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1ª Edição
Brasil, Dezembro/2021
Instagram: @autorascar.jf
E mais uma vez estou atrasada! Tenho problemas com horário assumo,
mas em minha defesa dessa vez a culpa não é totalmente minha.
Tá ok! Talvez um pouco.
Enfim, estou atrasada e não faço a menor ideia de onde coloquei
minhas chaves do carro. Vou até a cama onde meu excelentíssimo
namorado dorme.
— Bom dia Josh, está na hora — puxo seu braço, mas nada.
Odeio quando demora para acordar.
— Vamos amor... está na hora! Preciso ir trabalhar, por falar nisso, viu
minhas chaves? — pergunto enquanto termino de calçar meu sapato.
— Bom dia anjo — diz se espreguiçando e sorrindo de forma sonolenta.
— Ontem vi você colocando em cima da cômoda.
— Ah claro, como eu poderia esquecer, sério, acho que devia deixar um
lugar específico para cada objeto em casa, tipo colocar post it sabe?
Josh cai na gargalhada, fico feliz que minha falta de organização divirta
alguém.
— Você acha Vick? Tenho certeza, que horas são? — pergunta
sentando na cama.
Olho o relógio e dou um grito, mas que droga!
— São sete horas! Tenho que correr, até mais tarde amor, almoçamos
juntos hoje?
Pego minha bolsa, confiro se todos os meus pertences estão aqui.
Chaves, ok
Celular, ok
Dignidade… não.
— Hoje não vai dar anjo, tenho uma reunião com uns colegas do
trabalho. Podemos jantar juntos, o que acha?
Volto minha atenção para Josh, ele fala de um jeito como se isso fosse
algo esporádico, mas nós não almoçamos juntos faz mais de meses, nem
jantamos.
Respiro fundo com todo meu autocontrole.
— Ok, me mande mensagem.
Beijo-o e saio correndo.
No carro ligo o som no último volume e sigo cantando enquanto vou
batucando com os dedos no volante. Meus olhos são atraídos para uma luz
laranja piscando no painel, praguejo mentalmente, o carro entrou na
reserva, por que raios eu não abasteci ontem?
Ah que raiva, infelizmente não tenho tempo de passar no posto de
gasolina, realmente preciso chegar no trabalho.
Estaciono o carro e olho o relógio, ótimo 10 minutos atrasada!
Maravilha.
— Eu sei, eu sei, sinto muito, não vai mais se repetir — declaro entrando
na loja.
— Vick, já ouvi isso umas três vezes só essa semana — olha-me por
cima dos óculos, ela suaviza o rosto. — Só te perdoo porque você é uma
excelente funcionária, mas não abuse.
— Muito obrigada Luiza, o que temos pra hoje? — pergunto enquanto
tiro minha jaqueta e guardo minha bolsa.
Trabalho em uma loja de roupas femininas a "DeLatorre". É uma
empresa pequena, há somente eu e mais outra menina além da minha
chefe Luiza, de fato não é exatamente o emprego dos meus sonhos, mas o
salário é bom, consigo pagar as contas, ajudar no aluguel e ainda sobra.
Tenho 23 anos e ainda não sei exatamente qual a profissão que quero
seguir, tenho plena consciência que poderia estar me formando, porém
tenho dúvidas, gosto de tudo um pouco o que dificulta minhas escolhas.
Entro na parte do estoque da loja e percebo que o dia acaba de ficar
bem longo.
— Recebemos várias peças novas Vick, precisamos dar entrada e
organizar o estoque, acha que acabamos isso ainda hoje? — olho por cima
do ombro e faço um sinal de que tá tudo sob controle, ela apenas sorri.
— Preciso me ausentar da loja amanhã, então queria deixar tudo
organizado.
Noto que ela não está tão animada como de costume, algo está errado.
— Algum problema, Luiza?
— Nada importante…
— Você sabe que pode contar comigo, não é?
— Eu sei Vick, mas não é nada importante mesmo.
Nesses dois anos que trabalho na DeLatorre já percebi que Luiza é uma
pessoa maravilhosa, porém não gosta de se abrir, então não forço, deixo
apenas que ela saiba que estarei aqui caso precise.
— Então melhor começar isso. Amanda está de folga hoje?
— Sim, ela iria folgar amanhã, porém como vou precisar me ausentar
troquei a folga dela para hoje.
— Ok, é melhor eu começar então.
O restante da manhã passa tranquilamente, consigo adiantar bem o
serviço, quando olho no relógio vejo que já são quase 14:00 horas e ainda
não almocei, ligo para um fast food e almoço na loja mesmo, preciso
terminar isso ainda hoje.
Olho meu celular conferindo e nenhuma mensagem de Josh, o que não
é uma grande novidade, não somos um casal que conversa o tempo todo.
Nos damos muito bem, gostamos das mesmas coisas, frequentamos os
mesmos lugares, temos um relacionamento saudável, não possuímos
aquela cobrança e ciúmes.
Josh acabou de se formar em Administração, então está bem atarefado
com seu novo emprego, ele tem sonhos e ambições e eu o admiro muito
por isso, quando ele quer algo vai atrás, então eu o apoio em tudo que
posso, sempre.
Minha boca fica seca, minhas mãos estão suadas, meu coração parece
que vai sair pela boca a qualquer momento e sabe aquela sensação de
borboletas que as pessoas tanto falam? Sim, elas também estão em meu
estômago agora.
A música termina, sinto-me como se tivesse acabado de sair de um
lugar onde existia apenas eu e Anton. Sou tirada por completo do meu
transe quando escuto Giulia.
— Ok, Victoria Carvalho, que porra aconteceu aqui? — questiona
curiosa, quando eu mesma não sei o que aconteceu.
— Ah não é nada, ele é assim mesmo o tempo todo — tento disfarçar o
quanto estou mexida.
— Uhum, isso... continua afirmando isso, que talvez vire verdade.
— Me deixa Giulia Maria, não tem absolutamente nada! Essa música é o
toque do meu celular, ele lembrou e apenas isso, sem mais — digo
tentando acabar com o assunto, até apelo pelo seu nome completo que ela
odeia.
— Você não fez isso ... agora eu tenho certeza que tem alguma coisa,
você não ia usar meu nome completo assim por nada, vamos lá, me conta
— pergunta sorrindo diabolicamente.
Giulia possui três sorrisos, um é de anjo que ela utiliza para conseguir
coisas, o segundo é o de felicidade sem motivos, o sorriso fácil que
mencionei, e o outro, esse é o sorriso diabólico, ela usa quando tem razão
ou depois de conseguir o que quer.
Aceno negando.
— Não tem absolutamente nada! Eu tenho namorado, não sei se você
lembra.
Vira a cabeça de lado semicerrando os olhos desconfiada.
— Já que não existe nada, talvez eu deva investir, sabe... ele é
realmente muito lindo — sei o que está tentando fazer, quer tirar qualquer
reação minha por menor que seja, mas ela não vai conseguir.
Viro o restante do drink que ainda tinha em meu copo.
— Devia mesmo — concordo voltando a dançar, mesmo sentindo um
desconforto.
Fecho os olhos e esqueço todas as minhas inseguranças, dúvidas e
temores, apenas eu e a música. Sempre gostei de dançar, é o único
momento em que sinto que posso ser eu mesma, sinto-me livre sem
precisar agradar ninguém, ser amigável ou fazer tudo o que as pessoas
julgam correto, continuo dançando de olhos fechados quando sinto alguém
se aproximando, engraçado que já sinto a sua presença sem nem mesmo
abrir os olhos, sorrio.
Abro os olhos e engulo em seco com a visão que há em minha frente.
— Olá Anton de valor inestimável.
— Olá Dona Encrenca — responde com seu sorriso lindo e
sarcástico.
No carro com minha banda a caminho do bar onde tocamos todo
sábado, sinto meu celular vibrar no bolso, Jules minha irmã pentelha, tenho
29 anos e ela tem 25, a diferença é pouca só que gosto de pensar que sou
muito mais velho, atendo o telefone.
— Hey princesa!
— Anton... precisamos conversar.
— Não Jules, nós já conversamos e eu gostaria muito que você
respeitasse minha decisão.
— Não Anton. Sua decisão afeta minha vida, então não posso
simplesmente deixar como está, você precisa repensar e analisar melhor a
situação — solto uma risada amarga.
— Situação? É assim que você quer chamar agora? Jules eu a amo
mais do que a mim mesmo, você tem sido a luz em minha vida desde que
me conheço por gente, mas por favor não faça isso ok? A vida é minha, a
situação como você chama é minha também, então por favor ao menos
uma vez na vida deixa que eu resolvo e levo isso do modo que eu quero —
percebo que talvez eu tenha sido duro demais, mas sempre quando ela
vem com esse assunto eu fico assim, respiro fundo e tento consertar a
situação.
— Princesa, por favor... não vamos discutir novamente sobre isso,
ok? Nós já conversamos, te expliquei as minhas vontades e eu gostaria
muito que você apenas aceitasse, seria muito mais fácil. Por favor não
complica mais do que já está.
— Não vou prometer que não vou tocar mais no assunto, porque
essa não sou eu, eu te amo e vou lutar até o fim pelo que julgo ser o certo,
mas por agora vou te deixar em paz.
— Ok princesa, posso conviver com isso por agora — o carro para
indicando que chegamos.
— Jules tenho que desligar, acabei de chegar no bar. Te ligo mais
tarde quando acabar o show.
— Ok Anton, mas liga! Sabe que fico preocupada quando você
esquece, por favor vê se não bebe tanto — pede dando risada, sempre que
bebo acabo ligando para Jules no meio da noite e fico cantando no celular.
— Tudo bem, até daqui a pouco, te amo.
— Também te amo.
Desligo o celular e desço do carro com meus amigos que tocam na
banda, nos conhecemos desde o ensino médio, Davis toca guitarra e às
vezes se arrisca no baixo. Iago toca bateria e o Leo toca baixo, desconfio
que ele toca na banda apenas pelas garotas e não pelo prazer da música,
por mim ele tocando bem está ótimo. Já eu… eu amo, música é o que me
move, quando subo no palco simplesmente faço o que gosto, toco sempre
conforme estou sentindo, as vezes gosto de músicas mais melancólicas,
outras vezes músicas mais animadas, depende muito do meu humor e
estado de espírito, claro que sempre procurando agradar o meu público. A
música se tornou meu escape desde os meus 9 anos quando as coisas na
minha vida se tornaram... digamos que complicadas, desde então é o que
eu faço.
Entrando no bar noto que a casa está lotada, vou em direção ao
segurança Jack, somos amigos faz uns 3 anos desde que comecei a tocar
no bar. É um cara legal, mas sempre se deixa levar por rostinhos bonitos,
dou risada porque isso já o colocou em mais enrascadas que posso contar,
caminho em direção ao palco para arrumar os instrumentos e deixar tudo
pronto, cessamos a música que estava tocando, subo no palco e começo a
tocar quando de repente escuto um berro, um puta berro na verdade.
— Antoniooooooo.
Demoro alguns segundos até compreender que eu reconheço essa
voz e a brincadeira com o nome também não passa despercebida.
Começo a procurar pela pequena plateia e quando meus olhos a
encontram fico surpreso, sim é ela, Victoria está aqui em carne e osso no
bar em que estou tocando.
Tenho sonhado com essa garota todas as fodidas noites.
Depois do nosso pequeno encontro na rua eu a vi novamente em um
restaurante, comendo hambúrguer e tomando milkshake de morango, uma
combinação bem estranha de fato, claro que ela não notou a minha
presença estava entretida demais comendo.
Me sentei em uma mesa próxima o suficiente apenas para observá-
la sem ser visto.
Victoria possui manias bem estranhas na verdade, talvez nem ela
perceba, ela faz caretas o tempo todo, também é simpática e sorri para
todos que cruzam seu caminho. Tem mais uma coisa, ela é desastrada e
pelo jeito está sempre correndo, é extremamente linda, mas desconfio que
não saiba disso também.
Porém meu interesse nela não se baseia nisso, não é algo
superficial. Victoria tem algo que não sei explicar, é como se fosse um imã,
um magnetismo fodido sempre atrai-me para onde ela está e desde então
estou indo quase todos os dias almoçar no mesmo horário e no mesmo
lugar apenas na esperança de vê-la só mais uma vez. Sempre digo a mim
mesmo, que será a última vez, porém sempre volto por um pouco mais.
Eu não devia e no fundo sei, e é justamente por isso que sempre me
mantenho afastado, mesmo que ela estivesse disponível eu não sou o cara
certo, ainda assim... vendo-a ali agora, parada olhando-me com aqueles
grandes olhos, nada nunca pareceu tão certo. Então canto a música que ela
adora e curiosamente diz exatamente como estou sentindo-me nesse
momento.
— Vou cantar uma música hoje para uma pessoa que eu conheci há
um tempo atrás, olá Dona Encrenca seja bem-vinda, espero que esteja se
divertindo — seus olhos se arregalaram em surpresa, mas seu sorriso logo
surge quando reconhece os primeiros acordes.
Por sorte meus amigos da banda já me conhecem e sabem que eu
toco o que estou sentindo, não temos um repertório, eles só me
acompanham.
Eu canto, faço a única coisa que sei fazer, não sou a melhor pessoa
com palavras e muito menos com sentimentos, uso sempre a música para
expressar-me e nesse momento a música diz exatamente tudo que estou
sentindo e o que eu gostaria de falar, eu a quero, a quero tanto que dói e
mesmo sabendo que é errado e que eu não devia, eu ainda a quero.
Ela para de dançar e fixa o olhar nos meus, isso pequena... apenas
sinta, paro de sorrir, quero que ela saiba que cada palavra que estou
cantando é a verdade. Porra foda-se eu sou assim, quando quero algo eu
vou atrás e até agora me mantive distante, mas hoje não.
Acabo de tocar e logo início outra, enquanto a observo dançar de
olhos fechados, após duas músicas peço uma pausa, pela primeira vez
peço uma pausa.
Realmente preciso ir até ela, é uma necessidade de ter pelo menos
um pouco que seja dela, desço do palco e várias garotas vêm ao meu
encontro, infelizmente desde que eu a conheci não consegui pensar em
mais ninguém, eu sei que pareço exagerado, mas esse sou eu, vivo a vida
intensamente.
Victoria é dona dos meus primeiros pensamentos quando acordo e
dos meus últimos quando vou dormir, ela se infiltrou em meu sistema e não
há jeito de tirá-la.
Ela sente quando estou chegando perto, sorrio com a descoberta,
pensei que fosse apenas eu que sentia essa eletricidade, mas não, é nítido
que é recíproco.
— Olá Anton de valor inestimável — ela sorri e porra a vontade que
sinto é de prensá-la na parede e beijá-la como se não houvesse amanhã.
Está suada com as bochechas vermelhas de dançar, ficaria perfeita
esparramada em minha cama.
— Olá dona encrenca — respondo sorrindo, ela não precisa saber o
que se passa na minha cabeça.
— Não sabia que você era um astro do rock — questiona levantando
as sobrancelhas.
Jogo a cabeça para trás rindo, ela retribui o sorriso.
— Não sabia que você era dançarina — rebato, ela sorri e fica
vermelha.
— Bebe comigo? Tenho 15 minutos para uma pausa…
Seus olhos transparecem incerteza e quando ela vai negar o pedido
somos interrompidos.
— Sim ela bebe — sua amiga responde, então lembro que ela está
acompanhada de uma garota.
— Olá, sou a Giulia — cumprimenta-me estendendo sua mão.
— Anton, prazer... então vamos — sorrio a agradecendo.
Sem dar chance para uma rejeição, viro as costas e caminho em
direção do bar, quando chegamos espero que ambas sentem primeiro,
ocupo o lugar ao lado de Victoria sem dar chance para que fique longe.
Peço mais três bebidas.
— Noite das garotas então? — pergunto observando seu rosto de
perto, é ainda mais linda assim.
— É... sim, noite das garotas — responde um pouco nervosa e noto
que está ponderando as respostas... posso ver pela forma que está
mexendo os dedos sem parar.
— Então pessoal eu preciso ir ao banheiro, já volto — sua amiga
Giulia sai praticamente correndo, Vick fecha os olhos e suspira, acho que
tenho uma cúmplice aqui.
Bom...
— Eu escutei a música... — declara apontando para meu braço onde
está tatuado a música Creep, sinto um sentimento diferente, ela lembrou...
prestou atenção em algo pequeno e guardou.
— E o que você achou? — realmente estou curioso pra saber a sua
opinião.
Ela prende os lábios em uma linha, pensa por um momento.
— Bom... sabe, eu realmente a achei linda, mas depois quando
coloquei tocar de novo e foquei na letra, eu sei lá, achei triste... você não
acha? — pergunta nervosa mexendo os dedos sem parar e pressionando
os lábios como se tivesse acabado de falar algo que não devia.
— Era a música favorita do meu pai, sempre gostei dela também,
mas sim é um pouco triste e para ser bem sincero eu não tinha
compreendido ela, mas hoje nesse momento eu consigo entender
exatamente o porquê ele gostava tanto — ela vira a cabeça um pouco de
lado como se estivesse tentando encaixar alguma peça de um quebra
cabeça, chega a ser engraçado, ela parece um anjo e sinto vontade de
tocá-la, mas não quero assustá-la, escuto batidas de bateria e olho em
direção ao palco, está na hora de voltar.
— Tudo bem rockstar é sua hora de brilhar — sorri mordendo os
lábios, onde me perco por alguns segundos, volto a olhar para seus olhos.
— Me espera? — as palavras saem da minha boca sem pensar.
Ela sorri sem jeito.
— Eu não posso, sinto muito Anton — ela entendeu a minha
pergunta e eu compreendi sua resposta, Victoria tem namorado, e mesmo
sabendo que isso é o melhor para ambos, não consigo conter a tristeza e o
vazio que se aloja em meu peito, me aproximo e seguro seu rosto
depositando um beijo demorado em sua testa.
— Adeus Victoria — me despeço.
— Adeus Anton — ela tenta sorrir, mas falha miseravelmente, eu
conheço o seu sorriso e definitivamente esse não é o verdadeiro.
Chegando ao palco canto a única música que diz exatamente como
estou me sentindo e nesse momento consigo entender por que meu pai
gostava tanto dessa, agora tudo faz sentido.
In a beautiful world
Num mundo perfeito
No carro Iago dirige por ser o único que não bebeu ainda e Davis vai
ao seu lado no banco da frente, sento ao lado de Jules que por fim se senta
ao lado do Léo, durante o caminho vamos conversando sobre histórias da
banda e rindo muito, escutamos música, noto que Léo e Jules são bem
próximos, o carro para em frente a uma casa que já está cheia de pessoas
com o som bem alto!
— Essa é sua casa? — pergunto enquanto observo o lugar, é linda.
Tem um jardim com várias flores de tudo quanto é cor, fico fascinada. Não
imaginei que essa seria a sua casa, não que eu esteja o julgando, mas
bem, Léo não faz o tipo de quem tem um jardim e diversas flores.
— Yes, baby! — afirma orgulhoso.
Descemos do carro e olho ao redor procurando Anton, mas nada. Ele
ainda não chegou.
— Anton voltou para pegar minha carteira, esqueci no bar — sorri
sem jeito. — Vamos entrando, ele logo chega — Iago avisa e vai em
direção da casa, Jules segura minha mão e sorri.
— Vamos? Léo é um idiota, mas estamos seguras, Anton já chega.
— Estou grande hoje, acompanhado com as garotas do Anton —
Léo passa os braços ao redor de nós colocando a cabeça no meio.
— Você é um idiota Léo — Jules desfere um leve soco na lateral do
seu corpo.
— Não faça isso meu amor, eu fico triste quando me batem — Leo
geme enquanto vira a cabeça de lado fazendo cara de cachorro sem dono,
eu até poderia sentir pena, se não fosse o Léo.
— Que mentira, você adora apanhar Leonardo — Jules debocha.
— Em um quarto, algemado, de olhos vendados talvez sim, quer
tentar? — levanta às duas sobrancelhas sugestivamente.
Suponho que esqueceram que estou aqui.
— Dispenso Léo, guarde para as vinte garotas que você irá pegar
hoje, no mínimo — Jules diz brincando, mas consigo sentir um tom
acusatório.
— Jules, um dia você irá se casar comigo, e teremos cinco bebês.
— Você deveria parar de sonhar, eu teria cinco filhos e vários pares
de chifres, você não presta.
— É verdade, sempre esqueço esse detalhe, sou um puto — diz
piscando.
Entramos na casa e consigo ver várias pessoas dançando e se
beijando, a música está bem alta, passamos por garotas que estão quase
peladas, devo ressaltar que eram muito bonitas, me pergunto quantas
garotas Anton já levou para cama, considerando que provavelmente
sempre vão em festas depois do show, paro e fico observando uma garota
bebendo algo no corpo de um garoto, sinto Jules me puxando, continuamos
até que chegamos na cozinha, Léo puxa uma garrafa de algo que eu não
reconheci, despeja o líquido em um copo e o bebe de uma vez só.
— O que querem beber, meninas?
— O mesmo que você — Jules responde sentando na cadeira
— Você não aguentaria — Leo a desafia.
— Você ficaria surpreso com o que eu aguento — responde
levantando uma sobrancelha o provocando, acredito que estou perdendo
alguma coisa aqui.
Ele para, analisa, lambe os lábios, vira a cadeira e se senta apoiando
os cotovelos.
— Cinco doses uma atrás da outra — declara confiante de que Jules
não irá aceitar, eu apenas fico olhando de um lado para o outro
acompanhando essa batalha silenciosa.
— Ok, pode pôr, eu e Vick aceitamos.
— Que? — me manifesto chocada, eu mal bebo, quem dirá cinco
doses uma atrás da outra, com toda certeza na última estarei caindo.
Isso é péssimo, nada de bom pode sair disso, mas antes mesmo de
responder que não quero, que isso é loucura, Léo distribui dez copos de
shot com o líquido, várias pessoas nos cercam e eu olho para os lados a
procura do Anton, volto meus olhos em desespero para Jules, ela sorri.
— Vamos lá garota — então ela virá o primeiro sem quebrar o
contato visual com Léo, gente isso aqui está muito estranho, só eu sinto
essa química aqui? Ninguém nunca percebeu nada antes?
— O que tem aqui? — pergunto interrompendo o momento de
desafio dos dois, levo o copo ao nariz, tem cheiro de álcool puro.
— Tequila baby — sorri de lado.
Ok, o Léo atrapalhou tudo esse puto do caralho, entretanto ela não
irá embora, acredito que ter aceitado ir à casa do Léo, é um bom sinal, eu
acho.
Quando estava a caminho, parei para abastecer e Iago me liga
pedindo que eu retornasse ao bar e buscasse sua carteira, como estou de
moto seria mais rápido, porém isso leva quase uma hora e meia, e confesso
que eu tenho receio de deixar Vick sozinha com aqueles lunáticos, bom...
pelo menos Jules está junto.
Estaciono a moto em frente a casa e já consigo escutar o som alto,
há pessoas por toda parte, por sorte Léo mora em uma casa bem afastada
das demais, então sempre rola festa sem nenhum problema.
Entro na casa e estou à procura da Victoria quando uma garota se
aproxima com segundas intenções, conheço ela.
Bruna e eu já ficamos algumas vezes, ela chega mais perto, segura
meu pescoço e tenta beijar-me, mas desvio a tempo.
— Oi lindo, o que acha de subirmos para um dos quartos? Faz um
tempão que não te vejo.
— Hoje não — esquivo-me e continuo a procura da minha pequena,
escuto alguns berros e vou em direção, quando chego, para minha surpresa
está Jules e Vick virando várias doses de algo que não tenho ideia, e pela
segunda vez me pergunto se realmente foi uma boa ideia apresentar essas
duas, eu deveria ter pego Vick e ido embora, mas não, Victoria tem que ser
a miss simpatia, e Jules, prefiro nem comentar sobre minha irmã, ela
sempre é a mais centrada e responsável, já até ganhou o apelido de careta
no grupo. Me aproximo e Vick me encontra, abre um sorriso radiante com o
rosto vermelho e os olhos brilhando.
— Olá pequena, vejo que começou sem mim — coloco uma mecha
de cabelo, atrás de sua orelha.
— O Léo desafiou eu e a Jules, e nós somos uma dupla muito
perigosa, então nós aceitamos — estufa o peito enquanto conta o que o
babaca do meu amigo fez. Vou matá-lo, não hoje, não amanhã, mas um
dia.
— Antooon, nós somos uma dupla, você deveria ver, somos demaais
— Jules grita em meu ouvido abraçando meu pescoço, consigo sentir o
cheiro do álcool puro.
— Estou vendo — respondo divertindo-me.
— Não é Antooon, é Antônioo — Victoria argumenta seriamente
levantando o queixo, às duas caem na risada, ótimo.
— Ok, que tal tomarmos uma água? — Ofereço na tentativa de
amenizar a ressaca de amanhã.
— Não, ainda não acabamos o desafio... falta a última. — Vick avisa
levantando as sobrancelhas.
— Isso Anton, apenas mais umaa — Jules levanta a mão fazendo o
número três com os dedos enquanto balança a cabeça concordando com
Victoria.
— Então vamos lá, vamos finalizar isso campeãs — digo sorrindo.
— Léo, traga as últimas, nós vamos beber — Vick avisa Léo com
seriedade, elas realmente estão levando esse desafio à risca.
— Isso Vick, nós somos foda, somos as rainhas do mundo — Jules
grita abrindo os braços.
— Ok, Titanic não né Jules.
— Meu Deus, eu amo Titanic — Vick se vira para Jules segurando
suas mãos.
— Meu Deus eu também, somos almas gêmeas.
— Simmmm — pulam e se abraçam, se alguém visse de fora diria
que se conhecem a vida inteira.
— Já sei, última pergunta Vick, preciso saber se você é realmente
perfeita como parece ser — Jules declara extremamente séria, nem parece
estar bêbada.
— Pode mandar, estou pronta — Vick responde, isso realmente está
acontecendo?
— Eu canto a primeira parte, se souber a segunda você se torna
minha alma gêmea para todo sempre.
Estou observando as duas sem entender nada, elas não estão
fazendo nenhum sentido.
— Vai — Vick fecha os olhos em espera.
— "No importa mucho lo que digan de mí, Cierro los ojos y ya estoy
pensando en ti" — Jules canta a primeira parte da música, reconheço na
hora, mas somente porque Jules ficava para cima e para baixo com uma
estrela colada na testa, que eu era obrigado a comprar sempre que ela as
perdia, saia rodada e um controle que fingia ser um microfone, passava os
dias cantando e dançando no meio da sala enquanto eu queria assistir
qualquer outra coisa, porém ela tinha um alto poder de persuasão desde
pequena, ela afirmava ser a Mia dos Rebeldes.
Vick arregala os olhos em reconhecimento, dá pulos e grita no meio
de todos, já disse quantas pessoas tem nessa festa?
— "Y soy rebelde, Cuando no sigo a los demás" — Canta ainda mais
alto, quero me esconder, posso fingir que não as conheço? Seria muito
errado?
— Você conhece! Anton ela conhece! — tarde demais, todos já
sabem.
— Sim, Jules... eu e toda a festa sabemos que ela sabe — respondo
rindo.
— Anton, ela é perfeita, se você não casar, eu caso.
Não sei o que pode ser pior, Jules lembrando de sua banda favorita
de quando era pequena ou Victoria conhecer também, pego-me querendo
descobrir de quem ela mais gostava... não que eu assistisse, claro que
não.
Para ajudar, a porra do Leonardo, sim, agora o chamo pelo nome
completo, nada de apelidos quando estou puto, põem a porra de rebeldes
no som, e as duas? Ah as duas sobem na mesa, porque não é o suficiente
apenas cantar, elas querem dar o show, porém, vendo-as aqui agora, eu
não poderia estar mais feliz, não lembro da última vez que Jules se divertiu
assim, e Vick, Vick está perfeita, mesmo levantando a blusa...
Como?
Que porra é essa?
Vou em sua direção, a pegando no colo na tentativa de tirá-la de
cima da mesa, ela como uma boa torturadora que é, enrosca as pernas em
minha cintura e passa os braços afundando o rosto em meu pescoço, então
sinto Victoria passando o nariz inspirando-me.
— Ok pequena, o show estava ótimo, mas eu preferia que você o
guardasse para depois, o que acha?
— Uuuh, você quer um show Antônio? — sorri de um jeito safado
insinuando algo.
— Eu gostaria muito — concordo mantendo-a em meu colo, não
estou pronto para soltá-la ainda.
— Você é bem forte — tira as mãos do meu pescoço e aperta meus
braços me avaliando. — Você me pareceu magro, mas é forte, interessante.
— Está falando que sou magro demais? — semicerro os olhos em
acusação.
— Não, talvez um pouco, mas está bom para mim, você é lindo —
sorri segurando meu rosto com as duas mãos.
— Sinto-me lisonjeado por estar ao seu gosto — respondo beijando
a ponta de seu nariz.
— Anton, preciso te contar um segredo — seu sorriso some e agora
está olhando-me séria com os olhos brilhando.
— Precisa é?
— Uhum — balança a cabeça afirmando mordendo os lábios e eu
me perco novamente.
— Diga princesa — peço que continue com sua confissão.
— Eu tenho sonhos molhados com você, e apelidei meu brinquedo
de Anton — ok, ela conseguiu me deixar surpreso, por essa eu realmente
não esperava.
Abro um sorriso, confesso que o homem das cavernas que me habita
se sente muito, na verdade, infinitamente feliz, entretanto também causa
um certo desconforto no meio das minhas pernas, ela em meu colo bem
próximo também não ajuda muito.
— Porra Vick — gemo, eu não deveria, mas por ser um filho da puta
eu quero mais detalhes. — Há quanto tempo você tem esses sonhos?
— Bom, você sabe, eu estava em um relacionamento, nós
terminamos, então eu comprei um vibrador, nunca tinha usado, tenho que
dizer que é muito interessante, sabia que tem várias vibrações? Eu gosto
da número um, às vezes quando estou perto uso a número dois, mas é bem
às vezes, enfim acordei no meio da noite depois de sonhar com você,
peguei meu vibrador e te imaginei, que loucura não é? — passa a língua
pela boca a molhando e caralho, queria estar com meu pau bem ali.
— É meu anjo, muito louco... faço isso a quase três meses —
confidencio minhas noites, manhãs, às vezes a tarde também.
Se eu me orgulho disso? Não, mas é mais forte que eu.
— Anton, você usa um vibrador também? — fechos os olhos,
pedindo para que ninguém a tenha escutado já que gritou, mas como
sempre Léo está presente nos melhores momentos.
— Eu sempre soube — diz enquanto está com Jules no colo.
— Que porra você está fazendo com Jules no seu colo? — meu
sangue sobe, todos sabem que Jules é território proibido desde que nos
conhecemos.
— Nada, ela precisava de ajuda para descer, só isso.
— Esse tempo todo Léo? Solta a minha irmã, seu babaca.
Faço menção de ir em sua direção, mas sou interrompido por Vick.
— Anton, dance comigo — pede virando meu rosto em sua direção
tão próximo que esqueço tudo ao nosso redor, colo minha testa na sua, ela
solta as pernas e ficamos por um tempo dançando, nem sabemos o que
está tocando, estamos apenas nos balançando aproveitando o momento.
— Você sente? — ela pergunta com o rosto apoiado em meu peito.
— Sente o que pequena?
— A intensidade — diz ela.
— Sim anjo, o tempo todo quando estou com você — confesso e ela
sorri, até hoje, foi o sorriso mais lindo que já vi.
— Anton, acredito que estou tonta, tipo muito.
— É o que acontece quando se segue o Leo pequena, quer ir para
um lugar mais calmo? — questiono observando o lugar ao redor, muitas
pessoas dançando e bebendo, o cheiro de cigarro está forte, não encontro
nem um dos caras da banda nem Jules por perto.
— Sim, por favor — pede fazendo careta.
— Vamos para o quarto de hóspedes — seguro sua cintura
colocando no meio dos meus braços a protegendo enquanto passamos
pelas pessoas, assim que chegamos no corredor eu a pego no colo,
automaticamente ela enfia seu rosto em meu pescoço, inspira e geme,
porra.
— Anton, você tem um cheiro muito gostoso, gostoso tipo você —
confessa com a boca colada em meu pescoço, sorrio.
— Você me acha gostoso? — questiono gostando muito de ouvi-la,
não me acho um cara feio, gosto de brincar que sou perfeito e essas coisas,
mas sou modesto. Porém ouvir de Victoria que ela me acha gostoso, isso
causa um sentimento de aprovação em mim, que eu nem sabia que
precisava.
— Simmmm, inclusive suponho que passou na fila da beleza mais do
que devia — continua falando. — Posso te contar algo?
— Tudo que você quiser, parece que hoje é a noite das revelações
— respondo abrindo a porta.
— Ok, eu gostaria muito de beijar você agora — olha-me em
expectativa com os olhos brilhando.
— Pequena — coloco-a na cama, seguro seu rosto e continuo. —
Acredite eu gostaria muito mais, porém não é o certo.
Ela faz que sim e desvia o olhar, evitando-me, puxo novamente seu
rosto em minha direção, ela esmaga os lábios.
— Amanhã, quando você estiver 100% bem, nós conversamos ok?
Mas não pense nem por um segundo que eu não queira, só não é o certo,
você está bêbada Vick, não seria justo. Um beijo na testa compensa? —
tento animá-la.
Tudo o que eu mais queria agora era estar beijando cada parte do
seu corpo e me enterrando nela enquanto olho em seus olhos, mas não é
justo fazê-lo enquanto está bêbada, isso seria muito errado.
— Acho que sim, vamos ver — diz levando a testa para frente em
minha direção, sorrio, ela vai de garota safada pra fofa em questão de
segundos, beijo sua testa.
— Acredito ser o suficiente por hoje — confirma sorrindo.
— Fico feliz pequena, agora vamos dormir — deito e a puxo para
meu peito.
— Anton, não consigo dormir assim de roupa.
— Entendi — tiro minha blusa e a entrego, diante de sua expressão
confusa, continuo. — Quer ajuda?
— Sim, por favor — sorri maliciosamente, semicerro os olhos, sei o
que está tentando fazer, sinto-lhe informar pequena, não cairei no seu
joguinho.
— Entendi, mas eu sou forte dona encrenca, levante os braços — ela
obedece prontamente, puxo sua blusa, respiro fundo e engulo seco, passo
minha blusa pelos seus braços e dou um graças a Deus que acabou.
— A calça também — diz deitando apontando para suas pernas.
Ok…
Pequena torturadora, com todo meu autocontrole desabotoou sua
calça e a puxo, respiro fundo mais uma vez, jogo sua calça no chão e deito
na cama a puxando junto ao meu peito na velocidade da luz, o que os olhos
não veem o coração não sente.
O problema é que ela está colocando sua perna exatamente em
cima do meu membro, que agora está implorando por um alívio, hoje não
amigão.
Fico quieto para ver se ela dorme e para de tentar persuadir-me.
Definitivamente não imaginava terminar a noite assim.
Bem, na verdade, imaginava que iria terminar sozinho novamente, eu
não consegui tocar em mais ninguém depois que a conheci, não me parece
justo transar com alguém pensando em outra pessoa, imaginei que com o
tempo eu iria esquecer, porém, isso não aconteceu, muito pelo contrário a
saudade apenas aumentou, como posso sentir isso por alguém que nem ao
menos beijei?
Sou tirado dos meus pensamentos.
— Anton — chama-me quase dormindo, sua voz está baixa e fraca.
— Hum? — respondo beijando o topo de sua cabeça enquanto faço
carinho em suas costas.
— Eu me diverti muito hoje, obrigada, não lembro de ter sido feliz
assim algum dia...
Porra, eu a abraço ainda mais forte, gostaria que tudo isso fosse
possível.
Infelizmente não podemos ter tudo o que desejamos.
— Durma pequena.
— Antonnnnnnnnnn — diz novamente e eu sorrio. — Um dia você vai
me contar? — suspira.
— Contar o que princesa? — questiono curioso.
— O porquê da tatuagem?
— Um dia amor, um dia...
Desperto sentindo os braços em torno do meu corpo, abro os olhos
devagar e noto que não estou em casa, muito menos em minha cama,
como um flash tudo que aconteceu na noite passada retorna.
Oh! Eu confessei sobre o vibrador, confidenciei que o acho gostoso e
lindo, misericórdia.
Posso fingir que esqueci.
Respiro fundo buscando coragem e viro-me lentamente.
Para minha surpresa ele está acordado olhando-me parecendo um
predador, engulo em seco, é dessa intensidade que eu tenho medo, molho
os lábios, nervosa.
— Oi — decido interromper o silêncio.
— Como está se sentindo hoje — pergunta com a voz rouca e baixa.
Mais um flash da noite anterior vem a minha mente, quando disse
que só iria tocar-me quando eu estivesse 100% bem.
Criando uma ousadia que nunca tive, levo minha mão em seu
abdômen, toco com as pontas dos dedos, fito seu rosto, ele apenas me
encara atento, deslizo pelo seu peito, está quente, vou subindo até chegar
em seus lábios, muito convidativos devo mencionar.
Sinto-o ficar rígido sob meu toque, dedilho seus lábios, louca para
beijá-lo.
— Victoria — adverte com a voz rouca, alertando-me de algo, sua
mão segura meu pulso de um jeito forte, não para me machucar, mas o
suficiente para me manter imóvel, isso faz com que eu fique ainda mais
molhada do que já estou.
— Anton — sussurro.
— Me diga, como está hoje — insiste com a pergunta, seus olhos
estão presos em minha boca, mordo meu lábio inferior.
— 100%.
Seu sorriso abre, um sorriso deliciosamente safado.
— Boa garota — num piscar de olhos Anton está por cima,
pressionando-me na cama, enquanto mantém meus pulsos acima da minha
cabeça imobilizados.
Aproveito esse momento para correr meus olhos pelo seu corpo,
início por sua boca, desço por seu abdômen, sigo as entradas indo em
direção a sua virilha, por fim chegando em seu membro, puta que pariu,
está bem duro e é bem grande, Anton nota onde meus olhos estão fixos.
— Você me quer? — pergunta pressionando seu membro contra
meu corpo enquanto passa sua língua por meu pescoço, eu faço sinal que
sim, porque eu não consigo formar uma frase decente em minha cabeça.
Suas mãos sobem minha camiseta, levanto os braços dando total
liberdade para tira-la, aproveito e solto meu sutiã o jogando longe, porque
estou com pressa, Anton fecha as mãos em meus seios, solto um gemido
de satisfação fechando os olhos, sinto sua respiração quente próxima do
meu mamilo quando finalmente sinto sua língua o circular lentamente, ele
lambe, chupa, dá uma leve mordida e da atenção para o outro repetindo os
mesmos movimentos, cruzo minhas pernas em sua cintura pressionando
nossos sexos em busca de alívio, então o maldito se afasta.
— Eu não ouvi — provoca-me apertando meu seio com as pontas
dos dedos, reviro os olhos enquanto finco minhas unhas em seus ombros.
— O quê? — grito em desespero por mais.
— Não ouvi você dizendo que me quer — retorna com sua boca,
sugando meu seio torturando-me.
— Anton. Por favor — choramingo.
— Diga o que você quer.
— Me dê tudo que você tem — digo em tom de súplica
— Como quiser — cola nossos lábios com urgência.
Abro minha boca dando espaço, sinto sua língua indo de encontro
com a minha, meu corpo todo se arrepia, e não consigo conter o gemido de
satisfação por beijá-lo, fantasiei tantas vezes de como seria a sensação,
mas nenhuma se compara a isso, como se nada existisse ao nosso redor,
tudo desaparece, problemas, dúvidas, insegurança, existe apenas nós, eu
ele… o calor e o prazer.
Passo meus braços por seu pescoço aprofundando o beijo, perco a
noção de quanto tempo ficamos apenas nos beijando e nos tocando,
paramos apenas para recuperar o fôlego e logo retomamos, arranho suas
costas, ele rosna e se afasta.
— Calma pequena, tenho grandes planos para hoje — levanta indo
em direção a sua calça que está jogada no chão.
Pega sua carteira, retira uma camisinha e volta para a beira da
cama, atira o pacote ao lado da minha cabeça.
Ele leva as mãos à sua cueca e a retira.
Puta que pariu, é lindo, ele consegue ser totalmente lindo, se
aproxima em movimentos lentos e eu não consigo tirar os olhos desse
homem gostoso para um caralho, ele exala a sexo, como um predador
observando sua preza.
Segura minha perna levantando, pressiona seus lábios em meu
tornozelo, vai distribuindo beijos e lambidas até chegar na parte interna da
minha coxa, a essas alturas já não sei mais nem que sou ou meu nome.
Segura minha calcinha pela lateral e a puxa lentamente, quando abro
meus olhos o vejo se tocando com movimentos lentos enquanto observa-
me.
Apenas saboreando o momento, eu não imaginava que essa visão
poderia ser tão quente, como se soubesse que estou o observando ele
para.
— Você gosta? — pergunta de um jeito malicioso deslizando seu
dedo pelo meu clitóris.
— Sim — respondo em puro êxtase.
Anton sorri de modo safado, abre minhas pernas de maneira
selvagem, sinto exatamente o momento em que ele passa a língua
saboreando a minha entrada apenas provocando.
— Victoria, minha doce Victoria — quando vou me pronunciar, Anton
inicia movimentos circulares com a língua que jamais senti, por instinto levo
minhas mãos em sua cabeça agarrando seus cabelos, sinto quando
introduz um dedo e reviro os olhos arqueando as costas, ele suga meu
ponto e sinto uma leve mordida.
— Aaaaah Anton. Isso! — grito seu nome.
— Abra os olhos, pequena, quero você olhando para mim, quando
gozar em minha boca — eu apenas o obedeço, o vejo se tocando
novamente enquanto faz movimentos com a língua, minha respiração
acelera, meu coração dispara, sinto que vou cair em um abismo, então... eu
explodo em um orgasmo intenso, meu corpo convulsiona, tento fechar
minhas pernas, sem sucesso, sou impedida por suas mãos fortes que as
mantém abertas.
Anton continua sugando e lambendo até eu não possuir mais forças.
Ainda respirando com dificuldade, recuperando-me do orgasmo mais
intenso que já tive, sinto seus lábios tocando os meus carinhosamente,
iniciamos um beijo calmo e lento, é extremamente sensual sentir meu gosto
em sua boca, abro meus olhos quando sinto-o se afastando, fito-o em
expectativa enquanto o observo rasgando o pacote com os dentes, depois
desenrolando-o em seu membro, sem romper o contato visual.
Não faço a menor ideia de como tudo isso vai terminar, para ser
sincera estou morrendo de medo, não do sexo, longe disso, essa parte está
mais que perfeita, na verdade, esse é o problema, Anton desgraçado
estragou-me para qualquer outro homem, ele não apenas tocou meu corpo,
ele tocou minha alma.
— Tem certeza? — pergunta com cautela estudando minhas
reações, procurando qualquer sinal de incerteza, sorrio, Anton vai de
insano, Deus do sexo e do oral para cavalheiro em questão de segundos,
dificultando ainda mais minha situação, seria muito mais simples se ele
fosse apenas o Deus do sexo, mentira eu estaria encrencada igualmente.
— Um pouco tarde para isso não acha?
— Jamais pequena, eu pararia a qualquer momento, desde que você
pedisse.
— Sei que sim, no entanto, não quero que pare Anton, eu estou
falando realmente sério, quero tudo.
Dessa vez a resposta vem com um beijo selvagem, volto a entrelaçar
minhas pernas em sua cintura sentindo seu membro em minha entrada, sou
distraída quando Anton leva meu seio em sua boca o sugando com força,
enquanto leva sua outra mão para meu ponto em movimentos circulares,
tento puxá-lo em minha direção com minhas pernas para que me foda de
uma vez, mas sem sucesso, notando minha intenção sorri em meus lábios
e se afasta.
— Gostosa — rosna esfregando a ponta de seu membro em minha
entrada, apenas provocando,
— Anton, por favor, eu não aguento mais — imploro o puxando
novamente.
— Peça — diz sorrindo maliciosamente
— O quê? — digo quase sem fôlego, mas que desgraçado.
— Quero que você peça com todas as letras — responde colado em
minha boca dando uma mordida em meu lábio.
— Cala a porra da boca e foda-me Anton. Quero você dentro de mim
agora — o desgraçado gargalha, sim, minha gente ele gargalha.
— Quer como pequena? Forte ... fraco... lento... rápido... — diz isso
enquanto me provoca.
— Me dê tudo o que tiver, Anton, eu quero tudo, por favor — sim,
estou implorando, mas em minha defesa, eu preciso disso como preciso de
ar.
— As suas ordens, madame — Com apenas um impulso Anton me
preenche, me levando ao paraíso, ele permanece parado por alguns
segundos esperando meu corpo se ajustar ao seu enquanto beija-me,
necessitando de mais, levanto meu quadril empurrando ao encontro do seu,
porque já estou mais que pronta.
— Aaaah — gemo em seu ouvido, cravo minhas unhas em seus
braços quando Anton investe de forma firme e forte.
— Caralho Victoria — grunhe em meu ouvido.
Se afastando põe uma mão em minha cintura imobilizando-me,
enquanto a outra segura forte em meu seio, metendo sem reservas,
consigo ver o suor escorrendo em sua testa, para ajudar o infeliz geme, ele
geme tão gostoso que eu poderia ter um orgasmo apenas o ouvindo.
— Segure-se na cama — ordena.
Ele não pede.
Ele manda.
E eu obedeço prontamente levando minhas mãos acima da minha
cabeça segurando na cabeceira da cama.
Ficando de joelhos Anton segura minha cintura com as duas mãos
me suspendendo do colchão, dando total abertura para que ele me
preencha ainda mais, então ele faz exatamente o que eu pedi, ele me fode,
duro, firme e forte, sem tirar os olhos dos meus.
Insano...
— Anton, eu preciso tocá-lo — imploro sentindo uma necessidade
absurda de estar com as mãos em seu corpo, atendendo meu pedido solta
minha cintura aproximando-se, passa uma mão por trás do meu pescoço
segurando firme enquanto me beija com violência, sua outra mão se fecha
em meu seio apertando com força, o sinto mordendo meu lábio, logo depois
o gosto metálico se junta ao nosso beijo.
— Me toque, faça o que quiser — sem demora deslizo minhas mãos
por seus braços, chego em seus ombros e desço por suas costas
arranhando, Anton geme descendo seus lábios pelo meu pescoço, seus
dentes cravam em meu ombro no mesmo momento que intensifica os
movimentos.
— Vem pequena, vem comigo — ordena descendo sua mão para o
meio de nós, tocando meu clitóris com movimentos circulares, volta a me
beijar com urgência, e eu sinto, sinto que estamos muito perto, a sensação
é de que nossos corpos estão entrando em combustão.
— Vick — sussurra meu nome, então Anton goza, olhando no fundo
dos meus olhos.
— Anton — grito juntando-me ao orgasmo mais intenso que já tive, o
outro desceu para o segundo lugar.
Colo minha testa na sua, ele diminui os movimentos fechando os
olhos com a boca entreaberta gemendo aproveitando cada segundo.
Levo minha mão até seu rosto segurando-o, observo seu peito
subindo e descendo, respirando de forma irregular, beijo seus lábios
devagar, ele sorri abrindo os olhos, e nesse momento eu sei que perdi meu
coração.
Anton sai lentamente e se afasta indo em direção ao banheiro,
quando retorna vai até sua carteira novamente, fico observando com
curiosidade, quando se vira, atira outra camisinha ao lado da minha cabeça,
sorri de lado então ordena.
— Fica de quatro, nós estamos apenas começando.
Afasto-me da Victoria apenas para livrar-me da camisinha no
banheiro, pretendo passar o resto do dia a abraçando, beijando cada
pedaço do seu corpo, me enterrando o máximo que conseguir. Esperei por
esse momento por muito tempo, para ser sincero até desacreditei que
aconteceria, nada do que eu sonhei ou imaginei se compara a sensação e o
prazer que eu tive quando estava com ela em meus braços.
Já tive muitas mulheres na vida, não posso mentir e não gosto de
comparar também, contudo é um pouco difícil não fazer, com Vick foi
completamente diferente de tudo e de todas, cada beijo, cada toque, cada
momento que passei dentro dela, apenas confirmou minhas suspeitas, o
que eu sinto por ela, não é apenas sexo ou um capricho meu, nunca senti
nada assim antes, essa vontade louca de agrada-la, satisfaze-la, de vê-la
sorrir, de estar tocando nela o tempo todo, desde o primeiro dia que a vi ela
não saiu da minha cabeça.
Sempre achei meio ridículo esse papo de amor à primeira vista e
essa baboseira toda, e ainda não acredito, mas algo naquele dia acordou
dentro de mim, isso eu não posso negar.
Volto para o quarto imaginando várias coisas que podemos fazer,
mas paraliso quando a encontro parada com o celular na mão, não está
mais com aquele sorriso de quando a deixei.
— Eu preciso atender, me desculpa — entra no banheiro fechando a
porta, contudo não adiantou se trancar no banheiro, porque eu consigo
escutar o que ela está falando, não queria, mas consigo.
— Hey Josh, me ligou? — assim que eu escuto esse nome cerro os
punhos com raiva.
— É, estou bem sim e você? — continua conversando, sim, está
bem porque eu fiz isso, primeiro com a minha boca, depois com meu pau e
minhas mãos.
— Sim, entendi... podemos nos ver na semana que vem quando vir
para cá então, me mande uma mensagem quando chegar que eu te passo
o endereço.
Mas que porra é essa?
Meu sangue ferve, minha visão fica nublada de raiva, quero quebrar
qualquer coisa em minha frente, ela estava em meus braços há dez minutos
e agora está marcando um encontro com seu ex?
Provavelmente teve a aventura que procurava de uma noite com o
vocalista da banda, e agora irá voltar para o seu ex. Foda-se pego minhas
coisas e coloco minha calça, quando ela finalmente encerra a ligação e sai
do banheiro, estou colocando minha camiseta.
— Oi — diz e sorri
— Oi — respondo pegando meu celular — Quer que eu te deixe em
casa? — falo enquanto mantenho minha atenção no aparelho, mexendo em
porra nenhuma, mas eu não estou bom para conversar agora.
— É, pode ser — responde confusa.
— Ok, vou pegar o carro do Iago, te encontro lá fora — caminho em
direção da porta, seguro na maçaneta pronto para abrir quando a escuto
me chamar.
— Anton.
— Fala — respondo frio.
— Está tudo bem? — indaga franzindo as sobrancelhas.
— Estava — viro e saio do quarto, talvez assim seja melhor, ela volta
para seu namorado e sua vida linda e feliz com aquele imbecil.
Durante o percurso não trocamos nenhuma palavra, perguntei
apenas seu endereço quando entrei no carro e me mantive calado desde
então. De canto de olho consigo enxergá-la mexendo a mão o tempo todo
enquanto olha para fora da janela, quando estaciono o carro em frente à
sua casa, ela tira o cinto de segurança se vira e pergunta.
— Aconteceu alguma coisa? Porque nós estávamos bem, até uma
hora atrás, e agora você mal me encara.
— Desculpa, eu não queria ser rude, mas isso não vai rolar, eu não
sou assim, não entro em relacionamentos — assim que as palavras saem
da minha boca eu me arrependo de tê-las dito, vejo em seus olhos que a
magoei, ela sorri amargamente, balança a cabeça em concordância.
— Eu não me lembro de ter te pedido em namoro Anton — fala e sai
do carro batendo a porta.
Que droga, foda-se, eu mereci, saio do carro e vou atrás dela.
— Vick — chamo-a, ela para, mas não se vira, vejo seus ombros
tensos, sua voz sai baixa.
— Vai embora Anton.
— Sinto muito — digo sentindo-me mal por tratá-la daquele jeito, ela
não me deve nada, nem uma explicação, mas só de pensar em Victoria
voltando para aquele babaca, me deixa puto e minha raiva só aumenta.
— Ok, eu te desculpo, mas vá embora! — insiste, mas eu não
consigo.
— Eu ouvi — confesso em um sussurro e vejo-a se virar olhando
confusa, então continuo.
— Foi sem querer, mas eu ouvi sua conversa com o seu ex Josh —
olho para o lado, não querendo encará-la, porque eu sei que estou errado,
mas isso não diminui a raiva e a sensação de impotência, porque mesmo
eu querendo saber o que porra ela estava pensando em marcar um
encontro com o fodido do seu ex, não posso, eu mesmo disse que não
quero um relacionamento, que direito eu tenho então?
— E qual o problema? Nós não conversamos desde o término Anton,
nós éramos amigos antes de tudo, eu não quero simplesmente apagá-lo só
porque não estamos mais juntos. Você não pode simplesmente fingir que as
pessoas não existem apenas porque não deram certo, eu não sou assim,
isso também não significa que vamos reatar, porque eu estou decidida.
— Desculpa, eu entendi tudo errado.
— Você poderia ter me perguntado, você não precisava me tratar
daquele jeito Anton.
— Ok, Vick. Tem mais uma coisa
— Fale — responde cansada.
— O que eu disse no carro, não entro em relacionamentos, não
quero que crie expectativas.
— Eu não estou te pedindo em namoro Anton, acabei de sair de um
relacionamento... — ela fecha os olhos, respira fundo, abre novamente,
como se estivesse escolhendo as palavras. — Estou cansada, vou entrar.
Se cuida — noto em seu tom de voz que está magoada, a decepção em
seus olhos não me passa despercebido também, sem reação alguma
apenas a vejo ir embora, afinal o que eu diria?
Volto para o carro e soco o volante, não precisava ter agido daquela
forma, não sou um babaca, pelo menos não até hoje. Vou dirigindo em
direção a casa do Léo e lembrando da noite que tivemos, dela em meus
braços de manhã, os sorrisos, os beijos e por fim a decepção em seu rosto
agora pouco.
Merda, merda e merda
Estaciono o carro, sem condições ainda de descer, empurro o banco
para trás e jogo minha cabeça apoiada no banco, fecho os olhos e respiro
fundo, que porra eu estou fazendo, isso era o correto, não era? Deixar as
coisas como estão seria o mais aconselhável, mas porque parece tão
errado me afastar. Após alguns minutos não chegando a nenhuma decisão,
não aguentando mais, decido ligar para uma das únicas pessoas que me
compreende.
Por sorte ela atende no primeiro toque.
— Fala lindo
— Transei com a Victoria — despejo as palavras sem rodeios.
— Ok, isso é bom, não é?
— Foi perfeito, na verdade, nunca senti nada parecido.
— Uhum, por que essa voz de enterro então?
— Porque depois eu fui um babaca
— Oh não, qual o seu problema Anton?
— Ema, não posso, se eu continuar ... nós vamos nos magoar, eu
não sou o que ela precisa, ela não é do tipo sexo casual.
— Você não sabe Anton, isso quem decide é ela — diz bufando,
provavelmente se ela estivesse aqui estaria me batendo. — Eu te amo, por
isso tenho que dizer quando você está sendo um imbecil, e agora você
está, não pense no amanhã, só viva tá legal? Quer estar com ela? Então
esteja!
— Já gostou de alguém assim?
— Assim como?
— Sei lá Ema, não sei explicar, não sou o cara mais romântico do
mundo e bom com as palavras.
— Tente.
— Eu não quero ficar longe dela, só isso, não consigo.
— Então não fique oras! Olha, eu já cometi muitos erros na vida
Anton, não faça o mesmo, não posso voltar no tempo, faça diferente.
— Nunca tive medo do futuro, do que pode acontecer, essa é a
primeira vez.
— É sinal de que você realmente começou a viver, você pensa que
antes vivia, que aquilo era vida, festa, garotas, banda, mas não é, viver é
bem mais que isso, você vai ver... só deixa rolar, sem pressão.
— Você está bem? — mudo de assunto, lembrando que não é só eu
que estou encrencado.
— Enjoada como sempre — diz rindo
— Quando vai contar para ele Ema?
— Nunca, Anton. Enzo está noivo, eu e esse carinha vamos nos
virar, ele tem um padrinho bem chato sabe.
— Ele merece saber, você sabe disso.
— Anton, vou desligar ok? Preciso ir vomitar mais uma vez, só não
faça nada que vá se arrepender. Eu te amo.
— Tchau Ema.
Foda-se!
Saio do carro em direção a casa do Léo, jogo as chaves em cima da
mesa e sigo para o quarto, tomo um banho, pego minha moto e parto rumo
ao restaurante que Vick sempre almoça, na tentativa de melhorar o dia que
eu estraguei compro hambúrguer e milk-shake, espero que ela pelo menos
deixe-me entrar.
Chegando em frente a sua casa já consigo escutar a música, toco a
campainha e espero.
Nervoso.
Quando ela abre a porta eu quase caio para trás, está com um micro
short de pijama e uma camiseta minúscula. Indecente, isso é jeito de
atender a porta de casa? E se é um tarado? Vou comprar um roupão,
anotado.
— Você atende a porta assim? — no primeiro instante ela se
assusta, provavelmente não esperava me ver, pelo menos não tão rápido,
depois que sua ficha cai ela fecha a cara.
— Eu atendo do jeito que eu quiser, posso atender pelada também
— responde desafiando-me
— Ok, eu vim em paz e trouxe comida — levanto a sacola do
restaurante tentando acalmar a fera, já fui babaca suficiente hoje.
— O que você tem aí? — diz olhando as sacolas com curiosidade.
— Hambúrguer e milk-shake.
— Milk-shake de quê? — pergunta desconfiada.
— Morango — respondo orgulhoso, foi bom segui-la...
Vê-la.
Eu disse vê-la.
Não sou um stalker.
— Pode entrar — abre a porta e se afasta o suficiente, dando espaço
para eu poder passar.
Assim que eu entro escuto o barulho da porta batendo, viro-me e ela
aponta para um cômodo que acredito ser a cozinha, eu apenas a sigo em
silêncio, ela senta na mesa.
— Vamos comer, depois conversamos.
— Ok — concordo.
Nós comemos em silêncio e eu a observo atenciosamente, ela usa
uma quantidade absurda de molho e se lambuza toda para comer, não diz
nenhuma palavra enquanto come, apenas solta alguns sons de prazer a
cada mordida do hambúrguer. Parece estar em um mundo apenas dela... e
da comida.
Eu por outro lado mal toquei na comida e ela percebe.
— Você quer? — aponto para meu hambúrguer
— Sim — reponde com cara de poucos amigos, empurro meu lanche
para seu lado bem devagar, até parece que a qualquer momento ela vai me
atacar, nunca a deixarei com fome e irritada novamente, anotado.
Após comer o lanche dela, o meu lanche e os dois milk-shaks, ela
suspira e volta seu olhar em minha direção, talvez da próxima eu traga três
lanches, por segurança.
— Por que veio? — questiona enquanto me analisa seriamente.
— Eu agi feito um babaca, não sou assim Vick, queria pedir
desculpas — respondo olhando nos olhos, quero que saiba que eu
realmente estou arrependido.
— Ok, é só isso? — declara sem demonstrar nenhuma emoção.
— Você é difícil hein? — solto sem querer, a observo fechando os
olhos e respirando fundo, ela se remexe na cadeira, provavelmente
incomodada.
— Anton, vou ser sincera, eu só tive um homem na minha vida, até
hoje de manhã. Você foi o segundo, então depois você me tratou muito mal,
em nenhum momento dei a entender querer entrar em um relacionamento,
você supôs isso, assim como supôs que eu estava tendo algo com Josh
ainda, eu não gosto disso, não gosto de joguinhos, seja sincero, me
pergunte e eu vou responder. Não sou uma criança, fui tratada assim minha
vida inteira, então apenas fale e vou te dizer o que penso ou o que quero,
tudo bem?
— Tudo bem — respondo me sentindo mal, eu sei que isso é
fodidamente errado, mas não pude deixar de notar que... eu fui o segundo...
e eu estraguei tudo, ótimo Anton, parabéns.
— Quer que eu vá embora? — vou entender se ela quiser que eu vá
embora, eu me mandaria embora, por isso me surpreendo quando ela
pergunta.
— Você quer ficar? — diz suavizando o rosto.
— Sim, eu quero.
— Se eu te convidar para assistir a um filme no sofá com pipoca, vai
pensar que estou te pedindo em casamento? — pergunta sorrindo com
deboche.
— Não — respondo dando risada, enfim o clima melhorou, eu não ia
me perdoar se ela me odiasse.
— Então vamos.
Seguimos para a sala e sentamos no sofá, ela escolhe um filme
romântico, porém não reclamo, não acho que eu tenha créditos para isso.
Querendo sentir seu corpo puxo-a junto ao meu, passando meus
braços pelo seu ombro, após alguns minutos do filme, pela sua respiração
noto que dormiu, a observo fascinado, nunca me senti assim por ninguém,
é tudo literalmente novo, aqui agora sinto que perdi mais uma parte do meu
coração para essa garota.
Não me importo de sair magoado disso, meio que eu já sei que será
assim, só não quero que ela sofra. Mas julgo ser um pouco tarde para isso,
passo meus dedos por seus lábios, ela se mexe, deito no sofá a puxando
para meu peito, dou um beijo de leve e faço carinho em seus cabelos
enquanto dorme.
Estou olhando para o teto perdido em pensamentos, o filme acabou
a algum tempo, pela janela consigo notar que já escureceu lá fora, mas não
quero me mexer e acordá-la, na verdade, não quero que isso acabe, quero
ficar aqui desse jeito. Como se adivinhasse meus pensamentos ela abre os
olhos, estão brilhando, coloco minha mão em seu queixo o puxando para
mais perto e colo nossos lábios, ela abre a boca tímida e empurra sua
língua, recebo prontamente.
O beijo inicia lento e vai intensificando, sento no sofá a puxando para
meu colo encaixando seu quadril no meu, coloco minhas mãos em sua
bunda empurrando-a em direção ao meu pau duro pra caralho, ela geme e
se esfrega me matando mais um pouco de tesão.
Tiro sua blusa e volto a beijá-la, levo minha mão atrás de suas costas
soltando seu sutiã, interrompo o beijo para admirá-la, levo minhas mãos aos
seus seios e os aperto, ela abre a boca gemendo se esfregando no meu
pau de olhos fechados.
— Olhe para mim — ordeno, não consigo entender essa
necessidade de sempre estar olhando nos seus olhos enquanto a toco,
gosto de observar cada reação do seu corpo sob meu toque, ela obedece e
abre mordendo os lábios.
— Linda, você Victoria é fodidamente linda — abocanho um seio e
ela leva as mãos em meus cabelos puxando, aumentando os movimentos
de vai e vem enquanto geme, eu levanto meu quadril a encontrando.
Coloco o bico do seu seio em meus dentes mordendo devagar e a
vejo se contorcer, ela para os movimentos e abre minha calça com urgência
tirando meu pau para fora, olha-me com puro desejo molhando os lábios.
Levanta saindo do meu colo.
Para me encarando.
Segura sua calcinha na lateral e a tira, sensual pra caralho.
Se ajoelha em minha frente, eu apenas a observo louco para colocá-
la de quatro e a foder como ela merece, mas vou deixá-la se divertir um
pouco, gemo quando segura meu pau em sua mão o masturbando, passa a
língua na ponta o lambendo e o leva a boca, eu fecho os olhos sentindo o
calor e sua língua ao redor, passando devagar brincando, me torturando.
— Abra os olhos Anton, quero que você goze olhando em meus
olhos — diz desafiando-me, sorrio, ela quer brincar, então vamos brincar.
— Como quiser — respondo levando minha mão ao seu cabelo
segurando firme empurrando meu pau mais fundo na sua boca, ela
aumenta a velocidade sem perder o contato visual.
— Se toque — eu peço quase sem fôlego.
— O que? — responde sem entender.
— Eu quero que você se toque, enquanto me chupa — digo louco de
tesão, ela sorri e leva sua mão em sua entrada enquanto a outra continua
me masturbando, ela fecha os olhos quando se toca e solta um gemido,
quase gozo apenas em vê-la se dando prazer, ela abre os olhos e volta a
me chupar, aumenta os movimentos da mão e leva-me ainda mais fundo
em sua boca, eu seguro mais forte em seu cabelo.
— Pequena, melhor você parar — digo rosnando quase gozando.
— Eu quero tudo, me dê tudo, vem comigo — minha respiração
aumenta, eu elevo minha pélvis ao seu encontro entrando ainda mais
fundo, chego ao meu limite e gozo em sua boca, ela vem junto enquanto se
toca sugando cada gota que sai da minha porra, enquanto olha nos meus
olhos.
Se afasta sorrindo, se ela pensa que isso foi o suficiente para me
derrubar, está enganada, isso apenas me deixou com mais tesão ainda.
Levanto, vou até minha carteira, retiro a camisinha e a coloco em meu pau
que ainda está duro, ela olha com expectativa cada passo que eu dou,
chego perto a virando de costas, ela empurra sua bunda para trás em
minha direção, provocando, beijo seu pescoço, levo minha mão a sua
boceta que está molhada, fazendo movimentos circulares e ela deixa sua
cabeça cair para trás apoiando em meu ombro, beijo seu pescoço e levo a
outra mão em seu seio.
Seguro seu bico entre os dedos e o aperto.
— Anton, eu preciso — implora se contorcendo.
— Shhhhh, eu vou cuidar de você pequena — a empurro para frente
deixando-a de quatro.
— Me diga se eu te machucar — ela acena com a cabeça
concordando, nublada pelo tesão.
Seguro seu cabelo e me posiciono em sua boceta, entro com um
impulso.
Puta que pariu!
Gostoso demais, meu corpo todo se arrepia, seguro em sua cintura
com a outra mão enquanto eu a fodo, forte e rápido, quanto mais ela geme,
mais eu a quero foder forte, faço um carinho em sua bunda e depois desfiro
um tapa, então ela geme mais alto, sorrio...
— Você gosta? — ela acena que sim, dou mais um tapa
— Eu não te ouvi – rosno aumentando o aperto em sua cintura.
— Sim, eu gosto — grita quase sem fôlego, a puxo de encontro com
meu peito, passo minha mão por seu pescoço e seguro puxando próximo
da minha boca, a beijo de um jeito selvagem, ela joga seu quadril para trás
ao meu encontro, tiro minha mão de sua cintura e levo a sua boceta a
masturbando, suas pernas falham e eu a seguro.
— Goze no meu pau Victoria, goze amor — falo em seu ouvido
enquanto intensifico os movimentos da minha mão e a fodo mais duro, ela
começa a rebolar e gemer mais forte e então ela goza, sinto ficando ainda
mais molhada e gozo junto, mordo seu ombro rosnando, suas pernas
falham e eu a seguro firme.
Diminuo os movimentos, dou um beijo onde eu mordi e a pego no
colo.
— Onde fica seu quarto?
— Primeira porta à direita — responde de olhos fechados quase sem
voz, a levo para o quarto e a deito na cama, fico indeciso entre ir embora ou
ficar
— Fique — como se estivesse vendo minha luta interna, pede
abrindo os olhos, mesmo sabendo que isso é um erro fodido eu fico, deito e
a puxo para meu peito, ela afunda seu rosto em meu pescoço.
Beijo seu ombro.
— Nós não precisamos encerrar aqui, nós podemos continuar nos
vendo, não? Tipo um lance casual — ouço sua voz baixa, incerta, com
medo da minha resposta.
— Você já teve algum lance casual? — pergunto já sabendo a
resposta, enquanto passo os dedos por seu braço fazendo carinho.
— Na verdade, não.
— Entendi — agora seria o correto terminar isso, mas eu sou um
filha da puta egoísta de merda que não consegue ficar longe, então eu
continuo. — Só se você me prometer, que quando ficar demais para você,
quando você não quiser, você vai me dizer... Vick, você precisa entender,
eu não entro em relacionamentos, não quero que pare sua vida por mim, ou
deixe de fazer qualquer coisa, me prometa que será somente isso, casual.
— Eu prometo — responde com convicção, beijo o topo de sua
cabeça e a abraço.
— Boa noite Anton de valor inestimável
— Boa noite, pequena encrenca.
Estou a caminho do trabalho com o som do carro no último volume,
não consigo passar nem cinco segundos sem sorrir, e é apenas sete horas
da manhã, dessa vez sem atrasos, porém, estou morrendo de fome, o que
normalmente me deixaria extremamente irritada, entretanto hoje é um dia
totalmente diferente, outro detalhe importante, hoje é segunda-feira, que até
então era o pior dia da semana, em minha concepção ao menos, isso tudo
deve ter um motivo, e com toda certeza o motivo tem nome, sobrenome,
olhos verdes, cabelos pretos, sorriso sarcástico, mordo o lábio relembrando
do sexo incrivelmente gostoso que acabei de ter na cama, depois no banho,
e em mais alguns lugares, Anton é extremamente quente e insaciável, para
ser sincera eu mal dormi.
Chego no trabalho cantarolando e as meninas já notam meu humor.
— Woooow, Luiza, tem certeza que hoje é segunda-feira? —
Amanda pergunta com diversão, provavelmente estranhando, normalmente
na segunda-feira estou arrastando-me e resmungando.
— Olá meninas lindas da minha vida, como estão nesse radiante dia
— declaro sorrindo indo guardar meus pertences, sinto as duas me
seguindo.
— Ok Vick, se ganhou na mega sena e planeja nos deixar, preciso
que diga agora — Luíza diz fazendo beicinho.
— Oh não ganhei na mega sena — embora a comparação seja bem
justa.
— Então, só tem uma coisa que poderia te deixar assim além da
mega sena — Amanda arregala os olhos e abre a boca chocada — Você
transou.
Provavelmente estou vermelha, porém não tem como negar, até
minha pele deve estar mais bonita. Sexo faz bem a saúde e provavelmente
deve ter algum estudo provando isso.
— Sim, eu transei e devo acrescentar que foi o final de semana
inteirinho.
As duas pulam e gritam de alegria comemorando, até parece que eu
não transo...
— Ok, queremos detalhes, tudo, põem na mesa agora.
Então eu conto, desde o dia que nós conhecemos na rua quando
meu carro ficou sem combustível até o final de semana, só de lembrar já
me sinto quente, porém sou interrompida a cada cinco segundos porque
segundo Amanda ela precisa de mais detalhes, estamos rindo às três juntas
quando sinto meu celular vibrar, retiro-o do bolso e há uma mensagem,
porém não reconheço o número e não possui foto.
Estranho...
Mas, porque sou muito curiosa, abro a aba de pesquisa do google e
jogo a pergunta, a resposta vem logo em seguida : "O clitóris possui cerca
de 8 mil terminações nervosas ..."
Assim que retorno para a mensagem recebo uma resposta, que me
faz rir muito e não fico nada surpresa de saber que Anton a enviou.
Não tenho tempo nem de assimilar, saio correndo para fora e o
encontro.
Ele está sentado no banco da moto com o capacete apoiado no
guidão, cabelos bagunçados, aquele sorriso safado, calça preta e jaqueta
de couro, lindo como sempre.
Me aproximo sem conseguir disfarçar a euforia, ainda não consigo
explicar o que eu sinto cada vez que os olhos de Anton estão sobre mim, a
sensação e a rapidez com que meu corpo corresponde cada vez que me
aproximo é surreal, como se não o tivesse acabado de ver.
— Hey pequena — diz abrindo um sorriso tão lindo que faz até meu
coração bater fora do ritmo.
Vamos lá, como eu posso explicar, o jeito correto de cumprimentar
uma pessoa seria " Olá Anton? Como vai? "
Mas...
O que eu fiz?
Aaah, eu pulei nele, literalmente pulei nele.
Aí eu me pergunto, porque?
A resposta é bastante simples na verdade.
Porque eu quis! Agora estou em uma fase que faço exatamente o
que sinto vontade, e no momento beijar a boca deliciosamente gostosa do
Anton é minha prioridade!
Após se recuperar do susto, Anton coloca suas mãos ao redor da
minha cintura puxando-me junto ao seu corpo com força, colamos nossas
bocas instantaneamente, sinto seus lábios se abrindo, passo minha língua
pela sua, isso é muito gostoso, agarro seu pescoço e grudo minhas mãos
em seus cabelos descaradamente, suas mãos sobem pelas minhas costas
e param em meu pescoço, sinto sua mão segurar forte minha nuca, gemo
em seus lábios, ele morde minha boca forte e se afasta.
— Você ainda vai me matar — sorri com os lábios vermelhos.
— O que está fazendo aqui? — pergunto enquanto tento disfarçar o
quanto ele me afeta.
— Não está feliz em me ver? — finge estar chateado.
— Claro que sim — o abraço novamente e enterro meu rosto em seu
pescoço, porque eu adoro essa parte do seu corpo, fecho meus olhos e
inspiro seu perfume.
— Você não tomou café da manhã, por minha culpa — responde.
Afasto-me e o assisto pegar uma sacola e me entregar, fito-o seu
rosto e o vejo ficar sem graça, Anton faz insinuações sobre sexo o tempo
todo e várias outros assuntos sem o menor pudor, mas para algo fofo ele
fica com vergonha, meu coração se derrete mais um pouquinho.
— O que é isso? — decido o torturar um pouco mais.
— Então, eu não sabia bem do que você gosta, mas eu peguei um
pouco de cada coisa — responde dando de ombros como se esse gesto
não fosse nada.
Abro o pacote e tem vários bolinhos, tortinhas, salgados, e um café
todo embrulhado para não derramar, eu o olho sem saber o que responder,
e nesse momento minha consciência está em conflito, a razão está gritando
com o coração, sei que disse que eu faria exatamente o que quero a partir
de agora, porém ainda assim, eu sinto que esse é um terreno perigoso.
Ignorando todos os alertas que piscam na minha cabeça eu sorrio e
o abraço de novo, só que mais forte agora, agradeço com o rosto ainda em
seu pescoço.
— Obrigada
— Agora vá trabalhar, não quero que tenha problemas por minha
culpa — beija minha testa sorrindo.
— Tá! — só consigo responder isso, porque Anton sendo gostoso e
safado já não é algo fácil, ele sendo carinhoso e atencioso não ajuda em
nada, beijo sua boca, porque não sou obrigada a nada, se ele foi carinhoso
tenho direito de beijá-lo o quanto eu quiser.
Quando me afasto o olho, ele sorri enquanto pega o capacete, antes
de colocá-lo manda um beijo e pisca, vendo-o se afastar, me recordo da
promessa que fiz na noite passada, que seria apenas casual, minha mãe
sempre diz que não devemos prometer o que não podemos cumprir, bem,
ele me fez prometer que não passaria de casual, não disse nada sobre
sentimentos, porque sentimentos eu os tenho desde que o conheci.
Vai ficar tudo bem, é o que eu venho repetindo, até porque eu
sempre tenho a opção de guardá-los apenas para mim.
— Eu quero saber absolutamente tudo Victoria, estou dizendo até os
detalhes sujos
— Olá para você também Giulia, como está minha amiga querida? —
digo enquanto ela passa pela porta parecendo um furacão.
— Nada disso, você tinha o final de semana todo para saber como
eu estava, em vez disso, você estava transando, e nem se quer lembrou de
me mandar uma mensagem, oi então Giulia, sabe aquela cara gostoso com
quem venho sonhando diariamente, sim, esse mesmo, nós transamos o
final de semana inteiro.
— Ok! Culpada, mas em minha defesa eu estava meio ocupada.
— Sua tarada, onde está minha amiga e o que você fez com ela, sua
impostora? — diz se jogando no sofá puxando-me junto. — Como foi?
— Foi perfeito.
— E aí? Só isso? — pergunta enquanto tira os sapatos e joga as
pernas em cima do sofá.
— Ok, nós meio que brigamos também...
— Por quê? — indaga confusa
Eu relato todo o final de semana, incluindo a briga, porque Giulia é
minha melhor amiga no mundo inteiro, o que eu sei, ela sabe e vice e versa,
após contar exatamente tudo que aconteceu em nossa briga, ela analisa,
consigo ver seu cérebro trabalhando a todo vapor, ela estreita os olhos.
— Então quer dizer que você está em um lance casual?
— Isso — confirmo.
— Uhum — ela assente, mas sei que ela não disse tudo.
— Vai fala.
— Você sabe como funciona um lance casual docinho?
— Mais ou menos, esperava que você pudesse me esclarecer
Nunca tive um lance casual, meu primeiro namorado e primeiro em
quase tudo foi Josh, então não sei como basicamente funciona, agora me
pergunto, porque aceitei entrar em algo assim sem saber exatamente como
funciona, a resposta é simples, foi o que me pareceu mais certo na hora,
porque somente aquele final de semana não foi o suficiente com Anton, eu
queria e ainda quero mais.
— Ok, vocês comentaram sobre exclusividade ou algo assim?
— Não, na verdade não...
— Bom vamos lá, amor — ela coça a cabeça, faz uma careta. — Se
vocês não comentaram sobre exclusividade quer dizer que podem ficar com
outras pessoas, que Anton pode dormir com quem quiser além de você
No fundo eu imaginava que seria isso, porém falando assim em voz
alta não é nada reconfortante, na verdade, a menção de Anton ficando com
outras pessoas me causa náusea, estou ficando nervosa, meu coração está
acelerado e não é de um jeito legal.
— Mas significa que você também pode dormir com outras pessoas
— Giulia acrescenta com empolgação, porém isso não ajudou nada.
— Mas não quero dormir com mais ninguém — respondo, porque eu
realmente não sinto absolutamente nenhuma vontade.
— E está tudo bem, você não precisa dormir com ninguém, porém
seria legal conhecer outras pessoas sabe, não é interessante apostar todas
as suas fichas em uma pessoa, conhecer outras pessoas também é uma
forma de não se apegar a ele.
Agora faz sentido, eu ainda não tinha parado para analisar de fato o
que é um lance casual, a qualquer momento Anton pode simplesmente
sumir, sem nenhuma explicação ou um sequer tchau, não temos
absolutamente nada, isso por algum motivo me machuca, porque eu meio
que gosto de estar com ele, na verdade, eu gosto muito de estar com ele,
não apenas fisicamente. Hoje faz três dias desde que ficamos e
conversamos o tempo todo, sobre coisas idiotas, ele com aquelas cantadas
baratas e piadas ruins que por algum motivo me fazem rir mais do que o
normal.
— Acho que é um pouco tarde pra isso — confesso apenas
confirmando o que eu já sabia.
— Você já está apegada — Giulia completa.
— Sim, Anton já não sai da minha cabeça a algum tempo, não foi
apenas pelo final de semana, mas está tudo bem, posso conviver com isso.
Eu também não quero entrar em um relacionamento Giulia, acabei de sair
de um.
— Sim docinho, mas você não quer entrar em um relacionamento
agora, mas e daqui a algum tempo? Por isso eu volto a dizer, precisamos te
levar para sair e conhecer novas pessoas, não estou dizendo para que você
não fique mais com Anton, mas também não quero que você fique sentada
em pleno sábado a noite, esperando ele decidir que quer ver você, vamos
lá Vick, só algumas pessoas ok?!
— Ok, só algumas pessoas...
Meu celular vibra na mesa eu o pego. Pelo visor já sei que é uma
mensagem de Anton, e novamente meu coração traidor acelera.
Ah se as pessoas tivessem ideia do poder que as palavras possuem,
não as falariam da boca para fora.
Faz 30 minutos que estou parada em frente ao estúdio de dança,
porém ainda não criei coragem suficiente para entrar, dançar em uma festa
onde está escuro e quase todos estão bêbados demais para notar, é
completamente diferente de um local onde as pessoas te avaliam e a
maioria já dança desde pequeno.
Estou aqui pensando que talvez não tenha sido uma ideia tão boa
assim e eu esteja velha demais para isso, mas, ao mesmo tempo, não
acredito que exista idade certa para fazer algo que gosta e sempre sonhou,
ainda assim encontro-me neste embate. Sempre gostei muito de dançar,
embora nunca tive oportunidade, por morar em uma cidade pequena e não
possuir nenhuma escola de dança, a mais próxima ficava à 40km, o trajeto
de carro levava quase 1 hora, inviabilizando ir toda semana.
— Vai ficar quanto tempo parada aí olhando em vez de entrar, sabe
as pessoas não mordem — olho para o lado e vejo um garoto analisando-
me com um sorriso de diversão, estou tão perdida em pensamentos que
não o vi chegar.
— Olá, não vi você chegando — respondo voltando meus olhos para
o estúdio.
— Eu percebi, o que está fazendo?
— Não sei... eu estava bem decidida até chegar aqui, mas agora não
parece mais uma boa ideia — volto meu olhar para o garoto. — E você? O
que está fazendo aqui?
— Eu estava lá dentro — diz apontando para o estúdio que possui
uma porta de vidro. — Aí te vi aqui parada, por uns 25 minutos — ele olha o
relógio e sorri.
Morrendo de vergonha apenas aceno com a cabeça, impossibilitada
de formar qualquer frase, não cheguei a entrar e já estou passando
vergonha, mas que novidade.
O silêncio se instala novamente, mas não por muito tempo.
— E aí? — indaga colocando as mãos no bolso.
— E aí o quê?
— Vamos entrar? — pergunta com cautela, provavelmente não
querendo me assustar.
— Nunca fiz aulas de dança... nem quando criança, eu só gosto de
dançar... — compartilho os meus pensamentos.
— Isso já é o suficiente! Vem comigo, eu te apresento o estúdio e
você pode fazer uma aula experimental, depois você escolhe, sem pressão,
o que acha? — pergunta com expectativa enquanto fica trocando o peso do
corpo entre as pernas, ele não consegue ficar um segundo parado.
Analiso minhas opções, acredito que se arrepender por algo que fez
é infinitamente melhor do que ter a dúvida de como teria sido se tivesse ao
menos tentado, opto por entrar, prometi que não iria mais anular minhas
vontades, respiro fundo, olho para o garoto que está esperando com uma
paciência que eu já notei que ele não possui.
— Ta, vamos lá — concordo confiante, mas penso que minha voz
não deve ter passado a confiança que eu esperava.
— A propósito sou o Douglas — diz estendendo sua mão muito
animado com minha escolha.
— Sou Victoria — declaro retribuindo o aperto de mãos, ele se vira e
segue em direção a entrada.
— Você faz aulas aqui? — pergunto enquanto o sigo.
— Mais ou menos — sorri abrindo a porta para eu poder entrar,
notando minha confusão ele continua.
— Sou professor, mas gosto de pensar que nunca deixamos de
aprender, então me considero um aluno também — diz sem graça mexendo
no boné.
— Oh! Isso é muito legal, você dá aulas de que? — pergunto curiosa.
— De hip hop para crianças.
— Isso é fantástico!
— Sim! Eu amo o que faço, principalmente meus monstrinhos —
responde orgulhoso, é impossível não notar o brilho nos seus olhos.
— Monstrinhos? — questiono confusa.
— Meus alunos, espere até conhecê-los e você irá entender — sorrio
diante do apelido carinhoso que possui com seus alunos.
Chegamos em uma sala que acredito ser a recepção, há duas
meninas em um balcão, uma está no telefone enquanto a outra está no
computador.
— Então, vamos começar Vick, posso te chamar de Vick né?
— Claro, pode sim.
— Aqui é a recepção. Essas são Bruna e Eloisa, elas mantêm tudo
isso funcionando.
As garotas param o que estão fazendo e ambas sorriem e
cumprimentam, muito simpáticas.
— Seja bem-vinda Vick — responde Bruna que está no computador,
Eloisa que está ao telefone apenas sorri e acena.
— Obrigada.
Douglas volta a andar pelo local e vai apresentando os ambientes do
estúdio, estou hipnotizada com tudo, é tudo colorido, alegre e muito, muito
aconchegante, todos que passam por nós, nos cumprimentam sempre
sorrindo.
— Aqui atrás fica o vestiário e os armários onde você pode guardar
os seus pertences.
Eu apenas vou concordando com a cabeça acompanhando tudo com
muita atenção, não quero perder nenhum detalhe.
— Aqui são as salas onde acontecem as aulas... nós temos ballet
clássico, Jazz, dança de salão e hip hop, estamos pensando em expandir
com o tempo, então provavelmente vamos acrescentar mais algumas
modalidades.
Ele abre a porta de uma sala e entra, eu o sigo, assim que coloco
meus pés eu perco o fôlego, há um espelho cobrindo uma parede inteira e
barras nas demais, Douglas vai até à caixa de som e se vira.
— Pronta? — questiona sorrindo.
Arregalo os olhos, assustada e ele começa a rir.
— Oi?
— Pronta para sua aula experimental?
— Não, não, eu não vim preparada, na verdade, eu só queria
conhecer mesmo, já está ótimo.
— Vamos lá, vamos ver o que sabe.
— Eu nem estou usando uma roupa apropriada e eu não sei nada,
acredite — declaro sentindo meu coração querendo sair pela boca devido
ao nervosismo.
— Relaxa, não precisa de outra roupa, é impossível não saber nada,
é só se mexer, vamos … — insiste empolgado.
— Não, melhor não…
Ignorando completamente minhas palavras ele liga o som, uma
batida muito contagiante inicia no auto falante da sala.
— Vamos lá, se solte — pede enquanto se aproxima já se
movimentando no ritmo da música.
— É sério, eu realmente não consigo — respondo quase
desesperada.
— Ok, eu danço sozinho mesmo, sabe — diz ele, dando de ombros
fingindo estar chateado.
Ele inicia alguns passos, provavelmente já dançou essa música
várias vezes, então ele começa a dar voltas ao meu redor, insistindo para
eu dançar.
— Ok, vamos lá — respondo derrotada, coloco minha bolsa próxima
da caixa e retorno para o centro da sala onde ele me aguarda, paro ao seu
lado e o olho.
Início com passos lentos e desastrados, mas aos poucos vou
desenvolvendo, ele faz passos mais complexos e eu vou tentando imitar,
entenderam o tentando né, eu erro a maioria e nós rimos, ele é um ótimo
professor.
— Ei! Não é necessário humilhar as pessoas — peço enquanto o
observo fazer alguns passos que julgo serem impossíveis, pelo menos para
mim.
— Você está indo bem, para de sentir vergonha, se solte, sinta a
música Victoria.
Então nós vamos dançando, ele para algumas vezes mostrando o
movimento mais devagar para que eu possa aprender, quando vejo já
estamos fazendo passos sincronizados, fechos os olhos e me entrego,
dançamos mais algumas músicas e nem vejo o tempo passar, somos
interrompidos por uma das meninas que estavam na recepção, acredito que
Eloisa seja o nome dela.
— Douglas...
Paramos e Douglas vai em direção a caixa de som baixando o
volume.
— Seus alunos chegaram — informa.
— Claro, diga que chego em 15 minutos, peça que eles se aqueçam
enquanto esperam — ela acena e sai da sala, Douglas se vira novamente
para mim.
— Então, vai se juntar a nós? — pergunta levantando as
sobrancelhas, sorrio empolgada.
— Isso foi demais — exclamo eufórica.
— Foi mesmo, e aí? — levanta as sobrancelhas curioso com minha
resposta.
— Tô dentro! — respondo confiante, não sei dançar, mas vou
aprender, finalmente encontrei algo que eu goste.
— Tem algo para fazer agora? — pergunta receoso.
— Não — digo lembrando que teria no máximo que passar no
mercado, mas isso pode esperar.
— Quer assistir à aula com meus monstrinhos?
— Isso seria demais, não vou atrapalhar?
— Não vai não, vamos lá — diz indo em direção a porta
Pego minha bolsa e corro para alcançá-lo, quando chego na sala eu
me apaixono, são todos tão lindos e pequenos, imagino que tenham por
volta da casa dos 8 anos, estão eufóricos e a animação está estampada em
seus olhos.
— Olá pessoal, estão aquecidos? — Douglas pergunta enquanto
entra na sala, ficando de costas para o espelho, de frente para a turma, que
já esta toda posicionada um ao lado do outro a um braço de distância.
— Estamos sim, menos o Miguel que ficou plantando bananeira —
uma garotinha de chuquinhas conta olhando com cara feia para um
garotinho de moicano, que eu imagino que seja o Miguel, levando pela cara
de mal que ele fez.
— Sua fofoqueira — o garotinho fala enquanto mostra a língua
Solto uma risada diante da situação, acredito que tenha sido um
pouco alta já que todos os olhos se voltam para mim, curiosos, quero cavar
um buraco e me esconder.
— Pessoal essa é a Vick, ela irá se juntar a nós em breve como
aluna do estúdio e eu a convidei para assistir à aula de vocês, gostaria
muito que não a assustem e mostrem que nós dançamos muito bem,
vamos impressioná-la, digam oi a Vick.
— Oi Vick — todos dizem juntos
— Olá pessoal — respondo sorrindo, morrendo de vergonha
— Vick pode se sentar aqui perto da caixa e me ajudar com o som?
— Claro, posso sim — respondo indo em direção a caixa.
Douglas me explica como funciona e pede para que eu pause a
música, aumente ou desligue quando necessário, sento em um banco ao
lado da caixa e dou play quando ele pede.
— Isso é baby shark? — questiono sorrindo quando os primeiros
acordes começam a tocar.
— Sim, nosso aquecimento é com baby shark
Então se eu julguei que não poderia ficar ainda mais encantada eu
estava completamente enganada, já disse como crianças dançando são
lindas? Elas pulam, gritam, sorriem, tudo com tanta leveza e alegria, como
se o mundo fosse perfeito, e todos os problemas não existissem. Observo
atenta como o garoto Miguel cutuca provocando a garotinha cada vez que
se aproxima, e como ela mostra a língua em resposta, todos já sabem
exatamente o que devem fazer. A aula dura em torno de uma hora e meia,
no final passo pela recepção para fazer minha matrícula, por fim escolhi hip
hop por enquanto, se surgir vontade de fazer outra dança com o passar dos
dias eu acrescento.
Chego em casa sento no sofá extremamente empolgada e feliz,
então aquela vontade de conversar com Anton surge novamente como vem
acontecendo o tempo todo, pego o celular e seleciono o contato dele e
aguardo, o aparelho chama…
Uma…
Duas…
Três vezes…
Penso que talvez seja um sinal do destino, porém ele atende, mas na
verdade não é ele, é uma garota.
Sinto que foi jogado um balde de água fria em mim.
— Alô? — escuto a voz feminina atender, sei que não é a voz da
Jules.
— Olá, Anton está? — decido perguntar, na esperança de ter ligado
errado, ou de ser uma amiga, sei lá... eu só não quero acreditar no que está
na minha frente.
— Ele está no banho, acabou de entrar.
Então isso é o suficiente, desligo o telefone e respiro fundo, sinto
lágrimas em meus olhos e não consigo segurar uma que acaba escorrendo
pelo meu rosto, me sinto idiota, burra e ingênua, eu sabia que isso
aconteceria, foi deixado bem claro desde o início, mas porque tem que doer
tanto?
Pego o celular novamente na mão, e ligo para Giulia.
— Hey docinho — ela atende logo no primeiro toque.
— Quero sair — digo de imediato, antes que eu perca a coragem e
me afunde no sofá assistindo dirty dancing com sorvete.
— Claro, vamos marcar, que dia você acha melhor?
— Eu quero sair agora Giulia, por favor, só vamos sair
— Vick, o que aconteceu?
Não quero falar sobre isso, porque eu me sinto uma boba por estar
sofrendo por algo que eu já sabia que aconteceria, mas isso não diminui a
sensação de dor que eu sinto.
— Nada, só vamos sair ok? Beber... — respiro fundo criando
coragem. — E conhecer pessoas.
— Te pego em dez minutos amor.
Sinto a água escorrendo pelo meu corpo enquanto tento relaxar,
odeio discutir com Jules, mas ela me tira do sério, cerro os punhos quando
relembro da nossa briga.
" Você está iludindo ela"
" Não estou iludindo ninguém Jules, deixei bem claro que seria
apenas casual e ainda assim ela concordou com isso, Vick não é uma
criança que não sabe diferenciar um relacionamento de algo casual"
"Você é muito babaca mesmo Anton, claro que ela concordou seu
idiota, e tudo bem, pode até ser casual, mas depois? Quanto tempo
acredita que vai demorar para ela se dar conta de que quer algo mais? E o
que você vai fazer? Você está iludindo sim, e nós dois sabemos onde isso
vai terminar, você conta para ela ou eu conto Anton, ela é uma pessoa
incrível, tenho certeza de que ela vai entender"
" Jules, não se meta na minha vida, cuide do inferno do seu
relacionamento, eu não vou contar porra nenhuma, óbvio que ela vai
entender, mas e depois? Hein? E depois Jules? Como isso vai terminar? "
"Você não entende, não é? Você ainda não percebeu? Ela já gosta
de você Anton, eu vi a maneira que ela olha para você. Só você que não
quer ver, na verdade, não quer enxergar, querendo ou não, vai magoá-la,
uma hora ou outra, "
Balanço a cabeça e fecho os olhos tentando esquecer das palavras
da Jules, por mais que eu não concorde, eu sei que é a mais pura verdade.
— Anton! — Escuto Ema batendo na porta e gritando desesperada,
corro para fora do chuveiro e me enrolo na toalha, enquanto ela continua
gritando, abro a porta e a encontro com o celular na mão.
— Ema você está bem? Meu Deus, há algo de errado com o bebê?
— pergunto nervoso
— Anton, eu atendi seu telefone, ela entendeu tudo errado.
— Do que você está falando Ema? — pergunto já que ela não está
fazendo sentido nenhum.
— Seu telefone estava tocando, eu atendi sem olhar no visor, foi
automático eu sempre atendi seu telefone, porém quando atendi era uma
garota, falei... então ela desligou, depois eu vi que era a Vick.
Pego meu celular de sua mão e confirmando que realmente era Vick,
retorno a ligação logo em seguida, sem sucesso nenhum, o mesmo chama,
porém ninguém atende, envio uma mensagem e aguardo alguns segundos,
nós sempre respondemos um ao outro muito rápido, nada de resposta
dessa vez.
Porra!
— O que você disse exatamente a ela Ema? — pergunto respirando
fundo para não surtar
— Eu sinto muito Anton, ela perguntou de você e eu disse que você
estava no banho, então o telefone ficou mudo...
— Porra Ema, mas que merda...
Vou em direção ao guarda-roupa e visto a primeira calça e camiseta
que encontro, pego as chaves da moto e minha certeira, passo pela Ema e
não consigo dirigir nem uma palavra a ela de tão puto que estou agora.
Desço correndo pelas escadas do meu prédio porque nem por um
inferno consigo ficar parado esperando a porra do elevador chegar, para
somente depois ele descer, pego minha moto e sigo para a casa da Vick o
mais rápido que consigo, vou cortando os carros e só consigo pensar na
minha pequena, estaciono e corro para sua casa, bato na porta, toco a
campainha, grito, faço tudo que eu posso, mas nada, não há ninguém em
casa, respiro fundo, sinto minhas mãos suarem, meu coração está
acelerado, tiro meu celular do bolso e tento mais uma vez ligar para VIck,
nada.
Sento em frente a sua casa e apoio minha cabeça em sua porta, que
merda eu tô fazendo, essa seria uma ótima hora para cair fora, eu poderia
deixar as coisas exatamente como estão, esse era nosso combinado,
apenas casual, ela pode sair com quem quiser e eu posso fazer o mesmo,
há males que vem para o bem. Fecho os olhos, ela pode ser feliz com outra
pessoa, uma pessoa sem bagagem, sem problemas ou todo errado como
eu, mas e se... e se eu fosse esse cara, eu queria ser esse cara.
Meu celular toca e olho, porém para minha decepção não é a Vick e
sim Ema, atendo.
— Eu achei ela, pedi a Jules para ver no Instagram dela e tem um
Story com sua amiga, elas estão no bar The Rules...
— Obrigado Ema — é a única coisa que consigo dizer, respiro
fundo...
Certa vez meu pai disse haver momentos na vida que fazemos
escolhas e não percebemos a relevância delas, afinal por que deveríamos,
não é? Fazemos escolhas o tempo todo, por isso acaba se tornando algo
rotineiro, simples e automático em nossas vidas, quando acordamos, por
exemplo, podemos escolher primeiro entre tomar café ou ir para o banho,
escolher ir trabalhar de moto ou carro, coisas simples que julgamos
insignificantes, mas que no final do dia podem ter tido uma grande
importância, uma escolha tem o poder de mudar toda sua vida, nesse
momento eu tenho uma escolha a fazer, posso ir embora para casa, deitar
na minha cama e deixar que as coisas sigam seu caminho natural, ou...
posso pegar minha moto, ir naquele bar e pegá-la para mim, apenas para
mim...
Escolhas...
Pego minha moto e sigo para casa...
Apenas para pegar um segundo capacete, hoje ela volta comigo...
Assim que chego no bar noto que está lotado, observo o ambiente e
caminho entre as pessoas a procura da minha pequena, mas não encontro,
sigo até o bar e pego uma cerveja, preciso beber algo e me acalmar, os
sentimentos que possuo dentro de mim no momento são confusos, eu sei
que a quero para mim, mas preciso que ela saiba de tudo que poder vir
junto, ou melhor... o que não pode vir junto, respiro fundo e bebo um gole
da cerveja, corro meus olhos pela pista de dança e a encontro, no mesmo
momento que meus olhos caem sobre ela, vejo um par de mãos em volta
da sua cintura, da minha cintura, devo ressaltar, sinto-me um homem das
cavernas, não me considero um cara ciumento, muito pelo contrário,
sempre fui a favor de sexo casual e com mais pessoas, Léo e eu fazíamos
isso quase toda semana, mas eu jamais conseguiria dividir Victoria, só de
pensar em vê-la com alguém, já me sinto doente, e é por esse motivo que
agora, observando um filha da puta com as mãos na minha garota, faz-me
ter pensamentos muito agressivos.
Levanto em um rompante de fúria e sigo em disparada em sua
direção, sentindo minha presença como sempre acontece, Victoria se vira
no mesmo instante que me aproximo, em choque.
— Tire suas mãos dela — sou o mais educado possível, ou pelo
menos o que consigo ser diante dessa situação do caralho.
— Vick? — o babaca pergunta para ela, que porra é essa? Quem ele
pensa que é?
— Anton, por favor... — Vick pede.
— Eu mandei você tirar as mãos de cima dela porra — vou em
direção do imbecil, mas Vick se põem entre nós e apoia suas mãos em
minha barriga impedindo que eu meta a mão na cara desse filha da puta
arrogante.
— Vick disse que não tem um namorado.
— E não tenho — ela se defende
— É isso que você quer? Quer ficar com ele? — pergunto olhando
em seus olhos, ela não responde.
— Victoria, você quer ficar com ele? Não vou te atrapalhar, me
responda e eu vou embora.
Ela para, posso ver sua luta interna, eu sei porque também estou em
uma aqui, então ela se vira para o filha da puta, ele sorri vitorioso, respiro
fundo juntando todo meu autocontrole para não jogá-la em meus ombros e
obriga-la a ir embora comigo, claro que a quero para mim, mas não posso
obriga-la a vir, se tem algo que eu prezo é pela escolha, eu jamais, faria
qualquer coisa que não fosse da sua vontade, mesmo que isso me matasse
por dentro, como agora, ter de deixá-la está doendo como o inferno, respiro
fundo e viro-me caminhando em direção a saída, sentindo-me sufocado
com o coração apertado, aquele vazio voltou com força agora, e eu tenho
plena consciência que é por minha culpa, é isso que eu faço, eu afasto as
pessoas.
Chegando na porta, quase saindo eu sinto um impacto em minhas
costas seguido por braços em volta do meu corpo e só posso dizer sinto
que fui ao céu e Victoria com toda certeza é o meu paraíso.
— Eu te odeio — escuto minha pequena falar com o rosto
pressionado em minhas costas.
— Não odeia não — respondo sem conseguir acreditar, viro-me e
olho em seus olhos, seguro seu rosto em minhas mãos, vejo a incerteza e o
medo em seu olhar.
— Por que está aqui Anton? — pergunta.
— Porque eu preciso de você, preciso ser sincero... não queria,
tenho lutado contra isso desde o primeiro dia que eu vi você, mas eu
cansei... — dedilho seus lábios e ela os abre respirando com dificuldade —
E você pequena? Hum!? Precisa de mim?
— Você me confunde e sinceramente Anton, não sei o que pensar,
em um momento você tem uma crise de ciúmes e logo em seguida afirma
que não quer nada sério e que somos livres para fazer o que quiser... não
estou te cobrando nem nada, porque eu aceitei isso, porém hoje quando
uma garota atendeu seu telefone, eu... — ela respira fundo e antes que
tenha oportunidade de terminar seu raciocínio eu a interrompo.
— Era Ema no telefone Vick, minha amiga... se quer minha
sinceridade, não estive com mais ninguém desde que a conheci, está sendo
confuso para mim também, não posso fingir que não estou afetado e
assustado com toda essa intensidade que sinto quando estou com você,
então não pense, apenas deixe acontecer, sem rótulos, apenas eu e você...
com exclusividade, o que me diz?
Ela apoia sua testa em meu peito e permanece ali por alguns
segundos enquanto eu passo minhas mãos pelo seu cabelo e beijo o topo
de sua cabeça, sei que tudo isso é demais para ela, na verdade, para
ambos, mas é isso que posso oferecer...
— Só eu e você? — coloca suas mãos por dentro da minha
camiseta, seu toque em minha pele nua causa arrepios pelo meu corpo por
completo.
— Sim, só eu e você pequena — confirmo puxando seu rosto
próximo ao meu roçando meus lábios nos seus.
— Tá — ela acena, e posso sentir um certo temor em sua voz.
— Tá? — indago levantando as sobrancelhas provocando-a.
— Sim Anton de valor inestimável, eu aceito seu pedido estranho de
lance casual com exclusividade — responde sorrindo mordendo os lábios.
— Você anda muito engraçadinha dona encrenca, talvez eu devesse
te levar para minha casa e te ensinar uma lição, hum!? — vejo seus olhos
se iluminarem.
— É, talvez seja necessário mesmo, não ando me comportando
sabe.
— Não? — pergunto aproximando nossos corpos, ela apenas
balança a cabeça concordando com seus olhos fixos em minha boca, molho
os lábios e não aguentando mais a distância eu a beijo.
Porém, dessa vez o beijo é diferente, ele é cheio de promessas não
ditas, sentimentos que estão guardados, mas que nesse beijo conseguimos
ao menos sentir um pouco
— Confia em mim? — questiono afastando nossos lábios apenas por
um segundo.
— Sim — diz ela.
Sorrio.
Seguro sua mão e sigo para o banheiro, ela apenas sorri e me
acompanha, como se soubesse exatamente o que planejo.
Abro a porta do banheiro masculino, me certifico de que não há
ninguém e a puxo para uma cabine.
Pressiono seu corpo contra a parede da cabine e beijo sua boca com
força, suas mãos arranham minhas costas por dentro da camiseta e sinto
meu pau querendo sair.
Abaixo sua alça do vestido e seguro um seio em minha mão, vou
trilhando beijos pela sua mandíbula, queixo, pescoço até que chego ao meu
destino, abocanho um seio e o chupo com vontade, passo minha língua,
mordo, escuto seus gemidos ficando mais altos e suas mãos puxam meu
cabelo.
Volto a descer enquanto brinco com seus seios com as pontas dos
dedos, me ajoelho a sua frente e sorrio, ela está fodidamente linda, seguro
sua perna direita e a levanto apoiando em meu ombro, ela está de vestido
dando-me total abertura, passo meu dedo indicador por cima da calcinha
em sua boceta e já consigo sentir que está molhada, meu pau dentro da
calça está dolorido de tão duro, mas isso é sobre ela, somente ela.
— Anton por favor — implora levando suas mãos a minha cabeça.
— Eu vou cuidar de você pequena, agora fica quietinha ok? — ela
apenas acena com a cabeça e sorri de forma sacana.
Beijo-a por cima do tecido e ela segura um gemido, sorrio... gostosa
pra caralho, afasto sua calcinha para o lado e passo o indicador novamente
em seu clitóris, porém agora sem nenhuma barreira, sinto suas pernas
falharem, mas eu a seguro firme, faço movimentos lentos com a língua e
vou aumentando a velocidade, ela começa a se contorcer, levo meu
indicador a sua entrada e provoco-a entrando e saindo, continuo chupando
e sinto que está ficando cada vez mais molhada, quando sinto que está
quase gozando ela me afasta
— Eu quero você dentro de mim, Anton — pede enquanto me olha
cheia de tesão.
— Isso é sobre você — rebato.
— Você não está entendendo Anton, eu preciso gozar na porra do
seu pau agora — esbraveja.
Demoro uns 10 segundos para me sintonizar, Vick não é de falar no
sexo, muito menos dessa maneira, mas confesso que isso só me deixou
com mais tesão ainda, levanto e capturo seus lábios novamente, ela leva
sua mão a minha calça e a abre, segura meu pau em sua mão e
movimenta, gemo em sua boca e ela sorri, essa garota me tem nas mãos,
não há nada que eu não faria por ela, viro-a de costas e ela apoia as mãos
na parede, levo minha mão no bolso e retiro da minha carteira uma
camisinha, abro o pacote e desenrolo em meu pau.
Afasto sua calcinha para o lado, me posiciono em sua entrada
molhada pra caralho e deslizo para dentro, bem devagar, ela joga seus
quadris para traz, sorrio... minha pequena gosta de foder, forte e rápido.
— Como você quer amor? — pergunto beijando seu ombro
movimentando-me lentamente.
— Do jeito que você sabe fazer.
Mordo seu ombro e meto, porém, agora com força, desfiro um tapa
em sua bunda e intensifico os movimentos, rápido e forte... seguro seu
cabelo e levo minha outra mão em seu clitóris fazendo movimentos
circulares, ela geme mais alto.
— Quieta.
Ela apenas acena e leva sua mão a boca mordendo, tentando
segurar os gemidos involuntários, sinto quando ela está perto, me aproximo
do seu ouvido.
— Vem, goza no meu pau Victoria, bem gostoso...
— Anton... — ela implora baixinho quase sem fôlego.
— Isso meu amor, deixa vir...
Então ela goza e me junto a ela sentindo seus espasmos e sua
boceta sugando meu pau.
— Dorme na minha casa hoje? — pergunto enquanto diminuo os
movimentos e beijo onde eu mordi há pouco.
— Depende...
— Do que? — pergunto puxando-a para trás, beijo seu pescoço,
sinto se arrepiar.
— Quero meu show particular hoje.
— Você terá.
— Preciso passar em casa para pegar roupas.
— Nós vamos... — saio de dentro, retiro a camisinha enquanto ela
arruma o vestido, a observo por um tempo e quando ela nota fica sem
graça.
— Você é linda — compartilho os meus pensamentos. — Você é
fodidamente linda Victoria Carvalho, e está ferrando com meu psicológico
— sorrio e a beijo novamente.
Sinto meu coração batendo tão forte, que desconfio que pode sair da
caixa torácica a qualquer momento, mandei a razão para bem longe, estou
inteiramente à mercê dos meus sentimentos, se é o correto, sinceramente
não sei, mas é o que é, e estar ao lado do Anton é o que eu quero, posso
me arrepender depois, mas agora nesse elevador subindo para seu
apartamento, me parece ser a melhor escolha a se tomar, olho para o lado
e o pego me observando encostado na parede.
— Um real pelos seus pensamentos — sorri maliciosamente.
— Vai ter que desembolsar muito mais se quer saber meus
pensamentos, querido.
— Ah é?
— Uhum — respondo sorrindo, Anton semicerra os olhos e se
aproxima, puxa-me pela cintura beijando meu pescoço, meu corpo todo
ascende e sinto arrepios sob seu toque.
— Isso não irá funcionar! Sabe... já estou me acostumando com sua
presença, nada de muito inovador.
Dou de ombros fingindo desinteresse, mas que grande mentirosa me
tornei.
Escuto o som alto da sua risada, o que aquece meu coração.
— Olha, não fica nem vermelha — acusa estreitando os olhos.
— Por que eu ficaria? — me faço de sonsa.
— Porque está mentindo.
— Não estou — me defendo.
— Então, você quer dizer que posso entrar no meu apartamento,
beijar sua boca, passear com minhas mãos pelo seu corpo, morder seus
lábios e quando eu enfiar minha mão na sua calcinha, não vou encontrá-la
molhada para mim?
Engulo seco.
— Não — minto mais uma vez.
Ele solta uma gargalhada rouca.
— Que pena amor, porque eu já estou duro por você, na verdade, eu
passo uma boa parte do tempo assim quando estou ao seu lado.
— Talvez eu possa te ajudar com isso mais tarde, vamos ver como
você se sairá no show, talvez minha boca queira passear pelo seu corpo,
mas apenas talvez.
A porta abre salvando-me, saio do elevador e o deixo lá plantado,
não sei em que momento me tornei essa pessoa.
A culpa é totalmente dele que além de despertar sentimentos,
desejos, também desperta meu lado mais provocante que conheço.
— Você está virando uma pequena provocadora, ouviu? — escuto
gritar do elevador, atrás de mim.
Droga, estraguei minha saída triunfal, não sei qual é o apartamento.
— É o 401 — anuncia assim que chega, como se soubesse
exatamente o que estou pensando.
— Você não vai abrir?
— Está aberto — aproxima-se da porta e gira a maçaneta abrindo-a.
— Você deixa a porta do seu apartamento aberta? E se alguém
entrar?
— No máximo que pode acontecer é Ema comer toda comida que
tem, mas como não há comida, não tem problema, quando saí, deixei Ema
e como ela não tem a chave, deixou aberto.
— Hum, Ema é a sua amiga? — pergunto entrando em seu
apartamento.
— Isso — responde vindo logo atrás.
— Vocês são bem amigos né? — droga, acabei de soar como a
namorada ciumenta, viro-me em sua direção e Anton está coçando a
cabeça, espera, se eu não o conhecesse diria que está... sem jeito.
— Anton?
— Ok, acho melhor falar isso agora, para depois não dar merda —
afirma colocando as mãos no bolso.
— Não entendi — declaro confusa, mas por algum motivo me
sentindo incomodada.
— Ema é minha melhor amiga, mas nós já tivemos algo antes... —
confessa inquieto, posso ver no seu rosto que está apenas esperando
alguma reação minha.
— Entendi, foi sua namorada… — as palavras têm um gosto amargo
em minha boca quando eu as pronuncio.
— Não, nós nunca namoramos, nós só...
— Ema foi seu lance casual, assim como eu — declaro mais para
mim do que para ele, sentindo um aperto desconfortável no peito e uma
vontade absurda de vomitar. — Onde fica o banheiro?
— Não é isso que você está pensando, Ema é minha amiga.
Claro, nem isso eu sou.
Apenas concordo com a cabeça.
— Tudo bem, preciso do banheiro, onde fica? — porra nenhuma de
banheiro, eu quero é fugir mesmo.
— Primeira porta à esquerda… — indica com os ombros caídos.
Apenas sigo para o banheiro, fecho a porta e solto a respiração, paro
na frente do espelho.
Definitivamente essa não é uma sensação agradável, é exatamente
por esse motivo que o novo me assusta, não saber o que se passa na
cabeça da pessoa, sobre sua vida, quem é, o que gosta, se está falando a
verdade ou está falando o que eu apenas quero ouvir, sinto-me no escuro
sem saber onde estou pisando e em que direção eu devo seguir.
— Vick? — escuto Anton chamar-me.
— Oi — respondo tentando procurar um ritmo confortável de
respiração.
— Tudo bem? — pergunta, e pelo seu tom de voz é nítido que está
preocupado.
— Ah sim... já estou saindo — mentirosa.
O escuto bufar.
— O que eu queria dizer... Ema e eu não transamos mais, nós
realmente somos apenas amigos agora, nunca houve sentimento além de
amizade, nós transamos sim, mas nunca houve nada além disso.
Fico em silêncio e Anton continua.
— Só queria deixar claro, quer beber alguma coisa?
— O que você tem? — pergunto tentando não fazer disso um
problema, se estou me sentindo incomodada? Sim, estou.
Mas ele foi sincero, e isso conta muito, eu amo a sinceridade nas
pessoas, estou falando de sinceridade e não de grosseria disfarçada.
Nunca me senti insegura antes, mas agora com Anton essa sensação vem
me acompanhando, assim como o sentimento está crescendo o medo
também, na mesma proporção, o grande problema é eu não saber o que
fazer com todos esses sentimentos novos.
— Cerveja ou água — confessa e ouço sua risada logo em seguida.
— Cerveja está ótimo — respondo.
— Ok.
Escuto seus passos se afastando, olho novamente para o espelho,
vamos lá garota, um passo de cada vez.
Saio do banheiro e agora me permito observar seu apartamento com
mais atenção, não há quase nada de decoração, todo em tons pretos.
— Você tem algo contra outras cores além de preto? — questiono
quando chego na sala e o encontro perto do som segurando uma cerveja,
sem camiseta, impossível não me perder na sua barriga, nos seus braços,
vou descendo...
— Meus olhos estão aqui em cima, pequena — diz rindo apontando
para seu rosto
Reviro os olhos com a sua arrogância.
— Você é muito arrogante e convencido — ele sorri ainda mais agora
— Isso não foi um elogio, Anton — completo.
— Eu sei — confessa se aproximando com um sorriso predador nos
lábios. — Mas sabe, eu gosto quando você faz isso...
— Isso o quê? — indago.
— Quando você me desafia, me provoca... na verdade eu adoro,
acho excitante, continue...
— É definitivo, você é muito estranho...
Ele sorri, me entrega a cerveja e volta para o som ligando-o.
— Você mora sozinho? — pergunto sentando no sofá.
— Sim — respondo se juntando a mim.
— E sua irmã Jules?
— Jules é casada há 5 anos, antes disso morávamos juntos...
— E sua família? — pergunto bebendo mais um gole da minha
cerveja.
— Não tenho, é somente eu e Jules — tristeza surge em seu rosto,
mas antes que eu possa dizer ou fazer alguma coisa, Anton já está de pé
indo em direção à cozinha.
Ótimo, sempre acertando nas perguntas, boa Victoria.
Quando retorna com uma cerveja em mãos, está o mesmo Anton de
sempre, ele disfarça bem, mas eu reconheço, porque fiz isso por um bom
tempo.
— Sinto muito — digo, mesmo sabendo que ele não quer entrar
nesse assunto, preciso que ele saiba que eu realmente sinto muito, não
somente por ter tocado no assunto, mas sinto também pelo que tenha
acontecido com sua família.
— Tudo bem — responde sorrindo fraco e nesse momento meu
coração errou uma batida, vê-lo sofrer me atinge e eu só gostaria de
abraçá-lo e dizer que tudo vai ficar bem, mas acredito que isso só o faria se
afastar, pelo pouco tempo que nós conhecemos ficou bem claro, Anton não
gosta de falar sobre seu passado e muito menos sobre suas dores, e se
isso o fizer se afastar, essa é uma linha que no momento não pretendo
ultrapassar.
— E você? — pergunta levando a cerveja à boca, provavelmente
tentando melhorar o clima que eu mesma estraguei.
— O que tem eu?
— Sua família...
— Ah sim, moram em uma cidade pequena, eu morava com eles,
depois que me formei no ensino médio, após um ano de relacionamento
Josh recebeu uma proposta de um emprego aqui e eu vim junto, é isso,
tenho uma irmã, tios, primos, todos muito chatos, nada que você vá querer
saber — respondo sorrindo, notando que não parei de falar mais.
— Isso é legal, ter uma família grande, os natais devem ser bem
interessantes — não pareceu ser uma pergunta, mas sim um pensamento.
— Às vezes — respondo mesmo assim.
Vejo um porta retratos sozinho em uma mesa no centro da sala, nela
há duas garotas lindas e Anton no meio, uma garota consigo reconhecer
como Jules, a outra imagino que deva ser Ema.
— Ema, essa é a minha amiga — declara apontando para o porta
retrato que eu estava observando.
— Sim, Ema... ela é linda — É uma garota linda, tem cabelos
escuros, olhos fortes, mas um sorriso radiante, deve ser aquela pessoa que
todos amam estar por perto.
— Não diga isso a ela, ela já possui ego o suficiente!
— Encontramos uma versão sua feminina? — o provoco.
— Engraçadinha!
Anton retira o violão do estojo e posiciona-se no outro sofá.
— Que música você quer ouvir? — pergunta enquanto mexe em algo
que não sei identificar, mas imagino que deva estar conferindo se está
afinado.
— Você escolhe, a próxima eu escolho — respondo empolgada.
— Lifehouse, conhece? — seus olhos encontram os meus, por um
momento fico incomodada com a maneira que está me observando, como
se quisesse me dizer algo, mas não tivesse coragem.
— Quem não conhece? — brinco levando a cerveja a boca
novamente.
— Muitas pessoas pequena — dá de ombros voltando sua atenção
para o violão.
Ele dedilha as cordas, como se estivesse apenas sentindo o
instrumento, então os primeiros acordes iniciam, ele fecha os olhos e canta.
With nothing to do
Com nada para fazer
Nothing to lose
Nada para perder
Três segundos depois meu telefone toca, e mais uma vez ao escutar
sua voz meu coração transborda de sentimentos que eu já não possuo
controle há algum tempo.
"Entra logo Léo" Jules diz deitada na cama com os pés apoiados na
parede rabiscando algo no seu diário.
"Deixa de ser mandona garota" digo enquanto entro e deito ao seu
lado jogando os pés na parede imitando-a.
"Feliz aniversário pentelha"
Levo minha mão no bolso e pego o seu presente, encontrei uma
pulseira que era sua cara, quando eu a vi, pensei que deveria pertencer a
ela.
" Te trouxe um presente"
Ela senta no mesmo instante.
" Para mim? " pergunta surpresa.
" Sim, para você pentelha, por seus serviços" brinco colocando a
pulseira no seu pequeno braço, Jules sempre faz meu lanche, Anton fica
puto porque o meu sempre vem primeiro.
" Ela é linda" diz admirando a pulseira, se vira para mim" Obrigada
Leo "
" De nada" bagunço seu cabelo, ela odeia e é exatamente por isso
que eu faço.
" As garotas pararam de ser más? " pergunto, descobri a alguns dias
que havia garotas na sua sala que a provocavam constantemente.
" Sim, Anton resolveu" responde chateada, sei que ela odeia parecer
fraca, entretanto Anton jamais deixaria que alguém magoasse sua princesa,
é claro, somente ele.
" Bom... me avise se elas voltarem a incomodar"
Ela acena com a cabeça.
" Hoje eu descobri minha música favorita Leo" confessa enquanto
escreve no seu diário.
" Aé? Qual? "pergunto.
" Vou pôr para você ouvir "
Se levanta e vai em direção do seu rádio, põem o CD novo que
ganhou da sua mãe e Legião Urbana começa a tocar no quarto, ela volta
para seu lugar e olha para o teto.
" O nome da música é Ainda é cedo, acho que combina com você
também, eu deixo ser sua música favorita se quiser" diz sorrindo
empurrando meu ombro com o seu.
Escuto a música prestando atenção na letra.
" Eu gostei, é nossa música favorita então pentelha".
Retiro tudo que disse antes sobre dor, isso que acabou de acontecer,
Anton chorar até adormecer em meu colo, com toda certeza foi a pior dor
de todas, vê-lo tão quebrado, cansado, triste, se pudesse eu pegaria toda
sua dor para mim, sem pensar duas vezes.
O olhando assim agora adormecido, tão sereno, seus lábios
inchados, o rosto vermelho do seu choro.
Passo a mão pelos seus fios bagunçados que eu tanto amo, sim eu o
amo, amo tanto que doí, e só de pensar que posso perdê-lo.
Meus olhos se enchem de água novamente, é involuntário, não
quero ficar sem ele, não posso, assim como preciso de ar, eu preciso do
Anton.
Após fazer o teste de gravidez e o resultado apresentar negativo, a
primeira coisa que fiz foi ligar para minha mãe, ela possui um amigo que é
médico, eu precisava de uma opinião correta, não posso acreditar em tudo
que encontramos na internet, entretanto as notícias não foram melhores.
Para ser sincera não compreendi muitas coisas devido ao meu
estado emocional, mas o que consegui compreender é que as partes do
cérebro se degeneram, os movimentos vão ficando mais bruscos,
descoordenados e lentos, até que o corpo todo é afetado, dificultando o
caminhar, sentar, comer, falar, engolir e vestir-se, até que atinge o cérebro
por completo. Frequentemente ocorrem alterações mentais antes ou
quando os movimentos anormais desenvolvem, no decorrer do tempo
perdem a capacidade de pensar racionalmente, podendo desenvolver
depressão e tentativa de suicídio...
Fechos os olhos novamente.
Meu Anton, não.
Existe um exame que pode identificar o gene da doença, podendo
iniciar o tratamento precocemente para retardar os sintomas, já que a
doença não possui cura.
Apoio minha cabeça no sofá e fico imaginando como foi a vida do
Anton e Jules.
Tento recuperar-me antes que Anton acorde, não quero que ele veja
que estou destruída por dentro, que estou morrendo de medo de perdê-lo,
porque sei que é exatamente isso que ele não quer.
Lembro-me de nossa conversa na praia, os motivos por não entrar
em um relacionamento.
Minutos ou talvez horas, não saberia dizer, estou perdida em meus
pensamentos e em minha própria dor quando sinto Anton acordar.
Anton se mexe e abre os olhos.
Ficamos assim nos encarando por alguns minutos até que ele se
levanta e se afasta.
Levanto também.
Anton não me encara, ele está olhando fixo para o chão.
Eu sinto, sinto o que ele está pensando.
— Não faça isso — peço me aproximando.
Eu sei o que está passando pela sua cabeça, Anton quer se afastar.
— Vick, por favor, não torne as coisas mais difíceis — pede sem
conseguir olhar para mim.
— Você só pode estar brincando né?
Seus olhos encontram os meus, só consigo ver dor.
— Vick, eu sinto muito — pede como se isso fosse aliviar a dor que
estou sentindo.
— Para o inferno com sinto muito Anton, nós não vamos acabar
nada, quando finalmente me sinto completa, quando eu finalmente amo
alguém com tudo que há em mim, quando finalmente sinto que encontrei
alguém que me complete — volto a chorar. — Por favor Anton, não faz isso
comigo — corro em sua direção e o abraço forte chorando.
— Vick, não posso, acredita que eu quero isso? Pensa que estou
feliz com isso pequena? — sem uma resposta minha Anton continua. — Eu
te amo tanto amor, tanto, mas justamente por te amar que não posso fazer
isso com você, quero que você seja feliz, que se case, tenha filhos lindos,
Deus sabe o quanto eu queria que fossem todos meus, talvez até
poderíamos adotar alguns, mas não posso amor, não posso tirar isso de
você.
Anton respira e noto pela sua voz embargada que está chorando
também.
— Não posso ser um fardo para você Vick — Anton me afasta.
— Não, não, não — repito balançando a cabeça enquanto lágrimas
escorrem pelo meu rosto e sinto meu coração falhar só de pensar em me
afastar.
Anton vai até a porta com a cabeça baixa, abre sem olhar em meus
olhos.
— Por favor Vick, preciso que vá embora — pede com a voz
falhando.
Então é assim que ele quer fazer, ok!
Eu saio.
Passo pela sua porta feito um furacão.
Vou até meu carro e pego minha mala, se ele quer me deixar, ótimo,
não vai conseguir.
Porque eu não vou desistir.
No fundo eu esperava por essa reação, então vamos para o plano B.
Toco a campainha.
A porta se abre, vejo seu semblante cansado, então seus olhos vão
de encontro a minha mala.
Passo por ele e paro na sala colocando minha mala no chão.
— O que você está fazendo? O que são essas coisas? — Anton
pergunta olhando para minha mala.
Respiro fundo enxugando minhas lágrimas me recompondo.
Agora eu tenho uma batalha longa pela frente e essa eu vou vencer.
— Essas são as minhas coisas, decidi uma vez que ninguém ditaria
minha vida ou faria escolhas por mim, e você está fazendo isso agora,
tenho o direito de rebater, e isso — aponto para minhas coisas. — Sou eu
me mudando para sua casa, você quer me enfiar goela abaixo que não
podemos ficar juntos, e eu vou fazer entrar na sua cabeça que eu quero
você, e é exatamente isso que eu vou fazer, eu quero você! E eu vou ter
você Anton Alencar, e foda-se a sua maldita opinião, e se quiser pode
dormir na sala, a casa é sua mesmo, com licença — pego minha mala do
chão e vou em direção do seu quarto.
Eu gostaria de dizer que os dias seguintes foram melhores, que
Anton percebeu logo que não haveria escolha.
Porém, a realidade é outra, uma realidade que machuca.
Hoje faz exatamente uma semana que não o vejo, pois é, nós
estamos morando juntos, no entanto, eu não o vejo.
Quando saio para trabalhar de manhã, Anton está dormindo no sofá.
Quando eu retorno, ele não está em casa.
Hoje, mais um dia.
Chego e as luzes estão apagadas.
— Anton? — chamo seu nome e nada, somente o silêncio como
resposta.
Sento-me no sofá exausta fisicamente e emocionalmente, a casa
está escura e a saudade apertando, sinto falta do seu cheiro, seu carinho,
sorriso, de suas piadas sem graça e seu imenso ego.
Deito-me e puxo o seu travesseiro para meu rosto inspirando-o, sinto
seu perfume e uma onda de lágrimas se alojam em meus olhos, então
deixo-as cair, dizem que chorar faz bem, tenho minhas ressalvas quanto a
isso, sorrir é muito melhor, entretanto é o que preciso fazer agora, eu choro
até pegar no sono.
No meio da noite sinto braços ao redor do meu corpo, sou pega no
colo.
Eu conheço esses braços, conheço esse aroma.
Anton.
Passo meus braços pelo seu pescoço, aproximando meu rosto
sentindo seu perfume, o abraço forte sentindo o calor de seu corpo.
— Sinto sua falta — digo baixinho com medo que seja apenas um
sonho e logo acabe.
— Eu também amor... mas nós não podemos, você tem de enxergar
isso.
Sinto o colchão da cama em minhas costas.
— Sinto muito — diz se afastando.
A porta se fecha.
Ele foi embora, mais uma vez.
Viro-me e fico encarando o teto do quarto.
Foda-se.
Levanto e vou em direção ao banheiro, ligo o chuveiro e permaneço
em baixo de olhos fechados enquanto a água quente escorre pelo meu
corpo.
Eu sinto muito.
Sorrio amargamente, eu odeio essas palavras, odeio que me diga
que sente muito, se sentisse mesmo, veria o quanto estou sofrendo e faria
algo para melhorar.
Provavelmente devo estar na TPM porque a vontade de chorar é tão
grande que não consigo mais segurar, eu estou tão cansada, cansada de
tudo.
Anton não fala comigo, não sei para onde vai todas as noites, ao
mesmo tempo que quero gritar com ele, dizer o quanto está sendo infantil e
que se sua intenção com isso era que eu não sofresse, ele está falhando
miseravelmente, porque já estou sofrendo, minha vida se tornou acordar,
trabalhar e dormir, tudo na expectativa que Anton dê qualquer tipo de
abertura, mas isso não acontece.
Saio do banho e vou em direção ao guarda-roupa, visto sua blusa
que uso como pijama e vou em direção da sala.
Anton está deitado sem camisa apenas de cueca boxer, um braço
apoiado em seu rosto próximo a sua testa tampando sua visão e o outro
sob seu abdômen.
Aproximo-me do sofá e literalmente deito em cima do seu corpo, já
que o sofá é pequeno.
Coloco uma perna em cada lado de sua cintura, no mesmo momento
Anton afasta as mãos assustado com meus movimentos, passo meus
braços pelo seu pescoço e apoio minha cabeça em seu ombro próximo ao
seu pescoço, faço do seu corpo minha cama.
— O que está fazendo? — Anton pergunta.
— Está bem claro, vou dormir.
— Você tem uma cama lá no quarto — afirma com os braços para
cima não querendo retribuir o abraço.
— Aham, eu sei — declaro sem me importar com seu desconforto.
— E por que não está nela?
— Não é a cama que preciso para dormir Anton, agora fica quietinho
amor, amanhã eu acordo cedo.
Anton fica em silêncio, quando estou quase pegando no sono
— Vamos para o quarto — responde derrotado.
— Graças a Deus! — levanto-me, volto meu olhar para o seu. — Se
você sair da cama no meio da noite, me jogo em cima de você de novo
Anton, dessa vez sem delicadeza, não me provoque.
— Você é louca — declara me seguindo para o quarto.
— Você não viu nada ainda querido, deveria ter pensado duas vezes
antes de oferecer ajuda a estranhas na rua sem gasolina.
— Vick é sábado, pelo amor... vamos sair, farrear, afogar as mágoas,
dar pra geral — escuto Giulia dizer pela décima vez, enquanto tomo meu
milkshake observando os carros na rua.
— Eu estou afogando as mágoas — respondo sorrindo levantando
meu milkshake.
— Milkshake de morango não é para afogar as mágoas, você está
fazendo isso errado, devíamos convidar seu amigo dançarino e ir balançar
essa bunda linda.
Reviro os olhos.
— Vick, faz quanto tempo que você e Anton não conversam?
Não respondo.
Não quero dizer que nós apenas dormimos juntos, apenas porque eu
o obriguei a fazer isso, sempre que tento puxar algum assunto Anton finge
que não é com ele, eu literalmente estou sendo ignorada, sabe aquela
sensação de ser indesejada em um lugar?
É assim que me sinto quase o tempo todo, a verdade é que eu estou
me sentindo perdida, não sei mais o que fazer, estou cansada.
— Eu sei! Duas semanas, você ouviu Victoria? — pergunta em
descrença. — Duas fodidas semanas, aquela mínima troca de palavras não
pode ser considerado um diálogo, e você está morando na casa dele —
mordo o lábio tentando não transparecer que isso me incomoda, não quero
dar mais munição para Giulia, no fundo, sei que ela tem razão, o problema
é que não estou com vontade de sair, não se trata apenas de Anton.
Ok...
Talvez um pouco.
— Victoria, presta atenção porra! — fala mal-humorada.
Volto meu olhar para ela, que esta puta comigo
— Eu não quero sair Giulia — respondo sentindo-me cansada desse
assunto, depois do meu expediente nós combinamos de passar um tempo
juntas.
— Eu desisto de você — diz levantando os braços para cima em
derrota.
Sorrio, não dou dois minutos.
Conto mentalmente... um, dois, três ...
— Mentira, não desisto jamais... mas hoje é sábado, acha mesmo
que ele vai voltar para casa cedo? — questiona levantando as sobrancelhas
Já pensei nessa hipótese também, mas não menciono.
— E se ele for para a festa do Leo? Você vai ficar esperando ele
chegar em casa como uma boa esposa. Aah eu estou estressada com essa
situação, não me culpe, eu te amo e odeio isso.
Apenas aceno com a cabeça, não há o que dizer, não possuo
argumentos para isso, e sim eu também odeio isso.
— Eu também te amo, podemos trocar de assunto por favor?
— Tudo bem, então vamos falar de coisas boas... Douglas — Giulia
leva uma batata na boca sorrindo diabolicamente.
— Ele é só meu professor Giulia — desconverso enquanto observo
meu celular na mesa, nós nunca mais trocamos mensagens.
— Mas vocês estão mais próximos.
— Sim, porque eu adoro as crianças e gosto de assistir às aulas.
— Aham.
— É sério, não vou dizer que não o acho bonito, ele é sim! E é um
amor, porém meu coração já tem dono, mas Douglas é um bom amigo.
— E o que ele faz da vida além de dançar? — tento puxar em minha
mente se já conversamos sobre esse assunto.
— Ele é professor de dança, da aula em várias escolas — respondo
lembrando-me.
— E Iago? — pergunto tentando mudar o foco da conversa.
— O que tem ele?
— Vocês saíram juntos àquele dia, rolou mais o quê?
— Nós transamos algumas vezes — confessa dando de ombros.
Concordo, Giulia é a pessoa mais desapegada que conheço, nunca
namorou e não pensa nisso, sai com quem deseja e não dá a mínima para
a opinião dos outros.
Ficamos em silêncio por no máximo dois minutos.
— Eu não consigo não falar sobre isso Victoria, negócio é o seguinte,
vou dar a letra — põem às duas mãos sobre a mesa me olhando séria. —
Vou perguntar para o iago se Anton vai para a festa com eles depois do
show, se ele for... eu irei buscá-la nem que seja amarrada, você ouviu? E
nós vamos para a noitada, ok? — apenas aceno com a cabeça
concordando.
Dona encrenca
Gostaria que isso fosse mais fácil, mas não é, pessoalmente seria
muito pior. Parando para analisar eu jamais conseguiria fazer isso
pessoalmente, você sabe, sou um covarde, pode me xingar, eu aceito.
Vamos começar do início para você entender! Quando eu te vi pela primeira
vez parada no meio da estrada, pensei... quem é essa louca? Mas, quando
desci da moto e te olhei... Deus, Victoria! Tinha que ser fodidamente tão
linda? Então você abriu a boca e senhor eu sabia que estava encrencado,
daí veio a dona encrenca... você é insuportável quando está com fome e
aquele dia foi a prova. Continuando, nunca acreditei em amor à primeira
vista, inclusive penso ser conversa fiada, entretanto, se o que senti aquele
dia não foi amor, tenho certeza de que foi algo bem próximo.
Agora segunda coisa, promete que não vai até a polícia depois
disso? Obrigado amor! Como posso dizer... eu meio que te segui por alguns
dias, ok meses. Te vi almoçando naquele restaurante que você adora,
alheia ao mundo, apenas ocupada com a sua comida. Daí que eu descobri
seu apreço por milkshake de morango e hambúrguer. Desde então fui todos
os dias apenas para te ver, nesse tempo eu consegui desvendar todos os
seus sorrisos, todas as suas feições e olhares, você tem vários, acredite, e
eu amo cada um deles, toda vez que eu te via o sentimento aumentava.
Você não sabe, mas quando ficamos pela primeira vez eu já te amava
pequena, e é por te amar que estou te deixando. Não me procure, não me
espere, viva sua vida Vick, seja feliz, case e tenha filhos lindos!
Agora vem a parte difícil, essa que não costumo falar para ninguém e
prefiro deixar guardada, porque é uma parte que eu ainda sinto raiva,
mágoa, sei que guardar esse tipo de sentimento é errado, mas é
inevitável... é o que possuo dentro de mim.
Minha mãe se suicidou dois meses depois que completei a
maioridade, tomou todos os remédios que possuía para depressão, ela
entrou em depressão logo após que meu pai faleceu, esperou apenas eu
completar 18 anos para ser responsável legal por Jules.
Eu não quero que você se torne como ela. Que acabe com a sua
vida apenas para não me deixar. A chance de eu me tornar um fardo para
você, uma cruz que você não merece carregar. Eu sei que a porra das
decisões da sua vida é você quem toma, mas não posso deixar que me
escolha e pague caro por isso no futuro. Sinto muito por toda dor que estou
te causando, eu tentei me manter afastado, mas o destino a trouxe para
mim e não sou tão forte assim. Entretanto, não posso pequena, não posso
fazer isso com você, jamais me perdoaria se um dia eu acordasse e seu
sorriso não fosse mais o mesmo, se um dia o seu brilho no olhar
diminuísse, isso com toda certeza doeria muito mais.
Com todo amor,
Anton.
Tenho certeza absoluta de que ele ouviu minha risada de onde quer
que ele esteja, porque foi impossível não soltar, na verdade, rir se tornou
algo habitual desde que estamos juntos.
Mordo o lábio.