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Copyrigth © 2021 – Scarllet J F

Capa: Juliana Lustosa


Diagramação: Lara Design Editorial
Revisão: Beatriz de Faria

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autorização expressa, por escrito, do autor ou editor, exceto pelo uso de citações breves em uma
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1ª Edição
Brasil, Dezembro/2021

Instagram: @autorascar.jf
E mais uma vez estou atrasada! Tenho problemas com horário assumo,
mas em minha defesa dessa vez a culpa não é totalmente minha.
Tá ok! Talvez um pouco.
Enfim, estou atrasada e não faço a menor ideia de onde coloquei
minhas chaves do carro. Vou até a cama onde meu excelentíssimo
namorado dorme.
— Bom dia Josh, está na hora — puxo seu braço, mas nada.
Odeio quando demora para acordar.
— Vamos amor... está na hora! Preciso ir trabalhar, por falar nisso, viu
minhas chaves? — pergunto enquanto termino de calçar meu sapato.
— Bom dia anjo — diz se espreguiçando e sorrindo de forma sonolenta.
— Ontem vi você colocando em cima da cômoda.
— Ah claro, como eu poderia esquecer, sério, acho que devia deixar um
lugar específico para cada objeto em casa, tipo colocar post it sabe?
Josh cai na gargalhada, fico feliz que minha falta de organização divirta
alguém.
— Você acha Vick? Tenho certeza, que horas são? — pergunta
sentando na cama.
Olho o relógio e dou um grito, mas que droga!
— São sete horas! Tenho que correr, até mais tarde amor, almoçamos
juntos hoje?
Pego minha bolsa, confiro se todos os meus pertences estão aqui.
Chaves, ok
Celular, ok
Dignidade… não.
— Hoje não vai dar anjo, tenho uma reunião com uns colegas do
trabalho. Podemos jantar juntos, o que acha?
Volto minha atenção para Josh, ele fala de um jeito como se isso fosse
algo esporádico, mas nós não almoçamos juntos faz mais de meses, nem
jantamos.
Respiro fundo com todo meu autocontrole.
— Ok, me mande mensagem.
Beijo-o e saio correndo.
No carro ligo o som no último volume e sigo cantando enquanto vou
batucando com os dedos no volante. Meus olhos são atraídos para uma luz
laranja piscando no painel, praguejo mentalmente, o carro entrou na
reserva, por que raios eu não abasteci ontem?
Ah que raiva, infelizmente não tenho tempo de passar no posto de
gasolina, realmente preciso chegar no trabalho.
Estaciono o carro e olho o relógio, ótimo 10 minutos atrasada!
Maravilha.
— Eu sei, eu sei, sinto muito, não vai mais se repetir — declaro entrando
na loja.
— Vick, já ouvi isso umas três vezes só essa semana — olha-me por
cima dos óculos, ela suaviza o rosto. — Só te perdoo porque você é uma
excelente funcionária, mas não abuse.
— Muito obrigada Luiza, o que temos pra hoje? — pergunto enquanto
tiro minha jaqueta e guardo minha bolsa.
Trabalho em uma loja de roupas femininas a "DeLatorre". É uma
empresa pequena, há somente eu e mais outra menina além da minha
chefe Luiza, de fato não é exatamente o emprego dos meus sonhos, mas o
salário é bom, consigo pagar as contas, ajudar no aluguel e ainda sobra.
Tenho 23 anos e ainda não sei exatamente qual a profissão que quero
seguir, tenho plena consciência que poderia estar me formando, porém
tenho dúvidas, gosto de tudo um pouco o que dificulta minhas escolhas.
Entro na parte do estoque da loja e percebo que o dia acaba de ficar
bem longo.
— Recebemos várias peças novas Vick, precisamos dar entrada e
organizar o estoque, acha que acabamos isso ainda hoje? — olho por cima
do ombro e faço um sinal de que tá tudo sob controle, ela apenas sorri.
— Preciso me ausentar da loja amanhã, então queria deixar tudo
organizado.
Noto que ela não está tão animada como de costume, algo está errado.
— Algum problema, Luiza?
— Nada importante…
— Você sabe que pode contar comigo, não é?
— Eu sei Vick, mas não é nada importante mesmo.
Nesses dois anos que trabalho na DeLatorre já percebi que Luiza é uma
pessoa maravilhosa, porém não gosta de se abrir, então não forço, deixo
apenas que ela saiba que estarei aqui caso precise.
— Então melhor começar isso. Amanda está de folga hoje?
— Sim, ela iria folgar amanhã, porém como vou precisar me ausentar
troquei a folga dela para hoje.
— Ok, é melhor eu começar então.
O restante da manhã passa tranquilamente, consigo adiantar bem o
serviço, quando olho no relógio vejo que já são quase 14:00 horas e ainda
não almocei, ligo para um fast food e almoço na loja mesmo, preciso
terminar isso ainda hoje.
Olho meu celular conferindo e nenhuma mensagem de Josh, o que não
é uma grande novidade, não somos um casal que conversa o tempo todo.
Nos damos muito bem, gostamos das mesmas coisas, frequentamos os
mesmos lugares, temos um relacionamento saudável, não possuímos
aquela cobrança e ciúmes.
Josh acabou de se formar em Administração, então está bem atarefado
com seu novo emprego, ele tem sonhos e ambições e eu o admiro muito
por isso, quando ele quer algo vai atrás, então eu o apoio em tudo que
posso, sempre.

— Não! — grito como se isso fosse resolver a porcaria do meu


problema.
Definitivamente hoje não é meu dia! Não pode ser.
Acabou a gasolina do carro, literalmente no meio do nada, tá não é bem
assim no meio do nada, mas a rainha do drama aqui sou eu.
Pego meu celular e digito o número do meu querido namorado.
Chama uma…
Duas…
Três…
Mas que puta novidade ele não atender!
Ok...
Respiro fundo, pensa Vick, não tem um posto por perto e está ficando
tarde, posso andar e tentar encontrar algo aberto...
Estou exausta, irritada com a situação e para ajudar escuto meu
estômago roncar, encosto minha cabeça no volante e seguro a vontade de
chorar de raiva, fecho os olhos, não há outro jeito, preciso procurar um
posto, solto o cinto de segurança criando coragem para sair do carro e ir
atrás.
Fecho a porta do carro e ligo o alarme.
Dou um pulo levando um susto com o ronco de uma moto muito
próximo, puta que pariu, levo minha mão no coração.
A moto para ao meu lado, é uma Harley Davidson preta, começo a rezar
e pedir para o universo qualquer tipo de intervenção a meu favor.
— Precisa de ajuda? — ouço o desconhecido perguntar e sua voz me
causa arrepios, possui um timbre grave, mas ao mesmo tempo é ... doce.
Faço careta com minha constatação que não faz sentido algum, saindo dos
meus devaneios lembro que ele ainda está parado aguardando minha
resposta.
Eu o observo com curiosidade, e agora?... vai que ele é um psicopata e
está só analisando a situação, porém, ele não tem cara de assassino, Ted
Bundy também não tinha, permaneço uns cinco segundos analisando
minhas opções, o desconhecido me analisa de volta, provavelmente deve
estar imaginando que sou louca.
O que não seria totalmente uma mentira.
Tudo bem! Chego à conclusão que não tenho opção melhor.
— Sim, acabou a gasolina do meu carro...
Logo após as palavras saírem da minha boca o desconhecido estaciona
a moto em frente ao meu carro, tira o capacete e…
Wow.
Senhor...
Misericórdia...
Sei que estou totalmente errada e não deveria estar analisando com
tanta atenção.
Mas, puta que pariu!
O cara é lindo de morrer... não, morte não, esquece isso.
O estranho, vem andando cheio de si em minha direção, o que prova
que ele sabe que é lindo, e sabe também o efeito que causa nas pessoas.
Me permito dar uma “leve” conferida, ele está usando calça jeans preta
delineando suas coxas, e que belas coxas. Camiseta preta e pasmem,
jaqueta de couro preta também... chego à conclusão que ele gosta de preto,
seus cabelos escuros estão desarrumados devido ao capacete, mas
desconfio que ele gosta assim mesmo, devido ao jeito de mexer
bagunçando ainda mais.
— Como se esquece de abastecer o carro? — retiro tudo o que eu
disse, já estou no meu limite e ele está me julgando, só pode estar de
brincadeira.
— Olha só, se é pra ficar me observando com essa cara de julgamento
pode pegar sua moto e voltar de onde você saiu — isso Victoria, compra
briga com a única alma que parou para te ajudar, continue assim querida
que você vai sair daqui amanhã.
— Querida, você não está em posição de ficar nervosinha ok? Estou te
oferecendo ajuda — declara com um ar de deboche na voz.
Arg …
Arrogante idiota.
— Primeiro não me chame de querida, segundo deixa de ser metido, o
que você tem de bonito tem de arrogante.
Não.
Eu não fiz isso.
Sim.
Eu fiz isso.
Fecho os olhos, oh m-e-u D-e-u-s, a segunda parte era pra ter sido
mencionada apenas na minha cabeça, por que sempre faço esse tipo de
coisa? Cala a boquinha Victoria, pelo menos uma vez na vida.
Não demora muito, ele se dá conta das palavras que acabei de proferir,
consigo notar exatamente o momento em que percebe, porque seu sorriso
abre de uma forma que até atinge os seus olhos, olhos que agora possuem
um brilho diferente, o babaca consegue ser ainda mais lindo sorrindo.
— É recíproco — diz virando a cabeça de lado, analisando-me de uma
maneira bem fofa, se ele não fosse ele.
Fico confusa, notando a minha reação, ele continua.
— O que você tem de linda tem de nervosa — ele se aproxima e
estende a mão em minha direção, agora ele resolveu ser educado. —
Prazer sou Anton e você?
Seguro sua mão e o olho com cara de tédio.
— Sou Victória e sem prazer nenhum.
Anton encara-me sério e de repente começa a rir, na verdade começa a
gargalhar e parece ser contagiante porque começo a rir junto.
Meu telefone começa a tocar Pretty Woman na versão do Van Halen, ele
me lança um olhar de “sério”?
Olho para o visor e vejo que é o Josh.
— Oi Josh — atendo o telefone e sinto seus olhos em mim.
— Anjo, você me ligou...
— Ah sim, fiquei sem gasolina e não tem absolutamente nada por perto
— continuo explicando a situação para Josh e com o canto dos olhos
percebo que Anton está mexendo em uma pulseira no seu braço sem
perder o contato visual com ela.
— Ok, vou te enviar a localização por mensagem, te espero então...
beijo — desligo o telefone e olho para o Anton.
— Meu namorado vai trazer gasolina, você está liberado de ajudar uma
desconhecida nervosa ANTÔNIO — sim, sei que falei o nome dele errado,
porém ele desperta o meu lado mais infantil e implicante que conheço, a
maneira que me encara diz que percebeu a minha intenção de incomodá-lo,
foda-se, sorrio ainda mais com isso.
— É ANTON, não ANTÔNIO, sabe... meu nome tem um significado bem
legal e superinteressante, na verdade diz muito sobre mim — não parece se
incomodar com a minha brincadeira, muito pelo contrário parece estar se
divertindo.
Ele sorri de um jeito sarcástico e insuportavelmente charmoso.
— Ah é? E o que significa? — pergunto fingindo desinteresse, mas na
verdade estou bastante curiosa.
— Significa "de valor inestimável", "digno de apreço", sinta-se
privilegiada Victória — abre os braços enquanto fala o significado, faz toda
uma cena e não consigo segurar o riso, começo a rir de forma
descontrolada, ele só pode estar brincando.
— Se foi sua mãe quem te disse isso, sinto informar que ela estava
apenas te agradando, um dia vou querer ter um terço do seu ego
ANTÔNIO, mas como já havia dito, você pode ir, não quero te atrasar,
ficarei dentro do carro segura.
Ele nega com a cabeça.
— Nada disso, espero aqui com você.
Ok, por essa eu realmente não esperava, confesso que sinto-me mais
aliviada, esperar aqui sozinha não me agrada em nada...
Mas não sei se é exatamente esse o motivo de me sentir assim...
— E aí, que tipo de pessoa ainda escolhe música para toque de celular?
— pergunta, parecendo realmente querer puxar assunto, então já que ele
quer conversar, por que não?
— Gosto de músicas... então coloco em qualquer lugar que seja
possível, inclusive no meu celular como toque — dou de ombros, realmente
é verdade, eu amo músicas de todos os tipos, mas Rock e músicas dos
anos 70,80 e 90 tem um lugar especial no meu coração, infelizmente não
nasci com o dom de cantar ou tocar, até tentei por alguns anos, mas sou
horrível, então vamos deixar essa arte para quem sabe.
Sentamos um do lado do outro no meio fio na rua, ele pega o celular e
envia algumas mensagens, como eu sei?
Talvez, mas apenas talvez eu tenha espionado.
Eu deveria me sentir desconfortável, afinal é um estranho e estamos
sozinhos, literalmente no meio do nada, mas por algum motivo, me sinto
bem e estranhamente segura, ele é engraçado e sarcástico.
Ah e arrogante também, não posso esquecer dessa parte.
Ele guarda o celular no bolso e volta seus olhos em minha direção.
— Sabe, não sei se você já descobriu, mas existe uma luz "mágica" que
acende no painel quando o carro entra na reserva, incrível não acha? — diz
sorrindo levantando as sobrancelhas.
Reviro os olhos bufando.
— Você sempre é assim? — pergunto realmente curiosa.
— Todos os dias — responde piscando, e não sei bem por qual motivo,
mas seu sorriso deixa-me hipnotizada, engulo com dificuldade porque ele
está muito próximo, fazendo com que eu o observe com mais atenção do
que eu deveria, noto seus olhos presos em minha boca.
Seus olhos são claros, num tom de azul esverdeado, lembra-me do mar.
— O que significa? — pergunto apontando para sua tatuagem no braço,
na tentativa de mudar o foco da situação constrangedora que se formou.
— É a letra de uma música... gosto dela, então decidi eternizar-lá. Você
tem alguma?
Era uma tatuagem realmente muito bonita, possui uma frase que não
consegui identificar entre alguns desenhos de rosas e espinhos.
— Que música? — pergunto realmente muito curiosa, ele apenas sorri.
— Você não me respondeu…
— Não tenho nenhuma tatuagem, ainda não encontrei nada que
quisesse eternizar...
— Quantos anos você tem? — questiona me observando.
— 23 e você?
— Tenho 29, como você ainda não possui nada para eternizar?
— Eu só não tenho, na verdade nunca parei para analisar isso... —
franzo o cenho pensando sobre o assunto.
— Pois devia! A vida é muito curta pra apenas existir, sem ter histórias e
aventuras, precisamos vivê-la — encaro-o e noto que está olhando para o
nada, pensativo, de repente o assunto ficou sério e posso até estar errada,
mas de alguma forma pareceu mais que apenas viver, Anton parece
melancólico por um momento, não gostando de vê-lo desse jeito tento fazer
graça com a situação.
— Em que momento você ficou filosófico? — empurro seu ombro com o
meu, e seu perfume me invade.
Começamos a rir juntos e um carro estaciona.
Josh.
— Então é isso dona encrenca, está segura — declara levantando
estendendo sua mão ajudando-me a levantar.
— Muito obrigada ANTÔNIO — dou ênfase no seu nome.
Anton apenas acena balançando a cabeça rindo e começa a se afastar,
quando ele está chegando na moto, lembro-me que não respondeu à minha
pergunta.
— Eei — grito.
Ele para, mas não se vira.
—Você não me disse qual é a música...
Olhando por cima do ombro ele sorri e diz.
— Creep — sobe na moto e vai embora, fico com uma sensação
estranha que eu ainda não tinha sentido.
Empurro este sentimento de lado e vou em direção ao carro.
Josh vem ao meu encontro.
— Hey amor, tudo bem?
— Está sim, obrigada por vir me salvar — abraço-o enterrando meu
rosto em seu peito, tentando apagar essa sensação que se instalou de
repente.
— Sempre! Quem era aquele cara que estava aqui sentado com você?
— pergunta, mas não sinto ciúmes em suas palavras.
— Ah claro, é Anton, ele parou para oferecer ajuda e quando você disse
que ia vir, decidiu esperar junto comigo o que foi muito gentil da parte dele.
— Hum, tudo bem, vamos por a gasolina.
Terminamos de abastecer.
Entro no carro e coloco a música para tocar enquanto sigo o caminho de
casa, gosto da melodia e acabo sorrindo, até que o Anton de valor
inestimável não tem um gosto ruim... pelo menos pra música.
Coloco tocar novamente, dessa vez prestando atenção na letra, é então
que percebo que a música não se parece nada com Anton, a letra fala
sobre uma pessoa que não se sente especial e suficiente para alguém, de
fato a música é realmente muito linda, porém ao mesmo tempo fico
tentando compreender …
Por que alguém gostaria de eternizar algo assim na pele?
Logo, por que Anton?
Desde o acontecido, sim estou referindo-me aquele fatídico dia como
o "acontecido", parei para analisar a vida... os detalhes, coisas que antes
não importavam, não dava tanto significado.
Hoje de manhã quando acordei por exemplo, o dia estava lindo, um
dia de outono, as folhas estavam começando a cair na rua e havia sol, a
combinação perfeita.
Sentada na mesa olhando para a janela, começo a procurar por
coisas que me fascinam, coisas que eu sinto prazer em fazer. Vou para meu
quarto deito em minha cama e resolvo ligar para minha melhor amiga.
— Já se sentiu vazia? — pergunto assim que ela atende.
— Olá pra você também, e eu estou ótima, obrigado por perguntar e
não, por exemplo ontem debaixo de um moreno lindo me senti bem cheia...
— Poupe-me dos detalhes da sua vida sexual, mas falando sério tô
numa crise aqui de meia idade, dá pra ajudar?
— Definitivamente isso não é uma crise de meia idade, você nem
tem idade pra isso, provavelmente está percebendo que não faz nada de
divertido e ponto, por exemplo, hoje é uma sexta-feira à noite e você está
em casa pensando na vida.
— Não estou falando de ir em festa ou ficar bêbada — digo
emburrada.
—Vick você não faz absolutamente nada, trabalha e vai pra casa,
não lembro nem da última vez que fizemos algo juntas, só nós duas, mas
porque isso agora?
— Não sei, eu só... sei lá, me sinto estranha sabe, desde o encontro
com aquele cara, fiquei pensando, e se eu estiver apenas existindo e não
vivendo? Não tenho metas, sonhos e vontades. Fez sentido pra você?
— Talvez faça um pouco, o que acha de sairmos? Podemos ir em um
bar... só nós duas, observar a paisagem — começo a rir, sei bem da
"paisagem" que ela está falando, sem pensar muito, aceito. Talvez eu
precise disso, sair um pouco, conversar, respirar... normalmente eu penso
demais e logo desisto.
— Ok — respondo de imediato.
— Ok? Assim? Isso é sério? Noite das garotas!!! Aaai meu deus, isso
vai ser demais, passa aqui em casa depois do trabalho, não se atrase e por
favor não desista — sorrio com o seu entusiasmo
— Não vou desistir, saindo do trabalho vou direto pra sua casa, até
amanhã.
— Ok docinho, até amanhã! — desligo o telefone, levanto e vou para
a sala ao encontro do Josh.
— Hey amor, amanhã vou sair com a Giulia, noite das meninas —
aviso enquanto sento ao seu lado.
— Tudo bem anjo — responde sem tirar sua atenção do notebook.
— Estava aqui pensando, podíamos fazer algo hoje, você e eu, eu e
você. É sexta-feira à noite — estou usando uma camisola preta de cabelos
soltos, vou em direção ao seu colo, Josh está sem camiseta, calça
moletom, cabelos molhados de quem acabou de sair do banho, quando vou
tirar o notebook para que eu possa me sentar, Josh para os meus
movimentos.
— Meu anjo, eu estou no meio de um projeto importante, realmente
não é o momento — passa a mão na minha cabeça como se eu fosse uma
criança de 5 anos de idade e não faremos algo que ele havia prometido.
Sinto-me frustrada, porque nós estamos nos afastando a cada dia
que passa, e quando tento me reaproximar ele simplesmente me afasta.
— Vou terminar daqui 30 minutos, então podemos sair para ir jantar
o que acha? — notando que fiquei chateada tenta consertar a situação com
o jantar, não querendo arrumar motivos para mais um desentendimento
aceito, mas qualquer vontade de fazer alguma coisa, foi embora.
— Ok, vou me arrumar — levanto-me do sofá e vou para o quarto
sentindo-me cansada e desanimada, Giulia está errada, estou tendo uma
crise de meia idade sem dúvidas.
Mesmo desanimada resolvo me arrumar, tomo um banho bem
relaxante escutando música, coloco meu melhor vestido, rosa claro de alças
trançadas nas costas, ponho um salto, faço uma maquiagem bem leve e
paro em frente ao espelho analisando
Ficou bom... na verdade eu adorei, me sinto linda.
Vou ao encontro do Josh, chegando na sala ele está no celular.
— Hey amor... — chamo sua atenção, ele olha-me, porém não fala
nada, apenas levanta um dedo pedindo um minuto.
Aceno concordando e aguardo.
— Anjo você não vai acreditar, estão abrindo uma filial da empresa
em outra cidade — diz com grande empolgação.
— Nossa amor! Que bom, isso significa que vai expandir então
provavelmente daqui a pouco você será promovido, isso é ótimo na
verdade.
— Assim eu espero. Estava conversando com o Bruno, até então
não temos certeza de muitas coisas, mas quem sabe não é, vamos? — ele
sorri e me estende a mão.
— Vamos — sorrio, porque mesmo chateada por ele não ter notado
que eu havia me arrumado, estou contente por ele estar feliz.
No carro voltando pra casa depois do jantar, Josh segura minha mão
de forma carinhosa, olho em sua direção e sorrio.
Porém meu sorriso não chega aos olhos, o jantar foi agradável…
Nós conversamos, rimos..., porém comecei a notar que sempre que
saímos juntos eu o escuto e quase nunca falo. Sempre fui uma filha,
namorada, amiga exemplar, nunca me rebelei ou fugi de casa para ir em
uma festa escondida, na verdade sempre fui a filha perfeita, criada para
casar e ter filhos, cuidar da casa e por mim estava tudo bem.
Nunca parei para pensar nas minhas vontades, sempre aceitei o que
era imposto, só agora consigo notar que não faço nem minhas próprias
escolhas, como eu deixei minha vida chegar a esse ponto?
Tenho agido minha vida inteira conforme as pessoas julgam certo,
minhas roupas, meu jeito, até meu corte de cabelo, sempre faço tudo para
agradar os outros.
Quando vou colocar-me em primeiro lugar e fazer minhas próprias
escolhas, com base nas minhas vontades e desejos? Olho para fora da
janela do carro e sigo pensando, quando noto estamos estacionando em
casa, casa que eu mesma não opinei, Josh escolheu por ser mais próxima
do seu emprego, não levando em consideração que eu levo quase quarenta
minutos pra chegar no meu.
Assim que entramos em casa sinto suas mãos puxando-me por trás.
Josh beija meu pescoço com carinho, sinto seus dedos abrindo o
zíper do meu vestido lentamente.
Escuto sua respiração acelerada em meu ouvido, fecho os olhos,
mas não consigo me sentir confortável.
Está tudo confuso, minha cabeça de repente vai para uma lembrança
intrusa, simplesmente foge do meu controle e lembro-me daquele sorriso
sarcástico e sedutor do Anton, sentindo-me a pior pessoa do mundo e sem
saber o motivo de lembrar justamente agora, empurro a lembrança para
fora da minha mente, isso é errado.
Sou pega de surpresa quando sinto uma pegada mais forte, virando-
me de frente beija-me de forma mais esfomeada, vamos lá Vick é o Josh,
você o ama.
Suas mãos abrem o fecho do meu sutiã, puxo sua camisa a tirando.
Beijo seu pescoço, vou descendo pelo seu peito, sigo tentando
apagar qualquer dúvida em minha mente, chego em sua barriga e vou
distribuindo beijos trilhando caminho, abro o botão de sua calça e já consigo
ver seu membro duro e soltando um líquido, passo a língua bem devagar na
ponta, posso ouvi-lo gemendo. Josh enrola os meus cabelos em sua mão
fazendo movimentos para que eu o leve todo em minha boca, e mais uma
vez finjo que está tudo bem.
— Porra Vick, não tortura — o aperto em meus cabelos intensifica
assim como os sons que ele solta, começa a movimentar os quadris ao
meu encontro, aumento a velocidade e o aperto em seu membro.
Sou puxada para cima, pegando-me no colo ele nos leva ao nosso
quarto e solta-me na cama.
Sinto seus beijos em meu pescoço, ele desce e suga meu mamilo
esquerdo depois vai para o direito enquanto sua mão desce pela minha
barriga, mas não consigo me sentir confortável, um sentimento de
impotência me atinge.
Não quero mais ser tocada.
Eu o puxo em minha direção e o beijo tentando apagar qualquer
dúvida, sinto quando ele começa a me penetrar, intensifico os beijos
conforme ele começa a intensificar as estocadas, na esperança que não
demore, de repente ele me abraça bem forte e geme em meu ouvido.
Sinto alívio pelo simples fato de ter acabado e a única coisa que eu
quero é esconder-me, ele beija minha testa puxando-me de encontro ao
seu peito caindo no sono, quando eu tenho certeza de que ele já dormiu
vou para o banheiro ligo o chuveiro, me sento em baixo e deixo as lágrimas
escorrerem junto com a água, me sentindo a pior pessoa do mundo.
Então choro, choro até me sentir tão vazia que não sinto tristeza,
felicidade e nem culpa, desprovida de qualquer emoção.
Acordo sentindo uma dor de cabeça gigante, provavelmente devido a
madrugada que passei, não consigo explicar como estou me sentindo hoje,
me sinto vazia apenas.
Tiro devagar o braço do Josh de cima da minha barriga e sigo para o
banheiro, tomo um banho, escovo os dentes e visto minha roupa, chego na
cozinha preparo o café da manhã e faço uma análise do meu dia, vou
trabalhar e depois tenho o encontro com Giulia, só de imaginar já sinto
minha cabeça querendo explodir, mas infelizmente eu prometi que não
desmarcaria, eu seria arrastada de qualquer maneira mesmo.
Josh aparece na cozinha pronto para trabalhar, vestindo calça jeans
e camiseta social com as mangas puxadas próximas ao cotovelo, cabelo
está penteado para trás, um verdadeiro cara de negócios, eu costumava
sentir milhões de sensações quando o via vestido assim, mas hoje... hoje
eu não sinto absolutamente nada.
— Hey anjo, bom dia... acordou cedo, tudo bem? — pergunta cheio
de preocupação, não sou uma pessoa matinal, normalmente demoro muito
para levantar, fico adiando até o último instante que posso.
— Está sim, só uma dor de cabeça, mas já vai passar — minto.
— A noite de ontem foi perfeita — ele sorri e por algum motivo suas
palavras me incomodam, porque eu não me senti bem, nem durante e
muito menos depois.
— Foi sim amor, então vou sair do trabalho e ir direto para o bar com
a Giulia, tudo bem por você? — mudo o rumo da conversa, não quero
entrar nesse assunto e muito menos que ele perceba que há algo de
errado, enfrentar uma conversa a essa hora da manhã com essa dor de
cabeça, sem condições.
— Claro anjo, qualquer coisa pode me ligar — me abraça e dou um
beijo, nos despedimos e seguimos para nossos respectivos trabalhos.
Chegando no trabalho sinto meu celular vibrar no bolso, olho para o
visor e não consigo segurar o riso chamando a atenção de todos.
Ela definitivamente tem o pior repertório de piadas e apelidos de todos
os tempos.
O restante do dia ocorre como o previsto, durante a manhã troco
algumas mensagens com minha mãe, mas prefiro não aprofundar os
assuntos, provavelmente ela notaria algo errado e ficaria o restante do dia
fazendo perguntas que francamente não estou a fim de responder agora,
principalmente com ela.
Organizo o estoque da loja e atendo alguns clientes, o movimento está
bem fraco.
Como sempre faço todos os dias, almoço em um restaurante próximo ao
meu trabalho que na minha opinião possui o melhor lanche do mundo,
hambúrguer e milkshake de morango é a combinação perfeita. Após o
almoço o movimento na loja aumenta fazendo com que o restante do dia
passe voando, quando olho o relógio já são 18:00 horas, preciso correr.
Despeço-me da Luíza e Amanda, pego o carro e vou em direção a casa
da Giulia.
Assim que estaciono o carro consigo escutar o som no último volume,
Giulia mora em um lugar lindo, uma casa que parece aquelas de filmes, é
pequena, mas muito aconchegante, a cor em tom de rosa claro, as janelas
e portas são brancas e ela encheu de flores na varanda, um verdadeiro
sonho, toco a campainha e aguardo enquanto confiro minhas mensagens
no celular.
A porta abre e sou recebida com um abraço caloroso sob os gritos
da minha melhor amiga, um copo surge em meu rosto, não consigo
identificar o que há dentro, é doce e me parece um pouco gaseificado.
Sou arrastada para o meio da sala pelo braço, deposito o copo na mesa
antes que eu faça um estrago em seu tapete, começamos a dançar
rodopiando, olho-a enquanto dança, Giulia é a melhor amiga que eu poderia
ter, uma alma linda e leve, coração imenso e de sorriso fácil, para ela nada
é impossível e a esperança é a última que morre e segundo ela, quando a
esperança morre vem o milagre.
Caímos no sofá juntas e começamos a rir.
—Vamos garota, hoje à noite é nossa — declara enquanto pega sua
bolsa e segue em direção à porta, assim que saímos o Uber já está à nossa
espera e não faço a menor ideia de quando ela fez a solicitação do
aplicativo.
Essa é a Giulia, sempre pronta.

O carro estaciona em frente e nós descemos, pela fila que há na entrada


imagino que o bar deva estar lotado, provavelmente alguma banda vai tocar
hoje.
Passos meus olhos pelo ambiente, é interessante, algo meio rústico, há
guitarras penduradas nas paredes e quadros de motos Harley Davidson, o
que me faz lembrar do bendito que venho tentando esquecer.
Como eu previ o lugar está bastante cheio, há várias pessoas, algumas
sentadas e outras em frente ao palco, onde possui uma cortina tampando.
Por sorte conseguimos uma mesa em um ótimo lugar, onde
conseguimos ter uma visão bem ampla do palco. Graças ao sorriso e a
carinha de anjo que Giulia jogou no segurança.
Pedimos algumas bebidas, o que me faz lembrar que nunca tive o hábito
de beber, nem mesmo socialmente, porém sinto que preciso me soltar e um
pouco de diversão não faz mal a ninguém.
Eu acho...
Está tocando Bon Jovi – Its My Life e não posso conter o sorriso que
surge em meu rosto, a letra em especial dessa música, é exatamente assim
que venho me sentindo ultimamente, “é a minha vida... é agora ou nunca”.
— Mas então dona Victoria Carvalho, conte-me o porquê você acha que
está tendo uma crise de meia idade com apenas 23 anos — Giulia tira-me
dos meus pensamentos, viro-me em sua direção.
É fato que estou me sentindo assim nas últimas semanas, mas
realmente não estou com vontade de entrar nesse assunto agora,
principalmente aqui.
Eu só gostaria de esquecer, ao menos hoje.
— Ah por favor, agora não Giulia, estamos em um bar com músicas que
eu amo e você quer conversar justamente agora? Ah não, eu quero dançar
— declaro pegando sua mão e a puxando da cadeira.
Começamos a dançar e a cantar.
Giulia para, sorri de um modo travesso e vai até o garçom, não demora
muito duas tequilas são entregues em nossa mesa.
Eu viro e faço uma careta, Giulia começa a rir e puxa-me novamente
para dançar.
Escutamos alguns acordes de guitarra e o som cessa, provavelmente a
banda vai iniciar, viro-me em direção ao palco para observar o show, porém
congelo.
É Anton.
Anton com um violão.
Não pode ser ...
Fecho meus olhos, achando que pode ser fruto da minha imaginação
pregando alguma peça, devido a quantidade de bebida e o fato de que
venho pensando em Anton mais do que devia ultimamente, abro os olhos.
Ok.
Definitivamente é o Anton lá em cima.
— Giulia, é o Anton — puxo seu braço, ela olha com cara de quem não
entendeu nada, e tudo bem, não julgo porque isso não faz o menor sentido.
— Anton, o cara que eu conheci naquele dia que fiquei sem gasolina —
explico da melhor maneira que consigo, porque minha boca está seca e
parece que as palavras não saem.
Seus olhos arregalam-se em surpresa.
Pois é.
Somos duas, eu jamais imaginaria encontrar ele aqui.
Puta que pariu.
— Ah claro, Anton... o cara que te fez analisar a vida, tá certo...
devíamos ir cumprimentá-lo — ela sorri de maneira perigosa, conheço esse
sorriso.
— Não, provavelmente ele não lembra — respondo, porque é a verdade,
não acho que ele deva lembrar mesmo, isso já faz algum tempo e mal
conversamos naquele dia.
— Vamos descobrir então — diz puxando-me para perto do palco.
Ok.
Reformulando a frase, sou arrastada.
Chegamos em frente ao palco e então me permito olhar com mais
atenção agora que estou mais próxima.
Anton está usando uma calça jeans preta, camiseta colada o que me dá
uma visão bem detalhada do seu corpo, dessa vez a cor é branca, jaqueta
amarrada na cintura, sua pulseira continua no mesmo lugar... minha
garganta fecha.
Tiro coragem de onde não tenho e berro.
— Hey Antonio — Giulia e eu nos olhamos caindo na risada, tenho que
agachar no chão de tanto rir, essa não sou eu.
Definitivamente.
— Ele está procurando quem berrou, levantaaaaa daí — Giulia diz
puxando-me de volta.
Preciso parar de beber, mas eu comecei hoje.
Assim que levanto encontro a razão de onde meus pensamentos são
levados constantemente.
Ele sorri, e eu ?
Ah, eu me derreto porque é um sorriso lindo.
Anton faz um sinal e chama alguém próximo do bar, alguns minutos
depois um garçom traz dois drinks, tudo bem só mais esse penso comigo.
— Vou cantar uma música hoje para uma pessoa que eu conheci há um
tempo atrás.
Eu o observo nervosa, não poder ser…
Ele não faria isso…
Olho para os lados, mas ele está me encarando.
— Olá Dona Encrenca seja muito bem-vinda, espero que esteja se
divertindo — declara mordendo o lábio piscando em minha direção.
Conheço os primeiros acordes e dou um berro gigante porque Pretty
Woman começa a tocar levando-me à loucura, meu Deus do céu não
acredito que ele lembrou da música.
Anton tem uma voz linda, é um pouco rouca, mas sensual ao mesmo
tempo, estou dançando e sinto um aperto no meu braço, olho para Giulia.
— Olha só, eu não queria falar, mas já falando porque sou assim, ele
não tira os olhos de você enquanto canta — volto minha atenção para o
palco, ele está com o olhar fixo em mim, ele sorri e eu prontamente retribuo,
continua cantando sem desviar o olhar dos meus, como se eu estivesse
hipnotizada é impossível desviar... acredite eu tentei.
-Pretty woman -
Linda mulher,

-That you look lovely as can be -


Você está o mais linda possível
-Are you lonely just like me?
Você está sozinha como eu estou?

Seu sorriso se desfaz ficando sério encarando-me de uma maneira que


deixa-me arrepiada, meu coração parece que vai explodir a qualquer
momento, seu olhar é intenso e eu arriscaria a dizer que faminto, tento
desviar novamente, porém é impossível e no fundo não sei se quero.

-Pretty woman, give your smile to me...


Linda mulher, dê o seu sorriso para mim...

-Pretty woman, yeah yeah yeah


Linda mulher, yeah, yeah, yeah

-Pretty woman, look my way


Linda mulher, olhe em minha direção

-Pretty woman, say you'll stay with me


Linda mulher, diga que você ficará comigo

-'Cause I need you I'll treat you right


Porque eu preciso de você, eu te tratarei bem

-Come with me baby be mine tonight


Venha comigo querida, seja minha esta noite

Minha boca fica seca, minhas mãos estão suadas, meu coração parece
que vai sair pela boca a qualquer momento e sabe aquela sensação de
borboletas que as pessoas tanto falam? Sim, elas também estão em meu
estômago agora.
A música termina, sinto-me como se tivesse acabado de sair de um
lugar onde existia apenas eu e Anton. Sou tirada por completo do meu
transe quando escuto Giulia.
— Ok, Victoria Carvalho, que porra aconteceu aqui? — questiona
curiosa, quando eu mesma não sei o que aconteceu.
— Ah não é nada, ele é assim mesmo o tempo todo — tento disfarçar o
quanto estou mexida.
— Uhum, isso... continua afirmando isso, que talvez vire verdade.
— Me deixa Giulia Maria, não tem absolutamente nada! Essa música é o
toque do meu celular, ele lembrou e apenas isso, sem mais — digo
tentando acabar com o assunto, até apelo pelo seu nome completo que ela
odeia.
— Você não fez isso ... agora eu tenho certeza que tem alguma coisa,
você não ia usar meu nome completo assim por nada, vamos lá, me conta
— pergunta sorrindo diabolicamente.
Giulia possui três sorrisos, um é de anjo que ela utiliza para conseguir
coisas, o segundo é o de felicidade sem motivos, o sorriso fácil que
mencionei, e o outro, esse é o sorriso diabólico, ela usa quando tem razão
ou depois de conseguir o que quer.
Aceno negando.
— Não tem absolutamente nada! Eu tenho namorado, não sei se você
lembra.
Vira a cabeça de lado semicerrando os olhos desconfiada.
— Já que não existe nada, talvez eu deva investir, sabe... ele é
realmente muito lindo — sei o que está tentando fazer, quer tirar qualquer
reação minha por menor que seja, mas ela não vai conseguir.
Viro o restante do drink que ainda tinha em meu copo.
— Devia mesmo — concordo voltando a dançar, mesmo sentindo um
desconforto.
Fecho os olhos e esqueço todas as minhas inseguranças, dúvidas e
temores, apenas eu e a música. Sempre gostei de dançar, é o único
momento em que sinto que posso ser eu mesma, sinto-me livre sem
precisar agradar ninguém, ser amigável ou fazer tudo o que as pessoas
julgam correto, continuo dançando de olhos fechados quando sinto alguém
se aproximando, engraçado que já sinto a sua presença sem nem mesmo
abrir os olhos, sorrio.
Abro os olhos e engulo em seco com a visão que há em minha frente.
— Olá Anton de valor inestimável.
— Olá Dona Encrenca — responde com seu sorriso lindo e
sarcástico.
No carro com minha banda a caminho do bar onde tocamos todo
sábado, sinto meu celular vibrar no bolso, Jules minha irmã pentelha, tenho
29 anos e ela tem 25, a diferença é pouca só que gosto de pensar que sou
muito mais velho, atendo o telefone.
— Hey princesa!
— Anton... precisamos conversar.
— Não Jules, nós já conversamos e eu gostaria muito que você
respeitasse minha decisão.
— Não Anton. Sua decisão afeta minha vida, então não posso
simplesmente deixar como está, você precisa repensar e analisar melhor a
situação — solto uma risada amarga.
— Situação? É assim que você quer chamar agora? Jules eu a amo
mais do que a mim mesmo, você tem sido a luz em minha vida desde que
me conheço por gente, mas por favor não faça isso ok? A vida é minha, a
situação como você chama é minha também, então por favor ao menos
uma vez na vida deixa que eu resolvo e levo isso do modo que eu quero —
percebo que talvez eu tenha sido duro demais, mas sempre quando ela
vem com esse assunto eu fico assim, respiro fundo e tento consertar a
situação.
— Princesa, por favor... não vamos discutir novamente sobre isso,
ok? Nós já conversamos, te expliquei as minhas vontades e eu gostaria
muito que você apenas aceitasse, seria muito mais fácil. Por favor não
complica mais do que já está.
— Não vou prometer que não vou tocar mais no assunto, porque
essa não sou eu, eu te amo e vou lutar até o fim pelo que julgo ser o certo,
mas por agora vou te deixar em paz.
— Ok princesa, posso conviver com isso por agora — o carro para
indicando que chegamos.
— Jules tenho que desligar, acabei de chegar no bar. Te ligo mais
tarde quando acabar o show.
— Ok Anton, mas liga! Sabe que fico preocupada quando você
esquece, por favor vê se não bebe tanto — pede dando risada, sempre que
bebo acabo ligando para Jules no meio da noite e fico cantando no celular.
— Tudo bem, até daqui a pouco, te amo.
— Também te amo.
Desligo o celular e desço do carro com meus amigos que tocam na
banda, nos conhecemos desde o ensino médio, Davis toca guitarra e às
vezes se arrisca no baixo. Iago toca bateria e o Leo toca baixo, desconfio
que ele toca na banda apenas pelas garotas e não pelo prazer da música,
por mim ele tocando bem está ótimo. Já eu… eu amo, música é o que me
move, quando subo no palco simplesmente faço o que gosto, toco sempre
conforme estou sentindo, as vezes gosto de músicas mais melancólicas,
outras vezes músicas mais animadas, depende muito do meu humor e
estado de espírito, claro que sempre procurando agradar o meu público. A
música se tornou meu escape desde os meus 9 anos quando as coisas na
minha vida se tornaram... digamos que complicadas, desde então é o que
eu faço.
Entrando no bar noto que a casa está lotada, vou em direção ao
segurança Jack, somos amigos faz uns 3 anos desde que comecei a tocar
no bar. É um cara legal, mas sempre se deixa levar por rostinhos bonitos,
dou risada porque isso já o colocou em mais enrascadas que posso contar,
caminho em direção ao palco para arrumar os instrumentos e deixar tudo
pronto, cessamos a música que estava tocando, subo no palco e começo a
tocar quando de repente escuto um berro, um puta berro na verdade.
— Antoniooooooo.
Demoro alguns segundos até compreender que eu reconheço essa
voz e a brincadeira com o nome também não passa despercebida.
Começo a procurar pela pequena plateia e quando meus olhos a
encontram fico surpreso, sim é ela, Victoria está aqui em carne e osso no
bar em que estou tocando.
Tenho sonhado com essa garota todas as fodidas noites.
Depois do nosso pequeno encontro na rua eu a vi novamente em um
restaurante, comendo hambúrguer e tomando milkshake de morango, uma
combinação bem estranha de fato, claro que ela não notou a minha
presença estava entretida demais comendo.
Me sentei em uma mesa próxima o suficiente apenas para observá-
la sem ser visto.
Victoria possui manias bem estranhas na verdade, talvez nem ela
perceba, ela faz caretas o tempo todo, também é simpática e sorri para
todos que cruzam seu caminho. Tem mais uma coisa, ela é desastrada e
pelo jeito está sempre correndo, é extremamente linda, mas desconfio que
não saiba disso também.
Porém meu interesse nela não se baseia nisso, não é algo
superficial. Victoria tem algo que não sei explicar, é como se fosse um imã,
um magnetismo fodido sempre atrai-me para onde ela está e desde então
estou indo quase todos os dias almoçar no mesmo horário e no mesmo
lugar apenas na esperança de vê-la só mais uma vez. Sempre digo a mim
mesmo, que será a última vez, porém sempre volto por um pouco mais.
Eu não devia e no fundo sei, e é justamente por isso que sempre me
mantenho afastado, mesmo que ela estivesse disponível eu não sou o cara
certo, ainda assim... vendo-a ali agora, parada olhando-me com aqueles
grandes olhos, nada nunca pareceu tão certo. Então canto a música que ela
adora e curiosamente diz exatamente como estou sentindo-me nesse
momento.
— Vou cantar uma música hoje para uma pessoa que eu conheci há
um tempo atrás, olá Dona Encrenca seja bem-vinda, espero que esteja se
divertindo — seus olhos se arregalaram em surpresa, mas seu sorriso logo
surge quando reconhece os primeiros acordes.
Por sorte meus amigos da banda já me conhecem e sabem que eu
toco o que estou sentindo, não temos um repertório, eles só me
acompanham.
Eu canto, faço a única coisa que sei fazer, não sou a melhor pessoa
com palavras e muito menos com sentimentos, uso sempre a música para
expressar-me e nesse momento a música diz exatamente tudo que estou
sentindo e o que eu gostaria de falar, eu a quero, a quero tanto que dói e
mesmo sabendo que é errado e que eu não devia, eu ainda a quero.
Ela para de dançar e fixa o olhar nos meus, isso pequena... apenas
sinta, paro de sorrir, quero que ela saiba que cada palavra que estou
cantando é a verdade. Porra foda-se eu sou assim, quando quero algo eu
vou atrás e até agora me mantive distante, mas hoje não.
Acabo de tocar e logo início outra, enquanto a observo dançar de
olhos fechados, após duas músicas peço uma pausa, pela primeira vez
peço uma pausa.
Realmente preciso ir até ela, é uma necessidade de ter pelo menos
um pouco que seja dela, desço do palco e várias garotas vêm ao meu
encontro, infelizmente desde que eu a conheci não consegui pensar em
mais ninguém, eu sei que pareço exagerado, mas esse sou eu, vivo a vida
intensamente.
Victoria é dona dos meus primeiros pensamentos quando acordo e
dos meus últimos quando vou dormir, ela se infiltrou em meu sistema e não
há jeito de tirá-la.
Ela sente quando estou chegando perto, sorrio com a descoberta,
pensei que fosse apenas eu que sentia essa eletricidade, mas não, é nítido
que é recíproco.
— Olá Anton de valor inestimável — ela sorri e porra a vontade que
sinto é de prensá-la na parede e beijá-la como se não houvesse amanhã.
Está suada com as bochechas vermelhas de dançar, ficaria perfeita
esparramada em minha cama.
— Olá dona encrenca — respondo sorrindo, ela não precisa saber o
que se passa na minha cabeça.
— Não sabia que você era um astro do rock — questiona levantando
as sobrancelhas.
Jogo a cabeça para trás rindo, ela retribui o sorriso.
— Não sabia que você era dançarina — rebato, ela sorri e fica
vermelha.
— Bebe comigo? Tenho 15 minutos para uma pausa…
Seus olhos transparecem incerteza e quando ela vai negar o pedido
somos interrompidos.
— Sim ela bebe — sua amiga responde, então lembro que ela está
acompanhada de uma garota.
— Olá, sou a Giulia — cumprimenta-me estendendo sua mão.
— Anton, prazer... então vamos — sorrio a agradecendo.
Sem dar chance para uma rejeição, viro as costas e caminho em
direção do bar, quando chegamos espero que ambas sentem primeiro,
ocupo o lugar ao lado de Victoria sem dar chance para que fique longe.
Peço mais três bebidas.
— Noite das garotas então? — pergunto observando seu rosto de
perto, é ainda mais linda assim.
— É... sim, noite das garotas — responde um pouco nervosa e noto
que está ponderando as respostas... posso ver pela forma que está
mexendo os dedos sem parar.
— Então pessoal eu preciso ir ao banheiro, já volto — sua amiga
Giulia sai praticamente correndo, Vick fecha os olhos e suspira, acho que
tenho uma cúmplice aqui.
Bom...
— Eu escutei a música... — declara apontando para meu braço onde
está tatuado a música Creep, sinto um sentimento diferente, ela lembrou...
prestou atenção em algo pequeno e guardou.
— E o que você achou? — realmente estou curioso pra saber a sua
opinião.
Ela prende os lábios em uma linha, pensa por um momento.
— Bom... sabe, eu realmente a achei linda, mas depois quando
coloquei tocar de novo e foquei na letra, eu sei lá, achei triste... você não
acha? — pergunta nervosa mexendo os dedos sem parar e pressionando
os lábios como se tivesse acabado de falar algo que não devia.
— Era a música favorita do meu pai, sempre gostei dela também,
mas sim é um pouco triste e para ser bem sincero eu não tinha
compreendido ela, mas hoje nesse momento eu consigo entender
exatamente o porquê ele gostava tanto — ela vira a cabeça um pouco de
lado como se estivesse tentando encaixar alguma peça de um quebra
cabeça, chega a ser engraçado, ela parece um anjo e sinto vontade de
tocá-la, mas não quero assustá-la, escuto batidas de bateria e olho em
direção ao palco, está na hora de voltar.
— Tudo bem rockstar é sua hora de brilhar — sorri mordendo os
lábios, onde me perco por alguns segundos, volto a olhar para seus olhos.
— Me espera? — as palavras saem da minha boca sem pensar.
Ela sorri sem jeito.
— Eu não posso, sinto muito Anton — ela entendeu a minha
pergunta e eu compreendi sua resposta, Victoria tem namorado, e mesmo
sabendo que isso é o melhor para ambos, não consigo conter a tristeza e o
vazio que se aloja em meu peito, me aproximo e seguro seu rosto
depositando um beijo demorado em sua testa.
— Adeus Victoria — me despeço.
— Adeus Anton — ela tenta sorrir, mas falha miseravelmente, eu
conheço o seu sorriso e definitivamente esse não é o verdadeiro.
Chegando ao palco canto a única música que diz exatamente como
estou me sentindo e nesse momento consigo entender por que meu pai
gostava tanto dessa, agora tudo faz sentido.

When you were here before,


Quando você esteve aqui antes

Couldn't look you in the eye.


Nem pude te olhar nos olhos

You're just like an angel,


Você é como um anjo

Your skin makes me cry.


Sua pele me faz chorar

You float like a feather,


Você flutua como pluma

In a beautiful world
Num mundo perfeito

I wish I was special,


Eu queria ser especial

You're so fucking special.


Você é especial pra caralho
Antes que a música chegue ao fim já estou correndo para fora do bar,
isso tudo é demais, sinto-me em uma montanha russa de sentimentos, o
que eu devo fazer está em conflito com o que eu quero fazer, mesmo que
minha vontade seja subir naquele palco e abraçá-lo, sim minha vontade é
de abraçá-lo apenas, afundar meu rosto no vão do seu pescoço para sentir
seu cheiro e ficar ali em um mundo só nosso, porque eu me sinto feliz e
segura ao seu lado e isso é o que mais me assusta, porque é loucura eu
sentir-me assim por uma pessoa que eu vi apenas duas vezes.

Anton cantando aquela música no palco destruiu-me de uma forma


que ainda não consigo explicar, ele consegue despertar sentimentos que eu
ainda não conhecia e não havia sentido. Estou curiosa sobre eles confesso,
porém da mesma forma estou com medo, porque tudo que é novo me
assusta, minha vida está uma bagunça, o errado nunca pareceu tão certo
como agora, nesse momento a única coisa que tenho certeza absoluta é
que não tenho certeza demais nada, confuso eu sei, mas no momento essa
sou eu, um emaranhado de sentimentos confusos.
Estou perdida em meus pensamentos quando sinto Giulia puxando meu
braço.
— Hey docinho, onde você está indo? — eu nem havia notado que
estava caminhando sem rumo.
— Eu não sei Giulia, só preciso ir pra bem longe — engulo a seco. — De
tudo... – notando o desespero em minha voz ela sorri de maneira carinhosa,
tentando me passar qualquer tipo de conforto.
— Já sei, nós podemos ir à praia, o que acha? Não é muito longe,
podemos ir caminhando — declara passando as mãos pelo meu cabelo.
Moramos no litoral e o bar fica a duas ruas da praia e como não
estamos em um bairro perigoso ir caminhando não parece uma ideia ruim,
no momento não quero ir pra casa, muito menos ir para um lugar
movimentado, então aceito.
— Vamos — esforço-me para dar o melhor sorriso.
Giulia segura minha mão e assim vamos rumo a praia, durante o
caminho não trocamos uma palavra sequer, fico apenas perdida com meus
pensamentos, tentando assimilar tudo que está acontecendo em minha vida
ultimamente, ela me conhece e sabe que preciso desse tempo para
absorver tudo que aconteceu e vem acontecendo.
Já posso ouvir o barulho das ondas do mar batendo, tiramos os sapatos
quando chegamos na areia, seguimos andando e paramos em frente ao
mar, Giulia senta puxando-me junto, assim permanecemos por um tempo,
apenas admirando. Sinto a brisa do vento batendo em meu rosto, o frio da
areia em meus pés, observo o céu e as estrelas, tenho um carinho especial
por estrelas, olhando-as consigo pensar, analisar e respirar, não demora
muito Giulia deita na areia puxando-me junto, vira de lado e faço o mesmo,
ficamos de frente.
— Sabe que eu te amo, não é? — seus olhos estão presos nos meus.
— Claro que sei, também te amo, agora vamos virar bêbadas carentes?
— digo tentando descontrair o momento.
— Na verdade, estou falando isso porque eu quero que você me conte
Victoria, não tente vir com meias verdades, conta o que está sentindo, te
incomodando, desembucha...
Encaro-a e sei que não vou ter como fugir dessa conversa, não agora,
então decido soltar tudo que está preso...
— Eu não sei como dizer isso sem parecer ingrata ou egoísta — desvio
o olhar porque é exatamente como me sinto.
— Por que se sentiria assim? — pergunta com o olhar incrédulo.
— Porque tenho tudo — dou de ombros sorrindo envergonhada. —
Uma casa, ótimos pais, trabalho, uma amiga foda pra caralho e um
namorado que me ama acima de tudo e simplesmente não me sinto feliz,
sinto-me cansada e as vezes parece que eu estou... sei la, sinto-me
sufocada a maior parte do tempo, todos esperam que eu seja perfeita, não
possuo um sonho, aventuras e nem metas, me sinto vivendo as sombras da
vida que o Josh idealizou, consegue entender?
— Você o ama? — questiona de maneira carinhosa.
— Josh? Claro que sim! Como não o amaria, ele é perfeito — viro
novamente e volto admirar o céu, Giulia fica em silêncio por um tempo e
quando acho que encerramos o assunto ela completa.
— Entendi, mas ele é perfeito pra você? O que eu quero dizer... claro
que você o ama, seria estranho se você não o amasse, vocês estão juntos
a 5 anos e acima de tudo sempre foram amigos, você tem um carinho
gigante por ele e um cuidado que é lindo de ver, mas a minha pergunta é se
você o ama e o deseja como marido e mulher, deu pra entender? Ele pode
ser perfeito de diversas formas Vick, mas nem sempre o que procuramos e
o que precisamos é a perfeição.
Suas palavras me atingem e por um segundo eu não sei o que dizer,
porque é exatamente assim que tenho me sentido, sem palavras apenas
aceno concordando com a cabeça, ela segura minha mão oferecendo seu
apoio, voltamos a olhar para o céu e assim ficamos em silêncio por um bom
tempo até irmos embora.
No fundo sei o que ela quis dizer, sei também o que devo fazer, o
problema é que eu nunca fui uma garota corajosa, prefiro me magoar a ter
que magoar outra pessoa.
Ela fugiu, ela literalmente fugiu, eu deveria sentir-me aliviado porque
sei que é o melhor para ambos, entretanto isso não faz com que a
sensação de vazio diminua, apenas observá-la a distância era mais fácil,
porém falar com ela hoje, ficar frente a frente com Victoria dificultou as
coisas, porque agora eu a quero ainda mais, se é que isso é possível e o
pior é que agora sinto que o sentimento é correspondido, ela só não
percebeu ainda.
— Anton, porra! — ouço Léo esbravejar.
— Que? — respondo com cara de poucos amigos.
— Cara, eu to te chamando faz uns 10 minutos e você tá total me
ignorando, tá viajando no que? — dos integrantes da banda é com Léo que
tenho mais afinidade, ele sabe de quase tudo da minha vida, quase tudo.
— Nada não, só pensando mesmo, nada em especial — ele sabe
que tem algo, mas conhece-me o suficiente para saber que não estou a fim
de conversar, então não vai insistir.
— Aham... tá legal, vamos sair pra tomar umas bebidas, topa? Vai ta
cheio de gostosa e achamos uma que vai te tirar dessa bad rapidinho —
declara sorrindo, era o que eu deveria fazer, afinal sou solteiro, tá cheio de
mulheres por aí, porém também não to afim.
— Valeu, mas vou pra casa, tô cansado e fiquei de ligar pra Jules,
ela vai me encher o saco se eu não ligar, você sabe...
— Isso nunca te impediu, você pode ligar pra Jules e depois ir,
vamos lá cara, você anda estranho, nunca mais saiu e não pega mais
mulher, tô achando até que mudou de lado, não que eu vá me importar!
Afinal você sabe que pode se abrir comigo, somos amigos… — diz batendo
em meu ombro, minha vontade é de rir, porque isso é demais até pra mim,
mas isso acabou acendendo uma ideia na cabeça, hora de brincar...
— Léo... eu não sei como te contar isso, mas já que você tocou no
assunto, senta aqui, acho que eu preciso desabafar — digo sentando
fingindo estar incomodado, ele concorda muito sério e senta ao meu lado,
tenho que ter muito autocontrole para não começar a rir e estragar meu
plano.
— Não sei por onde começar, na verdade — finjo desconforto.
— Começa pelo começo então porra! — solta estressado, notando a
grosseria. — Desculpa... pode falar.
— Bem... faz mais ou menos 1 mês que comecei a notar você de um
jeito diferente — ele arregala os olhos.
Isso mesmo, por dentro estou sorrindo muito, vou guardar esse
momento para sempre.
— Que porra é essa Anton? — se afasta um pouco nervoso.
— Você disse que não iria julgar e que estaria do meu lado, agora
estou falando porra — esbravejo sério.
Caralho, a vontade de rir está me matando, mas eu preciso desse
momento, ele está ficando branco agora.
— Eu tentei lutar contra cara, juro que tentei, mas acho que... eu
acho que tenho sentimentos por você Leo — declaro.
Acho que ele vai desmaiar a qualquer momento, mas ainda assim
decido prolongar a brincadeira só mais um pouco, fico em silêncio
aguardando sua resposta.
— Anton, não sei o que te dizer, bom na verdade eu sei, mas não
quero magoá-lo, eu tenho sentimentos por você, mas cara, é como amigo...
você sabe que eu gosto de mulher, porra Anton... — levanta passando as
mãos pelo cabelo bagunçando tudo, já não aguento mais e começo a rir,
tanto que chega a doer a barriga e ganho uma porrada no peito.
— Aí porra — resmungo com a dor no meu peito.
— Vai se foder Anton! Seu babaca, achei que ia ter um treco aqui,
imbecil.
— Então você tem sentimentos por mim? Interessante Léo —
arqueio as sobrancelhas insinuando algo.
— Seu babaca arrogante de merda, tenho sentimento como amigo
— diz puto e eu volto a dar risada.
— Aham, sei... se eu continuasse mais um pouco você ia se declarar,
tudo bem eu entendo, sou lindo, modéstia a parte tenho um corpo bem
interessante também, na verdade quem eu quero enganar? Sou perfeito...
— sorrio abrindo os braços e piscando.
— Anton, se você não fosse a porra do vocalista da banda eu ia te
encher de porrada agora e você não levantaria da cama tão cedo — diz
sério, mas começa a rir também, porra eu amo esses caras.
— O que ta pegando aí? — Davis chega com uma garrafa de
cerveja na mão.
— O puto do Léo tava se declarando pra mim — respondo em meio
aos risos.
— Ah, vai a merda Anton! – Leo declara saindo, antes pega a garrafa
de cerveja do Davis.
— Bora beber? — Davis pergunta, analiso as opções, cantar para
Jules parece ser a melhor.
— Não cara, vou ir pra casa, nós vemos amanhã — bato no seu
ombro me despedindo.
Chego em casa, tiro a roupa e tomo um banho, vou até a geladeira e
como sempre não tem nada, odeio ir no mercado então fico adiando, pelo
menos tem uma cerveja.
Me deito na cama e fico pensando na maldita, sim agora vou chamá-
la de pequena maldita porque ela simplesmente não sai da minha cabeça,
tentando esquecer decido ligar para Jules.
— Olá princesa — ela atende no segundo toque.
— Oh, interessante... você não está bêbado hoje, o que aconteceu?
— debocha da minha cara, pela voz já estava dormindo, mesmo assim, ela
nunca deixa de atender.
— Não aconteceu nada — resmungo, todo mundo resolveu querer
saber da porra da minha vida hoje.
— Aquela garota ainda não é? — Jules menciona Victoria
novamente, isso acontece porque uma bela e radiante noite eu liguei
bêbado e acabei contando tudo, inclusive a parte que eu ia observá-la
almoçar.
Por que eu fiz isso?
Porque eu estava bêbado e sou uma anta.
Agora ela não para de me encher.
— Sabe, você deveria falar com ela.
— Não posso, ela tem namorado e mesmo que não tivesse, você
sabe que não sou o melhor pra ninguém, muito menos pra ela, nós dois
sabemos que o melhor é eu ficar sozinho.
— Eu nunca disse isso, você pensa assim e somente você, eu já
acho que você deveria tentar, já pensou que você pode estar perdendo a
chance de ser feliz com alguém por algo que você mesmo pode mudar?
— Não posso mudar a porra de nada Jules, não sei se você lembra,
eu não to a fim de ver a história se repetir, só vamos esquecer ok? — fico
frustrado, ultimamente não importa sobre o que estamos falando, sempre
chegamos a esse assunto.
— Ok, ok, não quero brigar, mas pensa sobre isso? Agora faça algo
que preste e cante para que eu possa dormir — sorrio, garota folgada.
— O que você quer ouvir princesa? — pergunto me ajeitando na
cama
— Beatles por favor.
Ela sempre volta pra essa música, confesso que eu também adoro.
— Nossa, estou muito impressionado com sua escolha, senhorita,
aproveite o show — começo a cantar Here Comes The Sun, ela adora essa
música desde pequena, era a música favorita da nossa mãe... após cantar
algumas vezes, consigo escutar sua respiração calma, ela dormiu.
— Boa noite princesa, eu te amo.
Acordo com a luz entrando pela janela da sala, escuto alguns passos
se aproximando, aos poucos sintonizo-me ao ambiente que estou, pelo jeito
passei a noite no sofá e ainda estou usando a roupa que cheguei ontem,
sinto uma pontada forte na cabeça e fecho os olhos novamente, abro os
olhos e me deparo com Josh sentado mexendo no celular concentrado, ele
demora alguns minutos até notar que acordei.
— Hey anjo! Bom dia, como está? — pergunta aproximando-se com
a intenção de fazer carinho em meu rosto, afastar-me é meu primeiro
instinto.
— Olá — tentando disfarçar, levanto indo em direção à cozinha
pegar água, abro a gaveta do armário e pego remédio para dor de cabeça.
Aproveito para ligar a cafeteira e preparar um café, talvez assim eu
consiga melhorar meu humor, estou perdida em meus pensamentos,
entretida com a cafeteira trabalhando, quando escuto Josh me chamando,
viro e o encontro ansioso e muito animado.
Ok, algo aconteceu.
— Anjo! Tenho uma notícia, descobri faz uns 30 minutos — declara
com entusiasmo.
— Huum, o que é? — tento fingir empolgação. Sério, minha cabeça
vai explodir, meu humor está horrível e eu só gostaria de uma xícara de
café no momento.
— Fui promovido! — de repente sinto que fui tirada do chão e
estamos girando pela sala.
— Meu deus Josh, isso é ótimo!! — declaro retribuindo o abraço,
realmente estou feliz por ele, até esqueci a dor de cabeça, começamos a
pular pela cozinha abraçados gritando felizes.
— Bom... só temos um problema, na verdade não chega a ser um
problema, a vaga é em outra cidade, vamos ter que nos mudar já na
semana que vem, você consegue pedir demissão do seu emprego
amanhã?
Josh solta as palavras assim, como se não fosse nada, como se eu
mudar a minha vida toda não fosse absolutamente nada.
No mesmo instante me afasto dos seus braços, tentando me
sintonizar, é informação demais.
Será que... em algum momento Josh se perguntou se eu gostaria de
ir?
Claro que estou feliz por ele, mas é esse jeito de sempre tomar as
decisões sem consultar minha opinião que vem me incomodando.
Ele continua falando e eu não consigo prestar atenção em mais
nada, sinto-me anestesiada pela surpresa da notícia, eu deveria estar feliz,
deveria estar vibrando com ele, mas eu não consigo ver um futuro em outra
cidade, na verdade eu não consigo ver um futuro ao lado do Josh.
— Josh, isso é maravilhoso, mas não sei se quero ir — solto as
palavras que estão em minha cabeça desde o momento que ele mencionou
sobre a mudança.
— Anjo, você não pode estar cogitando isso, é a minha chance,
minha carreira, tenho lutado por esse momento a muito tempo.
— Eu sei Josh e te admiro por isso, de verdade, mas e se eu não
quiser ir? Já parou para pensar no que eu quero? — me esforço para soar
o mais calma possível.
— Sério Vick? Isso agora? Você nunca se importou com nada disso
antes, não banque a egoísta justamente agora, por favor.
— Você está me chamando de egoísta? Eu? Já se olhou no espelho
hoje? Você quer que eu mude minha vida inteira apenas para seguir o seu
sonho, não estou te julgando, só queria que você se importasse com a
minha opinião pelo menos uma vez na vida, você notou o que você mesmo
acabou de dizer? Se ouviu? é a SUA chance, SUA carreira, que você tem
lutado por isso, onde eu entro nisso?
Nas últimas palavras já estou gritando, Josh olha-me como se eu
tivesse o ofendido, ele está vermelho e sei que está nervoso.
— Pelo amor de Deus Victoria, você não tem nada que lhe prenda
aqui, nunca se importou com isso, não vamos arrumar uma briga agora ok?
Declara se virando, dando por terminada a discussão.
— Eu não quero ir — declaro com firmeza.
Josh para e se vira bufando.
— Victoria, por favor, eu preciso estar lá na semana que vem —
responde irritado.
Então eu paro, simplesmente paro e penso, o que eu realmente
quero, a resposta é não, não quero ir embora, não quero mais estar com
Josh, eu o amo, porém não da maneira que deveria amar.
Eu deveria querer estar ao seu lado independente do lugar, não
consigo vislumbrar um futuro ao seu lado, pelo menos não um em que eu
seja feliz, não posso mais...
— Você tem toda razão Josh. Você precisa estar lá, eu não —
pronuncio as palavras que estão me atormentando há algum tempo, a
sensação que sinto após dizê-las é de puro alívio.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta quase em um
sussurro.
— Você entendeu perfeitamente Josh — tento desviar o olhar,
porque a conversa está tomando um rumo, e não sei se serei capaz de ir
até o final se continuar o olhando.
— Você está terminando nosso relacionamento de cinco anos por
uma mera infantilidade da sua parte? É isso? Porque você simplesmente
colocou na cabeça que não quer mudar de uma cidade, que você não tem
porra nenhuma — esbraveja.
Decido abrir o jogo, porque isso está acabando comigo pouco a
pouco todos os dias.
— Não Josh, estou terminando porque eu já estou cansada, estou
cansada a meses. O único que não viu foi somente você, porque estava
preocupado demais com o próprio umbigo, você escolheu essa casa, você
escolheu essa cidade para início de conversa, você escolheu o bairro
porque era perto do seu trabalho, onde eu entro nisso? Vamos lá Josh,
onde eu entro nisso?
— Victoria, eu não tenho culpa se você não arrumou nenhuma meta
na sua vida, não me culpe por você mesma não ter seus sonhos, você
nunca reclamou antes de nada, como eu ia saber o que você estava
sentindo, como eu ia adivinhar o que você quer se você não fala, caramba
Vick você sempre concordou com tudo, como eu ia saber?
— Exatamente Josh, eu sempre concordei com tudo e é justamente
por isso que agora estou me impondo, eu não quero ir embora, sinto muito
Josh, sinto muito mesmo, nós dois sabemos que esse relacionamento já
estava caminhando para isso — digo com a voz embargada, segurando-me
para não chorar, não sou ingênua de pensar que não vamos sair
magoados, mas ainda assim, vê-lo tão vulnerável está doendo demais.
— Vick, não faz isso... você não pode simplesmente acordar um dia
e decidir que não quer mais, você nem sequer está me dando chance de
consertar algo que eu nem sabia que estava quebrado — se aproxima e
segura meu rosto com as duas mãos.
— Vick olha pra mim anjo, por favor, isso é apenas uma fase, vamos
lá — insiste tentando fazer com que eu olhe em seus olhos.
Josh e eu nos conhecemos em um dia chuvoso de inverno em minha
formatura do ensino médio, viramos amigos e não nos largamos desde
então, conforme o tempo foi passando o sentimento foi mudando, ele tinha
o sorriso mais encantador do mundo e possuía o poder de fazer todos os
problemas sumirem, era a calmaria em meio a tempestade e quando
notamos já estávamos juntos.
Eu sabia que ainda o amava, porém de um outro jeito, mas ainda
assim o amava, ele era meu amigo antes de tudo, mas agora o olhando, eu
não posso fazer isso, e é por amá-lo que eu preciso deixá-lo ir.
— Vick amor, olha pra mim... — ele implora e noto que começou a
chorar, com o pouco que me resta de coragem eu olho, e por deus eu
nunca mais o machucaria assim novamente.
Balanço a cabeça negando.
— Eu sinto muito — declaro deixando que as minhas lágrimas
também caiam.
Ele senta no sofá e põem as mãos no rosto chorando, ajoelho-me
em sua frente chorando junto.
— Eu sinto muito mesmo, mas eu não posso mais, você entende?
Não é justo com a gente.
— Em que momento? Em que momento você deixou de me amar?
— pergunta olhando em meus olhos enquanto chora, por que precisa ser
assim tão difícil?
— Não houve um momento Josh, eu ainda o amo, porém não da
forma que você merece, entende? Eu não me reconheço mais, mudei e
venho mudando todos os dias, a Vick que você conheceu há cinco anos
atrás, não é a mesma que está aqui agora na sua frente, não é justo eu te
arrastar para a minha bagunça. Você merece o mundo, merece alguém que
queira voar junto com você, sei que isso agora deve estar doendo muito,
acredite quando eu digo que também estou sofrendo, se eu pudesse tirar
qualquer dor que estou te causando eu faria Josh, sem pensar duas vezes,
mas não posso, e sinto tanto por isso, você é a última pessoa no mundo
que eu queria magoar, mas se eu não encerrar esse ciclo agora, nós
sofreremos ainda mais — levanto, enxugo as lágrimas e vou em direção a
minha bolsa.
— Aonde você vai? — pergunta se levantando no mesmo instante
— Eu vou ir para a casa da Giulia, vou ficar lá por um tempo
— É isso? Você realmente está me deixando, sem nem me dar uma
chance?
— Não torne as coisas ainda mais difíceis Josh, por favor, eu só lhe
peço que não me odeie — abro a porta e saio correndo entrando no carro.
Mesmo doendo e sentindo-me culpada por fazer Josh sofrer, sinto-
me leve também, é uma leveza diferente, como se finalmente eu
conseguisse respirar, estranho eu sei, mas a sensação é libertadora.
Chegando na casa da Giulia, estaciono o carro e fico alguns minutos
dentro, recuperando-me.
Toco a campainha e ela logo em seguida atende, assim que a vejo
eu desabo, puxando-me para um abraço eu solto, solto todo tipo de
sentimento que estava guardando, dor, culpa, remorso, então eu choro.
— Vai ficar tudo bem meu amor, vai ficar tudo bem — Giulia diz
enquanto faz carinho em meus cabelos
— Eu terminei com Josh, estou me sentindo a pior pessoa do
mundo, porque eu estou triste por magoá-lo, mas me sinto leve ao mesmo
tempo, como se enfim eu conseguisse respirar, eu sou horrível Giulia.
— Não, Vick, você não é horrível, isso seria impossível meu amor.
Sem conseguir falar ainda, me deito em seu colo e fico assim por um
longo tempo enquanto Giulia faz carinho em meus cabelos falando palavras
de conforto.
— Posso tomar um banho? Cheguei em casa ontem e dormi no sofá,
não tirei nem a roupa do bar ainda — digo tentando me recompor
— Claro, vou pegar uma roupa minha para você — responde
levantando em direção do quarto
— Hey, Giulia — chamo-a, ela se vira.
— Obrigada — agradeço.
— Não precisa agradecer, eu te amo e sempre vou estar aqui por
você.
Após tomar um banho bem longo, eu ficaria dentro daquele banheiro
no chuveiro pelo resto da minha vida se fosse possível, mas eu preciso por
minha cabeça no lugar e encarar o peso das minhas ações, depois de vestir
um pijama bem interessante de panda, vou em direção a cozinha, Giulia
está a minha espera com uma xícara de café na mão, sorrio, eu amo café,
pego a xícara e sento na mesa juntando-me a ela.
— E agora, o que faremos? — questiona levando a xícara boca.
— Bom, para falar bem a verdade eu não sei, não tinha planejado
nada disso, eu fui dormir praticamente casada ontem e agora eu estou aqui
sozinha — dou de ombros me sentindo perdida.
— Hey, não me ofenda, eu estou aqui — responde ofendida.
— Desculpa, você entendeu — sorrio então continuo. —
Sinceramente não sei o que vou fazer daqui para frente sabe, Josh vai se
mudar para outra cidade, foi promovido, acredita que ele nem sequer
perguntou se eu gostaria de ir, agiu como se eu não tivesse nada aqui,
como se minha vida fosse baseada apenas nos passos que ele dá, acho
que isso funcionou como um tipo de gatilho para o que eu já estava
sentindo e queria, porém agora eu não sei o que fazer.
— Entendo, bom, independente do que você escolher eu estou aqui,
você só precisa pensar um pouco, por as coisas em perspectiva, pode ficar
aqui em casa pelo tempo que precisar, mas isso você já sabe...
— Posso ir deitar? Acho que preciso ficar um tempo quietinha.
— Claro que pode, já sabe onde fica o quarto, qualquer coisa pode
me chamar.
Chegando no quarto, deito na cama puxando o cobertor.
Espero que amanhã as coisas se tornem mais fáceis, porque hoje é
um dia que eu gostaria de apagar da minha memória.
Acordo com o som estridente da campainha tocando, isso são horas
de incomodar as pessoas?
Levanto, coloco uma calça jeans, a primeira que encontro e vou em
direção da porta, passo pela cozinha e aproveito para olhar o relógio.
Ok são 11:00 horas já!
Foda-se eu pretendia dormir o dia todo, então tecnicamente é cedo
ainda.
— Já vai — berro, porque a pessoa não solta a porra do botão desde
que chegou.
Abro a porta e Ema se joga em cima de mim, como uma bomba me
beijando.
Me afasto.
— Hey, quando você chegou? — a abraço, Ema é minha melhor
amiga.
Tá é uma amiga colorida, nos conhecemos a vida inteira
praticamente, e bom, nós também fazemos sexo, quase sempre.
— Olá, cheguei exatamente há uma hora — me abraça novamente.
— Por que não avisou? Eu teria ido te buscar...
— Qual é Anton, você nem teria acordado, você nunca acorda cedo,
nem mesmo por mim — entra no apartamento jogando sua mochila ao lado
do sofá.
— Convencida, por que você voltou? — Ema havia viajado para
visitar seus pais, mas até onde eu sei ela pretendia ficar mais que uma
semana.
— Estava com saudades de você, da Jules, sabe como é — seus
olhos enchem de lágrimas.
— Ema, o que aconteceu? — me aproximo.
Ela se afasta virando de costas, se escondendo.
— Não aconteceu nada Anton, tá tudo bem, olha só, quero almoçar
na casa da Jules… — disfarça mal pra caralho.
Enfim, não posso julgar porque faço o mesmo.
— Podemos ir, só preciso tomar um banho e já vamos — faço
menção de me afastar em direção ao banheiro, ela levanta se aproximando,
provavelmente pensando que é um convite.
Põem as mãos no meu peito e eu deixo, não a afasto, talvez seja
disso que eu precise pra tirar aquela intrusa da minha cabeça, mas inferno
ela está aqui de novo.
Ema aproxima os lábios dos meus e me beija, eu retribuo, escorrego
minhas mãos pela sua cintura e a puxo junto ao meu corpo, morde meu
lábio inferior, passa as mãos pelos meus ombros e desce pelas minhas
costas, sempre me senti muito atraído por ela, porém agora, simplesmente
não consigo.
Me afasto interrompendo.
Ema está me observando com cautela.
— O que você tem? — questiona estranhando meu comportamento,
porque provavelmente agora já estaríamos no banheiro fodendo como
selvagens, só que não consigo, na verdade, não quero.
Ema foi o mais próximo que já cheguei de um relacionamento,
somos amigos com benefícios, mas termina aí, eu fico com outras pessoas
e ela também, não existe nenhum tipo de cobrança.
— É complicado Ema, não quero falar sobre isso — me afasto
passando as mãos pelo cabelo.
Puta que pariu.
Victoria maldita.
— Uhum, ok a Jules me conta — declara se jogando no sofá.
Balanço a cabeça imaginando o meu sofrimento na mão dessas
duas.
Tomo um banho, visto minha roupa e vou ao encontro de Ema que
está sentada no sofá ainda.
— Vamos? — pego as chaves da moto.
— Mas nem pensar, vamos com meu carro, não sou louca de andar
com você naquela coisa — sai sem me dar chance de protestar, chegamos
no carro e ela liga o som no último volume, detalhe, ela dirige que nem uma
louca, e ainda reclama da minha moto.
Chegamos na casa da Jules e assim que ela atende e vê Ema, as
duas começam a pular e berrar, reviro os olhos.
Garotas.
Saio andando direto pra cozinha indo em busca de cerveja.
— Onde está o Toni? — pergunto não encontrando o imbecil do meu
cunhado.
— Está trabalhando, mas deve chegar daqui a pouco — Ema e eu
trocamos olhares, quem trabalha no domingo?
Sim, eu sei que existem pessoas que trabalham no domingo, mas
não é o caso do meu cunhado, mudo de rumo meus pensamentos, não vou
com a cara dele, mas não posso ficar de implicância também.
— Por que você não nos avisou que estava vindo Ema?
— Sabe como é né, eu adoro fazer surpresa...
As duas são praticamente melhores amigas, a diferença de idade é
bem pequena, Jules tem 25 e Ema tem 27, nos conhecemos na
adolescência, as duas eram amigas e como eu sempre fui grudado com a
pentelha da minha irmã, acabei criando laços com Ema também, ela esteve
presente na fase mais difícil da minha vida e da Jules.
A primeira vez que transamos foi há seis anos atrás depois que
voltamos bêbados de uma festa em que eu toquei, quando acordamos no
outro dia conversamos e decidimos que poderíamos ter uma amizade
colorida, somos compatíveis na cama, Ema é linda, tem um excelente
humor, não enche meu saco e ponto.
— Como estão seus pais? — Jules pergunta a Ema.
— Estão bem, você sabe, adoram aquela cidade pequena — faz
uma careta.
— Por que você voltou? É óbvio que estou feliz, mas aconteceu
alguma coisa? — essa eu quero ver, Ema nunca consegue fugir das
perguntas da Jules, sorrio internamente.
— Enzo vai casar — Ema responde desviando o olhar.
— Quem é Enzo? — pergunto confuso.
— Enzo é o primeiro namorado da Ema, aquele que ela partiu o
coração, lembra? — Jules responde enquanto Ema olha pro lado.
— Sim, lembro! Enzo claro, o que isso tem a ver com você? —
pergunto para Ema.
— Não tem nada, eu só... só não quero ser a ex louca que está na
cidade com dor de cotovelo — responde mal humorada.
— Mas não tem como as pessoas pensarem isso, afinal vocês
ficaram há quanto tempo? — Jules pergunta e Ema abaixa a cabeça no
mesmo instante, não responde, e eu fico entendendo porra nenhuma.
— Ema, você não fez isso — Jules diz em tom de acusação.
— Eu não sabia que ele estava noivo caramba, não tinha uma placa
no pescoço com letras em neon avisando — Ema resmunga.
Jules fecha os olhos e pragueja.
— Mas que porra Ema — digo puto, com ela e com o babaca.
— Ema, o que você fez? — Jules se aproxima, mas Ema levanta.
— Eu não quero falar sobre isso, sério gente, já tô me sentindo lixo o
suficiente, eu juro que eu não sabia, e agora ... agora não importa mais,
vamos mudar de assunto por favor? — Ema implora com o olhar.
— Ok, vamos mudar de assunto — Jules concorda.
— Obrigada, sabe Jules, eu estava curiosa pra saber sobre um
assunto — Ema sorri maquiavelicamente.
— Arg Ema, por favor deixa isso pra lá — tento mudar de assunto.
— Sabe Jules... Anton não me recebeu com o entusiasmo de
sempre, sabe o que pode estar acontecendo com o nosso garoto?
Jules sorri se juntando a Ema, reviro os olhos bufando.
Começou...
— Aaaah, sei sim, o problema do nosso garoto é loiro, tem olhos
lindos e grandes, não é assim mesmo que você disse Anton? Ah e ela se
chama Victoria, sua doce Victoria — Jules debocha sorrindo, eu mereço, se
uma já era difícil de conviver imagina duas.
— Opa, espera aí, Anton está apaixonado? Isso realmente está
acontecendo? Eu quero conhecê-la.
— Isso seria impossível Ema, já que a Victoria tem namorado e o
Anton não sabe nada sobre ela, apenas que ela come muito hambúrguer e
ama milkshake de morango.
— Vão a merda vocês duas — deixo-as sozinhas e vou em direção
da sala.
— Wow, volta aqui bonitinho, como assim? Você não transou com
ela? Meu deus! Isso tudo é por que apenas a viu?
— Eu não quero falar sobre isso — declaro tentando finalizar o
assunto, odeio quando essas duas se juntam, Ema semicerra os olhos em
minha direção
— Ah não, Jules a quanto tempo Anton conheceu a Doce Vick? —
Ema pergunta sorrindo, e eu posso ver seu cérebro a todo vapor criando
várias teorias.
— Não sei exatamente, mas acredito que pelos cálculos da noite que
me ligou bêbado, acho que uns dois meses — Ema sorri ainda mais agora,
estou ferrado, já posso sentir.
— Jules, Anton virou celibato.
Notando que Jules não compreendeu ela completa.
— Anton não está fazendo sexo desde que conheceu a Vick.
— Como você sabe? — Jules pergunta cética.
— Porque hoje de manhã minha pipoquinha, eu fui rejeitada pela
primeira vez em seis anos.
Jules arregala os olhos e as duas começam a rir da minha cara.
Ótimo.
— Fico feliz em estar divertindo as duas — levanto e vou na
geladeira pegar mais uma cerveja.
— Podemos, por favor, parar de falar da minha vida sexual? Eu
agradeço.
Não satisfeita, as duas continuam.
— Mas conta aí, tá usando a mão toda noite antes de dormir ou está
tudo aí dentro mesmo — Ema debocha e as duas voltam a rir.
— Vão para o inferno, você duas — digo apontando para as duas.
— Ok, eu parei, mas ainda quero conhecê-la — Ema insiste
— Não será possível, sinto te decepcionar, mas eu parei de vê-la —
declaro um pouco frustrado, depois daquele dia no bar não voltei a procurá-
la na lanchonete, infelizmente eu sei que é o melhor para ambos, então
decidi parar de ficar me torturando. ela tem namorado, e mesmo que não
estivesse em um relacionamento, eu não quero e não posso entrar em um,
não tenho nada a oferecer a ela, então me afastei, embora isso também
não significa que eu não pense nela e que a sensação de vazio tenha
diminuído, muito pelo contrário.
— Ele quer dizer na verdade, que parou de segui-la Ema — Jules diz
— Eu não estava seguindo ela, estava apenas observando-a, são
duas coisas bem diferentes — tento explicar meu ponto de vista.
— As palavras de um stalker, mas porque parou de ir "vê-la"? —
Ema pergunta sorrindo e fazendo sinais de aspas no ar com as mãos.
— Ela tem namorado, e da última vez que a vi, eu meio que dei em
cima dela e levei um fora, enfim foi o suficiente para pôr minha cabeça no
lugar, eu nem relacionamento quero, melhor deixar as coisas como estão,
ela lá com aquele babaca e eu aqui — respondo começando a ficar
cansado desse assunto.
— Por que você está xingando o cara de babaca? — Ema pergunta
— Porque só um imbecil para deixar uma garota daquelas sozinha
em um bar — digo como se fosse algo óbvio, porque na verdade é.
— Anton, as pessoas saem sozinha, elas não andam grudadas
quando namoram — Jules diz
— Foda-se, se ela fosse minha eu não a deixaria.
— Uh, Anton possessivo, isso é novo, eu gostei, e você Jules? —
Ema pergunta.
— Estou achando bem interessante, sabia que ele cantou pra ela?
— Eu quero ir vê-la amanhã — Ema diz decidida.
— Não, nós não vamos, Victoria é um assunto encerrado, vocês
duas sabem melhor do que ninguém que eu não quero e não posso entrar
em um relacionamento, chega desse assunto — dessa vez sou firme e saio
andando dando o assunto por encerrado.
Imprevisível, aquilo que não se consegue prever, nem saber, essa
palavra é pequena, porém tem um significado importante, em meu ponto de
vista a vida é imprevisível, as pessoas são imprevisíveis, você pode até
fazer planos, entretanto não pode ter controle sobre tudo e todas as coisas,
acredito que estamos em constante mudança, podemos ir dormir um dia
com um pensamento ou ideia formada, e no outro dia quando acordamos
podemos ter uma outra percepção das coisas ,por exemplo, se há seis
meses atrás alguém me dissesse que eu terminaria meu relacionamento
com Josh e estaria hoje morando em um apartamento sozinha, eu acharia
muito engraçado e com toda certeza diria que a pessoa estava ficando
louca. De fato, sempre imaginei que ia casar com Josh, ter filhos, morar em
uma casa pequena, eu realmente achei que seriamos para sempre, porém
com o passar dos anos, mesmo não querendo enxergar o óbvio fui notando
que o amor que eu sentia por ele era mais como amigo, foi quando as
dúvidas iniciaram e com o tempo intensificaram. A meu ver, eu não deveria
ter dúvidas sobre estar com alguém, deveria ser algo natural, nada que nos
faça duvidar me parece certo.
Fiquei uma semana apenas na casa da Giulia, mesmo com sua
insistência para que eu mudasse para sua casa, eu sentia que precisava de
um cantinho só meu, nem sempre ficar sozinha é motivo de tristeza, pois é
no silêncio que eu consigo encontrar-me, é sozinha que consigo pôr meus
pensamentos em ordem.
Aluguei um apartamento exatamente do meu gosto, escolhi os
móveis de acordo com o que eu gosto, descobri várias coisas sobre mim,
no silêncio conseguimos encontrar nossa essência, eu precisei bagunçar a
minha vida inteira para enfim encontrar a minha versão certa, é como minha
amiga Giulia disse, a perfeição não é o que precisamos, somos humanos,
cometemos erros o tempo todo, vivemos uma vez apenas na vida, então é
meu dever vivê-la da melhor forma que eu puder. Olhando a quantidade de
caixas espalhadas pelo chão da sala, consigo ter um outro vislumbre de
como minha vida pode vir a ser.

É segunda feira, estou almoçando no meu intervalo quando escuto


meu celular tocar, olhei o visor e para meu completo desânimo é minha
mãe, não que eu não a ame, eu amo, só não gosto da sua insistência,
ainda não conversei com ela e não estou pronta para essa conversa, porém
não posso fugir para sempre então decido atender.
— Oi mãe — atendo já esperando mil e uma perguntas, porém para
minha surpresa não é isso que acontece.
— Oi filha, você está bem? — de imediato eu estranho, mas escolho
fazer o mesmo e fingir que não há nada de errado.
— Estou bem sim, você e o papai como estão?
— Eu estou bem, seu pai também, acredita que ele cortou a grama
do jeito que eu não gosto de novo? Parece que faz só para me irritar
Victoria.
— Eu tenho certeza disso, mãe — concordo sorrindo, ele faz isso
porque adora vê-la irritada, é algo deles e eu apenas observo, ficamos em
silêncio e então eu decido tomar a iniciativa.
— Pode perguntar mãe, o que você quer saber?
— Por que você não me contou o que estava acontecendo? Eu
simplesmente descobri pela prima do Josh! Victoria, por que não me
procurou? — diz chateada.
— Mãe, se eu tivesse te procurado, o que você teria dito? Que eu
devia tentar mais uma vez, que era uma fase, que relacionamentos tem
dessas coisas, eu já sabia o que você ia dizer mãe — respondo sendo
sincera.
— Você está errada Victoria, eu não diria isso — consigo sentir pela
sua voz que está magoada, odeio magoar minha mãe.
— E o que você teria dito mãe?
— Eu perguntaria se você ainda o amava, simples minha filha, é
claro que eu acredito que devemos lutar pelo relacionamento, sei que
existem fases difíceis, até porque conviver com uma pessoa pela vida
inteira não é uma tarefa fácil, principalmente quando se trata do seu pai!
Mas filha, isso tudo só é válido se existe amor, nós apenas lutamos por algo
que valha a pena, e se você não o amava, para que continuar? Era isso que
eu te diria filha, não duvide nunca do amor que eu sinto por você Victoria,
posso parecer antiquada algumas vezes, mas jamais ficaria contra uma
decisão sua, ainda mais se te fizesse infeliz meu amor, você entende?
— Sinto muito mãe, eu não sabia o que fazer, estava tão confusa e
com medo, eu só não queria magoá-lo, mas já não o amava mais a algum
tempo e foi ficando tudo tão pesado, eu me sentia presa.
— Oh meu amor, eu não imaginava que você sentia assim, mas e
agora Vick... como você se sente agora? — pergunta
— Agora... ah mãe, agora eu me sinto leve, é estranho, não é? Não
faz muito sentido eu sei.
— Na verdade filha, faz todo sentido, vou te dizer uma coisa, as
coisas não precisam fazer sentido para serem certas, porque o que pra
você pode não fazer sentido, talvez para outra pessoa faça.
— Isso fez sentido — digo e rimos juntas.
— O que você acha de vir passar o final de semana em casa? Seu
pai está com saudades.
— Acho uma ótima ideia, eu vou sim.
— Ok filha! E por favor, pode me contar as coisas, eu não estou aqui
para te julgar, só quero que você seja feliz.
— Obrigada mãe
Conversamos mais algumas coisas, ela reclamou que a tia Julia
falou que seu arroz estava sem sal no jantar, e as duas discutiram mais
uma vez, reclamou do padre da cidade como sempre, e reclamou que o
papai não está cuidando do jardim de novo, no final me senti aliviada, as
vezes nós não percebemos que precisamos de algo, até ter aquilo, foi
assim que me senti sobre a conversa com minha mãe, claro que não
mudaria minha decisão, mas saber que eu tinha o seu apoio com toda
certeza fez a diferença, termino meu almoço e volto para a loja, no caminho
encontro um anúncio de aulas de dança, algo que sempre senti vontade,
guardo o anúncio e continuo meu caminho para o trabalho.
O restante da semana continua igual, do trabalho para casa e de
casa para o trabalho, assim vai passando os dias, o final de semana passou
tranquilamente na casa dos meus pais, foi muito bom na verdade, minha
família entendeu meu ponto de vista e mesmo ficando triste com a minha
escolha, pois amam o Josh como um filho, me apoiaram, facilitando muito,
aos poucos as coisas vão se ajeitando, sei disso porque foram as palavras
que meu pai disse antes de eu ir embora.

É sábado à noite, estou no sofá escutando música no modo


aleatório, quando Creep do Radiohead começa a tocar, fazendo com que,
mais uma vez meus pensamentos voem até Anton.
Penso em Anton constantemente, o que ele pode estar fazendo, se
está com alguém, se está bem, mas me falta coragem de encará-lo, então
uma frase que eu li em uma capa de um livro vem a minha cabeça "O medo
paralisa as pessoas" , é a mais pura verdade, eu tenho medo do Anton, não
que ele vá me machucar fisicamente, longe disso, meu medo é da
intensidade que sinto quando estamos perto, os sentimentos que Anton
desperta em meu corpo são desconhecidos, e bom, eu morro de medo do
desconhecido, no fundo, bem no fundo eu sinto que Anton pode ser meu
paraíso ou meu inferno particular.
Porém, o que eu perderia indo encontrá-lo? Afinal, eu poderia ir
assistir o seu show, é só um bar, eu vou apenas escutar música, então
levanto decidida e tento ligar para Giulia na esperança que ela me
acompanhe em meu plano maluco, porém sem sucesso, claro, eu havia dito
que não faria nada hoje, então provavelmente ela deve estar com alguém.
Ótimo, fico mais vinte minutos em dúvida entre ir ou desistir, mas
cansei de ter medo, com esse pensamento levanto e vou.
Assim que o Uber para em frente ao bar minha vontade é de pedir
que ele retorne, mas não existe essa opção, estou tremendo, Deus o que
eu vou dizer? Nada Victoria, você vai apenas assistir ao show. Entro e vou
indo em direção ao bar para pegar uma bebida na esperança de ter
qualquer tipo de alívio para meu nervosismo, olho ao redor e observo que
não está tão cheio como da última vez, pelo jeito a banda ainda não
começou a tocar, peço uma bebida e viro-me em direção ao palco.
Para minha desgraça.
Eu o vejo e ele está acompanhado, onde eu estava com a cabeça
que Anton estaria sozinho em um bar onde ele toca?
Eles estão dançando agarrados, ela está com o rosto em seu
pescoço, enquanto ele segura sua cintura e eles se movimentam devagar
enquanto toca uma música do Elvis Presley, odeio essa música agora, eu
quero vomitar, sinto um aperto no peito, quero me esconder, me sinto
ridícula por ter vindo aqui hoje, mas ainda assim fico observando mais um
pouco, ela é linda, ele é lindo, na verdade eles formam um lindo par, isso
me magoa ainda mais, ela fala algo em seu ouvido e ele sorri, um lindo
sorriso por sinal, eles estão felizes, como se sentisse minha presença, seus
olhos me encontram e eu vejo a surpresa neles, então fazendo a única
coisa que me resta, eu viro e vou embora, isso foi um grande erro.
— Falou com Ema? — Jules pergunta enquanto dançamos.
— Não, ela disse que não estava se sentindo bem e quis ficar em
casa — dou de ombros.
Suspicious Mind do Elvis inicia como eu havia pedido, os olhos da
Jules brilham quando reconhecem.
— Eu amo essa música — declara apoiando a cabeça em meu
ombro cantando baixinho.
Aceno concordando, nós temos o mesmo gosto, provavelmente
devido aos nossos pais sempre estarem dançando pela casa quando
éramos pequenos.
— Por isso eu pedi ela — ela sorri com minha resposta.
Eu a empurro para longe a girando e ela gargalha porque quase piso
no seu pé, propositalmente é claro, incomodá-la é bem divertido confesso.
Jules estreita os olhos para trás de mim.
— Anton.
— Hum?
— Acho que tem uma garota nos observando — aponta com o
queixo viro-me e para minha total surpresa é Victoria.
— Victoria — confesso em um sussurro sem tirar os olhos, mas ela
se vira e sai praticamente correndo.
— Oh, isso será interessante… vai logo Anton! — Jules me belisca
tirando-me do meu estado de choque, se ela não confirmasse o que meus
olhos veem, eu diria que era fruto da minha imaginação por pensar em
Victoria mais do que deveria.
Abandono Jules e parto correndo em meio as pessoas, esbarrando em
todos que estão em minha frente, a única coisa que consigo enxergar é
Victoria.
— Victoria! — grito.
Sem sucesso.
Não sei se ela realmente não escutou ou preferiu apenas fingir.
Chego na saída do bar e a encontro parada com os braços em torno do
corpo, me aproximo com cautela a observando, ela está fodidamente linda,
o vento está forte, bagunçando todo seu cabelo, deixando a visão ainda
mais atraente, se é que é possível.
Jamais imaginei encontrá-la aqui hoje, na verdade para ser sincero
acreditei que não a veria mais, desde nosso último encontro eu desisti de ir
vê-la, não posso ser o que ela quer e precisa, porém, ela ter vindo aqui
hoje, bom... eu tentei me manter afastado, mas não sou tão forte assim, o
que posso fazer se o universo a trouxe novamente para mim?
— Hey, aonde você vai pequena?
— Anton! — finge estar surpresa, como se não tivesse me visto no bar a
alguns minutos.
— Sou eu — respondo sorrindo enquanto me aproximo. — Está
sozinha? — pelo menos foi o que percebi, mas quero ter certeza.
— Sim — estreito os olhos curioso, ela desvia.
Porque ela viria no bar sozinha, onde ela sabe que eu toco.
— Tudo bem, e por que está indo embora?
— Eu... eu não sei o que vim fazer aqui, eu só... — suspira frustrada e
continua — Estava sozinha em casa e pensei, por que não? Então peguei o
Uber e vim, aí quando cheguei, bom, você não devia deixar sua namorada
esperando — solta as palavras uma atrás da outra, extremamente rápido,
parecendo uma avalanche, fico confuso por um tempo, até que
compreendo, foi isso que a fez ir embora, viu-me dançando com Jules e
constatou que era minha namorada.
— Jules não é minha namorada — respondo divertindo-me.
— Ah... não é? Bom, vocês pareciam bem íntimos, não que eu esteja
julgando, longe de mim... só, sei lá — declara olhando para o chão.
— Claro que somos íntimos, Jules é minha irmã — ela me encara
surpresa, aperta os lábios em uma linha e fecha os olhos.
— Anton, eu não sabia... desculpa! — põe as mãos no rosto se
escondendo envergonhada.
Eu começo a rir e me aproximo segurando uma mexa do seu cabelo
enrolando nas pontas dos dedos, seu corpo denuncia seu nervosismo.
— Não que seja da minha conta, afinal você pode estar com alguém,
isso seria extremamente normal, já que você toca em uma banda, é muito
bonito, solteiro, bom, eu acho, você é solteiro? — mordo os lábios contendo
a vontade de beijá-la, Victoria é o ser mais lindo do mundo quando fica
nervosa.
— Você tagarela bastante quando está nervosa, não é pequena
encrenca? — divago a observando.
Um carro estaciona, ela olha para o carro e depois volta para mim.
— Meu Uber chegou, vou indo então — afirma se afastando.
— Por que vai embora? — dou um passo em sua direção.
— Já chamei o Uber e ele já está aqui, então, enfim é melhor eu ir
embora — sorri sem graça virando em direção do carro, impeço-a
segurando sua mão.
— Você pode cancelar, ele não vai se importar — sem dar chance para
argumentar vou até o carro e aviso o motorista que a corrida foi cancelada,
quando viro-me ela está boquiaberta com o que acabei de fazer, ok, talvez
eu tenha me excedido... mas eu não a deixaria ir embora assim, não sem
antes saber exatamente o que veio fazer aqui hoje.
— O que você planejava fazer quando saiu de casa? — pergunto
realmente curioso.
— Você que vai pagar a taxa de cancelamento — diz empinando o nariz,
sei o que está tentando fazer, quer mudar de assunto, não hoje.
— O que você quiser pequena, por que você veio aqui hoje? — chego
mais perto devagar — Pequena? — insisto.
Ela olha para os lados, suspira e enfim responde.
— Eu queria te ver — diz tão baixo que quase não consigo escutar.
— Por quê? — decido ser um pouco mais insistente.
— Eu não sei, eu só queria — sorri sem jeito.
Queria me ver… porra!
Juro que tentei me manter afastado...
Mas a porra do destino me enviou ela, e eu seria muito filha da puta se a
mandasse embora agora, não… eu jamais conseguiria me afastar, talvez se
nós ficássemos juntos essa noite, esse desejo insano passe e eu consiga
continuar minha vida.
Isso!
Ou eu fique mais louco por essa garota e ferre com tudo de uma vez.
Porra.
— Ok! Aqui estou eu — digo sorrindo abrindo os braços — Lembra, de
valor inestimável — ela sorri, agora sim é um sorriso de verdade.
— Vamos entrar, vou te apresentar a banda — seguro sua mão e a levo
novamente para dentro, passamos pelo bar, pegamos uma bebida e
seguimos em direção a mesa, chegando puxo uma cadeira ao lado da Jules
para Vick.
— Pessoal, essa é Victoria, Vick essa é minha irmã Jules e o resto é os
caras da banda.
— Obrigado pela educação Anton, Vick eu sou Iago esse cara do lado
super carismático é o Davis — Iago explica sorrindo.
— Eu sou Léo, o mais lindo — reviro os olhos com o comentário idiota
do nosso baixista.
— Não dá bola Vick, são todos assim, muito maduros, principalmente
meu irmão — Jules pentelha declara sorrindo.
— Sempre muito prestativa Jules, obrigado pelo elogio — rebato com
sarcasmo.
— Disponha querido — pisca em minha direção.
— É um prazer conhecê-la Vick, veio sozinha? — dou um chute por
baixo da mesa tentando acertar Jules e fazer ela calar a boca.
— Porra, quem me chutou? — Léo pergunta, finjo que não sei de
absolutamente nada.
— Ninguém — respondo.
— Eu senti sim, alguém me chutou — passa os olhos pela mesa
examinando, procurando o culpado.
— Cala boca Léo, ninguém te chutou e para de beber, vamos subir para
o palco daqui a pouco — o ameaço silenciosamente.
— Mas então Vick, continuando, está sozinha? — Jules retorna a porra
da pergunta, mas que saco!
— Sim, eu vim sozinha, minha amiga Giulia está em outro compromisso
e é sábado a noite, não queria ficar em casa, então eu vim, espero não
estar atrapalhando a noite de vocês — responde dando um meio sorriso,
provavelmente constrangida com a porra do interrogatório.
Agora quem ficou curioso foi eu, será que está sozinha aqui no bar
somente… ou está sozinha literalmente, tipo solteira.
Droga!
— De forma alguma, não está atrapalhando, você vai me fazer
companhia enquanto esses caras fingem que tocam alguma coisa — minha
irmã diz sorrindo, volto a olhar para Vick que está sorrindo corada, nossos
olhos se encontram e não consigo quebrar o contato visual, nem ela.
A observo engolir a seco e molhar os lábios, puta que pariu… eu
gostaria de passar a língua por essa boca gostosa.
— Anton, está na hora — Léo avisa, e como um déjà-vu, lembro do
nosso último encontro quando Vick foi embora.
— Me espera? — faço a mesma pergunta como na última vez que nos
encontramos, nesse mesmo bar, porém dessa vez seus olhos brilham e ela
sorri balançando a cabeça positivamente.
— Sim Anton, eu te espero, vá... faça seu show e quando voltar estarei
aqui…
Foda-se, me aproximo e deixo um leve beijo próximo de sua boca.
Sigo para o palco com um sorriso bobo no rosto.
Daqui onde estou consigo ficar de olho nas duas, Victoria sorri o tempo
todo junto com Jules, fico me perguntando o que tanto conversam e sinto
medo pelas histórias que minha irmã pode revelar.
Não sei dizer o que estou sentindo vendo Vick aqui hoje, ao mesmo
tempo que me sinto imensamente feliz estou com receio, mas foda-se, vou
aproveitar ao menos essa noite.
As duas levantam e começam a dançar juntas, seus olhos encontram os
meus o tempo todo enquanto canto, ela pula, canta, sorri, eu sou o cantor,
entretanto é ela quem está fazendo o show, ao menos para mim, observá-la
de longe já era maravilhoso, mas estar em sua presença, escutar a sua voz,
isso não tem comparação, saber que seus sorrisos são direcionados a mim,
Victoria emana alegria, ela possui um brilho que é somente dela e eu ficaria
feliz em apenas vê-la dançar.
Tocamos mais algumas músicas e finalizamos o show. O bar fica aberto
mais um pouco depois que a banda encerra, não sei quais são os planos
dela, mas com toda certeza, não quero que vá embora, não hoje pelo
menos.
— Gostaram do show meninas? — aproximo-me das duas.
— Já vi melhores sabe — Jules responde fazendo pouco caso.
— Talvez eu deva repensar sobre meus shows particulares a noite então
— levanto os ombros.
— Não, foi maravilhoso, eu adorei! — Jules declara fingindo
arrependimento.
— Show particular? — Vick questiona confusa.
— Anton cantava quando eu era pequena até dormir, e hoje de vez em
quando ainda faz — Jules diz com os olhos brilhando em admiração, não
há nada que eu não faria por essa pentelha.
— Oh meu deus, isso é lindo, a música que você quiser? — Vick
pergunta com entusiasmo.
— Qualquer música — confirma Jules.
— Posso ter um show também? — ela pergunta me observando.
— Oh pequena, você pode ter o que quiser de mim — respondo
maliciosamente, Victoria fica vermelha e eu começo a rir, é muito engraçado
mexer com ela.
— Isso foi extremamente nojento Anton — Jules pentelha interrompe
meu momento.
— Jules, por que não vai passear? — meus olhos perfuram os dela.
— Isso foi rude Anton, deixa Jules aqui, nós estamos nos dando muito
bem — semicerro os olhos, para Jules.
— É Anton, nós estamos nos divertindo aqui — Jules responde e eu
quero matá-la agora, todo aquele amor que existia? Acabou.
— Ok, ok... Vick, eu preciso garantir meu show da semana sabe, então
eu vou indo — Jules diz abraçando Vick e se afasta, para a minha alegria.
— Vamos dançar pequena encrenca — seguro sua mão e sua boca se
curvam em um sorriso.
— Ah você dança? — provoca-me.
— Em ocasiões especiais — coloco uma mão em sua cintura, sinto seu
corpo ficar tenso sob meu toque.
— Relaxa pequena, estamos apenas dançando — ela morde os lábios
avaliando minhas palavras, então sede.
— Sim, eu sei — concorda colocando as mãos em meus ombros,
aproveito e a puxo para mais perto do meu corpo, há meses venho
querendo e sonhando em sentir seu corpo colado assim ao meu.
E caralho, a realidade é infinitamente melhor.
— Sabe pequena — Passo um braço ao redor de sua cintura
segurando-a firme contra meu corpo, a outra mão escorregando pela lateral
do seu corpo lentamente.
— Estou curioso sobre uma coisa, vamos ver se você pode me ajudar —
questiono com o tom de voz mais baixo, ela apenas acena afirmando com a
cabeça.
— Bom, muito bom — afasto seu cabelo abrindo caminho e me
aproximo, passo minha boca lentamente pela lateral do seu pescoço, sua
pele fica arrepiada instantaneamente.
Deposito um beijo leve, seguro seu pescoço e aproximo minha boca ao
pé do seu ouvido, dou uma leve mordida inspirando seu perfume.
— Por que veio hoje aqui? O que você quer pequena? — volto a olhar
para seu rosto, ela está de olhos fechados com a boca entreaberta, sinto
sua respiração ficar acelerada.
— O que você quer, Victoria? — pergunto muito próximo a sua boca,
então ela abre os olhos, brilhando de desejo.
— Você Anton, eu quero você.
Eu Victoria considero-me uma pessoa muito amigável, adoro fazer
amigos, inclusive acredito que ter amigos é algo fundamental para nos
mantermos felizes e bem durante as nossas vidas. Entretanto, nesse exato
momento estou revendo meus conceitos sobre esse meu pensamento,
bom, vou explicar melhor, eu havia acabado de criar coragem de dizer a
Anton que eu o queria, sim, eu o quero, cansei de fingir algo que já está
mais que visível, eu o quero tanto que dói, quero tocá-lo, sentir o calor de
sua pele, beijá-lo, sentir seu corpo, sentir o gosto que seu beijo tem, sentir
suas mãos tocando meu corpo. Só de imaginar já me sinto em chamas, e
isso com toda certeza teria acontecido, se não fosse o seu amigo, entendeu
agora?
O amigo do Anton, vulgo Léo, ele está bêbado nos abraçando,
definitivamente, eu não quero ser amiga do Léo... pelo menos não agora, e
em minha concepção, Anton também não está feliz, noto através de seu
maxilar rígido.
— O que estão fazendo pombinhos?
— Excelente momento para aparecer Léo, sempre no time certo —
Anton diz com um olhar gélido em sua direção, se esse olhar fosse
destinado a mim, estaria muito preocupada, porém Léo parece não estar se
importando, nenhum pouco.
— Disponha — responde sorrindo. — Então, vamos lá para casa,
aqui já está fechando, e por um milagre Jules aceitou ir também, vamos
antes que ela desista.
— Desde quando Jules vai em suas festas? — Anton indaga
confuso.
— Desde — ele para, olha o relógio em seu pulso. — Há cinco
minutos.
— Vamos gente, quero me divertir, Vick você vai, não é? — Jules
pergunta enquanto se aproxima, parecendo um filhotinho de cachorro sem
dono, impossível dizer que não.
— Claro, vamos sim — confirmo sorrindo e olho em direção do
Anton. — Claro, se você concordar.
— Anton não manda em nada, vamos garotos, Vick vai conosco no
carro já que o Anton está de moto — Jules informa e sai andando.
— Bora! Tô só por uma gelada — Davis diz se afastando em direção
da porta, e acredito que seja a primeira vez que escuto uma frase completa
saindo de sua boca, de todos, ele é o mais calado.
Sigo-os em direção da saída, quando sinto uma mão segurando a
minha.
— Vick, tudo bem mesmo por você? Nós podemos ir embora se
preferir, não precisa ir só para agradar a Jules, ela supera — assegura
levantando uma sobrancelha.
— Está brincando? Claro que eu quero ir, vai ser legal — respondo
animada, realmente quero sair, e o pouco tempo que passei ao lado de
Jules foi divertido, ela é uma versão feminina do Anton, não lembro quando
foi a última vez que sai para conversar e beber com amigos, na verdade, eu
tenho somente a Giulia de amiga.
— Vamoooooos Victoria, estou há muito tempo sem ingerir álcool —
Léo grita da porta, Anton mostra o dedo do meio em sua direção, sorrio,
tenho que concordar com Jules, Léo e Anton não são muito maduros, mas
eu gosto disso.
— Nos vemos daqui a pouco? — pergunto.
— Pode contar com isso pequena — confirma piscando com um
sorriso malicioso, então saio correndo antes que Leo tenha uma síncope
aqui, já que ele não parou de gritar ainda.

No carro Iago dirige por ser o único que não bebeu ainda e Davis vai
ao seu lado no banco da frente, sento ao lado de Jules que por fim se senta
ao lado do Léo, durante o caminho vamos conversando sobre histórias da
banda e rindo muito, escutamos música, noto que Léo e Jules são bem
próximos, o carro para em frente a uma casa que já está cheia de pessoas
com o som bem alto!
— Essa é sua casa? — pergunto enquanto observo o lugar, é linda.
Tem um jardim com várias flores de tudo quanto é cor, fico fascinada. Não
imaginei que essa seria a sua casa, não que eu esteja o julgando, mas
bem, Léo não faz o tipo de quem tem um jardim e diversas flores.
— Yes, baby! — afirma orgulhoso.
Descemos do carro e olho ao redor procurando Anton, mas nada. Ele
ainda não chegou.
— Anton voltou para pegar minha carteira, esqueci no bar — sorri
sem jeito. — Vamos entrando, ele logo chega — Iago avisa e vai em
direção da casa, Jules segura minha mão e sorri.
— Vamos? Léo é um idiota, mas estamos seguras, Anton já chega.
— Estou grande hoje, acompanhado com as garotas do Anton —
Léo passa os braços ao redor de nós colocando a cabeça no meio.
— Você é um idiota Léo — Jules desfere um leve soco na lateral do
seu corpo.
— Não faça isso meu amor, eu fico triste quando me batem — Leo
geme enquanto vira a cabeça de lado fazendo cara de cachorro sem dono,
eu até poderia sentir pena, se não fosse o Léo.
— Que mentira, você adora apanhar Leonardo — Jules debocha.
— Em um quarto, algemado, de olhos vendados talvez sim, quer
tentar? — levanta às duas sobrancelhas sugestivamente.
Suponho que esqueceram que estou aqui.
— Dispenso Léo, guarde para as vinte garotas que você irá pegar
hoje, no mínimo — Jules diz brincando, mas consigo sentir um tom
acusatório.
— Jules, um dia você irá se casar comigo, e teremos cinco bebês.
— Você deveria parar de sonhar, eu teria cinco filhos e vários pares
de chifres, você não presta.
— É verdade, sempre esqueço esse detalhe, sou um puto — diz
piscando.
Entramos na casa e consigo ver várias pessoas dançando e se
beijando, a música está bem alta, passamos por garotas que estão quase
peladas, devo ressaltar que eram muito bonitas, me pergunto quantas
garotas Anton já levou para cama, considerando que provavelmente
sempre vão em festas depois do show, paro e fico observando uma garota
bebendo algo no corpo de um garoto, sinto Jules me puxando, continuamos
até que chegamos na cozinha, Léo puxa uma garrafa de algo que eu não
reconheci, despeja o líquido em um copo e o bebe de uma vez só.
— O que querem beber, meninas?
— O mesmo que você — Jules responde sentando na cadeira
— Você não aguentaria — Leo a desafia.
— Você ficaria surpreso com o que eu aguento — responde
levantando uma sobrancelha o provocando, acredito que estou perdendo
alguma coisa aqui.
Ele para, analisa, lambe os lábios, vira a cadeira e se senta apoiando
os cotovelos.
— Cinco doses uma atrás da outra — declara confiante de que Jules
não irá aceitar, eu apenas fico olhando de um lado para o outro
acompanhando essa batalha silenciosa.
— Ok, pode pôr, eu e Vick aceitamos.
— Que? — me manifesto chocada, eu mal bebo, quem dirá cinco
doses uma atrás da outra, com toda certeza na última estarei caindo.
Isso é péssimo, nada de bom pode sair disso, mas antes mesmo de
responder que não quero, que isso é loucura, Léo distribui dez copos de
shot com o líquido, várias pessoas nos cercam e eu olho para os lados a
procura do Anton, volto meus olhos em desespero para Jules, ela sorri.
— Vamos lá garota — então ela virá o primeiro sem quebrar o
contato visual com Léo, gente isso aqui está muito estranho, só eu sinto
essa química aqui? Ninguém nunca percebeu nada antes?
— O que tem aqui? — pergunto interrompendo o momento de
desafio dos dois, levo o copo ao nariz, tem cheiro de álcool puro.
— Tequila baby — sorri de lado.

Ok, o Léo atrapalhou tudo esse puto do caralho, entretanto ela não
irá embora, acredito que ter aceitado ir à casa do Léo, é um bom sinal, eu
acho.
Quando estava a caminho, parei para abastecer e Iago me liga
pedindo que eu retornasse ao bar e buscasse sua carteira, como estou de
moto seria mais rápido, porém isso leva quase uma hora e meia, e confesso
que eu tenho receio de deixar Vick sozinha com aqueles lunáticos, bom...
pelo menos Jules está junto.
Estaciono a moto em frente a casa e já consigo escutar o som alto,
há pessoas por toda parte, por sorte Léo mora em uma casa bem afastada
das demais, então sempre rola festa sem nenhum problema.
Entro na casa e estou à procura da Victoria quando uma garota se
aproxima com segundas intenções, conheço ela.
Bruna e eu já ficamos algumas vezes, ela chega mais perto, segura
meu pescoço e tenta beijar-me, mas desvio a tempo.
— Oi lindo, o que acha de subirmos para um dos quartos? Faz um
tempão que não te vejo.
— Hoje não — esquivo-me e continuo a procura da minha pequena,
escuto alguns berros e vou em direção, quando chego, para minha surpresa
está Jules e Vick virando várias doses de algo que não tenho ideia, e pela
segunda vez me pergunto se realmente foi uma boa ideia apresentar essas
duas, eu deveria ter pego Vick e ido embora, mas não, Victoria tem que ser
a miss simpatia, e Jules, prefiro nem comentar sobre minha irmã, ela
sempre é a mais centrada e responsável, já até ganhou o apelido de careta
no grupo. Me aproximo e Vick me encontra, abre um sorriso radiante com o
rosto vermelho e os olhos brilhando.
— Olá pequena, vejo que começou sem mim — coloco uma mecha
de cabelo, atrás de sua orelha.
— O Léo desafiou eu e a Jules, e nós somos uma dupla muito
perigosa, então nós aceitamos — estufa o peito enquanto conta o que o
babaca do meu amigo fez. Vou matá-lo, não hoje, não amanhã, mas um
dia.
— Antooon, nós somos uma dupla, você deveria ver, somos demaais
— Jules grita em meu ouvido abraçando meu pescoço, consigo sentir o
cheiro do álcool puro.
— Estou vendo — respondo divertindo-me.
— Não é Antooon, é Antônioo — Victoria argumenta seriamente
levantando o queixo, às duas caem na risada, ótimo.
— Ok, que tal tomarmos uma água? — Ofereço na tentativa de
amenizar a ressaca de amanhã.
— Não, ainda não acabamos o desafio... falta a última. — Vick avisa
levantando as sobrancelhas.
— Isso Anton, apenas mais umaa — Jules levanta a mão fazendo o
número três com os dedos enquanto balança a cabeça concordando com
Victoria.
— Então vamos lá, vamos finalizar isso campeãs — digo sorrindo.
— Léo, traga as últimas, nós vamos beber — Vick avisa Léo com
seriedade, elas realmente estão levando esse desafio à risca.
— Isso Vick, nós somos foda, somos as rainhas do mundo — Jules
grita abrindo os braços.
— Ok, Titanic não né Jules.
— Meu Deus, eu amo Titanic — Vick se vira para Jules segurando
suas mãos.
— Meu Deus eu também, somos almas gêmeas.
— Simmmm — pulam e se abraçam, se alguém visse de fora diria
que se conhecem a vida inteira.
— Já sei, última pergunta Vick, preciso saber se você é realmente
perfeita como parece ser — Jules declara extremamente séria, nem parece
estar bêbada.
— Pode mandar, estou pronta — Vick responde, isso realmente está
acontecendo?
— Eu canto a primeira parte, se souber a segunda você se torna
minha alma gêmea para todo sempre.
Estou observando as duas sem entender nada, elas não estão
fazendo nenhum sentido.
— Vai — Vick fecha os olhos em espera.
— "No importa mucho lo que digan de mí, Cierro los ojos y ya estoy
pensando en ti" — Jules canta a primeira parte da música, reconheço na
hora, mas somente porque Jules ficava para cima e para baixo com uma
estrela colada na testa, que eu era obrigado a comprar sempre que ela as
perdia, saia rodada e um controle que fingia ser um microfone, passava os
dias cantando e dançando no meio da sala enquanto eu queria assistir
qualquer outra coisa, porém ela tinha um alto poder de persuasão desde
pequena, ela afirmava ser a Mia dos Rebeldes.
Vick arregala os olhos em reconhecimento, dá pulos e grita no meio
de todos, já disse quantas pessoas tem nessa festa?
— "Y soy rebelde, Cuando no sigo a los demás" — Canta ainda mais
alto, quero me esconder, posso fingir que não as conheço? Seria muito
errado?
— Você conhece! Anton ela conhece! — tarde demais, todos já
sabem.
— Sim, Jules... eu e toda a festa sabemos que ela sabe — respondo
rindo.
— Anton, ela é perfeita, se você não casar, eu caso.
Não sei o que pode ser pior, Jules lembrando de sua banda favorita
de quando era pequena ou Victoria conhecer também, pego-me querendo
descobrir de quem ela mais gostava... não que eu assistisse, claro que
não.
Para ajudar, a porra do Leonardo, sim, agora o chamo pelo nome
completo, nada de apelidos quando estou puto, põem a porra de rebeldes
no som, e as duas? Ah as duas sobem na mesa, porque não é o suficiente
apenas cantar, elas querem dar o show, porém, vendo-as aqui agora, eu
não poderia estar mais feliz, não lembro da última vez que Jules se divertiu
assim, e Vick, Vick está perfeita, mesmo levantando a blusa...
Como?
Que porra é essa?
Vou em sua direção, a pegando no colo na tentativa de tirá-la de
cima da mesa, ela como uma boa torturadora que é, enrosca as pernas em
minha cintura e passa os braços afundando o rosto em meu pescoço, então
sinto Victoria passando o nariz inspirando-me.
— Ok pequena, o show estava ótimo, mas eu preferia que você o
guardasse para depois, o que acha?
— Uuuh, você quer um show Antônio? — sorri de um jeito safado
insinuando algo.
— Eu gostaria muito — concordo mantendo-a em meu colo, não
estou pronto para soltá-la ainda.
— Você é bem forte — tira as mãos do meu pescoço e aperta meus
braços me avaliando. — Você me pareceu magro, mas é forte, interessante.
— Está falando que sou magro demais? — semicerro os olhos em
acusação.
— Não, talvez um pouco, mas está bom para mim, você é lindo —
sorri segurando meu rosto com as duas mãos.
— Sinto-me lisonjeado por estar ao seu gosto — respondo beijando
a ponta de seu nariz.
— Anton, preciso te contar um segredo — seu sorriso some e agora
está olhando-me séria com os olhos brilhando.
— Precisa é?
— Uhum — balança a cabeça afirmando mordendo os lábios e eu
me perco novamente.
— Diga princesa — peço que continue com sua confissão.
— Eu tenho sonhos molhados com você, e apelidei meu brinquedo
de Anton — ok, ela conseguiu me deixar surpreso, por essa eu realmente
não esperava.
Abro um sorriso, confesso que o homem das cavernas que me habita
se sente muito, na verdade, infinitamente feliz, entretanto também causa
um certo desconforto no meio das minhas pernas, ela em meu colo bem
próximo também não ajuda muito.
— Porra Vick — gemo, eu não deveria, mas por ser um filho da puta
eu quero mais detalhes. — Há quanto tempo você tem esses sonhos?
— Bom, você sabe, eu estava em um relacionamento, nós
terminamos, então eu comprei um vibrador, nunca tinha usado, tenho que
dizer que é muito interessante, sabia que tem várias vibrações? Eu gosto
da número um, às vezes quando estou perto uso a número dois, mas é bem
às vezes, enfim acordei no meio da noite depois de sonhar com você,
peguei meu vibrador e te imaginei, que loucura não é? — passa a língua
pela boca a molhando e caralho, queria estar com meu pau bem ali.
— É meu anjo, muito louco... faço isso a quase três meses —
confidencio minhas noites, manhãs, às vezes a tarde também.
Se eu me orgulho disso? Não, mas é mais forte que eu.
— Anton, você usa um vibrador também? — fechos os olhos,
pedindo para que ninguém a tenha escutado já que gritou, mas como
sempre Léo está presente nos melhores momentos.
— Eu sempre soube — diz enquanto está com Jules no colo.
— Que porra você está fazendo com Jules no seu colo? — meu
sangue sobe, todos sabem que Jules é território proibido desde que nos
conhecemos.
— Nada, ela precisava de ajuda para descer, só isso.
— Esse tempo todo Léo? Solta a minha irmã, seu babaca.
Faço menção de ir em sua direção, mas sou interrompido por Vick.
— Anton, dance comigo — pede virando meu rosto em sua direção
tão próximo que esqueço tudo ao nosso redor, colo minha testa na sua, ela
solta as pernas e ficamos por um tempo dançando, nem sabemos o que
está tocando, estamos apenas nos balançando aproveitando o momento.
— Você sente? — ela pergunta com o rosto apoiado em meu peito.
— Sente o que pequena?
— A intensidade — diz ela.
— Sim anjo, o tempo todo quando estou com você — confesso e ela
sorri, até hoje, foi o sorriso mais lindo que já vi.
— Anton, acredito que estou tonta, tipo muito.
— É o que acontece quando se segue o Leo pequena, quer ir para
um lugar mais calmo? — questiono observando o lugar ao redor, muitas
pessoas dançando e bebendo, o cheiro de cigarro está forte, não encontro
nem um dos caras da banda nem Jules por perto.
— Sim, por favor — pede fazendo careta.
— Vamos para o quarto de hóspedes — seguro sua cintura
colocando no meio dos meus braços a protegendo enquanto passamos
pelas pessoas, assim que chegamos no corredor eu a pego no colo,
automaticamente ela enfia seu rosto em meu pescoço, inspira e geme,
porra.
— Anton, você tem um cheiro muito gostoso, gostoso tipo você —
confessa com a boca colada em meu pescoço, sorrio.
— Você me acha gostoso? — questiono gostando muito de ouvi-la,
não me acho um cara feio, gosto de brincar que sou perfeito e essas coisas,
mas sou modesto. Porém ouvir de Victoria que ela me acha gostoso, isso
causa um sentimento de aprovação em mim, que eu nem sabia que
precisava.
— Simmmm, inclusive suponho que passou na fila da beleza mais do
que devia — continua falando. — Posso te contar algo?
— Tudo que você quiser, parece que hoje é a noite das revelações
— respondo abrindo a porta.
— Ok, eu gostaria muito de beijar você agora — olha-me em
expectativa com os olhos brilhando.
— Pequena — coloco-a na cama, seguro seu rosto e continuo. —
Acredite eu gostaria muito mais, porém não é o certo.
Ela faz que sim e desvia o olhar, evitando-me, puxo novamente seu
rosto em minha direção, ela esmaga os lábios.
— Amanhã, quando você estiver 100% bem, nós conversamos ok?
Mas não pense nem por um segundo que eu não queira, só não é o certo,
você está bêbada Vick, não seria justo. Um beijo na testa compensa? —
tento animá-la.
Tudo o que eu mais queria agora era estar beijando cada parte do
seu corpo e me enterrando nela enquanto olho em seus olhos, mas não é
justo fazê-lo enquanto está bêbada, isso seria muito errado.
— Acho que sim, vamos ver — diz levando a testa para frente em
minha direção, sorrio, ela vai de garota safada pra fofa em questão de
segundos, beijo sua testa.
— Acredito ser o suficiente por hoje — confirma sorrindo.
— Fico feliz pequena, agora vamos dormir — deito e a puxo para
meu peito.
— Anton, não consigo dormir assim de roupa.
— Entendi — tiro minha blusa e a entrego, diante de sua expressão
confusa, continuo. — Quer ajuda?
— Sim, por favor — sorri maliciosamente, semicerro os olhos, sei o
que está tentando fazer, sinto-lhe informar pequena, não cairei no seu
joguinho.
— Entendi, mas eu sou forte dona encrenca, levante os braços — ela
obedece prontamente, puxo sua blusa, respiro fundo e engulo seco, passo
minha blusa pelos seus braços e dou um graças a Deus que acabou.
— A calça também — diz deitando apontando para suas pernas.
Ok…
Pequena torturadora, com todo meu autocontrole desabotoou sua
calça e a puxo, respiro fundo mais uma vez, jogo sua calça no chão e deito
na cama a puxando junto ao meu peito na velocidade da luz, o que os olhos
não veem o coração não sente.
O problema é que ela está colocando sua perna exatamente em
cima do meu membro, que agora está implorando por um alívio, hoje não
amigão.
Fico quieto para ver se ela dorme e para de tentar persuadir-me.
Definitivamente não imaginava terminar a noite assim.
Bem, na verdade, imaginava que iria terminar sozinho novamente, eu
não consegui tocar em mais ninguém depois que a conheci, não me parece
justo transar com alguém pensando em outra pessoa, imaginei que com o
tempo eu iria esquecer, porém, isso não aconteceu, muito pelo contrário a
saudade apenas aumentou, como posso sentir isso por alguém que nem ao
menos beijei?
Sou tirado dos meus pensamentos.
— Anton — chama-me quase dormindo, sua voz está baixa e fraca.
— Hum? — respondo beijando o topo de sua cabeça enquanto faço
carinho em suas costas.
— Eu me diverti muito hoje, obrigada, não lembro de ter sido feliz
assim algum dia...
Porra, eu a abraço ainda mais forte, gostaria que tudo isso fosse
possível.
Infelizmente não podemos ter tudo o que desejamos.
— Durma pequena.
— Antonnnnnnnnnn — diz novamente e eu sorrio. — Um dia você vai
me contar? — suspira.
— Contar o que princesa? — questiono curioso.
— O porquê da tatuagem?
— Um dia amor, um dia...
Desperto sentindo os braços em torno do meu corpo, abro os olhos
devagar e noto que não estou em casa, muito menos em minha cama,
como um flash tudo que aconteceu na noite passada retorna.
Oh! Eu confessei sobre o vibrador, confidenciei que o acho gostoso e
lindo, misericórdia.
Posso fingir que esqueci.
Respiro fundo buscando coragem e viro-me lentamente.
Para minha surpresa ele está acordado olhando-me parecendo um
predador, engulo em seco, é dessa intensidade que eu tenho medo, molho
os lábios, nervosa.
— Oi — decido interromper o silêncio.
— Como está se sentindo hoje — pergunta com a voz rouca e baixa.
Mais um flash da noite anterior vem a minha mente, quando disse
que só iria tocar-me quando eu estivesse 100% bem.
Criando uma ousadia que nunca tive, levo minha mão em seu
abdômen, toco com as pontas dos dedos, fito seu rosto, ele apenas me
encara atento, deslizo pelo seu peito, está quente, vou subindo até chegar
em seus lábios, muito convidativos devo mencionar.
Sinto-o ficar rígido sob meu toque, dedilho seus lábios, louca para
beijá-lo.
— Victoria — adverte com a voz rouca, alertando-me de algo, sua
mão segura meu pulso de um jeito forte, não para me machucar, mas o
suficiente para me manter imóvel, isso faz com que eu fique ainda mais
molhada do que já estou.
— Anton — sussurro.
— Me diga, como está hoje — insiste com a pergunta, seus olhos
estão presos em minha boca, mordo meu lábio inferior.
— 100%.
Seu sorriso abre, um sorriso deliciosamente safado.
— Boa garota — num piscar de olhos Anton está por cima,
pressionando-me na cama, enquanto mantém meus pulsos acima da minha
cabeça imobilizados.
Aproveito esse momento para correr meus olhos pelo seu corpo,
início por sua boca, desço por seu abdômen, sigo as entradas indo em
direção a sua virilha, por fim chegando em seu membro, puta que pariu,
está bem duro e é bem grande, Anton nota onde meus olhos estão fixos.
— Você me quer? — pergunta pressionando seu membro contra
meu corpo enquanto passa sua língua por meu pescoço, eu faço sinal que
sim, porque eu não consigo formar uma frase decente em minha cabeça.
Suas mãos sobem minha camiseta, levanto os braços dando total
liberdade para tira-la, aproveito e solto meu sutiã o jogando longe, porque
estou com pressa, Anton fecha as mãos em meus seios, solto um gemido
de satisfação fechando os olhos, sinto sua respiração quente próxima do
meu mamilo quando finalmente sinto sua língua o circular lentamente, ele
lambe, chupa, dá uma leve mordida e da atenção para o outro repetindo os
mesmos movimentos, cruzo minhas pernas em sua cintura pressionando
nossos sexos em busca de alívio, então o maldito se afasta.
— Eu não ouvi — provoca-me apertando meu seio com as pontas
dos dedos, reviro os olhos enquanto finco minhas unhas em seus ombros.
— O quê? — grito em desespero por mais.
— Não ouvi você dizendo que me quer — retorna com sua boca,
sugando meu seio torturando-me.
— Anton. Por favor — choramingo.
— Diga o que você quer.
— Me dê tudo que você tem — digo em tom de súplica
— Como quiser — cola nossos lábios com urgência.
Abro minha boca dando espaço, sinto sua língua indo de encontro
com a minha, meu corpo todo se arrepia, e não consigo conter o gemido de
satisfação por beijá-lo, fantasiei tantas vezes de como seria a sensação,
mas nenhuma se compara a isso, como se nada existisse ao nosso redor,
tudo desaparece, problemas, dúvidas, insegurança, existe apenas nós, eu
ele… o calor e o prazer.
Passo meus braços por seu pescoço aprofundando o beijo, perco a
noção de quanto tempo ficamos apenas nos beijando e nos tocando,
paramos apenas para recuperar o fôlego e logo retomamos, arranho suas
costas, ele rosna e se afasta.
— Calma pequena, tenho grandes planos para hoje — levanta indo
em direção a sua calça que está jogada no chão.
Pega sua carteira, retira uma camisinha e volta para a beira da
cama, atira o pacote ao lado da minha cabeça.
Ele leva as mãos à sua cueca e a retira.
Puta que pariu, é lindo, ele consegue ser totalmente lindo, se
aproxima em movimentos lentos e eu não consigo tirar os olhos desse
homem gostoso para um caralho, ele exala a sexo, como um predador
observando sua preza.
Segura minha perna levantando, pressiona seus lábios em meu
tornozelo, vai distribuindo beijos e lambidas até chegar na parte interna da
minha coxa, a essas alturas já não sei mais nem que sou ou meu nome.
Segura minha calcinha pela lateral e a puxa lentamente, quando abro
meus olhos o vejo se tocando com movimentos lentos enquanto observa-
me.
Apenas saboreando o momento, eu não imaginava que essa visão
poderia ser tão quente, como se soubesse que estou o observando ele
para.
— Você gosta? — pergunta de um jeito malicioso deslizando seu
dedo pelo meu clitóris.
— Sim — respondo em puro êxtase.
Anton sorri de modo safado, abre minhas pernas de maneira
selvagem, sinto exatamente o momento em que ele passa a língua
saboreando a minha entrada apenas provocando.
— Victoria, minha doce Victoria — quando vou me pronunciar, Anton
inicia movimentos circulares com a língua que jamais senti, por instinto levo
minhas mãos em sua cabeça agarrando seus cabelos, sinto quando
introduz um dedo e reviro os olhos arqueando as costas, ele suga meu
ponto e sinto uma leve mordida.
— Aaaaah Anton. Isso! — grito seu nome.
— Abra os olhos, pequena, quero você olhando para mim, quando
gozar em minha boca — eu apenas o obedeço, o vejo se tocando
novamente enquanto faz movimentos com a língua, minha respiração
acelera, meu coração dispara, sinto que vou cair em um abismo, então... eu
explodo em um orgasmo intenso, meu corpo convulsiona, tento fechar
minhas pernas, sem sucesso, sou impedida por suas mãos fortes que as
mantém abertas.
Anton continua sugando e lambendo até eu não possuir mais forças.
Ainda respirando com dificuldade, recuperando-me do orgasmo mais
intenso que já tive, sinto seus lábios tocando os meus carinhosamente,
iniciamos um beijo calmo e lento, é extremamente sensual sentir meu gosto
em sua boca, abro meus olhos quando sinto-o se afastando, fito-o em
expectativa enquanto o observo rasgando o pacote com os dentes, depois
desenrolando-o em seu membro, sem romper o contato visual.
Não faço a menor ideia de como tudo isso vai terminar, para ser
sincera estou morrendo de medo, não do sexo, longe disso, essa parte está
mais que perfeita, na verdade, esse é o problema, Anton desgraçado
estragou-me para qualquer outro homem, ele não apenas tocou meu corpo,
ele tocou minha alma.
— Tem certeza? — pergunta com cautela estudando minhas
reações, procurando qualquer sinal de incerteza, sorrio, Anton vai de
insano, Deus do sexo e do oral para cavalheiro em questão de segundos,
dificultando ainda mais minha situação, seria muito mais simples se ele
fosse apenas o Deus do sexo, mentira eu estaria encrencada igualmente.
— Um pouco tarde para isso não acha?
— Jamais pequena, eu pararia a qualquer momento, desde que você
pedisse.
— Sei que sim, no entanto, não quero que pare Anton, eu estou
falando realmente sério, quero tudo.
Dessa vez a resposta vem com um beijo selvagem, volto a entrelaçar
minhas pernas em sua cintura sentindo seu membro em minha entrada, sou
distraída quando Anton leva meu seio em sua boca o sugando com força,
enquanto leva sua outra mão para meu ponto em movimentos circulares,
tento puxá-lo em minha direção com minhas pernas para que me foda de
uma vez, mas sem sucesso, notando minha intenção sorri em meus lábios
e se afasta.
— Gostosa — rosna esfregando a ponta de seu membro em minha
entrada, apenas provocando,
— Anton, por favor, eu não aguento mais — imploro o puxando
novamente.
— Peça — diz sorrindo maliciosamente
— O quê? — digo quase sem fôlego, mas que desgraçado.
— Quero que você peça com todas as letras — responde colado em
minha boca dando uma mordida em meu lábio.
— Cala a porra da boca e foda-me Anton. Quero você dentro de mim
agora — o desgraçado gargalha, sim, minha gente ele gargalha.
— Quer como pequena? Forte ... fraco... lento... rápido... — diz isso
enquanto me provoca.
— Me dê tudo o que tiver, Anton, eu quero tudo, por favor — sim,
estou implorando, mas em minha defesa, eu preciso disso como preciso de
ar.
— As suas ordens, madame — Com apenas um impulso Anton me
preenche, me levando ao paraíso, ele permanece parado por alguns
segundos esperando meu corpo se ajustar ao seu enquanto beija-me,
necessitando de mais, levanto meu quadril empurrando ao encontro do seu,
porque já estou mais que pronta.
— Aaaah — gemo em seu ouvido, cravo minhas unhas em seus
braços quando Anton investe de forma firme e forte.
— Caralho Victoria — grunhe em meu ouvido.
Se afastando põe uma mão em minha cintura imobilizando-me,
enquanto a outra segura forte em meu seio, metendo sem reservas,
consigo ver o suor escorrendo em sua testa, para ajudar o infeliz geme, ele
geme tão gostoso que eu poderia ter um orgasmo apenas o ouvindo.
— Segure-se na cama — ordena.
Ele não pede.
Ele manda.
E eu obedeço prontamente levando minhas mãos acima da minha
cabeça segurando na cabeceira da cama.
Ficando de joelhos Anton segura minha cintura com as duas mãos
me suspendendo do colchão, dando total abertura para que ele me
preencha ainda mais, então ele faz exatamente o que eu pedi, ele me fode,
duro, firme e forte, sem tirar os olhos dos meus.
Insano...
— Anton, eu preciso tocá-lo — imploro sentindo uma necessidade
absurda de estar com as mãos em seu corpo, atendendo meu pedido solta
minha cintura aproximando-se, passa uma mão por trás do meu pescoço
segurando firme enquanto me beija com violência, sua outra mão se fecha
em meu seio apertando com força, o sinto mordendo meu lábio, logo depois
o gosto metálico se junta ao nosso beijo.
— Me toque, faça o que quiser — sem demora deslizo minhas mãos
por seus braços, chego em seus ombros e desço por suas costas
arranhando, Anton geme descendo seus lábios pelo meu pescoço, seus
dentes cravam em meu ombro no mesmo momento que intensifica os
movimentos.
— Vem pequena, vem comigo — ordena descendo sua mão para o
meio de nós, tocando meu clitóris com movimentos circulares, volta a me
beijar com urgência, e eu sinto, sinto que estamos muito perto, a sensação
é de que nossos corpos estão entrando em combustão.
— Vick — sussurra meu nome, então Anton goza, olhando no fundo
dos meus olhos.
— Anton — grito juntando-me ao orgasmo mais intenso que já tive, o
outro desceu para o segundo lugar.
Colo minha testa na sua, ele diminui os movimentos fechando os
olhos com a boca entreaberta gemendo aproveitando cada segundo.
Levo minha mão até seu rosto segurando-o, observo seu peito
subindo e descendo, respirando de forma irregular, beijo seus lábios
devagar, ele sorri abrindo os olhos, e nesse momento eu sei que perdi meu
coração.
Anton sai lentamente e se afasta indo em direção ao banheiro,
quando retorna vai até sua carteira novamente, fico observando com
curiosidade, quando se vira, atira outra camisinha ao lado da minha cabeça,
sorri de lado então ordena.
— Fica de quatro, nós estamos apenas começando.
Afasto-me da Victoria apenas para livrar-me da camisinha no
banheiro, pretendo passar o resto do dia a abraçando, beijando cada
pedaço do seu corpo, me enterrando o máximo que conseguir. Esperei por
esse momento por muito tempo, para ser sincero até desacreditei que
aconteceria, nada do que eu sonhei ou imaginei se compara a sensação e o
prazer que eu tive quando estava com ela em meus braços.
Já tive muitas mulheres na vida, não posso mentir e não gosto de
comparar também, contudo é um pouco difícil não fazer, com Vick foi
completamente diferente de tudo e de todas, cada beijo, cada toque, cada
momento que passei dentro dela, apenas confirmou minhas suspeitas, o
que eu sinto por ela, não é apenas sexo ou um capricho meu, nunca senti
nada assim antes, essa vontade louca de agrada-la, satisfaze-la, de vê-la
sorrir, de estar tocando nela o tempo todo, desde o primeiro dia que a vi ela
não saiu da minha cabeça.
Sempre achei meio ridículo esse papo de amor à primeira vista e
essa baboseira toda, e ainda não acredito, mas algo naquele dia acordou
dentro de mim, isso eu não posso negar.
Volto para o quarto imaginando várias coisas que podemos fazer,
mas paraliso quando a encontro parada com o celular na mão, não está
mais com aquele sorriso de quando a deixei.
— Eu preciso atender, me desculpa — entra no banheiro fechando a
porta, contudo não adiantou se trancar no banheiro, porque eu consigo
escutar o que ela está falando, não queria, mas consigo.
— Hey Josh, me ligou? — assim que eu escuto esse nome cerro os
punhos com raiva.
— É, estou bem sim e você? — continua conversando, sim, está
bem porque eu fiz isso, primeiro com a minha boca, depois com meu pau e
minhas mãos.
— Sim, entendi... podemos nos ver na semana que vem quando vir
para cá então, me mande uma mensagem quando chegar que eu te passo
o endereço.
Mas que porra é essa?
Meu sangue ferve, minha visão fica nublada de raiva, quero quebrar
qualquer coisa em minha frente, ela estava em meus braços há dez minutos
e agora está marcando um encontro com seu ex?
Provavelmente teve a aventura que procurava de uma noite com o
vocalista da banda, e agora irá voltar para o seu ex. Foda-se pego minhas
coisas e coloco minha calça, quando ela finalmente encerra a ligação e sai
do banheiro, estou colocando minha camiseta.
— Oi — diz e sorri
— Oi — respondo pegando meu celular — Quer que eu te deixe em
casa? — falo enquanto mantenho minha atenção no aparelho, mexendo em
porra nenhuma, mas eu não estou bom para conversar agora.
— É, pode ser — responde confusa.
— Ok, vou pegar o carro do Iago, te encontro lá fora — caminho em
direção da porta, seguro na maçaneta pronto para abrir quando a escuto
me chamar.
— Anton.
— Fala — respondo frio.
— Está tudo bem? — indaga franzindo as sobrancelhas.
— Estava — viro e saio do quarto, talvez assim seja melhor, ela volta
para seu namorado e sua vida linda e feliz com aquele imbecil.
Durante o percurso não trocamos nenhuma palavra, perguntei
apenas seu endereço quando entrei no carro e me mantive calado desde
então. De canto de olho consigo enxergá-la mexendo a mão o tempo todo
enquanto olha para fora da janela, quando estaciono o carro em frente à
sua casa, ela tira o cinto de segurança se vira e pergunta.
— Aconteceu alguma coisa? Porque nós estávamos bem, até uma
hora atrás, e agora você mal me encara.
— Desculpa, eu não queria ser rude, mas isso não vai rolar, eu não
sou assim, não entro em relacionamentos — assim que as palavras saem
da minha boca eu me arrependo de tê-las dito, vejo em seus olhos que a
magoei, ela sorri amargamente, balança a cabeça em concordância.
— Eu não me lembro de ter te pedido em namoro Anton — fala e sai
do carro batendo a porta.
Que droga, foda-se, eu mereci, saio do carro e vou atrás dela.
— Vick — chamo-a, ela para, mas não se vira, vejo seus ombros
tensos, sua voz sai baixa.
— Vai embora Anton.
— Sinto muito — digo sentindo-me mal por tratá-la daquele jeito, ela
não me deve nada, nem uma explicação, mas só de pensar em Victoria
voltando para aquele babaca, me deixa puto e minha raiva só aumenta.
— Ok, eu te desculpo, mas vá embora! — insiste, mas eu não
consigo.
— Eu ouvi — confesso em um sussurro e vejo-a se virar olhando
confusa, então continuo.
— Foi sem querer, mas eu ouvi sua conversa com o seu ex Josh —
olho para o lado, não querendo encará-la, porque eu sei que estou errado,
mas isso não diminui a raiva e a sensação de impotência, porque mesmo
eu querendo saber o que porra ela estava pensando em marcar um
encontro com o fodido do seu ex, não posso, eu mesmo disse que não
quero um relacionamento, que direito eu tenho então?
— E qual o problema? Nós não conversamos desde o término Anton,
nós éramos amigos antes de tudo, eu não quero simplesmente apagá-lo só
porque não estamos mais juntos. Você não pode simplesmente fingir que as
pessoas não existem apenas porque não deram certo, eu não sou assim,
isso também não significa que vamos reatar, porque eu estou decidida.
— Desculpa, eu entendi tudo errado.
— Você poderia ter me perguntado, você não precisava me tratar
daquele jeito Anton.
— Ok, Vick. Tem mais uma coisa
— Fale — responde cansada.
— O que eu disse no carro, não entro em relacionamentos, não
quero que crie expectativas.
— Eu não estou te pedindo em namoro Anton, acabei de sair de um
relacionamento... — ela fecha os olhos, respira fundo, abre novamente,
como se estivesse escolhendo as palavras. — Estou cansada, vou entrar.
Se cuida — noto em seu tom de voz que está magoada, a decepção em
seus olhos não me passa despercebido também, sem reação alguma
apenas a vejo ir embora, afinal o que eu diria?
Volto para o carro e soco o volante, não precisava ter agido daquela
forma, não sou um babaca, pelo menos não até hoje. Vou dirigindo em
direção a casa do Léo e lembrando da noite que tivemos, dela em meus
braços de manhã, os sorrisos, os beijos e por fim a decepção em seu rosto
agora pouco.
Merda, merda e merda
Estaciono o carro, sem condições ainda de descer, empurro o banco
para trás e jogo minha cabeça apoiada no banco, fecho os olhos e respiro
fundo, que porra eu estou fazendo, isso era o correto, não era? Deixar as
coisas como estão seria o mais aconselhável, mas porque parece tão
errado me afastar. Após alguns minutos não chegando a nenhuma decisão,
não aguentando mais, decido ligar para uma das únicas pessoas que me
compreende.
Por sorte ela atende no primeiro toque.
— Fala lindo
— Transei com a Victoria — despejo as palavras sem rodeios.
— Ok, isso é bom, não é?
— Foi perfeito, na verdade, nunca senti nada parecido.
— Uhum, por que essa voz de enterro então?
— Porque depois eu fui um babaca
— Oh não, qual o seu problema Anton?
— Ema, não posso, se eu continuar ... nós vamos nos magoar, eu
não sou o que ela precisa, ela não é do tipo sexo casual.
— Você não sabe Anton, isso quem decide é ela — diz bufando,
provavelmente se ela estivesse aqui estaria me batendo. — Eu te amo, por
isso tenho que dizer quando você está sendo um imbecil, e agora você
está, não pense no amanhã, só viva tá legal? Quer estar com ela? Então
esteja!
— Já gostou de alguém assim?
— Assim como?
— Sei lá Ema, não sei explicar, não sou o cara mais romântico do
mundo e bom com as palavras.
— Tente.
— Eu não quero ficar longe dela, só isso, não consigo.
— Então não fique oras! Olha, eu já cometi muitos erros na vida
Anton, não faça o mesmo, não posso voltar no tempo, faça diferente.
— Nunca tive medo do futuro, do que pode acontecer, essa é a
primeira vez.
— É sinal de que você realmente começou a viver, você pensa que
antes vivia, que aquilo era vida, festa, garotas, banda, mas não é, viver é
bem mais que isso, você vai ver... só deixa rolar, sem pressão.
— Você está bem? — mudo de assunto, lembrando que não é só eu
que estou encrencado.
— Enjoada como sempre — diz rindo
— Quando vai contar para ele Ema?
— Nunca, Anton. Enzo está noivo, eu e esse carinha vamos nos
virar, ele tem um padrinho bem chato sabe.
— Ele merece saber, você sabe disso.
— Anton, vou desligar ok? Preciso ir vomitar mais uma vez, só não
faça nada que vá se arrepender. Eu te amo.
— Tchau Ema.
Foda-se!
Saio do carro em direção a casa do Léo, jogo as chaves em cima da
mesa e sigo para o quarto, tomo um banho, pego minha moto e parto rumo
ao restaurante que Vick sempre almoça, na tentativa de melhorar o dia que
eu estraguei compro hambúrguer e milk-shake, espero que ela pelo menos
deixe-me entrar.
Chegando em frente a sua casa já consigo escutar a música, toco a
campainha e espero.
Nervoso.
Quando ela abre a porta eu quase caio para trás, está com um micro
short de pijama e uma camiseta minúscula. Indecente, isso é jeito de
atender a porta de casa? E se é um tarado? Vou comprar um roupão,
anotado.
— Você atende a porta assim? — no primeiro instante ela se
assusta, provavelmente não esperava me ver, pelo menos não tão rápido,
depois que sua ficha cai ela fecha a cara.
— Eu atendo do jeito que eu quiser, posso atender pelada também
— responde desafiando-me
— Ok, eu vim em paz e trouxe comida — levanto a sacola do
restaurante tentando acalmar a fera, já fui babaca suficiente hoje.
— O que você tem aí? — diz olhando as sacolas com curiosidade.
— Hambúrguer e milk-shake.
— Milk-shake de quê? — pergunta desconfiada.
— Morango — respondo orgulhoso, foi bom segui-la...
Vê-la.
Eu disse vê-la.
Não sou um stalker.
— Pode entrar — abre a porta e se afasta o suficiente, dando espaço
para eu poder passar.
Assim que eu entro escuto o barulho da porta batendo, viro-me e ela
aponta para um cômodo que acredito ser a cozinha, eu apenas a sigo em
silêncio, ela senta na mesa.
— Vamos comer, depois conversamos.
— Ok — concordo.
Nós comemos em silêncio e eu a observo atenciosamente, ela usa
uma quantidade absurda de molho e se lambuza toda para comer, não diz
nenhuma palavra enquanto come, apenas solta alguns sons de prazer a
cada mordida do hambúrguer. Parece estar em um mundo apenas dela... e
da comida.
Eu por outro lado mal toquei na comida e ela percebe.
— Você quer? — aponto para meu hambúrguer
— Sim — reponde com cara de poucos amigos, empurro meu lanche
para seu lado bem devagar, até parece que a qualquer momento ela vai me
atacar, nunca a deixarei com fome e irritada novamente, anotado.
Após comer o lanche dela, o meu lanche e os dois milk-shaks, ela
suspira e volta seu olhar em minha direção, talvez da próxima eu traga três
lanches, por segurança.
— Por que veio? — questiona enquanto me analisa seriamente.
— Eu agi feito um babaca, não sou assim Vick, queria pedir
desculpas — respondo olhando nos olhos, quero que saiba que eu
realmente estou arrependido.
— Ok, é só isso? — declara sem demonstrar nenhuma emoção.
— Você é difícil hein? — solto sem querer, a observo fechando os
olhos e respirando fundo, ela se remexe na cadeira, provavelmente
incomodada.
— Anton, vou ser sincera, eu só tive um homem na minha vida, até
hoje de manhã. Você foi o segundo, então depois você me tratou muito mal,
em nenhum momento dei a entender querer entrar em um relacionamento,
você supôs isso, assim como supôs que eu estava tendo algo com Josh
ainda, eu não gosto disso, não gosto de joguinhos, seja sincero, me
pergunte e eu vou responder. Não sou uma criança, fui tratada assim minha
vida inteira, então apenas fale e vou te dizer o que penso ou o que quero,
tudo bem?
— Tudo bem — respondo me sentindo mal, eu sei que isso é
fodidamente errado, mas não pude deixar de notar que... eu fui o segundo...
e eu estraguei tudo, ótimo Anton, parabéns.
— Quer que eu vá embora? — vou entender se ela quiser que eu vá
embora, eu me mandaria embora, por isso me surpreendo quando ela
pergunta.
— Você quer ficar? — diz suavizando o rosto.
— Sim, eu quero.
— Se eu te convidar para assistir a um filme no sofá com pipoca, vai
pensar que estou te pedindo em casamento? — pergunta sorrindo com
deboche.
— Não — respondo dando risada, enfim o clima melhorou, eu não ia
me perdoar se ela me odiasse.
— Então vamos.
Seguimos para a sala e sentamos no sofá, ela escolhe um filme
romântico, porém não reclamo, não acho que eu tenha créditos para isso.
Querendo sentir seu corpo puxo-a junto ao meu, passando meus
braços pelo seu ombro, após alguns minutos do filme, pela sua respiração
noto que dormiu, a observo fascinado, nunca me senti assim por ninguém,
é tudo literalmente novo, aqui agora sinto que perdi mais uma parte do meu
coração para essa garota.
Não me importo de sair magoado disso, meio que eu já sei que será
assim, só não quero que ela sofra. Mas julgo ser um pouco tarde para isso,
passo meus dedos por seus lábios, ela se mexe, deito no sofá a puxando
para meu peito, dou um beijo de leve e faço carinho em seus cabelos
enquanto dorme.
Estou olhando para o teto perdido em pensamentos, o filme acabou
a algum tempo, pela janela consigo notar que já escureceu lá fora, mas não
quero me mexer e acordá-la, na verdade, não quero que isso acabe, quero
ficar aqui desse jeito. Como se adivinhasse meus pensamentos ela abre os
olhos, estão brilhando, coloco minha mão em seu queixo o puxando para
mais perto e colo nossos lábios, ela abre a boca tímida e empurra sua
língua, recebo prontamente.
O beijo inicia lento e vai intensificando, sento no sofá a puxando para
meu colo encaixando seu quadril no meu, coloco minhas mãos em sua
bunda empurrando-a em direção ao meu pau duro pra caralho, ela geme e
se esfrega me matando mais um pouco de tesão.
Tiro sua blusa e volto a beijá-la, levo minha mão atrás de suas costas
soltando seu sutiã, interrompo o beijo para admirá-la, levo minhas mãos aos
seus seios e os aperto, ela abre a boca gemendo se esfregando no meu
pau de olhos fechados.
— Olhe para mim — ordeno, não consigo entender essa
necessidade de sempre estar olhando nos seus olhos enquanto a toco,
gosto de observar cada reação do seu corpo sob meu toque, ela obedece e
abre mordendo os lábios.
— Linda, você Victoria é fodidamente linda — abocanho um seio e
ela leva as mãos em meus cabelos puxando, aumentando os movimentos
de vai e vem enquanto geme, eu levanto meu quadril a encontrando.
Coloco o bico do seu seio em meus dentes mordendo devagar e a
vejo se contorcer, ela para os movimentos e abre minha calça com urgência
tirando meu pau para fora, olha-me com puro desejo molhando os lábios.
Levanta saindo do meu colo.
Para me encarando.
Segura sua calcinha na lateral e a tira, sensual pra caralho.
Se ajoelha em minha frente, eu apenas a observo louco para colocá-
la de quatro e a foder como ela merece, mas vou deixá-la se divertir um
pouco, gemo quando segura meu pau em sua mão o masturbando, passa a
língua na ponta o lambendo e o leva a boca, eu fecho os olhos sentindo o
calor e sua língua ao redor, passando devagar brincando, me torturando.
— Abra os olhos Anton, quero que você goze olhando em meus
olhos — diz desafiando-me, sorrio, ela quer brincar, então vamos brincar.
— Como quiser — respondo levando minha mão ao seu cabelo
segurando firme empurrando meu pau mais fundo na sua boca, ela
aumenta a velocidade sem perder o contato visual.
— Se toque — eu peço quase sem fôlego.
— O que? — responde sem entender.
— Eu quero que você se toque, enquanto me chupa — digo louco de
tesão, ela sorri e leva sua mão em sua entrada enquanto a outra continua
me masturbando, ela fecha os olhos quando se toca e solta um gemido,
quase gozo apenas em vê-la se dando prazer, ela abre os olhos e volta a
me chupar, aumenta os movimentos da mão e leva-me ainda mais fundo
em sua boca, eu seguro mais forte em seu cabelo.
— Pequena, melhor você parar — digo rosnando quase gozando.
— Eu quero tudo, me dê tudo, vem comigo — minha respiração
aumenta, eu elevo minha pélvis ao seu encontro entrando ainda mais
fundo, chego ao meu limite e gozo em sua boca, ela vem junto enquanto se
toca sugando cada gota que sai da minha porra, enquanto olha nos meus
olhos.
Se afasta sorrindo, se ela pensa que isso foi o suficiente para me
derrubar, está enganada, isso apenas me deixou com mais tesão ainda.
Levanto, vou até minha carteira, retiro a camisinha e a coloco em meu pau
que ainda está duro, ela olha com expectativa cada passo que eu dou,
chego perto a virando de costas, ela empurra sua bunda para trás em
minha direção, provocando, beijo seu pescoço, levo minha mão a sua
boceta que está molhada, fazendo movimentos circulares e ela deixa sua
cabeça cair para trás apoiando em meu ombro, beijo seu pescoço e levo a
outra mão em seu seio.
Seguro seu bico entre os dedos e o aperto.
— Anton, eu preciso — implora se contorcendo.
— Shhhhh, eu vou cuidar de você pequena — a empurro para frente
deixando-a de quatro.
— Me diga se eu te machucar — ela acena com a cabeça
concordando, nublada pelo tesão.
Seguro seu cabelo e me posiciono em sua boceta, entro com um
impulso.
Puta que pariu!
Gostoso demais, meu corpo todo se arrepia, seguro em sua cintura
com a outra mão enquanto eu a fodo, forte e rápido, quanto mais ela geme,
mais eu a quero foder forte, faço um carinho em sua bunda e depois desfiro
um tapa, então ela geme mais alto, sorrio...
— Você gosta? — ela acena que sim, dou mais um tapa
— Eu não te ouvi – rosno aumentando o aperto em sua cintura.
— Sim, eu gosto — grita quase sem fôlego, a puxo de encontro com
meu peito, passo minha mão por seu pescoço e seguro puxando próximo
da minha boca, a beijo de um jeito selvagem, ela joga seu quadril para trás
ao meu encontro, tiro minha mão de sua cintura e levo a sua boceta a
masturbando, suas pernas falham e eu a seguro.
— Goze no meu pau Victoria, goze amor — falo em seu ouvido
enquanto intensifico os movimentos da minha mão e a fodo mais duro, ela
começa a rebolar e gemer mais forte e então ela goza, sinto ficando ainda
mais molhada e gozo junto, mordo seu ombro rosnando, suas pernas
falham e eu a seguro firme.
Diminuo os movimentos, dou um beijo onde eu mordi e a pego no
colo.
— Onde fica seu quarto?
— Primeira porta à direita — responde de olhos fechados quase sem
voz, a levo para o quarto e a deito na cama, fico indeciso entre ir embora ou
ficar
— Fique — como se estivesse vendo minha luta interna, pede
abrindo os olhos, mesmo sabendo que isso é um erro fodido eu fico, deito e
a puxo para meu peito, ela afunda seu rosto em meu pescoço.
Beijo seu ombro.
— Nós não precisamos encerrar aqui, nós podemos continuar nos
vendo, não? Tipo um lance casual — ouço sua voz baixa, incerta, com
medo da minha resposta.
— Você já teve algum lance casual? — pergunto já sabendo a
resposta, enquanto passo os dedos por seu braço fazendo carinho.
— Na verdade, não.
— Entendi — agora seria o correto terminar isso, mas eu sou um
filha da puta egoísta de merda que não consegue ficar longe, então eu
continuo. — Só se você me prometer, que quando ficar demais para você,
quando você não quiser, você vai me dizer... Vick, você precisa entender,
eu não entro em relacionamentos, não quero que pare sua vida por mim, ou
deixe de fazer qualquer coisa, me prometa que será somente isso, casual.
— Eu prometo — responde com convicção, beijo o topo de sua
cabeça e a abraço.
— Boa noite Anton de valor inestimável
— Boa noite, pequena encrenca.
Estou a caminho do trabalho com o som do carro no último volume,
não consigo passar nem cinco segundos sem sorrir, e é apenas sete horas
da manhã, dessa vez sem atrasos, porém, estou morrendo de fome, o que
normalmente me deixaria extremamente irritada, entretanto hoje é um dia
totalmente diferente, outro detalhe importante, hoje é segunda-feira, que até
então era o pior dia da semana, em minha concepção ao menos, isso tudo
deve ter um motivo, e com toda certeza o motivo tem nome, sobrenome,
olhos verdes, cabelos pretos, sorriso sarcástico, mordo o lábio relembrando
do sexo incrivelmente gostoso que acabei de ter na cama, depois no banho,
e em mais alguns lugares, Anton é extremamente quente e insaciável, para
ser sincera eu mal dormi.
Chego no trabalho cantarolando e as meninas já notam meu humor.
— Woooow, Luiza, tem certeza que hoje é segunda-feira? —
Amanda pergunta com diversão, provavelmente estranhando, normalmente
na segunda-feira estou arrastando-me e resmungando.
— Olá meninas lindas da minha vida, como estão nesse radiante dia
— declaro sorrindo indo guardar meus pertences, sinto as duas me
seguindo.
— Ok Vick, se ganhou na mega sena e planeja nos deixar, preciso
que diga agora — Luíza diz fazendo beicinho.
— Oh não ganhei na mega sena — embora a comparação seja bem
justa.
— Então, só tem uma coisa que poderia te deixar assim além da
mega sena — Amanda arregala os olhos e abre a boca chocada — Você
transou.
Provavelmente estou vermelha, porém não tem como negar, até
minha pele deve estar mais bonita. Sexo faz bem a saúde e provavelmente
deve ter algum estudo provando isso.
— Sim, eu transei e devo acrescentar que foi o final de semana
inteirinho.
As duas pulam e gritam de alegria comemorando, até parece que eu
não transo...
— Ok, queremos detalhes, tudo, põem na mesa agora.
Então eu conto, desde o dia que nós conhecemos na rua quando
meu carro ficou sem combustível até o final de semana, só de lembrar já
me sinto quente, porém sou interrompida a cada cinco segundos porque
segundo Amanda ela precisa de mais detalhes, estamos rindo às três juntas
quando sinto meu celular vibrar, retiro-o do bolso e há uma mensagem,
porém não reconheço o número e não possui foto.

Estranho...
Mas, porque sou muito curiosa, abro a aba de pesquisa do google e
jogo a pergunta, a resposta vem logo em seguida : "O clitóris possui cerca
de 8 mil terminações nervosas ..."
Assim que retorno para a mensagem recebo uma resposta, que me
faz rir muito e não fico nada surpresa de saber que Anton a enviou.
Não tenho tempo nem de assimilar, saio correndo para fora e o
encontro.
Ele está sentado no banco da moto com o capacete apoiado no
guidão, cabelos bagunçados, aquele sorriso safado, calça preta e jaqueta
de couro, lindo como sempre.
Me aproximo sem conseguir disfarçar a euforia, ainda não consigo
explicar o que eu sinto cada vez que os olhos de Anton estão sobre mim, a
sensação e a rapidez com que meu corpo corresponde cada vez que me
aproximo é surreal, como se não o tivesse acabado de ver.
— Hey pequena — diz abrindo um sorriso tão lindo que faz até meu
coração bater fora do ritmo.
Vamos lá, como eu posso explicar, o jeito correto de cumprimentar
uma pessoa seria " Olá Anton? Como vai? "
Mas...
O que eu fiz?
Aaah, eu pulei nele, literalmente pulei nele.
Aí eu me pergunto, porque?
A resposta é bastante simples na verdade.
Porque eu quis! Agora estou em uma fase que faço exatamente o
que sinto vontade, e no momento beijar a boca deliciosamente gostosa do
Anton é minha prioridade!
Após se recuperar do susto, Anton coloca suas mãos ao redor da
minha cintura puxando-me junto ao seu corpo com força, colamos nossas
bocas instantaneamente, sinto seus lábios se abrindo, passo minha língua
pela sua, isso é muito gostoso, agarro seu pescoço e grudo minhas mãos
em seus cabelos descaradamente, suas mãos sobem pelas minhas costas
e param em meu pescoço, sinto sua mão segurar forte minha nuca, gemo
em seus lábios, ele morde minha boca forte e se afasta.
— Você ainda vai me matar — sorri com os lábios vermelhos.
— O que está fazendo aqui? — pergunto enquanto tento disfarçar o
quanto ele me afeta.
— Não está feliz em me ver? — finge estar chateado.
— Claro que sim — o abraço novamente e enterro meu rosto em seu
pescoço, porque eu adoro essa parte do seu corpo, fecho meus olhos e
inspiro seu perfume.
— Você não tomou café da manhã, por minha culpa — responde.
Afasto-me e o assisto pegar uma sacola e me entregar, fito-o seu
rosto e o vejo ficar sem graça, Anton faz insinuações sobre sexo o tempo
todo e várias outros assuntos sem o menor pudor, mas para algo fofo ele
fica com vergonha, meu coração se derrete mais um pouquinho.
— O que é isso? — decido o torturar um pouco mais.
— Então, eu não sabia bem do que você gosta, mas eu peguei um
pouco de cada coisa — responde dando de ombros como se esse gesto
não fosse nada.
Abro o pacote e tem vários bolinhos, tortinhas, salgados, e um café
todo embrulhado para não derramar, eu o olho sem saber o que responder,
e nesse momento minha consciência está em conflito, a razão está gritando
com o coração, sei que disse que eu faria exatamente o que quero a partir
de agora, porém ainda assim, eu sinto que esse é um terreno perigoso.
Ignorando todos os alertas que piscam na minha cabeça eu sorrio e
o abraço de novo, só que mais forte agora, agradeço com o rosto ainda em
seu pescoço.
— Obrigada
— Agora vá trabalhar, não quero que tenha problemas por minha
culpa — beija minha testa sorrindo.
— Tá! — só consigo responder isso, porque Anton sendo gostoso e
safado já não é algo fácil, ele sendo carinhoso e atencioso não ajuda em
nada, beijo sua boca, porque não sou obrigada a nada, se ele foi carinhoso
tenho direito de beijá-lo o quanto eu quiser.
Quando me afasto o olho, ele sorri enquanto pega o capacete, antes
de colocá-lo manda um beijo e pisca, vendo-o se afastar, me recordo da
promessa que fiz na noite passada, que seria apenas casual, minha mãe
sempre diz que não devemos prometer o que não podemos cumprir, bem,
ele me fez prometer que não passaria de casual, não disse nada sobre
sentimentos, porque sentimentos eu os tenho desde que o conheci.
Vai ficar tudo bem, é o que eu venho repetindo, até porque eu
sempre tenho a opção de guardá-los apenas para mim.
— Eu quero saber absolutamente tudo Victoria, estou dizendo até os
detalhes sujos
— Olá para você também Giulia, como está minha amiga querida? —
digo enquanto ela passa pela porta parecendo um furacão.
— Nada disso, você tinha o final de semana todo para saber como
eu estava, em vez disso, você estava transando, e nem se quer lembrou de
me mandar uma mensagem, oi então Giulia, sabe aquela cara gostoso com
quem venho sonhando diariamente, sim, esse mesmo, nós transamos o
final de semana inteiro.
— Ok! Culpada, mas em minha defesa eu estava meio ocupada.
— Sua tarada, onde está minha amiga e o que você fez com ela, sua
impostora? — diz se jogando no sofá puxando-me junto. — Como foi?
— Foi perfeito.
— E aí? Só isso? — pergunta enquanto tira os sapatos e joga as
pernas em cima do sofá.
— Ok, nós meio que brigamos também...
— Por quê? — indaga confusa
Eu relato todo o final de semana, incluindo a briga, porque Giulia é
minha melhor amiga no mundo inteiro, o que eu sei, ela sabe e vice e versa,
após contar exatamente tudo que aconteceu em nossa briga, ela analisa,
consigo ver seu cérebro trabalhando a todo vapor, ela estreita os olhos.
— Então quer dizer que você está em um lance casual?
— Isso — confirmo.
— Uhum — ela assente, mas sei que ela não disse tudo.
— Vai fala.
— Você sabe como funciona um lance casual docinho?
— Mais ou menos, esperava que você pudesse me esclarecer
Nunca tive um lance casual, meu primeiro namorado e primeiro em
quase tudo foi Josh, então não sei como basicamente funciona, agora me
pergunto, porque aceitei entrar em algo assim sem saber exatamente como
funciona, a resposta é simples, foi o que me pareceu mais certo na hora,
porque somente aquele final de semana não foi o suficiente com Anton, eu
queria e ainda quero mais.
— Ok, vocês comentaram sobre exclusividade ou algo assim?
— Não, na verdade não...
— Bom vamos lá, amor — ela coça a cabeça, faz uma careta. — Se
vocês não comentaram sobre exclusividade quer dizer que podem ficar com
outras pessoas, que Anton pode dormir com quem quiser além de você
No fundo eu imaginava que seria isso, porém falando assim em voz
alta não é nada reconfortante, na verdade, a menção de Anton ficando com
outras pessoas me causa náusea, estou ficando nervosa, meu coração está
acelerado e não é de um jeito legal.
— Mas significa que você também pode dormir com outras pessoas
— Giulia acrescenta com empolgação, porém isso não ajudou nada.
— Mas não quero dormir com mais ninguém — respondo, porque eu
realmente não sinto absolutamente nenhuma vontade.
— E está tudo bem, você não precisa dormir com ninguém, porém
seria legal conhecer outras pessoas sabe, não é interessante apostar todas
as suas fichas em uma pessoa, conhecer outras pessoas também é uma
forma de não se apegar a ele.
Agora faz sentido, eu ainda não tinha parado para analisar de fato o
que é um lance casual, a qualquer momento Anton pode simplesmente
sumir, sem nenhuma explicação ou um sequer tchau, não temos
absolutamente nada, isso por algum motivo me machuca, porque eu meio
que gosto de estar com ele, na verdade, eu gosto muito de estar com ele,
não apenas fisicamente. Hoje faz três dias desde que ficamos e
conversamos o tempo todo, sobre coisas idiotas, ele com aquelas cantadas
baratas e piadas ruins que por algum motivo me fazem rir mais do que o
normal.
— Acho que é um pouco tarde pra isso — confesso apenas
confirmando o que eu já sabia.
— Você já está apegada — Giulia completa.
— Sim, Anton já não sai da minha cabeça a algum tempo, não foi
apenas pelo final de semana, mas está tudo bem, posso conviver com isso.
Eu também não quero entrar em um relacionamento Giulia, acabei de sair
de um.
— Sim docinho, mas você não quer entrar em um relacionamento
agora, mas e daqui a algum tempo? Por isso eu volto a dizer, precisamos te
levar para sair e conhecer novas pessoas, não estou dizendo para que você
não fique mais com Anton, mas também não quero que você fique sentada
em pleno sábado a noite, esperando ele decidir que quer ver você, vamos
lá Vick, só algumas pessoas ok?!
— Ok, só algumas pessoas...
Meu celular vibra na mesa eu o pego. Pelo visor já sei que é uma
mensagem de Anton, e novamente meu coração traidor acelera.
Ah se as pessoas tivessem ideia do poder que as palavras possuem,
não as falariam da boca para fora.
Faz 30 minutos que estou parada em frente ao estúdio de dança,
porém ainda não criei coragem suficiente para entrar, dançar em uma festa
onde está escuro e quase todos estão bêbados demais para notar, é
completamente diferente de um local onde as pessoas te avaliam e a
maioria já dança desde pequeno.
Estou aqui pensando que talvez não tenha sido uma ideia tão boa
assim e eu esteja velha demais para isso, mas, ao mesmo tempo, não
acredito que exista idade certa para fazer algo que gosta e sempre sonhou,
ainda assim encontro-me neste embate. Sempre gostei muito de dançar,
embora nunca tive oportunidade, por morar em uma cidade pequena e não
possuir nenhuma escola de dança, a mais próxima ficava à 40km, o trajeto
de carro levava quase 1 hora, inviabilizando ir toda semana.
— Vai ficar quanto tempo parada aí olhando em vez de entrar, sabe
as pessoas não mordem — olho para o lado e vejo um garoto analisando-
me com um sorriso de diversão, estou tão perdida em pensamentos que
não o vi chegar.
— Olá, não vi você chegando — respondo voltando meus olhos para
o estúdio.
— Eu percebi, o que está fazendo?
— Não sei... eu estava bem decidida até chegar aqui, mas agora não
parece mais uma boa ideia — volto meu olhar para o garoto. — E você? O
que está fazendo aqui?
— Eu estava lá dentro — diz apontando para o estúdio que possui
uma porta de vidro. — Aí te vi aqui parada, por uns 25 minutos — ele olha o
relógio e sorri.
Morrendo de vergonha apenas aceno com a cabeça, impossibilitada
de formar qualquer frase, não cheguei a entrar e já estou passando
vergonha, mas que novidade.
O silêncio se instala novamente, mas não por muito tempo.
— E aí? — indaga colocando as mãos no bolso.
— E aí o quê?
— Vamos entrar? — pergunta com cautela, provavelmente não
querendo me assustar.
— Nunca fiz aulas de dança... nem quando criança, eu só gosto de
dançar... — compartilho os meus pensamentos.
— Isso já é o suficiente! Vem comigo, eu te apresento o estúdio e
você pode fazer uma aula experimental, depois você escolhe, sem pressão,
o que acha? — pergunta com expectativa enquanto fica trocando o peso do
corpo entre as pernas, ele não consegue ficar um segundo parado.
Analiso minhas opções, acredito que se arrepender por algo que fez
é infinitamente melhor do que ter a dúvida de como teria sido se tivesse ao
menos tentado, opto por entrar, prometi que não iria mais anular minhas
vontades, respiro fundo, olho para o garoto que está esperando com uma
paciência que eu já notei que ele não possui.
— Ta, vamos lá — concordo confiante, mas penso que minha voz
não deve ter passado a confiança que eu esperava.
— A propósito sou o Douglas — diz estendendo sua mão muito
animado com minha escolha.
— Sou Victoria — declaro retribuindo o aperto de mãos, ele se vira e
segue em direção a entrada.
— Você faz aulas aqui? — pergunto enquanto o sigo.
— Mais ou menos — sorri abrindo a porta para eu poder entrar,
notando minha confusão ele continua.
— Sou professor, mas gosto de pensar que nunca deixamos de
aprender, então me considero um aluno também — diz sem graça mexendo
no boné.
— Oh! Isso é muito legal, você dá aulas de que? — pergunto curiosa.
— De hip hop para crianças.
— Isso é fantástico!
— Sim! Eu amo o que faço, principalmente meus monstrinhos —
responde orgulhoso, é impossível não notar o brilho nos seus olhos.
— Monstrinhos? — questiono confusa.
— Meus alunos, espere até conhecê-los e você irá entender — sorrio
diante do apelido carinhoso que possui com seus alunos.
Chegamos em uma sala que acredito ser a recepção, há duas
meninas em um balcão, uma está no telefone enquanto a outra está no
computador.
— Então, vamos começar Vick, posso te chamar de Vick né?
— Claro, pode sim.
— Aqui é a recepção. Essas são Bruna e Eloisa, elas mantêm tudo
isso funcionando.
As garotas param o que estão fazendo e ambas sorriem e
cumprimentam, muito simpáticas.
— Seja bem-vinda Vick — responde Bruna que está no computador,
Eloisa que está ao telefone apenas sorri e acena.
— Obrigada.
Douglas volta a andar pelo local e vai apresentando os ambientes do
estúdio, estou hipnotizada com tudo, é tudo colorido, alegre e muito, muito
aconchegante, todos que passam por nós, nos cumprimentam sempre
sorrindo.
— Aqui atrás fica o vestiário e os armários onde você pode guardar
os seus pertences.
Eu apenas vou concordando com a cabeça acompanhando tudo com
muita atenção, não quero perder nenhum detalhe.
— Aqui são as salas onde acontecem as aulas... nós temos ballet
clássico, Jazz, dança de salão e hip hop, estamos pensando em expandir
com o tempo, então provavelmente vamos acrescentar mais algumas
modalidades.
Ele abre a porta de uma sala e entra, eu o sigo, assim que coloco
meus pés eu perco o fôlego, há um espelho cobrindo uma parede inteira e
barras nas demais, Douglas vai até à caixa de som e se vira.
— Pronta? — questiona sorrindo.
Arregalo os olhos, assustada e ele começa a rir.
— Oi?
— Pronta para sua aula experimental?
— Não, não, eu não vim preparada, na verdade, eu só queria
conhecer mesmo, já está ótimo.
— Vamos lá, vamos ver o que sabe.
— Eu nem estou usando uma roupa apropriada e eu não sei nada,
acredite — declaro sentindo meu coração querendo sair pela boca devido
ao nervosismo.
— Relaxa, não precisa de outra roupa, é impossível não saber nada,
é só se mexer, vamos … — insiste empolgado.
— Não, melhor não…
Ignorando completamente minhas palavras ele liga o som, uma
batida muito contagiante inicia no auto falante da sala.
— Vamos lá, se solte — pede enquanto se aproxima já se
movimentando no ritmo da música.
— É sério, eu realmente não consigo — respondo quase
desesperada.
— Ok, eu danço sozinho mesmo, sabe — diz ele, dando de ombros
fingindo estar chateado.
Ele inicia alguns passos, provavelmente já dançou essa música
várias vezes, então ele começa a dar voltas ao meu redor, insistindo para
eu dançar.
— Ok, vamos lá — respondo derrotada, coloco minha bolsa próxima
da caixa e retorno para o centro da sala onde ele me aguarda, paro ao seu
lado e o olho.
Início com passos lentos e desastrados, mas aos poucos vou
desenvolvendo, ele faz passos mais complexos e eu vou tentando imitar,
entenderam o tentando né, eu erro a maioria e nós rimos, ele é um ótimo
professor.
— Ei! Não é necessário humilhar as pessoas — peço enquanto o
observo fazer alguns passos que julgo serem impossíveis, pelo menos para
mim.
— Você está indo bem, para de sentir vergonha, se solte, sinta a
música Victoria.
Então nós vamos dançando, ele para algumas vezes mostrando o
movimento mais devagar para que eu possa aprender, quando vejo já
estamos fazendo passos sincronizados, fechos os olhos e me entrego,
dançamos mais algumas músicas e nem vejo o tempo passar, somos
interrompidos por uma das meninas que estavam na recepção, acredito que
Eloisa seja o nome dela.
— Douglas...
Paramos e Douglas vai em direção a caixa de som baixando o
volume.
— Seus alunos chegaram — informa.
— Claro, diga que chego em 15 minutos, peça que eles se aqueçam
enquanto esperam — ela acena e sai da sala, Douglas se vira novamente
para mim.
— Então, vai se juntar a nós? — pergunta levantando as
sobrancelhas, sorrio empolgada.
— Isso foi demais — exclamo eufórica.
— Foi mesmo, e aí? — levanta as sobrancelhas curioso com minha
resposta.
— Tô dentro! — respondo confiante, não sei dançar, mas vou
aprender, finalmente encontrei algo que eu goste.
— Tem algo para fazer agora? — pergunta receoso.
— Não — digo lembrando que teria no máximo que passar no
mercado, mas isso pode esperar.
— Quer assistir à aula com meus monstrinhos?
— Isso seria demais, não vou atrapalhar?
— Não vai não, vamos lá — diz indo em direção a porta
Pego minha bolsa e corro para alcançá-lo, quando chego na sala eu
me apaixono, são todos tão lindos e pequenos, imagino que tenham por
volta da casa dos 8 anos, estão eufóricos e a animação está estampada em
seus olhos.
— Olá pessoal, estão aquecidos? — Douglas pergunta enquanto
entra na sala, ficando de costas para o espelho, de frente para a turma, que
já esta toda posicionada um ao lado do outro a um braço de distância.
— Estamos sim, menos o Miguel que ficou plantando bananeira —
uma garotinha de chuquinhas conta olhando com cara feia para um
garotinho de moicano, que eu imagino que seja o Miguel, levando pela cara
de mal que ele fez.
— Sua fofoqueira — o garotinho fala enquanto mostra a língua
Solto uma risada diante da situação, acredito que tenha sido um
pouco alta já que todos os olhos se voltam para mim, curiosos, quero cavar
um buraco e me esconder.
— Pessoal essa é a Vick, ela irá se juntar a nós em breve como
aluna do estúdio e eu a convidei para assistir à aula de vocês, gostaria
muito que não a assustem e mostrem que nós dançamos muito bem,
vamos impressioná-la, digam oi a Vick.
— Oi Vick — todos dizem juntos
— Olá pessoal — respondo sorrindo, morrendo de vergonha
— Vick pode se sentar aqui perto da caixa e me ajudar com o som?
— Claro, posso sim — respondo indo em direção a caixa.
Douglas me explica como funciona e pede para que eu pause a
música, aumente ou desligue quando necessário, sento em um banco ao
lado da caixa e dou play quando ele pede.
— Isso é baby shark? — questiono sorrindo quando os primeiros
acordes começam a tocar.
— Sim, nosso aquecimento é com baby shark
Então se eu julguei que não poderia ficar ainda mais encantada eu
estava completamente enganada, já disse como crianças dançando são
lindas? Elas pulam, gritam, sorriem, tudo com tanta leveza e alegria, como
se o mundo fosse perfeito, e todos os problemas não existissem. Observo
atenta como o garoto Miguel cutuca provocando a garotinha cada vez que
se aproxima, e como ela mostra a língua em resposta, todos já sabem
exatamente o que devem fazer. A aula dura em torno de uma hora e meia,
no final passo pela recepção para fazer minha matrícula, por fim escolhi hip
hop por enquanto, se surgir vontade de fazer outra dança com o passar dos
dias eu acrescento.
Chego em casa sento no sofá extremamente empolgada e feliz,
então aquela vontade de conversar com Anton surge novamente como vem
acontecendo o tempo todo, pego o celular e seleciono o contato dele e
aguardo, o aparelho chama…
Uma…
Duas…
Três vezes…
Penso que talvez seja um sinal do destino, porém ele atende, mas na
verdade não é ele, é uma garota.
Sinto que foi jogado um balde de água fria em mim.
— Alô? — escuto a voz feminina atender, sei que não é a voz da
Jules.
— Olá, Anton está? — decido perguntar, na esperança de ter ligado
errado, ou de ser uma amiga, sei lá... eu só não quero acreditar no que está
na minha frente.
— Ele está no banho, acabou de entrar.
Então isso é o suficiente, desligo o telefone e respiro fundo, sinto
lágrimas em meus olhos e não consigo segurar uma que acaba escorrendo
pelo meu rosto, me sinto idiota, burra e ingênua, eu sabia que isso
aconteceria, foi deixado bem claro desde o início, mas porque tem que doer
tanto?
Pego o celular novamente na mão, e ligo para Giulia.
— Hey docinho — ela atende logo no primeiro toque.
— Quero sair — digo de imediato, antes que eu perca a coragem e
me afunde no sofá assistindo dirty dancing com sorvete.
— Claro, vamos marcar, que dia você acha melhor?
— Eu quero sair agora Giulia, por favor, só vamos sair
— Vick, o que aconteceu?
Não quero falar sobre isso, porque eu me sinto uma boba por estar
sofrendo por algo que eu já sabia que aconteceria, mas isso não diminui a
sensação de dor que eu sinto.
— Nada, só vamos sair ok? Beber... — respiro fundo criando
coragem. — E conhecer pessoas.
— Te pego em dez minutos amor.
Sinto a água escorrendo pelo meu corpo enquanto tento relaxar,
odeio discutir com Jules, mas ela me tira do sério, cerro os punhos quando
relembro da nossa briga.
" Você está iludindo ela"
" Não estou iludindo ninguém Jules, deixei bem claro que seria
apenas casual e ainda assim ela concordou com isso, Vick não é uma
criança que não sabe diferenciar um relacionamento de algo casual"
"Você é muito babaca mesmo Anton, claro que ela concordou seu
idiota, e tudo bem, pode até ser casual, mas depois? Quanto tempo
acredita que vai demorar para ela se dar conta de que quer algo mais? E o
que você vai fazer? Você está iludindo sim, e nós dois sabemos onde isso
vai terminar, você conta para ela ou eu conto Anton, ela é uma pessoa
incrível, tenho certeza de que ela vai entender"
" Jules, não se meta na minha vida, cuide do inferno do seu
relacionamento, eu não vou contar porra nenhuma, óbvio que ela vai
entender, mas e depois? Hein? E depois Jules? Como isso vai terminar? "
"Você não entende, não é? Você ainda não percebeu? Ela já gosta
de você Anton, eu vi a maneira que ela olha para você. Só você que não
quer ver, na verdade, não quer enxergar, querendo ou não, vai magoá-la,
uma hora ou outra, "
Balanço a cabeça e fecho os olhos tentando esquecer das palavras
da Jules, por mais que eu não concorde, eu sei que é a mais pura verdade.
— Anton! — Escuto Ema batendo na porta e gritando desesperada,
corro para fora do chuveiro e me enrolo na toalha, enquanto ela continua
gritando, abro a porta e a encontro com o celular na mão.
— Ema você está bem? Meu Deus, há algo de errado com o bebê?
— pergunto nervoso
— Anton, eu atendi seu telefone, ela entendeu tudo errado.
— Do que você está falando Ema? — pergunto já que ela não está
fazendo sentido nenhum.
— Seu telefone estava tocando, eu atendi sem olhar no visor, foi
automático eu sempre atendi seu telefone, porém quando atendi era uma
garota, falei... então ela desligou, depois eu vi que era a Vick.
Pego meu celular de sua mão e confirmando que realmente era Vick,
retorno a ligação logo em seguida, sem sucesso nenhum, o mesmo chama,
porém ninguém atende, envio uma mensagem e aguardo alguns segundos,
nós sempre respondemos um ao outro muito rápido, nada de resposta
dessa vez.
Porra!
— O que você disse exatamente a ela Ema? — pergunto respirando
fundo para não surtar
— Eu sinto muito Anton, ela perguntou de você e eu disse que você
estava no banho, então o telefone ficou mudo...
— Porra Ema, mas que merda...
Vou em direção ao guarda-roupa e visto a primeira calça e camiseta
que encontro, pego as chaves da moto e minha certeira, passo pela Ema e
não consigo dirigir nem uma palavra a ela de tão puto que estou agora.
Desço correndo pelas escadas do meu prédio porque nem por um
inferno consigo ficar parado esperando a porra do elevador chegar, para
somente depois ele descer, pego minha moto e sigo para a casa da Vick o
mais rápido que consigo, vou cortando os carros e só consigo pensar na
minha pequena, estaciono e corro para sua casa, bato na porta, toco a
campainha, grito, faço tudo que eu posso, mas nada, não há ninguém em
casa, respiro fundo, sinto minhas mãos suarem, meu coração está
acelerado, tiro meu celular do bolso e tento mais uma vez ligar para VIck,
nada.
Sento em frente a sua casa e apoio minha cabeça em sua porta, que
merda eu tô fazendo, essa seria uma ótima hora para cair fora, eu poderia
deixar as coisas exatamente como estão, esse era nosso combinado,
apenas casual, ela pode sair com quem quiser e eu posso fazer o mesmo,
há males que vem para o bem. Fecho os olhos, ela pode ser feliz com outra
pessoa, uma pessoa sem bagagem, sem problemas ou todo errado como
eu, mas e se... e se eu fosse esse cara, eu queria ser esse cara.
Meu celular toca e olho, porém para minha decepção não é a Vick e
sim Ema, atendo.
— Eu achei ela, pedi a Jules para ver no Instagram dela e tem um
Story com sua amiga, elas estão no bar The Rules...
— Obrigado Ema — é a única coisa que consigo dizer, respiro
fundo...
Certa vez meu pai disse haver momentos na vida que fazemos
escolhas e não percebemos a relevância delas, afinal por que deveríamos,
não é? Fazemos escolhas o tempo todo, por isso acaba se tornando algo
rotineiro, simples e automático em nossas vidas, quando acordamos, por
exemplo, podemos escolher primeiro entre tomar café ou ir para o banho,
escolher ir trabalhar de moto ou carro, coisas simples que julgamos
insignificantes, mas que no final do dia podem ter tido uma grande
importância, uma escolha tem o poder de mudar toda sua vida, nesse
momento eu tenho uma escolha a fazer, posso ir embora para casa, deitar
na minha cama e deixar que as coisas sigam seu caminho natural, ou...
posso pegar minha moto, ir naquele bar e pegá-la para mim, apenas para
mim...
Escolhas...
Pego minha moto e sigo para casa...
Apenas para pegar um segundo capacete, hoje ela volta comigo...
Assim que chego no bar noto que está lotado, observo o ambiente e
caminho entre as pessoas a procura da minha pequena, mas não encontro,
sigo até o bar e pego uma cerveja, preciso beber algo e me acalmar, os
sentimentos que possuo dentro de mim no momento são confusos, eu sei
que a quero para mim, mas preciso que ela saiba de tudo que poder vir
junto, ou melhor... o que não pode vir junto, respiro fundo e bebo um gole
da cerveja, corro meus olhos pela pista de dança e a encontro, no mesmo
momento que meus olhos caem sobre ela, vejo um par de mãos em volta
da sua cintura, da minha cintura, devo ressaltar, sinto-me um homem das
cavernas, não me considero um cara ciumento, muito pelo contrário,
sempre fui a favor de sexo casual e com mais pessoas, Léo e eu fazíamos
isso quase toda semana, mas eu jamais conseguiria dividir Victoria, só de
pensar em vê-la com alguém, já me sinto doente, e é por esse motivo que
agora, observando um filha da puta com as mãos na minha garota, faz-me
ter pensamentos muito agressivos.
Levanto em um rompante de fúria e sigo em disparada em sua
direção, sentindo minha presença como sempre acontece, Victoria se vira
no mesmo instante que me aproximo, em choque.
— Tire suas mãos dela — sou o mais educado possível, ou pelo
menos o que consigo ser diante dessa situação do caralho.
— Vick? — o babaca pergunta para ela, que porra é essa? Quem ele
pensa que é?
— Anton, por favor... — Vick pede.
— Eu mandei você tirar as mãos de cima dela porra — vou em
direção do imbecil, mas Vick se põem entre nós e apoia suas mãos em
minha barriga impedindo que eu meta a mão na cara desse filha da puta
arrogante.
— Vick disse que não tem um namorado.
— E não tenho — ela se defende
— É isso que você quer? Quer ficar com ele? — pergunto olhando
em seus olhos, ela não responde.
— Victoria, você quer ficar com ele? Não vou te atrapalhar, me
responda e eu vou embora.
Ela para, posso ver sua luta interna, eu sei porque também estou em
uma aqui, então ela se vira para o filha da puta, ele sorri vitorioso, respiro
fundo juntando todo meu autocontrole para não jogá-la em meus ombros e
obriga-la a ir embora comigo, claro que a quero para mim, mas não posso
obriga-la a vir, se tem algo que eu prezo é pela escolha, eu jamais, faria
qualquer coisa que não fosse da sua vontade, mesmo que isso me matasse
por dentro, como agora, ter de deixá-la está doendo como o inferno, respiro
fundo e viro-me caminhando em direção a saída, sentindo-me sufocado
com o coração apertado, aquele vazio voltou com força agora, e eu tenho
plena consciência que é por minha culpa, é isso que eu faço, eu afasto as
pessoas.
Chegando na porta, quase saindo eu sinto um impacto em minhas
costas seguido por braços em volta do meu corpo e só posso dizer sinto
que fui ao céu e Victoria com toda certeza é o meu paraíso.
— Eu te odeio — escuto minha pequena falar com o rosto
pressionado em minhas costas.
— Não odeia não — respondo sem conseguir acreditar, viro-me e
olho em seus olhos, seguro seu rosto em minhas mãos, vejo a incerteza e o
medo em seu olhar.
— Por que está aqui Anton? — pergunta.
— Porque eu preciso de você, preciso ser sincero... não queria,
tenho lutado contra isso desde o primeiro dia que eu vi você, mas eu
cansei... — dedilho seus lábios e ela os abre respirando com dificuldade —
E você pequena? Hum!? Precisa de mim?
— Você me confunde e sinceramente Anton, não sei o que pensar,
em um momento você tem uma crise de ciúmes e logo em seguida afirma
que não quer nada sério e que somos livres para fazer o que quiser... não
estou te cobrando nem nada, porque eu aceitei isso, porém hoje quando
uma garota atendeu seu telefone, eu... — ela respira fundo e antes que
tenha oportunidade de terminar seu raciocínio eu a interrompo.
— Era Ema no telefone Vick, minha amiga... se quer minha
sinceridade, não estive com mais ninguém desde que a conheci, está sendo
confuso para mim também, não posso fingir que não estou afetado e
assustado com toda essa intensidade que sinto quando estou com você,
então não pense, apenas deixe acontecer, sem rótulos, apenas eu e você...
com exclusividade, o que me diz?
Ela apoia sua testa em meu peito e permanece ali por alguns
segundos enquanto eu passo minhas mãos pelo seu cabelo e beijo o topo
de sua cabeça, sei que tudo isso é demais para ela, na verdade, para
ambos, mas é isso que posso oferecer...
— Só eu e você? — coloca suas mãos por dentro da minha
camiseta, seu toque em minha pele nua causa arrepios pelo meu corpo por
completo.
— Sim, só eu e você pequena — confirmo puxando seu rosto
próximo ao meu roçando meus lábios nos seus.
— Tá — ela acena, e posso sentir um certo temor em sua voz.
— Tá? — indago levantando as sobrancelhas provocando-a.
— Sim Anton de valor inestimável, eu aceito seu pedido estranho de
lance casual com exclusividade — responde sorrindo mordendo os lábios.
— Você anda muito engraçadinha dona encrenca, talvez eu devesse
te levar para minha casa e te ensinar uma lição, hum!? — vejo seus olhos
se iluminarem.
— É, talvez seja necessário mesmo, não ando me comportando
sabe.
— Não? — pergunto aproximando nossos corpos, ela apenas
balança a cabeça concordando com seus olhos fixos em minha boca, molho
os lábios e não aguentando mais a distância eu a beijo.
Porém, dessa vez o beijo é diferente, ele é cheio de promessas não
ditas, sentimentos que estão guardados, mas que nesse beijo conseguimos
ao menos sentir um pouco
— Confia em mim? — questiono afastando nossos lábios apenas por
um segundo.
— Sim — diz ela.
Sorrio.
Seguro sua mão e sigo para o banheiro, ela apenas sorri e me
acompanha, como se soubesse exatamente o que planejo.
Abro a porta do banheiro masculino, me certifico de que não há
ninguém e a puxo para uma cabine.
Pressiono seu corpo contra a parede da cabine e beijo sua boca com
força, suas mãos arranham minhas costas por dentro da camiseta e sinto
meu pau querendo sair.
Abaixo sua alça do vestido e seguro um seio em minha mão, vou
trilhando beijos pela sua mandíbula, queixo, pescoço até que chego ao meu
destino, abocanho um seio e o chupo com vontade, passo minha língua,
mordo, escuto seus gemidos ficando mais altos e suas mãos puxam meu
cabelo.
Volto a descer enquanto brinco com seus seios com as pontas dos
dedos, me ajoelho a sua frente e sorrio, ela está fodidamente linda, seguro
sua perna direita e a levanto apoiando em meu ombro, ela está de vestido
dando-me total abertura, passo meu dedo indicador por cima da calcinha
em sua boceta e já consigo sentir que está molhada, meu pau dentro da
calça está dolorido de tão duro, mas isso é sobre ela, somente ela.
— Anton por favor — implora levando suas mãos a minha cabeça.
— Eu vou cuidar de você pequena, agora fica quietinha ok? — ela
apenas acena com a cabeça e sorri de forma sacana.
Beijo-a por cima do tecido e ela segura um gemido, sorrio... gostosa
pra caralho, afasto sua calcinha para o lado e passo o indicador novamente
em seu clitóris, porém agora sem nenhuma barreira, sinto suas pernas
falharem, mas eu a seguro firme, faço movimentos lentos com a língua e
vou aumentando a velocidade, ela começa a se contorcer, levo meu
indicador a sua entrada e provoco-a entrando e saindo, continuo chupando
e sinto que está ficando cada vez mais molhada, quando sinto que está
quase gozando ela me afasta
— Eu quero você dentro de mim, Anton — pede enquanto me olha
cheia de tesão.
— Isso é sobre você — rebato.
— Você não está entendendo Anton, eu preciso gozar na porra do
seu pau agora — esbraveja.
Demoro uns 10 segundos para me sintonizar, Vick não é de falar no
sexo, muito menos dessa maneira, mas confesso que isso só me deixou
com mais tesão ainda, levanto e capturo seus lábios novamente, ela leva
sua mão a minha calça e a abre, segura meu pau em sua mão e
movimenta, gemo em sua boca e ela sorri, essa garota me tem nas mãos,
não há nada que eu não faria por ela, viro-a de costas e ela apoia as mãos
na parede, levo minha mão no bolso e retiro da minha carteira uma
camisinha, abro o pacote e desenrolo em meu pau.
Afasto sua calcinha para o lado, me posiciono em sua entrada
molhada pra caralho e deslizo para dentro, bem devagar, ela joga seus
quadris para traz, sorrio... minha pequena gosta de foder, forte e rápido.
— Como você quer amor? — pergunto beijando seu ombro
movimentando-me lentamente.
— Do jeito que você sabe fazer.
Mordo seu ombro e meto, porém, agora com força, desfiro um tapa
em sua bunda e intensifico os movimentos, rápido e forte... seguro seu
cabelo e levo minha outra mão em seu clitóris fazendo movimentos
circulares, ela geme mais alto.
— Quieta.
Ela apenas acena e leva sua mão a boca mordendo, tentando
segurar os gemidos involuntários, sinto quando ela está perto, me aproximo
do seu ouvido.
— Vem, goza no meu pau Victoria, bem gostoso...
— Anton... — ela implora baixinho quase sem fôlego.
— Isso meu amor, deixa vir...
Então ela goza e me junto a ela sentindo seus espasmos e sua
boceta sugando meu pau.
— Dorme na minha casa hoje? — pergunto enquanto diminuo os
movimentos e beijo onde eu mordi há pouco.
— Depende...
— Do que? — pergunto puxando-a para trás, beijo seu pescoço,
sinto se arrepiar.
— Quero meu show particular hoje.
— Você terá.
— Preciso passar em casa para pegar roupas.
— Nós vamos... — saio de dentro, retiro a camisinha enquanto ela
arruma o vestido, a observo por um tempo e quando ela nota fica sem
graça.
— Você é linda — compartilho os meus pensamentos. — Você é
fodidamente linda Victoria Carvalho, e está ferrando com meu psicológico
— sorrio e a beijo novamente.
Sinto meu coração batendo tão forte, que desconfio que pode sair da
caixa torácica a qualquer momento, mandei a razão para bem longe, estou
inteiramente à mercê dos meus sentimentos, se é o correto, sinceramente
não sei, mas é o que é, e estar ao lado do Anton é o que eu quero, posso
me arrepender depois, mas agora nesse elevador subindo para seu
apartamento, me parece ser a melhor escolha a se tomar, olho para o lado
e o pego me observando encostado na parede.
— Um real pelos seus pensamentos — sorri maliciosamente.
— Vai ter que desembolsar muito mais se quer saber meus
pensamentos, querido.
— Ah é?
— Uhum — respondo sorrindo, Anton semicerra os olhos e se
aproxima, puxa-me pela cintura beijando meu pescoço, meu corpo todo
ascende e sinto arrepios sob seu toque.
— Isso não irá funcionar! Sabe... já estou me acostumando com sua
presença, nada de muito inovador.
Dou de ombros fingindo desinteresse, mas que grande mentirosa me
tornei.
Escuto o som alto da sua risada, o que aquece meu coração.
— Olha, não fica nem vermelha — acusa estreitando os olhos.
— Por que eu ficaria? — me faço de sonsa.
— Porque está mentindo.
— Não estou — me defendo.
— Então, você quer dizer que posso entrar no meu apartamento,
beijar sua boca, passear com minhas mãos pelo seu corpo, morder seus
lábios e quando eu enfiar minha mão na sua calcinha, não vou encontrá-la
molhada para mim?
Engulo seco.
— Não — minto mais uma vez.
Ele solta uma gargalhada rouca.
— Que pena amor, porque eu já estou duro por você, na verdade, eu
passo uma boa parte do tempo assim quando estou ao seu lado.
— Talvez eu possa te ajudar com isso mais tarde, vamos ver como
você se sairá no show, talvez minha boca queira passear pelo seu corpo,
mas apenas talvez.
A porta abre salvando-me, saio do elevador e o deixo lá plantado,
não sei em que momento me tornei essa pessoa.
A culpa é totalmente dele que além de despertar sentimentos,
desejos, também desperta meu lado mais provocante que conheço.
— Você está virando uma pequena provocadora, ouviu? — escuto
gritar do elevador, atrás de mim.
Droga, estraguei minha saída triunfal, não sei qual é o apartamento.
— É o 401 — anuncia assim que chega, como se soubesse
exatamente o que estou pensando.
— Você não vai abrir?
— Está aberto — aproxima-se da porta e gira a maçaneta abrindo-a.
— Você deixa a porta do seu apartamento aberta? E se alguém
entrar?
— No máximo que pode acontecer é Ema comer toda comida que
tem, mas como não há comida, não tem problema, quando saí, deixei Ema
e como ela não tem a chave, deixou aberto.
— Hum, Ema é a sua amiga? — pergunto entrando em seu
apartamento.
— Isso — responde vindo logo atrás.
— Vocês são bem amigos né? — droga, acabei de soar como a
namorada ciumenta, viro-me em sua direção e Anton está coçando a
cabeça, espera, se eu não o conhecesse diria que está... sem jeito.
— Anton?
— Ok, acho melhor falar isso agora, para depois não dar merda —
afirma colocando as mãos no bolso.
— Não entendi — declaro confusa, mas por algum motivo me
sentindo incomodada.
— Ema é minha melhor amiga, mas nós já tivemos algo antes... —
confessa inquieto, posso ver no seu rosto que está apenas esperando
alguma reação minha.
— Entendi, foi sua namorada… — as palavras têm um gosto amargo
em minha boca quando eu as pronuncio.
— Não, nós nunca namoramos, nós só...
— Ema foi seu lance casual, assim como eu — declaro mais para
mim do que para ele, sentindo um aperto desconfortável no peito e uma
vontade absurda de vomitar. — Onde fica o banheiro?
— Não é isso que você está pensando, Ema é minha amiga.
Claro, nem isso eu sou.
Apenas concordo com a cabeça.
— Tudo bem, preciso do banheiro, onde fica? — porra nenhuma de
banheiro, eu quero é fugir mesmo.
— Primeira porta à esquerda… — indica com os ombros caídos.
Apenas sigo para o banheiro, fecho a porta e solto a respiração, paro
na frente do espelho.
Definitivamente essa não é uma sensação agradável, é exatamente
por esse motivo que o novo me assusta, não saber o que se passa na
cabeça da pessoa, sobre sua vida, quem é, o que gosta, se está falando a
verdade ou está falando o que eu apenas quero ouvir, sinto-me no escuro
sem saber onde estou pisando e em que direção eu devo seguir.
— Vick? — escuto Anton chamar-me.
— Oi — respondo tentando procurar um ritmo confortável de
respiração.
— Tudo bem? — pergunta, e pelo seu tom de voz é nítido que está
preocupado.
— Ah sim... já estou saindo — mentirosa.
O escuto bufar.
— O que eu queria dizer... Ema e eu não transamos mais, nós
realmente somos apenas amigos agora, nunca houve sentimento além de
amizade, nós transamos sim, mas nunca houve nada além disso.
Fico em silêncio e Anton continua.
— Só queria deixar claro, quer beber alguma coisa?
— O que você tem? — pergunto tentando não fazer disso um
problema, se estou me sentindo incomodada? Sim, estou.
Mas ele foi sincero, e isso conta muito, eu amo a sinceridade nas
pessoas, estou falando de sinceridade e não de grosseria disfarçada.
Nunca me senti insegura antes, mas agora com Anton essa sensação vem
me acompanhando, assim como o sentimento está crescendo o medo
também, na mesma proporção, o grande problema é eu não saber o que
fazer com todos esses sentimentos novos.
— Cerveja ou água — confessa e ouço sua risada logo em seguida.
— Cerveja está ótimo — respondo.
— Ok.
Escuto seus passos se afastando, olho novamente para o espelho,
vamos lá garota, um passo de cada vez.
Saio do banheiro e agora me permito observar seu apartamento com
mais atenção, não há quase nada de decoração, todo em tons pretos.
— Você tem algo contra outras cores além de preto? — questiono
quando chego na sala e o encontro perto do som segurando uma cerveja,
sem camiseta, impossível não me perder na sua barriga, nos seus braços,
vou descendo...
— Meus olhos estão aqui em cima, pequena — diz rindo apontando
para seu rosto
Reviro os olhos com a sua arrogância.
— Você é muito arrogante e convencido — ele sorri ainda mais agora
— Isso não foi um elogio, Anton — completo.
— Eu sei — confessa se aproximando com um sorriso predador nos
lábios. — Mas sabe, eu gosto quando você faz isso...
— Isso o quê? — indago.
— Quando você me desafia, me provoca... na verdade eu adoro,
acho excitante, continue...
— É definitivo, você é muito estranho...
Ele sorri, me entrega a cerveja e volta para o som ligando-o.
— Você mora sozinho? — pergunto sentando no sofá.
— Sim — respondo se juntando a mim.
— E sua irmã Jules?
— Jules é casada há 5 anos, antes disso morávamos juntos...
— E sua família? — pergunto bebendo mais um gole da minha
cerveja.
— Não tenho, é somente eu e Jules — tristeza surge em seu rosto,
mas antes que eu possa dizer ou fazer alguma coisa, Anton já está de pé
indo em direção à cozinha.
Ótimo, sempre acertando nas perguntas, boa Victoria.
Quando retorna com uma cerveja em mãos, está o mesmo Anton de
sempre, ele disfarça bem, mas eu reconheço, porque fiz isso por um bom
tempo.
— Sinto muito — digo, mesmo sabendo que ele não quer entrar
nesse assunto, preciso que ele saiba que eu realmente sinto muito, não
somente por ter tocado no assunto, mas sinto também pelo que tenha
acontecido com sua família.
— Tudo bem — responde sorrindo fraco e nesse momento meu
coração errou uma batida, vê-lo sofrer me atinge e eu só gostaria de
abraçá-lo e dizer que tudo vai ficar bem, mas acredito que isso só o faria se
afastar, pelo pouco tempo que nós conhecemos ficou bem claro, Anton não
gosta de falar sobre seu passado e muito menos sobre suas dores, e se
isso o fizer se afastar, essa é uma linha que no momento não pretendo
ultrapassar.
— E você? — pergunta levando a cerveja à boca, provavelmente
tentando melhorar o clima que eu mesma estraguei.
— O que tem eu?
— Sua família...
— Ah sim, moram em uma cidade pequena, eu morava com eles,
depois que me formei no ensino médio, após um ano de relacionamento
Josh recebeu uma proposta de um emprego aqui e eu vim junto, é isso,
tenho uma irmã, tios, primos, todos muito chatos, nada que você vá querer
saber — respondo sorrindo, notando que não parei de falar mais.
— Isso é legal, ter uma família grande, os natais devem ser bem
interessantes — não pareceu ser uma pergunta, mas sim um pensamento.
— Às vezes — respondo mesmo assim.
Vejo um porta retratos sozinho em uma mesa no centro da sala, nela
há duas garotas lindas e Anton no meio, uma garota consigo reconhecer
como Jules, a outra imagino que deva ser Ema.
— Ema, essa é a minha amiga — declara apontando para o porta
retrato que eu estava observando.
— Sim, Ema... ela é linda — É uma garota linda, tem cabelos
escuros, olhos fortes, mas um sorriso radiante, deve ser aquela pessoa que
todos amam estar por perto.
— Não diga isso a ela, ela já possui ego o suficiente!
— Encontramos uma versão sua feminina? — o provoco.
— Engraçadinha!
Anton retira o violão do estojo e posiciona-se no outro sofá.
— Que música você quer ouvir? — pergunta enquanto mexe em algo
que não sei identificar, mas imagino que deva estar conferindo se está
afinado.
— Você escolhe, a próxima eu escolho — respondo empolgada.
— Lifehouse, conhece? — seus olhos encontram os meus, por um
momento fico incomodada com a maneira que está me observando, como
se quisesse me dizer algo, mas não tivesse coragem.
— Quem não conhece? — brinco levando a cerveja a boca
novamente.
— Muitas pessoas pequena — dá de ombros voltando sua atenção
para o violão.
Ele dedilha as cordas, como se estivesse apenas sentindo o
instrumento, então os primeiros acordes iniciam, ele fecha os olhos e canta.

'Cause it's you and me and all of the people


Porque somos você e eu e todas as pessoas

With nothing to do
Com nada para fazer

Nothing to lose
Nada para perder

And it's you and me and all of the people


E somos você e eu e todas as pessoas

Gostaria de saber se ele sabe, se sabe o que causa em meu corpo,


no meu coração, se imagina que está em meus pensamentos mais do que
eu possa controlar e muito mais do que eu gostaria, cada vez que escuto
sua voz, que ele sorri, que sinto seu toque, não... ele não tem ideia, mas
como poderia?
Na verdade, Anton poderia saber, mas acredito que ele não gostaria.
Anton abre os olhos enquanto canta, mas agora seu foco está sobre
mim.

And I don't know why


E eu não sei por quê
I can't keep my eyes off of you
Não consigo tirar meus olhos de você

All of the things that I want to say


Todas as coisas que quero dizer

Just aren't coming out right


Não estão saindo direito

I'm tripping in words


Eu estou tropeçando nas palavras

You got my head spinning


Você deixou minha mente girando

I don't know where to go from here


Eu não sei pra onde ir daqui

A música acaba, mas o seu olhar continua preso no meu... levanto,


coloco minha cerveja apoiada na mesa de centro da sala, ando em sua
direção, ele apenas observa atentamente todos os meus movimentos, sinto
meu coração batendo fora do ritmo, minhas mãos estão suando, sabe
aquela intensidade que sinto sempre quando estou na sua presença?
Então, ela está muito maior agora, tiro o violão de suas mãos e o
apoio ao seu lado, sento em seu colo, suas mãos instantaneamente
circulam minha cintura, me mantendo presa, como se eu fosse mesmo
querer sair daqui, seguro seu rosto e o beijo.
O beijo com tudo que há dentro de mim.
— Bom dia meu amor — escuto a sua voz rouca em meu ouvido,
sinto seus lábios passando pelo meu pescoço.
— Anton — suspiro — por favor, mais cinco minutos e estarei pronta
para a próxima rodada — resmungo sonolenta após uma noite com muito
sexo.
Escuto sua gargalhada gostosa e como se fosse combustível, sinto
meu corpo todo ascender, abro os olhos virando-me e o encontro com os
cabelos bagunçados, olhos brilhando e o sorriso mais lindo que existe no
mundo, aquele sorriso sacana.
— Ok, estou pronta — respondo afastando o cobertor.
— Não estou falando sobre sexo pequena tarada — diz afundando
seu rosto em meu pescoço, inspirando-o, causando arrepios em todo meu
corpo.
— Então, por que você me acordou? Que desrespeito Anton Alencar!
— finjo decepção, seus lábios se curvam em um sorriso levado.
— Eu gostaria muito de me enterrar novamente em você, porém
dentro de 30 minutos teremos visitas, sinto muito por isso.
— Quem virá? — pergunto passando meus dedos pelos seus
cabelos.
— Minha irmã e Ema.
Escutamos o som da campainha.
— Ok, menos de 30 minutos agora.
Logo em seguida o som da porta abrindo e vozes vindo da sala
denúncia que já temos companhia.
— Jules tem minha chave — sorri sem jeito.
— Tudo bem, vou pôr uma roupa — respondo saindo da cama, sinto
seu braço enrolar em minha cintura e sou puxada novamente, então Anton
está por cima do meu corpo pressionando-me, sua boca está tão próxima a
minha que consigo sentir sua respiração, ele olha em meus olhos, desce
para minha boca, se aproxima e cola nossos lábios, o beijo começa lento
sua língua pedindo passagem, abro minhas perna, colocando-as ao redor
de sua cintura e sinto seu membro em minha entrada, minha respiração
acelera em expectativa. Afundo meus dedos em seus cabelos.
— Se vocês não saírem em cinco minutos, Ema irá comer tudo.
Jules.
Somos interrompidos por uma batida na porta.
Anton fecha os olhos, cola sua testa na minha e respira fundo, como
se estivesse se controlando para não mandar todo mundo embora.
Sorrio, toco seu rosto o que faz abrir os olhos e me encarar, mordo
os lábios.
— Nós podemos continuar depois — digo enquanto distribuo beijos
pelo seu rosto.
— Eu juro que eu gostaria de matá-las — esbraveja visivelmente
irritado.
Escutamos Jules e Ema em uma discussão na cozinha, e é
impossível segurar o riso.
— Ema está comendo tudo, eu avisei — Jules grita da cozinha.
— Eu estou grávida, Jules, não fale assim, meu bebê escuta tudo
— Ema se defende logo em seguida.
— Não há possibilidade de esquecer disso, já que você menciona a
cada cinco minutos.
— Ema está grávida? — pergunto para Anton surpresa.
— Sim, e não é meu filho, antes que você pense alguma coisa, mas
sou o padrinho — diz orgulhoso sorrindo.
— Pobre criança — declaro rindo.
Ele estreita os olhos e abre um sorriso, suas mãos vão de encontro
às minhas costelas onde faz cócegas.
— Pare, chegaaa Anton.
— Retire o que disse — ordena enquanto ainda distribuí cócegas.
— Nunca — afirmo.
— Retire o que disse Victoria, eu serei o melhor dos padrinhos.
— Para Anton — imploro em meio aos meus gritos de desespero,
porém sem sucesso.
— Tá bom, ok, eu desisto — grito em sinal de rendição.
— Diga, eu serei o melhor padrinho do mundo.
— Sim, Anton de valor inestimável e digno de apreço, você será o
melhor padrinho, satisfeito?
— Por hora sim — sorri enquanto afasta meus cabelos do rosto.
Ficamos assim, apenas olhando, sabe aquela sensação de dizer
centenas de coisas apenas com o olhar, eu acredito muito que o silêncio e
as ações falam muito mais do que palavras, entretanto, ouvi-las as torna
reais.
— Acabou o pastelzinho, só para avisar, e ela está indo em direção
do pão de queijo — somos interrompidos mais uma vez por Jules.
— Deixa ela longe do meu pão de queijo — Anton grita pulando da
cama.
— E para seu afilhado, seu ingrato — escuto quem eu acredito que
seja Ema.
— Anton, ela está grávida — defendo-a.
— Não faça isso, não diga isso pequena.
— Por quê?
— Porque Ema vem usando disso para conseguir toda a comida
possível que existe, e quando você menos esperar, você vai estar dando
seu milkshake e hambúrguer, tudo que estiver em suas mãos — declara
enquanto veste uma calça moletom, que por sinal ficou sensacional.
— Deus, vocês são loucos.
— Bem-vinda ao meu mundo amor — beija minha boca e sai
correndo do quarto.
Sorrio.
Levanto e vou tomar um banho, coloco minha roupa e saio do quarto
em direção a cozinha, onde escuto os três discutindo sobre algo, assim que
chego à conversa para e há três pares de olhos fixados em mim, sinto-me
envergonhada por um momento, Ema é a primeira a levantar e vir em
minha direção, não posso deixar de notar o quanto é linda, tem um sorriso
simpático e confesso que se Anton não tivesse mencionado eu jamais
desconfiaria que está grávida.
— Você é a Vick — diz sorrindo.
— E você é a Ema — correspondo o sorriso e estendo minha mão
para cumprimentá-la, ela olha para minha mão, depois olha para mim, abre
um sorriso e me abraça, por alguns segundos fico paralisada, sem reação
alguma, mas depois retribuo o abraço.
— É um prazer conhecer você — declara ainda abraçada.
— Obrigada — agradeço.
— Anton, ela é linda — diz puxando-me em direção à mesa.
— Foi o que eu disse — Anton responde sorrindo, colocando um pão
de queijo na boca, o bendito pão de queijo.
Jules caminha em minha direção e nos abraçamos, é interessante
que mal nos conhecemos, mas o sentimento é de como se fossemos
amigas a muito tempo.
— Como você está? — Jules pergunta passando as mãos pelo meu
cabelo, como se estivesse conferindo que seu irmão não fez nada de mal.
— Eu estou bem, e você?
— Tirando esses dois insanos que só incomodam, estou ótima.
— Isso, vai reclamando — Ema resmunga.
— Continuando aqui, Vick, o que você vai fazer quinta-feira que vem
à noite? — Jules pergunta enquanto senta na mesa ao lado de Ema.
— Nada — respondo caminhando em direção a uma cadeira próxima
de Anton, mas logo sou puxada para seu colo, passando os braços pelo
meu corpo apoiando seu rosto em minhas costas.
— Então está combinado, nós vamos para o karaokê. — Jules
declara, não dando a menor possibilidade de argumento.
— Por favor Jules, esquece isso — Anton pede.
— Ei, o que você tem contra karaokê? Eu adoro — confesso.
— Amor — implora baixinho.
— Tranquilo baby, você pode ficar, eu e Jules vamos, Ema você
vem? — pergunto para Ema que está muito mais interessada na comida
que em nossa conversa.
Confesso que fiquei preocupada em ficar com ciúmes ou algum
sentimento parecido a Ema e a relação que Anton e ela tiveram por um
tempo, entretanto não tenho. É muito claro que os três funcionam como um
tipo de família, e eu jamais entraria para causar discórdia, afinal que
hipócrita eu seria, já que eu e Josh ainda mantemos contato, assim como
eu sinto carinho pelo Josh e quero que ele seja feliz, não conseguiria ter
mais nenhum tipo de relacionamento com ele que não seja amizade,
acredito que o sentimento de Anton pela Ema deva ser próximo.
— Mas é claro que sim, onde eu puder passar vergonha estou indo
— Ema declara sorrindo.
— Mas nem por um inferno que vocês três vão sozinhas em um
karaokê, nós vamos.
— Nós quem? — Jules pergunta
— Todo mundo — Anton dá de ombros.
— Que todo mundo? — ela insiste.
— A banda Jules — responde como se fosse algo óbvio a pergunta.
Ema apenas olha de canto rapidamente para Jules.
— Hum, tudo bem — sabe quando nós respondemos tudo bem,
porém não está tudo bem? Foi exatamente isso que eu acabei de notar em
Jules.
— Se importam de eu chamar minha amiga Giulia? — pergunto.
— Vai ser ótimo ter uma menina a mais, eu e Ema agradecemos.
Ema e Jules engatam em um assunto sobre pré-natal e enxoval do
bebê e eu apenas acompanho, sinto um beijo em minhas costas e viro-me
em sua direção.
— Sábado a noite — diz enquanto passa as suas mãos pela lateral
da minha cintura acariciando, dessa vez nada de sexy ou erótico, é aquele
carinho inocente que fazemos inconscientemente.
— O que tem sábado? — pergunto virando-me em seu colo e
colocando meus braços sob seus ombros.
— Tem algo marcado?
— Deixa eu consultar minha agenda — faço cara de pensativa e
Anton morde meu ombro.
— Au — respondo fingindo ter machucado. Ele sorri, e passa a
língua onde ficou marcado olhando em meus olhos, e lá se foi a inocência.
— Você não presta — declaro sentindo o calor subir conforme sinto
sua língua em meu ombro.
— Nunca disse que prestava — diz piscando, reviro os olhos.
— Não marquei nada — respondo.
— Quer ir me ver cantar?
E agora o Anton arrogante e dono de si foi embora, vejo em seus
olhos a incerteza, ele realmente acha que eu diria não?
— Sim, eu adoraria.

— Hey, boneca — Giulia atende o telefone.


— Karaokê quinta-feira, eu, você, Anton e seus amigos.
— Ah claro, obrigado por informar — responde rindo.
— Como foi sua noite? — pergunto.
— O de sempre, gostosos suados, eu no meio...
— Pera aí... você disse gostosos no plural e você estava no meio...
Como assim Giulia?
— Isso mesmo garota, porque escolher um, se eu poderia ter os
dois? Qual o sentido? Sempre fui ensinada a dividir e compartilhar.
— Não acredito que seus pais estavam falando sobre pessoas, mas
tudo bem. Ninguém está julgando.
Escuto sua risada do outro lado da linha.
— Docinho, preciso desligar, quer jantar hoje à noite?
— Sim, por favor! Você cozinha — peço, eu sei cozinhar, mas eu sou
apaixonada pela comida da minha melhor amiga.
— Minha casa ou na sua? — Giulia pergunta.
— Minha — respondo.
— Ok, te encontro às 19:00.
Desligo o telefone e olho o relógio, preciso voltar do almoço, levanto
e sigo em direção ao caixa, meu telefone vibra e eu o olho.
Estaciono o carro em frente a minha casa, não que eu esteja
reclamando, longe disso... mas Douglas quase me matou hoje, imaginava
que dançar envolveria apenas coreografias e músicas, eu estava
redondamente enganada, vai muito além disso, aprendi diversos passos e
quando digo que aprendi, foi na base de muito treino, repetição atrás de
repetição até estar 100%.
Abro a porta de casa e vou jogando meus pertences por todos os
lados, assim que entro em meu quarto já vou retirando a roupa, no
momento, minha única vontade é de tomar um banho e jogar-me na cama,
e é exatamente isso que faço assim que termino, parece que passou um
caminhão por cima do meu corpo esse é meu último pensamento antes de
dormir, ok! Penúltimo pensamento, porque o último, esse é Anton, claro.
E como todas as noites meu celular vibra, sorrio já sabendo o que
me espera.
Sorrio, nós conversamos o tempo todo diariamente por mensagem,
mas sempre no final do dia, antes de dormir, ele pergunta como foi meu dia,
não é aquela pergunta por obrigação que as pessoas fazem apenas quando
querem ter algum assunto, Anton sempre está interessado em tudo que eu
conto.

Três segundos depois meu telefone toca, e mais uma vez ao escutar
sua voz meu coração transborda de sentimentos que eu já não possuo
controle há algum tempo.

Se eu pensava que dormir resolveria meu problema?


Sim, eu pensava.
Mas isso não é possível, pois meu problema não se refere a apenas
o cansaço da semana, acordo sábado ainda pior de quando eu fui dormir no
dia anterior, então a ficha cai assim que vou ao banheiro, meu período
começou, e pelo que já pude notar, será aquele mês.
Sim, eu tenho aquele mês, não é sempre, mas ocasionalmente eu
tenho alguns períodos em que o fluxo é maior e as minhas cólicas são
insuportáveis, e infelizmente estou pressentindo que esse será aquele mês,
justamente no sábado que eu veria Anton cantar, sinceramente eu espero
que até o final do dia as dores diminuam, por sorte hoje sábado trabalho
apenas até as 12:00 horas, tomo um remédio e sigo para minha rotina.
Olho para meu celular novamente relendo a mensagem pela décima
vez.
Recebi essa mensagem às seis horas da noite, agora são dez e
ainda não tive nenhum retorno.
Disco seu número o mesmo chama, porém ninguém atende.
Sou uma pessoa extremamente pessimista, já passaram inúmeros
motivos para Victoria ter cancelado e não responder as mensagens, minha
vontade é de ir até sua casa e descobrir qual o problema, porém eu preciso
subir no palco, não posso furar com a banda.
— Anton — escuto Davis chamar, — Hora de subir cara — declara
passando por mim, seguindo para o palco com sua guitarra.
Aceno com a cabeça.
Guardo o celular no bolso, olho para Iago que apenas observa
quieto.
— Cara, ela deve ter tido algum motivo, relaxa — bate em meu
ombro e caminha para o palco se juntando ao resto da banda.
Iniciamos o show, porém de longe não foi a minha melhor
performance, sempre que posso olho para meu celular, não consigo tirar da
cabeça Victoria e o motivo que a levou a não aparecer hoje, mas nada...
nem uma mensagem, muito menos uma ligação.
O show termina, eu me despeço, desço do palco e vou arrumar os
instrumentos, tudo no automático.
— Eae cara, a gente se encontra na casa do Léo? — Iago pergunta.
Sempre que encerramos um show nos reunimos na casa do Léo,
todo mundo fica chapado e no final acabo de ressaca na cama com alguém
que normalmente não sei nem o nome e eu até curtia isso, na verdade,
curtia bastante, mas isso foi antes da Vick, no momento eu gostaria apenas
de estar com ela, e era o que eu planejava para essa noite.
— Vou só fazer uma ligação antes — tiro o celular do bolso me
afastando e ligo pela última vez.
Dessa vez no terceiro toque Vick atende, com a voz de quem acabou
de acordar.
— Hey pequena, te liguei... algumas vezes — sorrio sem jeito. —
Você está bem?
— Sinto muito Anton, provavelmente eu dormi depois do remédio —
responde baixinho.
Sinto como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros, e
nesse momento dou-me conta da dimensão dos meus sentimentos por ela,
bastou apenas Victoria sumir por seis horas para eu ficar perdido dessa
forma.
— Você está doente? — pergunto preocupado.
— Não doente, mas estou... aqueles dias do mês sabe
Demoro alguns minutos para entender, até que a ficha cai.
— A claro, entendi.
Ela solta uma risada gostosa.
— Então... as vezes os meus são bem... doloridos digamos —
responde
— Jules sofria assim também — lembro-me de Jules ficar o dia
inteiro na cama com dor, mas desconfio que às vezes ela fazia apenas para
eu ser seu empregado por um dia, nunca saberei.
— Pois é, não é sempre, mas quando acontece acaba comigo, por
isso fiquei em casa, a única coisa que quero agora é minha cama, bem
quentinha.
— Tem espaço para mais um?
— Anton, é sábado à noite, não quero que deixe de se divertir com a
banda por mim.
— Pensa que não vou me divertir? Ficar na cama de conchinha com
meu pau duro a noite inteira é justamente o que eu planejava pra hoje
pequena, eu chego em 30 minutos ok?
— Amor, não precisa... — Vick insiste.
— Verdade, mas eu quero.
— Tudo bem então, vou deixar a porta aberta, só entrar.
— Até pequena.
Desligo o telefone e vou até à banda, Léo está com uma garota em
seu colo, Iago está sentado mexendo no celular, provavelmente jogando
algum jogo idiota e Davis, Davis está sendo o Davis, cara de poucos
amigos dedilhando sua guitarra.
— Já sei, você não vai — Léo é quem declara.
— Vick não está legal, vou ficar com ela — respondo pegando meu
capacete. — Iago você pode guardar o resto dos meus equipamentos?
— Claro cara, como ela está? — de longe Iago é o mais normal de
nós, o cara que equilibra e controla tudo.
— Nada muito sério, mas vai ficar bem — respondo pegando meu
capacete.
— Eu Leonardo nunca, jamais vou trocar meu sábado a noite para
cuidar de uma garota.
— E você sabe cuidar de alguém? — Iago rebate sorrindo.
— A garota aqui no meu colo pode confirmar isso, não é meu bem?
— responde beijando seu pescoço.
— Não estou falando de foder alguém seu idiota — Iago joga sua
baqueta em Léo.
— Pelo menos eu estou fodendo alguém, pior Anton que vai ficar de
bolas roxas só pra cuidar de uma garota.
— Ninguém pediu sua opinião otário — respondo rindo.
— Feriu meus sentimentos Anton, não venha amanhã me ligar
dizendo que está arrependido, ouviu? — grita enquanto eu me afasto.
Mostro meu dedo do meio e escuto suas risadas.

Assim que abro a porta encontro a casa com as luzes todas


apagadas e se eu não soubesse, diria que não havia ninguém em casa,
retiro minha jaqueta e a coloco no sofá junto com meu capacete, caminho
em direção do seu quarto a luz está apagada e a porta aberta, fico em
silêncio para não atrapalhar seu sono, tiro meu tênis, calça e camiseta, fico
apenas de cueca box, me aproximo da cama, levanto o cobertor e deito
puxando-a junto ao meu corpo, assim que a abraço Vick solta um gemido
de satisfação.
— Eu precisava disso, e nem sabia — escuto sua voz sonolenta
enquanto se aconchega abraçando meu corpo deitando sua cabeça em
meu peito.
Sorrio depositando um beijo no topo de sua cabeça.
— Oi amor — digo inspirando seu perfume e sentindo o calor do seu
corpo.
— Você veio — confessa, parecendo mais como um pensamento.
— É o que parece — brinco.
— Idiota — rebate.
Seguro seu queixo levantando em minha direção e a olho por alguns
segundos, Victoria sorri esperando pelo momento que vou colar nossos
lábios, e é exatamente o que eu faço num beijo gostoso, lento, como se
fosse uma dança, nossas línguas se entrelaçam, mordo seu lábio inferior,
ela solta um gemido e me afasto, ela está sorrindo e eu amo a porra desse
sorriso.
— Canta pra mim — pede voltando a apoiar sua cabeça em meu
peito.
— O que você quer ouvir? — pergunto fazendo carinho na lateral do
seu corpo.
— More than words do Extreme — responde baixinho.
— É uma bela música.
— Concordo, a letra principalmente...
Aceno e a abraço mais apertado enquanto eu canto, eu poderia
perguntar o que a levou escolher justamente essa música, mas no fundo eu
não quero saber a resposta.

Saying I love you


Dizer eu te amo

Is not the words I want to hear from you


Não são as palavras que eu quero ouvir de você

It's not that I want you


Não é que eu não queira

Not to say, but if you only knew


Que você diga, mas se ao menos você soubesse

How easy it would be to show me how you feel


Como poderia ser fácil me mostrar o que você sente

More than words is all you have to do to make it real


Mais do que palavras é tudo que você tem que fazer para tornar real

Then you wouldn't have to say that you love me


Então, você não precisaria dizer que me ama

Cause I'd already know


Pois eu já saberia.

— Puta que pariu — são as únicas palavras que saem da minha


boca assim que Vick sai do quarto.
Porra.
Vick definitivamente é a mulher mais linda do mundo e ponto final.
— Olá pra você também — diz se aproximando com um sorriso
radiante, usando um vestido e confesso que eu adorei a ideia, sabe... o
caminho fica livre.
— Você está linda para um caralho Victoria — confesso pegando em
sua mão e a girando.
— Obrigada, você também está lindo Anton Alencar — se aproxima
passando os braços ao redor do meu pescoço, eu a abraço e inspiro seu
perfume.
— Não podemos mesmo ficar em casa? — peço na esperança de
que talvez ela mude de ideia.
— Não amor, nós vamos, nós ficamos em casa a semana toda,
inclusive estamos atrasados.
Responde se afastando caminhando em direção da porta, me pego
observando sua bunda, que bela bunda.
— E mais uma vez eu me arrependo de ter apresentado você e Jules
— resmungo a seguindo.
— Lide com suas escolhas querido.
Bato na sua bunda e ela sai correndo.
— Isso, corra enquanto pode, quando chegarmos em casa vou te
mostrar o querido.

— Olá puto — cumprimento Léo. — Cadê o resto?


— Os caras já estão chegando, Ema e Jules não sei — diz se
levantando indo em direção da minha pequena, mas nem por um inferno
que ele vai tocar nela.
— Você pode cumprimentá-la de longe — puxo Vick para meu peito
a abraçando.
O filha da puta sorri.
— Sabe que pode perder ela para mim né, sou muito mais gostoso,
ouviu isso meu bem — sorri para Vick
— Desculpa Léo, mas tenho um fraco por cantores arrogantes e
babacas possessivos — eu a aperto.
— Aí Anton — diz sorrindo.
— Chegamos — Jules chega acompanhada de Ema.
— Insuportável — Léo resmunga.
— Anton que te chamou, eu não fiz questão nenhuma que você
viesse Leonardo — Jules declara sentando na mesa.
— Vocês brigaram de novo? — pergunto.
— Não — os dois respondem juntos, reviro os olhos.
— Olá pessoal, boa noite a todos, preciso de uma porção de fritas
com cheddar e muito bacon por cima — Ema diz após beijar Vick e se
sentar ao seu lado, gostaria de saber para onde vai toda essa quantidade
de comida.
Logo em seguida Davis e Iago chegam juntos e se sentam à mesa
após cumprimentar a todos.
O garçom se aproxima.
— Boa noite, o que vão beber?
— Amor você quer o que? — pergunto para Vick que está entretida
com Ema.
— Uma cerveja — responde sorrindo, Léo coloca o dedo na boca em
sinal de que quer vomitar, Jules olha com cara feia.
— Então, quem será a vítima? — Jules pergunta batendo palmas.
— Você, a ideia foi sua — respondo.
— Vick controle seu cachorro por favor — Vick abre um sorriso.
— Que porra é essa Anton? Você não vai falar nada? Puta que pariu,
você está domesticado, eu nunca jamais vou cair nessa por ninguém. —
Léo diz levando a cerveja na boca e bebendo
— É Léo, você vai viver nessa vida vazia, vai chegar em casa
sozinho e assim vai ficar — olho para Jules assustado, em que momento
ela ficou puta desse jeito?
Um silêncio na mesa se instaura, Léo sorri debochado e então
responde.
— Prefiro viver minha vida de merda vazia do que uma mentira.
— Você é um babaca.
— Você é insuportável.
Jules levanta e vai em direção ao bar, olho para Ema que apenas
levanta as duas mãos pro alto balançando a cabeça em negação.
— Que porra foi essa cara? — pergunto sem entender porra
nenhuma do que acabou de acontecer aqui.
— Nada Anton.
— Não foi o que pareceu.
— Jules está um pé no saco, só isso.
Apenas aceno com a cabeça, eles já brigaram antes, na verdade
vivem como cão e gato, mas todos sabemos que Jules é sua melhor amiga
e ele dela, por esse motivo não me envolvo em suas brigas, entretanto essa
foi diferente.
Giulia chega acabando com o clima pesado que havia se instaurado
no ambiente.
— Olá pessoal — diz e vai indo em direção de Ema cumprimentá-la,
já que Ema não levanta para porra nenhuma.
Levo minha cerveja à boca e por um instante pego Davis olhando
para Giulia, durou pouco, mas eu notei.
Jules retorna como se nada tivesse acontecido e engata uma
conversa com Giulia, Vick e Ema.
Estamos rindo e conversando quando sinto uma mão na minha
perna.
— Olá dona encrenca.
Ela sorri.
— Oi amor — responde apoiando sua cabeça em meu ombro.
— Seus amigos são loucos — declaro.
— Meus amigos? — responde debochando.
— Claro, não conheço ninguém que está aqui.
— Já que ninguém se movimentou, vou cantar — Jules diz
levantando.
Todos na mesa começam a berrar e gritar.
— Mas Vick vai comigo.
— Ah não, não e não — Vick responde negando com a cabeça.
— Ué, você quis vir amor, disse inclusive que adora, agora você vai
cantar — digo empurrando-a em direção de Jules que pega sua mão a
puxando para o palco.
— Você me paga, Anton — ameaça-me.
— Eu espero por isso amor, estou contando os minutos — respondo
piscando.
Ela revira os olhos e segue Jules, na verdade é arrastada.
As duas sobem ao palco e os primeiros acordes da música iniciam,
não posso conter o sorriso, isso é muito a cara de Jules.
Shania Twain - Man! I Feel Like A Woman inicia na caixa de som do
palco.
No início Vick está com vergonha e tenta passar despercebida, mas
quando o refrão chega já se soltou e está dançando.
Ema e Giulia estão gritando na mesa e aplaudindo, como um fã
clube, e eu?
Eu apenas observo minha pequena se divertindo e confesso que as
duas literalmente dão um show.
A música acaba e logo em seguida inicia outra.
Jules e Vick embalam mais umas quatro músicas seguidas e para
quem não queria nem subir já estão bem familiarizadas.
Leo vira a cerveja e se levanta, não diz absolutamente nada, vai até
o bar, fala alguma coisa e volta à mesa, assim que a música cessa, ele
levanta novamente, vira o restante da cerveja e vai em direção do palco
retirando o microfone das mãos de Jules.
Reconheço assim que os primeiros acordes iniciam, Léo sabe cantar
e canta muito bem, porém não gosta. Por isso fico intrigado com o que fez
subir no palco, a música Ainda é cedo do Legião urbana começa e Leo
canta.

Uma menina me ensinou


Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir
Mas, egoísta que eu sou
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar
Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Que eu não tinha mais ninguém

Antes mesmo da música chegar no refrão Jules se levanta e sai, Léo


abandona o palco correndo em sua direção, levanto para ir atrás mas sou
impedido por Vick que segura meu braço.
— Anton, deixa... — Vick pede.
— O que você sabe? — pergunto.
— O mesmo que você, nada. Mas acredito que isso é entre os dois,
os dois são adultos vão se entender.
Respiro fundo.
— Por favor — implora baixinho. — Você nem cantou ainda.
Viro-me em direção à Ema que diz.
— Eles vão se entender, você sabe, eles brigam desde que se
conhecem.
— Ok.
Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando pedi para cantar
aquela música, nem quando subi ao palco e muito menos quando a cantei.
As lembranças que eu tenho dela estão bem claras em minha mente,
Jules e eu em seu quarto todo rosa, deitados em sua cama no meio dos
seus ursos, escutando música no seu rádio, o CD do Legião Urbana que
havia ganhado da sua mãe, conversando sobre coisas idiotas enquanto
Anton e a banda estavam treinando, nunca curti muito essa parte da banda,
então sempre que podia, fugia para seu quarto, e era um tempo bom, sem
cobrança ou qualquer expectativa, eu no auge dos meus dezoito e Jules
havia completado treze anos há uma semana.

"Entra logo Léo" Jules diz deitada na cama com os pés apoiados na
parede rabiscando algo no seu diário.
"Deixa de ser mandona garota" digo enquanto entro e deito ao seu
lado jogando os pés na parede imitando-a.
"Feliz aniversário pentelha"
Levo minha mão no bolso e pego o seu presente, encontrei uma
pulseira que era sua cara, quando eu a vi, pensei que deveria pertencer a
ela.
" Te trouxe um presente"
Ela senta no mesmo instante.
" Para mim? " pergunta surpresa.
" Sim, para você pentelha, por seus serviços" brinco colocando a
pulseira no seu pequeno braço, Jules sempre faz meu lanche, Anton fica
puto porque o meu sempre vem primeiro.
" Ela é linda" diz admirando a pulseira, se vira para mim" Obrigada
Leo "
" De nada" bagunço seu cabelo, ela odeia e é exatamente por isso
que eu faço.
" As garotas pararam de ser más? " pergunto, descobri a alguns dias
que havia garotas na sua sala que a provocavam constantemente.
" Sim, Anton resolveu" responde chateada, sei que ela odeia parecer
fraca, entretanto Anton jamais deixaria que alguém magoasse sua princesa,
é claro, somente ele.
" Bom... me avise se elas voltarem a incomodar"
Ela acena com a cabeça.
" Hoje eu descobri minha música favorita Leo" confessa enquanto
escreve no seu diário.
" Aé? Qual? "pergunto.
" Vou pôr para você ouvir "
Se levanta e vai em direção do seu rádio, põem o CD novo que
ganhou da sua mãe e Legião Urbana começa a tocar no quarto, ela volta
para seu lugar e olha para o teto.
" O nome da música é Ainda é cedo, acho que combina com você
também, eu deixo ser sua música favorita se quiser" diz sorrindo
empurrando meu ombro com o seu.
Escuto a música prestando atenção na letra.
" Eu gostei, é nossa música favorita então pentelha".

Assim que vejo Jules se levantando e caminhando em direção da


saída largo o microfone e corro atrás.
— Jules, por favor espera — grito.
Jules para e se vira, eu posso lidar com sua raiva, com seu deboche
e até com seu desprezo, mas chorando não, eu odeio vê-la chorar.
E é assim que a encontro.
— Por favor, não chore — me aproximo tentando tocá-la
— Fica longe — diz dando um passo para trás se afastando.
— Jules, por favor — imploro.
— Você não tinha o direito de fazer isso, você não tinha Léo — grita
com raiva. — Qual o seu problema?
— Eu sei, me desculpa, eu só pensei que ...
— Não Léo, você não sabe de nada! Você teve anos, estou falando
de anos, e faz isso justamente agora? Por quê? O que você ganha com
isso? — diz limpando suas lágrimas.
— Eu não sei...
Tento novamente me aproximar, mas novamente ela se afasta, e dói,
vê-la chorar e se afastar de mim, isso doí, justamente eu, que fui sempre
seu porto seguro quando estava triste.
— Me faz um favor? Fica bem longe de mim — declara.
— Jules você é minha melhor amiga — respondo o óbvio, como eu
posso ficar longe da minha melhor amiga.
Ela ri, mas é uma risada amarga.
— Arranje outra melhor amiga, algumas das várias mulheres que
você leva para cama toda noite, e aí no dia seguinte quando se sentir vazio
não venha me procurar, porque é exatamente isso que você sempre faz, e
eu? Eu cansei Leo.
Vira as costas e sai andando, então eu faço o que sei melhor,
quando sou ferido eu revido, eu ataco.
— Quer saber, foda-se! É exatamente isso que vou fazer mesmo,
vou ter quantas mulheres eu quiser na cama Jules, vou foder quem eu
quiser, eu não preciso de você pra nada — esbravejo.
— Vai se foder Leonardo.
— Vai para o inferno Jules — me arrependo assim que as palavras
saem da minha boca.
Jules para de andar e se vira, olha nos meus olhos e sorri, um
sorriso vazio.
Sem vida alguma.
— Aí que você se engana, não tem como eu ir para o inferno, eu já
vivo em um.
Então ela vai embora, e eu tenho medo que ela nunca mais volte.
Porque eu nunca me senti tão vazio em toda minha vida, como eu
me sinto agora.
Deveria ser proibido a pessoa ser linda, talentosa e gostosa, deveria
ter um limite, por exemplo, se você é lindo não pode ser talentoso, se você
é talentoso já não pode ser gostoso, isso com toda certeza facilitará muito
minha vida.
Óbvio que não estou reclamando, mas vamos lá, observando Anton
no palco cantando com Iago não é uma cena legal de se ver.
Ok!
Deixa eu explicar melhor, Anton é a personificação de todos os meus
sonhos mais eróticos possíveis, ele consegue ser engraçado, sarcástico,
safado, gostoso e lindo tudo ao mesmo tempo e na medida exata, quem em
sã consciência consegue ir contra tudo isso? Eu não, nem quero.
— Vick docinho — Giulia interrompe meus pensamentos.
— Oi?! — respondo virando-me em sua direção que está bebendo
um drink enquanto conversa com Ema.
Davis está sentado assistindo Anton e Iago que cantam no palco.
— Limpa querida — diz apontando para meu rosto.
Levo minha mão no rosto a procura de algo, mas não encontro nada
— Limpar o que? — pergunto confusa, Ema solta uma gargalhada e
Giulia se junta logo em seguida.
— O que tem aqui? — viro-me para Davis que está olhando com
cara de poucos amigos em direção da minha amiga.
— Limpa a baba amiga — Giulia sorri ainda mais agora, reviro os
olhos.
— Eu não estava fazendo isso — volto meu olhar para o palco.
— Não se preocupe Vick, Anton também não está diferente — Ema
sorri, vira em direção de Davis. — E você? Não vai cantar?
— Não — é sua única resposta.
— Leo falou ou deu sinal de vida? — Davis apenas acena em
negação
— Jules também não — Ema comenta pensativa.
— Amanhã já estão se falando de novo como se nada tivesse
acontecido, você sabe como funciona Ema.
— Sei não Davis, dessa vez foi diferente.
O assunto morre assim que Anton e Iago retornam à mesa sorrindo
de algo.
Davis se levanta.
— Estou indo embora, quer uma carona Ema?
— Pode ser, tô morrendo de sono.
— Falo galera, até amanhã — informa se afastando. — Te espero lá
fora Ema.
Observamos Davis se afastar, Ema me abraça e se despede, vai em
direção da Giulia.
— Ele sempre é idiota assim? — minha amiga questiona enquanto
observa Davis se afastar.
Ema olha em direção do Davis e sorri.
— Ele até que está simpático hoje — confessa abraçando Giulia, se
despede de Iago, Anton e vai embora.
Anton pede mais duas cervejas e uma água, estou apoiada em seu
ombro, todos conversando quando Iago têm uma ideia muito ruim.
— Vamos montar duplas e cantar!
Giulia sorri concordando.
— Você vai cantar comigo — Anton diz em meu ouvido
— Eu não, tá doido? Não quero passar vergonha — balanço a
cabeça negando.
— Você fez eu vir hoje, agora vai cantar comigo pequena encrenca...
— Eu super concordo, você não adora Karaokê Vick? — Giulia
comenta sorrindo.
— Vamos lá Vick, vai ser legal — Iago é quem pede agora.
Estão todos olhando-me com aquela cara de cachorrinho sem dono,
caso eu diga não, serei a chata da mesa.
Ódio.
— Comecei a me arrepender de ter vindo — declaro virando o
restante da cerveja, talvez assim a coragem apareça.
— Lide com suas escolhas, meu bem — Anton devolve minhas
palavras de hoje mais cedo.
Levanto da mesa sob os berros de Giulia que é uma pessoa muito
discreta.
Anton segura minha mão e caminha em direção do palco confiante,
claro, ele faz isso toda semana para várias pessoas, eu apenas sigo.
— Que música? — pergunto subindo e aguardando sentindo minhas
mãos suarem mais do que o normal.
— Night Changes — responde entregando o microfone em minhas
mãos.
— One Direction? — levanto uma sobrancelha em sua direção.
— Isso amor — responde unindo nossos lábios em um beijo rápido.
— Isso é uma péssima ideia — declaro pela última vez louca para
sair correndo do palco e esconder-me no banheiro.
— Nunca será — beija minha bochecha em um gesto muito
carinhoso e se afasta.
Sorrio.
Anton canta a primeira parte enquanto eu apenas o observo
encantada, talvez eu realmente esteja babando, mas que culpa eu tenho?

We're only getting older, baby


Nós estamos envelhecendo, amor
And I've been thinking about it lately
E estive pensando sobre isso ultimamente

Does it ever drive you crazy


Isso já te deixou louca?

Just how fast the night changes?


A rapidez com que a noite muda?

Everything that you've ever dreamed of


Tudo o que sempre sonhou

Disappearing when you wake up


Desaparecendo quando você acorda

Anton caminha em minha direção olhando daquele jeito sedutor que


faz com que eu me derreta.

But there's nothing to be afraid of


Mas não precisa ter medo

Even when the night changes


Mesmo quando a noite mudar

Aponta para mim e depois para seu peito enquanto canta.

It will never change me and you


Ela jamais mudará você e eu

Todos que estão observando gritam alto vibrando, eu provavelmente


devo estar vermelha, sorrio envergonhada e respiro fundo, meu coração
batendo mais rápido que o normal.
— Sua vez amor — diz quando para em minha frente, tampando
toda a minha visão do público com seu corpo, impedindo que eu os
enxergue do palco, ele sabe que eu sinto vergonha no início.
Sei que subi antes com Jules, mas foi diferente, eu apenas dancei,
não cantei literalmente sozinha, e bom a presença do Anton deixa-me ainda
mais nervosa.
Aceno concordando, então canto minha parte, ele apenas observa
com um sorriso bobo brincando nos lábios, o sorriso mais lindo do mundo
devo acrescentar, como se eu realmente estivesse arrasando na música, o
que sabemos que não é verdade, mas é isso o que ele faz comigo, Anton
faz eu me sentir a garota mais linda do mundo, mais desejada, engraçada e
inteligente, tudo que faço por menor que seja, para ele tem um valor
enorme, Anton observa tudo e às vezes até parece que tem um caderninho
e vai anotando tudo o que compartilho.
Está mais que visível e confesso que já estou cansada de negar ou
esconder.
É isso!
Foda-se.
Estou apaixonada e aceitar é o caminho mais fácil, mas como eu não
me apaixonaria?
Ele se aproxima abraçando-me por trás, passando seu braço livre ao
redor da minha cintura colando seu peito em minhas costas embalando
nossos corpos no ritmo da música enquanto cantamos juntos o refrão, sua
voz próxima ao meu ouvido causa arrepios em meu corpo todo.
A música acaba, viro-me em sua direção e o abraço afundando meu
rosto em seu pescoço, permaneço por alguns segundos assim, em um
mundo só nosso.
— Você foi perfeita — escuto sua voz bem próxima do meu ouvido.
— Mentiroso, não fica nem vermelho — o acuso.
Escuto sua gargalhada logo em seguida.
— Deixem para transar em casa, agora eu e Iago vamos mostrar
como se faz um show — Giulia diz subindo ao palco com Iago logo atrás.
Entregamos o microfone e descemos do palco.
— Está com fome amor? — pergunta quando chegamos à mesa,
Anton me puxa para seu colo.
— Eu sempre estou com fome.
— Deixa eu adivinhar — finge estar pensando. — Cachorro-quente?
— Sim! Podemos ir à praia depois?
— O que você quiser pequena.
Assistimos o show dos dois o que nos rende muitas risadas, em
minha concepção Iago está empenhado em conseguir algo com minha
amiga, assim que ambos saem do palco convidamos para ir junto, porém
segundo Giulia ela precisa ir para casa, Iago lhe oferece uma carona e
Giulia aceita mais que rápido, nos despedimos Giulia pisca e eu sei bem o
que vai acontecer.
Passamos em um carrinho de cachorro-quente que havia próximo do
bar onde estávamos, comemos e logo estamos na estrada novamente,
Anton dirige para uma praia que não conheço, estaciona a moto e eu
desço, o que eu vejo deixa-me encantada, é lindo e por alguns segundo eu
fico sem palavras.
— Você já veio aqui antes? — ele questiona me observando.
— Não, nunca — respondo encantada. — É lindo.
É uma praia mais deserta, tiro meu sapato e antes que eu tenha
chance Anton os pega do chão segurando, passa o braço pelo meu ombro
e caminhamos pela areia, paramos próximo a uma parte onde há areia
elevada formando uma espécie de banco.
Há apenas o barulho das ondas e o brilho da lua.
Anton senta e puxa-me para seu lado.
— Nunca recebeu alguma proposta com a banda? Porque vocês são
muito bons...
Pergunto por que os quatro são realmente muito bons, nunca entendi
como apenas tocam em bares pequenos, impossível que ninguém os tenha
notado ainda, eles possuem sintonia no palco e todos são lindos, seria a
banda perfeita e com toda certeza faria muito sucesso.
— Recebemos algumas propostas, mas não aceitamos — responde
enquanto afunda seus pés na areia.
— Por quê? — indago curiosa e confusa.
— Sei que parecemos badboys que adoram sair e fazer barulho, não
vou mentir nós até que gostamos, mas o que gostamos de verdade é de
cantar e tocar, não estamos procurando por fama nem nada do tipo, eu
gosto de chegar em casa todas as noites, deitar na minha cama sabe — ele
volta seu olhar para o mar. — Gosto da sensação de ter para onde voltar
todas as noites.
Aceno concordando.
— Faz sentido, você teria que estar na estrada a maior parte do
tempo — penso em como seria não ter Anton por perto sempre, uma dor
forte no peito surge.
— Isso aí — passa seu braço por cima dos meus ombros onde eu
apoio minha cabeça.
Ficamos um tempo em silêncio apenas observando o mar.
— Posso fazer uma pergunta um pouco invasiva?
— Pode.
— Por que você nunca namorou?
Anton endurece a postura por alguns segundos, acho que fui longe
demais dessa vez, mas sabe aquela curiosidade que sempre está na
cabeça?
Isso aí, ela está na minha há muito tempo.
Passa alguns minutos e nenhuma resposta.
Quando penso que não vai responder, Anton solta a respiração
parecendo cansado.
— Porque eu não quero fazer ninguém sofrer — declara com a voz
mais baixa olhando para o mar.
— É só não fazer — respondo como se fosse algo óbvio, porque é...
não é?
— Nem tudo está no nosso controle, nós não podemos controlar
certas coisas pequena...
Paro para analisar sua resposta, volto a olhar para seu rosto.
— Você teria coragem de me magoar?
No mesmo momento Anton se vira para mim, olha em meus olhos.
— Não — responde sem hesitar. — Não de propósito.
Concordo e volto prestar atenção no mar.
— Você acredita em destino?
Escuto sua pergunta, já parei para pensar sobre isso algumas vezes.
— Mais ou menos — respondo
— Explique-se — ele pede.
— Acredito que alguns acontecimentos já estão programados, mas é
você quem decide como vai reagir diante disso — ele acena com a cabeça
escutando minhas palavras, então continuo. — Você controla sua vida, as
decisões que você toma são inteiramente de sua responsabilidade.
Aqui e agora não consigo evitar a lembrança da última vez que estive
na praia a noite, foi com Giulia, eu estava sentindo-me perdida, assustada e
morrendo de medo dos sentimentos que eu havia dentro de mim, mas
agora aqui tenho total e plena certeza de todos eles, viro-me para Anton o
observando.
— No que está pensando? — pergunto.
— Você — declara olhando para o mar.
— Mas eu tô aqui — respondo o abraçando.
— Exatamente, tô pensando em como é bom estar aqui — volta seu
olhar para o meu e sorri. — Com você.
Fito seus olhos, em um gesto automático levo minhas mãos até seu
rosto e o seguro colando nossos lábios, não é nada como já beijamos
antes, é diferente, não há pressa nem urgência, há somente tranquilidade,
sinto sua língua pedindo passagem em minha boca e logo surge a urgência
de estar mais próximo, subo em seu colo passando meus braços em volta
do seu pescoço, suas mãos vão de imediato para minha cintura apertando
com força, deixando nossos corpos ainda mais próximos.
Sinto meu coração se expandir dentro do peito, se é que isso é
possível, é um sentimento diferente de tudo que já senti antes, paro de
beijá-lo necessitando olhar em seus olhos.
— Anton — chamo seu nome como se ele pudesse me ajudar de
alguma forma, na mesma intensidade que sinto eu também possuo o medo,
medo de não ser recíproco, medo de que isso tudo acabe.
— Vick — responde distribuindo beijos pelo meu rosto.
— Preciso te dizer algo, mas por favor prometa que não vai surtar, eu
só preciso pôr para fora.
Ele acena colocando sua mão na minha nuca segurando.
— Fale pequena.
— Você tem que prometer — insisto mordendo meus lábios.
— Eu prometo — responde abrindo um lindo sorriso.
Apesar do medo, medo de Anton sair correndo ou se afastar, preciso
que ele saiba dos sentimentos que possuo guardados dentro de mim,
porque isso está me sufocando.
Respiro fundo e coloco para fora.
— Eu estou completamente, perdidamente apaixonada por você —
seu rosto está indecifrável, eu daria tudo para saber o que se passa em sua
mente agora, estou sentada em seu colo sua mão continua no mesmo
lugar, uma em minha cintura segurando forte e a outra em meu pescoço,
diante do seu silêncio prossigo. — Sei que pode não ser recíproco e você
também não precisa dizer nada — dou de ombros e fecho os olhos na
esperança de encontrar as palavras certas para que não o assuste,
entretanto para minha surpresa... sinto seus lábios nos meus, sua boca
beija-me com fúria agora como se estivesse querendo provar algo.
Seu aperto em minha cintura aumenta.
Minha cabeça está girando tentando entender o que ele quer dizer
com isso, não quer falar sobre o assunto então me beijou, ou pelo contrário,
sente o mesmo e está tentando provar, decido esquecer isso por enquanto
e aproveitar o que estou sentindo.
Gemo em sua boca quando sinto uma mordida em meu lábio inferior
e logo suas mãos vão para a alça do meu vestido abaixando.
Sua boca vai fazendo rastros de beijo pelo meu queixo, pescoço,
ombros até chegar em meu seio, sinto o calor da sua língua passando
lentamente pelo bico rígido e gemo apertando com força seus ombros.
Sinto seu membro duro e movimento meu corpo em sua direção em
busca de algum alívio, Anton rosna.
Levo minhas mãos a sua calça abrindo o botão, tiro seu membro
para fora e o seguro com força sentindo o calor movimentando para cima e
para baixo, passo minha mão pela ponta e o líquido que encontro faz com
que minha boca encha de água.
Mas no momento eu preciso dele dentro de mim, preciso senti-lo
com urgência, levanto-me o suficiente para que entenda o que eu preciso.
Anton leva sua mão à minha entrada, passeia com os dedos e eu
gemo enquanto rebolo em sua mão sem pudor algum.
— Por favor — gemo baixinho, dessa vez sem brincadeiras ou
piadas, Anton apenas movimenta a cabeça concordando, provavelmente
sentindo a mesma urgência que eu.
Anton segura seu membro o masturbando enquanto afasta minha
calcinha para o lado.
Posiciona em minha entrada segurando em minha cintura firme
agora, mas antes de me preencher, leva sua mão em meu queixo fazendo-
me encará-lo
— Eu também — confessa em um sussurro quase inaudível olhando
em meus olhos, morde o lábio como se estivesse com medo de pronunciar,
solta a respiração e confessa. — Eu também estou apaixonado por você,
pequena.
O ar é sugado dos meus pulmões!
Mas não sei bem se são pelas palavras que eu tanto queria escutar
ou se foi porque Anton entrou lentamente fechando os olhos e abrindo a
boca de prazer, foi a cena mais sexy que eu já vi, Anton com prazer é a
cena mais sexy na verdade.
Distribuo beijos pelo seu rosto quando sento por completo em seu
colo, início com movimentos lentos aproveitando cada centímetro que sinto
do seu membro dentro de mim, meus movimentos começam a se tornar
mais rápidos porém Anton segura minha cintura forte.
— Hoje não amor — afirma e volta a beijar meus lábios no mesmo
ritmo que me preenche. — Hoje eu quero lento, quero fazer amor com você
— responde com as mãos em minha cintura controlando os meus
movimentos.
Ele disse a palavra com A, não disse exatamente que me ama, mas
quer fazer amor, que é quase a mesma coisa...
Cada movimento que fazemos juntos vem uma onda de prazer
incrível, gemo em seus lábios sentindo suas mãos indo em direção dos
meus seios, Anton segura-os e aperta firme e forte.
— Quer que eu os chupe amor? — pergunta apertando o bico rígido
com os dedos.
— Sim, por favor!
Sua boca se fecha em meu seio chupando-os com desejo,
— Amor — choramingo sentindo que estou quase lá.
Anton passa um braço ao redor da minha cintura pressionando mais
ainda nossos corpos causando um atrito maior que atinge direto meu
clitóris.
— Vem amor, vem comigo — então eu viro um cristal e quebro-me
em milhões de pedacinhos em seus braços que me segura como se eu
fosse seu bem mais precioso, Anton beija-me no mesmo momento pegando
todos os meus gemidos para si e retribuindo-me com os seus.
E eu sei, eu o amo.
Eu o amo com tudo que há em mim, cada partícula do meu corpo
pertence a ele.
Faz exatamente uma hora que estou parada em frente a uma caixa
pequena encarando-a como se fosse um bicho de sete cabeças, leio as
letras pela quarta vez ou seria quinta, já perdi as contas...
Teste de gravidez.
Abro o aplicativo que controla meu período novamente só para ter
certeza que não estou enganada.
15 dias de atraso.
Ok... não estou enganada.
Nos primeiros cinco dias pensei que fosse normal, acontece de
atrasar com todo mundo, porém meu período é correto, tomo
anticoncepcional há muito tempo, entretanto pode ser que eu tenha
esquecido algum dia ou outro.
Fecho os olhos respirando fundo.
Depois do décimo dia eu já estava enlouquecendo, ainda estou na
verdade, não comentei com absolutamente ninguém, eu mesma ainda não
consigo raciocinar direito.
Sem coragem alguma de fazer o teste, o pego na mão e caminho em
direção ao banheiro.
Com o coração acelerado em um nível assustador, sinto que posso
cair a qualquer momento, é óbvio que eu o amarei se ele estiver aqui, mas
ainda assim, estou apavorada.
Se eu quero ser mãe? Claro! Sempre quis na verdade, inclusive é
meu sonho, uma casa cheia de crianças correndo, mas você ter um
serzinho seu, que irá depender de você e você será o seu porto seguro é
um pouco assustador, toco a maçaneta da porta do banheiro, giro-a.
— Hey amor, esqueci a chave do apartamento aqui.
Anton diz entrando.
Tudo acontece muito rápido.
Ou sou eu que estou em câmera lenta?
Não saberia dizer.
Anton se aproxima.
Me abraça.
Beija meus lábios.
Se afasta sorrindo e olha direto para minha mão.
Enquanto eu ainda estou parada.
Leva dois segundos apenas, ele tira a caixa da minha mão e lê a
descrição.
Seu sorriso desaparece no mesmo instante.
E eu poderia esperar tudo do Anton, mas o que acontece de fato,
isso eu não estava preparada, mas a culpa é exclusivamente minha.
Nós achamos que conhecemos a pessoa, você se apaixona por ela,
vivem momentos lindos juntos, porém é na dificuldade, é quando você mais
precisa que ela mostra realmente quem é, e o quão importante você é em
sua vida.
— Isso é o que eu estou pensando? — Anton indaga sem olhar em
meus olhos, seu tom de voz entrega o desprezo e a irritação, que já estava
bem evidente em seu rosto.
— Sim — confirmo tentando respirar.
— Você está grávida? — pergunta ainda sem olhar-me.
— Eu não sei, está atrasada e isso não costuma acontecer — tento
recuperar a voz que de repente decidiu me abandonar. — Então eu comprei
o teste, mas ainda não o fiz.
Anton fecha os olhos, tento me aproximar.
— Anton — chamo seu nome dando mais um passo em sua direção.
— Isso não pode estar acontecendo.
Recuo um passo para trás.
— Isso só pode ser um pesadelo.
Dois passos para trás.
— Isso foi um erro, Deus como eu pude deixar chegar nesse ponto,
nós não podemos, isso é loucura — esbraveja com as mãos no cabelo.
Três passos para trás.
Sinto a parede gelada em minhas costas, o que nesse momento veio
muito bem a calhar, sinto que eu poderia cair a qualquer momento.
— Isso não pode estar acontecendo, não, não, não.
Sabe aquele momento exato da nossa vida que tudo fica lento, tudo
passa como em um filme lentamente, é exatamente assim que eu me sinto
agora.
Enquanto Anton grita a plenos pulmões que sou um erro, que o
suposto bebê que posso estar esperando é um pesadelo.
Não consigo fazer e pensar em absolutamente nada, escuto meu
coração se quebrando pedacinho por pedacinho, a cada palavra que sai da
sua boca.
Saber que a pessoa por quem você se apaixonou, e para quem você
deu seu coração profere palavras tão más.
— Vá embora — consigo dizer.
Anton não escuta, continua andando de um lado para o outro, como
se estivesse arquitetando mil planos para que isso não aconteça.
— Eu quero que você vá embora — grito o mais alto que consigo,
então é meu fim, as lágrimas descem feito cachoeira, minha respiração
falha.
Dói, dói tanto.
— Vick, você não pode estar pensando direito, eu não posso.
— Anton, eu quero que você vá embora da minha casa agora —
dessa vez ele me encara, estou uma bagunça, não consigo parar de chorar,
a dor no meu peito não para, eu só quero ficar sozinha e chorar, mas para
isso, eu preciso que ele vá embora, porque encará-lo está me ferindo. — Eu
esperava tudo de você, mas isso que você acabou de fazer? Você pode
não me amar, e tudo bem! Posso conviver com isso, mas você falar assim
de um bebê que nós não sabemos se existe, mas que ainda assim é nosso!
Eu não o fiz sozinha — as últimas palavras saem aos berros.
Anton se afasta, como se minhas palavras o tivessem ferido.
Então, algo que eu não esperava acontece, lágrimas descem pelo
seu rosto.
— É isso que você pensa? Que não te amo? — sua voz falha.
Ele sorri balançando a cabeça, mas não é o sorriso que eu tanto
amo, não, esse é um sorriso que eu ainda não conhecia, é um sorriso triste,
cansado, magoado, um sorriso acompanhado de várias lágrimas.
E quando eu penso que não há possibilidade de mais sofrimento e
mais dor do que já estou sentindo, Anton termina de partir meu coração.
— Meu pai morreu de Huntington Vick, é genético, tenho 50% de
chance de ter, acha que eu quero isso para meu filho?
Os próximos acontecimentos passam como um borrão.
A palavra Huntington fica martelando em minha cabeça, não tenho
reação alguma.
Anton vira as costas.
Eu quero correr atrás dele, pedir mais informações, quero entender,
mas minhas pernas não me obedecem, minha voz não sai.
Escuto a porta bater.
Continuo parada.
Retiro meu celular do bolso.
Digito Huntington
"Doença de Huntington é uma doença genética que acomete o
sistema nervoso, causando movimentos involuntários, alterações de
comportamento e de coordenação motora. Os sintomas começam a
aparecer na vida adulta, entre 35 e 45 anos, podendo se agravar ao longo
do tempo, em estágio avançado a demência é grave e as pessoas podem
ficar confinadas à cama, sendo necessário cuidado em tempo integral ou
internação de centro de cuidados médicos, tempo médio de sobrevida varia
de 15 a 20 anos... "
Não consigo enxergar mais nada do que está escrito, porque meus
olhos estão nublados pelas lágrimas que não param.
Me apoio na parede e deslizo até o chão, que é onde eu permaneço.
Impotente.
Essa palavra descreve exatamente o sentimento que tomou conta do
meu corpo, mente e alma, não posso fazer absolutamente nada.
Vick pode estar grávida.
Grávida.
Essa palavra não sai da minha cabeça.
Lembranças vem como uma enxurrada, lembranças que eu gostaria
de ter apagado.
Jules pequena perguntando onde nosso pai estava.
Eu querendo meu pai para levar-me ao futebol, porém ele não estava
bem.
Jules chorando, pois, nossa mãe saiu às pressas de casa levando
nosso pai ao hospital.
Não, não, não.
Minha mãe chorando pelos cantos da casa, imaginando que não
víamos.
Que eu não via, já que eu sempre arrumava um modo de Jules não
ver.
Seu brilho, seu sorriso desaparecendo dia após dia, ano após ano.
Eu não posso, não consigo.
Não posso ser um fardo.
Não quero ser um peso.
Agora não posso fazer absolutamente nada para mudar isso, se as
circunstâncias fossem outras?
Provavelmente esse seria o dia mais feliz da minha vida, estaríamos
comemorando e com toda certeza compraríamos algo para nosso bebê.
Eu acordaria de madrugada mais que feliz em ter que buscar comida
para Vick, que com toda certeza teria desejos.
Eu beijaria a barriga de Vick e conversaria com nosso bebê todos os
dias, diria o quanto ele é especial e o quanto eu estaria ansioso para sua
chegada.
Nosso bebê.
Pensar nisso causa uma dor tão grande, porque dói não poder
querer algo, dói saber que se isso for verdade, essa criança que não tem
culpa de nada, além de passar por tudo que Jules e eu passamos, pode
ainda ter essa merda.
Meus olhos nublam com as lágrimas que eu nem havia notado, não
lembro nem a última vez que chorei, talvez quando meu pai teve sua
terceira crise séria, pois quando ele morreu, apenas me senti aliviado, eu o
amava no entanto ele estava sofrendo, não era mais meu pai ali, e minha
mãe, minha mãe estava morrendo junto, quando finalmente pensei que ela
fosse voltar a ser a pessoa que nós conhecíamos, quando pensei que ela
voltaria a ser nossa mãe.
Isso faz-me pensar em Vick, não posso deixar isso acontecer com
ela.
Deus Vick, o que eu fiz com a minha pequena, o jeito que a deixei,
nunca vou me perdoar pelo que estou fazendo-a passar, por puro egoísmo
meu.
Se eu tivesse ficado longe, se tivesse me afastado todas às vezes
que aquele maldito alerta piscava em minha cabeça.
Fecho os olhos com as lembranças de quando eu era apenas um
garoto.
" Filho, a mamãe precisa conversar com você um assunto bem sério,
tudo bem?"
Balanço a cabeça concordando.
" Papai está doente meu amor" vejo seus olhos encherem de água,
porém, ela as afasta.
" Oque ele tem?" pergunto segurando seu rosto, ela está tão triste,
nunca a vi assim, minha mãe sempre foi nosso raio de sol, dançando pela
casa com meu pai, girando pelos corredores com seu vestido florido.
" É uma doença que vai fazendo um dodói durante os anos, por isso
eu preciso da sua ajuda ok?"
Balanço minha cabeça. Mas é claro que vou ajudar, é meu pai, meu
herói, eu o amo, só não mais que minha mãe.
" Sim" respondo convicto de que farei o meu melhor.
" Preciso que me ajude com Jules meu amor, ela ainda é muito
pequena para entender certas coisas, então quero que me ajude a cuidar
dela, tudo bem? " ela sorri passando a mão pelo meu rosto.
Lembro-me de concordar sem ter ideia da proporção do que viria
pela frente, meu pai não descobriu a doença naquele dia, não, eles já
sabiam a algum tempo, minha mãe preferiu contar-me apenas quando os
sintomas ficaram mais graves.
E foi exatamente o que eu fiz, cuidei de Jules como se fosse meu
maior tesouro.
Até que chegou um dia, minha mãe sentou no sofá e explicou,
explicou exatamente tudo que meu pai tinha, a doença, o que ela fazia e
por fim, que nós seus filhos, tínhamos 50% de chance de ter.
O som da campainha toca tirando-me dos meus pensamentos, mas
não atendo, não quero ver ninguém.
Toca mais uma vez e me recuso a levantar.
O som da porta abrindo e logo depois fechando denuncia alguém
entrando.
Levanto a cabeça e vejo Vick.
Ela está com o rosto vermelho, olhos inchados de quem não parou
de chorar e meu coração se contorce em vê-la dessa maneira, respiro
fundo.
Enxugo minhas próprias lágrimas e empurro minha dor para longe.
Ela vem até mim, se senta ao meu lado e apoia a cabeça em meu
ombro, estamos os dois no chão sentados em frente ao sofá.
— Deu negativo — escuto sua voz baixa e suave.
— Como? — pergunto sentindo um peso sair dos meus ombros.
— Não estou grávida — responde.
Então eu choro, de alívio, dor, não saberia distinguir o sentimento
que predomina agora, alívio por não fazer uma criança inocente passar por
tudo que passei e ainda ter a possibilidade de ter a doença, mas também
choro por nunca poder ter isso, a minha família, por nunca poder ver Vick
grávida, por não poder prometer isso a ela, um futuro.
Isso tudo é muito fodido...
— Ei tudo bem — Vick me abraça quando meus ombros tremem de
tanto chorar e chora junto comigo.
— Tá tudo bem, por favor Anton não chora — implora baixinho.
Essas palavras, tá tudo bem foram o suficiente, como se tivesse
aberto uma represa eu choro, choro por minha vida, pela vida de Jules, por
minha mãe, por meu pai, nunca tive a oportunidade de chorar e alguém
simplesmente me abraçar, porque eu sempre fui o porto seguro da minha
mãe e Jules, eu precisava parecer forte, se não, quem seria?
E agora aqui com Vick, eu simplesmente deixo tudo sair.
Sinto quando ela me puxa para seu colo e faz carinho em meus
cabelos, enquanto diz palavras de conforto.
Até que tudo fica preto e então a dor vai diminuindo.
Mas antes, eu a escuto dizer.
— Eu te amo e prometo que nunca vou soltar sua mão.

Retiro tudo que disse antes sobre dor, isso que acabou de acontecer,
Anton chorar até adormecer em meu colo, com toda certeza foi a pior dor
de todas, vê-lo tão quebrado, cansado, triste, se pudesse eu pegaria toda
sua dor para mim, sem pensar duas vezes.
O olhando assim agora adormecido, tão sereno, seus lábios
inchados, o rosto vermelho do seu choro.
Passo a mão pelos seus fios bagunçados que eu tanto amo, sim eu o
amo, amo tanto que doí, e só de pensar que posso perdê-lo.
Meus olhos se enchem de água novamente, é involuntário, não
quero ficar sem ele, não posso, assim como preciso de ar, eu preciso do
Anton.
Após fazer o teste de gravidez e o resultado apresentar negativo, a
primeira coisa que fiz foi ligar para minha mãe, ela possui um amigo que é
médico, eu precisava de uma opinião correta, não posso acreditar em tudo
que encontramos na internet, entretanto as notícias não foram melhores.
Para ser sincera não compreendi muitas coisas devido ao meu
estado emocional, mas o que consegui compreender é que as partes do
cérebro se degeneram, os movimentos vão ficando mais bruscos,
descoordenados e lentos, até que o corpo todo é afetado, dificultando o
caminhar, sentar, comer, falar, engolir e vestir-se, até que atinge o cérebro
por completo. Frequentemente ocorrem alterações mentais antes ou
quando os movimentos anormais desenvolvem, no decorrer do tempo
perdem a capacidade de pensar racionalmente, podendo desenvolver
depressão e tentativa de suicídio...
Fechos os olhos novamente.
Meu Anton, não.
Existe um exame que pode identificar o gene da doença, podendo
iniciar o tratamento precocemente para retardar os sintomas, já que a
doença não possui cura.
Apoio minha cabeça no sofá e fico imaginando como foi a vida do
Anton e Jules.
Tento recuperar-me antes que Anton acorde, não quero que ele veja
que estou destruída por dentro, que estou morrendo de medo de perdê-lo,
porque sei que é exatamente isso que ele não quer.
Lembro-me de nossa conversa na praia, os motivos por não entrar
em um relacionamento.
Minutos ou talvez horas, não saberia dizer, estou perdida em meus
pensamentos e em minha própria dor quando sinto Anton acordar.
Anton se mexe e abre os olhos.
Ficamos assim nos encarando por alguns minutos até que ele se
levanta e se afasta.
Levanto também.
Anton não me encara, ele está olhando fixo para o chão.
Eu sinto, sinto o que ele está pensando.
— Não faça isso — peço me aproximando.
Eu sei o que está passando pela sua cabeça, Anton quer se afastar.
— Vick, por favor, não torne as coisas mais difíceis — pede sem
conseguir olhar para mim.
— Você só pode estar brincando né?
Seus olhos encontram os meus, só consigo ver dor.
— Vick, eu sinto muito — pede como se isso fosse aliviar a dor que
estou sentindo.
— Para o inferno com sinto muito Anton, nós não vamos acabar
nada, quando finalmente me sinto completa, quando eu finalmente amo
alguém com tudo que há em mim, quando finalmente sinto que encontrei
alguém que me complete — volto a chorar. — Por favor Anton, não faz isso
comigo — corro em sua direção e o abraço forte chorando.
— Vick, não posso, acredita que eu quero isso? Pensa que estou
feliz com isso pequena? — sem uma resposta minha Anton continua. — Eu
te amo tanto amor, tanto, mas justamente por te amar que não posso fazer
isso com você, quero que você seja feliz, que se case, tenha filhos lindos,
Deus sabe o quanto eu queria que fossem todos meus, talvez até
poderíamos adotar alguns, mas não posso amor, não posso tirar isso de
você.
Anton respira e noto pela sua voz embargada que está chorando
também.
— Não posso ser um fardo para você Vick — Anton me afasta.
— Não, não, não — repito balançando a cabeça enquanto lágrimas
escorrem pelo meu rosto e sinto meu coração falhar só de pensar em me
afastar.
Anton vai até a porta com a cabeça baixa, abre sem olhar em meus
olhos.
— Por favor Vick, preciso que vá embora — pede com a voz
falhando.
Então é assim que ele quer fazer, ok!
Eu saio.
Passo pela sua porta feito um furacão.
Vou até meu carro e pego minha mala, se ele quer me deixar, ótimo,
não vai conseguir.
Porque eu não vou desistir.
No fundo eu esperava por essa reação, então vamos para o plano B.
Toco a campainha.
A porta se abre, vejo seu semblante cansado, então seus olhos vão
de encontro a minha mala.
Passo por ele e paro na sala colocando minha mala no chão.
— O que você está fazendo? O que são essas coisas? — Anton
pergunta olhando para minha mala.
Respiro fundo enxugando minhas lágrimas me recompondo.
Agora eu tenho uma batalha longa pela frente e essa eu vou vencer.
— Essas são as minhas coisas, decidi uma vez que ninguém ditaria
minha vida ou faria escolhas por mim, e você está fazendo isso agora,
tenho o direito de rebater, e isso — aponto para minhas coisas. — Sou eu
me mudando para sua casa, você quer me enfiar goela abaixo que não
podemos ficar juntos, e eu vou fazer entrar na sua cabeça que eu quero
você, e é exatamente isso que eu vou fazer, eu quero você! E eu vou ter
você Anton Alencar, e foda-se a sua maldita opinião, e se quiser pode
dormir na sala, a casa é sua mesmo, com licença — pego minha mala do
chão e vou em direção do seu quarto.
Eu gostaria de dizer que os dias seguintes foram melhores, que
Anton percebeu logo que não haveria escolha.
Porém, a realidade é outra, uma realidade que machuca.
Hoje faz exatamente uma semana que não o vejo, pois é, nós
estamos morando juntos, no entanto, eu não o vejo.
Quando saio para trabalhar de manhã, Anton está dormindo no sofá.
Quando eu retorno, ele não está em casa.
Hoje, mais um dia.
Chego e as luzes estão apagadas.
— Anton? — chamo seu nome e nada, somente o silêncio como
resposta.
Sento-me no sofá exausta fisicamente e emocionalmente, a casa
está escura e a saudade apertando, sinto falta do seu cheiro, seu carinho,
sorriso, de suas piadas sem graça e seu imenso ego.
Deito-me e puxo o seu travesseiro para meu rosto inspirando-o, sinto
seu perfume e uma onda de lágrimas se alojam em meus olhos, então
deixo-as cair, dizem que chorar faz bem, tenho minhas ressalvas quanto a
isso, sorrir é muito melhor, entretanto é o que preciso fazer agora, eu choro
até pegar no sono.
No meio da noite sinto braços ao redor do meu corpo, sou pega no
colo.
Eu conheço esses braços, conheço esse aroma.
Anton.
Passo meus braços pelo seu pescoço, aproximando meu rosto
sentindo seu perfume, o abraço forte sentindo o calor de seu corpo.
— Sinto sua falta — digo baixinho com medo que seja apenas um
sonho e logo acabe.
— Eu também amor... mas nós não podemos, você tem de enxergar
isso.
Sinto o colchão da cama em minhas costas.
— Sinto muito — diz se afastando.
A porta se fecha.
Ele foi embora, mais uma vez.
Viro-me e fico encarando o teto do quarto.
Foda-se.
Levanto e vou em direção ao banheiro, ligo o chuveiro e permaneço
em baixo de olhos fechados enquanto a água quente escorre pelo meu
corpo.
Eu sinto muito.
Sorrio amargamente, eu odeio essas palavras, odeio que me diga
que sente muito, se sentisse mesmo, veria o quanto estou sofrendo e faria
algo para melhorar.
Provavelmente devo estar na TPM porque a vontade de chorar é tão
grande que não consigo mais segurar, eu estou tão cansada, cansada de
tudo.
Anton não fala comigo, não sei para onde vai todas as noites, ao
mesmo tempo que quero gritar com ele, dizer o quanto está sendo infantil e
que se sua intenção com isso era que eu não sofresse, ele está falhando
miseravelmente, porque já estou sofrendo, minha vida se tornou acordar,
trabalhar e dormir, tudo na expectativa que Anton dê qualquer tipo de
abertura, mas isso não acontece.
Saio do banho e vou em direção ao guarda-roupa, visto sua blusa
que uso como pijama e vou em direção da sala.
Anton está deitado sem camisa apenas de cueca boxer, um braço
apoiado em seu rosto próximo a sua testa tampando sua visão e o outro
sob seu abdômen.
Aproximo-me do sofá e literalmente deito em cima do seu corpo, já
que o sofá é pequeno.
Coloco uma perna em cada lado de sua cintura, no mesmo momento
Anton afasta as mãos assustado com meus movimentos, passo meus
braços pelo seu pescoço e apoio minha cabeça em seu ombro próximo ao
seu pescoço, faço do seu corpo minha cama.
— O que está fazendo? — Anton pergunta.
— Está bem claro, vou dormir.
— Você tem uma cama lá no quarto — afirma com os braços para
cima não querendo retribuir o abraço.
— Aham, eu sei — declaro sem me importar com seu desconforto.
— E por que não está nela?
— Não é a cama que preciso para dormir Anton, agora fica quietinho
amor, amanhã eu acordo cedo.
Anton fica em silêncio, quando estou quase pegando no sono
— Vamos para o quarto — responde derrotado.
— Graças a Deus! — levanto-me, volto meu olhar para o seu. — Se
você sair da cama no meio da noite, me jogo em cima de você de novo
Anton, dessa vez sem delicadeza, não me provoque.
— Você é louca — declara me seguindo para o quarto.
— Você não viu nada ainda querido, deveria ter pensado duas vezes
antes de oferecer ajuda a estranhas na rua sem gasolina.
— Vick é sábado, pelo amor... vamos sair, farrear, afogar as mágoas,
dar pra geral — escuto Giulia dizer pela décima vez, enquanto tomo meu
milkshake observando os carros na rua.
— Eu estou afogando as mágoas — respondo sorrindo levantando
meu milkshake.
— Milkshake de morango não é para afogar as mágoas, você está
fazendo isso errado, devíamos convidar seu amigo dançarino e ir balançar
essa bunda linda.
Reviro os olhos.
— Vick, faz quanto tempo que você e Anton não conversam?
Não respondo.
Não quero dizer que nós apenas dormimos juntos, apenas porque eu
o obriguei a fazer isso, sempre que tento puxar algum assunto Anton finge
que não é com ele, eu literalmente estou sendo ignorada, sabe aquela
sensação de ser indesejada em um lugar?
É assim que me sinto quase o tempo todo, a verdade é que eu estou
me sentindo perdida, não sei mais o que fazer, estou cansada.
— Eu sei! Duas semanas, você ouviu Victoria? — pergunta em
descrença. — Duas fodidas semanas, aquela mínima troca de palavras não
pode ser considerado um diálogo, e você está morando na casa dele —
mordo o lábio tentando não transparecer que isso me incomoda, não quero
dar mais munição para Giulia, no fundo, sei que ela tem razão, o problema
é que não estou com vontade de sair, não se trata apenas de Anton.
Ok...
Talvez um pouco.
— Victoria, presta atenção porra! — fala mal-humorada.
Volto meu olhar para ela, que esta puta comigo
— Eu não quero sair Giulia — respondo sentindo-me cansada desse
assunto, depois do meu expediente nós combinamos de passar um tempo
juntas.
— Eu desisto de você — diz levantando os braços para cima em
derrota.
Sorrio, não dou dois minutos.
Conto mentalmente... um, dois, três ...
— Mentira, não desisto jamais... mas hoje é sábado, acha mesmo
que ele vai voltar para casa cedo? — questiona levantando as sobrancelhas
Já pensei nessa hipótese também, mas não menciono.
— E se ele for para a festa do Leo? Você vai ficar esperando ele
chegar em casa como uma boa esposa. Aah eu estou estressada com essa
situação, não me culpe, eu te amo e odeio isso.
Apenas aceno com a cabeça, não há o que dizer, não possuo
argumentos para isso, e sim eu também odeio isso.
— Eu também te amo, podemos trocar de assunto por favor?
— Tudo bem, então vamos falar de coisas boas... Douglas — Giulia
leva uma batata na boca sorrindo diabolicamente.
— Ele é só meu professor Giulia — desconverso enquanto observo
meu celular na mesa, nós nunca mais trocamos mensagens.
— Mas vocês estão mais próximos.
— Sim, porque eu adoro as crianças e gosto de assistir às aulas.
— Aham.
— É sério, não vou dizer que não o acho bonito, ele é sim! E é um
amor, porém meu coração já tem dono, mas Douglas é um bom amigo.
— E o que ele faz da vida além de dançar? — tento puxar em minha
mente se já conversamos sobre esse assunto.
— Ele é professor de dança, da aula em várias escolas — respondo
lembrando-me.
— E Iago? — pergunto tentando mudar o foco da conversa.
— O que tem ele?
— Vocês saíram juntos àquele dia, rolou mais o quê?
— Nós transamos algumas vezes — confessa dando de ombros.
Concordo, Giulia é a pessoa mais desapegada que conheço, nunca
namorou e não pensa nisso, sai com quem deseja e não dá a mínima para
a opinião dos outros.
Ficamos em silêncio por no máximo dois minutos.
— Eu não consigo não falar sobre isso Victoria, negócio é o seguinte,
vou dar a letra — põem às duas mãos sobre a mesa me olhando séria. —
Vou perguntar para o iago se Anton vai para a festa com eles depois do
show, se ele for... eu irei buscá-la nem que seja amarrada, você ouviu? E
nós vamos para a noitada, ok? — apenas aceno com a cabeça
concordando.

Entro no apartamento e sigo direto para o banho, provavelmente


esse horário Anton deve estar ensaiando com a banda antes do bar abrir.
Aproveito e arrumo o apartamento, confesso que fico impressionada,
Anton não é nada bagunceiro, pelo contrário acredito que quem mais faz
bagunça sou eu aqui.
Após organizar tudo vou até à cozinha e preparo um bolo com muita
calda de chocolate, vou até o congelador e pego o pote de sorvete, coloco
tudo em uma tigela, calda de chocolate quentinha por cima do sorvete é
tudo.
Sento no sofá e ligo a televisão para assistir a um filme, fico quase
trinta minutos apenas passando as opções, faço isso sempre, para no final
escolher os mesmos filmes, vamos hoje de uma linda mulher, sorrio
colocando pela milésima vez.
Não sei em que momento peguei no sono, mas acordo com aquela
sensação de que há alguém me vigiando, abro os olhos devagar e encontro
um Anton com a boca cheia enquanto come meu bolo de chocolate.
— Que bom que gostou — estico os braços e sento no sofá.
— Acho que você deveria fazer isso aqui sempre — aponta para o
bolo com o garfo.
— Que horas são? — pergunto, meu coração acelera no mesmo
momento e tenho medo da resposta, porque se for tarde, significa que
Anton estava na festa pós show na casa do Leo, entretanto se for cedo,
Anton veio direto para casa.
Dou-me um tapa mentalmente! Giulia estava certa, estou parecendo
a esposa perfeita que espera o marido chegar em casa, e ainda fiz bolo.
Anton olha para seu relógio no pulso.
— Meia-noite, acabamos mais cedo hoje, veio uma banda de fora
tocar e nós apenas abrimos — responde enquanto leva mais um pedaço de
bolo a boca, sorrio, sentindo-me aliviada.
— Entendi — passo meus olhos pelo seu corpo, calça jeans,
camiseta preta e jaqueta amarrada na cintura, cabelos bagunçados, uma
vontade de tocá-lo surge, mas me contenho.
Ainda não sei exatamente como estamos, na verdade, essa é nossa
primeira conversa decente desde que invadi sua casa, naquele mesmo dia
assim que fui para seu quarto, Anton saiu de casa sem dizer nenhuma
palavra, e foi assim pelos próximos dias até hoje, tirando os dias que eu o
obriguei a dormir comigo, acredito que isso não conta.
— Pronto, acabei — diz levantando.
Aproveito e levanto-me junto indo em direção à cozinha.
— Você comeu todo o bolo Anton? — pergunto quando chego à
cozinha e olho para o prato, onde não há nem vestígios da calda.
— Ah, acho que sim — responde sem jeito.
— Magro de ruim — resmungo pegando um copo de água.
— O que disse? — ele pergunta levantando a sobrancelha.
— Que você é lindo — minto levando o copo à boca.
— Mentirosa — responde sorrindo vindo em minha direção,
provavelmente pronto para me fazer pagar, mas seus passos paralisam e
como se percebesse o que está acontecendo, o que ele estava prestes a
fazer, Anton recua, veste a máscara da indiferença de novo e volta a ser o
mesmo babaca das últimas semanas.
— Vou dormir — se vira e segue em direção ao quarto.
— Ok, boa noite — é impossível que ele não tenha notado minha
frustração.
— Boa noite Vick.
Apoio-me na parede e respiro fundo fechando os olhos.
Não é dona encrenca, nem pequena e muito menos amor.
Apenas Vick.
Desperto e levo minha mão ao lado. Abro os olhos assim que sinto
um vazio, viro-me e não encontro Anton,
— Anton — chamo seu nome, mas não escuto uma resposta.
Levanto e sigo em direção da sala, está tudo em silêncio.
Noto em cima da mesa sua pulseira com um papel embaixo.
Retiro a pulseira e pego a carta.
Sinto minhas pernas falharem e minha respiração acelerar, parece
que a sala está ficando cada vez menor, tenho aquela sensação de que
algo ruim está por vir.
Sento no sofá e o abro.
Reconheço as letras de imediato, porque são as mesmas que
encontro pela casa em papéis rabiscados. Com letras e arranjos musicais.
Engulo saliva com dificuldade e tento puxar o máximo de ar que
consigo, mas fica quase impossível quando noto que não é qualquer carta,
não se trata de uma carta avisando que saiu e já volta...
Não, não, não, não.
Repito mentalmente quando as primeiras palavras surgem em minha
visão.

Dona encrenca
Gostaria que isso fosse mais fácil, mas não é, pessoalmente seria
muito pior. Parando para analisar eu jamais conseguiria fazer isso
pessoalmente, você sabe, sou um covarde, pode me xingar, eu aceito.
Vamos começar do início para você entender! Quando eu te vi pela primeira
vez parada no meio da estrada, pensei... quem é essa louca? Mas, quando
desci da moto e te olhei... Deus, Victoria! Tinha que ser fodidamente tão
linda? Então você abriu a boca e senhor eu sabia que estava encrencado,
daí veio a dona encrenca... você é insuportável quando está com fome e
aquele dia foi a prova. Continuando, nunca acreditei em amor à primeira
vista, inclusive penso ser conversa fiada, entretanto, se o que senti aquele
dia não foi amor, tenho certeza de que foi algo bem próximo.
Agora segunda coisa, promete que não vai até a polícia depois
disso? Obrigado amor! Como posso dizer... eu meio que te segui por alguns
dias, ok meses. Te vi almoçando naquele restaurante que você adora,
alheia ao mundo, apenas ocupada com a sua comida. Daí que eu descobri
seu apreço por milkshake de morango e hambúrguer. Desde então fui todos
os dias apenas para te ver, nesse tempo eu consegui desvendar todos os
seus sorrisos, todas as suas feições e olhares, você tem vários, acredite, e
eu amo cada um deles, toda vez que eu te via o sentimento aumentava.
Você não sabe, mas quando ficamos pela primeira vez eu já te amava
pequena, e é por te amar que estou te deixando. Não me procure, não me
espere, viva sua vida Vick, seja feliz, case e tenha filhos lindos!
Agora vem a parte difícil, essa que não costumo falar para ninguém e
prefiro deixar guardada, porque é uma parte que eu ainda sinto raiva,
mágoa, sei que guardar esse tipo de sentimento é errado, mas é
inevitável... é o que possuo dentro de mim.
Minha mãe se suicidou dois meses depois que completei a
maioridade, tomou todos os remédios que possuía para depressão, ela
entrou em depressão logo após que meu pai faleceu, esperou apenas eu
completar 18 anos para ser responsável legal por Jules.
Eu não quero que você se torne como ela. Que acabe com a sua
vida apenas para não me deixar. A chance de eu me tornar um fardo para
você, uma cruz que você não merece carregar. Eu sei que a porra das
decisões da sua vida é você quem toma, mas não posso deixar que me
escolha e pague caro por isso no futuro. Sinto muito por toda dor que estou
te causando, eu tentei me manter afastado, mas o destino a trouxe para
mim e não sou tão forte assim. Entretanto, não posso pequena, não posso
fazer isso com você, jamais me perdoaria se um dia eu acordasse e seu
sorriso não fosse mais o mesmo, se um dia o seu brilho no olhar
diminuísse, isso com toda certeza doeria muito mais.
Com todo amor,
Anton.

"Quero que você perceba


Quando eu não estou por perto
Você é especial pra caralho"
Creep – Radiohead

PS: de valor inestimável.

Não sei em que momento as lágrimas começaram a cair porque as


últimas palavras foram quase impossíveis de ler.
Anton me deixou, foi embora.
E não faço a menor ideia de onde eu posso encontrá-lo, sim, mesmo
deixando-me eu iria atrás dele, porque só consigo ver nessa carta um
garoto assustado e com medo, um garoto que desde muito cedo teve de
suportar muito peso e isso está me matando.
Porém, uma parte, uma pequena parte está magoada.
Por quanto tempo terei que lutar até fazê-lo enxergar que eu quero
isso, quero estar com ele.
Permaneço com a carta em mãos enquanto sinto um vazio
preencher meu corpo pouco a pouco, na mesma proporção que as lágrimas
rolam pelo meu rosto.
Ouço um barulho de chaves na porta e viro-me em sua direção.
A porta abre.
E para minha surpresa, Anton entra por ela.
Incerteza e confusão estampam seu rosto, seus olhos vão de
encontro para minhas mãos e para o que estou segurando compreendendo
que eu já li seu conteúdo.
— Pequena — se aproxima rápido, segura meu rosto entre suas
mãos fazendo com que eu o olhe.
Suas mãos estão tão geladas.
Fecho os olhos.
— Olhe para mim pequena — pede.
Olho para seu rosto segurando a vontade de chorar ainda mais, de
xingar, gritar, dizer tudo que está entalado. Eu estava sendo paciente
esperando o seu tempo, duas semanas sem forçar nada, na esperança de
que quando ele se sentisse pronto viria até mim e se abriria, veria que
posso ser muito mais. Mas Anton preferiu ir embora...
Estou tão cansada... cansada de lutar sozinha.
Desde o início, cada vez que avançávamos, Anton encontrava uma
forma de regredir, estou cansada de acordar todos os dias e não saber se o
terei ao meu lado e hoje, hoje quando acordei e não o vi, quando li a carta...
Deus isso doí tanto.
Eu só queria que acabasse...que tudo parasse, a dor, insegurança,
esse medo que me acompanha desde que o conheci.
— Você ia me deixar? — pergunto com a voz embargada.
— Sim — confessa colando sua testa na minha, sinto seus lábios em
meu rosto beijando onde minhas lágrimas escorrem. — Eu sinto muito
amor, sinto muito por tudo — diz puxando-me para seu peito me abraçando
forte.
— Você ... — não consigo terminar a frase porque já estou
soluçando, ouvi-lo dizer que iria me deixar só torna tudo ainda mais
insuportável...
— Levantei hoje com a certeza de que isso seria o melhor pra você,
então eu escrevi a carta. Só que quando eu cheguei na moto... não
consegui... meu corpo não obedecia, é uma briga interna bem aqui — ele
pega minha mão e põem sobre seu peito. — Sei o que devo fazer, mas meu
coração não deixa... porque só a menção de nunca mais te ver... eu não sei
o que fazer amor... me diz o que fazer por favor.
— Fique comigo, apenas fique comigo Anton ... deixa eu te ajudar —
imploro.
— Eu quero Vick, eu juro que eu quero... mas toda vez que deitamos
na cama e eu a observo dormindo, lembro da minha mãe... lembro de como
ela era, como ela sempre estava sorrindo e com o passar dos anos como
se tornou... um fantasma, uma sombra do que ela foi, até ela... você já
sabe, não posso fazer isso com você.
Seguro seu rosto e o faço olhar em meus olhos, preciso que ele
entenda de uma vez por todas.
— Eu não sou a sua mãe Anton, não estou julgando-a... mas não me
compare a ela, estou ficando porque quero e tenho plena ciência de tudo
que podemos passar, mas prefiro passar tudo isso, do que viver uma vida
em que eu acorde e não seja você do meu lado, entende?
Anton fecha os olhos absorvendo minhas palavras.
— Eu não quero ver você sofrer — responde ainda de olhos
fechados.
— Olha pra mim amor — peço.
Seus olhos se abrem e eu sorrio, como posso amar tanto alguém
assim?
— Não importa se vai doer Anton — acaricio seu rosto. — É você
amor, sempre foi você e sempre será.
— Não vai ser fácil Vick. Eu... eu tenho medo, cada vez que esqueço
de algo ou quando deixo algo cair, eu... eu
— Você acredita ser um sintoma — completo quando compreendo
seu medo. Anton vive com medo, na verdade, isso não é viver.
Anton apenas acena concordando.
— Por que você nunca fez o exame? Já parou para pensar que você
pode não ter?
— Porque eu tenho medo, tenho medo de pegar o exame e ser
positivo... o que os olhos não veem o coração não sente — dá de ombros
envergonhado. — Eu apenas tenho medo que tudo se torne real.
— Tudo bem... mas você entende que também existe a possibilidade
de você não ter a doença e perder uma boa parte da sua vida por medo?
Não estou dizendo que não há fundamento, tem sim e não é errado ou feio
sentir medo, mas se você fizer o exame e der positivo nós podemos tratar
precocemente — respiro e continuo. — Podemos procurar um excelente
médico, ver os tratamentos que há e as opções, podemos ter mais tempo e
pesquisar sobre tudo, seu pai não teve esse tempo, mas você tem... nós
dois temos.
Anton não responde, apenas me olha como se estivesse em uma
batalha interna do que julga certo e o que realmente sente vontade, então
decido ser um pouco mais direta.
— Se fosse eu? Se fosse eu no seu lugar... o que você faria? —
pergunto.
Anton olha-me em descrença, como se eu tivesse o ofendido
perguntando algo assim, mas é exatamente o que eu quero que ele
entenda.
— Eu ficaria com você, sem sombra de dúvidas — responde sem
hesitar.
— E se eu não quisesse? Se eu não quisesse ser um fardo pra
você? — insisto mais um pouco.
— Eu não te daria opção — responde pensativo, agora sei que ele
compreendeu que a escolha é minha.
— Então não me peça para ir embora e nunca mais me deixe.
Volto a abraçá-lo e encosto minha cabeça em seu peito escutando o
barulho do seu coração, é meu som preferido a partir de hoje.
— Desculpa, pensei que estivesse fazendo o certo, mas a verdade é
que... eu só te machuquei.
— E se machucou no processo — completo.
Sinto seus braços me puxando para seu colo e enrosco minhas
pernas em sua cintura, Anton nos leva até o sofá.
Passo meus braços ao redor do seu pescoço e volto para meu lugar
preferido, inspiro seu perfume.
— Casa — deixo escapar meus pensamentos.
— O quê? — pergunta confuso.
— Me sinto em casa aqui nos seus braços — me afasto do seu
pescoço e o olho. — É uma sensação de lar e segurança — passo minhas
mãos pelo seu rosto o admirando. — Nunca me senti tão segura quanto me
sinto em seus braços — volto meu olhar para o seu. — Eu te amo Anton
Alencar de valor inestimável.
— Nós vamos ficar bem... não é? — Anton pergunta e meu coração
erra uma batida com a sua confissão.
— Ah sim, nós vamos amor, pode contar com isso — respondo
puxando seu rosto para mais próximo do meu.
— Vick — responde roçando seus lábios nos meus em uma pequena
tortura.
— Sim — respondo sentindo sua respiração.
— Eu te amo — diz, então sinto seus lábios colando nos meus e é
como se o mundo finalmente voltasse a girar da maneira correta, sua língua
pede passagem e eu dou... de bom grado, senti tanta falta disso, tanta falta
de nós.
Aprofundo o beijo, é um misto de saudade, dor, felicidade, amor,
desejo...
Nos afastamos, ambos sorrindo.
— Eu também amor e não pense que esqueci que você me
perseguia.
— Observava — pontua mordendo meu queixo.
— Perseguia! Está escrito na carta.
— Jogue aquilo fora, por favor... — implora enquanto distribuí beijos
pelo meu ombro indo em direção do meu pescoço.
— Nem ferrando! Você disse que me ama e é a prova de que se
apaixonou primeiro.
— Era óbvio esse tempo todo, só você que não viu — diz bem
próximo ao meu ouvido. — E agora? — pergunta passando os lábios pelo
meu pescoço causando arrepios pelo meu corpo inteiro.
— Agora eu preciso pegar o resto das minhas coisas — respondo
sorrindo.
Anton se afasta.
Ele sorri e é o sorriso mais lindo, não há nada que eu não faria para
vê-lo assim.
Anton está de volta, o meu Anton.
Hoje de manhã quando acordei e escrevi aquela carta eu tinha
certeza de que estava fazendo o correto.
Bom, pelo menos o que julguei correto, entretanto quando sentei no
banco da moto e coloquei o capacete, simplesmente não parecia o certo, eu
tentei... pensei em todas as coisas ruins que poderiam acontecer, tentei
imaginar todas as coisas ruins que eu poderia fazer Vick passar, mas foi
inútil porque meu coração estava em outro lugar.
Meu objetivo era chegar no apartamento antes que Vick acordasse,
pegar a carta e rasgá-la, não tinha a intenção de que ela a visse, belo
engano o meu, quando entrei e a vi parada, as lágrimas escorrendo pelo
seu rosto, segurando a bendita, foi quando notei...
Eu não queria fazê-la sofrer, mas é exatamente o que venho fazendo
nessas duas semanas que se passaram, vê-la ali tão frágil e machucada foi
o suficiente para que eu criasse coragem.
Victoria está disposta a enfrentar tudo ao meu lado, em nenhum
momento mostrou dúvida ou qualquer tipo de incerteza, muito pelo
contrário, ela se mostrou forte e convicta das suas vontades desde o início.
Sei que não será fácil, afinal esse medo me acompanha
praticamente minha vida inteira, mas então fico analisando suas palavras
de hoje, e se... e se eu não tiver a doença, e se eu deixar de viver por um
medo que pode não ser real, mas e se eu tiver...
Agora aqui, sentado no sofá.
A olhando sentada em meu colo.
Falando sem parar.
O rosto ainda levemente vermelho das lágrimas que a fiz derramar.
Última vez, repito para mim mesmo, nunca mais quero fazê-la chorar.
Eu a observo com atenção, cada traço do seu rosto, cada sorriso ou
expressão que faz... conheço cada pedacinho do seu corpo, e eu amo tudo,
amo quando ela acorda sorrindo com os olhos brilhando, e admiro, porque
eu odeio acordar cedo, mas quando ela está ao meu lado, até isso fica
melhor.
Amo a maneira que ela cantarola quando está no banho, como ela
põem música em cada coisa que faz no seu dia, desde lavar a louça até ler
um livro.
Eu amo quando ela usa minha camiseta que tampa parte da sua
bunda e meias que vão quase até seu joelho, ela faz um coque frouxo e
senta no sofá.
Eu amo como ela sempre está fazendo carinho em meus cabelos, às
vezes quando ela está dormindo eu sinto seus dedos passando lentamente
por eles, como se fosse algo automático, eu amo tudo em Victoria.
E mesmo que aquela dúvida esteja corroendo dentro da minha
cabeça, falando do quanto sou egoísta por poder vir a fazê-la passar pelos
meus problemas, ainda assim eu não consigo deixá-la ir.
Porque Victoria é fodidamente tudo que eu sempre quis, ela não me
completa, Victoria me transborda.
— Você é linda — toco seu rosto e a vejo ficar vermelha.
— Você esqueceu do "fodidamente" — faz aspas com a mão.
— Desculpa, você é fodidamente linda! Melhor assim?
— Sim, bem melhor... isso é algo que o meu Anton diz.
— Seu Anton? — pergunto levantando a sobrancelha, ouvir essas
palavras saindo de sua boca causa coisas interessantes em meu corpo.
— Sim, meu Anton — responde com convicção sorrindo.
— Então, você é minha Victoria — declaro tocando suas costas por
dentro da blusa.
— Eu não sei... nessas duas semanas que passaram me esqueci a
quem eu pertenço...
— Esqueceu? — aperto sua cintura e a sinto estremecer em meu
colo.
— Sim — responde manhosa.
— Talvez eu deva refrescar sua memória — me aproximo dos seus
lábios e mordo.
— Não sei se será o suficiente, foram muitos dias — responde com
sua boca muito próxima a minha.
Minhas mãos entram por baixo de sua camiseta, na verdade, a
camiseta é minha, mas confesso que fica muito melhor em Victoria.
Vou subindo enquanto encaro seu rosto observando cada expressão
sua, que está em expectativa pelos meus próximos toques.
Vou subindo lentamente em uma tortura alucinante, me aproximo e já
consigo sentir que está sem sutiã, essa constatação só faz com que meu
pau fique ainda mais duro, como se isso fosse possível.
Meus dedos tocam de leve a lateral do seu seio e a vejo morder o
lábio, passo o dorso da minha mão raspando em seu bico rígido, em
resposta escuto seu gemido enquanto a observo fechar os olhos se
esfregando em meu colo.
Isso faz-me lembrar...
Há outra coisa que eu amo...
Eu amo observá-la enquanto está com prazer, isso só me deixa mais
excitado ainda.
Em um movimento rápido levanto do sofá com ela em meu colo,
seus olhos abrem em surpresa sem entender o que estou fazendo.
Caminho até a cozinha e a acomodo em cima da bancada de
mármore que possuo.
Tiro minha camiseta, depois seguro a barra da sua e a puxo,
ganhando uma visão fodida pra caralho do seu corpo nu.
Os cabelos soltos caindo pelos seus ombros e seios.
Seguro seu pescoço me aproximando e a beijo.
Sua boca se abre e sinto sua língua sendo empurrada para a minha,
nossas línguas se chocam e de repente só isso já não é mais o suficiente,
eu preciso dela, nunca nada é o bastante com Victoria, eu sempre quero
mais.
Sempre quero tudo.
Sinto suas mãos pelo meu corpo passando pelos meus braços,
chegam em minhas costas e sinto suas unhas arranhando-as.
Puxo seu corpo para mais perto do meu, pressionando-a contra meu
peito sentindo seus seios em minha pele, causando arrepios por todo meu
corpo.
Levo minha mão aos seus cabelos segurando com força, afasto
nossas bocas e a encaro.
— Anton — protesta.
— Eu senti saudades e confesso que estava morrendo de medo de
nunca mais fazer isso... — declaro beijando seu pescoço.
— Isso o que? — pergunta provocando.
— Você vai ver, ou melhor... você vai sentir
Ataco sua boca com fome novamente, nossas línguas entram em
uma luta, seus dentes cravam em minha boca.
Passo minhas mãos por sua cintura e vou subindo em direção aos
seus seios, seguro firme... é o encaixe perfeito.
Suas mãos vão para meu cabelo e sinto o aperto forte, entregando
que seu desejo está tão grande quanto o meu.
Afasto nossos lábios, engato minhas mãos na lateral de sua calcinha
e fico observando seu rosto enquanto vou puxando.
— Pronta?
— Para o quê? — morde os lábios enquanto segura meus ombros
com força.
— Para gozar na minha boca...
Aproximo-me dos seus seios e levo um em minha boca passando
minha língua, depois chupo com vontade, mordo seu bico levemente e vou
para o outro dando a mesma atenção.
Levo minha mão no meio das suas pernas e a toco, meus dedos
ficam molhados no mesmo momento.
— Sempre pronta — declaro ainda com seu seio em minha boca.
Ela acena que sim, os olhos fechados e a boca entreaberta.
Me afasto.
— Sabe amor... eu amo como quando eu a toco e você está sempre
molhada pra mim... eu amo como você abre as pernas prontas pra me
receber... amo quando você leva meu pau a sua linda boca e o chupa com
vontade sugando cada gota quando eu gozo... mas há algo que eu amo
mais ainda, sabe o que é? — pergunto pressionando seu clitóris com mais
força, exatamente do jeito que ela gosta.
— Não — responde gemendo.
Chupo seus lábios absorvendo todos os seus gemidos.
— Sentir o seu gosto.
Seguro suas pernas e a puxo para a lateral da mesa.
Me abaixo colocando suas pernas apoiadas em meus ombros,
deixando o caminho completamente livre.
Distribuo beijos pela parte interna de sua coxa.
Passo minha língua lentamente por cima apreciando seu gosto e
escuto um gemido gostoso pra caralho.
— Mais, por favor mais...
Sorrio, levo uma mão ao seu seio onde eu brinco enquanto minha
outra mão provoca sua boceta, entrando e saindo.
Passo a minha língua mais uma vez lentamente e a escuto gemer
mais alto.
— Não se segure amor, quero ouvir você gritar.
Minha língua começa a trabalhar com mais intensidade junto com
meus dedos.
Sinto-a em minha boca cada vez mais molhada, meu pau louco para
entrar e a foder.
E ele vai, mas não antes de Victoria gozar na minha boca.
Suas mãos vão para minha cabeça segurando firme enquanto Vick
rebola gemendo de prazer.
— Anton, eu vou...
Então a sinto gozar, sua respiração fica ofegante, seus movimentos
ficam lentos, continuo chupando um pouco mais lento agora, passo minha
língua por toda sua boceta me certificando que não deixei escapar nada,
seus olhos estão fechados ainda quando me afasto.
— Satisfeita amor? — pergunto tocando seu seio.
— Não — responde se apoiando nos cotovelos abrindo um sorriso
lindo.
— Que bom — respondo abrindo minha calça.
Seguro meu pau e o masturbo na busca de um alívio.
Seus olhos vão de encontro para onde minha mão está e a vejo
molhar os lábios.
Quando me encaixo em sua entrada pronto, lembro de algo
importante, a porra da camisinha.
— Porra — praguejo lembrando que não possuo camisinha em
minha carteira.
— O quê foi?
— Camisinha — respondo.
— Você não tem aí?
— Por que eu ia andar com camisinha por aí Victoria?
Ok, antes eu sempre possuía, mas nessa última semana não
coloquei nada em minha carteira, já que nós estávamos afastados e é claro
que eu não transaria com mais ninguém.
— Não sei, você... — vejo a insegurança em seu rosto.
— Acha que eu transaria com alguém? Sério?
— Não sei... — e mais uma vez eu me sinto um merda.
— Vem cá.
Ela senta na bancada, eu me aproximo pegando-a no colo.
Caminho em direção do quarto.
— Não amor, eu não transei com ninguém, porque a porra da mulher
que eu queria estava ali ao meu lado, mas eu fui um babaca e sinto muito
amor.
A deito na cama beijando seus lábios com mais calma agora,
aproveitando.
Abro a gaveta que há ao lado da cama e pego a camisinha.
Rasgo o pacote com a boca e a desenrolo em meu pau enquanto a
observo.
Aproximo-me abrindo suas pernas me encaixando.
— Anton — seus olhos encontram os meus.
— Hum?
— Eu te amo.
Sorrio, é a porra da sensação mais gostosa.
Transar já é algo bom pra caralho, mas você transar com alguém que
você ama e que te ama de volta, é infinitamente melhor, é aquela sensação
de que tudo na vida faz sentido.
— E eu te amo... mais do que você possa imaginar — sugo seu lábio
inferior e o mordo. — E muito mais do que você possa sentir — deposito
mais um beijo em seus lábios, ela sorri.
Então eu a beijo, beijo seus lábios lentamente, saboreando cada
pedacinho do seu corpo, beijo seu pescoço, desço para seu seio
novamente até que a preencho em um impulso forte.
— Aaaah — escuto seu gemido em meu ouvido.
— Puta que pariu — resmungo afundando meu rosto em seu
pescoço. — Você é malditamente gostosa amor, eu ficaria aqui para o resto
da minha vida sem problemas.
— Eu também, agora por favor me fode com força, eu estava
morrendo de saudades.
— É pra já pequena — respondo pegando suas mãos a prendendo
acima de sua cabeça.
Vick abre mais as pernas.
E eu a fodo, firme e com força do jeito que nós dois gostamos.

Estamos deitados, suados e ofegantes na cama.


— Amor — escuto Vick chamar.
— Sim.
— Agora você vai me contar? — pergunta passando a mão por meu
abdômen.
— O que? — pergunto confuso.
— Creep, a música...
— Você nunca vai esquecer, não é?
— Não mesmo, daqui a dez... vinte anos eu ainda vou querer saber
— Era a música favorita do meu pai... ele cantava para minha mãe,
lembro de quando era pequeno uma vez eu o vi dançando e cantando essa
música — respiro fundo, não há muitas lembranças boas, a maioria foram
tomadas por tristeza, mas essa é uma que eu amo. — Eu o ouvi dizendo
que ele se sentia daquela forma perto da minha mãe, por ser pequeno não
vi muito sentido naquilo, mas hoje agora eu entendo, porque você é perfeita
pra caralho, você é como um anjo Victoria, e eu queria ser especial, queria
ter um corpo perfeito... essa é uma das poucas lembranças que possuo dos
dois felizes e dançando, mesmo a música sendo um pouco triste, se tornou
minha preferida, por isso a tatuagem... era assim que ele se sentia perto da
minha mãe, e é assim que me sinto perto de você.
Beijo o topo de sua cabeça enquanto passo meus dedos pelas suas
costas.
Victoria levanta a cabeça e me encara.
— Você é perfeito do jeito que você é Anton, e bem... pra mim você é
especial.
— Pra caralho — ela completa.
Solto uma gargalhada a abraçando mais apertado.
— Você anda falando palavrões de mais pequena.
— Convivência com você — responde.
Há algo em minha cabeça desde que Victoria invadiu minha casa,
não quero que ela tome nenhuma decisão baseada em minha teimosia ou
medo de perder.
Quero que ela faça suas próprias escolhas, e bem... quando terminei
eu forcei ela a tomar uma, por nós dois.
Não sei se sua intenção é realmente morar comigo, confesso que
tenho medo de que ela vá embora, porque mesmo nessas duas semanas
que estávamos separados, a melhor parte do meu dia era chegar em casa
e deitar na cama com ela, mesmo sem trocar qualquer palavra, somente
sua presença já era o suficiente.
— Você vai ficar aqui mesmo? Morando comigo? Essa é a sua
vontade?
— Sim... algum problema?
— Não! Eu sou a porra do cara mais feliz do mundo, e por favor faça
mais daquele bolo.
— O que você comeu inteiro Anton? — pergunta em descrença.
Ok, eu não deveria ter comido o bolo inteiro, mas estava perfeito,
como eu poderia não comer?
— Tudo bem, assumo o erro e da próxima vez como somente a
metade.
Victoria começa a rir e meu coração se enche de um sentimento
bom, aos poucos a dúvida e o medo vão sumindo, é o que eu prefiro
pensar.
Mas amanhã tenho algo importante e para isso eu preciso da minha
irmã pentelha.
— Amor, tem mais uma coisa.
— O que pequena? — respondo imaginando nossa vida a dois, me
pego sorrindo feito um bobo, Leo com toda certeza estaria me zoando
agora, mas foda-se.
— Você precisa conhecer meus pais.
Ok, agora sim ferrou.
Toco a campainha e aguardo.
— Então... a que devo a honra da sua ilustríssima presença, Anton
de valor inestimável — Jules abre a porta e faz uma reverência, reviro os
olhos para sua piada.
— Bom dia pra você também princesa — a puxo para um abraço. —
E pare de graça — completo.
— Está com fome? — pergunta caminhando em direção à cozinha.
A sigo e vou observando os quadros pendurados na parede, então
me ocorre que não possuo quadros em minha casa.
Mas também lembro que não possuo muitos momentos assim para
pôr... na verdade não tinha... agora eu tenho.
Sorrio com essa constatação.
Anotado, vou comprar quadros e pôr as fotos da Victoria espalhadas
pela casa inteira.
As que eu tirei nuas eu guardo, os babacas da banda não precisam
ver.
— Anton...
Volto minha atenção para Jules.
— Está com fome?
— Não, tomei café antes de sair de casa — respondo.
— Desde quando você toma café Anton? — Jules pergunta
levantando as sobrancelhas curiosa.
De fato, nunca gostei de café, na verdade nunca fui um cara muito
matinal, mas desde que conheci Vick, as manhãs se tornaram uma das
partes favoritas do meu dia, como ela trabalha durante o dia, aproveito para
levantar também, assim nós preparamos o café e sentamos juntos na
mesa, conversamos, demos risadas, transamos... sorrio lembrando da
bagunça que fizemos na cozinha esta manhã.
— Anton! Mas que droga, tô falando com você! — escuto Jules gritar
novamente.
— Desculpa, estava em outro lugar.
— Sim, conheço bem esse lugar, tem cabelos louros ondulados,
boca carnuda, sorriso encantador e tenho certeza que é o mesmo motivo
que te faz tomar café agora, levando em consideração que até alguns
meses atrás você odiava.
— Verdade, muitas coisas mudaram desde que eu a conheci —
respondo sorrindo.
— O que mais? — Jules pergunta enquanto enche sua xícara de
café.
— O que?
— O que mais mudou?
Engulo com dificuldade, sinto minha respiração falhar por uns
segundos.
— Eu... eu vim aqui atrás da sua ajuda Jules...
Vejo seu semblante mudar no mesmo momento, antes estava
despreocupado, agora está curiosa e desconfiada, claro, dificilmente eu
peço ajuda.
— O que você precisa? — leva a xícara de café a boca enquanto me
observa atentamente.
— Você sempre quis fazer o exame... — passo a língua pelos meus
lábios que agora estão secos. — Não têm medo do resultado? Deus, é
como pegar sua sentença de morte na mão, ninguém gostaria de saber o
dia e a hora que vai morrer...
Ok, não era exatamente assim que eu planejava pedir ajuda...
Jules acena a cabeça em compreensão, provavelmente absorvendo
as minhas palavras, nunca me abri dessa forma com ninguém, nem mesmo
com Jules.
— Eu te entendo Anton, entendo mesmo — ela pousa a xícara na
mesa, puxa uma cadeira e senta, seus olhos encontram os meus. — E é
exatamente por esse motivo que o exame só é permitido em pessoas
maiores de idade, porque quando crianças, somos muito suscetíveis a
opiniões de terceiros e é uma decisão importante a se tomar... já que a
doença não possui cura e não existe um tratamento específico, apenas
alguns remédios para diminuir alguns sintomas, mesmo assim Anton... nós
já vivemos com esse medo diariamente, querendo ou não... ele está lá.
Sem uma resposta minha, Jules continua.
— Nós podemos fazer o exame e dar positivo, ok... vai ser uma
grande merda — ela sorri sem graça. — Mas nós podemos aproveitar o
máximo de tempo que temos, procurar tratamentos novos, ir atrás,
conseguir mais tempo, e se der negativo, imagina o que podemos fazer,
você pode fazer absolutamente tudo que quiser, e se não fizermos nada, se
ficarmos apenas esperando... quer mesmo viver assim?
Abaixo a cabeça absorvendo suas palavras e não posso deixar de
lembrar do que Victoria disse.
Estou tão cansado, cansado até de ter medo, antes eu apenas não
pensava no assunto, estava literalmente em negação, empurrando com a
barriga, mas então, Vick apareceu e com ela surgiu também vontades e
desejos que antes eram desconhecidos, então o medo foi ficando maior, na
mesma proporção que o cansaço.
Levanto a cabeça em direção de Jules, respiro fundo.
— Ok — declaro convicto de que essa é a decisão correta.
— Ok... ok o que?
— Vamos fazer isso juntos...
— Jura? — pergunta vindo em minha direção.
— Sim — respondo em um suspiro, Jules pula em meus braços e só
tenho tempo de segurar nós dois, para não cairmos com a força do impacto.
— Sempre juntos, não é? — escuto-a pronunciar, esse é nosso lema
desde pequenos.
— Sim princesa, sempre juntos... — respondo beijando sua cabeça.
Jules se afasta apenas o suficiente para olhar em meus olhos,
segura meu rosto entre suas mãos.
— Vai dar tudo certo, ok? — declara.
— Estou contando com isso — respondo sorrindo com sua
confiança, gostaria de ser otimista como Jules.
— Eu nunca te agradeci por tudo que fez por mim... — declara
observando-me com carinho.
— Nem precisa, qualquer um teria feito o mesmo...
Ela nega com a cabeça.
— Você sabe que não, para de sempre diminuir suas ações.
Sorrio, ela sempre fica irritada quando faço isso, mas não é por mal.
Jules não compreende que tudo que fiz foi porque eu a amo, e se não fosse
por ela... eu estaria sozinho agora.
— Você era uma criança doce... nunca me incomodou... não bateu
minha moto, nunca se drogou ou bebeu demais — lembro-me da última
festa em que Vick e ela ficaram bêbadas. — Ok, a última parte não é
totalmente verdade, e por último, mas não menos importante, não usava
saias curtas — ela prende a boca tentando segurar o riso.
Semicerro os olhos.
— Bom, você que não via...
— Você usava saias curtas escondido de mim? — pergunto me
sentindo traído.
— Óbvio! Você ia mandar eu tirar, Ema que me ajudava...
— Aquela maldita, sabia que era uma péssima companhia!
— Era nada — responde se afastando.
— Então, você pode marcar o exame?
— Sim, mas temos que passar por alguns procedimentos antes,
aconselhamento genético, alguns exames e psicólogo...
Aceno com a cabeça, imaginei que o procedimento não seria tão
simples assim.
— Só não comenta nada com a Vick por favor, o máximo que eu
puder manter isso longe dela melhor.
Tenho plena consciência que dependendo do resultado do exame
Victoria será atingida, em algum momento isso será inevitável, mas
enquanto eu puder manter isso tudo distante dela, eu farei.
— Você decide...
Tiro meu celular do bolso e confirmo o horário, estou atrasado.
— O que vai fazer hoje? — pergunto a Jules. — Preciso passar na
imobiliária e assinar alguns papéis, quer ir junto?
— Ah... odeio aquele lugar, é chato Anton.
— Claro, porque uma construtora é bem mais divertida — declaro
lembrando seu trabalho, ninguém imaginaria essa garotinha linda e delicada
cuidando de tudo com tanta facilidade e maestria.
Lembro-me bem de quando assumi parcialmente os negócios da
família, meu pai era dono de uma construtora que ele mesmo abriu, já
minha mãe era corretora de imóveis, os dois se conheceram no trabalho.
Assim que meu pai descobriu a doença, começou a levar-me para a
empresa quase todos os dias após as aulas, ensinou tudo o que pôde no
tempo que teve, depois quando ficou demais para ele, eu fui sozinho.
Com muita dificuldade Jules e eu assumimos aos poucos, Jules um
pouco mais tarde por ser muito nova... por sorte meus pais possuíam
amigos que nos ajudaram até termos total capacidade e conhecimento para
tal função.
— Ok, ok... já que você está morrendo de saudades de mim, e louco
para passar um tempo comigo, eu faço esse esforço gigante.
— Ok, então vamos... depois te deixo em casa e vou buscar Vick no
estúdio de dança, nós deixamos seu carro na revisão hoje mais cedo.
— Me arrumo em dez minutos no máximo.

Estaciono a moto em frente ao estúdio de dança, olho para meu


relógio no pulso e confirmo, não estou atrasado.
Permaneço sentado no banco da moto observando pessoas
entrando e saindo enquanto eu aguardo impaciente, quando avisto uma
pequena com cabelos loiros balançando e um sorriso lindo no rosto, meu
sorriso cresce na hora, e meu coração expande apenas com essa visão.
Mas ele morre logo em seguida.
O problema é que ela não está sozinha, tem a porra de um filha da
puta muito perto dela, quando me dou conta já estou andando com passos
largos em sua direção.
Pensa que vou deixar isso assim barato?
Que não vou fazer absolutamente nada?
Acertou!
Porque não sou louco e tenho amor a minha vida, conheço Victoria o
suficiente para saber que ela sabe se defender sozinha e não gosta de
cenas de ciúmes, entretanto, não consigo apenas ficar parado assistindo o
babaca todo sorridente para cima da minha mulher.
— Olá amor — digo a abraçando por trás beijando seu pescoço.
Toma seu otário!!!
— Hey amor — responde sorrindo virando em minha direção
correspondendo.
Toma mais uma que tá pouco!!
— Esse é Douglas, meu professor de dança... — Victoria apresenta
o babaca e minha vontade é de revirar os olhos, sim, igual uma criança
birrenta.
Eu apenas aceno com a cabeça para que ele sinta que eu não fui
com a cara dele, espero que ele entenda a porra do recado.
Ele sorri e me encara, conheço esse olhar... vou meter minha mão na
cara desse trouxa e tirar esse sorrisinho da cara dele.
Filha da puta!
— Douglas esse é o meu... — ela para, provavelmente sem saber o
que falar, de fato não chegamos a essa parte ainda. Primeiro era algo
casual, depois fomos para casual com exclusividade, logo em seguida
acredito que tivemos uma espécie de namoro... onde eu surtei e terminei
tudo.
Então ela invadiu minha casa e se olharmos pelo meu ângulo...
Bem, no meu ponto de vista quando eu perguntei se ela iria morar
comigo e ela concordou, Victoria me pareceu bem feliz.
Sorrio internamente e externamente, me sentindo vitorioso.
Anton 10 X Douglas Otário 0.
— Noivo — me apresento estendendo a mão.
De onde eu tirei noivo? Não sei, mas foda-se ela invadiu minha casa,
agora que aguente as consequências.
— Noivo? — Douglas pergunta.
Sim, arrombado!
Penso em dar essa resposta, mas pelo jeito que Victoria está me
olhando, decido ir pelo caminho mais educado, por enquanto.
— Sim, e também toco em uma banda, sabe, de rock... — ele sabe
dançar e daí?! Eu sei cantar, o que é muito melhor, Vick adora quando eu
canto.
Eu acho.
O que ela prefere, dançar ou cantar?
Merda, ela ama dançar.
— Isso é muito legal, eu dou aula para crianças — diz sorrindo,
maldito do caralho, ele usa crianças, o desaforado está usando crianças.
Talvez Leo consiga meia dúzia de crianças, preciso ligar para ele
mais tarde.
Mas então lembro-me que Ema está grávida, bebês são bem fofos,
tirando os recém-nascidos que possuem cara de joelho, ponto pra mim.
— Ok, obrigada Douglas, até sexta-feira!
Victoria me puxa pelo braço em direção a moto.
— Podia ter mijado em mim, teria sido mais explícito.
— Está dizendo que aquilo não foi explícito o suficiente? — paro e
abro a boca indignado com a possibilidade de ele não ter compreendido
que Victoria é minha.
— Cala boca Anton, é claro que ficou! E desde quando sou sua
noiva?
— Desde que invadiu minha casa — faço aspas no ar com as mãos,
e uso suas próprias palavras de quando a chamei de louca por se jogar em
cima do meu corpo, imito até sua voz fina — "devia pensar duas vezes
antes de invadir a casa dos outros, amor"
Ela sorri, e eu sou um cara de sorte, porque Victoria sorrindo é a
porra do meu mundo.
— Você é louco — declara sorrindo, mostrando que entendeu a
minha piada e a referência.
— Você não viu nada amor — me aproximo, seguro sua cintura e
puxo seu corpo encostando no meu.
Victoria morde o lábio inferior e olha em meus olhos, me aproximo e
raspo nossas bocas lentamente sentindo sua respiração, a vejo abrir a boca
e logo nossas línguas estão entrelaçadas.
Passo meus braços por sua cintura a puxando ainda mais para meu
corpo, na tentativa de aplacar essa saudade que sinto toda vez que
estamos longe, mas é totalmente em vão, porque ela nunca alivia.
Nunca tenho o suficiente dela.
E, acredito que nunca vou ter.
Ela se afasta sorrindo, nublada pelo desejo, então lembro-me que
estamos no meio da rua, pessoas passando por todos os lados, e eu só
queria estar em casa agora, tirando essa roupa e ...
— Quero ver você dizer ao meu pai que estou noiva.
Solta assim do nada, vira e sai andando.
E o prêmio de como estragar o clima vai para.
Isso mesmo, minha noiva Victoria.
Porra, to adorando como isso soa bem...
— Então amor, sobre isso... seguinte — fecho os olhos e penso
como posso encontrar o melhor jeito de dizer. — Não sou bom com pais, eu
mal tive pais, não sei como me comportar. Já viu Jules como se saiu? A
garota é louca, seus pais vão me odiar... olha para mim amor, sou um
badboy!
Abro os braços fazendo um drama.
— Estou olhando — ela morde os lábios enquanto passa os olhos
pelo meu corpo todo, lentamente. — Gosto bastante do que vejo, mas
confesso que eu preferia você nu.
Abro a boca em choque com a sua ousadia, semicerro os olhos.
— Foda-se pequena torturadora, vamos para casa agora.
— Aonde nós estamos indo? — pergunto pela décima quinta vez.
Há alguns dias Anton me perguntou se havia chance de eu conseguir
tirar folga durante a semana, como eu já possuía folgas pendentes e o
movimento na loja estava um pouco fraco devido a baixa temporada, Luiza
não viu problema em me conceder esses dias.
Anton me acordou hoje de manhã cedo, na verdade era madrugada,
ainda estava escuro e não havia uma alma na rua. Ele vendou meus olhos
assim que entramos no carro e não faço a menor ideia de onde estamos
indo desde então, muito menos há quanto tempo estamos no carro, tendo
em vista que sou péssima com noção de tempo. O que sei apenas é que
estamos indo em uma mini viagem de férias, o que faz meu coração
acelerar mais do que o normal. Sei que estamos morando juntos, mas a
ideia de ficar em um lugar somente nós dois, sem nenhuma preocupação
ou qualquer coisa que possa nos atrapalhar é muito mais estimulante.
— Tem certeza que você sabe o significado da palavra surpresa? —
Anton pergunta e pelo tom de sua voz sei que está rindo da minha
impaciência.
— Eu tenho! Maaas sou uma pessoa muito curiosa, por favor... uma
dica então — peço novamente.
Gosto de surpresas, na verdade eu amo.
Porém sou muito curiosa também, e só porque estou perguntando
não significa que eu realmente queira saber.
Eu, Victoria não quero saber.
Mas meu subconsciente quer ...
— Não conta, mudei de ideia.
— Você é bem contraditória as vezes amor.
— Eu sei.
Cinco segundos depois...
— Ok... uma dica então.
Escuto sua risada o que me faz rir junto.
— Nada disso, deixa de ser estraga prazeres Victoria, fica quietinha
e aguarde!
— Arg — esse no caso é meu subconsciente falando.
— Pode resmungar o quanto quiser, e só pra constar... você fica
linda resmungando.
— Devo estar mesmo.
Encosto minha cabeça no banco e fecho os olhos, o que não muda
muita coisa já que estou vendada, por que raios ele me vendou desde
casa? Porque não me vendeu na metade do caminho.
— Meu deus Anton! Você é um psicopata e agora vai me matar, esse
tempo todo você estava conquistando minha confiança, Deus... você me
vendou para que eu não saiba onde estamos indo...
— Você não vai ficar quieta né? E que porra de história sobre
psicopata é essa?
— Eu achava que você poderia ser um quando te conheci — declaro
lembrando dos meus pensamentos quando o conheci.
— Hãn?
— Aquele dia que fiquei sem gasolina, pensei que você podia ser
como o Ted Bundy.
— Victoria, quem é a porra do Ted Bundy?
— Por que estamos juntos Anton? Como você não sabe quem ele
é...
— Não faço a menor ideia
— Ted Bundy era um serial killer que usava seu charme para atrair
suas vítimas nos anos setenta.
O escuto rir de novo, porém agora mais alto.
— Foi isso que achou de mim quando nos conhecemos? Por quê?
— Bem, você poderia ser um psicopata que viu uma garota sozinha
e indefesa no meio da rua, aaai quando você tirou seu capacete — solto um
suspiro lembrando-me de Anton tirando o capacete. — Já se olhou no
espelho Anton? Chega a ser crime andar assim por aí, então eu pensei que
você era muito bonito para ser um psicopata, mas... lembrei que Ted Bundy
também era bonito e usava isso a seu favor.
— Você com toda certeza é a garota mais estranha que existe.
— Isso é um problema?
— É a solução na verdade. Eu te amo por esse motivo mesmo e
mais alguns, por você ser exatamente como é amor.
Agora provavelmente devo estar com um sorriso bobo no rosto, mas
é inevitável.
Sinto sua mão pegando na minha.
— Não tente me enrolar Anton, quero uma dica.
— Você não vai parar, não é?
— Não — respondo direta.
Ele fica em silêncio por alguns segundos.
— Ok, lá onde vamos possui água.
— Babaca, em qualquer lugar tem água!
— Excelente observação.
—Minha mãe ligou novamente querendo saber quando ela vai
conhecer o genro dela — falo sorrindo.
Me sinto vingada agora. Anton está paranoico e preocupado em
conhecer meus pais, mesmo eu já mencionando que os dois são tranquilos
e não vão o esfolar vivo, ao menos minha mãe não, ainda assim ele
continua com medo.
— O que você disse? — Anton pergunta e pela sua voz noto que
está nervoso.
— Que semana que vem nós tentaríamos ir... como nós dois já
havíamos conversado, lembra?
— Sim, lembro...
— Vai dar tudo certo — toco sua perna na tentativa de tranquilizá-lo,
agora me sinto mal por ter tocado no assunto.
— Mais pra esquerda amor, está bem perto — fala gemendo.
— Seu tarado — bato em sua perna e retiro a mão, o escuto bufar
chateado.
— Você que começou! Fica me tocando sempre que pode. Já te
disse que sou apenas um garoto indefeso que não consegue dizer não.
Tenho um ataque de riso.
Minha barriga chega a doer de tanto rir.
Puxo o ar devagar tentando me recompor.
— Certeza disso Anton?
— Absoluta — responde de imediato.
— Então, ontem no banho... na cama e de madrugada quando eu fui
apenas tomar água na cozinha, foi tudo minha culpa?
— Sim e tenho argumentos bem concretos para provar minha
inocência...
— Estou louca para ouvi-los
O escuto tossir e limpar a garganta, logo em seguida o volume do
som diminuí.
— Primeiro no banho, como você acha que eu consigo sentar na
cama e apenas aguardar, sabendo que você está pelada e ensaboando o
seu corpo, passando as mãos pelas partes... só de imaginar já fico duro.
Tudo bem, compreendo porque eu no seu lugar faria o mesmo, mas
claro que não vou admitir.
— Ok, prossiga.
— Segundo, na cama... Victoria francamente! Dormir sem calcinha ...
sério? quando eu te abracei e senti o calor da sua boceta bem no meu pau,
foi automático, estranho seria se não fosse!
Começo a rir porque minha intenção foi exatamente essa, dormir
sem calcinha é justamente para provocá-lo.
— E a última? — pergunto curiosa, confesso que eu amo quando
Anton fala abertamente sobre o que pensa.
— Terceiro, quando você foi tomar água... ok essa eu assumo, queria
te foder na cozinha de quatro mesmo, segurar firme seus cabelos e bater
na sua bunda enquanto eu a fodo por trás forte, é terrivelmente a coisa
mais sexy...
— Anton! — o repreendo, não porque não gosto, muito pelo
contrário, gosto tanto que estou ficando molhada e gostaria muito de sentar
em seu colo agora.
Porém estamos no meio de uma viagem e ficar excitada até o
destino não me parece algo confortável, já que não faço a menor ideia de
quanto tempo ainda temos pela frente.
— O que amor? Não gosta que eu fale sujo? Ontem você não
reclamou...
— DEPRAVADO
— Ah sim! Eu sou... e você pequena ... você gosta tanto quanto eu.
Mordo os lábios segurando um gemido e esfrego uma perna na outra
tentando aliviar o incômodo que se instalou no meio das minhas pernas e
um ponto específico.
— Talvez... — respondo fingindo não estar afetada.
— Ahãm — Anton resmunga e volta a aumentar o som do carro.
Bocejo e sinto meus olhos ficando pesados.
— Está cansada amor?
— Sim, com muito sono ...
— Dorme, vai demorar um pouco ainda, te acordo quando
chegarmos.
Sua mão repousa sob minha perna e sinto os seus dedos passando
levemente em um gesto carinhoso.
Apenas aceno concordando, porque ultimamente sono é o que eu
mais venho sentindo e está bem difícil controlar, e como eu já imaginava
não demora muito, já estou sonhando...

— Pequena — sinto Anton beijando meus lábios carinhosamente.


— Hum — resmungo querendo voltar a dormir, porque raios não me
deixa dormir.
— Chegamos amor — o escuto dizer, sua voz está tão baixa.
Hãn?
— Aonde? — pergunto ainda de olhos fechados.
Escuto sua risada alta que reverbera pelo carro todo.
Claro!
Estou no carro.
Anton ia fazer uma surpresa...
Abro os olhos empolgada, mas aí também lembro da porra da venda.
— Você literalmente apagou — diz muito próximo do meu ouvido, o
que causa arrepios pelo meu corpo instantaneamente.
— Eu disse que estava com sono — respondo me esticando o
máximo que o carro permite.
— Espere aqui que vou abrir a porta e te ajudar a sair.
Escuto a porta do carro abrir e imagino que seja a do seu lado, sua
voz já está um pouco longe, agora quando completa. — Sem espiar
pequena trapaceira.
— Eu não ia fazer isso — minto descaradamente.
A porta do meu lado abre.
— Aham.
— Sério! Devia mostrar um pouco mais de confiança em mim.
Anton segura minha mão e puxa-me para fora do carro devagar.
No momento que piso no chão sinto a brisa em meu rosto, fresca,
leve e gostosa, percebo que é algo bem diferente do que sinto onde
moramos.
— Aqui — o escuto dizer enquanto guia-me.
Nós paramos e eu aguardo ansiosa.
— Pronto amor.
— Posso tirar? — pergunto levando minhas mãos a venda.
— Sim
Vou puxando devagar, quando a tiro por completo abro os olhos e
nossa...
As palavras simplesmente somem...
Levo minha mão a boca chocada...
Deus isso é lindo!
Viro-me para Anton que está aguardando com entusiasmo alguma
resposta minha.
— Isso é perfeito! — pulo em seus braços e sinto seu sorriso abrir
próximo ao meu rosto.
— Olhe para trás.
No mesmo instante viro-me e encontro um lago, um lago lindo, e
mais uma vez estou sem palavras.
— Uma casa no lago — digo algo bem óbvio, mas realmente estou
sem palavras, viro-me novamente para Anton.
— É perfeito!
Ele sorri e abre os braços onde eu me aninho no mesmo momento.
— Fico feliz que tenha gostado — sinto seus lábios pressionando o
topo da minha cabeça em um beijo.
— Onde você achou esse lugar? — pergunto enquanto observo
hipnotizada com tanta beleza em um só lugar.
— É meu e da Jules...
Encaro seu rosto confusa.
— Como assim?
— Meu pai tinha uma construtora e minha mãe uma imobiliária... ela
era corretora — ele dá um sorriso fraco, como se não fosse algo relevante,
mas eu sei que é. — Eu sei, é engraçado... mas foi assim que se
conheceram, segundo meu pai minha mãe era osso duro de roer e ele teve
muito trabalho para conquista-la.
Para outros casais isso seria algo comum, falar sobre sua família é
algo normal. Mas sei que para Anton é algo delicado, e isso com toda
certeza é um passo bem grande, e eu não poderia estar mais feliz do que
estou agora.
Saber que está se sentindo confortável em se abrir comigo,
compartilhando algo do seu passado.
— Minha mãe comprou o terreno e meu pai construiu a casa, agora a
construtora é da Jules e a imobiliária é minha, claro que nós nos ajudamos,
mas um cuida de cada coisa.
Anton se cala por alguns minutos, provavelmente perdido em
lembranças.
— Você vem sempre aqui? — pergunto depositando um beijo em seu
peito.
— Não — responde voltando seus olhos para os meus, ele sorri e
meu coração novamente se enche por esse garoto. Se pudesse eu o
guardaria em um potinho apenas para mim, e jamais deixaria que qualquer
coisa o afligisse, mas infelizmente a vida não é assim, e a certas coisas que
somente nós podemos superar.
No entanto... eu posso sempre estar aqui por ele, e é exatamente
isso que farei.
— Mas agora — seus dedos seguram meu queixo o guiando em sua
direção, aproximando nossas bocas. — Eu pretendo vir sempre — completa
selando nossos lábios.
Desligo o chuveiro e vou em direção ao quarto, em cima da cama
encontro meu vestido esticado.
Depois que Anton apresentou todos os cômodos da casa, pediu que
eu viesse direto para o quarto, descansar e me arrumar para um jantar a
dois, segundo ele, faria o mesmo, pediu também para que eu esperasse
seu sinal de que estava tudo pronto, eu ofereci ajuda, entretanto ele
prontamente negou com o argumento de que ele mesmo queria fazer,
sozinho.
Após descansar um pouco, tomo banho, seco meus cabelos, hidrato
minha pele, visto o vestido e faço uma maquiagem leve, paro em frente do
espelho observando, gosto do resultado.
Respiro fundo, por que sempre fico nervosa em sua presença? Não
há nada de novo, porém a sensação é sempre a mesma, desde quando nos
conhecemos.
Sento na cama e fico aguardando ansiosa, olho para a janela e noto
que está começando a escurecer, vou em sua direção e a abro, o vento
entra e sinto aquela brisa gelada em meu rosto, inspiro sentindo o aroma da
natureza, me debruço na janela observando a paisagem, aposto que as
estrelas ficam mais visíveis e lindas nesse lugar.
Meu celular que está em cima da mesa ao lado da cama, apita
chamando minha atenção, dizer que corri para visualizar o conteúdo da
mensagem seria um eufemismo, assim que o pego sorrio identificando o
dono da mensagem.

Franzo o cenho assim que termino de ler, respondo rapidamente.

Bato os pés ansiosa e bastante curiosa para saber sua resposta.

Tenho certeza absoluta de que ele ouviu minha risada de onde quer
que ele esteja, porque foi impossível não soltar, na verdade, rir se tornou
algo habitual desde que estamos juntos.
Mordo o lábio.

Paro na frente do espelho dando um último confere.


Ok.

Encontro Anton na sala me aguardando com uma taça de vinho em


mãos.
Meu coração traidor como sempre na sua presença, acelera. Quando
ficou tão calor assim? Passo minhas mãos no vestido tentando secá-las do
suor.
Ele caminha em minha direção com passos lentos, enquanto seus
olhos percorrem pelo meu corpo, e eu aproveito esse momento para
observá-lo de volta, está usando calça jeans azul escuro e camiseta preta.
Seus cabelos estão molhados e bagunçados, e não consigo deixar de
imaginar Anton saindo do banho e passando a toalha pelos seus fios
enquanto a água escorre pelo seu corpo. Sua corrente e as pulseiras que
dificilmente tira, estão no seu devido lugar, está lindo... incrivelmente lindo,
como sempre.
—Victoria — diz ele parando em minha frente.
—Anton — respondo passando meus braços envolta do seu
pescoço, levanto os pés me aproximando o suficiente para sentir seus
lábios nos meus, não beijar... apenas passar por eles, provocando, porque
eu amo sentir sua respiração tão próxima à minha.
Eu o vejo molhar os lábios.
— Pequena provocadora — estende a taça em minha direção.
Pego a taça e dou um longo gole, Anton tira um pequeno controle do
bolso e aponta para o som.
Levanto as sobrancelhas em sua direção quando escuto os primeiros
acordes da música escolhida.
— Eu amo essa música — digo assim que reconheço Take My
Breath Away ecoando pelo ambiente.
— Eu também, e ela sempre me lembra de você.
Sua mão desliza pela lateral do meu corpo até chegar em minhas
costas repousando na minha lombar, sua outra mão encontra a minha e a
segura firme, seu rosto abaixa muito próximo da minha orelha e relembro
da primeira vez que dançamos juntos, quando eu confidenciei meu maior
desejo, quando finalmente criei coragem e fui atrás de algo que eu quis
para mim.
Ele.
Anton nos aproxima mais, e desconfio que não passe nem um feixe
de luz entre nós, balançamos nossos corpos em um ritmo lento, o calor do
seu corpo junto ao meu, sua respiração alterada em meu pescoço.
Seus dentes raspam em meu ombro, logo em seguida sinto o calor
do seu beijo.
Fecho os olhos desfrutando das sensações que Anton desperta em
mim.
— Preciso dizer amor, você está fodidamente linda.
Afasto nossos corpos apenas o suficiente para olhar em seu rosto,
toco sua mandíbula e passo meu indicador em seus lábios, ele fecha os
olhos suspirando.
Sem mais forças para manter distância colo nossas bocas num beijo,
sua língua encontra a minha em uma dança sensual e lenta.
— Eu tinha planos pra essa noite — morde meu lábio inferior. —
Primeiro eu te alimentaria... depois eu comeria... você.
Suas palavras têm efeito imediato em um ponto especial, no meio
das minhas pernas, eu as pressiono uma na outra e ele sorri quando nota.
Apoio a taça de vinho no móvel que há ao meu lado, volto a encará-
lo.
— Sabe... não estou com fome, podemos priorizar você... e confesso
estou curiosa, qual seria o plano?
— Você confia em mim?
— Você sabe que sim.
— Bom — ele pega minha mão e a leva aos lábios beijando. —
Então o jantar pode esperar.
Anton segura minha mão e guia-me para outro cômodo, não o quarto
em que eu me arrumei, é outro quarto.
Caminhamos em silêncio, a expectativa tamborilando em meu peito.
Anton para e põe a mão na maçaneta, gira e a abre.
Ele liga a luz e há pétalas pela cama, observo também alguns
objetos ao lado da cama em uma mesa.
— O que é isso tudo? — pergunto curiosa.
— Nós vamos brincar, amor — responde com os olhos brilhando.
— Brincar?
— É, pode confiar em mim, ok? Eu não faria nada para te machucar
— Anton faz uma careta pensativo. — Talvez um desconforto, mas nada
para machucar — completa mordendo o lábio.
— Ok, eu confio — levo minha mão ao vestido o tirando.
Medo? Mas nunca, tô é curiosa, qualquer coisa que Anton faça eu
sei que vou gostar, ele em si de cueca já é o suficiente, ele possui uma aura
sexy, a maneira que anda, o jeito que morde os lábios, quando revira os
olhos...
Viu só?
Precisou de nada, e já estou aqui pronta.
Isso apenas de imaginar.
Ele pega na minha mão e guia-me até a cama.
— Deita.
Ok, Anton está um pouco mais mandão que de costume.
Eu gosto... e faço como mandou.
Ele me entrega fones de ouvido e pede que eu os coloque.
Apenas aceno.
Uma música sensual começa a tocar.
Ele se afasta, retira a camiseta e fica apenas de calça jeans, pega
algo na mesa e caminha em minha direção retirando um fone para que eu
possa escutá-lo.
— Eu vou te algemar...vendar e tirar sua audição, tudo bem?
— Ansiosa por isso — me aproximo de sua boca e mordo seu lábio.
— Pequena provocadora — geme em minha boca.
Instantaneamente levanto meus quadris à procura dos seus.
E eu encontro, duro.
Ele geme com a proximidade de nossos sexos, sorri de lado e se
afasta.
Volta com algemas nas mãos, segura meus braços e os prende na
cama.
Ele se afasta e fica observando enquanto sorri com sua obra, sua
mão vai até seu membro e o esfrega por cima do jeans.
Sinto vontade de fazer o mesmo, me tocar para aliviar a necessidade
que se alojou no meio das minhas pernas, porém minhas mãos estão
presas. Notando o que eu pretendia e minha frustração ele sorri ainda mais.
— Um momento amor — ele volta a caminhar até a mesa e pega
dois objetos, quando ele se aproxima, coloca a venda em meus olhos e
agora está tudo escuro.
— Você tem algo com vendas — falo, escuto sua risada.
— Acho que sim amor, na verdade... com você.
— Por quê?
— Porque eu ainda não tinha feito isso com ninguém.
Ok, agora estou ainda mais excitada.
Minha respiração está mais acelerada que o normal, provavelmente
devido a expectativa do que está por vir.
Sinto a cama ao meu lado se movimentar.
Tudo está escuro, não escuto nada, apenas uma música sensual que
toca nos fones, é uma sensação indescritível.
A ansiedade pelo que está por vir junto com a curiosidade é algo
surreal.
No momento que sinto um toque em minha barriga dou um pulo.
Seus dedos correm pela minha barriga subindo para meus seios,
encaixando sua mão por cima do sutiã.
Sua boca vai ao meu pescoço distribuindo beijos molhados e
mordidas, arrepiando meu corpo por completo.
Ele leva uma mão a parte de trás do meu sutiã o soltando, a
sensação que sinto é de pura liberdade, o que é estranho já que estou
presa. Mas acredito que a sensação de não ter o controle das coisas seja
exatamente essa, liberdade, você não precisa tomar decisão alguma,
escolher absolutamente nada, você apenas sente.
Sente...
Sinto algo molhado e gelado subindo pela minha perna, passa pela
minha virilha, e se aloja em meu umbigo.
Engulo com dificuldade.
Volta a subir lentamente em uma tortura, no fundo eu sei o seu
destino, mas a expectativa é igualmente a mesma.
A pedra de gelo chega em volta do meu seio, minha respiração
acelera, sei que meu peito está subindo e descendo rapidamente.
— Por favor — choramingo implorando por qualquer toque a mais.
Mas não escuto absolutamente nada.
Porra de fone.
— Oh — solto quando o objeto molhado e gelado passa pelo ponto
do meu seio que estava implorando por atenção, porém é somente ali que
sinto algo, é como se realmente somente esse pequeno ponto gelado e
molhado estivesse me tocando.
Contorço-me pela cama mesmo sabendo que é perda de tempo, já
que estou amarrada, mas meu corpo é teimoso, ele precisa de algo, ele
precisa do toque dele.
— Ahhh — grito quando o toque gelado é substituído por algo quente
e molhado.
Sorrio.
Ele.
Anton.
Ele suga meu seio forte, faminto.
Passa a língua.
Morde.
Eu me debato ainda mais na cama, querendo tocá-lo.
— Eu juro que vou matá-lo quando isso terminar Anton Alencar.
Nada.
Ele apenas se afasta.
— Retiro o que eu disse, por favor volta — imploro baixinho.
Nada.
A cama novamente se mexe.
Seus dedos engatam em minha calcinha e a puxa, assim que ela sai
eu abro minhas pernas.
Ele passa o dedo pela minha intimidade e eu gemo em resposta,
seus movimentos iniciam lentamente em círculos, levanto meus quadris ao
seu encontro, sua boca chupa o bico do meu seio e eu grito, posso sentir
meu orgasmo se aproximando.
Mas pelo visto eu ter um orgasmo não faz parte dos planos do meu
noivo.
Ele para, o filha da puta para.
Um líquido é jogado em meu corpo, suas mãos o espalham
lentamente pela minha coxa, barriga... desce para minha entrada... levanto
os quadris novamente.
Está escorregadio...
Seu dedo me preenche de surpresa, o calor de sua boca está muito
próximo do meu ponto que clama por atenção, sua língua passa lentamente
de baixo para cima e eu estremeço na cama com a sensação, seu dedo vai
escorregando junto ao líquido por toda minha entrada até chegar na minha
outra entrada.
— Anton — chamo seu nome.
Nós nunca conversamos sobre isso, óbvio que estou excitada, mas
eu morro de medo desse lado aí...
Ele retira um fone de ouvido.
— Amor, lembra que eu não faria nada para te machucar, ok?
Eu aceno.
— Eu vou comer todas as partes possíveis do seu corpo hoje, e
prometo que você vai gostar.
Agora estou excitada e com medo, não sei qual parte está ganhando.
— Se estiver demais, peça para parar ok?
— Ok.
— Posso continuar?
Tirando coragem de onde eu não tenho.
— Sim.
— Boa garota.
O fone volta para meu ouvido, seus lábios colam nos meus e Anton
me beija, sua língua circulando a minha, lento, sensual...
Enrosco minhas pernas em sua cintura e sinto seu membro em
minha entrada.
Anton está nu, pelado.
E estou perdendo esse momento de venda, mas que porra.
Puxo seu quadril mais próximo a minha entrada e seu beijo fica mais
selvagem, o que antes estava calmo e sensual, agora está agressivo,
rápido e faminto, mordo seu lábio forte.
Ele se afasta e abocanha meu seio, eu choramingo enquanto remexo
meus quadris apenas sentindo a sua ponta, e quando estou quase tendo
um orgasmo novamente apenas com a fricção dos nossos corpos ele se
afasta.
— Porra — praguejo.
Sem uma resposta novamente.
Dessa vez...
Uma movimentação diferente acontece na cama.
Anton está levantando meu corpo e se encaixando por baixo do meu.
Isso é novo.... e gostoso.
Sua mão segura minha cintura e seus lábios mordem meu pescoço
forte.
Seu membro está muito próximo da minha entrada e eu apenas me
movimento tentando colocá-lo para dentro.
Sua mão solta minha cintura e vai passando pelo meu corpo até
chegar em minha entrada, ele penetra com um dedo, tira e se posiciona.
— Ahhh — grito assim que o sinto entrando com um único
movimento, rápido e forte.
Sua boca morde meu ombro e eu mexo meus quadris pedindo por
mais, eu preciso de mais.
E ele me dá, mais do que posso aguentar.
Anton literalmente me fode, corpo, mente, alma e coração, tudo que
possuo em meu corpo.
Sua mão vai ao encontro do meu seio onde ele segura um mamilo
entre seus dedos e o aperta, causando dor... mas em contrapartida é
gostoso, muito gostoso. E me pego pedindo por mais, ele troca, fazendo o
mesmo movimento no outro seio.
Enquanto ele brinca com meus seios, nessa tortura viciante entre dor
e prazer sua outra mão solta minha cintura e vai até minha outra entrada.
Sinto seu dedo brincando apenas, e por algum motivo me pego
impulsionando ao seu encontro.
Entendendo o que eu quero ele o enfia, e eu gemo, porque não há
dor, apenas prazer, e eu quero mais, preciso de mais
— Mais — choramingo.
Ele morde meu ombro e continua brincando com meus seios e seu
dedo em minha entrada, tudo isso enquanto mete sem parar.
— Anton, eu preciso...
Ele beija meu pescoço e solta meu seio.
Choramingo.
Sua mão vai até meu clitóris e volta com aqueles mesmos
movimentos que me levam a loucura.
Quando estou quase gozando Anton para.
— Mas que inferno Anton, me deixa gozar pelo amor.
O que eu ganho?
Um maldito tapa na coxa, que por incrível que pareça me deixou
ainda com mais tesão.
— Ok, estou quieta.
Como resposta ganho um beijo em meu pescoço.
Sua língua passando até chegar em minha orelha.
Seu membro desliza para fora e se posiciona em outro lugar.
Prendo a respiração.
Anton retira o fone do meu ouvido.
— Preciso que você relaxe agora ok? No começo vai ser incomodo,
mas eu prometo que vou fazer bem gostoso amor, tá legal?
— Sim.
— Prefere com ou sem a música?
— Sem música, quero escutar você.
Não estou vendo seu rosto, mas posso ter certeza de que ele sorriu.
Ele empurra lentamente para dentro, respiro tentando relaxar como
ele disse, mas puta que pariu.
É desconfortável, ou estava... até que ele leva sua mão ao meu
centro, provocando com movimentos circulares.
— Estou aqui, quando estiver pronta pode empurrar — diz ele
parado, tocando em meu seio e no meu ponto.
Concordo.
Conforme ele vai aumentando os movimentos da sua mão, meu
corpo vai relaxando e instintivamente vai empurrando para trás o colocando
para dentro, o que antes estava desconfortável agora está... doí, mas é
bom, é uma sensação diferente, impulsiono novamente para trás, agora
com mais confiança e sinto uma boa parte me preenchendo, como resposta
Anton geme em meu ouvido
— Puta que pariu amor, gostosa pra caralho — diz ele, o que me
encoraja a completar o restante do caminho.
— Preciso que você assuma agora — peço escutando seus gemidos
no meu ouvido.
— Você está bem? — pergunta com a voz falhando.
— Mais do que bem — respondo o encorajando.
Ele sai lentamente e depois volta a me preencher ainda no mesmo
ritmo, testando minhas reações.
— Mais forte — peço
— Quer que eu a fodo, forte? — pergunta em meu ouvido.
Ah pronto, começou a falar sujo, eu já estava no limite, agora então.
— Sim, eu preciso que você faça... apenas faça Anton.
Enquanto uma mão sua trabalha em minha intimidade a outra vai até
meu seio, ele segura novamente o meu bico e o aparta enviando uma carga
de dor atingindo o mesmo ponto que ele está tocando no meio das minhas
pernas, como resposta empurro meu corpo ao encontro do seu.
Agora não há mais dor, há somente o prazer, o som dos nossos
corpos se chocando, os gemidos do Anton em meu ouvido enquanto estou
por cima do seu corpo totalmente aberta e entregue.
— Anton... — é a única palavra que consigo dizer.
— Isso amor, goza no meu pau e em meus dedos enquanto eu a
fodo forte, do jeito que você gosta...
E é o suficiente, arqueio minhas costas e tenho o orgasmo mais
insano da minha vida.
Meu corpo estremece por cima do seu e eu gemo palavras
desconexas enquanto ele continua me preenchendo mais intensamente na
busca do seu próprio alívio, mantendo o ritmo de sua mão até que ele
morde meu ombro e grunhe. Rebolo em seu membro aproveitando o
restante do meu orgasmo enquanto ele se liberta do seu, dentro de mim.
Nós paramos os movimentos, mas Anton se mantém dentro de mim.
Passa os braços em volta do meu corpo me abraçando e beija meu
ombro, logo em seguida tira a venda.
Ele sempre faz esse gesto, Anton tem o hábito de morder meu
ombro quando está gozando e sempre o beija quando acabamos,
exatamente no mesmo lugar.
— Isso foi... — digo baixinho me recuperando.
— Incrível — ele completa com a respiração alterada e a voz rouca.
— Incrível não é a palavra correta para descrever, mas por hora
serve — respondo sorrindo nublada pelo desejo.
— Eu te amo — diz ele, e acredito que nunca vou me acostumar a
ouvir essas palavras saindo de sua boca.
Viro meu rosto para o lado tentando o encontrar, ele está de olhos
fechados, o cabelo molhado com alguns fios colados na testa, bochechas
vermelhas, sorrindo parecendo incrivelmente lindo e satisfeito.
Estamos deitados em uma rede na varanda após enfim jantar uma
lasanha incrivelmente perfeita que Anton preparou, tudo bem que tivemos
que aquecê-la novamente, já que tivemos uma pequena... não tão pequena
pausa.
Até tentamos ser um casal convencional e ter um jantar típico em um
encontro, mas no fim acabamos comendo no sofá, eu vestindo sua
camiseta com os cabelos presos no alto em um coque e Anton apenas de
cueca, deixando praticamente todo seu corpo à mostra, roubando minha
atenção na maior parte do tempo, claro que foi de propósito.
Eu não mudaria nada.
Está ventando e como eu havia imaginado, as estrelas são muito
mais lindas daqui, dizem que em lugares mais afastados e mais próximos à
natureza é mais fácil de vê-las, já que a poluição não é tão grande, se é
verdade não sei, mas que as estrelas estão mais aparentes aqui, isso eu
posso garantir.
Anton puxa a manta tampando ainda mais meu corpo, protegendo-
me do frio, suas mãos passam pelas minhas costas carinhosamente.
— Eu vou fazer o exame.
Congelo com a sua confissão repentina.
— Você...
Minha cabeça parece entrar em curto, porque não consigo encontrar
as palavras corretas.
— Sim, eu vou fazer — confirma abraçando-me com mais força.
— Eu estou aqui — respondo pousando meus lábios em seu peito.
— Eu sei amor, e isso é o que torna as coisas mais fáceis...
— Vai dar tudo certo — me afasto olhando seu rosto iluminado pela
luz do luar.
Ele sorri quando seus olhos encontram os meus.
— O que foi? — pergunto curiosa.
— É o que Jules também diz...
— Jules é uma garota muito esperta, é a verdade, independente do
resultado.
Anton não concorda, mas, também não discorda, apenas fica em
silêncio, avaliando minha resposta, e tudo bem. Um passo de cada vez.
— Você se arrepende do que viveu até hoje? — mesmo que Anton
seja portador da doença, e Deus eu rezo para que não seja, nós ainda
podemos ser muito felizes, podemos fazer tanta coisa juntos, gostaria que
ele enxergasse dessa forma. — Se pudesse mudaria alguma coisa?
Volto a apoiar minha cabeça em seu peito enquanto observo as
estrelas.
— Porque eu não me arrependo e não mudaria absolutamente nada
— completo.
— Há algo que eu mudaria...
— O que?
— Teria te encontrado mais cedo...
— Você faria? — pergunto com um sorriso bobo no rosto.
— Olhe para mim — pede.
E eu faço, seus olhos estão sérios e firmes.
— Não há nada que eu não faria por você Victoria, nada.
A intensidade que há em sua voz e em seus olhos transmite a
verdade nas suas palavras, e eu confio.
Sei que tivemos obstáculos e dificuldades, mas eu sinto que agora
estamos na mesma sintonia, eu o quero, e não há nada que eu não faria
por ele também.
— Eu te amo.
Ele suaviza o rosto e sorri.
— Eu também, e prometo que enquanto eu puder, farei você a
mulher mais feliz do mundo — seus lábios tocam os meus em um beijo
lento.
— Você já fez quando você decidiu ficar, quando decidiu lutar por
nós, você já me faz a mulher mais feliz. Não preciso de nada além da sua
presença ao meu lado, suas cantadas baratas, seu humor ácido de manhã
cedo, seu jeito galinha de conversar com as senhoras na fila do mercado,
eu amo exatamente tudo em você, e eu não mudaria absolutamente nada.
— Eu não fico dando em cima das senhoras na fila — argumenta
fingindo estar ofendido.
— Fica sim Anton, devo ligar para Jules e confirmar?
Ele revira os olhos.
— Não será necessário, Jules é uma traidora, sua palavra não tem
credibilidade alguma.
Nós rimos juntos, seus dedos acariciam meus cabelos e eu o
observo, pensativo com os olhos fixos no lago.
— Muitas lembranças?
Anton suspira e assente.
— Sim.
— Quer falar sobre?
— Não tem muito o que dizer Vick, eu só...
— Tudo bem, não precisa dizer se não quiser — passo minhas mãos
pelo seu rosto, ele fecha os olhos e aperta os lábios.
— Eu sinto falta deles, no final foi uma droga sabe, mas antes, antes
de tudo... — ele sorri parecendo lembrar. — Nós éramos perfeitos, lembro
quando Jules nasceu e a trouxeram pra casa, eu estava tão irritado porque
tinha um bebê em casa e eu não podia mais fazer barulho, reclamei por
meses para que minha mãe a devolvesse, o que é engraçado, já que ela foi
tudo que me restou — seus olhos enchem de lágrimas e os meus juntos,
então ele sorri. — Até você chegar, agora eu tenho vocês duas.
— Sim amor, você tem... não faço ideia de como você conseguiu dar
conta de tudo tão novo, mas você fez. Colocou seus sonhos e suas
vontades de lado, se colocou em segunda plano por outras pessoas, isso é
lindo Anton, poucas pessoas teriam feito o mesmo.
— Talvez, mas eu não consigo ver dessa forma, eu precisava mais
da Jules do que ela de mim... agora chega de falar sobre mim, e você?
— O que tem eu? Você já sabe tudo...
— O que pensa em fazer?
Dou de ombros, já pensei tantas vezes nesse assunto que até perdi
a conta, e ainda não sei o que fazer.
Isso é um saco, é como se eu estivesse parada no tempo enquanto
todos seguem, Josh sempre dizia que eu precisava arrumar uma profissão,
fazer faculdade. Minha mãe diz o mesmo, que eu preciso me formar antes
que eu fique muito velha, mas também não quero iniciar algo e depois
largar na metade.
— Eu não sei... gosto de tudo um pouco, sabe? Não sei exatamente
o que fazer — declaro enquanto observo o lago iluminado apenas pela lua e
o brilho das estrelas.
— Então não faça nada — Anton diz surpreendendo-me enquanto
desenha círculos na palma da minha mão.
— Como assim?
— Não faça nada amor, pare de se cobrar tanto e achar que precisa
fazer alguma coisa só porque todos fazem. Uns se formam com vinte e
cinco e acabam notando que não era aquilo que queriam ter feito, outros se
formam aos quarenta quando finalmente se encontram, tem pessoas que se
encontram em outras coisas, umas nem passam pela faculdade, e está tudo
bem, sabe? Não existe uma idade certa para cada coisa, ou etapa correta
para cada fase da vida, cada pessoa é diferente e tem seu tempo, você tem
as suas qualidades e seus defeitos, é única — sua mão encaixa no meu
pescoço e seu polegar passa pela minha boca. — Não tente se encaixar no
que a sociedade limita, quando chegar... se chegar, você faz o que quiser
fazer, simples assim...
Seus lábios tocam os meus, ele se afasta sorrindo.
— Simples assim... — repito suas palavras
— E o que eu faço até lá? — pergunto confusa.
— Você ainda não entendeu, viva amor... quer dançar? Dance! Quer
estudar música? Estude, inclusive posso ser seu professor nessa área, quer
fazer um curso de culinária? Acho que não precisa, você cozinha muito
bem, mas se quiser, apenas faça, faça o que tiver vontade. Foda-se a
opinião dos outros, uma boa parte das pessoas vivem trabalhando,
guardando um dinheiro que talvez nunca vão poder gastar. Não viajam, não
tiram férias, ficam deixando sempre para o próximo ano, e quando se dão
conta é tarde demais e não haverá próximo ano, e no fim as lembranças
que ficam são trabalhando e vivendo pra agradar pessoas que na maioria
das vezes não se importam com você.
— Eu gostei — declaro pensando em suas palavras.
— Bom.
— E você? O que você quer fazer? — pergunto.
— Eu já faço! Toco em uma banda, sou uma estrela do rock, lembra?
Sorrio.
— Ah sim, como eu poderia esquecer? Estou falando com o próximo
Jon Bon Jovi.
— Sou muito mais bonito...
Prendo os lábios para não rir.
— Victoria — repreende.
— O que? — Me faço de desentendida.
— Sou muito mais bonito, não é? — repete a pergunta.
— Então, depende do ponto de vista.
— Aé? Ok. Vou te mostrar um outro ponto de vista, vamos abrir sua
mente — ele morde o lábio, sorri de lado enquanto pensa. — E outros
lugares também, pequena provocadora.
— Promessas, promessas... — digo o instigando ainda mais, porque
eu gosto do perigo, e a culpa é somente dele.
Porém, naquela noite ele cumpriu o que prometeu, ele mostrou.
Ah, como mostrou.
Batuco os dedos no volante do carro no ritmo da música que está
tocando.
É sábado e estamos a caminho de casa após três dias incríveis na
casa do lago. As janelas estão abertas deixando o vento entrar,
bagunçando todo o cabelo da minha noiva.
Com o canto dos olhos noto que ela está sorrindo enquanto canta
balançando a cabeça para os lados pouco se importando com o vento.
Linda pra caralho, minha noiva.
Sim, noiva...
Porque não voltei atrás, Victoria é minha noiva e ponto final.
Só preciso encontrar uma maneira de dizer isso aos pais dela.
Nunca conheci os pais de nenhuma garota... nunca houve uma
garota antes, todas foram casos de algumas noites. Sempre achei que
mantive certa distância de relacionamentos devido ao ocorrido com meus
pais e por fim, ter medo de fazer alguém passar pela mesma situação.
Hoje posso enxergar como fui ingênuo, a verdade é que nunca havia
me apaixonado por ninguém, porque não há como controlar o que
sentimos, até tentei fazer o que julgava ser o correto, porém, Victoria entrou
na minha vida como um furacão, derrubando todas as minhas barreiras e
destruindo qualquer objeção.
O que for acontecer, vai acontecer de qualquer forma, não posso
alterar ou controlar o resultado, em contrapartida, posso mudar a forma com
vou receber a notícia e principalmente, como vou lidar com ela.
Quando a conheci, havia dito que nós não devemos apenas existir,
que não podemos passar pela vida apenas por passar, não... nós temos
que vivê-la da melhor forma que pudermos, vivemos somente uma vez.
Um tanto irônico, já que eu não seguia meu próprio conselho, estava
apenas deixando as circunstâncias me levarem a algum lugar, sem me
importar como, quando ou onde... isso não é viver.
— Anton.
Saio dos meus pensamentos quando escuto Vick me chamar.
— Oi amor.
— Para o carro, preciso vomitar.
Porra.
Mal tenho tempo de encostar o carro, Vick abre a porta saltando para
fora.
Tiro o cinto de segurança e corro em sua direção, ajoelho no chão ao
seu lado puxando seus cabelos para trás.
— Sai Anton — pede quando consegue recuperar a respiração, mas
dura pouco tempo e logo está passando mal novamente.
— Sem essa Victoria — a repreendo, passo minhas mãos pelas suas
costas tentando aliviar um pouco seu desconforto.
Ela senta e puxa o ar devagar.
— Está melhor?
De olhos fechados ela apenas assente concordando.
— Vou pegar água no carro, espera aqui.
Entro no carro e pego a garrafa de água que compramos no posto
quando paramos para abastecer, fico imaginando o que pode ter
acontecido.
Quando estávamos vindo Vick não pareceu ter nenhum enjoo, então
não acredito que tenha sido pela viagem de carro.
Entrego a água em suas mãos.
— Como se sente? — pergunto afastando uma mecha de cabelo do
seu rosto.
A observo beber água lentamente, sua respiração vai regulando aos
poucos.
— Melhor — seu rosto se volta para o meu, ela sorri de forma
carinhosa tocando o vinco que se formou em minha testa. — Não se
preocupe, estou bem — franze o cenho fazendo uma careta. — Acho que
foi aquele pastel que comi no posto.
Concordo lembrando, quando paramos para abastecer Victoria
teimou até sentarmos e ela pegar o bendito pastel, eu não estava com fome
porque havíamos acabado de tomar café na casa do lago, então somente
ela comeu.
— Podemos ir no médico, estamos a quase quarenta minutos de
casa e o hospital não fica muito longe, então pelos meus cálculos
chegamos em...
— Anton!
— Hum? — a observo cansada, seus olhos baixos.
— Não precisa amor, estou melhor... vamos pra casa ok?
— Amor...
Tento argumentar, mas quando a encaro desisto.
Victoria é o ser mais teimoso que conheço, se ela coloca algo na
cabeça é quase impossível de tirar, e não quero começar uma discussão,
não com ela assim.
— Por favor? — implora.
Apenas concordo puto.
Levanto a puxando junto, eu a acompanho até seu lado do carro, ela
senta e prendo seu cinto de segurança, beijo sua testa e volto ao meu lugar.
— Ok, você está pálida, está sentindo mais alguma coisa amor? —
pergunto preocupado assim que entro no carro e a observo.
— Não amor, podemos ir? — encosta sua cabeça no banco e fecha
os olhos abrindo um sorriso fraco.
— Tá — respondo a contragosto. — Me avise se precisar parar
novamente.
Não demora muito Vick pega no sono, eu fecho o vidro notando que
o vento está muito forte em seu rosto.

Chegamos em casa há duas horas e Victoria ainda não melhorou


cem por cento, não que ela tenha me dito, mas notei que continua pálida e
faz cara feia para qualquer comida que coloco em sua frente, agora ela está
dormindo tranquilamente no meu peito.
Acabei não indo tocar hoje com a banda, liguei para Iago e expliquei
que a Vick não estava se sentindo bem, Leo que assuma o vocal.
No meio da noite acordo sentindo a cama vazia com a luz do quarto
ainda apagada, olho o relógio e como eu imaginava ainda é madrugada, a
porta está entreaberta e pela fresta consigo enxergar a luz do banheiro que
fica fora do quarto ligada.
Victoria.
Olho para o banheiro em meu quarto e fico confuso porque ela não
está usando.
Levanto e sigo ao seu encontro, assim que chego escuto o barulho
da descarga e abro a porta, encontro-a sentada no chão encostada na
parede de olhos fechados, pálida novamente.
— Amor.
— Anton, volte a dormir, estou bem, só me lembre de não comer
mais pastel na estrada por favor...
— Chega — digo a puxando para meus braços. — Nós vamos no
médico agora!
— Eu disse que não precisa — sai dos meus braços indo em direção
da pia, escova os dentes e lava o rosto, encosto na parede aguardando.
Passo meus braços pela sua cintura, afasto seu cabelo do pescoço e
vou distribuindo beijos até chegar seu ombro.
— Pequena... isso pode ser intoxicação alimentar, você precisar
fazer exame e tomar alguma coisa, sem discussão por favor, se não quer ir
por você, faça por mim.
Ela olha nos meus olhos e sei que dessa vez eu venci.
— Nós vamos, mas por você, eu acho besteira.
— Vou pôr uma roupa, já volto...
Não gosto de hospitais, evito o máximo que consigo.
As lembranças que possuo também não facilitam.
Mas Victoria não está bem, e mesmo que ela seja teimosa demais
para concordar, ela está doente, ninguém vomita desse jeito por nada.
Mil perguntas e uma hora depois, estamos aguardando o resultado
dos exames feitos.
Eu a tenho em meus braços, seu rosto está em meu pescoço
enquanto ela respira lentamente, quase dormindo, desconfio pelo seu
silêncio, passo minhas mãos pelas suas costas.
Pela porta aberta do consultório observo um casal de idosos na sala
de espera abraçados, a senhora está falando algo, parece estar o
repreendendo por algum motivo, o senhor apenas concorda com a cabeça
entediado, mas não se atreve a dizer absolutamente nada, ele nota que
estou o observando revira os olhos e sorri pousando um beijo em sua
têmpora enquanto ri.
Eu quero isso com Vick, quero todos os momentos que eu puder ter,
e vou lutar cada segundo para tê-los.
A porta é fechada assim que o médico que nos atendeu antes entra
por ela, Victoria desperta com o barulho.
Sentando-se na mesa ele pega alguns papéis e analisa, assente
concordando enquanto lê.
— Como está se sentindo Victoria? — pergunta pousando os papéis
na mesa voltando os olhos para Vick, que está esticando os braços.
— Um pouco melhor, mas ainda estou enjoada — responde.
Apenas fico observando, mas não consigo compreender o porquê o
médico está sorrindo, ela está doente, isso é óbvio, não é?
O que não faz sentido se ele está... sorrindo.
— Isso provavelmente vai durar por mais alguns meses querida,
varia bastante de mulher para mulher. Parabéns, você está grávida e pelo
seu exame de sangue está de aproximadamente nove semanas...
Grávida...
Oito semanas...
Não, não pode.
Balanço a cabeça negando...
Não...
— Não, eu fiz o teste — afirmo olhando para o médico.
Viro a procura do Anton, mas ele está com a cabeça baixa enquanto
mexe em sua pulseira, volto a olhar para o médico.
— Impossível, eu... — puxo o ar tentando respirar, minha garganta
começando a fechar, meu estômago revirando. — Eu fiz um teste e deu
negativo — completo nervosa.
— Compreendo — ele assente concordando. — Quando você fez o
exame? — pergunta com o tom de voz calmo, provavelmente notando meu
desespero.
— Fiz quando estava com quinze dias de atraso e deu negativo.
— Você fez o teste de farmácia, isso?
— Sim — respondo em um sussurro quase inaudível.
— No início ele pode dar um falso negativo, provavelmente seu nível
de HCG estava baixo ainda, acontece...
Acontece.
Não.
Não acontece.
Eu fiz isso.
Eu fiz isso com Anton.
Com nós.
O médico volta a falar, e sei disso apenas porque vejo sua boca
mexer enquanto ele faz gestos com as mãos, consigo assimilar apenas
algumas palavras, algo com enjoo, vitaminas e pré-natal, todo o resto passa
como um borrão.
Tudo entra por um ouvido e sai pelo outro, sinto meus olhos
queimarem, a angústia e o medo dilacerando meu peito.
Viro-me novamente para o lado à procura de qualquer reação, mas
nada... Anton continua da mesma forma, cabeça baixa com os olhos fixos
na pulseira.
Não faço ideia do que se passa na sua cabeça, e estou quase
entrando em pânico com o seu silêncio.
O médico, notando o motivo da minha preocupação me lança um
olhar de pena, provavelmente não sou a primeira paciente na mesma
situação.
— Você está de alta, precisa se alimentar direito, beber bastante
água e tomar os medicamentos.
Anton demonstra que estava prestando atenção ao que era dito,
porque foi o primeiro a levantar e sair da sala, deixando-me sozinha.
Pego os papéis que o médico me entrega e o agradeço retirando-me
da sala.
— Anton — o chamo.
Ele para, mas não me olha.
— Fala alguma coisa, por favor — toco seu braço chamando sua
atenção, já que ele se nega a me encarar.
— Vamos embora — diz ele, somente isso.
Prendo os lábios e olho para cima na tentativa falha de segurar as
lágrimas.
— Anton, por favor não faz isso, não se afasta... olha pra mim! —
imploro baixinho, mas ele não faz, Anton continua olhando para o chão
como se me encarar o ferisse. — Eu não sabia, o teste deu negativo, eu
juro...
Encosto minha testa em seu braço e fecho os olhos.
— Só vamos embora — ele se move, pronto para se afastar.
— Eu já o amo — deixo escapar... — E, Deus... eu sei que isso é
tudo uma grande droga, mas... eu sinto muito Anton, eu já o amo com a
minha vida, porque — fecho os olhos sentindo as lágrimas caírem e digo
exatamente o que estou sentindo. — Porque é uma parte sua, e eu te amo.
Ele apenas assente e se afasta.

No carro o silêncio é ainda maior...


Eu costumava gostar do silêncio, achava libertador na verdade,
porém, agora é desesperador e angustiante.
Ele apenas dirige focado na estrada como se sua vida dependesse
disso, os dedos no volante estão firmes e brancos de tanto que estão
fazendo força.
Anton não olha para mim, nem uma vez sequer, nem mesmo quando
entramos no apartamento.
Sentindo o mundo ruir ao meu redor, querendo apenas fugir para
qualquer lugar, como se o peso de tudo que aconteceu estivesse caindo
nos meus ombros somente agora, sigo para o banheiro.
Assim que entro escuto a porta da frente bater.
Volto para a sala
— Anton? — chamo seu nome, mas como eu desconfiava, ele saiu.
Sento no sofá sentindo aquela sensação de aperto no peito, como se
alguém estivesse segurando nas mãos e o esmagando, minha garganta
fecha e mal consigo respirar, meu estômago se agita novamente.
Puxo minhas pernas aproximando-as do peito, passo meus braços
em volta e afundo meu rosto quando o primeiro soluço escapa junto com as
lágrimas.
Penso em ligar para minha mãe, contar tudo que está acontecendo,
mas dificilmente isso ajudaria em alguma coisa. Tudo que eu queria agora
era um colo, alguém que me abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem,
mesmo que não seja verdade.
Penso em ligar para Anton também, mas então lembro-me que foi
ele quem saiu de madrugada por não suportar ficar ao meu lado, o que só
faz com que eu chore ainda mais, e vou colocar a culpa na gravidez, nos
malditos hormônios.
Eu estou grávida.
É tudo demais, em um momento nós estamos bem e do nada
estamos no fundo do poço novamente.
Limpo as lágrimas assim que escuto o barulho das chaves na porta,
ela abre e Anton entra com sacolas nas mãos.
Ele vira e me encara prendendo os lábios, seus ombros caem em
derrota quando percebe o que eu estava fazendo.
Mais uma vez, culpa dos hormônios, gravidas choram, não é?
O observo colocar as sacolas na mesa, jogar as chaves em uma
bandeja que compramos juntos, porque sempre tenho o hábito de perdê-
las, ele tira a camiseta e joga do outro lado do sofá, se ajoelha em minha
frente, tocando meu rosto.
— Oh pequena — diz de modo carinhoso e sinto o arrependimento
em sua voz, então é o suficiente, me jogo em seus braços e o aperto forte.
— Eu sinto muito, eu sinto muito mesmo — digo em seu pescoço.
— Tudo bem, por favor amor, não chore — diz ele.
— Não, você não entende — me afasto e o encaro. — Eu sinto muito
por você ter que passar por isso. Mas não sinto por ele, porque eu o amo e
ele é nosso — digo entre soluços.
É o que sinto, sei que não será fácil, mas não posso fingir que não
estou feliz, porque uma parte minha está.
— Sim amor, ele é nosso... — Anton declara.
— O que você disse? — peço enxugando as lágrimas.
— Que ele é nosso — ele sorri fraco. — Ele é amor, me perdoa por
não estar pulando de felicidade, não é que eu não esteja feliz... eu estou,
mas... tenho medo, você sabe o motivo, mas não pense nem por um
segundo que eu não ame vocês dois — sua mão pousa em minha barriga e
fica ali de forma protetora.
Faço cara de choro novamente.
— Eu não devia ter te deixado sozinha... — ele suspira cansado
passando as mãos pelo rosto. — Eu precisava de cinco minutos sozinho,
então fui comprar os seus remédios — levanta e vai até a sacola, que agora
consigo notar que pertence a uma farmácia, retira uma caixa e vai até a
cozinha voltando logo em seguida com um comprimido em mãos.
— Esse é para o enjoo — diz entregando-me
— Você comprou o remédio? — pergunto surpresa.
— Sim, o que o médico passou... você deixou a receita em cima do
balcão quando chegamos, agora toma por favor pequena...
Eu tomo o comprimido ainda surpresa pelo seu gesto.
Ele volta até a sacola e tira outro objeto de dentro.
— Como eu disse, precisava de alguns minutos sozinho. Foi
egoísmo meu pensar assim... porque sei que pra você está tudo uma
grande confusão, e não estou facilitando nada.
O observo caminhar em minha direção.
Anton senta ao meu lado.
— Então eu fui até a farmácia. Comprei os remédios e quando me
dei conta estava parado em frente a seção de bebês — ele sorri
envergonhado. — Eu vi isso e pensei que — ele me entrega o objeto, é
uma chupeta amarela com estrelas brancas — nós vamos precisar de uma
dessas, e na hora eu não senti medo. Pelo contrário, só consegui imaginar
um bebê com bochechas grandes dormindo com você na minha cama, e
porra Victoria! Nunca nada pareceu tão certo.
Sua mão encaixa em meu pescoço e eu fecho os olhos sentindo o
calor do seu toque, ele aproxima nossos lábios e solto um suspiro assim
que sua língua preenche minha boca. Alívio é a palavra certa para definir o
que sinto quando nos beijamos, sinto o gosto salgado das lágrimas e já não
sei se são minhas ou dele, pouco importa... desde que estejamos juntos.
Anton afasta nossas bocas sob meus resmungos e sorri diante da
minha irritação, ele vira a cabeça de lado me observando, então cola
nossas testas quando diz.
— Eu te amo amor, amo muito mesmo, e sei que você não é minha
mãe e jamais deixaria o nosso filho sozinho.
Então eu compreendo o seu medo, Anton não quer que seu filho
sofra como ele e Jules sofreram. Não julgo sua mãe pelo que fez, porque
cada um sabe a dor que carrega, mas eu posso assegurar a ele que jamais,
em hipótese alguma faria algo que ferisse nosso filho.
— Nunca, jamais! Eu vou o proteger com a minha vida — declaro. —
Eu te amo tanto Anton — subo em seu colo, o abraço e distribuo beijos pelo
seu rosto e pescoço enquanto escuto sua risada rouca.
— Tem mais uma coisa — diz ele me interrompendo.
— O que? — bufo com mais uma interrupção indesejada.
— Na verdade são duas, preciso que você faça isso por mim...
— Qualquer coisa!
— Bom — ele responde sorrindo.
— Primeiro, ele se chamará Danton — diz levantando um dedo.
Meu coração se enche e eu sorrio, agora as lágrimas são de alegria.
— Como sabe que é ele? E se for ela? — pergunto tocando seus
cabelos grandes e bagunçados que eu tanto amo.
— Eu apenas sinto — declara piscando — Danton, ok?
— Sim, eu gostei — concordo me sentindo a pessoa mais feliz do
mundo.
— E a segunda? — pergunto curiosa.
— A segunda é, quer casar comigo pequena encrenca? — pede
puxando minha boca próxima a sua.
— Pensei que eu já estivesse noiva — brinco.
— E está! Mas quero fingir que temos escolhas, sabe... assim posso
contar ao nosso filho uma história legal sobre como nós nos casamos.
Nosso filho, duas pequenas palavras que para mim, nesse momento
carregam um grande significado, minha garganta se fecha e prendo os
lábios respirando fundo.
— Sim Anton de valor inestimável, eu caso com você... todos os dias
da minha vida.
— Eu te amo dona encrenca — ele diz sério enquanto contorna
meus lábios com seus dedos.
— E eu te amo, babaca arrogante.
— Amor, acho que devemos fazer uma lista — declaro observando o
teto perdido em pensamentos.
— Pra que? — boceja sonolenta.
— Do que vamos precisar comprar... roupas de bebês, um berço...
acha que vamos precisar de um berço?
Mas então, lembro que o apartamento não é muito espaçoso, temos
dois quartos claro! Mesmo assim é pequeno e não temos quintal.
Porra! precisamos de um quintal...
— Acho que devemos comprar uma casa — a imagem de um
garotinho correndo e chutando bola passa pela minha mente fazendo-me
sorrir.
Estou evitando pensar no que há no fundo da minha mente. Me nego
a pensar nisso agora, já fiz Victoria sofrer o suficiente hoje quando
descobrimos a gravidez, novamente agi como um verdadeiro babaca.
Não foi fácil escutar aquelas palavras.
Eu precisava ficar sozinho, não queria falar ou agir de alguma forma
que fosse magoá-la ainda mais, então acabei fazendo o que julguei ser o
mais correto no momento.
Esfriar a cabeça.
Entretanto, quando parei em frente da seção de bebês... meu
coração apertou, não de medo ou culpa. Foi uma sensação diferente.
Imaginei um garotinho nos braços da Vick, um bebê de bochechas grandes
sorrindo banguela, meus olhos capturaram uma chupeta amarela com
estrelas brancas, então eu soube, simplesmente soube que... aconteça o
que acontecer, nós vamos fazer dar certo, porque existe amor.
Sim, eu a amo.
E eu não estava blefando quando disse que faria qualquer coisa para
fazê-la feliz enquanto eu pudesse, e de fato agora eu posso. E é
exatamente o que farei, vou cuidar da minha pequena e do meu filho, pelo
tempo que for e o quanto eu puder.
— Anton, nós não precisamos comprar uma casa, nem fazer uma
lista imensa às cinco horas da manhã, amor! — exclama irritada, preciso
lembrar de não a incomodar com sono enquanto estiver grávida.
— Desculpa pequena, você está cansada — beijo o topo de sua
cabeça. — Vou deixá-la dormir...
— Acha que eu deveria vender minha moto?
Em um rompante ela levanta da cama indo em direção ao interruptor
da luz ligando-a.
Eu me sento na cama passando a mão nos olhos até que eles se
acostumem com a claridade repentina.
Victoria está parada analisando.
Seus olhos passam pelo meu corpo lentamente, ela segura a barra
da camiseta e puxa para cima ficando nua, caralho.
Eu já a vi nua diversas vezes, mas sempre fico louco por essa
mulher, seus seios firmes e empinados estão apontando em minha direção,
como se estivessem implorando por atenção, porra meu pau já acordou.
— Bem, você não cala a boca para que eu possa dormir, então
vamos fazer algo para que você durma amor — diz ela engatando os dedos
na calcinha.
— O que você sugere? — pergunto molhando os lábios observando
sua calcinha atingir o chão.
— Vou te pôr pra dormir... — fala caminhando em minha direção
lentamente, os cabelos soltos e os olhos brilhando de desejo.
— Estou curioso, como você planeja fazer isso? — questiono com as
mãos ansiosas para tocá-la.
— De exaustão — afirma.

— Amor — chamo Victoria que está na cozinha terminando o


almoço.
Hoje é domingo e nós convidamos os seus pais para virem nos
visitar, já que Victoria passa mal o tempo todo desde que descobrimos a
gravidez, viajar de carro não era uma opção viável, e esperar o bebê nascer
para contar também não é uma opção.
— Sim? — ela responde saindo da cozinha vindo ao meu encontro.
Meus olhos percorrem pelo seu corpo, chegando ao seu rosto
procurando qualquer sinal de desconforto, observar seus gestos se tornou
um hábito automático, Victoria não costuma reclamar, então eu meio que
preciso adivinhar quando ela não está bem.
— Está enjoada? — toco sua barriga imperceptível por cima do
vestido, ela sorri.
— Não — declara levantando os pés passando os braços pelo meu
pescoço.
— Que bom, porque eu estou — afundo meu rosto no seu pescoço a
puxando mais próximo do meu corpo.
Seu corpo treme enquanto ela ri.
— Isso não tem graça — a repreendo. — Você não devia rir assim na
frente do nosso filho, o que ele vai pensar do pai dele.
— Como você tem tanta certeza de que é um menino Anton?
— Não sei, eu só sinto... é o Dan.
A alguns dias Victoria teve sua primeira consulta pré-natal, onde
conseguimos escutar o coração do bebê, e caralho! Se pensei que não
poderia amar mais, estava completamente enganado, o sentimento que
tenho por esses dois é insano e infinito. Quero mantê-los seguros e perto
de mim o tempo todo, para que nada e ninguém se aproxime. Por esse
motivo venho tentando me policiar, porque sei que ela não suporta que
ninguém a controle.
Na consulta também descobrimos que, se eu não possuir o gene da
doença, nosso filho também não a terá.
A doença não pula geração, ou seja... se eu não possuir o gene
defeituoso não há como eu passá-lo e por esse motivo o meu exame já foi
marcado.
Tenho frequentado consultas com o psicólogo toda semana, o que
vem ajudando e facilitando muito.
— Dan? — ela pergunta sorrindo.
— Sim, Danton... Dan
— Por que Danton? — questiona curiosa e agora eu tô muito ferrado
pra explicar.
Eu abro um sorriso, ela semicerra os olhos.
— Lembrando que você concordou com o nome, esteja ciente
disso... significa filho daquele que é valioso, descendente de valor
inestimável.
Victoria não responde, ela fica encarando-me em choque com a boca
aberta.
Diante do meu silêncio, notando que realmente estou falando sério e
esse é o significado do nome do nosso filho.
— Não, não e não, você tá brincando né?
— Óbvio que não Victoria, Anton... Danton, é perfeito, eu sou Anton
de valor inestimável e o Dan será meu descendente.
— Eu vou fingir que não escutei isso, ok? — esbraveja indo em
direção à cozinha.
— Até ele nascer você se acostuma — grito logo em seguida.
Antes que ela consiga argumentar a campainha toca, indicando que
seus pais chegaram.
— Vamos ver o que meu pai acha desse nome Anton...
— Golpe baixo Victoria, está ouvindo Dan? Sua mãe é um pé no
saco as vezes.
Ela vira a cabeça parecendo a Annabelle e sei que se ela pudesse
teria me esfolado vivo neste exato momento.
Abrimos a porta e finalmente conheço os pais da minha noiva, mas
pelo olhar que seu pai me lança, sei que vamos ter problemas...
— Olá — o pai da Victoria estende a mão em minha direção, eu a
pego e aperto firme
— Sou Anton, é um prazer conhecê-lo... — sorrio tentando aliviar o
clima, mas ele não retribui.
— Olá querido, é um prazer finalmente conhecê-lo — a mãe de Vick
interrompe a atmosfera desconfortável me abraçando.
— O prazer é meu!
Ela sorri
— Victoria, você está linda querida — diz pegando a mão de Vick
entrando no apartamento.
Seu pai entra logo em seguida às seguindo, eu respiro fundo e fecho
a porta juntando-me a eles.
— Gostaria de beber alguma coisa? — pergunto ao seu pai, que está
observando nossa sala.
— Não — ele diz seco.
Ok.
— Eu adoraria querido — a mãe da Vick responde, e já sei de onde
ela puxou sua simpatia, do seu pai que não foi...
As duas conversam sobre vários assuntos e eu me esforço o máximo
que consigo a conversar com seu pai, mas é um pouco difícil já que ele
responde tudo com meias palavras, está bastante claro que ele não gostou
nem um pouco do seu novo genro.
Provavelmente do Josh ele gostava, aquele babaca que não devia
nem saber dar um orgasmo de verdade, provavelmente passava o dia
puxando o saco conversando sobre coisas tediosas. Imbecil.
Nós sentamos à mesa para almoçar, mas como todos os dias
Victoria mal mastiga e já corre para o banheiro, fico sem reação, não sei se
vou atrás dela ou falo com seus pais.
— Já entendemos, vá — é o pai de Victoria quem diz, eu apenas
aceno concordando sabendo que depois viram as perguntas.
Chego no banheiro e como sempre a encontro sentada com a
cabeça apoiada na parede.
Seus olhos estão fechados e sua respiração está lenta.
— Dan meu pequeno, sua mãe precisa segurar pelo menos um
pouco de comida, sei que você odeia essas coisas que ela faz... eu também
não gosto sempre, prefiro o bolo... mas é necessário — digo enquanto me
sento ao seu lado puxando-a para meu peito, passo minha mão pelo seu
cabelo prendendo atrás da sua orelha.
— Adoro quando você conversa com ele — franzo o cenho, ela sorri
e completa. — Eu escuto de madrugada.
— Metida! É algo nosso, você não pode se intrometer em papo de
pai e filho, francamente Victoria, já ouviu falar da palavra privacidade? —
ela começa a rir e esse som é música para meus ouvidos.
— Acho que seus pais já sabem — declaro enquanto sinto sua
respiração normalizando.
— Minha mãe sabe, meu pai não sei — ela dá de ombros fazendo
pouco caso dessa informação.
— Você contou pra ela? — pergunto.
— Sim, ontem a noite pelo telefone — seguro sua mão e brinco com
suas unhas pintadas de azul claro.
— Vamos voltar? — questiono sabendo que não podemos ficar
escondidos no banheiro pra sempre.
Ela concorda.
Eu levanto e seguro sua mão a puxando, ela escova os dentes e
voltamos para a sala de jantar onde encontramos seu pai em pé de costas.
— Pai — Victoria o chama.
— Só fala Victoria.
Sua mãe apenas assente confirmando nossas suspeitas, seu pai já
sabe.
Antes que ela abra a boca eu a interrompo.
— Vick está grávida e nós vamos nos casar — ele se virá e me
encara sério, tenho certeza absoluta que ele gostaria muito de quebrar
minha cara agora, e porra... não julgo, se fosse minha filha Deus sabe que
eu já teria feito.
— Antes que o senhor tire conclusões precipitadas, não, nós não
vamos casar porque vamos ter um bebê, eu já havia a pedido em
casamento antes de descobrirmos, para ser sincero eu não ligo muito para
sua opinião — dou de ombros, porque é verdade, estou pouco me lixando
se ele vai gostar de mim ou não. — Mas eu sei que a Vick gostaria muito
que você aceitasse e a apoiasse. Eu amo a sua filha e prometo que vou
cuidar dela e desse bebê com a minha vida, apesar que ela é... — respiro
fundo tentando controlar todas as emoções que querem explodir do meu
peito. — Victoria não precisa de ninguém para cuidar dela, ela é forte,
corajosa, brilhante, sou eu que preciso dela, e tenho muita, muita sorte por
tê-la na minha vida, e não... mesmo que você não concorde, não vou deixá-
la ir.
Ele apenas escuta calado, não transparece nenhuma emoção em
seu rosto, Vick aperta minha mão forte.
— Quero conversar com Anton sozinho.
— Não — Victoria nega de imediato.
Eu me viro e beijo sua testa.
— Amor, está tudo bem, não é como se ele fosse me matar né —
brinco com a situação, o que por sinal deu certo porque ela sorri aliviando a
tenção de seu rosto, seguro a ponta do seu nariz e aperto. — E temos um
bebê aí dentro, vá com sua mãe e relaxa, ok?
Vejo a indecisão em seu olhar.
— Por favor, lembra... você não pode se estressar — completo.
— Tá...
Sua mãe logo pega sua mão e as duas saem do apartamento, eu a
observo ir sendo praticamente arrastada, viro-me para o seu pai
novamente.
— A quanto tempo vocês dois se conhecem? — ele pergunta e noto
em sua voz certo sarcasmo, provavelmente por estarmos juntos a pouco
tempo, não querendo arrumar um problema justamente com o pai da
mulher que eu amo e o único avô do meu filho.
— O suficiente — coloco minhas mãos no bolso, os seus olhos
acompanham o movimento e vão direto para meu braço que há tatuagens.
Ele observa incomodado.
— Você tem ideia do que é casar? Ter um filho, garoto?
Sorrio com deboche, só pode ser brincadeira.
— Sério? Esse é o problema? — pergunto e duvido que ele não
tenha notado minha irritação, seus olhos observam a guitarra.
— Francamente, você tem que entender o meu lado! Nunca vi você
na vida e agora descubro que minha caçula está grávida e vai casar, não
quer que eu pense no tamanho da irresponsabilidade de vocês? —
esbraveja com deboche na voz.
— Olha só, eu tentei ser o mais educado possível, mas o senhor está
completamente equivocado quanto ao seu julgamento, você entrou aqui, viu
meu apartamento, a guitarra, minhas tatuagens. O senhor está me
avaliando desde que chegou, vendo se sou bom o suficiente para sua filha,
e olha que curioso, não sou... e não tem nada a ver com ser um cara rico e
nem nada disso, não... é porque ninguém é bom o suficiente para Victoria,
ela é boa demais pra qualquer um, isso sou eu que estou dizendo, mas
quer saber? Foda-se a sua opinião, cansei.
Antes que ele abra a porra da boca eu completo.
— E não venha me falar sobre irresponsabilidade! Não quando eu
praticamente criei minha irmã, assumi os negócios da empresa que
pertencia a minha família com apenas dezoito fodidos anos porque meus
pais morreram, então, vou te ensinar uma coisa senhor, não julgue as
pessoas pela aparência!
Choque é a palavra que define sua reação com as palavras que
acabei de dizer, pois é... é isso aí.
Odeio isso, odeio ter que sempre estar contando partes da minha
vida para que as pessoas percebam que não sou o que pensam, odeio ser
julgado constantemente por gostar de tocar guitarra e cantar em um bar ou
por ter tatuagens, isso é uma puta de uma injustiça.
Passo minhas mãos pelo rosto frustrado, porra.
Não era exatamente assim que eu planejava terminar o domingo, é
claro que eu tinha ideia que nós não seríamos grandes amigos, mas
também não precisava ser dessa forma.
Mas para minha surpresa sinto uma mão em meu ombro.
— Você tem toda razão — diz ele me encarando sério, parecendo
arrependido. — Eu sinto muito... é verdade, te julguei o tempo todo, não lhe
dei o benefício da dúvida, mas...— ele balança a cabeça parecendo
pensativo. — Você não entende, ela é minha garotinha, parece que foi
ontem que eu a buscava na escola de trancinhas no cabelo...
Imagino uma criança pequena loira de tranças correndo, minha
garganta aperta e fico me perguntando se tivéssemos uma garotinha, se ela
seria igual a Vick, seu pai parecendo perceber meu pensamento ri e
completa.
— Talvez, daqui uns anos... você entenda o meu lado, e garoto, eu
estarei lá para ver seu genro levar sua filha embora.
Filha da puta, ele tem um ponto.
— Será um menino... Danton — respondo confiante.
Seus olhos brilham por um momento.
— Eu só tive meninas, vocês já sabem o sexo? — questiona curioso.
— Não, mas eu sinto que é o Dan — ele assente em compreensão.
— Eu também sentia que eram garotas, as duas. Olha Anton — ele
assume a postura fria novamente. — Eu não gosto de você...
— É recíproco — o interrompo.
Ele concorda.
— Mas, pelo bem de Victoria e do meu neto, vou lhe dar uma
chance.
Reviro os olhos mentalmente.
— Olha só... só me trate com respeito, não precisamos nada além
disso.
— Ok.
— Vick!
— Eu — viro-me encontrando Amanda.
— Você tem visita...
Ela me lança um olhar preocupado.
— Quem? — pergunto curiosa, não costumo receber muitas visitas,
e se fosse Anton eu saberia já que ele não é a pessoa mais discreta do
mundo.
— Seu ex-namorado, Josh — completa me pegando de surpresa.
Essa eu realmente não esperava, pego meu celular do bolso da
calça conferindo se recebi alguma mensagem, mas não há nada, o que é
estranho, aparecer sem avisar não é do feitio do Josh, fico preocupada que
algo tenha acontecido e sigo ao seu encontro.
Josh e eu não nos vimos desde o término, conversamos apenas
algumas vezes por mensagem e somente o básico do tipo: Oi, tudo bem?...
Sim e você? Ponto, termina aí nossa interação.
O encontro aguardando-me virado de costas.
— Josh? — o chamo.
Seu sorriso surge assim que ele me encontra.
Josh não mudou absolutamente nada...
Não, não foi ele quem mudou.
Foi eu, eu mudei.
A sensação que possuo é de que antes... antes do Anton, nada
tenha existido, nenhum sentimento.
O que não faz o menor sentido já que estamos juntos a pouco tempo
e passei cinco anos com Josh.
Mas é o que dizem, não é o tempo que passamos com alguém que
determina o quão especial ou importante foi em sua vida, e sim quem.
É a intensidade.
— Anjo — diz ele caminhando em minha direção, mas meu sorriso
morre assim que escuto o apelido que ele usou, é o mesmo que costumava
usar quando estávamos juntos, recuo e ele paralisa, notando meu
desconforto.
— Desculpa... — digo tentando não parecer rude.
Não temos mais a mesma intimidade que antes, somos amigos,
apenas isso.
— Ah, tudo bem... — seus olhos me avaliam com cautela. — Posso
te abraçar? Como amigos?
— Como amigos — deixo o mais claro possível e vou em sua
direção, seus braços me puxam para mais próximo, ele percebeu meu
desconforto e logo me solta.
— E então? o que faz aqui? — questiono curiosa.
— Tive que vir resolver um problema na filial de última hora, e pensei
que talvez você pudesse ir almoçar comigo... — esclarece colocando as
mãos no bolso, um comportamento que ele costumava assumir quando
estava ficando nervoso.
Realmente pensei que poderíamos voltar a ser amigos, porém agora,
não acho que será algo saudável para ambos, não somente eu e ele, mas
para Anton também.
— Josh — tento buscar as palavras mais gentis possíveis em minha
cabeça. — Preciso ser sincera com você... tenho uma pessoa agora e não
acho que seja uma boa ideia... nós dois sairmos juntos...
Na minha cabeça soou melhor.
Ele sorri um pouco sem graça, mas não aparenta ter ficado
magoado.
— Eu sei... fiquei sabendo que você está — ele aponta para minha
barriga que está maior, porém pelo meu uniforme não é possível ver.
— Sim — respondo sorrindo.
Um silêncio se instala, mas não é nada desagradável... é um silêncio
que diz mais que muitas palavras, eu segui em frente. E Josh sabe disso.
— Eu tô feliz por você Vick, de verdade...
— Obrigada. — respondo sendo sincera, desejando o mesmo para
ele.
— Então eu vou indo... — declara apontando em direção à porta.
A verdade é que nenhum de nós sabe como se comportar nessa
situação, nós realmente pensamos que iríamos conseguir manter ao menos
uma amizade, talvez ainda seja cedo para isso.
— Tchau. — me despeço.
Antes de chegar à porta Josh dá meia volta vindo em minha direção,
fico confusa por um momento, mas então ele passa os braços em volta do
meu corpo me abraçando forte, em seguida me solta e vai embora.
Sem dizer absolutamente nada.
Meu coração aperta, não por amá-lo ou sentir algo, mas por vê-lo
sofrer.
Em algum momento eu devo tê-lo amado. Não como eu amo Anton,
são amores diferentes...
Josh era meu melhor amigo e aos poucos fomos construindo algo.
Já Anton, Anton entrou na minha vida como um tsunami, arrastando
tudo com ele, meu coração, corpo, mente e alma, não sobrando nenhuma
parte.
Tenho certeza que um dia Josh encontrará alguém que despertara os
mesmos sentimentos, e então tudo irá fazer sentido para ele.
Entro no elevador do prédio e encosto minha cabeça na parede
fechando os olhos.
Hoje completo 22 semanas de gestação, apenas 22 semanas e já
sinto meus pés inchados, minhas pernas doem e meus peitos estão
enormes.
Danton meu amor, pega leve com a mamãe aqui, temos um longo
caminho pela frente meu pequeno.
Mal posso esperar para chegar em casa, tomar um banho e deitar na
cama, ah minha cama penso.
Talvez eu até ganhe uma massagem... se eu fizer minha cara de
cachorrinho sem dono, ela vem funcionando muito bem ultimamente,
principalmente quando tenho desejos.
Seguro o riso relembrando do meu último desejo.
Semana passada fiquei com vontade de comer aqueles biscoitos
com recheio de limão, parando para analisar é um desejo bem comum na
verdade, claro, se ele não surgisse às três horas da manhã.
Mas como eu disse, usei minha nova artimanha e Anton foi atrás.
Pobrezinho, Anton literalmente é uma pedra quando dorme, mas
desde que descobrimos a gravidez uma chave parece ter virado em sua
cabeça, basta me movimentar para que ele abra os olhos, e numa dessas
ele me encontrou na cozinha atacando o armário, e não... não tinha o
bendito biscoito. Ele com aquele sorriso lindo, colocou uma roupa e foi
atrás, óbvio que não neguei, já imaginou Dan nascer com cara de bolacha?
Longe de mim.
Só que... não estamos em uma semana boa agora, especialmente
hoje.
Amanhã sai o resultado do exame e só de imaginar sinto-me doente,
mesmo que Anton me garanta que está tudo certo e que ele está bem, não
acredito inteiramente.
Eu o observo pensativo antes de dormir, percebo também a
preocupação em seus olhos cada vez que toca minha barriga, sei o que
passa em sua cabeça, que por sua culpa Dan pode estar condenado.
Não vejo dessa forma, Anton tem uma vida maravilhosa, olha
quantas coisas adquirimos juntos, Deus nós temos uma família! Dan pode
ter o mesmo, nós só temos que ensiná-lo desde cedo a não ter medo e
viver a vida do jeito que quiser, quantas pessoas morrem de causas
naturais antes de chegar aos vinte? Muitas.
Esse é meu ponto, eu por exemplo posso morrer amanhã atropelada,
ninguém está isento de uma tragédia, e nem por isso deixamos de viver, e
será exatamente isso que vou ensinar ao meu pequeno Dan.
Por esse motivo resolvi sair mais cedo do trabalho e fazer uma
surpresa, o apito do elevador anuncia a chegada no andar, logo que as
portas abrem escuto música vindo do apartamento.
Toco a maçaneta estranhando, ouço vozes e as conheço bem... abro
a porta lentamente.
— Leo?
— Oh droga — ele diz, meus olhos acompanham um objeto que
literalmente voa de sua mão...
Ok.
Isso está estranho.
Me aproximo do objeto e o junto do chão...
Oh... é um balão.
Um balão?
Então observo com mais atenção, está uma bagunça de balões e
confetes... pela sala toda.
Davis está sentado no sofá, pintando estrelas de azul em nossa
mesa de centro...
Levo as mãos à boca quando encaro a faixa que está pendurada na
parede.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando termino de ler a frase
que está escrita.
"Papai e mamãe capricharam, aguardem o próximo Rockstar
garotas! Ass: Danton Alencar Carvalho"
Meu noivo barra pai do meu filho surge na sala, seu olhar
direcionado apenas ao seu amigo Leo vulgo empata foda.
— Caralho Leo, que demora pra encher a porra de um balão... — diz
ele, ainda alheio à minha presença.
Prendo os lábios tentando segurar o riso observando a cena se
desenrolar a minha frente, Leo está branco parecendo que viu um fantasma
enquanto levanta a mão apontando em minha direção, Davis por sua vez
cai na gargalhada e eu? Eu me junto a ele.
Como não sou uma pessoa muito silenciosa para rir, logo Anton nota
minha presença, ele olha-me com a boca aberta.
— Olá Leo, Davis — cumprimento os dois que apenas retribuem
acenando com a cabeça.
— Amor — me aproximo do meu noivo e pai do meu filho, sim... filho!
Finalmente fizemos a ultrassom e é um menino, para a surpresa de todos
menos Anton, que segundo ele sentia desde o início.
Algo sobre conexão pai e filho.
— O que você tá fazendo em casa? — pergunta chateado.
— Nossa, devo ir embora? — faço menção de sair, mas ele logo
segura meu braço delicadamente.
— Não — responde cabisbaixo. — É que era pra ser surpresa
amor...
Seus ombros caem e meu coração aperta com sua carinha.
— Desculpa amor — toco seu rosto fazendo-o me encarar. — Mas é
que estávamos com tantas saudades e queria te mostrar uma coisa — pego
sua mão e posiciono em cima da minha barriga, rezando para que Danton
resolva mexer.
E como ele está fazendo o dia todo, nosso bebê chuta.
Anton olha para a barriga, depois para mim, e então para a barriga
novamente com os olhos arregalados, ele abre a boca surpreso então dá o
maior dos sorrisos que eu já vi até hoje, quando levanta o rosto outra vez
vejo lágrimas.
E novamente meu coração erra mais uma batida, como sempre
desde que eu o conheci.
— Ele... ele chutou — fala emocionado.
Digamos que nosso filho é um pouco preguiçoso, sempre
conversamos com ele, como chocolate, já fizemos de tudo, mas nada. Nem
uma mexidinha, só alguns movimentos bem leves, quase imperceptíveis.
Mas hoje, como se sentisse que seu pai precisava de nós, ele
resolveu dar o ar da graça.
— Sim amor! Ele está assim o dia inteiro e eu queria te mostrar ... —
respondo com a voz embargada.
— Eu também quero sentir — Leo empata foda e agora empata
momentos fofos interrompe, Anton me puxa para trás ficando em minha
frente.
— Não toque nela — grunhe para Leo, algumas coisas nunca
mudam, como seu comportamento possessivo.
— Caralho Anton! Ela está grávida cara... do meu afilhado! — faz
careta enojado. — Isso seria bem nojento... nunca senti um bebê antes na
barriga porra, vai deixa...
Eu começo a rir me desvencilhando de seus braços indo em direção
do seu amigo.
— Vem Leo — dou a autorização ganhando um olhar congelante do
meu noivo, dou de ombros.
Leo se aproxima e põe a mão em minha barriga, o chute vem logo
em seguida.
— Porra! Caralho! você viu isso, Anton? — diz ele olhando para
Anton que está sorrindo orgulhoso.
Ok, devemos conversar sobre palavrões perto do bebê mais tarde.
— Sim, ele é perfeito, não é? Agora solta a minha mulher e o meu
filho!
Reviro os olhos e vou em sua direção.
— Cara, deixa de ser egoísta...
— Vai fazer um filho e deixe o meu em paz — Anton declara, como
se fazer filho fosse algo bem simples, nem parece que surtou duas vezes.
— Alguém quer uma cerveja? — Davis oferece.
— Eu — Iago surge na sala, pega uma cerveja e beija minha
bochecha cumprimentando.
Anton rosna pra ele logo em seguida.
Já me acostumei com seu comportamento possessivo, Anton é
daqueles cachorros que ladra, mas não morde.
Ok, na cama sim.
— Cadê as garotas? — pergunto notando que Ema e Jules não
estão por nenhuma parte.
— Foram com Giulia buscar os doces e salgados — Leo responde
voltando a encher os balões.
— Então... a que horas devo ficar pronta para meu chá de bebê?
Anton segura minha cintura aproximando nossos rostos sob vaias.
— Vá descansar, tomar um banho e já te busco amor — seus lábios
tocam os meus, abro minha boca o convidando para aprofundar o beijo, ele
corresponde tocando minha língua com a sua.
Arranho seu braço.
Ele se afasta.
Chego perto do seu ouvido e falo bem baixinho, o suficiente apenas
para que ele escute.
— Sabe, acho que talvez eu precise de uma ajuda... para lavar meu
corpo...
Sorrio maliciosamente, ele assente, compreendendo o que eu
preciso.
— Então galera, Vick está um pouco indisposta, vou ajudá-la com
algumas coisas e já volto.
Seguro sua mão e o puxo em direção ao quarto.
— Aham, teu cu Anton! Sabemos bem que tipo de ajuda você vai dar
— Davis grita com as mãos cheias de glitter prata fazendo-me rir.
Devia bater uma foto desse momento histórico. Uma banda de
roqueiros tatuados, enchendo balões, com glitter e tinta espalhados pelo
rosto e mãos.

Levo a cerveja a boca fingindo estar interessado no que os caras


estão falando. Impossível prestar atenção em alguma coisa quando minha
garota está bem a minha frente, fodidamente linda, usando um vestido azul
claro, um dos vários que ela possui agora. Confesso que adoro pra caralho,
sua barriga fica mais visível com eles e sempre que a vejo lembro-me que
os dois são meus.
Ela está sorrindo de alguma coisa que Giulia diz e como se sentisse
que estou a observando, ela se vira me encontrando, apoio minha cerveja
na mesa e levanto, já ficamos tempo demais longe.
— Um momento rapazes, preciso tirar minha garota pra dançar.
Não espero uma resposta, nunca sai nada de importante ou útil de
suas bocas.
Caminho em sua direção, ela apenas aguarda sorrindo.
— Oi — digo estendendo a mão convidando-a para dançar.
— Oi — ela responde pegando a minha.
Puxo seu corpo junto ao meu sentindo seu perfume, toco sua cintura
deixando um beijo em seu rosto.
Ela suspira mordendo o lábio.
— Obrigada — levanta seu olhar passando seu nariz no meu
carinhosamente.
— Tudo por você amor... falando nisso seu pai ligou — faço uma
careta relembrando.
— O que ele queria? — pergunta desconfiada.
Seu pai e eu nos vimos mais algumas vezes, não sei bem qual é a
dele, digamos que estamos em uma pequena guerra, no natal o
desgraçado me deu de presente um suéter vermelho com uma guitarra
amarela estampada, fui motivo de piada.
Ok, eu lhe dei uma bengala, mas foda-se.
— Algo sobre, já que faz parte da família, deve aprender a pescar,
venham final de semana, foi mais como uma ordem do que um pedido... —
dou de ombros.
Ela balança a cabeça um pouco desacreditada e não consigo
compreender.
— Ele gosta de você... — declara pensativa.
— Não, impossível amor, seu pai pode me suportar, mas não gosta.
— Sabe quando foi a última vez que ele e Josh pescaram juntos?
Bufo irritado com a menção do seu ex babaca namorado.
— Sério? Quer esfregar na minha cara como seu pai adorava o seu
antigo genro Victoria?
Ela revira os olhos e me belisca.
— Deus, às vezes você parece um jumento Anton!
Abro um sorriso malicioso.
— Posso concordar que pareço um jumento, já viu o que um jumento
tem no meio das pernas Victoria? — respondo fazendo graça.
— Não é pra tanto né amor...
— Porra é essa Victoria?
—Enfim, a resposta é nunca Anton, meu pai nunca convidou Josh
pra nada!
— Como? — pergunto desconfiado.
Ela assente confirmando.
— Nunca, Josh até tentava puxar assunto, mas meu pai nunca deu
abertura, a verdade é que meu pai o tratava bem, mas nunca o convidou
pra nada, ele sempre ia sozinho pescar, e se convidou você... algum motivo
tem.
Velho safado!
— Claro, pra me matar afogado e fazer parecer um acidente... e
assim ficar com meu filho — ela solta uma gargalhada chamando a atenção
de todos.
Nunca me canso disso.
Escutar sua voz, sua risada... puta que pariu, como é possível amar
tanto uma pessoa? Puxo ela para mais perto do meu corpo e beijo seu
pescoço, ela solta um gemido.
Seria muita falta de educação fugir da festa que eu mesmo inventei?
Caralho, por que raios inventei essa merda?
Ah sim, ideia da Jules.
Anotado mentalmente de matá-la mais tarde.
Não.
Amanhã, mais tarde estarei ocupado.
— Vamos abrir os presentes? Preciso ir embora, daqui a pouco —
Giulia interrompe.
— Ninguém está te prendendo, pode ir... a porta está bem ali —
Davis diz apontando em direção da porta.
E lá vai, começamos mais uma vez.
— Ouviram alguma coisa pessoal? Ah, acho que não, eu não ouvi...
deve ser porque só escuto pessoas intelectualmente mais inteligentes que
uma porta! — exclama irritada.
Essa foi boa... Giulia tem um ponto, penso na minha cabeça.
Não que eu esteja criando um placar imaginário na minha mente, eu
jamais faria isso.
Isso seria muito imaturo e rude da minha parte.
Giulia 1 ...
Davis 0...
— Ok! Vamos abrir os presentes — Vick a defensora da paz
interrompe mais uma discussão.
Após ganhar muitas roupas, mordedores e coisas de bebês Leo se
aproxima com uma caixa bem grande sorrindo empolgado.
Ele está sorrindo de um jeito estranho, e confesso que to começando
a ficar preocupado.
— Esse é o meu presente — pego de sua mão e começo a
desembrulhar.
Não... não pode ser.
— Isso é um baixo? — pergunto chocado.
Cara, quem compra um baixo pra um chá de bebê?
Ah sim, Leo.
— Sim — responde orgulhoso.
— Cara, ele é um bebê... como ele vai segurar um baixo? — Iago
provoca.
— Cala boca, meu presente foi muito melhor que o seu, otário!
Vick pega o baixo da minha mão e o analisa, sua boca abre em um
sorriso gigante e seus olhos brilham em admiração, ela puxa meu braço
apontando para uma pequena descrição que há no instrumento.
"Para o pequeno Danton, do seu padrinho"
Foda-se.
É o melhor presente!
Claaaro que ninguém precisa saber.
Ainda não havíamos conversado sobre padrinho ou madrinha, mas já
era bem óbvio quem seria a minha escolha e agora não há nem chances, já
que Leo literalmente tomou o cargo.
— É perfeito — Victoria diz sorrindo.
— Viu só? A mãe do bebê gostou! Isso que importa.
— Cara, quem te disse que ele vai ser baixista? Tá na cara que o
moleque vai ser guitarrista — Davis revira os olhos levantando com uma
sacola.
— Esse é o meu — entrega para Vick.
Ela o abre e solta uma risada deixando todos curiosos pra saber do
que se trata.
Tampo meu rosto assim que ela retira da sacola uma coleira grudada
em uma mochila.
Definitivamente meus amigos não são normais, puta que pariu.
— Sério que você está dando uma coleira para o bebê? — Jules
pergunta chocada.
— Já viu como as crianças correm? Acredite, vocês vão precisar ...
Todos se olham, mas ninguém teve coragem de perguntar como ele
sabia dessa informação e porque ele pareceu falar com tanta experiência.
— Eu gostei — Vick declara sorrindo, é assim que ela é... Vick é
incapaz de magoar alguém.
E sinceramente, tenho certeza de que ela realmente gostou do
presente.

— Você está bem?


— Sim, e você? — continuo passando minha mão pela sua barriga,
nunca me canso disso.
Sei o porquê ela está fazendo essa pergunta, amanhã sai o resultado
do exame, confesso que ainda estou com um pouco de receio do resultado.
Mas agora enxergo de outra forma, olha tudo o que eu poderia ter
perdido se não tivesse vencido meu medo e ficado, os momentos que
passamos juntos, nosso filho! Eu os amo, e jamais mudaria qualquer coisa
que os levasse para longe de mim.
— Muito bem — respondo sinceramente.
— Está com medo? — sinto a preocupação no seu tom de voz.
Penso...
Eu estou com medo?
A resposta vem bem rápido.
Não.
— Não... não importa o que aconteça amanhã, nós vamos seguir a
vida como planejamos... eu, você e o Dan.
Ela suspira, minha resposta não foi o suficiente para tranquilizá-la
Num movimento rápido, porém tomando todo cuidado, fico por cima
me apoiando nos braços para não jogar o peso em seu corpo.
— Está tudo bem amor, nós vamos ficar bem, ok? — beijo sua
testa... sua pálpebra... maçã do rosto... nariz... ela começa a rir... chego a
sua boca...
— Ok! — grita sorrindo.
Observo-a por alguns segundos, não a mereço, mas eu a amo tanto.
Ela é a porra da minha vida toda, as vezes quando estou deitado
admirando-a dormir, me pergunto, onde eu estava com a cabeça quando
pensei que conseguiria me afastar dela?
Impossível.
— Anton? — passa as pernas ao redor da minha cintura.
Mordo o lábio sentindo o calor do seu corpo em volta do meu.
— Hum? — afundo meu rosto em seu pescoço sentindo seu aroma.
— Faz amor comigo? — pede.
Não respondo.
Apenas me apoio em um braço e com o outro puxo minha cueca
para baixo e a penetro lentamente não interrompendo o contato visual, sua
boca se abre soltando um gemido de prazer, meu corpo todo arrepia assim
que a sinto em volta do meu pau.
Caralho.
Porra Anton, lento.
Concentra.
Sua respiração falha enquanto revira os olhos... eu a beijo
precisando senti-la por completo, sua língua se enroscando com a minha na
mesma velocidade dos meus movimentos.
Lento...
Fundo...
Firme...
Levo uma mão ao seu pescoço me afastando, observando ela se
perder embaixo do meu corpo.
Victoria arqueia as costas aproximando seu peito, abocanho seu seio
enquanto contemplo sua reação, seus olhos encontram os meus, passo a
língua pelo bico e de recompensa escuto seu grito.
Seus quadris sobem encontrando os meus a cada estocada.
Paro por um momento, ela olha-me confusa... eu sorrio.
— Rebola amor... — peço mordendo o bico do seu seio.
— Aaaah — solta um grito.
Sua cintura estabelece o mesmo ritmo lento de antes, agora com
movimentos circulares e a sinto apertando-me cada vez mais.
— Eu te amo — se declara enquanto fazemos amor, colo nossas
testas enquanto digo bem próximo de sua boca, sentindo sua respiração
ficar cada vez mais alterada.
— Eu também meu amor... obrigado por ser meu tudo quando eu
não te ofereci nada, e obrigado por me amar quando eu mesmo não achava
que merecia.
Desperto esticando meu corpo e sinto que estou sozinha na cama, o
cheiro de bebê nos lençóis me faz sorrir, olho para o relógio ao lado
notando que já são onze horas da manhã.
A casa está silenciosa demais penso.
Saio a procura dos meus garotos e não demora muito eu os
encontro, encosto meu corpo na parede ao lado enquanto observo a cena
que passa em minha frente.
Nunca vou me acostumar com esses dois, são a visão perfeita para
meus olhos.
E Anton modo pai é incrivelmente gostoso.
Não é algo incomum, Anton sempre levanta primeiro pegando Dan
do berço, ele faz a mamadeira, troca a fralda e os dois ficam conversando
na sala.
Aquela coisa de pai e filho.
Isso acontece desde que Danton nasceu, começou na primeira
semana.
Era madrugada, eu estava cansada e havia acabado de dar mama.
Dan estava inquieto chorando. Anton o pegou no colo e foi para a sala, o
choro parou um tempo depois, curiosa levantei e fui conferir o que estavam
aprontando, Dan estava de barriga para baixo sob o peito do seu pai
enquanto ele cantava The Beatles - Here Comes The Sun.
Agora, Danton está no bebê conforto, vestindo body branco que
deixa suas coxas gordas à mostra usando um boné enquanto dorme
serenamente.
— Amor... porque Danton está usando um boné dentro de casa,
enquanto dorme? — pergunto assim que me aproximo o suficiente para ver
Anton muito concentrado com o celular na mão apontando para Dan...
procurando o melhor ângulo.
— Porque eu queria tirar uma foto dele com o boné, só que ele não
deixa! Então eu esperei ele dormir e agora eu consigo — seus olhos estão
brilhando, felicidade genuína.
Enquanto isso, nosso filho dorme usando boné com uma guitarra
estampada na frente.
Anton senta no chão me puxando para seu colo, ficamos observando
nosso pequeno que completou oito meses a poucos dias, e a cada dia que
passa ele se parece mais com Anton.
— Sabe que dia é hoje? — pergunto beijando sua boca.
— Sim! — responde me abraçando.
— Devíamos comemorar — levanto minhas sobrancelhas em sua
direção.
Hoje faz exatamente um ano que Anton descobriu não ser portador
do gene que poderia levá-lo a ter a doença, aquele foi um dos dias mais
felizes das nossas vidas, só perde para o nascimento do Dan.
No dia Anton estava uma pilha de nervos, estávamos no consultório
do seu médico, quando ele abriu o envelope e sorriu.
Anton desabou a chorar, ficamos por um bom tempo naquela sala,
ele pediu para que o médico averiguasse o exame mais trinta vezes com
medo de que algo tivesse passado despercebido, depois que caiu a ficha
nós comemoramos por quase seis meses durante todos os dias.
Ele morde o lábio pensativo olhando em direção ao nosso filho.
Depois olha para mim...
— Tem algo... — diz ele.
Seu comportamento está mais estranho que de costume.
— O que?
Suas duas mãos seguram meu rosto, fazendo-me encará-lo.
— Vamos fazer mais um?
— Um o que? — levanto minhas sobrancelhas.
— Mais um bebê... — sua voz é quase um sopro.
— Tá brincando né? — encaro seu rosto procurando algum traço de
brincadeira, mas não encontro nada.
Anton está sério, e intenso.
Ele nega com a cabeça.
— Não, nunca falei tão sério em toda minha vida amor, vamos lá...
nós ainda estamos no ritmo das madrugadas sem dormir, fraldas... eu quero
mais um... por favor — implora.
— Anton...
Viro meu rosto para o bebê conforto onde nosso filho dorme alheio
de que seu pai quer arrumar um irmão.
Mais um bebê...
Ok, não posso dizer que nunca pensei sobre o assunto antes, na
verdade passa bastante pela minha cabeça.
— Ok, tudo bem ... — ele responde um pouco desanimado, enquanto
eu continuo matutando a ideia em minha cabeça.
Cinco segundos depois ...
— E agora, podemos? — pergunta fazendo igual o burro do Shrek,
desenho que ele assiste 24 horas por dia alegando que Danton gosta, o
que é uma grande mentira, já que o pobre garoto só dorme.
— É isso que você quer? — olho seu rosto e só vejo amor
estampado, amor por mim, nosso filho, nossa família.
— Sim! — respondo um pouco mais alto e ouvimos um resmungo.
— Shiii — Ele faz um sinal para fazer silêncio.
Ele prende o riso empolgado.
— Então acho melhor começarmos a praticar — falo bem próximo ao
seu ouvido.
Me afasto o encarando, seu rosto ilumina.
— Porra! Então... isso é um sim? — pergunta levantando comigo em
seu colo.
— Sim amor, vamos fazer um bebê! — confirmo rindo.
— Victoria, eu te amo — ele cola nossos lábios, depois se afasta. —
E você está fodidamente linda está manhã!
— E eu te amo amor — apoio minha cabeça em seu peito,
escutando seu coração.
Quando penso que já o amo o suficiente, Anton vem e mostra que
nunca será o bastante, nosso amor vai além de qualquer barreira.
É infinito.
— Outra coisa...
— Lá vem — digo estreitando os olhos.
— Posso escolher o nome? — questiona mordendo o lábio.
E lá vem bomba... me afasto e o encaro.
— Qual? — pergunto desconfiada.
— Antonella, nossa pequena Ella... — meu coração erra uma batida,
pequena Ella, eu o odeio às vezes por ser tão perfeito.
— Antonella ... Ella ... — repito o nome e gosto, mas...
— Anton — fecho os olhos com medo da resposta — Qual o
significado de Antonella?
Ele sorri novamente, e como um Déjà vu lembro-me de quando o
conheci.
— Significa valiosa, sem preço, de valor inestimável — declara.
Não consigo conter o sorriso que surge em meu rosto com a cena
que passa à minha frente. Me aproximo lentamente observando e tentando
escutar o assunto que me parece uma discussão bem calorosa, bem…
quando eu me refiro a parece, é porque realmente parece. Danton apenas
faz sons com a boca, consigo ver a baba escorrendo pelo seu queixo
enquanto ele levanta os pequenos braços para o céu, marcados pela
gordura. Meu sogro por outro lado parece realmente muito interessado no
assunto, já que concorda com a cabeça enquanto sorri, aquele sorriso bobo
que todos dão na presença do pequeno.
— Acho que a pesca ficou para outra hora então — declaro
roubando um beijo do meu pequeno, sendo presenteando com muita baba
no rosto. O que de imediato me faz sorrir ainda mais, como se isso fosse
possível.
— Bem, ainda está nos meus planos, ele só está me contando todas
as coisas más que você e Victoria andam fazendo com meu pobre
garotinho, inclusive dei a ideia que ele poderia se mudar lá pra casa — diz
ele, levantando as sobrancelhas desafiando-me.
— Só se for nos seus sonhos velho safado, devolve meu filho aqui —
puxo Dan do seu colo e me sento na cadeira que há em frente ao lago.
— Grande dia amanhã hein rapaz — o escuto enquanto ele pega
seus equipamentos de pesca.
Meu coração erra uma batida.
Sim, grande dia amanhã.
Victoria e eu vamos finalmente nos casar.
Puta que pariu.
É tudo tão insano e inacreditável, que às vezes eu acordo assustado
pensando que tudo não passa de um sonho, mas então basta apenas eu
olhar para o lado e meu mundo volta a girar.
Victoria de um lado dormindo serenamente, e do outro no seu berço,
sim eu coloquei o berço em nosso quarto, e acredite foi com muita
insistência da Victoria, por mim ele continuaria dormindo na cama, mas
enfim, voltando, eu olho para o outro lado e Dan está dormindo, levanto e
vou até o berço, pouso minha mão em sua barriga sentindo sua respiração,
isso se tornou algo cotidiano, levantar durante a noite apenas para ver se
ele está respirando, se está seco, se está acordado. Meu filho é literalmente
meu coração fora do peito, dormindo ali ao meu lado.
— Ai, mãozinha pesada hein rapazinho — resmungo após levar o
terceiro tapa em menos de duas horas, sim agora ele está descobrindo
suas funções motoras, ele tenta por as mãos em nosso rosto, mas acaba
parecendo mais com um tapa.
Ele gargalha me levando junto.
— Cadê o neném do papai? — pergunto levando meu rosto a sua
barriga, ele ri ainda mais, meu sogro revira os olhos.
Dou de ombros.
Invejoso.
— Faça um garoto pra você! — o provoco.
— Não preciso, já tenho dois, e me incomodam por cinco —
resmunga
Franzo o cenho, dois?
Ele sorri e vem em minha direção ocupando a cadeira ao lado.
— Anton… — diz ele em um tom mais baixo.
Ok, momento estranho, normalmente sou chamado de várias coisas,
pé no saco, garoto folgado, entre outras.
Mas dificilmente Anton.
— Antes de levar Vick até você amanhã, quero que saiba, não há no
mundo pessoa mais merecedora do amor da minha filha que você, eu a
conheço, fui eu quem a criou, e sei do amor que ela sente por você — ele
sorri, e eu fico sem palavras, ele dá de ombros. — Não vou te dizer para
fazê-la feliz, não… eu quero que vocês dois sejam felizes, existem poucas
pessoas boas no mundo, e você meu filho, é a exceção e eu tenho absoluta
certeza de que onde seus pais estejam eles estão muito orgulhosos do que
você se tornou e da família linda que você tem.
— Eu… — as palavras simplesmente não saem, minha garganta
fecha e meus olhos se enchem, porra! Velho safado.
— Não estrague o momento garoto — diz passando o braço ao redor
dos meus ombros.
— Obrigado! — sussurro baixo, porque no momento esse é o
máximo que consigo pronunciar sem soltar o turbilhão de emoções aqui
dentro.

— Caralho Anton, para de caminhar porra, tá parecendo a noiva! —


Leo esbraveja pela terceira vez.
— Graças a Deus que nós temos um filho, então não é assim pra ela
fugir… — divago roendo as unhas que eu já nem possuo mais, e nem roer
unhas é algo que eu faço.
— Acho que to tendo um infarto, qual é o sintoma de um infarto?
Porra Iago, pesquisa ai no google…
— Cara, ainda bem que casa só uma vez, nem fudendo eu vou ser
seu padrinho de novo, está me ouvindo Anton? Nem por um caralho!
— A aliança tá aonde? — pergunto ignorando Leonardo.
— Chega porra!
Ele grita e logo em seguida sinto um tapa em meu rosto, um puta
tapa.
— Você me bateu? — pergunto incrédulo.
— Caralho, Davis! Leo bateu no Anton, corre aqui e traz o celular
porra — Iago declara rindo.
— Por que você me bateu?
Leonardo dá de ombros enquanto Iago e Davis estão gargalhando da
minha cara.
— Porque você está entrando em pânico porra, relaxa cara, Victoria
é sua garota, Deus sabe o quanto ela é louca por você, afinal quem em sã
consciência teria um filho seu, tipo, por uma intervenção divina Dan veio a
cara da Vick, por que por você! Querido, o pobre garoto estaria em
desvantagem, inclusive aconselho a parar por aí, vai que a próxima criança
não tenha tanta sorte, pobrezinha.
— Cara… — fecho os olhos passando a mão no rosto. — Quem foi
que convidou ele? — questiono aos meus amigos apontando em direção
do meu padrinho.
— Você — Davis e Iago respondem juntos.
— Eu estava bêbado, só pode!
— Vick está pronta! — Giulia surge vestida igualmente das outras
garotas.
— Agora tenho certeza, é um infarto porra.
Sinto minhas mãos soarem, meu coração triplica o batimento, mal
consigo respirar, mas isso é culpa inteiramente da minha noiva, que teimou
em me por de terno e gravata, só aceitei porque ela me pediu com jeito,
mordeu o lábio e prometeu que não usaria calcinha.
Sorrio, puta que pariu, agora tô de pau duro.
Ótimo.
Perfeito Anton, passar a cerimônia inteira pensando em Victoria sem
calcinha.
— Vai deixar ela sozinha? — Leo diz, tirando-me dos pensamentos.
— Alarme falso, não é um infarto… — afirmo.
— Ótimo… todo mundo em seus lugares cambada de inúteis — diz a
melhor amiga da minha futura esposa.
Dou de ombros e vou para meu posto.
— Aquela garota é insuportável, acha que manda em todo mundo —
Davis resmunga.
— Como é que eu tô? — pergunto me virando para Davis, ele faz
uma careta, eu reviro os olhos e me volto para o Leo que está mais
próximo.
— Horrível, mas ela pode sempre mudar de ideia, por isso to aqui —
declara passando as mãos pelo seu terno.
Arg.
Nojento.
— Cara, você é um puto do caralho Leonardo e eu queria muito te
afogar no lago agora, só que é a porra do meu casamento! — declaro rindo
me sentindo o cara mais feliz do mundo, eu devo dizer isso o tempo todo.
Mas porra, eu me sinto assim o tempo todo.
Me viro e observo apenas nossos amigos mais próximos e familiares.
Nós decidimos casar depois que o Dan nascesse e estivesse um
pouco grande, escolhemos a casa no lago, é especial para mim, e segundo
Vick, é para ela também.
Jules e Giulia decoraram tudo com flores brancas e um arco de
frente para o lago, há um juiz de paz.
Olho para o bebê conforto ao lado da minha sogra, onde meu
pequeno rock star dorme. Diferente de mim, Dan está bem confortável com
sua bermuda, sem sapatos e camiseta.
Somewhere the rainbow começa a tocar e eu sei que a minha
pequena, minha dona encrenca está prestes a entrar.
Eu já imaginei essa cena diversas vezes, sonhei com ela outras
infinitas vezes, mas nada, repito nada se compara a isso.
Prendo os lábios assim que meus olhos encontram os dela.
A intensidade, ela sempre me acompanha, sempre que sinto seus
olhos em mim, sempre que sinto seu toque, é como uma maldita energia
correndo pelas minhas veias.
Ela sorri daquele jeito lindo e levanta os ombros, um sinal claro de
que está curiosa para saber minha opinião sobre seu vestido.
Ela está linda.
Caralho.
Existe uma palavra melhor que linda?
Se sim, é o que representa ela.
E eu como o louco apaixonado que sou, levanto as mãos e bato
palmas, Leo, Davis e Iago se juntam, ela cai na risada.
Puta que pariu, eu amo essa mulher.
Foda-se…
Saio do meu posto e vou em sua direção, paro antes de chegar perto
e observo-a mais uma vez, Deus essa mulher é minha, a puxo para meu
peito e a giro afundando meu rosto em seu pescoço, nos afastamos e sinto
sua mão em meu rosto.
— Você está fodidamente linda amor — declaro passando meu nariz
em seu pescoço. Até que escuto um resmungo ao lado.
— Garoto, você nunca pode seguir as regras não? — diz ele, mas
noto que está se divertindo.
— Sogrão, deixa comigo, eu assumo daqui — bato em seu ombro.
Ele revira os olhos bufando, volta sua atenção para Victoria.
— Filha, esse garoto aqui, é um pé no meu saco, mas… você sabe,
eu só te entregaria a alguém assim no altar, se eu realmente confiasse e eu
confio nele, sejam felizes.
Victoria apenas assente mordendo os lábios, os olhos quase
transbordando.
Quando estamos prestes a continuar, eu paro.
— Amor… espera — sussurro baixinho.
Ela volta seus olhos para mim sem entender.
— Sei que havíamos combinado sem votos... então, preciso que
você saiba, sou péssimo com palavras, pra mim atitudes falam muito mais,
só que preciso que você pequena tenha ao menos uma noção da dimensão
dos meus sentimentos por você, e acho que pra isso eu preciso falar,
porque atitudes nunca serão o suficiente. Dizem que uma pessoa não pode
te completar, que você já deve ser completo, — ela prende os lábios, e a
primeira lágrima escorre. — Eu até concordo, mas isso com toda certeza
não se aplica a mim, sabe um quebra cabeça? É assim que eu me sinto, só
que um quebra cabeça de duas peças apenas, você é a minha peça
Victoria, sem você eu vou continuar respirando, vou continuar existindo,
mas não haverá beleza nenhuma na minha vida, você é o meu sol, minha
chuva, minhas estrelas, tudo que há de lindo e belo no mundo é você pra
mim, e eu te amo amor, e eu juro que vou te amar e respeitar, na saúde e
na doença, além da morte, porque nem isso vai nos separar, te amo além
da vida pequena.
— Anton — diz ela em um suspiro pulando em meus braços, eu a
seguro forte.
— Eu te amo, pra todo sempre! Você é a minha peça — declara se
afastando, eu limpo suas lágrimas enquanto ela sorri ainda chorando.
Lágrimas de felicidade, sim.
Essas eu me orgulho em tirar.
— Por que não podemos fazer nada normal como casais normais?
— Porque nós somos o casal de valor inestimável meu amor, nada é
convencional.
Seguro sua mão, ela aperta forte e eu retribuo.
— Pronta para mais uma aventura, senhora Alencar?
— Ainda não casamos — provoca-me fazendo beicinho.
— Ah pequena, você é minha desde o primeiro dia que coloquei
meus olhos em você... isso aqui é só uma formalidade.
Ela me analisa, provavelmente relembrando nosso primeiro encontro.
Ela acena concordando.
Claro que sim, pertencíamos um ao outro.
Ela sabe, eu sei.
— Estou pronta amor — declara virando para frente. — E sem
calcinha... — completa virando seu rosto em minha direção sorrindo
docemente.
Ah dona encrenca.
Tô fodido…
Nada melhor que falar sobre uma autora, senão contando uma
história.
Era uma vez, uma garota, ou mulher, vocês decidem, de 25 anos
que guardava muitos sonhos, vontades e desejos, ela imaginava vários
mundos e realidades diferentes para si, mas como viver todas em apenas
uma vida? Nos livros é claro, após duas garrafas de vinho em uma noite, a
Scarllet nasceu, pediu licença e colocou tudo em ordem. Scar, como eu
gosto de chama-la é totalmente o oposto, ela não se importa com a opinião
alheia, adora vermelho e botas de couro preta, gosta de Hot, Dark,
Fantasia, Drama, BDSM... exatamente TUDO. Ai eu pergunto, quem é a
Scar? Um tiquinho de cada coisa.
Embora seja uma autora, confesso que não sou a melhor pessoa
com palavras, principalmente quando se trata de sentimentos que envolvem
pessoas especiais para mim. Talvez seja o fato deste livro ser o meu
primeiro, o caminho não foi fácil, mas também não posso dizer que foi
difícil, isso é claro, devo dar o crédito as minhas amigas, amigas essas que
conheci assim que iniciei no Wattpad, posso dizer com toda certeza que
possuo as melhores ao meu lado, Fabi (@isliterario), Rita (secre_tgraden),
Leticia (@autora_leeh), Beatriz (@autoralbf_) Beatriz (@livro_squeeuamei),
Maya (@autoramayaoliveira) e Isabela (@caixadesonhos25) eu não
conhecia absolutamente nada, apenas acordei um dia e decidi colocar de
lado as inseguranças e medos, e em todo meu trajeto até aqui, meus surtos
e vontade de desistir, elas estavam lá para me apoiar, seja nas broncas,
conselhos e palavras gentis. Obrigada meninas, eu amo vocês, de sempre
pra sempre. Vocês são foda pra caralho como diria nosso querido Anton de
valor inestimável.

Obrigada as meninas que foram minhas parceiras e ajudaram com a


divulgação do livro, @viciolivroshot / @re.livrosromanticos /
@mania_sliterarias / @autora.sahflor.1912 / @ferassessorialiteraria /
@louca_por_livros_hot / @estantedathata / @dannybrasilp /
@circulo_intimo / @reading_with_the_stars / @booksedge /
@amandolivros6 / @thay.literaria.

Quero agradecer a todos vocês leitores, que acompanharam a


história no Wattpad, onde meu sonho nasceu, e gostaria de agradecer
quem começou a me acompanhar agora na Amazon, felicidade não chega
nem perto do que estou sentindo enquanto escrevo essa mensagem,
espero do fundo do meu coração que a história tenha tocado vocês de
alguma forma.

Obrigada, obrigada e obrigada!


Vocês são foda.

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