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A NA HUA NG
1
Se nós nos encontrarmos de novo.
If Love
Salem
Becket
Sabrina
Janeiro 2023
Um ano, dois corações e um amor que os deixará cegos e, por fim, os
estilhaçará.
Era inevitável.
— Eu estive ocupado.
— Com?
Sua cabeça se ergueu com a nitidez de sua voz. Olhar para ela
acabou sendo um erro.
Seu peito apertou ao ver seu rosto e a dor nadando em seus
lindos olhos castanhos. Fazia duas semanas desde a última vez que eles
ficaram sozinhos, mas pode muito bem ter sido duas vidas.
Seria tão fácil fingir que tudo estava bem. Para dar a ela as
garantias que ela queria ouvir e voltar a ser como as coisas eram.
Ele confiava nela, mas a verdade iria destruí-la. Então ele fez a
única coisa que podia fazer: mentiu.
Mentiroso.
— Menti.
Ele estremeceu com o veneno em sua voz. Ela agarrou seu colar
com uma mão, traição girando em seus olhos.
— Eu sinto mu...
— Se você disser 'sinto muito' mais uma vez, irei até à cozinha,
volto e corto suas bolas com uma faca enferrujada. Na verdade, posso
fazer isso de qualquer maneira. Você é um idiota de merda. Sinto muito
por ter perdido todo esse tempo com você, e sinto mais por sua
namorada. Ela merece coisa melhor.
Deus, ele não queria que ela o odiasse. Ele queria, mais do que
tudo, dizer a ela que era tudo uma piada e que ele estava brincando com
ela. Ele queria agarrá-la e respirar aquele perfume de flor de laranjeira e
baunilha que o deixava louco, para confessar o quanto ele era louco por
ela e beijá-la até que ficassem sem fôlego.
Farrah foi até à porta. Ela parou na porta para olhar para ele. Ele
esperava que ela jogasse mais veneno nele - ele merecia. Mas ela não fez
isso. Em vez disso, ela se virou e fechou a porta atrás dela com um suave
‘clique’que ecoou no silêncio como um tiro.
Ele fechou os olhos com força, tentando bloquear a dor. Ele não
conseguia tirar a imagem do rosto dela de sua mente, aquela que dizia
que ela pensava tão pouco dele que não queria desperdiçar mais energia
gritando com ele.
Acima de tudo, ele chorou pelo que eles tinham, pelo que
perderam e pelo que nunca poderiam ser.
OITO MESES ATRÁS
2
É uma bebida doce feita com chá Oolong, leite e pérolas de tapioca de açúcar mascavo. O
Oolong Milk Tea recebe o nome do chá usado para fazê-lo, originário da China.
3
Rquivalente a 15 reais.
4
Chá com leite.
5
Melancia.
Nota para mim mesma: pedir a Olivia para fazer os pedidos de
amanhã.
6
Chinês nascido na América.
7
Comer, rezar e amar.
— Que tal este? — A mulher escolheu um romance de Dan
Brown. — Eu te darei um acordo. Três livros por cinquenta kuai!
— Vou levar isso. — Ela colocou suas bebidas no chão para que
pudesse pegar Orgulho e Preconceito - seu favorito -, The Notebook e Me
Before You. Ela já tinha lido todos eles, mas que diabos, uma releitura
nunca fez mal a ninguém.
Me mata.
— Como?
— Farrah da Califórnia.
Ela não poderia ter ficado mais surpresa se ele começasse a
recitar a Ilíada em grego antigo. — Você lembra.
Não, Blake não era o tipo dela, mas qualquer garota no mundo
iria derreter sob o calor de seu olhar. Farrah odiava admitir, mas ela não
era exceção.
— Ei, o que quer que faça seu barco flutuar. Não tenho nada
contra histórias de amor. Além disso, se você está procurando algo para
fazer além de discutir comigo, tenho algumas ideias. — Sugestividade
escorria de sua voz. — Você, eu, meu quarto. Uma ótima história de amor.
Impagável.
Mas Luke não estava aqui, o que significava que Blake tinha
todos os 45 metros quadrados para ele.
— Faça isso.
— Eu vou.
— Ok.
— Ok.
Eles se encararam.
Não que ele alguma vez dissesse isso a sua família. Eles deram a
ele merda suficiente sobre suas decisões como eram.
— Bom.
Aparentemente não.
— Oi mãe.
Joy deu uma risadinha. — Essa é a minha deixa. Vou deixar você
falar com a mamãe. — Ela se levantou. — Não seja um estranho, perigo.
Helen Ryan fixou seu filho com um olhar feroz. — Eu sou sua
mãe. É meu trabalho me preocupar, especialmente quando você está
passando um ano em algum país estranho do outro lado do mundo.
Blake desligou. Essa foi uma decisão difícil. Ele não precisava
falar com seu pai quando a voz de Joe Ryan já ecoava em sua cabeça como
um pesadelo.
Uma batida forte o fez pular. Blake pensou que o som era uma
escalada alarmante de sua dor de cabeça até que viu seu colega de quarto
na porta.
Esquecer o pai dele. Ele não ia deixar o velho arruinar seu tempo
em Xangai.
— Japão?
Kris.
— Filipinas?
Nardo olhou para Kris. — Você não quer ir para as Filipinas? Sua
família é de lá.
Olivia cutucou o lado dele com o cotovelo. Ele fez cócegas nela
em resposta, fazendo-a gritar e quase cair do banco de tanto rir.
Farrah escondeu seu sorriso atrás do copo.
9
É um coquetel de festa frutado que é servido em um aquário e feito com 4 tipos
diferentes de álcool, mistura de rum de coco, Vodka, licor de pêssego, curaçau azul e enfeitado
com peixes de gelatina (geralmente).Perfeito pra compartilhar com amigos.
— Isso é o que todos dizem. — Blake entregou a Farrah uma
garrafa de cerveja. — Bebida?
Farrah tomou outro gole. — Eu não posso falar com você. Você
é exaustivo.
Blake sorriu com a confiança de alguém que sabia que era o cara
mais sexy do lugar.
Luke disse algo para ele. Quando Blake virou a cabeça para
responder, Olivia agarrou o braço de Farrah. — O que é que foi isso?
Pela primeira vez em sua vida, Farrah estava grata pelo rubor
que tomava conta de seu rosto toda vez que ela bebia álcool. Escondeu o
embaraço acalorado em suas bochechas.
— Isso aí! Eu sou o rei dos reis. — Luke bateu em seu peito. —
Pode vir.
— Morda-me.
— Seu sonho.
10
É um jogo de bebida que usa cartas de baralho. O jogador deve beber e dispensar bebidas com
base nas cartas sorteadas. Cada carta tem uma regra que é predeterminada antes do jogo
começar. Muitas vezes os grupos estabelecem as regras da casa com sua própria variação de regras.
https://en.wikipedia.org/wiki/Kings_(game)
— Oooh. — Um sorriso se espalhou pelo rosto de Courtney. —
Eu gosto disso. Eu gosto muito disso.
Depois que Olivia tirou três (eu, o que significava que ela tinha
que beber), foi a vez de Farrah. Ela examinou as cartas restantes. Sua mão
pairou sobre o mais próximo a ela antes que ela mudasse de ideia e
pegasse uma carta do outro lado. Ela a virou.
Foda-se.
Olivia sabia disso, então ela não piscou um olho, mas o resto da
mesa olhou para Farrah como se lhe tivesse crescido outra cabeça.
Huh.
Ele bateu com o lápis na mesa. — Duibuqi. Dui. Bu. Qi, — ele
murmurou, tentando imprimir os personagens em sua mente. —
Desculpe— em mandarim. Ele poderia pronunciar bem; escrevê-lo era
outra questão.
Blake cobriu os caracteres de seu livro com uma das mãos e
tentou escrevê-los com base na memória. Ele passou pelos dois primeiros
e adivinhou o terceiro. Uma verificação rápida disse a ele que não estava
perto.
Mas não, ele teve que escolher a China, lar de uma das línguas
mais difíceis do mundo.
— Eu preciso de um tempo.
Blake culpou Daniel Craig por sua situação. Se Xangai não tivesse
parecido tão foda naquela cena do Skyfall11, que ele assistiu logo antes de
enviar sua inscrição para estudar no exterior com sua escolha de cidade,
ele não estaria aqui. Ele estaria em Sydney, saindo com surfistas e vivendo
sua melhor vida na praia. A Austrália estava ainda mais longe de casa do
que a China. Teria sido perfeito.
11
Filme 007.
Blake se levantou para esticar os membros. Ele revirou o
pescoço e encolheu os ombros. Nada melhor do que movimento depois
de horas sentado.
Blake dormiu com uma virgem uma vez, no colégio. Certo, ele
não sabia que Lorna era virgem até depois do fato, e quando ele se
recusou a tornar as coisas exclusivas entre eles, ela pegou uma chave e
passou em seu amado Chevy até que se assemelhasse ao rosto de Freddy
Krueger.
Tempos divertidos.
Então o pai de Lorna descobriu que Blake dormiu com sua filha
preciosa e o rastreou após o treino de futebol com uma espingarda na
mão. Felizmente, o treinador de Blake o viu e chamou a polícia antes que
Blake se pegasse comendo terra quase dois metros abaixo do solo. A
polícia soltou o homem com uma severa advertência, uma vez que ele
tecnicamente não tinha tentado atirar em Blake (ainda), mas Blake ainda
entrou com uma ordem de restrição contra a maldita família inteira da
garota.
Seu corpo vibrou de tanto rir. — Sabe, sou bem realista quanto
você me conhece.
— Eu também estou.
Ei, ele era um cara. Ele não se conteve. Exceto que esse cara
agora precisava de um banho frio.
— OK.
— Por que você não está com elas? Achei que vocês quatro
estavam unidas pelos quadris. — Blake não entendia por que as garotas
viajavam em matilhas como lobos, até mesmo para o
banheiro. Principalmente para o banheiro. O que elas faziam lá, davam
uma festa?
— É isso?
— É isso.
Farrah pareceu surpresa com seu tom frio. — Não sei. Acho que
é porque você é jogador de futebol e os atletas da minha escola não estão
exatamente familiarizados com a biblioteca.
12
A média de notas (GPA) fornece uma medida numérica do desempenho do ensino médio pela
média de todas as notas finais.GPA médio nacional do ensino médio de 3,0. Como um dos objetivos
de um bom GPA é torná-lo elegível para admissão no maior número possível de faculdades.
— Você tem razão. Eu sinto muito. — Ela mordeu o lábio. — Eu
não deveria ter presumido.
— Um atleta burro?
— Oh sério? Como?
— Boa noite.
Não. Nuh-uh. Nem pense nisso, amigo. Um beijo não vale a pena
estragar o seu ano. Mesmo que fosse um beijo e tanto.
Farrah virou a cabeça para que Kris não pudesse ver sua
risada. Kris era uma de suas amigas mais próximas na FEA, mas às vezes
vivia em seu pequeno mundo.
O olhar de Farrah pousou em Blake, que conversava com Luke e
Sammy ao lado. Blake era amigo de Luke, que era amigo de Courtney, o
que significava que Blake era um membro de fato do grupo.
Maldito seja.
13
O Festival da Lua é também conhecido como Festival de Meio do Outono. Na Malásia e em
Singapura, é algumas vezes conhecido como Festival da Lanterna, parecido em nome com um festival
diferente que cai no décimo quinto dia do Ano-novo Budista. É uma celebração popular na Ásia para
celebrar a abundância e a união.
— Nada.
Isso não era totalmente verdade, mas ele não precisava saber
disso. — Por quê? Você tem um namorado?
— Não.
— Não estou!
— Está.
— Eu não estou.
— Está.
Ela olhou para ele. — Você tem que ser tão rude?
— Exatamente!
Blake estava errado. Ele pode ser um jogador, mas nem todo
cara no mundo era como ele.
— Não importa. Como você disse, ele está com Courtney, então
acho que você está condenada a desejar alguém que não pode ter, a
menos que...
Ele não foi a primeira pessoa a sugerir essa solução. Olivia vinha
tentando fazer com que Farrah ficasse com outro cara da FEA por
semanas, mas quando Farrah tinha uma queda, ela tinha visão de
túnel. Na maioria das vezes, de qualquer maneira.
Ela optou por não pensar sobre a forma como seu estômago
revirava cada vez que Blake sorria - um sorriso verdadeiro, não o sorriso
que ele estava dando a ela agora.
Para alívio de Farrah, Blake não tocou no assunto Leo pelo resto
do dia, provavelmente porque Olivia e Courtney os fizeram correr como
loucos para que pudessem ver tudo antes que o parque fechasse.
— Elas estão dormindo. Bem, Olivia não está, mas ela está
trabalhando em inscrições de estágio. — Farrah fez uma pausa. Bebeu um
gole de sua bebida. Então, — Você quer se juntar a mim?
Blake quase caiu com o convite. Ele não tinha certeza se Farrah
gostava dele, e agora ela o estava convidando para sair com ela.
Ele não deveria. Ele estava com muita fome e tinha um encontro
com a academia. Ele odiava ir para lá depois das 10 da manhã, quando
ficava lotado de caras que estavam mais interessados em selfies de
academia do que em malhar. Além disso, Blake não gostou da maneira
como seu corpo reagiu ao redor de Farrah. Era diferente da atração sexual
típica - embora certamente existisse - e o assustou.
Eu preciso transar.
A última vez que ele fez sexo foi... Puta merda, em julho, logo
antes de terminar com Cleo. Dois meses inteiros. Foi seu período de seca
mais longo desde que ele perdeu a virgindade com a garota mais popular
da classe quando tinha quinze anos.
Shauna Smith. Ela tinha sido alguma coisa. E ela ganhou seu
título de líder de torcida em mais de uma maneira.
— Não acredito que nunca comi isso antes. — Farrah jogou sua
embalagem vazia e o recipiente de chá com leite no lixo. — Eu geralmente
vou para o Cinnamon no café da manhã. Kris insiste.
— Para a competição.
Ele sabia o que não queria fazer. Agora ele tinha que descobrir o
que ele queria fazer.
— Devíamos ir...
Ele, Blake Ryan, estava em Xangai. Ele esteve tão ocupado com
as aulas e se acomodando que não o atingiu até este momento.
Blake não tinha certeza de como se sentia sobre isso ainda. Ele
gostava da liberdade de estar longe de casa, mas a China precisou de
alguns ajustes. Ele não era fã dos banheiros atarracados, da poluição ou
de como o Mandarim era difícil pra caralho. Ele tinha que se comunicar
com gestos manuais noventa por cento do tempo fora da FEA, a menos
que houvesse alguém para traduzir para ele.
— Como é?
— Vou sobreviver.
— Tenha um voo seguro amanhã. — A voz da mãe de Farrah
estalou na linha. — Mande uma mensagem quando pousar.
— Mãe, é outubro.
— Você e sua mãe são tão fofas. — Olivia parecia com inveja. —
Tudo o que minha mãe sempre me pergunta é quais são minhas notas e se
eu já tive uma resposta do meu estágio.
— Tudo bem, isso pode ser um exagero, mas há pelo menos mil
candidatos. Essa ainda é uma taxa de aceitação infinitesimal.
Ela não tinha contado a seus amigos sobre sua excursão com
Blake. Não era como se eles tivessem um encontro. Não valia a pena
mencionar.
Farrah suspirou. Assim que Olivia teve uma ideia na cabeça, ela
parecia um pit bull com um osso. — Ok. Se você quer saber, encontrei
Blake no meu caminho para fora e, no calor do momento -
o que significa que não foi planejado — Eu pedi a ele para se juntar a
mim. Fomos a algumas galerias e voltamos. Fim.
Muuuita informação.
14
Informação demais
Como ela esperava, Olivia cedeu e ficou com Sammy no 808 no
início daquela semana. Eles tiveram seu primeiro encontro na noite
seguinte e estavam rapidamente se tornando um dos casais mais
nauseantemente fofos da FEA.
Farrah estava emocionada (os 100 kuai que ela recebeu por
ganhar a aposta do grupo em quando Olivia e Sammy se encontrariam foi
um bônus), mas o relacionamento deles também a lembrou da total falta
de romance em sua própria vida.
— Quem, Blake?
— Leo!
— Sim, mas você ainda pensa nele o tempo todo. Diga que
estou errada.
— Isso foi o que eu pensei. Agora, você sabe o que eles dizem. A
melhor maneira de superar alguém é ficar com outra pessoa. Nesse caso,
esse 'outro' é um deus grego cujo nome rima com Jake Bryan.
— Não acontecerá.
Mas Blake achava que romance era uma besteira, o que era a
coisa mais blasfema em que Farrah poderia pensar.
Blake vagava sem rumo, sem saber o que estava procurando. Ele
passou por casais, famílias e turistas boquiabertos com o
espetáculo. Placas enormes e anúncios em vídeo pairavam no alto,
gritando por atenção.
— Foi difícil no início, mas ele fez funcionar. Greg é bom nesse
tipo de coisa. — Mina saiu para cuidar do outro cliente, mas não sem
antes dar uma piscadela para Blake, dizendo que ela voltaria.
A quem?
A família dele? Seu pai não ficaria feliz a menos que Blake
voltasse ao mundo do futebol; sua mãe e Joy fariam o possível para apoiá-
lo, mas não conseguiam.
15
Fazendo um tocadlho com o ditado popular ‘Every cloud has a silver lining’ – Toda nuvem tem uma
linha de prata. Significando que tudo tem um lado positivo.
— Um livro.
— Não, obrigada.
16
Podres de ricos, romance de Kevin Kwan. Um filme foi baseado no livro de mesmo nome,
a comédia romântica americana de 2018 dirigido por Jon M. Chu , com roteiro de Peter Chiarelli e Adele
Lim.
— Ótimo, — Kris disse. — Viu o que você fez, Court? Agora
teremos que ver Luke e Nardo nus.
A risada parou.
— Só estou dizendo que você não precisa ser tão maníaca por
controle o tempo todo.
Kris estremeceu.
— Você está bem? — Farrah não sabia o que dizer. Eles nunca
tiveram uma grande briga no grupo antes.
Nardo tossiu.
Era tão bom aqui. Ela não queria voltar para Xangai. Ela queria
ficar aqui para sempre. Quem estava em Xangai, afinal?
Blake nu. Blake e uma garota sem rosto fazendo sexo em seu
quarto. Blake e uma garota sem rosto fazendo sexo na cozinha. Blake e
Farrah fazendo sexo na sala dos alunos.
Uau. De onde diabos veio isso?
Graças a Deus. Se ele ficasse mais sem sexo, eles teriam que
levá-lo para o pronto-socorro para uma cirurgia de emergência de bola
azul.
Alguém bateu.
Espere. Não tenho nada do que me culpar. Blake era solteiro. Ele
poderia ficar com quem quisesse.
Blake ignorou o calor que inundou suas veias e deu seu sorriso
característico, aquele que ele sabia que fazia as garotas derreterem. Para
seu aborrecimento, Farrah permaneceu imperturbável. — O elefante
também era bonito e atlético?
— Arrogante e exibicionista.
— Dificilmente.
— Meu primo.
Ele relaxou. — Bem, Josh terá que ficar sem porque Blake Jr. é
meu.
— É isso?
— Eu vou trocar.
— Não. Você deve usar esse PJs17. Eles são fofos. — Ele tentou
manter o rosto sério. Ele falhou.
— Estou falando sério. Eles são fofos! — Blake gritou atrás dela.
17
Pijamas
Não posso ir esta noite. A família anfitriã preparou o jantar para
mim.
— Estou pronto!
— Isso é sexista.
— Processe-me.
18
South of California- sul da Califórnia
— Então, onde você quer jantar, princesa?
— Você verá.
— Blake!
O motorista pisou no freio ao se aproximar de um sinal
vermelho. Todo mundo deu um pulo para a frente.
Ele se conteve a tempo. Este não era um encontro. Isso foi - por
que eles estavam aqui de novo? Certo. Ele estava agradecendo pelo
elefante.
Merda.
— Estou divagando.
Farrah corou.
— Talvez ela não seja tão ruim, — disse Olivia. — Talvez ela
realmente ame seu pai.
Não funcionou.
Elas esperaram.
Ela vagou até ao andar dos meninos para encontrar Sammy. Ele
não estava lá. Nem Blake. Farrah se perguntou se ele estava com a
morena que ela vira saindo de seu quarto outro dia. Seu estômago se
revirou com o pensamento.
Não. Pare.
Esta foi a primeira vez que ela viu Leo desde a Tailândia. Ele e
Courtney disseram que se reconciliaram após a briga, mas o ar entre eles
permaneceu tenso. Leo havia dispensado todos os jantares em grupo
desde que voltaram, citando deveres escolares ou obrigações de estadia
linguística.
— Eu estive ocupado.
— Mandona?
Leo encolheu os ombros.
Farrah se engasgou com sua saliva. Ele não disse isso. Ele acabou
de dizer aquilo?
Este foi o momento que ela fantasiou desde que ela colocou os
olhos em Leo.
— Hum, eu...
Talvez ela estivesse tão acostumada a ansiar por ele que não
percebeu mais a agitação.
— Nah, você precisa de alguém que possa desafiá-la. Você
ficaria entediada comigo. Nós dois apenas ficaríamos sentados o dia todo
pensando.
Ele era loiro, arrogante e irritante, tudo que Farrah pensava que
não queria. Mas ele também era doce, atencioso e a fazia rir de uma
forma que ninguém mais conseguia.
Oh Deus.
Ele caminhou até Farrah e colocou as mãos nos ombros dela. Ela
estremeceu sob seu domínio. — Respire fundo. Em um, dois, fora um,
dois. É isso. Como você está se sentindo?
— 11.265 quilômetros.
— Hum, ok?
— Besteira.
— Não é besteira!
— Vejo Macau?
— Você vê Macau, eu vejo uma escolha. — Seis meses atrás,
Blake teria se dado um soco na cara se ouvisse essas palavras saindo de a
boca dele. Ele parecia um maldito livro de autoajuda. Mas isso não era
sobre ele; tratava-se de Farrah. — Você pode ficar em sua zona de
conforto ou fazer algo que faça seu coração disparar. Um está seguro. O
outro é assustador como o inferno. Você sabe onde o caminho seguro a
leva - mas ele só a leva até lá. O caminho assustador? Ninguém sabe. Pode
ser horrível. Ou pode ser a melhor decisão que você tomará.
Ele acenou para o operador. Ainda bem que Kris reservou uma
hora inteira para eles. Caso contrário, a equipe os teria expulsado há
muito tempo.
— Feito.
Farrah olhou para a frente. Blake prendeu a respiração, o
coração batendo forte o triplo. Ela hesitou, e por um segundo ele pensou
que ela fosse desistir novamente. Mas ela deu o salto e seu grito ecoou no
ar frio da noite. Ele poderia identificar o momento em que o rebote
aconteceu porque ouviu outro grito - mais fraco desta vez - e então...
silêncio.
Foda-se.
— Obrigado por saber que estou aqui, — disse ele com ironia. —
Não se preocupe, não contarei a ninguém. Uma garota que gosta de Blake
Ryan dificilmente é novidade. Caras, assim sempre têm uma fila de
garotas esperando para pegá-los. — Nardo fungou. — É uma escolha
pouco inspirada, na verdade.
OK. Ela poderia fazer isso. Ela estava pedindo a Blake para
dançar, não para se casar com ela.
— Mina.
Ele estava certo. Ele disse isso o tempo todo. Blake não
acreditava no amor. Farrah foi uma idiota por esquecer isso. Ela tinha
estado tão envolvida em seus devaneios que ignorou o que estava bem na
sua frente e leu muito em cada olhar, cada palavra, cada ação. Quando
Blake a levou para jantar e deu aquele discurso estimulante na torre, não
era porque gostava dela. Ele estava apenas sendo um bom amigo.
— Uh, sim.
A música seguiu para outra canção R&B ainda mais sexy. Farrah
apertou o quadril contra o do Cara do Drink, girando com a batida da
música. Ele estava usando muito perfume e seu hálito cheirava a vodca
barata.
Greg se foi.
— Você fez o seu ponto. — Sua voz estava calma, mas afiada em
aço. Um músculo pulsou em seu maxilar.
Greg olhou para Blake, então para Farrah, então para Blake
novamente. Ele ergueu as mãos. — Não precisa atirar em mim duas vezes.
Covarde.
— Sim, ok. — Sammy voltou para onde Olivia estava com o resto
de seus amigos. Ela olhou para ele. — O quê? Tentei.
— Ok, — ela retrucou. Ela seguiu Blake para fora da sala VIP até
à saída. O suor escorreu por sua testa. Talvez o ar fresco lhe fizesse bem.
— Como?
— Eu não estou!
— Eu amo você.
Irmã. Pior que amigo. Pior que inimigo. Essas coisas, nas
condições certas, podem se transformar em algo mais. ’Irmã’ era
intocável.
— É bom saber, — disse ela. Para seu alívio, sua voz saiu
uniforme. — Estou feliz por termos isso resolvido. — Ela se virou para
reentrar no clube quando Blake agarrou seu braço.
Farrah não sabia se Blake a seguia. Ela não olhou para trás para
verificar.
CENA BÔNUS – BAR DE MACAU: PONTO DE VISTA DE UM BLAKE
MUITO CIUMENTO
Encantador. Adorável.
Sim, Blake realmente estava na merda.
— Perfeito.
— Eu preciso fazer xixi antes de beber mais tequila, — Luke
anunciou quando Blake fez o pedido.
Ele franziu a testa. — Que garota? — Ele não tinha falado com
nenhuma garota esta noite, exceto as do grupo.
Mina.
E a tensão estava de volta. Ela se amontoou nos ombros de
Blake e percorreu sua espinha até que ele ficou rígido como uma tábua.
— Mina.
E sim, Mina era gostosa, mas ela não se igualava Farrah – não
que ele pudesse dizer isso a Farrah.
19
Mensagens eróticas.
— Ela está deixando Xangai na próxima semana. Eu devo
despedir dela.
Eu provavelmente não vou. Mina não disse a ele que dia ela
planejava partir, e ele não perguntou.
Ele falou com menos convicção do que na última vez que ele e
Farrah discutiram esse assunto, depois de seu dia no M50. Blake ainda
acreditava que o amor era um trapaceiro - quem na vida real tinha
relacionamentos como o de The Notebook ou qualquer filme que
Hollywood inventou para alimentar sonhos irreais e arrecadar dinheiro? -
mas parte dele desejava que não, se apenas Farrah não parecesse tão
chateada.
— Talvez também não seja para isso que eu vim aqui, — ela
retrucou. Ela pegou uma bebida aleatória do balcão e bebeu. — Eu posso
ter conexões casuais. Eu provarei isso.
É melhor ela não fazer o que ele pensou que ela ia fazer; Blake
queria sair de Macau sem matar ninguém.
A névoa escureceu.
20
Arrogante, vaidoso, exibicionista.
— Você fez o seu ponto. — Blake lutou para manter a voz calma
mesmo quando cada músculo de seu corpo se retesou, pronto para
saltar. A raiva flutuou dele em ondas, silenciosas, mas mortais.
Ele não conseguia se lembrar da última vez que tinha estado tão
excitado com uma garota. Talvez nunca. Ele não ficou com ciúmes, mas
caramba se Farrah não ferrou com a cabeça dele. Ela podia tocar suas
emoções como um violino, e isso o irritou quase tanto quanto a visão dela
beijando outro cara.
Quase.
A perspectiva fez seu maxilar cerrar tanto que ele pensou que
seus dentes fossem quebrar. — Eu não preciso da sua ajuda! — Farrah
ergueu o queixo em desafio.
— Você se importa.
— Eu não estou!
Mesmo que ela fizesse seu coração pular uma batida toda vez
que entrava em uma sala.
Para não mencionar, ela era virgem, e ele havia jurado que não
pegaria mais virgens após o desastre de Lorna no ensino médio.
— Eu te amo.
Ela se virou para sair, e Blake agarrou seu braço sem pensar. Ele
não podia deixá-la ir assim. Ele não sabia o que ia dizer, tudo o que sabia
era que odiava a visão de Farrah dando as costas para ele. Odiava o
pensamento de que seu relacionamento, ou o que quer que eles tivessem,
poderia não ser o mesmo depois desta noite.
Foi a primeira palavra que ela disse a ele em seis dias (não que
ele estivesse contando). Ela o evitava desde Macau, e ele não a culpava.
— Ok.
— Não.
— Mmhmm.
— O quê?
— Fale comigo.
Várias palavras. Isso foi uma melhoria. — Olha, eu sei que agi
como um idiota semana passada. Eu sinto muito. — Blake tropeçou na
última palavra porque ele ainda arrancaria o braço daquele cara se tivesse
a chance.
Além disso, aquela parte sobre amá-la como uma irmã? Besteira
completa.
— Eu quero.
— Meu pai.
Blake engoliu em seco. Ele teve que lutar contra seu instinto
para evitar a pergunta antes de dar sua resposta. — Fomos. Uma
vez. Muito tempo atrás.
— O que aconteceu?
— Nós nos distanciamos. — Blake brincou com as pontas do
cabelo de Farrah. Eles deslizaram por seus dedos como seda. — Temos
ideias diferentes de como devo viver minha vida.
21
Ligamento cruzado anterior
medo do que poderia acontecer se tentasse fazer isso. A última coisa que
ele queria era falhar e provar que seu pai estava certo.
Ela não foi a primeira pessoa a lhe fazer essa pergunta, mas foi a
primeira pessoa a quem ele quis dizer a verdade.
Blake já tinha ouvido falar de CTE antes. Ele nunca esperou que
afetasse alguém que ele conhecia, especialmente alguém
tão grandioso quanto Dan. Ele era invencível, ou assim parecia.
— Eu sou uma pessoa terrível. Não importa o que ele fizesse, ele
era meu pai e eu o amava. E agora eu vou... — Ela soluçou. — Eu nunca
terei a chance de dizer a ele.
— Ele sabe.
Ela manteve sua culpa sobre o que aconteceu com seu pai em
segredo por tanto tempo que falar sobre isso parecia como se um peso
de mil toneladas tivesse sido tirado de seus ombros.
Ela não tinha esse medo com Blake. De alguma forma, ela sabia
que ele entenderia.
Silêncio.
A última coisa que Farrah queria era jogar Eu Nunca, mas ela se
sentaria durante um jogo para satisfazer Courtney. Caso contrário, ela
nunca ouviria o fim disso.
— Nunca recebi uma nota abaixo de A, — disse Nardo, causando
uma onda de olhares em volta da mesa. — O quê? Eu não tenho.
— Eu nunca...
— De jeito nenhum.
— Vamos!
Blake passou as mãos pela pedra lisa. — Parece real para mim.
— Me teste.
A risada de Farrah ecoou pelo ar. — Essa é uma ótima cena, ela
concordou, lembrando-se da luta de Bond com um assassino no topo de
um arranha-céu de Xangai.
— Uma das melhores cenas coreografadas na história de Bond,
se você me perguntar. — Blake se juntou à alegria de Farrah. — Conheço
alguém que escolheu o destino de seus estudos no exterior fechando os
olhos e apontando para um mapa, então poderia ter sido pior.
— Eu queria ver este lugar com meus próprios olhos. Minha mãe
está sempre falando sobre a China, mas eu nunca tinha visto. — Farrah
traçou suas iniciais com o dedo na grade. — Quase não escolhi
Xangai. Estudei mandarim para fazer minha mãe feliz. Fui contra a
vontade dela e me formei em design de interiores em vez de engenharia
ou qualquer outra coisa, então achei que seria um bom
compromisso. Funcionou, mais ou menos. Ela ainda me irrita por não ter
aprendido mandarim antes. Aparentemente, perdi meus anos do ensino
médio com francês.
Sem arrependimentos.
Blake ficou em silêncio por tanto tempo que ela achou que ele
não a ouviu. Ela estava debatendo se deveria repetir a pergunta ou fugir
mortificada quando ele se aproximou.
Eles se encararam.
Farrah não era como Lorna. Ela não era como ninguém que ele
já conheceu antes.
— Mas...
— Você viu o jeito que ela olhou para mim? Você pensaria que
eu estava tendo uma orgia na beira do rio, em vez de beijar minha
namorada.
Porra.
Fazia duas semanas desde seu primeiro beijo, e eles ainda não
haviam discutido seu status de relacionamento. Exclusividade não era
oficial, mas implícita.
— Entendo.
— Sem pressão.
— OK.
— Mmmhmm.
Farrah deu uma risadinha. — Você tinha que ver sua cara. Você
está tão vermelho.
— É desumano.
— Essa coisa que você está fazendo. — Blake gemeu quando ela
enganchou os dedos nas presilhas de seu cinto e o puxou para perto. Suas
curvas suaves se fundiram nas linhas duras de seu corpo, e a necessidade
aumentou cinco níveis.
— Eu não sou o único no gancho. Foi você quem disse que não
sou sua namorada.
Ele estava tão preso à espera de uma resposta verbal que levou
um segundo para registrar o calor dos lábios de Farrah nos seus. A língua
dela duelou com a dele; as mãos dele emaranhadas em seu cabelo. Cada
centímetro dele doía por ela - corpo, coração e alma.
Certo. O segredo.
— Blake.
— Tudo vai dar certo. Estou tão animada por você. — Os olhos
de Farrah brilharam ao luar.
— Não sei o que fiz para merecer você, mas deve ter sido uma
coisa e tanto. — Ele tentou não deixar transparecer muita emoção em sua
voz.
Olivia fez uma careta. — Estou de bom humor, então não direi
nada.
— Defina 'sexo'.
— Farrah Lin!
— Por que não? Ele parece ser bom no bastão. — Olivia sorriu.
— Sammy ficaria orgulhoso de minha analogia com o beisebol.
— Talvez tenha sido uma boa coisa você não ter feito isso, —
Sammy brincou.
— Parabéns, cara. — Blake deu um tapinha no ombro de
Sammy. Seu sorriso não atingiu seus olhos.
***
— Nada.
— Me teste.
Embora essas coisas possam ser uma parte dele, ele se abriu o
suficiente para ela ver além das piscadelas e piadas irreverentes para a
pessoa lá no fundo - o menino cuja vida foi definida por algo que outra
pessoa escolheu para ele, que tinha sido repetidamente dito que seu valor
se baseava em suas habilidades com a bola, e que queria ser amado como
uma pessoa em vez de uma mercadoria.
— Está tudo bem, querido, desde que você prometa ligar com
mais frequência. Agora me fale sobre essas 'coisas malucas' que você tem
feito.
— Algumas semanas.
— Entendo.
— Ah você sabe. Todo esse negócio de futebol com seu pai e seu
relacionamento com Cleo. É uma pena que você não volte para casa no
Dia de Ação de Graças. Ela está trazendo seu famoso macarrão com
queijo. Eu sei o quanto você ama esse prato.
Foi um erro, Blake queria dizer. Ele deveria ter pensado melhor
antes de ceder às expectativas de sua família. Eles eram os únicos que
22
Los Angeles.
queriam que ele namorasse Cleo. Ele a amava, mas não da maneira que
eles queriam que ele amasse. Se ele tinha alguma dúvida antes, seu
relacionamento com Farrah esclareceu tudo. Os sentimentos que ele tinha
por Cleo no auge do relacionamento deles não chegavam perto de seus
sentimentos por Farrah agora. — Sim, e percebi que estamos melhor
como amigos.
— Eu a amo.
Sua mãe estava perdendo o juízo. — Por que você não fala com
seu pai? Tenho certeza que ele pensará sobre isso.
— Não! Mãe...
Tarde demais.
Porra.
— Então. — Joe Ryan se sentou e fixou seu olhar penetrante em
Blake. Mais velho e mais cansado do mundo, com rugas. Fora isso, Joe
parecia o mesmo de quando tinha a idade de Blake. O mesmo cabelo loiro
espesso - graças a Deus Blake não teve que se preocupar em ficar careca
quando era mais velho - os mesmos olhos azuis e queixo quadrado, a
mesma expressão áspera e determinada.
— Então.
Silêncio.
— Saindo.
— Quão útil isso será? Não fui para outro país quando estava na
faculdade e me saí bem.
Seu coração doeu. A pessoa que ele viu refletida nos olhos dela
era a pessoa que ele sempre quis ser: corajoso, inteligente,
apaixonado. Alguém que perseguia seus sonhos e acreditava em si
mesmo. Alguém digno de amor e respeito.
Sim, ele tinha um monte de merda para descobrir, mas faria isso
mais tarde. No momento, havia coisas mais agradáveis na agenda.
— Estou pronta.
— Estou pronta.
Blake congelou.
Farrah tirou sua mão de baixo da de Blake. Ela puxou sua calça
jeans e boxer para baixo e respirou fundo ao ver sua excitação. Seu corpo
doía por senti-lo dentro dela enquanto sua mente se perguntava como no
mundo ele se encaixaria. Ele era maior do que qualquer pessoa com quem
ela tinha estado, e embora ela não tivesse tido relações sexuais reais com
seus parceiros anteriores, eles eram administráveis. Blake, por outro
lado...
— Por favor, o quê? — Ele deslizou seu short e calcinha por suas
pernas e deslizou um dedo entre os lábios lisos de sua boceta. Ele
gemeu. — Jesus, você está pingando.
Ela estava. Farrah nunca esteve tão excitada em sua vida. Suas
coxas estavam escorregadias com seus sucos; seu sexo apertou como se
ela precisasse de algo - alguém - enterrado bem fundo dentro dela.
— Por favor. Eu preciso de você. — Seu gemido se transformou
em um gemido quando Blake esfregou o polegar sobre seu clitóris. Seus
quadris resistiram, buscando alívio.
Ela agarrou os lençóis com tanta força que os nós dos dedos
ficaram brancos. Ela não tinha esse problema quando estava
sozinha. Farrah podia chegar ao orgasmo todas as vezes, então ela sabia
que era possível. Simplesmente não era possível com um cara.
Ela tentou fazer seu corpo passar da linha de chegada. Não deve
ser difícil. Ela estava tão excitada que poderia explodir, mas não o fez. Ela
permaneceu no fio da navalha, contida por alguma força que não queria
que ela caísse. Seu corpo ansiava por alívio, mas não o daria a ela.
Droga.
Uma pausa, então Blake riu. — É com isso que você está
preocupada? Farrah, eu sei que as meninas demoram mais. Está tudo
bem, nós podemos...
Farrah franziu a testa. Ótimo. Ela seria virgem pelo resto da vida.
— Olhe pelo lado bom. — Blake beijou sua testa. — Você me
terá, Blake Ryan, à sua total disposição. Eu sou basicamente seu escravo
sexual voluntário. Nenhuma outra garota pode dizer isso.
— Ninguém é perfeito.
Mas em seu lugar vieram outros que eram ainda mais insidiosos,
porque estavam baseados na realidade.
Blake quase disse isso a Farrah na noite em que ela disse que
estava prestes a perder a virgindade. Mas então,
bem, isso aconteceu. Blake não estava chateado - embora ele mentisse se
dissesse que seu ego não foi atingido - mas o momento estava errado. Ele
não teve coragem de dizer a ela na cara novamente.
Foi uma boa ideia? Provavelmente não. Mas que caralho. Como
Drake disse, Só se vive uma vez porra.
Tudo o que ele podia fazer era olhar para Farrah, desejando que
o chão o engolisse inteiro.
Silêncio não era rejeição, mas ele ficaria doente se Farrah não
dissesse algo logo.
Alguém pigarreou.
Porra.
— Hum.
Não era a primeira palavra que Blake queria ouvir depois de sua
confissão.
Seu idiota. Seu idiota estúpido, estúpido. Ele deveria ter mantido
a boca fechada. Pelo menos então, ele poderia ter mantido a esperança de
que Farrah sentisse por ele o mesmo que ele por ela.
Seu peito ficou vazio. — Você não precisa dizer nada. — Blake
forçou um sorriso e tentou se convencer de que não estava morrendo por
dentro.
— Mas me apaixonei.
Ele não podia ficar aqui mais um minuto. Ele precisava ir...
espere, o quê?
— Farrah, cale a boca para que eu possa beijar você. — Ela calou
a boca.
O cabelo dela roçou seu peito enquanto ela pairava sobre ele, as
bochechas coradas, a boca inchada, parecendo por todo mundo como se
ela tivesse saído de um sonho. O sonho dele.
— Eu também te amo.
Ele os virou até que ele estava pairando sobre ela. — Vamos
fazer uma experiência.
Mas pela primeira vez, seu orgulho não era a coisa mais
importante.
— Por quê?
— Eu gosto de Nickelback.
— Eu sei. — Ela soltou um suspiro. — Não sei por que isso é tão
difícil. Eu não tenho nenhum problema quando estou sozinha.
— Ajudaria se eu fosse primeiro?
Enquanto isso, Blake passou o olhar pelo rosto e corpo dela. Ele
brilhava com um leve brilho de suor de seus esforços anteriores. Seu
cabelo estava despenteado e seus lábios inchados. Ele se lembrou de
como se sentia entre aqueles lábios, lembrou-se do calor da respiração
dela contra sua pele e da forma como as curvas suaves dela se moldavam
contra as dele.
Eles não tinham. Eles sabiam disso, e foi por isso que Farrah se
recusou a desviar o olhar enquanto se tocava. Ela se recusou a recuar para
o canto de sua mente que a provocava com suas dúvidas. Em vez disso, ela
se concentrou na maneira como seu corpo zumbia quando ela o trouxe à
vida, e quando essas dúvidas a alcançaram para arrastá-la para o lugar
onde só ela era permitida, ela se concentrou em Blake e na maneira como
ele a olhava - como se ele nunca quisesse piscar. Como se ele nunca
tivesse desejado ninguém do jeito que a desejava.
Naquele momento, ela acreditou em tudo que ele disse a ela.
Tão perto.
Três meses.
Seu pai a pegou para o almoço semanal. Ele a levou para o In-N-
Out, como sempre fazia, porque nenhum dos dois queria se sentar para
uma refeição completa. Era muito estranho. Para a surpresa de Farrah, ele
a presenteou com o colar depois que eles acabaram com seus doubles-
doubles23 e batatas fritas.
— Blake!
Farrah rolou para ficar cara a cara com Blake. Ele estava tão
perto que ela podia contar cada cílio e ver o leve punhado de sardas em
seu nariz. — Eu estava pensando em como sou sortuda por ter conhecido
você.
— Eu realmente acredito.
A dor se intensificou.
— Farrah.
— Eu amo você.
Talvez isso fosse verdade para alguns caras, mas Farrah não se
importava com outros caras. Ela se importava com Blake, e mesmo que
ele não tivesse confessado antes, mesmo que nunca tivesse pronunciado a
palavra — amor— em voz alta até agora, ela viu em seus olhos. Um véu se
ergueu, permitindo que ela visse tudo dele e tudo dela refletido naquelas
profundezas azuis. Cada sentimento, cada decisão, cada escolha -
não apenas deles, mas de todos que vieram antes deles. Milhares de anos,
milhões de peças móveis que precisavam se encaixar, mesmo que apenas
por um segundo, para que pudessem estar onde estavam naquele
momento.
— Eu também te amo.
Eles deveriam ter ido ao laser tag como Luke sugeriu. Pelo
menos eles estariam aquecidos.
— Eu disse que deveríamos ter feito laser tag. Eu disse que você
deveria ter usado um gorro. — Luke balançou para a frente e para trás na
ponta dos pés. Seu próprio gorro estava confortável em sua cabeça,
aquele bastardo. — Eu estou sempre certo.
Courtney o lembrou.
— Uh, obrigado.
Também recusado.
— Sim, tanto faz. Espere até que meu pai saiba disso. — Kris
ergueu a gola de seu casaco forrado de pele. — Nosso contador terá
muitos problemas.
— Tem certeza?
— Mmhmm.
Blake endureceu até que era quase doloroso quando uma onda
de luxúria disparou por suas veias. Ele olhou para o mapa acima,
informando quantas paradas eles haviam deixado antes de chegarem ao
SFSU.
Quatro.
Farrah agarrou seu cabelo e puxou sua cabeça para trás para
que ficassem cara a cara. A dor e o prazer o inundaram. — Blake Ryan, se
você não me foder o mais forte que pode agora, eu nunca te darei um
boquete de novo.
— Você...
Isso funcionou.
— Aham.
Desesperado para...
— Aham!
Blake e Farrah gemeram em uníssono. Eles se separaram e
olharam para Olivia, que havia desempacotado em tempo recorde e agora
estava coordenando as cores de seu armário.
— Sim. Eu amo vocês, mas não quero ver vocês fazendo sexo.
Olivia engasgou.
— Se ela tivesse que escolher entre você e eu, quem você acha
que ela escolheria?
Ela sorriu com a confiança dele. — Você deveria ter sido uma
líder de torcida em vez de um jogador de futebol.
A raiva passou por ela. Ela nunca conheceu Joe Ryan, mas ela
daria a esse homem um pedaço de sua mente quando o visse. — Foda-se
seu pai. Ele está tentando sabotar seus sonhos antes mesmo de você tirá-
los do papel, e eu. Não. Estou. Aqui. Para. Isto.
— Eu também te amo.
Seu Blake.
Blake se sentia uma merda.
— Sim mãe.
Sua mente voltou para a festa de Ano Novo de Landon nas férias
de inverno. Isso acontecia muito hoje em dia.
Coroa na caça.
— Ei, Blake.
Ele não tinha percebido o quanto sentia falta dela como amiga
até agora.
Mesmo assim, seu alívio superou sua surpresa. Ele poderia dizer
que Cleo não estava 100% recuperada do rompimento, mas pelo menos
ela estava disposta a tentar. Ela poderia escolher os caras. Ela
eventualmente seguiria em frente, o que significava que sua família teria
que seguir em frente.
Blake olhou de soslaio para ela. — Você tem que ser uma
espertinha o tempo todo?
Ele não pôde deixar de rir. Quando ele estava perto de Farrah,
era fácil esquecer que qualquer outra coisa existia. Fácil fingir que estava
tudo bem quando ele queria cair de joelhos e implorar seu perdão.
Ele queria contar a ela o que aconteceu na primeira noite de
ano-novo de volta, mas ela olhou para ele com tanto amor e confiança
que ele sabia que não poderia contar a ela. Ainda não.
Talvez nunca.
— Ha. Diga isso a ele. Ela fez uma lavagem cerebral nele. Como
se ela fosse responsável com dinheiro! Ela tem cerca de vinte Birkins. —
Os lábios de Kris tremeram. Ela contraiu o maxilar e jogou o cabelo sobre
o ombro. — Está bem. Quando eu estiver em casa no verão, farei meu pai
ver como ela é patética caçadora de ouro. O casamento deles não
acontecerá. Não no meu turno.
— Okay, certo!
— Até parece!
Uma família.
Se ele pudesse ter um desejo para o resto de sua vida, seria para
Farrah ser tão feliz quanto estava neste momento. Sempre.
Ok, então ela se deixou distrair. Mas não hoje. Hoje, ela
descobriria o que estava acontecendo, de uma vez por todas.
Não. Eu não posso. Ela tinha que salvá-los para Blake. Como se
costuma dizer, o caminho mais rápido para os segredos de um cara era
pelo estômago. Ou algo assim.
Antes de ir para o quarto de Blake, Farrah passou pelo corredor
das meninas para vestir algo mais atraente do que leggings e
uma camiseta.
Merda.
Antes que Farrah pudesse sair, a porta se abriu, revelando
um Leo irritado.
— Nós brigamos.
— Não! Sério?
Farrah beliscou sua têmpora. Ela tinha tantas perguntas que não
sabia por onde começar. — Por que você o beijou em primeiro lugar?
— Não sei.
— Court.
— Então, por que você disse a Leo agora? — ela perguntou. Ela
tentou manter seu tom o menos crítico possível. — A Tailândia foi há
muito tempo.
Três meses.
Assim que a FEA terminou, foi isso. O grupo iria se espalhar para
suas respectivas bases nos Estados Unidos e se ver... quando? Uma vez
por ano, se tivessem sorte, até que se passasse o tempo suficiente e os
estudos no exterior não passassem de uma vaga lembrança.
Ela não percebeu que alcançou seu colar até que o metal cavou
um sulco em sua palma.
Novamente?
Isso não fazia sentido. O grupo não teve grandes problemas até
agora. Mas a visão de Courtney com os olhos marejados era tão estranha,
como ver um leão correndo selvagemente nas ruas de Manhattan, que
Farrah não teve a chance de pensar na escolha de palavras de sua
amiga. Ela também não insistiu em porque Courtney parecia mais
chateada com a separação do grupo do que com a separação de Leo.
Farrah deu.
Blake riu do brilho triunfante nos olhos dela. Duas horas atrás,
Farrah nunca tinha posto os pés em uma pista de gelo. Agora ela
balançava como se fosse uma campeã mundial. A menor conquista -
um giro simples, um pequeno salto - fez seu rosto se iluminar de
empolgação.
Não foi uma mentira total. Ele tinha uma tonelada de merda em
seu prato. Felizmente, Landon estava no solo em Austin, o que tornou
muito mais fácil avaliar espaços potenciais para aluguel e negociar com
empreiteiros. Isso não significava que Blake iria se sentar e deixar seu
melhor amigo fazer todo o trabalho.
Então, novamente, ele fez algo muito pior, então ele não
poderia falar.
— É mais como se Leo não estivesse falando com ela. Acho que
ele precisa de espaço. Não que eu o culpe. — Farrah se aconchegou mais
perto de Blake. — Se alguém me traísse, nunca mais falaria com ele.
Nunca.
— Conte-me sobre esse Blake. — A mãe de Farrah avaliou sua
filha com olhos de falcão. — Quem é ele? De onde ele é? O que ele está
estudando? Como ele trata você?
— Essas são perguntas válidas. Nunca ouvi você soar tão tonta
como quando está falando sobre esse garoto — provocou Cheryl. — Eu
sou sua mãe. Você deveria me dizer essas coisas.
— Costumava ser?
— Mãe!
— Porque. É invasivo.
— Você não fará uma colonoscopia para ele. Você está
perguntando quais são as notas dele. Um bom GPA leva a um bom
emprego e uma boa vida. Lembre-se disso.
— Não estou dizendo para se casar agora. Você tem quase vinte
anos. Quando você se formar, conseguir um emprego e namorar por
alguns anos, vai chegar a hora. Você não quer esperar muito para ter
filhos. Você não terá energia para correr atrás deles. Tome-me, por
exemplo.
— Eu não abri
Era isso.
— Eu acho que você sabe melhor do que eu. Agora, o que você
ainda está fazendo aqui? — Cheryl acenou para que sua filha se
afastasse. — Comemore com seus amigos. Falo com você mais tarde.
***
25
A FOMO é a sigla da expressão em inglês ’fear of missing out’, que em português significa algo
como ‘medo de ficar de fora’, e que se caracteriza por uma necessidade constante de saber o que outras
pessoas estão fazendo, associado a sentimentos de ansiedade, que impactam fortemente as atividades
de vida diária, assim como a produtividade no trabalho.
— Você adora ser conselheira do acampamento, — disse Kris. —
Você pode fazer artes e ofícios e mandar nas pessoas o dia todo.
— Eh.
— Nenhuma tomada.
— Tanto faz.
— De qualquer forma, ele vai ceder como fez com meu cartão
de crédito. — Kris brandiu seu Amex Platinum no ar. — Eu tenho $ 2.000
mensais de limite, mas eu só tenho que dar a ele um gelo por mais um
tempo. Eu sou sua única filha. Sou insubstituível.
Se apenas. Farrah temia o dia em que eles teriam que partir. Ela
teria que dizer adeus a Blake, seus amigos, seu café favorito e local
de jianbing e chá de bolha...
— Sério?
Engole isso, pai. Blake mal podia esperar para ver o rosto de seu
pai na grande inauguração. Seria épico.
— Merda!
26
O shuffleboard é um esporte individual de precisão e estratégia cujo objetivo principal é lançar
discos, com o auxílio de um taco, de forma que deslizem sobre uma pista e parem dentro da zona de
pontuação triangular ao final da pista.
Farrah o mataria se ele se atrasasse. As prévias de filmes eram
sua parte favorita.
Está ocupado?
Esse foi o ano em que tudo mudou. Blake tinha dezesseis anos,
preso no meio do estrelato no colégio. Enquanto isso, Cleo começou a
olhar para ele do jeito que as garotas sempre olham para ele.
Blake desejou que ela não tivesse feito isso. Ele sentia falta dos
primeiros dias simples de sua amizade, antes que os hormônios, a família
e a sociedade o atrapalhassem.
— Eu realmente amo.
— Eu sinto muito.
— Isso não foi o que eu quis dizer. — Cleo respirou fundo. Seus
olhos nadaram com pesar e desculpas. — Sinto muito pelo que estou
prestes a dizer.
Merda.
Farrah temia esse dia há anos, mas vinte não parecia tão
diferente. Ela tinha os mesmos sonhos e preocupações, os mesmos gostos
em comida, música e roupas. O mundo não desabou.
— Você gostou?
— Digo o mesmo.
Para sua surpresa, ela abriu a porta de uma sala vazia. Farrah
convidou Janice para a festa de pré-aniversário, mas Janice recusou,
dizendo que tinha trabalho a fazer. Ela esperava encontrar Janice em seu
laptop, mas sua colega de quarto não estava à vista.
Farrah não tinha certeza se deveria se sentir aliviada ou
insultada. Era possível que Janice mentisse sobre ter trabalho para não ir
ao seu aniversário, o que foi uma merda. Ao mesmo tempo…
O barman trouxe a conta. Não foi Mina, ela deixou Xangai meses
atrás. Ela enviou a ele uma pequena mensagem antes de sair, e foi isso.
Duas semanas sem vê-la, sem tocá-la, ouvindo sua risada. Duas
semanas de inferno.
Blake não estava pronto para nada disso. Não voltar para o
dormitório, não contar a Farrah a verdade, e certamente não ser um
maldito pai. Ele tinha 22 anos, pelo amor de Deus! Cleo tinha 20 anos. Eles
não tinham ideia do que estavam fazendo.
Ele poderia pedir ajuda a sua mãe. Ele contou a ela sobre a
gravidez de Cleo alguns dias depois que Cleo deu a notícia. Rasgue o Band-
Aid e tudo mais.
O pai de Blake? Não tão feliz. Se não fosse por Helen, ele teria
renegado Blake na hora. A seus olhos, esta última bomba provou de uma
vez por todas quão fodido seu filho era.
Foi apenas um beijo. O que não é ótimo, mas pelo menos ela não
dormiu com Nardo. Isso seria imperdoável.
Ele sabia que estava arrastando o inevitável. Ele tinha que deixar
Farrah ir. Não importava se acontecesse amanhã ou daqui a dois
meses. Isso iria esmagá-lo do mesmo jeito.
— Ei.
Ele engoliu em seco e acenou com a cabeça. Ele não podia adiar
mais.
O tempo acabou.
Arrepios salpicaram a pele de Farrah. Ela esfregou os braços e
estremeceu com uma combinação de frio e pavor.
— O quê?
— Eu menti.
— Eu sinto muito.
— Por quê? Por que você fingiu que se importava? Foi alguma
piada de mau gosto? Você queria ver se eu seria crédula o suficiente para
me apaixonar por você? Bem, parabéns caralho. — Lágrimas queimaram
seus olhos. — Você ganhou. Blake Ryan, o campeão. Seu pai estava
certo. Você não deveria ter desistido. Ninguém joga melhor do que você.
Uma lágrima escorreu e escaldou sua bochecha. Farrah o
enxugou com raiva. Ela já tinha dado muito a ele. Ela não ia dar a ele a
satisfação de vê-la chorar também.
Ela rezou para que Janice não estivesse ali. Ela estava.
Foi isso.
Controle-se, cara.
Uma parte dele queria pular o baile de vez, mas FEA merecia um
adeus adequado.
— Ei, estou chateado por você não ter me contado sobre sua
garota em casa, mas... — Luke deu um tapinha no ombro dele. — Você é
meu melhor amigo aqui. Estou com você.
Silêncio constrangedor.
— Nunca.
— Legal.
— Sim.
Quando chegaram ao dormitório, encontraram seus amigos -
ou, no caso de Blake, ex-amigos - amontoados no pátio. Farrah ficou no
meio do grupo, a mão apoiada na base da garganta. Seu colar, o de seu
pai, estava faltando.
— Estava com ele no auditório, mas deve ter caído. Eu não sei
onde. — A voz de Farrah ficou tensa com o estresse.
— Nós vamos encontrar. Tem que ser por aqui em algum lugar,
e o auditório não fica muito longe do dormitório. — Sammy colocou a
mão no ombro de Farrah. — Por enquanto, vamos entrar. Vai chover
muito.
— Seja legal, Court. — Foi a primeira vez que Blake ouviu Luke
repreender Courtney.
***
Farrah devia estar ansiosa por este verão. Ela ganhou o concurso
de design - aquele que ela sonhava em ganhar desde que descobriu sobre
isso anos atrás. Ela recebeu o e-mail enquanto esperava para embarcar
em seu voo após a viagem do semestre da primavera da FEA a Chengdu, e
seu grito resultante quase a fez ser presa pela segurança do aeroporto.
— Ei.
— Você fez isso? — Ele sentiu a nova presença ao lado dele sem
ter que virar a cabeça.
— Eu não poderia.
— É complicado.
— Descomplique.
— Aqui não.
Sammy pode contar a Farrah. Ela era, como ele disse, uma de
suas melhores amigas.
Mas este era Sammy. Por mais estranho que tivesse sido no mês
passado, ele nunca voltaria atrás em sua palavra.
— Eu prometo.
— Puta merda.
— Sim.
— Sim.
— Você está apaixonado por Farrah e vai ter um filho com outra
pessoa.
Blake se encolheu. O resumo realista de Sammy de sua bagunça
bateu mais forte do que deveria. Blake teve meses para se reconciliar com
sua situação; claramente, ele ainda tinha trabalho a fazer.
— Não!
Mas esse era o ponto. Blake não queria ser resgatado. Farrah
merecia um término limpo, e ela não poderia ter um se pensasse que ele
ainda a amava e apenas cometeu um erro no Ano-Novo. Ela tinha que
pensar que ele nunca a amou. Era a única maneira de ela seguir em frente.
Farrah olhou para ele, seus olhos líquidos ao luar, seu rosto
inescrutável.
— Pelo quê?
— Por tudo. — Por mais do que você possa saber. — Eu nunca
quis te machucar. Eu fui um idiota quando terminei com você, me
desculpe.
Eu amo você.
Os FEAers terminaram sua noite no único lugar que fazia
sentido: o Gino's. Sua casa longe de casa. No ano passado, eles gastaram
dinheiro suficiente aqui para manter o bar no verde por pelo menos mais
doze meses, o que pode ter sido o motivo pelo qual o proprietário os
ofereceu uma rodada de cervejas grátis na última noite.
— Saúde!
Farrah ergueu seu copo quando FEA irrompeu em uma
cacofonia de tagarelice e tilintar de copos.
Ela pode ter pontas soltas para amarrar. Ela pode nunca
esquecer Blake, e ela pode não ver metade das pessoas aqui novamente,
mas ela era grata por tudo que aconteceu nos últimos oito meses. Quanta
sorte ela teve por ter passado um ano em Xangai, por ter estranhos se
transformando em família e por ter amado tão profundamente que deixou
cicatrizes em seu coração?
— Não, eu não fiz. Você não pode provar isso. Se você contar a
alguém, eu mato você. — Elas riram ao mesmo tempo. Farrah teve um
ataque mental instantâneo e o guardou em sua caixa de memórias
queridas. Ela esperava nunca ter esquecido o amor que sentiu naquele
momento.
— Sim.
Ele não a tocou. Ele estava com muito medo até mesmo de
olhar para ela, para que seu coração não se partisse novamente. Ainda
assim, ele sentia que estava aproveitando para roubar esses momentos
privados quando ela não queria nada com ele quando estava acordada.
A porta se abriu com um clique. Janice deve ter ido para a casa
de Luke porque sua cama estava vazia.
Tudo pronto.
Merda.
Farrah suspirou.
O aperto em seu peito se intensificou. Blake puxou sua mão,
mas Farrah choramingou e agarrou sua manga. — Não. Fique comigo... —
Sua voz sumiu sonolenta.
O abraço durou mais alguns instantes até que Olivia a soltou. Ela
desviou o olhar para Blake antes de desaparecer no saguão.
Farrah respirou fundo e se virou novamente. Blake ainda estava
parado lá, mas ele havia tirado seus fones de ouvido. Seu queixo ficou
tenso. Ele fechou a distância entre eles e abriu os braços sem dizer uma
palavra.
Eles não eram amigos. Eles também não eram inimigos. O que
quer que fossem, parecia um adeus adequado. Para o bem ou para o mal,
Xangai não teria sido o mesmo sem ele.
— Sim. — Sua voz saiu mais rouca do que ela gostaria. Ela
pigarreou. — Eu acho que é.
Blake baixou os olhos. Seu pomo de Adão balançou. —
Farrah, eu...
— Você me odeia?
Ela o odiava? Ela tinha motivos para isso. Ele partiu seu coração,
a fez acreditar que eles ficariam juntos para sempre quando ela era
apenas mais um entalhe em seu cinto, e arruinou seus últimos meses em
Xangai. Ao mesmo tempo…
— Não.
— Não.
Blake lhe causou mais dor do que ela poderia ter imaginado,
mas também a fez mais feliz do que ela pensava ser possível. Ele
confirmou que o Amor Verdadeiro existia, mesmo que não fosse
correspondido, e isso fez com que toda a mágoa valesse a pena.
Um dia Farrah encontraria alguém que faria o que ela tinha com
Blake empalidecer em comparação, e talvez então ela se esquecesse
do menino de olhos azuis na frente dela. Mas Blake sempre seria seu
primeiro amor e, por isso, ela nunca poderia odiá-lo, não importa o
quanto quisesse.
— Eu sei.
— Como é?
Seu maxilar cerrou-se com tanta força que ele pensou que seus
dentes fossem quebrar. Levou toda a sua força de vontade para não cair
de joelhos na frente de Farrah e implorar seu perdão. O abraço foi ruim
o suficiente - ele não deveria ter feito isso, mas que escolha ele tinha? Ele
não podia deixá-la sair de Xangai sem... alguma coisa.
Isso partiu seu coração, mas ele não podia mais negar. Este
capítulo de suas vidas acabou.
[CONTINUA]
A história de Blake e Farrah continua em quando o destino os reúne cinco anos
depois.
Cinco anos atrás, ele partiu o coração dela. Agora, ele fará qualquer coisa para
reconquistá-la.
FARRAH
Quando Farrah entrou em sua reunião de almoço, ela não esperava vê-lo.
Blake Ryan.
Seu primeiro amor.
Seu primeiro desgosto.
E agora, seu primeiro cliente como designer de interiores freelancer.
Já se passaram cinco anos, mas ela nunca esquecerá a maneira como ele a
despedaçou.
Ele sussurrará palavras bonitas, mas ela jamais voltará a acreditar nele.
Seu corpo anseia por ele, mas ela nunca lhe dará seu coração.
De novo não.
Jamais.
BLAKE
Dinheiro. Aparência. Um império de bares esportivos em expansão.
Na superfície, Blake tem tudo.
Mas por dentro, ele é assombrado — tanto por pesadelos de uma perda trágica quanto
por sonhos com a garota que um dia traiu.
Quando o destino os reúne, ele vê isso como um sinal: é hora de recuperar o amor de
sua vida.
Custe o que custar.