Você está na página 1de 238

Índice

Dedicató ria
PRÓ LOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊ S
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
EPÍLOGO
 
Aviso

A seguinte tradução foi feita pelo gt/gd Aurora Books, com o


intuito de proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à
aquisição física futuramente. O objetivo do grupo é selecionar livros sem
previsão de publicação no Brasil, sem qualquer forma de obter lucro,
seja ele direto ou indireto.
Tenho como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as
obras, dando a palco à autores que, possivelmente, não poderiam ser
conhecidos a não ser no idioma original. A fim de preservar os direitos
autorais e contratuais de autores e editoras, o Aurora poderá, sem aviso
prévio e quando entender necessário, suspender o acesso aos livros e
retirar do canal os mesmos, se/assim que forem lançados por editoras
brasileiras oficialmente.
Todos aqueles que tiverem acesso à presente tradução ficam
cientes de que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e
privado, não se devendo divulgar nas redes sociais ou tornar público o
trabalho de tradução do gt, sem que exista uma prévia autorização
expressa do mesmo.
O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado responderá
pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o Aurora de qualquer
parceria, coautoria ou coparticipação em eventual delito cometido por
aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a
presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos
termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.
 
 
 
À minha família maravilhosa. Obrigado por sempre acreditar em
mim.
Descanse em paz Fidel. Você era o melhor cachorrinho do
mundo. Tenho tantas saudades suas, meu menino lindo.
PRÓLOGO

CADIDADE DO CABO, AFRICA DO SUL

— O que você quer dizer, com você está grávida? E os seus


estudos? Íamos esperar, Bronwyn, lembra? Apenas me diga que você
está brincando? — Bronwyn sentiu as palavras furiosas do marido
atingi-la como pedras. Ela olhou para o rosto lívido dele e nã o
reconheceu o homem parado na frente dela. Ele estava chocado, era
isso. Ele estava surpreso por sua notícia. Suas palavras seriam
absorvidas em breve e ele voltaria a ser o homem que ela adorava, o
homem maravilhoso a quem ela havia confiado seu coraçã o. Ela só
precisava dar a ele tempo para superar o choque. Quanto mais ela
tentava racionalizar sua reaçã o inexplicável ao que deveria ter sido
uma notícia alegre, mais a pequena voz insidiosa no fundo de sua
mente dizia que ela estava mentindo para si mesma. Este era um
lado de Bryce que ela nunca tinha visto antes - um que ele nunca
permitiu que ela visse - e ela estava apavorada com o que isso dizia
sobre o seu casamento de dois anos.
— Eu sei que é mais cedo do que havíamos planejado, — ela
disse suavemente, tentando manter um tom de voz uniforme. — Mas
esta é a realidade da nossa situaçã o agora e nã o pode ser mudada.
Vamos ter um bebê . . . um bebê, Bryce. Você nã o entende como isso é
maravilhoso?
— Eu nã o posso acreditar que você fez isso. Eu nã o posso
acreditar que você se rebaixaria a isso, — ele rangeu amargamente.
— Esta era para ser uma decisã o conjunta. Nã o estou pronto para
isso, Bronwyn. Eu nã o quero um filho, porra!
— Mas é o nosso bebê. Nó s fizemos juntos, — ela protestou,
tentando e falhando em esconder a dor e a confusã o em sua voz. Ela
tentou encontrar um vislumbre de seu gentil e amoroso Bryce sob a
má scara de raiva e frustraçã o que ele estava exibindo, mas ele nã o
estava lá . Ela se perguntou se ele já tinha estado lá .
— Você quer dizer que fez isso, sem o meu consentimento. —
Ele mal conseguia encontrar seus olhos, e ela estava grata por isso,
porque as lá grimas que ela estava lutando para manter sob controle
estavam finalmente vencendo a batalha.
— Eu nã o sei por que você está assim, — ela chorou. — Eu nã o
planejei isso; simplesmente aconteceu. O anticoncepcional falhou.
Perguntei ao médico e ele disse que se eu tivesse um vírus estomacal
ou algo assim, poderia ter sido uma janela de oportunidade. E
lembra? Fiquei doente alguns dias antes da festa da sua empresa,
três meses atrá s. — Ele saiu da estufa sem dizer uma palavra e ela o
seguiu enquanto ele descia as escadas para o banheiro. Ela observou
com uma descrença doentia enquanto ele abria o armá rio de
remédios e arrancava as pílulas anticoncepcionais dela.
— O que você está fazendo? — Ela tentou manter a compostura
enquanto ele contava os comprimidos deixados na caixa e sentiu a
esperança de que ela estava se apegando para murchar em uma
pequena bola dentro de seu peito e morrer. Ela sentiu ná useas ao ver
o homem com quem se casou se transformar em um monstro bem na
frente dela. Lentamente, a mortificaçã o confusa se transformou em
fú ria. Como ele podia fazer isso com ela? Como ele poderia humilhá-
la assim?
— Deus, você tem jogado pílulas no ralo todas as noites? — ele
se perguntou em voz alta, e ela se viu quase o odiando por fazer a
pergunta.
— Você sabe que eu nã o faria isso.
— Eu sei? Bom, obviamente nã o te conheço tã o bem quanto
pensei, nã o é?
— Claro que você me conhece, Bryce. — Ela tentou apelar para
o homem razoável que tinha que estar lá em algum lugar e colocou
uma mã o hesitante em seu antebraço rígido, mas ele puxou o braço e
se afastou dela.
— Saia daqui, — ele sussurrou asperamente, e Bronwyn sentiu
algo ceder e quebrar com essas quatro palavras.
— O que? — Ela devia ter ouvido mal. Ainda assim, ela tentou
dar a ele o benefício da dú vida.
— Dê o fora, — disse ele antes de se virar para encará -la.
Bronwyn tentou nã o se encolher quando viu o rosto dele. Nã o havia
nada ali - nem raiva, nem arrependimento, apenas uma má scara em
branco. Ela nã o conhecia esse homem. — Vá agora.
Ela soluçou, saiu do quarto e fez o que ele havia ordenado. Ela
foi embora.
 
CAPÍTULO UM

DOIS ANOS DEPOIS...

Ela estava trabalhando há menos de duas horas e ela já sabia que


tinha sido um erro entrar. Mas nã o aparecer para trabalhar
significava nã o ser paga, e isso seria desastroso. Ela precisava
desesperadamente de seu emprego e nã o podia correr o risco de
perdê -lo.
Um surto de gripe acabou com ela por quase uma semana, a
deixando sem renda e com recursos perigosamente baixos. Embora
ela ainda se sentisse um pouco trêmula, ela se arrastou para o
trabalho naquela manhã . Mas assim que ela entrou pela porta da
frente do restaurante à beira-mar mais movimentado e moderno de
Plettenberg Bay, ela compreendeu o grave erro de julgamento que
havia cometido. Ela estava atrapalhando seus pedidos, quebrando
pratos e caminhando cegamente entre seus colegas. Ela sabia que o
gerente — que já achava que sua situaçã o pessoal era incompatível
com seu ambiente de trabalho — estava ansioso para demiti-la.
Agora ela estava basicamente dando a ele uma desculpa para se
livrar dela.
Ela lutou bravamente, esperando que Gerhard, por algum
milagre, tivesse pena dela e a mantivesse em seus livros. Um jovem
casal com um carrinho de bebê entrou em sua seçã o e ela se arrastou
até eles, sua falta de entusiasmo ó bvia a cada passo relutante. O casal
estava encostado um no outro, sussurrando e rindo intimamente,
enquanto o bebê dormia tranquilamente em seu carrinho. O par
parecia muito apaixonado e praticamente alheio ao resto do mundo.
— Boa tarde, — ela murmurou, tã o concentrada em manter a
ná usea sob controle que mal olhou para eles. — Gostariam algo para
beber? — A mulher olhou para cima e começou a dizer algo, mas foi
interrompida por seu companheiro, que xingou ferozmente antes de
pular de pé como um gato escaldado.
— Ah meu Deus! Bronwyn?
Bronwyn engasgou e levou uma mã o trêmula à boca para
abafar um grito chocado quando reconheceu o homem bonito
parado na frente dela. Sua visã o ficou turva e ela piscou rapidamente
para clareá -la. O bebê, claramente assustado com a voz á spera do
homem, começou a chorar.
— Entã o é aqui que você tem se escondido esse tempo todo? —
O choque havia desaparecido de sua voz para ser substituído por
desprezo.
— Ricky, — ela gemeu trêmula, dominada pelo amor, medo e
alívio ao mesmo tempo.
— Nã o me chame assim! — ele rosnou em advertência, e ela se
encolheu. — Deus, você é uma vadia insensível, nã o é? Como você
pô de ficar longe todo esse tempo? Como você poderia viver consigo
mesma?
— Por favor, — ela implorou no menor sussurro. — Por favor,
nã o...
— Nã o o quê? Dar nome aos bois? — Ele zombou.
— Rick, — a mulher, que Bronwyn havia esquecido, falou. Ela
manteve a voz baixa, enquanto embalava o bebê que ainda chorava.
— Calma, pelo amor de Deus, ela nã o parece bem. O que está
acontecendo aqui?
— Claro que ela nã o parece bem, — ele zombou, seu tom
á spero de voz totalmente desconhecido. — Por que ela pareceria
bem quando finalmente foi pega, como a miserável escrota que ela é?
Bronwyn balançou ainda mais. Rick nunca havia falado com ela
assim antes - nã o era de sua natureza gentil ser deliberadamente
cruel, - mas ele estava atirando para todos os lados hoje, e Bronwyn
se encolheu com cada farpa terrível.
— Rick. — A mulher estava falando de novo, mas sua voz soava
oca, como se viesse de um longo tú nel. — Rick, pare com isso... — Ela
estava dizendo outra coisa, mas desta vez sua voz havia
desaparecido por trá s do zumbido raivoso na cabeça de Bronwyn.
Ela balançou a cabeça, mas o som ficou pior e mais alto até que ficou
tã o ensurdecedor quanto uma serra elétrica. Ela gemeu fracamente e
levou as mã os aos ouvidos. Isso nã o ajudou, e ela soluçou enquanto
seu campo de visã o ficava cada vez mais estreito, até que ela nã o
conseguia mais vê-los, até que havia apenas escuridã o.

 
 
 
 
 
Vozes surgiam e desapareciam de sua consciência e Bronwyn lutava
para entender o que diziam. Ela estava bem novamente, nã o mais
tonta e nã o mais dolorida. Ela sentiu como se estivesse flutuando e
foi envolvida por uma incrível sensaçã o de bem-estar. Mas esse
sentimento nã o estava certo, e essa consciência a impedia de ficar
totalmente à vontade. Ela tinha certeza de que esse mal-estar vinha
das vozes altas ao fundo e, novamente, tentou filtrar o discurso
distorcido das poucas palavras que conseguia entender.
— ...Nã o entende... — era a voz de um homem, reconhecível e
amada, mas estranhamente á spera. — ...O que ela fez . . .
imperdoável... o deixou... vadia! — Uma voz feminina desconhecida
interveio, sua voz gentil acalmou os nervos sobrecarregados de
Bronwyn.
— ...É ela? O que... ela faz... tã o ruim? — Bronwyn se esforçou
para abrir os olhos, mas parecia um esforço colossal.
— ...Abandonou Bryce... mais precisava dela...
Bronwyn conseguiu soltar um suspiro fraco ao ouvir isso,
indignada com essa mentira descarada. O casal ficou abruptamente
em silêncio.
— ...Acordando, — a mulher disse com urgência. — ...O médico!
Agora, Rick!
Médico? Bronwyn franziu a testa. Por que um médico? Pela
primeira vez desde que recuperou a consciência, ela se perguntou
onde estava e conseguiu abrir as pá lpebras pesadas com grande
esforço. Ela olhou para as feiçõ es vagamente reconhecíveis de uma
mulher bonita que parecia ser alguns anos mais nova que os vinte e
oito de Bronwyn. O sorriso caloroso da mulher transformou seus
traços gentis de simples em quase bonitos e teve o efeito de acalmar
Bronwyn imediatamente.
— Tente nã o entrar em pâ nico, — ela instruiu gentilmente. —
Você desmaiou no trabalho. A princípio, presumimos que fosse um
choque, mas sua febre e palidez logo deixaram bem claro que você
está gravemente doente. — Seus olhos verde-mar estavam sérios por
trá s das lentes de seus ó culos graduados da moda, e sua voz assumiu
um tom castigador. — Você nunca deveria ter trabalhado naquela
condiçã o. Você deveria se cuidar melhor.
Bronwyn franziu a testa, imaginando quem era a mulher, antes
de decidir que ser ofendida por sua repreensã o exigiria muito de sua
força. Claramente ela iria precisar dessa força diante da hostilidade
inesperada e sem precedentes de Rick. Um pensamento alarmante a
atingiu, e ela se sentou em um pâ nico cego, ignorando o sú bito
ataque de tontura.
— Desmaiei no trabalho? — Sua voz soava fraca, mesmo para
seus pró prios ouvidos. — Ah nã o... Tenho que ligar para o meu chefe!
— Bronwyn. — A mulher colocou mã os gentis em seus ombros
para empurrá -la de volta para a cama, seus lindos olhos cheios de
simpatia. — Receio que ele nã o tenha sido muito solidá rio com nada
disso. Ele disse algo sobre estar farto do seu drama e que você nã o
deveria se incomodar em voltar. Eu sinto muito.
— Ah, nã o, — ela gemeu. — Nã o nã o. Eu precisava daquele
emprego!
— Bem, se você queria mantê-lo, você nã o deveria ter ido
trabalhar na condiçã o em que estava hoje, mocinha. — Uma voz
severa se intrometeu da porta, onde um homem mais velho de
aparência atormentada em um jaleco branco estava emoldurado. —
Você está tentando se matar? Você acabou de passar por uma gripe
muito forte, possivelmente até pneumonia pelo que pude perceber, e
você estava tã o desidratada quando eles a trouxeram que estou
surpreso que você nã o tenha desmaiado antes! O simples fato de
você ter estado inconsciente por quase cinco horas é prova de quã o
perto você está de uma recaída. Você está completamente esgotada.
— Ela ficou dramaticamente pá lida com essa notícia, e o médico
presumiu erroneamente que ele a havia chocado para levar sua
doença a sério. — Eu gostaria de mantê-la durante a noite para
monitorar sua condiçã o.
— Não! — Todos ficaram surpresos com sua sú bita e estridente
veemência. — Nã o, nã o posso ficar aqui. Eu tenho que ir para casa.
Eu deveria estar lá agora. Meu turno teria terminado uma hora atrá s;
eu deveria estar em casa.
— Isso seria estú pido e totalmente perigoso em sua condiçã o,
Sra. Palmer, — advertiu o médico, e o mundo de Bronwyn
cambaleou.
— Do que você me chamou? — ela perguntou em um sussurro
chocado.
— Ele chamou você de Sra. Palmer, — Rick provocou de onde
ele estava na porta com os braços cruzados sobre o peito largo. —
Esse ainda é o seu nome, nã o é? — Ela olhou para Richard Palmer
impotente, sem saber o que dizer e de repente o odiando com uma
ferocidade que a abalou.
— Então? — incitou ele sarcasticamente, e ela assentiu em
silêncio, sem entender a hostilidade de alguém que sempre a amou e
respeitou.
— Por favor... — ela sussurrou. — Por favor, Rick, eu tenho que
ir para casa.
— Você está indo para casa, — Rick a informou friamente. —
Assim que puder ser arranjado.
— Senhor. Palmer, eu desaconselho isso, — o médico
interrompeu com firmeza, mas Rick o ignorou, mantendo os olhos
em Bronwyn.
— Apenas prescreva qualquer medicamento que ela precise,
doutor, — ele ordenou de uma maneira que ia completamente contra
sua natureza descontraída usual. — Vamos garantir que ela descanse
bastante. — O médico olhou para eles antes de balançar a cabeça e
sair da sala abruptamente.
— Rick, você acha que é uma boa ideia? — A outra mulher
perguntou preocupada, e ele ergueu os olhos para o rosto ansioso
dela antes de sorrir gentilmente, sua expressã o agora lembrando o
Rick que Bronwyn conhecia e amava.
— Vai ficar tudo bem, — ele murmurou tranquilizador, mas a
mulher fez um som irritado e balançou a cabeça com raiva.
— Eu já estou farta, Rick, — ela fervia, revelando garras sob o
doce exterior. — É melhor você me dizer o que está acontecendo e
rá pido. Estou sentada aqui há horas sem obter uma ú nica resposta
direta de você e estou farta disso. Me diga o que está acontecendo, ou
vou fazer as malas e partir para Knysna sozinha! — Bronwyn assistiu
com fascínio enquanto seus olhos queimavam em pâ nico e ele perdia
toda a aparência de sua frieza gelada anterior.
— Lisa, — ele engasgou. — Você nã o iria sozinha quando nó s
acabamos...
— Não me teste, — ela advertiu. — Agora eu acho que já passou
da hora de você fazer algumas apresentaçõ es apropriadas e tentar
ser civilizado, por favor. — Ele franziu a testa emburrado, parecendo
tã o ameaçador quanto um garotinho com a mã o presa na lata de
biscoitos.
— Lisa, conheça Bronwyn Palmer. Bron, minha esposa, Lisa. —
Os olhos de Bronwyn brilharam com prazer genuíno enquanto seus
olhos voavam de um rosto para o outro. Sua esposa? Bem, entã o, isso
explicaria o bebê. Ela olhou ao redor da sala, procurando a criança.
Ela sorriu ao ver o carrinho estacionado perto da janela do outro
lado da sala e ficou maravilhada com o quanto a vida dele havia
mudado nos ú ltimos dois anos.
— Sua esposa? Ricky, você se casou? — Ele estremeceu em
resposta à s palavras dela.
— Bron, nã o me chame assim, — ele murmurou
desconfortavelmente, parecendo tanto com o que era antes que o
coraçã o de Bronwyn se encheu de amor por ele. Ela sorriu e voltou
sua atençã o para a mulher esbelta que estava ao lado dele.
— Estou tã o feliz que ele se casou com alguém como você, —
ela conseguiu dizer fracamente, desejando poder ser mais eloquente,
mas de repente se sentindo bastante esgotada. Ela se recostou nos
travesseiros e sorriu para os dois. — Ricky merece alguém adorável...
— Seus olhos se fecharam. — Eu estou tã o cansada. Me leve para
casa. Por favor. Eu preciso ir para casa...
— Ela é a esposa errante do meu irmã o, — ela ouviu Rick dizer
a sua esposa, mas ele parecia tã o distante que ela franziu a testa.
Onde ele estava indo? — E, como eu disse antes, ela é a vadia sem
coraçã o que o abandonou quando ele mais precisava dela! — Seus
olhos se abriram de horror, e ela ficou chocada ao descobrir que ele
estava mais perto do que sua voz distante sugeria. Confusa, ela
tentou organizar seus pensamentos.
— Eu nã o fiz isso, — ela protestou com veemência. — Eu nã o
faria isso. Por que você diria algo assim, Rick? Por que você mentiria?
— Ela ouviu a dor confusa em sua voz e teve vergonha de revelar o
quanto suas mentiras a feriram. — Eu pensei que éramos amigos.
— Nossa amizade acabou quando você fez o que fez com meu
irmã o, — ele rosnou. Ela pulou quando a voz dele o alcançou e o
volume aumentou dramaticamente na ú ltima palavra.
— Eu nã o fiz nada com Bryce, — ela choramingou, sua pró pria
voz ainda distante. — Ele nã o me queria mais. . . entã o eu fui embora.
Eu o deixei.
— Você o deixou para morrer!
A mulher, Lisa, colocou a mã o no braço de Rick enquanto ele
fazia um movimento frustrado em direçã o a Bronwyn. Bron piscou
com a fú ria em seu rosto; ela nã o tinha ideia de onde vinha toda essa
raiva.
— Me leve para casa... — ela implorou novamente, mantendo os
olhos no rosto da outra mulher. — Por favor. Eu tenho que ir para
casa... — Nesse momento, uma figura assustadoramente grande
surgiu na porta e, quando os olhos de Bronwyn se ergueram, ela foi
tomada por uma sensaçã o de destruiçã o iminente.
Ele estava lá . Quieto, gracioso e feroz, e Bronwyn se encolheu ao
vê-lo.
— Você ligou para ele? — ela disse, exalando, a má goa e a
traiçã o que sentia evidentes em sua voz e rosto. Apesar de tudo, ela
ainda se apegava firmemente à crença de que Rick era seu amigo. Ela
ergueu os olhos de corça feridos para o rosto furioso dele. —Você
ligou para ele? Ah, Ricky, como você pô de?
— Ele me ligou porque sou seu irmã o e sua lealdade está
comigo. — A bela voz escura era mais calma do que ela esperava e
flutuou sobre ela como uma carícia suave. Ela fechou os olhos ao
ouvir aquela voz. Foi a primeira vez que ela a ouviu em mais de dois
anos, e Deus, como ela sentiu falta disso. Ela ansiava pelo som de sua
voz e muitas vezes pensara em ligar para ele apenas para ouvi-lo,
mas descartara esse impulso como um luxo perigoso e proibido.
Quando ela abriu os olhos, ficou chocada ao descobrir que ele
havia se mexido. Ele estava de pé ao lado de sua cama e muito perto
para seu conforto. Ela se mexeu um pouco, baixando os olhos para as
cobertas da cama, com medo de encontrar seu olhar glacial. Ela
estava apavorada com o que veria naqueles olhos e deu uma espiada
nele por baixo de suas pá lpebras semicerradas.
Ele era tã o grande. Ela tinha esquecido isso sobre ele, esquecido
o tamanho desse homem que uma vez tinha sido seu amor e sua
vida. Ele tinha um metro e oitenta e quatro e tinha força para
combinar com a altura, ombros enormes, cintura fina e quadris finos.
Ele parecia um antigo deus nó rdico com o cabelo dourado escuro e
as feiçõ es sombrias que pareciam esculpidas em granito. Os ú nicos
indícios de suavidade naquele rosto rudemente talhado eram seus
cílios longos e sua boca lindamente delineada. Ela sempre se
perguntou o que um homem lindo e bem-sucedido como ele tinha
visto em alguém comum como ela. Ela era uma mulher desajeitada e
esguia que tinha pernas longas, corpo magro e a falta de graça de
uma girafa. Nã o havia nada de notável nela, exceto que um homem
como Bryce Palmer a havia escolhido para ser sua esposa, parecia
amá -la e desejá -la.
Ele parecia mais velho do que seus trinta e três anos. Ele
obviamente tinha envelhecido desde a ú ltima vez que ela o vira, mas
isso nã o desagradava e acrescentava ainda mais personalidade a um
rosto já forte. Agora ele pairava sobre ela como um anjo vingador,
lindo e intimidador. Ele tinha todo o poder do mundo para machucá -
la e, segundo ele, todos os motivos do mundo para odiá -la.
— Olhe para mim! — ele sibilou furiosamente. Ela ergueu a
cabeça para encontrar seus olhos frios de frente e tremeu diante do
ó dio puro e nã o adulterado que viu ali. — Você tirou tudo de mim
quando partiu. Você me tirou toda a dignidade, me deixou sangrando
na beira da estrada e nunca olhou para trá s. Nunca vou te perdoar
por isso, Bronwyn.
— Você me disse para ir, — ela se defendeu fracamente, olhando
para baixo enquanto falava, e ficou chocada quando a mã o enorme
dele se estendeu e agarrou sua mandíbula frá gil. Seu aperto foi tã o
inesperadamente forte que ela se encolheu um pouco. Ela sentiu
Rick se movendo para intervir, mas Bryce a soltou abruptamente.
— Olhe para mim quando você fala comigo, — ele rangeu
selvagemente. — Você fez isso comigo. O mínimo que você pode
fazer é olhar para mim quando tiver algo a dizer.
— Bryce, — ela disse fracamente, olhando para ele, mesmo que
encontrasse seus olhos apavorada. — Você me disse para ir. Lembra?
— Ele fez um som impaciente e virou as costas para ela. Perplexa, ela
olhou para a extensã o de suas costas e tentou novamente, com
lá grimas escorrendo de seus olhos e sua voz engrossando com
desespero. — Você nã o me queria mais. Você disse... Eu te enganei...
disse...
— Onde está meu bebê? — Ele cortou suas palavras friamente,
se virando para encará -la novamente, seus olhos fixos em seu rosto
choroso com uma intensidade que a enervou. Ela estava ciente de
Rick fazendo um som chocado e Lisa silenciosamente pegando o
carrinho e saindo do quarto. — Onde está a criança que você tã o
cruelmente me privou de conhecer? — As lá grimas que escorriam
pelo rosto dela nã o o comoviam nem um pouco, e seu olhar cruel era
inabalável.
— Por favor, — ela sussurrou, e seus olhos caíram para sua
boca. — Por favor, Bryce... você disse que nã o queria um filho... disse
que eu tinha enganado você. Nã o entendo por que você está assim.
— Pelo amor de Deus, Bronwyn, — ele praticamente gritou, de
repente e de forma espetacular perdendo a calma. — Você sabia que
eu estava com raiva! Você sabia que eu iria me acalmar
eventualmente. Mas você escolheu sair correndo de lá , escolheu
pular no seu carro quando nã o era o melhor das motoristas, e entã o
você desceu a ladeira tã o rá pido que fiquei com medo de que você se
matasse. Você sabia que eu seguiria... — Ele cerrou os dentes e jogou
a cabeça para trá s, e ela pô de ver os mú sculos de seu pescoço e
garganta trabalharem enquanto ele se controlava. Levou mais tempo
do que ela esperava. Bryce sempre foi muito há bil em controlar seu
temperamento. Nã o desta vez, parecia. Embora ele conseguisse
amortecer a raiva, ela ainda podia senti-la fervendo perigosamente
abaixo da superfície e isso a perturbou. Ela nã o entendia muito bem
de onde vinha toda aquela raiva.
— Onde está meu filho? — ele rosnou perigosamente, e os olhos
de Bronwyn se encheram de lá grimas ao pensar em sua linda
garotinha. Kayla tinha todo o direito de conhecer seu pai e vice-
versa. Acontece que, até agora, Bronwyn nã o fazia ideia de que Bryce
queria conhecer sua filha. Ela pensou nas duas semanas que passou
em sua casa de férias em Knysna, esperando que ele viesse. Sim, ela
sabia que ele precisaria de tempo para se acalmar e ela sabia que
uma vez que ele pensasse sobre as coisas, ele viria atrá s dela. Nunca
houve dú vida em sua mente de que ele iria querer ela e seu bebê.
Mas ele nã o tinha vindo. . . ele nã o tinha ido ao lugar mais ó bvio,
o ú nico lugar que ela tinha certeza de que ele iria procurar, o lugar
onde eles passaram tantas horas felizes juntos. E quando as horas se
transformaram em dias e depois em semanas, Bronwyn foi forçada a
encarar a realidade de sua situaçã o: ele quis dizer cada palavra cruel.
Bryce nã o queria o filho deles e, como consequência, nã o a queria
mais. Ela nunca teria acreditado nele, nunca teria esperado que ele a
abandonasse para cuidar de seu bebê sozinha.
Durante o casamento de dois anos, ele nunca dissera que a
amava, mas a demonstrara de tantas maneiras que ela acreditara que
isso bastava. Diante de seu abandono, ela passou a questionar esse
amor e foi forçada a reconhecer que as palavras teriam significado
mais; as palavras teriam significado tudo. Eles teriam gravado seu
amor em pedra.
Agora ele estava aqui dizendo a ela que ele queria Kayla afinal?
O que ela deveria acreditar? Por que ele a estava tratando como o
vilã o por ter ido embora, quando foi ele quem a expulsou? No meio
de seu tumulto, ela ouviu um som inconfundível - a familiar
tagarelice irreprimível e a risada de uma criança. . . de uma criança
em particular. O olhar apavorado de Bronwyn se voltou- para a porta
aberta e ela ficou horrorizada ao ver a babá levando sua linda filha
para o quarto. Seu olhar ansioso se voltou para Bryce, mas ele
parecia alheio. Ele a estava observando atentamente, ainda querendo
uma resposta para sua pergunta anterior. Rick tinha ouvido embora
e seu olhar estava cravado na porta também. Ah Deus, como Katrina
poderia trazê-la aqui? Como a mulher sabia onde encontrar
Bronwyn?
— Me responda, porra! — Bryce estava rosnando. Como poderia
ignorar o balbucio que se aproximava de um efervescente bebê de
dezoito meses? Ele estava de costas para a porta e, portanto, nã o viu
quando Kayla e a agora vacilante Katrina cruzaram a soleira. A jovem
hesitou enquanto seu olhar varria a sala, percebendo imediatamente
a tensã o. A criança nã o tinha tais reservas e ao ver sua mã e, seu
rosto se iluminou e ela foi direto para sua cama. Ela estava
resmungando baixinho incoerentemente, como era seu costume, e
seu traseiro coberto de fraldas balançava comicamente enquanto ela
caminhava cambaleante em direçã o a Bronwyn. Bryce ainda parecia
nã o ter ideia de que ela estava lá , e quando Kayla passou pelo
confuso Rick, mal olhando para ele, ela de repente se deparou com
um obstá culo na forma de seu pai alto. Ela franziu a testa para o
homem grande que estava de costas para ela, parecendo tanto com
ele naquele momento que Bronwyn sorriu.
— O que você acha de tã o engraçado nessa Bronwyn? — ele
sibilou.
— Cara grande, — disse Kayla, suas duas primeiras palavras
claras desde que entrou na sala, e soou mais como uma crítica do
que um elogio. Quando ele ainda nã o saiu do caminho dela, ela deu a
ele um olhar avaliador, puxou a perna para trá s e.....
— Kayla, não! — Bronwyn gritou de horror, assim que a
garotinha chutou o pai na panturrilha. Bryce cambaleou um pouco,
mais chocado do que magoado, e se virou, examinando a sala
desesperadamente por alguns segundos antes de deixar cair o olhar
para a pequena menina amotinada diante dele. Nem mesmo na
altura do joelho dele e ainda de fraldas, mas ela se recusou a recuar.
— Kayla sim... — ela declarou como uma rainha, varrendo seu
pai encantado. Quando ela chegou ao seu destino, ela parou e olhou
para o pró ximo obstá culo com um olhar fulminante. A cama era alta
demais para ela subir, entã o a linda diabinha com seu cabelo
castanho sedoso e seus grandes olhos azul-gelo se voltou
sedutoramente para o homem alto que ela havia acabado de
desprezar e o desfez com um sorriso encantador antes. levantando
os braços de forma exigente.
— Cima, pufavo! — ela comandou com o ar de alguém
acostumado a conseguir o que quer. O “por favor” foi apenas uma
formalidade, e seu pai nã o podia fazer nada além de obedecer. Ele a
pegou com reverência, a segurando perto por apenas um instante a
mais do que ela gostaria e ela se contorceu desconfortavelmente até
que ele a colocou na cama ao lado de sua mã e, antes de mudar seu
escrutínio penetrante para a babá que ele acabara de notar.
— Sinto muito, Bronwyn, — Katrina falou incerta da porta,
enervada pelo olhar direto de Bryce. — Quando você atrasou, liguei
para o restaurante e eles me contaram o que havia acontecido. Falei
com o médico antes de trazê-la aqui, e ele disse que você nã o era
contagiosa. Eu tenho um encontro... e eu pensei...
— Você pensou que deixaria uma garotinha no hospital com
sua mã e doente? — Bryce completou incrédulo.
— Bom... — A mulher parecia desconfortável, e Bryce desviou
seu olhar furioso de volta para Bronwyn, que tinha a testa apoiada
na de Kayla enquanto ela e sua filha conversavam sem palavras. Era
uma imagem tã o impressionante que ele parou por um instante
antes de lançar um ataque imediato.
— Esse é o tipo de pessoa irresponsável a quem você confia os
cuidados de nossa filha? — Os olhos de Katrina se arregalaram com
suas palavras reveladoras, e Bryce se virou para encarar a jovem
novamente, ignorando a expressã o de surpresa em seu rosto. —
Obrigado senhorita. Seus serviços nã o serã o mais necessá rios. Rick,
por favor, dê à jovem todo o dinheiro devido a ela.
— Eu posso pagar minha própria babá , — Bronwyn sibilou
furiosamente, mas ele manteve as costas para ela, ignorando-a,
enquanto Rick levava Katrina para fora do quarto. Ele se virou para
encará -la, e ela repetiu sua afirmaçã o. — Eu posso pagar minha
pró pria babá , droga!
— Vendo que você acabou de perder seu emprego mal
remunerado, nã o acho que você esteja em posiçã o de ser teimosa
nesse assunto, Bronwyn. — Kayla estava olhando furiosamente para
Bryce, e seu rostinho carrancudo imediatamente o distraiu.
— Ei, anjo. — Sua voz suavizou quando ele se agachou ao lado
da cama para encontrar seus olhos. — Por que tã o zangada?
— Mã e durmiu, — ela advertiu. — Shhh! — Ele piscou por um
instante assustado, antes de erguer o olhar para os olhos
sombreados de Bronwyn.
— Parece que nossa filha tem muito mais bom senso do que
qualquer um de nó s. — Ele sorriu carinhosamente para a criança,
que estava acariciando carinhosamente o cabelo de sua mã e. — Você
nã o está em condiçõ es de discutir, Bronwyn. Apenas faça o que eu
digo. — Ela engasgou com a coragem dele e estava prestes a
protestar quando ele se agachou na frente de Kayla novamente.
— Oi, querida, você sabe quem eu sou? — Seus olhos estavam
fixos nas feiçõ es perfeitas de Kayla; ela era uma combinaçã o
encantadora de ambos os pais. Ela tinha os olhos dele... olhos azuis
tã o pá lidos que à s vezes pareciam quase cinzas.
— Cara, — Kayla respondeu timidamente antes de colocar o
polegar na boca e deitar a cabeça no peito da mã e.
— Isso mesmo. — Ele assentiu. Rick entrou novamente na sala
silenciosamente, e Kayla arrastou o polegar para fora da boca por
tempo suficiente para apontar para ele.
— Cara, — ela informou prestativamente, e Bryce girou a
cabeça, avistou seu irmã o e acenou com a cabeça com um sorriso.
— Esse é o seu tio Rick. — Rick pareceu surpreso ao se ouvir
apresentado como tal, surpreso e depois satisfeito. Ele parecia
inchar de orgulho. — Eu sou seu pai. . . Você pode dizer “papai”?
— O que você pensa que está fazendo? — Bronwyn ficou tã o
chocada com a apresentaçã o blasé dele que sua voz saiu mais alta do
que pretendia. Isso assustou Kayla, que piscou em choque antes de
começar a chorar. Bryce parecia arrasado. Ele olhou para a criança
chorando impotente, sem saber o que fazer. Bronwyn, incapaz de se
conter, continuou furiosa.
— Como você pode simplesmente anunciar isso para ela assim?
Como você pode simplesmente... — Kayla chorou ainda mais e Bryce
deu um tapinha na cabeça e na bochecha da criança, impotente. —
Pare de me ignorar, droga, eu odeio quando você faz isso! — Ele
olhou para cima entã o, e quando viu a expressã o dela, seu rosto
escureceu.
— Foi você, — ele fervia. — Você a fez chorar. Eu pensei que era
algo que eu tinha feito, maldito seja. — Bronwyn piscou para ele com
espanto antes de erguer os olhos para o rosto de Rick em uma
percepçã o chocada.
— Ele nã o pode me ouvir, pode? — ela perguntou a Rick, que
estava logo atrá s de Bryce. O homem mais jovem nã o disse nada e
apenas continuou a olhar fixamente para ela. Seus olhos cinza-
prateados eram enervantes em sua frieza incomum.
— Por que você nã o me faz essa pergunta? — Bryce perguntou
zombeteiramente, e ela voltou o olhar para o rosto dele, percebendo
que ele tinha ouvido sua pergunta. Ela se repreendeu por ser
ridícula. Claro que ele podia ouvi-la. — Ah, mas você já sabe a
resposta, nã o é? — ele provocou e ela enrijeceu, sentindo-se uma
tola. Kayla havia parado de chorar e estava com a cabeça apoiada no
peito de Bronwyn e o polegar na boca. Ela estava olhando para Bryce
com cautela.
— Qual é o seu nome, anjo? — ele perguntou a ela gentilmente.
A criança se recusou a responder e suas pá lpebras ficaram mais
pesadas quando ela começou a cochilar.
— O nome dela é Mikayla, — informou Bronwyn, mas manteve
os olhos no rosto de Kayla, ignorando Bronwyn novamente.
— Vá em frente, me diga seu nome. — Ele a esnobou
descaradamente. Kayla tirou o polegar da boca e se dignou a
responder.
— M'kayla. — Ela nã o se preocupou em levantar a cabeça e mal
abriu os olhos enquanto deturpava seu nome como sempre fazia. Era
bastante reconhecível, mas Bryce estava olhando para a criança com
uma carranca perplexa. Ele ergueu os olhos confusos para Bronwyn,
e ela suspirou antes de repetir o nome.
— Mikayla, eu a chamei de Mikayla. — A carranca se
aprofundou e algo desconfortavelmente pró ximo ao ó dio se
estabeleceu em suas feiçõ es tensas e bonitas.
— Maldita seja, Bronwyn, — ele rosnou, e ela engasgou. Ele nã o
gostou do nome? Ela deu o nome de Kayla em homenagem a ele - seu
segundo nome era Michael. Talvez ele pensasse que era hipó crita da
parte dela dar à filha o nome dele quando, como ele agora afirmava,
ela o havia privado de seu filho. Bryce parecia zangado, magoado e
confuso ao mesmo tempo, e ficava olhando para sua filhinha
cochilando e fechando os olhos em desespero. Bronwyn nã o
entendeu sua reaçã o.
Rick deu um passo à frente, lançando um olhar ressentido para
Bronwyn que a deixou ainda mais perplexa, antes de colocar uma
mã o calma no ombro de seu irmã o agitado. Bryce olhou para cima e
agarrou a mã o de Rick como se fosse uma tá bua de salvaçã o.
— Me diga, — ele implorou desesperadamente, e Rick assentiu.
— O nome dela é Mikayla, Bryce, — disse ele ao irmã o
gentilmente, com a boca e as mãos.
 
CAPÍTULO DOIS

— Por-porque você está fazendo isso? — Bronwyn gaguejou.


Ambos os homens a ignoraram, e Bryce voltou-se para sua filha
adormecida, com o coraçã o nos olhos.
— Mikayla... — ele murmurou, passando um dedo gentil pela
bochecha macia do bebê. — Que nome lindo.
— O que está acontecendo aqui? — Bronwyn perguntou com
uma voz que beirava a histeria, antes de convulsionar em uma série
de tosses dolorosas. Kayla se mexeu um pouco, perturbada pela
tosse violenta, e Bryce pegou a garotinha e a embalou contra o peito.
— Me dê as chaves do seu apartamento. Rick e Lisa vã o
arrumar suas coisas. — Seus olhos estavam embaçados com
lá grimas enquanto a tosse rasgava sua garganta e peito. Ela foi
incapaz de responder à demanda autocrá tica e ficou chocada quando
Bryce simplesmente pegou sua bolsa e a jogou para Rick.
— Elas provavelmente estã o aí, — disse ele ao irmã o. O homem
mais jovem assentiu e se virou.
— Espere! — Bronwyn gritou dolorosamente, tentando
controlar a tosse. Bryce entregou a ela um copo d'á gua que ela
engoliu agradecida. — Por que você estava usando a linguagem de
sinais? — ela perguntou com urgência, sua garganta prestes a ceder.
Rick se virou com desgosto nu em seu rosto.
— Esta demonstraçã o de ignorâ ncia é um insulto à nossa
inteligência, Bronwyn! — ele sibilou, e os olhos dela se arregalaram
de dor.
— Nã o sei o que está acontecendo aqui! — Sua voz estava
tensa, mas ela esperava ter conseguido transmitir sua urgência. —
Você pode me ouvir, Bryce?
— Nã o ouvi muita coisa nos ú ltimos dois anos, Bronwyn. — Ele
deu de ombros com desdém. — E você sabe disso. Afinal, você fez isso
comigo.
— Eu? — Bronwyn nã o sabia a que reagir primeiro: à notícia
inacreditável de que seu belo e forte marido era surdo ou à acusaçã o
de que ela era de alguma forma responsável por sua condiçã o. Era
q g p p ç
horrível demais para compreender. — Mas... eu... como? — Rick fez
um som impaciente no fundo de sua garganta, aparentemente
enojado por sua contínua ignorâ ncia. Ele tocou o braço de seu irmã o
para chamar sua atençã o. Bryce se virou para encará -lo.
— Eu perguntei à quela garota Katrina onde ela mora. — Ele
acenou com a cabeça para Bronwyn, incapaz de dizer o nome dela.
— Alguma lixeira no centro da cidade. Vou fazer algumas malas para
ela e Mikayla.
— Pegue apenas uma muda de roupa para a pequena, — Bryce
ordenou, seu olhar se suavizando enquanto ele olhava para o rosto
bonito de sua filha ainda adormecida. — Se os trapos que ela está
vestindo agora sã o alguma indicaçã o, nã o haverá nada que valha a
pena guardar. Vou vestir minha pró pria filha. — Os olhos de
Bronwyn arderam de lá grimas com aquele terrível insulto; se ao
menos ele soubesse o quanto ela havia sacrificado e escravizado por
cada peça de roupa que a criança possuía. Ela trabalhava em turnos
duplos, evitava refeiçõ es e aceitava trabalhos extras para manter seu
bebê alimentado e vestido. Eles podem nã o ter sido as roupas mais
caras, mas eram bonitas e ú teis o suficiente para uma criança ativa.
— Embale os brinquedos dela, no entanto, — ele disse a Rick.
— Deus sabe que provavelmente nã o sã o muito melhores do que as
roupas, mas ela certamente tem suas favoritas.
— O que quer dizer com eu fiz isso com você? — Bronwyn
perguntou, deixando a questã o do guarda-roupa de Kayla deslizar
em favor de um assunto muito mais urgente. Ele nã o respondeu e ela
entendeu que ele devia estar lendo os lá bios o tempo todo. Ela puxou
a manga dele para chamar sua atençã o e ele dirigiu seu olhar
arrogante para o rosto contraído dela.
— O que quer dizer com eu fiz isso com você? — ela repetiu, e
ele franziu a testa antes de se afastar dela, bloqueando-a
deliberadamente e fazendo-a se sentir tã o importante quanto uma
mosca.
— O que você está ... — Ela desviou o olhar para Rick quando
viu que Bryce a estava ignorando. Um truque legal, virar as costas
para alguém quando nã o se importava em saber o que ele ou ela
estava dizendo. Certamente foi eficaz. — Do que ele está me
acusando? — Rick nã o podia ignorá -la com tanto sucesso quanto
Bryce, mas ele definitivamente estava fazendo um bom trabalho
tentando. Ele e Bryce estavam falando baixinho, à s vezes caindo na
linguagem de sinais e cortando-a completamente. Se sentindo
confusa, exausta e à beira das lá grimas histéricas, Bronwyn nã o
tinha uma ideia clara de como lidar com esse problema. A situaçã o
tinha saído completamente do seu controle e ela estava doente
demais para lidar com isso. Ela observou enquanto os homens
falantes saíam da sala e levavam seu bebê com eles e ela sentiu uma
sensaçã o avassaladora de pavor. Ela queria pegar sua filha de volta e
correr o mais rá pido e o mais longe que pudesse, mas tudo o que
podia fazer era assistir impotente enquanto a porta se fechava atrá s
deles.
Ela cobriu o rosto com as mã os, se sentindo tã o espremida
quanto um pano de prato. Lá grimas quentes escorreram pelas
rachaduras de seus dedos enquanto ela se permitia chorar por tudo
que havia perdido e ainda estava perdendo. Ela estava tã o envolvida
em sua pró pria miséria que a primeira vez que soube de outra
presença na sala foi um braço reconfortante em volta de seus
ombros estreitos.
— Shhh, está tudo bem, está tudo bem... — A linda esposa de
Rick estava empoleirada ao lado da cama, com a cabeça inclinada
para a de Bronwyn. — Você vai ficar bem, você e sua linda garotinha
vã o ficar absolutamente bem. Bryce cuidará de você.
— Bryce me odeia, — Bronwyn negou miseravelmente.
— Bryce nunca poderia odiar a mulher que lhe deu uma filha
tã o linda, — a outra mulher negou.
— Ele me culpa pelo que aconteceu com ele, — Bronwyn
gemeu. — E eu nem sei o que aconteceu com ele! Como ele perdeu a
audiçã o? — Ela ergueu seus olhos castanhos cheios de lá grimas para
o rosto de Lisa, e a outra mulher franziu a testa, sua expressã o
pensativa.
— Foi um acidente. Rick e eu nã o namorávamos há muito
tempo - quase um mês desde o dia em que ele entrou na minha
livraria - mas estávamos ficando sério o suficiente para que ele
estivesse falando em me apresentar a vocês.
Entã o Rick conheceu Lisa enquanto Bronwyn ainda estava com
Bryce. Ela se lembrou de como ele estivera eufó rico e reservado
durante aquelas poucas semanas antes de ela partir. Ela até brincou
com ele sobre isso durante o jantar uma noite e ele gaguejou e corou
como um colegial. A memó ria a aqueceu um pouco, mas a voz
simpá tica de Lisa a arrastou de volta para o horror do presente.
— Uma noite, Rick me ligou para cancelar um de nossos
encontros porque seu irmã o havia sofrido um acidente. Foi muito
ruim. Conheci Bryce algumas semanas depois, enquanto ele ainda se
recuperava no hospital. Rick e eu nos casamos cerca de quatro meses
depois do acidente, quando Bryce estava bem o suficiente para
comparecer. Se eu nã o estivesse grávida de dois meses na época,
teríamos adiado o casamento. Rick e Bryce se recusaram a falar
sobre você novamente. Acho que Rick estava apenas seguindo a
liderança de Bryce nesse ponto. Ele estava tã o completamente
destruído pelo que havia acontecido com seu irmã o que teria pisado
em brasas se pensasse que isso faria Bryce feliz. Pelas raras
informaçõ es que consegui arrancar de Rick nos ú ltimos vinte meses
de nosso casamento, pensei que você tivesse desistido porque nã o
conseguia lidar com a surdez dele.
— Mas eu nem sabia que ele era surdo até agora. — Ela tossiu
dolorosamente e Lisa acariciou seu cabelo suavemente.
— Por que você o deixou? — Lisa questionou gentilmente.
— Eu nunca o teria deixado de bom grado. Eu o amo... o amava.
— Lisa ergueu as sobrancelhas para o deslize revelador e assentiu.
— Eu sei disso agora. Eu dei uma olhada em você esta manhã e
eu sabia. Entã o, por que você o deixou?
— Porque ele me disse para ir. Ele me expulsou, — lembrou
Bronwyn miseravelmente. — Ele estava insatisfeito com a minha
gravidez porque havíamos combinado esperar alguns anos antes de
constituir família. Ele me acusou de engravidar deliberadamente, de
enganá -lo. Foi terrível.
— Nã o entendo. — Lisa franziu a testa. — Por que ele iria ao
fundo do poço assim? Certamente uma gravidez é algo para ser
comemorado?
— Eu nã o sei, — confessou Bronwyn. — Saí para dar a ele
algum tempo para se acalmar e fui para nossa casa em Knysna. Eu
sabia que assim que ele se acalmasse o suficiente viria me procurar.
Nunca acreditei que ele não viria... — Sua voz sumiu quando ela se
lembrou da dor, traiçã o e desilusã o que sentiu quando ficou claro
que Bryce nã o viria atrá s dela.
— O que você fez? — Lisa perguntou com simpatia.
— Eu esperei. Por duas semanas eu esperei. Bryce geralmente é
muito bom em manter seu temperamento sob controle e, quando o
perde, geralmente precisa de apenas algumas horas para que seus
processos de pensamento ló gico entrem em açã o novamente. Mas eu
nunca o tinha visto tã o zangado quanto naquela noite, entã o
imaginei que demoraria um pouco mais do que o normal para cair
em si. — Ela encolheu os ombros impotente, lutando para manter a
dor que ela ainda sentia na memó ria de aparecer. —Depois de uma
semana, tentei ligar para ele. Mas eu estava bloqueada. Sua equipe
cerrou fileiras em torno dele. Eu nã o conseguia alcançá -lo ou Rick e
nã o sabia o que fazer. Parecia que todo o meu mundo havia
implodido. — Ela abaixou a cabeça.
— Apó s a descrença e a dor iniciais, a raiva e o ressentimento
surgiram. Decidi que, se ele nã o queria nada com o bebê e comigo,
nã o facilitaria para que ele voltasse engatinhando. Nã o que eu
acreditasse que ele voltaria. Acho que comecei a pensar assim para
preservar meu orgulho. Saí do radar - sem crédito, sem contas
bancá rias, exceto a que eu já tinha em meu nome de solteira. Os
ú nicos trabalhos para os quais eu estava qualificada nã o mantinham
registros de funcioná rios estelares. Nunca acreditei que ele
realmente tentaria nos encontrar. — Ela balançou a cabeça confusa.
— Achei que ele me amava. — Envergonhava-a admitir isso
agora, envergonhava-a por confessar uma crença tã o tola na frente
desta mulher que estava tã o obviamente confiante no amor de seu
marido. — Agora ele me culpa por sua surdez e está praticamente
me acusando de roubar Kayla dele quando deixou bem claro que nã o
tinha interesse nela! — Ela ouviu a amargura rastejando em sua voz.
— Ele sem dú vida acha que a maneira como vivemos está abaixo
dele, mas eu cuidei bem do meu bebê. Eu a alimentei, a vesti e a amei
depois que ele nos abandonou! Como ele ousa entrar na minha vida e
presumir que seria um pai melhor só porque tem muito mais
dinheiro do que eu!
— Bryce se manteve praticamente fechado desde que me casei
com Rick. Ele é um homem difícil de conhecer — disse Lisa no
silêncio que se seguiu depois que Bronwyn perdeu o fô lego. — Mas o
que eu sei eu gosto e respeito. Realmente nã o consigo conciliar o
quadro que você acabou de pintar com o homem que vim a conhecer.
Bronwyn assentiu miseravelmente. — Sinto muito, — ela
respondeu, forçando as palavras a saírem de sua garganta torturada.
— Nã o pretendo colocar você em uma posiçã o incô moda. Eu nã o
deveria ter dito aquelas coisas.
— Nã o, nã o é nada disso — corrigiu Lisa apressadamente. — É
só que cada um de vocês parece tã o convencido do erro do outro que
deve ter havido alguns fios cruzados em algum lugar.
— Hum. — Bronwyn tentou concordar, mas estava se sentindo
confusa novamente, incapaz de se concentrar.
— Tente descansar um pouco, — Lisa sugeriu gentilmente. —
Você parece acabada.
— Eu nã o... nunca iria... — Ela nã o conseguiu completar o
pensamento e nã o percebeu mais nada enquanto deslizava para a
inconsciência.

 
 
 
 
Ela parecia frá gil, como se o menor toque fosse quebrá -la, e como ele
queria quebrá-la. Bryce olhou para a estranha que era sua esposa e
foi consumido por puro ó dio por ela. Essa vadia de aparência
inocente destruiu sua vida e roubou sua filha. A violência mal
contida que sentia em relaçã o a ela estava apodrecendo há pouco
mais de dois anos, e ele alegremente a teria estrangulado durante o
sono se nã o fosse pelo fato de que sua filha precisava dela. Ele
observou seu esforço para respirar e imaginou que soava rouca e
irregular. Ele se lembrava de sons, mas à s vezes se perguntava se sua
memó ria era precisa. Por muito tempo, apesar de suas tentativas
malsucedidas de forçá -lo, sua lembrança mais preciosa era a voz
dela. Agora a lembrança do som doce e claro de sua voz voltou
espontaneamente junto com a clareza de sino de sua risada e,
finalmente, como aquela voz adorável soou durante sua discussã o
final, cheia de lá grimas e sú plicas.
Ela parecia tã o doente. Ele fez uma careta, sem vontade de
sentir qualquer compaixã o por ela. Se ela trabalhou até o chã o, foi
menos do que merecia por fugir dele, por roubar sua filha e por
aleijá-lo! Ele vivia em um mundo silencioso agora, os ú nicos sons
que ouvia eram meros ecos de memó rias e a voz dela... sempre a voz
dela.
Ele a odiava por assombrá -lo, e ainda a odiava por parecer tã o
malditamente vulnerável, por estar doente, fraca e quase indefesa, o
tornando assim impotente para atacá -la e xingá -la do jeito que ele
fantasiou fazer por tanto tempo.
Bem, ela nã o estaria sempre doente. Ele podia esperar. A
vingança, diziam eles, era um prato que se comia frio. Ele estava
esperando há dois anos, entã o mais algumas semanas nã o fariam
diferença. E quã o mais doce seria a vingança agora que ele a tinha
firmemente ao seu alcance!
 

 
 
 
 
Kayla decidiu que nã o gostava de helicó pteros assustadores e
barulhentos e chorou durante todo o curto voo fretado de
Plettenberg Bay para Camps Bay. Seu pai sitiado, que estava
descobrindo que a paternidade pode nã o ser tã o fabulosa quanto ele
havia imaginado, lutou para mantê-la calma enquanto Bronwyn, que
estava sentindo os efeitos de algum medicamento muito poderoso,
permanecia alheia a tudo. Bronwyn estava vagamente ciente de
Bryce tentando freneticamente calar a criança. Ele fazia caretas e
jogava joguinhos bobos, mas Kayla se recusava a ser consolada por
alguém que era um completo estranho para ela. Ela era muito
pequena para ser amarrada, mas se recusou teimosamente a ficar no
colo de Bryce. Em vez disso, ela continuou tentando rastejar para o
colo da mã e, e Bronwyn fez o possível para acalmar a garotinha, mas
Kayla também nã o ficou muito impressionada com seus abraços
fracos.
— Faça alguma coisa, — Bryce finalmente implorou, quando
Kayla deslizou de suas mã os como um porco engordurado e derreteu
no chã o em uma pilha desossada. Uma vez aos pés deles, ela
lamentou lamentavelmente.
—Kayla fugiu, mamã e, Kayla fugiu! — ela uivou. Bronwyn,
completamente farta do teatro, estendeu a mã o e puxou a criança
flá cida com toda a força que pô de reunir.
— Mikayla, — ela disse com voz rouca em sua voz mais dura e
sem sentido. Kayla foi momentaneamente silenciada pela voz de
“mã e” de Bronwyn e seus grandes olhos azuis derreteram o coraçã o
de Bronwyn. A pobre coisinha estava compreensivelmente
assustada. Muitas mudanças em um tempo muito curto para ela.
Bronwyn suavizou a voz e sorriu com o que esperava ser uma alegre
confiança. — Está tudo bem, bebê. Sente-se com seu pai; ele cuidará
de você. — Mikayla olhou para o Bryce que se desfazia rapidamente
com uma especulaçã o cautelosa em seu olhar. Recorrer a ele em
busca de proteçã o evidentemente nã o lhe ocorrera.
— Cara? — ela questionou incerta.
— Papai, — Bronwyn corrigiu cansada, desaparecendo
rapidamente. — Vá e sente-se com ele. — A garotinha, segurando sua
boneca de pelú cia favorita contra o peito, deu o pequeno passo que a
separava de Bryce e ergueu os braços para deixar claro que ela
permitiria que ele a pegasse agora. Bryce a ergueu em seu colo e ela
se aninhou contra seu peito, apoiando o polegar em sua boca.
Enormes lá grimas de crocodilo escorriam por suas bochechas.
Bronwyn revirou os olhos e recostou-se com um suspiro exausto. Por
alguns minutos tudo ficou quieto, exceto pelo zumbido barulhento
do helicó ptero. Bronwyn estava se preparando para tirar uma
soneca quando Bryce falou, tã o baixinho que ela mal conseguia ouvir
a voz dele por causa de todo o barulho. Nem mesmo os fones de
ouvido que ela usava ajudaram a amplificar sua voz.
— Ela é difícil.
Bronwyn abriu os olhos e se viu olhando diretamente nos olhos
taciturnos dele. — Sim. — Ela assentiu cansada. — Ela tende a ser.
Mas ela está apenas assustada agora; isso nã o é algo que ela está
acostumada.
— Me fale sobre ela, — ele convidou, quase com relutâ ncia.
Obviamente abalou seu orgulho ter que pedir qualquer coisa a ela.
— Ela herdou mais do que apenas alguns de seus traços físicos,
— disse Bronwyn com um sorriso. — Ela tem uma teimosia de um
quilô metro de largura e é ferozmente independente.
— Quando ela começou a andar e falar?
— Ela foi uma conversadora precoce. — O sorriso de Bronwyn
ficou nebuloso. — Ela gorgolejou muito, balbuciou incoerentemente
por um tempo... — Bryce estava carrancudo e ela gaguejou até parar.
— O que há de errado?
— Desacelere, — ele ordenou rispidamente. — Nã o consigo
entender porra nenhuma do que você está dizendo!
Tendo esquecido momentaneamente sua surdez, o lembrete
serviu como uma verificaçã o cruel da realidade. Ela engoliu
convulsivamente, consciente do calor seco e doloroso em sua
garganta.
— Sinto muito, — ela sussurrou antes de repetir sua declaraçã o
anterior tã o lenta e claramente quanto podia. Bryce revirou os olhos
com impaciência.
— Eu sou surdo, nã o estú pido, — ele resmungou furiosamente.
— Apenas fale normalmente; nã o balbucie e nã o fale lentamente e
continue me encarando.
— Eu sinto muito. — Ela impotente repetiu seu pedido de
desculpas. Ela se sentia desesperadamente inadequada. Mais uma
vez, ela tentou repetir sua declaraçã o anterior, mas estava tã o
nervosa agora que gaguejava muito. Bryce xingou impacientemente
em voz baixa antes de deliberadamente baixar o olhar para Kayla.
Assim facilmente ele encerrou a conversa. O desprezo foi
brutalmente eficaz e deixou Bronwyn se sentindo completamente
abandonada. Ela se sentiu um completo fracasso e manteve os olhos
treinados em seu rosto, esperando que ele olhasse de volta, mas ele
estava falando com Kayla, que ainda chorava. Ele estava tã o absorto
em sua filha que Bronwyn poderia muito bem nã o estar lá .
Ela finalmente baixou o olhar para onde suas mã os estavam
fechadas em punhos no colo e, enquanto lutava desesperadamente
contra a vontade de chorar, ela tentou descobrir onde e como sua
vida tinha dado tã o errado. Ela pensou em seu primeiro encontro,
que sempre pareceu algo saído de um conto de fadas para ela - o
Príncipe Encantado conhecendo Cinderela enquanto ela ainda estava
em seus trapos, mas se apaixonando por ela de qualquer maneira.
Parecia tã o perfeito...
 

 
Ele tinha sido, sem dú vida, o homem mais bonito que ela já vira. Era
seu primeiro dia trabalhando como garçonete no sofisticado
restaurante à beira-mar em Camps Bay e ela nã o podia se dar ao luxo
de distraçõ es, especialmente porque havia mentido sobre suas
qualificaçõ es para conseguir o emprego. Felizmente, ela conseguiu
blefar durante o treinamento interno sem parecer muito
incompetente. Desde que terminou o ensino médio, seis anos atrá s,
ela nã o tinha sido muito boa em nada, exceto cuidar de sua avó
doente, sua ú nica parente. Tinha sido um trabalho de tempo integral,
nã o deixando espaço em sua vida para a socializaçã o de outras
mulheres de sua idade. Em vez disso, ela passava a maior parte do
dia na companhia de uma velha enferma e qualquer tempo livre que
tivesse era dedicado a seu estoque de livros. Tinha sido uma
existência triste e solitá ria para uma jovem com uma disposiçã o tã o
ensolarada, mas Bronwyn nunca desejou que a tarefa fosse
descartada. Sua avó a criou sem reclamar depois que seus pais
morreram e Bronwyn amou a velha senhora ferozmente por causa
disso.
Elas haviam sobrevivido, vivendo da pensã o de sua avó e de um
pequeno fundo fiduciá rio que seu avô havia criado para sua esposa.
Apó s a morte de sua avó , apenas dois meses antes, o saldo do fundo
foi gasto no funeral e Bronwyn foi forçada a vender sua pequena casa
geminada. A maior parte do dinheiro obtido com a venda foi para
saldar as contas pendentes do hospital, sobrando apenas o suficiente
para que Bronwyn pagasse o depó sito do minú sculo apartamento
que agora estava alugando.
Entã o, aqui estava ela, tentando desesperadamente se sair bem
em seu novo emprego, mas nã o conseguia tirar os olhos do homem
que acabara de entrar no restaurante. Ele era alto, loiro e bonito, e
estava absorto na conversa que estava tendo com o homem magro e
moreno ao seu lado. Os dois homens eram tã o opostos quanto a
noite e o dia. O loiro era grande e volumoso, quase de aparência
nó rdica, enquanto o moreno era magro e á gil, com uma aparência
definitivamente sexy gaulesa. Eles se sentaram em uma de suas
mesas e sua boca ficou seca. Ela correu, nã o querendo deixar
homens tã o importantes esperando e felizmente tropeçou apenas
uma vez ao longo do caminho.
— Bom Dia... Olá ... Como posso... — Ela ficou em branco, já
tendo enchido a saudaçã o alegre que tinha sido perfurada durante o
treinamento. Os homens olhavam para ela com expectativa, e ela
vacilou ainda mais sob o olhar gelado do homem loiro. — Seu
pedido, — ela concluiu abruptamente. — O que é, por favor?
As sobrancelhas do homem moreno subiram em espanto, mas o
loiro permaneceu impassível, embora Bronwyn, por um momento
fugaz, pensasse ter visto diversã o brilhando naqueles olhos
aparentemente frios dele.
— Bebidas, — ela continuou desesperadamente. — Você
provavelmente bebe. Entã o você provavelmente quer um pouco,
muito, quero dizer... — Ela sentiu seu rosto ficar vermelho de
vergonha. O homem moreno estava olhando para ela em completo
espanto, com o queixo caído praticamente no peito. O outro homem,
porém, sua mandíbula estava cerrada; ele parecia estar exercendo
um enorme controle sobre suas emoçõ es. Ela entrou em pâ nico. Ele
provavelmente estava com raiva, provavelmente acostumado a um
serviço muito superior deste restaurante. Ela se debateu novamente.
. . em uma perda completa.
— Você parece com sede, — ela murmurou, esperando induzi-
los a dizer algo, qualquer coisa. — E temos muitas bebidas.
— O que você recomendaria? — o loiro perguntou
inesperadamente. Sua voz era quente e melíflua e muito mais gentil
do que ela esperava. Parecia completamente em desacordo com os
planos escarpados de seu rosto, bem como com sua expressã o
rigidamente controlada. A voz dele fluiu sobre ela como mel quente,
e ela ficou olhando para ele sonhadoramente sem perceber por
muito tempo.
— Senhorita? — o homem moreno perguntou
impacientemente. — O que você recomenda?
— Ah... — ela saiu de seu torpor, embaraçosamente ciente de
que tinha sido pega olhando para o loiro. — Recomendo?
— Bebidas, — o loiro lembrou gentilmente.
—Sim claro . . .— Ela vasculhou sua memó ria freneticamente.
—Vinho . . . temos vinho, e claro que temos. . . você pode gostar,
porque eu gosto bastante, entende? Eles nã o pareciam ver. Deus, ela
estava sendo uma idiota socialmente desajeitada. Ela geralmente nã o
era tã o ruim.
— Como o quê? — o loiro perguntou.
— O... hum... o milkshake. Sobretudo chocolate. — As
sobrancelhas do homem moreno baixaram em completa
consternaçã o; ele realmente tinha as sobrancelhas mais expressivas.
— Você recomenda o... — Parecia que ele estava sufocando, e
seu rosto estava ficando com um tom impró prio de vermelho. — O
milkshake?
— Eu nem sabia que eles tinham milk-shakes aqui, — o loiro
disse casualmente. —Você sabia, Pierre? — O outro homem, Pierre,
parecia incapaz de responder, e Bronwyn desejou que o chã o se
abrisse e a engolisse, de tã o humilhada que estava. Milkshake? O que
ela estava pensando ao recomendar o milkshake a dois homens que
sem dú vida nã o tomavam desde que atingiram a puberdade?
— Nó s temos outros... — ela começou miseravelmente, mas foi
interrompida por Jake, o gerente. Sentindo um problema, ele veio
para intervir.
— Com licença, está tudo bem aqui? — ele perguntou
educadamente, lançando um olhar sub-reptício para a perturbada
Bronwyn. Bronwyn suspeitava que ele sabia que ela havia mentido
sobre sua experiência anterior e parecia que o proprietá rio a havia
contratado contra o conselho de Jake. Agora Jake parecia
desesperado para que ela estragasse tudo para que ele pudesse ter
uma desculpa para demiti-la. Ela abaixou a cabeça e esperou
miseravelmente que os homens reclamassem. O mais moreno,
Pierre, abriu a boca para dizer algo, mas o loiro se antecipou.
— Sem problemas, — ele murmurou suavemente. — Meu
colega e eu estávamos tendo dificuldade em decidir o que pedir. —
Jake nã o teve outra opçã o a nã o ser recuar, mas nã o antes de lançar
um olhar de advertência para Bronwyn.
— Muito bem, Sr. Palmer. — Ele praticamente fez uma
genuflexã o ao recuar. — Mas se precisar de alguma coisa, por favor,
pergunte por Jake.
— Agora, por que faríamos isso quando já temos uma excelente
garçonete aqui? — o loiro, Sr. Palmer, perguntou suavemente antes
de dispensar Jake com um movimento casual da mã o. Seu colega o
olhou boquiaberto, incrédulo.
— Bryce... — Pierre começou a dizer. Seu nome era Bryce! Ele
ignorou o amigo e voltou a focar seus lindos olhos azul-gelo no rosto
corado de Bronwyn.
— Agora, onde estávamos? — ele perguntou suavemente, seus
olhos correndo sobre o rosto dela atentamente. — Ah sim... Acho que
vou querer o milkshake de chocolate.
— Ah... — Ela o olhou estupidamente. — Uh . . . o que?
— O milkshake, eu quero isso. Chocolate, claro. — Ela assentiu
confusa e anotou o pedido antes de relutantemente voltar sua
atençã o para Pierre.
— E para você senhor? — Pierre estava olhando para o amigo
incrédulo, antes de voltar a focar sua atençã o em Bronwyn. Aqueles
olhos anteriormente sombrios dele estavam iluminados com humor.
— Que diabos. — Ele tinha um sotaque francês. Ela estava tã o
focada em Bryce que nã o havia notado isso antes. — Acho que vou
tomar aquele milkshake também!
CAPÍTULO TRÊS

Umas poucas horas depois de chegar a Camps Bay, Bronwyn ainda


estava inquieta com as emoçõ es que aquelas lembranças de muito
tempo atrá s no helicó ptero haviam despertado. Ela estava na estufa;
era o ponto mais alto da casa escalonada e sempre lhe parecera o
ninho de uma á guia. Todas as paredes, exceto uma, assim como
metade do teto, eram inteiramente feitas de vidro.
Ela olhou para o belo e azul Oceano Atlâ ntico com suas praias
imaculadas. À sua esquerda havia uma vista da cordilheira, os Doze
Apó stolos, em homenagem aos majestosos picos escarpados que se
erguiam acima das lindas praias, enquanto a movimentada cidade da
Cidade do Cabo ficava à direita.
A casa era exatamente como ela se lembrava. Grande e bonita,
foi construído na face da montanha e tinha vistas panorâ micas ao
redor. Bronwyn adorava esta casa, adorava a maneira como ela
pegava sol e adorava o fato de que sempre se sentiu em casa. Ainda
assim. Ela se sentiu bem-vinda de volta desde o momento em que
desceu do helicó ptero. Bryce a abandonou imediatamente apó s sua
chegada, levando Kayla para apresentá -la a sua nova casa. Bronwyn
havia vagado apaticamente antes de se encontrar de volta a esta sala
- sua favorita. Bryce sempre reclamou que ela a transformou em uma
sala “feminina”, com mó veis confortavelmente estofados, lindos
tapetes e qualquer outra coisa que chamasse sua atençã o. Ela
vasculhou mercados de pulgas e lojinhas isoladas em busca de
qualquer coisa que achasse que combinasse com esta sala, e o
resultado foi uma mistura eclética do antigo e do novo, um quarto
para todas as estaçõ es.
Ele nã o tinha mudado nada. Tudo ainda estava exatamente no
mesmo lugar de quando ela foi embora, mas a sala parecia nã o ser
usada, e Bronwyn sabia que ele nã o tinha posto os pés nele nos
ú ltimos dois anos. A sala continha tantas memó rias. Eles passaram
horas nela, noite e dia; era a sala onde eles passavam a maior parte
de sua vida diá ria, simplesmente conversando, muitas vezes fazendo
amor e depois discutindo ferozmente naquele ú ltimo dia.
Seus olhos se encheram de lá grimas e ela cobriu o rosto com as
mã os. Kayla também foi concebida nesta sala. Uma noite, cerca de
três meses antes de sua discussã o final, eles voltaram para casa de
uma festa, ambos ligeiramente embriagados. Ele olhou para ela como
se ela fosse a mulher mais bonita do mundo e, de fato, disse isso a ela
vá rias vezes enquanto adorava seu corpo em um dos tapetes em
frente à janela. Eles tinham adormecido aqui, bem onde ela estava,
enredados nos braços um do outro. Eles estavam tã o pró ximos que
parecia que nada os separaria.
— Bronwyn.
Ela pulou e girou, tã o envolvida em suas memó rias que levou
alguns segundos para perceber que ele nã o era mais o mesmo Bryce
que a abraçara com tanto carinho naquela noite. Ele tinha uma Kayla
adormecida em seu peito e parecia um pouco perdido. Ela sentiu
uma combinaçã o de raiva e arrependimento ao vê-lo segurando sua
filha e estendeu a mã o possessivamente para ela, mas Bryce lançou
lhe um olhar reprimido.
— Você mal consegue ficar de pé. Você realmente acha que é
capaz de carregá -la sem deixá -la cair? — Frustrada com a ló gica de
suas palavras e refreando seus protestos apenas por preocupaçã o
com a segurança de sua filha, Bronwyn deu um passo para trá s.
— Já passou da hora normal da soneca dela, — ela disse,
certificando-se de que ele estava olhando para ela antes de falar, nã o
querendo uma repetiçã o do incidente no helicó ptero. — Onde
podemos colocá -la?
— Tenho um quarto preparado para ela. — Ele se virou e se
dirigiu para as escadas, que levavam aos quartos do segundo andar.
Bronwyn ficou tensa quando passaram pelo quarto principal e se
perguntou onde ela deveria dormir. Ele a conduziu até a sala
contígua ao principal e, com as mã os ocupadas, apontou para a porta
fechada. Ela obedientemente abriu a porta e entã o engasgou quando
viu o quarto. Era um berçá rio, lindamente decorado em tons de
limã o e creme. Brinquedos de todos os tipos estavam empilhados
ordenadamente nas prateleiras, e um berço — incrivelmente
detalhado e obviamente para um recém-nascido — estava
posicionado perto da grande janela panorâ mica. Ele carregou Kayla
para uma cama maior que Bronwyn nã o percebeu imediatamente.
Ela observou enquanto ele deitava sua filha com ternura e a cobria
com um cobertor leve e felpudo. Ele a encarou por um longo tempo,
sua mã o parecendo desajeitada e enorme e infinitamente gentil
enquanto acariciava o cabelo sedoso da garotinha.
— Bem-vinda ao lar, Mikayla, — ele murmurou suavemente
antes de se inclinar para colocar um doce beijo em sua testa. Ele
ergueu a cabeça para encontrar os olhos dela, e vendo a pergunta
neles, deu de ombros, seu rosto ficando um pouco vermelho.
— Eu mandei arrumar o quarto alguns meses depois que você
foi embora. Era isso ou enlouquecer. Nã o sabia se era menino ou
menina, entã o as cores tinham que ser neutras. — Ela superou quase
tudo aqui, mas eu nã o poderia imaginar. . . nã o conseguia imaginar
como ela ficaria e nã o sabia o quã o grande ela seria. Sua voz falhou e
ele baixou o olhar para a criança adormecida, seus olhos brilhando
com lá grimas nã o derramadas. — Deus, ela é tã o linda.
Bronwyn nã o sabia o que dizer, nã o sabia como responder a
esse desejo ó bvio que tinha de fazer parte da vida de sua filha. Por
que ele nã o veio buscá -la se queria o bebê? Por que ele nã o atendeu
ou retornou nenhuma de suas ligaçõ es? Ao mesmo tempo, ela nã o
pô de deixar de sentir ó dio por esse homem claramente em conflito.
Ele os havia roubado a oportunidade de ser uma família de verdade
com suas açõ es inexplicavelmente cruéis, e quartinhos bonitos com
brinquedos caros nã o iriam mudar esse fato.
— Bryce. — Ela puxou a manga dele para chamar sua atençã o.
Ela nã o seria influenciada pela ó bvia vulnerabilidade em seu rosto.
— Eu nã o sei que tipo de jogos cruéis você está jogando comigo.
Você nos jogou fora como lixo. Se você nos quisesse, nunca teria feito
isso. Lamento que você tenha perdido o primeiro ano e meio da vida
de sua filha, mas você sabe que só pode culpar a si mesmo por isso,
certo? — Ela observou a farpa atingir o alvo quando ele se encolheu
com suas palavras. A vulnerabilidade fugiu de seu rosto para ser
substituída pela fú ria.
— Você deveria descansar. — Suas palavras eram geladas. —
Você parece exausta e doente! Você também está muito magra.
Mikayla precisa de uma mã e saudável, nã o de algum fantasma que
mal consegue levantá -la.
— Bryce... Nã o entendo. Por que você me odeia tanto. O que eu
fiz para merecer essa quantidade ridícula de desprezo? — Estava
ficando cada vez mais difícil para ela permanecer de pé, mas isso era
importante. Ela estava fisicamente fraca no momento, mas nã o iria
deixá -lo pisar nela.
— Como você ousa me perguntar isso? — ele sibilou
furiosamente. — Como você ousa, depois de tudo que você fez?
— Eu fiz o que você me disse para fazer, — ela o lembrou, sua
voz trêmula tã o gelada quanto a dele tinha sido antes. — Você me
disse para ir embora, para sair da sua vista! Você me chamou de
vadia enganosa e mentirosa e disse que nunca mais queria me ver.
— Apenas pare de bancar a vítima trá gica, — alertou. — A ú nica
razã o pela qual posso tolerar ter você de volta em minha vida é por
causa de Mikayla, mas me force demais e vou me certificar de que
você nunca mais coloque os olhos nela novamente.
A ameaça dele, seu pior medo, enviou um arrepio por sua
espinha, e sua garganta se fechou, fechando-a tã o eficazmente
quanto um soco na mandíbula teria feito. Seus olhos se encontraram
por um momento, os dele tempestuosos e furiosos, os dela sombrios
de terror. Bryce murmurou algo vil soando baixinho antes de dar um
passo inesperado em direçã o a ela e abraçá -la em seus braços fortes.
Sua cabeça se inclinou e ele pegou seus lá bios em um beijo
ferozmente terno. Bronwyn engasgou em choque, medo e alívio. Isso
parecia mais um lar do que a casa. Ela se aproximou mais, desejando
a intimidade e o afeto que sentia falta há tanto tempo. Sua cabeça se
inclinou para trá s e sua boca se abriu como uma flor sob a dele. Ele
gemeu, uma grande mã o espalmada contra a parte inferior de suas
costas, a outra segurando a parte de trá s de sua cabeça. Havia uma
ponta de desespero em seu beijo, uma fome que nunca esteve
presente em seus beijos longos e preguiçosos do passado. Sua língua
procurou e encontrou a dela; sentia-se fraca e tonta de desejo. Deus,
ela sentiu tanto a falta dele, o suficiente para permitir esse momento
de fraqueza, mesmo sabendo que isso nã o resolveria nenhum dos
problemas deles. Suas mã os subiram para segurar seu rosto, e seus
polegares deslizaram sobre a pele sedosa de suas bochechas. Ela
tinha os braços em volta de seu corpo duro e quente, e suas mã os
espalmadas contra suas costas. Ela teria entrado em sua pele se
pudesse.
Ele endureceu de repente antes de jogá -la de lado com uma
maldiçã o cruel e olhar para seu rosto atordoado com desdém. Ele
balançou a cabeça severamente antes de virar as costas e sair sem
dizer uma palavra, deixando-a magoada, humilhada e furiosa em seu
rastro. Bronwyn passou os braços em volta de seu corpo trêmulo,
ainda totalmente arrasada com o quanto ele parecia desprezá -la.
Houve um tempo em que ele parecia um sonho tornado realidade.
Ele era um enigma, mas ainda o homem mais intrigante que ela já
conhecera...

Ele continuou a observando e a deixando mais nervosa do que já era.


Depois de engolir seu milkshake com toda a aparência de completo
prazer, ele pediu a ela uma recomendaçã o de refeiçã o, mas apó s o
desastre com as bebidas, ela educadamente o informou que
recomendava muito tudo no cardá pio. Ele nã o estava aceitando isso
e, ignorando seu amigo impaciente, a obrigando a dizer qual era seu
prato favorito no cardá pio. Ela nã o havia trabalhado no restaurante
por tempo suficiente para provar grande parte do cardá pio e, com
muita relutâ ncia, revelou seus gostos plebeus, dizendo que gostava
do brie gourmet e do hambú rguer de bacon que eles ofereciam. Ele
acenou com a cabeça e pediu o referido hambú rguer. O amigo, farto
de o satisfazer, pediu algo muito mais condizente com o seu paladar
sofisticado. Bryce passou pela mesma rotina com a sobremesa, e
Pierre, evidentemente desistindo dele, deu suas desculpas e voltou
para a vida glamorosa que levava. Bryce permaneceu, porém,
comendo sua sobremesa e seguindo com café. Ele permaneceu por
quatro horas, a ú ltima hora das quais foi passada sentado sozinho à
mesa, brincando com a sobremesa, pedindo xícara apó s xícara de
café e olhando para ela. Ele nunca sorriu e nunca flertou; ele
simplesmente a observou. Eventualmente ele pediu a conta e quando
ela trouxe, ele a agraciou com o menor dos sorrisos, seus olhos
sérios quentes e um pouco confusos.
— Você nunca fez isso antes, nã o é? — ele perguntou
gentilmente, como se tivesse medo de ferir seus sentimentos, e ela
corou dolorosamente antes de assentir.
— O que me entregou? — ela brincou, sentindo-se um fracasso
miserável.
— Nã o sei. — Ele deu de ombros, seu sorriso se alargando. —
Talvez a maneira como você continua recomendando os itens mais
baratos do cardá pio, apesar do fato de que isso provavelmente
diminuiria sua gorjeta. — Ela ficou chocada por nã o ter percebido
isso e fez uma anotaçã o mental para recomendar a lagosta a todos os
clientes que perguntassem no futuro! Ela franziu a testa, forçando-se
a lembrar de escrever isso antes de desistir e tirar um livrinho de
post-it do bolso do avental para anotar em letras maiú sculas:
LEMBRE-SE DAS LAGOSTAS!!! Ele estava observando cada reaçã o dela
em completo fascínio, e ela olhou para cima para encontrá -lo
olhando para ela novamente.
— Por que você continua me olhando assim? — ela perguntou
sem rodeios, antes de ficar ainda mais vermelha, chocada com sua
pró pria ousadia. Suas sobrancelhas baixaram enquanto ele dava
alguma consideraçã o a sua pergunta.
— Eu nã o sabia que estava sendo tã o... ó bvio, — ele murmurou.
Ele se livrou de algum tipo de devaneio antes de pegar sua carteira e
extrair um cartã o de crédito platinado. Estava bastante claro que ele
nã o tinha intençã o de responder a sua pergunta. Ele dava gorjetas
generosas, mas nã o excessivamente generosas, e quando ela voltou
com o cartã o de crédito, ele se levantou enquanto colocava a carteira
no bolso.
— Obrigada... Bronwyn, nã o é? — Ela assentiu silenciosamente
e ele sorriu - apenas uma ligeira inclinaçã o nos cantos da boca - de
novo. — O nome combina com você. — Ela nã o respondeu a isso,
sem saber se era um elogio ou nã o.
Ele se virou para ir embora e entã o hesitou antes de se virar
para encará -la.
— Quantos anos você tem, Bronwyn?
— Vinte e quatro.
Sua expressã o era inescrutável.
— Você parece mais jovem. — Ele encolheu os ombros. —
Tenho vinte e nove anos.
— Ok? — Por que ele estava dizendo isso a ela? Ele era um
homem estranho, mas nã o de uma forma assustadora. Ele parecia
tã o sofisticado, tã o diferente de qualquer outra pessoa que ela já
conhecera.
— Eu sinto muito. É só isso... — Ele pareceu perder a noçã o do
que estava dizendo e ficou parado, estranhamente calado por alguns
segundos. — Você apenas... Você tem... — O que? Ela tinha o que? Ela
passou a língua pelos dentes, com medo de ter algo preso neles, e
entã o esfregou o nariz para ver se havia uma mancha nele.
— Que olhos incríveis, — ele concluiu apressadamente.
Hã?
Ela ficou boquiaberta com ele sem entender por um tempo, e
ele ficou vermelho antes de pigarrear e se virar abruptamente. Ele
saiu antes que ela pudesse piscar, antes que ela pudesse respirar, e
antes que ela pudesse chamá -lo de volta.
 
 

 
 
 
 
 
Fazia quase uma semana desde o beijo malfadado e Bryce nã o tinha
falado muito com ela desde entã o. Ele havia dado a ela o quarto
principal e, como na estufa, o quarto tinha uma sensaçã o de nã o-
vivência. Seu guarda-roupa havia sido deixado intacto, mas as roupas
de Bryce haviam sumido; nã o sobrou uma gravata ou mesmo uma
abotoadura perdida. Era como se ele nunca tivesse compartilhado o
mesmo armá rio com ela. Nenhuma de suas roupas antigas serviam
mais nela; eles eram todos um par de tamanhos grandes demais.
Bronwyn ficou consternada ao descobrir exatamente quanto peso
ela havia perdido nos ú ltimos dois anos. Ela sempre foi esbelta,
entã o o fato de ter diminuído dois tamanhos de vestido deve
significar que ela parecia completamente sem carne! Nã o é de
admirar que Bryce tenha dito que ela parecia um fantasma.
Ela fez um esforço concentrado para comer mais e, como Kayla
passava muito tempo com o pai, Bronwyn estava descansando
bastante, tanto que estava ficando entediada. Ela estava sentada na
estufa, lendo um guia fá cil (ou assim afirmava a sinopse posterior)
da língua de sinais sul-africana, quando ouviu a conversa alegre de
Kayla se aproximando. Ela enfiou o livro atrá s de uma almofada, nã o
querendo que Bryce soubesse que ela estava tentando aprender
SASL. Algo lhe dizia que ele nã o ficaria feliz com isso. Quaisquer
referências que ela fazia à surdez dele nã o foram bem recebidas.
Kayla entrou na sala de seu jeito inimitável, toda risada feliz e
fala incompreensível enquanto Bryce a seguia de seu jeito inimitável,
todo carrancudo e rosnado quando viu que Bronwyn ocupava a
estufa.
— Mamã eeeee! — A garotinha deu um gritinho ao ver Bronwyn
e subiu no colo da mã e, cheirando a sol e maresia. Ela estava usando
lindos macacõ es cor-de-rosa, uma das muitas roupas caras que seu
pai havia comprado para ela. Ele havia levado a filha para fazer
compras, sem Bronwyn, um dia apó s sua chegada a Camps Bay. Ele
havia enviado a governanta para pedir os tamanhos de Kayla.
Bronwyn se sentiu um tanto constrangida perto de Celeste, a
governanta, que estava com eles desde o casamento há pouco mais
de quatro anos, mas a senhora a recebeu de volta com um sorriso
genuinamente caloroso. Bronwyn havia anotado os tamanhos e
mentalmente desejou-lhe boa sorte com Kayla, que inevitavelmente
se tornou um pesadelo em qualquer situaçã o de compras. Assim que
eles saíram, ela começou a se preocupar com os dois. Bryce poderia
achar Kayla mais do que um punhado com sua surdez, e Kayla
provavelmente entraria em pâ nico quando descobrisse que sua
mamã e nã o estava em lugar nenhum. Sua preocupaçã o nã o deu em
nada, porque os dois voltaram de suas compras como amigos e
totalmente inseparáveis daquele ponto em diante. Ela estava um
pouco ciumenta e ressentida com a facilidade com que Bryce havia
estabelecido uma posiçã o na vida de sua filha. Uma parte mesquinha
dela esperava que Kayla o incomodasse, mas sua filha o aceitou sem
protestar e parecia quase nã o sentir falta de Bron.
Apesar de seus profundos sentimentos de animosidade em
relaçã o a Bryce, Bronwyn tentou muito nã o os invejar desta vez
juntos, mesmo que apenas por causa de Kayla. A garotinha precisava
de Bryce em sua vida. E Bronwyn teve que reconhecer que a criança,
com sua energia ilimitada, teria esgotado suas ú ltimas reservas.
Agora ela acariciava amorosamente a criança afetuosa, atrasando o
momento em que ela realmente teria que olhar para seu marido
carrancudo. Quando ela conseguiu reunir coragem para olhar para
ele, ela foi surpreendida por uma expressã o de vulnerabilidade
desprotegida em seu rosto. A expressã o foi rapidamente fechada
quando ele percebeu que ela estava olhando para ele, e a carranca
habitual tomou seu lugar.
— O que você e papai fizeram esta manhã ? — ela perguntou a
Kayla, mantendo os olhos fixos no rosto dele para que ele nã o se
sentisse excluído.
— Brincamos de cavalinho... se mexa. — A criança riu de alegria
lembrada. Ela saltou no colo de sua mã e, e Bronwyn estremeceu
quando os sapatos de Kayla cravaram em suas coxas. — Se mexa
mamã e... se mexa, se mexa! — Bryce arrancou a criança do colo de
Bronwyn antes que ela pudesse fazer qualquer dano.
— Você está machucando sua mã e, — ele disse à criança com
sua voz cuidadosamente modulada. Ele falava muito baixinho, e
Bronwyn imaginou que ele tinha dificuldade em avaliar o volume de
sua voz. Ele o mantinha tã o baixo que à s vezes ela se esforçava para
ouvi-lo. Nã o que qualquer coisa que ele disse fosse dirigida a ela. Ela
imaginou que o volume de sua voz aumentaria proporcionalmente à
sua raiva, e ele estava sempre zangado com ela. Ele a encarou
pensativo por um tempo antes de chocá -la totalmente e se sentar ao
lado dela, colocando Kayla para brincar com os brinquedos que
estavam espalhados por todo o chã o.
— Você parece muito melhor, — ele observou, seus olhos
continuando a percorrer seu rosto e forma. — Nã o tã o magro, e você
está ficando com um pouco de cor em suas bochechas. Como você
está se sentindo?
— Melhor. — Ela assentiu. — Entediada. — Ele a chocou ao
agraciá -la com o menor dos sorrisos.
— Sim, você nunca foi conhecida por longos períodos de
inatividade. — Ele assentiu. — Você já pensou no que quer fazer
quando se recuperar? — Ela o encarou consternada, sem saber como
responder a essa pergunta. Ela nã o ousara pensar no futuro; ela nã o
tinha ideia do que Bryce queria dela. Ele esperava que eles
continuassem a viver juntos da mesma maneira sem alma pelos
pró ximos cinquenta anos ou mais? Porque Bronwyn nã o poderia
fazer isso. Ela se recusou terminantemente a viver assim por muito
mais tempo; ela preferiria se divorciar. Ele queria o divó rcio? Aliá s,
eles já estavam divorciados? Ela tinha certeza de apenas duas coisas;
ele queria sua filha, mas não queria Bronwyn.
— Eu nã o . . . o que você quer dizer?
Ele franziu a testa. — Nã o foi uma pergunta capciosa, Bronwyn,
— ele respondeu severamente.
— Nã o tenho certeza... Suponho que vou encontrar um lugar
para morar?
Ele nã o gostou da resposta dela. Isso era evidente pela maneira
como ele a encarava com raiva.
— Você nã o vai tirar Kayla de mim de novo, Bronwyn. Vocês
duas vã o ficar aqui. É melhor você se reconciliar com esse fato!
— Ficar aqui como o quê? — ela perguntou incisivamente. Um
divó rcio estava parecendo cada vez mais atraente agora. Ela nã o
tinha ideia de por que ela mesma nã o havia iniciado o processo há
muito tempo. Ela supô s que havia se apegado aos resquícios de um
casamento de conto de fadas que nunca existiu fora de sua
imaginaçã o.
— Minha esposa e minha filha, — ele respondeu com raiva, sua
voz aumentando marginalmente. — Eu poderia ficar sem a esposa,
mas percebo que é um pacote por enquanto, entã o estou disposto a
tolerar sua presença em minha vida novamente.
— Por quanto tempo você espera que continuemos vivendo
assim? — ela pressionou. Ela estava se esforçando muito para
manter a tensã o emocional longe de seu rosto.
— Viver como? Você conseguiu, Bronwyn, você nunca vai
querer nada, você tem tudo que precisa bem aqui. Sou eu quem fará
os sacrifícios, acorrentado à esposa que me aleijou e roubou minha
filha. Eu serei aquele sobrecarregado com uma esposa pela qual nã o
tenho absolutamente nenhum respeito. Mas eu quero minha filha e,
por enquanto, esta é a ú nica maneira de tê-la.
— Ah, por favor, Bryce, — ela retorquiu, seu rosto pá lido de
raiva e má goa. — Você nã o é exatamente o prêmio que pensa que é.
Se esqueceu que estarei presa num casamento sem amor com um
homem que me expulsou de casa quando lhe contei que estava
grávida dele. Um homem que me odeia sem motivo algum e que nã o
esconde o fato de que nã o me respeita. Como diabos você chama
isso? Prefiro que nos divorciemos e tentemos chegar a um acordo de
custó dia amigável. Kayla e eu poderíamos morar perto e...
— A ú nica outra opçã o que você tem aqui é se eu a tirar de
você, Bronwyn. Sem compromissos. Você mora aqui conosco ou vai
embora sem ela. O que é ser?
— Você nã o pode tirá -la de mim... — ela começou impotente,
ficando gelada quando ele puxou o tapete debaixo dela novamente.
Maldito seja, ele tinha todas as cartas e sabia disso. Sua bravata era
apenas uma postura vazia. Ela nã o tinha os recursos dele e, por
enquanto, teria que seguir sua linha até que pudesse encontrar uma
maneira de sair dessa confusã o.
— Não posso? — ele perguntou friamente. Ela se debateu sob
seu olhar firme, baixando os olhos para onde Kayla estava brincando
alegremente no chã o. — É melhor você começar a pensar no que
quer, Bronwyn. Fique ou saia. Mas se você ficar, sugiro que comece a
encontrar maneiras de tornar sua vida aqui mais tolerável.
— Mas e quanto a... — ela começou antes de morder a língua e
corar até os dedos dos pés. O rubor a entregou.
— Sexo? — ele perguntou, e ela assentiu miseravelmente. —
Bem, eu nã o sei sobre a sua, mas minha vida sexual está
perfeitamente bem. — Ele encolheu os ombros. —Naturalmente,
também nã o espero que você se prive. Se você está preocupado que
eu vá rastejar para sua cama em uma noite desesperada, nã o se
preocupe. Você é a ú ltima mulher no mundo com quem quero
dormir. — Sua expressã o era tã o desgostosa que os olhos de
Bronwyn se encheram de lá grimas de vergonha. Ela as afastou,
enfurecida pela demonstraçã o de fraqueza. Seu desprezo doeu mais
do que ela poderia ter imaginado. Ela olhou para a filha deles. A
garotinha que brincava inocentemente permaneceu alheia à tensã o
na sala, e Bronwyn ficou grata por isso. Ela concentrou sua atençã o
em Bryce.
— Você me quis outro dia, — ela o lembrou desafiadoramente,
e ele riu.
— Senti pena de você, — ele corrigiu. — Confie em mim,
Bronwyn, o simples pensamento de tocar em você me dá arrepios!
— Ela se encolheu e lutou desesperadamente para manter as
lá grimas sob controle e suas emoçõ es sob controle, mas uma ú nica
gota escaldante escapou para queimar seu rosto. Seus olhos
seguiram o progresso da lá grima. Sua mandíbula cerrou e sua
expressã o permaneceu sem emoçã o. Ele parecia um homem sob
enorme tensã o. Ela enxugou a umidade de seu rosto, querendo ser
tã o insensível quanto ele, mas falhou quando outra lá grima escapou.
Ela desviou o rosto, nã o querendo ver o desprezo em seus olhos e se
levantou enquanto procurava uma rota de fuga para fora da sala. Ele
também se levantou e ficou na frente dela, bloqueando seu caminho
para a saída, entã o ela se afastou dele e caminhou até uma das
janelas, olhando cegamente para o magnífico cená rio enquanto
lutava para controlar suas emoçõ es.
 

 
Ele observou suas costas estreitas tremerem enquanto ela
bravamente tentava se controlar. Maldita seja! Suas lá grimas sempre
tiveram o poder de desmanchá -lo, mas isso era algo que ela nã o
sabia, algo que ele nunca ousara revelar a ela por medo de que ela as
usasse como uma arma contra ele. Mas ele percebeu que Bronwyn
odiava que ele visse suas lá grimas. Ele podia vê-la lutando para ser
forte, mas ela era tã o transparente que cada emoçã o devastadora
aparecia claramente em seu rosto. O pró prio fato de que ela estava
tentando tanto esconder qualquer sinal de fraqueza dele fez com que
suas lá grimas fossem difíceis de ignorar. Ele cerrou os punhos e se
obrigou a permanecer onde estava, para nã o ceder à tentaçã o de ir
confortá -la.
Ela olhou para o oceano, mas nã o parecia estar admirando a
vista enquanto envolvia seus braços esguios ao redor de si mesma.
Ela parecia tã o incrivelmente solitá ria que quase o machucava
fisicamente nã o ir até ela. Mas Bryce se recusou a cair em sua
armadilha novamente; ele iria dar as ordens agora. Da ú ltima vez, ele
ficara tã o apaixonado por ela que mal conseguia enxergar direito. Se
lembrou da primeira vez que pô s os olhos nela, como a havia
encarado naquele dia, tentando descobrir o que achava tã o
fascinante nela.
Ela era alta, cerca de um metro e setenta e cinco, mas lhe faltava
a graça inerente a muitas mulheres altas. Na verdade, naquele
primeiro dia, ela parecia cair a cada cinco minutos. Ela nem era
bonita. Suas feiçõ es, tomadas separadamente, eram bastante
atraentes, um nariz longo e reto, boca exuberante, sobrancelhas altas
e arqueadas e os mais belos olhos castanhos com cílios grossos que
ele já vira. No entanto, quando reunidas em seu rosto estreito e oval,
essas características simplesmente nã o pareciam combinar. Ainda
assim, ele foi compelido a olhar fixamente por horas, afogando-se
cada vez que ela mudava aqueles enormes olhos castanhos
aveludados dela para ele.
Agora ele a observava com cautela, quase desejando nunca ter
visto a vadia traiçoeira. Ele a amaldiçoou por parecer uma criança
frá gil com seu cabelo castanho-escuro mal aparado encaracolado ao
redor de seu rosto onde havia escapado de seu rabo de cavalo
desleixado. Ele observou enquanto ela endireitou as costas,
chegando a algum tipo de resoluçã o, e se virou para encará -lo. Ela
caminhou em direçã o a ele até que eles estivessem separados por
menos de um metro.
— Eu vou ficar, — disse ela, sua bela boca formando as palavras
de forma concisa. Era um inferno, esse negó cio de leitura labial. Cada
vez que seu olhar caía em seus lá bios carnudos, ele se lembrava de
como eram. — Parece que nã o tenho outra escolha. Quando eu
estiver completamente recuperada e Kayla estiver instalada, quero
retomar meus estudos. — Ele assentiu; uma de suas objeçõ es à
gravidez dela era que ela estava no processo de obtençã o de seu
diploma de graduaçã o em zoologia, seu objetivo final de se tornar
veteriná ria. Ele nã o se sentia confortável com a ideia de ela desistir
disso e talvez um dia se ressentir dele e do bebê por ter que
sacrificar seus sonhos. Ele nã o conseguia se lembrar de ter dito isso
a ela na época, mas sabia que nã o tinha sido o mais ló gico depois de
ouvir a notícia de que ela estava grávida.
— Se este for um casamento aberto, — ela continuou, — vou
começar a sair com outras pessoas também. Tudo o que peço é que
sejamos o mais discretos possível, pelo bem de Kayla.
Ela pretendia ver outros homens? Esse pensamento nã o caiu
muito bem com ele, e ele abriu a boca para protestar antes de
lembrar que tinha sido sua pró pria ideia estú pida para ela nã o se
privar. Afinal, se ele nã o a queria, por que ela nã o deveria se sentir à
vontade para encontrar alguém que a desejasse? Algum outro cara
que iria abraçá -la e beijá -la? Alguém que estaria livre para enxugar
suas lá grimas e confortá -la? Algum outro homem que a amaria e
cuidaria dela? Alguém que faria o que Bryce nã o queria mais fazer?
Ele assentiu, esperando que nada da confusã o que estava sentindo
fosse evidente em seus olhos ou em seu rosto.
— Parece justo, — ele concordou suavemente antes de deixar
cair seu olhar incisivamente para o dedo anelar dela. — Mas
casamento aberto ou nã o, você tem que começar a usar suas alianças
de novo.
Bronwyn cobriu a mã o esquerda constrangida com a direita,
seus pró prios olhos caindo nas mã os fortes dele. Ela percebeu, nã o
pô de deixar de notar, que ele ainda usava sua aliança de casamento,
uma larga aliança de ouro e platina com um complexo desenho celta
que combinava com a aliança muito menor dela.
— Eu . . . Eu nã o as tenho, — ela confessou, e ele fez um som
impaciente no fundo de sua garganta.
— Sou surdo, lembra? — ele perguntou sarcasticamente. — Me
mostre sua boca quando falar! — Ela ergueu o rosto e encontrou seu
olhar com firmeza.
— Eu nã o as tenho.
— Você nã o tem os anéis? — ele perguntou incrédulo. — O que
diabos você fez com elas?
— Eu as vendi, — disse ela antes de fugir da sala, nã o querendo
ver a reaçã o dele a essa confissã o. Ela teria dado qualquer coisa para
manter aqueles anéis, embora eles passassem a simbolizar nada
além de mentiras.
 
CAPÍTULO QUATRO

Bronwyn realmente nã o esperava ver o belo Sr. Palmer novamente


depois daquela desastrosa primeira vez, mas lá estava ele,
esperando do lado de fora do restaurante na noite seguinte, apó s o
té rmino do turno dela. Ele parecia mal-humorado e incerto,
encostado na parede do lado de fora da entrada dos funcioná rios.
Quando ela o viu, ela hesitou, sem saber por que ele estava ali.
— Ah . . . senhor, você está esperando por alguém? Você
gostaria que eu entregasse uma mensagem? — Ele estava franzindo
a testa para ela em consternaçã o e parecia um pouco confuso.
— Você comeu? — ele perguntou inesperadamente, e ela
franziu a testa enquanto ela tentava entender a situaçã o bizarra.
— Na verdade, nã o. — Ela balançou a cabeça.
— Janta comigo? — O pedido foi tã o abrupto que demorou
alguns segundos para ser compreendido.
— Uh . . .
— Olha, eu sei como isso deve parecer, — ele reconheceu
rispidamente. — Mas garanto a você, nã o tenho o há bito de ficar à
espreita fora dos restaurantes e emboscar as funcioná rias com
convites para jantar. Eu nã o vou prejudicá -la de forma alguma. Nã o
sou um pervertido assustador nem nada. Eu acabei de... Eu acabei
de...
Ela esperou, observando em absoluto fascínio enquanto ele
franzia o cenho em frustraçã o e passava uma mã o agitada pelo
cabelo enquanto praguejava baixinho. Ele baixou o olhar para o chã o
enquanto fazia um esforço visível para reunir seu raciocínio
disperso.
— Deus, — ele estava murmurando para si mesmo. — Eu
pareço um psicopata completo... — Seus lá bios se curvaram em um
leve sorriso com o tom de desgosto da autodescoberta, mas ela
rapidamente o limpou de seu rosto quando ele voltou os olhos para
ela.
— Eu nã o tinha intençã o de voltar, mas queria ver você de novo.
— Por que?
— Eu nã o sei. — Ele parecia tã o perplexo que o sorriso voltou
aos olhos dela. — Você vai jantar comigo?
— Tudo bem, — disse ela levemente, e sua carranca se
aprofundou. Ele assentiu, afastando-se da parede e virando-se para
mostrar o caminho antes de parar para se virar para ela.
— Você nã o tem absolutamente nenhum senso de
autopreservaçã o? — ele rosnou, e as sobrancelhas dela se ergueram
em surpresa com seu tom severo. — Me prometa que depois desta
noite você nã o vai concordar em jantar com nenhum homem
estranho na rua! É perigoso. Há todos os tipos de loucos por aí.
Assassinos e estupradores e Deus sabe o que mais. Você tem que ter
mais cuidado, Bronwyn. Me prometa.
— Eu prometo, — ela jurou, um pouco atordoada por essa
proteçã o inesperada de um homem que ela mal conhecia.
Ele sorriu aliviado e ela notou, pela primeira vez, que ele tinha
uma covinha sexy na bochecha direita. — Bom. Entã o vamos comer...
 
 

 
 
 
 
 
Bryce estava com um humor imprevisível desde que ela confessou,
mais cedo naquele dia, ter penhorado suas alianças de casamento e
noivado. Bronwyn olhou para o marido nervosamente do outro lado
da mesa de jantar. Eles tendiam a jantar tarde, entã o Kayla tinha sido
alimentada e colocada na cama uma hora antes. Ela havia pensado
em pular o jantar, mas sabia que seria tolice perder qualquer
refeiçã o quando já estava tã o fraca, e comer em seu quarto seria a
saída covarde. Bryce insistiu, logo apó s sua chegada, que jantassem
juntos. Ele parecia querer que todos pensassem que isso era algum
tipo de reconciliaçã o feliz. Nã o que alguém além das criadas
estivesse por perto para vê-los juntos. Rick, Lisa e seu bebê de treze
meses, Rhys, haviam retomado as férias em família em Knysna e só
voltariam à Cidade do Cabo por alguns dias.
Bronwyn ainda estava impressionada com o quanto as coisas
haviam mudado desde que ela partiu. Ela se perguntou onde
estariam os amigos de Bryce. Pierre De Coursey, seu parceiro de
negó cios na DCP Jewelers Inc. e bom amigo, costumava ser um
visitante regular em sua casa; ela gostava do francês, embora
soubesse que ele devia ter se perguntado o que Bryce estava fazendo
com uma caipira de cidade pequena como ela.
— Onde está Pierre? — Ela se cansou do silêncio e decidiu
pegar o touro pelos chifres. Quando ela nã o recebeu resposta, ela
olhou para cima para encontrar Bryce contemplando sua taça de
vinho. Ela suspirou tristemente, percebendo imediatamente seu
erro. Ela acenou para chamar sua atençã o e ele olhou para cima
distraidamente. Ela repetiu a pergunta e ele franziu a testa.
— Você quer cerveja? — ele perguntou surpreso.
— Pierre De Coursey? — Ela usou o nome completo do francês,
esperando que isso ajudasse, e observou os lá bios de Bryce se
curvarem em diversã o, fazendo sua covinha piscar brevemente. Ela
ficou um pouco chocada com o humor autodepreciativo que viu nos
olhos dele.
— Desculpe, bs e ps, sabe? Junto com vs e fs e ts e ds. Pode ser
um pouco confuso quando nã o há contexto para um comentá rio ou
conversa. Posso me perder um pouco.
Ela assentiu e ousou dar um leve sorriso. — E o Pierre?
— Bem, ele nã o apareceu desde o meu retorno. Acho isso
bastante estranho, já que ele costumava vir na maioria das noites
antes... antes de... — A voz dela sumiu, e as sobrancelhas dele se
ergueram.
— Antes de você fugir? — ele inseriu suavemente.
— Antes de eu ser expulsa, — ela corrigiu, com a mesma
suavidade, farta de ser a vilã da peça. Suas sobrancelhas se ergueram
um pouco mais, mas ele deixou passar pela primeira vez.
— Pierre passa a maioria das noites em casa com sua família
hoje em dia.
— A família dele? — Pierre nã o era casado quando ela partiu.
— Sim, ele tem mulher e filho.
— Pierre De Coursey se casou? — Ela nã o conseguiu evitar o
choque em sua expressã o.
— Foi uma surpresa para mim também. — Ele sorriu
inesperadamente e parecia tanto com o que era antes que a boca de
Bronwyn ficou seca de desejo. — No ano passado, quase um ano
depois que você partiu, ele anunciou inesperadamente que ia se
casar. É certo que eu estava muito fora de serviço e nã o muito ciente
do que estava acontecendo no mundo ao meu redor na época, mas
Pierre, que era um visitante regular e preocupado e amigo, nunca
mencionou conhecer uma mulher que ele estava saindo sério o
suficiente para se casar.
Bronwyn estava tã o ocupado absorvendo a rara e reveladora
declaraçã o sobre sua convalescença apó s o acidente que seus
comentá rios sobre Pierre mal foram registrados. Para todos os
efeitos, parecia que Bryce havia se retirado do mundo apó s o
acidente e nã o se aventurara a voltar a ele. Ele parecia quase recluso
e quase nunca saía de casa. Na verdade, ela nã o conseguia se lembrar
de ele ter ido ao escritó rio uma ú nica vez desde seu retorno. Ele e
Pierre eram coproprietá rios de uma joalheria exclusiva que era
conhecida por seus acessó rios de grife que atendiam apenas aos
membros mais ricos nos segmentos mais rarefeitos da sociedade. A
empresa tinha filiais em todas as grandes cidades da Europa,
América do Norte e Á sia e recentemente abrira o capital na bolsa de
valores.
— Alice é fantá stica, — dizia ele. — Exatamente o que Pierre
precisa. — Desviada por isso, Bronwyn franziu a testa e voltou a se
concentrar na conversa.
— Pierre De Coursey se casou com uma mulher chamada Alice?
— De alguma forma, ela sempre imaginou Pierre, mesmo quando ela
pensou em uma ideia tã o absurda, como terminando com uma
mulher exó tica tanto no nome quanto na aparência.
— Sim. Ela é uma boa mulher, um pouco quieta, mas afiada que
um prego literalmente, — lembrou ele com carinho, e Bronwyn
conteve uma onda de inveja pelo calor de sua voz.
— Como eles se conheceram? — ela perguntou, curiosa.
— Hospital. Pierre estava me visitando e entrou na ala errada.
Alice tinha sofrido um acidente também, um acidente muito ruim
pelo que eu entendi. Ela estava inconsciente, aparentemente em
coma, e enquanto todos os outros pacientes na sala tinham cartõ es e
flores, Alice nã o tinha nada. Nã o sei, acho que Pierre sentiu um
pouco de pena dela, entã o ele a visitava todos os dias quando vinha
me visitar e logo soube que ela nã o tinha família e que acabara de se
mudar de Joanesburgo para cá , o que significava que ela ainda nã o
teve tempo de fazer amizade com ninguém. Ele continuou a visitá -la
mesmo depois da minha alta do hospital. Ele trouxe flores para ela e
conversou com ela durante meses, até que um dia ela abriu os olhos,
sorriu e disse: “É você”. — Bryce deu de ombros. — Dane-se se eu sei
o que isso significa, mas Pierre se apaixonou forte e rá pido. Eles se
casaram alguns meses depois, depois que Alice convalesceu o
suficiente para caminhar até o altar sem ajuda.
— Ah, que histó ria linda. — Bronwyn sorriu vagamente e Bryce
revirou os olhos.
— Como é típico de uma mulher achar isso româ ntico, — ele
zombou.
— Você nã o acha que é româ ntico?
— Acho que Pierre apenas gostava de se sentir necessá rio e
gostava da ideia de ter alguém quase totalmente dependente dele.
Acontece! O amor pode ter vindo depois, mas inicialmente, na minha
opiniã o, foi só isso. Os homens tendem a gostar quando as mulheres
despertam nossos instintos protetores; isso nos faz sentir heroicos.
— Parece que você está falando por experiência pró pria, — ela
nã o pô de deixar de apontar, e ele zombou.
— Por que diabos você acha que eu continuei voltando para
você? — Ela sabia que estava chegando, mas nã o conseguiu evitar se
precipitar naquelas á guas profundas e escuras. — Você me fez sentir
como um heró i conquistador. Você continuou olhando para mim com
aqueles olhos de corça, e eu senti como se pudesse conquistar o
mundo. É uma coisa inebriante ser elevado a um status quase divino
assim. Eu nunca deveria ter deixado as coisas irem tã o longe. Você
era uma coisinha ingênua e eu aceitei tudo que você ofereceu, mas
quando fizemos sexo e eu soube que você era virgem, nã o tive outra
opçã o a nã o ser fazer a coisa certa, nã o é? Especialmente desde que
fomos tã o estú pidos e descuidados na primeira vez. Embora eu nã o
gostasse muito da ideia de ter filhos, nã o queria que nenhum filho
meu crescesse sem o meu nome.
— O que você está tentando dizer? — Ela perguntou baixinho,
feliz pela primeira vez que ele nã o podia ouvir a emoçã o em sua voz,
mas incapaz de esconder as lá grimas brilhando em seus olhos. —
Que nosso casamento foi baseado em uma mentira?
— Sem mentira. — Ele encolheu os ombros. — Bem, ok, talvez
uma mentira por omissã o. Eu nunca disse a você por que estava
pedindo em casamento.
— Eu pensei... — que você me amava. Ela nã o conseguiu dizer
as palavras, e sua voz desapareceu em nada.
— Eu sei o que você pensou, mas achei melhor permitir que
você continuasse acreditando em seu conto de fadas felizes para
sempre. — Nã o havia absolutamente nada que ela pudesse dizer em
resposta a isso, e ela o encarou com seus olhos enevoados. Ele
quebrou o contato visual primeiro e levou o copo aos lá bios,
tomando um grande gole. Por um segundo ela teve quase certeza de
que a mã o dele estava tremendo, mas ele rapidamente a abaixou e
ergueu o olhar para encontrar o dela mais uma vez. Nã o havia nada
além de desdém naquele olhar, e ela sabia que havia imaginado o
leve traço de vulnerabilidade. — Gostaria de conhecer Alice? Tenho
certeza que vocês duas vã o se dar bem.
Surpresa pela sú bita mudança de assunto e pela inesperada
gentileza em sua voz, ela assentiu, impotente. Ela havia perdido
contato com todos os amigos que fizera na universidade. Ela tentou
entrar em contato com alguns deles desde seu retorno. Claro, a
maioria deles havia feito pó s-graduaçã o, alguns deixaram a cidade
para continuar seus estudos em outro lugar, mas os que
permaneceram nã o demonstraram nenhum desejo real de reatar sua
amizade com ela. Se ela pudesse fazer amizade com a esposa de
Pierre, ajudaria muito a evitar a solidã o esmagadora que ela estava
começando a sentir nesta casa.
— Gostaria disso. — Ela baixou os olhos para o prato,
levantando a faca e o garfo na tentativa de fingir que nada estava
errado, mas o tremor violento em suas mã os a fez mentirosa, e ela
nã o teve escolha a nã o ser colocar os talheres de volta na mesa. Ela
realmente nã o deveria estar tã o devastada por saber que tudo o que
ela inicialmente acreditou sobre seu casamento era uma mentira.
Como sua crença de que Bryce se casou com ela porque a amava
quando nunca a amou. Suas revelaçõ es nã o deveriam ser surpresas,
nã o depois do jeito que ele a tratou dois anos atrá s. Ainda assim,
suas palavras machucaram muito mais do que deveriam; parecia que
ela havia levado um soco no estô mago e a dor era implacável.
— Vou convidá -los para jantar amanhã à noite. Pierre e eu
temos negó cios para discutir de qualquer maneira, — ele disse
suavemente, e ela assentiu, abaixando a cabeça ainda mais,
petrificada que ele pudesse ver suas lá grimas. Ela olhou embaçada
para o prato, mas mal conseguia ver o conteú do. Para seu horror
absoluto, ela sentiu as lá grimas escaldantes transbordando e
observou enquanto elas pingavam em seu prato. Com um som
agonizante, ela rapidamente se levantou, esfregando o rosto no
processo.
— Eu... com licença... — Ela deu uma breve olhada em seu rosto
sombrio e, incapaz de suportar mais, ela fugiu, ouvindo sua maldiçã o
abafada ao sair. Houve um silêncio horrível, seguido por um estrondo
igualmente horrível quando Bryce aparentemente jogou algo contra
a parede. O som de vidro quebrando a estimulou e ela subiu as
escadas e entrou em seu quarto como um tiro. Felizmente, o barulho
violento nã o acordou Kayla, e Bronwyn se encolheu como uma
pequena bola no centro de sua cama, deixando as luzes apagadas,
precisando do escuro para lamber suas feridas abertas em particular.
 
 

Ela tinha acordado em seus braços. Bronwyn sorriu de


contentamento e se aconchegou mais perto. Seus braços fortes
apertaram ao redor dela e ele beijou o topo de sua cabeça quase com
reverência. Eles estavam se vendo há apenas um mês, mas a química
entre eles era tã o potente que nã o demorou muito para Bronwyn
esquecer todas as advertências de sua avó sobre os homens e seus
“apetites lascivos”. Na verdade, ela achava que tinha sido
particularmente forte em nã o ceder muito antes; Bryce era um
beijador muito persuasivo, e esta noite nã o demorou muito para eles
caírem juntos na cama. Fora sua primeira vez e Bryce ficara um
pouco chocado com a descoberta. Ele tinha sido terrivelmente gentil
e incrivelmente minucioso em se certificar de que ela estava
completamente satisfeita. Ele nã o tinha deixado um centímetro de
seu corpo inexplorado. Agora ela estava mole, saciada e se
perguntando quando eles seriam capazes de fazê-lo novamente. Ela
moveu a coxa experimentalmente, mas ainda o achou
decepcionantemente despreparado para um segundo assalto.
—Me dê um segundo, — ele gemeu. — Você me esgotou, droga.
Preciso recuperar minhas forças!
— Você simplesmente nã o consegue me acompanhar, nã o é? —
Ela ronronou provocativamente e ele rosnou antes de virá -la de
costas, prendendo-a e beijando-a profundamente. Ela o sentiu mexer
contra ela e sorriu contra seus lá bios.
— Agora está mais do meu agrado, — ela murmurou
encorajadoramente, e ele sorriu, levantando a cabeça para olhar para
ela. O sorriso desapareceu abruptamente e seus olhos ficaram
prateados com desejo e algo mais profundo, algo tã o ternamente
doloroso que fez o coraçã o de Bronwyn derreter.
— Nã o consigo me lembrar da minha vida antes de você, — ele
disse maravilhado. — Nã o consigo me lembrar de mim sem você. Eu
nunca quero deixar você ir. Me diga que você vai se casar comigo. . .
por favor?
— Bryce? — ela sussurrou incerta.
— Bronwyn Kirkland, quer se casar comigo? — ele perguntou
quase desesperado. Ela ficou tã o impressionada com as palavras dele
que nã o pô de fazer nada além de assentir.
— Sim, sim, Bryce, eu te amo tanto, — ela conseguiu sussurrar,
sua voz cheia de lá grimas de alegria.
— Shhh... nã o chore... — ele acalmou enquanto deslizava
suavemente em seu corpo acolhedor. — Sem mais lá grimas. Nó s
vamos ser tã o felizes juntos.
 

Ela acordou em seus braços, sentindo-se aquecida e protegida.


Bronwyn teve uma sensaçã o vertiginosa de déjà vu enquanto lutava
para se orientar. Ela nã o podia acreditar que tinha adormecido
depois do tumulto emocional no jantar - ela estava tã o certa de que
seus pensamentos tumultuados a manteriam acordada. Ela tinha o
rosto pressionado contra o peito dele e podia sentir o coraçã o dele
batendo firmemente sob sua bochecha.
— Bryce? — ela sussurrou timidamente, sem saber onde seus
sonhos terminavam e a vida real começava. Talvez ela estivesse
acordando agora depois de sua primeira vez juntos e tudo no meio
nã o passou de um sonho vívido. Ele nã o se mexeu e ela se moveu
inquieta contra ele, sentindo seus braços apertarem
possessivamente ao redor dela. Suas grandes mã os começaram a
acariciar suas costas vagarosamente e ela se aninhou mais perto,
deleitando-se com o conforto e nã o totalmente pronta para
abandoná -lo ainda. Ela ainda nã o tinha certeza se isso era um sonho
ou real, mas ela nã o se importava mais; ela estava nos braços de
Bryce exatamente onde ela pertencia.
Suas mã os quentes rastejaram sob a fina blusa de algodã o que
ela usava até que suas palmas secas encontraram a pele macia e nua
de suas costas esguias. Ela respirou fundo com o contato eletrizante
e se arqueou para ele com um leve gemido. Parecia uma eternidade
desde que ele a tocou pela ú ltima vez. Suas mã os deslizaram sobre
seu peito largo, sentindo o calor de sua pele através do tecido fino de
sua camiseta. Ela olhou para cima, tentando ver seu rosto no escuro,
mas nã o conseguiu ver nada, exceto o brilho de seus olhos.
— Bryce... — ela murmurou sonhadoramente, meio adormecida
e ainda perdida na memó ria de seu sonho. Ela levou a mã o ao rosto
dele. Ela adorava a sensaçã o de sua mandíbula barba por fazer sob
sua mã o. Ele fez um leve som e abruptamente abaixou a cabeça para
capturar seus lá bios macios e surpresos com sua boca dura e
exigente. O beijo foi muito mais cruel do que ela esperava; ela
esperava gentileza, nã o essa carícia quase violenta. Ainda era Bryce,
seu amado Bryce, e ela nã o negaria nada a ele. Seu beijo suavizou e
tornou-se quase desesperado quando ele se inclinou para ela e sobre
ela, até que ela estava deitada de costas e ele estava embalado entre
suas coxas abertas. Ele pairava sobre ela, sem abrir mã o do contato
com sua boca macia, e ela gemeu quando passou os braços
firmemente em volta do pescoço dele, nã o querendo deixá -lo ir
nunca mais.
Ele finalmente subiu para respirar e se atrapalhou com os
botõ es da blusa dela, enquanto ela puxava a camiseta dele e a
arrastava por sua cabeça antes que ele conseguisse abrir nem
metade dos botõ es. Perdendo a paciência, ele rasgou a peça frá gil,
espalhando botõ es de madrepérola por toda parte. Bronwyn riu e
Bryce parou abruptamente.
— Eu senti falta da sua risada... — O som de sua voz sexy e
esfumaçada a assustou e a deixou totalmente desperta. — Eu sempre
amei sua risada. — Ele parecia tã o melancó lico que Bronwyn
desejou poder ver seu rosto. Ela levantou uma mã o curiosa para sua
boca, mas ele se inclinou para trá s, negando-lhe o contato.
— Bryce o quê... — ela começou a dizer, mas ele xingou
baixinho antes de se inclinar para o lado e acender a lâ mpada de
cabeceira. O presente indesejável imediatamente forçou seu caminho
para o quarto quando Bronwyn se viu olhando para as feiçõ es
á speras de um Bryce mais velho e mais severo do que aquele com
quem ela acabara de sonhar. Este nã o era o homem por quem ela
havia se apaixonado; este homem tinha cicatrizes de batalha e a
odiava mais do que ela jamais acreditou ser possível.
— Eu quero ver você, — ele murmurou asperamente. —
Quando você fala, eu quero saber o que você está dizendo! Quando
você ri, quero ver seus olhos brilharem, e quando eu fizer você
gozar... — sua voz baixou sensualmente — ...quero ver você gritar
mesmo que eu nã o consiga ouvir.
— Eu nã o acho... — ela começou incerta, preferindo fazer amor
com ele no escuro, onde poderia se enganar acreditando que ele era
o velho Bryce, aquele que fingiu amá -la, mesmo que agora afirmasse
que nunca a amou. Uma pontada de agonia a perfurou ao recordar
sua confissã o no jantar, e ela tentou se afastar dele, mas ele nã o
permitiu. Ele a prendeu no colchã o, seus olhos perfurando os dela,
de forma que ela foi incapaz de esconder sua dor dele. Suas
sobrancelhas se abaixaram em uma carranca intimidadora, e ela se
encolheu, imaginando que comentá rio mordaz ele tinha reservado
para ela desta vez.
— Você estava chorando no jantar, — ele disse quase
acusadoramente.
— O que você espera? — ela perguntou amargamente. — Você
nã o pode continuar me cortando sem derramar meu sangue, Bryce.
— Que drama. — Ele sorriu causticamente. — Nã o chore de
novo, isso me irrita! — A exigência era tã o ridiculamente petulante
que ela o olhou boquiaberta. Ele aproveitou sua boca aberta e
mergulhou para outro beijo faminto.
— Eu quero você, — ele gemeu, esfregando-se contra ela para
que ela nã o tivesse problemas em entender o que ele queria dizer. —
Eu quero fazer amor com você. — Ele levantou a cabeça para olhá -la,
tentando avaliar sua receptividade.
— Só que nã o é “fazer amor”, é? — ela perguntou amargamente.
— Sem amor nã o passa de sexo barato. — Ele fez um pequeno som
consternado e cobriu a boca dela com a sua antes que ela pudesse
dizer mais alguma coisa. Bronwyn logo esqueceu tudo enquanto sua
boca tecia um feitiço sedutor sobre ela. Seus dedos perversos
pareciam estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e sua boca
logo os seguiu.
Ele fez uma pausa quando alcançou seus seios sem sutiã e os
encarou por um longo momento. Bronwyn se contorceu
desconfortavelmente enquanto lutava contra o desejo de cruzar os
braços sobre seus pequenos bens. Ela sempre teve vergonha de seus
seios pequenos, mas Bryce sempre os amou. Agora ele estava
olhando para eles quase analiticamente, e ela se viu corando até a
raiz do cabelo.
— Eles nã o mudaram, — ele murmurou, levantando os olhos
quase relutantemente para encontrar os dela. — Eu esperava que
eles fossem diferentes... você sabe, depois de Mikayla?
— Nã o consegui amamentá -la. — Ela deu de ombros. — Fiquei
doente por um tempo apó s o parto e, quando me recuperei, ela
estava na mamadeira e meu leite havia secado. — Seus olhos
escureceram.
— Doente? — Nã o querendo discutir isso agora, Bronwyn o
distraiu da ú nica maneira que sabia, ela arqueou as costas até que
seus mamilos roçassem seu peito nu. Ela sibilou quando eles fizeram
contato com a carne quente e sedosa que estava levemente
polvilhada com pelos macios e dourados. Ele gemeu com o contato e
baixou os olhos de volta para os seios dela; eram apenas um
punhado - pequenos montes cremosos com pontas vermelho-
framboesa. Sua respiraçã o ficou presa em um soluço de puro desejo,
e ele se abaixou e fez o que ela ansiava que ele fizesse: ele levou uma
das pontas distendidas em sua boca. Ela gritou, quase saindo da
cama com o choque elétrico que varreu seu corpo, e ele levantou a
cabeça para sorrir para ela.
— Eles ainda sã o tã o sensíveis quanto eu... — Ele foi
interrompido quando ela ergueu as mã os impacientes e puxou sua
cabeça para trá s, forçando-o a se concentrar na tarefa em mã os. Ele
riu perversamente e começou a dar a ela o que ela queria com tanto
entusiasmo quanto ela estava pegando.
Logo ambos estavam completamente nus, e Bryce parou acima
dela, seus braços plantados em cada lado de sua cabeça enquanto se
mantinha no alto. Ele olhou para o rosto dela com uma intensidade
que a enervou, antes de estender a mã o para a cô moda e abrir uma
gaveta para pegar uma camisinha. Por um momento doloroso,
Bronwyn se perguntou por que ele tinha um estoque prá tico de
preservativos na gaveta, antes de falar novamente, distraindo-a
imediatamente.
— Ainda há tanta inocência naqueles olhos, tanta confiança,
eles ainda me encaram com tanta adoraçã o, — ele murmurou, meio
para si mesmo enquanto colocava a camisinha. — Como seus olhos
podem dizer tais mentiras? — Chocada com o quase ó dio em sua voz,
Bronwyn engasgou de horror ao reconhecer que esse ato sexual, se
concluído, seria outro meio cruel de machucá -la, apenas outra arma
para usar contra ela. Antes que ela tivesse a chance de formular
qualquer tipo de protesto, ele a penetrou com uma gentileza que
desmentia suas palavras duras e tomou o que ela havia oferecido tã o
descuidadamente e livremente momentos atrá s. Ela estava tã o
preparada para isso que, apesar de tudo, ela gemeu e suas coxas
esbeltas se apertaram ao redor de seus quadris. Suas longas pernas
envolveram sua cintura enquanto ela o recebia de volta em seu
corpo. Ele ficou completamente imó vel, e ela abriu os olhos para vê-
lo olhando para ela triunfante. Seus olhos se encheram de lá grimas e
ele olhou para ela.
— Nã o se atreva, — ele advertiu sombriamente. — Nã o chore.
— Ela nã o pô de evitar, as lá grimas transbordaram mesmo enquanto
ela se empurrava contra ele. Ele gemeu e encontrou sua estocada
com uma das suas.
— Nã o chore.
Bronwyn se viu choramingando desesperadamente no ritmo de
suas estocadas, mesmo enquanto suas lá grimas continuavam a fluir
e seu coraçã o continuava a se partir.
— Por favor, nã o. Por favor, nã o, — ele continuou a quase
implorar, beijando as lá grimas. Sua ternura atuou como um bá lsamo
para sua alma devastada e trabalhou para acabar com o choro como
nada mais poderia fazer. — Minha linda, Bronwyn...
Seu corpo se arqueou quando as sensaçõ es aumentaram e ele
estendeu a mã o entre seus corpos para encontrar seu pequeno e
sensível clitó ris. Seu polegar longo e inteligente esfregou a
protuberâ ncia excitada e isso, combinado com sua espessura dentro
dela, a enviou arremessada sobre a borda da razã o. Sua respiraçã o
engatou em seu peito e sua cabeça se inclinou para trá s enquanto
seu corpo inteiro convulsionava e se apertava ao redor dele. Ela
gritou quando o poderoso orgasmo a percorreu, e Bryce meio que
riu incrédulo.
Ele nã o conseguia tirar os olhos dela. Ele estava tã o absorto em
seu clímax que o pró prio o pegou completamente de surpresa. Ele
gritou com a voz rouca enquanto seu corpo inteiro resistia e ele
estremeceu uma vez, duas vezes antes com outro grito - o nome dela
- ele se derramou nela com um soluço quebrado. Seus olhos se
fecharam quando seu cérebro desligou e seu corpo ficou mole. Ele se
mexeu apenas para remover a camisinha antes de cair ao lado dela
novamente, deixando cair um braço pesado sobre sua cintura.
— Sinto falta dos seus pequenos sons ofegantes. — Ele quebrou
o silêncio cinco minutos depois, depois que seus batimentos
cardíacos e respiraçã o voltaram ao normal, assim como Bronwyn
estava começando a se sentir estranha e se perguntando e agora? —
Aquelas palavrinhas ofegantes meio formadas, Deus elas
costumavam me excitar mais do que você pode imaginar. — Ela
levantou a cabeça de seu peito para olhá -lo fixamente.
— Você nunca mencionou isso antes, — ela apontou, e ele
sorriu.
— Porque eu sabia que, se eu dissesse qualquer coisa, você
imediatamente se sentiria constrangida. — Seu sorriso reminiscente
tornou-se um sorriso perverso. — E eu nã o queria que você ficasse
tensa em momentos cruciais.
— No entanto, você se sente confortável o suficiente para me
contar sobre isso agora? — ela perguntou, curiosa, e ele bufou.
— Eu nã o posso mais ouvi-los, — ele apontou, e ela ficou tensa.
— Portanto, ficar constrangida com qualquer som que você produz
enquanto estamos fazendo amor é um pouco inú til.
— Você vai me contar o que aconteceu com você, Bryce? — ela
perguntou fracamente, e foi a vez de ele ficar tenso. — Ou você nunca
vai me dar a oportunidade de me defender?
— Você estava lá , — ele lembrou severamente, e ela franziu a
testa irritada.
— Por que você continua dizendo isso? O que quer dizer com
eu estava “lá”? — ela perguntou com raiva. — Onde diabos eu
estava?
— Lá quando sofri meu maldito acidente! — ele retrucou antes
de se lançar para fora da cama e andar furiosamente pelo quarto,
procurando por suas roupas. Ela saltou também e andou em torno
de suas costas até que ela estava de frente para ele novamente. Ela
estava totalmente nua, mas nã o se importava mais com nada, exceto
chegar ao fundo dessa estranha acusaçã o.
— Eu não estava lá quando você sofreu o acidente! — ela
retrucou indignada.
— Eu vi você, — ele forçou as palavras entre os dentes
cerrados.
— O que? — Ela estava completamente perplexa agora. — Me
viu onde? Bryce, nem sei quando você sofreu o acidente. Por favor,
apenas me diga o que aconteceu!
— Me dó i ter que te contar algo que você já sabe, Bronwyn, —
ele rangeu os dentes. — Você está me fazendo de bobo e eu nã o
gosto disso! — Ele se moveu para contorná -la, mas ela colocou as
mã os contra seu peito largo para detê-lo. Ele se sentia tã o imó vel
quanto um bloco de granito.
— Por favor, apenas... apenas... — Seus olhos imploraram
quando as palavras falharam.
— Eu fui atrá s de você naquela noite, quando você saiu
correndo daqui como um morcego saindo do inferno, — ele disse tã o
baixinho que seus lá bios mal se moveram. —Como você sabia que eu
faria. Você estava indo tã o rá pido que fiquei com medo de que você
se envolvesse em um acidente. — Seus lá bios se torceram com
aquele pedaço de ironia. —Levei alguns minutos para tirar meu
carro, entã o, quando saí na direçã o que você tinha ido, você havia
desaparecido. Eu estava frenético e nã o estava prestando atençã o em
nada ao meu redor. Eu estava tã o concentrado em tentar localizar
seu carro que nã o vi o casal atravessando a rua até que fosse tarde
demais. Desviei para evitá -los e o carro capotou. Eu estava entrando
e saindo da consciência, preso no carro, quando vi você parado no
meio da multidã o, olhando para mim com nada além de desprezo
gelado em seu rosto... sua vadia sem coraçã o! — Ele sibilou
ferozmente. — Você se virou e foi embora sem sequer olhar para
trá s.
— Eu nem fiquei surpreso quando acordei três dias depois na
UTI para ser informado de que você nem se deu ao trabalho de
visitar ou ligar. Eu nã o poderia ter me importado menos se nunca
mais visse você, mas pelo fato de que você estava tendo meu bebê.
Você estava tendo meu bebê e simplesmente desapareceu da face da
terra, é de se admirar que eu te odeie? Nã o só o meu acidente é culpa
sua, mas você se afastou de mim quando eu estava mais vulnerável,
quando eu mais precisava de você, e você levou minha filha com
você!
O rosto de Bronwyn estava pá lido de choque com sua histó ria.
Ela ansiava por pensar na agonia que ele devia ter passado naquele
hospital, imaginando sobre seu bebê, mas também estava cheia de
fú ria e ofensa por ele ousar pensar que ela poderia fazer algo tã o
terrível quanto se afastar dele enquanto ele estava ferido e
sangrando. Sem mencionar sua declaraçã o ridícula de que o acidente
foi culpa dela quando ele causou toda a situaçã o lamentável.
— Eu admito, — ela começou calmamente, com sarcasmo mal
reprimido, — que talvez o acidente tenha sido minha culpa porque
por algum motivo maluco achei melhor fugir depois que você me
expulsou de casa bem quando eu mais precisava de você. Mas eu
absolutamente me recuso a ouvir essa bobagem sobre eu ficar
impassível na beira da estrada enquanto você sangrava e estava
preso em um carro. Ou, pior, ir embora enquanto ainda estava no
carro!
— Eu nã o sabia que você tinha sofrido um acidente até o dia em
que entrou no meu quarto de hospital. Jamais teria ficado parada
vendo você sofrer, e se soubesse que você estava no hospital,
nenhuma força do céu ou do inferno teria me afastado de sua
cabeceira, porque, mesmo que você tivesse me tratado como algo a
ser descartado no fundo da sua bota, eu ainda te amava tanto! — Ele
começou a dizer algo, mas ela levantou a mã o.
— Nã o. Você teve sua vez; é justo que eu tenha a chance de me
defender disso... esse insulto! Nã o pensei que você viria
imediatamente atrá s de mim - você estava com uma raiva tã o
irracional que eu sabia que precisava de um tempo para se acalmar.
Fui direto para a casa de praia em Knysna. Parei apenas para breves
intervalos para ir ao banheiro e percorri a distâ ncia em pouco menos
de cinco horas e meia. Eu estava confiante de que, assim que você
tivesse tempo para se acalmar e pensar, mudaria de ideia sobre o
bebê.
— Eu vi você, — ele manteve, claramente nã o acreditando nela.
— Vi você com meus pró prios olhos!
—Você estava entrando e saindo da consciência; você estava em
choque e com dor... — ela apontou razoavelmente. — Você nã o acha
que talvez estivesse delirando também? Vendo coisas que nã o
estavam lá ?
Ele franziu a testa e balançou a cabeça.
— Nã o, claro que nã o, — ela zombou. — Nã o Bryce Palmer, ele
nunca comete erros.
— Maldita seja você, — ele rosnou. — Eu sei o que vi... você
estava parada lá parecendo impassível e completamente indiferente.
— Isso? — Ela acenou com a mã o para frente e para trá s entre
seus corpos nus. — Essa coisa que acabou de acontecer entre nó s?
Foi um erro que nã o deveria ser repetido. Eu nunca deveria ter
deixado você me tocar, mas você me pegou em um momento de
completa fraqueza. Isso acaba agora. Eu nã o vou permitir que um
homem que apenas algumas horas atrá s disse que eu faço sua pele
arrepiar me use assim novamente. Agora, se me der licença, preciso
de um banho — informou ela, vacilante. Nã o havia realmente nada
que ela pudesse dizer ou fazer agora para provar que ela nã o estava
lá naquele dia. Ela nã o sabia se conseguiria convencê-lo de que nã o
estivera lá . Ele parecia tã o convencido.
Que um homem que ela pensou que a amava pudesse acreditar
em algo tã o indescritível sobre ela era incrivelmente doloroso. Bryce
estava completamente absorto em seus pensamentos e nem pareceu
notar quando ela saiu da sala. Bronwyn escapou para o banheiro da
suíte e trancou a porta atrá s de si, com medo de que ele entrasse e a
bombardeasse com mais motivos para nã o acreditar nela. Ela abriu o
chuveiro o mais quente que pô de, mas estremeceu sob o jato
implacável. Deus, se ele passou os ú ltimos dois anos acreditando em
algo tã o terrível sobre ela, nã o era de admirar que a odiasse tanto.
Era um obstá culo que nã o poderia ser facilmente superado porque
ele tinha firmemente em sua cabeça que ela o havia traído da pior
maneira possível, deixando-o literalmente quebrado e sangrando.
Ela sabia como sua mente teimosa de marido funcionava. Em
seu modo de pensar, todos os seus pecados agora foram substituídos
por sua “traiçã o imperdoável”. Muito conveniente para ele. Fazia todo
o sentido que ele acreditasse em algo assim sobre ela. Era mais fá cil
para ele culpá -la e odiá -la do que lidar com o fato de que, devido a
suas pró prias açõ es impensadas, ele havia perdido sua esposa, sua
filha e sua audiçã o na mesma noite. Infelizmente, ele nã o duvidou do
que viu naquela noite e, embora Bronwyn pudesse entender por que
sua mente havia fabricado esse bizarro mecanismo de defesa, ela nã o
podia perdoá -lo.
Ela se curvou e cruzou os braços em volta da barriga, com medo
de passar mal. Ela engoliu a ná usea e recostou-se contra os ladrilhos
do box, escorregando contra a parede até ficar sentada no chã o com
os joelhos levantados contra o peito. Ela estava com o rosto
enterrado nos joelhos e os braços cobrindo a cabeça.
Ela nã o sabia quanto tempo ficou ali sentada tremendo, incapaz
de se aquecer, incapaz até mesmo de chorar enquanto tentava lidar
com o choque de saber o quanto seu marido a desprezava. O borrifo
em forma de agulha parou de repente e Bronwyn levantou a cabeça
hesitante, um pouco desorientada pela sú bita cessaçã o da á gua. Ela
olhou para cima para encontrar Bryce parado na entrada do
chuveiro e ficou perplexa com sua apariçã o inesperada.
— Mas eu tranquei a porta, — ela murmurou em uma voz baixa
que ele poderia nã o ter ouvido se tivesse ouvido.
— Você esqueceu de trancar a outra porta, — ele apontou
baixinho, capaz de ler os lá bios dela apesar do vapor, e ela gemeu,
lembrando que o luxuoso banheiro era compartilhado por dois
quartos. — Vamos lá , Bron... você precisa secar. Você vai ficar doente
de novo. — Ela notou, pela primeira vez, que ele tinha uma enorme
toalha de banho branca e felpuda sobre as mã os. Ela assentiu, mas
nã o se mexeu, e Bryce a chocou ao entrar no box molhado, sem se
importar com o fato de que ele usava meias e vestia uma cueca
samba-cançã o limpa e uma camiseta. Ele se agachou na frente dela e
colocou a toalha de banho em seus ombros, ajudando-a no processo.
— Você está aqui há quase uma hora, — ele a informou
sombriamente. Ela inclinou o rosto para ele, ainda tremendo
violentamente.
— Eu... Eu n-nã o consegui me aquecer, — ela gaguejou, e ele
franziu a testa, evidentemente nã o entendendo isso, mas
provavelmente entendendo a essência disso. Ele passou os braços ao
redor dela e arrastou seu corpo nu e molhado para o dele. Ele a
segurou tã o forte e tã o perto que o tremor diminuiu quase
imediatamente. Ele a levou para fora do chuveiro e destrancou a
porta, levando-a de volta ao quarto principal. Ele gentilmente a
conduziu para a cama e a sentou na beirada, ajoelhando-se na frente
dela enquanto a enxugava com a toalha felpuda.
— Você está molhado, — ela observou insensatamente,
notando a umidade de sua camiseta e shorts enquanto ela tentava
nã o olhar para suas pernas musculosas nuas. Ele havia tomado
banho também, se seu cabelo ú mido indicasse alguma coisa. Ele
pegou as palavras dela porque estava olhando diretamente para ela
quando ela as disse e encolheu os ombros em resposta.
— Eu vou secar, — ele dispensou. Ela notou que ainda estava
escuro lá fora e fez uma careta. Ela verificou a hora no despertador
em seu pedestal de cabeceira; era pouco depois das três e meia.
— Por que você veio ao meu quarto esta noite? — ela
perguntou com a voz rouca, e embora ela estivesse olhando
diretamente para ele quando perguntou, ele nã o respondeu. Em vez
disso, baixou os olhos e continuou a enxugá -la. Ele a deixou
brevemente para ir ao banheiro e voltou momentos depois com uma
toalha menor para o cabelo dela.
— Teremos que secar isso, — ele estava murmurando. — Você
tem estado tã o doente; nã o acho que seria sensato você dormir com
o cabelo molhado. Onde está seu secador? — Ela apontou para a
cô moda e ele a pegou, ignorando o movimento brusco de protesto
que ela fez. Ele a depositou no assento acolchoado em frente à
penteadeira, e Bronwyn se deparou com seu pró prio reflexo abatido.
Ela estava uma visã o; seu rosto estava magro e anormalmente
pá lido, e seus olhos pareciam febrilmente brilhantes e
excessivamente grandes. A toalha ainda estava enrolada em seus
ombros, mas havia se aberto para revelar o corpo magro por baixo.
Aos olhos de Bronwyn, ela parecia muito magra, e ela se perguntou
como Bryce conseguiu tocá -la quando ela estava assim. Ele ligou a
má quina e começou a secar o cabelo dela, passando os dedos por ele
com uma ternura á spera. Ela piscou surpresa e lentamente levantou
as mã os em uma tentativa de tirar o secador dele.
— Eu posso fazer isso, — ela protestou. Ele ergueu a má quina
fora de seu alcance e observou-a no espelho até que ela deixou cair
os braços em resignaçã o. Ele grunhiu de satisfaçã o e voltou à tarefa
de secar o cabelo dela.
Quando estava seco o suficiente para ele, ele passou uma escova
na massa escura e sedosa e entã o amarrou-o para trá s com um dos
elá sticos de cabelo espalhados sobre a penteadeira. Ele a pegou
novamente e a colocou de volta na cama desfeita, colocando-a sob as
cobertas e jogando a toalha de lado antes de subir ao lado dela e
arrastar seu corpo rígido para perto dela. Ela deitou com a cabeça
em seu peito, ouvindo seu coraçã o bater firmemente sob sua orelha
e se perguntando o que estava acontecendo. Ele permaneceu em
silêncio e, eventualmente, Bronwyn relaxou o suficiente para cair no
sono novamente.
 
CAPÍTULO CINCO

Bronwyn cuidadosamente abriu os olhos para um quarto iluminado


pelo sol. Nã o havia sinal de Bryce, e o instinto lhe disse que já
passava do meio-dia. Ela ouviu a risada alegre de Kayla do lado de
fora e imaginou que a garotinha estava na piscina, provavelmente
com o pai, que a estava ensinando a nadar diligentemente. Bryce
mandou construir uma cerca à prova de crianças ao redor da piscina
em algum momento durante a ausê ncia dela, outra daquelas
preparaçõ es que ele fez em antecipaçã o a uma criança que ele nã o
tinha ideia se algum dia conheceria.
Bronwyn sentou-se trêmula, sentindo-se revigorada, mas
estranhamente oca. Ela se sentia como alguém que teve um sono
longo e desesperadamente necessá rio apó s a morte de um ente
querido, apenas para acordar para a descoberta de que, mesmo que
a vida continuasse, seria marcada para sempre pela tragédia da
perda. Ela nã o conseguia se lembrar da ú ltima vez que dormira tã o
profundamente, possivelmente na ú ltima noite antes de deixar
Bryce, dois anos atrá s; ela certamente nã o teve muita paz de espírito
desde entã o. Ela se levantou e foi até o banheiro, tentando nã o
pensar na noite anterior. Ela nã o tinha certeza do que aquilo
significava e definitivamente nã o tinha certeza de onde isso a
deixava com Bryce.
Ela desceu as escadas pouco mais de meia hora depois,
vestindo uma calça jeans desbotada e uma camiseta velha. As roupas
eram de seu antigo guarda-roupa e estavam muito largas nela.
Bronwyn resolveu comer ainda mais, ainda se sentindo
incrivelmente pouco atraente por causa de sua magreza.
Quando ela chegou à sala, ela ficou nas portas abertas do pá tio
olhando para o par na á gua por um longo tempo, sentindo-se
ambivalente sobre o ó bvio prazer que eles pareciam encontrar na
companhia um do outro. Ela se sentiu um pouco excluída e
novamente amargurada com Bryce por permitir que isso
acontecesse com eles. Ela estava prestes a se virar e sair em busca de
algo para comer quando Bryce olhou para cima e a viu. Ela nã o podia
ver a expressã o dele por causa do brilho do sol na á gua, mas ele ficou
estranhamente imó vel antes de se dirigir para a lateral da piscina e
depositar uma Kayla protestante na calçada antes de se lançar ao
lado dela.
— Papai nadar mais... — a criança estava protestando, mas ele
estava observando Bronwyn e nã o viu sua demonstraçã o de
temperamento. Bronwyn assistiu com espanto quando a garotinha
deu um tapinha impaciente na perna do pai e fez um sinal
desajeitado que Bronwyn sabia que significava “papai” ou “pai”.
Bronwyn estava familiarizada com isso porque pretendia ensinar a
palavra à filha em linguagem de sinais. Bryce olhou para sua filha
precoce e sorriu quando ela disse “papai” com uma de suas mã os
gordinhas novamente antes de fazer gestos de nataçã o.
— Mais tarde, querida, — ele prometeu rindo, pegando-a e
depositando-a em seus ombros largos e bronzeados. — Primeiro
vamos almoçar com sua mamã e. — A criança ergueu os olhos e
notou Bronwyn pela primeira vez. A alegria em seu rostinho aqueceu
o coraçã o de Bronwyn. Bryce praticamente monopolizou o tempo da
garotinha desde sua chegada, onze dias atrá s. E, embora à s vezes
parecesse nã o saber como lidar com Kayla, ele se atrapalhava sem
pedir ajuda a Bronwyn. Preocupava-a que ele parecesse tã o capaz
perto da criança. Ela temia que ele pudesse começar a se perguntar
por que precisava de Bronwyn por perto. Agora que estava se
sentindo mais saudável, ela prometeu passar mais tempo com a
garotinha de quem tanto sentia falta. Ela nã o permitiria que Bryce a
usurpasse tã o completamente por mais tempo.
Bryce foi até ela, e ela saiu para o pá tio, saboreando a sensaçã o
do sol quente do início do outono em seu rosto. Ela pegou uma
toalha de praia rosa brilhante adornada com personagens do
desenho animado Procurando Nemo da Disney e a segurou enquanto
ele depositava a garotinha tagarela alegremente nos braços de
Bronwyn. Ela enrolou a toalha em torno de Kayla e abraçou seu
pequeno corpo. Sua filha estava falando sobre nataçã o, seu pai e
vá rias outras preocupaçõ es que eram de grande importâ ncia para
qualquer garotinha de quase dezenove meses. Bronwyn assentiu e
fez os ruídos apropriados, mas estava preocupada com Bryce, cujos
olhos a percorriam de cima a baixo, fazendo-a sentir-se nua e
vulnerável.
— Como você está se sentindo? — ele perguntou baixinho, e ela
deu de ombros, conseguindo esboçar um leve sorriso.
— Bem descansado.
Ele acenou com a cabeça em sua resposta, mas parecia sem
palavras.
— Eu espero que você esteja com fome. Você chegou bem na
hora do almoço, — ele disse, apontando para a mesa de vidro e ferro
forjado do pá tio situada perto da enorme churrasqueira de pedra na
outra extremidade do grande pá tio. Celeste estava preparando o que
parecia ser um almoço delicioso. A mulher mais velha, sempre de
poucas palavras, abriu um sorriso e recuou com um aceno de cabeça.
— Estou faminta. — Ela assentiu e se dirigiu para a mesa,
colocando Kayla ainda tagarela em sua cadeira alta e colocando a
tigela de plá stico fornecida e a colher de plá stico na superfície na
frente da criança.
— Ela é uma comedora bagunceira, — Bryce apontou com uma
careta, e Bronwyn sorriu, percebendo que ele deve ter descoberto
essa característica em particular da maneira mais difícil. A maioria
das refeiçõ es de Kayla parecia acabar sobre ela e qualquer outra
pessoa na vizinhança, mas a garotinha se recusava obstinadamente a
permitir que alguém a alimentasse, insistindo que ela mesma
poderia fazer isso. Era uma tendência teimosa que ela herdou de seu
pai, e Bronwyn desejou ter estado lá para testemunhar aquela
batalha de vontades em primeira mã o. Deve ter sido uma novidade
para Bryce descobrir alguém tã o teimoso quanto ele, especialmente
alguém tã o pequeno quanto Mikayla.
— Eu sei. — Bronwyn sorriu. — Ela rejeita qualquer tentativa
de ajudar a alimentá -la. Eu costumo dar a ela porçõ es extras na
esperança de que ela consiga colocar tanto na boca quanto em todo o
resto. Mas à s vezes tenho que pegar o touro pelos chifres e alimentá -
la eu mesma, apesar de seus protestos fervorosos.
— Ela também gosta demais de sorvete, — ele apontou com
uma careta, parecendo se lembrar de algo particularmente
desagradável.
— Eu estou supondo que você descobriu um dos passatempos
favoritos dela?
— Pintura a dedo? — Ele assentiu e ela riu.
— Infelizmente, sorvete, especialmente chocolate, parece ser
seu meio favorito, — disse Bronwyn solenemente.
— Pensei que Celeste fosse desistir depois que Kayla
demonstrou seu talento nas paredes da cozinha, mas felizmente ela
parece ter uma paciência de santa.
— Espero que você tenha repreendido Kayla? — Bronwyn
perguntou franzindo a testa e ele balançou a cabeça.
— Ela parecia tã o orgulhosa de sua pintura, — ele respondeu, e
Bronwyn suspirou antes de balançar a cabeça.
— Ela está testando você, — ela informou. — Ela sabe que nã o
deve mexer nas paredes, ela nã o ousaria fazer isso em ca... — Ela
parou, sabendo que a palavra casa seria um erro e nã o querendo
destruir a frá gil paz entre eles. — Ela nã o teria feito isso em nosso
antigo apartamento. Ela quer ver o quanto ela será capaz de se safar
aqui. Você tem que ser firme com ela, Bryce. Nã o deixe que ela tire
vantagem de você.
— Eu nã o saberia como repreendê-la, — ele ofereceu
calmamente. — Nã o tenho muita prá tica nesse negó cio de
paternidade. Eu quero que ela goste de mim. — Julgando pelo olhar
de dor em seu rosto, era doloroso admitir isso e ela mordeu o lá bio,
sem saber como responder sem reacender as hostilidades.
— Eu posso garantir, — ela começou relutantemente, nã o
querendo realmente ajudá -lo com isso, mas sabendo que era do
interesse de Kayla, — que ela já ama você, Bryce. Ela nã o vai gostar
se você levantar a voz para ela, ela pode até derramar algumas
lagrimas falsas, mas ela vai superar isso. Você é uma figura de
autoridade para ela tanto quanto eu sou agora, e ela tem que se
acostumar com isso. Estamos aqui para ensiná -la o certo do errado.
Se nã o o fizermos, ela se tornará uma criança mimada. E embora um
pouco de mimo nunca faça mal a ninguém, eu nã o gostaria que ela se
tornasse intolerável. — Ele estava prestando muita atençã o em sua
boca, e Bronwyn teve o cuidado de enunciar clara e lentamente.
— Faz sentido, suponho, — disse ele. — Vou tentar ser um
pouco menos indulgente, mas ainda é um prazer para mim dar
coisas a ela e mimá -la um pouco.
— Isso é compreensível. — Bronwyn assentiu. — Você vai
superar isso logo, uma vez que a novidade passe e ela se torne
malcriada.
— Ela nunca vai ser tão malcriada. — Ele sorriu antes de ficar
muito sério. — Você fez um bom trabalho com ela, Bron.
— Uh... — O elogio foi tã o inesperado quanto lisonjeiro, e
Bronwyn nã o tinha ideia de como responder a ele. — Obrigada. —
Ela nã o conseguia ler o humor dele e se perguntou se poderia confiar
no que parecia ser uma trégua armada e incô moda. Ela abaixou a
cabeça e se concentrou em sua comida. A cozinheira preparou um
almoço leve de filetes de pescados crocantes e fritos - um delicioso
peixe de caça do Cabo - batatinhas com ervas e legumes frescos
cozidos no vapor. Sua boca encheu-se de á gua ao vê-lo. Ela checou a
tigela de Kayla e ficou satisfeita ao notar que os vegetais da
garotinha foram amassados em pedaços manejáveis. Kayla já havia
começado a cavar com seus dedinhos gordinhos, e Bryce gemeu
quando ela começou a levar o punho à boca e chupar a comida.
— Mamã e. — Ela pegou um pedaço de peixe entre dois dedos
sujos e o estendeu para a mã e. — Hmm bom... Mamã e...
— Eu já tenho comida, Kayla. Viu? — ela apontou, levantando
um garfo com alguns peixes espetados nas pontas. Kayla colocou o
peixe de volta em sua tigela e levantou sua colher de plá stico e
tentou imitar sua mã e. Quando o peixe continuou caindo de volta na
tigela, ela olhou e jogou a colher de lado em frustraçã o antes de
recorrer a usar as mã os novamente. Bronwyn colocou de lado seus
pró prios utensílios e ergueu a colher de plá stico, colocando-a
firmemente de volta nas mã os de sua filha.
— Use a colher, Mikayla, — ela ordenou com firmeza, mas a
garotinha balançou a cabeça rebeldemente.
— Nã o, mamã e, — a criança protestou, jogando-a de lado
novamente no momento em que sua mã e soltou sua mã o.
— Kayla, nã o vou dizer de novo, — alertou Bronwyn, pegando a
colher e envolvendo-a nos dedos teimosos da criança. Bryce
observou fascinado o pequeno jogo de poder. Kayla, sabendo o quã o
longe ela poderia empurrar sua mã e, mal-humorada segurou a
colher e desajeitadamente remexeu em torno de sua tigela,
bagunçando ao invés de realmente tentar comer. Bronwyn ignorou a
criança recalcitrante e deliberadamente voltou para seu pró prio
almoço.
Kayla agora estava pegando colheradas de comida e colocando-
as em pequenos montes na bandeja da cadeira alta à sua frente.
Bronwyn comeu o ú ltimo pedaço de peixe e suspirou antes de pegar
um lenço umedecido do recipiente que Celeste havia
cuidadosamente deixado ao seu alcance e limpar o rosto e as mã os
de Kayla. Ela ignorou a maneira como a criança tentou escapar de
suas tentativas e, depois de enxugar bem o rosto, Bron ergueu a
criança se contorcendo da cadeira alta e colocou-a em seu pró prio
colo. Ela agarrou a tigela e a colher de Kayla e com muita
determinaçã o começou a colocar comida na boca da criança que
protestava.
— Nã o, mamã e, não! Nã o! — Kayla estava soluçando
histericamente e tendo um pequeno ataque de raiva. Bronwyn podia
sentir isso na forma como seu pequeno corpo estava ficando cada
vez mais tenso. — Kayla nã o quer! Kayla nã o gosta!
— Kayla, você vai comer sua comida! — Bronwyn conseguiu
dizer com sua voz mais severa. A contorçã o determinada da criança
estava rapidamente cansando sua mã e, e Bronwyn sabia que ela
teria que desistir da luta em breve. Ela levou a colher à boca de
Kayla, e o bebê manteve a boca bem fechada, virando a cabeça.
— Mikayla! — O som pouco familiar da voz elevada de Bryce
chocou tanto a mã e quanto a criança, levando-as a uma imobilidade
momentâ nea. Os olhos de Kayla engoliram seu rosto quando
encontraram o semblante severo de seu pai. Sua voz suavizou em
suas pró ximas palavras. — Ouça sua mã e.
A criança obedientemente abriu a boca para a colher oferecida,
seus grandes olhos azuis nunca vacilando do rosto de seu pai. Ela
comeu mordida apó s mordida até esvaziar a tigela e, quando
terminou, implorou para ser abaixada. Bronwyn ajudou-a a descer e
observou com um sorriso impotente de pura adoraçã o enquanto
Kayla cambaleava até o pai e rastejava para o colo dele, enrolando-se
e enfiando o polegar na boca. O rosto de Bryce refletia uma mistura
de surpresa, vulnerabilidade dolorida e confusã o enquanto ele
passava os braços em volta da garotinha sonolenta. Ele ergueu os
olhos maravilhados para o rosto sorridente de Bronwyn.
— Ela sempre fica um pouco irritada quando está cansada, —
informou Bronwyn, observando enquanto as pá lpebras de Kayla
fechavam-se cada vez mais até que ela adormeceu.
— Estou hesitante em levantar minha voz para ela, — ele
admitiu calmamente. — Eu acho difícil julgar exatamente o quã o alto
eu estou falando. Nã o quero aterrorizá -la. À s vezes eu me preocupo
com isso...
Ele deixou a frase no ar e baixou os olhos para o rosto
adormecido da filha. Bronwyn esperou, esperando que ele
terminasse o que estava prestes a dizer, sentindo que estava prestes
a revelar algo profundamente pessoal. Ele nã o disse mais nada,
porém, e isso a deixou se perguntando sobre a insegurança que ela
ouviu em sua voz.
— Bron... — ele disse depois de um longo silêncio. Ele manteve
seu olhar treinado no rosto adormecido de Kayla. — Sobre a noite
passada? — Bronwyn ficou tensa e baixou os olhos para o copo
gelado de suco de manga em suas mã os.
— Eu só ... eu nunca quis dizer... — Ele pausou novamente, e o
silêncio irritou seus nervos até que ela nã o aguentou mais. Seus
lindos olhos azuis finalmente se ergueram para encontrar os dela.
— Olhe, Bryce, — ela disse, quebrando o silêncio, esperando
que seu rosto refletisse a resoluçã o que ela podia ouvir em sua voz.
— Eu sei o quanto você me odeia. Na verdade, acreditando no que
você acha a meu respeito, posso até entender por que você se sente
assim. Qualquer pessoa que abandonaria seu cô njuge tã o friamente
no local de um acidente certamente nã o merece perdã o.
— Você...
— Eu nem vou mais tentar me defender, — ela disse com
firmeza, interrompendo o que quer que ele estivesse prestes a dizer.
— Nã o há realmente nenhum ponto, nã o é? Você me odiou por tanto
tempo que acho que nunca vou conseguir fazer você mudar de ideia.
Tudo o que peço é que você coloque isso... esse desprezo que você
tem por mim de lado pelo bem de Kayla. Me odeie se for preciso.
Acho que quase posso viver com isso agora que sei que você nunca
me amou de verdade, mas tente ser menos ó bvio sobre isso. — Seus
olhos se estreitaram enquanto avaliava seu rosto; houve outro longo
silêncio enquanto ele considerava as palavras dela antes de encolher
os ombros.
— Eu tenho algumas perguntas, — ele murmurou, e ela mordeu
o lá bio antes de assentir. — Quanto tempo você ficou na casa de
praia? — O que quer que ela esperasse, certamente nã o era isso. Ela
piscou algumas vezes antes de dar de ombros.
— Algumas semanas, — ela conseguiu dizer suavemente.
— Entã o, se a sua histó ria é para ser acreditada...
Ela resistiu ao impulso irresistível de estender a mã o e
esbofeteá -lo pelo sarcasmo flagrante em sua voz.
— ...Você foi lá logo depois de sair daqui, para me esperar,
certo?
— Por que simplesmente nã o concordamos em deixar esse
assunto de lado? — ela perguntou, nã o com humor para se defender
contra mais acusaçõ es malucas dele.
— Nã o. — Ele encolheu os ombros com indiferença. — Entã o,
como é que você nunca ouviu falar sobre o meu acidente?
Aparentemente, estava em todos os jornais e teve cobertura
jornalística no rá dio, na televisã o e na Internet. Você está me dizendo
que perdeu tudo isso?
— Você realmente acha que eu passava meus dias assistindo
televisã o e ouvindo mú sica? — ela perguntou exasperada. — Eu mal
conseguia me arrastar para fora da cama e tomar banho na maioria
dos dias. Eu estava enjoada por causa do enjoo matinal, exausta,
assustada, e cada dia que passava sem uma palavra sua me levava a
um isolamento ainda mais deprimido. Entã o, sim, estou dizendo que
perdi tudo isso!
Seus olhos piscaram e ela pensou ter captado um vislumbre de
incerteza neles antes de ficarem gelados de desdém novamente. Ela
balançou a cabeça.
— Quando Rick e Lisa voltam das férias?
— Sá bado, — ele respondeu pouco antes de continuar com a
conversa original. — Entã o, depois que se tornou dolorosamente
evidente que eu não iria atrás de você, o que você fez entã o? — Sem
se importar com a zombaria em seus olhos e voz e farta de sua
determinaçã o de desacreditar em cada pequena coisa que ela dizia,
Bronwyn levantou-se trêmula e contornou a mesa, estendendo a
mã o possessivamente para tirar a filha de seus braços.
— Vou colocá -la na cama, — ela disse a ele sem encontrar seus
olhos.
—Sua histó ria está cheia de buracos, Bronwyn, você sabe disso,
— ele murmurou quase gentilmente. — Eu estaria disposto a seguir
em frente se você apenas admitisse estar no local do meu acidente.
— Ela ergueu os olhos furiosamente furiosos para ele.
— Seria muito conveniente para você se eu admitisse isso, nã o
é, Bryce? — ela perguntou com raiva. — Dessa forma, você nã o teria
que se sentir culpado por jogar sua esposa grávida para as ruas.
Nenhuma culpa por deixá -la sozinha enquanto ela estava tã o doente
que estava com medo de perder seu bebê. Você nã o teria que ser
responsável por nada que aconteceu desde a noite em que parti.
Bem, você pode ir para o inferno porque me recuso a lhe dar essa
satisfaçã o.
Bronwyn se virou com raiva e carregou Kayla de volta para
casa. Ela foi direto para o quarto do bebê e depois de aconchegá -la,
ficou ao lado do berço e observou a bebê dormir, seu coraçã o
transbordando de amor pela criança inocente.
— Você vale tudo, minha querida, — ela sussurrou, inclinando-
se para beijar seus cachos curtos e sedosos. Quando ela se endireitou
e se virou, Bryce estava parado na porta, ainda vestindo nada além
de sua bermuda. Ela franziu a testa com ressentimento, aborrecida
por um homem surdo poder se mover tã o silenciosamente, e se
moveu para passar por ele. Ele mal se mexeu, apertando-a
abominavelmente enquanto ela tentava se espremer pela porta e
entrar no corredor. Ela ficou vermelha quando inadvertidamente
roçou seu peito musculoso nu. Ela franziu a testa para ele,
certificando-se de que ele estava olhando para ela antes de falar.
— Saia do meu caminho, — ela exigiu, e ele sorriu
preguiçosamente.
— Fico feliz em ver que você está conseguindo seu fogo de
volta, querida...
— Não me chame assim, — ela repreendeu, e ele sorriu.
— Você nunca reclamou antes. — Ela ficou ainda mais vermelha
quando se lembrou das raras ocasiõ es em que ele usou o carinho no
passado - sempre nas circunstâ ncias mais íntimas e muito raramente
fora da cama. Ele o havia usado agora apenas para abalá -la, ela podia
ver isso em seus olhos. Ela franziu os lá bios e passou por ele. Ele
agarrou seu pulso, assim como ela pensou que tinha conseguido
escapar.
— Pierre e Alice estã o chegando para jantar, — ele informou a
ela preguiçosamente, ignorando o jeito que ela puxou furiosamente,
tentando se soltar. — Tente nã o me envergonhar com mais mentiras
ou demonstraçõ es insinceras de preocupaçã o enquanto eles
estiverem aqui. — Ela engasgou com a pontada de dor por sua
crueldade casual.
— Bryce, estou realmente começando a odiá-lo, — afirmou ela
em tom de conversa, e ele ergueu as sobrancelhas preguiçosamente.
— Você está ? — Ele sorriu. — Isso é uma vergonha. Gostei tanto
de ser adorado por você.
— Eu nunca adorei você, seu bastardo arrogante! — ela
administrou furiosamente. — Eu amei você. Mais do que você jamais
poderia compreender. — Seu aperto afrouxou e ela se libertou. —
Agora vejo que você nunca mereceu esse amor! — Ele parecia
incapaz de responder, apenas mantendo o olhar fixo em seu rosto
emocionado. Ela fez um pequeno som desesperado no fundo de sua
garganta e se virou para ir embora.
— Bronwyn, — ele gritou atrá s dela, e ela parou, suas costas
ficando rígidas enquanto ela se preparava para outro golpe. —Se
você me amasse, nunca teria me deixado.
— Eu nã o te deixei, seu imbecil, — ela murmurou baixinho,
sabendo que ele nã o podia ver a negaçã o enquanto ela estava de
costas para ele.
— Você nunca teria ido embora sem me dar a chance de me
desculpar... — A voz dele estava mais perto, e ela sabia que ele tinha
vindo logo atrá s dela. — Você teria ficado para me ouvir rastejar e
implorar seu perdã o, porque se você me amasse, você teria me
conhecido bem o suficiente para saber que um pedido de desculpas
nã o estaria longe. — As mã os dele pousaram nos ombros estreitos
dela, e ela se encolheu ao sentir o calor da carne dele através do
algodã o fino da camiseta. Ela se virou lentamente e ergueu os olhos
para encontrar os dele.
— Eu sabia disso, — ela admitiu. — Saí para lhe dar algum
espaço para clarear a cabeça e para me dar tempo para organizar
meus pró prios pensamentos confusos. Eu sabia que você viria e foi
por isso que esperei, esperei e esperei naquela maldita casa de praia!
Eu sabia que você viria. . . só você nunca fez.
— Quando finalmente concluí que talvez você realmente nã o
quisesse nada conosco, liguei para o seu escritó rio para falar sobre
pensã o alimentícia e fui informada sem rodeios de que o Sr. Palmer
nã o queria falar comigo ou ouvir falar de mim nunca mais. Você nã o
estava atendendo seu celular e ninguém estava atendendo em casa.
— Ela observou como seus olhos endureceram e suas mã os caíram.
— Meu Deus, você nã o consegue parar de mentir? — ele
murmurou em frustraçã o. — Eu poderia comprar talvez estar
enganado sobre ver você na cena do meu acidente. Posso até tentar
acreditar que talvez você nã o tenha visto um ú nico artigo de jornal,
reportagem de televisã o ou ouvido qualquer notícia de rá dio, mas
nenhum dos meus jamais teria dito essas palavras para você!
— Ah, acredite no que quiser, Bryce, — ela respondeu cansada e
se virou. Ela estava tã o cansada de se defender dele.
— Ah, nã o, você nã o sabe. — Ele segurou seu braço com força
para impedi-la de ir embora. — Passei dois anos procurando por
você, Bronwyn. Por que eu teria dito à minha equipe para bloquear
você quando eu estava tentando tanto encontrá -la? Entã o você nã o
vai tentar me fazer sentir culpado por algo que eu nunca autorizei,
algo que nunca teria acontecido, nem em um milhã o de anos! — Ela
balançou a cabeça e deu um passo para trá s, puxando o braço
violentamente para fora de seu aperto antes de decidir fazer uso de
um pouco do SASL que ela havia aprendido e usar as mã os de forma
bastante eloquente para dizer algo bastante inconfundível. Por um
segundo ele foi pego de surpresa e piscou algumas vezes antes de
cair na gargalhada, o som tã o natural e espontâ neo que a pegou
completamente de surpresa.
— Você nã o acabou de me dizer para... — Ele parou antes de
dizer a obscenidade, e ela projetou sua mandíbula teimosamente,
recusando-se a se deixar encantar por sua genuína diversã o.
— E daí se eu fiz? — ela perguntou desafiadoramente. Seus
olhos ainda estavam cheios de riso quando ele deu de ombros.
— Nada, só estou impressionado com seu amplo conhecimento
de SASL. — Ele deu de ombros e ela ficou vermelha brilhante.
— Nã o tã o extensa, — ela disse a ele conscientemente. — Foi a
primeira coisa que aprendi porque sabia que provavelmente seria
ú til na maioria das minhas brigas com você.
— Boa decisã o, — ele elogiou, e ela limpou a garganta antes de
se afastar dele sem outra palavra e se retirar para seu quarto.
 
CAPÍTULO SEIS

Alice De Coursey nã o era tudo o que Bronwyn esperava. A mulher


era alguns anos mais velha que Bronwyn, cerca de trinta, e tã o
pequena que fazia Bronwyn se sentir uma gigante em comparaçã o.
Ela nã o devia ter mais de um metro e meio de altura e um corpo
pequeno e de proporçõ es perfeitas. Ela tinha olhos castanhos suaves
protegidos por pequenos ó culos redondos bobos e era quase bonita
de uma forma saudável, com sardas salpicadas no nariz e um sorriso
cativante e travesso. Seus cachos castanho-areia, na altura dos
ombros, incontrolavelmente crespos, davam-lhe uma espé cie de
apelo Raggedy-Ann. Ela certamente não era a mulher linda de
morrer que Bronwyn esperava que uma pessoa bonita como Pierre
De Coursey se apaixonasse. Ela mancava um pouco e ainda tinha
cicatrizes fracas na parte superior dos braços e uma ligeiramente
mais longa e pronunciada em sua mandíbula redonda e firme.
Seu marido intimidadoramente lindo a adorava. Na verdade,
toda vez que Pierre olhava para ela, seus olhos definitivamente
brilhavam de amor. Ele se iluminava quando ela sorria e sorria
sempre que ela ria. Foi uma revelaçã o para Bronwyn ver o
anteriormente austero Pierre tã o claramente apaixonado. O homem
que a havia aterrorizado quando ela o conheceu agora ria
livremente, contava piadas bobas e trocava fraldas! O filho deles,
Tristan, tinha cerca de cinco meses e um temperamento doce e
plá cido. Ele tinha o cabelo preto como breu do pai e os grandes olhos
castanhos da mã e. Kayla estava bastante animada para ver o bebê e
conhecer novas pessoas, mas adormeceu meia hora apó s a chegada
do casal.
— Ela é uma garotinha tã o linda, — Alice estava dizendo a
Bronwyn depois que esta colocou Kayla na cama. — Um pequeno fio
elétrico... — Bronwyn riu.
— Essa é uma maneira educada de expressar isso, — ela disse à
mulher. — Ela é um inferno sobre rodas. Quando ela começou a
andar, ela era uma força imparável. Espere até que Tristan chegue a
essa idade; você vai se esgotar. Estou feliz por termos conseguido
levá -la para a cama com tã o pouco barulho esta noite.
Alice riu e Bronwyn sorriu, gostando muito da outra mulher. Ela
temia que Alice De Coursey fosse uma esnobe insuportável, como
Pierre à s vezes tendia a ser, mas nã o só ela não era esnobe, como de
alguma forma conseguira afastar Pierre de vá rias outros
maneirismo. O homem era definitivamente muito mais relaxado e
muito mais agradável para passar o tempo. Ele era fluente em SASL,
e ele e Bryce estavam envolvidos no que parecia ser uma conversa
séria. Alice seguiu seus olhos e sorriu. Ela se inclinou
conspiratoriamente perto de Bronwyn.
— Pierre ficou muito aliviado quando soube que você estava de
volta.
Bronwyn franziu a testa, o que foi uma surpresa para ela; ela
sempre acreditou que Pierre nã o se importava muito com ela. Na
verdade, ele mal falou com ela depois de chegar para jantar, levando
Bronwyn a presumir que tinha ouvido a mesma histó ria sobre ela
que Rick. — Pelo que entendi, Bryce se tornou uma espécie de
recluso depois que você partiu. Ele quase nunca sai de casa; ele
trabalha em casa, nunca vai ao escritó rio e deixa para Pierre
administrar a parte mais social do negó cio. — Bronwyn mordeu o
lá bio e observou seu marido rir de algo que Pierre disse, a piada
silenciosa e apenas entre os dois.
— Onde Pierre aprendeu a assinar? — ela perguntou baixinho,
admirando os gestos fluentes e graciosos das mã os de Pierre.
— Ele costumava me levar à s minhas sessõ es de fisioterapia
depois que eu me recuperei do acidente o suficiente para começar a
fortalecer minha perna fraca, e eles tinham aulas de SASL na mesma
clínica, que felizmente coincidiam com minhas visitas. Pierre viu isso
como uma oportunidade de matar dois coelhos com uma cajadada,
por assim dizer.
— Eu gostaria de aprender, — Bronwyn confidenciou
suavemente. — Você poderia me dar o endereço deste lugar?
Alice sorriu. — É claro. — Ela assentiu. — Eu até irei com você,
se você quiser.
Bronwyn sorriu agradecida antes de assentir. — Eu realmente
gostaria disso.
 

 
— Você gostou da sua noite? — Bryce perguntou com uma voz
indulgente que irritava os nervos de Bronwyn, apó s a partida do
outro casal. Eles estavam parados no degrau da frente, observando
as luzes traseiras do carro de De Coursey se distanciarem enquanto
ele descia o caminho íngreme e sinuoso que levava da casa dos
Palmer de volta à estrada principal.
— Sim. — Ela respondeu abruptamente. — A Alice é fantá stica.
Eu realmente gostei dela.
— Eu sabia que você iria, — ele confirmou, ainda parecendo e
soando como um pai indulgente. Por alguma razã o, Bronwyn teve
vontade de tirar o sorriso satisfeito de seu rosto. Ele tinha que
parecer tã o malditamente presunçoso?
— Sim, claro. — Ela olhou diretamente para ele, seus olhos
brilhando com raiva. — E, como todos nó s já sabemos; você sempre
tem razã o. — Ele nã o podia ouvir o veneno em sua voz, mas
certamente podia vê-lo em seus olhos e deu um passo para trá s.
— O que diabos está errado agora? — ele rosnou furiosamente.
— Nada, — ela sibilou. — Estou cansado... Vou para a cama.
— Ah, vamos lá , — ele se irritou. — Você nã o vai fazer isso
comigo. Você nã o vai jogar este jogo.
— Eu não estou jogando nenhum jogo. Estou cansada demais
para jogos. —Ela se virou e voltou para dentro. Ele a seguiu para
dentro e segurou seu cotovelo para deter seu progresso. Ela tentou
puxar o braço, mas o aperto dele, embora gentil, era implacável.
— O que está acontecendo? — ele perguntou em um sussurro.
— A Alice ou o Pierre fizeram ou disseram algo que te ofendeu?
— Nã o, — ela balançou a cabeça abruptamente. — Nã o, claro
que nã o.
— Entã o sou eu? — ele afirmou com naturalidade.
— É mais alguém? — ela murmurou sarcasticamente baixinho,
mas ele nã o conseguiu ler seus lá bios porque ela abaixou a cabeça
enquanto dizia isso. Ela tentou mexer o braço e olhou para ele
quando ele nã o quis soltá -la.
— Você está me machucando! — ela declarou o mais
claramente que pô de, e ele a soltou abruptamente.
— Eu sinto muito. — Sua libertaçã o e desculpas imediatas a
pegaram de surpresa, e ela se sentiu um pouco culpada quando viu
uma labareda de remorso genuíno em seus olhos. — Eu nã o queria
te machucar.
— Você nã o o fez, — ela admitiu. — Mas estou cansada e nã o
tenho mais nada a dizer a você esta noite.
— Você acha que pode me dispensar e esperar que eu obedeça
como um cachorro chicoteado? — ele zombou, segurando seu
cotovelo novamente e dando-lhe uma sacudida suave para enfatizar
seu ponto.
— Nã o, eu espero que você respeite meus desejos, — ela disse a
ele cansadamente, toda a luta a deixando. Seu braço pendia
frouxamente em seu aperto. Ele suspirou e segurou o outro cotovelo
dela antes de passar as mã os carinhosamente pelos braços dela.
— Me diga por que você está com raiva de mim, — ele
persuadiu, e suas grandes mã os se moveram para segurar seu rosto
estreito gentilmente. Seus polegares traçaram o contorno de seus
lá bios trêmulos, e ele se inclinou para ela, seus lá bios quase tocando
os dela.
— Eu quero estar com você novamente esta noite, — ele
sussurrou com voz rouca, e ela se encolheu.
— Nã o. — Ela balançou a cabeça com firmeza. Ele franziu a
testa e recuou, soltando-a abruptamente.
— Por que nã o? — ele perguntou friamente.
— Como você pode me perguntar isso? Eu te disse, à noite
passada foi um erro. E você realmente acha que eu quero voltar para
a cama com o homem que disse que eu faço sua pele arrepiar? — ela
perguntou.
— Olha, eu fui um idiota quando disse isso, ok? — ele admitiu,
levantando as mã os em sinal de rendiçã o. — Eu sinto muito. Foi uma
mentira descarada expressamente projetada para feri-la tanto
quanto possível. Era isso ou admitir que você estava certa sobre eu
querer você no outro dia. — Ela continuou olhando fixamente para
ele, sabendo que ele estava repudiando suas palavras agora porque a
queria de volta em sua cama.
— Eu nã o vou implorar, — ele avisou.
— Eu nã o esperava que você o fizesse, — ela murmurou, e ele
franziu a testa, incerto.
— O que? — Quando ela se recusou a repetir as palavras que
ele nã o tinha entendido, ele xingou com raiva e se afastou dela. — Eu
odeio isso! Eu quero saber cada palavra sua. Quero ouvir a risada da
minha filha. Eu quero tantas coisas. — Ela suavizou um pouco com a
frustraçã o impotente em sua voz e deu um passo em direçã o a ele.
Ela pousou uma mã o hesitante em seu ombro rígido e deu a volta
para encará -lo. Ele tirou a mã o dela e olhou para ela.
— Não, — ele advertiu perigosamente, e sua sobrancelha
baixou em confusã o.
— Nã o o quê?
— Nã o se atreva a ter pena de mim. — Sua voz era dura como
granito, desmentindo a vulnerabilidade que ela ouvira segundos
antes. — Eu nã o quero ou preciso da sua pena!
— Confie em mim, a ú ltima coisa que sinto por você é pena, —
ela disse a ele, mas ele deve ter perdido as palavras porque sua
carranca confusa se aprofundou antes que ele praguejasse de
irritaçã o.
— Apenas vá para a cama, Bron, — ele murmurou cansado
enquanto roçava por ela. Bronwyn observou suas costas largas
enquanto ele recuava. Ele virou uma esquina e ela ouviu uma porta
batendo ao longe enquanto ele se fechava em seu escritó rio.
Bronwyn ficou ali por muito tempo, lutando bravamente contra
as lá grimas de frustraçã o. Ela nã o conhecia esse homem machucado,
espancado e amargurado como o Bryce com quem ela havia adorado
e com quem se casou poucas semanas depois de conhecê-lo, mas
ainda havia algo tã o atraente nele. Ele a lembrava de um leã o
gravemente ferido, confuso e exausto, mas incapaz de parar de lutar.
Ela engoliu a incrível dor da realizaçã o, reconhecimento e
resignaçã o. Deus a ajude, ela ainda amava Bryce. Ela sempre amou
Bryce. Ela o amava, odiava e se ressentia dele, tudo ao mesmo tempo.
No entanto, a ú nica outra certeza que ela tinha na vida além do amor
de Kayla era o conhecimento de que Bryce a odiava mais do que ela
jamais imaginou ser possível, e ela nã o sabia como iria proteger seu
coraçã o vulnerável da agonia de que ele era tã o capaz. de infligir a
ela.
 
 

— Onde você está indo? — Bryce nã o fez nada para esconder a


profunda suspeita em seus olhos no final da manhã seguinte,
enquanto observava o traje de Bronwyn. Eles estavam na sala de
estar, onde Bryce estava olhando para a tela de seu laptop antes que
ela o distraísse com sua presença. Ela estava usando uma calça preta
de grife, uma das peças que havia deixado para trá s, combinada com
um lindo top de seda turquesa. Apesar do fato de que as roupas
ainda estavam um pouco largas nela, Bronwyn achou a combinaçã o
encantadora. Especialmente com o cabelo escuro caindo em ondas
lustrosas sobre os ombros estreitos e os lá bios pintados com batom
rosa. Ela até assumiu um brilho saudável e dourado depois de passar
algum tempo ao sol no dia anterior. Pela primeira vez em muito
tempo ela estava relativamente feliz com sua aparência.
— Fora para almoçar, com Alice, — ela informou casualmente,
sentando-se em frente a ele. — Você vai ficar bem com Kayla? Ela
está na cozinha com Celeste no momento. Elas estã o fazendo um
bolo.
— Claro que vou ficar bem com Kayla, — ele descartou antes de
continuar. — Quando essa coisa do almoço foi decidida? — ele
perguntou arrogantemente, e ela riu da pergunta autocrá tica.
— Nã o que seja da sua conta, mas isso foi decidido depois do
jantar ontem à noite.
Ele franziu a testa, sentindo falta do sarcasmo dela.
— Nã o me lembro de você ter feito esse arranjo, — disse ele,
claramente tentando se lembrar da noite anterior.
— Bem, você e Pierre estavam tendo sua pequena conversa. —
Ela deu de ombros levemente. — O que você esperava que Alice e eu
fizéssemos? Sentar em silêncio e esperar que nossos maridos se
juntem a nó s? Conversamos, nos demos bem e nos tornamos amigas.
Isto é o que os amigos fazem. Nos reunimos, almoçamos e vamos à s
compras...
— Você nã o está bem o suficiente para se aventurar ainda, —
disse ele com autoridade. —Alice pode vir aqui para o almoço.
Enviarei uma mensagem para Pierre imediatamente e providenciarei
isso. — Ele tirou o celular do bolso da calça jeans e Bronwyn segurou
sua mã o, colocando a menor sobre ele.
— Nã o. — Ela balançou a cabeça decididamente, e ele franziu a
testa.
— Mas...
— Vou almoçar com Alice, — ela repetiu.
— Eu nã o gosto disso.
— Bem, isso é muito ruim, nã o é? — Ela estava ficando irritada
com a arrogâ ncia dele e seu olhar lhe dizia isso.
— Como você vai ir para lá ? — Ela franziu a testa e levantou o
molho de chaves do carro que estava segurando.
— Vou de jipe, — ela respondeu. O Jeep era um dos cinco carros
que ele possuía. Bronwyn nunca tinha visto sentido em alguém ter
mais de um carro, mas Bryce adorava seus carros. Ela já havia
notado que seu amado Maserati azul metá lico havia sumido e
imaginou que devia ser o mesmo que ele dirigia quando sofreu o
acidente.
— Eu nã o te dei permissã o para usar o jipe, — ele retaliou
presunçosamente, e ela mordeu o lá bio.
— Você nunca foi egoísta com suas coisas; achei que você nã o
se importaria — disse ela, incerta.
— Eu te dei um carro como presente de casamento. O que
aconteceu com isso? — ele cerrou os dentes, estreitando os olhos
quando ele a lembrou do belo BMW esportivo. Ela corou enquanto
lutava para responder a essa pergunta.
— O que você acha que aconteceu com ele? Eu vendi, — ela
sussurrou suavemente, desafio em seus olhos. Ela adorava aquele
carro, mas o vendeu antes de vender suas alianças de casamento. Ela
se apegou ao casamento, ao amor por Bryce e aos anéis que
simbolizavam ambos, pelo tempo que pô de. Os cantos dos lá bios
dele se curvaram para baixo e ela baixou os olhos, nã o querendo ver
o desprezo que ele tinha por ela refletido em seu rosto.
— Por que? — ele perguntou baixinho. A pergunta a
surpreendeu. Ela esperava mais uma de suas críticas mordazes.
— Eu precisava do dinheiro, — ela confessou com voz rouca. —
Eu estava grávida de sete meses e nã o tinha onde morar. Até entã o,
eu ficava em hotéis baratos até que o dinheiro que eu tinha na minha
conta bancá ria pessoal acabasse. — O dinheiro em sua conta pessoal
era dela, dinheiro ganho durante sua curta carreira de garçonete, e
que havia sobrado do fundo fiduciá rio de sua avó . Durou mais do que
o esperado depois que ela economizou e economizou, ficando sem
muitas coisas para manter um teto sobre sua cabeça. Ela trabalhou
em três empregos diferentes, até que foi forçada a admitir que nã o
estava fazendo muito bem a si mesma ou a seu bebê ainda nã o
nascido. Entã o, eventualmente, ela teve que vender o carro e colocar
parte do dinheiro como um depó sito no pequeno apartamento em
que ela e Kayla ainda moravam quando Rick a encontrou novamente.
O dinheiro do carro e os anéis a mantiveram confortavelmente à tona
por quase um ano. A renda adicional do trabalho era usada para
alimentaçã o e aluguel. O carro e os anéis pagaram os extras e
ajudaram nas contas médicas, bem como na alimentaçã o e roupas de
Kayla.
— Levei muito tempo para entender que nosso casamento
estava realmente acabado, — ela admitiu vergonhosamente. —
Levou quatro longos meses até que eu – finalmente – aceitasse que
nã o poderia continuar vivendo minha vida no limbo. Eu precisava de
um lugar para ficar, um lugar que fosse bom para mim e para o bebê.
Eu também sabia que precisaria de cuidados médicos em breve e
algum tipo de proteçã o financeira por mais ou menos um mês apó s o
parto. Eu nã o queria abandonar Kayla para trabalhar apenas alguns
dias depois de dar à luz a ela. Eu queria passar algum tempo com ela.
— Ele a encarou em silêncio por um longo tempo, e ela umedeceu os
lá bios nervosamente, sem saber o que esperar. Nem mesmo seguro
de ter captado metade do que ela disse. Ela havia falado um pouco
rá pido demais, sem realmente pensar na surdez dele.
— Eu esperava que você usasse o dinheiro em nossa conta
mú tua ou usasse seu cartã o de crédito. Eu estava esperando que
você o fizesse, porque isso teria me ajudado a localizá -la. Eu quase
enlouqueci me perguntando como diabos você estava cuidando de si
mesmo. Por que você nã o usou o dinheiro, Bronwyn? — ele
perguntou com a voz rouca, claramente desconcertado por suas
palavras. — Certamente sua saú de e o bem-estar do bebê significam
mais do que seu orgulho teimoso?
Ela piscou para ele em choque mudo.
— Eu usei meu pró prio dinheiro, Bryce, — ela repetiu com um
encolher de ombros, sabendo que o dinheiro era uma ninharia
comparado ao que ele tinha. Mas pelo menos tinha sido dela. — Na
minha conta antiga.
— Que conta? — ele perguntou inexpressivamente, e ela
franziu a testa.
— A conta que eu tinha antes de nos casarmos, — ela disse
calmamente.
— Você ainda tinha aquela conta? — Ele praticamente explodiu,
e ela estremeceu, entendendo como isso deve parecer para ele. —
Depois de dois anos de casamento, você ainda tinha uma conta
bancá ria em seu nome de solteira? O que diabos foi isso, Bronwyn?
Sua clá usula de escape?
— Dificilmente, — ela zombou. — Mal tinha o suficiente para
me sustentar no primeiro mês. Eu simplesmente nunca consegui
fechá -la, só isso. Além disso, você nã o tem o direito de ficar todo
convencido comigo por causa disso. Você me cortou tã o
completamente que eu pensei...
— O que? Que eu ficaria feliz em deixar você e o bebê
morrerem de fome ou acabarem sem teto? — ele interrompeu
ferozmente, e sua boca abriu e fechou novamente enquanto ela
tentava organizar seus pensamentos. Sim, ela provavelmente deveria
ter usado o dinheiro. Quando ela pensou em todo o sofrimento
desnecessá rio que ela suportou, parecia estú pido agora, mas na
época ela estava tentando provar um ponto.
— Bryce, — ela tentou encontrar uma maneira de explicar sua
decisã o para ele e ficou em branco. — Depois de quatro meses de
rejeiçã o constante e inexplicável, desisti de tentar falar com você. A
essa altura, eu nã o achava que você merecia ter o bebê ou a mim em
sua vida. Eu queria seguir em frente e nã o poderia fazê-lo com o seu
dinheiro. Eu precisava fazer isso sozinha, sem ficar em dívida com o
homem que havia deixado claro que nã o queria nada conosco. Nã o
me senti com direito ao seu dinheiro depois de tomar essa decisã o.
— Você nã o se sentiu com direito a isso? — Bryce se apegou a
essas palavras, obviamente descartando o resto do que ela havia
dito. — Com do dinheiro do pai da sua filha? Eu nem sei como
responder a isso, Bronwyn. Você pode nã o ter se sentido com direito
a isso, mas Kayla certamente tinha e tem direito a isso. Você poderia
deixar de lado sua mesquinhez e considerá -la em tudo isso!
— Ah, por favor, pare de jogar Kayla na minha cara. Fiz tudo o
que pude por ela. Eu dei a ela o melhor que pude depois que você
nos expulsou. Como eu poderia saber que você teria essa reviravolta
em relaçã o ao bebê? Tanto quanto eu sabia, você nã o a queria e nã o
achava que ela tinha direito a qualquer coisa que você tivesse. Ela
nã o queria nada. Suas roupas podem nã o ter etiquetas de grife e seus
brinquedos podem ser de segunda mã o, mas meu bebê foi muito
amado e bem cuidado. Nã o se atreva a insinuar mais nada! — Mais
silêncio interminável olhando para ele, mas ela se recusou a baixar
os olhos, recusou-se a ser intimidada ou humilhada por ele. Em vez
disso, ela encontrou seu olhar inescrutável de frente, com o queixo
inclinado desafiadoramente, os olhos brilhando e os punhos
cerrados. Ela parecia um gato selvagem pronto para defender a si
mesma e a seu bebê contra toda e qualquer ameaça.
— A que horas você vai se encontrar com Alice? — A pergunta a
confundiu completamente, e ela piscou em espanto, surpresa e
aliviada por ele ter deixado passar. Ela olhou para o reló gio.
— Em cerca de meia hora, — ela disse a ele.
— Você vai voltar?
Sem entender a pergunta, ela apenas o encarou confusa por
alguns momentos.
— O que?
— Você nã o vai fugir de novo? — ele reformulou, e ela
cambaleou em choque com a profundidade da vulnerabilidade e
insegurança que sua pergunta revelou.
— Uh... n-nã o. Mikayla... — foi tudo que ela conseguiu, e ele
assentiu brevemente, percebendo que ela nunca iria embora sem a
filha.
— Se nã o fosse por Mikayla... — Ele parecia fazer a pergunta
antes que pudesse se conter e, ao fazê-lo, revelou claramente muito
mais do que jamais pretendera revelar. — Você voltaria? — Ela
hesitou, baixou os olhos enquanto ponderava a questã o e, vendo a
incerteza em seu rosto, Bryce fez um leve movimento com a mã o.
— Esqueça isso, — ele retrucou, antes que ela pudesse sequer
pensar em formular uma resposta. — Foi uma pergunta estú pida, e
realmente nã o é tã o importante. Contanto que você nã o fuja com
minha filha, eu nã o dou a mínima para o que você faz. — De alguma
forma, as palavras soaram vazias e falsas, soando com bravata e sem
muita convicçã o. Eles evitaram os olhos um do outro, cada um com
medo da verdade que poderiam espiar no olhar do outro.
— Eu tenho que ir, — ela murmurou evasivamente, levantando-
se da cadeira. Ele pulou também e pegou o braço dela para deter seu
progresso.
— Espere. — Ela ficou quieta em seu alcance, seus olhos
procurando suas feiçõ es duras com cautela. Ele parecia mal-
humorado e incerto, sem muita certeza do que queria dizer ou
mesmo por que interrompeu o progresso dela.
— Eu nã o quero que você vá sozinha, — ele disse, quase com
relutâ ncia. — Quero que alguém da equipe de segurança vá junto. —
Bronwyn franziu a testa ao ouvir isso. Ela sempre odiou os discretos
seguranças que os seguiram em quase todos os lugares depois que
eles se casaram e reclamou tanto disso que ele reduziu seus
seguranças pessoais a um guarda supostamente discreto para
mantê-la feliz. Bronwyn concordou com o compromisso porque um
cara era melhor do que um time, mas ela nunca se sentiu confortável
com o que sempre considerou uma demonstraçã o flagrante de
riqueza.
— Bryce, eu nã o quero ter algum gorila me seguindo a tarde
toda, — ela retrucou, e seus lá bios se apertaram.
— Vou pedir a Cal que cuide do assunto pessoalmente. — Cal
era seu chefe de segurança e Bronwyn sempre gostou do homem
quieto que lia sonetos de Shakespeare em seu tempo livre. Ela
realmente nã o o tinha visto desde seu retorno. Ela ficou aliviada ao
saber que ele ainda trabalhava para Bryce, pois temia que pudesse
tê-lo colocado em apuros depois de instruí-lo a tirar aquela noite
fatídica de dois anos atrá s. Ela queria uma noite privada e româ ntica
com o marido e dispensou toda a equipe. Ela sabia que essa era
provavelmente uma das ú nicas razõ es pelas quais ela conseguiu
desaparecer tã o completamente. Cal havia deixado apenas uma
equipe reduzida de plantã o naquela noite. Sua guarda pessoal, nã o
esperando que ela saísse de casa naquela noite, também teve folga.
— Estou feliz que Cal ainda trabalha para você, — disse ela,
todo o calor fugindo de sua voz e expressã o.
— Ele está agindo como meu guarda pessoal, — disse Bryce
antes de fazer um som estranho no fundo de sua garganta. — Você
ainda tem meu nú mero, certo? — ele continuou hesitante, e ela
assentiu novamente. — Se precisar de alguma coisa ou se sentir mal,
me ligue.
— Bryce. — Ela sorriu tranquilizadoramente em seus olhos. —
Estou bem, mas no caso improvável de mudança de status quo, com
certeza ligarei para você. — Seus olhos congelaram.
— Nã o zombe de mim, Bronwyn, — disse ele friamente, e ela
balançou a cabeça, alarmada por ele ter interpretado mal seu humor.
— Eu nã o estava, — ela assegurou gentilmente, levantando a
mã o para segurar seu queixo. — Eu vou ficar bem, mas prometo te
ligar se eu me sentir mal. — Ele se afastou de sua mã o macia,
deixando-a pairando no ar. Ele continuou a olhar para ela por alguns
longos momentos.
— Vou dizer a Cal para encontrá -la na garagem. Deixe-o dirigir,
— ele disse autoritá rio antes de girar em seus calcanhares e sair da
sala. Bronwyn suspirou desanimada e o encarou por um longo e
melancó lico momento antes de endireitar os ombros e sair também.
 
 
 
Alice a recebeu na entrada do restaurante com um abraço caloroso e
um sorriso. Seus olhos maliciosamente brilhantes passaram do
ombro de Bronwyn para onde Cal estava pairando no fundo, antes de
lançar um olhar conspirató rio por cima de seu pró prio ombro
estreito. Quando Bronwyn viu um homem grande, vestido da mesma
forma com um terno preto e ó culos escuros, parado um pouco de
lado, tentando desesperadamente parecer “discreto” atrá s de Alice,
ela riu com genuína diversã o.
— Todas as crianças legais têm um hoje em dia, — Alice
brincou alegremente, sua expressã o tã o cô mica que deixou Bronwyn
irritada novamente.
— Onde está Tristan? — Bronwyn perguntou a Alice depois de
suas calorosas saudaçõ es iniciais.
— Eu disse a Pierre que esta era uma tarde feminina e, como
tal, ele tinha que levar Tristan para o escritó rio com ele. — Ela
sorriu. — Ele estava um pouco relutante. Ele adora ter o bebê por
perto, mas Tristan tem o péssimo há bito de mastigar documentos
importantes. Pierre ainda estremece toda vez que pensa em um
determinado documento que foi mastigado minutos antes de ele ter
que devolvê-lo ao departamento jurídico. Do jeito que ele conta, ele
nã o teve outra opçã o a nã o ser devolvê-lo como está . Ele nã o fez
nenhum comentá rio sobre a baba e, como tal, nenhum dos
advogados teve coragem de dizer nada também. Eles apenas
redigitaram tudo antes de enviar. — Ela riu conspiratoriamente.
— De acordo com Pierre, foi “muito embaraçoso”. — Ela imitou
a voz e o sotaque do marido com perfeiçã o, e o sorriso de Bronwyn
se alargou, apreciativo. — Aparentemente ele tem uma reuniã o
importante hoje, mas eu quase nunca tenho tempo para mim, entã o,
embora ele resmungue, ele realmente nã o se importa. Na verdade,
ele nunca vai admitir, mas fica totalmente emocionado por ter o filho
só para ele durante parte do dia.
— Bem, ainda me sinto um pouco culpada por deixar Bryce
com Kayla, — admitiu Bronwyn. — Ele tem sido notável com ela,
mas sinto que ele está fazendo todo o trabalho.
— Então? — Alice interrompeu friamente. — Você tem feito
todo o trabalho nos ú ltimos dois anos e pagou por isso com sua
saú de. É hora de Bryce dedicar algumas horas.
— Mas...
— E você nã o pode me dizer que ele nã o está gostando desse
tempo com ela. Ele está conhecendo a filha e, pelo que pude ver
ontem à noite, está totalmente apaixonado por ela.
Bronwyn assentiu com um leve sorriso.
— Portanto, chega de culpa; apenas divirta-se. Tanto quanto
posso dizer, você nã o se divertiu muito nos ú ltimos dois anos.
O sorriso de Bronwyn desapareceu e Alice deu de ombros, o
gesto tã o gaulês que só poderia ter passado para ela do marido.
— Nã o sei nada sobre a sua situaçã o, Bronwyn, — disse ela
calmamente. — Mas a versã o de Pierre dos eventos, definitivamente
recolhida de seu amigo, era tã o unilateral que eu sempre jurei nã o
julgar até que conhecesse você. E parece haver muita coisa que Bryce
deixou de fora quando contou a Pierre sua histó ria. Quero dizer, ele
certamente nunca disse a Pierre que você estava grávida. Eu nã o
posso te dizer o quã o chocado Pierre ficou quando soube que você
estava de volta na vida de Bryce e com uma filha!
Bronwyn piscou estupidamente ao ouvir isso. Pierre nã o sabia
sobre a gravidez dela? Ela teve um sú bito flashback vívido de Rick
em seu quarto no hospital. Na verdade, nã o tinha caído na cabeça na
época; ela estava assustada, em pâ nico e flutuando em uma nuvem
medicada, mas seu cunhado pareceu surpreso com a primeira
mençã o de Bryce a uma criança. Como poderia Bryce nã o ter
contado a Rick ou Pierre sobre seu bebê? Teria ele contado à sua
equipe de investigadores particulares? Foi um detalhe bizarro para
deixar de fora. Se ele realmente queria encontrá -la, por que nã o teria
contado a ninguém sobre sua gravidez? Certamente isso teria
facilitado sua busca. É verdade que algum instinto a incitou a usar o
nome de solteira de sua avó materna nos ú ltimos dois anos, apenas
no caso de Bryce decidir que queria seu bebê e nã o ela. Foi incô modo
porque ela teve que mudar constantemente de médico e de clínica;
ninguém teria acreditado em sua histó ria de “identidade esquecida”
duas vezes.
— Bronwyn? — A voz de Alice parecia vir de uma grande
distâ ncia, e Bronwyn teve dificuldade em se concentrar em Alice
novamente. — Você está bem?
— Por que ele nã o teria contado a Pierre ou Rick sobre o bebê?
— ela pensou em voz alta, e Alice franziu a testa
— Essa é uma boa pergunta, — Alice murmurou. — Mas um
que apenas Bryce pode fornecer a resposta. — Bronwyn assentiu
distraidamente, mas achou difícil se concentrar em qualquer outra
coisa pelo resto da tarde. Ela se matriculou nas aulas de língua de
sinais depois do almoço. A clínica oferecia aulas à tarde e à noite, e
Bronwyn optou por assistir a uma aula diurna uma vez por semana.
Ela e Alice também marcaram um almoço no dia em que ela
assistiria à aula.
— Entã o toda terça-feira? Mesma hora e lugar? — a outra
mulher verificou duas vezes quando se despediram algumas horas
depois. — E da pró xima vez, vamos manter os maridos fora da
conversa!
— Me desculpe se pareci um pouco distraída, — Bron
desculpou-se baixinho. — É apenas...
— Esqueça, você e Bryce obviamente ainda têm muito a
resolver.
 
CAPÍTULO SETE

A casa estava um caos quando Bronwyn voltou para casa meia hora
depois. Kayla estava gritando na sala enquanto Bryce segurava seu
corpinho contorcido em seus braços enquanto tentava
freneticamente acalmá -la. Celeste ficou de lado, torcendo as mã os
nervosamente, um olhar preocupado em seu rosto simples.
— Ah meu Deus! O que está acontecendo aqui? — O choro de
Kayla piorou quando ela ouviu a voz de sua mã e. Ela conseguiu se
desvencilhar dos braços do pai e se lançou na direçã o da mã e, seu
andar instável quase a desequilibrando.
— Mamã e! Kayla ai! Kayla ai, mamã e! — Bronwyn caiu de
joelhos, e seu coraçã o caiu como uma pedra quando ela registrou o
medo genuíno e a dor no rosto de sua filhinha. Enquanto a criança se
esgueirava para os braços abertos de sua mã e e se aconchegava em
seu peito, Bronwyn permitiu que seus olhos furiosos encontrassem
os de Bryce. Seu rosto havia se fechado como uma persiana, um
olhar distante em seus olhos enquanto ele os observava, as mã os
enfiadas nos bolsos das calças.
— O que você fez com ela? — ela sibilou, seus instintos
maternais em alerta total. — Eu confiei em você para cuidar dela e
volto para isso? — Kayla parou de soluçar histérica e estava
soluçando no peito de Bronwyn, seu corpinho tenso relaxando
enquanto ela se agarrava ao conforto familiar que sua mã e
representava. Os olhos sombreados de Bryce nã o revelavam
absolutamente nenhuma emoçã o; seu maxilar cerrado era o ú nico
sinal visível de sua tensã o. Ela se levantou, Kayla em seus braços, e
avançou em direçã o a ele, uma leoa perseguindo a intençã o de
proteger seu filhote.
— O que aconteceu aqui?
Seus olhos permaneceram nivelados, mas ele se recusou a dizer
uma palavra.
— Bryce, me responda! Ela nunca chora assim, a menos que
esteja ferida. Como ela se machucou?
Seus olhos piscaram um pouco, enquanto ele lançava um olhar
involuntá rio para a garotinha que estava olhando para ele com
enormes olhos azuis encharcados de lá grimas. Seu polegar estava
apoiado em sua boca e sua respiraçã o ainda engasgou. Bronwyn
olhou para o corpinho da filha, avaliando os danos. Seus olhos nã o
detectaram sinais visíveis de ferimento até que ela alcançou um
pezinho rechonchudo descalço. Seu dedã o do pé estava sangrando e
parecia um pouco inchado. Bronwyn fez um som suave de
consternaçã o e ergueu o pé para inspecioná -lo mais de perto.
Felizmente, o dano parecia mínimo e, a julgar pelas fungadas cada
vez menores de Kayla, o choque imediato da dor já havia passado. À
medida que a névoa de pâ nico se dissipou, Bronwyn começou a
reconhecer que o dano que ela havia causado ao entrar cegamente
na briga pode ter sido muito pior do que o ferimento no dedo do pé
de Kayla. Ela demonstrara uma terrível falta de confiança ao
presumir que Bryce fora o responsável pelo ferimento do bebê, e
estava começando a se sentir uma tola superprotetora.
— Bryce, — ela começou hesitante, dando um passo para onde
ele estava. Ele estava quieto e distante como uma está tua. Ele a
ignorou e girou nos calcanhares para sair da sala abruptamente.
Bronwyn fez um pequeno som consternado, e Kayla, com sua dor
quase esquecida, arrastou o polegar da boca para adicionar sua
pró pria opiniã o.
— Papai, tchau, — ela observou solenemente antes de
descansar a cabeça no ombro de Bronwyn e enfiar o polegar de volta
na boca.
— Sim, — sussurrou Bronwyn, enterrando o rosto nos cachos
sedosos da filha. — Papai foi embora. — Mas isso nã o era
inteiramente verdade; ele nã o tinha saído de casa, ela ouviu a porta
de seu escritó rio bater e sabia que ele provavelmente estava
pensando lá dentro. Ela sabia que teria que chegar ao fundo das
coisas mais cedo ou mais tarde e também tinha a sensaçã o de que
era ela quem teria que fazer sérias reparaçõ es. Ela olhou para a
horrorizada Celeste e acenou com a cabeça para a garotinha
sonolenta em seus braços.
— Eu cuido do dedo do pé dela — disse ela com a voz rouca, e
Celeste resmungou que estaria na cozinha. Bronwyn se preocupou
com Kayla por um tempo, sua mente em Bryce enquanto ela beijava
o dedo do pé de seu bebê agora risonho e colocava um lindo Band-
Aid de Procurando Nemo no pequeno corte. As pá lpebras de Kayla
começaram a fechar depois de meia hora abraçando e brincando
com sua mã e - já era hora de seu cochilo da tarde. Bronwyn a
carregou até a governanta na cozinha.
— Celeste, você se importaria... — Ela deixou a pergunta
inacabada, e Celeste assentiu imediatamente e se apressou para
pegar Kayla sem protestar em seus braços. Bronwyn deu um beijo
afetuoso na testa da criança sonolenta antes de sair correndo da sala
em direçã o ao escritó rio de Bryce. A cada passo pesado que dava, ela
se sentia cada vez mais como Daniel se preparando para enfrentar a
cova dos leõ es. Quando chegou à porta fechada do escritó rio, ela
parou para ouvir, mas nã o conseguiu ouvir nenhum som vindo de
trá s da porta. Ela bateu cautelosamente na madeira só lida antes de
se repreender por sua açã o impensada. Agora ela enfrentava um
dilema desconhecido: ela entrava? Ou ela esperava até que ele
finalmente saísse sozinho? Ela considerou o obstá culo
repentinamente intransponível da porta com cautela antes de
decidir pegar o touro pelos chifres e abrir a porta.
Bryce estava sentado atrá s de sua enorme escrivaninha, com os
cotovelos apoiados na superfície brilhante de madeira e o rosto
enterrado nas mã os. Seus ombros largos tremiam ligeiramente. Ele
parecia terrivelmente vulnerável e, naquele momento, Bronwyn se
sentiu um voyeur da pior espécie. Ela limpou a garganta para alertá -
lo de sua presença e entã o xingou baixinho quando percebeu que o
gesto era tã o fú til quanto bater na porta.
— Bryce... — Novamente ela xingou, sentindo-se uma completa
idiota, e hesitantemente deu alguns passos em direçã o a ele,
levantando a mã o em seu ombro no processo. Ele pulou da cadeira
como um gato escaldado e xingou furiosamente. Ele olhou para ela,
parecendo um pouco abalado e muito furioso.
— Não se aproxime de mim assim, — ele repreendeu com voz
rouca.
— Eu nã o queria, — ela protestou, chocada pela quase violência
de sua reaçã o. — Eu bati, mas...
— Você bateu? — Sua voz gotejava com escá rnio. — Nã o
consigo ouvir, droga!
— Bem, o que eu deveria fazer, entã o? — ela respondeu
defensivamente.
— Há uma campainha, — informou ele, acalmando-se
marginalmente, e ela olhou para ele em confusã o.
— Uma campainha? Mas como... — a pergunta dela sumiu
quando ele apontou para a lâ mpada em sua mesa.
— A lâ mpada está preparada para piscar quando a campainha
toca. Funciona tanto para a porta da frente quanto para a porta do
escritó rio. Duas cintilaçõ es para fora, uma para dentro.
— Ah. Isso é muito inteligente, — ela murmurou,
impressionada com o engenhoso dispositivo e se sentindo como uma
completa idiota por nã o ter percebido antes que as luzes piscando
que ela havia notado distraidamente intermitentemente desde seu
retorno nã o eram resultado de uma falha elétrica como ela havia
presumido.
— Inteligente, sim. — Ele sorriu sem humor e praticamente
zombou das palavras. —É um dispositivo bastante comum para
surdos. Há tantas maneiras de tornar nossas vidas o mais
convenientes possível, brinquedinhos inteligentes que acendem e
vibram, tablets e smartphones com recursos de chamadas face a
face, mensagens e vá rios outros pequenos dispositivos projetados
para facilitar minha vida. No entanto, nenhum desses brinquedinhos
inteligentes jamais seria capaz de me alertar para o fato de que
minha filhinha está bem atrá s de mim, tentando chamar minha
atençã o, nenhum deles poderia me impedir de me virar e pisar nela
antes que eu sou capaz de me conter. — Ah Deus! Depois de seu
pâ nico inicial ao encontrar Kayla em lá grimas e dor ó bvia, ela
suspeitava que poderia ser algo assim. Claro que foi um acidente,
algo pelo qual Bryce se despedaçaria, uma situaçã o que ela piorou
com sua estú pida reaçã o exagerada. Seus olhos estavam
atormentados, e ela engoliu um soluço enquanto segurava seu
queixo em suas mã os esguias.
— Bryce, — ela sussurrou, seus olhos cheios de pesar e
simpatia. Ele nã o viu nada além de simpatia e confundiu com pena.
Ele se afastou dela e lhe deu as costas.
— Nã o, — ela gemeu baixinho, nã o querendo permitir que ele
se fechasse quando estava claramente com dor. Ela deu um passo ao
redor dele e o forçou a encontrar seus olhos.
— Mikayla e eu vamos ter que aprender a nã o nos
aproximarmos de você entã o, — ela disse a ele com firmeza. — Você
nã o tem culpa aqui, Bryce, foi um acidente!
— Você mudou de tom rapidamente, — ele zombou, e ela corou.
— Eu exagerei, — ela admitiu. — Eu sinto muito. Eu nã o
deveria ter ido tã o fundo assim. Eu sei que você nunca machucaria
intencionalmente nossa filha.
— Intencionalmente ou nã o, eu a machuquei, — ele apontou
severamente. — E nã o posso prometer que isso nã o acontecerá
novamente no futuro. E ela — ela está com medo de mim agora. eu
nã o acho...
— Ela é um bebê, Bryce, — Bron apontou com firmeza. — Ela
ficou chocada e com dor, mas logo vai esquecer. As crianças sã o
resilientes e têm uma capacidade de perdã o muito maior do que nó s.
Ela também aprendeu a liçã o, e duvido que venha atrá s de você sem
avisá -lo de alguma forma no futuro. Uma coisa sobre sua filha... —
ela sorriu com carinho — ...ela aprende rá pido!
— Ela estava chorando tanto, — ele lembrou com a voz
trêmula. — Eu nã o consegui fazê-la parar! Seu rostinho estava tã o
triste e confuso. Eu me senti um monstro.
Ela deu um passo mais perto dele, seu coraçã o indo para ele.
— Ah, Bryce, — ela começou, sem saber como fazer isso
melhor. — Eu sinto muito.
— Eu nã o preciso de sua pena, — ele rosnou, tã o defensivo e
perigoso quanto um animal ferido. Bronwyn piscou, sua mudança
abrupta de humor a deixou completamente desprevenida.
— Eu nã o tenho pena de você, — ela negou, colocando uma
mã o hesitante em seu antebraço, mas ele deu de ombros e sinalizou
algo para ela, olhando ferozmente enquanto o fazia.
— Eu nã o entendo, — ela disse impotente, e ele respondeu com
outra rajada de sinais amotinados que a deixaram completamente à
deriva. Seus olhos ardiam de raiva e alguma outra emoçã o que ela
nã o conseguia definir.
— Bryce, por favor... — ela implorou, sem saber por que
importava para ela que ela o confortasse. — Nã o me exclua assim. —
Ele disse outra coisa, novamente com as mã os, e entã o abruptamente
virou as costas para ela. Mais uma vez, excluindo-a o mais
completamente possível. Ela soluçou um pouco antes de levar o
punho cerrado aos lá bios e morder os nó s dos dedos, sem saber
como lidar com isso. Ela olhou para suas costas largas e rígidas com
olhos ardentes. Ela se recusou a deixá -lo fazer isso.
Bryce sempre foi muito bom em excluí-la. Depois de um dia
ruim no trabalho, ele costumava se trancar em seu escritó rio e se
recusava a falar com ela sobre isso até que fosse resolvido. Ela nunca
disse a ele o quanto isso a magoava, e a única vez que ela ousou
mencioná -lo, ele a informou de forma bastante condescendente que
ela nã o entenderia de qualquer maneira e nã o se preocuparia com
isso. Isso a deixou tã o furiosa, mas ela deixou passar. Ela havia
deixado muitas coisas passarem naquela época, em um esforço para
nã o chatear Bryce. Mas ela nã o era mais aquela garota boba e
covarde, e ela estava determinada a nã o o deixar excluí-la de novo,
nã o desta vez. Nã o quando era tã o importante para o futuro deles
como uma família funcional. Ela jogou os ombros para trá s
resolutamente antes de passar por ele novamente para enfrentar seu
olhar feroz. Ela escolheu ignorar a raiva abrasadora em seus olhos.
— Eu nã o vou permitir que você vire as costas para mim desta
vez, Bryce. E eu me recuso a sair até que você me reconheça e
conversemos sobre isso! — ela disse a ele resolutamente, e seus
lá bios se apertaram enquanto ele sinalizava algo particularmente
perverso olhando para ela.
— Eu nã o sei o que você está dizendo, — Bronwyn quase gritou
em frustraçã o, e ele sorriu, uma exibiçã o selvagem de dentes que nã o
tinha nenhuma semelhança com seu sorriso normalmente bonito.
Ele sinalizou novamente e de repente agarrou seus braços e a beijou.
Duro! Sua língua forçou seu caminho para o interior macio de sua
boca, agredindo e insultando ao invés de acariciar e amar. Nã o havia
nada remotamente afetuoso no abraço, nada além de desprezo e
raiva.
— Eu disse, — ele disse a ela com desdém, quando ele levantou
a cabeça para terminar o beijo vil. — Que já que você se recusa a sair,
você também pode se tornar ú til!
Deus, o que na Terra a fez pensar que poderia lidar com este
homem em pé de igualdade? Sempre que ela tentava, ele movia as
traves e a deixava se debatendo. Ela nã o poderia enfrentá -lo e
vencer; ela nã o podia nem esperar tentar. Mas enganá -la, por pensar
que ela poderia.
—Nã o está tã o ansiosa para ficar por aqui agora, nã o é? — ele
provocou quando ela deu um passo para trá s. — Entã o, novamente,
você nunca foi boa em ver as coisas, nã o é? Coisas importantes como
seus estudos e nosso casamento.
— Foi você quem abandonou nosso casamento, Bryce. E entã o
você agravou seus pecados acreditando e contando as mentiras mais
desprezíveis sobre mim!
— Você vai parar de cantar essa mesma mú sica patética
repetidamente? Sua indignaçã o hipó crita nã o me agrada, Bronwyn.
Esse ar de dignidade ferida está se esgotando e me dando nos
nervos.
— Já que aparentemente somos “forçados” a construir uma
vida juntos, você nã o acha que deveríamos tentar deixar nossas
diferenças de lado e ser uma família?
— Entã o vamos ser uma família, Bronwyn, — ele murmurou
suavemente. — Vamos ser marido e mulher. — Ele segurou seus
braços finos novamente e a arrastou para ele, prendendo seus lá bios
em outro beijo. Desta vez, o beijo continha todos os elementos que
faltavam ao anterior: calor, sensaçã o e desejo. Bronwyn gemeu em
desespero, mas sua boca capturou o pequeno som desolado e o
engoliu avidamente. Seus lá bios eram macios, mas insistentes contra
os dela; eles abriram sua boca com a habilidade que ela sempre fora
incapaz de resistir, e sua língua fluiu, subjugando habilmente
qualquer protesto que ela pudesse ter feito. Mas Bronwyn nã o podia
protestar, nem sequer pensara em protestar. Ela sabia que isso nã o
resolveria nenhum de seus problemas - provavelmente os pioraria,
se alguma coisa - mas ela sempre se derreteu ao primeiro sinal de
ternura dele, e esse beijo zombeteiro era tã o humilhantemente
terno.
Suas mã os se moveram para segurar seu rosto, os polegares
acariciando sua mandíbula enquanto ele a persuadia a se abrir um
pouco mais, a responder apesar de si mesma e, Deus a ajudasse, ela
respondeu. Ela retribuiu o beijo, aparou-se com sua língua e correu
inquieta, buscando mã os em seus ombros, pescoço e rosto. Ele fez
um pequeno som satisfeito quando suas mã os questionadoras se
enterraram sob sua camiseta e encontraram a pele quente e sedosa
sob o algodã o. De alguma forma, juntos, eles conseguiram livrá -lo da
camiseta sem perder o contato uma vez. Sua blusa logo seguiu o
exemplo. Antes que ela percebesse, o resto de suas roupas estavam
fora, e eles estavam pele a pele, com nada entre eles, exceto uma fina
camada de suor. Ele fechou as mã os em volta da cintura dela e a
ergueu. Bronwyn soube imediatamente o que ele queria e o obrigou
envolvendo suas longas pernas em volta de sua cintura e seus braços
em volta de seu pescoço.
Ele cambaleou em direçã o a sua mesa, o peso dela o
desequilibrando um pouco, mas sua boca nunca perdeu o contato
com a dela. Houve um barulho terrível quando ele varreu o papel de
carta da superfície da mesa, quase derrubando o monitor do
computador no processo. Ele ergueu os lá bios dos dela enquanto a
deitava na mesa e mergulhou nela no mesmo movimento fluido.
Alguém soluçou de alívio. Bronwyn nã o sabia qual deles era,
mas suspeitava que fosse Bryce. Ele descansou lá por um tempo,
levando-a para baixo com seu peso. Ele se sentiu grande, quente e
duro dentro dela e cobriu seu rosto com pequenos beijos de
adoraçã o enquanto começava a se mover. As pernas dela haviam
caído de sua cintura e agora balançavam sobre a borda da mesa com
as coxas bem abertas para acomodar seus poderosos impulsos. Suas
mã os estavam espalmadas contra a mesa em ambos os lados de sua
cabeça enquanto ele concentrava toda sua atençã o formidável em
seu prazer mú tuo.
Ele estava começando a gemer, e seus golpes longos e suaves
estavam ficando mais agitados e menos controlados. Bronwyn puxou
as pernas para cima e envolveu-as em volta da cintura dele
novamente, levantando o traseiro da mesa para permitir um acesso
mais fá cil e profundo. Ele baixou a cabeça até os seios dela,
lambendo, chupando e beijando-os avidamente. Uma de suas mã os
caiu para onde seus corpos estavam unidos e ele a tocou de uma
forma que sempre a deixou louca. Desta vez nã o foi exceçã o - ela
grunhiu de surpresa, respirando o nome dele, antes de gritar de
prazer enquanto estremecia, entã o estremeceu novamente e
desmoronou ao redor dele.
Ele gemeu, movendo as mã os para seus quadris esguios para
mantê-la firme enquanto se concentrava ferozmente em seu rosto
contorcido. O suor escorria de sua testa quando ele se chocou contra
ela. Bronwyn, que estava descendo de seu clímax, ficou tensa
novamente quando outro poderoso orgasmo a atingiu.
As costas de Bryce arquearam e ele a levantou da mesa com
seus mergulhos frenéticos. Ele a segurou perto enquanto estremecia
violentamente e se derramava nela, enquanto gozavam
simultaneamente. Eles gritaram de prazer e se agarraram
desesperadamente um ao outro enquanto o mundo retrocedia. Bryce
desabou sobre ela e ela brevemente suportou todo o seu peso antes
que ele apoiasse as mã os na mesa e a aliviasse de parte do fardo.
Seus olhos procuravam o rosto dela quase desesperadamente, e
Bronwyn nã o tinha certeza do que ele esperava encontrar.
Ele a beijou docemente e a parte dele que ainda estava
enterrada dentro dela pulsou preguiçosamente em reaçã o à carícia
gentil. Bronwyn engasgou ao sentir o movimento e se perguntou se
eles poderiam fazê-lo novamente tã o logo apó s a felicidade
alucinante de apenas alguns minutos antes. Mas ele terminou o beijo
abruptamente e se afastou dela sem qualquer aviso. A rapidez da
separaçã o a deixou se sentindo ridiculamente vulnerável. Ele
praguejou, seu rosto escurecendo com raiva.
— Eu nã o usei nenhuma proteçã o. — Ela se encolheu com a
lembrança de quanto ele detestaria engravidá -la novamente. Mas
depois da ú ltima vez, engravidar de Bryce também nã o estava
exatamente no topo de sua lista de tarefas.
— Estou tomando pílula, — ela admitiu com voz rouca. — Pedi
uma receita ao médico na semana passada durante o meu check-up.
— Ela se encolheu quando ele riu sarcasticamente.
— Me perdoe se eu decidir duvidar de você, minha querida. Nó s
dois sabemos o quã o pouco confiável você é quando se trata de
cuidar do controle de natalidade, — ele zombou, e ela tremeu
violentamente com o escá rnio em sua voz e o desprezo em seu rosto.
Ele deu a ela um ú ltimo olhar penetrante antes de deixar o assunto
de lado.
— Eu machuquei você? — ele perguntou quase
impessoalmente enquanto procurava por sua boxer. A resposta dela
obviamente nã o o interessou muito porque ele estava de costas para
ela. Ela nã o se incomodou em responder, mas sentou-se, humilhada
pela posiçã o em que se encontrava, deitada em sua mesa, nua e
estendida para seu prazer. Ela estava coberta por uma mistura de
suor e outros fluidos e cheirava a sexo e suor. Ela se sentia usada e
barata e suas bochechas queimavam de mortificaçã o. Ele nã o
poderia ter deixado mais claro seu desdém por ela, e Bronwyn ficava
enojada consigo mesma por cair em seus braços tã o facilmente todas
as vezes. Ela estava um pouco chocada com sua estupidez
imperdoável e mal conseguia reunir seus pensamentos dispersos.
Ela só queria sair da sala e ficar longe de Bryce, mas por algum
motivo ela nã o conseguia descobrir como fazer isso.
Ela se levantou e cruzou um braço sobre os seios nus e usou a
outra mã o para segurar o fino triâ ngulo de cachos na junçã o de suas
coxas em uma pose clá ssica de vergonha feminina.
Quando Bryce ergueu os olhos e a viu, ficou paralisado como
uma está tua. Seus olhos cheios de lá grimas estavam correndo
freneticamente ao redor da sala, procurando por suas roupas
espalhadas. Ele já havia colocado sua cueca e começou a procurar as
coisas dela com urgência, odiando o olhar desesperado e preso em
seus olhos. Ele finalmente encontrou a blusa e entregou a ela, mas
ela nã o se mexeu. Ela parecia quase catatô nica e Bryce engoliu uma
onda irracional de pâ nico. Ele a ajudou a vestir a blusa e a abotoou
desajeitadamente, mas ela parecia ainda mais vulnerável com
apenas a metade inferior exposta. Ela abaixou a cabeça e escondeu o
rosto atrá s de sua pesada queda de cabelo. Ele caçou ao redor, mas
nã o conseguia encontrar sua calcinha. Em vez disso, ele levantou um
sutiã delicado e suas calças vincadas. Decidindo que o ú ltimo
serviria, ele a ajudou a vesti-los, agachando-se para levantar
fisicamente seus pés, um de cada vez, nas pernas da calça. A posiçã o
deixou seu rosto nivelado com os cachos finos em seu centro, mas
sua pró pria nudez a fazia parecer ainda mais indefesa e necessitada
de sua proteçã o.
Ele finalmente conseguiu colocá -la toda fechada e abotoada, e
quando ele olhou em seu rosto, viu que seus lá bios estavam se
movendo e as lá grimas que ameaçavam derramar. Ele agarrou seus
braços com urgência, odiando a visã o de suas lá grimas. Ele se
concentrou em seus lá bios e foi capaz de discernir que ela estava
dizendo a mesma coisa repetidamente.
Você continua me punindo...
Bryce reconheceu esse fato para si mesmo. Ele continuou
punindo-a, mas o que ela nã o sabia era que ele também estava
punindo a si mesmo. Ele odiava vê-la assim, e odiava a culpa que
queimava em seu interior como á cido com cada lá grima relutante
que ela derramava. Ele continuou dizendo a si mesmo que ela
merecia isso, mas estava ficando muito difícil continuar se
convencendo desse fato. Ele ergueu a mã o para o rosto dela, mas ela
se afastou dele e ele a encarou, odiando a reaçã o. Ele nunca a
machucou fisicamente, sempre teve muito cuidado para não a
machucar, e vê-la se afastar dele como se ele fosse o monstro que ele
tanto temia se tornar, teve o mesmo efeito visceral sobre ele como
um soco no estô mago. Ele cuidadosamente envolveu seus braços ao
redor dela e a puxou contra seu peito. Ela estava rígida como uma
tá bua e se recusava a relaxar em seu abraço. Eventualmente
percebendo que ela provavelmente estava emocionalmente
esgotada, ele a ergueu em seus braços e desajeitadamente conseguiu
abrir a porta e carregá -la escada acima para seu quarto. Felizmente,
Celeste e Kayla nã o estavam à vista. Ele a colocou na cama macia e se
ajoelhou na frente dela, tentando capturar seus olhos.
— Se você apenas admitisse, — ele disse. Ela ergueu os olhos
opacos para ele, parecendo finalmente registrar sua presença e
franziu a testa em confusã o.
— Admitir o quê? — Ela parecia confusa, e ele cerrou os dentes
enquanto tentava manter seu temperamento.
— Admita que você estava no local do meu acidente e que
mentiu sobre tentar me encontrar. Eu poderia tentar te perdoar e
poderíamos começar a reconstruir nosso relacionamento. Apenas
seja honesta, Bronwyn. — Ela suspirou cansada, a derrota pesando
sobre seus ombros. Ela desviou os olhos novamente e deu de
ombros, parecendo alguém que só queria ficar sozinho e faria
qualquer coisa para conseguir isso.
— Se é isso que você quer, Bryce, entã o eu confesso ser culpada
de tudo que você me acusou. Eu fiquei ao lado daquela estrada e vi
você sofrer antes de ir embora. Nunca tentei entrar em contato com
você; preferi lutar sem dinheiro, sem casa e com a saú de em rá pida
deterioraçã o.
— Também nã o tentei, e falhei, entrar em contato com você
logo depois que Kayla nasceu, quando estava tã o doente que mal
conseguia segurar o celular, quando estava com medo de morrer e
ela ficaria sozinha. Me agarrei ao meu orgulho teimoso e, de forma
bastante egoísta, nunca pensei sobre o que era melhor para você ou
nossa filha. — Ela moldou as palavras com tanta clareza que ele nã o
teve nenhuma dificuldade em entendê-la. Era o que ele queria, o que
ele acreditava ser verdade, uma admissã o total de culpa, mas nã o lhe
caía bem e certamente nã o parecia certo. Ele nã o tinha certeza de
como proceder a partir daqui e gentilmente a empurrou para baixo
até que ela estivesse deitada na cama.
— Você precisa descansar, — ele disse o mais gentilmente que
pô de, mas ele era um juiz impreciso de seu pró prio tom de voz na
melhor das hipó teses, e pela maneira como ela se encolheu, ele
suspeitou que suas palavras tivessem saído muito mais duras. do que
ele pretendia. Ainda assim, ela o obedeceu e ficou sem resistir,
parecendo totalmente esgotada de qualquer desejo de lutar contra
ele. Ele puxou as cobertas sobre seu corpo imó vel e beijou sua testa
com ternura antes de se levantar. Ele pairava incerto, sentindo-se
ligeiramente ridículo em nada além de sua cueca preta de algodã o.
— Tente dormir um pouco. Nã o se preocupe com Kayla. Vou
providenciar o jantar dela e levá -la para a cama... — Ele parecia estar
divagando agora e Bronwyn estava confusa com sua incerteza. — Eu
a trarei para dizer boa noite mais tarde. As coisas vã o melhorar
agora, Bron — ele jurou com uma pressa desajeitada, mas Bronwyn
se recusou a reconhecer sua promessa impulsiva. — Você vai ver.
Elas vã o melhorar.
 

 
Bem, as coisas certamente pareciam melhores quando ela acordou
na manhã seguinte. Ela se sentiu aquecida e querida e logo percebeu
que era porque estava sendo embalada nos braços de Bryce com as
costas pressionadas contra o peito quente dele. Era apenas a
segunda vez que ela acordava ao lado dele desde seu retorno, e
depois dos acontecimentos das ú ltimas vinte e quatro horas, ela se
sentia mais do que um pouco ambivalente sobre a presença dele em
sua cama. Ele tinha um braço ao redor de sua cintura com a mã o
aninhada entre seus seios, e o outro braço estava dobrado sob sua
cabeça. Uma de suas coxas musculosas estava espremida entre as
coxas esbeltas dela. Contra seu melhor julgamento, Bronwyn se
sentia segura, protegida e quase querida. Ela sentiu a respiraçã o
quente e constante dele contra a nuca vulnerável de seu pescoço, e
ela lutou contra um pequeno arrepio de prazer. Ela lentamente
percebeu o fato de que ambos estavam nus - e lembrou-se
vagamente de Bryce ajudando-a bruscamente a tirar a roupa em
algum momento durante a noite. O comprimento escaldante de sua
ereçã o estava pressionando contra a parte inferior de suas costas.
Ela imediatamente ficou tensa.
— Relaxe. — Sua voz soou como o ronronar satisfeito de um
gato e teve o efeito exatamente oposto de relaxá -la. — Eu nã o vou
pular em você esta manhã . Nó s precisamos conversar.
— Nã o tenho nada a dizer a você, — ela respondeu
rebeldemente, segura no conhecimento de que ele nã o podia ouvi-la
ou ver seus lá bios.
— O que você disse? — ele a surpreendeu exigindo, e ela ficou
ainda mais tensa. Ele virou seu corpo resistente para encará -lo como
se ela nã o pesasse mais que uma pena, mas ela manteve o olhar
colado em sua mandíbula. — Eu sei que você disse algo... Eu posso
sentir a vibraçã o em seu peito!
— Eu perguntei sobre o que você queria conversar, — ela
mentiu, encontrando seus olhos. Ele nã o parecia convencido e seus
olhos ferviam de frustraçã o, mas ele conteve isso com determinaçã o.
— Nó s...
— Eu pensei que tínhamos dito tudo o que precisava ser dito na
noite passada, — ela respondeu. — Eu sou uma mentirosa e você é a
vítima da minha natureza vingativa e cruel. — Ele escolheu ignorar o
sarcasmo dela.
— Eu quero saber o que você quis dizer ontem à noite quando
disse que estava com medo de morrer, — ele sondou suavemente,
observando seu rosto cuidadosamente. Eles estavam deitados tã o
juntos que era difícil esconder dele a menor emoçã o.
— Houve complicaçõ es. — Ela deu de ombros casualmente. —
Foi uma gravidez difícil, agravada pelo fato de eu estar . . .
desnutrida. — Como era humilhante admitir isso. Ela baixou os olhos
novamente, envergonhada por sua incapacidade de cuidar de si
mesma. — Eu estava abaixo do peso e fraca quando entrei em
trabalho de parto. Foi um trabalho de parto longo e intenso e, como
meu corpo foi privado das vitaminas de que precisava durante a
gravidez, nã o estava preparado para lidar com o... trauma... de um
parto prolongado. Teve uma laceraçã o, perdi muito sangue e entrei
em choque. Me lembro deles pedindo o nome e o nú mero do meu
parente mais pró ximo logo apó s o nascimento de Kayla. — Ela sentiu
a umidade em suas bochechas e ficou chocada ao descobrir que
estava chorando silenciosamente. Deus, ela estava tão cansada de
chorar o tempo todo, mas era tã o difícil recordar o medo e a solidã o
absoluta daquele momento sem sucumbir à emoçã o. — Eu estava tã o
assustada. Eu só queria segurar meu bebê. Eu queria ter certeza de
que ela estava bem. Todos os médicos pareciam tã o sombrios por
trá s de suas má scaras; eles me disseram que ela estava bem, mas
ninguém me mostrou. — Ela sentiu um polegar á spero enxugando as
lá grimas em seu rosto e fechou os olhos com a suavidade á spera. Ela
engoliu corajosamente antes de continuar. — Uma das ú ltimas coisas
de que me lembro antes de tudo sair do ar foi implorar para ver meu
bebê e, em seguida, um médico chamando meu nome e xingando. Me
lembro dele xingando porque parecia tã o zangado e tã o preocupado
que me lembrou você. Por uma fraçã o de segundo pensei que fosse
você! E eu estava tã o feliz... — Ela podia senti-lo tremendo agora,
como se gelado até os ossos, mas por algum motivo ela nã o
conseguia parar o fluxo de palavras. Ele havia perguntado, queria
saber, e ela não iria adoçar as coisas para ele. Ela limpou a garganta
com voz rouca antes de continuar.
— Eles me disseram que meu coraçã o parou... duas vezes. Claro,
nã o me lembro de nada. Acabei de acordar com o som do choro de
Kayla. Levou tanta força para virar minha cabeça, mas... — Ela sorriu
radiante para o rosto dele, suas lá grimas cegando-a para a expressã o
dele. — Ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Tã o perfeita e
tã o saudável, e naquele momento eu sabia que faria qualquer coisa
para mantê-la segura!
— Bronwyn... — A garganta de Bryce estava apertada de
emoçã o, e ele lutou para pronunciar as palavras. — Por que você
nã o...
— Liguei para você? — Ela completou a pergunta e olhou
fixamente para ele. —Talvez eu fosse teimosa... ou estú pida? Talvez
eu nã o tenha amado Kayla o suficiente para querer o melhor para
ela? — Ele nã o queria a verdade dela, ele a forçou a proferir a ú nica
grande mentira que ela já havia dito a ele, e ela seria amaldiçoada se
tentasse convencê-lo dos fatos novamente. Ela estava cansada de se
defender de um homem que se recusava a ver a verdade. Bem, agora
a verdade era algo que Bryce teria que descobrir por si mesmo. Ela
havia desistido disso e dele.
— Eu sinto muito, — ele sussurrou dolorosamente, seus
pró prios olhos brilhando com o que só podiam ser lá grimas. — Deus,
eu sinto muito que você teve que passar por isso sozinha.
Bryce nã o era capaz de processar tudo o que acabara de
aprender sem querer uivar de agonia com o horror de tudo. Seu
coração tinha parado pelo amor de Deus! Ela havia morrido e ele
nem sabia disso. Sua linda e frá gil Bronwyn quase foi arrancada dele
para sempre e o conhecimento o estava comendo vivo. Seu pró prio
sofrimento parecia quase irrelevante quando comparado com os
fatos terrivelmente dolorosos que ela acabara de revelar e, no
entanto, ele nã o conseguia deixar de pensar que se ela tivesse ficado,
voltado, ligado para ele - qualquer coisa - ele poderia protegê-la,
mantê-la segura dos danos. Ele ignorou a voz estridente gritando
com ele no fundo de sua mente, Quem a teria mantido a salvo de
você?
— Você disse que a enfermeira pediu os detalhes de contato do
seu parente mais pró ximo. Por que você nã o deu meu nú mero a eles?
— ele perguntou rispidamente.
— Ah, agora por que diabos eu faria isso? — Bronwyn
perguntou levianamente. — Eu preferia muito mais a ideia de deixar
Kayla ó rfã . — Sua sobrancelha baixou ameaçadoramente. Você nã o
precisava ser capaz de ouvir para reconhecer tal sarcasmo flagrante.
— Bron, agora nã o é hora para brincadeiras!
— Bem, — ela piscou para ele inocentemente, formando suas
palavras cuidadosamente para que nã o houvesse mal-entendidos. —
Só estou dizendo o que acredito que você queira saber, já que se
tornou bastante evidente que a verdade é rejeitada quando nã o lhe
convém. O que eu nã o entendo é como diabos você pode se casar
com uma mulher de quem você tem uma opiniã o tã o negativa. A esta
altura já estabelecemos que sou tola, inconstante, cruel e egoísta!
Deus sabe o que você viu em mim em primeiro lugar. Você deve ser
um péssimo juiz de cará ter. — Ela se desvencilhou dos braços dele e
pulou da cama, sem se importar com sua nudez. Ela só queria ficar
longe dele.
— Onde você está indo? — ele perguntou, parecendo em
pâ nico.
— Chuveiro, — foi sua resposta sucinta.
— Mas ainda nã o terminamos nossa conversa...
— Já disse tudo o que tinha a dizer sobre esse assunto em
particular. — Ela acenou com a mã o com desdém e se virou para o
banheiro.
— Bron, — sua voz era á spera com alguma emoçã o indefinível,
e ela se virou para encará -lo. Ele a encarou por um longo momento,
parecendo completamente sem palavras, antes de balançar a cabeça.
— Rick e Lisa voltaram das férias ontem à noite e achei que
seria bom recebê-los durante a tarde. Eu gostaria que Rick
conhecesse Kayla, e acho que você e Lisa podem se dar bem. — Ela
acenou com a cabeça em resposta, parte dela ansiosa para ver Rick
novamente e a outra parte se lembrando de seu sangue-frio no
hospital quando ela estava doente e indefesa. Ela estava ansiosa para
passar mais tempo com sua nova esposa; a mulher foi muito gentil
com ela nos breves momentos que compartilharam.
— Isso vai ser bom, — ela murmurou antes de voltar para o
banheiro, e desta vez ele a deixou ir sem protestar.
 
CAPÍTULO OITO

Rick, Lisa e Rhys chegaram pouco depois de uma hora. O casal


estava de mã os dadas e parecia bronzeado, saudável e feliz. A
saudaçã o de Rick para Bronwyn foi tensa; apenas um breve aceno de
cabeça antes de sorrir para o irmã o mais velho e imediatamente
iniciar uma conversa em SASL, excluindo rudemente Bronwyn e Lisa.
A outra mulher compartilhou um sorriso irô nico com Bronwyn antes
de apertar sua mã o calorosamente e dar um beijo totalmente
inesperado em sua bochecha.
— Você parece muito melhor do que da ú ltima vez que te vi, —
ela disse com um sorriso amigável.
— Descanso e sol fazem isso, — respondeu Bron facilmente
antes de recuar e dar a Lisa uma olhada abrangente.
— Nã o me lembro muito de você, além de sua gentileza naquele
dia, mas devo dizer que você também está muito bem. — Ela lançou
um olhar furtivo para seu cunhado que assinava expansivamente. —
Estou feliz que a minha... situaçã o com Bryce e eu nã o estragou suas
férias! — Lisa balançou a cabeça com um sorriso.
— Rick ficou um pouco retraído por um tempo, mas Rhys e eu
logo o tiramos disso. — Ela acenou com a cabeça para o bebê
dormindo em seu carrinho e sorriu bem-humorada.
— Ah, estou tã o aliviado em ouvir isso. — Bronwyn nã o pô de
deixar de responder à personalidade calorosa de Lisa. A mulher era
absolutamente encantadora. Ela podia ver como Rick se apaixonou
por ela tã o rapidamente.
— Entã o, onde está sua linda garotinha? — Lisa lançou um
olhar questionador ao redor do pá tio ensolarado como se esperasse
que Kayla aparecesse de algum canto a qualquer momento.
— Coitadinha. Bryce a preparou para sua visita iminente
durante toda a manhã e, embora ela nã o tenha ideia do que sã o
primos, tias e tios - acho que ela está esperando alguma forma
exó tica de animal -, ela continuou tagarelando sobre isso durante o
almoço. Ela se cansou e caiu no sono quase imediatamente apó s
É
terminar sua refeiçã o. É o melhor; ela fica irritada se nã o tira a
soneca da tarde. Ela estará de pé novamente em uma ou duas horas.
— Ela olhou para onde Bryce e Rick ainda estavam imersos na
conversa e franziu a testa.
—Você consegue entender a linguagem de sinais? — ela
perguntou baixinho, e os olhos de Lisa se tornaram poças de
simpatia líquida.
— Um pouco. Rick tem me ensinado, — ela admitiu
suavemente.
— Do que eles estã o falando? — Bron se perguntou
melancolicamente, e Lisa apertou sua mã o novamente.
— Acho que Rick está contando a Bryce sobre seu mergulho na
jaula de tubarã o. — Ela estremeceu com a lembrança desagradável.
— Ah céus . . . Rick ainda faz coisas assim?
— Aparentemente, foi a primeira vez que ele mergulhou em
uma jaula com tubarõ es. Ele adorou, mas me disse que duvida que vá
fazer de novo, agora que já experimentou. Espero que nã o. Fico
nervosa sempre que penso nele lá embaixo com todos aqueles
grandes tubarõ es-brancos circulando a jaula frá gil que ele considera
proteçã o!
— Ele vai se acalmar um pouco agora que é casado e tem um
filho, eu suspeito, — afirmou Bron com confiança.
— Claro que ele vai. — Lisa revirou os olhos. — Ou talvez ele
simplesmente arraste Rhys e eu junto com ele. Quando estávamos
namorando, antes de eu engravidar, ele fez um trabalho brilhante em
me convencer a fazer coisas malucas com ele! Na verdade, tenho
certeza de que engravidar tã o cedo foi o mecanismo de defesa do
meu corpo entrando em açã o para me salvar da Morte por Louco.
— Não, — Bron engasgou, incapaz de imaginar a doce mulher
de aparência estudiosa participando de alguns dos esportes radicais
que Rick costumava fazer para se divertir.
— Bem, vejamos: bungee jumping, parapente, paraquedismo,
asa delta. — Ela marcou os dedos enquanto detalhava. — Navegar
em uma corrida off-road maluca, rafting em corredeiras... essas sã o
apenas algumas das coisas insanas que me vi obrigado a fazer
naquela época.
— Recitais de balé, ó peras, leituras de poesia, orquestras
sinfô nicas, compras de mó veis realmente antigos, — interrompeu
Rick.
— Antiguidades, — Lisa inseriu suavemente, sorrindo
afetuosamente enquanto seu marido se aproximava para se juntar a
eles.
— ...Exposiçõ es de arte, — Rick continuou a recitar como se ela
nã o tivesse interrompido, deixando cair um braço em volta dos
ombros estreitos de sua esposa e se inclinando para que Bryce
pudesse ler os lá bios do que ele estava dizendo. — Essas sã o apenas
algumas das coisas realmente chatas das quais me vi participando
desde que me casei.
Lisa bufou e revirou os olhos novamente.
— Pelo menos eu nã o gosto de pular de altas montanhas e de
aviõ es perfeitamente bons, — ela zombou, e ele sorriu antes de dar
um beijo rá pido em seus lá bios e sussurrar algo em seu ouvido.
Bronwyn os observou com inveja e inconscientemente se viu
erguendo os olhos para o rosto de Bryce. Ela ficou surpresa ao ver
que ele a estava estudando atentamente, e ela baixou o olhar
rapidamente, mas ele veio para ficar ao lado dela. Eles ficaram lado a
lado por alguns momentos, sem se tocar, observando o casal mais
jovem sussurrando e rindo um com o outro. Bronwyn quase pulou
de susto quando sentiu o primeiro toque hesitante e totalmente
inesperado da mã o grande dele em suas costas. Os olhos dela
voaram para o perfil impassível dele, mas ele manteve os olhos fixos
à frente, observando seu irmã o e Lisa com um leve sorriso brincando
em seus lá bios.
A mã o dele se moveu hesitantemente, até que estava na nuca
dela, sob a espessa queda de seu cabelo e o calor de sua pele
chamuscou a carne delicada de seu pescoço vulnerável. Ele
massageou sua pele macia suavemente antes de pigarrear para
chamar a atençã o do casal mais jovem; eles se separaram culpados,
sorrindo como crianças.
— Pronta para comer? — Bryce perguntou baixinho antes de se
virar para a mesa do pá tio que estava repleta de deliciosas comidas e
frutas. Ele manteve uma mã o possessiva em Bronwyn enquanto a
conduzia em direçã o à mesa e a deixava ir por tempo suficiente para
puxar uma cadeira para ela. Bronwyn olhou para ele com cautela
antes de aceitar o assento. Ele costumava fazer coisas assim para ela
o tempo todo no passado, atos inconscientes como abrir portas,
ajudá -la a vestir os casacos, sentá -la. Era um cavalheirismo do velho
mundo que Bronwyn achara completamente encantador. Ele nã o
tinha feito nada parecido desde o retorno dela, e Bronwyn percebeu
com uma pontada que era um dos pequenos detalhes que ela havia
esquecido, mas inconscientemente perdido, sobre ele. Ela agradeceu
com a cabeça, imaginando o que estava por trá s da cortesia
repentina. Sua mã o baixou inesperadamente para sua bochecha e
seu polegar acariciou sua carne brevemente, mas ele se afastou antes
que ela tivesse qualquer chance de reagir à carícia inesperada.
Confusa, os olhos de Bronwyn seguiram seu progresso
enquanto ele se sentava em frente a ela, ao lado de Lisa, deixando
Rick sem opçã o a nã o ser sentar ao lado de Bronwyn. Rick a ignorou
em grande parte em favor de seu irmã o e esposa, deixando Bronwyn
sentindo-se desprezada e ridiculamente magoada. Ela sabia por que
ele estava se comportando do jeito que estava, sabia que ele estava
apenas sendo leal ao irmã o, a quem ele sentia ter sido tratado
injustamente. Ainda assim, Bronwyn nã o pô de deixar de se sentir
quase traída pela flagrante demonstraçã o de hostilidade de Rick.
Quando estavam na metade da refeiçã o, Lisa estava olhando
furiosamente para o marido, e Bryce parecia quase tã o tenso quanto
Bronwyn se sentia. Rick estava alheio à tensã o que estava criando
ou, mais do que provavelmente, ignorando-a.
— Bronwyn, — a voz calma de Bryce interrompeu a descriçã o
animada de Rick de algumas das paisagens mais exó ticas que ele e
Lisa haviam visto durante sua “com o bebê faz três luas de mel”,
como ele descreveu tã o deliciosamente o feriado. — Você nã o está
comendo...
Bronwyn olhou para sua refeiçã o mal tocada e deu de ombros,
impotente, um pouco confusa com a mudança abrupta de assunto.
— Eu nã o estou com tanta fome, — ela respondeu com um
sorriso forçado. — E eu estava envolvido na histó ria de Rick.
— Você deveria comer, — Bryce sugeriu. — Você ainda está
muito magra...
Bronwyn estalou, instantaneamente e totalmente farta de tudo.
As inverdades ridículas que ele acreditava sobre ela, a hostilidade de
Rick e sua pró pria fraqueza física e espiritual.
— É sempre algo com você, nã o é? — ela sibilou furiosamente.
— Eu nã o falava bem o suficiente, nã o era bonita o suficiente,
graciosa o suficiente, educada o suficiente... Eu nunca fui boa o
suficiente para você. Duvido que algum dia serei boa o suficiente.
Nã o é à toa que você aproveitou a oportunidade para se livrar de
mim, — ela refletiu amargamente. — Tudo o que você precisava era
de uma desculpa, e eu lhe dei uma muito convenientemente quando
engravidei. E entã o, para adicionar insulto à injú ria, você inventou
aquele ridícula... — Ela parou abruptamente, lembrando-se de sua
determinaçã o de deixá -lo confundir os fatos e descobrir a verdade
por si mesmo. Ela balançou a cabeça furiosamente, virando-se para
um Rick boquiaberto.
— E quanto a você... Como você ousa sentar aí me julgando com
nada além dos supostos fatos que seu estú pido irmã o lhe deu para
continuar? — Ela estava tã o furiosa, magoada e frustrada que nã o
conseguiu evitar cerrar o punho e socá -lo no braço. Ele estremeceu e
afastou sua cadeira dela. — Eu pensei que você fosse mais
inteligente e mais justo do que isso, Rick! — Ela se levantou e se
virou para encarar Lisa, que estava olhando para ela com um sorriso
de aprovaçã o brincando em seus lá bios.
— Sinto muito, — ela sussurrou, seus olhos queimando com as
lá grimas que ela se recusava a derramar. — Por favor, dê-me
licença...
Lisa assentiu e Bronwyn se virou para fugir, deixando um
silêncio absoluto em seu rastro.
— Bem, — Lisa demorou no silêncio chocado. — Eu acho que
ela está um pouco brava, nã o é?
— Pare com isso, Lisa, — Rick grunhiu irritado. — Isso nã o é da
sua...
— Nã o diga isso, — ela advertiu severamente. — Nem pense em
dizer isso!
Rick sabiamente calou a boca.
— Seu comportamento foi atroz, e eu estava tã o envergonhada
de você.
— Lisa, você nã o sabe...
— Ela afirma que tentou me ligar, — Bryce interrompeu o casal
briguento silenciosamente, e Rick franziu a testa.
— O que?
— Antes de ter Kayla, apenas uma semana depois de me deixar
e novamente depois que ela deu à luz. — Ele sabia o suficiente para
ler nas entrelinhas de suas respostas sarcá sticas daquela manhã . —
Ela disse que tentou me ligar. Ela disse que tentou meu celular, mas é
claro que foi destruído no acidente. Ela também afirma ter tentado a
casa, mas você deu folga a Celeste e à equipe enquanto eu estava me
recuperando. Mas entã o ela também diz que tentou entrar em
contato com o escritó rio e foi impedida pelo meu pessoal.
Rick ficou boquiaberto com ele.
— Bronwyn tentou entrar em contato com você?
— É o que ela afirma. — Bryce deu de ombros, tentando
disfarçar sua inquietaçã o por trá s do movimento descuidado. —
Minha equipe nã o teria impedido, nã o a menos que eu tivesse dado
instruçõ es específicas para esse efeito. Algo que eu nã o poderia ter
feito enquanto estava internado no hospital. Entã o ela deve estar
mentindo. Mas por que diabos ela continua contando a mesma
mentira, de novo e de novo?
— Bryce, — Rick parecia horrorizado. — Você deu uma ordem
para isso.
— O quê? — Bryce ficou de pé de um salto ante o ultraje da
observaçã o. — Do que em nome de Deus você está falando?
— Foi na mesma noite do seu acidente. Pierre, Cooper... —
Cooper era o assistente pessoal de Bryce na época, um jovem e
ambicioso empreendedor que desde entã o passou a fazer coisas
maiores e melhores — ...e eu estava lá . Você tinha acabado de sair da
cirurgia e ainda estava grogue, mas quando perguntei onde estava
Bronwyn, você foi muito inflexível em não querer vê-la ou ouvir falar
dela nunca mais. Você estava com muita dor e o fato de eu ter que
escrever tudo o que eu disse estava aumentando sua tensã o
emocional. Eu sabia que algo muito terrível deve ter acontecido
entre vocês dois. O simples fato de ela nã o estar no hospital era
prova suficiente disso, mas ainda assim achei que as palavras eram
arrogantes e que vocês dois resolveriam as coisas, entã o dei de
ombros.
O rosto de Bryce nã o revelou absolutamente nenhuma emoçã o
quando ele se levantou da mesa e tirou o celular do bolso.
— Ligue para Pierre e pergunte se ele sabe de alguma ligaçã o
que Bronwyn possa ter feito para o meu escritó rio enquanto eu
estava me recuperando.
— Bryce... — Rick começou.
— Apenas faça isso, Rick! — O homem mais jovem assentiu e
discou. Bryce observou o rosto de seu irmã o enquanto ele falava com
Pierre, incapaz de ler seus lá bios enquanto ele tinha o celular contra
sua orelha. Ele continuou imaginando o rosto atormentado de
Bronwyn quando ela lançou suas palavras amargas para ele. Ele nã o
foi capaz de ler metade do que ela disse a ele, mas ele entendeu a
essência disso. Ela realmente acreditava que ele nã o achava que ela
era boa o suficiente para ele? De onde diabos ela tirou uma ideia
demente como essa? Ele ainda estava pensando na pergunta quando
Rick desligou e olhou para cima. Bryce observou a expressã o de seu
irmã o mais novo de perto, ansioso para saber o que Pierre havia
revelado. Quando Rick falou pela primeira vez, Bryce estava tã o
concentrado em observar os olhos de seu irmã o que perdeu as
primeiras palavras e fez sinais impacientes para que ele começasse
de novo.
— Pierre nã o sabe de nenhuma ligaçã o que Bron possa ter feito
para o escritó rio, — Rick começou, e Bryce sentiu uma onda
esmagadora de desespero lutando contra uma dose igualmente
grande de raiva de si mesmo por quase acreditar na cadela
traiçoeira! Rick ainda estava falando e levou toda a concentraçã o de
Bryce para se concentrar nos lá bios de seu irmã o novamente. — ...Se
lembra de você afirmar categoricamente que nã o queria mais nada
com ela. Como eu, ele nã o levou as palavras a sério, entã o nã o fez tal
ordem em seu nome. Pierre acha que Cooper pode nã o ter
descartado suas palavras tã o levianamente. Afinal, Pierre é seu
amigo e parceiro, e eu sou seu irmã o, e, ao contrá rio de Cooper, nã o
tínhamos nenhum emprego em jogo. — Bryce nã o disse nada,
apenas olhou pensativo para o irmã o por um longo tempo. A raiva e
o desespero foram esquecidos quando uma terrível sensaçã o de
pâ nico se instalou rapidamente sobre ele, e ele tentou
freneticamente descobrir o que fazer a seguir.
— Rick, — ele disse em voz alta, tã o cuidadosa e concisamente
quanto pô de, nã o querendo que seu irmã o entendesse mal suas
pró ximas palavras nem um pouco. — Eu quero que você encontre
Cooper. Eu quero saber se ela está mentindo sobre isso porque...
Porque... — Ele nã o podia suportar pronunciar as palavras. Seus
olhos se afastaram de Rick e ele encontrou o olhar de Lisa. Ele viu
que os lá bios dela estavam se movendo e automaticamente se
concentrou neles.
— ...Se ela está falando a verdade sobre tentar ligar para você,
pode muito bem estar falando a verdade sobre todo o resto, certo? —
Ele escondeu um estremecimento quando Lisa verbalizou as
palavras que ele nã o conseguiu falar, e seus olhos se fecharam de
horror com a simples ideia de tal atrocidade. Deus, como ele poderia
viver consigo mesmo se o terrível tratamento que dispensou a ela
desde seu retorno foi injustificado? Ele encontrou o olhar de Rick,
imaginando se a miséria e o pavor que sentia eram evidentes em
seus olhos.
— Ela também disse que nã o estava lá quando sofri o acidente.
Que ela nã o me deixou para... — Ele nã o conseguia nem dizer isso,
percebendo agora como era ridículo acreditar que sua esposa de
coraçã o mole o deixaria, ou qualquer outra pessoa, ferido e sozinho
no local de um acidente. Ele se sentou na cadeira mais pró xima com
um baque, sentindo-se confuso e com dor de estô mago.
— Ah meu Deus, — ele gemeu. — Ah meu Deus! Eu estava tã o
determinado a culpá -la por isso, mas e se eu estivesse errado, Rick?
Você sabe o que isso significa? As coisas pelas quais ela passou
sozinha... como ela lutou para ter uma vida decente para Kayla e para
si mesma. Ela quase morreu tendo nosso bebê, e eu nã o estava lá
para ela. Mesmo que ela esteja mentindo sobre tudo, nã o há desculpa
para deixá -la passar por tudo isso sozinha! — Seu irmã o colocou
uma mã o firme em seu ombro, forçando Bryce a olhar para cima
para encontrar seu olhar.
— Calma, Bryce, você tentou encontrá -la, lembra? Mesmo
acreditando no que você fez sobre ela, você ainda tentou ao má ximo
encontrá -la. Vamos apenas descobrir qual é a verdade antes de
começar com as autorrecriminaçõ es.
Bryce cobriu o rosto com as mã os, sem saber o que fazer a
seguir, se sentindo impotente e completamente perdido. Era um
sentimento com o qual ele estava muito familiarizado desde que
perdeu a audiçã o, mas nã o era um sentimento com o qual ele
aprenderia a conviver. Ele se levantou abruptamente, com a cabeça
girando em pensamentos caó ticos, seu objetivo claro.
— Eu tenho que falar com ela. — Seus olhos procuraram
cegamente seu irmã o e sua cunhada. — Eu... Me desculpe. — Ele viu
Rick começar a dizer algo, mas Lisa estendeu a mã o e segurou as
mã os de seu irmã o antes de acenar encorajadoramente para Bryce.
 
 
 

Ela estava no andar do berçá rio, brincando com uma Kayla ativa, que
parecia revigorada depois da soneca da tarde. Bronwyn estava de
costas para a porta e nã o o viu a princípio. Na verdade, foi Kayla
quem a alertou sobre a presença dele. A garotinha o viu pairando na
porta, e todo o seu rosto se iluminou quando ela gritou
animadamente.
— Papai! — Ela cambaleou em direçã o a ele, seus braços
rechonchudos estendidos. Bryce sorriu para a garotinha enquanto a
pegava em seus braços, mantendo os olhos nas costas esguias de
Bronwyn, notando como ela ficou tensa, antes que ela endireitasse
os ombros e se levantasse para encará -lo. Bryce tentava controlar a
tagarelice efusiva da garotinha e observar o rosto de Bronwyn ao
mesmo tempo. Eventualmente, ele desistiu de tentar seguir a
conversa confusa de bebê de Kayla e se concentrou inteiramente em
Bronwyn, balançando a cabeça de vez em quando para manter Kayla
feliz.
— Você está bem? — ele perguntou baixinho, notando a
inclinaçã o teimosa de sua mandíbula e as lá grimas nã o derramadas
em seus olhos luminosos. Ele se sentiu como um bastardo absoluto
levando-a à beira das lá grimas. . . de novo!
— Estou bem. — Ela assentiu, cruzando os braços
defensivamente sobre o peito.
— Eu... — ele começou, mas Kayla estava pulando para cima e
para baixo, exigindo que ele brincasse com ela. Ele beijou a
garotinha, antes de ir até a porta e gritar por Rick, imediatamente
acalmando Kayla, que olhou para ele incerta, imaginando se seu pai
estava bravo com ela. Bryce sorriu para ela de forma tranquilizadora,
fazendo ruídos de aviã o e voando com ela pela sala por alguns
momentos, antes de Rick subir as escadas ofegante.
— O que? — ele perguntou com urgência.
— Kayla... — Bryce deu um beijo afetuoso na bochecha sedosa
de sua filha. — Este é o seu tio Rick!
— Tiu? — A garota se perguntou duvidosamente.
— Sim e ele gosta de brincar de cavalinho! — Rick, que estava
sorrindo tolamente para a garotinha, parou abruptamente de sorrir
e encarou o irmã o horrorizado.
— Tiu, cavalinho? — a garotinha perguntou animadamente.
— Você quer brincar de cavalinho com o tio Rick enquanto
mamã e e papai conversam? — Bryce perguntou gentilmente,
sabendo que ela nã o entenderia nada além de “brincar de cavalo” e
“tio Rick”.
— Uh, Bryce... — Rick começou enquanto recuava
freneticamente; ele parou abruptamente quando Kayla lhe deu seu
sorriso mais radiantemente confiante e estendeu os braços.
— Cavalo, Tiu Wick? — ela perguntou timidamente, e Rick
engoliu visivelmente antes de dar um passo à frente e erguer a
menina dos braços de seu pai.
— Que pequena flertadora talentosa você já é. — Ele riu antes
de encontrar os olhos de Bryce.
— Você vai ter muito trabalho com esta, daqui a doze anos ou
mais, irmã o mais velho. — Bryce sorriu sem entusiasmo e deu de
ombros.
— Atravessarei essa ponte quando chegar a ela. Por favor,
mantenha-a ocupada, Rick. Bron e eu precisamos...
— Nã o diga mais nada, — Rick interrompeu alegremente
enquanto Kayla puxava seu cabelo e sua camisa, impaciente para ir
embora. — Venha, Kayla, vamos conhecer seu primo e sua tia Lisa.
Ela adora brincar de cavalinho também! — Ele carregou a garotinha
simpá tica, que parecia ter esquecido tudo sobre seus pais com a
perspectiva de brincar com novas pessoas excitantes, para fora da
sala e deixou Bronwyn e Bryce se contemplando em silêncio por
alguns momentos.
— Qual é o problema desta vez, Bryce? — Bronwyn perguntou
com o que parecia ser sarcasmo, se o rosto dela era alguma
indicaçã o. — Sinto muito por ter saído e arruinado sua festinha
perfeita.
— Na noite em que você foi embora, — ele começou baixinho,
tentando manter o nível de voz e a calma, nã o querendo parecer
acusador ou zangado. — Depois do meu acidente, Bron, eu juro que
vi você no meio da multidã o e, mesmo sabendo que fui eu quem a
expulsou de casa em primeiro lugar, em minha mente, me abandonar
ali foi completamente imperdoável. Eu sei que minha reaçã o à sua
gravidez foi cruel e injustificada, mas apesar disso, você era minha
esposa, a pessoa de quem eu mais dependia, a mulher que dizia me
amar, e você me deixou lá ! Nã o fazia sentido para mim e doía muito.
Também me deu uma desculpa para te odiar porque sentir qualquer
coisa diferente disso era demais... — Ele se interrompeu
desajeitadamente, ciente de sua carranca e sua confusã o.
— Bryce, eu nã o estava... — ela começou, mas ele levantou a
mã o.
— Por favor... Eu . . . me deixe falar. — Ele fechou os olhos
dolorosamente. — Me lembro disso tã o vividamente; olhei para cima
e vi você parada ali à margem da multidã o que se reunia. Você
parecia fria, distante e tã o bonita. Você estava usando o vestido que
eu amava. Lembra? O pequeno preto com a saia esvoaçante. Tentei
chamar você, mas minha voz nã o funcionava. Agora sei que estava
gritando a plenos pulmõ es. — Ele sorriu debilmente. — Eu
simplesmente nã o conseguia me ouvir. Você entende por que tem
sido tã o difícil abandonar essa imagem? Como eu nunca consigo tirar
da minha mente a lembrança de você virando as costas e se
afastando de mim?
Bronwyn olhou para seu rosto escuro e atormentado. Ela sabia
o quanto deve ter custado a ele vir até aqui e revelar o quanto ele foi
ferido por suas açõ es percebidas naquela noite. Ela suspirou; tanto
por deixá -lo se atrapalhar sozinho. Ela nã o podia, nã o quando ele
acabava de apresentar-lhe os meios para refutar sua repulsiva
acusaçã o.
— Bryce. — Sua garganta travou e ela respirou fundo enquanto
lutava contra a vontade sempre presente de chorar. — Eu tenho algo
para te mostrar. — Ela o levou para o quarto principal e para o
enorme closet que abrigava seu antigo guarda-roupa. Ela abriu a
porta e vasculhou o conteú do brevemente antes de levantar um
cabide acolchoado com um pedaço frá gil de chiffon preto pendurado
nele.
— Este vestido? — ela perguntou gentilmente, e ele estremeceu
como se o vestido trouxesse de volta lembranças extremamente
dolorosas. Ele assentiu. Ela fechou os olhos com força enquanto
lutava para manter a compostura, entã o nã o viu o leve movimento
que ele fez em sua direçã o antes de parar.
— Bryce, — ela murmurou instável, abrindo os olhos
novamente. — Eu estava vestindo um par de jeans e uma camiseta
quando saí naquela noite. Saí sem nada além das roupas do corpo.
Este vestido... está pendurado aqui há dois anos. — Bryce desviou o
olhar para o vestido e balançou a cabeça, incapaz de acreditar que
havia entendido algo tã o crucial para o bem-estar de seu
relacionamento tã o totalmente errado. Ele pegou o vestido dela e
passou o tecido fino delicadamente por suas mã os grandes.
— Rick poderia ter feito as malas... — ele começou, mas ela
tocou sua mã o para chamar sua atençã o e balançou a cabeça
lentamente, mantendo os olhos nivelados.
— Por que você nã o pergunta a Rick? Tenho certeza de que ele
se lembraria de um vestido como este entre as inú meras roupas à
prova de bebês que ele embalou para mim. Ela mordiscou o lá bio
inferior. — Saí numa terça à noite, lembra?
Ele assentiu.
— Este é um vestido de festa, Bryce, — ela apontou. —
Estávamos em uma festa naquela noite?
Ele hesitou antes de responder.
— Nã o. Você me ligou no escritó rio e disse que estava
preparando uma refeiçã o especial porque tinha algo interessante
para me contar... — Sua voz falhou e ele tremia da cabeça aos pés.
Bronwyn foi quem permaneceu firme para variar, enquanto Bryce
parecia estar à beira das lá grimas. — Cheguei em casa e encontrei
você vestindo sua calça jeans esfarrapada e uma daquelas camisetas
que você comprou nas Seychelles. Você disse que nã o estava com
vontade de se arrumar para o jantar.
— Entã o você trocou de roupa e fizemos um piquenique no
jardim de inverno. Depois do jantar eu disse que estava grávida e
você...
Ele engoliu dolorosamente.
— Eu reagi da pior maneira possível, — ele ralou. — Eu disse
para você sair e você saiu.
— Vestindo o mesmo jeans e camiseta que usei a noite toda, —
ela terminou. Seu rosto se contorceu selvagemente e ele jogou o
vestido para o lado com uma maldiçã o cruel. Bronwyn se encolheu
com o movimento repentino, incapaz de avaliar seu humor, sem
saber se ele acreditava nela ou nã o. Ele passou por ela abruptamente
para entrar no banheiro, e ela ficou chocada ao ouvir o som de â nsia
de vô mito violento vindo de trá s da porta fechada. Ela pairou do lado
de fora, sem saber se deveria se aventurar ou esperar que ele
voltasse. Ela tinha acabado de decidir entrar, quando os sons
medonhos pararam e ela ouviu a descarga do banheiro, seguida
pelos sons de á gua correndo e gargarejos.
Ele abriu a porta lentamente, e ela se viu olhando para ele com
cautela. Ele parecia horrível, de olhos fundos, cansados, e como se
tivesse envelhecido dez anos nos ú ltimos dez minutos. Ele nã o
conseguia se obrigar a encontrar os olhos dela.
— Eu... — ele começou. — Nã o sei... — Ele levantou uma mã o
violentamente trêmula em direçã o a ela, mas deteve o movimento
abruptamente, sua mã o caindo frouxamente para trá s ao seu lado.
— Bryce... — ela murmurou incerta, mas ele balançou a cabeça
abruptamente, levantando os olhos para o rosto dela, e Bronwyn
ficou horrorizada com a profundidade da auto aversã o que ela viu
em seu olhar torturado. Foi misturado com pesar esmagador e algo
semelhante ao medo e desespero.
—Deus, como você deve me odiar, — ele murmurou.
— Eu nã o... — Mas era tarde demais, ele se virou antes que ela
pudesse dizer mais alguma coisa e saiu da sala abruptamente.
Bronwyn se sentiu ridiculamente desanimada com o final
anticlimá tico de uma conversa tã o intensa. Nã o havia mais dú vida de
que Bryce acreditava nela, mas agora ele parecia totalmente incapaz
de lidar com sua pró pria culpa pelo fracasso de seu relacionamento.
 
 
 

— Nã o se preocupe em encontrar Cooper, — Bryce rosnou ao sair


para o pá tio ensolarado onde seu irmã o, cunhada e as duas crianças
estavam brincando alegremente. Eles, todos os quatro, pararam
abruptamente ao som de sua voz rouca. Lisa e Rick pareciam
preocupados, Rhys começou a chorar e Kayla apenas parecia feliz em
vê-lo, como sempre. Enquanto Lisa pegava Rhys para um abraço,
Kayla balbuciava incoerentemente, mas Bryce nã o conseguia se
concentrar e era incapaz de dizer o que a criança estava tentando
comunicar. Já era bastante difícil entendê-la em circunstâ ncias
normais, mas o turbilhã o emocional em que ele estava agora tornava
quase impossível entender o que ela estava tentando dizer a ele. Ele
assentiu e sorriu cegamente para ela, antes de mudar seu olhar para
Rick.
— Por que nã o? — seu irmã o perguntou quando seus olhares
se encontraram.
— Ela está dizendo a verdade, — Bryce mordeu tensamente, o
conhecimento ainda o despedaçando.
— Como você sabe?
— Um vestido. — Bryce balançou a cabeça em total descrença.
— Eu tinha tanta certeza do que tinha visto naquela noite que
conseguia me lembrar de cada detalhe da cena do acidente até o
vestido que ela estava usando enquanto ela estava lá me olhando
gritar seu nome. — Ele lutou contra a vontade de rir como um
maníaco, sabendo que isso o faria perder a razã o. — Só que ela nã o
estava usando vestido na noite em que me deixou, Rick. Eu deveria
saber disso porque agora me lembro de pensar o quã o sexy ela
parecia naqueles jeans, apenas momentos antes de tudo ir para o
inferno. Nã o o vestido de festa com o qual me lembrava dela nos
ú ltimos dois anos, mas um par de jeans e uma camiseta. Ah Deus . . .
ai meu Deus! — Ele viu Rick empalidecer e sabia que ele tinha que
parecer igualmente pá lido. O homem mais jovem blasfemou trêmulo.
— E agora, Bryce?
Bryce balançou a cabeça impotente com a pergunta de seu
irmã o.
— Agora eu dou a ela tudo o que ela quer, porque isso é o
mínimo que ela merece.
— E se ela quiser o divó rcio?
Era a ú nica coisa em que Bryce tentava nã o pensar, e ele se
encolheu com a pergunta.
— Eu nã o a culparia. — Os olhos de Bryce caíram para sua filha
feliz e alegre, que estava tentando compartilhar seus brinquedos de
pelú cia com um Rhys ainda chorando. — Mas nã o tenho certeza do
que farei se ela pedir um.
 
 

Bronwyn desceu cerca de uma hora depois para encontrar Rick e


Lisa na estufa com Kayla e Rhys. As crianças brincavam alegremente
juntas. Nã o havia sinal de Bryce. Rick levantou-se agitado quando a
viu entrar na sala e imediatamente se desculpou.
— Eu fui imperdoavelmente rude e desnecessariamente cruel,
Bron, — ele murmurou, enfiando as mã os nos bolsos de trá s da calça
jeans. — Eu sinto muito. Eu sei que te machuquei, mas... caramba,
Bron, ele é meu irmã o e foi tã o danificado e tã o completamente
mudado por algo que todos pensávamos ser sua culpa. Parecia um
obstá culo muito grande para superar!
— Tecnicamente foi minha culpa, — ela apontou severamente.
— Ele veio atrá s de mim naquela noite e, se nã o fosse por isso, nã o
teria sofrido o acidente.
— Nã o, foi culpa dele e ele admite isso. Se ele nã o tivesse sido
um bastardo absoluto sobre sua gravidez, nada disso teria
acontecido. Sinto muito, Bronwyn.
— Ricky. — Ela suspirou cansada, sem saber por que sentia a
necessidade de confortá -lo, mas querendo tranquilizá -lo mesmo
assim. — Você estava sendo leal ao seu irmã o. Era a palavra dele
contra a minha. Você fez o que achou certo.
— O que você planeja fazer agora? — Rick perguntou depois de
uma pausa estranha. Ele era incapaz de olhá -la nos olhos, e ela sabia
o quanto a verdade devia tê-lo atingido. Saber quã o injustamente ele
e Bryce a haviam tratado nã o se sentiria confortável com alguém que
tinha um senso inato de justiça. Ela sabia que isso iria devorá -lo por
um tempo e que o relacionamento deles nunca poderia voltar a ser
como era antes.
— O que você quer dizer? — ela perguntou cansada.
— Bem, meu irmã o está muito chateado com isso, Bron.
Ela riu severamente de suas palavras, interrompendo-o.
— Sim, e é sempre sobre ele, nã o é? — ela perguntou
amargamente.
— Nã o, é só ... — Rick parou de falar sem jeito, sem saber o que
dizer. — Você vai deixá -lo?
— Ele realmente nã o me quer, sabe? Ele quer Kayla. Sou apenas
excesso de bagagem. — Ela deu de ombros.
— Ele vai te dar qualquer coisa que você pedir agora, — Rick
apontou.
— É assim mesmo? Bem, entã o, onde ele está ? Talvez seja hora
de começar a fazer minhas exigências. Enquanto durar sua culpa...
— Bronwyn, você está sendo... — ele começou, mas Lisa, que
estava mantendo as crianças ocupadas, interrompeu tudo o que ele
estava prestes a dizer.
— Bryce está em seu escritó rio, — ela informou calmamente,
distraidamente pegando Kayla e entregando-a para Rick enquanto
ela levantava Rhys em seus braços. Bronwyn acenou em
agradecimento e deu um beijo amoroso na cabeça de sua filha antes
de virar as costas e sair da sala.
 
 

Ela nã o tocou a campainha; ela queria uma reaçã o honesta dele e


nã o queria dar-lhe tempo para mascarar o que quer que estivesse
sentindo. Entã o ela entrou com confiança e entã o parou antes de dar
mais de dois passos na sala, de repente insegura de sua decisã o.
Ele estava sentado atrá s de sua enorme mesa, com a cabeça nas
mã os quase exatamente na mesma pose do dia anterior, mas parecia
tã o incrivelmente perdido e sozinho que, por um momento, ela nã o
teve certeza de qual deveria ser seu pró ximo passo. Ele deve ter
sentido a presença dela porque ergueu os olhos inesperadamente,
prendendo-a no lugar com seu olhar atormentado. Dizia muito sobre
a mudança de status de seu relacionamento que ele nã o perdeu
imediatamente o controle por causa da suposta “intrusã o” dela em
seu covil.
— Eu nã o posso consertar isso, — ele admitiu tristemente. Sua
voz tremia de uma forma que teria matado seu orgulho se ele
pudesse ouvi-la. — Eu nã o sei como fazer. — Ele parecia
estranhamente indefeso com seu cabelo bagunçado e suas roupas
desgrenhadas, mas ela se preparou contra sua vulnerabilidade.
Enquanto ela estava feliz que ele agora soubesse a verdade, o
simples fato da questã o era que ela nã o podia confiar nele com seu
coraçã o. Nunca tinha sido seguro com ele, mas ela nã o sabia disso
até que ele a rejeitou tã o impiedosamente, dois anos atrá s. Sim,
agora ele estava muito arrependido do erro que cometera
imediatamente apó s o acidente, mas ainda nã o tinha explicaçõ es ou
desculpas pelo comportamento que a havia expulsado em primeiro
lugar.
Ela nã o sabia o que dizer a ele, nã o sabia mais o que queria
dele. No dia anterior, ela havia imaginado de maneira idealista e
irrealista que, se eles tentassem se dar bem, o relacionamento deles
melhoraria e eles poderiam desenvolver isso. Claro, ambos tinham
os melhores interesses de Kayla no coraçã o e queriam dar
estabilidade a ela, mas Bronwyn merecia mais do que um casamento
de segunda categoria, com eles ficando juntos apenas pelo bem de
sua filha. No momento, Bronwyn também acreditava honestamente
que Kayla estaria melhor se o casamento deles fosse rompido mais
cedo ou mais tarde. Era melhor do que criar o bebê em uma
atmosfera de desconfiança.
Afinal, este era o homem que nã o pensou em expulsá -la de casa
depois de descobrir que ela estava grávida de seu bebê. O mesmo
homem que a deixou para cuidar de si mesma quando ela estava
mais fraca. Ele também a acusou dos atos mais hediondos e
nenhuma culpa agora poderia compensar seus muitos pecados.
Qualquer relacionamento que eles tentassem salvar dos destroços de
um casamento seria baseado na culpa e na obrigaçã o equivocada.
— Acho que nã o dá mais para consertar, Bryce, — ela disse
relutantemente, se movendo em direçã o a sua mesa e se sentando-
na enorme cadeira de couro em frente a ele. Ele se encolheu e
desviou o rosto brevemente antes de virar a cabeça para olhar para
ela mais uma vez.
— Entã o o que você quer fazer? — ele perguntou sem emoçã o.
— Eu nã o sei, — ela admitiu impotente. — Acho que estaríamos
todos melhor se nó s, você e eu, nã o estivéssemos mais juntos. Vamos
ser sinceros, depois de dois anos de separaçã o, o pró ximo passo
ló gico é uma mera formalidade.
— Você quer ir embora, — disse ele com naturalidade. —
Novamente.
— Eu nã o queria exatamente ir da ú ltima vez, Bryce, — ela o
lembrou incisivamente. Ela era mesquinha o suficiente para gostar
de ver a farpa atingir o alvo. — Eu simplesmente nã o acho que esta
situaçã o possa ser redimida. Muito já foi dito e feito para voltar atrá s.
— Ele esfregou uma mã o cansada sobre o rosto antes de inclinar a
cabeça para trá s e fechar os olhos. Depois de alguns momentos de
silêncio, ele abriu os olhos e olhou para ela com seus olhos
penetrantes.
— O que você planeja fazer depois?
— Vou voltar para a universidade para terminar meus estudos.
—Nã o vai ser difícil ser um estudante em tempo integral
quando você for mã e solteira de novo? — Sua boca se abriu de
surpresa com a pergunta totalmente inesperada.
— Me corrija se estiver errado, mas presumi que nã o era mais
mã e solteira. — Seus olhos brilharam com algo parecido com alívio,
e a surpresa de Bronwyn rapidamente se transformou em
compreensã o horrorizada. — Você pensou que eu estava tirando ela
de você? — Ele assentiu em resposta a sua pergunta chocada.
— O que quer que você tenha feito para merecer, Bryce, nã o vou
negar o seu direito de ser um pai para Kayla. Mesmo que você tenha
jogado fora esse privilégio tã o arrogantemente quanto faria com um
par de meias velhas. — Outro golpe direto. — E nã o me interpretem
mal aqui; eu nã o estou fazendo isso por você! Kayla precisa de você
na vida dela. — Ele assentiu novamente, desta vez com mais
confiança.
— Entã o você quer terminar seus estudos? — ele perguntou
depois de limpar a garganta sem jeito.
— Vou ter que encontrar um lugar decente para morar e um
emprego para pagar...
— Isso nã o será necessá rio, — ele inseriu apressadamente. —
O trabalho, quero dizer. Eu pago seus estudos.
— O ú nico dinheiro que vou querer de você será para a criaçã o
de sua filha, Bryce. Eu posso cuidar de mim mesma!
— Isso da mulher que estava praticamente em suas ú ltimas
quando a encontramos? Você nã o vai se jogar no chã o novamente. Eu
posso e vou cuidar de você.
— Nã o sou sua propriedade; você nã o tem o direito de falar
comigo como se eu fosse, — ela disse, furiosa, e ele praguejou em
frustraçã o.
— Ok, podemos nos comprometer com isso? — ele perguntou
humildemente depois do que parecia ser um esforço colossal para
controlar seu temperamento. — Eu tenho uma sugestã o. — Ela
esperou silenciosamente que ele continuasse, os braços cruzados
desafiadoramente sobre o peito enquanto se preparava para a
batalha.
— Você e Kayla ficam aqui. — Ele ergueu a mã o para silenciar
quando ela começou a protestar. — Nã o, espere, apenas ouça. Você e
Kayla ficam aqui, e assim, ela e eu poderíamos nos ver o tempo todo.
Você encontra esse emprego para pagar seus estudos e terá babá s
embutidas para Kayla tanto em Celeste quanto em mim. Você nã o
ficará sem chã o, estudando, trabalhando em meio período e
cuidando de uma criança exigente. Você também nã o terá que se
preocupar com aluguel e alimentaçã o.
— O que você ganha com isso? — ela perguntou desconfiada.
— Como eu disse, acesso irrestrito à minha filha, — foi sua
resposta simples. — E tempo suficiente para conhecê-la melhor.
— E nó s? Nosso casamento? — Ela abordou o assunto com
cautela, e ele desviou os olhos para as mã os fechadas novamente.
— Bem, nã o há mais casamento, há ? — ele falou
monotonamente. — Esta casa é grande o suficiente para vivermos
vidas completamente separadas. Poderíamos elaborar algum tipo de
cronograma, horá rios em que você pode precisar de certas á reas da
casa para você. Por favor, nã o rejeite a ideia de cara só porque ela
veio de mim. Faz sentido e você nã o vai se matar tentando
sobreviver. Nã o vou interferir em sua vida de forma alguma.
— E o seu trabalho? — ela perguntou quando os olhos dele
estavam sobre ela novamente.
— Trabalho principalmente em casa hoje em dia. — Ele
encolheu os ombros e ela hesitou, sua mente ocupada repassando
todos os â ngulos de seu plano. — Pretendo passar mais tempo no
escritó rio no futuro, mas temos uma excelente creche interna, entã o
ela nunca ficará muito longe de mim.
— Isso nã o pode ser um arranjo permanente, — ela disse
depois de uma longa pausa, sabendo que estava se comprometendo
demais. Seus instintos gritavam para ela se mudar, mas ela
continuava pensando em Kayla e no quanto ela adorava seu pai. — E
se eu ficar aqui, vou querer pagar o aluguel, — ela advertiu, e ele
baixou a cabeça em aquiescência.
— Sei que nã o pode ser permanente, mas lhe dará tempo para
organizar seu futuro; isso me dará tempo para conhecer Kayla e vice-
versa. Você pode pagar um valor razoável pelo aluguel, e o valor
incluirá alimentaçã o, á gua e energia. Mas se você vai pagar aluguel,
você nã o vai conseguir pagar suas mensalidades e livros, entã o eu
gostaria de lhe dar um empréstimo estudantil, com juros baixos, que
você pode pagar no seu tempo, — ele se apressou. quando parecia
que ela estava prestes a protestar. — É um negó cio melhor do que
você conseguiria em qualquer banco, Bronwyn. Sem condiçõ es.
Depois de terminar seus estudos e se estabelecer em sua nova
carreira, você estará mais bem equipada para se mudar, e Kayla terá
idade suficiente para entender.
— Bryce, isso vai levar anos. — Ela ficou horrorizada com a
ideia de viver no limbo por tanto tempo. Mesmo assim, era uma
sugestã o terrivelmente tentadora, e Bronwyn sabia que seria uma
tola se recusasse quando tinha tã o poucas opçõ es. Mas as coisas
estavam começando a ficar difíceis de novo, muitos laços e muitas
complicaçõ es. — Temos que seguir em frente com nossas vidas.
— E assim faremos. Vamos apenas dividir uma casa, Bron...
nada mais. Isso é uma vantagem para todos e é o melhor para Kayla.
— Nó s vamos ter que... — Ela limpou a garganta, nã o querendo
ser a ú nica a mencionar o inevitável. — Teremos que iniciar os
processos.
— Processos? — Ele parecia confuso.
— Processo de divórcio, — ela esclareceu, e ele rapidamente
desviou o rosto, protegendo os olhos dela.
— Sim, claro. — Ele assentiu antes de erguer os olhos para o
rosto dela novamente.
— Será estranho quando começarmos a sair com outras
pessoas, Bryce. — Ela decidiu ser a ú nica a morder a bala e falar as
palavras inescapáveis. Ele limpou a garganta desconfortavelmente
antes de assentir novamente.
— Eu só peço que nó s dois pratiquemos alguma discriçã o
quando se trata disso. Algum... uh... quaisquer ligaçõ es que você...
acharmos adequado começar terá que ser conduzido fora de casa.
Pelo bem de Kayla, é claro. Qualquer outra coisa a confundiria.
— Isso parece razoável, — ela concordou, mesmo enquanto o
nervosismo comia em seu estô mago. Ela nã o tinha certeza se estava
fazendo a coisa certa. Claro, ela estava escolhendo o caminho mais
fá cil, mas a apreensã o continuava a incomodar no fundo de sua
mente. Ela se levantou graciosamente e olhou para ele por um longo
momento. — Este casamento provavelmente nunca deveria
acontecer, Bryce. Sempre fomos muito diferentes. — Ele desviou o
olhar, sem dizer nada em resposta, e Bronwyn suspirou antes de se
virar e ir em direçã o à porta.
— Nó s já fomos bons juntos uma vez. — As palavras soaram
arrancadas dele, e ela se virou para encará -lo novamente.
— Por muito pouco tempo, há tanto tempo que agora parece
um sonho, — refletiu ela, com os olhos marejados. Ela baixou o
queixo para ele antes de sair.
Bryce a observou ir antes de cair para trá s em sua cadeira e
massagear as têmporas com os punhos. Deus, como diabos isso
aconteceu? Como ele pode ter entendido tudo tã o errado? Ele
pensou naquela noite terrível e lutou contra as lembranças
dolorosas, mas elas estavam voltando implacavelmente.
 
CAPÍTULO NOVE

Naquela noite, dois anos atrá s, Bryce se encostara no batente da


porta e observara Bronwyn, sem saber de sua presença, esvoaçar
alegremente pela cozinha. Ela estava de costas para a porta e seu
doce traseiro, deliciosamente moldado pelo tecido desbotado de seu
jeans, se contorcia energicamente ao ritmo da animada salsa que
vinha dos alto-falantes do iPod no balcã o da cozinha. Ela claramente
pensou que estava sozinha em casa. Era algo que ela fazia com
bastante frequê ncia: dispensava os criados para surpreendê -lo com
uma refeiçã o que ela havia preparado com carinho. Ele estaria
mentindo se nã o admitisse amar esses momentos de intimidade
domé stica. Eventualmente, ele achou a tentaçã o daquela bunda
bonitinha demais para resistir. Ele rastejou por trá s dela para
agarrar seus quadris e puxá -la de volta contra ele. Ela gritou de
alegria antes de se virar em seu aperto e jogar os braços em volta do
pescoço dele. Seus pró prios braços envolveram sua cintura fina e
eles dançaram juntos sensualmente por um tempo. Ele começou a
acariciar seu pescoço antes que ela risse e saísse de seu abraço.
— Homem bobo, pare de me distrair, — ela repreendeu,
apoiando as mã os no peito dele. — O jantar será estragado se eu
permitir que você me leve à tentaçã o.
— Eu posso perder o jantar, — ele rosnou quando ele estendeu
a mã o para ela novamente, mas ela riu alegremente e dançou fora de
seu alcance.
— Mas eu nã o posso, — ela riu. — Estou morrendo de fome.
Por que você nã o vai tomar um banho para tirar a poeira e a sujeira
do dia enquanto eu termino aqui?
— Deus, você faz parecer que eu trabalho em um canteiro de
obras. — Ele sorriu para ela, indicando seu terno cinza desgrenhado.
— Hmm, eu gostaria disso, — ela murmurou enquanto olhava
sua forma alta e larga criticamente. — Certamente ajudaria com toda
a flacidez.
— Flacidez? — Ele fingiu estar indignado, mas estava
completamente confiante de que nã o ostentava nenhuma flacidez ou
excesso de peso de qualquer tipo. Ela riu novamente e passou os
braços em volta da cintura dele antes de se esticar para dar um doce
beijo em sua boca.
— Eu te amo, — ela disse a ele, e ele sorriu de volta. Ele adorava
quando ela dizia essas palavras para ele, e ele sentia uma ternura tã o
avassaladora em troca que quase o deixava de joelhos. Ele afastou o
cabelo castanho sedoso de sua testa e deu um beijo em sua pele
macia.
— Minha Bronwyn, — ele sussurrou contra sua testa, puxando
o rabo de cavalo que ela havia preso na nuca e arrastando sua cabeça
para trá s para um beijo adequado. Quando acabou, ele estava
doendo de desejo, e ela parecia um pouco atordoada.
— Termine o jantar, mulher, antes que eu vá direto para a
sobremesa, — ele rosnou enquanto seus olhos mergulhavam para os
seios pequenos tensos em sua camiseta azul clara para que ela nã o
pudesse confundir o que ele queria dizer. Ela nã o estava usando
sutiã – ela quase nunca usava quando estava em casa – seus seios
nã o precisavam de suporte, e ele podia ver seus mamilos retesados
no tecido macio. A visã o o deixou mais quente que o inferno, e ele
teve que se forçar a se afastar dela. Apó s dois anos de casamento, ele
se surpreendia constantemente com o quanto ainda a desejava.
Ele se apressou a tomar banho e, quando entrou na estufa, ela
havia preparado um piquenique ao lado de uma das janelas de vidro
do chã o ao teto, aquela com vista para o mar. Ele nunca a tinha visto
tã o bonita, e novamente seu estô mago se contraiu com aquela
sensaçã o de ternura. Ela estava sentada em um cobertor que havia
estendido no chã o, e ele se jogou ao lado dela. Ele pegou a garrafa de
vinho tinto que ela havia colocado ao seu alcance e franziu a testa
quando percebeu que havia apenas um copo.
— Você nã o vai beber vinho? — ele perguntou, e ela balançou a
cabeça. Seus lindos olhos se emaranharam com os dele, e ele franziu
a testa enquanto tentava ler a emoçã o neles. Ele geralmente podia lê-
la com bastante facilidade, mas seus olhos eram um mistério esta
noite e isso o perturbou um pouco.
— Vou tomar á gua esta noite.
— Você ainda está preocupado com sua reaçã o à quela taça de
vinho na festa de Pierre na semana passada? — ele perguntou
preocupado, referindo-se a sua tontura. Ele atribuiu isso ao excesso
de trabalho e a uma safra ruim.
— Nã o é isso. — Ela sorriu enigmaticamente enquanto seus
dedinhos tocavam a borda do cobertor. Bryce tentou decifrar seu
estranho comportamento enquanto servia sua pró pria bebida.
— Entã o, me conte esta notícia que a deixou tã o animada, — ele
solicitou, referindo-se ao telefonema vertiginoso dela para o
escritó rio dele naquela tarde.
— Depois de comermos, — ela disse calmamente, e seus olhos
mergulharam no banquete mediterrâ neo que ela tinha colocado
diante deles. Ela preparou pã o de sementes, queijo feta e azeitonas
pretas como aperitivos, junto com legumes frescos e dolmades com
homus, complementados por molhos de berinjela e tzatziki e falafels
em pita. Ela levou uma azeitona aos lá bios dele, e ele abriu,
chupando as pontas de seus dedos enquanto aceitava a fruta picante
em sua boca. Ele retribuiu o favor, e eles tiveram o resto da refeiçã o
de maneira semelhante, rindo e murmurando intimidades enquanto
se alimentavam. No final da refeiçã o, ela estava recostada no peito
dele, com a cabeça aninhada entre o maxilar e a clavícula dele. Eles
silenciosamente observaram o sol cair no oceano e transformar o
horizonte em uma paleta de pintura de vermelho, laranja, carmesim
e escarlate.
Ele tinha o braço sobre o ombro dela e sobre seus seios, e ela
estava brincando com seus dedos longos e há beis. Bryce se divertiu
com a proximidade, imaginando, nã o pela primeira vez, como diabos
ele teve tanta sorte. Ele se sentia totalmente em paz; eles pertenciam
um ao outro. Eram como duas metades de um todo. Deus sabe que
ele nunca acreditou que um pensamento tã o clichê passaria por sua
cabeça, mas lá estava; ela era sua outra metade e ele poderia passar
o resto de sua vida apenas com ela ao seu lado. Eles eram uma
unidade perfeita. Ele fechou os olhos para o pô r do sol e apertou o
braço ao redor de seu corpo esguio. Ela levou a mã o dele aos lá bios e
deu um beijo em sua palma larga.
— Bryce, — ela murmurou baixinho, e ele fez um leve som para
deixá -la saber que ela tinha sua atençã o. — Estou grávida.
 
 

Suas novas condiçõ es de vida nã o eram tã o ruins quanto Bronwyn


temia que fossem. Bryce praticamente manteve sua palavra, e ela
quase nunca o via em casa e teria jurado que ela e Kayla estavam
sozinhas em casa se nã o fosse pelas referências constantes da
garotinha ao pai e como eles se divertiam enquanto a mamã e estava
no trabalho. ou na escola. Ela estava de volta à universidade há quase
um mês; felizmente, sua matrícula tardia para o primeiro semestre
de março foi facilmente aceita e ela pô de retomar seus estudos com
muito pouco barulho. Fazia cerca de seis semanas desde que ela e
Bryce haviam feito o acordo, e Bronwyn estava começando a relaxar
e aproveitar a liberdade de movimento que agora tinha. Ela
trabalhava meio período em uma livraria. Era um trabalho sobre o
qual Lisa, proprietá ria de uma livraria, havia lhe falado. A maioria
das palestras de Bronwyn terminava por volta da uma da tarde,
entã o ela trabalhava das duas à s seis todos os dias, deixando-a com
tempo suficiente para aproveitar as noites com Kayla. Estava tã o
quieto na livraria esotérica que muitas vezes ela tinha tempo para
estudar. Ela também tinha folga nos fins de semana porque o dono
da loja era mais velho e nã o gostava que o negó cio abrisse nos finais
de semana. O salá rio era bom, o trabalho era fá cil e as horas eram
ideais; ela poderia ter beijado Lisa quando a outra mulher lhe contou
sobre isso. Bronwyn também adorou o desafio de estudar
novamente; ela nem sabia o quanto sentia falta disso até voltar.
Exercitar e expandir seu cérebro apó s um período tã o longo de nada
além de “dever de mamã e” foi maravilhoso!
Ela estava fazendo novos amigos na faculdade e passava muito
tempo com Lisa e Alice, bem como com a prima de Lisa, Theresa.
Esta ú ltima era um ano mais velha do que os 28 de Bronwyn e tinha
uma filha de seis meses. Elas (sem imaginaçã o) chamavam a si
mesmas de “Clube das Mamã es” e passavam a maior parte dos
sá bados evitando ativamente o dever de mamã e, deixando os bebês
com seus maridos e fugindo para um merecido dia de folga das
meninas. Eram todas mulheres ocupadas: Lisa tinha sua loja, Alice
era chef, e Theresa e Bronwyn tinham acabado de começar a estudar
novamente, Theresa apenas meio período por causa do novo bebê.
Bronwyn estava realmente começando a aproveitar sua vida
novamente, apesar da situaçã o incomum em casa. Logo ela começou
a perceber que um de seus professores, um homem de trinta e
poucos anos, parecia estar tendo um interesse maior do que o
normal por ela. Ela nã o sabia bem como reagir a esse fato. Fazia
tanto tempo que ela nã o se sentia nem remotamente atraente que o
interesse masculino, embora lisonjeiro, era um pouco enervante.
Também parecia tã o errado estar conversando com um homem que
estava tã o obviamente atraído por ela enquanto ela ainda era casada
com Bryce. Isso a fez pensar sobre o divó rcio. Ela presumiu que
Bryce iniciaria o processo, mas nã o ouviu um pio sobre isso dele. Ela
nã o tinha certeza se ele esperava que ela fizesse isso ou se estava
contente em deixar as coisas como estavam por enquanto. A
incerteza a estava deixando louca, entã o ela decidiu falar com alguns
dos estudantes de direito sobre suas opçõ es. Por ser jovem e
excessivamente ambiciosa, a maioria deles a aconselhou a “aceitá -lo
por tudo que ela pudesse conseguir”, mas um jovem, pensativo, deu a
ela o nú mero de seu pai depois de informá -la que seu pai era um
advogado de divó rcio. Ele também a advertiu para agir com cuidado
quando havia questõ es de custó dia a serem consideradas.
Ela ainda nã o havia usado o nú mero e nã o tinha certeza se
deveria ou mesmo se poderia. A ideia de finalmente terminar seu
casamento, mesmo que só pudesse ser descrita como tal nos termos
mais vagos possíveis, nã o era agradável. Nã o quando ela ainda se
importava com o marido, mais do que ele provavelmente merecia.
A ambiguidade de seus sentimentos atingiu níveis ainda
maiores quando seu professor, Raymond Mayfair, demonstrou
interesse por ela e a convidou para sair. Bronwyn lutou com a
decisã o por um tempo antes de aceitar o convite. Ela fez questã o de
avisá -lo de que nada aconteceria entre eles enquanto ela fosse
casada. Ele graciosamente aceitou seus termos e disse a ela que só
queria passar um tempo com ela.
Naquela noite, ela procurou Bryce deliberadamente pela
primeira vez em mais de dois meses e o encontrou escondido na sala
e assistindo televisã o com o som baixo. Por alguma razã o, a toca,
com todo o seu equipamento audiovisual, era o ú ltimo lugar que ela
esperava encontrá -lo. Uma suposiçã o ignorante, ela reconheceu, já
que sua surdez nã o o impedia de assistir televisã o ou curtir mú sica
com batidas mais pesadas. Ele estava sentado em uma poltrona e as
ú nicas partes dele que eram visíveis para ela eram a nuca e a mã o
direita, que estava pendurada no braço da cadeira com um copo com
um líquido cor de â mbar pendurado em seus dedos.
A princípio, ela estava tã o preocupada com o fato de tê-lo
encontrado depois de meia hora de busca que ela nã o registrou o
que ele estava observando. Entã o ela olhou para cima e se viu
fascinada por seu pró prio rosto sorridente na enorme televisã o de
tela plana. O â ngulo da câ mera mudou para incluir Bryce na foto; ele
estava inclinado para ela, sua boca em seu ouvido enquanto
sussurrava algo íntimo o suficiente para fazê-la corar. Era o DVD do
casamento deles com o som baixo. Ela estava vestida com uma bela
mistura branca que custou muito, mas que Bryce pagou, e ele estava
lindo em um elegante smoking preto. Ambos pareciam tã o jovens e
felizes e estavam envolvidos um no outro, excluindo todos os outros.
Ela observou enquanto ele avançava rapidamente no discurso de
padrinho de Rick e recomeçava a tocar quando o foco estava de volta
neles.
Ela deu um passo para trá s, sentindo como se estivesse se
intrometendo em mais um momento que ela sabia que ele nã o
gostaria que ela testemunhasse. Suas costas bateram na porta e seus
dedos se atrapalharam com a maçaneta, mas seus olhos
permaneceram grudados na tela. Ele apertou o botã o de pausa e ela
entrou em pâ nico, pensando que ele estava prestes a se levantar, mas
ele apenas se inclinou para frente, sua atençã o ainda focada na tela.
Ela desviou o olhar aflito para a imagem congelada maior que a vida
de seu rosto radiante. Ela parecia radiante e perdidamente
apaixonada. A sala estava absolutamente silenciosa, e ela estava
dolorosamente consciente de como as batidas de seu coraçã o
soavam altas para seus pró prios ouvidos e de como sua respiraçã o
estava irregular.
Depois de um tempo aparentemente interminável, ela
conseguiu segurar a maçaneta da porta e escapulir sem que ele
soubesse que ela estava lá . Mas a imagem assombrosa de Bryce
naquela sala silenciosa assistindo aquele vídeo ficou com ela a noite
toda. Ela nã o entendia por que ele havia desenterrado aquela coisa
velha. Servia apenas para enfatizar como eles haviam falhado
catastroficamente como casal.
Ela ainda precisava falar com ele; ela nã o podia sair com
Raymond sem primeiro contar a Bryce. Era a coisa decente a fazer.
Entã o ela esperou mais algumas horas até ouvi-lo rondando a
cozinha. Ela se aventurou corajosamente no quarto espaçoso e
entrou imediatamente em sua linha de visã o, nã o querendo assustá -
lo. Ele estava se afastando da enorme geladeira de duas portas com
alguns ingredientes de sanduíche empilhados precariamente em
seus braços e parou abruptamente ao vê-la. A interrupçã o abrupta
do movimento desequilibrou a comida e derrubou um tomate, que
rolou do topo da braçada e caiu no chã o entre eles com um plop
suave. Bronwyn estremeceu e os dois olharam para a bagunça que o
infeliz tomate havia feito no chã o de ladrilhos. Eles olharam para
cima ao mesmo tempo e seus olhares se encontraram incertos.
— Sinto muito, nã o queria assustá -lo, — ela se desculpou, tanto
verbalmente quanto na língua de sinais que ainda tentava aprender
em seu tempo livre. Por causa da faculdade, suas aulas tiveram que
ser transferidas para os sá bados antes de seu encontro habitual com
as outras senhoras. Seus olhos caíram para as mã os ocupadas dela e
se estreitaram acentuadamente quando eles observaram os
movimentos graciosos de seus dedos.
— Está tudo bem, — disse ele em voz alta, encolhendo os
ombros ligeiramente. Ele nã o mencionou a linguagem de sinais que
ela havia usado, e ela ficou ao mesmo tempo aliviada e um tanto
desapontada com isso. Ele passou por ela e se dirigiu para a grande
ilha de madeira no meio da cozinha para jogar os ingredientes na
superfície com tampo de má rmore preto, enquanto Bronwyn usava
uma toalha de papel ú mida para limpar a bagunça no chã o. Quando
ela terminou, ela contornou a ilha para enfrentá -lo novamente
enquanto ele se ocupava em construir um sanduíche imaginativo. Ele
manteve os olhos em sua tarefa e Bronwyn suspirou de frustraçã o
antes de acenar com a mã o sob seus olhos para chamar sua atençã o.
Finalmente, com relutâ ncia, ele ergueu os olhos para encará -la.
— Eu tenho que falar com você sobre uma coisa, — ela meio
sinalizou, meio falou, e ele assentiu cautelosamente. — Eu preciso
que você cuide de Kayla amanhã à noite. — Algo parecido com alívio
cintilou em seus olhos, e ele sorriu lentamente, assentindo
novamente.
— É claro. — Seus olhos caíram de volta para seu sanduíche. —
Eu sei que você tem que começar a estudar, o semestre nã o pode
estar tã o longe. — Bronwyn gemeu, isso ia ser mais difícil do que ela
havia previsto inicialmente. Ela acenou com a mã o sob os olhos dele
novamente.
— Bryce, — ela começou quando ela teve sua atençã o
novamente. — Eu tenho um encontro. — Ela disse as palavras em
voz alta, optando por nã o as sinalizar, e os olhos dele permaneceram
fixos em seus lá bios por tanto tempo que ela começou a se perguntar
se ele a teria entendido mal. Suas mã os grandes estavam
descansando na superfície de madeira da ilha, seu sanduíche
desleixado balançando instável entre eles, e quando ela baixou os
olhos, imaginando se deveria repetir a declaraçã o, ela notou que eles
se fechavam em punhos enormes e sabia que ele nã o havia
entendido mal ou interpretou mal seus lá bios. Ele estava tentando
descobrir como lidar com as palavras dela.
— Você é casada, — ele lembrou, quase distraidamente, sua voz
soando estranhamente rouca. Ela levantou os olhos para o rosto dele
novamente e ficou surpresa ao ver como ele parecia tenso e pá lido.
— Nó s nã o somos casados, Bryce, — ela sussurrou. — Nã o
realmente. Nã o por muito tempo agora. Você sabe disso. Você mesmo
disse; nã o há casamento. Estamos separados e apenas
compartilhando uma casa.
— Quem... — Ele começou a formular uma pergunta, mas
simplesmente transformou a ú nica palavra em uma pergunta. —
Quem?
— Um dos meus professores. Ele é um homem bom, decente.
— Quã o decente ele pode ser se sair com suas alunas? — Bryce
sibilou furiosamente.
— Eu nã o sou uma criança, Bryce, e Raymond é apenas dois
anos mais velho que você. Nã o é antiético sairmos em um encontro
perfeitamente inofensivo.
— Eu nã o acho que você deveria fazer isso, — ele começou, mas
ela ergueu a mã o para silenciar.
— Eu nã o vim até você para sua bênçã o, Bryce, — ela disse a ele
com firmeza. — Achei que contar a você seria a coisa certa a fazer,
porque ainda estamos legalmente casados. Sim, temos uma filha
juntos e estamos dividindo uma casa, mas nosso casamento, se é que
podemos chamá -lo assim, acabou. Quero seguir em frente com
minha vida, e a ú nica maneira de qualquer um de nó s fazer isso é se
nos divorciarmos. Entã o, se você nã o vai iniciar o processo, entã o eu
vou. Vou ver um advogado o mais rá pido possível. — Ele baixou o
olhar de volta para seu sanduíche.
— Provavelmente é melhor assim, — ele concordou
calmamente. — Se você precisar que eu cuide de Kayla amanhã à
noite, eu irei. — Ele levantou seus olhos enigmá ticos de volta para
ela e ela sorriu gentilmente.
— Mais uma coisa, Bryce, — ela disse timidamente. —Eu nã o
quero um cara de segurança pairando no fundo enquanto eu estiver
fora amanhã à noite. Entã o estou dispensando Paul mais cedo. Por
favor, esclareça isso com Cal. O pobre Paul provavelmente ficaria
aliviado por ter uma folga. — A vida dela era bastante mundana e,
embora ele fosse muito profissional para demonstrar isso, ela
suspeitava que ele estava entediado na maior parte do tempo.
— Tudo bem, — ele resmungou depois de uma longa pausa,
claramente nã o feliz com a ideia, mas concordando quando percebeu
que ela nã o iria ceder sobre o assunto.
— Na verdade, eu preferiria que Paul nã o viesse ao campus ou
trabalhasse comigo. É um desperdício de seus recursos. Estou
perfeitamente segura e me sentiria mais confortável sem ele
constantemente pairando em segundo plano. Ela sabia que estava
pressionando e que Bryce provavelmente nã o cederia nisso, mas ela
realmente se sentia como uma aberraçã o pretensiosa com um
guarda-costas constantemente seguindo seus passos. Isso a fez se
sentir completamente visível.
— Bronwyn, eu levo a sua segurança e a de Kayla muito a sério,
— disse ele sombriamente.
— Olha, é claro que eu quero que Kayla esteja segura, e
concordo absolutamente com a questã o da segurança dela, mas nã o
estou exatamente no mesmo barco. Eu sou sua quase esposa
alienada. Nã o é exatamente o alvo principal dos sequestradores.
— Sequestradores em potencial nã o conhecem os detalhes
íntimos de nosso casamento, Bron, — ele apontou razoavelmente. —
Você está morando comigo, você é a mã e da minha filha, e você é um
alvo. Fim da histó ria. Paul fica.
— Bem, você pode pelo menos me dar algum tempo para mim
na segunda-feira, entã o? Tenho algo para cuidar. — Embora ela
tivesse acabado de informá -lo que iria ver um advogado, ela nã o
queria que Bryce ouvisse sobre isso da ajuda contratada antes que
ela tivesse a chance de contar a ele pessoalmente. Nã o era assim que
ela queria que ele soubesse da notícia.
— O que? — ele perguntou desconfiado.
— Bryce, eu nã o te peço muito, apenas me conceda este ú nico
pedido e permita que eu me agarre à ilusã o de que ainda tenho
alguma aparência de privacidade em minha vida.
— Apenas na segunda-feira? — ele esclareceu relutantemente,
e ela assentiu. — Muito bem, vou informar Cal.
— Obrigada, — disse ela, e ele inclinou a cabeça bruscamente
antes de se afastar dela e ir para a geladeira, suas costas rígidas
dizendo a ela que ele queria que ela fosse embora quando ele se
virasse. Bronwyn nã o perdeu tempo em bater em retirada
apressada. Ela foi para o berçá rio para assistir Kayla dormir e
lamentou silenciosamente a perda da vida que ela nunca poderia ter
com o homem que ela amava tã o desesperadamente.
 
 
 
 

Bryce queria quebrar alguma coisa, queria machucar alguém, de


preferência o bastardo bajulador que havia caído nas graças da
esposa de Bryce! Deus, isso era muito pior do que ele havia
imaginado. Bronwyn estava seguindo em frente com sua vida e
saindo com outras pessoas. E se ela deixasse esse cara, esse
Raymond, tocá -la ou, pior, fazer amor com ela? Seu estô mago se
rebelou com o pensamento, e ele pegou seu sanduíche pela metade e
o jogou na lata de lixo.
Ele pressionou as palmas das mã os nos olhos e tentou
freneticamente descobrir o que fazer, como consertar isso, mas nã o
sabia como. Ele nã o tinha mais controle sobre sua pró pria vida. Tudo
estava indo ladeira abaixo tã o rapidamente que ele sabia que era
apenas uma questã o de tempo até que tudo acabasse. Bronwyn nã o
se via mais como sua esposa. Ela nã o queria nada com ele, e quem
poderia culpá -la? Depois da maneira como ele se comportou, nã o era
nada menos do que ele merecia. Ele poderia ameaçá -la com uma
batalha pela custó dia, mas nã o tinha coragem de fazer isso com ela
ou com Kayla.
Depois de todos aqueles meses de raiva hipó crita e acreditando
que ele era o injustiçado, enquanto sua Bronwyn sofria horrores
inimagináveis por conta pró pria, ele agora tinha que enfrentar o fato
de que havia causado tudo isso sobre si mesmo. Chantagear
Bronwyn para ficar com ele, depois de tudo o que ele havia feito de
errado, de forma alguma restauraria seu autorrespeito. Ele teve que
deixá -la ir; ela merecia ser feliz e era ó bvio que ele nã o conseguia
fazê-la feliz, que muito raramente a fazia feliz. Esse era o seu
fracasso, sua vergonha e sua cruz para carregar, e ele nã o queria
mais que ela compartilhasse desse fardo.
 
 

— O que diabos você quer dizer com você está grávida? E sobre seus
estudos e a decisã o mú tua que tomamos quando nos casamos?
Íamos esperar, Bronwyn, lembra? Apenas me diga que você está
brincando. — A fú ria que sentiu naquela noite queimou seu corpo e
obliterou sua capacidade de pensar racionalmente. Ele se afastou
dela e ficou de pé para encará -la com raiva. Ela parecia tã o confusa e
magoada que por um momento ele quase amoleceu, quase a tomou
em seus braços para confortá -la. Mas entã o essas duas palavras
ecoaram em seu cérebro novamente e sua raiva ardente e amarga
reafirmou-se. A sensaçã o de traiçã o deixou um gosto amargo em sua
boca.
— Eu sei que é mais cedo do que havíamos planejado, — ela
disse suavemente, tentando manter um tom de voz uniforme. — Mas
esta é a realidade da nossa situaçã o agora e nã o pode ser mudada.
Vamos ter um bebê... um bebê, Bryce. Você nã o entende como isso é
maravilhoso?
— Eu nã o posso acreditar que você fez isso. Eu nã o posso
acreditar que você se rebaixaria a isso, — ele rangeu amargamente.
— Esta era para ser uma decisã o conjunta. Nã o estou pronto para
isso, Bronwyn. Eu nã o quero um filho, porra!
— Mas é o nosso bebê . . . nó s fizemos isso juntos, — ela
protestou, e ele podia ouvir a dor e a confusã o em sua voz, mas
simplesmente nã o conseguia manter o veneno fora da sua, sabendo
que se ele permitisse que ela visse através de sua raiva sua pró pria
dor e confusã o, ela pensava que o que tinha feito estava certo, e ele
estava muito furioso com ela para permitir que ela pensasse isso
ainda.
— Você quer dizer o que fez isso, sem o meu consentimento. —
Ele mal conseguia olhar para ela. Ele nã o queria ver suas lá grimas -
ele odiava suas lá grimas - mas ele podia ouvi-las em seu suspiro e
em sua voz quando ela falava.
— Eu nã o sei por que você está assim, — ela chorou. — Eu nã o
planejei isso, apenas aconteceu. Nosso controle de natalidade falhou.
Perguntei ao médico e ele disse que se eu tivesse um vírus estomacal
ou algo assim, poderia ser uma janela de oportunidade. E você sabe
que eu estava doente alguns dias antes da festa da sua empresa, três
meses atrá s. — Maldita seja, ela estava tentando cobrir seus rastros.
Ele saiu do jardim de inverno e desceu para o banheiro, enquanto ela
trotava atrá s dele, ainda tentando contar a ele sobre um problema
estomacal que teve três meses atrá s. Como diabos ela poderia
esperar que ele se lembrasse de algo assim? Ele empurrou para trá s
a voz mesquinha que lhe dizia que ele se lembrava disso e que a
havia mimado ridiculamente enquanto ela estava doente. Em vez
disso, ele se convenceu de que nã o conseguia se lembrar de qualquer
vírus insignificante ao qual ela estava se referindo. Ele abriu a caixa
de remédios e tirou as pílulas anticoncepcionais dela.
— O que você está fazendo? — Ela parecia assustada e chocada
enquanto o observava contar os comprimidos na caixa. Seus olhos
ficaram nublados com uma névoa vermelha quando ele percebeu
que os nú meros estavam certos.
— Deus, você tem jogado pílulas no ralo todas as noites? — ele
se perguntou em voz alta, odiando a si mesmo enquanto fazia a
pergunta.
— Você sabe que eu nã o faria isso, — ela defendeu com
urgência.
— É assim mesmo? Obviamente nã o te conheço tã o bem quanto
pensei, nã o é?
— Claro que você me conhece, Bryce. — ela colocou uma mã o
hesitante em seu antebraço rígido, e sua carne queimou sob o
contato. Ele puxou o braço e se afastou dela. Seus olhos se encheram
de lá grimas, ele precisava de tempo para pensar, mas nã o podia
pensar com ela no mesmo quarto, nã o quando ela estava chorando,
nã o quando ele era o responsável por suas lá grimas.
— Saia daqui, — ele sussurrou asperamente, querendo que ela
saísse do quarto, nã o querendo que ela ouvisse ou visse o quanto ele
ansiava por tomá -la em seus braços.
— O que?
— Dê o fora, — ele rosnou, preparando-se antes de se virar
para encará -la. Ele mal se conteve para nã o se encolher quando viu
as lá grimas dela. — Vá agora. — Ela soltou um grito baixo e saiu da
sala, fugindo o mais rá pido que pô de. Bryce finalmente se permitiu
quebrar, afundando contra uma parede de ladrilhos enquanto suas
pernas falhavam e deslizavam para o chã o. Ele apertou a cabeça
entre as mã os e tremeu incontrolavelmente enquanto tentava
imaginar sua vida a partir de agora.
 
CAPÍTULO DEZ

Bryce teve que ir ao escritó rio na manhã seguinte - o dia do Grande


Encontro de Bronwyn. Ele nã o fazia isso há meses, mas ele e Pierre
tinham uma reuniã o urgente com um cliente muito importante e o
homem havia solicitado a presença de Bryce. Como ele era o diretor
financeiro e vice-presidente de marketing da empresa, Bryce sabia
que era hora de retomar as ré deas de sua vida. Ele tinha
responsabilidades com Pierre, seus funcioná rios, clientes e consigo
mesmo. Era hora, mas era apenas um momento infeliz. Celeste estava
gripada, Bronwyn fez uma prova, alé m disso, seu encontro mais
importante era naquela noite, e Bryce nã o estava disposto a desistir
desse negó cio de paternidade só porque as coisas ficaram um pouco
complicadas. Ele nem havia contado a Bronwyn sobre esse encontro,
mas imaginou que ela havia enfrentado crises muito piores nos
ú ltimos dois anos, entã o ele poderia lidar com essa sozinho.
Isso significava levar Kayla para o escritó rio e ela estava de
péssimo humor. Ele a vestiu com seu vestido rosa mais bonito,
prometendo-lhe todos os tipos de guloseimas se ela fizesse uma
coisa para o papai hoje. Ele nã o precisava de sua audiçã o para saber
que ela estava murmurando um monte de “Kayla, nã o quero” em seu
cabelo enquanto ele amarrava os cadarços dos minú sculos tênis
vermelhos que ela insistia em usar com o vestidinho feminino. Ele
cedeu sobre os sapatos porque estava ficando muito cansado de
tentar argumentar com ela. Mal pai, ele sabia, mas era uma questã o
de escolher suas batalhas, e ele estava atrasado. Ele também estava
com medo de perder a paciência com ela enquanto nã o havia mais
ninguém por perto e queria sair de casa e ir para o escritó rio o mais
rá pido possível.
No momento em que Cal - que também atuava como seu
motorista naqueles dias - estacionou o carro no estacionamento
subterrâ neo do enorme prédio no centro da Cidade do Cabo, que
abrigava a DCP Jewelers Inc., ele estava exausto e se sentindo mais
do que um pouco incomodado. Lá grimas petulantes e raivosas
escorriam pelas bochechas rosadas de sua filha, e ele podia mais do
que imaginar seu choro insistente. Ele a conhecia bem o suficiente
para saber quando ela estava agindo mal e quando ela estava apenas
sendo difícil.
— Kayla. — Ele esperava que sua voz fosse firme o suficiente.
— Pare de chorar. Você vai conhecer novos amigos legais. — Ela
estava balançando a cabeça em resposta à promessa dele, e ele podia
ler seus lá bios bem o suficiente para entender que ela nã o queria
“novos amigos”. Ele gemeu e deu um beijo em uma bochecha
gordinha e molhada.
— Claro que você quer novos amigos. — Seu plano era deixá -la
na creche da empresa. Muitos dos jovens executivos que estavam
presentes pararam para olhar enquanto ele passava pela recepçã o.
Ele acenou para eles abruptamente, sem se importar com o choque
de boca aberta que todos estavam exibindo, mas sabendo que sua
presença, especialmente com uma criança a tiracolo, alimentaria
fofocas nos pró ximos meses. Eles estavam naturalmente curiosos
porque muitos deles nã o o tinham visto desde o acidente; também só
Deus sabia quanto barulho Kayla estava fazendo. Pierre apareceu na
frente dele e sorriu quando seus olhos caíram para a criança rebelde
no quadril de Bryce.
— Olá , Mikayla, — ele sorriu para ela, sinalizando para que
Bryce pudesse entender o que ele estava dizendo. — Por que tã o
mal-humorado? — Ele estendeu a mã o e tentou puxar a criança
resistente em seus braços. Kayla se recusou a ir, enterrando o rosto
molhado contra o pescoço de Bryce e apertando seus pequenos e
surpreendentemente fortes braços ao redor dos ombros dele. Bryce
encontrou os olhos divertidos de Pierre e gemeu.
— Uma ajudinha, por favor?
— Ei, o meu ainda nã o tem idade para fazer birras. — Pierre
deu de ombros, colocando as mã os nos bolsos da calça e balançando-
se sobre os calcanhares. — Nã o tenho ideia de como lidar com isso.
— Eu a estou levando para o berçá rio, mas ela vai me odiar por
abandoná -la, — Bryce informou enquanto abraçava a criança
chorando mais perto.
— Quando você for buscá -la novamente, ela estará se
divertindo tanto que vai chorar quando você tentar levá -la para casa.
— Deus, esse negó cio de pais é difícil, — Bryce murmurou. —
Eu nã o sei como diabos Bronwyn aguentou sozinha por dois anos.
— É por isso que o Dia das Mã es é muito maior do que o Dia
dos Pais jamais será , — brincou Pierre. — Estou indo para a Sala de
Conferências do Mezanino; encontro você lá em dez minutos?
— Claro, — Bryce concordou. Naturalmente, isso era mais fá cil
dizer do que fazer. Kayla teimosamente se agarrou à perna dele
quando ele a colocou no berçá rio, e ele e uma das professoras do
berçá rio tentaram desesperadamente suborná -la e convencê-la a
soltá -la. Vinte minutos depois, exausto e amarrotado, Bryce entrou
na sala de conferências do mezanino, preocupado por ter deixado
sua filha chorando e implorando para trá s e se perguntando quantas
vezes Bronwyn teve que passar pela mesma provaçã o nos ú ltimos
dois anos. Quã o difícil deve ter sido para ela, especialmente ser
capaz de ouvir a sú plica e o choro de Kayla, quando ela se virou para
ir embora.
Sua primeira grande reuniã o de negó cios fora de casa, apó s o
acidente, nã o foi tã o difícil quanto ele esperava, em grande parte
devido ao intérprete de linguagem de sinais que Pierre empregou
cuidadosamente. A mesma mulher seria a nova assistente de Bryce e
facilitaria sua transiçã o de volta ao escritó rio. Ele ainda pretendia
passar muito mais tempo em casa do que antes do acidente, mas a
reuniã o o fez perceber o quanto sentia falta de estar no centro das
coisas e no coraçã o do negó cio.

Bronwyn mal conseguia se concentrar no que Raymond estava


dizendo; sua mente continuava voltando para a imagem solitá ria de
Bryce sentado na frente daquela televisã o com sua imagem
congelada na tela. Havia algo tã o rígido, triste e desolado na
memó ria que a consumia por dentro toda vez que pensava nisso.
— Você parece preocupada. — A voz gentil de Raymond
intrometeu-se em seus pensamentos, e Bronwyn se assustou de
volta ao presente e ao homem sentado à sua frente. Ele realmente
era um homem bom, alto, magro e quase bonito, com olhos escuros,
cabelo preto ligeiramente ralo e um sorriso caloroso. Bronwyn
realmente gostava dele, mas nã o o suficiente para considerar
seriamente sair com ele.
— Eu acho que isso foi um erro, — ela murmurou, e ele franziu
a testa. — É muito cedo. Simplesmente nã o parece certo para mim
sair com você. — Ele sorriu em compreensã o.
— Eu estava me perguntando onde estava sua mente, — disse
ele.
— Pode ser... — ela começou, e ele cobriu uma de suas mã os
indefesas com as dele.
— Em alguma outra hora? — ele completou, e ela assentiu com
gratidã o. — Tudo bem. Posso esperar até que você esteja pronta.
O mais louco era que Bronwyn nã o tinha certeza se algum dia
estaria pronta. Apesar de tudo o que havia acontecido, ela ainda
amava Bryce e nã o sabia como parar. Embora seu comportamento
passado tenha sido imperdoável, também foi completamente fora do
personagem. Como o homem que agora amava sua filha tã o sem
reservas poderia ter rejeitado a ideia da gravidez de Bronwyn em
primeiro lugar? Nã o fazia sentido. E, no entanto, embora estivesse
confusa e em conflito, ela ainda nã o conseguia esquecer ou perdoar
aqueles dois anos em que lutou para manter a si mesma e a sua bebê
vivos e seguros. Ela o amava e, no entanto, ressentia-se dele por
abandoná -los tã o completamente. E nã o havia como ela conciliar
esses dois sentimentos conflitantes de maneira emocionalmente
satisfató ria.
— Obrigada pela compreensã o, Raymond.
Ele encolheu os ombros.
— Nã o posso dizer que nã o estou desapontado, Bronwyn. Eu
ainda gostaria de conhecê-la melhor e passar um tempo com você.
Espero ter essa chance.
— Você é um homem muito legal, Raymond, — ela respondeu.
— Mas eu nã o deveria ter saído com você. Ainda sou casada e,
embora meu marido possa nã o ser perfeito, ele é o pai da minha filha
e, a certa altura, ele foi toda a minha vida. Nã o sei o que estou
fazendo aqui. Nã o posso prometer nada, entendeu?
— Eu entendo. — Ele sorriu novamente, apertando a mã o dela
para tranquilizá -la. — Espero que saiba que estou aqui, como amigo.
Se precisar de um ombro para chorar ou de alguém para ouvir, estou
sempre aqui.
— Obrigada, — ela sussurrou, tentando desesperadamente
conter as lá grimas por sua graciosa aceitaçã o da situaçã o.
 
 

Bryce, que estava sentado sozinho na sala escura, ficou surpreso


quando o brilho inconfundível dos faró is vindo da entrada perturbou
a escuridã o implacável. Ele deu um pulo e saiu para a ampla varanda
que dava para a entrada da garagem, sabendo que nã o seria visto no
escuro. Era Bronwyn, voltando para casa muito mais cedo do que ele
esperava. Ela estava de pé ao lado do carro, com a cabeça inclinada
sobre a bolsa enquanto procurava as chaves de casa. Ele franziu a
testa, fazendo uma nota mental para falar com ela sobre seu
descuido. Ela realmente deveria tirar as chaves antes de sair do
carro; eles tinham a melhor segurança que o dinheiro podia comprar,
e havia guardas por toda a propriedade, mas ele ainda nã o queria
que ela corresse riscos desnecessá rios. Ele podia vê-la claramente na
luz que se derramava da varanda da frente, e seu estô mago se
apertou ao ver como ela parecia bonita na saia envolvente azul-clara
que moldava suas longas pernas a cada movimento que ela fazia. Seu
top branco era baixo o suficiente para mostrar seu decote modesto e
isso fez seu sangue ferver. Ela parecia muito provocadora, muito
tentadora! Ele tinha certeza de que o professor pervertido nã o
poderia ter guardado as mã os para si mesmo.
Ardendo com a necessidade de saber se aquele bastardo havia
colocado suas patas sujas nela, ele desceu as escadas, certo de que
seria capaz de ler sua expressã o e saber se ela havia deixado o
homem tocá -la. Ele só precisava saber...
 
 
 
 

— Como foi seu encontro? — A voz profunda, soando tã o


inesperadamente atrá s dela, fez Bronwyn pular de choque. Ela
estava ocupada ajustando o alarme e errou o có digo quando ele a
assustou. Ela respirou fundo e rapidamente digitou novamente o
có digo correto antes de se virar para encará -lo.
— Foi tudo bem, — ela murmurou, sabendo que estava muito
escuro para ele ler seus lá bios; ela também usou as mã os.
— Quando você ficou tã o bom em sinalizar? — ele perguntou
roucamente, entrando na pequena poça de luz no corredor e
prendendo-a ordenadamente entre seu corpo e a porta.
— Todas aquelas vezes que encontrei Alice para almoçar? Antes
de voltar para a universidade? Estávamos indo para o mesmo centro
que Pierre frequentou para as aulas de língua de sinais. Eu vou
principalmente aos sá bados agora.
— Por que? — Ela encolheu os ombros desajeitadamente,
tentando recuar quando ele deu um pequeno passo à frente, mas se
encontrando sem lugar para ir quando suas costas bateram na porta.
Ele estava tã o perto que ela podia sentir o calor de seu corpo e sentir
seu aroma maravilhosamente limpo.
— Eu nã o sei, — ela disse calmamente. — Eu queria poder falar
com você. — Ele gentilmente ergueu o polegar e o indicador até o
queixo dela e o usou para inclinar o rosto dela para o dele.
— Eu nã o entendi isso, — ele sussurrou. Ela repetiu sua
declaraçã o anterior e seus olhos escureceram.
— Você queria falar comigo? Apesar da maneira como tratei
você? — Havia um mundo de vulnerabilidade em sua voz, e Bronwyn
tentou nã o deixar que isso a desarmasse.
— Eu sei como é nã o ter ninguém com quem conversar, — ela
disse, fechando os olhos para esconder sua dor dele.
— Ah Deus, querida... Bron... — A angú stia em sua voz a desfez,
e ela se viu incapaz de resistir quando ele abaixou a cabeça e
descansou a testa contra a dela. Seu há lito quente passou por seu
rosto, seus lá bios, e ela estremeceu antes de ficar na ponta dos pés e
roçar a boca dele com a dela. Ele ficou tã o imó vel que ela pensou que
fosse quebrar, mas quando ela moveu suas pequenas mã os para
segurar seu rosto, sua respiraçã o escapou em um soluço
estrangulado. Ele timidamente envolveu seus braços fortes ao redor
de seu corpo esguio para trazê-la para perto e respondeu a seu doce
beijo com ternura e reverência inacreditáveis. O beijo nã o durou
muito; acabou antes de começar propriamente, e Bryce deu um
passo para trá s, levantando a mã o para acariciar suavemente uma
das bochechas dela, os olhos brilhando com alguma emoçã o
inescrutável. Bronwyn inclinou o rosto para a mã o dele e ergueu a
mã o muito menor para cobrir a dele. Eles ficaram assim pelo que
pareceu uma eternidade, mas o que foi, na realidade, apenas alguns
segundos antes de Bronwyn passar por ele. Ela saiu sem dizer uma
palavra, incapaz de encontrar as palavras certas, nem mesmo certa
se havia palavras para o que ela estava sentindo.
 
 
 

Bryce gemeu na manhã seguinte, quando sua turbulenta filha de 21


meses saltou para cima de sua cama em alguma hora inoportuna. Um
joelhinho afiado por pouco nã o atingiu sua virilha para pousar
dolorosamente em seu abdô men, fazendo-o xingar baixinho
enquanto se dobrava de dor.
— Kayla, querida, por que você nã o vai procurar sua mã e? É o
dia de folga dela hoje. — Ele a pegou para impedi-la de pular e deu
um beijo rá pido em sua bochecha macia. Ela riu ao sentir sua barba
por fazer.
— Cosquinha. — Ela formou a palavra claramente enquanto
esfregava sua bochecha melindrosa.
— Vá acordar a mamã e, querida; Papai está tentando dormir.
Vou te dar alguns doces se você for para a sua mã e! — Ele persuadiu.
— Ver peixinhos. — Ele franziu a testa para aquela informaçã o,
imaginando o que diabos estava faltando na traduçã o. Muitas vezes
ele tinha problemas com consoantes sonoras e surdas, mas duvidava
muito que ela quisesse dizer “poxinhos”, entã o a palavra tinha que
ser “peixinhos”, o que o confundia pra caralho.
— O que?
— Peixinhos, papai, veja peixinhos! — Ela fez um movimento de
se contorcer como o de um peixe com uma de suas mã os gorduchas.
Ok, entã o ele definitivamente nã o interpretou mal os “peixinhos”.
— Onde está sua mamã e? — Ele a manteve imó vel quando ficou
ó bvio que ela queria pular novamente.
— Ali, — ela apontou para a porta do quarto dele, a covinha que
herdou dele se aprofundando enquanto seu sorriso se alargava. Ele
olhou para cima para encontrar Bronwyn de pé na porta aberta.
Bem, isso certamente explicava como Kayla havia entrado em seu
quarto; ela ainda nã o era alta o suficiente para abrir portas. Bronwyn
estava encostada no batente da porta com os braços cruzados sobre
o peito e as sobrancelhas erguidas.
— Nã o pense que deixei passar aquele flagrante de suborno
agora, — ela disse, e ele gemeu.
— Vamos lá , Bron, você sabe que os fins de semana sã o os seus.
Eu nã o queria roubar seu tempo com nosso precioso anjinho. Nã o
seria justo com você, — ele rapidamente falou suavemente, mas ela
nã o estava acreditando em nada disso e ele praticamente podia ouvi-
la hah! A tensa filha “anjo” escapou de seu aperto e estava pulando
no colchã o inflável novamente, seus cachos voando enquanto ela
cantava “Peixinhos, peixinhos” a cada salto. Bryce fez uma careta ao
ler seus lá bios.
— O que é tudo isso sobre “peixinhos”? — ele perguntou,
sentindo-se ridículo ao dizer a palavra. Ele olhou para cima e pegou
Bronwyn olhando para seu peito nu. Ela corou quando ele a pegou
olhando e levou alguns segundos para organizar seus pensamentos
antes de responder.
— Uh... Vou levá -la ao aquá rio hoje e queria saber se você
gostaria de se juntar a nó s. — Ele piscou para ela, se perguntando se
tinha lido direito.
— O que?
Ela repetiu a pergunta, usando suas mã os eloquentes desta vez,
e ele piscou novamente, mais do que um pouco chocado com o
convite inesperado. Seu rubor se aprofundou e ela começou a dizer
que ele nã o precisava se nã o quisesse, mas ele rapidamente afastou
isso de lado antes que ela mudasse de ideia completamente.
— Claro! Eu nunca fui! Isso seria bom! Kayla vai adorar! — Ele
sabia que estava falando em exclamaçõ es, mas nã o queria nenhum
mal-entendido. — Me dê dez minutos e podemos partir. — Ele pulou
da cama, esquecendo que estava vestindo apenas pele e rapidamente
pegou um lençol para preservar a modéstia quando sentiu uma brisa
nas á reas que deveriam ser mantidas cobertas na presença de sua
filhinha e sua ex-esposa. Colocando o lençol na cintura, ele agarrou
Kayla enquanto ela estava no meio do salto e a abraçou contra o
peito, girando-a por alguns segundos. — Nó s vamos ver os
peixinhos, bebe! — Ele deu um beijo na bochecha da criança antes
de colocá -la no chã o, onde ela cambaleou vertiginosamente antes de
cair de bunda. Ela riu alegremente depois que a tontura passou e
ergueu os braços para ele para outra rodada.
— Agora nã o, querida. Eu tenho que tomar banho e entã o
vamos ver todos os lindos peixinhos.
— Nebo? — ela perguntou preocupada, e ele sorriu ao pensar
no filme da Disney que ela insistia em assistir pelo menos cinco vezes
por semana, com o papai é claro! Bryce ficou grato pela opçã o de
legenda nos DVDs e nunca pensou que seria do tipo que recitaria o
diá logo de um filme de desenho animado palavra por palavra em sua
vida.
— Sim, Nemo também, — ele prometeu. — Eu vou ser rá pido,
— ele disse a Bron ao sair.
— Sem pressa. — Ela sorriu. — Eu ainda tenho que arrumar
Kayla. Podemos partir em cerca de meia hora.
Bronwyn observou-o sair, suas costas largas e bronzeadas
ondulando com mú sculos, o lençol moldando seu traseiro apertado
com muito amor. Sua boca ficou seca quando ela se lembrou daquele
flash de nudez; ele era tã o lindo que era uma pena encobrir isso. Ela
sorriu quando se lembrou de sua quase vertigem de colegial em seu
convite impulsivo. Ela nã o o tinha visto tã o despreocupado e
extasiado em, bem, nunca realmente. Mesmo antes da gravidez dela,
quando eles eram felizes juntos, sempre houve essa reserva nele,
uma escuridã o que ele tentou manter escondida dela. Ela sempre
acreditou que seria apenas uma questã o de tempo até que ele
confiasse nela, mas entã o ela engravidou e eles ficaram sem tempo.
Ela suspirou com a reviravolta sombria de seus pensamentos; era
um dia de outono claro e bonito demais para ficar pensando no
passado.
— Vamos, Kayla, hora de se vestir. — Ela estendeu a mã o para a
criança que se aproximou alegremente, ainda conversando
animadamente sobre “Nebo” e “peixinhos”.
 
 

O Aquá rio Dois Oceanos era no V&A Waterfront na Cidade do Cabo.


Estava repleto nã o apenas de vida marinha, mas também de
crianças, adolescentes, estudantes e famílias barulhentas. Bryce e
Bronwyn, como um jovem casal com uma criança enérgica, se
misturaram completamente. Pela primeira vez, o onipresente Cal e
sua equipe foram instruídos a permanecer em segundo plano. Bryce
ordenou que permanecessem do lado de fora, apesar da ó bvia
inquietaçã o de Cal com o alto risco de segurança que um lugar tã o
movimentado representava. Até mesmo Bryce decidira conduzi-los
pessoalmente - uma raridade nos dias de hoje - enquanto a equipe
de segurança permanecia a uma distâ ncia discreta atrá s deles.
Agora Bronwyn estava dolorosamente ciente de como eles
deveriam parecer uma família normal em meio à maré da
humanidade. Kayla estava sobre os ombros de Bryce, e seus
pezinhos batiam freneticamente contra o peito dele toda vez que ela
queria que ele parasse e a deixasse cair para que ela pudesse
investigar algo mais de perto. Ela adorava a piscina de toque, onde
podia acariciar e tocar todos os tipos de vida nas poças de maré:
peixes, estrelas do mar e até mesmo um pequeno polvo. Ela gritou
com cada nova sensaçã o sob a ponta dos dedos. A garotinha deles
nã o era nada senã o aventureira e, ao contrá rio de muitas outras
crianças de sua idade, que recuavam gritando e chorando, ela
continuava avançando para tocar em algo novo. Claro, o destaque
para ela foi a exibiçã o do peixe-palhaço. A bela exposiçã o na verdade
se chamava “Nemos”. Bryce a guiou até a pequena bolha sob o
display, que lhe deu uma visã o de 360 graus do tanque. Ela gritou e
bateu palmas de alegria quando se viu cercada por tantos “Nemos”.
Foi muito difícil trazê-la de volta para dar uma chance a outras
crianças, mas ela nã o teve tempo de ficar de mau humor com tanto
para ver e fazer.
Bronwyn sentiu que, apesar de sua risada, algo nã o estava certo
com Bryce. Ele parecia nervoso e o suor escorria de seu lá bio
superior. Muitas vezes ela o pegava olhando em volta freneticamente
quando ela estava mais longe dele e quase visivelmente cedendo de
alívio quando ele a avistava. A princípio, ela ficou confusa com a falta
de compostura atípica dele, mas depois percebeu a maneira como
ele se encolhia sempre que alguém o roçava ou chegava muito perto.
Com clareza surpreendente, ela reconheceu que seu marido, que
uma vez parecia tã o forte e infalível, temia a multidã o de pessoas ao
redor deles. Ela até suspeitava que ele fosse levemente agorafó bico.
Isso explicava por que ele havia se confinado em casa nos ú ltimos
dois anos, por que raramente se aventurava a sair e por que preferia
que Pierre ou Rick viessem visitá -lo em casa. Esta criatura outrora
social havia sido isolada do mundo de mais maneiras do que ela
imaginava. Dizia muito o quanto o convite dela deveria ter
significado para ele, se ele estava disposto a enfrentar isso por um
dia com ela e Kayla.
Ela fez seu caminho para o lado dele e firmemente deslizou sua
mã o na dele. Seu olhar assustado encontrou o dela, e quando ele viu
o entendimento brilhando ali, seus olhos brilharam de gratidã o.
— Você quer ir para casa? — ela perguntou, e ele hesitou antes
de balançar a cabeça.
— Estou bem... agora. — Ele ergueu suas mã os entrelaçadas
com gratidã o.
Nenhum dos dois reconheceu abertamente a situaçã o
novamente, mas ela raramente saiu do lado dele depois disso e ele
parecia menos tenso. Ele parecia estar genuinamente se divertindo
quando chegaram ao tú nel subaquá tico que os conduziu através de
uma multidã o de arraias, barracudas, atuns e tubarõ es de dentes
irregulares. A exibiçã o foi tã o impressionante que até mesmo Kayla
ficou quieta enquanto observava o estranho e belo mundo azul que a
cercava. Suas mã ozinhas estavam unidas sob a mandíbula de seu pai
e Bronwyn observou enquanto ela começava a cair cada vez mais até
que sua cabeça estava descansando em cima da de Bryce e ela
dormia profundamente.
— Fique quieto, — ela insistiu, pegando a câ mera digital e
tirando mais uma foto de pai e filha. Ele sorriu antes de pegar a
câ mera dela e parar um turista que passava, pedindo ao homem para
tirar uma foto deles. Ele deslocou Kayla para que ela ficasse
embalada em seu braço direito, com a cabeça apoiada na curva de
seu ombro e o braço em volta de seu pescoço, e puxou Bronwyn
contra seu lado esquerdo, envolvendo o braço em volta da cintura
dela e segurando-a perto.
— Sorria, querida, — ele insistiu em seu ouvido, e ela se
assustou em obedecer. O turista tirou três fotos em rá pida sucessã o
antes de devolver a câ mera a Bryce.
— Você tem uma família linda, cara, — disse ele com um forte
sotaque australiano antes de devolver a câ mera e sair com um aceno.
Quando eles deixaram o aquá rio, Bryce empurrou o carrinho de
Kayla enquanto Bronwyn enfiava a mã o na dobra do cotovelo dele
para manter contato. Cal e sua equipe estavam levando tã o a sério
sua missã o de permanecerem discretos que Bronwyn nem os viu.
Bryce abriu caminho em direçã o a um dos muitos restaurantes que
pontilhavam a orla, um lugar grego que servia comida fabulosa, e
eles se sentaram a uma mesa sob um dos guarda-só is sob o sol do
início do outono. Eles ficaram em silêncio por um tempo, observando
o mundo passar, até que Bryce quebrou o silêncio.
— Obrigado.
Ela ergueu os olhos surpresos para o rosto solene dele. — Por?
— Mais cedo. — Ele limpou a garganta e ela observou seu pomo
de Adã o balançar sensualmente enquanto ele engolia. — Obrigado
por mais cedo. Multidõ es sã o... difícil para mim. Desde o acidente,
É
nã o suporto estar em grandes multidõ es. É tã o bizarro. Lá estou eu
com todas essas pessoas ao meu redor e sei que deveria haver
barulho, vozes, passos e risos, mas em vez disso nã o há nada. É como
estar em um grande vazio, até que sou empurrado e entã o parece
que estou em uma emboscada porque nã o vi ou ouvi isso chegando.
Depois do acidente fiquei tã o paranoico, fiquei imaginando quem
estava atrá s de mim, imaginando que tinha alguém ali, e me virei tã o
rá pido que assustei todos ao meu redor, só que nã o havia ninguém
lá , mas eu imediatamente sentia o mesmo sentimento e virava
novamente. Eu sabia que seria apenas uma questã o de tempo até
chegar ao ponto em que eu continuaria girando e girando e girando
até enlouquecer. Entã o, antes que isso pudesse acontecer, eu...
— Você se trancou, — ela completou, e ele assentiu.
— É uma loucura, eu sei, — ele confessou, e ela sorriu com um
aceno de cabeça, cobrindo a mã o levemente trêmula dele com a sua.
— Nã o, nã o é. Você perdeu um dos seus sentidos, Bryce.
Naturalmente haveria repercussõ es físicas, mentais e emocionais. Li
que as pessoas passam pelos está gios do luto depois de perder a
audiçã o. Você fez... você falou com alguém depois do acidente?
— Você quer dizer um psiquiatra? — ele esclareceu secamente.
— Eu estava vendo um por quase um ano; é por causa dele que eu
pude pensar em sair hoje. Eu estava muito pior imediatamente apó s
o acidente e teimosamente me recusei a falar com qualquer pessoa.
Sim, eu estava em negaçã o e furioso que algo assim pudesse ter
acontecido comigo, mas deixei isso de lado porque tinha algo maior
para cuidar. Eu estava convencido de que conversar com psiquiatras
poderia esperar. Mas Pierre e Rick meio que forçaram minha mã o.
Eles me chantagearam para sair com alguém.
— Quanto? — ela perguntou, curiosa. Uma coisa que ela sabia
sobre seu marido teimoso era que, quando ele se decidia sobre algo,
era muito difícil fazê-lo mudar de novo. Ele limpou a garganta e
bebeu um bom gole de vinho branco.
— Na época, meu único propó sito era encontrar você, — ele
admitiu. — Mas eu estava tã o incapacitado e as ú nicas duas pessoas
em quem eu confiava para me ajudar eram Rick e Pierre. Eles tinham
detetives particulares trabalhando nisso e, por causa das minhas
fobias antissociais, eram eles que lidavam com esses detetives. Eles
ameaçaram parar de atuar como contatos entre os detetives e eu se
eu nã o visse alguém. Eu nã o podia deixar isso acontecer e, como
sabia que nã o seria capaz de lidar com os detetives sozinho, nã o tive
escolha a nã o ser cumprir suas exigências. Eu me ressenti muito
deles por terem imposto aquele ultimato, mas no final, Bron, eles
salvaram minha sanidade. — Eles permaneceram em silêncio por um
tempo depois disso, enquanto Bronwyn pensava em tudo o que ele
havia revelado.
— E a... a surdez é permanente? — Ela fez a pergunta que
estava com muito medo de abordar antes e estremeceu com a
imensa quantidade de dor que escureceu os olhos dele. — Nã o há
nada que eles possam fazer sobre isso?
— Para simplificar, sofri grandes danos nos nervos de ambos os
ouvidos. Bati com a cabeça com tanta força que os médicos me
disseram que tive sorte porque a surdez foi minha ú nica lesã o grave
e duradoura. Sorte, você acredita nisso? — Sua voz soou indignada
com a memó ria, e ele fechou os olhos brevemente antes de balançar
a cabeça e encontrar os olhos dela novamente. — Eles me disseram
que o dano na minha orelha direita é menos catastró fico e que uma
operaçã o pode restaurar parte da funçã o.
— Nã o funcionou? — ela perguntou com simpatia, dolorida por
ele. O que ele havia feito com ela era imperdoável, mas ele já havia
pago caro por isso, e ela se viu incapaz de odiá -lo ou se ressentir por
mais tempo. Ela apenas se sentia entorpecida e confusa.
— Eu nã o fiz a operaçã o. — Ele deu de ombros e ela piscou.
Atordoado com aquela informaçã o.
— O que? Por que?
— Parecia inú til. — Sua mandíbula estava tensa e, embora ela
desejasse pedir mais informaçõ es, ela sentiu que ele nã o seria
receptivo a mais perguntas. Ela suspirou, sua teimosia e falta de
comunicaçã o servindo apenas para lembrá -la de por que ela sentia
que seu casamento nã o tinha mais chance de funcionar. Sim, ele
pagou por sua reaçã o imperdoável e desconcertante à gravidez dela,
mas eles tinham tantos outros problemas insuperáveis.
— Sinto muito que isso tenha acontecido com você, Bryce, —
ela disse sinceramente. — Eu sinto muito.
— Eu nã o fui o ú nico que sofreu, Bron. — Pela primeira vez
desde que aconteceu, ele estava ignorando porque havia muito mais
que ele precisava saber sobre o que havia acontecido com ela
durante aqueles anos perdidos. — Depois que você saiu do hospital,
o que aconteceu? Onde você foi? Quem cuidou de você?
— Eu realmente nã o quero falar sobre isso, — ela começou
hesitante.
— Por favor. — A ú nica palavra falada suavemente a desfez
mais do que qualquer outra poderia ter feito, e ela baixou os olhos
para sua filha dormindo pacificamente antes de levantá -los de volta
para Bryce.
— Graças à venda do carro, consegui dinheiro suficiente para
alguns meses de aluguel e alimentaçã o. Por sorte, Kayla era um bebê
saudável e nã o precisei me preocupar com contas médicas extras.
— E você? Como você ficou depois do nascimento dela?
— Nó s superamos, Bryce, — ela disse. — Fiquei em casa por
um mês e meio e minha vizinha, Linda, costumava aparecer para
cozinhar para mim. Nas primeiras vezes que saí em busca de
emprego, Linda cuidou de Kayla para mim. Por fim, consegui o
emprego em Plettenberg Bay, onde encontrei Rick e Lisa, e o resto é
histó ria. — O brilho de censura em seus olhos disse a ela o que ele
pensava das enormes lacunas em sua histó ria.
— Onde Kayla ficou enquanto você estava no trabalho?
— Linda geralmente cuidava dela, mas Linda era idosa e ela...
ela morreu pouco antes de Rick me encontrar. Fiquei doente logo
apó s a morte dela, e o dia em que encontrei Rick foi meu primeiro
dia de volta ao trabalho. Nã o encontrei uma substituta para Linda e
tive que contratar uma babá para o dia. — Sua situaçã o era
totalmente desesperadora. Com o coraçã o partido pela morte de sua
amiga, falida e doente, ela estava perdendo o juízo. Se Rick não a
tivesse encontrado naquele dia, ela nã o sabia o que teria feito. As
chances eram de que ela teria perdido o emprego naquele dia de
qualquer maneira, pois estava cometendo muitos erros.
Bryce nã o precisou que ela soletrasse para entender o quã o
ruim a situaçã o tinha sido, e um silêncio sombrio caiu sobre eles
enquanto contemplavam seu cordeiro assado com batatas, apetites
perdidos.
— Como ficou sua saú de depois do nascimento dela, Bron? —
ele perguntou novamente, alertando-a para o fato de que ele havia
notado sua evasã o anterior sobre esse assunto.
— Era... eu nã o estava...
Ele manteve contato visual constante, e ela mordeu o lá bio
inferior antes de encolher os ombros e dizer-lhe a verdade brutal e
nua. — Muitas vezes eu estava doente. Eu estava fraca depois do
parto e nã o descansei o suficiente depois de levar Kayla do hospital
para casa. Eu ficava acordada o tempo todo, alimentando-a e
trocando-a de roupa, e depois voltava ao trabalho. Nunca me
recuperei totalmente e nã o podia pagar por cuidados de saú de para
mim, já que todo o meu dinheiro foi destinado à compra de comida e
roupas para Kayla. Comia as sobras do trabalho sempre que podia e
um ou outro sanduíche quando nã o podia. Parece pior do que era,
Bryce.
— Entã o, quando você pegou a gripe... — Ele deixou a
declaraçã o inacabada e ela assentiu.
— Sim, ficou fora de controle porque meu sistema imunoló gico
havia levado uma surra no passado. No dia em que Rick me
encontrou, a ú nica razã o pela qual eu estava no trabalho era porque
Gerhard teria dado meu emprego a outra pessoa se eu faltasse mais
um dia, e eu nã o estava sendo paga para ficar em casa. Eu nã o podia
pagar o médico e estava me defendendo da gripe com produtos
baratos de venda livre.
— Bron, — ele começou.
— Eu sei que foi irresponsável, Bryce. Eu sei que tinha um bebê
para cuidar e poderia ter ficado gravemente doente ou pior...
— Você estava gravemente doente, — ele interrompeu, mas ela
continuou como se nã o tivesse havido uma interrupçã o.
— Mas eu estava cuidando dela da ú nica maneira que sabia; eu
a mantinha alimentada, saudável e feliz. Eu precisava trabalhar,
entendeu? Tomei providências caso algo me acontecesse; assegurei-
me de que as autoridades saberiam ligar para você, pelo bem de
Kayla. Eu nã o a teria deixado sozinha. Eu sabia que você a receberia
se eu nã o fizesse parte do pacote. Eu sabia que você a amaria e
cuidaria dela. — Ele parecia perdido e franziu a testa para o prato
antes de suspirar cansado e esfregar as mã os no rosto.
— Deus, — ele gemeu cansado. — Como chegamos a esse
ponto? — Ele estendeu a mã o e acariciou um longo dedo na lateral
do rosto dela. — Coma, querida. Eu nunca mais quero que você passe
fome.
— Eu estou...
— Por favor? — Ela nã o resistiu à sú plica nua no rosto dele e
sorriu antes de assentir e levantar o garfo, com o apetite restaurado.
Ele ficou quieto por mais um tempo, quebrando o silêncio para
contar a ela uma histó ria divertida sobre levar Kayla ao escritó rio no
dia anterior. Ele salpicou a histó ria com humor irô nico, e ela se
pegou rindo mais do que havia rido em muito tempo.
Eventualmente, eles começaram a falar sobre outras coisas -
universidade e trabalho - e por um curto período, eles se sentiram
tã o sociáveis e confortáveis quanto no passado.
 
CAPÍTULO ONZE

— Ela está dormindo? — Bryce perguntou quando Bronwyn se


juntou a ele na sala depois de colocar Kayla para dormir. Ela assentiu
em resposta à pergunta e tentou nã o deixar que a intimidade
domé stica da cena a enervasse demais. Ele estava esparramado em
um dos sofá s enormes e confortáveis que Bronwyn implorou para
ele comprar quando o viu pela primeira vez, quatro anos atrá s.
— Sim, ela ainda estava falando sobre “Nebo” quando caiu.
Ele sorriu levemente com isso.
— Eu nã o acho que ela vai esquecer de hoje tã o cedo, — ele
murmurou, tocando a borda do copo de uísque que ele havia servido
para si mesmo, indicando um copo de vinho tinto na mesinha ao lado
do sofá . — Vinho?
Nã o querendo recusar e acabar com a atmosfera confortável
entre eles ainda, ela assentiu e se enrolou na extremidade oposta do
grande sofá , dobrando os pés embaixo dela.
— Nã o seria maravilhoso se hoje fosse sua primeira lembrança
real? — Ele sorriu fracamente com sua pergunta sonhadora.
— Seria muito feliz para todos nó s, — ele concordou. Ele
inclinou a cabeça para olhá -la avaliadoramente, e ela encontrou seus
olhos com uma risada.
— O que?
— Qual é a sua primeira lembrança? — ele perguntou, e ela riu.
— Perseguir uma borboleta pelo nosso quintal, tropeçar no
cachorrinho e cair, com força. De acordo com minha avó , eu tinha
três anos quando isso aconteceu. Ela lembrou porque foi na minha
festa de aniversá rio e eu fiz tanto barulho porque pensei que tinha
machucado o cachorro. Aparentemente, eu insisti em levá -lo ao
“médico canino”!
Seus olhos se enrugaram nos cantos.
— E você? — ela perguntou a ele, ainda sorrindo de sua pró pria
memó ria. — Qual foi a sua primeira lembrança? — O sorriso
desapareceu de seus olhos para ser substituído por uma carranca
sombria enquanto ele dava de ombros.
— Nã o me lembro.
Ela riu disso. — É a sua primeira memória. Por sua pró pria
definiçã o, você deve se lembrar disso. — Ele parecia desconfortável e
se recusou a encontrar seus olhos. Percebendo que algo estava
errado, ela tentou chamar sua atençã o.
— Bryce? — ela perguntou, acenando com a mã o para chamar a
atençã o dele e nã o esperando muito na linha de resposta dele. Se
isso seguisse o antigo padrã o de seu casamento, ele a ignoraria e
recuaria para trá s das paredes que pareciam ter sido projetadas
especificamente para mantê-la fora. Surpreendeu-a agora, quã o
pouco ela realmente sabia sobre o homem e apenas trouxe para casa
o fato de quanto ainda estava errado, quanto sempre estaria errado,
com o relacionamento deles. Ela estava apenas se resignando a vê-lo
se levantar e sair quando ele falou inesperadamente, ainda sem
olhar para ela.
— Minha primeira lembrança é do meu pai. Ele está gritando
comigo e com raiva porque acidentalmente deixei cair seu reló gio de
pulso em um vaso sanitá rio. Nã o posso culpá -lo, era um reló gio de
ouro. Claro, eu nã o estava ciente do significado disso na época. Eu
também tinha três anos. Eu sei porque foi no mesmo dia que quebrei
meu braço... entã o há registros da data, — ele disse quase
distraidamente, e a testa de Bronwyn franziu.
— Como você quebrou o braço? — ela perguntou, mas ele nã o
estava olhando para ela e nã o viu a pergunta. Ela estendeu a mã o e,
em um gesto semelhante ao que ele usara com ela na noite anterior,
gentilmente inclinou a mandíbula para que ele a olhasse. Ela repetiu
a pergunta e ele pareceu sair de seu devaneio, mas quando voltou a
falar, sua voz estava terrivelmente vazia.
— Ele estava muito zangado, — disse ele com um encolher de
ombros.
— Seu pai quebrou seu braço? — Ela precisava de clareza neste
ponto e nã o tinha certeza se entendia. Ele assentiu abruptamente
antes de esvaziar o copo.
— Estou exausto, — ele murmurou rispidamente. — Eu estava
pensando, você e Kayla gostariam de ir à praia comigo amanhã ? Vou
preparar um piquenique. A menos que você tenha mudado a reuniã o
de suas damas para amanhã ? Já que você perdeu hoje?
— Algumas das outras também tinham outros planos para este
fim de semana, entã o decidimos nã o nos encontrar até a pró xima
semana. De qualquer forma, a praia parece legal, — ela concordou
distraidamente, sem realmente prestar atençã o, sua mente no que
ele acabara de revelar. Ele sorriu antes de se levantar abruptamente.
— Excelente. — Ele parecia satisfeito. — Vai começar cedo.
Acho que oito horas deve servir. — Ele se virou para sair pela porta,
entã o hesitou e se virou para ela. Ele se inclinou sobre ela.
— Obrigado por hoje, Bron, — ele disse sinceramente,
curvando-se para dar um beijo inesperadamente doce na boca
aberta dela. — Te vejo de manhã .
— Nã o, espere. Bryce... — Mas ele já estava se afastando,
deixando-a preocupada com a informaçã o inesperada que ele havia
divulgado sobre seu pai. Teria sido um acidente? Ou deliberado? A
ú ltima possibilidade a deixou fria e incapaz de adormecer por muito
tempo.
Bronwyn acordou com o som conspirató rio de sussurros do
lado de fora de sua porta, e um olhar turvo para o reló gio de
cabeceira disse que eram sete e meia da manhã . Ela estava exausta
depois de uma noite de sono inquieto. Ela limpou a garganta e
franziu a testa quando o sussurro do lado de fora de sua porta
continuou. Ela se levantou quando a maçaneta da porta girou
lentamente e se preparou para um despertar enérgico semelhante ao
que Bryce havia recebido no dia anterior. Ela se inclinou para frente
quando nada aconteceu; os sussurros continuaram por mais alguns
momentos antes que o rosto com covinhas de sua filha aparecesse na
porta. Quando a garotinha avistou sua mã e, ela engasgou e
abruptamente saiu de vista.
— Mamã e nã o dorme! — Bronwyn ouviu a criança sibilar
freneticamente antes de ser silenciada por uma voz profunda e
inconfundível que sempre conseguia causar arrepios deliciosos em
sua espinha. Intrigada agora, Bronwyn se inclinou ainda mais para a
frente, imaginando o que eles estavam fazendo. Depois de mais
alguns momentos de conversas sussurradas, Kayla passou pela
porta, já vestida com um par de macacõ es jeans rosa, uma camiseta
amarela e rosa e seu par de tênis vermelho favorito. Em suas mã os
ela segurava solenemente um punhado de flores multicoloridas de
outono, que Bronwyn reconheceu do jardim lá fora.
— Olá mamã e. — Ela sorriu.
— Bom dia querida. O que você tem aí? — A garotinha
entregou-lhe solenemente as flores antes de ficar na ponta dos pés
para beijar a mã e no rosto.
— Feliz dia da mamã e, — a garotinha disse cuidadosamente de
uma forma bem ensaiada.
— Dia da mamã e? Mas... — Ela olhou para cima para ver Bryce
parado na porta com uma bandeja nas mã os, os olhos enormes e
vulneráveis em seu rosto enquanto ela tentava descobrir o que
diabos estava acontecendo aqui. — Bryce, nã o é...
— É sim. Você perdeu dois, entã o Kayla e eu estamos
recuperando o tempo perdido. — Ele colocou a bandeja no colo dela
e removeu as flores de seus dedos dormentes para colocá -las no vaso
vazio na bandeja, antes de mover o vaso para a cô moda. Ele deu um
beijo em sua bochecha. — Feliz Dia das Mã es, Bronwyn.
Kayla ergueu solenemente uma pequena caixa embrulhada de
presente, e quando Bronwyn a abriu, ela franziu a testa em confusã o.
— O que é isso? — Era um dispositivo eletrô nico semelhante a
um bipe, aninhado em uma almofada de isopor moldada sob medida.
— A chave inteligente para o seu carro novo, — ele informou
com um leve sorriso, e os olhos dela se arregalaram quando ela virou
o pequeno dispositivo e viu o proeminente logotipo da BMW do
outro lado da chave.
— Bryce, isso é demais, — ela protestou impotente.
— Isso nã o é o suficiente, — ele interrompeu rispidamente. —
Nada que eu faça pode ser suficiente.
— Eu nã o sei o que dizer, — ela disse, incapaz de ler seu humor
e sem saber como reagir.
— Você nã o precisa dizer nada. — Ele sorriu, exibindo uma
covinha idêntica à de sua filha e parecendo tã o travesso quanto a
criança. — Apenas aproveite o carro. nã o é tã o esportivo quanto o
ú ltimo que você teve; eu queria algo maior e mais seguro por causa
de Kayla.
— Mas quando você... — Ela nã o conseguia organizar seus
pensamentos, e seu sorriso se alargou.
— Comecei a fazer compras quando você me contou como foi
forçada a vender o ú ltimo. Foi entregue ontem, mas a visita ao
aquá rio meio que me distraiu. Achei que você já devia estar cansada
daquele jipe. Eu sei que você nã o é fã dele. — Ela acenou com a
cabeça em silêncio em resposta a essa observaçã o, ainda olhando
fixamente para a chave em sua mã o. Entediada com a falta de
atençã o, Kayla começou a puxar a mã o do pai. Ele olhou para ela e
sinalizou algo para ela que Bronwyn nã o entendeu direito. Fosse o
que fosse parecia satisfazer a garotinha porque ela se acomodou de
má vontade
— Leve o seu tempo se preparando, — ele disse a ela. — Kayla e
eu estaremos lá embaixo fazendo nosso piquenique. Vai ser um lindo
dia; ensolarado, com céu azul e nenhuma nuvem no horizonte.
 
 

Sua previsã o provou ser precisa; foi um dia lindo, o dia mais perfeito
que Bronwyn já passou com Bryce. Depois de conduzi-los até o novo
e lindo sedã prateado de Bronwyn, ele disse a ela que ela estaria
dirigindo. Ele tinha apenas Cal como segurança e - sempre um
profissional consumado - o homem se mantinha tã o discreto que
Bronwyn mal o notou no discreto sedã preto estacionado a poucos
metros deles.
Um pouco nervosa por fazer um test drive do carro novo na
frente de um dos piores passageiros que ela já conheceu, ela tentou
objetar. Infelizmente, ele nã o quis, e depois de amarrar Kayla no
assento de bebê que já estava instalado na parte de trá s, ele fez um
show ao se acomodar no lado do passageiro. Bronwyn revirou os
olhos e se dirigiu para o lado do motorista, preparada para um dia
inteiro de condescendência masculina da parte dele.
Ela ficou agradavelmente surpresa por ele corajosamente se
abster de comentar quando ela teve problemas para ligar o carro
sem chave. Ele manteve um sorriso brilhante colado em seu rosto
quando ela apertou a embreagem e o carro deu uma guinada para a
frente e saiu mancando da garagem. Ela lançou um olhar nervoso
para o perfil dele depois que finalmente conseguiu levá -los até a
Main Street e percebeu que o sorriso dele estava começando a se
desgastar depois de menos de cinco minutos no carro. Ela conteve
uma risada irreverente antes de estacionar o carro no acostamento
da estrada. Ele olhou para ela em alarme e ela sorriu para ele
docemente.
— Você quer dirigir? — ela convidou, e ele sorriu timidamente.
— Nã o, você está indo bem. Desculpe se pareço tenso. É que
desde o acidente ando um pouco nervoso nos carros. É por isso que
tenho Cal dirigindo a maior parte do tempo hoje em dia.
— Bem, eu nã o sei para onde estamos indo, entã o é melhor
você dirigir hoje, — ela disse razoavelmente. — Eu assumo se você
se cansar ou algo assim. — Ele balançou a cabeça placidamente.
— Eu vou ficar bem, — ele assegurou a ela. — Realmente nã o
importa se estou dirigindo ou nã o, ainda me sinto desconfortável em
um carro, — ele explicou de má vontade, e ela pô de ver o quanto lhe
custou revelar essa fraqueza a ela. — Vou lhe dar instruçõ es.
— Tudo bem, mas reduza ao mínimo o estremecimento, senhor,
— ela alertou. — Você sempre foi um péssimo passageiro.
— O que você quer dizer? — Ele parecia tã o genuinamente
perplexo que ela bufou de exasperaçã o e ligou o carro.
Seguindo suas instruçõ es e ignorando suas caretas ocasionais e
respiraçõ es pesadas, ela os levou em segurança para Boulder's
Beach, onde Bryce passou a maior parte da manhã tentando manter
Kayla longe dos pinguins. Bronwyn riu impotente de suas
travessuras. Kayla transformou isso em um jogo, fugindo de seu pai
enquanto ela tentava acariciar um dos muitos pinguins selvagens
que andavam sem medo pela praia, ignorando completamente seus
avisos de que eles iriam morder. Por volta do meio-dia, quando
estava quente demais para permanecer na praia, eles fizeram as
malas e ele a encaminhou para as terras vinícolas de Stellenbosch.
Bronwyn estava ficando mais confiante no manuseio do carro e
engatando as marchas com menos frequência, o que, por sua vez,
significava um Bryce mais relaxado. Eles fizeram um piquenique em
um dos belos vinhedos particulares na pitoresca Stellenbosch.
— É tã o bonito aqui, — observou Bronwyn sonhadora
enquanto inclinava a cabeça para trá s para aproveitar o sol que se
filtrava pelas folhas do carvalho gigante sob o qual faziam
piquenique. Eles estavam sentados em uma colina que dava para um
vasto vinhedo. As vinhas estavam começando a ficar com tons
vívidos de laranja e vermelho e faziam todo o vale parecer que estava
em chamas ao sol da tarde. — E tranquilo. Como você sabia sobre
este lugar?
— A família de um conhecido meu é proprietá ria deste vinhedo.
Esclareci isso com ele.
— Alguém que eu conheça? — ela perguntou, enfiando os pés
embaixo dela e remexendo na cesta de piquenique que ele havia
colocado sobre o cobertor.
— Eu nã o sei, — ele encolheu os ombros. — Cord Strachan?
— Como nos Diamantes Strachan? — Seus olhos se
arregalaram. A família Strachan era uma das famílias mais ricas e
influentes da Á frica do Sul. Eles controlavam uma grande parte da
indú stria de mineraçã o de diamantes no país e a ú ltima geraçã o
fornecia uma rica fonte de forragem para colunistas de fofocas locais
e internacionais.
— Eles fornecem a maior parte de nossos diamantes brutos. —
Ele assentiu. —Me lembrei de que Cord mencionou este lugar
durante um de nossos almoços de negó cios alguns anos atrá s. —
Antes do acidente, é claro; qualquer socializaçã o havia sido feita
antes de seu acidente. A lembrança entristeceu Bronwyn e o silêncio
constrangedor que se seguiu foi inteiramente culpa dela. Por sorte,
Kayla exigia atençã o e os distraía com suas travessuras. Bryce
manteve a garotinha entretida com jogos bobos durante todo o
almoço, já que Kayla tinha a tendência natural de uma criança de
ficar entediada com muita facilidade. Por fim, depois de um almoço
agradável, Bryce colocou todos de volta no carro e a instruiu a dirigir
a curta distâ ncia até uma pequena cidade chamada Klapmuts e lá os
apresentou a um lugar que Bronwyn nunca soube que existia.
Ela ficou em um jardim tropical fechado e olhou com admiraçã o
para as centenas de borboletas que esvoaçavam ao seu redor. Era
como assistir a um jardim de flores silvestres levantar voo, e
Bronwyn nã o podia fazer nada além de ficar parada olhando, seus
olhos se enchendo de lá grimas enquanto suas asas beijavam seu
rosto e cabelo. Kayla estava tã o extasiada. Ela estava nos braços do
pai e estendeu a mã o gordinha para tentar capturar as delicadas
criaturas que passavam voando.
— Ah meu Deus, — Bronwyn suspirou, levando a mã o trêmula
à boca. — Ah meu Deus, Bryce... — Ele nã o podia ouvi-la, é claro; ele
nã o conseguia nem ver o que ela estava dizendo, pois sua atençã o
estava focada nas frá geis criaturas que disparavam aleatoriamente
de flor em flor e de pessoa para pessoa. Como ele ousa tornar isso
tã o difícil para ela? Justo quando ela decidiu entrar em contato com o
advogado do divó rcio, ele fez algo tã o terno e incrivelmente doce. Ele
sabia que ela adorava borboletas, que sempre as amara. Ela tinha
inú meros brincos, correntes, berloques, saias estampadas e blusas
com borboletas espalhadas por toda parte. Seria tã o fá cil acreditar
que ele havia planejado este dia por alguma necessidade
manipuladora de mantê-la complacente. Mas quando ela olhou para
cima, ficou encantada com a imagem impressionante que ele fez com
a cabeça inclinada para trá s e os olhos fechados. Ele estava perdido
em seu pró prio mundo, curtindo a sensaçã o das delicadas asas de
borboleta roçando seu rosto, e Bronwyn instintivamente soube que
ele tinha feito isso para deixá -la feliz. Ela ficou na ponta dos pés para
dar um beijo impulsivo em sua bochecha e o assustou para abrir os
olhos. Ele olhou para ela interrogativamente.
— Isso é perfeito, — ela disse a ele, e seus olhos se aqueceram.
— Obrigada.
Ele deixou cair um braço sobre seus ombros esguios e deu-lhe
um rá pido abraço de um braço só .
— Eu vi um anú ncio deste lugar no inverno passado e sabia que
você iria gostar. — Inverno passado? Pelo menos seis meses antes de
seu retorno? Ele tinha aprendido sobre este lugar e pensou nela. Nã o
com qualquer ó dio ou ressentimento que parecia. Em vez disso, ele
pensou em algo que a deixaria feliz. Era surpreendente saber que ele
nem sempre pensara nela com raiva nos ú ltimos dois anos, e
Bronwyn nã o tinha certeza de como processar essa informaçã o.
 
 
 

Eles chegaram em casa pouco antes das oito, e Kayla estava mais
uma vez caindo de exaustã o. Bryce a tirou dos braços de Bronwyn.
— Vou colocá -la na cama, — ele ofereceu.
— Bryce, você cuidou dela a semana toda, eu deveria...
— E você está cuidando dela sozinha há anos. Isso é o mínimo
que posso fazer, — interrompeu ele, e ela nã o protestou mais. Ela
sabia que ele precisava compensar o passado, mas nã o era mais isso
que ela queria dele. Eles tinham que pensar no futuro e garantir que
fosse feliz para todos eles. Bronwyn simplesmente nã o conseguia
mais viver com seus segredos. E ela era apenas humana, entã o ela
ainda sentia tanta raiva e amargura por ele por julgá -la tã o mal.
Ela subiu para tomar um banho quente e, quando se dirigiu ao
escritó rio mais tarde, encontrou Bryce quando ele vinha da cozinha
com um copo de suco de frutas na mã o.
— Lendo livros? — Sua voz profunda e tranquila enviou um
pequeno tremor de consciência por sua espinha. Ela empurrou para
trá s o frisson indesejado de consciência sexual e se forçou a sorrir.
— Estou fazendo uma pesquisa para um trabalho que deve ser
entregue em algumas semanas, — explicou ela.
— Bem, nã o se sobrecarregue, — ele aconselhou antes de subir
as escadas. Ela cumprimentou suas costas sarcasticamente.
— Sim, senhor, — ela disse esperta antes de revirar os olhos
para sua pró pria infantilidade e continuar seu caminho para o
escritó rio. Ela nã o fez muito antes que os rigores do fim de semana a
alcançassem e seus olhos se fechassem.
Ela acordou sobressaltada quando sentiu braços fortes
envolvendo-a e levantando-a.
— O qu. . . Eu só estava tirando uma soneca, — ela protestou
grogue, de alguma forma conseguindo falar claramente o suficiente
para ele ler seus lá bios.
— Você está aqui há quase quatro horas e, a julgar pela tela do
computador, fez cinco minutos de trabalho. Isso nã o foi uma soneca,
querida; você estava completamente fora.
— Tã o cansada, — ela murmurou incoerentemente antes de se
aconchegar em seu peito quente, forte e nu. Ele devia estar na cama
até que algum instinto lhe dissesse para ver como ela estava.
— Está tudo bem, — ele acalmou em seu cabelo. — Durma,
querida. — Ela suspirou satisfeita, aninhou-se mais perto e
adormeceu segundos depois que ele a colocou na cama.
 
 
 
 

Ainda estava escuro quando ela acordou, mas o quarto estava se


enchendo com a estranha luz cinza do amanhecer iminente. Ela logo
reconheceu que estava no quarto de Bryce, em sua cama e envolta
em seus braços. Ele estava deitado de conchinha com ela, os joelhos
dobrados na dobra dela, um braço forte serpenteando sob sua
cabeça e o outro sobre seu torso. Sua grande mã o estava
possessivamente espalhada sobre seu abdô men. Bronwyn tentou
nã o pensar em como isso parecia incrivelmente certo e se
concentrou em se desvencilhar de seu aperto. Ela se moveu
experimentalmente, mas os braços dele flexionaram e sua mã o
gentilmente exerceu um pouco mais de pressã o em seu estô mago.
Ela relaxou até sentir a tensã o saindo de seus braços e ouviu sua
respiraçã o regular novamente. Assim que ela teve certeza de que ele
ainda estava dormindo, ela sutilmente tentou se afastar novamente,
mas a reaçã o dele foi a mesma de antes. Ela suspirou baixinho e
acalmou seus movimentos, se perguntando por que ele nã o a levou
para sua pró pria cama. Ela ainda estava usando a blusa que havia
colocado depois do banho na noite anterior, mas sua calça de
moletom havia sumido. Ele deve tê-los removido para deixá -la mais
confortável. Isso a deixou vestindo apenas a minú scula calcinha de
seda e, a julgar pela extensã o de carne masculina quente e macia
pressionada contra suas costas, Bryce nã o estava vestindo muito
mais do que uma cueca boxer.
Ela gemeu baixinho, sabendo que deveria se esforçar mais para
sair dos braços dele, mas era tã o bom ser abraçada por ele que ficou
tentada a ficar onde estava. Ela cuidadosamente colocou a mã o sobre
a dele, que descansava em seu estô mago, e gentilmente tentou
levantá -la. A mã o dele se curvou inesperadamente ao redor da dela e
ela pulou em resposta ao toque.
— Eu só queria te abraçar. — Sua voz retumbou em seu ouvido.
A mã o dele apertou brevemente a mã o menor dela por mais alguns
segundos antes de soltá -la e tirar o braço da cintura dela. Ele se
afastou dela, dando-lhe espaço para sair se assim o desejasse.
Bronwyn hesitou por um breve momento, se virando
impulsivamente para encará -lo. Ela mal conseguia distinguir a
expressã o dele na luz antes do amanhecer e, contrariando seu bom
senso, estendeu a mã o para tocar a barba por fazer dele. Sua pró pria
mã o se levantou para prendê-la contra a superfície á spera de sua
pele. Sua palma roçou a borda inferior de seus lá bios sensuais.
— Se você nã o for embora agora, Bronwyn... — Ele deixou o
resto do aviso desesperadamente sussurrado sem ser dito, e
Bronwyn fechou os olhos brevemente, rezando para ter forças para
se levantar e ir embora. Ela se preparou e gentilmente arrastou a
mã o debaixo da dele.
— Espere, — ele sussurrou com urgência, e ela hesitou. Ele se
aproximou, se apoiando em um cotovelo para olhar para ela. — Sinto
muito, eu tenho que fazer isso. — Antes que ela pudesse reagir, sua
boca encontrou a dela em um beijo dolorosamente doce, mas
infinitamente faminto.
— Sinto muito, — ele se desculpou novamente, quando
levantou a boca para olhar para o rosto dela com ternura antes de
cair de volta para reivindicar seus lá bios novamente. Seu beijo foi
carinhoso e amoroso e, como resultado, Bronwyn se viu
respondendo a ele de forma impotente. Os lá bios dela se abriram e o
acolheram, e a língua dele aceitou alegremente o convite,
gentilmente cortejando e persuadindo a dela.
As mã os dele desceram pela esbelta coluna de seu pescoço até
os ombros, acariciando cada centímetro de pele sedosa que
encontrava. Seus lá bios seguiram suas mã os para baixo. Ela sentiu
sua respiraçã o quente e ú mida em sua pele sensível enquanto ele
descia, beijando cada centímetro de pele disponível. Ela gritou
quando sentiu a respiraçã o dele em um mamilo tenso através do fino
tecido de algodã o de sua blusa. Sua boca se moveu sobre o mamilo e
ele respirou deliberadamente sobre o botã o através do algodã o. O
material roçava sensualmente o mamilo sensível, enquanto os dedos
dele subiam e desciam pela pequena curva do seio dela, circulando,
provocando, mas sem tocar o ávido bico. Bronwyn soluçou
desesperadamente enquanto se perguntava como ele a deixara tã o
excitada, tã o rápido. Ele olhou para o rosto dela, sobre o pequeno
monte do seio, e sorriu quase satanicamente. Ele pairou por um
momento interminável antes de inclinar a cabeça e puxar a
protuberâ ncia apertada de seu mamilo, algodã o e tudo,
profundamente em sua boca quente e ú mida. Ao mesmo tempo, ele
enterrou a mã o livre entre as pernas dela e encontrou a outra
protuberâ ncia ansiosa desesperada por seu toque através de sua
calcinha de seda.
Foi como ser sacudido por um enorme raio; ela gritou e se
arqueou para fora da cama enquanto chegava ao clímax
inesperadamente e com força feroz. Suas costas se curvaram e ela
permaneceu tensa pelo que pareceu uma eternidade, enquanto os
espasmos continuavam, enquanto ele puxava seu mamilo cada vez
mais fundo em sua boca. Ele tinha uma mã o em concha em sua nuca
com a outra ainda enterrada entre suas pernas e as manteve lá
mesmo depois que ela ficou completamente sem vida e caiu de volta
na cama. Ele ergueu a cabeça para rir com voz rouca.
— Você é tã o linda, — ele sussurrou enquanto lhe dava um
golpe final com seu longo dedo antes de mover sua mã o para
descansar em seu estô mago arfante. Ela mal o ouviu sobre a batida
estrondosa de seu coraçã o. Ela mal conseguia se mover e só estava
consciente dele tirando sua blusa e jogando-a de lado. Ele voltou ao
trabalho, beijando sua pele, lambendo, chupando e beliscando com
reverência. Bronwyn tentou recuperar o equilíbrio, mas era uma
tarefa impossível quando Bryce estava tã o determinado a mantê-la
desequilibrada.
Ele era paciente e pouco exigente e Bronwyn suspirou
sonhadoramente, se sentindo ridiculamente relaxada apó s seu
enorme orgasmo, enquanto suas mã os arrebatadoras e sua boca
amorosa continuavam a fazer coisas deliciosamente perversas com
ela. Gradualmente, sua paciência implacável começou a ter um efeito
inegável sobre ela. Seus mamilos se tornaram duros e apertados, e
sua respiraçã o se tornou cada vez mais irregular enquanto ele
beijava e acariciava seu corpo inteiro, frente e costas. A calcinha dela
havia desaparecido há muito tempo, e ela se deu conta desse fato
quando os lá bios dele encontraram o caminho até sua barriga lisa. A
língua dele rodou dentro e ao redor do umbigo dela, e ela impotente
moveu os quadris, encorajando-o a se mover ainda mais para baixo.
Ela ficou impressionada com a rapidez com que ele conseguiu deixá -
la incrivelmente excitada novamente apó s seu clímax anterior.
Todos os pensamentos fugiram de sua mente quando sua boca
talentosa encontrou o nú cleo ú mido de sua feminilidade, e ela
estremeceu violentamente com cada golpe de sua língua. Ela mal
teve tempo de se preparar antes de um segundo, um clímax ainda
maior a fez se contorcer em agonia extá tica. Ele conseguiu ainda
empurrar seus quadris indefesos entre suas grandes mã os enquanto
continuava a lambê-la com sua língua incrivelmente inteligente.
— Pare, — ela sussurrou, incapaz de tolerar as sensaçõ es
avassaladoras por muito mais tempo, mas é claro que ele nã o podia
ouvi-la e continuou a persuadir incansavelmente a resposta quase
dolorosamente prazerosa dela. Ele a fez gozar de novo e de novo até
que Bronwyn, tã o sensível depois de seus repetidos orgasmos, teve
que puxar seu cabelo para fazê-lo parar.
Bryce se arrastou sobre o corpo dela e se apoiou em cima dela
para olhar seu rosto suado. Seus olhos estavam sorrindo para ela e
ele parecia justificadamente presunçoso.
— Uau, — ela sussurrou depois que seus tremores climá ticos
finalmente pararam. Estava claro o suficiente agora para ele ler os
lá bios dela, e seu sorriso se alargou em um sorriso largo. Ela olhou
para baixo entre seus corpos e notou que sua cueca havia
desaparecido e que ele ainda estava muito excitado. Ela
compreendeu como toda essa experiência tinha sido incrivelmente
unilateral e se abaixou para tocá -lo. Ele sibilou quando os dedos dela
se fecharam ao redor dele e gemeu quando ela acariciou seu corpo
duro e quente preguiçosamente.
— Nã o, — ele sussurrou, quando ela tentou guiá -lo para ela e
ela franziu a testa para ele. — Eu nã o acho que seria uma boa ideia.
— Por que nã o? — ela perguntou confusa.
— Porque você vai me odiar se fizermos isso.
— Nã o, — ela negou. — Eu nã o vou. Nã o sou tã o injusta, Bryce.
Nó s dois queremos isso. Eu quero isso. Por favor. — Ele estava
impotente se empurrando contra a mã o dela e ela mais uma vez
tentou trazê-lo para ela.
— Nã o, querida, — ele conseguiu dizer com firmeza. — Apenas
sua mã o. Nã o precisamos ir além disso. Apenas sua mã o está bem.
— Não, — ela protestou novamente. Por que ele nã o faria amor
com ela? Sua mã o afrouxou e ele gemeu antes de se abaixar e apertar
sua pró pria mã o sobre a dela.
— Nã o solte, — ele implorou com voz rouca.
— Bryce, por favor, faça amor comigo. — Ele gemeu novamente
e soltou a mã o dela. Ela o soltou, suas mã os subindo para acariciar o
resto de seu corpo.
— Sinto muito, — ele se desculpou. — Eu nunca quis que nada
disso acontecesse. Eu só queria te abraçar.
— Eu sei, — ela o acalmou, beijando seu peito e pescoço com
amor antes de levantar a cabeça para encontrar seus olhos. — Está
tudo bem.
— Nã o, — ele sussurrou baixinho. — Nã o, nã o está . — Ele
pairou por um momento antes, com um grunhido de abnegaçã o
brutal, ele se arrastou para fora dos braços dela e da cama em um
movimento rá pido. Ele ficou ao lado da cama, gloriosamente nu e
dolorosamente excitado, para encará -la por um instante antes de se
virar e ir em direçã o ao banheiro. Bronwyn observou a porta se
fechar suavemente atrá s dele e, um instante depois, ouviu o barulho
do chuveiro. Ela virou o rosto no travesseiro com um soluço
angustiado e se perguntou quanto autocontrole deve ter sido
necessá rio para ele se levantar e deixá -la. Ela ficou tentada a se
juntar a ele no chuveiro, mas sabia que ele acreditava que tinha feito
a coisa certa. Ela nã o podia minar o sacrifício que ele acabara de
fazer entrando naquele chuveiro com ele.
Ela se arrastou para fora da cama quente e para seu pró prio
quarto. Sabendo que nã o dormiria mais naquela manhã , ela também
tomou banho e tentou nã o pensar em como seria difícil enfrentar o
dia seguinte.
 
CAPÍTULO DOZE

Passar pelo dia foi realmente muito mais difícil do que ela esperava,
uma vez que se lembrou de seu compromisso com o advogado
naquela tarde. Ela estava tã o tentada a deixar passar, especialmente
depois do maravilhoso fim de semana que a família Palmer acabara
de desfrutar, mas ela nã o podia continuar deixando as coisas no ar
assim. O fim de semana e o incidente entre ela e Bryce naquela
manhã complicaram as coisas, mas nã o mudaram realmente o
quadro geral. O casamento acabou, e já estava acabado há muito
tempo. Foi com o coraçã o pesado que ela compareceu ao
compromisso apó s as palestras matinais e iniciou o processo de
divó rcio. Jason Goodson, seu advogado, ficou um pouco consternado
ao descobrir que, apesar dos bens consideráveis de Bryce, Bronwyn
nã o queria nada dele além de pensã o alimentícia e custó dia
conjunta. Goodson tentou dissuadi-la desse curso de açã o, mas ela
permaneceu firme em sua decisã o até que ele nã o teve escolha a nã o
ser aceitar os desejos de seu cliente.
Passar o resto da tarde foi um inferno. Nada parecia dar certo,
ela nã o conseguia se concentrar o suficiente para continuar qualquer
estudo, e a livraria estava ainda mais silenciosa do que de costume.
Nã o oferecia nenhuma distraçã o de sua turbulência interior. Para
completar um dia verdadeiramente miserável, depois de terminar o
trabalho, ela descobriu que tinha um pneu furado em seu carro
novinho em folha. Para piorar ainda mais, a bateria do celular dela
havia acabado e ela nã o tinha o carregador. De todos os dias para dar
folga a Paul, esta era a ú nica vez que ela poderia realmente usar sua
ajuda. Soluçando de frustraçã o, ela voltou à oficina para ligar para a
Associaçã o Automobilística e esperou quase meia hora até que eles
chegassem. Felizmente, ela descobriu o pneu furado antes de sair do
trabalho e pô de esperar com segurança pelo AA dentro da livraria.
Quando consertaram o pneu, ela estava quase uma hora atrasada e o
sol de outono já havia desaparecido atrá s da montanha. Quando ela
chegou em casa, encontrou Bryce na cozinha alimentando uma
alegre e tagarela Kayla. A criança estava decidida a redistribuir
pedaços de purê de batata de sua tigela para seus punhos gordinhos
e para o cabelo. Bryce olhou para cima quando Bronwyn entrou em
seu campo de visã o, e seu sorriso indulgente desapareceu
imediatamente.
— Onde diabos você esteve? — ele perguntou em uma voz
controlada, seu rosto escuro com raiva controlada. — Estava ficando
louco de preocupaçã o.
— Tive um pneu furado, — ela explicou cansadamente,
largando sua bolsa na mesa da cozinha e sentando ao lado de Kayla,
pegando um pano ú mido para limpar a comida do rosto e cabelo da
menina. — Os caras do AA pensaram que pode ter sido um furo lento
que peguei em uma das estradas de cascalho ontem.
— Tenho enviado mensagem apó s mensagem e nã o obtive
nenhuma resposta sua, — ele rosnou, ainda com aquela voz
assustadoramente controlada.
— Bem, minha bateria acabou. — Ela deu de ombros,
obstinadamente limpando as manchas do rosto de Kayla, apesar da
cabeça da criança balançar freneticamente. — Eu sinto muito.
Ele xingou, assustando-a e Kayla, antes de entregar a colher
para Bronwyn e sair da cozinha.
— Papai foi embora! — Kayla informou redundantemente,
acenando alegremente para a porta pela qual seu pai havia
desaparecido. Bronwyn suspirou e deu um beijo nos cachos sedosos
da criança, fazendo uma careta quando seus lá bios encontraram um
pedaço de comida fria.
— Você precisa de um banho, garotinha, — ela gemeu,
superada pela exaustã o só de pensar nisso, quando tudo o que ela
queria era molhar seus pró prios ossos cansados. —Quer um banho
de espuma com a mamã e?
Kayla sorriu e acenou com a cabeça alegremente, começando a
cantar uma mú sica desafinada ocasionalmente salpicada com
palavras como “mamã e”, “banho”, “feliz”, “bolhas” e “brincar”; o resto
era um completo jargã o. Bronwyn riu enquanto carregava a criança
até o banheiro principal, desejando que Bryce pudesse ouvir a
encantadora cantiga.
Elas logo foram acomodadas alegremente na enorme banheira
redonda e imersas em á gua morna e perfumada. Kayla estava no colo
de Bronwyn e as duas estavam curtindo a enorme quantidade de
bolhas na banheira quando Bryce entrou. Ele parou na porta,
visivelmente surpreso ao ver sua esposa e filha usando toucas de
espuma e barbas. Bronwyn gritou, sentindo-se uma idiota por nã o
ter trancado a porta, mas ela estava tã o preocupada com Kayla que
nem pensou nisso.
— Papai, — a criança gritou, feliz em vê-lo como sempre. —
Banhu?
— Uh... nã o agora, querida. — Ele balançou a cabeça com pesar,
levantando uma sobrancelha perversa para Bronwyn. — Embora eu
adoraria. — Ela revirou os olhos com a tentativa patética de olhar
malicioso e ele riu.
— Desculpe, Bron, pensei que você estava dando banho nela.
Nã o sabia que você estava na banheira com ela. Falo com você mais
tarde. — Ele se virou para sair.
— Papai nã o vai! — Kayla exigiu, ferozmente infeliz que seu pai
estava prestes a partir. Bronwyn gemeu e enterrou o rosto entre as
omoplatas frá geis da criança, entã o olhou para cima para encontrar
seus olhos divertidos.
— Você também pode ficar; ela vai ficar insuportável se você
nã o fizer isso — disse Bronwyn. Ele acenou com a cabeça, baixando a
tampa da cô moda e sentando-se, inclinando-se para a frente com os
cotovelos apoiados nas coxas vestidas de jeans e as mã os
frouxamente entrelaçadas entre os joelhos. Feliz por seu pai estar
assistindo, Kayla entrou em modo de exibicionismo total. Ela
decorou o rosto e o cabelo de sua mã e com mais bolhas antes de
arrastar uma boneca de plá stico para a á gua e começar um chá
tagarela com ela. Logo ela estava totalmente absorta em seu jogo, e
Bryce mudou seus belos olhos de criança para mã e desconcertada.
— Eu nã o queria perder a paciência mais cedo, — ele
murmurou.
— Eu sei. — Ela deu de ombros, lavando o cabelo de Kayla
enquanto a criança continuava a brincar. — Você estava preocupado.
Eu sinto muito.
— Eu estava imaginando os piores cená rios, — admitiu,
baixando os olhos para as mã os. — Eu estava prestes a chamar a
polícia. Eu já tinha decidido que faria assim que terminasse de
alimentar Kayla. — Porque seus olhos nã o estavam nela, ela optou
por nã o responder a isso.
— Eu também me arrependo desta manhã , — ele disse depois
de um longo silêncio interrompido apenas pela conversa alegre de
Kayla. Desta vez ele levantou os olhos para o rosto dela. Ele parecia
desconfortável e sincero.
— Eu sei, — ela disse novamente. — Mas mesmo que eu
realmente nã o pudesse ver esta manhã , você fez a coisa certa ao sair.
— Quase me matou, — ele admitiu rispidamente.
— Eu sei que nã o foi fá cil. — Ela assentiu. — Mas obrigada. Me
desculpe por pressioná -lo a ficar. Isso só teria levado a
arrependimentos ainda maiores. — Ela agarrou o chuveiro e
começou a enxaguar o cabelo de Kayla. A criança se contorceu
irritada quando isso interferiu em seu jogo.
— Kayla, sente-se quieta. — O tom de sua mã e nã o admitia
discussã o. Kayla parou de se mover e se recostou mal-humorada no
peito de Bronwyn. Bryce observou as duas com um sorriso
levemente atordoado nos lá bios, e Bronwyn franziu a testa, incapaz
de interpretar a expressã o em seu rosto.
— Vocês duas sã o tã o lindas, — ele sussurrou, soando
maravilhado e humilde. Ele parecia tã o possessivamente orgulhoso
que Bronwyn se contorceu desconfortavelmente.
— Bryce.
Ele nã o viu os lá bios dela formando seu nome. Em vez disso, ele
pegou uma pequena toalha e colocou sobre o cabelo de Kayla,
amarrando-a como um turbante em volta da cabeça. Ele pegou outra
toalha maior e a abriu, esperando pacientemente que Bronwyn
terminasse de ensaboar e enxaguar a filha antes de se ajoelhar ao
lado da banheira para pegar a criança que se contorcia. Sua camiseta
branca imediatamente ficou encharcada quando ele envolveu a
criança pequena na toalha. Ele a pegou antes de acenar para
Bronwyn, que imediatamente afundou sob as bolhas que se
dissipavam rapidamente.
— Eu assumo daqui; você aproveita o resto do seu banho, — ele
insistiu, e ela sorriu agradecida, observando sua forma alta e bem
construída enquanto ele se retirava do banheiro.
— Ah Deus, — ela gemeu, enterrando o rosto nas mã os
molhadas. Isso ia ser tã o difícil. Ela endireitou seus ombros estreitos
resolutamente antes de terminar seu banho e sair para encontrar
seu marido. Ele estava no quarto de Kayla, lendo uma histó ria de
ninar para a menininha sonolenta. Bronwyn observou
silenciosamente da porta, sem ser vista por pai e filha até que
finalmente Kayla adormeceu. Bryce parou de ler e se inclinou para
dar um beijo na bochecha macia de bebê de Kayla.
— Boa noite, anjo, — ele murmurou, tã o baixinho que Bronwyn
quase perdeu. Quando ele se levantou e se virou, nã o pareceu
surpreso ao encontrá -la parada na porta. Ela se aproximou e deu seu
pró prio beijo de boa noite na bochecha de Kayla antes de se
endireitar para encontrar seu olhar inabalável.
— Precisamos conversar, — disse ela, e ele assentiu. Ela liderou
o caminho para fora do quarto e desceu para a sala de estar. Ela nã o
podia fazer isso na estufa, nã o onde eles haviam compartilhado
tantas experiências, boas e ruins. Ele foi direto para o armá rio de
bebidas e serviu dois copos de uísque puro, parecendo perceber que
eles precisariam. Ele entregou a ela um dos pesados copos de cristal
e apontou para duas cadeiras confortáveis.
— Devemos?
Ela assentiu, sentando-se em frente a ele e tomando um gole
nervoso do líquido ardente que girava tã o lindamente no copo. Ela
tossiu e ele sorriu.
— Ainda nã o consegue segurar sua bebida, eu vejo, — ele
brincou.
— Bryce, pedi o divó rcio hoje, — disse ela rapidamente. Seu
sorriso desapareceu e ele ficou branco como uma folha. Seus olhos
caíram para o copo e ele o levou aos lá bios com uma mã o um tanto
trêmula antes de engolir o conteú do de um só gole.
— Entendo.
— Eu nã o quero nada de você, — ela continuou
apressadamente quando seus olhos se ergueram para encontrar os
dela novamente. — Exatamente o que discutimos antes: pensã o
alimentícia e guarda compartilhada. — Ele se levantou e voltou para
o armá rio de bebidas. Ele encheu o copo, dobrando a quantidade
desta vez. Quando voltou a se sentar, nã o disse nada, apenas bebeu
metade da bebida com um leve estremecimento.
— Diga alguma coisa, — ela insistiu.
— Nada mais a dizer. — Ele encolheu os ombros. — Na verdade,
nada mais a fazer, exceto sentar aqui e ficar muito, muito bêbado.
— Bryce, — ela advertiu, mas ele nã o viu seus lá bios
pronunciarem seu nome porque ele estava de pé mais uma vez,
enchendo seu copo. Quando ele voltou para seu assento desta vez,
ele trouxe a garrafa com ele e a ergueu para ela com uma inclinaçã o
questionadora de sua cabeça.
— Você quer? — Ele convidou, indicando para ela á lcool mal
tocado.
— Bryce, precisamos conversar.
Ele riu rudemente, parecendo tudo menos divertido.
— Sobre o quê, droga? — A voz dele aumentou e ela pulou de
susto. — Você sempre quer falar, mas nada é dito! Você quer o
divó rcio, quer pensã o alimentícia e guarda compartilhada? Tudo
bem, eles sã o seus. Vou te dar a casa em Knysna e alguns milhõ es
também! Como isso soa?
— Eu nã o quero essas coisas.
— Claro que nã o, — ele zombou. — Você é boa demais para o
meu dinheiro, para as minhas desculpas e para o meu amor, nã o é?
Isso fez isso! Bronwyn deu um pulo e, antes que ela realmente
tivesse tempo de pensar sobre suas açõ es, jogou o resto de sua
bebida em seu rosto sarcá stico. Ela esperou que ele piscasse para
tirar a ardência do á lcool de seus olhos antes de atacá -lo.
— Que desculpas? Que amor? — Ela sinalizou e gritou com ele.
— Até agora nã o ouvi uma palavra de desculpas de você. Nã o por me
expulsar ou por me julgar mal. E você nã o disse uma vez, nem uma
vez desde o nosso casamento, desde antes do nosso casamento, que
me ama! Na verdade, você fez o oposto disso; você me disse que se
casou comigo por obrigaçã o, que nunca me amou. Você está me
dizendo diferente agora, Bryce? Decida-se porque estou ficando
doente com seu transtorno de personalidade mú ltipla.
— Bronwyn...
— Nã o! Você tem o descaramento absoluto de me dizer que
nada é dito. — Ela ainda estava usando as mã os e a boca para deixar
absolutamente claro como se sentia. Ela nã o queria que ele perdesse
uma ú nica palavra. — Bem, de quem é a culpa, Bryce? Você nunca
realmente se abriu comigo. Tentar aprender qualquer coisa sobre
você é como extrair sangue de uma pedra. Eu estava feliz com nosso
casamento antes de partir, mas depois de ficar sozinha por dois anos
e realmente pensar sobre isso, reconheci como nosso
relacionamento estava completamente ferrado. Eu dei tudo de mim e
nada de receber de você. Você se escondeu tã o completamente de
mim que me pergunto se o homem por quem me apaixonei
realmente existiu. Entã o, você está certo, o tempo para falar acabou.
Vou ficar nesta casa conforme nosso acordo, mas esse divó rcio vai
acontecer.
— Por que de repente você está tã o desesperado por um
divó rcio? — ele perguntou desconfiado. — É aquele professor? Você
está me deixando por ele?
— Como posso deixar você quando nem estamos juntos? — ela
perguntou exasperada. Ela estava frustrada porque nenhuma de suas
palavras parecia estar penetrando. — E não, eu nã o quero o divó rcio
por causa de Raymond. Duvido que o veja novamente fora da
faculdade. E só porque você saiu durante este casamento nã o
significa que eu vou. — Ele parecia completamente confuso com as
palavras dela e fez sinal para que ela as repetisse, evidentemente
pensando que ele havia interpretado mal as palavras dela. Quando
ela repetiu o que havia dito, o queixo dele caiu sobre o peito
enquanto ele a encarava em choque ó bvio.
— Que diabos você está falando? — ele perguntou. Ele ainda
estava sentado, bebendo despreocupadamente seu uísque, embora o
á lcool que ela jogou nele tivesse encharcado sua cabeça e ombros.
Bronwyn ainda estava de pé e olhando para ele com raiva. — Eu nã o
“sai” como você tã o eloquentemente colocou.
— Foi você quem me disse que sua vida sexual estava “ó tima”,
lembra? O que mais eu deveria deduzir dessa declaraçã o? — Ele
engasgou com um gole de uísque e tossiu por alguns minutos antes
de finalmente piscar rapidamente para clarear os olhos e encará -la
estupidamente novamente.
— Bronwyn... Eu sofri um acidente. Passei seis meses
convalescendo, um ano em terapia e o resto do tempo evitando
multidõ es. Saí apenas uma vez, e foi para uma festa surpresa para
Theresa De Lucci apenas algumas semanas antes de encontrarmos
você de novo. Quando você acha que tive tempo de transar com
outras mulheres?
— Você disse... — Ok, entã o talvez ele tenha mentido.
— Eu estava tentando fugir do assunto. Você estava me
perguntando sobre sexo e tudo que eu conseguia pensar era em te
deixar nua e debaixo de mim novamente. Dificilmente algo que eu
queria anunciar quando ainda estava com tanta raiva de você.
— Mas as camisinhas?
— O que?
— Na gaveta do quarto, — ela elaborou, e seus lá bios se
contraíram.
— Rick e Lisa já usaram aquele quarto no passado e, embora
tenham feito a coisa responsável na compra de preservativos, nunca
chegaram a usá -los, e ela engravidou mais rá pido do que você
poderia piscar. — Ele olhou fixamente para ela por um momento
antes de sorrir perversamente. — Você estava com ciú mes, Bron?
Maldito seja!
— De jeito nenhum. — Ela manteve o rosto inexpressivo, mas
nã o conseguiu esconder o rubor traidor dele. — Eu apenas pensei
que você era um hipó crita por ficar estranho sobre Raymond quando
você quase admitiu ter dormido com outras mulheres. Nã o importa
mais de qualquer maneira. O divó rcio ainda está de pé. — Suas
palavras trouxeram a realidade de sua situaçã o de volta para ele e
ele ficou sério imediatamente. — Quero juntar os cacos da minha
vida e seguir em frente. Eu simplesmente nã o posso ser feliz vivendo
assim.
Ele se levantou, elevando-se acima dela, e seus olhos
perfuraram desesperadamente os dela.
— Podemos ser uma família, Bronwyn, — ele insistiu,
estendendo a mã o implorando. — Este fim de semana provou isso.
—Nã o, tudo o que este fim de semana provou é que você ainda
tem segredos que se recusa a compartilhar comigo. E sempre será
assim, nã o é, Bryce? Você sempre fechará alguma parte de você para
mim. Nunca te conheci de verdade e duvido que algum dia o
conhecerei.
— Querida, por favor, — ele gemeu.
— Nã o me chame assim, — ela disse. Ela apenas se sentia
cansada e derrotada. Ele ficou lá , a mã o ainda estendida e parecendo
miserável, com á lcool pingando de seu cabelo e em seus olhos. Por
um breve momento ela se sentiu amolecendo.
— Eu sei que fui um completo bastardo, — ele admitiu.
— Sim.
Sua admissã o fortaleceu sua determinaçã o.
— Eu sinto muito...?
— Isso é uma pergunta? Ou um pedido de desculpas real?
Ele hesitou brevemente e ela revirou os olhos. — Volte para
mim quando tiver certeza. — Ela saiu da sala e Bryce olhou para a
porta por um longo tempo depois que ela saiu.
Agora que toda essa coisa do divó rcio estava se tornando um
fato palpável, ele admitiu para si mesmo que nã o estava tã o disposto
a desistir e dar a ela tudo o que ela pedia. Ele queria sua esposa e
filho, mas era um homem quebrado, tanto física quanto
emocionalmente, e dificilmente parecia justo sobrecarregá -la com
seus inú meros problemas depois de tudo que ele já a havia feito
passar. No entanto, ele sabia que sem ela voltaria a ser a casca vazia
que era depois que ela partiu. Ele suspirou e corrigiu o pensamento,
depois de afastá-la. Dois anos atrá s, ele havia sido descuidado com a
coisa mais preciosa de seu mundo e, como resultado, a perdera. Ele
desejou que houvesse alguma maneira de reconquistar a confiança
dela e se reconciliar com ela, mas em seu coraçã o ele nã o achava que
merecia mais tanto.
 
 

— Você ainda está conosco, Bronwyn? — Bronwyn piscou quando


uma mã o esguia foi acenada na frente de seu rosto e ela viu que as
outras quatro mulheres sentadas à mesa do restaurante a encaravam
com expectativa. Eles estavam discutindo a cerimô nia de renovaçã o
do casamento de Theresa, que aconteceria no final do ano. As outras
mulheres trocavam ideias animadas para o evento.
— Desculpe, eu perdi isso, — ela murmurou, e Alice bufou.
— Pelo que pude perceber, você perdeu grandes partes da
conversa, — a outra mulher disse com as sobrancelhas levantadas.
— O que está acontecendo com você? Você saiu dessa conversa antes
mesmo de começar.
— Estou me divorciando de Bryce, — disse Bronwyn depois de
tomar um gole fortificante de á lcool. Tinha sido uma semana difícil.
Ela e Bryce mal se falavam desde segunda-feira, embora ele tivesse
tentado abordá -la em vá rias ocasiõ es. Ela passou seu tempo
evitando-o ativamente e se sentiu como uma covarde por causa
disso.
— Sério? — Lisa parecia atordoada com a informaçã o, e as
outras mulheres estavam todas olhando para ela com simpatia.
— Sim. Falei com um advogado.
— Mas eu pensei que as coisas estavam melhorando. — Lisa
parecia arrasada com a informaçã o, e Bronwyn suspirou baixinho
antes de balançar a cabeça.
— Nã o, o plano sempre foi o divó rcio. Estamos morando juntos
porque é conveniente agora e menos estressante para Kayla, mas
assim que eu me formar e encontrar um emprego, vou embora.
— Mas isso levará anos. — Theresa, sem saber, repetiu as
palavras que Bronwyn disse a Bryce quando ele sugeriu pela
primeira vez sua ideia de dividir a casa com ela.
— Sim e isso me incomoda. Eu realmente nã o quero tirar
vantagem da generosidade de Bryce...
— Ah besteira, — Theresa a interrompeu com o que para ela
era uma linguagem estranhamente forte. — Você é a mã e da filha
dele e passou o primeiro ano e meio da vida de Kayla lutando para
cuidar dela à custa de sua pró pria saú de. Portanto, nã o se atreva a se
sentir mal por aceitar o auxílio a que tem direito do pai da sua filha.
É o mínimo que ele pode fazer. — As outras mulheres olharam
surpresas para Theresa, e ela pareceu um pouco desconfortável
antes de dar de ombros. — É um assunto sensível para mim. —
Bronwyn sorriu antes de concordar com a cabeça.
— Você está certa, Theresa, mas Bryce também sofreu. Ele
perdeu o primeiro ano e meio da vida de Kayla e sofreu aquele
acidente enquanto me seguia e todos nó s sabemos como isso
terminou.
— Todas as coisas que poderiam ter sido evitadas se ele tivesse
agido menos como um idiota depois que descobriu que você estava
grávida — assinalou Lisa com sensatez.
— Sim, que homem casado reage assim à notícia de que vai ser
pai, afinal? — Alice acrescentou seu valor de dois centavos. — Eu
gosto de Bryce, mas sério, ele foi um babaca
— Acho que tudo parecerá muito menos complicado depois de
alguns drinques, — sugeriu Roberta Richmond, que se juntou ao
grupo pela primeira vez naquela noite, com um aceno decisivo. Ela
nã o estava a par da situaçã o de Bronwyn e Bryce, mas mostrou sua
solidariedade pedindo uma rodada de drinques — embora se
mantivesse restrita a coquetéis sem á lcool. A mulher, de 26 anos, era
alguns anos mais nova que Bronwyn e era amiga de Theresa.
Aparentemente, eles se conheceram em algum evento de futebol que
Sandro, o marido de Theresa, frequentava regularmente. A jovem
moleca era agora a ú nico membro solteira e sem filhos do grupo.
Theresa as informou antes de convidar Bobbi - como ela preferia ser
chamada - que a outra mulher tinha muitas poucas amigas. Bronwyn
gostou de sua energia positiva. Ela foi uma boa adiçã o ao seu
pequeno grupo.
Elas passaram o resto do dia bebendo coquetéis e, em um
esforço para animá -la, as outras mulheres começaram a oferecer a
Bronwyn todos os tipos de conselhos cada vez mais obscenos sobre
como ela poderia se recuperar do divó rcio. Uma delas sugeriu que
Bronwyn ficasse com um stripper masculino, o que na verdade fazia
muito pouco sentido, mas elas nã o estavam muito sensatas naquele
ponto.
— Garanto que um stripper masculino saberia o que fazer entre
os lençó is. — Lisa assentiu com conhecimento de causa.
— Por favor, como você sabe, — Theresa zombou.
— Ouvi dizer que a maioria deles é gay, — arriscou Bronwyn.
— De jeito nenhum. — Alice pareceu desapontada com a ideia.
— Devíamos pesquisar um pouco, — Bobbi refletiu, lambendo
o sal de seu copo de margarita. — Encontrar uma stripper e
pergunte se ele é gay.
— Onde vamos encontrar uma stripper? — Bronwyn
perguntou, curiosa, mais do que um pouco embriagada.
— Eu conheço um lugar, — a muito tímida e restrita Theresa, de
todas as pessoas, se ofereceu.
— Pare com isso, — Lisa engasgou, escandalizada. — Você não
sabe!
— Eu sei, — Theresa manteve presunçosamente. — Eu vi um
documentá rio sobre isso na semana passada.
— Bem, o que estamos esperando entã o? — Alice perguntou
ansiosamente. — Vamos encontrar algumas strippers para nó s!
 
 

Bryce sempre se posicionava em uma sala que seria atingida por


qualquer farol de carro sempre que soubesse que Bronwyn chegaria
tarde. Dessa forma, ele poderia ter certeza de que ela estava em casa
com segurança antes de ir para a cama. Ele nunca seria capaz de
dormir se soubesse que ela ainda estava fora. Ele sempre se
preocupava se ela estava segura quando saía tarde com seu bando de
amigas. Infelizmente, todas as mulheres foram bastante inflexíveis
para que o segurança nã o estivesse presente em suas reuniõ es, mas
os homens concordaram coletivamente em sempre ter pelo menos
um cara incó gnito e de olho nelas. Ainda assim, isso nã o impedia
Bryce de ficar estressado toda vez que se aproximava um pouco da
meia-noite nesses sá bados femininos. Agora já passava da meia-
noite e as respostas que ele recebeu para as frenéticas mensagens
que ele enviou para Rick e Pierre – cujo cara tinha segurança naquela
noite – foram bem parecidas: Calma mano, elas estão bem e relaxe! Eu
verifiquei. Não há nada com que se preocupar. Ele supô s que teria que
se contentar com isso.
Finalmente, perto de uma da manhã , os faró is iluminaram o
caminho, e ele pulou do sofá na sala e se dirigiu para a porta da
frente, a fú ria misturada com o alívio que sentia.
Estranhamente, os faró is estavam iluminando a entrada assim
que ele chegou à porta da frente, e ele ainda estava tentando
descobrir o que isso significava quando a porta se abriu. Sua esposa
cambaleou, essa foi a ú nica palavra que ele conseguiu pensar para
descrever seu movimento, no saguã o. O rosto dela se iluminou
quando o viu, e ele piscou surpreso até que o cheiro o atingiu.
— Você está bêbada! — ele acusou em descrença. Isso explicava
os faró is; ela provavelmente voltou para casa de tá xi. Ela disse algo
que ele nã o entendeu direito, e ele imaginou que ela provavelmente
estava enrolando as palavras. Ela ergueu a mã o, polegar e indicador
a uma polegada de distâ ncia, e ele balançou a cabeça. — Mais do que
um pouco, Bronwyn. Onde diabos você estava? — Ela estremeceu,
esfregou as orelhas e falou de novo, e ele captou o suficiente de suas
palavras para compreender que provavelmente havia exagerado na
pergunta. Ele respirou fundo para se acalmar, como sua
fonoaudió loga o havia ensinado, e repetiu a pergunta no que
esperava ser uma voz mais baixa. Era sempre difícil julgar quando
ele estava se sentindo tã o irritado.
— ...Com garotas.
Ele pegou apenas o final disso, mas foi o suficiente.
— Você já saiu com “as garotas” antes, mas nunca até quase
uma da manhã , — ele disse, fervendo.
Você não é meu pai! ela sinalizou descuidadamente antes de
tentar passar por ele. Ela nã o tinha a coordenaçã o necessá ria e, em
vez disso, esbarrou nele. Bryce agarrou seus braços e a firmou. Ela
sorriu cegamente para ele antes de inesperadamente passar as mã os
sobre seus antebraços nus e depois sobre seus bíceps. Ele estava tã o
distraído com o toque dela que por um segundo nã o percebeu que
ela estava falando. Seus olhos estavam vidrados com o desejo
familiar, e ela parecia estar falando mais consigo mesma do que com
ele. Ele tentou se concentrar nos lá bios dela e nã o em sua ereçã o
crescente, mas ainda levou alguns momentos antes que qualquer
coisa do que ela estava dizendo fosse absorvida.
— Stripper? — Ok, desta vez ele sabia que estava berrando. —
Que stripper? — Para sua total decepçã o, ela parou de acariciar sua
pele sedutora e franziu a testa para ele. Ela ergueu uma das mã os do
braço dele e levou o dedo indicador aos lá bios no gesto universal de
silêncio.
— Que stripper? — ele perguntou novamente, no que ele sabia
ser um sussurro, e ela revirou os olhos.
—Marvin Maciço, — ela o informou prestativamente, mas entã o
tirou a outra mã o de sua pele superaquecida para dizer o resto em
uma linguagem de sinais desajeitada. Mas ele não é tão maciço. Você
é muito maior do que ele... Ela fez uma pausa pensativa enquanto
corria os olhos sobre o corpo dele e depois voltou à s palavras. —
Muito maior, por toda parte! — Certo. Esse ú ltimo gesto nã o foi
exatamente a linguagem de sinais padrã o, mas acompanhado pelo
olhar que ela dirigiu para baixo foi bastante inconfundível e muito
lisonjeiro. Ele sentiu seu rosto esquentar e seu corpo endurecer
ainda mais. Ele observou como as sobrancelhas dela saltaram quase
até a linha do cabelo quando ela reconheceu o que estava
acontecendo com ele. Ela ergueu os olhos vidrados para ele mais
uma vez e lambeu os lá bios avidamente. Deus, ele conhecia aquele
olhar. Ela o queria tanto quanto ele a queria, mas estava tã o bêbada
que ele sabia que seria errado agir de acordo com a necessidade
mú tua naquele momento.
Dormir com ela enquanto ela estava bêbada não fazia parte de
seu plano de reconciliaçã o. Tudo bem, ele ainda nã o tinha ideia de
que diabos era seu plano de reconciliaçã o, mas tinha certeza de que
dormir com ela agora nã o seria o melhor primeiro passo.
— Ele é gay, — disse ela. Os lá bios dela formaram as palavras
com bastante clareza, e ele franziu a testa em confusã o com a falá cia.
— O que? — ele perguntou. Ela era tã o encantadora assim, mas
ao mesmo tempo totalmente confusa.
— Marvin Maciço. Ele é gay.
— E isso desapontou você? — ele perguntou calmamente,
tentando nã o parecer ciumento ao pensar em sua esposa cobiçando
outro cara. Claro, ele nã o tinha ideia se conseguiu ou nã o, mas
esperava ter conseguido soar tã o neutro quanto fingia ser.
— Nã o, foi mais um experimento científico. — Os olhos dela
estavam em seu lá bio inferior, e ele se perguntou o que diabos ela
achava tã o fascinante nisso.
— Ir a um clube de strip foi um experimento científico? — Ele
sabia que soava como um completo idiota, mas nã o tinha certeza se
estava acompanhando aquela conversa estranha corretamente. Ele
continuou sentindo como se estivesse perdendo alguma coisa.
— Você tem uma boca tã o linda. — Ela o tirou dos trilhos
totalmente com aquilo. —Muito melhor que o Marvin Maciço.
— Você vai me comparar com esse tal de Marvin Maciço a noite
toda? — ele perguntou ressentido, se sentindo ridículo mesmo
dizendo o nome estú pido.
— Nã o... nã o é justo, ele perderia. — Ela ficou na ponta dos pés
e o atingiu completamente, beijando-o. Os braços dela envolveram o
pescoço dele, e seu corpo estava colado ao dele. Ele podia sentir cada
curva de seu corpo através de suas roupas. Seus braços envolveram
sua cintura e suas mã os seguraram seu traseiro firme e a levantaram
até que ele pudesse sentir seu calor feminino contra sua dureza
dolorida. Deus, era incrível tê-la em seus braços novamente. Seria
tã o fá cil deixá -la nua, empurrá -la contra a parede, e...
E aí, amigo! Levantou a cabeça e as mã os, erguendo-as com as
palmas estendidas num gesto de rendiçã o, e perguntou-se, com um
leve toque de histeria, por que era sempre ele quem mandava parar
as coisas. Um dia ele iria dar a ela o que ela queria tã o
desesperadamente e para o inferno com as consequências. Mas, ele
admitiu ironicamente enquanto olhava para o rosto frustrado dela,
aquele dia nã o era hoje. Ela estava ziguezagueando no local e, se nã o
fosse pelo fato de ainda estar com os braços em volta do pescoço
dele, provavelmente teria caído.
— Baby, você nã o pode continuar me torturando assim, — ele
podia sentir a rouquidã o em sua garganta e se perguntou se ele
conseguiu dizer as palavras alto o suficiente para ela ouvir. — Venha,
vamos levá -la para a cama. — A expressã o dela se iluminou com a
palavra “cama” e Bryce revirou os olhos, afastando os braços dela de
seu pescoço e ajudando-a a subir para o quarto. Depois de outra
batalha frustrante em seu quarto, onde ela parecia ter crescido pelo
menos seis braços extras e os colocado em bom uso, felizmente ele
conseguiu levá -la para a cama.
Ele olhou sombriamente para sua esposa desmaiada, seu corpo
duro, dolorido e pesado com luxú ria reprimida. Ele nã o podia mais
viver assim; era o suficiente para testar um santo, e ele nã o era um
maldito santo. Ele balançou a cabeça em desgosto antes de ir para o
banho frio de sempre.
 
CAPÍTULO TREZE

Quando Bronwyn se juntou a eles na ensolarada cozinha para o café


da manhã na manhã seguinte, ela usava um gigantesco par de ó culos
escuros e se movia cautelosamente, com a cautela de algué m com
uma baita dor de cabeça. Ela estava vestida com uma camisa
desbotada e um feio par de calças de moletom que tinha visto dias
melhores. Seu cabelo estava uma bagunça completa. Ela tentou
engolir a ná usea quando Bryce apontou para uma pilha de
panquecas com uma sobrancelha levantada.
— Café, — ela grunhiu enquanto se sentava cuidadosamente na
cadeira imediatamente à direita de Bryce. Seus lá bios se contraíram
quando ele derramou um pouco da bebida quente e escura em uma
caneca e a colocou na mesa na frente dela. Kayla estava olhando para
sua mã e com curiosidade.
— Mamã e doente? — ela perguntou preocupada, e Bronwyn
balançou a cabeça antes de estremecer quando o movimento
desencadeou os irritantes pequenos gremlins bateristas que
pareciam ter se instalado em seu cérebro.
— Estou bem, querida. — Sua voz estava rouca e ela limpou a
garganta constrangida antes de sorrir de forma tranquilizadora para
sua filhinha. Satisfeita com a resposta, Kayla voltou a brincar com a
comida e a cantar sua cantiga desafinada.
Bronwyn se encolheu com o barulho antes de ousar olhar para
Bryce, que ainda a observava em silêncio. Ela se lembrou de partes
embaraçosas do que aconteceu depois que ela voltou para casa na
noite anterior e nã o sabia bem o que dizer a ele esta manhã .
— Você sabe, Bron, — disse ele, quebrando o silêncio
constrangedor entre eles, e ela olhou para cima um pouco rá pido
demais ao som de sua voz. Ela reprimiu um gemido e olhou para ele
completamente, se preparando para sua censura.
— Sim? — ela perguntou quando ele permaneceu em silêncio
um pouco demais.
— Eu sou totalmente a favor, se você quiser me usar para... —
Ele olhou para Kayla antes de baixar a voz. — Sexo, desde que
cheguemos a algum tipo de acordo mú tuo sobre isso. Chega dessa
porcaria de vir-a-mim-em-um-momento-de-fraqueza. Pelo menos
assim nó s dois sabemos exatamente onde estamos, e nã o vou me
sentir como um bastardo total quando ajo nesses sinais confusos que
você está enviando.
— Eu sinto...
Ele fez um som rude, cortando seu pedido de desculpas.
— Nã o. Só não se desculpe. Acho que nã o consigo lidar com isso
agora.
— Bryce, acho que devo me mudar. Nã o muito longe daqui,
perto o suficiente para você ter acesso a Kayla. Você ainda a terá
quando eu estiver na escola, é claro, e ela pode dormir aqui pelo
menos uma vez por semana. Eu estive pensando sobre isso...
— Claramente.
— ...e é uma soluçã o viável, — ela continuou, ignorando sua
pequena interrupçã o sarcá stica. — Uma que se adequasse ao nosso
estilo de vida.
— E como você pode pagar uma casa pró pria com o salá rio que
está ganhando? — Ele parecia em estado de choque com as palavras
dela, mas Bronwyn se recusou a permitir que sua determinaçã o
enfraquecesse. As palavras veementes de Theresa na noite anterior a
fizeram pensar que talvez ela merecesse algo mais do que esse
arranjo distorcido que ele havia sugerido.
— Bem, você terá que pagar por isso, — ela disse a ele
resolutamente, e seus olhos se estreitaram. — Você vai pagar pelo
meu novo lugar, meus estudos e pensã o alimentícia. Acho que é o
mínimo que você pode fazer. Nã o quero centenas de milhares ou
metade de sua empresa ou qualquer outro tipo de pagamento, mas
seria estú pido de minha parte nã o pedir seu apoio até terminar
meus estudos.
— Eu nã o quero que você se mude, — ele disse severamente.
— Eu sei, mas se eu nã o sair, vamos continuar repetindo o
mesmo ciclo. Nã o quero querer você, Bryce. Mas eu quero, e se eu
ficar aqui, vamos acabar na cama juntos de novo e isso será um
grande retrocesso para nó s. Para mim.
— Bronwyn, o que será preciso para convencê-la de que nã o
quero perder você ou Kayla? Que eu honestamente quero salvar
nosso casamento?
— Bryce, nã o há mais nada para salvar, — ela disse com um
sorriso amargo. — Sim, estou fisicamente atraída por você, mas nã o
podemos basear um casamento apenas nisso.
— Isso é tudo que você sente por mim? Atraçã o física? — ele
perguntou com a voz rouca.
— Sim, — ela mentiu, feliz que os ó culos escuros escondiam
seus olhos dele.
— E Kayla? — ele perguntou.
— Kayla ficará bem; vamos todos ficar bem, Bryce.
— Bronwyn. — Sua voz caiu para um sussurro urgente, cheio
de desespero. — Por favor, nã o faça isso. Nos dê uma chance. Eu sei
que fiz coisas horríveis e me comportei de forma repreensível, mas...
— Ela ergueu as mã os, odiando vê-lo implorar e sabendo que, se
permitisse que continuasse, cederia.
— Bryce, você me machucou e eu estou achando... um pouco
difícil de seguir em frente. — Ela tirou os ó culos escuros, fazendo
uma careta quando a luz brilhante queimou suas retinas, mas ela
queria que ele visse a verdade em seus olhos. — Estou tentando te
perdoar, mas sou apenas humana, e os erros que você cometeu
foram enormes. Tente ver do meu ponto de vista. Tente imaginar
como foi ser tã o completamente rejeitada por ter engravidado.
Imagine como me senti perdida quando você nã o ligou, quando você
se recusou a atender minhas ligaçõ es, quando você parecia me
rejeitar a todo momento. — Ele abriu a boca para dizer algo, mas
depois de uma respiraçã o rá pida e dolorosa fechou-a novamente e
permitiu que ela falasse. — Você fez alguns comentá rios cruéis sobre
as roupas e brinquedos que Kayla tinha quando nos encontrou
novamente. Mas cada centavo que ganhei foi para mantê-la limpa,
vestida, alimentada, feliz e saudável. Foi uma responsabilidade
enorme que tive que carregar sozinha. Você nã o estava lá , Bryce. Era
só eu e eu tinha que fazer o melhor que pudesse da nossa situaçã o.
— E entã o, quando você nos encontrou novamente, você se
comportou como se fosse o injustiçado! Sua surdez era de alguma
forma minha culpa e eu “abandonei” você no local de um acidente. —
Ela podia ouvir a amargura absoluta em sua pró pria voz e sabia que
tinha que ser visível em seus olhos e em seu rosto. Ela ainda estava
muito furiosa com a injustiça daquelas acusaçõ es em particular. —
Você nã o vê como essas acusaçõ es eram imperdoáveis? Quã o
intransponíveis sã o esses problemas? E agora você quer que sejamos
uma família, não quer o divó rcio e espera que eu seja grata por isso?
Você espera que eu esqueça toda a dor que você infligiu? Bem, eu
nã o posso fazer isso, Bryce. Eu gostaria de poder, mas já que nã o
tenho ideia do que te desencadeou em primeiro lugar, como diabos
eu devo confiar em você para nã o ir ao fundo do poço novamente? E
se eu inadvertidamente acionar seu botã o de rejeiçã o novamente?
Eu nã o posso viver com a incerteza. Nã o quero e me recuso a
permitir que minha filha experimente a mesma dor e confusã o.
— Eu sei que já disse isso antes, mas também estou farta de
seus segredos, Bryce. Esta situaçã o me fez reconhecer o quanto você
escondeu de mim. Você está completamente fechado e isso nã o é
algo que foi desenvolvido recentemente. Eu descobri que você
sempre escondeu coisas de mim e eu nem me importo mais com
esses segredos.
Foi um longo discurso e foi difícil manter o foco e continuar
encarando-o para que ele pudesse entender tudo. Ela tentou
intercalar com o má ximo de linguagem de sinais que pô de, mas
ainda nã o tinha certeza de que ele havia captado tudo. A dor de
cabeça da ressaca havia felizmente convidado uma dor de cabeça
tensional para se juntar à festa selvagem em seu cérebro, e a dor
estava se tornando quase insuportável.
— Eu estava tentando proteger você, — ele confessou apó s um
longo silêncio, e Bronwyn lançou um olhar para a filha, que estava
começando a observar os pais com uma expressã o preocupada, nã o
tã o alheia à tensã o quanto eles esperavam. Bronwyn lançou um
sorriso tranquilizador para Kayla. Nã o tenho certeza do que fazer
com essa ú ltima declaraçã o.
— Você e o bebê, — disse ele. — Eu queria proteger você.
— Nos proteger de quê, Bryce? — ela perguntou, combinando
as palavras faladas com linguagem de sinais quebrada para
transmitir sua frustraçã o. Cada pedacinho que ele revelava tã o
relutantemente a fazia reconhecer o quanto ele ainda estava
escondendo dela. Ela tinha visto apenas a ponta desse iceberg e ficou
surpresa com sua pró pria ignorâ ncia anterior. Como ela nunca havia
reconhecido a magnitude desse problema? Ela estava tã o cega por
seu amor e felicidade que nunca soube como seu marido era um
homem infeliz e problemá tico. Ela tinha sido tã o ingênua e estú pida.
— De que? — ela perguntou novamente, e ele balançou a
cabeça, impotente. — Por que você reagiu assim à notícia da minha
gravidez?
Ele suspirou profundamente e o som parecia arrancado das
profundezas de seu peito. Seus olhos estavam cheios de infelicidade
e medo. Ele balançou a cabeça novamente antes de se levantar e dar
um beijo no topo da cabeça de Kayla. A garotinha conseguiu espalhar
alguns ovos mexidos em sua bochecha, mas ele nã o pareceu notar
quando se endireitou para olhar para Bronwyn novamente. A
vulnerabilidade nua em seu rosto rasgou seu coraçã o e ela mordeu o
interior de sua bochecha para evitar deixar escapar algo estú pido.
Algo como ela o amava ou que ela ficaria. Ela sentiu que faria
qualquer coisa para limpar aquele olhar de total isolamento e agonia
de seus olhos.
— Vou pedir ao meu assistente para procurar casas viáveis para
você. Depois de compilarmos uma lista de possibilidades, você pode
decidir qual delas é mais adequada para você. — Ele se virou e saiu
da sala, deixando Bronwyn se sentindo exausta e desanimada pela
vitó ria vazia.
Bryce esperou até que estivesse em segurança atrá s da porta
fechada de seu escritó rio antes de se curvar e inspirar
profundamente quando as consequências de sua promessa o
atingiram como um trem de carga. Ela ia deixá -lo e ele ia deixá -la
porque ela merecia sua liberdade, porque era cruel sobrecarregar
uma mulher vibrante e afetuosa como ela com um marido
emocionalmente aleijado e, o mais importante, porque ele ainda nã o
sabia como explicar suas açõ es naquela noite distante.
 
 
 

Um bebê, Jesus Deus, ele pensou. Ele nã o estava pronto para ser pai!
Ele seria péssimo nisso. Ele seria como seu próprio pai - abusivo,
mesquinho e ausente de coraçã o e alma. Ele nã o poderia ter um filho
ainda, nã o até que Bronwyn o curasse um pouco mais. Ao longo dos
ú ltimos anos, ela tinha sido um bá lsamo para seu espírito inquieto e
danificado. Com o tempo, sua gentil calma e bondade teriam se
espalhado para ele, teriam se infiltrado em sua alma e feito dele o
tipo de homem que ele desejava ser. Ele estaria pronto para ser pai e
responsável por uma vida totalmente nova. E ainda assim ela estava
grávida agora... ela tinha seu bebê dentro dela neste exato momento.
Sua respiraçã o engatou em um soluço quando ele a viu em sua
mente, ficando mais redonda, mais macia, seus seios crescendo
cheios e pesados de leite. Ele a viu dando à luz, viu o bebê deles:
zangado, vermelho, nu e chorando e amou de todo o coraçã o. Ele
queria aquela vida com todo o seu ser.
Nã o apenas os dois, mas os três: uma família.
Sim, ele queria muito aquela vida e, com Bronwyn ao seu lado,
tinha quase certeza de que poderia tê-la. Ele nã o era seu pai. Ele
praticamente criou Rick sem danificar um fio de cabelo em sua
cabeça, entã o por que ele seria diferente com seus pró prios filhos?
Deus, Bron provavelmente o odiava tanto agora, mas ele tentaria
explicar isso a ela. Talvez ele finalmente pudesse contar a ela sobre
seu pai e ela entenderia. Ela nã o pensaria que ele era um monstro só
porque alguém o gerou. Ela o perdoaria. Ela tinha que fazer isso.
Certamente ela o amava o suficiente para perdoá -lo?
Ele já estava de pé e pronto para ir falar com ela quando ouviu o
motor de seu BMW roncar, seguido pelo som inconfundível de pneus
cantando na garagem. Seu estô mago se apertou e seu coraçã o quase
parou.
— Nã o... nã o nã o nã o nã o nã o nã o... — A negaçã o soou como
uma oraçã o quando ele saiu da sala. Ele ouviu um guincho enquanto
ela lutava com a embreagem e entã o o ronronar gutural quando o
carro obedeceu a seus comandos e ganhou vida. Ele estava saindo
pela porta da frente quando o carro saiu da garagem. — Deus por
favor... — ele implorou enquanto se virava e pegava seu pró prio
molho de chaves da mesa no corredor antes de mergulhar para o
Maserati que ele havia deixado estacionado na frente. Ela nã o era
uma boa motorista e geralmente lutava com as curvas da estrada
íngreme e sinuosa. Ele a seguiu à distâ ncia, com cuidado para nã o a
assustar; ele podia ver as lanternas traseiras algumas curvas abaixo
e sabia que seria capaz de alcançá -la em seu carro mais rá pido. Ele
apenas rezou para que ela nã o avaliasse mal uma curva e se
machucasse. Deus, ele morreria se ela fosse ferida ou se o bebê se
machucasse. Ela nunca iria perdoá -lo se algo acontecesse com o
bebê, nunca acreditaria que ele queria tanto quanto ela, mas tinha
sido muito covarde para admitir isso. Ele os queria seguros. Ele os
queria com ele. Ele daria qualquer coisa no mundo para recuperar a
ú ltima meia hora. Ele ficou petrificado de que, quando conseguisse
alcançá -la, ela nã o o desejasse mais, nã o o amaria mais!
Ele nã o poderia viver sem o amor dela. Toda aquela ternura
estú pida e avassaladora que ele disse a si mesmo que sentia por ela,
como diabos ele nã o a reconheceu pelo que era? A estrada estava
nivelando quando aconteceu - um jovem casal, de mã os dadas,
entrou em seu caminho. Eles estavam tã o absortos um no outro que
nã o o viram chegando. Ele desviou para evitá -los e saiu da estrada.
Ele teve tempo suficiente para sentir gratidã o por ter deixado as
curvas íngremes para trá s antes que o carro capotasse e capotasse
vá rias vezes. Ele estava brevemente ciente de sentir uma dor
excruciante em todos os lugares, e seus ú ltimos pensamentos antes
de desmaiar foram o arrependimento de nunca mais ver seu bebê e o
terror absoluto de nunca mais segurar Bronwyn novamente.
Quando voltou a abrir os olhos, foi para um silêncio profundo.
Ele gradualmente veio a entender que estava pendurado de cabeça
para baixo e mantido suspenso pelo cinto de segurança. Ele piscou
para a multidã o reunida do lado de fora do carro e o primeiro rosto
que viu claramente foi o dela. Ele sorriu, aliviado por ela ter voltado,
mas intrigado com a completa falta de emoçã o em seu rosto.
— Bronwyn. — Ele sentiu seus lá bios formar a palavra, mas nã o
conseguiu ouvi-la. Estava incrivelmente quieto; ele nã o esperava que
uma cena de acidente fosse tã o mortalmente silenciosa. Ele tentou
novamente, chamou o nome dela e sentiu sua garganta apertar e
rouca enquanto chamava e chamava sem emitir um som sequer. Ela
nã o se mexeu, apenas o observou, e ele gelou de pavor. Ela o odiava.
Deus, ele sabia que ela acabaria o odiando... ele sempre soube
disso. Ele passou os ú ltimos dois anos esperando que ela deixasse de
amá -lo. Ele nã o era bom o suficiente para o amor dela. Alguma parte
dele sempre soube que o filho de um monstro nã o merecia o amor de
uma criatura tã o gloriosa.
Ainda assim, ele implorou e implorou para que ela viesse até
ele. Deus, ela era tã o adorável, ele a adorava naquele vestido, sempre
a adorara. Mas ela o havia ignorado. Ela se virou, foi embora e o
deixou com dor e em silêncio.
 

Cinco dias apó s o anú ncio devastador de Bronwyn, Kayla estava


sentada em um pedaço de sol do final do outono no jardim de
inverno com seu pai e alegremente brincando de casinha com suas
bonecas e jogos de chá . Ela estava vestida com uma fantasia de
princesa rosa e aqueles onipresentes tênis vermelhos que ela tanto
amava. Bryce havia levado seu laptop para o andar de cima e estava
sentado no piso aquecido ao lado dela, aproveitando o sol enquanto
lia e respondia seus e-mails mais urgentes. Ele parava
ocasionalmente para tomar um gole de chá imaginá rio em um
delicado copo de plá stico, estalando os lá bios todas as vezes, o que
inevitavelmente fazia sua filha ter ataques de riso. Ele adorava vê-la
rir. Ela se parecia exatamente com a mã e quando ria sem reservas.
Bronwyn costumava rir assim; ela colocava todo o seu corpo nisso
enquanto o riso saía de sua barriga. Ele nã o conseguia se lembrar da
ú ltima vez que ela riu assim e sentiu uma pontada de
arrependimento pela perda. Sempre foi uma alegria vê-la e ouvi-la
rir, e ele frequentemente se perguntava se a risada de Kayla soava
como a de sua mã e.
Ele assistiu Kayla brincar e contemplou seus medos anteriores
de que ele iria machucá -la do jeito que seu pai o machucou. A ideia
de alguém, incluindo ele mesmo, a machucar de qualquer maneira
era repulsiva e aumentava cada instinto protetor que ele tinha. Algo
que antes parecia tã o inevitável tornou-se um completamente
impossível. Ele nã o esperava confiar em si mesmo perto dela, pensou
que precisaria de supervisã o constante, alguém para ficar de olho
nele e se certificar de que nã o a machucaria. Mas desde o momento
em que ele a viu pela primeira vez, tudo o que ele queria era passar
um tempo com ela, conhecê-la, mimá -la e amá -la.
Ela o divertia, à s vezes o deixava perplexo e até o irritava em
ocasiõ es estranhas, mas a ú nica vez que ele a machucou fisicamente
foi por acidente. Foi um incidente que ainda pesava muito em sua
mente por causa de seu comportamento repreensível em relaçã o a
Bronwyn depois. Ele suspirou pesadamente. Kayla cambaleou para
envolver seus braços ao redor de sua garganta e plantar um beijo
ú mido em sua bochecha.
— Papai triste. — Ela aprendera a falar com ele apenas quando
ele estava de frente para ela, e ele via claramente suas doces
palavras.
— Nã o, querida, estou feliz por estar com você, — ele a
tranquilizou, e ela sorriu brilhantemente.
Eu te amo papai, ela sinalizou desajeitadamente, e o coraçã o
dele simplesmente derreteu. Ele se controlou enquanto sinalizava eu
te amo de volta para ela. Isso a satisfez, e ela voltou para suas
bonecas. Bryce engoliu o nó na garganta e piscou a umidade
escaldante de seus olhos. Fazia duas semanas desde que Bronwyn
disse a ele que queria se mudar, e amanhã ele a levaria para ver os
apartamentos que ele havia escolhido pessoalmente. Os papéis do
divó rcio foram entregues no início da semana, e ele os enfiou em
uma das gavetas de sua mesa em vez de assinar. Ele sabia que estava
fugindo do inevitável, mas sentia uma sensaçã o de pâ nico tã o
avassaladora toda vez que pensava naqueles papéis que muitas
vezes se encontrava à beira de hiperventilar. Ele podia sentir o
pâ nico crescendo até agora e deixou seu laptop de lado para se
concentrar em Kayla, esperando conter a ansiedade.

Bronwyn entrou na estufa, onde Celeste disse a ela que encontraria


Kayla e Bryce e congelou de surpresa com a visã o que encontrou
seus olhos quando ela entrou na sala. Bryce estava sentado em
silêncio enquanto Kayla se movimentava ao redor dele, envolvendo-o
em material. Bronwyn reconheceu a manta laranja queimada do
sofá , a pashmina rosa que ela havia deixado em uma das cadeiras na
noite anterior, um par de cordõ es de cortina vermelho-vivo e um par
de guardanapos com babados que Bronwyn havia guardado há
muito tempo. A pashmina estava pendurada em seus ombros, a
manta em seu colo, os guardanapos adornavam seus ombros e os
cordõ es decoravam seus pulsos como pulseiras. Kayla deu um passo
para trá s e inclinou a cabeça pensativamente antes de assentir. Ela
pegou sua tiara de plá stico brilhante e os brincos combinando e os
colocou na cabeça e nas orelhas dele.
— Como estou? — ela ouviu Bryce roncar por baixo da cortina
elaborada e, por um momento, Bronwyn pensou que a pergunta era
dirigida a ela antes de perceber que ele ainda nã o a tinha visto. Era a
opiniã o de Kayla que ele buscava.
— Bunito, — a garotinha respondeu, seus cachos saltando com
seu aceno assertivo.
— Entã o, posso tomar um pouco de chá agora?
— É claro. — A garotinha parecia tã o adulta que Bronwyn
conteve uma risadinha, indescritivelmente encantada com a cena à
sua frente. Ela começou a derramar seu chá imaginá rio em um copo
de plá stico e equilibrá -lo em um pires combinando antes de entregá -
lo ao pai. Ela seguiu com um prato maior de biscoitos muito reais.
Bryce fez sons apreciativos enquanto mastigava e “bebia” e Kayla o
imitou, conversando em sua linguagem quase ininteligível o tempo
todo.
Bronwyn entrou mais na sala, assustando os dois ao mesmo
tempo. Kayla se jogou na mã e para um abraço, e Bryce puxou um dos
brincos com vergonha, ficando vermelho brilhante ao ser pego
brincando de se fantasiar. Ele desistiu com um encolher de ombros
tímido quando viu o sorriso divertido de Bronwyn, e um sorriso
relutante apareceu em seus lá bios.
— Você chegou cedo, — ele apontou, e Bronwyn balançou Kayla
no quadril, acariciando a bochecha da menina antes de responder.
— Tivemos alguns problemas de encanamento e tivemos que
fechar a loja mais cedo. Pode levar alguns dias para resolver.
Portanto, posso nã o trabalhar na segunda-feira também se eles nã o
resolverem o problema no fim de semana. — Ela tirou os sapatos e
deixou Kayla cair quando a garotinha se contorceu impacientemente.
Bronwyn afundou no chã o ao lado de Bryce enquanto Kayla
arrumava o brinco que ele havia tentado tirar antes.
— Papai bunito, — Kayla anunciou com orgulho enquanto
colocava um guardanapo de volta no lugar em um dos ombros largos
de seu pai antes de cair em seu colo e descansar a cabeça no mesmo
ombro que ela tinha acabado de redecorar. Seu polegar
imediatamente foi para a boca.
— Muito bonito, — Bronwyn concordou com um sorriso
malicioso, e Bryce revirou os olhos.
— Somos princesas, — ele explicou, e ela riu.
— Muito atraente, — ela elogiou. Kayla repetiu a palavra
“buscando” com o polegar antes de apontar para o prato de biscoitos
com a mã o livre. Bryce pegou o prato e o ergueu para Bronwyn, que
pegou um biscoito de chocolate com um sorriso.
— Eu adoraria um pouco de chá , — Bronwyn sugeriu, e quando
Kayla levantou a cabeça para lhe dar um olhar aguçado, ele suspirou
e “serviu” uma xícara de chá . A xícara parecia ridiculamente pequena
em sua mã o enquanto ele a segurava delicadamente.
— Obrigada. — Bronwyn assentiu educadamente enquanto
aceitava a oferta. — Entã o é isso que você faz todos os dias?
Ele bufou e acenou com a cabeça em direçã o ao laptop fechado
no chã o ao lado dele.
— Eu estava tentando fazer algum trabalho, mas isso era muito
mais divertido, — ele confessou com um sorriso encantador.
— Você sempre foi tã o facilmente distraído do trabalho, — ela
relembrou. — Como aquela vez em que você me levou para as Ilhas
Maurício para um fim de semana prolongado, se esquecendo
completamente da importante teleconferência que tinha na segunda-
feira.
— Eu nã o estou arrependido. — Ele encolheu os ombros. — Foi
um fim de semana maravilhoso. — Eles passaram a maior parte nus
em uma praia particular.
— Pierre ficou furioso com você, — lembrou ela.
— Ele superou. Além disso, éramos recém-casados, ele
entendeu.
— Estávamos casados há mais de um ano, — ela corrigiu.
— O que você quer dizer?
— Você se lembra daquele artista de rua que nos seguiu do
mercado de volta ao hotel? — ela perguntou, e seus olhos se
iluminaram de tanto rir com a lembrança.
— Ele nã o parava com sua horrenda serenata durante toda a
caminhada de volta.
— Você implorou para ele parar, o subornou e se ofereceu para
colocar seus filhos ainda nã o nascidos na universidade, — disse ela,
rindo.
— Eu nã o acho que ele entendeu meu francês do ensino médio,
— Bryce riu.
— Ele era horrível! — ambos disseram em uníssono antes de
cair em um silêncio constrangedor.
— Tivemos bons momentos, nã o é? — ele perguntou depois de
alguns minutos.
— Os melhores momentos, — ela concordou.
— Você nã o acha...
— Bryce. — Ela parou o que ele estava prestes a dizer com um
leve aceno de cabeça, e sua voz sumiu. Ele limpou a garganta,
deslocando o peso de sua filha agora cochilando até que ela
descansasse mais confortavelmente contra seu peito.
— Entã o, você está livre amanhã ?
Ela assentiu em resposta a sua pergunta.
— Bem, selecionei alguns apartamentos para você ver amanhã .
Vou mudar os compromissos para a manhã , para que você tenha a
tarde livre.
— Obrigada. — Nã o havia realmente mais nada a ser dito
depois disso.

Claro, cada lugar a que ele a levava era mais extravagante do que o
outro. A acomodaçã o em Camps Bay nã o era barata e, a julgar pelo
tamanho das chamadas casas geminadas para as quais ele a levou,
nenhum dos lugares variaria abaixo de oito dígitos. Como eles
permaneceram na á rea, ele disse a Cal que nã o seria necessá rio e,
pela primeira vez, a família se viu completamente sozinha. Foi uma
sensaçã o quase nova para Bronwyn, que se acostumou tanto com a
presença silenciosa e flutuante dos seguranças que se sentiu
excessivamente exposta sem eles. Mas ela logo se envolveu em toda a
experiência de caça ao apartamento
— Bryce, — ela finalmente falou quando se viu de pé na sala de
estar da terceira mini mansã o que ele a levou. — Esses lugares sã o
todos muito grandes.
Ele franziu a testa e balançou a cabeça.
— Eu os escolhi porque todos têm vista para o mar e para a
montanha, — explicou ele calmamente. — Eu sei o quanto você ama
os dois. E este tem pá tio e jardim. Você gosta de jardinagem. Você
nã o teve muito tempo para isso recentemente, mas pelo menos terá
a opçã o. O pró ximo lugar da lista tem um jardim e um playground
seguro para Kayla. A piscina é cercada e há amplo espaço para um
animal de estimaçã o, se você decidir ter aquele cachorro que sempre
quis. — Ela nã o sabia que ele havia pesquisado pessoalmente todos
os lugares que estava mostrando a ela. Ela presumiu que ele passaria
a tarefa para sua assistente, mas o nível de cuidado e consideraçã o
que ele colocou nessa tarefa, apesar de sua clara relutâ ncia em que
elas se mudassem, foi comovente. Ela nã o sabia o que dizer e engoliu
em seco antes de se virar para alertar Kayla para nã o correr muito
rá pido enquanto a garotinha ia de um quarto vazio para outro.
— O quarto principal receberá o nascer do sol pela manhã , —
ele continuou depois de limpar a garganta sem jeito. — E a sala
recebe o pô r do sol. Achei que você gostaria disso.
— Você nã o teve que se dar tanto trabalho, Bryce. Eu sei que
você nã o quer que a gente saia. Eu nã o esperava que você colocasse
tanto trabalho nisso.
— Se você realmente tiver que me deixar de novo, Bron, quero
saber se você está segura, feliz e bem cuidada. Esta é a ú nica maneira
que conheço para garantir isso. — Ela mordeu o lá bio incerta e ele a
recompensou com um sorriso sombrio antes de mostrar-lhe o resto
do apartamento espetacular. Quando passou o meio-dia, ele mostrou
a ela sete lugares, cada um a menos de cinco minutos de carro de sua
casa. Ele claramente pretendia mantê-las por perto.
— Eu escolhi este porque pensei que você gostaria disso, — ele
disse a ela enquanto a levava para o segundo andar do ú ltimo lugar.
Era um enorme duplex com vista panorâ mica, um jardim, uma
enorme cozinha, quatro quartos, três banheiros e meio e uma
varanda no segundo andar que se abria a partir do quarto principal e
dava para o mar.
Ele abriu uma porta no segundo andar e ficou de lado para
deixá -la entrar, e a respiraçã o de Bronwyn foi sugada para fora de
seu corpo com o soco emocional que ele acabara de lhe dar. Era um
jardim de inverno pequeno e bonito. Duas paredes e metade do teto
eram inteiramente de vidro, um lado voltado para o mar e o outro
para a montanha. Era absolutamente lindo. Seus olhos se encheram
de lá grimas ao perceber que Bryce havia escolhido aquele lugar
porque sabia o quanto ela sentiria falta da estufa quando saísse de
casa.
— Você gostou? — ele perguntou, de pé atrá s dela enquanto ela
caminhava automaticamente em direçã o à janela com vista para o
oceano azul-marinho.
— É lindo, — ela sussurrou com voz rouca, piscando para
conter as lá grimas, antes de perceber que ele nã o podia ver seus
lá bios. Ela assentiu, mantendo-se de costas para ele.
— Eu sabia que você gostaria. — Sua voz soava vazia e ela se
virou para vê-lo pegar o celular e digitar uma mensagem para
alguém. Uma vez que ele completou, ele olhou para ela com os olhos
sombreados.
— Entrei em contato com a corretora de imó veis para avisá -la
de que farei uma oferta por este lugar.
— Mas...
— Tem um jardim, vistas, uma cozinha totalmente equipada,
uma piscina vedada, fica perto de lojas e escolas e, claro, você terá
sua pró pria equipe de segurança. Também tem isso... — Ele indicou
uma das paredes de vidro do chã o ao teto. — É perfeito para você.
Ela acenou com a cabeça miseravelmente, observando Kayla
puxar a perna da calça de seu pai enquanto tentava mostrar a ele
algo que tinha visto pela janela. Bryce olhou para sua filha antes de
segui-la obedientemente enquanto ela o puxava para o que quer que
tivesse chamado sua atençã o. Bronwyn enxugou furtivamente
algumas lá grimas errantes e foi se juntar a eles na janela. Seu
coraçã o, já irremediavelmente partido, tinha acabado de se
desintegrar em um milhã o de cacos minú sculos e os pequenos
fragmentos afiados a estavam despedaçando.
— Pronta para ir? — ele perguntou depois de alguns minutos
bajulando Kayla, e ela assentiu quando ele olhou para ela. Ele ergueu
Kayla em seu quadril e descansou a mã o livre na parte inferior das
costas de Bronwyn enquanto a guiava à sua frente.
Ela esperava que ele as levasse diretamente de volta para casa,
mas em vez disso ele desviou para os restaurantes à beira-mar que
pontilhavam o litoral de Camps Bay, parando em frente a um dos
lugares menores. Bronwyn engasgou quando o reconheceu e seus
olhos voaram para o perfil dele. Por que ele a estava trazendo aqui?
— Achei que poderíamos almoçar, — explicou ele, lançando lhe
um olhar enigmá tico antes de desafivelar o cinto de segurança e sair
do Audi seguro que agora preferia dirigir.
Ele contornou o capô do carro e segurou a porta do passageiro
aberta para ela. Ela desafivelou o pró prio cinto e relutantemente saiu
do carro. Ele tirou Kayla de sua cadeirinha antes que Bronwyn
pudesse reagir e, mais uma vez, colocou a mã o nas costas dela para
conduzi-la gentilmente em direçã o ao restaurante familiar.
— Bryce. — Ela resistiu e olhou para ele com olhos suplicantes.
— Nã o quero comer aqui.
— Já fiz reserva e todos os outros lugares estarã o lotados na
hora do almoço de um sá bado. Além disso, Kayla vai ficar irritada se
nã o almoçar logo. — Bronwyn lançou um olhar cético para sua filha
sorridente, que abraçava alegremente Broccoli, sua velha boneca de
pano de cabelo verde.
— Você está com fome, Kayla? — ele perguntou, e Kayla
assentiu alegremente.
— Cum fomi, — ela respondeu, e Bronwyn, percebendo que
estava em menor nú mero, reprimiu qualquer protesto e
relutantemente entrou no restaurante onde ela o vira pela primeira
vez há tanto tempo.
 
CAPÍTULO CATORZE

O restaurante era o mesmo que ela lembrava. Claro, a equipe era


diferente, mas o cardá pio e a decoraçã o - mas com algumas
pequenas mudanças aqui e ali - a transportaram de volta a uma
é poca menos complicada. Bryce sussurrou algo no ouvido do
garçom e, com certeza, eles foram levados à mesma mesa em que ele
estava sentado naquele primeiro dia. Uma cadeira alta foi
prontamente providenciada para Kayla e, depois de anotar os
pedidos de bebida, o garçom saiu apressado e os deixou olhando um
para o outro em silê ncio. Kayla ficou animada com o novo ambiente
e pegou seu celular de brinquedo para contar a seu primo “Wees”.
— Por que você nos trouxe aqui? — Bronwyn quebrou o
silêncio com um pequeno suspiro derrotado e deu de ombros.
— Eu estava me sentindo nostá lgico. — Nã o. Esta foi
definitivamente uma decisã o deliberada que tinha muito pouco a ver
com nostalgia. Quando ele concordou com a mudança dela, ela
pensou que ele estava começando a aceitar sua decisã o de se
divorciar. Essa jogada, no entanto, parecia ser a o golpe inicial de um
contra-ataque.
O garçom voltou com as bebidas e os pedidos de refeiçã o.
Nenhum dos dois sequer deu uma olhada no cardá pio, mas Bronwyn
o sabia de cor e pediu frango cozido no vapor com vegetais para
Kayla e frango Marsala com purê de batatas para ela. Bryce manteve
os olhos fixos nos dela enquanto dirigia seu pedido ao servidor
pairando.
— Vou querer o milk-shake. Chocolate. E o hambú rguer de brie
e bacon. — O jovem, claramente um servidor muito melhor do que
ela, reconfirmou seus pedidos antes de sair.
— Bryce, nã o tenho certeza do que você espera conseguir aqui,
mas...
— Você estava de pé naquela mesa quando eu a vi pela primeira
vez. — Ele apontou para uma mesa pró xima e ela piscou para ela. —
Você tinha esse olhar de pâ nico absoluto em seu rosto. Eu já tinha
vindo a este restaurante vá rias vezes antes e sabia que, se você
estava servindo naquela mesa, provavelmente estava trabalhando
em toda esta seçã o. Por isso pedi esta mesa.
— Você pediu esta mesa? — Ela ficou boquiaberta com ele,
incrédula, pegando distraidamente o celular de brinquedo rosa
brilhante de Kayla quando ela o deixou cair sobre a mesa e o
devolveu para que ela pudesse continuar sua conversa de faz de
conta. Bronwyn sempre presumiu que ele havia sido colocado em
uma de suas mesas por acaso.
— Eu pedi. Percebi você quase imediatamente e simplesmente
nã o consegui desviar o olhar. — Sim, ela se lembrava daquele olhar
perturbadoramente intenso. Ela tinha sido ainda mais desastrada
como resultado disso. — Fiquei fascinado, encantado, confuso e
fascinado. Fascinado de forma inequívoca e impotente. — Ele olhou
para longe, perdido em suas memó rias. As linhas duras de seu rosto
se suavizaram e um sorriso doce e melancó lico flertou com os cantos
de seus lá bios.
— Eu mal ouvi uma palavra do que Pierre disse e dominei
categoricamente seu tempo chamando você para a menor coisa, —
lembrou ele.
— Eu nã o me importei, — ela confessou, permitindo que a
doçura da memó ria a reclamasse também. — Fiquei igualmente
fascinada. Eu mal me lembrava que o pobre Pierre estava lá metade
do tempo.
— Você era a coisa mais fascinante que eu já vi, — disse ele, sua
voz rouca, e ela balançou a cabeça com desdém.
— Dificilmente.
— Você ainda é, Bronwyn. — Ele afastou seu protesto
automá tico. — Você nã o é uma beleza chata e convencional, é
verdade. E sim, você tende a ser um pouco desajeitada à s vezes. Mas
você é incomum, interessante e para mim você é tã o
indescritivelmente linda. Nunca pensei que te merecesse. Você era
boa demais para gente como eu.
Ela nã o entendia esse sentimento. Ele era incrivelmente bonito
e ela era dolorosamente simples. Ele vinha de uma família rica e
privilegiada, enquanto a família dela era tã o pobre quanto ratos de
igreja. Ele estudou em Oxford com mestrado em negó cios, enquanto
ela mal havia concluído o ensino médio. Tinha sido um conto clá ssico
da Cinderela, e Bronwyn era a ú nica a se sentir inadequada quando
comparada a ele.
— Eu deveria ter deixado você sozinha, — ele estava dizendo,
sua voz baixa cheia de tristeza e seus olhos cheios de uma tristeza
tã o profunda que Bronwyn sentiu seus olhos lacrimejarem em
resposta. — Tentei deixar você sozinha depois daquele dia, mas
simplesmente nã o conseguia ficar longe de você. Eu tinha que ver
você de novo. Você era tã o doce e gentil e toda vez que eu estava com
você... Eu sentia... — A voz dele ficou tã o baixa que ela mal conseguiu
ouvi-lo, e a ú ltima palavra foi quase silenciosa, mas ela poderia jurar
que ele disse limpo. Ele se sentia limpo quando estava com ela? Foi
uma escolha tã o estranha de palavras que ela sabia que devia estar
enganada, mas o que mais poderia ter sido?
Sua voz havia desaparecido completamente agora e ele nã o
estava mais falando, apenas olhando para o lugar à sua frente. Suas
mã os grandes estavam fechadas em punhos sobre a mesa, e
Bronwyn estendeu a mã o para cobri-las com as pró prias mã os. O
gesto trouxe os olhos dele de volta para os dela e ela se assustou ao
ver a umidade brilhando neles.
— Eu deveria ter ficado longe de você, — ele repetiu. — Mas eu
nã o podia. eu não posso. Você é minha luz, Bronwyn. Você é meu
amor. Estou tã o perdido sem você. Eu sempre estive tã o perdido sem
você.
— Bryce.
Ele se sacudiu e olhou para a filha perspicaz, que havia parado
de brincar e os observava com olhos arregalados e preocupados. Ela
parecia à beira das lá grimas.
— Eu sinto muito. Eu nã o deveria ter começado essa conversa
com Kayla aqui. — Ele forçou um sorriso pelo bem da garotinha e
arrastou as mã os debaixo das dela. Ela observou enquanto ele
enxugava os olhos bruscamente e fazia uma fachada alegre para a
filha deles.
Ela continuou lançando olhares furtivos para ele, imaginando o
homem desconhecido que ele permitiu que ela visse hoje. Isso era o
que ela estava “exigindo” dele. Honestidade. E ele tinha acabado de
dar a ela um pedaço enorme de honestidade. Mas qualquer que fosse
a verdade dele, ela agora sabia que era devastadora, e tinha certeza
de que o que quer que fosse tinha sido responsável por sua reaçã o
dolorosa à gravidez dela. Alguns pensamentos verdadeiramente
terríveis estavam começando a se formar no fundo de sua mente,
mas suas suspeitas eram tã o feias que ela as forçou a recuar e as
descartou como impossíveis.
Ela observou enquanto ele gentilmente brincava com a filha
deles e se forçou a se lembrar do dia em que ela contou a ele sobre
sua gravidez. Ele havia reagido em uma explosã o quase violenta de
emoçõ es, acusaçõ es e... medo. Ela se lembrou do olhar dele e agora
entendeu que ele estava absolutamente apavorado com a notícia. Ela
ficou completamente chocada com essa nova visã o inesperada dos
eventos confusos daquela noite.
— Nos proteger de quê? — ela perguntou, mas ele estava
brincando com Kayla e nã o viu sua pergunta. Ela acenou com a mã o
para chamar sua atençã o, e ele piscou para ela, seu cabelo muito
longo caindo sobre um olho no processo. Aquela mecha errante de
cabelo o fazia parecer tã o infantil e vulnerável que ela sentiu um nó
na garganta. Ela, sem pensar, estendeu a mã o e afastou o cabelo dos
olhos dele com dedos gentis. Ele se inclinou em seu toque, mas ela
retirou a mã o quase imediatamente.
— Algumas semanas atrá s você disse que queria nos proteger
de alguma coisa. — Ela voltou ao que estava em primeiro lugar em
sua mente, esfregando distraidamente os dedos - ainda formigando
pelo breve contato com a pele dele - na coxa vestida de jeans. — Nos
proteger de quê?
Ele suspirou duramente.
— Vamos conversar sobre isso quando chegarmos em casa. Fui
estú pido em pensar que este poderia ser o lugar para essa discussã o,
— ele desviou enigmaticamente, e ela franziu a testa em frustraçã o.
Ela estava cansada dos desvios e atrasos. As conversas que
começavam, mas nunca pareciam terminar. Ela beliscou sua comida
depois que ela chegou e se certificou de que Kayla comesse a dela
com o mínimo de sujeira possível. Os pequenos olhares que ela
lançou para Bryce revelaram que ele também estava apenas
brincando com a comida.
— Você se lembra do nosso primeiro encontro? — ele
perguntou a ela, e ela sorriu com a memó ria.
— Como eu poderia esquecer? — ela disse, lembrando. — Você
apareceu aqui no final do meu turno, me convidou para sair e passou
o resto da noite me dando palestras sobre crime e segurança.
Ele bufou.
— Também conversamos por horas sobre nossos filmes,
mú sicas e livros favoritos, — ele lembrou.
— Sim. E o tempo todo você ficou olhando para a minha boca.
— Ela nã o pretendia dizer isso, e quando o olhar dele - que já estava
fixo em sua boca - ficou quente com suas palavras, sua respiraçã o
acelerou e o formigamento residual nas pontas dos dedos se
espalhou como fogo através de seu corpo antes de se acumular no
pontas sensibilizadas de seus seios. Seu sutiã estava
desconfortavelmente apertado, e ela podia sentir o sangue subindo
lentamente em suas bochechas.
— Você nã o acreditaria nas fantasias que eu estava tecendo em
torno dessa boca, — ele disse distraidamente, lambendo os lá bios
como se pudesse sentir o gosto da boca em sua língua. — E essas
suas pernas altas. Deus, eu poderia imaginá -las enrolados na minha
cintura ou jogados sobre meus ombros... — Ambos os cená rios se
concretizaram na primeira vez que ele a levou para a cama.
Sua respiraçã o acelerou ainda mais quando ela se lembrou
daquela noite em particular, ele tinha sido insaciável e muito criativo.
Deus, ela sentia falta dele em sua cama... no corpo dela. Ela se
sacudiu, lançando um olhar culpado para a filha, que agora tinha seu
celular de brinquedo encostado na cabeça de Broccoli para que a
boneca pudesse “falar” com Rhys também. A garota chamou sua
atençã o e sorriu.
— Primeiro, mamã e... — Bronwyn deu uma espiada em Bryce e
pô de ver que suas pró prias bochechas estavam vermelhas, suas
pupilas estavam dilatadas e sua respiraçã o estava difícil. Ela
reconheceu os sinais de sua excitaçã o imediatamente e sabia pela
maneira como ele se mexeu na cadeira que seu jeans estava ficando
um pouco apertado na á rea da virilha. Deus, isso nã o estava
ajudando a causa deles. Ela tinha que se controlar. Ela parecia nã o
conseguir manter as mã os longe dele na maior parte do tempo, e isso
nã o estava fazendo nenhum bem a nenhum dos dois. Ela desviou o
olhar dele, tentando muito ignorar o que estava acontecendo com os
dois, e sorriu para a filha, que estava começando a parecer um pouco
mal-humorada por ser ignorada.
— Ok, querida, — ela acalmou. — Você quer á gua ou um pouco
de suco?
— Sucu, — Kayla exigiu, e olhou desafiadoramente de volta
quando Bronwyn lançou um olhar de repreensã o para ela. Seu lá bio
inferior rebelde começou a tremer antes que ela suspirasse
dramaticamente e cedesse. — Pufavo. Sucu pufavo.
— Boa menina. — Bryce, que parecia ter conseguido um
mínimo de controle sobre seu corpo, a elogiou com uma voz rouca.
Ele sinalizou para o garçom e acenou para Kayla. Quando ela
entendeu o que seu pai queria que ela fizesse, seu pequeno peito
inchou de orgulho e ela sorriu vitoriosamente para o homem mais
jovem.
— Sucu pofavo.
O garçom sorriu.
— Laranja ou maçã ? — Ele sabiamente deu a ela apenas duas
opçõ es, e ela optou pela maçã .
Quando o homem se afastou trotando, Bryce olhou
significativamente para Bronwyn.
— Você sabe que estou tã o duro quanto um cano de aço por
você agora, nã o é?
— Bryce, — ela guinchou, lançando um olhar escandalizado
para Kayla. A garotinha estava alheia a eles e esticou o pescoço para
ver onde seu novo amigo - o garçom - tinha ido.
— E sempre foi assim entre nó s. Desde o começo, — ele
apontou, ignorando seu choque. — Essa é outra coisa que eu nunca
te disse. Enquanto eu estava fascinado, encantado e tudo isso, eu
também estava inacreditavelmente excitado. Além de nã o querer sair
quando Pierre o fez, meu corpo nã o me deu muita escolha no
assunto. Eu era praticamente incapaz de ficar de pé sem chocar
todas as malditas pessoas aqui naquele dia. Toda vez que eu achava
que tinha tudo sob controle, você sorria ou algo assim e eu voltava
para a atençã o instantâ nea. Eu tive um caso terminal de ereçã o
durante a maior parte do primeiro ano de nosso casamento, como
você sabe... mas naqueles primeiros meses era quase impossível de
controlar. Eu era como um adolescente excitado com você.
— Eu nunca entendi muito bem o que você viu em mim, — ela
admitiu em um sussurro, e ele suspirou baixinho.
— Bronwyn, nã o sei o quanto mais claro posso deixar isso,
entã o escute. Para mim... Você. É . Esplêndida. À s vezes nã o consigo
olhar para você por muito tempo porque quase me dó i fisicamente
olhar para você. É uma loucura, meu peito aperta e queima ao ponto
da dor real até que eu me lembre de respirar. — Ele sorriu
agridocemente. — Isso aconteceu com mais frequência do que eu
gostaria de revelar. Você é tã o adorável que algo tã o fundamental
quanto respirar se torna quase impossível perto de você.
Ela procurou em seu rosto á spero por qualquer sinal de
decepçã o, mas sua mandíbula forte estava cerrada, seus olhos quase
duros, e ela sabia que nã o deveria ter sido fá cil para ele revelar
aquele segredo em particular para ela. Ela realmente o afetou
fortemente.
— Você roubou minha respiraçã o em vá rias ocasiõ es também,
você sabe, — ela confessou, estendendo a mã o para acariciar sua
mandíbula. O garçom escolheu aquele momento para voltar com o
suco de maçã de Kayla, e a mã o de Bronwyn caiu sobre a mesa, onde
ela começou a brincar com a colher de sobremesa.
Ela agradeceu ao garçom pelo suco e enfiou a mã o na bolsa do
bebê para pegar o copinho de Kayla. Depois de transferir o suco do
copo para o copinho, ela fechou bem a tampa e deu para Kayla, que
nã o gostou muito de ter o copo adulto confiscado.
Ela se recusou a tomar o suco do copo com canudinho e
Bronwyn deu a ela um gole do suco restante no copo. Ela recusou
novamente e tentou pegar o copo de sua mã e. Quando Bronwyn
moveu o vidro para uma distâ ncia segura dela, ela começou a fazer
barulho. Ela estava mostrando todos os sinais reveladores de uma
criança precisando desesperadamente de uma soneca e à beira de
um acesso de raiva. Bronwyn só precisou olhar para Bryce antes de
chamar o garçom para pagar a conta. A conversa foi suspensa
imediatamente, pois seus papéis parentais entraram em açã o.
Eles fizeram arrumara as coisas e deixaram o restaurante
rapidamente, e enquanto ele os levava para casa, com uma chorosa
Kayla amarrada no assento do carro, Bronwyn sentiu uma pontada
de arrependimento por mais uma conversa inacabada.
 
 
 

Bryce encontrou Bronwyn na estufa algumas horas depois, sentada


no sofá com as pernas dobradas e uma taça de vinho na mã o. Ela
estava olhando pensativa para fora enquanto o sol caía
graciosamente no oceano e incendiava o horizonte. Era um lindo
pô r-do-sol, mas se o rosto sombrio de Bronwyn fosse alguma
indicaçã o, ela nã o estava apreciando totalmente o ú ltimo raio do sol
enquanto fugia da noite. Ela estava correndo um dedo elegante ao
redor da borda de sua taça de vinho, sua inquietaçã o traída pelo
movimento rá pido e repetitivo.
Bryce olhou para o maço de papéis que segurava na mã o e
fechou os olhos enquanto enviava uma oraçã o desesperada e atípica
a um Deus que ele realmente nã o reconhecia desde que era um
menino. Ele estava sem opçõ es aqui. Ele nã o tinha escolha a nã o ser
dar a ela o que ela queria.
— Bronwyn, — ele murmurou, e ela deu um pulo, quase
derramando o vinho. Ela piscou para ele como se estivesse surpresa
por vê-lo parado ali. Ela conscientemente colocou uma mecha
errante de cabelo castanho atrá s da orelha.
— Bryce, você me assustou. — Ele se sentou ao lado dela e se
virou para encará -la.
— Desculpe por isso, — ele se desculpou. — Eu só queria te dar
isso. — Ele entregou metade dos papéis que estava segurando e ela
colocou o copo em uma mesa lateral para pegar os documentos. Ela
olhou fixamente para as grandes palavras em negrito no topo da
primeira folha.
— Isso foi rá pido, — ela murmurou. Ele estendeu a mã o e
angulou sua mandíbula para cima, e ela percebeu que ele nã o tinha
sido capaz de ler seus lá bios. Ela repetiu as três palavras, mantendo
o rosto decididamente neutro.
— Eu os fiz na semana passada. Apostei no fato de conhecê-la
bem o suficiente para adivinhar para qual lugar você iria.
— Por que se incomodar em me mostrar os outros lugares
entã o? — ela perguntou, e Bryce deu de ombros. Sim, ele estava
confiante de que ela iria para o ú ltimo lugar, mas ele queria que ela
tivesse escolhas e... ele queria passar um tempo com ela.
Seu primeiro instinto foi agarrar-se à reticência, mas todas as
acusaçõ es dela de sigilo eram vá lidas. Ele havia escondido coisas
dela — coisas importantes que provavelmente teriam feito uma
grande diferença no casamento deles. Mas se ele quisesse algum tipo
de futuro com ela, teria que deixar de lado seu medo de parecer
fraco e vulnerável aos olhos dela e mantê-la “informada”, por assim
dizer. E se isso significava mantê-la atualizada sobre as minú cias de
cada pensamento fugaz dele, entã o que assim fosse.
— Eu queria que a escolha fosse sua. Você poderia ter odiada
esse ú ltimo. Eu nã o queria presumir muito.
— E ainda assim você foi em frente e elaborou a papelada
necessá ria? — ela perguntou com um movimento incrédulo de
cabeça.
— Eu gosto de estar preparado, — ele murmurou,
envergonhado. — Tudo o que você precisa fazer é assinar e o
apartamento será seu. As finanças foram cuidadas. — Naturalmente.
— Ainda assim, você poderia ter me levado a três ou quatro
lugares em vez de oito.
Ele suspirou e mordeu a bala.
— Eu também queria passar algum tempo com você e Kayla, —
ele confessou. Ele podia ver o choque em seus olhos e se perguntou
se era o resultado de suas palavras ou o fato de que ele realmente as
dissera em voz alta. Ele observou seus lá bios deliciosos formando
um o e respirou fundo antes de correr para a pró xima parte desta
provaçã o.
— Eu queria passar algum tempo com você antes de lhe dar
isso, — disse ele, estendendo um segundo maço de papéis. Ele
hesitou por um momento quando ela estendeu a mã o para eles e
apertou ainda mais quando ela tentou pegá -los. Depois de um breve
cabo de guerra, ele relutantemente soltou os papéis e recuou. Ele
tentou avaliar a reaçã o dela, mas seu rosto geralmente aberto havia
se fechado e nã o revelou uma ú nica emoçã o enquanto ela lia o topo
da primeira pá gina. Ele estava respirando em arfadas irregulares e
contou lentamente até vinte, depois trinta, enquanto tentava regular
sua respiraçã o.
Ela olhou para ele e o impacto de seu olhar devastado o atingiu
como um caminhã o de duas toneladas. Ela nã o disse nada por um
longo tempo, e quando ela falou suas palavras quase o fizeram cair
de joelhos em agonia.
Obrigada, ela sinalizou.
Bryce assentiu antes de se virar e ir embora.
 
 
 

Bronwyn olhou para os papeis de divó rcio assinado em suas mã os


por um longo tempo e agora entendeu que o restaurante nã o tinha
sido um contra-ataque, tinha sido uma despedida. Por um tempo
interminável, o choque a manteve entorpecida, mas em graus
agonizantemente lentos, a sensaçã o voltou. Ela sentia... crua. Seu
corpo inteiro parecia uma ferida aberta e purulenta. Ela se sentou
perfeitamente imó vel, com medo de se mover porque até mesmo o
simples ato de piscar era insuportável. Quando ela se permitiu o luxo
de chorar, nã o foi um ato catá rtico para curar. Em vez disso, as
lá grimas se alojaram em sua garganta e escaldaram sua pele como
á cido.
Ela havia conseguido o que havia pedido. Seu casamento
acabou.
 
 
 

Horas depois, ela se viu olhando para a porta da frente do ú nico


lugar que ela poderia pensar em ir. Ela tocou a campainha e, depois
de vá rios minutos, um Rick de aparência desgrenhada abriu a porta.
Ele piscou para ela em confusã o.
— Bron?
Ao som de sua voz, o frá gil controle que ela conseguia exercer
sobre suas emoçõ es se estilhaçou, e ela começou a chorar e se lançou
em seus braços. Ele a envolveu em seus braços e murmurou
pequenos sons suaves em seu cabelo. — O que é isso agora? Shhh,
querida, está tudo bem. Está bem. — Ele a estava puxando para
dentro da casa. E depois de alguns longos minutos de choro
inconsolável, Bronwyn emergiu o suficiente para observar os
arredores.
Ela estava sentada em um sofá , encolhida contra o peito nu de
Rick, que agora estava escorregadio com suas lá grimas. Lisa estava
sentada do outro lado, dando tapinhas reconfortantes em suas
costas.
— Sinto muito, — ela sussurrou, sua voz rouca depois de seu
prolongado ataque de choro. — Você estava dormindo. Eu nã o estava
pensando na hora. — Ambos estavam vestidos para dormir. Rick em
calças de pijama largas e Lisa em um top e shorts. Uma rá pida olhada
no reló gio na parede disse a ela que era quase meia-noite.
— Nã o se preocupe com isso, — Rick dispensou. — Nos diga o
que aconteceu. Você nã o dirigiu aqui neste estado, dirigiu?
Ela piscou confusa, tentando organizar seus pensamentos.
— Nã o. Nã o, claro que nã o. Cal me trouxe. — Ela se lembrava
vagamente de acordar o homem e dos olhares preocupados que ele
dirigia a ela pelo espelho retrovisor. Lisa ergueu uma caixa de lenços,
e Bronwyn agradecida pegou um e assoou o nariz.
— Kayla está bem? — Rick perguntou com urgência.
— Sim, ela está bem. Ela está com B-Bryce. — Ela tropeçou no
nome dele e quase se perdeu de novo. — Ele assinou os p-papéis, —
ela disse a eles, e os olhos de Lisa imediatamente ficaram suaves e
compreensivos. Rick apenas parecia confuso.
— Que papéis? — ele perguntou.
— Os papéis do d-divó rcio, — ela sussurrou, e Lisa a abraçou
ferozmente.
— Aaaa Deus. — Rick parecia aflito.
— Sinto muito, Bronwyn, — disse Lisa.
— Achei que era isso que você queria. — A confusã o de Rick era
ó bvia, e Bronwyn olhou para seu rosto perplexo.
— É o melhor, — disse ela. — Mas ainda dó i, Rick. Isso machuca
muito. Eu nunca deixei de amar seu irmã o. Eu simplesmente nã o
posso... viver mais com ele. Você entende?
Rick suspirou e balançou a cabeça lentamente.
— Sim, eu entendo. Bron... — ele disse rispidamente. — Eu te
amo como uma irmã e, embora tenha falhado com você por um
tempo, ainda quero que você seja feliz. Entendo que você acha que
nã o pode mais ser feliz com Bryce. Seu comportamento foi...
inexplicável. Mas espero que você entenda que eu tenho que ir e me
certificar de que ele está bem. Você fica aqui com Lisa, certo?
— Sim. Isso nã o deve ser fá cil para ele. — Ela estava grata por
Bryce ter alguém lá para ele. Isso nã o era o que ele queria. Ele tinha
feito isso por ela porque pensou que isso a faria feliz. — Você vai
precisar disso. — Ela entregou as chaves de casa e o controle remoto
do portã o eletrô nico. Rick assentiu e, depois de um ú ltimo abraço e
beijo para Bronwyn, saiu do quarto para se vestir. Ele voltou
brevemente para avisá -las que estava indo, e entã o eram apenas Lisa
e Bronwyn. Lisa assumiu o controle da situaçã o, conduzindo Bron
até a cozinha e derramando um pouco de chá doce em sua garganta.
Bronwyn simplesmente nã o conseguia parar o fluxo interminável de
lá grimas.
— Eu nã o esperava que fosse tã o difícil, — Bron confessou
depois que Lisa a levou para um quarto vago.
— Eu sei, — Lisa respondeu calmamente. — Nã o consigo nem
imaginar como deve ser, Bron. — Bronwyn riu meio histericamente.
— Acho que o ú nico agora que tem alguma ideia de como me
sinto é Bryce. Você pode acreditar nisso? Nosso casamento acabou e
tudo que posso pensar é que Bryce entenderia como estou me
sentindo. Que eu posso falar com ele sobre isso. Está tã o bagunçado...
Eu tive que sair de casa antes de procurá -lo em busca de conforto. Eu
sou apenas um desastre ambulante, Lisa.
 
 
 

Depois de vagar sem rumo pela enorme casa como um garotinho


perdido, Bryce finalmente se viu parado no berçá rio. Foi aí que ele
descobriu um pouco de paz. Ele caiu em uma cadeira de balanço e
observou sua preciosa filha dormir. Ele nã o sabia quanto tempo ficou
sentado ali, inclinado para a frente com os cotovelos apoiados nos
joelhos e os punhos cruzados um sobre o outro. Ele tinha a boca
pressionada nos nó s dos dedos em um esforço para nã o soltar o grito
desesperado que estava preso em sua garganta desde que ele
entregou aqueles papéis horas atrá s.
Ele estava tã o absorto em seus pensamentos que permaneceu
inconsciente da terceira presença que havia entrado na sala até que
sentiu uma mã o quente segurando sua nuca exposta. Ele pulou, mas
a mã o apertou seu pescoço de forma tranquilizadora, e o cheiro
familiar da loçã o pó s-barba de Rick imediatamente amorteceu seus
instintos de luta ou fuga.
Ele se levantou e seguiu Rick para fora da sala até a sala bem
iluminada. Seu irmã o foi até o armá rio de bebidas e serviu dois
uísques antes de voltar e entregar um copo para Bryce. A cena o
lembrou de uma semana atrá s, quando Bronwyn disse a ele que ela
havia pedido o divó rcio, e ele reprimiu a pontada de dor quando se
sentou na mesma cadeira que ocupou naquela noite.
Eles ficaram sentados em silêncio por um tempo, bebericando
suas bebidas antes de Rick colocar a sua de lado para sinalizar algo.
Bron está com Lisa. Bryce assentiu em reconhecimento.
Eu sei. Cal me mandou uma mensagem e disse para onde a estava
levando.
Houve outro longo período em que eles simplesmente se
sentaram e bebericaram suas bebidas.
Você está bem? A preocupaçã o de Rick se refletiu em seus olhos
cinzentos e Bryce deu de ombros.
Não. O sinal era curto.
Sinto muito, Bryce.
Por quê? Não é sua culpa.
Você sabe o que eu quero dizer. Bryce suspirou e assentiu.
Era inevitável. Eu não mereço a confiança dela. Não depois do
que eu fiz.
Por que você reagiu assim à gravidez dela? Rick perguntou, e
Bryce olhou para o homem orgulhoso e forte sentado à sua frente.
Mas tudo o que ele viu foi um menino sério com sardas no nariz e um
sorriso banguela, um menino que Bryce uma vez protegeu com cada
fibra de seu ser. Bryce sofreu contusõ es, ossos quebrados e narizes
sangrando por causa daquele garoto e, se tivesse metade da chance,
faria isso de novo. O pai deles nunca tocou em Rick - nunca teve a
chance - e, como resultado, Rick era um homem bem ajustado que
nunca conheceu o mal com o qual Bryce cresceu.
Ele nunca quis que Rick soubesse disso, escondeu dele todos
esses anos, mas enquanto olhava para seu irmã o, ele reconheceu que
Rick nã o precisava mais de sua proteçã o e agora Bryce precisava
falar sobre o passado.
— Eu pensei que eu iria... ser como nosso pai, — ele disse em
voz alta. Rick nã o disse nada, apenas manteve seus olhos cinza fixos
em Bryce. Isso deu a Bryce coragem para continuar. — Achei que
seria um perigo para o bebê ou para Bron. — Nem por um piscar de
olhos Rick traiu qualquer emoçã o quando a histó ria de Bryce veio à
tona. Bryce baixou os olhos, fixou o olhar no copo e falou pelo que
pareceram horas. Quando ele arriscou um olhar para seu irmã o
depois que as palavras pararam, Rick estava inclinado para frente em
sua cadeira, com as duas mã os apertadas em torno de seu copo. Sua
pele estava pá lida e seus olhos brilhavam com emoçã o reprimida.
— Por que você nã o me contou isso antes? — ele perguntou.
— Eu queria protegê-lo desse conhecimento.
— Me proteger quando eu era criança, claro... Entendo. Mas me
proteger agora? Nã o muito.
— Eu nã o queria manchar suas memó rias de infâ ncia com a
verdade.
— Você nã o poderia ter feito isso, já que a maioria das minhas
memó rias envolve você e a diversã o que tivemos... — Seus olhos
ficaram distantes, e Bryce observou sua boca formar uma palavra
suja. — Todas aquelas supostas lesõ es esportivas? Ele fez isso? —
Bryce assentiu e Rick xingou novamente. — Filho da puta! Merda,
Bryce... Eu sinto muito.
— Nã o é sua culpa. — Bryce deu de ombros.
— Quantas dessas pancadas você levou por mim?
— Nã o é importante, e é por isso que eu nã o queria que você
soubesse. Eu nã o queria que você se culpasse. Tomei a decisã o de
proteger você e o fiz. Fim da histó ria.
— Por que você nã o contou a Bron sobre isso?
— Dizer a ela o quê? Que permiti que um filho da puta
ditatorial me usasse como saco de pancadas? Que eu possa me
transformar no mesmo bastardo ditatorial e usar meus punhos nela
e em Kayla algum dia? Ela está muito melhor sem mim. — As
palavras ardiam como á cido, mas precisavam ser ditas.
— Por que você acha que machucaria Bron ou Kayla? — Rick
perguntou a ele, e Bryce podia sentir-se rosnando com a ignorâ ncia
deliberada de seu irmã o.
— Está no meu sangue.
— Sério? Também está no meu sangue. Acha que eu
machucaria um fio de cabelo na cabeça de Lisa ou Rhys? — Bryce
piscou estupidamente, completamente abalado pela pergunta de
Rick. Nã o era algo que já havia ocorrido a ele.
— Claro que nã o.
— Por que nã o? Ele era meu pai também. — Ele observou o
peito de Rick arfar enquanto o homem mais jovem suspirava
pesadamente. — Bryce, você tem que falar com um terapeuta sobre
isso. Você tem que cuidar para nunca machucar fisicamente sua
esposa e filha.
— Ex-mulher... — Deus.
— Você tem instintos naturalmente protetores, Bryce, — Rick
estava dizendo, enquanto Bryce ainda se recuperava do impacto
emocional das palavras “ex” e “esposa” em relaçã o a Bronwyn. —
Você...
— Chega, — ele sussurrou. — Chega, Rick. Por favor.
Rick parou de falar, mas nã o fez mençã o de sair, apenas se
levantou para encher as bebidas e se sentou novamente. Ele estava
claramente contente em permanecer sentado por quanto tempo
Bryce o fizesse. Confortado pela presença estoica de seu irmã o mais
novo, Bryce ficou imerso em seus pensamentos por mais um tempo.
 
CAPÍTULO QUINZE

Dinheiro certamente tornaram a vida muito mais fá cil, refletiu


Bronwyn enquanto observava a mudança trazer os ú ltimos mó veis
recé m-adquiridos. A mudança da casa de Bryce para sua nova casa
deveria ter levado muito mais tempo do que realmente levou, mas
com dinheiro para lubrificar as rodas, empacotar uma vida antiga e
organizar uma nova levou menos de duas semanas.
Ela foi transferida para sua nova “casa” antes que pudesse
piscar, e tudo o que restava era desempacotar. Ela tentou
transformar isso em uma aventura para Kayla, que estava sendo mal-
humorada e pouco comunicativa.
— Este nã o é um quarto bonito, Kayla? — ela perguntou,
injetando entusiasmo brilhante em sua voz, mas Kayla nã o estava
tendo nada disso.
— Nã o.
— Vamos, querida, é muito bonito, — Bronwyn manteve
pacientemente. — Você tem uma cama de princesa. Nã o é ó timo?
— Nã o. Eu vou para casa. — Só recentemente ela havia parado
de se referir a si mesma na terceira pessoa.
— Esta é a nossa nova casa. — Bronwyn sorriu alegremente e
Kayla olhou para ela, seu pequeno lá bio se projetando rebeldemente.
Bronwyn se sentiu péssima por tê-la mudado novamente tã o cedo,
especialmente porque Bryce havia se tornado uma figura tã o
importante em sua vida.
— Eu quero papai! — Ela bateu o pé e o sorriso de Bronwyn
escorregou um pouco.
— Você verá o papai amanhã , — ela explicou. — Esta noite
vamos dormir em nossa nova casa. Podemos tomar sorvete. Quer
sorvete, querida?
— Nã o.
— Claro que você quer. — Bronwyn nã o pô de deixar de sorrir
um pouco com a teimosia. — Sorvete de chocolate. Seu favorito.
— Eu nã o gostu de soveti, — ela mentiu descaradamente.
— Ei, Bron, onde você quer esta caixa? — Lisa estava
carregando uma caixa de tamanho médio com fotos, e Bronwyn a
encaminhou para o escritó rio. Lisa, Theresa, Bobbi e Alice estavam
ajudando na mudança dela e decidiram ficar por lá para uma de suas
noites femininas de sá bado. Bronwyn deu as boas-vindas à
demonstraçã o de apoio e à companhia. Ela sabia que elas nã o
queriam que ela ficasse sozinha em sua primeira noite no novo lugar.
— Você quer me ajudar a desempacotar suas roupas? — ela
perguntou a Kayla. —Você pode me dizer onde colocar tudo. Isso vai
ser divertido.
— Nã o.
Bronwyn suspirou. Ela estava triste e cansada. Ela nã o tinha
visto Bryce muito desde a noite em que ele lhe entregou os papéis do
divó rcio. Ele pediu a seu advogado que entrasse em contato com o
dela para lhe dizer que lhe daria uma mesada para gastar ou nã o
como ela quisesse, e que ele pagaria para mobiliar o apartamento.
Bronwyn tentou recusar, mas foi informada de que o dinheiro já
havia sido transferido para sua conta bancá ria e o que ela fazia com
ele era problema dela. Ela havia decidido ceder graciosamente e
aceitar a generosa pensã o alimentícia.
— Por que você nã o mostra a Broccoli nossa nova casa? — ela
perguntou. Apesar da expressã o amotinada de seu rosto, a garotinha
pegou sua boneca bem gasta - um dos poucos brinquedos que ela
ainda tinha da vida deles em Plettenberg Bay - e se afastou.
— Você está bem? — Theresa perguntou, se aproximando para
ficar ao lado de Bronwyn. Bronwyn olhou para a mulher bonita e
balançou a cabeça.
— Na verdade, nã o. — Sua voz vacilou ligeiramente. — Eu me
sinto como uma mã e horrível agora. Ela acabou de se acostumar com
a outra casa, e aqui estou eu, desenraizando-a novamente.
— Crianças sã o resilientes. — Theresa colocou um braço
reconfortante em volta do ombro dela e deu-lhe um aperto
reconfortante. — Vocês duas vã o ficar bem.
— Eu gostaria de poder ter tanta certeza. — Bronwyn sufocou
um suspiro antes de colar um sorriso determinado em seu rosto. —
Ainda assim, nã o adianta se preocupar com isso agora. Muito para
fazer.
Theresa sorriu com simpatia.
— Bronwyn, tudo bem se emocionar com tudo isso, sabe? Eu
meio que me identifico com o que você está passando. Sandro e eu
estamos felizes agora, mas tivemos alguns... tempos extremamente
difíceis no passado. — Essa notícia surpreendeu Bronwyn. Nas
poucas ocasiõ es em que vira o casal juntos, eles pareciam
completamente devotados um ao outro. Era difícil acreditar que eles
nem sempre foram o casal perfeito. — Entã o, sempre que você
precisar conversar, ou apenas um ombro para chorar, eu estarei lá
para você.
— Isso significa muito, — sussurrou Bronwyn, abraçando a
outra mulher com gratidã o. — Obrigada.
 
 
 

Depois que suas amigas partiram mais tarde naquela noite e


Bronwyn ficou sozinha com seus pensamentos e sua filha dormindo,
ela se sentou na estufa escura e olhou tristemente ao redor da sala
ainda caó tica. O lugar parecia estranho e um pouco frio. Embora ela
sempre reclamasse que a equipe de segurança de Bryce era uma
invasã o flagrante de sua privacidade, ela se sentia muito mais segura
sabendo que Paul havia sido designado como chefe de sua equipe de
segurança. O homem agora estava encarregado da equipe que
cuidaria da segurança dessa casa separada. Era reconfortante saber
que eles estavam do lado de fora se ela precisasse deles. Seu celular
tocou e ela o arrastou para fora do bolso da calça jeans.
Você se acomoda bem? Um sorriso surgiu em seus lá bios. Era de
Bryce.
Tudo certo. Um pouco bagunçado ainda.
Kayla está bem?
Mal humorado. Ela sente sua falta.
Eu sinto falta dela. De você também.
Ela nã o sabia como responder a isso. Ela sentia falta dele como
louca, mas dizer isso a ele definitivamente enviaria uma mensagem
confusa.
Está tarde. Estou indo para a cama. Foi abrupto, mas ela nã o
queria ser enfeitiçada por ele. Ela nã o queria encorajá -lo. Ambos
precisavam seguir em frente. Nã o importa o quã o doloroso e difícil
fosse para eles.
Certo. Vejo você por aí. Boa noite.
Ela segurou o celular contra o peito por alguns longos
momentos antes de finalmente se arrastar para a cama.
 
 
 
 
O sino tocando acima da porta da loja tirou Bronwyn de seus
pensamentos. Ela estava olhando para suas anotaçõ es por cerca de
meia hora sem realmente absorver qualquer informaçã o e, apesar de
ser quase hora de fechar, um cliente seria uma distraçã o bem-vinda.
Ela colocou o que esperava ser um sorriso brilhante e acolhedor no
rosto enquanto levantava os olhos. O sorriso murchou
imediatamente quando ela viu quem estava ali.
Bryce encontrou seus olhos com um breve aceno de cabeça
antes de entrar na loja. Bronwyn se empurrou para fora da cadeira e
entã o oscilou incerta entre ficar de pé e sentar, com uma carranca
intrigada no rosto. Ele deveria ficar Kayla hoje, mas nã o havia sinal
da criança.
— Bryce? — Ele nã o viu a pergunta dela e continuou a navegar,
pegando um livro aqui e ali e lendo a sinopse da contracapa antes de
recolocá -los nas prateleiras. Ela foi até ele e deu um tapinha em seu
ombro. Ele se virou para encará -la com um sorriso educado no rosto.
Perplexa com seu comportamento estranho, ela franziu a testa e
usou a linguagem de sinais para perguntar o que ele estava fazendo
ali.
— Bem, eu queria aprender a equilibrar meus chakras. — Ele
ergueu um livro. Seu sorriso permaneceu brando e educado. — E eu
estive pensando em comprar alguns cristais de cura ou algo assim.
— Onde está Kayla? — ela perguntou preocupada.
— Tive que ir ao escritó rio esta tarde para uma reuniã o de
emergência e, em vez de deixá -la na creche, pensei que ela gostaria
de passar algum tempo com Rhys, já que é o dia de folga de Lisa.
Quando passei para buscá -la algumas horas depois, ela nã o estava
pronta para parar de brincar. Lisa sugeriu que eu a deixasse ficar
para o jantar. Entã o eu me vi perdido e pensei que você gostaria de
jantar.
— Eu nã o acho... — Deus, ela estava tentada. Mas o divó rcio
havia acabado de ser finalizado e parecia um passo na direçã o
errada. Eles haviam caído em uma rotina confortável ao longo das
duas semanas e meia desde que ela se mudou para sua nova casa. Ela
deixava Kayla na casa dele depois do café da manhã a caminho do
campus, e ele a trazia para casa antes do jantar todas as noites. Kayla
ficava na casa dele nas noites de sexta-feira, e Bryce a devolvia para a
mã e nas tardes de sá bado. Bronwyn a tinha pelo resto do fim de
semana. Eles eram friamente amigáveis quando falavam, e aqueles
breves momentos pela manhã e à noite quando Kayla era passada de
um pai para o outro eram as ú nicas vezes que eles se viam. Ele lhe
enviava mensagens ocasionais durante o dia, mas era só isso. Foi um
pouco de ajuste para todos eles.
— Acho que devemos tentar ser amigos, pelo menos, — disse
ele. — Pelo bem de Kayla. É só um jantar.
— Nunca é apenas um jantar conosco, Bryce, — ela apontou.
— Por favor? — Seus lindos olhos azuis suplicaram
silenciosamente aos dela, e Bronwyn teve outro momento fugaz de
dú vida antes de fazer o que sempre quis. Disse a si mesma que
estava fazendo isso pelo bem de Kayla — era importante para a
garotinha ter pais que se davam bem — mas sabia que estava
mentindo para si mesma. Ela nã o resistiu à ideia de passar um
tempo sozinha com ele. Ele era sua fraqueza e, embora passar mais
tempo com ele nã o a ajudasse a superar essa fraqueza, certamente
fazia um bom trabalho em manter satisfeita a parte dela que ansiava
por sua companhia. Nã o parecia importar o quã o contraproducente
era.
— Tudo bem, — ela consentiu, reprimindo com determinaçã o
os protestos estridentes no fundo de sua mente. Ela olhou ao redor
da loja vazia. — Vou fechar e podemos ir.
 
 
 
 

— Gino's? — Bronwyn sorriu radiante para Bryce, toda a tensã o


acumulada durante a viagem se dissipando. Ela seguiu o carro de
Bryce até o pequeno restaurante familiar em Green Point e riu alto
quando reconheceu a rota familiar. Gino's era seu restaurante
favorito quando eles começaram a namorar. Ela insistira em ir para o
holandês naqueles primeiros dias e frequentemente sugeria o Gino's
por causa de seu preço acessível. A comida era boa e o ambiente
aconchegante e familiar. Eles pararam de vir aqui depois do noivado,
e Bronwyn quase esqueceu que existia. Ela ficou surpresa por Bryce
se lembrar disso.
— Eu pensei que você gostaria, — Bryce informou, sua voz
baixa, antes de olhar para Cal, que estava pairando atrá s deles como
sempre, seus olhos de á guia avaliando nitidamente as ruas ao redor
deles. O sinal silencioso que Bryce enviou em sua direçã o foi
reconhecido com um breve aceno de cabeça quando Cal girou nos
calcanhares e voltou para o carro.
Bryce colocou uma mã o confiante nas costas de Bronwyn e a
conduziu para dentro do pequeno restaurante. O lugar era o mesmo
de sempre – barulhento, caó tico e cheio de gente rindo. Um jovem
garçom levou-os a um canto íntimo nos fundos e entregou-lhes os
menus encadernados em couro com um sorriso.
— Eu estarei de volta em alguns minutos para seus pedidos de
bebida, — ela disse alegremente depois de acender a onipresente
vela no centro da mesa redonda. Estava muito escuro no canto deles,
e Bronwyn se preocupava com a capacidade de Bryce de fazer leitura
labial sob a luz ruim.
Você precisa de um pouco mais de luz? ela sinalizou, e ele
balançou a cabeça.
— Eu posso te ver bem. — Ele sorriu, seus olhos percorrendo o
rosto dela como uma carícia silenciosa.
— Ah. — Ela corou, seu olhar flagrantemente sensual fazendo-a
se sentir mais do que um pouco quente sob o colarinho. Houve
alguns momentos de silêncio antes de Bryce falar.
— Você está gostando do novo lugar? — ele perguntou.
— É claro. — Ela disse. — Kayla ainda está tendo problemas
para dormir à noite.
— É confuso para ela. Ela vai se acostumar com a nova rotina
em breve. — Seu sorriso era agridoce. A garçonete voltou para pegar
os pedidos de bebida e, depois que eles pediram, Bryce concentrou
sua atençã o nela. — E você? Como você está se ajustando ao seu
novo estilo de vida?
— Nã o é muito diferente da vida em Plett. Além do fato de que
temos dinheiro, é claro, e eu nã o preciso trabalhar e nã o me
preocupo mais com Kayla quando estou longe dela. — Ela riu de
forma autodepreciativa antes de balançar a cabeça. — Ok, é muito
diferente da nossa vida em Plett. De qualquer forma, sinto falta dela,
é claro, mas sei que ela está com você e que está segura. — Ela estava
meio que sinalizando frases alternadas, ainda preocupada com a
iluminaçã o do local.
— Você está ? — ele murmurou, seus olhos fixos nos lá bios dela.
— Claro, — ela dispensou alegremente. — Nã o sei se já disse
isso antes, Bryce, mas você é ó timo com ela.
— Eu nã o pensei que seria, — ele admitiu desajeitadamente, se
movendo desconfortavelmente em seu assento. — Estar perto de
crianças é... estava muito fora da minha zona de conforto. Eu gosto
delas, mas nem sempre sinto...
Ele hesitou e ela se inclinou para frente atentamente, sentindo
que ele estava considerando suas pró ximas palavras com muito
cuidado.
— Confiante perto delas, — ele completou, sua voz meio que
sumindo na ú ltima palavra. Perplexa, ela o encarou por um longo
momento antes de balançar a cabeça.
— Nã o tenho certeza se entendi o que você quer dizer quando
usa a palavra “confiante”, — ela disse sem rodeios. — Confiante em
sua capacidade de cuidar deles, você quer dizer?
— Isso, e eu nã o confio em mim para nã o perder a paciência
perto delas. — Mais uma vez ela podia ver o quã o difícil era para ele
admitir, e ela sabia que tinha que agir com muito cuidado aqui.
— Kayla gosta de testar minha paciência, — disse ela com um
sorriso carinhoso. — E eu perdi a paciência com ela em algumas
ocasiõ es, mas é tudo uma questã o de como você lida com a situaçã o
e, francamente, Bryce, você é um idiota quando se trata dela. Ela sabe
que pode se safar muito mais do que jamais conseguiria comigo.
A garçonete voltou com as bebidas e perguntou se estavam
prontos para pedir. Ambos lançaram olhares culpados para o
cardá pio - eles nem tinham pensado em comida ainda.
Reconhecendo a o momento deles, a garota riu e prometeu voltar em
alguns minutos. Depois que eles cuidaram do pedido, Bronwyn
olhou para ele com expectativa, esperando que ele continuasse de
onde havia parado.
Bryce tomou o que parecia ser um gole fortificante de seu vinho
tinto antes de erguer os olhos para encontrar os dela.
— Você estava certa quando me acusou de esconder coisas de
você durante nosso casamento, — disse ele, surpreendendo-a ao
levar a conversa para uma direçã o completamente diferente. —
Coisas que eu senti que você nã o precisava saber. Coisas que pensei
que você veria como fraqueza. Coisas que eu estava com vergonha de
te contar. Uma vez eu disse a você que você me fazia sentir como um
heró i conquistador, que você me fazia sentir como se eu pudesse
conquistar o mundo. Era realmente uma sensaçã o inebriante, Bron.
Eu gostava de ser seu “heró i”, o “príncipe” que a tinha salvado.
— Nunca esperei encontrar uma mulher que me fizesse sentir
um heró i em vez do vilã o que sempre acreditei ser. Entã o, em vez de
contar tudo o que você precisava saber sobre mim, permiti que
pensasse que eu era o homem perfeito. Passei dois anos tentando
manter essa ilusã o e tentando corresponder à impressã o imprecisa
que você teve de mim. Quando algo dava errado no escritó rio, eu
guardava e escondia de você. Eu me trancava para resolver isso
sozinho, em vez de permitir que minha frustraçã o com qualquer
problema que eu tivesse se espalhasse em nossas vidas.
— Bryce. — Ela ficou um pouco atordoada com as revelaçõ es
dele e tentou organizar seus pensamentos antes de responder. — Eu
nunca esperei que você fosse esse marido heroico perfeito. Eu me
apaixonei por um homem, nã o por um super-heró i.
— Você nã o conhecia o homem de verdade, Bron, — ele disse
pesadamente. — E é por isso que eu tive que assinar aqueles papéis.
Eu queria te dar uma chance de me conhecer. Defeitos e tudo. Eu
queria que tivéssemos um novo começo, que voltá ssemos ao começo.
Eu queria que este jantar fosse um novo começo para nó s.
— Entã o, deixe-me ver se entendi, você concordou com o
divó rcio porque queria que começá ssemos a namorar de novo? —
ela perguntou incrédula. Nã o tenho certeza se ela o entendeu
corretamente.
— Basicamente... sim, — ele confirmou, e Bronwyn sentiu como
se o topo de sua cabeça estivesse prestes a explodir. Ela realmente
levou a mã o ao rosto, quase certa de que vapor estava saindo de seu
nariz e orelhas como se ela fosse um personagem de desenho
animado enlouquecido. Infelizmente, a garçonete escolheu aquele
momento para retornar, e Bronwyn esperou impacientemente
enquanto a mulher despejava as tigelas aromá ticas e quentes de
macarrã o e pã o de alho crocante na mesa à frente deles. Assim que a
garçonete saiu, Bronwyn voltou seu olhar carrancudo para o homem
de aparência desconfortável sentado à sua frente.
— E você realmente achou, depois da turbulência emocional
dos ú ltimos meses, que eu concordaria com esse seu esquema? —
ela perguntou, tentando ao má ximo controlar seu temperamento,
incapaz de acreditar na absoluta arrogâ ncia do homem. — E o que é
isso? Fase Um de algum grande plano de reconciliaçã o?
— Nã o existe tal coisa, — ele disse calmamente. — Eu só
esperava que você entendesse o que me motivou.
— Você queria começar um relacionamento novo e honesto me
enganando para sair para jantar com você? Quero dizer, o que é isso
senã o me atrair aqui sob falsos pretextos? Eu nã o estou sentindo a
honestidade aqui, Bryce, — ela apontou sarcasticamente. Ele teve a
graça de parecer arrependido.
— Eu nã o disse que seria um há bito fá cil de quebrar, Bron, —
ele disse inquieto, e ela engoliu a risada irreverente que queria
escapar de seus lá bios. Por alguma razã o insondável, ela estava
irritada e estranhamente encantada por sua presunçã o flagrante. Ela
sentiu tantas emoçõ es conflitantes que nã o tinha certeza de como
abordar essa nova chave maluca que ele havia lançado. Parte dela
queria seguir em frente e reconstruir sua vida sem ele nela, uma
parte maior queria saber por que ele tinha uma opiniã o tã o negativa
de si mesmo. Ela queria saber por que ele achava que era um vilã o.
Ela nã o acreditou por um segundo que o homem por quem ela se
apaixonou nunca existiu, mas a perturbou que ele claramente
pensasse isso. Ainda assim, eles nã o podiam continuar andando em
círculos assim. Nã o estava fazendo nenhum bem a nenhum deles.
Bryce, não sei se posso jogar outra rodada com você, ela
sinalizou com tristeza. É tão cansativo.
— Por enquanto, vamos tentar aproveitar nosso jantar, — ele
sugeriu. — Nada mais nada menos. Apenas jantar. Ok?
Ela hesitou por um longo momento antes de assentir com um
pequeno suspiro resignado.
— Ok. Apenas jantar.
 
 
 

O resto da noite nã o foi tã o tenso quanto Bronwyn esperava depois


daquela conversa ultrajante. Bryce a mantinha entretida com suas
histó rias sobre as travessuras diurnas de Kayla. Ele nã o tocou no
assunto polêmico de namoro novamente, mas ficou ali entre eles, o
enorme elefante sentado à mesa com eles.
O vento uivava quando eles deixaram o restaurante algumas
horas depois, e uma combinaçã o de chuva e granizo caía
violentamente sobre Cal, que correu para encontrá -los quando eles
pararam sob o beiral do restaurante. O enorme guarda-chuva preto
que Cal segurava sobre a cabeça estava sendo fustigado pelo vento, e
Bronwyn nã o tinha grandes esperanças de que ele sobrevivesse. Era
meados de junho e o inverno - que estava atrasado - exibia
alegremente seus dentes irregulares. A Cidade do Cabo era famosa
por suas terríveis tempestades de inverno, e esta, que chegara sem
muito aviso, parecia que seria uma das piores. Eles rapidamente
decidiram que pegar Kayla da casa de Rick e Lisa para casa com um
tempo tã o ruim nã o era uma boa ideia, e eles voltaram para o
restaurante por alguns minutos enquanto Bronwyn ligava para Lisa
para perguntar se Kayla poderia dormir lá . A outra mulher
prontamente concordou com a decisã o e colocou a garotinha
sonolenta na linha para desejar boa noite aos pais. Kayla parecia feliz
o suficiente, mas Bronwyn estava naturalmente preocupada, já que
Kayla nunca havia passado uma noite longe de nenhum dos pais
antes. Depois de mais alguns minutos sendo assegurada, Bronwyn
desligou e encontrou o olhar preocupado de Bryce.
— Você está bem? — ele perguntou, e ela assentiu, piscando
para conter as lá grimas. A primeira noite de Kayla longe de seus pais
era um grande acontecimento, e Bronwyn se sentiu mais do que um
pouco emocionada com isso.
— Ela vai ficar bem. — Bryce deu-lhe um abraço constrangido
com um braço só . Bronwyn ficou tocada por seu constrangimento
masculino ao ver as lá grimas dela, e ela deu a ele um sorriso
vacilante enquanto ele a levava de volta para fora. Mais uma vez eles
hesitaram sob o beiral, onde o pobre Cal havia ficado esperando.
Não quero que você volte para casa com este tempo, ele sinalizou
com urgência. Bronwyn olhou para o dilú vio e tendeu a concordar
com ele. Ela definitivamente nã o gostava de dirigir neste aguaceiro.
Os ventos quase fortes nã o ajudaram em nada. Ela mordeu o lá bio
enquanto olhava para os carros estacionados na calçada.
Infelizmente, Bryce dispensou Paul antes mesmo de eles saírem da
livraria, afirmando que ele e Cal garantiriam que Bronwyn chegasse
em casa em segurança.
Cal pode levá-lo. Vou seguir, ele assinalou com autoridade, e ela
balançou a cabeça. Ela nã o gostou nada dessa sugestã o, nã o com
Bryce sendo um motorista inquieto, mas ela sabia que protestar por
esse motivo nã o cairia muito bem com seu orgulho.
— Bronwyn, você pode nã o discutir comigo sobre este assunto,
— disse ele em voz alta. — Eu sei que você nã o quer dirigir com esse
tempo.
Podemos todos ir no seu carro, decidiu ela. Paul pode pegar o
meu pela manhã.
Ele pareceu um pouco atordoado com a decisã o, mas concordou
rapidamente, como se tivesse medo de que ela mudasse de ideia.
Cal - que era proficiente em linguagem de sinais e estava
acompanhando a conversa - parecia aliviado por eles terem se
decidido e os conduzido até o elegante carro de Bryce.
— Você acha que meu carro vai ficar bem aqui? — ela
perguntou a Cal preocupada enquanto ele segurava a porta do carro
aberta para eles.
— Nã o se preocupe com isso, senhora, vou pedir a um dos meus
homens para buscá -lo hoje à noite, — ele assegurou a ela.
— Nã o quero incomodar ninguém, e este tempo está horrível.
— É o nosso trabalho, — disse Cal com um sorriso educado. —
Nó s cuidaremos disso. — Percebendo que ele nã o iria se esquecer o
assunto, Bronwyn abaixou a cabeça e subiu na parte de trá s do carro;
Bryce a seguiu, seu corpanzil ocupando a maior parte do espaço no
banco de trá s. Bronwyn imediatamente se sentiu encurralado, mas
parecia estar ciente de como ela estava desconfortável, entã o ele
ficou do seu lado do carro. Apesar de suas tentativas de nã o a
atrapalhar, Bronwyn ainda estava hiper consciente de sua presença
maior que a vida. Naturalmente, a conversa foi severamente limitada
por causa da falta de luz, e ela tentou nã o se contorcer durante a
curta viagem do restaurante para sua nova casa.
Ela, sem pensar, tentou iniciar uma conversa para aliviar o
constrangimento, mas percebeu imediatamente a futilidade do gesto.
As palavras morreram em sua garganta antes mesmo de se
formarem adequadamente. Isso a deixou brincando com a fivela do
cinto de segurança e, depois de alguns minutos de agitaçã o inquieta,
ela pulou quando a mã o quente dele se fechou sobre seus dedos.
Ele nã o disse nada, apenas levou a mã o dela aos lá bios e deu
um doce beijo em sua palma sensível. Ela prendeu a respiraçã o
enquanto tentava ver o rosto dele na escuridã o, mas nã o conseguia
ver nada além do branco de seus olhos. Ele apertou a mã o dela de
forma tranquilizadora antes de deixá -la cair suavemente em seu
colo.
Quando chegaram à casa dela, Cal pediu que ela abrisse os
portõ es eletrô nicos e deslizou o carro para uma parada suave bem
na porta da frente. Ele saiu correndo para abrir a porta do lado dela,
e quando ela se abaixou sob o guarda-chuva que ele segurava para
ela, ela ouviu a outra porta se abrir e viu que Bryce também havia
saído do carro. Antes que ela pudesse pronunciar uma palavra de
protesto, ele deu a volta no carro e dispensou Cal, pegando o guarda-
chuva do outro homem e levando-a ele mesmo até a porta da frente.
Quando chegaram à varanda iluminada, ela se virou para ele com um
sorriso nervoso.
— Obrigada pelo jantar, — ela disse rapidamente, sem saber o
que mais dizer. Ele continuou a olhar para ela, seu belo rosto e
cabelo molhado da chuva forte. Ele realmente nã o estava recebendo
muita proteçã o do grande guarda-chuva, concentrando sua atençã o
em mantê-la seca.
— Sinto muito se você pensou que eu te enganei esta noite,
Bron, — disse ele depois de alguns longos momentos de silêncio. —
Essa nã o era minha intençã o.
Ela suspirou suavemente.
— Você definitivamente precisa de um pouco mais de prá tica
no departamento de se abrir, — ela admitiu. Ele parecia confuso e
percebendo que nã o a havia entendido direito, ela repetiu a
afirmaçã o - com o melhor de sua habilidade - em linguagem de
sinais. As sombras que espreitavam em seus olhos se dissiparam
com suas palavras, e ela se comoveu com a esperança que floresceu
em seu rosto. Sim, ele tinha feito isso da maneira errada, usando
Kayla como uma plataforma para lançar sua campanha maluca de
reconciliaçã o, mas ela tinha que admitir que estava intrigada. Mais
do que isso, ela nã o podia negar que havia sido profundamente
afetada pela vulnerabilidade e chocante falta de autoconfiança que
ele havia revelado antes. Suas palavras eram difíceis de ignorar e
impossíveis de esquecer.
— Eu acho que sou apenas uma otá ria que gosta de sofrer, —
ela disse em voz alta, e julgando pelo sorriso que iluminou seu rosto,
ele podia ler isso sem nenhum problema. —Eu vou para a festa de
aniversá rio de Pierre no sá bado, e como Alice me disse que você
também estará lá , podemos ir juntos.
— Gostaria disso. — Sua voz estava grossa com uma excitaçã o
mal contida, e Bronwyn achou essa falta de frieza muito doce.
— Podemos acertar os detalhes mais tarde. — Ela sorriu.
— Vou buscar Kayla na casa de Rick e Lisa pela manhã e a trarei
para casa na hora de sempre, — ele disse depois de uma pausa
estranha.
— Isso funciona.
— Excelente.
— Ok...
Eles ficaram ali por um momento interminável, inclinando-se
um para o outro, alheios à tempestade que os cercava. Ela olhou para
a boca dele, sabendo que era tolice dela querer beijá -lo tanto. No
mínimo, era prematuro. Especialmente porque esse relacionamento
incipiente que eles estavam tentando construir do zero ainda nã o
estava pronto para nenhum tipo de intimidade física. Mas Bronwyn
ansiava por isso tã o desesperadamente que quase podia prová -lo em
seus lá bios. A cabeça dele abaixada, a dela inclinada para trá s, e o
mundo desacelerou e... parou. Seus sentidos estavam tã o
incrivelmente aguçados que ela quase podia contar cada gota
individual de chuva que batia em seu rosto e se espalhava em seu
cabelo e em seus longos cílios. Seus lá bios mal roçaram os dela
quando o vento pegou o guarda-chuva e o arrancou de seu afrouxado
aperto, virando-o do avesso no processo. Eles se separaram
abruptamente, ambos confusos e respirando pesadamente. A
realidade abriu caminho entre eles e literalmente despejou uma
carga de choque de á gua gelada em cima de ambos. Bronwyn
estremeceu ao sentir a chuva gelada escorrendo por sua nuca, onde a
gola de seu casaco estava um pouco aberta.
— Você deveria entrar antes que pegue um resfriado, — ele
insistiu, conduzindo-a em direçã o à porta, e ela assentiu entorpecida.
Ela errou o có digo de segurança algumas vezes antes de ele
gentilmente empurrá -la para o lado e fazer isso por ela com as mã os
que tremiam um pouco menos que as dela. Assim que abriu a porta,
ele se virou para ela, pegou seu rosto em suas mã os frias e molhadas
e a beijou sem cerimô nia. Nã o havia sutileza no beijo, apenas paixã o
crua, e Bronwyn ficou se sentindo um pouco tonta e instável quando
ele a soltou segundos depois.
— Boa noite, — ele disse rispidamente, puxando a gola do
casaco encharcado para proteger o pescoço já molhado da chuva e
virando-se para voltar para o carro. Ela parou na porta e observou
enquanto ele gesticulava para Cal permanecer no carro antes de
subir no banco do passageiro e fechar a porta em um movimento
suave. O carro permaneceu parado depois disso, e ela sabia que ele
nã o iria embora até que ela entrasse e fechasse a porta. Ela acenou
para a figura escura na frente do carro antes de recuar e fechar a
porta. Enquanto observava o carro voltar para sua garagem, ela
suspirou e pela primeira vez tentou não pensar nos erros definitivos
que havia cometido esta noite.
Ela realmente era uma tola quando se tratava de seu
relacionamento com Bryce. Ela cometeu os mesmos erros estú pidos
uma e outra vez, mas esta noite ela tinha visto algo nele que nunca
tinha estado lá antes. Ela tinha visto resoluçã o em seus olhos, assim
como uma mistura desconhecida de determinaçã o e vulnerabilidade.
O homem com quem ela havia se casado nunca a teria deixado
vislumbrar essa venerabilidade antes. Isso lhe deu esperança.
 
 
 

— Oi. — Bryce parecia quase tímido quando trouxe Kayla para casa
na noite seguinte. A garotinha se jogou em Bronwyn e elas se
reconciliaram como duas pessoas separadas por meses em vez de
um mero dia, regando-se mutuamente com abraços e beijos
exagerados.
Depois de uma longa e exuberante saudaçã o, Kayla correu para
seu quarto para verificar se seus brinquedos também haviam
sentido falta dela, deixando seus pais se encarando nervosamente.
— Ei. — Bronwyn retribuiu o cumprimento e enfiou as mã os
nos bolsos de trá s da calça jeans enquanto se balançava para a frente
e para trá s sobre os calcanhares. Chovia incessantemente desde a
noite anterior, e Bron olhou para o tempo sombrio por cima do
ombro de Bryce. Ele ainda estava parado na varanda, como era seu
há bito quando deixava Kayla. Ele nunca entrava.
— Está congelando lá fora, — observou Bronwyn
insensatamente. — Você quer uma bebida quente? — Seus olhos
brilharam com o convite e ele assentiu rapidamente. Ele se virou e
sinalizou sua intençã o de ficar para Cal, que estava esperando no
carro. O outro homem acenou com a cabeça e enviou de volta um
sinal de “ok”.
— Você fez muito com este lugar em tã o pouco tempo, — disse
ele, olhando ao redor da cozinha caseira enquanto se sentava na ilha.
Ele observou enquanto ela se movimentava pela grande sala,
preparando um bule de chá . Ela se sentou em frente a ele alguns
minutos depois com o bule de chá entre eles.
Para manter as mã os ocupadas e a ansiedade sob controle, ela
serviu o chá dele, preparando-o automaticamente do jeito que ele
gostava.
— Eu te deixo nervoso? — ele perguntou, e as mã os dela
pararam seus movimentos inquietos enquanto ela considerava sua
pergunta franca. Como é típico de Bryce ir direto ao ponto.
— Nã o, — ela respondeu. — Você nã o, mas a situaçã o sim. Você
nã o sente o mesmo?
Ele tomou um gole de seu chá enquanto considerava a pergunta
dela e colocou sua delicada xícara de chá cuidadosamente de volta
no pires antes de responder.
— Estou apavorado, — ele admitiu com um sorriso
desarmante. — Tenho medo de dizer ou fazer a coisa errada. A noite
passada é um exemplo perfeito de como eu estraguei tudo sem
querer. O sorriso desapareceu e seus olhos escureceram. — Todo o
nosso casamento foi um exemplo de mim estragando tudo sem
querer.
Ela honestamente nã o tinha ideia do que dizer em resposta a
isso e ficou aliviada quando Kayla voltou correndo para a cozinha
com Broccoli agarrada ao peito. Ambos ficaram gratos pela
interrupçã o e focaram sua atençã o na garotinha, que falava a mil por
hora. Depois de alguns minutos se preocupando com a criança,
Bronwyn deu um tapinha no ombro de Bryce para chamar sua
atençã o.
— Você quer ficar para o jantar?
— Eu gostaria muito disso, — disse ele.
— Vou pedir pizza, — ela avisou caso ele estivesse esperando
alguma refeiçã o caseira milagrosa depois que ela passou o dia todo
na faculdade e no trabalho.
— Sem problemas. — Ele sacou o celular. — Vou avisar Cal que
vou ficar um pouco. Ele e Paul podem pedir comida para viagem
também.
Ela assentiu enquanto mandava Kayla para a geladeira pegar o
menu de pizza magnetizado que ela mantinha baixo o suficiente para
a criança alcançar.

— Nã o consigo me lembrar da ú ltima vez que comi pizza, — disse


Bryce, recostando-se no sofá com um gemido satisfeito. — Isso
estava delicioso.
Estavam todos na sala, onde haviam feito um piquenique
improvisado no tapete aquecido. Kayla gostava da novidade de
comer no chã o e constantemente rastejava do colo de sua mã e para o
colo de seu pai, amando a atençã o total de seus pais amorosos. Ela
estava sentada no colo da mã e e Bronwyn podia sentir a cabeça da
criança ficando cada vez mais pesada enquanto ela começava a
cochilar. Estava chegando perto de sua hora de dormir.
— Hora do banho, pequenina, — Bron sussurrou em seu
ouvido.
— Nã o banhu, mamã e, — a criança protestou sonolenta.
— Sim, banho, Kayla.
A garotinha estava suja e com o rosto coberto de manchas de
pizza. A criança se levantou e soltou um longo suspiro de sofrimento
que quase deixou Bronwyn em suturas ao ouvi-lo.
— Papai banhu eu? — ela perguntou, provavelmente sabendo
que seu pai pegaria leve com ela. Bronwyn ergueu uma sobrancelha
questionadora para Bryce, que assentiu, seu olhar terno enquanto
sorria para a garotinha.
— Vamos entã o, — ele convidou, estendendo os braços para
ela. Ela cambaleou para dentro deles e ele a abraçou por um longo
momento, fechando os olhos enquanto inalava seu cheiro de bebê. —
Te amo, querida.
O coraçã o de Bronwyn virou mingau enquanto ela os
observava. Ela se virou e se ocupou limpando os restos do jantar
enquanto lutava para manter o sistema hidrá ulico sob controle. Ela
ficou de costas para eles enquanto Kayla o levava para fora da sala e
para o banheiro no andar de cima. Ela os deixou por cerca de dez
minutos enquanto ela brincava na cozinha, antes de segui-los escada
acima.
Bryce já estava enxugando a tagarela Kayla quando Bronwyn se
juntou a eles. Ele sorriu para ela quando ela entrou em seu campo de
visã o; o olhar em seu rosto era tã o caloroso e sem afetaçã o que
Bronwyn nã o pô de deixar de sorrir de volta.
— Foi um banho rá pido, — ela disse baixinho, e ele deu de
ombros.
— Eu usei o chuveiro de mã o, — ele murmurou. — Ela já está
dormindo de pé. Achei que usar uma mangueira seria mais eficiente
neste caso.
Ele pegou Kayla e a carregou para seu quarto feminino.
— Ela teve um dia agitado, — explicou ele, arrastando uma
linda camisola rosa sobre a cabeça de Kayla. Havia uma qualidade
nervosa em seu fluxo constante de tagarelice que Bronwyn achava
cativante. — Fomos ao Museu Sul-Africano esta manhã . Ela se
divertiu muito, adorou as exibiçõ es de animais e pá ssaros. Eu tive
que parar no escritó rio depois disso, entã o ela saiu com seus amigos
da creche por algumas horas antes do almoço. Você se divertiu com
seus amigos, nã o foi, Kayla? — Ela assentiu sonolenta, e ele sorriu
enquanto a levantava na cama e a aconchegava.
Eles passaram alguns minutos lendo as histó rias de ninar
favoritas da menina em conjunto, o que acabou sendo uma
experiência divertida e ú nica para os três. Na verdade, Bronwyn e
Bryce estavam gostando tanto da experiência que nã o perceberam
que Kayla havia adormecido. Foi Bryce quem primeiro percebeu que
Kayla estava dormindo, e ele silenciou Bronwyn, que estava
realmente entrando em sua impressã o de Mamã e Ganso. Eles saíram
do quarto da criança e pararam na porta para observá -la dormindo
por alguns minutos.
— Pelo menos consegui acertar alguma coisa, hein? — Bryce
disse, sua voz cheia de orgulho, e Bronwyn inclinou a cabeça para
trá s para encontrar seus olhos.
Você acertou muito, Bryce, ela sinalizou, e ele fez uma careta -
seus olhos opacos de descrença - antes de se virar e voltar para
baixo. Ela o seguiu, seu olhar fixo no conjunto tenso de seus ombros
largos.
— Acho que vou indo, — disse ele uma vez que ela se juntou a
ele ao pé da escada.
— Nã o, —, ela balançou a cabeça. — Temos que ter uma
conversa ininterrupta, Bryce. Estou aberta à ideia de um novo
começo porque ainda te amo. Eu nunca deixei de te amar, mesmo
quando você estava sendo um idiota total. Só nã o achei que a
situaçã o fosse saudável para nó s ou para Kayla. Senti que nosso
casamento estava condenado porque nã o conseguia nos ver
crescendo como casal ou como família quando ainda tínhamos
tantos problemas nã o resolvidos entre nó s. Você quer outra chance?
Entã o vamos fazer isso corretamente. Sem mais segredos.
 
CAPÍTULO DEZESSEIS

Bryce observou suas costas esguias enquanto ela liderava o


caminho de volta para a sala de estar e engoliu nervosamente. Isso
era o que ele temia praticamente desde o momento em que a
conheceu. Ele fez o possível para evitar essa “conversa” e destruiu
seu casamento no processo. Era hora de dar um salto de fé e
acreditar que se ela ainda o amasse apesar de sua crueldade
passada, ela poderia amá -lo o suficiente para ignorar até mesmo sua
covardia inerente. Depois de tudo que ele a fez passar, ela mais do
que merecia a verdade. Ele só esperava ser forte o suficiente para
enfrentar as consequê ncias se ela nã o quisesse nada com ele depois.
Ela parou de andar e ele estava tã o envolvido em sua ansiedade
que se chocou contra ela. Ambos perderam o equilíbrio e as mã os
dele rodearam os braços dela para estabilizá -la. Por alguns
momentos sem fô lego, ele tinha seu corpo flexível colado contra o
dele, de costas para ele, e seu corpo respondeu com previsibilidade
embaraçosa. Ele a soltou quase imediatamente e colocou uma
distâ ncia decente entre eles, esperando que ela nã o o tivesse sentido
endurecer contra a curva de seu traseiro firme.
Foco, Bryce! ele estalou para si mesmo, puxando uma respiraçã o
trêmula. Ele passou por ela e foi direto para o sofá . Ele se abaixou e
dobrou um tornozelo sobre o joelho em uma tentativa
desconfortável de esconder sua ereçã o dela. A maldita coisa nã o
tinha senso de ocasiã o e nem mesmo a seriedade da situaçã o estava
fazendo muito para conter as coisas.
Bronwyn se sentou em uma cadeira em frente a ele e o encarou
sem sorrir por alguns longos segundos. Aquele olhar foi mais do que
suficiente para trazer seu corpo de volta ao controle. Ele nã o tinha
certeza de como eles deveriam começar essa conversa e esperou
para ouvir as dicas dela. Quando ela continuou apenas olhando para
ele, ele começou a se sentir desconfortável e se mexeu inquieto em
seu assento. Quando ela aperfeiçoou aquele maldito olhar gelado
penetrante? Nã o fazia parte de seu repertó rio de “esposa irada” no
passado.
— Bem, — disse ele desconfortavelmente. Ele estava
acostumado ao silêncio, mas se viu querendo preencher esse vazio
particular de conversa com palavras fú teis, esperando que isso
provocasse algum tipo de resposta dela. — Nó s vamos...
Ela nã o disse nada, seu rosto geralmente expressivo
completamente desprovido de emoçã o. Ela nã o ia tornar isso fá cil
para ele... e realmente, por que ela deveria? Ele uma vez disse a ela
que nã o poderia consertar o dano que havia causado - mas,
honestamente, ele nem tentou. Ele podia ver isso agora. Ele nã o
tentou porque nã o sentiu que merecia tentar. Bem, ele estava farto
de ser aleijado pelo medo. Ele poderia consertar - ele consertaria. Ele
só tinha que dar o salto maldito.
 
 
 

— Quando nos conhecemos... — Ele quebrou o silêncio e Bronwyn


soltou um som de alívio no fundo da garganta. Ela estava grata por
ele ter terminado o silêncio interminável, embora ela realmente nã o
esperasse que ele começasse a conversa sem algum tipo de aviso
dela. — Você era a coisa mais encantadora que eu já tinha visto. Você
obviamente nã o estava lidando com aquele trabalho, parecia
incomodada e ficou tã o horrorizada quando Pierre e eu nos
sentamos em uma de suas mesas.
— Você nã o deveria ter notado isso, — ela interveio secamente
e entã o quase se chutou por interrompê-lo. Ele riu baixinho em
resposta à s palavras dela.
— Eu notei tudo muito bem, — ele disse com um sorrisinho
reminiscente. — Seus lindos olhos nã o sã o muito bons em esconder
suas emoçõ es, querida. Você era tã o fascinante. Possivelmente a pior
garçonete que já tive. — Ela mordeu a língua com isso, mas seu
sorriso se alargou com o olhar em seu rosto. — Viu? Você nã o gostou
disso. Seus olhos nã o mentem. Pierre nã o conseguia entender meu
fascínio, e eu, por minha vez, nã o conseguia entender como ele nã o
via a criatura mais fascinante do mundo. Como eu disse antes, eu
simplesmente nã o conseguia ficar longe de você. Continuei voltando
e, quanto mais tempo passava com você, mais tempo queria passar
com você. A principal razã o pela qual eu propus - ao contrá rio de
algumas das coisas cruéis que eu disse sobre isso - foi porque eu nã o
conseguia imaginar minha vida sem você ao meu lado. Você me
amou. Você me disse tantas vezes e eu queria desesperadamente
dizer de volta, mas nã o podia. Eu estava tã o feliz com você, mas nã o
achava que sabia amar. Eu queria que você me ensinasse. Eu queria
que você me tornasse uma pessoa melhor.
— Eu nã o entendo, — ela balançou a cabeça.
— Eu sei, me desculpe. Nã o estou fazendo um bom trabalho
nisso. — Ele limpou a garganta. — Você se lembra da conversa que
tivemos naquela noite depois que voltamos do aquá rio? — Ela
assentiu e o observou engolir dolorosamente antes de jogar os
ombros para trá s como alguém se preparando para a batalha. Ele
parecia incapaz de encontrar seus olhos e manteve seu olhar fixo na
parede atrá s dela.
— Você me perguntou qual era a minha primeira memó ria, —
ele disse estupidamente. — O que eu disse a você, sobre meu pai,
quando ele quebrou meu braço, o que ele fez nã o foi um acidente.
Nã o foi a primeira vez que ele me machucou, apenas a primeira vez
que me lembrei disso. E certamente me lembro de todas as malditas
vezes que isso aconteceu depois disso.
— Ah meu Deus...
Ele nã o viu as palavras dela. Ele ainda nã o olhava para ela
enquanto continuava a falar com uma voz aterrorizante e morta. Ela
inconscientemente levou as duas mã os à boca em estado de choque.
Uma parte dela esperava ouvir algo assim, mas agora que ele estava
dizendo as palavras, ela nã o conseguia acreditar.
— Depois que Richard nasceu, — ele nunca chamou seu irmã o
de Richard, mas por algum motivo a formalidade combinava com a
gravidade da conversa, e Bronwyn nã o questionou. — Eu tive que
fazer tudo ao meu alcance para desviar o temperamento do velho e
seus golpes em mim. Ele nunca encostou um dedo imundo no meu
irmã ozinho. Eu nã o iria deixá -lo. Tentei garantir que Rick nã o fosse
afetado por toda aquela bagunça só rdida. Se o bastardo mesquinho
tivesse vivido mais, eu poderia nã o ter sido capaz de proteger Rick
tanto, mas eu tinha treze anos quando ele morreu. Rick tinha dez
anos e ainda era jovem o suficiente para lamentar genuinamente
nosso pai. Nossa mã e era apenas uma casca retraída de uma mulher
que morreu alguns meses antes do meu aniversá rio de dezoito anos.
Ela morreu poucos meses depois de ser diagnosticada com câ ncer de
ová rio. Ela nem tentou lutar contra isso. Era como se ela tivesse
acabado de desistir da vida. De qualquer maneira, ela tinha
congelado mental e emocionalmente depois do acidente do meu pai.
Fui eu quem criou Rick, cuidei dele e me certifiquei de que ele fosse
alimentado e vestido adequadamente.
— Mas eu pensei que sua família fosse rica, — ela murmurou
atordoada, mas como ele ainda parecia incapaz de encontrar seus
olhos, ele nã o viu suas palavras e ela acenou um pouco para chamar
sua atençã o antes de sinaliza-las.
— O dinheiro nã o impede que um abusador seja abusivo. Minha
mã e poderia ter conseguido os meios para nos levar e ir embora,
mas ela nã o era emocionalmente forte o suficiente para tomar essa
decisã o. Ele a tinha completamente intimidada, e à s vezes eu odeio a
memó ria dela ainda mais do que a dele. Ela permitiu que ele me
machucasse, machucasse ela, e se eu nã o estivesse lá para impedir,
ela teria permitido que ele machucasse Rick também, e eu nã o posso
perdoar isso. — Ele estremeceu com o pensamento, e seus olhos
voltaram para a parede. — Nó s éramos a família perfeita dele. Ele
nos espancava até a submissã o, mas sempre encontrava mais
motivos para bater em mim e em minha mã e.
— Mas, como eu disse, ele nunca colocou os punhos sujos no
meu irmã o. — Suas palavras eram ferozes e trêmulas com orgulho
ultrajado. — Eu era um garoto muito grande e a ú nica vez que o
confrontei foi pouco antes de ele morrer. Ele foi atrá s de Rick, mas eu
o enfrentei, peito a peito, e ele recuou. — Bronwyn podia imaginá -lo,
um menino assustado protegendo seu irmã o mais novo enfrentando
bravamente um homem monstruoso, e ela teve que fechar as mã os
em pequenos punhos para nã o gritar com as imagens comoventes
que estavam se formando em sua cabeça.
— Ele me bateu apenas mais uma vez depois disso e entã o
morreu, em um estranho acidente de iate. Deus, eu o odiava e esse
ó dio infeccionou em mim. As surras que levei, as agressõ es verbais
que ele lançava sobre mim, tudo isso ficou comigo e me distorceu
por dentro. Minha mã e era lamentável, nã o conseguia nos amar e
tinha pavor da pró pria sombra. Rick, eu era seu irmã o mais velho, ele
tinha o dever de me amar. Ninguém nunca simplesmente me amou...
até você. Mas eu nã o tinha fé no seu amor. Eu acreditava que você
nã o sentiria o mesmo por mim se soubesse como eu deixei ele me
bater e descobrisse o quã o covarde eu era. Como você poderia me
respeitar depois de entender como eu rastejei para fugir dele? Como
eu implorei e implorei a ele para nã o me machucar, como eu me
mijei de medo e dor - mais de uma vez... — Sua voz falhou nessas
ú ltimas palavras, e ela observou seu rosto se contorcer enquanto ele
lutava para controlar suas emoçõ es.
Ela era uma causa perdida. Seu rosto estava cheio de lá grimas, e
ela estendeu a mã o para ele, mas ele se encolheu e se levantou para
caminhar até a janela. Ele nã o queria que ela o tocasse, e ela chorou
pela criança solitá ria e magoada que ele fora e pelo homem
emocionalmente distante e psicologicamente marcado que ele se
tornara. Ele estava compartilhando o que sentia serem seus segredos
mais vergonhosos, e partiu o coraçã o dela que ele pensasse que essa
era sua vergonha e nã o a desculpa patética de um homem que o
havia gerado.
— Eu nunca senti que merecia você, — ele disse, mantendo
suas costas rígidas para ela. — Mas como eu disse antes, eu
simplesmente nã o conseguia ficar longe de você depois daquele
primeiro encontro. Continuei fazendo e quebrando promessas
comigo mesmo só para passar um tempo com você. Quando propus a
você, pensei que poderia administrar o relacionamento; que eu
pudesse manter seu amor por mim mesmo sem macular você, sem
machucá -la. Deus, que trabalho miserável eu fiz disso. — Ele
começou a andar em frente à janela, andando de um lado para o
outro como um leã o inquieto e enfiando as mã os nos bolsos das
calças de alfaiataria.
— Na noite em que você me disse que estava grávida... — Ele
parou de se mover e fez uma careta como se a lembrança doesse
tanto para ele quanto para ela. Ele se permitiu um olhar rá pido e
assombrado para ela antes de se virar novamente. — Fui ao fundo do
poço, Bron. Eu entrei em pâ nico. Eu nã o poderia ser pai, nã o com a
minha histó ria. E se eu batesse no nosso bebê, e se eu começar a
bater em você? Minha mã e sempre me disse que meu pai nunca
tocou nela até eu nascer. Ela nunca disse isso e tantas palavras, mas
me fez sentir como o catalisador de toda aquela violência! E se eu
fosse o mesmo? E se o nascimento do nosso bebê desencadeasse a
mesma reaçã o em mim? E se eu te machucasse? Eu n-nã o aguentei
esse pensamento, Bron. Mas acabei te machucando mesmo assim,
nã o foi? Eu te machuquei com minhas acusaçõ es selvagens e as
coisas irracionais e estú pidas que eu disse. Palavras podem ser ainda
mais dolorosas do que punhos, eu sabia disso, mas ainda nã o
conseguia me conter! Eu nem acreditava nas merdas que eu estava
dizendo. E eu honestamente pensei que você acabaria me odiando
por ter te engravidado no meio de seus estudos, que você ficaria
ressentida comigo. — Ele balançou a cabeça e se sentou em frente a
ela novamente.
— Isso vai soar como uma desculpa esfarrapada e estú pida,
mas naquela noite, quando eu disse para você ir embora, eu queria
me dar tempo para pensar e respirar. Nunca quis que você saísse de
casa, Bron, só do quarto. Eu me acalmei quase imediatamente e
percebi o quã o idiota eu estava sendo. Eu nã o sabia que tipo de pai
eu seria, mas imaginei que com você ao meu lado eu poderia ficar
bem. Cuidei de Rick praticamente desde o momento em que ele
nasceu, sem machucá -lo nem uma vez, e a ideia de levantar a mã o
para você é tã o repugnante que me deixa enojado. Parei de pensar
em nó s como um casal e comecei a imaginar como seria uma família.
O pensamento de alguém, especialmente eu, machucar você ou Kayla
é insuportável, mas como eu sabia que algo nã o iria me irritar algum
dia? Como você pode confiar em mim perto dela, sabendo o que você
sabe sobre mim agora?
Bronwyn tinha as mã os pressionadas sobre a boca novamente
enquanto tentava abafar os soluços, mas era totalmente incapaz de
impedir que as lá grimas escorressem por seu rosto. Ela estava uma
bagunça. Ela queria ir até ele, mas sabia que ele nã o permitiria, nã o
até depois de ter dito sua opiniã o. Sim, a ferida emocional havia sido
perfurada, mas o pus que estava apodrecendo sob a superfície por
tanto tempo teve que drenar antes que o processo de cura pudesse
começar.
— Eu acabei de decidir contar tudo a você, — ele continuou da
mesma maneira divagante e desorganizada que caracterizou todo o
seu monó logo até agora. Ele estava saltando entre o passado e o
presente, apenas declarando seus pensamentos conforme eles
surgiam em sua cabeça. — Ouvi seu carro dar a partida e entrei em
pâ nico, tinha tanta certeza de que você iria se machucar. Eu
imediatamente persegui e tive meu acidente. Pensando que vi você
lá , acho que foi a ú nica maneira de lidar com o fato de ter afastado
você. Acho que meu subconsciente tinha que ter você me traindo,
porque me deu uma desculpa para dizer a mim mesmo que te
odiava. Eu precisava dessa desculpa porque saber que eu era o
culpado tanto por sua partida quanto por minha surdez teria me
deixado ainda mais longe do fundo do poço.
— Mas eu nunca parei de procurar por você, Bron, e nã o era
apenas para encontrar o bebê. Acho que parte de mim sempre soube
que você nunca teria feito o que eu a acusei de fazer, entã o tive que
encontrá -la para ter certeza de que ambos estavam bem. Eu estava
tã o envergonhada do meu comportamento que até escondi a notícia
de sua gravidez de Rick e Pierre. O que eu fiz foi completamente
indesculpável, e tanto Pierre quanto Rick nã o teriam escrú pulos em
me deixar saber disso. — Ele ergueu os olhos para ela e estremeceu
quando viu suas lá grimas. Sua mandíbula se apertou e suas mã os se
fecharam em punhos antes que ele se abaixasse do sofá para se
ajoelhar diretamente na frente de sua cadeira. Ele colocou as mã os
nos apoios de braço, efetivamente prendendo-a, mas ela nã o se
sentiu presa. Longe disso. Ela sentiu . . . liberado.
— Fui um tolo, Bronwyn. — Sua voz havia baixado e ela nã o
tinha certeza se ele sabia que estava falando pouco acima de um
sussurro. Ela teve que se esforçar para ouvi-lo. — Eu sou um homem
destroçado e trouxe você para este inferno comigo e arruinei sua
vida no processo.
— Você nã o arruinou minha vida, — ela protestou, mas ele
balançou a cabeça em sua negaçã o, nã o acreditando nela.
— Parece loucura dizer que te amei demais e que meu amor
nos destruiu, mas sinto que foi isso que aconteceu. Eu sou tóxico. Eu
sempre soube disso e até mesmo considerar um recomeço com
você... — Ele riu amargamente. — Eu sou um idiota egoísta.
— Você me ama? — ela perguntou baixinho, e ele piscou com a
pergunta.
— O que? — ele perguntou inexpressivamente.
— Bem, você acabou de dizer que me ama “demais”. — Ela
revirou os olhos. — Como se isso fosse uma coisa tã o ruim. Mas você
usou o tempo passado. Entã o você ainda me ama?
— Essa é uma pergunta estú pida, — ele rosnou.
— É uma pergunta vá lida, — ela dispensou.
— Claro que te amo, — ele quase gritou. — Nã o é uma questã o
de eu nã o amar você...
— Eu discordo, — ela interrompeu, acenando com as mã os
para ele. — É uma questã o de você nã o me amar. Você nunca disse
que me amava. Nem uma vez.
— Ok, quando nos casamos, honestamente, eu nem sabia que te
amava. Eu te disse, nunca tive ninguém me amando sem motivo
antes. Eu nã o sabia o que era o amor! — A voz dele aumentou nas
ú ltimas três palavras, mas ela apenas ergueu as sobrancelhas para
ele.
— Você sabe o que é agora?
— Sim, — ele sussurrou. — Sim eu sei.
— Bem?
— Sã o... É ... — Ele se debateu por alguns momentos antes de
inalar profundamente. — É tudo isso, nã o é? Sã o os jantares
tranquilos em que nã o se fala muito. Sã o os dias de sol na praia. É
ouvir sua risada na minha cabeça quando vejo Kayla rindo. É ver o
amor em seus olhos ao ver nosso bebê dormir. É ver o sol nascer em
seu sorriso e se pô r em suas lá grimas. É o contentamento em te ver
comendo e dormindo e estudando e se divertindo. Sã o as pequenas
coisas do dia-a-dia, como nunca se cansar de ver você colocar aquela
mecha teimosa de cabelo atrá s da orelha vinte vezes por dia, e sã o as
grandes coisas que mudam a vida, como ver seu sorriso e meus olhos
no rosto de nossa linda garotinha. É saber que mesmo que você se
afaste de mim para sempre, eu sempre serei o melhor por ter você
na minha vida.
Ela se inclinou para frente e olhou profundamente em seus
olhos azuis graves por um momento interminável antes de estender
a mã o para segurar sua mandíbula forte e barba por fazer. Ele havia
depositado sua bela e ferida alma sob sua guarda, e ela a protegeria
ferozmente.
— Aí está você, — ela sussurrou maravilhada enquanto os
cantos de seus lá bios se inclinavam para cima em um pequeno
sorriso. Ela formou suas palavras tã o claramente quanto pô de, nã o
querendo que ele a entendesse mal. — Eu estive procurando por
você. — Suas sobrancelhas severas baixaram em confusã o, e ela se
inclinou para pressionar um beijo suave como pluma em seus lá bios
sensuais antes de recuar para que ele pudesse ver seu rosto
novamente.
— Aí está o homem com quem me casei.
Seus olhos se arregalaram quando suas palavras foram
registradas. Ele engoliu e depois engoliu novamente, seu pomo de
Adã o balançando com o movimento. Ela o observou valentemente
tentar se controlar, permanecer forte como sempre, mas seu olhar
firme parecia desvendá -lo completamente. Seus ombros se ergueram
quando ele respirou convulsivamente, e o som que saiu de seu peito
quando ele exalou novamente foi um soluço inconfundível.
— Está tudo bem, — ela disse, acariciando o lado de seu rosto
com uma mã o, e foi aquele toque gentil que o desfez completamente.
Seu rosto se enrugou, seus olhos se encheram de lá grimas e ele
finalmente, finalmente, abandonou todas as defesas que havia
construído ao longo dos anos e se permitiu chorar. Ele tentou se
virar. Mesmo depois de tudo o que acabara de revelar, seu primeiro
instinto foi enfrentar sozinho essa tempestade de emoçõ es; mas
Bronwyn nã o permitiu.
Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e segurou firme.
A cabeça dele caiu em seu colo e ela se dobrou sobre ele para que ela
estivesse enrolada em torno dele. Ela cantava os mesmos pequenos
sons suaves que usava quando Kayla chorava, esperando que ele
pudesse sentir as leves vibraçõ es vindas de seu peito e garganta. Seu
choro era cru, violento e angustiante. Suas pró prias lá grimas quase a
cegaram, mas ela estava determinada a ser forte por ele e se recusou
a permitir que elas a dominassem. Este momento foi para este belo
homem que estava com muito medo de se permitir ser feliz.
— Está tudo bem, — ela sussurrou em seu cabelo. — Está tudo
bem, Bryce. — As palavras eram ridiculamente inadequadas, é claro.
Estava muito longe de tudo bem, mas ela ainda estava processando a
terrível verdade e tentando descobrir como lidar com tudo o que ele
havia revelado. Ele estava muito, muito danificado, mas suas
revelaçõ es apenas deram a seu amor profundo e duradouro por ele
uma vantagem agudamente protetora. Ela seria amaldiçoada se
permitisse que ele passasse mais um segundo pensando que nã o
merecia seu amor. Ela agora entendia que os erros que ele havia
cometido foram suas tentativas distorcidas e equivocadas de
protegê-la do monstro que ele acreditava ser. A constataçã o foi de
cortar o coraçã o, e suas lá grimas abrasadoras deslizaram
silenciosamente por seu rosto e em seu cabelo macio.
Parecia que horas mais tarde, quando seus soluços pararam
com um estremecimento. Por um momento, ele simplesmente se
permitiu descansar em seus braços, antes que ela sentisse a tensã o
voltar ao seu grande corpo, e ele se levantou de seu abraço amoroso
e se moveu para ficar ao lado da janela novamente. Ele manteve os
olhos desviados enquanto puxava conscientemente sua camisa, que
estava amassada além do reparo. Ela observou quando seu rosto
devastado se fechou e balançou a cabeça com um suspiro antes de se
levantar e se colocar bem na frente dele, nã o lhe dando outra opçã o a
nã o ser olhar nos olhos dela.
Ela pesou cuidadosamente todas as suas possíveis respostas a
suas revelaçõ es atormentadas e sabia que só havia uma maneira de
jogar isso sem pisotear todo o seu frá gil orgulho masculino.
— Você é um idiota, — ela disse baixinho, e ele piscou em
confusã o.
— Eu nã o...
— Como você pode pensar que é capaz de machucar Kayla ou a
mim? — ela perguntou, revirando os olhos para transmitir
exasperaçã o. — Tivemos grandes discussõ es no passado e nunca me
senti remotamente ameaçada por você.
— Bronwyn, eu sempre saía no meio de nossas discussõ es,
lembra? Isso costumava deixá -la louca, mas toda vez que eu sentia
que estava ficando com muita raiva, eu controlava meu
temperamento e ia embora porque estava com tanto medo de
machucá -la fisicamente.
— Bryce, qual é a maior raiva que você já teve comigo? — ela
perguntou gentilmente, e ele deu de ombros, impotente.
— Quando você me disse que estava grávida? — Sua declaraçã o
saiu em forma de pergunta, como se ele nã o tivesse certeza de sua
resposta.
— Nã o, você nã o estava com raiva ali, — ela negou. — Você
estava com medo de se permitir ter esperança e atacou por causa
desse medo. Eu sei disso agora. Estou falando de raiva real. Do tipo
que faz você sentir que sua cabeça vai explodir.
— Nã o sei. — Ele parecia confuso. — Acho que nunca me
permiti ficar muito zangado com você, — ele admitiu, e ela bufou,
mostrando seu desdém com um movimento de desdém de seu pulso.
— Por favor, eu me lembro de vá rios incidentes de cabeça.
Como na vez em que disse a Rick que você gostava de fazer as unhas
de vez em quando comigo. Você estava tã o furioso que estava
praticamente respirando vapor.
— Ok, eu estava chateado, — ele admitiu desconfortavelmente,
parecendo um pouco incerto. — Com razã o, já que Rick nunca me
deixou me paz depois disso. Ele ainda faz o estranho comentá rio
sarcá stico sobre isso. Mas isso é coisa insignificante. Eu dificilmente
machucaria você por algo tã o trivial.
— Ah? Entã o seu pai nunca batia em você por coisas triviais?
Como uma criança de três anos acidentalmente deixando cair um
reló gio em um vaso sanitá rio?
— Era um reló gio de ouro, — ele murmurou.
Era um relógio! ela assinou ferozmente. — Ouro, diamantes, o
que for. Quebrar o braço de uma criança de três anos por causa disso
nã o é uma reaçã o normal. E se Kayla fizesse a mesma coisa? Você
bateria nela? Quebraria o braço dela? — Ele empalideceu com a
pergunta e balançou a cabeça em rejeiçã o inconsciente.
— Nã o, você nã o faria isso, — ela respondeu por ele. — Claro
que não.
— Eu nã o...
— E quando estávamos em lua de mel e eu dancei com Sasha
Tisdale? Você quase ficou roxo de ciú mes.
— Você ainda se lembra do nome daquele idiota? — ele
perguntou incrédulo. O mesmo ciú me brilhou em seus olhos
novamente, e ela sorriu irreverentemente.
— Bem, ele era muito, muito bonito, — ela lembrou, e ele olhou
com raiva, começando a parecer menos chocado e mais parecido
com o homem arrogante que ela conhecia e amava além de qualquer
razã o.
— Sério? Você acha que esse segundo “muito” é realmente
necessá rio?
— Só deixei de lado o terceiro em deferência ao seu ego frá gil,
— brincou ela. — Bryce, você foi além de irracional sobre aquela
dança. Você era ciumento e possessivo, mas nem de longe violento.
Agora, nã o sou especialista, mas pelo que li sobre cô njuges abusivos,
eles mal precisam de uma desculpa para desencadear a violência.
Mesmo quando você era emocionalmente doloroso - mesmo assim -
você estava se punindo mais do que a mim. — Ela mudou para a
linguagem de sinais. Não é da sua natureza ser violento.
Como você sabe disso? Como você pode ter certeza? ele
perguntou, seus olhos estavam cheios de incerteza angustiada, e ela
segurou seu queixo antes de ficar na ponta dos pés para dar um beijo
em sua boca linda.
— Porque mesmo na sua forma mais irracional, quando pensei
que você estava me expulsando de casa e depois da minha volta,
quando você parecia me odiar tanto... Eu nunca tive medo de você.
Nem uma vez, Bryce.
— Sinto muito, — ele sussurrou, fechando os olhos e abaixando
a cabeça. — Eu sinto muito. Eu sinto muito. Eu sin...
Ela parou suas palavras com um beijo suave, e seus olhos se
abriram e encontraram os dela. Ela terminou o beijo com um sorriso.
— Eu sei quem você é, — ela reconheceu. — Eu te perdoo,
Bryce, e eu te amo muito.
— Você me ama?
Ela assentiu.
— Claro que eu amo. Nã o creio que nossos problemas tenham
sido milagrosamente resolvidos de forma alguma. Acho que temos
um caminho longo e difícil pela frente, na verdade. Mas acho que
finalmente podemos seguir em frente.
— Eu voltei para a terapia, — ele admitiu suavemente. — Tem
sido... ú til.
— Espero que possamos ir juntos algum dia, — disse ela, e ele
assentiu.
— Gostaria disso. — Ele olhou para ela com algo parecido com
admiraçã o em seus olhos antes de balançar a cabeça em descrença.
— Como diabos eu tive tanta sorte?
— Eu também tive sorte, você sabe, — ela apontou, e passou os
braços em volta da cintura dele. — Ontem à noite eu disse que me
apaixonei por um homem que nã o é um super-heró i. Mas você sabe o
que? Você é meu heró i, Bryce.
— Como você pode dizer isso depois de tudo que aconteceu e
tudo que você ouviu esta noite?
— Bryce, se alguma coisa, esta noite me ensinou que você é o
tipo de homem que se colocaria diretamente entre sua família e
qualquer ameaça. Claro que você é um heró i. Meu, de Kayla, de Rick...
nunca duvide disso.
Bryce olhou para o rosto devastado pelas lá grimas dessa
mulher que significava o mundo para ele e viu a sinceridade
brilhando nele. Estava em seus olhos e em seu sorriso, e o alívio que
percorreu seu corpo quase dobrou seus joelhos. Pela primeira vez
em mais tempo do que ele conseguia se lembrar, ele realmente
sentiu que tudo ia dar certo. Que de alguma forma, contra todas as
probabilidades, ele conseguiria se redimir e reconquistar sua esposa.
O pâ nico e o medo com os quais ele vivia há mais de dois anos - nã o,
até mais do que isso - desde que se casaram, estavam se dissipando e
ele se sentia anos mais jovem. Ele capturou sua boca com a sua e a
beijou com um desespero que beirava o obsessivo. Quando ele
finalmente se sentiu capaz de deixá -la ir, ambos estavam corados e
sem fô lego.
— Eu vou me casar com você algum dia, Bronwyn Kirkland
Palmer, — ele disse a ela com um sorriso arrogante, e ela lambeu os
lá bios atordoada.
— Você tem uma linha do tempo na data do casamento, Sr.
Palmer? — ela perguntou docemente.
— Ei, nã o me apresse, senhora. Acabamos de começar a
namorar. Eu tenho grandes planos para este namoro, você sabe.
— Ah? Que tipo de planos? — ela perguntou, curiosa,
esfregando seu corpo sensualmente contra o dele. Ele sorriu
gentilmente antes de segurar seu rosto e inclinar sua cabeça para
trá s para outro de seus beijos entorpecentes.
— Você vai ter que esperar para ver, — ele murmurou, sua voz
viva com promessa.
 
CAPÍTULO DEZESSETE

DOIS MESES DEPOIS...

— Eu nã o volto aqui desde antes do acidente, — disse Bryce a


Bronwyn quando eles entraram em sua bela casa de fé rias em
Knysna. Eles chegaram depois do anoitecer e, portanto, perderam as
espetaculares vistas panorâ micas da linda lagoa e Knysna Heads.
Ainda assim, a serenidade do lugar se refletia nos sons dos insetos
noturnos e no sussurro das ondas suaves batendo na praia. Bronwyn
estava cheia de emoçõ es confusas ao entrar no enorme vestíbulo de
pedra. A ú ltima vez que ela esteve aqui nã o foi um momento feliz
para ela, e enquanto ela olhava ao redor da casa lindamente
decorada, tudo o que ela podia ver era seu antigo eu vagando
desconsoladamente de cô modo em cô modo como um pequeno
fantasma solitá rio enquanto a esperança se desvanecia. desespero a
cada minuto que passa.
A empregada doméstica já havia chegado antes de sua chegada,
pois o local foi limpo recentemente e a geladeira reabastecida para o
fim de semana deles aqui. Ele nã o disse a ela que era para lá que a
estava levando, mas ela reconheceu facilmente a inconfundível
Garden Route e soube por horas para onde eles estavam indo. A
viagem se tornou cada vez mais tensa a cada quilô metro que o carro
consumia, e a ú ltima hora foi silenciosa sem Kayla por perto para
quebrar o silêncio. Eles pediram a Rick e Lisa para levar a garotinha
por este fim de semana que Bryce havia planejado com tanto
cuidado por semanas.
Bronwyn entrou na sala e ele a seguiu, deixando as malas no
corredor. Ela foi até a janela do chã o ao teto que dava para a
tranquila lagoa. Por causa da escuridã o lá fora, ela nã o conseguia ver
nada além de seu pró prio reflexo perturbado olhando para ela, e ela
rastreou os movimentos de Bryce quando ele veio para ficar atrá s
dela. Ele colocou as mã os em seus ombros esguios e puxou-a para
trá s até que ela estivesse encostada em seu peito. Ela foi de bom
grado em seu abraço solto, inclinando a cabeça para trá s até que
descansou logo abaixo de seu ombro. Seus braços fortes dobrados
em torno de sua cintura estreita, suas mã os descansando contra seu
abdô men, e sua mandíbula levemente barbada aninhou-se no canto
logo abaixo de sua orelha. Ela podia sentir seu há lito suave e quente
lavando contra a pele sensível de sua orelha enquanto ele exalava
profundamente.
— Eu sei que este lugar guarda algumas lembranças muito
infelizes para você, — ele murmurou, seus lá bios roçando o ló bulo
da orelha dela enquanto falava. — Quero substituir essas memó rias
por outras mais doces.
Ela baixou as mã os e entrelaçou os dedos com os dele.
— Você vai me dar a chance de fazer isso por você, Bron? — ele
perguntou em voz baixa, e ela piscou para afastar as lá grimas antes
de assentir. Ela observou seu reflexo no vidro e viu o alívio nu em seu
rosto com sua resposta.
— Obrigado, — ele disse antes de chupar seu delicado ló bulo
em sua boca. Ela arrastou uma respiraçã o á spera com a sensaçã o.
Suas mã os se moveram para a curva de sua cintura, e ele a virou
antes que ela entendesse completamente qual era sua intençã o. Ela
tinha as mã os apoiadas contra seu peito largo e podia sentir a batida
acelerada de seu coraçã o enquanto ele olhava em seus olhos. Ele
passou os braços em volta da cintura dela e agora suas mã os
estavam descansando logo acima da curva de seu traseiro.
— Faz anos desde que eu te beijei pela ú ltima vez, — ele
observou com urgência, seus olhos caindo para os lá bios dela e
dilatando quando ela sugou o lá bio inferior cheio em sua boca para
umedecê-lo.
— Faz anos, — ela concordou – mesmo que tenham sido apenas
algumas horas. Desde que começaram a se ver novamente, eles
foram ficando cada vez mais quentes e pesados com as carícias e,
embora estivessem perto de fazer amor, sempre paravam antes do
ponto sem volta. Nenhum dos dois queria turvar as á guas com sexo
antes de ambos sentirem que seu relacionamento era forte o
suficiente para resistir a todos os obstá culos emocionais e físicos.
Eles nã o correriam para a cama até que ambos estivessem
completamente prontos para isso. De alguma forma, por acordo
mú tuo tá cito, eles sabiam que este fim de semana os veria consumar
seu novo relacionamento. Bryce sabia quando planejou a viagem, e
Bronwyn sabia quando ela concordou em ir com ele.
Ele gemeu e deixou cair sua boca faminta sobre a dela e quase a
comeu viva. Bronwyn recebeu seu beijo desesperado com
concentraçã o febril, sua língua duelando com a dele em uma batalha
pela supremacia. O beijo finalmente suavizou, e suas mã os se
ergueram para segurar seu rosto enquanto inclinava sua cabeça para
um acesso mais fá cil a sua boca. Ele adorava segurar o rosto dela
quando a beijava; seus polegares estavam sempre inquietos
acariciando sua pele macia, roçando suas maçã s do rosto e traçando
a linha delicada de sua mandíbula. Depois de um longo tempo, ele
relaxou, sua língua recuou e sua boca se suavizou enquanto ele dava
beijos de borboleta em seus lá bios, subindo por suas bochechas e
descendo em seu pescoço.
O beijo deles foi quase sempre silencioso, pontuado por
respiraçã o pesada e suspiros ocasionais ou gemidos desesperados.
Agora, enquanto ele levantava a cabeça para olhar em seus olhos, ele
sorriu gentilmente para ela.
— Eu te amo, — ele sussurrou, e o rosto de Bronwyn se
iluminou quando ela sorriu radiante para ele.
— Eu sei que você ama, Bryce... mas nunca me canso de ouvir
essas palavras, — ela disse a ele.
— Bem, como nunca vou me cansar de dizê-las, acho que
teremos que nos resignar a fazer um ao outro revoltantemente feliz
pelo resto de nossas vidas. — Ele se afastou dela com relutâ ncia, e
Bronwyn teve que conter seu protesto quando seu corpo lindo - e
visivelmente excitado - se moveu além de seu alcance. Quando ela
inconscientemente levantou uma das mã os em direçã o a ele, ele
resmungou e acenou com o dedo para frente e para trá s na frente do
rosto dela.
— Tire as mã os da mercadoria, senhora. Tenho planos para esta
noite e nã o posso permitir que você me distraia. Por que você nã o
vai tirar uma soneca e tomar um banho? E conversar com Kayla
como você está morrendo de vontade de fazer na ú ltima hora? Me
deixe preparar nosso jantar.
Ela sorriu com o pensamento dele atrapalhado na cozinha. Ele
realmente nã o era o deus doméstico que parecia pensar que era. Ele
fazia uma bagunça terrível e suas refeiçõ es eram muitas vezes
desastres culiná rios, com pratos intragáveis ou mal cozidos. Ainda
assim, ele tentava - abençoado seja - e ela apreciava seus esforços.
Ele estava sempre tã o repugnantemente satisfeito consigo mesmo
que ela nã o tinha coragem de mencionar uma ou outra batata crua
ou as bordas queimadas de um bife. Ela soprou-lhe um beijinho e
dirigiu-se para o corredor, pegando no caminho a sua mala de
viagem.
— Có digo de roupa? — ela se virou para perguntar a ele, e ele
deu de ombros.
— Casual.
Ela assentiu e se virou novamente.
— Mande meu amor a pequenina.
Ela fez um sinal de positivo com o polegar para reconhecer seu
pedido.
 
 
 
 

Ela desceu as escadas uma hora depois, sentindo-se revigorada apó s


uma curta soneca e um longo banho. Ela também ligou para Kayla
para dizer boa noite, mas a garotinha estava distraída com um jogo
que estava jogando com Rhys e Rick, entã o a ligaçã o foi um pouco
apressada. Ela acreditou na palavra de Bryce e nã o se vestiu bem,
vestindo apenas um par de jeans e uma camiseta larga. Ela nã o se
preocupou com sapatos; o piso aquecido mantinha seus pés
aquecidos o suficiente
O que quer que Bryce estivesse cozinhando na enorme cozinha
cheirava surpreendentemente bem. Ela ficou um pouco perplexa
quando chegou à cozinha e nã o viu nenhum sinal dele.
Curiosamente, ela vasculhou alguns dos recipientes Tupperware
espalhados deixados no tampo de má rmore branco da linda ilha de
pedra no meio da cozinha. A casa toda parecia uma espaçosa cabana
de madeira, com piso de pedra, paredes de madeira e tetos com vigas
altas. Infelizmente, sua busca rendeu poucas respostas, exceto para
informá -la de que tudo o que Bryce estava oferecendo para o jantar
era do tipo que colocava no micro-ondas e esquentava. O que só
poderia significar que ele havia pedido a outra pessoa -
provavelmente Celeste - para cozinhá -lo. Ela sorriu tristemente por
sua pequena decepçã o, mas suas papilas gustativas estavam
verdadeiramente agradecidas.
Ela ouviu um som vindo da sala e se dirigiu naquela direçã o. Ela
o encontrou na grande varanda coberta, que tinha uma vista
espetacular da lagoa. Na verdade, eles estavam tã o perto da á gua que
parecia que estavam em um barco na lagoa quando pararam na
varanda. No inverno, eles conseguiram fechar totalmente o espaço
encaixando painéis de vidro entre o beiral e a grade da varanda. Isso
permitia que eles ainda apreciassem a vista sem serem expostos ao
vento frio e à chuva. Era uma noite bastante amena, entã o Bryce
abriu algumas vidraças, permitindo que os sons noturnos e o ar
salgado e perfumado entrassem.
Ele estava agitado em torno da mesa redonda que havia
deslocado para o centro do balcã o. Estava coberto com uma toalha
de mesa branca - o linho mais fino, é claro - e ele havia feito todos os
esforços, trazendo a melhor porcelana e talheres para a ocasiã o. Ele
também tinha um lindo buquê de rosas vermelhas em um vaso de
cristal como peça central da mesa. Ele estava lutando para manter as
velas acesas. Toda vez que ele conseguia acender uma pequena
chama, uma brisa a apagava e ele começava a xingar baixinho. Ela riu
para si mesma quando ele tentou novamente, apenas para ser
frustrado por outra rajada de vento travessa.
Ela traçou amorosamente as linhas de suas costas fortes com os
olhos e viu que ele havia trocado de roupa. Ele estava vestindo um
par de jeans desbotados que se ajustavam lindamente à linda curva
de sua bunda firme e uma camisa preta com um par de tênis. Seu
cabelo estava ú mido e um pouco bagunçado, entã o ele deve ter
tomado banho na ú ltima hora.
Ele xingou ainda mais vituperativamente do que antes, e ela
revirou os olhos antes de caminhar para ficar ao lado dele. Ele estava
tã o absorto em sua tarefa que nã o a notou até que ela colocou a mã o
em suas costas. Ele pulou antes de relaxar quando viu que era
Bronwyn.
— Eu nã o consigo acender as malditas coisas, — ele reclamou,
apontando para as duas altas velas brancas lindamente expostas em
seus castiçais de prata. Bronwyn enrolou o braço em volta do dele e
apertou sua mã o grande entre as dela. Ela descansou a bochecha
contra o deltoide duro dele e contemplou o problema, enquanto
brincava com os dedos dele antes de se endireitar e sorrir para ele. A
luz da sala iluminava a varanda apenas o suficiente para permitir
que eles se vissem. Ela levantou um dedo indicando que ele deveria
esperar lá antes de voltar para dentro por alguns minutos.
Ela voltou com um sorriso triunfante, segurando quatro
pequenas velas perfumadas Glade em suportes de vidro. Eles
geralmente as mantinham por perto para banhos à luz de velas. Ele
sorriu e pegou alguns frascos dela.
— Baunilha? Meu favorito, — ele anunciou alegremente
enquanto os colocava estrategicamente ao redor da mesa. Depois
que elas foram acesas, ele franziu a testa em dú vida com a pouca luz
que eles ofereciam. — Existem mais? — ele perguntou, e ela
assentiu.
Eu não queria estragar seu jantar deixando o lugar todo fedendo
a baunilha. Tudo teria gosto de bolo, ela sinalizou.
Ponto justo, ele reconheceu.
— Eu acho que isso é perfeito. — Ela acenou com o braço na
mesa e ele sorriu.
— Acho que você é perfeita. — Ela bufou com aquela bajulaçã o
desnecessá ria, e ele sorriu novamente, puxando-a para um abraço.
— Estou morrendo de fome, — ele rosnou, mordiscando seu
pescoço para deixá -la saber exatamente por que ele estava morrendo
de fome. Como se a ereçã o empurrando insistentemente contra ela
nã o fosse prova suficiente disso. Ela riu e o empurrou.
— Se acalme, garoto, — ela brincou. — Quero ver que banquete
culiná rio você preparou para nó s esta noite. — Ela nã o perdeu o
brilho de culpa em seus olhos quando ele olhou para os pratos na
outra extremidade da mesa lindamente decorada.
— Temos... — ele pigarreou nervosamente, mantendo os olhos
desviados — ...sopa de rosbife com crème fraîche, seguida de salada
com molho de vinagrete. — Mais um pigarro. Ele realmente estava
ficando realmente péssimo em enganar. — Bife Flank recheado
servido com batatinhas em molho de manteiga de alho e mousse de
chocolate triplo para a sobremesa.
Os lá bios dela se contraíram com o desconforto dele enquanto
ele levantava os olhos miseráveis para os dela, e quando ele viu seu
sorriso gentil, soltou um enorme e triste suspiro.
— Você sabe, nã o é? — ele perguntou miseravelmente, e ela
assentiu. — Eu sinto muito. Eu queria que tudo fosse perfeito esta
noite, e nã o achei que carne queimada e batatas duras serviriam
desta vez. — Mais uma vez, seu olhar se desviou ligeiramente para a
esquerda dela enquanto suas bochechas se iluminavam de vergonha.
Ela colocou uma mã o suave em sua mandíbula e virou a cabeça até
que ele estivesse olhando para ela novamente.
— Bryce, você é um homem de muitos talentos... infelizmente,
cozinhar nã o é realmente um deles. Eu amo você por tentar e,
embora essas outras refeiçõ es nã o tenham sido perfeitas, eu as
apreciei por causa do amor que foi colocado na preparaçã o. Dito isso,
parece realmente delicioso e estou feliz por você ter decidido nã o
cozinhar esta noite. De onde veio isso? Inicialmente, pensei que você
poderia ter pedido a Celeste para preparar algo para nó s, mas isso
nã o se parece nada com nada que ela tenha cozinhado para nó s
antes.
— Sim, é de um restaurante local. Entregaram antes, quando a
governanta ainda estava aqui. Eles deixaram instruçõ es muito
específicas sobre como reaquecer tudo. Espero que nada tenha
secado ou estragado.
— Tenho certeza que vai ficar tudo bem. — Ela dispensou a
preocupaçã o dele. Ele a ajudou a sentar na cadeira e colocou um
guardanapo em seu colo com elegâ ncia. Ele se sentou à esquerda
dela e angulou sua cadeira para que pudesse ver seu rosto e mã os
claramente. A refeiçã o estava divina, e eles brincaram e se
alimentaram enquanto devoravam a comida à sua frente. Eles
haviam bebido meia garrafa do delicioso Cabernet Sauvignon e,
enquanto lambiam o resto da mousse de chocolate das colheres,
Bryce pegou a garrafa para encher novamente as taças de vinho de
haste longa com o líquido cor de vinho. Ele ergueu o copo e olhou
para ela com expectativa. Ela sorriu e levantou a dela também.
— Eu sei que nã o sou o cara mais fá cil de se conviver, Bron, —
ele murmurou, com a voz trêmula. — E que quando você decidiu dar
uma segunda chance a esse relacionamento, você também assumiu
um barco cheio da minha porcaria emocional. — Sua voz vacilou e
ele fez uma pausa para controlar suas emoçõ es. — Estou tã o feliz
que você me deu outra chance.
Ela sabia disso. Sua efervescência nos ú ltimos meses tinha sido
difícil de perder. Ele ainda estava com medo de perder a paciência
perto dela e de Kayla, mas Bronwyn nã o hesitava em apertar os
botõ es para provocar uma resposta dele. Ela confiava nele para nã o
as machucar, mas queria que ele confiasse em si mesmo também. O
terapeuta deles, em uma sessã o individual com Bronwyn, havia
sugerido esse curso de açã o, e eles estavam progredindo. Ele havia
perdido a paciência com ela apenas duas semanas antes, depois que
Bronwyn abandonou Paul enquanto ela estava fazendo compras.
Reconhecendo o quã o furioso ele estava depois que Paul o
informou de sua transgressã o, ela deliberadamente se tornou
beligerante em um esforço para fazê-lo perder seu controle gelado e
entã o assistiu com admiraçã o inabalável enquanto seu ex-marido
perdeu completamente sua lendá ria compostura pela primeira vez.
tempo em sua memó ria. Ele gritou, delirou, andou, rosnou e até
quebrou um lá pis, mas nã o chegou nem perto de danificar um fio de
cabelo na cabeça dela. Depois que ele se acalmou, ela o beijou
presunçosamente e murmurou: — Você nã o me assusta, grandalhã o.
Mas prometo ter mais cuidado no futuro. — Ele parecia um pouco
atordoado depois disso e um pouco apaziguado por suas palavras.
Mas o olhar confuso de autodescoberta em seus olhos foi uma das
coisas mais doces que ela já tinha visto. Depois disso, ele parou de se
comportar como um homem pisando em ovos perto de Bronwyn e
Kayla.
Bronwyn aprendera muito mais sobre ele nos ú ltimos dois
meses do que ela imaginara ser possível. A princípio, foi um pouco
desanimador descobrir o quanto ele havia escondido dela no
passado, mas ao mesmo tempo ela reconheceu que ele era
basicamente o mesmo homem por quem ela havia se apaixonado
anos atrá s.
— À s vezes, — ele estava dizendo, ainda com aquela voz baixa e
á spera que tremia com a força de suas emoçõ es, — eu me pergunto
como diabos eu tive tanta sorte. Eu nã o mereço você, nã o importa o
que você diga, e estou maravilhado, humilhado e muito grato por
você estar na minha vida.
Ele limpou a garganta e cuidadosamente colocou o copo de
volta na mesa antes de, inesperadamente, cair da cadeira e ficar de
joelhos na frente dela. Confusa com o movimento desajeitado de seu
geralmente gracioso ex-marido, Bronwyn nã o tinha certeza do que
estava acontecendo a princípio, até que começou a apalpar o bolso
da frente de sua camisa. Espantada, ela observou os olhos dele
brilharem em pâ nico e as mã os dele caírem para os bolsos da calça
jeans e freneticamente começarem a remexer neles. Ela começou a
ter uma ideia de quais eram as intençõ es dele e tentou esconder seu
sorriso com esta proposta nada suave.
— Droga, eu queria que fosse perfeito, — ele estava
murmurando para si mesmo, mas ela nã o achava que ele estava
ciente do fato de que estava falando em voz alta. Ele se atrapalhou
com algo pequeno e brilhante que tirou do mesmo bolso que havia
abandonado momentos atrá s. Quando ele levantou seu olhar
vulnerável para ela mais uma vez, havia suor em sua testa, e sua
respiraçã o estava saindo em ofegos irregulares.
— Eu repassei isso na minha cabeça tantas vezes, — ele
confessou com a voz rouca. — Imaginei balõ es de ar quente, bandas
de mú sica e espetá culos enormes e extravagantes. Mas, no final, a
perfeiçã o para mim era ter você só para mim em um lugar privado
onde eu poderia implorar para você terminar minha miserável e
solitá ria existência sem você. Você dá propó sito e significado à
minha vida. Cada batida do meu coraçã o pertence a você. Eu te amo,
Bronwyn. Por favor, case comigo. — Ele abriu a palma da mã o e
Bronwyn engasgou quando viu o anel ali.
— Onde você achou isso? — ela sussurrou, seus olhos ficando
enevoados. Era o anel dela, aquele que ele havia dado a ela apó s sua
primeira proposta... aquele que ela havia vendido com tanta
relutâ ncia anos atrá s. — Como você o rastreou? Eu nunca te disse o
nome da loja que eu usei.
— Enviei fotos dos anéis por e-mail para quase todos os
proprietá rios de lojas de penhores na Garden Route. Demorou um
pouco, mas finalmente um e-mail me respondeu com as informaçõ es
de que eu precisava. Ele o vendeu para uma senhora idosa que disse
que a lembrava de seu pró prio conjunto de casamento. Ela é uma
cliente regular dele e, felizmente, teve um coraçã o româ ntico o
suficiente para vender o conjunto de volta para mim quando soube
por que eu precisava dele.
— O conjunto? Você tem a aliança de casamento também? —
ela perguntou incrédula, e ele assentiu sombriamente.
— Sim... Eu nã o tinha certeza se você iria querer os anéis de
volta, mas arrisquei que você os reconhecesse como um símbolo do
meu amor duradouro por você. Posso nã o saber, mas te amei na
primeira vez que pedi em casamento e nunca deixei de te amar. Nem
uma vez. Se você quiser algo mais, eu poderia...
— Nã o se atreva, — ela sufocou as palavras. — Nem pense
nisso.
— Entã o você vai se casar comigo? — ele perguntou hesitante.
— Claro que vou me casar com você, — ela disse com um
sorriso aguado, segurando seu queixo antes de se inclinar para dar
um beijo em sua linda boca. — Eu também te amo. Tanto!
Ele começou a sorrir como um idiota antes de colocar
desajeitadamente o anel no dedo dela. Ambos olharam para o
diamante brilhante e o cacho de esmeraldas antes de Bryce levar a
mã o dela à boca e dar um beijo demorado no anel.
— Nã o tire de novo, — ele sussurrou.
— Nunca, — ela prometeu fervorosamente. — Nunca. — Ela o
beijou de novo, passando os braços em volta de seu pescoço forte e
brincando com os cabelos de sua nuca. Ela o sentiu tenso enquanto
se levantava, levando-a com ele. Ela se recusou a abrir mã o dele, e
ele passou os braços em volta de sua cintura esbelta, puxando-o
ainda mais para perto. O beijo ficou quente tã o rá pido que eles
estavam ofegantes, mas incapazes de afastar a boca um do outro.
— Deus, eu poderia comê-la viva, — ele murmurou, levantando
seus lá bios dos dela e varrendo-os para baixo sobre a coluna
graciosa de sua garganta, sobre seu queixo delicado, até que eles
mais uma vez pousaram, com intensidade abrasadora, em sua boca
aberta e ofegante. Suas mã os se moveram para emoldurar seu
pequeno rosto, e suas palmas desceram por suas bochechas até que
seus polegares roçaram a parte inferior de sua mandíbula, onde
exerceram pressã o suficiente para inclinar sua cabeça para trá s
ainda mais, a fim de acomodá -lo mais completamente. Sua língua
varreu sua boca, e ambos estremeceram com a invasã o. Suas mã os
delicadas moldaram os contornos fortes e esculpidos de seu torso e
seus peitorais até que seus dedos roçaram involuntariamente os
pequenos e planos mamilos masculinos, que eram duros como
seixos sob o tecido fino de sua camisa. Ele sibilou com a sensaçã o, e
ela moveu as mã os provocativamente para longe da á rea altamente
sensível.
— Me toque assim de novo. — Ele levantou os lá bios apenas o
tempo suficiente para emitir o comando á spero, e Bronwyn moveu
seus dedos trêmulos de volta para cima e sobre o peito dele,
massageando e explorando avidamente ao longo do caminho, até
atingir seu objetivo. Ela copiou um movimento de seu manual e
gentilmente sacudiu as minú sculas protuberâ ncias com os polegares
até que ele gemeu contra seus lá bios. Ela estava totalmente
comprometida com o beijo, desfrutando do sabor almiscarado de sua
boca e da sensaçã o insuportavelmente eró tica da língua á spera dele
sobre a dela. Sua pele queimava em cada ponto de contato, mas ela
ainda nã o conseguia chegar perto o suficiente dele. Fazia tanto
tempo que eles nã o ficavam juntos assim.
Ele segurou seu traseiro firme através do jeans de sua calça
jeans e levantou-a. Ela alegremente entendeu a dica e envolveu suas
longas pernas em volta da cintura dele. Ela manteve a boca grudada
na dele, mesmo quando ele cambaleou até a sala e quase a deixou
cair no processo. Ele só foi a frente apenas o suficiente para se virar
e prendê-la contra a parede.
— Querida, estou tã o duro por você, — ele sussurrou. As
palavras eram completamente redundantes, já que ela nã o podia
deixar de notar a só lida masculinidade dele empurrando contra ela
através do grosso de seus jeans. Ele a moveu até que seu pró prio
nú cleo quente estava se esfregando contra aquela deliciosa extensã o
de carne que ela podia sentir pulsando apesar das camadas de roupa
entre eles. Ela se contorceu e ignorou seu gemido enquanto tentava
abaixar as pernas, querendo ficar de pé. Felizmente, ele parecia
saber exatamente o que ela queria e recuou para deixá -la descer.
Livre para fazer o que ansiava por fazer, Bronwyn desabotoou
desajeitadamente a braguilha de sua calça jeans. Nenhuma tarefa
fá cil quando ele estava empurrando contra o material inflexível e
deixando-a com pouco espaço para manobrar. Ela teve sucesso em
sua tarefa e seu pênis rígido derramou em suas mã os à espera. Ela o
agarrou com força e o acariciou de uma forma projetada para deixá -
lo um pouco louco. Ele gemeu, lutando para manter a compostura e
beijou-a suavemente, seus lá bios macios e aveludados firmes
enquanto sua língua abria caminho em sua boca. Bronwyn nã o podia
fazer nada além de se abrir para ele, e ela engasgou quando a língua
quente dele imediatamente procurou e persuadiu uma resposta dela.
Seu aperto aumentou em torno dele e o som que emergiu de sua
garganta era tã o angustiante que por um segundo ela pensou que
poderia tê-lo machucado. Ele levantou a cabeça e olhou para ela
intensamente.
— Eu amo o que você está fazendo, Bron, mas nã o acho que vou
durar muito mais se você continuar fazendo isso, — ele alertou.
Bronwyn suspirou e relutantemente soltou seu prêmio apó s um
ú ltimo e prolongado golpe que quase o desfez, a julgar por sua
reaçã o. Demorou alguns momentos ofegando e murmurando
maldiçõ es antes que ele abrisse os olhos novamente para carranca
para ela febrilmente.
— Você me deixa louco, — ele disse trêmulo antes de
reivindicar seus lá bios em um beijo que era o oposto do gentil que
ele tinha dado a ela antes. Era quente, possessivo e francamente
atrevido.
Suas mã os tremularam sem rumo por alguns segundos antes de
se enterrar em seu cabelo luxuoso. Ela se arqueou contra ele e ele
murmurou algo ininteligível em sua boca antes de soltar seu rosto.
Em um movimento tã o rá pido que fez sua cabeça girar, ele a ergueu
em seus braços e caminhou em direçã o ao sofá da sala.
— Sinto muito, querida, — sua voz estava tensa quando ele a
colocou no sofá macio, ajoelhada no chã o ao lado dela. —Acho que
nã o consigo chegar ao quarto. Tem certeza de que quer isso? — Ela
revirou os olhos para sua pergunta ridícula e puxou-o de volta para
ela. Ele fez um som meio risonho, meio gemido enquanto
reivindicava seus lá bios novamente, sufocando sua pró pria risadinha
feliz. Ela tinha a maciez do sofá contra suas costas e a dureza de
Bryce estampada contra sua frente. Ele nã o fez nenhuma tentativa de
esconder sua ó bvia excitaçã o dela enquanto subia no sofá com ela e
se acomodava descaradamente entre suas coxas abertas antes de se
esfregar contra seu centro quente.
— Eu senti falta disso, — ele confessou, abrindo mã o de seus
lá bios novamente. — Senti falta de nó s.
— Eu também, — ela admitiu, se perdendo em seu olhar
ardente.
— Linda, — ele resmungou densamente, alcançando a bainha
de sua camiseta lisa e puxando-a para cima e para longe dela em
segundos. Bryce olhou para seus seios pequenos com tanta
intensidade que ela sabia que estava corando da cabeça aos pés.
— Linda, — ele grunhiu, sua voz tã o grossa que ela mal
conseguia entender a palavra. Um dedo indicador forte traçou a
borda delicada e recortada de seu sutiã rosa-concha, e ela respirou
fundo quando a ponta do dedo dele chegou a um fio de cabelo do
pequeno bico duro de seu seio. Seu outro dedo indicador repetiu o
movimento em seu seio negligenciado, e ela gemeu roucamente,
arqueando-se na esperança de que ele a tocasse do jeito que ela
precisava ser tocada. Ele sorriu em resposta antes de colocar a palma
da mã o no peito dela, entre os seios, e gentilmente empurrá -la para
baixo.
— Sem pressa, querida... relaxe. — Ele mal conseguiu
pronunciar as palavras antes de colocar os lá bios na boca dela
novamente para outro beijo ardente. Bronwyn respirou fundo,
sentindo o cheiro delicioso dele, antes de envolver seus braços
esguios em volta das costas dele e cravar as unhas em seus mú sculos
duros.
Ele levantou a cabeça e passou a boca pelo queixo dela, pelo
pescoço delicado, pelo peito, até chegarem à curva de um dos seios.
Seus lá bios traçaram a mesma borda rendada que seu dedo havia
explorado momentos antes, e Bronwyn estremeceu quando sentiu
seu há lito quente e ú mido contra seu mamilo superestimulado.
— Por favor, — ela choramingou. — Por favor, por favor, por
favor, por favor...
Sua boca desceu sobre a protuberâ ncia apertada e dolorida
através do material acetinado, sugando com tanta força que o prazer
beirava a dor. Antes que a sensaçã o se tornasse muito
desconfortável, ele se acalmou, arrependido deixando cair o mais
suave dos beijos de despedida no delicioso pedaço antes de se mover
e enfeitar seu seio negligenciado com o mesmo tratamento.
Ele se sentou abruptamente, se ajoelhando entre suas amplas
coxas, parecendo primitivo e feroz com seu cabelo despenteado, um
rubor destacando suas duras maçã s do rosto e sua calça jeans
desabotoada na cintura. Ela bebeu avidamente na visã o do duro pilar
de carne implacavelmente empurrando para cima da braguilha
aberta de seu jeans antes de mudar seu olhar de volta para os olhos
dele. Ele estava fazendo um pouco de devoraçã o visual por conta
pró pria, arrastando seu olhar voraz para cima e para baixo em seu
corpo seminu com uma intensidade que a fez estremecer em
resposta.
Ele arrastou a camisa sobre a cabeça, nem mesmo se
preocupando com os botõ es, e jogou-a de lado. Bronwyn quase
gemeu alto ao ver sua parte superior do corpo bem desenvolvida.
Suas mã os se estenderam impotentes para traçar seus peitorais e
abdominais bem definidos, e ela assistiu com fascinaçã o inebriada
quando seus mú sculos se juntaram e saltaram sob suas mã os
errantes. Ela já conhecia seu corpo tã o bem, mas ainda sentia como
se o estivesse vendo e descobrindo pela primeira vez. Ela também se
sentou e chupou e lambeu avidamente a pele salgada e lisa de seu
peito até que ele gemeu dolorosamente.
— Você é tã o... — O resto de suas palavras foram abafadas
contra a pele do pescoço dela, que ele arrastou em sua boca
avidamente antes de voltar para a boca dela como se fosse uma
atraçã o irresistível da qual ele nã o pudesse ficar longe. As mã os dele
encontraram o fecho do sutiã nas costas dela, e ela sentiu a peça se
soltar, mas permanecer imprensada entre seus corpos. Ela se afastou
o suficiente dele para arrancar o ofensivo pedaço de cetim e renda,
colando sua pele nua contra seu peito quente e macio. Ele sibilou ao
senti-la contra ele e arrastou a cabeça para cima para olhar para
baixo em seus pequenos seios com uma fome descarada. Ambos
estavam ajoelhados no grande sofá agora, ambos de topless e
vestidos apenas com seus jeans. Bryce segurou seus seios e testou
seu leve peso nas palmas de suas mã os antes de seus polegares
descerem sobre as brasas de seus mamilos vermelho-framboesa,
sacudindo-os e provocando-os enquanto ela arqueava as costas em
um esforço para colocá -los em sua boca. Como ninguém recusava um
convite tã o delicioso, Bryce atendeu a sua exigência tá cita e arrastou
primeiro uma pequena protuberâ ncia doce em sua boca, e depois a
outra. A sensaçã o foi tã o avassaladora que roubou o fô lego de seu
corpo e deixou o grito de êxtase que ela estava prestes a soltar
alojado em sua garganta.
— Sensível, — ele grunhiu desnecessariamente, sua voz cheia
de satisfaçã o primitiva. Ele mal levantou a boca de sua deliciosa
tarefa de proferir aquela observaçã o gutural antes de mergulhar de
volta para onde as guloseimas cremosas com pontas de frutas o
esperavam. Ele tinha uma mã o grande e forte apoiada firmemente
contra as costas estreitas dela. A outra mã o dele estava trabalhando
no fecho de seu jeans, e antes que ela percebesse, ele habilmente
empurrou o jeans rígido o suficiente para baixo de seus quadris
estreitos para permitir que seus dedos ansiosos se enterrassem
entre suas coxas delgadas, onde eles encontraram o material
acetinado molhado.
Bronwyn se apertou contra a mã o dele enquanto Bryce, um
multitarefa consumado, ainda tinha a boca em seus seios
extremamente sensíveis. Os dedos dele estavam se enterrando sob a
calcinha dela, e um dedo muito talentoso imediatamente encontrou
seu caminho para o pequeno nó de terminaçõ es nervosas na junçã o
de suas coxas. Ele a dedilhou delicadamente por alguns segundos, e
Bronwyn convulsionou violentamente, um grito estrangulado de
prazer paralisante saindo de sua garganta. Reconhecendo que ela
estava à beira, Bryce substituiu o dedo pelo polegar longo e
encontrou a entrada apertada e ú mida de seu corpo, que ele abriu
com um impulso suave, mas assertivo.
A combinaçã o de seu polegar em seu clitó ris, seu longo dedo
alojado firmemente dentro dela, e sua boca puxando insistentemente
um mamilo dolorido fez Bronwyn cair à beira da insanidade, e o
grito aumentou ainda mais quando suas costas arquearam ainda
mais enquanto ela quadris empurrados freneticamente em sua mã o.
As mã os dela estavam afundando em seus ombros largos, e
Bryce olhou para o rosto dela, bebendo a visã o de seu orgasmo
prolongado como um homem morrendo de sede. Depois do que
pareceu uma eternidade, Bronwyn parou de convulsionar contra ele
e seu choro se transformou em pequenos soluços ofegantes
enquanto ela se derretia contra ele. Ele gentilmente permitiu que seu
corpo flá cido deslizasse para o sofá , onde ela ficou olhando para ele
com os olhos ú midos e um olhar de total e chocada devastaçã o em
seu rosto. Ele sorriu com ternura, dando um beijo em seus lá bios
ofegantes antes de puxar sua calça jeans e sua cueca de biquíni rosa
por suas pernas lâ nguidas e insensíveis. Ele fez um barulho
frustrado quando a roupa prendeu em seus tornozelos, mas
conseguiu prevalecer antes de jogá -los de lado triunfantemente.
— Você me ama, querida? — ele perguntou asperamente, e ela
sorriu contente em seu rosto suado.
— Mais do que você pode imaginar, — ela balbuciou, e ele
sorriu alegremente.
— Bom. Eu vou fazer amor com você agora, — ele proclamou
intensamente, e ela engoliu uma risada com o anú ncio solene. Ele
parecia tã o sério.
— Bem, entã o pare de falar sobre isso e continue com isso, —
disse ela, ainda lutando para respirar depois de seu enorme clímax.
Ele rosnou com o desafio e puxou uma camisinha do bolso de trá s da
calça jeans antes de empurrá -la impacientemente até os joelhos e
cair entre as coxas abertas dela. Bronwyn, que estava começando a
se sentir meio normal apó s os destroços emocionais e físicos de seu
orgasmo avassalador, olhou para ele quando seu rosto apareceu em
sua linha de visã o. A cor avermelhada ao longo de suas maçã s do
rosto tinha se intensificado, seus olhos pareciam febris e
desesperados, e seu cabelo caiu para emoldurar seu rosto em uma
juba selvagem. Ela nunca o tinha visto parecer mais intenso e focado.
Ela ergueu a cabeça pesada e olhou para baixo, para onde ele estava
posicionado como um aríete entre suas pernas. Ela podia ver a
cabeça de seu membro acima de seu monte feminino, e ela sentiu o
resto da dura coluna serrar contra sua fenda. Um instante depois,
sua cabeça caiu para trá s com um gemido quando as intensas
sensaçõ es voltaram à vida.
A fricçã o a estava deixando louca, e ela podia ver pela maneira
como o rosto dele se contraiu que teve um efeito semelhante no
homem lindo apoiado acima dela. As mã os dela se moveram para o
rosto dele, onde ela traçou seus lá bios, entã o suas maçã s do rosto,
com dedos curiosos, e ele gemeu impotente. Ela observou quando
ele se inclinou para trá s e se atrapalhou enquanto colocava a
camisinha.
— Querida, — ele rosnou depois de cuidar de sua proteçã o.
Seus olhos estavam perfurando os dela intensamente. — Eu quero
que você se abaixe entre suas pernas e me pegue em sua mã o. — Ela
ficou feliz em obedecê-lo, estendendo a mã o e agarrando-o com uma
de suas mã os ansiosas. Seus dedos mal conseguiam fechar em torno
de sua circunferência.
— Coloque-o dentro, — ele ordenou asperamente, e ela inalou
uma respiraçã o trêmula antes de posicioná -lo obedientemente. Ela
moveu um pouco os quadris e sibilou quando a cabeça larga deslizou
para dentro. Sua testa estava franzida em concentraçã o e seus olhos
fechados em êxtase enquanto ele cuidadosamente avançava ainda
mais à frente. Bronwyn gemeu ao senti-lo dolorosamente familiar.
— Deus, isso é incrível, — ele gemeu enquanto se embainhava
ainda mais. Seus olhos se fecharam involuntariamente. Ele silvou
dolorosamente quando ela empurrou contra ele. — Nã o, querida.
Por favor, nã o se mexa. Eu mal consigo me controlar, Bron. Se você se
mover... — Ele respirou fundo e soltou lentamente antes de se mover
um pouco mais longe. Bronwyn, amando a incrível sensaçã o de
plenitude, se contraiu impotente ao redor dele, e ele respirou uma
pequena oraçã o enquanto parava novamente.
— Tanto tempo, — ele gemeu, quase incoerentemente. — Faz
tanto tempo, mas eu quero que isso dure. — Ela moveu as mã os até o
rosto dele e angulou a cabeça dele até que ele abrisse os olhos para
olhá -la.
— Está tudo bem, — ela disse o mais claramente que pô de. —
Nã o precisa ser lento desta vez. — Ele a beijou com gratidã o faminta
antes de avançar corajosamente. Bronwyn ergueu os joelhos até os
quadris dele enquanto se empurrava para enfrentar suas estocadas.
Uma de suas mã os deslizou para baixo sobre sua coxa nua para
enganchá -la sob o joelho e levantar a perna um pouco mais alto. A
ligeira mudança de â ngulo o fez atingir seu ponto com cada estocada
urgente e a deixou louca. Ela estava além de pensar em qualquer
coisa, exceto neste momento, este homem, e sua habilidade magistral
de transformá -la em uma bagunça incoerente e arruinada em meros
momentos.
Seus braços serpentearam ao redor de seu pescoço enquanto
ela segurava sua preciosa vida enquanto ele martelava nela. Seus
lá bios mordiscavam sua orelha, sua respiraçã o era quente, difícil e
generosamente intercalada com gemidos enquanto ele se perdia
nela. Bronwyn combinou as estocadas dele com as dela e, quando se
viu arremessada para outro clímax poderoso, arqueou as costas e
enroscou os dedos nos cabelos dele.
— Bryce... — Sua voz falhou em seu nome, e sua respiraçã o
ficou presa quando ela se sentiu apertando em torno de sua dureza.
Naquele momento incrível, ela esqueceu completamente que ele nã o
podia ouvi-la. — Estou gozando... — Ele aumentou seu ritmo quando
sentiu seu aperto, nã o precisando ouvi-la para reconhecer os sinais
familiares de seu orgasmo iminente. Bronwyn ficou tensa como uma
corda de arco, bem na beira...
— Isso mesmo, meu amor, — ele encorajou sem fô lego. — Goze
para mim. — Ele se puxou quase todo para fora, até que nada além
de um sussurro dele permaneceu dentro dela e ela soluçou de
frustraçã o, antes que ele mergulhasse de volta, se inclinando para
acertá -la da maneira certa. Isso foi o suficiente para mandá -la
gritando para o abismo. As intensas contraçõ es de seu clímax foram
suficientes para fazer Bryce cair atrá s dela com um grito de prazer.
Ele moveu a mã o da dobra do joelho dela e a espalmou contra as
costas dela para puxá -la o mais perto que ela pudesse, enquanto ele
estremecia dentro dela pelo que parecia uma eternidade. Depois
disso, ambos ficaram completamente moles, ocasionalmente
estremecendo quando tremores prazerosos os atingiram. Eles
permaneceram assim por um momento, ainda unidos e exaustos
demais para se mover. Bryce estava plantando beijinhos ociosos em
seu pescoço ú mido, e Bronwyn estava acariciando seu cabelo
encharcado de suor.
— Você é de tirar o fô lego, — ele murmurou em seu ouvido
antes de se mexer o suficiente para se afastar dela e remover a
camisinha. Ela gemeu em protesto quando ele a deixou brevemente
para descartá -la no banheiro do andar de baixo, tirando a calça jeans
e a calcinha no processo. Ele estava de volta em segundos e sorriu
para seu corpo nu em imensa satisfaçã o.
— Saciada, suada e ligeiramente presunçosa, — ele a informou.
— É assim que você se parece.
— É assim que me sinto, — ela confirmou preguiçosamente,
erguendo os braços para ele. — Por que você está parado aí? Desça
aqui. Estou com frio, preciso de você para me aquecer. — Ele sorriu
com ternura e entrelaçou seus dedos com os dela antes de puxar
suavemente suas mã os.
— Vamos para a cama, — ele sugeriu, e ela fez uma cara mal-
humorada.
— Eu nã o quero me mexer, — ela fez beicinho, e ele riu antes de
soltar as mã os dela para descer e pegá -la habilmente. Bronwyn
gritou e passou os braços em volta do pescoço dele quando sentiu
que estava escorregando. Ele apertou seu domínio sobre ela e a
agarrou possessivamente perto de seu peito. Bronwyn aninhou o
rosto em seu pescoço e acariciou sua pele quente e com um cheiro
delicioso com satisfaçã o.
Quando ele chegou ao quarto, ele gentilmente a depositou em
sua enorme cama king-size, descendo para se juntar a ela. Ele
imediatamente estendeu a mã o para ela novamente, aparentemente
sem vontade de abrir mã o de seu domínio sobre ela por muito
tempo. Bronwyn adorava se aconchegar em seu corpo grande e duro;
isso sempre a fazia se sentir protegida. Eles nã o fizeram nada além
de acariciar e acariciar, ainda saciados depois de seu violento ataque
de amor.
— Bronwyn, nã o posso prometer nã o cometer erros e
provavelmente acabarei fazendo coisas estú pidas inadvertidamente
que podem prejudicá -la no futuro. Eu nã o sou perfeito. Eu sou
apenas um homem e tã o falho - mais ainda - do que qualquer outro
homem. Mas posso prometer amá -la com todo o meu coraçã o,
protegê-la com todas as forças do meu corpo, amá -la com minha
mente e alma pelo resto da minha vida e provavelmente além disso,
— prometeu. A bochecha de Bronwyn estava pressionada contra seu
peito, e ela nã o podia ver seu rosto, mas sua voz era rouca e trêmula
com a intensidade de suas emoçõ es e a veracidade de suas palavras.
— Adoro nossa filha e com você ao meu lado, serei o melhor pai que
posso ser. Se formos abençoados com outras crianças, também as
adorarei.
Bronwyn levantou a cabeça de seu lugar de descanso perto de
seu coraçã o e sorriu para ele. Ela ajustou sua posiçã o sinuosamente
até que ela estava escarranchada nos quadris dele, com as mã os
apoiadas contra o peito dele.
— Eu também te amo, — ela reafirmou. — Defeitos e tudo,
Bryce. A ú nica pessoa que sempre exigiu perfeiçã o de você foi você.
Você nã o é perfeito, mas é perfeito para mim. Vou valorizar e
proteger seu coraçã o hoje, amanhã e para sempre. — Ele estendeu a
mã o para segurar seu rosto com mã os gentis, puxando-a para um
beijo feroz.
— Para todo sempre? — ele perguntou trêmulo depois de
soltar os lá bios dela. Ela sorriu novamente antes de traçar um x em
seu coraçã o e, em seguida, abaixou a cabeça para beijar o local que
acabara de marcar.
— Sim. Para todo sempre.
O peito largo de Bryce arfou em um suspiro trêmulo de
contentamento antes de arrastá -la para se aconchegar contra seu
peito. Bronwyn se aninhou contra ele e sorriu sonolenta quando o
sentiu acariciar seu cabelo languidamente. Eles ficaram em silêncio
por alguns longos momentos e Bronwyn estava prestes a cochilar
quando ouviu a voz dele. Estava quieto, mas cheio de admiraçã o de
um homem que agora estava reconhecendo uma emoçã o
completamente desconhecida.
— Eu estou feliz.
Isso era tudo que alguém poderia pedir.
 
EPÍLOGO

— Você está o quê ? — Bryce olhou fixamente para o rosto


radiante de Bronwyn. Eles estavam em seu escritó rio, e ela se sentou
na cadeira em frente a sua mesa.
— Grávida, — ela enunciou e sinalizou a palavra, mas ele ainda
piscou estupidamente por alguns momentos. Seu peito arfou em um
suspiro claramente exasperado antes que ela se levantasse,
contornasse sua mesa para gritar diretamente em seu ouvido. —
GRÁVIDA!
Ele pulou quando seu aparelho auditivo guinchou. Ele agora
tinha apenas 45 decibéis de perda auditiva no ouvido direito depois
de finalmente decidir tentar a operaçã o no ano anterior. Ele ainda
nã o conseguia acompanhar muito bem as conversas, a menos que o
orador estivesse sentado perto dele, posicionado do lado direito e
com o aparelho auditivo ligado. A operaçã o nã o mudou muito sua
vida - exceto que sua esposa e filha agora à s vezes sentiam a
necessidade de gritar coisas diretamente em seu ouvido quando
sentiam que ele nã o estava prestando atençã o suficiente nelas. Ele só
fez isso para ouvir a risada de Kayla e, quando a ouviu pela primeira
vez, ficou satisfeito ao saber que ela tinha a risada de sua mã e, afinal.
— Você está grávida? — ele disse em uma exalaçã o lenta de ar,
e Bronwyn acenou para ele com um sorriso. Ele sentiu seus pró prios
lá bios se estendendo em um sorriso combinando. Eles suspeitaram
que ela poderia estar, embora só recentemente tivessem decidido
tentar um segundo filho. Bronwyn acabara de contratar uma só cia
em sua clínica veteriná ria, justamente para esse fim, e Kayla acabara
de iniciar seu segundo ano na escola. A filha dramá tica deles
recentemente fez comentá rios espertinhos sobre nã o querer ser
filha ú nica pelo resto da vida. Especialmente desde que seu primo
Rhys recentemente adquiriu uma irmã zinha e até mesmo a pequena
Lily De Lucci - a quem Kayla parecia considerar rival e amiga - era
uma irmã mais velha duplamente graças à s gêmeas que sua mã e
havia dado à luz alguns anos antes. Odiando ser deixada de fora de
qualquer coisa, Kayla fez um pedido para um irmã ozinho porque
nem Rhys nem Lily tinham um.
— Ah meu Deus. — Bryce ficou de pé e puxou Bronwyn para
um abraço. — Essa é uma notícia fantá stica, querida. — Ele a deixou
cair sobre seus pés e deu-lhe uma olhada rá pida e preocupada. — O
que o médico disse? Está tudo bem? — ele perguntou preocupado.
Estou saudável como um cavalo. O bebê deve nascer em cerca de
sete meses. Pouco antes do Natal.
— Você sempre sabe exatamente o que nos dar de Natal, — ele
brincou.
— Eu tento o meu melhor. — Ela encolheu os ombros
modestamente.
Deus, ele a amava tanto. Eles haviam se casado novamente há
quase cinco anos, menos de um mês depois de sua proposta. O
casamento deles, mesmo agora, era cheio de surpresa apó s surpresa.
Ele queria criar memó rias incríveis com viagens espontâ neas para a
Europa quando ela nã o estava ocupada com o trabalho, passeios de
balã o de ar quente, flores, joias e brinquedos para Kayla. E refeiçõ es
româ nticas ainda mais desastrosas que ele mesmo preparou. No
interesse da autopreservaçã o, Bronwyn o matriculou em um curso
de culiná ria Cordon Bleu. Ele teve sucesso mínimo na classe. Agora,
em vez de apenas queimar bifes, ele queimava coisas como pato
glaceado e faisã o recheado. Ele fingiu nã o notar as caretas trocadas
por sua esposa e filha quando souberam que ele estaria preparando
o jantar. Ele estava determinado a conquistar a coisa de cozinhar. Ele
nã o podia imaginar nã o ter sucesso nisso... tudo bem, estava
demorando um pouco mais do que ele esperava — anos, na verdade
—, mas ele sabia que conseguiria.
Bryce adorava suas “garotas” e adorava mimá -las, e Bronwyn
parou de protestar contra a extravagâ ncia quando viu quanto prazer
ele extraía de suas surpresas. Ele nã o conseguia imaginar sua vida
sem elas e agradecia todos os dias pelo milagre que havia sido
concedido a um homem indigno como ele.
— Você é incrível, — ele murmurou, se sentando atrá s de sua
mesa e arrastando-a para seu colo. Ele estava a caminho de mostrar
a ela o quã o incrível ele a achava quando a porta do escritó rio foi
aberta sem cerimô nia, e sua filha entrou correndo na sala. Oliver, seu
pequeno pinscher vermelho animado e alegre, a seguiu até a sala.
Kayla ainda estava vestindo seu uniforme escolar, e sua trança era
uma bagunça desfeita que criava uma auréola de cabelo solto ao
redor de seu rostinho de menina.
— Adivinha? — ela perguntou ofegante, tã o acostumada a ver
seus pais se aconchegando que nem parou em seu caminho para a
mesa dele.
— O que? — Bronwyn perguntou com um sorriso.
— Sra. Williams me deu duas estrelas de ouro hoje! — a
garotinha se gabou, praticamente pulando para cima e para baixo de
excitaçã o.
— Ela deu? — Bronwyn sorriu, sinalizando ao mesmo tempo
para que Bryce pudesse acompanhar a conversa.
— Isso é fantá stico, pequenina, — disse Bryce. Ele estava com a
cabeça no ombro de Bronwyn e uma das mã os protetoramente
dobrada contra sua barriga lisa. — Pelo que?
Tirei dez em dez em ortografia e em matemática, ela sinalizou a
mil por hora, suas mã ozinhas praticamente um borrã o.
— Uau, acho que isso merece uma comemoraçã o, nã o é? — ele
perguntou com indulgência, e Bronwyn assentiu, sabendo que ele
pretendia comemorar mais do que as estrelas douradas de Kayla.
Naturalmente, eles nã o contariam a Kayla sobre o bebê por um
tempo. Ela seria um terror profano e impaciente se descobrisse e
entã o tivesse que esperar meses antes que o bebê nascesse.
— Definitivamente é motivo de comemoraçã o, — Bronwyn
concordou com um sorriso. — Kayla, vá tomar banho e coloque seu
vestido mais bonito, vamos jantar fora.
— Sério? — Seus lindos olhos azuis brilhavam de orgulho e
seus pais assentiram. Ela deu um gritinho de empolgaçã o e saiu da
sala com Oliver correndo atrá s dela.
— Obrigado, — Bryce sussurrou baixinho, e Bronwyn esticou o
pescoço para encontrar seus olhos.
— Por? — ela perguntou.
— Tudo, — disse ele expansivamente antes de elaborar. — Para
as pequenas coisas do dia a dia e as grandes coisas que mudam a
vida. — Seus olhos ficaram enevoados e ele piscou de vergonha.
Quando ele foi capaz de ver seu rosto claramente novamente, ela
estava sorrindo luminosamente. Ele observou suas mã os e seu rosto
enquanto eles soletravam sua resposta inevitável, aquela que nunca
falhava em trazer um nó em sua garganta e lá grimas em seus olhos.
Ali está o homem com quem me casei.

Você também pode gostar