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Dedicató ria
PRÓ LOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊ S
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
EPÍLOGO
Aviso
Vozes surgiam e desapareciam de sua consciência e Bronwyn lutava
para entender o que diziam. Ela estava bem novamente, nã o mais
tonta e nã o mais dolorida. Ela sentiu como se estivesse flutuando e
foi envolvida por uma incrível sensaçã o de bem-estar. Mas esse
sentimento nã o estava certo, e essa consciência a impedia de ficar
totalmente à vontade. Ela tinha certeza de que esse mal-estar vinha
das vozes altas ao fundo e, novamente, tentou filtrar o discurso
distorcido das poucas palavras que conseguia entender.
— ...Nã o entende... — era a voz de um homem, reconhecível e
amada, mas estranhamente á spera. — ...O que ela fez . . .
imperdoável... o deixou... vadia! — Uma voz feminina desconhecida
interveio, sua voz gentil acalmou os nervos sobrecarregados de
Bronwyn.
— ...É ela? O que... ela faz... tã o ruim? — Bronwyn se esforçou
para abrir os olhos, mas parecia um esforço colossal.
— ...Abandonou Bryce... mais precisava dela...
Bronwyn conseguiu soltar um suspiro fraco ao ouvir isso,
indignada com essa mentira descarada. O casal ficou abruptamente
em silêncio.
— ...Acordando, — a mulher disse com urgência. — ...O médico!
Agora, Rick!
Médico? Bronwyn franziu a testa. Por que um médico? Pela
primeira vez desde que recuperou a consciência, ela se perguntou
onde estava e conseguiu abrir as pá lpebras pesadas com grande
esforço. Ela olhou para as feiçõ es vagamente reconhecíveis de uma
mulher bonita que parecia ser alguns anos mais nova que os vinte e
oito de Bronwyn. O sorriso caloroso da mulher transformou seus
traços gentis de simples em quase bonitos e teve o efeito de acalmar
Bronwyn imediatamente.
— Tente nã o entrar em pâ nico, — ela instruiu gentilmente. —
Você desmaiou no trabalho. A princípio, presumimos que fosse um
choque, mas sua febre e palidez logo deixaram bem claro que você
está gravemente doente. — Seus olhos verde-mar estavam sérios por
trá s das lentes de seus ó culos graduados da moda, e sua voz assumiu
um tom castigador. — Você nunca deveria ter trabalhado naquela
condiçã o. Você deveria se cuidar melhor.
Bronwyn franziu a testa, imaginando quem era a mulher, antes
de decidir que ser ofendida por sua repreensã o exigiria muito de sua
força. Claramente ela iria precisar dessa força diante da hostilidade
inesperada e sem precedentes de Rick. Um pensamento alarmante a
atingiu, e ela se sentou em um pâ nico cego, ignorando o sú bito
ataque de tontura.
— Desmaiei no trabalho? — Sua voz soava fraca, mesmo para
seus pró prios ouvidos. — Ah nã o... Tenho que ligar para o meu chefe!
— Bronwyn. — A mulher colocou mã os gentis em seus ombros
para empurrá -la de volta para a cama, seus lindos olhos cheios de
simpatia. — Receio que ele nã o tenha sido muito solidá rio com nada
disso. Ele disse algo sobre estar farto do seu drama e que você nã o
deveria se incomodar em voltar. Eu sinto muito.
— Ah, nã o, — ela gemeu. — Nã o nã o. Eu precisava daquele
emprego!
— Bem, se você queria mantê-lo, você nã o deveria ter ido
trabalhar na condiçã o em que estava hoje, mocinha. — Uma voz
severa se intrometeu da porta, onde um homem mais velho de
aparência atormentada em um jaleco branco estava emoldurado. —
Você está tentando se matar? Você acabou de passar por uma gripe
muito forte, possivelmente até pneumonia pelo que pude perceber, e
você estava tã o desidratada quando eles a trouxeram que estou
surpreso que você nã o tenha desmaiado antes! O simples fato de
você ter estado inconsciente por quase cinco horas é prova de quã o
perto você está de uma recaída. Você está completamente esgotada.
— Ela ficou dramaticamente pá lida com essa notícia, e o médico
presumiu erroneamente que ele a havia chocado para levar sua
doença a sério. — Eu gostaria de mantê-la durante a noite para
monitorar sua condiçã o.
— Não! — Todos ficaram surpresos com sua sú bita e estridente
veemência. — Nã o, nã o posso ficar aqui. Eu tenho que ir para casa.
Eu deveria estar lá agora. Meu turno teria terminado uma hora atrá s;
eu deveria estar em casa.
— Isso seria estú pido e totalmente perigoso em sua condiçã o,
Sra. Palmer, — advertiu o médico, e o mundo de Bronwyn
cambaleou.
— Do que você me chamou? — ela perguntou em um sussurro
chocado.
— Ele chamou você de Sra. Palmer, — Rick provocou de onde
ele estava na porta com os braços cruzados sobre o peito largo. —
Esse ainda é o seu nome, nã o é? — Ela olhou para Richard Palmer
impotente, sem saber o que dizer e de repente o odiando com uma
ferocidade que a abalou.
— Então? — incitou ele sarcasticamente, e ela assentiu em
silêncio, sem entender a hostilidade de alguém que sempre a amou e
respeitou.
— Por favor... — ela sussurrou. — Por favor, Rick, eu tenho que
ir para casa.
— Você está indo para casa, — Rick a informou friamente. —
Assim que puder ser arranjado.
— Senhor. Palmer, eu desaconselho isso, — o médico
interrompeu com firmeza, mas Rick o ignorou, mantendo os olhos
em Bronwyn.
— Apenas prescreva qualquer medicamento que ela precise,
doutor, — ele ordenou de uma maneira que ia completamente contra
sua natureza descontraída usual. — Vamos garantir que ela descanse
bastante. — O médico olhou para eles antes de balançar a cabeça e
sair da sala abruptamente.
— Rick, você acha que é uma boa ideia? — A outra mulher
perguntou preocupada, e ele ergueu os olhos para o rosto ansioso
dela antes de sorrir gentilmente, sua expressã o agora lembrando o
Rick que Bronwyn conhecia e amava.
— Vai ficar tudo bem, — ele murmurou tranquilizador, mas a
mulher fez um som irritado e balançou a cabeça com raiva.
— Eu já estou farta, Rick, — ela fervia, revelando garras sob o
doce exterior. — É melhor você me dizer o que está acontecendo e
rá pido. Estou sentada aqui há horas sem obter uma ú nica resposta
direta de você e estou farta disso. Me diga o que está acontecendo, ou
vou fazer as malas e partir para Knysna sozinha! — Bronwyn assistiu
com fascínio enquanto seus olhos queimavam em pâ nico e ele perdia
toda a aparência de sua frieza gelada anterior.
— Lisa, — ele engasgou. — Você nã o iria sozinha quando nó s
acabamos...
— Não me teste, — ela advertiu. — Agora eu acho que já passou
da hora de você fazer algumas apresentaçõ es apropriadas e tentar
ser civilizado, por favor. — Ele franziu a testa emburrado, parecendo
tã o ameaçador quanto um garotinho com a mã o presa na lata de
biscoitos.
— Lisa, conheça Bronwyn Palmer. Bron, minha esposa, Lisa. —
Os olhos de Bronwyn brilharam com prazer genuíno enquanto seus
olhos voavam de um rosto para o outro. Sua esposa? Bem, entã o, isso
explicaria o bebê. Ela olhou ao redor da sala, procurando a criança.
Ela sorriu ao ver o carrinho estacionado perto da janela do outro
lado da sala e ficou maravilhada com o quanto a vida dele havia
mudado nos ú ltimos dois anos.
— Sua esposa? Ricky, você se casou? — Ele estremeceu em
resposta à s palavras dela.
— Bron, nã o me chame assim, — ele murmurou
desconfortavelmente, parecendo tanto com o que era antes que o
coraçã o de Bronwyn se encheu de amor por ele. Ela sorriu e voltou
sua atençã o para a mulher esbelta que estava ao lado dele.
— Estou tã o feliz que ele se casou com alguém como você, —
ela conseguiu dizer fracamente, desejando poder ser mais eloquente,
mas de repente se sentindo bastante esgotada. Ela se recostou nos
travesseiros e sorriu para os dois. — Ricky merece alguém adorável...
— Seus olhos se fecharam. — Eu estou tã o cansada. Me leve para
casa. Por favor. Eu preciso ir para casa...
— Ela é a esposa errante do meu irmã o, — ela ouviu Rick dizer
a sua esposa, mas ele parecia tã o distante que ela franziu a testa.
Onde ele estava indo? — E, como eu disse antes, ela é a vadia sem
coraçã o que o abandonou quando ele mais precisava dela! — Seus
olhos se abriram de horror, e ela ficou chocada ao descobrir que ele
estava mais perto do que sua voz distante sugeria. Confusa, ela
tentou organizar seus pensamentos.
— Eu nã o fiz isso, — ela protestou com veemência. — Eu nã o
faria isso. Por que você diria algo assim, Rick? Por que você mentiria?
— Ela ouviu a dor confusa em sua voz e teve vergonha de revelar o
quanto suas mentiras a feriram. — Eu pensei que éramos amigos.
— Nossa amizade acabou quando você fez o que fez com meu
irmã o, — ele rosnou. Ela pulou quando a voz dele o alcançou e o
volume aumentou dramaticamente na ú ltima palavra.
— Eu nã o fiz nada com Bryce, — ela choramingou, sua pró pria
voz ainda distante. — Ele nã o me queria mais. . . entã o eu fui embora.
Eu o deixei.
— Você o deixou para morrer!
A mulher, Lisa, colocou a mã o no braço de Rick enquanto ele
fazia um movimento frustrado em direçã o a Bronwyn. Bron piscou
com a fú ria em seu rosto; ela nã o tinha ideia de onde vinha toda essa
raiva.
— Me leve para casa... — ela implorou novamente, mantendo os
olhos no rosto da outra mulher. — Por favor. Eu tenho que ir para
casa... — Nesse momento, uma figura assustadoramente grande
surgiu na porta e, quando os olhos de Bronwyn se ergueram, ela foi
tomada por uma sensaçã o de destruiçã o iminente.
Ele estava lá . Quieto, gracioso e feroz, e Bronwyn se encolheu ao
vê-lo.
— Você ligou para ele? — ela disse, exalando, a má goa e a
traiçã o que sentia evidentes em sua voz e rosto. Apesar de tudo, ela
ainda se apegava firmemente à crença de que Rick era seu amigo. Ela
ergueu os olhos de corça feridos para o rosto furioso dele. —Você
ligou para ele? Ah, Ricky, como você pô de?
— Ele me ligou porque sou seu irmã o e sua lealdade está
comigo. — A bela voz escura era mais calma do que ela esperava e
flutuou sobre ela como uma carícia suave. Ela fechou os olhos ao
ouvir aquela voz. Foi a primeira vez que ela a ouviu em mais de dois
anos, e Deus, como ela sentiu falta disso. Ela ansiava pelo som de sua
voz e muitas vezes pensara em ligar para ele apenas para ouvi-lo,
mas descartara esse impulso como um luxo perigoso e proibido.
Quando ela abriu os olhos, ficou chocada ao descobrir que ele
havia se mexido. Ele estava de pé ao lado de sua cama e muito perto
para seu conforto. Ela se mexeu um pouco, baixando os olhos para as
cobertas da cama, com medo de encontrar seu olhar glacial. Ela
estava apavorada com o que veria naqueles olhos e deu uma espiada
nele por baixo de suas pá lpebras semicerradas.
Ele era tã o grande. Ela tinha esquecido isso sobre ele, esquecido
o tamanho desse homem que uma vez tinha sido seu amor e sua
vida. Ele tinha um metro e oitenta e quatro e tinha força para
combinar com a altura, ombros enormes, cintura fina e quadris finos.
Ele parecia um antigo deus nó rdico com o cabelo dourado escuro e
as feiçõ es sombrias que pareciam esculpidas em granito. Os ú nicos
indícios de suavidade naquele rosto rudemente talhado eram seus
cílios longos e sua boca lindamente delineada. Ela sempre se
perguntou o que um homem lindo e bem-sucedido como ele tinha
visto em alguém comum como ela. Ela era uma mulher desajeitada e
esguia que tinha pernas longas, corpo magro e a falta de graça de
uma girafa. Nã o havia nada de notável nela, exceto que um homem
como Bryce Palmer a havia escolhido para ser sua esposa, parecia
amá -la e desejá -la.
Ele parecia mais velho do que seus trinta e três anos. Ele
obviamente tinha envelhecido desde a ú ltima vez que ela o vira, mas
isso nã o desagradava e acrescentava ainda mais personalidade a um
rosto já forte. Agora ele pairava sobre ela como um anjo vingador,
lindo e intimidador. Ele tinha todo o poder do mundo para machucá -
la e, segundo ele, todos os motivos do mundo para odiá -la.
— Olhe para mim! — ele sibilou furiosamente. Ela ergueu a
cabeça para encontrar seus olhos frios de frente e tremeu diante do
ó dio puro e nã o adulterado que viu ali. — Você tirou tudo de mim
quando partiu. Você me tirou toda a dignidade, me deixou sangrando
na beira da estrada e nunca olhou para trá s. Nunca vou te perdoar
por isso, Bronwyn.
— Você me disse para ir, — ela se defendeu fracamente, olhando
para baixo enquanto falava, e ficou chocada quando a mã o enorme
dele se estendeu e agarrou sua mandíbula frá gil. Seu aperto foi tã o
inesperadamente forte que ela se encolheu um pouco. Ela sentiu
Rick se movendo para intervir, mas Bryce a soltou abruptamente.
— Olhe para mim quando você fala comigo, — ele rangeu
selvagemente. — Você fez isso comigo. O mínimo que você pode
fazer é olhar para mim quando tiver algo a dizer.
— Bryce, — ela disse fracamente, olhando para ele, mesmo que
encontrasse seus olhos apavorada. — Você me disse para ir. Lembra?
— Ele fez um som impaciente e virou as costas para ela. Perplexa, ela
olhou para a extensã o de suas costas e tentou novamente, com
lá grimas escorrendo de seus olhos e sua voz engrossando com
desespero. — Você nã o me queria mais. Você disse... Eu te enganei...
disse...
— Onde está meu bebê? — Ele cortou suas palavras friamente,
se virando para encará -la novamente, seus olhos fixos em seu rosto
choroso com uma intensidade que a enervou. Ela estava ciente de
Rick fazendo um som chocado e Lisa silenciosamente pegando o
carrinho e saindo do quarto. — Onde está a criança que você tã o
cruelmente me privou de conhecer? — As lá grimas que escorriam
pelo rosto dela nã o o comoviam nem um pouco, e seu olhar cruel era
inabalável.
— Por favor, — ela sussurrou, e seus olhos caíram para sua
boca. — Por favor, Bryce... você disse que nã o queria um filho... disse
que eu tinha enganado você. Nã o entendo por que você está assim.
— Pelo amor de Deus, Bronwyn, — ele praticamente gritou, de
repente e de forma espetacular perdendo a calma. — Você sabia que
eu estava com raiva! Você sabia que eu iria me acalmar
eventualmente. Mas você escolheu sair correndo de lá , escolheu
pular no seu carro quando nã o era o melhor das motoristas, e entã o
você desceu a ladeira tã o rá pido que fiquei com medo de que você se
matasse. Você sabia que eu seguiria... — Ele cerrou os dentes e jogou
a cabeça para trá s, e ela pô de ver os mú sculos de seu pescoço e
garganta trabalharem enquanto ele se controlava. Levou mais tempo
do que ela esperava. Bryce sempre foi muito há bil em controlar seu
temperamento. Nã o desta vez, parecia. Embora ele conseguisse
amortecer a raiva, ela ainda podia senti-la fervendo perigosamente
abaixo da superfície e isso a perturbou. Ela nã o entendia muito bem
de onde vinha toda aquela raiva.
— Onde está meu filho? — ele rosnou perigosamente, e os olhos
de Bronwyn se encheram de lá grimas ao pensar em sua linda
garotinha. Kayla tinha todo o direito de conhecer seu pai e vice-
versa. Acontece que, até agora, Bronwyn nã o fazia ideia de que Bryce
queria conhecer sua filha. Ela pensou nas duas semanas que passou
em sua casa de férias em Knysna, esperando que ele viesse. Sim, ela
sabia que ele precisaria de tempo para se acalmar e ela sabia que
uma vez que ele pensasse sobre as coisas, ele viria atrá s dela. Nunca
houve dú vida em sua mente de que ele iria querer ela e seu bebê.
Mas ele nã o tinha vindo. . . ele nã o tinha ido ao lugar mais ó bvio,
o ú nico lugar que ela tinha certeza de que ele iria procurar, o lugar
onde eles passaram tantas horas felizes juntos. E quando as horas se
transformaram em dias e depois em semanas, Bronwyn foi forçada a
encarar a realidade de sua situaçã o: ele quis dizer cada palavra cruel.
Bryce nã o queria o filho deles e, como consequência, nã o a queria
mais. Ela nunca teria acreditado nele, nunca teria esperado que ele a
abandonasse para cuidar de seu bebê sozinha.
Durante o casamento de dois anos, ele nunca dissera que a
amava, mas a demonstrara de tantas maneiras que ela acreditara que
isso bastava. Diante de seu abandono, ela passou a questionar esse
amor e foi forçada a reconhecer que as palavras teriam significado
mais; as palavras teriam significado tudo. Eles teriam gravado seu
amor em pedra.
Agora ele estava aqui dizendo a ela que ele queria Kayla afinal?
O que ela deveria acreditar? Por que ele a estava tratando como o
vilã o por ter ido embora, quando foi ele quem a expulsou? No meio
de seu tumulto, ela ouviu um som inconfundível - a familiar
tagarelice irreprimível e a risada de uma criança. . . de uma criança
em particular. O olhar apavorado de Bronwyn se voltou- para a porta
aberta e ela ficou horrorizada ao ver a babá levando sua linda filha
para o quarto. Seu olhar ansioso se voltou para Bryce, mas ele
parecia alheio. Ele a estava observando atentamente, ainda querendo
uma resposta para sua pergunta anterior. Rick tinha ouvido embora
e seu olhar estava cravado na porta também. Ah Deus, como Katrina
poderia trazê-la aqui? Como a mulher sabia onde encontrar
Bronwyn?
— Me responda, porra! — Bryce estava rosnando. Como poderia
ignorar o balbucio que se aproximava de um efervescente bebê de
dezoito meses? Ele estava de costas para a porta e, portanto, nã o viu
quando Kayla e a agora vacilante Katrina cruzaram a soleira. A jovem
hesitou enquanto seu olhar varria a sala, percebendo imediatamente
a tensã o. A criança nã o tinha tais reservas e ao ver sua mã e, seu
rosto se iluminou e ela foi direto para sua cama. Ela estava
resmungando baixinho incoerentemente, como era seu costume, e
seu traseiro coberto de fraldas balançava comicamente enquanto ela
caminhava cambaleante em direçã o a Bronwyn. Bryce ainda parecia
nã o ter ideia de que ela estava lá , e quando Kayla passou pelo
confuso Rick, mal olhando para ele, ela de repente se deparou com
um obstá culo na forma de seu pai alto. Ela franziu a testa para o
homem grande que estava de costas para ela, parecendo tanto com
ele naquele momento que Bronwyn sorriu.
— O que você acha de tã o engraçado nessa Bronwyn? — ele
sibilou.
— Cara grande, — disse Kayla, suas duas primeiras palavras
claras desde que entrou na sala, e soou mais como uma crítica do
que um elogio. Quando ele ainda nã o saiu do caminho dela, ela deu a
ele um olhar avaliador, puxou a perna para trá s e.....
— Kayla, não! — Bronwyn gritou de horror, assim que a
garotinha chutou o pai na panturrilha. Bryce cambaleou um pouco,
mais chocado do que magoado, e se virou, examinando a sala
desesperadamente por alguns segundos antes de deixar cair o olhar
para a pequena menina amotinada diante dele. Nem mesmo na
altura do joelho dele e ainda de fraldas, mas ela se recusou a recuar.
— Kayla sim... — ela declarou como uma rainha, varrendo seu
pai encantado. Quando ela chegou ao seu destino, ela parou e olhou
para o pró ximo obstá culo com um olhar fulminante. A cama era alta
demais para ela subir, entã o a linda diabinha com seu cabelo
castanho sedoso e seus grandes olhos azul-gelo se voltou
sedutoramente para o homem alto que ela havia acabado de
desprezar e o desfez com um sorriso encantador antes. levantando
os braços de forma exigente.
— Cima, pufavo! — ela comandou com o ar de alguém
acostumado a conseguir o que quer. O “por favor” foi apenas uma
formalidade, e seu pai nã o podia fazer nada além de obedecer. Ele a
pegou com reverência, a segurando perto por apenas um instante a
mais do que ela gostaria e ela se contorceu desconfortavelmente até
que ele a colocou na cama ao lado de sua mã e, antes de mudar seu
escrutínio penetrante para a babá que ele acabara de notar.
— Sinto muito, Bronwyn, — Katrina falou incerta da porta,
enervada pelo olhar direto de Bryce. — Quando você atrasou, liguei
para o restaurante e eles me contaram o que havia acontecido. Falei
com o médico antes de trazê-la aqui, e ele disse que você nã o era
contagiosa. Eu tenho um encontro... e eu pensei...
— Você pensou que deixaria uma garotinha no hospital com
sua mã e doente? — Bryce completou incrédulo.
— Bom... — A mulher parecia desconfortável, e Bryce desviou
seu olhar furioso de volta para Bronwyn, que tinha a testa apoiada
na de Kayla enquanto ela e sua filha conversavam sem palavras. Era
uma imagem tã o impressionante que ele parou por um instante
antes de lançar um ataque imediato.
— Esse é o tipo de pessoa irresponsável a quem você confia os
cuidados de nossa filha? — Os olhos de Katrina se arregalaram com
suas palavras reveladoras, e Bryce se virou para encarar a jovem
novamente, ignorando a expressã o de surpresa em seu rosto. —
Obrigado senhorita. Seus serviços nã o serã o mais necessá rios. Rick,
por favor, dê à jovem todo o dinheiro devido a ela.
— Eu posso pagar minha própria babá , — Bronwyn sibilou
furiosamente, mas ele manteve as costas para ela, ignorando-a,
enquanto Rick levava Katrina para fora do quarto. Ele se virou para
encará -la, e ela repetiu sua afirmaçã o. — Eu posso pagar minha
pró pria babá , droga!
— Vendo que você acabou de perder seu emprego mal
remunerado, nã o acho que você esteja em posiçã o de ser teimosa
nesse assunto, Bronwyn. — Kayla estava olhando furiosamente para
Bryce, e seu rostinho carrancudo imediatamente o distraiu.
— Ei, anjo. — Sua voz suavizou quando ele se agachou ao lado
da cama para encontrar seus olhos. — Por que tã o zangada?
— Mã e durmiu, — ela advertiu. — Shhh! — Ele piscou por um
instante assustado, antes de erguer o olhar para os olhos
sombreados de Bronwyn.
— Parece que nossa filha tem muito mais bom senso do que
qualquer um de nó s. — Ele sorriu carinhosamente para a criança,
que estava acariciando carinhosamente o cabelo de sua mã e. — Você
nã o está em condiçõ es de discutir, Bronwyn. Apenas faça o que eu
digo. — Ela engasgou com a coragem dele e estava prestes a
protestar quando ele se agachou na frente de Kayla novamente.
— Oi, querida, você sabe quem eu sou? — Seus olhos estavam
fixos nas feiçõ es perfeitas de Kayla; ela era uma combinaçã o
encantadora de ambos os pais. Ela tinha os olhos dele... olhos azuis
tã o pá lidos que à s vezes pareciam quase cinzas.
— Cara, — Kayla respondeu timidamente antes de colocar o
polegar na boca e deitar a cabeça no peito da mã e.
— Isso mesmo. — Ele assentiu. Rick entrou novamente na sala
silenciosamente, e Kayla arrastou o polegar para fora da boca por
tempo suficiente para apontar para ele.
— Cara, — ela informou prestativamente, e Bryce girou a
cabeça, avistou seu irmã o e acenou com a cabeça com um sorriso.
— Esse é o seu tio Rick. — Rick pareceu surpreso ao se ouvir
apresentado como tal, surpreso e depois satisfeito. Ele parecia
inchar de orgulho. — Eu sou seu pai. . . Você pode dizer “papai”?
— O que você pensa que está fazendo? — Bronwyn ficou tã o
chocada com a apresentaçã o blasé dele que sua voz saiu mais alta do
que pretendia. Isso assustou Kayla, que piscou em choque antes de
começar a chorar. Bryce parecia arrasado. Ele olhou para a criança
chorando impotente, sem saber o que fazer. Bronwyn, incapaz de se
conter, continuou furiosa.
— Como você pode simplesmente anunciar isso para ela assim?
Como você pode simplesmente... — Kayla chorou ainda mais e Bryce
deu um tapinha na cabeça e na bochecha da criança, impotente. —
Pare de me ignorar, droga, eu odeio quando você faz isso! — Ele
olhou para cima entã o, e quando viu a expressã o dela, seu rosto
escureceu.
— Foi você, — ele fervia. — Você a fez chorar. Eu pensei que era
algo que eu tinha feito, maldito seja. — Bronwyn piscou para ele com
espanto antes de erguer os olhos para o rosto de Rick em uma
percepçã o chocada.
— Ele nã o pode me ouvir, pode? — ela perguntou a Rick, que
estava logo atrá s de Bryce. O homem mais jovem nã o disse nada e
apenas continuou a olhar fixamente para ela. Seus olhos cinza-
prateados eram enervantes em sua frieza incomum.
— Por que você nã o me faz essa pergunta? — Bryce perguntou
zombeteiramente, e ela voltou o olhar para o rosto dele, percebendo
que ele tinha ouvido sua pergunta. Ela se repreendeu por ser
ridícula. Claro que ele podia ouvi-la. — Ah, mas você já sabe a
resposta, nã o é? — ele provocou e ela enrijeceu, sentindo-se uma
tola. Kayla havia parado de chorar e estava com a cabeça apoiada no
peito de Bronwyn e o polegar na boca. Ela estava olhando para Bryce
com cautela.
— Qual é o seu nome, anjo? — ele perguntou a ela gentilmente.
A criança se recusou a responder e suas pá lpebras ficaram mais
pesadas quando ela começou a cochilar.
— O nome dela é Mikayla, — informou Bronwyn, mas manteve
os olhos no rosto de Kayla, ignorando Bronwyn novamente.
— Vá em frente, me diga seu nome. — Ele a esnobou
descaradamente. Kayla tirou o polegar da boca e se dignou a
responder.
— M'kayla. — Ela nã o se preocupou em levantar a cabeça e mal
abriu os olhos enquanto deturpava seu nome como sempre fazia. Era
bastante reconhecível, mas Bryce estava olhando para a criança com
uma carranca perplexa. Ele ergueu os olhos confusos para Bronwyn,
e ela suspirou antes de repetir o nome.
— Mikayla, eu a chamei de Mikayla. — A carranca se
aprofundou e algo desconfortavelmente pró ximo ao ó dio se
estabeleceu em suas feiçõ es tensas e bonitas.
— Maldita seja, Bronwyn, — ele rosnou, e ela engasgou. Ele nã o
gostou do nome? Ela deu o nome de Kayla em homenagem a ele - seu
segundo nome era Michael. Talvez ele pensasse que era hipó crita da
parte dela dar à filha o nome dele quando, como ele agora afirmava,
ela o havia privado de seu filho. Bryce parecia zangado, magoado e
confuso ao mesmo tempo, e ficava olhando para sua filhinha
cochilando e fechando os olhos em desespero. Bronwyn nã o
entendeu sua reaçã o.
Rick deu um passo à frente, lançando um olhar ressentido para
Bronwyn que a deixou ainda mais perplexa, antes de colocar uma
mã o calma no ombro de seu irmã o agitado. Bryce olhou para cima e
agarrou a mã o de Rick como se fosse uma tá bua de salvaçã o.
— Me diga, — ele implorou desesperadamente, e Rick assentiu.
— O nome dela é Mikayla, Bryce, — disse ele ao irmã o
gentilmente, com a boca e as mãos.
CAPÍTULO DOIS
Ela parecia frá gil, como se o menor toque fosse quebrá -la, e como ele
queria quebrá-la. Bryce olhou para a estranha que era sua esposa e
foi consumido por puro ó dio por ela. Essa vadia de aparência
inocente destruiu sua vida e roubou sua filha. A violência mal
contida que sentia em relaçã o a ela estava apodrecendo há pouco
mais de dois anos, e ele alegremente a teria estrangulado durante o
sono se nã o fosse pelo fato de que sua filha precisava dela. Ele
observou seu esforço para respirar e imaginou que soava rouca e
irregular. Ele se lembrava de sons, mas à s vezes se perguntava se sua
memó ria era precisa. Por muito tempo, apesar de suas tentativas
malsucedidas de forçá -lo, sua lembrança mais preciosa era a voz
dela. Agora a lembrança do som doce e claro de sua voz voltou
espontaneamente junto com a clareza de sino de sua risada e,
finalmente, como aquela voz adorável soou durante sua discussã o
final, cheia de lá grimas e sú plicas.
Ela parecia tã o doente. Ele fez uma careta, sem vontade de
sentir qualquer compaixã o por ela. Se ela trabalhou até o chã o, foi
menos do que merecia por fugir dele, por roubar sua filha e por
aleijá-lo! Ele vivia em um mundo silencioso agora, os ú nicos sons
que ouvia eram meros ecos de memó rias e a voz dela... sempre a voz
dela.
Ele a odiava por assombrá -lo, e ainda a odiava por parecer tã o
malditamente vulnerável, por estar doente, fraca e quase indefesa, o
tornando assim impotente para atacá -la e xingá -la do jeito que ele
fantasiou fazer por tanto tempo.
Bem, ela nã o estaria sempre doente. Ele podia esperar. A
vingança, diziam eles, era um prato que se comia frio. Ele estava
esperando há dois anos, entã o mais algumas semanas nã o fariam
diferença. E quã o mais doce seria a vingança agora que ele a tinha
firmemente ao seu alcance!
Kayla decidiu que nã o gostava de helicó pteros assustadores e
barulhentos e chorou durante todo o curto voo fretado de
Plettenberg Bay para Camps Bay. Seu pai sitiado, que estava
descobrindo que a paternidade pode nã o ser tã o fabulosa quanto ele
havia imaginado, lutou para mantê-la calma enquanto Bronwyn, que
estava sentindo os efeitos de algum medicamento muito poderoso,
permanecia alheia a tudo. Bronwyn estava vagamente ciente de
Bryce tentando freneticamente calar a criança. Ele fazia caretas e
jogava joguinhos bobos, mas Kayla se recusava a ser consolada por
alguém que era um completo estranho para ela. Ela era muito
pequena para ser amarrada, mas se recusou teimosamente a ficar no
colo de Bryce. Em vez disso, ela continuou tentando rastejar para o
colo da mã e, e Bronwyn fez o possível para acalmar a garotinha, mas
Kayla também nã o ficou muito impressionada com seus abraços
fracos.
— Faça alguma coisa, — Bryce finalmente implorou, quando
Kayla deslizou de suas mã os como um porco engordurado e derreteu
no chã o em uma pilha desossada. Uma vez aos pés deles, ela
lamentou lamentavelmente.
—Kayla fugiu, mamã e, Kayla fugiu! — ela uivou. Bronwyn,
completamente farta do teatro, estendeu a mã o e puxou a criança
flá cida com toda a força que pô de reunir.
— Mikayla, — ela disse com voz rouca em sua voz mais dura e
sem sentido. Kayla foi momentaneamente silenciada pela voz de
“mã e” de Bronwyn e seus grandes olhos azuis derreteram o coraçã o
de Bronwyn. A pobre coisinha estava compreensivelmente
assustada. Muitas mudanças em um tempo muito curto para ela.
Bronwyn suavizou a voz e sorriu com o que esperava ser uma alegre
confiança. — Está tudo bem, bebê. Sente-se com seu pai; ele cuidará
de você. — Mikayla olhou para o Bryce que se desfazia rapidamente
com uma especulaçã o cautelosa em seu olhar. Recorrer a ele em
busca de proteçã o evidentemente nã o lhe ocorrera.
— Cara? — ela questionou incerta.
— Papai, — Bronwyn corrigiu cansada, desaparecendo
rapidamente. — Vá e sente-se com ele. — A garotinha, segurando sua
boneca de pelú cia favorita contra o peito, deu o pequeno passo que a
separava de Bryce e ergueu os braços para deixar claro que ela
permitiria que ele a pegasse agora. Bryce a ergueu em seu colo e ela
se aninhou contra seu peito, apoiando o polegar em sua boca.
Enormes lá grimas de crocodilo escorriam por suas bochechas.
Bronwyn revirou os olhos e recostou-se com um suspiro exausto. Por
alguns minutos tudo ficou quieto, exceto pelo zumbido barulhento
do helicó ptero. Bronwyn estava se preparando para tirar uma
soneca quando Bryce falou, tã o baixinho que ela mal conseguia ouvir
a voz dele por causa de todo o barulho. Nem mesmo os fones de
ouvido que ela usava ajudaram a amplificar sua voz.
— Ela é difícil.
Bronwyn abriu os olhos e se viu olhando diretamente nos olhos
taciturnos dele. — Sim. — Ela assentiu cansada. — Ela tende a ser.
Mas ela está apenas assustada agora; isso nã o é algo que ela está
acostumada.
— Me fale sobre ela, — ele convidou, quase com relutâ ncia.
Obviamente abalou seu orgulho ter que pedir qualquer coisa a ela.
— Ela herdou mais do que apenas alguns de seus traços físicos,
— disse Bronwyn com um sorriso. — Ela tem uma teimosia de um
quilô metro de largura e é ferozmente independente.
— Quando ela começou a andar e falar?
— Ela foi uma conversadora precoce. — O sorriso de Bronwyn
ficou nebuloso. — Ela gorgolejou muito, balbuciou incoerentemente
por um tempo... — Bryce estava carrancudo e ela gaguejou até parar.
— O que há de errado?
— Desacelere, — ele ordenou rispidamente. — Nã o consigo
entender porra nenhuma do que você está dizendo!
Tendo esquecido momentaneamente sua surdez, o lembrete
serviu como uma verificaçã o cruel da realidade. Ela engoliu
convulsivamente, consciente do calor seco e doloroso em sua
garganta.
— Sinto muito, — ela sussurrou antes de repetir sua declaraçã o
anterior tã o lenta e claramente quanto podia. Bryce revirou os olhos
com impaciência.
— Eu sou surdo, nã o estú pido, — ele resmungou furiosamente.
— Apenas fale normalmente; nã o balbucie e nã o fale lentamente e
continue me encarando.
— Eu sinto muito. — Ela impotente repetiu seu pedido de
desculpas. Ela se sentia desesperadamente inadequada. Mais uma
vez, ela tentou repetir sua declaraçã o anterior, mas estava tã o
nervosa agora que gaguejava muito. Bryce xingou impacientemente
em voz baixa antes de deliberadamente baixar o olhar para Kayla.
Assim facilmente ele encerrou a conversa. O desprezo foi
brutalmente eficaz e deixou Bronwyn se sentindo completamente
abandonada. Ela se sentiu um completo fracasso e manteve os olhos
treinados em seu rosto, esperando que ele olhasse de volta, mas ele
estava falando com Kayla, que ainda chorava. Ele estava tã o absorto
em sua filha que Bronwyn poderia muito bem nã o estar lá .
Ela finalmente baixou o olhar para onde suas mã os estavam
fechadas em punhos no colo e, enquanto lutava desesperadamente
contra a vontade de chorar, ela tentou descobrir onde e como sua
vida tinha dado tã o errado. Ela pensou em seu primeiro encontro,
que sempre pareceu algo saído de um conto de fadas para ela - o
Príncipe Encantado conhecendo Cinderela enquanto ela ainda estava
em seus trapos, mas se apaixonando por ela de qualquer maneira.
Parecia tã o perfeito...
Ele tinha sido, sem dú vida, o homem mais bonito que ela já vira. Era
seu primeiro dia trabalhando como garçonete no sofisticado
restaurante à beira-mar em Camps Bay e ela nã o podia se dar ao luxo
de distraçõ es, especialmente porque havia mentido sobre suas
qualificaçõ es para conseguir o emprego. Felizmente, ela conseguiu
blefar durante o treinamento interno sem parecer muito
incompetente. Desde que terminou o ensino médio, seis anos atrá s,
ela nã o tinha sido muito boa em nada, exceto cuidar de sua avó
doente, sua ú nica parente. Tinha sido um trabalho de tempo integral,
nã o deixando espaço em sua vida para a socializaçã o de outras
mulheres de sua idade. Em vez disso, ela passava a maior parte do
dia na companhia de uma velha enferma e qualquer tempo livre que
tivesse era dedicado a seu estoque de livros. Tinha sido uma
existência triste e solitá ria para uma jovem com uma disposiçã o tã o
ensolarada, mas Bronwyn nunca desejou que a tarefa fosse
descartada. Sua avó a criou sem reclamar depois que seus pais
morreram e Bronwyn amou a velha senhora ferozmente por causa
disso.
Elas haviam sobrevivido, vivendo da pensã o de sua avó e de um
pequeno fundo fiduciá rio que seu avô havia criado para sua esposa.
Apó s a morte de sua avó , apenas dois meses antes, o saldo do fundo
foi gasto no funeral e Bronwyn foi forçada a vender sua pequena casa
geminada. A maior parte do dinheiro obtido com a venda foi para
saldar as contas pendentes do hospital, sobrando apenas o suficiente
para que Bronwyn pagasse o depó sito do minú sculo apartamento
que agora estava alugando.
Entã o, aqui estava ela, tentando desesperadamente se sair bem
em seu novo emprego, mas nã o conseguia tirar os olhos do homem
que acabara de entrar no restaurante. Ele era alto, loiro e bonito, e
estava absorto na conversa que estava tendo com o homem magro e
moreno ao seu lado. Os dois homens eram tã o opostos quanto a
noite e o dia. O loiro era grande e volumoso, quase de aparência
nó rdica, enquanto o moreno era magro e á gil, com uma aparência
definitivamente sexy gaulesa. Eles se sentaram em uma de suas
mesas e sua boca ficou seca. Ela correu, nã o querendo deixar
homens tã o importantes esperando e felizmente tropeçou apenas
uma vez ao longo do caminho.
— Bom Dia... Olá ... Como posso... — Ela ficou em branco, já
tendo enchido a saudaçã o alegre que tinha sido perfurada durante o
treinamento. Os homens olhavam para ela com expectativa, e ela
vacilou ainda mais sob o olhar gelado do homem loiro. — Seu
pedido, — ela concluiu abruptamente. — O que é, por favor?
As sobrancelhas do homem moreno subiram em espanto, mas o
loiro permaneceu impassível, embora Bronwyn, por um momento
fugaz, pensasse ter visto diversã o brilhando naqueles olhos
aparentemente frios dele.
— Bebidas, — ela continuou desesperadamente. — Você
provavelmente bebe. Entã o você provavelmente quer um pouco,
muito, quero dizer... — Ela sentiu seu rosto ficar vermelho de
vergonha. O homem moreno estava olhando para ela em completo
espanto, com o queixo caído praticamente no peito. O outro homem,
porém, sua mandíbula estava cerrada; ele parecia estar exercendo
um enorme controle sobre suas emoçõ es. Ela entrou em pâ nico. Ele
provavelmente estava com raiva, provavelmente acostumado a um
serviço muito superior deste restaurante. Ela se debateu novamente.
. . em uma perda completa.
— Você parece com sede, — ela murmurou, esperando induzi-
los a dizer algo, qualquer coisa. — E temos muitas bebidas.
— O que você recomendaria? — o loiro perguntou
inesperadamente. Sua voz era quente e melíflua e muito mais gentil
do que ela esperava. Parecia completamente em desacordo com os
planos escarpados de seu rosto, bem como com sua expressã o
rigidamente controlada. A voz dele fluiu sobre ela como mel quente,
e ela ficou olhando para ele sonhadoramente sem perceber por
muito tempo.
— Senhorita? — o homem moreno perguntou
impacientemente. — O que você recomenda?
— Ah... — ela saiu de seu torpor, embaraçosamente ciente de
que tinha sido pega olhando para o loiro. — Recomendo?
— Bebidas, — o loiro lembrou gentilmente.
—Sim claro . . .— Ela vasculhou sua memó ria freneticamente.
—Vinho . . . temos vinho, e claro que temos. . . você pode gostar,
porque eu gosto bastante, entende? Eles nã o pareciam ver. Deus, ela
estava sendo uma idiota socialmente desajeitada. Ela geralmente nã o
era tã o ruim.
— Como o quê? — o loiro perguntou.
— O... hum... o milkshake. Sobretudo chocolate. — As
sobrancelhas do homem moreno baixaram em completa
consternaçã o; ele realmente tinha as sobrancelhas mais expressivas.
— Você recomenda o... — Parecia que ele estava sufocando, e
seu rosto estava ficando com um tom impró prio de vermelho. — O
milkshake?
— Eu nem sabia que eles tinham milk-shakes aqui, — o loiro
disse casualmente. —Você sabia, Pierre? — O outro homem, Pierre,
parecia incapaz de responder, e Bronwyn desejou que o chã o se
abrisse e a engolisse, de tã o humilhada que estava. Milkshake? O que
ela estava pensando ao recomendar o milkshake a dois homens que
sem dú vida nã o tomavam desde que atingiram a puberdade?
— Nó s temos outros... — ela começou miseravelmente, mas foi
interrompida por Jake, o gerente. Sentindo um problema, ele veio
para intervir.
— Com licença, está tudo bem aqui? — ele perguntou
educadamente, lançando um olhar sub-reptício para a perturbada
Bronwyn. Bronwyn suspeitava que ele sabia que ela havia mentido
sobre sua experiência anterior e parecia que o proprietá rio a havia
contratado contra o conselho de Jake. Agora Jake parecia
desesperado para que ela estragasse tudo para que ele pudesse ter
uma desculpa para demiti-la. Ela abaixou a cabeça e esperou
miseravelmente que os homens reclamassem. O mais moreno,
Pierre, abriu a boca para dizer algo, mas o loiro se antecipou.
— Sem problemas, — ele murmurou suavemente. — Meu
colega e eu estávamos tendo dificuldade em decidir o que pedir. —
Jake nã o teve outra opçã o a nã o ser recuar, mas nã o antes de lançar
um olhar de advertência para Bronwyn.
— Muito bem, Sr. Palmer. — Ele praticamente fez uma
genuflexã o ao recuar. — Mas se precisar de alguma coisa, por favor,
pergunte por Jake.
— Agora, por que faríamos isso quando já temos uma excelente
garçonete aqui? — o loiro, Sr. Palmer, perguntou suavemente antes
de dispensar Jake com um movimento casual da mã o. Seu colega o
olhou boquiaberto, incrédulo.
— Bryce... — Pierre começou a dizer. Seu nome era Bryce! Ele
ignorou o amigo e voltou a focar seus lindos olhos azul-gelo no rosto
corado de Bronwyn.
— Agora, onde estávamos? — ele perguntou suavemente, seus
olhos correndo sobre o rosto dela atentamente. — Ah sim... Acho que
vou querer o milkshake de chocolate.
— Ah... — Ela o olhou estupidamente. — Uh . . . o que?
— O milkshake, eu quero isso. Chocolate, claro. — Ela assentiu
confusa e anotou o pedido antes de relutantemente voltar sua
atençã o para Pierre.
— E para você senhor? — Pierre estava olhando para o amigo
incrédulo, antes de voltar a focar sua atençã o em Bronwyn. Aqueles
olhos anteriormente sombrios dele estavam iluminados com humor.
— Que diabos. — Ele tinha um sotaque francês. Ela estava tã o
focada em Bryce que nã o havia notado isso antes. — Acho que vou
tomar aquele milkshake também!
CAPÍTULO TRÊS
Fazia quase uma semana desde o beijo malfadado e Bryce nã o tinha
falado muito com ela desde entã o. Ele havia dado a ela o quarto
principal e, como na estufa, o quarto tinha uma sensaçã o de nã o-
vivência. Seu guarda-roupa havia sido deixado intacto, mas as roupas
de Bryce haviam sumido; nã o sobrou uma gravata ou mesmo uma
abotoadura perdida. Era como se ele nunca tivesse compartilhado o
mesmo armá rio com ela. Nenhuma de suas roupas antigas serviam
mais nela; eles eram todos um par de tamanhos grandes demais.
Bronwyn ficou consternada ao descobrir exatamente quanto peso
ela havia perdido nos ú ltimos dois anos. Ela sempre foi esbelta,
entã o o fato de ter diminuído dois tamanhos de vestido deve
significar que ela parecia completamente sem carne! Nã o é de
admirar que Bryce tenha dito que ela parecia um fantasma.
Ela fez um esforço concentrado para comer mais e, como Kayla
passava muito tempo com o pai, Bronwyn estava descansando
bastante, tanto que estava ficando entediada. Ela estava sentada na
estufa, lendo um guia fá cil (ou assim afirmava a sinopse posterior)
da língua de sinais sul-africana, quando ouviu a conversa alegre de
Kayla se aproximando. Ela enfiou o livro atrá s de uma almofada, nã o
querendo que Bryce soubesse que ela estava tentando aprender
SASL. Algo lhe dizia que ele nã o ficaria feliz com isso. Quaisquer
referências que ela fazia à surdez dele nã o foram bem recebidas.
Kayla entrou na sala de seu jeito inimitável, toda risada feliz e
fala incompreensível enquanto Bryce a seguia de seu jeito inimitável,
todo carrancudo e rosnado quando viu que Bronwyn ocupava a
estufa.
— Mamã eeeee! — A garotinha deu um gritinho ao ver Bronwyn
e subiu no colo da mã e, cheirando a sol e maresia. Ela estava usando
lindos macacõ es cor-de-rosa, uma das muitas roupas caras que seu
pai havia comprado para ela. Ele havia levado a filha para fazer
compras, sem Bronwyn, um dia apó s sua chegada a Camps Bay. Ele
havia enviado a governanta para pedir os tamanhos de Kayla.
Bronwyn se sentiu um tanto constrangida perto de Celeste, a
governanta, que estava com eles desde o casamento há pouco mais
de quatro anos, mas a senhora a recebeu de volta com um sorriso
genuinamente caloroso. Bronwyn havia anotado os tamanhos e
mentalmente desejou-lhe boa sorte com Kayla, que inevitavelmente
se tornou um pesadelo em qualquer situaçã o de compras. Assim que
eles saíram, ela começou a se preocupar com os dois. Bryce poderia
achar Kayla mais do que um punhado com sua surdez, e Kayla
provavelmente entraria em pâ nico quando descobrisse que sua
mamã e nã o estava em lugar nenhum. Sua preocupaçã o nã o deu em
nada, porque os dois voltaram de suas compras como amigos e
totalmente inseparáveis daquele ponto em diante. Ela estava um
pouco ciumenta e ressentida com a facilidade com que Bryce havia
estabelecido uma posiçã o na vida de sua filha. Uma parte mesquinha
dela esperava que Kayla o incomodasse, mas sua filha o aceitou sem
protestar e parecia quase nã o sentir falta de Bron.
Apesar de seus profundos sentimentos de animosidade em
relaçã o a Bryce, Bronwyn tentou muito nã o os invejar desta vez
juntos, mesmo que apenas por causa de Kayla. A garotinha precisava
de Bryce em sua vida. E Bronwyn teve que reconhecer que a criança,
com sua energia ilimitada, teria esgotado suas ú ltimas reservas.
Agora ela acariciava amorosamente a criança afetuosa, atrasando o
momento em que ela realmente teria que olhar para seu marido
carrancudo. Quando ela conseguiu reunir coragem para olhar para
ele, ela foi surpreendida por uma expressã o de vulnerabilidade
desprotegida em seu rosto. A expressã o foi rapidamente fechada
quando ele percebeu que ela estava olhando para ele, e a carranca
habitual tomou seu lugar.
— O que você e papai fizeram esta manhã ? — ela perguntou a
Kayla, mantendo os olhos fixos no rosto dele para que ele nã o se
sentisse excluído.
— Brincamos de cavalinho... se mexa. — A criança riu de alegria
lembrada. Ela saltou no colo de sua mã e, e Bronwyn estremeceu
quando os sapatos de Kayla cravaram em suas coxas. — Se mexa
mamã e... se mexa, se mexa! — Bryce arrancou a criança do colo de
Bronwyn antes que ela pudesse fazer qualquer dano.
— Você está machucando sua mã e, — ele disse à criança com
sua voz cuidadosamente modulada. Ele falava muito baixinho, e
Bronwyn imaginou que ele tinha dificuldade em avaliar o volume de
sua voz. Ele o mantinha tã o baixo que à s vezes ela se esforçava para
ouvi-lo. Nã o que qualquer coisa que ele disse fosse dirigida a ela. Ela
imaginou que o volume de sua voz aumentaria proporcionalmente à
sua raiva, e ele estava sempre zangado com ela. Ele a encarou
pensativo por um tempo antes de chocá -la totalmente e se sentar ao
lado dela, colocando Kayla para brincar com os brinquedos que
estavam espalhados por todo o chã o.
— Você parece muito melhor, — ele observou, seus olhos
continuando a percorrer seu rosto e forma. — Nã o tã o magro, e você
está ficando com um pouco de cor em suas bochechas. Como você
está se sentindo?
— Melhor. — Ela assentiu. — Entediada. — Ele a chocou ao
agraciá -la com o menor dos sorrisos.
— Sim, você nunca foi conhecida por longos períodos de
inatividade. — Ele assentiu. — Você já pensou no que quer fazer
quando se recuperar? — Ela o encarou consternada, sem saber como
responder a essa pergunta. Ela nã o ousara pensar no futuro; ela nã o
tinha ideia do que Bryce queria dela. Ele esperava que eles
continuassem a viver juntos da mesma maneira sem alma pelos
pró ximos cinquenta anos ou mais? Porque Bronwyn nã o poderia
fazer isso. Ela se recusou terminantemente a viver assim por muito
mais tempo; ela preferiria se divorciar. Ele queria o divó rcio? Aliá s,
eles já estavam divorciados? Ela tinha certeza de apenas duas coisas;
ele queria sua filha, mas não queria Bronwyn.
— Eu nã o . . . o que você quer dizer?
Ele franziu a testa. — Nã o foi uma pergunta capciosa, Bronwyn,
— ele respondeu severamente.
— Nã o tenho certeza... Suponho que vou encontrar um lugar
para morar?
Ele nã o gostou da resposta dela. Isso era evidente pela maneira
como ele a encarava com raiva.
— Você nã o vai tirar Kayla de mim de novo, Bronwyn. Vocês
duas vã o ficar aqui. É melhor você se reconciliar com esse fato!
— Ficar aqui como o quê? — ela perguntou incisivamente. Um
divó rcio estava parecendo cada vez mais atraente agora. Ela nã o
tinha ideia de por que ela mesma nã o havia iniciado o processo há
muito tempo. Ela supô s que havia se apegado aos resquícios de um
casamento de conto de fadas que nunca existiu fora de sua
imaginaçã o.
— Minha esposa e minha filha, — ele respondeu com raiva, sua
voz aumentando marginalmente. — Eu poderia ficar sem a esposa,
mas percebo que é um pacote por enquanto, entã o estou disposto a
tolerar sua presença em minha vida novamente.
— Por quanto tempo você espera que continuemos vivendo
assim? — ela pressionou. Ela estava se esforçando muito para
manter a tensã o emocional longe de seu rosto.
— Viver como? Você conseguiu, Bronwyn, você nunca vai
querer nada, você tem tudo que precisa bem aqui. Sou eu quem fará
os sacrifícios, acorrentado à esposa que me aleijou e roubou minha
filha. Eu serei aquele sobrecarregado com uma esposa pela qual nã o
tenho absolutamente nenhum respeito. Mas eu quero minha filha e,
por enquanto, esta é a ú nica maneira de tê-la.
— Ah, por favor, Bryce, — ela retorquiu, seu rosto pá lido de
raiva e má goa. — Você nã o é exatamente o prêmio que pensa que é.
Se esqueceu que estarei presa num casamento sem amor com um
homem que me expulsou de casa quando lhe contei que estava
grávida dele. Um homem que me odeia sem motivo algum e que nã o
esconde o fato de que nã o me respeita. Como diabos você chama
isso? Prefiro que nos divorciemos e tentemos chegar a um acordo de
custó dia amigável. Kayla e eu poderíamos morar perto e...
— A ú nica outra opçã o que você tem aqui é se eu a tirar de
você, Bronwyn. Sem compromissos. Você mora aqui conosco ou vai
embora sem ela. O que é ser?
— Você nã o pode tirá -la de mim... — ela começou impotente,
ficando gelada quando ele puxou o tapete debaixo dela novamente.
Maldito seja, ele tinha todas as cartas e sabia disso. Sua bravata era
apenas uma postura vazia. Ela nã o tinha os recursos dele e, por
enquanto, teria que seguir sua linha até que pudesse encontrar uma
maneira de sair dessa confusã o.
— Não posso? — ele perguntou friamente. Ela se debateu sob
seu olhar firme, baixando os olhos para onde Kayla estava brincando
alegremente no chã o. — É melhor você começar a pensar no que
quer, Bronwyn. Fique ou saia. Mas se você ficar, sugiro que comece a
encontrar maneiras de tornar sua vida aqui mais tolerável.
— Mas e quanto a... — ela começou antes de morder a língua e
corar até os dedos dos pés. O rubor a entregou.
— Sexo? — ele perguntou, e ela assentiu miseravelmente. —
Bem, eu nã o sei sobre a sua, mas minha vida sexual está
perfeitamente bem. — Ele encolheu os ombros. —Naturalmente,
também nã o espero que você se prive. Se você está preocupado que
eu vá rastejar para sua cama em uma noite desesperada, nã o se
preocupe. Você é a ú ltima mulher no mundo com quem quero
dormir. — Sua expressã o era tã o desgostosa que os olhos de
Bronwyn se encheram de lá grimas de vergonha. Ela as afastou,
enfurecida pela demonstraçã o de fraqueza. Seu desprezo doeu mais
do que ela poderia ter imaginado. Ela olhou para a filha deles. A
garotinha que brincava inocentemente permaneceu alheia à tensã o
na sala, e Bronwyn ficou grata por isso. Ela concentrou sua atençã o
em Bryce.
— Você me quis outro dia, — ela o lembrou desafiadoramente,
e ele riu.
— Senti pena de você, — ele corrigiu. — Confie em mim,
Bronwyn, o simples pensamento de tocar em você me dá arrepios!
— Ela se encolheu e lutou desesperadamente para manter as
lá grimas sob controle e suas emoçõ es sob controle, mas uma ú nica
gota escaldante escapou para queimar seu rosto. Seus olhos
seguiram o progresso da lá grima. Sua mandíbula cerrou e sua
expressã o permaneceu sem emoçã o. Ele parecia um homem sob
enorme tensã o. Ela enxugou a umidade de seu rosto, querendo ser
tã o insensível quanto ele, mas falhou quando outra lá grima escapou.
Ela desviou o rosto, nã o querendo ver o desprezo em seus olhos e se
levantou enquanto procurava uma rota de fuga para fora da sala. Ele
também se levantou e ficou na frente dela, bloqueando seu caminho
para a saída, entã o ela se afastou dele e caminhou até uma das
janelas, olhando cegamente para o magnífico cená rio enquanto
lutava para controlar suas emoçõ es.
Ele observou suas costas estreitas tremerem enquanto ela
bravamente tentava se controlar. Maldita seja! Suas lá grimas sempre
tiveram o poder de desmanchá -lo, mas isso era algo que ela nã o
sabia, algo que ele nunca ousara revelar a ela por medo de que ela as
usasse como uma arma contra ele. Mas ele percebeu que Bronwyn
odiava que ele visse suas lá grimas. Ele podia vê-la lutando para ser
forte, mas ela era tã o transparente que cada emoçã o devastadora
aparecia claramente em seu rosto. O pró prio fato de que ela estava
tentando tanto esconder qualquer sinal de fraqueza dele fez com que
suas lá grimas fossem difíceis de ignorar. Ele cerrou os punhos e se
obrigou a permanecer onde estava, para nã o ceder à tentaçã o de ir
confortá -la.
Ela olhou para o oceano, mas nã o parecia estar admirando a
vista enquanto envolvia seus braços esguios ao redor de si mesma.
Ela parecia tã o incrivelmente solitá ria que quase o machucava
fisicamente nã o ir até ela. Mas Bryce se recusou a cair em sua
armadilha novamente; ele iria dar as ordens agora. Da ú ltima vez, ele
ficara tã o apaixonado por ela que mal conseguia enxergar direito. Se
lembrou da primeira vez que pô s os olhos nela, como a havia
encarado naquele dia, tentando descobrir o que achava tã o
fascinante nela.
Ela era alta, cerca de um metro e setenta e cinco, mas lhe faltava
a graça inerente a muitas mulheres altas. Na verdade, naquele
primeiro dia, ela parecia cair a cada cinco minutos. Ela nem era
bonita. Suas feiçõ es, tomadas separadamente, eram bastante
atraentes, um nariz longo e reto, boca exuberante, sobrancelhas altas
e arqueadas e os mais belos olhos castanhos com cílios grossos que
ele já vira. No entanto, quando reunidas em seu rosto estreito e oval,
essas características simplesmente nã o pareciam combinar. Ainda
assim, ele foi compelido a olhar fixamente por horas, afogando-se
cada vez que ela mudava aqueles enormes olhos castanhos
aveludados dela para ele.
Agora ele a observava com cautela, quase desejando nunca ter
visto a vadia traiçoeira. Ele a amaldiçoou por parecer uma criança
frá gil com seu cabelo castanho-escuro mal aparado encaracolado ao
redor de seu rosto onde havia escapado de seu rabo de cavalo
desleixado. Ele observou enquanto ela endireitou as costas,
chegando a algum tipo de resoluçã o, e se virou para encará -lo. Ela
caminhou em direçã o a ele até que eles estivessem separados por
menos de um metro.
— Eu vou ficar, — disse ela, sua bela boca formando as palavras
de forma concisa. Era um inferno, esse negó cio de leitura labial. Cada
vez que seu olhar caía em seus lá bios carnudos, ele se lembrava de
como eram. — Parece que nã o tenho outra escolha. Quando eu
estiver completamente recuperada e Kayla estiver instalada, quero
retomar meus estudos. — Ele assentiu; uma de suas objeçõ es à
gravidez dela era que ela estava no processo de obtençã o de seu
diploma de graduaçã o em zoologia, seu objetivo final de se tornar
veteriná ria. Ele nã o se sentia confortável com a ideia de ela desistir
disso e talvez um dia se ressentir dele e do bebê por ter que
sacrificar seus sonhos. Ele nã o conseguia se lembrar de ter dito isso
a ela na época, mas sabia que nã o tinha sido o mais ló gico depois de
ouvir a notícia de que ela estava grávida.
— Se este for um casamento aberto, — ela continuou, — vou
começar a sair com outras pessoas também. Tudo o que peço é que
sejamos o mais discretos possível, pelo bem de Kayla.
Ela pretendia ver outros homens? Esse pensamento nã o caiu
muito bem com ele, e ele abriu a boca para protestar antes de
lembrar que tinha sido sua pró pria ideia estú pida para ela nã o se
privar. Afinal, se ele nã o a queria, por que ela nã o deveria se sentir à
vontade para encontrar alguém que a desejasse? Algum outro cara
que iria abraçá -la e beijá -la? Alguém que estaria livre para enxugar
suas lá grimas e confortá -la? Algum outro homem que a amaria e
cuidaria dela? Alguém que faria o que Bryce nã o queria mais fazer?
Ele assentiu, esperando que nada da confusã o que estava sentindo
fosse evidente em seus olhos ou em seu rosto.
— Parece justo, — ele concordou suavemente antes de deixar
cair seu olhar incisivamente para o dedo anelar dela. — Mas
casamento aberto ou nã o, você tem que começar a usar suas alianças
de novo.
Bronwyn cobriu a mã o esquerda constrangida com a direita,
seus pró prios olhos caindo nas mã os fortes dele. Ela percebeu, nã o
pô de deixar de notar, que ele ainda usava sua aliança de casamento,
uma larga aliança de ouro e platina com um complexo desenho celta
que combinava com a aliança muito menor dela.
— Eu . . . Eu nã o as tenho, — ela confessou, e ele fez um som
impaciente no fundo de sua garganta.
— Sou surdo, lembra? — ele perguntou sarcasticamente. — Me
mostre sua boca quando falar! — Ela ergueu o rosto e encontrou seu
olhar com firmeza.
— Eu nã o as tenho.
— Você nã o tem os anéis? — ele perguntou incrédulo. — O que
diabos você fez com elas?
— Eu as vendi, — disse ela antes de fugir da sala, nã o querendo
ver a reaçã o dele a essa confissã o. Ela teria dado qualquer coisa para
manter aqueles anéis, embora eles passassem a simbolizar nada
além de mentiras.
CAPÍTULO QUATRO
Bryce estava com um humor imprevisível desde que ela confessou,
mais cedo naquele dia, ter penhorado suas alianças de casamento e
noivado. Bronwyn olhou para o marido nervosamente do outro lado
da mesa de jantar. Eles tendiam a jantar tarde, entã o Kayla tinha sido
alimentada e colocada na cama uma hora antes. Ela havia pensado
em pular o jantar, mas sabia que seria tolice perder qualquer
refeiçã o quando já estava tã o fraca, e comer em seu quarto seria a
saída covarde. Bryce insistiu, logo apó s sua chegada, que jantassem
juntos. Ele parecia querer que todos pensassem que isso era algum
tipo de reconciliaçã o feliz. Nã o que alguém além das criadas
estivesse por perto para vê-los juntos. Rick, Lisa e seu bebê de treze
meses, Rhys, haviam retomado as férias em família em Knysna e só
voltariam à Cidade do Cabo por alguns dias.
Bronwyn ainda estava impressionada com o quanto as coisas
haviam mudado desde que ela partiu. Ela se perguntou onde
estariam os amigos de Bryce. Pierre De Coursey, seu parceiro de
negó cios na DCP Jewelers Inc. e bom amigo, costumava ser um
visitante regular em sua casa; ela gostava do francês, embora
soubesse que ele devia ter se perguntado o que Bryce estava fazendo
com uma caipira de cidade pequena como ela.
— Onde está Pierre? — Ela se cansou do silêncio e decidiu
pegar o touro pelos chifres. Quando ela nã o recebeu resposta, ela
olhou para cima para encontrar Bryce contemplando sua taça de
vinho. Ela suspirou tristemente, percebendo imediatamente seu
erro. Ela acenou para chamar sua atençã o e ele olhou para cima
distraidamente. Ela repetiu a pergunta e ele franziu a testa.
— Você quer cerveja? — ele perguntou surpreso.
— Pierre De Coursey? — Ela usou o nome completo do francês,
esperando que isso ajudasse, e observou os lá bios de Bryce se
curvarem em diversã o, fazendo sua covinha piscar brevemente. Ela
ficou um pouco chocada com o humor autodepreciativo que viu nos
olhos dele.
— Desculpe, bs e ps, sabe? Junto com vs e fs e ts e ds. Pode ser
um pouco confuso quando nã o há contexto para um comentá rio ou
conversa. Posso me perder um pouco.
Ela assentiu e ousou dar um leve sorriso. — E o Pierre?
— Bem, ele nã o apareceu desde o meu retorno. Acho isso
bastante estranho, já que ele costumava vir na maioria das noites
antes... antes de... — A voz dela sumiu, e as sobrancelhas dele se
ergueram.
— Antes de você fugir? — ele inseriu suavemente.
— Antes de eu ser expulsa, — ela corrigiu, com a mesma
suavidade, farta de ser a vilã da peça. Suas sobrancelhas se ergueram
um pouco mais, mas ele deixou passar pela primeira vez.
— Pierre passa a maioria das noites em casa com sua família
hoje em dia.
— A família dele? — Pierre nã o era casado quando ela partiu.
— Sim, ele tem mulher e filho.
— Pierre De Coursey se casou? — Ela nã o conseguiu evitar o
choque em sua expressã o.
— Foi uma surpresa para mim também. — Ele sorriu
inesperadamente e parecia tanto com o que era antes que a boca de
Bronwyn ficou seca de desejo. — No ano passado, quase um ano
depois que você partiu, ele anunciou inesperadamente que ia se
casar. É certo que eu estava muito fora de serviço e nã o muito ciente
do que estava acontecendo no mundo ao meu redor na época, mas
Pierre, que era um visitante regular e preocupado e amigo, nunca
mencionou conhecer uma mulher que ele estava saindo sério o
suficiente para se casar.
Bronwyn estava tã o ocupado absorvendo a rara e reveladora
declaraçã o sobre sua convalescença apó s o acidente que seus
comentá rios sobre Pierre mal foram registrados. Para todos os
efeitos, parecia que Bryce havia se retirado do mundo apó s o
acidente e nã o se aventurara a voltar a ele. Ele parecia quase recluso
e quase nunca saía de casa. Na verdade, ela nã o conseguia se lembrar
de ele ter ido ao escritó rio uma ú nica vez desde seu retorno. Ele e
Pierre eram coproprietá rios de uma joalheria exclusiva que era
conhecida por seus acessó rios de grife que atendiam apenas aos
membros mais ricos nos segmentos mais rarefeitos da sociedade. A
empresa tinha filiais em todas as grandes cidades da Europa,
América do Norte e Á sia e recentemente abrira o capital na bolsa de
valores.
— Alice é fantá stica, — dizia ele. — Exatamente o que Pierre
precisa. — Desviada por isso, Bronwyn franziu a testa e voltou a se
concentrar na conversa.
— Pierre De Coursey se casou com uma mulher chamada Alice?
— De alguma forma, ela sempre imaginou Pierre, mesmo quando ela
pensou em uma ideia tã o absurda, como terminando com uma
mulher exó tica tanto no nome quanto na aparência.
— Sim. Ela é uma boa mulher, um pouco quieta, mas afiada que
um prego literalmente, — lembrou ele com carinho, e Bronwyn
conteve uma onda de inveja pelo calor de sua voz.
— Como eles se conheceram? — ela perguntou, curiosa.
— Hospital. Pierre estava me visitando e entrou na ala errada.
Alice tinha sofrido um acidente também, um acidente muito ruim
pelo que eu entendi. Ela estava inconsciente, aparentemente em
coma, e enquanto todos os outros pacientes na sala tinham cartõ es e
flores, Alice nã o tinha nada. Nã o sei, acho que Pierre sentiu um
pouco de pena dela, entã o ele a visitava todos os dias quando vinha
me visitar e logo soube que ela nã o tinha família e que acabara de se
mudar de Joanesburgo para cá , o que significava que ela ainda nã o
teve tempo de fazer amizade com ninguém. Ele continuou a visitá -la
mesmo depois da minha alta do hospital. Ele trouxe flores para ela e
conversou com ela durante meses, até que um dia ela abriu os olhos,
sorriu e disse: “É você”. — Bryce deu de ombros. — Dane-se se eu sei
o que isso significa, mas Pierre se apaixonou forte e rá pido. Eles se
casaram alguns meses depois, depois que Alice convalesceu o
suficiente para caminhar até o altar sem ajuda.
— Ah, que histó ria linda. — Bronwyn sorriu vagamente e Bryce
revirou os olhos.
— Como é típico de uma mulher achar isso româ ntico, — ele
zombou.
— Você nã o acha que é româ ntico?
— Acho que Pierre apenas gostava de se sentir necessá rio e
gostava da ideia de ter alguém quase totalmente dependente dele.
Acontece! O amor pode ter vindo depois, mas inicialmente, na minha
opiniã o, foi só isso. Os homens tendem a gostar quando as mulheres
despertam nossos instintos protetores; isso nos faz sentir heroicos.
— Parece que você está falando por experiência pró pria, — ela
nã o pô de deixar de apontar, e ele zombou.
— Por que diabos você acha que eu continuei voltando para
você? — Ela sabia que estava chegando, mas nã o conseguiu evitar se
precipitar naquelas á guas profundas e escuras. — Você me fez sentir
como um heró i conquistador. Você continuou olhando para mim com
aqueles olhos de corça, e eu senti como se pudesse conquistar o
mundo. É uma coisa inebriante ser elevado a um status quase divino
assim. Eu nunca deveria ter deixado as coisas irem tã o longe. Você
era uma coisinha ingênua e eu aceitei tudo que você ofereceu, mas
quando fizemos sexo e eu soube que você era virgem, nã o tive outra
opçã o a nã o ser fazer a coisa certa, nã o é? Especialmente desde que
fomos tã o estú pidos e descuidados na primeira vez. Embora eu nã o
gostasse muito da ideia de ter filhos, nã o queria que nenhum filho
meu crescesse sem o meu nome.
— O que você está tentando dizer? — Ela perguntou baixinho,
feliz pela primeira vez que ele nã o podia ouvir a emoçã o em sua voz,
mas incapaz de esconder as lá grimas brilhando em seus olhos. —
Que nosso casamento foi baseado em uma mentira?
— Sem mentira. — Ele encolheu os ombros. — Bem, ok, talvez
uma mentira por omissã o. Eu nunca disse a você por que estava
pedindo em casamento.
— Eu pensei... — que você me amava. Ela nã o conseguiu dizer
as palavras, e sua voz desapareceu em nada.
— Eu sei o que você pensou, mas achei melhor permitir que
você continuasse acreditando em seu conto de fadas felizes para
sempre. — Nã o havia absolutamente nada que ela pudesse dizer em
resposta a isso, e ela o encarou com seus olhos enevoados. Ele
quebrou o contato visual primeiro e levou o copo aos lá bios,
tomando um grande gole. Por um segundo ela teve quase certeza de
que a mã o dele estava tremendo, mas ele rapidamente a abaixou e
ergueu o olhar para encontrar o dela mais uma vez. Nã o havia nada
além de desdém naquele olhar, e ela sabia que havia imaginado o
leve traço de vulnerabilidade. — Gostaria de conhecer Alice? Tenho
certeza que vocês duas vã o se dar bem.
Surpresa pela sú bita mudança de assunto e pela inesperada
gentileza em sua voz, ela assentiu, impotente. Ela havia perdido
contato com todos os amigos que fizera na universidade. Ela tentou
entrar em contato com alguns deles desde seu retorno. Claro, a
maioria deles havia feito pó s-graduaçã o, alguns deixaram a cidade
para continuar seus estudos em outro lugar, mas os que
permaneceram nã o demonstraram nenhum desejo real de reatar sua
amizade com ela. Se ela pudesse fazer amizade com a esposa de
Pierre, ajudaria muito a evitar a solidã o esmagadora que ela estava
começando a sentir nesta casa.
— Gostaria disso. — Ela baixou os olhos para o prato,
levantando a faca e o garfo na tentativa de fingir que nada estava
errado, mas o tremor violento em suas mã os a fez mentirosa, e ela
nã o teve escolha a nã o ser colocar os talheres de volta na mesa. Ela
realmente nã o deveria estar tã o devastada por saber que tudo o que
ela inicialmente acreditou sobre seu casamento era uma mentira.
Como sua crença de que Bryce se casou com ela porque a amava
quando nunca a amou. Suas revelaçõ es nã o deveriam ser surpresas,
nã o depois do jeito que ele a tratou dois anos atrá s. Ainda assim,
suas palavras machucaram muito mais do que deveriam; parecia que
ela havia levado um soco no estô mago e a dor era implacável.
— Vou convidá -los para jantar amanhã à noite. Pierre e eu
temos negó cios para discutir de qualquer maneira, — ele disse
suavemente, e ela assentiu, abaixando a cabeça ainda mais,
petrificada que ele pudesse ver suas lá grimas. Ela olhou embaçada
para o prato, mas mal conseguia ver o conteú do. Para seu horror
absoluto, ela sentiu as lá grimas escaldantes transbordando e
observou enquanto elas pingavam em seu prato. Com um som
agonizante, ela rapidamente se levantou, esfregando o rosto no
processo.
— Eu... com licença... — Ela deu uma breve olhada em seu rosto
sombrio e, incapaz de suportar mais, ela fugiu, ouvindo sua maldiçã o
abafada ao sair. Houve um silêncio horrível, seguido por um estrondo
igualmente horrível quando Bryce aparentemente jogou algo contra
a parede. O som de vidro quebrando a estimulou e ela subiu as
escadas e entrou em seu quarto como um tiro. Felizmente, o barulho
violento nã o acordou Kayla, e Bronwyn se encolheu como uma
pequena bola no centro de sua cama, deixando as luzes apagadas,
precisando do escuro para lamber suas feridas abertas em particular.
— Você gostou da sua noite? — Bryce perguntou com uma voz
indulgente que irritava os nervos de Bronwyn, apó s a partida do
outro casal. Eles estavam parados no degrau da frente, observando
as luzes traseiras do carro de De Coursey se distanciarem enquanto
ele descia o caminho íngreme e sinuoso que levava da casa dos
Palmer de volta à estrada principal.
— Sim. — Ela respondeu abruptamente. — A Alice é fantá stica.
Eu realmente gostei dela.
— Eu sabia que você iria, — ele confirmou, ainda parecendo e
soando como um pai indulgente. Por alguma razã o, Bronwyn teve
vontade de tirar o sorriso satisfeito de seu rosto. Ele tinha que
parecer tã o malditamente presunçoso?
— Sim, claro. — Ela olhou diretamente para ele, seus olhos
brilhando com raiva. — E, como todos nó s já sabemos; você sempre
tem razã o. — Ele nã o podia ouvir o veneno em sua voz, mas
certamente podia vê-lo em seus olhos e deu um passo para trá s.
— O que diabos está errado agora? — ele rosnou furiosamente.
— Nada, — ela sibilou. — Estou cansado... Vou para a cama.
— Ah, vamos lá , — ele se irritou. — Você nã o vai fazer isso
comigo. Você nã o vai jogar este jogo.
— Eu não estou jogando nenhum jogo. Estou cansada demais
para jogos. —Ela se virou e voltou para dentro. Ele a seguiu para
dentro e segurou seu cotovelo para deter seu progresso. Ela tentou
puxar o braço, mas o aperto dele, embora gentil, era implacável.
— O que está acontecendo? — ele perguntou em um sussurro.
— A Alice ou o Pierre fizeram ou disseram algo que te ofendeu?
— Nã o, — ela balançou a cabeça abruptamente. — Nã o, claro
que nã o.
— Entã o sou eu? — ele afirmou com naturalidade.
— É mais alguém? — ela murmurou sarcasticamente baixinho,
mas ele nã o conseguiu ler seus lá bios porque ela abaixou a cabeça
enquanto dizia isso. Ela tentou mexer o braço e olhou para ele
quando ele nã o quis soltá -la.
— Você está me machucando! — ela declarou o mais
claramente que pô de, e ele a soltou abruptamente.
— Eu sinto muito. — Sua libertaçã o e desculpas imediatas a
pegaram de surpresa, e ela se sentiu um pouco culpada quando viu
uma labareda de remorso genuíno em seus olhos. — Eu nã o queria
te machucar.
— Você nã o o fez, — ela admitiu. — Mas estou cansada e nã o
tenho mais nada a dizer a você esta noite.
— Você acha que pode me dispensar e esperar que eu obedeça
como um cachorro chicoteado? — ele zombou, segurando seu
cotovelo novamente e dando-lhe uma sacudida suave para enfatizar
seu ponto.
— Nã o, eu espero que você respeite meus desejos, — ela disse a
ele cansadamente, toda a luta a deixando. Seu braço pendia
frouxamente em seu aperto. Ele suspirou e segurou o outro cotovelo
dela antes de passar as mã os carinhosamente pelos braços dela.
— Me diga por que você está com raiva de mim, — ele
persuadiu, e suas grandes mã os se moveram para segurar seu rosto
estreito gentilmente. Seus polegares traçaram o contorno de seus
lá bios trêmulos, e ele se inclinou para ela, seus lá bios quase tocando
os dela.
— Eu quero estar com você novamente esta noite, — ele
sussurrou com voz rouca, e ela se encolheu.
— Nã o. — Ela balançou a cabeça com firmeza. Ele franziu a
testa e recuou, soltando-a abruptamente.
— Por que nã o? — ele perguntou friamente.
— Como você pode me perguntar isso? Eu te disse, à noite
passada foi um erro. E você realmente acha que eu quero voltar para
a cama com o homem que disse que eu faço sua pele arrepiar? — ela
perguntou.
— Olha, eu fui um idiota quando disse isso, ok? — ele admitiu,
levantando as mã os em sinal de rendiçã o. — Eu sinto muito. Foi uma
mentira descarada expressamente projetada para feri-la tanto
quanto possível. Era isso ou admitir que você estava certa sobre eu
querer você no outro dia. — Ela continuou olhando fixamente para
ele, sabendo que ele estava repudiando suas palavras agora porque a
queria de volta em sua cama.
— Eu nã o vou implorar, — ele avisou.
— Eu nã o esperava que você o fizesse, — ela murmurou, e ele
franziu a testa, incerto.
— O que? — Quando ela se recusou a repetir as palavras que
ele nã o tinha entendido, ele xingou com raiva e se afastou dela. — Eu
odeio isso! Eu quero saber cada palavra sua. Quero ouvir a risada da
minha filha. Eu quero tantas coisas. — Ela suavizou um pouco com a
frustraçã o impotente em sua voz e deu um passo em direçã o a ele.
Ela pousou uma mã o hesitante em seu ombro rígido e deu a volta
para encará -lo. Ele tirou a mã o dela e olhou para ela.
— Não, — ele advertiu perigosamente, e sua sobrancelha
baixou em confusã o.
— Nã o o quê?
— Nã o se atreva a ter pena de mim. — Sua voz era dura como
granito, desmentindo a vulnerabilidade que ela ouvira segundos
antes. — Eu nã o quero ou preciso da sua pena!
— Confie em mim, a ú ltima coisa que sinto por você é pena, —
ela disse a ele, mas ele deve ter perdido as palavras porque sua
carranca confusa se aprofundou antes que ele praguejasse de
irritaçã o.
— Apenas vá para a cama, Bron, — ele murmurou cansado
enquanto roçava por ela. Bronwyn observou suas costas largas
enquanto ele recuava. Ele virou uma esquina e ela ouviu uma porta
batendo ao longe enquanto ele se fechava em seu escritó rio.
Bronwyn ficou ali por muito tempo, lutando bravamente contra
as lá grimas de frustraçã o. Ela nã o conhecia esse homem machucado,
espancado e amargurado como o Bryce com quem ela havia adorado
e com quem se casou poucas semanas depois de conhecê-lo, mas
ainda havia algo tã o atraente nele. Ele a lembrava de um leã o
gravemente ferido, confuso e exausto, mas incapaz de parar de lutar.
Ela engoliu a incrível dor da realizaçã o, reconhecimento e
resignaçã o. Deus a ajude, ela ainda amava Bryce. Ela sempre amou
Bryce. Ela o amava, odiava e se ressentia dele, tudo ao mesmo tempo.
No entanto, a ú nica outra certeza que ela tinha na vida além do amor
de Kayla era o conhecimento de que Bryce a odiava mais do que ela
jamais imaginou ser possível, e ela nã o sabia como iria proteger seu
coraçã o vulnerável da agonia de que ele era tã o capaz. de infligir a
ela.
A casa estava um caos quando Bronwyn voltou para casa meia hora
depois. Kayla estava gritando na sala enquanto Bryce segurava seu
corpinho contorcido em seus braços enquanto tentava
freneticamente acalmá -la. Celeste ficou de lado, torcendo as mã os
nervosamente, um olhar preocupado em seu rosto simples.
— Ah meu Deus! O que está acontecendo aqui? — O choro de
Kayla piorou quando ela ouviu a voz de sua mã e. Ela conseguiu se
desvencilhar dos braços do pai e se lançou na direçã o da mã e, seu
andar instável quase a desequilibrando.
— Mamã e! Kayla ai! Kayla ai, mamã e! — Bronwyn caiu de
joelhos, e seu coraçã o caiu como uma pedra quando ela registrou o
medo genuíno e a dor no rosto de sua filhinha. Enquanto a criança se
esgueirava para os braços abertos de sua mã e e se aconchegava em
seu peito, Bronwyn permitiu que seus olhos furiosos encontrassem
os de Bryce. Seu rosto havia se fechado como uma persiana, um
olhar distante em seus olhos enquanto ele os observava, as mã os
enfiadas nos bolsos das calças.
— O que você fez com ela? — ela sibilou, seus instintos
maternais em alerta total. — Eu confiei em você para cuidar dela e
volto para isso? — Kayla parou de soluçar histérica e estava
soluçando no peito de Bronwyn, seu corpinho tenso relaxando
enquanto ela se agarrava ao conforto familiar que sua mã e
representava. Os olhos sombreados de Bryce nã o revelavam
absolutamente nenhuma emoçã o; seu maxilar cerrado era o ú nico
sinal visível de sua tensã o. Ela se levantou, Kayla em seus braços, e
avançou em direçã o a ele, uma leoa perseguindo a intençã o de
proteger seu filhote.
— O que aconteceu aqui?
Seus olhos permaneceram nivelados, mas ele se recusou a dizer
uma palavra.
— Bryce, me responda! Ela nunca chora assim, a menos que
esteja ferida. Como ela se machucou?
Seus olhos piscaram um pouco, enquanto ele lançava um olhar
involuntá rio para a garotinha que estava olhando para ele com
enormes olhos azuis encharcados de lá grimas. Seu polegar estava
apoiado em sua boca e sua respiraçã o ainda engasgou. Bronwyn
olhou para o corpinho da filha, avaliando os danos. Seus olhos nã o
detectaram sinais visíveis de ferimento até que ela alcançou um
pezinho rechonchudo descalço. Seu dedã o do pé estava sangrando e
parecia um pouco inchado. Bronwyn fez um som suave de
consternaçã o e ergueu o pé para inspecioná -lo mais de perto.
Felizmente, o dano parecia mínimo e, a julgar pelas fungadas cada
vez menores de Kayla, o choque imediato da dor já havia passado. À
medida que a névoa de pâ nico se dissipou, Bronwyn começou a
reconhecer que o dano que ela havia causado ao entrar cegamente
na briga pode ter sido muito pior do que o ferimento no dedo do pé
de Kayla. Ela demonstrara uma terrível falta de confiança ao
presumir que Bryce fora o responsável pelo ferimento do bebê, e
estava começando a se sentir uma tola superprotetora.
— Bryce, — ela começou hesitante, dando um passo para onde
ele estava. Ele estava quieto e distante como uma está tua. Ele a
ignorou e girou nos calcanhares para sair da sala abruptamente.
Bronwyn fez um pequeno som consternado, e Kayla, com sua dor
quase esquecida, arrastou o polegar da boca para adicionar sua
pró pria opiniã o.
— Papai, tchau, — ela observou solenemente antes de
descansar a cabeça no ombro de Bronwyn e enfiar o polegar de volta
na boca.
— Sim, — sussurrou Bronwyn, enterrando o rosto nos cachos
sedosos da filha. — Papai foi embora. — Mas isso nã o era
inteiramente verdade; ele nã o tinha saído de casa, ela ouviu a porta
de seu escritó rio bater e sabia que ele provavelmente estava
pensando lá dentro. Ela sabia que teria que chegar ao fundo das
coisas mais cedo ou mais tarde e também tinha a sensaçã o de que
era ela quem teria que fazer sérias reparaçõ es. Ela olhou para a
horrorizada Celeste e acenou com a cabeça para a garotinha
sonolenta em seus braços.
— Eu cuido do dedo do pé dela — disse ela com a voz rouca, e
Celeste resmungou que estaria na cozinha. Bronwyn se preocupou
com Kayla por um tempo, sua mente em Bryce enquanto ela beijava
o dedo do pé de seu bebê agora risonho e colocava um lindo Band-
Aid de Procurando Nemo no pequeno corte. As pá lpebras de Kayla
começaram a fechar depois de meia hora abraçando e brincando
com sua mã e - já era hora de seu cochilo da tarde. Bronwyn a
carregou até a governanta na cozinha.
— Celeste, você se importaria... — Ela deixou a pergunta
inacabada, e Celeste assentiu imediatamente e se apressou para
pegar Kayla sem protestar em seus braços. Bronwyn deu um beijo
afetuoso na testa da criança sonolenta antes de sair correndo da sala
em direçã o ao escritó rio de Bryce. A cada passo pesado que dava, ela
se sentia cada vez mais como Daniel se preparando para enfrentar a
cova dos leõ es. Quando chegou à porta fechada do escritó rio, ela
parou para ouvir, mas nã o conseguiu ouvir nenhum som vindo de
trá s da porta. Ela bateu cautelosamente na madeira só lida antes de
se repreender por sua açã o impensada. Agora ela enfrentava um
dilema desconhecido: ela entrava? Ou ela esperava até que ele
finalmente saísse sozinho? Ela considerou o obstá culo
repentinamente intransponível da porta com cautela antes de
decidir pegar o touro pelos chifres e abrir a porta.
Bryce estava sentado atrá s de sua enorme escrivaninha, com os
cotovelos apoiados na superfície brilhante de madeira e o rosto
enterrado nas mã os. Seus ombros largos tremiam ligeiramente. Ele
parecia terrivelmente vulnerável e, naquele momento, Bronwyn se
sentiu um voyeur da pior espécie. Ela limpou a garganta para alertá -
lo de sua presença e entã o xingou baixinho quando percebeu que o
gesto era tã o fú til quanto bater na porta.
— Bryce... — Novamente ela xingou, sentindo-se uma completa
idiota, e hesitantemente deu alguns passos em direçã o a ele,
levantando a mã o em seu ombro no processo. Ele pulou da cadeira
como um gato escaldado e xingou furiosamente. Ele olhou para ela,
parecendo um pouco abalado e muito furioso.
— Não se aproxime de mim assim, — ele repreendeu com voz
rouca.
— Eu nã o queria, — ela protestou, chocada pela quase violência
de sua reaçã o. — Eu bati, mas...
— Você bateu? — Sua voz gotejava com escá rnio. — Nã o
consigo ouvir, droga!
— Bem, o que eu deveria fazer, entã o? — ela respondeu
defensivamente.
— Há uma campainha, — informou ele, acalmando-se
marginalmente, e ela olhou para ele em confusã o.
— Uma campainha? Mas como... — a pergunta dela sumiu
quando ele apontou para a lâ mpada em sua mesa.
— A lâ mpada está preparada para piscar quando a campainha
toca. Funciona tanto para a porta da frente quanto para a porta do
escritó rio. Duas cintilaçõ es para fora, uma para dentro.
— Ah. Isso é muito inteligente, — ela murmurou,
impressionada com o engenhoso dispositivo e se sentindo como uma
completa idiota por nã o ter percebido antes que as luzes piscando
que ela havia notado distraidamente intermitentemente desde seu
retorno nã o eram resultado de uma falha elétrica como ela havia
presumido.
— Inteligente, sim. — Ele sorriu sem humor e praticamente
zombou das palavras. —É um dispositivo bastante comum para
surdos. Há tantas maneiras de tornar nossas vidas o mais
convenientes possível, brinquedinhos inteligentes que acendem e
vibram, tablets e smartphones com recursos de chamadas face a
face, mensagens e vá rios outros pequenos dispositivos projetados
para facilitar minha vida. No entanto, nenhum desses brinquedinhos
inteligentes jamais seria capaz de me alertar para o fato de que
minha filhinha está bem atrá s de mim, tentando chamar minha
atençã o, nenhum deles poderia me impedir de me virar e pisar nela
antes que eu sou capaz de me conter. — Ah Deus! Depois de seu
pâ nico inicial ao encontrar Kayla em lá grimas e dor ó bvia, ela
suspeitava que poderia ser algo assim. Claro que foi um acidente,
algo pelo qual Bryce se despedaçaria, uma situaçã o que ela piorou
com sua estú pida reaçã o exagerada. Seus olhos estavam
atormentados, e ela engoliu um soluço enquanto segurava seu
queixo em suas mã os esguias.
— Bryce, — ela sussurrou, seus olhos cheios de pesar e
simpatia. Ele nã o viu nada além de simpatia e confundiu com pena.
Ele se afastou dela e lhe deu as costas.
— Nã o, — ela gemeu baixinho, nã o querendo permitir que ele
se fechasse quando estava claramente com dor. Ela deu um passo ao
redor dele e o forçou a encontrar seus olhos.
— Mikayla e eu vamos ter que aprender a nã o nos
aproximarmos de você entã o, — ela disse a ele com firmeza. — Você
nã o tem culpa aqui, Bryce, foi um acidente!
— Você mudou de tom rapidamente, — ele zombou, e ela corou.
— Eu exagerei, — ela admitiu. — Eu sinto muito. Eu nã o
deveria ter ido tã o fundo assim. Eu sei que você nunca machucaria
intencionalmente nossa filha.
— Intencionalmente ou nã o, eu a machuquei, — ele apontou
severamente. — E nã o posso prometer que isso nã o acontecerá
novamente no futuro. E ela — ela está com medo de mim agora. eu
nã o acho...
— Ela é um bebê, Bryce, — Bron apontou com firmeza. — Ela
ficou chocada e com dor, mas logo vai esquecer. As crianças sã o
resilientes e têm uma capacidade de perdã o muito maior do que nó s.
Ela também aprendeu a liçã o, e duvido que venha atrá s de você sem
avisá -lo de alguma forma no futuro. Uma coisa sobre sua filha... —
ela sorriu com carinho — ...ela aprende rá pido!
— Ela estava chorando tanto, — ele lembrou com a voz
trêmula. — Eu nã o consegui fazê-la parar! Seu rostinho estava tã o
triste e confuso. Eu me senti um monstro.
Ela deu um passo mais perto dele, seu coraçã o indo para ele.
— Ah, Bryce, — ela começou, sem saber como fazer isso
melhor. — Eu sinto muito.
— Eu nã o preciso de sua pena, — ele rosnou, tã o defensivo e
perigoso quanto um animal ferido. Bronwyn piscou, sua mudança
abrupta de humor a deixou completamente desprevenida.
— Eu nã o tenho pena de você, — ela negou, colocando uma
mã o hesitante em seu antebraço, mas ele deu de ombros e sinalizou
algo para ela, olhando ferozmente enquanto o fazia.
— Eu nã o entendo, — ela disse impotente, e ele respondeu com
outra rajada de sinais amotinados que a deixaram completamente à
deriva. Seus olhos ardiam de raiva e alguma outra emoçã o que ela
nã o conseguia definir.
— Bryce, por favor... — ela implorou, sem saber por que
importava para ela que ela o confortasse. — Nã o me exclua assim. —
Ele disse outra coisa, novamente com as mã os, e entã o abruptamente
virou as costas para ela. Mais uma vez, excluindo-a o mais
completamente possível. Ela soluçou um pouco antes de levar o
punho cerrado aos lá bios e morder os nó s dos dedos, sem saber
como lidar com isso. Ela olhou para suas costas largas e rígidas com
olhos ardentes. Ela se recusou a deixá -lo fazer isso.
Bryce sempre foi muito bom em excluí-la. Depois de um dia
ruim no trabalho, ele costumava se trancar em seu escritó rio e se
recusava a falar com ela sobre isso até que fosse resolvido. Ela nunca
disse a ele o quanto isso a magoava, e a única vez que ela ousou
mencioná -lo, ele a informou de forma bastante condescendente que
ela nã o entenderia de qualquer maneira e nã o se preocuparia com
isso. Isso a deixou tã o furiosa, mas ela deixou passar. Ela havia
deixado muitas coisas passarem naquela época, em um esforço para
nã o chatear Bryce. Mas ela nã o era mais aquela garota boba e
covarde, e ela estava determinada a nã o o deixar excluí-la de novo,
nã o desta vez. Nã o quando era tã o importante para o futuro deles
como uma família funcional. Ela jogou os ombros para trá s
resolutamente antes de passar por ele novamente para enfrentar seu
olhar feroz. Ela escolheu ignorar a raiva abrasadora em seus olhos.
— Eu nã o vou permitir que você vire as costas para mim desta
vez, Bryce. E eu me recuso a sair até que você me reconheça e
conversemos sobre isso! — ela disse a ele resolutamente, e seus
lá bios se apertaram enquanto ele sinalizava algo particularmente
perverso olhando para ela.
— Eu nã o sei o que você está dizendo, — Bronwyn quase gritou
em frustraçã o, e ele sorriu, uma exibiçã o selvagem de dentes que nã o
tinha nenhuma semelhança com seu sorriso normalmente bonito.
Ele sinalizou novamente e de repente agarrou seus braços e a beijou.
Duro! Sua língua forçou seu caminho para o interior macio de sua
boca, agredindo e insultando ao invés de acariciar e amar. Nã o havia
nada remotamente afetuoso no abraço, nada além de desprezo e
raiva.
— Eu disse, — ele disse a ela com desdém, quando ele levantou
a cabeça para terminar o beijo vil. — Que já que você se recusa a sair,
você também pode se tornar ú til!
Deus, o que na Terra a fez pensar que poderia lidar com este
homem em pé de igualdade? Sempre que ela tentava, ele movia as
traves e a deixava se debatendo. Ela nã o poderia enfrentá -lo e
vencer; ela nã o podia nem esperar tentar. Mas enganá -la, por pensar
que ela poderia.
—Nã o está tã o ansiosa para ficar por aqui agora, nã o é? — ele
provocou quando ela deu um passo para trá s. — Entã o, novamente,
você nunca foi boa em ver as coisas, nã o é? Coisas importantes como
seus estudos e nosso casamento.
— Foi você quem abandonou nosso casamento, Bryce. E entã o
você agravou seus pecados acreditando e contando as mentiras mais
desprezíveis sobre mim!
— Você vai parar de cantar essa mesma mú sica patética
repetidamente? Sua indignaçã o hipó crita nã o me agrada, Bronwyn.
Esse ar de dignidade ferida está se esgotando e me dando nos
nervos.
— Já que aparentemente somos “forçados” a construir uma
vida juntos, você nã o acha que deveríamos tentar deixar nossas
diferenças de lado e ser uma família?
— Entã o vamos ser uma família, Bronwyn, — ele murmurou
suavemente. — Vamos ser marido e mulher. — Ele segurou seus
braços finos novamente e a arrastou para ele, prendendo seus lá bios
em outro beijo. Desta vez, o beijo continha todos os elementos que
faltavam ao anterior: calor, sensaçã o e desejo. Bronwyn gemeu em
desespero, mas sua boca capturou o pequeno som desolado e o
engoliu avidamente. Seus lá bios eram macios, mas insistentes contra
os dela; eles abriram sua boca com a habilidade que ela sempre fora
incapaz de resistir, e sua língua fluiu, subjugando habilmente
qualquer protesto que ela pudesse ter feito. Mas Bronwyn nã o podia
protestar, nem sequer pensara em protestar. Ela sabia que isso nã o
resolveria nenhum de seus problemas - provavelmente os pioraria,
se alguma coisa - mas ela sempre se derreteu ao primeiro sinal de
ternura dele, e esse beijo zombeteiro era tã o humilhantemente
terno.
Suas mã os se moveram para segurar seu rosto, os polegares
acariciando sua mandíbula enquanto ele a persuadia a se abrir um
pouco mais, a responder apesar de si mesma e, Deus a ajudasse, ela
respondeu. Ela retribuiu o beijo, aparou-se com sua língua e correu
inquieta, buscando mã os em seus ombros, pescoço e rosto. Ele fez
um pequeno som satisfeito quando suas mã os questionadoras se
enterraram sob sua camiseta e encontraram a pele quente e sedosa
sob o algodã o. De alguma forma, juntos, eles conseguiram livrá -lo da
camiseta sem perder o contato uma vez. Sua blusa logo seguiu o
exemplo. Antes que ela percebesse, o resto de suas roupas estavam
fora, e eles estavam pele a pele, com nada entre eles, exceto uma fina
camada de suor. Ele fechou as mã os em volta da cintura dela e a
ergueu. Bronwyn soube imediatamente o que ele queria e o obrigou
envolvendo suas longas pernas em volta de sua cintura e seus braços
em volta de seu pescoço.
Ele cambaleou em direçã o a sua mesa, o peso dela o
desequilibrando um pouco, mas sua boca nunca perdeu o contato
com a dela. Houve um barulho terrível quando ele varreu o papel de
carta da superfície da mesa, quase derrubando o monitor do
computador no processo. Ele ergueu os lá bios dos dela enquanto a
deitava na mesa e mergulhou nela no mesmo movimento fluido.
Alguém soluçou de alívio. Bronwyn nã o sabia qual deles era,
mas suspeitava que fosse Bryce. Ele descansou lá por um tempo,
levando-a para baixo com seu peso. Ele se sentiu grande, quente e
duro dentro dela e cobriu seu rosto com pequenos beijos de
adoraçã o enquanto começava a se mover. As pernas dela haviam
caído de sua cintura e agora balançavam sobre a borda da mesa com
as coxas bem abertas para acomodar seus poderosos impulsos. Suas
mã os estavam espalmadas contra a mesa em ambos os lados de sua
cabeça enquanto ele concentrava toda sua atençã o formidável em
seu prazer mú tuo.
Ele estava começando a gemer, e seus golpes longos e suaves
estavam ficando mais agitados e menos controlados. Bronwyn puxou
as pernas para cima e envolveu-as em volta da cintura dele
novamente, levantando o traseiro da mesa para permitir um acesso
mais fá cil e profundo. Ele baixou a cabeça até os seios dela,
lambendo, chupando e beijando-os avidamente. Uma de suas mã os
caiu para onde seus corpos estavam unidos e ele a tocou de uma
forma que sempre a deixou louca. Desta vez nã o foi exceçã o - ela
grunhiu de surpresa, respirando o nome dele, antes de gritar de
prazer enquanto estremecia, entã o estremeceu novamente e
desmoronou ao redor dele.
Ele gemeu, movendo as mã os para seus quadris esguios para
mantê-la firme enquanto se concentrava ferozmente em seu rosto
contorcido. O suor escorria de sua testa quando ele se chocou contra
ela. Bronwyn, que estava descendo de seu clímax, ficou tensa
novamente quando outro poderoso orgasmo a atingiu.
As costas de Bryce arquearam e ele a levantou da mesa com
seus mergulhos frenéticos. Ele a segurou perto enquanto estremecia
violentamente e se derramava nela, enquanto gozavam
simultaneamente. Eles gritaram de prazer e se agarraram
desesperadamente um ao outro enquanto o mundo retrocedia. Bryce
desabou sobre ela e ela brevemente suportou todo o seu peso antes
que ele apoiasse as mã os na mesa e a aliviasse de parte do fardo.
Seus olhos procuravam o rosto dela quase desesperadamente, e
Bronwyn nã o tinha certeza do que ele esperava encontrar.
Ele a beijou docemente e a parte dele que ainda estava
enterrada dentro dela pulsou preguiçosamente em reaçã o à carícia
gentil. Bronwyn engasgou ao sentir o movimento e se perguntou se
eles poderiam fazê-lo novamente tã o logo apó s a felicidade
alucinante de apenas alguns minutos antes. Mas ele terminou o beijo
abruptamente e se afastou dela sem qualquer aviso. A rapidez da
separaçã o a deixou se sentindo ridiculamente vulnerável. Ele
praguejou, seu rosto escurecendo com raiva.
— Eu nã o usei nenhuma proteçã o. — Ela se encolheu com a
lembrança de quanto ele detestaria engravidá -la novamente. Mas
depois da ú ltima vez, engravidar de Bryce também nã o estava
exatamente no topo de sua lista de tarefas.
— Estou tomando pílula, — ela admitiu com voz rouca. — Pedi
uma receita ao médico na semana passada durante o meu check-up.
— Ela se encolheu quando ele riu sarcasticamente.
— Me perdoe se eu decidir duvidar de você, minha querida. Nó s
dois sabemos o quã o pouco confiável você é quando se trata de
cuidar do controle de natalidade, — ele zombou, e ela tremeu
violentamente com o escá rnio em sua voz e o desprezo em seu rosto.
Ele deu a ela um ú ltimo olhar penetrante antes de deixar o assunto
de lado.
— Eu machuquei você? — ele perguntou quase
impessoalmente enquanto procurava por sua boxer. A resposta dela
obviamente nã o o interessou muito porque ele estava de costas para
ela. Ela nã o se incomodou em responder, mas sentou-se, humilhada
pela posiçã o em que se encontrava, deitada em sua mesa, nua e
estendida para seu prazer. Ela estava coberta por uma mistura de
suor e outros fluidos e cheirava a sexo e suor. Ela se sentia usada e
barata e suas bochechas queimavam de mortificaçã o. Ele nã o
poderia ter deixado mais claro seu desdém por ela, e Bronwyn ficava
enojada consigo mesma por cair em seus braços tã o facilmente todas
as vezes. Ela estava um pouco chocada com sua estupidez
imperdoável e mal conseguia reunir seus pensamentos dispersos.
Ela só queria sair da sala e ficar longe de Bryce, mas por algum
motivo ela nã o conseguia descobrir como fazer isso.
Ela se levantou e cruzou um braço sobre os seios nus e usou a
outra mã o para segurar o fino triâ ngulo de cachos na junçã o de suas
coxas em uma pose clá ssica de vergonha feminina.
Quando Bryce ergueu os olhos e a viu, ficou paralisado como
uma está tua. Seus olhos cheios de lá grimas estavam correndo
freneticamente ao redor da sala, procurando por suas roupas
espalhadas. Ele já havia colocado sua cueca e começou a procurar as
coisas dela com urgência, odiando o olhar desesperado e preso em
seus olhos. Ele finalmente encontrou a blusa e entregou a ela, mas
ela nã o se mexeu. Ela parecia quase catatô nica e Bryce engoliu uma
onda irracional de pâ nico. Ele a ajudou a vestir a blusa e a abotoou
desajeitadamente, mas ela parecia ainda mais vulnerável com
apenas a metade inferior exposta. Ela abaixou a cabeça e escondeu o
rosto atrá s de sua pesada queda de cabelo. Ele caçou ao redor, mas
nã o conseguia encontrar sua calcinha. Em vez disso, ele levantou um
sutiã delicado e suas calças vincadas. Decidindo que o ú ltimo
serviria, ele a ajudou a vesti-los, agachando-se para levantar
fisicamente seus pés, um de cada vez, nas pernas da calça. A posiçã o
deixou seu rosto nivelado com os cachos finos em seu centro, mas
sua pró pria nudez a fazia parecer ainda mais indefesa e necessitada
de sua proteçã o.
Ele finalmente conseguiu colocá -la toda fechada e abotoada, e
quando ele olhou em seu rosto, viu que seus lá bios estavam se
movendo e as lá grimas que ameaçavam derramar. Ele agarrou seus
braços com urgência, odiando a visã o de suas lá grimas. Ele se
concentrou em seus lá bios e foi capaz de discernir que ela estava
dizendo a mesma coisa repetidamente.
Você continua me punindo...
Bryce reconheceu esse fato para si mesmo. Ele continuou
punindo-a, mas o que ela nã o sabia era que ele também estava
punindo a si mesmo. Ele odiava vê-la assim, e odiava a culpa que
queimava em seu interior como á cido com cada lá grima relutante
que ela derramava. Ele continuou dizendo a si mesmo que ela
merecia isso, mas estava ficando muito difícil continuar se
convencendo desse fato. Ele ergueu a mã o para o rosto dela, mas ela
se afastou dele e ele a encarou, odiando a reaçã o. Ele nunca a
machucou fisicamente, sempre teve muito cuidado para não a
machucar, e vê-la se afastar dele como se ele fosse o monstro que ele
tanto temia se tornar, teve o mesmo efeito visceral sobre ele como
um soco no estô mago. Ele cuidadosamente envolveu seus braços ao
redor dela e a puxou contra seu peito. Ela estava rígida como uma
tá bua e se recusava a relaxar em seu abraço. Eventualmente
percebendo que ela provavelmente estava emocionalmente
esgotada, ele a ergueu em seus braços e desajeitadamente conseguiu
abrir a porta e carregá -la escada acima para seu quarto. Felizmente,
Celeste e Kayla nã o estavam à vista. Ele a colocou na cama macia e se
ajoelhou na frente dela, tentando capturar seus olhos.
— Se você apenas admitisse, — ele disse. Ela ergueu os olhos
opacos para ele, parecendo finalmente registrar sua presença e
franziu a testa em confusã o.
— Admitir o quê? — Ela parecia confusa, e ele cerrou os dentes
enquanto tentava manter seu temperamento.
— Admita que você estava no local do meu acidente e que
mentiu sobre tentar me encontrar. Eu poderia tentar te perdoar e
poderíamos começar a reconstruir nosso relacionamento. Apenas
seja honesta, Bronwyn. — Ela suspirou cansada, a derrota pesando
sobre seus ombros. Ela desviou os olhos novamente e deu de
ombros, parecendo alguém que só queria ficar sozinho e faria
qualquer coisa para conseguir isso.
— Se é isso que você quer, Bryce, entã o eu confesso ser culpada
de tudo que você me acusou. Eu fiquei ao lado daquela estrada e vi
você sofrer antes de ir embora. Nunca tentei entrar em contato com
você; preferi lutar sem dinheiro, sem casa e com a saú de em rá pida
deterioraçã o.
— Também nã o tentei, e falhei, entrar em contato com você
logo depois que Kayla nasceu, quando estava tã o doente que mal
conseguia segurar o celular, quando estava com medo de morrer e
ela ficaria sozinha. Me agarrei ao meu orgulho teimoso e, de forma
bastante egoísta, nunca pensei sobre o que era melhor para você ou
nossa filha. — Ela moldou as palavras com tanta clareza que ele nã o
teve nenhuma dificuldade em entendê-la. Era o que ele queria, o que
ele acreditava ser verdade, uma admissã o total de culpa, mas nã o lhe
caía bem e certamente nã o parecia certo. Ele nã o tinha certeza de
como proceder a partir daqui e gentilmente a empurrou para baixo
até que ela estivesse deitada na cama.
— Você precisa descansar, — ele disse o mais gentilmente que
pô de, mas ele era um juiz impreciso de seu pró prio tom de voz na
melhor das hipó teses, e pela maneira como ela se encolheu, ele
suspeitou que suas palavras tivessem saído muito mais duras. do que
ele pretendia. Ainda assim, ela o obedeceu e ficou sem resistir,
parecendo totalmente esgotada de qualquer desejo de lutar contra
ele. Ele puxou as cobertas sobre seu corpo imó vel e beijou sua testa
com ternura antes de se levantar. Ele pairava incerto, sentindo-se
ligeiramente ridículo em nada além de sua cueca preta de algodã o.
— Tente dormir um pouco. Nã o se preocupe com Kayla. Vou
providenciar o jantar dela e levá -la para a cama... — Ele parecia estar
divagando agora e Bronwyn estava confusa com sua incerteza. — Eu
a trarei para dizer boa noite mais tarde. As coisas vã o melhorar
agora, Bron — ele jurou com uma pressa desajeitada, mas Bronwyn
se recusou a reconhecer sua promessa impulsiva. — Você vai ver.
Elas vã o melhorar.
Bem, as coisas certamente pareciam melhores quando ela acordou
na manhã seguinte. Ela se sentiu aquecida e querida e logo percebeu
que era porque estava sendo embalada nos braços de Bryce com as
costas pressionadas contra o peito quente dele. Era apenas a
segunda vez que ela acordava ao lado dele desde seu retorno, e
depois dos acontecimentos das ú ltimas vinte e quatro horas, ela se
sentia mais do que um pouco ambivalente sobre a presença dele em
sua cama. Ele tinha um braço ao redor de sua cintura com a mã o
aninhada entre seus seios, e o outro braço estava dobrado sob sua
cabeça. Uma de suas coxas musculosas estava espremida entre as
coxas esbeltas dela. Contra seu melhor julgamento, Bronwyn se
sentia segura, protegida e quase querida. Ela sentiu a respiraçã o
quente e constante dele contra a nuca vulnerável de seu pescoço, e
ela lutou contra um pequeno arrepio de prazer. Ela lentamente
percebeu o fato de que ambos estavam nus - e lembrou-se
vagamente de Bryce ajudando-a bruscamente a tirar a roupa em
algum momento durante a noite. O comprimento escaldante de sua
ereçã o estava pressionando contra a parte inferior de suas costas.
Ela imediatamente ficou tensa.
— Relaxe. — Sua voz soou como o ronronar satisfeito de um
gato e teve o efeito exatamente oposto de relaxá -la. — Eu nã o vou
pular em você esta manhã . Nó s precisamos conversar.
— Nã o tenho nada a dizer a você, — ela respondeu
rebeldemente, segura no conhecimento de que ele nã o podia ouvi-la
ou ver seus lá bios.
— O que você disse? — ele a surpreendeu exigindo, e ela ficou
ainda mais tensa. Ele virou seu corpo resistente para encará -lo como
se ela nã o pesasse mais que uma pena, mas ela manteve o olhar
colado em sua mandíbula. — Eu sei que você disse algo... Eu posso
sentir a vibraçã o em seu peito!
— Eu perguntei sobre o que você queria conversar, — ela
mentiu, encontrando seus olhos. Ele nã o parecia convencido e seus
olhos ferviam de frustraçã o, mas ele conteve isso com determinaçã o.
— Nó s...
— Eu pensei que tínhamos dito tudo o que precisava ser dito na
noite passada, — ela respondeu. — Eu sou uma mentirosa e você é a
vítima da minha natureza vingativa e cruel. — Ele escolheu ignorar o
sarcasmo dela.
— Eu quero saber o que você quis dizer ontem à noite quando
disse que estava com medo de morrer, — ele sondou suavemente,
observando seu rosto cuidadosamente. Eles estavam deitados tã o
juntos que era difícil esconder dele a menor emoçã o.
— Houve complicaçõ es. — Ela deu de ombros casualmente. —
Foi uma gravidez difícil, agravada pelo fato de eu estar . . .
desnutrida. — Como era humilhante admitir isso. Ela baixou os olhos
novamente, envergonhada por sua incapacidade de cuidar de si
mesma. — Eu estava abaixo do peso e fraca quando entrei em
trabalho de parto. Foi um trabalho de parto longo e intenso e, como
meu corpo foi privado das vitaminas de que precisava durante a
gravidez, nã o estava preparado para lidar com o... trauma... de um
parto prolongado. Teve uma laceraçã o, perdi muito sangue e entrei
em choque. Me lembro deles pedindo o nome e o nú mero do meu
parente mais pró ximo logo apó s o nascimento de Kayla. — Ela sentiu
a umidade em suas bochechas e ficou chocada ao descobrir que
estava chorando silenciosamente. Deus, ela estava tão cansada de
chorar o tempo todo, mas era tã o difícil recordar o medo e a solidã o
absoluta daquele momento sem sucumbir à emoçã o. — Eu estava tã o
assustada. Eu só queria segurar meu bebê. Eu queria ter certeza de
que ela estava bem. Todos os médicos pareciam tã o sombrios por
trá s de suas má scaras; eles me disseram que ela estava bem, mas
ninguém me mostrou. — Ela sentiu um polegar á spero enxugando as
lá grimas em seu rosto e fechou os olhos com a suavidade á spera. Ela
engoliu corajosamente antes de continuar. — Uma das ú ltimas coisas
de que me lembro antes de tudo sair do ar foi implorar para ver meu
bebê e, em seguida, um médico chamando meu nome e xingando. Me
lembro dele xingando porque parecia tã o zangado e tã o preocupado
que me lembrou você. Por uma fraçã o de segundo pensei que fosse
você! E eu estava tã o feliz... — Ela podia senti-lo tremendo agora,
como se gelado até os ossos, mas por algum motivo ela nã o
conseguia parar o fluxo de palavras. Ele havia perguntado, queria
saber, e ela não iria adoçar as coisas para ele. Ela limpou a garganta
com voz rouca antes de continuar.
— Eles me disseram que meu coraçã o parou... duas vezes. Claro,
nã o me lembro de nada. Acabei de acordar com o som do choro de
Kayla. Levou tanta força para virar minha cabeça, mas... — Ela sorriu
radiante para o rosto dele, suas lá grimas cegando-a para a expressã o
dele. — Ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Tã o perfeita e
tã o saudável, e naquele momento eu sabia que faria qualquer coisa
para mantê-la segura!
— Bronwyn... — A garganta de Bryce estava apertada de
emoçã o, e ele lutou para pronunciar as palavras. — Por que você
nã o...
— Liguei para você? — Ela completou a pergunta e olhou
fixamente para ele. —Talvez eu fosse teimosa... ou estú pida? Talvez
eu nã o tenha amado Kayla o suficiente para querer o melhor para
ela? — Ele nã o queria a verdade dela, ele a forçou a proferir a ú nica
grande mentira que ela já havia dito a ele, e ela seria amaldiçoada se
tentasse convencê-lo dos fatos novamente. Ela estava cansada de se
defender de um homem que se recusava a ver a verdade. Bem, agora
a verdade era algo que Bryce teria que descobrir por si mesmo. Ela
havia desistido disso e dele.
— Eu sinto muito, — ele sussurrou dolorosamente, seus
pró prios olhos brilhando com o que só podiam ser lá grimas. — Deus,
eu sinto muito que você teve que passar por isso sozinha.
Bryce nã o era capaz de processar tudo o que acabara de
aprender sem querer uivar de agonia com o horror de tudo. Seu
coração tinha parado pelo amor de Deus! Ela havia morrido e ele
nem sabia disso. Sua linda e frá gil Bronwyn quase foi arrancada dele
para sempre e o conhecimento o estava comendo vivo. Seu pró prio
sofrimento parecia quase irrelevante quando comparado com os
fatos terrivelmente dolorosos que ela acabara de revelar e, no
entanto, ele nã o conseguia deixar de pensar que se ela tivesse ficado,
voltado, ligado para ele - qualquer coisa - ele poderia protegê-la,
mantê-la segura dos danos. Ele ignorou a voz estridente gritando
com ele no fundo de sua mente, Quem a teria mantido a salvo de
você?
— Você disse que a enfermeira pediu os detalhes de contato do
seu parente mais pró ximo. Por que você nã o deu meu nú mero a eles?
— ele perguntou rispidamente.
— Ah, agora por que diabos eu faria isso? — Bronwyn
perguntou levianamente. — Eu preferia muito mais a ideia de deixar
Kayla ó rfã . — Sua sobrancelha baixou ameaçadoramente. Você nã o
precisava ser capaz de ouvir para reconhecer tal sarcasmo flagrante.
— Bron, agora nã o é hora para brincadeiras!
— Bem, — ela piscou para ele inocentemente, formando suas
palavras cuidadosamente para que nã o houvesse mal-entendidos. —
Só estou dizendo o que acredito que você queira saber, já que se
tornou bastante evidente que a verdade é rejeitada quando nã o lhe
convém. O que eu nã o entendo é como diabos você pode se casar
com uma mulher de quem você tem uma opiniã o tã o negativa. A esta
altura já estabelecemos que sou tola, inconstante, cruel e egoísta!
Deus sabe o que você viu em mim em primeiro lugar. Você deve ser
um péssimo juiz de cará ter. — Ela se desvencilhou dos braços dele e
pulou da cama, sem se importar com sua nudez. Ela só queria ficar
longe dele.
— Onde você está indo? — ele perguntou, parecendo em
pâ nico.
— Chuveiro, — foi sua resposta sucinta.
— Mas ainda nã o terminamos nossa conversa...
— Já disse tudo o que tinha a dizer sobre esse assunto em
particular. — Ela acenou com a mã o com desdém e se virou para o
banheiro.
— Bron, — sua voz era á spera com alguma emoçã o indefinível,
e ela se virou para encará -lo. Ele a encarou por um longo momento,
parecendo completamente sem palavras, antes de balançar a cabeça.
— Rick e Lisa voltaram das férias ontem à noite e achei que
seria bom recebê-los durante a tarde. Eu gostaria que Rick
conhecesse Kayla, e acho que você e Lisa podem se dar bem. — Ela
acenou com a cabeça em resposta, parte dela ansiosa para ver Rick
novamente e a outra parte se lembrando de seu sangue-frio no
hospital quando ela estava doente e indefesa. Ela estava ansiosa para
passar mais tempo com sua nova esposa; a mulher foi muito gentil
com ela nos breves momentos que compartilharam.
— Isso vai ser bom, — ela murmurou antes de voltar para o
banheiro, e desta vez ele a deixou ir sem protestar.
CAPÍTULO OITO
Ela estava no andar do berçá rio, brincando com uma Kayla ativa, que
parecia revigorada depois da soneca da tarde. Bronwyn estava de
costas para a porta e nã o o viu a princípio. Na verdade, foi Kayla
quem a alertou sobre a presença dele. A garotinha o viu pairando na
porta, e todo o seu rosto se iluminou quando ela gritou
animadamente.
— Papai! — Ela cambaleou em direçã o a ele, seus braços
rechonchudos estendidos. Bryce sorriu para a garotinha enquanto a
pegava em seus braços, mantendo os olhos nas costas esguias de
Bronwyn, notando como ela ficou tensa, antes que ela endireitasse
os ombros e se levantasse para encará -lo. Bryce tentava controlar a
tagarelice efusiva da garotinha e observar o rosto de Bronwyn ao
mesmo tempo. Eventualmente, ele desistiu de tentar seguir a
conversa confusa de bebê de Kayla e se concentrou inteiramente em
Bronwyn, balançando a cabeça de vez em quando para manter Kayla
feliz.
— Você está bem? — ele perguntou baixinho, notando a
inclinaçã o teimosa de sua mandíbula e as lá grimas nã o derramadas
em seus olhos luminosos. Ele se sentiu como um bastardo absoluto
levando-a à beira das lá grimas. . . de novo!
— Estou bem. — Ela assentiu, cruzando os braços
defensivamente sobre o peito.
— Eu... — ele começou, mas Kayla estava pulando para cima e
para baixo, exigindo que ele brincasse com ela. Ele beijou a
garotinha, antes de ir até a porta e gritar por Rick, imediatamente
acalmando Kayla, que olhou para ele incerta, imaginando se seu pai
estava bravo com ela. Bryce sorriu para ela de forma tranquilizadora,
fazendo ruídos de aviã o e voando com ela pela sala por alguns
momentos, antes de Rick subir as escadas ofegante.
— O que? — ele perguntou com urgência.
— Kayla... — Bryce deu um beijo afetuoso na bochecha sedosa
de sua filha. — Este é o seu tio Rick!
— Tiu? — A garota se perguntou duvidosamente.
— Sim e ele gosta de brincar de cavalinho! — Rick, que estava
sorrindo tolamente para a garotinha, parou abruptamente de sorrir
e encarou o irmã o horrorizado.
— Tiu, cavalinho? — a garotinha perguntou animadamente.
— Você quer brincar de cavalinho com o tio Rick enquanto
mamã e e papai conversam? — Bryce perguntou gentilmente,
sabendo que ela nã o entenderia nada além de “brincar de cavalo” e
“tio Rick”.
— Uh, Bryce... — Rick começou enquanto recuava
freneticamente; ele parou abruptamente quando Kayla lhe deu seu
sorriso mais radiantemente confiante e estendeu os braços.
— Cavalo, Tiu Wick? — ela perguntou timidamente, e Rick
engoliu visivelmente antes de dar um passo à frente e erguer a
menina dos braços de seu pai.
— Que pequena flertadora talentosa você já é. — Ele riu antes
de encontrar os olhos de Bryce.
— Você vai ter muito trabalho com esta, daqui a doze anos ou
mais, irmã o mais velho. — Bryce sorriu sem entusiasmo e deu de
ombros.
— Atravessarei essa ponte quando chegar a ela. Por favor,
mantenha-a ocupada, Rick. Bron e eu precisamos...
— Nã o diga mais nada, — Rick interrompeu alegremente
enquanto Kayla puxava seu cabelo e sua camisa, impaciente para ir
embora. — Venha, Kayla, vamos conhecer seu primo e sua tia Lisa.
Ela adora brincar de cavalinho também! — Ele carregou a garotinha
simpá tica, que parecia ter esquecido tudo sobre seus pais com a
perspectiva de brincar com novas pessoas excitantes, para fora da
sala e deixou Bronwyn e Bryce se contemplando em silêncio por
alguns momentos.
— Qual é o problema desta vez, Bryce? — Bronwyn perguntou
com o que parecia ser sarcasmo, se o rosto dela era alguma
indicaçã o. — Sinto muito por ter saído e arruinado sua festinha
perfeita.
— Na noite em que você foi embora, — ele começou baixinho,
tentando manter o nível de voz e a calma, nã o querendo parecer
acusador ou zangado. — Depois do meu acidente, Bron, eu juro que
vi você no meio da multidã o e, mesmo sabendo que fui eu quem a
expulsou de casa em primeiro lugar, em minha mente, me abandonar
ali foi completamente imperdoável. Eu sei que minha reaçã o à sua
gravidez foi cruel e injustificada, mas apesar disso, você era minha
esposa, a pessoa de quem eu mais dependia, a mulher que dizia me
amar, e você me deixou lá ! Nã o fazia sentido para mim e doía muito.
Também me deu uma desculpa para te odiar porque sentir qualquer
coisa diferente disso era demais... — Ele se interrompeu
desajeitadamente, ciente de sua carranca e sua confusã o.
— Bryce, eu nã o estava... — ela começou, mas ele levantou a
mã o.
— Por favor... Eu . . . me deixe falar. — Ele fechou os olhos
dolorosamente. — Me lembro disso tã o vividamente; olhei para cima
e vi você parada ali à margem da multidã o que se reunia. Você
parecia fria, distante e tã o bonita. Você estava usando o vestido que
eu amava. Lembra? O pequeno preto com a saia esvoaçante. Tentei
chamar você, mas minha voz nã o funcionava. Agora sei que estava
gritando a plenos pulmõ es. — Ele sorriu debilmente. — Eu
simplesmente nã o conseguia me ouvir. Você entende por que tem
sido tã o difícil abandonar essa imagem? Como eu nunca consigo tirar
da minha mente a lembrança de você virando as costas e se
afastando de mim?
Bronwyn olhou para seu rosto escuro e atormentado. Ela sabia
o quanto deve ter custado a ele vir até aqui e revelar o quanto ele foi
ferido por suas açõ es percebidas naquela noite. Ela suspirou; tanto
por deixá -lo se atrapalhar sozinho. Ela nã o podia, nã o quando ele
acabava de apresentar-lhe os meios para refutar sua repulsiva
acusaçã o.
— Bryce. — Sua garganta travou e ela respirou fundo enquanto
lutava contra a vontade sempre presente de chorar. — Eu tenho algo
para te mostrar. — Ela o levou para o quarto principal e para o
enorme closet que abrigava seu antigo guarda-roupa. Ela abriu a
porta e vasculhou o conteú do brevemente antes de levantar um
cabide acolchoado com um pedaço frá gil de chiffon preto pendurado
nele.
— Este vestido? — ela perguntou gentilmente, e ele estremeceu
como se o vestido trouxesse de volta lembranças extremamente
dolorosas. Ele assentiu. Ela fechou os olhos com força enquanto
lutava para manter a compostura, entã o nã o viu o leve movimento
que ele fez em sua direçã o antes de parar.
— Bryce, — ela murmurou instável, abrindo os olhos
novamente. — Eu estava vestindo um par de jeans e uma camiseta
quando saí naquela noite. Saí sem nada além das roupas do corpo.
Este vestido... está pendurado aqui há dois anos. — Bryce desviou o
olhar para o vestido e balançou a cabeça, incapaz de acreditar que
havia entendido algo tã o crucial para o bem-estar de seu
relacionamento tã o totalmente errado. Ele pegou o vestido dela e
passou o tecido fino delicadamente por suas mã os grandes.
— Rick poderia ter feito as malas... — ele começou, mas ela
tocou sua mã o para chamar sua atençã o e balançou a cabeça
lentamente, mantendo os olhos nivelados.
— Por que você nã o pergunta a Rick? Tenho certeza de que ele
se lembraria de um vestido como este entre as inú meras roupas à
prova de bebês que ele embalou para mim. Ela mordiscou o lá bio
inferior. — Saí numa terça à noite, lembra?
Ele assentiu.
— Este é um vestido de festa, Bryce, — ela apontou. —
Estávamos em uma festa naquela noite?
Ele hesitou antes de responder.
— Nã o. Você me ligou no escritó rio e disse que estava
preparando uma refeiçã o especial porque tinha algo interessante
para me contar... — Sua voz falhou e ele tremia da cabeça aos pés.
Bronwyn foi quem permaneceu firme para variar, enquanto Bryce
parecia estar à beira das lá grimas. — Cheguei em casa e encontrei
você vestindo sua calça jeans esfarrapada e uma daquelas camisetas
que você comprou nas Seychelles. Você disse que nã o estava com
vontade de se arrumar para o jantar.
— Entã o você trocou de roupa e fizemos um piquenique no
jardim de inverno. Depois do jantar eu disse que estava grávida e
você...
Ele engoliu dolorosamente.
— Eu reagi da pior maneira possível, — ele ralou. — Eu disse
para você sair e você saiu.
— Vestindo o mesmo jeans e camiseta que usei a noite toda, —
ela terminou. Seu rosto se contorceu selvagemente e ele jogou o
vestido para o lado com uma maldiçã o cruel. Bronwyn se encolheu
com o movimento repentino, incapaz de avaliar seu humor, sem
saber se ele acreditava nela ou nã o. Ele passou por ela abruptamente
para entrar no banheiro, e ela ficou chocada ao ouvir o som de â nsia
de vô mito violento vindo de trá s da porta fechada. Ela pairou do lado
de fora, sem saber se deveria se aventurar ou esperar que ele
voltasse. Ela tinha acabado de decidir entrar, quando os sons
medonhos pararam e ela ouviu a descarga do banheiro, seguida
pelos sons de á gua correndo e gargarejos.
Ele abriu a porta lentamente, e ela se viu olhando para ele com
cautela. Ele parecia horrível, de olhos fundos, cansados, e como se
tivesse envelhecido dez anos nos ú ltimos dez minutos. Ele nã o
conseguia se obrigar a encontrar os olhos dela.
— Eu... — ele começou. — Nã o sei... — Ele levantou uma mã o
violentamente trêmula em direçã o a ela, mas deteve o movimento
abruptamente, sua mã o caindo frouxamente para trá s ao seu lado.
— Bryce... — ela murmurou incerta, mas ele balançou a cabeça
abruptamente, levantando os olhos para o rosto dela, e Bronwyn
ficou horrorizada com a profundidade da auto aversã o que ela viu
em seu olhar torturado. Foi misturado com pesar esmagador e algo
semelhante ao medo e desespero.
—Deus, como você deve me odiar, — ele murmurou.
— Eu nã o... — Mas era tarde demais, ele se virou antes que ela
pudesse dizer mais alguma coisa e saiu da sala abruptamente.
Bronwyn se sentiu ridiculamente desanimada com o final
anticlimá tico de uma conversa tã o intensa. Nã o havia mais dú vida de
que Bryce acreditava nela, mas agora ele parecia totalmente incapaz
de lidar com sua pró pria culpa pelo fracasso de seu relacionamento.
— O que diabos você quer dizer com você está grávida? E sobre seus
estudos e a decisã o mú tua que tomamos quando nos casamos?
Íamos esperar, Bronwyn, lembra? Apenas me diga que você está
brincando. — A fú ria que sentiu naquela noite queimou seu corpo e
obliterou sua capacidade de pensar racionalmente. Ele se afastou
dela e ficou de pé para encará -la com raiva. Ela parecia tã o confusa e
magoada que por um momento ele quase amoleceu, quase a tomou
em seus braços para confortá -la. Mas entã o essas duas palavras
ecoaram em seu cérebro novamente e sua raiva ardente e amarga
reafirmou-se. A sensaçã o de traiçã o deixou um gosto amargo em sua
boca.
— Eu sei que é mais cedo do que havíamos planejado, — ela
disse suavemente, tentando manter um tom de voz uniforme. — Mas
esta é a realidade da nossa situaçã o agora e nã o pode ser mudada.
Vamos ter um bebê... um bebê, Bryce. Você nã o entende como isso é
maravilhoso?
— Eu nã o posso acreditar que você fez isso. Eu nã o posso
acreditar que você se rebaixaria a isso, — ele rangeu amargamente.
— Esta era para ser uma decisã o conjunta. Nã o estou pronto para
isso, Bronwyn. Eu nã o quero um filho, porra!
— Mas é o nosso bebê . . . nó s fizemos isso juntos, — ela
protestou, e ele podia ouvir a dor e a confusã o em sua voz, mas
simplesmente nã o conseguia manter o veneno fora da sua, sabendo
que se ele permitisse que ela visse através de sua raiva sua pró pria
dor e confusã o, ela pensava que o que tinha feito estava certo, e ele
estava muito furioso com ela para permitir que ela pensasse isso
ainda.
— Você quer dizer o que fez isso, sem o meu consentimento. —
Ele mal conseguia olhar para ela. Ele nã o queria ver suas lá grimas -
ele odiava suas lá grimas - mas ele podia ouvi-las em seu suspiro e
em sua voz quando ela falava.
— Eu nã o sei por que você está assim, — ela chorou. — Eu nã o
planejei isso, apenas aconteceu. Nosso controle de natalidade falhou.
Perguntei ao médico e ele disse que se eu tivesse um vírus estomacal
ou algo assim, poderia ser uma janela de oportunidade. E você sabe
que eu estava doente alguns dias antes da festa da sua empresa, três
meses atrá s. — Maldita seja, ela estava tentando cobrir seus rastros.
Ele saiu do jardim de inverno e desceu para o banheiro, enquanto ela
trotava atrá s dele, ainda tentando contar a ele sobre um problema
estomacal que teve três meses atrá s. Como diabos ela poderia
esperar que ele se lembrasse de algo assim? Ele empurrou para trá s
a voz mesquinha que lhe dizia que ele se lembrava disso e que a
havia mimado ridiculamente enquanto ela estava doente. Em vez
disso, ele se convenceu de que nã o conseguia se lembrar de qualquer
vírus insignificante ao qual ela estava se referindo. Ele abriu a caixa
de remédios e tirou as pílulas anticoncepcionais dela.
— O que você está fazendo? — Ela parecia assustada e chocada
enquanto o observava contar os comprimidos na caixa. Seus olhos
ficaram nublados com uma névoa vermelha quando ele percebeu
que os nú meros estavam certos.
— Deus, você tem jogado pílulas no ralo todas as noites? — ele
se perguntou em voz alta, odiando a si mesmo enquanto fazia a
pergunta.
— Você sabe que eu nã o faria isso, — ela defendeu com
urgência.
— É assim mesmo? Obviamente nã o te conheço tã o bem quanto
pensei, nã o é?
— Claro que você me conhece, Bryce. — ela colocou uma mã o
hesitante em seu antebraço rígido, e sua carne queimou sob o
contato. Ele puxou o braço e se afastou dela. Seus olhos se encheram
de lá grimas, ele precisava de tempo para pensar, mas nã o podia
pensar com ela no mesmo quarto, nã o quando ela estava chorando,
nã o quando ele era o responsável por suas lá grimas.
— Saia daqui, — ele sussurrou asperamente, querendo que ela
saísse do quarto, nã o querendo que ela ouvisse ou visse o quanto ele
ansiava por tomá -la em seus braços.
— O que?
— Dê o fora, — ele rosnou, preparando-se antes de se virar
para encará -la. Ele mal se conteve para nã o se encolher quando viu
as lá grimas dela. — Vá agora. — Ela soltou um grito baixo e saiu da
sala, fugindo o mais rá pido que pô de. Bryce finalmente se permitiu
quebrar, afundando contra uma parede de ladrilhos enquanto suas
pernas falhavam e deslizavam para o chã o. Ele apertou a cabeça
entre as mã os e tremeu incontrolavelmente enquanto tentava
imaginar sua vida a partir de agora.
CAPÍTULO DEZ
Sua previsã o provou ser precisa; foi um dia lindo, o dia mais perfeito
que Bronwyn já passou com Bryce. Depois de conduzi-los até o novo
e lindo sedã prateado de Bronwyn, ele disse a ela que ela estaria
dirigindo. Ele tinha apenas Cal como segurança e - sempre um
profissional consumado - o homem se mantinha tã o discreto que
Bronwyn mal o notou no discreto sedã preto estacionado a poucos
metros deles.
Um pouco nervosa por fazer um test drive do carro novo na
frente de um dos piores passageiros que ela já conheceu, ela tentou
objetar. Infelizmente, ele nã o quis, e depois de amarrar Kayla no
assento de bebê que já estava instalado na parte de trá s, ele fez um
show ao se acomodar no lado do passageiro. Bronwyn revirou os
olhos e se dirigiu para o lado do motorista, preparada para um dia
inteiro de condescendência masculina da parte dele.
Ela ficou agradavelmente surpresa por ele corajosamente se
abster de comentar quando ela teve problemas para ligar o carro
sem chave. Ele manteve um sorriso brilhante colado em seu rosto
quando ela apertou a embreagem e o carro deu uma guinada para a
frente e saiu mancando da garagem. Ela lançou um olhar nervoso
para o perfil dele depois que finalmente conseguiu levá -los até a
Main Street e percebeu que o sorriso dele estava começando a se
desgastar depois de menos de cinco minutos no carro. Ela conteve
uma risada irreverente antes de estacionar o carro no acostamento
da estrada. Ele olhou para ela em alarme e ela sorriu para ele
docemente.
— Você quer dirigir? — ela convidou, e ele sorriu timidamente.
— Nã o, você está indo bem. Desculpe se pareço tenso. É que
desde o acidente ando um pouco nervoso nos carros. É por isso que
tenho Cal dirigindo a maior parte do tempo hoje em dia.
— Bem, eu nã o sei para onde estamos indo, entã o é melhor
você dirigir hoje, — ela disse razoavelmente. — Eu assumo se você
se cansar ou algo assim. — Ele balançou a cabeça placidamente.
— Eu vou ficar bem, — ele assegurou a ela. — Realmente nã o
importa se estou dirigindo ou nã o, ainda me sinto desconfortável em
um carro, — ele explicou de má vontade, e ela pô de ver o quanto lhe
custou revelar essa fraqueza a ela. — Vou lhe dar instruçõ es.
— Tudo bem, mas reduza ao mínimo o estremecimento, senhor,
— ela alertou. — Você sempre foi um péssimo passageiro.
— O que você quer dizer? — Ele parecia tã o genuinamente
perplexo que ela bufou de exasperaçã o e ligou o carro.
Seguindo suas instruçõ es e ignorando suas caretas ocasionais e
respiraçõ es pesadas, ela os levou em segurança para Boulder's
Beach, onde Bryce passou a maior parte da manhã tentando manter
Kayla longe dos pinguins. Bronwyn riu impotente de suas
travessuras. Kayla transformou isso em um jogo, fugindo de seu pai
enquanto ela tentava acariciar um dos muitos pinguins selvagens
que andavam sem medo pela praia, ignorando completamente seus
avisos de que eles iriam morder. Por volta do meio-dia, quando
estava quente demais para permanecer na praia, eles fizeram as
malas e ele a encaminhou para as terras vinícolas de Stellenbosch.
Bronwyn estava ficando mais confiante no manuseio do carro e
engatando as marchas com menos frequência, o que, por sua vez,
significava um Bryce mais relaxado. Eles fizeram um piquenique em
um dos belos vinhedos particulares na pitoresca Stellenbosch.
— É tã o bonito aqui, — observou Bronwyn sonhadora
enquanto inclinava a cabeça para trá s para aproveitar o sol que se
filtrava pelas folhas do carvalho gigante sob o qual faziam
piquenique. Eles estavam sentados em uma colina que dava para um
vasto vinhedo. As vinhas estavam começando a ficar com tons
vívidos de laranja e vermelho e faziam todo o vale parecer que estava
em chamas ao sol da tarde. — E tranquilo. Como você sabia sobre
este lugar?
— A família de um conhecido meu é proprietá ria deste vinhedo.
Esclareci isso com ele.
— Alguém que eu conheça? — ela perguntou, enfiando os pés
embaixo dela e remexendo na cesta de piquenique que ele havia
colocado sobre o cobertor.
— Eu nã o sei, — ele encolheu os ombros. — Cord Strachan?
— Como nos Diamantes Strachan? — Seus olhos se
arregalaram. A família Strachan era uma das famílias mais ricas e
influentes da Á frica do Sul. Eles controlavam uma grande parte da
indú stria de mineraçã o de diamantes no país e a ú ltima geraçã o
fornecia uma rica fonte de forragem para colunistas de fofocas locais
e internacionais.
— Eles fornecem a maior parte de nossos diamantes brutos. —
Ele assentiu. —Me lembrei de que Cord mencionou este lugar
durante um de nossos almoços de negó cios alguns anos atrá s. —
Antes do acidente, é claro; qualquer socializaçã o havia sido feita
antes de seu acidente. A lembrança entristeceu Bronwyn e o silêncio
constrangedor que se seguiu foi inteiramente culpa dela. Por sorte,
Kayla exigia atençã o e os distraía com suas travessuras. Bryce
manteve a garotinha entretida com jogos bobos durante todo o
almoço, já que Kayla tinha a tendência natural de uma criança de
ficar entediada com muita facilidade. Por fim, depois de um almoço
agradável, Bryce colocou todos de volta no carro e a instruiu a dirigir
a curta distâ ncia até uma pequena cidade chamada Klapmuts e lá os
apresentou a um lugar que Bronwyn nunca soube que existia.
Ela ficou em um jardim tropical fechado e olhou com admiraçã o
para as centenas de borboletas que esvoaçavam ao seu redor. Era
como assistir a um jardim de flores silvestres levantar voo, e
Bronwyn nã o podia fazer nada além de ficar parada olhando, seus
olhos se enchendo de lá grimas enquanto suas asas beijavam seu
rosto e cabelo. Kayla estava tã o extasiada. Ela estava nos braços do
pai e estendeu a mã o gordinha para tentar capturar as delicadas
criaturas que passavam voando.
— Ah meu Deus, — Bronwyn suspirou, levando a mã o trêmula
à boca. — Ah meu Deus, Bryce... — Ele nã o podia ouvi-la, é claro; ele
nã o conseguia nem ver o que ela estava dizendo, pois sua atençã o
estava focada nas frá geis criaturas que disparavam aleatoriamente
de flor em flor e de pessoa para pessoa. Como ele ousa tornar isso
tã o difícil para ela? Justo quando ela decidiu entrar em contato com o
advogado do divó rcio, ele fez algo tã o terno e incrivelmente doce. Ele
sabia que ela adorava borboletas, que sempre as amara. Ela tinha
inú meros brincos, correntes, berloques, saias estampadas e blusas
com borboletas espalhadas por toda parte. Seria tã o fá cil acreditar
que ele havia planejado este dia por alguma necessidade
manipuladora de mantê-la complacente. Mas quando ela olhou para
cima, ficou encantada com a imagem impressionante que ele fez com
a cabeça inclinada para trá s e os olhos fechados. Ele estava perdido
em seu pró prio mundo, curtindo a sensaçã o das delicadas asas de
borboleta roçando seu rosto, e Bronwyn instintivamente soube que
ele tinha feito isso para deixá -la feliz. Ela ficou na ponta dos pés para
dar um beijo impulsivo em sua bochecha e o assustou para abrir os
olhos. Ele olhou para ela interrogativamente.
— Isso é perfeito, — ela disse a ele, e seus olhos se aqueceram.
— Obrigada.
Ele deixou cair um braço sobre seus ombros esguios e deu-lhe
um rá pido abraço de um braço só .
— Eu vi um anú ncio deste lugar no inverno passado e sabia que
você iria gostar. — Inverno passado? Pelo menos seis meses antes de
seu retorno? Ele tinha aprendido sobre este lugar e pensou nela. Nã o
com qualquer ó dio ou ressentimento que parecia. Em vez disso, ele
pensou em algo que a deixaria feliz. Era surpreendente saber que ele
nem sempre pensara nela com raiva nos ú ltimos dois anos, e
Bronwyn nã o tinha certeza de como processar essa informaçã o.
Eles chegaram em casa pouco antes das oito, e Kayla estava mais
uma vez caindo de exaustã o. Bryce a tirou dos braços de Bronwyn.
— Vou colocá -la na cama, — ele ofereceu.
— Bryce, você cuidou dela a semana toda, eu deveria...
— E você está cuidando dela sozinha há anos. Isso é o mínimo
que posso fazer, — interrompeu ele, e ela nã o protestou mais. Ela
sabia que ele precisava compensar o passado, mas nã o era mais isso
que ela queria dele. Eles tinham que pensar no futuro e garantir que
fosse feliz para todos eles. Bronwyn simplesmente nã o conseguia
mais viver com seus segredos. E ela era apenas humana, entã o ela
ainda sentia tanta raiva e amargura por ele por julgá -la tã o mal.
Ela subiu para tomar um banho quente e, quando se dirigiu ao
escritó rio mais tarde, encontrou Bryce quando ele vinha da cozinha
com um copo de suco de frutas na mã o.
— Lendo livros? — Sua voz profunda e tranquila enviou um
pequeno tremor de consciência por sua espinha. Ela empurrou para
trá s o frisson indesejado de consciência sexual e se forçou a sorrir.
— Estou fazendo uma pesquisa para um trabalho que deve ser
entregue em algumas semanas, — explicou ela.
— Bem, nã o se sobrecarregue, — ele aconselhou antes de subir
as escadas. Ela cumprimentou suas costas sarcasticamente.
— Sim, senhor, — ela disse esperta antes de revirar os olhos
para sua pró pria infantilidade e continuar seu caminho para o
escritó rio. Ela nã o fez muito antes que os rigores do fim de semana a
alcançassem e seus olhos se fechassem.
Ela acordou sobressaltada quando sentiu braços fortes
envolvendo-a e levantando-a.
— O qu. . . Eu só estava tirando uma soneca, — ela protestou
grogue, de alguma forma conseguindo falar claramente o suficiente
para ele ler seus lá bios.
— Você está aqui há quase quatro horas e, a julgar pela tela do
computador, fez cinco minutos de trabalho. Isso nã o foi uma soneca,
querida; você estava completamente fora.
— Tã o cansada, — ela murmurou incoerentemente antes de se
aconchegar em seu peito quente, forte e nu. Ele devia estar na cama
até que algum instinto lhe dissesse para ver como ela estava.
— Está tudo bem, — ele acalmou em seu cabelo. — Durma,
querida. — Ela suspirou satisfeita, aninhou-se mais perto e
adormeceu segundos depois que ele a colocou na cama.
Passar pelo dia foi realmente muito mais difícil do que ela esperava,
uma vez que se lembrou de seu compromisso com o advogado
naquela tarde. Ela estava tã o tentada a deixar passar, especialmente
depois do maravilhoso fim de semana que a família Palmer acabara
de desfrutar, mas ela nã o podia continuar deixando as coisas no ar
assim. O fim de semana e o incidente entre ela e Bryce naquela
manhã complicaram as coisas, mas nã o mudaram realmente o
quadro geral. O casamento acabou, e já estava acabado há muito
tempo. Foi com o coraçã o pesado que ela compareceu ao
compromisso apó s as palestras matinais e iniciou o processo de
divó rcio. Jason Goodson, seu advogado, ficou um pouco consternado
ao descobrir que, apesar dos bens consideráveis de Bryce, Bronwyn
nã o queria nada dele além de pensã o alimentícia e custó dia
conjunta. Goodson tentou dissuadi-la desse curso de açã o, mas ela
permaneceu firme em sua decisã o até que ele nã o teve escolha a nã o
ser aceitar os desejos de seu cliente.
Passar o resto da tarde foi um inferno. Nada parecia dar certo,
ela nã o conseguia se concentrar o suficiente para continuar qualquer
estudo, e a livraria estava ainda mais silenciosa do que de costume.
Nã o oferecia nenhuma distraçã o de sua turbulência interior. Para
completar um dia verdadeiramente miserável, depois de terminar o
trabalho, ela descobriu que tinha um pneu furado em seu carro
novinho em folha. Para piorar ainda mais, a bateria do celular dela
havia acabado e ela nã o tinha o carregador. De todos os dias para dar
folga a Paul, esta era a ú nica vez que ela poderia realmente usar sua
ajuda. Soluçando de frustraçã o, ela voltou à oficina para ligar para a
Associaçã o Automobilística e esperou quase meia hora até que eles
chegassem. Felizmente, ela descobriu o pneu furado antes de sair do
trabalho e pô de esperar com segurança pelo AA dentro da livraria.
Quando consertaram o pneu, ela estava quase uma hora atrasada e o
sol de outono já havia desaparecido atrá s da montanha. Quando ela
chegou em casa, encontrou Bryce na cozinha alimentando uma
alegre e tagarela Kayla. A criança estava decidida a redistribuir
pedaços de purê de batata de sua tigela para seus punhos gordinhos
e para o cabelo. Bryce olhou para cima quando Bronwyn entrou em
seu campo de visã o, e seu sorriso indulgente desapareceu
imediatamente.
— Onde diabos você esteve? — ele perguntou em uma voz
controlada, seu rosto escuro com raiva controlada. — Estava ficando
louco de preocupaçã o.
— Tive um pneu furado, — ela explicou cansadamente,
largando sua bolsa na mesa da cozinha e sentando ao lado de Kayla,
pegando um pano ú mido para limpar a comida do rosto e cabelo da
menina. — Os caras do AA pensaram que pode ter sido um furo lento
que peguei em uma das estradas de cascalho ontem.
— Tenho enviado mensagem apó s mensagem e nã o obtive
nenhuma resposta sua, — ele rosnou, ainda com aquela voz
assustadoramente controlada.
— Bem, minha bateria acabou. — Ela deu de ombros,
obstinadamente limpando as manchas do rosto de Kayla, apesar da
cabeça da criança balançar freneticamente. — Eu sinto muito.
Ele xingou, assustando-a e Kayla, antes de entregar a colher
para Bronwyn e sair da cozinha.
— Papai foi embora! — Kayla informou redundantemente,
acenando alegremente para a porta pela qual seu pai havia
desaparecido. Bronwyn suspirou e deu um beijo nos cachos sedosos
da criança, fazendo uma careta quando seus lá bios encontraram um
pedaço de comida fria.
— Você precisa de um banho, garotinha, — ela gemeu,
superada pela exaustã o só de pensar nisso, quando tudo o que ela
queria era molhar seus pró prios ossos cansados. —Quer um banho
de espuma com a mamã e?
Kayla sorriu e acenou com a cabeça alegremente, começando a
cantar uma mú sica desafinada ocasionalmente salpicada com
palavras como “mamã e”, “banho”, “feliz”, “bolhas” e “brincar”; o resto
era um completo jargã o. Bronwyn riu enquanto carregava a criança
até o banheiro principal, desejando que Bryce pudesse ouvir a
encantadora cantiga.
Elas logo foram acomodadas alegremente na enorme banheira
redonda e imersas em á gua morna e perfumada. Kayla estava no colo
de Bronwyn e as duas estavam curtindo a enorme quantidade de
bolhas na banheira quando Bryce entrou. Ele parou na porta,
visivelmente surpreso ao ver sua esposa e filha usando toucas de
espuma e barbas. Bronwyn gritou, sentindo-se uma idiota por nã o
ter trancado a porta, mas ela estava tã o preocupada com Kayla que
nem pensou nisso.
— Papai, — a criança gritou, feliz em vê-lo como sempre. —
Banhu?
— Uh... nã o agora, querida. — Ele balançou a cabeça com pesar,
levantando uma sobrancelha perversa para Bronwyn. — Embora eu
adoraria. — Ela revirou os olhos com a tentativa patética de olhar
malicioso e ele riu.
— Desculpe, Bron, pensei que você estava dando banho nela.
Nã o sabia que você estava na banheira com ela. Falo com você mais
tarde. — Ele se virou para sair.
— Papai nã o vai! — Kayla exigiu, ferozmente infeliz que seu pai
estava prestes a partir. Bronwyn gemeu e enterrou o rosto entre as
omoplatas frá geis da criança, entã o olhou para cima para encontrar
seus olhos divertidos.
— Você também pode ficar; ela vai ficar insuportável se você
nã o fizer isso — disse Bronwyn. Ele acenou com a cabeça, baixando a
tampa da cô moda e sentando-se, inclinando-se para a frente com os
cotovelos apoiados nas coxas vestidas de jeans e as mã os
frouxamente entrelaçadas entre os joelhos. Feliz por seu pai estar
assistindo, Kayla entrou em modo de exibicionismo total. Ela
decorou o rosto e o cabelo de sua mã e com mais bolhas antes de
arrastar uma boneca de plá stico para a á gua e começar um chá
tagarela com ela. Logo ela estava totalmente absorta em seu jogo, e
Bryce mudou seus belos olhos de criança para mã e desconcertada.
— Eu nã o queria perder a paciência mais cedo, — ele
murmurou.
— Eu sei. — Ela deu de ombros, lavando o cabelo de Kayla
enquanto a criança continuava a brincar. — Você estava preocupado.
Eu sinto muito.
— Eu estava imaginando os piores cená rios, — admitiu,
baixando os olhos para as mã os. — Eu estava prestes a chamar a
polícia. Eu já tinha decidido que faria assim que terminasse de
alimentar Kayla. — Porque seus olhos nã o estavam nela, ela optou
por nã o responder a isso.
— Eu também me arrependo desta manhã , — ele disse depois
de um longo silêncio interrompido apenas pela conversa alegre de
Kayla. Desta vez ele levantou os olhos para o rosto dela. Ele parecia
desconfortável e sincero.
— Eu sei, — ela disse novamente. — Mas mesmo que eu
realmente nã o pudesse ver esta manhã , você fez a coisa certa ao sair.
— Quase me matou, — ele admitiu rispidamente.
— Eu sei que nã o foi fá cil. — Ela assentiu. — Mas obrigada. Me
desculpe por pressioná -lo a ficar. Isso só teria levado a
arrependimentos ainda maiores. — Ela agarrou o chuveiro e
começou a enxaguar o cabelo de Kayla. A criança se contorceu
irritada quando isso interferiu em seu jogo.
— Kayla, sente-se quieta. — O tom de sua mã e nã o admitia
discussã o. Kayla parou de se mover e se recostou mal-humorada no
peito de Bronwyn. Bryce observou as duas com um sorriso
levemente atordoado nos lá bios, e Bronwyn franziu a testa, incapaz
de interpretar a expressã o em seu rosto.
— Vocês duas sã o tã o lindas, — ele sussurrou, soando
maravilhado e humilde. Ele parecia tã o possessivamente orgulhoso
que Bronwyn se contorceu desconfortavelmente.
— Bryce.
Ele nã o viu os lá bios dela formando seu nome. Em vez disso, ele
pegou uma pequena toalha e colocou sobre o cabelo de Kayla,
amarrando-a como um turbante em volta da cabeça. Ele pegou outra
toalha maior e a abriu, esperando pacientemente que Bronwyn
terminasse de ensaboar e enxaguar a filha antes de se ajoelhar ao
lado da banheira para pegar a criança que se contorcia. Sua camiseta
branca imediatamente ficou encharcada quando ele envolveu a
criança pequena na toalha. Ele a pegou antes de acenar para
Bronwyn, que imediatamente afundou sob as bolhas que se
dissipavam rapidamente.
— Eu assumo daqui; você aproveita o resto do seu banho, — ele
insistiu, e ela sorriu agradecida, observando sua forma alta e bem
construída enquanto ele se retirava do banheiro.
— Ah Deus, — ela gemeu, enterrando o rosto nas mã os
molhadas. Isso ia ser tã o difícil. Ela endireitou seus ombros estreitos
resolutamente antes de terminar seu banho e sair para encontrar
seu marido. Ele estava no quarto de Kayla, lendo uma histó ria de
ninar para a menininha sonolenta. Bronwyn observou
silenciosamente da porta, sem ser vista por pai e filha até que
finalmente Kayla adormeceu. Bryce parou de ler e se inclinou para
dar um beijo na bochecha macia de bebê de Kayla.
— Boa noite, anjo, — ele murmurou, tã o baixinho que Bronwyn
quase perdeu. Quando ele se levantou e se virou, nã o pareceu
surpreso ao encontrá -la parada na porta. Ela se aproximou e deu seu
pró prio beijo de boa noite na bochecha de Kayla antes de se
endireitar para encontrar seu olhar inabalável.
— Precisamos conversar, — disse ela, e ele assentiu. Ela liderou
o caminho para fora do quarto e desceu para a sala de estar. Ela nã o
podia fazer isso na estufa, nã o onde eles haviam compartilhado
tantas experiências, boas e ruins. Ele foi direto para o armá rio de
bebidas e serviu dois copos de uísque puro, parecendo perceber que
eles precisariam. Ele entregou a ela um dos pesados copos de cristal
e apontou para duas cadeiras confortáveis.
— Devemos?
Ela assentiu, sentando-se em frente a ele e tomando um gole
nervoso do líquido ardente que girava tã o lindamente no copo. Ela
tossiu e ele sorriu.
— Ainda nã o consegue segurar sua bebida, eu vejo, — ele
brincou.
— Bryce, pedi o divó rcio hoje, — disse ela rapidamente. Seu
sorriso desapareceu e ele ficou branco como uma folha. Seus olhos
caíram para o copo e ele o levou aos lá bios com uma mã o um tanto
trêmula antes de engolir o conteú do de um só gole.
— Entendo.
— Eu nã o quero nada de você, — ela continuou
apressadamente quando seus olhos se ergueram para encontrar os
dela novamente. — Exatamente o que discutimos antes: pensã o
alimentícia e guarda compartilhada. — Ele se levantou e voltou para
o armá rio de bebidas. Ele encheu o copo, dobrando a quantidade
desta vez. Quando voltou a se sentar, nã o disse nada, apenas bebeu
metade da bebida com um leve estremecimento.
— Diga alguma coisa, — ela insistiu.
— Nada mais a dizer. — Ele encolheu os ombros. — Na verdade,
nada mais a fazer, exceto sentar aqui e ficar muito, muito bêbado.
— Bryce, — ela advertiu, mas ele nã o viu seus lá bios
pronunciarem seu nome porque ele estava de pé mais uma vez,
enchendo seu copo. Quando ele voltou para seu assento desta vez,
ele trouxe a garrafa com ele e a ergueu para ela com uma inclinaçã o
questionadora de sua cabeça.
— Você quer? — Ele convidou, indicando para ela á lcool mal
tocado.
— Bryce, precisamos conversar.
Ele riu rudemente, parecendo tudo menos divertido.
— Sobre o quê, droga? — A voz dele aumentou e ela pulou de
susto. — Você sempre quer falar, mas nada é dito! Você quer o
divó rcio, quer pensã o alimentícia e guarda compartilhada? Tudo
bem, eles sã o seus. Vou te dar a casa em Knysna e alguns milhõ es
também! Como isso soa?
— Eu nã o quero essas coisas.
— Claro que nã o, — ele zombou. — Você é boa demais para o
meu dinheiro, para as minhas desculpas e para o meu amor, nã o é?
Isso fez isso! Bronwyn deu um pulo e, antes que ela realmente
tivesse tempo de pensar sobre suas açõ es, jogou o resto de sua
bebida em seu rosto sarcá stico. Ela esperou que ele piscasse para
tirar a ardência do á lcool de seus olhos antes de atacá -lo.
— Que desculpas? Que amor? — Ela sinalizou e gritou com ele.
— Até agora nã o ouvi uma palavra de desculpas de você. Nã o por me
expulsar ou por me julgar mal. E você nã o disse uma vez, nem uma
vez desde o nosso casamento, desde antes do nosso casamento, que
me ama! Na verdade, você fez o oposto disso; você me disse que se
casou comigo por obrigaçã o, que nunca me amou. Você está me
dizendo diferente agora, Bryce? Decida-se porque estou ficando
doente com seu transtorno de personalidade mú ltipla.
— Bronwyn...
— Nã o! Você tem o descaramento absoluto de me dizer que
nada é dito. — Ela ainda estava usando as mã os e a boca para deixar
absolutamente claro como se sentia. Ela nã o queria que ele perdesse
uma ú nica palavra. — Bem, de quem é a culpa, Bryce? Você nunca
realmente se abriu comigo. Tentar aprender qualquer coisa sobre
você é como extrair sangue de uma pedra. Eu estava feliz com nosso
casamento antes de partir, mas depois de ficar sozinha por dois anos
e realmente pensar sobre isso, reconheci como nosso
relacionamento estava completamente ferrado. Eu dei tudo de mim e
nada de receber de você. Você se escondeu tã o completamente de
mim que me pergunto se o homem por quem me apaixonei
realmente existiu. Entã o, você está certo, o tempo para falar acabou.
Vou ficar nesta casa conforme nosso acordo, mas esse divó rcio vai
acontecer.
— Por que de repente você está tã o desesperado por um
divó rcio? — ele perguntou desconfiado. — É aquele professor? Você
está me deixando por ele?
— Como posso deixar você quando nem estamos juntos? — ela
perguntou exasperada. Ela estava frustrada porque nenhuma de suas
palavras parecia estar penetrando. — E não, eu nã o quero o divó rcio
por causa de Raymond. Duvido que o veja novamente fora da
faculdade. E só porque você saiu durante este casamento nã o
significa que eu vou. — Ele parecia completamente confuso com as
palavras dela e fez sinal para que ela as repetisse, evidentemente
pensando que ele havia interpretado mal as palavras dela. Quando
ela repetiu o que havia dito, o queixo dele caiu sobre o peito
enquanto ele a encarava em choque ó bvio.
— Que diabos você está falando? — ele perguntou. Ele ainda
estava sentado, bebendo despreocupadamente seu uísque, embora o
á lcool que ela jogou nele tivesse encharcado sua cabeça e ombros.
Bronwyn ainda estava de pé e olhando para ele com raiva. — Eu nã o
“sai” como você tã o eloquentemente colocou.
— Foi você quem me disse que sua vida sexual estava “ó tima”,
lembra? O que mais eu deveria deduzir dessa declaraçã o? — Ele
engasgou com um gole de uísque e tossiu por alguns minutos antes
de finalmente piscar rapidamente para clarear os olhos e encará -la
estupidamente novamente.
— Bronwyn... Eu sofri um acidente. Passei seis meses
convalescendo, um ano em terapia e o resto do tempo evitando
multidõ es. Saí apenas uma vez, e foi para uma festa surpresa para
Theresa De Lucci apenas algumas semanas antes de encontrarmos
você de novo. Quando você acha que tive tempo de transar com
outras mulheres?
— Você disse... — Ok, entã o talvez ele tenha mentido.
— Eu estava tentando fugir do assunto. Você estava me
perguntando sobre sexo e tudo que eu conseguia pensar era em te
deixar nua e debaixo de mim novamente. Dificilmente algo que eu
queria anunciar quando ainda estava com tanta raiva de você.
— Mas as camisinhas?
— O que?
— Na gaveta do quarto, — ela elaborou, e seus lá bios se
contraíram.
— Rick e Lisa já usaram aquele quarto no passado e, embora
tenham feito a coisa responsável na compra de preservativos, nunca
chegaram a usá -los, e ela engravidou mais rá pido do que você
poderia piscar. — Ele olhou fixamente para ela por um momento
antes de sorrir perversamente. — Você estava com ciú mes, Bron?
Maldito seja!
— De jeito nenhum. — Ela manteve o rosto inexpressivo, mas
nã o conseguiu esconder o rubor traidor dele. — Eu apenas pensei
que você era um hipó crita por ficar estranho sobre Raymond quando
você quase admitiu ter dormido com outras mulheres. Nã o importa
mais de qualquer maneira. O divó rcio ainda está de pé. — Suas
palavras trouxeram a realidade de sua situaçã o de volta para ele e
ele ficou sério imediatamente. — Quero juntar os cacos da minha
vida e seguir em frente. Eu simplesmente nã o posso ser feliz vivendo
assim.
Ele se levantou, elevando-se acima dela, e seus olhos
perfuraram desesperadamente os dela.
— Podemos ser uma família, Bronwyn, — ele insistiu,
estendendo a mã o implorando. — Este fim de semana provou isso.
—Nã o, tudo o que este fim de semana provou é que você ainda
tem segredos que se recusa a compartilhar comigo. E sempre será
assim, nã o é, Bryce? Você sempre fechará alguma parte de você para
mim. Nunca te conheci de verdade e duvido que algum dia o
conhecerei.
— Querida, por favor, — ele gemeu.
— Nã o me chame assim, — ela disse. Ela apenas se sentia
cansada e derrotada. Ele ficou lá , a mã o ainda estendida e parecendo
miserável, com á lcool pingando de seu cabelo e em seus olhos. Por
um breve momento ela se sentiu amolecendo.
— Eu sei que fui um completo bastardo, — ele admitiu.
— Sim.
Sua admissã o fortaleceu sua determinaçã o.
— Eu sinto muito...?
— Isso é uma pergunta? Ou um pedido de desculpas real?
Ele hesitou brevemente e ela revirou os olhos. — Volte para
mim quando tiver certeza. — Ela saiu da sala e Bryce olhou para a
porta por um longo tempo depois que ela saiu.
Agora que toda essa coisa do divó rcio estava se tornando um
fato palpável, ele admitiu para si mesmo que nã o estava tã o disposto
a desistir e dar a ela tudo o que ela pedia. Ele queria sua esposa e
filho, mas era um homem quebrado, tanto física quanto
emocionalmente, e dificilmente parecia justo sobrecarregá -la com
seus inú meros problemas depois de tudo que ele já a havia feito
passar. No entanto, ele sabia que sem ela voltaria a ser a casca vazia
que era depois que ela partiu. Ele suspirou e corrigiu o pensamento,
depois de afastá-la. Dois anos atrá s, ele havia sido descuidado com a
coisa mais preciosa de seu mundo e, como resultado, a perdera. Ele
desejou que houvesse alguma maneira de reconquistar a confiança
dela e se reconciliar com ela, mas em seu coraçã o ele nã o achava que
merecia mais tanto.
Um bebê, Jesus Deus, ele pensou. Ele nã o estava pronto para ser pai!
Ele seria péssimo nisso. Ele seria como seu próprio pai - abusivo,
mesquinho e ausente de coraçã o e alma. Ele nã o poderia ter um filho
ainda, nã o até que Bronwyn o curasse um pouco mais. Ao longo dos
ú ltimos anos, ela tinha sido um bá lsamo para seu espírito inquieto e
danificado. Com o tempo, sua gentil calma e bondade teriam se
espalhado para ele, teriam se infiltrado em sua alma e feito dele o
tipo de homem que ele desejava ser. Ele estaria pronto para ser pai e
responsável por uma vida totalmente nova. E ainda assim ela estava
grávida agora... ela tinha seu bebê dentro dela neste exato momento.
Sua respiraçã o engatou em um soluço quando ele a viu em sua
mente, ficando mais redonda, mais macia, seus seios crescendo
cheios e pesados de leite. Ele a viu dando à luz, viu o bebê deles:
zangado, vermelho, nu e chorando e amou de todo o coraçã o. Ele
queria aquela vida com todo o seu ser.
Nã o apenas os dois, mas os três: uma família.
Sim, ele queria muito aquela vida e, com Bronwyn ao seu lado,
tinha quase certeza de que poderia tê-la. Ele nã o era seu pai. Ele
praticamente criou Rick sem danificar um fio de cabelo em sua
cabeça, entã o por que ele seria diferente com seus pró prios filhos?
Deus, Bron provavelmente o odiava tanto agora, mas ele tentaria
explicar isso a ela. Talvez ele finalmente pudesse contar a ela sobre
seu pai e ela entenderia. Ela nã o pensaria que ele era um monstro só
porque alguém o gerou. Ela o perdoaria. Ela tinha que fazer isso.
Certamente ela o amava o suficiente para perdoá -lo?
Ele já estava de pé e pronto para ir falar com ela quando ouviu o
motor de seu BMW roncar, seguido pelo som inconfundível de pneus
cantando na garagem. Seu estô mago se apertou e seu coraçã o quase
parou.
— Nã o... nã o nã o nã o nã o nã o nã o... — A negaçã o soou como
uma oraçã o quando ele saiu da sala. Ele ouviu um guincho enquanto
ela lutava com a embreagem e entã o o ronronar gutural quando o
carro obedeceu a seus comandos e ganhou vida. Ele estava saindo
pela porta da frente quando o carro saiu da garagem. — Deus por
favor... — ele implorou enquanto se virava e pegava seu pró prio
molho de chaves da mesa no corredor antes de mergulhar para o
Maserati que ele havia deixado estacionado na frente. Ela nã o era
uma boa motorista e geralmente lutava com as curvas da estrada
íngreme e sinuosa. Ele a seguiu à distâ ncia, com cuidado para nã o a
assustar; ele podia ver as lanternas traseiras algumas curvas abaixo
e sabia que seria capaz de alcançá -la em seu carro mais rá pido. Ele
apenas rezou para que ela nã o avaliasse mal uma curva e se
machucasse. Deus, ele morreria se ela fosse ferida ou se o bebê se
machucasse. Ela nunca iria perdoá -lo se algo acontecesse com o
bebê, nunca acreditaria que ele queria tanto quanto ela, mas tinha
sido muito covarde para admitir isso. Ele os queria seguros. Ele os
queria com ele. Ele daria qualquer coisa no mundo para recuperar a
ú ltima meia hora. Ele ficou petrificado de que, quando conseguisse
alcançá -la, ela nã o o desejasse mais, nã o o amaria mais!
Ele nã o poderia viver sem o amor dela. Toda aquela ternura
estú pida e avassaladora que ele disse a si mesmo que sentia por ela,
como diabos ele nã o a reconheceu pelo que era? A estrada estava
nivelando quando aconteceu - um jovem casal, de mã os dadas,
entrou em seu caminho. Eles estavam tã o absortos um no outro que
nã o o viram chegando. Ele desviou para evitá -los e saiu da estrada.
Ele teve tempo suficiente para sentir gratidã o por ter deixado as
curvas íngremes para trá s antes que o carro capotasse e capotasse
vá rias vezes. Ele estava brevemente ciente de sentir uma dor
excruciante em todos os lugares, e seus ú ltimos pensamentos antes
de desmaiar foram o arrependimento de nunca mais ver seu bebê e o
terror absoluto de nunca mais segurar Bronwyn novamente.
Quando voltou a abrir os olhos, foi para um silêncio profundo.
Ele gradualmente veio a entender que estava pendurado de cabeça
para baixo e mantido suspenso pelo cinto de segurança. Ele piscou
para a multidã o reunida do lado de fora do carro e o primeiro rosto
que viu claramente foi o dela. Ele sorriu, aliviado por ela ter voltado,
mas intrigado com a completa falta de emoçã o em seu rosto.
— Bronwyn. — Ele sentiu seus lá bios formar a palavra, mas nã o
conseguiu ouvi-la. Estava incrivelmente quieto; ele nã o esperava que
uma cena de acidente fosse tã o mortalmente silenciosa. Ele tentou
novamente, chamou o nome dela e sentiu sua garganta apertar e
rouca enquanto chamava e chamava sem emitir um som sequer. Ela
nã o se mexeu, apenas o observou, e ele gelou de pavor. Ela o odiava.
Deus, ele sabia que ela acabaria o odiando... ele sempre soube
disso. Ele passou os ú ltimos dois anos esperando que ela deixasse de
amá -lo. Ele nã o era bom o suficiente para o amor dela. Alguma parte
dele sempre soube que o filho de um monstro nã o merecia o amor de
uma criatura tã o gloriosa.
Ainda assim, ele implorou e implorou para que ela viesse até
ele. Deus, ela era tã o adorável, ele a adorava naquele vestido, sempre
a adorara. Mas ela o havia ignorado. Ela se virou, foi embora e o
deixou com dor e em silêncio.
Claro, cada lugar a que ele a levava era mais extravagante do que o
outro. A acomodaçã o em Camps Bay nã o era barata e, a julgar pelo
tamanho das chamadas casas geminadas para as quais ele a levou,
nenhum dos lugares variaria abaixo de oito dígitos. Como eles
permaneceram na á rea, ele disse a Cal que nã o seria necessá rio e,
pela primeira vez, a família se viu completamente sozinha. Foi uma
sensaçã o quase nova para Bronwyn, que se acostumou tanto com a
presença silenciosa e flutuante dos seguranças que se sentiu
excessivamente exposta sem eles. Mas ela logo se envolveu em toda a
experiência de caça ao apartamento
— Bryce, — ela finalmente falou quando se viu de pé na sala de
estar da terceira mini mansã o que ele a levou. — Esses lugares sã o
todos muito grandes.
Ele franziu a testa e balançou a cabeça.
— Eu os escolhi porque todos têm vista para o mar e para a
montanha, — explicou ele calmamente. — Eu sei o quanto você ama
os dois. E este tem pá tio e jardim. Você gosta de jardinagem. Você
nã o teve muito tempo para isso recentemente, mas pelo menos terá
a opçã o. O pró ximo lugar da lista tem um jardim e um playground
seguro para Kayla. A piscina é cercada e há amplo espaço para um
animal de estimaçã o, se você decidir ter aquele cachorro que sempre
quis. — Ela nã o sabia que ele havia pesquisado pessoalmente todos
os lugares que estava mostrando a ela. Ela presumiu que ele passaria
a tarefa para sua assistente, mas o nível de cuidado e consideraçã o
que ele colocou nessa tarefa, apesar de sua clara relutâ ncia em que
elas se mudassem, foi comovente. Ela nã o sabia o que dizer e engoliu
em seco antes de se virar para alertar Kayla para nã o correr muito
rá pido enquanto a garotinha ia de um quarto vazio para outro.
— O quarto principal receberá o nascer do sol pela manhã , —
ele continuou depois de limpar a garganta sem jeito. — E a sala
recebe o pô r do sol. Achei que você gostaria disso.
— Você nã o teve que se dar tanto trabalho, Bryce. Eu sei que
você nã o quer que a gente saia. Eu nã o esperava que você colocasse
tanto trabalho nisso.
— Se você realmente tiver que me deixar de novo, Bron, quero
saber se você está segura, feliz e bem cuidada. Esta é a ú nica maneira
que conheço para garantir isso. — Ela mordeu o lá bio incerta e ele a
recompensou com um sorriso sombrio antes de mostrar-lhe o resto
do apartamento espetacular. Quando passou o meio-dia, ele mostrou
a ela sete lugares, cada um a menos de cinco minutos de carro de sua
casa. Ele claramente pretendia mantê-las por perto.
— Eu escolhi este porque pensei que você gostaria disso, — ele
disse a ela enquanto a levava para o segundo andar do ú ltimo lugar.
Era um enorme duplex com vista panorâ mica, um jardim, uma
enorme cozinha, quatro quartos, três banheiros e meio e uma
varanda no segundo andar que se abria a partir do quarto principal e
dava para o mar.
Ele abriu uma porta no segundo andar e ficou de lado para
deixá -la entrar, e a respiraçã o de Bronwyn foi sugada para fora de
seu corpo com o soco emocional que ele acabara de lhe dar. Era um
jardim de inverno pequeno e bonito. Duas paredes e metade do teto
eram inteiramente de vidro, um lado voltado para o mar e o outro
para a montanha. Era absolutamente lindo. Seus olhos se encheram
de lá grimas ao perceber que Bryce havia escolhido aquele lugar
porque sabia o quanto ela sentiria falta da estufa quando saísse de
casa.
— Você gostou? — ele perguntou, de pé atrá s dela enquanto ela
caminhava automaticamente em direçã o à janela com vista para o
oceano azul-marinho.
— É lindo, — ela sussurrou com voz rouca, piscando para
conter as lá grimas, antes de perceber que ele nã o podia ver seus
lá bios. Ela assentiu, mantendo-se de costas para ele.
— Eu sabia que você gostaria. — Sua voz soava vazia e ela se
virou para vê-lo pegar o celular e digitar uma mensagem para
alguém. Uma vez que ele completou, ele olhou para ela com os olhos
sombreados.
— Entrei em contato com a corretora de imó veis para avisá -la
de que farei uma oferta por este lugar.
— Mas...
— Tem um jardim, vistas, uma cozinha totalmente equipada,
uma piscina vedada, fica perto de lojas e escolas e, claro, você terá
sua pró pria equipe de segurança. Também tem isso... — Ele indicou
uma das paredes de vidro do chã o ao teto. — É perfeito para você.
Ela acenou com a cabeça miseravelmente, observando Kayla
puxar a perna da calça de seu pai enquanto tentava mostrar a ele
algo que tinha visto pela janela. Bryce olhou para sua filha antes de
segui-la obedientemente enquanto ela o puxava para o que quer que
tivesse chamado sua atençã o. Bronwyn enxugou furtivamente
algumas lá grimas errantes e foi se juntar a eles na janela. Seu
coraçã o, já irremediavelmente partido, tinha acabado de se
desintegrar em um milhã o de cacos minú sculos e os pequenos
fragmentos afiados a estavam despedaçando.
— Pronta para ir? — ele perguntou depois de alguns minutos
bajulando Kayla, e ela assentiu quando ele olhou para ela. Ele ergueu
Kayla em seu quadril e descansou a mã o livre na parte inferior das
costas de Bronwyn enquanto a guiava à sua frente.
Ela esperava que ele as levasse diretamente de volta para casa,
mas em vez disso ele desviou para os restaurantes à beira-mar que
pontilhavam o litoral de Camps Bay, parando em frente a um dos
lugares menores. Bronwyn engasgou quando o reconheceu e seus
olhos voaram para o perfil dele. Por que ele a estava trazendo aqui?
— Achei que poderíamos almoçar, — explicou ele, lançando lhe
um olhar enigmá tico antes de desafivelar o cinto de segurança e sair
do Audi seguro que agora preferia dirigir.
Ele contornou o capô do carro e segurou a porta do passageiro
aberta para ela. Ela desafivelou o pró prio cinto e relutantemente saiu
do carro. Ele tirou Kayla de sua cadeirinha antes que Bronwyn
pudesse reagir e, mais uma vez, colocou a mã o nas costas dela para
conduzi-la gentilmente em direçã o ao restaurante familiar.
— Bryce. — Ela resistiu e olhou para ele com olhos suplicantes.
— Nã o quero comer aqui.
— Já fiz reserva e todos os outros lugares estarã o lotados na
hora do almoço de um sá bado. Além disso, Kayla vai ficar irritada se
nã o almoçar logo. — Bronwyn lançou um olhar cético para sua filha
sorridente, que abraçava alegremente Broccoli, sua velha boneca de
pano de cabelo verde.
— Você está com fome, Kayla? — ele perguntou, e Kayla
assentiu alegremente.
— Cum fomi, — ela respondeu, e Bronwyn, percebendo que
estava em menor nú mero, reprimiu qualquer protesto e
relutantemente entrou no restaurante onde ela o vira pela primeira
vez há tanto tempo.
CAPÍTULO CATORZE
— Oi. — Bryce parecia quase tímido quando trouxe Kayla para casa
na noite seguinte. A garotinha se jogou em Bronwyn e elas se
reconciliaram como duas pessoas separadas por meses em vez de
um mero dia, regando-se mutuamente com abraços e beijos
exagerados.
Depois de uma longa e exuberante saudaçã o, Kayla correu para
seu quarto para verificar se seus brinquedos também haviam
sentido falta dela, deixando seus pais se encarando nervosamente.
— Ei. — Bronwyn retribuiu o cumprimento e enfiou as mã os
nos bolsos de trá s da calça jeans enquanto se balançava para a frente
e para trá s sobre os calcanhares. Chovia incessantemente desde a
noite anterior, e Bron olhou para o tempo sombrio por cima do
ombro de Bryce. Ele ainda estava parado na varanda, como era seu
há bito quando deixava Kayla. Ele nunca entrava.
— Está congelando lá fora, — observou Bronwyn
insensatamente. — Você quer uma bebida quente? — Seus olhos
brilharam com o convite e ele assentiu rapidamente. Ele se virou e
sinalizou sua intençã o de ficar para Cal, que estava esperando no
carro. O outro homem acenou com a cabeça e enviou de volta um
sinal de “ok”.
— Você fez muito com este lugar em tã o pouco tempo, — disse
ele, olhando ao redor da cozinha caseira enquanto se sentava na ilha.
Ele observou enquanto ela se movimentava pela grande sala,
preparando um bule de chá . Ela se sentou em frente a ele alguns
minutos depois com o bule de chá entre eles.
Para manter as mã os ocupadas e a ansiedade sob controle, ela
serviu o chá dele, preparando-o automaticamente do jeito que ele
gostava.
— Eu te deixo nervoso? — ele perguntou, e as mã os dela
pararam seus movimentos inquietos enquanto ela considerava sua
pergunta franca. Como é típico de Bryce ir direto ao ponto.
— Nã o, — ela respondeu. — Você nã o, mas a situaçã o sim. Você
nã o sente o mesmo?
Ele tomou um gole de seu chá enquanto considerava a pergunta
dela e colocou sua delicada xícara de chá cuidadosamente de volta
no pires antes de responder.
— Estou apavorado, — ele admitiu com um sorriso
desarmante. — Tenho medo de dizer ou fazer a coisa errada. A noite
passada é um exemplo perfeito de como eu estraguei tudo sem
querer. O sorriso desapareceu e seus olhos escureceram. — Todo o
nosso casamento foi um exemplo de mim estragando tudo sem
querer.
Ela honestamente nã o tinha ideia do que dizer em resposta a
isso e ficou aliviada quando Kayla voltou correndo para a cozinha
com Broccoli agarrada ao peito. Ambos ficaram gratos pela
interrupçã o e focaram sua atençã o na garotinha, que falava a mil por
hora. Depois de alguns minutos se preocupando com a criança,
Bronwyn deu um tapinha no ombro de Bryce para chamar sua
atençã o.
— Você quer ficar para o jantar?
— Eu gostaria muito disso, — disse ele.
— Vou pedir pizza, — ela avisou caso ele estivesse esperando
alguma refeiçã o caseira milagrosa depois que ela passou o dia todo
na faculdade e no trabalho.
— Sem problemas. — Ele sacou o celular. — Vou avisar Cal que
vou ficar um pouco. Ele e Paul podem pedir comida para viagem
também.
Ela assentiu enquanto mandava Kayla para a geladeira pegar o
menu de pizza magnetizado que ela mantinha baixo o suficiente para
a criança alcançar.