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A MINHA NOVA DIARISTA 2 - CONTO

AUTORA
MARJORY LINCOLN

Todos os direitos reservados.


Obra devidamente registrada na Biblioteca Nacional.
PLÁGIO É CRIME.

2018
ÍNDICE
PRÓLOGO
CHEGA DE FAXINA!
INFERNO
CULPA
O BÊBADO
VOCÊ ME AMA?
MINHA RAINHA!
SURPRESAS
SAINDO DA ROTINA
TUDO O QUE EU AMO EM VOCÊ
PATERNIDADE
O PENSADOR GREGORY MITCHEL ESTÁ
EQUIVOCADO.
NO FIM ELE TAMBÉM QUIS TER UMA FAMÍLIA
NAVIH
SOBRE PAIS E FILHOS
UMA SEMANA DEPOIS - CUPIDO
EPÍLOGO
CAPÍTULO EXTRA - VITOR
“Das muitas vidas que não tive
De todas me recordo
Do gosto das viagens que não fiz
Línguas que não aprendi
Cenários em que não estive
Dias que não vivi...”
Éder Rafael de Araújo
Dedicatória

Sou guardada e protegida por um Deus que nunca dorme e que faz valer a lei
do retorno. E esse trabalho é inteiramente dedicado a Ele e somente á Ele
dessa vez. AQUI você faz, AQUI você paga, e paga logo. Obrigada Deus,
pela capacidade de continuar, por esse Dom a qual serei eternamente grata,
por manter por perto somente as melhores pessoas e por dizimar segundo sua
justiça, todas as ervas daninhas.
Assim é. O bem para quem veio em bem. ´X<3 Boa leitura.
CAPÍTULO 1

PRÓLOGO

— Eu sei que já tinha te avisado sobre minha chegada Vince, e sei que estou
demorando... mas como te disse, esses caras são uma burocracia só, para
tudo! Nos Estados Unidos, respirar é burocrático, sabe disso.
— Eu sei, estou impaciente, mas é porque quero que chegue logo. — eu
encaro sua face compreensível pelo Skype. — Assim que chegar, saio de
férias. Já marquei a data da cerimônia e não vejo a hora de deixar aquele
escritório. Mas então!? Ligou somente pra dizer que vai demorar mais???
— Não. Liguei pra te passar um arquivo de minha troca de e-mails com Greg.
Estou preocupada, Vince. Greg me encheu de perguntas. Vocês estão bem?
— Não muito. Discutimos há um tempo e ele ficou bem magoado, tanto que
só fala comigo o essencial!
— Eu acho que ele está estranhando o fato de você me pedir para assumir o
controle da empresa enquanto está fora, e não ele.
— É um idiota. É meu padrinho, não poderia ficar para trás. A cerimônia será
bem íntima, na Grécia, eu queria...
— Meu Deus! — Jaqueline me interrompe sorridente. — Como você está
romântico. Jamais pensei...
— Sim! — sorrio. — Eu quero uma cerimônia incrível, ainda nem contei
o destino pra ela, será uma surpresa. É um dos lugares que me disse sonhar
conhecer e como já fomos à França... Me sinto um bocó, mas... por ela vale a
pena. Lara definitivamente me devolveu a vida, nos amamos muito. Ela
merece o mundo.
— O que ela faz?
— É estudante de gastronomia. Será uma incrível chefe, cozinha
maravilhosamente bem.
— E você daqui a alguns anos estará uma bola!
— Certeza que sim! — ela ri. — Eu até te mandaria o convite, mas preciso
que você trabalhe por mim enquanto eu estiver fora. Faça o meu trabalho e eu
te trago uma lembrancinha do casamento grego!
— Quero a lembrancinha na conta, isso sim! — ela ri de novo. — Estamos
falando de dois meses... depois da lua-de-mel terá algum plano??? Algum
projeto???
— Não. Será dois meses de lua-de-mel! — eu falo e ela arregala os olhos. —
Desde que ficamos juntos não parei de trabalhar e eu quero AS férias para
curtir minha mulher e meus filhos, te contei que ela está grávida de algumas
semanas, certo!? — ela afirma sorrindo. — Pois então, já faz alguns anos que
eu não tiro ferias de verdade, desde que... — eu falo e seu sorriso desaparece.
Jaque também conheceu Nanda. — ...Nanda se foi, enfim... quero viver esse
nosso momento o máximo que eu puder, amá-la por dois meses, e se eu
pudesse tirava mais! Perdi muito tempo, Jaque, agora eu voltei a viver, estou
imensamente feliz, e quero muito me dedicar aos três pra ontem!!!
— Fico muito, muito, muito feliz em vê-lo tão bem, Vince. De verdade. É
muito bom te ver feliz de novo, e eu espero do fundo do meu coração que
você, Allana e a Lara, sejam muito felizes! — ela sorri. — Mas, então,
mudando um pouco de assunto... se Deus quiser eles me liberam pra viajar
logo, logo então em breve estarei aí para fazer uma oficina contigo e ficar à
par de todas as suas atividades. Sabe que a papelada administrativa, e o ativo
juntamente com o Inmetro eu já domino. Realmente só preciso de detalhes da
sua forma gestão, conhecer a empresa, enfim...
— Sim, e é por isso que eu pensei em você para assumir. Sei que vai tirar
de letra... — eu falo e Lara abre a porta do escritório com sua carinha
sorridente e curiosa. — ...e eu vou poder deixar a empresa e dormir
tranquilamente. Já te mandei o e-mail com toda a proposta. Analisou?
— Posso entrar? — ela sussurra e eu digo sim com a cabeça.
— É claro que sim. Até te respondi. — Jaque responde.
— Ótimo. Vou dar uma lida em suas ressalvas.
— Não fiz nenhuma, Vince. A proposta está incrível!!!
— Quem é? — Lara que havia se sentado no sofá do escritório de casa,
escuta um pedaço da conversa e se intromete "como quem não queria nada".
— Venha ver. — eu falo rindo de sua carinha enciumada. — Jaque, a Lara
está aqui e quer saber de quem é a voz! Mais tarde conversaremos melhor,
mas agora preciso apresentá-las...
— Fala sério, nem penteei meu cabelo. — Jaque ri mexendo nos cabelos. —
Sei que ela é linda!!!
— Oi! — Lara se senta no meu colo e encara uma Jaqueline tímida pela tela
do notebook. — Prazer!
— É um prazer, Lara! Me chamo Jaque! Estudei com o Vince na faculdade e
vou assumir a empresa em poucos dias... vou cuidar bem direitinho para
quando ele retomar.
— Bom te conhecer, Jaque! Venha até nossa casa antes de assumir, e eu farei
um jantar incrível pra você!!! Será muito bem-vinda! Se é amiga do Vince, é
minha amiga também! — a demônia fala com simpatia, mas sua perna não
parava de se balançar nervosamente, só eu via...
— Ele disse que você é estudante de gastronomia, uma cozinheira de mão
cheia, e eu amo comer, então não posso recusar, eu vou sim!!! Muito em
breve!!!
— Já vou começar a planejar desde agora. — a diaba ri empolgada e se mexe
um pouco. — Ficarei te esperando! — ela fala e eu aperto sua coxa já me
sentindo duro. — Se importa se eu roubá-lo por uns dez minutos???
— É claro que não!!! Vejo vocês em poucos dias! — Jaque dá um tchauzinho
sorridente.
— Tchau, Jaque. Nos falamos depois! — eu digo, Lara abaixa a tela do
notebook e me encara enciumada.
— Jaque???
— É uma excelente profissional e vai me...
— É uma vadia que quer dar pra você!!!
— Como qualquer outra mulher quando olha pra mim. — eu zombo e ela
tenta se levantar, mas não deixo. — E se eu estivesse em uma ligação mais
importante que me custasse dinheiro... eu te surraria por ter me
interrompido!
— Ouvi voz de mulher. Só estou cuidando do que é meu. Você faria o
mesmo!!! Faria pior na verdade, já ia entrar aqui desligando o cabo sem nem
fazer perguntas.
— Eu posso!!!
— E eu não??? — ela pergunta indignada e eu digo não só para provocá-la.
Imediatamente ela finge estar brava e de novo tenta levantar do meu colo,
mas trava quando alcanço seu pescoço e a abraço com carinho, bem apertado.
— Você pode tudo... você é minha vida! — eu falo bem baixinho e posso vê-
la sorrir. — Já disse que te amo muito, hoje? Se já, eu repito, te amo muito
mesmo... — eu sussurro e sei que ela amou o que ouviu.
— Contou pra Jaque que meu noivo me trás flores depois do trabalho? Me
beija deliciosamente antes de ir trabalhar, pergunta como foi meu dia ao
chegar em casa após me buscar na faculdade...!?
— Não mas eu disse o quanto você cozinha bem, cuida de mim, da nossa
casa... só me esqueci de dizer que fode gostoso, chupa gostoso, cuida de
meus ternos como ninguém, lava, passa, e é uma porra de uma diaba gostosa
e bem prendada!!!
— Aposto que morreu de inveja de mim. — ela sorri me encarando e quando
eu concordo com a cabeça, seu sorriso desaparece quase que
instantaneamente. — Você é feliz? Eu faço você feliz?
— Mais do que eu pensei que poderia. Mais do que nunca. Não está claro?
Pensei que estivesse por demais exposto para quem quisesse ver...
— Eu não sei se estamos falando do mesmo tipo de felicidade, Vicente.
Quero saber se é completo. Quero saber se você tem tudo o que precisa, tudo
o que anseia comigo, tudo o que um dia planejou... sei que sempre sonhou
com uma família, com uma mulher incrível, e você já teve tudo isso um dia...
eu quero saber se você sente que está onde deveria estar. Sou o suficiente? —
Lara questiona parecendo insegura.
— Você é tudo pra mim, é o suficiente, e me faz feliz. O que foi? Está
insegura nessa altura?
— Não. Não estou.
— Mas se não está enxergando isso nos meus olhos, temos um problema
grave aqui! Pensei que eu estivesse conseguindo ser completamente
transparente contigo. Pensei que estivesse conseguindo demonstrar o quão
feliz eu sou.
— E você está. Só queria ouvir você dizer. — ela sorri. — E não adianta nem
surtar, mulher tem dessas. Vou te perguntar isso de novo a qualquer
momento, não importa o dia, e só o que você tem que fazer é afirmar olhando
nos meus olhos até me ver sorrir. Sem reclamar.
Lara afirma fitando minha boca, dou risada, e ela parece se negar a retirar os
seus olhos dali.
— Se quer um beijo, é só pedir...
— Eu já disse que amo sua boca? — ela questiona me olhando curiosa e eu
sorrio.
— Já.
— Já? Certeza? Quando???
— Ontem, depois do jantar. — eu falo e ela ri ao se lembrar. — "Oh,
Vince... eu amo essa sua boca!"— faço uma voz fina e arfante e depois caio
na risada ao vê-la corar.
Saio do escritório para não trepar com ela lá dentro, e encontro Allana vendo
TV. Desde que soube da gravidez estava agindo de modo estranho. Calada,
enciumada... já havia deixado claro que não ia dividir seu quarto com bebê
nenhum. Chamou Lara de traíra. 'Achou que Lara queria ser sua mãe, mas se
enganou, o que Lara queria mesmo era um filho "de verdade" e depois disso,
vê-la pelas costas'. Obviamente, depois do episódio teatral, foi mimada, saiu
pra passear, ganhou presentes, mas só funcionou na hora. No dia seguinte
voltou a fazer charme pra chamar atenção. Claro que eu já esperava uma
atitude assim, mas de primeiro momento, Lara ficou completamente
desestabilizada pela rejeição da pequena e foi aí que eu tive que lidar com
dois "problemas", o charme de uma, e a tristeza de outra. "Se aquele bebê for
menina, estarei triplamente fodido". Terei que dar conta de três.
— Está empolgada com o passeio? A Tia já, já estará aqui...— questiono e
ela dá de ombros.— Já arrumou sua roupa?
Era duas horas da tarde. Tia me pediu para levá-la para um passeio junto com
Júnior e seu marido, e eu já tinha planos com minha prenha.
— A Lara separou!
— Então vai pro banho porque já, já ela estará aqui. Combinamos às duas, e
já são duas.— eu falo, ela fica um tempo encarando as meninas super-
poderosas, e depois sobe após obrigá-la a dar um beijo na Lara e em mim.
Me jogo no sofá me sentindo cansado, e a tentação se joga do meu lado,
ficando de conchinha. Vestia um shorts jeans bem curto, e uma blusinha que
deixava sua barriga à mostra.
— Tão cheirosa...— resmungo afundando meu nariz em seus cabelos.—
Gostosa... tão minha...
— Se controla...— ela resmunga se esfregando, a filha da puta.
— Está bem, então é só tirar essa bunda daqui.
— Ah, não.— ela ri.— Faz uma massagem em mim, acho que estou tensa,
amor!— ela diz tocando no ombro para indicar o local, abre as pernas, e toca
em minha nuca com a mão direita. O corpo dela falava comigo. Sempre
falou.
— Quer massagem!? É claro que faço!— eu afirmo e ela soa feliz.
Desço minha mão por tua barriga bem devagar, abro seu shorts, invado sua
calcinha, e faço um sobe-e-desce massageando seu "ponto tenso". Enfio a
mão toda, a lentidão a faz pirar. Ela arfa, geme, e acarinha minha nuca.
Estimulo seu ponto nervoso com dois dedos, enfio em sua entrada, saio,
desenho círculos, entro de novo, brinco como uma criança curiosa, e repito.
— Isso é tão gostoso. Estou quase relaxando, realmente funciona...— ela diz
gemendo.
— Vadia! Você é uma safada, não perde a oportunidade nunca. Deitou e se
esfregou em mim porque queria isso desde o início que eu sei.
— Sim e você ama! Não pode falar nada!
— Sua...— já pretendia me livrar de mais ofensas porque sim, mas
infelizmente o meu celular toca em meu bolso. — Espera!
— Não mesmo! — Lara exclama, pega o celular do meu bolso, tira o shorts e
a calcinha enquanto olha pro aparelho, parece analisar o número, e como
quem fazia facilmente duas coisas corriqueiras ao mesmo tempo, ela atende
enquanto senta em minha boca.
— Alô? Oi!!!— ela parece feliz. — É a Lara, dona Norma! É claro!!!— ela
falava e rebolava enquanto eu a sugava.— Ele está no banho, quer esperar, ou
quer que eu dê algum recado? Ele acabou de entrar... Sim! Ah! Que ótimo,
isso é maravilhoso...— ela fecha os olhos quando eu sugo seu grelinho com
força, pra judiar. Chupo forte, me lambuzo, e ela faz aquele bico formando
um 'o' como quando está prestes à gozar gemendo. — Sem problemas, ele
retorna... não vejo a hora de-de conhecer vocês! — ela gagueja e eu puxo sua
cintura pra baixo. — Tá certo, um beijo! Até logo! — ela termina, desliga,
grita, se apoia no braço do sofá acima da minha cabeça e com isso, se esfrega
como uma depravada. Tento manter sua boceta apenas em minha boca, mas
quase não consigo. Dou-lhe um tapa forte na bunda, ela se aquieta, e como se
fosse um gatilho, dá um gritinho enquanto sinto sua intimidade tremer na
minha língua. Sugo tudo...
— O que minha mãe queria? — questiono quando ela se joga na direção
dos meus pés e se toca como se não tivesse sentido tudo o que tinha pra
sentir. Seus dedos se moviam bem rapidinho, e enquanto eu esperava uma
resposta, seus olhos giraram nas órbitas.
— Vem cá.— ela estende o braço, eu me aproximo, ela segura em meu
cabelo, volta a colocar a minha cara' no meio de suas pernas, e de novo, me
usa para o seu prazer. — Isso. Minha nossa!!!
Ela geme, chora, e depois afasta minha cabeça respirando com dificuldade.
— Ela ligou pra avisar que está vindo pra São Paulo! Ela, seu pai, e seu
irmão!— ela diz com dificuldade e eu dou risada enquanto toco a própria
boca sentindo o seu gosto.
Aquela garota ia me enlouquecer.
— Queria saber tudo sobre a cerimônia! — ela diz se vestindo e eu só a
encaro, rindo sozinho.— Quero que me conte onde será a cerimônia. Não
quero segredos, sei que vou amar de qualquer jeito. O que foi, homem? O que
há de tão engraçado aqui??? — ela sorri ajeitando os cabelos.
— Você é... — dou risada.— ...muito doida!
— Gostou, não é!?— ela ri se sentando no meu colo e passando a língua em
meus lábios.
— Você vai acabar com minha vida!!!
— Você já me disse tanto isso, que eu pensei que já tinha acabado. — ela diz
e me dá um beijinho antes de levantar. — Meu pai ligou. Pediu para
agradecer o jantar que fizemos, ele amou. Disse que nunca pensou que seria
tão bem recepcionado, e agradeceu pela forma respeitosa com o que você
dirigiu todo o jantar, com a presença dele... o fato de pedir novamente a
minha mão agora pessoalmente, a responsabilidade com a notícia do bebê, a
cerimônia que sempre desejou pra mim, o tratar com respeito apesar das
circunstâncias, sabe!? Dele ser "ex-presidiário", a vaga na empresa... enfim!
Está encantado contigo e muito feliz!
— Não fiz nada demais, foi minha obrigação. E ele colocou no mundo essa
coisinha mais linda e sacana. — ela ri enquanto aperto sua bochecha. — Só
tenho a agradecê-lo. É mais do que minha obrigação agradá-lo como puder e
principalmente respeitá-lo. É um bom homem!
— Mesmo assim, eu o agradeço. Obrigada por tudo o que fez por mim e por
minha família. Obrigada por tudo.
— Ah! Mas pra você, nada foi de graça, pensa que foi!? Vai ter que pagar
com muito amor, sexo, comida gostosa, e paciência!!! E se esse bebê aqui!?
— questiono e ela sorri toda iluminada. Sempre ficava encantada quando
falávamos nele. — O que será que vai ser? Tem preferência?
— Não. E você?
— Também não! Sendo saudável... pra mim não importa. Já me sinto o
homem mais feliz do mundo. — eu dou de ombros, ela sorri carinhosa, e a
porta da frente se abre de supetão fazendo-a se levantar imediatamente do
meu colo.
— Se estiverem nus, façam-me o favor... — Tia já diz.
— Boa tarde! — Júnior se aproxima, abraça Lara sorrindo para mim porque
amava me ver espumar de "ciúmes", e depois me estende a mão.— Como
vai?
— Eu estava em um ótimo momento, mas aí você chegou!
— É sempre um prazer!— ele diz rindo e Lara me encara a espera da
resposta. Se divertia assistindo nossas trocas de farpas.— Meu pai está
esperando no carro, cadê a pestinha?
— Eu vou até lá, deve estar se trocando! Vou ajudá-la. — Lara sai, Tia a
segue, e ele se senta ao meu lado me encarando.
— Como você está?
— Eu não te procurei mais... estou ótimo.
— Poderíamos nos ver sem que você estivesse em uma tremenda crise
existencial adolescente.— ele ri, mas logo para. — Brincadeira. Poderíamos
sair, dia desses, sei lá... beber, conversar...
— É impressão minha ou está me dando mole?— zombo e ele não sorri com
a brincadeira. Me encara nos olhos profundamente para zombar no melhor
estilo e se aproxima ainda mais de mim, para ganhar o desafio de quem
conseguia ser mais patético. Aquele desafio do início.
— Não. — ele diz baixinho. — Prefiro tua noiva, como sempre. Me dar bem
contigo a faz feliz, e se tem uma coisa que me dá mais prazer nessa vida, é
fazer Lara feliz. — ele sussurra e sorri ainda me fitando profundamente.
— Repete. — eu peço no mesmo tom em que falava comigo e ele volta a se
sentar onde estava antes. — Eu aceito seu convite... — eu digo me ajeitando
no sofá. — é claro. Fazer Lara feliz também me dá um prazer inenarrável.
Aceita um drinque?
— Aceito. — ele diz rindo e eu me levanto. Vou até a cristaleira, coloco um
Martini no copo, me viro para fitá-lo e o vejo me encarando sorridente. Finjo
virar um vidrinho de aspirina que estava vazio, sirvo um segundo copo, e
depois o estendo me sentando ao seu lado.
— É Martini puro, não sei se gosta desse tipo de bebida.
— Bebo de tudo. — ele diz sorrindo, e vira o copo. — Certo. Agora me diga
o que colocou aqui.
— Primeiro bebe e depois pergunta?— eu questiono sério e ele sorri.
— O que estão aprontando? Falando tão baixinho??? — Lara desce com uma
Allana arrumada e uma Tia apressada.
— Nada, vida! Estamos bebendo e papeando! — eu passo a sorrir e ele
gargalha.
— Vamos??? — Tia diz olhando em volta. — Trago a pequena mais tarde,
estarão aqui???
— Vamos ao cinema agora, namorar bastante, e logo voltamos. Nos ligue
antes de aparecer e... — eu encaro o futuro psicólogo com bom humor. —
Jamais entrem em nosso quarto sem bater.
— Que emocionante será essa noite! — ele diz e passa a encarar Lara que
sorria para nós dois. — Eu posso imaginar...
— Pois é. — sorrio para ele. — Tia, é seu marido quem vai dirigir na ida e na
volta, certo?
— Sim, meu filho, por quê?
— Nada. Júnior parece cansado. — eu encaro o copo em sua mão. — Não
parece bem para dirigir. — eu falo, ela encara o filho preocupada, e quando o
vê sorrir pra mim, entende.
— Vocês são dois bananas! — ela resmunga irritada. — Vamos, filha!
Cumprimente seu pai e a Lara. Vamos logo!!!
— Vai com Deus! Papai ama você!— eu abraço e beijo a pequena e depois
ela agarra a Lara.
— Vai com Deus. Quer que eu faça um doce bem gostoso pra gente comer
vendo TV quando você chegar? Até pegar no sono???
— Pode ser qualquer um? — Allana questiona quase animada.
— Pode.
— Certo, quero bolo de chocolate com sorvete, e brigadeiro. Como se fosse
meu aniversário. Com meu nome e tudo! E já que vão sair...— ela balança o
vestido levemente. — ...poderia embrulhar alguma coisa bem legal da loja da
Pucket! Tem lá no shopping.
— Qualquer coisa que faça minha pessoa favorita no mundo, feliz. — Lara
diz com os olhos brilhando.
— Ainda sou a favorita? Como está o placar?
— Allana em primeiro, bebê, mamãe, papai e Vince em segundo, Tia, Júnior
e cozinhar em terceiro... — Lara sorri. — e assim por diante! Você será
sempre a primeira pessoa mais importante no universo, pra mim. Pra sempre!
E nada vai mudar isso! Eu te amo!!!
— Também te amo, Lara!— as duas se abraçam e Tia sai correndo segurando
na mão da pequena ciumenta.
— Você está bem?— pergunto pois Lara, ao ver Allana sair, se virou e
abaixou a cabeça como se desmoronasse.
— Estou. Estou sim! Onde a Tia vai levá-la mesmo?
— Em uma churrascaria no Center Norte. Ela disse que tem um lugar bem
legal lá, um salão cheio de jogos, Júnior ficou de entretê-la a tarde toda. — eu
falo e ela balança a cabeça. — Lara, Allana é pequena, sua atitude é um tanto
quanto natural. Tudo mudou na nossa vida de repente, está um pouco confusa
e com medo de perder a nossa atenção, mas ela vai se acostumar com a ideia,
vai amar o bebê, será irmão ou irmã dela, ela vai se acostumar! Eu te prometo
isso! Eu prometo!
— Eu nunca quis que pensasse que cheguei para tomar lugar da mãe assim
como não quero que pense que com esse bebê, eu desejo tirar seu lugar na
vida do pai. Eu a amo, e o que ela pensa de mim, muito me importa! Quero
que a gente seja feliz aqui, unidos, e não aceito menos do que isso. Você me
entende?
— Eu entendo! Entendo e se não fosse esse amor todo que você sente por ela,
eu nem sei se estaríamos juntos. Notei isso, e ela também vai entender o
quanto é amada por você. Ela vai entender que está em um lugar dentro dos
nossos corações que nunca ninguém vai conseguir tirá-la. Essa atitude dela é
comum, acontece nas melhores famílias. Só precisamos saber lidar, dar amor
a ela, atenção, e carinho. E já estamos fazendo isso, agora é só ter paciência!
— Certo. — ela me abraça e sorri. — Vou tomar um banho e me trocar. Você
vem?
— Eu já vou. Só vou retornar a ligação da minha mãe. Vamos lá, ligo do
quarto e entro no banho contigo para te ajudar. — eu brinco e ela se solta de
mim resmungando sobre o quanto eu sou safado.
Tudo aconteceu bem depressa, assim como a reunião que convoquei para
contar a novidade para todos, assim que seu pai foi liberto provisoriamente,
graças ao meu advogado, e com isso, com o apoio de seus pais, Lara estava
claramente feliz, assim como eu. Apenas a reação da Allana que não foi a
melhor possível, mas eu podia apostar que sobreviveríamos á sua rebeldia
juntos.
Disco para o telefone fixo internacional e espero. Enquanto Lara separava
uma muda de roupa, me jogo na cama e fito o teto alto. Orava para que meu
pai atendesse, minha mãe era extremamente exagerada com tudo e qualquer
coisa.
— Hello...— Vitor atende o telefone e eu bufo em pensamento. Cadê meu
pai???
— Oi. Sou eu.
— Como vai, Vicente?
— Bem e você?
— Animado para te ver!
— Não me diga!? Também não vejo a hora de vê-lo! Deve enfim estar bem
crescidinho.
— Aposto um rim que na mesma altura que você, graças ao útero de minha
mãe.
— É. Veremos. Cadê meu pai? Está em casa?
— Ele está. Mas eu acho que foi a mamãe quem te ligou. Não quer falar com
ela?
— Qualquer um dos dois... é que tenho alguns assuntos com ele, e já posso
resolver na mesma ligação. — eu minto e ele sabe.
— Sei. Só um minuto!— ele diz, parece largar o telefone e depois eu o ouço
gritar pela minha mãe. Babaca.
— Oi, meu amor!!! Eu te liguei faz pouco tempo!!!
— Eu sei, mãe. Estava no banho. Como você está?
— Eu estou bem, estamos felizes por voltar! Não vemos a hora!!! Estamos
tão felizes por você, Vince...
— Eu imagino, também estou muito feliz! Quando é que vocês chegam? Vou
buscar vocês no aeroporto, como já disse, me mudei...
— Olha, seu pai está resolvendo um problema que surgiu no passaporte
aqui... assim que ele conseguir resolver, nós compraremos a passagem, então
a qualquer momento eu te ligo pra avisar!
— Tudo bem então!
— Certo! Agora escuta! O Vitor te contou sobre a proposta que fez para o
Greg? Não quero brigas por causa dessa empresa, hein Vince!? Vocês já
cresceram, não me faça colocá-los de castigo depois de barbados, e por sinal,
extremamente barbados, não é mesmo!?
— Que proposta, mãe?
— Ele não disse???
— Não, só estou sabendo agora!
— Então vou passar o telefone pra ele.
— Se a senhora não vai dizer, esqueça. Falo com Greg depois. Agora preciso
sair, vou levar Lara para ver um filme e estou atrasado!
— Quero falar com ela sobre os preparativos, viu!? Quero ajudar... tenho
muitas ideias. Seu pai e eu quando fomos para a ilha de Creta conhecemos
lugares incríveis, e...
— Mãe, eu já resolvi tudo. Além do mais, é surpresa, Lara nem sabe como,
quando, ou onde será. Vai falar o quê com ela?
— Credo, Vince! É seu casamento, quero fazer parte disso...
— Já vai fazer parte, 'recebeu o convite'.
— Tudo bem... — ela soa triste e desanimada.
— Posso deixá-la montar uma recepção aqui antes da viagem, se Lara
concordar, o que acha? Assim a senhora "participa".
— Não é a mesma coisa, sabe disso! Você me odeia, não é!? Eu não sei bem
o porquê, mas odeia. Sei como se sente, sei que me culpa...
— Ah! Tenha misericórdia, mãe! Preciso desligar, nos vemos em breve.
— Te amo, filho. Sabe disso, não é!?
— Eu sei, e te amo também. Até mais, mãe. Mande um beijo pro meu pai!
Desligo a ligação me sentindo cansado e reflito.
— É sério que não foi me dar banho pra dormir? — ouço sua voz e abro os
meus olhos.
— Eu não estava dormindo, estava pensando. — eu falo e ela ri descrente. —
Lara, lembra que eu te contei sobre o que eu disse pro Greg e sobre como ele
ficou comigo???
— Aham, lembro. Disse que passou a te tratar de modo frio, e tudo o mais!
— Sim. — eu falo enquanto ela passava hidrante em seu corpo. Me sento na
cama e ela me oferece o vidro para ajudá-la, como gostava. — Ele andou
sondando a Jaque, queria saber o porquê a contratei, ou queria mais detalhes
sobre o porquê e agora minha mãe me disse que não queria ver "meu irmão e
eu brigando por causa da empresa", disse que Vitor andou falando com o
Greg!
— Bom, pelo jeito a Nanda é o ponto fraco dele. Mais do que a gente
imaginava. — ela fala e me encara. — Permaneça com os dois olhos abertos.
Seu amigo supre amor e ódio por você, talvez mais ódio do que amor. Vai ver
te culpa por um mundo de coisas, afinal, graças a "você" ele não pôde ficar
com a Nanda e então ela se foi... sondou sua funcionária, e agora seu irmão.
Se ele não está querendo te deixar, quer te foder, sei que posso estar falando
bobagem mas, é melhor desconfiar do que ignorar. Meu conselho é: fale com
o Greg pessoalmente, de preferência antes desse casamento acontecer. Não
quero traíras ao nosso lado, muito menos como padrinho de casamento. —
ela fala e eu sorrio.
— Que garota perspicaz...
— Sempre fui .— ela se levanta, veste um vestido curto azul-marinho bem
soltinho e rodado, e se vira para eu ajudar a fechá-lo.
— Está preocupado com ele? Com o que ele pode fazer?
— Não.
— E por que não?
— Porque eu acho que é ele que está preocupado com o que eu possa fazer.
Estamos distantes então deve estar com um monte de caraminholas na
cabeça.
— Como é tua relação com teu irmão?
— Não sei bem dizer. Acho que é formal demais. Não brigamos, não temos
rixas, mas não somos amáveis nem melhores amigos. Por quê?
— O que o Greg poderia querer com ele?— ela questiona e depois e se
assusta com o meu silêncio. Aquela questão me fez pensar naquilo. — O que
foi??? No que está pensando?
— Houve uma época em que meu irmão quis comprar parte da minha
empresa. Minha mãe disse a respeito de não brigar por causa dela, então...
essa tal proposta deve ter relação com isso. Mas nunca me preocupei porque
meu irmão nunca deixou de tentar comprar, mas nunca conseguiu, com
nenhum dos meus amigos, deve ter falado com Greg a pouco tempo e... ele
deve ter aceitado porque no momento deve estar chateado. Mas não se
preocupe, falo com o Greg amanhã.
— E por que seu irmão quer tanto isso?
— Ele é especializado em investimentos. Vive com o dinheiro do lucro dos
outros. É como investir na bolsa, ele aposta em empresas que dão ou
aparentemente darão certo, coloca dinheiro nelas, e passa a vida colhendo os
frutos eternamente. No meu caso sempre achei que rolou um toque de
rivalidade, competição. Vitor é extremamente competitivo, e quando éramos
pequenos, sempre tentava ter tudo e melhor do que eu. O sonho dele sempre
foi ter seu espaço na minha empresa, desde que eu a abri com a Nanda. Já até
chegou a fazer uma proposta pra ela também. Estávamos no início de tudo.
Ele investiria, "deixaria a empresa pronta para o mercado", e então, seria
sócio. Nanda disse não porque já o conhecia, sabia que não queria realmente
nos ajudar e sim, fazer parte de tudo por causa do ego grande que sempre
teve, e então Greg também disse não, Flávia também, e todos os outros
amigos...
— Mas você não está mais no início, nem em dificuldade, por que ele haveria
de querer fazer parte ainda hoje?
— Ele investe não importa como a empresa está. Se acha que vale a pena, ele
coloca o dinheiro nela, e colhe os frutos. Numa empresa como a minha com
certeza investiria em mais tecnologias, obras para aumentá-la, criar outras
sedes, estruturas, marketing, e então, ao aumentar o negócio mais dinheiro
entraria, e com isso, seu investimento retornaria para seu bolso por tempo
indefinido... faz fortuna assim. Sem contar que eu disse que no que
dependesse de mim ele jamais colocaria suas mãos em meus negócios, e
conseguir o feito seria um ganho inimaginável pra ele.
— Vince, isso está parecendo inveja...
— Sempre teve. Sempre fui mais inteligente, notas melhores, mulheres
melhores, conquistava todos ao meu redor enquanto ele afastava a todos com
sua arrogância, tive meu negócio primeiro que ele, orgulhei meu pai primeiro
que ele, dei uma neta para os dois que foi tudo o que meus pais sempre
quiseram, e ele não... sempre achei que Vitor queria minha vida, minhas
coisas, e devo ter razão.
— E vocês nunca brigaram mesmo???
— Não porque sempre fui muito passivo. Sempre o provoquei com meu
silêncio, sempre fui superior, nunca bati de frente. Mas eu não o odeio.
Nascemos de uma gravidez bivitelinos. Uma mesma gestação, duas bolsas,
duas placentas, e dois cordões umbilicais. Éramos demais unidos mesmo sem
querer e por isso nos conhecíamos bem demais. Nunca consegui odiá-lo ou
prejudicá-lo e ele nunca tentou me fazer mal, só amava se sentir talvez, mais
"especial" do que eu em todos os sentidos. Gosto dele, jamais me prejudicou,
então têm meu respeito e admiração porque apesar de tudo, é genial no que
faz. Sempre o admirei por ser inteligente, se tivesse menos ego e mais amor,
eu adoraria ter sido seu amigo um dia, e o teria aceitado como sócio.
— Espere aí. Ele é teu gêmeo?
— Não. Somos muito diferentes aparentemente. Gêmeos idênticos são os
opostos, dividem a mesma placenta e tudo o mais. Somos completamente
diferentes, e temos até alguns minutos de diferença na hora do parto. Isso é
outra coisa, e principalmente... — deposito beijinhos em sua nuca...— uma
conversa para um outro momento. Preciso ir pro banho. Eu já volto.
— Por que nunca me contou sobre ele?
— Sempre soube que eu tinha um pai, uma mãe e um irmão. O que mais
deveria saber?
— Ué, os detalhes, como esses...
— Tu não precisa de detalhes como esses, tenho uma família como milhões
de pessoas por aí, como você... e eu sabia que mais cedo ou mais tarde você
os conheceria, nem preciso ficar falando muito, e nem ouse olhar pra ele
quando ele chegar. Pode até cumprimentá-lo de cabeça baixa se quiser. Quero
você longe dele.
— Por que? É teu irmão...
— Por isso mesmo. É meu irmão. Quanto mais longe você ficar, melhor! Se
olhar pra ele, vai levar uns tapas, e se aproximar demais te deixará divorciada
antes de casar.
— Nossa, que possessivo... cadê os resultados da tal da terapia?
— Estou novo em folha, graças á terapia, mas ela não fará milagre algum!
Vitor não é do tipo que faz amizade com mulher e nem ao menos é gentil. Se
quiser qualquer aproximação contigo, vai ser pra te comer e te levantar como
troféu na altura da minha cara, portanto, fique longe dele.
— Se ele não for estuprador, só vai me tocar se eu deixar, se eu quiser... sabe
que eu tenho opinião própria e respeito por você, não é!?
— Sei. E também acho que tem bom senso, por isso vai acatar o que ordenei.
Eu falo, e sigo para o banho ouvindo-a resmungar, "bom senso", "ordenei",
como uma criancinha de dez anos que reclama com os pais. Vitor sempre
queria tudo o que eu tinha, dava em cima de Nanda sempre que vinha para o
Brasil. Se chegasse perto demais de Lara, pela primeira vez, eu ia socar
aquela cara de filho da puta dele, até os meus dias acabarem, e depois dava
uma surra na vadia. Sorrio. Eu ia era chorar de raiva e arrancar alguns tufos
de cabelos de sua nuca enquanto estocava naquele traseiro logo após enterrá-
lo em uma vala qualquer. Sorrio mais com o pensamento. Lara era minha e
seria pra sempre, se não fosse minha, não seria de mais ninguém.
(...)
Abro a porta do carro, no estacionamento do shopping e ela desce sorridente.
Penso na frequência com que a fazia chorar logo após todos os nossos
pequenos diálogos e me sinto feliz. Faz muito tempo que eu não a fazia
chorar, Lara estava sempre radiante, desde que nos mudamos. Estava ainda
mais sorridente, alegre, mais do que era antes. Meus esforços para fazê-la
feliz estavam dando certo. As flores, nossos momentos juntos, nossos
passeios, as fodas... pelo jeito estava dando certo, eu poderia dizer que estava
cumprindo o que prometi a ela e a seus pais. Lara era e estava feliz.
— Vamos ver o presente da Allana antes de ver o filme! Assim podemos ver
o filme e jantar tranquilamente sem correr o risco da loja fechar.
Ela fala, eu concordo, fecho o carro, e caminhamos grudados e de mãos
dadas até a loja. Alguns minutos depois a arrastei dali antes que pudesse zerar
o estoque só para mimar a enteada, e em pouco tempo entramos na fila do
aparelho do cinema. Aquelas máquinas tecnológicas. Lara escolheu um
romance de estréia, mas eu entrei em todas as salas de todos os horários para
ver os bancos. Todas as salas estavam lotadas com poucas vagas, e eu não
queria ver filme algum.
Abri uma sessão de pancadaria, e estava vazia, eu a encarei e ela sorriu. Só
para garantir voltei a abrir uma sessão de comédia romântica, mas que há
muito tempo estava em cartaz, então consegui uma sala vazia, com um filme
legal. Isso!
— Sabe que o certo seria você dar prioridade para a minha escolha, não é!?—
ela diz sorrindo enquanto eu coloco o cartão na maquininha.
— Esse filme é melhor.
— Não conheço nenhum ator. Ouvi falar que de engraçado não tem nada...
— Eu posso fazer você rir se quiser...— eu a encaro e ela nega sorrindo. —
Eu não quero ver filme, nem o romântico da estréia parece ser bom.
— Então por que não vamos para outro lugar...!? Quem sabe um motel bem
legal. — ela diz baixinho ao me agarrar, assim que termino de pagar. — Já
estou com saudade dessa sua boca habilidosa, poderíamos pegar um quarto
incrível em algum lugar bem chique. Pode me fazer feliz matando essa
saudade que eu tô.
— Ai como você é ingênua. Tanta atitude na cama, tanta maldade nessa
cabecinha, mas para algumas coisas você é tão bobinha! — dou risada, ela se
solta de mim, para em minha frente me obrigando a frear, e me olha nos
olhos.
— Você fica bonitinho me subestimando. — ela fala e eu olho ao redor para
ver se alguém nos encarava ou nos ouvia. Toda vez que ela me afrontava
ganhava um tapa ou uma pegada grosseira só para eu descontar minha raiva.
— Eu tenho sim uma cabecinha maldosa, e por ter uma cabecinha maldosa, e
te conhecer tão bem, sei porquê me trouxe aqui. Agora você tem que
concordar que entre uma poltrona e uma King Size, mil vezes uma King
Size.
— Já temos uma, e mesmo se quiser muito, assim que o filme acabar,
poderemos encontrar algo legal, se faz questão, mas não me importa o depois,
o lugar, a cama, ou a sessão. Eu vou foder você lá dentro enquanto todo
mundo assiste esse filme chato, e vou chupar essa boceta enquanto você tapa
a boca com a mão para ninguém nos ouvir. Este é plano, e assim vai ser!
Você entendeu?
— Entendi.
— Então não volte a levantar essa cabecinha para falar comigo com tanta
audácia, e tire a mão da cintura. Combinamos as regras, você não me fode e
com isso permanecerá casada. Não vai me afrontar e então eu serei um
marido incrível, como já venho sendo. — eu falo segurando a voz e ela
encara o botão da minha blusa perdendo totalmente a pose.
— Eu te amo! — ela sussurra e volta a me encarar, só que agora miando.
— Melhor assim. — dou risada e ela faz um bico. — Eu te amo também.
Muito mesmo!
Ofereço meus braços para que ela possa morar por alguns segundos, e sorrio
com sua carinha de cadela que caiu da mudança.
— Quer alguma coisa pra comer? Uma pipoca??? Suco???
— Não. Tô sem fome!— ela fala toda mansinha.
Caminhamos até a fila porque suspeitava eu que já poderíamos entrar, e me
encaminho até o alto da sala, nos lugares que escolhi. Seríamos os últimos e
ninguém tinha escolhido tão alto. Lugar perfeito.
A sala fria nos recebia com a escuridão familiar e uma musiquinha ambiente
como sempre. Me sentei na poltrona que me faria ficar em seu lado esquerdo
e com isso a fiz passar por mim. Caminhou próxima aos meus joelhos se
equilibrando nos saltos altos, e obviamente a fiz parar.
Me encarava cheia de expectativa e eu amei aquilo. Para quem via de lá de
baixo, ela só estava de pé, fitando alguém de costas para a tela enorme, mas
ali, a situação era outra. Subi minha mão de encontro com sua intimidade,
acarinharei sua boceta por cima da pequena peça e em seus lábios aquele bico
que indicava que respirava pela boca se fez presente. Sorri ao vê-la tão
entregue, e ao notar o quão molhada ficou com meus carinhos, puxo
lentamente a peça minúscula para baixo, a faço levar um pé depois o outro
para tirá-la, e levo ao meu nariz com extrema lentidão.
— Senta.— eu peço e ela obedece no ato.
Permaneço quieto fitando a tela negra e brincando com a calcinha apenas
com uma mão. Sinto o calor de seu olhar em mim e sorrio. Era uma boba
louca por mim. Me achava bonito demais, amava minha barba,
principalmente quando ela arranhava sua virilha, e às vezes parecia se
perguntar se realmente tinha conseguido me ter para si. Vire-e-mexe até
deixava escapar em voz alta. Era insegura... se tivesse noção de como eu me
sentia, do quão sortudo eu era, e do quão feliz eu era por tê-la em minha
vida... aposto que ficaria pasma.
— O que está olhando?— eu pergunto de repente e ela balança a cabeça,
primeiro assustada, depois toda sorridente.
Me aproximo para beijar sua boca, coloco a calcinha no bolso da blusa, e
aperto sua coxa assim que meus lábios encostam nos seus. Estava de pernas
cruzadas e eu sabia que só tentava agir naturalmente evitando liberar um rio
de dentro de si. Sua mão aperta minha perna, passo meu braço por sua nuca
para abraçá-la e com isso minha mão alcança seu seio rapidamente. Aperto,
massageio, e sua mão toca meu pau duro, por cima da calça.
— Não dá pra cavalgar aqui sem que vejam... quero pular!!! — ela faz manha
e eu dou risada.
— É só começar esse filme e eu viro você de cabeça para baixo! — eu digo
em pausas, pois ainda a beijava, mas ela geme.
— Que horas vai começar? — ela reclama e eu dou risada.
— Vai, safada, abra essas pernas!
Eu mando, mas já tocava sua intimidade com as pernas cruzadas mesmo.
Faço ela gozar na minha mão, o trailer começa, e eu dou mais risada com sua
carinha assustada ao ver que um casal, de última hora, teve a mesma ideia
que eu e se sentou no corredor da frente. Ela me encara, suspira, fita minha
boca, e eu me sinto no céu. Estávamos tão apaixonados. Nunca pensei que
voltaria a me apaixonar, e eu sabia o porquê pensava naquilo bem ali, naquele
momento, Lara fazia meu coração se encher, palpitar, e desde que tirei sua
calcinha olhando em seus olhos, soava frio. Aquele nervoso gostoso de início
de namoro, com ela, era todos os dias.
— Sou maluco por você! Sabe disso, não é!? — eu falo, ela afirma com a
cabeça, a luz do cinema diminui de intensidade, e o trailer segue seu rumo
lentamente para o início do filme.
Sinto sua mão em minha coxa, depois no meu zíper, ela toca fazendo charme,
parece querer ter certeza do tamanho, pois pressiona toda a extensão, suspira
bem baixinho, e depois se ajoelha. Toco em sua nuca, ajudo no vai-e-vem, e
ela chupa gostoso me levando ao delírio. Ali tudo parecia em uma outra
frequência. Estávamos em uma, mas o mundo ao redor em outra. Eu só sentia
sua língua na cabecinha, seu apertão em minha coxa, seus olhares
apaixonados assim como os meus, seus sorrisos de canto de boca, sua
loucura... naquele nosso pequeno universo onde nos tornávamos um só, só
existia nós e mais nada, nem um único problema.
Ela percorre com a língua do meu saco até a cabeça, passa a bater enquanto
chupa como um bebê faminto, e eu não suporto aquilo. Agarro seus braços,
faço-a levantar, viro seu corpo para frente e a puxo para mim, estava insano.
— Isso, princesa! Agora pula pra mim!!!— eu peço bem baixinho, seguro
em sua cintura, e comando seu ritmo do jeito que eu queria. Primeiro
lentamente, logo em seguida bem rapidinho, e depois deixo a diaba rebolar.
O filme começa, sinto o molhadinho, dirijo minha atenção ao barulho gostoso
que nossas intimidades faziam, e suspiro agarrando os cabelos de sua nuca
para virar sua boca até o ponto onde eu pudesse chupar sua língua ao mesmo
tempo. Amava fazer carinho nela como amava judiá-la.
— Lara, eu vou...— tento falar enquanto voltava a cavalgar, mas como
imediatamente passa a se esfregar como se sua cintura tivesse uma mola,
gozo antes de terminar a frase, dentro dela. — Maluca! — tento respirar
quando ela joga suas costas contra meu peito.— Eu te amo! Te amo...
Sussurro, ela sorri me encarando, tira do meu bolso sua calcinha, — com
certeza para meu líquido não escorrer pelas suas coxas e pernas. — se veste,
e se senta ao meu lado, arfando e sorrindo.
— Obrigada! — ela diz após se inclinar e me dar um beijinho enquanto eu
ainda tentava voltar para a terra. — Obrigada por me fazer tão feliz, e eu fui
muito feliz agora! — ela diz e sorri.
Encaro o filme no início, não consigo me concentrar, e logo a faço sair
daquele lugar, afinal, não foi para assistir que eu fui até lá, e se fosse para ter
segundo round, que fosse em nossa cama porque a adrenalina passara e eu
queria a nossa segurança. Eu queria muito mais!
— Ei... — eu resmungo em seu pescoço enquanto caminhávamos na frente
das lojas. Fazendo as contas ficamos trinta minutos lá dentro. — Olha!
Eu a puxo pela mão até uma loja de enxoval e seus olhos brilham.
O cheirinho de talco e de bebê da loja me faz a pessoa mais feliz do universo,
o homem mais realizado.
— Que coisa mais linda!!! — ela exclama segurando um macacão branco nas
mãos, de tecido fofo e com ursinhos em alto relevo.
— Já comprou algo na rua?
— Não. Ainda não... — ela sorri encantada e diz para a vendedora sorridente
que "só estava olhando" assim que fomos abordados.
— Então será nossa primeira compra, e juntos. Teremos aqui nossos
primeiros presentes. Vamos dar uma olhada...
— Quero esse! — ela já diz logo e eu sorrio me dirigindo às araras decoradas
de bichinhos da loja cara.
Rapidamente encontro um par de sapatinhos de lã que combinariam —
achava eu.— com a escolha da mamãe de primeira viagem, e me sinto
satisfeito, mas apenas eu porque Lara saiu da loja cheia de sacolas. Me fez
opinar sobre todas as peças lindas e não pude controlar o impulso de entrar,
assim que saímos da loja de roupas, em uma loja de decoração no estilo
cama/mesa e banho. Muita coisa pro quartinho, cortina que combinava com
lençol, travesseiro com penas não sei da onde que ajudava no soninho,
abajures fofos... ali tinha de tudo. Tudo o que compraríamos seria entregue
em casa. Por fim, adoramos a loja e compramos bastante coisas, mas minutos
depois tive que sair de lá na marra após debater com a vendedora sobre o
porquê eu deveria comprar uma poltrona de amamentar para quando o bebê
nascesse, sendo que Lara fazia isso com maestria de pé, de quatro, deitada, no
chuveiro... pela primeira vez na vida tive um lapso de bom humor com uma
estranha e ao invés da filha da puta se alegrar e ficar orgulhosa, disse estar
morrendo de vergonha, vai entender... a vendedora riu pelo menos!!!
— Eu amei meus presentes, Lara! Obrigada!!! — ouço Allana dizer assim
que entro na cozinha de manhã e estranho duas coisas. Primeiro, Allana não
reclamou do tanto de sacola de compras para o bebê que em comparação de
volume, era bem superior ao que a Lara comprara pra ela. E segundo, a
criatura estava bem vestida às seis e meia, não de pijama como de costume.
— Bom dia, princesa. — deposito um beijinho na pirralha e abraço a princesa
prenha que esquentava o leite e preparava o café. Era uma manhã distinta,
fria em pleno verão. Perfeito para ficar embaixo cobertor, o que ela deveria
fazer. — Bom dia, boneca! Vai aonde?
— Vou... vou dar uma passada lá em casa. Ver como as coisas estão. — ela
gagueja e sorri.
— A essa hora?— me sento ao lado de Allana e vejo Lara me dar as costas
para voltar pro fogão.
— Sim... eu... quero ver se precisam de algo. Com minha mãe trabalhando
como sempre, fico com medo de meu pai precisar de algo. Vou e volto
rapidinho. Sem contar que passarei a manhã testando alguns molhos, e tenho
algumas tarefas antes de ir pra faculdade, então... — ela dá de ombros. —
quero resolver tudo rapidinho e aproveitar o dia!
— Seu pai começa a trabalhar na empresa hoje. Creio que você deva ir cada
vez menos lá, pelo menos por enquanto. Na minha opinião seus pais estão em
lua-de-mel. — dou risada. — Você pode acabar atrapalhando mais do que
ajudando.
— Para com isso. — ela parece sem graça. — Atrapalho nada. Minha mãe é
direta, falaria se eu estivesse sendo inconveniente, falamos abertamente sobre
tudo.
— Sei. — resmungo enquanto ela coloca o café em minha xícara, e eu corto
um pedaço de seu bolo incrível. Como sempre nosso café-da-manhã parecia
de novela, graças à sua dedicação de todos os dias. Quanto mais feliz, mais
perfeito ficava tudo em que colocava a mão.
— Você está bem? Parece tensa. — eu a abraço antes de ir pro trabalho.
Allana já havia saído correndo na frente.
— Tô ótima. Juro!
— Te vejo no almoço. — beijo sua boca e mordo levemente seu lábio
inferior. — Muito provavelmente vou querer Lara de sobremesa...
— Nem sei se estarei aqui. Se a casa da minha mãe estiver como suspeito,
ficarei lá e só sairei quando terminar. Talvez eu demore.
— Sem problemas. Passo lá e você cozinha pra mim lá mesmo!!!
— Tudo bem, tentarei arrumar um tempo!
— Vai arrumar. — eu afirmo e ela fica ainda mais tensa. O que estava
acontecendo com aquela garota??? — Almoçamos juntos todos os dias, e
assim permaneceremos.
— De vez em quando, talvez, eu terei algo para fazer... entende que às vezes
não vai me encontrar em casa? — ela questiona me olhando de um jeito
diferente. Parecia segurar o nervosismo. — Posso ter um compromisso na
rua, algo na escola da Allana, na faculdade, tenho trabalho de conclusão,
tenho...
— Me deixa ver se eu entendi. Você sabe que eu não como na rua, não gosto
de comer na rua, desde que nos conhecemos você prepara meu almoço, e
agora... as coisas podem mudar, e você vai ter outras prioridades??? Sempre
deu conta de tudo até ontem, e só estamos falando de uma hora, de meio-dia
até uma da tarde... O que mudou? O que está acontecendo?
— Nossa, não é nada!!! É que hoje vai ser corrido, e não te deixarei sem
almoço. Eu cozinhei, tem comida aí, você terá a Tia...
— Ok. — eu digo para encerrar o assunto e Lara fica extremamente chateada,
só não mais do que eu.
— Não vai ser legal se todas as vezes que tivermos divergências, você sair
andando desse jeito sem querer dialogar. — ela me para na porta da sala.
— É que eu pensei ter ouvido você dizer que seu dia será corrido. Não tem
que ir faxinar a casa da sua mãe??? Essa é a parte mais irônica de tudo. —
sorrio ao pensar naquilo. Quanta dedicação para com seus pais e que se foda
meu almoço... — Já te dei meu conselho, acho melhor você cuidar da tua
casa e deixar seus pais em paz, você não mora mais lá. Mas... bom... eu vou
trabalhar, me recuso a discutir 'por tamanha bobagem'. Você é maior de
idade, mãe, noiva, dona de casa, universitária, faxineira... deve saber bem o
que está fazendo.
— Não. Quem sabe é você que está brigando comigo porque hoje não
poderei servir 'o meu senhor'. — ela diz com desgosto e aquilo dói.
— Então agora eu sei como você se sente com a nossa vida.
— Você entendeu o que eu quis dizer...
— Entendi sim. Entendi muito bem. — eu desabafo e saio deixando-a
sozinha.
Me perguntava o que havia mudado de um dia pro outro. Será que estava
sufocada ali? Será que realmente se sentia ainda, minha diarista? Cuidar do
meu almoço passou a ser um fardo? Algo ofensivo? Pensei, pensei, e resolvi
parar quando notei que o rumo dos meus pensamentos seguia o trajeto direto
para a culpa. Eu não ia me culpar. Não havia feito nada, então não ia me
culpar.
— Bom dia! — Greg e meu sogro me esperavam em minha sala.
— Bom dia. — respondo ainda mal humorado e me sento tentando respirar.
Minha cabeça ainda estava naquela discussão sem sentido.
— Bom. Vou deixá-los a sós... — Greg já fala. — Seu Mauro quer saber
onde e como ele vai atuar... eu vou...
— Não. Você vai ficar porque precisamos conversar e tem que ser agora, não
amanhã, não daqui a pouco, não mais tarde, será agora, e meu sogro... — eu o
encaro com simpatia. — Me disse que quer a segurança, permanecer em sua
área... então assim será. Não é o maior salário, e eu gostaria muito que
aceitasse o cargo na logística, mas como havia me dito que não quer regalias
por causa de minha noiva, a sua filha, e nem mudar de área, vai ser como
deseja. — eu falo, o senhor negro e já de idade me lança um olhar de
gratidão, e eu interfono para a Flávia. — Flávia, pode levar meu sogro no RH
por favor? É que preciso do Greg aqui por alguns minutos, e bom, não quero
ser interrompido.
— Claro, Vince. — ela diz, seu Mauro me agradece mais um milhão de
vezes, e sai ao seu lado também agradecendo à 'moça bonita', pela bondade.
Vestia um terno simples e estava muito bem apresentável para um primeiro
dia. Era o típico velho paizão que era bem fácil de amar. Lara era uma garota
de sorte, seu Mauro era seu orgulho, um homem de honra e caráter.
— Certo, o que foi? — assim que meu sogro e Flávia saíram, ele fechou a
cara no ato.
— Qual é seu problema comigo? Por que está tão estranho? Desde que toquei
no nome da Nanda aqui, você deu uma pirada, porra! Qual é!?
— Eu não estava em um bom momento, e... às vezes não gosto de te ouvir
falar como se tivesse sido o rei dela, o único com quem ela se importava, a
pessoa mais importante do mundo, enfim... eu estava com alguns problemas e
acabei descontando em você.
— Ok, mas... Nanda foi minha esposa. Acho que tenho não só o dever, mas o
direito de falar dela quando eu quiser. Talvez seja um tabu em casa, em
respeito ao amor que sinto por Lara e Lara sente por mim, mas aqui, com
meus amigos, acho que não precisava ser.
— Você perguntou se eu a esqueci!!! — Greg tenta não levantar a voz. —
Porra!!! Para mim foi uma puta falta de respeito!!! Era sua esposa, Nanda o
respeitava, aliás, respeitava até demais, tanto que infelizmente jamais me deu
abertura, então que merda é essa de perguntar se eu enfim, a havia
esquecido??? Eu acho, Vicente, — ele tentar controlar a respiração. — que
tem certas coisas que não precisam ser ditas, tá legal!?
— Você é ou era meu melhor amigo e desejava minha mulher, eu acho que
falar sobre isso, seria o mínimo. Era o mínimo... óbvio que agora isso não
importa mais, e eu também perguntei por perguntar, nunca achei que ficaria
tão mexido como ficou, até estranhei. Eu disse que não foi pra te magoar, não
foi minha intenção, merda!!! Eu sinto muito! Sempre respeitou a minha dor e
eu a sua, jamais quis te ferir ao perguntar se você a esqueceu. Eu estava
demais feliz e só queria te ver também, um dia, do mesmo jeito. Realizado,
apaixonado!
— Está tudo bem!
— Não. Não está. Andou sondando a Jaque e recebendo ligações do Vitor,
então eu te pergunto de novo, qual é a tua??? — eu falo de uma vez e ele
parece surpreso, mas logo se recompõe.
— Oras, pra começo de conversa você chamou a vadia que mora fora para
assumir a frente da nossa empresa quando eu estou aqui, do teu lado, esses
anos todos!!! E o pior, não me contou!!!
— Eu vou me casar! Preciso de férias!!!
— Eu sou mais bem preparado que ela e conheço a empresa, eu trabalho
aqui!!!
— Mas você é meu padrinho filho da puta, vai viajar conosco!!! — eu falo e
ele engasga.
— Que merda é essa de viagem? Viajar pra onde???
— Farei a cerimônia na Grécia. Escolhi uma ilha incrível. É surpresa pra ela,
é lá que será o casamento.
— Não me contou merda nenhuma disso!!!
— Ué, nunca mais quis falar comigo, como eu ia te contar??? Eu chegava
perto você ia embora, parecia um adolescente!!! E tem mais, só Lara não sabe
de nada, a empresa inteira sabe e ISSO ninguém te contou, mas que a Jaque
me assumiria, contaram!!!
— Ninguém contou da Jaqueline, eu li seus e-mails.
— Como???
— Sempre tive a senha do seu e-mail empresarial. Desde sempre.
— Tem ao menos noção de que isso é crime???
— Nós não nos falávamos, depois que parou de tentar se reaproximar fui
procurar saber se planejava sei lá, me demitir, me foder, me colocar um fiscal
no pescoço... achei que você estava puto tanto quanto eu!!! — ele diz e
depois ri ao notar o quão idiota toda aquela situação era.
— Você é um babaca de quinze anos, Greg! Você é um crianção. — eu me
sento e respiro fundo.
— Me desculpe! É sério!!! Fiquei puto e agi por impulso, achei que logo me
substituiria.
— E a merda com o Vitor, o que é? Que proposta é essa que ele te fez?
— Bom, quando soube da Jaque eu liguei pra ele. Pensei em vender toda a
minha parte pra ele, mas pensei melhor...
— Bom saber que todas às vezes que a gente se desentender você vai me
trair!!!
— Para! Não faz o magoado, nunca teve nada a ver com te punir, ou me
vingar. Vitor sempre quis a empresa e eu estava pensando seriamente em me
afastar de você. Estava chateado, eu só queria uma boa razão para sair fora,
realmente fiquei bastante magoado com a forma que falou e como tudo
acabou depois. Me distanciar de você foi... — ele trava ao desabafar,
suspeitava eu de que acharia tudo aquilo 'muito gay' e eu pensava da mesma
maneira, mas me mantive calado. —... foi foda. Quero que entenda que eu
lido com meu luto de um jeito como você lidou e lida com o luto do seu jeito.
Não quero mais que insinue nada com relação à Nanda e eu. Nanda era a
minha vida, você sabia disso desde o princípio, e tudo aconteceu como
deveria acontecer, agora podemos esquecer tudo isso.
— Greg, você me culpa? — eu pergunto um tom mais baixo e aquele
semblante da última conversa volta. Ele fica muito puto por falar naquilo de
novo.
— Eu posso lidar com qualquer coisa. Quero deixar isso enterrado com ela.
— Mas assim como na outra conversa, acho que se a gente pela primeira vez
em anos, falar sobre, nos fará bem. Nanda se foi e eu superei, quero te
ouvir.
— Vince, eu não tenho nada pra te dizer.
— É ai que está, assim como da última vez, você está chorando, e eu quero
entender o porquê. É óbvio que você tem uma missa pra rezar pra mim. Por
que dói tanto? Você a amava tanto assim, Greg? Eu superei, mas você não
conseguiu, o que isso quer dizer? Eu me apaixonei de novo por outra mulher,
mas eu nunca te vi com nenhuma após perdê-la. Eu quero saber que diabos
isso significa!
— Ok. — ele desaba encostando suas costas no apoio da cadeira. — A real é
que eu não me conformo. Nunca me conformei dela ter te escolhido. Tirando
o fato de ser inteligente, você era um completo babaca. Flavinha jamais
deveria ter te chamado para te apresentar a Nanda naquele pátio. Em um
instante lá estava ela... — Greg parece se teletransportar para aquela tarde.
—... me olhando com os olhos brilhando como se eu fosse o cara mais
especial do mundo, e no outro, você chegou e ela não mais voltou a me olhar.
Eu jamais entendi o que aconteceu. Tu era um playboy de merda, um
mauricinho sem sal nenhum, sem tempero, tentando se enturmar e ser
engraçado... você... era um intruso ali, Jaque e Flavinha também gamaram de
cara, e eu também não entendi. Ficava me perguntando o que é que você
tinha. Notas medianas, não trabalhava, sustentado pelos pais, “Ah! minha
casa na praia...”, "Nossa, consegui os ingressos para o show de não sei quem
em Miami...”, “Cara, meu irmão torra minha paciência, pegou minha BMW e
não lavou...” — Greg bufa. — Você era um saco, mas só eu via isso. Eu era
sempre o segundo lugar para todos eles quando você estava com ela em
algum canto da faculdade, e você só começou a me ver como um amigo
quando descobriu o quanto eu era importante para ela. Se dar bem comigo era
um bônus, até que eu vi que, por algum motivo misterioso, Nanda estava
realmente feliz... eu não sei o que fazia quando estavam à sós, e nem sei
como você era com ela, mas estava funcionando, Nanda era só sorrisos. —
ele diz e me encara parecendo envergonhado.
— Ela era ‘só sorrisos’ porque eu fazia ela feliz. Eu a amava demais, e ela me
amava demais. Eu era do jeito que era e ela me amou mesmo assim. Ela não
teve escolha, assim como eu não tive. A casa na praia, BMW, ou Miami, que
eram coisas que você não tinha, nunca foi algo que ela valorizou, foi por isso
que seus olhos também brilharam por você, e foi por isso que ela fez questão
de dizer que uma das condições para ficar com ela, seria amar você também.
Simplesmente porque era especial, porque você a amava, cuidava dela
quando eu não estava, e era seu melhor amigo. Ela te amou, Greg, mas me
amou um tanto a mais quando eu cheguei, e eu também não posso deixar de
dizer que não entendo o porquê você foi tão importante, eu era um playboy
metido, mas você era totalmente insignificante. Nunca entendi o porquê ela te
amava tanto. "Porque o Greg sabe isso, o Greg sabe fazer, o Greg dizia isso, o
Greg tem, o Greg precisa..." — eu bufo em ironia. — É bom saber o que
realmente pensa e pensava de mim porque assim posso te dizer também.
Você era insignificante e continua sendo, se acostumou a ser. Não se
aproxima demais, não se entrega, não se abre, não impõe. Acho que foi isso
que Nanda viu em mim e não viu em você. Atitude. As piadas ruins para me
aproximar, me gabar para me aparecer... eu era um maldito babaca playboy
enquanto você ficava em silêncio reparando nos meus defeitos, e continuou
em silêncio enquanto a perdia para mim, e se não fosse eu hoje, Greg, você
continuaria em silêncio. Eu nunca mereci Nanda, mas com certeza Nanda
merecia alguém melhor que você. — eu termino e solto a respiração que
guardei desde então.
— Certo. — ele diz se levantando. — Eu sou insignificante.
— E eu um playboy de merda. Um completo babaca, sem sal... um intruso na
vida de vocês dois. Não sei se é de mim ou se é dela que você tem raiva.
— Eu a amo. Fiquei com raiva uma época, mas... passou. Vê-la feliz ajudou.
— Entendi. — concordo com a cabeça. — Acho então que estamos
conversados.
— Você pediu, você teve. — Greg diz entristecido. Estava com uma cara
péssima.
— Eu gostava de você, de verdade. A raiva não durou muito, Greg. Aprendi a
gostar de você e a te respeitar. Eu realmente te considerava meu melhor
amigo, nunca fui falso. Nunca foi somente para vê-la feliz. — eu digo já
garantindo que falava pela última vez e ele concorda.
— E eu a beijei. — ele diz ainda concordando com alguma coisa. — Eu
precisava te dizer isso agora porque quero muito sair daqui "por cima". — ele
finge achar aquilo engraçado, mas sabia que não era algo legal o que ele
fazia. — Na festa da formatura eu me declarei e a beijei.
Não ligo, imbecil. Eu tive uma vida com ela e você só teve um beijo roubado.
Só penso.
— Que bom pra você. Fico feliz por isso. Você teve um beijo.
— É. Pois é. — ele diz abrindo a porta, mas depois volta a me encarar. —
Acho que vou aceitar a proposta do seu irmão.
— Aceito qualquer decisão sua. Qualquer coisa que te deixar feliz. Posso
lidar com o Vitor!
— Compreendo, sou insignificante... Vitor deve ser genial, o babaca metido a
rei dos investimentos! Vocês dois só poderiam ser irmãos... — ele sai
resmungando e eu me sento. Havia me levantado quando ele se levantou
primeiro.
— Ok, pode me dizer o que há? — Flávia entra assim que Greg sai e aponta
para a porta.
— Eu era um escroto na faculdade? Um babaca? Você e a Jaque se
perguntavam o que Nanda havia visto em mim? Pode dizer a real, por favor!
— questiono baixo e ela sorri se sentando em minha frente.
— Não! Você era muito engraçado, divertido, e muito gato. Jaque, eu e as
outras meninas amávamos Nanda de todo o coração, e apesar da invejinha
negra, nós víamos o quanto ela era uma sortuda! Você era um partidão
cobiçado, um garoto incrível, Vince. Vocês se apaixonaram perdidamente e
foi real, não deixe Greg te dizer o contrário. Você era e é um cara lindo por
dentro e por fora, só o que mudou é que você, naturalmente, evoluiu e
amadureceu. Só melhorou ainda mais!
— Certo. Obrigado por mentir. Estou me sentindo melhor, mas não teremos
aumento!
— Eu não menti. — Flavinha sorri. — Você era incrível! Ainda é!
— Tá, agora saia daqui. Preciso de uns minutos em paz.
— Não é dos mais delicados, mas... é um cara do bem. — ela zomba e eu
ameaço jogar o peso de papel em sua cabeça, mas isso não "a intimida",
continua rindo da minha cara. — Você tem visita... — ela volta após dez
segundos e diz.
— Quem é??? — questiono impaciente me sentindo exausto e quando Flávia
abre a porta para dar passagem à visita... eis a surpresa... filha da puta!!!
CAPÍTULO 2

CHEGA DE FAXINA!

— O que faz aqui???


O engravatado emburrado e mais gostoso do mundo me encara com seu olhar
frio, — se fosse antigamente eu ficaria aflita. — ajeita a gravata e me mede
de cima a baixo, apostava um rim que estava pensando: “Nossa, ela não está
de vestidinho hoje, e essa calça jeans...”. Vicente era o homem mais lindo
que já conheci em minha vida. Ainda não acreditava que além de eu ter
beijado aquele deus das barbas feitas sobe medida para arranhar nossa virilha,
eu tinha conseguido laçá-lo, noivado, e de quebra um filho dele. E meu Deus,
quanto amor eu já sentia por aquele bebê. Só Deus sabia o quanto eu estava
ansiosa pra ver essa barriguinha ficar imensa, seus olhinhos, seu rostinho...
meio que “sentir realmente” que tinha ali dentro um pedaço dele, um
pedaçinho do homem da minha vida.
— Vim me desculpar. — eu falo e ele perde um pouco a pose. Conhecia
aquele homem. Com certeza tinha “absoluta convicção” de que eu devia um
pedido de desculpas por “me recusar” a recebê-lo em casa com seu almoço
servido. Meu bebê mimado...
Vince antes de me amar se apegou a mim, eu sabia disso. Estava acostumado
com meus cuidados, estava acostumado com a forma como eu fazia tudo e
graças àquilo, Tia ficou com poucas tarefas. Gostava do meu modo de lavar
seus ternos, do modo como encontrava o nosso quarto quando chegava do
trabalho, o jeito fácil com que suas coisas estavam organizadas, sua comida
do jeito que gostava, seus sabores de sucos favoritos, suas sobremesas... não
tinha trabalho algum, eu facilitava tudo.
Estava acostumado com meu jeito, estava acostumado a me ver em casa ao
chegar, quando eu não ia pra faculdade. Meus telefonemas que eram sempre
na mesma horinha, e se eu não ligava era ele quem ligava obviamente
preocupado porque como eu sempre ligava para falar de alguma coisa, ele
estranhava quando isso não acontecia. “Eu devia estar extremamente
ocupada” e ele odiava pensar que talvez eu estivesse sobrecarregada, e agora
com o bebê temia notícias ruins e queria contato o tempo todo... era o jeito
dele, e eu amava o jeito dele. As qualidades, os defeitos, as birras, os mimos.
Tudo. Eu amava Vicente e tudo o que vinha nele, todo o pacote. Era por isso
que decidi me atrasar pro trabalho, e fui até o escritório. Eu precisava vê-lo, e
principalmente precisava vê-lo bem. Sabia que nossa discussão devia tê-lo
deixado muito triste e confuso, e quando entrei em sua sala, tive a certeza.
— Não me diga. Achei que estava cansada de ser minha serviçal. Não
precisava ter se dado o trabalho, tenho certeza que cuidar da casa dos teus
pais é sua prioridade agora que é uma mulher praticamente casada. — ele fala
magoado e eu seguro o riso. Vince odiava me ver sorrir quando estava puto
por algum motivo. Era só fazer uma gracinha que ele judiava de mim.
— Para com isso, não me sinto sua serviçal. — eu me aproximo, me sento em
teu colo, e ele se afasta para não me tocar, repousando seus braços nos apoios
da sua cadeira estofada, e encostando as costas no apoio. — Fiquei chateada
pela forma que falou comigo, parecia que não importava o que eu tinha pra
resolver na rua, ou o que eu poderia fazer por mim, só importava “te servir”.
— Antigamente “me servir” era tudo o que você mais queria. Era minha
contratada, mas faria tudo de graça. Você amava cuidar de mim! — ele diz e
seus olhos imediatamente ficam avermelhados. — E eu ainda acho que não
importa o que você faz na rua, não me importa. Allana não tem compromisso
na escola, sua aula é só mais tarde, e não tem sentido nenhum você ir cuidar
da casa de seus pais e se recusar a cuidar do meu almoço. Você é a minha
mulher, eu devia ser sua prioridade, sua família devia ser sua prioridade. Eu
saio de casa de manhã e só volto à noite, a hora do almoço é um momento
nosso, um momento que sempre foi nosso. Eu sempre chego exausto e tô
sempre te encontrando exausta. O almoço é uma hora em que eu estou
inteiramente com você, sabe disso. Consigo cuidar de você direito, consigo te
dar atenção devida...
— Você também cuida bem de mim à noite. — eu sorrio, mas ele não. —
Desculpa! Eu disse bobagem, fiz bobagem, e é por isso que eu estou aqui
agora. Não existe nada em minha vida que seja mais importante do que você,
do que nossa família. Hoje eu estarei te esperando e será da mesma forma
todos os dias. Me perdoa! — eu falo o que sei que ele quer ouvir, mas como
sempre faz pose de durão.
Me aproximo, deposito selinhos lentamente em sua boca, mas ele permanece
fitando meus olhos e deixando claro que ainda estava magoado.
— Não existe nada mais prazeroso pra mim do que te servir. Sim, como uma
serviçal... — eu sussurro e ele parece analisar toda a minha face. Queria saber
se eu falava aquilo verdadeiramente, se eu falava só para agradá-lo, ou se eu
estava sendo irônica. — Cuidar de suas coisas ajoelhada, como antigamente.
Sabe que é verdade o que eu estou dizendo. — digo porque ele logo desviou
o olhar do meu. — Nunca parou pra pensar na primeira coisa que eu faço
depois que a gente almoça??? Vamos para a sala, eu te faço sentar, me
ajoelho, abro teu cinto, você goza na minha boca, eu continuo chupando até
ficar duro de novo e quando fica, só aí, é que eu me permito sentar. Porque
primeiro é você, eu tiro todo seu estresse assim, eu cuido de você assim, e se
não for ajoelhada, não é a mesma coisa. Todos os dias, desde que nos
conhecemos, cuido do seu almoço, e agora cuido de você inteiramente, e não
existe nada que me faça mais feliz. Não pode sequer pensar que nossa vida é
um fardo pra mim, ou que eu tenha algo do que reclamar. Me desculpe!!!
Eu digo baixinho, e ele me encara parecendo respirar aliviado.
— E isso aqui...? — ele sacode meu cinto na calça jeans de cintura alta. Eu
estava arrumada porque eu tinha uma casa pra limpar e eu não sabia como
contar aquilo. Eu precisava trabalhar, mas achava eu que Vince ia odiar a
ideia. — É pra me foder? Quer arruinar a minha vida? Meu filho não tá
esmagado aí dentro, não?
— Claro que não, ele está bem! — eu dou risada e ele relaxa um pouco. — E
uma calça jeans nunca te impediu de nada. ‘Aqueles dias’ nunca impediram
quem dirá um cinto!
— Você está linda. Toda essa produção foi pra me ver?
— Sempre! — eu digo encarando sua boca.
Eu o beijo para não ter que falar mais nada, ele me aperta inteira, sinto seu
pau crescendo e ficando evidente em sua calça social.
— Sei que não veio aqui pra ser comida, você tem algum compromisso por
aí. — ele resmunga no meio do beijo e eu dou risada.
— Você é muito chato.
— Vai me dizer aonde vai ou vou ter que te surrar e te trancar aqui?
Ele questiona e eu o encaro. Seus olhos negros parecem mais negros e sua
boca carnuda está rosada por causa dos meus chupões.
— Me conte onde será o nosso casamento, e eu te falo.
— Grécia. Um dos lugares que você disse querer conhecer depois da França.
Onde você vai arrumada desse jeito? — ele diz sem cerimônia e primeiro que
eu fiquei estática com a revelação, e segundo que por falar tão facilmente, eu
sabia que Vince não queria rodeios, e aquilo era ruim pra mim. Ele já estava
estressado.
— Tudo bem, é uma ideia linda, mas não precisa ser tão chique...
— Não será chique, muito pelo contrário, só o lugar é bonito, não pretendo
alugar nada fantástico demais. Onde você vai?
— Vou trabalhar.
— Vai limpar uma casa. — ele afirma e eu fico nervosa.
— Vou. Eu... Vince eu quero continuar trabalhando. Eu limpo aquela casa de
cima a baixo, eu cuido de tudo, mas quando não tenho atividade prática na
cozinha, pra faculdade, eu fico o dia inteiro à toa. Quero sair pra trabalhar.
Enquanto eu não conseguir retorno com os currículos que enviei para o
estágio na minha área, quero me sentir útil do jeito que eu puder. Isso não me
fará ficar distante, já disse que vou sempre cuidar do teu almoço, não quero
ficar fora de casa, nada em nossa vida é um fardo, eu amo cuidar de você,
estarei em casa todos os dias na hora do almoço, cuidando de você, mas
quero trabalhar!
— Tudo bem.
— O quê?
— Tudo bem. Eu não queria. Não é a tua profissão, não acho que seja algo
para você, não quero mais te ver fazendo isso, mas respeito sua decisão. Por
mim, tudo bem.
— Não está bravo???
— Estou. — ele ri. — Tô muito puto. Jamais que meu sonho foi “te ver”
limpando a casa dos outros. Por isso que quando a Tia retornou te proibi de
continuar sendo a minha diarista, e insisti para que voltasse pra escola. Sem
contar que eu não te deixo faltar nada, no momento acho que você deveria
focar apenas na faculdade, não em trabalhar. Conversamos sobre o porquê
não te queria trabalhando tanto, queria você inteiramente para mim. Mas eu
sei que não sou seu proprietário e você não vai esquecer o assunto, será
infeliz em casa, então, tudo bem.
— Não é bem assim... você faz de uma palavra uma oração inteira. Sei que
“não preciso”, sei que não vai me deixar faltar nada, sei o que pensa a
respeito de eu trabalhar nessa área e só deseja o melhor pra mim. Mas não
estou fazendo por grana, só quero me sentir útil, quero trabalhar, me ocupar.
— Então por que não arruma outro tipo de vaga?
— Porque já sou conhecida. Limpo as casas que limpava antes, meus patrões
me adoram, sou uma ótima diarista. Minha mãe me ajuda ao me indicar. Está
mais fácil, não lotarei minha carteira de trabalho com ocupações aleatórias.
Só quero sair da faxina para entrar em um restaurante.
— Ok. Tudo bem. Eu apoio você. — ele diz tentando sorrir, mas parece triste
de novo.
— Por isso eu não queria falar. Você não apoia, só finge.
— Eu não preciso e nem sou obrigado a concordar com você em tudo.
Agradeça eu não ter surtado, isso já é um avanço pra mim. Quer o que? Que
eu bata palmas por saber que continuará sendo uma faxineira?
— O que tem contra? Minha mãe é uma, a Tia é uma... e são as melhores
mulheres que eu conheço. São dignas, são incríveis, Tia cuida de você com
amor, minha mãe me criou com o dinheiro de suas faxinas, te conheci porque
eu fazia... isso não é demérito.
— Mas eu não preciso me orgulhar por você ser uma. Você é extremamente
nova, Lara, tem um futuro brilhante pela frente, e eu respeito sua decisão,
mas não concordo. Nunca concordei, nem quando a faxina era pra mim,
sempre achei que você não merecia isso, sempre disse isso pra Tia. Primeiro
que eu não via a hora dela chegar pra me livrar de você porque você estava
invadindo uma parte crucial de mim, meu coração, e depois que não
aguentava mais te ver naquele trabalho, eu queria te ver estudando, cuidando
do futuro. Você não parava nem nos finais de semana, cuidando de casa,
trabalhando no circo, limpando aquilo tudo quando não estava vendendo
algodão doce. Sei que sabe se cuidar e eu te admiro por ser tão dedicada,
esforçada, e não ter medo de trabalho nenhum. Se fosse pela sua família, por
estar em dificuldade, por não ter alternativa, ok. Você é uma mulher incrível
por isso e muito mais. Só que agora é minha noiva, o que é meu é teu, e você
não precisa faxinar a casa de ninguém nunca mais. Tanto que se perguntar
para Tia e para sua mãe se elas pudessem escolher o que fazer como
profissão, aposto e ganho que “faxinar casa de granfino” seria última opção,
as duas falariam as mesmas coisas. Orgulham-se do que fazem, mas aposto
que nenhuma das duas ‘amam de paixão’ trabalhar para os outros assim,
trabalhar limpando a sujeira que as pessoas fazem. Sem contar que agora está
no início de uma gestação o que significa que todo cuidado é pouco. Estou
dizendo que não concordo de jeito nenhum, mas agradeço por ter me
contado, e apoio você. Se será feliz, permaneça trabalhando e fazendo o que
quiser da sua vida, estarei do teu lado. Só não vou fingir que estou feliz
porque não é verdade. Tudo bem?
— Tudo bem. — eu digo desanimada e ele balança a cabeça.
— Além do mais... agora vou ficar aqui imaginando seus novos patrões. —
ele aperta minha cintura e me abraça forte me olhando nos olhos. —
Marmanjo comendo da minha comida, desejando esse corpo que é
inteiramente meu. Tendo você de joelhos, passiva, pronta para receber
ordens... e você não tem noção da raiva que eu sinto ao pensar nisso. Do ódio
que eu sinto dessa ideia!!!
— Será algumas vezes na semana, e eu não cozinho. — eu falo e seus olhos
brilham. — Sem contar que ninguém me verá ajoelhada. Não vou deixar.
— Que bom. Como eles são? Seus patrões?
— Um deles é um casal no auge dos quarenta, e o outro uma senhora rica e
solteira.
— E esse homem? É casado, mas não está morto. É bonitão?
— Não mais do que você. — eu falo e ele ri como se eu tivesse dizendo só
para aliviar as coisas. — Para com isso, não me faça ficar mais mal do que
fiquei agora. Não faça isso ser um problema pra gente.
— Não é um problema, não é e nem vai ser. Prometo! — ele diz com
aparente sinceridade e me beija.
— Será bom. Vai ficar com saudade de mim e nossos encontros serão ainda
mais quentes! Mais do que já são.
— Eu já sinto saudade de ti. Eu sinto muita saudade durante o dia. É por isso
que prezo nossos momentos no almoço. Nem sempre estou cansado e consigo
foder você sem nunca querer parar. A saudade é imensa, a vontade que tenho
de ti é incontrolável e se eu pudesse jamais ficaria um minuto sequer longe de
você. Parece que é você que enjoa e quer um pouco de espaço... — ele diz e
eu nego.
— Essa boquinha gostosa fala tanta besteira às vezes. Claro que não enjôo.
Eu te amo, quero ficar perto de você o tempo todo.
— Então se me deseja como eu te desejo, quer ficar perto, e sente a
necessidade de sentir útil e ocupada... — ele fala cutucando meu decote. —
Devia vir trabalhar comigo. Melhor que te dividir por aí... você me ajuda
aqui, eu libero a Flávia para enfim atuar em sua área como eu, afinal ela não
estudou para ser minha recepcionista e ela atua duplamente aqui na empresa,
vamos ficar juntos, será a primeira secretária que eu poderei dar em cima,
apertar esse traseiro enorme, e foder escondido, vamos nos conhecer
profissionalmente, vai continuar cuidando de mim e eu de você, e de quebra
ainda vai ficar perto do seu pai... — Vicente começou a falar cutucando meu
decote, e quando teminou, eu já estava com um seio pra fora, o bico sendo
chupado pela sua língua dedicada, e seu olhar zombeteiro enquanto me via
arfar. — diz que sim minha gostosa! — ele estica o bico de meu seio e sorri.
— Diz sim pra mim.
— Sim. — eu penso. — Quer dizer, vou pensar. Pode ser bom, mas também
pode ser muito ruim misturar amor com trabalho. Vou pensar e te respondo
mais tarde. — ajeito meu seio no sutiã e ele sorri. — Nos vemos na hora do
almoço, seu mimado!
Eu me levanto, ele aperta e bate em minha bunda, faço uma cara feia bem
falsa pra ele, afinal, tudo o que eu mais adorava era ser admirada por ele. De
qualquer jeito.
— Então estamos conversados... — ele resmunga rindo, e com os cotovelos
na mesa, me fitava parecendo querer me engolir. — Vai ser a minha
secretária gostosa!
— Vou pensar enquanto faço faxina em alguns apartamentos, até a hora do
almoço! — rimos os dois, mas seu riso é de nervoso.
— Quando eu chegar em casa a gente conversa, filha da puta!
— Tua puta!!! — eu pego minha bolsa no sofá, pisco pra ele ficar fodido da
vida, e saio satisfeita. Achava que ele ia pirar e gritar, mas até que não. Sorrio
com o pensamento.
Corro para dar uma boa limpada na casa de dona Glória e no trajeto penso
sobre a proposta do mimado. Sabia que só o que ele queria era me controlar,
era ficar perto, e tirar a ideia de voltar pra faxina da minha cabeça, mas eu
também sabia que se eu aceitasse sua proposta, minha vida ficaria muito mais
fácil.
Agora o que eu queria saber era como eu iria sair para trabalhar e estar todo o
dia em casa na hora do almoço. Eu ia ter que me virar nos trinta como nunca
antes, ou aceitar sua proposta tentadora. Morar com aquele homem já era
tudo o que jamais imaginei, dormir com ele era delicioso, o cara era o deus da
foda bem dada, e viver com ele era mágico, um sonho, cada dia que passava
mais apaixonada eu ficava... agora como seria trabalhar ao seu lado???
Apostava que nada muito diferente do que sempre foi. Muito amor, muita
briga, muito ciúme, e muito sexo. Fato.
— Chegou a margarida... — ele resmunga quando eu chego em casa correndo
e cansada.
Tia lavava alguns pratos e ele já estava servido. Merda. Me atrasei, mas foi só
um pouco. Só um pouquinho mesmo.
— Tudo bem, pode dar seu sermão. — eu lavo minhas mãos na torneira e me
sento ao seu lado. — Sinto muito, peguei muito transito.
— Claro que pegou. A hora do almoço é tão agitada quanto a hora do rush, às
seis. — ele diz mastigando e rindo. — Combinamos que a hora do almoço
continuaria sendo nossa...
— Não vou me atrasar mais. Prometo. Desculpa!
— Sem problemas. Deixa eu servir você! — ele resmunga rindo e me encara
com um ótimo humor.
— Está amando isso, não é!?
— Estou. Estou e acabei de notar que será extremamente divertido. Pelo
menos enquanto eu achar tudo isso engraçado. Prometeu dar conta e se não
der vai parar com o trabalho fora, ou vamos brigar até eu jogar essa aliança
pela janela! Bom apetite, amor. — ele diz, Tia ri, e eu continuo tentando
controlar a respiração por ter corrido feito louca. Estava cheia de esperança
de que ele ainda não estivesse em casa.
O trajeto do apartamento da dona Glória até em casa era de vinte minutos de
táxi, eu tinha que fazer aquilo valer a pena, eu não podia perder essa. A partir
do momento que ele deu um risinho maligno torcendo para eu não aguentar,
peguei aquilo como um desafio. Eu podia muito bem trabalhar fora e voltar
pro almoço sem precisar da ajuda dele, — proposta dele. — aquilo tinha que
dar certo. E até que durante os dias que se seguiram, funcionou. Eu tinha
vencido.
— Liberei a Tia hoje. Ela não virá. — eu falo feliz da vida enquanto ele fazia
seu bico já comum. Era uma sexta-feira ensolarada e eu passaria o dia em
casa, cozinhando, ajeitando tudo, e preparando um almoço bem gostoso para
mimá-lo.
— Lara tem suco de laranja? — Allana pergunta sonolenta e eu me levanto
para fazer.
— Não tem, mas faço pra ti em dois minutos, meu amor!
— Conversou com o papai, como prometeu? — ela pergunta e Vince me
encara.
Allana queria ir para uma festinha do pijama de uma amiguinha e estava
contando comigo para convencê-lo.
— Perdão, linda! Tive uma semana cheia e me esqueci, mas não se preocupe,
falarei com ele. Deixe o papel na mesa! — eu falo do papel que a mãe da
dona da festinha mandou com o endereço e telefone da casa onde ela e suas
amiguinhas dormiriam.
— Falar comigo o quê?
— Vamos tomar café tranquilamente e conversaremos depois. — eu o encaro
e ele nega estressadinho.
— O que foi, filha?
— É uma festa...
— Não. — ele diz de uma vez a interrompendo e eu a faço se acalmar só com
o olhar. No que dependesse de mim, ele ia deixar.
Termino seu suco, tomamos o café-da-manhã em um silêncio tenso, e logo
após depositar o papel na bancada da cozinha, Allana saiu correndo pra
esperar o pai no jardim. Sua casa de bonecas e a piscina já tinha alguns dias
que já estavam quase prontos.
— Nem adianta. Allana não tem maturidade pra ir a uma festa sozinha... —
ele resmunga assim que eu o abraço.
— Ela é bem grandinha! Precisa soltá-la. Vai deixar, sim. Por mim. Não se
pode falar ‘não’ para uma grávida.
— Posso e vou. Allana não vai sair sozinha. A não ser que você possa
acompanhá-la, porque até a Jaque chegar, eu preciso trabalhar.
— Vince será uma festa de pijama só para garotas... Allana tem direito de
passar por essas fases. É uma garota que está crescendo e graças ao pai rígido
demais, nunca saiu com as amigas. Você tem que soltá-la, ela ficará bem. —
faço um bico e ele revira os olhos. — Vou preparar um almoço delicioso
hoje, pra ti. Bem gostoso, com as coisas que você mais gosta, e ainda terá sua
sobremesa favorita do mundo todo, com renda vermelha e calda de chocolate.
— eu falo e aliso seu pau com lentidão. — Diz sim pra mim. Diz!
— Não faz mais que sua obrigação. Não ganho nada além ao ceder.
— Poxa vida!!!
— Eu me preocupo com sua segurança. Ela não vai! Nunca a deixei ir, Lara,
não é agora que vai!
— Por favor, Vicente! Nunca te pedi nada tão importante assim. É só uma
festinha pra crianças, terão adultos de olho nelas! Ela ficará bem!
— Tudo bem. — ele diz após parar pra pensar com seu semblante sério
demais, beija minha boca com amor e tesão na mesma medida e suspira
irônico. — Contanto que pare com as faxinas e trabalhe pra mim.
— Você não pode estar falando sério!
— Sua resposta é não???
— Óbvio. Não vou parar! Meu trabalho é muito digno e eu consegui cuidar
de tudo, não vou parar com as minhas faxinas.
Eu falo decidida e ele fica puto, e por ficar tão puto, logo agarrou nos cabelos
de minha nuca e me imprensou contra a geladeira. Seu corpo todo invadia
meu espaço pessoal, cerrou os olhos como faz quando está muito irritado, e
imediatamente pude ouvir seu rosnado de fundo da garganta junto com seu
hálito que atacava minha face com grosseria.
— Então você escute bem o que eu vou falar. Não estou mais pedindo com
delicadeza e muito menos dando uma sugestão. Você vai parar de trabalhar.
Pode voltar a trabalhar quando arrumar um restaurante para estagiar, ou pode
trabalhar comigo, pode me ajudar no escritório ou pode trabalhar no
restaurante da empresa, olha que ideia maravilhosa. Ainda estou sendo bem
bonzinho. Combinamos lá atrás que teria tempo para nós e você concordou, e
apesar de estar dando conta, só está inteiramente aqui nos finais de semana.
Você está cansada demais porque igual antes, continua só querendo saber de
trabalhar. Já chega. Acabou, entendeu bem? Acabou, Lara!
— Não tem surpresa nenhuma hoje, também... — digo imediatamente e ele
bufa. Meus pensamentos estavam todos naquele volume que roçava minha
intimidade.
— Poxa, eu amo tanto renda vermelha. Faz tempo que não cuida de mim
assim... desde que voltou pra essas faxinas nunca mais caprichou em nada pra
mim, quero um almoço delicioso e minha sobremesa favorita, boceta com
chocolate... — ele sussurra. — Eu mereço! Tem que me mimar, tem que me
amar mais e cuidar de mim. Passou uma semana inteira correndo pra lá e pra
cá, indo contra o meu desejo de te ver longe daqueles apartamentos, ferindo o
meu coração que só se preocupa contigo, e me deixando enfurecido sem
poder falar nada. Preciso de mimo. Quero meu almoço gostoso e minha
sobremesa.
— Não. — eu falo e ele rosna. Sai puto da vida e eu corro pro banho. Estava
pegando fogo.
Literalmente em brasa. Sua pegada e seus olhares me deixavam tonta.
Saio do chuveiro ainda tensa por ter me negado a resolver o problema com os
próprios dedos, e me jogo na cama. Vicente era quem ia resolver, com a boca
de preferência. Sorrio com a ideia. Sim, ele era o responsável, era ele quem ia
apagar aquele fogo. Eu desejava que fosse ele.
Suspiro de barriga pra cima, crio coragem para me trocar e colar a barriga no
fogão, mas o toque do telefone me interrompe. Estava sem coragem para me
levantar, então para atender me arrastei até o criado-mudo.
— Alô?
— Oi... — era ele.
— O que foi? Resolveu ligar pra se desculpar por ter sido tão grosso???
— Hmmm... não.
— Então foi pra quê? Aposto que pra me dar mais ordens... sabe como me
deixou ao sair daqui...???
— Como?
— Toda molhada, apesar das circunstâncias. Por que não volta pra cá,
rapidinho??? Não vou aguentar esperar até a hora do almoço, preciso de
você...
— Eu adoraria, vai por mim, iria agora mesmo... mas é que ainda estou no
avião. Agora mais do que nunca não vejo a hora de te conhecer, Lara! — O
QUÊ????
— Quem é???
— É o Vitor.
— Vitor?
— Sim, seu cunhado. Nossas vozes são parecidas né!? Eu sei...
— Oh! Meu Deus... — me levanto da cama e tento procurar minha cara no
chão, mas não encontro.
— Não se preocupe, será nosso segredo. Sou discreto, jamais usarei essa voz
sexy falando sobre como está tão excitada, contra meu irmão. — ele diz e ri
avisando que era só uma brincadeirinha. Babaca! — Liguei para avisar que
meus pais e eu estamos saindo dos Estados Unidos. O Vicente não atende,
então...
— Muito provavelmente está dirigindo. Ele não atende o celular enquanto
dirige, está indo pra empresa. — eu digo tentando soar ‘normal e calma’, mas
não sei se colou.
— Entendi. Certo. Então, avise-o, por favor. Chegaremos por volta das
quatro ou cinco da tarde, pois não teremos escalas e combinamos dele nos
pegar no aeroporto.
— Tudo bem, avisarei.
— Ok. Tenha uma ótima tarde, Lara!
— Boa tarde e bom voo! — eu falo rapidamente e desligo de uma vez. Mas
que droga eu tinha acabado de fazer??? Que voz era aquela??? Era a mesma
voz!!!
Ligo para Vicente, mas ele não atende. Com certeza ainda estava dirigindo.
Corro fazer o almoço caprichado que queria e por alguns momentos, pelo
menos enquanto cozinhava, aquela cena constrangedora havia dissipado de
minha cabeça. Aquilo funcionava diferente pra mim, minha comida jamais
ficaria ruim, eu me transformava ao cozinhar mesmo nervosa, sempre foi
assim. Se eu estivesse triste a comida não desandava, eu ficava bem e tudo
dava certo no final, era por isso que escolhi culinária para a minha vida. Eu
havia nascido para cozinhar.
Pego o telefone após colocar um frango inteiro pra assar e ligo pro meu pai,
ele atende no segundo toque. Eu precisava me distrair ou ia ficar com a voz
daquele babaca na minha cabeça. Que mico que eu paguei!!!
— Oi, filha.
— Oi pai, tudo bem???
— Eu tô bem, só não posso falar agora.
— Imagino. Só queria saber se está bem, como está em casa? Com a mãe?
Está se dando bem, aí?
— Está tudo certo, Lara! Em casa está ótimo, e aqui também. Estou de volta
em minha profissão e sou o melhor segurança que essa empresa já viu.
— Tenho certeza disso. — dou risada. — E... te respeitam, pai? Seus amigos
de profissão te tratam bem???
— Sim, eu acho que meu genro foi discreto, ninguém sabe. Não quero que se
preocupe comigo, Lara, está bem? Estou aqui há uma semana e nunca
trabalhei em um lugar tão incrível. É lindo aqui, eu tenho tudo, um monte de
benefícios, comida boa, cartão de vale pra tudo quanto é coisa, e é o emprego
dos sonhos de qualquer segurança. Eu estou e vou continuar bem!
— Então está bem. Só deu uma saudadezinha aqui e aproveitei que tive uma
pausa pra ligar. Os pais do Vince estão chegando então, em breve farei um
jantar para todos. Você e a mamãe têm que estar presente!!!
— Tudo bem, filha! É só avisar o dia, eu que estou com saudade da tua
comida! — ele ri e a risada do meu pai é a melhor do mundo. — Até,
princesa! Te vejo em breve. Te amo!
— Te amo, pai! Até.
Desligo o telefone sorridente, arrumo tudo, e deixo para liberar o frango por
último. Corro para outro banho mais demorado e caprichado, arraso no
hidrante que ele ama, visto as benditas rendas vermelhas, e preparo uma
misturinha de chocolate pra sobremesa. Cacau em pó amargo, creme de leite,
um toque pequeno de leite condensado, e pequenos pedaços de morango, bem
pequenos mesmo, como se fossem flocos. Precisavam se desmanchar na boca
e ele não ia querer perder tempo mastigando.
Coloco a misturinha na geladeira, o frango pronto na travessa, e todo o
restante da comida na mesa. Era uma felicidade imensa usar a louça que eu
comprei pra minha casa ao invés de usar as da falecida. Era um alívio não ter
vestígios dela, não ter a presença dela. Bom, claro que Allana era a prova
viva de sua existência, mas como eu amava aquela pestinha com todas as
minhas forças, era fácil não ver a sua mãe nos seus olhos azuis. Em Allana eu
via os meus penteados para ir pra escola, as roupas que eu lavei, o brilho
labial de morango que eu comprei, e o meu jeito de falar de tanto conviver
comigo, era eu quem eu via nela, como uma mãe via em uma filha. Ela não
sabia, às vezes não queria, e eu acho que nem mesmo precisava, mas era a
minha filha, para mim era minha filha e Vicente podia continuar com seu
sermão de que sua mãe estava viva em seu coração e tudo o mais quando
Allana tem as suas crises de ‘saudade’, mas pra mim, a sua mãe estava bem
viva. Claro que nunca quis roubar seu lugar, mas era meu direito estar ali.
Quando dá meio-dia em ponto, eu ouço barulho na porta. É claro que ele não
demoraria, estava ansioso pra saber se eu faria o tal almoço especial, ou se eu
não faria nada como havia prometido. Assim que ele entra na sala de jantar
seus olhos brilham, mas ele não sorri como eu sorrio por ver sua carinha de
felicidade disfarçada em uma carranca que não deveria lhe pertencer. Estava
sem graça, feliz, animado, e se sentindo no céu, como eu, mas ainda assim,
estava carrancudo.
Me levanto quando ele atravessa o batente da porta e me aproximo. Ele fita o
vestidinho curto cheio de flores branquinhas, dá um passo em minha direção,
e afunda o nariz em meu pescoço. Sua atitude me faz vacilar, mas ele ignora.
E também ignora as ondas rápidas que fiz no babyliss só pra dar uma
modelada. Enrola meu cabelo em seu pulso, passa os lábios em meu pescoço,
e não para. Não diz nada e continua, mas agora deslizando sua língua. Minha
cabeça inclinava na direção que queria com ajuda de seu punho encoberto
pelos meus cachos e com isso me manteve à sua mercê. Dos ombros até as
orelhas, mordidas leves, língua, sua mão forte em minha cintura, o aperto em
minha nuca... Deus... ele se afasta só um pouco e rosna baixinho ao descer a
alça de meu vestido e ao constatar a cor da peça íntima. Ah! Aperta a mão em
minha cintura, seu membro endurecido toca minha intimidade, vejo estrelas,
arfo, e em um rompante ele rasga meu vestido de cima a baixo.
Não digo nada e só tento respirar, ele me olha dos pés a cabeça e umedece os
lábios grossos. Boca habilidosa na minha, me invade sem pedir e me devora
com força. Minha boceta fica latejando, gemo em sua língua, e levo sua mão
até lá para mostrar. Latejava forte e ele pôde notar por isso me arrastou até a
sala, tirou o pau pra fora, botou minha calcinha de lado, e meteu sem
cerimônia. Forte, com gosto, firmeza e precisão. Eu sentia suas bolas batendo
em minha bunda, a cabeça rosada tocando meu âmago, e a cada estocada
feroz, ele gemia comigo. E que gemidos eram aqueles??? Animalescos, do
fundo da garganta, selvagem...
— Deixa eu virar... — resmungo miando porque queria que sua ereção se
mantivesse presente por mais tempo e a vontade que eu estava de mamar do
mesmo jeito de dar mama a ele, estavam me consumindo. Um 69 resolveria o
meu problema... mas Vicente pareceu não se importar. — Quero na boca! —
eu digo outra vez, ele fita minha boca, levanta as minhas pernas e me fode
com mais vontade. Sua rebeldia ligou em mim o botãozinho do orgasmo e
com a ajuda de minhas pernas pro alto onde ele alcançava o lugar mais
profundo de mim, tremi, chorei, gritei, e gozei revirando os olhos, mas isso
também não o fez parar. Apenas se deitou no sofá me deixando por cima, e
me fez cavalgar com o bumbum na sua direção. Ele via tudo. Me fazia descer
e subir lentamente e acarinhava meu anus de um jeito depravado demais.
Segurava cada lado de meu traseiro com as mãos espalmadas e arreganhava
meu bumbum ao me fazer subir e descer. Ele via tudo. E ao pensar naquilo
forcei minha coluna pra baixo fazendo com que meu bumbum ficasse mais
arrebitado e com isso ganhei tapas bem fortes. Bingo. Seus tapas eram meu
combustível, meu prêmio de “boa garota”, era isso que ele dizia: “Isso, boa
garota...” quando eu fazia algo incrível, e junto com suas palavras vinham os
tapas. Óbvio que hoje ele parecia bem calado, mas aquilo já era o suficiente
pra eu saber que estava bom, que estava o satisfazendo, e para mim aquilo era
tudo. Rebolo gostoso, gozo de novo quando ele levanta e puxa os meus
cabelos ao mesmo tempo que acarinha o bico de meu seio esquerdo, e por me
ver se desmanchar de novo, ele muda a posição.
Me faz deitar de conchinha e apoiar a cabeça em seu braço direito, com a
mão esquerda levanta minha perna esquerda e a deposita em suas pernas me
deixando arreganhada para a sala silenciosa ‘ver’, e com isso, mordisca o
lóbulo de minha orelha com sensualidade, com a mão esquerda me instiga
estapeando e acarinhando minha boceta que ainda tremia pelo orgasmo
anterior, e logo depois, posso sentir seu volume invadindo meu traseiro aos
pouquinhos.
Eu fui me abrindo, sua mão foi ficando cada vez mais encharcada por sua
própria culpa, e eu fui me abrindo ainda mais, lentamente, com cuidado,
calma, mas só até entrar por completo. Em pouco tempo ele me fodia por
trás, tomava conta de minha boceta insaciável, e dava atenção para meu
pescoço e orelha. Minuto após minuto, ele me estocando e gemendo em meu
ouvido, eu de pernas abertas revirando os olhos pelas suas brincadeiras com
meu clitóris, e suas estocadas rápidas ao mesmo tempo em que me apertava
no sofá, inteirinha. Parecia tortura. Eu gemia, miava, minha boceta tremia, eu
suspirava, arreganhava minha perna quando eu a deixava cair por estar com o
corpo mole, voltava com seus tapas e carinhos, metia os dedos dentro, língua
no meu pescoço, na pontinha da orelha, estocada bruta, grelinho duro, mão
ágil, olhos revirando, estrelas, choro, miado, estocadas fortes e ininterruptas;
e arruma minha perna, pois caíra de novo, esfrega as pontas dos dedos só
para fazer aquele barulhinho que nós dois amávamos, e eu choro, seu carinho
em meu pescoço me atiça, estocada faminta, beliscada leve imitando um
pregador com o polegar e o indicador, apertava, puxava, soltava, tapas, dois
dedos lá dentro me chacoalhando; e acarinha, me instiga ganhando
velocidade, durinho de novo, e eu gemo negando alguma coisa, meu quadril
chora e balança pedindo mais; tento olhar em seus olhos, não consigo, tento
de novo, e lá está ele com seus dois oceanos lamacentos me encarando puto
da vida... eu sabia que estava puto pelo seu olhar, eu o conhecia bem demais.
E seus olhos permanecem fitando os meus, e eu imploro com o olhar, e ele
assente, não para nunca. E nunca goza, e eu de novo chego lá, e eu não sei
quanto tempo ficamos assim. Só sei que minutos depois ele gozou estocando
com força, pausas dramáticas, e rosnando parecendo se livrar de um
problema dentro do meu traseiro. Literalmente.
Ele respira com dificuldade, sai de dentro de mim, me puxa pra perto, e eu
me viro no seu abraço. Beijo sua boca num beijo apaixonado e o vejo fechar
os olhos para me corresponder. Quando ele os abre por um momento e me vê,
não os fecha mais. Chupa minha língua e me beija sem parar, me olhando nos
olhos e demonstrando estar inteiramente ali, comigo. Aqueles olhos
expressivos que tanto amo, os que mais amo no mundo inteiro. Posso sentir o
calor deles no meu. Seu braço no meu pescoço me puxa mais pra perto ao
mesmo tempo em que me puxava pela cintura com a mão direita nas minhas
costas, e eu sinto seu pau crescer em minha boceta de novo, poderoso. Como
ele conseguia???
Antes de eu ter a bendita ideia de perguntar em voz alta, ele se senta me
trazendo junto, continua me beijando ao me encarar, quando para, abaixa sua
cabeça na direção de sua enorme vara, e me olha nos olhos. Seu pau estava
sendo pressionado por minha própria barriga e por causa disso, ou por algum
outro motivo, ele pareceu ser dar o direito de me pedir mais.
Não espero ele pedir em voz alta, sento até o fim, e rebolo bem gostoso,
lentamente, olhando em seus olhos, uma delicia.
Ele tira meu sutiã, aperta meus seios com as duas mãos, e aproveita para me
fazer pular. Já havia me dito que amava vê-los balançar enquanto eu
cavalgava, era um safado.
Atendo seus desejos mais profundos, rebolo com sua boca na minha, um
engolindo os gemidos do outro, e acelero as reboladas quando sinto minha
intimidade pedir carinho. Ele tenta me fazer parar, segura firme minha
cintura, mas eu sou mais rápida e ele não arruma forças para me conter.
Geme genuinamente, me acerta um tapa, e eu gozo primeiro o levando ao
extremo logo em seguida. “Meu gemido de puta safada” como ele mesmo
dizia, era o botãozinho dele, o gatilho. Se não fosse gozar ficava perto, e se já
estivesse quase, gozava imediatamente. Éramos bons juntos, para ele um
‘pecado’, uma maldição, trepar do jeito que eu trepava era um indício que eu
queria acabar com sua vida e seu juízo, mas para mim, era uma benção, um
presente de Deus. Literalmente. Vicente era um presente de Deus pra mim.
(...)
— Seu irmão ligou... — eu resmungo assim que vejo que ele terminou de
comer. Levo seu prato pra cozinha e me sento em seu colo.
— Eu consegui apagar o fogo que estava sentindo? — ele questiona de forma
estranha e eu me sinto nervosa. — Não consegui vir antes do almoço, mas
acho que não demorei tanto, certo!?
— Falou com ele?
— Eu apaguei o seu fogo?
— Sim. Apagou. Completamente. — eu falo e ele sorri tirando uma mecha de
cabelo que caiu do coque desarrumado, do meu olho.
— Sim. Falei com ele. Eles estão a caminho... me contou sobre o pequeno
mal entendido.
— Eu queria te contar primeiro.
— Jamais conseguiria. Era óbvio que ele tentaria me ligar até conseguir falar
disso primeiro. Me perdoe se ele te constrangeu.
— Ô se constrangeu, foi horrível! Ele foi um babaca, ficou quieto me
ouvindo falar tudo!!! — eu falo e ele balança a cabeça como se dissesse “ele
é extremamente babaca, sim, eu sei bem disso”.
— Pelo menos agora você sabe o que te espera. Como eu disse, ele jamais vai
querer ser um amigo, um bom cunhado, ou qualquer coisa do tipo. Se chegar
perto de você será pra me atingir então, por favor, se mantenha distante o
máximo que conseguir, ou vamos brigar por causa dele!
— Não vou deixar isso acontecer. Não vou! — eu falo e ele me beija
apaixonadamente.
— Eu te amo! Sou o suficiente, faço você feliz, dou conta de te dar prazer, e
cuido bem de ti, não é!?
— É. E é perfeito pra mim! — eu sussurro e ele volta a chupar a minha
língua. — É a minha vida, o único e o último homem que eu amei, e é tudo o
que eu sempre quis. Tudo o que eu mais quis nessa vida. Até hoje não
acredito que tenho você, sabe disso. Sabe que eu não consigo entender o que
viu em mim. É o homem dos meus sonhos e me faz a mulher mais feliz de
todo o universo.
— Eu espero que eu possa te fazer muito feliz, muito mesmo, e pra sempre!
— Vai fazer. — eu sorrio e ele aperta minha cintura. — Agora eu preciso
limpar isso aqui, e você precisa ir trabalhar. Ah! — eu me lembro. — Vida,
não poderei estar aqui para recebê-los contigo, pelo menos hoje não vai dar.
É a primeira prova dos exames finais, não posso faltar de jeito nenhum, e até
sairei daqui mais cedo! Só me lembrei agora.
— É claro! Vai fazer sua prova, óbvio! Vou ligar pra Tia me dar uma ajuda
se eu vir que vou precisar fazer alguma coisa, acho que um café da tarde para
recebê-los... — ele diz e eu concordo, é o que eu faria. — Será que sairá
rapidinho como em todo dia de prova? Podemos jantar fora e então você irá
conosco. Te espero chegar em casa pra tomar um banho e se arrumar.
— Sim. Vou poder sair quando eu terminar, e terminarei rapidinho, está no
papo!
— Então tá. — ele levanta e consequentemente me faz levantar também. —
Eu já vou indo. Sua comida como sempre estava dos deuses, e a sobremesa
que fiz questão de comer primeiro, estava melhor ainda...
— Fiz uma calda de chocolate, não quer provar? Nem me deu tempo de te
oferecer... — eu me agarro em seu pescoço cheiroso e ele ri.
— Seu gosto natural é melhor que qualquer chocolate. Eu experimento hoje à
noite, guarda pra mim.
— Como esse homem está romântico, meu Deus!
— É que pensei que não faria nada especial, mesmo... tive uma surpresa e
tanto ao chegar aqui. Amo ver você tão entregue. Amo saber que me ama e
por causa disso jamais manteria a decisão de não “me agradar” só porque
discutimos. Amo ver que seu amor por mim não mudou, não diminuiu, tu
continua me olhando como olhava quando era apenas minha diarista. Me
deseja como antes, me quer como antes, e faz tudo por mim como sempre
fez. Sou um sortudo por te ter como minha mulher! Te amo mais ainda por
isso!
— Ah! Não! Repita isso pra eu gravar!!! — zombo e ele finge ficar puto.
— Repito, vadia! Liga aí! — ele diz, coloca o terno, e segue para o banheiro,
escovar os dentes. Me encosto na parede do lado da porta, espero sorrindo, e
quando ele sai, sorri ao me ver.
— Tão feliz... que carinha bonitinha de se ver!!!
— Uma mulher bem comida, é uma mulher bem feliz. — resmungo e ele
fecha o cerco com os braços ao meu redor.
— Tudo bem, bem comida, talvez eu não te busque por causa da casa cheia,
sua sogra já vai falar na minha cabeça por não te encontrar, vai dizer que nós
dois não os consideramos importantes, e eu sei que se eu sair, não vou querer
voltar contigo. Pode pegar um táxi?
— Posso. Não se preocupe. E também não vou demorar, ela nem sentirá
minha falta!
— Certo. Da faculdade direto pra casa! Vem direitinho e talvez eu dê outro
trato desses em você, após o jantar!
— Vou vir direitinho, bem bonitinho... — eu digo beijando os dois dedos.
— Tchau, bebe do pai! — ele resmunga acarinhando minha barriga, mas me
olha nos olhos, amava ver como eu ficava quando tocava minha barriga ainda
chapada ou falava do bebê. — Desculpe aí se você ficou chacoalhando por
alguns minutos... é que a mamãe é uma tentação!!!
— Não seja tão bobo! — eu digo e ele sai rindo após dar um beijinho no meu
umbigo.
Fico vendo estrelas durante o restante do dia. Toda boba. Nunca fizemos
amor daquele jeito, e eu sei que só eu chamaria assim, pra ele foi uma foda
bem louca, mas pra mim, não. Ou não sei... talvez tenha sido amor para os
dois. Estava tão entregue, tão profundo, tão gostoso, com a alma ali, eu pude
ver...
Corro me arrumar para ir pra faculdade, mas mando uma mensagem antes.
“Fizemos amor? Ou foi uma foda bem louca?”
Envio, suspiro, tomo um banho para não ir cheirando a ‘ele’, e sorrio com o
toque do SMS, logo quando saio.
“Fizemos amor, minha gostosa... não acredito que perguntou isso. Fizemos
amor como nunca antes, foi delicioso. O melhor de toda a minha vida sem
dúvida nenhuma. Eu te amo, minha princesa! Boa sorte na prova, meus
pensamentos estarão todos com você até que eu possa enfim, te ver de novo.
Até mais tarde”
Eu leio suspirando e me jogo na cama toda feliz, de novo... — sorrio. — e
pulo quando vejo que estava ‘brisando’, eu precisava dar uma lida nas
matérias e me preparar para o exame. Me visto, peço um táxi, e chego na
faculdade em “pouco” tempo. Graças a Deus encontro a sala vazia que era o
que eu queria, revejo algumas teorias importantes e me sinto preparada. Reta
final, TCC logo aí, meu casamento que eu acabei de saber que seria no
exterior, minha lua-de-mel, meus sogros em casa, eu deveria estar uma pilha
de nervos, mas, com o talento que Vicente deu em mim... — eu sorrio
sozinha de novo. — jamais seria capaz de ficar tensa, nem se eu quisesse.
Estava molinha, molinha, até um pouco sonolenta.
Aguardo o horário da prova pacientemente, meus amigos começam a chegar,
dou ‘boa tarde’ a cada chegada, e assim que iniciamos as provas, termino
sendo uma das primeiras. A meu ver estava fácil vamos ver o resultado,
afinal, estava fácil demais pra ser verdade. Cinquenta questões, creio que
quase duas horas de duração só pela mania de reler pra ver se não tem
nenhuma pegadinha, um café no restaurante, pois estava faminta demais pra
esperar chegar em casa, e já era sete e meia quando parei na calçada para
entrar no UBER. Não demorei mais do que achei que demoraria. Só o que me
fodia era o trajeto de casa pra faculdade, e no caso de hoje o tempo que
esperei o professor chegar. Apostava que não estava deixando os meus sogros
a ver navios, não tanto assim.
Peço ‘gentilmente’ para o motorista fazer um carinho no acelerador, chego
em casa meia hora depois, e o silêncio profundo me assusta. Será que
saíram? Fecho a porta da sala atrás de mim e só vejo Vince no sofá, mexendo
em seu celular parecendo relaxado. Nem Allana estava por perto.
— Oi, cheguei! Cadê todo mundo? — me inclino, beijo sua boca chupando
sua língua como sempre fazia só para vê-lo ficar eriçado, e sinto seu cheiro
um tanto quanto diferente.
— Lara. — a voz de Vince atrás de mim ecoa por todo o meu cérebro como
se fosse uma maldição e eu me sinto nauseada.
Quando eu me viro o vejo ao lado de seus pais e não consigo controlar.
Vomito no carpete branquinho e não paro mais.
CAPÍTULO 3

INFERNO
Algumas horas antes.

Estaciono no GRU e suspiro desejando uma boa dose de coragem. Lidar com
minha mãe e com Vitor era tão... meu Deus, eu precisava agora de uma boa
dose de coragem com álcool, e um cigarro.
Decido relembrar os momentos com minha morena gostosa para ver se com
isso eu teria uma chance de suavizar aquele semblante de paisagem que eu
sabia que estava estampado em minha face. Eu não poderia recebê-los
parecendo me lamentar, eu tinha que melhorar o meu humor, mas antes de
tentar e correr o risco de ficar armado por pensar naquele almoço surreal, eles
chegam. Posso vê-los de longe, cheios de malas. Vão ficar a vida toda???
Forço um sorriso, prendo a respiração, e correspondo o abraço forte do meu
pai. Seu Henrique... estava tão velho desde a última vez.
— Oi, garoto! — ele resmunga emocionado e eu me solto rapidamente.
— Como vai, pai?
— Bem. E você???
— Estou bem, também... — eu resmungo sorrindo e minha mãe me agarra.
— Oi, mãe!
— Você está tão fortinho!!!
— Ele se casou com uma cozinheira, mamãe! É óbvio que ficaria gordo... —
Vitor zomba e só assim eu o encaro.
— Gordo e feliz. Ao contrário de você que permanece em boa forma, mas
por dentro...
— Ah! Vocês não vão brigar enquanto eu estiver aqui!!! — minha mãe já
fala puta e eu lamento por isso.
— Não iremos. Eu vou para um hotel! — ele diz e minha mãe o encara
entristecida. Na verdade ele também parecia chateado com o que ouviu de
mim. Mas claro, não me deixei levar. Cresci com aquele cara, ele e uma nota
de três reais tinham muita coisa em comum. Antes que eu possa responder:
“Vá de uma vez, será um prazer sua ausência...” meu pai “me interrompe”.
— Ninguém vai para hotel nenhum. — ele nem levanta a voz, mas já nos
deixa calados. Nós três, até minha mãe. — Ele é assim, sempre foi, você sabe
e já não é mais um garotinho. — meu pai me encara. — Não dê corda e não
vai se aborrecer. Viemos comemorar com você seu novo recomeço, sua nova
vida, sua felicidade... e o Vitor veio para fazer o mesmo. Ele não te diz, mas
está feliz por você, quer compartilhar isso. Só o que vocês sabem fazer desde
pequenos é brigar, e isso não vai mudar, mas você sempre foi o mais maduro.
Aprenda a lidar com ele como o homem que eu formei, e não como um
adolescente. Não perca a razão. Enquanto suas provocações fizerem sentido,
ele não vai parar, sabe disso!
— Nossa, pai! Muito obrigado por me descrever tão bem!!! — Vitor
resmunga cantarolando e meu pai o encara furioso. Aquela fúria contida.
— Não o deixarei te expulsar daqui de volta pra Nova York, são irmãos, vão
ter que se engolir, mas eu me dou o direito de fazer isso se você passar isso
aqui’ da linha.
Meu pai fala praticamente sussurrando só para não gritar, como se ele tivesse
quinze anos e minha já familiar dor de cabeça, chega.
— Certo. — eu digo massageando a têmpora. Aquela dor me pegou de jeito.
— Vamos indo, então.
Eu suspiro, vejo o filha da puta sorrir ao me encarar, e ignoro. Eu precisava
aprender a ignorá-lo.
— Meu Deus! Que casa linda, bebê! Foi a Lara que escolheu??? — minha
mãe pergunta assim que paro na frente de casa.
— Na verdade não, mãe. Escolhi pra fazer surpresa, ela amou, e então
decidimos ficar com ela. Até perguntei se ela queria escolher outra, mas ela
gostou também, ao conhecer. Se apaixonou como eu.
— Ehh!!! Quem é a sobrinha mais linda do tio? A mais favorita??? — Vitor
grita assim que a entra no quintal imenso. Allana nos esperava nos degraus da
entrada. Vinha de perua bem recomendada e segura. Tia ficou encarregada de
esperar por ela na porta, era um teste. Eu ainda a levava, e ela voltava de
perua. Levá-la na escola de manhã era algo que eu sempre ia fazer, pelo
menos levar.
Vitor encosta um joelho no chão e Allana o mede com sua cara de poucos
amigos.
— Eu sou a única que você tem. E ainda sim, nem de longe sou sua favorita.
Mal te conheço!
— Espera lá... te mando presente de natal todo ano.
— Eu nunca nem abro. Sei que é sempre boneca, desde os cinco não brinco
mais de boneca! Eu só tenho uma de pano, e é a única!
— Tudo bem... — ele parece constrangido. Meus pais só os assistiam como
eu. — Vamos conversar sobre isso agora que cheguei.
— Não vou com tua cara.
— Eu trouxe dinheiro pra presente em dólares!!! — ele ergue uma
sobrancelha e ela para pra pensar.
— Tudo bem. Alguns dólares em um passeio no shopping e muita coisa pode
mudar! — Allana resmunga, sorri ao ganhar um abraço apertado dele, e eu
fico puto por ele ter ganhado essa. Pestinha!!!
— Você está muito crescida. Está uma princesa! — meu pai diz, agarra sua
neta, e minha mãe tem a sua vez logo em seguida.
— Oi, vovó! — Allana sorri pra ela.
— Oi, minha linda! Você está a cara da tua mãe. Linda como ela era! —
minha mãe diz, Allana me olha meio confusa, e responde ‘obrigada’ sorrindo
de modo automático.
— É melhor que ela não repita isso perto da Lara! — Allana cochicha quando
eu ‘mando’ todos entrarem e nós dois ficamos para trás. — Ela não diz, mas
fica muito triste quando a gente fala da mamãe ou quando eu digo que sou
parecida com ela!
— Eu acho que isso não é bem verdade. Ela não liga quando é você quem
fala. Você pode falar da mamãe quando quiser.
— Mas a Lara não gosta.
— Ela fica com ciúmes. Tem medo de você dizer aquelas coisas que você
dizia sobre ela não ser sua mãe. Fica insegura... ela só quer que você a ame, e
que veja o quanto ela é capaz de fazer por você, como uma mãe faria. Lara te
ama!
— Eu sei, eu também amo muito ela!
— Pois é, e graças a ela você vai naquela festinha que tanto queria. — eu
digo e ela pula de felicidade. — Quando ela chegar, quero que a abrace forte
e agradeça, ela abriu mão de algo que era muito importante pra ela, só pra
você poder ir.
— O quê?
— Ela não vai mais trabalhar fora!
— Terá mais tempo pra gente???
— Terá todo o tempo pra gente! Não vamos mais dividi-la com ninguém!!!
— eu sorrio feliz e ela faz uma careta.
— Isso é coisa sua, né!?
— Sim!
— É sério, pai. Não sei como a Lara pode te amar, você é muito estranho! —
ela resmunga e entra correndo.
— Eu também não sei! — eu resmungo e sorrio sozinho arrastando a enorme
mala de minha mãe.
— Mãe, pai, já conhecem Tia! Ela ainda permanece me aturando fielmente.
— eu digo assim que chega a vez deles conhecerem a cozinha, e minha mãe a
abraça apertado. Agarrou e não queria mais soltá-la.
— É um prazer te ver de novo, Tia! Obrigada por tudo!!!
— Que isso... Vince é meu filho do coração, sabe disso. É um prazer estar
aqui e permanecerei cuidando desses três até o fim dos meus dias. São minha
família, dona Norma!
— Tá, mas como sempre digo...
— ‘Sem essa de dona... ’ Ok. — Tia ri , cumprimenta meu pai, e depois meu
irmão.
— E você, menino bonito??? Como está? — Vitor diz que ‘bem, obrigado’, e
então ela nos encara. — Não consigo ver diferença alguma... como vocês
conseguiam?
Ela questiona meus pais e minha mãe ri.
— Vince sempre foi calminho e...
— Minha mãe sempre foi um doce de pessoa... — eu digo pra Tia
interrompendo minha mãe. — sempre conseguiu ver a aura das pessoas. Eu
tinha uma aura angelical, Vitor, uma aura demoníaca.
— Você era um sonso, eu tinha autenticidade. — Vitor ri e eu reviro os
olhos.
— Ah! Tem isso... gêmeo do bem e gêmeo do mal? — Tia se diverte.
— Somos bem diferentes, Tia. Com o tempo conseguirá discernir. — eu falo
e ela ri de novo.
— Eu só vejo que ele é o bem-humorado e você o estressadinho.
— Adoro pessoas que enxergam a verdade tão facilmente. — Vitor zomba e
agarra Tia.
— E o que tem de bem-humorado, tem de sínico e provocador. Se ficar
mexendo com meu filho, te mando daqui direto pra Nova York, com um belo
ponta-pé na bunda! — Tia resmunga sorridente e Vitor se diverte.
— Mais uma... — ele diz rindo e meu pai segura o riso o máximo que pode.
— ei, pirralha, vem me mostrar onde eu vou dormir. Vou me enfiar nesse
quarto e não sair até o dia desse casamento. — Vitor puxa Allana pela mão e
sai.
— Se ele fizesse isso, seria tão bom... — resmungo e recebo o olhar torto de
todos.
— Não fala assim, está claro como ele adora te provocar, como está claro que
ele é doido por você. — Tia resmunga. — Esse é o jeito que ele tem de
chamar a atenção de todos. Não vê como você fica com Júnior? É a mesma
coisa, ciúmes. Não o leve a sério!
— Dizemos isso a ele o tempo todo. — meu pai quem fala.
— Mas ele já chegou passando dos limites! É um sem noção. Agora... —
mudo de assunto, não aguentava mais aquilo. Sempre foi assim, todo mundo
via o quanto ele era péssimo, mas eu sempre saía como o maldoso no final.
— Tia, vou instalar meus pais no quarto de hóspedes, pode fazer um café pra
gente?
— Claro. Lara está vindo?
— Sim. Precisou ir pra faculdade porque tinha prova, mas a essa hora já deve
estar chegando. Coloque um lugar pra ela na mesa.
— Pode deixar. Vou fazer um café caprichado. Não será tão bom quanto o
dela, mas darei o meu melhor.
— Eu não vejo a hora de experimentar a comida dessa menina. — meu pai
diz com um sorriso leve nos lábios. Se tinha uma coisa que amava, era comer
uma comida boa.
Vestia seu terno formal que combinava muito bem com o vestido liso de
minha mãe. Ela carregava consigo as jóias que tanto amava, e ele, apenas sua
aliança de casamento.
— Vai se apaixonar, pai. Lara tem mãos de fadas. — “Literalmente, mãos de
fadas, boca mágica, o cheiro que me enfeitiçava...” Só penso.
— Não vejo a hora... ela demora? — ele pergunta e me faz rir.
Mostro o quarto com cama de casal para os dois, os deixo a sós para se
organizarem, e paro na porta do quarto de Allana.
— Então, diz aí boneca. O que você gosta de fazer por aqui? — ouço Vitor
questionar Allana.
— Gosto de sair com o papai e com a Lara. Ver TV, comer as sobremesas
que ela faz, nós brincamos de banco imobiliário, coisas normais.
— Legal. Quem mais ganha no banco?
— O papai.
— Comigo também, ele ganhava toda vez.
— Ele não gosta de você!
— Eu sei.
— O que você faz pra ele?
— Eu fico o provocando, eu acho... só que ele é bem sensível.
— E por que faz isso?
— Porque é divertido vê-lo estressadinho... cadê as fotos da Nanda? Por que
só tem uma?
— Acho que não é da sua conta. — eu entro e digo. Ele sorri, mas Allana se
assusta com minha entrada repentina. — Filha, vai ver se a Tia já arrumou a
mesa do café. Veja se ela precisa de ajuda. — eu peço e Allana sai sem
resmungar só de olhar pra mim. Me conhecia bem demais. — Escuta, você
tem uma linha aqui, uma linha que acabei de criar. Se ultrapassá-la, terá
consequências. — eu falo e ele perde o sorriso.
Não tinha platéia então ele não tinha motivos para fazer gracinha.
— Jamais a magoaria com esse assunto. Perguntei sem pensar.
— Ela é uma criança, Allana só tem dez anos e ainda tenta lidar com a
ausência de Nanda do jeito dela. Ainda sofre, eu ainda sofro ao notar o
quanto sua ausência machuca minha filha, Lara sofre por saber disso, e o
assunto jamais poderá ser tema de suas provocações. Se voltar a falar de
Nanda com Allana, ou com Lara, eu vou esquecer que prometi ser o adulto
aqui, só por causa do meu pai e da minha mãe, e vou te socar até ver seu
sangue em minhas mãos.
— Eu acho que você está demais na defensiva. — ele se levanta, me encara e
eu me sinto olhando no espelho. A mesma barba, os mesmos olhos, os
mesmos trejeitos, o mesmo estilo de roupa, tudo... só o que nos diferenciava
era o interior. — Eu não vim pra te causar problemas. Fiquei feliz por saber
que seguiu em frente, conheceu alguém, e está feliz. Somos irmãos, nunca
quis e nem nunca tentei te fazer mal.
— Mas está fazendo. Você me faz mal só de estar aqui. Não convidei você,
não te chamei aqui, não era para estar aqui. — eu digo e lamento muito por
dizer aquilo, e tudo piorou quando o vi se sentir mal, mas não pude conter.
— Tudo bem, eu volto para os Estados Unidos ainda hoje.
— Não, não volta não. Não volta porque seria bom demais pra ser verdade, e
porque você ainda não fodeu com minha vida como tanto quer. Sem contar
que isso deixaria meu pai e minha mãe chateados demais. Fique, apenas faça
o que disse que faria. Se tranque no quarto e não saia mais até o dia do
casamento. Não chegue perto de minha filha, não chegue perto de Lara, e não
me provoque. Eu passei muito tempo vendo você tentar me foder dando em
cima da Nanda, eu suporto você desde que nasci te vendo desejar as minhas
coisas, as minhas conquistas, as minhas mulheres, a minha vida!!! Mas não
preciso mais. Não tenho mais obrigação de te suportar. Não atravesse meu
caminho e eu não atravessarei o teu.
— Nunca quis nada do que você teve, você sempre foi um porre!!! — ele fala
quando eu já virava as costas. — Nanda era uma chata, nunca gostei de
loiras, tudo o que você tinha materialmente falando, eu podia ter. Só o que eu
queria era ser seu amigo, mas você nunca me suportou. Eu não sabia o que se
passava na sua cabeça, eu não sabia o que fazia de errado. Tinha que ter um
padrão, seguir um padrão para ser admirado por você, e eu me sentia
frustrado por nunca descobrir qual era. Eu sempre te admirei, era um cara que
por onde passava conquistava todo mundo e fazia amizades, eu só queria ser
alguém importante pra você também, ser alguém que você quisesse ter por
perto.
— Ah! Foda-se! Eu já te dei o meu recado!!!
— Foda-se você! Continua com o rei na barriga, um porre! Se não vai ser do
modo fácil, será do difícil. Tenho a parte do Greg na empresa, vim pra ficar,
vai ter que me engolir, vai ter que ser meu irmão custe o que custar!
— Escuta... — eu tento não rir de nervoso. — você pode comprar a empresa
inteira. Vai continuar significando a mesma coisa pra mim, o mesmo de
sempre. Quase nada.
— O quase me salvou... ufa! — ele ri e eu só o encaro tentando entendê-lo.
Era eu quem não sabia o que se passava na cabeça daquele cara.
— Você é um moleque...
— E você é um velho gagá. — ele ri. — É sério, você parece ter oitenta anos.
Que cansativo! Quer que eu vá embora? Eu vou... dou uma desculpa, digo
que a empresa pegou fogo, alguém morreu, não ficarão chateados, eu
prometo que não. Vão entender e me desejar boa viagem, já fiz isso, sei
mentir muito bem, você sabe. — ele sorri sinceramente. — Eu vim pra te ver,
vim pra tentar mais uma vez, mas se não me quer aqui, vou embora. Vou
numa boa e não volto mais. — ele soa sincero e eu concordo.
— Certo. Faça isso então, agora! Vá embora sem que eu me passe pelo
gêmeo do mal como você sempre faz, e ganhará um ponto comigo. Se nunca
mais aparecer, aceito ser seu colega de telefone.
— Tudo bem! — ele confirma com a cabeça e eu fico esperando um riso ou
uma piada, mas nunca chega e aquilo é estranho. — É sério. Farei isso agora.
Vou pedir um táxi, dar uma desculpa, e voltar pra casa! Me desculpe pelo
telefonema com a Lara, eu devia ter avisado pra ela que era eu, não devia ter
brincado daquele jeito com ela, foi... foi bem sacana, foi horrível, desculpe
pelas gracinhas. Foi mal...
— Tá. — resmungo sem acreditar e saio com o coração pesado. Ele tinha
muitos dons, e um deles era aquele, eu virava de repente o gêmeo ruim e
ficava me sentindo mal.
Passo por meu pai no sofá e vou direto pra cozinha. Allana e sua avó
ajudavam Tia a arrumar a mesa do café, e conversavam sobre Nova York. Tia
dizia querer conhecer e Allana dizia estar ansiosa para conhecer a Disney,
pois nunca tinha ido.
— Um dia nós iremos, filha. Lara vai amar também, ainda não conhece!
— Em falar nisso, ela vai demorar? Deveria estar aqui... — minha mãe
começa e é interrompida pelo gêmeo nota de três, minutos depois.
— Ei, mamãe. Eu preciso voltar. Acabei de receber um telefonema de
urgência. Houve um acidente sério na sede de Nova York. — Vitor soa
desesperado e meu pai se aproxima para ouvir a conversa, aflito. Eu não
estava acreditando que ele ia mesmo fazer aquilo.
Minha mãe coloca a mão sobe o coração e meu pai parece se perguntar o que
houve.
— Nossa, filho! Alguém se machucou???
— Não, mãe! Não se preocupe. Só perda material graças a Deus. Não quero
que fique preocupada à toa, eu dou notícias...
Ele diz tentando tranquilizá-la e eu escuto um barulho de carro no portão.
Sigo até a janela da sala de jantar para ver se era Lara, mas era na verdade um
táxi. Ele havia falado sério, ou pelo menos mentia bem demais... não. Eu
sabia bem quando ele mentia, podia sentir seu verdadeiro humor como
ninguém.
— Para um cara tão metido, cheio de si, dono do mundo... é uma vergonha
ter uma empresa vazia... — eu falo sabendo que eu ia me arrepender
amargamente. — Não tem ninguém lá que possa cuidar de suas coisas
enquanto viaja. Minha empresa é pequena em comparação á Inbox, mas pelo
menos tenho funcionários confiáveis. — eu resmungo e ele tenta entender o
que eu fazia.
— Também não entendo. Vitor tem encarregado, tem a vice-presidente... se
ninguém morreu, por que não manda Clarence resolver? Você está fora, o
que acontece lá enquanto está aqui, é responsabilidade dela, inteiramente
dela. — meu pai fala e Vitor nega.
— Não, eu prefiro resolver pessoalmente, pai. Voltarei logo, ou irei pra
Grécia de lá. Ficaremos bem.
— Fique. — eu digo confirmando com a cabeça e ele fica feliz, mas disfarça
bem. — Fique e deixe que a responsável resolva. Acompanhe pelo telefone.
Jaque vem pro Brasil a qualquer momento e logo embarcaremos para a
Grécia, precisarei de você aqui.
Eu não sabia o porquê fazia aquilo. Acho que porque notei que ele falava
sério e estava disposto a ir embora como eu mandei. Eu era um idiota.
— Tudo bem, eu... — ele sorri enquanto minha mãe aperta meu ombro
admirando a cena de camaradagem que nunca aconteceu entre nós dois. —
vou liberar o táxi e — ele balança o celular. — ligar pra lá, ver como vai ficar
tudo e resolver à distância.
— Ótimo!!! — eu digo sorrindo como Monalisa, ele sai, minha mãe fica
fazendo graça e eu sigo para a janela.
Vejo quando ele libera o táxi, entra de novo em casa, e suspiro.
— Foi muito adulta sua atitude. Gostaria muito de ver isso acontecer mais
vezes. Quero que sejam amigos. Sua mãe e eu adoraríamos que vocês fossem
amigos e parceiros um do outro! — meu pai diz com a mão no bolso, mas
não faz cena como minha mãe fez.
Concordo com a cabeça com a cara de paisagem e só penso. “Se vocês
soubessem que eu o expulsei e que nunca vamos ser amigos...” Ai, ai... que
vida!!! — sorrio aceitando meu carma.
Ouço mais uma vez o barulho de carro na porta de casa, e vejo quando Lara
entra correndo. A garota estava sempre correndo.
— Mãe, Lara chegou!!! — busco a velha ansiosa na cozinha e ela dá
pequenos pulinhos de alegria.
— Como eu estou? — ela pergunta me seguindo e eu a encaro. Parecia doida.
Como ela deveria estar???
Meu pai nos segue atrás, eu sigo mais a frente só por estar ansioso para vê-la,
e posso ver primeiro a cena mais horripilante que presenciei em toda a minha
vida.
Lara estava inclinada com as mãos nos dois joelhos de Vitor e parecendo
querer engolir ou arrancar fora a sua língua. Aqueles beijões de novela...
tensão sexual... excitação...
— Lara. — eu digo, pois a cara de minha mãe já não estava muito boa. Temia
que ela enfartasse primeiro que eu.
E eu que achei que aquela cena não poderia piorar ainda mais... Lara trava ao
ouvir minha voz, parece beirar o surto psicótico ao olhar de mim para ele, e
num rompante vomita no carpete inteirinho. Vitor levanta os pés
imediatamente e me encara parecendo estar mais assustado com o enjoo da
grávida do que com o fato de que o peguei com minha noiva. Mais
precisamente atacando sua boca.
— Oh! Meu Deus, Vince, desculpa!!! — Lara resmunga chorando entre
pausas enquanto o vômito jorrava. Estava de quatro, e enquanto vomitava,
chorava e falava, sujava todo o seu cabelo cumprido que parecia uma
vassoura varrendo as poças que se formavam no carpete.
Algo naquela cena mudou alguma coisa dentro de mim. Algo mudou.
— Oh, minha nossa. — minha mãe se abaixa, tira todo seu cabelo do vômito
o colando para trás, e meu pai se aproxima de Vitor.
— Vem. — ele diz e Vitor logo o segue em direção aos quartos, no andar de
cima.
— Vem cá, vou te colocar no chuveiro... está toda suja. — minha mãe abraça
Lara pelo ombro, mas ela nega.
— Não, estou bem, vou limpar isso. Preciso limpar isso... me desculpe! —
ela diz e minha mãe não entende nada.
— Como assim???
— Eu tô bem, dona Norma. Eu só... só preciso... me dá licença. — Lara sai e
volta correndo com seu kit limpeza.
Eu sigo para o quarto sentindo o seu olhar em minhas costas, mas... eu não
sabia como me sentir, eu estava arrasado, muito arrasado. Não. Eu estava
mesmo é puto. Estava muito puto por ter presenciado aquilo. Por engano ou
não, Lara o beijou de língua, e se eu não tivesse chego sabe se lá Deus o que
mais teria acontecido até notar que não era eu.
Vou direto pro banheiro, ligo a ducha no frio, e me debruço no azulejo para
não ruir completamente. Que porra de cena foi aquela???
— Vince... — ela geme e se aproxima assim que eu saio do chuveiro. Me
esperava no quarto e parecia estar morrendo de medo da minha reação.
Eu a encaro, não sei como lidar com aquilo, mas respiro fundo e me sento na
cama. Foi um engano, eu sabia, mas foi um engano muito doloroso pra mim.
Naquele momento eu sentia vontade de matar os dois.
— Escuta. Eu vou falar e você vai ouvir. Serei breve. — eu digo e ela
permanece de pé, só me encarando em expectativa. — Não vou mais
continuar com a ladainha de que ele não é confiável, viu que mais uma vez se
aproveitou de você e do seu engano. Só que ele é meu irmão, terei que o
engolir, você não. Você me deve fidelidade, ele é solteiro. Você sabe que ele
é solteiro, certo?
— O que eu tenho a ver com isso??? — ela já diz indignada.
— ‘Tem’ que ele não usa aliança, Lara. Eu uso. Eu uso uma aliança dourada
na mão direita e ele não!
— Que porra é essa de “aliança na mão direita”, o que eu quero com “aliança
na mão direita”???
— Pra começar baixe a bola. Pare de gritar comigo, você fez a merda então
pare de levantar essa voz pra mim! Ficou tonta com o beijo? Uma tapada? Eu
uso a aliança que escolhi para nós, ele não, e se a partir de agora você não
começar a procurar diferenças entre nós para não correr o risco de beijar e dar
pro cara errado, me separo de você. Se voltar a se aproximar dele, falar com
ele, olhar pra ele... me separo de você. Conseguiu entender ou quer que eu
desenhe?
— Nossa. — ela ri debochada. — Me ameaçando de novo. Não posso
trabalhar, não posso ficar muito tempo fora de casa, não posso olhar pra
ninguém...
— Tá arrependida? Quer arrego?
— Você faz parecer que esse casamento é tudo o que tenho, mas ainda tenho
amor próprio!!!
— Claro que tem, eu vi agora pouco. É amor próprio demais, tanto que é
muito maior do que o que diz sentir por mim porque logo pôde dividi-lo com
o meu irmão.
— Me respeita.
— ENTÃO SE DÊ O RESPEITO, CARALHO!!! — eu grito e ela se assusta
porque na mesma hora eu me levanto. — Preste mais atenção! Vai se
confundir quantas vezes???
— EU ESTOU NO MEU DIREITO, VOCÊ MENTIU!!!
— Eu menti?
— MENTIU! Disse que o desgraçado era completamente diferente de você
fisicamente. Disse que por não ter sido gêmeos da mesma placenta ou sei lá o
que, vocês eram bem diferentes aparentemente! O cara é uma cópia idêntica
tua, Vicente, é sua versão todinha, sem tirar nem pôr. Os mesmos olhos, a
mesma barba, o mesmo cabelo, altura, cor de pele, jeito de se sentar, postura,
tudo!!! ELE TEM UM TERNO IDÊNTICO AO TEU!!! — ela grita
apontando pra porta e passa a andar de um lado pro outro. — É o mesmo
terno, eu os lavo todos os dias porque “meu senhor” — ela balança as mãos
apontando pra mim de forma teatral. — não gosta de usar roupa repetida, tem
que ser lavada todo dia, e eu lavo a mão, seco com protetor especial, passo no
ferro por horas à fio pra ficar perfeito, conheço cada um deles, cada detalhe,
cada dobra, e ele está vestindo o mesmo terno!!! Se não pegou do teu
armário, tem o mesmo gosto para roupas sociais, e eu aposto que até seus
trapos de ficar em casa são os mesmos que os teus, aposto um rim que vocês
têm os mesmos gostos. Vocês são gêmeos idênticos não importa a porra do
modo como foram gerados, então vá para o inferno!!! Vá para o inferno!!!
— Fale direito comigo, Lara!!!
— Fale você direito comigo!!! Eu tô aqui me sentindo suja, mal por ter me
enganado, mal por ter feito você ver essa cena horrorosa, me sentindo
completamente frustrada, culpada e infiel porque não tem cabimento nenhum
eu beijar outra boca que não seja a sua e você aí... com essa pose de rei do
mundo me tratando como uma vadia asquerosa. — Lara desabafa e chora. —
Eu não vou me sentir culpada, eu não tive culpa. Ele podia ter dito no
telefone que era ele e não disse, podia ter me afastado quando eu cheguei
perto e não fez, e você nem trocou uma palavra com ele, não arrebentou a
cara dele como eu pensei que faria, só está aqui me culpando enquanto ele
escuta nossos gritos e se diverte, então... fale você, direito comigo. Eu nunca
te desrespeitei como você faz o tempo todo, nunca enchi você de regras e
limites, você só me vê como um corpo, uma propriedade, um pedaço de carne
e agora um beijo que aconteceu por engano, que não devia ter acontecido, foi
um ‘chifre gigante’... por que não me recebeu na sala? Por que demorou pra
aparecer? Você sempre me recebe na sala... eu falhei conosco, mas você
também.
— Claro, agora a culpa é toda minha.
— Não. — ela nega com a cabeça, estava decepcionada. — A culpa é
totalmente minha! Vou pra minha casa.
— Tenta a sorte!
— Como é?
— Não vai pra lugar nenhum. Não tem mais casa, nunca teve. Essa é sua
casa, vai ficar e sem bater boca. Não tem essa de ‘vou correr pra mamãe’, vai
ficar e engolir a seco as consequências.
— Me obrigue!
— Com certeza! — ela se adianta em direção ao closet, mas eu entro na
frente.
— Eu tenho o direito de ir e vir.
— ‘DE VIR PORRA NENHUMA’!!! Não se for se casar comigo. Se quiser
ir eu deixo, mas vai sair por aquela porta de mala e cuia uma vez só para
nunca mais voltar. Não vou ser enquadrado por cárcere, tu vai ficar por
‘vontade própria’. Eu sempre soube que chegou para foder com a minha
vida, e foi dito e feito, mas fodeu e vai ficar fodida aqui comigo. Você é uma
criança, uma criança que não sabe nada da vida, mas eu vou te ensinar. Eu
vou te ensinar muitas coisas, e a primeira delas é que um casamento é para
sempre. Não pode correr pra mamãe e pro papai quando fizer merda, e que
merda!!! Um casamento não é só uma foda gostosa todos os dias, festas e
arco-íris. É briga, é discussão, é grito, é palavrão... tem tudo de ruim como
tem tudo de bom. Achou que podia entrar na minha casa, virar a minha vida
de ponta cabeça, me fazer mudar toda a minha rotina para te incluir em uma
família que já não tinha mais vaga, para sair fora quando quisesse??? Que
amor é esse??? Seu amor não pode ser tão frágil assim. — eu digo e enfim
paro para respirar, só por um momento. — E então, qual vai ser???
— Vou pensar no teu caso. — ela diz se desarmando e eu respiro aliviado,
mas não demonstro. Eu não havia socado Vitor, mas se a filha da puta fosse
embora por causa daquele bosta, eu ia matá-lo.
— Isso, pensa. Pensa, mas pensa no banho. Está fedendo a vômito.
— Sou uma mulher grávida que beijou a boca de um desconhecido. Nem
direito a vomitar eu tenho???
— Pelo menos eu tive isso. Um vômito a meu favor. Pareceu nojo dele, e não
por causa da gestação.
— Eu tive nojo, sim! — ela diz miando e se achegando.
— Para! Não vem com essa... não vai colar, sua vadia!!!
— Tive! Tive mesmo!!! Eu estranhei tudo e ia perguntar, mas você chegou,
eu nem olhei pra ele direito, se tivesse prestado mais atenção teria notado que
não era você. Não era seu cheiro e nem seu gosto. — ela fala e envolve seus
braços no meu pescoço. — Me perdoa por isso, Vince! Sei que deve ter sido
uma cena horrorosa. Prometo que jamais vou me enganar de novo, me sinto
horrível, péssima. Me perdoa, eu te amo muito!!! — ela diz choramingando e
meu coração se espreme.
— O que sentiu? A semelhança te deixa atraída como é por mim?
— Não senti nada, só estranhei. Minha boca sabia que não era você, meus
sentidos sabiam, só meu cérebro e visão que foram enganados, e não. Não me
senti e não me sinto atraída por ele de forma alguma, muito pelo contrário, a
semelhança é bizarra demais. Sou doida por você, muito doida, não pode ter
dúvidas quanto a isso nunca!
— Sei.
— Sabe sim. E desmancha essa cara, não fiz por mal. Me enganei, não me
deixe pior do que estou, não posso me sentir mais mal do que já estou, pode
fazer mal pro bebê!!!
— Quando é a segunda ida ao médico? Tá doendo sua barriga? Nanda sentia
dores no início... — esqueço, falo de Nanda, mas ela parece não se importar.
— Não senti dores não. Preciso tomar aquelas vitaminas que já estou
tomando e ir ao médico uma vez por mês pra ir acompanhando a formação.
Agora é só o mês que vem, mas teremos que ir a uma clínica na Grécia... —
ela sorri.
— Então já pensou sobre se casar. — eu zombo e ela ri.
— Não tive muita escolha...
— Filha da puta! Irônica. Teve muita alternativa e escolheu a correta, sabe
disso. Agora vai pro banho, vai...
— Eu te amo. Você me ama??? — ela pergunta me olhando nos olhos com
sua carinha de apaixonada.
— Eu te amo. Agora se manda, tome um banho e desça. Ainda preciso te
apresentar para os velhos, não é!? Vou me trocar e ver se a Tia já fez o café!
— eu me afasto, coloco uma roupa decente e desço. Encontro todos na sala e
posso ouvir Tia mexendo na louça da sala de jantar.
— Como ela está? — meu pai pergunta e eu encaro o filho da puta.
— Está envergonhada, enojada, e por aí vai...
— Conversei com Vitor, ele não chegará perto dela.
— Não vai chegar mesmo, já falei pra ele se manter longe, na próxima vai ser
preciso a segurança nacional para me tirar de cima dele. — eu falo com meu
pai e volto a encará-lo. — Se eu te ver perto dela de novo, acabo com você!!!
— Vocês só esqueceram que foi ela quem me beijou!!! Eu nem tive tempo de
reagir, ela me beijou e você chegou. Tudo aconteceu muito rápido.
— Fiquei um minuto só olhando pra vocês para ter certeza do que eu via, o
que é tempo demais. Meu recado está dado, Vitor!!!
— Vocês brigaram, não é!? — minha mãe pergunta entristecida.
— Sim, mãe. Queria ir embora, eu que não deixei. É bom que ela não tenha
me feito escolher... — eu o encaro. — e foi muito bom pra sua saúde física
ela não ter ido embora!
— O café já está na mesa!!! — Tia avisa, — e eu suspeito de que avisou no
momento “certo”, só para não me ver arrebentar a cara dele e piorar as coisas.
— mas eu faço todos aguardarem a chegada de Lara e mando Allana ir lavar
as mãos.
— Oi... — Lara desce minutos depois e meus pais e Vitor se levantam. — eu
acho que nosso primeiro encontro não foi dos melhores, eu sinto muito!
— Ah! Que isso, não foi culpa tua!!! — meu pai resmunga e os três se
cumprimentam com um abraço triplo.
— Foi! Foi sim, e eu já me desculpei com o Vince. Eu os confundi e me sinto
muito envergonhada, isso não vai mais se repetir. Eu peço perdão, foi muito
constrangedor!
— Estamos na era da modernidade, não precisa se sentir assim. — Vitor fala
com alegria, mas fica sem graça com o olhar que Lara o lança.
— Acho melhor o senhor calar a sua boca. — ela resmunga e imediatamente
volta seu olhar tímido para meus pais. — Me desculpem, é filho de vocês
como Vince, e eu fui extremamente bem educada por meus pais, mas é que já
é a segunda vez no dia em que ele me faz pensar que é meu noivo. Me
enganou por telefone me ouvindo dizer coisas particulares demais em
silêncio, me dando corda e se fazendo passar pelo Vicente, e agora continuou
me beijando se aproveitando de minha distração, se aproveitando de mim. Eu
errei muito em não notar, mas o filho de vocês cometeu um grave erro ao agir
desse modo.
— Você está em sua casa e ele é maior de idade. Pode e deve tratá-lo como
ele merece. Está na sua razão, minha nora! — minha mãe sorri não querendo
gargalhar da cara de tacho do Vitor e Lara assente.
— É um prazer recebê-los aqui, e novamente peço desculpas! Eu sinto muito
mesmo!!! — Lara diz e se aproxima de Vitor contrariando toda a nossa
conversa. Vê-los um perto demais do outro me dava náuseas. — E o senhor,
se chegar perto de mim novamente, ou de algum jeito me fizer pensar que
estou falando com Vicente, te denuncio e eu não estou brincando. Vocês são
idênticos, mas vejo agora que é só por fora. Vince tem caráter e jamais
pensaria em fazer algo tão sujo desse tipo com alguém. O que fez foi muito
grave e fez duas vezes. Na próxima gracinha sou quem vai abrir a porta pro
senhor se retirar. — ela fala, estende a mão pra ele apertar, Vitor sorri por um
momento, pega em sua mão, e em um único gesto, Lara tira uma espécie de
caneta do bolso do jeans, e faz um risco grosseiro em sua mão. — Só por via
das dúvidas.
— O que é isso? — Vitor ri olhando para a própria mão pintada de azul. Meu
pai se segura para não rir alto.
— É um marcador permanente. Difícil de sair da pele, vai ficar aí por dias
por mais que você esfregue. Tenho certeza que agora posso diferenciar vocês
dois, mas isso vai me garantir que você não se aproxime de mim por umas
duas semanas, seja lá o que você arme para se passar por ele. Até a tinta
começar a ficar fraca e enfim sumir, e quando isso acontecer, riscarei de
novo. Eu não quero que chegue perto de mim e enquanto estiver em minha
casa, quero que me respeite. — Lara diz com seriedade e um semblante
entediado. O encarava face a face e Vitor só sorria.
— Você definitivamente é uma peça rara. É mil vezes mais interessante que a
Nanda!!!
— E além de interessante, tenho a maldade que aposto que ela não tinha. Sou
vingativa, sei me defender, sei onde fica a delegacia, e vou me casar com um
empresário que deve ter uns trinta advogados à minha disposição. — Lara
termina, ignora o sorrisinho dele, e volta a encarar meus pais. — Os senhores
já me esperaram muito, vamos tomar esse café antes que esfrie?
— Chegamos aqui com a esperança de comer a tua comida... — minha mãe a
pega pelo ombro e as duas saem na frente.
— Vince quer sair pra jantar fora, mas adoraria cozinhar algo mais tarde...
As duas saem tagarelando, mas eu não saio dali antes de encará-lo bem...
— Desculpa. Não vou mais fazer ‘nenhuma gracinha’, prometo.
— Já prometeu antes.
— Mas ela chegou me beijando de repente, fiquei sem reação. Não vou
provocar, não vou me passar por você e se ela se confundir, vou dizer. Não
vou assumir esse papel, não vim pra isso. Prometo! — ele diz e eu sigo para a
sala de jantar sozinho.
— Viu, Vince... Lara disse que vai cozinhar pra gente... — minha mãe fala
assim que eu me sento ao lado da filha da puta.
— Você vai amar vovó. A comida da Lara é maravilhosa!!! — Allana
confirma e ganha um beijinho de sua protetora.
— Lara teve prova hoje, está cansada. Vamos jantar fora e aí ela faz o almoço
de amanhã. Aliás, convidaremos os pais dela também, pra vocês
conhecerem...
— Podemos fazer isso hoje e amanhã. Sabe que nunca me sinto cansada ao
cozinhar. Posso fazer algo rapidinho já que está tarde, mas com certeza,
mesmo que seja simples, será melhor que qualquer restaurante por aí!
— Tem certeza?
— Tenho. Vou amar cozinhar para meus sogros!!! Já quero começar agora
mesmo!!! — ela ri e contagia a todos.
— Pode ficar com esse traseiro sentado aí, primeiro coma!
— E como vai o bebê? Os exames...? — meu pai quem pergunta.
— Vai bem. Só tenho algumas semanas então estou naquela fase de espera e
expectativa!
— Está feliz??? — minha mãe pergunta e Lara sorri.
— Muito!!! Muito mesmo!
— Eu é que não estou muito, né!? — Allana resmunga.
— Você é uma ciumentinha igual era tua mãe! — minha mãe ri. — Você não
ficará sem atenção e não será menos amada, sua boba! É seu irmãozinho
quem está vindo aí!
— Fernanda era ciumenta, é??? — Lara pergunta e minha mãe ri.
— Era, não era, Vince...!? Conte pra Lara!
— Era um pouco sim. Possessiva como a filha.
— E como você agia com ela? — Lara pergunta interessada com um
sorrisinho irônico.
— Apertava a coleira! — resmungo mastigando e Allana fica em choque.
— Você amarrava uma coleira na minha mãe?
— Claro que não, menina. É modo de dizer!!! — eu falo e volto a minha
atenção para a vadia sínica. — Lidava com Nanda do meu jeito.
— Pelo jeito eu sou mais tranquila, então, porque você é mais ciumento do
que eu.
— Jura? Vince sempre foi tão desapegado. — meu pai participa da conversa
chata.
— Ah! É? — Lara ri. — Sabia disso não. Devia demonstrar desapego mais
vezes... — ignoro seu comentário e chamo Tia para tomar café.
O assunto não morre, Vitor e Tia se juntam a nós, e eu permaneço ouvindo
sobre Nanda até eu pedir claramente para que aquele assunto acabe.
— Por que se incomodou tanto com tua mãe me contando sobre a sua ex???
— Lara pergunta após o jantar maravilhoso que preparou para todos.
Cozinhou macarronada, salada, bife grelhado, bolo de cenoura de sobremesa
estufado de chocolate, e estava dos deuses.
— Por que de repente a Nanda virou seu assunto favorito? — eu rebato
tirando a camiseta e ela ri.
— Ela me contou coisas que você nunca me disse...
— Nanda faleceu. Por que tem que saber sobre ela? Vou me casar com você,
por que quer desenterrá-la agora? Não faz sentido nenhum.
Me jogo na cama e ela veste a primeira camisola que pega na gaveta.
Vermelha, curta, sexy... mas aquilo não me faz ‘acordar’ eu estava
extremamente cansado, até psicologicamente falando.
— Desculpe te aborrecer com isso. Não falarei mais, e nem darei corda pra
tua mãe. — ela diz ao se deitar.
— Gosto assim, bem obediente! Vem mais pra cá. Encosta a tua cabecinha no
meu ombro e durma! — eu dou risada fechando os olhos.
— Eu vou dormir mesmo, também estou exausta. Boa noite. — ela se inclina
pra beijar a minha boca e eu sorrio. — Te amo.
— Também te amo. Apaga aí... — eu peço, ela apaga as luzes dos abajures
pelo lado dela, eu me viro para abraçá-la de conchinha, e tento ignorar o pau
que levanta no ato. E ignoro mesmo... mas quando acordo, sinto que
continuava duro.
— Ei, dorminhoco... vou com tua mãe no shopping. Ela quer comprar
algumas coisas e eu vou ao mercado. Seu celular não para de tocar...
— Que horas são? — resmungo ainda extremamente sonolento.
— São oito. Mas seu pai levou a Allana pra escola. Está tudo bem. O café
está na mesa.
Ela diz, eu abro os olhos, e a vejo acima de minha cabeça com aquele
sorrisão e uma novidade, um batom vermelho vivo.
Arrasto-me preguiçosamente até me sentar, esfrego os olhos, e a meço de
cima a baixo. Vestia um de seus vestidinhos curtos de menininha
arrumadinha, amarelo com bolinhas, sapatilha, os cabelos soltos do jeito que
eu amava, e o batom vermelho.
— Que foi? Estou linda? — ela ri.
— Como sempre. Mas nunca foi de passar batom tão forte...
— É porque fiquei um tanto quanto sem graça de sair com tua mãe. Ela é
muito chique, cheia de jóias, batom, saltos, está tão linda... vão pensar que
sou a emprega dela.
— Hmm... — eu sorrio sem saber realmente o porquê... — Vem cá me dar
bom dia direito, então... do jeito de todo o dia...
Eu a puxo pro meu colo, beijo sua boca deixando minhas mãos deslizarem
por todo o seu corpo, bagunço um pouco seus cachos modelados, e a abraço
forte forçando sua intimidade na minha. Sua cintura que se remexia me
deixava louco por ela naquele momento, mas não era só isso. Eu estava louco
por teu perfume, seu hidrante perfumado com o mesmo aroma, tua boca
adocicada por causa do batom... era o conjunto todo.
— Pode me fazer um favor já que vai ao shopping...? — murmuro, mas não
paro de atacá-la enquanto ela gemia rebolando.
— Sim...
— Aproveite as compras da minha mãe, e compre pra você também. Aposto
que ela vai se encher de roupas, compre coisas lindas pra usar pra mim. Seus
vestidos, seus sapatos, passe no salão, faça tudo. As compras do mercado
peça para entregar e passe o dia com ela, ficando linda pra mim. Ainda mais
linda!!! Vou te dar um cartão e não quero que se preocupe com o preço. É
mais pra mim do que pra você, eu garanto isso!
— Será fácil!!! — ela diz puxando meu moletom pra baixo, e arfa ao se
sentar.
— Cachorra!!! — eu digo assim que ela começa a rebolar, giro seu corpo
ficando por cima, e estoco sem piedade. — Eu passei a noite inteira duro! —
eu digo (só para informar) olhando em seus olhos e ela nega.
— De manhã você meio que acordou me mandando cair de boca porque
estava doendo. Mamei tudo e você voltou a dormir logo depois de me beijar.
— Tá falando sério? — eu pergunto e ela ri afirmando. — Então tu abusou
desse corpinho, porque eu não me lembro de nada.
— Acontece. Eu vivo acordando melada e mal me lembro do que aconteceu.
— Na maioria das vezes você também implora por pau enquanto dorme. Fica
ainda mais puta miando de olhos fechados e se eu ignoro tu fica ainda mais
puta do que já é. — ela ri. — Você sabe que a porra é minha então é isso o
que importa! É gostoso não é!? — eu continuo metendo em sua boceta
quente. E era muito bom meter e falar. — Acordar meladinha ou comigo te
estocando.
— É mágico! Maravilhoso!!!
— Pois então... tem que acatar quando eu mandar, dormindo ou não, e eu não
vou pedir permissão para foder essa boceta que é minha desde o primeiro dia
que trouxe o inferno e o pecado para a minha vida. — ela sorri, mas eu
coloco mais força e ela grita revirando os olhos. — Ah! Isso! Adoro te ver
assim, não vou parar até você gozar no meu pau e me proporcionar um início
de dia incrível!!! Vai pro shopping cheirando a mim, só vai passar um
lencinho para ninguém ver suas pernas sujas!
Falo, ela concorda sem nem saber do que eu falava, — apostava nisso. —
geme junto comigo, fica louca, choraminga pedindo mais da minha vara, mas
depois de alguns segundos, algo muda. Lara abre os olhos, espalma as mãos
no meu peito, e sussurra.
— Para!
— Nem pensar!!!
— É sério, para. — ela repete e então eu paro. Sempre que ia gozar tentava se
afastar por causa do excesso de prazer, mas aquilo era diferente.
— Certo, o que foi... machuquei você???
— Tá doendo! Tá doendo muito!!! — ela chora e eu me desespero. Saio de
dentro dela e ela se senta na cama.
— Desculpe, amor. Não fiz nada diferente de todos os dias!
— Eu sei que não, não fez, eu estava amando... — ela estende a mão para
acarinhar minha nuca, mas quem recebia a sua atenção era o vazio do seu
olhar e não eu. — Não está doendo aqui embaixo, está doendo lá dentro.
Minha barriga está doendo...
— Tudo bem, vou te levar no médico agora, e não ouse a abrir a boca!!! —
Pulo da cama, pego no armário uma muda de roupa para me trocar e ela se
levanta da cama com dificuldade, por isso me adianto para ajudá-la.
— Eu tô bem, eu só vou me limpar porque provavelmente me farão exames.
Já venho!
Ela se tranca no banheiro, eu me troco, pego as chaves do carro, aviso minha
mãe a respeito de sua dor, e quando subo, vejo que permanecia trancada. Giro
a maçaneta, respiro fundo para não gritar com ela, e só falo.
— Lara, vamos! Já demoramos demais, vamos logo ver isso!!!
— Eu não vou, vai embora!!!
— O quê?
— Eu tô bem, Vince! A dor passou, vai embora!!!
— Você só pode estar de brinc...
— VAI EMBORA, VICENTE!!! — ela grita a plenos pulmões como nunca
vi antes, e eu fico definitivamente preocupado.
— Precisamos ir ao médico! Você está com dor!
— A dor já passou, eu só quero espaço, só preciso de espaço, e você... você
está me sufocando. Vai embora!
— Não. Não vou embora! Me deixa entrar! O que está acontecendo???
— Quero ficar sozinha. Me deixe sozinha.
— Você está chorando! Eu te machuquei? Por favor... Lara!!! — eu encosto a
testa na porta e respiro fundo sentido meu peito arder como se eu fosse
alérgico a minha própria respiração. Claro que eu a machuquei, por qual
outro motivo ela se esconderia de mim e rejeitaria minha aproximação!?!? —
Merda!!! ABRA ESSA PORRA, INFERNO!!!
Eu bato na porta, esmurro mais precisamente falando, e como ela não reage,
só consigo arrebentar aquela porta no pé.
— SAI DAQUI! NÃO ENTRA AQUI! — só a ouço gritar após parar de
tentar arrombar a porta.
Lara estava sentada apoiando as costas na imensa banheira que ocupava o
centro do cômodo grande e uma poça de sangue parecia aumentar de
tamanho embaixo de seu bumbum usando o tecido fino do vestido como
filtro. Vermelho vivo. Vibrante. Doloroso. Um verdadeiro pesadelo em
tempo real.
E em falar em dor, aquela dor familiar se apossou de todo o meu corpo ao me
aproximar e fitar o horror estampado em sua face. Doía tudo, pulsava em
inflamação e eu sabia que nenhum remédio no mundo funcionaria porque eu
já estava calejado, eu já havia sentido aquilo. Era a dor do luto. A dor de
perder alguém, a dor de perder alguém que você amava mais do que tudo. E
eu amava aquele bebê, amava muito.
— Não era pra você ver isso, não era pra você entrar aqui. Eu sinto muito.
Me desculpa. — ela chora muito de cabeça baixa. Por que ela estava se
desculpando??? — Me desculpa, eu sinto muito mesmo, trouxe o inferno pra
tua vida!
— Vem cá, amor. Não fale assim... — ouço um resquício do que um dia foi
minha voz e a coloco no meu colo. As palmas de suas mãos e todo o seu
vestido estavam banhados no sangue e o cheiro forte de cobre nem me
incomodou. Eu me sentia anestesiado e por isso só o que consegui fazer foi
niná-la em meu colo, me entregar para a culpa que me consumia, e dizer que
tudo ia ficar bem, mesmo sabendo que era mentira.
CAPÍTULO 4

CULPA

Fazia um tempinho já que eu não tocava as solas dos meus pés em um


gramado tão fofinho. A última vez que fiz isso foi quando brincamos com a
mangueira do jardim. Eu, Allana, e Vince. Mas estávamos tão ocupados nos
últimos dias que não tivemos um tempo para as farras que Allana amava. E
era tão bom enfim, poder sentir a textura, a umidade, o cheiro gostoso... me
ajoelho, sorrio tocando com as palmas das mãos, me deito me sentindo a
mulher mais feliz do mundo, e quando me viro de lado ao sentir um toque
leve e curioso no meu braço estendido, encontro uma borboleta cor-de-rosa
extremamente linda repousando ali tranquilamente, sem medo algum. Nunca
vi uma borboleta daquela cor... era tão linda!
— Vince!!! — eu pego a pequenina nos dedos, me sento com cuidado para
não afugentá-la com movimentos bruscos, e olho ao redor. — Allana!!! Vem
ver!!!
Alguém precisava vê-la, pois eu sabia que só falando ninguém acreditaria em
mim. Mas, não havia ninguém por perto, nenhum dos dois, e aquele paraíso
não era nosso quintal imenso.
— Que lugar é esse??? — pergunto um tanto assustada para a pequenina, mas
nessa hora ela levanta voo como se não pudesse me dar respostas.
Eu estava em um lugar parecido com um imenso vale encantado. Paisagens lá
longe, montanhas nem tão grandes, mas distantes como se fossem léguas para
alcançar, árvores com suas folhas espessas, flores, e pássaros que eram
agraciados por um dia lindo de sol como se fosse verão. E talvez era, eu que
não tinha certeza, nem sequer sabia que lugar era aquele.
Mas... antes que eu pudesse começar a ficar preocupada por estar em um
lugar desconhecido apesar de lindo, eis que eu vejo uma silhueta amarelada e
brilhante, sentada nas raízes de uma árvore bem grande, e aparentemente
velha demais, alguns passos mais a frente. Eu não sabia quem era, mas
encontrar alguém ali já me deixara feliz.
— Com licença... — eu me aproximo pelas suas costas e vejo que era uma
mulher. Aliás, uma bela mulher. Seus cabelos caiam nos ombros e tinham a
mesma tonalidade dos cabelos de Allana. Eram lindos. E... ela também
segurava um bebê. Doava toda a sua atenção a ponto de nem me ouvir, ela
nem se mexia para me responder. Só parecia brincar com o bebê falando
como a gente fala, bem bobinha e infantil, e me ignorava completamente.
— Olá... — eu tento de novo me ajoelhando em sua frente, mas meu espírito
sofre um solavanco com o baque daquela revelação. Eu conhecia aquela
mulher, e infelizmente conhecia bem demais. Era ela. Fernanda.
— Oi, Lara! — ela sorri pra mim docemente e eu não consigo corresponder.
Estava em pânico.
Fernanda era linda demais, muito linda. Seus fios dourados eram ondulados e
sedosos, sua boca era fininha como de Allana e rosada também; seu nariz era
bem fino e arrebitado proporcionalmente, e as maçãs de sua face impecável
tinham a tonalidade de pêssegos prontos para serem saboreados com lentidão
para não acabarem depressa. Tinha a aura de um anjo de verdade e era
simplesmente divina. Ela era linda... só que assim que comecei a olhar para
aquela cena de outro ângulo é que aquela ficha caiu. Nanda havia morrido. O
que eu fazia ali???
— Eu morri???
— Pegue, anda... — ela me estende o bebê que vestia... vestia o macacão e os
sapatinhos brancos que Vince e eu havíamos escolhidos, tinha seus
cabelinhos lisos e bem pretinhos arrumadinhos na testa, e os olhos grandes e
negros dele... foi nessa hora que a dor voltou. E voltou como a morte, eu
imaginava que seria a dor do parto, mas seu foco não era o meu ventre agora
vazio, era meu peito.
Grito com toda a minha força abafando o som com a mão na boca enquanto
equilibrava seu corpinho com um braço só, e não suporto aquilo. Era demais
pra mim. Não bastava perder o meu bebê, eu tinha que vê-lo. Seria uma
menina linda, linda demais como o pai, uma princesa como a irmã, mas não
mais fazia parte de mim. Estava fora de mim!!!
— Está tudo bem. Ela está bem!!!
— O que eu fiz? Por que comigo??? Eu não merecia, Vince não merecia!!!
— Eu sei que não, princesa!!! Mas não é assim que as coisas funcionam!
Deus sabe de tudo, Deus sabe o que faz. — ela responde de forma doce e eu
dou uma risada sentindo o ódio dentro de mim.
— E cadê ele? Por que ele não veio aqui me receber??? — eu questiono e eu
não sei como ela consegue, mas ela sorri!!! Ela sorri!!! — Como ele pôde?
Chame-o, eu tenho umas mil perguntas! Será que ele sabe como estão as
coisas lá da onde eu vim? Eu acho que ele não sabe de nada!!!
— Você vai entender com o passar do tempo. — ela olha de mim para minha
filha. — Ela é a cara dele. — ela sorri encantada. — Tem seu queixo e seus
lábios que formam um biquinho facilmente, mas o resto é todinho ele!
— Acho que eu não quero te ouvir falando dele. Sabe quem eu sou, certo? —
pergunto só para garantir, mas minha atenção era toda daquela princesa.
Minha filha linda. Algumas lágrimas caíam em sua bochecha, mas nem isso a
fazia se estressar. Era calminha minha bebê.
— Eu sei. Você é a nova mãe da minha princesa!!! O anjo na terra que cuida
do homem que eu mais amei na vida, e da pequena que é minha preciosidade.
Meu maior tesouro!!! Sou uma sortuda por ter você! Eu não sinto saudades
da minha filha porque você me permite ficar. — ela diz e eu a encaro por um
momento. — Você me dá espaço. Cuida dela como uma princesa, com uma
dedicação mais do que admirável, e eu te amo por isso! Sei que às vezes
minha lembrança te magoa, mas você nunca usou disso para me afastar de
minha filha, e é por isso que eu posso sempre estar por perto para proteger
vocês! Eu esperei por você durante muito tempo. Vince é um cabeção,
demorou tanto pra te encontrar!!!
— Culpe a Tia que não saiu de férias na hora certa. — eu digo e ela ri com
vontade.
— Ela saiu no momento certo, é por isso que a sabedoria de Deus só nos trás
o bem quando a gente costuma plantar o bem segundo a sua vontade. Tudo
no tempo D’ele é certo e bom!
— Que lugar é esse? Eu morri também? — eu digo sentindo o cheirinho dela.
Quanto mais eu a acarinhava inteirinha mais a minha dor passava. Mais a
sensação de perda diminuía e menos eu chorava.
— Não se lembra daqui? Já esteve aqui antes!
— Não. Não lembro.
— Eu não sei bem o que é... — ela diz olhando ao redor. — Mas eu uso esse
lugar pra ver vocês de vez em quando. Acho que vocês estão sempre
sonhando, e eu... bom... quando eu não estou aqui, não sei onde estou...
— Vince já sonhou com você?
— Sim. — ela sorri.
— Com que frequência?
— De vez em quando!!!
— Tem como parar? — eu questiono e ela ri de novo. Por que ela estava tão
feliz?
— Somos bons amigos agora. Ele tem você, tem nossa filha, e tem uma vida
linda! O futuro de vocês dois é incrível, eu vi! Eu tenho a necessidade de ver
vocês três extremamente felizes. Paixão, ciúmes e rancor não fazem mais
parte de mim aqui, não porque escolhi, mas porque assim é. Aqui a gente
entende que esses sentimentos nem sempre fazem sentido, pelo menos não
aqui. Não mais.
— Então não sente raiva por... eu criar Allana quando você não pode
mais...!?
— Não! Eu só consigo agradecer pela tua vida! Sei que vai fazer por ela igual
ou melhor do que eu faria, e Allana será uma mulher batalhadora como você,
forte, decidida, e eu não poderia desaprovar isso, nem sei se poderia fazer
dela uma mulher como você. Eu quero o melhor para minha filha,
infelizmente não pude criá-la como toda mãe deseja, até depois de velha...
mas eu sei que você fará isso, e você não tem noção da felicidade que eu
sinto por você fazer o que eu não posso no momento!
— Eu não farei muito esforço, Allana é uma menina linda e incrível. — eu
digo e volto a encher minha filha de beijinhos. — Não é!? Tua irmã, não é a
coisa mais linda do mundo, assim como você!? — eu pergunto fazendo graça
e ela sorri pra mim, o que faz nós duas rir. Parecia ter completado de dois a
três meses naquele lugar. — Por que eu estou aqui? Por que pude conhecê-
la???
— Eu acho que dessa vez eu que quis. Quis que você a conhecesse. Quero
que saiba que se quiser e só se quiser e me permitir, posso cuidar dela e dar
amor como você faz por Allana. Até que ela possa voltar pra ti, em uma nova
oportunidade. — ela fala sorrindo de novo e eu nego.
— Não quero isso. Quero ela comigo, quero voltar e descobrir que isso aqui é
um pesadelo. — eu não aguento segurar o choro. — Quero minha filha
comigo. Não vou deixá-la aqui. E eu até que sou mordeninha, mas não a
ponto de “trocar de filha” com você!
— Jamais foi uma troca. Só Deus sabe como doeu chegar aqui e descobrir
que minha vida foi interrompida assim como está sendo difícil pra você
entender que ela virou essa estrelinha que ela é. Mas a misericórdia de Deus
nos salva! Você vai entender, e quando voltar, vai sentir que ela ficará bem
no seu coração, e voltará em breve para os seus braços. Posso retribuir o
amor que você doa a minha filha cuidando dela e continuando com a minha
proteção para a nossa família. Porque eu já acho que somos uma grande
família! — ela sorri de novo. — Eu não sou sua rival e nunca serei. Sou uma
amiga que você poderá contar pra sempre!!! Com amor, sabedoria,
compreensão, paciência, paz de espírito... você não sente, mas eu vivo te
emanando coisas lindas, daqui pra frente é só prestar mais atenção. — ela diz
acarinhando os cabelos da pequena no meu colo que parecia já estar
sonolenta.
— Ah! Deus!!! — inspiro o seu cheirinho de talco e a dor volta.
— A dor desaparece mais rapidamente quando você compreende, ou tenta.
Vai por mim. Digo por experiência própria. Quer escolher um nome? Pra ela?
— Alice. — digo de uma vez. — Alice. Acho que é esse! — sorrio com a
ideia. Era um lindo nome como ela! — Combina com o da irmã!
— Então será Alice! — ela confirma sorrindo.
— Como Vince vai superar? — eu questiono a mim mesma enquanto fito seu
rostinho que demonstrava paz absoluta. — Seu pai te queria tanto quanto eu.
Espero que você saiba disso. Saiba o quanto te desejei, saiba o quanto esperei
por você, eu sinto muito!!!
— Ela sabe! Eu prometo! — Nanda diz, eu concordo com a cabeça, e algo lá
no fim do horizonte, perto das montanhas que decoravam o infinito daquele
lugar incrível me chama a atenção. Parecia que a paisagem estava lentamente
se desintegrando. As cores lindas estavam se transformando em pixels,
pequenos quadrados com apenas uma tonalidade de cor e destruindo toda
aquela obra de arte.
— Está acabando, não é? O meu tempo aqui...
— Você está acordando!
— Não quero ir embora!!!
— Não diga isso nem de brincadeira! Você está viva, tudo o que eu mais
queria era estar com minha filha e você pode!!! Volte tranquila, tudo ficará
bem, eu prometo!
Ela fala, parece ficar triste com minha reação, mas eu só queria mais um
pouco, mais um momento ali, olhando pro rostinho dela. Nunca lamentei
tanto em toda minha vida, nada nunca doeu tanto como aquela perda.
— Eu te amo, bebê da mãe! — sinto seu cheirinho mais uma vez, entrego
meu pacotinho nas mãos dela, e apesar daquilo parecer completamente
errado, sinto que o melhor para Alice, era receber os cuidados de alguém
como Nanda. Alguém como ela.
— Eu vou contar tudo sobre você, eu vou transmitir seu amor enquanto ela
estiver comigo, e quando você chegar lá, abrace Allana, diga que a amo
demais, que jamais vou abandoná-la, que jamais vou esquecê-la! Diga que eu
amo vocês três mais do que amei qualquer coisa ou qualquer pessoa em toda
a minha vida!!! — ela fala e me oferece um abraço que eu me sinto
confortável em retribuir. — Tudo ficará bem, Lara, eu te prometo! Vai em
paz!
Ela diz, eu afago a cabecinha da bebê mais linda do mundo, retribuo seu
sorriso gentil, e deixo a dor me consumir. A dor por saber que eu estava
partindo sem poder levar minha filha comigo. Eu não fui em paz, eu parti em
um verdadeiro caos e foi por isso que acordei gritando em desespero.
— Shh... tá tudo bem! Está tudo bem! — minha mãe me abraça e eu nem sei
o porquê ela estava ali. E eu estava no hospital... nem sabia o que EU fazia
ali.
— O que houve? — eu digo, mas imediatamente coloco a mão na barriga. —
Eu perdi o bebê, não foi? Eu me lembro... perdi minha filha!
— Vince te deu um banho e sua sogra um calmante natural. Você veio
dormindo, mas está bem.
— Eu não estou bem, mãe. Se tem uma coisa que eu não estou, é bem. — eu
falo e ela nem sabe o que me dizer. — Eu a vi. Sonhei com ela. Seria uma
menina, uma menina linda, a mais linda que eu já vi!!! Tinha os olhos dele, a
cor mais escura que os meus, exatamente da tonalidade dele, nem dava pra
ver a íris de tão negros que eram.
— Eu imagino... devia ser uma princesa.
— Era. Ela era uma princesa, era definitivamente uma princesinha. Uma jóia
preciosa! — eu seco meus olhos e suspiro. — Cadê ele???
Eu me ajeito no leito, mas encontro uma poltrona vazia servindo de morada
para uma manta que eu sabia que era da minha mãe. Ela estava lá comigo,
somente ela. Meu pai eu sabia que dependendo da hora estava trabalhando ou
dormindo, mas e ele...? Onde ele estava?
— Cadê ele, mãe?
— Ele te deixou aqui e não ficou muito, depois que o médico disse que você
estava bem ele saiu sem dizer pra onde, ninguém sabe. Seus sogros e seu
cunhado estão na sala de espera, mas o Vince, eu não sei.
— Deve estar com o Júnior ou com o psicólogo.
— A Tia está procurando saber.
— Eu sabia que ele não lidaria bem com isso.
— Você é extremamente jovem, Lara. Pode engravidar de novo!
— Eu sei mãe, mas ele não sabe. Vicente tem o psicológico muito abalado.
Eu me tranquei no banheiro, mas ele arrebentou a porta, me viu sangrar sem
poder fazer nada do mesmo jeito que viu Nanda sangrar sem poder fazer
nada. Perdeu a mulher, anos depois perdeu o filho da mesma forma. E no
fundo ele nem queria esse bebê. Estava se acostumando com a ideia, estava
digerindo ainda e eu sabia disso. Ele não estava pronto pra isso e eu sabia
disso. Quando decidiu que podíamos tentar, eu já estava grávida, quando
contei ficou meia-hora olhando pra minha cara sem ter o que dizer, foi muito
pra ele, e aí veio a culpa. Aposto que ele se culpa. Agora nós voltamos ao
início. Ele abalado sem se abrir, eu tentando entrar e ele fechando a porta na
minha cara... não vou aguentar mais uma dessas. Não vou suportar! Preciso
vê-lo. Quando eu posso ir embora?
— O doutor disse que poderia te liberar quando você acordasse e com a
recomendação de que relações sexuais só depois de quinze dias. Você
sangrará por um tempinho... — ela disse lamentando por ouvir tudo aquilo de
mim. Quinze dias sem sexo. Vicente vai definitivamente enlouquecer. —
Você está bem, só precisa de descanso.
— Então chame alguém, mãe. Quero ir pra casa agora!
Ela prontamente sai e tudo acontece tão rápido que logo me vejo em casa. Eu
estava bem, sem dor, sem mal estar, e aquilo não parecia tão bom quanto
deveria. A ausência da sementinha que estava dentro de mim me fazia uma
falta gritante. A dor era sem explicação.
— Eu vou pra empresa. Talvez ele esteja lá... se não tiver posso conversar
com o Greg. De qualquer forma sei que a Jaque chegou e ela não para de
ligar, vou ver o que posso fazer para ajudar até que ele volte. — Vitor
resmunga para os pais, me fita jogada no sofá, mas não diz nada. Só me
encara e vai embora. Era agonizante encarar uma cópia do seu ‘marido’
dentro de casa, uma cópia idêntica. Pior ainda se você já enfiou a sua língua
inteira dentro da boca dele por engano.
— Você quer algo pra comer, minha linda? Eu não sei cozinhar, mas posso
pedir pra Tia fazer um lanche pra você... — minha sogra diz solidária e eu
nego.
— Não, dona Norma. Eu estou bem... eu juro que estou bem. Só quero o
Vince aqui. Alguém ligou? A Tia, onde ela está???
— Está na cozinha. Para nós não, não sei pra ela...
— Eu vou lá procurar saber. Querem alguma coisa?
— Quero ver você se alimentar e se cuidar!
— Não se preocupe comigo, não. Eu vou me cuidar, eu já volto.
Eu digo, ganho um abraço fraterno, e minha mãe me acompanha até a
cozinha.
— Tia? Júnior ligou?
— Ainda não. — ela resmunga após me encher de beijos. — Mas eu sei que
ele sabe onde ele está. Tudo ficará bem.
— Ele devia estar comigo!
— Tenta entender...
— Tia, tudo o que eu sempre faço é tentar entendê-lo e já faz um bom tempo!
Sei que ele deve estar triste, mas eu também estou! Me passe o telefone, vou
falar com ele.
Eu digo, ela passa seu celular, e eu disco o número. Ele rapidamente atende.
— Oi, mãe...
— Sou eu! Onde ele está?
— Bom... só nos dê um tempo...
— BOM, eu não tenho tempo. Acabei de perder a nossa filha. Quero meu
marido aqui!!!
— Filha?
— Esquece. Júnior traga-o pra casa ou me diga onde vocês estão, senão já
sabe! Desconto minhas frustrações em você e não olho nunca mais na sua
cara! Vince precisa de ajuda, precisa da família que está aqui a ver navios, e
precisa reagir, e não é fugindo que ele vai fazer isso!!!
— Quer se controlar? — Vince parece tomar o telefone dele. — Será que tem
como você me dar um minuto?
— Eu... eu já saí do hospital, eu estou aqui. Onde você está???
— O médico disse que você estava bem. Eu estou enchendo a cara de todas
as maneiras possíveis, estou me enchendo até pelo nariz, então não. Não vou
voltar agora!!! — ele é extremamente agressivo e me causa uma dor
indescritível.
— Ei... escuta, eu estou aqui, estou de olho nele, tá legal!? — Júnior parece
falar baixo.
— Não o traga pra cá desse jeito. Não o deixe... não o deixe perder o pouco
que lhe resta de dignidade!
— Pode deixar! E... me desculpe. Eu peço desculpas em nome dele porque
agora ele não pode. Mas quando ele ficar bem sei que vai pedir.
— Se você o conhecesse tão bem quanto eu conheço, saberia que ele jamais
me pedirá perdão!!!
— Não fala assim. Ele está muito mal!!! Sofre pelo bebê, não quer parar de
beber... te ver daquele jeito o destruiu. Está do mesmo jeito que ficou quando
a Nanda se foi, não quer saber de mais nada agora, só de beber. Deixe isso
tudo passar!
Júnior tenta justificar e eu desligo.
Subo pro quarto sem falar nada e me tranco. Eu não queria ter que sorrir, ter
que fingir que estava tudo bem... eu só queria ficar me lamentando como uma
boa coitada e nada além disso. Mas eu não consigo ficar por muito tempo
encarando o teto apenas repassando na cabeça os últimos momentos.
Revendo o momento em que uma vida escorria de mim, a vida da minha
filha.
Allana bate na porta e eu abro assim que me recomponho, ou tento.
Estava parada na porta com um semblante triste e carregando uma pequena
bandeja com um lanche e suco.
— A vovó mandou trazer pra você! — ela resmunga e eu sorrio. OU
TENTO. — Quer que eu dê na sua boca como o papai faz comigo quando eu
tô doente?
— Mas eu não estou doente! — eu digo quando ela entra, mas me arrependo
porque penso que fora essa a explicação que deram a ela antes de subir. —
Veio de perua? Não ouvi a buzina...
— Eu vim. — ela responde me olhando desconfiada e eu volto a me deitar.
— Você e o papai brigaram? Pode dizer. Eu brigo com ele quando ele
chegar!!!
— Não. Não brigamos...
— Então se não está doente e não brigaram, por que está assim? O que você
tem?
— Eu perdi o bebê, Allana! — decido falar a verdade de uma vez e ela mia
como um gato. Mia, me encara tristonha e chora. — Ué... por que está
chorando???
Eu pergunto e ela só tapa a face com as mãos.
— É culpa minha! Eu que ficava pensando que seria bom se você não tivesse
grávida. — ela resmunga soluçando e eu a puxo pra cama.
— Não fale bobagem, não é culpa sua, não é culpa de ninguém. Essas coisas
acontecem mesmo. Não era o momento certo. — eu digo e faço a princesinha
se deitar do meu lado. — Sabe quem me disse isso?
— Não...
— Sua mãe! Eu a vi... sonhei com ela no hospital. Ela me recebeu em um
lugar lindo, me deixou conhecer sua irmã e me fez colocar um nome nela.
Alice! Ela é tão linda quanto você! Vocês se parecem muito!!!
— Jura???
— Juro!
— E ela mandou eu te dar um abração. — eu digo e a abraço. — E mandou
dizer que jamais te deixará, que te ama muito, e que sempre vai nos proteger!
— Você ficou triste por ver ela? Você não gosta muito dela...
— Agora eu meio que serei obrigada a gostar. — dou risada. — Eu a conheci
enfim! Ela é linda, gentil, simpática, acolhedora... e me deixou pegar minha
bebê no colo. Sem contar que vai cuidar dela com o mesmo amor que eu
cuido de você, então por mais que eu tente, não posso mais evitá-la. Posso
entender o que ela sente... tenho empatia.
— O que ela sente?
— Saudade de você. Sofre como eu. — eu choro sem querer e ela fica
tentando enxugar as minhas lágrimas em excesso, deitada de frente pra mim.
— Ela te ama muito assim como eu amo muito a sua irmã. Isso significa que
teremos que ser parceiras a partir de agora porque com certeza vou querer
sonhar com as duas de novo! — eu digo e ela sorri.
— Ela é mesmo parecida comigo?
— Demais!!! Tem a cor dos seus cabelos, têm sua boca, seus olhos! Ela é
todinha você! Você definitivamente é a cara dela, eu nem imaginava o
quanto! Mas eu ainda tenho que afirmar que você é mil vezes mais linda que
ela...
— Tá bem, você a ama, mas nem tanto assim, não é!? — Allana ri.
— O amor diminuiu um pouquinho quando ela disse que seu pai ainda sonha
com ela! — eu resmungo fingindo estar magoada e ela ri ainda mais. — Mas
e você? Você me ama? Quer que eu esteja presente na vida de vocês?
— Eu te amo, claro que quero! Você será minha madrasta pra sempre!!!
Minha mãe postiça! — ela diz sorrindo e aquilo preenche meu coração.
— É tudo o que eu mais quero nessa vida. Poder cuidar de você pra sempre!
Jamais te deixarei, sabe disso, não é!?
— Eu sei.
— Precisamos passar mais tempos juntas, tenho tido tão pouco tempo
ultimamente. Seu pai e eu... mas vamos fazer algo com seus avós nesse final
de semana. Aproveitar que eles estão aqui!
— Podemos ir ao shopping...
— Ou podemos brincar no jardim!
— Acha que vai demorar muito pra casinha e pra piscina ficarem prontas???
— Não, mas também vou tratar disso. Vou acelerar essas obras, prometo. —
eu falo e bocejo. — Eu acho que tô com um soninho... tô cansada.
— Posso ficar aqui até você dormir??? — ela pergunta com sua carinha de
bebê e eu sorrio.
— Pode. Se quiser pode ligar a TV bem baixinha...
— Não. Acho que vou tirar um cochilo também. — ele resmunga enquanto
eu fecho os olhos e eu choro quando ela se vira para dormirmos de
conchinha. Agradeço por ela não ver aquilo.
Minha tristeza era grande, mas como sempre tem sido Allana era minha
alegria. Definitivamente era a minha força para nunca vacilar. Mesmo
porque, agora ela tinha não somente um pai, mas uma madrasta, e teria para
sempre o meu zelo, meu cuidado.
Só o seu pai não era um motivo, ela também era. E por aquela princesinha, eu
não iria desmoronar, não hoje, não ali...
(...)
Sinto Allana se mexer e sair dos meus braços, e por isso me viro. Eu ainda
estava cansada, triste, baqueada, e principalmente com sono, mas um peso na
cama me desperta, o que aquela garotinha estava fazendo?
— Allana...
— Sou eu! — uma voz familiar soa desanimada e eu pisco para que meus
olhos se acostumem com a claridade.
E nem preciso conferir se sua mão tinha um risco de caneta. Era Vince. E era
um Vince de olhos inchados, postura de derrota e decepção.
— Que horas são?
— Três da manhã.
— Onde você estava?
— Na rua. Bebendo. Júnior me encontrou e me fez companhia.
Ele fala e antes parecia me olhar dormir, mas agora se sentava na beirada da
cama e fitava a parede. Não queria me encarar.
— Como se sente? — me arrasto pro teu colo, mas ele me afasta me fazendo
sentar ao seu lado.
— Me sinto péssimo, como imagina...
— Nós vamos superar! Minha mãe disse que o médico falou que os primeiros
meses são assim mesmo. Pode acontecer com qualquer mulher... — eu tento
me achegar e ele se levanta.
— Lembra do que eu te disse no hotel em Paris?
— Lembro, mas discordo. Você não é um amaldiçoado, Deus não te virou as
costas, nós somos e seremos ainda mais felizes!!! — eu falo de uma vez, mas
depois respiro fundo. Eu precisava ser compreensiva. Precisava ter paciência.
— Vince, eu sou jovem. Posso te dar uns trinta filhos, um por ano! Nós
estamos bem!
— Só você queria esse bebê. Foi por isso que aconteceu tudo o que
aconteceu. Sabe disso, então não finja que está tudo bem, não finja que nada
aconteceu. Pra mim era precoce demais, Allana não havia se acostumado com
a ideia, nada estava bem aqui para receber uma criança, não ainda, e foi por
isso que você não conseguiu levar adiante essa gravidez.
Ele fala e eu sinto que uma facada no meio da cara seria menos dolorosa.
— Eu sabia que você não queria, mas ouvir assim...
— Sem drama, Lara. Por favor! — ele resmunga friamente. — Eu sinto
muito. Lamento muito. Não vou pedir perdão por causar em você essa dor, e
por te decepcionar agora, falando assim, porque não adianta, nada vai
mudar... mas eu pensei bem. Achei que seria melhor conversar contigo
claramente. Falar tudo. Nós não estávamos prontos para sermos pais...
— Não fale assim!
— Discorda disso também??? — ele me encara puto.
— Você tem Allana, é um pai excepcional. Nós temos Allana!!! Apesar de
vocês dois deixarem claro o tempo todo de que ela não é minha filha, eu sou
a melhor mãe que aquela menina poderia ter! Eu cuido dela com a minha
vida, eu me dedico como se ela tivesse saído de dentro de mim, e eu sinto que
saiu, é como se fosse e você sabe disso melhor do que ninguém. Então como
assim “Nós não estávamos prontos para sermos pais”??? Não de um filho
meu, certo!? Um filho meu, não! Por quê???
— Não foi isso o que eu quis dizer. Só acho que não era pra ser, e não vai ser.
Tudo dará errado daqui pra frente. — ele fala me virando as costas.
— Graças a você se continuar falando bobagem!!!
— Sim! Graças a mim. Demorou a entender que eu sou um problema!
Acredita em mim agora??? Não serei bom pra você, não posso te dar uma
família, não posso fazer você feliz!!! E o pior é que eu te avisei desde o
início. Fomos teimosos, Lara. Insistimos nisso!
Ele diz e eu fico cansada. Já ouvi aquele disco velho tocar.
— Você está nervoso...
— Desculpa, mas amanhã vou repetir a mesma coisa.
— Não vai não! Amanhã ou hoje mesmo você vai me pedir perdão e chorar
feito um bebê querendo colo e dengo! — eu resmungo e sorrio o agarrando.
— O que está fazendo???
— Tentando te fazer feliz, como sempre!
— Eu perdi um filho, porra! Não leva a sério a minha dor!?
— E eu não? Eu não? Foi de dentro de mim que ele escorreu e foi pro ralo! E
tudo o que eu fiz após acordar só com a minha mãe e sua família no hospital
foi me preocupar com um marmanjo extremamente barbado quando o que
mais doía em mim era meu ventre vazio!
— Me solta! — ele resmunga e eu de novo ignoro a dor que isso me causa.
— Tenho uma notícia pra te dar. Estou sangrando, não vai poder me tocar por
quinze dias! — eu sussurro e ele desfaz a carranca por um momento.
— Está brincando?
— Não. Recomendação do médico que me atendeu.
— Bom. Você sempre se recusa a tomar remédio, é bom que assim a gente
não faz outra besteira.
— Eu vou procurar algo pra comer e me afastar um pouco de você, antes que
EU faça uma besteira!
— Você devia me odiar, mas ao invés disso, está aí tentando me consolar
enquanto eu sou escroto. Não faça isso. — ele resmunga sem me encarar.
— Eu não vou te odiar, Vince. Não vou te machucar como está fazendo
comigo, não vou te deixar, te desprezar, e nem gritar com você. Eu te amo, e
você vai superar mais essa.
Tiro o pijama, me visto de forma decente, e desço para preparar algo mais do
que doce para me empanturrar, e passar o tempo porque eu sabia que naquela
noite eu não dormiria mais.
Dou de cara com seus pais na sala e travo.
— Vocês estão acordados???
— É o fuso, querida! Em Nova York ainda é onze da noite! Como se sente?
— o pai dele fala com simpatia e eu tento sorrir.
— Eu estou maravilhosamente bem, só que eu dormi a tarde toda e agora
perdi o sono. Viram que o Vince chegou?
— Vimos. Ele está sofrendo tanto! Não imaginei que ele ficaria tão
arruinado. Perder o bebê de vocês acabou com ele...
— Vince faz terapia, dona Norma. Ele ainda precisa de ajuda para superar
Nanda.
— Acho que não é bem superar Nanda, e sim o que houve com ela, filha. Ele
te ama! Não pôde ajudá-la e ela partiu, e você perdeu o bebê sem que ele
pudesse fazer nada... é difícil lidar com o que não está em nosso alcance. —
meu sogro diz e eu concordo.
— Eu imploro que tenha paciência com o Vince! Não o abandone. Perdoe-o
por ter se afastado. Meu bebê está sofrendo, precisa muito de você!
— Eu jamais irei abandoná-lo, eu o amo muito!
— Sei que ele não ter ficado no hospital e ter partido, te machucou. Sei como
funciona um casamento e por saber disso eu posso te dizer com clareza que
fases ruins vêm e vão, mas o amor fica! — ela aperta meus ombros e depois
me abraça. — E eu sei que vocês se amam demais. É muito nova, se quiser
pode dar a ele mil filhos saudáveis e lindos! Vão superar essa!!!
— Obrigada! Por isso e por estarem aqui conosco! — eu só falo e dou-lhe um
beijo no rosto. — Bom, eu estou faminta!!! Vou cozinhar algo. Querem
comer alguma coisa?
— Adoraríamos!!! — seu Henrique diz logo e recebe um olhar bravo de dona
Norma.
— Não queremos incomodar, querida! Você precisa de repouso! — ela diz
sorrindo.
— Não preciso de repouso não, estou perfeita, e não será incomodo algum, já
disse que amo cozinhar! Farei um lanche delicioso e uma sobremesa em
cinco minutos. Assim não dormirão de barriga vazia! — eu falo, forço um
sorriso, e sigo até a cozinha.
Decido fazer uma torta de liquidificador bem temperadinha quando encontro
frango desfiado na geladeira e agora eu tinha um forno potente que o deixaria
pronto em minutos. Ensinei Tia a sempre deixar guarnições prontas na
geladeira para qualquer emergência ou qualquer hora, por exemplo: com
aquela porção de frango pronto desfiado eu poderia fazer um refogado, uma
misturinha pra pôr em pães, barquinhas para petisco, torradas, saladas, sopas
e canjas, macarronada, como a torta que eu faria e mais um milhão de outros
pratos. Dava para fazer milagres fantásticos com um bom pedaço de peito
desfiado, ou carne moída!
Deus, como eu amava cozinhar...
Retiro alguns legumes cortados da geladeira, — e essa é mais uma dica, deixe
sempre tudo cortadinho de preferência a vácuo e você economizará
muuuuuito tempo. — e reservo tudo para refogar e preparar o recheio. Pico o
alho e a cebola, ligo o fogo e quando me viro, a praga adentra o recinto com
as mãos na nuca parecendo cansado. Mas ele me vê e dá meia-volta no ato.
— Não precisa fazer isso. É só me respeitar e você pode andar pela casa
livremente. — eu resmungo e ele para na hora.
— Eu só ia procurar algo pra comer. Posso voltar depois, não quero
atrapalhar.
— Você não me atrapalha em nada. Fique à vontade. Se aguentar esperar,
estou cozinhando uma torta maravilhosa. Seus pais vão comer também. — eu
falo e ele concorda.
— Havia dito que iria até a empresa. Como estão as coisas? — eu pergunto,
volto para as panelas, e como me viro de costas, ele para no balcão planejado
ao meu lado. Era seu irmão inteirinho, todinho, e meu Deus, aquilo era
estranho demais!
— A Jaque chegou, o Greg assinou um contrato comigo e partiu após auxiliar
a Jaque em tudo... estará no telefone caso eu tenha alguma dúvida.
— Contrato contigo?
— Sim, me vendeu sua parte na empresa.
— Então você não vai mais embora? Ficará na empresa?
— Eu comprei para investir e receber os lucros. Não preciso ficar aqui, mas
sempre volto para ver tudo de perto. Vou investir, fazer crescer, claro que de
acordo com o que meu cargo permite para não ser morto pelo Vince, e volto
de dias em dias para ficar por dentro de tudo...
— Vicente sabe disso?
— Soube de minhas pretensões, mas que eu assinei hoje, não. Como ele está?
Jaque chegou, então... quando sai esse casório? — ele questiona e eu o
encaro. Deveria contar, mas ele parece ser mau caráter demais, então... jamais
que eu ia confiar. Mas que seria bom conversar com alguém, seria... — Eita.
Brigaram, certo!? Desculpe, não vou me meter.
— Seu irmão ainda sofre pela ex...
— Por que diz isso?
— Eu apenas sei! — eu digo e me arrependo.
— Eu acho que não. Tenho certeza que ele te ama!
— Como?
— A forma em que ele te protege. Era diferente com Nanda. Hoje morre de
ciúmes de você, apesar de ciúmes não significar amor... ele meio que deixa
transparecer o medo que tem de perder você, por isso faz bobagem hora ou
outra. — ele fala e eu abaixo o fogo do frango que eu ainda refogava.
— Como ele era com ela?
— Esse papo ficará só entre nós dois?
— Sim, claro.
— Bom. Ele amava muito a Fernanda, mas era mais leve. Greg era meio que
fissurado nela, mas por incrível que possa parecer isso nunca foi um
problema. — ele vai falando enquanto eu preparava a massa com a farinha de
trigo. — Os dois eram melhores amigos e Vince levava numa boa. E ela era
bem cobiçada na faculdade, mas eu nunca o via dando chilique com isso.
Nanda estava sempre rodeada por seus amigos, e ele não dava bola, confiava
nela.
— Ela o respeitava? Era fiel?
— Era. Era sim. E acho que ele sabia, por isso confiava tanto. A gente olhava
pra ele e via a sua confiança, sabe!? Vince era outro... com você ele é
totalmente o oposto como você sabe.
— Por que será? Será que ele acha que eu não me dou o respeito? É por causa
das roupas que uso? Do meu estilo “nada recatado”??? — sou irônica e ele ri.
— E quem disse que Fernanda era “recatada”? Ela amava usar shorts,
vestidos curtos, não tinha vergonha do corpo... usava seus biquínis na nossa
casa de praia, não era uma bobinha tímida, nunca foi, muito pelo contrário.
Um exemplo disso, já que você citou “recato”, ela amava maquiagem, sabia!?
Maquiagem forte mesmo... vivia bem maquiada, amava brincos e jóias
gritantes. Eu só a via “recatada” quando pintava, dentro de casa, de manhã...
e meio que parou um pouco durante a gravidez da Lana. Agora era só ele
dizer que iam sair que ela corria se enfeitar inteira, e ele amava. Ele nunca
ligou!
— Acho que eu sou o problema, então. — eu resmungo e ele ri de novo.
— Não seja tolinha. Não temos tanto apego assim ao que nos é indiferente.
Ele te ama e o real problema é que ama demais além da conta. — ele fala e eu
nego o encarando.
— Ele olhou nos meus olhos e disse que eu perdi o bebê porque nem ele e
nem Allana queriam essa criança. Que jamais me daria uma família, jamais
me faria feliz. Que não estávamos prontos para ter um filho, e que nunca teria
um comigo. Me disse coisas horríveis. Isso é amor em excesso? Porque não
me parece!
— Devia estar nervoso...
— Pensei a mesma coisa, ameacei sair para deixá-lo esfriar a cabeça e ele me
disse de novo olhando em meus olhos, que amanhã poderia repetir tudo
aquilo de novo. Ele não queria mesmo, e eu sabia. Quando eu contei que
estava grávida ele quase teve um treco!
— Allana nasceu e ele perdeu Nanda. Vince tem medo de acontecer com
vocês o que houve com eles. Acha que nunca será feliz, é comum. Se ele não
tivesse projetos e expectativas tanto quanto você tinha para esse bebê, e se
fosse só rejeição como você acha que é, ele jamais ficaria triste, ficaria
aliviado!!! Se eu engravidasse uma mulher por aí agora, e ela viesse falando
que perdeu, eu ia pular de alegria! — ele fala, ri, e automaticamente se
desculpa. — Fui insensível agora, perdão. Só quero dizer que se meus planos
não fossem esses, eu não ia pirar, entendeu? Agora se eu estivesse noivo,
com um bebê pelo caminho, desejando aquilo demais, e aí vem isso... eu ia
surtar com certeza. Eu acho que, ok, pode ser que no início ele tenha ficado
baqueado com a novidade, com medo, com seus traumas gritando em sua
cabeça... mas depois, ao se acostumar, ao te ver desejando, sonhando,
comprando as roupinhas, as coisas pro enxoval como vocês fizeram, ele
comprou a ideia! Eu vi quando cheguei aqui, ele conversando com meus pais,
mostrando todas as coisinhas, estava muito feliz. — ele diz e parecia ser
super sincero. Quem era aquele cara? Cadê aquele monstro canalha??? —
Falava com brilho nos olhos, não parecia um cara fodido por ter que assumir
um filho quando não era o que queria. Parecia um pai alegre com a notícia. E
seu surto de bebedeira deixa claro seu sofrimento. Ele achar que não pode te
dar uma família, que não pode te fazer feliz, é natural. Claro que ele foi um
babaca por dividir seus pensamentos com você, mas nos baseando em seu
atual estado psicológico, e em como Vince lida com sentimentos, dividir suas
inseguranças contigo sem medir as palavras é completamente esperado. Ele
não está bem, e precisa de ajuda.
— Já faz um bom tempo que ele não está bem.
Eu resmungo me sentindo tonta por ouvir tudo aquilo. Parecia tão verdade
que fiquei impressionada.
— E é muito estranho vê-lo o defendendo. Ele jamais faria isso por você.
Vince te odeia.
— Defendê-lo e falar a verdade são duas coisas completamente diferentes. E
ele não me odeia, não. Deveria, mas não odeia. — ele dá risada. — Somos
gêmeos, sei do que ele sente, como sente, sei sobre como vê o mundo, sei
sobre suas dores, alegrias, traumas, medos, e ele não me odeia. Apenas não
sabe mais lidar comigo, e apesar da carcaça, é muito diferente de mim. Vince
pegou o lado do coração, da emoção, o feeling... eu fiquei com a razão, a
cabeça, o lado racional.
— Então nunca teve o coração partido?
— Tive. Quando te beijei e você vomitou por isso! Aquilo acabou comigo!
Mulher alguma vomitou após me beijar. — ele diz, eu me arrependo de ter
dado abertura e ele enfim suspira. — É brincadeira. Desculpa! Já vi que meu
senso de humor não será bem acolhido por aqui.
— Agora você já pode desaparecer da minha frente!
— Ah! Para. Já pedi desculpas, não farei mais isso, sei que vai ficar brava,
então não brincarei assim. E respondendo sua pergunta, não. Não tive meu
coração partido. Ainda.
— Nunca amou ninguém?
— Não. Acho que não! — ele diz simplesmente e eu pego a forma para
colocar o frango no armário.
— Nossa, mas isso é muito triste!
— Bom, eu estou muito bem e você está péssima. — ele ergue uma
sobrancelha.
— Mesmo assim. Você é solitário, eu não! Talvez tenha todas as mulheres
que quiser, mas ainda assim, vive sozinho.
— Um erro é achar que é necessário outro alguém para ser feliz. — ele fala e
ganha minha atenção. — Eu trabalho muito, frequento lugares incríveis, viajo
demais porque por amar viajar fiz negócios estratégicos por todo o globo,
trepo com as melhores mulheres de qualquer lugar do mundo por onde eu
chego, saio de manhã sem deixar vestígios ‘nem na camisinha usada’ e volto
para minha rotina. Chego à Nova York, encontro minha empresa lucrando á
todo vapor nas mãos das funcionárias mais lindas, meu escritório polido, um
café quente, relatórios prontos, tudo em minhas mãos, e no final do dia, um
apartamento maravilhoso e aquecido me esperando. Basta um telefonema e
eu tenho a companhia que eu quiser, seja para bater um papo legal, um papo
sobre negócios, ver filmes, tomar um vinho, um sexo selvagem, ou apenas
para ficar olhando para minha cara e dizendo o quanto eu sou maravilhoso,
lindo, gostoso, másculo, macho bem dotado, e por aí vai... — ele fala como
se falasse de coisas simples “que todo mundo faz todo o dia”.
— Acredito muito nisso. É sua cara se sentir completo assim.
— Ser assim é condenável?
— Claro que não. Só quis dizer que combina com você.
— Por quê?
— Porque à primeira vista você me parece por demais esnobe e
superficial.
— E o que você acha que eu penso de você ao te analisar assim? — ele
resmunga e passa seus olhos por todo o meu corpo.
— Acho que pensa que vai conseguir me seduzir de alguma forma.
— Mas você não faz meu tipo, nem de longe.
— Então por que não me afastou quando eu te beijei?
— Eu gosto de beijar na boca e você é atraente, eu não negaria, não sou de
fugir de uma mulher gostosa quando ela chega me beijando!
— Mas eu pertenço a seu irmão, deveria ter me respeitado.
— Você não pertence a ninguém! — ele fala com a voz baixa e eu travo. —
E foi você quem me beijou, foi você quem saiu me falando coisas ao
telefone, eu apenas deixei você livre!
— Eu acho que você é sozinho porque sabe o quanto é babaca, Vitor!
— Acertou na mosca! — ele fala e sorri. Aquele sorriso que o Vince dá
quando quer me ver ficar com as pernas bambas. Eram tão iguais... meu
Deus...
— O quê?
— Acertou. Sou um babaca. Prefiro não me envolver, não magoar ninguém,
não deixar rastros no dia seguinte e na maioria das vezes prefiro puta! Eu
traço, pago, e elas vão embora sem encher o meu saco, as únicas palavras que
trocamos são gritos e gemidos. E de vez em quando tapas na cara, algumas
não deixam!!! — ele ri. — Somos responsáveis por aquilo que cativamos
Lara, como diria o pequeno príncipe!
— Pequeno príncipe??? É sério???
— Sim, eu sou sensível. Está impressionada, não é!? — ele resmunga com o
semblante sério e eu bufo.
— Bom... dez minutinhos e ficará pronto. Como está sua fome? — eu
pergunto limpando as mãos no pano de prato em cima da pia e como ele fica
em silêncio me viro já esperando alguma gracinha. Se o filho da puta tivesse
olhando pra minha bunda ele ia levar!
Mas que bela surpresa.
Vince estava parado na porta da cozinha e nos encarava com um semblante
horrível.
— Pode me dar licença, um minuto? — ele pergunta ao irmão e eu me irrito.
Ele queria falar o quê naquela altura do campeonato? Queria o quê me
procurando??? E eu estava muito bem ali, o gêmeo do mal que de mal mesmo
parecia ter muito pouco, era um babaca, mas era um babaca legal de
conversar, havia me distraído com maestria.
— Não. Não pode não. — eu falo, Vitor me encara tenso, e Vicente me
encara espumando. — Seus pais e seu irmão estão esperando um lanche e não
é necessário tirá-lo daqui. Já conversamos lá em cima!
— Quer o quê? Me provocar? — Vicente diz me medindo dos pés a cabeça.
— Para isso eu teria que desejar que você nos visse juntos, mas eu nem te
queria aqui. Só estamos papeando. Seu irmão é mais babaca do que eu
pensava, mas é bom para conversar. Eu só queria me distrair, esquecer o que
eu ouvi e estou fazendo isso, agora saia da minha cozinha se não quiser ficar
também!
Eu digo com a voz baixa, Vitor pula da bancada, sai, e eu sinto um vazio
dentro de mim a cada passo que ele dá para mais longe. Não queria conversar
com Vicente ali, não naquele momento... eu já estava tão bem, cozinhar me
fazia tão bem, o papo com o babaca estava tão bom...
— Vem pra cama! — ele resmunga como se eu não tivesse dito nada. — Não
gosto de dormir sem você!
— Está de brincadeira comigo? — eu pergunto e ele se aproxima.
— Vem pra cama, porra!
— Sim, você está!!!— eu resmungo embasbacada o encarando e seus olhos
lamacentos viram duas cachoeiras.
— Eu disse tudo o que eu achava que você me diria hora ou outra. Acho que
quis falar primeiro para não ouvir aquilo de você porque com certeza me
destruiria! Eu juro que queria muito ter esse filho! No começo tive medo, tive
medo de algo dar errado e pensei tanto nisso, mas tanto, que quando comecei
a fantasiar nossa vida e nosso futuro com a família mais do que completa, te
vi daquele jeito no banheiro. Eu fui tão negativo no início que me sinto
culpado, me sinto muito culpado!!! — ele fala baixo e chora. — Deveria me
odiar por não ter conseguido te dar o filho que tanto queria e por ser assim
todo estragado, mas eu amo você! Eu amo você! Não me deixa, não! Fica
comigo. Talvez algo aconteça amanhã, muito provavelmente eu tenha outra
crise, outro ataque, faça outra merda, mas eu quero você. Não vou dar conta
de viver sem você não só porque não posso, mas porque não quero! Eu vou
viver a minha vida tendo a certeza que você merece alguém melhor porque eu
não sou nada, e você é a mulher mais incrível que eu já conheci. A mais
linda, amável, e... eu tive muita sorte. Está tudo errado porque é
completamente errado você gostar de mim, mas o amor que eu sinto por você
parece não ligar nem um pouco pra isso! Não tem Nanda, não tem câncer, e
não tem luto antigo pela esposa morta aqui, só tem medo de você notar que
existem oportunidades melhores pra você lá fora, e que alguém mil vezes
melhor que eu pode te dar o mundo enquanto eu não consigo!
— Você está completamente errado em TUDO o que disse!
— Eu queria ter visto tua barriga crescendo, aquele teu sorriso do início de
volta...
— Eu sou jovem, ainda posso ter muitos filhos!!! Você está agindo feito um
adolescente. Não pode ficar me magoando por ter medo de ser magoado. E eu
nunca te culparia, nunca ficaria triste com você, não foi culpa tua! Se não
tivesse me afastado eu teria te dito isso.
— Eu estava bravo, ainda tô bravo.
— Por quê?
— Porque estou frustrado. Mesmo que tenhamos cem filhos, um não substitui
o outro, não é assim que as coisas funcionam. E esse era nosso filho, eu
queria vê-lo nascer! Fiz planos, eu fiz muitos planos na minha cabeça e agora
não sei lidar.
— Deveria saber como é simples, era só me foder durante todo o meu
período fértil que, aliás, começa em poucos dias. Se você quisesse como eu
queria, deveria pensar apenas nisso. “Tudo bem, aconteceu, foi triste, horrível
e doloroso, mas somos jovens e estamos diariamente em combustão.
Tentaremos mais e vamos ter o nosso filho juntos!” Não dá pra ser feliz
mergulhado na negatividade! Você vai ter que superar isso ou não será feliz
jamais.
— Pare de falar de nós dois no passado, eu te amo! Me perdoa, não me
abandona... me ajuda! Vem pra cama!!!
— Muito pedido em uma frase só.
— Lara...
— Conversaremos quando você estiver mais calmo.
— Eu tô mais do que calmo. Só preciso de você. Você é a minha vida, você e
a Allana são tudo o que eu tenho.
— Vince, eu nem disse que te deixaria... eu tô cozinhando um lanche pra
gente e você já está pirando...
— Tô uma confusão. Tô muito triste e não quero ficar sozinho!!! — ele mia e
eu dou risada.
— Então senta aí, teu bipolar! Amanhã vou contigo ver o doutor.
— Você me acha um retardado, não é!? Está perdendo o amor por mim. Já
começou a ver o gêmeo do mal com outros olhos...
— Por que razão você não confia em mim e nem no que eu sinto? Acha que
eu seria capaz de trair você?
— Os meus medos têm a ver apenas comigo. Você é muito maravilhosa, sei
que é assediada por onde passa. Isso é só a minha insegurança. — ele fala, eu
suspiro, e começo a preparar a sobremesa, pois já havia colocado a torta no
forno. — Tenho uma pergunta...
Ele diz minutos depois.
— Pergunte.
— Contou pro médico que antes de acontecer, estávamos transando? — ele
pergunta em voz baixa e me abraça pelas costas. Tento fazê-lo olhar pra mim,
mas ele demora muito para me encarar, ficava virando o rosto.
— Não foi culpa sua. Não foi por isso que eu tive um aborto. Sexo não causa
abortos, ainda mais na minha gestação que não era de risco. Apenas
aconteceu. Esqueça isso, por favor, não foi culpa sua!
— Me perdoa. Eu te amo! Vou tentar esquecer, eu prometo!
— Tudo bem. Eu sabia que isso ia mexer com você, eu já estava preparada.
Só não quero mais que me fale aquelas coisas, que me magoe daquele jeito,
ainda mais em um momento que eu preciso tanto de você, e... apenas deixe
essa dor passar, Vince, tá bem!? Deixe tudo isso passar. Eu te amo. Se não
quer filhos agora, eu entendo. Tenho esperanças de que um dia você mude de
ideia.
— Eu só não quero te ver sofrer. Só não quero perder você por ser um
condenado filho da puta! Eu quero muito te fazer feliz, quero te dar o mundo,
quero te dar mil filhos, mas não quero mais ver você machucada! — ele
resmunga baixinho. — Jamais me perdoaria se algo acontecesse contigo! Se
algo acontecesse sem que eu estivesse por perto, sem que eu pudesse te
ajudar, te proteger!!!
— Você é um homem abençoado! Tem á mim, tem Allana... Deus não te
virou as costas e seremos muito felizes, nosso futuro será incrível e se eu te
contar quem me disse isso, você não vai acreditar!!!
— Quem??? — ele pergunta sorrindo e eu nego.
— Na hora de ir pra cama, eu te conto. Me faça companhia enquanto eu
preparo a sobremesa???
— Gosta da minha companhia???
Ele pergunta e eu sei que falou aquilo por causa do irmão.
— Eu amo sua companhia!!! — dou risada. — É a melhor do mundo. Você é
maravilhoso!!! É meu melhor amigo, noivo, marido, amante, você é meu
tudo. — eu me achego e ele aperta minha cintura. — Eu nunca me sinto tão
feliz como quando estou com você! Tem que enxergar isso olhando nos meus
olhos, senão... não compreende o tamanho dos meus sentimentos. Sou
completamente louca por você!
— Como antes? Daquele mesmo jeito de antes?
— Mais! Mais porque agora eu sei que você é meu. Se você soubesse o que
eu penso o tempo todo, jamais duvidaria...
— Me conta, amor! — ele pede, eu o agarro para falar em seu ouvido, mas
seus pais invadem a cozinha na mesma hora.
— Ah! Atrapalhamos... — dona Norma já ia dando meia-volta empurrando
seu Henrique, mas os faço voltarem.
— Podem parar aí! Venham aqui encher o bebê de vocês de carinho porque
ele está tristinho hoje! — eu falo e dona Norma corre.
Vince sorri quando ganha um abraço triplo, e a cena mais estranha que
poderia acontecer naquele momento, eu consigo presenciar, mesmo tendo
acontecido com extrema discrição.
Enquanto abraçava Vince, dona Norma e seu Henrique vejo Vitor entrando
na cozinha, olhando para a cena com um semblante extremamente triste, e
após captar o meu olhar, ele abaixa os seus, e vai embora.
(...)
— Tem certeza que não quer tirar o dia de folga pra ficar com a gente???
— Não, vida. Preciso viver, preciso trabalhar e assim seguiremos em frente.
Eu estou bem, na medida do possível. Vou dar algumas instruções para a
Jaque, deixar o escritório no jeito, procurar o Greg pra conversar, e ainda por
cima tenho um encontro no consultório do professor... o Vitor também
solicitou uma reunião sobre os investimentos dele... enfim... tenho muita
coisa pra resolver antes da gente partir. Não adianta ficar aqui remoendo...
— Sim. Você está certo! Mas não volte tão tarde. A festa do pijama da Allana
é hoje, e não quero ficar aqui abandonada com eles. Tente voltar o quanto
antes! Farei um jantar incrível, e vou chamar meus pais também.
— Não voltarei tarde. Prometo! — eu ajeito sua gravata e ele me dá um
beijinho leve nos lábios. — Moça do comercial de margarina, como está o
café-da-manhã hoje? — Vince pergunta arrumando o terno e podemos ouvir
a campanhia tocando.
— Está maravilhoso como sempre. Melhor que o da Qually! — eu falo e ele
ri.
Descemos logo em seguida para tomar café e ver quem era que chegou e eis a
surpresa. A tal da Jaque estava um tanto apressada em rever seu amigo.
Estava na sala conversando avidamente com um Vitor também de terno e
gravata, e sorria com muita vontade.
— Jaque. — Vince resmunga e a garota aumenta seu sorriso o agarrando pelo
cangote.
— Vince!!! Que bom te ver!!! — ela sorri ainda mais e Vince se afasta um
pouco. — Espero que eu não tenha chego em má hora. Você desapareceu,
vim ver como está! Não atende minhas ligações... — ela fala com suas garras
nos braços dele.
— Eu estou bem, Jaque. — ele resmunga, me encara e eu forço um sorriso,
estava bem atrás dos dois. — Jaque, essa é a Lara e Lara, Jaque! Vocês já se
conhecem, mas não pessoalmente!
— É um prazer, Lara! Vim sonhando com o jantar que me prometeu! — ela
me abraça por um segundo.
— Sempre cumpro o que prometo. É bom enfim te conhecer, Jaque! Seja
bem-vinda!
— Muito obrigada!!! — ela resmunga e volta suas mãos com unhas negras no
ombro de meu noivo.
Eram oito horas da manhã. O que ela fazia aqui?
— Você já comeu? Gostaria de tomar um café com a gente? — Vince
pergunta, ela responde que sim se aproximando dele, e vejo Vitor me
analisando, mas abstraio.
A executiva vestia o básico: terninho, saia lápis, scarpin, os cabelos só um
pouco menores que o meus, e a cor bem castanho claro, quase loiro. Pela tela
do computador parecia mais escuro. Ah! E uma bolsa que parecia valer o
barraco da mãezoca.
— Como estão os negócios lá... — Vince vai falando, sai na frente com a sua
nova funcionária, e Vitor permanece me encarando e me analisando de pé,
como estava antes.
— A pior parte de um relacionamento é o fato de que na real ninguém
pertence a ninguém, e é isso o que ninguém entende. Mas para mim essa é a
melhor parte, eu me divirto muito! Sou o sábio que aprende com os erros
alheios, é só ter um rótulo para aparecer Marias, joães, Nandas, Jaques,
Gregs... é por essas e outras que jamais vou me apaixonar. — ele resmunga
parecendo pensativo, me olha nos olhos como Vince quando está puto, e
segue pra cozinha me deixando ali perdida em pensamentos.
CAPÍTULO 5

O BÊBADO

—... porque eu tenho certeza que se eu se eu não tivesse gritado...


— Jaque, só um minuto. — eu resmungo quando Vitor entra na cozinha atrás
de mim e sozinho. Cadê ela? — Aonde você vai? — vou até a ponta da
escada e a faço parar.
— Eu estava aqui esperando você voltar quando sentisse que deixou algo pra
trás. — ela diz de forma fria e desce os degraus calmamente. — Quase que
você não se lembra.
— Para com isso...
— Para mim, homem tem que ser homem. Tem que me deixar andar no lado
de dentro da calçada, segurar na minha mão, ter seu corpo voltado para mim
ao falar com as pessoas ao nosso redor, e jamais me deixar para trás.
— Me desculpe amor. Achei que você estava bem atrás de mim! Achei que
me acompanharia!
— Eu preciso parar de ficar sempre atrás de você. — ela diz chateada e
caminha até a cozinha andando em minha frente.
— Onde você estava, mulher??? — Jaque questiona animada e Lara sorri.
— Parada lá no meio da sala, onde ele me deixou! Fiquei lá até ele voltar pra
me buscar. — ela diz com bom-humor, Jaque parece constrangida e Vitor
sorri se segurando por um momento, mas logo para. Queria gargalhar, mas
temia que eu retaliasse. — Eu ainda vou ensiná-lo como deve me tratar
quando as visitas chegam. Você não concorda comigo!? Que marido é esse
que sai andando na frente com uma visita tão linda, e abandona a esposa na
sala a ver navios? — Lara continua enquanto ia se servindo e Vitor abaixa a
cabeça para esconder a cara vermelha pelo riso preso.
— Acho que devemos conversar sobre suas inseguranças e ciúmes á sós.
Jaque não tem nada a ver com isso. — eu digo e ela para de se servir para me
encarar. — Não sei da onde vieram tanto ciúmes.
— E eu que achei que você era o executivo CEO mais educado do mundo???
Bonito, forte, pós-graduado, cinco doutorados, poliglota, intelectual, mil
MBA’s, de presença, forte, gostoso... — Lara vai falando e gesticulando.
Nesse momento até Jaque segurava o riso com a mão na boca. — melhor
amante do mundo, futuro marido que qualquer mulher invejaria, MAS, não
consegue colocar a própria mulher à frente de sua casa. Que mulher eu sou
atrás desse homem? — ela encara Vitor e Vitor dá de ombros.
— Eu acho que você é só uma diarista, gata! É dessa forma que eu apresento
as minhas diaristas!!! Sem querer ofender, mano! — Vitor evita me encarar
após falar, e Lara permanece fitando seu rosto como se o que ele tivesse dito
havia feito tanto sentido, mas tanto sentido, “que ela ficou boba!”, ou
“completamente atordoada!”, não sei bem dizer, talvez até os dois.
Mas no meu caso, pra mim, aquilo foi como um tapa.
— Jaque queira me desculpar por isso! Normalmente os nossos cafés são
mais animados e felizes. — eu peço extremamente constrangido e Vitor se
levanta no ato.
Ele arrasta a cadeira num súbito, joga na mesa o guardanapo que era de seu
costume colocar no colo e sai pisando duro.
— O que foi isso??? — Jaque questiona e Lara também se levanta.
— Eu vou ver o que ele tem.
— Aonde a senhorita vai??? — Allana desce já de banho tomado como
havíamos combinado e agarra sua madrasta a impedindo de fugir. Eu desisto
e começo a tentar comer porque eu já havia notado que meu dia seria longo e
eu precisaria de muita energia. — Arrumou minhas coisas pra festa?
— Arrumei, sim! Fiz uma mochila e coloquei no maleiro do teu guarda-
roupa!
— Ah! Tá bem então, quem é ela? — Allana foi falando e quando viu
Jaqueline sua frase saiu sem pausa alguma e a cara que fez também foi aquela
de sempre: Allana não conhecia ou não tinha intimidade? Cara feia, patada, e
desprezo.
— Oi! Eu sou a Jaque! Amiga do teu pai. Vim cuidar da empresa pra ele
poder casar e ter sua lua-de-mel! — Jaque soa feliz. — Tudo bem?
— Tudo! Pai, eu preciso de dinheiro para ir ao shopping. Eu te peço isso há
semanas! — ela me encara com a mão na cintura após tratar Jaque com
extrema falta de educação. — Preciso de um pijama maravilhoso! O melhor
de todos! Tem que ser o mais bonito de todos!
— Você tem um monte de pijamas legais e criança má educada não merece
regalias. — respondo e ela franze o cenho sem entender nada.
— O que está acontecendo com ele? Esse é o tio Vitor brincando de ser meu
pai? Porque alguém com a cara dele acabou de me dar um ‘bom dia, linda!’
ali atrás. Cadê o meu pai? — ela encara Lara com uma sobrancelha erguida e
Lara sorri tentando não gargalhar.
— Levo você no shopping para comprar novos pijamas se você se desculpar
com a Jaque por ter sido má educada! Ela perguntou se você está bem...
pergunte a ela se ela também está!
Lara diz com seu tom compreensível e amigável e Allana revira os olhos
obedecendo. Jaque ri ao responder que “está bem, obrigada” e o silêncio
reina por minutos dolorosos. Inferno!!!
— Não. — Lara diz assim que eu me aproximo para cumprimentá-la como
sempre fazia antes de sair e ela se afasta de mim.
— Não vou insistir mais, Lara. Tô começando a cansar! Já pedi desculpas, já
expliquei que não fiz por mal...
— Ainda assim, minha resposta é não! Não quero beijo, não quero abraço, e
não quero mais pedidos de desculpas. Pode ir. E quando voltar eu ainda não
vou querer, então não chegue perto de mim!
— Ai, gente, bom dia! Desculpem-nos pelo atraso. — meus pais que sofriam
pelo fuso adentram a cozinha e me impede de dar uns ‘bons tapas’ na filha da
puta.
— Fiquem à vontade, eu já estou de saída, preciso ir pra empresa! Volto mais
tarde!!! — dou um beijo em cada um e saio antes que a raiva que eu sentia
transbordasse.
— O que está fazendo? — Jaque estava parada no portão com o celular no
ouvido.
— Pedindo um táxi.
— Cancele. Vamos. — eu peço, ela cancela o pedido na hora e Allana entra
correndo no banco da frente.
— Por que está sem carro? — pergunto encarando-a pelo retrovisor.
— Ah! Eu nem tenho mais casa aqui! Não tenho mais nada. E sou
completamente avessa ao uso de carro alugado. Não sinto que ele seja meu,
parece que peguei emprestado de alguém e preciso ser mais cuidadosa do que
eu seria normalmente. — Jaque se explica com bom humor.
— Carro alugado é estranho mesmo. Também me sinto assim quando preciso
fazer isso. Em Nova York não porque na casa dos meus pais eu tenho um,
mas quando preciso viajar para outros lugares, eu alugo. O que fará durante
três meses aqui??? Vai ficar aqui um tempão, não pode gastar todo o seu
dinheiro com táxis...
— Tem Uber aqui também, não tem!? São baratinhos!!!
— Se quiser pode ficar com o meu enquanto eu tiver fora!
— A Lara não vai gostar de saber disso não. — Allana resmunga de braços
cruzados.
— E por que ela não gostaria? — eu pergunto e a pirralha fita a janela.
— Porque a Lara é ciumenta! Quando as pessoas se casam, as coisas são
divididas, ela também tem que deixar...
— A Lara é um amor, não liga pra esse tipo de coisa!
— Ela liga sim! — ela resmunga. — Não pode fazer as coisas sem consultá-
la.
— Eu acho que você anda muito respondona. Se continuar assim daqui até a
escola, não tem festinha hoje. — eu falo enquanto dirijo e eu vejo seus olhos
brilharem por causa do choro.
— E você está muito chato! Muito chato mesmo!!! Não quero mais ir pra
escola com você! Não quero mais ficar perto de você! Quero ir de perua ou
com a Lara!
— Ótimo. Assim posso chegar à empresa na hora e não vou mais perder
compromissos porque preciso te levar! Não vou mais me matar para estar
presente quando você não faz questão alguma. Conversa com a Lara ou a
mande ligar pra combinar com a perua! — falo com raiva e ela começa a
chorar em silêncio. Um choro doído que parte o meu coração.
E eu nem entendia onde foi que eu fodi com tudo. De um dia pro outro a
minha casa havia virado de cabeça pra baixo.
— Tchau... — eu começo a falar quando paro na porta do colégio, mas não
tenho tempo.
Allana destrava a porta, sai, e bate a porta com tanta força que eu sinto meus
tímpanos tremerem.
Jaque sai do carro, se senta na frente, e me olha com bom humor.
— Já casou e teve filhos, Jaque?
— Não. — ela ri.
— Então aproveite. Não faça isso! — eu afirmo e ela ri de novo.
Pelo menos alguém estava de bom humor ali.
— Não pode dizer que é sempre tão ruim assim...
— Não. Não é. É maravilhoso... mas... o lado ruim é muito ruim. Tinha
esperanças de que meu filho fosse homem. Lidar com mulher é a coisa mais
difícil do mundo, nunca vou entender.
— Espero que seja homem então. Assim não vou precisar ver você internado.
— Lara perdeu o bebê.
— Oh! Minha nossa! Sinto muito.
— Obrigado! Eu sinto muito mais...
— Ela é jovem, logo te dará outro filho, um menino lindo... um príncipe com
essa tua fuça bonitinha!
— Seria muito bom, é por isso que eu tenho certeza que jamais conseguirá
levar outra gravidez adiante.
— Não seja tão pessimista.
— Eu sempre fui pessimista.
— Pois pare. Ainda não notou que isso só te faz mal??? — ela diz e eu evito
retrucar. De sermão já basta os da Lara e os da Tia. — Mas me fala, como
vão os preparativos? Quando vocês viajam?
— Eu estou esperando alguns e-mails do hotel... quero ir quando tudo estiver
encaminhado lá, e quando eu tiver deixado tudo no jeito aqui.
— Mas por que lá, e não aqui?
— Quero levar Lara para conhecer os lugares que ela sempre sonhou. E a
Grécia é um deles. Por isso a lua-de-mel extensa.
— Que romântico!
— Eu sou é um idiota. Quanto mais faço, quanto mais me abro e a deixo
entrar, mais ela quer, mais eu preciso dar, mais eu estou errado em tudo o que
faço. Não sei mais o que fazer para provar que é dela que eu gosto. E ficar o
tempo todo tentando provar algo que é óbvio, é muito cansativo. — eu vou
falando e Jaque só balança a cabeça. — Me desculpe, falo demais. Estou
fazendo terapia, acho que estou começando a ficar bom nesse lance de sair
desabafando sobre minhas questões e você não tem nada a ver com isso, não
vou te encher...
— Que isso! Pode falar, somos amigos, vou te ouvir. Se eu puder dar a minha
opinião...
— Não pode.
—... mas vou dar do mesmo jeito. — ela ri. — É como Lara falou, o jeito que
você deve demonstrar que a ama, não é com ‘coisas’, Vince, é com atitude. E
Allana também está certa. Lara é sua mulher agora, tem que participar da sua
vida, dos seus planos, tem que se sentir sua mulher...
— Você não tem noção do que eu já fiz e do que eu já mudei na minha vida
por causa dela. Achava que isso bastaria!
— É aí que está, não basta. A gente quer se sentir uma rainha todos os dias.
Você tem que dar tudo de si todos os dias!
— Puxado! — eu resmungo e ela ri.
— Ai, Vince! Só você... mas mesmo assim sei que Lara sabe o quanto é
sortuda. Mesmo você sendo um tantinho estranho assim... — ela ri de novo.
— Ela te valoriza. Sente ciúmes porque sabe o que tem.
— É claro que ela sabe o que tem. Eu sou maravilhoso. — eu zombo. — Me
desculpe pelo café... realmente o dia hoje foi estranho, e Allana age assim
com todo mundo que não conhece, se for mulher é pior. É ciumenta como a
madrasta, mas depois é um anjo.
— Não se preocupe. Eu sei como funciona. Não tenho filho, mas tenho irmão
pequeno! — ela diz sorridente. — E você e o Vitor? Se entenderam? Na
nossa época vocês viviam em guerra.
— Ele já chegou aprontando. Nunca vamos nos entender.
— Vitor é um amor, Vince!
— Cale a boca! Vitor é uma cobra.
— Ele dá em cima dela também?
— Nem vou falar disso com você pra eu não perder o meu dia. Então acho
que você já meio que sabe... Vitor não tem limites quando o assunto é
mulher, nem se for casada. E com mulher minha é ainda pior. Adora me
provocar, era assim com a Nanda e é do mesmo jeito com a Lara.
— A Nanda dava moral e você sabe... — ela diz e eu reviro os olhos.
— A Lara xingou e o ameaçou na frente de todos lá em casa. Ela é terrível, é
bom que ela sabe se dar o respeito e eu gosto disso nela, mas seu jeito só o
deixou mais gamado. Agora vive no pé dela.
Eu digo, ela ri de novo e eu estaciono o carro. Não pegamos trânsito algum
por isso chegamos em pouco tempo.
— Eu só mexo com a parte do “contas a pagar”, Vitor. Acho que o Greg pode
te ajudar com isso... — vejo Flávia entregando alguns papéis nas mãos de
Vitor e conversando com ele a respeito de algo.
— O que foi, Flávia? — eu pergunto e ele se vira pra mim. Estava analisando
a papelada na mesa dela.
— Você pode perguntar pra mim... vai ter que lidar comigo e principalmente
falar comigo. — ele fala simplesmente. — Preciso das contas ‘a receber’ e
estava aqui perguntando a respeito disso. Flávia não sabe.
— Quem lida com isso sou eu e o Greg.
— Ótimo. Então vou pegar com você, quando você estiver pronto. Não vou
ficar ligando para o ex-funcionário. Me avise quando puder conversar sobre
isso. — ele fala e encara Flávia. — Eu já te devolvo esses papéis.
— Ok. — Flávia resmunga com simpatia e ri se jogando na cadeira quando
ele sai.
— O que você está fazendo aí? — Jaque pergunta e Flávia se aproxima de
nós dois para cumprimentá-la.
— Que saudade dessa gringa, toda metida!!! — as duas riem. — Bom, eu
estou aqui no meu papel de secretária nada excelente.
— Você é ótima, Flávia. Te digo isso sempre! — eu resmungo e ela ri.
— Eu não estou reclamando!!! Amo meu trabalho! Só não entendi o que ele
faz aqui! — ela aponta pra sala que era do Greg. — Ele vai mesmo ficar?
— Ele está te importunando???
— Não!!! Não mesmo... é só que eu não o reconheço mais. Parece demais
profissional. Nem perguntou como está minha vida, como estão as coisas,
não puxou assunto. Parece que não me conhece mais.
— Vitor também tem parte com a SOld. Empresa para qual eu presto
assessoria em Nova York. Ele é muito profissional. Só se desmonta da
empresa pra fora! — Jaque diz e Flávia “fica boba”.
— Ele apenas não liga para nada que não seja enriquecer cada vez mais, isso
sim! Quer é botar as mãos no nosso faturamento!
— Não seja tão chato, Vince! — Flávia diz dando risada e eu reviro os olhos.
— Vocês não têm nenhuma vergonha na cara, não é!?
— Ele é bonitão... e como eu disse é um amor de pessoa. Não sei como vocês
não se entendem. — Jaque diz e Flávia parece concordar.
— Se ele é bonitão e tudo isso, eu sou o que? Nós somos gêmeos!!!
— Você é um chato! Tem a mesma fuça dele, mas não dá um sorriso. Isso
muda tudo.
— Eu acho que vou te mandar pra Nova York também, Flávia!
— Com tudo pago???
Ela questiona para me irritar e eu lhe ofereço as costas.
— Pare de ser ciumento!!! — ela diz e eu evito bater a porta na cara das duas.
O que é que viam nele? Cara chato, ignorante, mesquinho, nariz em pé... sou
mais eu!
Sento em minha mesa, ligo o computador, e olho para o celular silencioso.
Nenhuma mensagem... nada...
Disco pro telefone dela e ela atende um pouco antes de eu decidir desligar.
Por que tanta demora?
— Oi.
— Por que a demora pra atender?
— O que você quer, Vicente?
— Fale direito comigo, Lara!
— Diga o que quer, estou ocupada.
— Fazendo o quê?
— Arrumando a cozinha.
— E cadê a Tia?
— Está aqui.
— Então por que você está arrumando a cozinha?
— Porque eu quero.
— Quanto tempo isso vai durar???
— O que você quer?
— Quero que me desculpe e pare de agir de modo infantil.
— Eu não quero conversar com você.
— Por que eu saí da sala e deixei você pra trás? Ou tem mais algum
motivo???
— Eu continuo sendo só sua empregadinha, Vicente. Não sou sua noiva.
— Com certeza continua, está arrumando a cozinha quando a gente tem
alguém pra fazer isso. Acho que você está muito insatisfeita, mas não comigo
e sim com você mesma, Lara! Você não gosta de mim, não gosta da vida que
tem, não gosta de nada do que eu represento...
— Acertou em cheio. Ligou só pra dizer isso?
— Vamos conversar hoje. Colocar um fim nisso. — eu digo me sentindo
péssimo e ela faz silêncio.
— Já estamos conversando e eu já entendi! Estou realmente insatisfeita, é
melhor dar chance para alguém que seja capaz de me aturar e que me
valorize, porque esse cara não é você!!!
— Melhor assim. Isso é o melhor que você faz. Desse jeito eu não gasto meu
latim. — eu digo e desligo puto da vida!
Eu não sou de ficar dando murro em ponta de faca. Eu sabia que aquilo não ia
dar certo desde que vi a vadia de quatro na minha sala.
VADIA!!!
Pego as chaves do carro penso em correr para surrá-la antes de ir pra escola,
mas largo as chaves! Me lembro da parte em que eu digo sobre murro em
ponta de faca, a grosseria dela, a tal da proibição do médico, e desisto. Era
melhor deixá-la de castigo.
— Essa Flávia não muda nadinha... — Jaque entra fechando a porta atrás de
si.
— Ela é mesmo uma figura... — só resmungo para não ficar aquele silêncio
constrangedor, eu não queria papo.
— Por que não a colocou em um cargo alto como o Greg?
— Ela sabe fazer o que faz melhor do que ninguém, nunca treinou ninguém
para ocupar seu lugar... sei lá... mas o salário dela é muito maior, é de acordo.
Eu a valorizo.
— Ela deveria ser executiva...
— Ela é engenheira. Devia estar lá embaixo com os operários, assim como
eu.
— Você é tão chato!!! — ela fala e eu fico irritado.
— Vamos ver. — eu digo e pego o telefone para chamar Flávia até a minha
sala.
— Oi!
— Quer outro cargo na empresa?
— O que? Como assim? — Flávia entra na sala afobada e ri com a minha
pergunta.
— Quer outro cargo? Quer atuar lá embaixo com a engenharia?
— Não mesmo.
— Quer o cargo do Greg quando o Vitor for embora?
— Vou ganhar o mesmo como ele???
— Sua parte na empresa é menor, será um pouco menor.
— Menos do que eu ganho agora?
— Vai ganhar mais do que atualmente porque eu sou maravilhoso como
chefe. Só não ganhará como o Greg porque seu investimento foi menor do
que o dele. — eu digo e as duas riem felizes. — Jaque está me perguntando o
porquê você é uma recepcionista e eu estou muito satisfeito com você de
recepcionista, então, se quiser ir pra parte executiva, terá que treinar alguém
tão bem quanto, e não me deixar morrer em papelada aqui sozinho. Cuidará
de tudo o que Greg cuidava, e isso quer dizer toda a parte de ADM e
contabilidade. Vai ter que estudar e muito. Vai ficar cada vez mais longe da
engenharia química, vou querer que faça os cursos que temos, vai ter que
voltar pra faculdade, e vai trabalhar mais.
— Eu vou ganhar mais, então eu quero. — ela diz e abraça Jaque
agradecendo. — Mas fala aí, quanto a mais, hein!?
— O dobro, podendo subir ainda mais assim que se especializar. Por isso
aproveite que o Vitor estará aqui por esse mês e sugue dele todo o
conhecimento que puder. É um porre, mas é muito inteligente. E quando
voltarmos da Grécia, treine um profissional. Já coloque o anúncio no RH e na
internet. Enquanto estivermos fora, Jaque fará o meu papel e o seu. Até você
voltar da cerimônia!
— Fechou! — Flávia comemora com uma dancinha ridícula e eu não
aguento, dou risada.
— Agora você vai ter que me dar um abraço também... — Flávia diz
caminhando em minha direção lentamente como se me ameaçasse. — Ganhei
uma promoção do melhor chefe do mundo depois de anos... teremos que
comemorar!
— Eu não gosto de abraçar mulher que eu não como, a não ser minha mãe.
— Podemos resolver isso se você quiser! — ela zomba fazendo uma “cara de
monstro” e Jaque cai na gargalhada.
Eu me levanto para retribuir seu abraço quando a mesma ainda estava no
meio do caminho, mas só a minha atitude já a desmontou. Ficou tímida de
repente e até parou de caminhar.
— O que foi? Não queria um abraço?
— A-ham. — ela fica vermelha quando eu invado seu espaço pessoal. Olho
pra Jaque sentada no sofá e ela gesticula dizendo o quanto Flávia estava
mexida com aquilo.
— Ok. Dei a tão esperada promoção, te abracei... acho que agora a senhorita
pode voltar a trabalhar!!!
— Acho que estou apaixonada. — ela mia me olhando nos olhos feito boba e
eu bufo.
— Lara com certeza vai se separar de mim a qualquer momento. Será que
você me aguentaria?
— Certeza que não deve ser muito difícil.
— Sai daqui, sua cara de pau! — eu falo e ela ri. Sai pulando toda feliz e eu
me pergunto o porquê demorei tanto para fazer aquilo. O abraço e a
“promoção”. — Ah! Ligue pro Greg, por favor, faça-o vir até aqui.
— Eu posso ligar, mas eu acho que ele só virá se você pedir.
— O que está acontecendo?
— Ué. Ele ainda está magoado com você!
— O que foi que houve? — Jaque pergunta.
— Perguntei a ele sobre a Nanda. E eu que achei que eu era doente e
problemático por causa dela, por causa da falta dela. Greg é ainda mais. Me
disse que nunca entendeu o porquê Nanda havia me escolhido...
— Isso ainda? — Jaque parece surpresa. — Nanda continua fazendo vocês
dois serem rivais mesmo depois de partir...
— Ela não continua nada. Ele é que ainda não aceitou que perdeu. Ela se foi
tem muito tempo e ele continua se doendo por causa disso! Eu vou ligar pra
ele. — falo e Flávia sai.
— Vai com calma. Ele sofre como você já sofreu. Cada um arruma um jeito
de lidar. O Greg amou muito a Nanda e nunca a teve e isso deve ser doloroso
demais, amar sem ser correspondido.
— Vou com muita calma. Eu sou bastante calmo! — Eu ironizo e coloco o
celular no ouvido, voltando a me sentar.
— O que foi?
— Tudo bem, Greg?
— Tudo.
— Não parece.
— Fala, Vicente!
— Como estão os preparativos para ir pra Grécia?
— Sabe bem que eu não vou, não estamos no clima!
— Está rejeitando o convite?
— Sim.
— Não quer vir aqui pra gente conversar como dois adultos que eu acho que
somos?
— Não.
— Está bebendo, não é!? — ele estava com uma voz péssima.
— Não é da sua conta!
— Ok. Passar bem, então!
— O que ele disse? — Jaque pergunta assim que eu desligo.
— Está bêbado. Mandou eu não tomar conta da vida dele. Rompemos, agora
é ele lá e eu aqui!
— Está falando sério?
— Sim. Estou com problemas demais, Jaque. Demais. E só os meus já
bastam. Greg se quiser, sabe onde me encontrar. É adulto e sabe o que faz! —
eu digo, ela me olha torto e eu pego as chaves do carro por causa disso. —
Você é mais um karma, tenho certeza.
— Não está parecendo...
— Engano teu. Eu já volto.
(...)
Estaciono na frente do apartamento do mané e peço para ser anunciado.
Ninguém atende.
— Eu vou subir do mesmo jeito porque acho que ele está bebendo demais.
Pode passar mal ou fazer alguma besteira...
Eu digo para Antônio, o porteiro dele e ele meio que não acha uma “boa
ideia”.
— Olha senhor Vicente, não é direito eu deixar o senhor entrar assim... se ele
estiver com alguém...
— Me dá a chave, Antônio! Eu vou subir. Ou vou encher isso aqui de
policiais para conseguir a autorização. Se ele morrer lá dentro, o senhor vai se
sentir culpado pelo resto da vida. — eu digo já impaciente e ele me entrega a
chave.
Subo até a cobertura do condomínio de classe média alta, e respiro fundo
antes de bater. Como suspeitei, ele não atende, por isso entro mesmo assim.
O apartamento era gigante e nem isso impediu Greg de sujar até os cantos
menos prováveis do espaço. Estava horrível. Latinhas de cerveja pelo carpete
branco, maços de cigarro, roupas, sapatos, embalagem de comida pronta,
pizzas... e no armário chique do corredor, a mesma coisa, só que com as fotos
da minha ex-mulher para “piorar” a situação. E fazia um bom tempo que eu
não olhava para aquele rosto. Greg tinha ali, fotos dela, dele com ela, da
Allana sozinha, só não tinha fotos minhas.
E lá estava ele, deitado no sofá, só de cueca e com uma garrafa aberta e ainda
cheia em cima de si. Por isso estava todo molhado.
— Ei! Greg!!! — eu o balanço e ele resmunga. Na terceira chacoalhada ele
me encara surpreso. Estava mais do que bêbado.
— O que está fazendo???
— Procurando saber se você está vivo.
— Eu estou! Não está me vendo falar?
— Ótimo. Vamos tomar um banho!
— Tá me achando com cara de viado, filho da puta? Vai embora daqui, seu
desgraçado, eu te odeio!
— Eu também te odeio, mas nem por isso vou ficar te dizendo isso o tempo
todo. Aliás, quando você ficar sóbrio, eu não vou repetir isso pra você. — eu
minto, eu ia sim. Faço questão.
— Falou o desgraçado bonzinho.
— Vem... vamos tomar um banho frio! — eu tento puxá-lo, mas ele se solta
de mim.
— Me solta, merda!!!
— Solto depois que você ir pro banho.
— Eu não vou tomar banho com você!!!
— Tu é muito otário! — dou risada. — Não é comigo, palhaço, é sozinho!!!
— eu respondo, ele me mostra o dedo do meio com os olhos fechados e eu
suspiro. Meu celular toca e vejo na tela que é Júnior.
— E aí? Tudo bem? — ele já logo fala. O moleque ficava constantemente
preocupado comigo. Se não fosse louco pra comer minha mulher, eu acharia
fofinho.
— Não. Você ligou em uma boa hora. Está ocupado?
— Não. Já disse que tô sempre aqui. O que você precisa? Quer conversar?
— Sim. Pode vir até o endereço que eu vou te passar por SMS? Diga na porta
que eu te chamei, e eu te libero a entrada.
— Ok. — ele diz e eu desligo.
Respiro fundo, junto todas as minhas forças e carrego o branquelo sardento
banheiro adentro. O cheiro forte de álcool me deixa tonto, mas abstraio e não
julgo. Há bem pouco tempo eu estava na mesma situação e quem fez isso por
mim foi o Júnior. Não podia falar nada.
Jogo o bendito no Box da ducha, ligo a água fria, e ele desperta me xingando
de tudo quanto era nome.
— É isso ou ir pro hospital ficar na glicose até amanhã.
— Você é um maldito!!!
— Você já disse isso, anda muito repetitivo. Se lave, escove esses dentes,
você está fedendo! Quanto tempo não toma um banho???
— O mesmo tempo que você não toma vergonha nessa sua cara! Seu
hipócrita! Tá fazendo o que aqui? Eu não te chamei aqui! — ele diz isso, as
suas palavras por algum motivo dói, mas eu não digo nada e nem entendendo
o porquê meu peito deu uma pontada tão forte como aquela.
Era exatamente isso. O que eu estava fazendo aqui???
Era Lara, Allana, e agora ele. Eu não estava em um bom dia. Nada estava
bom pra mim.
— Ah! Não!!! — Júnior olha ao redor assim que abro a porta e já me vira as
costas.
— Fala sério, eu preciso de ajuda!
— Que tipo de ajuda??? — ele dá meia-volta e me encara erguendo uma
sobrancelha.
— Precisaremos cuidar de mais um bêbado. — eu falo e ele se compadece.
— Eu perguntei se queria conversar, não isso!!! — ele entra na sala pulando
cada lixo do caminho e parecia querer chorar ao me encarar. — Não sou
faxineiro.
— Custa? O que você estava fazendo??? Aposto que montando casinhas...
cadê o espírito de empatia???
— Não baixou hoje! — ele diz e rimos juntos. — Quem é?
— O Greg.
— E cadê ele?
— Joguei no Box do banheiro!
— Na água fria? — ele pergunta e eu confirmo. — Então já, já ele acorda pra
vida. — ele diz e caminha até a estante da TV. Ali tinha mais fotos de minha
família e ele. — Por que não aproveita que ele ta bêbado e bota fogo nisso
aqui? — ele pergunta, me encara e depois sorri. — Brincadeirinha. Não se
pode incentivar um louco a fazer loucuras. Te incomodam? — ele levanta um
porta-retrato dos dois juntos e eu nego.
— Não mais.
— Isso é muito bom!
— Sim, mereço uma estrelinha!!! — eu falo e ele ri.
— Vou ver se dá pra fazer um café e procurar uns sacos de lixos... — ele diz,
sai e eu volto pro banheiro.
Greg estava em posição fetal, chorando e resmungando.
— Me solta... eu odeio você...
Ele murmura quando tento fazê-lo se sentar para não engasgar caso
vomitasse, mas ele é pesado.
— Você precisa se sentar, só estou tentando ajudar você, caralho!!! — eu
digo e Júnior coloca a cara na porta.
— Ele não pode ficar assim, não. Levanta ele! — ele fala e eu evito revirar os
olhos de novo.
— Quem é? Outro maldito? Te odeio também! — Greg cambaleia em nossa
direção e aponta pro Júnior.
— Meu Deus, que visão do inferno! — Júnior resmunga e rimos juntos de
novo. Essa era a parte boa, aquele moleque sempre me divertia, não
importavam a circunstâncias.
— Esse cara! Esse cara... — Greg aponta pra mim e Júnior me encara
entusiasmado.
— O que tem ele?
— Ele é um porre, é um demônio de terno preto! — Júnior se acaba de rir. —
Tomou minha mulher, cria minha filha como se fosse dele, e finge que não
sabe que Nanda me amava. Que Nanda era minha e que tinha um caso
comigo. Ele finge que não sabe que...
— Isso é sério??? — Júnior sussurra embasbacado e me encara apavorado.
Só nego com a cabeça e volto a encarar o bêbado sem noção.

Era bom que ele desabafasse. Primeiro que mesmo se fosse o caso, Allana era
minha de qualquer jeito e eu arruinaria a vida de quem quer que dissesse o
contrário, ou tentasse tirá-la de mim por não ter meu sangue, e além do mais,
há muito tempo venho cuidando de sua saúde para o caso da possibilidade de
que ela herde o maldito câncer então, já fazia alguns anos que pesquisei a
respeito de um tratamento com medula óssea nos Estados Unidos. Ela devia
ter uns três ou quatro anos.
Precisei fazer uma viagem a trabalho, a levei comigo para emendar umas
férias com meus pais em Nova York, soube do tratamento por lá e fui atrás. O
método “prometia” reduzir a zero as chances da Allana de ter aquilo
futuramente, e eu pagaria tudo o que eu tinha para conseguir aquilo pra ela.
Um dos exames era um teste de compatibilidade sanguínea e no nosso caso,
teste de paternidade. Como brasileiro eu precisava comprovar o parentesco
desse modo porque as chances aumentariam “se a paciente fosse sangue do
meu sangue”, e para comprovar, precisei fazer. Então aquela “revelação” do
bêbado babaca, não me atingiu, mas o lance do “teve um caso comigo” estava
bem interessante, era uma novidade pra mim. Não sabia se ele dizia merda
por estar bêbado, ou se não sabia o que falava.
Eu mesmo não era de mentir quando bebia não, muito pelo contrário. Ficava
era bem sincero. Talvez Greg realmente pensasse que Allana era filha dele,
talvez ele quisesse isso, ou talvez ele só pensasse que ela poderia ser e não
era por minha culpa... vai saber!?
— Ele me encara com essa barba há mil anos por fazer, essa pose de CEO
poderoso e pensa que me intimida! Olha bem pra ele, o que ela via nele???
Ele só tem dinheiro e barba, dinheiro e barba, dinheiro e barba... é um
cuzão!!!
— Oh! Meu Deus! — Júnior ri. — Quer ir trabalhar? Eu fico aqui com ele...
não precisa passar por isso!!! — ele sussurra e eu nego.
— Não. Quando ele não está bêbado assim, é um bom amigo. Vou ficar aqui
e ajudar. Vou embora quando ele tiver melhor. — eu falo mais pra mim do
que pra ele, Júnior aperta meu ombro e sai.
Aumento o fluxo da água fria na cabeça do filho da puta, ele continua com as
ofensas, meto uma escova de dente com pasta bem dentro de sua boca e com
isso ele se cala e começa a escovar igual a bunda: de olhos fechados e
parecendo estar prestes a apagar ali.
Saio do banheiro com o palhaço agarrado em mim, jogo ele na cama, separo
uma muda de roupa e ele começa a se vestir cambaleando. Fez silêncio, sinal
que estava começando a ficar “bem”.
Assim que saio do quarto após realmente ver a visão do inferno que era ele
nu, sinto um cheirinho bom de café e vejo que Júnior já havia adiantado
muita coisa na “faxina”. Começo a pegar o que faltava de lixo com uma
sacola nas mãos, pego um pano que ele achou por ali, e começo a passar em
tudo como se já tivesse feito isso antes, e dou risada.
— Você devia filmar isso pra mostrar pra Lara!!!
— Quer que eu faça? Farei com prazer... — ele ri.
— Sei que sim, seu cara de pau!
— Como vocês estão?
— Péssimos. Uma amiga chegou para ocupar meu lugar na empresa, e após
apresentá-las na sala, eu não peguei em sua mão para ir tomar café. Isso foi o
fim. — sou irônico e ele parece entender.
— Deixou Lara pra trás quando recebeu a visita de outra mulher...
— Vocês conversaram?
— Não. Só estou tentando entender o que você acabou de dizer. Tentando
interpretar da forma correta, mas pelo jeito acertei.
— Não foi bem assim. Pelo menos não propositalmente. — eu digo retirando
o pó da mesa de centro. — Ela estava atrás de mim quando fui apresentá-la.
Aí quando elas se cumprimentaram, a Lara voltou para onde estava, atrás de
mim, não ficou do meu lado. Não sei porquê.
— Ela queria que você a pegasse pela mão, a chamasse, demonstrasse afeto
na frente da gostosa... as mulheres gostam disso.
— Quem disse que ela é gostosa?
— Se não fosse assim, Lara não ficaria tão puta.
— Puta foi apelido. A mulher virou uma onça na frente dela, chamou minha
atenção e tudo. Allana daquele jeitinho que você conhece também deu um
chega pra lá nela... eu tô é feito com aquelas duas. — eu digo e ele ri pegando
três xícaras do armário da cozinha americana. — Falei que ela não devia ficar
se sentindo insegura daquele jeito, quase voou no meu pescoço. “... e você
que é todo maravilhoso, é isso, é aquilo, é o máximo, faz e acontece, mas não
consegue colocar tua mulher à frente da tua casa???” — eu tento imitar a sua
voz e ele ri ainda mais. — Perguntou pro Vitor que estava na mesa “o que ela
era atrás de mim”, ele disse que ela era apenas a empregada, a diarista. Que
era assim que ele apresentava a diarista dele, tipo, ‘apresenta e vira as costas’.
Lara ficou péssima quando ouviu aquilo.
— A insegurança dela é compreensível. Você deveria tê-la agradado bastante,
feito a se sentir segura. Não adianta, mulher é assim, é disso pra pior. Minha
mãe disse que ele está lá. Quero conhecê-lo... o seu irmão gêmeo.
— Pra quê?
— E por que não!?
— Ele é a minha cara, eu estou aqui, pode olhar pra mim! Ele é um porre,
você não está perdendo nada.
— Eu continuarei sendo seu melhor amigo ao conhecê-lo, mané. — Júnior
zomba de mim. — Tenho certeza que ele é muito legal. Talvez
incompreensível por ter vivido há anos na sua sombra, mas... não deve ser
muito difícil de lidar.
— Vitor não viveu na minha sombra. Muito pelo contrário. Ele sempre foi
auto-suficiente, amava chamar atenção, ter tudo o que eu tinha... sempre foi o
coitadinho. Tentava sempre me foder, nós não nos dávamos bem. Sempre foi
invejoso, não foi um sofredor não. E você pode engolir ele, se quiser. Seja
sim amigo dele. É bom que você me livrará do estorvo!
— Ligarei pra ele hoje, então. Vou levá-lo para conhecer Sampa. A nova
Sampa e que ele ainda não conhece. Seremos amigos. Vou fazê-lo se divertir,
sair do seu pé.
Ele diz simplesmente e eu sinto aquela pontada de novo. Mas dessa vez é de
ódio. Vitor chegou e já ia me tirar tudo.
— Eu estou brincando! Entendeu isso, não é!? Tô fazendo piada. É legal te
ver com ciúmes. Já disse que você é demais possessivo? — ele ri. — Não o
conheço, mas sei que ele não pode tirar tudo de você. Não o que você tem
realmente, porque se você perde algo quando “alguém chega”, é porque não
era seu.
— Ele acabou de me afastar do meu sócio. Um dos amigos que eu podia
contar nos dedos de uma mão e agora vi que de amigo não tem nada.
— Releve, ele não está bem. E é o que eu acabei de dizer... — ele me oferece
uma xícara e eu me sento no sofá para experimentar seu café. — se ele se
afastar de você é culpa dele, não do teu irmão.
— Eu sei disso. Sei de tudo isso... — eu falo, ele balança a cabeça sorrindo e
entrega uma xícara para o quase bêbado totalmente grogue que adentrava a
sala de estar.
— Esse está sem açúcar. Vai se sentir melhor em pouco tempo.
— Nunca mais vou beber na minha vida! — Greg se senta no sofá de frente
pra mim, bebe um gole do café fazendo uma careta, e me encara parecendo
chateado. — Oi.
— Oi.
— O que estão fazendo aqui?
— Vi que não estava muito bem, a Jaque ouviu nossa conversa e me fez vir
até aqui, liguei para o Júnior pedindo ajuda com a bagunça, e só... agora que
está bem, nós já estamos de saída.
— Obrigado por isso.
— De nada.
— Eu não me lembro do que te disse por telefone, mas sei que eu te atendi,
ou eu te liguei e fui grosseiro. Me desculpe.
— Não.
— O quê?
— Não te desculpo! — eu falo, Júnior me encara com um semblante de
advertência, e eu ignoro.
— Por que não?
— Porque não está sendo sincero, não está lamentando. Você me despreza e
sempre me desprezou. Aprendeu a conviver comigo, de algum jeito começou
a ser fácil, contanto que a gente não falasse nela...
— É. — ele fica puto. — Por mim, nem agora precisamos falar! Você parece
que não entende.
— Engraçado que enquanto bêbado você fala numa boa! — eu digo com
ironia e coloco a minha xícara no aparador ao lado do sofá. — Nós já vamos.
— Espere aí! O que eu disse???
— Você disse muita coisa.
— Ele estava bêbado, pare de ser tão teimoso! É por isso que você só se fode.
— Júnior ignora a presença de Greg e me dá um de seus sermões
“profissionais”.
— Diga. Pode dizer!!!
— Você disse que eu sou um merda, um maldito, só tenho dinheiro e barba,
sou um porre, um demônio de terno preto, um hipócrita, que eu tomei A TUA
FILHA, A TUA MULHER, aliás, a mesma que NAS SUAS PALAVRAS eu
supostamente “sempre soube que teve um caso com você”, que me traía...
disse que tomei sua vida! Você disse muitas coisas as quais jamais vou
esquecer, Greg! Fiz questão de ficar aqui até você ‘acordar’ pra te dizer isso.
Jamais vou esquecer.
— Não conseguiu notar que eu estava fora de mim?
— Faz três minutos que você estava fora de si. Você está bem, você estava
bem... o álcool apenas te deu coragem para me falar tudo aquilo.
— Eu não acho que você tenha só dinheiro e barba, o que significa que nem
tudo o que eu disse, foi de coração. Você também é muito emotivo e sensível.
— ele diz, Júnior ri, mas Greg me encara sem humor algum.
— Já estamos de saída. Tenha uma boa recuperação. — eu falo, caminho até
a porta, Júnior aparentemente me segue e eu ignoro os retratos na estante do
corredor.
— Você está sendo muito infantil!!! — Greg vai até a porta. Não queria me
ver saindo dali chateado.
— Falou o macho adulto que comeu a minha mulher! — eu resmungo, espero
ele dizer que aquilo era um absurdo, e como não acontece, eu vou embora
dali com Júnior tentando me fazer ‘entender que tudo o que era passado, eu
deveria continuar deixando no passado, como fazia antes... ’
E logo eu que achava que aquele dia jamais ficaria pior. Chego em casa e
descubro que minha “bebezinha” que já não era mais bebezinha estava na sua
festinha de pijama, Vitor esperando uma reunião de negócios na hora do
jantar, e a cereja do bolo: A criatura voltou pra casa de seus pais. Ou foi
apenas dormir lá, eu não sabia. Só sabia que como era uma mulher casada
assim ela continuaria, ou eu não me chamava Vicente.
Pego as chaves, sigo pro carro, e só paro de pensar em várias formas de
castigá-la quando estaciono na frente de sua casa.
CAPÍTULO 6

VOCÊ ME AMA?

— O que aconteceu de verdade, hein? Não disse coisa com coisa pelo
telefone.
— Nada. Só tive um dia cheio. Fui pra faculdade, dei uns gritos com os caras
que estão cuidando da piscina e da casinha da Allana, levei a pequenininha
até a casa da amiga dela, fiz o jantar dos meus sogros... estou cansada! Na
verdade estou exausta. Muita responsabilidade. Sem contar que agora saiu o
boleto da formatura pra pagar e o Vicente não me deixa trabalhar... tô muito
sobrecarregada, mãe.
— E os preparativos do casamento? Não acredito que não vou colocar a mão
na massa... nem parece que vai realmente se casar.
— Será uma cerimônia simples em um lugar bonito, pelo que ouvi Vince
falar. Ele está esperando o contato do hotel onde ficaremos pra poder viajar
com tudo no jeito. Ele quer saber mesmo é da lua-de-mel... — eu falo e ela ri.
— Ele deve ter escolhido um lugar lindo, filha!
— É aí que tá, mãe. Não consegue ver a problemática nessa frase, não?
— Que problemática?
— Vince controlando um momento que devia ser meu. Era o meu sonho. Me
casar, me vestir de noiva nas ilhas gregas... uma vez eu disse isso a ele, por
isso ele escolheu lá. Mas até agora eu não vi nada a respeito da cerimônia, ele
não me mostrou nada. Vince gosta de controle. Ele amarrou uma coleira em
mim e cada dia que passa aperta ainda mais para me manter presa a ele. Presa
ao que ele quer... e o pior de tudo é que eu descobri que com Nanda ele não
era assim. É só comigo!!!

— Quem escuta você falando, parece que não sabia desde o princípio que ele
era assim. — minha mãe se serve de mais uma xícara de seu café e sorri pra
mim. — Você tem que se impor, vai funcionar porque ele te ama muito, fará
qualquer coisa pra não perder você. Se bem que eu acho que não vale muito a
pena querer mudá-lo agora. Você se apaixonou por esse Vicente! Talvez se
ele mudar, você não verá mais graça alguma. E com relação a garota que
você me contou por telefone, é bobagem. Você não deveria esperar que ele te
posicionasse como a dona da casa, a mulher dele... homens não sabem como
nós “funcionamos”, filha. Deixam passar muita coisa. Você tem que
conversar com ele para que ele possa te entender. Às vezes a gente precisa
desenhar. — ela ri. — Um homem não é nada sem uma mulher forte ao seu
lado. Veja seu pai, se eu deixar ele aqui sozinho por uma semana, vira parte
da mobília.
— Eu ouvi isso, mulher! — meu pai grita lá do quarto nos fazendo rir.
— É isso. Basta conversar com ele, esclarecer as coisas. Dizer o que gosta, o
que não gosta, falar sobre o que te irrita, sobre seus limites. Só então deve
cobrar caso ele repita alguma coisa. Casamento não é fácil. Tem que amar
muito, respeitar mutuamente, ser parceiros um do outro, e principalmente, o
mais difícil, aprender a perdoar!!! Você disse que ele te pediu desculpas, ele
te ligou pra vocês conversarem, se for fazer uma guerra para cada problema
que aparecer na vida de vocês, esse casamento não vai durar.
Ela fala com toda sua bagagem de conhecimento no assunto e eu suspiro me
sentindo cansada.
— Posso dormir aqui??? Tô muito cansada...
— Ele sabe?
— Ele não tem que saber de nada. Saí de lá ele nem tinha chego. Não quer
saber de mim. Deve estar com sua nova parceira de trabalho... se sentindo
livre longe de casa.
— Você é tão boba!!! — ela fala e ri. — Vou arrumar sua cama, porque eu já
vou deitar...
— Não. Arrume o sofá, vou dormir no sofá. Acho até que nem dormir eu
vou. Tenho um TCC, talvez um casamento... muito o que pensar.
— Vou ajeitar aqui e fazer um chá pra você. Vai ser bom pra você descansar.
— ela diz sai, me entrega um pijama limpo, eu me visto e dois minutos
depois alguém bate na porta. Já era quase meia-noite.
— Eu vejo... fiquem aí... — meu pai diz se levantando e vestindo uma
camiseta.
— Se for ele, estou dormindo, pai! Não quero vê-lo!!! — eu sussurro pra ele,
ele revira os olhos, posiciona seu velho bastão encostado na parede ao seu
alcance, pois não tínhamos segurança nenhuma ali naquela rua, e espia o
novo visitante ao baixar o vitrô.
— Boa noite, filho!!! — meu pai diz com simpatia e eu posso ouvi-lo.
— Boa noite, sogro. Vim buscar minha mulher fujona... ela está?
— Bom, ela já está dormindo... chegou e apagou, estava muito cansada. O
que aconteceu?
— Eu também gostaria de saber. Será que posso entrar?
— Olha, me desculpe, já está tarde...
— Eu não sairei daqui sem Lara, seu Mauro. Ficarei em sua porta até
amanhecer!
— Não pode levar a menina para a friagem assim. Por que vocês não
conversam amanhã, com mais calma?
— Conversei com Lara a respeito disso... ela não pode se desentender comigo
e correr para os pais. É uma mulher casada, tem sua casa, tem uma enteada
bem difícil pra cuidar, os sogros para recepcionar e tem a mim. Não pode
correr pro colinho do papai quando discutir comigo. Ela voltará comigo
porque é o que deve fazer, tem responsabilidades. O senhor vai me deixar
entrar, ou não?
Ele questiona, meu pai parece pensar, me encara pedindo ajuda e eu me jogo
sentada no sofá, por isso Vince entra imediatamente.
— Vamos.
— Eu estou bem aqui.
— Vamos!!!
— Você é surdo?
— Eu não vou falar de novo. Vamos pra casa, Lara, agora!!! — ele fala baixo
só por causa dos meus pais porque sei muito bem que se estivéssemos
sozinhos, ele já estaria me arrastando para o carro sobe gritos.
— Eu-estou-bem-aqui!
— Ah! É?
—... é. — eu travo, fico com medo de sua reação, e em um rompante, ele olha
ao redor parecendo procurar por algo.
Ele pega meu celular, minha bolsa, meus tênis e sai pisando duro em direção
ao carro. O que ele ia fazer com minhas coisas?
— Me devolve minhas coisas!!! — eu corro, meus pais param na porta, e eu
entro em sua frente, mas ele me afasta e joga tudo de qualquer jeito no banco
de trás. Parecia transtornado!
— Entra na porra do carro!!! — ele só sussurra para que meus pais não
acompanhem nossa discussão e eu nego de novo. Por isso ele afunda sua mão
em minha nuca, e levanta minha cabeça fazendo minha bunda tocar o carro.
— Entra nessa porra, e vamos pra casa. Não me faça te arrastar!
— Isso, me arraste! Me arraste pra ver!
— Entra. — ele diz como se “tentasse pela última vez”. — Está agindo como
uma criança mimada! Vamos conversar em nossa casa, vamos nos resolver
no particular, eu vou melhorar o jeito de te tratar, e você vai parar de dar
crises por bobagens, vai crescer.
— Você? Melhorar no jeito de me tratar? — eu pergunto e ele me solta e sua
atitude é muito boa, mas muito ruim. Parecia de saco cheio de mim.
— Ok. Vou te fazer uma pergunta e ir pra casa. — ele fala e eu seguro a
respiração. — Você quer terminar nosso relacionamento? Quer voltar pra tua
casa?
— Nós já vimos que terminar não adianta... a gente sempre volta, e sempre
comete os mesmos erros. Você me prende demais...
— Quer que eu te solte? Hum? Quer que eu seja diferente? Que eu te deixe
livre? Talvez mais leve como eu era com a Nanda? Naquele jantar você
pareceu feliz e empolgada ao ouvir as histórias... acha que “aquele amor” que
eu sentia era muito melhor que esse meu jeito de amar você?
— Me deixar viver a minha vida livremente... acho que seria um bom
começo. Você pode ser mais leve, Vince... pode...
Eu começo a falar e ele confirma abrindo a porta traseira do carro.
Ele pega as minhas coisas, pendura a bolsa em mim, me faz abraçar a minha
muda de roupa, e coloca meus sapatos no cantinho da calçada.
— Farei tudo diferente. Serei como eu era antigamente. Ou pelo menos
tentarei. Quer que eu seja assim, serei assim. Só que agora vou embora
porque naquela época, jamais que eu perderia meu tempo correndo atrás de
mulher e implorando pra ter algo quando eu poderia conseguir facilmente na
rua. Quando Nanda ‘dava dessas’, ficava fora de casa até voltar com os
rabinhos entre as pernas porque eu não ia atrás, eu não sentia tanta falta
assim, eu conseguia dormir sem ela. Ela ficava com o Greg que dava todo o
suporte, se é que você me entende. — ele fala e ri. — Faça o que quiser da
sua vida, volte a ser faxineira, se sinta livre, fique livre! Ver você feliz será o
suficiente. Eu gosto de controle, eu gosto de sentir que posso proteger você,
que tenho você só pra mim, e que está por perto caso eu olhe pro lado.
Porque cuidar de você sempre foi algo que fazia eu me sentir vivo. Foi assim
que eu consegui renascer das cinzas quando comecei a viver não só por
Allana, mas por mim e por você! Eu te irrito ao tomar as rédeas da sua vida,
ao mesmo tempo em que eu necessito tomar as rédeas da sua vida para viver,
porque nada no mundo é mais importante do que ter você, cuidar de você. É
por isso que eu escolhi o lugar do nosso casamento, eu escolhi a nossa casa,
eu escolhi nossas alianças, e já paguei tua formatura. Planejei toda a sua vida
ao meu lado porque achei que quando você disse que viver pra mim era a sua
prioridade, que nossa vida não era um fardo, e que não havia prazer maior pra
você do que ficar de joelhos, você falava a verdade. Você está livre. Pode
ficar se quiser, mas vou deixar a porta do nosso quarto aberta. Vou esperar.
Entra!
Ele diz, beija a minha testa, se afasta, e eu tento me lembrar de como voltar a
andar.
Quando fecho o portão ele entra no carro, e simplesmente vai embora. Aquilo
me diz que eu deveria ficar feliz por ele ter cedido, mas não consigo ficar, só
me sinto vazia.
— Tô passada que ele te deixou ficar... — minha mãe diz pegando as roupas
dos meus braços.
— É nem parece algo que ele faria... — meu pai resmunga e volta pro quarto.
— Ele não me deixou ficar. Praticamente desistiu e me largou aqui. — era
isso o que eu sentia. — Ele cansou de mim. Vivemos tanta coisa e ele cansou
de mim. Cansou de tentar.
— Não foi isso...
— Foi sim, mãe. Não é pra ser. Nós somos bons amantes, mas não bons
companheiros.
— Conversou com ele como eu te disse?
— Não eu só... só fiz besteira. Ele é muito difícil. Vicente só entende um
idioma, o do “sim, senhor. Claro que eu faço, claro que eu vou, eu aceito, eu
entendo, você tem razão...” e daí por diante.
— O que você vai fazer?
— Eu não tenho a menor ideia.
Não tinha mesmo. Porque eu sabia que na maioria das vezes era ruim com ele
e pior sem ele.
(...)
— Bom dia, meu amor! — minha sogra me agarra na sala e eu retribuo seu
abraço.
— Bom, dia! A Tia já chegou?
— Eu não sei, acabei de descer... — olho no relógio e marcava 06:40hrs.
Sim, eu madruguei.
— Deixa eu ver se ela já está por aqui. O Vince ainda está na cama?
— Eu vi que ele saiu pra te buscar, mas não o vi voltar. Achei que vocês
estavam juntos. — ela fala e meu coração se aperta.
— Vou ver se ele está no quarto. Já venho colocar a mesa pra senhora! — eu
falo e subo imediatamente me lembrando do trecho de nossa discussão em
que ele dizia que “Só que agora vou embora porque, naquela época, jamais
que eu perderia meu tempo correndo atrás de mulher e implorando pra ter
algo quando eu poderia conseguir facilmente na rua.”
Abro a porta devagar e o encontro dormindo no meu lado da cama, o lado
esquerdo que ficava na direção das janelas. E ele odiava dormir ali, gostava
mais do lado da porta. Estava de bruços, sem camisa, com a cabeça no meu
travesseiro, e dali eu não podia ver seu rosto.
Meu coração se aperta de novo, respiro fundo, me enfio embaixo do edredom
que eu escolhi e comprei, e me achego devagar. O filho da puta era tão forte,
tão grande, tão cheiroso... só queria saber quando que aquele sangramento
pararia...
O abraço pela cintura, ele se vira pra mim ainda dormindo, e eu só fico
engolindo sua respiração até que ele desperta, estávamos tão pertinho...
— Oi. — eu digo e ele sorri me puxando pra perto de si.
— Você voltou. — ele murmura bem baixinho e eu dou-lhe um selinho
rápido.
— Achou que eu não voltaria?
— Achei que tinha perdido você.
— Você jamais vai me perder.
— Você promete? — ele continua sussurrando e sorrindo. E que sorriso lindo
ele tinha. Aquela mistura de olhos negros rasgados por causa do sono e seu
sorriso brilhante e alinhado no meio daquela barba toda, me enlouquecia. Era
por isso que eu queria senti-lo toda manhã.
— Eu prometo.
— Então diz que me perdoa por não ter te arrastado comigo pra cozinha...
— Eu perdôo... — dou risada. — se me perdoar por não ter voltado pra casa
quando foi me buscar.
— Feito. Mas o nosso trato continua. Faremos o teste do ‘outro Vicente’ por
alguns dias. Estará livre até o fim do contrato vigente.
— Não adianta ser indiferente... me “deixar livre” não é “não se importar
comigo”. Não quero sua indiferença. Só quero que demonstre ser um homem
comprometido, que seja mais leve, e que me ame. Que demonstre não só em
quatro paredes, mas na frente das pessoas, o quanto você me ama.
— Não serei assim. Não é disso que se trata. Você verá. — ele garante
falando de olhos fechados e eu volto a distribuir selinhos em seus lábios
carnudos.
— Como é esse novo Vicente?
— Ele faz amor ao invés de foder.
— Não obrigada, pode voltar ao normal agora. — eu peço e ele ri.
— Você realmente não se adaptará. Mas podemos tentar. Se não der certo
fico no meio termo. Sei que meu jeito te entristece e sei que há muita coisa
em mim que preciso melhorar contigo.
— Isso quer dizer que posso voltar pra faxina? — faço um teste e ele ri.
— Isso quer dizer que você pode envelhecer fazendo faxina. Faça o que
quiser. — ele me encara e acaricia minha face. — Que horas são?
— Já deve ser sete horas, ou quase...
— E Allana?
— Vai pra escola direto da casa da amiguinha. Avisei o tio da perua que ele
só vai precisar trazê-la hoje.
— Quer passar a tarde em um lugar especial?
— Que lugar?
— Aqui... — ele diz e num rompante sobe em cima de mim.
— Não podemos...
— Eu sei. Mas não precisamos fazer amor. Podemos só ficar assim, olhando
um pro outro, conversando e dormindo...
— Ou eu posso fazer coisas que já tem um tempinho que não faço. — eu
resmungo e troco a posição.
Beijo sua bochecha, percorro a linha do maxilar repleta de barba, desço para
seu pescoço, depois para o peitoral que cheirava a colônia boa, e sigo para o
abdômen trincado.
Estava de calça de moletom que exalava o nosso amaciante, e eu amava ver
ele usando pequenas coisas que tinha os meus cuidados.
Desfaço a cordinha, abaixo a cueca junto com a calça, e o seu membro grande
e roliço pula pra fora. Era uma afronta aquilo...
Massageio e beijo com cuidado suas bolas enquanto o instigava subindo e
descendo com a palma da mão. Ele tira o edredom de cima para me olhar
fazer aquilo e eu sorrio para seu semblante de felicidade que não cabia dentro
de si. Subo passando a língua da base até o topo e quando chego no ‘céu’,
meto a boca e começo a mamar. Imediatamente seu toque na minha cabeça
arrepia todo o meu corpo, e eu me desligo só para sentir cada detalhezinho
daquele momento.
Seu gosto, sua textura, seu abdômen se contraindo, o som que faz ao arfar,
seus olhos fechados e carinhos em minha cabeça.
Carinho. Procuro pela tinta da caneta em sua mão e não encontro. Que Deus
me perdoe, mas aquele não era o Vince. Não podia ser...
— É nessa hora que você me bate, puxa meus cabelos, me xinga de tudo
quanto é nome, e me faz ficar de joelhos... — eu resmungo após subir até o
pé de seu ouvido.
— Só estou curtindo o momento... ainda estou sonolento. — ele sorri, mas
não me encara. — Continue, por favor...
— Por favor??? — ele nunca era educado.
— Por favor. Estava muito bom, não para não! — ele me olha, ri colocando
as mãos atrás da cabeça, e volta a fechar os olhos apenas esperando eu
retomar.
Capricho nas chupadas até ouvir seus gemidos, ignoro a vontade de me tocar
por causa do absorvente que parecia uma frauda para suportar o fluxo
intenso, e posso senti-lo se contorcer.
— Isso. Assim... minha princesa! Mama tudo. Vou gozar agora, não para...
Princesa?
Ergo uma sobrancelha sem que ele possa ver, continuo me deliciando do
melhor café-da-manhã do mundo, e ele se apoia sobre os antebraços quando
chega a hora.
— Eu vou... — ele começa, o jato forte desce quente pela minha garganta, e
ele desaba após se livrar de tudo. — A melhor boquinha do mundo... — ele
me puxa pra si, me abraça e abre os olhos.
— Foi bom pra você? — dou risada e ele afirma com a cabeça antes de
responder.
— Foi. Foi maravilhoso.
— Mas pra mim não. — eu digo me levantando, ele gargalha por algum
motivo escondendo o rosto nos travesseiros, e eu ignoro para não surtar. Ele
estava me testando, acha que sou uma tapada. — A próxima vez que me
chamar de princesa enquanto eu te faço um boquete, vou te morder. Está
brincando com uma mulher em uma eterna TPM enquanto ela tem sua rola
entre os dentes. Isso é perigoso!
Eu resmungo enquanto ajeito o vestido amassado e o ouço gargalhar de novo
com o som abafado pelo travesseiro.
— E por que estava do meu lado na cama, hein? — eu pergunto me sentando
na ponta da cama para calçar meus sapatos.
— Saudade. — ele me encara sorrindo, se arrasta até a beirada e me agarra
invadindo o meu sutiã com a mão. — Saudade do seu cheirinho. Nem dormi
direito. Não consigo dormir longe da minha mulher.
Ele investe contra meu pescoço enquanto aperta meu seio com a mão direita,
beija, chupa, e não para. Vejo estrelas, lamento de novo por estar sangrando,
ele vira meu rosto para me beijar, e não tira a mão que conseguia agarrar todo
o meu seio já eriçado.
— Vou ver se a Tia está preparando o café. Sua mãe já acordou...
— Ficarei em casa contigo hoje. Você quer?
— Eu vou amar, mas e a empresa? Não precisa ir trabalhar?
— O Greg já havia passado algumas informações pra Jaque naquele dia
fatídico em que ela chegou. Se lembra? Naquela manhã ela não parava de
ligar... Vitor foi pra empresa e conversaram bastante os três. Ela se vira. Vou
aproveitar para ver como anda os documentos da cerimônia e agilizar tudo...
— Por que não me deixa participar disso? É o meu momento também, quero
cuidar de tudo. Quero escolher a decoração, ver as opções... — eu digo e ele
ri.
— Só o que estou resolvendo é a burocracia, custos, voo, hospedagens da
nossa família, aguardando sair os passaportes dos seus pais e da família da
Tia, transferência bancária, o jato que vou alugar... é por isso que ainda não
fomos, é tudo muito burocrático, mas falta pouco. Decoração, vestidos, a
festa, os comes e bebes, você vai decidir quando chegarmos lá. Não entendo
nada disso, e eu sei que você precisa participar de tudo isso. Jamais quis tirar
isso de você.
— Jura?
— Juro. A estética não está resolvida. Você com a ajuda de sua mãe, da sua
sogra e da Tia, resolverão essa parte. Se você QUISER a ajuda delas. Eu só
quero facilitar a logística, deixar nossa família confortável, e o seu sim. Só
isso o que me importa, você dizer sim pra mim. Eu te amo muito.
— Eu também te amo. Muitão mesmo! — eu sorrio sentindo seus lábios
voltarem a roçar minha pele exposta e me afasto antes de ficar ali pra sempre.
— Vou tomar um banho e já desço.
— Não demora! — eu pisco pra ele, desço correndo, e encontro com Tia,
meus sogros, e o ‘terrível’ na cozinha.
— Bom dia, linda! — meu sogro me abraça e eu correspondo.
Havia passado pela mesa recém-posta então sabia que tudo estava
encaminhado, portanto ajudo Tia a terminar tudo com o meu toque de família
de comercial de margarina. Por “algum motivo” eu estava completamente
feliz.
Mas foi outra coisa que me chamou a atenção, o ‘gêmeo do mal’ estava com
uma cara carrancuda a lá Vicente, na bancada da cozinha encarando uns
papéis, parecendo absorto, e muito encucado com alguma coisa.
— Bom dia! — eu me aproximo para tentar ‘sentir’ o seu humor e ele parece
confuso ao me olhar nos olhos, mas quando “nota quem era que estava ali o
cumprimentando”, me olha nos olhos com a mesma intensidade que Vince
fazia quando estava ou muito bravo, muito excitado, ou muito feliz. Parecia
enxergar minha alma.
— Ah... bom dia, Lara! Voltou depressa, afinal. — oh! god.
— Como está seu humor hoje?
— Do mesmo jeito de ontem à noite. — ele diz, eu travo, procuro pela
mancha em sua mão e não encontro também. Merda, merda, merda, merda,
merda...
— Bom dia!!! — Vince, ou seja lá quem ele fosse entra na cozinha cheirando
a banho, me abraça querendo um dengo na frente de todos, e fica todo mundo
nos encarando.
— Vince? — minha sogra o encara e eu sinto o suor nervoso escorrer em
minha testa.
— O que mãe?
— Tá feliz, filho! Tá sorrindo...
— Estou participando do desafio, “seja leve, Vince”. Prometi a mulher mais
linda do mundo que ia afrouxar sua coleira, e também estou muito feliz
porque ela voltou pra casa!!! — ele diz, Tia o encara abismada, e volta a
medi-lo dos pés a cabeça.
— Não vai trabalhar hoje?
— Não, hoje meu dia será dela! — ele exclama, deposita um beijo casto em
minha cabeça e pega o jornal do dia em cima da bancada. Tia sempre o
pegava do lado de fora e trazia para dentro.
— Precisamos conversar sobre um ponto bem crítico de seu faturamento... —
Vitor diz de repente e Vince dá de ombros.
— Não vai tirar mais do que tem direito, Vitor. Não trabalho com dólar. O
meu país está em crise e agora você é sócio de uma empresa totalmente
brasileira, o que significa que esse não será seu melhor negócio nem aqui e
nem na China.
— Ah! Deus! Por que você não me ouve? Há saídas de verbas injustificadas!
E não é só isso, você tem gastos superfaturados!
— Viu isso conferindo três papéis? — Vince pergunta e estende a mão para
saber sobre o que o irmão falava.
— Passei o dia todo e a noite de ontem. Esperei você para conversar, mas
saiu sem nem dizer ‘boa noite’. Aqui está o gráfico dos anos anteriores. Veja
por si mesmo! — ele fala, Vince passa a ler, e Vitor só aguarda. — Você não
tem notas fiscais que batem, não investiu em nada, não tem como essas
retiradas de “impostos” aparecerem aqui. Quem tem acesso às contas? Ligue
para o Greg.
— Não vou ligar pro Greg. Quem mexe com a parte de conferência de ICMS
é a Flávia. Deve ter sido algum erro de cálculo.
— Não é erro de cálculo. Você foi roubado. Ligue pra ele.
— Ligue você. Resolva isso você! Greg já me deu dor de cabeça demais
ontem! Você é meu sócio agora, encontrou “a fraude” na parte que lhe
interessa, resolva você.
— Será preciso uma reunião com todos os sócios... e tirar alguém algemado
da sua empresa! Não posso fazer isso! — Vitor resmunga, meu sogro pega os
relatórios nas mãos para olhar aquilo, e Vince dá de ombros.
— Você é minha cara. Pegue meu crachá e finja que sou eu. Já fez isso tantas
vezes. Aprontou muito se passando por mim hoje e no passado também. Vou
me casar, estou me dando férias a partir de hoje, e não quero dor de cabeça.
— Faço isso, mas vai ter que assinar papéis onde me dá cem por cento de
autonomia em minhas decisões. O que eu decidir estará feito.
— Assino após João Gardenno me dar o aval! Envie um e-mail pra ele.
— Você foi traído pelos seus melhores amigos da faculdade. Os mesmos
caras que você valorizava mais que a mim. Aliás, pra você eu nunca tive
valor algum. — ele diz e Vince o encara. — E é por mim que teme ser
passado para trás? Por que eu não fingi que não vi esses números???
— Simples. Por que agora, se eu perder, você perde também. — Vince diz
simplesmente, e Vitor o encara por tempo demais. Parecia estar numa
confusão mental.
— E aí? — Vince ergue uma sobrancelha. — Qual vai ser? Vai chorar? —
Vince sorri. — Você é muito sensível... quer um abraço, mano?
— Nunca vai me perdoar, não é? Vai me ver como o vilão pra sempre! Quer
que eu continue o vilão. — Vitor resmunga olhando o irmão nos olhos.
— Vai chorar? Você tem que esquecer isso mano, a mãe não sempre fala que
somos irmãos e os irmãos tem que aprender a dividir??? Você é muito
sensível. Olha bem pra ela, olha como um homem de verdade faz. Vou te
ensinar a ser homem!!! — Vince fala como se reproduzisse algo que já tinha
escutado. Pelo menos era essa minha impressão.
— Eu era uma criança.
— E por isso chegou aqui correspondendo ao beijo da minha mulher e
deixando ela te falar de nossas intimidades pelo telefone. Você continua uma
criança. — Vince diz, se afasta da bancada expirando pesadamente e o
encarando agora, com menos agressividade no olhar. — Deixe isso aí, pedirei
que Flávia cuide disso antes de partimos. Obrigado por ter me avisado, de
qualquer forma.
Vince fala, me leva com ele pra fora da cozinha, e eu saio de lá com o
coração pesado e muito confusa.
— O que foi isso?
— Não importa, eu sou a vítima.
— Ok. Se não é o vilão da história, perdoe-o. Simples. Não seja o vilão
agora, deixe ELE ficar com esse papel. — eu falo e ele lamenta fechando os
olhos lentamente e me puxando para seu colo. — A melhor forma de “tirar a
sua máscara”, é se mostrando superior e deixando ele se enrolar sozinho. Sei
que não deve ser fácil, mas agindo como agiu agora, você só demonstra ser o
gêmeo ruim, vingativo, rancoroso, e cruel. O verdadeiro vilão.
— Ninguém entende o que eu já passei nas mãos desse cara...
— Pois é já passou! Passou, Vince.
— Tudo bem. Você tem razão.
— Vai se resolver com ele? Deixar o passado no lugar dele?
— Vou. — ele mente e eu desisto.
Só finjo acreditar e o abraço desistindo de tentar entendê-lo.
Um minuto depois ele passa agarrado com dona Norma, meu sogro se joga
no sofá, e Vince bufa.
— Vai começar com o sermão? Se for, seja rápido. — ele resmunga e seu
Henrique revira os olhos.
— Você tem direito de ter mágoas. Mas isso só faz mal a você mesmo. No
caso, a você e a sua mãe. — ele fala e Vince lamenta esfregando as mãos no
rosto. — Você parece um moleque enquanto ele parece ser o adulto que está
sofrendo feito um condenado nas tuas mãos por algo que fez no passado. Já
não é mais a vítima do irmão cruel, você está sendo um babaca! Supere isso,
seja superior e dê a ele uma chance, será mais feliz se perdoá-lo e
principalmente, terá sua mãe em seu casamento... porque ele está triste, ela
como você já sabe está se sentindo culpada, e eu não vou escolher um lado.
Sua mãe ainda acha que seu filho favorito é dependente dela, sofre com
problemas psicológicos graves porque ela não conseguiu protegê-lo, é carente
de afeto, e é assim porque ela trabalhava demais enquanto ele ficava em casa
com o irmão que sempre teve sérios desvios de caráter porque também
dependia da atenção dela e ela não pôde fazer o suficiente, e hoje é ele quem
sofre pelo o que fazia ao irmão quando pequeno, porque ela “sempre deu
mais amor pra um do que pro outro” sem notar que desse jeito cometia um
grande erro. — meu sogro vai dizendo e aos poucos eu vou conhecendo
Vince ainda mais.
— Você sempre foi dócil quando pequeno, por isso era amável e mais fácil
de lidar, hoje vocês trocaram de papéis. Vitor cresceu e amadureceu, mas
você parece ter regredido.
— Engraçado que ninguém se pergunta o porquê, pai!!!
— Eu sei que ele tem parte da culpa de você ser como é. Sei que não se
tornou o que é hoje sozinho... sei que você sofreu... mas eu acho que já
passou da hora de você superar isso. Todo mundo tem algum tipo de trauma,
uns mais do que os outros, mas cabe a você escolher parar de sofrer e se
levantar. Vai levar isso pro túmulo? Vai fazer papel de coitado pra sempre?
— E ele? Vai “se safar” de tudo o que me causou com o perdão que tanto
quer? Isso não é justo!
— Vitor não é feliz! — ele diz e com isso já o faz calar a boca. — Vitor
nunca foi feliz. Ele te amava do jeito dele e por ser como era você se
desgarrou, desfez os laços, foi morar sozinho... ele perdeu uma parte dele
mesmo. Vocês se matavam, mas era uma só carne. Você sabe o sofrimento
que foi ficar longe dele, é teu irmão gêmeo, imagine como foi pra ele saber
que a culpa era dele mesmo, ainda por cima? Ele tem os mesmos problemas
que você, tem dificuldades de se relacionar, além disso não para com mulher
nenhuma, tem depressão, é um homem triste consigo mesmo. Com isso
qualquer probleminha do dia-a-dia vira um infortúnio gigante. Vocês só serão
felizes se vocês se unirem. Passaram nove meses no mesmo lugar, um faz
parte do outro, nasceram de mãos dadas. Literalmente de mãos dadas.
Tiveram que te soltar dele quando te tiraram de dentro de sua mãe.
— Isso é real? — não resisto e pergunto. Que fofo!!!
— É. Vicente saiu primeiro de uma cesária difícil. Foi puxado praticamente
pelo bumbum, quando sentiram sua mãozinha presa, foram examinar. Uns
cinco doutores rodearam Norma. Vicente estava com a mãozinha direita
apertando forte a mão esquerda do Vitor. Temos ultrassons disso, porque
sempre foi assim, a doutora sempre mostrava naqueles exames coloridos.
Estavam sempre de mãos dadas. Temos vídeos, fotos... ficavam assim no
berço também, só paravam de chorar quando eram colocados juntos. Tivemos
que remodelar a decoração do quarto porque um berço sempre ficava vazio,
era a coisa mais linda de se ver. Um chorava o outro chorava, um caía o outro
sentia as dores, Norma chamava atenção de um o outro comprava a briga e
sempre andando pra lá e pra cá de mãos dadas. Um puxando o outro. Isso até
uns dez anos. Depois disso, acabou... — seu Henrique lamenta e Vince ainda
mais.
— Não fui o responsável por essa desunião.
— Mas está sendo responsável por ela durar uma vida toda. Vocês são
irmãos, já estão com a barba grisalha, e vão envelhecer distantes um do outro,
perdendo milhares de momentos maravilhosos que poderiam ter, por causa de
você e do rancor que você guarda no coração. Deveriam ser melhores
amigos, se ajudarem, se divertirem, serem confidentes, os dois seriam demais
felizes, mas você está jogando isso fora por causa de erros que ele cometeu
quando não sabia o que fazia. Perdoar é uma dádiva, filho. Se tiver
oportunidade, perdoe. Se algo acontecesse com ele, você morreria. Jamais iria
se perdoar!
— Será? — Vince pergunta e seu Henrique perde a paciência que estava
tentando manter durante aquele tempo todo de conversa.
— Eu sempre admirei muito você, sabe disso. Sempre teve muito juízo. Não
me decepcione agora!
— Está querendo muito de mim, pai! Muito. Eu não sou uma pessoa boa.
Graças a ele eu não sou uma boa pessoa!!! — Vince se altera, eu peço calma
baixinho e ele me ignora. — Não tenho esse bom coração! Não tenho e não
quero ter!
— Certo. Vamos para o modo drástico então.
— O que o senhor vai fazer? Pai?
Seu Henrique se levanta em um impulso e sai decidido, escada acima.
— Quer agir como um moleque, vou fazer com vocês dois o que eu fazia
quando eram moleques. — ele diz, me sinto nervosa, e Vince bufa quando ele
desaparece.
— O que ele vai fazer???
— Ou nos amarrar juntos, nos fazer dar as mãos, ou pedir desculpas como
duas crianças briguentas.
— Eu vou fazer uma pipoca... — eu tento correr pra cozinha só pra zombar e
ele não deixa.
Dona Norma desce com os olhos vermelhos mexendo em uma pasta com
CD’s e usando óculos de grau, e seu Henrique chega logo após trazendo
consigo duas camisetas.
— Tia!!! — ele grita.
— Oi, seu Henrique??? — Tia grita e depois aparece parecendo aflita por
correr.
— Me traga uma tesoura, e superbonder! Não terei tempo e nem sei mexer
com costura. — ele pede, senta no sofá e ela volta segundos depois com os
objetos solicitados por ele.
— Cadê o Vitor, sogro? — eu pergunto tentando não rir da cara péssima que
Vince faz.
— Está lá em cima esperando os olhos desincharem. Disse que não vai descer
e se humilhar assim. Quer vir com toda a sua pose. — seu Henrique bufa
irônico. — Criei dois bobões que não crescem nunca. Deram uma pausa aos
onze anos.
— Me ajude aqui, filha... como é que se liga essa TV?
— O que a senhora quer fazer? — me levanto do sofá com a cara feia de
Vince direcionada a mim, e seguro uma risada alta.
— Quero colocar esse DVD pra assistir.
— Mãe, sem essa!!! — Vince protesta.
— Não falo com você até você pedir desculpas a ele e ele a você! — ela
resmunga nervosa, eu coloco o DVD e ‘deixo no jeito’ com o pause ativo por
recomendação dela.
Nessa mesma hora Vitor desce com a cara emburrada e pude notar que se
queria mesmo parecer ‘muito bem, obrigada’, falhou miseravelmente. Estava
com os olhos extremamente inchados, postura de derrota, e um semblante
péssimo. Parecia acabado. Devia ter chorado horrores.
Encaro Vince enquanto ele fita o irmão entrando na sala e pelo jeito dona
Norma e seu Henrique fazem o mesmo. Os dois queriam ver a reação do
filho, porque a maior preocupação deles, não era Vitor, era Vicente. Talvez
esperavam uma reação babaca daquela do Vitor, mas do Vicente não, as
atitudes do filho que sempre fora a de um amor de menino, estavam
deixando-os extremamente preocupados. Pelo menos era isso o que seu
Henrique havia dito.
Dona Norma se culpava pelo o que o filho se tornou, e se culpava pelo
sofrimento que o outro filho passava por causa de como havia agido no
passado. Deu atenções diferentes aos dois e hoje tentava recuperar o tempo
perdido.
Os dois vestiam calças de moletons, Vince, preta e Vitor cinza, e camisetas,
Vince branca, e Vitor preta. Como eu havia suspeitado que usassem roupas
parecidas até para ficar em casa, errei. Ambos usavam as mesmas roupas.
Estilos idênticos.
— Sente-se aí, menino! — seu Henrique diz enquanto colava um tecido no
outro com extremo cuidado para não colar os próprios dedos ou sujar o
carpete com a cola.
Eu não tinha noção do que ele ia fazer, mas quando terminou, entendi.
Aquelas camisetas viraram uma única camiseta tamanho “GGG”. Emendou
uma na outra e com isso a deixou gigante.
— Não vou vestir isso, você está passando dos limites, velho!!! — Vitor
resmunga cruzando os braços quando seu Henrique se aproxima.
— Tire a camiseta. — ele diz e encara Vince. — Os dois! Agora! Estou com
fome, quero tomar café. O quanto antes vocês fizerem isso, mais rápido se
livrarão do castigo. Lara, sente-se no outro sofá, por favor!
Ele diz quando eu saio do colo do Vince e me sento ao seu lado. Sigo para o
sofá da frente e me divirto.
— Vou começar a contar. Quando eu chegar no dez, pegarei a mãe de vocês e
voltarei pra casa. Se for pra guardar rancor, nós também faremos isso,
sairemos daqui magoados, e jamais voltaremos a nos falar. Proibirei Norma
de entrar em contato... e se ela insistir, peço o divórcio. Destruirão nossa
família, é isso o que querem? Um...
Seu Henrique apela e Vince se levanta para tirar a camiseta. Vitor vê o irmão
obedecer e repete o seu gesto na ponta do sofá, já que fez questão de se sentar
há um milhão de quilômetros de distância do irmão, tudo por birra.
E então ficam dois homens idênticos com o mesmíssimo físico bem na minha
frente. Músculos fartos por algum motivo porque pelo menos Vince não fazia
academia nem ferrando, tanquinho top de linha, e o volume que graças a
Deus somente eu parecia notar, afinal, estávamos entre família. Vince eu
sabia, não estava de pau duro, porque quando estava o moletom faltava
rasgar, mas ainda sim, era ‘uma grande montanha’ naquela linda paisagem.
Paisagem dupla. Os dois tinham literalmente o mesmo tamanho de... Deus...
Vitor pesca meu olhar, pisca pra mim de repente parecendo bem humorado, e
eu reviro os olhos. Idiota.
Encaro seu irmão maravilhoso, ele desvia o olhar só para não se deixar levar
no momento errado e volta a se sentar.
— Se aproxime dele. — meu sogro encara Vitor sem paciência. — Vamos,
vamos, vamos!!!
Ele se altera levemente, Vitor se deixar cair pesadamente ao lado do irmão, e
Vince parece se sentir muito desconfortável. Eu odiava ver Vince se sentindo
mal não importava como, então de repente aquilo ficou chato pra mim, e eu
não estava gostando nada, nada. Mas no fundo eu sabia que seu Henrique e
dona Norma só estavam tentando serem os pais que eles precisavam. Eu
achava que faria o mesmo com nossos filhos, se tivéssemos...
— Você tem muito do que se queixar a respeito do passado. Quer que Lara
saia e vocês conversem a respeito depois? — ele questiona ao Vince e o bebê
chorão me encara negando.
— Eu também tenho muito do que me queixar!!! — Vitor protesta e meu
sogro ignora. Porra de cara ciumento até quando não devia.
— Por enquanto vocês vão falar tudo o que um fez para o outro para que
possam desabafar, se desculpar, e passar uma borracha aqui. Não existirá
mais essa palhaçada de gêmeo do mal e gêmeo do bem, só contará o que
farão daqui pra frente. A regra do jogo é discutir a respeito de tudo o que lhes
magoaram, gritar, xingar, e depois deixar tudo isso morrer. Não quero
agressão, não quero que tirem a camisa antes da hora, não quero que ajam
como dois adolescentes, e depois disso não quero nunca mais ver qualquer
um dos dois jogando na cara um do outro algo que aconteceu em mil
novecentos e bolinha. Depois disso veremos o vídeo que a mãe de vocês quer
mostrar.
Seu Henrique diz, os faz vestirem a camiseta para ficarem colados um no
outro, senta na mesa de centro, e encara Vitor.
— Você se sente injustiçado hoje, e eu entendo que Vince anda pegando
pesado. Ganhou o direito de começar. Fale sobre como se sentia, olhando pra
ele.
Meu sogro diz e espera pacientemente.
Ele havia colocado o braço de Vince no pescoço do Vitor e o de Vitor no de
Vince, e de repente a cena voltou a ficar engraçada. Estavam hilários. Os dois
emburrados e abraçados.
— Isso é uma grande bobagem. — Vince começa a falar e Vitor o encara
com olhinhos de cachorrinho acuado que aperta meu coração. Vitor podia ser
o que fosse, mas amava e admirava o irmão. Seus olhos brilhavam ao encarar
o barbudo bravo ao seu lado.
— E por quê? — meu sogro estimula. Espertinho.
— Porque ele não presta e nunca vai prestar. Isso não vai funcionar. Não nos
damos bem e eu aceito isso. Por que vocês não aceitam também? Crescemos,
nosso tempo passou. Já disse que não o queria aqui, eu não o chamei aqui, eu
não quero ficar perto de quem me faz mal e Vitor me faz mal! — Vince
desabafa e seu Henrique balança a cabeça.
— Eu te faço mal? Quem é que me trata como lixo desde quando cheguei?
Você se acha melhor do que eu??? — Vitor levanta a voz extremamente
chateado e encara os pais. Dona Norma já voltava a chorar, tadinha. — Ele
me expulsou assim que chegamos. Por isso inventei que houve um acidente
na sede, ele me expulsou da casa dele.
— Viu como você é? Eu sabia que usaria isso para se fazer de vítima na
frente de todos!!! — Vince vai falando e Tia entra na sala para acompanhar a
cena dramática. — Pedi para que me deixasse em paz, que fosse embora sem
me fazer parecer o vilão porque você sempre faz isso! Você é dissimulado
demais!
— E você é rancoroso!!! Não consegue me perdoar por causa de bobagem!
Você sempre me desprezou, sempre se sentiu melhor que eu.
— Você pegou a garota que eu gostava na minha frente após reunir o colégio
inteiro pra me ver chorar! Me humilhou e eu tive que mudar de escola por
vergonha. Fiquei meses sem querer sair de casa!
— Ela era uma vadia que a escola inteira pegava e ela nem ligava pra você!!!
— Bela justificativa. Não consegue nem reconhecer que me magoou e é
indiferente ao que pra mim, é importante. Onde estava sua lealdade? Que tipo
de irmão faz aquilo? Você foi extremamente maldoso como nunca vi igual
em lugar nenhum. Deveríamos ser unidos, nos proteger, e só o que você fazia
era me pegar pra bulling. Você era um demônio que me fazia de chacota e me
humilhava para o próprio prazer doentio. Quando chegava em casa era o
filhinho da mamãe, o coitadinho que era desprezado por mim. Porque apesar
de ter poucos amigos, eu tinha amigos verdadeiros e você não, eu me divertia
e você não. Era invejoso, meus amigos nunca queriam te ter por perto por
causa da forma como você me tratava, e ainda assim, não aceitava que eu te
desprezava com razão. Você mandava seus amigos me baterem, me zoarem, e
me pregarem peças o tempo todo, e não estou falando de uma vez, eu estou
falando de todo o ensino fundamental com nossos pais ignorando isso e
achando que eu exagerava porque dentro de casa você era um santo!
— Eu era um adolescente idiota com você. Me perdoa por isso!!! Eu me
arrependo demais. Mas não sei se notou, eu continuo um idiota, apenas isso.
Eu era uma criança. Eu era um babaca. Achava que era uma brincadeira, fazia
para me divertir e para me aparecer porque eu era um babaca vazio. Você era
mais inteligente, tinha amigos reais, favorito de todos os professores, o nerd
com as melhores notas, orgulho da mãe e do pai. Eu tinha inveja, eu admirava
você, eu queria ser tão bom quanto você era, eu queria ser seu parceiro e
melhor amigo!!!
— Me agredindo? Me humilhando?
— Eu era um nada, você só olhava pra mim quando eu fazia merda. — Vitor
diz e ri. — Você foi crescendo, se destacando, e eu era o gêmeo que faltava
alguma coisa. O mesmo QI, mas na aula de química com as mesmas questões
minha nota era zero e a tua dez. Medalhas na natação porque sempre foi o
mais rápido, e sabia sobre o que falar porque desde pequeno gostava de ler.
Só que aí você não tinha tempo para me ajudar a melhorar minha braçada,
tirar as minhas dúvidas de química não eram importantes, e nunca me
emprestou um livro, gritava comigo quando eu entrava no teu quarto para
pegar emprestado porque eu queria ler o que você estava lendo, queria saber
o porquê você tinha amado tanto aquela história. Você deixou de ser meu
irmão porque estava ocupado demais sendo o rei de todos os lugares por onde
passava, gostava daquilo, gostava de holofotes.
— Você fez da minha juventude um inferno porque eu era inteligente e você
era péssimo em tudo o que colocava a mão. Só o que fazia bem era ludibriar,
trapacear, iludir, agredir, e roubar. Porque era isso o que você queria o tempo
todo, roubar a minha vida.
— Eu só queria ser teu irmão.
— Mentira!!! — nessa altura um já havia se afastado do outro para se encarar
e a camiseta estava prestes a rasgar. Vince estava péssimo e negava o que o
irmão dizia com plena convicção. — Tu continua com essa mania de me
foder de graça até hoje, Vitor. E pra economizar latim nem vou citar seu beijo
em Nanda, Lara, ou em minhas namoradas da faculdade. Porque até nisso
você foi capaz de se sujar comigo. Entrar pra USP na mesma época, no
mesmo período, pra se aproximar dos meus amigos, e me fazer de chacota
depois de velho. Nem vou citar as atitudes cuzonas que você teve com
relação a mulheres. Antes a desculpa era porque era criança, agora é por quê?
— Vince questiona e Vitor fica sem reação. — Era por isso que nenhum dos
meus amigos gostava de você, você era um escroto. Ninguém acreditava que
era meu irmão apesar de ser minha cópia porque por mais absurdo que possa
parecer, você tentava de todas as formas me deixar mal o tempo todo, pra
baixo, triste, e não era um rivalzinho de escola, um valentão, era meu irmão.
Dormia no quarto ao lado. Ninguém conseguia entender. Todo mundo dizia
que quando eu não estava por perto você era outra pessoa, seu problema era
quando eu chegava. Não era a minha atenção que você queria, minha
admiração, você-queria-a-minha-vida! Queria meus amigos, a atenção das
mulheres que eu pegava, “mostrar que era o melhor”, mostrar o quão “mais
do que eu” você era. Eu não falhei com você, você tinha de mim o que havia
plantado esses anos todos! Você foi horrível comigo a vida inteira e agora
você, minha mãe, e meu pai querem que eu te perdoe, que eu esqueça, que eu
finja que nada aconteceu, e vocês três... — Vince encara cada um. —
minimizam e menosprezam meus sentimentos de tristeza com relação a isso e
o quanto foi traumático, com a justificativa de que você — ele volta a encarar
o irmão. — era uma criança quando não faz tanto tempo que deixamos a
faculdade e eu me libertei de você decidindo ficar em São Paulo para nunca
mais ter que olhar pra essa sua cara tão igual a minha, mas que de igual, só
tinha o exterior.
Vince fala, expira parecendo cansado e lágrimas grossas escorrem dos olhos
de seu irmão gêmeo aparentemente triste e arrependido.
— Eu quero o seu perdão!
— Se você tivesse alguma dignidade, diria “eu mereço seu perdão”, mas não
pode, não é!? Nunca fez por merecer.
— Por que age como se estivesse cem por cento com a razão? — Vitor
questiona secando os olhos agora com raiva. — Você nunca me tratou bem,
suas namoradas sempre foram umas vadias, Nanda retribuiu o beijo, Lara
quem me confundiu, e ao invés de fazer diferente, você nunca experimentou
mudar o jeito com que lidava comigo!
— Você é o meu irmão, não elas. Você me devia respeito para poder
conquistar o meu respeito. Terminei com todas elas, Nanda morreu, e Lara
teve ótimos motivos para garantir meu perdão com relação ao engano que ela
cometeu. Ela mereceu meu perdão. Consegue sentir a diferença?
— O que eu preciso fazer?
— Conquistar. Não ter a cara de pau de me exigir nada!!! Simples.
— Como é que te conquista se você nunca me deixa chegar perto???
— Vai fazer meia-hora que você está roçando o seu braço no meu. — Vince
diz entredentes com seu semblante sério, Vitor gargalha enquanto chora, e
seu Henrique vira o rosto para segurar o riso que deveria ser alto. Vince era o
melhor. — Está hospedado em minha casa, novamente dormindo no quarto
ao lado, convivendo com a minha família, se tornando sócio da minha
empresa sem eu boicotar seu acesso, porque eu poderia muito bem fazer isso.
E você ainda diz que eu não deixo você se aproximar!!! E além de tudo,
apesar de respeitar profundamente meus pais, aceitei essa cena ridícula para
te ouvir porque eu quis, achei que seria bom ouvir o que você tinha pra dizer
na esperança de que suas justificativas fossem fundadas, mas se eu não
quisesse, nada e nem ninguém teria me forçado a isso. Receptivo eu sou,
sempre fui. Mas ainda assim, tolerância zero para as suas cenas em que
insinua que foi a vítima nessa palhaçada toda.
— Eu nunca disse que era a vítima. Muito pelo contrário. Só disse que você
nunca foi nenhum santo!
— Ok. Eu já disse tudo.
— Eu não! — ele diz e Vince fecha os olhos levemente. — Eu te amo. Você
me ama? — Vitor nos surpreende e eu tapo a boca com a mão. Vince que
parecia forjar um sono de tédio acorda na hora. — Te fiz muito mal, agora eu
tenho consciência disso e como já disse, eu sinto muito mesmo por ter te feito
tanto mal. Só que mesmo tendo ficado magoado com inúmeras coisas além
de hoje, eu sempre amei você, eu só queria ser seu amigo. Sei que nunca vai
acreditar em mim, mas tudo o que eu sei fazer para chamar tua atenção é agir
feito um idiota. E sim, eu sei que isso acontece até hoje. Mas e você? Você
me ama? Ou você me odeia?
CAPÍTULO 7

MINHA RAINHA!

Era sério aquilo? O filho da puta só podia estar brincando...


Enquanto Vitor esperava me olhando nos olhos, Lara, meu pai e minha mãe,
esperavam minha resposta da mesma maneira. Deviam estar pensando, “ai,
que bonitinho, perdoa ele, Vince!” Tudo o que ele fazia quando era mais
novo.
— Eu não te odeio.
— Mas não me ama também...
— Não é bem um amor, não... — eu resmungo e ele ri entristecido. — Pelo
menos não é um amor assim, forte... — eu me enrolo e ele se sente melhor.
— Sim. Ok. Eu amo você, apesar de ter sido horrível é meu irmão e
infelizmente eu não posso mudar isso.
— Você cagou no infelizmente.
— Você tá querendo demais.
— Eu só fiz uma pergunta que você poderia responder com sim ou não, pode
ser claro. Não estou pedindo nada, exigindo nada, só quero a resposta para a
minha pergunta seja ela qual for. Você me ama como eu te amo?
— Eu amo. — digo enfim e evito continuar a frase com “amo mas,...” porque
eu sabia que se eu fizesse isso iam vir os quatro pra cima de mim. Eles
queriam pazes, iam ter pazes, eu só queria acabar com aquela cena.
— Viu como foi fácil? — meu pai diz e eu seguro o impulso de revirar os
olhos.
— Pai, e agora? — Vitor questiona rindo e me olha com sua cara
dissimulada.
— Quer a parte do abraço, não é!? — meu pai o encara e ele tenta não rir.
— Claro que não, só quero tirar essa camisa!
— Você é um idiota. E eu não vou te abraçar. — eu resmungo, ele perde o
sorriso, e meu pai me encara.
— E por que não? Não resolvemos ainda? Dê um abraço no seu irmão!!!
— Fala sério!!!
— Agora! — ele levanta a voz, eu rosno, e Vitor abre os braços sorrindo.
Retribuo seu abraço, sinto uma onda de calor pelo meu corpo todo e um nó se
faz em minha garganta. O que era aquilo?
— Viu, é muito bom me abraçar, não é? Sempre dizem isso...
— Cale a boca. — eu resmungo com a cabeça apoiada em seu ombro e ele
aperta seu abraço fazendo eu me sentir completamente feliz. Vitor era um
babaca, mas era meu irmão. Fazia anos, tipo, muitos anos mesmo que eu não
dava um abraço nele. E eu ACHAVA que por causa da genética idêntica não
importava nada, ele nunca seria um completo estranho, era como meu pai
disse, Vitor era parte de mim.
— Você me perdoa? — ele questiona ainda me apertando e eu resmungo.
— Eu já disse, vai ter que merecer.
— Vicente... — meu pai murmura estressado e eu contenho a vontade de
gritar.
— Perdôo.
— Está bem. — Vitor finge que não perdoei só por causa do meu pai e fica
feliz do mesmo jeito. — Então tá bom... pode continuar me abraçando se
quiser, mas eu não quero sair daqui, pode me abraçar pelo tempo que for.
Ele diz batendo de leve em minhas costas só para não perder a piada, e eu o
afasto. Era um idiota completo.
Ele ri, se senta mais perto do que estava antes e fica olhando pra mim com
cara de bobo.
— Agora vamos ver o vídeo.
Meu pai diz encarando minha mãe, ela cerra os olhos pro controle remoto e
aperta o play. Estava aparentemente muito feliz e havia parado de chorar. Só
por vê-la daquele jeito achei que valeu a pena a ceninha toda.
O vídeo começa com aquele ruído antigo e eu suspiro. Depois aparecem nós
dois no berço de mãos dadas, e dali posso ouvir minha mãe e Lara
suspirarem.
Minha mãe tira algum bebê de lá, que logo em seguida ela diz ser eu, e o
bebê-Vitor começa a se esgoelar em choro e só para quando minha mãe me
devolve pro seu lado.
— Já, já aparecem eles crescidos, juntei tudo aí! Pedi pro Vitor juntar pra
mim. Tem um pouco de cada aninho deles... — minha mãe cochicha com
Lara e ela me encara sorridente.
O vídeo continua conosco em seu colo e ela cantando; com o cabelo lambido
e roupinhas iguais com mais idades; na mesa comendo papinha um do lado
do outro, e por aí vai...
— O que aconteceu??? — meu pai diz no vídeo e acho engraçado o fato dele
ter muito cabelo. — hoje estava bem ralinho devido à idade e sua barba
gigante deixava-o com a nossa cara. — Diga Vitor!!!
Nos seis minutos do vídeo eu apareço já grandinho e chorando. Devia ter uns
cinco anos.
— Ele caiu da cama e bateu a cabeça no chão. — Vitor diz com uma dicção
péssima e fazendo beicinho. Éramos uma gracinha, eu cresci continuei igual,
só Vitor que ficou feio.
— O que você estava fazendo subindo na cama? — meu pai pergunta, minha
mãe repete a pergunta quando eu continuo chorando e eu não digo nada então
Vitor se aproxima e me dá um beijo. Que melação!!!
— Ponto, passou! — o mini-cobra diz e faz carinho na minha cabeça até que
eu paro. Ele me fazia carinho e encarava a câmera.
— Viu? Não precisa de drama, agora vão brincar!!! — minha mãe fala, nos
segue quando Vitor me puxa pelo braço pra ir brincar e fica nos filmando.
Acabou o choro. Eu já havia esquecido que doía. Literalmente.
O restante do vídeo segue mostrando momentos de uma cumplicidade que eu
desconhecia. Nem me lembrava. Era muito bonito de se ver, um cuidando
mesmo do outro, mas apesar de achar tudo muito lindo meu sentimento era
de tristeza. Eu não sabia o porquê aquilo mudou, o porquê aquela amizade
deixou de existir, e aquele sentimento me deixava triste. Me perguntava
naquela altura se o culpado teria sido eu, mesmo tendo certeza que não.
O vídeo parou de rodar na nossa festa de aniversário de dez anos onde a gente
brincava, pulava, se abraçava, e se divertia em uma área livre com árvores,
brinquedos, e uma bonita decoração. Fizemos a festa em um parque e dela eu
me lembrava bem porque foi nela que minha mãe perdeu Vitor de vista e só o
encontrou embaixo da mesa, uma hora depois, por algum motivo que eu não
me lembrava. A festa parou por um momento, todo mundo saiu procurando e
gritando por ele e eu me lembro disso porque senti que ia morrer se ele não
aparecesse.
— Acho que agora a gente pode tirar isso, né? — falo encarando meu pai que
analisava o vídeo parado e estranho o silêncio. Quando olho ao meu redor
vejo que todos eles, inclusive Tia e o próprio Vitor, choravam de emoção.
Deus... — Ok... foi tão fofo assim? — questiono sem graça e Tia ri.
— Vocês eram muito lindinhos.
— Eu sou lindinho. — eu brinco e o climão não passa.
Retiro a camiseta pela cabeça, coloco a minha, e todo mundo parece acordar.
— Agora estamos resolvidos, né? Acabaram-se as diferenças. Não quero
mais ouvir falar em nada do passado. — meu pai reforça seu pedido, eu
assinto com a cabeça, e Vitor me olha brevemente, muito sem graça por ter
chorado ao ver o vídeo.
Ele diz que sim concordando com meu pai, e depois sorri.
— Que dia emocionante, hein!?
— Quer falar do tempo? — eu pergunto e ele ri.
— Não, muito obrigado. Podemos tomar café? Esse momento fofo me deu
uma fome!!!
Ele se levanta, ganha um abraço amoroso da minha mãe, e depois a velha
chorona me faz levantar e repete seu gesto.
— Graças a Deus acabou. — eu resmungo quando a pequena sobe no meu
colo, após todos se retirarem pra cozinha, e sorri.
— Perdoou ele sinceramente, né?
— Sim. — eu penso. — Mas também foi uma tática. Se ele aprontar comigo,
saberão. Farei questão!
— Não pense assim. Ele foi sincero, deu pra ver. Não vai mais te magoar.
Gostei de ver esse vídeo, vocês eram lindos juntos. Espero que seja um amigo
pra ele, espero que você consiga superar todas as dificuldades que você têm
dentro de você. Quero muito te fazer feliz, quero muito que você se permita
ser feliz.
— Eu sei. Te amo!
— Te amo! — ela sorri toda tocada pelo momento e me lembro do jogo. Ia
fazer aquela mulher implorar pra ser maltratada.
— A princesa quer tomar café??? — pergunto baixinho fazendo charme e ela
ergue uma sobrancelha. — Que foi?
— Você pode parar de me chamar assim?
— Como eu devo te chamar?
— Vadia? Filha da puta? Qualquer nome deselegante e sem nenhum
respeito?
— Eu estou sendo carinhoso. Não gosta de carinho?
— Não!!! — ela soa indignada. — Não carinho teu, não tô acostumada, você
nunca foi assim. Para com isso.
— Para com isso você. Está implicando comigo à toa. Agora me fala... como
vai a faculdade? Já fez a última prova, não foi???
— Fiz, sim. Agora só tenho que estudar para a apresentação do TCC.
— E o que você vai criar?
— Tô pensando em um projeto sobre comida rentável. Sabe? Para
populações carentes? Talvez mexa com algo nutritivo, de fácil acesso, fácil
logística... sei que já existem espécies de rações usadas em algumas
comunidades, principalmente na África, e é bem legal. Ela ajuda na nutrição,
controle da anemia, aumento de peso... mas eu quero inovar na parte da
estética, do gosto, do preço... estou com receio, preciso fazer algumas
pesquisas, mas, quero tentar. Se não der certo eu faço o clássico.
— Boa ideia, ótima iniciativa! Se quiser ajuda para se inspirar, podemos dar
uma passada em alguma comunidade de lá pra você conhecer. Imagine fazer
um vídeo lá??? Terá o TCC cinquenta por cento encaminhado. Literalmente
uma pesquisa de campo. Você mostrará a realidade. Eu vejo onde é que esse
projeto atua, te levo lá, você faz gráficos, comparativos... voltaremos da
nossa lua-de-mel com seu TCC pronto. Eu te ajudo! — eu digo e ela sorri
feito uma boba.
— Faria isso por mim? Abriria mão de uma parte de nossa lua-de-mel pra eu
trabalhar nisso???
— E o que eu não faço por você?
— Ai, meu Deus!!! — ela finge querer me morder e eu a faço deitar do jeito
que eu queria para montar em cima dela. — Ei... — ela sorri e ganha um
beijo meu.
— Quando é que esse sangramento vai parar? Não aguento mais.
— Eu espero que até a nossa lua-de-mel tenha parado.
— Se não parar, só lamento por esse traseiro. Voltará para o Brasil sem
conseguir sentar!
— Não vejo a hora! — ela diz acarinhando meu pau por cima da calça.
VADIA!
— Linda! — resmungo baixinho e ela se irrita.
Dou risada escondendo o rosto e ela se levanta com um bico gigante pra
atender a porta porque alguém apertou a campainha. Era a Jaque. Lara
murchou na hora, mas disfarçou bem e a cumprimentou educadamente.
— Desculpe vir assim... mas eu recebi um convite pra tomar café e como não
gosto de me sentir sozinha... — ela sorri e eu tento não demonstrar meu pavor
pela cara da Lara quando a ‘visita’ se aproxima, me beija e me abraça.
Jaque sempre teve mania de cumprimentar abraçando, sempre foi assim, mas
com certeza eu sabia que isso não ia colar para a ‘senhora ciúme’.
— É claro que é bem-vinda. Sinta-se em casa, Jaque! — eu digo e Lara sorri
quando Jaque a encara. Mas só por um momento.
— Não está arrumado, não vai trabalhar?
— Não. — eu falo e agarro a emburrada no ato. — Já me dei férias. Dará
conta, certo?
— Claro que sim!
— Ótimo. Vamos tomar café! — eu digo, e sigo tentando acalmar Lara que
parecia demais desconfortável. Por algum motivo, Jaque estava incomodando
Lara como nunca antes.
— Eita... Nem você vai trabalhar, Vitor? Bom dia, família! — Jaque diz,
recebe cumprimentos animados porque a família estava demais feliz e senta-
se à mesa imediatamente.
Lara me olha brevemente, se senta no lado oposto ao dela, eu me sento ao seu
lado e aperto sua coxa com carinho.
— Eu vou. Terei que marcar uma reunião com os sócios, devia participar já
que está aqui. — Vitor diz após degustar um pedaço de pão francês.
— Claro que participo, será bom estar interada. E Vince... — ela me encara.
— Vai fazer despedida de solteiro?
— Não. Não dessa vez. Estou bem tranquilo!!!
— Lembro do Vitor na última despedida do Vince com... — Jaque começa a
falar, fica sem graça por algum motivo, e Lara se mexe desconfortável.
— Pode falar! — Lara diz sorrindo. — O que será que Vitor aprontou nessa
fatídica festa??? — a bicha resmunga fingindo interesse. Estava puta com a
presença dela.
— Posso falar??? — Jaque ri olhando pro Vitor e Vitor responde com uma
balançada de ombro.
— Acho que tem assuntos melhores por aí, mas se quer falar disso...
— É que eu me lembrei esses dias. Você e Flávia. Ela ficou chateada porque
parece que esqueceu...
— Mas eu realmente esqueci. Foi você quem acabou de me lembrar que eu já
tracei a Flávia!
— Vitor!!! Mais educação à mesa, por favor. — minha mãe exclama e Vitor
ri mastigando.
— Vocês formam um belo par! — Lara diz e Vitor ri de novo.
— Interessante... engraçado que eu sou a cara do teu marido, o que significa
que ele também faz.
— Faria. Se fosse solteiro, mas o solteiro aqui é você! Você é sozinho...
— Sozinho jamais.
— Estamos em uma nova fase aqui. Por que não aproveita para enfim, dar
uma chance pro amor? — eu falo e ele me encara curioso.
— Eu já tenho alguém. Posso apresentá-la a vocês se vocês fazem tanta
questão.
— Tem mesmo??? — meu pai fica animado. — Como ela é? Quem é ela?
— É puta? — eu pergunto e ele ri.
— É, droga! Serve não? — ele questiona ironicamente e meu pai fica
desanimado. Os olhos do Vitor estavam brilhando demais. Tinha alguém ali.
— Eu não quero ter alguém. Tem como vocês entenderem que eu tô bem do
jeito que eu tô?
— Tudo bem, pai. Vitor só vai arrastar seus dias até criar coragem para dizer
que na real, ele é gay! — eu dou risada e ele primeiro fica puto, mas depois
me ignora.
— Eu não sou gay!!! — ele diz e meu pai o encara procurando a verdade.
Nunca vi meu pai ficar “tão aflito”. — É sério. Eu só não me vejo casado,
com crianças ramelentas me chamando de pai sem eu nem ter certeza se a
vadia foi fiel... sem saber ao certo o que fazer em cada fase da lua porque eu
sei que elas têm dessas... prefiro “dar uns beijos e sair fora”!
— Você tem medo. — eu digo e ele respira fundo antes de me encarar de
novo. — São detalhes muito simples que você pega rapidamente. Ter uma
companheira pode te fazer muito bem.
— Já foi hoje, Vicente? — ele questiona e se levanta. Seguro a risada na
garganta e abstraio. — Por que não conversamos sobre você assinar a
declaração que eu preciso???
— Eu assino. É só me entregar! — eu digo e ele literalmente não acredita que
ouviu aquilo de mim.
— Tá falando sério?
— Estou.
— Vai confiar em mim!?
— Não é disso que precisa?
— Assim do nada?
— Ok. Então eu retiro... — começo a falar, mas ele não deixa.
— Não! Tudo bem. Eu... eu vou buscar... — ele diz e começa a andar.
— Com uma condição. — eu murmuro colocando pedaços pequenos de
morango na boca. — Vai nos apresentar a garota em nosso casamento.
Mande-a vir. Prepare as suas passagens ainda hoje.
— Do que você está falando? — meu pai resmunga. — O que ele disse foi
brincando. Vitor está sozinho.
— Não está não. Os olhinhos dele brilharam quando falou dela. Existe uma
garota e agora eu quero conhecê-la. O contrato pela presença dela. Eu estou
feliz, quero meu irmão feliz também! — eu digo ao terminar de mastigar e o
encaro, mas Vitor estava tão sem graça, mas tão sem graça, que apenas
ignorou as perguntas curiosas do meu pai, e após retribuir o tempo todo o
meu olhar, saiu parecendo estar com pressa. Queria saber se eu falava sério,
se eu estava zombando, ou se eu planejava alguma coisa. Queria entender
minhas intenções.

— Assine. — Vitor me entrega seu Ipad e uma espécie de caneta sem ponta
após se trocar pra ir pra empresa.
— Pra que você precisa disso, afinal?
— Pra você não interferir na minha decisão. — ele diz e eu só me pergunto o
porquê que eu faria isso. “Por que será?”
— Não vai mandar a Flávia embora.
— Se for ela a responsável, vou. Você precisa focar nos negócios, não em
laços de amizades. Se fizesse isso desde o início, estaria com o dobro de
caixa. Sem contar que você paga a ela uma pequena fortuna além da conta,
sendo que ela faz metade do que uma recepcionista deve fazer.
— Flávia é mais do que eu preciso e eu estou satisfeito. Ela assumirá o cargo
do Greg em pouco tempo. E eu não vou aumentar o seu retorno, nem se ela
sair. Eu só penso em laços de amizades, mas você só pensa em dinheiro.
— Eu estou tentando arrancar uma sanguessuga do teu pescoço. Pare de ser
tão bobo! Já vi isso acontecer, já estive no teu lugar! E eu não preciso de mais
dinheiro, já tenho muito. Confia em mim!!!
Ele fala, eu faço tipo pensando... e continuo com a cena.
— Não foi a Flávia.
— Eu quem vou dizer.
— Se me trair, mato você. — eu digo e posso ouvir dali meu pai
decepcionado comigo.
— E eu entendo sua desconfiança. Não está acostumado a confiar em mim e
como eu disse, com razão, fiz por merecer. Mas eu vou te provar que sou
outro. Você me perdoou, e eu vou mostrar pra você que você fez a coisa
certa.
— Quero a reunião gravada, quero ouvir depois.
— Faço isso sem problemas.
Ele fala, eu assino “rindo” por dentro, ele estende a mão, eu lhe entrego seu
aparelho e meu crachá e mesmo estando pronto para safar Flávia das garras
dele, me sinto virando as costas para um lobo gigante.
Jaque parece não entender nada e não diz nada. Os dois saem minutos depois
e eu fico tenso.
— Ele não pode fazer nada contra você, não é!? — Lara pergunta.
— Não se assina um contrato sem ler. Com a minha assinatura ali, eu posso
estar falido nesse exato momento.
— Não fale bobagem pra não ficar mais feio ainda quando ele te livrar de um
problema grave como esse. Você vai se sentir culpado por desconfiar dele e
sua cara de paisagem vai durar um século. — minha mãe fala, e eu concordo.
— Saberei lidar ao quebrar a cara, mãe. Ficarei muito feliz por estar errado,
por ver que ele realmente está sendo sincero. Agora com mais uma traição eu
não saberei lidar, então torçam para que ele esteja certo quando diz que
Flávia foi a responsável. Vitor quer se livrar da Flávia para ter o dobro do
lucro na empresa... devia estar planejando isso desde quando viu esses
documentos. — encaro a bonitinha no meu colo e beijo sua testa. — Eu
preciso fazer uma ligação. Já volto, ok!?
— Ok! — ela responde sorrindo e eu vou pro escritório.
Digito o número de seu telefone celular, e ela atende no ato.
— Oi.
— Tô com medo!
— Ah! Mas eu... tô dizendo... fica tranquila, mulher!!!
— Quando virá ao meu encontro quando acontecer?
— Imediatamente. Já disse isso. Escuta, se for ficar insegura não coloque
lenha na fogueira. Não vale a pena, não faça nada. Com você agindo feito
boba, não vai funcionar!
— Desculpa, Vince, eu só estava nervosa!
— Pois não fique! Eu não vou deixar nada te acontecer! Eu prometi, vou
cumprir! Mas vou deixar nas suas mãos. Não quero que faça nada sem se
sentir confortável. Eu só quero saber o que ele vai fazer. Falou com a Vivi?
— Falei. Ela é muito louca, não está nem aí! Está aqui passando batom pra ir
presa! Tá rindo á bessa!
— Lógico, ela confia em mim e você não.
— Não é isso!!!
— Está bem! Preciso desligar, estou de férias. Nos vemos mais tarde!
— Está bem! Beijos! Vince...?
— Oi?
— Não demora! Se eu for... não demora!
— Prometo que não!!!
— Tá. Beijo.
— Beijo!
Respiro fundo impaciente e penso em ligar pra Vivi, a única dos meus
amigos que é chefe-encarregada da logística e produção no térreo, e também
sócia minoritária da empresa. Só ela podia acalmar Flávia. Dali eu não podia
fazer nada. Mas depois penso bem, e não ligo. De repente estava demais
cansado para lidar com aquilo.
Aproveito que estou ali, ligo pra médica, ela fala, fala, fala, mas eu não
entendo nada. Ou pelo menos "nada" tirando a parte que ela tenta me explicar
algo sobre o útero de Lara estar ainda com uma pequena abertura, e propenso
a infecções... Fiquei com cara de interrogação, mas fingi demência. Que
porra era aquela de que transar faria mal???
Após desligar, respondo alguns e-mails relacionados ao casamento, agilizo
alguns pagamentos, e ao navegar pela “área do estudante” da minha
cozinheira, tenho uma grande idéia, bem grande mesmo. Uma ideia que vai
me garantir um lindo sorriso e uma bela foda futuramente.
Preparei um belo presente de formatura antecipada mesmo sabendo que ela
não vai achar o ato nada “belo” no início. A bicha vai ficar puta!
— Posso entrar? — ela entra após bater e eu sorrio. Não conseguia ficar um
minuto longe de mim. Apostava e ganhava que queria saber o que eu estava
fazendo. — Não quero mais essa mulher aqui!
— Não terá!
— Tô falando sério!!!
— Eu sei! — eu digo e ela me encara daquele jeito que faz quando quer rola.
Filha da puta. E eu estava doido pra dar.
— Ela falou de sua despedida de solteiro pra me provocar! Não vai com a
minha cara como eu não vou com a dela.
Ela me abraça quando eu me levanto, e mia daquele jeito...
— Por que não vai com a cara dela?
— Ela não era tão loira pelo computador...
— Toda mulher se arruma quando planeja viajar.
— Ela tá muito arrumada. Quer ficar a cara da Nanda. Acha que na verdade é
de loiras que você gosta.
— Quanta bobagem! — eu dou risada.
— Quantas morenas você pegou na adolescência, ou na época da faculdade?
— Lara, eu não ligo pra isso. Gosto de interior. Não me apaixonei por Nanda
porque o cabelo dela era loiro...
— Mas se apaixonou quando viu meu traseiro naquela sala.
— Você não tem noção do que todas as outras diaristas fizeram até que foram
mandadas embora, uma após a outra... aquele traseiro era meu, por isso logo
me apaixonei... — eu digo e ela ri. — antes disso eu só via traseiros andando
por aqui e isso nunca me apeteceu. Tu me pertencia, vi isso naquele
momento. Meu pau nunca subiu pra nenhuma delas! Só pra ti. Foi coisa de
“traseiro de alma”, amor!!!
— Você consegue ser um babaca até quando não deve... — ela ri.
— Jamais me ofenderia se eu não tivesse fazendo a linha paciente e amoroso
como te prometi.
— O que faria comigo? Me mostra... — ela sussurra e agarra meu pescoço.
— Arrancaria alguns tufos da sua nuca, encheria essa cara de tapas cada vez
mais fortes, te faria ajoelhar...
— Me mostra, Vince. Por favor!!!
— ...mas eu não sou mais assim.
— Você não me quer mais.
— Quero e quero muito, mas te tratarei com carinho. Não te tratarei como
uma vadia, não posso mais fazer isso. Não saberei separar uma coisa da
outra.
— Tenta. Tenta me dar um pouco dos dois!!! — ela parece implorar e eu me
sinto satisfeito. Muito satisfeito... — Você vive me dizendo que não tem
cabimento ter que implorar por algo que já é teu, e você é meu, então...
tenta!!!
— Está implorando?
— É isso o que quer? Que eu implore?
Ela pergunta, eu cravo minhas mãos na sua nuca, ela geme, e meu pau lateja
com seu gemido.
— Sim, sua vadia! Eu quero que implore! Eu te darei um tipo de Vicente. O
real ou o que é uma mentira. Qual você quer? Escolha apenas um! Me
afrontou na frente dos seus pais, tirou minha autoridade como teu homem, eu
saí de lá sem você... você fica o tempo todo criticando o meu jeito mandão, o
meu jeito de te tratar, mas quando eu paro reclama, quando eu fico carinhoso
sente falta. Você quer quando lhe convém, Lara. Não me aceita do jeito que
eu sou, mas aceitava no começo. Conseguiu me enfeitiçar e agora quer mudar
tudo! Você terá um ou outro, e sem reclamar!
— Tem que dar pra equilibrar...
— E o que eu quero? Quando eu vou ter?
— Já vai acabar, Vince, tenha um pouco de paciência, foi o médico que...
— Não estou falando dessa hemorragia eterna, filha da puta!!! Estou falando
dos meus interesses! Porque até onde pude notar, os meus interesses não
importam pra você!
— Importam sim!
— Você nem sequer consegue me obedecer!
— Quer uma cadela que pegue o graveto e traga na sua mão!
— Sim!
— Por quê???
— Porque é isso o que você é! — faço-a encostar na porta fechada do
escritório e sussurro.
— É pelas roupas que eu uso?
— Continuaria uma cadela vestida de freira! — eu falo e seus olhos enchem
de lágrimas. — Ah! Faça-me o favor!!! O que você quer de mim?
— Quero que me ame!
— Mas eu te amo!!!
— Falando desse jeito!?
— Eu sempre falei desse jeito, porra! Quando eu parei tu reclamou, acabei de
voltar a te tratar como antes, só por um momento e você chora!? Por que está
tão sensível???
— Eu sou sua cadela, ou sou uma cadela? Sou uma puta, ou tua puta? — ela
diz se virando, espalma as mãos na porta, e balança o traseiro bem no meu
pau. Nessa mesma hora eu vejo estrelas só por senti-la.
— Às vezes eu acho que é minha e às vezes eu acho que é de quem chegar e
tiver sorte. Quem te pegar em um bom dia... puta é puta, não tem endereço
fixo!
— Verdade. — ela se vira com raiva e me olha nos olhos. — Talvez eu passe
mais tarde no quarto do gêmeo do mal. Se ele for tão agressivo quanto você
na cama... — ela começa e ganha o bendito tapa estalado na face.
Descarreguei toda a minha tensão ali.
— Repita! Repita se tiver coragem! Não sabe brincar?
— Não! — ela resmunga mordendo meu lábio inferior e colocando minha
mão em tua outra face.
— Pois aprenda, vadia!!! — eu fico tenso e ela passa a respirar afoita como
eu.
— Me fode... agora! Eu imploro, me ajoelho se quiser...
— Quero a boceta, tu sabe disso! Tu demora pra sentir pra sentir prazer por
trás, fica dolorido, fica escandalosa... na bocetinha eu entro com você se
contorcendo, piscando, deixando sair aquela devassa que acaba com a minha
vida!!! — eu murmuro e ela ri. — Quando é que essa porra vai parar??? Vou
ligar pra doutora de novo, tem que ter um jeito, não pode ser tão grave assim.
Não aguento mais.
— E na banheira...?
— Quem disse que o problema é o sangue? Não me importo! Te pego de
qualquer jeito. Quero saber o porquê é proibido! Já transamos com você
‘naqueles dias’, quero saber o porquê agora não é recomendável! Eu liguei
pra doutora assim que entrei, parece que pode te fazer mal... alguma infecção
ou algo do tipo. Seu útero não está bem recuperado!
— Mas você não quer de nenhum jeito. O que eu vou fazer???
— Eu nunca disse que eu não quero. Vamos ter paciência. Quero que você
também curta o momento ao máximo, quero que aproveite. Quem sabe hoje
após o jantar, a gente não namora um pouco? Cuidarei desse traseiro com
muito carinho. Agora estou cansado... não sei o que está havendo, estou me
sentindo muito fraco.
— Vamos subir e deitar um pouco. A Tia está aí. Vou ficar contigo.
— Não vai pra faculdade?
— Não, posso repor a aula depois, mas não posso deixar de cuidar de você.
Resolveu alguma coisa do casamento? Quando viajamos?
— Creio que em poucos dias! Prometo.
— Sabe que por mim poderia ser aqui, não é!?
— Eu sei bem disso! — eu sorrio e ela me puxa para fora do escritório.
Subo pro quarto me sentindo cansado, me jogo na cama, e a pequenininha se
achega até encostar o bumbum em mim. Me perco em pensamentos que
incapacitam totalmente minha excitação.
— Nunca mais vai voltar ao normal? — ela resmunga e só pelo seu tom de
voz, sei que está chateada de verdade.
— Implore.
— Como?
— Diga que quer que eu volte a te maltratar e a ser como eu era antes porque
é incapaz de viver sem se ajoelhar por mim. Diga que é minha cachorra,
minha puta, e uma vadia não se trata com carinho, não se acostuma com
carinho. Diga que quer seu homem de verdade de volta, e então eu te farei
feliz daquele jeito que você mais gosta.
— Quero carinho também...
— Acabou de me dizer lá embaixo que não quer porra de carinho nenhum
sua maluca bipolar!
— Mas eu quero os dois.
— Então vem cá. — eu trago a chorona pra perto, dou-lhe um beijo na testa e
sorrio. — Terá tudo e qualquer coisa, tudo o que quiser, minha rainha! Vou
parar de brincar assim com você, sei que está triste e sentindo falta do seu
homem. Se recupere que a gente logo mata a saudade! Eu te amo, te darei o
que quiser, não importa o que seja.
— Vince...? — ela sussurra e eu resmungo.
— Oi.
— Seu telefone... não para de tocar.
— Não vou atender, estou muito cansado. Fica quietinha aqui comigo. Tenho
certeza que vou dormir já, já.
— Mas você dormiu a tarde toda, amor.
Ela diz, eu abro os olhos, e posso ver a tarde caindo lá fora. Que porra era
aquela???
— Allana...?
— Já chegou, está na sala com os avós.
— Merda... não sei o que houve, de repente fiquei muito cansado. Cadê o
Vitor?
— Está na delegacia.
— O quê?
— Ele fez a denúncia, só pediu pra te acordar.
— Merda!
— Espera. — ela me para quando eu ameaço me levantar. — Não faz assim.
Ele já está lá há horas, você ganha muito mais esperando ele aqui. Se ele
realmente gravou, ouça o que ele tem pra te mostrar, respire fundo, e não se
deixe levar. Estude o caso sem surtar, e depois veja o que vai fazer. Com
calma, com paciência, e sabedoria pra não fazer merda.
— Quem foi que ele denunciou? Fala de uma vez.
— Uma tal de Vivi, nunca ouvi falar. Ela cuida de lá do depósito né? Você
nunca me apresentou. — ela diz e eu sinto meu coração se encher.
— Sim. Ela trabalha lá em baixo!
— Tomei a liberdade de me intrometer e liguei pro Greg. Ele correu pra lá,
analisou os papéis, e disse que só uma auditoria profissional poderia dar
certeza, mas... ligaram a saída da grana com uma conta de uma prima dela.
Parece que foi mesmo ela. Só com isso ela já teve a voz de prisão decretada.
— Graças a Deus!
— O quê?
— Eu disse graças a Deus. — eu digo me levantando com preguiça. —
Quando eu vi que ele pretendia conferir os relatórios financeiros, decidi fazer
um teste. Vitor poderia ignorar o arrombo nas minhas contas por
supostamente não estar nem aí pra mim, podia culpar a “responsável” e salvar
a empresa, ou poderia colocar a culpa na Flávia para demiti-la porque com a
Flávia fora da empresa, eu não teria outra alternativa a não ser subi-lo de
posição como vice-presidente, e também promover a Vivi. Ele poderia me
deixar ser roubado, ou me ajudar. E ele me ajudou. Quando entrei no
escritório vi que ele estava louco atrás dos relatórios de nosso faturamento
então tive a ideia de testá-lo. Quando saí da tua casa eu passei no escritório,
fiquei o dia todo cuidando do Greg bêbado então passei lá depois, resolvi
algumas pendências que não fiz durante o dia e alterei os relatórios. Acho que
posso confiar nele agora.
Eu explico tudo e ligo pro Vitor no ato em que pego o celular.
— O que é que está acontecendo aí???
— Oi, Vitor! — Vitor me chama pelo nome dele e sei que devia estar na
frente do delegado ou de alguém que jamais poderia saber que trocamos de
lugar. — A Viviane fez um estrago nas minhas contas.
— Ela negou? Se ela negou tem direito de defesa. — eu digo e ele faz
silêncio. — Ela negou, não é!?
— Não. Quer dizer, de início sim, na reunião negou. Achei que a Flávia fosse
a responsável e tal, mas... de algum jeito ela acessou a conta jurídica do
computador do depósito. Ela não deveria ter acesso a isso, mas parece que
EU dei esse acesso há um tempo atrás por causa dos investimentos. Quer um
advogado e falar COMIGO, quer se explicar.
— Isso não faz sentido.
— Quem disse que roubo faz sentido? Tem um ano que ela está fazendo isso.
De duzentos em duzentos, POR MÊS!!! VOCÊ vai investir em segurança
para essa empresa. Vai ampliar, investir em auditoria pesada, e vai
informatizar até a ida ao banheiro desses funcionários. Não importa se são
amigos, sócios, ou qualquer porra de aliado. Isso vai mudar! EU tô perdendo
dinheiro e perdendo mercado “não ligando” pra esse tipo de coisa!
— Eu vou até aí.
— Não vai conseguir nada aqui, você é um mero sócio que não pode levantar
da cama de tanta gripe, esqueceu? Eu só te liguei para te inteirar, estarei em
casa dentro de alguns minutos com o Greg e alguns papéis pra você dar uma
olhada. Abri um processo. Ela vai devolver o dinheiro e responder na justiça.
Fica aí que eu já estou indo.
— O que ela disse? Qual desculpa ela deu?
— Ela só ficava dizendo que ia parar, ia parar porque não era ladra, “nunca
foi uma ladra e nunca precisou fazer isso”. Preciso desligar, nos vemos mais
tarde.
— Ok. Até. — eu murmuro e desligo. Imediatamente encontro uma Lara com
o pior semblante possível e extremamente contrariada. — Não me olha assim.
Eu precisei fazer isso. Tudo isso foi antes dele se desculpar comigo, e mesmo
assim foi bom. Agora eu sei que ele não quer me foder de graça como fez a
vida toda. É a minha mulher, tem que ficar do meu lado. Assim que nos
casarmos a empresa será sua também, será o nosso futuro. E se eu descubro
que ele continua o mau caráter que sempre foi???
— Mas ele pode ficar muito puto com você por isso. Olha o que você fez.
Pode arruinar o momento de paz que vocês vivem agora! E isso não se faz.
Ele está em uma delegacia lutando pelos teus interesses que nada mais é do
que uma pegadinha, uma mentira!
— Eu precisei fazer isso, Lara. Vitor estava louco com a Flávia, atrás desses
documentos. Desconfiei. É meu irmão, se tudo ruir por causa disso, ele não
quer minha cumplicidade tanto quanto diz. Sei que ele foi sincero quando
pediu perdão, mas eu fiz isso antes de tudo acontecer, agora já foi, e foi bom
pra eu ter certeza que Vitor não estava louco para comprar a parte do Greg só
pra me ferrar e sim porque quer ficar próximo a mim. Porque apesar de achar
que o que ele mais tinha era inveja, e vontade de me foder, eu também
pensava que ele só queria se reaproximar. Tive certeza, foi bom!!!
— Você vai contar pra ele, Vince. Vai contar que isso é tudo mentira e que
sua funcionária não é uma ladra!!!
— É óbvio que eu vou contar! Vou esperar ele chegar e vou dizer!
— Ele vai ficar chateado com você.
— Se ficar peço desculpas. Prometo. Agora desmancha essa carinha! — eu
puxo a emburrada pro meu colo e beijo sua boca querendo muito mais do que
só isso. — Por que eu dormi tanto???
— Você ficou muito estressado e emocionado o dia todo, acontece. Que bom
que tirou o dia pra descansar. Ai, Vince, o que... o que está fazendo? — ela
diz quando eu me empolgo com seu seio esquerdo e meto a boca.
— Tirei o dia pra você e dormi muito isso. Estou mamando para me
desculpar. — eu dou risada. — Desculpe! — eu digo e passo para o outro
seio. Era o justo.
— Fico feliz por ter descansado, fiquei contigo o tempo todo, dormi bastante
também. Vou preparar um banho bem gostoso pra você.
— Faça isso. Vá cuidar de mim!
Largo daqueles seios que só serviram para me deixar duro, sorrio quando ela
vira as costas, e esqueço aquele caos por um momento quando uma pirralha
que se achava uma adolescente entra no quarto e me ignora completamente.
— Lara a vovó quer saber se você não vai descer pra jantar? A Tia já colocou
a mesa e está esperando você pra jantar com a gente e ir pra casa!
— Oi, né? — eu falo com ela, e ela faz um bico. — Ainda está brava
comigo?
— Não quero falar com você!
— Por que está falando assim com teu pai? — Lara pergunta e Allana cruza
os braços.
— Porque ele não pode dar as coisas dele para aquela sonsa! Ele ofereceu
nosso carro pra ela dirigir! Ele não pode fazer isso! Quando as pessoas se
casam, as coisas são divididas, ele tinha que te perguntar se você quer dar o
carro pra ela, mas ele te perguntou? Aposto que não!!! E ele ainda briga
comigo, COMIGO, por causa dela!
MERDA. Menina bocuda!!!
— De quem você está falando?
— Da nojenta daquela mulher que tomou café aqui e VOCÊ me fez perguntar
se ela estava bem. Por que eu tenho que saber se ela está bem??? — Allana
reclama com a mão na cintura e o semblante de Lara vai mudando de bom
humor, pra fúria.
— O que aconteceu? — ela pergunta e eu respiro fundo.
— Perguntei se ela queria o carro pra ir pra empresa já que ela está sem, só
enquanto estivéssemos fora. Jaque não tem família aqui. No carro nós
conversávamos sobre carros alugados, o fato de ela estar sozinha, o dinheiro
que ela vai gastar por três meses para se locomover, só fui gentil. Seria bom
se Allana aprendesse a ser gentil também. Ficou se intrometendo no assunto,
chamando minha atenção como se EU fosse o filho dela, e ela não fosse só
uma criança birrenta e muito mal educada! Isso não se faz. Não se deve se
intrometer em uma conversa de adulto.
— Nem se você estiver errado?
— Não começa. Não tente tirar a minha autoridade!
— Então você está certo em sair oferecendo as coisas sem me consultar? Vai
fazer ela se hospedar aqui também?
— Talvez. — eu digo e as duas levantam as sobrancelhas do mesmo jeitinho.
A convivência as fez semelhantes demais... — Talvez eu fizesse qualquer
outra merda. Com isso eu teria que resolver com você depois, ou não. Allana
tem que entender que é minha filha e não o contrário. Vocês duas têm que
entender que esse tipo de coisa a gente resolve no particular, não no café-da-
manhã ou no caminho pra escola e principalmente NÃO na frente dos outros.
— Não importa quantos anos ela tem. Se você está errado, tem que ouvir.
Nesse caso principalmente, ela está certa. Foi mais adulta que você. Você não
pode sair oferecendo as coisas e marcando compromissos sem me consultar,
se fosse eu quem tivesse feito isso, ia ficar puto comigo! — a emburrada
morena reclama, e a emburrada loira concorda com a cabeça. Dou risada com
a cena.
— Vem cá! As duas! Uma de cada lado. — eu bato em minhas próprias
pernas e elas obedecem. — Me desculpem por ter feito planos sem te
consultar. — eu encaro a boadrasta e ela parece concordar, mas não desfaz o
bico. — Você tem razão, eu não devo fazer nada sem te consultar, vou retirar
a oferta e jamais terá que lidar com ela. Eu entendo que se fosse o contrário
eu brigaria com as duas. Não quero que façam planos sem que eu saiba de
jeito nenhum, então também agirei de acordo. Ok? E você! — eu falo com a
pirralha e ela me olha com rancor. — Eu te devo desculpas. Fui muito chato
contigo, não agi corretamente, eu devia ter te dado razão porque você estava
muito correta e foi brilhante no que me disse, a Jaque mesmo concordou
contigo, eu é quem não estava em um bom dia. Eu jamais devo planejar
coisas sem Lara saber, você estava certa. Desculpe seu pai por isso. Eu te
amo muito. Estava nervoso, não quis magoar você, eu só estava estressado e
descontei em você. Teu pai vai passar a te ouvir melhor, te entender, e nunca
mais vai brigar contigo na frente dos outros se você não merecer. Você ter
entrado no colégio sem me dar um beijo e um abraço acabou com meu dia e
eu nunca mais quero passar por isso. Você é a minha vida! Eu te peço perdão
por ter sido tão chato e por estar muito distante ultimamente. Devia ter te
levado pra comprar o pijama mais lindo de todos junto com a Lara. Devia ter
te dado muita atenção. Você me perdoa?
Eu pergunto, ela chora de tristeza e balança a cabeça enquanto esconde a mão
no rosto. As mãozinhas com a unha cortada e pintada de rosa — com certeza
foi elaborada na bendita festinha. — me deixam com o coração espremido e
cheio de amor. Minha pequenininha estava crescendo.
— Meu aniversário está chegando... — ela mia me abraçando e eu sorrio.
— Está mesmo. O que vai querer?
— Não vai poder me dar nada, estará longe daqui...
— Quem disse isso?
— Será a lua-de-mel. Vou ficar sozinha com meus avós e com o tio Vitor.
— E quem disse que eu vou ficar longe da minha filha? Lara quer se casar
com o pai da garota mais linda do mundo. Ela sabe que nossa lua-de-mel será
em família. — eu falo e Lara franze o cenho sorrindo. Não sabia de nada
porque eu tinha acabado de inventar aquilo.
— Vai me levar junto?
— Depois de alguns dias vou pedir pro vovô te colocar no avião. Ficará com
a gente até voltarmos pra casa!
— Por que depois de alguns dias? — ela pergunta e Lara fecha os olhos com
medo do que eu poderia dizer.
— Porque... bom... como eu posso te explicar isso???
— Quando a gente se casa, costumamos tirar um dia para comemorar, e esse
dia não é feito para crianças. Estaremos casados, vamos querer namorar
bastante, ter privacidade, mas será breve. Com o tempo seu pai vai mandar te
buscar, e então teremos dias incríveis somente a três e mais ninguém. Será
inesquecível. — Lara explica ou tenta, e eu me sinto aliviado.
— Você vai voltar de lá com um bebê na barriga? — ela pergunta e Lara fica
péssima.
— Não. Não vou não. — Lara resmunga disfarçando a chateação e sai do
meu colo para se trancar no banheiro.
— Dez dias? — Allana pergunta de repente pra mim.
— Acho que dez dias jamais será o suficiente. Mas vamos falar sobre isso
depois.
— Mas vai demorar?
— Não, filha. Não vai. Agora... por que falou disso com a Lara? De voltar de
lá com um bebê na barriga?
— Ouvi a vovó dizendo que a lua-de-mel era uma boa oportunidade da Lara
ter bebê de novo. Se ela tiver, não vai mais me amar muito, vai me amar
pouco, vai ter que dividir.
— Ninguém no mundo é capaz de te amar pouco, Allana. Lara jamais vai
amar alguém como ama você. Seria o mesmo amor, na mesma medida! A
gente não ama mais um filho do que o outro, isso é impossível. A vovó não
ama mais o tio Vitor do que eu.
— Eu acho que o vovô ama mais você do que o tio Vitor. O vovô acha o tio
Vitor um fanfarrão. É coisa de pai. Você vai amar mais esse bebê do que eu!
— Isso é coisa de afinidade. E a nossa afinidade é maravilhosa e eterna. Você
não acha?
— Acho que sim. Mas porque que não funciona comigo e com a Lara?
— É claro que funciona, tá maluca? Ela é louca por você, sempre foi!!!
— Mas se ela é louca por mim, por que quer tanto outro bebê??? — ela
pergunta com um tom magoado e eu não sei mais o que dizer.
— Filha. Você já é bem grandinha pra entender certas coisas. Toda mulher
quer ser mãe, pelo menos uma boa parte delas. É instintivo. Você não pensa
em um dia ter filhos e cuidar da sua casa? Ter um companheiro como o papai
tem a Lara???
— Eu não!!! — ela diz com nojo e me faz rir. — Eu não quero não!!! Quero
ser empresária como você! Você vai ficar velho, vou cuidar da empresa da
família.
— Nada impede uma mulher de sucesso a ter uma família linda. Lara é a
prova viva disso.
— Mas eu não quero casar! Nunca vou querer!!! Vou cuidar de muitas
empresas! Vou ser muito rica como o tio Vitor e você!
— E ainda assim, não quer um irmão pra te ajudar a cuidar de tudo isso?
— Pai, o meu exemplo é você e o tio Vitor. Ainda acha que eu vou querer um
irmão? Tio Vitor só te fez mal a vida toda. Todas as crianças do mundo
deveriam ter o que eu tenho. Um pai incrível e nada de irmãos!
— Eu fui muito feliz com seu tio. Pelo menos enquanto éramos pequenos. E
nem todo mundo é como ele, filha. Sabia que nós fizemos as pazes? Seu tio
mudou, e com certeza voltará a ser o meu melhor amigo, igual como éramos
quando crianças.
— Pai, se irmão fosse bom, a Tia e a vó Mag, não tinham tido apenas um! —
ela fala, levanta do meu colo, e cruza os braços.
— O Júnior tem irmãos se você quer saber, eles apenas moram fora. E tem
mais... se você ficar falando essas coisas vai magoar a Lara. — eu tento falar
baixo e ela ameaça a chorar como sempre.
— Por que eu tenho sempre que fingir as coisas? Por que não posso falar o
que eu penso???
— Porque não importa o que seja, magoar as pessoas nunca é boa ideia.
Ainda mais se for a Lara que a gente ama tanto e nos ama tanto.
— Mas e você? Você quer um bebê também? — ela pergunta, me encara, e
eu fico em uma confusão interna horrorosa.
— Esquece esse assunto por enquanto, ok? Por agora vamos descer antes que
sua avó pire de tanta fome. Vá até lá e diga que já estamos descendo. Eu vou
tomar um banho, jantar com meus amores e dar uma saída rápida. Logo
voltarei pra te pôr na cama. Vá.
Eu digo, dou-lhe um beijo e um abraço apertado e ela sai limpando as
lágrimas.
Entro no banheiro já aflito e encontro Lara sentada no banco baixinho que a
gente usava de apoio para entrar e sair da banheira. Estava de cabeça baixa, e
com as mãos escondendo a face que eu sabia que devia estar vermelha e
inchada por causa do choro. E não errei.
— O que foi, meu amor?
— Estou terminantemente proibida de ter filhos, não é!? Isso vai ser pra
sempre? Jamais serei mãe? Você não quer, e se eu tiver, Allana vai desprezá-
lo. É assim que vai ser?
Ela me encara com seus olhos inchados e eu sinto um inferno tremendo se
apossar do meu corpo. Eu odiava vê-la mal, triste, doente, ou irritada por
algum motivo. Agora vê-la sofrendo daquele modo tão cru, tão real... porque
eu sabia que esse tema mexia demais com ela, e que ‘aquele aborto
espontâneo’ ainda estava ali, fincado em sua alma assim como na minha... e
Deus... vê-la sofrer tanto fazia eu me sentir um lixo, fazia eu odiar o mundo e
odiar as peças que a vida nos pregava. Eu odiava qualquer pessoa e qualquer
coisa que pudesse machucar aquela garota. Eu odiava qualquer coisa que
pudesse tocá-la sem meu consentimento, podia ser pessoas, situações,
problemas ou até uma gripe. Eu odiava não poder colocá-la numa redoma.
Me odiava por não poder protegê-la! Meu Deus!!!
Eu queria gritar de tanta raiva!
— É isso o que você mais quer? Ser mãe de um filho meu???
— Sim. — ela diz chorando compulsivamente e eu concordo.
— Então você terá isso. Eu te darei um filho meu, tu vai ficar linda com essa
barriga gigante, e eu serei o homem mais feliz do universo quando o
resultado positivo sair. Eu sou teu, completamente teu, e eu vou viver a
minha vida para encher você de filhos se é isso o que você deseja. Por que
não existe nada, Lara, nada que eu queira mais do que fazer de você uma
rainha, a mulher mais realizada da porra desse mundo! Será mãe dos meus
filhos, terá tudo, será dona do melhor restaurante que esse país já viu, e será
extremamente feliz e completa como ninguém. E eu prometo que você será
pra sempre, além de tudo isso, a mulher mais bem comida que esse universo
já viu!!!
Eu falo e a pego no colo. Saio do banheiro, tranco a porta do quarto ainda
com ela atacando meu pescoço e ignoro seu choro emocionado fazendo-a se
debruçar em nossa cama.
Subo seu vestido, coloco a calcinha pro lado para não manchar o carpete de
sangue, pois eu achava que cairia um riacho dali, mas também não pensei
muito nisso. Eu só queria foder aquele traseiro porque era a nossa única
opção.
Posicionei meu pau, forcei com cuidado de início, e fui entrando
acompanhado de seus gritos histéricos. Assim que entrei, parei. Me aproveitei
para chupar e mordiscar a tua bochecha, e quando eu decidi lamber seu
pescoço como um homem das cavernas por “algum motivo”, ela gemeu. Eu
já não estava mais ali. Já não mais controlava o que fazia, eu estava fora de
mim.
— Me fode!
— Implore!!!
— Por favor! Eu imploro! Fode essa porra!!!
Ela diz entredentes e eu passo a meter com força. Meus movimentos eram
duros, sem lubrificante era difícil, mas não impossível. Enquanto eu esfolava
seu traseiro, ela gritava pedindo mais, então tapei sua boca com a mão.
— Não grita, piranha! Dá pra te ouvir lá de baixo! Empina essa bunda pra
mim. Se não parar de gritar, vou te amordaçar!!!
— Faça isso! — ela resmunga por entre gemidos quando eu tiro a mão de sua
boca, e continuo metendo.
— Você quer, não é!? Quer ser judiada, vou me lembrar disso quando abrir
essa boca pra discutir comigo querendo carinho!
— Eu imploro!!! — ela geme, ganha um tapa na cara, volto a tapar sua boca
inteira com a mão e meto mais forte, sem parar pra respirar.
Com o tempo sua entrada vai ficando mais larga e com isso, eu arrebento.
Minhas bolas batem forte no plástico do absorvente protegido pelo tecido da
calcinha grande, e aquilo só me deixa mais maluco. Lara não precisava estar
livre do sangue ou de tanguinha... o meu tesão naquele momento era surreal,
não importava a circunstância atual. Ela era a única mulher que me deixava
assim.
— Não fecha a porra da perna!!! — reclamo, saio de dentro dela de uma vez,
me livro da maldita calcinha e a faço subir na cama.
Aparentemente, digo, visualmente, sua boceta não estava manchada daquele
vermelho vivo que eu esperava ver, mas sim de seu gozo, estava muito
encharcada. Ali eu podia ver os pelinhos que começavam a crescer e seu
líquido escorrendo em excesso e isso me tirou o juízo. Onde estaria aquela
boceta lisinha, quase tão juvenil? Eu não sabia. Em minha frente tinha a porra
de uma mulher deliciosa com a boceta mais carnuda e de “mulherão” que eu
já havia visto. Suguei seu clitóris antes dela protestar, e tomei cuidado para
não descer demais e entrar em contato com o sangue e seu gozo, óbvio que
não por nojo, mas sim por receio de fazer-lhe algum mal por causa do lance
que a doutora falou. Se normal faria mal, eu não a arriscaria em um sexo oral.
Mas não resisti. Abri seus grandes lábios, e chupei sua bolinha inchada até
sua cintura tremer em minha boca. Eu fazia a pontinha da língua vibrar e ela
pirava gemendo loucamente.
— Precisa ver tua cara quando tem orgasmo. — eu falo e a viro de bruços.
— Como eu fico?
— Com uma cara de puta safada, muito gostosa. Dá vontade de te estapear
até você implorar por mais!
— Então vem. — ela resmunga se colocando de quatro e balançando o
traseiro pra mim. Ela pega em uma banda e abre seu bumbum com uma mão.
Eu só nego me perguntando o que aquela garota era capaz de fazer quando
estava subindo pelas paredes. Isso porque eu achei que já tinha visto de tudo
o que ela era capaz. — Me faça ficar com essa cara de novo e bata até dizer
chega!
Ela diz com a voz fina de propósito. Fazia aquela voz quando estava no cio,
como uma cadela. Entro com grosseria, meto forte, estapeio sua bunda e ela
volta a gritar, mas dessa vez eu deixo porque queria muito ouvir.
Cravei as minhas mãos nos seus cabelos, puxei forte, e sentei a vara até
gozar. E vê-la gozar de quatro dessa vez, foi uma cena indescritível. Sem
sustento com o corpo e com pouco equilíbrio, Lara teve um orgasmo de um
jeito surreal, seus gemidos se prenderam dentro de sua garganta, e sua cintura
tremia com os espasmos fortes que a sensação causava. Seu gozo escorria
como um fio de azeite em direção a cama, sua boceta piscava, e sua cintura
parecia convulsionar. Literalmente como uma cadela. Era lindo de se ver.
Travou daquele jeito sem conseguir falar ou gemer por um momento, a
cabeça abaixada, os cabelos escondendo a face e eu só esperei aquilo passar.
Quando ela caiu quase desacordada na cama, eu sorri.
— Boa noite! — eu resmungo, ela não consegue dizer nada pra mim, sorri
levemente e eu desço da cama.
Levo sua calcinha pro banheiro e noto que seu absorvente tinha uma espécie
de filtro daqueles que deixavam o sangue todo concentrado em baixo da fina
camada de tecido descartável. Não estava tão pesado, mas tinha mais do que
eu gostaria. Queria que aquilo acabasse logo, não via a hora de foder aquela
boceta daquele jeito...
Jogo o absorvente no lixo, coloco a calcinha no cesto e ligo a ducha. Tomo
um banho extremamente relaxante como se eu precisasse de mais
relaxamento, e como suspeitei, encontrei a safada quase roncando ao voltar
pro quarto.
— Vai onde? — ela resmunga dez minutos depois quando eu já terminava de
me vestir.
— Resolver um problema, minha ciumenta gostosa!
— Tem algo a ver com ela, carro, ou alguma sócia ladra? — ela pergunta e eu
beijo sua testa levemente.
— Depois conversaremos a respeito do que eu vou fazer...
— Quanto suspense.
— É só meu charme. Descanse. Vou falar pra tua sogra que você vai jantar
depois porque agora você está literalmente fodida e não vai conseguir se
sentar em uma cadeira por um mês. Eu te amo, minha rainha! Você é tudo pra
mim! — eu digo, sorrio ao vê-la adormecer e desço pra sala após pegar as
chaves do carro no criado-mudo.
Assim que coloco meus pés na sala de estar Vitor entra acompanhado por um
Greg bastante tímido.
— Cheguei. Boa noite! Boa noite, mamãe. Tem comida? Coloca comida pra
mim! — ele diz, minha mãe corre atender e ele se joga no sofá.
— E então? Foi mesmo a Viviane?
— Sim. Gravei a reunião. Ela está presa, e será processada. Greg trouxe os
papéis. — ele diz e Greg me oferece uma porção de documentos. Nem olho
em seus olhos. — Será feita uma auditoria, mas nem é necessário, fiz a
denúncia e com sua confissão ela foi detida.
— Você só analisou planilhas de retiradas. — eu sorrio me sentindo feliz e
ele dá de ombros.
— Assinadas por você. Foi consultando meus históricos que descobri um
desvio grande de verba em minha empresa alguns anos atrás. Já passei por
isso, sei como funciona.
— Obrigada! — eu digo e ele inclina levemente a cabeça. — Você poderia
ter responsabilizado Flávia de algum jeito. Procurou a “verdadeira
responsável”, obrigada por isso.
— É difícil acreditar que eu não quero nada de você, não é?
— É. — eu resmungo e ele ri. — Você me deixou feliz e orgulhoso hoje!
— Passei no teste? — ele me encara erguendo a sobrancelha e eu dou risada.
— Passou!
— Não pode tirar ela de lá. O contrato é claro! — ele se levanta e eu ignoro
seu comentário. Abraço-o somente por um momento e ele retribui com
aqueles olhinhos lacrimejantes.
— Continue sendo o gêmeo bonzinho que você ganha mais. Esqueça essa
história.
— Ela não fez isso, não é? Foi você quando me viu louco atrás desses
arquivos... uma atitude filha da puta, irmão!!! — ele sorri parecendo cansado
ao me encarar por um longo momento.
— Fiz antes de você me pedir perdão sinceramente, mas não me arrependo.
Você soube logo de cara?
— Não. — ele ri. — Tô vendo agora olhando pra essa sua carinha toda feliz,
filho da puta desgraçado! Está vendo, né pai!?
— Eu imaginei que seria isso. — meu pai resmunga encarando seu jornal. —
Aqueles números estavam demais gritantes para terem passados
despercebidos ainda mais após sua conferência e assinatura. Pensei: “ou
Vicente está mentindo, ou ele a autorizou. Mas é impossível que ele não
tenha visto. Provavelmente quer saber o que Vitor fará após ter sua tão
esperada parte na empresa. É um bocó. Não confia em ninguém de graça,
mas pelo menos agora confia em você. Por isso eu não o impedi, ele
precisava ter certeza de que você não é mais aquele bostinha! — ele fala e eu
volto a encarar meu gêmeo do mal. Eu acho que vou chamá-lo assim pra
sempre.
— Eu te odeio!!! — ele diz e eu sorrio.
— Não odeia não. Agora vou até lá libertar minha cúmplice. Quer algo da
rua? — pergunto e ele ri.
— Quero que você vá pra...
— Vitor... — minha mãe chega e oferece o prato que ele pediu pra fazer. —
Greg, quer jantar? — ela questiona e ele nega.
— Mãe a Lara está com sono, vai descer mais tarde então se quiser jantar, a
hora é essa. Deixe-a descansar e libere Tia pra ir pra casa. Eu até pretendia
jantar, mas a Vivi já deve estar nervosa, lá. Eu já volto. — eu falo e beijo a
pirralha entretida com o desenho que passava na TV. — E você jante
também, viu? Mãe ela só tem sobremesa se raspar o prato!
— Tudo bem! — ela resmunga comportada e eu me direciono pra porta.
— Não vai mesmo falar comigo? — Greg murmura assim que eu alcanço a
porta. Quando me viro vejo que estava quase me beijando de tão abusado que
foi ao entrar em meu espaço pessoal.
— Oi, Greg. — eu digo simplesmente e saio sem olhar pra trás.
Assim que alcanço a porta do carro, meu celular vibra e pelo barulho leve sei
que é e-mail, e não mensagem.
Estava tudo pronto para partirmos. Em poucos dias eu seria um homem
casado. Oficialmente.
CAPÍTULO 8

SURPRESAS

— Relaxe... não olhe... não ainda. Se abrir esses olhos, te estapeio!


Vince me puxa do carro, abaixa minha cabeça com cuidado e eu posso sentir
o lugar mesmo sem a visão. Parecia uma rua movimentada, barulhos de
carros, mas não de buzinas, pássaros cantando alto... o que será que ele estava
aprontando???
— Quando eu disser já... — ele sussurra no meu ouvido e eu me arrepio
inteira. Ele me abraça colocando suas mãos em meu ventre e se achega com
calma e carinho. —... pode abrir olhos e conhecer seu presente de formatura.
— ele deposita um beijo em meu pescoço. — Já!
Ele murmura, eu abro os olhos e não vejo nada. Estávamos apenas em uma
calçada, na frente de um estabelecimento fechado em uma rua linda dos
Jardins. Sabia disso porque era ali que concentrava a maior parte de minhas
faxinas. Casas de granfinos, apartamentos luxuosos... bairro nobre e luxuoso
de São Paulo.
— Para de graça... — eu resmungo chateada. — tem presente nenhum, é uma
piada?
— Não seja tão boba... — ele ergue meu queixo e me faz encarar justamente
a fachada vazia em minha frente. — você está olhando para o teu presente.
— Não brinca...
— Não curto. Não sou bem humorado, sabe disso...
— O quê...?
— Teu presente de formatura... — ele sussurra zombando e eu o encaro.
— Meu restaurante?
— Isso, minha rainha! Gostou? — ele questiona e eu volto a encarar a
fachada.
— Não consegue me dar um anel? Um colarzinho?
— Isso você já tem demais! E eu já te dei um colar... não me olhe assim, é a
primeira extravagância...
— Me deu uma casa que eu poderia andar de carro por dentro, um cartão que
eu não preciso me preocupar com fatura, e presentes escondidos porque toda
semana eu tenho um vestido novo que nunca vi na vida... — eu dou risada e
ele nega.
— Não gostou?
— Eu amei!!! — aceito sem criar caso e como consegui aceitar facilmente,
me entrego à felicidade que eu sentia. — Só de ser meu fiador, já me faria
feliz, mas eu amei!!! Obrigada!!!
Eu sorrio e ele me beija com sede, no meio da calçada.
— Era isso que pediria? Que eu fosse seu fiador na hora de comprar?
— Sim!
— Zero ambição, certo!? — ele ri quando eu afirmo com a cabeça. — Quer
entrar pra ver?
Ele pergunta e eu nem respondo, pego as chaves que ele balança no alto,
corro abrir a porta e entro de uma vez.
— Putaqueopariu! — eu exclamo ao fitar um grande salão já mobiliado
exalando tons marrons, madeira antiga, veludo vermelho, e seda... era
enorme, antigo e parecia o salão de um castelo.
— Está assim porque ele já era um restaurante. Pedi para que deixassem os
móveis pra você ter uma ideia do que pode fazer, uma noção de espaço e...
— Te amo!!! — eu me viro, tasco um beijo demorado em sua boca , e ele ri
de novo. Vince estava radiante por me ver feliz.
— Se eu soubesse que ficaria tão feliz... — ele me pega no colo e me coloca
sentada na mesa mais próxima dali. —... teria te presenteado antes.
— O que isso tudo vai me custar, hein!?
— Adivinha!
— Muita foda... amor... comida no prato, roupa lavada, o de sempre.
— Só a foda pagará, o resto continua do mesmo jeito! Por que não me
agradece de joelhos???
— Sem ver se a cozinha valerá o sacrifício? — eu zombo, desço da mesa, e o
bonitão permanece com sua cara de tacho.
— Sacrifício? Eu acho que alguém aqui, acabou de perder os presentes...
— Presentes? Tem mais???
— Tinha...
— Para... me conta, me conta, me conta!
— Vamos ver a bendita cozinha. — ele ri e me puxa de novo pela mão até
chegar aos fundos do enorme salão. — Gostei do tamanho... você vai precisar
de uma equipe enorme.
Vince sai falando e eu vou caminhando pela cozinha gigante e por todas as
suas sessões. Os equipamentos que já estavam ali eram de última geração, o
melhor do melhor. A cozinha dos meus sonhos. Para mim, até as panelas
penduradas pareciam ser decoração para uma festa particular, era melhor que
luzinhas, e olha que eu amava luzinhas...
— Quem saiu deixou tudo... está novo!!!
— Eu comprei do dono com tudo dentro. Ele estava querendo vender para se
mudar daqui para o litoral. Acho que se você quiser, podemos economizar na
hora de comprar as coisas. É só ver o que você acha que pode usar ou não. Eu
iria querer tudo novo, mas como eu te conheço...
— Não, isso tudo será muito útil. Poderia até vender, são de marcas famosas,
se você soubesse quanto custa cada panela dessas... — eu murmuro feliz
enquanto o bonitão caminha comigo pelo outro lado do layout central. —
Deve ter custado uma fortuna.
— Custou, e sim, eu sei quanto custa cada panela. Vale o sacrifício? — ele
pergunta e eu sorrio.
— Óbvio que sim! Uma barraca que fosse valeria... ou até outro colarzinho!
Obrigada por esse presente. Quer me ajudar a escolher um nome??? — ele
sorri se aproximando e eu perco o fôlego.
— Allana disse que quer fazer isso...
— Contou pra ela?
— Sim, trouxe-a ontem! Até seus pais já conheceram, viemos juntos com
eles e com a Tia enquanto você estava na faculdade. Todo mundo viu, menos
você! Queria uma opinião!
— Eu não tenho um real pra retribuir o presente. Quero te dar algo também.
— Você tem muito mais do que isso na tua carteira. E eu gosto de presentes!
— Não vou comprar um presente pra você com o teu dinheiro!
— Já conversamos sobre isso de meu dinheiro, seu dinheiro... nós vamos nos
casar e eu sei que você será a cozinheira mais famosa do país. Acha que eu
vou ficar nessa de “não, esse dinheiro é dela...”? — ele diz e ri. — Tu vai ser
muito rica, eu estarei casado com a mulher mais bem sucedida do mundo...
óbvio que eu vou andar por aí me gabando e curtindo o meu momento!!!
Então não me venha com essa de ‘seu dinheiro’, é nosso! Até Vitor quando
viu, já prometeu investir muito dinheiro em você, sabe do seu potencial!!!
Meu pai disse que o restaurante nem existe, mas já é o preferido dele em São
Paulo!
— Muita expectativa, isso me assusta...
— Jamais pensei que te veria insegura. Isso nem combina com você.
— Não, eu sei que sou a melhor... — eu digo e ele ri alto. — Mas sou
humana, né!? Faz parte tremer um pouco na base.
— Faz! Faz sim, mas você vai tirar de letra! Vai estudar muito, vai aprender
com os melhores, e eu estarei sempre aqui. Enquanto você decide a estética
pode atuar no restaurante que quiser e aprender mais do que não pôde na
faculdade. Vai aprender em um restaurante maravilhoso e ser a melhor, eu
garantirei isso. Posso ficar com o controle de qualidade pra você,
obviamente, e Vitor pode te dar uma mão com a gestão, a parte financeira que
é a praia dele, meu pai é um excelente engenheiro e também degustador e fã,
e se tem algo de que minha mãe entende é classe, gostos refinados. — ele fala
e eu concordo no ato, dona Norma era a mulher mais chique que já conheci.
— Enquanto a gente não conhece todos os restaurantes que você quer se
espelhar, ela mesma pode te contar sobre os melhores lugares em que já
esteve! Sem contar que seu pai é o melhor segurança que já conheci, tem
contatos, e sua mãe com uma bela máquina de costura pode dar uma
identidade única pro estilo do lugar, e Tia... bom, Tia entende de voz de
comando e organização como ninguém! Todo mundo estará do teu lado!
Agora vem ver isso...
Vince me dá um selinho e me leva novamente para o salão principal do
estabelecimento silencioso.
Do lado esquerdo, bem no cantinho do salão havia uma porta, por ela um
corredor espaçoso, extenso, e naquele momento mal iluminado, e no fim dele,
um aparador com um espelho que ia do chão até o teto emoldurando um lindo
lavabo.
Ao me aproximar um pouco mais pude ver quatro portas, duas de cada lado.
As duas últimas eram dois banheiros incríveis de tão grandes, e as outras, um
estoque e um escritório.
— Banheiro feminino e masculino, — ele aponta. — esse aqui um escritório
que apesar de precisar de uma repaginada eu achei bastante legal... e aquela
outra porta... é um estoque.
Ele segue falando, eu entro na bagunça que era chamada por ele de escritório,
nas portas com os dizeres “W.C”, e assim por diante.
— É lindo! — eu murmuro na frente do espelho e abro a torneira que parecia
ser feita do puro ouro. — Obr..
—... chega de agradecer. — Vince resmunga no meu ouvido e eu posso vê-lo
invadir meu decote pelo reflexo do espelho.
Tinha um dia que já não descia mais pra mim, e eu não disse nada. Havia
dormido de absorvente e acordado limpa, mas guardei a informação pra mim.
Aquele pequeno detalhe podia ser um belo presente mais tarde. Eu tinha que
pensar em algo maravilhoso para retribuir tudo aquilo. Já transamos até
plantando bananeira, como inovar???
Agora eram duas da tarde, amanhã, domingo, teríamos um jantar com nossos
pais, amigos, e familiares; e na segunda-feira partiríamos para a Grécia. Logo
em breve eu me casaria com aquele delicioso e eu não via a hora de colocar
as nossas alianças. Vicente seria definitivamente meu e só aquilo era o
melhor dos presentes. Deus havia atendido minhas preces.
— Está bem... — eu sorrio fazendo-o largar meu seio esquerdo enquanto
chupava meu pescoço e eu me viro.
— Antes que você me ataque... retiro o eu disse com relação a me agradecer
de joelhos. — ele diz.
— Eu já estava pronta...
— Eu sei, mas estou ansioso demais, tem o segundo presente. Me agradeça
no dia do coquetel, quando você abrir o restaurante! Agora não... já me
agradeceu hoje de manhã.
— Quero agradecer de novo. — eu ameaço me abaixar, mas ele não deixa.
Não queria agradecer, só queria sentir seu gosto e pronto. Era tão bom chupá-
lo.
— Sossegue. Vem cá! — ele fala mexendo no celular e me leva pra fora. —
Você vai precisar se locomover daqui até em casa... chega de andar de táxi...
Vince diz, e ao contrário de antes, agora tinha um carro lindo de morrer atrás
do dele. Preto, brilhava na luz do sol e parecia luxuoso! O pequeno laço na
lataria deixava claro que era um presente, uma empresa de transporte havia
acabado de estacioná-lo ali.
— Aqui, senhor! — um rapaz uniformizado lhe entrega as chaves com uma
fita rosa de cetim como chaveiro e Vince as depositam em minhas mãos já
umedecidas pelo nervosismo. Eu nem sabia o que dizer. Não conheço nomes
de carros, mas aquele era lindo demais. Nem combinava comigo.
— Ok. Já chega, não é!? — eu resmungo nervosa e ele ri.
— Abra, veja se gosta!
Ele diz, eu olho pra chave, não vejo ponta alguma, não vejo entrada de chave
na porta e me sinto ridícula quando ele aperta o botão do chaveiro. Nisso a
porta do carona imediatamente destrava e eu entro, o carro era um sonho por
dentro, tinha até teto solar, era muito espaçoso, e o estofado caramelo parecia
daqueles carros que a gente só via em filmes e revistas. Era lindo!!!
— Pule pra lá, eu sento aqui... — ele diz, eu passo pro lado do motorista e
fico sem ar me imaginando dirigir aquilo. — Vou interpretar seu semblante
de pânico como felicidade.
Ele diz depois de minutos em silêncio, só olhando tudo.
— É... é lindo. Mas eu não dirijo. Eu não sei se você sabe, mas não tenho
carta.
— Isso já está resolvido. Vai tirar a sua carta quando voltarmos de viagem.
— Pensou em tudo?
— Sempre.
— Sabe o que significa você me dar um carro?
— Que eu estou afrouxando sua coleira e não vou mais poder ligar para o
taxista da companhia para saber por onde foi que você andou durante o
dia??? — ele pergunta olhando pra frente e depois me encara com aqueles
olhos de gavião, difíceis de descrever...
— Ok. — eu paro de me frear, pulo pro teu colo, e rapidamente ataco tua
boca.
— O rapaz da concessionária está do lado de fora... esperando pra... — ele
resmunga, puxo sua vara pra fora, e me sento. — você... acabou???
— Sim. — ele diz invadindo minha calcinha com a mão. Apostava que como
não sentiu o volume que o absorvente fazia, estranhou.
— Quando acabou??? — ele tenta me afastar, mas eu continuo o beijando.
— Hoje, acordei limpa... — eu digo e ele tenta argumentar, dizer alguma
coisa. O que ele queria falar naquele momento? — shhh... quieto!
— Filha da puta! Por que não me avisou??? — ele continua reclamando e eu
passo a rebolar pra ver se parava. E funciona.
Vince joga a cabeça para trás, revira os olhos, e eu ataco tua boca gostosa.
Ganho uma leve mordida no lábio inferior, sinto carro balançar
freneticamente, e não me importo. Eu estava com tanto tesão que perdi a
noção de tudo.
Estava com saudades...
— É assim que você se sente agradecida?
— É.
— Quero te encher de presentes...
— Por mim tudo bem... posso lidar com isso. — eu murmuro, ele puxa minha
cintura pra baixo com toda a sua força, e eu grito porque Vince maluco de
tesão, era a minha versão favorita dele. Meu homem gostoso
— Que delícia! — ele murmura e eu posso sentir o cheiro de seu perfume
delicioso em minha boca. Ele ergue meu vestido, vê minha intimidade o
engolindo por inteiro e eu rebolo, só pra ele ver... — Eu te amo, mulher! Te
amo muito!
— Ama?
— Sim!
— E isso? Você ama?
— Lara!!!
— Estou pagando direito?
— Porra!!! Para... eu... — Vince tenta avisar quando eu começo a pular sem
parar, mas não tem tempo. Faço-o olhar em meus olhos, me esfrego enquanto
ele goza, e eu chego lá logo depois, com minha testa colada na sua.
— Não respondeu minha pergunta...
— Eu não te vendi nada, não tinha que pagar nada... — ele responde com
dificuldade.
— Responda! Está pago ou não? Foi o suficiente ou falta muito???
— Foi mais do que o suficiente!
— Se contenta com pouco, doutor!!!
— Cale a boca!
— Eu só rebolei um pouquinho e já estamos quites...
— Eu disse cale a boca!
— Me faça calar!!! — resmungo de modo infantil, mostro a língua, e ele
revira os olhos.
— Vai tua doida, agora o cara está lá fora com cara de tacho por ver o carro
balançando. Tua maluca. Se ajeita e saia!
— Se arrependeu? — eu questiono enquanto ele fecha o zíper e faço um
carinho por cima da calça mesmo. — Não queria ter feito amor comigo aqui?
— Queria, mas que você é doidinha você é.
— E você não gosta?
— Eu gosto, agora para de me acariciar porque senão vou sair do carro de
pau duro, o que ficará muito confuso, pra outro homem quer dizer que eu não
consegui gozar e será estranho. Agora faça o que eu mandei, apague esse
fogo maldito! — ele rosna mesmo estando calminho e eu dou risada quando
ele sai.
Ajeito o meu vestido como posso, o vejo falando com o rapaz, saio do carro
já me sentindo tímida e respiro aliviada quando o rapaz nem me encara.
Achava que aquilo era algo que os homens tinham, quem sabe respeito pela
foda do parceiro? Talvez sim.
Os dois trocam algumas palavras, Vicente oferece uma caixinha gorda ao
rapaz, e ele sai feliz, todo sorridente.
— Ele viu, né!? — eu pergunto quando ele se aproxima abrindo a porta do
carro pra mim. O garoto pelo jeito ia dirigir meu presente e levá-lo para
algum lugar.
— É óbvio que ele viu. Eu disse que a caixinha era por seu bom trabalho e
discrição!
— Bom, deve ter sido a única vez que ele foi pago para ‘ver’ um casal
transando...
— Gosta disso? — ele pergunta colocando o carro pra andar e me olha
brevemente.
— De saber que ele viu?
— Isso.
— Não. Só fiquei feliz por ele ter sido discreto, mas... deveria ter me
controlado, isso não foi legal.
— Entendi... — Vince murmura sorrindo e permanece em silêncio até chegar
em casa, só me fitando de vez em quando. — Vamos nos enfiar no quarto... e
só sair pra comer... atéééé... — Vince me agarra após fechar o carro e eu me
derreto em seus braços, só me desgrudo dele quando a gente adentra a sala de
estar.
Tínhamos visitas.
Greg, Júnior, e Vitor conversavam na sala.
— Júnior! — eu o cumprimento e ele me abraça. — Oi, Greg!!!
— Como vai, Lara? Desculpe a invasão!
— Imagina! Ofereceram algo pra beber, pra comer? — questiono encarando
um Júnior sorridente e ele afirma.
— Minha mãe está preparando um lanche! Viemos ver o futuro noivo, mas
Vitor nos fez esperar...
— Vieram me ver? Pra quê?
— Precisamos de motivos especiais? Pensei que não. Vim conhecer o gêmeo
do mal, também! — Júnior responde e Vitor ri.
— Adorei esse menino. — Vitor diz e Vicente só balança a cabeça.
Possessivo.
— Tudo pronto para partir?
— Sim! Não vejo a hora de ser padrinho de um casamento grego... — eles
riem e eu me jogo no sofá para tirar aqueles benditos saltos com o olhar
zombador de Vitor pra cima de mim.
— Oi, Greg! — Vince cumprimenta o amigo com um aperto de mão e o
clima pesa.
— Eu virei até ter o seu perdão.
— Não tenho o que te perdoar! — Vince diz e se afasta. Se senta do meu lado
e parece mais relaxado do que cansado. Se eu alimentasse o bebezão, ele
dormiria o resto da tarde. — Qual a boa?
— Estamos combinando uma balada pra hoje à noite. Vamos? — Júnior se
senta ao seu lado e ele nega sorrindo.
O filho da puta ficava tão lindo sorrindo.
— Beber até cair, faz tempo que eu não faço isso! Só que não... — Vince
brinca e Júnior ri, óbvio. Ultimamente Vicente ficava tão bem perto do novo
amigo...
— Bebidas, música boa, mulheres nuas... — Vitor declara me encarando e eu
já fecho a cara no ato, o que o faz rir.
— Topo, por que não!? — Vince diz e me encara. — O que acha?
— Acho que você nem casou, e já quer ficar solteiro!
— É sério! Vamos...
— Talvez ela não tenha uma mente tão aberta assim... — Vitor provoca.
— Por que eu preciso ter uma mente aberta para sair pra beber?
— Não é uma boate qualquer... — Greg resmunga e eles riem.
— Como é? Mais prostitutas? — Vince pergunta e é Júnior quem responde.
— É uma casa onde acontecem coisas... — Júnior é misterioso e Vicente
encara Vitor na hora.
— Não!
— O quê? — eu pergunto e ele nega.
— Essas “coisas” se chamam sexo! — Vince me explica e na hora encara
Júnior. — E você não vai pisar em um lugar assim.
— E por que não???
— Você é... um garoto!!!
— Um garoto maior de idade e que paga as próprias contas.
— Mas ainda mora com a mãe. Se a Tia disser que você pode, você vai, e eu
tenho certeza que ela vai dizer um belo ‘não’ pra você! — Vince resmunga e
Júnior grita por Tia.
— MÃE!!!
— O que foi, menino? Tô com panela no fogo.
— Nós iremos sair hoje à noite, ok!? Eu, Vince, Vitor e o Greg!
— Você não tem um trabalho de conclusão pra entregar? Estava estudando
tanto...
— Pois é! Só quero relaxar um pouco... — Júnior parece outro homem
falando com a mãe.
— Uai, você quem sabe...
— Ele quer ir a uma boate onde rola... — Vince fica sem graça, mas acaba
soltando. — sexo explícito!
— Vai usar camisinha? — Tia pergunta fazendo geral dar risada. Que liberal!
— Porque eu não quero mais filhos por razões óbvias, continuo não querendo
cuidar de crianças, e nem de filho doente!
— Vou me cuidar mãe!!! — Júnior ri e então ela sai correndo para cuidar de
suas panelas. — Pronto, eu vou!
Júnior dá uma boa encarada em Vicente e o mesmo revira os olhos.
— O ideal seria levar um parceiro. É mais emocionante... — Vitor sussurra
pro Júnior.
— Eu sou solteiro, posso apenas beber, olhar...
— Ninguém sai de lá sem participar. Não é um lugar para um voyer... se você
vê, a vontade logo bate. É como uma droga. — Vitor fala como se fosse
expert no assunto, e eu tinha a impressão de que era.
— É obrigatório???
— Não. É um espaço isolado... é muito discreto. Não precisa entrar, mas se
entrar... — Vitor me encara. — ninguém é de ninguém. Eles pegam até sua
aliança, sua bolsa, documentos, celulares... tudo!
— Tenso. — Júnior murmura aflito e decide. — Quero ir.
Ele fala, Vitor ri animado, e Vicente nega preocupado.
— Vamos? — eu pergunto, ele me encara abismado, e os ânimos se exaltam.
— Se controla! Vamos para o bar, não vamos entrar!!! Precisamos mesmo de
uma noite ainda como “namorados”, mas nem fique curiosinha.
— Cem mil. — Vitor diz, Vicente o encara com o mesmo semblante e parece
inconformado.
— Dez mil. — Greg participa e todo mundo encara Júnior.
— Vinte conto e não se fala mais nisso. — ele diz e até Vince ri da cara dele.
— Vinte mil. O garoto está melhor que você Greg!!! — Vitor zomba.
— Vinte conto quer dizer vinte reais, cunhado!!! — eu falo e Vitor faz a
melhor cara pro Júnior.
— Meu Deus! — ele exclama e rimos juntos. — Ok. Eu não impus limite,
não tem problema... temos cento e dez mil e vinte reais que serão divididos
em três caso nosso casal dez entre na bagunça, que eu preciso ressaltar que
não tem nada de bagunça, é muito organizado. Ganho dez por cento além
porque ofereço uma oferta que cobre todas as outras. Fechado? — Vitor
encara Júnior e Greg, mas Júnior começa a tossir de repente.
— Espera... — ele limpa a garganta. — É real? Uma aposta real? Vou dar
vinte reais e sair com mais de trinta mil nessa brincadeira, se os dois entrarem
nesse lance aí???
— Sim!
— Ok. Vocês vão ter que entrar nessa!
— Não vamos entrar nessa. — Vince garante e Vitor arruma a postura no
sofá. Estava se divertindo.
— É um escritório após minha formatura! Trinta mil!!! — Júnior zomba e
Vicente encara Vitor.
— Por que isso?
— Diversão! Quero propor algo maneiro pro meu irmão e para meu novo
amigo aqui. Paguei um camarote privado... vai ser divertido... ninguém tocará
em sua futura noiva, eu não quero, Greg jamais faria isso, e bom, eu não sei
nosso rapaz dos vinte conto... mas ninguém tocará em ninguém... — Vitor se
explica, mas como era o Vitor... — a não ser que ela queira. NÃO, TÔ
BRINCANDO, TÔ BRINCANDO, TÔ BRINCANDO... MAMÃE!!! —
Vitor grita quando Vicente se levanta e nos faz rir. Quando minha sogra
adentra a sala Vicente senta ao seu lado e finge abraçar o irmão.
— Vocês não crescem???
— Só estamos brincando, mãe... — Vince diz com seu braço ao redor do
pescoço de Vitor. Ele ria demais, estava vermelho como um pimentão por
causa do apertão, confirmava o que o irmão dizia, mas se mantinha com os
olhos arregalados para a mãe. O gêmeo do mal definitivamente não prestava.
— Solta ele! Que brincadeira boba!!! Dois marmanjos!
— Vinte reais que quem sai chorando e chamando “a mamãe” é o gêmeo do
mal! — Júnior zomba e Greg concorda se acabando.
— Para... Vince... eu falei brincando!!!
— Retire o que disse!!!
— Tá retirado. Muito retirado. Bastante retirado! — Vitor garante enquanto
Vince ameaça enforcá-lo com uma chave de braço, assim que minha sogra se
retira nervosa.
— Melhor assim... — Vince diz, se senta cansado ao seu lado, e só encara o
irmão. Esperava e se preparava para mais uma gracinha. Qualquer bobagem
que Vitor falasse, Vince voltaria a atacá-lo. Dois crianções.
— Psiu! — Tia volta, me chama e eu a sigo.
Entro na cozinha e vejo Allana miando feito um gato e sendo amparada por
seus avós.
— O que houve? — eu pergunto e ela agarra em minha cintura na hora.
— Ela está assim desde sexta-feira... hoje sua sogra perguntou como ela
estava na escola, então começou a chorar sentida, não diz uma palavra... —
Tia explica e eu me ajoelho.
— O que foi, meu amor???
— Nada...
— Ninguém chora por nada, Allana!
— Eu choro!
— Bom, é verdade. — eu dou risada e ela fica ainda mais raivosa. — Eu
estou brincando. Me diga o que você tem que eu darei um jeito! Me conta o
que foi, por que está chorando assim?
— NÃO QUERO DIZER NADA!!! VOCÊ NÃO ME ESCUTA
TAMBÉM??? — Allana faz a sua birra batendo o pé e sai correndo. Quando
ameaço ir atrás, Tia me impede.
— Aqui... — ela pega um pedaço de papel amassado do alto do armário e me
estende.
— Tia encontrou isso na mochila dela! — minha sogra murmura tristonha e
eu desamasso o pedaço do papel que na verdade era um bilhete escolar. Um
convite para um café da tarde ‘das mães’ na sala social da escola. Resumindo
era um evento de mães com comes e bebes marcado pro domingo, de tarde, e
intitulado “Papo de mães e filhos”.
O papel estava todo amassado, sujo e rasgado.
— Eu vou lá. — eu só resmungo, não encontro Vicente na sala, então já
imagino que havia visto a pequena passando correndo e foi atrás. E acertei
em cheio.
Ele estava sentado em sua cama e Allana deitada de costa pra ele, escondendo
o rosto.
Entrego o bilhete judiado em suas mãos, ele lê, e seu semblante é mais de
decepção do que de surpresa.
— Todo ano é a mesma coisa. Seja bem-vinda á crise do ‘evento das mães’!
— ele murmura me entregando o bilhete e se levanta. — O problema é todo
seu, mais um presente incluído no pacote! Boa sorte! — ele diz com ironia, e
sai para que eu possa falar com ela de “boadrasta para enteada”.
— Vamos lá, sente-se! Vamos conversar sobre esse evento aqui.
— É evento de mães e você não é a minha mãe!!!
— Você anda tão repetitiva. Quantas vezes vai falar isso pra mim???
— QUANTAS EU QUISER!!! — ela grita e não me comove em nada. Vejo
a sombra de Vicente na porta e ignoro também. Pra ele o problema podia ser
meu agora, mas só que não muito. Aquele ‘problema’ que incomodava tanto
Allana era também seu ponto fraco. Odiava ver a filha sofrer por causa disso,
sofria junto, e odiava me ver triste por causa daquilo.
— Tudo bem. Então continue dizendo. Ótimo. Diga até envelhecer!!! Só que
eu espero que você veja o que faz quando insiste nisso. Enquanto diz que não
sou nada sua, que não sou sua mãe, que não devo me intrometer, como
sempre diz, eu continuo aqui. Continuo cuidando de você, me preocupando,
cuidando do que você come, veste, precisa, sua saúde, suas necessidades... te
dou atenção, amor, carinho, brigo quando você faz besteiras, e por aí vai! O
que uma mãe faz de diferente de tudo o que eu faço por você? Hum? Posso
não ser sua mãe, mas com toda a certeza do mundo você é minha filha! Não
importa se não foi da minha barriga que você nasceu, eu permaneço tentando
passar pra você todos os meus valores, o pouco que eu sei sobre a vida... eu
me casei com teu pai e tenho que lidar com teus problemas, tuas birras, tuas
falhas, as coisas que me diz que me magoam profundamente, tuas notas na
escola, estou sempre do teu lado até quando nem teu pai está, e eu estou
constantemente ao seu lado nos seus interesses quando ele te diz ‘não’...
porque você sabe muito bem que é pra mim que você corre quando ele não te
dá o que você quer, e eu sempre arrumo um jeito de conseguir. Eu estou
sempre do teu lado, eu já abri mão de muita coisa para que você tivesse o que
queria, então eu sinceramente acho que você é sim a minha filha, e uma filha
muito mau criada por sinal!!! Filhos fazem isso, eu fazia isso com a minha
mãe e com meu pai. Sou importante quando você precisa, você me ama
quando você precisa, mas isso dura até a próxima vírgula, não é!? Pra ir na
sua escola eu não sou nada tua, não sou ninguém, sou apenas a sua babá, a
sua diarista, e às vezes boadrasta. Isso porque eu acho que você não é a
rainha das enteadas, sei que não é só você que tem padrastos e madrastas na
sua escola. Mas com você é diferente, não é!? Você queria a sua mãe aqui,
seu pai com toda a certeza do mundo queria também, eu sei, mas eu estou
aqui, vocês deveriam se contentar comigo!
— VAI EMBORA!!!
— Não. Eu prometi pra sua mãe que cuidaria de você, então a não ser que seu
pai termine o nosso relacionamento, eu ficarei aqui, e olha, pelo jeito que o
barco navega, nem assim deixarei de cuidar de você, sabe por que? Porque
pai é quem cria e isso vale para a mãe também, e principalmente, mãe que é
mãe não abandona seus filhos quando se separa do marido. Você pode não
me considerar, me chamar de Lara, madrasta, boadrasta, a chata, a mulher
que roubou teu pai, qualquer coisa do tipo, mas eu tenho esperanças de que
sua visão a meu respeito mude quando você crescer, e eu acho que vai. Você
vai amadurecer, vai entender que eu não estou aqui tentando roubar o lugar
dela. Sua mãe tem um lugar no seu coração e isso ninguém pode tirar de você
e eu nem quero que ela saia daí, mas na minha casa ela não tem lugar. Esse é
o meu lugar. E é por isso que eu vou nesse evento, eu farei o meu papel, eu
continuarei cuidando de você até você usar bengalas e poder escolher se me
quer por perto porque você terá idade o suficiente para entender as coisas.
Agora até lá, será bom você me respeitar, não só quando precisar de mim
para alguma coisa! — eu desabafo, faço uma prece para que ela entenda onde
eu quero chegar, mas não adianta muito.
— Vai embora daqui! Você é uma bruxa!!!
— Ok. Eu vou. Mas eu vou porque eu quero e porque você não sabe
conversar. Vou porque você não quer conversar comigo! Espero que tenha
consciência disso!
— ENTÃO VAI!!! AGORA! — ela grita de novo, eu saio e encontro o seu
‘pai de verdade’ todo tristonho.
Fecho a porta atrás de mim, invado seu espaço pessoal até que ele se afasta o
suficiente, eu espero por um sermão gigantesco por ter me irritado com
Allana, mas como isso não acontece, eu desço. Estava cansada demais.
.— O que ela tem? — Vitor pergunta assim que eu me sento.
— Terá um evento amanhã de tarde na escola, evento de mães. Não queria
contar pra ninguém e está triste porque não tem a mãe aqui para levá-la.
— Como se sente com isso? — Júnior pergunta e eu nego.
— Cansada de fazer tudo o que uma mãe faria e não ser mãe. Eu passo pelo
mesmo problema, mas no fim, sou a madrasta, boadrasta, diarista, passadeira,
cozinheira, lavadeira, administradora, amante, esposa, bruxa, menos mãe. —
eu digo, Vitor ri alto, e Júnior o encara com bom humor.
— Você definitivamente é mãe, Lara! — ele diz pra mim e eu respiro
pesadamente.
— Acho que não tenho vocação nenhuma. Talvez Nanda é quem deveria
estar aqui. Eu disse a ela que não, que Nanda tinha que ter um lugar em seu
coração, mas eu tinha o meu lugar nessa casa, era meu direito, mas eu devo
estar errada. Nanda não deveria ter partido, ela se foi e machucou essa família
de um jeito irreparável. Eu não posso fazer nada, e nem mudar nada.
— Nanda com certeza não reclamava tanto de mim... — Vince chega de
repente, diz, se senta ao meu lado e eu confirmo.
— Ah! Com certeza ela era perfeita!!! — eu ironizo e Vitor ri alto.
— Ela era uma boa esposa... — ele rebate. — era obediente pelo menos.
— Certo, então casa com ela! Só sua memória está mais viva do que eu!!!
— Olha a moça da boquinha tão gostosa, falando tanta besteira. — ele
resmunga, Vitor se diverte mais uma vez, e na base da força, ele me coloca
no seu colo e me abraça querendo dengo só por causa da tristeza, porque sim,
Vince estava triste pela filha, e por isso relevei.
— Em falar em boquinha gostosa, nós iremos ou não? — Vitor muda o
assunto e Vince balança a cabeça.
— Em falar em balada de putaria, você ainda não me disse quando sua amada
misteriosa chega. Gosta de apostar, mas não é muito fã de cumprir com sua
palavra... combinamos de...
— Amanhã. Pro jantar! Já mandei as passagens, está saindo de Nova York
agora! — ele diz e eu não sei Vince, mas eu não sabia dizer se ele falava sério
ou não! Não podia dizer... mas que eu estava ansiosa, ah! Estava!!!
CAPÍTULO 9

SAINDO DA ROTINA

— Esse! — ergo a lingerie vermelha da gaveta e ela se vira pra mim. Ainda
estava de roupão, tentava encontrar algo pra vestir fazia meia-hora.
— Achei que você gostava mais de lingerie preta! Pelo menos era o que me
dizia.
— Eu amo. Quase nunca te vejo com vermelha... mas... por que está se
preocupando com isso? Não vai cair na dele, não vamos entrar lá.
— Você já foi? Alguma vez?
— Já. Uma. Há muitos anos atrás.
— Então... como é??? Me conta! Se a gente não vai entrar, me diga como é o
lugar... — Lara se mostra totalmente interessada, eu respiro fundo, e ela até
se senta para me ouvir... eu só queria saber o porquê de todo aquele interesse.
— Se ele estiver falando exatamente do mesmo lugar que já fomos, é uma
balada bem frequentada, tudo muito bonito, caro, e requintado. Tem muita
gente bonita, gente importante, mulheres atraentes, homens de negócios.
Você sabe... o espaço que acontece tudo fica no fim de um corredor isolado.
Você pede sua entrada na mesa, ganha uma pulseira, eles recolhem seus
pertences e aí você entra quando decidir. Ali você entra e sai quando quiser.
Há algumas cabines, variam de tamanho, estilo, design... quando fui escolhi
uma sala com mais casais. Parece muito uma sala comum, privada e social,
com sofás grandes e confortáveis, tudo mal iluminado, uma mesa com
bebidas diversas, comes e bebes... muita gente entra para conversar direto lá.
Às vezes o casal do seu lado está apenas conversando, se beijando, e em
outras, estão transando do seu lado. Tudo é na base da conversa. Às vezes
chegam em você, te convidam, te olham, te paqueram, você escolhe se dá
abertura ou não. Na real é bem tranquilo no primeiro momento...
— Não tem aquele ‘mala’ que fica insistindo, não rola assédio???
— Assédio rola em qualquer lugar, quando é assim você denuncia para a
administração, sai de perto ou muda de sala. Claro que não é bem um lugar
pra uma mulher ir sozinha, eu acho... mas, não é um bicho de sete cabeças.
— Tipo, estaríamos conversando... — Lara pensa em voz alta. Parecia estar
longe... — vendo um cara bem ali fodendo uma mulher deliciosamente... aí
eu fico excitada com aquilo, olho pra você, você me olha...
—... mais alguém te olha, te deseja, eu fico puto...
—... aí eu fico molhada, me sento no teu colo... — ela continua e se senta no
meu colo “para demonstrar”. — coloco tua vara gostosa pra fora, me sento,
cavalgo enquanto recebemos olhares maliciosos, e ninguém nos manda parar
por ser um local indevido. É isso???
— Você quer ir, não é!?
— Só estou curiosa.
— Você quer ir.
— E isso é um problema? Querer experimentar coisas novas?
— Tu quase quis morrer só de saber que o rapaz viu o carro balançar.
Perguntei se essa ideia te agradava e você negou, por que mudou de ideia?
— Não sei, Vince. Relaxa! Se não ficar à vontade, ficaremos do lado de fora
enquanto os três se divertem...
— Podemos sim, nos divertir apenas bebendo, conversando, matando a
saudade de falar sobre nós, sobre como nos conhecemos, fazer planos, ou
apenas nos olhando sem falar uma palavra. Ou eu estou te deixando
entediada?
— Se entrarmos lá, Júnior ganhará trinta mil! Vai comprar seu consultório! É
um bom dinheiro pra ele... — ela diz abrindo o zíper da minha calça.
— Podemos dar um lugar pra ele, de presente, ou trinta mil para que ele fique
em casa e não se meta nessa. Vejo o moleque como uma criança, é muito
novo pra essas coisas. Eu sabia que logo Vitor iria corrompê-lo. Precisava
levar o menino pra um lugar desses?
— Eu quero! Quero ver! Quero participar. — Lara diz decidida e eu não
entendo.
— Quer transar? Podemos fazer isso agora, é só abrir meu zíper!
— Isso é simples. Já fiz isso hoje! — ela sorri e se levanta. Vai até a gaveta e
levanta a lingerie preta. — E eu vou com essa... por que eu sei que você não
gosta de peças vermelhas tanto quanto gosta de pretas, sempre pede pra eu
colocá-las quando a gente sai e eu sei que você só pede quando já planeja
uma foda bem louca! — ela diz, eu balanço a cabeça e me canso. Ameaço
sair, mas ela não deixa. — Eu quero te dar tudo... quero ser o suficiente!
— Você já é, Lara!
— Quero ser mais. Muito mais do que o suficiente!
— Seja aqui. Seja agora. Eu estou aqui.
— Só vamos tentar algo diferente. Gostei da ideia, quero experimentar.
— Você já disse que quer. Quero saber agora, se eu estou sendo suficiente.
— Está e muito! É por isso que eu quero te oferecer muito mais. Quero te
satisfazer de diferentes formas, como nunca antes...
— E eu estou te dizendo que não precisa. Que você já é ótima assim, do
modo clássico. É uma safada bastante discreta e eu amo isso. Assunto
encerrado!
Eu digo e saio antes que a gente discuta por bobagem.
— Mãe? — entro na cozinha e encontro Vitor e Greg comendo, Tia sentada
parecendo jogar conversa fora com ela, e só... — Cadê meu pai? Allana?
— Saíram. Ele quis tirá-la um pouco do quarto, ainda estava chateada. Quer
alguma coisa...?
— Quero comer desse lanche aí também...
— Lara não vai descer?
— Vai, ela acabou de tomar banho, já vai descer. — eu acho. — Cadê o
Júnior, Tia?
— Foi se arrumar. Vê se cuida do meu menino, hein.
— Vou cuidar de ninguém. Quem mandou autorizar???
— Eu cuido, Tia! — Vitor diz e ela o encara zombando.
— Você não cuida nem de você. Aposto que a ideia foi toda tua.
— Ideia do quê? — minha mãe pergunta e Vitor ri.
— Vamos para uma balada... apenas isso. — ele fala e me encara quase
implorando para eu não dizer nada, mas Tia como sempre bocuda...
— Vince me disse que é uma balada onde rola sexo explícito.
— COMO É??? — minha mãe engasga, Vitor lamenta, e eu dou risada
comemorando o esporro e rindo da cara dele. Ela gritou com Vitor até o
momento em que ele entrou no meu carro.
(...)
— Caraca, eu tô muito animado!!! — Júnior resmunga no banco de trás e
Vitor ri.
— O que vocês faziam antes de eu chegar, hein???
— Com certeza coisas completamente diferentes.
— Vince, pare de fingir ser puritano. Se não quisesse ir, tinha ficado em casa!
— Eu não finjo ser puritano, Vitor! Eu apenas cresci. Eu estou indo porque
você quis, você me chamou, e Lara e eu não saímos há bom tempo. É uma
espécie de despedida conjunta. Só que essas coisas não me satisfazem mais.
Você parece um adolescente para escolher “noitadas”, por mim íamos a um
bom restaurante que Lara ainda não frequentou e pronto.
— Gosto de sexo, balada boa e rock androll. Isso não é uma coisa de
adolescente! Todo mundo gosta!
— Eu odeio rock! — Júnior exclama e eu o encaro pelo retrovisor. O que
aquele garoto tinha?
— Você deu alguma droga pra esse menino? — eu questiono e não sei
porquê, mas todo mundo ri. Até Greg que estava em silêncio parecendo se
perguntar o que fazia ali sendo que eu continuava me recusando a falar com
ele.
— Vince, eu estou bem! Estou apenas animado... — ele bate no meu ombro
enquanto eu dirijo e eles riem de novo.
Vejo Lara sorrir tentando se controlar e concluo que eu estava “chato” por
demais. Ela segurava o riso assim quando eu estava com “cara de poucos
amigos”, estressado, ou qualquer coisa do tipo. Mas eu não sabia ao certo o
porquê estava tenso. Talvez fosse porque já tinha ido até aquele lugar, não
quisesse que Lara entrasse lá... não sabia dizer. Mas, o problema não era
aquele problema. Ali, com Vitor fazendo todos rirem o tempo todo, e todo
mundo “me mandando relaxar um pouco” o tempo todo, eu consegui
perceber parte de um problema que até então eu não havia notado. Era raro às
vezes em que eu fazia Lara sorrir daquele jeito. Bom humor não era meu
forte, sorrir demais não era uma característica minha, eu nunca soube contar
piada, odiava forçar simpatia porque até meu maxilar doía, resumindo, eu era
um chato. Mas Vitor não... Vitor era... o meu lado cheio de vida, alegria e
bom humor. Tudo o que eu não tinha.
E com isso, enquanto dirigia, eu não ouvia mais suas brincadeiras e nem a
transformação que ele fazia em Júnior, ou na animada que ele dava em Greg
propositalmente, porque Vitor e todo mundo havia notado que Greg estava
triste por minha causa... não... com isso eu me lembrava agora, da Lara.
Aquela Lara. A garota que precisava colocar a mão na boca pra sorrir porque
não se aguentava, e eu não gostava de vê-la tão radiante enquanto eu só
oferecia minha escuridão. Aquela Lara que amava uma gracinha, uma
piadinha, e me deixar sem graça, porque apesar de odiar ficar rindo feito
bobo, era a única que conseguia tirar o máximo de mim, tipo quase nada.
Aquela Lara era definitivamente a “cara-metade” dele. Não sabia se eles
sabiam, mas, era demais a outra parte que faltava pra ele. Seriam perfeitos
juntos... ela tinha a ousadia que ele sempre amou nas mulheres, e ele tinha a
alegria de viver que ela sempre desejou ver em mim, mas nunca viu...
pareciam ter sido feitos um para o outro.
Agora... será que só eu notei aquilo? Ou todo mundo ali notava isso? Será
que Júnior após dez minutos de papo com Vitor, o encarou e pensou
exatamente nisso? “Meu Deus, Lara errou de irmão... Vitor é a cara
dela...”?Será que pensavam naquilo pelas minhas costas? Será que ela
pensava naquilo? Será que desejava que eu fosse pelo menos um pouco como
ele?
Ao pensar a respeito, não posso controlar a dor no meu coração, mas engulo a
bile e abstraio. Era maluquice a minha, neurose, implicância... mas fazia tanto
sentido, mas tanto sentido, que todo o meu corpo ardia só de pensar.
Doía muito.
Eu a encaro brevemente e continuo tentando focar na estrada.
— Tudo bem? — ela toca minha perna com carinho de repente e eu afirmo
com a cabeça.
— Tudo, claro! — eu resmungo baixinho, ela aperta o seu carinho que
poderia significar muita coisa, mas eu não entendo. A dor por ter pensado
naquilo, não passava.
Uma hora péssima pra ficar deprê!
Respiro pesadamente, volto a escutar uma cantoria no banco de trás, e
estaciono na frente da boate que eu só descobri depois que era realmente a
que eu já tinha estado uma vez.
Lara não me espera sair e desce assim que eu desligo o carro. Vestia um dos
vestidos que ganhara de surpresa em algum momento de nosso
relacionamento, mas nunca havia usado antes. Nunca usou comigo...
Era preto, colado até o meio das coxas, e sem nenhum detalhe, tirando o
gigantesco decote que deixava praticamente todo o seu seio pra fora, e o
tecido fino que evidenciava suas curvas perfeitas demais.
Carregava uma bolsa parecida com uma carteira, havia deixado seus cabelos
cumpridos soltos, pela segunda vez usava um batom vermelho-vibrante, e eu
entendo que o momento pedia aquela produção, estava muito linda... mas
naquele momento só o que eu pensava era no quanto eu a queria em casa,
descabelada, sem maquiagem alguma, com algum de seus vestidos de
“menina-da-roça-muito-sexy” ou apenas minha samba canção ou calcinha e
camiseta.
— Você está bem mesmo? — ela me faz parar enquanto os três mosqueteiros
ignoram a fila e entram de uma vez pela porta da frente da boate badalada.
— Estou.
— Não parece. Quer ir pra casa? Não gosto de te ver desse jeito. Se você não
vai se divertir, pra mim não vale a pena estar aqui.
— Acha que ele combina mais com você do que eu? — eu questiono e vejo
que os três travaram na porta ao notarem nossa ausência.
— Ele quem???
— Não faça a maluca... não menospreze minha inteligência.
— Se está falando do seu irmão, pode acreditar que com certeza, NÃO! —
ela se altera, mas depois respira fundo. — Vince... se eu quisesse um cara
completamente diferente de você, não estava com você. Um bom exemplo é
Júnior. O conheci primeiro, eu o adorei, e você não viu o quanto ele e teu
irmão se deram bem? São farinhas do mesmo saco, bobões, brincalhões,
sorridentes... são dois homens bonitos, sim, mas completamente diferente do
que eu idealizei pra mim. Odiei e me senti nauseada quando cheguei perto do
teu irmão, e quando vi Júnior, o achei lindíssimo, porém, tive certeza
absoluta de que seríamos melhores amigos e apenas isso. Eu jamais ficaria
presa em um relacionamento que eu não me encaixasse... terminaria contigo
se eu tivesse a certeza de que você não é pra mim.
— Hoje pareceu que teve essa certeza. Reclamou de mim e da Allana pra ele.
— Lidar com a Allana está cada vez mais complicado, mas não reclamei
dela, reclamei da situação, eu amo aquela menina. Ela está crescendo, ainda
sente falta da mãe que está estampada nas fotografias, nas histórias que você
e seus pais contam, é normal, ela é órfã. Mas eu a amo! E eu te amo, amo por
completo. Amo seus defeitos e suas qualidades. Vamos nos casar, esse não é
o momento pra você ficar inseguro comigo, porque se está, tem algo errado.
Tem algo que você precisa consertar antes de me fazer a pergunta na frente
do padre ou do juiz, sei lá. Porque eu estou totalmente certa e confiante na
minha decisão, mas se você não está...
— Eu estou!!! Quer dizer... — eu engasgo e ela fica péssima por notar minha
confusão. — é que... você sorri o tempo todo quando está com ele, você...
fica radiante...
— É óbvio, ele é um idiota, só fala bobagem o tempo todo, tem a alma de um
adolescente. Todo mundo que fica perto dele vê isso, até você! E tem mais,
sabe o que é engraçado!? Eu te faço sorrir o tempo inteiro e você pelo jeito
nem nota. Agora eu tive certeza, você nem nota. Só muda quando tem gente
por perto, mas quando está sozinho comigo, sorri com minhas bobagens e
gracinhas o tempo todo. Vince os opostos se atraem e no nosso caso, se
atraem completamente. É você quem eu amo, é você quem eu desejo, e você
insinuar que eu queira, goste ou deva ficar com seu irmão e não com você, é
um tanto quanto nojento e desrespeitoso!!!
— Eu só não quero te ver infeliz. Não gosto do que vejo, não quero mais te
ver esconder o sorriso daquele jeito. Não quero que só descubra depois que se
casou com o gêmeo errado, porque... meu Deus... vocês parecem que são
metades que se desencontraram nessa vida. Allana te deixa magoada o tempo
todo, eu estou fazendo isso agora no meio da rua, em uma hora totalmente
inapropriada e... me odeio por isso. Me odeio por te fazer mal, por te fazer
sofrer e se sentir mal o tempo todo.
Eu digo enfim porque já que comecei com aquilo eu queria terminar. E
também não me sinto cem por cento culpado, eu só toquei no assunto porque
ela questionou, Lara insistiu em querer saber se eu estava bem. Não eu.
Talvez eu tivesse deixado aquilo passar. Se bem que eu achava que minha
cara estava definitivamente carrancuda e isso a incomodou demais. Isso não
ia mudar.
— Eu sou perdidamente apaixonada por você, fissurada por você,
completamente maluca por você. Eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida
como sou agora, só por saber que vamos nos casar e você será oficialmente
meu, totalmente meu. Meu marido! — ela diz e sorri. — Meu sonho, desde a
primeira vez em que eu te vi, foi ter uma vida com você, me casar, te dar
filhos, cuidar de você. Era “meu sonho de princesa”. Eu pedi VOCÊ pra Deus
assim que eu te vi. E isso, Vince, não mudou. Nada me dá mais tesão do que
essa cara amarrada, essa falta de bom humor, esse porte de homão ruim!!! —
ela diz e ri sozinha. — Ok, eu não gosto de te ver triste, e não gosto do seu
descontrole às vezes, quando briga comigo por bobagem, mas eu estranho
quando você está feliz demais ou sorrindo demais, porque eu sei que esse não
é você! Não há nada que eu queira mais do que ter você pra mim. Com filha
rebelde que às vezes me odeia, insegurança, ciúme em excesso, mania de DR
em qualquer lugar e até na frente de balada, drama em modo ‘força total’,
controle, seriedade, formalidade, grosseria, e eu já falei “ciúme bobo em
excesso”? Só que... — ela diz e dessa vez sou eu quem sinto meu coração
falhar. — não dá pra ficar tendo que forçar tudo isso, forçar você a acreditar.
Eu te amo mais do que tudo no mundo, de qualquer jeito e é você quem eu
quero, mas se até o fim da noite, você não ter certeza disso, minha resposta
para seu pedido é não. Não aceito me casar com você se você não consegue
acreditar no meu amor, muito menos se você permanecer pensando que eu
desejo ou que eu combino mais com seu irmão, porque isso é um absurdo e
não faz o menor sentido, portanto faça-me o favor! — ela resmunga e respira
fundo, me beija me olhando nos olhos e pega em minha mão.
— Você acha que eles pensam nisso? Que eles pensam nessa possibilidade
pelas minhas costas?
— Sobre eu “combinar mais com ele”?
— Sim.
— Não. Sinceramente não. Greg sabe o quanto a gente se ama, entende o
quão grande é o nosso amor, mesmo porque eu tenho certeza que ele nunca
pensou que te veria com outra mulher e aqui estou eu. E o Júnior conhece
nossa história melhor do que ninguém, sabe dos nossos problemas, mas
também sabe do quanto a gente lutou para estar juntos. Sabe do quanto você
me ama, te conhece e me conhece muito bem, sabe que somos
completamente apaixonados. E agora seu irmão... vou ser sincera com você,
o lance dele é provocar. Ele não leva nada e nem ninguém a sério, apenas
gosta de se divertir com a minha confusão. Vê que eu ainda estranho o quanto
vocês são demais parecidos. Gosta de me deixar encabulada, zomba de mim,
te alfineta como hoje, mas eu sei, olha pra mim, eu sei quando um homem me
deseja. Eu posso ser uma menina ainda, pra você, mas eu sei que sou bonita,
sei que tenho um belo corpo, e sei que posso provocar um homem só estando
no mesmo ambiente que ele. Vince... o Greg, o Júnior e seu irmão, amam
você e não desejam me comer. Ambos me acham bonita e bem gostosa, mas
nunca, nenhum dos três jamais me olhou com malícia! Greg só está aqui por
você, pra ter seu perdão não sei porquê, porque você não me contou o que
houve então suponho que envolva tua ex. Júnior continua me considerando
sua melhor amiga apesar de eu achar que ele também está aqui por você e não
por mim, já faz um bom tempo que “ele está aqui” — Lara faz um círculo
com o dedo indicando “nossa roda” ou “nossa vida”. — por você e não por
mim, e teu irmão... bom... o tempo vai passar e ele continuará fazendo as
gracinhas dele comigo porque é assim que ele tem sua atenção e ele é desse
jeito desde sempre. Mostre a ele que ele não precisa disso, e seja o amigo que
seu irmão precisa. Nenhum dos três supre sentimentos por mim ou pensam
que eu escolhi o gêmeo errado. Aposto um rim nisso!
— Essa aposta... notou que ele pagou cem mil pra receber trinta de volta?
Isso faz algum sentido pra você?
— O que seu irmão mais preza na vida é encher o seu saco, chamar tua
atenção, e dinheiro! Pensa. Ele sabe o quanto você é possessivo comigo,
supostamente jamais iria me expor a esse tipo de coisa. Ele não acha que vai
perder dinheiro, mas se perder, vai nos ver transando sem você poder falar
nada, o que é a cara dele, e de quebra dar um bom dinheiro pro Júnior. — ela
diz e dá risada. — Naquela semana das massas na faculdade, a Tia chegou e
me encontrou cozinhando. Sabe o que ela me disse? Que o Júnior estava em
um grande dilema, aceitar ou não o chegue gordo que você ofereceu a ele,
por causa das “consultas” que você teve. Sim, ela pegou o cheque, e
depositou na conta dele escondido. Quem conhece o Júnior quer ajudá-lo,
você é a prova disso, a Tia me contou que quem pagou a faculdade dele não
foi ela, foi você! Aposto que eles conversaram, aposto que ele contou do
sonho de abrir o consultório dele, ou você acha que um CEO de uma grande
empresa de INVESTIMENTOS em Nova York vai apostar por uma bobagem
colocando cem mil na banca enquanto seus parceiros dão dez mil e vinte
reais??? E que raio é esse de aposta que se você perder, ao invés de VOCÊ
pagar, ele divide o dinheiro entre eles? Seu irmão sabe que o Júnior é alguém
muito importante pra você, e conquistar Júnior, é ganhar mais um pedaço do
seu coração e de sua confiança! — ela diz e parece tão certa que eu fico bobo.
— Você me parece perspicaz. Cada dia que passa mais espertinha fica.
Aquela garota que ficou de quatro na minha sala não existe mais...
— Está com saudade dela? — ela pergunta e envolve meu pescoço com seus
braços. — Hoje ela pode voltar pro senhor...
— Quero ela em casa, só pra mim, pra ninguém mais.
— Então vamos entrar e curtir uma das últimas noites como namorados que
moram juntos. Quanto mais rápido a gente sair daqui, mais depressa estarei
sobe sua posse, sem essa maquiagem, sem esse cabelo arrumado, sem esse
vestido que mostra tudo o que você não gostaria que vissem, e sem estimular
homem algum.
— Talvez eu mude de ideia. Talvez eu queira que olhem bem pra você.
Porque quando eu colocar essa aliança...
— Nada vai mudar. — ela me interrompe e eu vejo Júnior se aproximando.
— Você é ciumento e ponto. Nem uma aliança no meu dedo vai te deixar
seguro porque você acha que eu poderei esbarrar com alguém “melhor” por
aí, mas é aí que está... você não sabe, ainda, mas vai descobrir que homem
melhor do que você, capaz de te superar... nunca vai existir! Você-é-o-
melhor-e-o-mais-gostoso-que-existe! — ela cola sua boca na minha pra falar
e sorri como se nada tivesse acontecido quando Júnior chega e coloca a mão
na cintura, impaciente.
— Precisam de ajuda??? Vamos logo.
— Chegou o mister animado!
— Eita! Crise de ciúmes??? — ele questiona Lara, ela ri e ele volta a me
encarar. — Pare com o drama! Sabe que eu ainda prefiro você! — ele
murmura e nos faz voltar a andar...
— Não me diga?
— Juro!
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que prefere a mim? — eu pergunto enquanto caminho com uma Lara
extremamente bem humorada ao meu lado. — Meu irmão é bem legal e
divertido. Diferente de mim, tipo bem o oposto, então por que a mim?
— E desde quando a gente pode escolher quem a gente ama? Desde quando
temos controle? É você e pronto. — Júnior resmunga rápido demais
prestando atenção nos carros que chegavam ao estacionamento da calçada e
Lara sorri torto fazendo o círculo com o dedo e me encarando como se
dissesse “Viu?”
Deus.
— O que houve, irmão? — Vitor segura em meu ombro e se aproxima
demais. — Insegurança? Nervosismo pré-nupcial? Vamos beber até sairmos
daqui carregados!!!
Ele invade meu espaço pessoal assim que eu me aproximo da mesa que ele e
Greg haviam escolhidos, estapeia minha face, gargalha, e eu abstraio.
Uma música alta e animada tocava pelos flancos de toda a boate iluminada.
Não estava lotada como eu me lembrava, mas... eu sabia que não estava
porque simplesmente liberavam a fila de fora aos poucos. Vitor e seu
prestígio nos permitiram entrar sem muitos problemas.
— Vamos beber o quê? — Júnior logo pergunta e Greg encara Vitor já
esperando pela pérola.
— Eu escolho sua primeira bebida. — ele diz, faz sinal para uma garçonete
que parecia estar economizando no uniforme e só aguarda. — Como vai,
Maria!?
— Eu vou bem, doutor Vitor... quanto tempo! — ela responde sorridente e
joga as mechas lisas e douradas para trás. Devia ter a idade de Lara, ou um
pouco mais.
— Muito... muito trabalho, mas estou de volta por um tempo... então, eu
quero pro meu amigo aqui, o Leite Cubano... — ele fala com a loira peituda,
mas é para mim que ele olha. —... é daquele jeito, é a primeira vez dele aqui.
Quero aquele toque caprichado de amor que só você sabe fazer!!!
— No que consiste esse toque? — eu questiono e a loira sorri pra mim.
— Mais Leite Moça e Leite de coco que é recomendado, e um jeito diferente
de experimentar o primeiro gole! — ela diz, pisca, Júnior esfrega uma mão na
outra morrendo de empolgação e eu consigo rir daquilo.
A loira sai, Vitor me encara do seu jeito familiar e sorri aquele sorriso que
sempre me oferecia quando ia aprontar. Eu o conhecia melhor do que
ninguém.
— Como é hein, esse jeito? Fala aí!!! — Júnior puxa a cadeira e se debruça
na mesa.
— Relaxa, você vai amar! Não se preocupe!!! — Vitor ri, outro garçom se
aproxima e recolhe nosso pedido enquanto Maria preparava o drinque
especial do Júnior, e também se retira. — Irmão, é como se fosse sua
primeira vez, você também tinha que experimentar a maravilha da Maria!!!
— Não, muito obrigado! — eu não aguento e dou risada do bico que a Lara
faz pra ele. Era bom ela provar daquele veneno, já que o defendia tanto...
— Aqui está. — Maria se aproxima, passa por mim e por Lara para chegar ao
Júnior que estava ao meu lado esquerdo, e eu seguro a respiração. Eu não
tinha a menor ideia do que a mulher ia fazer com o moleque.
Ela se aproxima deixando o rastro de seu perfume de frutas no ar, arrasta a
cadeira dele, se senta no seu colo como se fosse cavalgar nele ali mesmo, e
Júnior parece em transe ao vê-la beber do seu copo. Ela dá um gole, parece
segurar na boca, e depois o beija “como se não houvesse amanhã”.
Um beijo aparentemente calmo, tímido da parte dele no início... mas depois
tudo muda.
O moleque aperta suas mãos no traseiro da vadia, junta seu corpo no teu;
Maria solta o copo em cima da mesa e segura em sua nuca, e o beijo
bonitinho que quase gritava amadorismo barato, vira um beijão de cinema
que jamais pensei que veria fora das telonas. Porque eu não sabia se eu
beijava Lara naquela intensidade, achava que sim, não podia dizer com
clareza simplesmente porque perdia a razão quando a beijava, mas daquele
jeito, naquela intensidade, só presenciei beijos cinematográficos. Se o filho
da puta não mandou colocar amor com algum químico no copo do garoto,
havia rolado essa química entre eles. Estavam completamente entregues e a
brincadeirinha virou coisa séria pouco tempo depois.
Vitor me encarava, Greg parecia um pimentão apesar de anteriormente botar
banca com Vitor insinuando que safadeza era com ele mesmo, e Lara só
sorria e me encarava sem graça.
— Ok. — Júnior dá uma segurada nos ânimos e Maria parece desnorteada,
mas logo se recompõe e sorri maliciosamente, voltando para a personagem
que Vitor contratou. Ambos respiravam com dificuldade e se apoiavam um
no outro para voltarem a si. Nenhum dos dois ainda pareciam perceber que
nós quatro estávamos os encarando.
— É. Você... é muito gostoso, hein! — ela diz e eu lamento muito estar
ouvindo aquilo. — Estou impressionada.
— Você ainda não viu nada, baby... — Júnior resmunga fazendo uma voz de
dublador de filme pornô de propósito e todo mundo ri, até a loira safada. Só
nessa hora percebo que ali, a música não estava tão alta assim, nós quatro os
ouvíamos.
— Entendi. — ela murmura o encarando com bom humor e a troca de olhares
dos dois é inenarrável. Tensão sexual gritante. — Caso você decida ir para
um lugar mais reservado... — ela diz, pega papel e caneta de seu avental de
fetiche e anota seu número. — me envie uma mensagem. Eu estarei lá. — ela
fala, pisca, ele sorri, ela levanta devagar fazendo com que sua barriga
chapada fique na altura de sua boca, e com isso vejo Júnior segurar a
respiração e olhar pro lado como se “não pudesse trair ou não quisesse trair
uma esposa que o esperava em casa”. Seu movimento foi estrategicamente
pensado para excitá-lo e ele sabia disso, havia funcionado.
— Ok. — ele volta a arrumar sua postura na mesa, e encara Vitor. — Quanto
custou esse beijo???
— Eu paguei para que ela desse uma rebolada enquanto passava um gole do
drinque pra sua boca. Isso é o que ela e suas amigas sempre fazem. Não a
paguei para te dar esse beijaço! Elas nem podem beijar clientes! — Vitor diz
e ri. — Aliás, se você tivesse bom senso, saberia que garota de programa não
se beija na boca.
— Ela é puta???
— É!!! — Vitor exclama e Júnior fica claramente desanimado com a
informação. — Esse lugar, aquele corpo, aquela flanelinha, avental, meia
rastão...!? — Vitor declara e Júnior nega.
— Nem toda garçonete é puta! — Júnior resmunga e o garçom ri.
— As daqui são! — ele chega, nos serve, e encara Júnior. — E a maioria é
casada. Se gostarem de você, vão cobrar!
— Tem desconto? Algum cupom promocional? Ticket “pega uma, leva
duas”? — Júnior pergunta e o garçom perde o sorriso no ato.
— Não entendi aonde o senhor quer chegar.
— “Se gostarem de mim, vão cobrar...” Tu é o cafetão???
— N-não.
— Então por que está querendo cuidar da transação???
— Júnior! — Lara “o repreende” e o garoto solta as pedras no chão. O
garçom sai e eu não entendo nada, entendo menos do que antes. — O que deu
em você?
— Ele foi ignorante. Acha que resmungaria desse jeito com mais alguém aqui
que não fosse eu??? Parece que eu não seria capaz de pagar por uma mulher
como ela E NÃO SOU MESMO, — risos altos. — mas ele não sabe disso,
não tinha que chegar me provocando. Só respondi a altura, estava pronto.
— Ele respondeu desse jeito porque gosta dela. — Vitor diz simplesmente e
Júnior revira os olhando matando de uma vez todo o drinque que restara no
copo. — Esse carinha é doido por ela desde sempre.
— Então eu acho que minha noite está só começando!
— Se isso tudo foi por causa de um beijo, sim, sua noite está só começando.
— Greg fala e Vitor ri.
— É, meus amigos! Eu sou a porra de um filho da puta fodido que acabou de
se apaixonar apenas com um beijo de uma quenga!!! Eu só me pergunto
como é que vou lutar com o garçom pela honra dela! — Júnior levanta os
braços pra cima e eu olho pro lado oposto para rir. Idiota.
— Um futuro psicólogo tão renomado não pode se descontrolar assim. — eu
falo e ele me encara com uma cara muito engraçada.
— Parceiro, todo psicólogo precisa de um psicólogo! E hoje eu estou aqui
como um garoto que não transa tem meses, e não como um profissional. Hoje
eu não cuidarei de ninguém a não ser do Murilinho!
Ele fala, Vitor desiste deitando a cabeça na mesa, Lara esconde o rosto com
as mãos, e eu... se passaram trinta minutos desde que ele falou isso e eu
continuava rindo sozinho. Ainda.
— Espera, não. Para! — Vitor chorava de tanto rir. — Eu vou ter que te
perguntar...
— Cale a boca, Vitor! — Greg ri alto e eu apoio a cabeça nas mãos. — Não
fode!
— Não, é sério! Existem bilhares de apelidos maneiros. POR QUE
Murilinho, cara...???
— O porquê é muito particular... — Júnior começa, tento pensar em outra
coisa para não ouvir outra pérola, e Vitor se levanta segundos depois. Vejo
que era Maria quem o chamava acenando diretamente do bar.
Ele levanta, sai, e seu celular brilha fazendo a mesa vibrar junto. Greg se
estica, lê a tela, e ri.
— “Princesa”!!! — ele fala alto apontando pro celular e rimos disso, eu só
não sabia o porquê. — O gêmeo do mal não é mal com todo mundo, ele tem
uma princesa.
— Me dá aqui! Deixa eu atender!!!
— Faz isso não... — Júnior “adverte” e eu nego.
— Não vou zoar, só vou atender como quem não quer nada, ele fez isso
comigo a vida toda, aposto que ela vai nos confundir e vai ficar tudo bem.
— E se ela não te confundir? Tu vai ficar com cara de tacho e ele vai amar
isso! — Greg ri e eu afirmo.
— Me dê! Veremos! — eu falo, o vejo gesticulando com Maria de costas
para a nossa mesa, pego o aparelho da mão dele, e atendo.
— Oi... — eu resmungo.
— Oi... tudo bem? — era brasileira!?!? Bela voz a garota tinha.
— Tudo e você?
— O quê?
— Eu disse tudo e você?
— Ah! Eu tô bem, fiquei um pouco assustada, só nervosa por ter voltado pro
Brasil, mas, eu tô que não me aguento! Tem de tudo naquele hotel que você
me hospedou, até champanhe, estão me tratando como uma rainha! É muito
bom poder retribuir a ajuda que você me deu lá em Nova York, jamais vou
esquecer o que fez por mim. Te atrapalhei? Já está onde combinamos? Estou
a caminho!
— Hum... sim...
— E se não gostarem de mim, Vitor!? E se não acreditarem que somos
namorados? Se descobrirem como nos conhecemos? Não quero te prejudicar,
mas quando me virem jamais vão acreditar que temos alguma coisa. Eu sou...
bom, não sou do teu mundo. E eu... tô com medo dele... dele me ver aqui em
São Paulo, me denunciar pra polícia. Morri de medo de sair do hotel. Vai
cuidar disso, não vai!? Você confia que isso tudo vai dar certo e eu vou voltar
pra Strip com segurança?
— É claro que sim. — eu engasgo. — Não se preocupe com nada. Vou
desligar agora, venha em paz. Nos vemos aqui!
— Tudo bem! Eu... eu... nos falamos depois.
— Até já!
— Até. — ela murmura parecendo entristecida, desliga, e Júnior me
chacoalha.
— Devolve! Devolve!!! — ele ri, eu apago o registro da ligação, mas não
tenho tempo. Assim que coloco o celular no lugar, ele se senta.
— Quem era? — ele questiona e ri.
— Tua princesa. — eu falo e ele trava por um momento, mas foi tão mínimo,
que só eu notei. — Pela primeira vez em trinta anos, me passei por você,
porra!!! — eu comemoro, Júnior, Greg e Lara batem seus copos no meu
quando eu o levanto para simular um brinde e Vitor ri.
— E então? Gostou da voz dela???
— É razoável. — dou de ombros.
— O que ela disse?
— Só ligou para falar da vida de princesa que ela está tendo no hotel em que
você a hospedou. Faz tempo que não pisa no Brasil, a tua princesa! Você é
um verdadeiro príncipe. — eu digo e todos demonstram entusiasmo ao ouvir
aquilo, mas Vitor não se contenta com a informação escassa que passei. Ele
me olha nos olhos e enquanto Greg o chacoalha empolgado eu posso vê-lo
em câmera lenta. Agora ele sabia que eu descobri ou pelo menos descobri
algumas coisas a respeito de sua princesa e que principalmente sabia que ela
já estava no Brasil. E bom... ele estava com medo. E também medo da minha
reação, na verdade ele queria a minha aprovação a respeito dela, o que era
bem confuso.
— Vou ao banheiro... — Lara sussurra no meu ouvido e eu concordo. Ela
passa por nós e eu a sigo com os olhos até que ela some pelo corredor com
letras luminosas indicando o banheiro feminino.
Ignoro a agonia que sinto por soltá-la em meio a tubarões e respiro fundo.
— Minha princesa é uma garota simples.
— Simples quanto?
— Muito simples. Não teve uma vida bonita. Mas... vamos combinar uma
coisa??? Não se preocupe com ela, deixe que eu cuide disso.
— Sou teu irmão, só me preocupo. Quero conhecê-la melhor. — eu falo e ele
nega já chateadinho devido a minha invasão. Ele podia se intrometer no meu
relacionamento com Lara, já eu... não podia descobrir os mistérios que regia
aquela relação.
Concordo com a cabeça, vejo quando ele volta a respirar, chama por Maria,
sinaliza com uma mão segurando o próprio punho, e depois de alguns
minutos ela aparece com as benditas pulseirinhas.
— Já sabem como funciona? — ela pergunta a todos e Vitor já garante que
explicou, por isso ela deixa as pulseiras na mesa, dá outra boa olhada em
Júnior, promete trazer mais uma rodada de drinques que solicitamos e sai.
Naquela altura a pista de dança que se localizava atrás de mim já estava
lotada e eu só soube disso porque segui os olhares e cochichos de Greg e
Vitor.
Sim, estava lotado, e todos dançavam uma musica eletrônica moderninha,
bem legal, mas minha cabeça não registrava nada. Só o que eu pensava era no
papo que eu tive com a tal da princesa foragida. O que será que aquele doido
estava aprontando??? Por que todo aquele mistério? Por que disse que a guria
viria pro jantar de amanhã, sendo que ela já estava na cidade, e estava a
caminho da boate?
— Vou atrás da Lara. — eu aviso ao Júnior e ele nega.
— Ela só foi ao banheiro, ela está bem.
— Que papo é esse? — eu questiono e ele dá de ombros.
— Vamos. — Vitor levanta, me encara e dessa vez não sorri.
— O quê?
— Você tem uma despedida de solteiro para colocar em prática, maninho!
— Está brincando com a minha cara?
— Coloque. — Júnior me estende um das pulseirinhas e eu nego.
— Não vou entrar lá, Lara muito menos, pior ainda sem ela. E muito pior
sem avisá-la. Vou atrás dela, já demorou demais, aliás... — eu resmungo,
ameaço sair, mas Júnior segura em meu pulso com a sua mãozona e aquilo
me deixa irado.
Fito a sua mão em mim e não entendo nada.
— Não vai encontrá-la. Ela foi pra despedida dela e você vai pra sua.
— Me obrigue! — eu o desafio de uma vez, e encaro o gêmeo do mal. —
Cadê minha mulher?
— Só vou dizer quando me seguir.
— Te enfio em uma cabine no meio do caminho e viro filho único.
— Não confia em mim? Falou pro pai que me perdoou, que estávamos bem,
mas era mentira!? Ainda acha que eu queira perder meu tempo te
provocando???
— Armou isso então sim, você ainda quer perder seu tempo me provocando e
me prejudicando.
— Eu disse que ele jamais ia engolir essa. — Greg murmura com bom humor
e eu volto a encarar o filho da puta.
— Quer que eu seja o gêmeo do mal. Então eu serei o gêmeo do mal. — ele
chega perto de mim, rosna, mas não me mete medo. — Coloquei uma pessoa
pra pegar Lara na saída do banheiro e levá-la para outro lugar. Não vai vê-la,
não importa o que faça, não importa o quanto ladre pra mim. Ela está com
alguém de minha confiança, então ou você me segue nessa porra ou nunca
mais vai vê-la! Nem casamento vai ter! Olha aqui, você vai casar, vai se
libertar das amarras daquela depressão e daquele sofrimento em que você
vivia, e essa conquista clama por uma comemoração. Sou seu irmão, eu te
devo isso, eu quero comemorar essa fase na sua vida, e quero te dar uma
despedida de solteiro à altura e eu vou te dar. Antigamente eu precisava fazer
merda pra chamar a tua atenção e estou disposto a continuar fazendo merda.
Você não vai confiar em mim por bem? Eu te farei confiar por mal, do jeito
que eu gosto!!!
— Não trairei Lara. Eu-não-sou-você!
— Você não me vê há anos e ainda acha que eu sou aquele babaca. Olha pra
mim. Você falou com a única mulher que chegou mais perto de ter meu
coração nas mãos. Me viu dar em cima de alguém aqui? Me viu desrespeitá-
la aqui?
— Você a contratou de alguma forma. Não são namorados, acha que eu sou
um idiota???
— Acho. Ou você pensa que eu ia mobilizar uma filha da puta lá dos Estados
Unidos para vir aqui só para dar uma boa impressão para nossos pais e de
quebra gastar com passagens aéreas e tratá-la como uma princesa de graça???
Não somos namorados, mas... ela é minha e é isso o que importa. — ele
murmura só pra eu ouvir.
— Por que ela já está aqui?
— Esqueça a minha mulher e se concentre na tua. Só na tua. Vamos.
— Por que eu devo confiar em você se você não confia em mim??? —
questiono quando ele vira as costas e por isso ele dá meia-volta.
— Não vou ter uma DR com você dentro de uma balada. Depois
conversaremos sobre a Marcella. Vou te contar tudo, eu já ia contar, eu vou
precisar de sua ajuda com o problema dela. Mas agora eu preciso que você
pare com a cena, e venha comigo. E eu não vou pedir de novo.
— Grande modo de conquistar confiança... ameaçando... — eu resmungo e
ele ri. E só porque ele riu, me sinto cansado e dou risada junto.
Lara vai me matar.
— Você é muito chato, cara. Como consegue?
— “Se não vir comigo, nunca mais vai vê-la...” — tento fazer com que sua
voz pareça mongolóide e ele ri.
— Sempre fui teatral, sabe disso...
— E como eu sei.
Eu afirmo com toda a certeza do mundo e caminho em direção ao corredor da
putaria. No resumo o espaço era nada mais nada menos que um enorme
corredor escuro decorado com lustres gigantes de cristais que forneciam
pequenos pontos de luzes esbranquiçadas e fracas demais. E como em um
corredor de uma residência, ali ao invés de portas, haviam cabines cobertas
por cortinas pesadas de veludo vermelho. Era bem bonito, mas demais
obsceno, principalmente a decoração do interior de cada cabine.
Sala arredondada toda em espelho, sofá com o mesmo tecido da cortina,
confortável e grande, quase colonial, uma mesa no centro com balde de gelo,
bebidas, e drinques prontos, e uma iluminação também muito escassa. “O
lugar ideal” para sentar, tomar um drinque, bater papo, e sentar o pau se o
clima esquentar. Tudo ali, naquele sofá.
— Ok. Estamos aqui. — eu resmungo e Vitor me olha torto.
Os três logo avançam nas bebidas da mesa, eu me sento pesadamente no sofá,
e só penso na criatura. Onde ela estaria? Será que Vitor também quis fazer o
cunhado bonzinho e a levou para uma despedida sozinha? Eu ia dar tanto
murro na cara dele se fosse isso!!! Naquele momento eu só orava para que ele
pelo menos tivesse tido o bom senso de levá-la pra casa, pelo menos isso.
— Me conta onde ela está. Diz que não a colocou em uma sala dessas cheia
de machos. Eu imploro se quiser.
Eu falo e ele ergue a sobrancelha.
— Você acha que ela me deixaria fazer algo desse tipo? Por que a trata como
se fosse de cristal? Lara sabe se defender é durona, bocuda, sabe se virar.
Jamais me deixaria prejudicá-la ou enganá-la de algum jeito. Ela não é uma
bobinha ingênua. — ele diz, me oferece uma dose de conhaque e se senta ao
meu lado.
— Eu sei. Mas minha preocupação não é a reação dela, Lara é fiel. Vitor...
você realmente nunca amou mulher alguma??? — eu questiono, vejo quando
Greg e Júnior se sentam e começam a conversar sobre alguma coisa, e eu
volto minha atenção para ele.
Vitor estava sentado como eu, com as pernas afastadas, e com o copo
repousado na coxa direita.
Fitava a cortina que afastamos para entrar e parecia refletir.
— Por que a pergunta?
— Curiosidade. Gostaria de saber. Você me questionou dando a entender que
me preocupar com Lara, era bobagem. Por mais que ela seja durona e forte,
eu entendo que sempre vou me preocupar com seu bem estar, sempre vou
temer que se machuque. Mas, pra você pareceu bobagem. Nunca se
apaixonou a ponto de fazer bobagem? A ponto de passar dos limites às
vezes? Ficar com ciúmes por pouca coisa, ficar com o coração espremido por
vê-la sei lá, ir a algum lugar qualquer sem você para acompanhar, cuidar,
zelar? Talvez temer que alguém a machuque, a magoe, sentir dor ao vê-la
chorar??? Essas coisas...? — eu questiono e ele sorri.
— Não. — ele murmura me olhando nos olhos com bom humor. — Até
entrar em uma boate burlesca em Nova York e ver uma guria com carinha de
anjo, corpo de deusa, e olhar triste parecendo pedir ajuda apesar de toda aura
extremamente sexy. Mas aí, de tão fodido que sou, fugi para não acabar mais
fodido do que já era, e não acabar com a vida dela. Até que meus pais me
vêm com o papo de que vão continuar me amando se eu for gay, e que nada
mudará, que só querem me ver feliz como o meu irmão está, e eu decido
contratar uma bela moça com cara de anjo para fazer o serviço sujo de tirar a
ideia deles de que eu sou gay, porque nunca adiantava falar. Eles já estavam
começando a puxar assuntos temáticos achando que assim eu poderia me
abrir. E nem se eu fosse gay ia curtir RuPaul’sDragRace, porque eu tenho
certeza que tirando a purpurina que aquele anjo usa no corpo para rebolar em
um palco badalado, eu jamais curti brilho em nada. — ele fala, sorri
entristecido, e eu me sinto feliz por vê-lo confiando em mim, e me contando
aquilo. Podia apostar que ninguém sabia.
— Obrigado por me contar a verdade.
— You'rewelcome.— ele diz “não tem de quê”, pisca pra mim e volta a beber
de seu drinque.
— Você gostou dela, e se afastou para não sofrer. Ela sabe? Que você gosta
dela?
— Não.
— E ela gosta de você?
— Não.
— Vocês já...?
— Algumas vezes. E uma delas foi quando deixei dinheiro no criado-mudo
para ela pagar o hotel e voltei pra casa, como faço com todas. Nem meu
telefone ela tinha. Eu sumi por um tempo. Não posso fazer isso, não posso,
não consigo, e não quero. É uma escolha, não é!? Eu tenho o direito de
decidir não me envolver demais.
— Tem, tem sim, mas então por que a trouxe???
— Pra ela somos amigos e eu gosto de sua companhia. Com ela foi diferente,
eu não desapareci completamente, eu voltei à boate, eu... liguei algumas
vezes, a ajudei com alguns problemas, ficamos próximos. Eu já estava um
bom tempo afastado, decidi ligar, ela topou me ajudar nisso, e bom... essa
história tem curvas demais. Não estamos em um bom lugar para falar disso.
Se um dia você quiser dar uma volta e me ouvir, posso te contar tudo.
— Eu vou adorar! — eu digo e ele sorri concordando. — Mesmo porque
estou muito interessado no assunto. Não vejo a hora de conhecê-la. Não vejo
a hora de te ver feliz e se ela for seu motivo, quero estar presente!!!
— Está passando mal?
— Eu estou falando sério.
— E agora o que eu vou fazer com esse momento de camaradagem e amor
fraterno, se coloquei a Lara em uma sala cheia de macho sarado e pelado
prontos para se esfregarem nela? — ele questiona, me encara esperando eu
ficar puto, e ri.
— Por que você faz essas coisas?
— Porque eu acho que ainda não sei lidar direito com o afeto de ninguém,
fico sem graça quando não sou eu quem está tentando demonstrar, sei lá.
Talvez porque nunca tive, nunca recebi, ou eu não me lembro mais como é
receber carinho assim, não sei bem. — ele fala, bebe outro gole, e sorri. — E
que comece o show!!!
Vitor diz de repente arrumando a postura, uma silhueta adentra o recinto e eu
forço a vista.
Era uma garota. Vestia um macacão de couro e uma máscara que só deixava
seus lábios aparecerem. Ela sorriu, caminhou na direção do Vitor, e parou em
sua frente parecendo esperar para ouvir dele algo como o que achou de sua
roupa, até pose fez, mas Vitor não disse um “a”. A mediu de cima a baixo,
sorriu todo feliz, beijou as costas de sua mão direita em um gesto que eu
jamais diria lhe pertencer, e bateu na própria perna indicando que ali ela
devia se sentar, e a garota sentou.
Uma música um pouco mais alta começou a tocar ali nos excluindo
completamente do lado de fora, e a entrada de Maria e de uma garota
completamente desconhecida pra mim me deixou extremamente nervoso.
Maria seguiu seu caminho até Júnior que havia mudado de lugar e se afastado
de Greg, e a outra garota seguiu seu caminho até onde Greg estava, ambas se
sentando nos seus devidos ‘colos’.
Deus, se Lara entrasse por aquela porta vestida ‘pior’ do que já estava eu teria
um infarto.
Digo isso porque vê-la saindo de dentro de um bolo gigante com uma lingerie
sexy era algo que Vitor faria numa boa e eu ia pirar. Mas não foi bem isso o
que aconteceu.
A filha da puta ‘seguiu o protocolo’ de vir me seduzir em um momento de
sexo grupal com uma roupa bem comum, fora do padrão que aquele
momento “exigia”.
Quando ela entrou só pude vê-la melhor assim que se aproximou e ficou bem
pertinho, mas já a reconheci pelo seu modo de andar. Vestia um vestido
soltinho e pelo modelo parecia ser um dos seus. Simples, no meio das coxas,
e com certeza todo florido, mas isso eu só teria certeza perto da luz.
— Boa noite, doutor. Como vai sua despedida de solteiro?
— Muito melhor agora. — eu falo segurando na barra de seu vestido e
completamente encantado com o seu sorriso enorme. — Posso saber o que
significa isso?
— Teu irmão é criativo e astuto. Combinou comigo de última hora e pediu
uma muda de roupa bem sexy para trazer mais cedo pra cá. Isso aqui foi o
mais sexy que consegui encontrar no armário, pelo menos o mais sexy que
funcionaria com você. Como eu estou?
— A mais linda de todas!
— Sério?
— Muito sério. Mas mesmo tão linda, e tão sexy, você ainda vai levar uma
surra quando chegar em casa, só pelo susto. Estava visualizando você saindo
de dentro de um bolo só de calcinha e sutiã, e bom... isso não ia ser bom pra
vocês dois. — eu falo e ela ri se empoleirando em meu colo.
— Vitor bem que sugeriu isso, mas jamais ousaria fazer algo desse tipo.
Conheço o homem que eu tenho. Aposto que você pirou quando eu sumi e ele
não quis te dizer nada. Deve ter feito um barraco...
— Só um pouco. — dou risada e toco sua face macia. — Vem cá...
Puxo sua nuca para sua boca encontrar a minha e me entrego completamente
como achei que nunca faria, não ali. Jamais queria que ela entrasse ali,
participasse daquilo, mas eu estava tão anestesiado por vê-la bem, vestida de
um jeito simples com sua identidade, — sorrio no meio do beijo. — e
entregue, que não mais dei tanta importância à atual situação. Não me
importava que Vitor, Júnior e Greg transavam ao mesmo tempo naquele breu
daquela sala, ou que os gemidos das três já começavam a se destacar e
sobressair à música paradinha e charmosa. Eu só queria saber dela. Só queria
beijá-la, abraçá-la e curtir os últimos momentos em que na teoria, eu curtia
“uma balada” com minha namorada. Eram nossos últimos momentos sem um
contrato nupcial e eu ia vivê-los intensamente porque assim, eu tinha certeza
que com a cabeça e o coração bastante ocupados, tudo passaria muito
rapidamente e logo estaríamos na Grécia. Celebrando um lindo casamento
entre uma diaba espevitada e um fodido que só renasceu após sua chegada.
— Talvez você... não queira, mas...
Lara começa a murmurar ainda sem fôlego. Ela havia encostado sua
intimidade na minha, meu peito apertava seus seios com meu abraço forte, e
quase que imediatamente eu me encostei no apoio estofado das costas porque
sabia que ela logo começaria a rebolar pra mim e eu só queria relaxar e curtir
a sensação enquanto chupava sua língua e a beijava com vontade e extremo
tesão.
Era simplesmente delicioso estar ali com ela sem pensar em nada que não
fosse naquele corpo colado ao meu, e na vontade que eu tava de fazer amor
até de manhã.
— Eu sei o que você quer, também conheço a mulher que tenho... coloque
essa calcinha pro lado, vai. — eu sussurro em sua boca, a adrenalina toma
conta de mim, ela eleva seu corpo apenas se apoiando nos joelhos, eu
posiciono meu membro endurecido após libertá-lo, e ela desce gemendo
baixinho daquele jeito que me mata. — Rebola pra mim!
Eu peço, ela rebola, me faz flutuar, e não para. Perto de gozar eu a faço parar
um pouco, por isso ela ri. Aquela intimidade molhadinha, apertada e quente
era algo de outro mundo, claro que eu ia gozar rápido.
— Não me faça parar!!!
— Não quero gozar agora. Sabe como fico quando você faz isso.
— Sabe o que estava pensando? — ela diz voltando a rebolar como se não
tivesse me escutado. — Quero nosso casamento como falei, á luz do dia,
naquelas ilhas magníficas, mas quero fazer uma sessão de fotos de rainha.
Dentro de um castelo lindo!!!
— Existem alguns maravilhosos na Inglaterra, Suécia, Noruega, Dinamarca...
é só escolher! — eu resmungo faço-a deitar no sofá no meu lado esquerdo e
beijo sua boca enquanto me encarrego de voltar a me encaixar.
— Vai tirar fotos comigo? Como meu rei?
— Farei o que quiser, quando e onde quiser. Não prometi te dar tudo!? É só
me dizer, o que mais você deseja? Me diga e eu te darei. Eu te darei o
mundo!!!
— Bom... — ela diz e suspira quando eu começo a foder sua boceta molhada.
—... isso é muito bom. Por enquanto pode me foder aqui enquanto eu penso
em mais algum sonho que sempre desejei e que você pode realizar. Se você
soubesse o quanto sonhei. Se soubesse o quanto desejei um homem que me
desse o mundo, que me enchesse de amor, e que me fizesse tão feliz. Você é
um sonho realizado, vida! É o homem que eu sempre sonhei pra mim.
Gostoso, me dá o mundo, fode direito, e me satisfaz completamente. Não
vejo a hora de termos um só sobrenome.
— Jamais pensei que mudasse de ideia. Agora só falta me dizer que jamais
voltará para aquelas faxinas e eu serei o homem mais feliz do mundo!!!
— Não voltarei a fazer faxina a não ser na nossa própria casa. — ela garante,
eu arfo me sentindo realizado, e meto forte até chegar ao auge. Quanto mais
eu metia, mais ela gritava, e mais seus gritos tomavam conta de todo o lugar.
Sempre fora escandalosa e ali não ia ser diferente.
Tapo sua boca com a mão, meto forte estapeando sua bunda com grosseria e
sinto sua língua tocar a minha mão. Sempre fazia aquilo.
Sinto quando seu momento chega, faço-a se ajoelhar sem esperar que seus
espasmos acabem e ela mama tudo como uma boa vadia para não sair dali
com meu líquido escorrendo pelas pernas.
Boquinha macia. Uma delícia.
— Agora só tem uma coisa. Acho que eu também mereço um sacrifício de
você. — ela diz quando eu fecho meu zíper e a faço subir em meu colo.
Tentava me recompor enquanto ela assim como eu, respirava com
dificuldade.
— E o que quer? Hein? — eu digo e ela me faz chupar seu dedo acreditava
eu que só para mostrar o quanto estava molhada por culpa mim. Aguardo
acarinhando sua boceta com o polegar e escuto seu desabafo chupando tudo
até senti-la mais sequinha do que estava antes.
— Quero que jamais desconfie do amor que eu sinto. Jamais volte a cogitar a
possibilidade de me ver com teu irmão por qualquer motivo que seja. Quero
que acredite que jamais me senti atraída por ele, jamais pensei em abrir mão
de você e ‘trocar de pretendente’. É você quem eu amo, é seu jeito maluco
que me conquistou, e pensar naquilo é uma enorme falta de respeito. É com
você que eu vou me casar, é você quem eu amo, e isso nunca vai mudar. Não
quero nunca mais que desconfie de mim e nem da minha fidelidade.
Ela diz, eu sorrio, concordo no ato e ganho um beijo apaixonado.
— Adoro essa boca com meu gosto. Amor, boceta, conhaque, e teu próprio
gosto de macho delicioso. Melhor combinação. — ela fala, eu dou risada, e
de quebra volto a ‘bater uma’ pra ela, só para tirar seu juízo. — Pensou no
que disse? Acredita em mim ou vou ter que adiar esse casamento até você
entender?
— Não diz isso nem de brincadeira. Acredito em ti. Me desculpe, aquilo
jamais voltará a se repetir, jamais desconfiarei e ficarei inseguro. Sei que me
ama, senão não estaria comigo!
— Isso... menino esperto! — ela resmunga se esfregando, mas para assim que
sentimos uma aproximação.
— Minha cunhada exótica está vestida?
Vitor se aproxima, fala em voz alta e sorri apertando o sensor para aumentar
a claridade da luz.
— Droga, ela está!!! — ele zomba, me forço a ignorar, e Lara passa a fazer
carinho em mim como se dissesse “segura a onda, ele só quer te irritar...”
Júnior estava com Maria em seu colo aos beijos, e Greg por incrível que
pareça: bebendo sozinho.
— Bom, eu lhes apresento, a princesa que você queria tanto conhecer. —
Vitor diz e a garota bonita em seu colo sorri para mim e para Lara. Parecia
preguiçosa com sua carinha de cansada, cabelo bagunçado e extremamente
feliz. — Marcella, esses são meu irmão, Vicente e minha cunhada favorita,
Lara!
— Prazer! — Lara e eu dissemos ao mesmo tempo e ela assente com seu
rosto grudado na testa dele, toda carinhosa.
— Foi com você que eu falei no telefone, não é!?
— Foi. Sinto muito.
— Eu que sinto! Isso não foi legal. Mas como eu descobri que Vitor fez isso
com a Lara antes de chegar, e também durante a sua vida toda, está perdoado.
— ela diz com bom humor e eu concordo agradecendo.
A garota era bem bonita, lábios grandes, tinha os cabelos castanhos abaixo
dos seios e um corpo legal. Combinava perfeitamente com ele. A sua
semelhança com Lara não me deixou confuso, imaginei que até nisso nossos
gostos seriam parecidos e por isso abstraí.
— Vamos sair daqui? Não sei porque, mas estou faminto!!! — Vitor diz e
Marcella o encara com bom humor. Não ficou sem graça com o que ele disse,
apenas riu e deu corda batendo de leve em seu peito e levantando do seu
colo.
— O que foi, Greg? Terminou rápido... — Vitor zomba enquanto agarra sua
‘princesa’ e ele dá de ombros.
— Pra quê enrolar? Quanto pagou pra ela aparecer aqui?
— Muito mais do que o valor de mercado, por isso eu espero que você esteja
feliz. — Vitor diz depositando seu copo na mesa já desorganizada e encara
Júnior. — Ei, psicólogo do amor!!! Vamos ou não?
Ele pergunta, Júnior ri enquanto Maria deposita beijos em seu pescoço, desce
do seu colo e sai da sala arrumando a própria roupa e fazendo uma careta pro
Vitor que soltava piadinhas sem perder a oportunidade.
— Foi bom pra você? — Vitor pergunta quando Júnior se levanta e ambos
riem.
— Foi ótimo, já até marquei o próximo encontro!
— Certo, garanhão! Então vamos!
— Eu vou ficar mais uns minutos por aqui, visitar algumas cabines livres. —
Greg murmura, e ganha a atenção de todos.
— Por quê? — Lara quem pergunta.
— Pra mim a noite ainda não acabou... — ele diz tentando sorrir. Estava
triste, conhecia o filho da puta.
— Chegamos juntos, vamos pra casa juntos. — eu falo e ele nem me olha nos
olhos.
— Eu estou bem, e ficarei bem. Pego um táxi. Não se preocupem. — ele fala
e Lara me encara sentida, Vitor e Júnior também.
— Vitor quer ir a um lugar pra gente comer e conversar. Vamos juntos! — eu
falo e ele nega, queria se afastar. Apostava e ganhava que pensava em Nanda.
— Vamos com a gente. — eu me aproximo e peço quando todos o
cumprimentam e saem. Fico pra trás após indicar a porta para uma Lara
preocupada.
— Não estou mais no clima, na verdade nem estava antes.
— Não comeu a garota, não é? — eu pergunto e ele nega.
— Estou fodido. Jamais encontrarei alguém a altura dela. Jamais será o
suficiente.
— Eu entendo.
— Não. Não entende não. Eu a amava mais do que tudo, até mais do que
você e ela sabia disso. Ela também me amava.
— Agora eu sei disso.
— Me perdoe por te magoar e por falar tanta bobagem quando tudo o que
você queria era cuidar de mim. Já pedi desculpas ao Júnior, eu sinto muito,
Vince! Apesar da rivalidade, nunca te odiei realmente. Achava sim e queria
que Nanda te deixasse pra me assumir, mas gostava da sua amizade e isso se
fortaleceu ainda mais depois que ela se foi. Eu gostava sim, de ser seu amigo.
Você é meu melhor amigo, o único que tenho.
— Está tudo bem, Greg. Eu peço desculpas por ter sido insensível esses
últimos dias, te tratei mal, te tratei com indiferença. Me perdoe.
— Tudo bem, você teve razão. Teve seus motivos para ficar chateado e eu
entendi apesar de ficar muito triste. Mas... eu preciso te dizer... — ele começa
e eu nego.
— Agora não é hora pra isso, e eu já não quero mais deixar Nanda tomar
conta de meus pensamentos. Lara é meu presente e eu a amo mais do que
tudo. Só ela me importa. Nosso passado não significa mais nada pra mim e eu
sinto muito se isso te deixa chateado. Se estar feliz com outra mulher te deixa
chateado.
— Não. Não deixa, muito pelo contrário. Queria muito que você superasse e
fiquei feliz por você, mas eu não vou conseguir, não quero conseguir.
— É. Não querer, muda tudo. É uma pena. Sei que Nanda gostaria que sim.
— A Nanda que eu conheci me mataria se eu me relacionasse com alguém.
Conhecemos Nandas diferentes. Vince... nós nos relacionávamos. Ficamos
juntos mais de uma vez!
— Você já me disse isso...
— Eu disse bêbado. Quero dizer ‘sã’. Nanda nunca foi a mulher que você
idealizou, ela te amava, mas também me amava e se entregava pra mim com
frequência.
— Entendi. O que mais?
— Allana pode ser minha.
— Não, não pode. Aquela operação experimental que fiz nela nos Estados
Unidos quando ela era pequena comprovou nossa ligação consanguínea.
Precisei comprovar a paternidade para doar a medula porque sem isso eu não
teria autorização. Ela é minha filha, Greg!
— Quero eu mesmo ter o direito de fazer um exame e ver com meus próprios
olhos. — ele diz e eu engulo o ódio.
— Eu topo sem problema nenhum, mas por que isso agora? Só agora? Se
sempre teve essa desconfiança, Greg, por que quer saber disso só agora?
Eu questiono e lágrimas espessas escapam de seus olhos.
— Sempre quis, só encontrei coragem agora. Jamais quis tirá-la de você, até
pensei em fazer o teste escondido, mas tive muito medo. Porque se esse
resultado desse positivo eu ia procurar os meus direitos e eu sabia que você
continuava na escuridão, você estava mergulhado no mesmo poço que ela me
deixou e você só estava de pé por causa da pequena. Só que agora eu não
estou mais conseguindo ficar de pé. Já tem alguns dias que eu sonho com ela
constantemente, e aí vem você querendo fazer perguntas que eu jamais quis
responder para não te magoar, e aí veio aquela sensação de facada nas costas
com a chegada do Vitor e a sua permissão da entrada dele como sócio, e
então a sua felicidade em encontrar alguém quando Nanda deveria ser a
única. Eu... fiquei feliz por você estar feliz, mas em contrapartida não
consegui entender o porque a esqueceu. Ela te amava, jamais quis te deixar e
me assumir, e aí aparece você todo feliz e eu me sinto péssimo por não
conseguir essa felicidade. Me perdoe, eu nem sei direito como me senti.
Fiquei uma confusão nesses últimos meses, e voltei á estaca zero. Talvez se
Allana for um pedaço do que restou de nós dois eu... eu continue aqui sem
ela, mas se não me restar nem isso...
— Não pode colocar esse peso em minha filha, eu tenho empatia por tua
tristeza, mas isso é um absurdo!!!
— Eu jamais a machucaria. Jamais me aproximei para não machucar vocês
dois, não confundir a cabecinha dela!!! Eu só queria que essa possibilidade
fosse real, e se for, o que eu acredito muito, pode ser essa minha chance de
continuar, um motivo para seguir. Me perdoe. Eu não tenho nada, mas você
tem. E você tem tudo!!! Me deixa fazer esse teste, me dá uma chance!!!
— Eu vou deixar, vai dar negativo, e você vai ficar pior do que está por causa
da frustração, Greg! Não importa o que houve no passado, fiquei puto, mas
passou. Não desejo teu mal, não desejo te ver triste, não te quero assim. Você
é muito importante pra mim, eu gosto muito de você!
— Se gosta de mim, me dê isso. Se sou importante, me dê esse teste e se der
negativo, jamais vai me ouvir falando disso novamente, eu sumirei da tua
vida.
— Eu deixo você fazer com uma condição. Se não aceitar, só terá isso se
conseguir na justiça, o que significa que eu contratarei os melhores
advogados do país e dificultarei e muito que esse seu desejo se realize. — eu
falo e ele confirma na hora.
— O que você quer? Aceito qualquer coisa.
— Quero que deixe Júnior te acompanhar e te aconselhar durante todo esse
processo, como um amigo e psicólogo. E quero que continue o recebendo
após o resultado, seja ele qual for. Quero que faça acompanhamento
psicológico, pra ontem! É pegar ou largar.
— Pode usar isso contra mim se der positivo e dizer que não tenho condições
psicológicas de ser o pai dela e de conviver com ela.
— Não farei isso, jamais faria algo tão sujo contra você. Eu apenas estou
preocupado. Você está me assustando com esse papo de “um motivo para
continuar” e não negue. Eu estou vendo que você não está bem e acho que a
forma como lhe tratei durante esses últimos dias só agravou isso, desde
aquele quase coma alcoólico que você teve. Quero me retratar contigo, te dar
essa oportunidade e fazer o que estiver ao meu alcance para te ajudar, porque
sou seu amigo. Quero seu bem. Então se aceitar receber ajuda psicológica até
Júnior me garantir que você está legal de novo, eu topo. Júnior me ajudou a
sair do fundo desse poço que Nanda nos colocou e eu tenho certeza que ele
pode te ajudar também. Sim ou não?
— Sim. Eu topo. — ela fala enxugando as lágrimas e eu dou um abraço
apertado nele. Sua dor era a minha antiga dor então eu o entendia.
— Agora vamos. Vamos com a gente comer alguma coisa, ir pra casa... não
precisa ficar aqui sozinho enchendo a cara. Nós estamos bem, vamos
esquecer isso só por essa noite e bater um papo sobre coisas bobas, rir do
Júnior, e falar sobre a vida!
— Você não me quer por perto que eu sei... — ele diz e se nega a me encarar.
— Para de graça, claro que quero. Meu pai tem razão quando diz que eu
preciso aprender a perdoar porque sou um cabeção. Eu sou mais feliz quando
estou bem contigo! Quero que venha com a gente, faço questão. Vitor está
apaixonadinho, preciso de alguém para me ajudar a fazê-lo passar vergonha.
— eu falo e rimos juntos. — Ficar aqui sozinho nesse lugar só vai te deixar
pior. Vamos lá, não terá nenhuma graça sem você! — eu digo, ele me olha
torto e eu dou risada de sua cara pra mim.
— Ok, agora eu vou me afastar de você porque isso foi bem gay. Não pode
me fazer declarações desse nível no escurinho de uma boate. — ele diz e sai
rindo da minha cara, porque claro, fingi ficar puto.
(...)
— E então, o que você faz em Nova York? — Lara questiona a garota um
tanto tímida assim que nós nos sentamos em uma mesa do Outback.
— Bom eu sou... eu... trabalho com...
— Atriz é que você não é, certo gatinha!? — Vitor a encara sorrindo, a garota
ri extremamente sem graça, e todos assim como eu, evitamos rir, mas não deu
muito certo. Vitor é um idiota.
— Pode dizer a real. — ele dá a permissão e ela parece aliviada.
— Eu sou dançarina. Danço em uma boate muito famosa do centro.
— Foi lá que conheceu meu irmão? — eu pergunto e ela sorri o encarando
por um momento.
— Foi. De todas as boates que já frequentou na vida, aquela foi inesquecível,
não é!? — ela brinca com ele e ele ri constrangido.
— Sim! Inesquecível foi apelido! — ele diz e ela dá um selinho carinhoso
nele.
— Aliás, convido a todos para irem um dia! É bem legal!
— Que tipo de dança? Adoro dançar... — Lara diz e Marcella sorri.
— Burlesca! Dança com teatro e comédia... já faz uns cinco anos que estou
trabalhando com isso. É muito divertido. Conheço pessoas do mundo todo
diariamente!
— Tem família lá? — Greg pergunta e ela nega.
— Minha família está toda aqui. Fui tentar a vida lá para mandar dinheiro pra
minha mãe e fugir de uma vida nada legal que eu tinha aqui.
— Sinto muito! — Lara diz e uma sorri para a outra com pesar. — A vida
aqui no Brasil é realmente muito difícil, nos Estados Unidos é outra coisa.
— Você conhece lá?
— Não, mas é um dos lugares que quero conhecer na nossa lua-de-mel! —
Lara diz e me encara sorrindo. — Quero conhecer Orlando, a Disney, mas
meu lance é turismo gastronômico, quero...
— Pronto, e lá vamos nós falar de comida. Essa garota só fala nisso. — Vitor
diz rindo enquanto as duas tagarelavam e começavam uma amizade.
— Falamos nós sobre outra coisa, então... conte-nos como se conheceram. —
Greg diz e Marcella escuta, por isso muda sua atenção de Lara pra ele e fica
mais uma vez sem graça e com muita expectativa.
— Eu entrei na boate, vi a garota mais linda do mundo dançando somente
com plumas cobrindo seu corpo, e me apaixonei perdidamente. — Vitor
“mente”, a garota o encara parecendo saudosa e triste, e eu penso que para
ela, deveria ter sido muito diferente daquilo. Afinal eles se conheceram, Vitor
sumiu, e muita coisa aconteceu depois. Achava que para ela Vitor mentia
para manter o teatro e ela adoraria que aquilo fosse verdade, era uma boba
apaixonada e só ele que não via, ou fingia que não via. Um gostava do outro
e agora fingiam estar juntos quando queriam estar juntos, mas não ficavam
por ele ser um cuzão e por ela ter alguns problemas aqui em São Paulo que
envolviam alguém, e a polícia brasileira. Pelo menos era meu palpite.
— Nunca pensei que veria meu cunhado favorito tão apaixonado. É muito
bonito de se ver. — Lara diz zombando e Vitor a encara por um momento.
— É, o amor é lindo demais! — Júnior solta e recebe olhares de zombaria,
claro. Estava muito louco.
— Estamos todos no mesmo caminho. Gostamos de mulheres humildes,
confusas, ousadas... uma diarista, uma dançarina de boate e uma puta. Somos
os melhores no quesito “escolha quem amar”.
— Algum problema com minha profissão, amor? — Marcella questiona
sorrindo.
— O que? Te ver praticamente nua sendo cobiçada por milhares de
ninfomaníacos desgraçados e safados todos os dias??? Levando cantadas e
sendo assediada? Óbvio que não!
— Ai que bobagem! Você foi um cliente por meses até ter a coragem de
chegar em mim, não é desse jeito que as coisas acontecem, não ficamos perto
do público. Você é ninfomaníaco desgraçado e safado como todos eles, por
acaso???
— Sim!!! — ele assume no ato e todos riem. — Acha que eu entrei lá por
quê???
— Você realmente acha que dançar em uma casa noturna me desvaloriza?
Não seja ridículo!
— Não. Não teria me interessado por ti se eu não tivesse gostado disso ou se
fosse contra. Todo mundo tem direito de escolha e preferências, se fiquei
contigo mesmo assim é porque nunca me importei! Mas você tem que
admitir. São profissões difíceis e humildes, NA MAIORIA DAS VEZES,
digo isso porque a Maria é a puta mais solicitada do pedaço, você é a
dançarina mais talentosa e gostosa daquele lugar, e a Lara... — ele diz e me
encara rindo fingindo estar com receio de falar. — a Lara era a melhor
diarista que meu irmão havia contratado. Lavava, passava, era forno e fogão,
a única capaz de fazê-lo voltar a vida. Realmente são as mulheres mais
amadas do mundo, certo, irmão!? Fala aí... — ele diz e ri.
— Vitor, acho melhor você ficar quieto para não se complicar ainda mais! —
eu digo tentando não rir.
— Falei algo ofensivo? Alguma mentira?
— Não, mas está sendo um tanto inconveniente. — a garota diz e ele passa a
encará-la já deixando seu sorriso morrer. Mesmo ele notando que ela falava
“numa boa”. — Essas três profissões são muito dignas! Cada mulher faz o
que quer com o próprio corpo e trabalha como pode, dá o seu melhor como
pode. Sim, somos as melhores em tudo o que a gente coloca a mão, mas isso
não precisa ser apontado como “especial”, são profissões como qualquer
outra.
— Eu sei disso, foi o que eu acabei de falar, admiro a força da Lara, adoro a
Maria, é uma grande amiga e eu estou com você. Agora se falar disso, de
alguma forma te machuca, o problema está em você e não em mim! O
preconceito está na sua cabecinha e não na minha. Você está aí morrendo de
medo dos meus pais não gostarem de você, mas Lara jamais teve esse tipo de
insegurança porque sempre soube que seu trabalho era muito digno e tinha
muito orgulho. Meus pais a amaram e não viam a hora de experimentar a
comida da nora cozinheira e diarista! Sua cabeça é seu maior inimigo, não eu!
— ele diz, ela tenta dizer que não era bem aquilo, que seu medo não era bem
aquele, mas cala a boca quando ele continua... — Eu te amo! — ele fala e ela
fica em choque. — Mesmo rebolando esse traseiro gigante em uma boate sete
dias por semana! Dizem que a gente não escolhe quem a gente ama, pode até
ser verdade no primeiro momento, mas depois, permanecer é sim, por pura e
simplesmente questão de escolha. E eu escolhi você! Podia ter trago uma
atriz muito melhor para fazer parecer para meus pais e meus amigos que eu
tenho uma namorada super apaixonada por mim, e que somos extremamente
felizes, como foi o que planejei, mas, aí eu escolhi você, uma dançarina de
boate péssima em fazer tipo e mentir tão bem como eu! Sei que pra você até
alguns segundos atrás eu era um amigo com benefícios para quem você
pagava um favor vindo até aqui, e sei que há certo tempo atrás não era bem
isso o que queria comigo. E eu acabei de arruinar meu plano por causa dessa
tua boquinha habilidosa e sem freio, porque todo mundo já notou que nós não
temos porra nenhuma, muito pelo contrário, mas ainda assim, eu escolho
você.
Vitor desabafa, Lara ri emocionada com a mão na boca, Júnior o encara com
admiração, Greg permanece sorrindo fingir doar sua atenção para o molho
barbecue da mesa e eu... bom... ali eu conhecia mais um lado do meu irmão
que jamais pensei que ele tinha.
— Eu não entendi bem se todo esse sermão é bom ou ruim. — ela diz
gaguejando todo mundo dá risada.
— Bom, meus amigos, vamos falar sobre o tempo? — Vitor fica sem graça.
— Se eu entendi bem, ele quis dizer que apesar do esforço dele em ser um
idiota, ele te ama! Não de mentirinha, mas de verdadinha! — Lara brinca e
Marcella ao ouvi-la o encara.
— É verdade isso???
— Sim, minha princesa burlesca! — ele diz rindo e sem rodeios. — O que
foi? Está impressionada? Vamos nos entender hoje, trocar juras de amor, e
trepar até amanhecer do jeito que a gente gosta, e eu serei muito feliz porque
isso quer dizer que meu plano sairá melhor que a encomenda!
Ele fala, sorri pra ela, ela faz uma carinha de boba apaixonada, mas depois
parece acordar de um sonho de repente.
— Eu... preciso ir. — ela se levanta parecendo chateada.
— Por que? Não vai! Tá cedo! Se hospedará em nossa casa, não é!? — Lara
diz, encara Vitor, e ele permanece em silêncio fitando as próprias mãos e
parecendo também chateado.
— Hoje não! Mas obrigada. Estou cansada. Ficarei no hotel por hoje. Nos
vemos amanhã. Tudo bem!? Me desculpe, gente, mas preciso descansar! Foi
um prazer. — ela diz, cumprimenta Vitor com um selinho sentido o
encarando nos olhos, e sai apressada.
— O que foi isso? O que deu nela? — Greg questiona.
— Ela acha que ele mentiu. Acha que Vitor a está iludindo. Combinou com
Vitor de fingir um relacionamento, e quando tudo ruiu, não entendeu o
porquê ele disse o que disse. Muito provavelmente acha que ele está tentando
iludi-la porque Vitor jamais se abriu anteriormente. Talvez pense que é mais
uma cena mais falsa que nota de três reais só para fazer parecer que Vitor
realmente a ama quando na verdade é só mais uma mentira porque eu
suponho, ele nunca se abriu tão facilmente como agora, e para ela seria
impossível isso acontecer. Meu palpite é que ele brincou de falar a verdade
com a ajuda da bebida e isso não colou pra ela!
Júnior traduz com maestria o que aconteceu e Vitor bufa lamentando.
— Vá atrás dela. Faça ela acreditar em você! — eu o aconselho e ele ri.
— Eu menti seu zé mané. Se ela acreditasse que eu quero algo sério, passaria
ao papai mais confiança. Marcella me conhece, viu que eu menti! Por isso
ficou chateada.
— E eu quase caí nessa! Me lembro do que falou sobre relacionamentos.
Você jamais será um bom namorado para ninguém e o que está fazendo com
ela é muito feio! Está iludindo a menina, ela gosta de você. — Lara diz
irritada.
— Deixa de ser boba, ele está mentindo. Júnior está certo falou verdades
brincando e como ela não acreditou, jamais vai assumir! É um bobo inseguro
que tem medo de confiar e se magoar. Não lembra de como eu fui contigo no
início!? — eu questiono e ela me olha torto, ainda estava brava com ele. —
Eles se gostam, apenas ficam se desencontrando. Quando ela descobrir que
tem seu coração nas mãos vai dar uma chave de coxa nele e aí teremos um
casamento memorável, uma lua-de-mel espalhafatosa e burlesca, e filhos
catarrentos que ele nunca saberá se é realmente o pai. — eu digo, rimos
juntos, e ele sai dizendo que estava exausto de mim, mas todo mundo sabia
que na verdade ele ia pegar um táxi correndo pra ir pro hotel da princesa
tristonha.
(...)
— Ei... ainda acordada? — entro no quarto da princesa e a vejo fitando o
nada. Eram duas da manhã e eu só pretendia dar um beijinho e verificar se
estava coberta.
— Não consegui dormir. Estava esperando a Lara chegar pra terminar a
historia da Pollyanna que ela estava lendo pra mim, mas aí lembrei que ela
está de mal de mim.
— E com razão, não é!?
— É. — ela diz simplesmente e volta a fitar o nada, beirando o choro.
— Lara te ama muito, por que você faz essas coisas com ela? Por que é tão
cruel, filha???
— Como eu ia entregar o recado pra ela??? E se ela perguntasse o por que? É
reunião de mães e ela é minha madrasta!
— Ficou com medo de ela te dizer que não iria porque não é tua mãe??? —
eu questiono e ela balança a cabeça. — Como pode ser tão boba!? Convidá-la
pra participar disso faria Lara extremamente feliz! Que bobagem, Allana!!!
— Eu só queria minha mãe aqui! — ela diz caindo no choro.
— Mas ela se foi! Infelizmente ela se foi. Agora você tem a Lara. Não
precisa deixar de amar uma para amar a outra. Você tem sua mãe no coração
e Lara aqui para cuidar de você como sempre tem sido. Mas eu não vou mais
falar disso contigo, já falei tanto! Agora deixa de ser boba e deixe Lara cuidar
de você. Lara faz tudo por você, não sente falta dela quando ela se afasta por
ficar chateada? Como agora?
— Sim.
— Então... pare de tratá-la mal. Sua mãe ama a Lara, não deve estar feliz com
seu comportamento. Peça perdão por tê-la magoado, peça para que ela te leve
na reunião e retribua o carinho que ela te dá. Quando suas amigas
conhecerem a Lara, morrerão de inveja de você, da madrasta linda que você
tem e do amor que você recebe! Sem contar que Lara vai levar o melhor
lanche da tarde que aquela escola já experimentou. — eu falo e dou risada. —
Se realmente não quiser, ok, Lara vai entender, eu vou entender, mas ela vai
ficar muito feliz se você a convidar. Tudo o que ela mais quer é cuidar de
você!
— Tudo bem. Vou convidar!
— Certo. Quer que ela leia o livro pra você dormir? — eu pergunto e ela
balança a cabeça com receio.
— Está bem, vou chamá-la. Boa noite, amor. Durma bem. Eu te amo!
— Também te amo pai! — beijo sua testa, ela seca os olhos úmidos e eu sigo
para o quarto.
Encontro a criatura de calcinha e sutiã na frente do espelho do banheiro e
separando alguns dos produtos pra pele que costumava usar antes de dormir.
— Tua enteada está esperando que alguém leia Pollyanna pra ela. — eu
resmungo abraçando-a e ela no ato já encosta seu bumbum no lugar certo.
— Vou tirar a maquiagem e já vou! — ela sorri me encarando pelo espelho e
eu concordo.
— Maquiagem poderosa, não sai no banho!?
— Não totalmente. É a prova d’água.
— Hum... — murmuro, pego o pedaço de algodão, molho no produto que ela
já havia aberto e sinto meu pau ficar duro no ato quando ela apoia as mãos na
pia de granito e empina o bumbum se esfregando em mim sem pudor algum.
— Agora vamos conversar sobre hoje. — meto a mão esquerda dentro de sua
calcinha e a instigo primeiramente com calmaria. Gostoso, com lentidão. Na
mesma hora ela baixa a bola e toca a nuca em minha clavícula só
aproveitando o momento.
— Jamais voltaremos naquele lugar. A próxima vez que a senhorita mentir
pra mim, não importa a ocasião, vai levar uma surra de cinto, uns tapas nessa
fuça, e ficará de castigo. Acabou a farra, espero que jamais sinta falta da
“vida de solteira”.
Digo acarinhando seu ponto ‘G’ com a mão esquerda e retirando seu batom
vermelho com o algodão e raiva contida. Deveria ficar linda só pra mim.
— Não preciso de nada disso pra sentir tesão em você. Basta olhar pra mim
com essa carinha de puta dissimulada que eu já fico a ponto de bala. Não tem
segredo. Basta dizer que quer e eu boto pra fora pra você sentar. Quer dar
uma renovada na rotina!? Pesquise um hotel pela internet, uma pousada em
algum país cuja culinária é incrível, eu tiro alguns dias pra trepar contigo nas
ilhas Cayman, em uma praia deserta, em um bangalô fodido, dentro do nosso
carro, no jardim, ou em qualquer retiro sexual onde só eu contemple essa
boca vermelha, esse corpo em um vestido minúsculo, e esses gemidos que me
deixam perto de gozar sem fazer esforço. Te compro fantasias se isso te
excitar, me visto até de super-homem se quiser, mas não me invente mais
nada parecido com ontem. Vai casar comigo, será minha esposa, então
comece a se contentar comigo e apenas comigo. Assim como você já me
disse. Não existe ninguém além de mim, então simplesmente se contente
comigo!!!
Eu afirmo passando o pedaço de algodão por todo o seu rosto e contemplando
a mágica que era vê-la voltar ao seu natural. Rostinho de ninfeta delicada.
— Você entendeu?
— Sim. — ela geme quando acelero os movimentos dos dedos. — Ai,
Vince... isso...
— Que bom! Boa garota!!! Olha lá que coisinha mais deliciosa. — faço-a
encarar o espelho. — Não precisa de muito pra ficar bem depravada e me
tirar o juízo. Você já faz isso naturalmente sem esforço algum.
— Por favor...
— Por favor o quê?
— Não para!
Ela sussurra gemendo, eu ergo sua perna esquerda e faço de meus dedos um
verdadeiro estimulante veloz que a faz miar cheia de dengo e se contorcer
inteira. Seu orgasmo era a coisa mais linda de se ver.
— Só minha... minha garota, meu corpo, minha boceta. Pra sempre e sem
volta! — falo em seu ouvido e ela continua apoiada na pia para não cair
quando eu me afasto. — Agora vai ler o livro pra tua enteada e desculpá-la
por ter te magoado. Acabou a noitada, se concentre em suas
responsabilidades. — digo para provocá-la e sorrio sem que ela consiga ver,
pois permanece de cabeça baixa arfando e tentando se recuperar.
Me jogo na cama, suspiro feliz da vida e apago.
Quando desperto não encontro a criatura do meu lado e sorrio olhando pro
teto e me lembrando do momento em que a despertei de madrugada e tirei
“meu atraso”. Havia feito a boneca gozar no banheiro, mas eu mesmo não
gozei, estava em dívida comigo. Acordei a pequena já metendo forte em sua
boceta e judiei até cansar, do jeito que ela amava.
Pego o celular e disco seu número, pois dali eu não via sua bolsa de mão no
cabide no canto do quarto. Lugar onde ela sempre a deixava.
— Oi!
— Posso saber onde a senhorita está? Nem um bilhete...
— Desculpe! Vim trazer Allana ao shopping pra comprar algumas coisas pra
nós, roupas para hoje à noite, para a viagem e comprar alguns ingredientes
pro jantar!
— Ela está por aí?
— Tô olhando pra ela agora mesmo. Entrou na Pucket então só vai sair
quando eu der uma bronca por ser gastadeira. — ela diz e ri.
— Vocês se entenderam ontem à noite?
— Sim. Ela me pediu desculpas e disse que só ficou com vergonha de me
pedir pra ir. Vince, Allana achou que seu convite era “pedir muito”! Que
muitas das coisas que eu faço não é minha obrigação. Expliquei que vai além
disso, que é mais do que minha obrigação, é algo que amo. Cuidar dela é algo
que amo e isso não vai mudar, nem se ela se revoltar de novo.
— Que noiva amorosa eu tenho. — eu sorrio.
— Eu sou mesmo, portanto espero que não esteja sendo irônico.
— Não estou. E eu te amo por isso, mais ainda!
— Deu pra notar, de madrugada...
— Sei que você amou.
— Amei e quero mais.
— Vem logo, então. Tô aqui duro. Não gosto de dormir sem você e muito
menos acordar sem você. Vem cá pra eu descarregar meus filhotes! — eu falo
e ouço ela rir. — Chupar cada dobrinha dessa boceta deliciosa e te fazer
gritar pra casa inteira ouvir. — eu digo e ela resmunga um “Ai, Vince,
para...” com aquela vozinha que faz meu pau latejar. — Diz pra mim, de que
cor é tua calcinha?
— Vince...
— Responda!
— Preta.
— Quero detalhes.
— Rendada, com pequenos babados dos lados...
— Eu gosto dessa. Mal tampa tudo. É uma das que você gosta de usar quando
coloca aqueles shorts larguinhos. Fica abrindo as pernas o tempo todo só pra
eu ver. E além de tudo te entrega quando está excitada porque o tecido deixa
o molhadinho aparente.
— Nem parece que trepamos a noite toda. Tá muito tarado. O que você tem?
— ela abaixa a voz pra falar e eu sorrio me tocando.
— É saudade. Acordei ‘daquele jeito’ e você não estava do meu lado. Já
despertei na vontade de me enterrar e te acordar sentando a vara. Isso é
imperdoável! Vou me levantar, vê se não demora.
— Tudo bem seu safado. Eu já estou indo! Te amo!
— Eu também te amo gostosa! Um beijo.
— Beijo! — ela diz e sei que disse isso sorrindo, conhecia a criatura.
Bato uma no chuveiro desperdiçando os filhos que ela queria pra não descer
duro como pedra, me troco, e encontro o rebelde no sofá!
— Como vai, carente? Bom dia! — resmungo quando me aproximo para
cumprimentá-lo e ele me surpreende ao se levantar. Vitor me abraça e me
beija o rosto.
Ele havia ficado uma temporada grande em um país árabe alguns anos atrás e
meu pai uma vez me contou que voltou de lá com a mania de cumprimentar
daquele jeito.
— Bom dia, irmão. — ele sorri e volta pro seu jornal.
— Se entendeu com ela?
— Sim. Transamos mais um pouco, transamos de manhã, e transamos antes
de eu chamar um táxi. Queria voltar para os Estados Unidos, pegar um voo
ontem mesmo, mas não deixei.
— Por que não assumiu na frente de todos que gosta da garota depois que ela
foi embora? A história que me contou enquanto estávamos esperando elas
chegarem, também “era mentira”, é?
— Gosto dela e não nego. Mas não daremos certo. — ele baixa o tom de voz.
— Manterei meu plano, pagarei pela ajuda e a deixarei partir. Assim será
melhor.
— Você é muito cabeção. E se ela aparecer com um namorado sério!?
— Mando executá-lo e volto a ser feliz. — ele diz, ri e faz aquela cara como
quem diz, “chega desse assunto” quando meu pai e minha mãe adentram a
sala.
— E eu estou vivo para ver meus filhos trocando confidências. — meu pai
soa feliz, me abraça e ri da minha cara.
— Estou aqui tentando colocar juízo em sua cabeça. Bom dia! — eu
resmungo e Vitor nega.
— E aquela história do dinheiro, é real? Vai dar dinheiro pro Júnior?
— Pedi a Tia a conta dele e fiz a transferência, sim.
— Ajudou o menino, filho??? — minha mãe sorri admirada e Vitor dá de
ombros.
— Ele será um excelente psicólogo, até ouvi que já é mesmo se formando
agora, vai comprar o escritório com o dinheiro, e ficará tão grato que não vai
recusar um sócio investidor. Só pensei no nosso futuro. — ele mente
constrangido e eu nego revirando os olhos.
— Aqui você não precisa dissimular. Pode confessar que foi caridoso e
bondoso. Só não diga isso pra ele! — meu pai diz e ele dá de ombros de
novo.
— Quem ajuda as pessoas de verdade não fica se vangloriando, papai!
Caridade a gente faz no íntimo com Deus. Quando deixamos as pessoas
saberem, não é bondade, é massagem no próprio ego. — ele fala, meu queixo
cai, e minha mãe mia como um gato.
— Você é cristão?
— Tem dias que sim, tem dias que não. — ele diz franzindo o cenho para
parecer confuso e eu dou risada. — Deus é um cara interessante, você não
acha!? Um tanto irônico, um humor ácido...??? Gosto dele.
— Não sei, se você está falando. — eu rio mais, sigo pra cozinha tomar um
café reforçado, e aproveito a ausência de Tia para ligar pro seu filho.
“Fui ao mercado comprar alguns produtos de limpeza, não consegui falar
com Lara e não sei se ela vai trazer. O café está fresquinho. Já volto. Tiana.”
Era o que dizia o recado na porta da geladeira.
— Oi, compadre! — ele diz animado e eu sorrio.
— Bom dia, doutor da paixão! Como está?
— Bom dia, Vince! Tô bem e você? Ansioso para se casar?
— Muito. Já fez as malas?
— Estou quase terminando.
— Legal. Escuta. Preciso de ajuda com uma coisa. — eu abaixo o tom de voz
e espio pela porta da cozinha. Ninguém nos ouvia.
— Certo, o que foi? Você está legal?
— Sim, eu estou, estou muito bem na verdade. É Greg quem não está.
— O que foi que houve com ele???
— Ontem quando vocês saíram na frente, ficamos pra trás e trocamos
algumas palavras. Me reconheci em suas lamúrias. Greg está com depressão e
com papo suicida. Estou bem preocupado.
— Quer que eu bata um papo com ele?
— Quero muito mais do que isso, amigo. Greg me pediu autorização de
forma amigável por incrível que pareça, para fazer exame de DNA na Allana.
Ele realmente acha que pode ser o pai dela.
— Tá me zoando!? Mas você disse que tinha provas e tinha certeza de que
ele não é. Allana é tua! Certo!?
— Certo. Só que quero que você cole nele e faça um acompanhamento
psicológico durante esse processo. Sei que ainda não pode atuar, mas você
me ajudou tanto, acho que pode fazer algo por ele. Pelo menos peço que
tente, por mim. Ele precisa de ajuda e sei que frequentar uma clínica e “levar
a sério” ele não vai, Greg nem notou ainda que precisa de ajuda. Só quero
que se aproxime, ofereça uma amizade e bons conselhos. Você é muito bom
nisso, obviamente.
— Faço isso, sim. Claro!
— Só que eu pensei em algumas outras coisas... é uma decisão muito... ah!
Deus... é uma loucura. Pensei muito no restaurante e sei que esse assunto não
me sairá da cabeça, Júnior. Mas sobre isso quero conversar contigo
pessoalmente. Podemos nos ver hoje? Lara vai levar Allana na reunião por
algumas horas e vir direto pra cá pra cuidar do jantar então terei a tarde livre.
Podemos conversar em um lugar reservado?
— É claro que sim. Você passa aqui?
— Sim. Te aviso quando eu sair de casa.
— Então fechou.
— Ok. Até já. Obrigado, Júnior!
— Tamo junto! Até já!
Júnior diz, se despede e eu suspiro. Seria uma das conversas mais difíceis que
eu teria com alguém.
CAPÍTULO 10

TUDO O QUE EU AMO EM VOCÊ

— Ai, mãe. Para de graça, é só um jantar. Não precisa de tudo isso.


— Mas é um jantar importante, os pais deles são podres de ricos, vou chegar
aí parecendo uma mendiga, Lara.
— Não te dei aquele cartão? Vá até o shopping, compre algo legal se estiver
insegura, mas eu gostaria que viesse com as roupas que têm, do jeito de
sempre! Você é maravilhosa, mãe, é linda, dona Norma já te conhece, ela e
seu Henrique adoram você... — eu vou falando com minha mãe enquanto
coloco uma picanha no forno e sinto aquela presença marcante, seu peito
forte e protetor em minhas costas e depois aquele volume ainda adormecido
deliciosamente no meu bumbum.
— Eu sei filha. Mas queria companhia pra me ajudar a escolher. E também,
tem a viagem... tô tão nervosa... como vou para a Grécia vestindo os panos
que eu mesma fiz com as "toalhas de mesa" daqui de casa...? Não dá pra
viajar assim. — ela diz no telefone e eu sorrio quando ele alcança meu
pescoço, e me toca minha intimidade ainda por cima da calça jeans. Ele tinha
mania de me tocar o tempo todo, o pervertido.
Ele faz movimentos sugestivos me estimulando de um jeito delicioso e parece
ignorar o fato de que eu estava vestida. Olho pra sua mão direita, vejo seus
dois dedos subindo e descendo, e umedeço os lábios involuntariamente.
Aquilo era uma perdição.
— Mãe, amanha posso ir com a senhora comprar roupas para a viagem, hoje
mesmo dei uma passada com Allana no shopping, vi coisas lindas, mas hoje
não dá. Hoje a senhora venha com o que tem em casa e não se preocupe mais
com isso, pare de bobeira. Manda um beijo pro meu pai, Vince chegou aqui,
preciso desligar.
— Tudo bem, meu amor. Então até já. Dá um beijo nele por mim, te amo.
— Também te amo. Tchau! — eu desligo, me viro, e me deparo com um
homem lindo como um anjo de cabelos negros, barba grossa e mais longa do
que no primeiro dia em que eu o conheci, e sorriso estonteante. Como eu
consegui ter aquele homem pra mim? Ele definitivamente era um anjo caído
porque aquele olhar em cima de mim exalava pecado.
— Boa tarde, amor. — ele diz e dá risada quando nota que não consigo
responder. — O que foi?
— Você... você é minha vida!
— Que bonitinha... ela está cada dia mais apaixonada... — ele zomba e eu
beijo sua boca acarinhando sua nuca. Imediatamente seus braços envolvem
minha cintura, e eu me entrego completamente. — Sabe do que eu tenho
saudade? — ele pergunta. — Dessa casa vazia. Chegar assim, beijar você, te
jogar na mesa e te amar sem correr o risco de ninguém entrar reclamando do
fuso, querendo olhar pra tua bunda, ou querendo ir ao shopping pra gastar
todo um império na Pucket. — ele diz e eu dou risada.
— Não seja tão malvado. Eles amam você!!!
— Eu sei, estou brincando. Quer dizer, na parte onde eu tenho saudade de te
comer na mesa, não é brincadeira. — rimos juntos. — Eu te amo mais do que
amei qualquer mulher em toda a minha vida, sabe disso, não sabe!?
— Eu sei, pois sou a melhor. — eu brinco.
— É, é sim a melhor! É por isso que sou completamente maluco por ti! — ele
diz e me beija brevemente. — Como foi na reunião?
— Arrasamos. Comprei um vestido igual ao dela pra ir, de primeira ela
reclamou como sempre, mas depois amou quando viu a cara de inveja de
todas as mães e professores. Eles estavam querendo me conhecer há muito
tempo e pelo o que descobri, eu sou o tema favorito dela lá na escola, ela fala
muito de mim!
— Jura?
— Pois é. Também fiquei surpresa. Eles dão atividades que ficam em fichas
lá, uma de suas professoras me mostrou. Os desenhos que ela faz, todos eles
têm nós três, ela me inclui como família, amei ver aquilo, tive que me
recompor pra ela não me ver chorar. Dizem que as crianças entregam tudo
nos desenhos que fazem, né!? A professora me explicou, todos os desenhos
dela são felizes.
— Ela não desenha a Nanda em nada?
— Teve um desenho. Só não surtei porque eu estava junto também e era eu
quem segurava a sua mão. — eu digo e ele ri concordando. — Allana é feliz
comigo aqui.
— É claro que ela é...
— E ela está bem nas aulas, notas boas... nenhuma reclamação, tirando o fato
de que é faladeira...
— Nenhuma situação chata...? — ele questiona e eu o encaro. Só de eu parar
pra pensar ele já ergue uma sobrancelha.
— Teve uma, mas nada que você precise se preocupar.
— Me diga o que foi!
— Uma criança chegou pra Allana e perguntou se eu era a sua mãe. Ela nem
teve tempo de responder, ela mesma perguntou e ela mesma respondeu que
“claro que eu não era, afinal eu era praticamente negra perto dela, e meu
cabelo era preto e não amarelo”. — eu falo e Vince perde o bom humor na
hora. — Tirei Allana de perto dela e expliquei que a garota era uma boba, que
estava tudo bem... Allana me olhou entristecida na hora, achou que eu fiquei
chateada...
— E você ficou? — ele pergunta e eu me lembro de como foi a sensação ao
ouvir aquilo.
Passo a vê-lo embaçado, ele me puxa pela nuca e eu afundo meu nariz em seu
peito sentindo aquele cheiro bom que me fazia um bem danado.
— Ah! Só um pouquinho, mas passou rapidinho.
— Ela te ama muito. Nós dois te amamos muito! Esse vazio vai passar, te
prometi um mundo de filhos, te darei isso. Vai ser mãe, não madrasta, será
mãe dos meus filhos!!!
— Promete?
— Eu prometo! Por que acha que eu tirei férias de três meses? — ele sorri. —
Ou você volta barriguda ou não volta! Só vou te trazer pra casa quando tu
ficar prenha! Jaqueline já está preparada para me substituir pelo tempo que
for necessário. Se for preciso um ano, dois, três, assim será. E nós vamos
trepar tanto, mas tanto, mas tanto, que tu vai voltar toda torta! — ele sussurra
e eu dou risada. Quando penso em responder aquele absurdo, seu gêmeo
entra na cozinha após bater na porta para chamar a atenção.
— Oi casal dez... posso falar com você, um minuto? — Vitor encara Vicente.
O assunto parecia ser sério.
— Espera aí, me fala como foi o encontro com o Júnior, o que houve??? —
eu murmuro quando ele decide seguir Vitor para saber a respeito do assunto.
— Depois a gente conversa. — ele diz, eu só o encaro, e ele me dá um
selinho com os olhos abertos, só tentando me ler...
Ele segue Vitor que eu imaginava seguir um caminho até o escritório e eu
seguro o impulso de ir atrás para ouvir com a orelha colada na porta. Me
forço a continuar agilizando tudo o que faltava pro jantar, e termino tudo em
tempo recorde. As saladas estavam cortadas, a picanha já estava no forno, as
entradas eram tortinhas frias de todos os recheios que já foram preparadas
antes da reunião, e eu havia acabado de fazer as sobremesas que nada mais
era do que a minha favorita, o mundo todo precisava amar aquele ‘simples’
bolo com sorvete e iam, ou eu não me chamava Lara.
Agora eu só precisava tomar um banho, montar a mesa, e esperar todos
chegarem. Já havia liberado Tia assim que cheguei para que fosse pra casa se
arrumar, trazer Junior e o maridão. Meus sogros estavam na rua fazendo
alguma coisa, acho que compras também, e Allana estava no quarto
namorando seus vestidos e sapatos novos, tudo em seu devido lugar.
Como se sentisse, assim que fiquei nua e me dei o direito de tomar um banho
de banheira bem demorado, Vince entra no banheiro com seu sorriso de lado
como se tivesse ganhado na loteria por chegar bem na hora.
— Espera. — ele resmunga fechando a porta assim que eu ameaço subir as
escadas.
Ele me beija apertando minha cintura, se ajoelha, beija meu ventre com
carinho, e abocanha minha intimidade sem dizer uma palavra, só para quando
grito sentindo um mundo sair de dentro de mim. Eu nem sabia que estava tão
cansada, tão tensa... me fez colocar uma perna no degrau mais alto e ficou ali
até notar que eu logo cairia de pernas bambas.
— Agora sim. — ele diz, me beija a boca de novo, e eu posso sentir meu
gosto em seus lábios. — Agora minha noiva prendada e dedicada pode tomar
um banho ainda mais relaxante!!!
— Obrigada por isso. — eu sorrio e ele ri achando graça.
Me ajuda a subir nos degraus, pega a essência perfumada que eu amava usar,
arrasta um banquinho pra borda da banheira, e vai jogando as pedrinhas que
borbulhavam e faziam espuma na água que antes era cristalina.
— O que o Vitor queria? — já pergunto logo porque sou dessas.
— Queria contar que o ex da garota já soube que ela está aqui, tentou chegar
perto dela, mas não conseguiu porque ele encheu o hotel de seguranças.
Colocou a garota numa bolha. Agora só quis avisar que ela está aqui, está no
quarto. Eu disse que ela poderia ficar à vontade e que você logo iria recebê-la
para deixá-la ainda mais confortável e se sentindo em casa!
— É claro. Eu vou até lá. — eu falo e ele pega o sabão e a esponja para
esfregar meu corpo, amava fazer aquilo. — O que ela fez pra ele? Ele te
contou?
— Contou. — ele diz passando a esponja no meu pescoço e no colo que
estavam fora do limite da água. — Mas eu quero você longe dessa história
toda.
— Eu só quero saber...
— Vai se envolver porque é a defensora dos fracos e oprimidos. Conheço
você. Fique fora disso. Se preocupe agora com nosso jantar, nossa viagem,
nosso casamento... nada além de nós dois. — ele fala, e passa a acarinhar
minha intimidade como se realmente me desse banho, mas só que não, ele só
estava tirando proveito de mim. E eu amava aquilo.
— E com Júnior? Sobre o que falou?
— Por que fechou as pernas? — eu havia fechado mesmo. — Abra.
— Vai me fazer gozar de novo, vou ficar mole, com sono, vou querer dormir
e não posso. Então vai parando, e me conte. Converse comigo e depois do
jantar a gente dá um jeito nesse seu fogo aí. — eu reclamo, ele então para e
quando antes sorria como um depravado, agora parecia chateado demais por
ter que tocar no assunto.
— Greg me pediu na noite da boate que me deixasse fazer um exame de
DNA na Allana.
— O quê???
— É isso mesmo que você ouviu! — ele diz e eu não acredito. — Fui
conversar com o Júnior a respeito de ajudá-lo psicologicamente. Greg parece
que está com uma depressão muito fodida. Eu estava do mesmo jeito quando
te conheci, só estava de pé pela Allana, ele ainda sofre muito. Me confessou
de novo, e eu digo de novo porque quando eu fui até a casa dele naquele dia
que passei a tarde e a noite toda fora e nós brigamos, ele já tinha falado nisso,
bêbado. Disse que se deitou com Nanda inúmeras vezes enquanto ela ainda
era casada comigo...
— Greg disse isso? Está falando sério, Vince???
— Estou.
— E... é verdade? Eles eram amantes?
— Eram. — meu Deus.
— Nossa. Eu... sinto muito. Eu me lembro de você ter falado a respeito
naquele dia, lá na casa da minha mãe. Sinto muito!
— Sente?
— Não. — ele ri. — É reconfortante saber que ela não era uma santa, — ele
ri de novo. — desculpa. Mas jamais a julgaria. Cada um sabe de si, ela se foi,
não vou crucificá-la nessa altura do campeonato. — eu digo e ele concorda.
— Então há possibilidades de...
— Não. Eu já precisei fazer um exame na Allana, fiz quando tudo aconteceu,
um tratamento lá fora, estava muito preocupado com a possibilidade de
perder Allana pro câncer em um futuro próximo, como foi com a mãe
também, aliás, era uma das minhas preocupações quando te conheci, essa
doença maldita pode chegar perto de qualquer um e destruir famílias. Estava
com medo. Precisei comprovar paternidade pra doar um pouco de minha
medula pra ela, ela é minha filha. E é esse o "problema"...
— Greg vai pirar... vai querer morrer de tanta tristeza e decepção.
— Pois é.
— Mas o que você foi falar com Júnior? Ele vai ajudá-lo como te ajudou???
— Essa é a minha esperança, que ele seja tão bom pra ele como foi pra mim.
Júnior foi um grande amigo em um momento difícil demais. Espero que
possa ajudá-lo também... — ele diz e parece ter terminado, mas eu conhecia
aquele homem tão bem, mas tão bem...
— Ok, e o quê mais?
— Como assim o quê mais?
— Tem mais nessa história que eu sei, estou vendo...
— Eu prometi deixá-lo fazer um teste se ele deixasse Júnior acompanhá-lo do
início ao fim desse processo e até depois do resultado. Ele aceitou e eu vou
resolver isso.
— Poxa vida, sem falar comigo? Aceitou fazer o teste e eu só ia saber
depois? Nem falou pra ele que eu precisava estar por dentro do assunto... —
fico mal e ele nega na hora.
— Lara... nem pira agora que eu nem te contei o pior... então espera mais um
pouco para se descabelar. — ele fala e eu já arrumo a postura. Mas que
merda...
— Eu pensei por um momento, em... dar um resultado positivo pra ele.
— Mas você é muito maluco!!! — eu desencosto do apoio estofado e me
sento ignorando o frio que senti por ter meu colo e seios pra fora da água.
— Eu sei, só pensei nisso, falei com Júnior, pesei os prós e contras, não faria
sentido fazer Allana acreditar nisso, ia ser um sofrimento horroroso e inútil já
que seria uma mentira. Eu sei! É só que Allana tem muito amor pra dar, e é
uma menina que demanda muito amor também, ter mais "um pai" seria
incrível, que mal faria? Greg ama Allana, tem certeza absoluta que é filha
dele. E olha, eu te confesso que já me peguei pensando nisso muitas vezes!!!
Ela parece mais com o filho da puta do que comigo. Eu amo a minha filha,
jamais abriria mão dela, nunca faria isso, mas nesses últimos dias eu pensei...
— Eu não quero te ouvir, não quero te ouvir...
— Lara. Eu só pensei que dar ao Greg o direito de conviver com a Allana
seria bom. Para ele e para ela. Só isso. Deixá-lo ter um contato a mais. Allana
vai conhecer alguém que amou muito a mãe dela, e que pode falar sobre ela
livremente. Terá em Greg um grande amigo, alguém que a gente confia,
alguém que vai poder cuidar dela quando não estivermos presentes... ela já
tem duas mães, por que não dois pais!?
— É mais um pra ficar enchendo a cabeça dela sobre como a mamãezinha
morta é insubstituível! Tem duas mães bosta!!! Tem uma só!!! — eu falo
baixo com raiva e ele ergue uma sobrancelha. — Não!
— Achei que não era contra a menina falar sobre a mãe, pensar nela... não
estou te reconhecendo.
— Quando ela fala por si só, eu engulo. Allana sente falta, eu entendo, tenho
que aceitar. Mas ela não precisa ser estimulada, não. Quanto mais pensa nela,
mais me vê como uma intrusa! Nanda morreu, então deixe-a em sua maldita
cova!!!
— Olha ela... — ele fica puto, abaixa o tom de voz quando eu termino de
rosnar segurando os gritos na garganta, e avança com a mão em mim sem
antes erguer a manga da blusa. —... morrendo de ciúmes de uma filha da puta
morta! Uma vadia com ciúmes de uma puta! Posso com isso!?
— Pelo menos nunca te chifrei!!!
— Na teoria já, e com meu próprio irmão. Só não conseguiu fazer pior
porque o Greg...
— Retire o que disse... — eu falo e aperto o teu pau moderadamente. Só pra
começar.
— Se você machucar as minhas bolas pode diminuir as chances de ser mãe
dos meus filhos...
— Já sou mãe!!! E a melhor que ela poderia ter, agora retire o que disse!!! —
eu aperto mais um pouco e ele só me olha nos olhos com muito medo e raiva.
— Eu retiro o que disse...
— Eu sou decente...
—... você é decente...
—... nunca te traí, aquilo foi um acidente lamentável que ele se negou a
evitar...
—... foi um acidente lamentável que ele se negou a evitar...
—... e eu sou uma mulher muito direita, não tenho nada de indecente a não
ser que seja na cama com meu marido, e mereço respeito e ser tratada como
uma rainha e não comparada a ela!!! E que isso jamais se repita, não vai mais
ficar me comparando, não gostei disso, se fosse o contrário ia quebrar a casa
inteira...
Eu peço pela última vez, ele repete tudo segurando o inferno dentro de si, e
então eu comemoro por dentro, mas minha felicidade por me impor não
durou muito. Assim que ele se viu livre da minha mão, me puxou pelos
cabelos, me colocou no seu ombro sem ligar pro fato de que eu estava
molhada e nua, e me tirou dali rapidamente. Só o que eu lamentava era que
meu carpete fofinho e branquinho ia ficar úmido, e eu precisaria passar o
aspirador com vapor aquecido antes que estragasse e manchasse. Portanto,
Vicente teria que me comer rapidamente. Sorri ao pensar naquilo.
— O que foi, maldita? Tá sorrindo por quê?
Ele me vê sorrir quando me joga na cama e eu tento parar, mas não consigo.
— Eu sei que o castigo vai ser trepar!!! Quero que me chupe... faça o que
quiser comigo! Amo seus castigos. — eu dou risada alisando sua barba com
os dedos do pé e ele não vê graça alguma.
— Ah! Ama!? — ele fica bravo, me oferece as costas, e eu me desespero.
— Vince!!! Por favor... — eu digo o que ele quer ouvir e só por isso ele para.
— desculpa! Não devia ter feito aquilo, me perdoa! Quero fazer amor agora,
vem cá! Me desculpa!
— Vai precisar de mais do que isso!!! — ele diz sai e eu me sinto frustrada,
mas me divirto. Só espero que ele tenha entendido minha posição com
relação àquela história. Se quisesse se casar comigo ia ter que começar a
pensar em nós dois, em nós como um casal, para qualquer decisão que
precisasse tomar. Sem chance de eu permitir aquilo.
Coloco alguns bobes nas pontas das mechas de meus cabelos cumpridos,
visto meu roupão porque quanto menos tempo eu passasse com o vestido,
menor seria as chances de eu me sujar, e sigo para o quarto da pirralha.
Estava ela com dois vestidos estendidos na cama e uma carinha confusa.
— E então? Qual vai usar?
— O que você não usar, é claro!!! — ela diz e eu dou risada.
— Poxa, não quer ficar igual a mim???
— Isso é tão brega!!! Ninguém mais faz isso! Essa coisa já passou!
— Tudo bem! Então coloque o rosa... combina muito com você e você adora
rosa...
Eu falo, ela me encara, e depois fita os dois vestidos. Eu havia comprado dois
pares iguais de tamanhos diferentes como na festa de noivado. Ambos
floridos e rendados, dois da cor rosa, e dois da cor preta. Eu achava aquilo
muito fofo, e ficava muito lindo nas fotos que tirávamos... mas... ela não
gostava...
— Tudo bem, eu vou usar o rosa então... — a loirinha diz e eu sorrio
concordando. — Lara! — ela me chama quando eu alcanço a porta. — Eu te
amo!!!
— Também te amo sua tampinha!!! — eu digo, sorrio pra ela e aproveito
para bater na porta do novo casal do pedaço. Quem me atende é uma
Marcella totalmente tímida.
— Oi. Posso entrar?
— É claro!!! Tudo bem? — ela pergunta e me abraça.
— Tudo e você?
— Estou bem, graças a Deus. Feliz por ter você aqui!!! — eu entro e não
encontro Vitor. Ela estava sozinha. — Cadê o Vitor?
— Ele está um pouco agitado com tudo o que está acontecendo desde que
cheguei. Ele foi falar com o irmão e disse que depois disso ia resolver algo na
rua.
Ela fala e se senta na cama. Era impressionante como o seu estilo era bem
parecido com o meu. Só o que tinha de diferente entre nós duas eram os
lábios e seus olhos que eram azuis, mas tínhamos quase o mesmo biotipo,
tirando que ela era mais cheinha e eu mais magrela, mas o mesmo tipo de
cabelo e tamanho, e o mesmo gosto para roupas simples. Ali, naquele quarto,
sozinha e com a TV baixinha, parecia se esconder... parecia uma criança que
precisava de proteção, e Vitor estava fazendo exatamente isso. Ele a protegia.
— O que está acontecendo? Pode me contar? Eu só queria estar a par, mas
ninguém quer me dizer... e eu tenho um sério problema com curiosidade.
— Bom, o Vicente disse que você ia me perguntar e te mandou um recado.
— ela diz e ri me fazendo rir também. — Ele disse que quer saber se você
não está atrasada para alguma coisa... já que temos um jantar é melhor você ir
cuidar dos assuntos de vocês senão você vai levar uma surra!!! — Marcella
diz e ri da minha cara. — Mas eu te digo se quiser mesmo saber, é só não
dizer nada pra eles. Vitor disse que você é muito defensora dos fracos e dos
oprimidos e...
— Vitor?
— O quê?
— O Vitor que te disse isso?
— Sim!!! Disse aqui pra mim, antes de ir falar com o Vince! Disse que com
certeza me entenderia por algo que aconteceu com teu pai, mas que ele não
queria que você se metesse nessa, porque aí seria mais uma filha da puta pra
ele proteger. E já te peço desculpas por isso, ele chama todo mundo assim,
não é pessoal... — ela fala e sorri.
— Você não se sente estranha ao ver o quanto aqueles dois são idênticos???
— Eu ainda não tive tempo de ficar impactada com isso. Não vejo os dois
juntos. Só no dia da boate, mas não sei, eu acho que reconheceria o Vitor de
qualquer jeito, mesmo com os dois vestindo roupas iguais e...
— Eu os vejo todos os dias com os mesmos ternos e gravatas e corte de
cabelo. A mesma barba enorme, a mesma postura... ainda é muito bizarro...
— Bom, o Vicente tem mania de ficar arrumando o cabelo? Assim? — ela
passa a mão fazendo um caminho da testa até a nuca e ri. — Porque o Vitor
faz isso o tempo todo!!! Ah! E ele também meio que morde o lábio quando a
gente está falando com ele e ele está ouvindo. Ele faz isso com todo mundo...
— Não, o Vince não tem esses toc's não!!! Algo que ele faz muito é franzir o
cenho assim, quando está bravo, e bom, literalmente a intensidade do seu
olhar pra mim, é algo quase sobrenatural...
— Então... agora você já sabe!!!
— Qual é o lance de vocês??? É um namoro??? É o quê?
— É um namoro não assumido. Vitor não assume que me ama, não me trata
com amor na frente dos outros, mas também não pode "nem ouvir sobre a
possibilidade de me ver namorando" com outro alguém, ou seguindo minha
vida. Ele... ele só demonstra que é louco por mim, mas não fala. Por causa
disso já me afastei dele muitas vezes, “terminei” com ele muitas vezes, mas
ele sempre voltava. — ela diz e ri negando parecendo sonhar acordada. —
Quando eu menos esperava lá estava ele, sentado na melhor mesa como um
rei, sozinho, me vendo dançar... é o cara mais maluco que eu já conheci. Mas
também o mais apaixonante, viciante, e gostoso. — ela diz, mas quase pede
desculpas depois. — É erótico até dizendo 'bom dia', nunca pensei que teria
olhos para uma garota como eu. Ele todo cheio da fortuna, empresas no
mundo todo, carros, assessores, secretárias gostosas, "... agora eu tenho uma
reunião de negócios, não posso ficar.", "Oi, princesa, estou mandando o Bill
aí pra te buscar, fique linda pra mim...", "Oi, hoje eu não posso, mas quero
que fique em casa, não tem trabalho hoje então nada de noitada, fique em
casa. Não passe dos limites comigo, não me fode, garota!!!"... — Marcella
segue imitando Vitor e consegue direitinho, por isso dou risada.
— Ele é bem bipolar, Vince também era, mas melhorou. Vitor pode melhorar
também.
— Acho que não. Vitor é muito turrão. Quer saber o por quê ele me convidou
para fazer esse papel na frente dos pais??? Porque ele me viu conversando
com um cliente da boate, e não, não havia interesse, pelo menos não da
minha parte logo de cara, sabe!?!? O cara se interessou por mim, chegou em
mim quando eu estava no bar bebendo e esperando minha hora de ir pro
camarim e então fez uma piada muito engraçada, adorei o cara. Era
inteligente, engraçado, não veio só me xavecando, sabe!? Ele me cativou,
Lara, ele... ele me fez ter alguns segundos de esperanças de que eu podia sim,
ser feliz com alguém, esquecer Vitor que nunca soube o que queria comigo...
me fez pensar na possibilidade de ter algo real, família, filhos, futuro, amor...
mas aí Vitor estava lá quando ele me abordou e eu não vi. — ela ri enquanto
conta. — Ele me viu se divertindo, dando abertura pro cara me conquistar,
sabe!? Querendo ser cortejada por alguém... o gêmeo do mal chegou perto,
socou o cara, e fez um escândalo, não parou enquanto eu não aceitei sair de lá
com ele. Nesse dia quase fui mandada embora.
— E depois? — eu pergunto e ela nega fechando os olhos e rindo.
— Ele disse que tinha ido lá para pedir ajuda, que em breve viria pro Brasil e
precisaria de uma namorada de mentira, uma acompanhante. Eu neguei
dizendo que não era puta, que eu só iria se fosse como namorada de verdade
e ele ficou muito mal. Muito mal mesmo. Disse que eu precisava ter
paciência e que prometia ter uma conversa comigo a respeito de
compromisso, quando ele... — ela começa a dizer e me encara de um jeito
triste. —... quando ele conseguisse recuperar o tempo perdido, conseguir o
perdão do irmão porque ele me dizia que havia feito muito mal ao Vince,
quando conseguisse conquistar a confiança dos pais dele e tivesse a família
dele de volta, por inteira. Ele dizia que era um homem fodido, que era uma
pessoa totalmente sem caráter pessoalmente e profissionalmente e eu não
merecia um namorado assim, então me pediu paciência, me pediu pra esperar,
e então, cumpriu o que prometeu no hotel, naquele dia da boate. Viu que eu
estava triste...
— Ele não negou nada do que disse, negou?
— Não. Disse que foi a maneira que ele encontrou de fazer essas coisas
românticas que as mulheres gostam, só eu que não acreditei porque ele nunca
havia dito aquelas coisas fofas daquele jeito. Vitor nunca levou jeito com
aquilo, disse que está aprendendo, que eu precisava ajudá-lo e a ter paciência.
— E então você se derreteu todinha... — eu sorrio, mas ela não.
— Até que o Rafael, meu ex, descobriu o hotel em que o Vitor me hospedou,
acho que ele estava por perto quando eu liguei pra dar um ‘oi’ pra minha
mãe. Depois disso tudo mudou, ele esqueceu o romantismo, me arrastou pra
cá nos gritos, e nem quis me ouvir. E agora foi isso, disse que ia conversar
com o irmão, saiu sem nem me dar tchau, e eu suspeito de que não vai voltar
tão cedo.
— Ele está com medo por você? O que seu ex quer com você?
— Antes de eu... — ela começa, mas Vitor chega e abre a porta com tudo.
— Não sabe bater? — eu questiono e ele trava, não esperava me ver ali.
— Desculpe. — ele diz, entra retirando a blusa de moletom, dá um selinho
carinhoso nela e rapidamente se afasta. — Se ela estiver te importunando
com papo culinário mande-a zarpar daqui, não fique com cerimônia não,
viu!?
— Já foi hoje? — eu pergunto e ele ri. Antes que eu possa pensar em ouvir
uma resposta babaca dele, ele para na porta, encara nós duas com um
semblante indecifrável e inclina a cabeça parecendo pensar.
— Vocês são tão parecidas... digo, no estilo mesmo, sabe!? — ele diz e
Marcella me encara parecendo dizer “segura essa barra, amiga”. —... se eu
não te amasse tanto teria pensamentos sórdidos agora mesmo.
— Você já está tendo, Vitor, não seja tão babaca.
— Desculpe, princesa! Eu te amo! Você é única na minha vida... — ele diz,
Marcella franze o cenho e só aguarda... — hoje... — ele conclui, ela joga um
travesseiro, mas ele fecha a porta a tempo.
— Desculpe por isso, ele sempre faz isso, não é de verdade. — ela diz e eu
dou risada.
— Você fica sempre tentando justificar o que ele faz?
— É sério. Ele me ama. O que ele faz é só uma máscara, um jeito de fugir de
assuntos sérios. Ele tenta ser o piadista, mas é um homem extremamente
triste. Se você pudesse vê-lo como eu posso, ia entender. Por causa do
passado com o seu marido, Vitor tem uma escuridão dentro de si,
inimaginável. E eu tento, mas não consigo fazê-lo feliz. Não completamente.
— Mas Vince o perdoou sinceramente e...
— Vitor não se perdoou, não consegue de jeito nenhum se perdoar. Vitor
transou com TODAS as mulheres que Vicente gostou, se apaixonou ou
simplesmente se interessou. Sempre o maltratou porque ele era o “mais
amado pelos pais e pelos amigos”, o “mais inteligente”, o “mais disputado
pelas mulheres”, o “mais esperto”... ele fazia os amigos dele da escola,
baterem no Vicente até dizer chega, e sempre fazia a história mudar de um
jeito que conseguia sempre ser o dono da verdade. Ele fez muito mal pro
Vicente, muito mesmo, conseguiu o perdão dele, mas não se perdoou. Parece
que não, mas ele tem tanta culpa que você não tem noção!!!
— Eu tenho sim. Tenho noção.
— Pois é... e bom, com relação ao Rafael, antes de eu decidir partir para os
Estados Unidos... — ela começa e alguém bate na porta. EU NÃO
ACREDITO QUE EU NÃO IA SABER DO BABADO DAQUELA
GAROTA!!!
— Lara. — Vince coloca o pescoço pra dentro quando eu o autorizo e nos
avalia como Vitor fez, mas não faz piada, e nem trava. Ele sabia que eu
estaria ali, e se não imaginara, Vitor havia contado. — Marcella, tudo bem?
— ele é educado e ela sorri concordando. Depois de assentir ele me encara.
— Pode vir aqui um instante?
— Só um minuto, estamos conversando.
— Preciso de ajuda...
— Eu já vou. — eu falo e ele segura seu inferno interior só por causa da
“visita”. Odiava quando eu não obedecia, mas odiava ainda mais fazer cena
na frente dos outros. — É a Allana, Lara!
— O que houve? — fico preocupada e ele parece não querer falar com
Marcella ali.
— Venha ver você mesma!!! — ele diz e eu me levanto rapidamente.
— Nos falamos em um momento melhor, ok!? — eu digo e ela sorri pra mim.
— Quero que se sinta em casa, fique à vontade. Saia um pouco desse quarto.
— Vitor não quer que meus sogros saibam que eu estou aqui. — ela ri. — Ele
é muito teatral, quer que eu apareça na hora!
— Tudo bem. Mas qualquer coisa, é só arrumar um jeito de me chamar, fique
bem! — eu falo e me retiro. O bonitão faz um bico assim que eu fecho a
porta.
— Você não tem roupa não, mulher de Deus??? — ele rosna irritado e eu
paro no meio do caminho. Dou meia-volta e olho em seus olhos. Na hora ele
não entende nada. Vince vivia com medo de me ver puta da vida, ou triste.
— Você sinceramente não cansa de brigar comigo por bobagem?
— Canso!!! — ele afirma na hora, ri e me abraça. — Desculpa minha rainha,
mas pode, por favor, não andar de roupão pela casa???
— Desculpa, eu só queria poupar tempo. Vou me trocar depois de ver a
pequena monstrinha, o que ela fez??? Cadê ela?
— Não tem ela. — ele diz, ri e me segue quando eu sigo pro quarto. — Já
pedi pra ficar longe dessa história desses dois... me obedeça!!!
— Me dê um minuto, Vince, quero só descansar um pouquinho. Estou
exausta!!! — estava mesmo. Passei o dia inteiro andando pra lá e pra cá e não
ia aguentar brincadeira boba ou briguinha besta.
— Não me quer por perto? Quer que eu saia? — ele fica magoado e eu me
viro. Tinha me jogado de bruços na cama, estava esgotada e com preguiça de
brigar.
— Eu quero descansar. Deita aqui comigo. É melhor com você do que sem
você. Sempre foi assim.
— Eu não vou anular o casamento se você me disser que de vez em quando
vai precisar ficar longe de mim para ter seu espaço. — ele diz com
compreensão e eu me levanto. Me ajoelho na cama porque só daquele jeito,
ajoelhada, Vicente parecia me doar cem por cento de atenção sempre. Ele
amava me ver passiva, totalmente entregue a ele.
— Eu não tenho o menor interesse em espaço.
— Eu sei que te sufoco às vezes...
— Eu amo quando isso acontece. Eu fico puta com você e eu tô sempre tão
puta com você que quando não estou, não me sinto eu mesma. — eu falo e
ele ri. — Eu me sinto mais eu mesma quando você está tentando foder com a
minha paciência como faço com a sua. — eu digo e me engatinho até
conseguir agarrar em seu pescoço e subir no teu colo. — Você dizia que eu ia
acabar te fodendo, mas você também vive me fodendo... vamos ficar os dois
fodidos, juntos, pra sempre!!!
— Você nunca disse tanto palavrão assim junto, numa mesma frase.
— Desculpe...
— Não gosto quando fala tanto palavrão. Gosto de você calminha, arrumada,
com os vestidos que ganhou de mim que são mais cumpridos que os seus,
mais comportados, elegantes, com os cabelos arrumados e penteados de
forma quase formal, um batom clarinho, saltos fechados... uma verdadeira
dama! — ele diz sussurrando e eu evito rir alto.
— Que fetiche forte esse seu, hein!? Eu vivo comportada assim porque sei
que ama, e eu na verdade, realmente adoro os vestidos de mocinha
comportada que compra pra mim. Mas você é tão bobo, mas tão bobo, que
não nota que eu vivo fantasiada de noiva de granfino, moça do lar, mas o
tempo todo com porra escorrendo pelas pernas. — eu falo e bufo negando. —
Quem me olha nem imagina a grande puta que eu sou quando aquela porta
está fechada. Tapa meus joelhos, desfaz meus cachos exagerados com os
dedos, levanta meu decote, cobre os dedos de meus pés, e apaga meu batom
enquanto me faz gozar, tudo isso ao mesmo tempo em que arreganha minhas
pernas e goza em mim, ou me toca intimamente não importa onde eu esteja!
— Está reclamando?
— Estou. O que eu mereço? — eu resmungo com minha boca colada na sua,
mas ele não estoura ou me estapeia, ele só se afasta. — Vince... — eu
murmuro quando ele abre o enorme guarda-roupa.
— São vestidos lindos...
— São sim e eu amo! — eu me aproximo e o encaro. Olhava para cada
vestido com um semblante de dar dó.
— O que eu faço? Coloco fogo? Faço uma doação para alguma instituição?
Faço você engolir???
— Se tocar neles, arranco seu pau na unha! — eu digo, ele me encara puto, e
eu fecho o guarda-roupa com toda a calma que ainda me restava. — Vem cá,
deixa eu te mostrar uma coisa, deita um pouquinho aqui, vamos conversar...
— eu o puxo pela mão, faço-o se deitar, e me sento em sua boca. O silêncio
era maravilhoso e tua língua em mim era inexplicável. Vicente era muito
melhor calado.
(...)
— Como eu estou? — eu dou uma voltinha e ele dá de ombros. Estava com
um bico enorme desde a hora que “discutimos”.
— Devia colocar os vestidos que gosta. Arrumar o cabelo do jeito que gosta e
caprichar mais na maquiagem.
— Eu acho que vou ter que sentar na sua boca de novo...
— Você não me ama, não gosta dos meus presentes de moça decente, não
gosta do meu jeito de lidar com seu modo vadia de viver, e odeia quando eu
digo que prefiro você mais natural. Você não me ama, você me odeia isso
sim! — ele fala e eu dou risada, me sento em teu colo e continuo dando o nó
em tua gravata como ele já fazia antes...
— Eu te amo. Muito! E amo muito o teu jeito. Eu apenas gosto de falar
aquelas coisas e te provocar porque me excita te ver bravo, gosto do modo
que a gente faz amor quando você está bravo, amo o jeito como me trata em
todos os sentidos, já te disse isso. Nunca é reclamando, é sempre pra te
provocar e te deixar maluco! Amo essa fantasia de moça comportada, e gosto
de ser sua vadia. Gosto de viver com teu líquido escorrendo pelas minhas
pernas... eu amo você do jeito que você é! Eu amo teu jeito! É meu ogro, meu
amor, e a minha vida!
— Jura?
— Juro!
— E se eu disser que vou precisar que me confirme isso pra sempre porque
jamais vou acreditar que enfim vou me casar com uma mulher como você?
Que não é um grande sonho bonito, mas realmente uma garota linda,
maravilhosa, gostosa, e pura conseguiu ver beleza em mim... conseguiu ver
alguma luz em toda a minha escuridão...
— Eu passarei o restante de minha vida repetindo isso, Vince. Se for
necessário, farei isso! Mas na parte do ‘pura’ você forçou a barra... — dou
risada, mas ele não. Apenas cola sua testa na minha e fecha os olhos ao falar
comigo.
— Pura sim! Meu anjo mais lindo! Só eu tenho acesso a esse corpo, a esse
coração, e é só meu. Tudo meu... é minha rainha. A mais pura, só minha...
uma pena que às vezes fala tanta bobagem que me dá vontade de encher a sua
carinha de tapas, mas eu continuo amando, porque casamento é isso.
— Tem sempre que estragar as coisas bonitas que fala, né!? — eu murmuro e
ele sorri me beijando.
— Eu sou todo errado, Lara. Eu continuo e serei pra sempre todo errado. Me
perdoa por não conseguir fazer você cem por cento feliz.
— Isso é uma das poucas coisas que você faz e que me magoa
profundamente. Com o resto consigo lidar porque te conheço, sei que você é
do jeito que é e não faz por mal... mas isso, eu não consigo aceitar e muito
menos ver com bons olhos. — eu falo e ele abre os olhos sem entender.
— O quê?
— Você acha que não é bom o bastante pra mim, acha que não me faz feliz e
eu fico péssima, eu me sinto péssima, porque se tem uma coisa que você faz
direito é trepar e me fazer feliz! Eu sou muito feliz, Vicente, como nunca fui
antes!!!
— Eu apenas tenho consciência de que tenho problemas e de que te faço
sofrer por causa deles.
— Então cite um! — eu peço e ele trava parando pra pensar. Eu cruzo os
braços esperando, ele descruza na hora, e imediatamente resmunga inseguro.
— Eu te magôo quando digo que tu fica mais bonita sem maquiagem
nenhuma...
— Você me prefere sem maquiagem porque sempre me viu sem, se
acostumou, e você sempre me viu sem maquiagem porque eu nunca gostei de
maquiagem. Passei a usar quando nosso relacionamento ficou sério porque...
bom... quando começamos a namorar eu passei a frequentar lugares mais
refinados, a lidar com pessoas mais refinadas, têm seus amigos, parceiros,
seus funcionários, os restaurantes que gosta de me levar... eu senti a
necessidade de me arrumar melhor e eu amo essa mudança, assim como amo
chegar em casa, jogar os saltos pro alto e deixar você tirar o batom porque eu
sei que você é tão maluco, mas tão maluco, que você ainda consegue se
excitar até com a minha boca voltando a sua cor natural. Sei que eu sou
bonita e sei que eu não preciso de nada disso e você me ama do jeito que me
conheceu, mas é que eu me recuso a andar do teu lado na rua ou na frente das
vadias que amariam te roubar de mim como uma Maria-Mijona. — eu falo e
ele me parece muito confuso.
— Eu sei o marido que eu tenho dentro de casa, Vicente, sei do seu peso lá
fora. Aqui dentro você é só meu Vince que anda descalço, de moletom, e cujo
programa favorito é ficar comigo em seu colo vendo TV e comendo o que eu
cozinho junto com Allana, ou trepando até cansar e mais nada, mas sei o
quanto é poderoso, influente, inteligente, estudado, importante, cobiçado...
sei que têm posses, sei que é o tipo de homem que é paparicado nos lugares
porque todo mundo nota que é alguém importante, não coloca a mão em
nada, é sempre servido, é respeitado... eu não posso e não vou, pelo menos
não mais, andar do seu lado de rasteirinha e coque na cabeça, a não ser que
eu esteja realmente a fim. Quando eu fui com tua mãe ao shopping na semana
passada... nós fomos com o carro do teu pai, bem rapidinho... ela quis morrer
de tanta vergonha, tristeza, e pesar por mim. Sabe o que aconteceu? Quando
eu entrei em uma loja chique com ela, a vendedora foi me entregando sacola
por sacola, como faz com acompanhantes, empregadas. Ela não deixou sua
mãe pegar uma única sacola, sua mãe comprou um monte de vestidos e
sapatos para nós duas, mas a moça entregou tudo pra mim, como é treinada
para fazer com as empregadas das dondocas que passam por lá. — eu conto,
ele pergunta o porquê que eu não contei isso, que teria ido até lá tirar aquilo a
limpo, mas eu ignoro. — Não fiquei triste com sua mãe, ela quase chorou
pedindo desculpas, eu fiquei triste comigo mesma. Eu não moro mais em
uma favela, eu não ando mais de ônibus porque você não acha seguro e agora
eu posso andar de carro que é muito mais confortável, e eu não ando mais em
ruas esburacadas, sendo assim não preciso viver de chinelo, então não quero
mais ser tratada daquele jeito. Eu não sou mais uma diarista, eu sou uma
universitária maravilhosa, linda, futura chefe de cozinha do melhor
restaurante da área nobre de São Paulo, e noiva do homem mais gostoso do
país, então só vou andar como “uma favelada” se eu tiver vontade, quando eu
tiver vontade, e não porque será minha única opção. Entendeu? — eu
pergunto e ele confirma sorrindo. — Pois então, excluímos esse item da
pauta. Eu não preciso amar maquiagem, você não precisa amar, mas de vez
em quando vai me ver usar, como hoje, porque eu me sinto bonita também,
eu me sinto poderosa, e com isso não recebo olhares tortos tentando entender
o porquê você escolheu uma Maria-mijona como esposa. Os olhares que
recebo quando coloco um salto, um vestido bonito, e um batom atual é de
“Nossa, doutor Vicente realmente é um filho da puta sortudo” e eu gosto
desse olhar. Não preciso dele, nunca precisei provar nada pra ninguém, mas
agora gosto. — eu resmungo e ele ri. — Qual o próximo item?
— Meu ciúme possessivo. — ele fala e ri esperando outra resposta
“interessante como aquela”.
— Essa não vale, eu já disse que amo seu ciúme.
— Meu eterno e absurdo medo de perder você para um cara mais “poderoso”
e com a saúde mental perfeita. — ele ri.
— Eu amo sua loucura, e já disse que não existe ninguém nesse mundo
melhor do que você! Não tem a menor possibilidade de eu me interessar por
outro. Sou viciada em você, maluca por você!
— Meus tapas, meus apertões, os cabelos que arranco de sua nuca!!!
— O dia em que mudar o jeito que me trata quando me fode, ou voltar a me
tratar daquele jeito para me provocar, todo meloso parecendo um “gay
falando com sua amiga bi” aí sim, a opção anterior pode vir a acontecer.
Meto um pé na tua bunda e procuro por um macho de verdade.
— A vontade que eu tenho de te estapear quando me ameaça assim??? — ele
questiona e franze o cenho. O bendito nem sorri.
— Calcinha precisando ser trocada... — eu murmuro mordendo o lábio e ele
parece ficar prestes a me matar de tanta mordida “de amor”, sua carinha
apaixonada era algo que ainda não tinha nome.
— E essa paciência? Essa impressão que eu tenho de que cada dia que passa
mais você me ama, e a cada dia que passa, mais eu tenho a certeza que você
jamais vai me deixar porque você passará por cima de qualquer barreira que
ameaçar aparecer em nosso caminho?
— Uma vez meu marido bravinho e problemático gritou comigo dizendo que
um casamento não era só sexo gostoso, era briga, bate-boca, diálogo, e que eu
não podia correr pra casa da mamãe e do papai quando qualquer problema
surgisse. Não tive como ignorar aquilo, porque ele estava totalmente certo, e
ele “às vezes” tem o costume de estar totalmente certo “o tempo todo”. Agora
eu melhorei... graças ao meu marido eu cresci, e agora sei lidar com meus
problemas sem fugir. Não importa como, só não vou mais fugir. E é por isso
que eu amo esse homem do jeito que ele é, porque ele não só me satisfaz na
cama, mas também na vida. Ele foi a melhor coisa que aconteceu na minha
vida, me pegou e eu ainda era uma criança, me tornei uma mulher
responsável graças a ele. Agora falta um dia pra Deus abençoar essa união
também, porque vamos nos casar como tem que ser, vamos ter uma lua-de-
mel incrível, e vamos ser felizes eternamente.
— Meu Deus, que vontade que eu tô de te engolir!!!
— Engula! — eu sussurro e ele sorri posicionando sua mão em minha nuca
do jeito que precisava.
Abro os lábios, deixo sua língua grossa entrar, sua mão direita em minha
cintura me puxa mais para perto, e eu perco a razão de tudo quando sinto
aquele pau gigante e grosso tocar no lugar certinho. Arfo e ele geme no meio
do beijo. Envolvo seu pescoço com meus braços possessivos e não aguento a
pressão, mexo a cintura devagar tomando cuidado para que ele não fique
maluco como já era de costume e não estrague tudo desmanchando meus
cachos modelados e minha já familiar maquiagem um tanto quanto carregada
e bem feita.
— Ah! Por favor, amor... só um pouco...
— Vai puxar meu cabelo...
— Puxo todo dia...
— Vai bagunçar...
— Assim que é bom, todo mundo vai compreender quando vir. O atraso ao
descer, o cabelo bagunçado, a felicidade no rosto, as bochechas coradas...
somos casados, só vamos oficializar, todo mundo sabe que a gente transa
todo dia e o tempo todo. Rebola pra me deixar maluco, me engole com essa
boceta gostosa! Tudo o que eu quero é retribuir pelo menos dando conta
desse fogo, essa declaração toda de três horas que tu fez pra mim.
— Três horas???
— Tu falou por três horas, ou pelo menos foi essa a impressão que eu tive e
ainda continua falando ao invés de cavalgar. Tu não cansa, não? Não dói seu
maxilar?
— Não, seu chato... agora é você quem tá falando demais! Só um pouquinho,
só uma rapidinha bem gostosa... — resmungo rindo, volto a silenciá-lo com
minha língua brincalhona e meu rebolado, dou pequenos pulinhos apenas
mostrando como seria se ele tirasse com aquele pauzão pra fora, e ele entende
o recado.
Não diz nada, abre o zíper e o cinto com a minha ajuda, afasta minha calcinha
pro lado, e me faz sentar sem cerimônia.
— Você é tão quente, amor...
— Tenho a melhor boceta que já experimento não é!?
— Sim!!! Nem acredito que é minha, por isso não paro de chupar e pegar.
Gosto muito! Sou completamente fã!
— É mesmo? — eu falo e começo a pular.
— É. Agora diz pra mim, quantos foram? Você nunca me disse... é uma
curiosidade boba, só diga se quiser, mas sempre quis saber...
— Algo vai mudar???
— É óbvio que não. Apenas curiosidade masculina, juro! — ele fala e me faz
cavalgar mais rapidamente. O barulho que fazia sua investida contra mim era
muito gostoso.
— Eu não sei, talvez... ah! uns dez... tive muitas paqueras, como já te disse...
— eu zombo e ele para.
— Já havia trepado com dez antes de mim???
— Realmente acha que é muito???
— Acho!!!
— É passado, esqueça.
— Pois esqueça você!!!
— Eu nem penso nisso. O que foi? Queria ter sido o primeiro e o único?
— Sim!!!
— Pois foi o melhor, o único que importa, o mais gostoso, mais completo!!!
E pra ser mais sincera: o único homem de verdade. E tem mais, foi o primeiro
que conseguiu chegar perto desse traseiro e... — eu começo a falar, mas
minha sogra bate na porta.
— Já estamos descendo, mãe!!! — Vince grita e eu dou risada.
— Será que ela ouviu o barulho? — pergunto porque enquanto
conversávamos, Vince me fazia cavalgar com força e o barulho do atrito de
pele com pele parecia chegar até o andar de baixo.
— Dona Norma é uma mulher beirando os setenta, bem inteira, com ótima
audição, e esposa de um cara que ainda dá conta. Sei disso porque eu tenho
um irmão filho da puta que fazia questão de me mandar 'bom dia' com áudios
do quarto ao lado. — ele diz e continua me fazendo pular. — Óbvio que ela
ouviu, óbvio que ela sabe o que estamos fazendo...
— E agora, como eu vou olhar pra cara dela???
— Vai olhar com felicidade do mesmo jeito que ela vai olhar pra você porque
você é a nora favorita que faz o filho dela feliz!!!
— Vince... — eu murmuro querendo falar e ele tapa minha boca com a sua.
— Preciso gozar, quietinha... só geme... assim... — ele sussurra, chupa minha
língua e eu me entrego. Aquilo podia esperar.
Ele sobe meu vestido para olhar reforçando a teoria de que homem é
‘totalmente visão’ enquanto nós mulheres somos a ‘imaginação’ e me obriga
a segurar a barra rendada do vestido e a rebolar daquele jeito. Se apoia nos
cotovelos, joga a cabeça pra trás, e eu choro enquanto me esfrego sentindo
aquela magia se apossar do meu baixo-ventre.
— Não! Não para, porra!!! — ele levanta quando eu vacilo, me agarra, me
gira na cama me fazendo deitar, e mete fundo até urrar como um ogro. —
Deus!!!
— Somos bons nisso. Não acha estranho o fato de que tudo... brigas,
momentos de amor, tudo nosso acaba em sexo...?
— Como você mesma disse, somos bons nisso. Amamos transar. Que mal
tem??? Amamos fazer amor o tempo todo, posso apostar um rim que você é
louca por mim como sou por você! Se dependesse de mim eu viveria contigo
dentro de um quarto e não faria mais nada durante o resto de nossos dias!
— Vamos fazer isso, vamos viver de amor... — eu dou risada e ele sai de
dentro de mim me deixando com frio.
— Vamos, filha da puta! Aí eu quero ver como é que vai ser a sua vida e a
vida da Allana!!! “Viver de amor”, essa é boa!!! — ele levanta resmungando
e eu dou risada. — O que queria dizer...?
— Marcella me contou uma coisa muito triste com relação a meu cunhado do
mal!!! — eu falo e Vince já me olha torto. — Ela disse que Vitor havia
prometido pensar em compromisso depois que resolvesse a vida com você e
com meus sogros porque por causa disso ele era incompleto. Na opinião dela
ele não se perdoou, não é feliz e não deixa ela o fazer feliz, ele é todo
complexado com o passado de vocês. Ela me disse que ele contou pra ela que
ele te fazia muito mal, sabe!?
— Eu sempre disse isso, Vitor era horripilante. Mas por que isso agora? Eu já
o perdoei!
— Foi o que eu disse, você sim, mas ele não. Ela falou que ele não se
perdoou. Não consegue se perdoar pelo que fez, é um homem triste. Não
deixa ela “chegar” no coração dele, não se entrega totalmente.
— Hum... — Vince resmunga fitando o espelho só porque toquei em seu
cabelo algumas vezes, e eu faço silêncio. E por causa disso ele me encara já
puto. — O quê?
— Você... poderia...
— Depois. Me entendo com ele depois. Vá se limpar. Vamos descer, você
nem arrumou a mesa ainda que eu sei.
— Acabou o dengo, né!? Acabou o carinho, ogro!
— Quer carinho? Compra um ursinho! — ele fala, eu tento segurar a risada,
mas não consigo e ele ri junto comigo me fazendo levantar enquanto me puxa
pela mão.
— Eu tenho alguns minutos ainda. Você tem dois minutos pra me encher de
amor me falando coisas lindas!!!
— Vem cá... deixa eu falar... — ele me abraça concordando e coloca a boca
em meu ouvido esquerdo. — Se você não descer agora, tu vai descer dolorida
de tanto tapa nesse traseiro gostoso! Rápido! — ele diz, beija a minha testa, e
sai. Sorrio só depois que ele fecha a porta para não dar o braço a torcer.
Me limpo, ajeito o vestido amassado e só saio do quarto quando pareço
digna. Bato na porta da pirralha, pois sabia que ela se arrumaria sozinha, mas
não daria um jeito na juba dourada e tenho a adorável surpresa. Allana havia
colocado o vestido preto e sorriu quando olhou para a minha cara de boba.
— Por que vestiu o preto???
— Porque eu sabia que ficaria feliz com essa cara de bocó! — ela ri quando
me sento ao seu lado. Ela fechava as fivelas da sapatilha então não me viu
com os olhos cheios de lágrimas. — Pode fazer alguma coisa no meu cabelo?
Que seja bonito???
— Claro! — eu só resmungo e ela se senta em meu colo. Consigo deixá-la
mais linda do que já era e ela adora.
— Lara... a minha mãe magoava o papai?
— O quê?
— Ela o traía??? — ela pergunta de repente e me deixa assustada.
— Dá onde você tirou tamanha bobagem? — eu a faço olhar pra mim e ela
não diz nada. — Andou ouvindo por trás das portas?
— Então é verdade???
— Claro que não!!! Para com isso. Sua mãe era incrível! Ninguém pode dizer
o contrário! Não deixe ninguém dizer o contrário. Ela amava teu pai, e amava
você! Entendeu?
— Entendi.
— Nunca mais repita isso, pra ninguém. Nem pro teu pai!
— Obrigada por isso!!! — ela diz.
— “Por isso” o quê?
— Por não falar mal dela também... — ela diz já deixando claro que sabia do
que falava.
— Pra começar, pare de xeretar conversa de adulto. E eu já disse, nada disso
é verdade! Vamos descer!!!
Eu fico morrendo de vontade de perguntar de onde foi que ela ouviu aquilo,
mas dependendo de sua resposta eu não teria outra para oferecer. O que eu ia
dizer? Que seu tio era mentiroso? Seus avós? Ou até mesmo seu pai???
Abstraio o assunto momentaneamente, desço com ela, e só vejo meu sogro no
sofá, bebendo um vinho e lendo, e minha sogra tentando colocar a mesa
sozinha enquanto o filho mais gostoso do mundo fazia companhia e
conversava sobre algo relacionado à Nova York.
Ninguém havia chegado ainda, então coloco a mesa, deixo tudo organizado
com o olhar pidão e apaixonado de Vicente, com os palpites requintados de
sogrinha chique, e termino tudo com rapidez.
(...)
— Eu sei que vocês já se viram em uma circunstância não muito legal, mas
esse jantar é principalmente para que vocês se conheçam melhor... — eu digo
após receber meus pais na porta, meia-hora depois. — meus sogros, esse é
Mauro, meu pai, e essa aqui é a mulher mais linda do mundo, dona Mag,
minha mãe! Mãe essa é dona Norma, e esse seu Henrique, meus sogros!!!
Eu falo e eles se abraçam sorrindo e achando engraçado o fato de eu querer
apresentá-los “novamente”.
— Eu quero agradecer a você, Mag, pela criação com essa menina linda! Não
imagina o bem que ela faz a meu filho e a minha neta querida... — dona
Norma é carinhosa como sempre, mas é meu pai quem responde com seu
bom humor.
— Mas nós sabemos muito bem que o menino Vicente corresponde à altura.
Ele cuida de Lara como se ela fosse uma jóia preciosa.
— E é por ela ser mesmo! — Vince zomba carinhoso e eu dou risada. Mal
sabiam eles...
— Sim, Vince também é um menino de ouro! — minha mãe diz e ganha um
beijo demorado dele.
— E eu tenho uma sogra maravilhosa, isso também precisa ser dito. E, aliás,
um sogro incrível, competente, profissional, e que cuida da empresa da
família como ninguém!!! É o melhor! — ele diz e meu pai sorri timidamente.
Quase chora quando Vince o elogia. Meu herói.
— Que família linda!!! — Júnior entra e exclama acompanhado de Tia e seu
pai, e com isso refaço as apresentações á todos.
Greg chega logo em seguida com um presente que ele disse ser pro casal e
faz todos ficarem sem graça porque ninguém levou. Era só um jantar...
— Poxa vida... não era um jantar de re-comemoração do casamento??? — ele
brinca.
— Não, Greg. É que eu havia prometido um jantar para nossos pais, e não
tinha conseguido antes. Mas acho que de certa forma, é uma comemoração de
união, né!? Estamos unindo as famílias... não tinha como não comemorar.
— Pois então, por isso o presente... — ele sorri, eu pergunto se posso abrir,
ele confirma no ato.
O presente era um coração de cristal com os nossos nomes no interior, e
brilhava tanto, mas tanto... que parecia uma pedra preciosa de verdade.
— Que lindo!!! — eu exclamo e o abraço.
— Você quem fez, não é!? — Vince ri e ele confirma.
— Por que? Ele já deu algo assim pra você e pra Nanda? — eu pergunto e os
dois riem negando.
— Não, mas ele fez um só pra Nanda na época da faculdade... claro que não
incluiu o meu nome, mas ela ficou feliz... — Vince diz achando graça e eu
sorrio em compreensão.
— É que eu gosto de fazer... faço na empresa... se não gostou, eu...
— Eu amei, Greg, muito obrigada. Aposto que a Nanda também amou o dela,
isso é muito lindo, já pensou em vender?
— Deixa eu ver? — Tia se aproxima e minha mãe vem logo em seguida.
Ficam encantadas. Era um peso de papel lindo de morrer.
— Não, é só um hobby! Que bom que gostou...
— Deveria comercializar, nunca vi igual! — meu sogro diz, meu pai
concorda, e depois chega a vez de dona Norma ficar encantada.
— Faria um para mim e pro Henrique, Greg??? — ela questiona, todo mundo
pede um também, ele promete fazer para todos, e o silêncio reina
imediatamente quando o outro gêmeo desce as escadas de mãos dadas com
uma Marcella linda de morrer.
— Ué... — dona Norma murmura e ela juntamente com seu Henrique fica
embasbacada.
— Boa noite, família linda! — ele sorri enquanto havia ao seu lado uma
Marcella que parecia beirar um ataque de pânico.
— Essa é a moça de quem nos falou??? — seu Henrique se aproxima e ele
sorri encarando Vince. Vince apenas nega discretamente como se dissesse:
“você é muito maluco, irmão...”
— É sim, pai. Marcella. — Vitor responde, e meu sogro cumprimenta a
garota com um aperto de mão. Já dona Norma a abraça apertado e parece não
querer soltá-la mais.
— Marcella esses são meus pais. Essa mulher que não quer te soltar é Norma,
minha mãe, e Henrique, meu pai!
Marcella continua correspondendo ao abraço de dona Norma e sorri sem
graça pra mim.
— É um prazer enorme te conhecer!!! — dona Norma diz e Marcella
responde que a recíproca era verdadeira.
Vestia um vestido de manga cumprida até abaixo dos joelhos, de um tecido
preto e molinho que acentuava suas curvas. O decote era discreto, seus saltos
tão altos quanto os meus, e seus cabelos soltos em cachos da mesma maneira.
Estava linda.
— Não imaginava que era brasileira... — meu sogro diz e ela sorri parecendo
preparada para ouvir aquilo.
— Eu moro em Nova York desde os dezoito. Foi lá que eu conheci o Vitor!!!
— ela fala, sorri, e vejo que seu Henrique parece um tanto quanto confuso e
desconfiado.
— Essa é Tia, Júnior filho dela... — Vitor vai apresentando Marcella a todos
e eu, como curiosa que sou, só prestava atenção no ‘casal imperial’ da
família.
Meus pais e a família de Tia com certeza amaram Marcella, eu sabia... minha
mãe e Tia já iam querer pegá-la no colo e enchê-la de mimo e foi bem isso
que aconteceu, mas no caso do ‘casal imperial’... a reação foi um pouco
diferente. Eles se entreolharam e eu não sabia sobre ‘o que era o assunto’,
mas só naquela reação, eles “discutiram” por uma hora. Aquilo também
acontecia comigo e com Vince. Ele só olhava pra mim e eu já sabia o que
queria me dizer.
— Você mora em Nova York? — Allana questiona Marcella e a encara como
se a qualquer momento fosse sacar um trinta e oito do vestido fofinho,
encostar na testa dela e gritar: “PROVE QUE É LEGAL, QUE É DIGNA DE
ENTRAR PRA ESSA FAMÍLIA, E SE ESTARÁ DISPOSTA A ME
LEVAR NA PUCKET DO SHOPPING MAIS PRÓXIMO QUANDO EU
MANDAR!!!” — e então o silêncio reina, Marcella sorri e Vitor não perde a
oportunidade.
— Por favor, não a deixe fazer a próxima pergunta... — ele exclama e os dois
sorriem um para o outro.
— Filha, por favor, não comece com seus questionamentos. Não faça a
namorada do teu tio querer fugir!!! — Vince diz e ela revira os olhos.
— Sim, eu moro lá. — Marcella faz questão de responder, e responde
normalmente, ao contrário de toda a visita que tentava tratá-la como um bebê
e ela odiava. Sim, Vitor preparou aquela garota para uma guerra. —
Completei dezoito e fui atrás do “sonho americano”, trabalhar para mandar
dinheiro para meus pais que ainda estão aqui. — ela sorri para Allana e a
pirralha se convence, gosta dela. Afinal foi simples, não era atrás do pai dela
que Marcella estava.
— Qual teu ramo de trabalho, moça bonita??? — seu Henrique pergunta e
Marcella sorri.
— Por favor, não estrague tudo... — Vitor resmunga, todo mundo ri, e seu
Henrique o silencia só com o olhar.
— Sou bailarina, seu Henrique. Me apresento em uma boate de cultura
burlesca. — ele fala e todo mundo da sala encara seu Henrique em
expectativa. Dona Norma continuava a encarando como se quisesse fazer de
Marcella seu chaveirinho, mas seu Henrique só queria respostas para as suas
perguntas.
— O que isso significa??? Não entendo muito bem...
— Dança burlesca??? Aquela antiga!? Teatral!? Não!? — ela indaga sem
entender e seu Henrique parece entender menos ainda. Sua cara para a sua
nova nora é muito hilária.
— Pai. — Vitor resmunga quando Marcella começa a explicar sobre a origem
da tal dança na era vitoriana... — Ela não é prostituta. — ele afirma
escancaradamente e encara Marcella. — Meu pai tem mais de dez graduações
e uma delas é história da arte, ele conhece sobre a era vitoriana mais do que a
própria era vitoriana, princesa... — ele diz extremamente sério e Júnior,
Vince e Greg deixam sair de suas gargantas aqueles barulhos que a gente faz
quando a risada presa nos entrega. AH! E eu também. — Ela segue o ritual...
teatro, humor, penugens maravilhosas, corpo sexy à mostra, mas nunca tudo,
e um bom um cachê no final de cada apresentação. Já até tentei fazer com que
se tornasse meu bibelô particular, mas ela ama sua profissão, então deixei
assim. Ela é a melhor bailarina, é linda, profissional e de respeito.
— São um escândalo essas danças!!! Eu como tua sogra terei entrada VIP
sempre que quiser??? — dona Norma com seu coração maravilhoso
questiona e Marcella sorri transbordando felicidade.
— Com certeza! Sempre que quiser!!!
— Então... — seu Henrique continua. — é sério... não é uma contratada...
para... fingir que namora meu filho só para eu não...??? — ele vai
resmungando e de repente Marcella parece estar aprendendo a “falar outras
línguas”, pois encarava o seu sogro como se ele fosse um alienígena.
— Meu pai estranha muito o fato de que com trinta e tantos anos você seja a
primeira namorada que eu apresento pra família. Nunca trouxe mulher em
casa então, até alguns minutos atrás, para ele, eu muito provavelmente era seu
filho gay. — ele traduz e ela o encara.
— O quê???
— É, pois é! — Vitor afirma encarando o pai, e quando Marcella deixa ecoar
uma gargalhada altíssima, ele não se surpreende. Pelo jeito a garota reagia
daquela forma com frequência. Dona Norma primeiro colocou a mão sobre o
coração com o susto, mas depois riu junto, Tia gargalhou tão alto quanto, e
então todo mundo se divertiu em uníssono.
— Não! O filho do senhor é de tudo um pouco, seu Henrique, mas eu garanto
que gay ele não é!!! Ele tá mais para homem das cavernas que precisa... —
Marcella ia começar a falar, mas Vitor a encara e nega com a cabeça. No ato
a garota para de rir e volta “a se comportar” e de novo todo mundo se recusa
a segurar mais um riso alto. Eu achava que Vicente nunca tinha se divertido
tanto, seus olhos já estavam vermelhos de tanto rir. Estava amando ver o
nervoso que o pai estava passando com as peripécias do gêmeo do mal e sua
namorada “fora dos padrões” que pelo menos o pai esperava.
— Bom... peço perdão a senhorita por...
— Tudo bem!!! Gostei do senhor. — ela sorri sinceramente e seu Henrique
enfim parece respirar aliviado.
— Eu também gostei de você, pelo menos sei que fará o mau humor em
pessoa aí, se divertir pra valer!!!
— Ah! Ele se diverte muito comigo! Claro que não assume, mas... — ela dá
de ombros, agarra Vitor e um sorri pro outro com evidente paixão e química,
o que deixou meu sogro ainda mais satisfeito. Ver o filho feliz era tudo o que
ele queria. Sim, tinha receio de descobrir que talvez Marcella pudesse ser um
Marcello, mas só o que tiraria disso, era uma culpa.
— Bom, já estamos todos aqui, vamos jantar? Vou...
— Não. — eu começo, mas Vince me interrompe. — Convidei Vivi e Flávia.
— Ah! Então vou trazer as bebidas e servir para aguardar. Me ajuda? — eu
pergunto e ele confirma.
Tia pergunta se quero ajuda e eu faço uma careta. Já queria ir pra cozinha e
deixar o maridão de cara amarrada e sozinho??? Doida!
— Por que não me avisou que as convidou?
— Elas são tão minhas amigas quanto Greg, achei que era óbvio.
— E a...
— Jaque, não. Você disse que não queria mais vê-la em casa, então... — ele
resmunga e sorri quando nota que fico satisfeita. — Te amo, ciumenta... —
ele beija meu pescoço enquanto sirvo as taças da mesa decorada com vinho
branco que era pra combinar com a entrada; a entrada que ia esperar pelas
gatas borralheiras. As “migas” do bonitão.
E quando Vivi e Flávia chegaram ainda estávamos todos na sala,
conversando, rindo com as gracinhas de Marcella e Júnior, e papeando sobre
a Grécia. Pelo jeito não era só nós dois que estávamos nervosos e ansiosos.
— Boa noite! — Flávia e Viviane, as funcionárias do engenheiro galã dizem
assim que adentram a sala, e todos respondemos e nos levantamos. Nunca
havia visto essa tal de Viviane, mas gostei quando fomos apresentadas. Sorriu
e me abraçou com sinceridade e quando falava comigo me olhava nos olhos e
não nos olhos de Vicente, e o melhor, não ficava colocando a mão ao se
dirigir a ele como Jaqueline fazia. Viviane era uma garotinha de vestido
requintado, morena, atraente, cabelo afro até o meio das costas e sorriso
encantador. Falava mexendo os braços e era muito segura de si. As duas
foram apresentadas a todos por Vince e familiarizadas.
— Me recuso a cumprimentar cobras peçonhentas. — Vitor zomba quando
Viviane se aproxima e ela gargalha.
— Para porque eu só precisei fazer aquilo pra gente ter certeza de que VOCÊ
não era mais uma cobra! — eles riem juntos e se abraçam. — Saudade,
gêmeo do mal!
— Senti saudades também, Vivi. Essa... — ele corre puxar uma Marcella um
pouco insegura para perto de si, mas a menina se transforma e sorri
lindamente pra ela. O problema ali não era Vivi. — é Marcella, minha
namorada!
— MENTIRA!!! Você conseguiu laçar uma gata dessas??? Deve ser uma
guerreira! — Vivi brinca, encara Marcella e uma sorri para a outra. Elas
zombam um pouco dele, se divertem, a sala forma grupinhos naturalmente e
Vince logo me puxa pra perto.
— Eu acho que a futura senhora Amaral já pode servir a entrada. No que está
prestando tanta atenção??? — ele resmunga no meu ouvido e eu o encaro.
— Na caquinha que você fez em chamar a Flávia pra vir... — eu sussurro
sorrindo e ele procura por sua amiga. Marcella havia perdido o sorriso
quando Flávia se aproximou e Vitor parecia querer estar em qualquer lugar,
menos ali. Mas os dois até que estavam bem, eram discretos. No meu caso eu
já tinha rodado a baiana e Vince me arrastado andar acima pelos cabelos.
Quando volto meu olhar pra ele já vejo que se lamentava.
— Não tinha como se lembrar disso, Flávia também é sua amiga, vai dar tudo
certo. Os dois se amam e os dois sabem disso! — eu garanto e ele só balança
a cabeça.
— Vamos lá, eu te ajudo.
— Quando eu voltar da lua-de-mel, já te digo, quero uns três empregados
para quando fizermos reuniões assim. Nessa brincadeira eu saio da sala e
perco todos os babados... — eu resmungo e ele me aperta inteirinha enquanto
seguimos o caminho até a cozinha.
— E não é que a donzela fuxiqueira está colocando as asinhas de fora??? Três
empregados???
— Sim!!! — confirmo e dou risada quando ele me belisca “com carinho” na
bunda.
— E o que mais???
— O mundo!!! — sussurro agarrando em seu cangote e por estar de costa pra
porta, logo trata de fazer o que fazia sempre que ficava com tesão. — Não
faça isso, se alguém entra aqui...
— Eu, sei, desculpa... — ele tira a mão e volta a me agarrar. — é que não dou
conta de você, dessa sua carinha, esse jeito de lidar comigo que me fode, essa
pele, esse cheiro, esse traseiro empinado nesse vestido... — ele vai
sussurrando, mas para de falar quando eu me afasto de supetão. Allana havia
entrado na cozinha.
— Oi! Tudo bem? — Vince questiona e ela confirma.
— Sim! Só tô com fome...
— Já vou colocar a mesa!!! — eu prometo e ela sorri.
— Tem suco de laranja???
— Allana, não começa...
— Não, mas eu farei em um minuto. — eu digo e ela faz um coraçãozinho
pra mim com as mãos.
— Esse mimo um dia vai acabar.
— A Lara não faz suco de laranja só pra mim tem muitos dias, por que não
pode fazer agora? Eu não posso beber bebida alcoólica mesmo... — ela faz
beicinho enquanto coloco as torradinhas e barquinhas vazias nos refratários
de vidro e Vince faz careta para a minha cara apaixonada. Aquela garota
estalava os dedos e me tinha em suas mãos.
— Eu vou fazer seu suco assim que eu colocar a mesa. Pode pedir para todos
se sentarem? — eu peço e ela vai.
Vince corre fazer o tal suco para me ajudar, eu vou colocando a mesa, todos
vão se sentando aos pouquinhos e Tia e mãezoca não resistem, ambas se
enfiam na cozinha comigo para me ajudar. Coloco o cronômetro do forno em
cinco minutos para dar uma breve aquecida na picanha, deixo pronto todo o
restante da comida, e me sento para degustar minha própria obra de arte
modéstia à parte. Torradinhas e barquinhas com uma dezena de patês de
sabores diferentes, feito de modo simples. Todo mundo amou na hora, mas
ninguém jamais saberia que eu fiz todos eles no liquidificador com
ingredientes básicos. Maionese, azeitona preta, frango desfiado, queijo,
queijo cheddar, cebola roxa, bacon, linguiça moída, ovos, queijo fresco,
sardinha... alguns ingredientes chaves: uma infinidade de patês diferentes.
— Meu Deus! Que delícia está isso aqui... Lara você tem mãos magníficas.
— Vivi exclama, todo mundo concorda, eu agradeço e nem sequer preciso
encarar Vicente pra saber que ele pensava naquela frase, mas da pior forma
que poderia. Graças a Deus Vitor tem bom senso, respeita meu pai, e finge
que não ouviu aquilo.
— Obrigada, Vivi! Vocês são fáceis de agradar. Não é nada demais, não tive
muito tempo hoje, tive reunião na escola da Allana, precisei ir ao shopping
com ela, e voltei correndo pra ter tempo de fazer tudo.
— Uma verdadeira rainha do lar! — minha mãe se gaba por mim e eu sinto
meu rosto esquentar.
— Foi educada por outra rainha! — meu pai fala e os dois sorriem um para o
outro. Tão bonitinhos.
— Nossa, esse aqui é muito bom... — Allana morde uma torradinha com
vontade e sua carinha é uma fofura. — É pai, você fez uma escolha
inteligente em se casar com a Lara.
— Fiz sim! Mas coma devagar.
— Lara, devia fazer mais vezes essa tortinha aqui!!!
— Vou fazer, amor! — eu confirmo e ela comemora.
— Muito lindo o amor de vocês! E esses vestidos!?!? — Flávia diz com
simpatia e Allana ri de mim. Sabia que eu ia ficar mega-feliz “se alguém
notasse aquilo”, mas ninguém havia dito nada. Só depois que ela falou
começaram a concordar.
— Essa guria é minha paixão. Por mim viveríamos de roupas de gêmeas, mas
ela disse que é brega!!!
— Ah! Para! Você não tem controle!!! — Allana diz rindo. — Se eu deixar
tu compra pijamas iguais!
— Já comprei sua boboca, aquele da Minnie eu tenho igual, comprei
escondido porque você é boba. Quando eu vejo que você vai colocar eu
coloco também e você nem sabe!
— Eu não acredito! — ela diz e finge lamentar, dou risada da cara dela, e
Vince ri junto quando ela diz que quer que ele troque a sua madrasta
imediatamente.
— Não leve a mal, tua boadrasta, Allana! É muito fofo ficar igual! A gente
que é mãe, boadrasta, madrinha, titia, a gente gosta dessas coisas... — Flávia
diz e eu fico chocada.
— Você tem filhos, Flávia???
— Eu tenho uma menina. Não sabia!? Era um segredo, é!? Vince, nunca
contou?
— Você fala tão pouco da pequena, devia tê-la trago, poxa. — Vince diz e
ela sorri.
— Ficou com a avó. Dorme muito cedo, não daria. Tem sete anos, é uma
espevitada, colocaria essa mansão abaixo. — ela diz, volta a comer, e seu
olhar antes amável, se torna endurecido por um milésimo de segundo na
direção de Marcella. Eita.
— E você, Vivi? É mãe? Gostaria? — Júnior começa e Vivi já o encara com
um semblante de interesse pra cima dele. Em uma ponta da mesa havia atrito,
na outra, paquera.
— Eu não sou mãe, ainda, Júnior. Mas eu gostaria no futuro, e você? — ela
questiona e ri.
— Bom, eu também não sou. Sou muito jovem, vou me formar só agora, mas
é um projeto pro futuro também. — Júnior muda o tom de voz pra falar,
como se já “tivesse amadurecido ali mesmo”. — Já pensou? Pai psicólogo,
mãe engenheira química... essa criança seria a pretinha mais amada,
inteligente e equilibrada psicologicamente falando. Um sucesso!!! — Júnior
solta, Vitor ri alto, Vince nega não podendo rir porque mastigava, e eu vejo
quando seu pai “lamenta”.
— Eu juro que dei educação pra esse menino. — o senhor de postura ereta e
quase formal sorri brevemente, Tia gargalha encarando uma Vivi tímida, e
Greg pela primeira vez parece estar presente. Ele ri afirmando que em suas
futuras consultas, Júnior também teria que o ensinar a paquerar pra ver se
desencalhava. Júnior promete fazer aquilo na hora.
— Bom, posso trazer o prato principal? — pergunto minutos depois, todos
confirmam, Vince se levanta para me ajudar novamente, me agarra mais um
pouco, e eu preciso me segurar para não morrer de tanto amor por aquele
galã.
— Estavam uma delícia aqueles patês todos, tão chiques... mãos
magníficas!!! — ele diz no meu ouvido e eu sorrio.
— Viu? Você escolheu uma madrasta perfeita...
— Perfeita pra me deixar gordo. Mas continuarei te amando. Minha gostosa
talentosa!!! Te amo tanto...
— Se você me ama, me ajuda com essa picanha gigante!!! Vamos acabar
logo com essa noite porque eu não vejo a hora de descansar e você sabe como
eu amo descansar...
— É agora mesmo! — ele fala e corre pro forno acelerando os passos, sorrio
de sua atitude boba, e trato também de acelerar a noite. Não por estar
querendo trepar com aquele deus da boa foda, ou não só por isso, mas porque
de repente eu realmente me vi cansada. Corri o dia inteiro pra cima e pra
baixo resolvendo muitas coisas. Estava exausta!
Vince então tratou de colocar a tábua de picanha e acompanhamentos na
mesa, serviu mais bebidas à todos, continuamos conversando animadamente,
servi a sobremesa favorita da minha pequena família, um café fresquinho
para papear na sala, mas o clima bom não durou até o dia seguinte. Assim
que todos se despediram em uma lentidão comum de despedidas, e a casa
voltou a seu habitual silêncio e vazio, Marcella rapidamente pediu licença e
subiu extremamente chateada. Todo mundo notou.
— O que houve com ela? — meu sogro pergunta e Vitor encara Vicente com
um semblante de raiva.
— O que aconteceu é que ela soube da Flávia.
— Eu não fiz de propósito, nem percebi a bobagem que havia feito, me
desculpe. Além do mais quem veio me dizer que eu poderia ter feito uma
“caquinha” e com essas palavras, foi Lara. Eu nem pensei a respeito. Flávia é
minha amiga, minha madrinha de casamento assim como Greg, não pensei
em excluí-la do jantar por qualquer motivo que fosse, muito menos só pra sua
namorada não ter uma crise. Fiquei mal quando vi o que fiz.
Vince diz e Vitor acredita. O tempo todo em que se explicava Vitor o
encarava como se quisesse matá-lo. Vitor era ainda mais assustador que
Vince quando ficava puto, e isso eu descobri só naquela hora.
— Tudo bem. Assim que ela chegou eu soube que ia dar merda.
— Mas o que foi que houve? Flávia foi totalmente madura...
— Pergunte para a sua noiva se foi mesmo!!! — Vitor me encara. Havia
notado que eu estava prestando atenção em tudo, o tempo todo. Vince me
olha torto e espera respostas. Já podia ouvi-lo dizer, “EU NÃO DISSE PRA
VOCÊ NÃO SE INTROMETER, PORRA?” Grosseirão.
— Bom, ela provocou um pouco. Mas até que eu achei que ia ser pior, só foi
um clima...
— “Só foi um clima...” — Vitor resmunga bravo e eu desvio meu olhar dele
pro Vince.
— Okay! Só de te ver namorando, já estou feliz. Claro que não seria um
conto de fadas, não é mesmo!? — seu Henrique e dona Norma nos
cumprimentam.
— Só ore para que eu de repente não fique solteiro de novo e definitivamente
passe a gostar de homens mesmo, porque olha...
— Não. — meu sogro garante. — Pela risada e empolgação daquela menina,
você definitivamente não é gay. — ele zomba, dona Norma e Vince riem, e
Vitor bufa revirando os olhos. Pelo jeito aquela noite estava só começando...
e tive certeza disso quando Vince e eu, — após me ajudar com a louça suja,
pois mãezoca e Tia fizeram questão de me ajuda a tirar a mesa e a deixarem
tudo no jeito, — passamos pela porta do casal confuso e ouvimos
exclamações alteradas. Sim, aquela noite ia ser longa para o casal
apaixonado.
CAPÍTULO 11

PATERNIDADE

— Por que seu irmão não veio conosco? — Lara questiona ao meu lado. Já
estávamos todos no jato que aluguei a caminho das ilhas gregas.
— Acho que porque a Marcella quer distância da Flávia. Ele me contou que
depois que todo mundo foi dormir após o jantar, ela o fez ir até lá para tirar
umas histórias a limpo e a coisa não foi nada boa. Sem contar que ele
também gosta dos luxos deles... tem seu próprio jatinho, por que iria com um
alugado, não é mesmo!?
— Por que você não tem o seu pra gente fazer uni-duni-tê com os países do
mapa-mundi?
— Pra começar, comprar um jato é um investimento pesado. Não te trás
economia, é apenas um prazer para o próprio ego. A mensalidade para
manutenção é exorbitante, e para você ter um piloto exclusivo à disposição,
um piloto que não pilote demais aeronaves de outros clientes e esteja vinte e
quatro horas esperando você querer viajar, também é extremamente caro.
Para nossa família não é muito necessário. Você, Allana e eu podemos pegar
um voo a qualquer momento para ir a qualquer lugar, sem pegar fila, de
primeira classe... basta a gente decidir, eu tirar umas férias e você dizer que
quer. — eu digo e dou-lhe um beijo breve em sua boca rosada. — Para mim,
um jato particular só me faria torrar dinheiro sem necessidade, não faço
questão de nada disso. Agora Vitor se dá o luxo porque não importa o quanto
ele gaste com essas baboseiras, ele jamais conseguirá ficar pobre, a não ser
que saia distribuindo por aí aos montes.
— Nunca entendi esse lance de ter tanto dinheiro ao ponto de nunca nem
conseguir gastar. Eu ganhava meu salário, passava na padaria, e acabava. —
ela fala e eu dou risada.
— Mas isso acabou. Agora você vai se formar, vai abrir seu restaurante,
mudar a vida dos seus pais e não vai saber o que fazer com tanto dinheiro!!!
— Amém!!! — ela levanta os braços e sorri, mas depois me encara como
fazia quando queria perguntar alguma coisa. — Você já esteve na Grécia?
— Já. Trabalhando.
— Depois de viúvo?
— Sim. Antes, durante e depois. Por quê?
— Nada. Só curiosidade. Se relacionou com alguma grega antes? — ela me
faz rir.
— Eu tive muitas namoradas, Lara, até entrar pra faculdade, depois te tive
uma só, me casei com ela, e depois você. Sempre fui um “homem decente”.
— Nunca a traiu?
— Não.
— Nunca pensou em me trair? Nem quando estava puto? Lembro do que
disse lá na porta de casa, aquele dia...
— Nunca cogitei a possibilidade. Por que está me perguntando isso?
— Não sei. — ela se mexe desconfortável na poltrona isolada e eu sorrio. —
Só curiosidades bobas.
— Bem bobas na verdade. Tá colocando na balança justamente agora, se
deve ou não se casar comigo!
— Não diga isso nem brincando, estou realizando um sonho, já te disse isso!
Sempre quis ser sua mulher, sua esposa, desde o primeiro momento que te vi.
— Ah, eu acho que você está me investigando, procurando uma falha só para
dizer que não me quer mais. — me faço de doido.
— Para com isso.
— Tô mentindo?
— Muito!!!
— Então prova! — Eu sorrio erguendo a sobrancelha e ela já fica
“desanimada” só esperando...
— Como?
— Seja criativa.
— Ah! Vince... para...
— Ok. Entendi. Eu sei que...
— Cale a boca! — ela resmunga ‘estressada’ subindo no meu colo, mas logo
sorri pra mim assim que sua boceta toca meu pau ainda por cima de minha
calça.
— Senhor Vicente, está aqui o... — uma aeromoça se aproxima, mas já ia
virando as costas.
— Pode deixar. É o cardápio? — questiono e ela afirma. — Pode deixar na
mesa, está tudo bem!
Eu garanto, Lara cora, e eu me divirto.
— A filha da puta esperou eu sentar aqui para vir. — ela sussurra rindo e eu
cutuco a barra do seu vestido.
— Bom, tenho certeza que já, já Allana também virá. Ela odiou ser colocada
distante de nós. Acho melhor você ser rápida porque daqui eu nem consigo
ver quem passa pela portinha, a qualquer momento alguém pode chegar com
tudo.
— Eu não devia provar nada... — ela começa e eu perco a porra da paciência.
Coloco sua calcinha pro lado, abro meu zíper, levanto seu bumbum e a faço
sentar.
— Tu fala muito. Antigamente não podia me ver sozinho que já procurava
rola, agora tu anda muito enrolada. Pare de frescura, nunca foi assim. Se
mudar, sou eu quem vou colocar tudo na balança! Quando eu mandar tu
senta, não tem que discutir comigo, não tem que resmungar, e nem ficar se
lamentando. Só me dê o que é meu sem reclamar, porra!!! Quer me fuder???
Eu evito gritar, faço ela pular, ela ameaça parar por causa do barulho de
alguém perto da porta, e eu puxo os cabelos de sua nuca com força.
— Se parar, apanha! Não para!
— Vince...
— Calada! Só cavalga!!!
— Para de gemer assim, vão nos ouvir! — ela sussurra reclamando e eu nem
havia notado.
— Foda-se. Isso é o que um casal faz. Todos eles fazem. Grita também, agora
tu vai gritar, bem alto! — meto nela freneticamente, ela tapa a boca com a
mão, eu seguro as suas duas mãos atrás das costas para libertar novamente
seus gritos e ela chora.
— Por favor!!! — ela tenta falar baixo. Mas só tenta.
— ‘Por favor’ o quê?
— Sabe que eu sou muito escandalosa! Não faça isso...
— Se controla então! Problema é teu. Eu só quero saber do meu e isso... —
eu belisco sua intimidade com força. — é meu! Não é!?
— É.
— Então grita. Grita para todo mundo ouvir!!!
— Meu pai vai me matar e vai dar um tiro na tua testa.
— Seu pai tem que largar o doce. A filha não é mais dele. Tu é mulher feita,
mulher minha, e mulher minha não morde fronha você sabe bem disso. Agora
geme pra mim, geme. Bem alto, o mais alto que conseguir. Tô sentindo você
molhar meu pau todo, tá escorrendo deliciosamente... isso...
Mordo seu lábio, forço o atrito de nossos sexos, abraço-a bem apertado, e só
gozo quando, desse jeito, bem agarrados, ela rebola me levando á loucura.
— Te odeio por ter me feito passar por isso! — ela sussurra cansada com sua
boca na minha.
— Isso o que? Os gritos?
— Sim! Como vou encará-los agora? Nossa família, os funcionários... como
pôde???
— Quem te escuta acha que eu te obriguei a gritar.
— Mas obrigou...
— Eu tenho assim tanto poder sobre você, é!?
— Tem... você sabe que tem! — ela me olha com sua carinha de puta safada
e eu sorrio.
— Ninguém te ouviu, sua boba! Ninguém pode nos ouvir, não importa o
quanto tu seja escandalosa. Acho que no máximo uns comissários que estão
naquela salinha ali, ouviram, mas eles também foram bem pagos para serem
discretos, agora nossa família não. Daqui para onde eles estão, não dá para
ouvir.
— Planejou isso???
— Lógico. Eu sabia que a gente ia acabar se amando aqui...
— “Se amando”? — ela ergue a sobrancelha.
— Com ignorância, força, palavrão ou não... para mim é sempre amor!
— Acha mesmo que eu tô enrolada? Cheia de frescura? Que eu não sou mais
a mesma?
— Você continua a mesma mulher por quem me apaixonei. Mudou sim, mas
nada que envolva nosso chamego. Tu só tem uma postura diferente, acho que
é porque você ganhou certo controle ao amadurecer. Virou mãe de família,
moça quase “recatada e do lar”. — dou risada. — Não está mais no ‘cio’
como antigamente. Fazemos amor todos os dias, não tem como aquele fogo
queimar como antigamente.
— Isso é perigoso. Não podemos deixar isso mudar.
— Não viu o que acabamos de fazer? O que fizemos antes de ir para o
aeroporto? Nada vai mudar! Eu te prometo. Não vou deixar!
— E também não pode deixar de me amar! Nem mudar seu jeito comigo...
— Não vou mudar. Não se preocupe com isso. Não tenha surtos de
insegurança agora, você não precisa disso.
— Não estou insegura. Só não quero falhar. Quero te fazer feliz.
— Você já faz, meu benzinho! Agora levanta daí pra eu poder ir ao banheiro!
Daqui a pouco a intrometida virá perguntar se a gente não vai comer nada... e
vai ficar constrangedor você levantar daí com ela nos encarando! Certeza que
ela vai ver meu pau, pra você vai ser tranquilo, está de vestido e com a
calcinha no lugar.
— Se ela ver alguma coisa, faço ela “desver”.
Ela resmunga debochada, dá risada quando passo a encará-la e eu nego me
dirigindo ao banheiro. Ignoro os olhares maliciosos das comissárias de bordo,
volto pro lugar e a bicha corre se limpar. Se tivesse ido comigo, teríamos
transado no banheiro de novo, e eu acho que ela sabia disso.
— Meu Deus. Por que todo aeroporto se parece com todos os aeroportos???
— Lara diz animada assim que a gente pisa em Santorini. Allana não ficava
tão animada quanto ela.
— Grande coisa... — Allana resmunga emburrada e eu a pego no colo.
— O que foi?
— Por que eu fiquei com o Júnior e com o tio Greg?
— Porque Lara e eu precisávamos de um tempo sozinhos. Logo iremos nos
casar, não vão deixar o papai chegar perto dela, então precisávamos de um
tempo pra namorar. Por que está tão chateada?
— Somos uma família, e família fica junto! Não pode me separar!!!
— Desculpa, princesa! Seu pai e eu... — Lara começa, mas pelo jeito que eu
olho pra ela, ela já para!
— Lara e eu faremos isso sempre que a gente precisar. Assim como vamos
sempre tirar um tempo para você. Eu tenho duas garotas e eu sou um só, às
vezes vou precisar deixar uma no potinho para dar atenção para a outra, e às
vezes vou poder cuidar das duas ao mesmo tempo, e assim por diante. Você
precisa crescer e entender que isso é normal e não significa que te amamos
pouco, ou não te amamos. Entendeu?
— Sim. — milagrosamente ela responde compreensiva e ganha o carinho da
boadrasta quando vai pro chão. Se aquela garota crescer birrenta, vou culpar a
‘boadrasta’.
— E cadê seu irmão??? — minha mãe se aproxima e pergunta apreensiva.
Pego o celular para ligar pra ele e nem preciso. Logo os encontramos no hall
da sala privada que oferecia os serviços “gold” dos jatos particulares. Sala,
banheiro, dormitórios, poltronas, restaurantes, salas infantis... tudo para o
bem-estar de quem paga ou quem tem um jato particular.
— Chegaram primeiro... — ele me beija o rosto como sempre e após
Marcella fazer o mesmo com Lara, minha mãe a agarra e não solta mais.
— Saímos de lá primeiro, né!? Como foi o voo?
— Tranquilo e o teu?
— O mesmo. Providenciou o que é necessário para a locomoção de todos?
— Táxis executivos.
— Ok. — ele afirma agitado e parece não saber o que fazer.
— Você está bem? Parece aflito...
— Estou bem. — ele diz chateado, eu encaro uma Flávia de braços cruzados,
e depois uma Marcella também chateada que doava sua atenção à minha mãe,
e recebia dela seus abraços maternos e carinhosos. Minha mãe tinha mania de
mimar as noras, e eu não podia dizer nada a respeito de minha sogra... era do
mesmo jeito. Era só a gente vacilar que dona Mag agarrava e não queria
soltar. Mas pelo jeito, me baseando no que eu via, abraços e carinhos não iam
resolver as questões daqueles dois, ou três. Por isso decido não mais me
preocupar com aquilo, e começo a pensar na minha vida. Vida essa conhecida
pelo nome de Lara. LARA ESSA — risos. — que parecia estar prestes a ter
uma síncope por tanta ansiedade.
— E você? Tudo bem? — pergunto baixinho e ela me agarra.
— Não. Tô muito nervosa... vamos logo. Vou surtar...
— Acalma esse coração pelo amor de Deus. Vamos...
— Quanto tempo demora daqui até o hotel?
— Dez minutos porque viemos direto para a ilha.
Eu repondo, somos recebidos por um guia contratado por mim
antecipadamente, ele nos leva até o táxi e lá, na calçada do enorme aeroporto,
a “caravana” se divide.
— Vou na frente, qual é o hotel?
— St. Nicolas...
— Eu conheço, boa escolha. Já vou… — ele me encara quase que me
parabenizando pelo ‘bom gosto’, dá um beijo na minha mãe, e sai de mãos
dadas com Marcella. Ele estava péssimo. Vitor estava sofrendo.
— Eles brigaram? — meu pai já se aproxima e pergunta preocupado. Encaro
Flávia, mas ela desvia o olhar.
— Acho que não. Mas ele não está bem!!!
— Converse com ele quando chegarmos.
— Eu farei isso!!! — eu confirmo e o tranquilizo.
— Minha rainha sabe onde estamos, ou aqui ela não será minha guia como
foi em Paris!? — agarro a noiva mais linda do mundo assim que descemos do
táxi.
Por um momento pensei que ela nem me responderia por não estar mais no
‘planeta terra’. Ela olhava ao redor e admirava toda aquela arquitetura branca
totalmente ilhada, aquele mar infinito e azul demais... totalmente diferente
dos prédios cinzas que estava acostumada.
— Claro que sei... aqui é mais lindo do que por foto! Melhor que Paris!
Muito mais bonito!!! — ela me beija a boca e eu me arrepio inteiro. —
Obrigada por isso. Obrigada por tudo isso, por tudo o que você me
proporciona, e por me fazer tão feliz!!!
— Ah! Se você soubesse como eu quero te fazer feliz...
— Eu sei. — ela ri. — E respondendo sua pergunta...estamos em Santorini. É
a mais bonita e romântica ilha daqui da Grécia e por isso é o “point” de
muitas personalidades, poetas, escritores... e esse mar que parece um sonho
se chama Egeu.
— Engoliu a enciclopédia?
— Não. Só fiz questão de anotar os sonhos que quero que meu homem
realize... fiz listinha com dicas, lugares, endereços, telefones, e tudo o mais.
Acredito que ainda não nasceu mulher que terá a lua-de-mel melhor e mais
emocionante que a minha!
— Ah! Menina... acredite em mim, não nasceu mulher mais amada e mais
mimada que você!!! E ainda vai ser muito mais, para toda a eternidade!!!
— Vamos logo pro hotel. Quero essa parte do ‘ser amada’... — ela sussurra
sorrindo e seu olhar é daquele jeito de quando quer dar pra mim.
— Filha da p...
Eu começo a resmungar, mas paro quando Tia, seu marido, e Junior nos
alcançam.
Além dos três tinha Vitor, Marcella, Allana, meu pai, minha mãe, os pais de
Lara, Greg, Flávia e Vivi... definitivamente éramos uma turma pequena para
um casamento, mas grande em qualquer outro aspecto. E não estavam todos
os meus amigos ali, alguns não puderam porque realmente não poderiam
deixar a empresa.
(...)
— O que foi? — vejo Lara se sentando no sofá da gigantesca suíte aberta
para a vista mais famosa do país, e puxando a loirinha mimada consigo.
Fomos todos instalados cada um em uma suíte como recomendei. O hotel era
definitivamente lindo, espaçoso, e com dois ou mais quartos. Um luxo para a
família e amigos que participariam do momento mais especial de nossas
vidas.
— Eu só estou cansada. Tô com sono...
— Vamos passar uma água no corpo rapidinho e aí você deita um pouquinho!
— Eu não quero tomar banho... — Allana deita sua cabeça no peito dela e
Lara ri.
— Vixi, vai dormir fedida???
— Mas eu não estou fedida!!!
— Eu tô bem pertinho de você, você está fedida sim! — ela ri, faz cosquinhas
nela, e eu só fico assim, olhando de longe as mulheres da minha vida. —
Vamos lá ver onde fica esse banheiro, vamos, vamos...
Ela se retira, passa por mim me analisando, e eu abandono as malas onde
estavam mesmo. Na sala da suíte, ao invés de uma sacada, eu tinha uma
enorme passagem para uma área externa com toda a arquitetura
aparentemente moldada da pedra branca, cadeiras confortáveis, uma piscina
gigante, um ofurô convidativo no extremo canto direito e coberto por uma
parte grande do lugar, lembrando muito uma caverna escura e muito
charmosa... o ambiente todo era bem legal, estava muito orgulhoso de minha
escolha. E pra ser mais sincero do que já estava sendo em assumir isso tudo...
‘a real’ é que eu estava prestando muita atenção na arquitetura grega, nas
paisagens, e em bobagens que se fosse em outra ocasião eu jamais pensaria,
porque eu simplesmente estava aflito demais. Eu estava prestes a me casar...
— Coloquei a boneca na cama, deitadinha. Apagou... voar é cansativo, não
é!? Pensei que não, mas não importa o quão confortável seja. Ficar em um
lugar só por mais de doze horas é dose!
Lara diz me abraçando por trás e eu deixo de fitar o imenso oceano azul. Eu
tinha uma paisagem melhor que aquela. Sua face.
— Viu que ali do lado tem um ofurô???
— Vi!!! — ela diz empolgada. — Dá pra entrar pelo corredor também, não
precisa ser por aqui por fora. O hotel é todo construído dentro de uma
caverna, só que no ofurô eles não fizeram paredes lisas e tudo o mais... é
lindo! Tem uma escadinha ali.
— Tem???
— Tem...
— Me mostra.
Eu peço, ela me puxa pela mão, me leva até o interior da “caverna”, e
enquanto eu olho tudo, ela se coloca em minha frente, me analisando.
— Esse lugar é incrível, mas não precisava me trazer até aqui. Eu me casaria
contigo em uma igreja qualquer, até em casa mesmo! Paris, Grécia... qualquer
lugar... só fica lindo se eu estiver com você!
— É muito bonitinho esse seu jeitinho quando quer fazer amor ou deixar o
momento romântico. — eu resmungo e ela sorri negando.
— É assustador quando você demonstra querer aquelas trepadas sacanas onde
na maioria das vezes eu saio roxa e sem os cabelos da nuca.
— Deixo você assustada? — eu pergunto, dou um passo, e ela se afasta. —
Não gosta quando eu rejeito o clássico?
— Eu gosto de você de qualquer jeito...
— Então por que está reclamando?
— Não é reclamação!!! — ela já fica tensa. Já era a segunda vez que eu
chamava sua atenção por causa “daquilo” e ela não gostava. Lara queria
incansavelmente me fazer feliz e achar que não conseguiria, era o fim pra ela.
O mesmo acontecia comigo, aliás...
— Será que um dia você vai ter noção do tamanho da minha devoção a
você??? Eu não só amo você, eu adoro você!
— E eu que sempre achei que adorar era uma palavra fraca perto do que
significa amar...
— Não. — eu toco sua face macia e ela sorri. — Eu amo você, Allana, nossa
família, mas adorar... só esse corpo aqui, essa boceta deliciosa, só você... —
eu sussurro, aperto sua intimidade, e ela solta seu familiar gemido.
— Então você me adora?
— Muito. Até demais... exageradamente.
— Prova. Ajoelha e faça isso, me adore. — ela murmura, eu nego
contrariado, mas obedeço na hora.
Eu tento falar algo só para provocar, mas ela coloca uma de suas pernas no
meu ombro, puxa minha cabeça contra a sua boceta e eu não resisto.
Abocanho tua intimidade carnuda e molhada, a barra de seu vestido cobre
minha cabeça, e suas mãos fazem um vai-e-vem na minha cabeça, ainda por
cima do tecido.
Automaticamente jogo sua outra perna pro meu ombro livre, levanto seu
corpo até sair da posição de joelhos, e levinha como era, facilmente fico
assim, com suas costas espalmadas na parede, de pé e saboreando seu gosto
enquanto alcançava seu seio esquerdo com uma mão. Uma das melhores
posições do mundo.
— Ah! Nossa! Vince! Por favor... — eu sabia que ela já ia implorar por rola,
mas não conseguiu. Na mesma hora alguém bateu na porta. — Atende... —
ela resmunga.
— Não mesmo.
— Vince!!! — posso ouvir a voz irritante do Vitor e só por isso suspiro.
— O que será que ele quer? Apesar de saber que ele não é o gêmeo do mal,
sempre que ele se aproxima eu sinto que pode ser um problema! — Lara
sussurra ajeitando sua calcinha e eu nego.
— Acho que eu ficaria muito feliz se você parasse de se preocupar com ele...
— Olha o ciúme, homem... — ela murmura em tom de aviso, mas com bom
humor, passo uma água na boca, e a encaro quando vejo que já me seguia até
a porta. — Ah! Fala sério... — ela reclama e vai pro quarto sem eu dizer uma
só palavra, era esperta demais.
— Oi. Desculpe interromper, sei que fiz isso, é que... — Vitor entra com tudo
e já vai falando enquanto olhava ao redor a procura de algo. — Cadê a...
— Foi pro quarto, temos privacidade. O que houve?
— Eu sou pai! Sou pai daquela pirralha!
— O quê?
— A menina da Flávia... vai, não finja que não sabe do que eu tô falando, por
favor, me economiza, me economiza... eu vou enlouquecer! — ele resmunga,
mas apesar de falar extremamente baixo parecia transtornado. Seus olhos
estavam vermelhos e sua pele pálida. Vitor estava branco, tipo em choque
mesmo. — Não posso ser pai, não desse jeito, não assim de uma garota de
sete anos. Quem é que descobre ser pai quando a criança nem fralda usa
mais? Isso existe???
— Você pode começar do início, por favor?
— Não. Não posso não. Não estou em condições de fazer isso, eu não dou
conta de começar nada do início. Essa é a bomba, só vim jogar no teu colo,
porque sou o gêmeo do mal, não é!? Eu sou muito mal, por que aguentar
sozinho se eu posso jogar essa na sua cara bem “no dia do seu casamento”!?
— ele faz aspas com os dedos e eu dou risada. Vitor era uma anta.
— Já olhou pra cara daquela menina? Já olhou pra ela? Se encontrou com
ela?
— Já, eu... não consegui sossegar naquela noite, te contei isso. Me encontrei
com a Flávia de madrugada mesmo. Briguei com a Marcella, quase enchi a
cara das duas de tapas... a Marcella viu uma foto da menina na estante dela e
disse que a pestinha era a cara da Allana. Eu deveria ser gay como o papai
tanto temia, certeza que seria mais fácil, é sério! Eu não vou dar conta. Eu
não suporto criança!!!
— Você ama Allana, como assim não suporta criança? — dou risada e ele
ergue a sobrancelha pra mim.
— Eu sou obrigado a amá-la, é minha sobrinha, mas é responsabilidade tua e
não minha! A não ser... que... — ele não perde a oportunidade e eu confirmo
me jogando no sofá.
— Vai insinuar que também transou com a Nanda... é claro...
— Hey! Sabia que a ciência jamais conseguiria provar de quem ela é filha?
Minha ou tua? Temos os mesmos DNA’s. Graças a isso ela praticamente é
minha filha também, tipo...
— Viu!? Está fácil, você já é cientificamente pai. — eu falo e ele consegue
gargalhar me jogando uma almofada bem na face.
— Cale a boca. Estou mal, não sei o que fazer, Marcella vai desaparecer da
minha vida após voltar pra casa, e só pra você ter uma noção do tamanho do
drama, aposto que nem pra Nova York ela vai querer voltar. Certeza que vai
querer o colinho da mamãe, ficar á mercê do filho da puta, desgraçado...
— Será que ele nunca vai esquecer da tesourada que ele levou? Por que você
não dá um sumiço nele???
— Já pensei em fazer isso, mas... não moramos no Brasil, lá em Nova York
ela sempre se manteve segura...
— Você não me contou direito a respeito dos abusos... ele chegou a estuprá-
la ou só tentou?
— Quase. No exato momento ela alcançou a tesoura de costura da mãe dela
no criado-mudo, aquelas de ferro mesmo, a mulher costura pra fora... enfim,
fez um estrago no pescoço do cara, quando ele caiu ela não parou, estava
‘cheia’ dele, muito puta da vida, muito assustada... e ele quase morreu.
Infelizmente ela não foi até o fim, saiu correndo a filha da puta, devia ter
matado ele! Ele batia nela, abusava demais, até que ela cansou, pastou muito
na mão do delinquente. E tem mais essa agora... — ele seca o suor da testa.
— Não consegue olhar pra minha cara. Acha que eu sou um filho da puta que
abandonou as duas aqui, a piranha da Flávia e a pestinha.
— Mas você foi falar com a Flavia... o que ela disse?
— Ela negou, mas não sei. Pareceu mentira, papo muito mal contado, um
‘disse não disse’, mais gaguejando do que falando. E Marcella me disse algo
que me fez cair na real. Era capaz mesmo de aquela vadia ter criado a menina
sozinha, afinal, eu era um merda, não é!? Flávia sabia que eu jamais
assumiria, pelo menos não publicamente uma criança naquela época! Eu era
um babaca, transamos uma vez, eu ia no máximo dar uma pensão, e
orgulhosa como sempre foi, nunca me imploraria atenção. Flavia queria você,
não eu. — ele me encara brevemente. — E a pior parte foi chegar de
madrugada com ela, ver a cuspidora de fogo pronta pra me engolir, já
querendo DR...
— Não consegue imaginar o porquê que aquela menina até hoje “não tem um
pai”, o porquê que a Flávia não abriu a paternidade dela pra ninguém? Você
realmente acha que ela ia te deixar de fora porque você simplesmente era um
babaca? Que se foda você, óbvio que pelo menos pensão ela ia te cobrar,
você era um safado, cachorro, quem quer que fosse que tivesse um filho teu
ia querer te foder pelo simples fato de você ter sido um verdadeiro escroto,
irmão!
— Nossa. — Vitor coloca as mãos na cintura, passa a encarar a porta, e eu
dou risada. — Agradeço pela delicadeza com as palavras, eu não sei o que
seria de mim sem seus conselhos, seus palpites, sua gentileza, empatia... —
ele vai falando e de repente ameaça ir embora.
— Desculpa, eu estou brincando, perdão! Só estou dizendo que não justifica.
Nunca que ela faria isso contigo porque você era como era, estamos falando
de uma criança. E digo isso também... — eu respiro fundo e ele me encara
com atenção. — porque meio que eu ACHO, escuta bem, estou dizendo
ACHO que eu tenho sim, um palpite muito bom sobre a paternidade daquela
menina, então sossega. Ou simplesmente peça um DNA para tirar a prova.
Mas eu se fosse você desencanava disso.
— Tá. Tudo bem. Me diga um nome. Só um nome. Nem dormir tô
conseguindo, eu preciso só de uma ponta de esperança de que...
— Gomes. — eu dou meu palpite e ele fica embasbacado. — Eu não sei,
realmente não sei, mas pode muito bem ser. Tirando eu que me casei jovem
como você sabe muito bem, todos vocês ali, já se pegaram. — eu arrumo
minha postura enquanto ele refletia. — Eu sei que na formatura eles ficaram
juntos como se não houvesse amanhã, claro que no dia seguinte fingiram que
não se conheciam, mas antes de...
— Mês...? Qual o mês? Mês da formatura...???
— Bom, não sei, acho que foi em dezembro, não!? Não era o padrão das
colações da USP todo o ano...? Foi uns dois meses depois da formatura que
ela contou que estava grávida da menina! De nada querido irmão... você
também é muito útil, legal, simpático, agradecido... — eu começo falando e
passo a encarar o lustre do teto quando ele me beija a face e sai correndo.
— A Flávia bem que poderia ter transado com o Greg, já pensou se ele fosse
o pai da menina!? Faria tão bem pra ele. Se bem que ele ia odiá-la, não é!?
Por tê-la escondido. — a Maria-fofoqueira me abraça pelo pescoço nas costas
do sofá e eu inspiro pesadamente.
— Não vou falar de novo, não quero você metida nessa história. Concentre-
se no nosso casamento. Por que não liga para os contatos que tenho de
empresas especializadas em organização de festas...? Chame suas ajudantes,
vão dar uma volta para escolher a decoração que vocês tanto querem porque
eu sei que as nossas mães e a Tia não vêem a hora de fazer isso, e você
também. Vai cuidar do nosso casamento. Deixei na tua agenda todos os
contatos, e endereços de pessoas que podem ajudar na busca por
profissionais, e o cartão eu já coloquei em tua carteira faz alguns dias, não
importa o preço, só quero ver você feliz! Quero ‘dar play’ nessa lua-de-mel o
quanto antes!
— Vou fazer isso! Desculpe... — ela tenta alcançar minha boca, mas só
consegue quando eu ajudo.
— Então vá porque eu sei que não conseguiremos transar nem tão cedo. —
eu digo e como se já adivinhasse, Tia bate na porta chamando a criatura para
“uma reunião” com minha mãe e dona Mag.
— Te amo!
— Te amo mais! Nos vemos já, já.
— Sem despedidas de solteiro...
— Já tivemos uma e eu amei! — eu digo e por se lembrar da boate ela sai
sorrindo feito boba. — Eu estou te vendo aí você sabe disso, não é!?
Resmungo quando escuto a outra ratinha fofoqueira fazendo seu barulhinho
bem atrás de mim.
— Estou sem sono... — ela murmura, se joga no sofá ao meu lado e eu sorrio.
Allana estava tão crescida... meu bebê não era mais um bebê.
— O que foi que espantou seu sono? A Lara disse que te colocou na cama
desacordada.
— Mas eu não estava dormindo... estava pensando...
— Pensando no quê, filha?
— Em você... e na Lara... e no tio Greg...
— E o que foi? O que tem nós?
— Eu não sou sua filha?
— Como é???
— Eu ouvi. Ouvi muitas vezes você e a Lara conversando sobre isso por
esses dias. — ela diz e seus olhos brilham.
— Não. Não ouviu. Por que se andou nos espiando deveria ter escutado
muitas coisas, menos essa informação.
— Ouvi que ele acha que eu sou e por isso quer um exame em mim, eu não
quero fazer exame nenhum, não quero ser filha dele!!! — Allana afirma e
chora compulsivamente.
— Ei... tudo bem! Nós precisávamos ter essa conversa, então que seja agora.
Pare de chorar e me escute.
— Não! Não quero ouvir. — ela tapa os ouvidos.
— Eu sou o seu pai! Eu!!! — eu afirmo após retirar suas mãos dos ouvidos.
— Você não pode saber. A mamãe te traía com ele!
— Mas que... — eu evito soltar os palavrões que estavam presos na garganta.
— dá onde você tirou isso? Dá onde tu tira essas coisas??? Isso é um
absurdo!!!
— É mentira? Eu ouvi você dizer!!!
— Allana... — meu Deus o que eu ia dizer??? — a respeito disso, eu não
posso e nem conseguiria falar disso contigo. Nós adultos, fazemos coisas que
as crianças não entendem e nem estão na idade de entender. São muito
complicadas. Têm coisas, filha, que você só vai entender quando crescer.
— Eu entendo. E não sou tão criança assim. É como se um dia eu descobrisse
que a Lara beijou o Júnior escondido. É isso o que houve com a mamãe. Ela
estava contigo e beijou o tio Greg escondida e só agora você soube!
— Meu Deus. Senta aqui. — eu a faço se sentar e ela só aguarda eu começar
a falar e era aí que estava o problema. — Cometemos erros, filha. Eu e sua
mãe. Nós não somos perfeitos, ninguém é, e...
— Você traiu a mamãe?
— Não, não traí. Só estou dizendo que ela não era perfeita, assim como eu
nunca fui, muito pelo contrário. Só que nada, nada do que ela tenha feito de
errado em toda a sua vida, te envolve. Você é minha, não só de sangue, mas
de alma. Sua mãe não engravidou do tio Greg, nunca mais repita isso porque
é uma mentira descabida. Houve, sim, um beijo, e eu agradeço muito que
tenha acontecido com o tio Greg. Sua mãe amava tanto ele quanto a mim, e
isso você também entenderá melhor quando crescer, isso pode acontecer. A
gente não manda no coração, não manda em muitas das coisas que
acontecem, isso só Deus controla...e olha bem pra mim, sempre achei que
Deus havia me virado as costas, mas não. Ele nos deu a Lara de presente. Isso
é um indício de que Ele escreve certo por linhas perfeitas. Sua mãe me
amava, e acima de tudo, mais que a mim, amava você!!! Ela era perfeita do
jeito que era e te amava muito.
— Mas como você sabe que eu não sou filha dele???
— Porque eu já precisei fazer um exame que comprovou isso...
— Por que você queria saber se eu era???
— Não, porque eu queria evitar que você ficasse doente e precisei te doar
minha medula. Se você não fosse minha filha, as chances de conseguir o
resultado tão importante que os médicos queriam, iam ser mínimas. Se eu não
fosse seu pai de verdade, não conseguiria te ajudar tanto assim.
— E você ajudou?
— Sim! O transplante foi um sucesso, mas foi algo experimental filha.
Quando você ficar mais velha precisarei voltar contigo no médico, nada é
garantido, era só uma experimentação, mas sim, foi comprovado a
paternidade e eu pude te doar. Não quero que pense mais nisso. Nós vamos
fazer esse exame porque eu prometi pro tio Greg, ele vai ficar um pouco triste
com esse resultado, e por causa disso vamos apoiá-lo. Tu não é filha dele,
mas ele nunca vai deixar de te amar e ele ama muito você porque tu é uma
sementinha que tua mãe deixou para nós dois, e ele a amava demais, demais
mesmo!
— Mas eu não gosto de injeção.
— Ué! Quem disse que você vai tomar injeção?
— Não é assim, o exame?
— Não!!! Só o que vão fazer é passar um “cotonete” dentro da tua boca, só
pra tirar um pouco da tua saliva! Mas eu quero que você concorde em fazer
isso por ele, não vou te forçar...
— Não sei se eu quero.
— Eu entendo. Mas isso é muito importante pra ele. O tio Greg está muito
triste, e a gente pode ajudá-lo. Não vai lhe custar nada, mas será algo muito
importante pra ele! — eu falo e ela balança a cabeça.
— Posso pensar?
— Deve. Deve pensar nisso. Assim que Lara e eu voltarmos da lua-de-mel,
quero uma resposta. Pode ser?
— Pode.
— Então tá bom. Agora vem cá, vamos dormir como antigamente... — eu a
pego no colo e ela começa a rir quando eu canto “nana neném” pra ela.
— Sabe que isso não funciona mais pra mim, sem contar que é uma música
completamente assustadora, né!? “A cuca vem pegar?”, “bicho papão”?
— Assustador é ver o quanto você cresceu e não precisa mais dessas coisas!!!
— eu murmuro, a pequenina sorri mostrando seus dentinhos brancos, e eu
morro de amores como sempre. — Agora, tem outra coisa que precisamos
conversar.
— O quê? — ela resmunga e só pela sua vozinha preguiçosa, sei que está
sonolenta. Eu havia parado de cantar, mas não de niná-la.
— Se voltar a nos espiar como uma ratinha eu te darei uma surra de cinto e te
colocarei de castigo porque isso é feio, e não se faz. Entendeu?
— Entendi. Desculpe, pai! — ela sorri e eu evito fazer o mesmo. Não se deve
chamar a atenção de uma criança sorrindo.
— Pai?
— Oi.
— A Lara vai voltar da lua-de-mel grávida?
— Espero que sim! Seria muito bom, não é?
— Acho que sim.
— Por que ‘acha’?
— Talvez ela não goste tanto de mim se isso acontecer.
— Já conversamos sobre isso, e ela já te disse um milhão de vezes que nunca
deixará de te amar...
— Mas o amor diminui quando se divide.
— Isso quer dizer que eu te amo pouco desde quando a Lara chegou? Que a
vovó me ama pouco porque ela tem dois filhos? Que a Tia ama o Júnior bem
pouco só porque ele têm irmãos...?
— Não...
— Então... o que você está dizendo não faz o menor sentido.
— Mas eu não nasci da barriga dela. Seremos meio-irmãos. Ele vai nascer da
barriga dela e eu não!
— Cada dia que passa, Allana, mais eu tenho certeza que em alguma outra
vida, foi dela que você nasceu.
— Por quê?
— Porque a Lara te ama mais do que você possa imaginar. Você sabia que
ela não decide nada pra vida dela sem pensar em você e no que você pode
dizer ou sentir??? Ela pouco se importa em como eu vou reagir, mas ela
pensa em você. Só em você. Não sabia disso?
— Não...
— Pois então. É bem por aí. Sabia que ela teve oportunidades de ficar
morando na França para fazer o curso que ela sempre sonhou e trabalhar do
ladinho daquele chefe feio dela, que ela tanto ama!?
— Sério???
— Sério. Nem era para ela ter voltado conosco, ela devia ter ficado lá. Mas
ela me disse que não aceitou por nossa causa, e que com certeza se ela não
voltasse você ia sofrer. Não é verdade!?
— Ia mesmo!!!
— Então, ela escolheu abrir mão do sonho dela pra estudar nas férias, só para
que você e eu possamos acompanhá-la. A Lara não dá um passo na vida dela
sem pensar no que é melhor pra você. Acho que ela merece um voto de
confiança da sua parte com relação a isso. A Lara fez demais por nós dois, ela
salvou a vida do seu pai, você se lembra que eu vivia triste, não lembra!?
Acho que se um dia você quisesse muito um irmãozinho e não criasse caso
por causa disso, ia fazê-la muito feliz.
— Será que não tem algo que ela queira que seja mais fácil de aceitar? — ela
questiona e eu dou risada.
— Ah! Allana. Desde quando aquela mulher quer coisas simples e fáceis? —
dou risada.
— Vou ter que dividir meu quarto?
— Ah! Vai! Claro! Nem temos quartos o bastante naquela casa!!! — sou
irônico e ela ri. — Allana, depois que esse bebê nascer, a última coisa que
você vai querer é brigar por causa de bens materiais!!! E mesmo assim, nunca
Lara e eu daremos algo mais para um do que para o outro, muito menos
amor. Tudo é dividido, mas tudo o que for dividido será de forma igual e com
relação a nosso amor, será enorme igual. Grande igual. Entendeu, filha???
— Aham. Tudo bem! Vou falar pra ela que ela pode me dar um irmãozinho.
Mas tem que ser menina pra brincar comigo e também passar a vergonha que
eu tenho que passar ao sempre ganhar vestidos em miniatura pra ficar “tal
mãe, tal filha” com ela. Se for tudo dividido, os micos também serão.
Ela resmunga bocejando e eu seguro uma risada alta. Lara ia amar ouvir
aquilo.
Coloco a terrível na cama dois minutos depois, me deito ao seu lado só por
cinco minutos para se caso acordasse, mas apago por puro esgotamento. Lara
tinha razão, viajar era muito exaustivo.
(...)
Desperto de forma preguiçosa, com uma sensação tão boa... mas tão boa que
eu podia jurar que era um sonho, mas só que não. Ter uma mulher como eu
tinha, era sonhar acordado como naquele momento.
Lara sorria enquanto fitava meu rosto e eu me sentia nas nuvens.
— Que demora pra acordar... — ela diz baixinho.
— Allana... — olho pro lado quando me lembro e ela nega.
— Já levantou, foi procurar a avó.
— Que horas são?
— Quatro da tarde.
— Acabou de chegar? — eu pergunto e ela nega me abraçando e cheirando
meu pescoço.
— Cheguei faz muito tempo, fechei o estilo da decoração que eu queria, um
guia nos mostrou diversas empresas... elas são bem pequenas, mas fazem um
trabalho incrível. Sabia que eles fazem casamentos de famosos e de gente
rica?
— Você é a tal da ‘gente rica’. E antes que me corrija, sim, casou com o
“gente rica”, o que resulta no que eu disse. — eu falo e ela sorri. Estava
domada, nem reclamava mais... — E então!? O que você achou? Gostou de
tudo? Está feliz e satisfeita?
— Sim, mas queria você lá para dar seu palpite em tudo.
— Tenho certeza que eu vou amar, seja lá o que escolheu. Você tem um
ótimo gosto para tudo! Aliás, tenho uma novidade: Allana ‘te autorizou’ a
voltar da lua-de-mel com um irmãozinho contanto que o mesmo seja menina,
porque, já que ela vai ter que dividir tudo, terá dividir também os micos que
paga ao sempre ganhar vestidos “tal mãe, tal filha” de você. Esse bebê
também vai ter que passar por isso. — eu conto e ela ri com gosto.
— Ótimo!!! Concordo com os termos... vamos aproveitar essa lua-de-mel pra
encomendar esse bebê agora mais do que nunca desejado... — ela sorri feliz.
— por que é o que você também quer, não é!? Ser pai de um filho meu...
— Eu quero mais do que tudo no mundo. Uns trinta filhos contigo. Vai
aguentar?
— Eu vou! Sabe que eu amo crianças... quero uns quarenta contigo!
— Oloco! É sério, vida... — eu tento não rir. — Só uns dois estará ok, não
é!? Esse papo aí de trinta, quarenta, é brincadeira. — eu falo e ela segura a
risada o que muito me assusta, mas depois ri da minha cara.
— O que foi? Está com medo de me perder para a balança? Não curte seios
vazando leite, estrias, celulites...!?
— Eu vou te comer pra sempre, de qualquer jeito, — ela ri. — com ou sem
barriga, com ou sem marcas, com ou sem leite vazando... você é maravilhosa
num nível que seria impossível ficar feia, não importa como for. Se for com
barrigão sei que o legal é pegar assim, de ladinho, e ouvi dizer que é uma
delícia, que as mulheres ficam ainda mais no cio!!! — eu garanto e ela ri
concordando. — O problema é a frequência que conseguiríamos ter
momentos á dois tendo tantos filhos em um curto período de tempo. Sei que
os primeiros meses são difíceis, sei que os filhos se tornam uma preocupação
constante até depois de velhos... vivemos isso com Allana, imagina “trinta”
pra cuidar, se preocupar, locomover... — dou risada. — deve ser barra!!!
Acho que três é um número bem receptivo.
— Número ímpar. — ela diz sorrindo e cutucando minha blusa.
— Ok. Vamos falar a respeito disso depois.
— Não quer fazer planos com tua noiva?
— Tu quer fazer planos agora? Ok. Então por quê não falamos a respeito de
nossa casa? Se você quer ter tantos filhos assim acho melhor colocarmos a
mansão a venda e comprar outra que caiba todo mundo...
— Não... deixe ela ficar pequena pra gente viver agarrado!!! — ela sorri e me
abraça quando nota que achei fofo.
— Minha princesa... eu te amo tanto. Dou graças a Deus por você ter
chegado. Espero que nunca se esqueça disso... nunca se esqueça do quanto
você mudou minha vida, do quão bem me fez, e do quanto sou grato!!!
— Você é quem mudou minha vida, completamente. Eu te amo muito mais,
Vince. Você não imagina o quanto!
— Imagino...
— Não, não imagina não. Você não tem noção do amor que eu sinto por
você. Você definitivamente não tem a menor noção do quanto eu sou louca
por você. É um amor que não cabe em mim. — Lara murmura aparentemente
emocionada e seus olhos brilham pra mim. — Meu peito aperta toda vez que
olho pra você, era assim antes, mas... agora tudo ficou mais intenso. Com
certeza você chegou a pensar que um dia isso poderia mudar, eu sei que sim,
que talvez eu te “conhecesse melhor”, te amasse menos por você ser tão
ciumento e possessivo como é... ou como era... afinal você mudou, hoje eu
posso ficar no mesmo ambiente que o Júnior e teu irmão. — ela ri. — Mas
não, a cada dia que passa meu amor por ti só aumenta, chego a ficar eufórica.
Sou doida em ti! Doida de pedra!!! — ela exclama soando feliz enquanto
acaricia minha face e eu não aguento, beijo sua boca me entregando para
aquele desejo e aquele amor gigante que me consumia, mas ela me freia.
Chega até a afastar sua cintura da minha.
— Não... espera...
— O que foi? Faz uma declaração dessa, mas depois se recusa a fazer amor
comigo!?
— Estamos atrasados. Eu reservei um jantar para nós dois. Precisamos sair.
Na verdade estamos mais do que atrasados, eu que tô aqui enrolando ao me
declarar. Só tô tentando amolecer seu coração porque gastei uma fortuna em
um jantar romântico que eu sei que você não vai comer por pura pressa em
voltar pro quarto pra poder fazer amor comigo. — ela diz e ri.
— Tudo bem, mas... vem cá, será rápido. — eu volto a beijar sua boca e subo
em cima dela sem soltar o peso. — Tu amoleceu meu coração e endureceu
meu pau. — eu resmungo e ela ri de novo. — Deixa eu te amar só um
pouquinho, vida! Te quero demais e tem que ser agora!!!
— Não. Não tem que ser agora. — ela se esquiva, levanta da cama, e eu me
sento a encarando sem entender absolutamente nada. — É jantar com hora
marcada no melhor restaurante da ilha. Levanta e vá se vestir que eu vou
tomar um banho.
Lara decreta a inexistência da trepada, me oferece um ‘sorrisão cara de pau’
de tirar fôlego e não tem medo do perigo ao me oferecer as costas mesmo
fitando com seus olhos brilhantes o volume em minha calça. Ela sorria, a
filha da puta!!! O que ela estava pensando da vida dela???
Corro pro banheiro quando saio do transe em que ela havia me deixado por
causa do desaforo e a encontro na ducha com o Box fechado. O banheiro já
havia sido tomado pelo vapor quentinho...
Tiro minha roupa para aproveitar a oportunidade, já que desde que chegamos
eu não havia tomado banho, e abro o vidro. Seu olhar passeia de meus olhos
para meu pau duro e aquele sorriso se faz presente de novo.
— Ele não vai voltar ao normal sozinho... — espalmo as mãos na parede de
pedra branca do banheiro rústico e característico, tirando da fujona qualquer
brecha para se esquivar. — ...faça qualquer coisa comigo, só não me deixe
assim. Isso não...
Eu imploro, Lara se ajoelha no ato e após deslizar sua língua de cima a baixo
me olhando nos olhos, ela abocanha a cabeça e começa a mamar e lamber
minha cabecinha, até os espasmos começarem a surgir. Ela relaxa a garganta,
segura firme em minha cintura e se inclina pra frente, o máximo que
consegue... quando volta, aperta os lábios ao redor, lentamente segue para a
pontinha, e após isso me suga com firmeza me encarando com um semblante
de cachorra no cio e então bebe leitinho sem deixar cair uma gota.
— Nunca mais me dê as costas daquele jeito. Não me rejeite. — eu digo
quando ela volta a ficar por dentro de minha cerca feita com os braços.
— Não foi rejeição, amor. — ela encosta sua testa na minha. — Estamos
mesmo atrasados. Quero te mostrar o quão lindo é o pôr-do-sol daqui.
Teremos uma noite incrível.
— Não existe paisagem mais bonita que você entregue a mim! Assim de
joelhos, de quatro, ou de pernas pro ar me recebendo com minha rocha te
estocando. Troco mil jantares no melhor lugar do mundo por meia-hora te
amando. Passaria minha vida dentro de você, permaneceríamos um só por
toda a eternidade.
— Eu te amo, Vince.
— Eu te amo, também! Muito!
— Então não demora. Esse pôr-do-sol é o momento mais importante de toda
a minha vida. — ela diz, sai da ducha, e parece aflita. Nervosa.
Termino meu banho tão aflito quanto ela, e quando saio a vejo de pé, na
frente do espelho, vestindo um vestido branco ainda aberto nas costas.
— Dizem que isso dá azar.
— Não dá, não. Você só me trouxe sorte esse tempo todo. Sorte, amor,
felicidade... me ajuda a fechar? — ela me encara de lado, e depois passa a me
analisar pelo reflexo do espelho.
Seu vestido cobria seus pés, tinha as mangas compridas em renda, e um
decote comportado... descia parecendo que economizaram na renda pois do
joelho pra baixo ficava tudo transparente, mas era muito bonito. Era lindo.
Lara estava linda.
— É esse nosso jantar? Tu vai me levar para minha própria cerimônia de
casamento sem me avisar? Como uma surpresa?
Eu pergunto fechando os botões do vestido, dou um tapão em seu traseiro
grande, e ela se vira.
— O que? Achou que chegando aqui eu ficaria quietinha fazendo a linha “ai,
eu vim contratar seus serviços gregos e caros porque daqui uma semana me
casarei em uma cerimônia que entrará para a história do país! E meu marido
me aguarda ali, bebendo um champanhe nacional como se estivesse em
casa...” — ela diz com voz de “mulherzinha fresca” e eu sorrio sozinho. —
Sonhava em casar aqui e você realizou meu sonho, nossas fotos ficarão
lindas! Desde muito nova tirava os recortes das revistas, as fotos naquelas
pedras, o fundo da foto com as casinhas em formato de cavernas, e o pôr-do-
sol mais bonito do mundo... e terei isso. Agora mais do que fotos, o lugar, as
coisas... eu tenho pressa. Eu tenho muita pressa em ter você pra mim
oficialmente. Mais do que já sabemos e sentimos, um contrato, um
documento oficial que diz que você é exclusivamente meu, meu marido, e só
meu. E eu não vou esperar, até queria antes, ver decoração, cuidar do menu...
que se foda o menu. Eu já esperei demais e passei por muita coisa até
conseguir te conquistar e entrar no seu coração. Quero me casar com você
logo, dar início a tão aguardada lua-de-mel, e voltar pra casa com um
resultado positivo de farmácia. Eu tenho pressa em fazer você feliz!
Ela diz decidida, se estica e pega uma sacola de papel que eu nem tinha visto
que estava ali.
— Pode vestir isso se quiser. Comprei pra você!
— Passou a tarde inteira agilizando meu próprio casamento enquanto eu
dormia...
— Isso e muito mais!
— Eu tô fodido... me apaixonei por uma doida varrida. — eu zombo sem
sorrir e ela concorda.
— Doida varrida, ciumenta, apaixonada, realizada, e completamente feliz!
Agora se troque. Quero esses papéis assinados hoje e o jatinho ligado amanhã
bem cedo para curtir a nossa lua-de-mel sem data de retorno. — ela fala e dá
um passo em minha direção. — Só voltarei pra casa carregando um filho teu
em meu ventre. — ela sussurra, ameaça me beijar, mas a campainha toca. —
Tua carona chegou, nos vemos no altar!
— Quando Lara disse agora pouco que me dizia coisas bonitas só para
amolecer meu coração porque fez um rombo nas minhas contas, eu achei que
era brincadeira. — eu resmungo ao encontrar Vitor na entrada da bonita
passarela montada na areia da praia e junto com ele, alguns fotógrafos tirando
fotos da decoração. E sim, estava um pôr-do-sol inacreditável.
Troquei de roupa, esbarrei nas mulheres da família que pelo jeito já se
preparavam para ajudá-la com cabelo e maquiagem, não sei, e vim correndo
para o local com a ajuda de um guia após descer um lance gigantesco de
escadas esculpidas nas pedras. Camiseta branca, bermuda branca com a barra
costurada para parecer que eu havia enrolado ‘a calça’ para não sujar de
areia... a filha da puta tinha sim, um ótimo gosto pra tudo.
— Por que está dizendo isso?
— Como ela conseguiu armar uma dessas tão rápido??? Com certeza pagou
caro pelo serviço express. — o lugar estava rústico e lindo.
Definitivamente como ela sonhava, parecia cena para fotos de revistas. Os
bambus, o púlpito de madeira ainda vazio lá na frente, as sedas brancas que
balançavam com o vento, as tochas acesas copiando o alaranjado do pôr-do-
sol... estava tudo muito simples, mas muito lindo.
— É, irmão. É assim que funciona... passei no restaurante do hotel pra ver
tudo também. Ela fechou o restaurante para um jantar só pra gente. — ele
resmunga olhando ao redor junto comigo. Parecia triste. — Lara sabe mesmo
o que quer, é louca por você, e bom... apesar de ter um bom gosto até para as
coisas simples, como isso, — ele mostra o altar feito na areia da praia com a
cabeça. — nota-se a paixão que sente, só pelo simples fato de não nos deixar
descansar após a viagem. Poderíamos ter ficado aqui durante uma semana
planejando o melhor do melhor, mas a garota alugou alguns bambus
bonitinhos para fazer você assinar aqueles papéis e se livrar da família toda
partindo logo ao amanhecer. Já ligou para os pilotos do teu jato e tudo, a
mamãe contou... — ele me encara e sorri. — Estou muito feliz por você, você
realmente merece tudo de melhor, merece a diarista e ela é uma sortuda por
ter você.
— Vitor, você também merece.
— Eu não mereço nada. Eu sou ruim, sou uma pessoa ruim e não vou mudar.
— Cadê a Marcella? Eu não a vi... — pergunto porque para ele estar se
remoendo daquele jeito, claro que os dois tinham brigado.
— Eu a coloquei num táxi.
— O que? Por quê? — eu questiono e vejo Vivi, Flávia, Júnior, o pai dele,
meu pai, meu sogro e o Greg se aproximando para se juntar a nós, descendo a
pequena ladeira de areia.
— Ela merece um homem de verdade, alguém melhor.
— Caralho!!! — resmungo fitando seu semblante péssimo. Não era hora para
ficar com raiva dele, mas... — Você não aprende nunca?
— Tomei a melhor decisão por ela.
— Você tem que parar de achar que deve tomar conta da vida das pessoas. —
eu falo e seus olhos brilham com o início do choro. — Tomar as rédeas na
força bruta. Ficar ou não era uma decisão dela! Também foi convidada para o
casamento, não tinha direito de trazer a menina e depois expulsá-la do país.
— Não foi assim. Não a expulsei. E não vamos falar disso agora. Eu estou
bem, está tudo bem.
— Você saiu correndo do apartamento. Conversou com a Flávia?
— Sim.
— E...?
— Ela confirmou tua história. Ela... disse que... ficou com ele, aconteceu, ele
não quis assumir, e que estava tudo bem com ela e com a menina. Que não
precisava de “macho escroto” pra nada, era bem sucedida e dava á filha uma
vida de princesa... — ele seca uma lágrima. — confirmou tudo.
— Ok. Eu sabia, quer dizer, suspeitava... ótimo, tu não queria ser pai, todo
mundo sabe disso, tu não é pai, ótimo... está “livre, leve e solto” para dar uma
chance ao amor. Para ter alguém, ser feliz e começar uma vida nova... — eu
digo e puxo seu ombro para fazê-lo me encarar. O filho da puta nem queria
me encarar. — Eu te perdoei, porra! Eu não guardo mágoas nenhuma de
você, eu amo você, você é meu irmão. Somos um só, sua vida é minha vida, e
eu dou a minha por você. Já chega de se martirizar, chega de se castigar, ficar
achando que não tem direito de ser feliz. Você precisa e merece ser feliz!!!
Enterramos o que houve naquela sala, eu não serei completamente feliz se
você não for também. Eu não serei feliz se você não for, não tem a menor
chance de isso acontecer, pelo menos não mais!!! Eu te perdoei, te deixei
ficar, agora é tarde, agora eu preciso de você e preciso que você seja feliz...
— Ela mentiu. — ele me interrompe negando e eu fungo o nariz que já
escorria. Eu sentia uma dor tremenda e deixava transparecer enquanto ele
guardava aquela mesma dor pra si. Eu sabia disso como sabia que sem Lara e
Allana na minha vida eu não seria ninguém. Sentir o que Vitor sentia era
como respirar. Algo mais do que natural e instintivo. — Ela simplesmente
mentiu. A menina é minha. — ele sussurra me olhando nos olhos e eu até
tento, mas não consigo soltar a voz.
— O que está acontecendo? — meu pai questiona olhando de um para o
outro quando nos alcança. — Vicente???
O velho me chacoalha já querendo gritar, segura em meu braço, mas... como
eu não digo nada ele sente o clima, decide por seguir o restante do pequeno
grupo para mais perto do púlpito e nos dá privacidade. Eu estava em choque.
— Ela mentiu me olhando nos olhos e eu saí do quarto dela fingindo
acreditar. Assim como a conheço, Marcella me conhece. Viu a verdade.
Naquela época, quando fiquei sabendo, estava viajando... liguei pra ela,
perguntei daquele meu jeito “carinhoso” se a filha da puta tinha engravidado
já que a gente tinha usado a porra da camisinha e ela tinha prometido tomar
remédio, e aquela foi a primeira mentira. Disse que sim, mas que não era
meu. Eu acreditei, ela parecia demais sensata no telefone. Marcella acreditou
quando eu disse que não sabia, quando eu jurei que nunca quis, que foi um
acidente, que eu jamais abandonaria Flávia se eu tivesse descoberto na época,
mas... mesmo assim, pegou a bolsa, chamou um táxi, e foi embora. Não te
chamei porque... não sei porque... me perdoa, eu sou um merda. Eu não
mereço nada, eu sou um merda.
Ele parece ter finalizado todo o teu discurso e tive certeza quando
permaneceu apenas me encarando em silêncio por muito tempo enquanto eu
tentava encontrar palavras.
— Por favor... fale alguma coisa. Grite, me esmurre, mas... fale alguma coisa.
— Como você conseguiu engravidar uma mulher sem saber???
— Não sei.
— Não me diga!? — eu resmungo. — Tu vai processá-la, não vai? É uma
amiga, eu adoro a filha da puta, mas tu vai processá-la e pegar essa menina!
Se não fizer isso, eu farei. Se não vai assumir a responsabilidade...
— Eu vou!!! Tá legal!? É óbvio que eu vou.
— Ela sabe que você... sabe da verdade, sabe que ela mentiu!?
— Ela não é boba, claro que sabe. Conversarei com ela assim que seu
casamento for consumado. Vou ajeitar tudo isso, vou... vou assumir essa
pestinha que só conheço por foto. Está tudo bem, eu arcarei com minhas
responsabilidades! A merda foi feita, agora vou limpar. Mas pra deixar claro,
não me sinto culpado, tá legal!? A filha da puta vai me pagar por ter feito
isso, eu não tenho responsabilidade nessa mentirada toda.
— Mas tem responsabilidade por ter deixado Marcella ir embora. Nisso você
tem culpa!
— Não posso obrigá-la a engolir o que eu descobri!!!
— Não pode o caralho!!! Ela não disse que te amava? Que porra de amor é
esse? — entro em contradição, ali as coisas mudaram. — Fizesse ela ficar,
não estava louca pra te amarrar também? Assinar a porra de um contrato em
comunhão de bens? Aliança dourada???
— Lara quis a mesma coisa contigo...
— Sim, e conseguiu com muito custo! Será a partilha de bens mais custosa da
vida dela, porque pra me aturar, ela merece mesmo, metade de tudo o que eu
tenho. É uma vencedora. E ela? Quer fácil? Foi embora porque você
descobriu que é pai de uma “pré-adolescente”? Amor frágil, irmão! Muito
frágil.
— Pois é. Talvez não fosse amor. Fácil de aceitar... é muito custoso me amar
também. — ele diz ignorando as lágrimas, e seu olhar se perde do meu assim
que seus sussurros discretos morrem.
CAPÍTULO 12

O PENSADOR GREGORY MITCHEL ESTÁ EQUIVOCADO.

— Você está a coisa mais linda do mundo!


Mãezoca exclama assim que termina de dar um jeito básico em meus cabelos.
Ela deixou algumas mechas soltas e prendeu um pouco atrás.
— Está mesmo, a nora mais linda do mundo. — minha sogra concorda e eu
dou risada.
— Falaria isso pra Marcella do mesmo jeito, que eu sei...
— Ah! Deixa de ciúme bobo! — ela me abraça e ri junto comigo. — Eu amo
as duas por igual. Vocês duas devolveram a vida para meus filhos... como
não amá-las!?!?
Ela diz emocionada e alguém bate na porta do quarto imediatamente. Era
Vince.O que será que aconteceu?
— Ah! Isso foge do clássico completamente. — Tia ri encarando seu filho do
coração, e Vince tenta retribuir, mas não consegue. Estava nervoso, conhecia
aquele homem como a palma da minha mão.
— Eu nunca fui muito amante do clássico. Preciso conversar com a noivinha
mais bela de todas. É importante! — ele fala e assim como eu, tenho certeza
que todas elas ficaram tensas na mesma medida.
Elas saem, Allana ganha um beijinho rápido após o pai aflito dizer o quanto
ela estava linda, e ele logo se apressa em fechar a porta.
— O que houve???
— Estou aflito...
— Estou vendo isso. Quero saber o porque. Está tudo certo com a cerimônia,
o juiz...!?
— Está. — ele diz invadindo meu espaço pessoal. — Está tudo certo com o
casamento, eu só precisava te ver, preciso de você. Sem desculpas, sem fugir,
sem reclamar...
— Me conta o que há de errado. — eu falo e me afasto de suas garras. —
Não vai se aliviar em mim, ainda mais nesse momento, sem me contar qual é
o problema, quer me ver surtar!?
— VOCÊ quer me ver surtar??? Porque se quiser, é só continuar falando e se
afastando. Vira! — ele fala puto da vida, eu obedeço sem entender nada, e
rapidamente ele começa a subir toda a saia longa do meu vestido. — Era
disso que eu precisava...
Ele murmura sozinho, me faz segurar a saia depositando o amontoado de
tecido em minhas mãos, se ajoelha e passa a língua de forma obscena em meu
traseiro enquanto suas garras alisam minhas pernas debaixo pra cima.
— Cheirosa... — ele murmura se movendo como um gato manhoso por entre
minhas pernas e esfrega o nariz em minha calcinha naquele momento já
encharcada. — Você sabe qual é o meu gosto favorito do mundo? — ele
pergunta colocando a calcinha pro lado. — Esse... — ele passa a língua em
minha boceta e eu começo a respirar de forma ofegante. —... esse é o meu
gosto favorito, mais do que sua comida maravilhosa, só tua boceta tem esse
dom de me satisfazer, de me acalmar... filha da puta tentadora! Feiticeira.
Estou dependente agora, vadia!
Ele vai intercalando as falas com as chupadas e eu seguro em sua cabeça já
sentindo a cintura quicar para combinar com os movimentos de sua língua.
Ele abocanha por inteira sugando forte e minhas pernas ficam bambas ao
mesmo tempo em que tento rebolar em sua boca. Fazer aquilo de pé era um
verdadeiro desafio.
— Me deixa deitar. — eu peço gemendo muito e ele ignora me castigando
por ter achado que eu podia pedir alguma coisa. Levo um tapa na bunda, um
tapa forte onde chupava, vejo estrelas, e grito. — Por favor. — tento de novo,
levo outro tapa, e depois disso ele levanta para me encarar. — Por que parou?
Não para.
— Até quando vai achar que pode mandar no que eu quero fazer? Até quando
vai achar que pode me dar ordens!? Vou te foder agora porque eu quero.
Entendeu?
— Sim.
— Então fica calada, só quero ouvir você gritar! Deita. Abra essas pernas. —
ele me joga na cama e me faz ficar com o traseiro empinado pra ele usar e
abusar. — Vou me aliviar e você vai gemer pra me satisfazer. Vai segurar
essa porra dentro de você durante todo o casamento, vai casar comigo com a
boceta firme. Bem fechada. Esse vestido é transparente, se deixar sair, todo
mundo vai ver escorrendo pelas suas pernas e se deixar isso acontecer, tu vai
levar tanto tapa nessa cara, que você nunca mais vai esquecer. Não queria
saber como era estar casada comigo!? Você vai saber como eu trato as
propriedades que tenho no meu nome, é bom que você pensa bem antes de
dizer sim. Vai levar pau todo dia, — ele diz e entra com tudo. — mas vai
levar porque quer assim.
Vince termina de falar e investe contra mim com toda a sua força fazendo a
cama inteira balançar. Nunca antes trepamos com tanto tesão e eu não
entendia muito bem o porquê de seu descontrole, mas aquilo era tão bom, tão
surreal, tão familiar, e gostoso que eu queria o triplo. Queria saber o que ele
era capaz de fazer se suas atitudes triplicassem.
— Isso! Grita! — ele murmura em meu ouvido gemendo como um ogro,
acelera as estocadas me fodendo com brutalidade quando chega perto de
gozar, puxa os cabelos de minha nuca sem delicadeza alguma, e não para
nunca. Eu sentia meu útero responder ás suas investidas pois sua força era
demais.
— Não ouse... — ele me segura firme quando eu ameaço desabar na cama.
Aquele calor me invadia e implorava para sair. Eu tinha a impressão de que ia
fazer xixi e explodir ali...
— Por favor.
— Por favor, o quê?
— Tá muito gostoso... mas... — eu tento explicar o que eu sentia, grito
quando ele soca com força, e em um rompante sua mão direita me cala.
— Chega! Calada. Tu fica muito melhor assim... de boca fechada! Tô
cansado de ouvir você reclamar. Quer que eu pare de foder essa boceta?
Hum? Quer? — ele rosna em meu ouvido e eu nego apenas balançado a
cabeça que era o que eu podia fazer. — Então me faça um favor, cale a porra
da boca, e só geme! Não quero ouvir um pio, tu reclama até quando vai
gozar, não me faça perder a paciência contigo!!!
Ele diz, volta a meter com força, eu grito choramingando sentindo minha
intimidade tremer com o orgasmo, caio de bruços, e ele solta o peso em cima
de mim, quando junto comigo, seu orgasmo chega. Que loucura! Ele diminui
o ritmo, mas sua cintura continua quicando para liberar todo o gozo dentro de
mim, e ele faz isso me dando um dengo, apertando minha cintura, e
afundando o nariz em meu pescoço.
— Como pode, meu Deus, ter uma boceta tão gostosa!? Tu já notou que
quando fica no cio como uma cadela, tu arrebita bem o traseiro pra mim!?
Você fica insana e isso me deixa louco. Tu nasceu pra me enlouquecer, ainda
vai acabar com a minha vida fodendo dessa maneira!!!
— Você disse que era sempre amor...
— Não. Não dessa vez. — ele diz tentando controlar a respiração.
— Fiz algo de errado? — eu me viro quando ele se deita do meu lado, e me
encara.
— Não sei. Fez?
— Não que eu saiba.
— Então por que está perguntando?
— Você só me fode sem afeto nenhum e age como um brutamontes quando
está puto comigo.
— Eu estou puto, mas não contigo. — ele diz após se sentar na cama. Falava
comigo posicionando seu pau no lugar e fechando o zíper.
— Então me conta o porquê que eu fui usada para extravasar uma raiva pela
qual não tenho responsabilidade alguma. — eu digo e ele olha para trás só
para me analisar. Queria saber se eu estava chateada e de repente eu estava
mesmo. Sua frieza acabara de me incomodar.
— Desculpa, amor. Vitor está com problemas.
— Quais?
— Acabou de descobrir que a pirralha da Flávia, a menina de sete anos, é
filha dele.
— O quê?
—Ele acabou de me contar. Não consegui gritar com ele, bater nele, bater
naquela cara de puta arrependida dela, então vim aqui. Me perdoa. — ele me
olha nos olhos e me puxa pra perto. — Você é meu remédio. Eu te amo.
Marcella está confusa, ele está péssimo e não sei o porquê, mas me coloquei
na situação. Se algo acontecesse, se eu te perdesse... faria uma loucura. Vitor
está perdido, confuso, e provavelmente acabou de perdê-la e de quebra
ganhou uma responsabilidade sem estar preparado. Jamais quis ser pai, nem
sei o que ele vai fazer... me coloquei no lugar dele na situação, nem consigo
encará-lo sem lamentar, ele não merecia passar por isso. Vitor merece e
precisa ser feliz, pelo menos eu queria que ele fosse feliz.
Vince encosta sua testa na minha e lamenta muito.
— Como ela teve coragem de fazer isso??? É um filho! Como ela teve
coragem???
— Eu não sei. Ela ainda não se explicou, e eu não quis causar um mal estar
bem agora na nossa família. Aliás esse é um assunto que os dois têm que
resolver, e foi por isso que eu saí de perto. Pra não me estranhar com ela.
— Onde a Marcella está?
— Ele a colocou em um táxi e ela partiu.
— Eu não acredito. Mas que droga também, hein!? Precisava disso?
— Ela deve estar confusa, ele não disse, mas acho que foi ela quem quis ir
embora, vi isso na cara dele. A Flávia já se aproximou provocando a garota,
criando um clima ruim... agora de repente ela descobre que a ‘cobra’ tem um
filho com ele. Tudo o que ele negava a ela... você deve imaginar como a
garota se sentiu.
— Vamos lá, então! Vamos buscá-la!
— Ela foi já tem algumas horas, já deve ter embarcado em algum voo para os
Estados Unidos, ou deve ter ido no jato dele mesmo. Muito provavelmente
ele cuidou disso. Agora nós temos um casamento para celebrar, não é!? —
ele diz, me dá um selinho demorado, e acaricia minha face. — Porque eu
espero que você ainda me queira, mesmo eu tendo sido um ogro há minutos
atrás...
— Você é minha vida, meu tudo. Se seu modo ogro é assim, me amando ou
me fodendo desse jeito, cada dia que passar, mais vou desejar seu lado ogro.
Apenas não me esconda nada, diga o que te aflige e eu faço questão de te
ajudar a extravasar, e também pegue leve comigo, Vince, não sei porque tô
tão reclamona... não sei o que está havendo comigo...
— Eu te amo, minha pequena. Tu é perfeita. É minha vida, minha princesa!
Não sei o que eu seria capaz de fazer sem você. O que tu fez na praia está
lindo, aliás, viu!? O altar está lindo...
— Te custou o olho da cara aquela montagem de última hora... me desculpe
pela pressa, sei que eu deveria ter dado um tempo para todos.
— Não!!! Tu fez o que tinha que fazer, se eu não estivesse tão cansado, e se
você não quisesse tanto pesquisar decoração, teria feito eu mesmo. Sua pressa
é minha pressa, eu te quero como você me quer, amei notar o quão louca
estava por mim a ponto de sair correndo para planejar tudo hoje, eu também
não quero perder tempo. Quero ver essa aliança no seu dedo o quanto antes!!!
Eu só precisava de um momento contigo, eu já estava maluco por ti desde
que fomos interrompidos aqui. Agora vá se limpar, vamos nos casar...
— Não era pra eu segurar tudo dentro de mim e não deixar escorrer? —
questiono sorrindo e seus olhos caem em direção a minha intimidade no
mesmo momento.
— Não... eu disse aquilo em um momento de loucura, não precisa fazer isso!
— Seca. — eu resmungo me levantando e erguendo o vestido, e minha
atitude o faz sorrir negando.
— Maluca! — ele diz e ri.
Pega em minha mão para caminhar, eu aperto o passo pela pressa em me ver
casada com aquele ‘rei da boa foda’, mas acima de tudo porque cometi um
grande erro ao não me limpar como ele me recomendou, e o noivo nada aflito
tenta me acompanhar, mas eu passo a maior parte do caminho correndo
sozinha e puxando-o pela mão. Pelo menos até chegar na parte da areia da
praia. Ali eu só paro para que ninguém perceba o meu desespero.
Admiro a decoração feita às pressas, respiro fundo tentando afugentar o
nervosismo, fico empolgada ao ver os fotógrafos posicionados para registrar
nossa entrada e fico aflita de tanta ansiedade só de pensar em minhas ‘fotos
de revistas’. Eu sabia que elas ficariam lindas. E sim, eu estava um turbilhão
de emoções.
— Comigo tu não vai fugir do clássico o tempo todo. Quero fotos minhas
levando minha princesa no altar! — meu pai nos aguardava próximo aos
bambus.
— Sim, meu sogro. Apenas espere eu chegar lá! — Vince diz e os dois
sorriem um para o outro.
— Claro. Sempre!!! Eu preciso mais do que nunca fazer isso, entregar o que
tenho de mais precioso a você, porque eu sei que melhor que você não existe.
Sei disso apenas porque jamais vi minha filha tão feliz como agora.
Problemas todo mundo têm, os dois têm, agora, eu sei que vocês dois tiveram
a vida transformada ao se conhecerem, sem contar o fato de que você me deu
a possibilidade de voltar a proteger essa família! Você é o melhor genro do
mundo e eu te amo como um filho!!! — meu pai desabafa ao som dos
cantores gregos que contratei junto com o buffet e eu sorrio emocionada
quando meu pai me oferece o braço.
— Te vejo lá na frente. — meu príncipe diz apaixonado e eu concordo.
— Não vejo a hora. — murmuro, ele assente, e aquele frio na barriga que eu
pensei que não sentiria se apossa de mim. Afinal, Vince já me vira de noiva,
já me pegou com o vestido e tudo, sem o mínimo de “decência”, enfim...
imaginei que seria mais fácil, doce engano. Entrar ali de mãos dadas com
meu pai foi um evento e tanto. A cada passo que eu dava em direção a ele,
mais nervosa eu ficava. Eu o amava tanto... era tão louca por aquele homem
que eu não acreditava que aquele meu sonho havia virado realidade. Eu ia ser
a esposa daquele homem lindo!!!
— Faça isso valer a pena, ou serei preso novamente, mas dessa vez de forma
justa. A ameaça também é um clássico pelo qual teremos que passar. — meu
pai resmunga pra ele e ele ri concordando ao me pegar pela mão.
— Farei de sua filha a mulher mais feliz de mundo, meu sogro. E pode
acreditar, não digo isso da boca pra fora. Ou ela será, ou não me chamarei
Vicente!
— Certo... certo... — os dois se abraçam rindo um do outro e seu olhar
brilhante recaí sobre o meu logo em seguida.
— Você está lindíssima, amor!
— Você já disse isso antes de... — sussurro de propósito e ele ri. — Opa...
esse beijo deveria ser depois. — passo um lábio no outro após teu ‘ataque’ e
sinto meu coração sair do ritmo por um momento.
— Desculpe. Eu sei... desculpe. — ele pela primeira vez na vida parece
tímido, se coloca junto comigo de frente para o juiz, e o encarando posso ver
seu peito subindo e descendo quase fora de controle. Vince estava tão
nervoso quanto eu.
— Kai thaxekinísoume... — o velho juiz grego começa a resmungar com sua
voz apagadinha após nos oferecer um sorriso simpático, eu me desespero, e
Vince me encara confuso.
— Não se certificou de que ele pelo menos falasse inglês, vida!? — Vince
murmura e eu nego chateada.
— Desculpe, eu fiz tudo correndo... como assim um juiz tão badalado, casou
a Lady Gaga, Ana Beatriz Barros... como ele não fala português??? O que
eles fizeram com o idioma? Isso não estava detalhado na revista!!! — eu
choro, ele segura um riso alto, fala algo em inglês com o juiz, e o mesmo
nega com a cabeça parecendo não entender. Merda.
— Aftóeínaikaló. Denthasaskatalávoun, boró na metafráso? Entáxei. —
Vitor que estava ao lado de Vince com um semblante péssimo se direciona ao
juiz e se coloca ao seu lado, próximo ao púlpito. — Eu disse que vocês não
falam a língua, perguntei se posso traduzir, se não tiver problemas, claro. —
nossa, que chique.
— Claro que não, não é!? — Vince me encara e eu concordo no ato.
Qualquer coisa para ver aquele casamento acontecer.
— Peça desculpas a ele, achei que ele pelo menos falasse inglês porque o
Vince fala, então... — eu digo ao Vitor e ele balança a cabeça repetindo o que
eu disse e parecendo muito triste.
— Ele diz que quer começar esse grande evento de amor citando algumas
palavras de um famoso pensador grego... — Vitor diz quando o Juiz faz uma
pausa para ser traduzido. — chamado Gregory Mitchel... — Vitor continua,
franze o cenho, fita o juiz com um semblante confuso, mas continua a
tradução. — cuja obra falava de um grande amor que preencheu seu coração
e... meu Deus, ‘o clausulo’ não é uma obra romântica, é completamente
absurda... que denominava o amor em partes que... — Vitor continua,
resmunga discordando do juiz, Vince segura mais um riso, e eu consigo ver
Greg — que também segurava um riso alto. — fitar uma Flávia constrangida
e tímida.
— Porque o amor, segundo Gregory, é a maneira mais segura de... — Vitor
diz, encara o juiz, um dos seus olhos tremem com a raiva colossal que se
apossa de seu corpo e eu nego sozinha.
— Vince... — eu seguro a risada e ele aperta a minha mão.
— Tudo bem. Deixa ele desabafar. Deixa ele... — ele fala agora me trazendo
para perto, aperta minha cintura, e eu olho ao redor discretamente.
Tia estava de cabeça baixa segurando sua risada com tudo de si enquanto seu
esposo continuava parecendo imitar a postura de um robô. — o cara parecia
um militar aposentado, era formal demais... — Greg, Vivi, e Júnior tapavam
a boca com a mão, Allana, claro, não entendia nada, meus pais também
pareciam querer se desmanchar em risadas, mas sempre foram muito
discretos e assim permaneceram, Flávia continuava se sentindo culpada,
agora meus sogros sim, esses estavam completamente estressados com a
postura do filho cujo coração estava quebrado.
—... e é somente por ele, tomando-o como um caminho, que as engrenagens
do amor se encaixam de maneira harmoniosa. Tudo se resolve com o amor,
tudo se ajeita na medida... mas isso é um absurdo sem tamanho...
misericórdia... e com o amor, somente amor como moeda de troca, a
felicidade se faz presente aceitando o convite da vida... esse Gregory é um
ridículo!!!
— Vitor, por favor!!! — minha sogra implora sussurrando e o gêmeo do mal
abaixa a cabeça chateado.
— Desculpe. Desculpe... — ele nos encara e prossegue. — ... e é pensando
nessa confiança, nesse sentimento que comanda todos os outros, em nome
desse amor que envolve as vidas dessas duas almas que se completam... que
senhorita Lara, — Vitor diz e o juiz encara seu papel. — e Vicente, se unem
perante a lei, e com a benção única de Egeu... o mar que é testemunha desse
amor tão bonito... é seguro de que ambos estão ciente desse contrato... de
origem brasileira, que me fora entregue...!? Agora vocês podem balançar a
cabeça. — Vitor avisa e Vince e eu concordamos sorrindo.

Vince estava tão feliz quanto eu. Estava claro isso.


— Então que as testemunhas assinem e façam agora parte dessa linda
comunhão. — Vitor continua, nossos pais mais Vivi, Greg, Flávia e Júnior
assinam o papel, e diferente do que aconteceria se estivéssemos no Brasil, ele
faz a pergunta logo em seguida, assinamos o contrato imediatamente depois,
e com isso o juiz continua com suas palavras bonitas fazendo Vitor passar
mal, e Vicente pigarrear segurando a risada e de cabeça baixa o tempo todo.
Eu respondi um ‘sim’ enorme e Vince repetiu a palavra ‘sim’ mais vezes do
que eu poderia enumerar. Bem baixinho... claro que Vitor traduziu, mas ele
disse me olhando nos olhos e assim permaneceu. Meu amor.
Seu olhar enquanto me colocava a aliança não era muito difícil de descrever.
Vince era completamente apaixonado por mim, estava feliz por ter superado e
deixado enfim, cicatrizar suas feridas dolorosas, me amava muito, e a
recíproca era totalmente verdadeira.
—... e em nome da lei, o senhor Gregory aqui, os declara casados!
— Viu!? Agora você é minha no papel. — ele diz após nossa troca de
alianças quando me beijava sem antes ouvir do juiz que ele podia ‘beijar a
noiva’, mas nem sei se ele falaria aquilo.
— Eu sou sua de tudo quanto é jeito. Agora esse ‘papel’ é só mais um. Sou
sua, inteiramente sua.
— Espero poder fazer você feliz, como você merece... como você me faz.
— Seremos felizes. — eu digo e ele perde o sorriso acarinhando meu queixo
e concordando. — Eu garanto isso!
CAPÍTULO 13

NO FIM ELE TAMBÉM QUIS TER UMA FAMÍLIA


VITOR
Muito mimimi, amor isso, amor aquilo, discurso, beijos, choradeiras... e eu
que achei que esse casamento ia ser diferentão por causa da vadia apressada.
Não. Era o mesmo em todos os casamentos e com toda a certeza do mundo
também seria no meu, se eu enfim, me entregasse á “boa e velha” instituição.
Claro que não deu certo, óbvio que não deu certo, Vicente sim, merecia uma
vida linda, uma vida dessas aí, chata, sem graça, sem sexo, com os filhos
catarrentos saindo do meio das pernas da vadia uma vez por ano... mas ainda
assim, linda. Eu não...
— Vem, vamos conversar. — eu me aproximo da filha da puta com discrição
e a puxo com delicadeza pelo braço.
Já tiramos fotos, brindamos, o jantar já havia sido servido, todo mundo já
começava a se levantar para dançar, Júnior já havia trocado saliva com Vivi...
mas para mim a festa acabou.
Eu estava sem fome, sem saco, e não queria continuar exalando negatividade
no momento mais feliz da vida do gêmeo bonzinho. Já estavam todos me
analisando com semblantes de pena por causa da ausência da outra filha da
puta, e eu não precisava daquilo, e nem precisava ‘atrapalhar’ ninguém,
afinal, a felicidade dos dois não me incomodavam, apenas... me fazia lembrar
do fim da minha.
— Acho que nós já conversamos, Vitor... — Flávia resmunga aparentemente
aflita. Tinha medo de mim, sempre teve na verdade.
— Vá para o quarto e faça as malas. Vamos voltar para o Brasil. Você mentiu
pra mim, agora eu sei, então vamos resolver isso de uma vez, “numa boa”,
aceite meu conselho. Anda! Conversaremos no caminho.
— Vai mesmo dizer que não sabia??? — ela me enfrenta de nariz em pé e eu
vejo Vicente nos encarando de longe, enquanto dançava com Lara uma
musiquinha brega que tocava no rádio antiquado do salão decorado só para
eles. — Realmente acha que vão cair nessa? De que você nunca soube que a
Manu é tua??? Tá preocupadinho com o quê, a essa altura do campeonato,
Vitor? Ressaca moral? Pode colocar uma pequena fortuna na conta dela e
prosseguir com sua vida como se nada tivesse acontecido, isso é o que você
vem fazendo há sete anos, não queira se preocupar agora...
— Cuidado, Flávia. — eu falo baixo e ela pisca confusa com a ameaça. —
Cuidado com o que diz pra mim, sua acusação é muito séria. Durante sete
anos você afirmou com todas as letras por telefone que deu essa boceta pra
mim já grávida de outro. Está dizendo que eu passei esses anos todos
fingindo que a menina não existia e do nada agora, eu resolvi me interessar,
então prove. Prove que eu sabia que ela era minha e a abandonei, trabalho
com provas. Confiei em você, confiei na tua palavra, não tinha razão
nenhuma pra você me esconder a informação, eu não teria obrigação afetiva
alguma de ser pai com vinte e seis anos, um moleque babaca como eu era,
mas eu sempre tive muito dinheiro e eu jamais deixaria de arcar com minhas
responsabilidades, mesmo que por medo de ir preso, por medo do meu pai,
ou algo parecido. Tu mentiu porque é uma maldita nojenta, era pior do que
eu, ainda tentava seduzir o meu irmão e como ele nunca caiu na sua você
perdeu a oportunidade de dizer que a menina era dele. Engravidou de mim de
propósito porque já que ele jamais quis realizar esse seu sonho bizarro, usou
a cópia dele pra fazer isso.
— Então sua filha é meu sonho bizarro?
— Olha aí, agora é “sua filha”, certo!? — eu falo e ela esboça um sorriso com
desdém. — Vá fazer as malas, agora. Não me faça pedir de novo.
Eu falo, ela sai batendo os saltos no chão de mármore branco, e eu volto pra
mesa.
— Tudo bem? — Vicente se aproxima assim que eu volto a pegar o meu
whisky na mesa.
— Estou bem, pare de perguntar isso. — eu falo e ele balança a cabeça. —
Voltarei para o Brasil, está bem!? Vou resolver os meus problemas lá e ir
para a casa.
— Os velhos ficarão preocupados.
— Não será necessário, falarei com eles, estou apenas te avisando. Eu ficarei
bem, não quero que nenhum de vocês se preocupem comigo, e... desculpa
pela... cerimônia e...
— Tudo bem, foi divertido. Vitor... não desista dela, não deixe aquela menina
escapar, dá um tempo pra ela respirar, mas... não desista. Se ela te fazia feliz,
se você se sentia completo, não desista! — Vince parece implorar e eu só
balanço a cabeça.
— Obrigado. — eu olho em seus olhos após virar o que restava da bebida no
copo. — Obrigado por me perdoar, por me dar uma chance... eu espero nunca
mais te decepcionar, irmão, eu espero nunca mais te magoar. Eu te amo! —
bato em suas costas, ele me abraça sem eu pedir, beija meu rosto como eu
fazia quando o cumprimentava esorrio por causa disso. Vince jamais gostou
de meu modo de cumprimentar, mas se acostumou.
— Eu também te amo, vê se não some. Precisamos conversar sobre as
melhorias na empresa, sobre planos para o futuro...
— Eu não vou sumir, não se preocupe. — eu garanto enquanto a vadia se
aproxima. — E a senhora Amaral, aqui... — ela me abraça rindo e eu sorrio.
— Será que já sabe diferenciar o marido do cunhado, ou precisaria de mais
alguns meses convivendo com sua — eu aponto para mim mesmo. — melhor
versão?
— Vince tem um cheiro bom e uma pegada diferenciada.
— Será que você aguentará esperar até a hora do almoço na próxima
ligação??? — eu pergunto, Vince a analisa com bom humor, e eu faço o
mesmo.
— Que bom que Marcella foi embora, ia ser uma chifruda assumida, a garota.
— Ah! Ela não ia, ela é, e você tem culpa nisso, mas valeu a pena, você até
que beija bem, claro que não como ela, mas dá pro gasto. Melhor eu ir
embora antes que você confunda os noivos e eu tenha uma lua-de-mel sem
estar a fim. Minha cunhadinha favorita...
— Não seja tão babaca.
— Obrigado por salvá-lo. — eu falo e ela chora emocionada no ato. — Sei
que você tem uma grande parcela de culpa também devido aos conselhos que
deu a ele, sei que pediu a ele para me perdoar porque sabia que só me
perdoando, e voltando a ser o meu melhor amigo, ele seria completo, assim
como foi comigo. Você salvou meu irmão de uma vida amarga e
consequentemente me salvou também, você é o remédio dele, mas também
foi o meu. Se ele não fosse tão careta eu arrumava um jeito de inserir o
poliamor aqui porque... — eu falo e os dois dão risadas. Mal sabia ela que eu
falava sério, porque o Vince sabia, mas mesmo assim preferiu não me levar a
sério. — menina, você é o sonho de todo homem, Vicente tem muita sorte em
ter você! Que você continue fazendo-o feliz, mas que ele permaneça
correspondendo á altura. Você é um achado!
Eu falo, ela concorda, me abraça de novo, e toco a face barbuda de minha
cópia, aquela cópia defeituosa por minha culpa.
Nem sabia como Vicente conseguiu me perdoar, com certeza devia ter feito
um esforço gigante...
Ele sorri com os olhos brilhando e eu me afasto para cumprimentar todos os
outros. Foram mais meia-hora para garantir para os velhos que eu estava
bem, que Marcella e eu nos entenderíamos, que tudo ia dar certo, e que eu
estava muito feliz, muito mesmo, com a vida, com a minha mulher, com o
casamento de meu irmão, com a cunhada que ganhei... metade de tudo aquilo
era uma mentira e obviamente omiti a informação de que os dois eram avós
de não só uma, mas duas garotinhas... mas ele fingiram acreditar e então
parti.
— Chame meu motorista, por favor, e feche a conta da suíte zero dois! — eu
falo com um funcionário da recepção antes de ir para o quarto e ele hesita.
— Senhor Vicente Amaral pagou todas as contas, senhor. Mas agora mesmo
vou ligar para o motorista. Qual o destino?
— Obrigado, vou para o aeroporto. Eu deixei os números aí. Ligue para o
Call, diga que estou a caminho para usar o jato, chego lá em meia-hora.
— Sim, senhor. — ele diz um pouco confuso com tanta informação, entendo
que não era obrigação dele, mas não retiro o que eu disse.
Arrumo minha pequena mala sem dificuldades, me direciono ao quarto da
filha da puta e bato na porta.
Entro quando ela grita que “já estava de saída”, e a encontro vestindo uma
blusa de costas pra mim.
— Eu disse “já vou”, não “entra aí, Vitor, fique á vontade”.
— É mesmo!? — ironizo colocando sua mala no corredor e sinalizo para um
funcionário que imediatamente a leva dali com um carrinho. — Pronta? —
questiono quando ela coloca o casaco e pega a bolsa.
Ela confirma com a cabeça, eu abro a porta, minha atitude gentil a assusta,
mas não diz nada, apenas passa na frente.
Abro a porta de trás do carro após ajudar o rapaz a colocar nossas coisas no
porta-malas e ela entra em silêncio, e em silêncio permanece até chegar ao
aeroporto da ilha.
— Podia ter me deixado ao menos me despedir. — ela murmura se sentando
em minha frente, no jato.
— Ia se despedir de quem? Agradeça se o Vicente não desmanchar a
sociedade com você, não foi só eu quem saiu dessa história lesado. Tu deixou
avós sem uma neta, tio sem sobrinha... você lesou a família inteira. Quando
pensei que após me resolver com meu irmão, minha vida seria toda
recomeçada do zero aparece você gaguejando na minha frente... se esse
assunto não tivesse vindo à tona, eu jamais saberia.
— Claro, nunca teve interesse em se aprofundar, precisou aquela franguinha
achar a Manu a cara da Allana para enfim você se tocar.
— Marcella é o nome dela, Flávia, e tudo isso não teve início com ela
mexendo em seu porta-retrato, tudo começou quando você insinuou que a
menina era minha na casa do meu irmão. Nunca quis me contar, bastava um
e-mail que fosse, uma ligação, mas nunca fez questão, sua motivação foi me
ver com outra. — eu resmungo e a encaro. — Por que fez isso? Depois de
todos esses anos, apenas uma noite, por que o ciúme?
— Achei engraçado ver você desfilando com a novinha enquanto tua filha
“não existia”. — ela diz como se cuspisse as palavras em minha face e eu não
entendo sua justificativa, aquilo não fazia sentido algum. — Eu não sei, ok!?
Não sei porque fiz aquilo, me arrependi, e também não sei o porquê nunca te
contei. Acho que eu, sei lá, tive medo de ouvir de você que fiz de propósito,
que fiz pra arrancar dinheiro da tua família, ouvir que queria dar o golpe do
baú e não negue, você com certeza me falaria isso e então eu não só seria
“mãe solteira” eu seria mãe de uma filha que foi claramente rejeitada pelo
pai. Eu não queria passar por isso, Vitor, naquela época eu não queria ouvir
algo assim de você, não queria ver meu bebê ser ignorado, você era um
babaca, mais do que é hoje, você era um crápula.
— Você não me conhece. Nunca me conheceu.
— Vai negar que teria me virado as costas? — ela pergunta, eu passo a fitar a
janela, e nego me sentindo enojado. Ela não sabia de nada. Nada mesmo. —
Me desculpe, me perdoe por isso, mas não me arrependo, eu sabia que podia
cuidar dela sozinha, se algo de muito sério acontecesse eu te procuraria, ou...
procuraria por Vicente porque eu sabia que ele agiria de forma diferente, mas
eu sabia que daria conta e dei. Eu sei que hoje você é outro homem, vi isso
naquela noite, e não sei, talvez tenha sido melhor assim... você amadureceu,
você mudou, eu vejo agora. Acredite em mim, eu realmente penso que não
foi de todo ruim você ter descoberto agora... você nunca teria sido um pai
para ela, nunca...
— Quem sabe disso? Dessa história toda?
— Só minha mãe, mais ninguém.
— E para ela, o que você contou? O que dizia quando ela perguntava?
— Ela perguntou pela primeira vez quando tinha uns seis anos, não faz muito
tempo. Voltou da escola com essa dúvida porque uma amiguinha questionou
a profissão do pai dela... — ela fala e faz uma pausa para respirar, aquela dor
também era uma dor dela. — eu disse que você tinha uma profissão que
precisava viajar muito, foi a ideia mais criativa que tive. Sempre ensaiei para
responder essa pergunta e quando ela fez... eu... vacilei, gaguejei, e veio isso
na minha cabeça, eu não podia falar que ela foi abandonada, muito menos
que o pai dela não sabia que ela existia por culpa minha. Ela perguntou
entristecida porque “só ela não tinha um pai”, não era o momento para tentar
explicar a verdade, ela só têm sete anos, nem me entenderia. Eu disse que
você viajava demais, mas que um dia voltaria pra buscá-la, achei que era uma
boa ideia dizer isso para no caso de eu... criar coragem, te contar e você
aceitar a paternidade. Não consegui dizer que ela jamais te conheceria e nem
consegui inventar alguém que já morreu, sei lá...
Ela diz, e eu só confirmo com a cabeça sentindo minha garganta se fechar.
— Sinto muito por ter prejudicado seu relacionamento.
— Sente? — eu olho em seus olhos e ela afirma parecendo sincera.
— Sinto, me desculpa, eu não queria isso. Eu posso negar tudo se quiser,
posso arrumar um resultado negativo, qualquer coisa...
— Cale a boca. Tá pensando que está lidando com um moleque?
— Eu sempre cuidei da Manu sozinha, posso continuar fazendo isso. Não
quis te prejudicar...
— Mas prejudicou e muito, você fodeu com a minha vida. Em um dia eu
estava prestes a pedi-la em casamento, na verdade eu pedi. Pedi antes de ela
ter a ideia de ir até a sua casa para tirar a dúvida que era DELA. Eu enfim ia
tentar essa ideia de merda de constituir família, não por mim, mas porque eu
a amo, só queria ficar com ela, só queria tentar por ela... mas aí me aparece
você soltando indiretinhas como uma adolescente no cio depois de anos sem
ter um contato comigo, e solta uma bomba dessas bem na minha cara. Como
assim aquela pirralha é minha filha? “Num dia” eu estava feliz, apaixonado,
prestes a organizar um noivado, e “no outro” eu era pai de uma pré-
adolescente. Que caralho você tem na cabeça?
— Eu já disse que você não precisa fazer nada, não precisa mudar a tua vida,
eu não estou te pedindo nada, eu até agradeceria se esquecesse essa história.
— Claro que agradeceria. — eu digo com nojo e ela lamenta muito. Era
notável aquilo. — Como diria para a menina que ela foi enganada pela
própria mãe!? Claro que você adoraria que eu esquecesse, aposto um rim
meu, nisso.
Eu falo, ela abaixa a cabeça e eu pego o celular para ver se tinha alguma
mensagem dela. Nada. E ela amava me mandar mensagens, me mandava o
tempo todo.
Crio coragem, aperto seu nome na agenda, e ela não atende.
Abro o WhatsApp, a janela dela...
“Por favor, fala comigo, baby.”
Digito, vejo ela online, apago a mensagem como um bom covarde, e abro sua
foto sorridente comigo ao seu lado só para matar a saudade que eu sentia.
Tiramos aquela foto em um restaurante no Kansas, precisei viajar a trabalho,
ela estava de folga, e claro, jamais a deixaria sozinha então a levei comigo.
Me lembro de momentos antes de ela entrar no táxi e me deixar, por isso
expiro me sentindo péssimo.
— O que está fazendo?
— Preciso pensar.
— Pense aqui. Pense comigo.
— Não me toque. — ela grita em inglês após muito tempo se comunicando
comigo com sua língua materna.
Era comum para quem assim como ela, havia passado tanto tempo no meio
do idioma e como fluente, por estar tão acostumada, sentia mais facilidade no
inglês. Nunca conversávamos em português, só passamos a fazer isso quando
ela pisou no Brasil, quando foi ao meu encontro na boate. E era tão bonitinho
quando gemia palavras doces em inglês ao fazer amor comigo. Quem olhava
de fora via uma garota humilde, insegura, simples, mas comigo... era tão
mimada, dondoca... por culpa minha era mimada, submissa na maioria das
vezes, mas ainda assim, não tinha medo de mim, me peitava e me enfrentava
como uma fera, era a única no mundo que erguia a cabeça pra falar comigo e
me enfrentava quando estava zangada, era a única que podia.
Nem sempre exigia claramente que queria compromisso, pelo menos não
com palavras, mas... mostrava isso. Mostrava isso ao cuidar de minhas coisas,
ao conversar com Olívia minha empregada, sobre como deveria ser meu
jantar quando ia lá pra casa, ao me lembrar de compromissos pessoais quando
eu esquecia... foi a única que eu deixei entrar, a única que foi mais longe, a
única que me machucou...
Permaneço fitando nossos sorrisos até que a foto some dando lugar a uma
foto em preto e branco bonita, mas sem mim ao seu lado. Fico me
perguntando quantos machos não iam chamá-la para questionar o porquê da
mudança da foto e ao imaginar sua resposta, desligo o celular. Aposto que viu
que eu estava digitando e trocou para me foder.Sim, eu estava agindo como
uma criança. Marcella não era minha, por minha culpa era solteira, então, só
o que fiz foi lamentar.
— Você prometeu. Prometeu jamais partir meu coração. Eu te prometi um
anel naquela noite, e você me prometeu jamais me magoar!!!
— As coisas mudaram. Eu só preciso de um tempo.
— Tempo pra quê?
— Para acreditar que você não fez o que fez, para acreditar que você não
sabia da existência daquela garota. Como é possível??? É por isso que
sempre me negou uma família, você já tinha uma e as abandonou! Você não
foi só um escroto comigo, foi com elas, por isso aquela mulher quis me
enforcar naquele jantar, você a deixou com a filha para arrumar uma
namoradinha ou melhor, puta de luxo como ela disse quando a gente foi até
lá. Que ela já estava acostumada, que você sempre de temporada em
temporada arrumava uma, mas que era sempre provisório.
— Sabe muito bem que ela disse isso pra te provocar, você entrou na casa
dela de madrugada fazendo perguntas, exigindo respostas, pelo amor de
Deus!!! Era óbvio que ela ia te provocar,Lella, para. Eu não sabia. Eu nunca
mentiria pra você, eu não sabia de nada!
— Mesmo assim, é muito pra mim. Isso é muito até pra mim. Agora só...
resolva suas pendências, conserte isso.
— Não queria a porra de um contrato com nossos nomes, se mudar pra
minha casa? Me ter como marido? Seria mais fácil se estivesse do meu lado.
— Você nunca me quis do seu lado, Vitor, nunca, então não se faça de doido.
— Por favor. — eu seguro-a pelo braço. — Não me faça implorar, não me
deixa.
— Eu só vim porque precisava de ajuda com tua mentira e acreditaram,
minta de novo dizendo que...
— Você sabe que essa é a verdadeira mentira. Inventei de te trazer quando te
vi dando abertura para aquele cliente safado, trouxe você comigo porque
não queria te perder, eu te amo, sabe disso. Não faça isso comigo, fica do
meu lado, não me abandona agora. Não deveria ficar te cobrando provas
nem nada parecido, mas era agora que você deveria mostrar que vale a pena
esse negócio de... relacionamento sério, casamento, sei lá... vai me deixar
assim no primeiro problema que aparece?
— Problema!? Você tem uma filha com aquela vagabunda ordinária, um
filho não é um problema, a menina não é o problema, você é, aquela vadia
mentirosa é!
— Certo, tem razão. — eu concordo e ela trava.
— No quê?
— Em tudo, você tem razão com relação a tudo. É só... é que é difícil me
imaginar sem você, entende? Estou acostumado contigo, com seus cuidados,
com suas birras, qualidades, defeitos, e ver tudo isso desmoronar é barra...
— Agora você tem uma família pra cuidar, ficará tão ocupado que logo vai
me esquecer e focar no que realmente importa.
— Ah! Menina... — eu dou uma risada nervosa e entendo a questão enfim... o
grande problema era o ciúmes, a boneca achava que eu formaria uma
família feliz com a vadia da Flávia quando tudo o que eu queria era que ela
me “forçasse” a ter uma família feliz com ela. —... você é... meu Deus...
— Eu já vou. — ela se afasta e eu confirmo.
— Vá com o jato... eu vou ligar e...
— Não, não quero nada disso. Basta um comercial mesmo. — ela diz com
seu já familiar orgulho e cruza os braços. — E também quero o dinheiro que
me prometeu, ele vai me ajudar daqui pra frente, já que sairei daquele
apartamento que você paga só para ficar de olho em mim com toda aquela
segurança armada.
— Sabe muito bem do porquê te coloco em uma redoma.
— Aquele traste jamais me perseguiria nos Estados Unidos, com o nome
mais sujo que o meu ele nunca conseguiria nem sair do aeroporto de
Guarulhos. Você é possessivo, nunca precisou de justificativa, sempre foi só
ciúme porque me vê como uma puta que dá para todos os clientes da boate.
Só me dá o dinheiro pelo serviço, Vitor, por favor, e... para a passagem pra
voltar pra casa. Quero ir embora agora.
Ela diz e eu sinto aquilo que durante toda a minha vida eu tentei evitar. Suas
palavras me destruíram por completo e só nesse momento me lembrei do
porquê jamais quis entregar meu coração para mulher alguma. Só ali me
lembrei de todos os meus planos. Jamais se envolver, comer e ir embora,
jamais confiar...
Por isso concordo em silêncio, pego a carteira, tiro o cartão ao invés de
cheque ou dinheiro contado para se caso ela precisasse ou passasse por
dificuldades que eu sabia que ia passar e entrego em suas mãos.
— Cartão...!?
— Te mando a senha por mensagem, pode usar.
— O valor é...
— Você pode usar o valor que combinamos mais a passagem, faça como
achar melhor, faça o que sentir vontade.
— Usarei o que combinamos e te devolvo junto com as chaves do AP.
— Certo. — concordo no ato para me livrar de sua presença rapidamente e
não funciona muito bem porque minha atitude a assusta. Enquanto eu fico
tentando não digerir o que acabei de ouvir, ela parece se perguntar o porquê
que eu estava agindo daquela maneira. — Te levarei até o carro.
— Não precisa.
— Faço questão. — e eu fazia mesmo, sempre priorizei a educação. Sem
contar que queria o quanto antes ficar sozinho, pois ela jamais me veria
chorar ou sofrer, mulher alguma viu, não seria ela a primeira.
Já me fodi quando a pedi em casamento na cama, após tanto me encher o
saco e até a fiz prometer não fazer aquilo, justamente aquilo que fazia agora,
e aconteceu o que aconteceu. Coloquei meu coração em suas mãos e ela o fez
em pedaços... dolorosamente acabou comigo.
Pego sua mala, levo até lá fora, abro a porta de um táxi disponível na
calçada imaginando que se rejeitou o jato, iria rejeitar o motorista, e ela
para bem na minha frente ao invés de entrar de uma vez.
— Você vai ficar bem, não vai!?
— Vou, não se preocupe.
— Adeus...
— Adeus, Marcella. — respondo rapidamente, ela engole o choro, entra no
carro, e eu fecho a porta como se fechasse meu coração para aquele erro
que cometi e que jamais repetiria.
— Liga pra ela. — Flávia murmura me fazendo acordar e eu sorrio.
— Dicas amorosas da Flávia ponto com. Você é tão engraçada...
— Não vou ficar me culpando e me desculpando pra sempre, Vitor. Se ela te
amasse não teria te abandonado, que bom que isso aconteceu, agora você
sabe com quem “ia se casar”, para quem ia entregar o coração como um bobo
apaixonado, então não se sinta mal, você se livrou.
Ela diz com raiva, se levanta, e entra no banheiro.
Reclino a poltrona, fecho os olhos, e depois de algum tempo apago cansado e
me sentindo quebrado.

— Por favor... só não...


— Não, eu não vou dizer para uma garota de sete anos o quanto a mãe dela
foi uma sacana.
— Pare de me culpar, pare de me tratar desse jeito. Acha que eu gostei de
mentir para a minha própria filha??? Quem você pensa que eu sou, Vitor?
— Vai abrir o portão ou não? — pergunto já irritado e ela abre com medo.
Entro em seu encalço e ajeito a gravata de maneira aflita. Aterrissamos em
Guarulhos dez horas depois que decolamos da ilha e eu não preguei o olho,
só o que consegui foi um cochilo fraco. Nem durante o percurso e nem depois
que cheguei.
Mandei um e-mail para meus advogados, tratei de negócios pelo notebook,
tomei café-da-manhã na cozinha do meu irmão porque dormi lá ao invés de ir
para um hotel na esperança de me sentir menos sozinho em um lugar
estranho, e saí de casa quando deu dez horas, o horário combinado. Resolver
aquilo significava me livrar de mais um “problema”. Se eu era pai, eu ia ser
pai, e essa parte do problema me assustava demais, mas enfrentei.
— Veio novamente para gritar e fazer baderna como da outra vez? — dona
Rose pergunta assim que eu adentro a sua casa com Flávia ao meu lado.
Ela falava da noite após o jantar, em que Marcella me arrastou para cá com o
discurso de que se a gente realmente ia casar, significava que deveríamos
“prender as pontas soltas” daquele nosso relacionamento doido, a começar
por Flávia e suas provocações. Palavras dela.
— Bom dia, senhora Rose. Me desculpe, mas tudo isso é culpa
exclusivamente de sua filha. Ela provocou minha mulher no jantar de
comemoração que meu irmão fez na casa dele, e a provocou quando viemos
para apenas conversar. Mesmo estando dentro de sua casa ela ofendeu
Marcella, mentiu, me insultou, escondeu a paternidade da menina de novo...
— eu falo isso e ela trava sem graça. — e bom, acabou com meu
relacionamento graças a seu segredo. Hoje minha... ex-mulher acha que eu
abandonei as duas, acha que eu não presto, e que eu vou formar uma família
linda com tua filha. Naquela mesma noite ficamos noivos, e no casamento ela
me deixou, então... não, não vim gritar ou fazer baderna, mas dependendo da
conversa que eu tiver com tua filha, depois de alguns dias, você só vai ver sua
neta a cada seis meses porque ela vai morar fora país, e acredite em mim, isso
tem todas as chances de acontecer, eu tenho mais de mil advogados por todo
o globo prontos para me atender, portanto... vamos conversar civilizadamente
sem me julgar e sem reclamar da baderna que deveria ter sido uma conversa
franca, mas não foi por culpa da tua filha infantil que depois de sete anos
resolveu ter ciúmes de mim.
Eu desabafo puto da vida, mas com a voz baixa, as duas entram em choque e
eu ajeito a gravata de novo me sentindo doente.
— Aceita um café? — a velha pergunta e eu só penso. “Sim, agora você vai
me tratar direito, não é mesmo!?” Claro que ela ia. As duas estavam putas
comigo, mas também estavam morrendo de medo de mim e do que eu podia
fazer por causa daquela mentira nojenta. Comum...
— Aceito sim, obrigado, e vou me sentir em casa, se não se importa...
sogrinha!!!— eu falo me sentando no sofá da sala bem arrumada, e vejo a
velha encarando a filha como se quisesse matá-la.
Tipo: “não acredito que foi com esse esnobe de uma figa que você se
envolveu. Não tinha “ninguém melhor” para abrir essas pernas, garota
burra!?”
— Cadê a catarrenta? — questiono e ela fica puta.
— O nome dela é Manuella, Vitor. Não vai chegar perto da minha filha se
continuar tratando a garota como seu novo problema!!!
— Não. VOCÊ é meu problema.. A catarrenta é meu probleminha. — eu falo
e ela falta cuspir fogo pelas ventas.
Sim, Flávia ia se arrepender amargamente por ter me enganado durante esses
anos todos.
— Vai logo, — eu suspiro. — me deixe conhecê-la. Quer que eu peça “por
favor”!? Me ajoelhe? Eu vim aqui para vê-la, vá buscá-la!!! — eu digo
tentando soar paciente e ela sai desconfiada.
Pego um porta-retrato da estante, o mesmo que Marcella pegou sem ser
autorizada por Flávia e encaro a fotografia quando naquela noite me recusei a
olhar.
A filhote da diaba era a cara de minha sobrinha, era minha fuça todinha assim
como era fácil ver traços do Vicente nela. Se bem que... meu Deus os traços
eram os mesmos porque éramos gêmeos. Que merda eu estava pensando???
Eu ia enlouquecer.
— Olá! — ouço a sua voz e meu peito arde, mas ignoro.
A pequenina estava com um vestido azul de laço na cintura, cabelo com
presilha de laço azul também, e sapatilha. Era muito pequenina, e eu nem
imaginava o quanto, e... meu Deus a catarrentinha era linda, era uma princesa
linda, e a filha da puta arrumou a garotinha só para me receber.
— Oi. — eu deixo minha voz sair, mas sai desregulada. Me ajoelho e ela se
aproxima. Não era nada tímida, e nem me encarava com desconfiança, o que
seria normal tendo em vista sua idade. Ela era uma ‘Allaninha’ versão
pocketabusada.
— Eu sei quem você é.
— Sabe é!?
— Sei. — ela diz balançando o vestido e me analisando com uma pose de
garotinha metida á espertinha.
— Pois é. Eu também sei quem você é! — eu digo simplesmente e ela pisca
lentamente como se não estivesse com saco para me aturar.
— E quem eu sou?
— Uma boneca. A boneca mais linda que já conheci! — eu falo e dessa vez
ela parece tímida, por isso encara a mãe olhando pra cima.
Consigo ver a sombra de sua avó espiando nosso encontro pelo corredor da
cozinha e volto minha atenção quando ela puxa a calça jeans de Flávia.
— Eu acho que ele não sabe. Ele se esqueceu. — ela sussurra alto demais
então não teve outra: eu ouvi.
— Eu acho que você deva lembrá-lo. — Flávia se abaixa, sussurra também, e
me encara aflita.
— Você é meu pai, sabia!? — ela diz e eu concordo com a cabeça.
— Sabia.
— Não está feliz por ter voltado pra casa? — ela pergunta com naturalidade,
eu sinto vontade de pular de um prédio de mil andares só para não sobrar
nada de mim que alguém possa reaproveitar, e eu deixo o nó na garganta me
fazer tossir.
— Estou. Estou sim.
— Não parece, você parece triste.
— É, mas eu estou triste também.
— Por quê?
— Porque eu fiquei muito tempo longe e você cresceu.
— Por quê?
— Não sei. O tempo passou, crianças como você costumam crescer
depressa...
— Por quê?
— Valeime! Quanto ‘porquê’!!! — eu exclamo e ela ri de um jeito gostoso
que amassa ainda mais meu coração. Ri tapando a boca, e encara a mãe
parecendo se perguntar se ela viu o que fez comigo.
— Ela faz de propósito, não recebeu educação, não? — Flávia se dirige a ela.
— Quer ficar de castigo? Pare com isso. Eu já venho, fique aí! Vou ajudar a
vovó com a mesa do café.
Sua mãe me olha torto ameaçando a minha vida caso eu fizesse merda, sai e
ela se senta no sofá quando eu me levanto.
— Cadê as suas malas? — ela pergunta e eu me sento ao seu lado.
— Deixei na casa do meu irmão.
— Por que não trouxe pra cá!? Vai ter mais viagens?
— Não... mas... eu... espere um pouco. — eu digo e invado a cozinha. As
duas cochichavam sobre mim. — O que... o que ela pensa? Ela acha que eu
moro aqui? O que eu devo dizer? O que você disse a ela?
— Eu já disse. Eu disse que você trabalha demais, vive viajando. Apenas
diga que retornou. Eu nunca disse que tínhamos um relacionamento, Manu é
esperta, e quer saber!? O principal eu acabei de contar: que ela ia receber a
visita do pai dela porque você estava de volta na cidade, e que eu não sabia se
você ia ficar, enfim, apenas... converse com ela, fale sobre você, não exija
demais nem de você mesmo e nem dela, está tudo bem. Se a gente colocar
uma carga pesada nisso será pior, esse encontro não devia ter acontecido, mas
já que aconteceu, vamos acabar logo com isso. — ela diz com uma
naturalidade que me irrita e eu volto pra sala. Ela estava do mesmo jeito de
quando saí, era uma princesa, a Maria-mijona.
— Oi.
— Oi! — eu respondo, ela me encara mexendo no cabelo e fica em silêncio.
— Qual sua profissão?
— Eu sou investidor.
— O que é isso?
— É uma profissão que me permite investir dinheiro em algo legal e
promissor, e depois receber mais em troca da ajuda.
— Como assim?
— Bom, suponhamos que você tenha a ideia de montar uma loja de bonecas.
— eu falo arrumando a posturae ela repete meu gesto concordando. — Só
que você tem pouca grana, ou... não pode fazer muito por ela... talvez só
consiga montar uma loja de bairro, pequena, simples... não sei, pode ser de
muitas formas. Pra resumir, se você tiver uma ideia promissora pra ela, bom,
uma ideia legal, criativa, e eu gostar do que você tem em mente, eu te dou
dinheiro, levo sua loja para o shopping, aumento o tamanho dela, compro
mais opções de bonecas, levo a tua loja para outros países, e...
consequentemente você vai ganhar mais, terá mais opções para lidar com a
concorrência, vai lucrar muito mais do que antes e então você vai me pagar
pela ajuda ao poucos. O que significa que eu terei muito mais do que investi
em você. Entendeu? — eu pergunto sem esperança, ela balança a cabeça
dizendo que sim, e depois de alguns minutos olhando pra frente, ela sai me
deixando sozinho na sala e volta com um papel na mão.
— Eu tenho algo para você investir.
— Não me diga!? — eu nego quando a malandrinha me oferece um papel,
era um custo muito grande tirar os olhos da garota. Olhos azuis, cabelo
dourado e liso na cintura, os cílios gigantes como os meus, a boca pequena,
bochecha lisa como pêssegos... era linda demais, não conseguia parar de
olhar pra ela.
Abro o papel extremamente curioso, e sorrio. Sua lista de presente de natal
fora de época era extensa.
— Você quer que eu invista em muita coisa... como vai me fazer ganhar
dinheiro com uma Baby Alive? Sabe quanto custa uma dessas? Porque eu sei,
aonde eu moro não, mas aqui é um horror de tão caro. Como valeria a pena
pra mim???
— Você compra tuuuudo isso, e eu te dou o dinheiro do meu cofrinho para
você lucrar.
— Deixa eu ver esse cofrinho. — eu digo e ela sai correndo.
Fotografo a lista e coloco o celular de volta no bolso.
— Aqui! — ela me entrega um cofrinho medíocre de tão pequeno e eu dou
risada.
— Entendi. Está me dando suas economias para eu investir em sua lista de
natal, você é bem espertinha. Espertinha, mas azarenta porque sua mãe não
engravidou de um engenheiro podre de rico como teu tio, — como ela bem
queria. Penso, mas não falo. — ela engravidou de um investidor, um cara que
precisou juntar muito dinheiro, poupar muito e aprender a administrar para ter
o que têm. Sabe o que isso significa? — eu pergunto e ela balança a cabeça
negando. — Significa que você vai ter uma dificuldade gigante em conseguir
investimentos de mim! Filha de investidor lá fora, sofre muito, o mercado
não ajuda, a inflação não ajuda, e investidor bom mesmo, é naturalmente mão
de vaca. — dou risada porque ela não entende nada do que eu digo. — Pegue
seu caderno pra eu ver se você merece um voto de confiança.
— Que caderno?
— Da escola, claro. O de matemática. — eu falo, ela sai, e Flávia volta.
— O que houve?
— Perguntou sobre a minha profissão. — eu levanto o papel. — Quer que eu
faça um investimento na lista de natal. — eu digo e ela ri sem graça.
— Foi mal...
— É uma criança, crianças não têm filtros, tudo bem. Depois do café
sairemos para discutir a respeito da guarda dela, e de todo o resto, meus
advogados estão preparando os papéis, ainda hoje me enviarão todo o
processo para você ler e assinar.
— Não precisamos de um processo, podemos resolver tudo na base do
diálogo, coisas que pessoas civilizadas fazem.
— Eu sou importante demais para ser civilizado. — eu digo e ela revira os
olhos. — Vai ler, concordar e assinar.
— Não vai tirar minha filha de mim assim tão facilmente. Ninguém pode tirar
uma criança da mãe desse jeito, Vitor, esse é um dos motivos por ter tomado
a decisão que tomei. Você se acha o rei do mundo só porque tem dinheiro!!!
— ela já se altera mesmo falando baixo.
— Eu não pretendo fazer nada contra você, mais por ela do que por você, na
verdade. Mas eu não pretendo fazer a menina morar em escalas, vou pegar a
guarda dela com tua autorização, naturalizá-la americana, matricular a
catarrenta numa escola decente, pagar a pensão, oferecer a ela tudo o que tem
de melhor no mundo, e tentar ser algo parecido com um pai. Se não se mudar
conosco, vai vê-la a cada trinta dias, se não concordar eu acabo com a tua
vida, eu processo você e como não vai poder penhorar a própria vida, vai ser
proibida pelo juiz de chegar perto dela, depois de tudo o que fez comigo, uma
mãe não faz o que você fez, isso sim. Se conseguir isso for difícil, eu compro
algum juiz corrupto que queira passar o resto da vida nas ilhas canárias,
milionário, mas com a influência que eu tenho no Brasil e no exterior, duvido
muito que isso seja necessário, vai por mim, eu consigo isso. Portanto
facilite, se entrar em minha frente eu atropelo você. — eu sussurro sem culpa
alguma, ela chora, e eu ofereço as minhas costas quando a pilantrinha volta
com seu caderno na mão.
Letra bonita, capricho, adesivos coloridos... era inteligente, puxou a mim, não
ao tio. Gostei dela...
— Chris? — eu peço licença para atender o celular e vou até a área externa
com um sofá convidativo e algumas plantinhas.
— Senhor, bom dia!
— Bom dia!
— Só liguei para avisar sobre a presença da senhorita Marcella.
— O que tem ela?
— Ela está tentando sair de casa com uma mala e a Olívia me sugeriu travar
as portas e ligar pro senhor. Estou com as duas na câmera de segurança...
— Mas, porquê?
— Senhor, ela... está partindo.
— Mas ela me avisou, você pode liberá-la. Deixe-a levar o que quiser... deixe
ela ir.
— Senhor, a Olívia vai me matar.
— Eu me entendo com a intrometida. Isso é cárcere, Chris, deixe ela ir.
— Senhor... — ele faz uma pausa. — Acabou o relacionamento? Desculpe a
intromissão, mas, como sabe, nós... gostamos da menina, ela... ela precisa de
ajuda, não é!? Proteção...
— Ela não precisa de nada, Chris. Como ela mesma disse eu só a “protegia”
por causa do meu ciúme doentio. Deixe-a livre, acabou. Eu estou ocupado
agora, preciso desligar.
— Claro, senhor... até logo.
Chris diz, desliga, e eu tento respirar, mas falho. O oxigênio que subia por
minhas vias me queimava de forma torturante. Ardia demais. Deus...
Como ia ser soltar aquela menina? Me afastar assim? Dizer pra mim mesmo
como acabei de dizer ao cara que me ajudava a protegê-la que acabou de
verdade e que ela podia ir? Quem eu queria enganar? Como eu conseguiria
fingir que não me importava? Com certeza ela estava ouvindo a ligação, era
a cara dela mandar colocar no viva-voz só para ouvir a minha ordem, e com
toda certeza do mundo, minhas palavras foram tão doloridas como ela jamais
imaginou. Não queria que eu ordenasse a eles que a mantivessem lá até eu
retornar, mas obviamente não mostrar interesse acabou com sua auto-estima.
E tudo o que eu queria era simplesmente não ter recebido aquela ligação tão
rapidamente. Por que ela estava partindo tão depressa? Como ela
conseguia???
— Tudo bem? — Flávia sai da sala se abraçando e parece preocupada.
— Meu funcionário me ligou para avisar que ela está pegando as coisas dela
de casa, e está indo embora.
Eu falo, ela assente parecendo péssima, ameaça se desculpar de novo, mas eu
saio dali para não ouvir.
Permaneço batendo um papo com a pilantrinha mirim, tomo o café na mesa
junto com todas elas, e logo acelero os passos da vadia. Eu queria resolver
logo aquilo para ir pra casa, voltar a colocar a cabeça somente no trabalho, e
tentar esquecer de uma vez por todas a outra vadia.
— Eu só tenho uma pergunta antes de tratar desse assunto. — Flávia diz
assim que a gente chega na empresa. Escolhi a “minha sala” para tratar do
assunto porque seria mais confortável, e ali eu teria o computador,
impressora, acesso á meus e-mails... Resolveríamos tudo em alguns minutos,
e para ser rápido até ignorei a presença de Jaqueline que se aproximou, mas
ficou falando sozinha.
— Diga. — eu me sento e a encaro antes de abrir o e-mail.
— Por que não pediu um DNA?
— Não precisa, ela é minha cara. Graças a Deus, ela é minha cara e não a
sua.
— Se eu não aceitar e você fizer o que disse, como você acha que ela vai
reagir quando puder entender? O que ela vai pensar de você quando crescer?
— Ela vai entender que eu só tentei protegê-la. O que você fez foi uma
covardia...
— Vitor, você também tem culpa nisso.
— Ela vai ter que lidar com isso.
— Não pode tirar a menina assim, da casa dela, da escola, dos amigos. Deixe
as coisas como estão, deixe tudo como está, o que você está fazendo não faz
o menor sentido. Se não conseguir lidar com ela, o que faremos? Vai mandá-
la de volta? Você nunca gostou de criança, você não gosta de criança, porque
está agindo assim?
— É o certo. Descobri que sou pai, estou recuperando o tempo perdido, está
na lei, tenho responsabilidades.
— Eu não posso me mudar, eu tenho a empresa, eu tenho uma vida aqui. —
ela lamenta e seus olhos brilham. — Por favor, não faz isso comigo, não tira
a minha filha de mim.
— Implore. — eu resmungo, afrouxo a gravata que me enforcava, e ela nega
de olhos fechados.
— Não faça isso... por favor.
— Ajoelha.
Eu mando e ela continua chorando. A vadia maldita! Maldita!!!
— Não deu seu chilique ciumento? Não fez eu me separar com essa
revelação? — eu me levanto, dou a volta na mesa para me aproximar e ela se
levanta para poder se proteger de mim e se afastar. Era esperta. — Acho que
agora você deve pagar pelo o que fez comigo. — eu caminho em sua direção
e só paro quando ela toca a parede com as costas. — Me deu uma filha
quando eu não queria criança nenhuma, muito menos de você, escondeu a
informação durante anos, e ao invés de ficar com a maldita boca fechada, e
levar o segredo pro túmulo, decidiu me infernizar depois de anos me
tornando pai de uma criança que eu nem lembro o nome. Não a conheço, não
a vi crescer, não troquei suas fraldas, eu era um merda, continuei um merda
ignorante, e você ficou calada!!!
— Vitor...
— Você não a escondeu porque eu supostamente não a assumiria. Escondeu a
cria porque me desprezava.
— Não.
— Eu não era ele e você havia cometido um erro.
— Manuella não foi um erro.
— Assuma. Assuma que tinha nojo de mim, que me odiava como todos eles.
— Não!!!
— Nunca olhou pra mim, nunca me enxergou. Trepou comigo me chamando
de ‘Vince’! Eu te dei um beijo, senti a maldição tomando conta do meu corpo
e do meu coração e aí você gemeu o nome do filho da puta enquanto eu te
chupava. Diga que se lembra disso, assuma que sabia que naquela noite você
me destruiu como a outra maldita fez no casamento, quando eu descobri que
era o pai dela. — eu vou falando, engolindo todo o seu hálito e enquanto ela
chorava, eu queria esganá-la.
— Não foi assim... eu juro...
— Você é uma maldita, Flávia. Sabe o que eu faria contigo agora, se eu
pudesse? — eu passo meus dentes em seu lábio inferior querendo ‘apenas’
arrancar um pedaço. — Tiraria essa calça jeans e te chuparia até o dia nascer
fazendo você gritar o meu nome. O MEU NOME!!! Depois disso passaria o
resto do dia estapeando essa sua cara de puta safada de quinta categoria até
ver você se humilhar pedindo arrego, e eu aposto que você aceitaria isso no
ato, bem agora. — eu falo rosnando e solto seu lábio. — Mas nem isso você
merece, a catarrenta é minha, eu preciso ter o mínimo de respeito por você,
por causa dela, somente por causadela. E eu juro, eu juro que só por causa da
menina eu não te levo pro inferno, se não fosse por ela eu te jogaria para a
sarjeta sem passagem de volta, sem casa, emprego, sem ninguém, na rua da
amargura, mas não farei isso, sei que não posso. — eu me afasto um pouco e
a faço olhar pra mim. — Eu vou imprimir os papéis, Flávia, e você vai pagar
o que me deve concordando com tudo o que está escrito nele, ou te levo para
a justiça por ter tirado a minha filha de mim! Acabo com você por ter tirado
de mim a única coisa boa que eu tive e não sabia, e graças a você, agora, é
tudo o que eu tenho, é só o que eu tenho.
— Vitor...
— Tu vai pegar seus trapos e os trapos dela e vir comigo, não é um pedido.
Você entendeu? Responda com clareza, você entendeu?
— Entendi.
— Tá. — resmungo me sentindo cansado e ela permanece me olhando nos
olhos até que em um rompante, me abraça apertado e eu deixo. Deixo porque
precisava muito.
— Tudo vai se acertar, eu prometo. Tudo vai ficar bem.
— Não, não vai e eu já aceitei isso.

— Bom... se agora você combinou com a mãe da garota de fazer a


transferência legal dela pra cá e vai arcar com todos os custos básicos da
permanência da menina aqui, creio que uma pensão alimentícia não será
necessário, pelo menos não aqui. Você só não pagou antes porque não sabia
da existência dela. — George, um de meus advogados, assinava uma
papelada enquanto me explicava algumas coisas com relação á Manuella.
— Eu sei que necessário não é, mas eu tenho uma culpa aqui dentro para
minimizar. — eu resmungo de costas fitando o enorme vitral com uma vista
privilegiada da cidade de Nova York.
Havia dado uma semana para Flávia ajeitar as suas coisas e embarcar com a
menina pra cá e fazia dois dias que elas haviam chegado. Eu queria a
catarrenta perto de mim e ela viu que aquilo não seria negociado, mas me
prometeu escolher um apartamento o quanto antes, pelo menos assim que a
Maria-mijona se acostumasse comigo E EU COM ELA.
Eu estava do jeito que planejei, com a cabeça no trabalho, adiando algumas
viagens por causa da chegada da pilantrinha, e claro, administrando a saudade
que eu sentia da vadia que me abandonou. Nada tão diferente do que era
antes.
— Faça as contas de quanto daria uma pensão seguindo as leis brasileiras
relacionado á sete anos. — eu volto a minha cadeira para frente e ele balança
a cabeça. — Pelo menos quanto aparte financeira será como se eu nunca
tivesse... abandonado a catarrenta...
— Catarrenta?
— É. Ela é. — eu sorrio e ele nega.
— Você, pai... nunca pensei, nem acredito que estou vivo para ver isso.
— Senhor, a Marcella te aguarda. — a recepcionista do hall me liga e eu não
entendo.
— Ela nunca solicitou autorização para entrar. Nunca precisou.
— Disse que era só para lhe entregar alguma coisa, não pretende subir.
— Ah! As chaves. Pegue-as então, não vou descer se ela não quer subir, ela
está pensando que é quem??? ELA tem que vir até mim, ELA. Eu tenho
muito trabalho, quem ela pensa que é??? — fico puto e bato o telefone,
George por me conhecer muito bem decide terminar com os documentos de
transferência da Manuella em sua sala e me deixa sozinho.
Quatro minutos depois, a vadia entra com tudo sem bater na porta e Marie,
minha secretária, entra correndo atrás dela pra tentar se explicar.
— Senhor, ela... — ela começa, mas só de olhar pra mim sabe que deve sair,
e sai. O que ela queria dizer agora? Ela já tinha entrado...
— “Quem eu penso que sou”? — a maldita usava seus saltos altos, jeans e
casaco, pois estava frio na cidade. Estava linda e parecia ótima, tipo:“muito
bem, obrigada.”
— Você avisou que me entregaria as chaves, veio depois de uma semana, se
recusou a subir, e ainda queria que eu fosse buscar? Está pensando que está
lidando com quem, garota?
— Ah! Com certeza é com o rei, não é mesmo?! Digníssimo Don Amaral, o
primeiro de seu nome, o rei dos babacas, traidores e mentirosos da ilha do
abandono... — ela abre os braços e eu me nego a fazer cena.
— Só deixe as chaves e vá embora. Não quero mais olhar pra você. —
mentira, eu quero sim e estou olhando. Você está linda, mas é uma filha puta
que partiu meu coração, me deixou, e estou morrendo de saudade...
— O que você faria... — ela diz se aproximando da mesa devagar. Parecia
que estava se acalmando, mas seu queixo ainda tremia. —... se eu chegasse
em você e dissesse que aquele monstro me engravidou? Que eu sou mãe de
um filho dele...?
— Faria a mesma coisa que fiz com a minha filha, faria dela uma realeza,
daria a essa criança uma vida magnífica como eu dei a você, e mesmo que
sem planejamento algum, seria o pai. Se tivesse sido consentido tudo bem,
mas se ele tivesse te forçado, faria dela uma criança órfã. E antes que abra
essa maldita boca pra falar merda, não, eu não faria porque sou um santo, ou
sou bonzinho, eu faria por amor á você. Agora... por que a pergunta? Está
insinuando depois de tudo o que vivemos, depois de eu ter te colocado dentro
da minha casa, te levado para conhecer meus pais, que se eu descobrisse que
é mãe, eu te daria um pé na bunda como você fez comigo? — eu questiono e
ela chora ao invés de me responder. — Sabe o que têm acabado comigo, o
que têm me fodido...!? É saber, quer dizer, é ter certeza de que você nunca se
sentiu amada!!!
— Os momentos que você mais demonstrou sentir algo por mim, algo além
de tesão, Vitor, foi depois que eu cheguei no Brasil. Depois de brincar
comigo dizendo que me amava na frente de todo mundo só para me fazer
pensar que era sério e eu acreditar naquilo para atuar melhor, porque eu era
uma péssima atriz. Você estava com medo dos seus pais saberem que nós não
éramos nada!!! Antes disso, você... demonstrou bem pouco, quase nada.
— Eu fiz merda, você fez merda, estamos quites. — eu respiro fundo criando
para me abrir de novo. — Apenas volta pra mim, ou vai embora, só não fique
aqui falando na minha cabeça, pois você sabe o quanto eu odeio cena. Eu te
amo, você sabe disso, então pare com o drama. — eu me levanto, avanço em
sua direção, e seguro sua face com as duas mãos. — Se fosse indiferente não
teria subido, teria só deixado as chaves e partido, mas está aqui gritando
comigo, então quer dizer que você, assim como eu, está com saudades.
Vamos pular essa parte ridícula onde a gente briga para depois transar na
minha mesa, porque... eu não estou bem, não estou com saudade de trepar
contigo, eu tô com muita saudade DE VOCÊ, não quero brigar pra transar,
sinto sua falta. Sinto falta das suas mensagens me atrapalhando o dia todo,
porque toda as vezes que eu recebia, eu parava pra ler. Sinto saudade de sair
daqui e passar o dia contigo e perder dinheiro por causa disso, porque afinal,
meu tempo é muito precioso, mas mais do que meu trabalho, você é mais,
sempre foi...
— Vamos pular a parte onde você faz juras melancólicas para amolecer meu
coração também, que tal!?
— Não. Isso não dá pra pular, eu preciso te dizer algumas coisas. — eu falo
sério e ela entende. — Mesmo que não funcione, mesmo que seu coração não
amoleça e você saia daqui partindo o resto do que sobrou do meu por causa
daquela noite... foda-se. Desde que você se foi eu tento... tento te ligar, mas
não consigo. Você não me atendeu a única vez que te liguei, então eu não
consegui mais apertar o verde. Eu não darei conta de viver sem você, mas se
eu tiver que viver, se eu tiver que passar o resto de meus dias sem você,
então... que seja sem sair daqui puta comigo após passar uma hora gritando,
que esse clima não seja o último. Eu não menti quando disse que te amava na
frente deles, eu só menti quando disse pra você que precisava de ajuda pra
mentir pra eles, eu queria que você conhecesse minha família, eu queria pedir
perdão para eles com você do meu lado, porque você é a pessoa mais
importante da minha vidadepois daqueles quatro. Você foi a primeira pessoa
depois de muitos anos, que me olhou nos olhos e por alguma razão viu algo
bom.
— Você é uma boa pessoa!!!
— Então como você tem coragem de dizer que te enganei e te iludi? Eu
sempre saía com mulheres e fugia no dia seguinte para não ter que iludir
nenhuma delas, mas com você, depois de um tempo, eu parei de fugir. Como
tem coragem de olhar na minha cara com essa expressão fodida que me dá
um ódio e me dizer que era só tesão? Logo eu... — eu dou uma risada
nervosa. — por qual motivo eu “te manteria em banho-maria” se eu posso
‘alimentar’ meu tesão com qualquer outra mulher do mundo? Eu quero você
e só você!Ou você acha que eu tô viciado nesse traseiro!? Tô um pouco,
assumo... mas não é só isso, nunca foi. E tem mais, Marcella, eu não vou te
pedir perdão por saber da existência da miniatura de gente... eu nunca
desconfiei que a menina era minha, Flávia havia me dito por telefone, com
todas as letras, que deu pra mim estando grávida já, ela afirmou que estava
grávida, que sabia que estava, e que não era meu. Nunca pensei que mentiria
pra mim, mas ela não me contou porque estava pouco se fodendo pra mim,
essa é a verdade, ela me odiava, todos eles me odiavam, ela só se ofereceu
pra mim porque ela sempre quis o Vince e ela tinha ali, uma cópia do amor
dela. Eu fui atrás dela contigo porque eu podia jurar que ela ia afirmar pra
você o que afirmou pra mim durante todo esse tempo. Se eu soubesse, jamais
teria te levado lá, jamais teria deixado você pegar uma foto da menina, se eu
desconfiasse eu teria conversado contigo em particular, sem te expor daquela
maneira. O que importa é que eu não queria que nada disso tivesse
acontecido, a real é essa, mas eu não lamento também, só lamento que a filha
da puta tenha escondido e eu perdi sete anos da pirralha, só agora poderei
tentar ser pai. Sem contar que eu tenho absoluta certeza de que vou falhar.
— Não, não vai não. Você é incrível, será um pai maravilhoso, eu sempre
soube disso, sempre quis isso porque sempre vi em você “o melhor pai do
mundo”. É inteligente, engraçado, amoroso... essa menina terá uma vida linda
com vocês.
— Você sabe que não tem ‘vocês’ nessa história, não é!? Não seremos uma
‘família feliz’, não tem espaço aqui pra Flávia, aliás ela só não foi presa por
causa da menina.
— Mesmo assim, é a mãe dela, você vai ter que conviver com ela.
— E pelo jeito você não está disposta a engolir o fato, certo!? — eu dou
risada e ela nega. — Eu quero uma família com VOCÊ!!! Bom, na verdade
eu... quero passar o restante de meus dias contigo, então, se quiser engravidar
eu te ajudo. — eu dou risada, mas ela não. — Descobri que tenho uma, que
diferença faz ter mais sete se eu já estou fodido e mal pago??? Você será uma
madrasta linda, maravilhosa, segura de si porque vai notar que eu não quero
comer a vadia da mãe dela, e vai... você vai sentir que eu te amo, eu vou te
mostrar, eu vou conseguir demonstrar. Vamos esquecer a Grécia, a Flávia, o
mundo... agora que você está me olhando com essa carinha de bebê chorão,
eu deveria arrematar com um pedido de casamento para te deixar balançada,
mas até isso eu já fiz, então só diz ‘sim’ de novo. Você sempre me disse que
uma criança é uma benção, nada mudou, nós apenas teremos mais uma não
importa quantas você planejou ter comigo. Só não me castigue, casa comigo,
me ajude a ser melhor, me ajude a ser um bom pai para ela e para nossos
outros filhos e... engula a Flávia de vez em quando, lá em casa... — eu digo
rindo e ela tenta ir embora. — Ah! Diz sim!!! Eu te amo! Não me deixa,
baby!!!
— Você está querendo demais. — ela faz eu me afastar porque a abracei na
base da força e seu semblante me faz cair na real, Marcella estava decidida a
não fazer parte da minha vida, pelo menos não com a menina e sua mãe vadia
nela... talvez ela quisesse um ‘Vitor exclusivo’.
— Tudo bem, mas me diga, por favor, seus motivos. Não saia daqui sem me
dar uma resposta, diga o que te motiva a me deixar. Não me deixe viver
assim, sei lá, me sentindo culpado por você ter me deixado. Me responda, por
que você não me quer mais? Não me ama mais?
— Você terá com ela a vida que eu queria contigo!!! A vida que eu sonhei ter
com você!!!
— É demais frustrante notar que eu fiquei aqui falando, falando, falando,
falando, falando, e você nem me ouviu. E depois EU sou o ciumento
possessivo. — eu respiro fundo. — Esquece. — eu digo, ela aceita, coloca as
chaves na mesa e segue em direção a porta.
— Só não chore se descobrir que eu passei a olhar para ela com outros olhos
por estar carente. Eu a odeio agora, mas ela é mãe da minha filha, uma hora
ou outra ela pode muito bem ser o suficiente pra eu recomeçar SUA PIRADA
O QUE ESTÁ FAZENDO???
— Continua, diz... — ela rosna após jogar um vazo em minha direção e
ameaça a jogar a chave do meu carro do quadragésimo andar.
— Coloca essa porra na mesa!
— A Flávia o quê? Hum???
— Eu tô falando sério não brinca com isso, vai ter que rebolar esse traseiro
gigante por quinze anos para pagar uma cópia dessa chave! — eu digo, ela
pega um punhado de documentos da mesa, e ameaça jogar junto quando eu
tento me aproximar para pegar de sua mão.
— Fica aí!!! Se chegar perto de mim, eu jogo! Você não me conhece, seu
babaca de uma figa! Safado! REPITA O QUE DISSE! — ela grita.
— Me desculpa, viu? Tô pedindo desculpas, para com isso, eu estava
brincando, só quis te provocar...
— Conseguiu!!! Você definitivamente conseguiu!!!
— Essa chave é pesada, você pode machucar alguém, pode machucar uma
criança na calçada. — eu falo simplesmente e ela hesita, trava e depois joga a
chave e os papéis no chão.
— Nunca mais chegue perto de mim, Vitor, nunca mais me procure, e nem
tente falar comigo!!! — ela segue em direção a porta dando a volta na mesa
para não se aproximar.
— Te mando o convite do casamento. — eu provoco de novo porque não
resisto, mas ao invés de ela ficar puta ela só nega me encarando.
— Seja feliz com ela, Vitor, seja feliz com que quer que você fique e
constitua família. Te desejo sorte na vida, você precisa ser feliz! Do fundo do
meu coração eu espero que você seja porque eu sei que você é do bem, e eu
também quero ser. Seremos felizes. Eu nunca mais apareço na tua frente, e
você não vai até a boate para bater em quem estiver mostrando interesse em
mim, assim ficaremos quites. Eu não atrapalho tua vida e nem você a minha.
Ela diz, sai, e me deixa ali sozinho me sentindo como se eu estivesse no
escuro, tendo muito medo do escuro. Será que isso fazia sentido!? Não sei,
talvez não, mas a impressão era bem essa. Sua atitude me machucou, mas em
contrapartida eu também sentia que na verdade, aquela garota jamais deixaria
de ser minha.
Quando canso de pensar besteira e pegar todos os documentos que ela jogou
no chão decido ir pra casa porque para mim, o meu dia já tinha acabado.
Aquela discussão sem sentido tinha acabado comigo.
— Senhor... — Olívia me recebe na entrada porque escuta o barulho da porta.
— Boa tarde, Olívia.
— Chegou cedo.
— É. Cadê as duas?
— A dona Flávia disse que queria comprar algumas coisas que as duas vão
precisar e saiu. Mas deixou a menina comigo.
— Encontre uma pessoa de confiança para fazer companhia a ela quando isso
acontecer. Não é sua obrigação. — eu falo retirando a gravata e me jogando
no sofá.
Fiz um trajeto de quinze minutos da quinta avenida, onde a ficava a sede da
Inbox, até Manhattan, mas me pareceu quinze horas, eu estava acabado.
— Eu farei isso, mas não é incômodo algum, a menina é um doce. — ela
sorri com simpatia e eu balanço a cabeça.
— Diz... vai dizendo... — eu murmuro massageando as têmporas quando
noto que ela continuava me encarando, e imediatamente ela me estende um
remédio qualquer pra dor.
— A menina Marcella ligou querendo saber se te encontraria aqui. Ela foi até
a empresa?
— Foi.
— E vocês se entenderam?
— Não. Só brigamos mais um pouco.
— Senhor...
— Não diga nada porque não vai adiantar, não está em minhas mãos, Olívia.
ELA não me quer mais, ela! Você é bem temente á Deus, vive dizendo que
ora por mim... vai orando. Vai orando porque eu acho que ela só volta com
oração dessa vez. — eu garanto, a senhora refinadae de meia-idade coloca a
mão sobre o coração e antes de choramingar, a probleminha chega correndo
na sala e quase cai por causa do degrau gigante que tinha ali.
— Olha! — ela me mostra um desenho e eu vejo que o ambiente é a sala de
aula dela.
— Está com saudade dos seus amigos? — eu pergunto apoiando a cabeça na
mão.
— Só um pouco. — e ela senta no sofá preto com as sapatilhas sujas e eu
lamento por Olívia que teria que limpar aquilo depois de anos sem ninguém
nunca sujar.
— Quer voltar pra casa? Pode ser sincera. Quer voltar pra casa da tua vó???
— Não, eu tô gostando de morar aqui, aqui eu não preciso acordar de manhã
pra ir pra escola.
— Por enquanto. Quando eu decidir para qual escola você vai, dependendo
da hora, você vai ter uma rotina bem parecida com a do Brasil. — eu falo e
ela fica desanimada.
— Poderia ver uma escola que seja de tarde?
— Poderia. — eu sorrio. — Mas se eu não encontrar, sem chance... mas
voltando ao assunto; sua resposta não me convenceu... não sente saudades do
Brasil?
— Eu sinto saudade da vovó, queria que ela estivesse aqui.
— Eu não sei se ela abandonaria a casa dela, mas você pode ligar para ela pra
perguntar. Gente velha é apegada com casa.
— Minha vó não é velha não, ela nem tem cabelos brancos. — ela diz e eu
dou risada.
— Tanto faz. Se ela quiser vir você ficará feliz, não é!? — eu questiono e ela
afirma. — Então, quando tua mãe chegar, peça para ela ligar e conversar com
ela.
— Mas e se ela não quiser vir?
— Aí eu não sei. Eu obriguei sua mãe a me deixar ter você por perto, porque
é um direito meu, mas não posso obrigar você a sofrer por isso. Se não
conseguir ficar sem seus amigos e sem sua avó, poderá voltar pra casa. Não
vou te obrigar a ficar se você não quiser, mas aí terei que passar mais tempo
no Brasil pra poder te ver.
— Mas aí... você vai morar lá?
— Não, morar não, mas irei sempre...
— Igual antes? Quando você viajava muito? — ela diz e eu entendo bem
onde queria chegar.
— Não. Não vou sumir, eu vou te ver sempre, eu prometo!
— Eu gosto de ter um pai, acho que não quero assim não. — ela fala e suas
palavras me destroem.
— Será como quiser, você decide, mas não importa qual país escolher, eu não
vou mais sumir, tá legal!? Você vai me ver sempre, sempre mesmo,
entendeu? Não pode se esquecer disso, nem duvidar, e nem ficar confusa se
alguém disser o contrário. Eu não vou mais deixar você.
— Não vai mais ficar viajando?
— Não, mas se eu precisar ir, te levo junto.
— E as aulas?
— Levo tua professora junto, eu dou um jeito, farei o impossível se for
necessário.
— Acho que eu mereço sete Baby Alive’s. Uma para cada ano... — a
pilantrinha diz baixinho e eu afirmo.
— Quem te disse isso?
— A mamãe. Eu disse pra ela que a Baby Alive da lista de natal estava errada,
daí ela mandou eu te pedir porque você me deve sete.
— Foi o Chris que comprou, quando vê-lo diga a ele qual era boneca certa.
Mas... sua mãe está errada, e bom... não foi o primeiro e nem o último erro
dela, então não precisa ficar chateada. É só que, eu não te devo sete bonecas,
eu te devo uma vida inteira de ausência, entende isso?
— Aham.
— Pois então. Comprar bonecas pra você jamais irá apagar o fato de que eu
sou um estranho na tua vida e de que eu acabei de chegar e não te conheço,
mas nós iremos consertar isso convivendo, se ajudando, e nos tornando
parceiros, ok!? Eu conto com você para me ajudar a te conhecer, e eu vou me
abrir pra você, deixar você me conhecer, ser seu amigo, e te proteger. Eu não
vou prometer que vou acertar o tempo todo, mas eu prometo que eu vou
tentar ser seu pai e para isso acontecer eu te peço paciência, e tempo.
Combinado?
— Sim.
— Eu acho que agora que a gente deve se abraçar... pelo menos é o que eu
vejo nos filmes...
— E depois disso vamos no shopping pegar a Baby Alive certa? — ela me
abraça questionando e eu seco os olhos antes de soltá-la, só para ela não ver.
— Eu acho que pela primeira vez na vida, estou com medo de falir... você vai
acabar comigo com esse negócio de boneca.
— Tudo bem... eu espero a próxima lista de natal.
— Mas o que me daria em troca se já me deu aquele cofrinho magricela?
— Humm... — ela faz cara de quem está pensando. — Posso te ajudar a
reconquistar a mamãe.
— Como é que é?
— Ué... você e a mamãe não precisaram ficar longe? Agora você chegou,
você pode dar flores pra ela, eu te ajudo já que não tenho mais cofrinho. —
ela diz com sua carinha de ‘anjinho’.
— Oh, pequena dementadora, quem mandou você me dizer isso? Foi sua
mãe?
— Não. Fui eu.
— Escuta. Eu não tenho nada com a tua mãe. A única coisa que a gente tem
em comum, é você, só isso nos manterá unidos. Mas esqueça essa história de
“mamãe e papai”. Viu!? Não tem café-da-manhã de comercial de margarina,
não tem beijinho, não tem irmãozinho, não tem nada disso. Eu e sua mãe
somos amigos, apenas isso. Você entende?
— Não.
— Como não? Isso você não entende?
— Não. A mamãe me disse que vocês só ficaram longe porque seu trabalho
era de viajar, mas que você era um príncipe pra ela.
Merda.
— Eu continuarei sendo um príncipe pra ela, mas isso não significa que a
gente esteja casado, ou pense nisso. Eu desejo o bem da tua mãe, desejo a
felicidade dela, mas eu tenho uma noiva, e eu a amo muito. Isso não quer
dizer que eu não goste de você e muito menos não goste mais da sua mãe,
mas é que... agora nós somos adultos que... têm vidas paralelas apesar de ter
você. Entendeu?
— Quem é tua noiva? A mamãe gosta dela?
— Sim, acho que sim.
— Posso ver ela?
— Quer conhecê-la?
— Sim. — ela diz e eu penso. Era ‘uma ideia’ já que a pilantrinha era uma
gracinha, podia muito bem amolecer o coração da vadia.
— Ok. Vamos lá...
— No caminho podemos...
— Se você falar de Baby Alive mais uma vez, eu vou te colocar em um
colégio interno na Suiça...
— Lá eu vou acordar de manhã? — ela questiona, eu travo, encarando-a e ela
ri com gosto.
— Você não vale um real, não é!? Gostei de você, você é das minhas. Seu tio
quando te conhecer, vai ficar impressionado... — dou risada sozinho fazendo-
a caminhar em direção a porta e ela não entende.
— Por quê?
— Porque eu era igualzinho a ti quando criança. Você é de brigar? Só não
pode bater na tua prima quando eu te apresentar a eles, não podemos passar
por isso de novo...
— Eu não gosto de brigar!
— Ah! Bom! Isso é bom, brigar é feio. Faz mal pra saúde, te deixa um adulto
perturbado, deixa a família chateada... vai por mim, ser briguenta não é uma
boa ideia.
— E minha prima, é briguenta?
— Não, mas é muito mimada, está aí mais uma coisa que você não deve ser...
olha bem pra mim ensinando você as coisas boas e ruins, isso está me
parecendo fácil demais. Já estou sendo um paizão, fala aí...
— Não p...
— Shhh. Quando a gente chegar e eu te apresentar a minha noiva, vou te
fazer essa pergunta e você vai dizer que ‘sim’.
— Isso é mentir, mentir é feio.
— Oshi. Mas eu sou um paizão maravilhoso mesmo,só não deu tempo de eu
te mostrar isso.
— Mas e a boneca?
— Se você mandar bem lá, eu te dou a boneca, mas chega hein!? Será só
uma. — eu digo, ela dá pulinhos de felicidade e eu faço o carro andar quando
a vejo colocar o cinto.
Dirijo em direção á boate e quando paro na porta me pergunto o que fazia
com uma criança ali. Era três da tarde, do estabelecimento soava uma música
baixa que eu sabia que significava que as putas estavam apenas ensaiando,
então antes de me arrepender entrei.
— Lá está ela... — eu me abaixo e aponto para uma moça linda e tristonha de
colã branco e sexy, parecendo completamente deslocada. — seja uma boa
menina.
— Eu sou uma boa menina!
— Não minta, mentir é feio, você não disse!? — eu falo, ela ri disso e eu
seguro a risada quando me aproximo da boneca distraída que doava atenção
para suas amigas de trabalho que dançavam no meio de plumas no palco.
— Oi. — eu murmuro, ela me olha confusa, e eu engasgo ao ver seus olhos
inchados. Parecia que até pouco tempo atrás havia chorado e nem a
maquiagem forte que usava ajudava muito.
— O que faz aqui? — ela indaga e olha pra baixo.
— Vim apresentar a mulher mais importante da minha vida para a pilantrinha
aqui. Ela havia dito que queria que eu comprasse flores pra mãe dela, então
eu vim aqui explicar o porquê que eu não podia fazer isso... — eu falo, ela
engole uma bile extremamente entristecida e se abaixa.
— Oi!
— Ele é um paizão maravilhoso!!! — Manuella diz apontando pra cima, e
Marcella me encara como se dissesse “não acredito que veio aqui para fazer
isso, está usando a criança...”
— Eu aposto que é! — Marcella ri. — Prazer, Marcella! — ela estende a
mão.
— Manuella.
— Você é muito linda, Manuella.
— Você também é. Pode me maquiar assim?
— Aposto que não. — Marcella ri. — Mas eu posso fazer algo diferente e
bem bonito se você quiser. Você é muito pequena pra usar uma maquiagem
tão forte. Quer fazer isso agora?
— Não. Outro dia. — eu digo e a monstrinha me olha com uma carinha triste.
— Você disse que queria ir no shopping, não vou te levar no shopping desse
jeito.
— Eu faço uma bem fraquinha. — Marcella sorri pra ela e quando puxa a
menina pela mão deixa seu sorriso desaparecer e isso me faz sentir uma dor
absurda.
— Por que veio? — ela questiona ao nos levar ao camarim. Quase não escuto
sua pergunta porque assim que adentrei no local todo coberto por panos
coloridos, me lembrei do quanto fizemos amor ali. Acho que foram umas seis
vezes.
Só colocava sua calcinha pro lado e metia forte sem se preocupar com seus
gritos porque de noite, naquele lugar, a música era extremamente alta, ideal
para fazê-la gemer alto, era uma delícia...
— Você sabe o porquê. — eu tento falar baixo mesmo sabendo que a
pequenina podia ouvir.
— A resposta é não.
— Não o quê? — Manuella pergunta enquanto mantinha a boca aberta. O
rosa do batom era bem clarinho graças a Deus.
— É. Não o quê? — eu questiono sorrindo e ela fica puta. — Acho que tem
alguém aqui brava comigo. — eu digo e ela suspira em silêncio.
Espero a maquiagem acabar, sorrio quando a pequena pula de felicidade ao se
olhar no espelho e ver a maquiagem fraca, e a vadia trata logo de se livrar da
menina para poder me dar uma bronca.
— Quer conhecer a cozinhado meu trabalho? Tem um monte de doces legais
no armário, você pode pegar quantos quiser. — ela se ajoelha, diz, Manuella
concorda e ela grita por uma loira baixinha lá em baixo. Ela faria o serviço
sujo e não ia entender nada do que a brasileirinha ia dizer.
— Não briga comigo, eu estou com saudade. — eu falo de uma vez e ela
gagueja.
— Não pode usar a menina assim...
— Ela é uma gracinha, achei que você ia gostar de conhecê-la.
— Eu gostei, mas nada mudou.
— Não me deixa. Não posso e não vou desistir de você, então, me ajuda, não
me deixa, não me abandona. É você quem eu amo, nada mudou pra mim, é
com você que eu quero viver. Eu sei que é uma novidade muito bizarra, não
estava em nossos planos, mas... seu amor não pode ter acabado aqui, não faz
sentido desistir de mim assim.
— Você já tem...
— Se disser família, eu vou... meu Deus!!! Confia em mim, — eu me
aproximo e toco em sua testa com a minha. — você é minha família, você e
ela. Não tem Flávia, nunca vai ter, nem se me deixar... não posso te perder,
você é minha vida. Para de cu doce e volta pra mim, não vou desistir de ti,
então me economiza, eu te amo muito. Pega as suas coisas, vem ocupar seu
lugar na minha vida, não foi só meu coração que você despedaçou, a Olívia e
o Chris estão extremamente chateados, sentem sua falta como eu sinto, não
param de perguntar por ti. Volta pra casa, por favor. Vamos esquecer tudo
isso, vem com a gente.
— Antigamente eu competia com seus medos e traumas, mas isso era fácil.
Não vou dar conta de dividir você com ela.
— Não vai! — eu garanto olhando em seus olhos e ela chora de soluçar. —
Não vai. Eu te prometo, amor, não vai. Olha pra mim, eu sou seu, só seu e
você é minha princesa, vai ser pra sempre, nada vai mudar, eu prometo que
não vou te fazer sofrer, nossa relação só vai melhorar. — eu falo baixinho
como ela gostava, amava quando eu me declarava assim como se só ela no
mundo pudesse ouvir e nem o universo ouvia, ela dizia isso. — Vamos noivar
oficialmente, vamos nos casar em uma cerimônia linda como você sempre
sonhou, eu vou cuidar de você do jeito que você ama, vou te mimar, sei que
gosta de flores, vou te dar flores... não ficará comigo só nos finais de semana,
será todo dia, pra sempre, e será lindo, nossa vida será linda. Eu te prometo e
sempre cumpro o que prometo, sabe disso. Prometia pouco, mas sempre que
prometia cumpria, você sabe. Eu te amo, me deixa realizar seus sonhos, me
deixa te fazer feliz, nunca se sentirá excluída da minha vida, nunca se sentirá
pequena perto dela, nunca te deixarei de lado, ela não significa nada pra mim,
mas você significa tudo. Deixa eu te mostrar que posso te fazer feliz, e vem
comigo pra casa. Vamos embora daqui, você não precisa disso, pode vir de
vez em quando para se divertir e dançar porque eu sei que você ama tudo
isso, mas você é minha princesa, você tem a mim, tem um lar, e tem uma
vida inteira ao meu lado. Volta pra mim!!!
Eu imploro, ela chora, e rapidamente seca os olhos quando a vadia loira trás a
pequena de volta pro camarim com as mãos cheias de doces.
— E então, gostou?
— Uhum! — ela resmunga com a boca cheia e eu tiro o biscoito que ela
segurava entre os lábios por causa das mãos ocupadas.
— Pergunta pra ela se tem uma sacolinha pra você não sujar meu carro... —
eu murmuro auxiliando a esfomeada e ela corre me oferecer uma sacolinha de
papel.
— Vamos no shopping agora? — ela pergunta mastigando e eu confirmo. —
Quer ir com a gente, Marcella?
— Não dá, bonitinha, eu preciso trabalhar... — ela diz com doçura e
Manuella dá de ombros dizendo entender.
— Podemos ligar pra mamãe vir junto? Ela já deve ter chegado em casa com
as compras. — a bocuda fala mastigando e eu sinto a síncope...
— Ela está na sua casa? — ela pergunta e eu afirmo.
— Sim. Eu estou procurando um apartamento... é provisório.
— Então seu pedido pra voltar era pra eu poder ver. — ela quase sussurra
com seu semblante transbordando ódio e eu nego.
— Eu vim pedir para que voltasse porque é comigo que você tem que ficar.
Seu lugar não é no apartamento, aqui, e muito menos naquele moquifo que
você dividia com as suas amigas. É comigo. É cuidando do nosso
relacionamento, não dando espaço para outra entrar.
Eu digo, olho em seus olhos por um momento, mas paro de insistir porque a
bocuda era pequena demais para ouvir aquele tipo de conversa. Com ela ali a
gente não podia dar bobeira...Manuella não tinha culpa de nada.
— Vamos indo. Se despeça da Marcella! — eu falo, elas se abraçam, e eu
decido apertar o passo para seguir a espevitada que corria por entre as mesas
com as cadeiras pro alto.
— Tudo bem. — eu ouço sua voz atrás de mim assim que fecho a porta após
a pequena entrar e colocar o cinto. — Eu vou. Mas conversaremos melhor
sobre essa história. — ela sai falando, ditando regra, me dando ordens, e eu
nem ouvia, eu só não entendia o porquê que ela não colocou pelo menos um
roupão para sair atrás de mim porque... todo mundo que passava olhava pra
ela, homens com tesão, e mulheres com espanto. Seus seios fartos saltavam
do decote, e sua boceta depilada era um tanto quanto protegida pela meia-
calça fininha que usava por baixo, mas ainda assim, dava pra ver tudo. Só de
olhar dava para ver seus lábios salientes pois, afinal, ela estava com o colã
branco que ficava muito transparente na luz do sol, e sem as plumas que
costumava balançar enquanto dançava.
E quanto mais ela ditava regras que agora não sei reproduzir pois não estava
ouvindo, mais eu me lembrava e sentia saudades. Amava chupar minha
princesa, na verdade amava muito. Marcella era sempre tão safada que sentar
na minha boca sempre que tinha oportunidade não importando o ambiente,
era a coisa mais ‘leve’ que costumava fazer. E seu gosto... seu gosto era
surreal... Mas que inferno...
— Pode por favor, entrar!? — eu a interrompo quando acordo e ela não
entende. Chega a ficar magoada com minha forma de falar.
— O que? Por quê?
— Você está praticamente nua aqui... estão te olhando demais, e se passar
alguma viatura você irá em cana por atentado ao pudor. Não pode sair na rua
assim. — eu falo e ela fita o próprio corpo demonstrando não entender muito
bem sobre o que eu falava, mas depois entende. Oh, se entende...
— Meu Deus!!!
— É... vai... se vestir, por favor.
— Eu te amo. — ela me abraça antes de sair correndo para dentro da boate e
eu afirmo.
— Eu te amo muito mais, minha princesa. Você é tudo pra mim, é a minha
felicidade... agora continue sendo a minha felicidade me obedecendo só pra
variar. — eu falo, ela ri, me beija brevemente, e sai correndo voltando para o
interior do estabelecimento.
Foi ali, naquele momento, que eu me tornei o homem mais feliz do mundo.
CAPÍTULO 14

NAVIH

Época seca no Zimbábue era bem amena... tranquilo, mas hoje havia esfriado
um pouco,até perguntei a respeito para o recepcionista do hotel, e ele disse
que aquele dia foi premiado, fazia muito tempo que não “esfriava” tanto
assim. Enquanto dobrava e guardava nossas roupas nas malas em cima da
cama podia ver a princesa agarrada a uma manta quentinha e segurando com
as duas mãos uma xícara de cappuccino que dali podia ver a fumaça
charmosa saindo.
Dois meses haviam se passado, e com isso, a agenda que havia trago de casa
era preenchida. Suíça, Japão, Nova York, Austrália e agora África
Meridional, o local mais esperado para o início da criação de seu TCC...
decidimos escolher os quatro cantos para pisar no máximo que
conseguiríamos do globo antes de sentir saudades de casa, mas ela já estava
amuadinha de duas semanas para cá, eu só não sabia dizer se era saudade de
casa, ou porque novamente, havia ‘descido’ para ela dias atrás.
— Deixei tudo arrumado para quando voltarmos. Quando a gente chegar é só
fechar tudo. — eu comunico me sentando ao seu lado e a coloco em meu colo
como se fosse um bebê.
Pelo vidro da janela enorme ela fitava uma parte bonita de Harare e parecia
preparar o espírito para mais um passeio guiado. Eram 06:00hrs da manhã, o
guia combinou de passar para nos pegar às 06:30hrs, para dar tempo de ver
tudo.
— Obrigada. Desculpe o desânimo... — ela diz e eu fito a mesa posta do café
bem ali ao lado. Ela não comeu nada.
— Você não está só desanimada, está triste, nem se alimentou direito, sabe
que não pode ficar assim.
— Só estou frustrada, mas vai passar. Juro que vai passar.
— Tenho uma notícia legal pra te dar, talvez te anime um pouquinho...
— O quê? — ela sorri e eu já gosto disso.
— Recebi por e-mail umas fotos de um casamento no cartório... Vitor e
Marcella!
— Mentira!!!
— Sim. Eles se entenderam um tempinho depois do nosso casamento e se
casaram. Vão organizar um festão de casamento no religioso logo, logo...
— Ai que bom! Sim, isso me animou. Fico feliz por eles, eles merecem.
— Conversei com ele ontem á noite por mensagem. Ele está muito bem,
levou a menina pra lá, a Flávia está trabalhando na área dela por lá mesmo,
estudando inglês, ela e a Marcella não se aceitam, assim, — faço uma careta
e ela ri. — mas elas se aturam pela menina e a vida deles está muito boa. Ele
está todo bobo com a menina, ela é linda. Disse que assim que a gente chegar
vai para o Brasil apresentar a menina pra gente, disse que ela está louca para
conhecer Allana!
— Não vejo a hora de vê-los!
— Eu também! — eu falo e ela afirma deixando seu sorriso morrer de novo.
— Está bem, vamos conversar... — eu falo e ela me encara já com os olhos
brilhando. — Eu acho que tudo têm seu tempo para acontecer e ficar aflita
assim como você está, triste, chateada... não ajuda, aliás acho que só vai
atrapalhar. Fomos ao médico, sua saúde está perfeita, por que acha que não
está engravidando, Lara? Seu psicológico está te boicotando, tu sempre falou
tanto isso pra mim, será que eu vou ter que conversar contigo sobre coisas
positivas, pensamentos positivos, boas vibrações? Eu???
— Todo mundo têm seu momento, nos casamos, então sim, às vezes será eu
quem vai precisar de ajuda e palavras de apoio...
— Então farei isso, sem problemas...: pare com isso, pare de pensar nisso,
não fique aflita à toa! Você é jovem, forte, saudável, pode me dar mil filhos
se quiser, mas essadeprê aí, vai continuar deixando esse nosso sonho distante.
Você já me faz feliz, nós já somos uma família, esse bebê virá quando tiver
que vir.
— E se eu tiver um problema de verdade? Já parou pra pensar nisso? — ela
me olha nos olhos e chora. — Seja sincero não só comigo, mas com você, e
se eu tiver algum problema?
— Procuraremos uma clínica especializada e pagaremos o que for preciso
para um tratamento, hoje em dia é o que mais tem.
— E se ainda assim eu não conseguir?
— Bom, acho bem difícil. Se você tem algo assim tão grave que te impeça de
engravidar até com tratamento, como isso não foi visto no exame que
fizemos!? — falo da nossa ida ao consultório de um médico renomadíssimo
na Austrália que ela me fez entrar e pagar uma consulta. — o que me fez
pensar que nos levou para a Austrália só para aquilo. — O doutor disse que
Lara era saudável como um touro e se ela "tinha algum problema, o nome
dele seria ‘questões psicológicas que precisavam de cuidados.’” Porque nada,
pelo menos naquele momento em que os resultados do seus exames saíram,
indicavam que ela tinha algo que pudesse complicar uma possível gestação,
ou invalidar, mas ele falou pra mim: ‘o psicológico tinha uma força igual ou
maior que uma doença “existente”’...
— É, eu não sei... de verdade, não entendo...
— Lara... — eu respiro fundo. — o que você me disse quando
“conversamos” sobre ter filhos pela primeira vez? — eu pergunto e ela me
encara com um péssimo semblante, pois se lembrava. — Você não vai dizer,
eu vou. Você disse que ainda queria montar seu restaurante, concretizar seus
planos de independência e que esse tema era um sonho real, sim, mas um
sonho para o futuro...
— Já estamos no futuro.
— Como? O que você conquistou? O que você riscou da lista ‘do que fazer
antes de engravidar’?
—Só você pode mudar de ideia, pensar melhor, ter outros planos? Outras
prioridades??? Eu estou triste porque queria ter um filho com você e não tive.
Falando desse jeito só demonstra o quanto foi falso comigo ao afirmar que
queria me dar um filho, é óbvio que não quer, pelo menos não tanto assim,
afinal, esse quesito da tua vida já está preenchido, você já teve essa alegria
com o grande amor da sua vida, você já tem sucesso na...
— Cale a boca! Não pira. Pra começar deixe a Nanda em paz. — eu falo e ela
me olha com um ódio mortal. — Ela morreu e nunca foi o grande amor da
minha vida, o grande amor da minha vida é você, sabe disso, sem você eu
não sou nada, significo pouco sem você. E depois, você está surtando e não
está notando isso, do mesmo jeito que eu estava quando você me ajudou,
então só estou tentando fazer o mesmo por você. Não é tarde, o prazo que
você deu a si mesma ainda tem chão pra terminar. — eu falo, ela tenta
levantar de meu colo, mas eu não deixo. — Lara, tudo bem se a gente voltar
pra casa sem um bebê, tudo bem se ainda não aconteceu, tudo bem se tiver
algo de errado... eu estou do seu lado, nós vamos ter um filho, eu prometo!!!
— “Tudo bem se tiver algo de errado...” Engraçado...
— Jamais vou deixar você sair disso machucada, jamais viverei para ver você
magoada com algo que não pôde ter. Olha pra mim. — eu viro seu rosto
porque ela fazia questão de não me mostrar que chorava. — Eu te prometi
uma montanha de coisas e eu cumprirei todas elas!!! Eu prometi fazer de
você a mulher mais feliz do mundo, prometi ser fiel, te amar, te respeitar,
prometi te dar uma vida de rainha, mimar você, te dar o mundo, e eu vou
cumprir nem que isso custe a minha vida. Você quer um filho, eu vou te dar
um filho. Você está aí sofrendo desse jeito e nem chegou a pensar que o
problema pode ser eu!!! A minha taxa de espermatozóide pode estar baixa, eu
posso ter algo, e se eu for o “problema”? Tu vai ser infeliz e me deixar
porque eu supostamente não poderei te engravidar? É isso? Me deixaria por
isso? Ter um bebê é assim mais importante do que o nosso amor?
— Não. É óbvio que não!!!
— Então se acalma, vida. Vai dar tudo certo, vamos resolver isso, eu te
prometi um filho, eu vou cumprir! Nós temos um ao outro, daremos um jeito,
vamos conseguir. — eu garanto olhando em seus olhos e ela afirma com um
carinha triste. — Agora vamos fazer esse passeio, você queria tanto conhecer
o lugar para ajudar com o TCC, o guia já deve estar chegando, não está
animada? Estamos em lua-de-mel e ao invés de você focar nas tentativas você
fica aí chorando feito uma boba... esse é o nosso sonho então temos que
tentar até o fim e eu adoro “tentar”. Você sempre foi tão forte, não desista,
vamos continuar tentando até conseguir... é tão gostoso ficar tentando... —
sorrio.
— Nem me olha assim, não vamos transar agora... — ela fala, eu sorrio de
novo trazendo seu corpo para mais perto e ela só analisa meus movimentos.
— tô falando sério, não estou clima, você tem que saber ouvir ‘não’ de vez
em quando, ah droga... — ela murmura quando eu faço ela sentar de frente
pra mim só para sentir meu membro duro como uma rocha.
— É sério, você precisa saber ouvir ‘não’. — ela vai dizendo enquanto eu
vou desfazendo o nó de sua calça de moletom e só para de falar quando senta
para cavalgar. Bicha boba.
Pegamos um carro na porta do hotel para iniciarmos o tour pelos pontos
turísticos mais famosos da cidade, único mimo que a bonita aceitou. Não
queria o luxo... hotel cinco estrelas? Nada. Estávamos instalados em um
cubículo apesar de estar localizado na capital. Cubículo esse que assim que
eu entrei pude entender o que ela queria dizer com sua atitude: pequeno,
simples, aconchegante, e familiar. O clima que ela amava e remetia á família,
momentos que ela queria ter comigo, porque estando comigo não precisava
de mais nada. É ou não é a melhor mulher que eu poderia ter conquistado? É,
é sim...
Beijo sua face macia enquanto penso nisso e ela sorri me olhando curiosa.
— O que foi?
— Tô aqui pensando no quanto sou sortudo. — eu sussurro e ela nega rindo.
Vimos museus, teatros, cidades famosas, bibliotecas, pontos de cartões-
postais... as Cataratas Victória na fronteira, as ruínas antigas da cidade, e
deixamos um parque nacional para o outro dia porque ela estava apressada
para conhecer “o lado pesadelo” daquela cidade linda. Afinal, só estávamos
lá para isso.

Eu amei o tour e a cada minuto que passava, Lara parecia também muito mais
animada e feliz, ao contrário de como estava quando saiu do hotel.
— Os senhores querem ir até a província, ou querem almoçar primeiro? — o
guia nos questiona em inglês e eu olho no relógio. Rodamos tanto que já
eram três da tarde. Encaro Lara, ela afirma que prefere ir almoçar primeiro, e
o guia nos indica um restaurante legal e simples muito frequentado por locais
e não turistas.
— Onde fica mesmo essa comunidade?
— O local se chama Manicaland... não posso dizer que vão gostar, lá é a
realidade nua e crua da população, outro cenário, mas eu garanto uma coisa:
vocês voltarão transformados. — ele diz, eu traduzo para a Lara, e fico
preocupado sozinho.
— Eles gostam de visitas? — pergunto já no carro, a caminho.
— Bom, vou te falar a verdade. Eles sobrevivem graças á “visitas”. A sua
senhora quer conhecer uma das sedes que abrigam o programa de
alimentação mundial... eles são a prova viva de que visitas de pessoas de bom
coração, fazem toda a diferença. Não é algo que eles se orgulham, entende!?
Mas todo mundo compreende que a realidade do Zimbábue precisa ser
mostrada querendo ou não. Tem muito aproveitador que só entra lá pra tirar
foto!? Pra fazer cena!? Sim! Mas também tem muita gente que ajuda
realmente e isso os salvam todo os dias, ainda falta muito, muito mesmo, mas
salvam. As crianças recebem um carinho, um trocado, um pouquinho de
atenção... alguns bebês de algumas localizações, as mais carentes por
exemplo, não estão acostumados com gente branca, e choram um pouco, são
ariscas, não é!? Mas em questão de minutos eles se abrem e se apegam. As
creches e os orfanatos são os que mais precisam de auxílio, eles aceitam
ajuda do tipo ‘atenção’ também. Se você levar um livro para ler pra eles, um
abraço, um carinho... eles já ficam gratos...
O guia vai falando, eu traduzo baixinho para ela, e vejo seus olhos brilharem
de excitação e curiosidade.
— Aqui, vai filmando pra mim, por favor!!!
Lara tira de sua bolsa a câmera que eu dei a ela assim que a gente estaciona
na frente da comunidade minutos depois, e enquanto ela vai caminhando sem
se importar com o barro, o guia vai explicando sobre o projeto que ela tinha
interesse, e eu vou filmando tudo me segurando para não filmar apenas seu
rostinho bonito.
A criatura era tão fotogênica...
— ... a ração vem do programa, e ao chegar no continente é distribuída para
as instituições... não vou dizer que supre tudo, que dá para todo mundo, ou
que é um sucesso porque estarei mentindo. Precisamos de muita ajuda ainda
para suprir as carências de todas províncias. É muita gente, é uma população
numerosa. Vocês devem ter as informações com relação a números, o
continente está longe de se equiparar com os outros, não é!? Infelizmente.
Nós somos abandonados, negligenciados e ninguém faz nada...
Ele vai falando, eu vou traduzindo baixinho, e ele logo para na frente de uma
casa de concreto, a única por ali.
Eu não sei bem descrever o ambiente nem o sentimento que eu tinha por estar
ali. A paleta de cores do lugar era marrom, bege, e cobre, o cheiro era
desagradável, e apesar de que pelo menos nos últimos anos eu não tenha sido
um homem muito sensível, eu era antes... e ali... até a vibração do lugar
incomodava minha alma. A tristeza e a pobreza era sentida por cada poro
meu. Lara parecia tão incomodada quanto, mas estava muito “melhor” que
eu, pelo menos demonstrava isso.
Ignoro a sensação, ‘esqueço’ a minha aflição, e me afasto um pouco para
filmar ao nosso redor quando ele diz que vai chamar uma local que melhor
poderia nos ajudar devido á vivencia com relação ao projeto de interesse da
Lara.
Pelo menos de onde estávamos, o que aparentava era que ali, podia ser uma
favela, um terreno da CDHU que deu muito errado, ou uma ocupação
mesmo. Os barracos pareciam querer tomar um o espaço do outro, pois
pendiam cada um para um lado. O cheiro que eu sentia descobri que era
porque bem ali, do lado da sede do projeto, corria uma fossa em direção a
algum lugar e eu só vi porque tive que pular esticando bem a perna. Era
imenso. Como alguém conseguia viver ali???
Vou caminhando, filmando tudo para a pequena universitária, e o que vejo a
seguir me tira do eixo. O terreno com os barracos era extenso atrás de mim,
imaginei que o guia deve ter parado em UMA das milhares de entradas que
provavelmente os moradores usavam, entrada mais próxima da sede para o
nosso conforto. Agora, dali do ponto em que eu parti para a frente, os
barracos acabavam dando lugar a um terreno a céu aberto, mais precisamente
um lixão a céu aberto. O lugar ia até o horizonte cercado de barracos pelas
laterais, e ia, ‘toda a vida’ como diria Tia. Aquela era a paisagem deles de
todos os dias, e para mim, aquela era a paisagem mais horrorosa que eu já
tinha visto. E não digo isso porque fiquei horrorizado ao ver um lixão, já vi
muitos em vários países, o de São Paulo já passei com o carro naqueles
arredores muitas vezes. Mas o que eu sempre fazia era levantar o vidro e
curtir o ar-condicionado, aquilo não chegava até mim, não me atingia. Ali
não, ali eu via, e não só uma terra plana que devia ser feita de grama
verdinha, árvores, e coisas bonitas como parques para as crianças, ali tinha
crianças, e muitas crianças. Umas brincavam, outras vasculhavam tudo
selecionando alguns objetos, outras comiam certas coisas que encontravam...
era um pesadelo!!!
— Essa é Naila, ela fala o idioma de vocês, o português. Veio da Angola! —
o guia se aproxima de mim com Lara e uma moça linda ao seu lado.
— Aqui tem o projeto... como vocês deixam essas crianças ficarem aqui
assim? Dessa forma? Caçando no lixo? Comendo lixo??? — eu questiono e a
moça dos olhos amendoados assente como se já tivesse escutado aquela
pergunta um milhão de vezes.
— Nós recebemos poucas doações, pouca comida. O quadrante é extenso,
cada sede recebe um pouco, então dividimos... mas nunca é o suficiente, pelo
menos não o bastante! Assim que o sinal soar para o café-da-tarde, aquelas
crianças vão correr e formar fila aqui, são as primeiras a chegar. Alguns
vendem os materiais para reciclagem que elas encontram como você está
vendo, aí tem latinha, plástico, objetos novos que são jogados fora, eles
arrumam um jeito de reaproveitar como podem para tirar um trocado. Mas aí
eles encontram de tudo mesmo, brinquedos, alumínio, roupas velhas, sapatos,
móveis, comida estragada e vencida e eles comem mesmo assim, e o pior de
tudo, descarte de material hospitalar. Nada do que já tentamos fazer os
impediram de voltar pra cá, o pouco que eles tiram daí, é tudo o que eles têm.
— O próprio governo que joga o lixo aí? Por que nunca pensaram em aterrar?
Eu pergunto e ela sorri.
— Já ouviu falar em políticas públicas, doutor? — ela diz sorrindo com a
cabeça inclinada, estava zombando de mim a filha da puta.
Me olhava como se eu fosse mais um tolo a estar ali. Era linda mesmo a
garota, devia ser um pouco mais velha que a Lara, tinha seu afro para cima
como uma juba literalmente, olhos grandes, nariz grande, boca grande,
cintura fina, traseiro gigante, seios fartos... mas me deixava claro que não
pertencia àquele lugar. Era voluntária ali... e meu Deus, porque eu estou
falando das características da moça? Sou um homem muito bem casado...
— Eu imagino o tanto de gringo que chega aqui querendo dar palpite. — eu
falo e ela sorri de novo. — Mas é que... é muito... meu Deus... — eu volto a
fitar aquelas crianças. — não dá para lidar com isso.
— Eles lidam todos os dias. A província é rica se o senhor quer saber. — ela
diz e volta a ganhar a minha atenção. — Temos aqui e exportamos ouro,
diamante, pedras preciosas diversas... carvão, platina, níquel, minério de
ferro... o problema é que essa riqueza não chega ao povo. Os senhores são do
Brasil, sabem do que eu tô falando, a questão é que aqui, é um pouco pior.
Nossos líderes não vêem isso. — ela diz voltando a fitar as crianças. — Eles
são cegos, mas a cada ano no poder, eles se tornam cada vez mais ricos. Uma
das lideranças mais sujas que existem...
— Qual sua profissão?
— NailaMnangagwa. — ela fala parecendo decepcionada e eu entendo. Ele é
o presidente, ou ministro, não sei direito como funciona a nomenclatura
naquela província. — Essa é minha profissão.
— É a filha de EmmersonMnangagwa, o “crocodilo”.
— É. O veterano da guerra da independência que conseguiu chegar onde
queria, mas também não os vê. — ela diz entristecida com seu sotaque
bonito, suspira, e dá meia-volta se aproximando de Lara. — Queria ver a
ração? Venha, vou te mostrar como funciona! — ela fala, oferece a mão para
Lara e uma sorri para a outra.
Ao invés de fazerem o caminho que eu fiz, elas entram ao lado, bem ali, nos
fundos da sede, o que no caso era uma cozinha pequena.
Naila mostra a ela uma espécie de farinha, entrega na mão dela uma revista
explicativa, tira uma amostra em uma colher e a faz experimentar, e
continuam papeando enquanto eu olhava tudo e filmava.
Quando ela diz pra Lara ficar á vontade a garota surta, pede para fazer um
teste, abre os armários, olha condimento por condimento, faz anotações,
fotografa a etiqueta da embalagem da ração, e continua. Fica tão empolgada
que pede para ver sendo preparado, espera o tal horário do café até a cozinha
se encher com outras voluntárias, faz, ajuda, dá idéias, questiona, sorri pra
todo mundo, brinca com todo mundo e conquista todas as moças, além de
Naila. As duas pareciam ter se dado muito bem.
— Como você acha que nós poderíamos ajudar? — Lara pergunta de repente
e Naila sorri. — Eu queria ajudar também para agradecer esse punhado aqui.
— Lara levanta o saquinho onde a jovem havia colocado três colheres do
produto para a Lara levar para o laboratório da faculdade.
— Bom, eu não sou de rodeios, dinheiro e mão de obra são sempre bem-
vindos, não só aqui como no nosso pequeno orfanato. Caso queiram dar uma
passada lá para doar abraços, beijos ou qualquer outra coisa, eu ficarei muito
agradecida, é meu xodó. Se ficarem para ajudar no café nós vamos amar, e
eles também adoram uma novidade, uma visita... eu já aviso que é bem triste
e comovente, mas também recompensador.
— Por que triste? — eu pergunto e ela me encara com um semblante
péssimo.
— Há algumas crianças no centro do quadrante que não conseguem chegar
aqui para receber o alimento, as famílias não podem deixar o barraco, as
mães também não podem deixá-las sozinhas... são bem magrinhas,
desnutridas, doentes... então quando a gente termina de servir aqui, nós
vamos até lá.
— Podemos ir? — Lara questiona já deixando claro que quer.
— O que você não me pede sorrindo...!?
— Não gosta da realidade? É muito sensível? — Naila me pergunta e eu
afirmo.
— Eu sou muito sensível! — eu digo e ela concorda de novo segurando a
vontade de zombar de mim. Ela gostava do que via, me achava bonitão.
— Ele é mesmo, pode rir, Naila. — Lara diz com simpatia. — Se não quiser,
pode ficar, mas eu quero ir e filmar!
— É óbvio que eu irei. “Na alegria e na tristeza, por todos os dias de minha
vida...” — eu digo, suas bochechas coram, e ela fica tímida quando todas as
“cozinheiras” gemem “me achando um fofo”.
E além de concordar, também fui o‘voluntário gringo’ do dia. Lara me
colocou para ajudar umas moças que preparavam mamadeiras enquanto ela,
Naila e outros grupos recebiam as crianças do lado de fora e ofereciam os
pratos de plástico com aquilo que parecia ser um mingau. Lara parecia um
ímã para os pequenos, eles a agarravam o tempo todo ao invés de pegar a
comida, era lindo demais de ver.
Depois de filmar um pouco é que fui fazer as tais mamadeiras, e ao acabar,
seguimos todas elas para o centro da comunidade onde a “situação estava
pior”. Estávamos em vinte pessoas para ajudar um lugar que parecia imenso,
e era, pois andamos muito além de ter ficado mais de duas horas só na porta
da sede distribuindo pratos com a comida para quem podia ir até lá para
buscar.
Cada passo que a gente dava era uma reação, olhares tímidos, abraços,
sorrisos, pedidos de socorro só com o olhar, assédio por parte de meus
concorrentes mirins que pegavam em minha mulher, cheiravam seus cabelos
e sorriam para as fotos.
— Devíamos ter trago alguma lembrancinha para distribuir, um presente, um
docinho... vamos até lá de mãos vazias, pareceremos só aqueles
aproveitadores que só vem para tirar fotos para as redes-sociais. — Lara
sussurra triste e Naila nega.
— Não pode. Tem que entregar pra sede e a sede distribui, eles sabem disso.
Entrar aqui com doces e presentes é entrar em uma jaula de leões famintos, é
confusão. É por isso que eles ficam felizes assim com visitas, eles sabem que
a maioria ajudam, então já imaginam que naquela semana terão alguma
novidade legal além da ração.
— Ah! Que bom!
Lara suspira aliviada, e quando eu tiro a câmera de sua face, para olhar ao
redor, posso ver que chegamos ao nosso destino. Era um grande quintal,
território de passagem para a fossa que eu precisei pular, e sua forma era
circular. A fossa suja era quase um símbolo ali, aquela terra estava doente,
nem plantas tinha.
Havias mulheres e crianças sentadas na porta dos barracos, algumas
barrigudinhas e minúsculas caminhando pra lá e pra cá parecendo estarem
acostumadas com o tanto de mosquito que lhes piscavam a pele, alguns
senhores de idade em cadeiras improvisadas... meu Deus! Aquilo não devia
estar acontecendo. Enquanto uma parte da cidade parecia ter saído de contos
de fadas, aquilo era... era o inferno na terra. Como alguém conseguia saber da
existência daquele lugar e não fazer nada???
— Meu Deus. — eu murmuro e Naila aperta meu ombro.
— Não sofra, não traga mais sofrimento aqui dentro!!! Deus está aqui.
— Ah! Mas não está mesmo!!! — eu murmuro sentindo a revolta, e
imediatamente Lara se agarra em minha cintura para me confortar. Eu queria
quebrar alguma coisa.
— Está. Está sim. Porque ele é Deus, é misericordioso, e está onde mais
necessitam dele.
— Como tem coragem de dizer isso? Convive com eles diariamente e diz
uma coisa dessas? Não tem ninguém por essas pessoas, ‘o pouco não é o
suficiente’, ninguém merece viver desse jeito, isso não é vida, não pode ser
vida. Olhe ao redor!!! — eu digo e ela sorri de novo.
— Por que é que VOCÊ não olha ao redor??? — ela questiona bem
humorada, aponta com a cabeça, e quando eu paro de esfregar os olhos na
esperança de tentar apagar os vestígios que “me descreveriam como uma
mocinha sensível” ao invés de um machão durão, eu posso ver o que ela
queria mostrar.
As mulheres voluntárias travaram as rodas do carrinho que servia de
transporte para o alimento no centro do enorme quintal e já começavam a
distribuir as mamadeiras paras mães e para os pequenos que praticamente se
arrastavam para chegar até elas. Algumas iam até eles no meio do caminho, e
assim, podia-se ver algumas “mães” amamentando “seus filhos” para
cessarem a fome. Algumas os pegavam no colo, e outras se sentanvam no
chão de terra batida para fazer o serviço e oferecer as próprias coxas para
servir de cadeira. Eram mães, e anjos.
— Pode ver ou ainda não consegue? Deus está aqui sim, ele manda anjos
para cá constantemente. Alguns apenas de bom coração e dinheiro no bolso,
— ela me olha nos olhos e depois encara uma Lara chorosa. — e outros com
força de vontade e idéias para melhorar as vidas dessas pessoas que estão tão
longes do seu lugar de origem. É essa moça bonita aqui que vai colocar em
prática um projeto que vai viabilizar um alimento incrível para essas
pessoas... — ela sorri para a Lara. — Entrará para a história!
— Eu vou com certeza dar tudo de mim.
— Vai conseguir, eu tenho fé em você! Será uma grande chefe de cozinha
porque é linda por dentro e por fora.
Naila diz de forma simpática, se afasta para começar a ajudar todas as outras
garotas e assim que Lara me solta para fazer o mesmo eu volto a filmar,e uma
moça extremamente magra se aproxima virando o foco da filmagem. Ela não
estava realmente assim, completamente debilitada, mas bem totalmente não
estava. Mancava de uma perna, vestia trapos que um dia foram roupas, e
carregava consigo um pacotinho que eu podia jurar que era um bebê e era.
Descobri porque enquanto filmava a olhava por cima da câmera ao mesmo
tempo e vi seus passos enfraquecidos se direcionarem a uma Lara focada em
pegar uma mamadeira do balde com água quente, passá-la em um pano de
prato, e procurar por um pequeno que ainda não havia sido atendido.
— Por favor, ela disse. — Naila se aproxima e traduz, quando a moça invade
o espaço pessoal de Lara e resmunga em um idioma que não era o inglês.
Ela deposita o pacotinho nos braços dela choramingando de uma forma
dolorosa, e quando Lara agarra o bebê em seus braços, impactada com sua
atitude, ela deposita uma das mãos em seu peito.
— Lara. — ouço ela murmurar e me assusto. — Navih. — ela continua
depositando agora a mão no bebê acho que para indicar seu nome.
Lara chora assustada, ela beija o topo da cabeça de Lara, beija o pacotinho, se
vira, e volta para dentro do seu barraco andando com dificuldades e
chorando.
— O que foi isso? Ela está bem? — eu questiono Naila, ela pede para uma de
suas companheiras ir ver como ela estava e a moça prontamente vai. Nisso,
Lara ainda em choque desvia seu olhar da moça para analisar o pacote que se
remexia.
O bebê era uma menina bochechuda de olhos negros e linda demais, parecia
ter dias de vida. Vestia um vestidinho branco de crochê, sapatinhos do
mesmo jeito, e só o que a protegia era a manta. Nem fralda estava usando.
Lara levantou seu vestido para examiná-la e tirando seu umbigo estufado,
típico de bebês gordinhos, — mas dali deu pra ver que foi devido a má
cicatrização e cuidado precário ao nascer. — ela parecia perfeita, sem
machucados tirando picadas, e bom, boa de garganta porque logo começou a
chorar até que Lara atendeu seu chamado colocando um bico de uma
mamadeira em sua boquinha rechonchuda. Ela era linda demais.
— O que ela disse? Eu não entendi nada do que ela falou. O que ela disse? —
Lara pergunta aflita e Naila parece lamentar.
— Ela disse algo como “diga sempre a ela o quanto ela era amada”.
— Não entendi. — Lara murmura ao mesmo tempo em que alimentava a
pequenina. — Ela disse meu nome...
— Naila deve ter comentado que viríamos... — eu digo, Lara me encara,
Naila me encara e não diz nada, e eu me afasto para encerrar o assunto, mas
não sem antes escutar Naila explicando que a tal mulher se chamava Mirana e
que era líder espiritual em sua terra natal.
Eu nem queria saber do fim daquele papo, mas... não demorou muito para as
consequências dele virem á tona.
Cinco minutos depois que a moça foi atrás da mulher, ela saiu aflita de lá,
chorando, e a confusão entre elas se iniciaram. A moça estava passando mal,
chamaram um rapaz ao invés de uma ambulância, e ela foi levada para algum
lugar dentro de um caminhão. Só depois eu soube que quando Naila afirmava
que ali não chegava nada, era porque não chegava mesmo, muito menos
saúde. Aquela moça não ia voltar, e a Lara não ia me deixar sair daquele
continente sem levar aquele pacotinho bochechudo pro Brasil e... foi
exatamente assim. Tive certeza daquilo quando o guia veio nos dizer que
precisávamos partir, — ele precisava devolver o carro para alguém. — e eu
‘ousei’ a questionar Lara se ela estava pronta para irmos. A bicha apertou o
braço no pacotinho quando Naila ameaçou pegá-la, eu ri de nervoso, muito
nervoso mesmo, e Naila a fitou com compreensão. Lara estava pronta para
morder quem quer que ameaçasse tirar aquele bebê de seus braços.

— Cuidado com o que vai me dizer... — ela diz aflita caminhando pra lá e
pra cá ninando a menina enquanto eu permanecia do mesmo jeito que estava
há trinta minutos. Sentado no sofá da pequena sala da sede e esperando
notícias da mulher.
— Eu não vou dizer nada. — eu digo sorrindo dessa vez com humor. O
nervoso tinha passado e eu já estava conformado.
— Isso é bom. Muito bom. — ela diz na defensiva e eu concordo.
— Vem cá, senta aqui. — eu peço e ela logo obedece.
Beijo seu rosto, viro seu queixo para chegar em sua boca mantendo os
beijinhos, e chupo sua língua com saudade.
— Sinto saudades de ti quando a gente passa muito tempo sem um dengo.
Sinto sua falta.
— Eu também sinto. Muita! — ela fala e sorri. — Gostei do meu
comportamento hoje...
— “Seu comportamento”? Qual? O da moça altruísta? — eu sorrio e ela
ergue uma sobrancelha.
— Não. O momento em que eu consegui não te capar na frente de todo
mundo ao ver seu olhar de admiração para outra mulher. Achou a Naila
bonita. — ela diz e eu dou risada.
— É. Fiquei impressionado com a beleza dela, sim. Acho que é saudável isso
acontecer, Júnior é um exemplo disso, você sempre disse que o acha muito
bonito e ele realmente é. A questão é a seguinte: eu não fiquei de pau duro, e
nem desejei traçá-la, não me fantasiei te traindo, e sei que isso nunca vai
acontecer. Ela é bonita, mas você é muito mais, e tem outra: eu te amo, você
tem meu coração nas suas mãos, e ela não. Ponto pra você, um a zero! — eu
sussurro como se o bebê pudesse me ouvir e fosse impróprio e eu até achava
que era mesmo.
— Namoraria com ela?
— De jeito nenhum!
— Ué!? Por que não???
— Essa moça é filha de um filho da puta muito fodido. Aposto que seu
trabalho aqui é clandestino... se ela não dá conta de obedecer o pai, por mais
que ele seja um problemático e ela uma garota do povo e do bem, não seria
boa esposa pra mim. Não sei se você percebeu, mas eu tenho uma tara por
mulheres submissas que estão loucas para receberem ordens, que gostam de
obedecer, gostam de se ajoelhar, e você é assim, essa daí jamais será. Agora...
sabe quem gosta de mulher como ela? — eu questiono e ela sorri
perguntando. — Greg. Nanda era desse jeito... Greg amaria conhecê-la.
— Um belo par eles fazem que eu sei... — Lara parece parar pra pensar.
— Fazem mesmo.
— Então... ela te fez se lembrar da Nanda? — ela pergunta sorrindo e eu
volto a beijar sua boca.
— Eu te amo como nunca amei ninguém. Quem é Nanda? Às vezes você fala
umas coisas que não eu não entendo, coisas que não fazem sentido. Vou te
mostrar quando chegarmos no hotel, se a gente chegar no hotel, o quanto eu
te quero! Vou te deixar assada de tanto...
— Olha a menina!
— Eu tô falando baixinho, ela não está ouvindo! — eu digo e ela ri, mas
depois deixa seu sorriso morrer.
— Como aquela mulher sabia meu nome?
— Tem coisas que a gente nunca vai conseguir explicar. Vai ver é verdade e
ela tem esses lances de coisas espirituais e sabia de tua chegada, ou uma das
crianças foi correndo contar, você falou seu nome pra todos eles, os ensinou a
pronunciar que eu ouvi. Com ou sem ‘espiritualismo’ sei lá como se fala, eu
faria o mesmo que ela. Eu também entregaria meu filho para ele ter uma vida
melhor. Só quero que esteja ciente do quão difícil pode ser isso, vida.
Conversar com ela, educar, falar sobre sua origem... estou dizendo isso
porque você nunca foi mãe, eu já tenho experiência e você não, tô falando
pro seu bem. Será lindo amor, mas não será fácil, principalmente assim,
pequena! Está preparada para isso? Está preparada para as perguntas que ela
vai fazer quando crescer? Quando ela notar que “é diferente” de nós três?
Quando quiser saber da mãe sendo que “você será a mãe dela”?
— Estou!!! Tenho certeza que estou!!!
— Ok, e eu estarei do seu lado. Agora só mais uma coisa, está preparada
psicologicamente para a recepção da Allana e/ou para descobrir tipo, daqui
uns dias talvez, que você está grávida como sempre quis!? Já pensou na
possibilidade? Dois bebês pequenos em casa, tirando Allana...!?
— Já! — ela responde aflita. — Lidaremos com isso. Com Allana, e com
uma gravidez. Allana já tem a irmã que ela queriapara dividir os micos e se
tiver outro, talvez um menino para protegê-las,isso seria apenas o que eu
sempre quis contigo: um mundaréu de filhos. — sorrimos um para o outro. —
Diz que ficará do meu lado, que jamais vai me deixar, e que seremos felizes
só com as duas, caso descubramos que não possamos ter mais, ou com a
chegada de mais um, de repente gêmeos, trigêmeos, sei lá...
— “Até que a morte nos separe”, bebê, e eu garanto mais: Nem depois disso!
— eu digo, ela afirma com os olhinhos brilhando e eu volto a beijar a sua
boca, como sempre: completamente apaixonado por ela.
CAPÍTULO 15

SOBRE PAIS E FILHOS

— Por que não vamos esperar os resultados dos exames dela saírem, aqui? —
Lara pergunta assim que eu entrego o pacotinho em suas mãos, já no jato. Por
causa de seus saltos a peguei de seu colo para não enfartar ao vê-la se
equilibrando com suas botas de salto alto na altura do joelho. Não sabia como
essas mulheres conseguiam usar aquilo.
Ali acabava nossa lua-de-mel, e eu estava um tanto quanto triste porque,
bom, foram os melhores meses de minha existência. Mas eu estava também
muito feliz porque aproveitamos bastante.
— O médico vai nos mandar por e-mail tudo bonitinho, e eu quero estar em
São Paulo quando acontecer. Lá teremos tudo, caso ela tenha algo, teremos as
melhores ajudas. A parte difícil que foi a papelada da adoção nós já
resolvemos, agora é a saúde dela, quero estar lá para que a gente possa
resolver da melhor maneira, mas se Deus quiser, ela não tem nada. No
máximo uma anemia que rapidamente daremos um jeito. — eu digo
ajudando-a com sua bolsa pessoal e a bolsa da menina, e ela se senta.
O médico havia dito que estava segura para viajar, mas que os exames mais
detalhados iam demorar um pouco para sair. Fomos em uma clínica particular
em Harare e tirando os custos exorbitantes dos exames em geral, e das
vacinas que ela não havia tomado, incluindo a vacina para a viagem, a
papelada de adoção também me custara uns dez anos de trabalho e mais três
dias após o acontecimento na comunidade, mas eu pagaria o preço que fosse
para ver aquela mulher sorrir e para não devolver aquele pacotinho para
aquele lugar.
E em falar em acontecimento, a moça mãe do bebê faleceu no hospital por
insuficiência respiratória, mas isso eu não contei pra Lara. Combinei com
Naila de informá-la apenas o necessário, “o leve”. Por não ter nenhum
parente vivo, Naila colocou formalmente os registros que ela encontrou do
bebê — nem certidão de nascimento ela tinha. — no tal orfanato que era seu
xodó e que nem chegamos a conhecer, e a partir daí, Gardenno resolveu tudo
pra mim, lá mesmo do Brasil, e o resto apesar de caro, foi fácil.
O porquê que eu não quis contar para Lara da morte da mulher, eu não sabia,
mas claro que eu sabia que teria que contar uma hora ou outra. Achava que
ela já tinha ficado impressionada demais com o que tinha acontecido e não
precisava de mais.
O trajeto que fizemos durou mais de quinze horas. Paramos na Angola para
abastecer, esticar as pernas, e como Lara se recusou a fazer uma pausa em
algum hotel para descansar... trocamos de pilotos, e seguimos viagem. De
repente ela queria muito voltar para casa, tinha pressa de dar um lar para
aquele pacotinho. Eu só estava com medo de ela descobrir que a maternidade
“não era assim algo que ela tanto queria, ou não era o que pensava”, eu tive
Allana, eu estive com Nanda, eu sabia como era, mas ela não.
— Graças a Deus... que saudade da minha casinha... — Lara murmura horas
depois de todo nosso percurso de volta pra casa.
Eu não sabia ela, mas eu queria muito uma chuveirada e dormir...— apesar de
saber que nos preparavam uma surpresa. — eram oito da noite, nem se ela me
atacasse pelada na cama eu reagiria. — mentira.
— SURPRE... — a família começa a gritar assim que adentramos a sala de
casa, mas para ao fitar o pacotinho nas mãos de Lara, e o sinal que ela faz
para todos fazerem silêncio. É, eu havia avisado Tia da adoção porque ela
precisava preparar a casa para a chegada de um bebê, e também Greg, meus
pais, e Vitor.
Vitor, o único ainda sentado no sofá começa a rir. Primeiro baixinho, e
depois, gargalhando.
— Sim, minha gente... vamos todos falir em união. Eu juro que eu achei que
era trollagem. — ele resmunga, minha mãe e meu pai me abraçam
primeiramente, Allana depois, mas logo voltam a atenção para o pacotinho.
Sempre temi perder a atenção que eu tinha para o meu irmão, mas quem ia
me tirar aquilo era minha filha, e com razão. Ela merecia, era uma princesa.
—Santa mãe de Deus... — minha mãe desenrola Navih da manta que Lara
comprou para usar na viagem e fica aflita.
—Vocês adotaram mesmo, oficialmente? — meu pai pergunta e eu afirmo
enquanto minha mãe tirava a pequena dos braços de Lara com sua
autorização.
Enquanto ela vai de colo em colo eu cumprimento Júnior e Greg que também
nos esperavam e sorrio para a decoração com bexigas e comes e bebes.
— Ela é igual a Tia, não igual a Lara. — Allana resmunga e a Tia ri.
— A palavra é ‘negra’, filha, e você pode usá-la. É a bebê mais linda do
mundo!!! — Tia diz reivindicando sua vez de pegar o pacotinho.
— Lara achou que ficaria feliz. Enfim você vai ter com quem dividir os
micos, lembra?
— Lembro. — ela fala fitando o bebê e depois me encara. — Por que vocês
demoraram tanto? Mais um pouco e não chegam pro meu aniversário, sem
contar que não vieram me buscar.
— O modo como a Navih foi adotada foi bem traumático, — eu digo pra ela
e ganho a atenção de todos. — então achamos que a lua-de-mel acabou ali.
Mas estamos felizes porque aproveitamos bastante, aliás, como eu disse, nada
mudou.Você pode pedir uma viagem como presente de aniversário se quiser,
e nós iremos!
Eu garanto e ela fica feliz, mas permanece impactada com a chegada do bebê.
Podia jurar que faria um escândalo, mas não fez. Talvez Tia tenha preparado
a pequena e aquilo foi bom.
— Bom, está aí algo que não combina muito bem... lua-de-mel com bebês!!!
— Vitor ri de novo pegando a criança na sua vez e Lara faz uma careta de
propósito.
— E você, seja bem-vinda de volta! — eu me aproximo de Marcella que
esperava sua vez para pega Navih no colo e ela sorri após me abraçar. — É
muito bom ter você aqui.
— É muito bom estar de volta, sinto que essa é a minha família.
— É sim. Mas ainda não me conformo de ter perdido o meu casamento,
família não se abandona, nunca! — eu digo e Lara já encosta para ouvir a
conversa. — Foi convidada, devia ter ficado para a cerimônia.
— Não brigue com meu docinho, ela só estava triste! — Vitor a abraça pelas
costas para ouvir a conversa também e eu seguro o impulso de reclamar da
invasão dos dois. A nossa conversa era particular.
— Ela estava triste com você, não conosco! — eu falo, ele me encara com
uma cara de cachorrinho, e Marcella faz o mesmo e por isso Lara faz o
mesmo.
— Eu prometo que isso nunca mais vai se repetir. Quando eu abandoná-lo,
não sairei correndo, da próxima vez faço diferente. — ela diz, damos risadas
daquilo, e ele fica puto de “brincadeirinha”.
— Como é que é o negocio aí? — ele pergunta e ela ri ainda mais.
— E como está a vida de casados? Cadê a tal da “catarrentinha”? Não a
trouxe?
— Eu ainda não contei pra mamãe e pro papai. — ele fala quase sussurrando.
— Tá de brincadeira, certo?
— Não. Ainda não tivemos oportunidades de sentar e conversar, estava tudo
muito corrido por aqui. Teve essa recepção para a pequena bastardinha, tem o
aniversário da catarrenta número um que a mamãe já está organizando ao
poucos... falarei quando der.
— É Navih, Allana...
—... e Manu! — Marcella me completa sorrindo. — ele não chama criança
nenhuma pelo nome, dá uma raiva.
— Eu não gosto de criança.
— Você gosta sim!!! — eu falo e dou risada de sua cara. — Você só não vai
assumir nem tão cedo. Dá pra ver que está maluco por ela, eu aposto que ela
retirou de seu coração os pedaços que faltavam daquela barreira que você
deixou. — coloco a mão em seu ombro e ele ri.
— Ela só olha pra mim para pedir Baby Alive, é uma consumista mirim!
— A filha ideal pra você!!!
— É a filha ideal que vai me deixar pobre, mas eu gostei de algumas coisas
nela. Ela é tão inteligente como eu, sabe fazer contas, faz piadas mais
engraças que as minhas e não é mimada. — ele diz sorrindo feito bobo. —
Está louca para conhecer Allana!!!
— Alguma de vocês têm um espelho aí? — eu zombo e ela bufa. — Temos
aqui um investidor babão de olhos brilhantes que está louco para falir e eu
aposto que naquela mansão negra, o castelo do gêmeo das trevas, tem agora
um quarto rosa cheio de Baby Alive’s.
— Tem mesm... — Marcella já afirma rindo, mas para só com o olhar dele e
isso me faz rir de montão.
— Cagão!!! — eu evito gritar e ele fica puto.
— Se me zoar com relação a isso ou contar pra minha mãe, faço aquela
proposta de poliamor pra tua diarista!!!
— Faça. — eu puxo Lara e a posiciono na frente dele.
Lara ri, Marcella o encara, e ele continua me olhando nos olhos.
— Não, eu não vou fazer isso, ela vai dizer ‘não’ pra não te magoar.
— Ela vai dizer ‘não’ porque é louca por mim.
— Somos gêmeos, geneticamente ela louca por nós dois!!! — ele diz e eu
desisto segurando a risada, era um bananão aquele cara.
E antes de eu decidir me retirar para procurar o pacotinho e a princesinha que
estava morrendo de saudades do papai, Marcella hesita com o barulho de seu
celular e mostra estar chocada com a ligação que recebia, portanto fico. Com
a história da polícia brasileira na sua cola e seu ex-maluco, decido participar
da ligação.
— Quem é... — Vitor se inclina para ler sem disfarçar. Também temia por
ela. — “Vadia dos infernos”??? — ele pergunta, ela o encara com raiva e ele
dá uma risada alta. Até tento, mas não resisto e dou risada junto.
Era Flávia com certeza.
— Oooifloooor. — Marcella atende fingindo estar vesga de repente e Lara ri
com a mão na boca, essas mulheres não tinham escrúpulos nenhum com
relação a “ex’s” de seus homens.
— O quê? — ela para com a careta no ato e eu fico assustado, todos ficamos.
— Por que? Tá de brincadeira!? Nós estamos aqui, vamos só comer o bolinho
que a Tia fez para a Navih e estamos... meu Deus!!! Tudo bem... não, ele
estava recepcionando meus sogros, o Júnior e o Greg! O Vince, a Lara e o
bebê só chegaram agora, então... tudo bem, aguenta aí... claro, claro, relaxa,
sem problemas, Flávia, um beijo!
— O que há??? — Vitor parece assustado e Marcella respira fundo antes de
contar.
— A Manuella estava tendo um surto na casa da avó...
— Elas estão no Brasil? Nem me contou. — eu interrompo sem querer e ele
faz uma careta voltando a questionar Marcella.
— Estamos aqui o dia inteiro, já são quase nove horas... ela está pensando
que você... foi “viajar” de novo. Ela está pensando que...
—... que eu não vou mais voltar, claro. — Vitor diz extremamente triste.
— Flávia queria levá-la ao hospital, ela não quer parar de chorar, realmente
surtou. SE ela não estiver mentindo pra você desgrudar um pouco de mim,
não é!?
— Já falei que ela pode tentar o que quiser, não vai usar a menina para nos
separar, e eu espero que você pare de cair na pilha. Se for mentira, dou uns
tapas naquela cara dela e falo até amanhã, eu vou lá...
— Escuta. — Marcella levanta um pouco a voz porque Vitor foi falando e já
andando. — Ela disse que não sabia mais o que fazer, então a trouxe, estão
em um táxi na entrada do condomínio. — ela fala, ele afirma com a cabeça, e
quando ele vai, Marcella murcha.
— Fica em paz, ela não pode ser tão cara de pau de usar a menina para fazer
isso. — Lara diz e Marcella concorda com a cabeça dizendo que “esperava
que não...”
Me aproximo de Allana quando vejo minha mãe entregando Navih em seu
colo e admiro a cena. Lara tira o celular do bolso, Allana sorri para a foto e
eu fico extremamente feliz e aliviado, mas não digo nada. Eu nem sabia se
conseguiria ser mais feliz do que já estava sendo, achava que era impossível.
— Vou tirar as crianças daqui, se o clima passar, me chame. — Lara
resmunga quando Vitor entra em casa com a “catarrentinha” dele, ela pega a
Navih no colo, Allana pela mão, e sobe pro quarto.
E bom, não sei diariamente, mas naquele momento a pequenina era mesmo
uma catarrentinha. Acho que após vê-lo parou de chorar, mas ainda soluçava
forte, tinha seus olhos inchados demais, e mantinha sua cabecinha amarela
embaixo de sua garganta porque Vitor a pegou no colo. Era muito
pequenininha para os seus sete anos, e era linda, era a Allana todinha em uma
‘versão de carregar na bolsa’. A criança mais linda do mundo.
— Ah! Meu Deus, o que essa princesa tem??? Por que está chorando tanto,
meu amor??? — minha mãe se aproxima dela com carinho aparente, e meu
pai que não era bobo nem nada, nega com a cabeça inconformado como se
dissesse, “eu não estou acreditando nisso”.
— Mãe, essa é a Manuella, sua neta. — Vitor diz simplesmente e eu fico
admirado por sua coragem repentina.
Vejo Flávia entrar, achava eu que por recomendação dele, mas minha atenção
volta para a minha mãe que estava estática sem saber o que dizer ou como
reagir. Estava em choque.
Seus olhos passavam dele para a menina, Vitor apenas esperava, a pequena
continuava soluçando e segurando um choro sem fim, e o resto permanecia
como eu, aparentemente, todos seguravam a respiração.
— Não entendi.
— Ela é minha filha com a Flávia. — ele diz de novo, minha mãe encara
Flávia, volta a encarar Vitor, e Flávia se aproxima.
— Dá ela aqui, vou sair um pouquinho para vocês conversarem e depois eu
volto. — ela estende o braço e imediatamente a garota agarra o pescoço de
Vitor com força.
— NÃO QUERO! NÃO QUERO, ME SOLTA!!!
Flávia parece sentir uma dor absurda ao ouvir aquilo e deixa as mãos caírem
ao lado do corpo.
— Vem cá, Manu, seu pai precisa conversar com sua avó. Vamos lá em cima,
eu tenho um monte de maquiagem pra você! Vamos lá brincar um pouco até
seu pai terminar aqui.
— Ele vai embora...
— Não vai não, ele não vai sair daqui, eu prometo! Vamos só dar uns
minutos pra ele, daqui a pouco te trago de volta e vamos juntos comer um
bolo delicioso que a Tia fez.
— Você não vai embora, não é!? — a menina ignora Marcella por um
momento e encara o pai.
— Não, já te disse isso. Não vou embora nunca mais! Eu prometi a você,
sempre cumpro o que prometo! — ela o encara com um bico gigante e ainda
soluçando e depois deixa Marcella tirá-la de seu colo.
— Vem, Júnior! — Tia chama o filho, Greg vai junto, e meu pai se levanta
do sofá.
— Ok. Agora pode me explicar porque eu não estou entendendo. — minha
mãe diz parecendo furiosa, mas ainda falava baixo.
— Eu acho que posso explicar melhor. — Flávia toma a frente mesmo com a
cara da minha mãe não estando nada boa pro lado dela. — Vitor só descobriu
que era pai na Grécia, eu contei pra ele lá. Eu engravidei da Manu ainda na
época da faculdade e não contei nada porque... — Flávia vai dizendo, conta
tudo, achava eu que “tudo mesmo” porque falou por meia-hora, e quando
pareceu ter acabado, o silêncio reinou e aquilo me incomodou.
— Mas isso é um absurdo sem tamanho!!! — meu pai evita gritar. — Sete
anos!!! Onde já se viu??? Mas que pouca vergonha, isso é de uma baixaria
sem tamanho!!!
— O senhor sabe bem o filho que tinha!!!
— NÃO JUSTIFICA!!! — ele grita, eu fico assustado, e ele volta a baixar a
voz para manter a postura. — Não justifica, menina!!! Isso não se faz, a não
ser que o pai seja um psicopata, um meliante perigoso, qualquer coisa
parecida, tudo bem, mas não era o caso...
— Ele ia dizer que foi golpe da barriga! Muito provavelmente o senhor
também!!!
— E foi? — meu pai pergunta vermelho como um pimentão e Flávia trava
negando.
— Óbvio que não. Sempre tive uma vida boa, nunca faltou nada pra ela.
— Então porque isso era relevante??? Se não era golpe por que se preocupou
com o que íamos dizer???
— Porque eu tenho vergonha na minha cara e não precisava ouvir
aquilo!?!?!? Quem sabe...!? — Flávia chora extremamente nervosa. — Sabe
o que seu filho fez quando descobriu? Me ameaçou, me fez assinar um
documento que passava a guarda dela pra ele, tirou minha filha da casa da
avó dela, da escola dela, do convívio com os amigos, da cidade dela, da
rotina dela...
— Ué, nem entendi o porquê não te mandou para um presídio, está
reclamando??? Isso é o mínimo que ele deveria ter feito, eu faria pior!!! Se
fosse Vicente, faria pior! Aliás não era daquele gêmeo que você gostava? —
meu pai aponta pra mim. — Pensa que eu não me lembro de você!? Não saía
de nossa casa, quando ele conheceu a Nanda você ficava sempre o cercando
quando ela não estava por perto, o Vitor sim, gostava de você, mas você dava
bola!? NÃO, fingia que não via! Olha menina... — meu pai suspira. — Veja
bem o que fala para se defender, você não tem nada a seu favor!!!
O QUÊ????
— Eu tenho a minha filha!!!
— A garota que você privou do pai, por capricho? Não, você não é mãe dela,
uma mãe jamais faria isso, mãe luta por seus direitos, processa, vai atrás, não
esconde como se o pai fosse um verme! Vitor tinha vinte e seis anos, já era
um homem, se não assumisse a responsabilidade eu mesmo o processava, eu
mesmo cuidaria da menina, o que você fez foi um absurdo sem tamanho!
SETE ANOS!!!
— Tudo bem. — minha mãe coloca a mão no peito do meu pai, e implora por
calma assim que Flávia ameaça voltar a gritar. — Se acalmem os dois, não
adianta gritar assim, a casa está cheia de crianças agora, graças a Deus! Era
tudo o que a gente mais queria, não é!? Muitos netos. — ela chora encarando
meu pai. — Já foi, não adianta se martirizar, fracos ou fortes, bons ou ruins, a
menina teve os motivos dela, e pelo jeito Vitor a perdoou! Se revoltar assim
faz mal, a menina sente, não ia ficar feliz se a gente arrumasse inimizade com
a mãe dela, quem ficaria!? Estamos bem... está tudo bem.
— Eu não me arrependo. Vocês vão me desculpar, mas eu não me arrependo.
— Flávia chorava e parecia sofrer demais. — O senhor não vai me julgar e
nunca mais levantar a voz para falar assim comigo. Depois que seu filho
ficou comigo, eu o peguei com mais quatro naquela noite da formatura, se
gostava mesmo de mim eu não sabia, mas me respeitar que é bom, nunca. Se
me amava jamais demonstrou, pelo menos não pra mim. Eu não coloquei
uma filha no mundo pra ser rejeitada e graças á mim, a Manu não foi. O
senhor pode não dizer em voz alta, mas sabe tanto quanto eu, e a senhora
também sabe, — ela encara minha mãe. — que Vitor me mandaria abortar, e
se eu não fizesse ia sumir no mundo deixando a responsabilidade pra vocês.
Até hoje ele não me chama pelo nome, nunca chamou, ele me chama de
vadia, vinte e quatro horas por dia! Ele não era do bem, ele não seria um bom
pai, não seria um bom namorado e foi por isso que ele me ligou umas dez mil
vezes fazendo a mesma pergunta, mas nunca pediu o DNA!!! Ele odeia
criança, sempre odiou, eu ainda estava com a Manu no ventre, eu podia ter
contado, mas todas as vezes que ele me ligava e eu repetia, “não, Vitor, eu já
disse, ela não é tua, eu transei contigo já estando grávida”, e ele suspirava de
alívio como se minha filha fosse uma doença, um câncer maligno, EU
JAMAIS CONTARIA, EU-NÃO-ME-ARREPENDO!!! Não me toca, não
chega perto de mim!!! — ela mostra a palma da mão pra mim quando eu
tento me aproximar para oferecer o ombro. Flávia estava muito abalada,
estava péssima. — E é por isso que ele tirou a minha filha de mim e hoje dá
tudo a ela, tudo o que eu nunca dei, e a trata como uma princesa, não é amor
de pai, é culpa. É culpa e ele sabe disso, se negar é sinal de que ele continua
um miserável desprezível como antigamente.
— Eu vou deixar você falar assim de mim, só hoje. — Vitor diz baixinho
ainda fitando os pés e de braços cruzados, como ficou o tempo todo. Quando
ele levanta a cabeça após falar e a encara, ela quase abaixa a dela. — Sei que
está nervosa, que meu pai não é uma das pessoas mais delicadas do mundo, e
que você está triste, mas se voltar a falar assim de mim, insinuar que eu sabia
que tinha uma filha e a ignorei de novo, porque não é a primeira vez que você
diz isso, ou voltar a repetir as palavras ‘Manuella e câncer maligno’ na
mesma frase, eu destruo você, eu acabo com você. Além de jamais chegar
perto dela de novo, eu te faço parar no farol para pedir esmolas, então meça
suas palavras, Flávia, meça bem as palavras. — ele diz em um tom nada
agradável e bem baixinho. — Ok. — ele respira fundo e continua. — Tudo já
foi dito, eu tenho uma filha linda que precisa ter a certeza de que eu jamais
vou desaparecer da vida dela de novo, e que está morrendo de saudades de
mim porque passei o dia todo aqui, então vou buscá-la. Hasta La Vista!
Vitor sai deixando o clima mais pesado do que estava antes e Flávia volta a
encarar meu pai.
— Viu como o senhor tem um filho lindo!? — ela sorri com desgosto. —
Uma ótima noite á todos.
Ela diz, sai, e antes de eu presenciar uma briga entre meus pai porque minha
mãe ficou puta com o descontrole do velho, eu vou atrás dela.
— Flávia!
— Me deixa em paz, Vicente.
— Eu sinto muito. — eu puxo-a pelo braço e ela se afasta. — Sinto muito por
tudo isso. Todo mundo erra, os dois erraram, e eu entendo vocês dois. Só me
desculpe pelo meu pai, o que ele sempre quis é que Vitor desse um neto a ele
também, deve estar frustrado, está nervoso, e eu o conheço, sei que vai se
desculpar.
— É aí que está, eu preciso me desculpar, Vitor precisa se desculpar... e isso
vai demorar pra acontecer. Seu irmão fez o que eu sempre temi, tirou a Manu
de mim, e me colocou como a culpada da história ameaçando a minha vida,
como ‘a vadia’. Eu tenho certeza que eu seria muito feliz se ela fosse sua,
vocês são muito parecidos e naquela noite eu bebi demais. Até o chamei de
Vince, essa é uma das razões pelas quais ele te odeia tanto, ele gostava de
mim, mas eu nunca o correspondi.

— E então? Tudo bem? — Lara questiona balançando o bebê e eu nego.


Estavam Vitor fitando a janela aberta e parecendo pensar,Manuella e Allana
sendo maquiadas em nossa cama por Marcellae ela perto do berço que Tia
mandou montar se preparando para colocar a pequena pra dormir.
— Você devia devolver a guarda e rasgar aqueles papéis. — falo me
aproximando da janela e ele nega.
— Não se intrometa. — ele diz baixinho como eu disse.
— Não tem que fazer isso desse jeito, não precisa forçar a situação, a menina
é tua, tenha sua presença sem ser na base da força, sem foder com a mãe dela,
você não precisa disso.
— Se entrar nessa briga, passarei por cima de você como passarei por cima
dela, se ela voltar a falar o que falou. Não é uma ameaça, é uma promessa.
Em dois segundos volto para o lado negro da força e faço você mijar na cama
como eu fazia antigamente. — ele diz e eu afirmo com a cabeça disfarçando
o horror que senti ao ouvir aquilo.
— Vem, vamos! — ele chama por Marcella ainda me encarando e pega a
menina no colo.
— Não. — Marcella diz demonstrando ter escutado e ele repete a ordem. —
Eu disse não. Ele tem razão, e eu não vou com você! — Marcella fala baixo
também por causa das crianças e ele volta a me encarar.
— Certo, você fez uma ótima escolha, igual ela. Cada dia que passa noto o
quão parecidas vocês são. — ele diz pra ela, me encara uma última vez e sai
com a menina.
— Desculpa, gente...
— Não tem que se desculpar, tem que parar de se desculpar quando ele faz
merda!!! — eu falo tentando não gritar.
— E você tem que parar de dar ordens a ele, não o conhece!? Ele jamais faria
isso, não correria o risco de dar a Flávia uma escolha e ficar longe da menina.
Ele é pai agora, e a ama. Jamais faria isso.
— Ela é a mãe dela, ele tem que tratá-la bem, pelo menos em nome da garota.
O que ela vai achar dele quando ver a mulher triste? Flávia fez merda, mas
está péssima, ela se culpa, ela sabe o quão grave foi sua atitude, ela tem
consciência. Allana vai pro teu quarto, filha, Lara e eu já vamos lá te botar
pra dormir e... ler Pollyana pra você! — eu digo quando vejo Allana atenta
ao que eu dizia.
— Ah, não! Eu quero comer o bolo da Tia!!!
— Então espere lá embaixo que comeremos juntos. — ela me obedece, e eu
volto a falar. — Vocês não podem viver em guerra!
— Não é guerra. Eu entendi seu lado, você está certo, mas eu também acho
que ele deva se proteger dela, que mãe faz o que ela fez, é uma maluca.
— Me dói te dizer isso, é agora a esposa dele, mas você tem que saber com
quem se casou!
— Vince, para, não faça isso! — Lara diz e eu a ignoro.
— Vitor não era um cara legal, e a Flávia está certa quando diz que ele jamais
teria assumido a menina. Hoje sim, ele mudou, mas eu teria feito a mesma
coisa, jamais faria “pai de meu filho um homem que jamais quis isso”. Ela
não pode ser condenada pra sempre, ele muito menos, eu sei, e por não poder
ser condenada pra sempre é que ele não deve tratá-la da maneira que tratou, e
muito menos tirar a menina dela. Isso não é ser pai, ele está fazendo errado,
se a Flávia está sofrendo, se tem alguém sofrendo: não está certo!!!
— Eu entendo isso, entendo, juro! Mas só o tempo vai fazê-lo repensar, não é
impondo as coisas, e vocês acabaram de fazer as pazes, isso não devia ter
acontecido, eu vi como ele olhou pra você. Vitor é uma pessoa melhor
quando vocês estão ‘de bem’, então vá se entender com ele ou é em mim, na
Manu e na própria Flávia que ele vai descontar se estiver em uma crise de
depressão fodida. Eu falo com ele a respeito de devolver a guarda da menina
como deve ser e parar de tratar mal aquela vadia, mas você trate de se
entender com ele. Gosta de ordens, estou te dando uma agora mesmo! — ela
diz brava e se levanta da cama para fugir da conversa.
— Você será uma péssima esposa!!! — eu digo segurando a risada e ela faz o
mesmo.
— Você é um péssimo marido!!!
— Não é nãããaao!!! — Lara cantarola e as duas riem uma para a outra.
— E você? Que tal soltar esse pacotinho e vir tomar um banho comigo. —
falo beijando seu pescoço quando Marcella sai e ela sorri.
— Ela tem razão, vai falar com ele. Tomaremos antes de ir dormir, ainda
temos uma história pra contar, um bolo pra comer, nossa, muita coisa até a
“hora do banho” chegar.
— Se a senhora Amaral ousar dizer que está cansada, cancelarei o casamento.
— Não dá mais pra cancelar, primeiro que já se passaram muitos dias, e
segundo que eu incluí uma cláusula no contrato que diz que jamais poderá
fazer isso e você assinou, portanto nem tente me ameaçar. Primeiro vamos às
responsabilidades, depois para o banho.
— Me dar banho também é uma responsabilidade tua. Coloque ela aí, vem
aqui só pouquinho! — eu digo, ela coloca a dorminhoca no berço, eu pego a
criatura no colo, e a beijo sentindo saudade. — Só uma rapidinha básica antes
de tudo, nosso amor em primeiro lugar sempre que possível. Uma está
dormindo, a outra está com os avós lá embaixo... eu te quero agora porque
estou carente de ti.
— Ah! Mentira que o bebê está carente! Não acredito... que péssima esposa
eu sou... — Lara murmura tirando a blusa, procura por meu pau para ver se
eu já estava pronto, e o pacotinho mia em protesto.
— É saudável deixá-la chorar um pouco... — eu dou risada, e como se
pudesse me ouvir, ela fica possessa e grita com toda a sua força para não
deixar o papai engolir a mamãe viva.
— Caralho! Que garganta poderosa! — eu exclamo e Lara ri. — Tô fodido,
tô muito fodido!!!
— Relaxa, ela já vai dormir... — ela diz esperançosa, eu afirmo já
conformado, e deixo ela lá para encontrar Allana.
— E aí, nem tive muito tempo pra falar contigo, tudo bem?
Encontro Greg conversando com Júnior na cozinha e ele afirma. Tia que
estava arrumando os bolos em uma bandeja, termina seu trabalho e sai.
— Tudo ótimo e você.
— Bem, na medida do possível. Poderemos conversar sobre aquele assunto
depois porque agora estou cansado, mas quando achar que está pronto, nós
resolveremos. Se não confiar que eu consiga o local, peço para alguém... —
eu digo, mas paro de falar quando vejo Júnior negar alguma coisa.
— Conte. — ele diz batendo no ombro dele, e sai para nos deixar á sós na
cozinha.
— Me perdoe, já peço de antemão. Fiz algo...
— Pegou cabelo dela...
— Sim. — ele diz e eu fico puto, mas espero ele terminar de falar. —
Enquanto estava fora eu... peguei um punhadinho de cabelo dela, mas
acredite você ou não, não consegui fazer isso escondido, até pensei, mas não
consegui, eu sabia que era muito errado. Ela veio me questionar a respeito,
você conhece a filha que tem, é igual a mãe, ela fala mesmo, não liga pra
nada. Perguntou pra mim o porquê que eu queria um teste sendo que ela era
tua filha e não minha. Me expliquei com cuidado e como pude, ela me contou
que você disse que queria uma resposta quando chegasse porque não faria
aquilo se ela não quisesse, e quando eu perguntei a ela, ela disse que ia te
falar que não ia aceitar porque odeia hospitais e médicos. Eu entrei em
pânico, e... disse a ela que tinha uma maneira de fazer aquilo sem ela precisar
ir até lá, que era só ela me dar a escova de cabelo dela, então ela foi correndo
buscar afinal, desse modo era muito mais fácil. Essa é a hora que você me
soca e me manda pro pronto socorro, pode fazer isso, eu mesmo quero muito
que você faça isso. — Greg confessa e pela primeira vez posso olhar bem nos
seus olhos. Estive entretido durante a noite toda, aquela era a primeira vez
que eu o encarava com atenção. Estava abatido, triste, e decepcionado.
— Não vou te agredir, já está feito. Menos mal que você não tenha tocado
nela ou nas coisas dela sem seu consentimento, se tivesse feito isso eu jamais
perdoaria você, mas eu nem preciso perguntar o resultado não é!? Eu sei que
ela é minha, e estou vendo em sua face a decepção e a tristeza.
— Eu não tenho mais nada na vida, quer dizer, eu não tinha antes e agora
nem a esperança ficou, não me sobrou nada. Júnior é muito bom e se esforça
demais, mas eu não tenho mais forças pra continuar, não sou forte como
você, não tenho uma diarista gostosa na minha vida, não tenho família, não
tenho irmãos querendo fazer as pazes para a minha vida ficar completa, não
tenho nada.
— Você tem a mim, tem Allana, têm nossa família. Já faz alguns anos que
nós somos uma família.
— Você não me preenche. Não pense que falo por mal, não é isso, não é. Eu
amo você, amo muito, amo muito Allana, amo essa família... isso é até algo
que o Júnior me fez parar pra pensar, “o que me preenche”? Ele fez eu me
questionar. Vocês? Meu trabalho? As pedras bregas que eu gosto de fazer e
dar para as pessoas que eu amo? — ele diz e dá risada. — Quem sabe
pintura!? Nanda amava pintar... talvez a leitura? Algum esporte? Cozinhar?
Caminhar? Viajar? Vince, nada disso me preenche, e eu não quero mais viver
vazio.
— Não fala uma merda dessas, todo mundo tem problemas, se ainda não
encontrou algo que te preencha, procure, porra! Você não é fraco, muito pelo
contrário, não é covarde, você precisa de ajuda, e precisa encontrar esse lance
aí que te preencha. Urgentemente.
— Agradeço a você, por não guardar mágoas de mim, mas você não pode me
ajudar, Júnior não pode, ninguém pode! Essa luta é só minha e por ser minha,
eu escolho como enfrentá-la. — ele respira fundo, se levanta e me abraça. —
Vou comer o bolo da Tia e ir pra casa.
— Fique aqui essa noite, o quarto da Tia estará vazio, não fique sozinho.
— Não farei nenhuma estupidez, e não durmo fora de casa. Gosto do meu
apartamento e já acostumei a ficar sozinho.
— Eu estou pedindo.
— E eu estou dizendo não. — ele responde e sai. Aquela noite estava sendo
longa demais pra mim.
Paro pra pensar em sua atitude e não posso deixar de comparar com a minha.
Aquela tristeza profunda eu já havia sentido, Greg não podia viver daquela
forma, eu sabia como era, sentia que precisava ajudá-lo ou poderia perder
meu amigo, e se algo acontecesse sem que eu fizesse nada, eu jamais me
perdoaria, por isso tenho uma ideia bizarra, mas uma ideia... e me sinto feliz
ao pegar o celular e colocá-la em prática.
Assim que chego na sala encontro todos comendo e me sirvo. Era bolo de
chocolate, óbvio que eu ia comer.
— Filha, já perguntou pro tio Greg o que ele vai te dar de presente de
aniversário??? — eu dou dessas automaticamente o obrigando a vir e ele me
encara seriamente, mas responde a pequena com amor quando ela pergunta
entusiasmada.
Me sirvo após Greg fazer o mesmo, me sento no meio dele e de Vitor no
sofá, e sinto o climão. Marcella estava no outro sofá com meus pais, Allana,
Tia e Júnior.
— Enfim dormiu...
— Vá se acostumando. — Tia ri. — Essa será a noite mais longa de vocês!
— Ela já mostrou a que veio, sei que não dormirá a noite toda, sentirá falta da
mãe. — Lara diz entristecida. — Mas se ela acordar eu venho aqui pra baixo
pra deixar o meu amor cansadinho dormir. — ela se senta ao meu lado, e me
abraça.
— Eu sou pai como você é mãe agora, se tiver que ficar acordada, ficaremos
os dois. — eu digo e sou zoado por todos. “Paizão babão”, era o que falavam.
— Terminou? — ouço Vitor questionar baixinho a pequenina e ela balança a
cabeça. — Então vamos que está tarde, pedimos desculpas por “comer e
sair”, mas já vamos.
— Por que vocês não ficam aí? A Manu cabe na cama da Allana e teu
quarto... — Lara começa, mas ele já nega com a cabeça.
— Não, obrigado! Vou levá-la para a avó e ficar por lá pelo menos hoje, até a
tampinha entender que não vou “viajar” por aí e nunca mais voltar não é,
chorona!? — ele bagunça o cabelo da menina e ela ri confirmando. —
Cumprimente todos... vamos lá.
Ele manda, ela dá um beijinho em todo mundo e os dois vão embora
deixando Marcella para trás.
— É sério que ele fez isso? — Greg questiona fitando uma Marcella magoada
e ela afirma.
— Ele está chateado, vai passar. Acho vou pra casa da minha mãe, — ela diz
se levantando. — aproveito e mato a saudade.
— Não. Você vai ficar, sabe que precisa ficar. — eu falo e ela segura o
impulso de me fazer uma careta. — Pode ficar á vontade no quarto onde
ficou aquele dia, já é de casa, sinta-se em casa portanto. — eu digo, ela
cumprimenta á todos nos desejando uma ótima noite, e... sobe pro quarto pra
chorar. Mulheres.
Aproveito a deixa quando termino de comer, levo Allana junto com Lara para
se preparar para dormir, Lara começa a contar sua história e eu que me deitei
com a pequenina para matar a saudade, nem vi quando apaguei. Dormi
ouvindo a história também, e pior, sem tomar um banho, eu estava acabado.
Quando despertei já eram dez horas da manhã, saí da cama da Allana na
ponta dos pés e encontrei a pilantra apagada junto com o pacotinho em nossa
cama. Para ela não estar no berço devia ter dado uma trabalheira de
madrugada, e a filha da puta não me chamou...
Tomo um banho longo, coloco uma roupa decente, e devolvo o pacotinho pro
berço.
— Tá acordada? — sussurro quando ela toca em minha cintura ao abraçá-la
por trás. Ela só balança a cabeça.
— Por que não me chamou? Eu ia te ajudar a cuidar da pequena de
madrugada.
— Ela não deu trabalho algum, acordou uma vez só depois que dormiu. Eu
dei a mamadeira que a Tia deixou pronta e ela voltou a dormir rapidinho, não
precisei da sua ajuda, e vi que você estava cansado demais...
— Mas dá próxima vez não faça isso, quero te ajudar, é meu direito
participar.
— Tudo bem, desculpe! — ela se vira pra mim, eu beijo sua boca com
vontade, e logo me desfaço de sua camisola.
Colo seu corpo no meu puxando-a pela cintura, perco a noção por causa do
tesão e de sua respiração ofegante, e ela sobe em mim rapidamente, e sem eu
mandar.
O laço da bermuda ela desfaz, se apoia com as mãos na cama para levantar o
quadril, coloca meu pau pra fora olhando nos meus olhos, e senta gostoso
gemendo baixinho.
— Rebola pra mim. Isso... — eu peço com as mãos como garras em suas
coxas e ela obedece. Aquela cena era uma das que eu mais amava no mundo.
Meu pau enterrado nela por inteiro, seus seios a mostra, e seu semblante
deixando claro o que sentia: muito tesão.
— Quem pode ser? — ela murmura quando meu celular apita e eu me lembro
da noite de ontem, por isso não digo nada.
— Não deve ser nada de importante... só cavalga... — eu falo, mas como a
filha da puta me conhecia, ela logo para pra se esticar e pegar o celular. É por
isso que escondo o rosto no travesseiro e me preparo para a crise.
Mas a crise não vem...
— Quem era? — pergunto com medo e sorrio.
— Ninguém que importa! — ela diz, eu tiro o travesseiro do rosto, e a vejo
me encarando enquanto rebolava gostoso pra mim. Não parecia puta da vida,
mas não estava “normal”, vai ver era um e-mail qualquer e não a mensagem
da Naila respondendo se viria para o aniversário da Allana. Sim, mandei
mensagem pra ela, eu tinha esperanças — uma esperança boba demais. — de
que Greg se encantasse por ela... vai que cola, certo!?
CAPÍTULO 16

UMA SEMANA DEPOIS - CUPIDO

— Olha, vó... vê se eu posso com isso!!! — Allana desce as escadas correndo


e aponta para o próprio vestido de cetim cor-de-rosa, ela só entende o que a
neta queria dizer quando Lara desce atrás, mais devagar por carregar Navih, e
vestindo o mesmo vestido, com Navih do mesmo jeito.
— Ahhh!!! Não!!! — eu evito gritar, mas não me contenho. — Vocês estão
maravilhosas!!! — Lara havia colocado um laço rosa no cabelo solto de
Allana, um laço no dela, e outro na cabecinha do pacotinho, estavam lindas.
Faço minha mãe tirar uma foto nossa no sofá e me sinto completo, eu tinha a
família mais linda do mundo.
A preparação da festa da pequenina começara há dias atrás, desde que minha
mãe e meu pai voltaram da Grécia para casa porque decidiram partir só após
o aniversário dela, ‘para não ficar de vai-e-vem’, palavras deles. A semana
também seguiu tranquilamente. Eu pensei que Navih seria uma versão Allana
mais chorona, mas não, deu trabalho só nos primeiros dias... parece que foi se
acostumando com Lara, comigo, com o ambiente, e então se acalmou. Os
resultados dos exames dela, como eu suspeitei, indicou uma anemia muito
além do esperado devido sua dieta fraca, e então mudamos por conselho do
médico, toda a sua alimentação. Além do leite especial, Navih precisava
tomar remédios específicos em horários específicos, vitaminas manipuladas
pra repôr nutrientes e melhorar a sua saúde rapidamente, e saimos da clínica
com a promessa de que até sua pele e brilho dos seus olhos mudaria. Quem
olhava pra ela via o quanto estava fraquinha mesmo ela sendo bem
bochechuda, o meu pacotinho.
E falando em “brilho nos olhos”, Greg, — que já não tinha mais, mas não era
por causa de anemia infelizmente. — desapareceu por completo e só
respondeu meu chamado ontem de noite confirmando que viria. Ele só
atendia o Júnior, só falava com ele, e por isso fiquei tranquilo. Já Vitor eu
sabia que estava em São Paulo porque confirmou com nossos pais que
também participaria da festa de sua sobrinha, que Manuella não via a hora de
chegar o dia porque amava festa, e que por ela e por Allana viria. Agora
como ele estava com Marcella eu não sabia dizer, afinal, na manhã seguinte
ela já havia saído de casa e eu não sabia para onde ela teria ido. Liguei para o
Vitor, ameaçei ligar para a polícia, mas ele me fez não fazer isso — foi
grosso comigo no telefone me mandando não me meter, DE NOVO. —
porque era perigoso, disse que Marcella tinha que manter distância da polícia
brasileira. Avisou que ia procurar por ela, garantiu que a encontraria, e
desligou.
Agora o Júnior... bom... aquele psicológo “fajuto” que de fajuto não tinha
absolutamente nada, já havia colocado uma aliança em Vivi e emplacado um
romance “bem louco” como ele mesmo disse ao anunciar, e ainda afirmou no
particular, que “agora o Murilinho tinha dona”, o que me fez rir muito.
— Me dê ela um pouco, vá ajudar sua sogra! — eu pego o pacotinho de Lara
e ela obedece porque na hora minha mãe confirma que precisava mesmo, pois
não sabia o que faria para colar ‘aquelas fitas’, ‘naquele lugar’. Eu nem sabia
do que ela estava falando, mas a decoração cor-de-rosa da Allana estava
linda. Tudo rosa. Minha vida dali pra frente seria tudo cor-de-rosa.
— Boa tarde, família. — Vitor de repente entra pela porta da frente, e... não
foi bem seu semblante “hoje eu tô de bem com a vida”, que me chamou
atenção.
Marcella e Flávia entraram logo atrás dele, enquanto ele caminhava com
Manuella de mãos dadas. A pequena tentava equilibrar um presente maior
que ela nos braços e aquilo também não foi capaz de me deixar em transe
como a entrada das duas deixou.
— Aqui. EU que escolhi. — Manuella se aproxima de Allana e por causa do
tamanho, praticamente o joga nos braços da pequenina.
— O que é? — Allana pergunta e Manuella sorri balançando seu vestido
azul. Estava muito linda.
— Abra, ué!
— Bom, se seu pai quem deu, aposto que é uma boneca.
— Bom, você errou! E-RROU!!! — a menina grita e Allana parece ter uma
síncope com o susto.
— Por que você está gritando???
— Meu pai bem disse que você ia dizer ‘boneca’.
— Ora essa, ele só me dá isso.
— Mas foi EU quem comprou, fiz um investimento!
— Tá bem! — Allana resmunga “assustada” com os olhos arregalados e
ameaça se afastar.
— Onde você vai?
— Vou guardar. É só no final da festa que as pessoas abrem os presentes, não
sabia não!? — Allana diz com a mão na cintura e pequena Manu fita o pai
sem entender.
— É isso mesmo, Manu, só depois da festa! — Vitor diz segurando o riso e
ela faz uma cara de decepção.
— Credo que coisa mais chata! Dá proxima não invisto mais nada!!! Eu
gastei tudo e ela nem vai abrir! — a menina tira de dentro da bolsinha que
carregava no ombro uma agendinha lilás. — Olha isso! — ela mostra ao pai.
— Isso é... isso é... isso é o quê mesmo? — ela sussurra pensando que
ninguém poderia ouvir fazendo Vitor abaixar.
— Prejuízo. — ele diz gargalhando e ela olha torto para Allana. — Mas não
esquenta, o presente é dela, ela tem que abrir quando quiser. Você notou que
chegou e não cumprimentou ninguém? Vamos lá...
Ele a faz dar um ‘oi’ pra todo mundo e as duas que estavam paralisadas
fitando o surto da pequenina, fazem o mesmo. Meu pai que entra na sala logo
em seguida cumprimenta Flávia normalmente e aquilo me deixa muito
aliviado, mas não digo nada.
— Oi. — ele se aproxima para falar comigo na sua vez e eu balanço a cabeça.
— Oi.
— Preciso me desculpar com você. — ele diz na frente de todos, mas parecia
que ninguém estava prestando atenção, mas só parecia, estava todo mundo
ouvindo.
— Não se preocupe.
— Me preocupo sim. Você tinha razão, e... foi pensando no que você disse
que eu... — ele começa a dizer entristecido.
—... que você deixou a Flávia em paz e até a trouxe para me mostrar isso, me
mostrar como você é um anjinho... — sou irônico, não resisto, mas fico puto
quando ele começa a gargalhar.
— Não, cara!!! Que mané anjinho! — ele diz e ri ainda mais, não estava se
aguentando. Sua risada era muito verdadeira e por causa daquilo, todo mundo
começou a segurar o riso. Menos eu, eu não estava achando nada engraçado.
— Não fiz nada, não mudei nada, não retirei nada e nem vou. Vince você
estava certo naquela noite, a respeito do que disse pra mim, porque você é
correto. Você é demais correto, e eu pensei muito, por você. Me entendi com
a Flávia, e não vamos mais brigar, não vamos continuar com aquela guerra
idiota.
— É, não pode brigar com a mamãe. — Manuella diz e ele sorri pra ela.
— Você é o correto aqui, eu não e era esse meu problema, irmão. Briguei
contigo de novo porque eu sou um babaca na maioria das vezes e você é
correto, eu sempre quis ser como você, correto desse jeito, cheio de
príncipios, sempre achei isso bonito em você, e não era só isso. Eu queria ser
como você, ter a tua vida, ter até a tua mulher. — isso ele fala baixinho. —
Imaginei que também queria uma companheira assim, porque é a que você
tem, bonitinha, abaixa a cabeça, que fala “sim, senhor, meu senhor”, e foi por
isso que me desentendi com a Marcella também, porque bom, já vimos que
ela não é assim, não é!? — ele ri. — Eu preciso parar de querer o que você
tem, e ser o que você é, e... olha, é muito mais divertido ser eu mesmo. A
guarda é minha, não vou mais brigar com a Flávia, minha filha, ela, e a avó
morarão por perto, e eu não vou mais magoar Marcella, sei que se importa
com ela como eu me importo com a diarista, e assim ficaremos bem. Só que
eu não sou você então não exija de mim, atitudes que você teria. Todo mundo
erra, eu mais do que todo mundo, sei que quer me proteger, às vezes me
matar, mas na maioria das vezes é só me proteger, mas eu vou ficar bem. Eu
prometo!
— Então você veio me dizer que está tudo bem, mas que “nada mudou”, mas
que “está tudo bem” mesmo assim. — tento não rir, mas ele no ato não se
segura, ri mais ainda.
— Isso. E só pra te ajudar a aceitar a ideia, eu tive um papo longo com meu
futuro sócio, o Júnior. Ele é realmente bom, vou recuperar toda essa grana
“perdida” em Baby Alive logo, logo.
— Certo, Vitor.
— Certo, Vicente! — ele diz batendo no meu ombro, se afasta para dar
atenção á sua pequena investidora, e eu fico no meio da sala, parado, sem
saber se eu ria ou se chorava.
Marcella e Flávia me encaravam com uma cara de: “Viu... é isso mesmo,
aceita que dói menos”. Eu merecia.
— Chegamos!!! — Júnior chega com Vivi e Greg ao seu lado e dali posso
sentir seu perfume. Ele estava “muito arrumado” para uma festa de criança, o
paspalho. Estava apaixonado aquele menino que eu já vi miudinho, eu estava
ficando velho.
— E então??? — ele se aproxima após dar um beijo e um presente para
Allana, erguendo a gola da camisa chique e eu dou risada.
— Tá arrumadão hein, parceiro!
— Tô com a gata, né!? Preciso ter presença.
— Ele fica bem até de roupa velha, é um bobão. Tudo bem, Vince? — Vivi
me cumprimenta e eu sorrio. Ela era muito mais velha que ele, mas
compensava bastante no visual porque ele era muito mais alto.
— Como vai? — vejo Greg se aproximar após cumprimentar todos e também
entregar um presente para Allana. Dois na verdade, eram duas embalagens.
— Bem e você?
— Tudo bem. O que escreveu no cristal dela? — pergunto encarando Allana
que dividia seu tempo em arrumar tudo como Lara mandou, e explicar a
Manuella o porquê que presente não se abria antes do ‘parabéns’.
— “Vou amar você para sempre. Tio Greg.” — ele diz passando a mão na
frente da face de forma teatral.
— Na cor rosa? Ela ama rosa. — eu digo rindo e ele confirma.
— Na cor rosa. — ele fala e eu sinto meu celular vibrar.
Quando pego para ler vejo que é Naila anunciando estar a caminho, e meu
olhar após responder, cai da tela direto para o olhar crítico de minha esposa
ciumenta.
Desde aquela noite não falou nada. Era realmente um e-mail dela, e estava
aberto e lido, mas Lara não disse uma só palavra a respeito. Achava aquilo
estranho, mas pensei que talvez simplesmente não quisesse brigar por causa
de um e-mail convidando-a para um aniversário, ou estava se preparando
para se vingar da pior maneira possível, coisa que as mulheres faziam muito
bem. Das duas, uma.
E foi quando Naila chegou que eu me senti mais esperançoso, nunca havia
dado uma de cupido, aquilo era ridículo, mas tinha que dar certo.
— Bom, acho que é minha convidada especial... só um minuto. — eu digo á
todos quando Naila toca a campainha de casa.
Abro a porta e ela sorri um sorriso branquissímo e charmoso.
— Olá, Vicente! — ela murmura com seu sotaque ao me cumprimentar.
— Sei que é muito ocupada, Naila, agradeço de coração por ter vindo até
aqui. É uma honra para mim e para Lara, recebê-la. Fiquei feliz que aceitou,
entre. — eu digo, ela nega com humildade e vai entrando.
Lara a cumprimenta primeiro, diz a mesma coisa que eu, e eu a apresento.
— Esta é Naila, a moça que ajudou a Lara com seu TCC e que nos ajudou a
adotar Navih, ela intermediou tudo... nos recepcionou muito bem na
comunidade, no Zimbábue. — eu falo e claro, minha mãe corre agradecer
pela vida da netinha mais nova.
Quando ela acaba com a choradeira eu continuo.
— Naila esse é Júnior, e essa é Vivi. Aquela é sua mãe, Tia, são nossos
amigos. — eu indico e ela os cumprimenta com dois beijos e não um só, o
que faz todo mundo ter aquela familiar confusão. — Esse é meu pai... meu
irmão, a filha dele, a mulher... essa é Flávia, minha amiga da faculdade,
estudamos juntos, eu, ela e a Vivi... e essa é minha princesa, Allana. Minha
filha. — eu continuo e quando ela recebe mais elogios e palavras de boas-
vindas, ela entrega seu presente para Allana, e eu passo para o Greg. Meu
alvo.
— E esse é Greg, meu sócio, na empresa.
— Prazer. — ela diz simplesmente e Greg reluta muito em decidir se
levantava ou se só estendia a mão. Quando ele se levanta, eu agradeço
mentalmente.
— Prazer é todo meu, seja bem-vinda. — ele diz sem muita emoção e ela
sorri concordando.
Quando a campainha toca de novo eu me afasto para atender, porque sabia
que eram meus sogros. Não puderam vir mais cedo, e nem quando
retornamos, porque seu Mauro tinha um exame para fazer ou algo parecido,
estava doente, mas Lara me deixou tranquilo quando disse que não era nada
de mais, e ainda levou Navih para eles conhecerem, após a ida dela á clínica.
Claro que dona Mag chorou até cansar e seu Mauro ficou sem palavras, mas
Lara disse que foi tudo bem. Eu não vi, fui direto a farmácia pegar os
medicamentos e depois só passei para buscá-la, não presenciei a choradeira.
Quando eles entram, eu os apresento a Naila, deixo todo mundo á vontade, e
na primeira oportunidade, Lara me puxa.
— Não fica muito esperançoso para não ficar triste quando vir que deu
errado. Não rolou um clima. — ela fala e eu afirmo.
— Não ficarei triste, não se preocupe comigo, princesa.
— Eu te amo, sempre irei me preocupar. — ela diz sorrindo e eu me invado
seu espaço pessoal com discrição.
— Você está tão linda, tão bonitinha cheia de controle emocional. — eu falo
e ela dá risada com a boca aberta, como fazem aquelas bruxas más dos
desenhos animados e filmes, mas do nada, não mais que de repente, ela para.
— Não vou mais brigar contigo, não vou bater boca sem motivo, brigar por
bobagem, principalmente por causa de um convite para um aniversário... se
fizer, apenas esconda bem...você tem uma mulher, e duas filhas, se quiser
destruir seu lar por causa de uma boceta estrageira, o azar é todo seu, e só
seu. Só não me deixe saber, porque se eu souber, pego minhas filhas e
desapareço! — ela sussurra e aí eu fico puto. Faríamos aniversário de
relacionamento não me lembrava quando, mas ela sabia a data, era em breve.
E durante todos aqueles meses eu sempre dizia a ela, ‘faça qualquer coisa
para me provocar, só não me ameace’, mas ela sempre voltava a fazer aquilo.
— Vem cá. — pego em sua mão e a levo para a cozinha, ela só não reluta
porque poderiam nota a tensão entre nós. Ela me segue, entro no quarto da
Tia, e ela imediatamente se senta na cama.
Meu pau parecia querer estourar o zíper de minha calça, então eu não podia
apenas chupá-la para aliviar o estresse, ela teria que fazer algo por mim
também.
— Já mandei não me ameaçar...
— Se vai me foder, chupa primeiro. Quero tua língua em minha boceta, e
sem reclamar.
Ela diz com sua voz de vadia, bota a calcinha pro lado, e eu me ajoelho para
meter a boca.
Sua pele aveludada, mais o cheiro de seu hidrante, mais seu gosto natural era
sem igual. Ela ergue as pernas como faz quando já está pirando, e eu me
lambuzo chupando, lambendo, pegando, alisando seu ponto ‘G’, e sugando
tudo fazendo barulho de propósito.
— Assim... — ela fica de quatro contra minha vontade e me dá ordens. —...
isso... acha que é capaz de encontrar mulher melhor que eu? — eu digo ‘não’
balançando a cabeça e sigo para o beijo grego que sempre amei. — Pois é, eu
duvido você encontrar, boceta igual a essa não existe, só a minha, quer
dizer... a tua...
Ela continua murmurando, se levanta, me faz sentar, aponta o traseiro para a
porta que eu não havia trancado, e se inclina para focar em tirar meu pau pra
fora.
— Quem cuidaria tão bem de você? Quem cuidaria de tua vida como eu
cuido? — ela pergunta, tira a própria calcinha, passa a peça de forma
sedutora em meu nariz, e depois a joga dentro de minha camisa. — Quem
cuidaria de suas filhas? Sua comida? Suas roupas? Sua saúde? Seu tesão de
madrugada? Quem abriria as pernas pra tu entrar três, quatro, cinco da
manhã, e às vezes o tempo todo até amanhecer? Naila? Flávia? — ela diz me
olhando nos olhos, se vira, e mete meu pau em seu traseiro se preparando
para sentar totalmente em meu colo, deixando sua boceta liberada para eu
brincar. — Jaqueline? Sua cunhada, talvez? — ela pega minha mão quando
termina de sentar e me faz tocá-la de um jeito obsceno. — Tem fantasias com
elas?
— Não.
— Tem fantasias com sua cunhadinha que precisa de cuidados e proteção?
Gosta dessas com carinha decoitadinha, mas que de noite mostra a boceta e o
traseiro em um collant achatado para centenas de clientes em um privê? É
disso que gosta? Ou talvez seu lance seja a humanista que deixou bem claro
que dar pra você é só o mínimo do que ela desejaria... — faço-a cavalgar
enquanto escutava seus absurdos, e ela se estimula com a mão enquanto eu
controlava sua cintura. — Ou é pela loirinha que é a cópia do teu grande
amor do passado que queria você, mas como não teve, deu o golpe á longo
prazo no teu irmão? Traidoras, golpistas, putas disfarçadas, humanistas que
dão em cima de homem casado... do que você gosta, amor? Diz pra mim.
— Das empregadas vagabundas e ordinárias que dão em cima do patrão e
tentam de todo jeito engravidar, ou casar para poder mudar de vida.
— Ah, poxa! — ela geme. — Que sorte a minha! Sou uma guerreira, pode
parecer que sim, mas não foi muito difícil chegar aonde eu queria. Já não
disse que sempre amei os “garotos problemas”? Sou experiente, sei lidar. —
ela vai dizendo e vai gemendo enquanto eu ouvia e fodia seu traseiro. — Aí
conheci um cara que seu sobrenome era problema, e para a minha sorte era
rico, em dois tempos eu mudaria de vida e nadaria em grana. Sem contar que
o ‘problema’ é bom na foda. Hoje eu tenho um cartão sem limite na bolsa,
mudei de vida, e ainda sou bem comida. Eu sou a mulher mais feliz do
mundo!!!
— Vadia!
— Sua! Sua vadia. — ela diz me fazendo estapear sua boceta a mostra e eu
gozo minutos após ouvi-la gemendo bem baixinho e fazendo charme pra
mim.
Eu quase não conseguia respirar direito, assim como ela.
— Nunca mais ameaçe me deixar. — eu digo com o rosto afundado no seu
pescoço quando ela apoia a nuca em meu ombro esquerdo.
— Farei isso toda as vezes que eu estiver excitada querendo que você apague
meu fogo com essa boca. Essa boca que é só minha e de mais ninguém, mas
nunca será sério, nunca vou te deixar, nunca mesmo. Sei que quis me
provocar, nunca me trairia, e eu só quis te provocar também. Já faz um tempo
que a gente não se ama assim, desde que chegamos, pelo menos não com esse
fogo todo, estava com saudade do meu ogro, do meu homem.
— Eu também estava. Eu te amo.
— Também te amo, amor!
— Ok. Então levanta, vamos voltar, todo mundo já imagina que viemos
transar, ou brigar por causa da chegada da mulher bonita.
— Espero que pensem que é por causa da chegada dela. — ela ri se
levantando do meu colo devagar.
— Meu amor, quando olharem pra você verão que transamos. — eu falo e ela
falta querer chorar. — Ei, ei, ei... — eu sussurro quando ela abre a porta após
fitar brevemente o espelho da Tia pendurado na parede. — A calcinha! Tá
doida? — tiro a peça de dentro da camisa e ela faz charme.
— Guarde de lembrança dessa noite inesquecível, ‘garoto problema’... — ela
ri e sai.
— Filha da puta, safada! Espero que comece a escorrer pelas pernas... —
não, não espero não.
(...)
— Lara, Tiana disse que foi você quem fizestes esses quitutes, estão
maravilhosos, minha amiga! Você tem um enome talento, estou acabando
com eles. — Naila que já falava floreando por causa do sotaque, agora
piorava porque mastigava enquanto a elogiava.
— Que isso! Imagina! Esse aí que você está comendo é uma simples torta...
— Lara começa parecendo humilde, mas depois zomba mostrando que a foda
anal a deixara completamente de bom humor e mansinha. —... que é mesmo
uma delícia e demorou horas pra ficar pronta, obrigada, minha amiga. — ela
fala, as duas riem, e eu vejo Marcella fazer uma careta sem que Naila
perceba, fazia aquilo só para a Lara ver.
Quando procuro por Allana vejo que ela já estava atrás da mesa “esperando”
a cantoria e totalmente impaciente. Aviso a Tia que logo entende que em
pouco tempo a pequenina surtaria nos fazendo passar vergonha, Lara escuta
as intruções e pega Navih do colo de dona Mag, e enquanto Tia não chega
com os docinhos que deviam ser servidos na hora, por recomendação da
chefe-mãe, analiso a postura de Greg e Naila. Não parecia estar dando certo,
um fingia que o outro não existia. Merda.
— Vamos lá, povo, vamos cantar!!! — eu anuncio quando a Tia volta, todos
se reúnem ao redor da mesa, Allana se ilumina, e a cantoria começa.
Não ligo de não ter ganhado o primeiro pedaço, pois quem ganhou foi a
boadrasta, ganho o segundo, Navih ganha o terceiro mesmo não podendo
comer, Tia o quarto, dona Norma finge ficar brava e por isso ganha o quinto e
daí por diante.
— Nós já vamos, temos um voo marcado, eu tenho um trabalho... — Vitor
me aborda junto de Flávia, Manu e Marcella e eu corcondo.
— Eu amei te conhecer, viu? — falo com a pequenina. — Fala para o seu pai
te trazer sempre! Vou morrer de saudades!
— Tudo bem, mas eu não trago mais presente nenhum pra minha prima! —
ela diz na lata e eu dou risada concordando.
— E então, quando nos veremos de novo? — pergunto pra ele.
— Depende da autora. — ele diz, eu não entendo a piada, e por isso ele ri
sozinho. — Hein... olha bem, seria um delicioso poli, não seria, fala sério!?
— ele diz aproveitando que Manuella foi de novo atasanar Allana, e enquanto
Marcella sorria sem graça, Flávia parecia puta.
— Eu não sei se você faz piada, ou brinca de falar coisas sérias, mas não
importa, tu é um sem noção.
— Eu tenho é um prazer inimaginável em te ver tímido. — ele ri e sussurra
no meu ouvido. — Agora vou levar minhas mulheres embora... fique aí com
as suas. Nos vemos no próximo capítulo dessa história fodida. E ah! Legal da
tua parte tentar juntar a refugiada e o depressivo, achei meio assim — ele faz
uma careta e eu me afasto para olhar pra cara dele. — um tanto absurdo tirar
a mulher da África para jogá-la nos braços do Greg, mas você conseguiu, eles
vão transar hoje. Você-é-meu-orgulho, maninho! — ele diz batendo em meu
ombro,me beija o rosto, me abraça, e segue seu caminho em direção a porta,
e por isso eu me sinto vazio. Extremamente vazio.
— Eu vou internar você.
— Por favor, faça isso, eu imploro!!! — ele ri de novo e vai.
— Ficarei por uns dias como convite do Vicente, Lara. Me mostraria São
Paulo!?
Ouço Naila questionar e Lara confirma animadamente. Enquanto comiam e
conversavam no sofá, Greg a encarava timidamente em alguns momentos, e
ela correspondia sempre que podia. Estava começando a dar certo? Ou
começou há certo tempo e eu não tinha notado!? Não sabia, mas estava feliz e
fiquei ainda mais com parte do diálogo que ouvi após aquela camaradagem
falsa. — da parte de minha esposa ciumenta, porque Naila estava sendo
bastante espontânea, pelo menos parecia.
— Não dê ouvidos a ela, Naila. O Fasano não é o melhor, é só o mais caro da
cidade...
— Ele é o melhor, Greg. Ele tem um camarão ao molho de vinho branco que
é o melhor do mundo! Não é, amor!? — Lara chama minha atenção e eu me
aproximo me sentando ao seu lado.
— É verdade. É caro sim, mas a comida é muito boa mesmo, nunca tinha ido,
Lara quem me levou!
— O melhor é o Varanda. Está entre os mais caros, mas é mais barato que
ele, e tem o melhor Kobe Bife do estado, o prato tem vários prêmios. — Greg
diz se inclinando pra frente e eu desvio meu olhar para não dar bobeira, eu
estava tão feliz, mas tão feliz, que não queria demonstrar e deixá-lo sem
graça por causa disso.
— Bom gente, não importa qual é o melhor atualmente, quando eu lançar o
meu restaurante, esses daí ficarão para trás! — Lara faz pose e eu dou risada,
era tão bonitinha que dava vontade de engolir.
— Minha filha realmente vai deixar esses restaurantes no chinelo!!! — dona
Mag diz ninando Navih.
— Mas você vai para esse lado... gastronomia tipo “cinco estrelas”!? — Naila
questiona bebendo seu refrigerante.
— Devia deixar o tema “free”. Lara sabe cozinhar de um tudo, devia fazer
alguma junção que lhe permitisse fazer de tudo. — Júnior dá sua opinião e
Lara concorda.
— Bom, de início eu quero muito me especializar no meu sonho que é
culinária francesa, mas realmente já pensei em popularizar e deixá-la
acessível, a preço popular, mas eu não sei. Nasci na favela, mas meu sonho
de chefe é servir para a “alta classe”, sabe!? Pode parecer “nada humilde” da
minha parte, mas os pratos franceses de requintes são minhas paixões, é o que
eu quero aprender a cozinhar...
— Eu acho que é apenas uma categoria das muitas que tem por aí. Você não
tem que ficar assim, isso não é ser ‘desumilde’. É como se eu fosse chefe
também, e amasse cachorro-quente, então minha categoria seria fastfood e
algo como... trailers, lanchonete, foodtrucks... certo!? Nenhuma comida é
‘menor que a outra’, são só diferentes e para pessoas diferentes.
— Sim, mas eu digo isso porque... bom... na verdade é medo mesmo, sabe!?
De parecer deslumbrada? Porque eu sinto vontade sim, de fazer algo mais...
acolhedor, familiar...
— Você pode ter uma rede dos dois tipos se quiser, capacidade você tem, só
não só pode se martirizar por ter que escolher, escolha seu sonho e pronto,
nada de ficar pensando “no que os outros vão pensar”, você nunca foi assim!
— eu falo abraçando a pequenina e ela se achega.
— Mas então!? — Júnior diz. — Já que estamos nesse tema, nessa onda
jantarzinho chique... bora para um japonês que é o que eu posso pagar! — ele
fala e rimos juntos.
— Eu não posso porque agora sou pai de uma recém-nascida também, então
estou um “velho caseiro”, fico em casa com a esposa porque ela está de
“resguardo”. — eu falo e todo mundo “acha fofinho”. — Mas, eu ficaria feliz
se vocês fosseme curtissem por nós.
— Bom, eu vim para conhecer São Paulo, e conhecer a pequenina, a raio-de-
sol ali... — Naila diz fitando Allana. — ela eu já conheci e amei, então agora
topo conhecer essa cidade tão famosa, logo tenho que voltar para os meus
pequenos, então preciso aproveitar. Também tô aceitando uma baladinha
brasileira. — Naila fala sorrindo.
— Quando você volta, Naila? — Júnior pergunta.
— Bom, acho que uma semana, talvez uma semana e meia as meninas
aguentam sem mim.
— É. Dá pra conhecer um pouquinho de São Paulo sim, talvez um amor
brasileiro... gosta de latinos, Naila? É solteira? — Júnior pergunta de novo e
ela ri.
— Eu curto sim, curto muito, vocês são lindos, e sim, sou solteira! Não tenho
tempo pra romance, infelizmente. — ela diz tímida.
— Mas assim, qual seu lance!? Um...
— Júnior. — eu chamo sua atenção e ele não entende.
— Estou sendo indiscreto!?
— Olha pra cara da Vivi! — eu falo, a Vivi volta seu olhar de tédio pra ele
automaticamente, e o garoto ri alto.
— Ah, minha tchutchuca, fica brava não, ciumenta. Tô querendo saber
porque tenho amigos solteiros, ora essa, a Naila terá uma companhia
romântica em Sampa.
— Não se preocupem, eu não vim atrás de companhia romântica.
— Veio atrás do quê? — Greg pergunta de repente e eu seguro a respiração.
— Eu vim porque recebi um convite de amigos especiais.
— Quem?
— Vicente e Lara! — Naila responde erguendo uma sobrancelha e ficamos
nós, olhando de um para o outro, aflitos, tentando entender se aquela era uma
conversa hostil, ou...
— Entendi.
— Entendeu o quê?
— O que você quis dizer.
— Ah! Certo. — Naila diz e bebe outro gole de seu refrigerante. — Mas
então, nós vamos ou não? Tenho pouco tempo.
— Vamos indo, Greg está de carro, pode ir com ele, assim vocês... terminam
esse papo tenso sobre “entendi, entendeu o quê”, um tanto confuso aí, de
vocês... — Júnior se levanta resmungando e nos cumprimenta, Vivi também,
Naila promete nos ver depois, pois estava instalada no hotel que fiz questão
de custear por causa do convite, e ninguém estranha quando Greg fica pra
trás, sentado no sofá como esteve o tempo todo, com a mesma postura.
— Ela não é a Nanda, nunca vai ser, nunca vai substitui-la.
— Ela é Naila. Uma mulher linda, solteira, de bom coração, e que está louca
para amar, é formada em recuperar e ajudar pessoas, quem sabe não segura
em sua mão enquanto você enfrenta esse luto eterno? Dê um pulo rápido
onde ela mora e atua, Greg, veja o que eu vi, sinta o que Lara e eu sentimos
ao visitar aquelas pessoas, e aí... você vai ver que será fácil esquecer um amor
que partiu. E não, não estou diminuindo a sua dor, eu sei como ela é, sei que
é horrível. Quero apenas te mostrar o quanto tem de casos piores por aí, dores
tão piores, que nossos “problemas” parecem minúsculos. Mas claro, só se
quiser, obviamente.
— Sabe de quem ela é filha?
— Sei.
— Já pensou eu chegando no Zimbábue e o pai dela me encarando com nojo
se perguntando onde foi que ele errou, e sem entender o porquê que sua
princesinha vivia no meio dos pobres e ainda queria se casar com um cara
mais branco que a luz do sol???
— Já, Greg. Já pensei nisso, e pensei muito. — eu dou risada. — E vou ter
que arrastar minha família pro Zimbábue de novo, porque eu não vou querer
perder essa cena!!!
EPÍLOGO

4 ANOS DEPOIS.

— Eu não acredito que minha cunhadinha favorita deixou a coleira no Brasil


e veio até Nova York sozinha... — Vitor diz com meio sorriso de canto de
boca demonstrando gostar do que via.
— É. Pois é. — ele se aproxima e beija o topo de minha cabeça de forma
protetora ao invés de pegar em minha mão estendida.
— Mas por que não me chamou? Eu teria ido até lá... poderíamos tratar disso
no coquetel de abertura...
— Você costuma ir até o cliente que deseja seus serviços? É você que os
procura?
— Não, mas...
—... Mas o que? Sou sua cunhadinha favorita, a privilegiada...?! — eu
questiono e ele ri. — Sou da família e tenho vantagens?!
— Seria uma gentileza.
— Não quero gentilezas, preciso da sua ajuda profissional. É de meu
interesse, por isso vim. — eu falo e ele assente. Preciso me concentrar para
não me perder na decoração de seu escritório, o lugar era lindo, eu nem sabia
como criei coragem para viajar sozinha e chegar até os Estados Unidos sem a
companhia e a ajuda de Vince. O mesmo Vince confuso que ficou cuidando
das filhas no Brasil, totalmente mexido e contrariado com a minha decisão de
vir sozinha mesmo não falando uma vírgula de inglês. Bom, para compensar,
posso dizer que meu francês tem dado pro gasto desde a minha temporada ao
lado de Françoise em Paris.
— O que precisa, chefe Lara Amaral? — ele questiona arrumando a gravata e
achando a situação engraçada.
— Dinheiro.
— Seja mais clara... — ele volta a se sentar e aponta para a cadeira á sua
frente querendo dizer que eu podia ‘ficar á vontade’.
— Eu quero que invista no restaurante, desde o coquetel. Desde agora. Quero
que o Villana seja o melhor restaurante do ramo no país. A parte que me
cabe, será o suficiente, sei que sou a melhor, estou preparada... Fui a melhor
do curso no Brasil, fiquei um ano ao lado de Françoise entre o Brasil e a
França, me especializei, você não vai perder dinheiro, mas eu preciso de
mais, preciso de mais e não vou pedir ao Vicente, não vou deixá-lo bancar
meu sonho. Não tenho cacife para pedir um empréstimo ao banco, pelo
menos não o valor que eu acho que preciso, mas eu tenho você. Escrevi
algumas ideias aqui... — eu tiro os documentos que redigi usando o word, da
bolsa, e ele o pega de minha mão bastante curioso. — Acho que pode analisar
e me dar um retorno com suas dicas e conselhos. Claro que pagarei pela sua
consultoria... você pode anotar o valor junto com os juros que vai tirar do
valor do empréstimo.
— Resumidamente... no que está pensando?
— Em um coquetel dentro de um estabelecimento totalmente reformado,
sofisticado e de alto nível, repleto de jornalistas e pessoas importantes. De
início tenho alguns amigos já, para a cozinha, para servir, para o bar, já
contratei lindas recepcionistas profissionais... mas estou pensando em
convidar um subchefe bom, o melhor que conheço, mas a proposta tem que
valer a pena, e sozinha eu não tenho proposta alguma, a base de salário dele
tem que ser ótima. — eu falo e ele concorda com a cabeça.
— Vou analisar seus planos e fazer uma proposta a você, mas tem que estar
ciente do que pode acontecer caso eu não tenha um retorno que cubra o que
eu vou custear mais meus juros. Acho que você não sabe bem como funciona
o meu trabalho, mas vou te explicar de um jeito fácil. Eu farei o melhor que
posso pelo seu negócio, você quer fazer um ‘luxuoso cinco estrelas’ em um
estabelecimento que está caindo aos pedaços no momento, e isso é muito
caro. Vou transformá-lo e realizar o seu sonho com alguns milhões, mas se
no período que eu determinar, você não me devolver o meu dinheiro, e os
juros que serão quase o triplo, o restaurante passará a ser meu, e de acordo
com o meu contrato: você será processada por isso. Você não quer pedir esse
valor ao Vince, e suponho que não me pedirá também, obviamente... mas se
aceitar na base do profissionalismo, responderá judicialmente na base do
profissionalismo. Passará o restante da vida trabalhando para me pagar se o
Vicente não assumir a sua dívida. Entende isso?
— Entendo. Conseguirei esse dinheiro em tempo recorde, não importa o seu
preço. Eu quero atrair consumidores que podem pagar seiscentos reais em um
prato de bolinhos mergulhados em uma sopa, e eu sou a melhor, vou
conseguir te devolver.
— Certo. — ele diz se levantando e eu respondo seu gesto fazendo o mesmo.
— Eu te retorno, cunhadinha, preciso estudar isso. — ele me estende a mão e
eu aperto. — Uma ex-diarista agora empresária... será um prazer fazer parte
disso, já me vejo na capa do The New York Times com a seguinte manchete:
“Investidor brasileiro número um de Nova York tranforma uma diarista na
maior chefe de cozinha francesa da América Latina!
—... do mundo! Quero que escreva ‘do mundo’! — eu falo e ele ri. — A
maior chefe da culinária francesa é brasileira!!!
— Você é a melhor, tão audaciosa... do jeito que eu gosto. — ele não
consegue parar de rir e eu gosto daquilo.
— Vai rindo, Vitor, vai duvidando!!! Gosto quando as pessoas duvidam de
mim, desafios me motivam.
— Mas quem disse que eu duvido!? Jamais aceitaria um negócio desse porte
se eu não acreditasse que você é capaz, se tem uma coisa que eu não faço é
brincar com dinheiro. Sem contar que sua garantia é seu marido, se você
falhar, ele vai falir! Estou rindo mesmo porque... você já é sexy e
extremamente gostosa naturalmente, mas assim, tão... independente e cheia
de si, fica um pecado! Costumo dar risadas nervosas o tempo todo quando
fico extremamente excitado.
— Deveria me respeitar, eu pertenço a seu irmão.
— Eu já te disse uma vez, naquela cozinha: você não pertence a ninguém.
— Eu pertenço a ele. — eu reforço e ele sorri. — De corpo e alma,
completamente. Dos pés a cabeça, de dentro pra fora. Um dia vai encontrar
uma mulher que te ofereça o ‘tudo’ também, e então vai se contentar.
— Eu já tenho.
— Jura!?
— Juro.
— Se tivesse, seria menos cachorro.
— Sabia que eu sempre dividi tudo com meu irmão, desde pequeno!? Ainda
aceito dividir.
— Quase tudo. Eu não...
— Bom... ele me avisou que você estava vindo e disse para eu cuidar de você
com muito carinho. — ele diz tirando do bolso o seu celular e mostra a
conversa onde a mensagem “cuida dela com carinho” estava na janela de uma
conversa cuja foto era eu ao lado de Navih e Allana. O nome do contato era
“maninho”. — Era isso o que um dia dizia pro outro sempre que
emprestávamos uma roupa, sapato, ou qualquer objeto pessoal. Antes de tudo
desandar éramos melhores amigos e dividíamos tudo. Isso quer dizer...
— Que pela primeira vez você vai levar um fora de uma mulher que ama teu
irmão. — eu falo e ele ri alto. — Pela primeira vez você não vai tomar o que
é dele. E com certeza nesse exato momento ele está te dando uma lição,
porque ele me conhece, sabe que é o único que pode me satisfazer, e falou
isso só para você tentar e quebrar a cara. Vince também ama ser como é,
assim como você que ama ser o gêmeo do mal, ele sente um tesão imenso em
jogar na tua cara que apesar de tentar, você jamais terá tudo o que ele tem,
muito menos eu.
— Eu te odeio.
— Não, não odeia não, muito pelo contrário. Boa tarde, doutor Amaral. Nos
vemos no coquetel do melhor restaurante francês do mundo!

— Ai que saudade!!! — desembarco com o jato do Vitor em Guarulhos e


encontro a pré-adolescente mais linda do mundo, meu bebê gorduchinho de
laço na cabeça, e meu maridão delícia todo cheio de saudade. — Como é
bom voltar pra casa!!!
— É realmente muito reconfortante ter você de volta. — Vince diz sem
esboçar sorriso nenhum e minha calcinha fica encharcada. Seu abraço
apertado e seu beijo discreto me desequilibraram como se fosse a primeira a
vez.
— E você? Se comportou enquanto estive fora? — questiono Allana e ela dá
de ombros.
— Eu fiz o melhor que pude.
— Eu aposto que sim!!! — ela sorri, me abraça, me beija e ao contrário do
que eu imaginava, nem reclama de minha demora.
Allana me tinha como aliada, quanto mais ela crescia, mais Vince a
encurralava tentando proteger a ‘aborrecente’. Seus quinze anos estavam
gritando e só eu ouvia. Só o que Vince conseguia ver era sua princesinha
virando a ‘princesinha do mundo’ e não mais do papai e ele odiava isso.
— E você pequenina... quem te vestiu assim tão linda???
— O papai. — Navih diz simplesmente e eu sorrio.
Vince me via combinar as cores das roupas de Navih e fez isso
exageradamente, mas eu não disse nada. Ele também havia feito o melhor que
podia ao vestir o pacotinho com um vestido vermelho de festa, sapatilhas
vermelhas, meias vermelhas e laço vermelho só para ir até o aeroporto.
— E o papai cuidou do meu bebê direitinho enquanto eu não estava?
— Sim! — ela resmunga balançando a cabeça, e se esforça para descer do
meu colo quando passamos por uma loja de bonecas.
— Preciso de ajuda. — Allana resmunga quando vê o pai se afastar com a
pequenina para não ter que comprar mais uma boneca. Navih já tinha
milhares e sempre brincava com as mesmas.
— É claro que precisa. Onde é essa “festa”, agora? Na casa de qual amigo?
— eu sorrio abrançando-a pelo ombro.
— Do Caíque...
— De novo esse Caíque?
— Não faça perguntas... — ela implora colocando seus cabelos longos para o
lado.
— Se pudermos ter aquela conversa de novo, deixo você ir.
— Não precisamos falar disso toda as vezes. Você me acha uma tapada?
Uma burra? Você já falou mil vezes, já virou uma maldição, eu já fico
encucada com isso, fico pensando dia e noite, não precisa de mais, você vai
me enlouquecer!!!
— Melhor louca do que grávida aos quinze anos.
— Ah! Que nojo! Não pira, mãe! — sempre que ela me chama de mãe meu
coração dá um pulo. Achava que jamais me acostumaria, mas me enganei, só
que sempre quando escuto, fico feliz, e eu ficava constantemente feliz.
— Você irá se pudermos conversar antes de sair, senão, sem chance Allana.
— Tudo bem. Dois minutos!
— Quantos eu achar necessário.
— Vai me atrasar como sempre.
— Então começaremos mais cedo. — eu murmuro quando Vince se
aproxima estranhando o fato de que ficamos para trás.
— Estão cochichando sobre o quê?
— Sobre o meu papel de matriarca da família. — eu digo e sorrio quando ele
me dá a mão.
Pego o pacotinho quando ele tira minha mala da esteira, e permanece me
analisando enquanto fitava Allana tentando entender o que acontecia... se
estávamos brigando, ou sei lá...
(...)
— “... cuida dela com carinho.”, jura? — questiono deitada perto de seus pés
e com o meu, permaneço alisando sua barba grossa enquanto ele acarinhava
meu joelho e tentava parar de direcionar seus olhares para a minha intimidade
exposta.
— Eu não resisti, já imaginava que ele faria gracinhas, quis esfregar na cara
dele que você, ele jamais teria. Vitor é venenoso, perverso, e cretino. Ele é o
Loki, eu sou o Thor.
— Vocês dois precisam parar com essas brincadeiras ridículas.
— Nós nos divertimos, deixe a gente ‘em paz’. — ele beija o meu pé com
carinho e eu perco um pouco do controle quando sua língua participa daquele
momento delicioso. — Mas me conta, ele topou investir? Eu disse que
poderia falar com ele, que eu mesmo poderia te ajudar sem dar esse dinheiro
“de graça”...
— Eu sei, só quero ser mais independente, não quero ficar dependendo o
tempo todo de você pra tudo. Ele disse que ia avaliar, também me ofereceu o
dinheiro, quis ajudar, mas como eu disse que seria um negócio profissional,
ele ia ser profissional e me contou o que acontecerá se eu não devolver o
investimento...
— Ele tomará o restaurante, e te processará pelo prejuízo. Isso acontece
mesmo, é o padrão. — ele fala me fitando e direcionando seus beijinhos para
meus dedos. — Está com medo?
— Não. Sei que será um sucesso, sei que eu vou conseguir, só tenho medo do
depois. — eu digo, me viro e ele aproveita para se encaixar em cima de mim
sem soltar seu peso totalmente. — Mudei muito, Vince. Eu tirei a carta, eu
mesma dirijo, agora descobri que dou conta de viajar sozinha, terei um
negócio sozinha. Eu sei que você amava aquela diarista que vivia de chinelos,
e dependendo do seu homem para tudo, tenho medo do seu olhar mudar, de
seu amor acabar ou simplesmente ficar diferente.
— Bom... — ele diz ‘me cutucando’ com sua vara endurecida de forma
deliciosamente obscena. — eu te amo muito, mais do que antes, e tenho
certeza absoluta de que nada vai mudar. Não tenha medo, eu te amo de
verdade e amor assim não muda desse jeito. “Na saúde, na doença, na alegria,
na tristeza, na riqueza, na pobreza...”, te fiz uma promessa, te fiz muitas
promessas. Pode ficar independente, ficar mais rica do que eu, se vestir bem,
vou te admirar do mesmo jeito ou mais ainda. Se você soubesse o que eu
sinto vontade de fazer contigo quando vejo que está vestida com aquelas
meias que acabam em suas coxas... quentinha, minha rainha! — ele enfia em
minha boceta, eu suspiro, e ele começa a socar devagar. — “de corpo e alma,
completamente. Dos pés a cabeça, de dentro pra fora...” minha e só minha.
Ele resmunga as palavras que eu disse a seu irmão e começa a meter em mim
com força.
— Eu morri de saudades, espero que dê um tempo com a sua família. Já
atingiu sua cota! Sabe como é a sensação de ter que gozar sozinho? Dormir
sozinho como se estivesse sido abandonado?
— Sei. Como acha que eu fiquei no hotel? Tive que dar um jeito sozinha.
— Gostou de ficar sem minha boca? Sem esse pau que você tanto ama te
fodendo assim? Desse jeito?
— Odiei.
— Pois então... nos dê um tempo. Não consigo ficar longe de você, estou
com muita saudade. Não consigo dormir longe de você, é uma tortura dormir
sozinho, não consigo...
— Tudo bem. — eu me viro e vejo seus olhos brilhando.
— Não. Não está tudo bem, dói muito. Sua ausência me mata!
— Agora eu estou aqui. — eu volto a colocar seu pau dentro de mim agora de
pernas arreganhadas e ele fecha os olhos por um momento.
— Mas mesmo assim preciso dizer como me sinto, se aparecer mais alguma
coisa, mais alguma viagem, mais algum curso longe, vamos juntos. Não vai
nos deixar para trás nunca mais. Não tem que ser assim, somos família e
família não se abandona, essa casa não funciona sem você, sabe disso.
— Eu prometo, não vou mais deixar vocês para trás. Se aparecer algum
compromisso, vamos todos.
— Somos a sua prioridade. Eu sou, nosso amor é prioridade!
— Sim. Para sempre!!! — eu garanto e quase morro quando suas estocadas
um tanto dengosas viram estocadas selvagens. — Meu bebê chorão, esqueça
tudo agora! — eu digo baixinho e ele concorda balançando a cabeça. — Não
para, isso, mete forte e acabe com essa saudade absurda!!! — digo com
minha boca colada na sua e ele morde meu lábio jogando seu quadril contra o
meu com extrema força. Uma loucura deliciosa.
— Ok. Você já tem quinze anos, e sim, já te falei disso umas mil vezes. — eu
me sento em sua cama e jogo longe o travesseiro que usava para cobrir o
próprio rosto. — Não é que eu não confie em você, mas... as situações da
vida, às vezes meio que nos fazem se descontrolar sabe!?
— Eu-sou-virgem!
— Por enquanto.
— Eu só tenho quinze anos!!!
— Você já sente vontades...
— Sim, de morrer quando você começa com isso!!! — Allana diz se
levantando da cama e se assusta quando Vince bate na porta.
— Ouvi vozes alteradas.
— Nós estamos bem! — eu falo e ele me mede após fazer o mesmo com a
filha.
— Não teremos almoço nessa casa, hoje? Estou com muita fome. Venha
fazer ou vamos almoçar fora.
— Nós já vamos.
— Eu espero. — ele diz e entra.
— É uma conversa particular. — Allana diz cruzando os braços e ele dá de
ombros.
— Sou seu pai, não pode ter segredos comigo.
— Estamos falando sobre minha primeira menstruação.
— Certo, eu já vou! — Vince levanta as mãos e se retira enquanto eu seguro
o riso.
— Ele deveria participar dessa conversa. Ele também tem muito a te ensinar.
— Quer saber!? É sempre essa tortura toda vez que eu vou sair. Não quero
mais, ficarei em casa, vou desmarcar, então pode ir. — ela aponta pra porta e
eu nego.
— Quer mesmo que eu nunca mais tente conversar contigo e te ajudar?
Porque toda vez que eu me calo e não falo nada, você sente falta!
— Você se cala por inteira, não fala comigo e fica me evitando por dias!!!
— Ah! Entendi, então você só me quer para os momentos bons. Legal!
Esqueça, isso não existe!
— Você me trata como uma tapada! Custa parar de querer falar disso
comigo???
— CUSTA! — eu grito, me arrependo, e respiro fundo. — Custa sim. Custa
sua juventude, sua vida. Eu não te trato como uma tapada, eu te trato como
uma adulta, eu deixo você completamente livre e só o que eu te peço é que
aceite falar disso com clareza, com frequência, simplesmente pra você não
foder com a tua vida! Eu estou tentando te ensinar, te instruir... talvez eu faça
isso demais, sim, eu concordo com isso, mas é pra colar na tua cabeça, é sim
pra você ficar com medo, com receio, não se entregar por nada ou pra
qualquer um. Você está em uma fase ótima, Allana, eu só quero que você
viva essa fase da melhor maneira. Minha mãe fez isso por mim e eu quero
fazer por você e pela Navih, isso não é um favor e muito menos para te
machucar, é para te proteger, é apenas cuidado. Instruir é uma forma saudável
de te proteger, se não quer falar sobre garotos, sexo, camisinha, DST’s, e
gravidez comigo, então você não está preparada para ser “solta” por aí, isso
não tem que ser um tabu.
— Por quanto tempo vai repetir a mesma ladainha???
— Até você ficar velha, se casar, e até depois disso. Eu sou a “mãe chata” e
você continuará achando isso de mim até atingir uma certa idade, eu prometo,
mas depois você vai sentir falta desses conselhos, e se não me ouvir vai se
arrepender. — eu digo e choro, estava irritada demais. — Esse é meu papel,
ser chata contigo pra você não se encrencar.
— Você exagera na dose.
— Tudo bem, então será da maneira difícil. Fale com teu pai.
— Eu prefiro ir escondido!
— Vou contar isso pra ele, e vou dizer na portaria que você não tem
autorização para sair do condomínio. Quero ver por onde você vai sair!
— EU ODEIO VOCÊ!
— Certo. — eu confirmo, saio e encontro o xereta na porta.
— Essa foi a mais difícil. — ele sorri.
— Eu queria que fosse mais fácil. — eu desço e ele me segue.
Ligo para a portaria para avisar da fujona, ele me dá um beijo só para acalmar
meu coração porque ele sabia que eu não gostava quando ele se trancava no
escritório em pleno sábado, e eu corro fazer o almoço. Sabia que tinha pouco
tempo até Navih acordar de seu cochilo pra comer.
Assim que coloco a mesa, a campainha toca.
Era o tal do Caíque. O gurizinho era bem bonitinho, e parecia decente. Eu
conhecia a mãe dele das reuniões da escola, Vicente que fingia que não o
conhecia e que não sabia quem o pirralho era quando ia comigo.
— Oi, tia! Eu vim buscar a Allana. — ele diz com as mãos para trás.
— Bom, ela está de castigo. Quer entrar?
— Sim, obrigado. — ele entra já entristecido.
— Com quem você veio?
— Com meu motorista.
— Onde vocês iam?
— No cinema ver Guerra Infinita, ela ainda não viu.
— Vocês... estão namorando, ou...!?
— Sim, estamos namorando. — ele diz sem graça e parece desconfortável
com meus questionamentos.
— Mas como vocês estão namorando se eu nem vi você pedir a sua mão ao
pai dela?
— Ué, eu tentei mil vezes, ela não deixa. Parece que morre de medo do pai.
Meu pai disse que eu devia fazer isso e me aconselhou, mas quando eu
conversei com ela sobre isso ela quase surtou.
— Mas você não tem limites??? — Allana murmura descendo as escadas
correndo e afasta o menino de mim. — Pedi para nunca apertar a campainha,
avisei que não sairia hoje!
— Eu não vi aviso nenhum, o celular está no carro. Por que você está pirando
assim?
— Eu disse que não pode vir aqui, te disse mil vezes, se ele te ver aqui, vai te
matar! — ela diz e o menino fica branco de medo.
— Seu pai não vai matar ninguém, se confiasse nele, saberia disso.
— E eu já te disse que eu não queria que ele soubesse, já te disse isso,
implorei. Por que você deixou ele entrar? Eu estava errada, não sou eu que te
odeio, é você quem me odeia!!!
— Você sempre tão teatral e dramática... desde pequena é assim. — eu
sorrio, o garoto segura a risada e ela me fuzila. — Caíque, é um prazer te
receber em nossa casa, mas a Allana está de castigo até a segunda ordem.
Como eu a conheço bem, ela não ‘ganhará liberdade’ nem tão cedo, então
vocês só poderão se ver na escola. Acabou a mordomia, os passeios, as
festinhas, os encontros românticos... a não ser que você fale com o pai dela, e
ela concorde a ter certas conversas comigo que ela sabe quais são. Esse
namoro não será escondido, aliás eu só soube que era sério assim porque
você me contou e não ela, Allana traiu minha confiança. Eu sou alguém que
sempre esteve ao lado dela e ela me traiu. Não quer conversar comigo, não
quer se comportar, não quer conversar com o pai... então, até que isso tudo
mude, esse namoro acabou. A não ser que vocês curtam viver apenas de
olhares em uma escola que proíbe beijinhos e abraços.
Eu digo segurando a felicidade dentro de mim, ela me odeia mais um pouco
em silêncio e ele fica putaço.
— Tudo bem, cadê o sogrão?
— O que você vai fazer? — ela se desespera.
— Falar com ele pra gente poder sair e ter privacidade!?
— Ele vai matar você!
— Você gosta mesmo de mim, ou seu negócio é só a adrenalina por isso aqui
ser escondido??? — ele pergunta e ela me encara torto antes de responder.
— É claro que gosto, não seja ridículo!
— Então vamos acabar logo com isso. Não aguento mais não poder vir aqui,
você já conhece meu quarto e eu não conheço o seu. Quero poder frequentar
a tua casa como você frequenta a minha, eu já queria vir antes, você quem
não deixou. Me deixa falar com ele pra gente poder ir ao cinema e passar o
dia juntos sem preocupação. Caso ele proíba, o que eu duvido, aí a gente
pensa no que fazer, mas eu sei que a melhor coisa é fazer o certo, sua mãe
tem razão. — ele diz e já vira no ato meu genrinho favorito.
Nessa mesma hora Vince sai do escritório e o encara.
— Então vem, garanhão! Se você sair vivo desse escritório, eu deixo você
conhecer o quarto dela. — Vince diz simplesmente, eu nego revirando os
olhos, Allana beira um surto psicótico ao ver o garoto respirando fundo antes
de entrar no escritório, e quando Vince dá uma última encarada em Allana
antes de fechar a porta, aí eu fico com medo, muito medo mesmo, mas não
demonstro.
— Ele vai brigar com ele, mandar ele embora, me mudar de escola e a culpa
será toda sua!!!
— Não seja boba, ele não vai fazer isso. Ele gostou da coragem dele, vai dar
tudo certo!
— Você é a boba aqui! Ele já falou comigo, ameaçou me castigar se eu te
contasse. Ele me proibiu de me aproximar dele e disse que se isso
acontecesse, — ela aponta pra porta do escritório. — se ele chegasse perto de
mim de novo, além de me dar uma surra, ele ia me deixar de castigo, me tirar
da escola, e me colocar em um colégio interno ‘não sei aonde’ porque
segundo ele, quinze anos não é idade para namorar! Ele sabia que você
jamais ia apoiar e agora que sabe, só vai piorar tudo, e ter deixado ele entrar
aqui, foi o fim! Ele não vai ser o ‘papai compressível’, ele nunca foi, você é,
não ele! Você acabou com a minha vida!!!
Ela diz e como toda boa adolescente, sobe as escadas correndo e chorando.
Mas não foi seu drama o que me irritou, foi saber que aquele filho da puta me
escondeu aquilo. Fingiu não saber, escondeu a informação, e ainda ameaçou
os dois.
— Ei, ei, ei... — eu chamo o garoto quando ele passa por mim, se despede, e
vai em direção a porta e não ao quarto de sua namoradinha.
— Já era, tia. “Fazer o certo, não foi o certo”. Na escola eu converso com ela.
— ele fala e sai triste.
Sigo o impulso fodido de ir até o escritório para gritar com o filho da puta,
mas eu travo. Ele esperava que eu fosse até lá, já devia ter todas as suas falas
ensaiadas para me calar, já estava me esperando. Por isso dei meia-volta,
respirei fundo e subi pra falar com a pequenina apaixonada.
— O que aconteceu? — ela se senta na cama limpando os olhos e eu dou de
ombros.
— Ele deixou vocês conversarem na escola. Está tudo bem.
— Viu? Eu disse!!!
— E eu disse que darei um jeito, sempre consigo.
— Eu não sei se dessa vez vai adiantar fazer greves! Meu pai se preparou
para quando você descobrisse, ele me garantiu isso!
— Se você não mudar a forma como fala comigo, eu mesma vou te colocar
em um colégio interno. — eu garanto, me sento na cama, e puxo minha
princesinha para o meu colo. — Somos mulheres, Allana, somos mais
espertas que os homens. — faço carinho em seus cabelos e ela continua
secando e coçando os olhos. — Seu pai vai se arrepender por não ter
escolhido o modo certo de lidar com tudo isso, acho que ele ainda não notou
que você cresceu, ele não quer te deixar crescer, e às vezes, isso é “esperado”,
o meu era do mesmo jeitinho, só melhorou quando eu atingi a maioridade e
comecei a trabalhar. É compreensível, porém, no seu caso, já que eu falo
tanto contigo e estou sempre de olho, é totalmente desnecessário. Era melhor
ter esse namoro dentro de casa, ter vocês dois debaixo de nosso teto, ele foi
burro, foi muito burro e vai penar até notar isso. Posso te ajudar, mas só vou
fazer isso se você confiar em mim.
— Eu confio!
— E então me conta que história é essa de que você já conheceu o quarto
dele.
— É sério???
— Como eu vou falar pro teu pai que estava á par da situação e que tinha
tudo sobe controle se você não se abre comigo e não me conta as coisas?
— Eu te conto tudo, se não conto é porque não aconteceu.
— Então... nada aconteceu? Ele... nunca te viu... nua!?
— Eu sou virgem, mas que nojo!
— Está bem! — eu respiro aliviada quando vejo sinceridade nela. — Mas
quero que me diga quando... você achar que...
— Tá, tá, tá. Por favor, isso agora não!
— Certo. Estamos conversadas, então vou parar de falar nisso por enquanto.
— Você é um pesadelo!!!
— Eu te amo. Meu amor te sufoca???
— Sim.
— Ah! Não! Ela não disse isso... — eu digo e aperto ela inteirinha, até ouvir
sair de sua boca uma boa gargalhada. — Vem. Vamos descer para almoçar,
lave esse rosto.
— Não quero olhar para a cara dele.
— Mas vai ter que olhar, precisa respeitá-lo mesmo quando ele fizer algo que
você não goste, ele é teu pai. Se você começar uma guerra com ele, isso só
vai indicar o quanto você é imatura e não tem capacidade de entender as
coisas como são. Olha pra mim. Se quer espaço, quer privacidade, e acha que
pode ter um namorado, você precisa crescer e aprender a lidar com teu pai.
Bater o pé e fazer birra só vai mostrar o quanto você é infantil e isso só vai
ajudá-lo a ver o quanto você ainda é uma criança. Quer um conselho? — eu
pergunto e ela afirma. — Trate-o com educação, cordialidade, e respeito, mas
só pra dar um gelo, seja fria, fria e calculista. Seu pai gosta de carinho, gosta
de um dengo da princesinha dele, quando ele notar que está perdendo a
cumplicidade de vocês por bobagem, vai mudar de atitude. — eu falo
baixinho. — Seja formal, mostre que está chateada, deixa ele ver que te
tratando assim está fazendo errado, mas jamais procure briga, hein! Não o
trate mal, não faça birra, não arrume confusão com ele senão sua atitude só
vai piorar. Vamos descer, almoçar, e ir atrás de um vestido ‘tal mãe, tal filha’
para nós três. Se mandar bem, eu aviso o Caíque para qual Shopping a gente
estará indo, mas só se mandar bem. Nada de provocá-lo, se ele desconfiar, é
capaz de me proibir de te levar ou pior, ele é capaz de deixar a gente ir só
para ir atrás, e aí, se ele me ver agindo assim, eu estarei errada na história. E
tem outra coisa... jamais faça qualquer bobagem sem minha ajuda, eu não sou
um exemplo a ser seguido, mas você é realmente muito nova pra fazer
besteira. Terá meu apoio, mas se me decepcionar e me esconder as coisas, seu
pai terá razão, ficarei do lado dele, e deixarei ele fazer o que quiser com você
e com esse namorinho, desde te tirar da escola, até te dar uma surra. Se não
confiar em mim, não vai funcionar! Entendeu bem?
— Entendi. — ela diz sorrindo, me abraça apertado e ele bate na porta. —
Não sai daqui, não sai daqui...
— Tudo bem, relaxa! Lembra do que eu te disse? Maturidade! Tenha
maturidade ao falar com ele. Estarei te esperando lá embaixo para almoçar,
vou pegar tua irmã, ela já deve estar prestes a acordar. Vai dar tudo certo,
nada de choro, grito ou malcriação.
— Essa conversa te incluí, você pode ficar. — ele diz assim que eu abro a
porta.
— Já conversei com ela o que eu tinha pra conversar, agora é com você. Vou
acordar Navih para almoçar, tenha uma boa conversa de pai pra filha, ou pelo
menos, tente não ser mais infantil do que ela. Ela tem quinze, você já está
quase nos quarenta. Se eu não estiver enganada até o fim do ano você já é
cinquentão, basta continuar rabugento assim.
— Você está sendo infantil! Você! Ela é uma criança, é do meu lado que você
tem que ficar.
— Não importa se você é o marido e ela a criança, vou ficar do lado de quem
estiver certo, e aqui, agora, você está errado.
— Errado??? — ele entra no quarto atrás de mim e automaticamente fala
baixo por causa da bebê dorminhoca. — Eu estou errado?
— Ela já tem quinze anos, Vince, a fase de ter namoradinho já começou, isso
não depende de você achar certo ou errado, infelizmente. Eu também queria
colocá-la numa redoma, protegê-la, mas eu não posso, você não pode! É por
isso que eu encho o saco dela todos os dias porque a faço falar comigo sobre
sexo, camisinha, gravidez, doenças, e todos os dias ela diz me odiar por causa
disso. Temos que educá-la, não amarrá-la aqui dentro.
— Está falando sobre sexo com a minha filha???
— Como é? “Sua” filha?
— Você entendeu muito bem, não tire o foco da conversa.
— Conversa... você realmente não sabe qual é a definição de uma conversa.
Olha, apenas... não fale comigo, ok? Você acabou de ultrapassar um limite
aqui, então, não chegue mais perto de mim e não me dirija a palavra, pelo
menos enquanto eu estiver puta com sua atitude, e enquanto você estiver
agindo assim.
— Você não tem um pingo de maturidade... — ele barra minha passagem
quando eu decido entrar no banheiro para acabar com o assunto.
— Não, você é o adulto aqui. Vá lá, colocar uma coleira nela para ver se
adianta, vamos tentar do seu modo, vamos fazer como você quiser, mas aí,
aguente as consequências sozinho!!!
— Eu não me casei sozinho, não tenho que fazer nada sozinho, você tem que
ficar do meu lado.
— Eu não “tenho que” nada, Vicente. Não sou obrigada a nada nessa vida.
Eu digo, forço a passagem, me tranco no banheiro e só saio quando eu vejo
sua sombra se afastar juntamente com o barulho da porta. Mas quando saio,
vejo que foi somente uma armadilha. Vicente não ia deixar a nossa conversa
acabar daquele jeito, ele sabia que eu preparava o maior dos baldes de gelo, e
ele não queria isso. Nenhum dos dois aguentavam meu gelo quando eu ficava
brava, nem ele e nem Allana.
Seguro um riso alto por causa da armadilha e cruzo os braços esperando ele
falar.
— Não sairá daqui enquanto a gente não se entender.
Ele diz com convicção, eu dou um passo para trás, e quando corro de volta
pro banheiro, ele coloca a mão antes da porta fechar.
— Não vamos transar, não vai chegar perto de mim.
— Vai ficar do meu lado! — ele invade meu espaço pessoal e eu nego o
encarando.
— Você está errado, pode sair, por favor!?
— Não vou sair, nós vamos conversar e nos entender!!! — ele diz de novo e
segura em meu braço para me fazer encará-lo porque eu abaixo a cabeça de
forma impaciente.
— Solta a minha mãe!!! — Allana aparece de repente, o empurra e entra em
minha frente.
— O que você está fazendo aqui? — ele a encara sem entender e ela
praticamente rosna pra ele.
— Protegendo ela de você! Você não vai bater nela!!!
— Eu nunca faria isso, garota, tá maluca?!
— Faria sim, eu já ouvi você no quarto, o barulho de tapa e você perguntando
se ela estava gostando, porque ela implorava para apanhar! — Allana explica
e ele me encara sem saber o que dizer, nem eu sabia na verdade.
— Allana... tudo bem... — eu tento, mas ela não me deixa falar.
— Tudo bem, nada!!!
— É comum isso acontecer, às vezes, o barulho... de tapa...
— Legal pegar a menina para falar sobre um tema quando ela é
extremamente precoce e não explicar tudo... — Vicente diz e recebe de volta
meu melhor semblante raivoso.
— Você entendeu tudo errado e... tem que parar de ouvir atrás da porta.
Desce e me espere lá embaixo. — eu digo, ela me encara confusa, eu faço ela
entender que pode ir e então ela sai.
— Isso... acabou de sair do controle, não é!? — ele indaga com insegurança e
eu me seguro para não abraçá-lo e confortá-lo. Estava em choque com o que
aconteceu.
— Está tudo bem. No nosso próximo bate-papo vou abordar o tema, “os tipos
de sexos que existem”. Ou eu explico e falo com ela sobre o assunto
abertamente, ou ela vai procurar no google, se já não estiver fazendo isso
pelo celular agora mesmo.
— Por favor... — ele implora quando barra minha passagem novamente. —...
amor... não me trata assim. Não sei lidar com isso, e não vou conseguir
sozinho. É muita novidade pra minha cabeça, me ajuda, não me deixa assim.
Ela só... é uma menina, tenha misericórdia.
— Chame o garoto para almoçar e eu paro de te tratar assim!
— Lara...
— Ok. — eu digo e saio. Minha falta de paciência estava piorando por causa
da fome.
Assim que coloco meus pés no quarto vejo a pacotinho sentada na cama.
Ainda não consegui desgrudar e só a colocava no quartinho dela quando ela
já dormia e eu tinha certeza de que nem tão cedo ela acordaria. Mas fazia isso
mais para não correr o risco de ela levantar e tentar descer as escadas. Estava
ensaiando para colocar uma grade ali.
— Quem acordou???
— Eu! — ela diz com a carinha amassada e eu a pego no colo.
— Quem a mamãe ama muito?
— Navih e Nana!
— E quem ama muito a mamãe???
— Navih!
— E a Nana também sua espertinha, esqueceu!?
— Navih e Nana!
— Isso!!!
— E papai!
— É, papai também! — eu murmuro e desço com a pequenina para comer.
Assim que arrumei Navih na cadeirinha, e coloquei os pratos, os dois
desceram. A conversa foi breve, pelo jeito não se entenderam... e eu não tive
a certeza só por causa do tempo não, tive a certeza no decorrer do almoço
silencioso.
Vince comeu em silêncio fitando nós duas e a única que não notava seu mau
humor era, claro, Navih.
— Então é isso... a fase do gelo começou!? Agora não só de uma, mas das
duas...!? É assim que vão me tratar. — ele diz entre uma pausa, aguarda a
resposta, eu não digo nada, e ao invés de Allana falar algo, ela só me encara
irônica como se mastigar fosse importante demais para dar uma resposta a
seu pai. — Ok.
Vince murmura, limpa a boca no pano de prato, e sai da mesa antes de
terminarmos, coisa que nunca havia feito.
Nego quando ela ameaça começar a resmungar e desfruto de um almoço
“tranquilo” fitando o prato ainda cheio de seu pai ciumento.
— Dá uma olhada nela, pra eu tomar banho? — pergunto na sala minutos
depois enquanto ela ainda fingia que comia a nossa sobremesa favorita.
Vince era igual criança, quando ficava muito quieto era sinal de que estava
aprontando, por isso decido ir verificar... mas por via das dúvidas “só queria
mesmo tomar um banho”.
— Não vai me explicar que história é aquela? — ela murmura e eu bufo.
— Por que nunca me disse que pensava que seu pai batia em mim?
— Eu não pensava, ele bate, você pode confessar.
— Não é esse tipo aí, de agressão, que você está pensando. E vamos
conversar muito sério sobre essa sua mania de ouvir atrás da porta.
Dormimos em um quarto distante para justamente não nos ouvir, você não
pode ficar xeretando a nossa vida.
— Eu nem preciso xeretar, eu escuto, às vezes escuto até do meu quarto... —
ela coloca ênfase em sua frase e eu fico envergonhada, mas mesmo assim me
sento ao seu lado por um momento.
— Obrigada por dizer isso, vou evitar ser escandalosa e colocar isolamento
acústico por via das dúvidas. Te devo um pedido de desculpas, isso é muito
inconveniente, nós dois não sabíamos que... você podia nos ouvir, eu juro!
— Por que ele te bate?
— Porque eu gosto e peço...
— Como pode alguém gostar de apanhar???
— Não são fortes...
— São sim! Eu posso ouvir o barulho alto. Como não é forte!?!?
— Não sei, Allana... não dói, não machuca... isso é muito pessoal...
— Ah! Os meus “momentos” não são pessoais né!? Os seus, sim?!
— Bom, você é a primeira filha que quer ouvir os relatos sexuais dos pais e
isso é estranho...
— Credo! Não! — ela faz cara de nojo. — Eu só quero saber o porquê que
ele te bate.
— Ele só me bate durante o sexo. Eu que...
— Tá, tá, tá... — ela tapa os ouvidos com a mão e eu as tiro tentando não rir.
— Precisa parar de nos espiar, você recebeu uma educação de primeira linha,
não pode fazer isso. Pessoas transam, seu pai e eu também, e... você logo,
logo, mas espero que demore, já deixo claro. É natural, é bom, e não é uma
coisa ruim que precisa ser taxada como tabu. A única regra é: tem que ser
com alguém especial e no momento certo. Entendeu?
— Sim. Desculpe...
— Tudo bem. Agora vou lá ver se ele está bem e tomar um banho.
Eu digo, beijo o alto de sua cabeça loira, deixo Navih no tapete entretida com
seus brinquedos, e Allana a vigiando parecendo perdida em pensamentos.
Quando entro no quarto meu coração se parte em mil. Ele estava como
sempre ficava quando estava triste, carente ou com saudade. Estava deitado
no meu lugar, de costa pra porta, e de bruços. Me aproximo, penso se devo
fazer mesmo isso, e não resisto. Tiro a roupa só para pelo menos sentir a
textura de sua pele na minha, e me achego.
— Acabou o gelo?
— Eu te amo. — eu respondo e ele vira para me olhar nos olhos. —
Precisamos colocar isolamento acústico no quarto.
— Já tem. Coloquei antes de você começar o curso... não adianta, você
realmente é escandalosa, nada vai ajudar. — ele diz, sorri pra mim, mas
depois deixa seu sorriso se perder. — Vai pedir para eu enfiar aquele safado
em miniatura dentro da nossa casa?
Ele pergunta tirando uma mecha de meu cabelo da testa.
— Não. Vou esperar você decidir fazer isso, vou esperar você notar que é o
certo a fazer.
— Essa é boa...
— Vince, ela está na fase de ter curiosidades, de experimentar, de sair para
festinhas e beijar na boca... não seria melhor se ela não precisasse fazer essas
coisas, escondida? Não seria melhor se a Allana confiasse em nós e nos
contasse tudo? Eu quero ter aquela garota sobe nosso controle, eu quero ficar
de olho nela, mas sua atitude só vai afastá-la. Qualquer hora ela inventa de
fugir porque você não a deixa viver, tem que soltá-la!
— Eu vou dormir. Estou muito cansado dessa ladainha.
— Eu queria que nós conseguíssemos resolver esse tipo de coisa na base do
diálogo, sem apelar... — eu digo quando ele me oferece as costas.
— Eu não estou apelando, estou tentando não brigar com você. Faz um favor
pra mim? Deixa que eu cuido disso, e eu assumirei as consequências, é só
ficar fora disso.
— Tem certeza?
— O que é? Vai me ameaçar? Greve, sério? Faça isso. Mas só pra você saber,
já estou preparado, vai doer mais em você do que em mim.
— Está bem. — eu afirmo, me levanto, e ele não entende muito bem por isso
me segue com os olhos.
Pego uma muda de roupa para eu me vestir após tomar banho, pego alguns
produtos no banheiro, uma toalha, minha escova de dentes, e me aproximo
sem me intimidar com seu olhar de ódio para minha atitude.
Me inclino sobre a cama, retiro meu travesseiro de baixo de sua cabeça
levantada facilmente e ele fica ainda mais confuso, mas não diz uma palavra
quando eu saio. Ele só reavaliava suas atitudes quando eu me afastava então
sabia que não tinha outro jeito, eu precisava fazer aquilo. Amava aquele ogro
barbudo e ciumento, mas ele precisava deixar a menina em paz, e ele ia
deixar. Eu sempre o tive nas mãos com sexo, e do mesmo jeito, sempre o
tinha nas mãos sem isso. Dava dois dias para que ele mudasse de ideia.
(...)
— Onde vocês estavam??? Que lindas vocês estão!!! — minha mãe pega
Navih no colo após encher sua neta loira de beijos.
Graças ao Vince, meu pai pôde fazer um financiamento de uma casa própria e
ambos estavam radiantes. A casa era linda demais, e o emprego do meu pai
na empresa ajudava e muito a custear as mensalidades. Como não aceitou a
casa como um presente, meu marido aumentou seu salário sem dizer nada, só
contou para mim, e graças a isso, a vida dos dois estava maravilhosa. Do jeito
que os dois mereciam.
— Fomos ao shopping comprar roupas de gêmeas para o coquetel. — Allana
responde se jogando no sofá. Estava pendurada no celular desde que saímos
de casa. Não deixei ela chamar o pirralho para um encontro escondido porque
imaginei que Vince viria atrás de nós, mas ele acabou não vindo... ou pelo
menos não notei sua presênça no shopping...
— E o que compraram? Deixa eu ver... — dona Mag xereta as sacolas e fica
encantada com os vestidos pretos de renda. Eu até tentava não combinar
roupas, mas não resistia. — E cadê o Vince? Ele não está em casa?
— Está bravo. Não quer deixar a filha namorar... — eu digo logo e Allana faz
careta por dividir seu segredo com os avós.
— Proibir é muito pior, mas eu concordo que a mocinha é muito nova. —
meu pai diz e Allana bufa.
— Eu tenho quinze anos, vô. Já sou bem grandinha!
— É nada, menina. Deixa disso. — ele resmunga ligando a TV da sala e os
dois continuam discutindo sobre a relação “pai e filha”, certo e errado,
maturidade, e afins... fazia agora com ela, o que fazia comigo, usava o
mesmo discurso.
— Ele tem razão em ter receio, todo pai tem. Vocês não podem abandoná-lo
assim... — dona Mag diz colocando o bule de café na mesa. Os cafés da tarde
dela, eram os melhores do mundo.
— Ele não foi abandonado, se afastou porque quis, porque é um teimoso
cabeção. Nem conversar quis, só vai aprender quando ver que fez caquinha.
— Papai vai ver que fez caquinha! — Navih resmunga e eu dou risada
achando engraçado. Qualquer coisa que ela fazia ou falava, eu achava lindo,
era uma boba.
— E como vai Júnior? Greg? Tem notícias? Aliás, como foi a reunião com
seu “cunhado investidor”? Ele topou te emprestar o dinheiro?
— Ficou de retornar... acho que vai me emprestar sim. O Júnior, a Tia disse
que foi viajar com a Vivi, e o Greg continua por aí, em algum lugar do
mundo. Avisou o Vince que ia viajar, não quis dizer para onde nem com
quem, e aproveitou que tinha férias acumuladas para tirar.
— Será que ele foi ver aquela...
— Naila!? O Vince acha que sim... mas acho que se fosse isso, o Greg diria.
Ele sabe o quanto a gente amaria vê-lo feliz, namorando... não sei não. Eles
nem ficaram quando ela esteve aqui, faz tanto tempo que ela se foi.
— Mas bem que podia ser, não é!? Eu ia ficar feliz de ver aquele garoto com
alguém.
— Eu também, mãe. Uma pena que a gente não manda no coração e na vida
das pessoas que a gente ama. Mas eu tenho muita fé de que ele logo encontra
alguém e se for Naila, melhor ainda, ela é incrível.
— O dia que ele pisar naquela terra dela, os problemas dele acabam. — meu
pai resmunga da sala. Podíamos vê-lo e ouvi-lo, pois a cozinha era
americana. — Lembro das filmagens que vocês fizeram lá. Muito ruim o
lugar, muito triste.
— É mesmo, pai. Fiquei tão feliz por ter conseguido aquele patrocínio para o
projeto do TCC, estar ajudando mesmo que de longe, é maravilhoso, mas um
dia quero voltar.
— Pra voltar para o Brasil com outro neto? — meu pai pergunta e eu dou
risada.
— Ué, pai! Não gostou do presente que eu trouxe, não!? — aperto Navih e
ele sorri pra pequena.
— Amei o presente. Essa pequenina foi o melhor presente da minha vida! —
ele se levanta para pegá-la no colo e Allana tosse.
— Bom saber disso. Eu que cheguei primeiro: nada, não é!? — ela diz como
sempre ciumenta e rabugenta.
— Ah! Deixa de ser ciumenta!!! — meu pai ri e eu me jogo ao seu lado no
sofá.
— Como anda a lista? — eu questiono ao agarrá-la e ela sorri.
— Eu, Navih e papai, meus avós, Tia e afins, cozinhar, bolo com sorvete,
café-da-manhã em família e ter papos constrangedores comigo.
— Isso! Eu sabia que você ia acertar, o meu tesourinho, minha princesinha
namoradeira, meu bebê mais amado do mundo todo!
— Você fala tudo isso pra Navih também, que eu sei...
— Eu as amo do mesmo modo, é por isso. Coração de mãe não faz distinção.
Eu amo você, e amo tua irmã, e esse amor é único! Fica aqui, — eu digo e a
abraço bem apertado. — abraçadinha comigo para tua carência passar.
— Podemos dormir aqui hoje? — ela mia como um gatinho. — Não quero
voltar pra casa.
— O combinado foi dar um gelo, não matar seu pai do coração.
— Ele nem vai ligar!
— Ele não só “vai ligar”, como vai ficar extremamente triste. Seu pai, mais
do que eu, gosta da família dele unida. A essa hora, nesse sábado, deveríamos
estar vendo um filme com pipoca, ou no shopping, junto com ele... pensa que
ele não sente nossa ausência? Ele fica destruído quando a gente faz isso. Se
ele não bater aqui na base dos gritos daqui a pouco, eu não digo nada, e se
não fizer isso, aposto que vamos encontrá-lo na cama, chorando feito um
bebê por ter ficado sozinho em casa.
— Ninguém mandou ele ser um grosso!
— Ele não é um grosso, é seu pai, Allana.
— Você chama ele assim o tempo todo.
— Eu posso, você não, você tem que respeitá-lo! Agora vamos tomar café
pra ir para
casa.
Eu falo, ela levanta fazendo um bico que logo se desmancha ao ver a mesa
posta pela vovó favorita, e eu me sinto feliz demais por ter dado àquela
princesinha o que eu havia prometido anos atrás: uma família linda e unida.
Naquele momento quase unida... faltava a parte crucial, faltava meu marido
ali.

Subo devagar com o pacotinho pesado no colo e a coloco em seu quarto com
a babá eletrônica ligada. Eu sabia que essa noite seria calma, Navih ficou
muito cansada durante o dia todo.
— Onde esteve?
Vince questiona baixo assim que eu entro no quarto para pegar outra muda de
roupa. — e ver como ele estava, claro. — E ao contrário do que eu pensei,
não o encontrei deitado no meu lugar, e sim sentado, de costas para mim, de
cabeça baixa e os ombros levemente caídos.
— Fomos ao shopping comprar os vestidos e depois fomos tomar café com
meus pais.
Eu digo abrindo o armário e evito demonstar estar aflita.
— Você pode discordar de mim o quanto quiser, Lara, mas não pode tirar
minha autoridade, não pode tirar minhas filhas de mim, e não pode agir como
uma pré-adolescente solteira e sem amarras.
— Não tirei sua autoridade, você decidiu que não ia mudar de opinião e não
mudou, continua do mesmo jeito. Só não vou deixar de fazer o que eu quero.
— É, e assim que eu decido não mudar de opinião você pega as minhas filhas
e passa o sábado inteiro fora, me deixando sozinho aqui... minha atitude está
errada, mas a sua está bem certinha, certo!? Sempre que a gente tiver
divergências, você vai fazer isso???
— Você está errado.
— Você se rebaixou e perdeu a razão quando me deixou aqui. Você passou
dos limites!
— Vai mudar de ideia?
— NÃO!
— Ok.
— Se sair de novo sem me avisar, e sem deixar as meninas em casa, que é o
lugar delas, sou eu quem vou sair. — ele diz simplesmente tentando se
acalmar e eu só concordo com a cabeça.
Decido não discutir só porque posso ver que ele está mais triste do que puto e
ameaço sair carregando comigo minha roupa, mas ele não me deixa fugir.
Entra em minha frente e invade meu espaço pessoal me deixando tonta.
— A mamãe não ficou com saudades do papai? Não sentiu falta do marido
carregando a sua bolsa? Segurando em sua mão? Invadindo a cabine para
trepar e escolher as roupas que ele gosta porque afinal, tudo o que você
compra é pensando se ele vai gostar ou não, porque é sempre para usar com
ele, ou para ele... não sentiu falta dos carinhos embaixo da mesa? A mão em
seu joelho, no carro? Os beijos discretos, mas intensos e de olhos nos olhos,
porque em público e na frente das crianças não pode exagerar... sentiu minha
falta, amor?
— S-sim.
— Quanto?
— Muito.
— E vai continuar agindo do jeito que está agindo? — ele volta a falar
normalmente e eu acordo do transe.
— Boa noite, Vince. — eu digo, saio do quarto, e me reviro na cama de
Allana até de manhã.

— Capitão Jack Sparrow! — eu exclamo quando chego no café na hora


marcada, uma qualidade minha sempre foi ser muito pontual, pelo menos
falando profissionalmente.
— E aí, Lara! Quer dizer, chefe... tudo bem?
— Tudo, subchefe! Quanto tempo!
— Sim, muito tempo. — o moreno de olhos claros sorri e arrasta a cadeira
para eu me sentar. — Já era a hora de nos vermos pessoalmente. Como está a
vida?
— Bem corrida e a tua?
— Sossegada demais, infelizmente. Como vai as crianças?
— Estão bem, graças a Deus. Allana na escola, Navih na creche... o domingo
foi tão tranquilo que hoje acordaram sem reclamar. — eu digo e ele sorri
dizendo entender. — Tudo dentro do esperado. E o seu pequenino? Gean,
né!? Ele está com quantos anos agora?
— Cinco. Está mais esperto do que eu esperava. Parece que eu tenho cinco
filhos e não um, é um mini-furacão. — ele diz e ri comigo. — Eu pedi dois
cafés, tudo bem?
— Claro... nesse frio que está fazendo eu amo um cafézinho... bom, Jack,
quero ir direto ao ponto com você. Nesse momento tempo é dinheiro, e eu
nunca pensei que diria isso... — rimos juntos. — mas preciso de uma
resposta.
— Achei que já tinha dito sim!
— Não, você não disse.
— Eu disse, na faculdade, não se lembra!?
— Ah! Seu paspalho, acha que levei a sério??? Todo colega de faculdade que
se preze faz promessas de empreendedorismo com o amigo, isso é quase uma
regra.
— Não, mas é sério, eu topo. Ser seu subchefe será uma honra, você arrasa,
sempre te disse isso. Fico muito honrado por ter pensado em mim. — ele diz
e a garçonete do café Espanha, a melhor cafeteria dos Jardins, se aproxima, e
nos serve. — Sem contar que agora mais do que nunca preciso de uma renda,
a Sheila está... grávida de novo... — ele diz, sorri emocionado e eu tento
demonstrar alegria, mas... eu não conseguia mais pensar em gestação sem
ficar triste.
Vince sempre dizia para eu ficar de olho em meu ciclo porque ele sentia que
mais dia ou menos dia eu ganharia um positivo só porque adotamos Navih, e
o destino gostava de brincar com ele desse jeito. Ele sempre falava, me
garantia que isso aconteceria e que a gente ficaria com umas trinta crianças
pequenas porque podia apostar que depois de Navih, eu engravidaria de um
após outro, uma ninhada dele.
E até que eu achava que aquilo ia acontecer mesmo... até que Vince parou de
afirmar, e eu parei de acreditar. Quatro anos transando sem camisinha, sem
remédio, e nada acontecia... eu não havia feito exames, mas eu nem
precisava, afinal, Vince havia feito sem me dizer nada e eu encontrei o
resultado na gaveta do escritório. Exame esse que dizia ter mais
espermatozóides saudáveis do que células no corpo. O problema, como eu
suspeitava era eu, não ele. E por isso ele escondeu a informação, não queria
me magoar e por causa disso, “se contentou” só com Allana e o pacotinho em
nossa vida. Eu não darei um filho a ele, e... Vince aceitou isso em silêncio.
— O que foi? Falei algo que não devia?
— Não, claro que não. Eu estou muito feliz por vocês, meu amigo. Filhos
são... um presente maravilhoso. E só por saber que minha proposta te ajudará
nesse sentido, já valeu o convite Jack, eu fico muito feliz.
— Então por que está chorando? — ele pergunta e eu coloco os dedos nos
olhos para conferir, mesmo vendo-o de forma turva.
— Eu... bom, eu... é que ainda é um tema muito difícil pra mim, fico
emocionada. Eu queria muito e... não posso. Estive “tentando” há muitos
anos, na verdade já tem acho que uns três anos que desisti, sabe!? Não posso
ter filhos, mas, — eu dou risada para espantar a deprê. — na realidade eu
tenho duas, parece que nasceram daqui de dentro, e eu sou muito realizada!
Dê um beijo na Sheila, diga o quanto ela é especial, eu estou muito feliz
mesmo!!! Eu juro!!!
— Eu sei, obrigado! Mas olha... Deus não nos dá uma cruz pesada demais,
não nos dá um peso maior do que podemos carregar. Eu creio em milagres,
acho que você deveria crer também, é um conselho que eu te dou, meu Deus
não brinca em serviço!
— Amém, amigo! Mas mudando de assunto... — eu me recomponho e ele
sorri concordando. — Eu tenho aqui sua proposta por escrito. Leia e se cutir,
assine. É uma cópia de um contrato que meu investidor redigiu. É daquele
jeito que te falei por telefone, teremos um cinco estrelas por essa semana, a
obra se iniciou já tem alguns dias e está a todo vapor, é aqui na esquina, vou
te levar lá pra você conhecer e ver como está. Está ficando maravilhoso, a
área é nobre, atenderemos as pessoas! Mas vou precisar muito da sua ajuda e
do seu apoio como meu subchefe, porque não posso falhar. Tenho que
devolver o investimento ou perderei o restaurante, por isso te chamei aqui...
tenho algumas ideias para o menu incial e para o coquetel pra deixar esse
povo fresco babando. Com o investimento e a ajuda e influência dele
consegui até alguns veículos de comunicação para cobrir o evento, seremos
notícias!
— Eu nem vi e já sei que você vai arrasar.
— Ah! Não deposite tantas expectativas em mim. — eu dou risada. — É
sério, eu não sei se sou tudo isso, mas eu tenho que ser, então vou precisar da
sua ajuda.
— Óbvio que eu ajudo, sou seu parceiro! Quem mais você chamou? Tem
alguém da turma em mente?
— Bom, da nossa turma eu chamei o Deck, o Julio, e a Mari, são os melhores
e estão sem cozinhar também, por isso logo aceitaram. Eu queria a Léia que
também foi para área de gastronomia fina, mas ela está em Nova York,
acredita?
— Que safada!!! — ele ri.
— Pois é, quando eu soube pulei de alegria, ela está aonde sempre quis e isso
é maravilhoso!
— Bom, o Julio, o Deck, a Mari e eu estaremos onde sempre queríamos
também. Um restaurante cinco estrelas em área nobre. Vamos arrasar!
— Obrigada pela confiança em mim, sério. Eu tô tão nervosa...
— Tsc. Pare com isso!!! Nem parece a ratinha de Françoise. — ele zomba de
mim e ri. — Aliás, já pensou se ele vem??? Aluna e professor, juntos,
colhendo os frutos do aprendizado. Já que teremos mídia, seria incrível o
maior chefe da gastronomia francesa estar aqui.
— Enviei um e-mail, mas quem sou eu, né!? Até parece que ele vem. Mas
que seria incrível, seria!
— Se ele viesse roubaria seu brilho!
— Mas colocaria os primeiros milhões nos nossos bolsos. A presença dele
me garantiria o pagamento da dívida em um curto período de tempo, com
toda a certeza, Jack! — eu digo, ele coça os dreads desgrenhados, e sussurra.
— Ok. Quem precisaremos ameaçar para aquele desgramento vir para o
coquetel??? — ele pergunta e eu dou risada.
— Pois é... eu tenho duas semanas para pensar em algo incrível. Ele tem que
ter um gostinho do que poderá encontrar aqui, e... se eu tiver sorte, o fato de
ter gostado da minha mão ou ter se afeiçoado a mim como aprendiz, pode
influenciá-lo!
— Ele tinha que ficar tentado, curioso, você foi aprendiz dele, tem que chocá-
lo. Que tal reproduzirmos “Françoise Of Mercy Funny”?
— Pirou?
— Não queremos que ele venha???
— Queremos que ele venha, não que o restaurante seja processado.
— Será uma homenagem. Quantos restaurantes franceses ousaram a
reproduzir esse prato???
— Nenhum e o motivo é justamente esse: ninguém teve essa audácia, o prato
é dele. E além de ser dele, é difícil, é complicado, é cheio de regras e não é de
domínio público, pelo menos não para venda.
— Você ficou um ano ao lado desse maluco, e acha que ele vai levar á mal se
você reproduzir o prato dele?
— Eu não sei se ele vai ficar puto, talvez não. Mas eu não vou arriscar.
Jamais que eu gostaria de ver alguém se “aproveitando” de uma criação
minha, e pior ainda, se ele se mostrar melhor do que eu mesma, cozinhar o
prato que eu inventei melhor do que eu? Eu ficaria puta, não só o processaria,
como daria na cara desse “zé ninguém”. Esquece isso, mas você me deu uma
ideia aqui...
— O quê?
— Criar algo, eu mesma, um prato oficial do restaurante. Algo que deixará
não só Françoise, mas todo o Jardins enlouquecidos.
— Uma brasileira criando um “prato francês”!?
— Muito ridículo!? — fico insegura e ele ri.
— Não sua pirada, é muito ousado! Todos os restaurantes tem, por que o seu
não vai ter!? Já não vejo a hora de experimentar uma criação sua!
— Nem se empolgue. Não tenho a menor ideia do que vou fazer! — eu
murmuro e ele acha meu nervosismo engraçado.
Jack era um palhaço, tinha esse apelido por ser extremamente fã de navios e
da temática de piratas. Quem olhava para seu porte de moleque malandro
maconheiro e “delinquente” não imaginava que aquele cara cozinhava
maravilhosamente bem e podia fazer milagres na cozinha, não importava o
que tivesse na geladeira. Era demais talentoso, perdia para mim claro, —
risos inconformados. — mas era o melhor da turma, teoricamente, segundo as
informações da faculdade, o segundo melhor. Tinha muita sorte em tê-lo.
— Bom, quer conhecer nossa cozinha ou não???
— Só se for agora!!! — ele diz empolgado, diz que faz questão de pagar os
cafés porque o dinheiro estava fácil, e me segue em direção á saída.
Assim que eu abro a porta de vidro antiga fazendo o sininho do alto tocar,
vejo Vince descer do carro com Vivi, e outros sócios da empresa que eu já
conhecia. Para estar todo mundo junto, era com certeza um “pequeno café de
negócios”, Vince continuava odiando comer fora, só comia a minha comida.
A minha reação ao vê-lo foi parar no meio do caminho, já a dele... foi de me
encarar franzindo o cenho, mas tentando não demonstrar surpresa, secar Jack
da cabeça aos pés com um semblante de ódio, e depois fechar o botão do
paletó seguindo o seu caminho para dentro de meu espaço pessoal. Até achei
que ele passaria reto por estar chateado comigo e com Allana. Desde a última
discussão no quarto, uma semana depois, ele ainda continuava mantendo
Allana praticamente trancafiada, e não mais tentava se aproximar de mim. Já
eu me mantinha do mesmo jeito. Mas ali foi diferente.
Ele se aproxima, segura meu queixo, fita minha boca sem ligar para todos os
olhares que nos direcionavam e me beija puxando minha cintura para colar na
sua. Eu nem sabia a intensidade da saudade que eu sentia daquilo, seu gosto
era de chiclete de menta, nossa casa, gosto familiar de Vicente, e amor.
Envolvo meus braços em seu pescoço, ele me aperta ao ponto de retirar uma
parcela de meus pés do chão, e meu corpo implora por um momento de
intimidade que não tínhamos já faz alguns dias.
— Vamos pra casa... — sussurro baixinho praticamente dentro de sua boca e
ele sorri com aquele seu charme que me fazia molhar a calcinha.
— Tenho uma reunião agora. Quem é o hippie desleixado? — ele pergunta,
eu finalizo o beijo quente e indevido secando os cantos da boca e só com o
olhar faço o Capitão se aproximar.
— Vince esse é o Jack... meu subchefe. Nos encontramos para que ele
pudesse assinar o contrato, aceitou trabalhar comigo, é meu colega da
faculdade... o melhor da turma!
— Prazer. — Jack estende a mão e Vince a pega com simpatia.
—... e Jack, esse é Vicente...
— O marido! — Vince deixa claro e eu sorrio negando.
— Como vai, Vicente? É um prazer conhecê-lo.
— Prazer é todo meu! Você é um filho da puta bem sortudo! Ouvir ordens
dessa mulher não é pra qualquer um, portanto, não estrague tudo! — Vince
diz e Jack sorri confirmando, estava vermelho de vergonha, sua face sardenta
denunciava sua constrangimento.
— Será uma honra acatar as ordens da melhor cozinheira que já conheci.
— Cozinheira casada, não esqueça disso.
— Eu também sou casado...
— Isso não me garante nada.
— Ok. — eu interrompo os dois e Vicente sorri lindamente.
— Nos vemos em casa em algumas horas. — ele diz e eu confirmo com a
cabeça. — Você está linda... espero te encontrar tão linda quanto, preparando
o nosso jantar! Se permanecer tão corada como está agora, ganha um ponto a
mais. Linda! — ele diz, me dá um selinho demorado me olhando nos olhos
com uma malícia fácil de descrever, e vai de encontro ao seus sócios ainda
sorrindo feito bobo.
— O amor é lindo, hein... — Jack ri ao meu lado e eu nego.
— Estávamos há dias sem se aproximar... ele só aproveitou o ciúme para dar
uma trégua em nossa briguinha boba.
— Se quiser posso viver no teu pé para que vocês parem de brigar um pouco.
— ele ri.
— Jack... quando ele chegar em casa teremos outra DR só porque eu “me
encontrei com um macho sem avisar a ele”. Se ele voltar a nos encontrar
juntos desse modo, vai me pedir o divórcio.
— Ele é assim tão...
— Ciumento possessivo? Demais. Mas toda a nossa briga não passará de um
pretexto para transar com selvageria, já que a gente não faz isso tem dias.
— Ok. Entendi. — Jack diz com timidez e eu dou risada batendo meu ombro
no seu. — Vocês parecem Sheila e eu. — ele diz por fim, e volta a rir.
Passo a caminhar ao seu lado ainda na calçada e sinto o olhar feroz do
executivo ciumento atrás de mim, na direção das janelas, mas não olho.
Estava ocupada demais pensando no que ia acontecer quando eu chegasse em
casa.
— Como vai a obra, cunhadinha linda? — atendo um telefonema de Vitor
assim que viro a chave da porta, horas depois.
— Está indo, Vitor, só não sei se escolhi a data certa pro coquetel. Talvez eu
tenha que adiar tudo.
— O que foi que houve?
— Nada. Só não acho que a reforma estará pronta.
— Talvez eu possa fazer algo...
— Não, não pode, você já fez muito. Está tudo certo com a vinda de vocês?
Trará Manu? Marcella?
— Sim, vamos todos, jamais perderíamos o grande dia! Sem contar que eu
tenho uma reunião com meu sócio da área de psicologia...
— Júnior... — jogo a bolsa na mesa de centro, tiro os sapatos, e me deito no
sofá. — acho que ele acabou de chegar de viagem com a Vivi, eu a vi agora
pouco. Oh, Vitor... você sabe do Greg?
— Por que eu deveria saber?!
— Sei lá... só tive esperanças. O Vince não sabe para onde ele foi tirar as
férias, Júnior não conta... queria saber se ele está bem.
— Desgraça chega rápido, ele com certeza está bem. Só liguei para avisar
que conversei com seu gerente e com o Gardenno, o dinheiro para os meses
iniciais está na conta que ele abriu pra você e ele logo te entregará um cartão.
Pode começar a tirar seus projetos dos papéis, ou melhor, seus ingredientes
dos armários.
— Falei com meu subchefe hoje, já poderei pagá-lo!?!?
— Sim, mas vá com calma. Ele assinou o contrato?
— Sim!
— Então tá, mas pense bem antes de pagar aquele valor inteiro. Se ele for um
mané, pega seu dinheiro e te deixa na mão. Tem que contratar pessoas
confiáveis.
— Ele é uma boa pessoa.
— Não existe isso de boa pessoa quando envolve dinheiro. Quando colocar
seu primeiro lucro no bolso, vai descobrir isso. De repente você vai se ver
repleta de milhares de melhores amigos. Cuidado, cunhadinha!
— Tudo bem, vou me cuidar. Obrigada pela ligação, pelo apoio, pela
confiança... por tudo, Vitor. Preciso de um banho, nos falamos em breve.
— Até. Boa sorte!
— Obrigada. — eu murmuro, desligo, e grito por Tia esquecendo que ela
tirou férias das nossas vidas assim como Greg.
Mais umas duas horas e eu teria que buscar as crianças... como meu celular
sempre tocava um alarme alto mesmo eu jamais tendo esquecido, sabia que
podia tirar um cochilo e que seria acordada pelo despertador. Eu estava
exausta, deveria descansar o máximo que eu pudesse porque amanhã seria
um dia cheio. Outro dia cheio, aliás.
Quando abro os olhos, percebo que já tinha anoitecido e me desespero, mas
sua voz invade o recinto para me acalmar. Recinto esse que era o quarto.
— Já busquei as duas, Allana está no quarto, e Navih dormindo. Já comeram,
já tomaram banho, Allana não tinha dever hoje, eu olhei os cadernos, e Navih
comeu toda a comida. — ele diz sentado no seu lado da cama, de costas pra
mim.
— Desculpa. Eu estava exausta... desligou o alarme do celular ou ele nem
tocou?
— Ele tocou sim, desliguei. — ele diz, volto a repousar minha cabeça no
travesseiro, e suspiro com preguiça. Me levanto meio grogue ainda, ignoro o
fato de que estava sem as botas e a calça jeans, e decido ir até Navih para dar
um beijinho na dorminhoca, mas sua atitude me faz parar na maldita porta.
Sua postura cabisbaixa me deixou confusa. Normalmente ele estaria me
encarando com desdém por causa de seu último feito para me provocar, mas
estava tão... triste?
— Tudo bem? — me aproximo o suficiente para que ele cole o nariz em meu
ventre e desse modo ele nega apenas com a cabeça. Cabeça essa que constato
estar quente ao colocar a mão. — Claro que não está. Você está com febre.
— Não é a primeira vez nessa semana... — ele diz e eu me afasto para pegar
o remédio. — Está ali, no criado-mudo.
— Por que não me contou? Tem que ir ao médico, tem que cuidar da saúde.
— Me desculpa por hoje, vi que não gostou da minha crise, não quis te
decepcionar com meu ciúme, só quis te deixar brava. — ele volta a
resmungar quando eu termino de espirrar Dipirona o suficiente em sua boca
aberta como se fosse um filhote de passarinho.
— Brava pode, né!? — sorrio, mas ele não vê, pois voltou a me agarrar pela
cintura.
— Tive medo. Muito medo... — ele sussurra e meu coração vira pó.
— Medo do quê?
— De você ter desistido e aproveitado que estava ao lado daquele hippie
bem-humorado e... já estamos há mais de uma semana sem sexo... culparia só
a mim mesmo se tivesse... meu Deus... você está acabando comigo.
— Foi só uma reunião para contratá-lo... não pense bobagem, muito menos
diga.
— O que quer que eu pense? Você não me procura mais...
— E nem você. Só estou fazendo o que sempre faço quando você faz
bobagem.
— Sabe que você sempre vence porque eu sinto saudade de fazer amor e não
porque concordo, certo!?
— Eu sei disso, mas depois você sempre me agradece no final.
— Eu sei! Você é um anjo na minha vida, você me salva todos os dias, você
está certa o tempo todo, sempre. É maravilhosa, é o amor da minha vida.
— Está dizendo isso porque está doente, carente, triste e com saudade de
mim.
— E porque te amo, e porque é a verdade. Estou aproveitando a febre para
assumir isso e amanhã, ao acordar melhor, poder fingir que alucinei e não sei
de nada. Provavelmente vou dizer que você está louca e mentindo para me
sacanear.
— Que tal se acordar amanhã e assumir a verdade?
— Vem aqui... — ele me puxa pela mão e eu me sento em seu colo, o meu
colo. — ela é muito pequena. Não diga que uma garota de quinze anos está
pronta, Allana não sabe nada da vida, ainda bate a sapatilha quando quer as
coisas. Mesmo que esse pirralho seja do bem, é um garoto, é um mini-
homem, cientificamente como diz meu irmão, ele já não presta!!!
— Allana não usa mais sapatilha, e hoje não bate o pé, ela só faz careta, rosna
como o pai, e corre pro quarto de forma teatral dizendo que ninguém a ama.
— Sinto sua falta. — ele diz olhando em meus olhos como se eu não tivesse
dito nada e eu só sorrio.
— Vamos resolver primeiro o...
— Não vou comprar teu afeto. Quero agora, sem dizer nada, sem precisar
fazer nada. Quero você dormindo ao meu lado porque aqui é teu lugar, não
vou te dar nada para ter o que é meu por direito. Perante a lei você não está
cumprindo com teu papel nessa instituição aqui. Posso até processá-la por
faltar pra mim, ganhar na justiça o direito de me separar e ainda tirar um bom
dinheiro de você. Infidelidade e ausência na cama são assuntos sérios para os
homens, quem criou essa lei foi um homem bem fodido... confia em mim, é
melhor você começar a me excitar ou te levarei para os tribunais.
— Você é ridículo. — eu dou risada e ele até tenta, mas não consegue conter,
ri junto comigo.
— Só queria dar uma aliviada, me perdoe, eu só faço e digo bobagem o
tempo todo, mas não me deixe hoje, cuida de mim, ainda estou com febre!
— ele coloca a minha mão em sua testa e eu noto quão bobo ele é.
— Dipirona é um remédio rápido, a sua febre logo vai diminuir.
— Temos uma semana de atraso, tem porra aqui capaz de fazer vazar pelas
suas orelhas, olhos, e boca... pensa bem. Quanto mais me deixar aqui assim,
pior vai ficar.
— Eu arrisco.
— Eu te amo e estou cansado dessa palhaçada. — ele diz, eu me levanto,
finjo que não sinto nada quando ele pega em minha mão com carinho, e sigo
para o quarto de Navih.
Dormia como um anjo a pequenina, eu não devia ter dormido tanto...
— Temos filhas lindas... quero mais umas trinta. — Vince entra no quarto e
me abraça por trás. Permanece assim, fitando comigo a respiração e o sono
tranquilo de Navih.
— Mudou de ideia, só queria mais dois... no máximo.
— Mudei, sim. Cada dia que passa, mais eu sinto vontade de terminar os
meus dias na velhice, contigo, e cheio de filhos. Ainda mais depois do sonho
que tive.
— Sonho? — eu me viro e ele sorri. Toco sua testa por notar sua pele um
tanto rubra e sinto a quentura, mas não digo nada.
— Sim, sonhei com a Nanda.
— Ah, que maravilha. Tudo o que eu queria era que você tivesse sonhos com
ela...
— Ela me disse algumas coisas desconexas, não entendi direito. Disse que
Alice estava chegando.. eu nem sei quem é Alice, mas eu acordei feliz
mesmo tendo dormido mal por causa da nossa distância...
— Alice.
— É assim que você chamava o nosso bebê? Você sonhou que era uma
menina, não foi!?
— Quem te contou isso?
— Ela. Ela disse no meu sonho que se encontrou contigo, que você fez
promessas a ela, e que “Alice” combinava com “Allana”. Não entendi muito
bem, eu estava em um lugar lindo, mas as cores começaram a se embaralhar e
eu acordei.
— Não brinca com isso, Vicente!
— Por que eu faria isso? O que eu ganharia? Jamais faria uma coisa dessas,
estou falando a verdade. Foi um sonho tipo revelação, sei lá... sei disso
porque já aconteceu antes. Há muito tempo atrás ela me disse que alguém
estava chegando para dar amor a mim e ao nosso bebê, foi perto da época em
que ela se foi, sei que falava de você.
— Não posso ter filhos, eu sei disso e você sabe muito bem... eu não posso
ter, Vicente.
— Então diga isso a ela, porque parece que ela não sabe. Ela quis me contar a
“boa nova”, contou e me deixou acordar com essa “bomba”. — ele diz
levantando as mãos e parece meio tonto.
— Vem, vem se deitar. Você não está bem, vou ter dar mais algumas gotas
do remédio e fazer um chá pra você.
— Nenhum remédio funcionará, quer pagar pra ver? Eu topo uma aposta, se
eu acordar do mesmo jeito ou pior, você perde.
— Se você acordar pior, te levarei ao médico.
— Se você voltar pra mim, eu melhoro. É febre psicológica, eu sempre tive e
Allana herdou isso de mim, tem até hoje.
— A única coisa psicológica aqui é sua chantagem.
— Tua rejeição vai me matar. — ele choraminga e eu desisto daquilo.
— Bebê chorão... vem pra cama, vou cuidar de você, sei do que você
precisa...
— Eu preciso de você, de preferência de quatro pra mim ou daquele jeito que
eu amo onde você coloca as pernas nos meus ombros e me deixa usar a boca
com suas mãos e costas espalmadas na parede. — ele diz me fitando. Tinha
coberto a face com as mãos, mas agora parecia interessado em me ver ficar
com vergonha.
— Chega até ser engraçado, você não está se aguentando! Vai ter uma dose
cavalar de Lara hoje, se me obedecer e vir pra cama. Vem!
— Só se me disser que acabou essa briguinha boba.
— Não sei do que está falando, eu te amo... agora vem.
— Diz... — ele fala baixinho e pega em minha mão de novo. Seu toque quase
inocente daquele modo, aquece completamente meu coração. — por favor.
— Acabou a briguinha boba.
— Pra nunca mais.
— Não. Talvez a gente tenha mais briguinhas bobas no decorrer desse
casamento, é normal.
— Diga ‘para nunca mais’, mesmo assim.
— Pra nunca mais, bebê mimado. Agora cumpra com sua parte, venha se
deitar.
— Vai dormir comigo?
— Vou dormir contigo.
— Pra sempre. — ele resmunga de novo enquanto eu o puxava pela mão.
— Pra sempre.
— Não, não, não... não sai daqui. — ele pede quando eu dou meia-volta para
sair do quarto.
— Eu já volto. Vou colocar Allana na cama e fazer seu chá. Já volto.
Eu garanto, ele volta a se deitar confiando em minha palavra, e eu bato na
porta da pré-adolescente antes entrar.
Ela aponta pro celular no ouvido, eu sorrio, e avanço para dar um beijinho
silencioso em sua cabeça loira.
— Não vai dormir aqui hoje??? — ela pergunta quando eu ameaço sair,
tapando a entrada do celular na mão.
— Seu pai está com febre, vou fazer um chá e monitórá-lo para ver se
melhora. Por que não vai ficar com ele um pouquinho enquanto eu vou lá
embaixo?
— Não. — ela diz depois de muito pensar. — Melhor não.
— Está bem.
— Está de pé, não é!? Você não vai desistir e deixar ele ganhar!!!
— Com seu pai doente do jeito que está ninguém ganha nada aqui, Allana. A
gente só perde. — eu digo com um toque de drama, saio sorrindo com meu
feito, comemoro somente por dentro ao retornar e ver pai e filha dando uma
trégua em um momento fofo, e sorrio com a cena.
— Então teremos um momento de paz nessa casa. — eu estendo a xícara pro
bebê chorão, os dois sorriem, e como notei que interrompi um papo
importante, logo me enfiei no banheiro para preparar a segunda parte do
plano de paz. Vince ia ceder, se não fosse por falta de sexo, ia ser durante o
sexo.
Demoro bastante no banho, me depilo e me perfumo inteira, e só saio quando
ouço a porta se fechar indicando que Allana já saira para voltar pro telefone
com o namoradinho.
— Baixou a febre? — me inclino para colocar a mão em sua testa e noto que
ele estava mais fresquinho, mas ainda estava quente.
Ele me olha nos olhos com sua cara de safado, cutuca o hobbie de seda e alisa
o bico de meu seio esquerdo quando nota que eu não havia colocado lingerie
alguma.
— Demorou no banho...
— Estava me depilando. Sempre demoro quando eu lavo o cabelo ou me
depilo.
— Deixa eu ver? Ficou lisinha? — ele pergunta puxando a cordinha e
fazendo o hobbie se abrir completamente. — Ficou... gosto assim. — ele diz
passando o polegar em meus grandes lábios e eu me arrepio inteira.
— Eu sei que você gosta, por isso fiz. Quer ver como ficou mais macia do
que já é...!? — eu pergunto e ele sorri de tanta felicidade.
— Sim, esfrega essa boceta na minha cara inteira, porra! — ele diz
empolgado enquanto eu já engatinhava na cama. — Que saudade... desse
gosto.
Ele resmunga, eu balanço o quadril fazendo minha intimidade percorrer cada
milímetro daquele rostinho de modelo exótico e gostoso, quando ele cansa
me faz parar, mete a boca me levando a loucura, e eu seguro um grito alto e
espontâneo.
— Vince... — eu começo, rapidamente ele me joga na cama, avança contra
meu pescoço ao mesmo tempo em que me toca com as pontas dos dedos,
passa a segurar meus seios com as duas mãos, e intercala as chupadas
obcenas entre um bico e outro.
— Falaremos sobre Allana depois. — ele diz esticando um bico por entre os
lábios me pressionando com seu pau ainda escondido no moletom, e eu gemo
alto. — Espera! — ele se levanta, vai até a sua gaveta de gravatas, e eu nego.
— Tu não vai me amarrar, Christian Grey!
— Eu não vou te amarrar, vou te amordaçar. Tem uma garota de quinze anos
no último quarto que de tanto te ouvir gritar quer saber o porquê que é tão
interessante “namorar”...
— Não é nossa culpa, é fase!!!
— Não importa. Ela não pode ficar sabendo toda vez que a gente trepa. Vou
achar uma solução para o isolamento acústico, e uma forma de te surrar sem
que ela pense que eu te espanque, até lá... você-está-proibida-de fazer-
escândalo. — ele diz pausadamente tapando minha boca com a gravata, mas
quando enfia sua vara endurecida em mim, podemos ver que não adianta
nada!
— Merda. — ele diz puxando o tecido frouxo, abafa o som usando a própria
palma da mão e continua metendo sem dó até gozar com seus olhos vidrados
colados nos meus, e sua boca separada da minha pela tua mão.
— Mais... — eu imploro agarrando seu pescoço em um abraço e ele sorri.
— É saudade o nome, não é!?
— Muita.
— Mama então... até ficar pronto de novo... — ele manda, me levanto na
hora, mas antes de me posicionar em um meia-nove só para me aproveitar da
situação, coloco a mão na sua testa.
— Você está sem febre.
— Essa boceta é o meu melhor remédio! O recomendado é uma dose
caprichada pelo menos umas cinco vezes ao dia. Sem isso eu definho. Isso
quer dizer que não tem outra explicação, se eu ficar doente de novo, a culpa
será sua. Todo mundo tem direito á saúde, — ele diz e aperta minha
intimidade com gosto. — e esse remédio aqui é meu por direito. Estou até me
sentindo um pouco abatido ainda... senta na minha boca de novo até eu me
sentir melhor, cumpra com suas obrigações e com a promessa de me fazer
feliz, cuide do seu homem direito!

— Caralho. — Vince resmunga ainda mastigando. Provava minha criação


junto com meus sogros, meus pais, Allana, Tia e meus amigos, — os
funcionários recém contratados do restaurante. — algumas horas antes do
coquetel. Passei duas semanas batendo a cabeça naquela cozinha quase vinte
e quatro horas por dia enquanto as obras ainda prosseguiam devagar e
sempre. Escrevia, pesquisava, anotava, descartava ideias... mas eu achava que
aquele, era o prato. Camarão sete barbas refogado e temperado com tomilho,
alecrim, orégano e sal, jogado em um creme com uma base de leite de coco
passado na frigideira com a crosta do tempero do refogado, ingredientes
secretos que eu não conto nem sobe tortura, azeite, e um toque quase
imperceptível de coentro. Depois de pronto é servido na casca de um pequeno
coco marrom, acompanhado de torradas especiais feitas com pães sem sal.
Leve, delicado e com sabor de praia e pôr-do-sol, do jeito que eu queria.
— O que significa esse “caralho”? — questiono nervosa. Todos eles
mastigavam, mastigavam, e não diziam nada.
— Está... está fantástico! Maravilhoso! — Vince diz sorrindo e mastigando, e
se apressa em mergulhar a colher no coco novamente.
— É o pescado mais saboroso que já provei, nora. E eu amo peixe, já comi
nos melhores restaurantes do mundo. — minha sogra diz e seu Henrique
concorda sem dizer uma palavra, comia feito um esfomeado, como sempre.
— Mas... está... no nível? Está tão bom quanto!?
— Menina... acabei de dizer que é o melhor! Virou meu favorito.
— Eu preciso da opinião de alguém que não gosta de mim. — digo sorrindo e
ela finge que ficou ofendida.
— Está delicioso, perfeito, filha! Aceite isso. — meu pai diz e eu agradeço
toda feliz.
— E vocês? O que acharam? Muito simples? Básico? — pergunto a Jack,
Júlio, Délio, mais chamado de Deck entre nós, Mariana, os cinco serveurs e
as duas recepcionistas... funcionários recém contratados que não entendiam
de gastronomia, mas que eram especialistas em servir, e Jonas o guloso: esse
era o gordinho da turma, arrancava suspiros nas massas... graças a ele nosso
menu ficou sensacional. Ele não só sabia cozinhar e gostava de comer, ele
entendia de todo e qualquer tipo de comida. Me lembrava naquele momento
do quanto que Jonas clareou minhas ideias na faculdade, e além de tudo, me
inspirou a ser cada vez melhor. Era bom rever os amigos, e era muito bom tê-
los ao meu lado.
— Olha... — ele murmura fazendo charme e ganha um chacoalhão meu. — já
vi que terei um chefe agressiva. — ele faz todo mundo rir e Vince logo se
levanta para me abraçar possessivamente. Acho que sabia o quanto a opinião
deles era importante pra mim. — Esse... como vai chamar? “Moqueca”
Villana...? Caldo Villana?
— Bouillon Villana, rapaz! — dou risada e ele confirma.
— Faz sentido. Só sei que eu... achei... esplendoroso!!! — ele diz e eu grito
de emoção. — É sério. Está ‘dos deuses’, não dá vontade de parar de comer,
é muito bom, muito diferente, e principalmente, muito saboroso e nada
enjoativo, acertou em cheio no tempero. Está harmonioso e de “lamber os
beiços”!
— Ela não gritou assim para a minha opinião. — minha sogra diz se
aproximando e eu a agarro.
— É porque mais de uma opinião boa, é melhor ainda, sogra. E também tem
seu amor por mim, você é suspeita pra falar, ama tudo o que eu faço.
— Ninguém perguntou diretamente a mim, mas eu preciso dizer que: achei
magnífico, chefe! — Jack diz, o restante concorda em uníssono e todo mundo
começa a dizer ao mesmo tempo o quanto gostou. Até Allana.
— Ok. Agora só falta Françoise amar.
— Ele vem mesmo? — Allana pergunta e eu dou de ombros.
— Francine disse que ele faria o possível, mas eu tenho esperanças, é a
assistente. Disse que faria ele vir, não sei se ela tem esse poder sobre ele,
mas... — eu respiro fundo olhando o relógio e me apresso. — Bom, vocês:
estão liberados. — falo para meus funcionários. — Vão tomar um banho e
buscar a família. Os aventais de vocês estarão na cozinha, às sete, sem
atrasos! Vamos, vamos, vamos... voltem aqui inspirados! E não esqueçam:
nossa noite de estréia serão de pratos clássicos, frios, vin d’or para o prato
principal da noite, demais bebidas especiais, e o principal: paixão em tudo!
Nos vemos em breve!
— Vamos arrasar! — Mari diz sorridente, me abraça, e por ter sido a última a
me cumprimentar, sai correndo para alcançar os amigos.
— Nervosa? — Vince pergunta baixinho e eu respondo do mesmo jeito.
— Extremamente. — eu digo e sigo para dar uma olhada em tudo só para
disfarçar a aflição.
O restaurante estava realmente luxuoso. Mantive a ideia de veludo vermelho
e madeira crua marrom, mas de resto estava tudo diferente e moderno, apesar
do enorme lustre de cristal que era mais um sonho que eu queria realizar e
consegui. Era um restaurante romântico, tão romântico quanto eu. Com a
reforma adicionei a sala de convivência dos funcionários e fiz planos justos e
bem legais de direitos, benefícios, e bônus para todo mundo trabalhar feliz e
me entregar logo o prêmio de restaurante cinco estrelas. Um funcionário feliz
era uma empresa lucrátiva. Engraçado que eu tive tão pouco tempo para
aprender sobre essas coisas, não bastava saber cozinhar, eu teria que saber
administrar meu restaurante.
— Vai dar tudo certo. Vamos pra casa colocar nossos vestidos “tal mãe, tal
filha”!
Allana diz segurando em minha mão de repente e eu sorrio concordando.
(...)
— Gostosa demais, minha esposa barra chefe, barra mãe-leoa, barra babá de
marido manhoso, e carente... — Vince como sempre entra no quarto quando
eu terminava de me arrumar, momentos depois. Eu já havia arrumado Navih,
ajeitado a roupa do bebê chorão, arrumado o cabelo de Allana com cachos
feitos no babyliss, e etc... estava enrolando para ir pro restaurante por puro
nervosismo. — O certo não seria você usar o uniforme?
— Na hora que eu for cozinhar, vou colocar, mas só depois. Não quer que
esse par de peitos deliciosos entrem em cena?
— Claro que não, eles são só meus. — ele diz e eu analiso o vestido de gala
preto e brilhante, todo rendado.
— Acho que sei o que vou comprar com meu primeiro lucro.
— O quê?
— Seios novos. Silicone.
— Nem fodendo.
— Ou um marido novo, menos machista.
— Seus seios são lindos do jeito que são. Silicone os deixariam parecendo
dois balões, fica ruim de pegar e apertar... e sim, — ele diz quando faço
careta. — já fiquei com uma garota na faculdade que tinha silicone, não curti.
Me lembro até hoje da sensação... opa! — ele exclama quando eu ameaço dar
um tapa em sua face barbuda.
— Se bater em minha cara te dou a surra do século, e sem sentar a vara, serão
só os tapas nessa carinha linda!
— Só você pode, não é!? “Lembra até hoje”???
— Lembro como era, ora essa... não lembro com tesão, lembro de parecer
que eu pegava em dois balões. — ele diz e ri.
— Vou colocar só de raiva!!!
— Coloca, minha paixão! Coloca o que quiser, qualquer coisa... — ele diz
me abraçando e enchendo meu pescoço de beijos. — cheirosa. Você pode
tudo. Terá tudo o que quiser da vida, eu te darei o mundo... vem cá um
pouquinho...
— Ah, não!!! Vince, não!!!
— Vai te ajudar a relaxar, você está muito tensa, vida. Só umazinha, pra
amansar... será uma “massagem clitoriana”. Tu goza e baixa a bola na hora!
— ele diz me posicionando com traseiro empinado, com as mãos apoiadas na
cama e eu sorrio, mas Allana bate na porta para nos acelerar.
— Poxa vida! Cadê o Vitor, a Marcella??? — eu pergunto ao chegar na sala.
Nossos pais nos aguardavam, iríamos todos juntos.
— O jato teve problemas e atrasou, mas ele disse que chegará a tempo. —
meu sogro avisa e eu fico aflita.
— Mas aconteceu algo? A frase “o jato teve problemas” me soa muito ruim.
— Não, foi burocracias apenas, graças a Deus! — minha sogra garante e eu
afirmo.
— Vamos todos, então... — eu digo, me sinto nauseada de repente e isso
assusta todo mundo.
— Eita! O que foi? — Vince segura em minha cintura imediatamente e todos
se aproximam.
— Só uma tontura. Eu tô muito nervosa. — estava mesmo! — E se...
ninguém aparecer, e se ninguém gostar??? — eu choramingo me entregando
a crise. — Vitor vai... além de se decepcionar, me processar, vai fazer você
falir. — eu o encaro ao meu lado e ele ri.
— Graças a Deus ele não conseguiria me fazer falir, — ele diz e ri de novo.
— além do mais, jamais faria isso e nem vai, seu prato é maravilhoso, a
degustação de hoje está perfeita, e você vai arrasar!!! Você é maravilhosa,
muito talentosa, e como sendo a mulher da minha vida posso dizer: ou eles
vão te amar, ou vão te amar, nem que eu tenha que ameaçar a família deles.
— ele diz me fazendo rir e eu ganho abraços de todos até me sentir melhor.
— Vitor disse para deixar os repórteres e o crítico com ele. Será que ele
esqueceu? Ele disse alguma coisa? — pergunto e seu Henrique nega.
— Ele não me disse nada, eu nem sabia disso. Que crítico ele contratou?
— Um da revista Veja. Não o conheço, fiquei de pesquisar os pratos que ele
deu cinco estrelas em São Paulo, mas esqueci.
— Relaxe, vai dar tudo certo. Você é muito boa, está pronta e vai arrasar!
Insegurança só atrapalha.
— E não fica bem nas fotos. — minha mãe diz, minha sogra concorda e eu
sorrio afirmando. Eles tinham razão.
Seguimos para fora, minha mãe carregando Navih, e Allana como sempre
correndo na frente para entrar primeiro no carro, a danadinha não mudava
nunca.
— Espera. — eu resmungo no particular quando ele abre a porta do carona
pra eu entrar. — Tô passando mal, Vince. — eu confesso sentindo a fraquesa
e ele trava me olhando nos olhos, mas depois sorri como se não desse
importância.
— Você está bem, só está nervosa. Confia, amor. Está tudo bem.
— Estou com a pressão baixa.
— E frio na barriga!? — ele pergunta e eu afirmo porque era a verdade. —
Nervosismo, ansiedade... vai passar, é só se controlar. Está tudo bem, vamos
logo pra essa aflição passar rápido. — ele fala, me faz entrar no carro, e
quando estaciona na rua bonita e arborizada demais do restaurante, eu me
sinto ainda mais aflita e surpresa. Estava lotado. Como combinado com todos
os funcionários anteriormente, todos já estavam sendo bem recebidos, mas
havia uma fila gigante ainda, do lado de fora. Alguns com o convite oficial
nas mãos, outros entrando direto com uma pulserinha, coisa da empresa que
Vitor contratou. Meu cunhadinho “favorito” parecia saber o que fazia, mas eu
não entendia nada.
— Chefe Lara Amaral... pode nos dizer o que o coquetel do novo restaurante
de gastronomia francesa do Jardins está prometendo? Como se sente? O que
podemos esperar dessa noite tão comentada...??? — um repórter me ataca
assim que coloco meus pés para fora do carro, e enquanto eu pensava na sua
primeira pergunta, ele já fazia a vigésima.
Assim que termino de responder a todas as perguntas dos três jornalistas que
estavam lá, entro no restaurante com Vince ao meu lado e fico encantada com
o trabalho dos garçons. O restaurante estava lindo, aconchegante, com uma
musiquinha ambiente bem animada, e com um cheiro de lugar requintado.
Estava maravilhoso.
— Filha! Tá muito lindo, Lara!!! — minha mãe logo me agarra chorando e eu
concordo.
— O que acha de parar de limpar a casa dos outros para vir trabalhar
comigo??? Pode ser minha consultora, organizadora... com o teu bom gosto,
eu estarei bem feita. — eu digo ao me lembrar que queria fazer aquela
proposta a ela e ela chora ainda mais. Claro que passei todos esses anos
mandando ela se aposentar, mas sempre negou. Disse que ia faxinar até o fim
de sua vida e que jamais se “apoiaria” na filha dela.
— Tá falando sério!? Uma proposta dessa, agora???
— Só lembrei agora, estava planejando te perguntar isso há muito tempo.
Não quer parar de trabalhar, pelo menos podia parar de ficar faxinando casa
de granfino por alguns trocados!
— Eu não acredito! Óbvio que quero!!!
— Então está contratada, dona Mag! — eu afirmo e ela sorri me abraçando.
— Opa! E temos aqui, a grande Chefe Lara Amaral! — Júnior entra no
restaurante, aceita uma taça de champanhe do garçom que passava por ali,
pega o menu especial da noite que a recepcionista ofereceu, e sorri após me
soltar de um abraço caloroso. Vivi ao seu lado vestia um vestido preto
maravilhoso e estava muito chique.
Ela cumprimenta a mim e ao Vince e assim como Júnior, também me felicita.
— Obrigada por virem. Cadê seus pais??? Como foi de viagem? — me
desembesto a perguntar e ele ri.
— Bom, eles estãos procurando um lugar para estacionar, o evento
praticamente zerou a calçada em alguns quarteirões. E sobre a viagem, nós
três amamos. Foi maravilhoso. — ele diz trazendo Vivi para perto e eu travo.
— Três??? Está gravida??? — questiono, Vivi nega com uma cara assustada,
e Vince e Júnior caem na risada. — Certo, o Murilinho, você é um bocó
Júnior. — eu murmuro com meu rosto queimando e eles riem ainda mais.
— É sério. Nos divertimos como nunca antes, fala aí, neguinha! — ele diz,
Vivi nega sem graça de novo, mas depois ri afirmando pra mim com a cabeça
de forma empolgada, o que faz nós três rirmos juntos. Ali ela deixava claro
que a viagem foi maravilhosa e devia ser mesmo, Júnior era gato e devia
mandar bem. Só sorrio.
— Bonne nuit, famille. — Vitor invade o recinto com Marcella ao seu lado,
aceita o menu sorrindo de forma charmosa para a recepcionista, e se
aproxima.
— Como vai minha pessoa favorita no mundo? — ele encara Vince com
extremo bom humor e Vince nega sorrindo. — Sentiu minha falta, sim ou
claro, maninho???
— Como vai, Vitor? — ele o cumprimenta e eu correspondo ao abraço
carinhoso de Marcella.
— Eu vou melhor agora, sabe disso... — ele diz, ri alto, e agarra o irmão com
felicidade. Vince corresponde da mesma forma. — E minha cunhadinha
talentosa e profissional? — ele para em minha frente, beija o alto de minha
cabeça como da última vez e eu sorrio.
— Feliz, graças a você.
— Ah! Não. Você está feliz graças a sua capacidade extraordinária de
cozinhar. É por isso que está feliz, porque é talentosa, eu não tenho nada a
ver com isso. Eu não tenho mérito nenhum aqui, nunca se esqueça disso.
Você tinha um milhão de meios de chegar até aqui, eu sou só um detalhe
profissional, é tudo mérito seu e só seu!
— Obrigada cunhadinho favorito!
— Ah! Você não muda nunca!!! — ele aperta minha bochecha, agarra Júnior,
e depois faz o mesmo com Vivi.
Por causa de sua chegada barulhenta e animada, nossa família que percorria
todo o perímetro do restaurante checando cada canapé disponível na enorme
mesa com as entradas frias que cozinhamos mais cedo, se aproxima para
cumprimentá-lo, cumprimentam quando vêem Júnior e Vivi do mesmo modo,
e eu volto minha atenção para cumprimentar pessoas que nunca vi na vida,
mas que iam entrando, uma após a outra.
— Já, já ofereceremos os pratos quentes, aí terei que me juntar a eles. Acho
que devo ir agora para não atrasar nada...
— Eles estão cuidando de tudo. Você tem mais algum tempinho até receber
pessoalmente o máximo de pessoas que puder, relaxa, a noite está só
começando e seus funcionários sabem bem o que precisam fazer. As entradas
estão prontas, não precisam de você agora, e além do mais... eu quero que
você esteja aqui para receber meu presente especial, então fica aí bem
paradinha...
Ele diz se colocando atrás de mim e segurando em meus ombros de maneira
carinhosa.
— Não me diga que...
—... bem na hora, que coincidência, aí está ele. — ele murmura baixinho em
meu ouvido e eu sorrio feito boba. Logo pensei em Françoise por ter falado
presente “especial”, mas não. Era muito mais que isso.
Caíque, e seus pais era o “presente especial”.
— Você é incrível. — eu murmuro fitando o garoto de cabelo liso que vestia
uma roupa social cara de forma rebelde, e enquanto seus pais eram
recepcionados, ele vasculhava cada canto do lugar procurando por Allana.
— Incrível é o meu remédio milagroso. Uma dose de boceta direto na boca,
cinco vezes ao dia, tudo melhora e com isso você tem seu marido nas mãos.
Eu sei que você não dá conta de ficar um dia sem me dar essa bocetinha, é
maluca por mim, adora gozar pro teu macho, e eu sei que sofre muito quando
faz greve, muito mesmo, então só faz quando é realmente necessário e eu
tenho consciência disso. — ele sussurra me abraçando e apoiando o queixo
no meu ombro para direcionar suas palavras para o meu ouvido de modo que
só eu escutasse. — Você sim, é incrível. Sem você eu sou só um pai, marido,
e cabeção ciumento e cheio de falhas.
Ele diz e eu me viro para olhar em seus olhos. Estava boba com sua atitude.
— Esse olhar diz que se não estivesse tão atarefada, com certeza me daria
mais uma dose bem agora. Deve estar encarcharcada, minha chefe de cozinha
gostosa, daria qualquer coisa para conferir agora mesmo, eu daria um rim
para cuidar disso pra ti e deixar tudo sequinho, no lugar.
— Você não tem limites.
— E você gosta disso.
— Muito. Sentar em sua boca não é um remédio só para você. É uma espécie
de droga pra mim também, vicia... — eu digo baixinho e ele sorri fitando
minha boca. — e é porque vicia que eu estou tendo uma crise de abstinência
nesse exato momento.
— Isso é a coisa mais romântica que eu vou ouvir hoje, certo!? — Vitor diz
atrás de mim, Vince franze o cenho sorrindo e um tanto quanto tímido,
mesmo tendo visto o irmão se aproximar. Ele viu e não me disse nada.
— Desculpa, estava tão bom que eu não quis te interromper. — ele fala sem
graça, encara o irmão e eu me viro para encarar o filho do dêmo.
— Não esquenta. Será nosso segredinho.
— Eu vou contar isso pra Marcella.
— Conte. Quem sabe ela não curte, e sente a mesma vontade bem agora???
Estou brincando, desculpa. — ele diz de uma vez e eu reviro os olhos. — Eu
não vim para xeretar o papo, vim te alertar, o crítico estará aqui para provar
os pratos do menu, mas ele não vai dizer que é o crítico. — ele ri. — Portanto
fique aí e sorria para todo mundo por via das dúvidas. Ele não vai só criticar a
comida, vai criticar a chefe, os funcionários, a recepção, o clima... conversou
com todos eles?
— Sim. — já digo aflita. — Estão todos preparados. Você já viu a cara dele?
Me diga quem é.
— Quando eu vê-lo entrar, eu digo sim. E só mais uma dica. Trate como reis
quem estiver de pulseirinhas.
— Isso não é discriminatório?
— Isso é negócios, cunhadinha. Isso significa milhões na sua conta. Você
quer atender as pessoas, certo!? Pessoas selecionadas, ricas, aqueles que têm
cacife para pagar seiscentos reais em um prato de sopa com um bolinho...
então começe a focar nelas. Todos os convidados são especiais, são
importantes, e são da alta classe, mas os que têm pulseirinhas, os que não
estiverem balançando um convite por aí, não só tem dinheiro, mas tem muito
dinheiro, posses no exterior, influências, e os amigos que você precisa. Estou
falando de donos de Siderúrgicas, eventos mais badalados do Brasil e da
França, ministros, editores de jornais e de TV... empresários de diversos
ramos estarão aqui hoje, inclusive influencers viciados em tecnologia que não
pararão de tirar fotos do lugar e dos pratos para milhões de seguidores no
instagram. — ele diz e ri. — São eles que você tem que focar em fidelizar se
quiser fazer desse estabelecimento, um local cinco estrelas, coloque na sua
cabeça que seu foco são essas “pessoas especiais”. Desapague do “povão”, ou
vá cozinhar cachorro-quente. — ele finaliza seu conselho com seriedade
como se fosse um sermão, e eu fico impactada enquanto Vicente parecia se
divertir.
— Cachorro-quente é uma delícia, ok!? E o meu é maravilhoso, eu seria a
melhor até no cachorro-quente.
— Mas se especializou em comida pra fresco. Agora aguente o tranco!
— Pare de ser tão rabugento!
— Pare de reclamar de meus conselhos!
— Parem os dois. — Vince nos interrompe e a gente ri disso.
— Cadê Manuella? Flávia?
— Elas estão vindo, estão a caminho.
— Na verdade elas já chegaram.
Vince nos faz dar atenção para a recepção, e a cena é a melhor possível,
apenas Vitor parece não gostar muito do que vê.
— Oi. — Flávia chega de mãos dadas com um cara gato demais, boa pinta,
alto, forte... e quando Manuella corre para os braços do pai, ela segue seu
caminho até mim para me felicitar como todo mundo. — Parabéns, Lara!
Obrigada pelo convite, seu restaurante é muito lindo. Te desejo muito
sucesso!!!
— Obrigada, Flávia!
— Te trouxe um presente. — ela diz de forma simpática, me estende um
pacotinho, eu agradeço, e ela cumprimenta primeiro Vince, e depois
Marcella. Fico as encarando enquanto se abraçam, não noto nenhuma tensão
e acho isso legal, estava feliz por presenciar aquilo. Eu não teria a maturidade
das duas, mas é bonito de se ver.
— Oi. — ela encara Vitor, ele não disfarça a cara de espanto por seu
cumprimento, mas mesmo assim assente com a cabeça, e sorri pra ela. —
Esse é o Murilo, meu namorado. Murilo esses são meus amigos, Vicente,
Lara é a dona e chefe do restaurante... — ela vai nos apresentando e ele nos
cumprimentando. Até que um Murilo simpático fica frente a frente com um
Vitor desconfiado.
— E esse você já conhece, falo dele pra você. É o Vitor, pai da Manu.
— Fala bem ou mal? — Vitor sorri pra ela ignorando completamente o
bonitão e eu seguro a respiração para não rir alto quando vejo uma Flávia
envergonhada gaguejar.
— Ela fala bem. — Murilo se adianta para defender seu território. — Com
toda a certeza sem nenhuma mágoa.
— Eu aposto que sim. Hoje temos um relacionamento sadio, saudável... bem
gostoso... — Vitor fala e o Murilo fica putaço, mas se controla.
— É claro que sim. Manuella merece isso... é uma princesa linda!!!
— É, não é!? Flávia e eu fizemos direito, não foi!? — Vitor fala e faz carinho
nos cabelos da pequenina. — Olha que princesa linda. A mamãe e o papai
capricharam, não foi, Manu?
— É claro! — a pequena diz com graça, tão bem humorada como o pai e
Murilo sorri para a pequena, mas quando volta seu olhar para Vitor, deixa seu
sorriso desaparecer no ato, sem cerimônia alguma.
— Com certeza, ela é linda. — ele afirma e Flávia umedece os lábios de
forma nervosa.
— Puxou a mãe. — Vitor responde, Murilo concorda com a cabeça e depois
sorri parecendo pensar em alguma coisa.
— Com certeza puxou, é linda, uma princesa como a filha... e o melhor, é
minha. Sou muito sortudo, certo!?
— Ah! Eu sei bem disso, com toda certeza é.
— Ok. — Flávia resmunga antes de surtar. — Vamos conhecer o
restaurante... — ela encara Murilo e ele sorri concordando.
Os dois pedem licença, ela dá uma boa encarada em Vitor, pega Manu pela
mão, o próprio manda um beijinho em resposta, e depois ri quando eles saem.
— Eu vou acabar pedindo o divórcio se você não parar de agir assim, e estou
falando sério. Se não consegue deixá-la em paz, não é bem ranço o que sente
por ela, é amor encubado, aquele amor não correspondido do passado. —
Marcella o encara e fala para todos ouvirem, e eu digo todos porque nesse
momento Júnior se aproxima de nossa rodinha.
— Eu não tenho ciúmes dela, não gosto dela, eu tenho ranço é dele. É meu
concorrente em Nova York, esse cara já tentou me foder de diversas formas
durante toda a minha vida lá fora, fiz minha pós com ele. Esse malandro é
primo do diabo! Ela fez de propósito, só para me provocar, ela sim me quer e
não diz, é com ela que você tem que brigar, não comigo.
— Ela não é nada minha.
— Não teremos uma DR aqui na frente de todo mundo, certo!? Se eu
gostasse dela, estava com ela, eu consigo tudo o que quero, era só fazer assim
que ela viria. Eu quero você! Quer que eu grite isso para todo mundo ouvir?
— Não faça isso, por favor. — eu peço e ele ri.
— É sério, sem ciúmes hoje, ok!?
— Se olhar para os dois...
— Vai fazer o quê? — ele pergunta com uma cara péssima e ela trava.
— Vou cortar seu membro em pedacinhos e jogar no Tietê. Pagará pra ver???
— Ah! O que eu faço com essa garotinha??? — ele resmunga sorrindo e
fitando sua boca como Vince faz comigo. — Fica tão sexy quando fica
putinha, com ciúmes... isso me faz lembrar do Murilinho, não aquele babaca,
mas o Murilinho do nosso psicólogo, aqui. — ele diz e todo mundo ri, já
virou piada interna aquilo, há anos. — Só funciona contigo, princesa!
Ele diz, ela confirma com a cabeça e sai praticamente batendo o pé toda
revoltada.
— Se eu repetir que realmente gostaria de ser gay, vai ficar estranho? As
mulheres são tão complicadas!!! — Vitor diz se fazendo de chateado.
— Ficou claro que você sentiu ciúmes, que história é essa? — Vivi resmunga
e Vitor faz uma cara péssima pra ela.
— Não pira. Eu apenas não quero um padrasto como ele para minha filha,
apenas isso. Ele não presta. Eu amo Marcella, se não amasse como eu amo,
teria me “juntado” com Flávia para principalmente dar uma “família padrão”
para a Manu. Teria me envolvido com ela, não perderia nada, mas amo
Marcella. Só não vou deixar aquele cara perto das duas, ele não vale nada!!!
— Então vocês deviam ser amigos, porque você também não vale nada. —
ela diz e ele dá aquele sorriso falso antes de se retirar.
— Já vi que isso não vai prestar. — Vince fala como sempre preocupado com
o irmão e eu suspiro. — O que acha? Foi, não foi? — Vince questiona Júnior
e ele ri.
— Não sei, talvez. — ele fala, Vince ameaça ir conversar com o irmão, mas o
que Júnior diz a seguir, o faz desisitir. — Mas não esqueça que ele é um
homem adulto. É responsável pelas próprias escolhas, sabe o que faz, e não
precisa mais do irmãozinho ‘mais ajuizado’. Deixe seu irmão viver a vida
dele, cometer os erros dele, acertar sozinho, e foque no que é importante
agora. — ele diz, Vince concorda, e eu me viro.
— Agora estou saindo à francesa. Você é o marido da anfitriã, cuide de tudo
pra mim, e como disse seu irmão, dê um carinho especial para todos que
estiverem com a valiosa pulseirinha. Vou para a cozinha que é meu lugar!!!
— eu digo e olho ao redor, já estava cheio o restaurante. — Juízo. Te amo!
— Também te amo! Arrase, minha gata! Vou morrer de saudades aqui... —
ele diz e eu dou risada. Era sempre tão exagerado.
— Cheguei minha gente!!! — entro animada na cozinha e eles pulam com o
susto.
— Eu também cheguei!!! — a voz de Tia surge atrás de mim antes deles me
xingarem pelo grito e eu choro por vê-la, não sei se pela emoção, saudade,
surpresa, ou tudo junto.
— Ei! O Júnior disse que vocês estavam manobrando o carro! Você
demorou! Que saudade!!!
— Ué... Por que você está chorando...? — ela me encara, ergue uma
sobrancelha e eu dou risada enquanto choro.
— Você não sabe a falta que faz!!!
— Nós nos vimos hoje mais cedo, sua doida! Não chore menina boba. Achou
que eu não viria?
— Não, sei lá! Só estou nervosa, eu ando muito nervosa! Cadê o maridão?
— Já procurou uma mesa para sentar, está mais velho que eu...
— Acha que eu consigo? Você nunca mentiu pra mim, acha que eu darei
conta disso aqui tudo? — questiono baixo me desmanchando em lágrimas e
ela chora junto.
— Menina... que pergunta boba. É óbvio que você consegue, você é muito
talentosa e caprichosa. Tem mãos de fadas, todos notarão isso! Que minha
mãe lhe proteja, permaneça do seu lado durante toda a noite e sempre, e que
te conceda a glória, porque você merece, filha! Chegou sua hora de brilhar!!!
— Obrigada, Tia!
— De nada, chorona. Agora vá cozinhar! Vá consquistar os corações
famintos dessa gente fresca!!! — ela murmura brincando e me faz rir.
Quando ela sai, respiro fundo, e vejo todo mundo parado nos encarando e
claro, choramingando junto comigo.
Aliso meu Dólmã branco no cabide, levo ao nariz para sentir o cheirinho e
respiro fundo.
— Ok. Eu não sou boa com discursos então não vou nem tentar, mas... eu
quero que saibam que eu estou muito feliz, hoje é um dos dias mais felizes da
minha vida, e é muito bom poder dividi-lo com vocês. Eu tenho uma meta
hoje que é: deixar esse povo todo extremamente impressionados. Eles tem
que saírem daqui amando esse lugar, nós somos os melhores, não contratei
vocês a toa, então vamos abalar essa cidade e virar notícia. Eu não exijo nada
de vocês além da paixão que eu sei que vocês sentem pela cozinha, então
vamos deixar esses granfinos importantes tão apaixonados quanto nós!!! Não
me decepcionem!
— É isso, aí, chefe! Vamos arrasar e fazer bonito pra capa da Veja! — Jack
diz e eu ganho um abraço coletivo.
— ‘Veja’ hoje...
—... ‘Le Mond’, amanhã! — ele continua minha “frase-mantra” e eu
confirmo com a cabeça.
— C'est tout! Então vamos lá, bora ligar o fogo. E não esqueçam: no fim da
noite quero relatórios de todas as nossas necessidades. Tudo o que sentirem
falta, anotarão. Quero essa cozinha em perfeito funcionamento e para isso
acontecer vocês precisam ter tudo o que sentirem necessidade... certo!?
— Oui, patron! — eles respondem em uníssono e eu me sinto a mulher mais
realizada do mundo.
Me troco no banheiro, seguro mais lágrimas pelo sonho realizado e corro para
o layout central.
— Vou chamar o Alisson. Produziremos cada prato de acordo com os
pedidos, nada de deixar acumulado e desperdiçar no fim da noite. Para
começar vamos aos aperitivos. Mari com a casquinha de Siri, Júlio no
Carpaccio, Deck com o ‘César’, e Capitão Jack disponível já esquentando os
fornos para a degustação das entradas. O prato Villana, claro, eu preparo. —
eu falo, todos concordam, e eu chamo Alisson, um dos garçons, pelo aparelho
que vibra como um celular. Um modo modernos de nos comunicarmos.
Quando ele chega fico impressionada com sua formalidade. Até coloca a mão
pra trás para falar comigo. Havia falado comigo numa boa de tarde, mas
agora parecia outro cara.
— Oi. — eu digo fazendo charme e ele sorri. Devia ter a idade do meu pai.
— Você pode relaxar, tá legal!?
— Eu não costumo fazer isso, mas posso tentar, chefe! — ele sorri de novo.
— Durante o serviço, somos clássicos.
— Ok. Seja como quiser, eu só quero que se sinta bem. Certo?
— Sim, chefe!
— Está bem. Nós vamos começar com os aperitivos do Menu então com
ambos, a sugestão da casa é vinho branco. Vocês podem começar a retirar os
pedidos quando todos estiverem confortáveis, mas antes disso, quero que
retirem os pratos frios da mesa da recepção e deixe nela a nossa decoração
tradicional. Não quero mais que pareça um coquetel, quero que eles sintam
como serão tratados em um jantar “comum” aqui. Tudo bem? Muito sorriso,
cordialidade, simpatia... e me desculpe se estou sendo repetitiva porque já nos
reunimos nessa tarde e eu já falei tudo isso, mas é que eu estou nervosa... —
eu dou risada sozinha e ele concorda.
— Sairá tudo perfeitamente do gente que a senhora planejou, chefe!
— Certo, obrigada. Ah! Tratem todos como reis e rainhas!
— Sim, chefe. — ele diz com sua familiar formalidade e eu sorrio quando ele
vai, mas após levar algumas entradas juntos com os outros garçons, ele
retorna.
— Chefe, tenho um convidado insistindo no preparo de um Frois Gras. Mais
precisamente “Peru ao molho de Frois Gras”.
— Pode dizer que não teremos esse prato no restaurante. Nem agora e nem
nunca, mas diga com mais educação do que eu... — eu murmuro preparando
uma pequena porção do Villana... o prato principal da noite.
— Eu já disse, chefe.
— Diga de novo, Alisson. — Jack diz, ele concorda, sai para acatar a ordem,
e Jonas ri.
— Eu sabia que a ausência desse prato no menu ia dar o que falar.
— Não somos obrigados a cozinhar. — Júlio diz e Mari resmunga alguma
coisa, mas não escuto. Estava concentrada.
— Mas isso não quer dizer que não nos irão encher o saco por causa disso.
Aguardem... ainda teremos muitos causos por causa disso. — Jonas promete,
dá uma risada engraçada, e eu sorrio.
— Chefe, o cliente faz questão de sua presença. Disse que não sairá daqui
sem comer o prato. — Alisson volta e eu concordo.
— Tudo o que esse cara vai comer hoje, é poeira! — eu digo limpando as
mãos no pano de prato e eles riem disso.
Acompanho Alisson até o salão, sinto o olhar de minha família e alguns
convidados e ele me leva até uma mesa para dois. Um rapaz e uma moça. Só
os reconheço quando chego muito perto.
— Mentira!!! — eu evito gritar, e choro mais um pouco. — Você veio!
— Faz muito tempo que ninguém fica feliz desse modo ao me ver. —
Françoise diz com seu francês naturalmente fluente, se levanta, me abraça
apertado e ri do meu choro.
— Isso é tão ofensivo. — Francine zomba do que ele disse e nós rimos
juntos.
— Você não vale, Fran. Você é café com leite. — ele pisca pra ela e volta a
me doar atenção. — Não tinha como não vir. Estou extremamente feliz por
você, você me orgulhou muito hoje. Eu tinha que te ver nesse momento e não
me arrependi, valeu a pena, Lara, seu espaço é lindo, suas entradas estão
impecáveis, e eu não estou me aguentando de tanta felicidade porque eu
acho... que tenho uma pequena parcela de culpa nesse talento para a culinária
francesa, mesmo se recusando a preparar o “estômago dilatado”. — ele diz e
dou risada.
— Pequena parcela??? Você tem muita! Você não tem noção do que é te ver
aqui, ouvir isso de você... — eu gaguejo com meu francês medíocre. — Eu
sou sua fã número um!!!
— Eu que sou seu fã. E falei isso para os repórteres lá fora, quando entrei.
Você fará um sucesso enorme, e eu vou esperar pacientemente por uma filial
na capital parisiense.
— Esse aí seria o meu próximo sonho. Quem me dera chegar lá.
— No que depender de mim, vai chegar, abrirei espaço pra você. Como seu
“mestre”, é muito bom para mim que chegue longe!
— Você nem imagina o que eu queria cozinhar para te impressionar... — eu
falo me sentindo uma boba.
— O meu prato!? Aposto que não cozinhou por pura insegurança...
— Quem sou eu para ousar fazer isso...!?
— Alguém que poderia reproduzi-lo até melhor que eu!?
— Não diga tamanho absurdo!!!
— Não é absurdo é a mais pura verdade. Aprendeu muito com o melhor, por
isso é a melhor. Se um dia quiser cozinhar “Françoise” para mim, eu vou
amar!!! Vai ser no mínimo divertido.
— Você é muito gentil!!! — eu dou risada e ela nega com a cabeça.
— Sem querer abusar, mas já abusando... tiraria uma foto conosco??? — ele
questiona e eu fico sem graça. Eu que queria uma bendita foto.
— Eu até pagaria por uma tua aqui, no meu restaurante. Pensa no tanto de
dinheiro que vou ganhar por alugar essa mesa que você sentou!?!? — eu digo
e ele ri. — Viria até a cozinha? Meus amigos amariam demais te conhecer e
podemos tirar fotos lá, com eles também. Colocarei uma nossa bem grande
aqui no salão, para todos verem!!!
— Pare de me mimar... se eu ficar metido vou querer tratamento VIP assim
todos os dias em que eu te visitar... — ele diz, Francine já levanta
possessivamente para nos acompanhar, e eu vejo Vince sentado com nossa
família, na enorme mesa que separei para eles. Seu olhar era aquele já
familiar do tipo: “que porra é essa aí? Se controla ou eu encho você de tapas
quando chegarmos em casa. Toda oferecida para esse infeliz de uma figa...
você é minha...” e blá blá blá.
— Ah! Vem cá, só um minuto. Você já conhece o Vince e as crianças, mas
quero te apresentar o restante. Ficarão enciumados se eu não levar você até
eles. — eu peço com discrição, ele segura em meu ombro, claro que em um
gesto apenas amigável, mas a cara de Vince só piorou.
— Gente, esse é Françoise! Falo tanto dele que vocês já conhecem de forma
íntima, certo!? — eu digo feliz, Francine me traduz, pois fala português e
bem por isso — também por isso. — veio junto para acompanhá-lo, e todos
se levantam mesmo mastigando, ficaram animados com sua presença, menos
Vince.
— Tudo bem? — me aproximo do ciumento enquanto Françoise recebia
abraços e beijos e ela afirma com a cabeça, ainda de cara fechada. — Pare
com esse ciúme bobo. Sou sua! — eu sussurro de modo que só ele escuta e
ele parece não ter escutado nada. Fitava o francês e não gostava nada de sua
presença ali, mas eu sabia que ele nada falaria.
— O marido dela odeia você. — Francine diz em francês para Francoise e
meu ‘mestre’ ri.
— Diga que o nosso relacionamento é estritamente profissional e não passa
da cozinha. — Françoise murmura pra ela, Francine ri e Allana que falava
francês melhor que os dois se manifesta.
— Acho melhor ela não falar não. Meu pai é extremamente possessivo, se
você provocá-lo, sairá daqui de dentro roxo!!!
— Allana!!! — eu resmungo, ela faz uma cara feia, e volta a dar atenção para
Caíque como fazia antes.
— É um prazer revê-lo! — Françoise estende a mão, murmura em um
português ruim, e Vince retribui no ato.
— Seja bem-vindo. — Vince diz com desgosto e Francine traduz.
— Vamos lá, Lara, antes que seu marido brutamontes me arrebente aqui. Um
escândalo não fará bem para seu estabelecimento. — ele diz, dá tchau para
todo mundo, e eu vejo meu marido começando a respirar como se tivesse
acabado de correr uma maratona. E fazia isso porque como aconteceu no
restaurante dele, em Paris, Françoise também segurou em minhas costas para
me conduzir e Vince odiou sua liberdade, exatamente como da outra vez.
Sigo com os dois para a cozinha, e os apresento animada, mas o climão de
minutos atrás que me deixou um pouco triste, me desanimou bastante. Logo
após assinar o avental de todos, tirar fotos conosco, experimentar todos os
pratos disponíveis, claro que menos o meu no momento, e conversar com
todos eles, Françoise me abordou.
— Posso pedir desculpas a ele. Esqueci que Allana falava francês, não fiz
para criar um clima ruim. Me perdoe, ma chérie! Acho que seu marido me
odeia. — ele se aproxima de mim no layout quando eu me distancio um
pouco e eu entendo.
— Eu fiquei um ano entre Paris e São Paulo... Vince me conheceu sabendo
que eu era muito tua fã e depois ainda me viu passar um ano contigo, sendo
sua vizinha lá, falando de você e de tudo o que você significou... ele é muito
ciumento, não sabe separar as coisas, confia em mim, mas não confia em
você, na verdade não confia em homem nenhum. Se perdoá-lo pelo ciúme
bobo, eu te perdôo por tê-lo provocado.
— Combinado. — ele sorri.
— Ótimo. Pronto para experimentar o prato “Villana”? — eu sorrio e chamo
Alisson com a mão quando o vejo trazendo mais pedidos, só que agora da
entrada do menu...
— Não vejo a hora de experimentar!!! — ele garante sorrindo.
— Então vá se sentar. Vou mandá-lo para tua mesa em alguns minutos.
— Nada de me mostrar o preparo, certo!? Boa menina... — ele ri, se despede
de todos, mas prolonga o papo por causa dos cozinheiros maravilhados com
sua presença. Nisso, Alisson se aproxima.
— Peça para o ‘doutor Amaral’ me encontrar no escritório em dois minutos.
Diga que é importante. — eu digo baixo, ele assente, e eu corro para lá pra
logo poder voltar pra cozinha o quanto antes.
— Você me chamou. Está tudo bem? — ele estava de pé andando para lá e
para cá, mas parou quando comecei a me despir. — Está tudo muito bom,
você está arrasando. É a melhor... — ele vai falando, eu vou concordando, o
faço se sentar no sofá, tiro sua vara pra fora, e me sento nela sem fazer
charme. Meu breve streap-tease foi o suficiente para deixá-lo pronto pra
mim.
— Eu sou sua. Só sua. — eu digo simplesmente e seus olhos caem dos meus,
para meus seios que balançavam freneticamente enquanto eu cavalgava nele.
— Queria que aquele filho da puta soubesse disso. Ele te olha com desejo
quando você não está olhando. Fica te medindo, olhando pro teu corpo... é
um safado, desgraçado!!!
— Eu já disse que ele é só a minha entrada para esse mundo. Se você o
espanta, automaticamente me prejudica! É isso o que quer? Me prejudicar?
— Não, claro que não. Desculpa, amor...
— Eu te desculpo, mas para isso terá que aguentá-lo, suportá-lo... essa boceta
é sua, ele jamais chegará perto, se contente com isso.
— Me contentar mesmo sabendo que tudo o que ele quer é ter acesso a ‘ela’
como eu tenho??? Sou homem, acha que eu não sei que ele olha pra você
fantasiando te levar pra cama??? Vai brigar com teu marido por causa de
macho safado? Você fez uma amizade que te trará bons frutos, mas aquele
desgraçado te come com os olhos e não deseja meter a boca só na tua
comida!!!
— Deixe-o me desejar. Você tem uma esposa linda e cobiçada, isso tinha que
ser uma honra pra você, só você tem e ninguém mais. Se você for implicar
com todos os homens que olha para mim desejando ‘meter a boca’, vai
envelhecer querendo socar todo mundo que conhece. — eu provoco baixinho
só para apanhar enquanto ele forçava minha cintura de encontro com tua vara
e eu ganho um tapa na face, seguido de uma segurada grosseira na nuca, e
quase gozo só assim.
Ele me deita no sofá puto da vida, continua me fodendo, e rosna alto com
sua boca na minha.
— MINHA!!! PORRA!!!
— Eu vim para deixar isso mais claro do que todos os dias. E porque amo
fazer amor contigo em locais públicos, escondidos, no meio de nossos
encontros... e como agora... quando tudo o que eu não deveria estar fazendo,
é transando com meu marido.
— Tu é maluca por mim, Lara. Não sei como consigo duvidar disso às vezes.
— Então notou isso, agora... consegue ver enfim...
— Consigo porque você tem razão... devia estar cozinhando, recebendo seus
clientes, cuidando de tudo, essa noite é muito importante pra você...
— Não mais do que você. — eu falo e ele para de me estocar. — Por isso
vim, vi que ficou triste, estava bravo, e ele te provocou, eu vi isso. Vim
porque nada é mais importante do que ter você, estar bem contigo, e
demonstrar o quanto sou maluca por você, não importa a ocasião!
— Eu te amo.
— Não mais do que eu. — eu digo e ele nega sem saber o que dizer. — Eu
nunca quis nada na minha vida como quis você. Esquece tudo lá fora, porque
eu já esqueci... quero você agora!
Eu sussurro, ele me beija com urgência, goza dentro de mim urrando como
um ogro cinco minutos depois, e após marcar seu território, me libera para
trabalhar. E só após o nosso encontro às escondidas e me sentindo
deliciosamente fodida, é que fui cozinhar muito mais tranquila, relaxada, e
feliz porque eu sabia que meu homem estava feliz.

A equipe mais especial do mundo estava mantendo os convidados de barriga


cheia, com boa bebida, bons acompanhamentos, uma boa música, e até
liberaram dois jornalistas para entrarem e registrarem tudo e depois, eu soube
que foi Vitor quem teve a ideia.
— Aqui. — coloco o prato na bancada para Alisson pegar. — Sirva-o,
ofereça o vin d'or para acompanhar, e fique alguns segundos ao seu lado. A
opinião dele é muito importante então você tem que permanecer ali, para
ouvi-lo. É o padrão. Se ele colocar uma colher na boca, e soltá-la, você pode
retirar o prato, é sinal de que ele não gostou e nessa hora eu vou enfartar.
Agora se por um milagre ele colocar a segunda, você peça licença e se retire.
É sinal de que ele vai continuar comendo e te chamará caso precise de algo.
Mantenha a taça dele e de todos aliás, sempre cheia, mas eu acho que disso
você sabe.
— Sim, chefe. — Alisson diz assentindo, sai, e os cozinheiros se aproximam.
— O que é isso, chefe? Ele é todo cheio de manias, é!? — Mari pergunta e eu
nego.
— Não. É um costume francês. Com o tempo vocês pegam! — eu digo e eles
fazem silêncio.Todos eles assim como eu, os fitava ao meu lado. Se Alisson
saísse de sua mesa carregando o prato, eu ia ficar péssima, mas não foi isso o
que aconteceu.
Alisson veio se controlando com um sorriso enorme, seguiu o seu caminho
até outra mesa, eu precisei fazer ‘Shhhh’ para que todos pudessem parar de
gritar e pular porque dali todos poderiam ouvir, e meu coração dá um
solavanco enorme quando Françoise se vira em direção a abertura discreta da
cozinha, e com as mãos diz algo como se fosse “nota dez”, ou no caso mil,
dois mil, ou infinito, pois ele abria e fechava as mãos o tempo todo.
Faço um ‘jóia’ toda feliz, ele assente, e eu ganho um abraço grupal, mas não
sem antes de ver o olhar fodido de Vicente para nós dois. Mas aquele olhar
era diferente. Muito diferente.
(...)
— No fim o tal do crítico nem veio não é!?
Murmuro ao lado de Vitor assim que o salão esvazia e eu fecho o restaurante
com uma sensação de objetivo cumprido enorme. As famílias dos meus
cozinheiros me cumprimentaram dizendo que amaram os pratos e foram até a
cozinha repetir as felicitações, os pais de Caíque conquistaram um pedaço
grande do coração de meu maridão ciumento, e Navih, pelo pouco que vi da
cozinha e o que me contaram depois, foi a estrela da noite. A filha da chefe
de cozinha responsável pelo “menu incrível”, a bebê mais linda do mundo
que pulou de colo em colo a noite toda e já estava a caminho de casa com
meus pais, meus sogros, Allana e Manu... foram todos para a nossa casa, os
pais de Júnior para a deles, só ficamos nós, a ‘turma do fundão’ bebendo e
papeando’. Aproveitando o restinho da noite entre amigos para comemorar o
nosso dia.
— Mas não tem problema, só o fato de Françoise ter amado o prato e ter
conversado com os jornalistas lá fora antes de ir embora, já valeu! — eu
continuo, Vince me aperta possessivo em seu abraço, e Vitor ri com o que eu
disse.
— Você é muito boba em achar que ele não veio. Acha que depois de tanta
propagando que eu fiz, ele não viria? Óbvio que veio. Só que nenhum crítico
vai avaliar restaurantes com um uniforme de crítico ou com uma plaquinha.
— Vitor diz enquanto curtia um vinho tinto.
— Mas se ele veio porque você não me chamou??? Pedi pra você me
mostrar, eu poderia sei lá...
— Tu não poderia nada. Não deveria fazer nada de especial e que bom que
não fez, agora você sabe que a nota na revista de amanhã será real. Não
porque você bajulou o cara com esse sorriso de diarista sexy, ou porque não
deixou o vinho do rapaz acabar... você vai ver que nota vale seu
estabelecimento amanhã, e outra que você estava ocupada demais quando ele
chegou, achei que não valia a pena te dizer que ele estava em uma mesa, ia
ficar mais nervosa, e podia estragar tudo. Principalmente pelo fato de que
tinha acabado de sair de uma sessão relaxante de bate papo com teu marido,
lá naquela salinha lá... sei lá o que é aquilo. — ele diz apontando para o
corredor com a cabeça e eu me inclino um pouco para ver como estava o
humor de ‘meu marido’.
Vince sorria para o irmão meio que cagando para aquela pequena
provocação.
— Você já esteve em muitos restaurantes chiques não é!? — eu falo com
gêmeo do mal. Assim como Vince, Vitor se mantinha apoiado na mesa e
como eu, Marcella se apoiava nele. Abraçados e apaixonados. — O que
achou de hoje? Do meu restaurante?
— Olha, ela quer saber minha opinião... — ele sorri me encarando.
— Todo mundo me disse algo, menos você.
— Ai, ai, ai. — Júnior lamenta com bom humor e Vitor o encara fingindo
estar confuso.
— Bom... você está pronta. — ele fala, bebe um gole do vinho, e eu não
entendo bem.
— Estou pronta?
— Sim. Pronta. Não vi nada aqui hoje que possa te diminuir com relação a
todos os restaurantes cinco estrelas em que já estive, muito pelo contrário,
seu atendimento e o menu, estão espetaculares. Está em pé de igualdade. Só o
que dirá se você é a número um do país, que é o que você quer para
começar... é ver como vai se sair durante a semana, durante o dia-a-dia de
atendimento. Hoje você fez dessa noite, uma noite especial, o que “queremos
saber” é se fará uma noite especial todos os dias, para todas as pessoas. E
depois é só estudo, experiência, manter a figura pública impecável, e ter uma
leve amizade com a sorte para nunca acontecer uma merda quando receber a
visita do crítico.
Ele diz dando de ombros e eu dou risada.
— Certo. Obrigada.
— De nada.
— Eu achei realmente maravilhoso, Lara! Já é meu favorito da cidade, ficou
tudo muito bom! Eu não sei se você criou tudo, muito do que comi hoje, comi
pela primeira vez, mas já virei fã. — Murilo fala com simpatia e aparente
sinceridade e eu sorrio agradecendo. Fazia certo tempo que ele não
participava do papo e se eu não estivesse errada, aquela foi a segunda vez que
ele abriu a boca pra falar. Estava sentado com Flávia em seu colo bebendo
champanhe, e a abraçando pela cintura. Eles formavam um belo par.
— Mas eu não criei tudo não. O restaurante é de culinária francesa, sirvo aqui
comidas típicas de lá... apenas um prato é de autoria minha, por enquanto...
em breve pretendo criar muito mais. — eu falo e ele sorri concordando.
— Sempre tão acostumado com comida de puteiro, entra em um restaurante
chique pela primeira vez e fica impressionado, o Murilinho. — Vitor diz de
repente e fica todo mundo tenso, mas Murilo apenas sorri ao invés de ficar
ofendido.
— Nunca curti puteiro para pegar mulher. Sei que você está se referindo a
época da pós, e sei que você está magoadinho por diversos motivos, mas você
precisa superar. — ele fala calmamente, faz Flávia se levantar de seu colo,
diz ‘boa noite’ a todos, e a leva dali dizendo estar cansado, que amou a noite,
e agradecendo ‘por tudo’.
— Ei, Murilinho! — Vitor grita quando os dois alcançam a porta e Murilo faz
a besteira de parar para ouvir o que ele tinha pra dizer. — Sabe por que eu tô
te chamando de Murilinho??? — ele questiona, Júnior abaixa a cabeça, Vivi
nega inconformada e eu vejo Vince fazer o mesmo.
— Não, babaca! Por quê?
— Porque é assim que meu sócio chama o pau dele! Murilinho é nome de
rola! — ele diz isso gritando, Murilo ameaça voltar, mas Flávia o puxa pela
mão resmungando alguma coisa, e enquanto Vivi, Júnior, e Vince riam baixo,
Marcella tentava tirar de sua mão a taça de vinho.
— Para, porra! Eu tô bem.
— Você tem que parar de beber, está passando dos limites.
— Mas quem disse que eu fico bêbado com vinho, maluca? Eu tô bem
demais. Só queria zombar dele um pouquinho.
— Ahhh nãããooo!!! — Júnior praticamente grita de repente tirando nossa
atenção dos dois para a porta.
Greg e Naila entravam de mãos dadas e com sorrisos enormes. Os olhos de
Vicente começaram a brilhar na hora. Ali encerrava um ciclo que parecia não
ter fim, e por vê-lo emocionado, por ver Greg também o encarar parecendo
pensar naquilo, também me emocionei.
— Você é um filho da puta!!! — Vince fala, Greg vai direto a seu amigo
quando eu me afasto e os dois se abraçam forte.
— Tem uma cicatriz aqui que parece estar se curando... — Greg murmura
chorando e Vince balança a cabeça.
— Graças a Deus. Eu estou vivo para ver você feliz, graças a Deus!!!
— Graças a você que inventou de colocar na minha cabeça que o Zimbábue e
aquelas crianças mudariam a minha vida. Eu sinto muito que tenha se
passado tanto tempo até eu enfim te ouvir, amigo. Me perdoe por isso, Vince.
Não foi fácil pra mim, eu não tinha nada até pegar aquele voo. Eu cheguei lá
e tive tudo.
— Não importa, o que importa é que você tentou e conseguiu. — Vince diz e
eles se afastam um pouco para poder se encarar. — Tu saiu do poço, eu posso
ver.
— Me estenderam a mão após quatro anos de namoro pela internet. — Greg
diz encarando Naila e oferecendo sua mão a ela. — A mulher mais paciente,
determinada e amorosa que conheço.
— Não sou nada disso. — Naila diz com humildade e depois ri. — Não, na
verdade eu sou muito paciente. Quatro anos brincando de streap-tease na
webcam e vindo para o Brasil escondido de vez em quando, isso é para os
fortes. — ela fala, nos faz rir, e deixa o Greg vermelho.
E nesse momento de profunda alegria aquela tontura e mal estar voltam.
Estico as duas mãos para alcançar a mesa mais perto, mas não chego lá, não
vejo mais nada e apago. A última coisa de que me lembro é dos braços fortes
de Vitor — que era quem estava mais próximo de mim. — me segurando
antes que minha cara fosse de encontro ao chão, e seu olhar de terror que
agora graças a Deus eu sabia reconhecer. Demorei para notar que Vince e
Vitor eram duas pessoas completamente diferentes, e só notei que sabia
diferenciar nesse momento horrendo. Estava pensando nisso porque estava
com medo.

— De novo não... — murmuro quando vejo a silhueta brilhante sentada nas


raízes da enorme árvore, naquele paraíso familiar. Fico puta, mas depois me
lembro que estar lá era uma oportunidade de ver Alice.
— Ei... — eu me ajoelho ao seu lado, mas meu sorriso desaparece quando
encontro Nanda sem aquele meu pacotinho no colo. — Cadê ela?
— Oi. — ela sorri como sempre, mas não muito. Estava diferente.
— Disse que cuidaria dela, cadê ela? — pergunto sem paciência e ela olha
pra frente.
— Ela acabou de partir. — ela murmura entristecida, mas depois se força a
sorrir parecendo querer espantar a tristeza.
— Partir para onde???
— Pra frente... — ela fala e eu me levanto olhando ao redor. — ela é linda,
Lara. Linda e muito especial... é como a irmã, uma princesa, mas não é
rebelde... — ela diz e sorri. — é doce, é bondosa... — ela fala e eu
permaneço não querendo ouvir e acho que ela notou isso. — Me perdoa, está
chateada comigo porque descobriu que eu não era tão boa pessoa...
— Eu não quero saber do que você fez ou deixou de fazer, e nem ligo se você
não era o que dizia. Eu não quero ficar aqui.
— Eu não vou ficar bem se você sair daqui com raiva de mim. — ela começa
a chorar, eu paro de procurar vestígios de Alice, e a encaro, porque assim
que começou a chorar, tudo ali foi ficando escuro.
— Shhh, tudo bem. — eu a abraço e o tempo melhora naquele lugar. — Por
que você está triste?
— Eu tinha um pedacinho de vocês aqui comigo. Eu amo vocês...
— Pensei que estando aqui você era menos coração e mais razão... estava
tão racional, me deu forças para seguir... você disse que aqui as coisas são
diferentes e você estava desapegada de sentimentos assim, sei lá, parecia
tão... centrada.
— É Alice. Vai entender o que aquela menina é capaz de fazer quando
conhecê-la. Ela fará falta, você fará falta. Obrigada, Lara, por tudo! Nosso
encontro acaba aqui. — ela diz tristonha, me abraça, toca sua testa na minha
por um momento, e tudo escurece. Vira puro breu... só até eu abrir os olhos e
encontrar a cena mais bizarra de todas.
— O clássico acordar no hospital sem ninguém, é menos assustador. — eu
murmuro tentando me levantar e mãos fortes me auxiliam. — Você não é o
Vince. Cadê ele?
Vitor estava do meu lado na cama, e junto com ele, Júnior, Greg, e Marcella.
— Ele precisou sair por um momento, ele já volta. Seus pais estavam aqui
também...
— Outra crise??? Foi só uma queda de pressão. Isso não vai acabar nunca?
Toda vez que eu ficar doente ou passar mal, ele vai pirar?
— Ele está bem, ele só precisou ir até uma farmácia pra você. — Júnior me
tranquiliza. — Eu não fui porque ele fez questão de ir, disse que precisava,
não achou que você acordaria agora. Mas também não nos deixou arredar o
pé do seu lado. Ele já está voltando.
— Jura? — eu choro e ele sorri confirmando. — Por que não me levaram pro
hospital?
— Ele chamou um médico aqui. Ele disse que sua pressão caiu, então te
medicou e você descansou. Vince disse que a Tia tinha conversado com ele
sobre você no coquetel, mandei chamar uma ambulância, ele se negou. Disse
que não entra contigo em uma emergência nunca mais, que só o que você
tinha era estresse, passou a semana reclamando de tontura e tudo piorava
quando você estava falando ou cuidando das coisas do restaurante. — Vitor
fala e Greg concorda com a cabeça.
— Ele disse que só o que precisa fazer é desacelerar. — Greg completa e eu
não entendo nada.
— Cadê as crianças?
— Manu está no quarto da Allana com ela, Navih na cama dela com a ‘bebê
eletrônica’ do lado, e seus pais foram pra casa assim que seu pai viu que você
estava bem e começou a reclamar de sono com sua mãe. Ah! E a Tia está a
caminho, Júnior ligou e ela pegou um táxi.
— Não precisava fazer isso, eu tô bem, e parem de me olhar assim. Parece
que estão me velando. — eu reclamo e o fujão chega. — Onde esteve? O que
está acontecendo?
Eu pergunto quando ele dá a volta na cama para me dar um beijo.
— Está tudo bem. Desculpe não estar aqui quando acordou. Eu fiquei aqui o
tempo todo, saí bem rapidinho, eu juro!
— Não me levou ao médico... por quê? Eu não sei se acho bonitinho seu
controle emocional ou se fico preocupada com sua negligência para comigo.
Eu desmaio e você me trás pra casa? Passei mal a noite toda!!! — reclamo
rabugenta de novo e ele me ignora completamente. Me fitava sentado na
beirada da cama e demonstrava apenas esperar eu terminar de falar, quase
que impaciente, mas ainda assim, parecendo estar em transe fitando algo em
minha face que eu não entendia.
— Acho melhor vocês saírem, por favor. — Vince diz e eles negam no ato.
— É um momento especial, queremos estar aqui. — Vitor diz e Vince o
encara querendo matá-lo.
— O que foi??? — pergunto irritada e ele tira uma caixinha de teste de
gravidez da sacola de “remédios”, e ali eu descubro que estava mais do que
irritada. — O que está fazendo? Quer me deixar pior do que já estou há
quatro anos?
— Lara...
— Sai daqui.
— Não. Faça o teste.
— Eu não posso ter filhos, você sabe disso, todo mundo aqui sabe disso, por
que está fazendo isso comigo???
— Eu sei que você está grávida. Já tem mais de um mês que a gente transa
sem você reclamar de manchar a cama de sangue. Uma vez por mês você me
alerta que está usando absorvente, já tem um tempo que isso não acontece e
agora você desmaiou. Estava reclamando de tontura e mal-estar a semana
inteira. Qual foi a última vez que desceu pra você? — ele diz na frente de
todos e eu nem tenho tempo de ficar envergonhada, ele tinha razão. Merda...
— Só não...
— Ficar esperançoso? Eu? — ele resmunga quando eu pego o teste nas mãos
e me levanto. — Eu não tenho mais tempo pra isso, sei que você está, trouxe
até cerveja pra comemorar. Seu pai me disse uma vez que é isso o que vocês
faziam em Barueri, churrasco na laje e cerveja... estamos entre amigos e
vamos comemorar nosso terceiro filho com isso. — ele diz isso com
semblante sério e Vitor cai na risada.
— Mais um catarrento para torrar o império da família. Direto de Barueri
para o residencial zero de Alphaville. Vamos gastar alguns dólares com uns
panos de bunda, xarope pra catarro, e picadinho para a churrasqueira elétrica.
— Você já torrou metade de nosso império com baby alive... se por um
milagre eu estiver grávida, vou torrar o que sobrou com pano de bunda,
xarope, e tudo do bom e do melhor e você não vai dizer uma única palavra!
Vai ficar feliz e ser o titio mais babão do mundo porque esse resultado
positivo é o que seu irmão favorito espera há quatro anos. — eu resmungo,
ele ri, Vince chora, Júnior e Marcella zombam dele, e Greg se mantém em
silêncio sofrendo em expectativa junto com seu amigo, como se o filho fosse
dele também.
Corro para o banheiro extremamente nervosa, faço xixi no potinho que veio
na caixa do teste e sigo o passo-a-passo. Um traço era negativo, dois traços
era positivo.
Tiro a ponta do aparelho que parecia um termômetro do recipiente, as duas
fitas após longos segundos aparecerem pra mim, e eu seguro um grito de
alegria que não cabia em mim. Eu não estava acreditando. Eu estava grávida
daquele filho da puta gostoso, o único homem que eu amei na vida... eu tinha
conseguido tudo o que eu queria, tudo o que pedi a Deus. Ele, Allana como
filha, uma casa linda, uma família “de comercial de margarina”, casar na
Grécia — e nossas fotos ficaram mil vezes melhores do que as das revistas
que ainda guardo na casa da mãezoca. —, conhecer o mundo e sua culinária,
meu curso, meus sonhos todos realizados, e Navih de brinde, uma filha que
não gerei, mas que era um pedaço de mim, assim como a irmã. Eu tinha tudo,
minha vida parecia um sonho e eu não tinha mais uma lista com desejos para
fazer ‘check’ com canetas coloridas como eu fazia até certo tempo atrás.
Aquela minha agenda onde desenhei casinhas para contabilizar quantas casas
eu deveria limpar para equivaler com o que aquele ‘deus da beleza e foda
gostosa’ me daria estava enfim, sem páginas em branco... tinha fotos das
nossas viagens, consultas médicas de minha família, lista de compras,
desenhos ruins da arquitetura do restaurante para mostrar pro engenheiro que
o cunhado do mal contratou, fotos do meu curso em Paris, fotos que Naila
mandou quando recebeu pela primeira vez a nova alimentação das crianças, o
meu projeto que foi no ato aprovado, minha formatura, meu primeiro dia na
auto-escola, as cartinhas e recadinhos que Vicente deixava pela casa... tudo...
ela, assim como minha vida, estava completa. Eu era definitivamente uma
mulher realizada.
Limpo — tento. — o registro do choro da face, e com a cara amassada volto
pro quarto. Vince fica tenso na hora, todos ficam. Faço um drama porque sou
dessas, e antes que eu ganhasse um abraço grupal para me dar forças pelo
“resultado negativo” e presenciasse Vicente desmoronar de tristeza, eu logo
digo.
— Me desculpe, Vince... eu sinto muito, mas... essa casa vai voltar a cheirar
fralda de bebê como quando Navih chegou. Você é triplamente pai!!!
Eu digo, e eles gritam comemorando e chacoalhando um Vicente que nem se
mexia. Sentado na cama me encarando, ele estava, assim ficou.
Oi! Se chegou até aqui já agradeço! A seguir deixei um CAPÍTULO extra na
versão de nosso gêmeo do mal, o Vitor. Espero que curtam ver mais um
pouquinho do tão queridinho e maldoso gêmeo “mal compreendido”. Se
gostou ofereça suas estrelas, vou amar um carinho. <3 Beijos e boa leitura!
CAPÍTULO EXTRA - VITOR
— É reunião do dias das bruxas e eu não sei? — eu pergunto porque até
Vicente estacionar eu nem sabia onde eles estavam indo.
Ele, Greg e Júnior resmungaram ‘nós vamos ali e já voltamos’, então fui
junto mesmo sem ter sido convidado.
Estávamos no cemitério da zona Sul, e só quando chegamos me lembrei que
era hoje o aniversário da vadia morta, quer dizer, da Nanda. Os três passaram
na loja que tinha ali perto, ambos compraram suas flores favoritas,
Orquídeas, e claro que eu recebi olhares tortos por não comprar nada, nem
convidado eu havia sido, ué...
— É só para... fechar um ciclo... — Vince resmunga se abaixando para fitar
os dizeres cravados no mármore caro.
“Eternamente a melhor e mais adorável esposa, mãe, e mulher do mundo.”
Ao passear meus olhos naquelas palavras tão... sem sentido, digamos assim,
me lembro sem querer de uma certa manhã, poucos anos antes descobrirmos
sua doença, mesmo porque, assim que foi diagnosticada ela partiu. Nanda
sabia e não havia dito pra ninguém que estava doente, assim como muitos
familiares dela. Em sua família o câncer de pele era recorrente. Acho que por
isso que em seus últimos anos ela “viveu o máximo que podia”, ou só usara o
pretexto de que ia morrer logo para se mostrar como era, uma safada de mão
cheia.
“— Opa. Bom dia. — eu murmuro quando a encontro colocando a mesa.
Meus pais e eu tínhamos chego na noite passada, após um voo turbulento de
Nova York até Guarulhos. Minha noite havia sido um pesadelo. E em
consequência disso, eram seis horas da manhã e eu já estava de pé. Acordei
primeiro que o sol naquele inverno em São Paulo.
— Bom dia, cunhadinho. — ela responde sorridente.
Estava de cabelos presos, calça de moletom, e blusinha sem sutiã.
— Já de pé...
— Vince tem uma reunião importante hoje, muito cedo... pretende conversar
com a galera a respeito da sociedade na empresa. Acho que ele vai chamar a
Flavinha, a Jaque, o Greg e mais alguns amigos.
— Ele havia me dito que não ia chamar o pé no saco do Gregory.
— Mudou de ideia assim que eu me sentei em sua boca. — ela diz colocando
um pedaço de morango na boca, e ri da minha cara de “susto” devido sua
ousadia e linguajar.
— Entendi. É... sexo sempre resolve tudo.
— Com Vince pelo menos, sim. E com você?
— Com qualquer homem pode se dizer... — falo, abro a geladeira, não
encontro nada de bom e ela volta a cuidar de seus afazeres.
— Se quer comer algo, senta aí. Já estou terminando aqui, quer pãozinho na
chapa?
— Aceito sim. — eu digo, pego uma banana da bancada e me encosto ali
para vê-la colocar a mesa e poder olhar para a sua bunda. Simples assim.
Fernanda tinha uma bunda gigante e em contrapartida uma cintura fininha.
Vicente era um filho da puta sortudo, escolhia sempre mulheres lindas para
traçar, e como sempre tivemos os mesmos gostos para tudo, com mulher não
era diferente. Nanda era muito gostosa, assim como todas as mulheres que
ele já pegou antes dela. Aliás, comi todas.
Menos Nanda. Ainda.
— Mas diz aí, cunhadinho, quando é que você vai trazer uma namorada para
sua família conhecer...? — ela puxa assunto e eu dou de ombros.
— Bom, no que depender de mim, nunca.
— Ué! Por que? Tu é gay, é?
— Não. Apenas não curto relacionamento sério. Não achei nenhuma que
valha...
— Eu acho que você é gay. — ela zomba, pega os pães da mesa e começa a
passar manteiga neles.
— Não sou gay.
— Então prove. Quantas mulheres tu já comeu? — ela questiona com seu
sotaque sulista.
— Muitas.
— Onde fica o clitóris?
— Ué, fica no lugar dele.
— Me mostra onde... — ela ri e se aproxima. — Coloque a mão, não é nada
de mais, pode confiar em mim, não vou contar pra ninguém se você não
souber, ou se... — ela vai zombando e eu e meto a mão em sua boceta com o
pulso pra cima, e os dois dedos do meio no ponto certo, mesmo por cima de
seu moletom.
Faço movimentos circulares devagar, ela arfa um pouquinho e como eu fico
descontrolado, meto a mão por dentro da calcinha mesmo.
— E agora? O quão gay eu pareço??? — ela hesita com minha atitude
inesperada, eu empurro até seu corpo tocar a parede ao lado do armário, de
modo que quem entrasse ali não nos vissem, e ela nem responde, nem
conseguia.
Com uma mão seguro seu pescoço, e com a outra a estimulo freneticamente.
Sua boca forma um ‘o’, seus gemidos baixos ficam agudos com o tempo, e
logo ela coloca o pé direito na parede para me dar mais abertura... já estava
quase gozando...
— Não para, estou quase lá. Isso... — ela diz agarrando em meu pescoço,
geme na minha boca, e depois grita enquanto sua cintura quicava em minha
mão. — Que delícia, quero mais... por favor, me dá mais. Chupa minha
boceta. Tá muito molhada, chupa, por favor...
— Meu irmão não faz direito? Por isso é uma cadela no cio?
— Ele faz, mas não como você. Chupa, eu imploro. — ela pede como uma
boa safada, desce o moletom de modo desesperado e no impulso, força meus
ombros para baixo indicando que eu devia me ajoelhar.
Até parece que eu me ajoelharia para uma cadela cretina.
Coloco ela nos ombros, chupo sua boceta depilada até seu rosadinho ficar
vermelho, e a coloco na mesa. Eu queria ficar ali até que alguém aparecesse,
mas ela rapidamente gozou, me mandou parar mais de uma vez, então não
tive opção.
— Sou gostosa?
— Já encontrei melhores.
— Não me trate assim... — ela parece sinceramente triste e eu nego.
— Te trato do jeito que você merece.
— Vai cuspir no prato que acabou de chupar???
Ela pergunta e eu volto a me encostar no balcão como se nada tivesse
acontecido.
— O que você bebe no café-da-manhã em NY? — ela questiona depois de um
tempo comigo em silêncio. Ela esfrega os seus seios em meu peito, pois se
esticou para pegar uma jarra de vidro que estava ao meu lado esquerdo.
Ao invés de simplesmente passar por mim e pegar, ela parou em minha
frente, se esfregou em mim, e pegou a jarra desse modo. Vadia!
— Bebo café.
— Engraçado como você se parece com meu marido nas manias e gostos
pessoais... até o cheio é igual, Vitor.
— Sou melhor em muitas coisas.
— Será?
— Com certeza.
— Eu duvido. — ela diz então levo sua mão livre ao meu pau já duro.
— Fala se não é maior.
— Me parece o mesmo, tão igual como se vocês fossem gêmeos... — ela
sorri, tiro a jarra de sua mão, ela dá um passo para trás, e quando penso em
reclamar de estar fugindo após me atiçar, vejo que ela não fazia bem isso.
De repente a demônia me deu as costas e foi caminhando devagar direto
para a lavanderia.
Eu hesito em fazer isso, paro e então ela volta a me fitar.
— Vem. Por favor... — ela se aproxima para me puxar. — Me fode gostoso...
já estou molhada de novo. Quero ver se você é tão parecido com ele nessa
parte também. Por favor... vai se acovardar agora?
— Ajoelha.
Eu mando e ela obedece.
— Se tiver uma boquinha boa, eu vou.
Eu murmuro, ela abre meu zíper com pressa, chupa deliciosamente por
alguns minutos, e eu me sinto satisfeito. Só queria vê-la de joelhos e como
obedeceu, eu fui.
Ao chegar, fechei a porta atrás de mim e a fitei se encostando à máquina de
lavar.
Desatou o nó da calça de novo, deixou a peça cair no chão, e meu pau
pulsou no ato.
—... agora vamos ver se é mais gostoso, se faz melhor... vem cá.
— Tu é uma vadia sem tamanho. — ela pula em meu colo e ri.
— Não gosta? Sei que sempre quis isso. Já vi como me olha, como me
deseja... vocês sempre dividiram tudo, por que não a mim!?
Ela diz, eu coloco o pau pra fora, sua calcinha pro lado, e entro tentando
não fazer barulho.
— Que boceta gostosa você tem, cunhadinha.
— Tudo que é dele, é mais gostoso não é, seu safado!? — ela diz sorrindo.
Estoco uma vez, ela segura em meu pescoço e toca sua boca na minha
passando a língua em meus lábios de vez em quando.
— Isso. Isso... fode essa porra direito. Ah! — ela geme em meio a sons das
“palmadas” e eu fico louco. — Mete assim, mais rápido...
— O barulho...
— Foda-se. Se ouvir, ele que espere a vez dele. Mete forte, sem miséria.
Daqui a pouco eu subo e o faço terminar o serviço.
— Puta! Desgraçada!
— No momento, tua puta desgraçada.
— Sabe que eu farei questão de contar para ele que te comi, certo!?
— Conta... Eu nego, digo que fui assediada, choro miando do jeito que parte
o coração dele, mostro a ele o quão vermelha você me deixou por ter
chupado tão forte após me amordaçar, e ele vai te odiar mais do que já
odeia. — ela sussurra, ganha um tapa estalado na face e pede mais, por isso
dou.
— “Olha o que ele fez comigo, vida... — ela mia falando para mim o que
supostamente falaria pra ele. — Olha o que ele fez com sua bocetinha... me
chupou sem cuidado, me deixou irritadinha, toda vermelhinha! Foi á força,
abriu minhas pernas e chupou minha bocetinha sem eu deixar, só gemi de
desespero... dá um beijinho pra sarar, cuida dela com carinho, vida!!!” —
ela diz miando com a voz fina, ganha outro tapa na face por causa da
ameaça disfarçada, e enquanto leva pau com força apanha até a face ficar
vermelha. Esperava que as marcas de meus dedos ficassem ali para sempre.
Gozo dentro minutos depois tentando não urrar, puxo os cabelos de sua nuca
com força, e beijo sua boca com raiva.
— É... você é bom, mas não mais que meu marido. Vai ter que me foder de
novo mais tarde, para que eu possa mudar de opinião. — ela diz ajeitando a
calcinha. — Assim que todos se deitarem, deixe aberta a porta do quarto.
Depois que eu der pra ele como é de praxe, ele vai desmaiar. Tomo um
banho rapidinho pra ficar bem cheirosa e vou atrás de ti. Assim, um seguido
do outro, será mais fácil de comparar.
— Vicente bem merece você, o teu corninho.
— Não. — ela diz colocando a calça. — Não merece não. Seu irmão é uma
ótima pessoa, eu que não sou.
— Olha a dor na consciência... tão bipolar... — eu zombo e ela segura em
meu pau com força.
— Eu não tenho consciência, mas deixe-o em paz.
Ela solta minha vara, beija minha boca e sai desfilando rebolando a bunda
enorme só para que eu pudesse olhar e desejar.
Colocou os pães na mesa para eu comer, deu um beijão no meu irmão
quando ele desceu pra tomar café, cumprimentou meus pais normalmente, e
por debaixo da mesa, enquanto dava beijinhos amorosos nele, acariciava
minha canela com seus próprios pés. Uma verdadeira safada. E o mesmo se
repetiu durante a tarde, de madrugada quando invadiu o meu quarto e deu
pra mim até amanhecer, e nos sete dias em que pousamos na casa deles, de
visita.
Apenas no último dia, quando já estávamos de malas prontas pra voltar, que
algo ‘diferente’ daquela rotina aconteceu. Não foi pra mim que ela deu mais
uma vez, foi para o Greg. Comi a vadia a semana inteira junto com meu
irmão, e não mais que de repente, Greg resolveu fazer uma visita para
também marcar o território.
— Greg!!! — ela pula em seu colo assim que ele entra após Tia abrir a
porta. Ela estava limpando as janelas, nós cinco conversando sobre coisas
aleatórias, e ele chegou fazendo o rosto da biscate se iluminar.
Fitei o semblante do gêmeo do bem, e nada dizia, ele nem ligava.
Greg a olhava com amor e ternura, ela o encarava com a sua já familiar
cara de safada ninfomaníaca, e Vince só sorria para as opiniões bobas de
meu pai a respeito de alguma coisa, porque eu nem prestava atenção.
Greg nos cumprimenta rapidamente, Vince se levanta para abraçá-lo, e ela
logo o puxa escada acima.
— Vem aqui que eu quero te mostrar o quadro novo... gente eu já trago a
visita de volta. — ela corre.
— Vai mostrar o... — Vince começa a questionar e ela faz uma cara feia.
— Não diga, Vince, quero que ele veja!!! — ela chama sua atenção, Vince ri,
e os dois correm para o andar de cima de mãos dadas.
— Ela vai mostrar aquele cavalo para todo mundo que chegar... — Vince
resmunga e eu nego. Tapado.
— Essa amizade, a meu ver, é um pouco... inconveniente. Está na cara que o
rapaz a ama. — papai diz e Vince dá de ombros.
— Isso todo mundo sabe. Só que Nanda é minha, não tem olhos para homem
nenhum, deixe os dois com essa amizade, Nanda o adora, é um bom amigo,
mas é só isso! Confio nela, ela me respeita pai.
— Pai, que horas nós vamos? — já questiono por causa da ‘vergonha
alheia’, mudar de assunto era muito melhor. Apesar de tudo era um porre
ver que aquela ‘puta’ o fazia de trouxa e ele nem notava. Eu o “odiava”, mas
ele ainda era meu irmão.
— Precisamos estar no aeroporto às nove. Já arrumou suas coisas?
— Não, vou arrumar tudo rapidamente, agora. Podemos ir mais cedo para
dar uma parada naquela loja de perfumes?
— Vamos ver, vá arrumar tudo então, se for rápido, nós passaremos... — ele
diz, eu concordo, subo para pegar a vadia no flagra, e me aproximo da
porta.
Nenhum barulho.
Giro a maçaneta beeeem devagar, e encontro o que eu procurava.
Nanda estava na cama sem nada da cintura pra baixo, com as penas
arreganhadas, e se apoiando no antebraço direito enquanto sua mão
esquerda passeava pelos cabelos dourados de Greg, e controlava um pouco
dos movimentos. Parecia se sentir uma rainha.
Mordia o lábio inferior franzindo o cenho por causa do tesão, e evitava
gemer deixando a cabeça tombar para trás.
Já Greg estava ajoelhado com a cabeça inteira invadindo o meio rosado de
suas coxas grossas.
Assim que me distraio ficando “surpreso” por ficar excitado com aquela
cena mais do que bizarra, seu olhar encontra o meu e ela nem hesita. Sabia
muito bem me diferenciar do meu irmão. E como sabia...
A vadia nem piscava. A vontade que eu tinha de chamar meu irmão para
presenciar aquilo era quase insuportável.
De repente ela me chama em silêncio com o dedo indicador, faz sua carinha
de choro, e goza me olhando nos olhos e gemendo um pouco sem se
preocupar se alguém ouviria.
...Se aquilo podia piorar? Só um pouco. Isso foi o que ela disse baixinho em
meu ouvido, no aeroporto, ao se despedir:
— Montei uma colocação para os meus homens. Greg chupa boceta melhor
do que ninguém, Vince me fode deliciosamente com selvageria, e você... é
bom com o olhar. Aquela gozada na boca dele foi por tua causa, quero me
olhe daquela maneira de novo um dia... sentirei saudades, cunhadinho. —
ela diz fazendo sua boceta roçar no meu pau sem nem disfarçar, — apesar de
que os três estavam como sempre, bem entretidos em papos felizes que como
sempre não me incluíam. — sorri lindamente fitando minha boca, e depois
assopra fazendo com que eu sinta seu hálito bom descer direto em minha
garganta.
Quando ela me larga, agarra o marido, e faz cara de ‘boa moça’ para meus
pais, após brevemente me lançar um olhar zombeteiro.
Ninguém conhecia aquela mulher como eu...”

E depois de tanto anos, ali, em tua cova, eu continuava sendo o único homem
que a conhecia de verdade.
Me mantenho em silêncio em respeito ao momento dos dois, assim como
Júnior que só estava ali para apoiá-los e eu reflito sobre aquilo tudo mais um
pouco. Talvez seja por isso que aquela diaba deixou os dois doentes,
problemáticos, e dependentes. Apesar de não ter caráter nenhum, a mulher
era uma deusa na cama, era definitivamente gostosa, mandava muito bem, e
enfeitiçava... havia pego os dois em uma chave de coxa, parecia que tudo nela
fora feito para enfeitiçar e deixar ‘paus duros’... ao contrário de Lara, aliás...
corpo de menina, toda pequena, apesar de ser uma fortaleza, exalava
fragilidade, e esses “predicados” todos, também eram tão perigosos quantos
os da outra diaba. Um exemplo disso era o quanto Vicente era possessivo
com a garota, e o quanto eu, como cunhado, ao invés de desejar tomar posse,
desejava protegê-la. Lara era decente, seu jeitinho de menina era um perigo,
mas Nanda não... Nanda não despertava desejos secretos, Nanda exigia. Dois
extremos, Vince caíra nos dois.
— A diarista sabe que você está aqui? — pergunto e Vicente se levanta.
— Ela sabe. — ele bate em meu ombro, segue seu caminho em direção ao
carro, Greg com mais dificuldade repete se gesto, e Júnior depois.
— Você é mesmo uma vadia, até depois de morta. — eu murmuro após me
abaixar, sorrio pedindo perdão só que em pensamento porque perder meu
papel de malvado eu jamais perderia, e posso visualizar seu sorriso safado pra
mim... só que agora com penas vermelhas de diaba loira por todos os lados.
Sorrio mais.
— Você não tem jeito mesmo... — dou de cara com Júnior que havia
escutado o que eu disse. Ao contrário do que pensei, ele não os seguiu, ele só
se afastou um pouco de mim.
— Eu tenho, sim, ela é quem não tinha. Essa feiticeira ninfomaníaca arrasou
todos os corações que podia... se seu pai frequentava aquela casa na época em
que era viva, acho melhor você investigar a sua conduta. Ele também pode ter
caído na maldição. — eu digo, ele revira os olhos, e eu volto pro carro com
uma boa sensação. Aquela vadia estava bem onde quer que ela estivesse.

— Onde vocês foram? — Marcella me agarra assim que eu chego.


— Com certeza no cemitério visitar a “inesquecível Nanda”. Tô sentindo o
cheiro de gente morta e flores daqui. — Lara se remexe desconfortável no
sofá, e ganha um beijo demorado de Vicente.
Sua barriga gigante me dava nervoso por isso nem a encarava demais. Ia
fazer nove meses, estava radiante apesar de tudo de “ruim” que a gestação de
risco trazia.
Soube por Vince que quando fizeram um dos primeiros exames do pré-natal,
Lara foi diagnosticada com um problema diferentão e raro, e que por isso
passou muito tempo sem conseguir manter uma gestação intacta. O doutor
disse que provavelmente ela teve mais abortos sem perceber do que o
esperado, se baseando em tanto tempo fazendo sexo sem nenhum
medicamento contraceptivo. E foi por isso que todos os médicos que a
examinaram, diziam a mesma coisa. Com seu útero vazio, a garota era
perfeita, não tinha nada, pelo menos nada detectável, mas com um “óvulo
fecundado” ou algo desse tipo, não me lembrava direito, o problema aparecia
nos exames. A parede de seu útero ficava meio que “frouxa” ou
“escorregadia”, uma das características típicas de útero muito pequeno,
infantil... e aquilo só era visto daquele modo, com o bebê lá, crescendo
naquela mesma fragilidade que exalava a mãe.
Lara sofreu, Vince morreu por dentro mais um pouco com a notícia, e pagou
um tratamento mais caro que tudo, mas que garantiria á Lara um útero mais
forte para levar a gestação adiante, e funcionava bem.
Como era esperado, a diarista quase não podia se mover, um solavanco e seu
útero se descolava como ‘uma pequena gota de água na beirada da torneira’ e
seria uma mudança tão agressiva, mas tão agressiva para seu corpo, que
podia levar o bebê e ela ao óbito.
Aqueles foram os meses mais tensos dos dois, e era por isso que naqueles
últimos momentos estávamos todos reunidos. A família inteira.
Lara tinha uma enfermeira vinte e quatro horas por dia porque se recusara a
passar oito meses dentro de um hospital, a sala de estar passou a ser o quarto
de casal dos dois por causa da escada, o restaurante ficara nas mãos de seus
funcionários e em seis meses sua dívida comigo fora paga por causa de seu
sucesso no coquetel e claro, por causa do talento de seus escolhidos, e a vida
de todos seguiam um curso normal na medida do possível, inclusive a minha.
Tirando o fato que tinha que lidar com a proximidade daquele verme, —
Murilinho, o cara que tinha nome de rola. — minha vida de casado, de pai de
primeira viagem, e agora “pai de família”, estava muito bem, graças a Deus.
Até com Flávia eu estava vivendo em harmonia, por incrível que pareça...
Gostava daquela vadia. Consegui notar o quão boa ela era pra minha filha,
então... foi fácil me tornar um amigo. Marcella e ela se estranhavam às vezes,
mas era raro...
— Separou comida pra mim? Tô com fome. — eu murmuro, e Marcella corre
pra cozinha.
— Cadê a Manu e a Flávia, filho? — minha mãe questiona assim que eu me
sento devagar ao lado de minha cunhadinha de cristal só para zombar e fazê-
la sorrir.
Trago seu pescoço para meu ombro, ela faz charme pro Vicente que finge
ficar enciumado, e se aproveita minha atenção para ganhar carinho nos
cabelos desgrenhados.
— As duas estão na casa da avó. Flávia a trará mais tarde.
— É engraçado como as pessoas perguntam sempre onde está a Flávia pra
você. — Lara murmura com dificuldade e eu confirmo.
— Ela parece tanto que é feita para mim que todo mundo se esquece que eu
sou um homem casado, mas não com ela. — eu digo, ela nega inconformada,
e faz uma cara péssima após rir, ou tentar rir. — Está com dor, gorda?
— Não. Quer dizer, um pouco.
— Quer ir ao médico? Eu acho melhor você ficar no hospital até ele nascer,
aliás... — eu encaro seu marido preocupado. — Por que ela não faz uma
cesárea logo?
— Já está marcado Zé, será amanhã!
— E o nome, qual vai ser mesmo? — eu pergunto e ela tenta rir de novo.
— Vitor, você é um péssimo tio. — ela sussurra com dificuldade. — Será
Vicente. Para combinar o Júnior no final e homenagear dois ao mesmo
tempo.
— Por que eu fiquei de fora mesmo???
— Porque você é do mal. — ela ri de novo. — Mentira, porque fazer outro
filho para colocar o nome de Vitor Amaral será mais difícil, portanto, mais
especial. Ou Vitória caso seja menina, e será realmente uma vitória.
— Essa desculpa realmente me tocou, você é boa nisso. — eu digo e ela sorri
concordando com a cabeça. — Você não vivia dizendo que dessa vez seria
Alice?
— Bom, não foi do modo como esperávamos, mas ela voltou. Ou... ela
voltará para mim no ventre de alguém que amo. Quem sabe de Marcella!?
Vivi!? Estaremos em família de qualquer modo.
— Eu já disse hoje que você é uma doidinha???
— Não. Hoje não. — ela murmura, me encara sorridente, eu a afasto quando
Marcella chega com meu prato, mas nem termino de comer.
— Vince... — Lara resmunga agora no ombro de Vicente e sua voz estava tão
péssima que alarmou a todos. — acho que o gêmeo do mal tem razão, me
leve pro hospital.
— Levo. O que está sentindo?
— Dor. — ela fala simplesmente, e ele levanta já com o celular na mão.
E em uma calmaria sinistra, tudo acontece.
A ambulância do convênio chega, leva a gravidinha com cuidado, e a tensão
piora quando Vicente manda Tia pegar “as coisas” demonstrando estar fora
de si. Estava perdido e com medo.
Allana e Navih estavam com seus pais por ordem da gestante e por isso não
foram conosco ao hospital. O que eu sabia era que Lara mantinha seus pais a
uma distância segura porque seu Mauro ganhara uma ‘pressão alta com a
idade’, e de quebra afastava os furacõeszinhos que eram Navih e Allana. Não
podia pegar Navih no colo então sua mãe trazia as duas toda manhã, mas
depois as levavam de volta, e também não podia lidar com tristeza e o medo
de Allana, por isso fez o que fez e achou melhor assim.
Júnior levou Tia em seu carro, meus pais foram no deles, Marcella, Greg e eu
no meu, e Vince com a ambulância.
— Eu já volto, foi tudo tão depressa que nem avisei Flávia. — eu falo com
Marcella após chegar na sala de espera e ela assente por isso vou direto para
fora.
— Oi, Vitor. — ela atende.
— Oi. Tudo bem aí? Cadê a Manu?
— Ela está almoçando. E aí? Tudo bem?
— Não sei. Estamos no hospital, liguei para te avisar porque você ficou de
levar a Manu lá em casa. Estamos todos aqui... Lara está com dor, vamos ver
o que será feito.
— Meu Deus! É melhor eu ir até aí, não!?
— Vince já tem apoio demais. Fique com a Manuella, eu te dou notícias.
— Ela já está perguntando de você...
— Diga a verdade. Diga que eu estou no hospital com a Lara. Só assim para
não achar que eu “viajei”, sei que ela pensa nisso ainda.
— Eu vou falar, não se preocupe. Qualquer coisa me ligue!
— Certo. Beijos.
— Até.
Eu desligo, volto pra sala, e encontro um Vicente desesperado na sala de
espera.
— O que houve?
— Não posso ficar. O médico disse que era melhor fazer o parto por via das
dúvidas, para não arriscar a saúde dos dois... não posso entrar na sala porque
se eu ficar nervoso, posso atrapalhar... já que é de risco. Não posso ficar do
lado dela, dá vontade de quebrar o hospital inteiro, como assim não posso
ficar do lado dela? Não faz o menor sentido. — ele diz caminhando de um
lado pro outro.
— Bom faz sim, você está nervoso. Acho que o melhor é que os médicos
façam a cirurgia com calma, e calma lhe falta agora. É melhor que você fique
aqui mesmo.
— Virou médico, é!?
— Não. É só que é bem óbvio, podemos ver isso, olhe para si mesmo. — eu
digo, ele ergue a sobrancelha pra mim, ignora os abraços de minha mãe e Tia
e permanece assim pra lá e pra cá, por horas, até que o médico entra na sala.
— Bom, acabamos. Graças a Deus deu tudo certo, os dois estão bem... — o
médico só diz e ambos evitamos gritar de alegria, afinal, ali não era um lugar
muito receptivo á barulhos, gritaria, ou qualquer coisa do tipo. — como já
disse antes, aos dois, — o doutor encara um Vicente aliviado. — Lara exigirá
cuidados especiais na recuperação, principalmente se ela planeja ter mais
filhos, tem que continuar com o tratamento que já fazia durante a gestação, os
cuidados redobrados para se recuperar... mas ela se sairá bem, dará tudo
certo.
— Obrigado, doutor. Muito obrigado. Posso vê-los? — Vince agarra o cara
como se ele fosse uma loira gostosa.
— Por enquanto não porque eles ainda estão na sala de cirurgia, eu vim
correndo para avisar porque ela viu o quanto ficou aflito, vim a pedido dela,
disse que só se acalmaria se eu te avisasse logo que tudo está bem. Quando
ela for pro quarto eu libero a visita, mas o pequenino vai direto para a
incubadora, ele ainda é considerado prematuro apesar de poucos dias de
diferença, e nos exigirá alguns cuidados especiais também, mas será breve.
Logo, logo os dois serão liberados para ir pra casa. Aguente firme, Vicente,
falta pouco. — o médico aceita os agradecimentos de todos, e Vicente parece
enfim, voltar a respirar.
— Viu? Foi tudo bem, deu tudo certo. — eu o abraço e ele corresponde
confirmando.
— Eu não daria conta de perder mais nada, mais ninguém... — ele fala me
olhando nos olhos como se falasse de algo além do que falava, corresponde o
abraço de Greg e de Júnior e apesar de aliviado, só melhora cem por cento
quando o doutor libera primeiro o Vicentinho — risos. — porque a mamãe
do ano estava fazendo alguma coisa importante.
Estávamos todos com o nariz colado no vidro da UTI-neonatal do Sírio
Libanês. O porquê que ele foi para lá? Eu não sabia.
— Qual é o teu filho, irmão? — eu questiono antes da enfermeira entrar na
sala para nos indicar quem é o bebê e ele por um momento ri.
— Vai tomar no seu cu, Vitor. — ele murmura e eu posso ouvir Júnior e
Greg rir baixinho.
— Tem tudo cara de joelho. — eu digo e ele nega. — Só não pode ser aquele
da ponta, senão o Júnior morre. Olha lá, a cara dele, tem até as orelhinhas de
abano. Se a enfermeira chegar perto, a cerca foi pulada.
— Cale a boca, você só sabe falar merda.
— Corre, Júnior, corre. — eu falo fingindo o espantar e Júnior nega dando
risada.
— E se for o galeguinho, ali? Só fala de mim? — Júnior murmura, eu dou
uma risada alta, alguém faz ‘shhh’ pra mim, e Greg fica puto.
— Se for o branquelinho ali, Greg morre. Será a segunda mulher do meu
irmão que ele traça, o amigo da onça. — eu digo e Greg me mostra o dedo do
meio.
— É aquele ali. Cabelo pretinho e calminho, igual nos meus sonhos. —
Vince aponta para um dos bebês da fileira do meio.
— Se não for você vai se sentir tão mal e culpado. — eu dou risada e ele nega
com a cabeça.
— Se eu não dou conta de reconhecer filho meu, pra que sirvo nessa vida!?
— ele murmura, a enfermeira gostosa entra pela portinhola lá dentro minutos
depois, e aponta sorridente para o bebê que ele indicou.
Como ele não podia sair dali, ela destrava a rodinha da caixa, puxa consigo
todo o equipamento e nos mostra o catarrentinho com cara de joelho mais de
perto. Era lindo o moleque. Muito lindo como a diarista. Tinha tanto cabelo,
mas tanto cabelo, que seus fios ficavam para cima como se tivesse saído do
ventre dela com gel. Era muito bonitinho.
Todos choram, eu zombo de todos pra me distrair e não chorar também, e
agarro a mais emocionada de todas pela cintura.
— E aí!? Tá com vontade de me dar um bebê também??? Vamos pra casa
para treinar a tarde toda? — eu pergunto, ouço ‘eca’ de todos, ela sorri feliz
só porque ouviu aquilo de mim, e eu volto a fitar a cria da diarista que era
demais encantador.

— Obrigado por parir um filho meu, sem me responsabilizar. — zombo da


diarista algumas horas depois, já no quarto.
— Como filho teu???
— Ué...
— Ele vai dizer que somos gêmeos e a ciência jamais conseguiria provar de
quem é o pai. — Vince resmunga fingindo estar ofendido.
— Daria pra saber de quem é. Ele nasceria feio se fosse teu, Vitor. — ela
resmunga e todo mundo ri.
— Como se sente? — Vince pergunta alisando sua bochecha com o nariz.
— Eu estou bem, só triste porque não pude pegá-lo no colo, mas como sei
que é para o bem dele, está tudo certo. Logo, logo poderei vê-lo de novo, vou
me contentar com isso e esperar a oportunidade de tê-lo em nossos braços. —
a diarista abatida diz entristecida e eu me lembro de Manuella.
— Bom, você está bem e muito bem amparada então eu já vou indo antes que
a Manuella pense que eu fugi da paternidade de novo. — eu digo e ela sorri.
— Logo sairá daqui, vai ficar prenha de novo, me homenagear, e eu serei pai
novamente. — eu brinco, beijo o alto de sua cabeça, ela agradece a minha
presença, e eu concordo.
Marcella e eu nos despedimos de todos, e corremos para a casa da mãe da
vadia buscar a pequenina. Sua alegria em me ver era algo de outro mundo.
— Nasceu o bebê da tia Lara? A mamãe me contou... — ela diz pulando em
meu colo assim que me jogo no sofá de sua avó.
— Ele nasceu sim, é lindo como você e suas primas.
— E você Marcella? Pensa na maternidade? — Flávia pergunta nos
oferecendo um café, e se sentando no sofá em nossa frente.
Marcella não mais tratava Flávia com desprezo por causa do ciúme e também
por Manuella e aquela paz entre as duas era algo legal de se ver. Nunca nem
pensei que eu ia curtir não ver duas mulheres brigando por mim, mas... a vida
sempre me pregava tantas peças...
— Ah! Eu não quero agora não... mas se acontecer... — Marcella dá de
ombros sorrindo. Jamais falaria que estava louca para me dar um filho.
—... se acontecer ficará feliz igual pinto no lixo. — eu completo sua frase e
ela faz careta. — E você, Flávia? Quer dar um irmãozinho para a Manu?
— Nem tão cedo. — ela diz e Manu fica brava com a informação.
— Ah! Mas eu quero um irmãozinho!
— Tem que mandar seu pai encomendar com a tua madrasta, ué.
— Quero dois irmãos. Da barriga da madrasta e da barriga da mamãe! Dá,
não dá, pai!? — ela diz, eu engasgo com o café, Marcella ri de modo nervoso,
e Flávia fica sem graça.
— Isso sua mãe tem que ver com o Murilinho.
— Mas meu pai é você!
— Mas eu sou casado, sua maluca, fica quieta.
— Ué... — ela ameaça fazer mais questionamentos e eu finjo socar café em
sua boca até ela rir e esquecer aquilo.
— Vai, toma café, toma... encha a boca para não falar besteira.
— Ainda mais essas besteiras que faz morada na cabeça suja dele... —
Marcella resmunga encarando Flávia com ironia, Flávia fica ainda mais sem
graça, decide ir pegar mais café mesmo a sua xícara cheia, e Marcella ri ainda
mais quando eu começo com os sermões. Maluca.

— Estou com dor de cabeça.


— Como é que é? — questiono e dou risada ao mesmo tempo.
Assim que chegamos em casa, levei as duas para jantar fora, nos divertimos
em família, Manu chegou desacordada de tanto brincar então a coloquei na
cama de Allana, e após um banho demorado que a boneca fez questão de
tomar sozinha, agora me negava sexo.
— É sério. Estou cansada, na verdade muito cansada.
— O que está acontecendo?
— Tivemos um dia cheio hoje, não acha!? — ela diz ainda de costas para
mim, e posso vê-la respirar fundo.
— Tem alguma coisa te incomodando, conheço você. Conversa comigo pra
gente resolver e poder transar normalmente. — eu imploro com jeitinho e ela
sorri.
— Como sabe que tem algo me incomodando?
— Você não é de negar sexo nem quando está brava. Fiz algo... te magoei de
alguma forma.
— Só estou cansada, de verdade.
— Ok. Boa noite, amor. — eu desisto, beijo sua testa, e me deito de bruços
para esperar o sono chegar, e rapidamente o sono chega, pois a princesa tinha
razão... aquele dia foi tenso.
Quando desperto não a encontro na cama. Olho no relógio, vejo que são onze
horas, e me levanto. Manuella ainda dormia pesadamente toda esparramada
na cama de Allana, jogo a coberta em seu corpo, pois fazia frio, e desço a
procura da ciumenta. Porque sim, o problema da falta de sexo se chamava
Flávia. Marcella não gostou nada, nada da ideia da Manu, mas não era de seu
perfil criar caso por tão “pouco”. A princesa apenas ia se afastar um pouco, e
fazer charminho até me ter em suas mãos com mimos, jantares românticos,
flores, presentes, e entre outros gestos românticos que não tinham nada a ver
comigo, mas que ela amava quando eu fazia para demonstrar o meu amor.
E eu amava tanto aquela vadia.
— Bom dia! — eu digo e Tia e ela respondem de volta. — Por que não me
acordou? — abraço a princesa que pelo jeito ajudava Tia a colocar a mesa, e
fico duro por causa de seu bumbum na calça de algodão.
— Sei lá. Decidi te deixar dormir, você até roncava... estava dormindo tão
profundamente. Vou levar isso aqui pra sala de jantar. Seus pais também nem
levantaram... lá caberá todos nós.
Ela fala, se afasta de meu abraço pegando a bandeja de xícaras que Tia lavou,
e me deixa ali a ver navios.
— Acho melhor ficar com os olhinhos abertos. — Tia murmura seu sermão
bem baixinho. — Mulheres que sofrem sem gritar e fazer alarde, são as mais
sensíveis, difíceis, e são as que “quando você vê, já foram”. Não pense que
ela se acostumou, a menina está de saco cheio.
Tia diz sem nem se virar completamente pra mim, permanece lavando alguns
utensílios, e eu nego com a cabeça já sentindo a enxaqueca.
— O que está fazendo??? — ela pergunta quando eu a pego no colo na sala
de jantar, e continuo o meu caminho em direção ao quarto. Ainda sobrara
uma xícara em sua mão, mas não liguei.
— Te levando para o seu lugar, por quinze minutos ou talvez meia-hora.
— Meu lugar? — ela sorri achando graça.
— Em meus braços.
Eu digo, subo as escadas rapidamente, coloco a boneca na cama, e tiro a
camiseta.
— Eu...
—... se estiver com dor de cabeça ainda, prometo fazer passar rapidamente.
— eu a interrompo, puxo de uma vez a sua calça de pijama junto com a
calcinha, abro suas pernas, e dou uma “lambida” suave em toda a extensão de
sua boceta fazendo-a arfar em surpresa.
Fico assim por uns minutos prestando atenção nos sinais de seu corpo e
quando enfim passo á chupá-la, seus gemidos se fazem presente.
Minhas mãos agarram suas costelas, me ajoelho, nego com a cabeça enquanto
mantenho a língua pra fora, e continuo chupando sua boceta até ela precisar
tapar a boca com a mão.
Seu gosto me deixava maluco e meu pau já pulsava dolorido quando ela
gozava pela segunda vez. Eu não tinha a menor pretensão em me levantar,
mas fiz isso por um momento quando ela mandou.
— Para.
— Não.
— Estou chateada...
— Depois de tanto gozar continua chateada??? — eu dou risada sozinho e ela
se afasta de mim. — Qual teu medo, Marcella? — eu pergunto e ela faz
silêncio. — Tinha dúvidas com relação a meus sentimentos então implorei
para ter você de volta, casei contigo, tirei você daquela vida para ser minha
esposa... te dei tudo. Agora, o que está te faltando? O que te preocupa? Qual
teu medo?
— Meu medo é de não ser o suficiente.
— Demonstro estar insatisfeito?
— Às vezes.
— Quando? Como???
— Você deseja um relacionamento a três. Você gosta dela, nos quer na cama,
as duas, ao mesmo tempo... — ela diz e eu seguro uma risada.
— E mesmo que isso fosse verdade, querer vocês duas na cama significaria
que eu não te amasse? Que eu não estou satisfeito contigo???
— Sim! Significaria muitas coisas.
— Não. Significaria uma coisa só: fetiche. Ménage não tem nada a ver com
amor, princesa. Não tem nada a ver com sentimento. Eu estou aqui inteiro pra
você, eu sou completamente louco por você!
— Não é o que parece.
— Não sente que eu te amo? Que meu coração é completamente seu? — eu
pergunto e ela trava ao responder, mas nega logo em seguida. — Então, eu
estou fazendo errado. Sou eu quem não sou o suficiente, eu não estou te
amando como prometi te amar.
— Acho que sim... — ela diz se deitando e passa a fitar o lustre do quarto.
— O que quer de mim? Peça.
— Suma com aquela mulher. Leve-a para longe, dê uma desculpa esfarrapada
e a faça sumir de nossas vistas, assim como fez com aquele desgraçado. Com
o passar dos anos, Manuella se acostuma, terá a mim como figura materna,
será o suficiente. Assim como ele, a presença dela também me faz mal.
— Por que te faz mal???
— Porque ela quer você. Ela quer roubar você de mim. Ela se arrependeu
pelas coisas que fez, agora vê o quanto você é maravilhoso, ela com certeza
fantasia uma vida ao seu lado, com a filha de vocês, uma família clássica e
bonitinha.
— E você acha que eu gosto de coisas clássicas? Já olhou pra ela? —
pergunto e subo em cima dela. Me apoio com a mão esquerda na cama, ao
lado de sua cabeça, e a outra mão deixo livre para libertar o meu membro
enrijecido que implorava atenção.
— Ela é bonita, não diga que sou mais, não vai colar.
— Você é uma menina, uma ninfeta. Eu sou um tiozinho barbado que se
casou com uma ninfeta deliciosa que cheira á leite. Corpo perfeito, pele
macia, adocicada, e cheia de curvas... sem contar que ainda tem a porra do
amor no meio disso tudo. Acha que eu seria tão tapado a ponto de abrir mão
disso? Trocar você por uma quarentona mais rodada do que eu?
— Ela não tem quarenta anos...
— Tem sim! — eu digo, sorrio, e ela perde o argumento. — Ela, Vivi, Greg e
Vince... temos praticamente a mesma idade. Nos conhecemos no primeiro
ano da universidade, na USP. Jamais que eu trocaria essa delícia que só eu
toquei, por uma boceta que a universidade inteira já chupou. A não ser que
tenha mentido pra mim, e eu não fui seu primeiro.
— Eu não menti. Por que acha que ele tentou me estuprar? Porque eu negava,
eu negava o tempo todo, ele não queria namorar só de beijinhos. Ele queria
mais, mas eu sabia que ‘não era ele’.
— Soube que ‘era eu’ quando me viu?
— Sim. Na hora.
— Então por que quer me deixar por causa de uma bobagem tão grande como
essa?
— Porque às vezes acho que você quer esse clássico aí, assim como ela. Não
posso competir com ela, Flávia tem uma filha contigo e eu não tenho nada.
— Você tem tudo. Tem meu coração, meu sobrenome, meu amor, todos os
meus bens materiais que já estão no seu nome, tem os meus dias, as minhas
madrugadas, meus pensamentos, e logo terá um filho meu, e vai me vai me
dar um filho homem! Tu nem chegou a competir, mas se tivesse, teria
ganhado. Nunca cogitei a possibilidade nem por um momento de ter uma
vida com ela nem por causa da Manuella, simplesmente porque meu coração
é seu. Já te disse isso, Marcella, todo o meu corpo é seu. Sou eu quem devia
ter essa insegurança, não você. Você é magnífica, em dois tempos encontraria
um bonitão com muito mais gás do que eu, mas eu não consigo ficar com
medo disso, pelo menos não o tempo todo, porque sei que você é louca por
mim. O que acha da gente confiar um pouco mais no que a gente sente um
pelo outro? “Flávia nenhuma” vai destruir o que gente tem. Ninguém vai
conseguir.
— Vai parar de insinuar que quer traçá-la?
— Não. — eu dou risada e ela se levanta. — Eu sou assim, eu faço
brincadeiras...
— Brincadeiras que me magoam.
— Porque você é uma boba ciumenta e não confia em mim.
— Porque você me desrespeita.
— Linda, você já mudou muita coisa em mim, mas não mudará tudo. — eu
garanto, me recomponho, e me levanto. Ali a discussão havia acabado,
Marcella queria demais. — E eu te amo, mas se não passar a confiar em mim,
serei esse cara que você tanto desenha nessa cabecinha suja. Não vou ser
tratado como um cachorro sem ser, se for para ficar insinuando que eu não
presto e não te respeito, agirei de acordo para não ficar injusto.
— Então eu quero a separação.
— Eu te dou a separação. — eu falo e ela me encara embasbacada. — Eu não
sou um cachorro, “já fui”, mas não sou mais por tua causa, não sou infiel e
mais do que tudo isso, não sou de me humilhar por mulher e implorar por
afeto quando sei que posso encontrar tudo isso com facilidade. Se não está
satisfeita e quer algo melhor, você pode ir, mas é só uma vez, você vai, mas
eu não deixarei você voltar então pensa bem.
— Já pensei!!! — ela fica puta, eu evito rir, concordo e me retiro. Estava com
fome.
Passo no quarto de Manu, acordo a catarrenta, faço-a escovar os dentes e
descer, e juntos, tomamos café.
Vince estava no hospital com a Lara, logo eu voltaria para ver se ele virá pra
casa para ao menos tomar um banho, levaria a catarrenta de volta para a mãe
dela, e passaria o resto do dia vendo filme ou fazendo alguma coisa com a
vadia ciumenta, se ela não decidisse “pedir a separação por causa de ciúmes
logo hoje”, mas em seguida vi que não seria assim. Da sala de jantar pude
ouvir um barulho na porta então me levantei para ver.
Era ela, com sua bolsa, e uma mala. Tão dramática.
— Aonde você vai, senhora drama?
Alcanço a filha da puta no portão, e logo em seguida um táxi para bem ali.
— Eu... vou ficar uns dias na casa da minha mãe. Não se preocupe. Volto
antes de você voltar pra Nova York. — ela diz simplesmente, e me dói ver o
quão decidida estava.
— De novo isso? Por causa daquele papo? Vai mesmo fazer isso por ciúmes
da Flávia? Sério? Depois de todo esse tempo?
— Os anos passam e... nós não evoluímos como casados, parceiros,
amantes...
— Eu não sei o que você quer mais, Marcella.
— Eu tenho que ir.
— Cada vez que a gente vem pro Brasil você tem essas crises. Acho que é
saudade da vida que tinha.
— Isso não importa, eu só quero ir. Preciso de um tempo longe de você, da
sua vida, e daquela mulher. — ela diz, abre a porta do carro e eu dou risada.
— Deveria voltar pra tua casa do mesmo modo como eu te encontrei. Sem
nada. Até esse batom foi eu quem te deu. — eu provoco, ela para pra pensar,
joga a mala e a bolsa nos meus pés e eu fico excitado com aquilo. Aquela
mulher me amava muito ainda, depois de todos aqueles anos, Marcella me
amava demais. Às vezes me perguntava o porquê, o que ela via em mim, o
que ela via de bom em mim...
— O que... — eu começo a questionar, mas não tenho tempo.
Ela tira o vestido, fica de calcinha e sutiã, eu agradeço a Deus por não ver
ninguém olhando ao redor, ela limpa o batom no vestido, tira o anel dourado
do dedo, as jóias que usava e os jogam na calçada também.
— Estou me sentindo muito mais leve. Tchau, Vitor. — ela diz, ameaça
entrar no táxi, mas eu sou mais rápido.
Mando o cara ir embora, bato na lataria, e ela permanece do jeito que estava,
ela nem grita.
Pego seu vestido do chão, visto em seu corpo sem sua ajuda, coloco jóia por
jóia inclusive nossa aliança, com calma e uma tranquilidade que não me
pertencia. Se ela fizesse isso em Nova York ia virar notícia no dia seguinte, e
por isso também fico aliviado.
Ela não esboça reação alguma de primeiro momento, mas depois chora
quando eu pego em sua mão.
— Eu amo você. Amo muito. — eu digo, limpo sua face molhada, e seco
seus olhos com os polegares. — Mas se fizer isso de novo de tirar a roupa no
meio da rua e principalmente ameaçar me deixar, te dou uma surra. De
verdade. — eu digo e ela ri. — Você é minha, está no contrato, não vou te
deixar ir, não vou te dar porra nenhuma de divórcio, e não vou te deixar se
livrar de mim. Estamos amarrados, docinho, ‘até que a morte nos separe’, de
preferência a sua. — eu faço graça ela ri de novo e eu só concordo com a
cabeça. — Agora vem, vamos entrar. Vamos tomar café, ir ao hospital, e
fazer um passeio em família. Essa será sua rotina de hoje, uma princesa tem
obrigações reais, e essas são as suas.
— Um dia eu conseguirei deixar você.
— Quando esse dia chegar, eu farei um inferno tão grande na sua vida, mas
tão grande, que você vai achar melhor jamais ter me deixado.
— Ou não. Ou você vai entender que eu não te quero mais e vai me deixar ir
porque viu que era melhor assim, viu que era melhor me ver feliz.
— Isso é tão engraçado. — eu a abraço com carinho para falar em seu
ouvido. — Você e todos eles pensam que me conhecem. Eu não costumo
perder, Marcella, nunca aceitei perder e isso não mudou.
— Está blefando.
— Quando voltarmos peça ao George para te mostrar nosso contrato de
casamento. Não se assina nada sem ler, é perigoso, já te ensinei isso.
Eu digo com seriedade, pego em sua mão, e a acompanho para dentro. Sua
cara de paisagem é maravilhosa, quase não me aguento.

Os preparativos para receber a mamãe do ano estavam prontos, dias depois.


Minha mãe, dona Mag, e Tia decoraram a casa inteira e claro, prepararam um
bolo com demais comes e bebes típicos para a ocasião. Todos os amigos
estavam reunidos, felizes, era bonito de se ver, parecia cena de novela...
— Uma hora você vai ter que olhar pra mim, falar comigo e liberar minha
boceta quentinha para que eu possa te amar e aliviar as tensões do dia-a-dia.
— agarro a pequenina na sala de jantar e como não tinha ninguém por perto
faço um carinho por cima do vestido.
— Você me ameaçou.
— Falei brincando, vida, só tive medo de perder você.
— Jura? Era mentira? — ela se vira para me olhar nos olhos.
— Era. — minto. — Jamais te forçaria a ficar comigo, eu te amo, amor não
se força.
— Por que falou aquilo sobre o contrato? O que colocou nele?
— Nada. Só disse aquela besteira pra você entrar, disse por medo, você me
conhece. Eu só... dou uma de malvado para me proteger. Tive medo de te ver
partir e disse bobagem como um babaca. Me desculpa... vem aqui um pouco,
deixa eu te contar uma coisa, é importante...
Eu a puxo pela mão, entro na dispensa do casal e a boneca aguarda aflita o
que eu tinha pra dizer. Por isso eu amava aquela ninfeta, a vadia era tão
inocente às vezes.
— Tô com saudade. — eu a pego no colo, grudo suas costas na porta e ela
nega.
— Era isso?
— Não. — tiro a vara para fora com apenas uma mão, coloco sua calcinha
pro lado, e entro com força. — Era isso.
Murmuro, entro uma vez, duas, três, aumento a velocidade e ela geme.
Chupo seu pescoço com força, inspiro dali aquele meu cheiro favorito de
perfume com Shampoo bom , e dou uma viajada momentaneamente. Amava
aquela adrenalina, o escondido, a calcinha pro lado, meu pau entrando todo, o
barulho da batida de uma virilha na outra e aquele barulhinho baixinho
devido á umidade deliciosa dela.
Boceta tão pequenina, delicada, depiladinha quase que por completo, deixava
apenas um pequeno amontoado reto e bem aparado de pêlos pubianos só
porque eu pedia... eu amava aquilo...
Sinto suas unhas entrarem pouco a pouco em minha nuca, continuo socando
no ritmo acelerado e ela morde o lábio inferior. Estávamos testa com testa
porque eu queria vê-la, mas mudo a posição para não gozar rápido demais.
Desço-a no chão, viro seu corpo, ela espalma as mãos na porta, e eu a invado
desse modo, retirando seus calcanhares do solo. Enquanto bombeio sem dó,
seu corpo se eleva, a porta se movimenta fazendo barulho nas dobradiças, eu
puxo os cabelos de sua nuca para judiar e ela deixa sair um gemido um tanto
abafado por causa de seus lábios fechados.
Quando sua cintura treme involuntariamente e ela encosta a testa na madeira
fria da porta, não paro. Só paro quando os espasmos acabam.
— Vira. Se toque pra eu ver.
— Vitor... — ela protesta, mas logicamente obedece.
Me enfio embaixo da saia de seu vestido, meto a boca brevemente só para
sentir seu gosto, mas não fico muito tempo ali.
— Isso... Vitor... isso tem que ser combinado... — ela murmura quando eu
me levanto e a faço se virar novamente. Daquela boceta eu já tive, agora eu
queria mais, queria gozar, mas queria gozar como um rei.
— O que combinamos a respeito disso?
— “Que fosse quando você quisesse porque... é meu papel te fazer feliz
assim como você me faz”.
— E...
—... “e que eu deveria estar pronta todos os dias por via das dúvidas”.
— E você está?
— Estou mas... — ela confirma então não espero mais. Não sabia o porquê
de tanto drama, comia aquele traseiro todo dia, e era todo dia a mesma
insegurança... medo de doer sabendo que já não mais doía tanto assim, medo
de se sujar inteira — risos disso. — sabendo que se ficasse pronta como eu
havia ensinado jamais aconteceria aquilo... muito boba.
Entro devagar e com cuidado pressionando aos poucos meu quadril contra
seu bumbum e a sinto segurar a respiração.
— Relaxa, porra. Não confia em mim não?
— Confio.
— Então solta essa respiração ou você vai amputar meu pau! Me deixe entrar
daquele jeito que eu gosto, suave... sabe que depois só tem prazer, não
precisa ser esse sofrimento todo, quanto mais relaxada ficar, mas fácil será, te
digo isso todos os dias.
Eu falo em seu ouvido, ela me obedece, eu sinto meu pau ficar mais livre lá
embaixo, mas por precaução, bem devagar, coloco a palma de minha mão em
sua boca bem lentamente para ganhar sua confiança.
— Quietinha, se gritar quem vai fazer greve sou eu. Entendeu?
Eu pergunto, ela afirma com a cabeça e eu entro de uma vez já querendo
gozar.
— Caralho!!! — murmuro, passo a estocar com força, seguro a onda
pensando sei lá, em coisas aleatórias e feias para me distrair, e quando vejo
seus olhos virando nas órbitas, sei que era a hora de tirar a mão.
— Por favor, eu imploro... não para, Vitor. Não para!
Fico tonto com sua vozinha de puta safada, giro rapidamente até as minhas
costas se colarem na porta, ela segura com as duas mãos nas prateleiras
próximas dali, e assim, abre um pouco as pernas, empina o traseiro gigante
pra mim, e geme alto tentando se controlar, mas não consegue muito, e eu
não ligo. Continuo metendo forte naquele bundão guloso e ofereço uma
banana gigante para o mundo. Se nos ouvissem: FODA-SE.
— Filha da puta! Controle-se, porra! — me contradigo logo em seguida
porque assim que senti aquela onda de puro prazer fodido, segurei em sua
cintura, meti sem dó e com isso ela gritou e derrubou um monte de panelas
velhas que estavam ali em cima.
— Está muito bom, desculpe...
— Claro que está. Somos bons juntos, não somos!?
— Sim, somos!!!
— É nisso que tem que pensar quando estiver puta comigo. Vem cá...
— Diz que me ama.
— Agora? Quer romantismo enquanto eu fodo seu traseiro?
— Aham.
— Ah! Putaqueoparil, eu te amo, agora empina daquele jeito pra mim, eu já
estou quase gozando!!!
— Não quero que pare...
— Claro que não quer, tu já gozou né, truqueira!
— Vitor... você diz cada coisa na hora errada. — ela ri com gosto e me leva
junto. Tchau clima!!!
— Tua doidinha... eu te amo! — puxo seu corpo contra o meu e me enrosco
em seu pescoço cheiroso. — Te amo, vida.
— Então não para. — ela para de rir na hora e me olha nos olhos virando um
pouco a cabeça. — Faz daquele jeito que me deixa louca! — ela diz
balançando o traseiro levemente e meu pau grita, por isso não perto tempo.
Meto de uma vez fazendo-a gritar com a mão na boca, permaneço metendo e
gemendo deliciosamente e gozo forte minutos depois.
Se a boceta daquela menina me deixava insano, o traseiro era mil vezes pior.
Incontrolável.
— Vitor... — ela murmura assim que eu saio de dentro dela e me abraça sem
esperar que eu termine de fechar o meu zíper.
— Diga.
— O que você colocou no contrato de casamento?
— Algo tão ruim quanto o meu passado. — respondo na lata. Sabia que ela
não ia esquecer aquilo.
— Por quê?
— Acho que para garantir que fosse minha pra sempre, ou pelo menos te
impedir de se casar novamente, quero e vou ser o único homem da sua vida.
Mas acho que fiz mesmo pela piada, poder contar para as pessoas o que fiz
será engraçado, vão querer me internar... perco os amigos, mas nunca a piada.
— Você quer a Flávia de volta?
— Eu nunca a tive.
— Quer transar com ela? Pode dizer, não vou surtar.
— Não. A única mulher que desejo está assada em minha frente agora
mesmo. — arrumo seu cabelo bagunçado e ela permanece fitando minha
face.
— Quer nós duas na cama?
— Não. Se quisesse eu teria... sabe disso, sabe que eu daria um jeito. — eu
nego de novo, ela deixa suavizar seu semblante, e eu dou uma risada alta. —
Tá feliz né, piranha!!!
— Estou.
— Certo. Agora vamos combinar uma coisa. Assim que a gente sair dessa
dispensa, acabou “Flávia”, essa história deliciosa de ter vocês duas na cama
— eu falo e ela ri de nervoso. —, esse ciúme bobo, crise sem sentido,
ameaças e nudez em público. Combinado? Tem que colocar nessa sua
cabecinha de vento que se eu quisesse aquela doida, era com ela que eu
estava e não contigo, ok? Vamos parar de brigar, principalmente se for por
um motivo tão bobo e tão “nada a ver” como esse. Que a gente brigue, mas
por algo válido, que valha a pena, ou que faça sentido. Certo!?
— Certo. Desculpe. Nunca mais vou implicar com isso, sei que fui boba. Só
quero que me prometa uma coisa, de verdade... em nome do amor que sente
por mim, em nome de qualquer sentimento bom que tenha aí dentro... se um
dia acontecer, me conte. Não importa como e quando, só não me esconda
nada, não me engane. Passe por cima de qualquer critério, mas chegue a mim,
e fale. Por favor...
— Sabe quando eu vou precisar confessar alguma merda á você? Nunca. Eu
sou e serei eternamente fiel, e vai ser fácil, você é tudo o que eu quero. Sei
que é difícil de acreditar, sei que por causa de meu histórico é um pouco
difícil de acreditar em mim, mas pode ter certeza, pode duvidar de muita
coisa que eu diga sobre muitas coisas, só não duvide do que diz respeito a
nosso amor, a meus sentimentos, fidelidade e respeito com relação a nosso
casamento. Disso você não pode duvidar. Eu não presto, eu sou o último cara
no mundo que pode servir de exemplo para alguma coisa, mas se tem algo
que eu tenho de bom, é fidelidade. Sou fiel a você. Se um dia meus
sentimentos mudarem, o que eu duvido, eu termino contigo, mas enquanto eu
amar você, enquanto formos casados... eu sou seu e só seu, Marcella. Isso não
vai mudar.
— Eu te amo.
— Então pare de me ameaçar por causa de Flávia, por causa de ciúmes. Faço
brincadeiras bobas, eu sou assim, mas não esqueça disso: são só brincadeiras,
piadas, gosto de deixar as pessoas com ‘cara de tacho’, esse é meu segredo.
Você me conhece melhor do que ninguém, sabe do meu íntimo, você conhece
meu interior. Eu sou um bosta e faço bobagem, falo bobagem, mas eu
também sou um cara apaixonado demais por minha esposa e minha filha, e
sou fiel. Não se esqueça disso.
— Quero que converse com a Manu. Quero que a faça entender que você e a
mãe dela jamais ficarão juntos. Ela já está na idade de entender, quando diz
essas coisas, me magoa. Quero que explique a ela que você é “só um amigo”
da mãe dela, e se um dia ela tiver um irmãozinho por parte de pai, ele virá do
meu ventre, quero que diga isso a ela.
— Vou dizer. Prometo que vou conversar com ela... agora pare de me dar
ordens como uma velha rabugenta.

— Você está com mais cara de joelho do que estava antes, na maternidade.
— eu falo para o catarrentinho Júnior no meu colo e todo mundo ri, menos a
diarista.
O bebê era lindão. Claro, era a minha cara quando bebê e o seu cabelinho era
também muito engraçado. O moleque tinha tanto cabelo, mas tanto cabelo,
que parecia um espanador. Era bem pretinho, liso e ficava tudo pra cima, eu
passava a mão, mas não abaixava.
— Lara, os médicos te colocaram pra dormir na mesa de cirurgia? — Flávia
pergunta na sala. Estávamos todos reunidos após o almoço em família.
— Não, precisei ficar acordada assim como em uma cesariana normal. No
meu caso que a gestação era de risco, foi ainda mais um motivo, o médico
disse.
— A Manu foi cesárea também, meu maior medo foi aquela injeção bizarra.
— Eu estava com tanta dor que nem senti a picada, Flávia, e nem tive tempo
de sentir medo. Só sei que quando ela fez efeito agradeci a Deus porque foi
embora toda a minha a dor além da sensação de não ter corpo nenhum. —
elas riem e eu que ninava no mini-Vicente de pé, encarei uma Marcella
silenciosamente irritada, ela “não gostava da Flávia e queria que ninguém
gostasse também”.
— Minha vez de pegar, tio!!! — Navih dá tapinhas em meu joelho e eu dou
risada.
— Senta lá no sofá que eu vou colocá-lo no teu colo!
Ela se senta ao lado da mãe no sofá, eu coloco o pequenino bem
embrulhadinho nos seus braços e fico segurando embaixo.
— Você está bem? — pergunto para uma diarista abatida e calada.
Vince que estava ao seu lado a encarou na hora.
— Eu estou, só me sinto cansada.
— Não é aquele conto de fadas que você pensou, certo!?
— Eu amo ser mãe, só estou com saudade do meu restaurante, e de lavar os
cabelos. — ela diz sorrindo fazendo todo mundo rir.
— O restaurante você não verá tão cedo, mas está tudo bem lá, mesmo sem
sua presença já é o mais badalado da região. Agora você pode aproveitar que
estamos aqui para ir tomar banho e descansar por uns minutos. Seu marido
babão, seus sogros e seus pais não sairão do seu lado, então logo essa fase
passará e você retomará sua vida.
— É tão estranho quando você diz coisas bonitinhas.
— Não se pode usar de humor negro com gestantes e mães recentes. Eu só
fui misericordioso e te poupei.
— O que me diria se não quisesse ter me poupado, Vitor? — ela já questiona
rindo.
— Eu diria “ninguém mandou abrir essas pernas, agora esse catarrento é a
sua vida. Esqueça restaurante, lavar os cabelos, casa limpa, e viver pra você.
Nem escovar os dentes conseguirá, acabou. Essa coisa fofinha acabou de
destruir o seu corpinho gostoso e a sua vida”. — eu digo e enquanto ela ri pra
mim eu dou risada pra ela, e ficamos os dois assim até eu parar primeiro.
— Você é tão babaca.
— Você quem pediu. — eu dou de ombros e ela nega rindo. — Mas a real
mesmo... é que tenho um pouco de inveja. A minha vida não foi assim
“destruída” desse modo, e por isso sou incompleto. Você é linda, têm uma
família linda, filhos lindos... sua vida está completa. Queria eu ter passado
por essa fase com a minha catarrenta. — eu digo e Manu finge ficar brava por
chamá-la assim. — Esses momentos são... inenarráveis e insubstituíveis. O
cabelo você pode lavar depois, seu marido continuará te amando com os
dentes sujos, com a marca da cesariana, com estrias, estresse, gordura
localizada, com a casa bagunçada... isso é família. Sei que será difícil, mas o
futuro é recompensador. Quero muito um dia passar pelo o que você está
passando. Quer dizer, quero que Marcella passe pelo o que você está
passando, — eu digo e encaro uma Marcella entristecida. Ela tenta sorrir pra
mim e quase não consegue. — com essa mesma graça e beleza.
— Obrigada cunhadinho favorito... — a diarista se sente feliz e eu concordo.
— De nada... pense em minhas palavras quando cogitar pedir a separação
para o meu gêmeo. Só estou te xavecando, estarei á sua disposição.
— Quando eu penso que ele vai calar a boca e deixar tudo bonitinho... —
Vivi murmura e todo mundo ri.
— Já chega catarrenta número três, deixe-me devolver o número quatro pra
mãe dele. — eu falo com Navih, ela chora negando, coloco o pequenino no
colo da diarista e ela me olha nos olhos profundamente.
A bonita me agradecia pelas palavras de forma silenciosa e eu assenti, mas
não disse mais nada para não prolongar o ‘momento melado’. Precisava
voltar pra casa para trabalhar e seguir com a minha vida.
— Gostaria de ir contigo ao aeroporto, Lara perguntou se eu iria, quer que eu
vá, mas não quero sair de perto dela, você entende não é!? — Vince fala ao
me cumprimentar do lado de fora.
— Você já não tem mais que se preocupar comigo, sabe disso não sabe?
— Eu sei. Só quero que saiba que é uma das pessoas mais importantes da
minha vida. Ter te perdoado e voltado a ser seu amigo foi a melhor coisa que
me aconteceu, e foi uma das coisas mais importantes que já fiz. Você é a
minha família. Agradeço por ter vindo, por ter estado ao meu lado nesse
momento também, e principalmente, agradeço por tudo que fez por Lara.
Pelo investimento, pela amizade, pelo cuidado, preocupação, e agora, por
suas palavras. O que fez agora pouco... ter colocado um sorriso em seu rosto
e a motivado... com poucas palavras animou minha esposa, a deixou feliz.
Jamais conseguirei pagar tudo o que você tem sido pra ela, Vitor.
— Estarei em todos os momentos importantes e espero que esteja em todos
os meus também. — eu falo e ele concorda. — Sendo assim cobro aqui uma
visita à Nova York assim que puder. Leve sua família e eu lhes receberei com
a minha. E com relação á diarista, não fiz mais do que minha obrigação.
Cuide dela com carinho, irmão. — eu falo, seu sorriso desaparece, e o meu se
faz presente. Mas não permaneço com a vitória por muito tempo.
Logo Marcella se aproxima após ter deixado a rodinha de amigos que
consistia em Flávia, Júnior, Vivi, Greg e Naila... ela havia cumprimentado
todo mundo, menos ele.
— Cunhadinho... um bom resguardo pra vocês! Venha nos ver nos states. —
Marcella o abraça carinhosamente e eu sinto as trevas me consumindo ao
encará-lo.
Para me provocar ele a abraça lentamente pela cintura, aproxima o corpo dela
do seu, e coloca virilha com virilha, tudo isso me olhando nos olhos sem ela
notar.
— Eu vou cunhadinha favorita, vou só para ver você dançar, estou
prometendo isso faz muito tempo.
— Está mesmo!!! — Marcella responde sem entender nada e sorri pra ele.
— Mas agora eu vou pagar. Meu irmão não pode ser o único a deslumbrar
esse corpinho gostoso no meio de todas aquelas penas de gansos e colares de
pérolas. Eu quero ver isso mais do que quero qualquer outra coisa. — ele diz
com charme, ela ri alto batendo em seu ombro como quando fica sem graça,
mas depois olha dele pra mim... — Vai lá... — ele a puxa pela cintura e beija
sua testa. — Cuide de nossa princesa com carinho!
— Eu te odeio com todas as minhas forças. — eu falo, gargalho alto junto
com os dois, mas logo a puxo pela mão e a tiro de seu espaço pessoal com
seu olhar de zombaria para cima de mim.
Filho da puta. Vai ter volta.
— Eu... vou de voo comercial. Leve Manu com vocês... — Flávia me aborda
na sala VIP do aeroporto.
Manu dormia no quarto, e Marcella havia ido ao banheiro, mas antes,
assistíamos TV na sala de estar. Esperávamos algumas burocracias da
aeronave serem resolvidas porque eu esqueci de avisar com antecedência que
nós partiríamos hoje.
— Não precisa. Vamos para o mesmo lugar, então podemos ir juntos.
— Sua esposa não gosta de minha presença, Vitor, e ela deixa isso claro pela
forma como me olha quando você não está olhando.
— Justo. Você é uma mulher importante pra mim, normal seu ciúme.
— Sou importante pra você?
— Sim.
— Por quê? — ela questiona e eu tiro os olhos da TV.
— É a mãe da Manuella, como assim “por quê”?
— Ah... sim, claro.
— Quer me dizer alguma coisa além de já ter acabado de afirmar que a
presença de ‘minha esposa’ te incomoda?
— Não foi bem isso o que eu afirmei.
— Nem precisou, certo!? — eu sorrio, mas ela não.
— Bom, eu vou indo, tem um voo agora, vi na internet. Nos vemos lá.
— Manuella vai acordar e perguntar de você. Sua atitude só vai atingir a
menina. Ela vai querer saber onde a mãe está e porque não está conosco.
— Aí você pede para a sua ‘esposa’ responder. — ela diz com um sorrisinho
maligno no rosto, me vira as costas, e eu sorrio negando.
— Volta. — digo e no ato ela volta. Puta da vida, mas volta. — Senta. —
digo de novo e ela se senta. — Isso... boa menina! Eu já te disse, se tentar me
foder de alguma forma, vou foder você e muito, mas não será do jeito que
você tanto quer, será no sentido ruim da palavra!!! Cadê o brocha do teu
namoradinho? Por que não me esquece e vai tentar passar a perna nele???
Eu questiono com raiva, ela chora, Marcella aproveita o silêncio para entrar
na sala, e se senta ao meu lado, mas um pouco afastada. Tinha escutado todo
o papo, sentido o clima, e decidiu por fitar a TV ao invés de voltar pro meu
colo, onde estava antes.
— Eu achei que esse clima tinha passado e vocês como adultas, estavam
começando a se engolir, por Manuella. Terei que fazer com vocês duas o que
meu pai fazia comigo e com Vicente?
— Tô achando que você vai ter que acabar escolhendo. — Flávia diz no ato.
— Sua esposinha só me trata bem quando Manuella está por perto, quando se
afasta nem disfarça a náusea.
— Ela não tem obrigação de gostar de você, e você também não facilita, você
é uma chata.
— Vitor, você pode ajudá-la me afastando. É só devolver a nossa vida e não
me obrigar a ficar perto de vocês pra poder estar presente na vida da
Manuella...
— Bom, temos aqui uma DR familiar, vou me retirar para não me
intrometer... — Marcella diz, e se levanta.
— SENTA AÍ. — eu grito e tento me recompor. — Por favor. — eu peço
‘por favor’ como se implorasse e ela decide obedecer. — Vamos lá, do modo
raiz. — pego Flávia pela mão, faço-a se sentar ao lado de Marcella, desligo a
TV, pego uma cadeira, e me sento na frente das duas.
— Vamos direto ao ponto que eu não tenho saco pra isso. Eu tenho uma filha
com você e uma vida com você. Manuella está no centro disso tudo. Eu sei
que não era isso o que você queria — eu encaro Marcella. —, sei que nossos
planos não eram esses e eu lamento por isso. Mas eu amo a Manu, quero ser
o pai dela, poderia não ser, mas eu quero, eu amo aquela menina, ela é minha
filha. Sei o quão chato é aturar o que você atura, nem sei se eu conseguiria,
mas eu peço que continue tentando, eu te amo, sem você nada fará sentido.
Me casei com você porque eu te amo, quero uma vida ao teu lado. Flávia não
tem que te incomodar, ela só está sempre por perto para não ficar longe da
filha. Vou ver o que posso fazer com relação a isso para melhorar o seu lado,
talvez viajar menos, não sei, mas não posso ficar longe dela, eu não saio disso
triste sozinho, você sabe, você também vê, Manu também sai, fica pensando
que eu “viajei e não vou mais voltar”. Ela cresceu ouvindo que esse era meu
trabalho, agora eu tenho que lidar com isso. E você... — eu encaro a vadia
loira. — Nada do que fará para acabar com o meu casamento, vai funcionar.
A não ser que ela se canse disso e eu vou entender, mas se isso acontecer, se
Marcella me abandonar, eu vou destruir você. Por mais que Manuella te ame,
eu vou me livrar de você. Eu a amo, muito, pela primeira vez em décadas eu
sou feliz e agora graças a Manu, sou completo... não pense que seremos uma
família feliz se Marcella for embora, eu serei tudo menos feliz, jamais vou
ficar com você, então se planeja algo do tipo, esqueça, não vai funcionar.
Você veio depois, você é a intrusa aqui, mas eu estou disposto a conviver
contigo numa boa por causa da Manu, então isso aqui tem que dar certo. Não
terá sua vida de volta, esse é seu castigo agora. Se todas às vezes que eu
viajar com a Manu você quiser estar presente para não passar dias longe da
menina, vai respeitar Marcella, não provocá-la e sorrir o tempo todo como o
papai aqui te ensinou. Eu tenho que abrir mão de muita coisa e aguentar de
tudo porque você está sempre por perto, então você vai ter que sofrer
também, junto comigo. Eu amo Marcella, amo Manuella, e amo o quanto
Manuella fica feliz quando tem nós dois por perto, então viveremos esse
amor diferentão assim, na santa paz de Cristo, porque não abrirei mão de
ninguém aqui. Por mim e por minha filha, eu não farei uma escolha. Certo?
Certo. Olha como é bom dialogar, tudo funciona base da porra do diálogo.
— Isso foi um monólogo.
— Cale a boca! — eu respondo Marcella, coloco a cadeira no lugar e me
sento no meio das duas. — Olha que bonito, isso aqui tem tudo para ser
fantástico, tem um pouco de Vitor para cada uma... se não podemos nos
separar, devíamos ficar juntos, bem juntos, mais do que já estamos agora. —
eu coloco meus braços em ambos os pescoços e as trago para perto.
— Não é? Hum? — questiono, mas nenhuma delas diz nada. — Não valho a
briga, sei que se não fosse por mim, vocês seriam boas amigas. Deviam
conversar sobre como me agradar, sobre o que eu gosto, sobre como eu
gosto... — dou um cheiro em meu pescoço favorito. — sobre como retribuir
tudo o que ofereço às duas... eu sou tão generoso, não sou? Hein? — acarinho
a face perfumada de Flávia com lábios e deslizo os dedos de minha mão
esquerda em sua têmpora. Quando eu toco meus lábios no canto dos seus, ela
confirma com a cabeça. — Então, por que tentar me foder se podem juntas
me fazer feliz??? Eu não peço nada, eu nunca peço nada, o que custaria? O
que custaria parar com a picuinha sem motivo, deixar a garotinha que eu mais
amo em paz, e parar de gritar no meu ouvido??? Eu dou uma vida de rainha
para as duas e o que estou ganhando em troca? Uma briga de calcinhas cada
vez que eu preciso viajar com minha filha? Acham isso justo? Você acha? —
questiono encarando a loira vadia e ela nega de olhos fechados. — E você?
Acha isso justo comigo? Depois de tudo o que conversamos, depois da nossa
conversa na dispensa, tudo o que eu te disse, acha justo continuar com isso?
— pergunto e Marcella nega. — Pois então... vocês podem tentar se matar
longe de minhas vistas e das vistas de Manuella, tudo bem... mas enquanto
minha filha estiver por perto peço que tenham postura. Ficarei feliz se forem
amigas e se puderem contar uma com a outra, poderiam fazer compras juntas,
esses negócios que mulheres gostam de fazer... arrumar o cabelo, torrar meu
dinheiro com sapatos, levar Manuella para comprar suas bonecas benditas.
Eu ficaria muito feliz com isso, muito agradecido, mas chega de bate-boca,
chega de briga de calcinha, chega de me encherem o saco com bobagem. Sem
você Manuella fica triste, e sem você eu quem fico e isso vai arruinar
Manuella, percebem? Estamos os três fodidamente ligados, então faremos
isso da melhor maneira. Estão de acordo? Vou precisar falar de novo? —
pergunto e Flávia nega com a cabeça.
— Fale com a boca.
— Estou de acordo, não vai precisar falar de novo.
— E você?
— Acho que eu não tenho muita escolha.
— Tem. — eu arrumo coragem e digo, estava muito cansado de ter medo de
perdê-la. — Tem escolha sim. Pode ocupar seu lugar de minha esposa e lidar
com tudo isso em nome do amor que sente por mim, ou pode pedir o
divórcio, te disse há dias atrás, amor não se força, não vou te forçar, basta
escolher e eu assinarei embaixo. Eu prometo.
— Eu estou de acordo. — ela diz e eu escondo o alívio absurdo que sinto,
colo minha testa em sua têmpora e fecho os olhos agradecendo sua decisão
em silêncio.
— Droga. — Flávia murmura de repente e nos faz rir. — Agora você podia
ter se livrado disso. — ela diz encarando a TV desligada.
— Pra você tomar a minha vida?
— Isso!
— Não, obrigada. — Marcella responde e minha risada se direciona para sua
têmpora.
— É assim que tem ser... desse jeito... — eu volto meus carinhos para a vadia
loira. — Ainda devemos ter pelo menos uns quinze minutos... tem uma cama
de casal ideal no outro quarto. Temos que oficializar essa união com muito
sexo, orgasmo, chupadas, e gozo pra tudo quanto é lado.
— Dispenso.
— Tô fora.
Elas respondem em uníssono se levantando e se afastando de mim, e eu dou
risada disso.
— Uma hora vocês vão ter que perder esse medo e ceder... — eu digo, Flávia
cruza os braços em uma ponta da sala, Marcella me fuzila raivosa na outra
ponta, e eu levo minhas mãos à nuca. —... e eu sei que vai ser incrível,
deliciosamente incrível! Sou naturalmente paciente, vou esperar esse dia
chegar.

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