaginei que pudesse existir.

Ah, merda!

— Isso não me parece uma pergunta... — Engulo em seco.

— Você não me deixou terminar. — Ele sorri, sem jeito.

— Droga, me desculpe, termine.

— Bianca — ele sussurra. Olho em seus olhos e o meu coração gela. —


Quer ser a minha namorada?

Caramba!

Sou pega totalmente de surpresa por Rodolfo com seu pedido de namoro.

— Rodolfo, confesso que esse pedido me assustou um pouco. — Ele faz


menção de falar, mas toco com dois dedos os seus lábios. — Só te peço um
tempo para nos conhecermos melhor, entende? Não que eu não goste de você,
mas a vida me ensinou a ser cautelosa. — Droga!

— Bia, eu sei que pode parecer um pouco precoce, mas eu quero que
você seja minha. Prometo que, se você aceitar meu pedido, irei te fazer a
mulher mais feliz do mundo. Agora vem cá, me deixa te dar um incentivo para
aceitar. — Ele me puxa e passa a mão pelo meu pescoço, depois segura a
minha nuca e cola seus lábios no meu, dando-me um beijo que me faz
esquecer por um minuto quem sou e onde estou. Nossa!

— Tudo bem, Bia, podemos ir com calma se isso é o melhor pra você,
certo? — confirmo com um aceno e nos despedimos depois de mais alguns
beijos e ao entrar em casa, tomo um banho e me enfio debaixo das cobertas,
pensando no pedido dele.

Gosto muito de Rodolfo, mas... aceitar seria a decisão certa a tomar?

Capítulo 14

Pablo

Finalmente me mudei para o apartamento novo com Lily e Ray e é como


dizem, casa nova, vida nova. Mesmo com minha tia inconformada, sei que não
deve estar sendo fácil para ela, faz uma semana que Bruno viajou e agora Lily e
eu estamos de mudança, tento ter paciência com ela porque sei que está toda
sentimental.

A equipe contratada arrumou tudo, deixando-o na mais perfeita ordem,


menos os nossos objetos pessoais, isso eu mesmo fiz questão de organizar para
ficar mais prático no dia a dia, mesmo com Ray tomando conta de Lily quando
estou trabalhando, não me isento da obrigação de cuidar da minha filha, então
me mantenho sempre informado sobre tudo.

Enfim, posso buscar minha pequena arteira para conhecer nosso novo
lar. Vou à casa da minha tia ver Lily e ao chegar lá, ela ainda está dormindo.
Converso com Ray, que me conta às novidades enquanto minha tia fica
tagarelando sobre uma suposta viajem que vai fazer e me distraio quando meu
celular toca e peço licença para atender.
— Oi, Pablo Rodrigues falando. Quem fala, por favor?

— Ah, enfim. Oi, Pa, quanto tempo! Sou eu, Alícia... — Fico em silêncio,
pois já conheci ao menos umas três Alícias. — ...Scherzinger. Lembra?

— Ah, claro! Ali, como poderia esquecer-me de você? Sua beleza é


inesquecível! — Alícia veio morar com a família no Brasil quando tinha apenas
três anos e desde que me lembro era a moça mais desejada do tempo de escola.

— Hum... — ela parece ficar sem jeito — Obrigada. Liguei para convidá-lo
para uma festa de reencontro com a nossa turma, será hoje à noite. Já está
sabendo?

— Ah, sim, sim. E, com certeza, eu irei. Aliás, estou muito ansioso para
rever alguns dos nossos amigos. E uma amiga em particular. — Jogo charme.

— Posso até está sendo indiscreta, mas espero que essa amiga seja eu. —
Ri um pouco.

Porra, ela ainda tem aquela voz sexy.

— Opa, com certeza! — Inevitavelmente, fico pensando será que a Alícia


ainda está gostosa como antes?

— Então, até mais tarde Pa, tchau.

— Até à noite, Ali. — Ela desliga e abro um sorriso.

É... Meu dia está começando a ficar bom.

A minha tia me encara e não demora muito para me encher de perguntas


e viro o assunto do momento.
Bianca

— Então, é só dizer sim — Guel me diz dando de ombros. — Que você


prende aquele bofe. — Vim para o apartamento dele, após o fim do meu
expediente no Café e agora estamos aqui comendo croissants de chocolate no
sofá e assistindo Garfield pela enésima vez.

— Não é tão simples assim, Guel... — explico, mordendo um pedaço de


croissants.

— Como não é simples, best?

— Sim. Mas não sei se ele é o cara certo, sabe? Quero ser amada,
constituir família, cansei de relacionamentos vazios e só por sexo, Guel. -Rimos
com uma cena do filme e Guel volta a atenção para mim.

— Você acha que valerá a pena? Sabe... se disser sim, a parte ruim é que
você vai ter de gastar dinheiro para comprar presentes para ele em datas
comemorativas. Menos Finados, é claro. — Dou uma gargalhada divertida. — E
a parte boa é que você vai receber milhares dele também. E do jeito que aquele
bofe escândalo é, vai ser um presente por dia. E... Você não vai precisar mais
tomar banho gelado por causa do fogo na periquita, pois aposto que o Rodolfo
vai ser o seu bombeiro particular. — Pisca um olho. — Até imagino a
mangueira dele... — Dá um sorriso safado e me olha com o polegar na boca,
depois continua a lambê-lo, obscenamente, de propósito. Com um tapa de leve,
faço-o parar com aquilo e logo, ambos caímos na gargalhada.

— Miguel!

— Best, sua vaca, olha bem para mim. — Guel segura minhas
bochechas, sujando-me do chocolate que tinha nas mãos. Faço uma careta e
ele me dá um selinho. — Se o seu coração não o quer, não adianta meu amor,
você só estará perdendo tempo! Ninguém é feliz estando ao lado de alguém
somente porque é a saída mais fácil. E a saída mais difícil você bem qual/quem
é — fala sério.

— Pablo — suspiro forçadamente.

— Aquele papi é gostosão né? Ainnn, até eu fiquei indeciso! — Ele cutuca
o dedo entre meus olhos. — Escolha um, sua vaca e deixe o outro pra mim...

— Seu interesseiro! — Bato no dedo dele.

— Só estou sendo justo! — Dá de ombros e rimos até não aguentar mais,


enquanto o gato Garfield faz as suas traquinagens na TV.

Depois de uma noite revigorante, com meu doido dão coração, sinto que
tomei a decisão certa em ir com calma com Rodolfo. Ele é um cara legal e gosto
da sua companhia, não quero estragar isso. Como eu tinha algumas roupas na
casa de Guel, dormi ali mesmo. Chegando ao Café, levo um susto ao encontrar
Pablo em meu escritório, sentado em minha cadeira, com as pernas cruzadas
em cima da minha cadeira.

— O que faz aqui? — pergunto ríspida.

— Sentiu saudades? — Dá um sorriso torto.

— O que faz aqui? — Repito, tirando os pés dele de cima da mesa.

— Temos assuntos inacabados para tratar. — Ele se levanta. Eu me


arrepio com a possibilidade do que possam ser esses assuntos e sento-me na
cadeira onde ele estava. — Hoje precisamos resolver negócios empresariais fora
daqui, no centro. E por isso eu estava esperando você.

— Que negócios?

— Empresariais. Isso deveria bastar.


Entorto a boca, respiro fundo e sigo-o. Decidimos que iríamos num carro
só, já que daria bem menos trabalho. Pablo passa por mim com um sorriso
zombeteiro no rosto. Não devolvo o sorriso, mas faço uma careta. Ele dá uma
piscada, segue para o seu carro e o acompanho a contragosto.

— E o que eu preciso fazer? Estou perdida no assunto — pergunto


quando entramos no carro e ele parece procurar alguma coisa.

— Você não precisa fazer praticamente nada. Relaxe. Deixe que eu tome
a dianteira. — Dá de ombros.

— Se você tomará conta de tudo, eu precisava vir?

— Me sinto mais confiante quando você está por perto — admite e me


surpreende. — É como se me desafiasse a dar o meu melhor. — Sorri. —
Esqueci um documento, espera um minuto que já venho — justifica-se e reviro
os olhos entediada.

— Moça, com licença, — pega de surpresa, olho ao redor e vejo uma


mulher de lábios carnudos, cabelos pretos curtos e um corpo perfeito,
parecendo mais uma modelo de capa de revista do Havaí do que qualquer outra
coisa. Ela aponta para frente. — Aquele é Pablo Rodrigues?

Oi?

— Si.. sim — respondo atordoada.

— Ah, maravilha! Continua gato! — Dá um sorriso de vencedora, olhando


para o carro de Pablo e volta a olhar para mim. — Obrigada, era só isso que eu
queria saber mesmo. Tchau, tenha um bom dia.

Eu abro a boca para falar alguma coisa, — perguntar quem é e o que ela
realmente quer com o Pablo — mas ela sai, com seu salto alto, desfilando como
uma deusa.
Quem é essa maluca?

A reunião segue e fico ainda mais entediada, realmente Pablo não


precisava de mim e me limito a dar uma opinião ou outra quando solicitada,
esforçando-me o máximo para não dormir aqui mesmo. Peço licença para ir ao
lavabo e aproveito para dar uma olhada nas mensagens que piscam no visor do
aparelho assim que é ligado.

Querida, enviei flores para a sua sala e logo depois liguei


e a secretária informou que você não estava, quando ler
essa mensagem, por favor, me ligue. Tenho novidades!

Rodolfo.

Curiosa como sou não perco tempo aproveitando mais uns minutinhos
longe daquela chatice de reunião.

— Oi, querida. Que bom que ligou, saudades de ouvir a sua voz.

— Oi, Rodolfo. Não posso falar muito, acabei de fugir de uma reunião
chata por alguns minutos, li a sua mensagem e fiquei curiosa. — Retoco o
batom colocando o celular no viva— Voz.

— Aposto que se eu estivesse nessa reunião, não seria tão chata assim...

— Sempre um conquistador. — Rio um pouco.


— Não quero tomar mais o seu tempo, liguei apenas para convidar você
para ir hoje a uma festa comigo, já liguei para Guel e ele topou na hora! É uma
festa informal. — Parece pensar um pouco. — Isso faz parte da nossa fase
vamos nos conhecer melhor, só para constar! — Não aguento e deixo escapar
uma risada.

— Tudo bem, se faz parte da nossa fase... — Deixo no ar. — Agora


preciso voltar pra reunião — digo com pesar.

— Até a noite, linda.

— Beijos!

Volto para a sala de reunião com um sorriso no rosto e Pablo me olha


confuso. É como diz a música: Vamos viver tudo que há pra viver...

Pablo

Antes de sair de casa, fiz questão de ler uma estória para Lily e colocá-la
para dormir. Ela adormeceu e saí do quarto devagarzinho e peguei o carro, ao
chegar ao local que está bem movimentado, fui recepcionado por uma moça
muito simpática e gostosa chamada Rebeca. Entrei, cumprimentei algumas
pessoas e fui surpreendido ao ver Alícia que vinha em minha direção. Antes,
ela já era bonita, mas agora está um mulherão de tirar o fôlego!

— Oi, Pá. — Fui interrompido por ela.

— Oi, Alícia. Quanto tempo! Você está espetacular. — Sorrio e nos


abraçamos.

— Obrigada... Pois é, muito tempo... O que anda aprontando, Sr. Pablo


Rodrigues? — pergunta e... Porra, essa mulher ainda tem a voz sexy como
inferno.
— Eu!? Não apronto nada. A não ser... que você peça. — Confidencio ao
seu ouvido, encostando de leve a minha boca em sua orelha e ouço um
suspiro. Bingo.

— Continua conquistador, hein, Pa? — Sorri.

— Sempre. — Pisco um olho — Quer beber alguma coisa?

— Quero sim, vamos ao bar. — Ofereço o braço que ela segura e vamos
para o bar.

— Ainda gosta de cantar? — Lembro que a música era uma das paixões
dela.

— Eu canto de vez em quando, dou uma palhinha em um barzinho perto


da minha casa, no caraoquê, só para amigos mesmo.

— Sua voz é inesquecível. Quero te ouvir cantar outra vez, nem que seja
só para mim. — Sorrio um pouco dando um gole na minha bebida, um
coquetel de frutas para ela e um uísque para mim. Tomamos entre uma
conversa e outra.

É, realmente a noite será boa... Muito boa.

Conversamos relembrando nossas peripécias no tempo de faculdade e


por mais que tente mentir para mim mesmo, lembro de Laura e me vem um
aperto no peito. Sinto saudade do sorriso dela e de como era parceira em tudo.

— Ai, amo essa música! — Alícia comenta empolgada.

— Então vamos dançar! — Vamos para a pista de dança e dançamos


juntos no meio de alguns pares um tanto desajeitados, mas o importante
mesmo é que estão se divertindo, Alícia dança me olhando nos olhos, dando
um sorriso que diz muitas coisas sem precisar de palavra alguma.
— Eu tinha me esquecido de como você dança bem.

— Graças a cinco anos de aula de dança na adolescência. Não posso ser


modesta em relação a isso. — Dá de ombros.

— E nem deve. Você dança maravilhosamente. Para combinar com você,


que é maravilhosa. — Ela ri um pouco, seguindo o ritmo da música e me
provocando sutilmente.

— Você é excitante, Alícia — sussurro em sua nuca.

— “Ali” para os mais íntimos, lembra-se? — Dá um beijo no canto da


minha boca e chego ao meu limite não resisto à tentação e a puxo para um
beijo. Ela ainda tem o mesmo gosto de fêmea dominante que eu conheço.

Passo a mão pelo seu corpo ainda dançando no ritmo da música...

Bianca

Assim que exaustiva e chata reunião termina, ligo pra Guel e


combinamos dele ir lá para casa e nos arrumarmos juntos. Tomo um banho
relaxante e visto o vestido escolhido da noite pelo melhor amigo do mundo! Um
vestido claro justo no busto e soltinho embaixo e sapatos pretos, uma
maquiagem leve e batom vermelho que segundo ele é tu-do!

Nessa hora a campainha toca e tenho certeza que é Rodolfo. Guel vai
atender enquanto eu tento não ficar muito nervosa com o que ele vai achar da
minha produção. Ele entra e cumprimenta Guel e vem em minha direção.

— Boa noite, minha linda, você está belíssima. E eu imaginei que não
teria como ficar mais bela. Uma verdadeira diva, como diz Guel — fala,
sorrindo. — Minha diva.

— Obrigada. — Agradeço sem graça. — Vamos? — Ele confirma e me


acompanha, descemos para o estacionamento. Ao chegarmos à festa, a mesma
está bombando. Rodolfo cumprimenta alguns amigos todos muito gentis e Guel
providencia logo uma bebida refrescante.

— Bia, se você não der pra esse homem, eu dou! Apesar... que eu acho
que o seu homem é outro e está mais perto do que imagina. — Sorri tomando
um gole generoso do seu drink.

Começo a olhar ao redor para ver os amigos de Rodolfo antes que ele os
apresente a mim e, de repente, vejo uma cena que me deixa congelada.

Fico congelada quando vejo Pablo — praticamente na minha frente —


nessa festa, por vários motivos: Nunca, em um milhão de anos, imaginei
encontrá-lo aqui, porra, e ainda por cima praticamente comendo uma mulher
na frente de todos!

Espera aí, eu conheço essa mulher, só não sei de onde...

Rodolfo nos apresenta para alguns amigos e começam a falar sobre


negócios. Guel diz que vai pegar uma bebida, eu aproveito a deixa e peço
licença a todos e com a desculpa que irei acompanhá-lo, consigo escapar
daquele papo chato. Já no bar, falo pra Guel que vi Pablo aqui na festa.

— Ele estava quase fazendo um vídeo pornô com uma mulher que não
me é estranha. — Olho para eles no meio da multidão e continuam se
esfregando um no outro. — Merda, não consigo ver o rosto dela, mas o corpo...

— Jura? Nem percebi. Estava vendo os boys magia da festa — diz


dançando.

— Não olha agora, mas eles estão ali — mostro discretamente.

Guel não disfarça e sai procurando-os com o olhar, na mesma hora.

— Menina! Mas isso não é uma mulher! — fala espantado.


— Como não? — pergunto realmente confusa ao ver o olhar que ele dá
para o “casal”.

— É uma obra de arte esculpida pelo próprio Michelangelo! Pode


acreditar! — Parece realmente admirado.

— O que... Guel?!

— Até eu queria ser hétero! Que corpo. — Ele me cutuca, sem tirar os
olhos dela. — Best, olha a perfeição daqueles peitos... — Olha de relance para
os meus seios. — E nem é silicone.

— Ei os meus também não são, tá maluco? — Eu me defendo. Quando


olho bem para ela, percebo que é a morena-com-cara-de-modelo-de-revista-do-
Havaí que me abordou na porta do Café. Agora já sei o que ela queria com o
Pablo! — E como tem tanta certeza que os dela são de verdade?

— Bia, meu amor, o que é de verdade está à mostra. Vamos lá apalpar


para conferir? — pergunta arqueando as sobrancelhas, ameaçando ir.

— Não! — Puxo-o de volta. — Você querendo apalpá-la? Passou a gostar


da fruta? — provoco-o e recebo uma cara feia.

— Eca, claro que não. Se bem que com aquele corpo... — ele simula
pensar. — Virar homem não é uma má ideia...

— Guel, seu viado traidor! — Brigo, estreitando os olhos e ele levanta as


mãos em rendição. — Eles estão quase se comendo, que horror! Ela nem é essa
coisa toda.

— Na real, é sim. Mas, eu só estou falando a verdade. Quanto à dança,


confesso que queria estar no lugar dela. Ele é um escândalo. — Semicerra os
olhos. — Olha aquela bunda.

Passo um rabo-de-olho conferindo acidentalmente, claro!


Porra, essa calça destacou bem a bunda dele, eu poderia até...

Sou tirada dos meus devaneios quando Guel passa a mão no meu
queixo.

— Está doido?

— Não, apenas estava limpando a baba que estava escorrendo e quase


provocando um alagamento por aqui — diz sarcástico.

— Não tinha baba nenhuma, só olhei por puro reflexo.

Ah tá, Bia, essa nem você acredita.

— Reflexo, sei... Conta outra. Conheço você Bianca. — Guel não cansa.
— Bia, contente-se com um bofe só, ou você fez a escolha errada? — pergunta,
arqueando a sobrancelha.

Graças a Deus, nossas bebidas chegam e me salva do interrogatório de


Guel. Ufa!

— Não é por nada não, mona... mas se você pensou que o papi gostosão
ia ficar sentadinho enquanto você aproveita a vida com Rodolfo está enganada
né? — Aff! Guel como eu te odeio as vezes! — Ainda há tempo, Bia. Por
enquanto, você não perdeu ninguém... — encerra o assunto quando Rodolfo se
aproxima e tento disfarçar o clima tenso.

— Você não me disse que estudou com o Pablo — falo de repente.

Rodolfo olha atento para mim e perde o ritmo da música por alguns
milésimos de segundo.

— Como é? — pergunta me olhando de uma forma estranha.

— A festa é um reencontro de colegas da Faculdade, não? — insisto.


— Ah, sim! — Sorri.

— Então... você e o Pablo eram colegas?

— Sim. — Ele se limita a responder, aumentando minha curiosidade.

— Quando?

— Uns 9 ou 10 anos atrás. — Não me olha.

— Por que não me disse?

— Porque não é algo tão interessante. Apenas estudávamos no mesmo


campus. — Rodolfo me dá um selinho e um sorriso, mostrando que é o fim do
assunto.

de Ana Carolina toca, embalando o lugar e me


surpreendo ao ver a que é a mulherzinha que estava dançando com Pablo que
está cantando.

Ah, que ótimo! Além de tudo ainda canta!

Olho de relance e percebo que Pablo me observa de longe, ele me encara


na verdade, mas como Rodolfo está de costas para sua direção, não vê.

— A letra dessa música cai perfeitamente para mim... — Rodolfo


sussurra. — ...ao seu lado.

— Aham — respondo, olhando para ele, sem saber direito o que ele disse
e volto a olhar Pablo por sobre o ombro do Rodolfo, mas não o encontro mais. A
música termina e todos aplaudem pedindo mais uma.

— Tudo bem, eu canto. — Ela responde sorrindo. Aff, tenho de admitir, a


cretina canta bem. — Mas... para isso, convido aqui ao palco, Rodolfo um
grande amigo para tocar o violão enquanto canto como nos velhos tempos, nem
tão velhos assim. — Todos riem e Rodolfo beija a minha mão e vai sem pensar
duas vezes. Dou um sorriso amarelo e Guel se aproxima e me abraça beijando
a minha bochecha.

— O que foi isso? — pergunto beijando-o de volta.

— Nada, ué! Não posso mais te dar carinho?

— Pode, sempre seu bobo! — Dançamos juntos a música Tempos


Modernos de Lulu Santos gritando e pulando empolgados.

Logo começam a tocar Photograph, do Ed Sheeran e sinto uma mão no


meu ombro e me surpreendo ao ver Pablo ao nosso ta
— Até ontem, tinha certeza que Rodolfo era o homem certo pra mim, ele
me oferecia a calmaria enquanto Pablo era o próprio terremoto. Mas... ontem
senti uma coisa tão forte no peito, Guel. — Limpo as lágrimas. — Era como...
como se eu tivesse encontrado o que andei procurando esse tempo todo. — Ele
seca as minhas lágrimas e deito com a cabeça em seu colo.

— Bia, eu só quero que você seja feliz, fazendo a escolha certa para o seu
coração. Rodolfo é um cara legal, romântico e te daria o céu se fosse preciso.
Mas, se ele não conseguiu tocar seu coração, não adianta, miga. Coração é
terra que ninguém anda e não podemos escolher quem pode morar nele.

Interrompo o abraço e olho para ele, que é só um borrão atrás das


minhas lágrimas.

— A culpa foi minha... Guel, sempre falo que quero um cara que me faça
amar e ser amada, construir uma família e o que eu faço? Quando ele
aparece...

— De forma hilária... — Ele me interrompe sorrindo.

— E implicando, fazendo raiva — completo dando um meio sorriso. —


Escolho a saída mais fácil. Eu sou muito burra, Guel. Estou deixando ele
escapar por medo. Medo de me ferir novamente.

— Não, não se culpe. Você está indecisa. — Eu me afasto dele. —


Qualquer pessoa faria o mesmo em seu lugar. Rodolfo foi um príncipe quando
Pablo se mostrou sapo, quem não iria sucumbir e tentar?

— Será mesmo? — Eu me viro, quase gritando. — Será que todas as


pessoas têm inteligência suficiente para fazer tantas burradas em tão pouco
tempo?

— Bia... — Tenta me parar, mas preciso falar tudo agora.


— Será que qualquer pessoa pode ser totalmente feliz e se sentir um
fracasso ao mesmo tempo? Como se o mundo todo a acusasse de estar
ilegalmente no universo? Será mesmo, Miguel?

— Não fale assim... — Ele está quase chorando.

— Porque é exatamente assim que eu me sinto... Um nada. — Há um nó


na minha garganta e eu só consigo balbuciar.

Ele vem até mim e me prende em seus braços. As lágrimas que eu estava
derramando antes eram um rio escasso comparando ao que rola em meu rosto
agora. Uma cachoeira de angústia e desabafo, entre soluços que cortam e
sufocam o meu peito.

Depois do meu desabafo, de deixar toda a dor e angústia saírem, ainda


não me sentia nada bem, por isso seguindo os conselhos de Guel, decido me
distrair um pouco e resolvo ir para o orquidário da cidade, é lindo e
simplesmente um dos lugares mais bonitos de Santos. Então começo apreciar
as belezas que as orquídeas têm, enquanto Rodolfo não chega. Flores com
cores que eu nem imaginava que existiam, cada uma mais exótica do que a
outra. Algumas delas vão do chão até o teto e se perdem parede a fora. Ando
um pouco pelos viveiros e pelo mostruário de plantas, fascinada e depois volto
ao lugar das orquídeas que só me hipnotizam. Amo flores! Olho para um largo
corredor debaixo de diversas ramificações de orquídeas azuis e amarelas, que
cobrem grossas ripas e assim formam um teto, quando ouço uma voz hesitante
chamar meu nome.

Rodolfo aparece com as mãos nos bolsos e um sorriso hesitante. Não


creio! Venho para fugir dessa merda de realidade e ele me aparece aqui.

— Oi... — parece sem graça e minha cara não deve ter ajudado muito.

— Oi. Como me achou aqui? — pergunto seca.


— Parece que gostamos de vir aqui quando queremos pensar. —
Aproxima-se um pouco e indica o banco a nossa frente. Sento mesmo sem
querer, porque estou cansada demais para fugir.

— Quero pedir desculpas pelo meu comportamento inaceitável durante a


festa. Mas... quando te vi dançando com Pablo, Bianca, fiquei completamente
descontrolado! — Parece irritado somente com a lembrança. — Era como se
tivesse vivendo a mesma cena outra vez...

— Como assim? — pergunto confusa.

— No passado, ainda nos tempos de faculdade, conhecemos uma moça


muito linda, a Laura — fala como se tivesse perdido em meio aos seus
pensamentos. — Nos interessamos um pelo outro e teríamos dado certo se o
intrometido do Pablo não tivesse roubado ela de mim. — Fecha o punho com
força. — E agora ele quer fazer a mesma coisa outra vez, Bia. — Ele me olha e
toca o meu rosto com ternura. — Assim como amei Laura, amo você e vou lutar
para que não te tirem de mim também.

— A-ma? — Eu mal o conheço como assim ele me ama? Mal falo em


choque.

— Amo...muito. Não sai da minha vida! Não por um erro tão bobo em
meio a tantos acertos. — Ele me dá um olhar esperançoso.

— Eu...eu... — meu Deus!

— Não precisa me dizer nada. — Quando menos espero seus lábios


tocam os meus, mas não consigo retribuir ao ver que não vou ceder, ele desiste
com um sorriso amarelo. — Entendi o recado, iremos com calma.

— Olha Rodolfo, você é um cara legal e... — Começo nervosa. — Mas...


— Bia, eu sei que você está confusa, é normal. Mas vamos continuar nos
conhecendo e lá na frente saberemos se temos que ficar juntos ou não. — Beija
a minha mão. — Meu aniversário está chegando, me dá esse presente vai?

— Golpe baixo, hein?! — Bato no ombro dele de brincadeira.

— Tenho que usar todas as armas para não te deixar escapar. — Pisca
um olho.

Conversamos sobre assuntos neutros e descubro que na verdade seu


aniversário é daqui a um mês e ele confidencia que não tem muitos amigos
próximos e, portanto, não irá comemorar a data. Sei que ele está forçando um
pouco a barra, mas quem nunca errou? Eu mesmo estou a confusão em
pessoa!

Um mês depois...

— Biaaaaaaaaaa, eu vou te matar! — Guel fala histericamente.

— Guel, eu só prometi dar uma chance a ele, oras! Rodolfo é um homem


bom e você mesmo me deu a maior força para investir nele — respondo
mostrando uma das lingeries lindíssimas que pretendo inaugurar hoje a noite
no aniversário de Rodolfo.

— Isso foi muito antes! Agora torço para o Pablito incondicionalmente!


Ele é tudo-de-bom, Bia. Só você parece ser cega em relação a isso. Acorda pra
vida, minha amiga. — Sacode os meus ombros e bato nele.

— Não! Rodolfo está certo! Pablo só me quer quando me vê feliz com


outro, e por favor, vamos mudar de assunto — falo realmente aborrecida.

— Ok. Mas algo me diz que isso não vai acabar bem. Sou seu amigo e te
amo, fico do seu lado, mas escuta o que estou te dizendo... esse Rodolfo não é
flor que se cheire, ah, mas não é mesmo! — Ignoro sua implicância e mau
humor e faço as compras que faltam para a minha surpresa inesquecível,
afinal, nada hoje vai estragar o meu dia!

— Estou feliz, isso que importa. — Dou de ombros.

— Você está totalmente inconsciente do que é felicidade. Você está


considerando sorrisos banais e confundindo com se sentir feliz. Você merece
mais do que isso. — Eu lhe dou um olhar raivoso. — Tá bom, não está mais
aqui quem falou e troca essa cor porque se não essa lingerie vai ficar horrível
em você! — diz roubando o cabide da minha mão.

Pablo

Hoje é um dia feliz. Resolvi fazer um passeio em família, eu, minha


princesa, minha tia Maria e Ray, resolvemos passar uma tarde no shopping
com tudo de porcarias que temos direito, mas, lá no fundo sei que falta algo, e
esse algo na verdade é alguém. Tenho evitado encontrá-la a todo custo, tenho
medo de sentir o que eu sinto quando ela está por perto, noto o meu coração
disparar e um frio na barriga e isso definitivamente significa que estou
ferrado... Muito ferrado! Mas vi Bianca e Rodolfo se beijando e vi que ela já
tinha feito a sua escolha, a mim só restou seguir em frente porque foi o que me
restou disso tudo.

A praça de alimentação está lotada, por isso ficamos numa mesa mais
perto da porta e me divirto com Lily, ela está uma graça com o rosto todo
melecado de sorvete de flocos, enquanto a coitada da Ray tenta limpá-la. De
repente, paraliso ao ver Bianca olhando uma vitrine à nossa frente. Ela está
linda, radiante. Sorri com alguma besteira que o Guel fala e vendo o seu
sorriso perfeito, sinto aquele maldito frio na barriga.

Lily ao vê-la, sai gritando como louca — para variar — e Ray vai atrás
dela, consegue alcançá-la e limpar o seu rosto. Bianca sorri surpresa e se
abaixa e minha princesa passa os bracinhos no pescoço dela que a pega no
colo, dando-lhe atenção e fazendo cócegas em sua barriguinha. Fico assistindo
hipnotizado e nem percebo que Guel está ao meu lado falando comigo, até que
a minha tia me dá uma cotovelada.

— ... quanto tempo — ele diz.

— Pois é. — Só falo isso e aposto que estou com cara de paspalho.


Bianca vem até nós com Lily nos braços.

— Oi, Pablo. — Ela me olha nos olhos e o mais foda é que vejo tudo que
sinto refletido neles.

— Oi, vejo que dona Lily não perdeu a oportunidade de te perturbar —


digo bagunçando o cabelo do meu anjinho.

— Nada disso, só gostamos uma da outra, não é amor? — Bia beija Lily
na testa.

Sinto uma emoção trasbordando dentro do peito e tenho que fazer um


esforço enorme para não a beijar aqui na frente de todos. Pablo, você está
muito fodido, muito mesmo. Lily desce dos braços de Bianca e vai para o “tio
Guel”.

— Venham, fiquem conosco! — Minha tia convida.

— Infelizmente hoje não dá, viemos comprar um presente para um...


amigo que está fazendo aniversário hoje. — Desvia o olhar do meu e não
preciso nem perguntar, sei que hoje é aniversário daquele crápula. Ela
continua a tagarelar e minha tia lhe dá suas opiniões. Eu me sinto perdido,
deslocado, arrasado. Eles se despedem, Bianca me lança um rápido “tchau”
com seus olhos hipnotizantes e eu fico olhando-a partir, olhando as vitrines,
apontando algo fora de minha visão e o meu coração fica apertado ao vê-la se
afastar.
— Você gosta dela não é, filho? — Volto à realidade ao ouvir minha tia
falar comigo, deixando-me surpreso. Ela coloca uma mão em meu ombro, como
se isso reconfortasse minhas emoções ou concordasse com suas palavras.

— Cla... claro que não. — Tento convencê-la, mas minha voz falha
miseravelmente.

— Claro que você não gosta, na verdade, você a ama, só não quer admitir
para você mesmo. Eu não sou burra, filho, percebo os olhares que vocês
trocam. Mas, se serve de consolo, ela também está fazendo a mesma coisa. —
Ela me olha nos olhos.

— A senhora está delirando, dona Maria. — Beijo sua testa — Agora,


vamos acabar com esse papo meloso e continuar o nosso passeio. — Viro-me
para Ray e Lily que estão entretidas olhando um desenho no tablet e me junto
a elas recebendo um olhar inconformado da minha tia

Mas, eu sei que minha ela tem razão... Eu amo Bianca. Com todas as
minhas forças.

Bianca

— É impressionante como duas pessoas que se amam possam ser tão


burras! — Guel tagarela até o carro.

— Vai começar tudo outra vez. — Reviro os olhos, sou salva quando o
meu celular toca e vejo que é Rodolfo — Oi, Rô — enfatizo para Guel que me
olha com desdém.

— Poxa, fui abandonado no dia do meu aniversário! — Sua voz soa


abafada e há um barulho enorme.
— Deixa de ser dramático! — Dou um sorriso. — Estava no shopping a
caminho de casa.

— Então nos encontramos lá? Infelizmente surgiu um compromisso


urgente e a noite terei um jantar chato com mais dois empresários e não sei
que horas terminará, quero aproveitar esse restinho de tarde com você. —
Parece arrasado.

— Ah, que chato! — Murcho um pouco e Guel me olha com as


sobrancelhas levantadas como se tivesse incrédulo.

— Chato mesmo, mas infelizmente o negócio precisa ser feito e venho


trabalhando para que isso aconteça há muito tempo. Nos encontramos daqui a
pouco, amor.

— Ok. Beijos!

Ele desliga e olho para Guel que faz menção de tagarelar, mas diante do
meu olhar mortal se cala.

— Bia... — começa. — Você acreditou mesmo nisso? — Percebo que não


há ironia ou sarcasmo em sua voz e me desarmo.

— Ele não tem razões para mentir, Guel.

— Ok, então. Já que ele tem esse jantar aí que surgiu de uma hora pra
outra, que tal se você fizesse uma surpresa?

— Como assim? — pergunto interessada.

— Ué, se ele vai para um jantar hoje à noite, o apartamento vai ficar livre
e aí... — Arqueia as sobrancelhas sugestivamente.

Começo a me empolgar e logo tagarelamos arquitetando “A” surpresa!


Assim que chegamos ao meu apartamento providenciamos o necessário e
lembro que não tenho a chave do apartamento de Rodolfo, então é que aí que o
melhor amigo do mundo todo entra em cena! O interfone toca e sei que é ele.

— Oi amor. — Ele entra e me abraça apertado beijando a minha boca.

— Oi, Rô. Feliz aniversário! — Congratulo contente e ele me rodopia.

— Você é o meu maior presente, a melhor namorada do mundo! —


sussurra ao meu ouvido.

— Exagerado!

— Encontrei com a mãe de Bruno saindo aqui do prédio quando cheguei,


ela veio te visitar também? — pergunta quando nos sentamos juntinhos no
sofá.

— Ah, ela está por aqui direto já que o sobrinho mora aqui no prédio. —
Só vejo a besteira que fiz quando Rodolfo muda completamente de expressão.

— Eu ouvi direito? Ele está no mesmo prédio que você?

— Bom... achei que não fosse relevante. — Dou de ombros.

— Se ele está te perseguindo, é relevante, sim. — Parece nervoso.

— Ele não está me perseguindo e... além do mais, hoje não é dia para
aborrecimentos. — Chego mais perto e sento em seu colo, beijando seu
pescoço, subindo as mãos pelos seus braços. Ele me beija e finalmente consigo
desviar sua atenção do assunto, até que o seu celular toca insistentemente.

— Não vai atender? — pergunto quando ele olha no visor e parece


ansioso.
— Não é importante, só um cliente chato. — Ele me beija sorrindo, mas o
celular não para. — Droga! — Rodolfo me pede um minuto e ouve o que a outra
pessoa fala e diz que chegará em alguns minutos.

— Hoje nada está conspirando em nosso favor! — falo realmente


desanimada, que merda!

— Desculpa, amor. Mas realmente preciso ir. — Parece culpado.

— Você não precisa se desculpar, trabalho é trabalho! — Dou um beijo


nele e nos despedimos. Assim que ele sai pego o celular e ligo pra Guel.

A cada hora que se passa, mais a minha ansiedade aumenta, coloco um


vestido preto curto e a lingerie rendada também preta que comprei
exclusivamente para Rodolfo e faço uma maquiagem caprichada, pego o carro
quando chego ao prédio paro um pouco para observar a beleza do edifício a
beira-mar com uma vista incrível! Por um momento sinto uma pontada de
inveja ao comparar com o prédio onde moro, mas dispenso qualquer outro
sentimento para poder vencer a ansiedade.

Pego o elevador junto a uma loira muito bonita e subimos juntas uns
sete andares. Durante a espera, começo sentir um mau cheiro invadindo o
elevador. Por um instante eu penso ser a tubulação de encanamento sanitário
do edifício com defeitos, mas depois caio em mim que é a tubulação da mulher
que está vazando. Olho para ela com discrição e ela faz cara de paisagem, como
se não fosse ela quem tivesse estourado aquela bomba com aroma de podridão.
Viro-me para o lado contrário dela e discretamente prendo as narinas entre os
dedos.

Quando o elevador — finalmente — para, eu saio daquele espaço


infectado por germes e sigo para um lado do corredor enorme e ela escolhe o
mesmo. Saio procurando o apartamento e olho para trás e a loira — Peidona
parece me seguir, com uma distância não tão longa. Ela dá um sorrisinho
cortês e olha para os lados, procurando um também. Abro a bolsa e me dou
conta que esqueci a chave, mas que merda! Desço até a entrada do prédio e
depois de ligar, espero Guel trazê-la para mim.

Depois de quase um minuto de tentativa, quando abro a porta encontro


Rodolfo só com um short de seda para dormir, com cabelos desgrenhados e
uma cara de sono.

— Bianca? — Pela sua expressão, de olhos arregalados, paralisado na


porta, ele está muito surpreso.

— Feliz aniversário, melhor namorado do mundo! — Dou um sorriso de


contentamento ao ver sua feição. De repente, franzo as sobrancelhas
estranhando quando uma mão de unhas grandes e vermelhas aparece por trás
dele, deslizando em seu ombro. Então, o mundo gira preguiçosamente em
câmera lenta.

Rodolfo parece estremecer e ficar pálido com o toque e quase que


surrealmente, seus olhos se arregalam ainda mais. Meu sorriso vai diminuindo
a medida em quem uma forma aparece ao lado dele. Uma forma feminina. Uma
mulher.

— Quem é, amor? — ela pergunta a ele, com voz mole, de sono.

Sinto o ar sumir dos meus pulmões e a garganta apertar. Enquanto a


raiva começa a incendiar por dentro do meu peito, a dor, a frustração e a
decepção se juntam a ela.

Capítulo 16

Bianca

— Não!
— Bianca! Quer parar e me escutar? — Rodolfo tenta me alcançar pelo
braço pela terceira vez, enquanto eu avanço pelo corredor. Assim que
presenciei a cena que mais temia presenciar e que ocultava por baixo do tapete
do conforto, deixei a raiva nocautear a dor e dei um basta nesse
relacionamento, reagindo por impulso disparando pelo corredor afora. Fujo
dele, desta vida e não olho para trás.

— Não toca em mim! E não precisa explicar mais nada — grito


descontrolada.

— Bianca! — Ele segura meu braço e tenta me parar. Desvencilho com


um puxão e no mesmo impulso rapidamente me viro e dou-lhe um tapa no
rosto que chega a queimar os meus dedos. Rodolfo sente o impacto e recua
violentamente, levando a mão à cara e me olhando com olhos ferozes. Consigo
ver claramente a marca vermelha de quatro dedos em sua bochecha.

— Canalha! Ordinário! Traidor! — Rodolfo tira a mão da face e faz


menção de me devolver o tapa, mas parece recuperar o bom senso e paralisa o
braço no ar. Ergo o queixo e faço expressão de nojo e desprezo misturados com
uma fúria que brotou dentro de mim.

— A próxima vez que você tocar em mim, será a última vez que você vai
ter mãos — falo entredentes e ganho um sorriso irônico de lado como se
desacreditasse em minhas palavras. Algumas pessoas aparecem nas portas dos
apartamentos para matar a curiosidade do que acontece ali. Eu não me
importo com isso, porque sei que a esperada feição de fracasso não é aparente
em meu semblante. Mas, o lugar e o momento fazem-me lembrar da cena do
Rio de Janeiro quando o Pablo avançou para cima do Rodolfo acusando-o de
aproveitador desgraçado. Eu devia ter percebido naquele momento que não era
somente um impulso ciumento dele e que não existem homens perfeitos.
— Meu amor, — ele tenta voltar ao seu tom calmo que eu tanto me
habituei. — Eu só quero que você me deixe explicar. Não... interrompo-o na
hora.

— O que? Vai me dizer agora que eu estou vendo coisas que não
existem? Que não aconteceu nada do que eu vi? Tem mesmo a cara-de-pau de
me dizer isso, Rodolfo? Ou prefere se vangloriar me dizendo quantas amantes
mais você tem, ou melhor, se não sou eu que sou a amante nessa história,
hum? — Dou um sorriso incrédulo e amargo. — E não me chame de amor!

— Olha, eu...

— Ah, vá se catar! E vê se coloca uma roupa. — Desdenho apontando


para seu corpo.

Ele olha para si e parece perceber somente agora que está seminu.
Enquanto ele está indeciso se volta para o quarto para vestir uma roupa ou se
tenta me convencer que suas pilantragens são banais ou não existiram, me
viro e aproveito o elevador com as portas quase fechando e fujo desse coliseu
de frustrações, contendo as lágrimas que ardem os meus olhos querendo
explodir para o universo notar que a dor existe. E é real.

Pablo

Depois que chegamos da rua, Lily tossiu um pouco e como o remédio


para garganta está acabando decido ir comprar mais um vidro para deixar em
casa, caso o outro acabe e Ray precise medicá-la novamente. Espero o elevador
enquanto leio algumas mensagens, quando as portas se abrem me surpreendo
ao ver Bianca sair dele, chorando e parecendo emocionalmente arrasada.
Engulo um nó que se formou na minha garganta, nunca a tinha visto assim,
comigo ela é sempre forte, implicante, mandona e irresistivelmente
provocadora. O que teria acontecido para deixá-la assim? Será que o bastardo
a magoou? Se ele fez isso, eu vou...
— Bianca... — chamo, mas ela parece não escutar porque continua
andando. — Bianca... O que aconteceu? — pergunto, aflito.

— Você estava certo. Vai, joga na minha cara! — ela esbraveja. — Fala
“eu te avisei”, fala que você tinha razão. — Passa as costas da mão no rosto na
tentativa de secar as lágrimas e grita. — Fala, porra! — Logo escapa um soluço
e ela chora copiosamente.

— Bianca, o que aconteceu? — pergunto mais uma vez.

— Pablo, ele... ele estava com outra mulher no apartamento. Eu fui lá e...
— Ela soluça e chora. Não aguento e mesmo com a sirene de alerta me
mandando ignorar e seguir em frente, afinal eu avisei, fiz a minha parte,
avisando-a que ele não prestava — puxo-a para um abraço. Ela me agarra e
solta um soluço.

— Bia, me dá a chave do seu apartamento. — Beijo seus cabelos e falo


baixinho. Ela tenta pegar, mas se atrapalha toda e eu ajudo-a, retiro as chaves
e passo um braço em seus ombros e ela continua chorando. Seguimos em
silêncio, mas estou com meus instintos assassinos ligados. Depois que ela se
acalmar, eu vou atrás daquele bastardo. Eu o avisei que o faria pagar se ele a
magoasse. Abro a porta do apartamento, ela entra e se senta no sofá. Vou até a
cozinha, pego um copo de água e lhe entrego, quando ela pega, percebo que
sua mão está um pouco trêmula; sento-me ao seu lado, pego uma de suas
mãos e começo a massagear gentilmente.

— Bianca, agora que você já está mais calma, me conta o que aconteceu
— peço baixinho.

Ela me resume o que houve na casa, onde o sorriso virou frustração,


enquanto as lágrimas descem por seu rosto e eu cerro os dentes.
Definitivamente, aquele crápula vai ter o que merece.

— Bianca, eu...
— Você sabia, não era? — Parece muito angustiada — Na verdade, você
tinha certeza que ele não prestava. Pablo, — olha para minha mão na sua e
volta a me olhar, dentro de mim. — Você sabia o tempo todo que Rodolfo me
traía?

— Eu suspeitava. Bianca, ele sempre foi esse idiota, eu queria ter te


protegido, mas como sempre ele foi mais convincente — respondo frustrado.

— Sempre?

— Sim, eu o conheço de outros carnavais, apenas isso — digo sem querer


lhe dar muitas informações. Balança a cabeça concordando e bebe um pouco
da água.

— Aquele idiota ordinário seduz as mulheres, usa e depois as descarta —


complemento.

— O que aconteceu? O que ele te fez para você odiá-lo tanto assim?

— É uma história longa... — suspiro.

— Tenho todo tempo de mundo — Bianca diz e pega uma mecha de seu
cabelo e brinca com ela.

— Bom..., ele e eu estudamos juntos, lembra? — ela assente. — Já fomos


amigos. Irônico, não é? — Sorrio, sem graça. — Nos conhecemos na faculdade,
ele foi o primeiro amigo que eu fiz.

— Amigos, de verdade? — pergunta surpresa.

— Sim, sim. Confiávamos um no outro, éramos inseparáveis nos


intervalos de aula e até na volta para casa.

— E então?

— E então... um dia, uma linda mulher conquistou nossos corações.


— O típico clichê — ela murmura.

— Sim, ela era incrível e para minha sorte, se apaixonou por mim e
começamos a namorar. O bastardo, é claro, não se conformou. — Só de
lembrar de Laura meu coração dói.

— E...?

— Até antes dela ele ficava feliz se eu me desse bem. O mesmo acontecia
comigo no caso dele. Mas, daquele momento em diante, ele passou a se
comportar estranhamente.

— De que forma?

— Bom, ele começou a inventar desculpas sem sentido para não sairmos
juntos da faculdade, ou contava alguma mentira para que eu só fosse a algum
lugar com ele se ela fosse junto. Eu não sabia que ele gostava dela, Bia. Nunca
fui desleal aos meus amigos. — Olho para o chão da sala. — Eu estava tão
apaixonado por ela que não percebia detalhes alheios, não sacava o que ele
estava fazendo. Na minha visão, nós três estávamos felizes. — Passo a mão no
rosto, da testa ao queixo, para tentar fazer com que as lembranças não me
atinjam tão intensamente. — Então, um belo dia... nós tínhamos combinado de
sair para uma festa no centro e eles ficaram de me esperar perto da minha
casa. Quando cheguei ao local um pouco mais cedo, Rodolfo estava tentando
agarrá-la. Era uma rua segura, porém não muito bem iluminada. Talvez, se eu
não tivesse chegado bem na hora, ele teria a forçado a fazer sexo com ele. —
Fecho os punhos com a lembrança, até o nó dos dedos ficarem brancos.

— Meu Deus, Pablo! E ele era o seu melhor amigo! Não acredito que
namorei esse homem... — Olho para ela, amargurado.

— Isso mostra que não dá para confiar em qualquer pessoa nesse


mundo, Bianca. Mas, não fique assim, qualquer uma na sua situação faria o
mesmo. Qualquer mulher se deixaria ser seduzida... — Olho para a porta, sem
olhar exatamente para nada. — Ele conseguiu me enganar. Era meu amigo e
eu confiava nele.

— E o que aconteceu depois?

— Eu dei alguns belos socos nele e certamente rompi a amizade. Por


sorte, já estávamos no fim do último semestre e eu não tive que olhar para a
cara dele por muito tempo. Mas, por causa de algumas coisas bobas que
começaram com aquela briga, eu e ela — inseguros e imaturos — nos
desentendemos e terminamos o namoro. Depois da formatura, cada um foi
para o seu lado e eu tentei seguir a minha vida.

Volto a olhar para Bianca que tem a testa franzida e parece aflita. Não sei
se a dor que ela sente é a que o Rodolfo causou a ela ou se ela sente a minha
dor. Ou as duas.

— Eu lamento por isso — diz envergonhada olhando para as mãos


cruzadas em seu colo.

— Você não tem culpa, Bia.

— Eu revivi a sua dor.

— Não, ele reviveu. Mas, isso nem se compara ao que ele fez alguns anos
depois...

Ouvimos um barulho e eu deveria me sentir aliviado por ser


interrompido, porque percebi que falei demais, porém fico tenso quando
percebo que Bianca olha com olhos alertas para a porta e entendo que o
barulho é o mesmo de uma chave girando o miolo da fechadura.
— Se é assim que você quer, tudo bem. — Ele respira fundo e faz uma
expressão de desprezo. — Você devia me agradecer pelos momentos que eu te
proporcionei. — Eu me controlo para não arregalar os olhos, mas não a raiva.
— Eu te dei presentes tão caros que você nunca vai ganhar desse medíocre aí,
apesar de que eu não precisava te dar nada, você sempre foi tão fácil. —
Adianto alguns passos até ele.

— Eu disse para você calar. A. Boca! — Dou-lhe um tapa violento no


rosto, refazendo a marca vermelha que eu tinha causado mais cedo.
Provavelmente, ficará por horas. Novamente, ele age por impulso e leva a mão à
face.

— Vadia!

— Vai embora daqui, ordinário! — Pablo brada. — Eu estou me


controlando para não quebrar a sua cara. — Rodolfo dá uma risada maléfica
que ecoa pelo apartamento.

— Ah, Pablo, vê se te enxerga! — Tira a mão do rosto e aponta o dedo


indicador para ele. — Não banque o santo. Nós dois sabemos muito bem como
essa putinha aí é gostosa pra caralho e qualquer atenção que se dê para ela,
ela já se derrete toda.

Sinto a raiva queimar meu rosto. Não acredito que esse é o mesmo
homem que eu namorava. Pablo faz menção de avançar e dessa vez eu não o
impeço. Ele se aproxima do Rodolfo com fúria e dá um soco na boca dele que
recua com o choque, sem tempo para se defender. Ele dá um sorriso sarcástico
e tenta limpar o filete de sangue com as costas da mão.

— Tema por sua vida, Pablo, e não brinque comigo. Tema pela vida dessa
piranha aí também. — Ele semicerra os olhos, como uma afronta, — Lembra-se
da Laura? — E dá uma risada feroz. — Coincidências acontecem, hum?

Mas, quem é Laura?


— Filho-da-puta! — Pablo não dá tempo para que eu termine de
raciocinar e parte para cima de Rodolfo, dando um murro tão violento que o
derruba no chão. — Canalha desgraçado! — Pablo monta em cima dele e
desfere socos atrás de soco em seu rosto. Rodolfo parece não conseguir se
defender, exceto por devolver um soco que faz Pablo perder o equilíbrio por um
momento e depois se recuperar, voltando a agredi-lo com fortes golpes. — Eu-
avisei-para-não-magoar-a-Bianca! — fala batendo cada vez mais.

— Pablo para! Já chega! Pelo amor de Deus! — Ele parece finalmente me


ouvir e levanta de cima de Rodolfo, ofegante. Ele olha para mim, com pequenos
respingos de sangue na camisa clara e o canto da boca sangrando levemente e
abre os braços para me abraçar.

— Eu disse, Bianca que quebraria a cara dele e não estava brincando! —


Ambos olhamos para Rodolfo. Por um momento ele parece estar inconsciente
— e eu fico receosa do que o Pablo possa ter feito — mas o outro se mexe,
provando-nos que vaso ruim não quebra facilmente. Depois de alguns minutos,
senta no chão com dificuldade e depois apoia os joelhos no chão, engatinhando
para se erguer. Ele cospe alguma coisa, no chão, misturada com sangue e eu
noto que é o pedaço de um dente; ampara os cotovelos no encosto do sofá e
dificultosamente fica em pé.

— Eu vou. — Cospe saliva com sangue para o lado. Seu supercílio


sangra, seus dentes têm um esmalte vermelho e a sua barba rala está úmida e
com uma nova cor, escarlate. — Dar queixa na delegacia e te mandar para a
cadeia, seu filho de uma vadia.

— Isso, dê queixa mesmo. Vai lá e diz que eu estraguei essa sua carinha
de mau caráter e aproveite e se entregue para a Polícia, seu bandido! — Rodolfo
sorri de lado, evitando fazer careta pela dor. — Eu devia é te fazer acordar
amanhã em um necrotério. Vou até Pablo e coloco a mão em seu ombro,
olhando para meu maldito ex-namorado.
— Pablo, já chega, por favor — murmuro com os olhos cheios de
lágrimas que me recuso a derramar. — Seus ombros descem um pouco, como
se relaxasse da tensão e eu deixo minha mão onde está. Rodolfo dá um sorriso
maldoso até o limite que as dores permitem e aponta para nós.

— Vão se arrepender disso.

Ele vira as costas antes que um de nós dois retruque, abre a porta e sai,
fechando-a atrás de si. Pablo respira profundamente, vira-se para mim e me
olha com uma emoção estampada em suas pupilas.

— Está tudo bem? — ele sussurra.

— Bem melhor agora — aponto com a cabeça para a porta. Devolvo-lhe o


olhar e sorrio fracamente. — Não sou de ferro, mas vou sobreviver. — Levo a
mão ao seu queixo para limpar o filete de sangue que escorre de sua boca e ele
faz uma careta rápida. — Me desculpa...por tudo! — fecho os olhos e as
lágrimas caem.

— Bianca, não há o que se desculpar. É aquele cretino que tem que se


desculpar com você por tudo o que te fez.

— Mas, você me avisou e eu desprezei os seus conselhos. — Ele me solta


e se afasta um pouco.

— Mas, eu não sou um sem-coração para ignorar a sua mão estendida


em busca de um amigo, Bia. Lições servem para serem aprendidas, para
amadurecermos — confirmo olhando para o chão. — Eu não queria estragar a
sua felicidade, nem que ela fosse ilusória. Mas, eu também tinha alguma
esperança de que o Rodolfo tivesse mudado e realmente gostasse de você. —
Ouço-o suspirar — Eu sinto muito.

— Pelo quê? — Olho para ele, confusa, franzindo a testa.


— Por não ter quebrado a cara dele antes. — Dou um sorriso fraco, que
ele devolve. Ele se senta no sofá, joga a cabeça para trás, suspira lentamente e
fecha os olhos. Eu imaginava que uma espécie de vazio ficaria me corroendo
por dentro. Eu sinto dor, óbvio, aquela que martela o seu coração duas vezes
mais rápido que o seu pulsar, porém eu me sinto viva. Ao contrário do que eu
pensava, eu me sinto renascendo, não como uma fênix vinda das cinzas, mas
como uma flor que alguém se esqueceu de regar durante a escassez de chuva e
ela murchou, e então veio outro alguém e regou-a, acreditando piamente que
ela ainda poderia sobreviver às intempéries dessa vida.

Capítulo 17

Pablo

Pego a mão de Bia que senta ao meu lado e ficamos perdidos em nossos
pensamentos até que pergunto o que está me corroendo.

— Bianca, por favor, me diz que você não ama aquele crápula — digo isso
e sinto minha respiração ficar presa aguardando a resposta.

— Eu...eu gostava dele, Pablo, mas nunca consegui amá-lo. O que é pior,
porque isso faz de mim exatamente o que ele falou, uma putinha que se derrete
com qualquer coisa. — Quando ela diz isso fico com mais ódio daquele filho-da-
puta!

— Nunca mais repita isso, ouviu? — Pego seu rosto em minhas mãos, ela
fecha os olhos e acena. — Você é perfeita, aquele bastardo não era homem pra
você. Só isso. — Seco suas lágrimas. Perfeita demais. — Ei, cadê a Bianca
implicante, insuportável e mandona que eu conheço? Aquela que não me...

— Tirou férias e... espera aí... — Estreita os olhos vermelhos. — Você me


chamou de mandona? Eu não sou mandona! Apenas exijo das pesso... — Não
me seguro e começo a sorrir.

— Sim, você é mandona. “Pablo quero isso!”, “Pablo quero aquilo!”, “Isso
não está certo, faz desse jeito que é melhor!” — Eu a imito e ela não resiste e dá
um sorriso, não chega a alcançar os olhos, mas ainda assim é um sorriso.

— Obrigada, eu nem sei o que teria feito se não fosse você. Eu... —
silencio seus lábios, passando delicadamente meus dedos, sinto uma corrente
elétrica passando por entre as minhas veias e apenas por um minuto acho que
ela sentiu a mesma coisa. Ficamos nos olhando em silêncio, até que um
barulho quebra o encanto do momento. Um “ronco” surge do estômago de
Bianca, ela cora furiosamente, eu não aguento e começo a sorrir.

— Ai meu Deus que vergonha... — ela cobre o rosto que está vermelho
igual tomate.

— Bianca, você jantou? — Sorrio mais um pouco.

— Não, mas não se preocupe com isso, você já fez muito.

— Bom, então vou fazer alguma coisa para você comer. — Ela até faz
menção de dizer algo, mas eu a interrompo. — Nem adianta protestar, vai
comer e ponto final. Enquanto isso... — olho em volta. — Faça alguma coisa,
sei lá. — Dou de ombros e vou para cozinha.

— Vou me trocar — grita. — Colocar algo mais confortável e vou te


ajudar, só um minuto. — Ótimo agora vou ficar imaginando ela seminua na
mesma casa que eu, a pouco metros de distância. Calma Pablo, respira, pensa
em números, contratos, problemas...
Depois de alguns minutos ela aparece, com um short, uma camiseta
branca folgada, que caberiam duas delas e prendeu o cabelo em um coque
esquisito.

— Hum. — Parece sem graça. — Estou horrível, né? Essa camisa é de


Guel, gosto dela. — Franzo as sobrancelhas, como ela pode se achar feia? — Ei
não me olha como se eu tivesse duas cabeças bonitão, estou na fossa lembra?
Não tenho a obrigação de te impressionar. — Okay Pablo, pare agora de ficar
olhando para ela com cara de retardado, repreendo-me.

— Na verdade. — Pigarreio. — Achei que você tivesse tentando me


seduzir. — Pisco um olho para ela, que bufa e pergunta

— E aí chef, está precisando de uma mãozinha? — Minha imaginação vai


longe, ela fica vermelha, deve ter pensado no duplo sentido das palavras. Agora
a brincadeira está ficando boa. De repente caio em mim, porra seu idiota! A
menina passando por uma fase difícil e você pensando com a cabeça de baixo.
Pare já

— Claro. — Finjo que não aconteceu nada. — Põe a mesa, estou fazendo
uma macarronada à bolonhesa.

— Tá certo, Ah... — reconsidera. — Quem está sendo mandão agora? —


Arqueia uma sobrancelha. Pisco um olho...

— Como... você conseguiu tudo isso? Quer dizer em pouco tempo?

— Há, tenho experiência, gosto de pratos fáceis. Ai, caramba! — Já é


tarde e não avisei nada a Ray. — Você me dá licença só um minuto? — Ela
acena, pego o telefone e ligo pra Ray.

— Oi Ray, como estão às coisas?


— Está tudo bem, Pablo. Só a Lily que perguntou umas 10 vezes que
hora você chega para colocá-la na cama...

— Aconteceram uns imprevistos, você poderia colocá-la para dormir?


Sabe como ela fica quando passa do horário para dormir, preguiçosa e
manhosa. A tosse passou?

— Pode deixar, ela já está bem sonolenta, passou sim, não tossiu mais.
Até mais tarde, tchau.

— Tchau. — Bebo um gole do suco de laranja. — Hum, que foi Bianca?

— Eu te atrapalhei não foi? Desculpas, se você quiser ir embora pode ir.

— Está me expulsando? Que feio! — Finjo está ofendido.

— Cla...claro que não é só que... Eu não queria estragar sua noite


também.

— Bianca relaxa, está tudo bem. Até porque, depois do trabalhão que eu
tive para fazer esse mega jantar é lógico que não irei embora sem que você se
alimente. — Dou um sorriso.

— Seu bobo!

Ficamos conversando sobre o trabalho, lavo a louça enquanto ela seca.


Depois que acabamos de arrumar a cozinha, ela boceja inconsciente, percebo o
quanto deve estar cansada.

— Bianca, você deveria descansar um pouco. Passou por um desgaste


emocional muito grande — digo enfiando as mãos nos bolsos da calça.

— Não saberia o que fazer se não fosse por você, me desculpe pelo
transtorno. — Ela parece constrangida.
— Na verdade, você me fez um favor Bianca, fazia um bom tempo que eu
queria quebrar a cara daquele bastardo — digo.

— Serei sempre grata a você — disse me olhando docemente. — Mas


quero que volte a ser o Pablo chato de sempre — ela fala e eu sorrio. —
Qualquer dia desses faço uma lasanha e mando para você e Lily como
retribuição. O que você acha? — ela pergunta com tanta expectativa que não
tenho como recuar.

— Acho ótimo, bom já vou indo, você precisa descansar. — Ela me


acompanha até a porta, nos despedimos, mas antes de ir embora eu a puxo
para um abraço, que ela aceita de bom grado. Por alguns segundos eu cheiro
discretamente seus cabelos.

— Bianca, a qualquer hora que você precisar de mim, por favor, não
hesite em nenhum momento. É só você ligar que eu venho correndo está bem?
— Ela responde que sim e ficamos abraçados mais alguns segundos até que ela
se afasta.

— Bom, então nos vemos depois, afinal agora você é meu vizinho — diz
estreitando os olhos.

— Por pura coincidência, quando comprei não sabia que você morava
aqui nesse prédio. Quando soube já não tinha mais como voltar a trás e nem
quis. — Passo a mão pelo seu rosto. — Fica bem, tá? — Eu lhe dou um beijo na
testa e saio, com a sensação de ter deixado metade do meu coração com ela.

Chego em casa, tomo um banho, como não estou com fome, já deitado
na minha cama fico refletindo sobre os últimos acontecimentos e adormeço
com um rosto de um anjo... Bianca.

Bianca

Eu me jogo na cama e penso nos últimos acontecimentos


— Sua idiota, burra. — Sinto as lágrimas caírem dos meus olhos. —
Como você pode acreditar em palavras doces? Em sorrisos falsos? Como pode
ficar cega dessa maneira? — indago a mim mesma e a resposta é simples,
carência. Eu estava precisando de carinho, cuidado e bom ou ruim aquele
nojento me deu, do mesmo modo que ele apagou tudo de bom com aquela
traição. Ainda por cima quem me ajudou foi a pessoa que me avisou sobre o
crápula com quem estava me iludindo esse tempo todo, fiquei apavorada ao
ouvir aquelas palavras horríveis que o filho-da-puta do Rodolfo me falou. Fiquei
mais chocada ainda com a reação de Pablo, ele me defendeu com tanta
veracidade que isso me chocou.

Levanto, tiro a minha roupa e me enfio debaixo do chuveiro, eu me sinto


suja, por isso lavo meu corpo até a pele arder, deixando a água quente lavar e
levar todas as lágrimas e pensamentos ruins.

Ligo para Guel, chorando, fazendo um pequeno resumo do que


aconteceu e ele diz que vem o mais rápido possível. Depois de alguns minutos
ele chega e ao lhe ver eu desabo, conto tudo que aconteceu, agora com
detalhes. Agarro Guel e fico abraçada no sofá com ele um bom tempo.

— Bia, meu anjo. — Ele passa a mão delicadamente sobre os meus


cabelos. — Não fique assim. Todo mundo erra, Bia, a vida é feita de erros e
acertos, um dia a gente sorri, no outro a gente chora e depois tornamos a sorrir
novamente. Aquele crápula não merece nenhuma lágrima sua, meu bem. Amor
olha pra mim. — Levanto a cabeça ainda soluçando e fito meus olhos nele. —
Eu amo você Bia e nunca mais vou te deixar se iludir outra vez. Você não
amava o bastardo, você ama o Pablo e ainda que você tente reprimir esse
sentimento, só estará enganando a si mesma, mas agora vamos cuidar do seu
coraçãozinho está bem?

— Sim, no momento ele não está aguentando tanta decepção. Obrigada,


Guel. Obrigada mesmo, por fazer parte da minha vida e o melhor de tudo, estar
sempre ao meu lado, mesmo quando eu sou burra o bastante para acreditar
que contos de fada existem.

— Você não é burra Bia, apenas deu uma chance a pessoa errada. Mas
quer saber? Foi até bom, assim certo papi gostosão...

— Guel. — Dou um soco fraco no seu ombro. — Eu estou na fossa e


você já está pensando em me ferrar de novo? — Ele levanta as mãos em
rendição.

— Best, eu estava pensando... Acho que vou visitar meus pais. Falarei
com Pablo e perguntarei se posso tirar um mês de férias adiantado, preciso
arejar minhas ideias e nada melhor que minha cidade, a praia, as piscinas
naturais — suspiro ao lembrar-me de como tudo é muito lindo

— Como assim, só você? Eu também vou meu bem, preciso de um


bronze e os turistas... — diz erguendo as sobrancelhas.

— Safado! Mas tudo bem, só assim mainha não fica no meu pé. Vou falar
com o Pablo e depois combinamos tudo.

— Ai que tudooooo!!! Passar um mês em Porto de Galinhas, sol, sombra e


água fresca! — Ele fica me beijando na bochecha, não aguento e começo a
gargalhar, Guel começa a fazer cócegas e por algum tempo esqueço dos
problemas e volto a ser só a Bia, a amiga do gay mais louco do mundo.

Passamos o resto da tarde e a noite comendo porcaria, assistindo uma


seção de filmes de mulherzinha e assim percebo que o único homem que
preciso ter ao meu lado é o meu melhor amigo!
Capítulo 18

Pablo

Estou no escritório resolvendo a rescisão do contrato com aquele


bastardo — que infelizmente era um dos nossos maiores fornecedores —será
sem justa causa, mas prefiro pagar uma multa por encerrar o contrato, do que
me submeter a negociar com aquele crápula. Se ele pensa que é um contrato
de merda que vai me prender a ele, está muito enganado — e estou tão
concentrado, que quando o telefone toca, dou um salto da cadeira. É Larissa,
avisando que Bianca quer falar comigo. Depois de alguns minutos, ela entra e
senta na cadeira a minha frente.

— Oi — fala meio sem jeito.

— Oi, como você está?

— Estou... Hum... Melhorando. — Pigarreia e diz baixinho. — Pablo, eu


vim aqui para te pedir uma coisa... Mas, não sei se é apropriado para o
momento, você pode precisar de mim aqui na empresa e...

— Bianca, pode pedir. Diga, por favor. — Engulo com dificuldade.

— Eu preciso de um tempo, Pablo, me afastar de tudo e de todos, pensar


e respirar, longe daqui. Estou pensando em ir para Porto de Galinhas, voltar
para minha família.

— Vo... Você vai embora? — Sinto meu corpo gelar.

— Não. Quero dizer, ainda não. Pensei em tirar um mês de férias


adiantadas. Se você concordar, claro.

— Bom, se você quer fazer isso por causa daquele crápula, fique sabendo
que nós estamos encerrando a parceria com ele. — Recolho os papéis que
estavam na minha mesa e coloco na sua frente; ela pega e começa a ler. —
Estava acabando de ler a rescisão agorinha. Ela me olha com os olhos
arregalados.

— Como assim? Você encerrou uma das principais parcerias do Café por
minha causa? — Parece espantada, franzo a testa.

— Na verdade, não é só por isso, ele vinha negligenciando o trabalho,


Bianca, nós mesmos, muitas vezes, tivemos que refazer alguns contratos e era
por conta da irresponsabilidade dele. O que aconteceu foi só a última gota —
ela confirma e parece relaxar um pouco.

— Entendo. Eu só não queria causar problemas para empresa —


suspira. — Mas, enfim, poderei tirar o mês de férias que te pedi? — A voz soa
nervosa.

— Claro, só preciso me organizar, fui pego um pouco de surpresa, mas


daremos um jeito. Quando você pretende viajar?

— No final de semana, já combinei com Guel.

— Hum, então ele também vai? — falo mais para mim do que para ela.

— Sim, segundo ele, jamais perderia um mês em Porto, só sombra e água


fresca com turistas gostosões. — Ela sorri um pouco sem graça, mas eu, não.
Não gostei da parte dos turistas. Respondo um “hum” tentando disfarçar meu
ciúme e, claro, fracasso terrivelmente.

— Precisamos adiantar algumas coisas, não é? — ela questiona, tirando-


me dos meus pensamentos assassinos, imaginando aqueles turistas comendo-
a com os olhos.

— Sim... Claro — murmuro.

— Então qualquer coisa você me avisa. Vou para minha sala, qualquer
eventualidade é só chamar. — Caminha até a porta.
— Bianca...? — Ela está prestes a sair, mas vira ao ouvir seu nome.

— Sim?

— Sentirei muito a sua falta. — Pigarreio. — Muito mesmo.

Ela me dá um aceno e vejo resquício de lágrimas em seus olhos, mas


antes que eu fale algo, ela sai, praticamente correndo.

Porra! Passo as mãos pelo cabelo, e dou um soco na mesa em frustração.

Pablo, você está fodido, cara!

Quatro dias depois...

Bianca

A semana passou rápido, nem acredito que viajo hoje. Eu me mexo na


cama e sinto que estou com o corpo todo dolorido de tanto andar — ontem, eu
e Guel fomos ao shopping fazer compras, compramos uns presentes para
minha família e segundo Guel, tudo que é necessário para ter uma viagem
perfeita. Praticamente me arrasto até o banheiro, tomo um banho quente, na
banheira, para tirar o cansaço.

Marquei de encontrar-me com Guel no aeroporto, já que antes de ir, vou


passar lá na empresa, preciso assinar uns papéis e depois sigo para
embarcarmos juntos.

Chego à empresa e todos dizem que irão sentir a minha falta, dou um
abraço nas meninas e logo em seguida vou até a sala de Pablo, com um frio na
barriga. Como Larissa já tinha avisado que eu tinha chegado, ele avisou que eu
podia entrar. Paro um momento, respiro fundo e abro a porta.
— Pablo? — Ele está tão concentrado em um documento que está lendo,
que preciso chamar para ser notada.

— Oi. — Ele dá um sorriso que me faz sentir como se tivesse um milhão


de borboletas no estômago. Sento na cadeira em frente para ele. — Hum, os
documentos que você precisa assinar são esses. — Ele me entrega os
documentos. Assino sabendo que está tudo em ordem já que passamos os
últimos quatro dias trabalhando nesse contrato.

— Bianca, — nos levantamos juntos. — Aceita uma carona?

— Bom...

— É o que um amigo faria para uma amiga, certo? — Estende a mão e


me dá um maldito sorriso torto.

Como posso raciocinar quando ele me dá esse maldito sorriso?

Seguro a sua mão e ele deposita e um beijo nela. Pego a minha bolsa e,
quando estou chegando à porta, meu coração bate bem mais forte do que já
estava batendo enquanto Pablo me encurrala na parede mais próxima...

Pablo

— Do que ou de quem você está fugindo, Bianca? — sussurro ao seu


ouvido sentindo sua respiração acelerar quando colo os nossos corpos contra a
parede. — De Rodolfo? — Sinto-a estremecer. — Ou dos seus sentimentos por
mim? — Beijo o seu pescoço.

— Eu... Eu... — Roço nossos lábios e ela me olha desejosa por alguns
segundos. — Estou confusa e frustrada comigo mesma. Você estava certo o
tempo todo e te julguei tão mal. Ainda agiu como amigo quando eu só merecia
o seu desprezo. É um bom pai, bom amigo e eu só conseguia enxergar um lado
que criei para justificar minhas escolhas erradas. Ainda tem o fato de que uma
hora estamos brigando e em outra, você é a pessoa mais amável do mundo. —
Abre os olhos e me encara, com a voz emocionada e os olhos lacrimejados. —
Tudo está sendo demais para mim. Traição, atração e... sei como processar
todas essas coisas... — Começa a chorar e eu me arrependo amargamente em
tê-la provocado. Sem pensar, colo meus lábios nos seus. Ela resiste por alguns
segundos, mas depois os abre lentamente. Beijo-a com paixão, explorando o
céu de sua boca com a língua e trazendo um arrepio suave pelo corpo,
enquanto seguro levemente a sua nuca, a trazendo mais perto de mim. Beijo
suas lágrimas e a abraço forte. Ela faz menção de falar, mas a silencio com um
beijo casto em seus lábios. E neste silêncio, seguimos para o aeroporto.

Mal chegamos e Guel, muito animado, começa a tagarelar, dizendo que


já fez o check-in, sobre como em Porto de Galinhas fica cheio de turistas e como
Bianca chama a atenção de todos. Coloco meu melhor sorriso falso no rosto e
sinceramente, se eu não conhecesse Guel, teria a certeza de que ele está
fazendo de tudo para me deixar com ciúmes. Bom, querendo ou não, eu estou.

De repente, o celular dela toca e Guel aproveita para se despedir de mim


com um abraço.

— Estou torcendo por vocês, ela te ama, Pablo e pela sua cara de ciúmes,
sei que esse sentimento é recíproco — sussurra sorrindo em tom de
conspiração

— Está tão visível assim? — Dou um sorriso.

— Sim, meu amigo, — recebo uma tapinha no ombro. — Eu demorei


perceber a troca de olhares, os suspiros, mas há um bom tempo que saquei
qual é a de vocês. E nem preciso te afirmar que você está com esse corpinho
gostoso totalmente caidinho pela minha miga, não é? — Reprimo uma
gargalhada. — Então, Pablito, — só ele mesmo para me chamar assim. — Dá
um tempo para ela se recuperar e corre atrás do tempo perdido. Bom —
suspira e meche a cabeça na direção atrás de mim. — Ela vem aí. Vou sair de
fininho e se você for esperto, e eu sei que é. — Pisca um olho. — Vai deixá-la
caidinha por você. Até mais, Pablito.

Ele sai, vai ao encontro de Bianca e fala algo que a faz ficar com as
bochechas vermelhas e me olhar, envergonhada.

Ninguém segura esse Guel!

Dou um sorriso quando ela chega, com os braços cruzados. Defensiva?

— Bom, até daqui a um mês.

— Será um mês muito difícil para mim, mas eu vou te esperar, Bianca.
— Abraço-a passando a mão em sua cintura e fecho os olhos. — Não importa o
tempo que você precisar, vou estar te esperando... Sempre.

— Pablo, você não deve... — Beijo-a, até ambos estarmos ofegantes.

— Promete que você vai voltar para mim, Bianca. Promete que essa
espera não será em vão. — Reprimo as lágrimas e engulo um nó que se formou
em minha garganta. Ela fala alguma coisa tão baixo que não entendo, pois mal
consigo ouvir.

— Prometo que quando eu estiver pronta, volto para você. — Bianca me


abraça tão forte que sinto vontade de nunca precisar soltá-la. Mas, Guel a
chama, avisando que está na hora deles embarcarem. E com lágrimas nos
olhos, ela caminha até Guel, passa uma mão na cintura dele.

— Eu também sentirei muito sua falta, Pablo... Muito mesmo. — Repete


as palavras que lhe falei mais cedo, carregada de emoção por cima do som das
pessoas e os zumbidos dos aparelhos eletrônicos e me dá as costas, juntando-
se a massa de gente que anda de um lado para o outro, sumindo com Guel
naquela imensa multidão.

Fico parado, olhando sem reação. Penso em correr e implorar para ela
ficar, mas tenho que respeitar o seu tempo...

Porra, por que amar alguém é tão difícil?

É porque a nossa mente diz uma coisa e o coração diz outra. — Minha
consciência me responde.

Sim, é exatamente isso. O que o meu coração está me dizendo, nesse


momento, é que essa mulher me conquistou pela sua capacidade de me
surpreender. É linda, inteligente e a pessoa mais mandona que eu conheço; é
chata e implica com tudo que eu faço... Mas, ainda assim eu a amo.

Deus, eu a amo. E esse mês será um inferno longe dela!

Capítulo 19

Bianca

Já faz uns 30 minutos que embarcamos, não consigo tirar a tristeza que
insiste em ficar no meu coração, nunca pensei que um dia tivesse esse
sentimento de perda que senti ao me despedir do Pablo. Suspiro ao lembrar
dele falando “Promete que você vai voltar para mim, Bianca. Promete que essa
espera não será em vão”. Seco as lágrimas discretamente e respiro fundo. Você
vai superar, Bia...

Lembro-me da reação da minha mãe ao me ouvir dizer que passaria um


mês em casa com eles. Se ela soubesse o porquê estou indo...
Estava tão distraída com meus pensamentos, que nem percebi que Guel
me observando, como se estivesse me analisando. Como conheço bem essa
criatura, sei que ele pode ler cada centímetro da minha alma. Ele me olha nos
olhos, pega minha mão e acaricia.

— Vai ficar tudo bem, amor — fala baixinho. — Tenta descansar um


pouco. Posso ouvir as engrenagens da sua cabecinha a quilômetros de
distância. Aliás... depois daquela cena super, mega, exorbitante de romance
que presenciei, — reviro os olhos. — Pode ter certeza que o Pablo te ama.

— Guel, você bebeu? Porque, né, só pode! — Tento fingir indiferença,


mas como sempre sou um fracasso. — O que eu quero dizer é que você está
entendendo tudo errado. — Ele arqueia a sobrancelha em descrença. — Pablo
me ajudou quando precisei dele, foi só isso. Eu gosto dele como amigo e os
sentimentos são recíprocos! — Tento enfatizar.

— Se você prefere se iludir... eu que não vou ser o chato que fica
tagarelando sobre todos os motivos que me fazem acreditar que vocês se
amam. O tempo se encarregará disso, quero só ver você passar um mês sem
pensar nele, ou melhor, um mês não, — reconsidera. — Um dia. Agora vou
dormir, temos três horas e meia aqui dentro ainda. Vocês cansam minha
beleza. — Coloca uma venda nos olhos com estampa de oncinha. — E você,
Bia, deveria fazer o mesmo, a não ser que queria ficar parecendo um defunto.
Que horror, depois de todos esses meses sua família te ver assim com essa
cara de merda. Dorme, amiga. — Dá umas palminhas na minha mão e me
ignora. Sorrio e fico pensando por mais alguns minutos e depois adormeço,
seguindo o conselho de Guel.

Pablo

Fiquei parado alguns segundos, vendo Bianca partir, mas depois decidi
voltar para o Café, afinal, agora que eu estou praticamente sozinho, não posso
deixar passar nada. Ainda bem que ainda hoje esse problema será resolvido.
Quando chego ao Café dou de cara com Larissa pálida, igual um fantasma.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto calmamente já supondo a causa


do seu nervosismo.

— Sim, é que ele, digo... o Do-doutor... — gagueja nervosa e gesticulando


muito.

— Larissa, se acalme.

— É que o doutor Rodolfo chegou e como viu que o senhor não estava na
empresa, praticamente invadiu a sua sala, eu pedi para que ele saísse, mas ele
ameaçou fazer um escândalo com o Café lotado — fala rápido e tudo de uma
vez mal tendo tempo para respirar. — E eu...— Não escuto mais nada e vou
para minha sala em passos largos.

— Fiquei de mãos atadas, deveria ter chamado os seguranças, mas só


quis evitar um escândalo. — Ouço-a atrás de mim, tentando se desculpar. Paro
e olho para ela que parecer ter um troço a qualquer momento.

— Olhe para mim. — Levanta os olhQq19.73 Tm(, )r.2.1,m0 parecer tcer tcer tcer
— Não perdi nada para você, Rodolfo, apenas não sujei as minhas mãos
como você fez. Mas, não se preocupe, meus negócios estão muito bem,
obrigado — indico para Bryan sentar e ele já senta abrindo a pasta tirando
alguns papéis de dentro.

— Bom, — interrompo a conversa “amigável” deles. — Mesmo sabendo


que já se conhecem, faço questão de apresentar a você, Rodolfo, — estendo o
braço indicando Bryan. — O mais novo representante judicial dos B&M Cafés e
nosso principal fornecedor. Rodolfo fica pálido de repente.

— Como assim? Eu — aponta o dedo indicador em seu peito. — Sou o


principal fornecedor dessa porcaria de empresa. Temos um contrato, lembra?
— grita.

— Sim, mas estamos encerrando agora mesmo. Inclusive — falo baixo e


pego uns papéis em cima da minha mesa. — Bryan já começou a trabalhar
aqui, fazendo a rescisão do nosso contrato. — Sorrio e o vejo possesso de raiva.

— Você está pensando que irá se livrar de mim assim? Está muito
enganado. — Ri rancoroso. —
cama, tomo um banho e como não sinto fome, não janto e me junto a Lily na
cama. Ela se aninha a mim com um sorriso sonolento e preguiçoso.

Imediatamente lembro da sua mãe e fecho os olhos com a lembrança que


me invade sem pedir licença...

Quero que a nossa princesa tenha os seus olhos, amor. Seu olhar
passando a mão pela barriga enorme é de puro amor e me sinto o homem mais
feliz do mundo.

E eu, quero que ela tenha o seu sorriso, é o mais lindo do mundo, Laura.
Beijo seus lábios e em seguida sua barriga encantado com a festa que Lily faz
enquanto converso com ela.

— Obrigado por ter dado o seu sorriso para nossa filha, Laura. — Penso
sorrindo, enquanto olho o nosso anjo, pego o porta-retratos com uma foto
nossa, que sempre deixo no criado-mudo. — Você devia ter tido a chance de ver
o quanto ela é linda e preciosa. — Minha voz sai rouca e vejo algumas lágrimas
caindo. — Te perder doeu e ainda dói demais... você foi tirada de mim de uma
maneira tão brusca... — Passo os dedos pela imagem dela na foto. — Eu
cumpri a minha promessa, Laura, amo Lily mais que tudo! Mesmo sem ter
forças, me reergui para ser o que ela precisava. As cicatrizes por te perder não
sangram mais, acho que você gostaria de saber que essas lágrimas não são
mais de amargura, são apenas saudade...

Lily me abraça com mais força e sentindo o amor da minha filha,


adormeço com o coração tranquilo.
Bianca

Assim que desembarcamos seguimos direto para a casa dos meus pais
que fica de frente para o mar e quando táxi para somos recepcionados por um
mar tão lindo, de um azul tão profundo, que mais parece uma pintura, a
imensidão dele faz com que nossos problemas não pareçam nada diante das
águas que dançam em seu próprio ritmo, Guel e eu ficamos alguns minutos
abraçados, admirando a vista, o cheiro do mar, o sol queimando a pele e
tirando a frieza da minha alma.

É disso que você está precisando, Bia.

O taxista tira as malas do carro, Guel o paga e vamos para minha casa.
Toco o interfone e ao ouvir a minha voz, minha mãe abre a porta
imediatamente.

— Filha, que saudade! — Vejo lágrimas de saudade e felicidade nos


olhos.

— Estava com muita saudade também, mainha. — Ganho um abraço


que só mãe pode dar.

— Você parece tão abatida. — Seca os olhos.

— Estou bem, de verdade. Esse é meu amigo Guel, se lembra dele nas
nossas conversas pelo Skype?

— Claro. Oi, Guel, meu filho, você é mais bonito ainda pessoalmente —
diz com aquele sorriso gentil e lindo em seu rosto. Que saudades disso! Percebo
que Guel também está emocionado.

— Ah, dona Rosa, a senhora que é lindona, viu? Por dentro e por fora. —
Beija o rosto dela várias vezes nos fazendo rir.
— E painho? Onde está? — pergunto sentindo falta dos seus abraços
apertados.

— Está trabalhando para variar. — Revira os olhos e tagarela, contando


todas as novidades que andaram acontecendo ultimamente e Guel ainda
alimenta as fofocas perguntando e confabulando com ela como se morasse por
aqui há anos.

Dou a desculpa esfarrapada que estou muito cansada, vou para o meu
quarto e me jogo na cama olhando em volta.

Meu Deus como o tempo passa rápido!

Fico feliz quando olho para um quadro e me emociono não por não terem
desfeito das minhas medalhas das corridas que participei ainda na
adolescência, mesmo que insistindo para desfazerem de qualquer coisa que me
lembrasse daquele crápula, que além de me iludir ainda me traiu com a minha
melhor amiga.

Uma grande ironia do destino ter colocado Pablo na minha vida


justamente quando eu havia feito uma semana que tinha voltado a correr.

Ah, Pablo... quando nos esbarramos na praia eu deveria ter visto que
você havia roubado o meu coração...

Capítulo 20

Bianca

Acordamos cedo e resolvemos dar uma volta pela praia. Sinto o vento
bater em meu rosto, o cheiro da praia, coroada pela imensidão do céu azul sem
nuvens, refletindo no mar de águas tão límpidas e profundas que chega a ser
hipnotizante. Não que lá em Sampa não tenha praias assim, mas aqui em Porto
é diferente, é como estar em casa.

— Ah miga, como você criou coragem para deixar tudo isso aqui e ir
morar em Sampa? Nossa, nunca vi um lugar tão lindo assim! E aqueles
peixinhos coloridos... ownnnn, que lindinhos! Até me deu vontade de roubar
uns e colocar em meu aquário. — Guel tagarela se referindo as piscinas
naturais que se formam quando a maré está baixa.

— Acorda, — estalo um dedo. — Você nem tem aquário!

— E daí? — Dá de ombros. — Eu compro um.

— Aff. Só você mesmo, seu maluquinho cabeça oca! — Bato na cabeça


dele de brincadeira.

— Acho que nasci para essa vida, sombra, água de coco gelada e esses
homens gostosões, isso que é vida! — Guel solta assim dois homens
musculosos passam por nós.

— Seu maluquinho! — Sorrio. De repente vejo uma amiga muito querida,


a Estela que ao me ver vem sorrindo me cumprimentar.

— Bia, sumida, quanto tempo! — Ela me abraça, do jeito maluquinho


dela, balançando-me e soltando gritinhos. — Você está mais linda do que
antes, mas muito branquinha, precisava voltar mesmo.

— Estela. esse é Guel, um grande amigo meu! — Ela me olha incrédula e


também abraça Guel.

— Amigo? Bia me conta essa história direito! Ficou maluca? Um homem


desses e você me apresenta como amigo? Vou te bater! — sussurra me dando
um olhar nada contente e sorri dando um sorriso amarelo para o meu amigo
cretino que abafa uma risada. Se ela soubesse que Guel tem ouvidos
afinadíssimos...

— Olha lindinha, não precisa bater nela não, ok? Da fruta que vocês
gostam... eu como caroço, casca e poupa! — Pisca um olho.

— Droga! Não creio que você é gay! — fala inconformada e caímos na


risada os três.

Ela se junta a nós e combinamos de tomar um drink mais tarde em um


quiosque perto da minha casa.

O dia passa de forma gostosa, regado a muitas risadas e loucuras desses


dois que confabulam de tudo sobre a minha vida. Aproveito a vista do sol se
pondo da minha janela e começo a ler me perdendo na história. Sinto uma mão
forte em meu ombro e dou um salto, com o susto. Mas relaxo ao reconhecer o
dono da mão. Coloco o livro na cadeira e abraço meu pai. Sinto amor e carinho,
da forma que só ele pode me passar.

— Confesso que senti saudades de te ver sentada aqui lendo toda a


tarde. — Passa uma mão nos meus cabelos enquanto a outra faz carinho em
minhas costas.

— Também sinto falta... — Minha voz sai abafada contra o seu peito.

— Bianca..., você sempre será a minha garotinha valente e especial, sabe


disso, não é? — apenas confirmo com um aceno. — Agora vamos jantar, se não
sua mãe enlouquece! — Sorrimos cúmplices, ele passa o braço por cima dos
meus ombros e seguimos para cozinha.

O jantar foi bem descontraído, mainha contando as minhas peripécias


para Guel e meu pai me defendendo, depois descemos para o quiosque e bebo
apenas um drink, enquanto Estela conta muito empolgada as suas
travessuras.
Sou muito feliz quando estou aqui, na minha terra, mas sinto que o meu
coração está longe... bem longe.

Pablo

Observo Lily desenhando muito empolgada uns rabiscos indecifráveis e


percebo que sua coordenação motora melhorou e muito, depois que tanto eu,
como Ray a incentivamos a segurar os lápis da forma correta.

— Princesa, o que você está desenhando?

— Eu, — aponta o papel. — Papai e Bia — diz sem me olhar, dando um


sorriso ao apagar a “Bia”. Fico surpreso, já faz um tempinho que ela não vê
Bianca.

— Não princesa, é só papai e Lily — argumento para ver sua reação.

— E Bia — insiste sorrindo.

Merda, até a minha filha agora vai me lembrar dela? Olho para Ray que
dá de ombros, tímida. Volto para Lily.

— Princesa, vamos fazer assim, faz um desenho só para o papai, tá bom?

— Tááááááááaá cetoooo — grita rabiscando o papel.

Depois de um jantar muito gostoso, Lily assiste um desenho,


concentrada, e me surpreendo ao ver Guel me ligando a essa hora.

— Guel?!

— Pablito, querido, como vai?

— Estou ótimo e você? Aconteceu alguma coisa?


— Melhor impossível. Espera eu me afastar um pouco. — Pausa. —
Muito bem, estou aqui em uma praia belíssima com as minhas novas amigas e
Bia, uma amiga gata que chama atenção de cada homem hétero por seu corpo
lindíssimo e ainda por cima com um biquíni minúsculo. Fazendo os gays
morrerem de inveja. E ainda tem o Rick, gostoso tudo de bom e...

— Guel, pare de provocar e me diga quem é esse tal de Rick, porra! —


grito interrompendo-o.

— Calma, estressadinho, ele e Bia são só velhos amigos. Apesar de eles


dizerem isso, eu tenho cá as minhas dúvidas... — Provocador miserável!

— Guel, se você queria me deixar com mais ciúmes, parabéns,


conseguiu! Quer saber de uma coisa? Vou encontrar vocês aí em Porto de
Galinhas agora mesmo. Se esse Rick pensa que vai roubar a mulher que eu
amo, está muito enganado! É isso, vou pegar um voo hoje mesmo!

— Sériiiioooooo????! Você faria isso mesmo, gato? — grita me


assustando.

— Claro que sim! Aliás, vou reservar as passagens hoje mesmo, para o
final de semana!

— Uau... — Assobia provocando. — Parece que alguém que está amando


mesmo! Minha amiga vai cair durinha no chão quando te ver! — Começa
empolgado. — Para ficar mais emocionante, você vai fazer o seguinte... — Ouço
ente risos as maluquices desse doido e por mais incrível que pareça fazem
sentido. — Mas Pablito... se Bia falou que estava precisando de um tempo...
não deveríamos respeitar isso?

— Não acha que já ficamos separados tempo demais? Já fui covarde uma
vez, Guel e quase a perdi. — Engulo em seco. — Não vou deixar que ela me
escape outra vez!
— Arrasou, gato! — Cantarola, feliz. — Agora sim, estou colocando fé em
você! Vamos fazer assim, você reserva tudo e deixa que o lindo-maravilhoso
aqui faz o reencontro do século acontecer! — Dou um sorriso feliz e escuto
Guel tagarelar no meu ouvido enquanto faço as reservas para Ray, Lily e eu.

Bianca que me aguarde!

— Sabe Pablito, eu não ia te contar, mas você demonstrou que merece


saber disso... Bia sente muito a sua falta — ele fala e meu coração acelera. —
Nesse momento, tem um homem babando por ela, mas ela não está dando a
mínima para ele. — Trinco o meu maxilar, mas não o interrompo — Ela te ama,
Pablo. Eu sinto que Bia está aqui, mas o coração dela está aí com você. E
agorinha mesmo, quando falei que estava no celular com você, surgiu um
brilho no olhar dela que só surge quando você está por perto. Por isso te digo,
quem sabe o que quer, corre atrás, você está fazendo o certo. Minha amiga está
sofrendo porque procurou amor onde não tinha, ela não conseguiu ver naquele
momento que estava equivocada, porém se você der uma única chance para ter
a Bia na sua vida, verá o quanto de amor tem no coraçãozinho dela, não só por
você, mas pela Lily também. — Guel soa sério e muito amoroso, como se fosse
sua missão interceder pela amiga, mal sabe ele que já tenho essa certeza no
meu coração.

— Eu sei, Guel. Todos nós fazemos escolhas erradas, mas chegou a hora
de recomeçar, esquecer tudo que passou e olhar pra frente que é de lá que vem
o futuro. — Conversamos mais um pouco ele me conta mais do seu plano “I
Love You” e depois conversa com uma Lily muito animada, depois que ele
desliga, pego Lily nos braços e a rodopio arrancando risadas gostosas.

— Princesa, você quer viajar com o papai? — pergunto fazendo cócegas


nela.

— Quelooooooooo!!! — responde sem fôlego entre risos.


— Você vai ver muito peixinhos e nada no mar bem grandão! — Seus
olhinhos se acendem, ela adora praia e mar.

— Obaaaa! Eu quelo! Eu queloooo! — grita empolgada, Ray entra na sala


e Lily conta a novidade empolgada.

— Ray, prepare a suas malas e as de Lily, temos uma viajem para fazer.
— Destino: Porto de Galinhas. Missão: Conquistar o amor da minha vida!

— Eu vou também? — pergunta surpresa e feliz ao mesmo tempo.

— Claro que sim! Todo mundo dessa casa vai! — Pego uma Lily muito
feliz e abraço o meu anjo tagarelando sem parar.

Depois de dias de ansiedade, finalmente o final de semana chegou e


desembarcamos em Porto de Galinhas. O sol anuncia que chegamos ao tão
querido Nordeste, terra de povo do sangue quente e feliz! Como combinado,
Guel nos recebe no aeroporto, ao nos ver ele abre um sorriso e saltita
chamando a atenção de todos.

— Uhuuuuulll! Que bom que vieram mesmo! — Ele me abraça e depois


beija a bochecha de Ray, pega Lily nos braços e posso dizer que está se
sentindo o guia turístico mais experiente do mundo. Enquanto dirige nos conta
como estão as coisas, exagerado como sempre.

— Me valorize, viu Pablito? Estou arriscando a minha linda vida para


você se dar bem. Bia me fez um monte de perguntas, mas como sou muito
esperto consegui dobrar ela e aqui estou! — Põe a mão no coração simulando
um ataque.

— Tio Guel, vou vê pexinho? — Lily pergunta interessada e curiosa.


— Vai sim, princesa. Lá tem cada um mais lindo que o outro nas
piscinas naturais, amanhã você vê! — Ela bate palminhas feliz da vida.

Guel nos leva até o hotel mais próximo de onde eles estão, trocamos de
roupas e passamos protetor, seguimos Guel, Lily e eu para a praia, Ray
preferiu descansar um pouco. O sol não está tão quente e assim que chegamos,
uma brisa gostosa nos recebe dando as boas-vindas para o nosso recomeço.
Lily me olha nos olhos e me abraça com um sorriso feliz e com uma doçura
contagiante, eu sinto que Deus me mandou um anjo porque sabia que ela me
tornaria uma pessoa melhor.

Minha princesa gargalha, pula na água mansinha que banha a areia


timidamente nos mostrando que até as mais fortes ondas precisam de
calmaria. Guel me mostra com o olhar uma mulher, sentada sozinha em um
lugar mais isolado, observando o mar, parecendo pensativa e hipnotizada. Meu
coração a reconhece de longe e bate forte no peito.

Caminho até ela, segurando a mão de Lily que saltita cantarolando uma
musiquinha. Quando menos imagino seu olhar se choca com o meu.

A mulher que esbarrou comigo na praia, que me mostrou ainda que sem
saber, que eu podia sentir algo no meu coração além da dor, além do ódio. E
mesmo não querendo admitir na época, eu me apaixonei por ela e nem percebi.
Agora recebendo um olhar tão grato e emocionado, repleto de sentimentos e
lágrimas não derramadas, vejo-me acreditando que iria até o outro lado do
mundo para trazê-la para minha vida.

Abro os braços e Bianca corre ao meu encontro. Corre com pressa, com
força e a determinação de quem esperou por isso a vida toda. Ela se joga em
meus braços, abraçando-me com força, finalmente estava no lugar que deveria
estar desde o início... na minha vida e no meu coração.
Capítulo 21

Bianca

Nunca na minha vida senti o meu coração disparar tão forte. Nem sei na
verdade o que senti quando vi Pablo e Lily na minha frente, parados me
olhando. Agora estou aqui nos braços de Pablo, com Lily entre nós dois nos
abraçando. Ele me olha com um sorriso e Lily beija as minhas lágrimas com
carinho.

— Você tá dodói? Vou besar pa sarar logo, tá?! — fala passando a mão
no meu rosto e me beijando, aproveito e a seguro em meus braços.

— Oi... — falo olhando para um Pablo me não desvia o olhar do meu.

— Oi. — Toca o meu rosto, aproxima-se e cola as nossas testas.

— Como vocês me acharam aqui? — sussurro, ele me dá um sorriso de


lado e sei na hora quem foi o arteiro que tramou tudo isso. — Guel! Aquele
bandidinho! — Ouço sua risada gostosa.

— Não vim porque ele tramou, estou aqui porque quero você, Bianca.
Estou aqui, porque cansei de fugir de tudo que sinto. Não dá mais para negar o
que o coração já sente, desde o dia que você esbarrou em mim na praia, nunca
mais fui o mesmo. Eu também errei, mas quero recomeçar... com você!

— Pablo... — minha voz sai trêmula e algumas lágrimas caem. — Sabe


quando você quer muito uma coisa e fica cego? Eu queria muito ser amada,
construir uma família e ser feliz. E procurei amor na pessoa errada quando a
certa estava bem na minha frente, eu vou errar muito ainda, Pablo, mas não
vou mais deixar de seguir o meu coração, eu aprendi que não adianta fugir do
que você me fez sentir... — Toco o rosto dele e Lily grita quando vê Guel e fica
inquieta até que consegue descer e ir para perto dele. Pablo enlaça a minha
cintura e fecho os olhos quando sinto o seu cheiro me invadir.

— Nós aprendemos a lição, Bia. — Ele segura o meu rosto entre as mãos.
— Vai valer a pena...

— Sim, vai! — Abro os olhos e seus lábios se aproximam dos meus.

Ele toca os meus lábios devagar, seus lábios acariciam os meus como se
quisesse gravar cada sensação, nossas línguas se tocam e sinto meu corpo
estremecer. É tão certo, tão lindo, que é impossível não saber que isso é amor,
amor daqueles que queima até a alma da gente, tirando tudo de ruim que se
instalou sem pedir licença. Nós nos beijamos, sentindo o gosto da felicidade de
quem finalmente enxergou o que quer.

Quando menos imagino, Pablo me pega nos braços e corre para o mar,
eu me debato, gritando, mas ele não para. A água gelada nos recebe como se
fizesse parte da brincadeira.

— Muda a minha vida, Bia. Recomeça comigo! — Ele me abraça dentro


da água gelada.

— Me ensina a amar do jeito certo, Pablo. Recomeça comigo também... —


respondo feliz e sentindo o meu coração leve.

Trocamos mais alguns beijos e sorrisos parecendo dois loucos.

— Tia Bia, o meu papai disse que eu vou vê pexinhos amanhã. — Lily
conta empolgada ao lado de Guel que carrega umas conchinhas.

— Vai sim, mas temos que acordar cedo para ver as piscinas naturais.
São lindas, você vai amar! — Pego a mãozinha dela e entramos na água, Lily
gruda em mim com as perninhas entrelaçadas e os bracinhos ao redor do meu
pescoço. Pablo e Guel se juntam a nós, jogando água na direção dela, que ri e
tenta se esquivar. Com lágrimas nos olhos vi o quanto isso era certo.

O dia passou rápido e depois de um almoço em família onde Pablo, Lily e


Ray conheceram os meus pais, eles simplesmente se encantaram por Lily, Guel
como sempre com suas palhaçadas não deixou faltar risadas e bobagens.

— Ainnn Bia, você tá feliz, né? — O melhor amigo do mundo todo me


abraça com força quase me sufocando.

— Se você não me matar continuarei muito feliz sim, obrigada! — Ele só


de implicância me abraça ainda mais forte.

— Também... com um homem daqueles, quem não ficaria? Sua vaca


sortuda!

— Sou mesmo, não é? Ele é lindo, Guel! Por dentro e por fora! — suspiro
e ele me imita.

— Já decidiu o que vai vestir para o jantar? — pergunta olhando o meu


closet.

— Ainda não — falo olhando para ele que revira as minhas roupas.

— Esse! Está perfeito! — Pega um com estampa chique que ele mesmo
me deu de presente de aniversário. Justo no busto e soltinho embaixo com um
decote generoso, mas nada exagerado.

— Perfeito mesmo! — Coloco em cima da cama e ele pega uns sapatos


vermelhos.

— Esses enlouquecem qualquer homem, os héteros com fantasias


eróticas e os gays como eu, de pura inveja! Um lu-xo! — Faz graça e não
aguento.
Termino de me arrumar, com um Guel todo feliz com o resultado da sua
maquiagem, tenho que admitir, ele arrasou mesmo!

Pego o carro do meu pai e vou até o hotel onde Pablo está hospedado e o
encontro na recepção me esperando. Seco ele com o olhar descaradamente,
calça jeans, camisa preta polo e com o sorriso que é capaz de revirar o meu
mundo. Vejo as mulheres, assim como eu babando e aproveito para matá-las
de inveja beijando-o na frente de todo mundo.

— Você se importa se jantássemos aqui mesmo no hotel? Lily está um


pouco chatinha e geralmente quando fica assim, chora e só quer ficar comigo.
— Pablo dá de ombros e parece sem graça.

— Tudo bem, não tem problemas, ela é prioridade, Pablo. — Ele me


abraça e seguimos para a mesa que já havia sido reservada.

— Sim, Bia. Ela é prioridade em tudo na minha vida, meu anjo precisa
de atenção extra, como você deve saber. Não é manha de criança mimada, ela
se apega rápido, Lily não sabe amar pouco, quando ama é sempre demais e
muita gente não entende isso. — Parece pensativo.

— Eu entendo, Pablo. Não tenho filhos, mas com certeza se tivesse eles
viriam em primeiro lugar. — Dou de ombros. — Quando a conheci na casa da
sua tia fiquei apaixonada. — Sorrio com a lembrança. — Ela me encantou com
o seu jeitinho doce e amoroso.

— Nem sempre é tão bonito e tão colorido, Bia. — Engole em seco. —


Apenas prefiro prolongar os dias felizes para que ofusquem os mais
complicados.

— É só olhar pra ela que sabemos que tem feito um bom trabalho. — O
garçom chega e anota os nossos pedidos, conversamos sobre um pouco de
tudo: trabalho, falo sobre a minha infância e Pablo me conta os raros
momentos que ele teve ao lado dos seus pais e do fatídico acidente que o fez
perder pai, mãe e tio.

Logo depois resolvemos dar uma volta na praia, aproveitando a lua linda
refletida no mar calmo nos dando uma visão e tanto, poucos turistas também
aproveitam, alguns até mesmo se arriscam a entrar na água, mas nós apenas
observamos em silêncio, abraçados e trocando beijos e carinhos.

— O jantar foi... — Sou interrompida quando Pablo segura o meu rosto e


me beija com uma fome, um desejo tão forte que incendeia o meu corpo me
deixando sem ar e perdendo a noção por alguns segundos. Nossa!

— Fica aqui comigo hoje. — Ele pede com uma voz sensual e um sorriso
que me deixa molhada só de imaginar o que esse homem pode fazer comigo.
Enlaço os braços ao redor do pescoço dele e o beijo de volta, estamos tão
colados que nem mesmo o vento conseguiria passar entre nós dois.

— Acho que eu posso abusar da sua boa vontade, já que é um homem


gentil e quer ceder o seu quarto para uma mulher que bebeu e não pode dirigir.
— Faço graça e ganho um olhar safado.

— Pode apostar que de tudo que quero fazer com você hoje, gentileza não
é a palavra! — Pisca um olho e morde o meu lábio.

— Que abusado! Acho que vou de táxi então... — Ele me segura mais
firme e minha respiração acelera quando sinto o quanto ele está excitado.

— Quero fazer amor com você, Bia... — A voz dele soa rouca. — A noite
toda... — Completa prendendo o lóbulo da minha orelha entre os lábios e
mordendo de leve, sinto até o último fio de cabelo se arrepiando.

— Pablo... — Minha voz sai baixa e afetada enquanto sinto suas mãos
me tocando.
— Estive fugindo por muito tempo, quando eu pensei que o amor não era
mais pra mim, você chegou e mudou tudo, e por isso, estou decidido a não
deixar as oportunidades passarem sem que eu aproveite o máximo cada
segundo, quero fazer as escolhas certas a partir de agora e preciso que fique ao
meu lado, Bia. Como mulher, amiga e amante. Sei que não será fácil, mas se
estivermos juntos venceremos todas as incertezas que surgirem em nosso
caminho. — Há tanta certeza na sua voz que é impossível não sentir cada
palavra no meu coração.

— Por uma escolha errada quase te perdi, quase deixei escapar a chance
que eu tinha para ser feliz. Mas, dizem que você enxerga o lado errado primeiro
e só assim descobre qual o lado certo, não é? O destino me fez descobrir que eu
te amo, Pablo Rodrigues. Te amei desde o dia que esbarrei com você na praia,
só não sabia disso ainda. Depois que vim pra cá fui obrigada a ver a realidade
de frente sobre os meus sentimentos e lá estava você, com esses olhos azuis
brilhantes e um sorriso sedutor. Sou sua, de corpo alma e coração, eu te amo,
Pablo. — Termino sorrindo e emocionada e beijo a sua boca quase com
adoração, sentindo que finalmente eu havia encontrado o amor lindo e sincero
que passei a vida toda nos filmes e nos livros e quis para mim.

— Eu te amo, Bia. — Pablo segura o meu rosto e me olha nos olhos da


forma que fazer 810( )-69món? O 19(deixb.25 Tmnos9(O950 Gos )-89(da )] TJETQ105.98 687.5
Tomamos água de coco e até tentamos construir um castelo de areia para Lily
— o resultado foi um fracasso.

Antes do almoço, tomamos banho e vamos para o almoço na casa dos


pais de Bianca que nos recebem com muita alegria e fazendo todas as vontades
de Lily, mesmo sobre os meus protestos que estavam mimando-a demais.

— Ahhh vocês deveriam ficar mais uns dias! — Dona Rosa, a mãe de Bia,
— É. — Dá de ombros como e estende os braços para que eu a pegue.

— Obrigada, meu amorzinho! — Bia sorri e nos despedimos com um


beijo. Ante>Tea-75.58 Tm0 g0 G[<00B3>] TJETQq0.00000912 0 612 792 reW* nBp/
um radar rodoviário, absorvo um segundo impacto vindo da traseira do carro e
então tudo fica escuro.

Pablo

É inútil tentar me concentrar no trabalho, mais cedo Bia mandou uma


mensagem, antes de embarcar, e sei que daqui a pouco deve estar entrando
por essas portas. Depois daquele final de semana em Porto de Galinhas me vejo
um homem completamente apaixonado como não me sentia há muito tempo.
Uma batida na porta me ajuda a arrumar uma desculpa para estar sem fazer
praticamente nada. Quando mando entrar, uma Larissa aparece na porta
parecendo um pouco apreensiva.

— Sr. Pablo... — Hesita e sei que algo não vai bem.

— O que houve, Larissa? — De repente sinto uma coisa ruim e fico com
um nó preso na garganta.

— E-Ela-Es-Tava-Vin-Vin-Do... — Dispara nervosa.

— Por favor, fale devagar... — Tento fazê-la falar algo coerente, mas ela
continua não falando coisa com coisa.

— Larissa! — Dou um grito para que ela se acalme e me fale algo que eu
entenda.

— A Bia estava dirigindo e... sofreu um a-acidente. — Mal termina de


falar e sinto meu mundo sendo destruído outra vez. — Acharam o celular dela
na bolsa e ligaram pra cá. Sinto muito! — Dou apenas um aceno e com o
coração batendo a mil quilômetros por minuto corro para o estacionamento
para pegar meu carro.

O hospital está lotado de enfermeiros e pacientes perambulando pelos


corredores, uns apressados e outros, desejando pressa. Tento conseguir
alguma informação, mas se recusam porque não sou parente. Parece um déjà-
vu, tudo está acontecendo outra vez, me encosto na parede segurando a cabeça
entre as mãos e não consigo conter o desespero.

Meu mundo está desabando. Meu Deus, não deixe a história se repetir...

— Umas pessoas que estavam por perto a trouxeram — um senhor com


um braço sangrando fala chamando a minha atenção. — Eu já estava aqui e
ouvi quando disseram que a moça tinha batido a cabeça, numa pancada muito
forte. Chegou inconsciente. — A dor em meu coração aumenta. Não, por favor,
Deus. De novo não... — Lágrimas caem do meu rosto e me levanto indo à
recepção mais uma vez, encontro Arthur o pediatra de Lily.

— Pablo tenta se acalmar que vou ver o que posso fazer, sua namorada
vai ficar bem, tenha fé! — Vejo quando ele conversa com a moça da recepção e
aponta para mim.

— Então, Arthur? — pergunto assim que ele volta, passo a mão pelos
cabelos nervoso.

— Eles estão fazendo uma tomografia nela... — hesita um pouco. —


Suspeitam de um traumatismo craniano, mas até verem a tomografia nenhum
diagnostico no caso dela é concreto, Pablo. São só suspeitas, por isso não lhe
deram nenhuma informação. — Ele também parece um pouco preocupado. —
Preciso ir, estão me chamando, mas qualquer coisa não hesite em me procurar,
e melhoras para a sua namorada.

— Obrigado pela ajuda, Arthur. Muito obrigado mesmo. — Recebo um


aperto no ombro e um sorriso fraco. Nessa hora Guel chega parecendo abatido,
uma mala de mão e conversa com uma enfermeira até que nos vê.

— Eles... eles disseram que ela está passando por exames, Pablito. Não
posso perder a Bia, ela é a única família do coração que eu tenho. — Ele me
abraça chorando.
— Vai ficar tudo bem, Guel. Bianca é forte e vai ficar bem — falo para
confortar a nós dois.

Assim ficamos com o coração aflito e pedindo muito a Deus para que
Bianca escapasse dessa ilesa!

Guel

Sabe aquela hora que você sente tudo que você ama sendo arrancando
das suas mãos e não pode fazer nada para mudar isso?

É assim que me sinto desde o maldito momento que me ligaram dizendo


que a minha Bia havia sofrido um acidente e estava em estado grave. Lembrei
dos nossos momentos de maluquices e de amizade onde ela me amparou e
chorou a minha dor tantas vezes que seria impossível lembrar todas.

Quantos conselhos, tanto carinho, minha Best chegou e foi ficando de


mansinho, quando vi, ela já era mais que uma irmã, era a minha menina de
sorriso lindo e coração sofrido.

Por isso que estou com o coração destruído, destroçado por dentro como
se o tivessem arrancado e esmagado.

Pablito coitado está tão nervoso que parece que vai abrir um buraco de
tanto andar de um lado para o outro. Sua mente está longe, dá para sentir
isso, seus olhos estão perdidos assim como os seus pensamentos.

— Sabe Pablito... quando eu conheci a Bia, ela havia acabado de chegar


aqui em Sampa. O sotaque nordestino forte e o temperamento mais forte ainda
fez com que nos aproximássemos muito rápido. Ela anotou o meu pedido com
um sorriso no rosto e os olhos brilhando. — Sorrio com a lembrança. — Desde
então, passei a ir todos os dias tomar o café da tarde, somente para
conversarmos. Quando percebi, aquela diabinha já havia roubado meu
coração. Virou a minha família. Eu não posso perdê-la por várias razões, mas
uma delas é que eu não suportaria o mundo sem o meu porto seguro. —
Soluço.

— Eu sei, Guel. Eu sinto isso também. — Ele me abraça e choro mais


ainda. Choro porque Pablo não se importa com os olhares curiosos, ou com
que as pessoas estão pensando ao seu respeito. Ele só me abraça e me apoia,
acalentando o meu coração.

— Quando minha esposa faleceu — Pablo chama a minha atenção


quando começa a falar. — Inventei milhões de motivos para não amar mais
ninguém além da minha filha, Guel. Eu vivi num mundo de amores de mentira
e relações tão supérfluas quanto eu naquele momento. Eu sei o valor que ela
tem na sua vida, porque Bianca mesmo sem saber, tirou-me da escuridão e me
mostrou o que era amar alguém outra vez — diz emocionado e me dando um
sorriso triste.

Nessa hora tive a confirmação que Bia havia encontrado um grande


homem para dividir a vida.

— Os senhores que são os parentes da paciente Bianca Mello? — Um


médico nos pergunta fazendo Pablo e eu darmos um salto ao mesmo tempo.

— Sim! — respondemos em uníssono.

— A paciente está estabilizada, já terminamos todos os exames


necessários e estamos aguardando os resultados — diz olhando para a
prancheta em suas mãos e não fala mais nada.

— Ela vai ficar bem, doutor... — Pablo olha para o jaleco dele. —
Giovanni?

— Tudo indica que sim, a tomografia nos fez descartar a suspeita de


traumatismo, mas detectamos um inchaço cerebral que dependendo do grau
pode ser muito grave. — Alterna o olhar entre nós dois arrumando os
óculos.

— Podemos ir vê-la? — Olho para Pablo apreensivo.

— Desde que demorem muito, posso autorizar — ele fala com uma
enfermeira que está acabando de sair do quarto e ela confirma com um aceno.
— Um por vez, por favor.

Peço a Pablo para entrar primeiro e assim que ponho os olhos na minha
Best, inspiro profundamente tentando ser mais forte do que o medo sufocando
o meu peito.

Pablo

Aproximo-me da cama onde Bia está deitada e coberta por um lençol


branco, com a cabeça enfaixada e uma marca vermelha na testa. Parece ter
escoriações leves pelo corpo, mas mesmo assim, sinto um nó se formando em
minha garganta. Uma angústia, uma dor sem tamanho.

— Bianca, meu amor, eu estou aqui — sussurro no ouvido dela


segurando levemente sua mão. — Fica comigo... — Não consigo conter o meu
desespero e choro baixinho. — Não quero te perder, Bia. Por favor, não me
deixa, meu anjo...

Com muito custo consigo ficar ao lado dela, mas só depois de promoter
revezar com um Guel muito preocupado. Sento na poltrona, ao lado da cama,
segurando a mão dela e perco as contas de quantas vezes o médico entra e sai
examinando-a, mas não me diz uma palavra sobre o estado dela.

— Ela não vai acordar, doutor? — pergunto, sem conseguir me conter.

— Na verdade, já era para ter acordado. — Sinto uma dor, como se uma
flecha rasgasse o meu coração. — Mas isso já era esperado.
— O que pode acontecer com ela? Não esconda nada de mim — ele
suspira.

— Já tiramos alguns raios X da cabeça dela, mas ainda precisamos


mandá-la para alguns exames clínicos. Bianca precisa voltar à consciência
antes. Posso te afirmar que, correr o risco de morte, ela não corre mais. —
Respiro aliviado por isso. — Na mais otimista das hipóteses, ela vai acordar só
com tontura, e sem sequela alguma.

— E na mais pessimista? — Engulo em seco.

— Ela pode acordar também, mas perder a memória... — Meus olhos


ardem e percebo que estou chorando.

O amor da minha vida se esquecer quem eu sou e de quem ela mesma é?


Perder tudo o que conquistou e aprendeu até agora?

— ...ou pior... — o doutor continua chamando a minha atenção.

— Pior? — Arregalo os olhos.

— Sim... — Ele faz uma expressão de lamento. — Se não acordar logo,


ela pode... entrar em coma. — Um soluço escapa da minha garganta e o doutor
chega até mim e bate a mão várias vezes em meu ombro, tentando me
consolar, mas parece sem jeito. Ele sai e me deixa mergulhado em uma poça de
desespero.

Fica comigo amor... fica...


Capítulo 23

Bianca

Abro os olhos e fecho rapidamente, há uma luz muito forte. Eu me mexo


e sinto dores por todo meu corpo, parece que um trator passou por cima de
mim. Abro os olhos de novo, só que dessa vez, devagarzinho até me acostumar
com a claridade. Observo em volta e vejo um soro conectado em minha mão,
então deduzo que estou no hospital. Aos poucos, o cérebro vai “conectando” à
realidade. Há um homem sentado em uma poltrona, dormindo e segurando a
minha mão.

Espera... Como eu vim parar aqui? Quem sou? Meu Deus, eu não me
lembro de nada!

Sinto minha garganta arder e minha cabeça parece que vai explodir.
Tento levantar, mas sinto uma dor tão forte na cabeça que gemo alto. O
homem dá um salto da cadeira antes que eu possa sequer respirar novamente,
confesso que isso acaba me assustando.

— Oi, meu anjo. Que bom que acordou! Graças a Deus! — Anjo? Será
que ao invés de hospital estou no céu? Eu sempre desconfiei que os anjos
fossem lindos, mas esse está de parabéns!

— Como se sente? — o homem pergunta e ainda estou admirando a


beleza desse homem. — Anjo.

— Tudo dói — falo tão baixo que não tenho certeza se ouviu. Ele aperta
um botão ao lado da minha cama e me olha com esses olhos de anjo.

— O médico virá te atender — diz calmamente. Ah, então estou no


hospital mesmo...

— Por que estou aqui? — balbucio confusa e ele me olha assustado.


— Não se lembra do que aconteceu? — nego com a cabeça que ainda
lateja. Ele parece com medo. — Se lembra de mim?

Pense, pense, Bia!

Pisco os olhos várias vezes e um flash passa diante dos meus olhos. É
como se conectasse um fio de meus neurônios. Lembro de estar dirigindo... as
pancadas... meu corpo sendo chacoalhado e depois tudo fica escuro.

— Lembra? — O homem repete ansioso.

Fecho os olhos e tento me concentrar. Fico algum tempo assim,


esforçando para as ideias brotarem mais na superfície do que a dor. Quando
abro os olhos ele parece estar esperando, com seus lindos olhos inquietos.

— Pablo... — Abro um sorriso e ele retribui com o sorriso mais lindo que
já recebi.

— Bia... Achei que tinha te perdido para sempre! — exclama como se


também estivesse sentindo dores.

— Eu voltei uma vez por você, Pablo, e sempre voltarei — falo


emocionada e ele enche a minha mão de beijos.

— Fiquei com tanto medo que você não acordasse, nunca mais me dê um
susto desses! O Guel, coitado! Quase morreu, juntamente comigo, esperando
você voltar pra nós. — Uma lágrima cai dos seus olhos e na hora que vou falar,
o médico entra. Continuo sustentando o olhar no de Pablo que não desvia do
meu.

O médico fala sobre um monte de exames que precisarei fazer e quando


me dou conta, estou sendo manuseada como uma boneca de pano nas mãos
deles, que me reviram de cima a baixo. Só depois um tempão que enfermeira
me leva de volta para um quarto e aplica um remédio para as dores e diz que
vai passar.

Acordo e quando me mexo, percebo que já estou quase sem dores —


provavelmente pelo efeito dos medicamentos. Olho para o meu lado e vejo Guel
dormindo na poltrona. Quando mexo minha mão, ele acorda.

— Oi, meu amor — fala com uma voz rouca. — Está com dores? —
Levanta, abatido, com olheiras e um semblante cansado. — Eu vou chamar o
médico.

— Guel, o que aconteceu? Eu... eu estava com dores, principalmente na


minha cabeça, mas já está passando. Cadê o Pablo?

— Best, os médicos fizeram seus exames, eles suspeitavam que você


tivesse com traumatismo craniano ou hemorragia cerebral. — Sinto meu corpo
gelar. — Mas... como Deus é pai, graças à Ele, você não tem nada nessa sua
cabecinha dura. — Sorri limpando as lágrimas. — E quanto ao seu príncipe
encantado... eu obriguei a ir descansar um pouco, com a promessa que
amanhã, logo cedo, é a vez dele vir ficar com você.

— Preciso continuar aqui? — Choramingo.

— Claro! Você quase quebrou o crânio naquele volante! — Quase grita. —


Bia... você me deu um susto hoje. Quase morri quando soube o que aconteceu.
Estou ficando velho não aguento mais uma emoção dessas novamente. — Guel
sorri, mas vejo umas lágrimas descendo em seu belo rosto.

— Eu te amo, Guel, não vou te deixar sozinho nunca — falo também


emocionada.
— Eu também te amo, bebê. — Seca as lágrimas — Agora mudando de
assunto... O Pablo enlouqueceu, aqui no hospital, por sua causa. — Cochicha e
franzo a testa, mas me arrependo logo que sinto dor. — Ele fez uma cena na
recepção para que o deixassem ficar aqui com você. Xingou o médico, porque
ele não queria informá-lo sobre o seu estado. — Ele dá uma gargalhada. —
Menina, as enfermeiras estão babando por ele. — Sorrio, porque só o Guel
consegue me fazer sorrir numa situação dessas.

— Sério? — pergunto interessada e ele se empolga.

— Seriíssimo, foi um sacrilégio ficar aqui. Quase tive que sair no tapa
com ele. Se bem que... — Faz uma cara safada arqueando as sobrancelhas.

— Pode parando de ter pensamentos safados com o meu namorado, seu


pilantrinha!

— Desculpa, amor. Foi um momento de fraqueza! — Põe a mão no peito


fingindo estar arrependido. — Mas vou dizendo logo... quero os detalhes
sórdidos de Porto que até agora você não me contou.

— E nem vou contar, seu tarado! — Dou língua para ele e dou um
sorriso sonolento.

— Descansa meu amor, eu estou aqui velando o seu sono. — Ele diz
baixinho e me entrego ao sono que vai me vencendo aos poucos...

Dias depois...

Pablo

Esses dias tem sido uma loucura com Bia, no hospital, estou
praticamente me virando em três para dar conta de tudo. Trabalho, Lily e ficar
aqui com ela. Guel e eu revezamos trocando os horários para não deixá-la
sozinha por muito tempo.

Abro a porta e vejo Bia acordada e com um sorriso lindo no rosto, está
toda arrumada, provavelmente Guel deve ter ajudado.

— Oi meu anjo, dormiu bem? — pergunto depositando um beijo suave


em seus lábios.

— Dormi sim. E você? Parece cansado, eu amo quando você fica comigo,
mas precisa descansar também, eu não vou fugir daqui. — Faz graça.

— Sonhei com você — falo, dando-lhe um meio sorriso.

— Foi? Então me conta, foi um sonho bom? — pergunta curiosa. Tão


linda!

— Acho melhor não. — Sonhei com ela nua em meus braços, sendo
minha. O que é? Eu não mando nos meus sonhos! — Depois te conto. Aliás,
tenho ótimas notícias. — Mudo de assunto rapidamente. Faço uma trilha de
beijos pelo seu pescoço até o queixo.

— Bianca, você já pode ir para casa, o médico disse que precisará voltar
daqui a quinze dias para refazer alguns exames, mas no geral está tudo bem.
— Nossos lábios estão a centímetros de distância.

— Que bom, não aguento mais ficar aqui! Pode me beijar agora para
comemorarmos? — sussurra e sinto um cheiro delicioso de menta.

— Com todo prazer. — Seus lábios macios estão exigentes e tento beijá-la
delicadamente, mas ela aprofunda o beijo, não resisto e a toco de volta na
mesma intensidade. Ouvimos uns pigarros e depois uma voz irritante que já
conhecemos muito bem, apenas nos atormentando.
— Certos pombinhos, podem parar com essa agarração toda, porque a
mocinha fogosa tem que ir para casa. — O filho-da-puta ainda sorri.

— Guel! — falamos juntos. Ele começa a sorrir e nós, logo em seguida,


acabamos nos juntando em uma risada coletiva.

Como o empata beijos já tinha resolvido toda papelada no hospital,


pegamos todas as coisas da Bia e vamos para casa. Já está escurecendo
quando chegamos, sem me importar com os protestos de Bianca, que ainda
debilitada quer dar uma de Mulher Maravilha, eu a ajudo a se acomodar e a
levo até sua cama. Dou um beijo em sua mão e digo a Guel que preciso falar
com ele, arrastando-o para a cozinha.

— Pablo, não estou querendo te expulsar nem nada, mas se você quiser
ir tudo bem. Precisa de descanso. — Ele é quem parece exausto.

— Então, era sobre isso que eu queria falar com você. Eu não vou, quero
ficar um pouco com ela hoje, aproveitar que Ray e Lily vão dormir na minha tia
e ter uma noite das meninas, como elas mesmas disseram.

— Pablito, eu entendo. Mas me promete uma coisa? — Ele parece aflito e


confirmo.

— Faz ela feliz. — Começa a chorar e eu contenho minha emoção porque


me sinto exatamente assim, sendo completamente dela. — Estou confiando a
você a única pessoa importante que eu tenho nessa vida. Não aguento mais vê-
la sofrer.

— Miguel, eu a amo! — Coloco a mão em seu ombro. — Farei de tudo


para que ela seja feliz. Eu prometo que vou cuidar bem do grande amor da sua
vida. — Ele ri e me abraça.

— Bom, eu já vou indo... Estou exausto. Como nos revezaremos para


cuidar dela?
— Pela manhã eu trabalho, mas durante a tarde fico livre. À noite
poderemos fazer assim, uma noite eu durmo com ela, outra noite, você.

— Okay, por mim tudo bem. Então hoje você dorme aqui?

— Sim, aproveita para descansar.

— Sim, estou precisando, só irei me despedir dela. — Ele vai até o quarto
se despedir de Bianca, mas logo volta falando que ela já está dormindo.

— Tchau, Pablito. Qualquer coisa me liga. — Boceja.

— Pode deixar.

Assim que ele sai, pego o meu celular ligo para Ray, peço para trazer um
par de roupas e meu notebook antes de ir para casa da minha tia. Assim que
ela me traz tudo, passo horas trabalhando para adiantar as coisas mais
urgentes e respondendo os e-mails de Bryan, que tem me ajudado e muito
nessa correria.

— Guel... Guel vem aqui, por favor? — Tomo o maior susto quando Bia
fala e me aproximo dela, largando tudo o que estava fazendo.

— Oi, meu anjo, está sentindo alguma dor? — Fico olhando-a


minuciosamente.

— Não muita. Cadê o Guel?

— Ele já foi, estava cansado. Hoje à noite eu vou ficar aqui com
você. — Ela sorri um pouco dando, um aceno.

— Preciso de água — fala baixinho. — Minha garganta está seca.

— Só um minuto. — Praticamente voo até a cozinha e pego uma jarra e


um copo. Depois que ela bebe água, ajeito seu travesseiro e sento ao seu lado
na cama, pego sua mão e começo a alisar levemente. Observo os seus
machucados nos braços, pernas e uma cicatriz pequena na testa ainda roxa.

— Obrigada por estar cuidando de mim e ter ficado ao meu lado. Tudo
ainda é tão recente entre nós que eu pensei, que... — Toco em seus lábios para
silenciá-la.

— Eu fiquei ao seu lado porque a minha vida não tem mais sentido sem
você. — Lágrimas caem em seu rosto e eu passo a mão delicadamente,
secando-as. — Sei que a minha vida não é fácil, tenho uma filha que exige
muito de mim e se entrar na nossa vida de vez, irá exigir de você também. Mas
eu te amo, meu anjo. Agora você tem o poder de esmagar meu coração se
quiser, pois ele é todo seu.

— Pablo, também te amo tanto... — Ela toca o meu rosto, atraindo-me


em sua direção. — Amo a Lily e amo tudo que vem de você. Não importa a
situação, podemos enfrentar juntos, apesar que agora não estou aguentando
nem comigo. — Rimos juntos e me deito ao lado dela que se aninha a mim
como pode.

Colo meus lábios nos dela. É um beijo voraz e amoroso ao mesmo tempo,
que vale por mil palavras. Nossas línguas se encontram e parecem matar a
saudade que sentiam. Bianca geme na minha boca e sinto todo o sangue do
meu corpo seguir para a minha virilha. Passo a mão pela sua nuca, puxando-a
delicadamente para mim e aprofundo o beijo. Após alguns minutos, nós nos
separamos ofegantes, nossas testas quase encostadas e percebo que sua boca
está vermelha, comprovando o que acabou de acontecer e sorrio.

— Bia... há uma parte da minha história que você precisa conhecer. —


Engulo em seco. — É importante que você saiba já que pretendemos construir
uma vida juntos.
— Estou aqui para ouvir tudo que você quiser me dizer. Quero ser
alguém que você possa confiar.

— Eu nunca falei com ninguém sobre isso, quero dizer... você conseguiu
o que a minha tia e o Bruno tentaram a vida toda. — Engulo com dificuldade o
nó que se formou em minha garganta. — Eu quero te contar tudo, porque não
sei se sou capaz de falar sobre isso outra vez. Você me entende? — Ela acena e
me olha intensamente, então eu vejo tanto amor e compreensão que não hesito
e abro velhas feridas dentro de mim para que Bianca possa me ver como eu
sou — falar sobre Laura ainda dói muito.

— Entendo Pablo e fico muito honrada em saber que você me escolheu


para isso. Mas estou confusa: como assim Laura é o assunto?

— Lembra quando te falei da garota que eu namorei por um tempo na


faculdade e depois devido a nossa imaturidade, nós nos separamos? — ela
confirma. — Pois bem, Laura era o nome dela. Pouco mais de um ano depois de
nos separarmos, nós nos reencontramos em uma festa na praia.

— Você lembra? — fala interessada. — Acho tão lindas histórias assim...

— Lembro-me perfeitamente. O sol já estava se pondo... Eu a reconheci


de longe. Estava linda! Seu vestido branco balançava contra a maresia. Nós
conversamos por algum tempo e depois que cada um foi pra casa, continuamos
a nos falar por telefone. Até que um dia decidimos tentar de novo, namoramos
durante sete meses e fiz o pedido de casamento, eu sabia que ela era a mulher
da minha vida. Então, para que esperarmos? Casamos e pouco de mais de um
ano depois, Laura engravidou...

— Nossa, eu achava que esse tipo de amor só tinha nos filmes — fala
mais para ela do que para mim.

— Acredite em mim, ele existe. O que eu vivi com a Laura foi mais do que
mágico, foi real. Nós vivíamos um amor inexplicável, eu era o homem mais feliz
do mundo. — Por um minuto, eu me transporto ao passado e parece que se
passa um filme em minha mente. — Quando recebi a notícia que Laura estava
grávida, senti uma felicidade que não cabia em meu peito de tão grande que
era. — Sorrio ao lembrar. — Queria gritar aos quatro cantos do mundo que eu
era o homem mais sortudo do universo. Mais tarde descobrimos que era uma
menina, aí percebi que a nossa felicidade estava completa, nós teríamos uma
princesa — suspiro. — Começamos a procurar os nomes, mas sempre sem
sucesso. Um dia, Laura me sugeriu que fosse Lilyan e assim ficou seu nome:
Lilyan Oliveira Rodrigues. A nossa Lily. — Sinto minha garganta secar e engulo
com dificuldade. — Bia percebe e me interrompe.

— Pablo, se você não quiser me contar, eu entenderei. — Bia me encara


com os olhos cheios de lágrimas não derramadas.

— Não. Irei contar tudo agora. Preciso. — Não sei se teria coragem de
relembrar. Bia cruza os nossos dedos segurando a minha mão com força e
ficamos nos olhando por alguns minutos. Continuo falando mesmo com o
coração apertado.

— Tudo estava indo super bem... Até que um dia... ela me liga
perguntando a que horas eu iria chegar do trabalho, pois estava preparando
um jantar especial, era o nosso segundo aniversário de casamento. Laura
estava animada porque Lily não parava de chutar e que iria ao mercado fazer
algumas compras, mas que assim que chegássemos, precisaríamos ter uma
conversa séria relacionada a bebê. Eu insisti tanto para que ela me esperasse.
— Fecho os olhos sentindo uma dor sufocante. — Insisti tanto, Bia, mas Laura
não me ouviu! Então praticamente implorei para que tomasse cuidado, afinal já
estava com sete meses de gestação e era muito perigoso.

Cerca de meia hora depois, senti uma dor imensa em meu coração, um
vazio enorme e aquilo não passava... — Lágrimas rolam em meu rosto não
consigo mais me conter. Bia passa a mão delicadamente em meus cabelos, é
uma sensação boa e calmamente volto a contar a minha história.

— Então, peguei o carro e fui para casa, sentia que algo estava errado.
Quando já estava perto, reparei que no caminho tinha acontecido um acidente,
desci do carro pra ver se eu podia ajudar em algo, me juntando a grande
multidão de curiosos, notei que todos olhavam com compaixão, uns com pena
e outros horrorizados. Então quando cheguei próximo ao local e as pessoas
abriram caminho para que eu passasse. Foi aí que avistei o carro dela, meu
coração parou, meu sangue gelou e corri procurando por minha mulher. —
Alguns flashes me lembram exatamente como as coisas aconteceram naquele
dia. Levanto o olhar e vejo Bianca chorando.

— Não a encontrei e fiquei desesperado, estava tão desnorteado que


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— Logo depois eu descobri que Rodolfo Freitas havia matado a minha
mulher.

Bianca me olha chocada e vejo que falei demais!

Capítulo 24

Bianca

Dizer que estou chocada com tudo que Pablo me contou é pouco! Como
eu poderia imaginar que ele já passou por tudo isso? Quanto sofrimento meu
Deus! Ainda não consigo acreditar na última frase que ouvi, sinto até um frio
na espinha quando um pensamento horrível passa rapidamente na minha
mente.

— Você acabou de me dizer que o homem que eu me relacionei matou a


mulher da sua vida? Pelo que você disse foi um acidente... não foi? — Minha
voz treme e sinto uma coisa ruim no peito.

— Merda! Eu não deveria ter deixado isso escapar, você precisa de


descanso para se recuperar, desculpa. — Pablo se levanta e passa as mãos pelo
rosto parecendo cansado.

— Você me disse que ia contar tudo, Pablo. Não quero que me esconda
nada. — Ele me olha indeciso e não desvio o olhar do seu desafiando-o a ir até
o final
Sim. Ela está na incubadora e já pode vê-la, mas antes o doutor que fez
o parto quer conversar com o senhor. a enfermeira respondeu me dando um
sorriso gentil que não consigo retribuir.

Graças a Deus. Soltei a respiração que nem sabia que estava


prendendo. Ela me levou até uma sala e um médico se apresentou como doutor
Guilherme Silva, ele me explicou que Lily precisaria ficar na incubadora por pelo
menos dois meses.

No meio de tudo isso, Deus lhe deu um presente, uma razão para
continuar vivendo. Não é fácil cuidar de uma criança com Síndrome de Down,
mas seja forte. Minha mente parou quando ouvi suas últimas palavras.

Down? perguntei confuso. O senhor deve estar enganado, a minha


filha não tem Síndrome nenhuma! Afirmei, incrédulo com a irresponsabilidade
dele em se confundir dessa maneira.

O senhor não sabia? Ele parecia horrorizado e arregalou os olhos.

Já disse que está enganado. Claro que eu saberia se a minha filha


tivesse qualquer coisa diferente das outras crianças, a minha esposa jamais
esconderia algo tão sério! falei exaltado.

Por favor, me acompanhe. Ele se levantou e o segui como se o peso


do mundo estivesse nas minhas pernas. Senti pânico ao ver tantos bebês presos
em fios, tão pequenos, lutando pela vida, parecendo tão desprotegidos. Ele parou
na frente de uma incubadora e me olhou, indicando para que me aproximasse. O
médico me analisou com cautela e tive a certeza que ele não se confundiu. Essa
menininha minúscula e magrinha...

Essa criança doente não é a minha filha! Não pode ser. Olhei para as
máquinas, a forma como ela parecia respirar com dificuldade e me desesperei.
Me diga que isso é um pesadelo, doutor. Minha voz saiu estrangulada. Ela
não tem síndrome de Down, a minha filha é completamente normal falei sem
querer acreditar no que os meus olhos viam.

Mas... ouvi a voz do médico zumbindo nos meus ouvidos, porém cada
vez ficava mais distante. Apressei os passos querendo sair desse lugar o mais
rápido possível. O meu peito sufocou com a imagem que se repetia por várias
vezes na minha cabeça sem trégua.

E agora como vou criar a Lily sozinho?

Como poderia cuidar de uma criança assim?

Saí sem rumo, a procura de um alívio que me tirasse desse pesadelo que
insistia em me perseguir...

Percebo que Bia está me olhando há muito tempo. Levanto e sem dizer
nenhuma palavra, ligo para o restaurante aqui perto e peço sopa para o jantar,
assim que chega jantamos em silêncio.

— Você não vai me contar sobre o que estava pensando? — pergunta


enquanto ajudo-a a colocar um pijama confortável.

Então abro o meu coração e conto tudo.

— Vo-Você não sentiu amor pela Lily? — Bia pergunta com lágrimas nos
olhos.

— Eu não me orgulho disso, mas não senti nada por ela naquele
momento. Fiquei cego, me revoltei com a vida e ignorei a minha própria filha.
Os dias foram passando e eu me recusava a vê-la ou tocá-la. Ela passou dois
meses e meio no hospital, Bia, e eu não fui vê-la. Estava bebendo e saindo com
mulheres estranhas enquanto a minha filha lutava pela vida, sozinha naquele
hospital. Nunca irei me perdoar por isso.

— Pablo, cada um reage de um jeito com as bombardeadas que a vida


nos dá. A sua dor te deixou cego, mas quem é que pode te julgar? — ela tenta
amenizar a minha culpa, mas não sabe nem a metade.

— Eu queria poder te dizer que assim que a Lily foi para casa da minha
tia, eu me arrependi e a aceitei como filha, mas não foi isso que aconteceu.
Fiquei assim por duas semanas até que um dia a minha tia Maria me
chamou...

Seis anos antes...

Pablo, você sabe que eu te amo! Faria tudo por você e pela Lily, mas
isso acaba aqui! A partir de hoje não cuidarei dela. Olhei e vi que tia Maria
estava arrumada, pisquei surpreso.

A senhora sabe que não quero ver essa criança respondi secamente.
Não posso cui...

Você pode e vai! Ela me interrompeu séria. Está na hora de


acordar e ver a realidade que está bem na sua frente. Sua filha precisa de você,
Pablo. Imagina se um dia a Laura soubesse como você está tratando a filha de
vocês? É assim que você cuida do que é seu? Não respondi e senti doer no
coração cada palavra. Filho, não estou te dizendo isso para te machucar, mas
às vezes, só aprendemos quando dói, só acordamos quando tocam a nossa alma
e cavam nossas feridas. Eu te amo e é por amor que hoje entrego sua filha, lhe
devolvendo o papel de pai. Ouvimos um choro e comecei a entrar em
desespero.
A senhora não vai vê-la? Olhei em direção ao quarto preocupado,
mas ela nem se mexeu.

Não respondeu-me com os braços cruzados.

Não pode estar falando sério!

Sim, estou. Ela olhou para o relógio Preciso ir...

Tia, a senhora não vai fazer isso! falei aflito e entrando em pânico.
Eu não sei o que fazer...

Sim, você sabe, tem uma mamadeira pronta, é só dar a ela e depois
colocá-la para arrotar.

Eu não sei fazer isso! Tia, não faz isso comigo...

Preste atenção... ela me disse como fazer uma criança arrotar e sai
sem olhar para trás.

Entrei no quarto receoso, pois aqui dentro estava a única pessoa que eu
não tinha coragem de olhar nos olhos. Mesmo morrendo de culpa e vergonha me
aproximei do berço e vi uma garotinha com os olhos fechados chorando
estrondosamente. Cheguei mais perto e ainda hesitante comecei a passar os
dedos nos cabelinhos loiros daquela pequena princesinha chorona. De repente,
ela abriu os olhos e senti o meu coração parar.

Eram os meus olhos... Lily havia herdado os meus olhos!

Peguei-a em meus braços meio sem jeito e comecei a chorar, como se de


repente tudo valesse a pena. Ela era minha... tudo de bom que havia em mim
bem nos meus braços diante dos meus olhos. A bebê chorona calou me
encarando com dois olhões azuis como os meus e ficou sossegada assim que
comecei a niná-la todo desengonçado, era como se ela finalmente encontrasse o
que precisava.
O papai está aqui Lily. Nunca mais vai te abandonar outra vez. Me
perdoa filha. Beijei a cabeça dela, sorrindo. O seu pai é um idiota, mas já
não consegue viver sem você, meu pequeno pontinho de esperança...

— Que lindo, Pablo! Eu te amo, sabia? — Bia me abraça, empolgada, e


depois reclama por causa das dores.

— Que bom, porque eu te amo também — falo secando os meus olhos. —


Nossa, você deve estar me achando um bobão sentimental.

— Eu amo a pessoa mais linda que já vi na vida. Não só por fora, mas
por dentro, o que é mais importante. — Segura o meu rosto e encosta os seus
lábios nos meus, delicadamente e começamos a fazer amor com as nossas
línguas em uma dança que só elas entendiam. É isso que o amor faz, ele nos
permite sentir coisas inexplicáveis.

Capítulo 25

Bianca

Acordo com um cheiro de comida vindo da cozinha. Levanto, lentamente,


sentindo um pouco de tontura, mas logo passa e ando devagarzinho até o
banheiro quando me olho no espelho tomo um susto.

— Cristo amado, como eu estou horrível, cruzes! Não acredito que Pablo
me viu assim! Meu cabelo está parecendo um ninho de passarinho, e o meu
rosto nem se fala, parece que saí de um filme de terror! — Faço minha higiene
matutina e ouço Pablo entrando no quarto com uma bandeja nas mãos.

— Bia, você não deveria ter levantado sozinha. — Deposita a bandeja


com café da manhã em cima da cama e me abraça, dando um beijo suave nos
meus lábios, encosto a cabeça em seu peito sentindo o cheiro dele de banho
recém tomado. — Bom dia, meu anjo, dormiu bem? — pergunta e dou um
aceno. — Ótimo, por que eu não. Tive que levantar cedo, não aguentei o
barulho do seu ronco.

— Mentiroso, eu não ronco. — Bato de leve no ombro dele.

— Ronca sim. — Ri da minha cara.

— Você é sempre engraçadinho assim logo pela manhã? — Semicerro os


olhos e ele me ajuda a sentar.

— E você é sempre chata assim logo pela manhã?

— Sim, já acordo de mau humor — digo incapaz de conter o riso. —


Ainda mais quando tem um cara na minha cozinha mexendo nas minhas
panelas.

— Ah, deixa de ser chata e se não vou te deixar com fome! — Antes que
ele se vire, seguro o braço dele que me olha confuso.

— Bom dia, amor. — Dou um beijo nele e ganho um sorriso lindo.

Tomamos café tranquilamente e falo um pouco com Lily, que está toda
preguiçosa e sem querer ir à escola, ficamos conversando até que Guel chega
com seu jeito espalhafatoso me enchendo de beijos e me xingando ao mesmo
tempo por tê-lo deixado tão preocupado nos últimos dias.

O interfone toca, ele atende e nos avisa que é o delegado Paulo Rocha
que veio falar comigo e olho apreensiva para ele e Pablo que me tranquilizam.
Guel me ajuda a tomar um banho e troco de roupa, quando chego na sala
percebo que o Delegado me olha minuciosamente e coro até o último fio de
cabelo, olhando para Pablo que também deve ter percebido porque está com
cara de pouquíssimos amigos.

— Já não vou com a cara desse delegadozinho — sussurra, ajudando-me


a sentar, devagar. Antes que possa fazer qualquer coisa Pablo tasca um beijo
na minha boca, como se tivesse demarcando seu território e quase reviro os
olhos. Fico vermelha quando vejo um sorrisinho divertido no rosto do tal Paulo
Rocha.

— Amor, qualquer coisa me liga estou aqui do lado. — Faz questão de


deixar isso bem claro. Meu pai do céu que vergonha! — Vou lá ficar com Lily
um pouco. — Passa um rabo de olho no delegado e dá um bom dia seco, saindo
sem seguida e me deixando mais sem graça que comida sem sal. Olho para
Guel quase implorando para que solte uma das suas pérolas e me salve dessa
situação.

— Então delegado delí... — pigarreia. — Rocha, o senhor aceita uma


água? Café? Suco? Refrigerante? Eu?! — Contenho a risada com a última
opção. — Eu... posso buscar — acrescenta rápido.

Esse meu amigo não vale nada!

— Não. Obrigado, senhor Miguel. — Quase pude ouvir o Ahhhhhh!!!, na


cabecinha oca de Guel. — Senhorita Bianca. — Olha na minha direção. — A
senhora poderia me contar como se deu o seu acidente?

— Hum, sim. Mas vou logo adiantando que não me lembro de muita
coisa. — Faço uma narração do pouco que lembro e ele anota tudo
rapidamente.

— É uma lástima que não lembre de alguns detalhes, mas mesmo assim,
obrigado por contribuir com as investigações — fala com um sorriso
incrivelmente branco com dentes perfeitos, passando a mão pelos cabelos
despenteando-os de uma forma sexy. Não creio que ele está me dando o maior
mole! — Tenha um bom dia e tomara que se recupere logo, mulheres lindas
assim não podem ficar em casa, devem ir para rua embelezar nossa cidade.

— Obrigada — falo simplesmente com medo de passar a ideia que estou


alimentando qualquer que sejam as suas intenções. Ele levanta e acena uma
despedida.

— Bom dia Sr. Miguel. — Dá um aceno e vejo Guel quase desmaiar.

— Bom dia para o senhor também. — Assim que ele dá as costas


olhamos automaticamente para a bunda dele e claro, Guel começa a tagarelar
como sempre.

— Menina, você viu aquela bunda? — Gesticula como se tivesse pegando


aquela perfeição em forma de bunda.

— Viiiiiii... Ele estava me dando o maior mole você viu? Ainda bem que
Pablo foi ver a Lily, caso contrário iria preso por desacato, tenho certeza! —
Ficamos sérios por alguns segundos e depois caímos na risada.

— Pode deixar que eu aprecio por você. — Arqueia as sobrancelhas com


uma carinha safada.

— Pode apreciar à vontade, afinal a de Pablo é melhor e é só minha. —


Pisco um olho para ele.

— Vaca sortuda! Ainnnn, bem que você podia inventar uma desculpa
para encontrarmos com ele né? — Guel dá um salto andando pela casa com
uma carinha pensativa de quem vai aprontar.

— Nem começa, Guel. Você endoidou?

— Ai Bia, já estou até imaginando...


— Começou os delírios... — Reviro os olhos.

— Ele com aquelas algemas, só de colete, com aquela voz sexy dizendo,
Miguel... Aí eu diria, “Me prende delícia, me joga na parede e me mostra o
tamanho da sua pistola!” — diz se abanando dramaticamente. Tenho uma crise
de risos e ele depois se junta a mim.

— Que você é doido só pode! — Limpo as lágrimas de tanto rir.

— Minha filha, já imaginei tudo, escuta só... — fala um monte de


besteira, fazendo-me gargalhar.

Esse é o meu amigo transformando um momento que deveria ser tenso


em pura diversão.

Acordo e sinto um corpo quente junto ao meu. Não me lembro do Guel


ter vindo dormir também quando eu resolvi tirar uma soneca... Olho e pelo
tamanho do braço percebo que é Pablo. Dorme tranquilo, um verdadeiro anjo,
meu anjo. Tento sair, mas ele me segura pela cintura com cuidado.

— Fica... — pede ainda sonolento. Aconchego-me ao seu corpo e ficamos


abraçados por um tempinho, até que ele interrompe o silêncio.

— Amor, como foi a sua conversa com aquele delegadozinho? — Luto


para me controlar e não rir do seu ciúme.

— Eu não me lembro de muita coisa, acho que o meu depoimento não


ajudou em nada — falo frustrada.

— Eles vão aproveitar a falta de provas e fechar o caso — Pablo completa


parecendo inconformado.

— Será?
— Se não tinha câmeras perto do local e o covarde sumiu no carro, acha
que vão fazer o quê?

— Tem razão... — concordo triste.

— Eu estava pensando... e resolvi que vou à delegacia cobrar resultados,


não quero que aquele canalha saia ileso dessa vez.

— Pablo...

— Ele tem que pagar, Bia. Pela Laura e por você também; dessa vez
Rodolfo tentou e falhou, mas com certeza ele pode querer tentar novamente e
dessa vez pode não haver falhas. — Pablo me olha sério realmente preocupado.

— Então toma cuidado amor, estou preocupada... — Ele me dá um beijo


e depois se levanta.

— Não se preocupe, eu volto logo.

Assim que ele sai fico com o coração na mão, sinto que o Pablo está
prestes a fazer uma besteira...

Pablo

Chego à delegacia e procuro pelo delegado e por causa da maldita


burocracia esperei um tempão para ser atendido.

— Senhor...?

— Pablo Rodrigues.

— Pablo Rodrigues. — Parece decorar o meu nome— Em que posso


ajudá-lo?

— Preciso saber como anda a investigação da batida no carro da minha


namorada.
— Devia ter perguntado isso quando estive no prédio, não? — Ah, então
ele ainda conseguiu lembrar da minha fisionomia mesmo babando pela minha
namorada.

— Eu esperava que o depoimento dela acrescentasse mais algumas


provas, mas pelo que Bia me falou creio que não tenha feito muita diferença.

— Provas de quê? — O delegado franze a testa.

— Do crime que aquele crápula cometeu — falo entre dentes.

— De quem está falando, Sr. Pablo?

— É uma história longa, delegado.

— Então porque não me conta? — ele indica a cadeira em frente à sua


mesa e nos sentamos.

Depois que eu narro toda a história, vejo dúvida nos olhos do delegado
Rocha. Ele não sabe se acredita ou não no meu relato.

— Sr. Pablo, acho que sabe que não podemos prender alguém sem
provas.

— Caramba! Eu estou dizendo tudo o que ele fez, sou uma testemunha.

— Não, não assim. Entenda que um simples telefonema não pode...

— Porra! — Eu o interrompo. — Aquele canalha vai se safar outra vez?

— Primeiro, maneire o linguajar, por favor.

— Desculpe — resmungo a contragosto e passo a mão pelos cabelos,


nervoso.
— ... e segundo, se não há provas, a Polícia só pode colocar esse Rodolfo
Freitas na lista de suspeitos, cogitando o acidente da Srta. Bianca como um
crime doloso, já que houve ameaças.

— E vão chamá-lo para interrogatório? — pergunto esperançoso.

— Sim, sim. Vou pedir um mandato para o juiz da vara criminal e em


alguns dias...

— Delegado! — Levanto agoniado e quase grito. — Se deixar passar


alguns dias, aquele ordinário pode tentar matar a minha mulher novamente e
nunca sabemos se alguém sai ileso na próxima vez. — Ele entorta a boca como
se não pudesse fazer nada além de esperar. — Quer saber? Eu vou resolver
isso do meu jeito! Obrigado e me desculpe por ter tomado seu tempo. — Já
estou na porta quando ele me chama.

— Sr. Pablo, o que pensa em fazer? — Como não respondo ele continua.
— Fazer justiça com as próprias mãos não é a melhor saída, devemos confiar
na lei, sempre!

— Por causa da lei perdi a mãe da minha filha e até hoje o assassino dela
está ileso. Ficar sem fazer nada também não é a melhor saída. Eu vou lá tirar
toda a verdade daquele assassino!

— Já pensou se ele tenta algo contra você também? — Ele me faz pensar
numa consequência que eu não tinha pensado antes.

Mas não tenho medo daquele imbecil. — Tenho que arriscar é a minha
família que está em risco.

Estaciono numa rua ao lado do apartamento daquele crápula e saio do


carro, seguindo até lá. Passei tantas vezes por aqui quando estava destruído...
decorei o seu endereço jurando matá-lo! Mas aí... lembrava de Lily e via que
não valia a pena por causa dela. Quando a porta é aberta meus dedos coçam
para esmurrar a cara cínica dele.

— Pablo, que surpresa boa! — Sorri ironicamente. — De certa forma eu


esperava por você, entre. — Fico desconfiado, mas entro mesmo assim.

— Cumpriu a ameaça, não foi? — falo olhando-o nos olhos.

— Do que fala, meu amigo? — aponta para o sofá e senta em outro, de


frente para mim, segurando uma taça de champanhe.

— Não se faça de burro, Rodolfo.

— Não sei do que está falando. — Ele sorri me olhando de baixo em cima.
— Você parece inteiro. — Dá de ombros tomando um gole da bebida.

— Mas Bianca não.

— Bom, ela sobreviveu, não foi? Está se recuperando e tudo mais, então
tecnicamente eu não cumpri... ainda. — Pisca um olho como se degustasse o
líquido que desce pela sua garganta e sinto vontade de esganá-lo lentamente...

— Filho da puta! — Levanto pronto para quebrar essa cara de merda


dele, mas me contenho pois vim em uma missão. — E como sabe do estado de
saúde dela?

— Tenho os meus contatos. Por que veio aqui, Pablo? Quer ouvir como
eu fiz? Se quiser, conto os detalhes. — Dá de ombros.

— Na verdade, eu vim aqui para quebrar a sua cara. E tirar uma boa foto
para todos verem essa carinha vaidosa de merda toda estragada.

— Você sempre teve senso de humor, meu amigo. — A risada dele agora
vira uma gargalhada.
— Eu não sou seu amigo há muito tempo. — Ao ouvir a minha frase eu o
vejo recuar por alguns segundos e parar de rir.

— Tem razão. Deixamos de ser quando você roubou a Laura de mim. —


Seu olhar escurece e vejo um ódio mortal refletido neles.

— Eu roubei de você? Eu? Ela se apaixonou por mim! E você disse que
estava tudo bem e que queria que eu fosse feliz — grito.

— Humm, sim eu disse. Mas era ao lado de uma puta qualquer, não
junto dela — aponta para si mesmo. — Ela era para ser minha. Minha! E você
se intrometeu em meu caminho estragando tudo.

— Não me venha com essa desculpa absurda, você sabia muito bem que
se ela chegasse até você, eu não me intrometeria. Ao contrário do que você fez,
não é? Você arruinou a vida dela. — Termino a última frase sentindo a minha
voz sumir.

— Sabe... — Ele ri. — Até hoje eu fico pensando como é o destino, eu


estava andando tranquilamente certo dia e o celular tocou. Era a minha mãe
dizendo que não estava se sentindo muito bem. Então eu desliguei o celular e
acelerei. Não olhei pedestres, outros carros e nada mais. Eu só queria chegar
em casa logo, então ultrapassei o sinal vermelho... e bati em um carro.

— Era a Laura... — falo mais pra mim do que pra ele.

— Você não vê como o destino age? Ele a colocou na minha frente!


Poderia ser uma pessoa aleatória, alguém que eu não conhecia... Eu poderia
até pedir que alguém ligasse para a emergência porque minha mãe estava
morrendo em casa. — Cerra o maxilar — Mas, quando eu olhei no banco do
motorista e vi que era a Laura...

— Você negou socorro. Você a deixou morrer. — Levanto pegando a gola


da camisa dele levantando-o.
— O destino une as pessoas na vida e na morte. — Bate com o dedo no
meu peito. — Interessante, não é? — Jogo ele com tudo contra parede e o
cretino ri ensandecido.

— Só que com a Bianca... — instigo para ver até onde ele vai.

— Ah, a Bianca! Com ela, eu tive que forçar que o destino colaborasse
comigo, sabe como é... sou um homem de palavra! E...

— Amorzinho, tá tudo bem? — Ouço uma voz feminina que me é familiar


vindo do quarto. Rodolfo sorri parecendo se divertir.

— Está sim. Venha aqui, por favor. — Quando a dona da voz aparece na
sala não consigo acreditar.

— Patrícia!? — Arregalo os olhos.

— Olha quem está aqui... — A voz irritante dela zune nos meus
tímpanos.

— Vocês estão juntos desde quando?

— Bom, Pablo... — Rodolfo anda lentamente até a mim. — Há algumas


semanas atrás, nos reencontramos em um restaurante e sentamos juntos para
o almoço. A conversa rendeu tanto que terminamos na cama. Não foi, minha
deusa? — Ele olha para Patrícia sentada confortavelmente no sofá e confirma
tudo como se tivesse feito uma boa ação. — Então descobrimos que tínhamos
muita coisa em comum como, por exemplo, a aversão dela pela Bianca e a
minha por você. — Semicerro os olhos.

— Vocês tramaram bater no carro da Bia!

— Ah, sim! Na verdade, foi ideia da Paty. — Olho na direção dela


incrédulo e ela pisca um olho para mim. — Contei o que tinha acontecido seis
anos e ela me fez entender que eu poderia fazer outra vez e escapar ileso...
outra vez. E quando soube que Bianca tinha chegado de viagem, calculamos a
hora em que ela ia trabalhar e ficamos na outra rua esperando. Na verdade, só
eu fiquei, era muito arriscado provocar um acidente de forte contato.

— Paty, por quê? — pergunto confuso. — Você não era assim! Você era
uma pessoa legal, íntegra, meio sem noção, mas não era uma bandida. Porque
deixou ele te corromper? — Ela ri como uma hiena esganada.

— Queridinho, queridinho... — Ela se levanta do sofá e chega bem perto


a mim. — Nós dois tínhamos uma relação tão intensa. Mas, você me trocou por
aquela sem graça, aquela putinha interesseira. O Rodolfinho me abriu os olhos,
só isso. Quando eu descobri, por ele, que vocês dois estavam juntos, quis
acabar com a festinha.

— Paty, o que a gente tinha era só sexo, você sabia disso...

— Ah, sim! Mas eu sentia que se aquela maldita não tivesse se


intrometido que a gente teria dado certo. Rodolfo me entende, nossa história é
a mesma.

— Eu amo a Bianca, Paty. — Ignoro a risada estridente e sarcástica dela


e olho para o Rodolfo. — E você, seu crápula, nunca se contentou em arrumar
uma mulher que amasse só a você. Sempre deixou a cobiça consumir seus
neurônios. Destruiu uma amizade por causa da inveja, sempre querendo ter o
que eu tinha.

— Pablo, Pablo... até que você deduziu bem. Mas não. Você é quem
queria as mulheres que era para serem minhas.

— Eu vou relatar à Polícia cada palavra que você me disse, seu canalha!
— Ele gargalha e a Patrícia acompanha com sua risada irritante.

— E eles vão acreditar em quem sempre me perseguiu e me quebrou


algumas costelas em um bar na frente de muitas testemunhas quando a
mulherzinha morreu, ou em um empresário filho de um dos maiores advogados
do país que sempre usa a verdade nos tribunais para proteger os seus clientes?
— Ele ri contente. — Ah, Pablo, você é ingênuo demais se pensa assim... Agora
que já sabe toda a história. — Rodolfo aponta para a porta. — Some daqui.

— Você não perde por esperar! — falo olhando-o e me controlando para


não avançar sobre ele.

— Blá, blá, blá, blá, blá. E depois dessa tagarelice toda, você me dá uns
murros de mulherzinha e depois eu vou à delegacia e dou queixa por agressão
— desdenha com a mão e ergue uma sobrancelha — Simples!

— Queridiiiinhoooo. — Patrícia já está com a porta do apartamento


aberta, indicando que eu saia com sua voz fina e insuportável. — Faça o favor?
— Vou para a porta e divido o espaço com a Patrícia. Encarando-a de frente.

— Obrigado pelos momentos de prazer que me proporcionou. — Ela abre


bem os olhos, surpresa com o agradecimento nessa hora tão inconveniente. Eu
faço expressão de repulsa. — Mas, agora eu tenho nojo de você, que se vendeu
por tão pouco, Patrícia.

Saio em disparada porta afora escutando as gargalhadas dos dois atrás


de mim e depois a porta sendo batida... e o silêncio. Só então eu respiro,
aliviando a tensão que estava entalada nos tubos dos meus pulmões.

Chamo o elevador e encontro-o vazio. Já dentro dele lembro do delegado


Rocha tentando me impedir de vir confrontar o Rodolfo. Quando ele percebeu
que eu não iria desistir...

— Espere um momento. — Ele correu em minha direção e me estendeu


algo. — Leve isso...
Agora esperando o elevador chegar ao térreo coloco a mão dentro do
bolso da calça sorrindo. Sinto a textura e de lá tiro o minigravador que ele me
entregou, vejo a luzinha vermelha piscando e aperto o botão de stop.

— Eu disse que você ia pagar por tudo seu crápula!

Capítulo 26

Bianca

Assisto TV com Guel quando Pablo chega parecendo esgotado, porém


com um sorriso no rosto. Um sorriso que não estava ali antes dele sair. Guel
olha para mim e me passa um olhar de quem diz, “Tô ligado”.

— Oi amor, oi Guel. — Ele nos cumprimenta parecendo muito feliz e fico


preocupada.

— Oi — Guel responde e aposto que está morrendo de curiosidade.

— Oi amor, conta logo o que foi que você aprontou? — Mordo o dedão,
roendo a unha de ansiedade.

— Eu não aprontei absolutamente nada. Só fui à casa do bastardo para


tirar umas satisfações — fala como se não tivesse feito nada demais.

— Você o quê?! — grito.

— Tá maluco Pablito? Aquele homem é um louco, um psicopata, um


desmiolado... um...um... sabe-se lá Deus do que aquele possuído do capeta é
capaz de fazer — Guel esbraveja também. Pablo e eu nos olhando tentando
ficar sério, mas fracassamos e rimos, só ele mesmo para nos fazer rir em um
momento desses.
— Parem de rir que eu quero saber dos babados, Pablito desembucha!
Conta tuuuuuudo! — Assim que consegue se controlar, Pablo começa a narrar
os acontecimentos e só quando ele termina solto o ar que nem sabia que estava
prendendo.

— E agora, nesse exato momento, estão só esperando o juiz liberar o


mandato de prisão — finaliza parecendo vitorioso.

— Nossa, Pablo, que horror. Confesso que eu achei que nada me


surpreenderia, mas essa da hiena está envolvida com aquele bandido me
surpreendeu, estou chocado. — Guel solta tão surpreso quanto eu.

— Vai demorar muito para esse pesadelo acabar? — pergunto ansiosa.


Ele vem a minha direção senta ao meu lado e puxa minhas pernas colocando-
as por cima das suas enquanto nos explica o que a polícia está programando
para pegar o bastardo.

— Bom amor, só passei para te dar um beijo de boa noite, hoje é o dia de
Guel dormir com você.

— Ah, sério? Já estou me acostumando a dormir com você. É tão bom. —


Mordo o lábio inferior dele.

— Opa! Tô saindo, meu banho de sais relaxantes me espera. Tchau,


Pablo e juízo! — Dá uma saída nada discreta.

— Vou sentir falta do seu corpo também meu anjo — Pablo fala, sedutor,
passando a mão lentamente pela minha coxa. Cada fibra do meu corpo fica
arrepiada. Colo meus lábios nos dele. Depois de muitos beijos ele me deixa na
cama e nos despedimos e nem se quer vejo Guel entrando no quarto para
dormir.
— Sim.

— Ela é sua pincesa também? — ela pergunta.

— Sim amor, ela é. — Ganho um abraço bem gostoso.

— Biagada, papai pincipe!

Como não cair de amores por essa criaturinha tão linda? Impossível!

Bianca

Acordo cedo e não consigo mais dormir, Pablo me liga e noto que estava
ansioso e muito feliz com a certeza que Rodolfo finalmente pagará pelos seus
crimes. Combinamos de esperarmos juntos o delegado ligar informando como
irá proceder e Pablo resolveu vir para cá com Lily que já estava reclamando de
saudades.

— Tia Biaaaaaaaaaaa. — Pula na cama e sinto minha cabeça latejar com


o impacto, mas coloco meu melhor sorriso, afinal estou feliz demais em ter
minha princesa aqui.

— Lily, a tia Bia está dodói lembra? Você não pode pular ou gritar perto
dela, a cabeça da tia dói. — Pablo deve ter percebido algum vestígio de dor em
meu rosto.

— Dicupa — sussurra parecendo triste.

— Deixa isso pra lá, vem cá amor, me dá um beijo. A tia estava morrendo
de saudade de você, princesa. — Recebo um abraço gostoso, Lily me abraça
com se eu fosse um cristal que quebra com um sopro.

— Tá meor? — Ela me olha como se procurasse o machucado.

— Tô melhorando princesa.
— Quer bincar? — Pega uns papéis e lápis coloridos que o pai estava
segurando.

— Quero sim. — Pablo nos deixa sozinhas e vai falar com Guel. Ficamos
brincando por uns minutos até que ele volta com o rosto tenso.

— Princesa, vai lá na sala que o tio Guel vai te dá um sorvete de


chocolate, o papai precisa falar com a Bianca. — Ele a tira da cama, Lily
aproveita e sai correndo.

— O delegado te ligou não foi? — pergunto e sinto meu corpo gelar.

— Sim, eu estou indo pra lá.

— Eu também vou, não quero ficar aqui. Preciso ver o canalha sendo
preso, Pablo — falo determinada e vejo seu rosto se contorcer de raiva.

— Você não vai a lugar nenhum — diz nervoso.

— Vou sim, é só o tempo de colocar uma roupa. — Levanto da cama,


mas paro no meio do caminho quando sinto uma dor vinda do meu tórax,
exatamente onde o sinto de segurança machucou e recuo rapidamente. Porra é
agora que ele não vai me deixar ir mesmo.

— Você não vai Bianca e está decidido. Olhe o seu estado, mal aguenta
se mexer direito. Além de tudo não vou colocar sua vida em risco. Porra! —
grita. — Eu te amo demais para aguentar ver você se machucar novamente.
Então fique aqui e não me questione mais!

— Mas... mas eu... — Paro de reclamar quando olho em seus olhos e vejo
o que ele está sentindo. Está sofrendo com a possibilidade de me perder como
perdeu Laura. Eu o abraço apertado, não me importando com as dores. —
Toma cuidado, não quero que você se machuque ou... — sinto as lágrimas
descendo.
— Xiiiiiii, não vai acontecer nada, aquele canalha vai ser preso e ficará
tudo bem. — Passa a mão pelo meu rosto. — Eu te amo.

— Eu também te amo. — Nós nos beijamos e ele sai, me deixando com o


coração na mão.

Pablo

Chego à delegacia e o delegado Paulo Rocha está conversando com uma


mulher muito bonita e de longe parece que estão discutindo, praticamente
“trocando farpas” discretamente. Ao me ver faz um sinal para que eu vá ao seu
encontro.

— Bom dia, Sr. Rodrigues.

— Espero que realmente seja um bom dia delegado Rocha.

— Não vai me apresentar, Rocha?! — fala a bonitona.

— Claro. Sr. Pablo Rodrigues, essa é a inspetora Bárbara Lins. — A


bonitona aperta minha mão. Percebo que ambos estão de coletes e parecem
tranquilos.

— Sr. Rodrigues, estou no comando da operação, caso o docinho aqui. —


O delgado bufa. — Não tenha lhe informado. — Docinho?

— Ela está à frente apenas dessa operação, é muito competente Sr.


Rodrigues, apesar de tudo.

— Bom chega de conversa, já basta o atraso na liberação do mandado,


agora é hora da ação. Rocha avise a todos que está na nossa hora — ele
assente e vai. Não posso negar a inspetora tem uma fala firme e deve colocar
esses homens debaixo dos seus pés e com saltos! — E o senhor — aponta para
mim. — Acho bom não ficar no meu caminho ou atrapalhar os meus homens.
Caso isso aconteça, sairá do local imediatamente. Entendeu? — simplesmente
confirmo com a cabeça. Caralho essa mulher é o demônio. Depois de colocar
um colete a mando da diabona, recebo um rádio, que segundo ela, iria ajudar a
ficar informado e avisar se vir algo estranho. Sigo-os até a casa daquele
bastardo. Mantenho-me em uma distância segura, mas acompanho toda
operação os policiais contam passo-a-passo pelo rádio.

— Estamos entrando no local... — silêncio. — Chegamos ao quarto. —


Escuto um barulho e depois de alguns minutos um dos policiais fala. — A
mulher está presa.

Nessa hora suspiro de alívio, para o bastardo ser preso é só uma questão
de minutos. Tudo fica em silêncio quando, de repente, ouço um barulho de
algo quebrando.

O suspeito fugiu! — O policial berra. Sinto meu sangue gelar. Caralho!


Não pode ser! Esse assassino não pode sair impune! Não pode! — Atenção,
cerque o local, impeça que todos saiam. Suspeito em fuga. Repito... Cerquem o
local...

— Esse filho da puta não pode escapar! — Ouço a inspetora xingar.

Não pode mesmo! Bato a cabeça no volante do carro, frustrado. É nessa


hora que eu vejo uma movimentação estranha. Aproximo o carro devagar para
não levantar suspeitas e consigo ver tudo que está acontecendo. Pego o rádio e
tento avisar aos policiais, aperto para ligar, uma vez nada... duas vezes nada...
ele justamente agora não funciona.

— Que merda! Bom então será do meu jeito!

O bastardo aparece e tudo acontece rapidamente, aproveita um carro


que estava saindo do estacionamento e vejo o motorista sendo enxotado para
fora do veículo, ele pega o carro e acelera chamando a atenção de todos. Burro!
A polícia não terá como o alcançar, acelero o meu carro e o sigo.
— Seja o que Deus quiser.

Escuto as sirenes, mas a polícia ainda está longe. Acelero um pouco


mais, não perderei esse bastardo por nada!

Bianca

Sou acordada com o meu celular tocando irritantemente. Olho no visor e


ainda morrendo de sono atendo.

— Oi Guel. — Bocejo.

— Best você estava dormindo?

— Sim, tomei o remédio que o médico passou e apaguei. — Tento manter


os olhos abertos.

— Menina liga a TV agora, você está perdendo o acontecimento do


momento.

— O que está acontecendo?

— Uma perseguição policial aqui na cidade, está em todos os canais. —


Pego o controle remoto e ligo a TV do meu quarto.

— Já ligou?

— Sim, nossa bem que você falou. A coisa deve ser séria, olha a
quantidade de policiais.

— Sim, o apresentador estava falando sobre o tempo quando, de repente,


tudo começou, nem sabemos que operação é essa, mas deve ser muito
importante, esse monte de policiais e helicóptero não perseguiria um ladrão de
galinhas. A porra deve ser séria. — Nesse momento dão um close nos carros
que correm a toda velocidade. De repente, noto que tem um carro que é muito
familiar...
Não, não, não pode ser...

Por favor, Deus que não seja o Pablo...

Por favor...

Nessa hora o repórter fala para o meu desespero.

— Segundo informações que nos foram passadas, ficamos sabendo que a


operação que está sendo realizada é para prender um dos advogados mais ricos
do nosso país... Rodolfo Freitas.

Pablo

Já estamos em alta velocidade e olhando para o lado tudo já não passa


de uns borrões pela janela do carro, mas ele não para, pelo contrário, só
aumenta a velocidade, se Rodolfo pensa que eu vou desistir de colocá-lo na
cadeia está muito enganado!

— Mas que porra é essa que ele está fazendo? Esse bastardo é louco! —
Está ziguezagueando na pista ainda por cima com o asfalto molhado! Caralho!

A adrenalina só aumenta. Quando, de repente, ele freia e dá ré, nesse


exato momento coloco o carro para mais perto do precipício olho pelo retrovisor
e vejo o bastardo sorrindo.

— Desgraçado! — Rodolfo joga o carro novamente em direção ao meu e


quase caio no precipício, minha respiração para. Meu coração bate a mil por
hora. Penso em Lily e Bianca. Preciso tomar mais cuidado. Joga o carro mais
algumas vezes e consigo me safar, acelera e impulsiona o carro para minha
direção. Fico sem respirar.

— É agora Pablo, se você não conseguir desviar já era! — Penso em


desespero. — Lily. Bianca. Não posso morrer. Fecho os olhos e desvio o carro,
como sei que estou encurralado, só me resta esperar o impacto. Mas ele não
vem. Abro os olhos e tudo parece em câmera lenta. O carro do bastardo cai no
precipício. Porra. Depois de segundos ouço um barulho de explosão.

Não acredito...

Ele morreu. Na minha frente.

Capítulo 27

Bianca

— Nãooooooo! — grito em desespero. — Não pode ser meu Deus, isso é


terrível demais — falo chorando.

— Bia? — Guel chama. — Menina o Rodolfo acabou de morrer... — fala


sem acreditar.

— Estou em estado de choque, mesmo pela televisão foi horrível vê-lo


morrer. Coitado do meu amor, também quase morreu por culpa dele. — Sinto
minha garganta secar e minha voz sai rouca. — Quase o perdi, Guel.

— Mas não perdeu, amiga, isso que é o mais importante. — Ele está
chorando também.

— É. Guel preciso ligar pra ele... ouvir a sua voz saber se ele está bem. —
Uma aflição tão grande toma conta do meu coração.

— Okay, ligue, já, já eu chego aí. Beijo.

— Beijo. — Ele desliga e eu não perco tempo, ligo para Pablo, o celular
chama e logo depois dá caixa postal. Ligo outras vezes e acontece o mesmo. —
Por favor, Deus, por favor, que ele não tenha se machucado... — choro
angustiada.

Depois de alguns minutos Guel chega, parecendo um furacão.

— Best, você viu aquilo? — Ele me abraça.

— Sim, estou até agora chocada. Guel, imagina o Pablo?

— Sim, temos que ir o mais rápido possível para delegacia, ele vai
precisar de você por perto.

— Sim, só me ajuda a trocar de roupa e ficar apresentável. — Coloco


uma blusa de seda branca e uma calça jeans com a ajuda de Guel e vamos o
mais rápido possível para a delegacia.

Quando chegamos encontramos vários repórteres, paparazzi e curiosos.


Com muito esforço Guel e eu conseguimos entrar, esperamos por quase meia
hora, até que finalmente vemos quando Pablo chega com a uma mulher muito
bonita e de colete, tenho quase certeza que deve ser alguma policial, ele parece
surpreso ao me ver ali e praticamente corre ao meu encontro. Ele me abraça e
beija como se dependesse disso para viver.

— Bianca... — sussurra como se meu nome fosse uma oração.

— Pensei que nunca mais fosse te ver. — Desabafo e algumas lágrimas


caem e molham sua camisa.

— Também pensei... — Ele me abraça.

— Pablo, que susto você nos deu — Guel fala, angustiado.

— Guel é bom te ver também. — Pablo o abraça.

— Inspetora Bárbara Lins, essa é Bianca minha namorada e esse —


aponta para Guel. — É Miguel, um grande amigo nosso.
— Muito prazer — diz ela. — Infelizmente nos conhecemos em uma
situação desagradável.

— Muito desagradável — Guel fala baixinho.

— Infelizmente, sim.

Nosso diálogo é interrompido quando vejo dois policiais trazendo a hiena,


algemada e com a cabeça baixa, tentando não mostrar o rosto. Ao ouvir a
minha voz ela levanta a cabeça e vejo que ficou surpresa ao me encontrar ali
na delegacia, viva e bem. Encaro-a e sinto seu olhar de ódio. Por fora pareço
imune, mas por dentro estremeço só de pensar que essa mulher poderia ter me
matado. Ela se contorce e o policial aperta firme o seu braço e a leva da nossa
frente. Olho pra Guel e ele está com um olhar que se matasse alguém, a hiena
teria caído durinha!

— Senhor Rodrigues poderia me acompanhar? Precisa prestar seu


depoimento e depois poderá ir pra casa.

— Já volto. — Pablo aperta minha mão e sai.

Depois de alguns minutos, que pareceram uma eternidade, eu já tinha


tomado água, mexido no celular e conversado com Guel, Pablo volta parecendo
exausto. Passa a mão ao redor dos meus ombros, em um abraço que diz mais
do que qualquer palavra que poderíamos dizer. Não nos soltamos durante toda
a viagem de volta para casa e Guel nos deixa no nosso prédio.

— Fica comigo hoje, dorme aqui... preciso de você. — Ele parece


desesperado, frágil e abatido. — Quero ficar com Lily, mas preciso te ter por
perto também.

— Tá bom, eu fico. Só vou em casa pegar algumas coisas e venho. —


Quando acabo de falar vejo alívio inundarem seus olhos.
— Não demore muito. — Dou um beijo nele e saio.

Pablo

Entro no box do banheiro e enquanto a água cai sobre o meu corpo, eu


me permito sentir pena de Rodolfo pelo menos uma vez na vida, por mais que
eu não queira reconhecer, um dia ele foi o meu melhor amigo, aquela pessoa
que eu contava para todas as horas e que infelizmente deixou que a inveja e o
egoísmo destruíssem nossa amizade. Logo me lembro da morte de Laura e do
atentado que Bianca sofreu e sinto a pena se tornar fúria. Ele não podia ter
morrido! Deveria ter apodrecido na cadeia, como a cadela que o ajudou.
Esmurro a parede com golpes fortes até que minhas mãos não suportam mais.
Saio do banho e me troco rapidamente, entro no quarto da minha princesa, ela,
ao perceber minha presença, deixa suas bonecas de lado e corre abraçando as
minhas pernas.

— Oi princesa, sentiu minha falta?

— Aham.

— O papai também. — Beijo sua bochecha. — Advinha quem vem daqui


a pouco ficar com a gente?

— Num sei. — Dá de ombros e faz um bico lindo.

— Então será uma surpresa. — Faço cócegas nela.

— Papai machucado — aponta para minha mão. — Tá doeno?

— Não princesa, não dói. — Minto. Ela sorri e dá um beijo perto do


machucado.

— Ponto vai ficar bom. — Sorrio e respiro aliviado. Lily é a minha cura, a
inocência que faz a minha vida mais leve.
— Sim, vai ficar — digo e Ray que me olha discretamente

— Que bom que não se feriu Pablo, fiquei preocupada. Precisa de algo,
quer que eu fique esse final de semana?

— Não precisa Ray, pode deixar que eu e a princesa aqui ficaremos bem.
— Ela se aproxima e me abraça com Lily entre nós dois. Nessa hora a porta se
abre e Bianca nos olha curiosamente.

— Oi Bianca, não deixe Pablo aprontar outra dessas — Ray fala e depois
dá um tchauzinho pra Lily que retribui.

— Não deixei dessa vez, mas pode ficar tranquila, vou cuidar muito bem
dele — diz séria.

Ray dá um tchau sem graça e vai embora. Bianca se aproxima, beija Lily,
na bochecha, que dá uma risadinha esticando os bracinhos para que Bianca a
pegue no colo.

— Ela ainda está dodói princesa, não pode te pegar. Lily, dá um beijo na
tia que ela ficou triste. — Agarra o pescoço de Bianca, ainda em meu colo e dá
vários beijos. Sorrio. Depois do feito a senhorita se contorce em meu colo e sai
correndo pela casa. Aproveito que Lily está distraída e dou um beijo em Bianca.

— Vai querer um abraço também? Ou só a babá pode? — fala cimenta.

— Vou querer mais que isso, amor. — Beijo seu pescoço. — Agora me
fala, ficou com ciúmes foi?

— Não — diz birrenta. Deus eu amo essa mulher.

— Ficou sim. Mas não precisa, sou todinho seu. — Mordo sua orelha
preguiçosamente, seguro seus cabelos e beijos seus lábios profundamente.
Nessa hora Lily chega querendo atenção e entre risos interrompemos o
momento. Ligo para o restaurante e peço comida enquanto Bianca assiste TV
com ela. Isso parece tão certo, ver as duas esparramadas no sofá, agarradas
uma a outra. Fico hipnotizado assistindo a cena.

— Tem espaço para mais um aí?

— Aqui. — Lily fica batendo para que eu sente ao seu lado. Sento e estico
o braço sobre o encosto do sofá e faço um carinho na nuca de Bianca, que
geme baixinho com o contato. Minha princesa pula para o meu colo
encostando sua cabeça em meu ombro Bianca se aproxima mais, pela primeira
vez em muitos anos sinto que tenho uma família completa novamente. Após
um almoço tardio para mim e Bianca, Lily come seu lanche e vamos para o
meu quarto, ligo o ar condicionado, fico no meio das mulheres da minha vida.
Bianca faz cafuné em mim, enquanto Lily adormece primeiro. Ficamos nos
encarando até que colo os meus lábios no dela.

— Eu te amo.

— Eu também te amo, descansa amor — sussurra e continua o cafuné


até que pego no sono. Esqueço de tudo nesse momento elas são o meu
mundo...

Algumas semanas depois...

Bianca

Depois de fazer vários exames e uma consulta médica detalhada — Guel


foi comigo — recebi a maravilhosa notícia que está tudo bem e que o acidente
não deixou nenhuma sequela, os hematomas que eu tinha clarearam e quase
não apareciam mais, graças a Deus às dores cessaram.

Pablo e eu tínhamos acabado de tomar café da manhã, quando Guel


chega animado — Oh céus porque fui dá aquela chave extra que a ele? — Fica
tagarelando, dizendo que inaugurou uma boate aqui perto, que segundo ele é o
máximo. Tenta nos convencer a ir, mas Pablo e eu negamos, o que deixa Guel
revoltado com a hipótese.

— Ai gente, deixem de desânimo, eu não nasci para viver assim, sou


igual purpurina tenho que brilhar. — Levanta do sofá e abre os braços dando
uma voltinha. — Que baixo astral! Isso faz mal a pele e ao corpo, imaginem que
horror, ficar com cara de velho antes da idade? — Faz uma cara de desgosto. —
Vamos lá meus amores, o que passou já era, o negócio agora é o futuro. Bom
se vocês não quiserem ir, por mim tudo bem. — Dá de ombros. — Eu vou
transar hoje até cansar. Agora me deixem ir para a senzala que o dia vai ser
longo, mas não tem problema hoje é sexta e mais tarde eu me acabo. Tchau,
povo chato! — Dá um tchauzinho e sai nos deixando em choque, até que não
aguentamos e caímos na gargalhada.

Depois de um tempo pensando decido que ele está certo! Recebi o


resultado dos meus exames, estou bem, não sinto mais dores no corpo, está na
hora de voltar à ativa, Pablo que me aguarde... Começo a pensar e minha
mente muito safada vai me dando ideias maravilhosas.

Guel sai mais cedo do trabalho, acabamos indo ao shopping, compro um


vestido vermelho justo, uma lingerie nova e depois resolvo fazer uma visita a
Pablo na empresa. Cumprimento a todos no caminho da sala dele e recebo
tanto carinho que me emociono.

Entro devagarzinho e o encontro sentado em sua cadeira, concentrado


em um documento, quando me vê joga os papéis na mesa, levanta e vem ao
meu encontro, dando-me um beijo de tirar o fôlego.

— Nossa que recepção maravilhosa, se eu soubesse teria vindo antes. —


Dou um beijo no pescoço dele.
— Tenho recepções melhores, exclusivamente para você — sussurra,
sinto essa promessa encharcar minha calcinha sem dó.

— Tenho ótimas notícias para você então. — Passo a mão pelo seu
abdômen.

— Quais?

— O médico me deu alta para voltar as minhas atividades... — fico nas


pontas dos pés e sussurro— todas elas...

— Porra Bia, você está me matando. — Ele esfrega sua ereção em mim.

— Terá que esperar mais um pouquinho amor. Tenho uma surpresa pra
você, hoje à noite — digo me afastando, mas ele me prende em seus braços.

— Hoje à noite, vou te deixar tão louca, que você vai implorar para me ter
dentro de você, Bianca. — Toma minha boca com exigência, confirmando cada
palavra que acabou de falar. Sinto sua mão se fechando em torno do meu seio,
massageando-o. Gemo com o contato, sua mão para e ele sorri sedutoramente.
— Isso é para você saber como eu me sinto com as suas provocações. —
Simplesmente sai de perto de mim. Respiro fundo sentindo minhas pernas
bambas.

— Pablo, isso não é justo... eu... — Tento articular um argumento, mas


fracasso.

— É justo sim, mas não pense que é só você quem reserva surpresas...
eu também tenho meus segredos. — Passa a mão pelo meu pescoço.

Meu celular toca e tenho quase certeza que é Guel. Faço sinal pedindo
um minuto a Pablo e atendo.

— Oi Guel.
— Já cheguei aqui na frente do Café.

— Okay já estou indo, pegou o que eu pedi?

— Sim, só colocar o champanhe no gelo.

— Ótimo, só um minuto e estou aí. — Desligo o celular e Pablo me olha


com curiosidade.

— Bom amor, já estou indo, preciso resolver algumas coisas.

— Hum. — Ele me dá um beijo e vou até Guel dar continuidade ao meu


plano.

Pablo

Porra, como vou me concentrar agora? Mas se ela pensa que isso vai
ficar assim, está muito enganada. Cacete, essas preliminares estão me
matando! Para minha sorte, Bryan chega com uns contratos para discutimos e
consigo me concentrar temporariamente no trabalho. Depois de algumas horas
terminamos tudo e ao chegar no nosso prédio o meu celular toca e aparece a
foto de Bia.

— Oi amor, já sentiu saudades? Eu sei que sou irresistível mesmo. — Ela


ri.

— É um convencido isso sim. Só liguei para te chamar para irmos a


boate que Guel nos convidou, estou afim de sair. Vamos comigo, amor? — Ah,
Bianca...meus planos para hoje são outros!

— Bia eu não sei...

— Ah, vamos — insiste. — Você não vai se arrepender.

— Okay, me rendo. Eu vou...


— Vou avisar ao Guel então, beijo amor, te amo.

— Beijo. — Ela desliga.

Ligo para a floricultura e peço um buquê de rosas vermelhas e vou tomar


um banho...

Se ela acha que é só ela que sabe surpreender... Bianca que me aguarde.

Pena que ela não sabe que Guel é meu cúmplice.

— Guel?!

— Oi, Pablito.

— Preciso que faça um favor pra mim.

— O que precisas?

Faço um resumo de tudo que vou precisar, ele me escuta com atenção e
diz que está anotando tudo.

— Pode deixar vai estar tudo exatamente como pediu, vou fazer esse
sacrifício.

— Ah, deixa de besteira que nem vai demorar tanto assim, só não faço eu
mesmo porque levantaria muitas suspeitas.

— Ela desconfiaria mesmo. Vou providenciar tudo e te ligo.

— Mande a conta para o escritório e Larissa vai liberar a quantia. Tenha


uma boa tarde — falo, sorrindo.

— Só se for a tarde mesmo, porque pelo visto a noite será de vocês — diz
irônico e desliga.

A noite, a madrugada e o resto de nossas vidas...


Capítulo 28

Bianca

Arrumo-me e fico esperando Pablo, que chega poucos minutos depois,


para irmos a tal balada que Guel não para de falar. Assim que o interfone toca,
abro a porta e quase não consigo respirar, cacete como ele está lindo. Está
vestindo uma camisa cinza, com as mangas dobradas até perto dos cotovelos,
uma calça jeans escura e um buquê de rosas vermelhas enorme. As mais
lindas que eu já vi. Confiro cada pedacinho do seu corpo, olho para o seu rosto
e ele está sorrindo... Já pode parar de ser lindo.

— Pode admirar amor, eu deixo. — Ele me entrega o buquê.

— Convencido.

— Obrigada, são lindas. Entre, vou colocá-las em um vaso.

— Você está tão linda com esse vestido. — Passa a mão pela minha nuca
e segura firme. — Apesar disso, mal vejo à hora de tirá-lo.

— Humm.

— Agora vamos antes que eu não consiga me conter e arranque ele agora
mesmo. — Dá um tapa na minha bunda.

— Guel não irá com a gente?

— Ele me ligou e falou que vai depois, tem algumas coisas para fazer. —
Acho um pouco estranho, mas não contesto.

Já no carro, a caminho da boate, ele liga o rádio e está tocando uma


música baixinho, sorrio, pois, constato que é uma das minhas prediletas, Pra
você guardei o amor, de Nando Reis e Ana Canas.
Pra você guardei o amor

Que nunca soube dar

O amor que tive e vi sem me deixar

Sentir sem conseguir provar

Sem entregar

E repartir

Pablo pega minha mão, entrelaça nossos dedos e beija. Enquanto eu


fecho os olhos e me permito sentir a felicidade invadir a minha alma.

Quando chegamos o lugar está lotado, encontramos com Guel na


entrada e ele rapidamente dá um jeito para nos fazer entrar, o bom de ter um
amigo que conhece todo mundo é isso. Mal entramos e ele diz que vai beber até
cair. A boate tem duas pistas de dança e uma animação contagiante, a energia
das pessoas é pulsante e nos faz querer dançar também e ao som de The
Wanted — Glad You Came começamos a nossa noite.

— Amor você vai querer beber o que? — Pablo pergunta.

— Uma caipinha, por favor.

— Já volto. — Ele sai e fico sozinha com Guel, que a pega minha mão e
vamos para pista de dança, ficamos de frente para o bar onde Pablo pudesse
nos ver.
— Guel, eu te conheço muito bem. Fala logo o que você está escondendo!
— questiono.

— Tá
Levo-a para a pista de dança e começa uma música muito sexy. Bianca
começa a rebolar dando um verdadeiro show.

— Bia, que música é essa?

— É Love, Sex, Magic, da Ciara — responde e morde meu lábio superior,


enquanto sua mão explora meu abdômen.

— Já chega, nós vamos pra casa agora, quero tirar esse seu vestido e...
— A provocadora me interrompe dando uma risada.

— Só vamos avisar ao Guel.

Encontramos Guel na pista de dança, Bianca fala algo em seu ouvido,


enquanto isso, passo uma mensagem para a moça que pedi a Guel contratar
para organizar a minha surpresinha.

Deixo o carro no estacionamento, pegamos um táxi. Chegamos ao


apartamento de Bianca e fico um pouco apreensivo, será que ela vai gostar?

Ao abrir a porta, ela fica em choque com o que vê...

Bianca

Ao abrir a porta do meu apartamento não imaginava que o encontraria


assim: a sala toda iluminada a luz de velas em vários lugares dando um ar
sofisticado e aconchegante. Um caminho de pétalas de rosas vermelhas que
leva até o meu quarto.

— Como... como vo-cê... conseguiu... — pergunto revezando o olhar entre


ele e o lugar, mas não recebo explicação apenas um sorriso faceiro.

— Gostou? — Parece um pouco nervoso.

— Se eu gostei? — pergunto, tentando assimilar tudo.


— Sim, amor — responde suavemente.

— Pablo, nunca ninguém fez um gesto desses por mim — falo


emocionada. — Está tudo tão lindo. — Olho para sala mais uma vez. —
Obrigada! — Ele me puxa para um beijo, sinto amor, paixão e excitação.

— Bia, faz muito anos não fazia amor com ninguém. Não existia
sentimento, até eu conhecer você. Quero que saiba que cada toque meu em seu
corpo hoje, estarei fazendo amor com ele. Cada beijo meu. — Beija meu queixo,
depois pescoço. — É para você saber que eu te amo. Cada vez que eu passar a
minha mão assim. — Desce o zíper do meu vestido e toca as minhas costas. —
É para acariciar a tua pele, transmitindo meu amor através do toque. — Desce
meu vestido, deixando-me só de lingerie, fica olhando o meu corpo por um
tempo e depois toma a minha boca com urgência. Começo a desabotoar sua
camisa, impacientemente fazendo com que seus botões voem por toda parte,
beijo seu abdômen pedacinho por pedacinho.

— Vamos para o quarto amor, a noite está apenas começando, mas


dessa vez você não vai ver nada. — Tiro meus sapatos e Pablo me vira de
costas para ele e com suas mãos no meu rosto vai me guiando até o quarto.

— Ainda tem mais surpresas? — provoco.

— Tenho muitas, mal posso esperar para te mostrar, fique de olhos


fechados, não estrague a surpresa. — Ouço uma música baixinho e sorrio em
reconhecimento. All Of Me, de John Legend na voz de Boyce Avenue. — Abra os
olhos, amor.

Se eu achava que a sala estava perfeita me enganei, o quarto que está


perfeito, minha cama está forrada com um lençol branco — que não é meu —
ao lado tem uma mesa com duas taças, champanhe no balde de gelo,
morangos e coberta por pétalas de rosas, assim como a cama e o chão. A
música continua baixinho...
Porque tudo de mim

Ama tudo em você

Ama suas curvas e todos os seus limites

Todas as suas perfeitas imperfeições

Dê tudo de você para mim

Eu te darei meu tudo

Olho curiosamente para uma tigela com pétalas de rosas dentro — não
tenho a mínima ideia para o servirá. O quarto está iluminado por velas, dando
um ar romântico, olho em seus olhos e seu rosto está banhado pelas luzes das
velas lhe deixando mais lindo do que já é.

— Pablo está tudo tão lindo... — falo emocionada.

— Eu faria muito mais, só para ver esse brilho nos seus olhos.

— Obrigada, por tudo.

— Não me agradeça, Bia, quando fazemos algo para quem amamos, não
necessitamos de agradecimentos, precisamos apenas que a pessoa amada nos
ame ainda mais. — Ele me beija, como se sua vida dependesse disso.

— A minha noite já está sendo linda, porque você está aqui comigo. —
Abre o fecho do meu sutiã e o deixa cair, pega meus seios acariciando-os e me
fazendo gemer.

— São perfeitos. — Começa a sugá-los, alternadamente; sinto minhas


pernas tremerem e meu clitóris pulsar.
— Pablo... — gemo.

— Calma, lembra da minha promessa?

— Hã? — Eu lá vou me lembrar alguma coisa com ele tocando o meu


corpo desse jeito? Impossível!

— Vou te fazer implorar, Bianca. — Toca a minha intimidade através da


renda preta da minha calcinha.

— Hummm.

Tira a calça e fica só de cueca boxer. Cacete! Acabo de ficar mais


encharcada, nem pensei que isso fosse possível. Começamos a nos beijar com
desejo, coloco minhas pernas em volta da sua cintura e ele me deita
suavemente na cama, beija meu queixo, meu pescoço, minha barriga,
engancha seus polegares em cada lado da minha calcinha e vai tirando-a
lentamente, olhando nos meus olhos. Levanta da cama e pega um preservativo
na carteira e a tigela com as pétalas, franzo o rosto em confusão e ele me olha
divertido.

Pablo

Ver Bianca assim, deitada na cama, com o rosto corado, inteiramente


minha, é mais do que eu desejei, é perfeito. Subo na cama, beijo sua
panturrilha, depois suas coxas, nós nos encaixamos e sinto meu coração bater
forte no peito olhando nos olhos dela e vendo tamanha entrega. Pego um
punhado de pétalas e começo a passar pelo seu corpo com pegadas firmes e
precisas arrancando gemidos altos que excitam ainda mais a nós dois.

— Bia, li em algum lugar que quando o homem passa pétalas de rosas no


corpo da mulher amada, ele está venerando o corpo dela. — Pego mais um
pouco e passo em seu rosto e desço até o seu pescoço. Sinto seu corpo vibrar
de necessidade. Nosso ritmo aumenta e cada vez respiro mais rápido, fazendo
juras de amor que são retribuídas a altura.

Isso sim vale a pena e mostra que tudo fica mais lindo e intenso quando
se tem amor envolvido...

Capítulo 29

Pablo

Depois de fazer minha higiene matinal — pedi a Guel para deixar uma
mochila aqui no apartamento ontem — vou para sala e vejo que precisa ser
limpa. Enquanto coloco no fogão a chaleira com água para ferver, pego a
vassoura e uma pá para limpar a bagunça. Termino tudo, faço o café e preparo
a mesa com tudo que temos direito. Ouço um barulho e deduzo que Bia deve
ter acordado. Vou até o quarto e ela está saindo do banheiro enrolada no lençol
é uma das visões mais sexy que já vi na vida.

— Bom dia, amor. — Cora um pouco.

— Bom dia, vem cá minha dorminhoca linda. — Dou beijo nela sentindo
o gosto mentolado. Puxo-a com o meu corpo até cair de costas na cama com ela
por cima.

— Você fica tão sexy só de cueca pela manhã. — Sorri.

— Sério? Achei que eu ficasse sexy de qualquer jeito. — Pisco um olho.

— Na verdade. — Beija meu pescoço e sussurra. — Você fica bem mais


sexy completamente nu. — Fiquei duro na hora!
— Digo a mesma coisa sobre você. — Nessa hora meu celular toca. — Bia
deve ser a minha tia, já me atormentando para que vá buscar Lily porque hoje
ela tem algo de muito importante — segundo ela — para fazer. Temos
exatamente meia hora... então prefere um café da manhã reforçado... ou... —
esfrego minha ereção contra ela. — Sexo selvagem no banho? — falo tentando
me conter para não cair na risada ao olhar para cara dela nesse momento. Bia
não fala nada, só deixa o lençol cair e corre para o banheiro, sorrindo, não
perco tempo e vou ter um momento quente com a minha mulher.

Bianca

Pablo vai buscar Lily, aproveito e dou um jeito no meu quarto, depois vou
para cozinha fazer um almoço especial. Preparo uma torta de frango e assim
que ponho no forno e ligo para Guel.

— Oi, Best. — Sua voz sai rouca como se acabasse de acordar.

— Oi Guel, está em casa? Desculpa, deveria ter mandado mensagem


antes.

— Estou. Inclusive tento novidades. — Parece animado, muito animado...


aí tem!

— Hum, bofe novo?

— Siiiiiimmm — grita e eu afasto o celular do ouvido. — Vem almoçar


comigo? Aí posso te contar tu-dô!

— Estou com uma torta de frango aqui no forno, quer vim al...

— Ai eu querooo! Posso ir, né? — ele me interrompe.

— Claro, pode vir esfomeado — falo sorrindo.


— Beleza, hum... — Parece pensar um pouco. — Pablo também vai
almoçar aí?

— Sim, ele e Lily.

— Eu levo a sobremesa, aposto que a princesinha vai adorar o que eu


vou levar — diz pretensioso.

— Tá bom, amor, beijos!

— Beijos!

Ponho a mesa, coloco os talheres e os pratinhos de princesa que comprei


para Lily e vou me arrumar. Coloco um short jeans, uma regata vermelha,
prendo o cabelo em um coque frouxo. Depois de meia hora Pablo e Lily chegam
animados. Lily corre e agarra as minhas pernas, pego-a no colo e ela agarra
meu pescoço.

— Oi amor — Pablo fala com um sorriso lindo no rosto e me dá um beijo.

— Oi, Guel vem para o almoço. — Ele fica sério de repente. — Tem algum
problema?

— Não. — Lily desse do meu colo e Pablo fala rapidamente pertinho do


meu ouvido. — Só estava pensando onde vamos ter nossa primeira rapidinha.
Você sabe, com a Lily aqui não vamos ter muito tempo...

— Safado!

— Sou mesmo e você adora que eu sei — diz, com um sorriso


pretensioso, beijando meu pescoço.

— Pablo a Lily está aqui... — Tento ser racional, mas não resisto e
empurro meus quadris contra ele.
— Hummm. — Ele me beija, um beijo carregado de desejo. De repente,
escutamos um barulho de algo quebrando. Nó nos separamos rapidamente e
Pablo grita por Lily.

— Atiiiiiiii. — Vamos em direção a cozinha e a encontramos de cócoras


com as mãozinhas uma em cada joelho, olhando para um copo quebrado.
Graças a Deus, não parece machucada.

— Você está machucada? — pergunto e ela nega.

— Lily não pode mexer nas coisas de vidro, você poderia ter se
machucado — Pablo a repreende e ela começa a chorar, ele até tenta pegá-la,
mas Lily se contorce chorando.

— Pablo, me dá ela e pega uma pá, ali na área de serviço — aponto o


local. Lily vem para os meus braços toda chorosa e fica agarrada a mim até que
se cala. Enquanto Pablo limpa tudo, Guel chega todo eufórico.

— Oi Best. — Ele me dá um selinho e Lily parece confusa. — Oi princesa.


— Dá um beijo na bochecha dela. — Porque você está com essa carinha de
choro, princesinha do tio Guel?

— Quebou... — diz manhosa.

— Ela quebrou um copo e Pablo reclamou, acabou num chororô.

— Tadinha, vem cá, amor... — Ele me entrega umas sacolas e pega Lily
nos braços.

Nossa refeição segue tranquila, Lily faz graça — parece ter se esquecido
do acontecimento anterior — e nos divertimos muito.

Logo após o almoço sentamos no sofá para assistimos um filme, que


Guel trouxe, chamado Para Sempre, um filme que conta uma história
emocionante. Lily adormece e levo-a para minha cama, depois que o filme
termina, Guel recebe uma ligação misteriosa e sai feito um foguete, então Pablo
e eu nos juntamos a Lily em um sono tranquilo.

Pablo

Bom, como toda segunda-feira é o dia universal da preguiça de todo


brasileiro, comigo não é diferente, estou exausto, mas com um sorriso nos
lábios, afinal tenho a pessoa que eu amo ao meu lado e meu final de semana
foi foda, literalmente. Chego à empresa e cumprimento a todos com um sorriso
no rosto, observo alguns olhares curiosos e ignoro todos.

Larissa chega me passando a minha agenda e aproveito para perguntar


se Bianca já chegou. Ela diz que não e sai discretamente. Tenho muito trabalho
a fazer, começo a ler uns documentos e perco a noção do tempo. Ligo para
Bianca e combinamos de almoçarmos juntos, então quando chega à hora do
almoço ela entra na minha sala.

— Já está pronto? — pergunta.

— Só um minuto, ainda não. — Minto. — Amor, preciso que você veja


uma coisa nesse documento aqui. — Finjo estar preocupado e ela vem em
minha direção. Fico admirando descaradamente seu corpo, envolto em uma
calça preta e blusa azul, valorizando discretamente suas curvas, ela se
aproxima para ler o documento, puxo-a e ela cai no meu colo, soltando um
gritinho por ter sido pega de surpresa.

— Humm, você está tão cheirosa. — enlaça suas mãos ao redor do meu
pescoço e me beija profundamente, esfrego minha ereção nela e escuto-a gemer
na minha boca. — Bianca...

— Nem pense nisso! — Bate na minha mão que já estava desabotoando a


sua blusa. — Precisamos trabalhar.

— Mais tarde você não me escapa! — Passo a mão pelo queixo dela.
— Pode apostar que não. — Pisca o olho ao mesmo tempo que aperta
minha bunda.

Fomos ao restaurante e almoçamos rapidamente, estávamos com


trabalho acumulado e Bianca, Larissa, Bryan e eu ficamos trabalhando até
tarde para conseguirmos deixar tudo atualizado. Após um dia exaustivo chego
em casa, tomo um banho e minha princesa chega manhosa, enroscando-se em
mim e querendo atenção.

— Papaiiii, quelo domi com você. — Dá um bocejo. Ray chama por Lily
fora do quarto, de costas para porta. — Ray pode ir dormir, minha princesa
manhosa vai dormir com o papai, né Lily? — Ray responde um “okay” e sai.

— É. — Pula na minha cama com a ovelhinha que Bianca lhe deu de


presente há um tempo. Deitamos e ela se aconchega a mim. Meu celular avisa
que chegou uma mensagem, estico o braço e ao visualizá-la um sorriso
espontâneo brota em meus lábios.

“Bons sonhos amor, sonha comigo que eu sonharei com você, te amo”

Respondo sua mensagem e vou dormir com o um sorriso que


ultimamente não me sai do rosto.

Capítulo 30

Pablo

Meses depois...

O tempo passa rápido e cada dia que Bianca e eu passamos juntos traz
consigo um aprendizado e se torna especial. Ela me dá possibilidade de sonhar,
de querer algo mais para minha vida, não imagino meu dia sem vê-la. Não
imagino um futuro sem ela. Eu sei, eu sei que estou feito mulherzinha
suspirando pelos cantos, mas isso que é o bom de amar e ser amado. Ligo para
confirmar a reserva em um dos melhores restaurantes da cidade, quero que
essa noite seja especial, meu amor merece. Confirmo a reserva e quando acabo
de desligar Larissa liga para minha sala, avisando que Ray quer falar comigo.
Porra, quando Ray liga é porque aconteceu algo com Lily. Ligo para ela
imediatamente.

— Ray, aconteceu algo? — pergunto, sentindo meu coração bater


violentamente contra o meu peito.

— Pablo, a Lily está com um pouco de febre, nada preocupante, acho que
é a garganta que deve estar irritada. Já dei a medicação correta que o pediatra
dela receitou se isso acontecesse, liguei pra você somente para informá-lo, já
que faz questão de ficar sabendo de tudo que acontece com a sua princesa. —
Quando ela termina de falar, sinto um pouco de alívio... um pouco.

— Okay, Ray, onde ela está?

— Na cama, descansando.

— Fique com ela, não saia de perto, qualquer coisa ligue e me mantenha
atualizado.

— Ok. — Encerro a ligação e fico preocupado, não gosto quando Lily


adoece, é como se parte de mim adoecesse também. Bianca chega trazendo uns
documentos para que eu assine e conto que Lily está com febre, assino tudo e
noto que ela também fica preocupada.

O dia está muito cansativo, tivemos um problema com a máquina de


cappuccino e chocolate quente em um dos cafés. Porra hoje definitivamente o
universo está conspirando contra mim só pode! Bianca entra na minha sala e
diz:
— Pablo, estamos com um problema em um dos contratos. — Mostra-me
uma cláusula, que comprometeria 54% dos lucros referentes a negociação em
jogo. Caralho! Esses filhos da puta estão de brincadeira comigo hoje, só pode!
Ainda bem que Bianca insiste em ler todos os contratos, mesmo depois de eu
avaliar.

— Bia, você poderia ir lá ao B&M2 para resolver com o técnico sobre a


máquina? É que eu tenho duas reuniões importantíssimas, com dois possíveis
investidores que vieram do Rio de Janeiro, não dá para adiar. Sei que não faz
parte do seu trabalho, mas preciso que vá. — Passo as mãos pelo cabelo,
frustrado.

— Pode deixar estou indo agora mesmo. — Ela me dá um selinho, mas


antes que saia, seguro seus quadris e ela senta no meu colo. — Reservei uma
mesa especial para nós dois hoje, em um restaurante lindo, a beira mar — digo
e passo a mão pelo rosto dela.

— Humm, que bom. — Cheira meu pescoço. — Amo seu cheiro — diz
baixinho. — Podia ficar aqui por horas — murmura, com a cabeça na curva do
meu ombro, mas meu chefe é exigente e mandão, preciso ir amor. — Ela me
beija e esfrega a sua bunda deliciosa na minha ereção.

— Se você fizer isso mais uma vez, juro que não respondo por mim. —
Mordo o pescoço dela.

— Por mais que eu queira ficar aqui o dia inteiro — diz ofegante. —
Preciso ir, caso contrário, terei que trabalhar até tarde e creio que você não
gostará nenhum pouco. — Dou um tapa em sua bunda quando ela se levanta
do meu colo.

— Vá trabalhar. — A provocadora sorri.

— Amor, qualquer coisa me liga, estou preocupada. — Seu semblante


muda.
— Pode deixar. — Levanto-me e lhe dou mais um beijo, incapaz de me
controlar.

Ela sai e volto ao trabalho, que me engole assim que mergulho nele.

Bianca

Mais um dia de trabalho enfadonho, estou completamente exausta, ligo


para Pablo perguntando sobre Lily e ele avisa que ela não teve mais febre e diz
que vem me pegar às oito. Começo a me arrumar, coloco um vestido justo, na
frente tem micro pedrinhas pretas e não tem nenhum decote, a parte de trás
deixa minhas costas completamente nuas, exceto por umas tiras do mesmo
tecido que ficam penduradas. Coloco meu salto vermelho, uma maquiagem que
beneficie o meu rosto, cobrindo as olheiras de cansaço. Passo um batom
discreto, solto meus cabelos e pego minha bolsa, Pablo chega no horário
combinado.

— Nossa amor, você está linda — diz com um sorriso lindo.

— Você que está lindo, aposto que todas aquelas mulheres vão babar
quando você entrar no restaurante. — Reviro os olhos.

— Ah é?! E os marmanjos que te olham e tenho vontade de encher eles


de murros, não conta? — Ele semicerra os olhos. — Estamos quites, amor,
agora vamos.

Já no carro, começamos um papo descontraído sobre um senhor, de


quase noventa anos, que me pediu em casamento hoje enquanto eu resolvia o
problema da máquina com o técnico. Entre risadas chegamos ao restaurante.

O lugar é perfeito, com uma vista maravilhosa do mar, um ambiente


agradável, com muito conforto, a decoração é impecável em uns tons de
madeira, muito requintado, com um lustre enorme no centro deixando o local
agradável a meia luz, um maître muito atencioso vem nos receber e nos leva a
nossa mesa. Pablo senta ao meu lado. Logo somos servidos com um vinho
branco — escolhido por Pablo — ele fala algo no ouvido do maître, que
responde com um “imediatamente senhor”.

— Está gostando?

— Estou amando. — Tomo um pouco no meu vinho. — Você sempre me


surpreende, Pablo.

— Que bom, você também me surpreende, Bianca, não imagina o


quanto. — Ele me olha profundamente com seus belos olhos azuis.

— Gosto dos seus olhos. — Deixo escapar.

— Sério?! Eu prefiro os seus — ele fala com um sorriso torto todo


sedutor.

— Às vezes me pego pensando na mudança que as nossas vidas sofreram


desde que estamos juntos. Quando olho para você, como estou olhando agora,
esqueço-me de todos, somos só você e eu, acho que irei me sentir assim pelo
resto da vida. — Tenho certeza que estou com as bochechas coradas, não
costumo ser tão intensa, mas achei que ele merecia saber.

— Viu o que acabei de te dizer? Você me surpreende Bia, quando eu


menos espero você faz meu coração bater mais forte. — Ele pega minha mão e
beija suavemente. — Hoje, vejo quão burro fui ao tentar te afastar da minha
vida, deixar você me amar foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Eu
te amo — ele fala e sinto uma emoção contida na sua voz.

— Eu também te amo. — “Nosso momento” foi interrompido quando


nossa refeição chega. Frutos do mar, deliciosos a propósito.
Pablo

Chega o nosso prato principal — lagosta gratinada — e Bianca diz que


adora. Entre uma conversa e outra, a nossa sobremesa chega — Petit gateau
com uma bola de soverte de creme — ela ama, sei da sua compulsão por doces
e me delicio ao ver a cara de felicidade dela, depois claro que fazer questão de
provar da sua boca.

Após a nossa refeição ela foi ao banheiro retocar o seu batom, aproveitei
a oportunidade e liguei pra Ray.

— Oi, Pablo.

— Oi, Ray, como Lily está? A febre voltou? — pergunto em alerta.

— Não, ela está aqui acordada, não dormiu ainda por causa da febre que
a fez dormir a tarde toda, fique tranquilo, qualquer coisa ligarei para você.

— Okay, tchau.

Encerro a ligação e fico mais aliviado, tudo está perfeito, minha filha sem
febre, uma boa comida, a mulher que eu amo e um clima de pura sedução.

Bianca

Depois de retocar o batom vou ao encontro de Pablo, que me espera com


um sorriso no rosto e com a maior cara de safado. Estamos a caminho de casa
em silêncio, ouvindo Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim na voz suave de Ivete
Sangalo, isso deixou o clima perfeito. Ele segura minha mão e vai dirigindo
tranquilamente, enquanto eu fico olhando-o, admirando essa maravilha de
homem que tive a sorte de entregar meu coração. Mal chegamos ao meu
apartamento e Pablo toma minha boca com urgência, nós nos livramos das
nossas roupas rapidamente e eu sinto quando ele acaricia meus seios e solta
um gemido — definitivamente ele gosta dos meus seios. Em seguida começa a
sugá-los e meu ventre se contrai em antecipação. Depois de ter os dois seios
deliciosamente chupados monto nele e começo a beijá-lo, depois mordo seu
pescoço, seu tórax, sua barriga e o vejo respirar forte. Pablo me possui de
forma intensa, com paixão e cuidado.

— Eu te amo Bia. — Sinto-o se derramando em mim, seu coração


batendo forte contra o meu enquanto seus lindos olhos azuis lê a minha alma.

— Eu também te amo — digo e beijo-o depois de um tempo ele tomba


para o lado me levando junto.

— Ultimamente estou tão feliz que tenho medo que alguém chame e
acabe me despertando do meu sonho. — Sorri preguiçosamente, enquanto sua
mão toca meus cabelos.

— Você é o meu sonho, Pablo, se um dia isso acontecer, eu arrumarei


um jeito de te fazer voltar a sonhar.

— Minha vida mudou completamente depois que você se entregou a


mim, Bianca, eu te amo tanto que não suportaria te perder um dia — diz e vejo
que seu olhar ficou triste por um momento.

— Você não vai me perder Pablo, só perdemos o que não é nosso, o que
não é o caso porque eu te amo e sou completamente sua. — Beijo sua boca
apaixonadamente.

Ele me abraça forte e nossos corações se encontram batendo num só


compasso tocando a mais bela sinfonia.... a do amor que é capaz de unir uma
pessoa a outra a ponto de necessitar da pessoa amada para viver e ser feliz.
Capítulo 31

Pablo

Acabo de deitar na minha cama quando, de repente, um furacão de


cabelos loiros invade meu quarto e pula na minha barriga, enchendo-me de
beijos pelo pescoço.

— Papai, meu píncipe! — Sorri.

— Você é a minha princesa, amor. — Sorrio e passo a mão pelo seu


cabelo enquanto ela deita e encosta a bochecha no meu coração. — Lily, o
papai tem uma coisa para te contar. — Ela levanta a cabeça e me olha com
atenção. — O papai está namorando com uma pessoa. — Ela franze as suas
lindas sobrancelhas e parece pensar, acho engraçado, mas não interrompo seu
“momento reflexivo”.

— O que é mamolar? — pergunta confusa. Claro que ela não sabe o que é
namorar, seu retardado! — Eu me repreendo internamente.

— Namorar, é quando uma pessoa se apaixona por outra e quer um


compromisso mais sério com ela. Como as princesas que se apaixonam pelo
príncipe, lembra?

— Lembo. Como as pincesas? — Seus olhos se acendem.

— Sim, meu amor, como as princesas. — Ela parece “refletir” um pouco.

— Você vai bezar sua mamolada? — Beijo seu rosto e respondo.

— Sim.

— E vai fazer calinho nela? — Ela faz um ca


— Lily, o papai gosta muito, muitãoooo mesmo da Bia. Então eu posso
namorar com ela, não é?

— Ahaaam. — Desço da cama, pego-a em meus braços e a rodopio no ar;


ouço seus gritinhos de felicidade e me sinto o homem mais feliz do mundo.

— Minha princesa quer tomar sorvete?

— Um glandão? — pergunta abrindo os bracinhos para demonstrar o


tamanho.

— Sim, o maior que tiver!

— Obaaaa!

Chamo Ray e peço que ela arrume Lily e depois a leve para o apê da Bia.
Enquanto isso vou lá dá um beijo na minha mamolada...

Bianca

Tomo um banho relaxante e deito no sofá, começo a assistir um


documentário sobre ursos polares que está passando na TV, mas acabo caindo
no sono. Sou acordada com beijos e mordidas pelo pescoço, uma mão
audaciosa sobre preguiçosamente para o meu seio e pelo toque conheço muito
fonoaudióloga me informou que ela, assim como outras crianças com síndrome
de Down, sente muita dificuldade em pronunciá-las.

— Ah, é amorzinho? Sobre o que é?

— Família. Tia Bia... — Ela para por um momento e depois volta a falar.
— Você vai tá lá?

— Por favor, Deus, que ela diga que sim! Se ela disser “não” vai quebrar o
coração da minha princesa... — Suplico em silêncio.

— Claro que vou!

— Obaaaaa, você vai! — Percebo que Lily fala sorrindo e isso me deixa
feliz, muito feliz.

— Imagina se eu ia perder você arrasando com esse charme todo?! Lily...


você quer ser a minha melhor amiga?

— Meior amiga?

— Sim, melhor amiga é quando uma pessoa conta todos seus segredos
pra outra e a outra amiga faz o mesmo.

— Ah, assim eu telo.

— Own, meu amor, a Bia te amo muito, viu? — Sua voz sai abafada.

— Eu também te amo. Chola não, tia.

Espera aí... Bianca está chorando? Preciso ver isso.

Entro no quarto e vejo uma das cenas que, com toda certeza do mundo,
nunca irei esquecer: Bianca sentada na cama de frente para Lily e minha
princesinha de joelhos enxugando as lágrimas dela.

— Tá meor?
— Tô sim, amor — ela fala com um sorriso para tranquilizar Lily. — Ei!
— Olha para mim. — Já veio nos apressar?

— Hum... não. Só vim ver o que tanto conversavam. — Dou de ombros.

— Papo de meninas, não é, Lily?

— É. — Lily bate a mãozinha na dela e depois abraça Bianca, as duas me


olham e me deixam apaixonado mais uma vez.

— Tá bom, meninas, vou tomar sorvete sozinho.

— Nada disso! Vamos, Lily, ele quer fugir. — Elas correm e sou
“encurralado” pelos meus dois amores. Bia pega Lily nos braços e me beijam
pelo pescoço e bochecha até que a princesa inquieta sai e vai correr pela casa.

— Então...melhores amigas, hein? — provoco Bia que cora furiosamente.

— Não acredito que você ouviu! — Ela dá um tapa no meu ombro e eu


abraço-a.

— Desculpa, amor, não resisti. Quero que saiba que a cada dia que
passa amo mais você. — Toco o rosto dela com ternura.

— Eu também te amo. — Nos beijamos e ao ouvir acampainha tocando


— de novo — pego sua mão e vamos para sala. Ray nos entrega a mochila
coloco-a no sofá e vamos para sorveteria.

Bianca

A sorveteria aqui do bairro é muito charmosa, as paredes são bem


coloridas e as cadeiras também; dá um ar divertido ao estabelecimento.
Escolhemos uma mesa que tem uma vista privilegiada do parquinho, onde
muitas crianças brincam alvoroçadas. Nossa princesa está exultante de
felicidade e não tira um sorriso lindo do rosto. Escolhemos os sabores dos
nossos sorvetes: Lily de chocolate. Pablo, de morango e o meu, de frutas
vermelhas. Depois de alguns minutos, eles chegam e Pablo me conta a primeira
vez que ele trouxe Lily aqui, dizendo que ela ficou com o rosto todo sujo e ele
estava gargalhando demais para limpar. Quando sua tia chegou para buscá-los
tomou um susto ao olhar para a menina. Olhando para ela agora com a boca
toda lambuzada dá para ter uma noção. De repente, tenho a ideia de pegar um
pouco do meu sorvete com um dedo e melar a bochecha de Pablo.

— Você não deveria ter feito isso. — Com um sorriso malicioso ele pega
um pouco do seu sorvete e meleca minha bochecha inteirinha. Vejo Lily
gargalhar com a situação. Então, para que ela participe também, sujo sua
bochecha. Brincamos mais um pouco e antes de irmos nos limpar, pego meu
celular e tiro uma foto dela toda lambuzada, Pablo sugere que eu tire uma de
nós três, sorrindo e melecados. O resultado foram várias fotos engraçadas, sem
nos preocuparmos com os olhares curiosos ou reprovadores.

Devidamente limpos e com a conta paga, resolvemos dar uma volta e


então olho para os dois brincando e rindo. Dou um sorriso e sinto que jamais
poderia viver sem meus dois amores. Eles me completam.

— Papai, tia, vamos po paquinho? — a danadinha pede com os olhinhos


brilhando. Quem consegue resistir?

— Bia, você se incomoda?

— Claro que não! Vai brincar, princesa.

Ela sai toda saltitante e Pablo passa a mão pela minha cintura e me atrai
colando seu corpo no meu, ele me dá um beijo e sentamos num banquinho,
próximo, de onde podemos ver Lily se socializando com outras crianças. Pablo
coloca seu braço por cima dos meus ombros e deito minha cabeça em seu
ombro, cheirando seu pescoço.

— Amo seu pescoço, seu cheiro é tão gostoso — suspiro e ele ri.
— Sério? Será que você é uma vampira e eu ainda não sei? — brinca com
os meus cabelos.

— Não sei, mas você parece com o Damon, meu vampiro favorito.

— Hummm... Cuidado então, eu posso querer morder seu corpo


inteirinho mais tarde. — Morde discretamente a minha orelha e sinto um
arrepio gostoso passar em todo meu corpo. Ao erguer os olhos, percebo que
algumas mulheres comem Pablo com os olhos e outras nos olham espantadas.

— Parece que viramos a centro das atenções aqui no parquinho —


cochicho.

— Sim, eu percebi antes mesmo de chegarmos aqui. Temos sido centro


das atenções desde a sorveteria. Deve ser porque sempre que passeamos Lily e
eu, sempre éramos só nós dois. — Dá de ombros.

— Então eu sou a primeira? — pergunto sorrindo.

— E única. — diz me olhando apaixonado. Tomo seus lábios e o beijo


com todo amor que há em meu coração. Somos interrompidos por duas
mãozinhas tocando nossas pernas e tentando sacudi-las. Eu e Pablo nos
separamos ofegantes e sorrimos para Lily e um menininho dos cabelos
cacheados e loirinhos como o dela.

— Tia Bia é a mamolada do meu pai, Gus. — Lily fala para o menininho.

— Humm, é... Oi, Gus. — Dou um sorriso para ele que me observa
atentamente.

— Que moça bonita. — Ele sorri olhando pra Lily.

— Muto munita — ela se gaba. De repente, uma mulher baixinha vem


quase correndo em nossa direção.
— Gustavo, quantas vezes já te falei para não sair de perto de mim sem
avisar? — ela fala baixinho, mas mesmo assim soa como uma repreensão e ele
pede “decupas”. A mulher olha para nós e fica vermelha e, para minha
surpresa, Pablo a cumprimenta.

— Oi, Ali.

— Ei, Pablo, quando tempo! — Ela o abraça sorrindo.

— É, faz um tempo que não venho aqui mesmo. Ali, essa é a minha
namorada, Bianca — diz segurando minha mão e sorrindo para mim — Bia,
essa é a Aliane, minha amiga. Ela me dá um sorriso que me parece muito
simpática. Pelo visto, amiga mesmo do Pablo.

— Oi, Bianca, muito prazer. Desculpe-me, eu não chego já brigando com


os outros, é que o Gus às vezes tem energia demais e acabo não dando conta.
— Sorri sem graça.

— O prazer é todo meu — falo sorrindo, por que é impossível não sorrir
para ela.

— Vem Gus, vamo bincar. — Eles pegam na mão um do outro e vão para
um balanço pequeno.

— Bom, eu vou olhá-los, não tem problemas, não é?

— Não, Ali, a Lily adora o Gus. — Pablo fala, sorrindo. Aliane fica na
ponta dos pés e fala algo no ouvido de Pablo que o faz sorrir. Fico morrendo de
curiosidade, mas incrivelmente não sinto ciúmes. Então, ela sai para olhar as
crianças.

— Gostei dela, parece ser uma boa pessoa — falo.

— Engraçado, ela acabou de falar quase a mesma coisa de você.


— Sério?

— Sim, só acrescentou “Case-se com ela” no final. — Dá de ombros e me


abraça. — E é o que vou fazer.

— Já?! Está assim tão louco para nos amarrar? — Faço graça.

— Não vou deixar você escapar, Bia — diz sério.

— Nunca vou te deixar, meu coração já está unido ao seu, sou sua.

— Toda minha? — Olha dentro dos meus olhos, dentro da minha alma.

— Cada pedacinho do meu coração.

— E do corpo também? — Arqueia as sobrancelhas.

— Safado! Todinho seu...

— Ótimo, porque hoje à noite — sussurra ao meu ouvido. — Vou provar


cada pedacinho dele.

— Estarei a sua disposição. — Dou um sorriso doce que não cola


nenhum pouco.

— Porra, mulher! Mais um pouco dessa conversa e vou parecer um


pervertido!

— Seu bobo! — Sorrio e dou um selinho em sua boca. Ficamos


conversando até que começa a escurecer e resolvemos ir para casa. Nos
despedimos de Gus e Aliane com a promessa de trazer Lily mais vezes para
brincar aqui.
Depois de uma pizza deliciosa de frango com catupiry, vamos assistir O
Rei Leão — que Lily escolheu — e nós três sentamos no meu sofá. Ela deita
entre Pablo e eu e me sinto tão feliz que não consigo conter as lágrimas.

— Tá cholano, tia? — Lily é a primeira a ver. — Papaaai! — Olha para


Pablo. — A tia Bia tá tão cholona! — Nessa hora não aguento e começo a rir.

— Tô mesmo, princesa, nem sei por quê! Eu hein, nunca fui assim! —
Pablo limita-se a dar um “huuum” e voltamos ao filme. Como sempre acontece,
Lily pega no sono antes do filme terminar.

— Pablo, a Lily pode dormir com a gente hoje? — peço. — É que queria
ficar perto dela. Ele levanta uma sobrancelha.

— Amor, não podemos acostumá-la a dormir com a gente; mas só por


hoje, tudo bem. Depois de colocá-la na cama, ele me abraça e diz baixinho que
precisa falar algo sério comigo. — Obrigado, Bia.

— Por que está me agradecendo?

— Por tudo. Por me amar, por deixar minha filha ser parte das nossas
vidas e o mais importante, por amá-la com tudo que teremos que enfrentar.

— Pablo, — toco o seu rosto. — Eu que tenho que te agradecer por me


proporcionar todo esse amor. — Sentamos e me aconchego a ele, colocando
minha cabeça em seu ombro, deliciando-me com seu pescoço cheiroso.

— Você já é parte da minha família. — Começa. — Por isso, merece saber


que a vida com uma criança especial não é fácil, exige o dobro de paciência,
amor e cuidado. Chegarão momentos difíceis e complicados que você precisará
ter amor em dobro e paciência também para saber lidar. Lily tem uma equipe
médica de grandes e melhores médicos para cuidar da sua saúde e
necessidades especiais. Faz consultas regulares com pediatra, fonoaudióloga,
fisioterapeuta e entre outros. Não é fácil, Bia, tenho medo que você não
aguente toda essa rotina e ... — Sua voz some aos poucos. — Que nos deixe,
que não suporte tudo isso e resolva sair das nossas vidas. — Ele vira o rosto
para o lado, mas vejo a dor que lhe causou me dizer essas últimas palavras.

— Pablo. — Toco seu rosto com as duas mãos. — Eu não vou a lugar
algum. Você me ensinará tudo que eu tenho que fazer. Quero ser mais que
uma tia que brinca de boneca com a Lily, quero ser alguém que ela possa
confiar, alguém que secará suas lágrimas quando ela não suportar os
momentos difíceis, alguém que ela dividirá suas conquistas. E com certeza
estarei na primeira fila aplaudindo suas vitórias. Se eu for metade do que você
é para ela, então serei uma pessoa realizada e feliz.

— Eu te amo, Bianca! — Lágrimas descem suavemente pelo seu rosto e


beijo-as uma por uma. — Eu não te ensinarei, mas a convivência, sim!
Chegarão momentos que você não saberá como agir, mas o seu amor lhe
indicará o que deve ser feito.

— Eu também te amo, amor... — Beijamo-nos tranquilamente, sem


pressa alguma; aconchegamo-nos um ao outro e ficamos em silêncio, pois há
momentos que palavras não são necessárias, só sentimentos. Eu e Pablo não
transamos, mas fizemos amor da maneira mais linda — com as palavras — nós
nos declaramos com amor e verdade. E depois de tanto procurar em pessoas
erradas, descobri que quando a pessoa certa te olha, não há que com amor não
possamos fazer.
Capítulo 32

Pablo

Acordo e vejo Bianca ao meu lado alisando os cabelos de Lily, que ainda
dorme tranquilamente. Envolvo meu braço ao redor da cintura de Bia e ela
descansa a cabeça em meu peito.

— Bom dia, meu amor... — Beijo seu pescoço.

— Bom dia — murmura — Ela acordou de madrugada.

— Foi? Por que você não me chamou?

— Porque você estava dormindo tão tranquilo, não foi nada demais.
Contei uma história e ela voltou a dormir — fala baixinho. Beijo seus cabelos —
Pablo...

— Sim?

— Ela me chamou de mamãe. — Vira devagar e me encara. — Perguntei


se queria que chamasse você e ela disse que queria a mamãe e me abraçou. —
Uma lágrima discreta desce pelo seu rosto e beijo seus lábios delicadamente.

— E como você se sente sobre isso? — pergunto apreensivo, mas tento


disfarçar.

— Feliz. — Ela me dá um sorriso — Acho que finalmente encontrei o meu


lugar.

— Ah, foi? E onde é?

— Aqui — diz colocando a mão no meu peito sobre o coração. — Onde


você e Lily estiverem, será o meu lugar.
— Aqui. — Pego minha mão e coloco sobre a sua ainda no meu peito. —
Sempre terá um espaço que é só seu e só você sabe e pode preencher. Eu te
amo.

— Eu também te amo. — Beijo seus lábios suavemente.

Caramba, como eu amo essa mulher. Bianca geme em minha boca e


tento me controlar, afinal minha filha está dormindo ao lado. Porra, mas como
é difícil!

— Amor, eu acho melhor pararmos. — Sua respiração está ofegante. A


minha também.

Dou um selinho nela e levanto da cama me espreguiçando. Claro que


estou com uma barraca armada, Bia a encara e levanto uma sobrancelha. Noto
que suas bochechas ficam vermelhas e contenho o riso para não acordar a
minha princesa. Vou para o banheiro fazer minha higiene e esperar um pouco
até o meu amigão dormir novamente.

Bianca

Pablo sai da cama e fico pensando nos últimos acontecimentos. Agora eu


sou mãe! A vida é surpreendente, até um tempo atrás eu nem sonhava em
compromisso e aqui estou eu me sentindo a pessoa mais feliz e amada do
mundo.

— Mamãe — uma voz sonolenta me chama a atenção. Lily me agarra e se


aninha a mim como uma gatinha.

— Oi, meu amor, a mamãe está aqui — falo e não contenho as lágrimas
de emoção, enxugo-as rapidamente e cheiro sua cabecinha.

Ela abre os olhos rapidamente e se espreguiça bocejando.

— Você é minha mamãe, não é? — Ela me fita esperançosa.


— Você quer que eu seja? — Lily confirma ansiosa. — Então eu sou.

Lily abre um sorriso tão lindo que meu coração bate mais forte. Agarra-
me com seus bracinhos em volta do meu pescoço.

— Bigada. — Ouço sua voz abafada.

— Está me agradecendo por que, meu anjinho?

— Pô sê minha mamãe. — Então me abraça mais forte.

— Lily, você não tem que me agradecer, princesa. Eu te amo.

— Eu também te amo ti... mamãe.

— Princesa, tudo bem se você me chamar de tia. Okay?

— Tá.

— Ótimo! Agora vamos levantar?

Ela dá um salto da cama e se espreguiça — novamente. Deve ter


aprendido com Pablo. Após fazermos nossa higiene e nos arrumar, vamos para
cozinha tomar café da manhã. A mesa está repleta de coisas gostosas: suco,
café leite, bolo, pão e outras guloseimas. Pergunto a Pablo como ele conseguiu
tudo isso e ganhei uma piscada de olho como resposta.

— Então, amor, o que faremos hoje? — pergunto dando uma mordida no


meu bolo que está uma delícia, aliás tudo está uma delícia, ultimamente ando
comendo tanto que vou engordar uns 10 quilos.

— Bom, a mocinha aqui — diz apontando para Lily. — Tem


hidroginástica.

— Vou nadá na piscinona? — pergunta ansiosa.


— Vai sim, mas só à tarde — ele diz e depois olha para mim. — Você tem
algum plano para hoje?

— Não, tenho o dia livre.

— Você vai me vê nadá, mamãe? — pergunta com os olhinhos brilhando.


Pablo vai falar algo, mas fecha a boca rapidamente.

— Claro que eu vou. — Ponho mais suco para ela.

— E eu? Não vai me chamar? — Pablo faz bico para ela e sorrio.

— Lily, o papai está com ciúmes. — Ela desce da cadeira apressada e se


joga nos braços do pai, beijando seu rosto.

— Fica não — diz alisando o rosto dele.

Depois de um café da manhã maravilhoso, Lily vai assistir seus desenhos


favoritos enquanto Pablo e eu arrumamos a cozinha.

— Bia, hoje você vai conhecer o pediatra e a fisioterapeuta da Lily.


Depois seguimos para a hidro, tudo bem?

— Sim.

— Lá você poderá tirar algumas dúvidas e conhecer mais sobre as


necessidades especiais que a Lily tem. Mas se você achar que estamos indo
rápido demais...

— Tudo bem, amor, — interrompo-o. — Eu preciso saber de tudo


relacionado a nossa princesa, afinal eu sou a mamãe dela, não é?

— É sim, só que eu preciso que seja oficialmente minha — diz ele


passando o pano de prato no meu pescoço e me beijando.
— Pablo, eu não sei se quero me casar agora — digo engolindo com
dificuldade o nó que se formou em minha garganta.

— Você quer, só não sabe ainda — diz me encarando — Por que todo
esse medo?

— É só que... eu tenho medo que você se canse de mim — respondo


angustiada.

— Isso é impossível!

— Pablo, eu sou cheia de manias, mandona, chata, fico péssima quando


estou de TPM, sou insuportável e...

— E você acha que eu não sei disso? — Ele sorri e lhe dou uma tapa no
braço.

— E ainda quer casar comigo? — pergunto cética.

— Sim, é o que mais quero. Pois, mesmo com essas manias, você é doce,
amável, linda, generosa, a única que consegue me surpreender todos os dias —
diz todo apaixonado. — A pessoa que desejo ter ao meu lado e ao lado da
minha filha para sempre, eu te amo.

— Eu também te amo, mesmo achando que você está meio louco.

— Sou louco mesmo, totalmente louco por você! — Ele me beija com
tanto amor e desejo que acabo gemendo em sua boca, saboreando o amor
verdadeiro que é capaz de fazer com que duas pessoas se amem apesar de
tantos defeitos.

— Sabe que com esses beijos eu poderia até me casar com você agora...
— falo, com um sorriso preso aos lábios, ao mesmo tempo que mordo seu lábio
inferior.
— Hummm, e se eu fizer isso. — Ele passa a mão pelo meu seio e aperta
meu mamilo deliciosamente. — Consigo te convencer? — Tento me controlar
para não gemer alto.

— Pablo, Lily está na sala — murmuro e ele invade a minha boca me


deixando louca.

— É só você ficar quietinha... — ele sussurra ao meu ouvido.

Desce a mão, passando delicadamente do meu seio até meu quadril e me


segura firmemente enquanto sua outra mão está na minha nuca,
massageando-a lentamente; sinto sua mão por baixo da minha camiseta e digo
baixinho ao ouvido dele:

— Pablo... — e suspiro.

— Estou desesperado para fazer amor com você.

— Eu também, mas Lily está lá na sala. — Tento ser racional.

— Droga! Eu devia ter mandado Ray vim pegá-la pelo menos agora de
manhã.

— Egoísta. — Sorrio.

— Não tenho culpa se você me faz pensar com a cabeça de baixo — diz e
se esfrega em mim.

Seu safado! — Reviro os olhos e ele gargalha.

— Mamãeeee, vem atistir comigo! — Lily grita.

— Bia, nós precisamos conversar com ela, Lily tem que ser instruída
desde pequena que não é sua filha de sangue. Ela nunca teve uma mãe antes.
— Engole em seco. — Terá que ter paciência.
— Mas é minha filha, ela nasceu no meu coração e nada nem ninguém
pode dizer o contrário. — Abraço-o.

— É por isso que eu te amo.

— Eu sei, você já me disse isso hoje.

— Convencida.

— Sou mesmo e culpa é sua.

Ele sorri.

— Vamos sair, estava pensando em comprar umas roupas para Lily,


depois almoçamos em um restaurante e vamos para a hidro. Pode ser?

— Soa como um bom plano.

— Ótimo. — Ele está tão mandão.

— Que foi? — Franze a resta e sorrio.

— Estava somente observando você em seu modo mandão.

Ele me dá um beijo que me deixa com as pernas bambas, Uau!

— Vamos mulher, ande logo! — Bate na minha bunda e vamos para a


sala.

Pablo

Bia está a mais ou menos uma hora com Lily nessa loja para escolher
algumas roupas para nossa princesa, a princípio seriam apenas cinco peças,
mas pela montanha que ela mandou separar já deve ter umas cem. E você deve
estar se perguntando o que eu estou fazendo. Apenas segurando sacolas, sou o
carregador das madames. No momento estou sentado há uns 30 minutos,
tentando disfarçar meu tédio, quando meu telefone toca, olho no visor e ao ver
que é Bruno atendo imediatamente.

— Oi, primo. Lembrou dos pobres.

— Oi Pa, que pobre? Tu estás ganhando bem, seu babaca!

— Poderia ganhar melhor... — Ironizo. — Quando você volta? Quando


nos falamos da última vez por e-mail você falou que estava mais perto do que
eu imaginava, lembra?

— Decidi ficar mais um pouco, digamos que as coisas por aqui estão
ótimas. Tudo fluindo como o planejado! — Ele realmente parece feliz.

— Deixa de chorar, seu molenga!

— E aí tem alguma novidade? Já se entendeu com a Bia?

— Hã? Como você sabe que a Bia e eu...

— Pablo, meu caro, todo mundo percebeu que vocês soltam faíscas
quando estão juntos, você sabe que se tu não se resolver, eu pego, aquela loira
é gosto...

— Termina essa frase, seu filho da puta! — brado e o cretino ri.

— Olha a boca, que minha mãe é sua tia! — resmunga e ri mais um


pouco.

— Nunca mais fale assim da minha mulher, seu imbecil! — falo nervoso
e morto de ciúmes.

— Tá bom. Tá bom. Pelo visto já se entenderam. Fico muito feliz por isso.
Pensei que você tinha que quebrar a minha cara depois de eu ter dado uns
pegas nela.
— Idiota.

— Também te amo. — Esse meu primo não vale nada. — E Pa...

— Sim?

— Sinto sua falta e de Lily... — diz baixinho.

— Nós também sentimos, tomara que esse tempo que você precisa ficar
aí passe logo. — Sinto uma emoção e mudo logo o assunto. Coisas de homens.
— Preciso de férias. Hoje a Bia vai conhecer os médicos de Lily. — Deixo
escapar.

— Então a coisa está ficando séria mesmo. — Assobia.

— Vou pedi-la em casamento, primo.

— Eu não vou me amarrar nunca, mas desejo que vocês sejam muito
felizes. Sério mesmo, Pa.

— Quando você se reconciliar com o seu passado e encontrar aquela


pessoa que não posso tocar no nome há anos, voltamos a essa conversa. Por
hora, obrigado, você sabe o quanto considero seu apoio.

— Isso nunca vai acontecer. — A voz fica séria de repente.

Ouço uma voz de mulher ao dizendo: “Bruno, vem cá já estou molhada


só de...” com certeza ele abafou o som. Esse meu primo não aprende nunca!

— Er... vou precisar desligar... tenho... umas. — Ouço um gemido. —


Coisas para fazer. — Termina num fio de voz.

— Alguma mulher para comer? Vai lá...

— Me deixe aproveitar a vida. Além do mais, essa ligação vai me custar


uma fortuna! — Começo a rir.
— Então, garanhão, até logo, nos falamos por e-mail.

— Tchau, diz a Lily que mandei um montão de beijos.

— Pode deixar.

Ele desliga e as mocinhas consumistas me arrastam para a próxima loja.

Bianca

Depois de comprarmos umas roupas para Lily — com Pablo protestando


dizendo que eu estava exagerando — fomos almoçar. O garçom passou com um
prato simples — arroz, feijão, bife e batata-frita — e senti minha boca salivar,
mas tento me controlar. Pablo deve ter visto o olhar que dei ao prato suculento
e fez exatamente esse pedido para nós três, pedindo para acrescentar salada.
Eu queria muito dizer que fiquei constrangida, mas na verdade me deu uma
fome tão louca que nem tive a chance de ter culpa na consciência.

Notei que Pablo me olhava de uma forma esquisita, porém iniciou logo
um assunto antes que eu lhe enchesse de perguntas. Começou a falar que
Bruno tinha ligado e que decidiu passar mais uns dias lá. O garçom chega
servindo nossos pratos e nos oferece um ótimo vinho, mas ele recusa e pede
três sucos de laranja. Okay, isso está começando a ficar esquisito. Penso em
protestar e pedir o vinho, mas me contenho, não quero estragar o clima gostoso
que há entre nós. Começo a tentar comer civilizadamente, mas quem disse que
eu me contenho?

Estou com uma fome insaciável e como tudo rapidamente da maneira


mais educada nessas circunstâncias — pelo menos sem parecer uma selvagem
— e ao erguer os olhos, vejo Pablo me olhando com um sorriso torto no rosto.

— Pelo visto você gostou mesmo da comida daqui, deveríamos vir mais
vezes. — Fico vermelha na hora! Merda, ele também notou minha fome
desgovernada!
— Eu.. eu.. não sei o que deu em mim, eu nunca comi tão rápido em
toda minha vida. Definitivamente hoje não estou normal!

— Estou gosta
Opa! Disso eu não sabia...

— Está melhor? — ela confirma. — Vou buscar uma garrafa de água


para você, entra e fica sentadinha no carro. — Destravo as portas — Já volto,
Lily cuida da mamãe, tá bom?

— Tá.

Bianca pega em sua mão e vejo as duas entrando no meu carro.


Praticamente corro para comprar a água para ela. Volto com a água e balinhas
de menta, entrego a ela.

— Bia, é melhor te levar para casa. — Eu a observo. Ainda está pálida.

— Não, eu já estou melhor. — Ela toma um gole da água e Lily pega as


balas.

— Você não me parece melhor. — Encaro-a.

— Mas estou, além do mais quero ver minha menininha arrasando hoje.
Já passou, Pablo, é sério.

— Okay, mas se você passar mal novamente...

— Aí nós iremos para casa.

— Tudo bem — concordo relutante e dou partida no carro.

Bianca

Chegamos à clínica onde Lily faz a hidroginástica e fico impressionada,


não parece em nada com um hospital. Logo na entrada tem um jardim muito
colorido e fico encantada. É lindo demais! Entramos e encontro uma moça
muito elegante que chama Juliana — escrito no crachá — nos atende com um
sorriso no rosto e Lily logo corre em direção da “tia Ju”. Ela cumprimenta Lily,
retribuindo um abraço e lhe dá um beijo na testa.
— Boa tarde, Sr. Pablo, como vai? — Dá um sorriso profissional.

— Boa tarde, Juliana, já falei para não me chamar de senhor... — ela fica
com as bochechas vermelhas — essa aqui é minha namorada Bianca.

— Boa tarde, é um prazer conhecê-la — eu digo com um sorriso no rosto.

— Boa tarde, é um prazer conhecê-la também. Só um minuto, vou avisar


ao doutor que já chegaram — ela diz algo ao telefone que eu nem reparo porque
estou olhando para o par de olhos mais lindo do universo. Ele me abraça e me
dá um beijo na bochecha.

— Pronto, o doutor já irá recebê-los — a Juliana diz.

Agradecemos e sinto um frio na barriga, na verdade, bate um


nervosismo. Entramos na sala e uma voz grave, porém muito bonita nos dá um
“Boa tarde”. Quando levanto os olhos... Puta merda! Eu conheço esse cara...

— Boa tarde, Arthur, essa é minha namorada...

— Bianca. — Ele interrompe Pablo com um sorriso no rosto. Um sorriso


lindo, mas isso não vem ao caso. — Oi.

Merda, merda, merda! Ele me reconheceu!

— Oi, Arthur...

— Vocês se conhecem? — Pablo pergunta me encarando.

— Sim, mas já faz um tempão que não nos vimos. Como está o seu
amigo... Como é mesmo o nome dele?

— Guel — falo baixinho.

— Isso mesmo, Guel.

Olho para Pablo e logo vejo pela cara dele que está morrendo de ciúmes.
Capítulo 33

Pablo

Nunca em um milhão de anos eu imaginei que Bianca e Arthur se


conhecessem e parece que até demais, para o meu gosto! Nesse exato momento
só penso em arrancar esses malditos dentes, que se abrem toda vez que ele
olha para a Minha mulher! Olho para Bianca e só de pensar no que eles podem
ter feito, quero matar esse idiota ago...

— Pablo? — A minha vítima chama, se ele soubesse que a última coisa


que eu quero agora é ouvir a voz dele...

— Pablo, Arthur estava falando com você — Bia sussurra.

— Hã? Desculpe me distraí. — Estava te matando mentalmente, filho da


puta!

— Estava falando o quanto Guel é uma figura e que fico muito feliz pelo
relacionamento de vocês. — diz ele olhando firmemente para mim.

— Hum.

— Então, Bianca, Pablo me contou que você viria hoje para conhecer o
quadro clínico da Lily. Posso te adiantar que ela é uma criança perfeitamente
saudável e tem energia como qualquer outra criança, mais isso você já deve ter
constatado — diz enquanto Lily brinca com uns brinquedos colocados
estrategicamente por ele na sua sala.

— Com certeza — diz ela, sorrindo com ternura.


Fico observando fascinado, com as perguntas que Bianca faz a Arthur e
percebo que escolhi a mulher certa para ser a mãe da minha filha. Ela
pergunta sobre a alimentação e atividades que Lily tem de fazer semanalmente,
entre outras coisas. E o bastardo parece estar interessado demais em
responder. Lily para de brincar e pede para ir ao banheiro, Bianca levanta-se e
sai com ela me deixando sozinho com o imbecil, assim que ela fecha a porta,
disparo um olhar mortal para ele.

— Pablo, antes que você me mate, pare de pensar em mil besteiras e me


escute.

— Bom, estamos sozinhos aqui, fique à vontade.

— Eu conheci Bianca em uma festa, ela não tinha compromisso com


ninguém, dançamos e nos beijamos, mas não passou disso, percebi que ela
gostava de alguém e estava travando uma luta interna contra esse sentimento.
Então não insisti. Na verdade, ela não me deu a oportunidade para que eu de
insistisse — diz com um sorriso fraco.

— Arthur não vou negar que estou tendo pensamentos assassinos nesse
exato momento, porém como isso foi há um tempo atrás e eu e Bianca não
estávamos nos relacionando estou me controlando. Mas se eu pegar você
olhando para algo que não seja seus olhos quando “ — enfatizo o Ela — lhe
dirigir a palavra, ai sim, você é um homem morto. E pare de mostrar esses
dentes malditos toda vez que fala com a minha mulher, porra!

— Nossa, em todos esses anos que sou médico da Lily, nunca vi você
com essa possessividade com nenhuma mulher. Isso só pode ser amor mesmo.
— Ri.

— Você tem sorte de ser médico da minha filha, caso contrário, suas
bolas não estariam no lugar agora. — O filho da puta ainda sorri.
— Calma aí valentão e pare de se comportar como um idiota, você não
percebeu como sua mulher estava desconfortável? Deixa de ciúmes, está nítido
que Bianca te ama.

— Idiota!

A porta é aberta e vejo Bianca com Lily sorrindo e tentando abrir a


embalagem de um pirulito, que segundo a minha princesa ela ganhou da tia
“Ju”.

— Então amor, tem mais alguma dúvida? — pergunto.

— Não. — Ela vira para o idiota e diz. — Obrigada Arthur.

— Sempre as ordens. — Ele simula um sorriso, bem melhor.

— Arthur muito obrigado por ter nos recebido apesar de não ser dia de
consulta. — Levanto e aperto sua mão.

— Por nada, qualquer coisa é só marcar com a Juliana. — Ele olha pra
Lily e diz: — Tchau princesa.

— Xau tio — fala sorrindo, mas não lhe dá muita atenção, está mais
interessada no seu pirulito.

Bianca fica me ignorando, não sei por que, afinal que tem direito de ficar
zangado aqui sou eu.

Bianca

Percebo a cara feia de Pablo e ignoro. Afinal, não tive nada demais com
Arthur, foram só uns beijos e nada mais. Já tive que ignorar coisas piores por
ele e caso que queira lidar com uma bobagem dessas, problema é dele!

— Bianca, agora iremos para sala da doutora Sandy, a fisioterapeuta de


Lily — diz sem olhar nos meus olhos, dois podem jogar esse jogo.
— Okay — digo seca.

Logo uma moça muito bem vestida nos cumprimenta e descubro que seu
nome é Lígia. Ela nos informa que a doutora irá nos receber e ao entrar em seu
consultório me surpreendo com a decoração, tem muitos brinquedos no lado
direito da sala. Sentamos em umas cadeiras que estavam disponíveis de frente
para sua mesa e logo entra uma mulher morena, alta, magra com porte de
modelo, seus olhos castanhos são gentis e olha para Lily com ternura, gostei
dela.

— Boa tarde, desculpem-me o atraso — diz com um sorriso simpático,


olhando para mim e não para o meu namorado, se ela continuar assim,
ficaremos amigas!

— Boa tarde Sandy, essa é a minha namorada Bianca.

— Boa tarde Bianca é um prazer conhecê-la. — Retribuo seu


cumprimento com um sorriso. — Então, Pablo me ligou para termos uma
conversa antes da Lily ir para a Hidroterapia. Fique à vontade, temos muito
tempo.

— Então doutora, andei pesquisando. — Pablo me olha surpreso e coro


por ter escondido isso dele. — Gostaria de saber se tem alguma coisa que
possa fazer para ajudá-la em seu desenvolvimento.

Ela me explica tudo com muita paciência, diz que é de suma importância
que Lily pratique exercícios físicos e elogia Pablo por ter sempre ensinado a
Lily, desde cedo, a praticar esportes. Aproveita e me dá algumas dicas e sua
assistente vem buscar Lily que está numa euforia só. Sandy explica que ela irá
prepará-la para a hidro.

— Muito obrigada doutora, você é muito gentil.


— Ah, obrigada, qualquer coisa que precisar conte comigo. Quer assistir
a Lily toda animada lá na piscina?

— Eu posso?

— Claro que sim, preciso me trocar, tem algum problema se não os


acompanhar?

— Imagina, claro que não, eu levo a Bia. — Nós nos levantamos e ele
pega na minha mão, beijando-a com carinho. Acho que a infantilidade já deve
ter passado.

Pablo me leva a uma sala com portas duplas e ao abrir encontro Lily
vestida num maiô rosa com uma touca também rosa, brincando com duas
garotinhas, uma já é quase uma mocinha e duas mulheres conversando e
olhando-as.

— Boa tarde Marlene, boa tarde Wana, essa é Bianca, a minha


namorada. — Elas parecem chocadas por um minuto e depois me
cumprimentam com um sorriso no rosto.

— Então você é a famosa Bianca? — a Marlene pergunta.

— Famosa eu? Não sei nada disso não hein. — Elas sorriem.

— Mamãeeeeeee. — Lily corre, fazendo a maior festa.

— Oi, meu amor. — Dou um beijo na sua bochecha. — Está se divertindo


com as coleguinhas?

— Aham, com a Dudinha — ela aponta para uma menina linda que me
dá um sorriso amoroso e um “tchauzinho”, ela é a maiorzinha. Marlene me diz
que é sua filha Maria Eduarda, mas que todos a chamam de Dudinha, ela tem
13 anos e além de ter a Síndrome de Down, também tem outra Síndrome
chamada Moia Moia, mas que é uma guerreira e não tira o seu lindo sorriso do
rosto. Lily interrompe nossa conversa e diz: — Atela é a Mimim — aponta para
a outra que presumo ser a filha de Wana, como presumi, ela me diz que o
nome da filha dela é Yasmim, mas que depois que a minha princesa chamou
pela primeira vez de Mimim, todos a chamam assim agora. Ela tem atraso no
desenvolvimento mental e motor, mas Wana diz com orgulho que a filha é uma
criança muito carinhosa e tagarela. Acho que despertamos a atenção delas que
deixam de brincar e sentam no colo das mães. Como se fosse para confirmar o
que a mãe disse a pouco, Yasmim me abraça e depois me dá vários beijos pelo
rosto e imediatamente viro a “tia Bia”. Nosso momento de beijos e abraço é
interrompido quando a doutora fala que está na hora da Lily ir para água. Ela
entra com a minha princesa em uma das grandes piscinas e sinto um frio na
barriga. Ela é tão pequena aquela piscina enorme, parece que vai engoli-la,
acho que Pablo notou minha tensão e me puxou para sentar em um banquinho
de frente para as duas.

— Fique tranquila amor, a doutora Sandy é médica de Lily há quase um


ano, ela sabe o que faz.

Ela senta com a minha princesa em seu colo e a incentiva a bater as


perninhas na água, ela adora e faz a maior festa, depois Lily faz movimentos
circulares com os braços durante alguns longos minutos. Logo em seguida ela
coloca uma boinha em cada bracinho da minha princesa, mesmo com a
doutora acompanhando-a vejo que já consegue nadar sozinha, está tão linda!

Assisto maravilhada minha princesa superando as expectativas e


mostrando que é capaz de fazer o que quiser, olho para Pablo que também
assiste a cena fascinado!

Após um tempo a hidro termina e nos despedimos da doutora, as


meninas — Dudinha e Yasmim — me dão beijos e abraços, Marlene, Wana e eu
combinamos de levá-las para tomar sorvete e brincar no parquinho, nos
despedimos e vamos para casa. Já de banho tomado e um lanche maravilhoso
que nos foi servido pelo cozinheiro mais lindo do mundo, Lily e eu deitamos no
sofá para assistir um pouco de desenho, mas acabo pegando no sono.

Acordo com o meu celular tocando estrondosamente, o nome de Guel


aparece e abro um sorriso. Vejo um bilhete de Pablo avisando que estava indo
para o apê dele com Lily.

— Oi Guel.

— Finalmente! Preciso te contar uma coisa, está em casa? — Parece


animado.

— Estou sim. Pablo estava aqui com Lily, mas já foram.

— Chego aí daqui a pouco. — Como sempre desliga na minha cara o


bandido!

Levanto e vou fazer um bolo de chocolate do jeito que ele gosta.

Guel mal chega e já começa a tagarelar sobre o seu mais novo “super-
bofe-escândalo” que cisma em não me dizer o nome. Conversamos, digo
algumas coisas sobre eu e Pablo, sem muito detalhes, mas Guel exagerado
como sempre infernizando inventando mil cenários para Pablo e eu não
aguentei e cai na risada, brincamos e nos empanturramos de pipoca, sorvete e
chocolate. Depois caímos exaustos na cama. Fico refletindo o quanto eu sou
sortuda, tenho o melhor namorado do mundo e não só um melhor amigo mais
um irmão que a vida escolheu me dar. Olho para Guel sonolenta.

— Eu te amo Guel. — Ele olha dentro dos meus olhos e vejo uma lágrima
discreta cair devagarzinho.

— Eu também te amo pequena. — Guel me abraça forte e agradeço a


Deus por ter colocado esse anjo na minha vida, ressaltando que tem as asas
meio tortas, mas ainda assim é o anjo perfeito para mim.
Capítulo 34

Bianca

— Acorda dorminhoca. — A voz estridente de Guel quase estoura meus


tímpanos, é nessa hora que quero matá-lo!

— Ai Guel, deixa de ser chato! Isso lá é jeito de acordar uma pessoa? —


Bato nele com o travesseiro.

— Você está atrasada. Já era para estar pronta! — diz puxando meu
lençol, filho da mãe! — Já estou indo, obrigado por me deixar de mau humor
logo pela manhã, seu chato!

— Por nada — fala olhando as unhas. — Como você vai demorar, irei
fazer um café para nós dois. — Sai para a cozinha, aproveito para tomar banho
e me arrumar o mais rápido possível, tenho certeza que ele vai me atormentar
se eu demorar. Visto uma calça jeans, uma regata vermelha, calço um par de
sapatilhas confortáveis e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo, vou para a
cozinha encontrar o esquentadinho.

— Nossa, que transformação, quem é você? O que fez com a minha


amiga xexelenta que eu encontrei agora a pouco?

— Rá, rá, rá. — Imito uma risadinha sem graça. — Engraçadinho, passe
logo uma xícara de café pra cá pois só a cafeína é capaz de me acalmar após
ser enxotada da minha própria cama.

— Se ficar malcriada não faço mais comida para você! E cuida que
precisamos dar um jeito nessa juba!
— Você é pior que um carrasco. Minha mente não funciona tão rápido
quando acordo, até chegar no trabalho ainda estou processando as
informações. — Dou de ombros e ele revira os olhos.

Terminamos nosso café da manhã maravilhoso com as aventuras do


depravado mais divertido do mundo.

Vou ao meu quarto pegar minha bolsa e sinto aquele enjoo que insiste
em aparecer toda manhã, corro para o banheiro — e como quase sempre —
meu café da manhã, já era.

— Biaaaaaaa. — Ouço um grito escandaloso de Guel e faço sinal para


que ele pare de gritar.

— Já estou melhor, escandaloso — falo depois de alguns minutos.

— Melhorou mesmo? — confirmo, seus olhos preocupados suavizam um


pouco. — A quanto tempo você está se sentindo assim?

— Há uns dias, acho que estou com problemas no meu estômago, sei lá,
meu café da manhã geralmente não fica mais aqui — digo, apontando para o
meu estômago, ainda enjoada.

— Bia, posso ser sincero mesmo? — Franzo as sobrancelhas confusa e


dou de ombros respondendo que sim. — Você está fer-ra-da!

— Porque? — pergunto realmente confusa, já que quando ele começa a


falar por códigos não entendo absolutamente nada.

— Quando foi a última vez que você menstruou? Porque pelas minhas
contas era pra você estar com o cão no couro gritando e tentando matar todo
mundo! Essa tal de TPM, dizem que é uma prévia do parto, Deus me livre,
ainda bem que não tenho isso, Ele é pai não é padrasto! — diz fazendo uma
careta. Faço as contas e sinto o sangue fugir do meu rosto, não pode ser... ai
meu Deus, ai meu Deus...

— Guel eu estou atrasada! — falo com meu coração acelerando... ai meu


Deus...

— Claro que está, eu também estou. E a essa hora a cabeleireira está


surtando porque nosso atraso será fenomenal. — Chacoalha as mãos para o
alto, espalhafatoso.

— Guel, foco! — Estalo o dedo na frente do rosto dele. — Minha


menstruação tá atrasada, tipo...muito! Estou completamente ferrada, migo —
digo entrando em desespero.

— Calma Best, quanto tempo?

— Não sei, já perdi as contas, ai Guel a culpa é minha — falo chorando.

— Ai Jesus eu vou ter um troço, eu vou ter um troço. — Coloca uma mão
no peito e finge um desmaio trágico caindo em cima da minha cama. — Ai
caramba, não posso morrer, vou ser titio! — Dá um salto da cama.

— Migueeeeeeel — grito. — Recolhe a purpurina que quem tem direito a


ter um troço aqui sou eu — digo apontando para o meu peito.

— Ai amiga, é que estou tão feliz, mais tão feliz, que poderia sair
borboletando por ai... — diz dando pulinhos.

— Então desborbolete e volte, porque eu preciso de você, estou com


medo. — Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto.

— Desculpaaaaa. — Ele me abraça forte. — Esse seu Guel é tão


insensível as vezes. Conte o que está lhe deixando assim, medrosa desse jeito?
— E se Pablo não quiser? Ele... — Guel me silencia colocando dois dedos
sobre meus lábios.

— Bia, você acha mesmo que o Pablito não vai querer esse bebê? Acorde
para vida meu anjo, ele te ama, e esse bebê é um pinguinho de gente, que tem
um pouco de vocês dois batendo em um coraçãozinho forte, não há motivo para
você se desesperar, você tem ao seu lado um homem maravilhoso, esse anjinho
virá apenas para aumentar o amor que vocês sentem um pelo outro. — Tenta
me acalmar secando as minhas lágrimas.

— Meu Guel, o que eu faria sem você? — Abraço-o forte.

— Eu sei, sou muito insubstituível mesmo. — Dá uns tapinhas nas


minhas costas e nós dois sorrimos. — Agora vou a farmácia comprar um teste
de gravidez e torcer para ser positivo — diz batendo palminhas. — Se for uma
menininha vou enchê-la de glamour e se for menino será o mais fashion que
existe. — E sai resmungando algo como "vai ser um bebê tão lindo".

Nunca trinta minutos foram tão longos na minha vida, ando de um lado
para o outro, na sala, umas mil vezes, até que resolvo sentar no sofá e começo
a lembrar dos meus momentos com o Pablo, do nosso primeiro beijo
apaixonado, do seu sorriso lindo, das suas declarações enquanto fazíamos
amor, Guel está certo, é só olhar o cuidado que ele tem com a nossa princesa
para saber que o meu filho jamais poderia ter um pai melhor, fico emocionada
porque sei que nosso bebê foi gerado com muito amor. Guel chega eufórico e
me entrega três testes de gravidez. Arqueio as sobrancelhas.

— Que foi? Um é duvidoso, dois podem confirmar mais três é certeza!

Acabo realmente fazendo os três e antes que eu possa ver o resultado


Guel toma da minha mão e fica me olhando sem reação nenhuma.

— E ai? Fala Guel, ou então quem vai ter um troço sou eu!
— Os três deram o mesmo resultado, parabéns minha menina, positivo!
— Guel me abraça emocionado. — Eu vou ser titio — completa com a voz rouca
de emoção.

— O tio mais coruja do mundo.

— Coruja não! Meu bicho é veado! — Solta, fazendo-me sorrir. Até que
ele fica de joelhos e diz: — Coisinha linda do tio Guel?! Você é o bebê mais
sortudo do mundo, ganhou os melhores papais que um bebê pode querer. —
Dá um beijo na minha barriga.

— Juntos sempre, né meu Guel?

— Sempre! Agora vamos fazer uma surpresa para o seu papi gostosão? —
diz imitando uma vozinha de criança e alisando minha barriga, fazendo-me
derreter com esse carinho com um bebê que a pouco nem sabíamos da
existência.

Então partimos para o shopping, comprar tudo que precisamos para dar
a “grande notícia" que segundo ele vai "lacrar"! Andamos bastante até que vejo
o celular de Guel avisando que chegou uma mensagem que ele responde
imediatamente num ritmo frenético. Logo em seguida chega uma no meu
também e ao ver que é do meu amor um sorriso brota dos meus lábios.

"Amor, siga as instruções de Guel, ele sabe o que está fazendo


— assim espero — nos veremos a noite.

Beijos, Te amo"

Olho pra Guel que faz cara de desentendido. Droga, ele não vai me falar
nada!
Passamos a manhã inteira no SPA, recebendo uma massagem
maravilhosa, logo depois almoçamos, em seguida, como diz Guel realizamos "a
operação de guerra" incluindo cabelo, depilação e unhas. Está exigente dizendo
que tenho que arrasar hoje a noite.

Misteriosamente não sou levada para o meu apartamento e sim para o de


Guel, enquanto estávamos esparramados no sofá, o interfone toca Guel atende
e diz que "podem subir", um rapaz traz uma caixa enorme e ele me entrega
animado.

— Abre logo, vaca sortuda, ai meu Deus, eu quero um boy feito o Pablito.

Abro a caixa e vejo um vestido azul turquesa, lindo, de um ombro só,


justo no meu corpo e um pouco acima do joelho, criando um contraste muito
charmoso com o sapato alto preto lindo, um colar em ouro branco com três
iniciais B P L com pequenos diamantes e uma pulseira combinando.

— A-mi-ga! Que lindooooooooo! Inveja me define!

— Ele quer me deixar mais apaixonada só pode! — falo sorrindo.

Então vou me arrumar, segundo o amigo gay mais chato do mundo,


tenho que estar apresentável. E após estar pronta, olho no espelho e vejo o
quanto estou linda com o vestido. Fiz uma maquiagem destacando meus olhos
e um batom vermelho para completar o "look fechação". Encontro Guel, na
sala, todo arrumado vestindo uma calça jeans, um camisa rosa clara e um
blazer preto. Ele está um charme.

— Uau, alguém também terá uma noite interessante. — Dou um assobio


e ele sorri.

— Tenho meus esquemas. — Dá de ombros. — Amiga, já dei um jeito de


colocar o pacote no seu apê. Você já pensou no que vai fazer?
— Sim, torce por mim amigo.

— Pode deixar.

O interfone toca, ele atende e me diz que é Pablo, dou um selinho nele e
vou ao encontro do meu amor.

Pablo

Ao ver Bia, linda, com um sorriso enorme no rosto, eu me sinto o homem


mais feliz do mundo.

— Oi — fala e vejo um rubor em suas bochechas.

— Oi, meu amor. — Dou um beijo de leve e sussurro baixinho. — Você


ficou linda, eu sabia que essa cor a deixaria mais linda do que já é.

— Eu amei, obrigado. Você acertou meu número, como?

— Conheço seu corpo. — Cheiro seu pescoço. — Muito bem. — Ela


respira fundo. — Agora vamos.

Entramos no meu carro e coloco I Whon't Give Up de Jason Mars.

Quando olho em seus olhos

É como observar o céu de noite

Ou um belo amanhecer

Eles carregam tanta coisa

E como as estrelas antigas

Vejo que você evoluiu muito


Para estar bem onde está

Qual a idade da sua alma?

— É linda — sussurra.

— O nome é I Whon't Give Up de Jason Mars — falo baixinho para não


quebrar o encanto da música, quero que a noite seja perfeita. Pego sua mão e a
beijo com ternura, começo a cantarolar baixinho e vejo lágrimas correndo
discretamente pelos seus olhos.

— Eu te amo, meu anjo — digo e percebo que minha voz saiu rouca.

— Eu também te amo — responde, chorando, emocionada. — Seu plano


era me seduzir com uma música? Porque está funcionando.

— Bom não era esse o motivo inicial, mas já que funcionou... então sim.
— Ela começa a sorrir junto comigo.

— Amor, antes de sairmos, preciso passar no meu apê, tudo bem? — Ela
confirma franzindo as sobrancelhas. Ignoro e faço cara de paisagem. Ao
chegarmos, ajudo-a a descer do carro e vamos em direção a surpresa que
passei o dia preparando para ela.

— Nós não íamos ao seu apê? — pergunta confusa, limito-me a dar


apenas um sorriso de lado. Abro a porta. — Peguei a chave com Guel — e
aponto para que ela entre.

Fiquei o dia inteiro imaginando o que eu poderia fazer para convencer


meu anjo a me dizer o tão sonhado SIM. Depois de pensar muito resolvi fazer
algo simples, delicado e belo.
Ela entra e fica parada, sem reação, por alguns minutos, começo a me
preocupar...

Bianca

Pablo abre a porta e eu fico sem saber o que poderia encontrar, mas
fiquei maravilhada quando vi uma seta gigante feita por pétalas de rosas e
velas indicando em direção à sala. Olho para Pablo que devolve com um olhar
ansioso. Seguimos em direção a sala e sinto meu coração bater violentamente
no peito quando vejo que está escrito no chão com velas.

“MEU ANJO, CASA COMIGO?”

Fico boba, sem conseguir responder, olho ao redor do ambiente e vejo


rosas vermelhas espalhadas por toda a casa.

Pablo pigarreia discretamente e uma música começa a tocar e reconheço


que é I live my life for you, do FireHouse, mas o ar foge dos meus pulmões
quando vejo que estão todos aqui: meus pais, Dona Maria, Lily e até mesmo o
danadinho do Guel, todos sorrindo.

— Bia, — Pablo chama minha atenção de volta para ele. — Você acabou
com todas as incertezas do amor, graças ao que sinto por você, quando falei
“Eu te amo” para você, pela primeira vez,
discretas escaparem dos seus olhos, ao contrário da minha mãe e de dona
Maria, que nada discretas estão chorando horrores. Guel é o primeiro a vir nos
cumprimentar e nos dá um abraço de urso.

— Eu posso dizer algumas palavras, Pablito? Sei que esse momento é de


vocês mas...

— Fique à vontade Guel, você mais do que ninguém me ajudou a


conquistar essa mulher linda aqui — diz me dando um beijo na bochecha.

— Pablo, um dia te pedi para que cuidasse da pessoa que mais amo na
vida, pedi também que não machucasse mais o seu coração, hoje posso dizer
com toda convicção: Até que fim se entenderam! — Levanta as mãos para o céu
de forma dramática e começamos a rir. —
Minha pior distração, meu ritmo e minha melodia

Eu não posso parar de cantar, está tocando, em minha mente para você

— Está gostando da minha surpresa?

— Sim, mas não é só você que tem surpresas, senhor Pablo — falo
cheirando seu pescoço.

— Hum, interessante... conte-me mais — diz sorrindo enfiando o nariz


no meu cabelo e sinto-o suspirar de satisfação.

— Bom, só vou falar que já estou vestida nela — falo provocante.

— Você quer me matar! — ele grunhi e eu não aguento, dou um sorriso,


a voz rouca de John chama minha atenção de volta para música...

— Está tudo perfeito, obrigada. — Abraço-o e ele limpa as lágrimas


teimosas que me escapam.

— Eu faria mil vezes melhor, só para que você me dissesse sim —


sussurra, dando-me aquele olhar que me faz derreter de tanto amor.

— Que homem de sorte você, aceitei na primeira. — Rimos um pouco e


quando a música termina ele pega a minha mão e nos juntamos aos outros.

Pablo não sabe, mas as surpresas estão apenas começando...


Capítulo 35

Bianca

Entre uma conversa e outra, acabo descobrindo que Pablo convenceu


meus pais a virem passar um final de semana para estarem presentes no nosso
noivado. Isso tudo tendo como cúmplices Guel e dona Maria, além dos meus
pais, claro. Aproveito e mato um pouco a saudade deles, que estão
completamente apaixonadas por Lily, que, por sua vez, está amando a atenção
que está recebendo de todos. O jantar estava maravilhoso e após várias
conversas descontraídas, todos resolvem ir embora. Meus pais estão instalados
na casa de dona Maria, mas irão embora amanhã, já que passaram o dia todo
ontem e hoje passeando, Pablo e eu praticamente atacamos nossa princesa
enchendo-a de beijos e fazendo-a gargalhar, ela está muito empolgada porque
vai dormir com os vovôs. Guel também se despede soltando mais uma de suas
pérolas:

— Aproveitem a noite enquanto ainda podem. Depois não diz que não te
avisei, Pablito. — Ele nos dá um abraço coletivo e sai.

Esse Guel é maluquinho mesmo! Pablo me olha confuso e limito-me a lhe


dar um sorriso. Enfim, ficamos sozinhos. Pablo fecha a porta, pega minha mão
e seguimos para o centro da sala, ele coloca uma música suave que logo
reconheço com Heaven, de Bryan Adams.

— Vem cá, amor. — Pablo me puxa para si e sussurra ao meu ouvido. —


Estava morrendo de vontade de beijar sua boca, seu pescoço... — sua boca
desce sobre a minha em um beijo possessivo e carregado de desejo. Dançamos
colados e suas mãos exploram meu corpo enquanto a voz de Adams encanta o
local...
Querida, você é tudo que eu quero.

E quando você está deitada em meus braços,

Quase não consigo acreditar que estamos no paraíso.

E o amor é tudo o que eu preciso, e encontrei em seu coração.

Não é tão difícil de ver que estamos no paraíso.

Eu esperei há tanto tempo para que algo acontecesse,

Para o amor chegar. Agora nossos sonhos se tornam reais.

Na felicidade e na tristeza, eu estarei lá com você.

— Eu amo essa música, é tão linda.

— Não tanto quanto você. — Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha. — Quero a minha surpresa. — O safado me dá um sorrisinho sexy que
faz minhas pernas virarem gelatinas. Ele beija meu pescoço lentamente e diz
sussurrando. — Promessas foram feitas, Bianca e quero tudo o que eu tenho
direito.

— E terá. Mas antes preciso te entregar algo. — Sinto a ansiedade tomar


conta de mim, ele estende sua mão e pego, vamos para o quarto que está
iluminado apenas a luz de velas e o abajur deixando o ambiente com um clima
super-romântico. Pablo sabe como deixar uma mulher totalmente sem ação.
Ele senta na cama desabotoando sua camisa e vou para o guarda-roupas pegar
a caixa. Quando me viro, ele está sem camisa, sentado e com as mãos apoiadas
na cama. Seus lábios se contorcem em um sorriso brincalhão.

— Está gostando do que vê? Vem aqui... — Cacete! A minha vontade


nesse exato momento é sentar no colo dele e... — Pensou demais. Me entregue
essa caixa antes que eu a jogue longe e ataque você. — Merda! Ando meio que
automaticamente e engulo um nó que se formou em minha garganta. Ele pega
a caixa pequena, com curiosidade e desfaz o laço com calma. Está querendo
me torturar, só pode.

— Se o que está aqui dentro for tão terrível a ponto de você ter um treco,
não quero nem ver. Por que está tão nervosa?

— Por nada, só abra... logo!

Ele abre com muito cuidado, como se quisesse preservar a embalagem.


Minhas mãos suam, minhas pernas estão moles e meu coração bate
aceleradamente.

Pablo

Abro a caixa e vejo que tem três testes de gravidez todos com o resultado
cobertos. Pego os três de uma só vez e todos estão com o resultado positivo.
Minha respiração fica presa, meu coração parece que vai explodir... Além dos
testes tem algo que parece ser uma roupinha de neném toda branca, ao tirá-la
da caixa vejo que tem escrito: “Sou fofinho(a), mamãe é linda e papai é
sortudo!”. Sinto minhas mãos trêmulas e olho para o meu anjo, que tem
lágrimas nos olhos, meu olhar é direcionado para sua barriga. Apesar de
desconfiar que ela estivesse grávida, faltam-me palavras para descrever o
turbilhão de emoções que se passam em meu coração.

— Pablo, eu... eu sei que foi não foi planejado, mas aqui no meu ventre
carrego um pedacinho da nossa felicidade. — Levanto-me, passo a mão na sua
cintura e a beijo com todo amor que há em mim. Seguro seu rosto com as duas
mãos e beijo suas lágrimas com verdadeira adoração.

— Meu anjo, eu já desconfiava, mas ter a confirmação que você carrega


um filho meu, é um sentimento indescritível. A melhor notícia que você poderia
ter me dado. Eu tenho uma coisa para você, ou melhor, para o bebê. — Sorrio
com a cara de espanto dela.

— Como assim? Vo-você comprou o quê? Quando?

— Há uma semana. — Entrego o embrulho dourado e ela abre ansiosa


como sempre. Fica encanta com o ursinho branco que comprei.

— É lindo! O primeiro presente do bebê — diz sorrindo.

— Fiz a mesma coisa com a Lily. Comprei a boneca que ela amava até
você dar aquela ovelhinha pra ela. — Faço uma careta e ela ri.

— É lindo, mas... e se eu não estivesse grávida?

— Eu guardaria e te daria quando você estivesse. — Dou de ombros.

— Eu nem sei o que falar... obrigada, meu amor, você como sempre me
surpreendendo. — Ela se joga em meus braços, beijando-me.

Desço o zíper do seu vestido, que cai lentamente acariciando sua pele,
acompanhado por minhas mãos fazendo o tecido roçar na sua pele arrepiada.
Fico de joelhos e ajudo-a a sair do vestido caído no chão. Olhando para ela,
vejo com está linda, de tirar o fôlego. Sua lingerie vermelha causa um contraste
lindo com sua pele clara. Faço uma trilha de beijos até chegar a sua barriga,
na qual deposito vários beijos.

— Filho, nós não nos programamos para te conceber — sussurro. — Mas


quero que você saiba que nunca faltará amor, dedicação e zelo. Não tenho
dúvidas que você será lindo, é só olhar para sua mãe. Eu sei que você sabe,
mas ela é linda — falo olhando para Bia que sorri. — Eu a amo, sua mãe é a
mulher mais especial que existe. Somos sortudos. — Levanto e pego-a em
meus braços, depositando-a suavemente sobre a cama.
— Pablo, eu vou ficar grande, gorda e pirada — ela fala, fazendo-me
sorrir.

— Não tem problema, eu irei te amar do mesmo jeito, ou melhor, agora


ainda mais. — Coloco as duas mãos em sua barriga. Ela começa a chorar.

— Vou ficar mais chorona do que já estou, comer por dez e ficar bipolar.
— Chora parecendo insegura.

— Vou me certificar de enxugar todas as suas lágrimas, manter a


dispensa cheia e a geladeira também. — Gargalha. — E quanto às mudanças
de humor... Já estou acostumado. Você nunca foi normal mesmo. — Ela me dá
um soco de brincadeira e eu abraço-a. — Minha menina, entenda: eu nunca
vou deixar você sozinha; esse bebê é o fruto do nosso amor, nossa vida não
será perfeita, as incertezas sempre virão, mas quando eu olhar nos seus olhos,
você saberá que meu amor irá enxergar além de tudo.

— Eu te amo, Pablo. E o nosso bebê não poderia ter um pai melhor.

Ela me beija e logo fazemos amor, de um jeito puro, lindo e gostoso como
sempre.

Bianca está deitada com a cabeça encostada em meu peito perto do


coração, pego meu iPhone e coloco baixinho para tocar When You Love Woman
(Quando você ama uma mulher), de Journey.

Na minha vida eu vejo onde passei

Eu disse que nunca mais me apaixonaria de novo

Caindo em mim vi que estava errado

Minha busca não se acabou... Acabou


Eu sei que quando você ama uma mulher, você vê seu mundo dentro dos olhos
dela

Quando você ama uma mulher, você conhece seus passos pela intuição.

Uma alegria sem fim.

Sinto-a sorrir, sua boca encosta na minha pele e logo ela deita
novamente, absorvendo a música assim como eu.

Existe um sinal dourado que brilha espreitando algum lugar... Oh, sim.

Se eu não posso acreditar que algo é verdadeiro.

Apaixonar é difícil acontecer, eu espero e rezo toda noite.

Para que em algum lugar você esteja pensando em mim, garota

Sim, eu sei... Eu sei disto.

— Bia... — sussurro. Ela levanta a cabeça me encarando, seguro seus


cabelos, encostando nossas testas e encarando seus belos olhos cinza, a
música fala por nós dois.

Isto é o bastante para fazer você chorar:

Quando você enxerga os passos dela e olha dentro dos olhos dela.

Quando você ama uma mulher você vê seu mundo dentro dos olhos dela
Quando você ama uma mulher, bem, você nivela o plano dela com o seu.

Uma alegria sem fim.

Existe um sinal dourado que brilha quando você ama uma mulher.

Quando você ama uma mulher você vê seu mundo dentro dos olhos dela.

Beijo-a com verdade, acabamos nos perdendo um no outro novamente, a


música é esquecida e somos apenas dois corpos, dois corações que se amam
em perfeita sincronia.

Após um maravilhoso café da manhã, vamos para a casa da minha tia


buscar Lily e levar a família de Bia para o aeroporto. Contamos a novidade a
todos, que ficam mais do que felizes. Bia faz questão de contar como fui “super
fofo” recebendo a notícia sobre o bebê. Claro que omitiu as partes quentes,
fazendo-me lhe dar um sorrisinho sacana, que a fez corar furiosamente.

Despedimo-nos de sua família no aeroporto e vamos para o meu


apartamento. Encontramos Ray sentada no sofá, percebo que ela olha para
nossas mãos cruzadas e parece desconfortável. É, talvez Bia tenha razão.

— Boa tarde. — Ela nos cumprimenta secamente.

— Boa tarde. Vou dar banho em Lily e aproveitar para deixá-los à


vontade. Amor, você pede o nosso almoço? — confirmo e ela sai
apressadamente.

— Preciso falar com você. — Sento-me na poltrona e ela começa a falar.


— Eu recebi uma proposta irrecusável, um intercâmbio em Paris, pelo curso de
moda que estou fazendo, como você sabe. E eu aceitei, Pablo. Agora você tem a
Bianca para cuidar de você e de Lily, não parece perdido como antes, eu nem
sou mais necessária aqui, sinto que já fiz a minha parte.

— Ray, eu nunca poderei te agradecer o suficiente por cuidar da minha


Lily todos esses anos, mas não posso pedir para que fique, não pedirei para
que abra mão dos seus sonhos. Após o aviso prévio, sinta-se desligada de
qualquer compromisso comigo. E pagarei todos os seus direitos, é o mínimo
que eu posso fazer quanto a minha amizade e gratidão, você terá para sempre.

— Obrigada, Pablo.

— Agora se me der licença, vou ver como estão minhas crianças e minha
mulher. — Ela arregala os olhos e digo. — Bia está grávida, fiquei sabendo
ontem.

— Parabéns, que venha com muita saúde. — Ela me dá um sorriso


tímido.

— Obrigado, me faz um favor? Peça o nosso almoço, as mocinhas não


podem passar da hora de comer.

— Pode deixar.

Encontro as duas dorminhocas em um sono tranquilo e logo me junto a


elas tirando uma soneca antes do almoço. Agora estamos os três deitados na
cama, com Lily eufórica querendo me fazer cócegas.

— Lily, a mamãe e o papai, vamos te dar um irmãozinho — diz Bia


sorrindo.

— Um imãozio? — Põe as duas mãos nas bochechas sem acreditar.

— Sim princesa, um bebezinho. — Bia beija ela que fica eufórica.

— Onde ele tá? — pergunta ansiosa.


— Na barriga da mamãe. — Passo a mão na barriga de Bia.

— Ele vai taber aí dento?

— Vai sim, amor. — Observo Bia respondendo com paciência suas


inúmeras perguntas.

— Vai demola muito?

— Um pouquinho... — Bia responde sorrindo.

— Aaaah — diz desanimada — Quelia bincar com ele agola. — Faz bico e
cruza os bracinhos.

Não resisto, pego-a em meus braços e faço cócegas nela que fica
tagarelando sobre o “imãozio” nos fazendo rir. Podemos ter quantos filhos for,
mas Lily nunca deixará de ser especial, pelo simples fato de ser única... de ser
a nossa Lily.

Bianca

Acordo de madrugada com uma vontade enorme e fazer xixi. Tomo o


maior susto ao ver Pablo sentado na ponta da cama me observando.

— Você me assustou — falo calmamente.

— Você está bem? — pergunta levantando-se, mas faço sinal para que
ele permaneça sentado.

Levanto, vou ao banheiro e volto para a cama, onde ele apenas me


observa. Seus olhos azuis estão ansiosos, vulneráveis e atormentados por algo
que não consigo se quer supor o que é.
— Ei... me conta o que está acontecendo? Qual o motivo dessa insônia
toda?

— Bia, me promete que enquanto estiver grávida, não irá dirigir? — Ele
me abraça como se sua vida dependesse disso e diz baixinho ao meu ouvido.
Meu coração dói ao notar a angústia em sua voz.

— Mas, por que você está me... — minha pergunta morre quando
percebo que ele está com medo e logo que chego à conclusão que seja por
causa de Laura.

— Eu prometo, amor. Fique tranquilo. — O alívio toma conta dele e o


sinto relaxar um pouco.

— Eu tive um pesadelo horrível. Eu morreria se passasse por aquilo


novamente, Bia. — Sinto um nó na minha garganta — Era tão real...

— Foi só um pesadelo. — Passo a mão por seus cabelos negros. — Não


vai acontecer nada.

— Você, nossos filhos, são tudo pra mim, Bia, são o meu mundo, meu ar!
Sem vocês eu não sobreviveria. — Toca o meu rosto com os olhos
atormentados.

— Eu amo você — digo e cheiro seu pescoço. — Dorme tranquilo, amor.

Ele encaixa sua cabeça em meu pescoço e coloca uma mão sobre a
minha barriga.

— Eu amo vocês — ele diz e minutos depois sinto sua respiração pesada
ao meu ouvido presumo que já deve ter dormido e adormeço logo em seguida.

Alguns meses depois...


Há exatamente quatro meses descobrimos, pelo ultrassom, que estou
grávida de gêmeos. Foi uma surpresa e tanto! Mas Pablo, como sempre, foi um
fofo e está ansioso para que os bebês nasçam logo. Lily, então, nem se fala,
todos os dias me pergunta se “É hoje que os imãozios chega”. Apesar desse
amor todo, ela está tendo dificuldades em se habituar às mudanças. Pablo e eu
conversamos muito e explicamos para ela, todos os dias, o porquê “Tia Ray foi
embola”; “poque a barriga da mamãe tá gandona”. O que sempre falamos e
deixamos mais claro é o tamanho do amor que temos por ela, que é o mais
importante.

Mas, graças a Deus, está tudo entrando nos trilhos; decidimos que
iremos morar no apartamento de Pablo, por ser bem maior que o meu. Porém
não me mudei definitivamente porque está em obras. O tio mais babão que eu
conheço está eufórico e meio louco por não saber o sexo dos bebês para pode
fazer “a decoração mais fashion que existe” para o quarto deles. Até mesmo
Bruno, lá nos Estados Unidos, liga constantemente para Pablo só para saber
como estamos.

Hoje acordei animada, irei fazer minha terceira ultrassonografia na


tentativa de saber o sexo dos danadinhos. A primeira foi para saber se estava
tudo bem, segundo o médico era de suma importância. A segunda foi para
sabermos o sexo, mas os arteiros se recusaram a nos mostrar — sorrio com a
lembrança — e hoje faremos uma nova tentativa espero que eles cooperem.

— Ei, posso saber o motivo desse risinho bobo? — Pablo diz, abraçando-
me, enquanto termino de pentear meus cabelos.

— Nossos bebês — falo sorrindo.

— Humm. Achei que era por causa do pai deles. — Dou um beijo em sua
boca.
— Seu bobo! Agora só vou calçar os sapatos e já poderemos ir — falo já
prevendo os protestos dele. Pablo, desde que soube dos gêmeos, também
dobrou seus cuidados e de vez em quando acaba exagerando. Sua implicância
da vez são os meus sapatos de salto.

— Bia, acho melhor você não calçar esses saltos. — Ele começa. — Você
pode se desequilibrar e...

— Amor, eu não vou cair — interrompo-o, já sabendo de sua ladainha


completa. — Não irei me desequilibrar, e não, definitivamente, não irei quebrar
o meu pescoço.

— Mas, Bia...

— Pablo, para. Pelo amor de Deus! Eu uso salto há anos, você está me
deixando louca. São só sapatos, Pablo.

— Só estava cuidando de você, não precisa me tratar com ignorância —


diz irritado.

Respiro fundo e falo.

— Desculpa, amor, mas às vezes você exagera. — Toco seu rosto e lhe
dou um beijo.

— Tá bom. Eu admito. — Ele me dá um beijo. Quando vou calçar meu


sapato vejo que nossa pequena desavença foi por nada. A porra do sapato não
cabe no meu pé, devido seu inchaço. Que raiva! — Que foi? — Ele contém o
riso.

— Pode parar, seu Pablo. — Disparo um olhar mortal e ele levanta as


mãos em rendição.

Termino calçando minha rasteirinha e antes de irmos, encontramos Lily


tomando um suco com Jully — a nova babá que foi indicada por Bruno, ela é
namorada de um dos amigos dele — e ao nos ver, ela salta do sofá antes que
Jully a contenha.

— Mamãeeeeeeeeeee — grita fazendo festa. — Tá munita.

Sorrio e lhe dou um beijo na bochecha. Pablo se agacha e ela se joga em


seus braços. Depois de muitos beijos, Jully avisa que Guel ligou dizendo que
viria para cá para saber do resultado. Ele anda uma pilha de nervos, já até
ameaçou de deixar o quarto todo branco se os bebês não cooperarem. Só Guel
para reclamar com dois bebês ainda no ventre; é louco de pedra. Entramos no
carro e Pablo tagarela sobre o nosso futuro.

Pablo

Desde que descobrimos que Bia está grávida de gêmeos, a ansiedade e a


vontade de cuidar dela aumentaram em dobro. Ela está cada dia mais teimosa
e eu, claro, fico preocupado. Porém, em momentos como esse a vendo
preparar-se para fazer a terceira ultrassonografia, meu coração é invadido por
uma onda de amor sem fim. Chegamos à clínica e ficamos aguardando a nossa
vez. Wana, que ia passando no momento, aproveitou e nos convidou para a
festa de sua filha Yasmim. Os olhos de Bia brilham de felicidade e, após elas se
despedirem somos chamados.

— Pode ficar à vontade, Bianca. Renata irá prepará-la. — O doutor


Gabriel fala e sai para dar mais privacidade para Bia, mal sabe ele que quem
está prestes a ter um treco de tanta ansiedade sou eu.

Renata — a assistente — deve ter notado meu nervosismo e me dá um


sorriso afetuoso. Se para saber os sexos dos bebês estou assim, imagina na
hora do parto? Terei um troço!

— O senhor está bem? — Renata pergunta, ajudando Bia a deitar-se


devagar, logo tomo o seu lugar e ela me olha confusa.
— Hum... Sim. Só estou ansioso.

— Entendo, mas é perfeitamente normal. — Ela me dá um sorriso tímido.


— Todos os pais ficam.

— Pronto, Bianca, o doutor já virá fazer o procedimento.

Alguns minutos depois, doutor Gabriel entra no quarto. Entre uma


conversa e outra espalha um gel na barriga de Bia e começa a fazer o
ultrassom. Um som lindo se espalha no ambiente e olho encantado para o
monitor, minha atenção só é desviada quando Bia, também emocionada,
aperta minha mão. Beijo sua testa. O médico muito animado sorri e diz:

— Estão preparados?

— Sim. — Bia e eu falamos ao mesmo tempo.

— Bom, aqui. — O médico nos mostra indicando com uma seta no


monitor. — Encontrei uma menininha. — Ele sorri com carinho.

— Uma menininha, amor — Bia sussurra emocionada. Não tenho tempo


para falar nada, pois o médico continua. — Aqui, encontrei um garotão, está
bem evidente se repararem. — Sorri.

Olho para Bia e lhe dou um beijo casto nos lábios.

— Obrigado, amor, você não poderia ter me dado um presente melhor. —


Minha voz sai rouca.

— Obrigada por existir, Pablo, obrigada por me dar as três preciosidades


da minha vida. — Ela chora emocionada.

Nesse momento, meu coração bate acelerado, ela não excluiu Lily. O
médico termina o ultrassom, advertindo Bia para que ela procure repousar,
pois a gravidez de gêmeos exige cuidado redobrado. Após sairmos da clínica,
vamos direto para a casa, onde Guel deve estar a ponto de cavar um buraco no
chão de tanta curiosidade. Bia falou que tinha umas vinte chamadas dele no
celular dela. Algo me diz que ele será o melhor tio que os meus filhos poderiam
ter.

Bianca

Quando o médico disse que estávamos esperando um casal, foi


indescritível a onda de emoções que me envolveram. Entramos em casa e Lily
corre e agarra minhas pernas. Aliso seus cabelinhos loiros e ela, sempre
ansiosa, estende os bracinhos para que eu a pegue.

— Bebê, a mamãe não pode te pegar no colo por causa da barriga dela —
Pablo diz. A carinha que ela fez partiu meu coração, então me abaixo e beijo
sua bochecha.

— Eiiiiiiiiiiiiii?! Eu estou aqui em ponto de ter um troço! — Guel, todo


reclamão, dá o ar da sua ansiedade. — Conseguiram saber? Ou vou precisar
ter um piripaque primeiro? — Só para provocar sento no sofá com toda calma
do mundo.

— Então... se prepara, amigo... Iremos ter. — Faço uma pausa


dramática. — Uma princesinha e um príncipe. — Ele começa a chorar,
agachando e beijando minha barriga.

— Coisinhas mais lindas do tio Guel, prometo que vocês irão andar mais
fashion possível. — Sorrio porque só Guel mesmo para falar uma coisa dessas.

— Tio Guel, tio Guel. — Lily puxa a calça dele, atraindo sua atenção e
com cara de brava, puxando a calça dele impaciente. — Quelo bezo também. —
Faz um biquinho lindo.
— Não fique com ciúmes, princesinha, o tio Guel é todo seu também. —
Ele a pega no colo, dando-lhe beijos e fazendo uma dança bizarra,
cantarolando algo indecifrável, arrancando gargalhadas da minha menininha.

Pablo senta ao meu lado puxando-me para os seus braços — que eu vou
de bom grado — enquanto assistimos ao show de Guel e Lily pela nossa sala.

Depois de rodopiarem pela sala, Guel decide me encher de perguntas


sobre o quarto dos bebês, segundo ele a decoração será por conta dele, será um
presente para os bebês. Claro que eu e Pablo protestamos, mas quando Guel
cisma com uma coisa é impossível ir além de qualquer acordo, ainda mais
sendo um dos melhores designers de interiores da região. Enquanto
conversamos sobre cores para o quarto, percebo que Lily olha fixamente para
minha barriga, até que me chama:

— Mamãe, como vai taber dois bebê na sua baiga?

— A barriga da mamãe vai crescer, princesa. — Pablo explica.

— Ela vai epodi? — De onde ela tirou a ideia que minha barriga vai
explodir?

— Hum... não.

— Ainda bem. — Agarra minha barriga, com os seus bracinhos


gordinhos e distribui vários beijos.

Já estamos deitados após um jantar delicioso quando resolvo contar para


Pablo o que venho pensando.

— Amor, lembra que eu te falei que estava pensando em nomes para os


bebês?
— Sim.

— Então... Eu pensei em Laura e Lorenzo — sussurro.

— Laura? — Ele me fita com atenção.

— Sim, é minha forma de homenageá-la por ter me dado nossa princesa,


ela merece ser lembrada com carinho e amor. — Passo a mão pelo seu rosto.

— Bia, eu não mereço você, meu anjo. — Ele me abraça com os olhos
repletos de gratidão.

— Não fale mais isso. Gostou de Lorenzo?

— Sim. — Pablo dá um sorriso lindo. — Sejam bem-vindos, Laurinha e


Lorenzo. Nós amamos vocês. — Beija minha barriga e deita ao meu lado,
puxando-me para os seus braços, dando-me beijos deliciosos. Já estávamos
quase adormecendo quando, de repente, a porta é aberta e vejo Lily entrando
coçando o olhinho sonolenta.
— Pode deixar, vou ouvir. E não precisava me pedir... eu penso em você
sempre.

— Agora tenho que ir, tem reunião via Skype com Bruno.

— Manda um beijo pra ele.

— Vou pensar no seu caso. Eu te amo.

— Eu também te amo, pensador.

— Não ganho um beijo?

— Mais tarde te dou até dois. — Sorrio, porque sei que ele vai responder
com algo sacana.

— Terá que ser mais que beijos. Tchau.

— Tchau.

Coloco a música para tocar, começo a alisar minha barriga e sorrio.

Você arruma a maquiagem, só porque sim

Acho que você não sabe que você é linda.

Experimenta cada vestido que você possui.

Você estava bem aos meus olhos, há meia hora.

Se o espelho não vai torná-lo mais claro eu vou ser quem lhe vai dizer.

De todas as meninas, você é a minha única menina.


Não há ninguém no mundo esta noite.

Todas as estrelas, você as faz brilharem como se fossem nossas

Não há ninguém no mundo, só você e eu

Você e eu. Não há ninguém no mundo, só você e eu.

Claro que eu choro igual criança, seria impossível não amar esse homem,
ele simplesmente consegue ser tudo que eu preciso e por mais que eu tentasse,
nunca conseguiria não me apaixonar perdidamente por ele. Só depois de algum
tempo que percebo que há uma mensagem dele a ser lida, de seis minutos
atrás.

— Estou indo para casa, a força do seu pensamento me chamando deu


certo. — Presunçoso! — A reunião foi cancelada, ligarei para Guel, ele ficou de
confirmar algo sobre a mudança. Vou passar no mercado antes e fazer umas
compras básicas. Até daqui a pouco, meu anjo. Vou dirigir agora, beijos.

Adoro quando Pablo vem para casa mais cedo, é sempre bom quando
ficamos curtindo um ao outro. Para esperá-lo, resolvo tomar um banho bem
relaxante, e quando estou terminando de vestir a roupa, o meu celular toca. Ao
ver que é Guel, atendo imediatamente. Ele deve estar com preguiça de digitar e
resolveu me ligar.

— Oi, Guel.

— Bia...? — Sua voz está estranha. Ele está... chorando?

— Guel, você está bem?

— Não... — escuto um soluço meio sufocado e sinto um aperto no


coração.
— O que aconteceu, meu amor? — pergunto já preocupada.

— Ele se foi... Ele... ele... morreu, Bia. No carro... — Sua voz está sem
vida, como se tivesse me respondendo automaticamente.

— O quê? Quem morreu, Guel? Não estou entendendo — falo


angustiada.

— Fo-foi um acidente; me ligaram. Ele se foi, Bia... — sinto o ar fugir dos


meus pulmões. Acidente?

— Guel, quem morreu? — ele não responde minha pergunta, apenas fica
repetindo “ele morreu... ele morreu”. — Guel, me espera tá bem? Só me diz
quem sofreu o acidente? Quem morreu? Estou confusa.

Ele não me responde, apenas fica repetindo a mesma frase. Prometo


chegar o mais rápido possível e desligo. Tento ligar para o Pablo, mas só cai na
caixa de mensagens, obviamente porque está dirigindo. Ou fazendo compras.
Então tomo uma atitude que sei que vai deixá-lo furioso: Pego a chave do meu
carro e vou ao encontro do meu amigo.

Capítulo 36

Bianca

Após ficar quase uma hora num trânsito infernal, finalmente chego no
apê de Guel. Subo direto, já que o porteiro me conhece, e abro a porta com a
chave extra. Fico em choque com o que vejo! A casa de Guel que antes era
impecavelmente arrumada e decorada com tudo de luxuoso que existe e está
disponível no mercado, está completamente destruída. A televisão de plasma
gigante, que ele comprou para assistir o tão sagrado futebol está toda quebrada
jogada no canto da sala. Vasos, quadros, e até mesmo uma coluna de vidro
nobre que segundo ele havia lhe custado uma pequena fortuna estava
destruída. E ele estava jogado no chão sentado no tapete soluçando, abraçado
as suas pernas. Tentei me abaixar, mas não consegui por conta do peso da
minha barriga.

— Guel... Meu Guel — falo passando a mão em seus cabelos, que está
uma bagunça completa. Parece que somente agora ele nota minha presença.
Levanta-se e me abraça com força, chorando descontroladamente.

— Bia, ele se foi. — Soluça no meu ombro.

— Ele quem, Guel? — pergunto duas vezes, porém não obtenho


respostas, ele só chora, como se aquilo fosse aliviar a sua dor. Então vejo um
papel amassado em sua mão e tiro delicadamente. — Posso? — ele não fala
nada, apenas move a cabeça lentamente confirmando. Abro a folha e começo a
ler baixinho, enquanto reprimo minhas próprias lágrimas, por ver meu amigo
tão quebrado.

Miguel,

Se você está lendo essa carta provavelmente eu já devo ter morrido, mas
não poderia "ir" antes de te fazer o meu último pedido: cuide da sua irmã,
Mônica, ela não tem nada a ver como os meus erros, cuide dela, Miguel. Eu sei
que não tenho direito de te pedir isso, mas eu imploro. Quando te expulsei de
casa, não houve um dia sequer que ela não me perguntasse por você, era só
uma garotinha e hoje é uma mulher feita.

Ela nunca te procurou, mas a culpa foi minha, sempre a chantageando,


eu sei, errei muito com você. Mas mesmo assim, gostaria que você cuidasse
dela. Ah, só mais uma coisa antes que os remédios façam efeito e eu durma: eu
me orgulho de você, filho. Após a fatídica noite que te expulsei de casa, os anos
foram passando e soube pelo gerente que o dinheiro da sua herança havia sido
retirado do banco. Confesso que fiquei desconfiado e mandei um detetive me
deixar a par de tudo que estava acontecendo com você. Imagine a minha
surpresa ao saber que você tinha pagado todas as mensalidades para uma
faculdade de designer com os melhores professores da área. Senti um orgulho
enorme.

Hoje vejo que o meu preconceito me tirou uma das pessoas mais
importantes da minha vida; que o meu orgulho foi burrice. Eu poderia ter
vivido mais, ser mais feliz. Ah, Miguel, como senti falta das suas risadas, das
suas piadas e do seu senso de humor, mesmo nas horas mais difíceis. Eu te
amo, meu filho e me orgulho do homem que se tornou. Minha maior tristeza é
saber que não fui o responsável por isso. Meu Júnior, meu Miguel, meu filho.

Com amor, seu pai.

Guel solta um grunhido estranho e começa a chorar. Eu o abraço e


ficamos assim por um longo tempo.

— Po-por que ele tinha que esperar morrer para me dizer isso, Bia? —
pergunta tão ferido, tão vulnerável, que me corta o coração.

— Não sei, meu Guel.

— Não houve um dia sequer que eu não imaginei ouvir isso da boca dele.
Agora ele morreu, Bia.

— Guel, não fica assim, anjo, me corta o coração te ver assim. Você
nunca me contou que tinha uma irmã.
— Ela é mais nova que eu três anos, é filha da minha madrasta. Fui
impedido de vê-la, a Moni é linda, um amor de pessoa, dona de uma bondade e
generosidade sem tamanho. — Vejo seus olhos brilhando de admiração.

— Nossa, eu não fazia ideia.

— Desculpa nunca ter te contado. É que algumas coisas precisam ser


enterradas dentro de nós mesmos para que não causem ainda mais dor
quando lembrarmos.

— Eu te entendo — suspiro.

— Eu soube hoje, ele estava com câncer. — Ele parece engolir um caroço
em sua garganta. — O médico o havia proibido de dirigir, mesmo assim, o
teimoso inventou de pegar o carro. Acabou acontecendo um acidente, tudo
indica que ele desmaiou e perdeu o controle da direção. — Seus olhos estão
sem o brilho que lhe ilumina, mas reunindo forças, sabe-se Deus de onde,
respira fundo e me encara. — Ele morreu na hora.

— Eu sinto muito. — Dessa vez não consigo conter minhas lágrimas.

— Eu o amava, Bia, apesar de tudo, não consegui odiá-lo. — Volta a


chorar agarrado a mim.

— Eu sei, não esperava menos de você.

Ficamos abraçados até que Guel pare de chorar, coitado, não aguento
ver meu anjo assim, ele não merece passar por tudo isso. O telefone dele toca e
me pede licença, acho estranho, mas respeito. Aproveito para me levantar e vou
fazer algo para ele comer, tenho certeza que não deve ter almoçado.

Como havia previsto ele não almoçou e ainda ficou fazendo birra igual a
Lily quando não quer comer verduras, mas eu o convenci a comer pelo menos
um dos dois sanduíches que fiz para ele. Após Guel tomar banho, deitamos em
sua cama, ele deita todo atravessado e coloca a cabeça em meu colo, faço
cafuné e sinto suas lágrimas molharem o tecido da minha legging. Meu menino
está quebrado, foi uma notícia que o fez desmoronar. O interfone toca e ele dá
um salto, vamos até a sala — Guel com mais pressa do que eu — um homem
alto, sarado, moreno, aparece na porta não consigo ver o seu rosto, Guel se
joga em seus braços e vejo nesse momento que ele também achou alguém que
o console, além de mim.

— Estou aqui, calma, ficará tudo bem — o homem diz.

Perae... eu conheço essa voz.

— Oi — Guel sussurra.

Ambos se viram em minha direção, Guel pega sua mão entrelaçando na


dele e diz. — Então Bia... Aquele boy que te falei é o...

— Ricardo! — Meu queixo quase vai ao chão! Rick e Guel se conheceram


em Porto, durante a viagem que fizemos, mas eu nunca desconfiei que ele era o
boy magia do Guel... eu nem sabia que Rick era gay!

— Biiiiaaa. — Ele solta Guel e me abraça e me dando um beijo estalado


na bochecha.

Ok, isso está meio esquisito. Como se lesse a minha mente, sentamos no
sofá, onde Guel me explica que ele e Rick mantiveram contato após a viagem e
que acabaram se apaixonando. Fico observando Guel com a cabeça encostada
no ombro de Rick, é como se ele me passasse uma mensagem dizendo “vai ficar
tudo bem, ele está aqui comigo” respiro tranquila, sabendo que o meu amigo
também encontrou o amor. Estamos conversando sobre o relacionamento
deles, uma conversa tranquila para amenizar a tensão do momento. Quando o
interfone toca, Guel atende e de repente um furacão cabelos negros e olhos
azuis, fervendo de raiva praticamente invade a casa, pousando seu olhar sobre
mim.
Oh, merda! Ele descobriu que peguei o carro, estou completamente
ferrada!

Pablo

Cheguei em casa animado, ansioso para ver o meu amor, mas não a
encontrei. Liguei para o seu celular e o escutei tocar no sofá. Odeio quando Bia
sai sem o celular! E se tiver acontecido algo? E se ela passou mal? Ó, céus!
Que não tenha sido isso. Como não consegui entrar em contato com ela
aproveitei para tomar um banho. As horas passaram e nada da Bia aparecer,
comecei a ficar preocupado; liguei para Guel e caiu na caixa postal, então
peguei o celular dela e vi que a última ligação foi dele. Não pensei duas vezes,
peguei a chave do carro e fui imediatamente para a casa dele. Ele abriu a porta
e murmurou alguma coisa, mas eu não lhe dei atenção. Praticamente invadi a
sua casa e a cena que vi me fez ferver de raiva. Tem um homem com a cabeça
encostada na barriga dela que sorri com alguma coisa que ele fala, até que ela
me vê e seu rosto fica pálido. Eu falo da forma mais fria que consigo.

— Que bom que está se divertindo enquanto eu estava em casa


preocupado com você e os meus filhos.

— Pablo, eu...

— Não precisa me explicar, afinal, foi para não me dar explicações que
você deixou seu celular em casa.

— Eu esqueci. E por que você está agindo assim, Pablo? — Ela parece
confusa. Como ela ainda não percebeu que morri mil vezes só de imaginar que
algo poderia ter acontecido com ela e os bebês? Olho para a barriga dela e vejo
que o cara está com a mão em cima. — Tire. Suas. Mãos. Da. Barriga. Da.
Minha. Mulher. Agora!
— Pablito, para! Você está exagerando! A Bia esqueceu o celular, e veio
aqui, é tudo minha culpa. — Olho para Guel e percebo que ele andou
chorando.

— Pare de agir como um idiota — Bia fala atraindo minha atenção para
ela novamente.

— Agora eu sou um idiota? Você está certa! Sou um idiota mesmo! Fiquei
em casa, morrendo de preocupação e você aqui se divertindo! — esbravejo.

— Pablo, para, porra! — Guel dá um grito assustando a todos. — Ela veio


aqui porque o meu pai morreu! — Fico sem ação. — Ela veio por mim, eu
estava desesperado e precisava da minha amiga, e sim, você está agindo como
um idiota. Se você tivesse perguntado e não chegasse aqui querendo ser o
bonitão das tapiocas, saberia que Rick é o meu namorado e amigo de Bia.

Fico triste e desconfortável.

— Me desculpem, eu fiquei nervoso. Depois daquele deslocamento da


placenta que Bia teve, fico extremamente preocupado com ela. — Passo as
mãos pelos cabelos. — Meus sentimentos, Guel. Desculpe, Rick — digo
apertando sua mão. — Desculpa, amor.

— Tudo bem — ela diz, mas percebo que está chateada. Ótimo, eu
também estou.

— Guel, já vou indo. Mais tarde eu ligo, ok? — Ela dá um abraço em


Guel. — Tchau, Rick, cuida dele.

— Pode deixar, Bia. Eu cuidarei. — Ele abraça Bia rapidamente.

Também me despeço dos dois e quando já estamos cruzando o corredor


para pegar o elevador Guel vem correndo.

— Bia, você esqueceu a chave do seu carro, sua maluca.


Nessa hora um sentimento de decepção me invade. Ela me prometeu.
Prometeu e não cumpriu com a sua palavra.

Bianca

Pablo e eu não trocamos uma palavra, ele está irritado porque quebrei
minha promessa e estou irritadíssima com ele por ter agido feito um idiota na
frente dos meus amigos. Após o jantar resolvo ir deitar, meus pés doem e os
bebês estão agitados. Fico virando de um lado para o outro e não consigo
arrumar uma posição para dormir. Acabo levantando-me e indo ao escritório,
Pablo tomou banho e se trancou lá desde que chegamos. Abro a porta devagar
e vejo-o concentrado em sua leitura.

— Oi — sussurro. Ele apenas me olha. Vejo um copo com uísque e sei


que ele andou bebendo.

— Oi. Você está bem? — Porra, eu amo esse homem, até quando está
bravo, cuida de mim.

— Sim, só os bebês estão mexendo demais, não consegui dormir — digo


e passo a mão na minha barriga. Eles estão agitados, como se sentissem que
algo não está bem.

— Vem cá. — Vou até ele e sento no seu colo. Ele cheira meus cabelos
passa a mão delicadamente pela minha barriga, inevitavelmente sinto um
arrepio pelo meu corpo.

— Você não tem ideia do quão preocupado eu fiquei, Bianca. Só a


possibilidade de perder vocês, me fez morrer mil vezes — ele fala baixo, mas
percebo certa amargura em suas palavras.

— Desculpa.
— Como se não bastasse, você ainda quebrou a promessa que me fez,
como posso confiar em você e não ficar te ligando toda hora? Você não pensa
nos nossos filhos, Bia.

— Pablo, eu não admito que você fale isso! Meu amigo, meu irmão, o cara
que por várias vezes segurou minha mão, que está ao lado quando eu preciso,
eu posso ser tudo nessa vida, menos ingrata. Eu errei por ter quebrado minha
promessa, mas você não tem o direito de dizer que eu não me importo com os
meus filhos!

— Eu sei, desculpa. Porra, que dia!

— Ai... — Prendo a respiração, acho que um dos bebês deve ter enfiado o
pé entre as minhas costelas, só pode.

— O que foi? Você está passando mal? — Ele está pálido.

— Não, amor, só um dos bebês que resolveu brincar com as minhas


costelas.

— Você deve estar exausta. Precisa descansar. — Após alguns minutos a


dor passa, graças a Deus e ele cola sua boca na minha em um beijo terno.
Acabo não resistindo e aprofundo o beijo. Nossas línguas fazem uma dança
sensual, ele morde e chupa meu lábio inferior, deixo escapar um gemido de
apreciação. Levantamos e ele me pega nos braços, depositando-me suavemente
sobre a cama.

— Você precisa descansar. — Pablo me dá um beijo na testa.

— Eu preciso de você — sussurro mordendo sua boca.

— Eu sei. E sou todo seu. Hoje foi um dia tão agitado e olha que eu vim
para casa mais cedo só para podermos ficar um pouquinho a sós. — Morde
suavemente meu pescoço e depois faz uma trilha de beijos até o meu queixo
parando centímetros da minha boca. — Eu te amo, mesmo quando você me faz
surtar.

— Eu te amo, mesmo quando você age como um idiota.

— Eu agirei como um idiota várias vezes, mas sempre tenha uma coisa
em mente.

— O quê? — mal consigo falar com a sua mão está tocando meu seio.

— Sou o seu idiota. — Sua boca desce sobre a minha, nossa respiração
está acelerada, praticamente arrancamos nossas roupas.

Monto nele e sinto seu membro me penetrando lentamente,


preenchendo-me, encontramos nosso próprio ritmo, sem pressa, querendo tudo
um do outro, sentindo nossos sexos fazendo amor de uma forma lenta, tudo
tão intenso como se além dos nossos corpos, nossas almas também estivessem
conectando-se, nos proporcionando um prazer sem igual.

— Pablo... — suspiro sentindo meu orgasmo chegando.

— Goza para mim, meu anjo.

Desabo sobre ele cansada e ainda tremendo por causa do orgasmo tão
intenso, minutos depois ele se junta a mim entregando-se e sentindo seu
próprio prazer chegar. Saio de cima dele e desabo na cama, Pablo me puxa
para os seus braços e diz baixinho ao ouvido.

— Eu te amo, meu anjo.

— Eu também te amo.

Logo nossas respirações se acalmam e mergulhamos no mundo dos


sonhos...
Meses depois...

Estou deitada na cama, sob recomendações médicas para que eu


repousasse, quando Guel eufórico entra no quarto.

— Oi, minha grávida favorita. — Beija minha testa. — Oi, bebês do tio
Guel. — Beija minha barriga e praticamente se joga na cama.

— Oi, Guel. Como você está hoje? — Desde que perdeu seu pai, percebi
que Guel perdeu toda sua alegria, seus olhos não brilham como antes e ele se
recusa a conversar sobre isso. Eu, como toda amiga deve fazer, respeito o
tempo dele, mesmo que me doa vê-lo assim, porém acredito que o Rick deve
estar fazendo muito bem a ele, pois é só falar no nome dele que Guel fica todo
apaixonado.

— Bia, falei com a Moni hoje... — ele diz baixinho. Desde a morte do pai,
Mônica, a irmã de Guel tenta conversar com ele, mas Guel se recusava. Ainda
bem que finalmente ele acordou para a vida.

— E....?

— Ela está chegando ao Brasil hoje — a família de Guel é dona de uma


das maiores fortunas de Londres, seu pai era um advogado bem-sucedido que
acabou abrindo uma das redes de advocacia mais bem recomendadas de
Londres. — Mais tarde iremos nos encontrar, ela vai ficar hospedada em minha
casa.

— Fico feliz que está tentando, Guel... sei que não está sendo fácil, mas
irá conseguir.

— Irei sim. Só preciso me livrar desse dinheiro maldito que ele me


deixou.

— Guel...
— Esse dinheiro foi mais importante na vida dele, meu pai preferiu seu
dinheiro e status ao invés do próprio filho! — Sua voz está embargada.

— Mas lembre-se, ele também pode ser usado para o bem.

— Moni me falou a mesma coisa pelo telefone, iremos conversar, tudo


ficará bem.

— Sim. — Sinto minha bexiga reclamar. — Ó, céus já perdi a conta de


quantas vezes fui ao banheiro hoje, parece que seus sobrinhos estão pulando
na minha bexiga!

— Eles podem!

— Eles nem nasceram e você já os defendem desse jeito?

— Lóóóóógico que sim! São bebês, estão sempre certos. Agora — ele diz
me ajudando a levantar. — Vai logo fazer o seu xixi e depois traga seu traseiro
até aqui. Repouso será o seu sobrenome.

— Você está um chato, sabia?

— Conviva com isso. O que você está esperando? Vá logo.

Respiro fundo. Sinto um desconforto nas costas, minha barriga está


enorme e pesada. Nossa, que estranho, nunca senti isso antes. Depois de
alguns minutos, o desconforto passa e antes que Guel perceba vou para o
banheiro. Volto e deito na cama, o desconforto volta e deixo escapar uma
reclamação.

— Ai... — Puta merda, parece que minha barriga está pesando uns
duzentos quilos.
— O que foi? Os bebês vão nascer? — Ele dá um salto da cama e vem me
observar. — Ai, meu Deus, e agora? Eu não sei fazer partos. Meus lindinhos,
não façam isso com o tio Guel — diz todo dramático.

— Calma, Guel, falta uma semana ainda, é só uma dor nas costas, seu
escandaloso.

— Não sei não, acho melhor ligar para o Pablito.

— Aff, Guel, ele tem várias reuniões hoje. Se não passar esse mal-estar,
aí você liga, pode ser?

— Tá certo.

Após o almoço, Lily chega da escola suada e com a corda toda, Jully a
leva para tomar banho antes de comer. Mesmo sobre o protesto de Guel, fiz
uma macarronada com molho à bolonhesa deliciosa. Claro que como sempre,
ela faz uma festa e Guel a incentiva a bagunçar ainda mais.

Sob as recomendações do “doutor” Miguel, volto para cama, Lily vem


toda manhosa com ciúmes de dele e deita entre nós dois, enquanto assistíamos
Frozen Uma Aventura Congelante. Minha princesa assiste atentamente,
mesmo morrendo de sono. Guel levanta para tomar água e sinto um incômodo
seguido por dores nas costas, um líquido desce entre as minhas pernas.

— Gueeeeeeeeel — eu grito assustada.

Ele chega ofegante.

— O que foi, criatura?

— Tio Guel, a mamãe fê xixi na tama, biga cum ela, é feio — Lily diz toda
bravinha.

— Bia, isso não é...


— Guel, liga para Pablo, a minha bolsa estourou! — Sinto uma dor forte
nas costas e me encurvo na cama. Caraca, isso dói!

— Calma, eu vou ligar agora — ele diz, mas fica paralisado.

— Miguel, liga logo! Se eu sentir essa dor novamente não respondo por
mim — esbravejo. Nossa, como dói.

Guel some falando no celular e não presto atenção, as contrações


começaram segundo Gabriel me informou são só as primeiras, ainda não se
intensificaram. Guel me ajuda a me trocar enquanto Jully pega as bolsas dos
bebês. Alguns minutos depois, Pablo entra rapidamente no quarto parece um
pouco perdido e nervoso.

— Oi amor, você está bem? Está doendo muito? — O semblante dele está
tenso e preocupado.

— Estou bem, só com algumas dores, mas deve ser normal. As coisas
estão prontas, eu já estou pronta, vamos logo, é hoje que conheceremos os
nossos bebês — digo, chorando.

— Vamos sim, amor, Jully ficará aqui com Lily, Guel já está no carro. —
Ele me pega em seus braços e carrega até o carro, onde Guel senta ao meu
lado segurando a minha mão, enquanto Pablo dirige da forma mais rápida que
consegue.

— Ai, amor vai mais rápido — grito de dor, esmagando a mão de Guel.

— Ainda bem que viado não tem isso; obrigado, my God, caso contrário
eu virava macho — ele diz e eu aperto ainda mais a sua mão quando as
contrações chegam.

— Agradeça mesmo, Guel, que dor da porra!

— Calma, amor, já estamos chegando.


— Não me peça calma, é a última coisa que eu tenho agora. — Uma
contração vem mais forte das costas até a minha barriga. — Guel, estou com
muita dor. Ai, meu Deus, Pablo, por que você me engravidou? Nesse exato
momento te eu odeio! — digo quase gritando de tanta dor.

— Ei, eu não tenho culpa — diz Pablo segurando o riso. — Se eu me


lembro bem... você gostou enquanto fazíamos eles. — O descarado dá aquele
sorrisinho sacana.

— Seu...

— Amiga, — o tagarela me interrompe. — Quem mandou dar a


bacurinha? Agora, aguenta. — E acontece o que eu menos esperava... eu
sorrio. No meio dessas malditas dores eu começo a rir porque só o Guel para
fazer uma coisa dessas.

— Guel, só você mesmo, seu doido.

Finalmente chegamos ao hospital, onde sou encaminhada para fazer uns


exames, meu médico diz que não estou com dilatação suficiente e me manda
para o quarto, onde pode ficar monitorando todas as minhas contrações. As
horas passam e nada dos bebês nascerem, estou cansada, com dores
insuportáveis e eu querendo matar um.

— Como você está, meu anjo? — Guel me olha com curiosidade.

— Você acha que eu estou bem? — digo com os dentes cerrados por
causa das dores e da raiva que se apoderou de mim. Ele nega. — Então não me
pergunte se estou bem! — grito. — E juro por Deus: se aquele médico vier aqui
novamente me dizer que está tudo bem, que é normal essa dor do caralho que
estou sentindo agora... Eu vou dar na cara dele! — grito mais alto ainda.
— Credo! Agora entendi porque nasci viado, se tivesse nascido mulher,
nunca que passaria por isso, com certeza, seria uma sapatona das grandes.
Cara, como eu amo ser gay!

— Cala a boca, Guel, ou eu, em vez do médico, mato você! — eu brado,


sinto uma dor dilacerante. O celular de Guel toca, ele sorri e atende. Não
presto muita atenção, mas acho que ele pergunta a alguém se já chegou.

— Amor, vai dar tudo certo, pensa que, logo iremos estar com os nossos
bebês no colo. — As palavras de Pablo conseguem me acalmar. Ele segura
minha mão e sussurra palavras de conforto ao meu ouvido.

O médico chega e me examina mais uma vez, depois declara.

— Bianca, você não dilatou o suficiente, iremos fazer uma cesariana, tá


preparada?

— Estou preparada há quase seis horas doutor, deixe de conversa, traga


logo meus filhos ao mundo e dê um jeito nessas dores — digo com raiva e o
desgraçado ainda sorri. Filho da mãe!

Pablo

Bia é preparada para o parto e depois de alguns minutos escutamos um


choro forte, um dos sons mais lindos que eu poderia ouvir e o médico anuncia
que é o nosso menininho.

— Parabéns, papais, o garotinho de vocês já nasceu. — Lorenzo é


colocado sobre Bia, que assim como eu chora emocionada.

— Oi, filho, não chora meu amor, nós te amamos.

A enfermeira o tira de cima dela e começa a fazer os procedimentos


necessários, enquanto isso outro choro invade o local, meu coração acelera,
nossa menininha.
— Calma, mocinha — Gabriel fala sorrindo.

— Pablo, ela é linda — Bia fala, chorando.

— Sim, meu amor, ela é.

A enfermeira retira Laurinha assim como fez com Lorenzo. Bia começa a
bocejar.

— Pablo, eu estou com sono. — Bia aperta a minha mão. — Não sai
daqui, estou com medo.

— Calma, Bianca, é normal, é só o efeito da anestesia.

Minutos depois ela adormece e praticamente sou expulso da sala. Vou


para o corredor onde encontro minha tia — Guel ligou avisando-a.

— Parabéns, meu filho — ela diz chorando e me abraçando.

— Obrigado, tia.

— Como eles são?

— Lindos, o Lorenzo nasceu primeiro e dois minutos depois Laurinha


chegou já gritando. Onde o Guel está?

— Não sei, meu filho, ele só disse que precisava ir, mas que voltava o
mais rápido possível.

— Estranho, ele não perderia o nascimento dos bebês por pouca coisa.
Espero que esteja tudo bem.

— Ei, o tio também pode te dar um abraço? Ou não? — Meu queixo


quase vai ao chão ao reconhecer a voz.

— Claro que sim, seu idiota. Bruno, não esperava que você chegasse a
tempo. — Dou-lhe um abraço.
— Com licença, mas o mocinho aqui não pode esperar mais. — A
enfermeira entra no quarto, empurrando um carrinho e com um sorriso no
rosto.

Ela me entrega um bebezinho pequeno, com a cabeça cabeludinha, os


cabelos negros como de Pablo, tão lindo. Mas foi quando ele abriu os olhos que
eu me apaixonei, são exatamente do mesmo azul profundo dos olhos do pai.
Ofereço meu seio que ele suga avidamente parando de chorar. É um momento
mágico. Olho para Pablo que tem um sorriso nos lábios e assiste tão encantado
quanto eu, ouvimos ainda o nosso pequeno guloso soltando uns estalinhos
com pressa de ficar satisfeito logo. Ele para de mamar e adormece. Pablo pega
Lorenzo nos braços, emocionado; dá um beijo na cabeça do nosso menino e
sussurra algo em seu ouvido.

A enfermeira entra com Laurinha que, apesar de estar acordada, não


chora nem faz escândalo como o irmão. Logo começo amamentá-la, observando
sua pequena mãozinha agarrando meu dedo. Ela também tem olhos azuis, só
que mais suaves como os de Lily. Seus cabelos também são negros como o do
pai e lisos. Assim como fez com Lorenzo, Pablo mima Laurinha e faz até uma
voz engraçada para falar com ela. Sorrio assistindo a cena. Após alguns
minutos os bebês são levados — contra a minha vontade — para que eu
descanse. Mesmo não admitindo na frente deles, estou exausta e logo
adormeço com um sorriso nos lábios, lembrando de que todas as dores que
passei valeram a pena. Foi só olhar para eles para que eu soubesse que tudo
isso valeu a pena.
— Com licença, mas o mocinho aqui não pode esperar mais. — A
enfermeira entra no quarto, empurrando um carrinho e com um sorriso no
rosto.

Ela me entrega um bebezinho pequeno, com a cabeça cabeludinha, os


cabelos negros como de Pablo, tão lindo. Mas foi quando ele abriu os olhos que
eu me apaixonei, são exatamente do mesmo azul profundo dos olhos do pai.
Ofereço meu seio que ele suga avidamente parando de chorar. É um momento
mágico. Olho para Pablo que tem um sorriso nos lábios e assiste tão encantado
quanto eu, ouvimos ainda o nosso pequeno guloso soltando uns estalinhos
com pressa de ficar satisfeito logo. Ele para de mamar e adormece. Pablo pega
Lorenzo nos braços, emocionado; dá um beijo na cabeça do nosso menino e
sussurra algo em seu ouvido.

A enfermeira entra com Laurinha que, apesar de estar acordada, não


chora nem faz escândalo como o irmão. Logo começo amamentá-la, observando
sua pequena mãozinha agarrando meu dedo. Ela também tem olhos azuis, só
que mais suaves como os de Lily. Seus cabelos também são negros como o do
pai e lisos. Assim como fez com Lorenzo, Pablo mima Laurinha e faz até uma
voz engraçada para falar com ela. Sorrio assistindo a cena. Após alguns
minutos os bebês são levados — contra a minha vontade — para que eu
descanse. Mesmo não admitindo na frente deles, estou exausta e logo
adormeço com um sorriso nos lábios, lembrando de que todas as dores que
passei valeram a pena. Foi só olhar para eles para que eu soubesse que tudo
isso valeu a pena.
Capítulo 37

Bianca

Fui liberada para receber visitas, dona Maria chega toda sorridente
tagarelando sobre os bebês e para minha surpresa Bruno entra no quarto,
trazendo presentes para os bebês e me dando beijo na testa. Pablo entra no
quarto e meu olhar vai diretamente para o pequeno birrento que chora,
descontroladamente, exigindo ser alimentado. Todos saem para me dar
privacidade, somente Pablo fica assistindo, seus olhos me transmitem um
amor sem fim.

— Pablo, e Guel? Apareceu?

— Não, tentei ligar, mas o celular só dá desligado.

— Como ele pode sumir assim? Logo no dia mais importante da minha
vida?

— Meu amor, deve ter sido algo importante. — Fico mais triste ainda.
Guel me deixou no dia em que eu precisava compartilhar minha felicidade com
ele.

— Não fica assim, meu amor. — Pablo beija minha cabeça e ficamos
observando nosso Lorenzo todo preguiçoso abandonar meu seio após estar
saciado. Como das outras vezes Pablo pega-o para que eu amamente Laurinha,
que chega sempre silenciosa ao contrário do irmão. Enquanto ela mamava,
quietinha, eu aproveito e pergunto a Pablo:

— E Lily, já ligou para saber como ela está? Comeu direitinho? — Ele
sorri.

— Sim, e está eufórica ao saber que amanhã conhecerá os irmãos. —


Agora é a minha vez de sorrir.
— Mais tarde quero falar com ela. — Lorenzo dorme preguiçoso nos
braços de Pablo e faz birra quando a enfermeira o tira para levá-lo para o
berçário — já sei que ele vai querer toda a nossa atenção. — Ela é tão calminha
— digo cheirando minha menininha, seu cheirinho de bebê me dá paz.

— É sim, uma princesa, ao contrário do irmão... — Nós sorrimos e a


enfermeira a pega que dorme tranquilamente em meus braços, sinto um vazio
enorme no peito, o que me consola é que amanhã já poderemos ir para a casa e
não nos separaremos mais. Deixo escapar um bocejo. Amamentar me dá sono.
Minutos depois adormeço, olhando um par de olhos azuis que sorriem para
mim...

Sinto uma mão suave acariciando a minha e abro os olhos me deparando


com Guel, encarando-me.

— Oi — ele sussurra.

— Oi, Guel.

— Desculpa só aparecer agora. — Ele parece triste. — Eu vi os bebês,


são lindos. — Dá um meio sorriso.

— Guel, só irei te desculpar se me contar exatamente o que está


acontecendo.

— Eu fui buscar a Moni. Conversamos bastante inclusive sobre ele —


suspira. — Não queria estragar sua felicidade com tanta tristeza. Preferi ficar
em casa me empanturrando de porcarias com Moni e Rick.

— Mas está tudo bem agora?

— Sim. Decidimos que iremos fazer com a nossa herança. Nem adianta
perguntar, não te contarei, mas prometo que você sentirá orgulho do seu Guel.
— Eu já tenho. — Ele me abraça e beija minha bochecha várias vezes me
fazendo sorrir.

— O seu Guel voltou... e com tudo que tenho direito! — diz levantando as
sobrancelhas sugestivamente.

— Que bom, depressão e Miguel não combinam.

— Ela já foi, não aguentou a purpurina que habita no meu corpito.


Agora... quero que você conheça a pessoa que veio para iluminar os meus dias.

— Ai Guel, eu estou horrível.

— Ela não liga, pode apostar.

— Então, tá. Pede pra ela entrar.

Ele sai e rapidamente volta com uma mulher superelegante, eu vou


matá-lo, ela é baixinha, magra e parece uma versão feminina do Guel, só que
mais discreta. Seus olhos são amáveis, ela me dá um sorriso lindo.

— Então, Bia essa é Monica, mas pode chamar de Moni, ela prefere.

— Oi Moni — falo sorrindo.

— Oi Bianca, muito prazer, é bom poder te conhecer, Guel não parava de


falar sobre você.

— Pode me chamar de Bia, o que você contou, hein Guel?

— Contei tuuuuuuudo, ué — ele fala e começamos a conversar, Moni é


sorridente e a conversa flui com muita alegria, Guel sorri e segura a mão da
irmã durante toda nossa conversa. Eu sei, eu sinto, meu Guel está “em casa”
outra vez.
Finalmente o dia de ir para casa chegou, deixo o hospital recebendo o
carinho de todas as enfermeiras — inclusive as vi babarem por Pablo —
chegamos em casa e somos recepcionados por toda minha família, amigos, que
querem ver os bebês, pegarem e mimarem eles. Pablo fica como um gavião
protegendo-os, implicando com todos e sorrio com esse instinto de proteção
que tem em reação aos filhos. Mas a pessoa que eu queria ver e que estou
morrendo de saudades não está aqui, Lily foi para escola. Horas depois de
Lannah — a enfermeira que foi contratada por Pablo para me ajudar a cuidar
dos gêmeos nos primeiros meses — praticamente expulsar todos para que os
bebês e eu descansassem, minha princesa chega e se joga em meus braços.

— Mamãe saudade — diz abafado ao meu ouvido.

— Ownnn, meu amor, também estava com saudades de você.

— Tadê meus imãozios? — pergunta inquieta. Lannah chega pedindo


licença e me entregando Laurinha que chora irritada querendo mamar.
Enquanto segura Lorenzo, que também chora querendo ser alimentado. Não
suporto vê-lo chorar e com a experiência de Lannah mais dois travesseiros
consigo amamentá-los ao mesmo tempo. Lily fica quietinha assistindo com a
mãozinha no queixo, toda pensativa.

— São os meus imãzios? — confirmo. — Ownnnn, são tão fofinhos. —


Ela olha encantada para os dois pacotinhos dorminhocos em meus braços.

— São meu? — Ela parece não acreditar.

— Sim, princesa, são seus.

— Eles vão domi na minha tama. — Começo a rir.

— Mas meu amor, eles têm o quarto deles, esqueceu? Tem a caminha
deles, assim como você tem a sua.
— Mamãe, não é pa ri de mim. — Ela fita-oss com curiosidade. — Poque
estão domindo? Nem tá na hola de domi ainda!

— Porque são bebês, Lily.

— Posso acoda eles pa gente bincar? — Sorrio, minha menininha é


sempre tão doce.

Entrego os bebês a Lannah, para que eu possa descansar um pouquinho


e abraço Lily, minha princesa, meu amor. Cheiro seus cabelos e distribuo
beijos pelas suas bochechas gordinhas. Ela solta dos meus braços e grita:

— Nãooooooo.

— Lily, o que foi princesa?

— Tia Lannah tá roubando meus imãozios! — fala emburrada, com cara


de brava.

— Lily, tia Lannah está apenas levando os bebês para dormirem na


caminha deles.

— Mas eles são meu. — Ela faz bico e corre atrás de Lannah, descobri
recentemente que Lily é ciumenta e foi uma luta para que ela se adaptasse a
Jully. Ai meu Deus, vai começar tudo outra vez!

Recebo uma ligação de Pablo, avisando que ele está levando Bruno ao
aeroporto houve uma emergência comercial e ele precisaria voltar às pressas.
Segundo, Pablo uma proposta irrecusável. É como dizem, a vida segue seu
rumo e tudo volta ao lugar quando tem que ser, suspiro de satisfação e
felicidade.

Um ano depois...
Pablo

Recebo uma ligação de Guel, que pede para me encontrar no shopping o


mais rápido possível. Ao chegar no local, ele está eufórico e sorri
exageradamente para mim, a irmã dele, Monica pede mais descrição, porém,
para Guel, é simplesmente impossível.

— Oi Pablito, como você sabe eu não sou de meias palavras.

— Boa tarde, Pablo — Monica interrompe o tagarela.

— Boa tarde, Monica.

— Ah, boa tarde Pablito, estou tão empolgado! — diz batendo umas
palminhas meio bizarras. — Então... — faz um pigarreio dramático. — Pablito,
eu gostaria de pedir uma autorização sua para tirar umas fotos de Lily, para
uma causa muito nobre.

— Guel e eu conversamos e decidimos que nossa herança será usada


para fazer o bem. Então ele teve a ideia, de criarmos uma ONG, onde serão
prestados serviços a crianças especiais e pessoas que sofreram agressão seja
por causa da sua opção sexual, raça, agressão doméstica enfim... Ajudaremos
quem precisar. — Fico sem reação.

— E queremos... colocar o nome: Casa de Lily. Onde todos são bem-


vindos — ele diz emocionado segurando a mão da irmã.

— Nossa, Guel, eu nem sei o que dizer — falo ainda surpreso.

— Não precisa dizer nada, gato, apenas assinar a autorização. Quero


fazer a fachada da ONG com a Lily sorrindo. Vai ficar perfeita! — diz com os
olhos brilhando.

— Claro que eu assino Guel. Muito obrigado, por escolher a minha filha.
— Lily é especial, Pablito, e será a minha forma de agradecer a Bia, por
tudo que ela fez e faz por mim.

— Só posso dizer, obrigado. E você Monica? Está de acordo?

— Sim, inclusive já pedi para que a nossa advogada, preparasse a


autorização. Ela já deve estar chegando. — Ficamos conversando, Miguel
tagarelando sobre o projeto que segundo ele irá levar tempo para ficar pronto,
Monica vai me explicando que fizeram pedidos de tudo que é mais moderno na
área de fisioterapia, hidroterapia e todas as outras áreas que a ONG
trabalhará. Cerca de algumas horas depois, uma moça chega e Monica a
apresenta como sua advogada, seu nome é Kathryne Bruce, uma jovem muito
simpática, que com muita paciência me explica todas as cláusulas da
autorização de nome e imagem. Eu assino claro e Guel vibra todo animado
tagarelando.

— E quando será o ensaio com Lily?

— Ah, semana que vem, invente uma desculpa, Bia não pode desconfiar
— diz todo sério.

— Ok, Guel. Vou ser o mais discreto possível.

— Bom, vamos indo Pablito, até semana que vem. — Ele me abraça
exageradamente e me despeço da Moni e da Kathryne, que sorriem da
empolgação de Guel.

Bianca

Os gêmeos estão com a corda toda! Às vezes não dou conta tanta energia.
Lily está cada vez mais amorosa com os irmãos e me ajuda a “cuidar” deles, é
uma verdadeira princesa. Enfim, a noite chegou e eu como sempre coloco a
mesma música para pôr os bebês para dormir, Além do arco íris, na voz de
Luiza Possi. Essa música os acalma, torna o momento mágico, depois de
alguns minutos eles adormecem e vou ficar com Lily, não abro mão de colocá-
la para dormir também, não quero que ela se sinta menos amada, eu não
admitiria isso.

— Oi Princesa — digo deitando na sua cama.

— Oi mamãe. — Ela dá um bocejo alto, esgotada de tanto brincar.

— Vim te colocar para dormir. — Ela me abraça e me enche de beijos. —


Eu te amo, minha menininha.

— Também te amo. — Lily se aninha a mim como uma gatinha manhosa


e faço carinho em seus cabelos e vencida pelo cansaço ela adormece. Após
alguns minutos, saio da sua cama lentamente, deixando apenas a luz noturna
ligada e vou para o meu quarto, tomo um banho, estou passando o hidratante
pelo corpo quando Pablo entra no quarto já tirando a roupa. A cada ano ele fica
mais sexy e eu perdidamente apaixonada.

— Oi, meu anjo — diz dando aquele sorrisinho sexy que eu tanto amo.

— Oi, amor. — Levanto da cama e lhe dou um beijo.

— Humm, que delícia chegar em casa e te encontrar assim. — Ele cheira


o meu pescoço. — Tão gostosa e só minha. — Morde o lóbulo da minha orelha
lentamente. — Vou só tomar um banho rápido e volto. — O safado termina de
tirar a roupa na minha frente, deixando-me excitada e sai para o banheiro.

— Isso não teve graça, seu Pablo! — Ouço seu riso vindo do banheiro.
Jogo-me na cama e começo a lembrar do nosso casamento, um sorriso brota
dos meus lábios espontaneamente.

Pablo e eu casamos em uma cerimônia simples, porém, linda. Usei um


vestido pérola, longo, justo ao corpo, com um véu enorme e todo bordado, mas
nada pode ofuscar o brilho do olhar do homem mais lindo da festa. Tomei o
braço do meu pai e seguimos para o altar, o sorriso que recebi de Pablo
naquele dia foi simplesmente o mais lindo que ele já me deu. Só de lembrar os
seus votos, suspiro. Estou tão absorta em minhas lembranças, que só percebo
que seu banho acabou quando ele se deita sobre mim, beijando-me
apaixonadamente.

— Posso saber em que a senhorita estava pensando toda sonhadora? —


Ele sorri sedutoramente.

— Estava lembrando o nosso casamento. — Sorrio.

— Ah, é? — confirmo. — Estava em que parte?

— Nos nossos votos. Você lembra?

— Claro, como eu poderia esquecer? Nossos votos não foram


tradicionais, eles foram palavras dos nossos corações.

— Bianca... — ele começou. — Eu prometo te amar ainda que tudo se


torne incerto. Serei fiel e te respeitarei enquanto vida eu tiver. Cuidarei de
nossos filhos como quem cuida do seu maior tesouro. Serei o seu refúgio
quando tudo se tornar difícil, porque o meu amor por você é maior que tudo,
eu te amo. Obrigado por existir e ter me dado a honra de habitar em seu
coração. Quero envelhecer ao seu lado simplesmente pelo fato de você ser o
amor da minha vida. Sou para sempre seu.

Ele terminou e eu fiquei emocionada, mas de qualquer maneira, comecei


a recitar os meus votos e minha voz saiu rouca.

— Pablo, a história às vezes é feita de momentos e de uma forma


inesperada você chegou a minha vida, foi uma longa caminhada até chegarmos
aqui. Eu te agradeço, meu amor, por nunca desistir de mim, por tirar as
incertezas do amor que eu sinto por você. Eu prometo ser fiel e te respeitar
para sempre. Obrigada, por me escolher para ser a mãe dos seus filhos, por ter
me dado uma família linda. Eu te amo, sou para sempre sua.

Assim, como no dia do nosso casamento, Pablo me beija com paixão e


amor. Fazemos amor com necessidade um do outro, sempre com muito amor e
intensidade.

O dia amanhece sempre numa correria. Graças a Deus que eu tenho


Jully e Lannah — não fomos capazes de demiti-la, a ajuda dela é fundamental
— Lily toma café da manhã para ir à escola, os gêmeos já acordam de mau
humor, Pablo e eu nos arrumamos para ir trabalhar — apesar dos protestos
dele, eu me recusei a deixar de trabalhar e nos despedimos dos nossos
pestinhas — como Guel os chama carinhosamente — e deixamos Lily na
escola. Ao chegar a empresa somos engolidos pela correria do trabalho, eu amo
a vida que tenho, fiz as escolhas certas, meus filhos e o meu marido fazem
valer a pena todos os dias.

Pablo

Tive que fazer o maior esforço para omitir de Bia o ensaio fotográfico que
Lily fará hoje, inventei uma desculpa, tendo minha tia como cúmplice, dizendo
que levaria Lily para passar a tarde com ela. Chego ao estúdio que Guel passou
o endereço e o encontro todo animado, minha princesa está animada, ela adora
tirar fotos.

— Oi Pabito — Guel diz me dando um abraço. — Oi amorzinho. — Ele


beija a bochecha de Lily que se derrete.

— Oi, Guel.
— Oi tio, quando começa lá as fotos? Estou ansiosa, muto ansiosa. —
Sorri e esfrega as mãozinhas ansiosa.

— Então é pra já! — Guel responde, batendo umas palminhas...é doido


mesmo. Logo uma moça de cabelos loiros que Guel nos apresenta como
Monique, a cabeleira que fará um penteado — segundo ele— fashion, no cabelo
de Lily. Ela me cumprimenta e logo depois se abaixa para falar com Lily.

— Oi princesa, a tia vai deixar seu cabelo mais lindo do que já é. — Ela
sorri e Lily concorda movendo a cabeça animadamente. Elas somem e minutos
depois minha princesa volta com um pouco de maquiagem e o cabelo com o
uma trança que envolveu seu cabelo inteiro, percebo que também trocaram
sua roupa colocaram um vestidinho lilás claro e delicado.

— Tô munita, papai? — ela pergunta um pouco tímida.

— Você é linda meu amor, muito linda — digo orgulhoso, ela se joga em
meus braços e beijo sua testa. Uma mulher, morena de olhos simpáticos, entra
na sala com uma câmera e atrai totalmente a atenção de Lily.

— Boa tarde, meu nome é Graziela, é essa a mocinha linda que irei
fotografar? — Lily concorda balançando a cabeça exageradamente e acaba nos
fazendo sorrir, ela está adorando tudo isso. — Mas que menininha linda!
Parece uma bonequinha.

A sessão de fotos começa com Lily fazendo caras e bocas, poses e mais
poses, Graziela diverte-a fazendo minha princesa sorrir espontaneamente. Após
algumas horas fomos para casa com uma Lily toda sorridente e com um
“segredo” só nosso.

Bianca

Hoje é a inauguração da ONG de Guel e de sua irmã. Fiquei muito feliz


ao saber da notícia, porém, um pouco chateada por ter sido excluída de tudo,
Guel praticamente não toca no assunto e quando falo sobre a ONG ele muda
logo de assunto. Mas hoje ele exigiu minha presença, de Pablo e de Lily
também, estava todo misterioso ao telefone. Passo um pouco de máscara para
cílios e confiro meu visual no espelho. Optei por um vestido preto discreto,
justo no corpo e na altura dos joelhos, sem mangas e transpassado um pouco
abaixo do busto dando um contraste legal. Um par de sapatos vermelhos, para
dar um charme e uma make discreta. Encontro Pablo na sala com Lily, ele com
um terno cinza e uma camisa rosa clara social e com um sorriso lindo, não
resisto e lhe dou um beijo. Logo minha atenção é exigida por Lily perguntando
se está “munita”.

— Você está mais que linda, minha princesa. — Ela rodopia em seu
vestido rosa com pequenas pedrinhas em todo corpete que dão um chame e
sofisticação. Seus cabelos soltos, apenas com uma presilha lateral lhe dão um
ar angelical, sou uma mãe coruja, eu sei, mas não resisto. Antes de irmos, dou
um beijo em Laurinha, que como sempre está calma e sorri quando beijo sua
barriguinha. Já Lorenzo faz o maior drama agarrando meu pescoço e só solta
quando Lannah entrega um chocalho. Sair e deixá-los parte o meu coração,
mas infelizmente não poderemos levá-los.

Ao chegarmos ao local, surpreendo-me com a decoração e a quantidade


de pessoas, nossa, Guel realmente sabe como organizar um evento. Ao nos ver
ele praticamente corre ao nosso encontro.

— Ai Best, que bom que você chegou, estou tão nervoso. — Ele estende a
sua mão que treme devido ao seu nervosismo

— Oi Guel, está tudo muito lindo. Não precisa ficar assim. — Ele
cumprimenta Pablo e beija a cabeça de Lily.

— Moni começará a cerimônia, aí espero que você goste — fala e sai


rapidamente. Olho confusa para Pablo, que dá de ombros. Sentamos-nos à
mesa que nos foi reservada e Moni começa a agradecer pela presença de todos,
ao seu lado está Guel, super charmoso em seu terno preto e camisa social
branca e impecável.

— Meu irmão e eu queremos agradecer a presença de todos, muito


obrigada por honrarem nosso convite por causas tão nobres. Antes de
inaugurarmos oficialmente a nossa ONG, quero agradecer ao meu irmão, por
tamanha generosidade e amor. Acreditem, eu e Miguel fomos separados pelo
preconceito e sabemos a dor que ele pode causar, por isso parte do nosso
projeto inclui ajudar pessoas que já sofreram preconceito, agressão e que
precisam de ajuda. Agora quero convidá-lo para falar da outra parte do nosso
projeto. — Todos batemos palmas e Guel pega o microfone, percebo que está
mega nervoso.

— Boa noite a todos, como minha irmã já agradeceu, irei ser breve.
Gostaria de convidar aqui a frente minha amiga Bianca e sua filha Lily. — Meu
corpo inteiro congela. O ar foge dos meus pulmões e levanto automaticamente,
segurando a mão de Lily, antes de ir, olho para Pablo que sorri. Ele sabe o que
irá acontecer. Teremos uma conversinha mais tarde. Chegamos até Guel que
sussurra ao meu ouvido para ter calma.

— Bom...agora que vocês estão aqui, posso contar a minha parte do


projeto. Dizem por aí que o amor verdadeiro nos inspira, e é verdade. Pois foi
vendo o amor da minha amiga pela sua filha Lily, que decidi usar algo que me
causou muita dor em algo bom. Hoje tenho orgulho de dizer a todos vocês aqui
presentes, que nossa ONG, prestará todos os tipos de tratamentos a crianças
com síndromes, sejam elas raras ou não. Com equipamentos modernos e de
alta qualidade e os melhores profissionais que estão ao nosso dispor e devemos
tudo isso a nossa princesa Lily, que serviu de fonte de inspiração para que o
nosso projeto fosse um sucesso. — As pessoas aplaudem, mas eu ainda estou
em choque com o que acabei de ouvir. Guel me abraça e sussurra ao meu
ouvido:
— Desculpa não ter te contado antes, queria que fosse surpresa.

— Nossa Guel, estou sem palavras, obrigada meu amigo, estou muito
orgulhosa em ser sua amiga.

— Agora. — ele fala no microfone. — Queremos convidar a nossa


princesa para inaugurar a fachada da nossa ONG. — Ele pega Lily nos braços e
ela puxa uma cordinha juntamente com Guel. Ao ler o que está escrito sinto
meu coração passa a bater aceleradamente.

— Sejam todos bem-vindos a ONG Casa de Lily! — Na fachada há uma


foto enorme de Lily sorrindo, ela está linda. Não contenho as lágrimas e deixo
as descer discretamente.

— Obrigada, Guel e Moni. Eu jamais esperava por isso... — eles me


abraçam também emocionados. A festa continua e todos dançam alegres e
felizes, vejo Guel com Rick e fico feliz ao ver o meu amigo tão bem e
apaixonado. Danço com Pablo e Lily corre entre todos, recebendo atenção e
carinho. Após algumas horas voltamos para a casa, Lily não aguentou e
acabou adormecendo, hoje foi um dia simplesmente inesquecível um dia que
guardarei em minha memória para sempre!

Pablo

A nossa vida anda bem corrida, mas é gratificante saber que nossos
filhos estão crescendo com saúde e isso faz tudo valer à pena. Bia como sempre
tem se mostrado uma mulher incrível e uma mãe exemplar. Estou indo agora
buscá-la na ONG, onde ela vai todos os sábados à tarde enquanto as crianças
dormem, minha mulher tem o coração enorme e sinto muito orgulho disso, de
sua vontade de querer ajudar o próximo. Chego a ONG e cumprimento Lívia, a
recepcionista, que me informa que ela está na ala infantil — onde ficam os
bebês que são abandonados ou precisaram ficar internados — eu me dirijo até
lá e vejo uma cena que me deixa hipnotizado. Bia está sentada em uma cadeira
de balanço com um bebê no colo, cantarolando uma canção de ninar, estou tão
concentrado que só noto que Guel está ao meu lado quando ele toca o meu
ombro.

— Guel, que bebê é esse que está nos braços de Bia?

— O nome dele é Miguel, a mãe dele lhe deu esse nome poucas horas
antes de abandoná-lo aqui. Miguelzinho tem síndrome de Down — ele fala
sério. — Ela disse que não queria uma criança doente e que iria ser um atraso
na vida dela. Ele é usuária de drogas, tentamos ajudá-la, mas ela se negou e
sumiu. Isso faz seis meses.

— Nossa, como existem pessoas sem coração, como alguém poderia


abandonar uma criancinha tão linda?

— Ele está sob nossos cuidados, por enquanto, mas a justiça já o


colocou para doação, estou com medo, Pablo.

— Por quê? — pergunto curioso.

— Bia está se apegando a ele e sofrerá muito caso... — Ele não termina a
frase, não precisou eu entendi.

— Caso ele seja adotado — ele confirma. — Bia geralmente ajuda com
todos, o que te faz pensar que ele é especial pra ela?

— Isso, — ele aponta para onde Bia está, ela cantarola e sorri para o
menino, beijando sua cabecinha loirinha. — Ela está tratando-o como se
fosse...

— Um filho.

— Ela está tratando-o, como um filho.

— Eu preciso conversar com ela, Guel.


— Sim, vai lá. Eu preciso ver alguns papéis. Até logo, Pablito. — Ele sai e
entro no quarto, onde meu anjo me dá um sorriso tímido.

— Oi amor. — Eu lhe dou um beijo.

— Oi, ele acabou de ser alimentado. — Ela levanta e o coloca no berço.


Paro para olhar o menino que dorme tranquilamente e fica um pouco agitado
ao ser colocado no berço. Ele é lindo, tão pequeno e frágil, é impossível não
querer proteger um bebezinho desses...

— O nome dele é Miguel — ela diz ainda olhando-o.

— Guel me falou. Precisamos conversar, amor. Vamos? — Ela parece não


me ouvir, apenas observa-o. — Amor vamos? — Toco os seus cabelos e ela
parece finalmente me ouvir.

— Ah, vamos sim. — Ela pega sua bolsa e dá um beijo na cabeça do


Miguelzinho, sussurrando algo como “durma bem meu anjo”. O caso é mais
sério do que imaginei, Bia já ama essa criança. O caminho todo ela ficou em
silêncio, chegamos em casa jantamos e ficamos brincando um pouco com as
crianças, percebo que Bia está tentando disfarçar, mas ela está triste.
Colocamos as crianças para dormir e já deitados em nossa cama pergunto
calmamente.

— Bia, me fala o que está te deixando triste. Tem alguns dias que venho
percebendo que tem algo te incomodando. — Ela me abraça forte e sinto suas
lágrimas molharem minha camisa.

— Estou bem.

— Não está. — Seguro seu queixo, forçando-a a me olhar nos olhos. —


Essa aflição toda é por causa de um certo Miguel? — Ela desvia o olhar e me
responde baixinho:
— Sim. Eu aprendi a amá-lo, Pablo, quando peguei aquele serzinho
indefeso, não consegui agir apenas como uma voluntária. Eu... eu...desculpa.
— Chora agarrada a mim. Ela está se desculpando por amar uma criança, que
foi rejeitada pela própria mãe?

— Amor, não tem pelo que se desculpar, mas você precisa se conformar,
ele irá ser adotado e você vai sofrer ainda mais.

— Eu sei, mas é tão difícil. — Ela fica agarrada a mim. Sinto um aperto
enorme no peito, fico a madrugada praticamente acordado, pensando, eu
preciso fazer algo. Olho para minha mulher, que dorme serenamente ao meu
lado, eu poderia fazer o impossível para fazê-la feliz, aprendi a amá-la de uma
maneira tão grande que ultrapassa tudo. Adormeço com a visão do meu anjo
de olhos serenos, sorriso meigo e coração grande.

Bianca

Fiquei um pouco nervosa, com tudo que Pablo me falou, mas ele está
certo, eu não devo me apegar ao Miguelzinho, ele não é meu — infelizmente —
sinto uma dor no peito só de imaginar alguém levando-o para longe. Estou
deitada no sofá pensativa, quando Pablo chega, senta e me puxa para os seus
braços.

— Amor, Guel acabou de ligar, estava preocupado, disse que faz uma
semana que você não aparece na ONG.

— Eu preciso me afastar, Pablo, mesmo que isso parta o meu coração.

— Só tem um probleminha...

— O quê? — pergunto confusa.


— Miguelzinho adoeceu. — Sinto meu coração parar por um estante. — A
pediatra o examinou e disse que está tudo bem, que deve ser febre emocional,
Guel pediu que você fosse até lá.

— Vamos agora mesmo, só preciso trocar de roupa. — Corro para o


quarto, visto uma calça jeans e uma blusa preta — a primeira que vi na frente
— penteio meu cabelo em um coque frouxo e calço uma rasteirinha. Quando
volto para sala Pablo já está pronto também, pegamos o carro e ao chegarmos
na ONG não cumprimento ninguém, praticamente corro para o quarto onde ele
está e vejo Fernanda — uma das pediatras — examinando-o.

— Oi Nanda, como ele está? — pergunto aflita.

— Ele está bem, já o mediquei, mas a febre não baixa é febre emocional,
Bia. — Ela me entrega o meu pequeno anjo, que segura o meu dedo com força.
Nanda se despede e vejo Pablo encostado na porta me observando.

— Oi amorzinho, desculpa passar todos esses dias sem vir te ver — falo
chorando. — Não irei te deixar sozinho outra vez, eu prometo. — Fico ninando-
o por alguns minutos até que ele chora, deve ser fome, concluo. — Amor,
segura ele só um minutinho que irei pegar uma mamadeira? — Pablo pega
Miguel nos braços e fica olhando-o. Saio, preparo uma mamadeira e quando
volto, Pablo está brincando com Miguelzinho que dá gritinhos de alegria com as
caras e bocas que Pablo faz, assisto encantada, incapaz de interromper o
momento.

— Quem é o menininho bonzinho? — Pablo fala com uma voz engraçada


e me seguro para não sorrir. — Sim, que rapazinho bonzinho — ele brinca por
mais alguns segundos e quando nota minha presença pede a mamadeira e
senta na cadeira ao lado do berço. — Que rapazinho mais guloso, calminha aí
— fala sorrindo, Pablo nasceu para ser pai, mas perfeito que isso não existe.

— Nossa, tô vendo que eu perdi meu posto — falo.


— Perdeu mesmo né, bebê? — ele fala olhando para Miguelzinho que
segura seu dedo com força.

Depois de algumas horas, voltamos para a casa, conversando sobre


Miguel, suas caras e bocas e percebo que Pablo também se encantou por ele...

Pablo

Já faz um mês que Bia e eu vamos a ONG juntos, simplesmente não


resistimos mais, Miguelzinho ganhou meu coração. Agora eu entendo
perfeitamente o que ela sente. Miguel é do tipo que desperta nosso extinto
protetor, dá vontade de pegá-lo e não soltar nunca mais. E é justamente por
isso que nesse exato momento estou aqui esperando a doutora Marcela, para
dar entrada na documentação necessária para a adoção de Miguel. Claro que
Bia não sabe, como o aniversário dela está chegando, resolvi lhe dá um
presente inesquecível. A doutora Marcela chega e começamos a conversar, ela
me explica toda a documentação necessária e toda a burocracia que envolve
adotar uma criança. Mesmo assim não me importo, eu faria muito mais só pelo
nosso anjinho. Nós nos despedimos e vou direto para escola de Lily, ela terá
uma apresentação coincidentemente no dia do aniversário de Bia, ainda faltam
três meses, mas como minha princesa é especial, precisa se preparar para tudo
com muita antecedência e praticamente exigiu que eu estivesse incluído nessa
apresentação, o que deixou Bia com certo ciúmes, mas acabou superando.

Após passar horas andando de um lado para o outro e ouvir a mesma


música dezenas de vezes, eu e Lily estamos esgotados, decido lhe dar um
sorvete de chocolate pelo seu esforço. Bia não gostou nadinha quando Lily não
jantou. Mas tudo valerá a pena, ela que segure o coração, Lily e eu não
deixaremos esse dia passar despercebido...

Três meses depois...


— Anda sim, mas é por uma boa causa. Vim aqui visitar o meu netinho
mais novo, mas ele está dormindo tão quietinho que resolvi deixá-lo descansar.
— Arqueio uma sobrancelha para Pablo e ele acaba confessando que todos já
sabiam da adoção de Miguel e que inclusive minha família virá semana que
vem para conhecê-lo. Dou um beijo nos dorminhocos que estão no sofá e as
meninas os levam para cama — com dona Maria atrás, querendo ensiná-las a
pegar os “preciosos” dela direito — pegamos Lily e vamos para a escola dela. O
local está enfeitado, tudo muito lindo, as apresentações já começaram, sento-
me em uma cadeira confortável, enquanto Pablo e Lily somem para os
bastidores... quero só ver o que esses dois estão aprontando... Várias crianças
se apresentam e depois de muito tempo a diretora — finalmente — fala o que
eu quero ouvir.

— Bom, hoje estamos aqui com uma apresentação especial, da nossa


amada e querida Lilyan Rodrigues ou Lily como todos chamam. Ela cantará
Como é grande o meu amor por você do nosso querido rei Roberto Carlos, é
meus amigos, segurem a lágrimas, nosso evento será encerrado com chave de
ouro.

Meu queixo quase vai ao chão quando as notas do piano começam a


encantar o local, algumas bolhas de sabão invadem o local e as crianças
vibram, de repente Pablo entra com Lily de nãos dadas. Ai meu Deus, ele não
vai fazer isso...

Pablo

Enfim chegou o dia da apresentação de Lily, sai de perto de Bia com a


desculpa de ir ao banheiro, mas na verdade vim prepara-me para entrar com a
minha princesa, ela exigiu que eu vestisse uma roupa de príncipe, já que ela
entraria como uma verdadeira princesa e como dizem: “Por nossos filhos
fazemos tudo e mais um pouco”. Aqui estou eu, suando de nervosismo, mas
satisfeito porque minha princesa não tira o sorrisão do rosto.
—Tia Luliala tô cum medo... e se eu elar? — Lily fala aflita, quando vou
responder, Uiara sua professora fala calmamente.

— Meu amor, se você errar, não tem problema, a tia vai ficar aqui te
olhando, tá bem? — Lily confirma. — Além do mais... O seu pai está lá com
você, é só segurar a mão dele. — Minha princesa relaxa visivelmente. Mas
agora quem ficou nervoso foi eu!

É anunciada a apresentação dela e respiro fundo, as notas do piano


indicam que chegou a hora, então minha princesa me estende a mão e
seguimos para o palco, por mais incrível que pareça quem está nervoso sou eu.

Bianca

Lily pega o microfone — que parece gigante em sua mãozinha — e diz.

— Quelo cantá essa música pá minha mamãe. — Meu coração infla de


tanto amor e ela começa.

Eu tenho tanto pa le falar

Mas com palavas não sei dizê

Como é gande o meu amô pô você

E não há nada pá compalar

Para podê le expicar

Como é gande o meu amor pô você


As lágrimas caem sem controle, minha menininha se declarando dessa
maneira é demais para o meu coração...

Nem memo o céu, nem as estelas

Nem memo o má e o infinito

Não é maió que o meu amô, nem mais bonito

Me desespelo a pocular

Alguma forma de le falá

Como é gande o meu amô pô você

E para minha surpresa, ela passa o microfone para Pablo que começa a
cantar olhando nos olhos da nossa princesa:

Nunca se esqueça nem um segundo

Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você

Ela sorri e eles cantam juntos olhando para mim...

Nunca se esqueça nem um segundo


Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você

Mas como é gande o meu amô pô você

Lily encerra a música apontando o dedinho em minha direção, nessa


hora não resisto, levanto e vou em direção ao palco, Lily corre em minha
direção ao me ver levantar. Ela vem sorrindo e quando nos encontramos ela se
joga em meus braços, eu não me controlo — não quero me controlar — choro e
beijo seu rosto inteiro.

— Eu te amo tanto, minha princesa.

— Eu também te amo, mamãe, não chola.

Olho para Pablo que sorri emocionado, as pessoas do local permanecem


em silêncio, mas tão emocionada quanto nós. Os aplausos tomam conta do
local e Lily sorri animada.

— Está vendo minha princesa, essas palmas são para você, vai lá amor.
— Ela se solta do meu abraço e sobe no palco encantada por ver todos a
aplaudindo de pé. Os gêmeos e Miguelzinho ficaram em casa, mas um dia
mostrarei essa apresentação de Lily a eles, quando forem maiores e sei que
assim como eu, também aplaudirão a irmã e a terão como fonte de inspiração.

Sou convidada pela diretora a subir ao palco e me abraça, visivelmente


emocionada, ela me parabeniza, agradeço gentilmente, até que meus olhos se
encontram com os dele, vou até Pablo, que me envolve em seus braços e me dá
um beijo terno nos lábios. Ouço assobios e palmas Lily, está exultante de
felicidade. Se joga em meus braços quando Pablo a pega no colo.
Tenho mais três filhos, eu os amo incondicionalmente, mas minha
conexão com Lily é mais intensa, ela que me ensinou a ser quem sou hoje, ela
me ensinou a amar, a ser mãe e é com todo esse amor, que enfrentarei tudo e
todos, até o mundo inteiro se preciso for para manter minha princesa assim,
com esse lindo sorriso no rosto.

Meu amor por Lily, nunca terá fim.

Epílogo

Depois de uma semana conturbada e repleta de correria para todos os


lados, decidimos que o domingo é o nosso dia para curtir em família. O dia de
conversarmos, passear e almoçar fora. Em resumo, fazer o que quisermos. É
por isso que depois de muito sufoco estamos a caminho do restaurante que
Pablo fez a reserva ontem. O lugar é bem família e as crianças adoram já que
tem um playground maravilhoso para se divertirem.

— Guel não vem?

— Não sei, amor. Ele me disse que o Rafael não estava bem... talvez
ainda esteja com um pouco de febre. — O garçom nos entrega o cardápio e
Pablo se ocupa com os pedidos enquanto eu fico olhando-o, mais apaixonada
do que nunca. Tantos anos de casamento depois e eu ainda ajo como uma
boba ao olhar para ele cuidando dos nossos amores dessa forma. Já Guel, o
meu anjo para a vida toda, mesmo não querendo casar nunca — palavras dele
— adotou o Rafa e tem sua própria família. Dizer que tenho orgulho pelo meu
Guel é pouco para o que tenho no meu coração.

Os meninos conversam entre eles empolgados, mexendo no celular do


pai e Lily e Laura folheiam um livro de figuras, elas amam fazer isso. Lily está
começando a se interessar por coisas diferentes, como cozinhar por exemplo e
mesmo com todas as suas limitações batendo a porta ao longo desses anos,
nós estamos nos saindo bem. Os pratos chegam e ajudo Miguelzinho com sua
comida enquanto Lily nem olha para o seu prato.

— Quero sobemesa, mamãe! — Lily fala com um sorriso, empurrando o


prato dela. — Assim que nós almoçarmos o papai vai pedir, agora que tal
comermos essa comidinha gostosa que o tio trouxe? — Tento chamar a atenção
dela para a porção de batata frita, mas é em vão.

— Não telo.

— Lily, almoçar primeiro só depois é que vem a sobremesa — Pablo fala


com a voz firme. Ultimamente estamos com dificuldade para fazê-la comer
corretamente porquê só quer comer besteiras.

— Mas eu telo pudim! — Começa a chorar gritando e chamando a


atenção de todos.

Olho para Pablo que a repreende baixinho, mas só parece piorar a


situação. Miguelzinho pede suco e um minuto que tiramos os olhos dela, Lily
se joga no chão fazendo a maior cena. Pablo me olha constrangido e faz
menção de se levantar, mas seguro a sua mão. Vejo as pessoas ao nosso redor
cochichando e nos olhando com pena, quase como se pedissem desculpas por
nós termos uma filha com Síndrome de Down que se joga no chão como
qualquer criança quando quer fazer pirraça. Vejo o desprezo no olhar de quem
não conhece a minha filha como eu, e não sabe como ela é incrível e doce,
como gosta de abraçar e distribuir beijinhos de amor após um longo dia de
trabalho. Como ela me tornou uma pessoa melhor, que deseja fazer do mundo
um lugar melhor para ela e seus irmãos. Eles não sabem, mas eu sei e daria a
minha vida por ela se fosse preciso. Levanto e no impulso ocasionado pela raiva
desses olhares me deito no chão ao lado dela, até mesmo Pablo parece
surpreso com a minha atitude. Passo a mão pelos seus cabelos e tento acalmá-
la cantando baixinho Como é grande o meu amor por você, a mesma música que
um dia ela cantou para mim. Encaro seu rosto banhado em lágrimas sentindo
o meu coração explodir de amor. Não me importo com o silêncio sepulcral que
invade o lugar. Só me importo com o olhar que não desvia do meu um minuto
sequer.

— Não precisa mais chorar, amor. — Cochicho para ela sorrindo.

— Mamãe! — Lily levanta e sento abrindo os braços para ela que se joga
e nino-a como se fosse um bebê, então eu sinto braços fortes nos abraçando.
Assim ficamos até que ela para de chorar e seco suas lágrimas. Imediatamente
lembro do que Pablo sempre me fala. O amor sempre nos dirá o que fazer e nos
ajudará a transformar o que é motivo para tristeza em riso. Ficamos nos
olhando sentadas no chão do restaurante sem fazer nada.

— Po que a gente tá sentado no chão? — Lily revesa o olhar de Pablo


para mim em busca da resposta. Olho para ele que sorri.

— Nem a gente sabe, minha princesa! — Pablo e eu caímos na risada e


ela ri também levantando e estendendo a mãozinha para nos ajudar a levantar.
As pessoas que antes nos olhavam com pena agora nos olham horrorizados.
Certeza que nos acham loucos! Depois de ir ao banheiro e nos limparmos,
almoçamos tranquilamente como se nada tivesse acontecido.

Agora olhando os quatro brincarem no playground, Pablo me abraça e


ficamos olhando os nossos amores.

— Sabe Bianca, todos os dias tenho certeza que não poderia ter escolhido
uma mulher melhor para ser a mãe dos meus filhos e amar para o resto dos
meus dias. — Ele me olha nos olhos e toca o meu rosto com ternura.

— Eu te amo, Pablo Rodrigues. — Colo as nossas testas sorrindo.

— Eu te amo, senhora Rodrigues… — Seus lábios tocam os meus com


suavidade depositando um beijo que vale mais que mil palavras.
E agora eu sei que quando um sentimento é verdadeiro, não importa as
situações, sempre encontraremos uma forma de transformar as Incertezas da
vida em Amor…

FIM

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