Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AUTORA
MARJORY LINCOLN
2018
ÍNDICE
PRÓLOGO
CHEGA DE FAXINA!
INFERNO
CULPA
O BÊBADO
VOCÊ ME AMA?
MINHA RAINHA!
SURPRESAS
SAINDO DA ROTINA
TUDO O QUE EU AMO EM VOCÊ
PATERNIDADE
O PENSADOR GREGORY MITCHEL ESTÁ
EQUIVOCADO.
NO FIM ELE TAMBÉM QUIS TER UMA FAMÍLIA
NAVIH
SOBRE PAIS E FILHOS
UMA SEMANA DEPOIS - CUPIDO
EPÍLOGO
CAPÍTULO EXTRA - VITOR
“Das muitas vidas que não tive
De todas me recordo
Do gosto das viagens que não fiz
Línguas que não aprendi
Cenários em que não estive
Dias que não vivi...”
Éder Rafael de Araújo
Dedicatória
Sou guardada e protegida por um Deus que nunca dorme e que faz valer a lei
do retorno. E esse trabalho é inteiramente dedicado a Ele e somente á Ele
dessa vez. AQUI você faz, AQUI você paga, e paga logo. Obrigada Deus,
pela capacidade de continuar, por esse Dom a qual serei eternamente grata,
por manter por perto somente as melhores pessoas e por dizimar segundo sua
justiça, todas as ervas daninhas.
Assim é. O bem para quem veio em bem. ´X<3 Boa leitura.
CAPÍTULO 1
PRÓLOGO
— Eu sei que já tinha te avisado sobre minha chegada Vince, e sei que estou
demorando... mas como te disse, esses caras são uma burocracia só, para
tudo! Nos Estados Unidos, respirar é burocrático, sabe disso.
— Eu sei, estou impaciente, mas é porque quero que chegue logo. — eu
encaro sua face compreensível pelo Skype. — Assim que chegar, saio de
férias. Já marquei a data da cerimônia e não vejo a hora de deixar aquele
escritório. Mas então!? Ligou somente pra dizer que vai demorar mais???
— Não. Liguei pra te passar um arquivo de minha troca de e-mails com Greg.
Estou preocupada, Vince. Greg me encheu de perguntas. Vocês estão bem?
— Não muito. Discutimos há um tempo e ele ficou bem magoado, tanto que
só fala comigo o essencial!
— Eu acho que ele está estranhando o fato de você me pedir para assumir o
controle da empresa enquanto está fora, e não ele.
— É um idiota. É meu padrinho, não poderia ficar para trás. A cerimônia será
bem íntima, na Grécia, eu queria...
— Meu Deus! — Jaqueline me interrompe sorridente. — Como você está
romântico. Jamais pensei...
— Sim! — sorrio. — Eu quero uma cerimônia incrível, ainda nem contei
o destino pra ela, será uma surpresa. É um dos lugares que me disse sonhar
conhecer e como já fomos à França... Me sinto um bocó, mas... por ela vale a
pena. Lara definitivamente me devolveu a vida, nos amamos muito. Ela
merece o mundo.
— O que ela faz?
— É estudante de gastronomia. Será uma incrível chefe, cozinha
maravilhosamente bem.
— E você daqui a alguns anos estará uma bola!
— Certeza que sim! — ela ri. — Eu até te mandaria o convite, mas preciso
que você trabalhe por mim enquanto eu estiver fora. Faça o meu trabalho e eu
te trago uma lembrancinha do casamento grego!
— Quero a lembrancinha na conta, isso sim! — ela ri de novo. — Estamos
falando de dois meses... depois da lua-de-mel terá algum plano??? Algum
projeto???
— Não. Será dois meses de lua-de-mel! — eu falo e ela arregala os olhos. —
Desde que ficamos juntos não parei de trabalhar e eu quero AS férias para
curtir minha mulher e meus filhos, te contei que ela está grávida de algumas
semanas, certo!? — ela afirma sorrindo. — Pois então, já faz alguns anos que
eu não tiro ferias de verdade, desde que... — eu falo e seu sorriso desaparece.
Jaque também conheceu Nanda. — ...Nanda se foi, enfim... quero viver esse
nosso momento o máximo que eu puder, amá-la por dois meses, e se eu
pudesse tirava mais! Perdi muito tempo, Jaque, agora eu voltei a viver, estou
imensamente feliz, e quero muito me dedicar aos três pra ontem!!!
— Fico muito, muito, muito feliz em vê-lo tão bem, Vince. De verdade. É
muito bom te ver feliz de novo, e eu espero do fundo do meu coração que
você, Allana e a Lara, sejam muito felizes! — ela sorri. — Mas, então,
mudando um pouco de assunto... se Deus quiser eles me liberam pra viajar
logo, logo então em breve estarei aí para fazer uma oficina contigo e ficar à
par de todas as suas atividades. Sabe que a papelada administrativa, e o ativo
juntamente com o Inmetro eu já domino. Realmente só preciso de detalhes da
sua forma gestão, conhecer a empresa, enfim...
— Sim, e é por isso que eu pensei em você para assumir. Sei que vai tirar
de letra... — eu falo e Lara abre a porta do escritório com sua carinha
sorridente e curiosa. — ...e eu vou poder deixar a empresa e dormir
tranquilamente. Já te mandei o e-mail com toda a proposta. Analisou?
— Posso entrar? — ela sussurra e eu digo sim com a cabeça.
— É claro que sim. Até te respondi. — Jaque responde.
— Ótimo. Vou dar uma lida em suas ressalvas.
— Não fiz nenhuma, Vince. A proposta está incrível!!!
— Quem é? — Lara que havia se sentado no sofá do escritório de casa,
escuta um pedaço da conversa e se intromete "como quem não queria nada".
— Venha ver. — eu falo rindo de sua carinha enciumada. — Jaque, a Lara
está aqui e quer saber de quem é a voz! Mais tarde conversaremos melhor,
mas agora preciso apresentá-las...
— Fala sério, nem penteei meu cabelo. — Jaque ri mexendo nos cabelos. —
Sei que ela é linda!!!
— Oi! — Lara se senta no meu colo e encara uma Jaqueline tímida pela tela
do notebook. — Prazer!
— É um prazer, Lara! Me chamo Jaque! Estudei com o Vince na faculdade e
vou assumir a empresa em poucos dias... vou cuidar bem direitinho para
quando ele retomar.
— Bom te conhecer, Jaque! Venha até nossa casa antes de assumir, e eu farei
um jantar incrível pra você!!! Será muito bem-vinda! Se é amiga do Vince, é
minha amiga também! — a demônia fala com simpatia, mas sua perna não
parava de se balançar nervosamente, só eu via...
— Ele disse que você é estudante de gastronomia, uma cozinheira de mão
cheia, e eu amo comer, então não posso recusar, eu vou sim!!! Muito em
breve!!!
— Já vou começar a planejar desde agora. — a diaba ri empolgada e se mexe
um pouco. — Ficarei te esperando! — ela fala e eu aperto sua coxa já me
sentindo duro. — Se importa se eu roubá-lo por uns dez minutos???
— É claro que não!!! Vejo vocês em poucos dias! — Jaque dá um tchauzinho
sorridente.
— Tchau, Jaque. Nos falamos depois! — eu digo, Lara abaixa a tela do
notebook e me encara enciumada.
— Jaque???
— É uma excelente profissional e vai me...
— É uma vadia que quer dar pra você!!!
— Como qualquer outra mulher quando olha pra mim. — eu zombo e ela
tenta se levantar, mas não deixo. — E se eu estivesse em uma ligação mais
importante que me custasse dinheiro... eu te surraria por ter me
interrompido!
— Ouvi voz de mulher. Só estou cuidando do que é meu. Você faria o
mesmo!!! Faria pior na verdade, já ia entrar aqui desligando o cabo sem nem
fazer perguntas.
— Eu posso!!!
— E eu não??? — ela pergunta indignada e eu digo não só para provocá-la.
Imediatamente ela finge estar brava e de novo tenta levantar do meu colo,
mas trava quando alcanço seu pescoço e a abraço com carinho, bem apertado.
— Você pode tudo... você é minha vida! — eu falo bem baixinho e posso vê-
la sorrir. — Já disse que te amo muito, hoje? Se já, eu repito, te amo muito
mesmo... — eu sussurro e sei que ela amou o que ouviu.
— Contou pra Jaque que meu noivo me trás flores depois do trabalho? Me
beija deliciosamente antes de ir trabalhar, pergunta como foi meu dia ao
chegar em casa após me buscar na faculdade...!?
— Não mas eu disse o quanto você cozinha bem, cuida de mim, da nossa
casa... só me esqueci de dizer que fode gostoso, chupa gostoso, cuida de
meus ternos como ninguém, lava, passa, e é uma porra de uma diaba gostosa
e bem prendada!!!
— Aposto que morreu de inveja de mim. — ela sorri me encarando e quando
eu concordo com a cabeça, seu sorriso desaparece quase que
instantaneamente. — Você é feliz? Eu faço você feliz?
— Mais do que eu pensei que poderia. Mais do que nunca. Não está claro?
Pensei que estivesse por demais exposto para quem quisesse ver...
— Eu não sei se estamos falando do mesmo tipo de felicidade, Vicente.
Quero saber se é completo. Quero saber se você tem tudo o que precisa, tudo
o que anseia comigo, tudo o que um dia planejou... sei que sempre sonhou
com uma família, com uma mulher incrível, e você já teve tudo isso um dia...
eu quero saber se você sente que está onde deveria estar. Sou o suficiente? —
Lara questiona parecendo insegura.
— Você é tudo pra mim, é o suficiente, e me faz feliz. O que foi? Está
insegura nessa altura?
— Não. Não estou.
— Mas se não está enxergando isso nos meus olhos, temos um problema
grave aqui! Pensei que eu estivesse conseguindo ser completamente
transparente contigo. Pensei que estivesse conseguindo demonstrar o quão
feliz eu sou.
— E você está. Só queria ouvir você dizer. — ela sorri. — E não adianta nem
surtar, mulher tem dessas. Vou te perguntar isso de novo a qualquer
momento, não importa o dia, e só o que você tem que fazer é afirmar olhando
nos meus olhos até me ver sorrir. Sem reclamar.
Lara afirma fitando minha boca, dou risada, e ela parece se negar a retirar os
seus olhos dali.
— Se quer um beijo, é só pedir...
— Eu já disse que amo sua boca? — ela questiona me olhando curiosa e eu
sorrio.
— Já.
— Já? Certeza? Quando???
— Ontem, depois do jantar. — eu falo e ela ri ao se lembrar. — "Oh,
Vince... eu amo essa sua boca!"— faço uma voz fina e arfante e depois caio
na risada ao vê-la corar.
Saio do escritório para não trepar com ela lá dentro, e encontro Allana vendo
TV. Desde que soube da gravidez estava agindo de modo estranho. Calada,
enciumada... já havia deixado claro que não ia dividir seu quarto com bebê
nenhum. Chamou Lara de traíra. 'Achou que Lara queria ser sua mãe, mas se
enganou, o que Lara queria mesmo era um filho "de verdade" e depois disso,
vê-la pelas costas'. Obviamente, depois do episódio teatral, foi mimada, saiu
pra passear, ganhou presentes, mas só funcionou na hora. No dia seguinte
voltou a fazer charme pra chamar atenção. Claro que eu já esperava uma
atitude assim, mas de primeiro momento, Lara ficou completamente
desestabilizada pela rejeição da pequena e foi aí que eu tive que lidar com
dois "problemas", o charme de uma, e a tristeza de outra. "Se aquele bebê for
menina, estarei triplamente fodido". Terei que dar conta de três.
— Está empolgada com o passeio? A Tia já, já estará aqui...— questiono e
ela dá de ombros.— Já arrumou sua roupa?
Era duas horas da tarde. Tia me pediu para levá-la para um passeio junto com
Júnior e seu marido, e eu já tinha planos com minha prenha.
— A Lara separou!
— Então vai pro banho porque já, já ela estará aqui. Combinamos às duas, e
já são duas.— eu falo, ela fica um tempo encarando as meninas super-
poderosas, e depois sobe após obrigá-la a dar um beijo na Lara e em mim.
Me jogo no sofá me sentindo cansado, e a tentação se joga do meu lado,
ficando de conchinha. Vestia um shorts jeans bem curto, e uma blusinha que
deixava sua barriga à mostra.
— Tão cheirosa...— resmungo afundando meu nariz em seus cabelos.—
Gostosa... tão minha...
— Se controla...— ela resmunga se esfregando, a filha da puta.
— Está bem, então é só tirar essa bunda daqui.
— Ah, não.— ela ri.— Faz uma massagem em mim, acho que estou tensa,
amor!— ela diz tocando no ombro para indicar o local, abre as pernas, e toca
em minha nuca com a mão direita. O corpo dela falava comigo. Sempre
falou.
— Quer massagem!? É claro que faço!— eu afirmo e ela soa feliz.
Desço minha mão por tua barriga bem devagar, abro seu shorts, invado sua
calcinha, e faço um sobe-e-desce massageando seu "ponto tenso". Enfio a
mão toda, a lentidão a faz pirar. Ela arfa, geme, e acarinha minha nuca.
Estimulo seu ponto nervoso com dois dedos, enfio em sua entrada, saio,
desenho círculos, entro de novo, brinco como uma criança curiosa, e repito.
— Isso é tão gostoso. Estou quase relaxando, realmente funciona...— ela diz
gemendo.
— Vadia! Você é uma safada, não perde a oportunidade nunca. Deitou e se
esfregou em mim porque queria isso desde o início que eu sei.
— Sim e você ama! Não pode falar nada!
— Sua...— já pretendia me livrar de mais ofensas porque sim, mas
infelizmente o meu celular toca em meu bolso. — Espera!
— Não mesmo! — Lara exclama, pega o celular do meu bolso, tira o shorts e
a calcinha enquanto olha pro aparelho, parece analisar o número, e como
quem fazia facilmente duas coisas corriqueiras ao mesmo tempo, ela atende
enquanto senta em minha boca.
— Alô? Oi!!!— ela parece feliz. — É a Lara, dona Norma! É claro!!!— ela
falava e rebolava enquanto eu a sugava.— Ele está no banho, quer esperar, ou
quer que eu dê algum recado? Ele acabou de entrar... Sim! Ah! Que ótimo,
isso é maravilhoso...— ela fecha os olhos quando eu sugo seu grelinho com
força, pra judiar. Chupo forte, me lambuzo, e ela faz aquele bico formando
um 'o' como quando está prestes à gozar gemendo. — Sem problemas, ele
retorna... não vejo a hora de-de conhecer vocês! — ela gagueja e eu puxo sua
cintura pra baixo. — Tá certo, um beijo! Até logo! — ela termina, desliga,
grita, se apoia no braço do sofá acima da minha cabeça e com isso, se esfrega
como uma depravada. Tento manter sua boceta apenas em minha boca, mas
quase não consigo. Dou-lhe um tapa forte na bunda, ela se aquieta, e como se
fosse um gatilho, dá um gritinho enquanto sinto sua intimidade tremer na
minha língua. Sugo tudo...
— O que minha mãe queria? — questiono quando ela se joga na direção
dos meus pés e se toca como se não tivesse sentido tudo o que tinha pra
sentir. Seus dedos se moviam bem rapidinho, e enquanto eu esperava uma
resposta, seus olhos giraram nas órbitas.
— Vem cá.— ela estende o braço, eu me aproximo, ela segura em meu
cabelo, volta a colocar a minha cara' no meio de suas pernas, e de novo, me
usa para o seu prazer. — Isso. Minha nossa!!!
Ela geme, chora, e depois afasta minha cabeça respirando com dificuldade.
— Ela ligou pra avisar que está vindo pra São Paulo! Ela, seu pai, e seu
irmão!— ela diz com dificuldade e eu dou risada enquanto toco a própria
boca sentindo o seu gosto.
Aquela garota ia me enlouquecer.
— Queria saber tudo sobre a cerimônia! — ela diz se vestindo e eu só a
encaro, rindo sozinho.— Quero que me conte onde será a cerimônia. Não
quero segredos, sei que vou amar de qualquer jeito. O que foi, homem? O que
há de tão engraçado aqui??? — ela sorri ajeitando os cabelos.
— Você é... — dou risada.— ...muito doida!
— Gostou, não é!?— ela ri se sentando no meu colo e passando a língua em
meus lábios.
— Você vai acabar com minha vida!!!
— Você já me disse tanto isso, que eu pensei que já tinha acabado. — ela diz
e me dá um beijinho antes de levantar. — Meu pai ligou. Pediu para
agradecer o jantar que fizemos, ele amou. Disse que nunca pensou que seria
tão bem recepcionado, e agradeceu pela forma respeitosa com o que você
dirigiu todo o jantar, com a presença dele... o fato de pedir novamente a
minha mão agora pessoalmente, a responsabilidade com a notícia do bebê, a
cerimônia que sempre desejou pra mim, o tratar com respeito apesar das
circunstâncias, sabe!? Dele ser "ex-presidiário", a vaga na empresa... enfim!
Está encantado contigo e muito feliz!
— Não fiz nada demais, foi minha obrigação. E ele colocou no mundo essa
coisinha mais linda e sacana. — ela ri enquanto aperto sua bochecha. — Só
tenho a agradecê-lo. É mais do que minha obrigação agradá-lo como puder e
principalmente respeitá-lo. É um bom homem!
— Mesmo assim, eu o agradeço. Obrigada por tudo o que fez por mim e por
minha família. Obrigada por tudo.
— Ah! Mas pra você, nada foi de graça, pensa que foi!? Vai ter que pagar
com muito amor, sexo, comida gostosa, e paciência!!! E se esse bebê aqui!?
— questiono e ela sorri toda iluminada. Sempre ficava encantada quando
falávamos nele. — O que será que vai ser? Tem preferência?
— Não. E você?
— Também não! Sendo saudável... pra mim não importa. Já me sinto o
homem mais feliz do mundo. — eu dou de ombros, ela sorri carinhosa, e a
porta da frente se abre de supetão fazendo-a se levantar imediatamente do
meu colo.
— Se estiverem nus, façam-me o favor... — Tia já diz.
— Boa tarde! — Júnior se aproxima, abraça Lara sorrindo para mim porque
amava me ver espumar de "ciúmes", e depois me estende a mão.— Como
vai?
— Eu estava em um ótimo momento, mas aí você chegou!
— É sempre um prazer!— ele diz rindo e Lara me encara a espera da
resposta. Se divertia assistindo nossas trocas de farpas.— Meu pai está
esperando no carro, cadê a pestinha?
— Eu vou até lá, deve estar se trocando! Vou ajudá-la. — Lara sai, Tia a
segue, e ele se senta ao meu lado me encarando.
— Como você está?
— Eu não te procurei mais... estou ótimo.
— Poderíamos nos ver sem que você estivesse em uma tremenda crise
existencial adolescente.— ele ri, mas logo para. — Brincadeira. Poderíamos
sair, dia desses, sei lá... beber, conversar...
— É impressão minha ou está me dando mole?— zombo e ele não sorri com
a brincadeira. Me encara nos olhos profundamente para zombar no melhor
estilo e se aproxima ainda mais de mim, para ganhar o desafio de quem
conseguia ser mais patético. Aquele desafio do início.
— Não. — ele diz baixinho. — Prefiro tua noiva, como sempre. Me dar bem
contigo a faz feliz, e se tem uma coisa que me dá mais prazer nessa vida, é
fazer Lara feliz. — ele sussurra e sorri ainda me fitando profundamente.
— Repete. — eu peço no mesmo tom em que falava comigo e ele volta a se
sentar onde estava antes. — Eu aceito seu convite... — eu digo me ajeitando
no sofá. — é claro. Fazer Lara feliz também me dá um prazer inenarrável.
Aceita um drinque?
— Aceito. — ele diz rindo e eu me levanto. Vou até a cristaleira, coloco um
Martini no copo, me viro para fitá-lo e o vejo me encarando sorridente. Finjo
virar um vidrinho de aspirina que estava vazio, sirvo um segundo copo, e
depois o estendo me sentando ao seu lado.
— É Martini puro, não sei se gosta desse tipo de bebida.
— Bebo de tudo. — ele diz sorrindo, e vira o copo. — Certo. Agora me diga
o que colocou aqui.
— Primeiro bebe e depois pergunta?— eu questiono sério e ele sorri.
— O que estão aprontando? Falando tão baixinho??? — Lara desce com uma
Allana arrumada e uma Tia apressada.
— Nada, vida! Estamos bebendo e papeando! — eu passo a sorrir e ele
gargalha.
— Vamos??? — Tia diz olhando em volta. — Trago a pequena mais tarde,
estarão aqui???
— Vamos ao cinema agora, namorar bastante, e logo voltamos. Nos ligue
antes de aparecer e... — eu encaro o futuro psicólogo com bom humor. —
Jamais entrem em nosso quarto sem bater.
— Que emocionante será essa noite! — ele diz e passa a encarar Lara que
sorria para nós dois. — Eu posso imaginar...
— Pois é. — sorrio para ele. — Tia, é seu marido quem vai dirigir na ida e na
volta, certo?
— Sim, meu filho, por quê?
— Nada. Júnior parece cansado. — eu encaro o copo em sua mão. — Não
parece bem para dirigir. — eu falo, ela encara o filho preocupada, e quando o
vê sorrir pra mim, entende.
— Vocês são dois bananas! — ela resmunga irritada. — Vamos, filha!
Cumprimente seu pai e a Lara. Vamos logo!!!
— Vai com Deus! Papai ama você!— eu abraço e beijo a pequena e depois
ela agarra a Lara.
— Vai com Deus. Quer que eu faça um doce bem gostoso pra gente comer
vendo TV quando você chegar? Até pegar no sono???
— Pode ser qualquer um? — Allana questiona quase animada.
— Pode.
— Certo, quero bolo de chocolate com sorvete, e brigadeiro. Como se fosse
meu aniversário. Com meu nome e tudo! E já que vão sair...— ela balança o
vestido levemente. — ...poderia embrulhar alguma coisa bem legal da loja da
Pucket! Tem lá no shopping.
— Qualquer coisa que faça minha pessoa favorita no mundo, feliz. — Lara
diz com os olhos brilhando.
— Ainda sou a favorita? Como está o placar?
— Allana em primeiro, bebê, mamãe, papai e Vince em segundo, Tia, Júnior
e cozinhar em terceiro... — Lara sorri. — e assim por diante! Você será
sempre a primeira pessoa mais importante no universo, pra mim. Pra sempre!
E nada vai mudar isso! Eu te amo!!!
— Também te amo, Lara!— as duas se abraçam e Tia sai correndo segurando
na mão da pequena ciumenta.
— Você está bem?— pergunto pois Lara, ao ver Allana sair, se virou e
abaixou a cabeça como se desmoronasse.
— Estou. Estou sim! Onde a Tia vai levá-la mesmo?
— Em uma churrascaria no Center Norte. Ela disse que tem um lugar bem
legal lá, um salão cheio de jogos, Júnior ficou de entretê-la a tarde toda. — eu
falo e ela balança a cabeça. — Lara, Allana é pequena, sua atitude é um tanto
quanto natural. Tudo mudou na nossa vida de repente, está um pouco confusa
e com medo de perder a nossa atenção, mas ela vai se acostumar com a ideia,
vai amar o bebê, será irmão ou irmã dela, ela vai se acostumar! Eu te prometo
isso! Eu prometo!
— Eu nunca quis que pensasse que cheguei para tomar lugar da mãe assim
como não quero que pense que com esse bebê, eu desejo tirar seu lugar na
vida do pai. Eu a amo, e o que ela pensa de mim, muito me importa! Quero
que a gente seja feliz aqui, unidos, e não aceito menos do que isso. Você me
entende?
— Eu entendo! Entendo e se não fosse esse amor todo que você sente por ela,
eu nem sei se estaríamos juntos. Notei isso, e ela também vai entender o
quanto é amada por você. Ela vai entender que está em um lugar dentro dos
nossos corações que nunca ninguém vai conseguir tirá-la. Essa atitude dela é
comum, acontece nas melhores famílias. Só precisamos saber lidar, dar amor
a ela, atenção, e carinho. E já estamos fazendo isso, agora é só ter paciência!
— Certo. — ela me abraça e sorri. — Vou tomar um banho e me trocar. Você
vem?
— Eu já vou. Só vou retornar a ligação da minha mãe. Vamos lá, ligo do
quarto e entro no banho contigo para te ajudar. — eu brinco e ela se solta de
mim resmungando sobre o quanto eu sou safado.
Tudo aconteceu bem depressa, assim como a reunião que convoquei para
contar a novidade para todos, assim que seu pai foi liberto provisoriamente,
graças ao meu advogado, e com isso, com o apoio de seus pais, Lara estava
claramente feliz, assim como eu. Apenas a reação da Allana que não foi a
melhor possível, mas eu podia apostar que sobreviveríamos á sua rebeldia
juntos.
Disco para o telefone fixo internacional e espero. Enquanto Lara separava
uma muda de roupa, me jogo na cama e fito o teto alto. Orava para que meu
pai atendesse, minha mãe era extremamente exagerada com tudo e qualquer
coisa.
— Hello...— Vitor atende o telefone e eu bufo em pensamento. Cadê meu
pai???
— Oi. Sou eu.
— Como vai, Vicente?
— Bem e você?
— Animado para te ver!
— Não me diga!? Também não vejo a hora de vê-lo! Deve enfim estar bem
crescidinho.
— Aposto um rim que na mesma altura que você, graças ao útero de minha
mãe.
— É. Veremos. Cadê meu pai? Está em casa?
— Ele está. Mas eu acho que foi a mamãe quem te ligou. Não quer falar com
ela?
— Qualquer um dos dois... é que tenho alguns assuntos com ele, e já posso
resolver na mesma ligação. — eu minto e ele sabe.
— Sei. Só um minuto!— ele diz, parece largar o telefone e depois eu o ouço
gritar pela minha mãe. Babaca.
— Oi, meu amor!!! Eu te liguei faz pouco tempo!!!
— Eu sei, mãe. Estava no banho. Como você está?
— Eu estou bem, estamos felizes por voltar! Não vemos a hora!!! Estamos
tão felizes por você, Vince...
— Eu imagino, também estou muito feliz! Quando é que vocês chegam? Vou
buscar vocês no aeroporto, como já disse, me mudei...
— Olha, seu pai está resolvendo um problema que surgiu no passaporte
aqui... assim que ele conseguir resolver, nós compraremos a passagem, então
a qualquer momento eu te ligo pra avisar!
— Tudo bem então!
— Certo! Agora escuta! O Vitor te contou sobre a proposta que fez para o
Greg? Não quero brigas por causa dessa empresa, hein Vince!? Vocês já
cresceram, não me faça colocá-los de castigo depois de barbados, e por sinal,
extremamente barbados, não é mesmo!?
— Que proposta, mãe?
— Ele não disse???
— Não, só estou sabendo agora!
— Então vou passar o telefone pra ele.
— Se a senhora não vai dizer, esqueça. Falo com Greg depois. Agora preciso
sair, vou levar Lara para ver um filme e estou atrasado!
— Quero falar com ela sobre os preparativos, viu!? Quero ajudar... tenho
muitas ideias. Seu pai e eu quando fomos para a ilha de Creta conhecemos
lugares incríveis, e...
— Mãe, eu já resolvi tudo. Além do mais, é surpresa, Lara nem sabe como,
quando, ou onde será. Vai falar o quê com ela?
— Credo, Vince! É seu casamento, quero fazer parte disso...
— Já vai fazer parte, 'recebeu o convite'.
— Tudo bem... — ela soa triste e desanimada.
— Posso deixá-la montar uma recepção aqui antes da viagem, se Lara
concordar, o que acha? Assim a senhora "participa".
— Não é a mesma coisa, sabe disso! Você me odeia, não é!? Eu não sei bem
o porquê, mas odeia. Sei como se sente, sei que me culpa...
— Ah! Tenha misericórdia, mãe! Preciso desligar, nos vemos em breve.
— Te amo, filho. Sabe disso, não é!?
— Eu sei, e te amo também. Até mais, mãe. Mande um beijo pro meu pai!
Desligo a ligação me sentindo cansado e reflito.
— É sério que não foi me dar banho pra dormir? — ouço sua voz e abro os
meus olhos.
— Eu não estava dormindo, estava pensando. — eu falo e ela ri descrente. —
Lara, lembra que eu te contei sobre o que eu disse pro Greg e sobre como ele
ficou comigo???
— Aham, lembro. Disse que passou a te tratar de modo frio, e tudo o mais!
— Sim. — eu falo enquanto ela passava hidrante em seu corpo. Me sento na
cama e ela me oferece o vidro para ajudá-la, como gostava. — Ele andou
sondando a Jaque, queria saber o porquê a contratei, ou queria mais detalhes
sobre o porquê e agora minha mãe me disse que não queria ver "meu irmão e
eu brigando por causa da empresa", disse que Vitor andou falando com o
Greg!
— Bom, pelo jeito a Nanda é o ponto fraco dele. Mais do que a gente
imaginava. — ela fala e me encara. — Permaneça com os dois olhos abertos.
Seu amigo supre amor e ódio por você, talvez mais ódio do que amor. Vai ver
te culpa por um mundo de coisas, afinal, graças a "você" ele não pôde ficar
com a Nanda e então ela se foi... sondou sua funcionária, e agora seu irmão.
Se ele não está querendo te deixar, quer te foder, sei que posso estar falando
bobagem mas, é melhor desconfiar do que ignorar. Meu conselho é: fale com
o Greg pessoalmente, de preferência antes desse casamento acontecer. Não
quero traíras ao nosso lado, muito menos como padrinho de casamento. —
ela fala e eu sorrio.
— Que garota perspicaz...
— Sempre fui .— ela se levanta, veste um vestido curto azul-marinho bem
soltinho e rodado, e se vira para eu ajudar a fechá-lo.
— Está preocupado com ele? Com o que ele pode fazer?
— Não.
— E por que não?
— Porque eu acho que é ele que está preocupado com o que eu possa fazer.
Estamos distantes então deve estar com um monte de caraminholas na
cabeça.
— Como é tua relação com teu irmão?
— Não sei bem dizer. Acho que é formal demais. Não brigamos, não temos
rixas, mas não somos amáveis nem melhores amigos. Por quê?
— O que o Greg poderia querer com ele?— ela questiona e depois e se
assusta com o meu silêncio. Aquela questão me fez pensar naquilo. — O que
foi??? No que está pensando?
— Houve uma época em que meu irmão quis comprar parte da minha
empresa. Minha mãe disse a respeito de não brigar por causa dela, então...
essa tal proposta deve ter relação com isso. Mas nunca me preocupei porque
meu irmão nunca deixou de tentar comprar, mas nunca conseguiu, com
nenhum dos meus amigos, deve ter falado com Greg a pouco tempo e... ele
deve ter aceitado porque no momento deve estar chateado. Mas não se
preocupe, falo com o Greg amanhã.
— E por que seu irmão quer tanto isso?
— Ele é especializado em investimentos. Vive com o dinheiro do lucro dos
outros. É como investir na bolsa, ele aposta em empresas que dão ou
aparentemente darão certo, coloca dinheiro nelas, e passa a vida colhendo os
frutos eternamente. No meu caso sempre achei que rolou um toque de
rivalidade, competição. Vitor é extremamente competitivo, e quando éramos
pequenos, sempre tentava ter tudo e melhor do que eu. O sonho dele sempre
foi ter seu espaço na minha empresa, desde que eu a abri com a Nanda. Já até
chegou a fazer uma proposta pra ela também. Estávamos no início de tudo.
Ele investiria, "deixaria a empresa pronta para o mercado", e então, seria
sócio. Nanda disse não porque já o conhecia, sabia que não queria realmente
nos ajudar e sim, fazer parte de tudo por causa do ego grande que sempre
teve, e então Greg também disse não, Flávia também, e todos os outros
amigos...
— Mas você não está mais no início, nem em dificuldade, por que ele haveria
de querer fazer parte ainda hoje?
— Ele investe não importa como a empresa está. Se acha que vale a pena, ele
coloca o dinheiro nela, e colhe os frutos. Numa empresa como a minha com
certeza investiria em mais tecnologias, obras para aumentá-la, criar outras
sedes, estruturas, marketing, e então, ao aumentar o negócio mais dinheiro
entraria, e com isso, seu investimento retornaria para seu bolso por tempo
indefinido... faz fortuna assim. Sem contar que eu disse que no que
dependesse de mim ele jamais colocaria suas mãos em meus negócios, e
conseguir o feito seria um ganho inimaginável pra ele.
— Vince, isso está parecendo inveja...
— Sempre teve. Sempre fui mais inteligente, notas melhores, mulheres
melhores, conquistava todos ao meu redor enquanto ele afastava a todos com
sua arrogância, tive meu negócio primeiro que ele, orgulhei meu pai primeiro
que ele, dei uma neta para os dois que foi tudo o que meus pais sempre
quiseram, e ele não... sempre achei que Vitor queria minha vida, minhas
coisas, e devo ter razão.
— E vocês nunca brigaram mesmo???
— Não porque sempre fui muito passivo. Sempre o provoquei com meu
silêncio, sempre fui superior, nunca bati de frente. Mas eu não o odeio.
Nascemos de uma gravidez bivitelinos. Uma mesma gestação, duas bolsas,
duas placentas, e dois cordões umbilicais. Éramos demais unidos mesmo sem
querer e por isso nos conhecíamos bem demais. Nunca consegui odiá-lo ou
prejudicá-lo e ele nunca tentou me fazer mal, só amava se sentir talvez, mais
"especial" do que eu em todos os sentidos. Gosto dele, jamais me prejudicou,
então têm meu respeito e admiração porque apesar de tudo, é genial no que
faz. Sempre o admirei por ser inteligente, se tivesse menos ego e mais amor,
eu adoraria ter sido seu amigo um dia, e o teria aceitado como sócio.
— Espere aí. Ele é teu gêmeo?
— Não. Somos muito diferentes aparentemente. Gêmeos idênticos são os
opostos, dividem a mesma placenta e tudo o mais. Somos completamente
diferentes, e temos até alguns minutos de diferença na hora do parto. Isso é
outra coisa, e principalmente... — deposito beijinhos em sua nuca...— uma
conversa para um outro momento. Preciso ir pro banho. Eu já volto.
— Por que nunca me contou sobre ele?
— Sempre soube que eu tinha um pai, uma mãe e um irmão. O que mais
deveria saber?
— Ué, os detalhes, como esses...
— Tu não precisa de detalhes como esses, tenho uma família como milhões
de pessoas por aí, como você... e eu sabia que mais cedo ou mais tarde você
os conheceria, nem preciso ficar falando muito, e nem ouse olhar pra ele
quando ele chegar. Pode até cumprimentá-lo de cabeça baixa se quiser. Quero
você longe dele.
— Por que? É teu irmão...
— Por isso mesmo. É meu irmão. Quanto mais longe você ficar, melhor! Se
olhar pra ele, vai levar uns tapas, e se aproximar demais te deixará divorciada
antes de casar.
— Nossa, que possessivo... cadê os resultados da tal da terapia?
— Estou novo em folha, graças á terapia, mas ela não fará milagre algum!
Vitor não é do tipo que faz amizade com mulher e nem ao menos é gentil. Se
quiser qualquer aproximação contigo, vai ser pra te comer e te levantar como
troféu na altura da minha cara, portanto, fique longe dele.
— Se ele não for estuprador, só vai me tocar se eu deixar, se eu quiser... sabe
que eu tenho opinião própria e respeito por você, não é!?
— Sei. E também acho que tem bom senso, por isso vai acatar o que ordenei.
Eu falo, e sigo para o banho ouvindo-a resmungar, "bom senso", "ordenei",
como uma criancinha de dez anos que reclama com os pais. Vitor sempre
queria tudo o que eu tinha, dava em cima de Nanda sempre que vinha para o
Brasil. Se chegasse perto demais de Lara, pela primeira vez, eu ia socar
aquela cara de filho da puta dele, até os meus dias acabarem, e depois dava
uma surra na vadia. Sorrio. Eu ia era chorar de raiva e arrancar alguns tufos
de cabelos de sua nuca enquanto estocava naquele traseiro logo após enterrá-
lo em uma vala qualquer. Sorrio mais com o pensamento. Lara era minha e
seria pra sempre, se não fosse minha, não seria de mais ninguém.
(...)
Abro a porta do carro, no estacionamento do shopping e ela desce sorridente.
Penso na frequência com que a fazia chorar logo após todos os nossos
pequenos diálogos e me sinto feliz. Faz muito tempo que eu não a fazia
chorar, Lara estava sempre radiante, desde que nos mudamos. Estava ainda
mais sorridente, alegre, mais do que era antes. Meus esforços para fazê-la
feliz estavam dando certo. As flores, nossos momentos juntos, nossos
passeios, as fodas... pelo jeito estava dando certo, eu poderia dizer que estava
cumprindo o que prometi a ela e a seus pais. Lara era e estava feliz.
— Vamos ver o presente da Allana antes de ver o filme! Assim podemos ver
o filme e jantar tranquilamente sem correr o risco da loja fechar.
Ela fala, eu concordo, fecho o carro, e caminhamos grudados e de mãos
dadas até a loja. Alguns minutos depois a arrastei dali antes que pudesse zerar
o estoque só para mimar a enteada, e em pouco tempo entramos na fila do
aparelho do cinema. Aquelas máquinas tecnológicas. Lara escolheu um
romance de estréia, mas eu entrei em todas as salas de todos os horários para
ver os bancos. Todas as salas estavam lotadas com poucas vagas, e eu não
queria ver filme algum.
Abri uma sessão de pancadaria, e estava vazia, eu a encarei e ela sorriu. Só
para garantir voltei a abrir uma sessão de comédia romântica, mas que há
muito tempo estava em cartaz, então consegui uma sala vazia, com um filme
legal. Isso!
— Sabe que o certo seria você dar prioridade para a minha escolha, não é!?—
ela diz sorrindo enquanto eu coloco o cartão na maquininha.
— Esse filme é melhor.
— Não conheço nenhum ator. Ouvi falar que de engraçado não tem nada...
— Eu posso fazer você rir se quiser...— eu a encaro e ela nega sorrindo. —
Eu não quero ver filme, nem o romântico da estréia parece ser bom.
— Então por que não vamos para outro lugar...!? Quem sabe um motel bem
legal. — ela diz baixinho ao me agarrar, assim que termino de pagar. — Já
estou com saudade dessa sua boca habilidosa, poderíamos pegar um quarto
incrível em algum lugar bem chique. Pode me fazer feliz matando essa
saudade que eu tô.
— Ai como você é ingênua. Tanta atitude na cama, tanta maldade nessa
cabecinha, mas para algumas coisas você é tão bobinha! — dou risada, ela se
solta de mim, para em minha frente me obrigando a frear, e me olha nos
olhos.
— Você fica bonitinho me subestimando. — ela fala e eu olho ao redor para
ver se alguém nos encarava ou nos ouvia. Toda vez que ela me afrontava
ganhava um tapa ou uma pegada grosseira só para eu descontar minha raiva.
— Eu tenho sim uma cabecinha maldosa, e por ter uma cabecinha maldosa, e
te conhecer tão bem, sei porquê me trouxe aqui. Agora você tem que
concordar que entre uma poltrona e uma King Size, mil vezes uma King
Size.
— Já temos uma, e mesmo se quiser muito, assim que o filme acabar,
poderemos encontrar algo legal, se faz questão, mas não me importa o depois,
o lugar, a cama, ou a sessão. Eu vou foder você lá dentro enquanto todo
mundo assiste esse filme chato, e vou chupar essa boceta enquanto você tapa
a boca com a mão para ninguém nos ouvir. Este é plano, e assim vai ser!
Você entendeu?
— Entendi.
— Então não volte a levantar essa cabecinha para falar comigo com tanta
audácia, e tire a mão da cintura. Combinamos as regras, você não me fode e
com isso permanecerá casada. Não vai me afrontar e então eu serei um
marido incrível, como já venho sendo. — eu falo segurando a voz e ela
encara o botão da minha blusa perdendo totalmente a pose.
— Eu te amo! — ela sussurra e volta a me encarar, só que agora miando.
— Melhor assim. — dou risada e ela faz um bico. — Eu te amo também.
Muito mesmo!
Ofereço meus braços para que ela possa morar por alguns segundos, e sorrio
com sua carinha de cadela que caiu da mudança.
— Quer alguma coisa pra comer? Uma pipoca??? Suco???
— Não. Tô sem fome!— ela fala toda mansinha.
Caminhamos até a fila porque suspeitava eu que já poderíamos entrar, e me
encaminho até o alto da sala, nos lugares que escolhi. Seríamos os últimos e
ninguém tinha escolhido tão alto. Lugar perfeito.
A sala fria nos recebia com a escuridão familiar e uma musiquinha ambiente
como sempre. Me sentei na poltrona que me faria ficar em seu lado esquerdo
e com isso a fiz passar por mim. Caminhou próxima aos meus joelhos se
equilibrando nos saltos altos, e obviamente a fiz parar.
Me encarava cheia de expectativa e eu amei aquilo. Para quem via de lá de
baixo, ela só estava de pé, fitando alguém de costas para a tela enorme, mas
ali, a situação era outra. Subi minha mão de encontro com sua intimidade,
acarinharei sua boceta por cima da pequena peça e em seus lábios aquele bico
que indicava que respirava pela boca se fez presente. Sorri ao vê-la tão
entregue, e ao notar o quão molhada ficou com meus carinhos, puxo
lentamente a peça minúscula para baixo, a faço levar um pé depois o outro
para tirá-la, e levo ao meu nariz com extrema lentidão.
— Senta.— eu peço e ela obedece no ato.
Permaneço quieto fitando a tela negra e brincando com a calcinha apenas
com uma mão. Sinto o calor de seu olhar em mim e sorrio. Era uma boba
louca por mim. Me achava bonito demais, amava minha barba,
principalmente quando ela arranhava sua virilha, e às vezes parecia se
perguntar se realmente tinha conseguido me ter para si. Vire-e-mexe até
deixava escapar em voz alta. Era insegura... se tivesse noção de como eu me
sentia, do quão sortudo eu era, e do quão feliz eu era por tê-la em minha
vida... aposto que ficaria pasma.
— O que está olhando?— eu pergunto de repente e ela balança a cabeça,
primeiro assustada, depois toda sorridente.
Me aproximo para beijar sua boca, coloco a calcinha no bolso da blusa, e
aperto sua coxa assim que meus lábios encostam nos seus. Estava de pernas
cruzadas e eu sabia que só tentava agir naturalmente evitando liberar um rio
de dentro de si. Sua mão aperta minha perna, passo meu braço por sua nuca
para abraçá-la e com isso minha mão alcança seu seio rapidamente. Aperto,
massageio, e sua mão toca meu pau duro, por cima da calça.
— Não dá pra cavalgar aqui sem que vejam... quero pular!!! — ela faz manha
e eu dou risada.
— É só começar esse filme e eu viro você de cabeça para baixo! — eu digo
em pausas, pois ainda a beijava, mas ela geme.
— Que horas vai começar? — ela reclama e eu dou risada.
— Vai, safada, abra essas pernas!
Eu mando, mas já tocava sua intimidade com as pernas cruzadas mesmo.
Faço ela gozar na minha mão, o trailer começa, e eu dou mais risada com sua
carinha assustada ao ver que um casal, de última hora, teve a mesma ideia
que eu e se sentou no corredor da frente. Ela me encara, suspira, fita minha
boca, e eu me sinto no céu. Estávamos tão apaixonados. Nunca pensei que
voltaria a me apaixonar, e eu sabia o porquê pensava naquilo bem ali, naquele
momento, Lara fazia meu coração se encher, palpitar, e desde que tirei sua
calcinha olhando em seus olhos, soava frio. Aquele nervoso gostoso de início
de namoro, com ela, era todos os dias.
— Sou maluco por você! Sabe disso, não é!? — eu falo, ela afirma com a
cabeça, a luz do cinema diminui de intensidade, e o trailer segue seu rumo
lentamente para o início do filme.
Sinto sua mão em minha coxa, depois no meu zíper, ela toca fazendo charme,
parece querer ter certeza do tamanho, pois pressiona toda a extensão, suspira
bem baixinho, e depois se ajoelha. Toco em sua nuca, ajudo no vai-e-vem, e
ela chupa gostoso me levando ao delírio. Ali tudo parecia em uma outra
frequência. Estávamos em uma, mas o mundo ao redor em outra. Eu só sentia
sua língua na cabecinha, seu apertão em minha coxa, seus olhares
apaixonados assim como os meus, seus sorrisos de canto de boca, sua
loucura... naquele nosso pequeno universo onde nos tornávamos um só, só
existia nós e mais nada, nem um único problema.
Ela percorre com a língua do meu saco até a cabeça, passa a bater enquanto
chupa como um bebê faminto, e eu não suporto aquilo. Agarro seus braços,
faço-a levantar, viro seu corpo para frente e a puxo para mim, estava insano.
— Isso, princesa! Agora pula pra mim!!!— eu peço bem baixinho, seguro
em sua cintura, e comando seu ritmo do jeito que eu queria. Primeiro
lentamente, logo em seguida bem rapidinho, e depois deixo a diaba rebolar.
O filme começa, sinto o molhadinho, dirijo minha atenção ao barulho gostoso
que nossas intimidades faziam, e suspiro agarrando os cabelos de sua nuca
para virar sua boca até o ponto onde eu pudesse chupar sua língua ao mesmo
tempo. Amava fazer carinho nela como amava judiá-la.
— Lara, eu vou...— tento falar enquanto voltava a cavalgar, mas como
imediatamente passa a se esfregar como se sua cintura tivesse uma mola,
gozo antes de terminar a frase, dentro dela. — Maluca! — tento respirar
quando ela joga suas costas contra meu peito.— Eu te amo! Te amo...
Sussurro, ela sorri me encarando, tira do meu bolso sua calcinha, — com
certeza para meu líquido não escorrer pelas suas coxas e pernas. — se veste,
e se senta ao meu lado, arfando e sorrindo.
— Obrigada! — ela diz após se inclinar e me dar um beijinho enquanto eu
ainda tentava voltar para a terra. — Obrigada por me fazer tão feliz, e eu fui
muito feliz agora! — ela diz e sorri.
Encaro o filme no início, não consigo me concentrar, e logo a faço sair
daquele lugar, afinal, não foi para assistir que eu fui até lá, e se fosse para ter
segundo round, que fosse em nossa cama porque a adrenalina passara e eu
queria a nossa segurança. Eu queria muito mais!
— Ei... — eu resmungo em seu pescoço enquanto caminhávamos na frente
das lojas. Fazendo as contas ficamos trinta minutos lá dentro. — Olha!
Eu a puxo pela mão até uma loja de enxoval e seus olhos brilham.
O cheirinho de talco e de bebê da loja me faz a pessoa mais feliz do universo,
o homem mais realizado.
— Que coisa mais linda!!! — ela exclama segurando um macacão branco nas
mãos, de tecido fofo e com ursinhos em alto relevo.
— Já comprou algo na rua?
— Não. Ainda não... — ela sorri encantada e diz para a vendedora sorridente
que "só estava olhando" assim que fomos abordados.
— Então será nossa primeira compra, e juntos. Teremos aqui nossos
primeiros presentes. Vamos dar uma olhada...
— Quero esse! — ela já diz logo e eu sorrio me dirigindo às araras decoradas
de bichinhos da loja cara.
Rapidamente encontro um par de sapatinhos de lã que combinariam —
achava eu.— com a escolha da mamãe de primeira viagem, e me sinto
satisfeito, mas apenas eu porque Lara saiu da loja cheia de sacolas. Me fez
opinar sobre todas as peças lindas e não pude controlar o impulso de entrar,
assim que saímos da loja de roupas, em uma loja de decoração no estilo
cama/mesa e banho. Muita coisa pro quartinho, cortina que combinava com
lençol, travesseiro com penas não sei da onde que ajudava no soninho,
abajures fofos... ali tinha de tudo. Tudo o que compraríamos seria entregue
em casa. Por fim, adoramos a loja e compramos bastante coisas, mas minutos
depois tive que sair de lá na marra após debater com a vendedora sobre o
porquê eu deveria comprar uma poltrona de amamentar para quando o bebê
nascesse, sendo que Lara fazia isso com maestria de pé, de quatro, deitada, no
chuveiro... pela primeira vez na vida tive um lapso de bom humor com uma
estranha e ao invés da filha da puta se alegrar e ficar orgulhosa, disse estar
morrendo de vergonha, vai entender... a vendedora riu pelo menos!!!
— Eu amei meus presentes, Lara! Obrigada!!! — ouço Allana dizer assim
que entro na cozinha de manhã e estranho duas coisas. Primeiro, Allana não
reclamou do tanto de sacola de compras para o bebê que em comparação de
volume, era bem superior ao que a Lara comprara pra ela. E segundo, a
criatura estava bem vestida às seis e meia, não de pijama como de costume.
— Bom dia, princesa. — deposito um beijinho na pirralha e abraço a princesa
prenha que esquentava o leite e preparava o café. Era uma manhã distinta,
fria em pleno verão. Perfeito para ficar embaixo cobertor, o que ela deveria
fazer. — Bom dia, boneca! Vai aonde?
— Vou... vou dar uma passada lá em casa. Ver como as coisas estão. — ela
gagueja e sorri.
— A essa hora?— me sento ao lado de Allana e vejo Lara me dar as costas
para voltar pro fogão.
— Sim... eu... quero ver se precisam de algo. Com minha mãe trabalhando
como sempre, fico com medo de meu pai precisar de algo. Vou e volto
rapidinho. Sem contar que passarei a manhã testando alguns molhos, e tenho
algumas tarefas antes de ir pra faculdade, então... — ela dá de ombros. —
quero resolver tudo rapidinho e aproveitar o dia!
— Seu pai começa a trabalhar na empresa hoje. Creio que você deva ir cada
vez menos lá, pelo menos por enquanto. Na minha opinião seus pais estão em
lua-de-mel. — dou risada. — Você pode acabar atrapalhando mais do que
ajudando.
— Para com isso. — ela parece sem graça. — Atrapalho nada. Minha mãe é
direta, falaria se eu estivesse sendo inconveniente, falamos abertamente sobre
tudo.
— Sei. — resmungo enquanto ela coloca o café em minha xícara, e eu corto
um pedaço de seu bolo incrível. Como sempre nosso café-da-manhã parecia
de novela, graças à sua dedicação de todos os dias. Quanto mais feliz, mais
perfeito ficava tudo em que colocava a mão.
— Você está bem? Parece tensa. — eu a abraço antes de ir pro trabalho.
Allana já havia saído correndo na frente.
— Tô ótima. Juro!
— Te vejo no almoço. — beijo sua boca e mordo levemente seu lábio
inferior. — Muito provavelmente vou querer Lara de sobremesa...
— Nem sei se estarei aqui. Se a casa da minha mãe estiver como suspeito,
ficarei lá e só sairei quando terminar. Talvez eu demore.
— Sem problemas. Passo lá e você cozinha pra mim lá mesmo!!!
— Tudo bem, tentarei arrumar um tempo!
— Vai arrumar. — eu afirmo e ela fica ainda mais tensa. O que estava
acontecendo com aquela garota??? — Almoçamos juntos todos os dias, e
assim permaneceremos.
— De vez em quando, talvez, eu terei algo para fazer... entende que às vezes
não vai me encontrar em casa? — ela questiona me olhando de um jeito
diferente. Parecia segurar o nervosismo. — Posso ter um compromisso na
rua, algo na escola da Allana, na faculdade, tenho trabalho de conclusão,
tenho...
— Me deixa ver se eu entendi. Você sabe que eu não como na rua, não gosto
de comer na rua, desde que nos conhecemos você prepara meu almoço, e
agora... as coisas podem mudar, e você vai ter outras prioridades??? Sempre
deu conta de tudo até ontem, e só estamos falando de uma hora, de meio-dia
até uma da tarde... O que mudou? O que está acontecendo?
— Nossa, não é nada!!! É que hoje vai ser corrido, e não te deixarei sem
almoço. Eu cozinhei, tem comida aí, você terá a Tia...
— Ok. — eu digo para encerrar o assunto e Lara fica extremamente chateada,
só não mais do que eu.
— Não vai ser legal se todas as vezes que tivermos divergências, você sair
andando desse jeito sem querer dialogar. — ela me para na porta da sala.
— É que eu pensei ter ouvido você dizer que seu dia será corrido. Não tem
que ir faxinar a casa da sua mãe??? Essa é a parte mais irônica de tudo. —
sorrio ao pensar naquilo. Quanta dedicação para com seus pais e que se foda
meu almoço... — Já te dei meu conselho, acho melhor você cuidar da tua
casa e deixar seus pais em paz, você não mora mais lá. Mas... bom... eu vou
trabalhar, me recuso a discutir 'por tamanha bobagem'. Você é maior de
idade, mãe, noiva, dona de casa, universitária, faxineira... deve saber bem o
que está fazendo.
— Não. Quem sabe é você que está brigando comigo porque hoje não
poderei servir 'o meu senhor'. — ela diz com desgosto e aquilo dói.
— Então agora eu sei como você se sente com a nossa vida.
— Você entendeu o que eu quis dizer...
— Entendi sim. Entendi muito bem. — eu desabafo e saio deixando-a
sozinha.
Me perguntava o que havia mudado de um dia pro outro. Será que estava
sufocada ali? Será que realmente se sentia ainda, minha diarista? Cuidar do
meu almoço passou a ser um fardo? Algo ofensivo? Pensei, pensei, e resolvi
parar quando notei que o rumo dos meus pensamentos seguia o trajeto direto
para a culpa. Eu não ia me culpar. Não havia feito nada, então não ia me
culpar.
— Bom dia! — Greg e meu sogro me esperavam em minha sala.
— Bom dia. — respondo ainda mal humorado e me sento tentando respirar.
Minha cabeça ainda estava naquela discussão sem sentido.
— Bom. Vou deixá-los a sós... — Greg já fala. — Seu Mauro quer saber
onde e como ele vai atuar... eu vou...
— Não. Você vai ficar porque precisamos conversar e tem que ser agora, não
amanhã, não daqui a pouco, não mais tarde, será agora, e meu sogro... — eu o
encaro com simpatia. — Me disse que quer a segurança, permanecer em sua
área... então assim será. Não é o maior salário, e eu gostaria muito que
aceitasse o cargo na logística, mas como havia me dito que não quer regalias
por causa de minha noiva, a sua filha, e nem mudar de área, vai ser como
deseja. — eu falo, o senhor negro e já de idade me lança um olhar de
gratidão, e eu interfono para a Flávia. — Flávia, pode levar meu sogro no RH
por favor? É que preciso do Greg aqui por alguns minutos, e bom, não quero
ser interrompido.
— Claro, Vince. — ela diz, seu Mauro me agradece mais um milhão de
vezes, e sai ao seu lado também agradecendo à 'moça bonita', pela bondade.
Vestia um terno simples e estava muito bem apresentável para um primeiro
dia. Era o típico velho paizão que era bem fácil de amar. Lara era uma garota
de sorte, seu Mauro era seu orgulho, um homem de honra e caráter.
— Certo, o que foi? — assim que meu sogro e Flávia saíram, ele fechou a
cara no ato.
— Qual é seu problema comigo? Por que está tão estranho? Desde que toquei
no nome da Nanda aqui, você deu uma pirada, porra! Qual é!?
— Eu não estava em um bom momento, e... às vezes não gosto de te ouvir
falar como se tivesse sido o rei dela, o único com quem ela se importava, a
pessoa mais importante do mundo, enfim... eu estava com alguns problemas e
acabei descontando em você.
— Ok, mas... Nanda foi minha esposa. Acho que tenho não só o dever, mas o
direito de falar dela quando eu quiser. Talvez seja um tabu em casa, em
respeito ao amor que sinto por Lara e Lara sente por mim, mas aqui, com
meus amigos, acho que não precisava ser.
— Você perguntou se eu a esqueci!!! — Greg tenta não levantar a voz. —
Porra!!! Para mim foi uma puta falta de respeito!!! Era sua esposa, Nanda o
respeitava, aliás, respeitava até demais, tanto que infelizmente jamais me deu
abertura, então que merda é essa de perguntar se eu enfim, a havia
esquecido??? Eu acho, Vicente, — ele tentar controlar a respiração. — que
tem certas coisas que não precisam ser ditas, tá legal!?
— Você é ou era meu melhor amigo e desejava minha mulher, eu acho que
falar sobre isso, seria o mínimo. Era o mínimo... óbvio que agora isso não
importa mais, e eu também perguntei por perguntar, nunca achei que ficaria
tão mexido como ficou, até estranhei. Eu disse que não foi pra te magoar, não
foi minha intenção, merda!!! Eu sinto muito! Sempre respeitou a minha dor e
eu a sua, jamais quis te ferir ao perguntar se você a esqueceu. Eu estava
demais feliz e só queria te ver também, um dia, do mesmo jeito. Realizado,
apaixonado!
— Está tudo bem!
— Não. Não está. Andou sondando a Jaque e recebendo ligações do Vitor,
então eu te pergunto de novo, qual é a tua??? — eu falo de uma vez e ele
parece surpreso, mas logo se recompõe.
— Oras, pra começo de conversa você chamou a vadia que mora fora para
assumir a frente da nossa empresa quando eu estou aqui, do teu lado, esses
anos todos!!! E o pior, não me contou!!!
— Eu vou me casar! Preciso de férias!!!
— Eu sou mais bem preparado que ela e conheço a empresa, eu trabalho
aqui!!!
— Mas você é meu padrinho filho da puta, vai viajar conosco!!! — eu falo e
ele engasga.
— Que merda é essa de viagem? Viajar pra onde???
— Farei a cerimônia na Grécia. Escolhi uma ilha incrível. É surpresa pra ela,
é lá que será o casamento.
— Não me contou merda nenhuma disso!!!
— Ué, nunca mais quis falar comigo, como eu ia te contar??? Eu chegava
perto você ia embora, parecia um adolescente!!! E tem mais, só Lara não sabe
de nada, a empresa inteira sabe e ISSO ninguém te contou, mas que a Jaque
me assumiria, contaram!!!
— Ninguém contou da Jaqueline, eu li seus e-mails.
— Como???
— Sempre tive a senha do seu e-mail empresarial. Desde sempre.
— Tem ao menos noção de que isso é crime???
— Nós não nos falávamos, depois que parou de tentar se reaproximar fui
procurar saber se planejava sei lá, me demitir, me foder, me colocar um fiscal
no pescoço... achei que você estava puto tanto quanto eu!!! — ele diz e
depois ri ao notar o quão idiota toda aquela situação era.
— Você é um babaca de quinze anos, Greg! Você é um crianção. — eu me
sento e respiro fundo.
— Me desculpe! É sério!!! Fiquei puto e agi por impulso, achei que logo me
substituiria.
— E a merda com o Vitor, o que é? Que proposta é essa que ele te fez?
— Bom, quando soube da Jaque eu liguei pra ele. Pensei em vender toda a
minha parte pra ele, mas pensei melhor...
— Bom saber que todas às vezes que a gente se desentender você vai me
trair!!!
— Para! Não faz o magoado, nunca teve nada a ver com te punir, ou me
vingar. Vitor sempre quis a empresa e eu estava pensando seriamente em me
afastar de você. Estava chateado, eu só queria uma boa razão para sair fora,
realmente fiquei bastante magoado com a forma que falou e como tudo
acabou depois. Me distanciar de você foi... — ele trava ao desabafar,
suspeitava eu de que acharia tudo aquilo 'muito gay' e eu pensava da mesma
maneira, mas me mantive calado. —... foi foda. Quero que entenda que eu
lido com meu luto de um jeito como você lidou e lida com o luto do seu jeito.
Não quero mais que insinue nada com relação à Nanda e eu. Nanda era a
minha vida, você sabia disso desde o princípio, e tudo aconteceu como
deveria acontecer, agora podemos esquecer tudo isso.
— Greg, você me culpa? — eu pergunto um tom mais baixo e aquele
semblante da última conversa volta. Ele fica muito puto por falar naquilo de
novo.
— Eu posso lidar com qualquer coisa. Quero deixar isso enterrado com ela.
— Mas assim como na outra conversa, acho que se a gente pela primeira vez
em anos, falar sobre, nos fará bem. Nanda se foi e eu superei, quero te
ouvir.
— Vince, eu não tenho nada pra te dizer.
— É ai que está, assim como da última vez, você está chorando, e eu quero
entender o porquê. É óbvio que você tem uma missa pra rezar pra mim. Por
que dói tanto? Você a amava tanto assim, Greg? Eu superei, mas você não
conseguiu, o que isso quer dizer? Eu me apaixonei de novo por outra mulher,
mas eu nunca te vi com nenhuma após perdê-la. Eu quero saber que diabos
isso significa!
— Ok. — ele desaba encostando suas costas no apoio da cadeira. — A real é
que eu não me conformo. Nunca me conformei dela ter te escolhido. Tirando
o fato de ser inteligente, você era um completo babaca. Flavinha jamais
deveria ter te chamado para te apresentar a Nanda naquele pátio. Em um
instante lá estava ela... — Greg parece se teletransportar para aquela tarde.
—... me olhando com os olhos brilhando como se eu fosse o cara mais
especial do mundo, e no outro, você chegou e ela não mais voltou a me olhar.
Eu jamais entendi o que aconteceu. Tu era um playboy de merda, um
mauricinho sem sal nenhum, sem tempero, tentando se enturmar e ser
engraçado... você... era um intruso ali, Jaque e Flavinha também gamaram de
cara, e eu também não entendi. Ficava me perguntando o que é que você
tinha. Notas medianas, não trabalhava, sustentado pelos pais, “Ah! minha
casa na praia...”, "Nossa, consegui os ingressos para o show de não sei quem
em Miami...”, “Cara, meu irmão torra minha paciência, pegou minha BMW e
não lavou...” — Greg bufa. — Você era um saco, mas só eu via isso. Eu era
sempre o segundo lugar para todos eles quando você estava com ela em
algum canto da faculdade, e você só começou a me ver como um amigo
quando descobriu o quanto eu era importante para ela. Se dar bem comigo era
um bônus, até que eu vi que, por algum motivo misterioso, Nanda estava
realmente feliz... eu não sei o que fazia quando estavam à sós, e nem sei
como você era com ela, mas estava funcionando, Nanda era só sorrisos. —
ele diz e me encara parecendo envergonhado.
— Ela era ‘só sorrisos’ porque eu fazia ela feliz. Eu a amava demais, e ela me
amava demais. Eu era do jeito que era e ela me amou mesmo assim. Ela não
teve escolha, assim como eu não tive. A casa na praia, BMW, ou Miami, que
eram coisas que você não tinha, nunca foi algo que ela valorizou, foi por isso
que seus olhos também brilharam por você, e foi por isso que ela fez questão
de dizer que uma das condições para ficar com ela, seria amar você também.
Simplesmente porque era especial, porque você a amava, cuidava dela
quando eu não estava, e era seu melhor amigo. Ela te amou, Greg, mas me
amou um tanto a mais quando eu cheguei, e eu também não posso deixar de
dizer que não entendo o porquê você foi tão importante, eu era um playboy
metido, mas você era totalmente insignificante. Nunca entendi o porquê ela te
amava tanto. "Porque o Greg sabe isso, o Greg sabe fazer, o Greg dizia isso, o
Greg tem, o Greg precisa..." — eu bufo em ironia. — É bom saber o que
realmente pensa e pensava de mim porque assim posso te dizer também.
Você era insignificante e continua sendo, se acostumou a ser. Não se
aproxima demais, não se entrega, não se abre, não impõe. Acho que foi isso
que Nanda viu em mim e não viu em você. Atitude. As piadas ruins para me
aproximar, me gabar para me aparecer... eu era um maldito babaca playboy
enquanto você ficava em silêncio reparando nos meus defeitos, e continuou
em silêncio enquanto a perdia para mim, e se não fosse eu hoje, Greg, você
continuaria em silêncio. Eu nunca mereci Nanda, mas com certeza Nanda
merecia alguém melhor que você. — eu termino e solto a respiração que
guardei desde então.
— Certo. — ele diz se levantando. — Eu sou insignificante.
— E eu um playboy de merda. Um completo babaca, sem sal... um intruso na
vida de vocês dois. Não sei se é de mim ou se é dela que você tem raiva.
— Eu a amo. Fiquei com raiva uma época, mas... passou. Vê-la feliz ajudou.
— Entendi. — concordo com a cabeça. — Acho então que estamos
conversados.
— Você pediu, você teve. — Greg diz entristecido. Estava com uma cara
péssima.
— Eu gostava de você, de verdade. A raiva não durou muito, Greg. Aprendi a
gostar de você e a te respeitar. Eu realmente te considerava meu melhor
amigo, nunca fui falso. Nunca foi somente para vê-la feliz. — eu digo já
garantindo que falava pela última vez e ele concorda.
— E eu a beijei. — ele diz ainda concordando com alguma coisa. — Eu
precisava te dizer isso agora porque quero muito sair daqui "por cima". — ele
finge achar aquilo engraçado, mas sabia que não era algo legal o que ele
fazia. — Na festa da formatura eu me declarei e a beijei.
Não ligo, imbecil. Eu tive uma vida com ela e você só teve um beijo roubado.
Só penso.
— Que bom pra você. Fico feliz por isso. Você teve um beijo.
— É. Pois é. — ele diz abrindo a porta, mas depois volta a me encarar. —
Acho que vou aceitar a proposta do seu irmão.
— Aceito qualquer decisão sua. Qualquer coisa que te deixar feliz. Posso
lidar com o Vitor!
— Compreendo, sou insignificante... Vitor deve ser genial, o babaca metido a
rei dos investimentos! Vocês dois só poderiam ser irmãos... — ele sai
resmungando e eu me sento. Havia me levantado quando ele se levantou
primeiro.
— Ok, pode me dizer o que há? — Flávia entra assim que Greg sai e aponta
para a porta.
— Eu era um escroto na faculdade? Um babaca? Você e a Jaque se
perguntavam o que Nanda havia visto em mim? Pode dizer a real, por favor!
— questiono baixo e ela sorri se sentando em minha frente.
— Não! Você era muito engraçado, divertido, e muito gato. Jaque, eu e as
outras meninas amávamos Nanda de todo o coração, e apesar da invejinha
negra, nós víamos o quanto ela era uma sortuda! Você era um partidão
cobiçado, um garoto incrível, Vince. Vocês se apaixonaram perdidamente e
foi real, não deixe Greg te dizer o contrário. Você era e é um cara lindo por
dentro e por fora, só o que mudou é que você, naturalmente, evoluiu e
amadureceu. Só melhorou ainda mais!
— Certo. Obrigado por mentir. Estou me sentindo melhor, mas não teremos
aumento!
— Eu não menti. — Flavinha sorri. — Você era incrível! Ainda é!
— Tá, agora saia daqui. Preciso de uns minutos em paz.
— Não é dos mais delicados, mas... é um cara do bem. — ela zomba e eu
ameaço jogar o peso de papel em sua cabeça, mas isso não "a intimida",
continua rindo da minha cara. — Você tem visita... — ela volta após dez
segundos e diz.
— Quem é??? — questiono impaciente me sentindo exausto e quando Flávia
abre a porta para dar passagem à visita... eis a surpresa... filha da puta!!!
CAPÍTULO 2
CHEGA DE FAXINA!
INFERNO
Algumas horas antes.
Estaciono no GRU e suspiro desejando uma boa dose de coragem. Lidar com
minha mãe e com Vitor era tão... meu Deus, eu precisava agora de uma boa
dose de coragem com álcool, e um cigarro.
Decido relembrar os momentos com minha morena gostosa para ver se com
isso eu teria uma chance de suavizar aquele semblante de paisagem que eu
sabia que estava estampado em minha face. Eu não poderia recebê-los
parecendo me lamentar, eu tinha que melhorar o meu humor, mas antes de
tentar e correr o risco de ficar armado por pensar naquele almoço surreal, eles
chegam. Posso vê-los de longe, cheios de malas. Vão ficar a vida toda???
Forço um sorriso, prendo a respiração, e correspondo o abraço forte do meu
pai. Seu Henrique... estava tão velho desde a última vez.
— Oi, garoto! — ele resmunga emocionado e eu me solto rapidamente.
— Como vai, pai?
— Bem. E você???
— Estou bem, também... — eu resmungo sorrindo e minha mãe me agarra.
— Oi, mãe!
— Você está tão fortinho!!!
— Ele se casou com uma cozinheira, mamãe! É óbvio que ficaria gordo... —
Vitor zomba e só assim eu o encaro.
— Gordo e feliz. Ao contrário de você que permanece em boa forma, mas
por dentro...
— Ah! Vocês não vão brigar enquanto eu estiver aqui!!! — minha mãe já
fala puta e eu lamento por isso.
— Não iremos. Eu vou para um hotel! — ele diz e minha mãe o encara
entristecida. Na verdade ele também parecia chateado com o que ouviu de
mim. Mas claro, não me deixei levar. Cresci com aquele cara, ele e uma nota
de três reais tinham muita coisa em comum. Antes que eu possa responder:
“Vá de uma vez, será um prazer sua ausência...” meu pai “me interrompe”.
— Ninguém vai para hotel nenhum. — ele nem levanta a voz, mas já nos
deixa calados. Nós três, até minha mãe. — Ele é assim, sempre foi, você sabe
e já não é mais um garotinho. — meu pai me encara. — Não dê corda e não
vai se aborrecer. Viemos comemorar com você seu novo recomeço, sua nova
vida, sua felicidade... e o Vitor veio para fazer o mesmo. Ele não te diz, mas
está feliz por você, quer compartilhar isso. Só o que vocês sabem fazer desde
pequenos é brigar, e isso não vai mudar, mas você sempre foi o mais maduro.
Aprenda a lidar com ele como o homem que eu formei, e não como um
adolescente. Não perca a razão. Enquanto suas provocações fizerem sentido,
ele não vai parar, sabe disso!
— Nossa, pai! Muito obrigado por me descrever tão bem!!! — Vitor
resmunga cantarolando e meu pai o encara furioso. Aquela fúria contida.
— Não o deixarei te expulsar daqui de volta pra Nova York, são irmãos, vão
ter que se engolir, mas eu me dou o direito de fazer isso se você passar isso
aqui’ da linha.
Meu pai fala praticamente sussurrando só para não gritar, como se ele tivesse
quinze anos e minha já familiar dor de cabeça, chega.
— Certo. — eu digo massageando a têmpora. Aquela dor me pegou de jeito.
— Vamos indo, então.
Eu suspiro, vejo o filha da puta sorrir ao me encarar, e ignoro. Eu precisava
aprender a ignorá-lo.
— Meu Deus! Que casa linda, bebê! Foi a Lara que escolheu??? — minha
mãe pergunta assim que paro na frente de casa.
— Na verdade não, mãe. Escolhi pra fazer surpresa, ela amou, e então
decidimos ficar com ela. Até perguntei se ela queria escolher outra, mas ela
gostou também, ao conhecer. Se apaixonou como eu.
— Ehh!!! Quem é a sobrinha mais linda do tio? A mais favorita??? — Vitor
grita assim que a entra no quintal imenso. Allana nos esperava nos degraus da
entrada. Vinha de perua bem recomendada e segura. Tia ficou encarregada de
esperar por ela na porta, era um teste. Eu ainda a levava, e ela voltava de
perua. Levá-la na escola de manhã era algo que eu sempre ia fazer, pelo
menos levar.
Vitor encosta um joelho no chão e Allana o mede com sua cara de poucos
amigos.
— Eu sou a única que você tem. E ainda sim, nem de longe sou sua favorita.
Mal te conheço!
— Espera lá... te mando presente de natal todo ano.
— Eu nunca nem abro. Sei que é sempre boneca, desde os cinco não brinco
mais de boneca! Eu só tenho uma de pano, e é a única!
— Tudo bem... — ele parece constrangido. Meus pais só os assistiam como
eu. — Vamos conversar sobre isso agora que cheguei.
— Não vou com tua cara.
— Eu trouxe dinheiro pra presente em dólares!!! — ele ergue uma
sobrancelha e ela para pra pensar.
— Tudo bem. Alguns dólares em um passeio no shopping e muita coisa pode
mudar! — Allana resmunga, sorri ao ganhar um abraço apertado dele, e eu
fico puto por ele ter ganhado essa. Pestinha!!!
— Você está muito crescida. Está uma princesa! — meu pai diz, agarra sua
neta, e minha mãe tem a sua vez logo em seguida.
— Oi, vovó! — Allana sorri pra ela.
— Oi, minha linda! Você está a cara da tua mãe. Linda como ela era! —
minha mãe diz, Allana me olha meio confusa, e responde ‘obrigada’ sorrindo
de modo automático.
— É melhor que ela não repita isso perto da Lara! — Allana cochicha quando
eu ‘mando’ todos entrarem e nós dois ficamos para trás. — Ela não diz, mas
fica muito triste quando a gente fala da mamãe ou quando eu digo que sou
parecida com ela!
— Eu acho que isso não é bem verdade. Ela não liga quando é você quem
fala. Você pode falar da mamãe quando quiser.
— Mas a Lara não gosta.
— Ela fica com ciúmes. Tem medo de você dizer aquelas coisas que você
dizia sobre ela não ser sua mãe. Fica insegura... ela só quer que você a ame, e
que veja o quanto ela é capaz de fazer por você, como uma mãe faria. Lara te
ama!
— Eu sei, eu também amo muito ela!
— Pois é, e graças a ela você vai naquela festinha que tanto queria. — eu
digo e ela pula de felicidade. — Quando ela chegar, quero que a abrace forte
e agradeça, ela abriu mão de algo que era muito importante pra ela, só pra
você poder ir.
— O quê?
— Ela não vai mais trabalhar fora!
— Terá mais tempo pra gente???
— Terá todo o tempo pra gente! Não vamos mais dividi-la com ninguém!!!
— eu sorrio feliz e ela faz uma careta.
— Isso é coisa sua, né!?
— Sim!
— É sério, pai. Não sei como a Lara pode te amar, você é muito estranho! —
ela resmunga e entra correndo.
— Eu também não sei! — eu resmungo e sorrio sozinho arrastando a enorme
mala de minha mãe.
— Mãe, pai, já conhecem Tia! Ela ainda permanece me aturando fielmente.
— eu digo assim que chega a vez deles conhecerem a cozinha, e minha mãe a
abraça apertado. Agarrou e não queria mais soltá-la.
— É um prazer te ver de novo, Tia! Obrigada por tudo!!!
— Que isso... Vince é meu filho do coração, sabe disso. É um prazer estar
aqui e permanecerei cuidando desses três até o fim dos meus dias. São minha
família, dona Norma!
— Tá, mas como sempre digo...
— ‘Sem essa de dona... ’ Ok. — Tia ri , cumprimenta meu pai, e depois meu
irmão.
— E você, menino bonito??? Como está? — Vitor diz que ‘bem, obrigado’, e
então ela nos encara. — Não consigo ver diferença alguma... como vocês
conseguiam?
Ela questiona meus pais e minha mãe ri.
— Vince sempre foi calminho e...
— Minha mãe sempre foi um doce de pessoa... — eu digo pra Tia
interrompendo minha mãe. — sempre conseguiu ver a aura das pessoas. Eu
tinha uma aura angelical, Vitor, uma aura demoníaca.
— Você era um sonso, eu tinha autenticidade. — Vitor ri e eu reviro os
olhos.
— Ah! Tem isso... gêmeo do bem e gêmeo do mal? — Tia se diverte.
— Somos bem diferentes, Tia. Com o tempo conseguirá discernir. — eu falo
e ela ri de novo.
— Eu só vejo que ele é o bem-humorado e você o estressadinho.
— Adoro pessoas que enxergam a verdade tão facilmente. — Vitor zomba e
agarra Tia.
— E o que tem de bem-humorado, tem de sínico e provocador. Se ficar
mexendo com meu filho, te mando daqui direto pra Nova York, com um belo
ponta-pé na bunda! — Tia resmunga sorridente e Vitor se diverte.
— Mais uma... — ele diz rindo e meu pai segura o riso o máximo que pode.
— ei, pirralha, vem me mostrar onde eu vou dormir. Vou me enfiar nesse
quarto e não sair até o dia desse casamento. — Vitor puxa Allana pela mão e
sai.
— Se ele fizesse isso, seria tão bom... — resmungo e recebo o olhar torto de
todos.
— Não fala assim, está claro como ele adora te provocar, como está claro que
ele é doido por você. — Tia resmunga. — Esse é o jeito que ele tem de
chamar a atenção de todos. Não vê como você fica com Júnior? É a mesma
coisa, ciúmes. Não o leve a sério!
— Dizemos isso a ele o tempo todo. — meu pai quem fala.
— Mas ele já chegou passando dos limites! É um sem noção. Agora... —
mudo de assunto, não aguentava mais aquilo. Sempre foi assim, todo mundo
via o quanto ele era péssimo, mas eu sempre saía como o maldoso no final.
— Tia, vou instalar meus pais no quarto de hóspedes, pode fazer um café pra
gente?
— Claro. Lara está vindo?
— Sim. Precisou ir pra faculdade porque tinha prova, mas a essa hora já deve
estar chegando. Coloque um lugar pra ela na mesa.
— Pode deixar. Vou fazer um café caprichado. Não será tão bom quanto o
dela, mas darei o meu melhor.
— Eu não vejo a hora de experimentar a comida dessa menina. — meu pai
diz com um sorriso leve nos lábios. Se tinha uma coisa que amava, era comer
uma comida boa.
Vestia seu terno formal que combinava muito bem com o vestido liso de
minha mãe. Ela carregava consigo as jóias que tanto amava, e ele, apenas sua
aliança de casamento.
— Vai se apaixonar, pai. Lara tem mãos de fadas. — “Literalmente, mãos de
fadas, boca mágica, o cheiro que me enfeitiçava...” Só penso.
— Não vejo a hora... ela demora? — ele pergunta e me faz rir.
Mostro o quarto com cama de casal para os dois, os deixo a sós para se
organizarem, e paro na porta do quarto de Allana.
— Então, diz aí boneca. O que você gosta de fazer por aqui? — ouço Vitor
questionar Allana.
— Gosto de sair com o papai e com a Lara. Ver TV, comer as sobremesas
que ela faz, nós brincamos de banco imobiliário, coisas normais.
— Legal. Quem mais ganha no banco?
— O papai.
— Comigo também, ele ganhava toda vez.
— Ele não gosta de você!
— Eu sei.
— O que você faz pra ele?
— Eu fico o provocando, eu acho... só que ele é bem sensível.
— E por que faz isso?
— Porque é divertido vê-lo estressadinho... cadê as fotos da Nanda? Por que
só tem uma?
— Acho que não é da sua conta. — eu entro e digo. Ele sorri, mas Allana se
assusta com minha entrada repentina. — Filha, vai ver se a Tia já arrumou a
mesa do café. Veja se ela precisa de ajuda. — eu peço e Allana sai sem
resmungar só de olhar pra mim. Me conhecia bem demais. — Escuta, você
tem uma linha aqui, uma linha que acabei de criar. Se ultrapassá-la, terá
consequências. — eu falo e ele perde o sorriso.
Não tinha platéia então ele não tinha motivos para fazer gracinha.
— Jamais a magoaria com esse assunto. Perguntei sem pensar.
— Ela é uma criança, Allana só tem dez anos e ainda tenta lidar com a
ausência de Nanda do jeito dela. Ainda sofre, eu ainda sofro ao notar o
quanto sua ausência machuca minha filha, Lara sofre por saber disso, e o
assunto jamais poderá ser tema de suas provocações. Se voltar a falar de
Nanda com Allana, ou com Lara, eu vou esquecer que prometi ser o adulto
aqui, só por causa do meu pai e da minha mãe, e vou te socar até ver seu
sangue em minhas mãos.
— Eu acho que você está demais na defensiva. — ele se levanta, me encara e
eu me sinto olhando no espelho. A mesma barba, os mesmos olhos, os
mesmos trejeitos, o mesmo estilo de roupa, tudo... só o que nos diferenciava
era o interior. — Eu não vim pra te causar problemas. Fiquei feliz por saber
que seguiu em frente, conheceu alguém, e está feliz. Somos irmãos, nunca
quis e nem nunca tentei te fazer mal.
— Mas está fazendo. Você me faz mal só de estar aqui. Não convidei você,
não te chamei aqui, não era para estar aqui. — eu digo e lamento muito por
dizer aquilo, e tudo piorou quando o vi se sentir mal, mas não pude conter.
— Tudo bem, eu volto para os Estados Unidos ainda hoje.
— Não, não volta não. Não volta porque seria bom demais pra ser verdade, e
porque você ainda não fodeu com minha vida como tanto quer. Sem contar
que isso deixaria meu pai e minha mãe chateados demais. Fique, apenas faça
o que disse que faria. Se tranque no quarto e não saia mais até o dia do
casamento. Não chegue perto de minha filha, não chegue perto de Lara, e não
me provoque. Eu passei muito tempo vendo você tentar me foder dando em
cima da Nanda, eu suporto você desde que nasci te vendo desejar as minhas
coisas, as minhas conquistas, as minhas mulheres, a minha vida!!! Mas não
preciso mais. Não tenho mais obrigação de te suportar. Não atravesse meu
caminho e eu não atravessarei o teu.
— Nunca quis nada do que você teve, você sempre foi um porre!!! — ele fala
quando eu já virava as costas. — Nanda era uma chata, nunca gostei de
loiras, tudo o que você tinha materialmente falando, eu podia ter. Só o que eu
queria era ser seu amigo, mas você nunca me suportou. Eu não sabia o que se
passava na sua cabeça, eu não sabia o que fazia de errado. Tinha que ter um
padrão, seguir um padrão para ser admirado por você, e eu me sentia
frustrado por nunca descobrir qual era. Eu sempre te admirei, era um cara que
por onde passava conquistava todo mundo e fazia amizades, eu só queria ser
alguém importante pra você também, ser alguém que você quisesse ter por
perto.
— Ah! Foda-se! Eu já te dei o meu recado!!!
— Foda-se você! Continua com o rei na barriga, um porre! Se não vai ser do
modo fácil, será do difícil. Tenho a parte do Greg na empresa, vim pra ficar,
vai ter que me engolir, vai ter que ser meu irmão custe o que custar!
— Escuta... — eu tento não rir de nervoso. — você pode comprar a empresa
inteira. Vai continuar significando a mesma coisa pra mim, o mesmo de
sempre. Quase nada.
— O quase me salvou... ufa! — ele ri e eu só o encaro tentando entendê-lo.
Era eu quem não sabia o que se passava na cabeça daquele cara.
— Você é um moleque...
— E você é um velho gagá. — ele ri. — É sério, você parece ter oitenta anos.
Que cansativo! Quer que eu vá embora? Eu vou... dou uma desculpa, digo
que a empresa pegou fogo, alguém morreu, não ficarão chateados, eu
prometo que não. Vão entender e me desejar boa viagem, já fiz isso, sei
mentir muito bem, você sabe. — ele sorri sinceramente. — Eu vim pra te ver,
vim pra tentar mais uma vez, mas se não me quer aqui, vou embora. Vou
numa boa e não volto mais. — ele soa sincero e eu concordo.
— Certo. Faça isso então, agora! Vá embora sem que eu me passe pelo
gêmeo do mal como você sempre faz, e ganhará um ponto comigo. Se nunca
mais aparecer, aceito ser seu colega de telefone.
— Tudo bem! — ele confirma com a cabeça e eu fico esperando um riso ou
uma piada, mas nunca chega e aquilo é estranho. — É sério. Farei isso agora.
Vou pedir um táxi, dar uma desculpa, e voltar pra casa! Me desculpe pelo
telefonema com a Lara, eu devia ter avisado pra ela que era eu, não devia ter
brincado daquele jeito com ela, foi... foi bem sacana, foi horrível, desculpe
pelas gracinhas. Foi mal...
— Tá. — resmungo sem acreditar e saio com o coração pesado. Ele tinha
muitos dons, e um deles era aquele, eu virava de repente o gêmeo ruim e
ficava me sentindo mal.
Passo por meu pai no sofá e vou direto pra cozinha. Allana e sua avó
ajudavam Tia a arrumar a mesa do café, e conversavam sobre Nova York. Tia
dizia querer conhecer e Allana dizia estar ansiosa para conhecer a Disney,
pois nunca tinha ido.
— Um dia nós iremos, filha. Lara vai amar também, ainda não conhece!
— Em falar nisso, ela vai demorar? Deveria estar aqui... — minha mãe
começa e é interrompida pelo gêmeo nota de três, minutos depois.
— Ei, mamãe. Eu preciso voltar. Acabei de receber um telefonema de
urgência. Houve um acidente sério na sede de Nova York. — Vitor soa
desesperado e meu pai se aproxima para ouvir a conversa, aflito. Eu não
estava acreditando que ele ia mesmo fazer aquilo.
Minha mãe coloca a mão sobe o coração e meu pai parece se perguntar o que
houve.
— Nossa, filho! Alguém se machucou???
— Não, mãe! Não se preocupe. Só perda material graças a Deus. Não quero
que fique preocupada à toa, eu dou notícias...
Ele diz tentando tranquilizá-la e eu escuto um barulho de carro no portão.
Sigo até a janela da sala de jantar para ver se era Lara, mas era na verdade um
táxi. Ele havia falado sério, ou pelo menos mentia bem demais... não. Eu
sabia bem quando ele mentia, podia sentir seu verdadeiro humor como
ninguém.
— Para um cara tão metido, cheio de si, dono do mundo... é uma vergonha
ter uma empresa vazia... — eu falo sabendo que eu ia me arrepender
amargamente. — Não tem ninguém lá que possa cuidar de suas coisas
enquanto viaja. Minha empresa é pequena em comparação á Inbox, mas pelo
menos tenho funcionários confiáveis. — eu resmungo e ele tenta entender o
que eu fazia.
— Também não entendo. Vitor tem encarregado, tem a vice-presidente... se
ninguém morreu, por que não manda Clarence resolver? Você está fora, o
que acontece lá enquanto está aqui, é responsabilidade dela, inteiramente
dela. — meu pai fala e Vitor nega.
— Não, eu prefiro resolver pessoalmente, pai. Voltarei logo, ou irei pra
Grécia de lá. Ficaremos bem.
— Fique. — eu digo confirmando com a cabeça e ele fica feliz, mas disfarça
bem. — Fique e deixe que a responsável resolva. Acompanhe pelo telefone.
Jaque vem pro Brasil a qualquer momento e logo embarcaremos para a
Grécia, precisarei de você aqui.
Eu não sabia o porquê fazia aquilo. Acho que porque notei que ele falava
sério e estava disposto a ir embora como eu mandei. Eu era um idiota.
— Tudo bem, eu... — ele sorri enquanto minha mãe aperta meu ombro
admirando a cena de camaradagem que nunca aconteceu entre nós dois. —
vou liberar o táxi e — ele balança o celular. — ligar pra lá, ver como vai ficar
tudo e resolver à distância.
— Ótimo!!! — eu digo sorrindo como Monalisa, ele sai, minha mãe fica
fazendo graça e eu sigo para a janela.
Vejo quando ele libera o táxi, entra de novo em casa, e suspiro.
— Foi muito adulta sua atitude. Gostaria muito de ver isso acontecer mais
vezes. Quero que sejam amigos. Sua mãe e eu adoraríamos que vocês fossem
amigos e parceiros um do outro! — meu pai diz com a mão no bolso, mas
não faz cena como minha mãe fez.
Concordo com a cabeça com a cara de paisagem e só penso. “Se vocês
soubessem que eu o expulsei e que nunca vamos ser amigos...” Ai, ai... que
vida!!! — sorrio aceitando meu carma.
Ouço mais uma vez o barulho de carro na porta de casa, e vejo quando Lara
entra correndo. A garota estava sempre correndo.
— Mãe, Lara chegou!!! — busco a velha ansiosa na cozinha e ela dá
pequenos pulinhos de alegria.
— Como eu estou? — ela pergunta me seguindo e eu a encaro. Parecia doida.
Como ela deveria estar???
Meu pai nos segue atrás, eu sigo mais a frente só por estar ansioso para vê-la,
e posso ver primeiro a cena mais horripilante que presenciei em toda a minha
vida.
Lara estava inclinada com as mãos nos dois joelhos de Vitor e parecendo
querer engolir ou arrancar fora a sua língua. Aqueles beijões de novela...
tensão sexual... excitação...
— Lara. — eu digo, pois a cara de minha mãe já não estava muito boa. Temia
que ela enfartasse primeiro que eu.
E eu que achei que aquela cena não poderia piorar ainda mais... Lara trava ao
ouvir minha voz, parece beirar o surto psicótico ao olhar de mim para ele, e
num rompante vomita no carpete inteirinho. Vitor levanta os pés
imediatamente e me encara parecendo estar mais assustado com o enjoo da
grávida do que com o fato de que o peguei com minha noiva. Mais
precisamente atacando sua boca.
— Oh! Meu Deus, Vince, desculpa!!! — Lara resmunga chorando entre
pausas enquanto o vômito jorrava. Estava de quatro, e enquanto vomitava,
chorava e falava, sujava todo o seu cabelo cumprido que parecia uma
vassoura varrendo as poças que se formavam no carpete.
Algo naquela cena mudou alguma coisa dentro de mim. Algo mudou.
— Oh, minha nossa. — minha mãe se abaixa, tira todo seu cabelo do vômito
o colando para trás, e meu pai se aproxima de Vitor.
— Vem. — ele diz e Vitor logo o segue em direção aos quartos, no andar de
cima.
— Vem cá, vou te colocar no chuveiro... está toda suja. — minha mãe abraça
Lara pelo ombro, mas ela nega.
— Não, estou bem, vou limpar isso. Preciso limpar isso... me desculpe! —
ela diz e minha mãe não entende nada.
— Como assim???
— Eu tô bem, dona Norma. Eu só... só preciso... me dá licença. — Lara sai e
volta correndo com seu kit limpeza.
Eu sigo para o quarto sentindo o seu olhar em minhas costas, mas... eu não
sabia como me sentir, eu estava arrasado, muito arrasado. Não. Eu estava
mesmo é puto. Estava muito puto por ter presenciado aquilo. Por engano ou
não, Lara o beijou de língua, e se eu não tivesse chego sabe se lá Deus o que
mais teria acontecido até notar que não era eu.
Vou direto pro banheiro, ligo a ducha no frio, e me debruço no azulejo para
não ruir completamente. Que porra de cena foi aquela???
— Vince... — ela geme e se aproxima assim que eu saio do chuveiro. Me
esperava no quarto e parecia estar morrendo de medo da minha reação.
Eu a encaro, não sei como lidar com aquilo, mas respiro fundo e me sento na
cama. Foi um engano, eu sabia, mas foi um engano muito doloroso pra mim.
Naquele momento eu sentia vontade de matar os dois.
— Escuta. Eu vou falar e você vai ouvir. Serei breve. — eu digo e ela
permanece de pé, só me encarando em expectativa. — Não vou mais
continuar com a ladainha de que ele não é confiável, viu que mais uma vez se
aproveitou de você e do seu engano. Só que ele é meu irmão, terei que o
engolir, você não. Você me deve fidelidade, ele é solteiro. Você sabe que ele
é solteiro, certo?
— O que eu tenho a ver com isso??? — ela já diz indignada.
— ‘Tem’ que ele não usa aliança, Lara. Eu uso. Eu uso uma aliança dourada
na mão direita e ele não!
— Que porra é essa de “aliança na mão direita”, o que eu quero com “aliança
na mão direita”???
— Pra começar baixe a bola. Pare de gritar comigo, você fez a merda então
pare de levantar essa voz pra mim! Ficou tonta com o beijo? Uma tapada? Eu
uso a aliança que escolhi para nós, ele não, e se a partir de agora você não
começar a procurar diferenças entre nós para não correr o risco de beijar e dar
pro cara errado, me separo de você. Se voltar a se aproximar dele, falar com
ele, olhar pra ele... me separo de você. Conseguiu entender ou quer que eu
desenhe?
— Nossa. — ela ri debochada. — Me ameaçando de novo. Não posso
trabalhar, não posso ficar muito tempo fora de casa, não posso olhar pra
ninguém...
— Tá arrependida? Quer arrego?
— Você faz parecer que esse casamento é tudo o que tenho, mas ainda tenho
amor próprio!!!
— Claro que tem, eu vi agora pouco. É amor próprio demais, tanto que é
muito maior do que o que diz sentir por mim porque logo pôde dividi-lo com
o meu irmão.
— Me respeita.
— ENTÃO SE DÊ O RESPEITO, CARALHO!!! — eu grito e ela se assusta
porque na mesma hora eu me levanto. — Preste mais atenção! Vai se
confundir quantas vezes???
— EU ESTOU NO MEU DIREITO, VOCÊ MENTIU!!!
— Eu menti?
— MENTIU! Disse que o desgraçado era completamente diferente de você
fisicamente. Disse que por não ter sido gêmeos da mesma placenta ou sei lá o
que, vocês eram bem diferentes aparentemente! O cara é uma cópia idêntica
tua, Vicente, é sua versão todinha, sem tirar nem pôr. Os mesmos olhos, a
mesma barba, o mesmo cabelo, altura, cor de pele, jeito de se sentar, postura,
tudo!!! ELE TEM UM TERNO IDÊNTICO AO TEU!!! — ela grita
apontando pra porta e passa a andar de um lado pro outro. — É o mesmo
terno, eu os lavo todos os dias porque “meu senhor” — ela balança as mãos
apontando pra mim de forma teatral. — não gosta de usar roupa repetida, tem
que ser lavada todo dia, e eu lavo a mão, seco com protetor especial, passo no
ferro por horas à fio pra ficar perfeito, conheço cada um deles, cada detalhe,
cada dobra, e ele está vestindo o mesmo terno!!! Se não pegou do teu
armário, tem o mesmo gosto para roupas sociais, e eu aposto que até seus
trapos de ficar em casa são os mesmos que os teus, aposto um rim que vocês
têm os mesmos gostos. Vocês são gêmeos idênticos não importa a porra do
modo como foram gerados, então vá para o inferno!!! Vá para o inferno!!!
— Fale direito comigo, Lara!!!
— Fale você direito comigo!!! Eu tô aqui me sentindo suja, mal por ter me
enganado, mal por ter feito você ver essa cena horrorosa, me sentindo
completamente frustrada, culpada e infiel porque não tem cabimento nenhum
eu beijar outra boca que não seja a sua e você aí... com essa pose de rei do
mundo me tratando como uma vadia asquerosa. — Lara desabafa e chora. —
Eu não vou me sentir culpada, eu não tive culpa. Ele podia ter dito no
telefone que era ele e não disse, podia ter me afastado quando eu cheguei
perto e não fez, e você nem trocou uma palavra com ele, não arrebentou a
cara dele como eu pensei que faria, só está aqui me culpando enquanto ele
escuta nossos gritos e se diverte, então... fale você, direito comigo. Eu nunca
te desrespeitei como você faz o tempo todo, nunca enchi você de regras e
limites, você só me vê como um corpo, uma propriedade, um pedaço de carne
e agora um beijo que aconteceu por engano, que não devia ter acontecido, foi
um ‘chifre gigante’... por que não me recebeu na sala? Por que demorou pra
aparecer? Você sempre me recebe na sala... eu falhei conosco, mas você
também.
— Claro, agora a culpa é toda minha.
— Não. — ela nega com a cabeça, estava decepcionada. — A culpa é
totalmente minha! Vou pra minha casa.
— Tenta a sorte!
— Como é?
— Não vai pra lugar nenhum. Não tem mais casa, nunca teve. Essa é sua
casa, vai ficar e sem bater boca. Não tem essa de ‘vou correr pra mamãe’, vai
ficar e engolir a seco as consequências.
— Me obrigue!
— Com certeza! — ela se adianta em direção ao closet, mas eu entro na
frente.
— Eu tenho o direito de ir e vir.
— ‘DE VIR PORRA NENHUMA’!!! Não se for se casar comigo. Se quiser
ir eu deixo, mas vai sair por aquela porta de mala e cuia uma vez só para
nunca mais voltar. Não vou ser enquadrado por cárcere, tu vai ficar por
‘vontade própria’. Eu sempre soube que chegou para foder com a minha
vida, e foi dito e feito, mas fodeu e vai ficar fodida aqui comigo. Você é uma
criança, uma criança que não sabe nada da vida, mas eu vou te ensinar. Eu
vou te ensinar muitas coisas, e a primeira delas é que um casamento é para
sempre. Não pode correr pra mamãe e pro papai quando fizer merda, e que
merda!!! Um casamento não é só uma foda gostosa todos os dias, festas e
arco-íris. É briga, é discussão, é grito, é palavrão... tem tudo de ruim como
tem tudo de bom. Achou que podia entrar na minha casa, virar a minha vida
de ponta cabeça, me fazer mudar toda a minha rotina para te incluir em uma
família que já não tinha mais vaga, para sair fora quando quisesse??? Que
amor é esse??? Seu amor não pode ser tão frágil assim. — eu digo e enfim
paro para respirar, só por um momento. — E então, qual vai ser???
— Vou pensar no teu caso. — ela diz se desarmando e eu respiro aliviado,
mas não demonstro. Eu não havia socado Vitor, mas se a filha da puta fosse
embora por causa daquele bosta, eu ia matá-lo.
— Isso, pensa. Pensa, mas pensa no banho. Está fedendo a vômito.
— Sou uma mulher grávida que beijou a boca de um desconhecido. Nem
direito a vomitar eu tenho???
— Pelo menos eu tive isso. Um vômito a meu favor. Pareceu nojo dele, e não
por causa da gestação.
— Eu tive nojo, sim! — ela diz miando e se achegando.
— Para! Não vem com essa... não vai colar, sua vadia!!!
— Tive! Tive mesmo!!! Eu estranhei tudo e ia perguntar, mas você chegou,
eu nem olhei pra ele direito, se tivesse prestado mais atenção teria notado que
não era você. Não era seu cheiro e nem seu gosto. — ela fala e envolve seus
braços no meu pescoço. — Me perdoa por isso, Vince! Sei que deve ter sido
uma cena horrorosa. Prometo que jamais vou me enganar de novo, me sinto
horrível, péssima. Me perdoa, eu te amo muito!!! — ela diz choramingando e
meu coração se espreme.
— O que sentiu? A semelhança te deixa atraída como é por mim?
— Não senti nada, só estranhei. Minha boca sabia que não era você, meus
sentidos sabiam, só meu cérebro e visão que foram enganados, e não. Não me
senti e não me sinto atraída por ele de forma alguma, muito pelo contrário, a
semelhança é bizarra demais. Sou doida por você, muito doida, não pode ter
dúvidas quanto a isso nunca!
— Sei.
— Sabe sim. E desmancha essa cara, não fiz por mal. Me enganei, não me
deixe pior do que estou, não posso me sentir mais mal do que já estou, pode
fazer mal pro bebê!!!
— Quando é a segunda ida ao médico? Tá doendo sua barriga? Nanda sentia
dores no início... — esqueço, falo de Nanda, mas ela parece não se importar.
— Não senti dores não. Preciso tomar aquelas vitaminas que já estou
tomando e ir ao médico uma vez por mês pra ir acompanhando a formação.
Agora é só o mês que vem, mas teremos que ir a uma clínica na Grécia... —
ela sorri.
— Então já pensou sobre se casar. — eu zombo e ela ri.
— Não tive muita escolha...
— Filha da puta! Irônica. Teve muita alternativa e escolheu a correta, sabe
disso. Agora vai pro banho, vai...
— Eu te amo. Você me ama??? — ela pergunta me olhando nos olhos com
sua carinha de apaixonada.
— Eu te amo. Agora se manda, tome um banho e desça. Ainda preciso te
apresentar para os velhos, não é!? Vou me trocar e ver se a Tia já fez o café!
— eu me afasto, coloco uma roupa decente e desço. Encontro todos na sala e
posso ouvir Tia mexendo na louça da sala de jantar.
— Como ela está? — meu pai pergunta e eu encaro o filho da puta.
— Está envergonhada, enojada, e por aí vai...
— Conversei com Vitor, ele não chegará perto dela.
— Não vai chegar mesmo, já falei pra ele se manter longe, na próxima vai ser
preciso a segurança nacional para me tirar de cima dele. — eu falo com meu
pai e volto a encará-lo. — Se eu te ver perto dela de novo, acabo com você!!!
— Vocês só esqueceram que foi ela quem me beijou!!! Eu nem tive tempo de
reagir, ela me beijou e você chegou. Tudo aconteceu muito rápido.
— Fiquei um minuto só olhando pra vocês para ter certeza do que eu via, o
que é tempo demais. Meu recado está dado, Vitor!!!
— Vocês brigaram, não é!? — minha mãe pergunta entristecida.
— Sim, mãe. Queria ir embora, eu que não deixei. É bom que ela não tenha
me feito escolher... — eu o encaro. — e foi muito bom pra sua saúde física
ela não ter ido embora!
— O café já está na mesa!!! — Tia avisa, — e eu suspeito de que avisou no
momento “certo”, só para não me ver arrebentar a cara dele e piorar as coisas.
— mas eu faço todos aguardarem a chegada de Lara e mando Allana ir lavar
as mãos.
— Oi... — Lara desce minutos depois e meus pais e Vitor se levantam. — eu
acho que nosso primeiro encontro não foi dos melhores, eu sinto muito!
— Ah! Que isso, não foi culpa tua!!! — meu pai resmunga e os três se
cumprimentam com um abraço triplo.
— Foi! Foi sim, e eu já me desculpei com o Vince. Eu os confundi e me sinto
muito envergonhada, isso não vai mais se repetir. Eu peço perdão, foi muito
constrangedor!
— Estamos na era da modernidade, não precisa se sentir assim. — Vitor fala
com alegria, mas fica sem graça com o olhar que Lara o lança.
— Acho melhor o senhor calar a sua boca. — ela resmunga e imediatamente
volta seu olhar tímido para meus pais. — Me desculpem, é filho de vocês
como Vince, e eu fui extremamente bem educada por meus pais, mas é que já
é a segunda vez no dia em que ele me faz pensar que é meu noivo. Me
enganou por telefone me ouvindo dizer coisas particulares demais em
silêncio, me dando corda e se fazendo passar pelo Vicente, e agora continuou
me beijando se aproveitando de minha distração, se aproveitando de mim. Eu
errei muito em não notar, mas o filho de vocês cometeu um grave erro ao agir
desse modo.
— Você está em sua casa e ele é maior de idade. Pode e deve tratá-lo como
ele merece. Está na sua razão, minha nora! — minha mãe sorri não querendo
gargalhar da cara de tacho do Vitor e Lara assente.
— É um prazer recebê-los aqui, e novamente peço desculpas! Eu sinto muito
mesmo!!! — Lara diz e se aproxima de Vitor contrariando toda a nossa
conversa. Vê-los um perto demais do outro me dava náuseas. — E o senhor,
se chegar perto de mim novamente, ou de algum jeito me fizer pensar que
estou falando com Vicente, te denuncio e eu não estou brincando. Vocês são
idênticos, mas vejo agora que é só por fora. Vince tem caráter e jamais
pensaria em fazer algo tão sujo desse tipo com alguém. O que fez foi muito
grave e fez duas vezes. Na próxima gracinha sou quem vai abrir a porta pro
senhor se retirar. — ela fala, estende a mão pra ele apertar, Vitor sorri por um
momento, pega em sua mão, e em um único gesto, Lara tira uma espécie de
caneta do bolso do jeans, e faz um risco grosseiro em sua mão. — Só por via
das dúvidas.
— O que é isso? — Vitor ri olhando para a própria mão pintada de azul. Meu
pai se segura para não rir alto.
— É um marcador permanente. Difícil de sair da pele, vai ficar aí por dias
por mais que você esfregue. Tenho certeza que agora posso diferenciar vocês
dois, mas isso vai me garantir que você não se aproxime de mim por umas
duas semanas, seja lá o que você arme para se passar por ele. Até a tinta
começar a ficar fraca e enfim sumir, e quando isso acontecer, riscarei de
novo. Eu não quero que chegue perto de mim e enquanto estiver em minha
casa, quero que me respeite. — Lara diz com seriedade e um semblante
entediado. O encarava face a face e Vitor só sorria.
— Você definitivamente é uma peça rara. É mil vezes mais interessante que a
Nanda!!!
— E além de interessante, tenho a maldade que aposto que ela não tinha. Sou
vingativa, sei me defender, sei onde fica a delegacia, e vou me casar com um
empresário que deve ter uns trinta advogados à minha disposição. — Lara
termina, ignora o sorrisinho dele, e volta a encarar meus pais. — Os senhores
já me esperaram muito, vamos tomar esse café antes que esfrie?
— Chegamos aqui com a esperança de comer a tua comida... — minha mãe a
pega pelo ombro e as duas saem na frente.
— Vince quer sair pra jantar fora, mas adoraria cozinhar algo mais tarde...
As duas saem tagarelando, mas eu não saio dali antes de encará-lo bem...
— Desculpa. Não vou mais fazer ‘nenhuma gracinha’, prometo.
— Já prometeu antes.
— Mas ela chegou me beijando de repente, fiquei sem reação. Não vou
provocar, não vou me passar por você e se ela se confundir, vou dizer. Não
vou assumir esse papel, não vim pra isso. Prometo! — ele diz e eu sigo para a
sala de jantar sozinho.
— Viu, Vince... Lara disse que vai cozinhar pra gente... — minha mãe fala
assim que eu me sento ao lado da filha da puta.
— Você vai amar vovó. A comida da Lara é maravilhosa!!! — Allana
confirma e ganha um beijinho de sua protetora.
— Lara teve prova hoje, está cansada. Vamos jantar fora e aí ela faz o almoço
de amanhã. Aliás, convidaremos os pais dela também, pra vocês
conhecerem...
— Podemos fazer isso hoje e amanhã. Sabe que nunca me sinto cansada ao
cozinhar. Posso fazer algo rapidinho já que está tarde, mas com certeza,
mesmo que seja simples, será melhor que qualquer restaurante por aí!
— Tem certeza?
— Tenho. Vou amar cozinhar para meus sogros!!! Já quero começar agora
mesmo!!! — ela ri e contagia a todos.
— Pode ficar com esse traseiro sentado aí, primeiro coma!
— E como vai o bebê? Os exames...? — meu pai quem pergunta.
— Vai bem. Só tenho algumas semanas então estou naquela fase de espera e
expectativa!
— Está feliz??? — minha mãe pergunta e Lara sorri.
— Muito!!! Muito mesmo!
— Eu é que não estou muito, né!? — Allana resmunga.
— Você é uma ciumentinha igual era tua mãe! — minha mãe ri. — Você não
ficará sem atenção e não será menos amada, sua boba! É seu irmãozinho
quem está vindo aí!
— Fernanda era ciumenta, é??? — Lara pergunta e minha mãe ri.
— Era, não era, Vince...!? Conte pra Lara!
— Era um pouco sim. Possessiva como a filha.
— E como você agia com ela? — Lara pergunta interessada com um
sorrisinho irônico.
— Apertava a coleira! — resmungo mastigando e Allana fica em choque.
— Você amarrava uma coleira na minha mãe?
— Claro que não, menina. É modo de dizer!!! — eu falo e volto a minha
atenção para a vadia sínica. — Lidava com Nanda do meu jeito.
— Pelo jeito eu sou mais tranquila, então, porque você é mais ciumento do
que eu.
— Jura? Vince sempre foi tão desapegado. — meu pai participa da conversa
chata.
— Ah! É? — Lara ri. — Sabia disso não. Devia demonstrar desapego mais
vezes... — ignoro seu comentário e chamo Tia para tomar café.
O assunto não morre, Vitor e Tia se juntam a nós, e eu permaneço ouvindo
sobre Nanda até eu pedir claramente para que aquele assunto acabe.
— Por que se incomodou tanto com tua mãe me contando sobre a sua ex???
— Lara pergunta após o jantar maravilhoso que preparou para todos.
Cozinhou macarronada, salada, bife grelhado, bolo de cenoura de sobremesa
estufado de chocolate, e estava dos deuses.
— Por que de repente a Nanda virou seu assunto favorito? — eu rebato
tirando a camiseta e ela ri.
— Ela me contou coisas que você nunca me disse...
— Nanda faleceu. Por que tem que saber sobre ela? Vou me casar com você,
por que quer desenterrá-la agora? Não faz sentido nenhum.
Me jogo na cama e ela veste a primeira camisola que pega na gaveta.
Vermelha, curta, sexy... mas aquilo não me faz ‘acordar’ eu estava
extremamente cansado, até psicologicamente falando.
— Desculpe te aborrecer com isso. Não falarei mais, e nem darei corda pra
tua mãe. — ela diz ao se deitar.
— Gosto assim, bem obediente! Vem mais pra cá. Encosta a tua cabecinha no
meu ombro e durma! — eu dou risada fechando os olhos.
— Eu vou dormir mesmo, também estou exausta. Boa noite. — ela se inclina
pra beijar a minha boca e eu sorrio. — Te amo.
— Também te amo. Apaga aí... — eu peço, ela apaga as luzes dos abajures
pelo lado dela, eu me viro para abraçá-la de conchinha, e tento ignorar o pau
que levanta no ato. E ignoro mesmo... mas quando acordo, sinto que
continuava duro.
— Ei, dorminhoco... vou com tua mãe no shopping. Ela quer comprar
algumas coisas e eu vou ao mercado. Seu celular não para de tocar...
— Que horas são? — resmungo ainda extremamente sonolento.
— São oito. Mas seu pai levou a Allana pra escola. Está tudo bem. O café
está na mesa.
Ela diz, eu abro os olhos, e a vejo acima de minha cabeça com aquele
sorrisão e uma novidade, um batom vermelho vivo.
Arrasto-me preguiçosamente até me sentar, esfrego os olhos, e a meço de
cima a baixo. Vestia um de seus vestidinhos curtos de menininha
arrumadinha, amarelo com bolinhas, sapatilha, os cabelos soltos do jeito que
eu amava, e o batom vermelho.
— Que foi? Estou linda? — ela ri.
— Como sempre. Mas nunca foi de passar batom tão forte...
— É porque fiquei um tanto quanto sem graça de sair com tua mãe. Ela é
muito chique, cheia de jóias, batom, saltos, está tão linda... vão pensar que
sou a emprega dela.
— Hmm... — eu sorrio sem saber realmente o porquê... — Vem cá me dar
bom dia direito, então... do jeito de todo o dia...
Eu a puxo pro meu colo, beijo sua boca deixando minhas mãos deslizarem
por todo o seu corpo, bagunço um pouco seus cachos modelados, e a abraço
forte forçando sua intimidade na minha. Sua cintura que se remexia me
deixava louco por ela naquele momento, mas não era só isso. Eu estava louco
por teu perfume, seu hidrante perfumado com o mesmo aroma, tua boca
adocicada por causa do batom... era o conjunto todo.
— Pode me fazer um favor já que vai ao shopping...? — murmuro, mas não
paro de atacá-la enquanto ela gemia rebolando.
— Sim...
— Aproveite as compras da minha mãe, e compre pra você também. Aposto
que ela vai se encher de roupas, compre coisas lindas pra usar pra mim. Seus
vestidos, seus sapatos, passe no salão, faça tudo. As compras do mercado
peça para entregar e passe o dia com ela, ficando linda pra mim. Ainda mais
linda!!! Vou te dar um cartão e não quero que se preocupe com o preço. É
mais pra mim do que pra você, eu garanto isso!
— Será fácil!!! — ela diz puxando meu moletom pra baixo, e arfa ao se
sentar.
— Cachorra!!! — eu digo assim que ela começa a rebolar, giro seu corpo
ficando por cima, e estoco sem piedade. — Eu passei a noite inteira duro! —
eu digo (só para informar) olhando em seus olhos e ela nega.
— De manhã você meio que acordou me mandando cair de boca porque
estava doendo. Mamei tudo e você voltou a dormir logo depois de me beijar.
— Tá falando sério? — eu pergunto e ela ri afirmando. — Então tu abusou
desse corpinho, porque eu não me lembro de nada.
— Acontece. Eu vivo acordando melada e mal me lembro do que aconteceu.
— Na maioria das vezes você também implora por pau enquanto dorme. Fica
ainda mais puta miando de olhos fechados e se eu ignoro tu fica ainda mais
puta do que já é. — ela ri. — Você sabe que a porra é minha então é isso o
que importa! É gostoso não é!? — eu continuo metendo em sua boceta
quente. E era muito bom meter e falar. — Acordar meladinha ou comigo te
estocando.
— É mágico! Maravilhoso!!!
— Pois então... tem que acatar quando eu mandar, dormindo ou não, e eu não
vou pedir permissão para foder essa boceta que é minha desde o primeiro dia
que trouxe o inferno e o pecado para a minha vida. — ela sorri, mas eu
coloco mais força e ela grita revirando os olhos. — Ah! Isso! Adoro te ver
assim, não vou parar até você gozar no meu pau e me proporcionar um início
de dia incrível!!! Vai pro shopping cheirando a mim, só vai passar um
lencinho para ninguém ver suas pernas sujas!
Falo, ela concorda sem nem saber do que eu falava, — apostava nisso. —
geme junto comigo, fica louca, choraminga pedindo mais da minha vara, mas
depois de alguns segundos, algo muda. Lara abre os olhos, espalma as mãos
no meu peito, e sussurra.
— Para!
— Nem pensar!!!
— É sério, para. — ela repete e então eu paro. Sempre que ia gozar tentava se
afastar por causa do excesso de prazer, mas aquilo era diferente.
— Certo, o que foi... machuquei você???
— Tá doendo! Tá doendo muito!!! — ela chora e eu me desespero. Saio de
dentro dela e ela se senta na cama.
— Desculpe, amor. Não fiz nada diferente de todos os dias!
— Eu sei que não, não fez, eu estava amando... — ela estende a mão para
acarinhar minha nuca, mas quem recebia a sua atenção era o vazio do seu
olhar e não eu. — Não está doendo aqui embaixo, está doendo lá dentro.
Minha barriga está doendo...
— Tudo bem, vou te levar no médico agora, e não ouse a abrir a boca!!! —
Pulo da cama, pego no armário uma muda de roupa para me trocar e ela se
levanta da cama com dificuldade, por isso me adianto para ajudá-la.
— Eu tô bem, eu só vou me limpar porque provavelmente me farão exames.
Já venho!
Ela se tranca no banheiro, eu me troco, pego as chaves do carro, aviso minha
mãe a respeito de sua dor, e quando subo, vejo que permanecia trancada. Giro
a maçaneta, respiro fundo para não gritar com ela, e só falo.
— Lara, vamos! Já demoramos demais, vamos logo ver isso!!!
— Eu não vou, vai embora!!!
— O quê?
— Eu tô bem, Vince! A dor passou, vai embora!!!
— Você só pode estar de brinc...
— VAI EMBORA, VICENTE!!! — ela grita a plenos pulmões como nunca
vi antes, e eu fico definitivamente preocupado.
— Precisamos ir ao médico! Você está com dor!
— A dor já passou, eu só quero espaço, só preciso de espaço, e você... você
está me sufocando. Vai embora!
— Não. Não vou embora! Me deixa entrar! O que está acontecendo???
— Quero ficar sozinha. Me deixe sozinha.
— Você está chorando! Eu te machuquei? Por favor... Lara!!! — eu encosto a
testa na porta e respiro fundo sentido meu peito arder como se eu fosse
alérgico a minha própria respiração. Claro que eu a machuquei, por qual
outro motivo ela se esconderia de mim e rejeitaria minha aproximação!?!? —
Merda!!! ABRA ESSA PORRA, INFERNO!!!
Eu bato na porta, esmurro mais precisamente falando, e como ela não reage,
só consigo arrebentar aquela porta no pé.
— SAI DAQUI! NÃO ENTRA AQUI! — só a ouço gritar após parar de
tentar arrombar a porta.
Lara estava sentada apoiando as costas na imensa banheira que ocupava o
centro do cômodo grande e uma poça de sangue parecia aumentar de
tamanho embaixo de seu bumbum usando o tecido fino do vestido como
filtro. Vermelho vivo. Vibrante. Doloroso. Um verdadeiro pesadelo em
tempo real.
E em falar em dor, aquela dor familiar se apossou de todo o meu corpo ao me
aproximar e fitar o horror estampado em sua face. Doía tudo, pulsava em
inflamação e eu sabia que nenhum remédio no mundo funcionaria porque eu
já estava calejado, eu já havia sentido aquilo. Era a dor do luto. A dor de
perder alguém, a dor de perder alguém que você amava mais do que tudo. E
eu amava aquele bebê, amava muito.
— Não era pra você ver isso, não era pra você entrar aqui. Eu sinto muito.
Me desculpa. — ela chora muito de cabeça baixa. Por que ela estava se
desculpando??? — Me desculpa, eu sinto muito mesmo, trouxe o inferno pra
tua vida!
— Vem cá, amor. Não fale assim... — ouço um resquício do que um dia foi
minha voz e a coloco no meu colo. As palmas de suas mãos e todo o seu
vestido estavam banhados no sangue e o cheiro forte de cobre nem me
incomodou. Eu me sentia anestesiado e por isso só o que consegui fazer foi
niná-la em meu colo, me entregar para a culpa que me consumia, e dizer que
tudo ia ficar bem, mesmo sabendo que era mentira.
CAPÍTULO 4
CULPA
O BÊBADO
Era bom que ele desabafasse. Primeiro que mesmo se fosse o caso, Allana era
minha de qualquer jeito e eu arruinaria a vida de quem quer que dissesse o
contrário, ou tentasse tirá-la de mim por não ter meu sangue, e além do mais,
há muito tempo venho cuidando de sua saúde para o caso da possibilidade de
que ela herde o maldito câncer então, já fazia alguns anos que pesquisei a
respeito de um tratamento com medula óssea nos Estados Unidos. Ela devia
ter uns três ou quatro anos.
Precisei fazer uma viagem a trabalho, a levei comigo para emendar umas
férias com meus pais em Nova York, soube do tratamento por lá e fui atrás. O
método “prometia” reduzir a zero as chances da Allana de ter aquilo
futuramente, e eu pagaria tudo o que eu tinha para conseguir aquilo pra ela.
Um dos exames era um teste de compatibilidade sanguínea e no nosso caso,
teste de paternidade. Como brasileiro eu precisava comprovar o parentesco
desse modo porque as chances aumentariam “se a paciente fosse sangue do
meu sangue”, e para comprovar, precisei fazer. Então aquela “revelação” do
bêbado babaca, não me atingiu, mas o lance do “teve um caso comigo” estava
bem interessante, era uma novidade pra mim. Não sabia se ele dizia merda
por estar bêbado, ou se não sabia o que falava.
Eu mesmo não era de mentir quando bebia não, muito pelo contrário. Ficava
era bem sincero. Talvez Greg realmente pensasse que Allana era filha dele,
talvez ele quisesse isso, ou talvez ele só pensasse que ela poderia ser e não
era por minha culpa... vai saber!?
— Ele me encara com essa barba há mil anos por fazer, essa pose de CEO
poderoso e pensa que me intimida! Olha bem pra ele, o que ela via nele???
Ele só tem dinheiro e barba, dinheiro e barba, dinheiro e barba... é um
cuzão!!!
— Oh! Meu Deus! — Júnior ri. — Quer ir trabalhar? Eu fico aqui com ele...
não precisa passar por isso!!! — ele sussurra e eu nego.
— Não. Quando ele não está bêbado assim, é um bom amigo. Vou ficar aqui
e ajudar. Vou embora quando ele tiver melhor. — eu falo mais pra mim do
que pra ele, Júnior aperta meu ombro e sai.
Aumento o fluxo da água fria na cabeça do filho da puta, ele continua com as
ofensas, meto uma escova de dente com pasta bem dentro de sua boca e com
isso ele se cala e começa a escovar igual a bunda: de olhos fechados e
parecendo estar prestes a apagar ali.
Saio do banheiro com o palhaço agarrado em mim, jogo ele na cama, separo
uma muda de roupa e ele começa a se vestir cambaleando. Fez silêncio, sinal
que estava começando a ficar “bem”.
Assim que saio do quarto após realmente ver a visão do inferno que era ele
nu, sinto um cheirinho bom de café e vejo que Júnior já havia adiantado
muita coisa na “faxina”. Começo a pegar o que faltava de lixo com uma
sacola nas mãos, pego um pano que ele achou por ali, e começo a passar em
tudo como se já tivesse feito isso antes, e dou risada.
— Você devia filmar isso pra mostrar pra Lara!!!
— Quer que eu faça? Farei com prazer... — ele ri.
— Sei que sim, seu cara de pau!
— Como vocês estão?
— Péssimos. Uma amiga chegou para ocupar meu lugar na empresa, e após
apresentá-las na sala, eu não peguei em sua mão para ir tomar café. Isso foi o
fim. — sou irônico e ele parece entender.
— Deixou Lara pra trás quando recebeu a visita de outra mulher...
— Vocês conversaram?
— Não. Só estou tentando entender o que você acabou de dizer. Tentando
interpretar da forma correta, mas pelo jeito acertei.
— Não foi bem assim. Pelo menos não propositalmente. — eu digo retirando
o pó da mesa de centro. — Ela estava atrás de mim quando fui apresentá-la.
Aí quando elas se cumprimentaram, a Lara voltou para onde estava, atrás de
mim, não ficou do meu lado. Não sei porquê.
— Ela queria que você a pegasse pela mão, a chamasse, demonstrasse afeto
na frente da gostosa... as mulheres gostam disso.
— Quem disse que ela é gostosa?
— Se não fosse assim, Lara não ficaria tão puta.
— Puta foi apelido. A mulher virou uma onça na frente dela, chamou minha
atenção e tudo. Allana daquele jeitinho que você conhece também deu um
chega pra lá nela... eu tô é feito com aquelas duas. — eu digo e ele ri pegando
três xícaras do armário da cozinha americana. — Falei que ela não devia ficar
se sentindo insegura daquele jeito, quase voou no meu pescoço. “... e você
que é todo maravilhoso, é isso, é aquilo, é o máximo, faz e acontece, mas não
consegue colocar tua mulher à frente da tua casa???” — eu tento imitar a sua
voz e ele ri ainda mais. — Perguntou pro Vitor que estava na mesa “o que ela
era atrás de mim”, ele disse que ela era apenas a empregada, a diarista. Que
era assim que ele apresentava a diarista dele, tipo, ‘apresenta e vira as costas’.
Lara ficou péssima quando ouviu aquilo.
— A insegurança dela é compreensível. Você deveria tê-la agradado bastante,
feito a se sentir segura. Não adianta, mulher é assim, é disso pra pior. Minha
mãe disse que ele está lá. Quero conhecê-lo... o seu irmão gêmeo.
— Pra quê?
— E por que não!?
— Ele é a minha cara, eu estou aqui, pode olhar pra mim! Ele é um porre,
você não está perdendo nada.
— Eu continuarei sendo seu melhor amigo ao conhecê-lo, mané. — Júnior
zomba de mim. — Tenho certeza que ele é muito legal. Talvez
incompreensível por ter vivido há anos na sua sombra, mas... não deve ser
muito difícil de lidar.
— Vitor não viveu na minha sombra. Muito pelo contrário. Ele sempre foi
auto-suficiente, amava chamar atenção, ter tudo o que eu tinha... sempre foi o
coitadinho. Tentava sempre me foder, nós não nos dávamos bem. Sempre foi
invejoso, não foi um sofredor não. E você pode engolir ele, se quiser. Seja
sim amigo dele. É bom que você me livrará do estorvo!
— Ligarei pra ele hoje, então. Vou levá-lo para conhecer Sampa. A nova
Sampa e que ele ainda não conhece. Seremos amigos. Vou fazê-lo se divertir,
sair do seu pé.
Ele diz simplesmente e eu sinto aquela pontada de novo. Mas dessa vez é de
ódio. Vitor chegou e já ia me tirar tudo.
— Eu estou brincando! Entendeu isso, não é!? Tô fazendo piada. É legal te
ver com ciúmes. Já disse que você é demais possessivo? — ele ri. — Não o
conheço, mas sei que ele não pode tirar tudo de você. Não o que você tem
realmente, porque se você perde algo quando “alguém chega”, é porque não
era seu.
— Ele acabou de me afastar do meu sócio. Um dos amigos que eu podia
contar nos dedos de uma mão e agora vi que de amigo não tem nada.
— Releve, ele não está bem. E é o que eu acabei de dizer... — ele me oferece
uma xícara e eu me sento no sofá para experimentar seu café. — se ele se
afastar de você é culpa dele, não do teu irmão.
— Eu sei disso. Sei de tudo isso... — eu falo, ele balança a cabeça sorrindo e
entrega uma xícara para o quase bêbado totalmente grogue que adentrava a
sala de estar.
— Esse está sem açúcar. Vai se sentir melhor em pouco tempo.
— Nunca mais vou beber na minha vida! — Greg se senta no sofá de frente
pra mim, bebe um gole do café fazendo uma careta, e me encara parecendo
chateado. — Oi.
— Oi.
— O que estão fazendo aqui?
— Vi que não estava muito bem, a Jaque ouviu nossa conversa e me fez vir
até aqui, liguei para o Júnior pedindo ajuda com a bagunça, e só... agora que
está bem, nós já estamos de saída.
— Obrigado por isso.
— De nada.
— Eu não me lembro do que te disse por telefone, mas sei que eu te atendi,
ou eu te liguei e fui grosseiro. Me desculpe.
— Não.
— O quê?
— Não te desculpo! — eu falo, Júnior me encara com um semblante de
advertência, e eu ignoro.
— Por que não?
— Porque não está sendo sincero, não está lamentando. Você me despreza e
sempre me desprezou. Aprendeu a conviver comigo, de algum jeito começou
a ser fácil, contanto que a gente não falasse nela...
— É. — ele fica puto. — Por mim, nem agora precisamos falar! Você parece
que não entende.
— Engraçado que enquanto bêbado você fala numa boa! — eu digo com
ironia e coloco a minha xícara no aparador ao lado do sofá. — Nós já vamos.
— Espere aí! O que eu disse???
— Você disse muita coisa.
— Ele estava bêbado, pare de ser tão teimoso! É por isso que você só se fode.
— Júnior ignora a presença de Greg e me dá um de seus sermões
“profissionais”.
— Diga. Pode dizer!!!
— Você disse que eu sou um merda, um maldito, só tenho dinheiro e barba,
sou um porre, um demônio de terno preto, um hipócrita, que eu tomei A TUA
FILHA, A TUA MULHER, aliás, a mesma que NAS SUAS PALAVRAS eu
supostamente “sempre soube que teve um caso com você”, que me traía...
disse que tomei sua vida! Você disse muitas coisas as quais jamais vou
esquecer, Greg! Fiz questão de ficar aqui até você ‘acordar’ pra te dizer isso.
Jamais vou esquecer.
— Não conseguiu notar que eu estava fora de mim?
— Faz três minutos que você estava fora de si. Você está bem, você estava
bem... o álcool apenas te deu coragem para me falar tudo aquilo.
— Eu não acho que você tenha só dinheiro e barba, o que significa que nem
tudo o que eu disse, foi de coração. Você também é muito emotivo e sensível.
— ele diz, Júnior ri, mas Greg me encara sem humor algum.
— Já estamos de saída. Tenha uma boa recuperação. — eu falo, caminho até
a porta, Júnior aparentemente me segue e eu ignoro os retratos na estante do
corredor.
— Você está sendo muito infantil!!! — Greg vai até a porta. Não queria me
ver saindo dali chateado.
— Falou o macho adulto que comeu a minha mulher! — eu resmungo, espero
ele dizer que aquilo era um absurdo, e como não acontece, eu vou embora
dali com Júnior tentando me fazer ‘entender que tudo o que era passado, eu
deveria continuar deixando no passado, como fazia antes... ’
E logo eu que achava que aquele dia jamais ficaria pior. Chego em casa e
descubro que minha “bebezinha” que já não era mais bebezinha estava na sua
festinha de pijama, Vitor esperando uma reunião de negócios na hora do
jantar, e a cereja do bolo: A criatura voltou pra casa de seus pais. Ou foi
apenas dormir lá, eu não sabia. Só sabia que como era uma mulher casada
assim ela continuaria, ou eu não me chamava Vicente.
Pego as chaves, sigo pro carro, e só paro de pensar em várias formas de
castigá-la quando estaciono na frente de sua casa.
CAPÍTULO 6
VOCÊ ME AMA?
— O que aconteceu de verdade, hein? Não disse coisa com coisa pelo
telefone.
— Nada. Só tive um dia cheio. Fui pra faculdade, dei uns gritos com os caras
que estão cuidando da piscina e da casinha da Allana, levei a pequenininha
até a casa da amiga dela, fiz o jantar dos meus sogros... estou cansada! Na
verdade estou exausta. Muita responsabilidade. Sem contar que agora saiu o
boleto da formatura pra pagar e o Vicente não me deixa trabalhar... tô muito
sobrecarregada, mãe.
— E os preparativos do casamento? Não acredito que não vou colocar a mão
na massa... nem parece que vai realmente se casar.
— Será uma cerimônia simples em um lugar bonito, pelo que ouvi Vince
falar. Ele está esperando o contato do hotel onde ficaremos pra poder viajar
com tudo no jeito. Ele quer saber mesmo é da lua-de-mel... — eu falo e ela ri.
— Ele deve ter escolhido um lugar lindo, filha!
— É aí que tá, mãe. Não consegue ver a problemática nessa frase, não?
— Que problemática?
— Vince controlando um momento que devia ser meu. Era o meu sonho. Me
casar, me vestir de noiva nas ilhas gregas... uma vez eu disse isso a ele, por
isso ele escolheu lá. Mas até agora eu não vi nada a respeito da cerimônia, ele
não me mostrou nada. Vince gosta de controle. Ele amarrou uma coleira em
mim e cada dia que passa aperta ainda mais para me manter presa a ele. Presa
ao que ele quer... e o pior de tudo é que eu descobri que com Nanda ele não
era assim. É só comigo!!!
— Quem escuta você falando, parece que não sabia desde o princípio que ele
era assim. — minha mãe se serve de mais uma xícara de seu café e sorri pra
mim. — Você tem que se impor, vai funcionar porque ele te ama muito, fará
qualquer coisa pra não perder você. Se bem que eu acho que não vale muito a
pena querer mudá-lo agora. Você se apaixonou por esse Vicente! Talvez se
ele mudar, você não verá mais graça alguma. E com relação a garota que
você me contou por telefone, é bobagem. Você não deveria esperar que ele te
posicionasse como a dona da casa, a mulher dele... homens não sabem como
nós “funcionamos”, filha. Deixam passar muita coisa. Você tem que
conversar com ele para que ele possa te entender. Às vezes a gente precisa
desenhar. — ela ri. — Um homem não é nada sem uma mulher forte ao seu
lado. Veja seu pai, se eu deixar ele aqui sozinho por uma semana, vira parte
da mobília.
— Eu ouvi isso, mulher! — meu pai grita lá do quarto nos fazendo rir.
— É isso. Basta conversar com ele, esclarecer as coisas. Dizer o que gosta, o
que não gosta, falar sobre o que te irrita, sobre seus limites. Só então deve
cobrar caso ele repita alguma coisa. Casamento não é fácil. Tem que amar
muito, respeitar mutuamente, ser parceiros um do outro, e principalmente, o
mais difícil, aprender a perdoar!!! Você disse que ele te pediu desculpas, ele
te ligou pra vocês conversarem, se for fazer uma guerra para cada problema
que aparecer na vida de vocês, esse casamento não vai durar.
Ela fala com toda sua bagagem de conhecimento no assunto e eu suspiro me
sentindo cansada.
— Posso dormir aqui??? Tô muito cansada...
— Ele sabe?
— Ele não tem que saber de nada. Saí de lá ele nem tinha chego. Não quer
saber de mim. Deve estar com sua nova parceira de trabalho... se sentindo
livre longe de casa.
— Você é tão boba!!! — ela fala e ri. — Vou arrumar sua cama, porque eu já
vou deitar...
— Não. Arrume o sofá, vou dormir no sofá. Acho até que nem dormir eu
vou. Tenho um TCC, talvez um casamento... muito o que pensar.
— Vou ajeitar aqui e fazer um chá pra você. Vai ser bom pra você descansar.
— ela diz sai, me entrega um pijama limpo, eu me visto e dois minutos
depois alguém bate na porta. Já era quase meia-noite.
— Eu vejo... fiquem aí... — meu pai diz se levantando e vestindo uma
camiseta.
— Se for ele, estou dormindo, pai! Não quero vê-lo!!! — eu sussurro pra ele,
ele revira os olhos, posiciona seu velho bastão encostado na parede ao seu
alcance, pois não tínhamos segurança nenhuma ali naquela rua, e espia o
novo visitante ao baixar o vitrô.
— Boa noite, filho!!! — meu pai diz com simpatia e eu posso ouvi-lo.
— Boa noite, sogro. Vim buscar minha mulher fujona... ela está?
— Bom, ela já está dormindo... chegou e apagou, estava muito cansada. O
que aconteceu?
— Eu também gostaria de saber. Será que posso entrar?
— Olha, me desculpe, já está tarde...
— Eu não sairei daqui sem Lara, seu Mauro. Ficarei em sua porta até
amanhecer!
— Não pode levar a menina para a friagem assim. Por que vocês não
conversam amanhã, com mais calma?
— Conversei com Lara a respeito disso... ela não pode se desentender comigo
e correr para os pais. É uma mulher casada, tem sua casa, tem uma enteada
bem difícil pra cuidar, os sogros para recepcionar e tem a mim. Não pode
correr pro colinho do papai quando discutir comigo. Ela voltará comigo
porque é o que deve fazer, tem responsabilidades. O senhor vai me deixar
entrar, ou não?
Ele questiona, meu pai parece pensar, me encara pedindo ajuda e eu me jogo
sentada no sofá, por isso Vince entra imediatamente.
— Vamos.
— Eu estou bem aqui.
— Vamos!!!
— Você é surdo?
— Eu não vou falar de novo. Vamos pra casa, Lara, agora!!! — ele fala baixo
só por causa dos meus pais porque sei muito bem que se estivéssemos
sozinhos, ele já estaria me arrastando para o carro sobe gritos.
— Eu-estou-bem-aqui!
— Ah! É?
—... é. — eu travo, fico com medo de sua reação, e em um rompante, ele olha
ao redor parecendo procurar por algo.
Ele pega meu celular, minha bolsa, meus tênis e sai pisando duro em direção
ao carro. O que ele ia fazer com minhas coisas?
— Me devolve minhas coisas!!! — eu corro, meus pais param na porta, e eu
entro em sua frente, mas ele me afasta e joga tudo de qualquer jeito no banco
de trás. Parecia transtornado!
— Entra na porra do carro!!! — ele só sussurra para que meus pais não
acompanhem nossa discussão e eu nego de novo. Por isso ele afunda sua mão
em minha nuca, e levanta minha cabeça fazendo minha bunda tocar o carro.
— Entra nessa porra, e vamos pra casa. Não me faça te arrastar!
— Isso, me arraste! Me arraste pra ver!
— Entra. — ele diz como se “tentasse pela última vez”. — Está agindo como
uma criança mimada! Vamos conversar em nossa casa, vamos nos resolver
no particular, eu vou melhorar o jeito de te tratar, e você vai parar de dar
crises por bobagens, vai crescer.
— Você? Melhorar no jeito de me tratar? — eu pergunto e ele me solta e sua
atitude é muito boa, mas muito ruim. Parecia de saco cheio de mim.
— Ok. Vou te fazer uma pergunta e ir pra casa. — ele fala e eu seguro a
respiração. — Você quer terminar nosso relacionamento? Quer voltar pra tua
casa?
— Nós já vimos que terminar não adianta... a gente sempre volta, e sempre
comete os mesmos erros. Você me prende demais...
— Quer que eu te solte? Hum? Quer que eu seja diferente? Que eu te deixe
livre? Talvez mais leve como eu era com a Nanda? Naquele jantar você
pareceu feliz e empolgada ao ouvir as histórias... acha que “aquele amor” que
eu sentia era muito melhor que esse meu jeito de amar você?
— Me deixar viver a minha vida livremente... acho que seria um bom
começo. Você pode ser mais leve, Vince... pode...
Eu começo a falar e ele confirma abrindo a porta traseira do carro.
Ele pega as minhas coisas, pendura a bolsa em mim, me faz abraçar a minha
muda de roupa, e coloca meus sapatos no cantinho da calçada.
— Farei tudo diferente. Serei como eu era antigamente. Ou pelo menos
tentarei. Quer que eu seja assim, serei assim. Só que agora vou embora
porque naquela época, jamais que eu perderia meu tempo correndo atrás de
mulher e implorando pra ter algo quando eu poderia conseguir facilmente na
rua. Quando Nanda ‘dava dessas’, ficava fora de casa até voltar com os
rabinhos entre as pernas porque eu não ia atrás, eu não sentia tanta falta
assim, eu conseguia dormir sem ela. Ela ficava com o Greg que dava todo o
suporte, se é que você me entende. — ele fala e ri. — Faça o que quiser da
sua vida, volte a ser faxineira, se sinta livre, fique livre! Ver você feliz será o
suficiente. Eu gosto de controle, eu gosto de sentir que posso proteger você,
que tenho você só pra mim, e que está por perto caso eu olhe pro lado.
Porque cuidar de você sempre foi algo que fazia eu me sentir vivo. Foi assim
que eu consegui renascer das cinzas quando comecei a viver não só por
Allana, mas por mim e por você! Eu te irrito ao tomar as rédeas da sua vida,
ao mesmo tempo em que eu necessito tomar as rédeas da sua vida para viver,
porque nada no mundo é mais importante do que ter você, cuidar de você. É
por isso que eu escolhi o lugar do nosso casamento, eu escolhi a nossa casa,
eu escolhi nossas alianças, e já paguei tua formatura. Planejei toda a sua vida
ao meu lado porque achei que quando você disse que viver pra mim era a sua
prioridade, que nossa vida não era um fardo, e que não havia prazer maior pra
você do que ficar de joelhos, você falava a verdade. Você está livre. Pode
ficar se quiser, mas vou deixar a porta do nosso quarto aberta. Vou esperar.
Entra!
Ele diz, beija a minha testa, se afasta, e eu tento me lembrar de como voltar a
andar.
Quando fecho o portão ele entra no carro, e simplesmente vai embora. Aquilo
me diz que eu deveria ficar feliz por ele ter cedido, mas não consigo ficar, só
me sinto vazia.
— Tô passada que ele te deixou ficar... — minha mãe diz pegando as roupas
dos meus braços.
— É nem parece algo que ele faria... — meu pai resmunga e volta pro quarto.
— Ele não me deixou ficar. Praticamente desistiu e me largou aqui. — era
isso o que eu sentia. — Ele cansou de mim. Vivemos tanta coisa e ele cansou
de mim. Cansou de tentar.
— Não foi isso...
— Foi sim, mãe. Não é pra ser. Nós somos bons amantes, mas não bons
companheiros.
— Conversou com ele como eu te disse?
— Não eu só... só fiz besteira. Ele é muito difícil. Vicente só entende um
idioma, o do “sim, senhor. Claro que eu faço, claro que eu vou, eu aceito, eu
entendo, você tem razão...” e daí por diante.
— O que você vai fazer?
— Eu não tenho a menor ideia.
Não tinha mesmo. Porque eu sabia que na maioria das vezes era ruim com ele
e pior sem ele.
(...)
— Bom dia, meu amor! — minha sogra me agarra na sala e eu retribuo seu
abraço.
— Bom, dia! A Tia já chegou?
— Eu não sei, acabei de descer... — olho no relógio e marcava 06:40hrs.
Sim, eu madruguei.
— Deixa eu ver se ela já está por aqui. O Vince ainda está na cama?
— Eu vi que ele saiu pra te buscar, mas não o vi voltar. Achei que vocês
estavam juntos. — ela fala e meu coração se aperta.
— Vou ver se ele está no quarto. Já venho colocar a mesa pra senhora! — eu
falo e subo imediatamente me lembrando do trecho de nossa discussão em
que ele dizia que “Só que agora vou embora porque, naquela época, jamais
que eu perderia meu tempo correndo atrás de mulher e implorando pra ter
algo quando eu poderia conseguir facilmente na rua.”
Abro a porta devagar e o encontro dormindo no meu lado da cama, o lado
esquerdo que ficava na direção das janelas. E ele odiava dormir ali, gostava
mais do lado da porta. Estava de bruços, sem camisa, com a cabeça no meu
travesseiro, e dali eu não podia ver seu rosto.
Meu coração se aperta de novo, respiro fundo, me enfio embaixo do edredom
que eu escolhi e comprei, e me achego devagar. O filho da puta era tão forte,
tão grande, tão cheiroso... só queria saber quando que aquele sangramento
pararia...
O abraço pela cintura, ele se vira pra mim ainda dormindo, e eu só fico
engolindo sua respiração até que ele desperta, estávamos tão pertinho...
— Oi. — eu digo e ele sorri me puxando pra perto de si.
— Você voltou. — ele murmura bem baixinho e eu dou-lhe um selinho
rápido.
— Achou que eu não voltaria?
— Achei que tinha perdido você.
— Você jamais vai me perder.
— Você promete? — ele continua sussurrando e sorrindo. E que sorriso lindo
ele tinha. Aquela mistura de olhos negros rasgados por causa do sono e seu
sorriso brilhante e alinhado no meio daquela barba toda, me enlouquecia. Era
por isso que eu queria senti-lo toda manhã.
— Eu prometo.
— Então diz que me perdoa por não ter te arrastado comigo pra cozinha...
— Eu perdôo... — dou risada. — se me perdoar por não ter voltado pra casa
quando foi me buscar.
— Feito. Mas o nosso trato continua. Faremos o teste do ‘outro Vicente’ por
alguns dias. Estará livre até o fim do contrato vigente.
— Não adianta ser indiferente... me “deixar livre” não é “não se importar
comigo”. Não quero sua indiferença. Só quero que demonstre ser um homem
comprometido, que seja mais leve, e que me ame. Que demonstre não só em
quatro paredes, mas na frente das pessoas, o quanto você me ama.
— Não serei assim. Não é disso que se trata. Você verá. — ele garante
falando de olhos fechados e eu volto a distribuir selinhos em seus lábios
carnudos.
— Como é esse novo Vicente?
— Ele faz amor ao invés de foder.
— Não obrigada, pode voltar ao normal agora. — eu peço e ele ri.
— Você realmente não se adaptará. Mas podemos tentar. Se não der certo
fico no meio termo. Sei que meu jeito te entristece e sei que há muita coisa
em mim que preciso melhorar contigo.
— Isso quer dizer que posso voltar pra faxina? — faço um teste e ele ri.
— Isso quer dizer que você pode envelhecer fazendo faxina. Faça o que
quiser. — ele me encara e acaricia minha face. — Que horas são?
— Já deve ser sete horas, ou quase...
— E Allana?
— Vai pra escola direto da casa da amiguinha. Avisei o tio da perua que ele
só vai precisar trazê-la hoje.
— Quer passar a tarde em um lugar especial?
— Que lugar?
— Aqui... — ele diz e num rompante sobe em cima de mim.
— Não podemos...
— Eu sei. Mas não precisamos fazer amor. Podemos só ficar assim, olhando
um pro outro, conversando e dormindo...
— Ou eu posso fazer coisas que já tem um tempinho que não faço. — eu
resmungo e troco a posição.
Beijo sua bochecha, percorro a linha do maxilar repleta de barba, desço para
seu pescoço, depois para o peitoral que cheirava a colônia boa, e sigo para o
abdômen trincado.
Estava de calça de moletom que exalava o nosso amaciante, e eu amava ver
ele usando pequenas coisas que tinha os meus cuidados.
Desfaço a cordinha, abaixo a cueca junto com a calça, e o seu membro grande
e roliço pula pra fora. Era uma afronta aquilo...
Massageio e beijo com cuidado suas bolas enquanto o instigava subindo e
descendo com a palma da mão. Ele tira o edredom de cima para me olhar
fazer aquilo e eu sorrio para seu semblante de felicidade que não cabia dentro
de si. Subo passando a língua da base até o topo e quando chego no ‘céu’,
meto a boca e começo a mamar. Imediatamente seu toque na minha cabeça
arrepia todo o meu corpo, e eu me desligo só para sentir cada detalhezinho
daquele momento.
Seu gosto, sua textura, seu abdômen se contraindo, o som que faz ao arfar,
seus olhos fechados e carinhos em minha cabeça.
Carinho. Procuro pela tinta da caneta em sua mão e não encontro. Que Deus
me perdoe, mas aquele não era o Vince. Não podia ser...
— É nessa hora que você me bate, puxa meus cabelos, me xinga de tudo
quanto é nome, e me faz ficar de joelhos... — eu resmungo após subir até o
pé de seu ouvido.
— Só estou curtindo o momento... ainda estou sonolento. — ele sorri, mas
não me encara. — Continue, por favor...
— Por favor??? — ele nunca era educado.
— Por favor. Estava muito bom, não para não! — ele me olha, ri colocando
as mãos atrás da cabeça, e volta a fechar os olhos apenas esperando eu
retomar.
Capricho nas chupadas até ouvir seus gemidos, ignoro a vontade de me tocar
por causa do absorvente que parecia uma frauda para suportar o fluxo
intenso, e posso senti-lo se contorcer.
— Isso. Assim... minha princesa! Mama tudo. Vou gozar agora, não para...
Princesa?
Ergo uma sobrancelha sem que ele possa ver, continuo me deliciando do
melhor café-da-manhã do mundo, e ele se apoia sobre os antebraços quando
chega a hora.
— Eu vou... — ele começa, o jato forte desce quente pela minha garganta, e
ele desaba após se livrar de tudo. — A melhor boquinha do mundo... — ele
me puxa pra si, me abraça e abre os olhos.
— Foi bom pra você? — dou risada e ele afirma com a cabeça antes de
responder.
— Foi. Foi maravilhoso.
— Mas pra mim não. — eu digo me levantando, ele gargalha por algum
motivo escondendo o rosto nos travesseiros, e eu ignoro para não surtar. Ele
estava me testando, acha que sou uma tapada. — A próxima vez que me
chamar de princesa enquanto eu te faço um boquete, vou te morder. Está
brincando com uma mulher em uma eterna TPM enquanto ela tem sua rola
entre os dentes. Isso é perigoso!
Eu resmungo enquanto ajeito o vestido amassado e o ouço gargalhar de novo
com o som abafado pelo travesseiro.
— E por que estava do meu lado na cama, hein? — eu pergunto me sentando
na ponta da cama para calçar meus sapatos.
— Saudade. — ele me encara sorrindo, se arrasta até a beirada e me agarra
invadindo o meu sutiã com a mão. — Saudade do seu cheirinho. Nem dormi
direito. Não consigo dormir longe da minha mulher.
Ele investe contra meu pescoço enquanto aperta meu seio com a mão direita,
beija, chupa, e não para. Vejo estrelas, lamento de novo por estar sangrando,
ele vira meu rosto para me beijar, e não tira a mão que conseguia agarrar todo
o meu seio já eriçado.
— Vou ver se a Tia está preparando o café. Sua mãe já acordou...
— Ficarei em casa contigo hoje. Você quer?
— Eu vou amar, mas e a empresa? Não precisa ir trabalhar?
— O Greg já havia passado algumas informações pra Jaque naquele dia
fatídico em que ela chegou. Se lembra? Naquela manhã ela não parava de
ligar... Vitor foi pra empresa e conversaram bastante os três. Ela se vira. Vou
aproveitar para ver como anda os documentos da cerimônia e agilizar tudo...
— Por que não me deixa participar disso? É o meu momento também, quero
cuidar de tudo. Quero escolher a decoração, ver as opções... — eu digo e ele
ri.
— Só o que estou resolvendo é a burocracia, custos, voo, hospedagens da
nossa família, aguardando sair os passaportes dos seus pais e da família da
Tia, transferência bancária, o jato que vou alugar... é por isso que ainda não
fomos, é tudo muito burocrático, mas falta pouco. Decoração, vestidos, a
festa, os comes e bebes, você vai decidir quando chegarmos lá. Não entendo
nada disso, e eu sei que você precisa participar de tudo isso. Jamais quis tirar
isso de você.
— Jura?
— Juro. A estética não está resolvida. Você com a ajuda de sua mãe, da sua
sogra e da Tia, resolverão essa parte. Se você QUISER a ajuda delas. Eu só
quero facilitar a logística, deixar nossa família confortável, e o seu sim. Só
isso o que me importa, você dizer sim pra mim. Eu te amo muito.
— Eu também te amo. Muitão mesmo! — eu sorrio sentindo seus lábios
voltarem a roçar minha pele exposta e me afasto antes de ficar ali pra sempre.
— Vou tomar um banho e já desço.
— Não demora! — eu pisco pra ele, desço correndo, e encontro com Tia,
meus sogros, e o ‘terrível’ na cozinha.
— Bom dia, linda! — meu sogro me abraça e eu correspondo.
Havia passado pela mesa recém-posta então sabia que tudo estava
encaminhado, portanto ajudo Tia a terminar tudo com o meu toque de família
de comercial de margarina. Por “algum motivo” eu estava completamente
feliz.
Mas foi outra coisa que me chamou a atenção, o ‘gêmeo do mal’ estava com
uma cara carrancuda a lá Vicente, na bancada da cozinha encarando uns
papéis, parecendo absorto, e muito encucado com alguma coisa.
— Bom dia! — eu me aproximo para tentar ‘sentir’ o seu humor e ele parece
confuso ao me olhar nos olhos, mas quando “nota quem era que estava ali o
cumprimentando”, me olha nos olhos com a mesma intensidade que Vince
fazia quando estava ou muito bravo, muito excitado, ou muito feliz. Parecia
enxergar minha alma.
— Ah... bom dia, Lara! Voltou depressa, afinal. — oh! god.
— Como está seu humor hoje?
— Do mesmo jeito de ontem à noite. — ele diz, eu travo, procuro pela
mancha em sua mão e não encontro também. Merda, merda, merda, merda,
merda...
— Bom dia!!! — Vince, ou seja lá quem ele fosse entra na cozinha cheirando
a banho, me abraça querendo um dengo na frente de todos, e fica todo mundo
nos encarando.
— Vince? — minha sogra o encara e eu sinto o suor nervoso escorrer em
minha testa.
— O que mãe?
— Tá feliz, filho! Tá sorrindo...
— Estou participando do desafio, “seja leve, Vince”. Prometi a mulher mais
linda do mundo que ia afrouxar sua coleira, e também estou muito feliz
porque ela voltou pra casa!!! — ele diz, Tia o encara abismada, e volta a
medi-lo dos pés a cabeça.
— Não vai trabalhar hoje?
— Não, hoje meu dia será dela! — ele exclama, deposita um beijo casto em
minha cabeça e pega o jornal do dia em cima da bancada. Tia sempre o
pegava do lado de fora e trazia para dentro.
— Precisamos conversar sobre um ponto bem crítico de seu faturamento... —
Vitor diz de repente e Vince dá de ombros.
— Não vai tirar mais do que tem direito, Vitor. Não trabalho com dólar. O
meu país está em crise e agora você é sócio de uma empresa totalmente
brasileira, o que significa que esse não será seu melhor negócio nem aqui e
nem na China.
— Ah! Deus! Por que você não me ouve? Há saídas de verbas injustificadas!
E não é só isso, você tem gastos superfaturados!
— Viu isso conferindo três papéis? — Vince pergunta e estende a mão para
saber sobre o que o irmão falava.
— Passei o dia todo e a noite de ontem. Esperei você para conversar, mas
saiu sem nem dizer ‘boa noite’. Aqui está o gráfico dos anos anteriores. Veja
por si mesmo! — ele fala, Vince passa a ler, e Vitor só aguarda. — Você não
tem notas fiscais que batem, não investiu em nada, não tem como essas
retiradas de “impostos” aparecerem aqui. Quem tem acesso às contas? Ligue
para o Greg.
— Não vou ligar pro Greg. Quem mexe com a parte de conferência de ICMS
é a Flávia. Deve ter sido algum erro de cálculo.
— Não é erro de cálculo. Você foi roubado. Ligue pra ele.
— Ligue você. Resolva isso você! Greg já me deu dor de cabeça demais
ontem! Você é meu sócio agora, encontrou “a fraude” na parte que lhe
interessa, resolva você.
— Será preciso uma reunião com todos os sócios... e tirar alguém algemado
da sua empresa! Não posso fazer isso! — Vitor resmunga, meu sogro pega os
relatórios nas mãos para olhar aquilo, e Vince dá de ombros.
— Você é minha cara. Pegue meu crachá e finja que sou eu. Já fez isso tantas
vezes. Aprontou muito se passando por mim hoje e no passado também. Vou
me casar, estou me dando férias a partir de hoje, e não quero dor de cabeça.
— Faço isso, mas vai ter que assinar papéis onde me dá cem por cento de
autonomia em minhas decisões. O que eu decidir estará feito.
— Assino após João Gardenno me dar o aval! Envie um e-mail pra ele.
— Você foi traído pelos seus melhores amigos da faculdade. Os mesmos
caras que você valorizava mais que a mim. Aliás, pra você eu nunca tive
valor algum. — ele diz e Vince o encara. — E é por mim que teme ser
passado para trás? Por que eu não fingi que não vi esses números???
— Simples. Por que agora, se eu perder, você perde também. — Vince diz
simplesmente, e Vitor o encara por tempo demais. Parecia estar numa
confusão mental.
— E aí? — Vince ergue uma sobrancelha. — Qual vai ser? Vai chorar? —
Vince sorri. — Você é muito sensível... quer um abraço, mano?
— Nunca vai me perdoar, não é? Vai me ver como o vilão pra sempre! Quer
que eu continue o vilão. — Vitor resmunga olhando o irmão nos olhos.
— Vai chorar? Você tem que esquecer isso mano, a mãe não sempre fala que
somos irmãos e os irmãos tem que aprender a dividir??? Você é muito
sensível. Olha bem pra ela, olha como um homem de verdade faz. Vou te
ensinar a ser homem!!! — Vince fala como se reproduzisse algo que já tinha
escutado. Pelo menos era essa minha impressão.
— Eu era uma criança.
— E por isso chegou aqui correspondendo ao beijo da minha mulher e
deixando ela te falar de nossas intimidades pelo telefone. Você continua uma
criança. — Vince diz, se afasta da bancada expirando pesadamente e o
encarando agora, com menos agressividade no olhar. — Deixe isso aí, pedirei
que Flávia cuide disso antes de partimos. Obrigado por ter me avisado, de
qualquer forma.
Vince fala, me leva com ele pra fora da cozinha, e eu saio de lá com o
coração pesado e muito confusa.
— O que foi isso?
— Não importa, eu sou a vítima.
— Ok. Se não é o vilão da história, perdoe-o. Simples. Não seja o vilão
agora, deixe ELE ficar com esse papel. — eu falo e ele lamenta fechando os
olhos lentamente e me puxando para seu colo. — A melhor forma de “tirar a
sua máscara”, é se mostrando superior e deixando ele se enrolar sozinho. Sei
que não deve ser fácil, mas agindo como agiu agora, você só demonstra ser o
gêmeo ruim, vingativo, rancoroso, e cruel. O verdadeiro vilão.
— Ninguém entende o que eu já passei nas mãos desse cara...
— Pois é já passou! Passou, Vince.
— Tudo bem. Você tem razão.
— Vai se resolver com ele? Deixar o passado no lugar dele?
— Vou. — ele mente e eu desisto.
Só finjo acreditar e o abraço desistindo de tentar entendê-lo.
Um minuto depois ele passa agarrado com dona Norma, meu sogro se joga
no sofá, e Vince bufa.
— Vai começar com o sermão? Se for, seja rápido. — ele resmunga e seu
Henrique revira os olhos.
— Você tem direito de ter mágoas. Mas isso só faz mal a você mesmo. No
caso, a você e a sua mãe. — ele fala e Vince lamenta esfregando as mãos no
rosto. — Você parece um moleque enquanto ele parece ser o adulto que está
sofrendo feito um condenado nas tuas mãos por algo que fez no passado. Já
não é mais a vítima do irmão cruel, você está sendo um babaca! Supere isso,
seja superior e dê a ele uma chance, será mais feliz se perdoá-lo e
principalmente, terá sua mãe em seu casamento... porque ele está triste, ela
como você já sabe está se sentindo culpada, e eu não vou escolher um lado.
Sua mãe ainda acha que seu filho favorito é dependente dela, sofre com
problemas psicológicos graves porque ela não conseguiu protegê-lo, é carente
de afeto, e é assim porque ela trabalhava demais enquanto ele ficava em casa
com o irmão que sempre teve sérios desvios de caráter porque também
dependia da atenção dela e ela não pôde fazer o suficiente, e hoje é ele quem
sofre pelo o que fazia ao irmão quando pequeno, porque ela “sempre deu
mais amor pra um do que pro outro” sem notar que desse jeito cometia um
grande erro. — meu sogro vai dizendo e aos poucos eu vou conhecendo
Vince ainda mais.
— Você sempre foi dócil quando pequeno, por isso era amável e mais fácil
de lidar, hoje vocês trocaram de papéis. Vitor cresceu e amadureceu, mas
você parece ter regredido.
— Engraçado que ninguém se pergunta o porquê, pai!!!
— Eu sei que ele tem parte da culpa de você ser como é. Sei que não se
tornou o que é hoje sozinho... sei que você sofreu... mas eu acho que já
passou da hora de você superar isso. Todo mundo tem algum tipo de trauma,
uns mais do que os outros, mas cabe a você escolher parar de sofrer e se
levantar. Vai levar isso pro túmulo? Vai fazer papel de coitado pra sempre?
— E ele? Vai “se safar” de tudo o que me causou com o perdão que tanto
quer? Isso não é justo!
— Vitor não é feliz! — ele diz e com isso já o faz calar a boca. — Vitor
nunca foi feliz. Ele te amava do jeito dele e por ser como era você se
desgarrou, desfez os laços, foi morar sozinho... ele perdeu uma parte dele
mesmo. Vocês se matavam, mas era uma só carne. Você sabe o sofrimento
que foi ficar longe dele, é teu irmão gêmeo, imagine como foi pra ele saber
que a culpa era dele mesmo, ainda por cima? Ele tem os mesmos problemas
que você, tem dificuldades de se relacionar, além disso não para com mulher
nenhuma, tem depressão, é um homem triste consigo mesmo. Com isso
qualquer probleminha do dia-a-dia vira um infortúnio gigante. Vocês só serão
felizes se vocês se unirem. Passaram nove meses no mesmo lugar, um faz
parte do outro, nasceram de mãos dadas. Literalmente de mãos dadas.
Tiveram que te soltar dele quando te tiraram de dentro de sua mãe.
— Isso é real? — não resisto e pergunto. Que fofo!!!
— É. Vicente saiu primeiro de uma cesária difícil. Foi puxado praticamente
pelo bumbum, quando sentiram sua mãozinha presa, foram examinar. Uns
cinco doutores rodearam Norma. Vicente estava com a mãozinha direita
apertando forte a mão esquerda do Vitor. Temos ultrassons disso, porque
sempre foi assim, a doutora sempre mostrava naqueles exames coloridos.
Estavam sempre de mãos dadas. Temos vídeos, fotos... ficavam assim no
berço também, só paravam de chorar quando eram colocados juntos. Tivemos
que remodelar a decoração do quarto porque um berço sempre ficava vazio,
era a coisa mais linda de se ver. Um chorava o outro chorava, um caía o outro
sentia as dores, Norma chamava atenção de um o outro comprava a briga e
sempre andando pra lá e pra cá de mãos dadas. Um puxando o outro. Isso até
uns dez anos. Depois disso, acabou... — seu Henrique lamenta e Vince ainda
mais.
— Não fui o responsável por essa desunião.
— Mas está sendo responsável por ela durar uma vida toda. Vocês são
irmãos, já estão com a barba grisalha, e vão envelhecer distantes um do outro,
perdendo milhares de momentos maravilhosos que poderiam ter, por causa de
você e do rancor que você guarda no coração. Deveriam ser melhores
amigos, se ajudarem, se divertirem, serem confidentes, os dois seriam demais
felizes, mas você está jogando isso fora por causa de erros que ele cometeu
quando não sabia o que fazia. Perdoar é uma dádiva, filho. Se tiver
oportunidade, perdoe. Se algo acontecesse com ele, você morreria. Jamais iria
se perdoar!
— Será? — Vince pergunta e seu Henrique perde a paciência que estava
tentando manter durante aquele tempo todo de conversa.
— Eu sempre admirei muito você, sabe disso. Sempre teve muito juízo. Não
me decepcione agora!
— Está querendo muito de mim, pai! Muito. Eu não sou uma pessoa boa.
Graças a ele eu não sou uma boa pessoa!!! — Vince se altera, eu peço calma
baixinho e ele me ignora. — Não tenho esse bom coração! Não tenho e não
quero ter!
— Certo. Vamos para o modo drástico então.
— O que o senhor vai fazer? Pai?
Seu Henrique se levanta em um impulso e sai decidido, escada acima.
— Quer agir como um moleque, vou fazer com vocês dois o que eu fazia
quando eram moleques. — ele diz, me sinto nervosa, e Vince bufa quando ele
desaparece.
— O que ele vai fazer???
— Ou nos amarrar juntos, nos fazer dar as mãos, ou pedir desculpas como
duas crianças briguentas.
— Eu vou fazer uma pipoca... — eu tento correr pra cozinha só pra zombar e
ele não deixa.
Dona Norma desce com os olhos vermelhos mexendo em uma pasta com
CD’s e usando óculos de grau, e seu Henrique chega logo após trazendo
consigo duas camisetas.
— Tia!!! — ele grita.
— Oi, seu Henrique??? — Tia grita e depois aparece parecendo aflita por
correr.
— Me traga uma tesoura, e superbonder! Não terei tempo e nem sei mexer
com costura. — ele pede, senta no sofá e ela volta segundos depois com os
objetos solicitados por ele.
— Cadê o Vitor, sogro? — eu pergunto tentando não rir da cara péssima que
Vince faz.
— Está lá em cima esperando os olhos desincharem. Disse que não vai descer
e se humilhar assim. Quer vir com toda a sua pose. — seu Henrique bufa
irônico. — Criei dois bobões que não crescem nunca. Deram uma pausa aos
onze anos.
— Me ajude aqui, filha... como é que se liga essa TV?
— O que a senhora quer fazer? — me levanto do sofá com a cara feia de
Vince direcionada a mim, e seguro uma risada alta.
— Quero colocar esse DVD pra assistir.
— Mãe, sem essa!!! — Vince protesta.
— Não falo com você até você pedir desculpas a ele e ele a você! — ela
resmunga nervosa, eu coloco o DVD e ‘deixo no jeito’ com o pause ativo por
recomendação dela.
Nessa mesma hora Vitor desce com a cara emburrada e pude notar que se
queria mesmo parecer ‘muito bem, obrigada’, falhou miseravelmente. Estava
com os olhos extremamente inchados, postura de derrota, e um semblante
péssimo. Parecia acabado. Devia ter chorado horrores.
Encaro Vince enquanto ele fita o irmão entrando na sala e pelo jeito dona
Norma e seu Henrique fazem o mesmo. Os dois queriam ver a reação do
filho, porque a maior preocupação deles, não era Vitor, era Vicente. Talvez
esperavam uma reação babaca daquela do Vitor, mas do Vicente não, as
atitudes do filho que sempre fora a de um amor de menino, estavam
deixando-os extremamente preocupados. Pelo menos era isso o que seu
Henrique havia dito.
Dona Norma se culpava pelo o que o filho se tornou, e se culpava pelo
sofrimento que o outro filho passava por causa de como havia agido no
passado. Deu atenções diferentes aos dois e hoje tentava recuperar o tempo
perdido.
Os dois vestiam calças de moletons, Vince, preta e Vitor cinza, e camisetas,
Vince branca, e Vitor preta. Como eu havia suspeitado que usassem roupas
parecidas até para ficar em casa, errei. Ambos usavam as mesmas roupas.
Estilos idênticos.
— Sente-se aí, menino! — seu Henrique diz enquanto colava um tecido no
outro com extremo cuidado para não colar os próprios dedos ou sujar o
carpete com a cola.
Eu não tinha noção do que ele ia fazer, mas quando terminou, entendi.
Aquelas camisetas viraram uma única camiseta tamanho “GGG”. Emendou
uma na outra e com isso a deixou gigante.
— Não vou vestir isso, você está passando dos limites, velho!!! — Vitor
resmunga cruzando os braços quando seu Henrique se aproxima.
— Tire a camiseta. — ele diz e encara Vince. — Os dois! Agora! Estou com
fome, quero tomar café. O quanto antes vocês fizerem isso, mais rápido se
livrarão do castigo. Lara, sente-se no outro sofá, por favor!
Ele diz quando eu saio do colo do Vince e me sento ao seu lado. Sigo para o
sofá da frente e me divirto.
— Vou começar a contar. Quando eu chegar no dez, pegarei a mãe de vocês e
voltarei pra casa. Se for pra guardar rancor, nós também faremos isso,
sairemos daqui magoados, e jamais voltaremos a nos falar. Proibirei Norma
de entrar em contato... e se ela insistir, peço o divórcio. Destruirão nossa
família, é isso o que querem? Um...
Seu Henrique apela e Vince se levanta para tirar a camiseta. Vitor vê o irmão
obedecer e repete o seu gesto na ponta do sofá, já que fez questão de se sentar
há um milhão de quilômetros de distância do irmão, tudo por birra.
E então ficam dois homens idênticos com o mesmíssimo físico bem na minha
frente. Músculos fartos por algum motivo porque pelo menos Vince não fazia
academia nem ferrando, tanquinho top de linha, e o volume que graças a
Deus somente eu parecia notar, afinal, estávamos entre família. Vince eu
sabia, não estava de pau duro, porque quando estava o moletom faltava
rasgar, mas ainda sim, era ‘uma grande montanha’ naquela linda paisagem.
Paisagem dupla. Os dois tinham literalmente o mesmo tamanho de... Deus...
Vitor pesca meu olhar, pisca pra mim de repente parecendo bem humorado, e
eu reviro os olhos. Idiota.
Encaro seu irmão maravilhoso, ele desvia o olhar só para não se deixar levar
no momento errado e volta a se sentar.
— Se aproxime dele. — meu sogro encara Vitor sem paciência. — Vamos,
vamos, vamos!!!
Ele se altera levemente, Vitor se deixar cair pesadamente ao lado do irmão, e
Vince parece se sentir muito desconfortável. Eu odiava ver Vince se sentindo
mal não importava como, então de repente aquilo ficou chato pra mim, e eu
não estava gostando nada, nada. Mas no fundo eu sabia que seu Henrique e
dona Norma só estavam tentando serem os pais que eles precisavam. Eu
achava que faria o mesmo com nossos filhos, se tivéssemos...
— Você tem muito do que se queixar a respeito do passado. Quer que Lara
saia e vocês conversem a respeito depois? — ele questiona ao Vince e o bebê
chorão me encara negando.
— Eu também tenho muito do que me queixar!!! — Vitor protesta e meu
sogro ignora. Porra de cara ciumento até quando não devia.
— Por enquanto vocês vão falar tudo o que um fez para o outro para que
possam desabafar, se desculpar, e passar uma borracha aqui. Não existirá
mais essa palhaçada de gêmeo do mal e gêmeo do bem, só contará o que
farão daqui pra frente. A regra do jogo é discutir a respeito de tudo o que lhes
magoaram, gritar, xingar, e depois deixar tudo isso morrer. Não quero
agressão, não quero que tirem a camisa antes da hora, não quero que ajam
como dois adolescentes, e depois disso não quero nunca mais ver qualquer
um dos dois jogando na cara um do outro algo que aconteceu em mil
novecentos e bolinha. Depois disso veremos o vídeo que a mãe de vocês quer
mostrar.
Seu Henrique diz, os faz vestirem a camiseta para ficarem colados um no
outro, senta na mesa de centro, e encara Vitor.
— Você se sente injustiçado hoje, e eu entendo que Vince anda pegando
pesado. Ganhou o direito de começar. Fale sobre como se sentia, olhando pra
ele.
Meu sogro diz e espera pacientemente.
Ele havia colocado o braço de Vince no pescoço do Vitor e o de Vitor no de
Vince, e de repente a cena voltou a ficar engraçada. Estavam hilários. Os dois
emburrados e abraçados.
— Isso é uma grande bobagem. — Vince começa a falar e Vitor o encara
com olhinhos de cachorrinho acuado que aperta meu coração. Vitor podia ser
o que fosse, mas amava e admirava o irmão. Seus olhos brilhavam ao encarar
o barbudo bravo ao seu lado.
— E por quê? — meu sogro estimula. Espertinho.
— Porque ele não presta e nunca vai prestar. Isso não vai funcionar. Não nos
damos bem e eu aceito isso. Por que vocês não aceitam também? Crescemos,
nosso tempo passou. Já disse que não o queria aqui, eu não o chamei aqui, eu
não quero ficar perto de quem me faz mal e Vitor me faz mal! — Vince
desabafa e seu Henrique balança a cabeça.
— Eu te faço mal? Quem é que me trata como lixo desde quando cheguei?
Você se acha melhor do que eu??? — Vitor levanta a voz extremamente
chateado e encara os pais. Dona Norma já voltava a chorar, tadinha. — Ele
me expulsou assim que chegamos. Por isso inventei que houve um acidente
na sede, ele me expulsou da casa dele.
— Viu como você é? Eu sabia que usaria isso para se fazer de vítima na
frente de todos!!! — Vince vai falando e Tia entra na sala para acompanhar a
cena dramática. — Pedi para que me deixasse em paz, que fosse embora sem
me fazer parecer o vilão porque você sempre faz isso! Você é dissimulado
demais!
— E você é rancoroso!!! Não consegue me perdoar por causa de bobagem!
Você sempre me desprezou, sempre se sentiu melhor que eu.
— Você pegou a garota que eu gostava na minha frente após reunir o colégio
inteiro pra me ver chorar! Me humilhou e eu tive que mudar de escola por
vergonha. Fiquei meses sem querer sair de casa!
— Ela era uma vadia que a escola inteira pegava e ela nem ligava pra você!!!
— Bela justificativa. Não consegue nem reconhecer que me magoou e é
indiferente ao que pra mim, é importante. Onde estava sua lealdade? Que tipo
de irmão faz aquilo? Você foi extremamente maldoso como nunca vi igual
em lugar nenhum. Deveríamos ser unidos, nos proteger, e só o que você fazia
era me pegar pra bulling. Você era um demônio que me fazia de chacota e me
humilhava para o próprio prazer doentio. Quando chegava em casa era o
filhinho da mamãe, o coitadinho que era desprezado por mim. Porque apesar
de ter poucos amigos, eu tinha amigos verdadeiros e você não, eu me divertia
e você não. Era invejoso, meus amigos nunca queriam te ter por perto por
causa da forma como você me tratava, e ainda assim, não aceitava que eu te
desprezava com razão. Você mandava seus amigos me baterem, me zoarem, e
me pregarem peças o tempo todo, e não estou falando de uma vez, eu estou
falando de todo o ensino fundamental com nossos pais ignorando isso e
achando que eu exagerava porque dentro de casa você era um santo!
— Eu era um adolescente idiota com você. Me perdoa por isso!!! Eu me
arrependo demais. Mas não sei se notou, eu continuo um idiota, apenas isso.
Eu era uma criança. Eu era um babaca. Achava que era uma brincadeira, fazia
para me divertir e para me aparecer porque eu era um babaca vazio. Você era
mais inteligente, tinha amigos reais, favorito de todos os professores, o nerd
com as melhores notas, orgulho da mãe e do pai. Eu tinha inveja, eu admirava
você, eu queria ser tão bom quanto você era, eu queria ser seu parceiro e
melhor amigo!!!
— Me agredindo? Me humilhando?
— Eu era um nada, você só olhava pra mim quando eu fazia merda. — Vitor
diz e ri. — Você foi crescendo, se destacando, e eu era o gêmeo que faltava
alguma coisa. O mesmo QI, mas na aula de química com as mesmas questões
minha nota era zero e a tua dez. Medalhas na natação porque sempre foi o
mais rápido, e sabia sobre o que falar porque desde pequeno gostava de ler.
Só que aí você não tinha tempo para me ajudar a melhorar minha braçada,
tirar as minhas dúvidas de química não eram importantes, e nunca me
emprestou um livro, gritava comigo quando eu entrava no teu quarto para
pegar emprestado porque eu queria ler o que você estava lendo, queria saber
o porquê você tinha amado tanto aquela história. Você deixou de ser meu
irmão porque estava ocupado demais sendo o rei de todos os lugares por onde
passava, gostava daquilo, gostava de holofotes.
— Você fez da minha juventude um inferno porque eu era inteligente e você
era péssimo em tudo o que colocava a mão. Só o que fazia bem era ludibriar,
trapacear, iludir, agredir, e roubar. Porque era isso o que você queria o tempo
todo, roubar a minha vida.
— Eu só queria ser teu irmão.
— Mentira!!! — nessa altura um já havia se afastado do outro para se encarar
e a camiseta estava prestes a rasgar. Vince estava péssimo e negava o que o
irmão dizia com plena convicção. — Tu continua com essa mania de me
foder de graça até hoje, Vitor. E pra economizar latim nem vou citar seu beijo
em Nanda, Lara, ou em minhas namoradas da faculdade. Porque até nisso
você foi capaz de se sujar comigo. Entrar pra USP na mesma época, no
mesmo período, pra se aproximar dos meus amigos, e me fazer de chacota
depois de velho. Nem vou citar as atitudes cuzonas que você teve com
relação a mulheres. Antes a desculpa era porque era criança, agora é por quê?
— Vince questiona e Vitor fica sem reação. — Era por isso que nenhum dos
meus amigos gostava de você, você era um escroto. Ninguém acreditava que
era meu irmão apesar de ser minha cópia porque por mais absurdo que possa
parecer, você tentava de todas as formas me deixar mal o tempo todo, pra
baixo, triste, e não era um rivalzinho de escola, um valentão, era meu irmão.
Dormia no quarto ao lado. Ninguém conseguia entender. Todo mundo dizia
que quando eu não estava por perto você era outra pessoa, seu problema era
quando eu chegava. Não era a minha atenção que você queria, minha
admiração, você-queria-a-minha-vida! Queria meus amigos, a atenção das
mulheres que eu pegava, “mostrar que era o melhor”, mostrar o quão “mais
do que eu” você era. Eu não falhei com você, você tinha de mim o que havia
plantado esses anos todos! Você foi horrível comigo a vida inteira e agora
você, minha mãe, e meu pai querem que eu te perdoe, que eu esqueça, que eu
finja que nada aconteceu, e vocês três... — Vince encara cada um. —
minimizam e menosprezam meus sentimentos de tristeza com relação a isso e
o quanto foi traumático, com a justificativa de que você — ele volta a encarar
o irmão. — era uma criança quando não faz tanto tempo que deixamos a
faculdade e eu me libertei de você decidindo ficar em São Paulo para nunca
mais ter que olhar pra essa sua cara tão igual a minha, mas que de igual, só
tinha o exterior.
Vince fala, expira parecendo cansado e lágrimas grossas escorrem dos olhos
de seu irmão gêmeo aparentemente triste e arrependido.
— Eu quero o seu perdão!
— Se você tivesse alguma dignidade, diria “eu mereço seu perdão”, mas não
pode, não é!? Nunca fez por merecer.
— Por que age como se estivesse cem por cento com a razão? — Vitor
questiona secando os olhos agora com raiva. — Você nunca me tratou bem,
suas namoradas sempre foram umas vadias, Nanda retribuiu o beijo, Lara
quem me confundiu, e ao invés de fazer diferente, você nunca experimentou
mudar o jeito com que lidava comigo!
— Você é o meu irmão, não elas. Você me devia respeito para poder
conquistar o meu respeito. Terminei com todas elas, Nanda morreu, e Lara
teve ótimos motivos para garantir meu perdão com relação ao engano que ela
cometeu. Ela mereceu meu perdão. Consegue sentir a diferença?
— O que eu preciso fazer?
— Conquistar. Não ter a cara de pau de me exigir nada!!! Simples.
— Como é que te conquista se você nunca me deixa chegar perto???
— Vai fazer meia-hora que você está roçando o seu braço no meu. — Vince
diz entredentes com seu semblante sério, Vitor gargalha enquanto chora, e
seu Henrique vira o rosto para segurar o riso que deveria ser alto. Vince era o
melhor. — Está hospedado em minha casa, novamente dormindo no quarto
ao lado, convivendo com a minha família, se tornando sócio da minha
empresa sem eu boicotar seu acesso, porque eu poderia muito bem fazer isso.
E você ainda diz que eu não deixo você se aproximar!!! E além de tudo,
apesar de respeitar profundamente meus pais, aceitei essa cena ridícula para
te ouvir porque eu quis, achei que seria bom ouvir o que você tinha pra dizer
na esperança de que suas justificativas fossem fundadas, mas se eu não
quisesse, nada e nem ninguém teria me forçado a isso. Receptivo eu sou,
sempre fui. Mas ainda assim, tolerância zero para as suas cenas em que
insinua que foi a vítima nessa palhaçada toda.
— Eu nunca disse que era a vítima. Muito pelo contrário. Só disse que você
nunca foi nenhum santo!
— Ok. Eu já disse tudo.
— Eu não! — ele diz e Vince fecha os olhos levemente. — Eu te amo. Você
me ama? — Vitor nos surpreende e eu tapo a boca com a mão. Vince que
parecia forjar um sono de tédio acorda na hora. — Te fiz muito mal, agora eu
tenho consciência disso e como já disse, eu sinto muito mesmo por ter te feito
tanto mal. Só que mesmo tendo ficado magoado com inúmeras coisas além
de hoje, eu sempre amei você, eu só queria ser seu amigo. Sei que nunca vai
acreditar em mim, mas tudo o que eu sei fazer para chamar tua atenção é agir
feito um idiota. E sim, eu sei que isso acontece até hoje. Mas e você? Você
me ama? Ou você me odeia?
CAPÍTULO 7
MINHA RAINHA!
— Assine. — Vitor me entrega seu Ipad e uma espécie de caneta sem ponta
após se trocar pra ir pra empresa.
— Pra que você precisa disso, afinal?
— Pra você não interferir na minha decisão. — ele diz e eu só me pergunto o
porquê que eu faria isso. “Por que será?”
— Não vai mandar a Flávia embora.
— Se for ela a responsável, vou. Você precisa focar nos negócios, não em
laços de amizades. Se fizesse isso desde o início, estaria com o dobro de
caixa. Sem contar que você paga a ela uma pequena fortuna além da conta,
sendo que ela faz metade do que uma recepcionista deve fazer.
— Flávia é mais do que eu preciso e eu estou satisfeito. Ela assumirá o cargo
do Greg em pouco tempo. E eu não vou aumentar o seu retorno, nem se ela
sair. Eu só penso em laços de amizades, mas você só pensa em dinheiro.
— Eu estou tentando arrancar uma sanguessuga do teu pescoço. Pare de ser
tão bobo! Já vi isso acontecer, já estive no teu lugar! E eu não preciso de mais
dinheiro, já tenho muito. Confia em mim!!!
Ele fala, eu faço tipo pensando... e continuo com a cena.
— Não foi a Flávia.
— Eu quem vou dizer.
— Se me trair, mato você. — eu digo e posso ouvir dali meu pai
decepcionado comigo.
— E eu entendo sua desconfiança. Não está acostumado a confiar em mim e
como eu disse, com razão, fiz por merecer. Mas eu vou te provar que sou
outro. Você me perdoou, e eu vou mostrar pra você que você fez a coisa
certa.
— Quero a reunião gravada, quero ouvir depois.
— Faço isso sem problemas.
Ele fala, eu assino “rindo” por dentro, ele estende a mão, eu lhe entrego seu
aparelho e meu crachá e mesmo estando pronto para safar Flávia das garras
dele, me sinto virando as costas para um lobo gigante.
Jaque parece não entender nada e não diz nada. Os dois saem minutos depois
e eu fico tenso.
— Ele não pode fazer nada contra você, não é!? — Lara pergunta.
— Não se assina um contrato sem ler. Com a minha assinatura ali, eu posso
estar falido nesse exato momento.
— Não fale bobagem pra não ficar mais feio ainda quando ele te livrar de um
problema grave como esse. Você vai se sentir culpado por desconfiar dele e
sua cara de paisagem vai durar um século. — minha mãe fala, e eu concordo.
— Saberei lidar ao quebrar a cara, mãe. Ficarei muito feliz por estar errado,
por ver que ele realmente está sendo sincero. Agora com mais uma traição eu
não saberei lidar, então torçam para que ele esteja certo quando diz que
Flávia foi a responsável. Vitor quer se livrar da Flávia para ter o dobro do
lucro na empresa... devia estar planejando isso desde quando viu esses
documentos. — encaro a bonitinha no meu colo e beijo sua testa. — Eu
preciso fazer uma ligação. Já volto, ok!?
— Ok! — ela responde sorrindo e eu vou pro escritório.
Digito o número de seu telefone celular, e ela atende no ato.
— Oi.
— Tô com medo!
— Ah! Mas eu... tô dizendo... fica tranquila, mulher!!!
— Quando virá ao meu encontro quando acontecer?
— Imediatamente. Já disse isso. Escuta, se for ficar insegura não coloque
lenha na fogueira. Não vale a pena, não faça nada. Com você agindo feito
boba, não vai funcionar!
— Desculpa, Vince, eu só estava nervosa!
— Pois não fique! Eu não vou deixar nada te acontecer! Eu prometi, vou
cumprir! Mas vou deixar nas suas mãos. Não quero que faça nada sem se
sentir confortável. Eu só quero saber o que ele vai fazer. Falou com a Vivi?
— Falei. Ela é muito louca, não está nem aí! Está aqui passando batom pra ir
presa! Tá rindo á bessa!
— Lógico, ela confia em mim e você não.
— Não é isso!!!
— Está bem! Preciso desligar, estou de férias. Nos vemos mais tarde!
— Está bem! Beijos! Vince...?
— Oi?
— Não demora! Se eu for... não demora!
— Prometo que não!!!
— Tá. Beijo.
— Beijo!
Respiro fundo impaciente e penso em ligar pra Vivi, a única dos meus
amigos que é chefe-encarregada da logística e produção no térreo, e também
sócia minoritária da empresa. Só ela podia acalmar Flávia. Dali eu não podia
fazer nada. Mas depois penso bem, e não ligo. De repente estava demais
cansado para lidar com aquilo.
Aproveito que estou ali, ligo pra médica, ela fala, fala, fala, mas eu não
entendo nada. Ou pelo menos "nada" tirando a parte que ela tenta me explicar
algo sobre o útero de Lara estar ainda com uma pequena abertura, e propenso
a infecções... Fiquei com cara de interrogação, mas fingi demência. Que
porra era aquela de que transar faria mal???
Após desligar, respondo alguns e-mails relacionados ao casamento, agilizo
alguns pagamentos, e ao navegar pela “área do estudante” da minha
cozinheira, tenho uma grande idéia, bem grande mesmo. Uma ideia que vai
me garantir um lindo sorriso e uma bela foda futuramente.
Preparei um belo presente de formatura antecipada mesmo sabendo que ela
não vai achar o ato nada “belo” no início. A bicha vai ficar puta!
— Posso entrar? — ela entra após bater e eu sorrio. Não conseguia ficar um
minuto longe de mim. Apostava e ganhava que queria saber o que eu estava
fazendo. — Não quero mais essa mulher aqui!
— Não terá!
— Tô falando sério!!!
— Eu sei! — eu digo e ela me encara daquele jeito que faz quando quer rola.
Filha da puta. E eu estava doido pra dar.
— Ela falou de sua despedida de solteiro pra me provocar! Não vai com a
minha cara como eu não vou com a dela.
Ela me abraça quando eu me levanto, e mia daquele jeito...
— Por que não vai com a cara dela?
— Ela não era tão loira pelo computador...
— Toda mulher se arruma quando planeja viajar.
— Ela tá muito arrumada. Quer ficar a cara da Nanda. Acha que na verdade é
de loiras que você gosta.
— Quanta bobagem! — eu dou risada.
— Quantas morenas você pegou na adolescência, ou na época da faculdade?
— Lara, eu não ligo pra isso. Gosto de interior. Não me apaixonei por Nanda
porque o cabelo dela era loiro...
— Mas se apaixonou quando viu meu traseiro naquela sala.
— Você não tem noção do que todas as outras diaristas fizeram até que foram
mandadas embora, uma após a outra... aquele traseiro era meu, por isso logo
me apaixonei... — eu digo e ela ri. — antes disso eu só via traseiros andando
por aqui e isso nunca me apeteceu. Tu me pertencia, vi isso naquele
momento. Meu pau nunca subiu pra nenhuma delas! Só pra ti. Foi coisa de
“traseiro de alma”, amor!!!
— Você consegue ser um babaca até quando não deve... — ela ri.
— Jamais me ofenderia se eu não tivesse fazendo a linha paciente e amoroso
como te prometi.
— O que faria comigo? Me mostra... — ela sussurra e agarra meu pescoço.
— Arrancaria alguns tufos da sua nuca, encheria essa cara de tapas cada vez
mais fortes, te faria ajoelhar...
— Me mostra, Vince. Por favor!!!
— ...mas eu não sou mais assim.
— Você não me quer mais.
— Quero e quero muito, mas te tratarei com carinho. Não te tratarei como
uma vadia, não posso mais fazer isso. Não saberei separar uma coisa da
outra.
— Tenta. Tenta me dar um pouco dos dois!!! — ela parece implorar e eu me
sinto satisfeito. Muito satisfeito... — Você vive me dizendo que não tem
cabimento ter que implorar por algo que já é teu, e você é meu, então...
tenta!!!
— Está implorando?
— É isso o que quer? Que eu implore?
Ela pergunta, eu cravo minhas mãos na sua nuca, ela geme, e meu pau lateja
com seu gemido.
— Sim, sua vadia! Eu quero que implore! Eu te darei um tipo de Vicente. O
real ou o que é uma mentira. Qual você quer? Escolha apenas um! Me
afrontou na frente dos seus pais, tirou minha autoridade como teu homem, eu
saí de lá sem você... você fica o tempo todo criticando o meu jeito mandão, o
meu jeito de te tratar, mas quando eu paro reclama, quando eu fico carinhoso
sente falta. Você quer quando lhe convém, Lara. Não me aceita do jeito que
eu sou, mas aceitava no começo. Conseguiu me enfeitiçar e agora quer mudar
tudo! Você terá um ou outro, e sem reclamar!
— Tem que dar pra equilibrar...
— E o que eu quero? Quando eu vou ter?
— Já vai acabar, Vince, tenha um pouco de paciência, foi o médico que...
— Não estou falando dessa hemorragia eterna, filha da puta!!! Estou falando
dos meus interesses! Porque até onde pude notar, os meus interesses não
importam pra você!
— Importam sim!
— Você nem sequer consegue me obedecer!
— Quer uma cadela que pegue o graveto e traga na sua mão!
— Sim!
— Por quê???
— Porque é isso o que você é! — faço-a encostar na porta fechada do
escritório e sussurro.
— É pelas roupas que eu uso?
— Continuaria uma cadela vestida de freira! — eu falo e seus olhos enchem
de lágrimas. — Ah! Faça-me o favor!!! O que você quer de mim?
— Quero que me ame!
— Mas eu te amo!!!
— Falando desse jeito!?
— Eu sempre falei desse jeito, porra! Quando eu parei tu reclamou, acabei de
voltar a te tratar como antes, só por um momento e você chora!? Por que está
tão sensível???
— Eu sou sua cadela, ou sou uma cadela? Sou uma puta, ou tua puta? — ela
diz se virando, espalma as mãos na porta, e balança o traseiro bem no meu
pau. Nessa mesma hora eu vejo estrelas só por senti-la.
— Às vezes eu acho que é minha e às vezes eu acho que é de quem chegar e
tiver sorte. Quem te pegar em um bom dia... puta é puta, não tem endereço
fixo!
— Verdade. — ela se vira com raiva e me olha nos olhos. — Talvez eu passe
mais tarde no quarto do gêmeo do mal. Se ele for tão agressivo quanto você
na cama... — ela começa e ganha o bendito tapa estalado na face.
Descarreguei toda a minha tensão ali.
— Repita! Repita se tiver coragem! Não sabe brincar?
— Não! — ela resmunga mordendo meu lábio inferior e colocando minha
mão em tua outra face.
— Pois aprenda, vadia!!! — eu fico tenso e ela passa a respirar afoita como
eu.
— Me fode... agora! Eu imploro, me ajoelho se quiser...
— Quero a boceta, tu sabe disso! Tu demora pra sentir pra sentir prazer por
trás, fica dolorido, fica escandalosa... na bocetinha eu entro com você se
contorcendo, piscando, deixando sair aquela devassa que acaba com a minha
vida!!! — eu murmuro e ela ri. — Quando é que essa porra vai parar??? Vou
ligar pra doutora de novo, tem que ter um jeito, não pode ser tão grave assim.
Não aguento mais.
— E na banheira...?
— Quem disse que o problema é o sangue? Não me importo! Te pego de
qualquer jeito. Quero saber o porquê é proibido! Já transamos com você
‘naqueles dias’, quero saber o porquê agora não é recomendável! Eu liguei
pra doutora assim que entrei, parece que pode te fazer mal... alguma infecção
ou algo do tipo. Seu útero não está bem recuperado!
— Mas você não quer de nenhum jeito. O que eu vou fazer???
— Eu nunca disse que eu não quero. Vamos ter paciência. Quero que você
também curta o momento ao máximo, quero que aproveite. Quem sabe hoje
após o jantar, a gente não namora um pouco? Cuidarei desse traseiro com
muito carinho. Agora estou cansado... não sei o que está havendo, estou me
sentindo muito fraco.
— Vamos subir e deitar um pouco. A Tia está aí. Vou ficar contigo.
— Não vai pra faculdade?
— Não, posso repor a aula depois, mas não posso deixar de cuidar de você.
Resolveu alguma coisa do casamento? Quando viajamos?
— Creio que em poucos dias! Prometo.
— Sabe que por mim poderia ser aqui, não é!?
— Eu sei bem disso! — eu sorrio e ela me puxa para fora do escritório.
Subo pro quarto me sentindo cansado, me jogo na cama, e a pequenininha se
achega até encostar o bumbum em mim. Me perco em pensamentos que
incapacitam totalmente minha excitação.
— Nunca mais vai voltar ao normal? — ela resmunga e só pelo seu tom de
voz, sei que está chateada de verdade.
— Implore.
— Como?
— Diga que quer que eu volte a te maltratar e a ser como eu era antes porque
é incapaz de viver sem se ajoelhar por mim. Diga que é minha cachorra,
minha puta, e uma vadia não se trata com carinho, não se acostuma com
carinho. Diga que quer seu homem de verdade de volta, e então eu te farei
feliz daquele jeito que você mais gosta.
— Quero carinho também...
— Acabou de me dizer lá embaixo que não quer porra de carinho nenhum
sua maluca bipolar!
— Mas eu quero os dois.
— Então vem cá. — eu trago a chorona pra perto, dou-lhe um beijo na testa e
sorrio. — Terá tudo e qualquer coisa, tudo o que quiser, minha rainha! Vou
parar de brincar assim com você, sei que está triste e sentindo falta do seu
homem. Se recupere que a gente logo mata a saudade! Eu te amo, te darei o
que quiser, não importa o que seja.
— Vince...? — ela sussurra e eu resmungo.
— Oi.
— Seu telefone... não para de tocar.
— Não vou atender, estou muito cansado. Fica quietinha aqui comigo. Tenho
certeza que vou dormir já, já.
— Mas você dormiu a tarde toda, amor.
Ela diz, eu abro os olhos, e posso ver a tarde caindo lá fora. Que porra era
aquela???
— Allana...?
— Já chegou, está na sala com os avós.
— Merda... não sei o que houve, de repente fiquei muito cansado. Cadê o
Vitor?
— Está na delegacia.
— O quê?
— Ele fez a denúncia, só pediu pra te acordar.
— Merda!
— Espera. — ela me para quando eu ameaço me levantar. — Não faz assim.
Ele já está lá há horas, você ganha muito mais esperando ele aqui. Se ele
realmente gravou, ouça o que ele tem pra te mostrar, respire fundo, e não se
deixe levar. Estude o caso sem surtar, e depois veja o que vai fazer. Com
calma, com paciência, e sabedoria pra não fazer merda.
— Quem foi que ele denunciou? Fala de uma vez.
— Uma tal de Vivi, nunca ouvi falar. Ela cuida de lá do depósito né? Você
nunca me apresentou. — ela diz e eu sinto meu coração se encher.
— Sim. Ela trabalha lá em baixo!
— Tomei a liberdade de me intrometer e liguei pro Greg. Ele correu pra lá,
analisou os papéis, e disse que só uma auditoria profissional poderia dar
certeza, mas... ligaram a saída da grana com uma conta de uma prima dela.
Parece que foi mesmo ela. Só com isso ela já teve a voz de prisão decretada.
— Graças a Deus!
— O quê?
— Eu disse graças a Deus. — eu digo me levantando com preguiça. —
Quando eu vi que ele pretendia conferir os relatórios financeiros, decidi fazer
um teste. Vitor poderia ignorar o arrombo nas minhas contas por
supostamente não estar nem aí pra mim, podia culpar a “responsável” e salvar
a empresa, ou poderia colocar a culpa na Flávia para demiti-la porque com a
Flávia fora da empresa, eu não teria outra alternativa a não ser subi-lo de
posição como vice-presidente, e também promover a Vivi. Ele poderia me
deixar ser roubado, ou me ajudar. E ele me ajudou. Quando entrei no
escritório vi que ele estava louco atrás dos relatórios de nosso faturamento
então tive a ideia de testá-lo. Quando saí da tua casa eu passei no escritório,
fiquei o dia todo cuidando do Greg bêbado então passei lá depois, resolvi
algumas pendências que não fiz durante o dia e alterei os relatórios. Acho que
posso confiar nele agora.
Eu explico tudo e ligo pro Vitor no ato em que pego o celular.
— O que é que está acontecendo aí???
— Oi, Vitor! — Vitor me chama pelo nome dele e sei que devia estar na
frente do delegado ou de alguém que jamais poderia saber que trocamos de
lugar. — A Viviane fez um estrago nas minhas contas.
— Ela negou? Se ela negou tem direito de defesa. — eu digo e ele faz
silêncio. — Ela negou, não é!?
— Não. Quer dizer, de início sim, na reunião negou. Achei que a Flávia fosse
a responsável e tal, mas... de algum jeito ela acessou a conta jurídica do
computador do depósito. Ela não deveria ter acesso a isso, mas parece que
EU dei esse acesso há um tempo atrás por causa dos investimentos. Quer um
advogado e falar COMIGO, quer se explicar.
— Isso não faz sentido.
— Quem disse que roubo faz sentido? Tem um ano que ela está fazendo isso.
De duzentos em duzentos, POR MÊS!!! VOCÊ vai investir em segurança
para essa empresa. Vai ampliar, investir em auditoria pesada, e vai
informatizar até a ida ao banheiro desses funcionários. Não importa se são
amigos, sócios, ou qualquer porra de aliado. Isso vai mudar! EU tô perdendo
dinheiro e perdendo mercado “não ligando” pra esse tipo de coisa!
— Eu vou até aí.
— Não vai conseguir nada aqui, você é um mero sócio que não pode levantar
da cama de tanta gripe, esqueceu? Eu só te liguei para te inteirar, estarei em
casa dentro de alguns minutos com o Greg e alguns papéis pra você dar uma
olhada. Abri um processo. Ela vai devolver o dinheiro e responder na justiça.
Fica aí que eu já estou indo.
— O que ela disse? Qual desculpa ela deu?
— Ela só ficava dizendo que ia parar, ia parar porque não era ladra, “nunca
foi uma ladra e nunca precisou fazer isso”. Preciso desligar, nos vemos mais
tarde.
— Ok. Até. — eu murmuro e desligo. Imediatamente encontro uma Lara com
o pior semblante possível e extremamente contrariada. — Não me olha assim.
Eu precisei fazer isso. Tudo isso foi antes dele se desculpar comigo, e mesmo
assim foi bom. Agora eu sei que ele não quer me foder de graça como fez a
vida toda. É a minha mulher, tem que ficar do meu lado. Assim que nos
casarmos a empresa será sua também, será o nosso futuro. E se eu descubro
que ele continua o mau caráter que sempre foi???
— Mas ele pode ficar muito puto com você por isso. Olha o que você fez.
Pode arruinar o momento de paz que vocês vivem agora! E isso não se faz.
Ele está em uma delegacia lutando pelos teus interesses que nada mais é do
que uma pegadinha, uma mentira!
— Eu precisei fazer isso, Lara. Vitor estava louco com a Flávia, atrás desses
documentos. Desconfiei. É meu irmão, se tudo ruir por causa disso, ele não
quer minha cumplicidade tanto quanto diz. Sei que ele foi sincero quando
pediu perdão, mas eu fiz isso antes de tudo acontecer, agora já foi, e foi bom
pra eu ter certeza que Vitor não estava louco para comprar a parte do Greg só
pra me ferrar e sim porque quer ficar próximo a mim. Porque apesar de achar
que o que ele mais tinha era inveja, e vontade de me foder, eu também
pensava que ele só queria se reaproximar. Tive certeza, foi bom!!!
— Você vai contar pra ele, Vince. Vai contar que isso é tudo mentira e que
sua funcionária não é uma ladra!!!
— É óbvio que eu vou contar! Vou esperar ele chegar e vou dizer!
— Ele vai ficar chateado com você.
— Se ficar peço desculpas. Prometo. Agora desmancha essa carinha! — eu
puxo a emburrada pro meu colo e beijo sua boca querendo muito mais do que
só isso. — Por que eu dormi tanto???
— Você ficou muito estressado e emocionado o dia todo, acontece. Que bom
que tirou o dia pra descansar. Ai, Vince, o que... o que está fazendo? — ela
diz quando eu me empolgo com seu seio esquerdo e meto a boca.
— Tirei o dia pra você e dormi muito isso. Estou mamando para me
desculpar. — eu dou risada. — Desculpe! — eu digo e passo para o outro
seio. Era o justo.
— Fico feliz por ter descansado, fiquei contigo o tempo todo, dormi bastante
também. Vou preparar um banho bem gostoso pra você.
— Faça isso. Vá cuidar de mim!
Largo daqueles seios que só serviram para me deixar duro, sorrio quando ela
vira as costas, e esqueço aquele caos por um momento quando uma pirralha
que se achava uma adolescente entra no quarto e me ignora completamente.
— Lara a vovó quer saber se você não vai descer pra jantar? A Tia já colocou
a mesa e está esperando você pra jantar com a gente e ir pra casa!
— Oi, né? — eu falo com ela, e ela faz um bico. — Ainda está brava
comigo?
— Não quero falar com você!
— Por que está falando assim com teu pai? — Lara pergunta e Allana cruza
os braços.
— Porque ele não pode dar as coisas dele para aquela sonsa! Ele ofereceu
nosso carro pra ela dirigir! Ele não pode fazer isso! Quando as pessoas se
casam, as coisas são divididas, ele tinha que te perguntar se você quer dar o
carro pra ela, mas ele te perguntou? Aposto que não!!! E ele ainda briga
comigo, COMIGO, por causa dela!
MERDA. Menina bocuda!!!
— De quem você está falando?
— Da nojenta daquela mulher que tomou café aqui e VOCÊ me fez perguntar
se ela estava bem. Por que eu tenho que saber se ela está bem??? — Allana
reclama com a mão na cintura e o semblante de Lara vai mudando de bom
humor, pra fúria.
— O que aconteceu? — ela pergunta e eu respiro fundo.
— Perguntei se ela queria o carro pra ir pra empresa já que ela está sem, só
enquanto estivéssemos fora. Jaque não tem família aqui. No carro nós
conversávamos sobre carros alugados, o fato de ela estar sozinha, o dinheiro
que ela vai gastar por três meses para se locomover, só fui gentil. Seria bom
se Allana aprendesse a ser gentil também. Ficou se intrometendo no assunto,
chamando minha atenção como se EU fosse o filho dela, e ela não fosse só
uma criança birrenta e muito mal educada! Isso não se faz. Não se deve se
intrometer em uma conversa de adulto.
— Nem se você estiver errado?
— Não começa. Não tente tirar a minha autoridade!
— Então você está certo em sair oferecendo as coisas sem me consultar? Vai
fazer ela se hospedar aqui também?
— Talvez. — eu digo e as duas levantam as sobrancelhas do mesmo jeitinho.
A convivência as fez semelhantes demais... — Talvez eu fizesse qualquer
outra merda. Com isso eu teria que resolver com você depois, ou não. Allana
tem que entender que é minha filha e não o contrário. Vocês duas têm que
entender que esse tipo de coisa a gente resolve no particular, não no café-da-
manhã ou no caminho pra escola e principalmente NÃO na frente dos outros.
— Não importa quantos anos ela tem. Se você está errado, tem que ouvir.
Nesse caso principalmente, ela está certa. Foi mais adulta que você. Você não
pode sair oferecendo as coisas e marcando compromissos sem me consultar,
se fosse eu quem tivesse feito isso, ia ficar puto comigo! — a emburrada
morena reclama, e a emburrada loira concorda com a cabeça. Dou risada com
a cena.
— Vem cá! As duas! Uma de cada lado. — eu bato em minhas próprias
pernas e elas obedecem. — Me desculpem por ter feito planos sem te
consultar. — eu encaro a boadrasta e ela parece concordar, mas não desfaz o
bico. — Você tem razão, eu não devo fazer nada sem te consultar, vou retirar
a oferta e jamais terá que lidar com ela. Eu entendo que se fosse o contrário
eu brigaria com as duas. Não quero que façam planos sem que eu saiba de
jeito nenhum, então também agirei de acordo. Ok? E você! — eu falo com a
pirralha e ela me olha com rancor. — Eu te devo desculpas. Fui muito chato
contigo, não agi corretamente, eu devia ter te dado razão porque você estava
muito correta e foi brilhante no que me disse, a Jaque mesmo concordou
contigo, eu é quem não estava em um bom dia. Eu jamais devo planejar
coisas sem Lara saber, você estava certa. Desculpe seu pai por isso. Eu te
amo muito. Estava nervoso, não quis magoar você, eu só estava estressado e
descontei em você. Teu pai vai passar a te ouvir melhor, te entender, e nunca
mais vai brigar contigo na frente dos outros se você não merecer. Você ter
entrado no colégio sem me dar um beijo e um abraço acabou com meu dia e
eu nunca mais quero passar por isso. Você é a minha vida! Eu te peço perdão
por ter sido tão chato e por estar muito distante ultimamente. Devia ter te
levado pra comprar o pijama mais lindo de todos junto com a Lara. Devia ter
te dado muita atenção. Você me perdoa?
Eu pergunto, ela chora de tristeza e balança a cabeça enquanto esconde a mão
no rosto. As mãozinhas com a unha cortada e pintada de rosa — com certeza
foi elaborada na bendita festinha. — me deixam com o coração espremido e
cheio de amor. Minha pequenininha estava crescendo.
— Meu aniversário está chegando... — ela mia me abraçando e eu sorrio.
— Está mesmo. O que vai querer?
— Não vai poder me dar nada, estará longe daqui...
— Quem disse isso?
— Será a lua-de-mel. Vou ficar sozinha com meus avós e com o tio Vitor.
— E quem disse que eu vou ficar longe da minha filha? Lara quer se casar
com o pai da garota mais linda do mundo. Ela sabe que nossa lua-de-mel será
em família. — eu falo e Lara franze o cenho sorrindo. Não sabia de nada
porque eu tinha acabado de inventar aquilo.
— Vai me levar junto?
— Depois de alguns dias vou pedir pro vovô te colocar no avião. Ficará com
a gente até voltarmos pra casa!
— Por que depois de alguns dias? — ela pergunta e Lara fecha os olhos com
medo do que eu poderia dizer.
— Porque... bom... como eu posso te explicar isso???
— Quando a gente se casa, costumamos tirar um dia para comemorar, e esse
dia não é feito para crianças. Estaremos casados, vamos querer namorar
bastante, ter privacidade, mas será breve. Com o tempo seu pai vai mandar te
buscar, e então teremos dias incríveis somente a três e mais ninguém. Será
inesquecível. — Lara explica ou tenta, e eu me sinto aliviado.
— Você vai voltar de lá com um bebê na barriga? — ela pergunta e Lara fica
péssima.
— Não. Não vou não. — Lara resmunga disfarçando a chateação e sai do
meu colo para se trancar no banheiro.
— Dez dias? — Allana pergunta de repente pra mim.
— Acho que dez dias jamais será o suficiente. Mas vamos falar sobre isso
depois.
— Mas vai demorar?
— Não, filha. Não vai. Agora... por que falou disso com a Lara? De voltar de
lá com um bebê na barriga?
— Ouvi a vovó dizendo que a lua-de-mel era uma boa oportunidade da Lara
ter bebê de novo. Se ela tiver, não vai mais me amar muito, vai me amar
pouco, vai ter que dividir.
— Ninguém no mundo é capaz de te amar pouco, Allana. Lara jamais vai
amar alguém como ama você. Seria o mesmo amor, na mesma medida! A
gente não ama mais um filho do que o outro, isso é impossível. A vovó não
ama mais o tio Vitor do que eu.
— Eu acho que o vovô ama mais você do que o tio Vitor. O vovô acha o tio
Vitor um fanfarrão. É coisa de pai. Você vai amar mais esse bebê do que eu!
— Isso é coisa de afinidade. E a nossa afinidade é maravilhosa e eterna. Você
não acha?
— Acho que sim. Mas porque que não funciona comigo e com a Lara?
— É claro que funciona, tá maluca? Ela é louca por você, sempre foi!!!
— Mas se ela é louca por mim, por que quer tanto outro bebê??? — ela
pergunta com um tom magoado e eu não sei mais o que dizer.
— Filha. Você já é bem grandinha pra entender certas coisas. Toda mulher
quer ser mãe, pelo menos uma boa parte delas. É instintivo. Você não pensa
em um dia ter filhos e cuidar da sua casa? Ter um companheiro como o papai
tem a Lara???
— Eu não!!! — ela diz com nojo e me faz rir. — Eu não quero não!!! Quero
ser empresária como você! Você vai ficar velho, vou cuidar da empresa da
família.
— Nada impede uma mulher de sucesso a ter uma família linda. Lara é a
prova viva disso.
— Mas eu não quero casar! Nunca vou querer!!! Vou cuidar de muitas
empresas! Vou ser muito rica como o tio Vitor e você!
— E ainda assim, não quer um irmão pra te ajudar a cuidar de tudo isso?
— Pai, o meu exemplo é você e o tio Vitor. Ainda acha que eu vou querer um
irmão? Tio Vitor só te fez mal a vida toda. Todas as crianças do mundo
deveriam ter o que eu tenho. Um pai incrível e nada de irmãos!
— Eu fui muito feliz com seu tio. Pelo menos enquanto éramos pequenos. E
nem todo mundo é como ele, filha. Sabia que nós fizemos as pazes? Seu tio
mudou, e com certeza voltará a ser o meu melhor amigo, igual como éramos
quando crianças.
— Pai, se irmão fosse bom, a Tia e a vó Mag, não tinham tido apenas um! —
ela fala, levanta do meu colo, e cruza os braços.
— O Júnior tem irmãos se você quer saber, eles apenas moram fora. E tem
mais... se você ficar falando essas coisas vai magoar a Lara. — eu tento falar
baixo e ela ameaça a chorar como sempre.
— Por que eu tenho sempre que fingir as coisas? Por que não posso falar o
que eu penso???
— Porque não importa o que seja, magoar as pessoas nunca é boa ideia.
Ainda mais se for a Lara que a gente ama tanto e nos ama tanto.
— Mas e você? Você quer um bebê também? — ela pergunta, me encara, e
eu fico em uma confusão interna horrorosa.
— Esquece esse assunto por enquanto, ok? Por agora vamos descer antes que
sua avó pire de tanta fome. Vá até lá e diga que já estamos descendo. Eu vou
tomar um banho, jantar com meus amores e dar uma saída rápida. Logo
voltarei pra te pôr na cama. Vá.
Eu digo, dou-lhe um beijo e um abraço apertado e ela sai limpando as
lágrimas.
Entro no banheiro já aflito e encontro Lara sentada no banco baixinho que a
gente usava de apoio para entrar e sair da banheira. Estava de cabeça baixa, e
com as mãos escondendo a face que eu sabia que devia estar vermelha e
inchada por causa do choro. E não errei.
— O que foi, meu amor?
— Estou terminantemente proibida de ter filhos, não é!? Isso vai ser pra
sempre? Jamais serei mãe? Você não quer, e se eu tiver, Allana vai desprezá-
lo. É assim que vai ser?
Ela me encara com seus olhos inchados e eu sinto um inferno tremendo se
apossar do meu corpo. Eu odiava vê-la mal, triste, doente, ou irritada por
algum motivo. Agora vê-la sofrendo daquele modo tão cru, tão real... porque
eu sabia que esse tema mexia demais com ela, e que ‘aquele aborto
espontâneo’ ainda estava ali, fincado em sua alma assim como na minha... e
Deus... vê-la sofrer tanto fazia eu me sentir um lixo, fazia eu odiar o mundo e
odiar as peças que a vida nos pregava. Eu odiava qualquer pessoa e qualquer
coisa que pudesse machucar aquela garota. Eu odiava qualquer coisa que
pudesse tocá-la sem meu consentimento, podia ser pessoas, situações,
problemas ou até uma gripe. Eu odiava não poder colocá-la numa redoma.
Me odiava por não poder protegê-la! Meu Deus!!!
Eu queria gritar de tanta raiva!
— É isso o que você mais quer? Ser mãe de um filho meu???
— Sim. — ela diz chorando compulsivamente e eu concordo.
— Então você terá isso. Eu te darei um filho meu, tu vai ficar linda com essa
barriga gigante, e eu serei o homem mais feliz do universo quando o
resultado positivo sair. Eu sou teu, completamente teu, e eu vou viver a
minha vida para encher você de filhos se é isso o que você deseja. Por que
não existe nada, Lara, nada que eu queira mais do que fazer de você uma
rainha, a mulher mais realizada da porra desse mundo! Será mãe dos meus
filhos, terá tudo, será dona do melhor restaurante que esse país já viu, e será
extremamente feliz e completa como ninguém. E eu prometo que você será
pra sempre, além de tudo isso, a mulher mais bem comida que esse universo
já viu!!!
Eu falo e a pego no colo. Saio do banheiro, tranco a porta do quarto ainda
com ela atacando meu pescoço e ignoro seu choro emocionado fazendo-a se
debruçar em nossa cama.
Subo seu vestido, coloco a calcinha pro lado para não manchar o carpete de
sangue, pois eu achava que cairia um riacho dali, mas também não pensei
muito nisso. Eu só queria foder aquele traseiro porque era a nossa única
opção.
Posicionei meu pau, forcei com cuidado de início, e fui entrando
acompanhado de seus gritos histéricos. Assim que entrei, parei. Me aproveitei
para chupar e mordiscar a tua bochecha, e quando eu decidi lamber seu
pescoço como um homem das cavernas por “algum motivo”, ela gemeu. Eu
já não estava mais ali. Já não mais controlava o que fazia, eu estava fora de
mim.
— Me fode!
— Implore!!!
— Por favor! Eu imploro! Fode essa porra!!!
Ela diz entredentes e eu passo a meter com força. Meus movimentos eram
duros, sem lubrificante era difícil, mas não impossível. Enquanto eu esfolava
seu traseiro, ela gritava pedindo mais, então tapei sua boca com a mão.
— Não grita, piranha! Dá pra te ouvir lá de baixo! Empina essa bunda pra
mim. Se não parar de gritar, vou te amordaçar!!!
— Faça isso! — ela resmunga por entre gemidos quando eu tiro a mão de sua
boca, e continuo metendo.
— Você quer, não é!? Quer ser judiada, vou me lembrar disso quando abrir
essa boca pra discutir comigo querendo carinho!
— Eu imploro!!! — ela geme, ganha um tapa na cara, volto a tapar sua boca
inteira com a mão e meto mais forte, sem parar pra respirar.
Com o tempo sua entrada vai ficando mais larga e com isso, eu arrebento.
Minhas bolas batem forte no plástico do absorvente protegido pelo tecido da
calcinha grande, e aquilo só me deixa mais maluco. Lara não precisava estar
livre do sangue ou de tanguinha... o meu tesão naquele momento era surreal,
não importava a circunstância atual. Ela era a única mulher que me deixava
assim.
— Não fecha a porra da perna!!! — reclamo, saio de dentro dela de uma vez,
me livro da maldita calcinha e a faço subir na cama.
Aparentemente, digo, visualmente, sua boceta não estava manchada daquele
vermelho vivo que eu esperava ver, mas sim de seu gozo, estava muito
encharcada. Ali eu podia ver os pelinhos que começavam a crescer e seu
líquido escorrendo em excesso e isso me tirou o juízo. Onde estaria aquela
boceta lisinha, quase tão juvenil? Eu não sabia. Em minha frente tinha a porra
de uma mulher deliciosa com a boceta mais carnuda e de “mulherão” que eu
já havia visto. Suguei seu clitóris antes dela protestar, e tomei cuidado para
não descer demais e entrar em contato com o sangue e seu gozo, óbvio que
não por nojo, mas sim por receio de fazer-lhe algum mal por causa do lance
que a doutora falou. Se normal faria mal, eu não a arriscaria em um sexo oral.
Mas não resisti. Abri seus grandes lábios, e chupei sua bolinha inchada até
sua cintura tremer em minha boca. Eu fazia a pontinha da língua vibrar e ela
pirava gemendo loucamente.
— Precisa ver tua cara quando tem orgasmo. — eu falo e a viro de bruços.
— Como eu fico?
— Com uma cara de puta safada, muito gostosa. Dá vontade de te estapear
até você implorar por mais!
— Então vem. — ela resmunga se colocando de quatro e balançando o
traseiro pra mim. Ela pega em uma banda e abre seu bumbum com uma mão.
Eu só nego me perguntando o que aquela garota era capaz de fazer quando
estava subindo pelas paredes. Isso porque eu achei que já tinha visto de tudo
o que ela era capaz. — Me faça ficar com essa cara de novo e bata até dizer
chega!
Ela diz com a voz fina de propósito. Fazia aquela voz quando estava no cio,
como uma cadela. Entro com grosseria, meto forte, estapeio sua bunda e ela
volta a gritar, mas dessa vez eu deixo porque queria muito ouvir.
Cravei as minhas mãos nos seus cabelos, puxei forte, e sentei a vara até
gozar. E vê-la gozar de quatro dessa vez, foi uma cena indescritível. Sem
sustento com o corpo e com pouco equilíbrio, Lara teve um orgasmo de um
jeito surreal, seus gemidos se prenderam dentro de sua garganta, e sua cintura
tremia com os espasmos fortes que a sensação causava. Seu gozo escorria
como um fio de azeite em direção a cama, sua boceta piscava, e sua cintura
parecia convulsionar. Literalmente como uma cadela. Era lindo de se ver.
Travou daquele jeito sem conseguir falar ou gemer por um momento, a
cabeça abaixada, os cabelos escondendo a face e eu só esperei aquilo passar.
Quando ela caiu quase desacordada na cama, eu sorri.
— Boa noite! — eu resmungo, ela não consegue dizer nada pra mim, sorri
levemente e eu desço da cama.
Levo sua calcinha pro banheiro e noto que seu absorvente tinha uma espécie
de filtro daqueles que deixavam o sangue todo concentrado em baixo da fina
camada de tecido descartável. Não estava tão pesado, mas tinha mais do que
eu gostaria. Queria que aquilo acabasse logo, não via a hora de foder aquela
boceta daquele jeito...
Jogo o absorvente no lixo, coloco a calcinha no cesto e ligo a ducha. Tomo
um banho extremamente relaxante como se eu precisasse de mais
relaxamento, e como suspeitei, encontrei a safada quase roncando ao voltar
pro quarto.
— Vai onde? — ela resmunga dez minutos depois quando eu já terminava de
me vestir.
— Resolver um problema, minha ciumenta gostosa!
— Tem algo a ver com ela, carro, ou alguma sócia ladra? — ela pergunta e eu
beijo sua testa levemente.
— Depois conversaremos a respeito do que eu vou fazer...
— Quanto suspense.
— É só meu charme. Descanse. Vou falar pra tua sogra que você vai jantar
depois porque agora você está literalmente fodida e não vai conseguir se
sentar em uma cadeira por um mês. Eu te amo, minha rainha! Você é tudo pra
mim! — eu digo, sorrio ao vê-la adormecer e desço pra sala após pegar as
chaves do carro no criado-mudo.
Assim que coloco meus pés na sala de estar Vitor entra acompanhado por um
Greg bastante tímido.
— Cheguei. Boa noite! Boa noite, mamãe. Tem comida? Coloca comida pra
mim! — ele diz, minha mãe corre atender e ele se joga no sofá.
— E então? Foi mesmo a Viviane?
— Sim. Gravei a reunião. Ela está presa, e será processada. Greg trouxe os
papéis. — ele diz e Greg me oferece uma porção de documentos. Nem olho
em seus olhos. — Será feita uma auditoria, mas nem é necessário, fiz a
denúncia e com sua confissão ela foi detida.
— Você só analisou planilhas de retiradas. — eu sorrio me sentindo feliz e
ele dá de ombros.
— Assinadas por você. Foi consultando meus históricos que descobri um
desvio grande de verba em minha empresa alguns anos atrás. Já passei por
isso, sei como funciona.
— Obrigada! — eu digo e ele inclina levemente a cabeça. — Você poderia
ter responsabilizado Flávia de algum jeito. Procurou a “verdadeira
responsável”, obrigada por isso.
— É difícil acreditar que eu não quero nada de você, não é?
— É. — eu resmungo e ele ri. — Você me deixou feliz e orgulhoso hoje!
— Passei no teste? — ele me encara erguendo a sobrancelha e eu dou risada.
— Passou!
— Não pode tirar ela de lá. O contrato é claro! — ele se levanta e eu ignoro
seu comentário. Abraço-o somente por um momento e ele retribui com
aqueles olhinhos lacrimejantes.
— Continue sendo o gêmeo bonzinho que você ganha mais. Esqueça essa
história.
— Ela não fez isso, não é? Foi você quando me viu louco atrás desses
arquivos... uma atitude filha da puta, irmão!!! — ele sorri parecendo cansado
ao me encarar por um longo momento.
— Fiz antes de você me pedir perdão sinceramente, mas não me arrependo.
Você soube logo de cara?
— Não. — ele ri. — Tô vendo agora olhando pra essa sua carinha toda feliz,
filho da puta desgraçado! Está vendo, né pai!?
— Eu imaginei que seria isso. — meu pai resmunga encarando seu jornal. —
Aqueles números estavam demais gritantes para terem passados
despercebidos ainda mais após sua conferência e assinatura. Pensei: “ou
Vicente está mentindo, ou ele a autorizou. Mas é impossível que ele não
tenha visto. Provavelmente quer saber o que Vitor fará após ter sua tão
esperada parte na empresa. É um bocó. Não confia em ninguém de graça,
mas pelo menos agora confia em você. Por isso eu não o impedi, ele
precisava ter certeza de que você não é mais aquele bostinha! — ele fala e eu
volto a encarar meu gêmeo do mal. Eu acho que vou chamá-lo assim pra
sempre.
— Eu te odeio!!! — ele diz e eu sorrio.
— Não odeia não. Agora vou até lá libertar minha cúmplice. Quer algo da
rua? — pergunto e ele ri.
— Quero que você vá pra...
— Vitor... — minha mãe chega e oferece o prato que ele pediu pra fazer. —
Greg, quer jantar? — ela questiona e ele nega.
— Mãe a Lara está com sono, vai descer mais tarde então se quiser jantar, a
hora é essa. Deixe-a descansar e libere Tia pra ir pra casa. Eu até pretendia
jantar, mas a Vivi já deve estar nervosa, lá. Eu já volto. — eu falo e beijo a
pirralha entretida com o desenho que passava na TV. — E você jante
também, viu? Mãe ela só tem sobremesa se raspar o prato!
— Tudo bem! — ela resmunga comportada e eu me direciono pra porta.
— Não vai mesmo falar comigo? — Greg murmura assim que eu alcanço a
porta. Quando me viro vejo que estava quase me beijando de tão abusado que
foi ao entrar em meu espaço pessoal.
— Oi, Greg. — eu digo simplesmente e saio sem olhar pra trás.
Assim que alcanço a porta do carro, meu celular vibra e pelo barulho leve sei
que é e-mail, e não mensagem.
Estava tudo pronto para partirmos. Em poucos dias eu seria um homem
casado. Oficialmente.
CAPÍTULO 8
SURPRESAS
SAINDO DA ROTINA
— Esse! — ergo a lingerie vermelha da gaveta e ela se vira pra mim. Ainda
estava de roupão, tentava encontrar algo pra vestir fazia meia-hora.
— Achei que você gostava mais de lingerie preta! Pelo menos era o que me
dizia.
— Eu amo. Quase nunca te vejo com vermelha... mas... por que está se
preocupando com isso? Não vai cair na dele, não vamos entrar lá.
— Você já foi? Alguma vez?
— Já. Uma. Há muitos anos atrás.
— Então... como é??? Me conta! Se a gente não vai entrar, me diga como é o
lugar... — Lara se mostra totalmente interessada, eu respiro fundo, e ela até
se senta para me ouvir... eu só queria saber o porquê de todo aquele interesse.
— Se ele estiver falando exatamente do mesmo lugar que já fomos, é uma
balada bem frequentada, tudo muito bonito, caro, e requintado. Tem muita
gente bonita, gente importante, mulheres atraentes, homens de negócios.
Você sabe... o espaço que acontece tudo fica no fim de um corredor isolado.
Você pede sua entrada na mesa, ganha uma pulseira, eles recolhem seus
pertences e aí você entra quando decidir. Ali você entra e sai quando quiser.
Há algumas cabines, variam de tamanho, estilo, design... quando fui escolhi
uma sala com mais casais. Parece muito uma sala comum, privada e social,
com sofás grandes e confortáveis, tudo mal iluminado, uma mesa com
bebidas diversas, comes e bebes... muita gente entra para conversar direto lá.
Às vezes o casal do seu lado está apenas conversando, se beijando, e em
outras, estão transando do seu lado. Tudo é na base da conversa. Às vezes
chegam em você, te convidam, te olham, te paqueram, você escolhe se dá
abertura ou não. Na real é bem tranquilo no primeiro momento...
— Não tem aquele ‘mala’ que fica insistindo, não rola assédio???
— Assédio rola em qualquer lugar, quando é assim você denuncia para a
administração, sai de perto ou muda de sala. Claro que não é bem um lugar
pra uma mulher ir sozinha, eu acho... mas, não é um bicho de sete cabeças.
— Tipo, estaríamos conversando... — Lara pensa em voz alta. Parecia estar
longe... — vendo um cara bem ali fodendo uma mulher deliciosamente... aí
eu fico excitada com aquilo, olho pra você, você me olha...
—... mais alguém te olha, te deseja, eu fico puto...
—... aí eu fico molhada, me sento no teu colo... — ela continua e se senta no
meu colo “para demonstrar”. — coloco tua vara gostosa pra fora, me sento,
cavalgo enquanto recebemos olhares maliciosos, e ninguém nos manda parar
por ser um local indevido. É isso???
— Você quer ir, não é!?
— Só estou curiosa.
— Você quer ir.
— E isso é um problema? Querer experimentar coisas novas?
— Tu quase quis morrer só de saber que o rapaz viu o carro balançar.
Perguntei se essa ideia te agradava e você negou, por que mudou de ideia?
— Não sei, Vince. Relaxa! Se não ficar à vontade, ficaremos do lado de fora
enquanto os três se divertem...
— Podemos sim, nos divertir apenas bebendo, conversando, matando a
saudade de falar sobre nós, sobre como nos conhecemos, fazer planos, ou
apenas nos olhando sem falar uma palavra. Ou eu estou te deixando
entediada?
— Se entrarmos lá, Júnior ganhará trinta mil! Vai comprar seu consultório! É
um bom dinheiro pra ele... — ela diz abrindo o zíper da minha calça.
— Podemos dar um lugar pra ele, de presente, ou trinta mil para que ele fique
em casa e não se meta nessa. Vejo o moleque como uma criança, é muito
novo pra essas coisas. Eu sabia que logo Vitor iria corrompê-lo. Precisava
levar o menino pra um lugar desses?
— Eu quero! Quero ver! Quero participar. — Lara diz decidida e eu não
entendo.
— Quer transar? Podemos fazer isso agora, é só abrir meu zíper!
— Isso é simples. Já fiz isso hoje! — ela sorri e se levanta. Vai até a gaveta e
levanta a lingerie preta. — E eu vou com essa... por que eu sei que você não
gosta de peças vermelhas tanto quanto gosta de pretas, sempre pede pra eu
colocá-las quando a gente sai e eu sei que você só pede quando já planeja
uma foda bem louca! — ela diz, eu balanço a cabeça e me canso. Ameaço
sair, mas ela não deixa. — Eu quero te dar tudo... quero ser o suficiente!
— Você já é, Lara!
— Quero ser mais. Muito mais do que o suficiente!
— Seja aqui. Seja agora. Eu estou aqui.
— Só vamos tentar algo diferente. Gostei da ideia, quero experimentar.
— Você já disse que quer. Quero saber agora, se eu estou sendo suficiente.
— Está e muito! É por isso que eu quero te oferecer muito mais. Quero te
satisfazer de diferentes formas, como nunca antes...
— E eu estou te dizendo que não precisa. Que você já é ótima assim, do
modo clássico. É uma safada bastante discreta e eu amo isso. Assunto
encerrado!
Eu digo e saio antes que a gente discuta por bobagem.
— Mãe? — entro na cozinha e encontro Vitor e Greg comendo, Tia sentada
parecendo jogar conversa fora com ela, e só... — Cadê meu pai? Allana?
— Saíram. Ele quis tirá-la um pouco do quarto, ainda estava chateada. Quer
alguma coisa...?
— Quero comer desse lanche aí também...
— Lara não vai descer?
— Vai, ela acabou de tomar banho, já vai descer. — eu acho. — Cadê o
Júnior, Tia?
— Foi se arrumar. Vê se cuida do meu menino, hein.
— Vou cuidar de ninguém. Quem mandou autorizar???
— Eu cuido, Tia! — Vitor diz e ela o encara zombando.
— Você não cuida nem de você. Aposto que a ideia foi toda tua.
— Ideia do quê? — minha mãe pergunta e Vitor ri.
— Vamos para uma balada... apenas isso. — ele fala e me encara quase
implorando para eu não dizer nada, mas Tia como sempre bocuda...
— Vince me disse que é uma balada onde rola sexo explícito.
— COMO É??? — minha mãe engasga, Vitor lamenta, e eu dou risada
comemorando o esporro e rindo da cara dele. Ela gritou com Vitor até o
momento em que ele entrou no meu carro.
(...)
— Caraca, eu tô muito animado!!! — Júnior resmunga no banco de trás e
Vitor ri.
— O que vocês faziam antes de eu chegar, hein???
— Com certeza coisas completamente diferentes.
— Vince, pare de fingir ser puritano. Se não quisesse ir, tinha ficado em casa!
— Eu não finjo ser puritano, Vitor! Eu apenas cresci. Eu estou indo porque
você quis, você me chamou, e Lara e eu não saímos há bom tempo. É uma
espécie de despedida conjunta. Só que essas coisas não me satisfazem mais.
Você parece um adolescente para escolher “noitadas”, por mim íamos a um
bom restaurante que Lara ainda não frequentou e pronto.
— Gosto de sexo, balada boa e rock androll. Isso não é uma coisa de
adolescente! Todo mundo gosta!
— Eu odeio rock! — Júnior exclama e eu o encaro pelo retrovisor. O que
aquele garoto tinha?
— Você deu alguma droga pra esse menino? — eu questiono e não sei
porquê, mas todo mundo ri. Até Greg que estava em silêncio parecendo se
perguntar o que fazia ali sendo que eu continuava me recusando a falar com
ele.
— Vince, eu estou bem! Estou apenas animado... — ele bate no meu ombro
enquanto eu dirijo e eles riem de novo.
Vejo Lara sorrir tentando se controlar e concluo que eu estava “chato” por
demais. Ela segurava o riso assim quando eu estava com “cara de poucos
amigos”, estressado, ou qualquer coisa do tipo. Mas eu não sabia ao certo o
porquê estava tenso. Talvez fosse porque já tinha ido até aquele lugar, não
quisesse que Lara entrasse lá... não sabia dizer. Mas, o problema não era
aquele problema. Ali, com Vitor fazendo todos rirem o tempo todo, e todo
mundo “me mandando relaxar um pouco” o tempo todo, eu consegui
perceber parte de um problema que até então eu não havia notado. Era raro às
vezes em que eu fazia Lara sorrir daquele jeito. Bom humor não era meu
forte, sorrir demais não era uma característica minha, eu nunca soube contar
piada, odiava forçar simpatia porque até meu maxilar doía, resumindo, eu era
um chato. Mas Vitor não... Vitor era... o meu lado cheio de vida, alegria e
bom humor. Tudo o que eu não tinha.
E com isso, enquanto dirigia, eu não ouvia mais suas brincadeiras e nem a
transformação que ele fazia em Júnior, ou na animada que ele dava em Greg
propositalmente, porque Vitor e todo mundo havia notado que Greg estava
triste por minha causa... não... com isso eu me lembrava agora, da Lara.
Aquela Lara. A garota que precisava colocar a mão na boca pra sorrir porque
não se aguentava, e eu não gostava de vê-la tão radiante enquanto eu só
oferecia minha escuridão. Aquela Lara que amava uma gracinha, uma
piadinha, e me deixar sem graça, porque apesar de odiar ficar rindo feito
bobo, era a única que conseguia tirar o máximo de mim, tipo quase nada.
Aquela Lara era definitivamente a “cara-metade” dele. Não sabia se eles
sabiam, mas, era demais a outra parte que faltava pra ele. Seriam perfeitos
juntos... ela tinha a ousadia que ele sempre amou nas mulheres, e ele tinha a
alegria de viver que ela sempre desejou ver em mim, mas nunca viu...
pareciam ter sido feitos um para o outro.
Agora... será que só eu notei aquilo? Ou todo mundo ali notava isso? Será
que Júnior após dez minutos de papo com Vitor, o encarou e pensou
exatamente nisso? “Meu Deus, Lara errou de irmão... Vitor é a cara
dela...”?Será que pensavam naquilo pelas minhas costas? Será que ela
pensava naquilo? Será que desejava que eu fosse pelo menos um pouco como
ele?
Ao pensar a respeito, não posso controlar a dor no meu coração, mas engulo a
bile e abstraio. Era maluquice a minha, neurose, implicância... mas fazia tanto
sentido, mas tanto sentido, que todo o meu corpo ardia só de pensar.
Doía muito.
Eu a encaro brevemente e continuo tentando focar na estrada.
— Tudo bem? — ela toca minha perna com carinho de repente e eu afirmo
com a cabeça.
— Tudo, claro! — eu resmungo baixinho, ela aperta o seu carinho que
poderia significar muita coisa, mas eu não entendo. A dor por ter pensado
naquilo, não passava.
Uma hora péssima pra ficar deprê!
Respiro pesadamente, volto a escutar uma cantoria no banco de trás, e
estaciono na frente da boate que eu só descobri depois que era realmente a
que eu já tinha estado uma vez.
Lara não me espera sair e desce assim que eu desligo o carro. Vestia um dos
vestidos que ganhara de surpresa em algum momento de nosso
relacionamento, mas nunca havia usado antes. Nunca usou comigo...
Era preto, colado até o meio das coxas, e sem nenhum detalhe, tirando o
gigantesco decote que deixava praticamente todo o seu seio pra fora, e o
tecido fino que evidenciava suas curvas perfeitas demais.
Carregava uma bolsa parecida com uma carteira, havia deixado seus cabelos
cumpridos soltos, pela segunda vez usava um batom vermelho-vibrante, e eu
entendo que o momento pedia aquela produção, estava muito linda... mas
naquele momento só o que eu pensava era no quanto eu a queria em casa,
descabelada, sem maquiagem alguma, com algum de seus vestidos de
“menina-da-roça-muito-sexy” ou apenas minha samba canção ou calcinha e
camiseta.
— Você está bem mesmo? — ela me faz parar enquanto os três mosqueteiros
ignoram a fila e entram de uma vez pela porta da frente da boate badalada.
— Estou.
— Não parece. Quer ir pra casa? Não gosto de te ver desse jeito. Se você não
vai se divertir, pra mim não vale a pena estar aqui.
— Acha que ele combina mais com você do que eu? — eu questiono e vejo
que os três travaram na porta ao notarem nossa ausência.
— Ele quem???
— Não faça a maluca... não menospreze minha inteligência.
— Se está falando do seu irmão, pode acreditar que com certeza, NÃO! —
ela se altera, mas depois respira fundo. — Vince... se eu quisesse um cara
completamente diferente de você, não estava com você. Um bom exemplo é
Júnior. O conheci primeiro, eu o adorei, e você não viu o quanto ele e teu
irmão se deram bem? São farinhas do mesmo saco, bobões, brincalhões,
sorridentes... são dois homens bonitos, sim, mas completamente diferente do
que eu idealizei pra mim. Odiei e me senti nauseada quando cheguei perto do
teu irmão, e quando vi Júnior, o achei lindíssimo, porém, tive certeza
absoluta de que seríamos melhores amigos e apenas isso. Eu jamais ficaria
presa em um relacionamento que eu não me encaixasse... terminaria contigo
se eu tivesse a certeza de que você não é pra mim.
— Hoje pareceu que teve essa certeza. Reclamou de mim e da Allana pra ele.
— Lidar com a Allana está cada vez mais complicado, mas não reclamei
dela, reclamei da situação, eu amo aquela menina. Ela está crescendo, ainda
sente falta da mãe que está estampada nas fotografias, nas histórias que você
e seus pais contam, é normal, ela é órfã. Mas eu a amo! E eu te amo, amo por
completo. Amo seus defeitos e suas qualidades. Vamos nos casar, esse não é
o momento pra você ficar inseguro comigo, porque se está, tem algo errado.
Tem algo que você precisa consertar antes de me fazer a pergunta na frente
do padre ou do juiz, sei lá. Porque eu estou totalmente certa e confiante na
minha decisão, mas se você não está...
— Eu estou!!! Quer dizer... — eu engasgo e ela fica péssima por notar minha
confusão. — é que... você sorri o tempo todo quando está com ele, você...
fica radiante...
— É óbvio, ele é um idiota, só fala bobagem o tempo todo, tem a alma de um
adolescente. Todo mundo que fica perto dele vê isso, até você! E tem mais,
sabe o que é engraçado!? Eu te faço sorrir o tempo inteiro e você pelo jeito
nem nota. Agora eu tive certeza, você nem nota. Só muda quando tem gente
por perto, mas quando está sozinho comigo, sorri com minhas bobagens e
gracinhas o tempo todo. Vince os opostos se atraem e no nosso caso, se
atraem completamente. É você quem eu amo, é você quem eu desejo, e você
insinuar que eu queira, goste ou deva ficar com seu irmão e não com você, é
um tanto quanto nojento e desrespeitoso!!!
— Eu só não quero te ver infeliz. Não gosto do que vejo, não quero mais te
ver esconder o sorriso daquele jeito. Não quero que só descubra depois que se
casou com o gêmeo errado, porque... meu Deus... vocês parecem que são
metades que se desencontraram nessa vida. Allana te deixa magoada o tempo
todo, eu estou fazendo isso agora no meio da rua, em uma hora totalmente
inapropriada e... me odeio por isso. Me odeio por te fazer mal, por te fazer
sofrer e se sentir mal o tempo todo.
Eu digo enfim porque já que comecei com aquilo eu queria terminar. E
também não me sinto cem por cento culpado, eu só toquei no assunto porque
ela questionou, Lara insistiu em querer saber se eu estava bem. Não eu.
Talvez eu tivesse deixado aquilo passar. Se bem que eu achava que minha
cara estava definitivamente carrancuda e isso a incomodou demais. Isso não
ia mudar.
— Eu sou perdidamente apaixonada por você, fissurada por você,
completamente maluca por você. Eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida
como sou agora, só por saber que vamos nos casar e você será oficialmente
meu, totalmente meu. Meu marido! — ela diz e sorri. — Meu sonho, desde a
primeira vez em que eu te vi, foi ter uma vida com você, me casar, te dar
filhos, cuidar de você. Era “meu sonho de princesa”. Eu pedi VOCÊ pra Deus
assim que eu te vi. E isso, Vince, não mudou. Nada me dá mais tesão do que
essa cara amarrada, essa falta de bom humor, esse porte de homão ruim!!! —
ela diz e ri sozinha. — Ok, eu não gosto de te ver triste, e não gosto do seu
descontrole às vezes, quando briga comigo por bobagem, mas eu estranho
quando você está feliz demais ou sorrindo demais, porque eu sei que esse não
é você! Não há nada que eu queira mais do que ter você pra mim. Com filha
rebelde que às vezes me odeia, insegurança, ciúme em excesso, mania de DR
em qualquer lugar e até na frente de balada, drama em modo ‘força total’,
controle, seriedade, formalidade, grosseria, e eu já falei “ciúme bobo em
excesso”? Só que... — ela diz e dessa vez sou eu quem sinto meu coração
falhar. — não dá pra ficar tendo que forçar tudo isso, forçar você a acreditar.
Eu te amo mais do que tudo no mundo, de qualquer jeito e é você quem eu
quero, mas se até o fim da noite, você não ter certeza disso, minha resposta
para seu pedido é não. Não aceito me casar com você se você não consegue
acreditar no meu amor, muito menos se você permanecer pensando que eu
desejo ou que eu combino mais com seu irmão, porque isso é um absurdo e
não faz o menor sentido, portanto faça-me o favor! — ela resmunga e respira
fundo, me beija me olhando nos olhos e pega em minha mão.
— Você acha que eles pensam nisso? Que eles pensam nessa possibilidade
pelas minhas costas?
— Sobre eu “combinar mais com ele”?
— Sim.
— Não. Sinceramente não. Greg sabe o quanto a gente se ama, entende o
quão grande é o nosso amor, mesmo porque eu tenho certeza que ele nunca
pensou que te veria com outra mulher e aqui estou eu. E o Júnior conhece
nossa história melhor do que ninguém, sabe dos nossos problemas, mas
também sabe do quanto a gente lutou para estar juntos. Sabe do quanto você
me ama, te conhece e me conhece muito bem, sabe que somos
completamente apaixonados. E agora seu irmão... vou ser sincera com você,
o lance dele é provocar. Ele não leva nada e nem ninguém a sério, apenas
gosta de se divertir com a minha confusão. Vê que eu ainda estranho o quanto
vocês são demais parecidos. Gosta de me deixar encabulada, zomba de mim,
te alfineta como hoje, mas eu sei, olha pra mim, eu sei quando um homem me
deseja. Eu posso ser uma menina ainda, pra você, mas eu sei que sou bonita,
sei que tenho um belo corpo, e sei que posso provocar um homem só estando
no mesmo ambiente que ele. Vince... o Greg, o Júnior e seu irmão, amam
você e não desejam me comer. Ambos me acham bonita e bem gostosa, mas
nunca, nenhum dos três jamais me olhou com malícia! Greg só está aqui por
você, pra ter seu perdão não sei porquê, porque você não me contou o que
houve então suponho que envolva tua ex. Júnior continua me considerando
sua melhor amiga apesar de eu achar que ele também está aqui por você e não
por mim, já faz um bom tempo que “ele está aqui” — Lara faz um círculo
com o dedo indicando “nossa roda” ou “nossa vida”. — por você e não por
mim, e teu irmão... bom... o tempo vai passar e ele continuará fazendo as
gracinhas dele comigo porque é assim que ele tem sua atenção e ele é desse
jeito desde sempre. Mostre a ele que ele não precisa disso, e seja o amigo que
seu irmão precisa. Nenhum dos três supre sentimentos por mim ou pensam
que eu escolhi o gêmeo errado. Aposto um rim nisso!
— Essa aposta... notou que ele pagou cem mil pra receber trinta de volta?
Isso faz algum sentido pra você?
— O que seu irmão mais preza na vida é encher o seu saco, chamar tua
atenção, e dinheiro! Pensa. Ele sabe o quanto você é possessivo comigo,
supostamente jamais iria me expor a esse tipo de coisa. Ele não acha que vai
perder dinheiro, mas se perder, vai nos ver transando sem você poder falar
nada, o que é a cara dele, e de quebra dar um bom dinheiro pro Júnior. — ela
diz e dá risada. — Naquela semana das massas na faculdade, a Tia chegou e
me encontrou cozinhando. Sabe o que ela me disse? Que o Júnior estava em
um grande dilema, aceitar ou não o chegue gordo que você ofereceu a ele,
por causa das “consultas” que você teve. Sim, ela pegou o cheque, e
depositou na conta dele escondido. Quem conhece o Júnior quer ajudá-lo,
você é a prova disso, a Tia me contou que quem pagou a faculdade dele não
foi ela, foi você! Aposto que eles conversaram, aposto que ele contou do
sonho de abrir o consultório dele, ou você acha que um CEO de uma grande
empresa de INVESTIMENTOS em Nova York vai apostar por uma bobagem
colocando cem mil na banca enquanto seus parceiros dão dez mil e vinte
reais??? E que raio é esse de aposta que se você perder, ao invés de VOCÊ
pagar, ele divide o dinheiro entre eles? Seu irmão sabe que o Júnior é alguém
muito importante pra você, e conquistar Júnior, é ganhar mais um pedaço do
seu coração e de sua confiança! — ela diz e parece tão certa que eu fico bobo.
— Você me parece perspicaz. Cada dia que passa mais espertinha fica.
Aquela garota que ficou de quatro na minha sala não existe mais...
— Está com saudade dela? — ela pergunta e envolve meu pescoço com seus
braços. — Hoje ela pode voltar pro senhor...
— Quero ela em casa, só pra mim, pra ninguém mais.
— Então vamos entrar e curtir uma das últimas noites como namorados que
moram juntos. Quanto mais rápido a gente sair daqui, mais depressa estarei
sobe sua posse, sem essa maquiagem, sem esse cabelo arrumado, sem esse
vestido que mostra tudo o que você não gostaria que vissem, e sem estimular
homem algum.
— Talvez eu mude de ideia. Talvez eu queira que olhem bem pra você.
Porque quando eu colocar essa aliança...
— Nada vai mudar. — ela me interrompe e eu vejo Júnior se aproximando.
— Você é ciumento e ponto. Nem uma aliança no meu dedo vai te deixar
seguro porque você acha que eu poderei esbarrar com alguém “melhor” por
aí, mas é aí que está... você não sabe, ainda, mas vai descobrir que homem
melhor do que você, capaz de te superar... nunca vai existir! Você-é-o-
melhor-e-o-mais-gostoso-que-existe! — ela cola sua boca na minha pra falar
e sorri como se nada tivesse acontecido quando Júnior chega e coloca a mão
na cintura, impaciente.
— Precisam de ajuda??? Vamos logo.
— Chegou o mister animado!
— Eita! Crise de ciúmes??? — ele questiona Lara, ela ri e ele volta a me
encarar. — Pare com o drama! Sabe que eu ainda prefiro você! — ele
murmura e nos faz voltar a andar...
— Não me diga?
— Juro!
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que prefere a mim? — eu pergunto enquanto caminho com uma Lara
extremamente bem humorada ao meu lado. — Meu irmão é bem legal e
divertido. Diferente de mim, tipo bem o oposto, então por que a mim?
— E desde quando a gente pode escolher quem a gente ama? Desde quando
temos controle? É você e pronto. — Júnior resmunga rápido demais
prestando atenção nos carros que chegavam ao estacionamento da calçada e
Lara sorri torto fazendo o círculo com o dedo e me encarando como se
dissesse “Viu?”
Deus.
— O que houve, irmão? — Vitor segura em meu ombro e se aproxima
demais. — Insegurança? Nervosismo pré-nupcial? Vamos beber até sairmos
daqui carregados!!!
Ele invade meu espaço pessoal assim que eu me aproximo da mesa que ele e
Greg haviam escolhidos, estapeia minha face, gargalha, e eu abstraio.
Uma música alta e animada tocava pelos flancos de toda a boate iluminada.
Não estava lotada como eu me lembrava, mas... eu sabia que não estava
porque simplesmente liberavam a fila de fora aos poucos. Vitor e seu
prestígio nos permitiram entrar sem muitos problemas.
— Vamos beber o quê? — Júnior logo pergunta e Greg encara Vitor já
esperando pela pérola.
— Eu escolho sua primeira bebida. — ele diz, faz sinal para uma garçonete
que parecia estar economizando no uniforme e só aguarda. — Como vai,
Maria!?
— Eu vou bem, doutor Vitor... quanto tempo! — ela responde sorridente e
joga as mechas lisas e douradas para trás. Devia ter a idade de Lara, ou um
pouco mais.
— Muito... muito trabalho, mas estou de volta por um tempo... então, eu
quero pro meu amigo aqui, o Leite Cubano... — ele fala com a loira peituda,
mas é para mim que ele olha. —... é daquele jeito, é a primeira vez dele aqui.
Quero aquele toque caprichado de amor que só você sabe fazer!!!
— No que consiste esse toque? — eu questiono e a loira sorri pra mim.
— Mais Leite Moça e Leite de coco que é recomendado, e um jeito diferente
de experimentar o primeiro gole! — ela diz, pisca, Júnior esfrega uma mão na
outra morrendo de empolgação e eu consigo rir daquilo.
A loira sai, Vitor me encara do seu jeito familiar e sorri aquele sorriso que
sempre me oferecia quando ia aprontar. Eu o conhecia melhor do que
ninguém.
— Como é hein, esse jeito? Fala aí!!! — Júnior puxa a cadeira e se debruça
na mesa.
— Relaxa, você vai amar! Não se preocupe!!! — Vitor ri, outro garçom se
aproxima e recolhe nosso pedido enquanto Maria preparava o drinque
especial do Júnior, e também se retira. — Irmão, é como se fosse sua
primeira vez, você também tinha que experimentar a maravilha da Maria!!!
— Não, muito obrigado! — eu não aguento e dou risada do bico que a Lara
faz pra ele. Era bom ela provar daquele veneno, já que o defendia tanto...
— Aqui está. — Maria se aproxima, passa por mim e por Lara para chegar ao
Júnior que estava ao meu lado esquerdo, e eu seguro a respiração. Eu não
tinha a menor ideia do que a mulher ia fazer com o moleque.
Ela se aproxima deixando o rastro de seu perfume de frutas no ar, arrasta a
cadeira dele, se senta no seu colo como se fosse cavalgar nele ali mesmo, e
Júnior parece em transe ao vê-la beber do seu copo. Ela dá um gole, parece
segurar na boca, e depois o beija “como se não houvesse amanhã”.
Um beijo aparentemente calmo, tímido da parte dele no início... mas depois
tudo muda.
O moleque aperta suas mãos no traseiro da vadia, junta seu corpo no teu;
Maria solta o copo em cima da mesa e segura em sua nuca, e o beijo
bonitinho que quase gritava amadorismo barato, vira um beijão de cinema
que jamais pensei que veria fora das telonas. Porque eu não sabia se eu
beijava Lara naquela intensidade, achava que sim, não podia dizer com
clareza simplesmente porque perdia a razão quando a beijava, mas daquele
jeito, naquela intensidade, só presenciei beijos cinematográficos. Se o filho
da puta não mandou colocar amor com algum químico no copo do garoto,
havia rolado essa química entre eles. Estavam completamente entregues e a
brincadeirinha virou coisa séria pouco tempo depois.
Vitor me encarava, Greg parecia um pimentão apesar de anteriormente botar
banca com Vitor insinuando que safadeza era com ele mesmo, e Lara só
sorria e me encarava sem graça.
— Ok. — Júnior dá uma segurada nos ânimos e Maria parece desnorteada,
mas logo se recompõe e sorri maliciosamente, voltando para a personagem
que Vitor contratou. Ambos respiravam com dificuldade e se apoiavam um
no outro para voltarem a si. Nenhum dos dois ainda pareciam perceber que
nós quatro estávamos os encarando.
— É. Você... é muito gostoso, hein! — ela diz e eu lamento muito estar
ouvindo aquilo. — Estou impressionada.
— Você ainda não viu nada, baby... — Júnior resmunga fazendo uma voz de
dublador de filme pornô de propósito e todo mundo ri, até a loira safada. Só
nessa hora percebo que ali, a música não estava tão alta assim, nós quatro os
ouvíamos.
— Entendi. — ela murmura o encarando com bom humor e a troca de olhares
dos dois é inenarrável. Tensão sexual gritante. — Caso você decida ir para
um lugar mais reservado... — ela diz, pega papel e caneta de seu avental de
fetiche e anota seu número. — me envie uma mensagem. Eu estarei lá. — ela
fala, pisca, ele sorri, ela levanta devagar fazendo com que sua barriga
chapada fique na altura de sua boca, e com isso vejo Júnior segurar a
respiração e olhar pro lado como se “não pudesse trair ou não quisesse trair
uma esposa que o esperava em casa”. Seu movimento foi estrategicamente
pensado para excitá-lo e ele sabia disso, havia funcionado.
— Ok. — ele volta a arrumar sua postura na mesa, e encara Vitor. — Quanto
custou esse beijo???
— Eu paguei para que ela desse uma rebolada enquanto passava um gole do
drinque pra sua boca. Isso é o que ela e suas amigas sempre fazem. Não a
paguei para te dar esse beijaço! Elas nem podem beijar clientes! — Vitor diz
e ri. — Aliás, se você tivesse bom senso, saberia que garota de programa não
se beija na boca.
— Ela é puta???
— É!!! — Vitor exclama e Júnior fica claramente desanimado com a
informação. — Esse lugar, aquele corpo, aquela flanelinha, avental, meia
rastão...!? — Vitor declara e Júnior nega.
— Nem toda garçonete é puta! — Júnior resmunga e o garçom ri.
— As daqui são! — ele chega, nos serve, e encara Júnior. — E a maioria é
casada. Se gostarem de você, vão cobrar!
— Tem desconto? Algum cupom promocional? Ticket “pega uma, leva
duas”? — Júnior pergunta e o garçom perde o sorriso no ato.
— Não entendi aonde o senhor quer chegar.
— “Se gostarem de mim, vão cobrar...” Tu é o cafetão???
— N-não.
— Então por que está querendo cuidar da transação???
— Júnior! — Lara “o repreende” e o garoto solta as pedras no chão. O
garçom sai e eu não entendo nada, entendo menos do que antes. — O que deu
em você?
— Ele foi ignorante. Acha que resmungaria desse jeito com mais alguém aqui
que não fosse eu??? Parece que eu não seria capaz de pagar por uma mulher
como ela E NÃO SOU MESMO, — risos altos. — mas ele não sabe disso,
não tinha que chegar me provocando. Só respondi a altura, estava pronto.
— Ele respondeu desse jeito porque gosta dela. — Vitor diz simplesmente e
Júnior revira os olhando matando de uma vez todo o drinque que restara no
copo. — Esse carinha é doido por ela desde sempre.
— Então eu acho que minha noite está só começando!
— Se isso tudo foi por causa de um beijo, sim, sua noite está só começando.
— Greg fala e Vitor ri.
— É, meus amigos! Eu sou a porra de um filho da puta fodido que acabou de
se apaixonar apenas com um beijo de uma quenga!!! Eu só me pergunto
como é que vou lutar com o garçom pela honra dela! — Júnior levanta os
braços pra cima e eu olho pro lado oposto para rir. Idiota.
— Um futuro psicólogo tão renomado não pode se descontrolar assim. — eu
falo e ele me encara com uma cara muito engraçada.
— Parceiro, todo psicólogo precisa de um psicólogo! E hoje eu estou aqui
como um garoto que não transa tem meses, e não como um profissional. Hoje
eu não cuidarei de ninguém a não ser do Murilinho!
Ele fala, Vitor desiste deitando a cabeça na mesa, Lara esconde o rosto com
as mãos, e eu... se passaram trinta minutos desde que ele falou isso e eu
continuava rindo sozinho. Ainda.
— Espera, não. Para! — Vitor chorava de tanto rir. — Eu vou ter que te
perguntar...
— Cale a boca, Vitor! — Greg ri alto e eu apoio a cabeça nas mãos. — Não
fode!
— Não, é sério! Existem bilhares de apelidos maneiros. POR QUE
Murilinho, cara...???
— O porquê é muito particular... — Júnior começa, tento pensar em outra
coisa para não ouvir outra pérola, e Vitor se levanta segundos depois. Vejo
que era Maria quem o chamava acenando diretamente do bar.
Ele levanta, sai, e seu celular brilha fazendo a mesa vibrar junto. Greg se
estica, lê a tela, e ri.
— “Princesa”!!! — ele fala alto apontando pro celular e rimos disso, eu só
não sabia o porquê. — O gêmeo do mal não é mal com todo mundo, ele tem
uma princesa.
— Me dá aqui! Deixa eu atender!!!
— Faz isso não... — Júnior “adverte” e eu nego.
— Não vou zoar, só vou atender como quem não quer nada, ele fez isso
comigo a vida toda, aposto que ela vai nos confundir e vai ficar tudo bem.
— E se ela não te confundir? Tu vai ficar com cara de tacho e ele vai amar
isso! — Greg ri e eu afirmo.
— Me dê! Veremos! — eu falo, o vejo gesticulando com Maria de costas
para a nossa mesa, pego o aparelho da mão dele, e atendo.
— Oi... — eu resmungo.
— Oi... tudo bem? — era brasileira!?!? Bela voz a garota tinha.
— Tudo e você?
— O quê?
— Eu disse tudo e você?
— Ah! Eu tô bem, fiquei um pouco assustada, só nervosa por ter voltado pro
Brasil, mas, eu tô que não me aguento! Tem de tudo naquele hotel que você
me hospedou, até champanhe, estão me tratando como uma rainha! É muito
bom poder retribuir a ajuda que você me deu lá em Nova York, jamais vou
esquecer o que fez por mim. Te atrapalhei? Já está onde combinamos? Estou
a caminho!
— Hum... sim...
— E se não gostarem de mim, Vitor!? E se não acreditarem que somos
namorados? Se descobrirem como nos conhecemos? Não quero te prejudicar,
mas quando me virem jamais vão acreditar que temos alguma coisa. Eu sou...
bom, não sou do teu mundo. E eu... tô com medo dele... dele me ver aqui em
São Paulo, me denunciar pra polícia. Morri de medo de sair do hotel. Vai
cuidar disso, não vai!? Você confia que isso tudo vai dar certo e eu vou voltar
pra Strip com segurança?
— É claro que sim. — eu engasgo. — Não se preocupe com nada. Vou
desligar agora, venha em paz. Nos vemos aqui!
— Tudo bem! Eu... eu... nos falamos depois.
— Até já!
— Até. — ela murmura parecendo entristecida, desliga, e Júnior me
chacoalha.
— Devolve! Devolve!!! — ele ri, eu apago o registro da ligação, mas não
tenho tempo. Assim que coloco o celular no lugar, ele se senta.
— Quem era? — ele questiona e ri.
— Tua princesa. — eu falo e ele trava por um momento, mas foi tão mínimo,
que só eu notei. — Pela primeira vez em trinta anos, me passei por você,
porra!!! — eu comemoro, Júnior, Greg e Lara batem seus copos no meu
quando eu o levanto para simular um brinde e Vitor ri.
— E então? Gostou da voz dela???
— É razoável. — dou de ombros.
— O que ela disse?
— Só ligou para falar da vida de princesa que ela está tendo no hotel em que
você a hospedou. Faz tempo que não pisa no Brasil, a tua princesa! Você é
um verdadeiro príncipe. — eu digo e todos demonstram entusiasmo ao ouvir
aquilo, mas Vitor não se contenta com a informação escassa que passei. Ele
me olha nos olhos e enquanto Greg o chacoalha empolgado eu posso vê-lo
em câmera lenta. Agora ele sabia que eu descobri ou pelo menos descobri
algumas coisas a respeito de sua princesa e que principalmente sabia que ela
já estava no Brasil. E bom... ele estava com medo. E também medo da minha
reação, na verdade ele queria a minha aprovação a respeito dela, o que era
bem confuso.
— Vou ao banheiro... — Lara sussurra no meu ouvido e eu concordo. Ela
passa por nós e eu a sigo com os olhos até que ela some pelo corredor com
letras luminosas indicando o banheiro feminino.
Ignoro a agonia que sinto por soltá-la em meio a tubarões e respiro fundo.
— Minha princesa é uma garota simples.
— Simples quanto?
— Muito simples. Não teve uma vida bonita. Mas... vamos combinar uma
coisa??? Não se preocupe com ela, deixe que eu cuide disso.
— Sou teu irmão, só me preocupo. Quero conhecê-la melhor. — eu falo e ele
nega já chateadinho devido a minha invasão. Ele podia se intrometer no meu
relacionamento com Lara, já eu... não podia descobrir os mistérios que regia
aquela relação.
Concordo com a cabeça, vejo quando ele volta a respirar, chama por Maria,
sinaliza com uma mão segurando o próprio punho, e depois de alguns
minutos ela aparece com as benditas pulseirinhas.
— Já sabem como funciona? — ela pergunta a todos e Vitor já garante que
explicou, por isso ela deixa as pulseiras na mesa, dá outra boa olhada em
Júnior, promete trazer mais uma rodada de drinques que solicitamos e sai.
Naquela altura a pista de dança que se localizava atrás de mim já estava
lotada e eu só soube disso porque segui os olhares e cochichos de Greg e
Vitor.
Sim, estava lotado, e todos dançavam uma musica eletrônica moderninha,
bem legal, mas minha cabeça não registrava nada. Só o que eu pensava era no
papo que eu tive com a tal da princesa foragida. O que será que aquele doido
estava aprontando??? Por que todo aquele mistério? Por que disse que a guria
viria pro jantar de amanhã, sendo que ela já estava na cidade, e estava a
caminho da boate?
— Vou atrás da Lara. — eu aviso ao Júnior e ele nega.
— Ela só foi ao banheiro, ela está bem.
— Que papo é esse? — eu questiono e ele dá de ombros.
— Vamos. — Vitor levanta, me encara e dessa vez não sorri.
— O quê?
— Você tem uma despedida de solteiro para colocar em prática, maninho!
— Está brincando com a minha cara?
— Coloque. — Júnior me estende um das pulseirinhas e eu nego.
— Não vou entrar lá, Lara muito menos, pior ainda sem ela. E muito pior
sem avisá-la. Vou atrás dela, já demorou demais, aliás... — eu resmungo,
ameaço sair, mas Júnior segura em meu pulso com a sua mãozona e aquilo
me deixa irado.
Fito a sua mão em mim e não entendo nada.
— Não vai encontrá-la. Ela foi pra despedida dela e você vai pra sua.
— Me obrigue! — eu o desafio de uma vez, e encaro o gêmeo do mal. —
Cadê minha mulher?
— Só vou dizer quando me seguir.
— Te enfio em uma cabine no meio do caminho e viro filho único.
— Não confia em mim? Falou pro pai que me perdoou, que estávamos bem,
mas era mentira!? Ainda acha que eu queira perder meu tempo te
provocando???
— Armou isso então sim, você ainda quer perder seu tempo me provocando e
me prejudicando.
— Eu disse que ele jamais ia engolir essa. — Greg murmura com bom humor
e eu volto a encarar o filho da puta.
— Quer que eu seja o gêmeo do mal. Então eu serei o gêmeo do mal. — ele
chega perto de mim, rosna, mas não me mete medo. — Coloquei uma pessoa
pra pegar Lara na saída do banheiro e levá-la para outro lugar. Não vai vê-la,
não importa o que faça, não importa o quanto ladre pra mim. Ela está com
alguém de minha confiança, então ou você me segue nessa porra ou nunca
mais vai vê-la! Nem casamento vai ter! Olha aqui, você vai casar, vai se
libertar das amarras daquela depressão e daquele sofrimento em que você
vivia, e essa conquista clama por uma comemoração. Sou seu irmão, eu te
devo isso, eu quero comemorar essa fase na sua vida, e quero te dar uma
despedida de solteiro à altura e eu vou te dar. Antigamente eu precisava fazer
merda pra chamar a tua atenção e estou disposto a continuar fazendo merda.
Você não vai confiar em mim por bem? Eu te farei confiar por mal, do jeito
que eu gosto!!!
— Não trairei Lara. Eu-não-sou-você!
— Você não me vê há anos e ainda acha que eu sou aquele babaca. Olha pra
mim. Você falou com a única mulher que chegou mais perto de ter meu
coração nas mãos. Me viu dar em cima de alguém aqui? Me viu desrespeitá-
la aqui?
— Você a contratou de alguma forma. Não são namorados, acha que eu sou
um idiota???
— Acho. Ou você pensa que eu ia mobilizar uma filha da puta lá dos Estados
Unidos para vir aqui só para dar uma boa impressão para nossos pais e de
quebra gastar com passagens aéreas e tratá-la como uma princesa de graça???
Não somos namorados, mas... ela é minha e é isso o que importa. — ele
murmura só pra eu ouvir.
— Por que ela já está aqui?
— Esqueça a minha mulher e se concentre na tua. Só na tua. Vamos.
— Por que eu devo confiar em você se você não confia em mim??? —
questiono quando ele vira as costas e por isso ele dá meia-volta.
— Não vou ter uma DR com você dentro de uma balada. Depois
conversaremos sobre a Marcella. Vou te contar tudo, eu já ia contar, eu vou
precisar de sua ajuda com o problema dela. Mas agora eu preciso que você
pare com a cena, e venha comigo. E eu não vou pedir de novo.
— Grande modo de conquistar confiança... ameaçando... — eu resmungo e
ele ri. E só porque ele riu, me sinto cansado e dou risada junto.
Lara vai me matar.
— Você é muito chato, cara. Como consegue?
— “Se não vir comigo, nunca mais vai vê-la...” — tento fazer com que sua
voz pareça mongolóide e ele ri.
— Sempre fui teatral, sabe disso...
— E como eu sei.
Eu afirmo com toda a certeza do mundo e caminho em direção ao corredor da
putaria. No resumo o espaço era nada mais nada menos que um enorme
corredor escuro decorado com lustres gigantes de cristais que forneciam
pequenos pontos de luzes esbranquiçadas e fracas demais. E como em um
corredor de uma residência, ali ao invés de portas, haviam cabines cobertas
por cortinas pesadas de veludo vermelho. Era bem bonito, mas demais
obsceno, principalmente a decoração do interior de cada cabine.
Sala arredondada toda em espelho, sofá com o mesmo tecido da cortina,
confortável e grande, quase colonial, uma mesa no centro com balde de gelo,
bebidas, e drinques prontos, e uma iluminação também muito escassa. “O
lugar ideal” para sentar, tomar um drinque, bater papo, e sentar o pau se o
clima esquentar. Tudo ali, naquele sofá.
— Ok. Estamos aqui. — eu resmungo e Vitor me olha torto.
Os três logo avançam nas bebidas da mesa, eu me sento pesadamente no sofá,
e só penso na criatura. Onde ela estaria? Será que Vitor também quis fazer o
cunhado bonzinho e a levou para uma despedida sozinha? Eu ia dar tanto
murro na cara dele se fosse isso!!! Naquele momento eu só orava para que ele
pelo menos tivesse tido o bom senso de levá-la pra casa, pelo menos isso.
— Me conta onde ela está. Diz que não a colocou em uma sala dessas cheia
de machos. Eu imploro se quiser.
Eu falo e ele ergue a sobrancelha.
— Você acha que ela me deixaria fazer algo desse tipo? Por que a trata como
se fosse de cristal? Lara sabe se defender é durona, bocuda, sabe se virar.
Jamais me deixaria prejudicá-la ou enganá-la de algum jeito. Ela não é uma
bobinha ingênua. — ele diz, me oferece uma dose de conhaque e se senta ao
meu lado.
— Eu sei. Mas minha preocupação não é a reação dela, Lara é fiel. Vitor...
você realmente nunca amou mulher alguma??? — eu questiono, vejo quando
Greg e Júnior se sentam e começam a conversar sobre alguma coisa, e eu
volto minha atenção para ele.
Vitor estava sentado como eu, com as pernas afastadas, e com o copo
repousado na coxa direita.
Fitava a cortina que afastamos para entrar e parecia refletir.
— Por que a pergunta?
— Curiosidade. Gostaria de saber. Você me questionou dando a entender que
me preocupar com Lara, era bobagem. Por mais que ela seja durona e forte,
eu entendo que sempre vou me preocupar com seu bem estar, sempre vou
temer que se machuque. Mas, pra você pareceu bobagem. Nunca se
apaixonou a ponto de fazer bobagem? A ponto de passar dos limites às
vezes? Ficar com ciúmes por pouca coisa, ficar com o coração espremido por
vê-la sei lá, ir a algum lugar qualquer sem você para acompanhar, cuidar,
zelar? Talvez temer que alguém a machuque, a magoe, sentir dor ao vê-la
chorar??? Essas coisas...? — eu questiono e ele sorri.
— Não. — ele murmura me olhando nos olhos com bom humor. — Até
entrar em uma boate burlesca em Nova York e ver uma guria com carinha de
anjo, corpo de deusa, e olhar triste parecendo pedir ajuda apesar de toda aura
extremamente sexy. Mas aí, de tão fodido que sou, fugi para não acabar mais
fodido do que já era, e não acabar com a vida dela. Até que meus pais me
vêm com o papo de que vão continuar me amando se eu for gay, e que nada
mudará, que só querem me ver feliz como o meu irmão está, e eu decido
contratar uma bela moça com cara de anjo para fazer o serviço sujo de tirar a
ideia deles de que eu sou gay, porque nunca adiantava falar. Eles já estavam
começando a puxar assuntos temáticos achando que assim eu poderia me
abrir. E nem se eu fosse gay ia curtir RuPaul’sDragRace, porque eu tenho
certeza que tirando a purpurina que aquele anjo usa no corpo para rebolar em
um palco badalado, eu jamais curti brilho em nada. — ele fala, sorri
entristecido, e eu me sinto feliz por vê-lo confiando em mim, e me contando
aquilo. Podia apostar que ninguém sabia.
— Obrigado por me contar a verdade.
— You'rewelcome.— ele diz “não tem de quê”, pisca pra mim e volta a beber
de seu drinque.
— Você gostou dela, e se afastou para não sofrer. Ela sabe? Que você gosta
dela?
— Não.
— E ela gosta de você?
— Não.
— Vocês já...?
— Algumas vezes. E uma delas foi quando deixei dinheiro no criado-mudo
para ela pagar o hotel e voltei pra casa, como faço com todas. Nem meu
telefone ela tinha. Eu sumi por um tempo. Não posso fazer isso, não posso,
não consigo, e não quero. É uma escolha, não é!? Eu tenho o direito de
decidir não me envolver demais.
— Tem, tem sim, mas então por que a trouxe???
— Pra ela somos amigos e eu gosto de sua companhia. Com ela foi diferente,
eu não desapareci completamente, eu voltei à boate, eu... liguei algumas
vezes, a ajudei com alguns problemas, ficamos próximos. Eu já estava um
bom tempo afastado, decidi ligar, ela topou me ajudar nisso, e bom... essa
história tem curvas demais. Não estamos em um bom lugar para falar disso.
Se um dia você quiser dar uma volta e me ouvir, posso te contar tudo.
— Eu vou adorar! — eu digo e ele sorri concordando. — Mesmo porque
estou muito interessado no assunto. Não vejo a hora de conhecê-la. Não vejo
a hora de te ver feliz e se ela for seu motivo, quero estar presente!!!
— Está passando mal?
— Eu estou falando sério.
— E agora o que eu vou fazer com esse momento de camaradagem e amor
fraterno, se coloquei a Lara em uma sala cheia de macho sarado e pelado
prontos para se esfregarem nela? — ele questiona, me encara esperando eu
ficar puto, e ri.
— Por que você faz essas coisas?
— Porque eu acho que ainda não sei lidar direito com o afeto de ninguém,
fico sem graça quando não sou eu quem está tentando demonstrar, sei lá.
Talvez porque nunca tive, nunca recebi, ou eu não me lembro mais como é
receber carinho assim, não sei bem. — ele fala, bebe outro gole, e sorri. — E
que comece o show!!!
Vitor diz de repente arrumando a postura, uma silhueta adentra o recinto e eu
forço a vista.
Era uma garota. Vestia um macacão de couro e uma máscara que só deixava
seus lábios aparecerem. Ela sorriu, caminhou na direção do Vitor, e parou em
sua frente parecendo esperar para ouvir dele algo como o que achou de sua
roupa, até pose fez, mas Vitor não disse um “a”. A mediu de cima a baixo,
sorriu todo feliz, beijou as costas de sua mão direita em um gesto que eu
jamais diria lhe pertencer, e bateu na própria perna indicando que ali ela
devia se sentar, e a garota sentou.
Uma música um pouco mais alta começou a tocar ali nos excluindo
completamente do lado de fora, e a entrada de Maria e de uma garota
completamente desconhecida pra mim me deixou extremamente nervoso.
Maria seguiu seu caminho até Júnior que havia mudado de lugar e se afastado
de Greg, e a outra garota seguiu seu caminho até onde Greg estava, ambas se
sentando nos seus devidos ‘colos’.
Deus, se Lara entrasse por aquela porta vestida ‘pior’ do que já estava eu teria
um infarto.
Digo isso porque vê-la saindo de dentro de um bolo gigante com uma lingerie
sexy era algo que Vitor faria numa boa e eu ia pirar. Mas não foi bem isso o
que aconteceu.
A filha da puta ‘seguiu o protocolo’ de vir me seduzir em um momento de
sexo grupal com uma roupa bem comum, fora do padrão que aquele
momento “exigia”.
Quando ela entrou só pude vê-la melhor assim que se aproximou e ficou bem
pertinho, mas já a reconheci pelo seu modo de andar. Vestia um vestido
soltinho e pelo modelo parecia ser um dos seus. Simples, no meio das coxas,
e com certeza todo florido, mas isso eu só teria certeza perto da luz.
— Boa noite, doutor. Como vai sua despedida de solteiro?
— Muito melhor agora. — eu falo segurando na barra de seu vestido e
completamente encantado com o seu sorriso enorme. — Posso saber o que
significa isso?
— Teu irmão é criativo e astuto. Combinou comigo de última hora e pediu
uma muda de roupa bem sexy para trazer mais cedo pra cá. Isso aqui foi o
mais sexy que consegui encontrar no armário, pelo menos o mais sexy que
funcionaria com você. Como eu estou?
— A mais linda de todas!
— Sério?
— Muito sério. Mas mesmo tão linda, e tão sexy, você ainda vai levar uma
surra quando chegar em casa, só pelo susto. Estava visualizando você saindo
de dentro de um bolo só de calcinha e sutiã, e bom... isso não ia ser bom pra
vocês dois. — eu falo e ela ri se empoleirando em meu colo.
— Vitor bem que sugeriu isso, mas jamais ousaria fazer algo desse tipo.
Conheço o homem que eu tenho. Aposto que você pirou quando eu sumi e ele
não quis te dizer nada. Deve ter feito um barraco...
— Só um pouco. — dou risada e toco sua face macia. — Vem cá...
Puxo sua nuca para sua boca encontrar a minha e me entrego completamente
como achei que nunca faria, não ali. Jamais queria que ela entrasse ali,
participasse daquilo, mas eu estava tão anestesiado por vê-la bem, vestida de
um jeito simples com sua identidade, — sorrio no meio do beijo. — e
entregue, que não mais dei tanta importância à atual situação. Não me
importava que Vitor, Júnior e Greg transavam ao mesmo tempo naquele breu
daquela sala, ou que os gemidos das três já começavam a se destacar e
sobressair à música paradinha e charmosa. Eu só queria saber dela. Só queria
beijá-la, abraçá-la e curtir os últimos momentos em que na teoria, eu curtia
“uma balada” com minha namorada. Eram nossos últimos momentos sem um
contrato nupcial e eu ia vivê-los intensamente porque assim, eu tinha certeza
que com a cabeça e o coração bastante ocupados, tudo passaria muito
rapidamente e logo estaríamos na Grécia. Celebrando um lindo casamento
entre uma diaba espevitada e um fodido que só renasceu após sua chegada.
— Talvez você... não queira, mas...
Lara começa a murmurar ainda sem fôlego. Ela havia encostado sua
intimidade na minha, meu peito apertava seus seios com meu abraço forte, e
quase que imediatamente eu me encostei no apoio estofado das costas porque
sabia que ela logo começaria a rebolar pra mim e eu só queria relaxar e curtir
a sensação enquanto chupava sua língua e a beijava com vontade e extremo
tesão.
Era simplesmente delicioso estar ali com ela sem pensar em nada que não
fosse naquele corpo colado ao meu, e na vontade que eu tava de fazer amor
até de manhã.
— Eu sei o que você quer, também conheço a mulher que tenho... coloque
essa calcinha pro lado, vai. — eu sussurro em sua boca, a adrenalina toma
conta de mim, ela eleva seu corpo apenas se apoiando nos joelhos, eu
posiciono meu membro endurecido após libertá-lo, e ela desce gemendo
baixinho daquele jeito que me mata. — Rebola pra mim!
Eu peço, ela rebola, me faz flutuar, e não para. Perto de gozar eu a faço parar
um pouco, por isso ela ri. Aquela intimidade molhadinha, apertada e quente
era algo de outro mundo, claro que eu ia gozar rápido.
— Não me faça parar!!!
— Não quero gozar agora. Sabe como fico quando você faz isso.
— Sabe o que estava pensando? — ela diz voltando a rebolar como se não
tivesse me escutado. — Quero nosso casamento como falei, á luz do dia,
naquelas ilhas magníficas, mas quero fazer uma sessão de fotos de rainha.
Dentro de um castelo lindo!!!
— Existem alguns maravilhosos na Inglaterra, Suécia, Noruega, Dinamarca...
é só escolher! — eu resmungo faço-a deitar no sofá no meu lado esquerdo e
beijo sua boca enquanto me encarrego de voltar a me encaixar.
— Vai tirar fotos comigo? Como meu rei?
— Farei o que quiser, quando e onde quiser. Não prometi te dar tudo!? É só
me dizer, o que mais você deseja? Me diga e eu te darei. Eu te darei o
mundo!!!
— Bom... — ela diz e suspira quando eu começo a foder sua boceta molhada.
—... isso é muito bom. Por enquanto pode me foder aqui enquanto eu penso
em mais algum sonho que sempre desejei e que você pode realizar. Se você
soubesse o quanto sonhei. Se soubesse o quanto desejei um homem que me
desse o mundo, que me enchesse de amor, e que me fizesse tão feliz. Você é
um sonho realizado, vida! É o homem que eu sempre sonhei pra mim.
Gostoso, me dá o mundo, fode direito, e me satisfaz completamente. Não
vejo a hora de termos um só sobrenome.
— Jamais pensei que mudasse de ideia. Agora só falta me dizer que jamais
voltará para aquelas faxinas e eu serei o homem mais feliz do mundo!!!
— Não voltarei a fazer faxina a não ser na nossa própria casa. — ela garante,
eu arfo me sentindo realizado, e meto forte até chegar ao auge. Quanto mais
eu metia, mais ela gritava, e mais seus gritos tomavam conta de todo o lugar.
Sempre fora escandalosa e ali não ia ser diferente.
Tapo sua boca com a mão, meto forte estapeando sua bunda com grosseria e
sinto sua língua tocar a minha mão. Sempre fazia aquilo.
Sinto quando seu momento chega, faço-a se ajoelhar sem esperar que seus
espasmos acabem e ela mama tudo como uma boa vadia para não sair dali
com meu líquido escorrendo pelas pernas.
Boquinha macia. Uma delícia.
— Agora só tem uma coisa. Acho que eu também mereço um sacrifício de
você. — ela diz quando eu fecho meu zíper e a faço subir em meu colo.
Tentava me recompor enquanto ela assim como eu, respirava com
dificuldade.
— E o que quer? Hein? — eu digo e ela me faz chupar seu dedo acreditava
eu que só para mostrar o quanto estava molhada por culpa mim. Aguardo
acarinhando sua boceta com o polegar e escuto seu desabafo chupando tudo
até senti-la mais sequinha do que estava antes.
— Quero que jamais desconfie do amor que eu sinto. Jamais volte a cogitar a
possibilidade de me ver com teu irmão por qualquer motivo que seja. Quero
que acredite que jamais me senti atraída por ele, jamais pensei em abrir mão
de você e ‘trocar de pretendente’. É você quem eu amo, é seu jeito maluco
que me conquistou, e pensar naquilo é uma enorme falta de respeito. É com
você que eu vou me casar, é você quem eu amo, e isso nunca vai mudar. Não
quero nunca mais que desconfie de mim e nem da minha fidelidade.
Ela diz, eu sorrio, concordo no ato e ganho um beijo apaixonado.
— Adoro essa boca com meu gosto. Amor, boceta, conhaque, e teu próprio
gosto de macho delicioso. Melhor combinação. — ela fala, eu dou risada, e
de quebra volto a ‘bater uma’ pra ela, só para tirar seu juízo. — Pensou no
que disse? Acredita em mim ou vou ter que adiar esse casamento até você
entender?
— Não diz isso nem de brincadeira. Acredito em ti. Me desculpe, aquilo
jamais voltará a se repetir, jamais desconfiarei e ficarei inseguro. Sei que me
ama, senão não estaria comigo!
— Isso... menino esperto! — ela resmunga se esfregando, mas para assim que
sentimos uma aproximação.
— Minha cunhada exótica está vestida?
Vitor se aproxima, fala em voz alta e sorri apertando o sensor para aumentar
a claridade da luz.
— Droga, ela está!!! — ele zomba, me forço a ignorar, e Lara passa a fazer
carinho em mim como se dissesse “segura a onda, ele só quer te irritar...”
Júnior estava com Maria em seu colo aos beijos, e Greg por incrível que
pareça: bebendo sozinho.
— Bom, eu lhes apresento, a princesa que você queria tanto conhecer. —
Vitor diz e a garota bonita em seu colo sorri para mim e para Lara. Parecia
preguiçosa com sua carinha de cansada, cabelo bagunçado e extremamente
feliz. — Marcella, esses são meu irmão, Vicente e minha cunhada favorita,
Lara!
— Prazer! — Lara e eu dissemos ao mesmo tempo e ela assente com seu
rosto grudado na testa dele, toda carinhosa.
— Foi com você que eu falei no telefone, não é!?
— Foi. Sinto muito.
— Eu que sinto! Isso não foi legal. Mas como eu descobri que Vitor fez isso
com a Lara antes de chegar, e também durante a sua vida toda, está perdoado.
— ela diz com bom humor e eu concordo agradecendo.
A garota era bem bonita, lábios grandes, tinha os cabelos castanhos abaixo
dos seios e um corpo legal. Combinava perfeitamente com ele. A sua
semelhança com Lara não me deixou confuso, imaginei que até nisso nossos
gostos seriam parecidos e por isso abstraí.
— Vamos sair daqui? Não sei porque, mas estou faminto!!! — Vitor diz e
Marcella o encara com bom humor. Não ficou sem graça com o que ele disse,
apenas riu e deu corda batendo de leve em seu peito e levantando do seu
colo.
— O que foi, Greg? Terminou rápido... — Vitor zomba enquanto agarra sua
‘princesa’ e ele dá de ombros.
— Pra quê enrolar? Quanto pagou pra ela aparecer aqui?
— Muito mais do que o valor de mercado, por isso eu espero que você esteja
feliz. — Vitor diz depositando seu copo na mesa já desorganizada e encara
Júnior. — Ei, psicólogo do amor!!! Vamos ou não?
Ele pergunta, Júnior ri enquanto Maria deposita beijos em seu pescoço, desce
do seu colo e sai da sala arrumando a própria roupa e fazendo uma careta pro
Vitor que soltava piadinhas sem perder a oportunidade.
— Foi bom pra você? — Vitor pergunta quando Júnior se levanta e ambos
riem.
— Foi ótimo, já até marquei o próximo encontro!
— Certo, garanhão! Então vamos!
— Eu vou ficar mais uns minutos por aqui, visitar algumas cabines livres. —
Greg murmura, e ganha a atenção de todos.
— Por quê? — Lara quem pergunta.
— Pra mim a noite ainda não acabou... — ele diz tentando sorrir. Estava
triste, conhecia o filho da puta.
— Chegamos juntos, vamos pra casa juntos. — eu falo e ele nem me olha nos
olhos.
— Eu estou bem, e ficarei bem. Pego um táxi. Não se preocupem. — ele fala
e Lara me encara sentida, Vitor e Júnior também.
— Vitor quer ir a um lugar pra gente comer e conversar. Vamos juntos! — eu
falo e ele nega, queria se afastar. Apostava e ganhava que pensava em Nanda.
— Vamos com a gente. — eu me aproximo e peço quando todos o
cumprimentam e saem. Fico pra trás após indicar a porta para uma Lara
preocupada.
— Não estou mais no clima, na verdade nem estava antes.
— Não comeu a garota, não é? — eu pergunto e ele nega.
— Estou fodido. Jamais encontrarei alguém a altura dela. Jamais será o
suficiente.
— Eu entendo.
— Não. Não entende não. Eu a amava mais do que tudo, até mais do que
você e ela sabia disso. Ela também me amava.
— Agora eu sei disso.
— Me perdoe por te magoar e por falar tanta bobagem quando tudo o que
você queria era cuidar de mim. Já pedi desculpas ao Júnior, eu sinto muito,
Vince! Apesar da rivalidade, nunca te odiei realmente. Achava sim e queria
que Nanda te deixasse pra me assumir, mas gostava da sua amizade e isso se
fortaleceu ainda mais depois que ela se foi. Eu gostava sim, de ser seu amigo.
Você é meu melhor amigo, o único que tenho.
— Está tudo bem, Greg. Eu peço desculpas por ter sido insensível esses
últimos dias, te tratei mal, te tratei com indiferença. Me perdoe.
— Tudo bem, você teve razão. Teve seus motivos para ficar chateado e eu
entendi apesar de ficar muito triste. Mas... eu preciso te dizer... — ele começa
e eu nego.
— Agora não é hora pra isso, e eu já não quero mais deixar Nanda tomar
conta de meus pensamentos. Lara é meu presente e eu a amo mais do que
tudo. Só ela me importa. Nosso passado não significa mais nada pra mim e eu
sinto muito se isso te deixa chateado. Se estar feliz com outra mulher te deixa
chateado.
— Não. Não deixa, muito pelo contrário. Queria muito que você superasse e
fiquei feliz por você, mas eu não vou conseguir, não quero conseguir.
— É. Não querer, muda tudo. É uma pena. Sei que Nanda gostaria que sim.
— A Nanda que eu conheci me mataria se eu me relacionasse com alguém.
Conhecemos Nandas diferentes. Vince... nós nos relacionávamos. Ficamos
juntos mais de uma vez!
— Você já me disse isso...
— Eu disse bêbado. Quero dizer ‘sã’. Nanda nunca foi a mulher que você
idealizou, ela te amava, mas também me amava e se entregava pra mim com
frequência.
— Entendi. O que mais?
— Allana pode ser minha.
— Não, não pode. Aquela operação experimental que fiz nela nos Estados
Unidos quando ela era pequena comprovou nossa ligação consanguínea.
Precisei comprovar a paternidade para doar a medula porque sem isso eu não
teria autorização. Ela é minha filha, Greg!
— Quero eu mesmo ter o direito de fazer um exame e ver com meus próprios
olhos. — ele diz e eu engulo o ódio.
— Eu topo sem problema nenhum, mas por que isso agora? Só agora? Se
sempre teve essa desconfiança, Greg, por que quer saber disso só agora?
Eu questiono e lágrimas espessas escapam de seus olhos.
— Sempre quis, só encontrei coragem agora. Jamais quis tirá-la de você, até
pensei em fazer o teste escondido, mas tive muito medo. Porque se esse
resultado desse positivo eu ia procurar os meus direitos e eu sabia que você
continuava na escuridão, você estava mergulhado no mesmo poço que ela me
deixou e você só estava de pé por causa da pequena. Só que agora eu não
estou mais conseguindo ficar de pé. Já tem alguns dias que eu sonho com ela
constantemente, e aí vem você querendo fazer perguntas que eu jamais quis
responder para não te magoar, e aí veio aquela sensação de facada nas costas
com a chegada do Vitor e a sua permissão da entrada dele como sócio, e
então a sua felicidade em encontrar alguém quando Nanda deveria ser a
única. Eu... fiquei feliz por você estar feliz, mas em contrapartida não
consegui entender o porque a esqueceu. Ela te amava, jamais quis te deixar e
me assumir, e aí aparece você todo feliz e eu me sinto péssimo por não
conseguir essa felicidade. Me perdoe, eu nem sei direito como me senti.
Fiquei uma confusão nesses últimos meses, e voltei á estaca zero. Talvez se
Allana for um pedaço do que restou de nós dois eu... eu continue aqui sem
ela, mas se não me restar nem isso...
— Não pode colocar esse peso em minha filha, eu tenho empatia por tua
tristeza, mas isso é um absurdo!!!
— Eu jamais a machucaria. Jamais me aproximei para não machucar vocês
dois, não confundir a cabecinha dela!!! Eu só queria que essa possibilidade
fosse real, e se for, o que eu acredito muito, pode ser essa minha chance de
continuar, um motivo para seguir. Me perdoe. Eu não tenho nada, mas você
tem. E você tem tudo!!! Me deixa fazer esse teste, me dá uma chance!!!
— Eu vou deixar, vai dar negativo, e você vai ficar pior do que está por causa
da frustração, Greg! Não importa o que houve no passado, fiquei puto, mas
passou. Não desejo teu mal, não desejo te ver triste, não te quero assim. Você
é muito importante pra mim, eu gosto muito de você!
— Se gosta de mim, me dê isso. Se sou importante, me dê esse teste e se der
negativo, jamais vai me ouvir falando disso novamente, eu sumirei da tua
vida.
— Eu deixo você fazer com uma condição. Se não aceitar, só terá isso se
conseguir na justiça, o que significa que eu contratarei os melhores
advogados do país e dificultarei e muito que esse seu desejo se realize. — eu
falo e ele confirma na hora.
— O que você quer? Aceito qualquer coisa.
— Quero que deixe Júnior te acompanhar e te aconselhar durante todo esse
processo, como um amigo e psicólogo. E quero que continue o recebendo
após o resultado, seja ele qual for. Quero que faça acompanhamento
psicológico, pra ontem! É pegar ou largar.
— Pode usar isso contra mim se der positivo e dizer que não tenho condições
psicológicas de ser o pai dela e de conviver com ela.
— Não farei isso, jamais faria algo tão sujo contra você. Eu apenas estou
preocupado. Você está me assustando com esse papo de “um motivo para
continuar” e não negue. Eu estou vendo que você não está bem e acho que a
forma como lhe tratei durante esses últimos dias só agravou isso, desde
aquele quase coma alcoólico que você teve. Quero me retratar contigo, te dar
essa oportunidade e fazer o que estiver ao meu alcance para te ajudar, porque
sou seu amigo. Quero seu bem. Então se aceitar receber ajuda psicológica até
Júnior me garantir que você está legal de novo, eu topo. Júnior me ajudou a
sair do fundo desse poço que Nanda nos colocou e eu tenho certeza que ele
pode te ajudar também. Sim ou não?
— Sim. Eu topo. — ela fala enxugando as lágrimas e eu dou um abraço
apertado nele. Sua dor era a minha antiga dor então eu o entendia.
— Agora vamos. Vamos com a gente comer alguma coisa, ir pra casa... não
precisa ficar aqui sozinho enchendo a cara. Nós estamos bem, vamos
esquecer isso só por essa noite e bater um papo sobre coisas bobas, rir do
Júnior, e falar sobre a vida!
— Você não me quer por perto que eu sei... — ele diz e se nega a me encarar.
— Para de graça, claro que quero. Meu pai tem razão quando diz que eu
preciso aprender a perdoar porque sou um cabeção. Eu sou mais feliz quando
estou bem contigo! Quero que venha com a gente, faço questão. Vitor está
apaixonadinho, preciso de alguém para me ajudar a fazê-lo passar vergonha.
— eu falo e rimos juntos. — Ficar aqui sozinho nesse lugar só vai te deixar
pior. Vamos lá, não terá nenhuma graça sem você! — eu digo, ele me olha
torto e eu dou risada de sua cara pra mim.
— Ok, agora eu vou me afastar de você porque isso foi bem gay. Não pode
me fazer declarações desse nível no escurinho de uma boate. — ele diz e sai
rindo da minha cara, porque claro, fingi ficar puto.
(...)
— E então, o que você faz em Nova York? — Lara questiona a garota um
tanto tímida assim que nós nos sentamos em uma mesa do Outback.
— Bom eu sou... eu... trabalho com...
— Atriz é que você não é, certo gatinha!? — Vitor a encara sorrindo, a garota
ri extremamente sem graça, e todos assim como eu, evitamos rir, mas não deu
muito certo. Vitor é um idiota.
— Pode dizer a real. — ele dá a permissão e ela parece aliviada.
— Eu sou dançarina. Danço em uma boate muito famosa do centro.
— Foi lá que conheceu meu irmão? — eu pergunto e ela sorri o encarando
por um momento.
— Foi. De todas as boates que já frequentou na vida, aquela foi inesquecível,
não é!? — ela brinca com ele e ele ri constrangido.
— Sim! Inesquecível foi apelido! — ele diz e ela dá um selinho carinhoso
nele.
— Aliás, convido a todos para irem um dia! É bem legal!
— Que tipo de dança? Adoro dançar... — Lara diz e Marcella sorri.
— Burlesca! Dança com teatro e comédia... já faz uns cinco anos que estou
trabalhando com isso. É muito divertido. Conheço pessoas do mundo todo
diariamente!
— Tem família lá? — Greg pergunta e ela nega.
— Minha família está toda aqui. Fui tentar a vida lá para mandar dinheiro pra
minha mãe e fugir de uma vida nada legal que eu tinha aqui.
— Sinto muito! — Lara diz e uma sorri para a outra com pesar. — A vida
aqui no Brasil é realmente muito difícil, nos Estados Unidos é outra coisa.
— Você conhece lá?
— Não, mas é um dos lugares que quero conhecer na nossa lua-de-mel! —
Lara diz e me encara sorrindo. — Quero conhecer Orlando, a Disney, mas
meu lance é turismo gastronômico, quero...
— Pronto, e lá vamos nós falar de comida. Essa garota só fala nisso. — Vitor
diz rindo enquanto as duas tagarelavam e começavam uma amizade.
— Falamos nós sobre outra coisa, então... conte-nos como se conheceram. —
Greg diz e Marcella escuta, por isso muda sua atenção de Lara pra ele e fica
mais uma vez sem graça e com muita expectativa.
— Eu entrei na boate, vi a garota mais linda do mundo dançando somente
com plumas cobrindo seu corpo, e me apaixonei perdidamente. — Vitor
“mente”, a garota o encara parecendo saudosa e triste, e eu penso que para
ela, deveria ter sido muito diferente daquilo. Afinal eles se conheceram, Vitor
sumiu, e muita coisa aconteceu depois. Achava que para ela Vitor mentia
para manter o teatro e ela adoraria que aquilo fosse verdade, era uma boba
apaixonada e só ele que não via, ou fingia que não via. Um gostava do outro
e agora fingiam estar juntos quando queriam estar juntos, mas não ficavam
por ele ser um cuzão e por ela ter alguns problemas aqui em São Paulo que
envolviam alguém, e a polícia brasileira. Pelo menos era meu palpite.
— Nunca pensei que veria meu cunhado favorito tão apaixonado. É muito
bonito de se ver. — Lara diz zombando e Vitor a encara por um momento.
— É, o amor é lindo demais! — Júnior solta e recebe olhares de zombaria,
claro. Estava muito louco.
— Estamos todos no mesmo caminho. Gostamos de mulheres humildes,
confusas, ousadas... uma diarista, uma dançarina de boate e uma puta. Somos
os melhores no quesito “escolha quem amar”.
— Algum problema com minha profissão, amor? — Marcella questiona
sorrindo.
— O que? Te ver praticamente nua sendo cobiçada por milhares de
ninfomaníacos desgraçados e safados todos os dias??? Levando cantadas e
sendo assediada? Óbvio que não!
— Ai que bobagem! Você foi um cliente por meses até ter a coragem de
chegar em mim, não é desse jeito que as coisas acontecem, não ficamos perto
do público. Você é ninfomaníaco desgraçado e safado como todos eles, por
acaso???
— Sim!!! — ele assume no ato e todos riem. — Acha que eu entrei lá por
quê???
— Você realmente acha que dançar em uma casa noturna me desvaloriza?
Não seja ridículo!
— Não. Não teria me interessado por ti se eu não tivesse gostado disso ou se
fosse contra. Todo mundo tem direito de escolha e preferências, se fiquei
contigo mesmo assim é porque nunca me importei! Mas você tem que
admitir. São profissões difíceis e humildes, NA MAIORIA DAS VEZES,
digo isso porque a Maria é a puta mais solicitada do pedaço, você é a
dançarina mais talentosa e gostosa daquele lugar, e a Lara... — ele diz e me
encara rindo fingindo estar com receio de falar. — a Lara era a melhor
diarista que meu irmão havia contratado. Lavava, passava, era forno e fogão,
a única capaz de fazê-lo voltar a vida. Realmente são as mulheres mais
amadas do mundo, certo, irmão!? Fala aí... — ele diz e ri.
— Vitor, acho melhor você ficar quieto para não se complicar ainda mais! —
eu digo tentando não rir.
— Falei algo ofensivo? Alguma mentira?
— Não, mas está sendo um tanto inconveniente. — a garota diz e ele passa a
encará-la já deixando seu sorriso morrer. Mesmo ele notando que ela falava
“numa boa”. — Essas três profissões são muito dignas! Cada mulher faz o
que quer com o próprio corpo e trabalha como pode, dá o seu melhor como
pode. Sim, somos as melhores em tudo o que a gente coloca a mão, mas isso
não precisa ser apontado como “especial”, são profissões como qualquer
outra.
— Eu sei disso, foi o que eu acabei de falar, admiro a força da Lara, adoro a
Maria, é uma grande amiga e eu estou com você. Agora se falar disso, de
alguma forma te machuca, o problema está em você e não em mim! O
preconceito está na sua cabecinha e não na minha. Você está aí morrendo de
medo dos meus pais não gostarem de você, mas Lara jamais teve esse tipo de
insegurança porque sempre soube que seu trabalho era muito digno e tinha
muito orgulho. Meus pais a amaram e não viam a hora de experimentar a
comida da nora cozinheira e diarista! Sua cabeça é seu maior inimigo, não eu!
— ele diz, ela tenta dizer que não era bem aquilo, que seu medo não era bem
aquele, mas cala a boca quando ele continua... — Eu te amo! — ele fala e ela
fica em choque. — Mesmo rebolando esse traseiro gigante em uma boate sete
dias por semana! Dizem que a gente não escolhe quem a gente ama, pode até
ser verdade no primeiro momento, mas depois, permanecer é sim, por pura e
simplesmente questão de escolha. E eu escolhi você! Podia ter trago uma
atriz muito melhor para fazer parecer para meus pais e meus amigos que eu
tenho uma namorada super apaixonada por mim, e que somos extremamente
felizes, como foi o que planejei, mas, aí eu escolhi você, uma dançarina de
boate péssima em fazer tipo e mentir tão bem como eu! Sei que pra você até
alguns segundos atrás eu era um amigo com benefícios para quem você
pagava um favor vindo até aqui, e sei que há certo tempo atrás não era bem
isso o que queria comigo. E eu acabei de arruinar meu plano por causa dessa
tua boquinha habilidosa e sem freio, porque todo mundo já notou que nós não
temos porra nenhuma, muito pelo contrário, mas ainda assim, eu escolho
você.
Vitor desabafa, Lara ri emocionada com a mão na boca, Júnior o encara com
admiração, Greg permanece sorrindo fingir doar sua atenção para o molho
barbecue da mesa e eu... bom... ali eu conhecia mais um lado do meu irmão
que jamais pensei que ele tinha.
— Eu não entendi bem se todo esse sermão é bom ou ruim. — ela diz
gaguejando todo mundo dá risada.
— Bom, meus amigos, vamos falar sobre o tempo? — Vitor fica sem graça.
— Se eu entendi bem, ele quis dizer que apesar do esforço dele em ser um
idiota, ele te ama! Não de mentirinha, mas de verdadinha! — Lara brinca e
Marcella ao ouvi-la o encara.
— É verdade isso???
— Sim, minha princesa burlesca! — ele diz rindo e sem rodeios. — O que
foi? Está impressionada? Vamos nos entender hoje, trocar juras de amor, e
trepar até amanhecer do jeito que a gente gosta, e eu serei muito feliz porque
isso quer dizer que meu plano sairá melhor que a encomenda!
Ele fala, sorri pra ela, ela faz uma carinha de boba apaixonada, mas depois
parece acordar de um sonho de repente.
— Eu... preciso ir. — ela se levanta parecendo chateada.
— Por que? Não vai! Tá cedo! Se hospedará em nossa casa, não é!? — Lara
diz, encara Vitor, e ele permanece em silêncio fitando as próprias mãos e
parecendo também chateado.
— Hoje não! Mas obrigada. Estou cansada. Ficarei no hotel por hoje. Nos
vemos amanhã. Tudo bem!? Me desculpe, gente, mas preciso descansar! Foi
um prazer. — ela diz, cumprimenta Vitor com um selinho sentido o
encarando nos olhos, e sai apressada.
— O que foi isso? O que deu nela? — Greg questiona.
— Ela acha que ele mentiu. Acha que Vitor a está iludindo. Combinou com
Vitor de fingir um relacionamento, e quando tudo ruiu, não entendeu o
porquê ele disse o que disse. Muito provavelmente acha que ele está tentando
iludi-la porque Vitor jamais se abriu anteriormente. Talvez pense que é mais
uma cena mais falsa que nota de três reais só para fazer parecer que Vitor
realmente a ama quando na verdade é só mais uma mentira porque eu
suponho, ele nunca se abriu tão facilmente como agora, e para ela seria
impossível isso acontecer. Meu palpite é que ele brincou de falar a verdade
com a ajuda da bebida e isso não colou pra ela!
Júnior traduz com maestria o que aconteceu e Vitor bufa lamentando.
— Vá atrás dela. Faça ela acreditar em você! — eu o aconselho e ele ri.
— Eu menti seu zé mané. Se ela acreditasse que eu quero algo sério, passaria
ao papai mais confiança. Marcella me conhece, viu que eu menti! Por isso
ficou chateada.
— E eu quase caí nessa! Me lembro do que falou sobre relacionamentos.
Você jamais será um bom namorado para ninguém e o que está fazendo com
ela é muito feio! Está iludindo a menina, ela gosta de você. — Lara diz
irritada.
— Deixa de ser boba, ele está mentindo. Júnior está certo falou verdades
brincando e como ela não acreditou, jamais vai assumir! É um bobo inseguro
que tem medo de confiar e se magoar. Não lembra de como eu fui contigo no
início!? — eu questiono e ela me olha torto, ainda estava brava com ele. —
Eles se gostam, apenas ficam se desencontrando. Quando ela descobrir que
tem seu coração nas mãos vai dar uma chave de coxa nele e aí teremos um
casamento memorável, uma lua-de-mel espalhafatosa e burlesca, e filhos
catarrentos que ele nunca saberá se é realmente o pai. — eu digo, rimos
juntos, e ele sai dizendo que estava exausto de mim, mas todo mundo sabia
que na verdade ele ia pegar um táxi correndo pra ir pro hotel da princesa
tristonha.
(...)
— Ei... ainda acordada? — entro no quarto da princesa e a vejo fitando o
nada. Eram duas da manhã e eu só pretendia dar um beijinho e verificar se
estava coberta.
— Não consegui dormir. Estava esperando a Lara chegar pra terminar a
historia da Pollyanna que ela estava lendo pra mim, mas aí lembrei que ela
está de mal de mim.
— E com razão, não é!?
— É. — ela diz simplesmente e volta a fitar o nada, beirando o choro.
— Lara te ama muito, por que você faz essas coisas com ela? Por que é tão
cruel, filha???
— Como eu ia entregar o recado pra ela??? E se ela perguntasse o por que? É
reunião de mães e ela é minha madrasta!
— Ficou com medo de ela te dizer que não iria porque não é tua mãe??? —
eu questiono e ela balança a cabeça. — Como pode ser tão boba!? Convidá-la
pra participar disso faria Lara extremamente feliz! Que bobagem, Allana!!!
— Eu só queria minha mãe aqui! — ela diz caindo no choro.
— Mas ela se foi! Infelizmente ela se foi. Agora você tem a Lara. Não
precisa deixar de amar uma para amar a outra. Você tem sua mãe no coração
e Lara aqui para cuidar de você como sempre tem sido. Mas eu não vou mais
falar disso contigo, já falei tanto! Agora deixa de ser boba e deixe Lara cuidar
de você. Lara faz tudo por você, não sente falta dela quando ela se afasta por
ficar chateada? Como agora?
— Sim.
— Então... pare de tratá-la mal. Sua mãe ama a Lara, não deve estar feliz com
seu comportamento. Peça perdão por tê-la magoado, peça para que ela te leve
na reunião e retribua o carinho que ela te dá. Quando suas amigas
conhecerem a Lara, morrerão de inveja de você, da madrasta linda que você
tem e do amor que você recebe! Sem contar que Lara vai levar o melhor
lanche da tarde que aquela escola já experimentou. — eu falo e dou risada. —
Se realmente não quiser, ok, Lara vai entender, eu vou entender, mas ela vai
ficar muito feliz se você a convidar. Tudo o que ela mais quer é cuidar de
você!
— Tudo bem. Vou convidar!
— Certo. Quer que ela leia o livro pra você dormir? — eu pergunto e ela
balança a cabeça com receio.
— Está bem, vou chamá-la. Boa noite, amor. Durma bem. Eu te amo!
— Também te amo pai! — beijo sua testa, ela seca os olhos úmidos e eu sigo
para o quarto.
Encontro a criatura de calcinha e sutiã na frente do espelho do banheiro e
separando alguns dos produtos pra pele que costumava usar antes de dormir.
— Tua enteada está esperando que alguém leia Pollyanna pra ela. — eu
resmungo abraçando-a e ela no ato já encosta seu bumbum no lugar certo.
— Vou tirar a maquiagem e já vou! — ela sorri me encarando pelo espelho e
eu concordo.
— Maquiagem poderosa, não sai no banho!?
— Não totalmente. É a prova d’água.
— Hum... — murmuro, pego o pedaço de algodão, molho no produto que ela
já havia aberto e sinto meu pau ficar duro no ato quando ela apoia as mãos na
pia de granito e empina o bumbum se esfregando em mim sem pudor algum.
— Agora vamos conversar sobre hoje. — meto a mão esquerda dentro de sua
calcinha e a instigo primeiramente com calmaria. Gostoso, com lentidão. Na
mesma hora ela baixa a bola e toca a nuca em minha clavícula só
aproveitando o momento.
— Jamais voltaremos naquele lugar. A próxima vez que a senhorita mentir
pra mim, não importa a ocasião, vai levar uma surra de cinto, uns tapas nessa
fuça, e ficará de castigo. Acabou a farra, espero que jamais sinta falta da
“vida de solteira”.
Digo acarinhando seu ponto ‘G’ com a mão esquerda e retirando seu batom
vermelho com o algodão e raiva contida. Deveria ficar linda só pra mim.
— Não preciso de nada disso pra sentir tesão em você. Basta olhar pra mim
com essa carinha de puta dissimulada que eu já fico a ponto de bala. Não tem
segredo. Basta dizer que quer e eu boto pra fora pra você sentar. Quer dar
uma renovada na rotina!? Pesquise um hotel pela internet, uma pousada em
algum país cuja culinária é incrível, eu tiro alguns dias pra trepar contigo nas
ilhas Cayman, em uma praia deserta, em um bangalô fodido, dentro do nosso
carro, no jardim, ou em qualquer retiro sexual onde só eu contemple essa
boca vermelha, esse corpo em um vestido minúsculo, e esses gemidos que me
deixam perto de gozar sem fazer esforço. Te compro fantasias se isso te
excitar, me visto até de super-homem se quiser, mas não me invente mais
nada parecido com ontem. Vai casar comigo, será minha esposa, então
comece a se contentar comigo e apenas comigo. Assim como você já me
disse. Não existe ninguém além de mim, então simplesmente se contente
comigo!!!
Eu afirmo passando o pedaço de algodão por todo o seu rosto e contemplando
a mágica que era vê-la voltar ao seu natural. Rostinho de ninfeta delicada.
— Você entendeu?
— Sim. — ela geme quando acelero os movimentos dos dedos. — Ai,
Vince... isso...
— Que bom! Boa garota!!! Olha lá que coisinha mais deliciosa. — faço-a
encarar o espelho. — Não precisa de muito pra ficar bem depravada e me
tirar o juízo. Você já faz isso naturalmente sem esforço algum.
— Por favor...
— Por favor o quê?
— Não para!
Ela sussurra gemendo, eu ergo sua perna esquerda e faço de meus dedos um
verdadeiro estimulante veloz que a faz miar cheia de dengo e se contorcer
inteira. Seu orgasmo era a coisa mais linda de se ver.
— Só minha... minha garota, meu corpo, minha boceta. Pra sempre e sem
volta! — falo em seu ouvido e ela continua apoiada na pia para não cair
quando eu me afasto. — Agora vai ler o livro pra tua enteada e desculpá-la
por ter te magoado. Acabou a noitada, se concentre em suas
responsabilidades. — digo para provocá-la e sorrio sem que ela consiga ver,
pois permanece de cabeça baixa arfando e tentando se recuperar.
Me jogo na cama, suspiro feliz da vida e apago.
Quando desperto não encontro a criatura do meu lado e sorrio olhando pro
teto e me lembrando do momento em que a despertei de madrugada e tirei
“meu atraso”. Havia feito a boneca gozar no banheiro, mas eu mesmo não
gozei, estava em dívida comigo. Acordei a pequena já metendo forte em sua
boceta e judiei até cansar, do jeito que ela amava.
Pego o celular e disco seu número, pois dali eu não via sua bolsa de mão no
cabide no canto do quarto. Lugar onde ela sempre a deixava.
— Oi!
— Posso saber onde a senhorita está? Nem um bilhete...
— Desculpe! Vim trazer Allana ao shopping pra comprar algumas coisas pra
nós, roupas para hoje à noite, para a viagem e comprar alguns ingredientes
pro jantar!
— Ela está por aí?
— Tô olhando pra ela agora mesmo. Entrou na Pucket então só vai sair
quando eu der uma bronca por ser gastadeira. — ela diz e ri.
— Vocês se entenderam ontem à noite?
— Sim. Ela me pediu desculpas e disse que só ficou com vergonha de me
pedir pra ir. Vince, Allana achou que seu convite era “pedir muito”! Que
muitas das coisas que eu faço não é minha obrigação. Expliquei que vai além
disso, que é mais do que minha obrigação, é algo que amo. Cuidar dela é algo
que amo e isso não vai mudar, nem se ela se revoltar de novo.
— Que noiva amorosa eu tenho. — eu sorrio.
— Eu sou mesmo, portanto espero que não esteja sendo irônico.
— Não estou. E eu te amo por isso, mais ainda!
— Deu pra notar, de madrugada...
— Sei que você amou.
— Amei e quero mais.
— Vem logo, então. Tô aqui duro. Não gosto de dormir sem você e muito
menos acordar sem você. Vem cá pra eu descarregar meus filhotes! — eu falo
e ouço ela rir. — Chupar cada dobrinha dessa boceta deliciosa e te fazer
gritar pra casa inteira ouvir. — eu digo e ela resmunga um “Ai, Vince,
para...” com aquela vozinha que faz meu pau latejar. — Diz pra mim, de que
cor é tua calcinha?
— Vince...
— Responda!
— Preta.
— Quero detalhes.
— Rendada, com pequenos babados dos lados...
— Eu gosto dessa. Mal tampa tudo. É uma das que você gosta de usar quando
coloca aqueles shorts larguinhos. Fica abrindo as pernas o tempo todo só pra
eu ver. E além de tudo te entrega quando está excitada porque o tecido deixa
o molhadinho aparente.
— Nem parece que trepamos a noite toda. Tá muito tarado. O que você tem?
— ela abaixa a voz pra falar e eu sorrio me tocando.
— É saudade. Acordei ‘daquele jeito’ e você não estava do meu lado. Já
despertei na vontade de me enterrar e te acordar sentando a vara. Isso é
imperdoável! Vou me levantar, vê se não demora.
— Tudo bem seu safado. Eu já estou indo! Te amo!
— Eu também te amo gostosa! Um beijo.
— Beijo! — ela diz e sei que disse isso sorrindo, conhecia a criatura.
Bato uma no chuveiro desperdiçando os filhos que ela queria pra não descer
duro como pedra, me troco, e encontro o rebelde no sofá!
— Como vai, carente? Bom dia! — resmungo quando me aproximo para
cumprimentá-lo e ele me surpreende ao se levantar. Vitor me abraça e me
beija o rosto.
Ele havia ficado uma temporada grande em um país árabe alguns anos atrás e
meu pai uma vez me contou que voltou de lá com a mania de cumprimentar
daquele jeito.
— Bom dia, irmão. — ele sorri e volta pro seu jornal.
— Se entendeu com ela?
— Sim. Transamos mais um pouco, transamos de manhã, e transamos antes
de eu chamar um táxi. Queria voltar para os Estados Unidos, pegar um voo
ontem mesmo, mas não deixei.
— Por que não assumiu na frente de todos que gosta da garota depois que ela
foi embora? A história que me contou enquanto estávamos esperando elas
chegarem, também “era mentira”, é?
— Gosto dela e não nego. Mas não daremos certo. — ele baixa o tom de voz.
— Manterei meu plano, pagarei pela ajuda e a deixarei partir. Assim será
melhor.
— Você é muito cabeção. E se ela aparecer com um namorado sério!?
— Mando executá-lo e volto a ser feliz. — ele diz, ri e faz aquela cara como
quem diz, “chega desse assunto” quando meu pai e minha mãe adentram a
sala.
— E eu estou vivo para ver meus filhos trocando confidências. — meu pai
soa feliz, me abraça e ri da minha cara.
— Estou aqui tentando colocar juízo em sua cabeça. Bom dia! — eu
resmungo e Vitor nega.
— E aquela história do dinheiro, é real? Vai dar dinheiro pro Júnior?
— Pedi a Tia a conta dele e fiz a transferência, sim.
— Ajudou o menino, filho??? — minha mãe sorri admirada e Vitor dá de
ombros.
— Ele será um excelente psicólogo, até ouvi que já é mesmo se formando
agora, vai comprar o escritório com o dinheiro, e ficará tão grato que não vai
recusar um sócio investidor. Só pensei no nosso futuro. — ele mente
constrangido e eu nego revirando os olhos.
— Aqui você não precisa dissimular. Pode confessar que foi caridoso e
bondoso. Só não diga isso pra ele! — meu pai diz e ele dá de ombros de
novo.
— Quem ajuda as pessoas de verdade não fica se vangloriando, papai!
Caridade a gente faz no íntimo com Deus. Quando deixamos as pessoas
saberem, não é bondade, é massagem no próprio ego. — ele fala, meu queixo
cai, e minha mãe mia como um gato.
— Você é cristão?
— Tem dias que sim, tem dias que não. — ele diz franzindo o cenho para
parecer confuso e eu dou risada. — Deus é um cara interessante, você não
acha!? Um tanto irônico, um humor ácido...??? Gosto dele.
— Não sei, se você está falando. — eu rio mais, sigo pra cozinha tomar um
café reforçado, e aproveito a ausência de Tia para ligar pro seu filho.
“Fui ao mercado comprar alguns produtos de limpeza, não consegui falar
com Lara e não sei se ela vai trazer. O café está fresquinho. Já volto. Tiana.”
Era o que dizia o recado na porta da geladeira.
— Oi, compadre! — ele diz animado e eu sorrio.
— Bom dia, doutor da paixão! Como está?
— Bom dia, Vince! Tô bem e você? Ansioso para se casar?
— Muito. Já fez as malas?
— Estou quase terminando.
— Legal. Escuta. Preciso de ajuda com uma coisa. — eu abaixo o tom de voz
e espio pela porta da cozinha. Ninguém nos ouvia.
— Certo, o que foi? Você está legal?
— Sim, eu estou, estou muito bem na verdade. É Greg quem não está.
— O que foi que houve com ele???
— Ontem quando vocês saíram na frente, ficamos pra trás e trocamos
algumas palavras. Me reconheci em suas lamúrias. Greg está com depressão e
com papo suicida. Estou bem preocupado.
— Quer que eu bata um papo com ele?
— Quero muito mais do que isso, amigo. Greg me pediu autorização de
forma amigável por incrível que pareça, para fazer exame de DNA na Allana.
Ele realmente acha que pode ser o pai dela.
— Tá me zoando!? Mas você disse que tinha provas e tinha certeza de que
ele não é. Allana é tua! Certo!?
— Certo. Só que quero que você cole nele e faça um acompanhamento
psicológico durante esse processo. Sei que ainda não pode atuar, mas você
me ajudou tanto, acho que pode fazer algo por ele. Pelo menos peço que
tente, por mim. Ele precisa de ajuda e sei que frequentar uma clínica e “levar
a sério” ele não vai, Greg nem notou ainda que precisa de ajuda. Só quero
que se aproxime, ofereça uma amizade e bons conselhos. Você é muito bom
nisso, obviamente.
— Faço isso, sim. Claro!
— Só que eu pensei em algumas outras coisas... é uma decisão muito... ah!
Deus... é uma loucura. Pensei muito no restaurante e sei que esse assunto não
me sairá da cabeça, Júnior. Mas sobre isso quero conversar contigo
pessoalmente. Podemos nos ver hoje? Lara vai levar Allana na reunião por
algumas horas e vir direto pra cá pra cuidar do jantar então terei a tarde livre.
Podemos conversar em um lugar reservado?
— É claro que sim. Você passa aqui?
— Sim. Te aviso quando eu sair de casa.
— Então fechou.
— Ok. Até já. Obrigado, Júnior!
— Tamo junto! Até já!
Júnior diz, se despede e eu suspiro. Seria uma das conversas mais difíceis que
eu teria com alguém.
CAPÍTULO 10
PATERNIDADE
— Por que seu irmão não veio conosco? — Lara questiona ao meu lado. Já
estávamos todos no jato que aluguei a caminho das ilhas gregas.
— Acho que porque a Marcella quer distância da Flávia. Ele me contou que
depois que todo mundo foi dormir após o jantar, ela o fez ir até lá para tirar
umas histórias a limpo e a coisa não foi nada boa. Sem contar que ele
também gosta dos luxos deles... tem seu próprio jatinho, por que iria com um
alugado, não é mesmo!?
— Por que você não tem o seu pra gente fazer uni-duni-tê com os países do
mapa-mundi?
— Pra começar, comprar um jato é um investimento pesado. Não te trás
economia, é apenas um prazer para o próprio ego. A mensalidade para
manutenção é exorbitante, e para você ter um piloto exclusivo à disposição,
um piloto que não pilote demais aeronaves de outros clientes e esteja vinte e
quatro horas esperando você querer viajar, também é extremamente caro.
Para nossa família não é muito necessário. Você, Allana e eu podemos pegar
um voo a qualquer momento para ir a qualquer lugar, sem pegar fila, de
primeira classe... basta a gente decidir, eu tirar umas férias e você dizer que
quer. — eu digo e dou-lhe um beijo breve em sua boca rosada. — Para mim,
um jato particular só me faria torrar dinheiro sem necessidade, não faço
questão de nada disso. Agora Vitor se dá o luxo porque não importa o quanto
ele gaste com essas baboseiras, ele jamais conseguirá ficar pobre, a não ser
que saia distribuindo por aí aos montes.
— Nunca entendi esse lance de ter tanto dinheiro ao ponto de nunca nem
conseguir gastar. Eu ganhava meu salário, passava na padaria, e acabava. —
ela fala e eu dou risada.
— Mas isso acabou. Agora você vai se formar, vai abrir seu restaurante,
mudar a vida dos seus pais e não vai saber o que fazer com tanto dinheiro!!!
— Amém!!! — ela levanta os braços e sorri, mas depois me encara como
fazia quando queria perguntar alguma coisa. — Você já esteve na Grécia?
— Já. Trabalhando.
— Depois de viúvo?
— Sim. Antes, durante e depois. Por quê?
— Nada. Só curiosidade. Se relacionou com alguma grega antes? — ela me
faz rir.
— Eu tive muitas namoradas, Lara, até entrar pra faculdade, depois te tive
uma só, me casei com ela, e depois você. Sempre fui um “homem decente”.
— Nunca a traiu?
— Não.
— Nunca pensou em me trair? Nem quando estava puto? Lembro do que
disse lá na porta de casa, aquele dia...
— Nunca cogitei a possibilidade. Por que está me perguntando isso?
— Não sei. — ela se mexe desconfortável na poltrona isolada e eu sorrio. —
Só curiosidades bobas.
— Bem bobas na verdade. Tá colocando na balança justamente agora, se
deve ou não se casar comigo!
— Não diga isso nem brincando, estou realizando um sonho, já te disse isso!
Sempre quis ser sua mulher, sua esposa, desde o primeiro momento que te vi.
— Ah, eu acho que você está me investigando, procurando uma falha só para
dizer que não me quer mais. — me faço de doido.
— Para com isso.
— Tô mentindo?
— Muito!!!
— Então prova! — Eu sorrio erguendo a sobrancelha e ela já fica
“desanimada” só esperando...
— Como?
— Seja criativa.
— Ah! Vince... para...
— Ok. Entendi. Eu sei que...
— Cale a boca! — ela resmunga ‘estressada’ subindo no meu colo, mas logo
sorri pra mim assim que sua boceta toca meu pau ainda por cima de minha
calça.
— Senhor Vicente, está aqui o... — uma aeromoça se aproxima, mas já ia
virando as costas.
— Pode deixar. É o cardápio? — questiono e ela afirma. — Pode deixar na
mesa, está tudo bem!
Eu garanto, Lara cora, e eu me divirto.
— A filha da puta esperou eu sentar aqui para vir. — ela sussurra rindo e eu
cutuco a barra do seu vestido.
— Bom, tenho certeza que já, já Allana também virá. Ela odiou ser colocada
distante de nós. Acho melhor você ser rápida porque daqui eu nem consigo
ver quem passa pela portinha, a qualquer momento alguém pode chegar com
tudo.
— Eu não devia provar nada... — ela começa e eu perco a porra da paciência.
Coloco sua calcinha pro lado, abro meu zíper, levanto seu bumbum e a faço
sentar.
— Tu fala muito. Antigamente não podia me ver sozinho que já procurava
rola, agora tu anda muito enrolada. Pare de frescura, nunca foi assim. Se
mudar, sou eu quem vou colocar tudo na balança! Quando eu mandar tu
senta, não tem que discutir comigo, não tem que resmungar, e nem ficar se
lamentando. Só me dê o que é meu sem reclamar, porra!!! Quer me fuder???
Eu evito gritar, faço ela pular, ela ameaça parar por causa do barulho de
alguém perto da porta, e eu puxo os cabelos de sua nuca com força.
— Se parar, apanha! Não para!
— Vince...
— Calada! Só cavalga!!!
— Para de gemer assim, vão nos ouvir! — ela sussurra reclamando e eu nem
havia notado.
— Foda-se. Isso é o que um casal faz. Todos eles fazem. Grita também, agora
tu vai gritar, bem alto! — meto nela freneticamente, ela tapa a boca com a
mão, eu seguro as suas duas mãos atrás das costas para libertar novamente
seus gritos e ela chora.
— Por favor!!! — ela tenta falar baixo. Mas só tenta.
— ‘Por favor’ o quê?
— Sabe que eu sou muito escandalosa! Não faça isso...
— Se controla então! Problema é teu. Eu só quero saber do meu e isso... —
eu belisco sua intimidade com força. — é meu! Não é!?
— É.
— Então grita. Grita para todo mundo ouvir!!!
— Meu pai vai me matar e vai dar um tiro na tua testa.
— Seu pai tem que largar o doce. A filha não é mais dele. Tu é mulher feita,
mulher minha, e mulher minha não morde fronha você sabe bem disso. Agora
geme pra mim, geme. Bem alto, o mais alto que conseguir. Tô sentindo você
molhar meu pau todo, tá escorrendo deliciosamente... isso...
Mordo seu lábio, forço o atrito de nossos sexos, abraço-a bem apertado, e só
gozo quando, desse jeito, bem agarrados, ela rebola me levando á loucura.
— Te odeio por ter me feito passar por isso! — ela sussurra cansada com sua
boca na minha.
— Isso o que? Os gritos?
— Sim! Como vou encará-los agora? Nossa família, os funcionários... como
pôde???
— Quem te escuta acha que eu te obriguei a gritar.
— Mas obrigou...
— Eu tenho assim tanto poder sobre você, é!?
— Tem... você sabe que tem! — ela me olha com sua carinha de puta safada
e eu sorrio.
— Ninguém te ouviu, sua boba! Ninguém pode nos ouvir, não importa o
quanto tu seja escandalosa. Acho que no máximo uns comissários que estão
naquela salinha ali, ouviram, mas eles também foram bem pagos para serem
discretos, agora nossa família não. Daqui para onde eles estão, não dá para
ouvir.
— Planejou isso???
— Lógico. Eu sabia que a gente ia acabar se amando aqui...
— “Se amando”? — ela ergue a sobrancelha.
— Com ignorância, força, palavrão ou não... para mim é sempre amor!
— Acha mesmo que eu tô enrolada? Cheia de frescura? Que eu não sou mais
a mesma?
— Você continua a mesma mulher por quem me apaixonei. Mudou sim, mas
nada que envolva nosso chamego. Tu só tem uma postura diferente, acho que
é porque você ganhou certo controle ao amadurecer. Virou mãe de família,
moça quase “recatada e do lar”. — dou risada. — Não está mais no ‘cio’
como antigamente. Fazemos amor todos os dias, não tem como aquele fogo
queimar como antigamente.
— Isso é perigoso. Não podemos deixar isso mudar.
— Não viu o que acabamos de fazer? O que fizemos antes de ir para o
aeroporto? Nada vai mudar! Eu te prometo. Não vou deixar!
— E também não pode deixar de me amar! Nem mudar seu jeito comigo...
— Não vou mudar. Não se preocupe com isso. Não tenha surtos de
insegurança agora, você não precisa disso.
— Não estou insegura. Só não quero falhar. Quero te fazer feliz.
— Você já faz, meu benzinho! Agora levanta daí pra eu poder ir ao banheiro!
Daqui a pouco a intrometida virá perguntar se a gente não vai comer nada... e
vai ficar constrangedor você levantar daí com ela nos encarando! Certeza que
ela vai ver meu pau, pra você vai ser tranquilo, está de vestido e com a
calcinha no lugar.
— Se ela ver alguma coisa, faço ela “desver”.
Ela resmunga debochada, dá risada quando passo a encará-la e eu nego me
dirigindo ao banheiro. Ignoro os olhares maliciosos das comissárias de bordo,
volto pro lugar e a bicha corre se limpar. Se tivesse ido comigo, teríamos
transado no banheiro de novo, e eu acho que ela sabia disso.
— Meu Deus. Por que todo aeroporto se parece com todos os aeroportos???
— Lara diz animada assim que a gente pisa em Santorini. Allana não ficava
tão animada quanto ela.
— Grande coisa... — Allana resmunga emburrada e eu a pego no colo.
— O que foi?
— Por que eu fiquei com o Júnior e com o tio Greg?
— Porque Lara e eu precisávamos de um tempo sozinhos. Logo iremos nos
casar, não vão deixar o papai chegar perto dela, então precisávamos de um
tempo pra namorar. Por que está tão chateada?
— Somos uma família, e família fica junto! Não pode me separar!!!
— Desculpa, princesa! Seu pai e eu... — Lara começa, mas pelo jeito que eu
olho pra ela, ela já para!
— Lara e eu faremos isso sempre que a gente precisar. Assim como vamos
sempre tirar um tempo para você. Eu tenho duas garotas e eu sou um só, às
vezes vou precisar deixar uma no potinho para dar atenção para a outra, e às
vezes vou poder cuidar das duas ao mesmo tempo, e assim por diante. Você
precisa crescer e entender que isso é normal e não significa que te amamos
pouco, ou não te amamos. Entendeu?
— Sim. — milagrosamente ela responde compreensiva e ganha o carinho da
boadrasta quando vai pro chão. Se aquela garota crescer birrenta, vou culpar a
‘boadrasta’.
— E cadê seu irmão??? — minha mãe se aproxima e pergunta apreensiva.
Pego o celular para ligar pra ele e nem preciso. Logo os encontramos no hall
da sala privada que oferecia os serviços “gold” dos jatos particulares. Sala,
banheiro, dormitórios, poltronas, restaurantes, salas infantis... tudo para o
bem-estar de quem paga ou quem tem um jato particular.
— Chegaram primeiro... — ele me beija o rosto como sempre e após
Marcella fazer o mesmo com Lara, minha mãe a agarra e não solta mais.
— Saímos de lá primeiro, né!? Como foi o voo?
— Tranquilo e o teu?
— O mesmo. Providenciou o que é necessário para a locomoção de todos?
— Táxis executivos.
— Ok. — ele afirma agitado e parece não saber o que fazer.
— Você está bem? Parece aflito...
— Estou bem. — ele diz chateado, eu encaro uma Flávia de braços cruzados,
e depois uma Marcella também chateada que doava sua atenção à minha mãe,
e recebia dela seus abraços maternos e carinhosos. Minha mãe tinha mania de
mimar as noras, e eu não podia dizer nada a respeito de minha sogra... era do
mesmo jeito. Era só a gente vacilar que dona Mag agarrava e não queria
soltar. Mas pelo jeito, me baseando no que eu via, abraços e carinhos não iam
resolver as questões daqueles dois, ou três. Por isso decido não mais me
preocupar com aquilo, e começo a pensar na minha vida. Vida essa conhecida
pelo nome de Lara. LARA ESSA — risos. — que parecia estar prestes a ter
uma síncope por tanta ansiedade.
— E você? Tudo bem? — pergunto baixinho e ela me agarra.
— Não. Tô muito nervosa... vamos logo. Vou surtar...
— Acalma esse coração pelo amor de Deus. Vamos...
— Quanto tempo demora daqui até o hotel?
— Dez minutos porque viemos direto para a ilha.
Eu repondo, somos recebidos por um guia contratado por mim
antecipadamente, ele nos leva até o táxi e lá, na calçada do enorme aeroporto,
a “caravana” se divide.
— Vou na frente, qual é o hotel?
— St. Nicolas...
— Eu conheço, boa escolha. Já vou… — ele me encara quase que me
parabenizando pelo ‘bom gosto’, dá um beijo na minha mãe, e sai de mãos
dadas com Marcella. Ele estava péssimo. Vitor estava sofrendo.
— Eles brigaram? — meu pai já se aproxima e pergunta preocupado. Encaro
Flávia, mas ela desvia o olhar.
— Acho que não. Mas ele não está bem!!!
— Converse com ele quando chegarmos.
— Eu farei isso!!! — eu confirmo e o tranquilizo.
— Minha rainha sabe onde estamos, ou aqui ela não será minha guia como
foi em Paris!? — agarro a noiva mais linda do mundo assim que descemos do
táxi.
Por um momento pensei que ela nem me responderia por não estar mais no
‘planeta terra’. Ela olhava ao redor e admirava toda aquela arquitetura branca
totalmente ilhada, aquele mar infinito e azul demais... totalmente diferente
dos prédios cinzas que estava acostumada.
— Claro que sei... aqui é mais lindo do que por foto! Melhor que Paris!
Muito mais bonito!!! — ela me beija a boca e eu me arrepio inteiro. —
Obrigada por isso. Obrigada por tudo isso, por tudo o que você me
proporciona, e por me fazer tão feliz!!!
— Ah! Se você soubesse como eu quero te fazer feliz...
— Eu sei. — ela ri. — E respondendo sua pergunta...estamos em Santorini. É
a mais bonita e romântica ilha daqui da Grécia e por isso é o “point” de
muitas personalidades, poetas, escritores... e esse mar que parece um sonho
se chama Egeu.
— Engoliu a enciclopédia?
— Não. Só fiz questão de anotar os sonhos que quero que meu homem
realize... fiz listinha com dicas, lugares, endereços, telefones, e tudo o mais.
Acredito que ainda não nasceu mulher que terá a lua-de-mel melhor e mais
emocionante que a minha!
— Ah! Menina... acredite em mim, não nasceu mulher mais amada e mais
mimada que você!!! E ainda vai ser muito mais, para toda a eternidade!!!
— Vamos logo pro hotel. Quero essa parte do ‘ser amada’... — ela sussurra
sorrindo e seu olhar é daquele jeito de quando quer dar pra mim.
— Filha da p...
Eu começo a resmungar, mas paro quando Tia, seu marido, e Junior nos
alcançam.
Além dos três tinha Vitor, Marcella, Allana, meu pai, minha mãe, os pais de
Lara, Greg, Flávia e Vivi... definitivamente éramos uma turma pequena para
um casamento, mas grande em qualquer outro aspecto. E não estavam todos
os meus amigos ali, alguns não puderam porque realmente não poderiam
deixar a empresa.
(...)
— O que foi? — vejo Lara se sentando no sofá da gigantesca suíte aberta
para a vista mais famosa do país, e puxando a loirinha mimada consigo.
Fomos todos instalados cada um em uma suíte como recomendei. O hotel era
definitivamente lindo, espaçoso, e com dois ou mais quartos. Um luxo para a
família e amigos que participariam do momento mais especial de nossas
vidas.
— Eu só estou cansada. Tô com sono...
— Vamos passar uma água no corpo rapidinho e aí você deita um pouquinho!
— Eu não quero tomar banho... — Allana deita sua cabeça no peito dela e
Lara ri.
— Vixi, vai dormir fedida???
— Mas eu não estou fedida!!!
— Eu tô bem pertinho de você, você está fedida sim! — ela ri, faz cosquinhas
nela, e eu só fico assim, olhando de longe as mulheres da minha vida. —
Vamos lá ver onde fica esse banheiro, vamos, vamos...
Ela se retira, passa por mim me analisando, e eu abandono as malas onde
estavam mesmo. Na sala da suíte, ao invés de uma sacada, eu tinha uma
enorme passagem para uma área externa com toda a arquitetura
aparentemente moldada da pedra branca, cadeiras confortáveis, uma piscina
gigante, um ofurô convidativo no extremo canto direito e coberto por uma
parte grande do lugar, lembrando muito uma caverna escura e muito
charmosa... o ambiente todo era bem legal, estava muito orgulhoso de minha
escolha. E pra ser mais sincero do que já estava sendo em assumir isso tudo...
‘a real’ é que eu estava prestando muita atenção na arquitetura grega, nas
paisagens, e em bobagens que se fosse em outra ocasião eu jamais pensaria,
porque eu simplesmente estava aflito demais. Eu estava prestes a me casar...
— Coloquei a boneca na cama, deitadinha. Apagou... voar é cansativo, não
é!? Pensei que não, mas não importa o quão confortável seja. Ficar em um
lugar só por mais de doze horas é dose!
Lara diz me abraçando por trás e eu deixo de fitar o imenso oceano azul. Eu
tinha uma paisagem melhor que aquela. Sua face.
— Viu que ali do lado tem um ofurô???
— Vi!!! — ela diz empolgada. — Dá pra entrar pelo corredor também, não
precisa ser por aqui por fora. O hotel é todo construído dentro de uma
caverna, só que no ofurô eles não fizeram paredes lisas e tudo o mais... é
lindo! Tem uma escadinha ali.
— Tem???
— Tem...
— Me mostra.
Eu peço, ela me puxa pela mão, me leva até o interior da “caverna”, e
enquanto eu olho tudo, ela se coloca em minha frente, me analisando.
— Esse lugar é incrível, mas não precisava me trazer até aqui. Eu me casaria
contigo em uma igreja qualquer, até em casa mesmo! Paris, Grécia... qualquer
lugar... só fica lindo se eu estiver com você!
— É muito bonitinho esse seu jeitinho quando quer fazer amor ou deixar o
momento romântico. — eu resmungo e ela sorri negando.
— É assustador quando você demonstra querer aquelas trepadas sacanas onde
na maioria das vezes eu saio roxa e sem os cabelos da nuca.
— Deixo você assustada? — eu pergunto, dou um passo, e ela se afasta. —
Não gosta quando eu rejeito o clássico?
— Eu gosto de você de qualquer jeito...
— Então por que está reclamando?
— Não é reclamação!!! — ela já fica tensa. Já era a segunda vez que eu
chamava sua atenção por causa “daquilo” e ela não gostava. Lara queria
incansavelmente me fazer feliz e achar que não conseguiria, era o fim pra ela.
O mesmo acontecia comigo, aliás...
— Será que um dia você vai ter noção do tamanho da minha devoção a
você??? Eu não só amo você, eu adoro você!
— E eu que sempre achei que adorar era uma palavra fraca perto do que
significa amar...
— Não. — eu toco sua face macia e ela sorri. — Eu amo você, Allana, nossa
família, mas adorar... só esse corpo aqui, essa boceta deliciosa, só você... —
eu sussurro, aperto sua intimidade, e ela solta seu familiar gemido.
— Então você me adora?
— Muito. Até demais... exageradamente.
— Prova. Ajoelha e faça isso, me adore. — ela murmura, eu nego
contrariado, mas obedeço na hora.
Eu tento falar algo só para provocar, mas ela coloca uma de suas pernas no
meu ombro, puxa minha cabeça contra a sua boceta e eu não resisto.
Abocanho tua intimidade carnuda e molhada, a barra de seu vestido cobre
minha cabeça, e suas mãos fazem um vai-e-vem na minha cabeça, ainda por
cima do tecido.
Automaticamente jogo sua outra perna pro meu ombro livre, levanto seu
corpo até sair da posição de joelhos, e levinha como era, facilmente fico
assim, com suas costas espalmadas na parede, de pé e saboreando seu gosto
enquanto alcançava seu seio esquerdo com uma mão. Uma das melhores
posições do mundo.
— Ah! Nossa! Vince! Por favor... — eu sabia que ela já ia implorar por rola,
mas não conseguiu. Na mesma hora alguém bateu na porta. — Atende... —
ela resmunga.
— Não mesmo.
— Vince!!! — posso ouvir a voz irritante do Vitor e só por isso suspiro.
— O que será que ele quer? Apesar de saber que ele não é o gêmeo do mal,
sempre que ele se aproxima eu sinto que pode ser um problema! — Lara
sussurra ajeitando sua calcinha e eu nego.
— Acho que eu ficaria muito feliz se você parasse de se preocupar com ele...
— Olha o ciúme, homem... — ela murmura em tom de aviso, mas com bom
humor, passo uma água na boca, e a encaro quando vejo que já me seguia até
a porta. — Ah! Fala sério... — ela reclama e vai pro quarto sem eu dizer uma
só palavra, era esperta demais.
— Oi. Desculpe interromper, sei que fiz isso, é que... — Vitor entra com tudo
e já vai falando enquanto olhava ao redor a procura de algo. — Cadê a...
— Foi pro quarto, temos privacidade. O que houve?
— Eu sou pai! Sou pai daquela pirralha!
— O quê?
— A menina da Flávia... vai, não finja que não sabe do que eu tô falando, por
favor, me economiza, me economiza... eu vou enlouquecer! — ele resmunga,
mas apesar de falar extremamente baixo parecia transtornado. Seus olhos
estavam vermelhos e sua pele pálida. Vitor estava branco, tipo em choque
mesmo. — Não posso ser pai, não desse jeito, não assim de uma garota de
sete anos. Quem é que descobre ser pai quando a criança nem fralda usa
mais? Isso existe???
— Você pode começar do início, por favor?
— Não. Não posso não. Não estou em condições de fazer isso, eu não dou
conta de começar nada do início. Essa é a bomba, só vim jogar no teu colo,
porque sou o gêmeo do mal, não é!? Eu sou muito mal, por que aguentar
sozinho se eu posso jogar essa na sua cara bem “no dia do seu casamento”!?
— ele faz aspas com os dedos e eu dou risada. Vitor era uma anta.
— Já olhou pra cara daquela menina? Já olhou pra ela? Se encontrou com
ela?
— Já, eu... não consegui sossegar naquela noite, te contei isso. Me encontrei
com a Flávia de madrugada mesmo. Briguei com a Marcella, quase enchi a
cara das duas de tapas... a Marcella viu uma foto da menina na estante dela e
disse que a pestinha era a cara da Allana. Eu deveria ser gay como o papai
tanto temia, certeza que seria mais fácil, é sério! Eu não vou dar conta. Eu
não suporto criança!!!
— Você ama Allana, como assim não suporta criança? — dou risada e ele
ergue a sobrancelha pra mim.
— Eu sou obrigado a amá-la, é minha sobrinha, mas é responsabilidade tua e
não minha! A não ser... que... — ele não perde a oportunidade e eu confirmo
me jogando no sofá.
— Vai insinuar que também transou com a Nanda... é claro...
— Hey! Sabia que a ciência jamais conseguiria provar de quem ela é filha?
Minha ou tua? Temos os mesmos DNA’s. Graças a isso ela praticamente é
minha filha também, tipo...
— Viu!? Está fácil, você já é cientificamente pai. — eu falo e ele consegue
gargalhar me jogando uma almofada bem na face.
— Cale a boca. Estou mal, não sei o que fazer, Marcella vai desaparecer da
minha vida após voltar pra casa, e só pra você ter uma noção do tamanho do
drama, aposto que nem pra Nova York ela vai querer voltar. Certeza que vai
querer o colinho da mamãe, ficar á mercê do filho da puta, desgraçado...
— Será que ele nunca vai esquecer da tesourada que ele levou? Por que você
não dá um sumiço nele???
— Já pensei em fazer isso, mas... não moramos no Brasil, lá em Nova York
ela sempre se manteve segura...
— Você não me contou direito a respeito dos abusos... ele chegou a estuprá-
la ou só tentou?
— Quase. No exato momento ela alcançou a tesoura de costura da mãe dela
no criado-mudo, aquelas de ferro mesmo, a mulher costura pra fora... enfim,
fez um estrago no pescoço do cara, quando ele caiu ela não parou, estava
‘cheia’ dele, muito puta da vida, muito assustada... e ele quase morreu.
Infelizmente ela não foi até o fim, saiu correndo a filha da puta, devia ter
matado ele! Ele batia nela, abusava demais, até que ela cansou, pastou muito
na mão do delinquente. E tem mais essa agora... — ele seca o suor da testa.
— Não consegue olhar pra minha cara. Acha que eu sou um filho da puta que
abandonou as duas aqui, a piranha da Flávia e a pestinha.
— Mas você foi falar com a Flavia... o que ela disse?
— Ela negou, mas não sei. Pareceu mentira, papo muito mal contado, um
‘disse não disse’, mais gaguejando do que falando. E Marcella me disse algo
que me fez cair na real. Era capaz mesmo de aquela vadia ter criado a menina
sozinha, afinal, eu era um merda, não é!? Flávia sabia que eu jamais
assumiria, pelo menos não publicamente uma criança naquela época! Eu era
um babaca, transamos uma vez, eu ia no máximo dar uma pensão, e
orgulhosa como sempre foi, nunca me imploraria atenção. Flavia queria você,
não eu. — ele me encara brevemente. — E a pior parte foi chegar de
madrugada com ela, ver a cuspidora de fogo pronta pra me engolir, já
querendo DR...
— Não consegue imaginar o porquê que aquela menina até hoje “não tem um
pai”, o porquê que a Flávia não abriu a paternidade dela pra ninguém? Você
realmente acha que ela ia te deixar de fora porque você simplesmente era um
babaca? Que se foda você, óbvio que pelo menos pensão ela ia te cobrar,
você era um safado, cachorro, quem quer que fosse que tivesse um filho teu
ia querer te foder pelo simples fato de você ter sido um verdadeiro escroto,
irmão!
— Nossa. — Vitor coloca as mãos na cintura, passa a encarar a porta, e eu
dou risada. — Agradeço pela delicadeza com as palavras, eu não sei o que
seria de mim sem seus conselhos, seus palpites, sua gentileza, empatia... —
ele vai falando e de repente ameaça ir embora.
— Desculpa, eu estou brincando, perdão! Só estou dizendo que não justifica.
Nunca que ela faria isso contigo porque você era como era, estamos falando
de uma criança. E digo isso também... — eu respiro fundo e ele me encara
com atenção. — porque meio que eu ACHO, escuta bem, estou dizendo
ACHO que eu tenho sim, um palpite muito bom sobre a paternidade daquela
menina, então sossega. Ou simplesmente peça um DNA para tirar a prova.
Mas eu se fosse você desencanava disso.
— Tá. Tudo bem. Me diga um nome. Só um nome. Nem dormir tô
conseguindo, eu preciso só de uma ponta de esperança de que...
— Gomes. — eu dou meu palpite e ele fica embasbacado. — Eu não sei,
realmente não sei, mas pode muito bem ser. Tirando eu que me casei jovem
como você sabe muito bem, todos vocês ali, já se pegaram. — eu arrumo
minha postura enquanto ele refletia. — Eu sei que na formatura eles ficaram
juntos como se não houvesse amanhã, claro que no dia seguinte fingiram que
não se conheciam, mas antes de...
— Mês...? Qual o mês? Mês da formatura...???
— Bom, não sei, acho que foi em dezembro, não!? Não era o padrão das
colações da USP todo o ano...? Foi uns dois meses depois da formatura que
ela contou que estava grávida da menina! De nada querido irmão... você
também é muito útil, legal, simpático, agradecido... — eu começo falando e
passo a encarar o lustre do teto quando ele me beija a face e sai correndo.
— A Flávia bem que poderia ter transado com o Greg, já pensou se ele fosse
o pai da menina!? Faria tão bem pra ele. Se bem que ele ia odiá-la, não é!?
Por tê-la escondido. — a Maria-fofoqueira me abraça pelo pescoço nas costas
do sofá e eu inspiro pesadamente.
— Não vou falar de novo, não quero você metida nessa história. Concentre-
se no nosso casamento. Por que não liga para os contatos que tenho de
empresas especializadas em organização de festas...? Chame suas ajudantes,
vão dar uma volta para escolher a decoração que vocês tanto querem porque
eu sei que as nossas mães e a Tia não vêem a hora de fazer isso, e você
também. Vai cuidar do nosso casamento. Deixei na tua agenda todos os
contatos, e endereços de pessoas que podem ajudar na busca por
profissionais, e o cartão eu já coloquei em tua carteira faz alguns dias, não
importa o preço, só quero ver você feliz! Quero ‘dar play’ nessa lua-de-mel o
quanto antes!
— Vou fazer isso! Desculpe... — ela tenta alcançar minha boca, mas só
consegue quando eu ajudo.
— Então vá porque eu sei que não conseguiremos transar nem tão cedo. —
eu digo e como se já adivinhasse, Tia bate na porta chamando a criatura para
“uma reunião” com minha mãe e dona Mag.
— Te amo!
— Te amo mais! Nos vemos já, já.
— Sem despedidas de solteiro...
— Já tivemos uma e eu amei! — eu digo e por se lembrar da boate ela sai
sorrindo feito boba. — Eu estou te vendo aí você sabe disso, não é!?
Resmungo quando escuto a outra ratinha fofoqueira fazendo seu barulhinho
bem atrás de mim.
— Estou sem sono... — ela murmura, se joga no sofá ao meu lado e eu sorrio.
Allana estava tão crescida... meu bebê não era mais um bebê.
— O que foi que espantou seu sono? A Lara disse que te colocou na cama
desacordada.
— Mas eu não estava dormindo... estava pensando...
— Pensando no quê, filha?
— Em você... e na Lara... e no tio Greg...
— E o que foi? O que tem nós?
— Eu não sou sua filha?
— Como é???
— Eu ouvi. Ouvi muitas vezes você e a Lara conversando sobre isso por
esses dias. — ela diz e seus olhos brilham.
— Não. Não ouviu. Por que se andou nos espiando deveria ter escutado
muitas coisas, menos essa informação.
— Ouvi que ele acha que eu sou e por isso quer um exame em mim, eu não
quero fazer exame nenhum, não quero ser filha dele!!! — Allana afirma e
chora compulsivamente.
— Ei... tudo bem! Nós precisávamos ter essa conversa, então que seja agora.
Pare de chorar e me escute.
— Não! Não quero ouvir. — ela tapa os ouvidos.
— Eu sou o seu pai! Eu!!! — eu afirmo após retirar suas mãos dos ouvidos.
— Você não pode saber. A mamãe te traía com ele!
— Mas que... — eu evito soltar os palavrões que estavam presos na garganta.
— dá onde você tirou isso? Dá onde tu tira essas coisas??? Isso é um
absurdo!!!
— É mentira? Eu ouvi você dizer!!!
— Allana... — meu Deus o que eu ia dizer??? — a respeito disso, eu não
posso e nem conseguiria falar disso contigo. Nós adultos, fazemos coisas que
as crianças não entendem e nem estão na idade de entender. São muito
complicadas. Têm coisas, filha, que você só vai entender quando crescer.
— Eu entendo. E não sou tão criança assim. É como se um dia eu descobrisse
que a Lara beijou o Júnior escondido. É isso o que houve com a mamãe. Ela
estava contigo e beijou o tio Greg escondida e só agora você soube!
— Meu Deus. Senta aqui. — eu a faço se sentar e ela só aguarda eu começar
a falar e era aí que estava o problema. — Cometemos erros, filha. Eu e sua
mãe. Nós não somos perfeitos, ninguém é, e...
— Você traiu a mamãe?
— Não, não traí. Só estou dizendo que ela não era perfeita, assim como eu
nunca fui, muito pelo contrário. Só que nada, nada do que ela tenha feito de
errado em toda a sua vida, te envolve. Você é minha, não só de sangue, mas
de alma. Sua mãe não engravidou do tio Greg, nunca mais repita isso porque
é uma mentira descabida. Houve, sim, um beijo, e eu agradeço muito que
tenha acontecido com o tio Greg. Sua mãe amava tanto ele quanto a mim, e
isso você também entenderá melhor quando crescer, isso pode acontecer. A
gente não manda no coração, não manda em muitas das coisas que
acontecem, isso só Deus controla...e olha bem pra mim, sempre achei que
Deus havia me virado as costas, mas não. Ele nos deu a Lara de presente. Isso
é um indício de que Ele escreve certo por linhas perfeitas. Sua mãe me
amava, e acima de tudo, mais que a mim, amava você!!! Ela era perfeita do
jeito que era e te amava muito.
— Mas como você sabe que eu não sou filha dele???
— Porque eu já precisei fazer um exame que comprovou isso...
— Por que você queria saber se eu era???
— Não, porque eu queria evitar que você ficasse doente e precisei te doar
minha medula. Se você não fosse minha filha, as chances de conseguir o
resultado tão importante que os médicos queriam, iam ser mínimas. Se eu não
fosse seu pai de verdade, não conseguiria te ajudar tanto assim.
— E você ajudou?
— Sim! O transplante foi um sucesso, mas foi algo experimental filha.
Quando você ficar mais velha precisarei voltar contigo no médico, nada é
garantido, era só uma experimentação, mas sim, foi comprovado a
paternidade e eu pude te doar. Não quero que pense mais nisso. Nós vamos
fazer esse exame porque eu prometi pro tio Greg, ele vai ficar um pouco triste
com esse resultado, e por causa disso vamos apoiá-lo. Tu não é filha dele,
mas ele nunca vai deixar de te amar e ele ama muito você porque tu é uma
sementinha que tua mãe deixou para nós dois, e ele a amava demais, demais
mesmo!
— Mas eu não gosto de injeção.
— Ué! Quem disse que você vai tomar injeção?
— Não é assim, o exame?
— Não!!! Só o que vão fazer é passar um “cotonete” dentro da tua boca, só
pra tirar um pouco da tua saliva! Mas eu quero que você concorde em fazer
isso por ele, não vou te forçar...
— Não sei se eu quero.
— Eu entendo. Mas isso é muito importante pra ele. O tio Greg está muito
triste, e a gente pode ajudá-lo. Não vai lhe custar nada, mas será algo muito
importante pra ele! — eu falo e ela balança a cabeça.
— Posso pensar?
— Deve. Deve pensar nisso. Assim que Lara e eu voltarmos da lua-de-mel,
quero uma resposta. Pode ser?
— Pode.
— Então tá bom. Agora vem cá, vamos dormir como antigamente... — eu a
pego no colo e ela começa a rir quando eu canto “nana neném” pra ela.
— Sabe que isso não funciona mais pra mim, sem contar que é uma música
completamente assustadora, né!? “A cuca vem pegar?”, “bicho papão”?
— Assustador é ver o quanto você cresceu e não precisa mais dessas coisas!!!
— eu murmuro, a pequenina sorri mostrando seus dentinhos brancos, e eu
morro de amores como sempre. — Agora, tem outra coisa que precisamos
conversar.
— O quê? — ela resmunga e só pela sua vozinha preguiçosa, sei que está
sonolenta. Eu havia parado de cantar, mas não de niná-la.
— Se voltar a nos espiar como uma ratinha eu te darei uma surra de cinto e te
colocarei de castigo porque isso é feio, e não se faz. Entendeu?
— Entendi. Desculpe, pai! — ela sorri e eu evito fazer o mesmo. Não se deve
chamar a atenção de uma criança sorrindo.
— Pai?
— Oi.
— A Lara vai voltar da lua-de-mel grávida?
— Espero que sim! Seria muito bom, não é?
— Acho que sim.
— Por que ‘acha’?
— Talvez ela não goste tanto de mim se isso acontecer.
— Já conversamos sobre isso, e ela já te disse um milhão de vezes que nunca
deixará de te amar...
— Mas o amor diminui quando se divide.
— Isso quer dizer que eu te amo pouco desde quando a Lara chegou? Que a
vovó me ama pouco porque ela tem dois filhos? Que a Tia ama o Júnior bem
pouco só porque ele têm irmãos...?
— Não...
— Então... o que você está dizendo não faz o menor sentido.
— Mas eu não nasci da barriga dela. Seremos meio-irmãos. Ele vai nascer da
barriga dela e eu não!
— Cada dia que passa, Allana, mais eu tenho certeza que em alguma outra
vida, foi dela que você nasceu.
— Por quê?
— Porque a Lara te ama mais do que você possa imaginar. Você sabia que
ela não decide nada pra vida dela sem pensar em você e no que você pode
dizer ou sentir??? Ela pouco se importa em como eu vou reagir, mas ela
pensa em você. Só em você. Não sabia disso?
— Não...
— Pois então. É bem por aí. Sabia que ela teve oportunidades de ficar
morando na França para fazer o curso que ela sempre sonhou e trabalhar do
ladinho daquele chefe feio dela, que ela tanto ama!?
— Sério???
— Sério. Nem era para ela ter voltado conosco, ela devia ter ficado lá. Mas
ela me disse que não aceitou por nossa causa, e que com certeza se ela não
voltasse você ia sofrer. Não é verdade!?
— Ia mesmo!!!
— Então, ela escolheu abrir mão do sonho dela pra estudar nas férias, só para
que você e eu possamos acompanhá-la. A Lara não dá um passo na vida dela
sem pensar no que é melhor pra você. Acho que ela merece um voto de
confiança da sua parte com relação a isso. A Lara fez demais por nós dois, ela
salvou a vida do seu pai, você se lembra que eu vivia triste, não lembra!?
Acho que se um dia você quisesse muito um irmãozinho e não criasse caso
por causa disso, ia fazê-la muito feliz.
— Será que não tem algo que ela queira que seja mais fácil de aceitar? — ela
questiona e eu dou risada.
— Ah! Allana. Desde quando aquela mulher quer coisas simples e fáceis? —
dou risada.
— Vou ter que dividir meu quarto?
— Ah! Vai! Claro! Nem temos quartos o bastante naquela casa!!! — sou
irônico e ela ri. — Allana, depois que esse bebê nascer, a última coisa que
você vai querer é brigar por causa de bens materiais!!! E mesmo assim, nunca
Lara e eu daremos algo mais para um do que para o outro, muito menos
amor. Tudo é dividido, mas tudo o que for dividido será de forma igual e com
relação a nosso amor, será enorme igual. Grande igual. Entendeu, filha???
— Aham. Tudo bem! Vou falar pra ela que ela pode me dar um irmãozinho.
Mas tem que ser menina pra brincar comigo e também passar a vergonha que
eu tenho que passar ao sempre ganhar vestidos em miniatura pra ficar “tal
mãe, tal filha” com ela. Se for tudo dividido, os micos também serão.
Ela resmunga bocejando e eu seguro uma risada alta. Lara ia amar ouvir
aquilo.
Coloco a terrível na cama dois minutos depois, me deito ao seu lado só por
cinco minutos para se caso acordasse, mas apago por puro esgotamento. Lara
tinha razão, viajar era muito exaustivo.
(...)
Desperto de forma preguiçosa, com uma sensação tão boa... mas tão boa que
eu podia jurar que era um sonho, mas só que não. Ter uma mulher como eu
tinha, era sonhar acordado como naquele momento.
Lara sorria enquanto fitava meu rosto e eu me sentia nas nuvens.
— Que demora pra acordar... — ela diz baixinho.
— Allana... — olho pro lado quando me lembro e ela nega.
— Já levantou, foi procurar a avó.
— Que horas são?
— Quatro da tarde.
— Acabou de chegar? — eu pergunto e ela nega me abraçando e cheirando
meu pescoço.
— Cheguei faz muito tempo, fechei o estilo da decoração que eu queria, um
guia nos mostrou diversas empresas... elas são bem pequenas, mas fazem um
trabalho incrível. Sabia que eles fazem casamentos de famosos e de gente
rica?
— Você é a tal da ‘gente rica’. E antes que me corrija, sim, casou com o
“gente rica”, o que resulta no que eu disse. — eu falo e ela sorri. Estava
domada, nem reclamava mais... — E então!? O que você achou? Gostou de
tudo? Está feliz e satisfeita?
— Sim, mas queria você lá para dar seu palpite em tudo.
— Tenho certeza que eu vou amar, seja lá o que escolheu. Você tem um
ótimo gosto para tudo! Aliás, tenho uma novidade: Allana ‘te autorizou’ a
voltar da lua-de-mel com um irmãozinho contanto que o mesmo seja menina,
porque, já que ela vai ter que dividir tudo, terá dividir também os micos que
paga ao sempre ganhar vestidos “tal mãe, tal filha” de você. Esse bebê
também vai ter que passar por isso. — eu conto e ela ri com gosto.
— Ótimo!!! Concordo com os termos... vamos aproveitar essa lua-de-mel pra
encomendar esse bebê agora mais do que nunca desejado... — ela sorri feliz.
— por que é o que você também quer, não é!? Ser pai de um filho meu...
— Eu quero mais do que tudo no mundo. Uns trinta filhos contigo. Vai
aguentar?
— Eu vou! Sabe que eu amo crianças... quero uns quarenta contigo!
— Oloco! É sério, vida... — eu tento não rir. — Só uns dois estará ok, não
é!? Esse papo aí de trinta, quarenta, é brincadeira. — eu falo e ela segura a
risada o que muito me assusta, mas depois ri da minha cara.
— O que foi? Está com medo de me perder para a balança? Não curte seios
vazando leite, estrias, celulites...!?
— Eu vou te comer pra sempre, de qualquer jeito, — ela ri. — com ou sem
barriga, com ou sem marcas, com ou sem leite vazando... você é maravilhosa
num nível que seria impossível ficar feia, não importa como for. Se for com
barrigão sei que o legal é pegar assim, de ladinho, e ouvi dizer que é uma
delícia, que as mulheres ficam ainda mais no cio!!! — eu garanto e ela ri
concordando. — O problema é a frequência que conseguiríamos ter
momentos á dois tendo tantos filhos em um curto período de tempo. Sei que
os primeiros meses são difíceis, sei que os filhos se tornam uma preocupação
constante até depois de velhos... vivemos isso com Allana, imagina “trinta”
pra cuidar, se preocupar, locomover... — dou risada. — deve ser barra!!!
Acho que três é um número bem receptivo.
— Número ímpar. — ela diz sorrindo e cutucando minha blusa.
— Ok. Vamos falar a respeito disso depois.
— Não quer fazer planos com tua noiva?
— Tu quer fazer planos agora? Ok. Então por quê não falamos a respeito de
nossa casa? Se você quer ter tantos filhos assim acho melhor colocarmos a
mansão a venda e comprar outra que caiba todo mundo...
— Não... deixe ela ficar pequena pra gente viver agarrado!!! — ela sorri e me
abraça quando nota que achei fofo.
— Minha princesa... eu te amo tanto. Dou graças a Deus por você ter
chegado. Espero que nunca se esqueça disso... nunca se esqueça do quanto
você mudou minha vida, do quão bem me fez, e do quanto sou grato!!!
— Você é quem mudou minha vida, completamente. Eu te amo muito mais,
Vince. Você não imagina o quanto!
— Imagino...
— Não, não imagina não. Você não tem noção do amor que eu sinto por
você. Você definitivamente não tem a menor noção do quanto eu sou louca
por você. É um amor que não cabe em mim. — Lara murmura aparentemente
emocionada e seus olhos brilham pra mim. — Meu peito aperta toda vez que
olho pra você, era assim antes, mas... agora tudo ficou mais intenso. Com
certeza você chegou a pensar que um dia isso poderia mudar, eu sei que sim,
que talvez eu te “conhecesse melhor”, te amasse menos por você ser tão
ciumento e possessivo como é... ou como era... afinal você mudou, hoje eu
posso ficar no mesmo ambiente que o Júnior e teu irmão. — ela ri. — Mas
não, a cada dia que passa meu amor por ti só aumenta, chego a ficar eufórica.
Sou doida em ti! Doida de pedra!!! — ela exclama soando feliz enquanto
acaricia minha face e eu não aguento, beijo sua boca me entregando para
aquele desejo e aquele amor gigante que me consumia, mas ela me freia.
Chega até a afastar sua cintura da minha.
— Não... espera...
— O que foi? Faz uma declaração dessa, mas depois se recusa a fazer amor
comigo!?
— Estamos atrasados. Eu reservei um jantar para nós dois. Precisamos sair.
Na verdade estamos mais do que atrasados, eu que tô aqui enrolando ao me
declarar. Só tô tentando amolecer seu coração porque gastei uma fortuna em
um jantar romântico que eu sei que você não vai comer por pura pressa em
voltar pro quarto pra poder fazer amor comigo. — ela diz e ri.
— Tudo bem, mas... vem cá, será rápido. — eu volto a beijar sua boca e subo
em cima dela sem soltar o peso. — Tu amoleceu meu coração e endureceu
meu pau. — eu resmungo e ela ri de novo. — Deixa eu te amar só um
pouquinho, vida! Te quero demais e tem que ser agora!!!
— Não. Não tem que ser agora. — ela se esquiva, levanta da cama, e eu me
sento a encarando sem entender absolutamente nada. — É jantar com hora
marcada no melhor restaurante da ilha. Levanta e vá se vestir que eu vou
tomar um banho.
Lara decreta a inexistência da trepada, me oferece um ‘sorrisão cara de pau’
de tirar fôlego e não tem medo do perigo ao me oferecer as costas mesmo
fitando com seus olhos brilhantes o volume em minha calça. Ela sorria, a
filha da puta!!! O que ela estava pensando da vida dela???
Corro pro banheiro quando saio do transe em que ela havia me deixado por
causa do desaforo e a encontro na ducha com o Box fechado. O banheiro já
havia sido tomado pelo vapor quentinho...
Tiro minha roupa para aproveitar a oportunidade, já que desde que chegamos
eu não havia tomado banho, e abro o vidro. Seu olhar passeia de meus olhos
para meu pau duro e aquele sorriso se faz presente de novo.
— Ele não vai voltar ao normal sozinho... — espalmo as mãos na parede de
pedra branca do banheiro rústico e característico, tirando da fujona qualquer
brecha para se esquivar. — ...faça qualquer coisa comigo, só não me deixe
assim. Isso não...
Eu imploro, Lara se ajoelha no ato e após deslizar sua língua de cima a baixo
me olhando nos olhos, ela abocanha a cabeça e começa a mamar e lamber
minha cabecinha, até os espasmos começarem a surgir. Ela relaxa a garganta,
segura firme em minha cintura e se inclina pra frente, o máximo que
consegue... quando volta, aperta os lábios ao redor, lentamente segue para a
pontinha, e após isso me suga com firmeza me encarando com um semblante
de cachorra no cio e então bebe leitinho sem deixar cair uma gota.
— Nunca mais me dê as costas daquele jeito. Não me rejeite. — eu digo
quando ela volta a ficar por dentro de minha cerca feita com os braços.
— Não foi rejeição, amor. — ela encosta sua testa na minha. — Estamos
mesmo atrasados. Quero te mostrar o quão lindo é o pôr-do-sol daqui.
Teremos uma noite incrível.
— Não existe paisagem mais bonita que você entregue a mim! Assim de
joelhos, de quatro, ou de pernas pro ar me recebendo com minha rocha te
estocando. Troco mil jantares no melhor lugar do mundo por meia-hora te
amando. Passaria minha vida dentro de você, permaneceríamos um só por
toda a eternidade.
— Eu te amo, Vince.
— Eu te amo, também! Muito!
— Então não demora. Esse pôr-do-sol é o momento mais importante de toda
a minha vida. — ela diz, sai da ducha, e parece aflita. Nervosa.
Termino meu banho tão aflito quanto ela, e quando saio a vejo de pé, na
frente do espelho, vestindo um vestido branco ainda aberto nas costas.
— Dizem que isso dá azar.
— Não dá, não. Você só me trouxe sorte esse tempo todo. Sorte, amor,
felicidade... me ajuda a fechar? — ela me encara de lado, e depois passa a me
analisar pelo reflexo do espelho.
Seu vestido cobria seus pés, tinha as mangas compridas em renda, e um
decote comportado... descia parecendo que economizaram na renda pois do
joelho pra baixo ficava tudo transparente, mas era muito bonito. Era lindo.
Lara estava linda.
— É esse nosso jantar? Tu vai me levar para minha própria cerimônia de
casamento sem me avisar? Como uma surpresa?
Eu pergunto fechando os botões do vestido, dou um tapão em seu traseiro
grande, e ela se vira.
— O que? Achou que chegando aqui eu ficaria quietinha fazendo a linha “ai,
eu vim contratar seus serviços gregos e caros porque daqui uma semana me
casarei em uma cerimônia que entrará para a história do país! E meu marido
me aguarda ali, bebendo um champanhe nacional como se estivesse em
casa...” — ela diz com voz de “mulherzinha fresca” e eu sorrio sozinho. —
Sonhava em casar aqui e você realizou meu sonho, nossas fotos ficarão
lindas! Desde muito nova tirava os recortes das revistas, as fotos naquelas
pedras, o fundo da foto com as casinhas em formato de cavernas, e o pôr-do-
sol mais bonito do mundo... e terei isso. Agora mais do que fotos, o lugar, as
coisas... eu tenho pressa. Eu tenho muita pressa em ter você pra mim
oficialmente. Mais do que já sabemos e sentimos, um contrato, um
documento oficial que diz que você é exclusivamente meu, meu marido, e só
meu. E eu não vou esperar, até queria antes, ver decoração, cuidar do menu...
que se foda o menu. Eu já esperei demais e passei por muita coisa até
conseguir te conquistar e entrar no seu coração. Quero me casar com você
logo, dar início a tão aguardada lua-de-mel, e voltar pra casa com um
resultado positivo de farmácia. Eu tenho pressa em fazer você feliz!
Ela diz decidida, se estica e pega uma sacola de papel que eu nem tinha visto
que estava ali.
— Pode vestir isso se quiser. Comprei pra você!
— Passou a tarde inteira agilizando meu próprio casamento enquanto eu
dormia...
— Isso e muito mais!
— Eu tô fodido... me apaixonei por uma doida varrida. — eu zombo sem
sorrir e ela concorda.
— Doida varrida, ciumenta, apaixonada, realizada, e completamente feliz!
Agora se troque. Quero esses papéis assinados hoje e o jatinho ligado amanhã
bem cedo para curtir a nossa lua-de-mel sem data de retorno. — ela fala e dá
um passo em minha direção. — Só voltarei pra casa carregando um filho teu
em meu ventre. — ela sussurra, ameaça me beijar, mas a campainha toca. —
Tua carona chegou, nos vemos no altar!
— Quando Lara disse agora pouco que me dizia coisas bonitas só para
amolecer meu coração porque fez um rombo nas minhas contas, eu achei que
era brincadeira. — eu resmungo ao encontrar Vitor na entrada da bonita
passarela montada na areia da praia e junto com ele, alguns fotógrafos tirando
fotos da decoração. E sim, estava um pôr-do-sol inacreditável.
Troquei de roupa, esbarrei nas mulheres da família que pelo jeito já se
preparavam para ajudá-la com cabelo e maquiagem, não sei, e vim correndo
para o local com a ajuda de um guia após descer um lance gigantesco de
escadas esculpidas nas pedras. Camiseta branca, bermuda branca com a barra
costurada para parecer que eu havia enrolado ‘a calça’ para não sujar de
areia... a filha da puta tinha sim, um ótimo gosto pra tudo.
— Por que está dizendo isso?
— Como ela conseguiu armar uma dessas tão rápido??? Com certeza pagou
caro pelo serviço express. — o lugar estava rústico e lindo.
Definitivamente como ela sonhava, parecia cena para fotos de revistas. Os
bambus, o púlpito de madeira ainda vazio lá na frente, as sedas brancas que
balançavam com o vento, as tochas acesas copiando o alaranjado do pôr-do-
sol... estava tudo muito simples, mas muito lindo.
— É, irmão. É assim que funciona... passei no restaurante do hotel pra ver
tudo também. Ela fechou o restaurante para um jantar só pra gente. — ele
resmunga olhando ao redor junto comigo. Parecia triste. — Lara sabe mesmo
o que quer, é louca por você, e bom... apesar de ter um bom gosto até para as
coisas simples, como isso, — ele mostra o altar feito na areia da praia com a
cabeça. — nota-se a paixão que sente, só pelo simples fato de não nos deixar
descansar após a viagem. Poderíamos ter ficado aqui durante uma semana
planejando o melhor do melhor, mas a garota alugou alguns bambus
bonitinhos para fazer você assinar aqueles papéis e se livrar da família toda
partindo logo ao amanhecer. Já ligou para os pilotos do teu jato e tudo, a
mamãe contou... — ele me encara e sorri. — Estou muito feliz por você, você
realmente merece tudo de melhor, merece a diarista e ela é uma sortuda por
ter você.
— Vitor, você também merece.
— Eu não mereço nada. Eu sou ruim, sou uma pessoa ruim e não vou mudar.
— Cadê a Marcella? Eu não a vi... — pergunto porque para ele estar se
remoendo daquele jeito, claro que os dois tinham brigado.
— Eu a coloquei num táxi.
— O que? Por quê? — eu questiono e vejo Vivi, Flávia, Júnior, o pai dele,
meu pai, meu sogro e o Greg se aproximando para se juntar a nós, descendo a
pequena ladeira de areia.
— Ela merece um homem de verdade, alguém melhor.
— Caralho!!! — resmungo fitando seu semblante péssimo. Não era hora para
ficar com raiva dele, mas... — Você não aprende nunca?
— Tomei a melhor decisão por ela.
— Você tem que parar de achar que deve tomar conta da vida das pessoas. —
eu falo e seus olhos brilham com o início do choro. — Tomar as rédeas na
força bruta. Ficar ou não era uma decisão dela! Também foi convidada para o
casamento, não tinha direito de trazer a menina e depois expulsá-la do país.
— Não foi assim. Não a expulsei. E não vamos falar disso agora. Eu estou
bem, está tudo bem.
— Você saiu correndo do apartamento. Conversou com a Flávia?
— Sim.
— E...?
— Ela confirmou tua história. Ela... disse que... ficou com ele, aconteceu, ele
não quis assumir, e que estava tudo bem com ela e com a menina. Que não
precisava de “macho escroto” pra nada, era bem sucedida e dava á filha uma
vida de princesa... — ele seca uma lágrima. — confirmou tudo.
— Ok. Eu sabia, quer dizer, suspeitava... ótimo, tu não queria ser pai, todo
mundo sabe disso, tu não é pai, ótimo... está “livre, leve e solto” para dar uma
chance ao amor. Para ter alguém, ser feliz e começar uma vida nova... — eu
digo e puxo seu ombro para fazê-lo me encarar. O filho da puta nem queria
me encarar. — Eu te perdoei, porra! Eu não guardo mágoas nenhuma de
você, eu amo você, você é meu irmão. Somos um só, sua vida é minha vida, e
eu dou a minha por você. Já chega de se martirizar, chega de se castigar, ficar
achando que não tem direito de ser feliz. Você precisa e merece ser feliz!!!
Enterramos o que houve naquela sala, eu não serei completamente feliz se
você não for também. Eu não serei feliz se você não for, não tem a menor
chance de isso acontecer, pelo menos não mais!!! Eu te perdoei, te deixei
ficar, agora é tarde, agora eu preciso de você e preciso que você seja feliz...
— Ela mentiu. — ele me interrompe negando e eu fungo o nariz que já
escorria. Eu sentia uma dor tremenda e deixava transparecer enquanto ele
guardava aquela mesma dor pra si. Eu sabia disso como sabia que sem Lara e
Allana na minha vida eu não seria ninguém. Sentir o que Vitor sentia era
como respirar. Algo mais do que natural e instintivo. — Ela simplesmente
mentiu. A menina é minha. — ele sussurra me olhando nos olhos e eu até
tento, mas não consigo soltar a voz.
— O que está acontecendo? — meu pai questiona olhando de um para o
outro quando nos alcança. — Vicente???
O velho me chacoalha já querendo gritar, segura em meu braço, mas... como
eu não digo nada ele sente o clima, decide por seguir o restante do pequeno
grupo para mais perto do púlpito e nos dá privacidade. Eu estava em choque.
— Ela mentiu me olhando nos olhos e eu saí do quarto dela fingindo
acreditar. Assim como a conheço, Marcella me conhece. Viu a verdade.
Naquela época, quando fiquei sabendo, estava viajando... liguei pra ela,
perguntei daquele meu jeito “carinhoso” se a filha da puta tinha engravidado
já que a gente tinha usado a porra da camisinha e ela tinha prometido tomar
remédio, e aquela foi a primeira mentira. Disse que sim, mas que não era
meu. Eu acreditei, ela parecia demais sensata no telefone. Marcella acreditou
quando eu disse que não sabia, quando eu jurei que nunca quis, que foi um
acidente, que eu jamais abandonaria Flávia se eu tivesse descoberto na época,
mas... mesmo assim, pegou a bolsa, chamou um táxi, e foi embora. Não te
chamei porque... não sei porque... me perdoa, eu sou um merda. Eu não
mereço nada, eu sou um merda.
Ele parece ter finalizado todo o teu discurso e tive certeza quando
permaneceu apenas me encarando em silêncio por muito tempo enquanto eu
tentava encontrar palavras.
— Por favor... fale alguma coisa. Grite, me esmurre, mas... fale alguma coisa.
— Como você conseguiu engravidar uma mulher sem saber???
— Não sei.
— Não me diga!? — eu resmungo. — Tu vai processá-la, não vai? É uma
amiga, eu adoro a filha da puta, mas tu vai processá-la e pegar essa menina!
Se não fizer isso, eu farei. Se não vai assumir a responsabilidade...
— Eu vou!!! Tá legal!? É óbvio que eu vou.
— Ela sabe que você... sabe da verdade, sabe que ela mentiu!?
— Ela não é boba, claro que sabe. Conversarei com ela assim que seu
casamento for consumado. Vou ajeitar tudo isso, vou... vou assumir essa
pestinha que só conheço por foto. Está tudo bem, eu arcarei com minhas
responsabilidades! A merda foi feita, agora vou limpar. Mas pra deixar claro,
não me sinto culpado, tá legal!? A filha da puta vai me pagar por ter feito
isso, eu não tenho responsabilidade nessa mentirada toda.
— Mas tem responsabilidade por ter deixado Marcella ir embora. Nisso você
tem culpa!
— Não posso obrigá-la a engolir o que eu descobri!!!
— Não pode o caralho!!! Ela não disse que te amava? Que porra de amor é
esse? — entro em contradição, ali as coisas mudaram. — Fizesse ela ficar,
não estava louca pra te amarrar também? Assinar a porra de um contrato em
comunhão de bens? Aliança dourada???
— Lara quis a mesma coisa contigo...
— Sim, e conseguiu com muito custo! Será a partilha de bens mais custosa da
vida dela, porque pra me aturar, ela merece mesmo, metade de tudo o que eu
tenho. É uma vencedora. E ela? Quer fácil? Foi embora porque você
descobriu que é pai de uma “pré-adolescente”? Amor frágil, irmão! Muito
frágil.
— Pois é. Talvez não fosse amor. Fácil de aceitar... é muito custoso me amar
também. — ele diz ignorando as lágrimas, e seu olhar se perde do meu assim
que seus sussurros discretos morrem.
CAPÍTULO 12
NAVIH
Época seca no Zimbábue era bem amena... tranquilo, mas hoje havia esfriado
um pouco,até perguntei a respeito para o recepcionista do hotel, e ele disse
que aquele dia foi premiado, fazia muito tempo que não “esfriava” tanto
assim. Enquanto dobrava e guardava nossas roupas nas malas em cima da
cama podia ver a princesa agarrada a uma manta quentinha e segurando com
as duas mãos uma xícara de cappuccino que dali podia ver a fumaça
charmosa saindo.
Dois meses haviam se passado, e com isso, a agenda que havia trago de casa
era preenchida. Suíça, Japão, Nova York, Austrália e agora África
Meridional, o local mais esperado para o início da criação de seu TCC...
decidimos escolher os quatro cantos para pisar no máximo que
conseguiríamos do globo antes de sentir saudades de casa, mas ela já estava
amuadinha de duas semanas para cá, eu só não sabia dizer se era saudade de
casa, ou porque novamente, havia ‘descido’ para ela dias atrás.
— Deixei tudo arrumado para quando voltarmos. Quando a gente chegar é só
fechar tudo. — eu comunico me sentando ao seu lado e a coloco em meu colo
como se fosse um bebê.
Pelo vidro da janela enorme ela fitava uma parte bonita de Harare e parecia
preparar o espírito para mais um passeio guiado. Eram 06:00hrs da manhã, o
guia combinou de passar para nos pegar às 06:30hrs, para dar tempo de ver
tudo.
— Obrigada. Desculpe o desânimo... — ela diz e eu fito a mesa posta do café
bem ali ao lado. Ela não comeu nada.
— Você não está só desanimada, está triste, nem se alimentou direito, sabe
que não pode ficar assim.
— Só estou frustrada, mas vai passar. Juro que vai passar.
— Tenho uma notícia legal pra te dar, talvez te anime um pouquinho...
— O quê? — ela sorri e eu já gosto disso.
— Recebi por e-mail umas fotos de um casamento no cartório... Vitor e
Marcella!
— Mentira!!!
— Sim. Eles se entenderam um tempinho depois do nosso casamento e se
casaram. Vão organizar um festão de casamento no religioso logo, logo...
— Ai que bom! Sim, isso me animou. Fico feliz por eles, eles merecem.
— Conversei com ele ontem á noite por mensagem. Ele está muito bem,
levou a menina pra lá, a Flávia está trabalhando na área dela por lá mesmo,
estudando inglês, ela e a Marcella não se aceitam, assim, — faço uma careta
e ela ri. — mas elas se aturam pela menina e a vida deles está muito boa. Ele
está todo bobo com a menina, ela é linda. Disse que assim que a gente chegar
vai para o Brasil apresentar a menina pra gente, disse que ela está louca para
conhecer Allana!
— Não vejo a hora de vê-los!
— Eu também! — eu falo e ela afirma deixando seu sorriso morrer de novo.
— Está bem, vamos conversar... — eu falo e ela me encara já com os olhos
brilhando. — Eu acho que tudo têm seu tempo para acontecer e ficar aflita
assim como você está, triste, chateada... não ajuda, aliás acho que só vai
atrapalhar. Fomos ao médico, sua saúde está perfeita, por que acha que não
está engravidando, Lara? Seu psicológico está te boicotando, tu sempre falou
tanto isso pra mim, será que eu vou ter que conversar contigo sobre coisas
positivas, pensamentos positivos, boas vibrações? Eu???
— Todo mundo têm seu momento, nos casamos, então sim, às vezes será eu
quem vai precisar de ajuda e palavras de apoio...
— Então farei isso, sem problemas...: pare com isso, pare de pensar nisso,
não fique aflita à toa! Você é jovem, forte, saudável, pode me dar mil filhos
se quiser, mas essadeprê aí, vai continuar deixando esse nosso sonho distante.
Você já me faz feliz, nós já somos uma família, esse bebê virá quando tiver
que vir.
— E se eu tiver um problema de verdade? Já parou pra pensar nisso? — ela
me olha nos olhos e chora. — Seja sincero não só comigo, mas com você, e
se eu tiver algum problema?
— Procuraremos uma clínica especializada e pagaremos o que for preciso
para um tratamento, hoje em dia é o que mais tem.
— E se ainda assim eu não conseguir?
— Bom, acho bem difícil. Se você tem algo assim tão grave que te impeça de
engravidar até com tratamento, como isso não foi visto no exame que
fizemos!? — falo da nossa ida ao consultório de um médico renomadíssimo
na Austrália que ela me fez entrar e pagar uma consulta. — o que me fez
pensar que nos levou para a Austrália só para aquilo. — O doutor disse que
Lara era saudável como um touro e se ela "tinha algum problema, o nome
dele seria ‘questões psicológicas que precisavam de cuidados.’” Porque nada,
pelo menos naquele momento em que os resultados do seus exames saíram,
indicavam que ela tinha algo que pudesse complicar uma possível gestação,
ou invalidar, mas ele falou pra mim: ‘o psicológico tinha uma força igual ou
maior que uma doença “existente”’...
— É, eu não sei... de verdade, não entendo...
— Lara... — eu respiro fundo. — o que você me disse quando
“conversamos” sobre ter filhos pela primeira vez? — eu pergunto e ela me
encara com um péssimo semblante, pois se lembrava. — Você não vai dizer,
eu vou. Você disse que ainda queria montar seu restaurante, concretizar seus
planos de independência e que esse tema era um sonho real, sim, mas um
sonho para o futuro...
— Já estamos no futuro.
— Como? O que você conquistou? O que você riscou da lista ‘do que fazer
antes de engravidar’?
—Só você pode mudar de ideia, pensar melhor, ter outros planos? Outras
prioridades??? Eu estou triste porque queria ter um filho com você e não tive.
Falando desse jeito só demonstra o quanto foi falso comigo ao afirmar que
queria me dar um filho, é óbvio que não quer, pelo menos não tanto assim,
afinal, esse quesito da tua vida já está preenchido, você já teve essa alegria
com o grande amor da sua vida, você já tem sucesso na...
— Cale a boca! Não pira. Pra começar deixe a Nanda em paz. — eu falo e ela
me olha com um ódio mortal. — Ela morreu e nunca foi o grande amor da
minha vida, o grande amor da minha vida é você, sabe disso, sem você eu
não sou nada, significo pouco sem você. E depois, você está surtando e não
está notando isso, do mesmo jeito que eu estava quando você me ajudou,
então só estou tentando fazer o mesmo por você. Não é tarde, o prazo que
você deu a si mesma ainda tem chão pra terminar. — eu falo, ela tenta
levantar de meu colo, mas eu não deixo. — Lara, tudo bem se a gente voltar
pra casa sem um bebê, tudo bem se ainda não aconteceu, tudo bem se tiver
algo de errado... eu estou do seu lado, nós vamos ter um filho, eu prometo!!!
— “Tudo bem se tiver algo de errado...” Engraçado...
— Jamais vou deixar você sair disso machucada, jamais viverei para ver você
magoada com algo que não pôde ter. Olha pra mim. — eu viro seu rosto
porque ela fazia questão de não me mostrar que chorava. — Eu te prometi
uma montanha de coisas e eu cumprirei todas elas!!! Eu prometi fazer de
você a mulher mais feliz do mundo, prometi ser fiel, te amar, te respeitar,
prometi te dar uma vida de rainha, mimar você, te dar o mundo, e eu vou
cumprir nem que isso custe a minha vida. Você quer um filho, eu vou te dar
um filho. Você está aí sofrendo desse jeito e nem chegou a pensar que o
problema pode ser eu!!! A minha taxa de espermatozóide pode estar baixa, eu
posso ter algo, e se eu for o “problema”? Tu vai ser infeliz e me deixar
porque eu supostamente não poderei te engravidar? É isso? Me deixaria por
isso? Ter um bebê é assim mais importante do que o nosso amor?
— Não. É óbvio que não!!!
— Então se acalma, vida. Vai dar tudo certo, vamos resolver isso, eu te
prometi um filho, eu vou cumprir! Nós temos um ao outro, daremos um jeito,
vamos conseguir. — eu garanto olhando em seus olhos e ela afirma com um
carinha triste. — Agora vamos fazer esse passeio, você queria tanto conhecer
o lugar para ajudar com o TCC, o guia já deve estar chegando, não está
animada? Estamos em lua-de-mel e ao invés de você focar nas tentativas você
fica aí chorando feito uma boba... esse é o nosso sonho então temos que
tentar até o fim e eu adoro “tentar”. Você sempre foi tão forte, não desista,
vamos continuar tentando até conseguir... é tão gostoso ficar tentando... —
sorrio.
— Nem me olha assim, não vamos transar agora... — ela fala, eu sorrio de
novo trazendo seu corpo para mais perto e ela só analisa meus movimentos.
— tô falando sério, não estou clima, você tem que saber ouvir ‘não’ de vez
em quando, ah droga... — ela murmura quando eu faço ela sentar de frente
pra mim só para sentir meu membro duro como uma rocha.
— É sério, você precisa saber ouvir ‘não’. — ela vai dizendo enquanto eu
vou desfazendo o nó de sua calça de moletom e só para de falar quando senta
para cavalgar. Bicha boba.
Pegamos um carro na porta do hotel para iniciarmos o tour pelos pontos
turísticos mais famosos da cidade, único mimo que a bonita aceitou. Não
queria o luxo... hotel cinco estrelas? Nada. Estávamos instalados em um
cubículo apesar de estar localizado na capital. Cubículo esse que assim que
eu entrei pude entender o que ela queria dizer com sua atitude: pequeno,
simples, aconchegante, e familiar. O clima que ela amava e remetia á família,
momentos que ela queria ter comigo, porque estando comigo não precisava
de mais nada. É ou não é a melhor mulher que eu poderia ter conquistado? É,
é sim...
Beijo sua face macia enquanto penso nisso e ela sorri me olhando curiosa.
— O que foi?
— Tô aqui pensando no quanto sou sortudo. — eu sussurro e ela nega rindo.
Vimos museus, teatros, cidades famosas, bibliotecas, pontos de cartões-
postais... as Cataratas Victória na fronteira, as ruínas antigas da cidade, e
deixamos um parque nacional para o outro dia porque ela estava apressada
para conhecer “o lado pesadelo” daquela cidade linda. Afinal, só estávamos
lá para isso.
Eu amei o tour e a cada minuto que passava, Lara parecia também muito mais
animada e feliz, ao contrário de como estava quando saiu do hotel.
— Os senhores querem ir até a província, ou querem almoçar primeiro? — o
guia nos questiona em inglês e eu olho no relógio. Rodamos tanto que já
eram três da tarde. Encaro Lara, ela afirma que prefere ir almoçar primeiro, e
o guia nos indica um restaurante legal e simples muito frequentado por locais
e não turistas.
— Onde fica mesmo essa comunidade?
— O local se chama Manicaland... não posso dizer que vão gostar, lá é a
realidade nua e crua da população, outro cenário, mas eu garanto uma coisa:
vocês voltarão transformados. — ele diz, eu traduzo para a Lara, e fico
preocupado sozinho.
— Eles gostam de visitas? — pergunto já no carro, a caminho.
— Bom, vou te falar a verdade. Eles sobrevivem graças á “visitas”. A sua
senhora quer conhecer uma das sedes que abrigam o programa de
alimentação mundial... eles são a prova viva de que visitas de pessoas de bom
coração, fazem toda a diferença. Não é algo que eles se orgulham, entende!?
Mas todo mundo compreende que a realidade do Zimbábue precisa ser
mostrada querendo ou não. Tem muito aproveitador que só entra lá pra tirar
foto!? Pra fazer cena!? Sim! Mas também tem muita gente que ajuda
realmente e isso os salvam todo os dias, ainda falta muito, muito mesmo, mas
salvam. As crianças recebem um carinho, um trocado, um pouquinho de
atenção... alguns bebês de algumas localizações, as mais carentes por
exemplo, não estão acostumados com gente branca, e choram um pouco, são
ariscas, não é!? Mas em questão de minutos eles se abrem e se apegam. As
creches e os orfanatos são os que mais precisam de auxílio, eles aceitam
ajuda do tipo ‘atenção’ também. Se você levar um livro para ler pra eles, um
abraço, um carinho... eles já ficam gratos...
O guia vai falando, eu traduzo baixinho para ela, e vejo seus olhos brilharem
de excitação e curiosidade.
— Aqui, vai filmando pra mim, por favor!!!
Lara tira de sua bolsa a câmera que eu dei a ela assim que a gente estaciona
na frente da comunidade minutos depois, e enquanto ela vai caminhando sem
se importar com o barro, o guia vai explicando sobre o projeto que ela tinha
interesse, e eu vou filmando tudo me segurando para não filmar apenas seu
rostinho bonito.
A criatura era tão fotogênica...
— ... a ração vem do programa, e ao chegar no continente é distribuída para
as instituições... não vou dizer que supre tudo, que dá para todo mundo, ou
que é um sucesso porque estarei mentindo. Precisamos de muita ajuda ainda
para suprir as carências de todas províncias. É muita gente, é uma população
numerosa. Vocês devem ter as informações com relação a números, o
continente está longe de se equiparar com os outros, não é!? Infelizmente.
Nós somos abandonados, negligenciados e ninguém faz nada...
Ele vai falando, eu vou traduzindo baixinho, e ele logo para na frente de uma
casa de concreto, a única por ali.
Eu não sei bem descrever o ambiente nem o sentimento que eu tinha por estar
ali. A paleta de cores do lugar era marrom, bege, e cobre, o cheiro era
desagradável, e apesar de que pelo menos nos últimos anos eu não tenha sido
um homem muito sensível, eu era antes... e ali... até a vibração do lugar
incomodava minha alma. A tristeza e a pobreza era sentida por cada poro
meu. Lara parecia tão incomodada quanto, mas estava muito “melhor” que
eu, pelo menos demonstrava isso.
Ignoro a sensação, ‘esqueço’ a minha aflição, e me afasto um pouco para
filmar ao nosso redor quando ele diz que vai chamar uma local que melhor
poderia nos ajudar devido á vivencia com relação ao projeto de interesse da
Lara.
Pelo menos de onde estávamos, o que aparentava era que ali, podia ser uma
favela, um terreno da CDHU que deu muito errado, ou uma ocupação
mesmo. Os barracos pareciam querer tomar um o espaço do outro, pois
pendiam cada um para um lado. O cheiro que eu sentia descobri que era
porque bem ali, do lado da sede do projeto, corria uma fossa em direção a
algum lugar e eu só vi porque tive que pular esticando bem a perna. Era
imenso. Como alguém conseguia viver ali???
Vou caminhando, filmando tudo para a pequena universitária, e o que vejo a
seguir me tira do eixo. O terreno com os barracos era extenso atrás de mim,
imaginei que o guia deve ter parado em UMA das milhares de entradas que
provavelmente os moradores usavam, entrada mais próxima da sede para o
nosso conforto. Agora, dali do ponto em que eu parti para a frente, os
barracos acabavam dando lugar a um terreno a céu aberto, mais precisamente
um lixão a céu aberto. O lugar ia até o horizonte cercado de barracos pelas
laterais, e ia, ‘toda a vida’ como diria Tia. Aquela era a paisagem deles de
todos os dias, e para mim, aquela era a paisagem mais horrorosa que eu já
tinha visto. E não digo isso porque fiquei horrorizado ao ver um lixão, já vi
muitos em vários países, o de São Paulo já passei com o carro naqueles
arredores muitas vezes. Mas o que eu sempre fazia era levantar o vidro e
curtir o ar-condicionado, aquilo não chegava até mim, não me atingia. Ali
não, ali eu via, e não só uma terra plana que devia ser feita de grama
verdinha, árvores, e coisas bonitas como parques para as crianças, ali tinha
crianças, e muitas crianças. Umas brincavam, outras vasculhavam tudo
selecionando alguns objetos, outras comiam certas coisas que encontravam...
era um pesadelo!!!
— Essa é Naila, ela fala o idioma de vocês, o português. Veio da Angola! —
o guia se aproxima de mim com Lara e uma moça linda ao seu lado.
— Aqui tem o projeto... como vocês deixam essas crianças ficarem aqui
assim? Dessa forma? Caçando no lixo? Comendo lixo??? — eu questiono e a
moça dos olhos amendoados assente como se já tivesse escutado aquela
pergunta um milhão de vezes.
— Nós recebemos poucas doações, pouca comida. O quadrante é extenso,
cada sede recebe um pouco, então dividimos... mas nunca é o suficiente, pelo
menos não o bastante! Assim que o sinal soar para o café-da-tarde, aquelas
crianças vão correr e formar fila aqui, são as primeiras a chegar. Alguns
vendem os materiais para reciclagem que elas encontram como você está
vendo, aí tem latinha, plástico, objetos novos que são jogados fora, eles
arrumam um jeito de reaproveitar como podem para tirar um trocado. Mas aí
eles encontram de tudo mesmo, brinquedos, alumínio, roupas velhas, sapatos,
móveis, comida estragada e vencida e eles comem mesmo assim, e o pior de
tudo, descarte de material hospitalar. Nada do que já tentamos fazer os
impediram de voltar pra cá, o pouco que eles tiram daí, é tudo o que eles têm.
— O próprio governo que joga o lixo aí? Por que nunca pensaram em aterrar?
Eu pergunto e ela sorri.
— Já ouviu falar em políticas públicas, doutor? — ela diz sorrindo com a
cabeça inclinada, estava zombando de mim a filha da puta.
Me olhava como se eu fosse mais um tolo a estar ali. Era linda mesmo a
garota, devia ser um pouco mais velha que a Lara, tinha seu afro para cima
como uma juba literalmente, olhos grandes, nariz grande, boca grande,
cintura fina, traseiro gigante, seios fartos... mas me deixava claro que não
pertencia àquele lugar. Era voluntária ali... e meu Deus, porque eu estou
falando das características da moça? Sou um homem muito bem casado...
— Eu imagino o tanto de gringo que chega aqui querendo dar palpite. — eu
falo e ela sorri de novo. — Mas é que... é muito... meu Deus... — eu volto a
fitar aquelas crianças. — não dá para lidar com isso.
— Eles lidam todos os dias. A província é rica se o senhor quer saber. — ela
diz e volta a ganhar a minha atenção. — Temos aqui e exportamos ouro,
diamante, pedras preciosas diversas... carvão, platina, níquel, minério de
ferro... o problema é que essa riqueza não chega ao povo. Os senhores são do
Brasil, sabem do que eu tô falando, a questão é que aqui, é um pouco pior.
Nossos líderes não vêem isso. — ela diz voltando a fitar as crianças. — Eles
são cegos, mas a cada ano no poder, eles se tornam cada vez mais ricos. Uma
das lideranças mais sujas que existem...
— Qual sua profissão?
— NailaMnangagwa. — ela fala parecendo decepcionada e eu entendo. Ele é
o presidente, ou ministro, não sei direito como funciona a nomenclatura
naquela província. — Essa é minha profissão.
— É a filha de EmmersonMnangagwa, o “crocodilo”.
— É. O veterano da guerra da independência que conseguiu chegar onde
queria, mas também não os vê. — ela diz entristecida com seu sotaque
bonito, suspira, e dá meia-volta se aproximando de Lara. — Queria ver a
ração? Venha, vou te mostrar como funciona! — ela fala, oferece a mão para
Lara e uma sorri para a outra.
Ao invés de fazerem o caminho que eu fiz, elas entram ao lado, bem ali, nos
fundos da sede, o que no caso era uma cozinha pequena.
Naila mostra a ela uma espécie de farinha, entrega na mão dela uma revista
explicativa, tira uma amostra em uma colher e a faz experimentar, e
continuam papeando enquanto eu olhava tudo e filmava.
Quando ela diz pra Lara ficar á vontade a garota surta, pede para fazer um
teste, abre os armários, olha condimento por condimento, faz anotações,
fotografa a etiqueta da embalagem da ração, e continua. Fica tão empolgada
que pede para ver sendo preparado, espera o tal horário do café até a cozinha
se encher com outras voluntárias, faz, ajuda, dá idéias, questiona, sorri pra
todo mundo, brinca com todo mundo e conquista todas as moças, além de
Naila. As duas pareciam ter se dado muito bem.
— Como você acha que nós poderíamos ajudar? — Lara pergunta de repente
e Naila sorri. — Eu queria ajudar também para agradecer esse punhado aqui.
— Lara levanta o saquinho onde a jovem havia colocado três colheres do
produto para a Lara levar para o laboratório da faculdade.
— Bom, eu não sou de rodeios, dinheiro e mão de obra são sempre bem-
vindos, não só aqui como no nosso pequeno orfanato. Caso queiram dar uma
passada lá para doar abraços, beijos ou qualquer outra coisa, eu ficarei muito
agradecida, é meu xodó. Se ficarem para ajudar no café nós vamos amar, e
eles também adoram uma novidade, uma visita... eu já aviso que é bem triste
e comovente, mas também recompensador.
— Por que triste? — eu pergunto e ela me encara com um semblante
péssimo.
— Há algumas crianças no centro do quadrante que não conseguem chegar
aqui para receber o alimento, as famílias não podem deixar o barraco, as
mães também não podem deixá-las sozinhas... são bem magrinhas,
desnutridas, doentes... então quando a gente termina de servir aqui, nós
vamos até lá.
— Podemos ir? — Lara questiona já deixando claro que quer.
— O que você não me pede sorrindo...!?
— Não gosta da realidade? É muito sensível? — Naila me pergunta e eu
afirmo.
— Eu sou muito sensível! — eu digo e ela concorda de novo segurando a
vontade de zombar de mim. Ela gostava do que via, me achava bonitão.
— Ele é mesmo, pode rir, Naila. — Lara diz com simpatia. — Se não quiser,
pode ficar, mas eu quero ir e filmar!
— É óbvio que eu irei. “Na alegria e na tristeza, por todos os dias de minha
vida...” — eu digo, suas bochechas coram, e ela fica tímida quando todas as
“cozinheiras” gemem “me achando um fofo”.
E além de concordar, também fui o‘voluntário gringo’ do dia. Lara me
colocou para ajudar umas moças que preparavam mamadeiras enquanto ela,
Naila e outros grupos recebiam as crianças do lado de fora e ofereciam os
pratos de plástico com aquilo que parecia ser um mingau. Lara parecia um
ímã para os pequenos, eles a agarravam o tempo todo ao invés de pegar a
comida, era lindo demais de ver.
Depois de filmar um pouco é que fui fazer as tais mamadeiras, e ao acabar,
seguimos todas elas para o centro da comunidade onde a “situação estava
pior”. Estávamos em vinte pessoas para ajudar um lugar que parecia imenso,
e era, pois andamos muito além de ter ficado mais de duas horas só na porta
da sede distribuindo pratos com a comida para quem podia ir até lá para
buscar.
Cada passo que a gente dava era uma reação, olhares tímidos, abraços,
sorrisos, pedidos de socorro só com o olhar, assédio por parte de meus
concorrentes mirins que pegavam em minha mulher, cheiravam seus cabelos
e sorriam para as fotos.
— Devíamos ter trago alguma lembrancinha para distribuir, um presente, um
docinho... vamos até lá de mãos vazias, pareceremos só aqueles
aproveitadores que só vem para tirar fotos para as redes-sociais. — Lara
sussurra triste e Naila nega.
— Não pode. Tem que entregar pra sede e a sede distribui, eles sabem disso.
Entrar aqui com doces e presentes é entrar em uma jaula de leões famintos, é
confusão. É por isso que eles ficam felizes assim com visitas, eles sabem que
a maioria ajudam, então já imaginam que naquela semana terão alguma
novidade legal além da ração.
— Ah! Que bom!
Lara suspira aliviada, e quando eu tiro a câmera de sua face, para olhar ao
redor, posso ver que chegamos ao nosso destino. Era um grande quintal,
território de passagem para a fossa que eu precisei pular, e sua forma era
circular. A fossa suja era quase um símbolo ali, aquela terra estava doente,
nem plantas tinha.
Havias mulheres e crianças sentadas na porta dos barracos, algumas
barrigudinhas e minúsculas caminhando pra lá e pra cá parecendo estarem
acostumadas com o tanto de mosquito que lhes piscavam a pele, alguns
senhores de idade em cadeiras improvisadas... meu Deus! Aquilo não devia
estar acontecendo. Enquanto uma parte da cidade parecia ter saído de contos
de fadas, aquilo era... era o inferno na terra. Como alguém conseguia saber da
existência daquele lugar e não fazer nada???
— Meu Deus. — eu murmuro e Naila aperta meu ombro.
— Não sofra, não traga mais sofrimento aqui dentro!!! Deus está aqui.
— Ah! Mas não está mesmo!!! — eu murmuro sentindo a revolta, e
imediatamente Lara se agarra em minha cintura para me confortar. Eu queria
quebrar alguma coisa.
— Está. Está sim. Porque ele é Deus, é misericordioso, e está onde mais
necessitam dele.
— Como tem coragem de dizer isso? Convive com eles diariamente e diz
uma coisa dessas? Não tem ninguém por essas pessoas, ‘o pouco não é o
suficiente’, ninguém merece viver desse jeito, isso não é vida, não pode ser
vida. Olhe ao redor!!! — eu digo e ela sorri de novo.
— Por que é que VOCÊ não olha ao redor??? — ela questiona bem
humorada, aponta com a cabeça, e quando eu paro de esfregar os olhos na
esperança de tentar apagar os vestígios que “me descreveriam como uma
mocinha sensível” ao invés de um machão durão, eu posso ver o que ela
queria mostrar.
As mulheres voluntárias travaram as rodas do carrinho que servia de
transporte para o alimento no centro do enorme quintal e já começavam a
distribuir as mamadeiras paras mães e para os pequenos que praticamente se
arrastavam para chegar até elas. Algumas iam até eles no meio do caminho, e
assim, podia-se ver algumas “mães” amamentando “seus filhos” para
cessarem a fome. Algumas os pegavam no colo, e outras se sentanvam no
chão de terra batida para fazer o serviço e oferecer as próprias coxas para
servir de cadeira. Eram mães, e anjos.
— Pode ver ou ainda não consegue? Deus está aqui sim, ele manda anjos
para cá constantemente. Alguns apenas de bom coração e dinheiro no bolso,
— ela me olha nos olhos e depois encara uma Lara chorosa. — e outros com
força de vontade e idéias para melhorar as vidas dessas pessoas que estão tão
longes do seu lugar de origem. É essa moça bonita aqui que vai colocar em
prática um projeto que vai viabilizar um alimento incrível para essas
pessoas... — ela sorri para a Lara. — Entrará para a história!
— Eu vou com certeza dar tudo de mim.
— Vai conseguir, eu tenho fé em você! Será uma grande chefe de cozinha
porque é linda por dentro e por fora.
Naila diz de forma simpática, se afasta para começar a ajudar todas as outras
garotas e assim que Lara me solta para fazer o mesmo eu volto a filmar,e uma
moça extremamente magra se aproxima virando o foco da filmagem. Ela não
estava realmente assim, completamente debilitada, mas bem totalmente não
estava. Mancava de uma perna, vestia trapos que um dia foram roupas, e
carregava consigo um pacotinho que eu podia jurar que era um bebê e era.
Descobri porque enquanto filmava a olhava por cima da câmera ao mesmo
tempo e vi seus passos enfraquecidos se direcionarem a uma Lara focada em
pegar uma mamadeira do balde com água quente, passá-la em um pano de
prato, e procurar por um pequeno que ainda não havia sido atendido.
— Por favor, ela disse. — Naila se aproxima e traduz, quando a moça invade
o espaço pessoal de Lara e resmunga em um idioma que não era o inglês.
Ela deposita o pacotinho nos braços dela choramingando de uma forma
dolorosa, e quando Lara agarra o bebê em seus braços, impactada com sua
atitude, ela deposita uma das mãos em seu peito.
— Lara. — ouço ela murmurar e me assusto. — Navih. — ela continua
depositando agora a mão no bebê acho que para indicar seu nome.
Lara chora assustada, ela beija o topo da cabeça de Lara, beija o pacotinho, se
vira, e volta para dentro do seu barraco andando com dificuldades e
chorando.
— O que foi isso? Ela está bem? — eu questiono Naila, ela pede para uma de
suas companheiras ir ver como ela estava e a moça prontamente vai. Nisso,
Lara ainda em choque desvia seu olhar da moça para analisar o pacote que se
remexia.
O bebê era uma menina bochechuda de olhos negros e linda demais, parecia
ter dias de vida. Vestia um vestidinho branco de crochê, sapatinhos do
mesmo jeito, e só o que a protegia era a manta. Nem fralda estava usando.
Lara levantou seu vestido para examiná-la e tirando seu umbigo estufado,
típico de bebês gordinhos, — mas dali deu pra ver que foi devido a má
cicatrização e cuidado precário ao nascer. — ela parecia perfeita, sem
machucados tirando picadas, e bom, boa de garganta porque logo começou a
chorar até que Lara atendeu seu chamado colocando um bico de uma
mamadeira em sua boquinha rechonchuda. Ela era linda demais.
— O que ela disse? Eu não entendi nada do que ela falou. O que ela disse? —
Lara pergunta aflita e Naila parece lamentar.
— Ela disse algo como “diga sempre a ela o quanto ela era amada”.
— Não entendi. — Lara murmura ao mesmo tempo em que alimentava a
pequenina. — Ela disse meu nome...
— Naila deve ter comentado que viríamos... — eu digo, Lara me encara,
Naila me encara e não diz nada, e eu me afasto para encerrar o assunto, mas
não sem antes escutar Naila explicando que a tal mulher se chamava Mirana e
que era líder espiritual em sua terra natal.
Eu nem queria saber do fim daquele papo, mas... não demorou muito para as
consequências dele virem á tona.
Cinco minutos depois que a moça foi atrás da mulher, ela saiu aflita de lá,
chorando, e a confusão entre elas se iniciaram. A moça estava passando mal,
chamaram um rapaz ao invés de uma ambulância, e ela foi levada para algum
lugar dentro de um caminhão. Só depois eu soube que quando Naila afirmava
que ali não chegava nada, era porque não chegava mesmo, muito menos
saúde. Aquela moça não ia voltar, e a Lara não ia me deixar sair daquele
continente sem levar aquele pacotinho bochechudo pro Brasil e... foi
exatamente assim. Tive certeza daquilo quando o guia veio nos dizer que
precisávamos partir, — ele precisava devolver o carro para alguém. — e eu
‘ousei’ a questionar Lara se ela estava pronta para irmos. A bicha apertou o
braço no pacotinho quando Naila ameaçou pegá-la, eu ri de nervoso, muito
nervoso mesmo, e Naila a fitou com compreensão. Lara estava pronta para
morder quem quer que ameaçasse tirar aquele bebê de seus braços.
— Cuidado com o que vai me dizer... — ela diz aflita caminhando pra lá e
pra cá ninando a menina enquanto eu permanecia do mesmo jeito que estava
há trinta minutos. Sentado no sofá da pequena sala da sede e esperando
notícias da mulher.
— Eu não vou dizer nada. — eu digo sorrindo dessa vez com humor. O
nervoso tinha passado e eu já estava conformado.
— Isso é bom. Muito bom. — ela diz na defensiva e eu concordo.
— Vem cá, senta aqui. — eu peço e ela logo obedece.
Beijo seu rosto, viro seu queixo para chegar em sua boca mantendo os
beijinhos, e chupo sua língua com saudade.
— Sinto saudades de ti quando a gente passa muito tempo sem um dengo.
Sinto sua falta.
— Eu também sinto. Muita! — ela fala e sorri. — Gostei do meu
comportamento hoje...
— “Seu comportamento”? Qual? O da moça altruísta? — eu sorrio e ela
ergue uma sobrancelha.
— Não. O momento em que eu consegui não te capar na frente de todo
mundo ao ver seu olhar de admiração para outra mulher. Achou a Naila
bonita. — ela diz e eu dou risada.
— É. Fiquei impressionado com a beleza dela, sim. Acho que é saudável isso
acontecer, Júnior é um exemplo disso, você sempre disse que o acha muito
bonito e ele realmente é. A questão é a seguinte: eu não fiquei de pau duro, e
nem desejei traçá-la, não me fantasiei te traindo, e sei que isso nunca vai
acontecer. Ela é bonita, mas você é muito mais, e tem outra: eu te amo, você
tem meu coração nas suas mãos, e ela não. Ponto pra você, um a zero! — eu
sussurro como se o bebê pudesse me ouvir e fosse impróprio e eu até achava
que era mesmo.
— Namoraria com ela?
— De jeito nenhum!
— Ué!? Por que não???
— Essa moça é filha de um filho da puta muito fodido. Aposto que seu
trabalho aqui é clandestino... se ela não dá conta de obedecer o pai, por mais
que ele seja um problemático e ela uma garota do povo e do bem, não seria
boa esposa pra mim. Não sei se você percebeu, mas eu tenho uma tara por
mulheres submissas que estão loucas para receberem ordens, que gostam de
obedecer, gostam de se ajoelhar, e você é assim, essa daí jamais será. Agora...
sabe quem gosta de mulher como ela? — eu questiono e ela sorri
perguntando. — Greg. Nanda era desse jeito... Greg amaria conhecê-la.
— Um belo par eles fazem que eu sei... — Lara parece parar pra pensar.
— Fazem mesmo.
— Então... ela te fez se lembrar da Nanda? — ela pergunta sorrindo e eu
volto a beijar sua boca.
— Eu te amo como nunca amei ninguém. Quem é Nanda? Às vezes você fala
umas coisas que não eu não entendo, coisas que não fazem sentido. Vou te
mostrar quando chegarmos no hotel, se a gente chegar no hotel, o quanto eu
te quero! Vou te deixar assada de tanto...
— Olha a menina!
— Eu tô falando baixinho, ela não está ouvindo! — eu digo e ela ri, mas
depois deixa seu sorriso morrer.
— Como aquela mulher sabia meu nome?
— Tem coisas que a gente nunca vai conseguir explicar. Vai ver é verdade e
ela tem esses lances de coisas espirituais e sabia de tua chegada, ou uma das
crianças foi correndo contar, você falou seu nome pra todos eles, os ensinou a
pronunciar que eu ouvi. Com ou sem ‘espiritualismo’ sei lá como se fala, eu
faria o mesmo que ela. Eu também entregaria meu filho para ele ter uma vida
melhor. Só quero que esteja ciente do quão difícil pode ser isso, vida.
Conversar com ela, educar, falar sobre sua origem... estou dizendo isso
porque você nunca foi mãe, eu já tenho experiência e você não, tô falando
pro seu bem. Será lindo amor, mas não será fácil, principalmente assim,
pequena! Está preparada para isso? Está preparada para as perguntas que ela
vai fazer quando crescer? Quando ela notar que “é diferente” de nós três?
Quando quiser saber da mãe sendo que “você será a mãe dela”?
— Estou!!! Tenho certeza que estou!!!
— Ok, e eu estarei do seu lado. Agora só mais uma coisa, está preparada
psicologicamente para a recepção da Allana e/ou para descobrir tipo, daqui
uns dias talvez, que você está grávida como sempre quis!? Já pensou na
possibilidade? Dois bebês pequenos em casa, tirando Allana...!?
— Já! — ela responde aflita. — Lidaremos com isso. Com Allana, e com
uma gravidez. Allana já tem a irmã que ela queriapara dividir os micos e se
tiver outro, talvez um menino para protegê-las,isso seria apenas o que eu
sempre quis contigo: um mundaréu de filhos. — sorrimos um para o outro. —
Diz que ficará do meu lado, que jamais vai me deixar, e que seremos felizes
só com as duas, caso descubramos que não possamos ter mais, ou com a
chegada de mais um, de repente gêmeos, trigêmeos, sei lá...
— “Até que a morte nos separe”, bebê, e eu garanto mais: Nem depois disso!
— eu digo, ela afirma com os olhinhos brilhando e eu volto a beijar a sua
boca, como sempre: completamente apaixonado por ela.
CAPÍTULO 15
— Por que não vamos esperar os resultados dos exames dela saírem, aqui? —
Lara pergunta assim que eu entrego o pacotinho em suas mãos, já no jato. Por
causa de seus saltos a peguei de seu colo para não enfartar ao vê-la se
equilibrando com suas botas de salto alto na altura do joelho. Não sabia como
essas mulheres conseguiam usar aquilo.
Ali acabava nossa lua-de-mel, e eu estava um tanto quanto triste porque,
bom, foram os melhores meses de minha existência. Mas eu estava também
muito feliz porque aproveitamos bastante.
— O médico vai nos mandar por e-mail tudo bonitinho, e eu quero estar em
São Paulo quando acontecer. Lá teremos tudo, caso ela tenha algo, teremos as
melhores ajudas. A parte difícil que foi a papelada da adoção nós já
resolvemos, agora é a saúde dela, quero estar lá para que a gente possa
resolver da melhor maneira, mas se Deus quiser, ela não tem nada. No
máximo uma anemia que rapidamente daremos um jeito. — eu digo
ajudando-a com sua bolsa pessoal e a bolsa da menina, e ela se senta.
O médico havia dito que estava segura para viajar, mas que os exames mais
detalhados iam demorar um pouco para sair. Fomos em uma clínica particular
em Harare e tirando os custos exorbitantes dos exames em geral, e das
vacinas que ela não havia tomado, incluindo a vacina para a viagem, a
papelada de adoção também me custara uns dez anos de trabalho e mais três
dias após o acontecimento na comunidade, mas eu pagaria o preço que fosse
para ver aquela mulher sorrir e para não devolver aquele pacotinho para
aquele lugar.
E em falar em acontecimento, a moça mãe do bebê faleceu no hospital por
insuficiência respiratória, mas isso eu não contei pra Lara. Combinei com
Naila de informá-la apenas o necessário, “o leve”. Por não ter nenhum
parente vivo, Naila colocou formalmente os registros que ela encontrou do
bebê — nem certidão de nascimento ela tinha. — no tal orfanato que era seu
xodó e que nem chegamos a conhecer, e a partir daí, Gardenno resolveu tudo
pra mim, lá mesmo do Brasil, e o resto apesar de caro, foi fácil.
O porquê que eu não quis contar para Lara da morte da mulher, eu não sabia,
mas claro que eu sabia que teria que contar uma hora ou outra. Achava que
ela já tinha ficado impressionada demais com o que tinha acontecido e não
precisava de mais.
O trajeto que fizemos durou mais de quinze horas. Paramos na Angola para
abastecer, esticar as pernas, e como Lara se recusou a fazer uma pausa em
algum hotel para descansar... trocamos de pilotos, e seguimos viagem. De
repente ela queria muito voltar para casa, tinha pressa de dar um lar para
aquele pacotinho. Eu só estava com medo de ela descobrir que a maternidade
“não era assim algo que ela tanto queria, ou não era o que pensava”, eu tive
Allana, eu estive com Nanda, eu sabia como era, mas ela não.
— Graças a Deus... que saudade da minha casinha... — Lara murmura horas
depois de todo nosso percurso de volta pra casa.
Eu não sabia ela, mas eu queria muito uma chuveirada e dormir...— apesar de
saber que nos preparavam uma surpresa. — eram oito da noite, nem se ela me
atacasse pelada na cama eu reagiria. — mentira.
— SURPRE... — a família começa a gritar assim que adentramos a sala de
casa, mas para ao fitar o pacotinho nas mãos de Lara, e o sinal que ela faz
para todos fazerem silêncio. É, eu havia avisado Tia da adoção porque ela
precisava preparar a casa para a chegada de um bebê, e também Greg, meus
pais, e Vitor.
Vitor, o único ainda sentado no sofá começa a rir. Primeiro baixinho, e
depois, gargalhando.
— Sim, minha gente... vamos todos falir em união. Eu juro que eu achei que
era trollagem. — ele resmunga, minha mãe e meu pai me abraçam
primeiramente, Allana depois, mas logo voltam a atenção para o pacotinho.
Sempre temi perder a atenção que eu tinha para o meu irmão, mas quem ia
me tirar aquilo era minha filha, e com razão. Ela merecia, era uma princesa.
—Santa mãe de Deus... — minha mãe desenrola Navih da manta que Lara
comprou para usar na viagem e fica aflita.
—Vocês adotaram mesmo, oficialmente? — meu pai pergunta e eu afirmo
enquanto minha mãe tirava a pequena dos braços de Lara com sua
autorização.
Enquanto ela vai de colo em colo eu cumprimento Júnior e Greg que também
nos esperavam e sorrio para a decoração com bexigas e comes e bebes.
— Ela é igual a Tia, não igual a Lara. — Allana resmunga e a Tia ri.
— A palavra é ‘negra’, filha, e você pode usá-la. É a bebê mais linda do
mundo!!! — Tia diz reivindicando sua vez de pegar o pacotinho.
— Lara achou que ficaria feliz. Enfim você vai ter com quem dividir os
micos, lembra?
— Lembro. — ela fala fitando o bebê e depois me encara. — Por que vocês
demoraram tanto? Mais um pouco e não chegam pro meu aniversário, sem
contar que não vieram me buscar.
— O modo como a Navih foi adotada foi bem traumático, — eu digo pra ela
e ganho a atenção de todos. — então achamos que a lua-de-mel acabou ali.
Mas estamos felizes porque aproveitamos bastante, aliás, como eu disse, nada
mudou.Você pode pedir uma viagem como presente de aniversário se quiser,
e nós iremos!
Eu garanto e ela fica feliz, mas permanece impactada com a chegada do bebê.
Podia jurar que faria um escândalo, mas não fez. Talvez Tia tenha preparado
a pequena e aquilo foi bom.
— Bom, está aí algo que não combina muito bem... lua-de-mel com bebês!!!
— Vitor ri de novo pegando a criança na sua vez e Lara faz uma careta de
propósito.
— E você, seja bem-vinda de volta! — eu me aproximo de Marcella que
esperava sua vez para pega Navih no colo e ela sorri após me abraçar. — É
muito bom ter você aqui.
— É muito bom estar de volta, sinto que essa é a minha família.
— É sim. Mas ainda não me conformo de ter perdido o meu casamento,
família não se abandona, nunca! — eu digo e Lara já encosta para ouvir a
conversa. — Foi convidada, devia ter ficado para a cerimônia.
— Não brigue com meu docinho, ela só estava triste! — Vitor a abraça pelas
costas para ouvir a conversa também e eu seguro o impulso de reclamar da
invasão dos dois. A nossa conversa era particular.
— Ela estava triste com você, não conosco! — eu falo, ele me encara com
uma cara de cachorrinho, e Marcella faz o mesmo e por isso Lara faz o
mesmo.
— Eu prometo que isso nunca mais vai se repetir. Quando eu abandoná-lo,
não sairei correndo, da próxima vez faço diferente. — ela diz, damos risadas
daquilo, e ele fica puto de “brincadeirinha”.
— Como é que é o negocio aí? — ele pergunta e ela ri ainda mais.
— E como está a vida de casados? Cadê a tal da “catarrentinha”? Não a
trouxe?
— Eu ainda não contei pra mamãe e pro papai. — ele fala quase sussurrando.
— Tá de brincadeira, certo?
— Não. Ainda não tivemos oportunidades de sentar e conversar, estava tudo
muito corrido por aqui. Teve essa recepção para a pequena bastardinha, tem o
aniversário da catarrenta número um que a mamãe já está organizando ao
poucos... falarei quando der.
— É Navih, Allana...
—... e Manu! — Marcella me completa sorrindo. — ele não chama criança
nenhuma pelo nome, dá uma raiva.
— Eu não gosto de criança.
— Você gosta sim!!! — eu falo e dou risada de sua cara. — Você só não vai
assumir nem tão cedo. Dá pra ver que está maluco por ela, eu aposto que ela
retirou de seu coração os pedaços que faltavam daquela barreira que você
deixou. — coloco a mão em seu ombro e ele ri.
— Ela só olha pra mim para pedir Baby Alive, é uma consumista mirim!
— A filha ideal pra você!!!
— É a filha ideal que vai me deixar pobre, mas eu gostei de algumas coisas
nela. Ela é tão inteligente como eu, sabe fazer contas, faz piadas mais
engraças que as minhas e não é mimada. — ele diz sorrindo feito bobo. —
Está louca para conhecer Allana!!!
— Alguma de vocês têm um espelho aí? — eu zombo e ela bufa. — Temos
aqui um investidor babão de olhos brilhantes que está louco para falir e eu
aposto que naquela mansão negra, o castelo do gêmeo das trevas, tem agora
um quarto rosa cheio de Baby Alive’s.
— Tem mesm... — Marcella já afirma rindo, mas para só com o olhar dele e
isso me faz rir de montão.
— Cagão!!! — eu evito gritar e ele fica puto.
— Se me zoar com relação a isso ou contar pra minha mãe, faço aquela
proposta de poliamor pra tua diarista!!!
— Faça. — eu puxo Lara e a posiciono na frente dele.
Lara ri, Marcella o encara, e ele continua me olhando nos olhos.
— Não, eu não vou fazer isso, ela vai dizer ‘não’ pra não te magoar.
— Ela vai dizer ‘não’ porque é louca por mim.
— Somos gêmeos, geneticamente ela louca por nós dois!!! — ele diz e eu
desisto segurando a risada, era um bananão aquele cara.
E antes de eu decidir me retirar para procurar o pacotinho e a princesinha que
estava morrendo de saudades do papai, Marcella hesita com o barulho de seu
celular e mostra estar chocada com a ligação que recebia, portanto fico. Com
a história da polícia brasileira na sua cola e seu ex-maluco, decido participar
da ligação.
— Quem é... — Vitor se inclina para ler sem disfarçar. Também temia por
ela. — “Vadia dos infernos”??? — ele pergunta, ela o encara com raiva e ele
dá uma risada alta. Até tento, mas não resisto e dou risada junto.
Era Flávia com certeza.
— Oooifloooor. — Marcella atende fingindo estar vesga de repente e Lara ri
com a mão na boca, essas mulheres não tinham escrúpulos nenhum com
relação a “ex’s” de seus homens.
— O quê? — ela para com a careta no ato e eu fico assustado, todos ficamos.
— Por que? Tá de brincadeira!? Nós estamos aqui, vamos só comer o bolinho
que a Tia fez para a Navih e estamos... meu Deus!!! Tudo bem... não, ele
estava recepcionando meus sogros, o Júnior e o Greg! O Vince, a Lara e o
bebê só chegaram agora, então... tudo bem, aguenta aí... claro, claro, relaxa,
sem problemas, Flávia, um beijo!
— O que há??? — Vitor parece assustado e Marcella respira fundo antes de
contar.
— A Manuella estava tendo um surto na casa da avó...
— Elas estão no Brasil? Nem me contou. — eu interrompo sem querer e ele
faz uma careta voltando a questionar Marcella.
— Estamos aqui o dia inteiro, já são quase nove horas... ela está pensando
que você... foi “viajar” de novo. Ela está pensando que...
—... que eu não vou mais voltar, claro. — Vitor diz extremamente triste.
— Flávia queria levá-la ao hospital, ela não quer parar de chorar, realmente
surtou. SE ela não estiver mentindo pra você desgrudar um pouco de mim,
não é!?
— Já falei que ela pode tentar o que quiser, não vai usar a menina para nos
separar, e eu espero que você pare de cair na pilha. Se for mentira, dou uns
tapas naquela cara dela e falo até amanhã, eu vou lá...
— Escuta. — Marcella levanta um pouco a voz porque Vitor foi falando e já
andando. — Ela disse que não sabia mais o que fazer, então a trouxe, estão
em um táxi na entrada do condomínio. — ela fala, ele afirma com a cabeça, e
quando ele vai, Marcella murcha.
— Fica em paz, ela não pode ser tão cara de pau de usar a menina para fazer
isso. — Lara diz e Marcella concorda com a cabeça dizendo que “esperava
que não...”
Me aproximo de Allana quando vejo minha mãe entregando Navih em seu
colo e admiro a cena. Lara tira o celular do bolso, Allana sorri para a foto e
eu fico extremamente feliz e aliviado, mas não digo nada. Eu nem sabia se
conseguiria ser mais feliz do que já estava sendo, achava que era impossível.
— Vou tirar as crianças daqui, se o clima passar, me chame. — Lara
resmunga quando Vitor entra em casa com a “catarrentinha” dele, ela pega a
Navih no colo, Allana pela mão, e sobe pro quarto.
E bom, não sei diariamente, mas naquele momento a pequenina era mesmo
uma catarrentinha. Acho que após vê-lo parou de chorar, mas ainda soluçava
forte, tinha seus olhos inchados demais, e mantinha sua cabecinha amarela
embaixo de sua garganta porque Vitor a pegou no colo. Era muito
pequenininha para os seus sete anos, e era linda, era a Allana todinha em uma
‘versão de carregar na bolsa’. A criança mais linda do mundo.
— Ah! Meu Deus, o que essa princesa tem??? Por que está chorando tanto,
meu amor??? — minha mãe se aproxima dela com carinho aparente, e meu
pai que não era bobo nem nada, nega com a cabeça inconformado como se
dissesse, “eu não estou acreditando nisso”.
— Mãe, essa é a Manuella, sua neta. — Vitor diz simplesmente e eu fico
admirado por sua coragem repentina.
Vejo Flávia entrar, achava eu que por recomendação dele, mas minha atenção
volta para a minha mãe que estava estática sem saber o que dizer ou como
reagir. Estava em choque.
Seus olhos passavam dele para a menina, Vitor apenas esperava, a pequena
continuava soluçando e segurando um choro sem fim, e o resto permanecia
como eu, aparentemente, todos seguravam a respiração.
— Não entendi.
— Ela é minha filha com a Flávia. — ele diz de novo, minha mãe encara
Flávia, volta a encarar Vitor, e Flávia se aproxima.
— Dá ela aqui, vou sair um pouquinho para vocês conversarem e depois eu
volto. — ela estende o braço e imediatamente a garota agarra o pescoço de
Vitor com força.
— NÃO QUERO! NÃO QUERO, ME SOLTA!!!
Flávia parece sentir uma dor absurda ao ouvir aquilo e deixa as mãos caírem
ao lado do corpo.
— Vem cá, Manu, seu pai precisa conversar com sua avó. Vamos lá em cima,
eu tenho um monte de maquiagem pra você! Vamos lá brincar um pouco até
seu pai terminar aqui.
— Ele vai embora...
— Não vai não, ele não vai sair daqui, eu prometo! Vamos só dar uns
minutos pra ele, daqui a pouco te trago de volta e vamos juntos comer um
bolo delicioso que a Tia fez.
— Você não vai embora, não é!? — a menina ignora Marcella por um
momento e encara o pai.
— Não, já te disse isso. Não vou embora nunca mais! Eu prometi a você,
sempre cumpro o que prometo! — ela o encara com um bico gigante e ainda
soluçando e depois deixa Marcella tirá-la de seu colo.
— Vem, Júnior! — Tia chama o filho, Greg vai junto, e meu pai se levanta
do sofá.
— Ok. Agora pode me explicar porque eu não estou entendendo. — minha
mãe diz parecendo furiosa, mas ainda falava baixo.
— Eu acho que posso explicar melhor. — Flávia toma a frente mesmo com a
cara da minha mãe não estando nada boa pro lado dela. — Vitor só descobriu
que era pai na Grécia, eu contei pra ele lá. Eu engravidei da Manu ainda na
época da faculdade e não contei nada porque... — Flávia vai dizendo, conta
tudo, achava eu que “tudo mesmo” porque falou por meia-hora, e quando
pareceu ter acabado, o silêncio reinou e aquilo me incomodou.
— Mas isso é um absurdo sem tamanho!!! — meu pai evita gritar. — Sete
anos!!! Onde já se viu??? Mas que pouca vergonha, isso é de uma baixaria
sem tamanho!!!
— O senhor sabe bem o filho que tinha!!!
— NÃO JUSTIFICA!!! — ele grita, eu fico assustado, e ele volta a baixar a
voz para manter a postura. — Não justifica, menina!!! Isso não se faz, a não
ser que o pai seja um psicopata, um meliante perigoso, qualquer coisa
parecida, tudo bem, mas não era o caso...
— Ele ia dizer que foi golpe da barriga! Muito provavelmente o senhor
também!!!
— E foi? — meu pai pergunta vermelho como um pimentão e Flávia trava
negando.
— Óbvio que não. Sempre tive uma vida boa, nunca faltou nada pra ela.
— Então porque isso era relevante??? Se não era golpe por que se preocupou
com o que íamos dizer???
— Porque eu tenho vergonha na minha cara e não precisava ouvir
aquilo!?!?!? Quem sabe...!? — Flávia chora extremamente nervosa. — Sabe
o que seu filho fez quando descobriu? Me ameaçou, me fez assinar um
documento que passava a guarda dela pra ele, tirou minha filha da casa da
avó dela, da escola dela, do convívio com os amigos, da cidade dela, da
rotina dela...
— Ué, nem entendi o porquê não te mandou para um presídio, está
reclamando??? Isso é o mínimo que ele deveria ter feito, eu faria pior!!! Se
fosse Vicente, faria pior! Aliás não era daquele gêmeo que você gostava? —
meu pai aponta pra mim. — Pensa que eu não me lembro de você!? Não saía
de nossa casa, quando ele conheceu a Nanda você ficava sempre o cercando
quando ela não estava por perto, o Vitor sim, gostava de você, mas você dava
bola!? NÃO, fingia que não via! Olha menina... — meu pai suspira. — Veja
bem o que fala para se defender, você não tem nada a seu favor!!!
O QUÊ????
— Eu tenho a minha filha!!!
— A garota que você privou do pai, por capricho? Não, você não é mãe dela,
uma mãe jamais faria isso, mãe luta por seus direitos, processa, vai atrás, não
esconde como se o pai fosse um verme! Vitor tinha vinte e seis anos, já era
um homem, se não assumisse a responsabilidade eu mesmo o processava, eu
mesmo cuidaria da menina, o que você fez foi um absurdo sem tamanho!
SETE ANOS!!!
— Tudo bem. — minha mãe coloca a mão no peito do meu pai, e implora por
calma assim que Flávia ameaça voltar a gritar. — Se acalmem os dois, não
adianta gritar assim, a casa está cheia de crianças agora, graças a Deus! Era
tudo o que a gente mais queria, não é!? Muitos netos. — ela chora encarando
meu pai. — Já foi, não adianta se martirizar, fracos ou fortes, bons ou ruins, a
menina teve os motivos dela, e pelo jeito Vitor a perdoou! Se revoltar assim
faz mal, a menina sente, não ia ficar feliz se a gente arrumasse inimizade com
a mãe dela, quem ficaria!? Estamos bem... está tudo bem.
— Eu não me arrependo. Vocês vão me desculpar, mas eu não me arrependo.
— Flávia chorava e parecia sofrer demais. — O senhor não vai me julgar e
nunca mais levantar a voz para falar assim comigo. Depois que seu filho
ficou comigo, eu o peguei com mais quatro naquela noite da formatura, se
gostava mesmo de mim eu não sabia, mas me respeitar que é bom, nunca. Se
me amava jamais demonstrou, pelo menos não pra mim. Eu não coloquei
uma filha no mundo pra ser rejeitada e graças á mim, a Manu não foi. O
senhor pode não dizer em voz alta, mas sabe tanto quanto eu, e a senhora
também sabe, — ela encara minha mãe. — que Vitor me mandaria abortar, e
se eu não fizesse ia sumir no mundo deixando a responsabilidade pra vocês.
Até hoje ele não me chama pelo nome, nunca chamou, ele me chama de
vadia, vinte e quatro horas por dia! Ele não era do bem, ele não seria um bom
pai, não seria um bom namorado e foi por isso que ele me ligou umas dez mil
vezes fazendo a mesma pergunta, mas nunca pediu o DNA!!! Ele odeia
criança, sempre odiou, eu ainda estava com a Manu no ventre, eu podia ter
contado, mas todas as vezes que ele me ligava e eu repetia, “não, Vitor, eu já
disse, ela não é tua, eu transei contigo já estando grávida”, e ele suspirava de
alívio como se minha filha fosse uma doença, um câncer maligno, EU
JAMAIS CONTARIA, EU-NÃO-ME-ARREPENDO!!! Não me toca, não
chega perto de mim!!! — ela mostra a palma da mão pra mim quando eu
tento me aproximar para oferecer o ombro. Flávia estava muito abalada,
estava péssima. — E é por isso que ele tirou a minha filha de mim e hoje dá
tudo a ela, tudo o que eu nunca dei, e a trata como uma princesa, não é amor
de pai, é culpa. É culpa e ele sabe disso, se negar é sinal de que ele continua
um miserável desprezível como antigamente.
— Eu vou deixar você falar assim de mim, só hoje. — Vitor diz baixinho
ainda fitando os pés e de braços cruzados, como ficou o tempo todo. Quando
ele levanta a cabeça após falar e a encara, ela quase abaixa a dela. — Sei que
está nervosa, que meu pai não é uma das pessoas mais delicadas do mundo, e
que você está triste, mas se voltar a falar assim de mim, insinuar que eu sabia
que tinha uma filha e a ignorei de novo, porque não é a primeira vez que você
diz isso, ou voltar a repetir as palavras ‘Manuella e câncer maligno’ na
mesma frase, eu destruo você, eu acabo com você. Além de jamais chegar
perto dela de novo, eu te faço parar no farol para pedir esmolas, então meça
suas palavras, Flávia, meça bem as palavras. — ele diz em um tom nada
agradável e bem baixinho. — Ok. — ele respira fundo e continua. — Tudo já
foi dito, eu tenho uma filha linda que precisa ter a certeza de que eu jamais
vou desaparecer da vida dela de novo, e que está morrendo de saudades de
mim porque passei o dia todo aqui, então vou buscá-la. Hasta La Vista!
Vitor sai deixando o clima mais pesado do que estava antes e Flávia volta a
encarar meu pai.
— Viu como o senhor tem um filho lindo!? — ela sorri com desgosto. —
Uma ótima noite á todos.
Ela diz, sai, e antes de eu presenciar uma briga entre meus pai porque minha
mãe ficou puta com o descontrole do velho, eu vou atrás dela.
— Flávia!
— Me deixa em paz, Vicente.
— Eu sinto muito. — eu puxo-a pelo braço e ela se afasta. — Sinto muito por
tudo isso. Todo mundo erra, os dois erraram, e eu entendo vocês dois. Só me
desculpe pelo meu pai, o que ele sempre quis é que Vitor desse um neto a ele
também, deve estar frustrado, está nervoso, e eu o conheço, sei que vai se
desculpar.
— É aí que está, eu preciso me desculpar, Vitor precisa se desculpar... e isso
vai demorar pra acontecer. Seu irmão fez o que eu sempre temi, tirou a Manu
de mim, e me colocou como a culpada da história ameaçando a minha vida,
como ‘a vadia’. Eu tenho certeza que eu seria muito feliz se ela fosse sua,
vocês são muito parecidos e naquela noite eu bebi demais. Até o chamei de
Vince, essa é uma das razões pelas quais ele te odeia tanto, ele gostava de
mim, mas eu nunca o correspondi.
4 ANOS DEPOIS.
Subo devagar com o pacotinho pesado no colo e a coloco em seu quarto com
a babá eletrônica ligada. Eu sabia que essa noite seria calma, Navih ficou
muito cansada durante o dia todo.
— Onde esteve?
Vince questiona baixo assim que eu entro no quarto para pegar outra muda de
roupa. — e ver como ele estava, claro. — E ao contrário do que eu pensei,
não o encontrei deitado no meu lugar, e sim sentado, de costas para mim, de
cabeça baixa e os ombros levemente caídos.
— Fomos ao shopping comprar os vestidos e depois fomos tomar café com
meus pais.
Eu digo abrindo o armário e evito demonstar estar aflita.
— Você pode discordar de mim o quanto quiser, Lara, mas não pode tirar
minha autoridade, não pode tirar minhas filhas de mim, e não pode agir como
uma pré-adolescente solteira e sem amarras.
— Não tirei sua autoridade, você decidiu que não ia mudar de opinião e não
mudou, continua do mesmo jeito. Só não vou deixar de fazer o que eu quero.
— É, e assim que eu decido não mudar de opinião você pega as minhas filhas
e passa o sábado inteiro fora, me deixando sozinho aqui... minha atitude está
errada, mas a sua está bem certinha, certo!? Sempre que a gente tiver
divergências, você vai fazer isso???
— Você está errado.
— Você se rebaixou e perdeu a razão quando me deixou aqui. Você passou
dos limites!
— Vai mudar de ideia?
— NÃO!
— Ok.
— Se sair de novo sem me avisar, e sem deixar as meninas em casa, que é o
lugar delas, sou eu quem vou sair. — ele diz simplesmente tentando se
acalmar e eu só concordo com a cabeça.
Decido não discutir só porque posso ver que ele está mais triste do que puto e
ameaço sair carregando comigo minha roupa, mas ele não me deixa fugir.
Entra em minha frente e invade meu espaço pessoal me deixando tonta.
— A mamãe não ficou com saudades do papai? Não sentiu falta do marido
carregando a sua bolsa? Segurando em sua mão? Invadindo a cabine para
trepar e escolher as roupas que ele gosta porque afinal, tudo o que você
compra é pensando se ele vai gostar ou não, porque é sempre para usar com
ele, ou para ele... não sentiu falta dos carinhos embaixo da mesa? A mão em
seu joelho, no carro? Os beijos discretos, mas intensos e de olhos nos olhos,
porque em público e na frente das crianças não pode exagerar... sentiu minha
falta, amor?
— S-sim.
— Quanto?
— Muito.
— E vai continuar agindo do jeito que está agindo? — ele volta a falar
normalmente e eu acordo do transe.
— Boa noite, Vince. — eu digo, saio do quarto, e me reviro na cama de
Allana até de manhã.
E depois de tanto anos, ali, em tua cova, eu continuava sendo o único homem
que a conhecia de verdade.
Me mantenho em silêncio em respeito ao momento dos dois, assim como
Júnior que só estava ali para apoiá-los e eu reflito sobre aquilo tudo mais um
pouco. Talvez seja por isso que aquela diaba deixou os dois doentes,
problemáticos, e dependentes. Apesar de não ter caráter nenhum, a mulher
era uma deusa na cama, era definitivamente gostosa, mandava muito bem, e
enfeitiçava... havia pego os dois em uma chave de coxa, parecia que tudo nela
fora feito para enfeitiçar e deixar ‘paus duros’... ao contrário de Lara, aliás...
corpo de menina, toda pequena, apesar de ser uma fortaleza, exalava
fragilidade, e esses “predicados” todos, também eram tão perigosos quantos
os da outra diaba. Um exemplo disso era o quanto Vicente era possessivo
com a garota, e o quanto eu, como cunhado, ao invés de desejar tomar posse,
desejava protegê-la. Lara era decente, seu jeitinho de menina era um perigo,
mas Nanda não... Nanda não despertava desejos secretos, Nanda exigia. Dois
extremos, Vince caíra nos dois.
— A diarista sabe que você está aqui? — pergunto e Vicente se levanta.
— Ela sabe. — ele bate em meu ombro, segue seu caminho em direção ao
carro, Greg com mais dificuldade repete se gesto, e Júnior depois.
— Você é mesmo uma vadia, até depois de morta. — eu murmuro após me
abaixar, sorrio pedindo perdão só que em pensamento porque perder meu
papel de malvado eu jamais perderia, e posso visualizar seu sorriso safado pra
mim... só que agora com penas vermelhas de diaba loira por todos os lados.
Sorrio mais.
— Você não tem jeito mesmo... — dou de cara com Júnior que havia
escutado o que eu disse. Ao contrário do que pensei, ele não os seguiu, ele só
se afastou um pouco de mim.
— Eu tenho, sim, ela é quem não tinha. Essa feiticeira ninfomaníaca arrasou
todos os corações que podia... se seu pai frequentava aquela casa na época em
que era viva, acho melhor você investigar a sua conduta. Ele também pode ter
caído na maldição. — eu digo, ele revira os olhos, e eu volto pro carro com
uma boa sensação. Aquela vadia estava bem onde quer que ela estivesse.
— Você está com mais cara de joelho do que estava antes, na maternidade.
— eu falo para o catarrentinho Júnior no meu colo e todo mundo ri, menos a
diarista.
O bebê era lindão. Claro, era a minha cara quando bebê e o seu cabelinho era
também muito engraçado. O moleque tinha tanto cabelo, mas tanto cabelo,
que parecia um espanador. Era bem pretinho, liso e ficava tudo pra cima, eu
passava a mão, mas não abaixava.
— Lara, os médicos te colocaram pra dormir na mesa de cirurgia? — Flávia
pergunta na sala. Estávamos todos reunidos após o almoço em família.
— Não, precisei ficar acordada assim como em uma cesariana normal. No
meu caso que a gestação era de risco, foi ainda mais um motivo, o médico
disse.
— A Manu foi cesárea também, meu maior medo foi aquela injeção bizarra.
— Eu estava com tanta dor que nem senti a picada, Flávia, e nem tive tempo
de sentir medo. Só sei que quando ela fez efeito agradeci a Deus porque foi
embora toda a minha a dor além da sensação de não ter corpo nenhum. —
elas riem e eu que ninava no mini-Vicente de pé, encarei uma Marcella
silenciosamente irritada, ela “não gostava da Flávia e queria que ninguém
gostasse também”.
— Minha vez de pegar, tio!!! — Navih dá tapinhas em meu joelho e eu dou
risada.
— Senta lá no sofá que eu vou colocá-lo no teu colo!
Ela se senta ao lado da mãe no sofá, eu coloco o pequenino bem
embrulhadinho nos seus braços e fico segurando embaixo.
— Você está bem? — pergunto para uma diarista abatida e calada.
Vince que estava ao seu lado a encarou na hora.
— Eu estou, só me sinto cansada.
— Não é aquele conto de fadas que você pensou, certo!?
— Eu amo ser mãe, só estou com saudade do meu restaurante, e de lavar os
cabelos. — ela diz sorrindo fazendo todo mundo rir.
— O restaurante você não verá tão cedo, mas está tudo bem lá, mesmo sem
sua presença já é o mais badalado da região. Agora você pode aproveitar que
estamos aqui para ir tomar banho e descansar por uns minutos. Seu marido
babão, seus sogros e seus pais não sairão do seu lado, então logo essa fase
passará e você retomará sua vida.
— É tão estranho quando você diz coisas bonitinhas.
— Não se pode usar de humor negro com gestantes e mães recentes. Eu só
fui misericordioso e te poupei.
— O que me diria se não quisesse ter me poupado, Vitor? — ela já questiona
rindo.
— Eu diria “ninguém mandou abrir essas pernas, agora esse catarrento é a
sua vida. Esqueça restaurante, lavar os cabelos, casa limpa, e viver pra você.
Nem escovar os dentes conseguirá, acabou. Essa coisa fofinha acabou de
destruir o seu corpinho gostoso e a sua vida”. — eu digo e enquanto ela ri pra
mim eu dou risada pra ela, e ficamos os dois assim até eu parar primeiro.
— Você é tão babaca.
— Você quem pediu. — eu dou de ombros e ela nega rindo. — Mas a real
mesmo... é que tenho um pouco de inveja. A minha vida não foi assim
“destruída” desse modo, e por isso sou incompleto. Você é linda, têm uma
família linda, filhos lindos... sua vida está completa. Queria eu ter passado
por essa fase com a minha catarrenta. — eu digo e Manu finge ficar brava por
chamá-la assim. — Esses momentos são... inenarráveis e insubstituíveis. O
cabelo você pode lavar depois, seu marido continuará te amando com os
dentes sujos, com a marca da cesariana, com estrias, estresse, gordura
localizada, com a casa bagunçada... isso é família. Sei que será difícil, mas o
futuro é recompensador. Quero muito um dia passar pelo o que você está
passando. Quer dizer, quero que Marcella passe pelo o que você está
passando, — eu digo e encaro uma Marcella entristecida. Ela tenta sorrir pra
mim e quase não consegue. — com essa mesma graça e beleza.
— Obrigada cunhadinho favorito... — a diarista se sente feliz e eu concordo.
— De nada... pense em minhas palavras quando cogitar pedir a separação
para o meu gêmeo. Só estou te xavecando, estarei á sua disposição.
— Quando eu penso que ele vai calar a boca e deixar tudo bonitinho... —
Vivi murmura e todo mundo ri.
— Já chega catarrenta número três, deixe-me devolver o número quatro pra
mãe dele. — eu falo com Navih, ela chora negando, coloco o pequenino no
colo da diarista e ela me olha nos olhos profundamente.
A bonita me agradecia pelas palavras de forma silenciosa e eu assenti, mas
não disse mais nada para não prolongar o ‘momento melado’. Precisava
voltar pra casa para trabalhar e seguir com a minha vida.
— Gostaria de ir contigo ao aeroporto, Lara perguntou se eu iria, quer que eu
vá, mas não quero sair de perto dela, você entende não é!? — Vince fala ao
me cumprimentar do lado de fora.
— Você já não tem mais que se preocupar comigo, sabe disso não sabe?
— Eu sei. Só quero que saiba que é uma das pessoas mais importantes da
minha vida. Ter te perdoado e voltado a ser seu amigo foi a melhor coisa que
me aconteceu, e foi uma das coisas mais importantes que já fiz. Você é a
minha família. Agradeço por ter vindo, por ter estado ao meu lado nesse
momento também, e principalmente, agradeço por tudo que fez por Lara.
Pelo investimento, pela amizade, pelo cuidado, preocupação, e agora, por
suas palavras. O que fez agora pouco... ter colocado um sorriso em seu rosto
e a motivado... com poucas palavras animou minha esposa, a deixou feliz.
Jamais conseguirei pagar tudo o que você tem sido pra ela, Vitor.
— Estarei em todos os momentos importantes e espero que esteja em todos
os meus também. — eu falo e ele concorda. — Sendo assim cobro aqui uma
visita à Nova York assim que puder. Leve sua família e eu lhes receberei com
a minha. E com relação á diarista, não fiz mais do que minha obrigação.
Cuide dela com carinho, irmão. — eu falo, seu sorriso desaparece, e o meu se
faz presente. Mas não permaneço com a vitória por muito tempo.
Logo Marcella se aproxima após ter deixado a rodinha de amigos que
consistia em Flávia, Júnior, Vivi, Greg e Naila... ela havia cumprimentado
todo mundo, menos ele.
— Cunhadinho... um bom resguardo pra vocês! Venha nos ver nos states. —
Marcella o abraça carinhosamente e eu sinto as trevas me consumindo ao
encará-lo.
Para me provocar ele a abraça lentamente pela cintura, aproxima o corpo dela
do seu, e coloca virilha com virilha, tudo isso me olhando nos olhos sem ela
notar.
— Eu vou cunhadinha favorita, vou só para ver você dançar, estou
prometendo isso faz muito tempo.
— Está mesmo!!! — Marcella responde sem entender nada e sorri pra ele.
— Mas agora eu vou pagar. Meu irmão não pode ser o único a deslumbrar
esse corpinho gostoso no meio de todas aquelas penas de gansos e colares de
pérolas. Eu quero ver isso mais do que quero qualquer outra coisa. — ele diz
com charme, ela ri alto batendo em seu ombro como quando fica sem graça,
mas depois olha dele pra mim... — Vai lá... — ele a puxa pela cintura e beija
sua testa. — Cuide de nossa princesa com carinho!
— Eu te odeio com todas as minhas forças. — eu falo, gargalho alto junto
com os dois, mas logo a puxo pela mão e a tiro de seu espaço pessoal com
seu olhar de zombaria para cima de mim.
Filho da puta. Vai ter volta.
— Eu... vou de voo comercial. Leve Manu com vocês... — Flávia me aborda
na sala VIP do aeroporto.
Manu dormia no quarto, e Marcella havia ido ao banheiro, mas antes,
assistíamos TV na sala de estar. Esperávamos algumas burocracias da
aeronave serem resolvidas porque eu esqueci de avisar com antecedência que
nós partiríamos hoje.
— Não precisa. Vamos para o mesmo lugar, então podemos ir juntos.
— Sua esposa não gosta de minha presença, Vitor, e ela deixa isso claro pela
forma como me olha quando você não está olhando.
— Justo. Você é uma mulher importante pra mim, normal seu ciúme.
— Sou importante pra você?
— Sim.
— Por quê? — ela questiona e eu tiro os olhos da TV.
— É a mãe da Manuella, como assim “por quê”?
— Ah... sim, claro.
— Quer me dizer alguma coisa além de já ter acabado de afirmar que a
presença de ‘minha esposa’ te incomoda?
— Não foi bem isso o que eu afirmei.
— Nem precisou, certo!? — eu sorrio, mas ela não.
— Bom, eu vou indo, tem um voo agora, vi na internet. Nos vemos lá.
— Manuella vai acordar e perguntar de você. Sua atitude só vai atingir a
menina. Ela vai querer saber onde a mãe está e porque não está conosco.
— Aí você pede para a sua ‘esposa’ responder. — ela diz com um sorrisinho
maligno no rosto, me vira as costas, e eu sorrio negando.
— Volta. — digo e no ato ela volta. Puta da vida, mas volta. — Senta. —
digo de novo e ela se senta. — Isso... boa menina! Eu já te disse, se tentar me
foder de alguma forma, vou foder você e muito, mas não será do jeito que
você tanto quer, será no sentido ruim da palavra!!! Cadê o brocha do teu
namoradinho? Por que não me esquece e vai tentar passar a perna nele???
Eu questiono com raiva, ela chora, Marcella aproveita o silêncio para entrar
na sala, e se senta ao meu lado, mas um pouco afastada. Tinha escutado todo
o papo, sentido o clima, e decidiu por fitar a TV ao invés de voltar pro meu
colo, onde estava antes.
— Eu achei que esse clima tinha passado e vocês como adultas, estavam
começando a se engolir, por Manuella. Terei que fazer com vocês duas o que
meu pai fazia comigo e com Vicente?
— Tô achando que você vai ter que acabar escolhendo. — Flávia diz no ato.
— Sua esposinha só me trata bem quando Manuella está por perto, quando se
afasta nem disfarça a náusea.
— Ela não tem obrigação de gostar de você, e você também não facilita, você
é uma chata.
— Vitor, você pode ajudá-la me afastando. É só devolver a nossa vida e não
me obrigar a ficar perto de vocês pra poder estar presente na vida da
Manuella...
— Bom, temos aqui uma DR familiar, vou me retirar para não me
intrometer... — Marcella diz, e se levanta.
— SENTA AÍ. — eu grito e tento me recompor. — Por favor. — eu peço
‘por favor’ como se implorasse e ela decide obedecer. — Vamos lá, do modo
raiz. — pego Flávia pela mão, faço-a se sentar ao lado de Marcella, desligo a
TV, pego uma cadeira, e me sento na frente das duas.
— Vamos direto ao ponto que eu não tenho saco pra isso. Eu tenho uma filha
com você e uma vida com você. Manuella está no centro disso tudo. Eu sei
que não era isso o que você queria — eu encaro Marcella. —, sei que nossos
planos não eram esses e eu lamento por isso. Mas eu amo a Manu, quero ser
o pai dela, poderia não ser, mas eu quero, eu amo aquela menina, ela é minha
filha. Sei o quão chato é aturar o que você atura, nem sei se eu conseguiria,
mas eu peço que continue tentando, eu te amo, sem você nada fará sentido.
Me casei com você porque eu te amo, quero uma vida ao teu lado. Flávia não
tem que te incomodar, ela só está sempre por perto para não ficar longe da
filha. Vou ver o que posso fazer com relação a isso para melhorar o seu lado,
talvez viajar menos, não sei, mas não posso ficar longe dela, eu não saio disso
triste sozinho, você sabe, você também vê, Manu também sai, fica pensando
que eu “viajei e não vou mais voltar”. Ela cresceu ouvindo que esse era meu
trabalho, agora eu tenho que lidar com isso. E você... — eu encaro a vadia
loira. — Nada do que fará para acabar com o meu casamento, vai funcionar.
A não ser que ela se canse disso e eu vou entender, mas se isso acontecer, se
Marcella me abandonar, eu vou destruir você. Por mais que Manuella te ame,
eu vou me livrar de você. Eu a amo, muito, pela primeira vez em décadas eu
sou feliz e agora graças a Manu, sou completo... não pense que seremos uma
família feliz se Marcella for embora, eu serei tudo menos feliz, jamais vou
ficar com você, então se planeja algo do tipo, esqueça, não vai funcionar.
Você veio depois, você é a intrusa aqui, mas eu estou disposto a conviver
contigo numa boa por causa da Manu, então isso aqui tem que dar certo. Não
terá sua vida de volta, esse é seu castigo agora. Se todas às vezes que eu
viajar com a Manu você quiser estar presente para não passar dias longe da
menina, vai respeitar Marcella, não provocá-la e sorrir o tempo todo como o
papai aqui te ensinou. Eu tenho que abrir mão de muita coisa e aguentar de
tudo porque você está sempre por perto, então você vai ter que sofrer
também, junto comigo. Eu amo Marcella, amo Manuella, e amo o quanto
Manuella fica feliz quando tem nós dois por perto, então viveremos esse
amor diferentão assim, na santa paz de Cristo, porque não abrirei mão de
ninguém aqui. Por mim e por minha filha, eu não farei uma escolha. Certo?
Certo. Olha como é bom dialogar, tudo funciona base da porra do diálogo.
— Isso foi um monólogo.
— Cale a boca! — eu respondo Marcella, coloco a cadeira no lugar e me
sento no meio das duas. — Olha que bonito, isso aqui tem tudo para ser
fantástico, tem um pouco de Vitor para cada uma... se não podemos nos
separar, devíamos ficar juntos, bem juntos, mais do que já estamos agora. —
eu coloco meus braços em ambos os pescoços e as trago para perto.
— Não é? Hum? — questiono, mas nenhuma delas diz nada. — Não valho a
briga, sei que se não fosse por mim, vocês seriam boas amigas. Deviam
conversar sobre como me agradar, sobre o que eu gosto, sobre como eu
gosto... — dou um cheiro em meu pescoço favorito. — sobre como retribuir
tudo o que ofereço às duas... eu sou tão generoso, não sou? Hein? — acarinho
a face perfumada de Flávia com lábios e deslizo os dedos de minha mão
esquerda em sua têmpora. Quando eu toco meus lábios no canto dos seus, ela
confirma com a cabeça. — Então, por que tentar me foder se podem juntas
me fazer feliz??? Eu não peço nada, eu nunca peço nada, o que custaria? O
que custaria parar com a picuinha sem motivo, deixar a garotinha que eu mais
amo em paz, e parar de gritar no meu ouvido??? Eu dou uma vida de rainha
para as duas e o que estou ganhando em troca? Uma briga de calcinhas cada
vez que eu preciso viajar com minha filha? Acham isso justo? Você acha? —
questiono encarando a loira vadia e ela nega de olhos fechados. — E você?
Acha isso justo comigo? Depois de tudo o que conversamos, depois da nossa
conversa na dispensa, tudo o que eu te disse, acha justo continuar com isso?
— pergunto e Marcella nega. — Pois então... vocês podem tentar se matar
longe de minhas vistas e das vistas de Manuella, tudo bem... mas enquanto
minha filha estiver por perto peço que tenham postura. Ficarei feliz se forem
amigas e se puderem contar uma com a outra, poderiam fazer compras juntas,
esses negócios que mulheres gostam de fazer... arrumar o cabelo, torrar meu
dinheiro com sapatos, levar Manuella para comprar suas bonecas benditas.
Eu ficaria muito feliz com isso, muito agradecido, mas chega de bate-boca,
chega de briga de calcinha, chega de me encherem o saco com bobagem. Sem
você Manuella fica triste, e sem você eu quem fico e isso vai arruinar
Manuella, percebem? Estamos os três fodidamente ligados, então faremos
isso da melhor maneira. Estão de acordo? Vou precisar falar de novo? —
pergunto e Flávia nega com a cabeça.
— Fale com a boca.
— Estou de acordo, não vai precisar falar de novo.
— E você?
— Acho que eu não tenho muita escolha.
— Tem. — eu arrumo coragem e digo, estava muito cansado de ter medo de
perdê-la. — Tem escolha sim. Pode ocupar seu lugar de minha esposa e lidar
com tudo isso em nome do amor que sente por mim, ou pode pedir o
divórcio, te disse há dias atrás, amor não se força, não vou te forçar, basta
escolher e eu assinarei embaixo. Eu prometo.
— Eu estou de acordo. — ela diz e eu escondo o alívio absurdo que sinto,
colo minha testa em sua têmpora e fecho os olhos agradecendo sua decisão
em silêncio.
— Droga. — Flávia murmura de repente e nos faz rir. — Agora você podia
ter se livrado disso. — ela diz encarando a TV desligada.
— Pra você tomar a minha vida?
— Isso!
— Não, obrigada. — Marcella responde e minha risada se direciona para sua
têmpora.
— É assim que tem ser... desse jeito... — eu volto meus carinhos para a vadia
loira. — Ainda devemos ter pelo menos uns quinze minutos... tem uma cama
de casal ideal no outro quarto. Temos que oficializar essa união com muito
sexo, orgasmo, chupadas, e gozo pra tudo quanto é lado.
— Dispenso.
— Tô fora.
Elas respondem em uníssono se levantando e se afastando de mim, e eu dou
risada disso.
— Uma hora vocês vão ter que perder esse medo e ceder... — eu digo, Flávia
cruza os braços em uma ponta da sala, Marcella me fuzila raivosa na outra
ponta, e eu levo minhas mãos à nuca. —... e eu sei que vai ser incrível,
deliciosamente incrível! Sou naturalmente paciente, vou esperar esse dia
chegar.