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----------------------- Prólogo ----------------------

Nunca vou esquecer-me daquele olhar que penetrava á fundo de mim, me analisava,
explorando minhas fraquezas. Ia á fundo querendo me descobrir, querendo saber o
que havia dentro de mim e, como podem ver, fico fascinado com essa capacidade que
ela me trouxe, vindo á tona e me deixando desnorteado.

No entanto, vou começar com a parte desagradável. Quero dizer: “antes de encontra-
la”.

Cinco dias atrás havia recebido um telefonema dentro do escritório, era meu pai.

- Boa noite, aqui é Oliver Adad da Real Life. – me apresentei.

Não sabia que meu pai tinha mudado de número, de novo!

- Filho, o que está fazendo no Resort e por que está na administração? Sua mãe tem
estado tão ocupada com as amigas dela que nem para contratar gente competente
consegue?! – exclamou alto nessa parte, tive de afastar o telefone um pouco.

Ao ver meu silêncio, ele percebeu o que disse e ouvi sua tosse do outro lado da linha
de quem estava constrangido.

- Desculpe filho... – pediu e só escutei enquanto via as mensagens de Helena, minha


namorada, no celular. – Não falei mal de você.

- Só da mãe. – completei sentindo um pouco de mágoa.

Parece que pude ver seu sorriso do outro lado como se visse o “filhinho de mamãe”
que era. Infelizmente pai, o senhor não pode ser pai suficiente para mim, para que
pudesse me ver no senhor. Quando criança chorava, hoje agradeço.

- Sim, só de sua mãe. – confessou.

- O que quer?

- Queria pedir á ela para te avisar na verdade, meus secretários tiraram folga e não
tem ninguém melhor que meu filho para ter essa tamanha capacidade e, acredito eu,
que adorará viajar para esse lugar... – disse como se me conhecesse.

Fiz uma pausa e observei o horário. Era 22h30.

Encarei a tela do computador e vi que havia muita coisa para terminar antes que
pudesse dar 23hrs. Passei a mão nos olhos e o respondi:

- Onde?

- São Paulo. – disse e eu sorri de verdade.


- Quando? – perguntei.

- Pra hoje. Pode pegar o carro pelas 02h AM.

- Me passe os detalhes por e-mail... – o respondi aceitando a proposta.

Ele riu do outro lado da linha me deixando com duvida se agi de forma muito boba, só
porque minha namorada mora na capital.

- O que foi? – perguntei curioso.

- Mulheres. Só ter alguém de outro estado, você vai lá rápido e nem pensa no que vai
se meter... – comentou. – No fim, somos parecidos.

Eu engoli em seco, ainda bem que ele só fala essas coisas pelo telefone. Claro, senão
como alguma mulher vai se aproximar dele sem seu rosto de galã? Não. Na minha
frente ele me trata como sócio, não fala de mulheres, apenas sobre o trabalho.

Fico mais contente, mas ficaria mais feliz ainda afundando um soco na sua cara lisa.

- Boa noite, pai.

- Filho, eu..-. – não pude ouvir o resto.

Porque eu desliguei.

Abri minha gaveta na lateral de minha escrivaninha, a última por sinal. Sempre ponho
lá meu velho amigo que já vem acompanhado de seu próprio copo, logo, eu lavo no
banheiro após de ter virado umas três vezes aquele copo do tamanho de um
requeijão.

Não consigo ficar bêbado, por mais que eu tente, nunca consegui.

- Bem, ao menos Olly... – comecei a falar comigo mesmo. – Vai ter alguém que vai ter
uma linda surpresa na sexta-feira.

Sim, eu acreditava que Helena estaria em sua casa, que ela não me desapontaria na
cara dura. Não sei se realmente foi bom tudo ter acontecido, talvez, pois se não tivesse
ocorrido o que ocorreu não a teria encontrado naquele dia.

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