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DE FÃS PARA FÃS.
If Love Duet
Livro 1

A NA HUA NG

1
Se nós nos encontrarmos de novo.
If Love
Salem

Becket

Sabrina

Janeiro 2023
Um ano, dois corações e um amor que os deixará cegos e, por fim, os
estilhaçará.

Ela é uma aspirante a designer de interiores que sonha em se apaixonar.


Ele é um ex-astro do futebol que acha que o amor é uma trapaça.
Ela é virgem e ele não faz sexo com virgens.
Ele é arrogante, irritante e não é o tipo dela.
Ela quer o conto de fadas.
Ele quer liberdade.
Blake e Farrah não deveriam ter se apaixonado do jeito que eles se
apaixonaram: total, completamente e irrevogavelmente.
Porque eles estão estudando no exterior, em Xangai, e têm apenas um
ano.
Porque as forças em casa ameaçam separá-los, mesmo que eles ainda não
saibam.
E porque, eventualmente, eles devem enfrentar a lição mais dolorosa que
aprenderão: às vezes, mesmo o maior amor não pode conquistar todos.

If We Ever Meet Again é o primeiro livro do dueto If Love.


HEA garantido no livro 2
Isso o mataria.

Não importava o quanto ele se preparasse; os próximos trinta


minutos iriam arrancar seu coração e pulverizá-lo.

Era inevitável.

— Faz um tempo que não conversamos. — Ela parecia em


partes iguais acusadora e incerta.

Ele não a culpou. Se ele estivesse no lugar dela, já teria desistido


de si mesmo há muito tempo. Ela não tinha, o que o fez amá-la ainda
mais, mas sua lealdade tornou essa conversa ainda mais difícil.

Ele apoiou os antebraços nos joelhos e juntou as mãos. Ele se


concentrou na textura do piso de madeira sob seus pés até que girou na
frente de seus olhos.

— Eu estive ocupado.

— Com?

— Aulas. Planos do bar. Esse tipo de coisas.

— Você terá que fazer melhor do que isso.

Sua cabeça se ergueu com a nitidez de sua voz. Olhar para ela
acabou sendo um erro.
Seu peito apertou ao ver seu rosto e a dor nadando em seus
lindos olhos castanhos. Fazia duas semanas desde a última vez que eles
ficaram sozinhos, mas pode muito bem ter sido duas vidas.

Seu pavor se misturou com uma estranha alegria por estar


sozinho com ela novamente, e levou toda sua força de vontade para não
tomá-la nos braços e nunca mais soltá-la.

— Diga-me a verdade. — Sua voz se suavizou. — Você pode


confiar em mim.

Seria tão fácil fingir que tudo estava bem. Para dar a ela as
garantias que ela queria ouvir e voltar a ser como as coisas eram.

Ele confiava nela, mas a verdade iria destruí-la. Então ele fez a
única coisa que podia fazer: mentiu.

— Eu sinto muito. — Ele enxugou a emoção de sua voz e a


canalizou para o poço de desespero que girava em seu estômago. Ela
podia ouvir? O thump-thump-thump de seu coração batendo em pânico
contra as suas costelas, gritando para ele parar? — Eu não queria fazer
assim, mas acho que não devemos mais nos ver.

O rosto de Farrah empalideceu. Seu coração bateu mais forte. —


O quê?

Ele engoliu em seco. — Foi divertido enquanto durou, mas o ano


está quase acabando e eu... eu não estou mais interessado. Eu sinto
muito.

Mentiroso.

— Você está mentindo.


Ele se encolheu. Ela o conhecia bem. Bem demais.

— Não estou. — Ele tentou parecer indiferente quando tudo o


que queria fazer era cair de joelhos e implorar para que ela não o
deixasse.

— Está. Você disse que me amava.

— Menti.

Ele não conseguia olhá-la nos olhos.

Sua respiração afiada torceu seu coração em um nó doloroso.

— Você está cheio de merda. — Sua voz tremeu. — Olhe para


você, está tremendo.

Ele cerrou os punhos e forçou o corpo a ficar imóvel. — Farrah.


— Era isso. Sua respiração saiu em rajadas curtas e superficiais. — Voltei
com a minha ex-namorada nas férias. Eu não sabia como te dizer. Eu a
amo e cometi um erro aqui. Conosco. Mas estou tentando consertar.

Seu soluço rasgou o ar. Lágrimas arderam em seus olhos, mas


ele as piscou de volta.

— Eu sinto muito. — Uma coisa tão estúpida e inadequada de se


dizer. Ele não sabia por que disse isso.

— Pare de dizer isso!

Ele estremeceu com o veneno em sua voz. Ela agarrou seu colar
com uma mão, traição girando em seus olhos.

— Era tudo uma mentira então, no ano passado.

Ele baixou o olhar novamente.


— Por quê? Por que você fingiu que se importava? Foi alguma
piada de mau gosto? Você queria ver se eu seria crédula o suficiente para
me apaixonar por você? Bem, parabéns caralho. Você ganhou. Blake Ryan,
o campeão. Seu pai estava certo. Você não deveria ter desistido. Ninguém
joga melhor do que você.

Então era assim que se parecia morrer. A dor, congelada por


dentro como um pedaço de gelo preto irregular. O arrependimento por
palavras que não conseguiu dizer e promessas que não conseguiu
cumprir. A solidão enquanto ele deslizava para o esquecimento escuro e
sem estrelas, sem ninguém para salvá-lo.

— Eu sinto mu...

— Se você disser 'sinto muito' mais uma vez, irei até à cozinha,
volto e corto suas bolas com uma faca enferrujada. Na verdade, posso
fazer isso de qualquer maneira. Você é um idiota de merda. Sinto muito
por ter perdido todo esse tempo com você, e sinto mais por sua
namorada. Ela merece coisa melhor.

Deus, ele não queria que ela o odiasse. Ele queria, mais do que
tudo, dizer a ela que era tudo uma piada e que ele estava brincando com
ela. Ele queria agarrá-la e respirar aquele perfume de flor de laranjeira e
baunilha que o deixava louco, para confessar o quanto ele era louco por
ela e beijá-la até que ficassem sem fôlego.

Mas não conseguiu. A primeira parte seria uma mentira e a


segunda... bem, isso era algo que ele nunca poderia fazer novamente.

Farrah foi até à porta. Ela parou na porta para olhar para ele. Ele
esperava que ela jogasse mais veneno nele - ele merecia. Mas ela não fez
isso. Em vez disso, ela se virou e fechou a porta atrás dela com um suave
‘clique’que ecoou no silêncio como um tiro.

Seus ombros cederam. Toda a energia foi drenada para fora


dele. Tinha acabado. Não havia como voltar atrás.

Era a coisa certa a fazer e ainda...

Ele fechou os olhos com força, tentando bloquear a dor. Ele não
conseguia tirar a imagem do rosto dela de sua mente, aquela que dizia
que ela pensava tão pouco dele que não queria desperdiçar mais energia
gritando com ele.

Por causa dela, ele acreditava no amor. O tipo que te dá


um nocaute, amor-único-na-vida que ele usou para descartar como uma
fantasia inventada por Hollywood que os filmes vendem. Não foi uma
fantasia. Foi real. Ele sentiu isso em seu âmago.

Se eles tivessem se conhecido antes ou em circunstâncias


diferentes... Ele sempre foi uma pessoa prática, e não adiantava ficar
pensando em e se. O dever o prendia a outra pessoa e, mais cedo ou mais
tarde, Farrah seguiria em frente e encontraria um cara que poderia dar a
ela tudo que ela merecia. Alguém que ela amaria, com quem se casaria e
teria filhos...

O último pedaço intacto de seu coração se partiu com o


pensamento. Os cacos picaram seu autocontrole até que ele não
conseguiu mais conter as lágrimas. Soluços enormes e silenciosos
sacudiram seu corpo pela primeira vez desde os sete anos, quando ele
caiu de uma árvore e quebrou a perna. Só que dessa vez a dor foi um
milhão de vezes pior.
Todos os momentos juntos passaram por sua mente, e o garoto
que uma vez jurou que nunca choraria por uma garota... chorou.

Ele chorou porque a machucou.

Ele chorou porque manteve sua mente longe da solidão


desesperada que pesava em sua alma no momento em que ela partiu.

Acima de tudo, ele chorou pelo que eles tinham, pelo que
perderam e pelo que nunca poderiam ser.
OITO MESES ATRÁS

— Um clássico chá com leite e um honey oolong milk tea2 com


tapioca. Açúcar normal, gelo normal.

Farrah Lin deslizou uma nota de vinte yuans3 pelo balcão em


direção ao caixa, que sorriu em reconhecimento. Quatro dias em Xangai e
Farrah já era uma frequentadora assídua do chá com bolinhas perto do
campus. Ela optou por não pensar no que isso significava para sua carteira
e cintura.

Enquanto a equipe preparava seu pedido, Farrah examinou o


cardápio. Ela conhecia nai cha4 e xi gua5. Ela reconheceu alguns outros
caracteres chineses, mas não o suficiente para formar uma frase coerente.

— Aqui está. — O caixa entregou a Farrah suas bebidas. — Vejo


você amanhã!

Farrah corou. — Obrigada.

2
É uma bebida doce feita com chá Oolong, leite e pérolas de tapioca de açúcar mascavo. O
Oolong Milk Tea recebe o nome do chá usado para fazê-lo, originário da China.
3
Rquivalente a 15 reais.
4
Chá com leite.
5
Melancia.
Nota para mim mesma: pedir a Olivia para fazer os pedidos de
amanhã.

Farrah saiu da pequena loja e voltou para o campus. O sol


começou a descer e banhou a cidade com um brilho dourado
quente. Ciclistas e motociclistas passavam rapidamente, lutando com os
carros por espaço na estreita rua lateral. Os cheiros deliciosos que
emanavam dos restaurantes por onde Farrah passava se misturavam
aos cheiros bem menos agradáveis de lixo e poeira de
construção. Vendedores ambulantes chamavam os transeuntes, vendendo
de tudo, desde chapéus e lenços a livros e DVDs.

Farrah cometeu o erro de fazer contato visual com um desses


fornecedores.

— Mei nu! — Garota linda. Seria lisonjeiro se Farrah não


conhecesse a venda difícil que acompanhava tal saudação. — Vem vem. —
A vendedora idosa acenou para ela. — De onde você é? — ela perguntou
em mandarim.

Farrah hesitou antes de responder. — América. — Mei guo. Ela


arrastou a última sílaba, sem saber se a admissão iria machucar ou ajudar.

— Ah, América. ABC, — disse a vendedora com conhecimento


de causa. ABC: American Born Chinese6. Farrah tinha ouvido muito isso
ultimamente. — Tenho ótimos livros em inglês. — A vendedora brandiu
um exemplar de Eat, Pray, Love.7 — Apenas vinte kuai!

— Obrigado, mas não estou interessada.

6
Chinês nascido na América.
7
Comer, rezar e amar.
— Que tal este? — A mulher escolheu um romance de Dan
Brown. — Eu te darei um acordo. Três livros por cinquenta kuai!

Farrah não precisava de novos livros e cinquenta kuai (cerca de


7 dólares) pareciam caros para reimpressões baratas de romances
antigos. Mas a vendedora parecia uma velha simpática e Farrah não tinha
energia para barganhar com ela.

Ela folheou as opções em inglês e foi direto para o romance:


Jane Austen, Nicholas Sparks, JoJo Moyes.

Ok, Sparks e Moyes escrevem histórias de amor, não de


romance, mas ainda assim.

Dada a seca na vida amorosa de Farrah, ela se contentaria com


qualquer tipo de relacionamento romântico, mesmo um que terminou
tragicamente. Bem, talvez não com a morte, mas com uma separação ou
algo assim. Qualquer coisa que prova que os loucos de amor encontrados
em livros e filmes existiram na vida real.

Depois de um ano de caloura decepcionante cheio de encontros


medíocres e paradas desastradas na terceira base, Farrah estava pronta
para desistir da realidade e viver na terra da fantasia em tempo integral.

— Vou levar isso. — Ela colocou suas bebidas no chão para que
pudesse pegar Orgulho e Preconceito - seu favorito -, The Notebook e Me
Before You. Ela já tinha lido todos eles, mas que diabos, uma releitura
nunca fez mal a ninguém.

Farrah pagou à vendedora, que sorriu e agradeceu antes de


voltar sua atenção para o próximo transeunte.
— Mei nu! — A vendedora acenou para uma jovem com um
vestido de cobalto. — Vem vem.

Farrah enrolou a sacola de compras no pulso e pegou suas


bebidas enquanto a jovem se esquivava do agressivo discurso de vendas
da vendedora. Ela caminhou rapidamente de volta ao campus, tomando
cuidado para não fazer contato visual com mais nenhum vendedor, para
não ser levada a comprar outra coisa de que não precisava.

Farrah parou na faixa de pedestres. Em vez de atravessar


quando o semáforo de pedestres piscou em verde, ela esperou até que
um grupo de adolescentes desceu do meio-fio antes de segui-los para a
selva que era o tráfego de Xangai.

Regra nº 1 de sobrevivência na China: cruze quando os locais


cruzarem. Há segurança nos números.

Quando Farrah chegou à Universidade de Estudos Estrangeiros


de Xangai, o campus anfitrião de seu programa de estudos no exterior, ela
já havia terminado sua bebida. Jogou o copo vazio em uma lata de lixo
próxima e abriu a porta do saguão da FEA.

A FEA, também conhecida como Academia de Educação


Estrangeira, ocupava um dos edifícios mais antigos da SFSU. Não só
o prédio de quatro andares não tinha elevador, mas o design interior
deixava muito a desejar. O saguão tinha potencial - piso de mármore,
toneladas de luz natural entrando pelas grandes janelas de frente para
o pátio - mas a mobília era saída dos anos 80 (e não no estilo retrô legal).

Um sofá de couro marrom rachado alinhava-se na parede abaixo


das janelas ao lado de cadeiras e mesas que não combinavam. Um
estande de revistas estreito afundou sob o peso de dezenas de edições
anteriores da Time Out Shanghai. Pinturas de paisagens chinesas
desbotadas penduradas na parede, aumentando a sensação de mofo.

Como de costume, Farrah não pôde deixar de redecorar


mentalmente o espaço. Enquanto subia as escadas para o terceiro andar,
ela trocou a mobília atual por um conjunto de vime almofadado
com mesas com tampo de vidro, que expandiria visualmente o saguão. As
aquarelas antigas foram retiradas e os painéis de arte de inspiração
asiática - talvez algumas representações de perto da flor de lótus ou flores
de ameixa com caligrafia chinesa moderna. Pode haver uma parede de
estantes de livros para...

— Ai! — Farrah estava tão absorta em seu devaneio de design


que bateu na parede. Sua mão disparou para a testa com dor que
ricocheteou em seu cérebro. Felizmente, ela não conseguiu sentir um
solavanco. O chá com bolinhas de Olivia também permaneceu intacto,
graças a Deus. Ela era assustadora quando não conseguia sua dose de
açúcar.

A parede se moveu. — Você está bem? — perguntou.

Uma parede ambulante e falante. Ela deve ter batido a cabeça


com mais força do que pensava.

Farrah espiou por baixo de sua mão e se viu encarando um par


de olhos azuis cristalinos. Ela reconheceu aqueles olhos. Eles a encararam
de volta na capa da Sports Illustrated no ano passado, junto com as maçãs
do rosto salientes e o sorriso arrogante que os acompanhavam.
Agora, eles a examinaram com uma mistura de diversão e
preocupação.

— Você não é uma parede, — ela deixou escapar.

— Não, eu não sou. — A não-parede ergueu uma


sobrancelha. Uma sugestão de sorriso apareceu em seus lábios. — Já fui
chamado de muitas coisas na minha vida, mas essa é uma nova.

Farrah lutou contra o rubor de vergonha que se espalhou por


seu rosto. De todas as pessoas que ela poderia ter encontrado, ela teve
que topar com Blake Ryan.

Mesmo que não fosse fã de esportes, ela sabia quem ele


era. Todo mundo sabia. Um jogador de futebol importante do Texas que
causou alvoroço nacional ao deixar o time no início do ano. Além
da capa da Sports Illustrated, Farrah se lembrou de Blake de um
documentário da ESPN sobre os atletas universitários mais talentosos do
país. A colega de quarto de Farrah no ano passado a forçou a assistir
porque ela estava obcecada com o armador do time de basquete da CCU,
e ela precisava de alguém a quem pudesse falar.

Foram os setenta e cinco minutos mais entediantes da vida de


Farrah, mas pelo menos houve muitos colírios para os olhos, nenhum dos
quais era mais travesso do que o texano parado na frente dela.

Um metro e oitenta e cinco de pele bronzeada e músculos


esculpidos, com cabelos dourados, olhos azuis glaciais e maçãs do rosto
que podiam cortar gelo. Ele não era o tipo de Farrah, mas ela tinha que
admitir que o menino era gato. Blake tinha a aparência que ela imaginara
de Apolo quando ela aprendeu sobre mitologia grega na sétima série.
— Bem, você é realmente duro. — As palavras escaparam antes
que Farrah pudesse alcançá-las.

Eu não disse isso em voz alta.

O rubor viajou de seu rosto para o resto de seu corpo. Não


importa o quanto ela orou, o chão não se abriu e a engoliu inteira, aquele
bastardo.

A outra sobrancelha de Blake se ergueu.

— Quero dizer, seu peito está realmente duro. Nada


mais. Embora eu tenha certeza de que poderia ser duro se quisesse.

Me mata.

A sugestão de diversão floresceu em um sorriso completo,


revelando covinhas gêmeas que deveriam ser classificadas como armas
letais.

— Com certeza pode, — Blake falou lentamente. —


Especialmente quando estou perto de alguém tão bonita como você.

A mortificação de Farrah parou. — Oh, por favor. Elas realmente


funcionam para você?

— Como?

— Suas falas cafonas. Elas realmente funcionam para você?

— Nunca tive queixas. Além disso, olhe para mim. — Blake


gesticulou para si mesmo. — Eu não preciso de frases de efeito.

— Uau. — Farrah balançou a cabeça. Atleta típico. — Deve ser


difícil andar por aí com um ego tão grande.
— Baby, essa não é a única parte de mim que é grande.

Farrah não conseguiu evitar; seus olhos caíram para a região


abaixo do cinto de Blake. Uma imagem do que estava escondido atrás do
jeans passou por sua mente. Sua boca ficou seca.

— Estou falando sobre meu peito, é claro. — Blake estremeceu


de tanto rir.

O olhar de Farrah se fixou em seu rosto. — Eu sabia. — A


mortificação subiu por seu pescoço.

— Certo. Já que você já me despiu com os olhos, devemos...

— Eu não despi você...

— Nos apresentar apropriadamente. — Ele estendeu a mão. —


Eu sou Blake. — Ela sabia quem ele era, e os dois sabiam disso. Farrah
entrou no jogo porque 1) sua mãe a criou para ser um ser humano
educado; e 2) embora ela soubesse o nome dele, havia todas as chances
de ele não saber o dela. Eles se conheceram brevemente no jantar de
orientação na primeira noite, mas havia setenta alunos na FEA. A própria
Farrah não podia se lembrar dos nomes de metade das pessoas que
conheceu. — Eu sou Farrah.

Ela deslizou a alça de sua sacola de plástico em seu outro pulso


para que pudesse agarrar a mão dele. Suas palmas eram quentes e
ásperas contra as dela. Quando eles fizeram contato, um choque
minúsculo e inesperado chiou por suas veias.

— Farrah da Califórnia.
Ela não poderia ter ficado mais surpresa se ele começasse a
recitar a Ilíada em grego antigo. — Você lembra.

— Como poderia esquecer? — O olhar de Blake varreu seu rosto


e demorou em sua boca.

Os batimentos cardíacos de Farrah dispararam. Ele era o oposto


de seu herói romântico ideal - alto, moreno e bonito, com um lado
sensível, culto - mas não havia como negar o apelo sexual de
Blake. Gotejava dele como mel de uma colmeia.

— Portanto, não precisamos nos apresentar.

— Não. — Ele se aproximou sem soltar a mão dela. — Mas eu


queria uma desculpa para tocar em você.

Não, Blake não era o tipo dela, mas qualquer garota no mundo
iria derreter sob o calor de seu olhar. Farrah odiava admitir, mas ela não
era exceção.

Ela estaria condenada se mostrasse isso, no entanto.

Enquanto ela lutava para dar uma réplica inteligente, Blake


abaixou a cabeça para sussurrar em seu ouvido. — Ainda acha que minhas
falas são cafonas?

Farrah arrancou sua mão da dele e ignorou sua risada. O som


profundo e aveludado rolou pela escada vazia, enchendo-a com sua
riqueza.

— Para falar a verdade, acho, — ela disse com tanta dignidade


quanto ela pode reunir. — Você não é tão gostoso quanto pensa que é. —
Mentiras. — Há muitos caras tão bonitos quanto você.
— Aha! Então você me acha bonito.

Droga. — Apenas do ponto de vista físico.

— Er, isso é o que significa bonito.

— Tenho coisas mais importantes a fazer do que ficar aqui e


discutir com você. Então, se...

— Como ler romances deprimentes? — Blake acenou com a


cabeça para a bolsa em suas mãos. A capa do livro aparecia clara como o
dia através do fino plástico vermelho.

— Eu não espero que você entenda, mas esta é uma ótima


história de amor, — Farrah bufou.

— Ei, o que quer que faça seu barco flutuar. Não tenho nada
contra histórias de amor. Além disso, se você está procurando algo para
fazer além de discutir comigo, tenho algumas ideias. — Sugestividade
escorria de sua voz. — Você, eu, meu quarto. Uma ótima história de amor.

Farrah bufou. — Nem mesmo em seus sonhos. Você não faz


meu tipo.

— Eu sou o tipo de todo mundo.

Farrah não se preocupou em dignificar sua arrogância com uma


resposta. Ela passou por ele e subiu as escadas. — Eu espero que você e
seu ego tenham uma boa noite. — Ela jogou por cima do ombro.

— Meu ego e eu sempre temos uma boa noite. A propósito, —


Blake gritou atrás dela. — Eu odeio ver você ir, mas adoro assistir você ir
embora.
Farrah apertou os lábios, lutando para não sorrir para a fala
intencionalmente clichê.

Blake Ryan pode ter um senso de humor melhor do que ela


esperava, mas ele não era um protagonista.

Não para ela.

Nem mesmo perto.


Blake ainda estava sorrindo quando entrou em seu quarto e
acendeu as luzes. A expressão no rosto de Farrah quando ele perguntou se
ela achava que suas falas eram cafonas?

Impagável.

Ela estava na FEA8, o que significava que estava fora dos


limites. Isso não significava que ele não pudesse flertar com ela.

Ele tinha que manter a vida interessante de alguma forma.

Blake jogou as chaves sobre a mesa e examinou seu minúsculo


reino. Tecnicamente, era o minúsculo reino dele e de Luke, pelo menos
até ao fim da semana de orientação e Luke se mudar para a acomodação
familiar.

Mas Luke não estava aqui, o que significava que Blake tinha
todos os 45 metros quadrados para ele.

Comparado com seu apartamento fora do campus no Texas


Southeastern, este lugar era um lixo. O piso de madeira escura rangeu. As
paredes de blocos de concreto pareciam as de uma cela de prisão. As
camas de solteiro também podem ser feitas para crianças de dez
anos. Mas o dormitório da FEA tinha uma coisa que seu apartamento TSU
não tinha: liberdade.
8
Faculdade de Economia e Administração.
Por esse luxo, Blake abriria mão de todas as TVs de plasma e
camas king-size do mundo.

Ele se jogou na cama e fechou os olhos, deleitando-se com o


silêncio. Sem olhares. Sem sussurros. Nada além da paz tranquila de um
pequeno quarto em uma grande cidade do outro lado do mundo longe de
casa. Pela primeira vez desde fevereiro, ele sentiu como se pudesse
respirar.

Os tons musicais do alarme do telefone personalizado de Blake


interromperam sua felicidade. Cleo o baixou quando eles começaram a
namorar no verão passado.

Ele acordava antes do amanhecer todos os dias para o


acampamento de condicionamento de futebol e ela odiava o som do
alarme padrão às 4h30.

Ele deveria mudar de volta.

Blake abriu um olho. Eram 19h30, o que significava que eram


6h30 em Austin. É hora de ligar para casa.

Ele rolou de bruços e abriu seu laptop. Olhou para o ícone do


Skype, pensando em desculpas para interromper a conversa antes de
apertar o botão de chamada.

Para seu alívio, Joy foi quem atendeu sua chamada.

— Já era tempo, perdedor. — Joy colocou uma batata frita na


boca. — Você está atrasado.
— Lembre-me novamente, foi você quem escreveu. Como fazer
amigos e influenciar pessoas? — Blake bateu um dedo no queixo. — Oh
espere. Para fazer isso, você precisa, sabe, ser alfabetizada. Foi mal.

— Ha. Parece que Xangai não melhorou seu terrível senso de


humor. — Joy inclinou a cabeça. — Você parece terrível. Isso é
uma espinha que eu vejo no seu queixo?

Sem chance. Ele não tinha espinhas.

Mesmo assim, Blake esfregou a mão no queixo para verificar se


havia intrusos indesejados. Nada, exceto o arranhar de sua barba por
fazer. — Besteira.

— Sim, mas eu fiz você se preocupar. — Joy gargalhou. — Você


é tão vaidoso.

— Vou desligar na sua cara agora.

— Faça isso.

— Eu vou.

— Ok.

— Ok.

Eles se encararam.

Joy cedeu primeiro. Ela sorriu. — Estou com saudades,


irmãozão.

— Também sinto saudade. — A irmã de Blake era um pé no


saco, mas ela também era uma de suas melhores amigas e ele a amava. A
maior parte do tempo.
Algumas vezes.

— Como está Xangai?

— Ótima, na maior parte. Um pouco barulhenta e poluída,


mas... — Blake deu de ombros. — Você não pode ter tudo.

Ele estava feliz por estar em Xangai - em qualquer lugar, exceto


no Texas, na verdade - mas, verdade seja dita, ele achava a China estranha
e opressora.

A comida era esquisita, as pessoas olhavam para ele aonde quer


que ele fosse, e tinha de tudo em todo lugar, o tempo todo.

Ruído. Luzes. Carros. Para um menino que cresceu nos


subúrbios tranquilos do Texas, Blake sentiu como se alguém o tivesse
arrancado de um aquário e o jogado no meio de uma rodovia na hora do
rush.

Não que ele alguma vez dissesse isso a sua família. Eles deram a
ele merda suficiente sobre suas decisões como eram.

Além disso, ele chegou há menos de uma semana. Ele teve


muito tempo para se aclimatar na Ásia.

— Você está pronta para o TSU? — ele perguntou.

— É claro. Estive me preparando durante todo o verão. Além


disso, já visitei você no campus o suficiente para saber como é. — Depois
de uma temporada na faculdade comunitária local, Joy estava se
transferindo para a TSU em seu segundo ano. — Cleo tem sido incrível. Ela
me contou tudo o que preciso saber. Que aulas devo frequentar, bares
que devo frequentar, rapazes que devo conhecer.
A cautela se instalou no estômago de Blake. — Eu não sabia que
vocês duas estavam passando tanto tempo juntas.

— Hum, ela é praticamente minha irmã. — Joy lançou lhe um


olhar penetrante. — Ela seria minha irmã de verdade - bem, cunhada -
um dia se você não tivesse fodido tudo.

Aqui vamos nós novamente. — Não comece.

— Não estou começando nada.

— Bom.

— Tudo o que estou dizendo é que Cleo é a melhor namorada


que você poderia ter pedido...

Blake gemeu. — Pelo amor de Deus, nós já passamos por isso.

— ….E terminou com ela. — Joy balançou a cabeça. — Em que


você está pensando?

— Eu estava pensando que minha vida amorosa não é da sua


conta. — Essa era uma das vezes em que Blake não amava sua irmã. Ela
esteve em seu caso sobre Cleo durante todo o verão. Ele pensou que ela já
teria superado.

Aparentemente não.

— Mamãe e papai estão chateados.

— Diga-me algo que eu não sei. — Entre deixar o futebol e


romper com Cleo, Blake não tinha se tornado exatamente querido para
seus pais este ano.

— Joy? É o seu irmão na linha?


Joy sorriu. — Falando no diabo.

— Quem você está chamando de diabo? — A mãe de Blake


repreendeu de brincadeira. Ela colocou o rosto na frente da tela. — Oi,
querido.

— Oi mãe.

— Você está comendo o suficiente? Parece mais magro.

Joy deu uma risadinha. — Essa é a minha deixa. Vou deixar você
falar com a mamãe. — Ela se levantou. — Não seja um estranho, perigo.

— Isso não faz sentido.

— Tanto faz. Tchau!

A mãe de Blake não perdeu tempo e começou a trabalhar. —


Como está a comida na China? É por isso que você não está comendo? Oh
Blake, você deveria ter estudado na Europa.

— Tenho comido e a comida é boa. — Demorou um pouco para


se acostumar, só isso. Acontece que o frango do General Tso não era uma
coisa aqui, como Blake descobriu quando tentou fazer o pedido na noite
anterior. — Não se preocupe.

Helen Ryan fixou seu filho com um olhar feroz. — Eu sou sua
mãe. É meu trabalho me preocupar, especialmente quando você está
passando um ano em algum país estranho do outro lado do mundo.

— Tecnicamente, qualquer país, exceto os EUA, é 'estranho', —


brincou Blake. Ele foi o primeiro da família a viajar para fora dos Estados
Unidos e da Europa Ocidental, então ele entendeu a preocupação deles,
mas eles agiram como se ele estivesse estudando em uma zona de guerra
em vez de uma grande cidade internacional.

— Você sabe o que eu quero dizer. — Helen torceu a pulseira


em torno do pulso. — Tenho certeza de que as pessoas são adoráveis, mas
você não poderia ter ido a algum lugar mais... familiar? Londres, por
exemplo. Eles falam inglês lá. Pode não ser tarde demais para mudar de
programa na primavera.

— Ir a algum lugar desconhecido é o ponto. — Sem mencionar


que Xangai ficava muito mais longe de casa do que Londres. — Além disso,
o chinês é uma língua útil para aprender.

— Suponho que você esteja certo. — Helen suspirou. — Estou


preocupado com você, Blake. Você tem agido de forma estranha o ano
todo.

— Tenho algumas coisas que preciso descobrir. — Como o que


diabos ele faria com sua vida agora que o futebol estava fora de cena. —
Vou ficar bem, eu prometo.

— Tudo bem. — A mãe dele não pareceu convencida, mas


abandonou o assunto. — Quer falar com seu pai? Ele está por aqui em
algum lugar. — Ela se virou para a sala de estar. — Joe!

— Não! — Blake pigarreou. — Quero dizer, outra hora. Eu tenho


uma coisa de orientação em breve.

— Tão tarde da noite?

— Uh, sim. Estamos indo para um... mercado noturno, — Blake


mentiu.
— Ah ok. — Helen parecia desapontada. — Divirta-se. Eu falo
com você em breve. Eu amo você.

— Eu também te amo, mãe.

Blake desligou. Essa foi uma decisão difícil. Ele não precisava
falar com seu pai quando a voz de Joe Ryan já ecoava em sua cabeça como
um pesadelo.

Você é estúpido? Você foi atingido com muita força na cabeça


durante o jogo... Não pode largar o futebol, é a única coisa em que você é
bom... Desistentes são perdedores...

Uma dor surda floresceu atrás da têmpora de Blake. O simples


pensamento de seu pai o deixava louco.

Uma batida forte o fez pular. Blake pensou que o som era uma
escalada alarmante de sua dor de cabeça até que viu seu colega de quarto
na porta.

— Desculpa. — Luke Peterson fez uma careta. Com 1,98m de


altura e pesando 113 quilos, ele parecia o jogador de rúgbi que era. —
Bebi demais.

— É legal. — Blake olhou o rosto corado de seu colega de quarto


e o cabelo castanho curto, que se projetava para todos os lados. — Onde
você bebeu? Um túnel de vento?

— Har-har. — Luke alisou o cabelo com uma


mão constrangida. — Eu estava preparando o pré-jogo no quarto de
Courtney. Eles estão no Gino agora, mas esqueci minha carteira.
O Gino's, um bar perto do campus, estava rapidamente se
tornando o local favorito antes do jogo da FEA. A comida era péssima, mas
as bebidas eram baratas, o que era tudo que um estudante universitário
poderia pedir.

Blake não se importava com a comida ou bebida, realmente. Ele


ia a bares pela energia e solidariedade. Lá, estranhos podiam se relacionar
nas coisas mais simples, desde o amor mútuo por uma música a um gol
marcado por seu time favorito na TV. Todos eram bem-vindos,
independentemente de estarem ali para conversar, namorar ou afogar
suas mágoas.

— No momento ideal. — Blake se levantou e puxou o moletom


pela cabeça. Fica muito quente no Gino's. — Eu estava prestes a ir até lá.

Esquecer o pai dele. Ele não ia deixar o velho arruinar seu tempo
em Xangai.

A grande vantagem de estar a mais de 11.000 quilómetros de


casa? Você pode fazer o que quiser.
— Temos que decidir. — Olivia Tang pescou uma caneta da
bolsa e rabiscou em um guardanapo. — Vou fazer listas pró / contra. O
feriado está chegando e se não fizermos a reserva logo, tudo estará cheio.

— O feriado é daqui a mais de um mês, — observou Sammy


Yu. — Nós temos tempo.

— Esta é a China. Você sabe quantas pessoas estarão viajando


então? Um monte, — Olivia disse antes que alguém pudesse responder. —
Eu prefiro estar preparada antes de ficarmos acampados na floresta em
vez de tomar sol na praia.

— Acampar parece bom para mim, — disse Sammy. Olivia


franziu a testa. — Ou podemos ir tomar sol. Banho de sol também parece
bom.

Farrah, Courtney Taylor e Kris Carrera trocaram olhares


divertidos. Apesar das negativas de Olivia, era óbvio que Sammy tinha
uma queda por ela. Farrah não sabia por que Olivia se incomodou em
negar. Sammy era bonito, doce, engraçado e graduado em matemática na
Harvey Mudd, uma das faculdades de artes liberais mais elitistas do
país. Ele era o sonho de toda garota (e de toda mãe asiática).
— Não há necessidade de listas pró / contra quando podemos
apenas votar. — Courtney colocou a mão no guardanapo de coquetel de
Olivia, forçando a outra garota a parar de escrever.

— Eu gosto de fazer listas.

— Eu sei, querida, mas estamos em um bar. — Courtney


gesticulou o braço pelo espaço do Gino’s. — Vamos acabar com isso para
que possamos aproveitar. Levante as mãos se quiser ir para a Tailândia.

Farrah, Sammy e Leo Agnelli levantaram as mãos. Depois de


olhar ansiosamente para suas listas, Olivia levantou a mão também.

— Japão?

Kris.

— Filipinas?

Courtney e Nardo Crescas.

Nardo olhou para Kris. — Você não quer ir para as Filipinas? Sua
família é de lá.

— Exatamente. Eu vou todos os anos. — Kris bocejou. — Não,


obrigada.

— Luke mencionou antes que ele quer ir para as Filipinas


também, então vamos riscar isso para três. De qualquer forma, a Tailândia
vence. Vamos reservar nossas passagens amanhã. — Courtney bateu
palmas. — Yay! Agora faremos algo divertido para comemorar.

— Espere. Ainda não decidimos para onde queremos ir na


Tailândia, — protestou Olivia.
— Liv. — Farrah passou um braço em volta do ombro da
amiga. — Nós descobriremos isso amanhã.

Olivia suspirou. — Tudo bem. Mas se acabarmos em um motel


barato porque tudo o mais se esgotar, não diga que eu não avisei.

— Não direi. — Farrah não se importava se eles acabassem


dormindo em um carro na beira da estrada. Tudo o que importava era que
ela visitaria a Tailândia.

Quatro dias na FEA e o semestre já foi mais interessante do que


todo o seu primeiro ano na California Coast University.

O estômago de Farrah vibrou de excitação. Entre as viagens, as


pessoas e toda a ajuda que ela iria conseguir para o concurso nacional de
design de interiores para estudantes deste ano, Xangai estava se
preparando para ser a melhor decisão que ela já havia feito.

Ter um grande grupo de amigos ajudou. Farrah encontrou Olivia


no aeroporto enquanto esperava o transporte da FEA para o
campus. Olivia fez amizade com Kris e Courtney, que as apresentou aos
meninos (Courtney colecionava amigos da mesma forma que os foliões do
Mardi Gras colecionam colares), e o resto é história.

— Falando em Luke, onde ele está? — Leo procurou por seu


amigo desaparecido. — Ele foi buscar sua carteira há muito tempo.

Farrah tentou ignorar a segunda e mais preocupante agitação


em seu estômago, a que acontecia toda vez que Leo falava. E toda vez que
ela olhava para ele. Ou pensava nele.
Ao contrário de Blake, Leo era cem por cento seu
tipo. Finalmente, um menino que fazia seu coração pular ao entrar na
sala! Um menino de cabelos escuros encaracolados e sorriso conhecedor,
que falava cinco línguas e sabia citar autores clássicos num piscar de
olhos.

Pena que o dito menino foi levado.

— Tenho certeza de que ele estará aqui em breve. — Courtney


aninhou-se ao lado de Leo. Você pode dizer muitas coisas sobre Courtney,
mas não pode dizer que ela não se moveu rápido. Farrah nem teve a
chance de se apresentar na primeira noite antes de Leo e Courtney
começarem a se beijar na esquina da 808.

Eles não estavam namorando, por si só, mas estavam


namorando exclusivamente um com o outro. Na faculdade, isso era
basicamente o mesmo que namorar.

Farrah deu um gole em sua bebida e examinou o bar para evitar


olhar para o casal. O Gino's era como um bar universitário americano com
esteroides. Multidões de estudantes, locais e internacionais, amontoados
em torno de mesas repletas de hambúrgueres, batatas fritas e álcool. Os
mais recentes sucessos do Top 40 dos Estados Unidos explodiram
nos alto-falantes montados no teto, abafando os aplausos das duas mesas
de beer pong na parte de trás. Graffiti de clientes anteriores cobriam
todas as paredes e se arrastavam até ao teto.

Farrah se concentrou nas mensagens mais próximas de sua


mesa. Seja gentil com seu motorista de táxi, alguém aconselhou em
marcador preto, ou eles o deixarão no meio do nada. Acima dele havia um
número de telefone aleatório e, acima dele, uma hashtag simples:
#ballsballsballs.

Tenho que amar o graffiti em bar.

Olivia se inclinou na direção de Farrah. — Você está bem? — ela


sussurrou. Ela era a única que sabia sobre a paixão de Farrah.

— Sim, — Farrah mentiu. Courtney era amiga dela, Leo era de


Courtney (mais ou menos), e ponto final. Além disso, Farrah não era
estranha ao amor não correspondido. Ela tinha o hábito de se apaixonar
por caras que ela não podia ter, mesmo quando ela ainda não sabia que
eles foram pegos. — Eu superei.

Olivia não parecia convencida.

— O que você está falando? — Sammy colocou a cabeça por


cima do ombro de Olivia. — Diga-me.

— O gene vai-cuidar-da-sua-vida. — Olivia sorriu apesar de suas


palavras. Era difícil não sorrir perto de Sammy.

— Vamos, não contarei. Consigo guardar um segredo. — Sammy


balançou as sobrancelhas. — É algo perverso?

— Seu sonho. — Farrah jogou uma batata frita nele. — Sexo é a


única coisa em que os caras pensam?

— Não. Às vezes pensamos em comida. — Sammy pegou a


batata frita e jogou na boca.

Olivia cutucou o lado dele com o cotovelo. Ele fez cócegas nela
em resposta, fazendo-a gritar e quase cair do banco de tanto rir.
Farrah escondeu seu sorriso atrás do copo.

— Veja. Lá está o tosco em pessoa, trazendo presentes. — Kris


ergueu as sobrancelhas. — Incluindo um Blake Ryan. Que atencioso.

A cabeça de Farrah girou.

Luke avançou sobre eles com um coquetel fislbowl9 em cada


mão e Blake a reboque.

— Falando merda de novo, Kris? — Luke colocou as bebidas na


mesa.

— Você não poderia ter me ouvido por causa do barulho.

— Eu não precisava. Você está sempre falando merda.

Courtney riu. — Ele tem razão.

— Você está do lado de quem? — Kris pigarreou.

— Seu, é claro. — Courtney deu um tapinha na mão de Kris. —


Você é minha irmã de fraternidade.

Além de Sammy e Nardo, que eram melhores amigos e colegas


de classe na Harvey Mudd, Kris e Courtney eram as únicas na FEA que se
conheciam antes do programa começar.

— Duas vezes na mesma noite. — Blake piscou para Farrah. —


Estou começando a pensar que você está me perseguindo.

— Eu estava aqui primeiro.

9
É um coquetel de festa frutado que é servido em um aquário e feito com 4 tipos
diferentes de álcool, mistura de rum de coco, Vodka, licor de pêssego, curaçau azul e enfeitado
com peixes de gelatina (geralmente).Perfeito pra compartilhar com amigos.
— Isso é o que todos dizem. — Blake entregou a Farrah uma
garrafa de cerveja. — Bebida?

— Eu não gosto de cerveja.

— Vamos lá, viva um pouco. Saia da sua zona de conforto.

— Beber cerveja dificilmente é viver. — Mesmo assim, Farrah


roubou o Tsingtao dele. Sua mão roçou a dela, e outra corrente elétrica
chiou sobre sua pele.

Ela abriu a tampa e tomou um gole, fazendo uma careta com o


gosto.

Blake riu da expressão dela. — Você realmente não gosta de


cerveja.

— Tem gosto de urina.

— Como você sabe qual é o gosto da urina?

Farrah tomou outro gole. — Eu não posso falar com você. Você
é exaustivo.

— Ok. Existem outras coisas que podemos fazer além de


falar. Não posso garantir que elas serão menos exaustivas, no entanto.

Blake se sentou em frente a ela. Mesmo em uma camiseta preta


lisa com decote em V e jeans, ele parecia ter acabado de sair da capa da
GQ. A camisa exibia seus ombros largos e braços musculosos, e sua pele
brilhava dourada na luz fraca do bar.

Blake a pegou olhando e deu um sorriso arrogante. — Gosta do


que está vendo? — ele murmurou.
— Já vi melhor, — ela murmurou de volta. Ela viu. Nas seções de
escultura dos museus de arte da Itália.

Blake sorriu com a confiança de alguém que sabia que era o cara
mais sexy do lugar.

Luke disse algo para ele. Quando Blake virou a cabeça para
responder, Olivia agarrou o braço de Farrah. — O que é que foi isso?

— O que foi o quê?

— Aquilo. — Ela gesticulou para Blake. — Eu quase derreti com


a tensão sexual.

— Ha! Você tem bebido demais. — Farrah nunca tinha ouvido


nada mais absurdo. — Não havia tensão sexual.

— Oh querida. Sim, houve. Por que negar? Blake é gostoso. —


Olivia baixou a voz. — Ele vai te ajudar a superar você-sabe-quem. Como
se costuma dizer, a melhor maneira de superar alguém é com outra
pessoa.

Pela primeira vez em sua vida, Farrah estava grata pelo rubor
que tomava conta de seu rosto toda vez que ela bebia álcool. Escondeu o
embaraço acalorado em suas bochechas.

— Ele não é meu tipo.

— Não seja ridícula. Ele é o tipo de todas as garotas. — Farrah


suspirou. Ela estava cansada de ouvir isso.
— Gente, vejam o que Luke trouxe. — Courtney balançou um
baralho de cartas no ar. — O que vocês dizem? Estão prontos para um
jogo de Reis10?

— Isso aí! Eu sou o rei dos reis. — Luke bateu em seu peito. —
Pode vir.

— Sua semelhança com um gorila é notável, — Kris observou.

— Morda-me.

— Seu sonho.

— Crianças, acalmem-se. — Courtney embaralhou as cartas e


espalhou-as, viradas para baixo, em torno da garrafa
de baijiu que trouxeram contrabandeando. Ela estava ali fechada há uma
hora. A equipe não pareceu se importar, mas ninguém no grupo teve
coragem de abri-la. Baijiu, que variava de oitenta a cento e vinte por cento
de teor alcoólico, era o equivalente ao destilado caseiro. Não era
brincadeira.

— Regras normais, certo? Ás é cachoeira; dois, dois para você;


três, três para mim; quatro, chão... — Courtney repassou as instruções de
uma vez.

— Eu concordo, exceto por uma coisa, — Blake falou. — Ás é


berlinda. Quem o tira tem que responder uma pergunta de todos os
outros jogadores. Honestamente.

10
É um jogo de bebida que usa cartas de baralho. O jogador deve beber e dispensar bebidas com
base nas cartas sorteadas. Cada carta tem uma regra que é predeterminada antes do jogo
começar. Muitas vezes os grupos estabelecem as regras da casa com sua própria variação de regras.
https://en.wikipedia.org/wiki/Kings_(game)
— Oooh. — Um sorriso se espalhou pelo rosto de Courtney. —
Eu gosto disso. Eu gosto muito disso.

Farrah estreitou os olhos. Blake seria do tipo que invade e muda


as regras.

O jogo esquentou. Todos se revezaram puxando uma carta, cada


um deles com uma regra predeterminada. Nas primeiras rodadas, Farrah
puxou cartas inofensivas como um dez (categorias) e um cinco (todos os
caras bebem).

Sua sorte acabou no quinto assalto.

Depois que Olivia tirou três (eu, o que significava que ela tinha
que beber), foi a vez de Farrah. Ela examinou as cartas restantes. Sua mão
pairou sobre o mais próximo a ela antes que ela mudasse de ideia e
pegasse uma carta do outro lado. Ela a virou.

Um ás. O primeiro da noite. A mesa explodiu em


aplausos. Farrah gemeu. — Eu odeio vocês.

— Ninguém forçou você a escolher aquela carta. Foi o destino,


— Sammy brincou.

— Sim. Sim. — Farrah se resignou ao seu suposto destino. Ela


abriu os braços. — Estou pronta. Manda ver.

Eles fizeram. Seus amigos a encheram de perguntas rápidas.


Como esperado, a maioria era sexual, mas inofensiva.

Você já fez um trio? Não.

Local de conexão mais estranho? Salva-vidas fica na praia


(dependendo de como você interpreta a palavra ‘conexão’).
Fantasia de celebridade? Ian Somerhalder ou Henry Cavill. Ou
ambos. Farrah acrescentou essa última parte como uma piada, embora
tenha lhe rendido alguns olhares especulativos dos rapazes.

Homens. Tão previsíveis.

Blake fez a próxima pergunta. — Se você pudesse ficar com uma


pessoa do programa, quem seria?

Farrah congelou. Todos olhavam para ela com expectativa


enquanto ela trabalhava para manter o rosto inexpressivo e seu olhar
desviado na direção de Leo. Ela estava convencida de que qualquer
movimento de sua parte a denunciaria. Ela pensou em inventar algo, mas
não queria que alguém pensasse que ela tinha uma queda por eles
quando ela não tinha.

Mentir ou um shot? Por outro lado, apenas o cheiro de baijiu


a fazia querer vomitar. Um ou outro…

Foda-se.

Farrah pegou o baijiu, despejou o líquido claro em um copo


vazio e o virou, prendendo a respiração para não ter que inalar o cheiro
de combustível.

Seus amigos explodiram em uma salva de palmas


espontânea. Blake foi o único que não aplaudiu. Em vez disso, ele a
observou beber com um sorriso malicioso.

Farrah fez uma careta quando o líquido barato e ardente desceu


por sua garganta. Por que diabos os chineses gostam tanto de baijiu? Ele
cheirava e tinha gosto de álcool isopropílico.
Olivia entregou-lhe um copo d'água, que ela bebeu em cinco
segundos. Enxugou a boca com as costas da mão e respirou fundo. A
vontade de vomitar diminuiu, mas o gosto brutal do álcool permaneceu.

— Você é uma campeã. — Sammy se aproximou de Olivia para


dar um tapinha nas costas dela.

— Você está tão desesperada para esconder algo de nós? — Leo


brincou.

Farrah jogou bem com um encolher de ombros e um sorriso. —


Sem perguntas acompanhadas, — ela o lembrou. Ela evitou seu olhar.

Leo ergueu as mãos em sinal de rendição. — OK. Aqui está uma


fácil. Qual é seu número?

Conhecido como o número de pessoas com quem ela dormiu.

Ela fez uma pausa antes de responder. — Zero.

Olivia sabia disso, então ela não piscou um olho, mas o resto da
mesa olhou para Farrah como se lhe tivesse crescido outra cabeça.

— Você está me zoando, — Luke disse.

— Não. — Farrah ergueu o queixo com partes iguais de


constrangimento e desafio. Uma virgem de 19 anos de Los Angeles era
uma novidade hoje em dia, mas não era uma puritana. Ela tinha
experiência em todas as bases. Ela simplesmente nunca tinha acertado um
home run.

— E não há nada de errado com isso, — disse Olivia com


lealdade.
— Claro que não. — Farrah não sabia dizer se Leo estava
impressionado, divertido ou confuso. — Você está pronta quando estiver
pronta. Não deixe ninguém te convencer do contrário.

Farrah forçou um sorriso. Ela optou por não mencionar que, se


pudesse, ela já teria perdido a virgindade. No ano passado, ela esteve
perto de perder com Garrett Reiss, o calouro do terceiro ano em sua aula
de Comunicação Visual. Após o terceiro encontro, eles fizeram todo o
caminho para o seu dormitório e para o momento crucial antes de Garrett
perceber que estava sem preservativos. Antes que o próximo encontro
pudesse acontecer, ela o pegou jogando hóquei na amígdala com outra
garota no cinema, e foi isso.

Farrah não queria ou precisava esperar pelo casamento ou amor


verdadeiro (embora não houvesse nada de errado nisso), mas uma garota
tinha que ter alguns padrões. Infelizmente, toda vez que ela estava perto
de fazer a ação com alguém que parecia atender a esses padrões, algo
aparecia e arruinava tudo - lugar errado, hora errada, sem proteção, o
cara acaba se revelando um babaca. A lista continuava.

Nesse ponto, Farrah nunca faria sexo. Ela já podia imaginar a


gravura da lápide: AQUI JAZ FARRAH LIN, A VIRGEM MAIS ANTIGA DO
MUNDO, QUE TENTOU PERDER, MAS NÃO CONSEGUIU. QUE DESCANSE
EM PAZ.

— Então, quão longe você foi? — Nardo parecia intrigado. —


Segunda? Terceira? Ou... — Ele fez uma pausa. — Espere. Você passou da
primeira?
Luke soltou uma risada que se transformou em tosse quando
Courtney lhe lançou um olhar feio.

— Claro que sim — Farrah disparou. — Eu sou virgem, não


freira.

— Vamos continuar. Quebramos a regra de perguntas sem


acompanhamento o suficiente esta noite. — Blake puxou um valete. — Eu
nunca.

Farrah exalou de alívio quando todos voltaram a se concentrar


no jogo. Ela não tinha vergonha de sua falta de experiência sexual, mas
também não queria ser questionada sobre isso a noite toda.

Farrah olhou para o outro lado da mesa e chamou a atenção de


Blake. Ele deu uma piscadela discreta.

Huh.

Talvez Blake Ryan não fosse tão ruim, afinal.


Se os antigos companheiros de equipe de Blake pudessem vê-lo
agora, eles ririam demais.

Blake Ryan, estudando em uma sexta à noite em vez de ir para a


cidade? Incomum.

Embora ele tenha sido um dos poucos jogadores de futebol da


TSU que escolheu um curso ‘sério’ (Administração de Empresas) e levou os
estudos a sério, ele nunca ficou nas noites de sexta-feira. Naquela época,
ele tinha que manter as aparências.

Mas Blake não era mais jogador de futebol e estava em Xangai,


não no Texas. Sem mencionar que o currículo da FEA era difícil para
cacete. Aulas de idioma de quatro horas, quatro dias por semana, além de
lição de casa diária e aulas de vocabulário, exames escritos / orais
semanais e duas aulas eletivas conduzidas em mandarim. Os professores,
ou laoshis, eram pacientes com Blake, que falava zero mandarim ao entrar
neste programa, mas ele ainda não tinha ideia do que estava acontecendo
na metade do tempo.

Ele bateu com o lápis na mesa. — Duibuqi. Dui. Bu. Qi, — ele
murmurou, tentando imprimir os personagens em sua mente. —
Desculpe— em mandarim. Ele poderia pronunciar bem; escrevê-lo era
outra questão.
Blake cobriu os caracteres de seu livro com uma das mãos e
tentou escrevê-los com base na memória. Ele passou pelos dois primeiros
e adivinhou o terceiro. Uma verificação rápida disse a ele que não estava
perto.

— Droga. — Sua mãe estava certa. Ele deveria ter estudado no


exterior, em um país de língua inglesa, como Inglaterra ou Austrália.

Mas não, ele teve que escolher a China, lar de uma das línguas
mais difíceis do mundo.

Blake fechou seu livro e esfregou os olhos. Sua visão estava


embaçada depois de horas olhando para as linhas, curvas e rabiscos que
compunham o sistema de escrita chinês. Enquanto isso, o tique-taque
ensurdecedor do relógio ecoou na biblioteca vazia, provocando-
o. Lembrando-o de que estava nisso há duas horas e ainda não conseguia
acertar as palavras do vocabulário mais fáceis.

— Eu preciso de um tempo.

Agora ele estava falando sozinho. Fantástico.

Blake culpou Daniel Craig por sua situação. Se Xangai não tivesse
parecido tão foda naquela cena do Skyfall11, que ele assistiu logo antes de
enviar sua inscrição para estudar no exterior com sua escolha de cidade,
ele não estaria aqui. Ele estaria em Sydney, saindo com surfistas e vivendo
sua melhor vida na praia. A Austrália estava ainda mais longe de casa do
que a China. Teria sido perfeito.

Sequência de luta do estúpido Bond.

11
Filme 007.
Blake se levantou para esticar os membros. Ele revirou o
pescoço e encolheu os ombros. Nada melhor do que movimento depois
de horas sentado.

A porta da biblioteca se abriu. Farrah entrou com o que parecia


um bloco de desenho e uma pilha de revistas debaixo do braço.

Agora havia problemas. Farrah era linda e Blake adorava irritá-


la, mas ela estava fora dos limites. Não apenas estava na FEA - o
que significava que ele tinha que vê-la todos os dias se as coisas entre eles
piorassem - mas ela era virgem.

Blake dormiu com uma virgem uma vez, no colégio. Certo, ele
não sabia que Lorna era virgem até depois do fato, e quando ele se
recusou a tornar as coisas exclusivas entre eles, ela pegou uma chave e
passou em seu amado Chevy até que se assemelhasse ao rosto de Freddy
Krueger.

Tempos divertidos.

Então o pai de Lorna descobriu que Blake dormiu com sua filha
preciosa e o rastreou após o treino de futebol com uma espingarda na
mão. Felizmente, o treinador de Blake o viu e chamou a polícia antes que
Blake se pegasse comendo terra quase dois metros abaixo do solo. A
polícia soltou o homem com uma severa advertência, uma vez que ele
tecnicamente não tinha tentado atirar em Blake (ainda), mas Blake ainda
entrou com uma ordem de restrição contra a maldita família inteira da
garota.

Momentos ainda mais divertidos.


Lorna transferiu-se de escola logo depois, e Blake jurou nunca
mais ficar com uma virgem novamente. Isso não significava que ele não
pudesse flertar com Farrah, no entanto. Flertar era inofensivo.

Ele voltou a sentar-se, cruzou as mãos atrás da cabeça e colocou


os pés sobre a mesa com um sorriso despreocupado.

Farrah arqueou uma sobrancelha para sua posição pouco


ortodoxa. Em vez de comentar, ela se sentou à mesa ao lado dele e abriu
uma de suas revistas.

Blake esticou os braços sobre a cabeça de uma forma que exibiu


seu abdômen - um de seus melhores trunfos. Junto com tudo o mais em
seu corpo.

Não é arrogante se for verdade.

Para seu aborrecimento, Farrah não ergueu os olhos. Ela


continuou a ler, serena como um monge.

Blake colocou os pés no chão. Ele caminhou até à mesa dela,


afundou a bunda na cadeira em frente à dela e apoiou o queixo nas mãos.

O relógio marcou. O ar-condicionado zumbia. As páginas


farfalharam quando ela as virou.

Finalmente, Farrah fechou a revista com força. — Posso ajudar?

Blake sorriu. Sucesso!

— Essa é a maneira correta de cumprimentar alguém? — ele


falou lentamente. Os Austinistas não têm sotaques fortes, mas ele podia
exagerar quando queria. — Sua mãe não te ensinou boas maneiras?
— Ela ensinou. Por isso deixei você e sua vaidade em paz. Teria
sido rude interromper.

Blake colocou a mão sobre o peito. — Vaidoso? Eu? Você parte


meu coração.

— Duvido que alguém possa quebrar seu coração. — Farrah


agitou seus cílios. — Se o fizerem, as provas da sua sessão de fotos solo
anterior irão aliviar a dor.

Seu corpo vibrou de tanto rir. — Sabe, sou bem realista quanto
você me conhece.

— Essa é a sua coisa favorita sobre você?

— Favorito, como em um? Não posso escolher apenas um. —


Ele franziu a testa. — Oh. Entendo.

— Uh-huh. Agora que estabelecemos o fato óbvio de sua


vaidade, você pode ficar quieto? Estou tentando trabalhar.

— Eu também estou.

— Você não está trabalhando.

— Eu estava trabalhando até você entrar e me interromper.

— Eu não disse nada quando entrei!

— Você me distraiu com sua presença radiante. Era como uma


deusa descendo do céu. Como posso me concentrar em algo tão mundano
como o vocabulário chinês quando confrontado com uma visão tão
extraordinária?
A boca de Farrah se contraiu uma vez, duas vezes, até que ela
cedeu e se dobrou de tanto rir.

Um sorriso apareceu no rosto de Blake. Havia algo de mágico


em ver alguém tão composto se soltar e saber que era ele quem a fazia rir
daquele jeito.

— Eu não sei o que fazer com você. — Ela enxugou as lágrimas


dos olhos.

— Posso sugerir algumas coisas. — Blake imaginou Farrah


subindo em seu colo e montando nele. Tirando a camisa. Tirando a camisa
dela. Agarrando seu cabelo e gemendo enquanto ele se deliciava com
aqueles seios deleitosos que certamente seriam dela.

Ei, ele era um cara. Ele não se conteve. Exceto que esse cara
agora precisava de um banho frio.

Blake discretamente se ajustou sob a mesa. Ele gostava de ter


um pau. Ele e Junior se davam muito bem. Mas às vezes o amigo lá
embaixo aparecia nos momentos mais inconvenientes.

— De qualquer forma, você está lendo... Vogue? — Blake


semicerrou os olhos para a capa da revista. — Não consigo imaginar que
isso faça parte do programa.

— Em primeiro lugar, esta é a Vogue China, o que significa que


estou praticando minhas habilidades de leitura em chinês. Em segundo
lugar, não é para a FEA. É... — Farrah hesitou. — Esquece.

O radar de intriga de Blake disparou. — Você não pode me


deixar esperando assim. Para que serve isto?
Farrah suspirou. — Todos os anos, a National Interior Design
Association organiza uma competição estudantil. O vencedor ganha
um estágio de verão com todas as despesas pagas na firma membro do
NIDA de sua escolha. É uma das honras de maior prestígio da maioria na
indústria.

— Parece sofisticado. — Blake não sabia nada sobre design, mas


gostaria de saber. Não porque ele quisesse ser designer, mas pela maneira
como os olhos de Farrah se iluminaram quando ela falou sobre isso. Ele
queria saber o que a tornava tão apaixonada pelo assunto. Talvez o
ajudasse a descobrir o que diabos ele queria fazer da vida. — Eu não
entendo a parte da Vogue, no entanto.

— É para se inspirar. — Farrah mexeu nas páginas. — Temos


que enviar um portfólio com diferentes conceitos de design, e estou presa
no que quero fazer com o último.

— Mas é uma revista de moda. — Blake ouvia sua irmã falar


abertamente sobre os itens caros da Vogue desde que eram adolescentes.

— A inspiração do design pode vir de qualquer lugar. Moda,


viagens, comida, natureza. — Um olhar sonhador tomou conta do rosto de
Farrah. — Teve um artigo sobre a casa da atriz Marion Lagarde na
França. Ela desenhou seu quarto de acordo com seu vestido de alta
costura favorito da Chanel. É fabuloso.

Um sorriso apareceu nos lábios de Blake. — Vou acreditar na


sua palavra.

— Então, você vê, é importante para mim ter paz e sossego. Eu


preciso trabalhar em meu portfólio, — Farrah disse incisivamente.
— OK.

— OK.

Farrah reabriu sua revista e eles ficaram em silêncio. Um minuto


depois, o estômago de Blake roncou.

Ela olhou para ele.

— O quê? Não consigo controlar os ruídos que meu estômago


faz. — Blake esqueceu que havia pulado o jantar. Não admira que seu
corpo estivesse se rebelando. Ele pegou seu laptop da outra mesa. — O
que você quer comer?

— Não sou eu que estou com fome.

— Vamos, você precisa de combustível para sua


imaginação. Você disse que a comida pode inspirar o design.

Farrah exalou bruscamente. — Eu não irei terminar nenhum


trabalho esta noite, vou?

As covinhas marcavam suas bochechas. — Tem comida


tailandesa, indiana... que merda, o McDonald's tem entrega 24 horas aqui.

— Não viemos até Xangai para comer McDonald's.

Depois de algumas discussões, eles se decidiram pela


Malásia. Quarenta e cinco minutos depois, o entregador chegou com dois
sacos de comida quente fumegante. Blake o encontrou no andar de baixo
e trouxe a comida para a biblioteca, onde ele e Farrah não perderam
tempo investigando o banquete. Carne rendang para ele, frango hainanês
para ela, mais satay de frango, roti canai e quiabo frito com sambal para
compartilhar. Ah, e arroz com manga para a sobremesa, porque não é
uma refeição completa sem sobremesa.

— Onde estão suas amigas? — Blake levou uma garfada de


carne à boca. Os ricos sabores de capim-limão, gengibre, canela e outras
especiarias que ele não conseguiu nomear explodiram em sua
língua. Droga. Rendang parecia uma merda (literalmente), mas tinha gosto
de céu.

Blake gostava de comidas simples. Tacos, pizza e hambúrgueres


eram suficientes para satisfazê-lo, mas depois de duas semanas na China,
ele estava desenvolvendo um gosto pela cozinha internacional.

Ele riscou da lista os pés de galinha, olhos de peixe e pênis de


iaque, no entanto. Havia algumas partes de animais que os humanos não
deveriam comer. Ponto.

— Fora. — Farrah arrancou um pedaço de roti canai e


mergulhou o pão achatado em molho curry.

— Por que você não está com elas? Achei que vocês quatro
estavam unidas pelos quadris. — Blake não entendia por que as garotas
viajavam em matilhas como lobos, até mesmo para o
banheiro. Principalmente para o banheiro. O que elas faziam lá, davam
uma festa?

— Minha garganta dói, então eu fiquei hoje à noite. Melhor


prevenir do que remediar.

— Se você dissesse algo antes, poderíamos ter pedido um pouco


de sopa de galinha.
Um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Farrah. — Eu estou
bem. Obrigada.

Seus olhares permaneceram um no outro. Os olhos de Farrah


pareciam poças de chocolate derretido. Lindo e delicioso chocolate
derretido.

O coração de Blake deu um salto estranho.

Farrah desviou o olhar. — E você? Por que está enfurnado na


biblioteca em uma noite de sexta-feira?

Ele não se incomodou em mentir. — Dever de casa.

— É isso?

— É isso.

— Eu não imaginei você do tipo estudioso.

Seu tom o irritou. Blake estava acostumado com as pessoas


pensando que ele era um atleta estúpido. Ele geralmente ignorava -
quem era o único com 3,8 GPA12, vadias? - mas a suposição de Farrah
doeu.

— Por que não?

Farrah pareceu surpresa com seu tom frio. — Não sei. Acho que
é porque você é jogador de futebol e os atletas da minha escola não estão
exatamente familiarizados com a biblioteca.

— Não sou atleta da sua escola e não jogo mais futebol.

12
A média de notas (GPA) fornece uma medida numérica do desempenho do ensino médio pela
média de todas as notas finais.GPA médio nacional do ensino médio de 3,0. Como um dos objetivos
de um bom GPA é torná-lo elegível para admissão no maior número possível de faculdades.
— Você tem razão. Eu sinto muito. — Ela mordeu o lábio. — Eu
não deveria ter presumido.

A ira de Blake derreteu com o olhar castigado em seu rosto. —


Está bem. Estou acostumado com isso. — Ele enfiou outra garfada de
carne na boca. Ele mastigou e engoliu antes de acrescentar: — Eu não
estava fazendo muito, de qualquer maneira. Línguas estrangeiras não são
meu forte.

— Com o que você tem problemas? Gramática? Pronúncia?

— Tudo, mas principalmente os caracteres. Eu não consigo


acertar.

Como diabos ele deveria saber uma língua sem alfabeto


romano? Havia milhares de caracteres chineses e todos pareciam iguais.

— Eles são difíceis, — reconheceu Farrah. — Eu mesma tenho


problemas com eles, mas a mnemônica pode ajudar. Aqui, me dê seu
livro. Você já aprendeu radicais?

— Sim. — Dependendo de como você define ‘aprender’. As


aulas começaram tão cedo que Blake achou difícil ficar acordado.

— Se você os memorizar, eles podem ser muito úteis. Veja


o kou, por exemplo. Você vê como isso se parece com uma boca? Faz
parte da maioria dos personagens cujos significados têm a ver com a boca,
como jiao, chamar, ou chi, comer. — Farrah escreveu as palavras. Ela
passou por alguns outros exemplos antes de passar para o próximo
radical.
Blake a seguiu, tentando ao máximo não olhar
para a boca dela. Os lábios de Farrah pareciam feitos para...

Não vá lá, amigo. Ela é virgem. Ela provavelmente nunca deu um


boquete antes.

Ele voltou a se concentrar na lição em questão. Para sua


surpresa, os caracteres fizeram mais sentido. Não muito, mas mais. Foi um
começo.

De vez em quando, Blake quebrava a monotonia com histórias


aleatórias de sua infância e perguntas sobre a vida de Farrah em casa. Ele
contou a ela sobre a vez em que colocou uma máscara de urso e assustou
Joy durante um acampamento da família em Big Bend, e como Joy o
enganou com papéis de adoção falsos como retaliação. Isso foi
confuso. Até hoje, uma pequena parte de Blake se perguntava se ele foi
adotado.

Farrah contou a ele sobre ‘pegar emprestado’ os batons de sua


mãe e usá-los como giz de cera nas paredes recém-pintadas de sua
família.

Blake sorriu com a imagem mental. Um criativo iniciante aos seis


anos. Farrah realmente tinha sua vida planejada.

Quando terminaram o primeiro capítulo, era quase uma da


manhã. A comida tinha acabado há muito e os olhos de Blake estavam
turvos de tanto olhar para o texto.
— Devíamos encerrar a noite, — disse ele. Seu cérebro queria
que ele ficasse, mas seu corpo clamava por sono. — Obrigado por me
ajudar com isso. — Ele apontou para suas anotações.

— Sem problemas. Considere isso como uma desculpa por


pensar que você é, você sabe.

— Um atleta burro?

Farrah corou. — Bem, sim. Você é diferente do que eu


imaginava.

— Eu sou incrível, — Blake concordou. Ele colocou os recipientes


de comida vazios em um saco.

— Eu não disse isso.

— Você estava pensando nisso.

Ela o ajudou a juntar utensílios e guardanapos usados. — Agora,


a parte da arrogância, eu acertei.

— Eu sou abençoado com uma abundância de confiança. Além


disso, sei que você me acha incrível.

— Oh sério? Como?

Blake apontou para o relógio. — Você passou a noite inteira


comigo.

A boca de Farrah abriu e fechou como a de um peixinho


dourado.
Depois que Blake parou de rir e se esquivou de um tapa de
Farrah com o rosto vermelho, eles descartaram o lixo e recolheram seus
pertences. Ele apagou as luzes da biblioteca e seguiu Farrah até à escada.

Ele parou no patamar do terceiro andar do lado de fora do salão


feminino. À distância, a porta de um carro bateu e risadas filtraram-se
pela janela da escada.

— Boa noite. — O olhar de Farrah ergueu-se para ele. O luar


refletido em seus olhos, e o coração de Blake fez aquela coisa estranha
pulando novamente.

— Boa noite.

Ela estava tão perto. Se ele avançasse alguns centímetros...

Não. Nuh-uh. Nem pense nisso, amigo. Um beijo não vale a pena
estragar o seu ano. Mesmo que fosse um beijo e tanto.

Blake pigarreou e deu um passo para trás, quebrando o


feitiço. — Vejo você mais tarde.

— Sim. — Farrah também recuou, aumentando a distância entre


eles. — Até logo.
— Isso é o inferno. — Kris pesquisou o lugar mais feliz do mundo
da mesma forma que Anna Wintour pesquisaria uma roupa do
Walmart. Em seus jeans de 500 dólares e blusa Chanel, ela não poderia ter
parecido mais deslocada entre as hordas de crianças gritando e pais
esgotados.

Perto dali um garotinho segurava uma casquinha de sorvete


com uma das mãos e cutucava o nariz com a outra, enquanto seus pais
tentavam acalmar a irmã, que chorava tanto que seu rosto ficou
vermelho.

Kris estremeceu e colocou seus óculos de sol como se eles


pudessem protegê-la da realidade.

— Anime-se, Kris. Estamos na Disneylândia! — Courtney


cantou. — O lugar mais mágico do mundo.

— Mágico, minha bunda. A única coisa mágica sobre este lugar


é quantas roupas terríveis eles amontoaram em um parque. É como uma
convenção ao ar livre para os malvestidos.

Farrah virou a cabeça para que Kris não pudesse ver sua
risada. Kris era uma de suas amigas mais próximas na FEA, mas às vezes
vivia em seu pequeno mundo.
O olhar de Farrah pousou em Blake, que conversava com Luke e
Sammy ao lado. Blake era amigo de Luke, que era amigo de Courtney, o
que significava que Blake era um membro de fato do grupo.

Farrah ainda estava tentando decifrá-lo. Às vezes, ela


vislumbrava algo mais profundo sob sua persona playboy arrogante -
uma vulnerabilidade que cintilava em seu rosto quando ele pensava que
ninguém estava olhando. Então, com um piscar de olhos e um sorriso, ele
se foi.

O olhar de Blake encontrou o dela. — O que é tão engraçado?

— Nada. — O sorriso residual de Farrah desapareceu quando


Blake se aproximou e colocou um braço sobre seus ombros. O gesto fez
seu coração palpitar de uma forma que ela não gostou. Em absoluto.

— O que você está fazendo?

— Mantendo-a aquecida. Você parece fria.

— Estão vinte e três graus. — Farrah tirou o braço de Blake de


seu ombro. Para sua surpresa, arrepios percorreram sua pele. Depois do
abraço de Blake, o parque parecia uma tundra.

Maldito seja.

Ela ignorou a risada de Blake e se aproximou de Olivia.

— Eu mapeei a rota mais eficiente para nós. — Olivia abriu um


mapa do parque. — Começaremos na seção mais distante e voltaremos
no sentido horário até à entrada. Primeiro, iremos para Fantasyland,
depois Treasure Cove e Adventure Isle. Atravessaremos os Jardins da
Imaginação e chegaremos à Pixar Toy Story Land e Tomorrowland do
outro lado.

Luke fez uma careta. — Você me assusta.

— Eu acho que é bom ter alguém organizado para planejar as


coisas para nós, — disse Sammy.

Ele e Olivia se olharam. Olivia corou e se ocupou redobrando o


mapa.

Farrah e Courtney se cutucaram ao mesmo tempo. Olivia podia


negar tudo o que quisesse, mas a atração entre ela e Sammy era mútua e
todos sabiam disso. Já apostavam quando os dois se encontrariam.

Farrah deu a eles mais uma semana, no máximo.

Enquanto o grupo lutava para abrir caminho através da multidão


em direção a Fantasyland, Nardo parecia quase tão descontente quanto
Kris. — Nós poderíamos ter ido a um lugar mais autêntico para
o Festival da Lua13, — ele resmungou. — Este lugar é tão ocidentalizado.

— É a Disney. Ela é ocidental. E de acordo com a Internet, é um


dos melhores locais para celebrar o festival. — Courtney nivelou Nardo
com um olhar severo. — Essa será a última reclamação de hoje. Se alguém
quiser ser uma Debbie Downer, faça no seu próprio tempo.

— A Internet é uma idiotice, — murmurou Nardo.

Courtney estreitou os olhos. — O que é que foi isso?

13
O Festival da Lua é também conhecido como Festival de Meio do Outono. Na Malásia e em
Singapura, é algumas vezes conhecido como Festival da Lanterna, parecido em nome com um festival
diferente que cai no décimo quinto dia do Ano-novo Budista. É uma celebração popular na Ásia para
celebrar a abundância e a união.
— Nada.

Olivia pode ter mapeado a melhor rota, mas, infelizmente, sua


eficiência não se estendeu às filas, que serpenteavam na frente de cada
passeio e banheiro como intermináveis raios de miséria.

Na hora do almoço, os pés de Farrah estavam dormentes de


tanto ficar de pé.

— Graças a Deus, — disse ela quando eles entraram no


restaurante que Olivia tinha escolhido para o almoço. Parecia o cenário de
um daqueles dramas palacianos chineses que a mãe de Farrah adorava
assistir. Cada sala de jantar apresentava um tema diferente. Aquele em
que eles acabaram tinha peixes brilhantes suspensos no teto ao lado de
lanternas de papel vermelhas tradicionais. Farrah não conseguia descobrir
o tema. Sob o Mar da China Oriental? Pequena Sereia Chinesa? Os peixes
eram um pouco bregas, mas olha, isso era Disney. Eles poderiam fazer o
que diabos eles quisessem.

Por ser um restaurante de serviço rápido, Farrah se ofereceu


para cuidar das bolsas enquanto suas amigas pediam no balcão. Isso deu a
ela mais tempo para se sentar.

Para desgosto de Farrah, Blake também ficou para trás.

— Ora ora. Você e eu, sozinhos de novo. — As covinhas


marcavam suas bochechas. — Quais são as hipóteses?

— Nós literalmente viemos aqui juntos, Blake.

Ele fez beicinho. — Sua indiferença aos meus encantos está


começando a machucar meu ego. Vamos, jogue um osso para um cara.
Os lábios de Farrah se contraíram. — Seu ego precisa de alguns
hematomas, e seus encantos não têm efeito sobre mim. Desculpa.

Isso não era totalmente verdade, mas ele não precisava saber
disso. — Por quê? Você tem um namorado?

— Não.

— Você está apaixonada por outra pessoa? — Farrah hesitou.

Os olhos de Blake se arregalaram. — Você está.

— Não estou!

— Quem é? Eu não contarei.

Ela não sabia o que era. O calor? A fome? A exaustão? Fosse o


que fosse, fez com que Farrah perdesse o controle usual sobre suas
reações. Seus olhos se voltaram para Leo, que estava pagando por sua
comida enquanto o resto do grupo refletia sobre suas escolhas.

Farrah se conteve e desviou o olhar. Tarde demais.

O queixo de Blake caiu. — Puta merda. Você está apaixonada


por Leo.

— Eu não estou apaixonada por ele. — Farrah lutou para manter


sua expressão neutra, mesmo enquanto o pânico corria por ela.

— Está.

— Eu não estou.

— Está.

— Eu... oh, esqueça isso, — ela fumegou. — Você é


insuportável.
Farrah tinha pensado que ele poderia não ser tão mau depois da
conversa na biblioteca na semana passada. Claramente, isso foi um erro
causado por grandes quantidades de comida deliciosa e uma pitada de
exaustão tarde da noite.

Blake Ryan era o pior.

— Eu vi o jeito que você olhou para ele agora há pouco. Ao


contrário do que algumas pessoas pensam… — A maneira como ele disse
'algumas' indica que ele estava falando sobre Farrah. —
…Eu não sou estúpido. Você quer transar com ele.

Ela olhou para ele. — Você tem que ser tão rude?

— Diga que estou errado.

— Eu não estou falando sobre isso com você.

— Você já está. — As covinhas de Blake brilharam


novamente. — Eu posso te dar dicas da perspectiva de um cara. As
pessoas pagariam por meu conselho. É tão bom.

— Não, obrigada. Leo está comprometido, lembra? Ele está com


alguém chamado, oh, Courtney?

— Ah, isso é uma complicação.

— Não é uma complicação, é um obstáculo.

— Então você está apaixonada por ele.

Farrah percebeu tarde demais que Blake a estava atraindo para


uma armadilha. A presunção em seu rosto indicava que ele sabia que ela
sabia o que ele estava fazendo.
— Tudo bem, — disse ela. — Posso ter uma pequena queda por
ele, mas não estou apaixonada por ele. E nunca farei nada a respeito.

— Código de menina. Eu respeito isso. — Blake acenou com a


cabeça.

Farrah pensou que era o fim de tudo até que Blake se


aproximou, seus olhos girando com curiosidade e outra coisa que ela não
conseguia identificar. — Então, qual é o atrativo? É a fachada de cara
sensível e simpático?

— Não é uma fachada. Eu sei que é difícil para você entender,


mas existem caras legais e sensíveis.

— Eles são um em um bilhão. A maioria dos caras usa todo o


esquema de sensibilidade para entrar nas calças de uma garota. Confie em
mim. Sou um cara e sei como funciona a espécie masculina.

— Oh, pelo amor de Deus.

— Exatamente!

— Essa conversa acabou. — Farrah procurou em seu telefone,


não porque ela estivesse procurando por algo, mas porque ela não queria
mais falar sobre Leo.

Blake estava errado. Ele pode ser um jogador, mas nem todo
cara no mundo era como ele.

— Não importa. Como você disse, ele está com Courtney, então
acho que você está condenada a desejar alguém que não pode ter, a
menos que...

Não olhe para cima. Não olhe para cima.


Farrah ergueu os olhos.

Droga. Ela precisava de melhor autocontrole. — A menos que o


quê?

Blake se recostou e entrelaçou os dedos atrás da cabeça. —


Você fique com outra pessoa.

Ele não foi a primeira pessoa a sugerir essa solução. Olivia vinha
tentando fazer com que Farrah ficasse com outro cara da FEA por
semanas, mas quando Farrah tinha uma queda, ela tinha visão de
túnel. Na maioria das vezes, de qualquer maneira.

Ela optou por não pensar sobre a forma como seu estômago
revirava cada vez que Blake sorria - um sorriso verdadeiro, não o sorriso
que ele estava dando a ela agora.

— Não me diga que você está se oferecendo para o cargo.

Ele pareceu ofendido. — Não estou, mas não há necessidade de


soar tão enojada. Eu tenho sentimentos.

Farrah arqueou uma sobrancelha cética.

Blake manteve o fingimento por cerca de dez segundos mais


antes de abrir um largo sorriso.

Lá estava ele de novo - aquela estúpida agitação no


estômago. Ela deveria verificar isso.

— Brincadeira. Eu não tenho sentimentos.

Farrah não pôde deixar de rir. O sorriso de Blake se alargou.


Ele era tão arrogante que ela não o achava capaz de
autodepreciação, mas era bom ver que ele não se levava muito a sério.

O grupo voltou com a comida. Farrah disse a Olivia para fazer


pedidos para ela, e sua fé em sua amiga estava bem colocada. O arroz com
barriga de porco de Xangai era fantástico. Eles também compraram vários
pratos para compartilhar, incluindo rolinhos primavera de carne de
caranguejo, shao mai (bolinhos chineses), espetos de frango teriyaki e um
quarto de pato assado. Sobremesa composta por uma variedade de bolos
lunares, em uma homenagem ao Festival da Lua.

O festival era uma época de adoração à lua (nos velhos tempos)


e reuniões familiares (nos dias modernos), mas honestamente, era tudo
sobre os mooncakes.

Farrah saboreou o sabor de seu bolo lunar de chá verde


com tema da Disney. Yum.

Para alívio de Farrah, Blake não tocou no assunto Leo pelo resto
do dia, provavelmente porque Olivia e Courtney os fizeram correr como
loucos para que pudessem ver tudo antes que o parque fechasse.

Apesar de sua exaustão, Farrah teve uma explosão. Já fazia


muito tempo desde que ela visitou a Disneylândia. Ela era uma criança
novamente envolvida pela magia, especialmente à noite, quando o parque
se iluminava como um mar de estrelas caídas.

Até Kris gostou da experiência. Quando eles partiram, ela gastou


centenas de dólares em lembranças caras. Farrah não sabia por que Kris
comprava tantas coisas. Não era como se ela fosse pega morta usando
brincos da Minnie Mouse.
Tanto faz. Farrah estava cansada demais para ler muito sobre
isso.

Ela desabou em seu assento no metrô. Eles tinham um longo


caminho a percorrer antes de chegarem ao SFSU, mas Farrah não se
importou. Isso deu a seus pés mais tempo para se recuperar.

— Hoje foi um bom dia. — Olivia bocejou e apoiou a cabeça no


ombro de Farrah. Do outro lado de Farrah, Courtney e Kris já estavam
dormindo.

Farrah olhou para o outro lado do corredor onde os caras


estavam assistindo a um vídeo no telefone de Sammy. Blake estava rindo
tanto que tinha lágrimas em seus olhos. Foi o sorriso mais genuíno que ela
já vira nele.

— Sim. — Farrah esfregou o braço de Olivia. — Hoje foi um bom


dia.
Blake rolou para fora da cama às oito. Ele não conseguia se
lembrar da última vez em que acordou tão tarde, mas a Disneylândia o
sugou. Ele se esqueceu de como os parques de diversões eram cansativos.

Felizmente, ele não demorou muito para ficar pronto e ele


estava fora por volta das 8:15.

O estômago de Blake roncou com antecipação. O barulho do


vendedor de rua atrás do campus era o ponto alto de suas manhãs. Ele
passou pela barraca várias vezes nas primeiras duas semanas aqui,
tentado pelo cheiro, mas cauteloso em comprar comida de rua, antes de
ceder. Essa foi a decisão certa. Aqueles saborosos crepes fritos
crocantes foram algumas das melhores coisas que ele já provou.

Blake estava tão ocupado fantasiando sobre o jianbing que não


notou a garota andando na frente dele até que eles estivessem no pátio.

Cabelo comprido e escuro. Figura esguia e curvilínea. Postura da


qual Emily Post se orgulharia.

Bem, ele será condenado. — Farrah!

Farrah parou. Quando ela se virou, ela estava com uma


expressão exasperada no rosto. — Oi.

— Você acordou cedo.


— Eu poderia dizer o mesmo para você.

— Eu geralmente acordo mais cedo, mas tivemos uma longa


noite. — Blake sorriu, lembrando-se de como Farrah ficava adorável
quando estava com sono.

Espere. Adorável? De onde diabos veio isso?

Garotas da idade dele não eram adoráveis. Elas eram bonitas


(parentes) ou sexy (não parentes). Adorável não fazia parte da equação.

Não que Farrah não fosse bonita ou sexy, mas...

Cara. Pare enquanto você está à frente.

Blake pigarreou. A fome deve estar afetando-o. — Então, para


onde você está indo?

Farrah usava um vestido laranja que era bonito demais para


uma corrida rápida no café da manhã. Ela segurava um chá com leite em
uma das mãos e um caderno de desenho debaixo do outro braço.

— Vou explorar um pouco.

— Sem suas garotas?

— Elas estão dormindo. Bem, Olivia não está, mas ela está
trabalhando em inscrições de estágio. — Farrah fez uma pausa. Bebeu um
gole de sua bebida. Então, — Você quer se juntar a mim?

Blake quase caiu com o convite. Ele não tinha certeza se Farrah
gostava dele, e agora ela o estava convidando para sair com ela.

Ele não deveria. Ele estava com muita fome e tinha um encontro
com a academia. Ele odiava ir para lá depois das 10 da manhã, quando
ficava lotado de caras que estavam mais interessados em selfies de
academia do que em malhar. Além disso, Blake não gostou da maneira
como seu corpo reagiu ao redor de Farrah. Era diferente da atração sexual
típica - embora certamente existisse - e o assustou.

— Você não precisa, — disse Farrah. — Se tiver outros planos...

— Eu adoraria. — Espero não me arrepender disso. — Contanto


que façamos um desvio rápido para o café da manhã.

— Já está fazendo exigências, — ela brincou. — Por que não


estou surpresa?

Blake abriu o caminho para o portão dos fundos. Ele havia


trilhado esse caminho tantas vezes que conseguia fazer isso de olhos
fechados.

— O café da manhã é um pedido razoável. Mais razoável do que


chá com bolinhas às 8h30 da manhã.

Farrah apertou sua bebida contra o peito enquanto eles se


aproximavam da barraca jianbing. — Não julgue. Isso não tem boba,
então tecnicamente não é chá com bolinhas. Mesmo se for, o chá com
bolinhas é apropriado em todas as horas do dia.

— Tudo bem. Mas também estamos recebendo um café da


manhã adequado. — Blake se virou para o vendedor, cujos olhos
brilharam com o reconhecimento. — Liang ge jidan, wei la. — Dois ovos,
levemente picantes. Não há necessidade de especificar
a parte jianbing em seu pedido - isso era um fato.
Ele ainda não era fluente em chinês, mas era fluente na língua
que conta: comida.

Blake pagou ao vendedor e entregou a Farrah um


dos jianbings. — Isto irá mudar sua vida.

Ela revirou os olhos. — Eu sou chinesa. Eu comi Jian - oh meu


Deus.

— Eu te disse. — Eles caminharam até ao metrô. — É bom ou é


bom?

— É incrível. — Farrah deu outra mordida e gemeu de


felicidade. O corpo de Blake reagiu visceralmente ao som.

Eu preciso transar.

A última vez que ele fez sexo foi... Puta merda, em julho, logo
antes de terminar com Cleo. Dois meses inteiros. Foi seu período de seca
mais longo desde que ele perdeu a virgindade com a garota mais popular
da classe quando tinha quinze anos.

Shauna Smith. Ela tinha sido alguma coisa. E ela ganhou seu
título de líder de torcida em mais de uma maneira.

— Não acredito que nunca comi isso antes. — Farrah jogou sua
embalagem vazia e o recipiente de chá com leite no lixo. — Eu geralmente
vou para o Cinnamon no café da manhã. Kris insiste.

— Isso é melhor do que comida de café e mais barato também.


— Blake bateu seu cartão metro no leitor. — Não diga que nunca comprei
nada para você.
Sua risada prateada enviou outra onda de consciência
ondulando por seu corpo.

Correção: EU REALMENTE preciso transar.

— Então, para onde estamos indo?

— Você já ouviu falar do M50?

— Um pouco. — Blake nunca tinha ouvido falar de M50 em sua


vida.

— É o distrito de arte contemporânea de Xangai. Há uma


tonelada de galerias - e inspiração de design. — Farrah acenou com seu
caderno de desenho no ar.

— Para a competição.

Ela pareceu surpresa. — Você lembra.

— É claro. — Blake não conseguia esquecer a maneira como os


olhos de Farrah se iluminaram quando ela falou sobre a competição. Ela
estava estudando design de interiores porque adorava, não porque todos
diziam que ela deveria. Sua paixão era revigorante... e deprimente. Blake
nunca se sentiu assim com relação ao futebol ou qualquer outra coisa em
sua vida, na verdade.

Ele sabia o que não queria fazer. Agora ele tinha que descobrir o
que ele queria fazer.

Depois de dez minutos no M50, Blake riscou ‘artista’ de sua lista


de carreiras em potencial. Como bairro, o M50 era legal. Apresentava
antigos armazéns e edifícios de fábricas transformados em galerias de
todo tipo de arte que Blake pudesse imaginar, e algumas que ele não
conseguia.

Havia instalações de luz de néon e LED de multimídia confusas e


uma exibição aterrorizante de esculturas de aranhas monstruosas. Havia
também um jardim esquisito onde tudo - árvores, grama, flores - era feito
de lã tricotada.

Blake apreciou a criatividade, mas... ele não entendeu. Ele


entendia pinturas. Isso era arte. Arte chata, mas arte. Ele não entendia o
sentido de tricotar uma árvore (sério, que porra é essa?) Ou porque
alguém pagaria milhares de dólares por um pedaço de metal torcido.

Os ricos precisavam encontrar maneiras melhores de gastar seu


dinheiro. Farrah, por outro lado, estava tão ocupada examinando as
exposições e rabiscar notas que ela parou de falar com ele quando eles
começaram a pular pelas galerias. Ele não se importou; assistir seu
trabalho era muito mais interessante do que qualquer uma das exposições
em exibição.

Logo, Blake poderia identificar todas as suas microexpressões. A


maneira como sua testa franzia quando ela estava pensando muito; a
maneira como ela inclinava a cabeça um centímetro para a esquerda
quando estava confusa; a forma como suas sobrancelhas se arquearam e
sua boca se abriu de empolgação quando ela se deparou com uma
revelação. Ele sabia que era uma revelação porque ela abria aquele bloco
dela e rabiscava como uma louca.
Talvez ele devesse ser um antropólogo, embora Blake
suspeitasse que seu interesse em estudar as pessoas se limitava a
Farrah. Ele nunca tinha estado tão absorto por ninguém antes.

Quando eles encerraram sua excursão autoguiada, eram quase


três horas. O estômago de Blake roncou de raiva - eles dispararam pelas
galerias sem parar para comer.

Blake e Farrah escolheram o primeiro café que encontraram. O


arejado espaço industrial também funcionava como galeria e estúdio, e os
clientes vagavam pelo loft, admirando as exposições de arte com seus
cafés nas mãos.

Apesar da multidão movimentada, eles conseguiram uma mesa


na área de estar tipo loft no andar de cima. Sua ‘refeição’ consistia em
café, paninis, brownies e cheesecake.

Saudável? Não. Delicioso? Isso aí.

— Obrigada por vir comigo hoje. — Farrah deu um gole em sua


bebida. — Desculpe se eu te ignorei. Quando entro na zona, desligo todo
o resto.

— Tudo bem. — Blake não estava acostumado a ser ignorado,


mas era bom ser capaz de fazer suas próprias coisas sem outras pessoas
respirando em seu pescoço. Na TSU, ele não fazia merda nenhuma sem
que outros falassem sobre isso.

Essa era a grande vantagem da FEA. As pessoas o deixavam


sozinho. Ele recebeu muitos olhares e perguntas nas primeiras semanas -
por que ele deixou o futebol? Ele iria jogar de novo? Por que estava
em Xangai? - mas logo, todos estavam muito envolvidos em suas próprias
vidas para prestar muita atenção nele. As perguntas foram diminuindo
gradualmente e Blake se sentiu como um aluno normal pela primeira vez
em muito tempo.

— Você gostou da arte?

— Ummhmm. — Blake devorou metade de seu panini para


evitar responder à pergunta dela.

— Desculpe, eu não falo, homem das cavernas. — Os olhos de


Farrah brilharam com diversão.

Blake engoliu a comida e tentou pensar em algo bom para


dizer. — Isso foi legal. O jardim de lã era, uh, interessante.

Farrah caiu na gargalhada e a pele de Blake formigou de


prazer. — Você odiou. Você estava adormecendo na exibição de fios.

Então ela percebeu. Um sorriso apareceu nos lábios de Blake. —


Você não pode me culpar. Era como estar dentro de um cobertor gigante.

Outra risada, outro formigamento de prazer.

Farrah se inclinou para a frente. — Posso te contar um


segredo? Também achei estranho.

Blake apertou o peito. — É possível? Nós... temos algo em


comum?

— Acho que sim. — Os olhos de Farrah piscaram com algo que


ele não ousou nomear, e seu coração bateu contra a caixa torácica em
resposta.
O barulho e as pessoas ao redor diminuíram. Tudo em que Blake
conseguia se concentrar era na garota sentada em frente a ele -
seus olhos, seu cheiro, seus lábios. Ela cheirava a flores de laranjeira e
baunilha, e ela estava tão perto. Se ele se inclinasse apenas alguns
centímetros, suas bocas se tocariam.

Sua garganta secou com o pensamento. Foi uma má ideia. Ela


era virgem. Ela estava na FEA. Mas, droga, ele queria saber qual era o
gosto de Farrah e se seus lábios eram tão suaves quanto pareciam.

A labareda de consciência em seus olhos disse a ele que a


atração não era unilateral. Seus lábios se separaram. Seu pulso bateu em
dobro. Ele deveria...

Então ela piscou e o momento se foi. Eles se recostaram.

— Devíamos ir...

— Está ficando tarde...

Blake e Farrah riram, sua estranheza se misturando para


encobrir algo que nenhum dos dois queria reconhecer.

— Devemos voltar, — disse Farrah. — Eu preciso trabalhar no


meu portfólio. Tive algumas boas ideias hoje.

— Sim, e eu, uh, preciso ir para a academia. — Blake


estremeceu no instante em que as palavras saíram de sua boca. Elas não
ajudaram na imagem de ‘cabeça oca’ que a maioria das pessoas tinha
dele. Ele vivia pela filosofia — os preconceitos de outras pessoas não são
problema meu, — mas se importava com o que Farrah pensava dele.

Ele não ousou se perguntar por quê.


Felizmente, Farrah não disse nada. Eles deixaram o café e
seguiram pelo labirinto de galerias até à rua principal, onde ela levou
menos de dois minutos para chamar um táxi.

— Às vezes não consigo acreditar que estou aqui. — Farrah


olhou pela janela enquanto edifício após edifício passava zunindo. — Já vi
tantas fotos de Xangai que, quando as vejo pessoalmente, sinto que estou
no meio de um cartão-postal e não estou realmente aqui. — Ela balançou
a cabeça. — Desculpe, isso não faz sentido.

— Não, eu sei o que você quer dizer. — Blake olhou para o


horizonte. A selva de arranha-céus de cromo e vidro parecia uma cena de
filme de ficção científica.

Ele, Blake Ryan, estava em Xangai. Ele esteve tão ocupado com
as aulas e se acomodando que não o atingiu até este momento.

Ele se levantou e deixou o Texas para passar um ano em um país


onde não conhecia o idioma, não conhecia os costumes e não conhecia
ninguém quando chegou. Até agora, ele nunca tinha estado mais a Leste
do que Nova York.

Blake não tinha certeza de como se sentia sobre isso ainda. Ele
gostava da liberdade de estar longe de casa, mas a China precisou de
alguns ajustes. Ele não era fã dos banheiros atarracados, da poluição ou
de como o Mandarim era difícil pra caralho. Ele tinha que se comunicar
com gestos manuais noventa por cento do tempo fora da FEA, a menos
que houvesse alguém para traduzir para ele.

Claro, havia prós ao lado dos contras. A arquitetura, os preços


baratos, (algumas das) comidas de rua. Xangai permaneceu estranha para
ele, mas também fez Blake se sentir conectado a algo maior do que ele e o
mundo que ele sempre conheceu. E às vezes, quando olhava pela janela
para as torres altas do horizonte de Xangai, pensava que poderia amá-lo o
suficiente para nunca mais voltar.

— Eu nunca estive apaixonada. — A falação de Farrah tirou


Blake de seus pensamentos. Ela tinha uma expressão distante, como se
estivesse sonhando com algo que ela sabia que aconteceria, mas ainda
não aconteceu. — Acho que posso me apaixonar aqui.

Seu tom melancólico fez seu coração doer da maneira mais


estranha. — Você já não está apaixonada?

O maxilar de Blake contraiu quando ele se lembrou de como


Farrah olhou para Leo ontem. Ele não tinha motivos para ficar com
ciúmes, mas o monstro de olhos verdes empinou a cabeça nos momentos
mais estranhos.

— Leo é um crush. Eu quero um amor grande, louco e


estúpido. O tipo que é digno de Hollywood. — Farrah suspirou. — Eu só
quero saber como é isso.

Blake recuou e afundou ainda mais em seu assento. — Esse é o


golpe.

— Como é?

— Não existe romance assim na vida real. Livros e filmes


estimulam a ideia de um grande amor e O Único para ganhar dinheiro.

A atmosfera pacífica na cabine foi destruída. O queixo de Farrah


caiu. — Uau. Isso é tão cínico.
— Eu não sou cínico. Eu estou dizendo a verdade. — Blake não
era anti-amor, mas era superestimado. Olhe para ele e Cleo. Amigos de
infância viraram amantes, com muitos solavancos e obstáculos pelo
caminho. A história deles foi feito para o cinema e veja como
acabou. Todos diziam que deveriam ficar juntos e ele a amava, mas não a
amava como Hollywood dizia que deveria.

O romance de Hollywood era uma porcaria.

Farrah cruzou os braços sobre o peito. — Acho que você nunca


se apaixonou.

— Eu já. — O que ele e Cleo tinham era amor, certo? — Não é


tudo o que parece ser.

Ela virou a cabeça e olhou pela janela novamente. — Eu sinto


muito. Isso é muito triste. — Pela primeira vez, seu tom era desprovido de
sarcasmo.

Blake seguiu seu exemplo e olhou pela janela mais próxima a


ele. A vista não era tão boa deste lado. Eram todos prédios de
apartamentos antigos, concreto e poluição.

— Vou sobreviver.
— Tenha um voo seguro amanhã. — A voz da mãe de Farrah
estalou na linha. — Mande uma mensagem quando pousar.

— Eu vou. — Farrah enfiou outro biquíni na fenda de sua valiosa


mala. Seis maiôs por uma semana devem ser suficientes, certo? — Você
quer algo especial da Tailândia?

— Não. Estou tentando o minimalismo, — decidiu Cheryl


Lau. Ela manteve o nome de solteira mesmo depois de se casar com o pai
de Farrah, o que acabou sendo uma escolha fortuita, considerando como
o relacionamento acabou. — Estou fazendo uma grande limpeza de
primavera neste fim de semana.

— Mãe, é outubro.

— Você sabe o que eu quero dizer. — Farrah praticamente


podia ouvir sua mãe acenando com a mão no ar com desdém. — De
qualquer forma, eu tenho que ir. Vou dançar dança de salão hoje à noite
no Blue Coast.

— OK. Divirta-se. Falo com você mais tarde.

— Falo com você mais tarde. Lembre-se, me mande uma


mensagem!
Farrah desligou e jogou o telefone na cama, onde caiu com um
baque ao lado de Olivia.

— Você e sua mãe são tão fofas. — Olivia parecia com inveja. —
Tudo o que minha mãe sempre me pergunta é quais são minhas notas e se
eu já tive uma resposta do meu estágio.

Farrah inclinou a cabeça. — Quando é que você terá resposta


sobre o seu estágio?

— Quatro a seis semanas. — Olivia balançou o pé. — Eles


revisam os aplicativos em uma base contínua.

— Você vai conseguir. — Farrah enfiou um último biquíni -


só por segurança - e baixou a tampa. — Ajuda?

Olivia pulou da cama de Farrah e sentou-se na mala enquanto


Farrah lutava para fechá-la.

— É um dos estágios de maior prestígio em finanças, — disse


Olivia. — CB Lippmann aceita dez estagiários todo verão. Dez! Você sabe
quantas pessoas se candidatam? Dez mil. Isso é uma taxa de aceitação de
0,001%.

— Duvido que dez mil pessoas se inscrevam todos os anos. —


Farrah puxou o zíper, rezando para não quebrar. O suor brotou em sua
testa. Esqueça a academia. Fazer as malas era um treino inteiro por si só.

— Tudo bem, isso pode ser um exagero, mas há pelo menos mil
candidatos. Essa ainda é uma taxa de aceitação infinitesimal.

— Você é a pessoa mais inteligente e trabalhadora que


conheço. Se você não conseguir, o jogo está viciado.
— Querida, isso é Wall Street. Claro que o jogo está fraudado.

O zíper cedeu sem aviso. A força inesperada bateu em Farrah de


bunda. — Merda!

Olivia caiu na gargalhada. Ela se levantou e agarrou a mão de


Farrah, puxando-a do chão.

— Eu estava esperando que isso acontecesse.

— Muito obrigada. — Farrah empurrou sua bagagem de


mão para uma posição de pé. Oof. — Provavelmente está acima do limite
de peso.

Olivia cutucou o estojo com o pé. Ele não se mexeu. — Está


definitivamente acima do limite de peso.

— Espero que a companhia aérea não verifique. — Era um risco,


mas Farrah com certeza não ia reembalar. Era quase meia-noite e o voo
partia às oito da manhã seguinte.

— Falando em estágios de verão, como está o seu portfólio? É


para janeiro, certo?

Olivia recuperou seu assento na cama de Farrah. Farrah


substituiu o edredom branco irregular por um bonito rosa que ela
encontrou no mercado local. Adicionou almofadas de veludo rosa, branco
e cinza, um esboço emoldurado na parede e duas pequenas suculentas na
mesa de cabeceira, e o lugar parecia muito mais convidativo.

Sua colega de quarto, Janice, manteve a roupa de cama original


e não decorou nada. Olhar para os dois lados do quarto era como olhando
uma foto antes e depois.
Farrah ansiava por fazer algo a respeito das paredes nuas de
Janice, mas a) Janice nunca estava lá para ela trazer isso à tona e b) ela
não queria ultrapassar seus limites.

Ela terá que se contentar com metade de um quarto decorado.

— Sim. Estou progredindo. — Farrah estava perto de concluir


seu segundo projeto, um restaurante inspirado nas linhas rígidas e
contemporâneas e nos salpicos de cores vivas que vira no M50. Ela vai
precisar ajustá-lo, mas pelo menos ela sabia o que estava
fazendo. Ela não tinha ideia do que fazer com o terceiro projeto.

— Deve ser toda a galeria que andou na semana passada, —


Olivia brincou. — O tempo sozinha é bom para a alma.

Farrah tossiu. — Certo. Tempo sozinha.

Ela não tinha contado a seus amigos sobre sua excursão com
Blake. Não era como se eles tivessem um encontro. Não valia a pena
mencionar.

Seu desconforto não passou despercebido.

Olivia estreitou os olhos. — O que você está escondendo?

— Nada. — Farrah pegou o caderno de desenho da mesa. — Ei,


quer dar uma olhada nos meus designs e me dizer o que você acha?

— Sim, depois de me contar o que está escondendo. Oh meu


Deus, você conheceu alguém no fim de semana passado? — Olivia agarrou
o braço de Farrah com os olhos arregalados de excitação. — Você está
tendo um caso secreto?
— Não seja ridícula. Estou com vocês o tempo todo. A logística
não funcionaria.

— Você não estava conosco no domingo.

Farrah suspirou. Assim que Olivia teve uma ideia na cabeça, ela
parecia um pit bull com um osso. — Ok. Se você quer saber, encontrei
Blake no meu caminho para fora e, no calor do momento -
o que significa que não foi planejado — Eu pedi a ele para se juntar a
mim. Fomos a algumas galerias e voltamos. Fim.

O aperto de Olivia aumentou. — Você está tendo um caso


secreto com Blake Ryan!

— Eu não estou! — Farrah puxou o braço e o sacudiu. — Jesus,


você cortou minha circulação.

— Não mude de assunto. Você passou um dia inteiro com Blake


e não nos contou sobre isso. Por quê? — Olivia ergueu as sobrancelhas. —
Que coisas safadas você fez?

— Nenhuma. Você leu muitos romances eróticos.

Para alguém tão voltado para o status, Olivia foi


surpreendentemente aberta sobre seus hábitos de leitura menos que
intelectuais.

— Eles são uma grande inspiração. Sammy não tem queixas.

Farrah torceu o nariz. — Aí credo. TMI14.

Muuuita informação.

14
Informação demais
Como ela esperava, Olivia cedeu e ficou com Sammy no 808 no
início daquela semana. Eles tiveram seu primeiro encontro na noite
seguinte e estavam rapidamente se tornando um dos casais mais
nauseantemente fofos da FEA.

Farrah estava emocionada (os 100 kuai que ela recebeu por
ganhar a aposta do grupo em quando Olivia e Sammy se encontrariam foi
um bônus), mas o relacionamento deles também a lembrou da total falta
de romance em sua própria vida.

— Mais uma vez, mudando de assunto. Sei que ele não é


seu 'tipo'... —Olivia colocou a palavra entre aspas no ar. — Mas talvez isso
seja uma coisa boa. Leo é o seu tipo, mas ele está comprometido. Você
ainda gosta dele?

— Quem, Blake?

— Leo!

— Uh. — Farrah imaginou o cabelo escuro e encaracolado de


Leo e o sorriso fácil. Como de costume, seu estômago vibrou com a
imagem mental, embora a sensação fosse mais abafada do que o
normal. — Estou superando isso.

— Isso significa que você não superou, o que significa que


precisa superar, porque temos um ano letivo inteiro pela frente. Você é
jovem, gostosa e solteira em Xangai. Você pode ter qualquer cara que
quiser, exceto, você sabe, Leo. Como sua amiga, sou obrigada a garantir
que você não gaste seu tempo aqui lamentando o amor não
correspondido.
— Vamos. Tenho outras coisas acontecendo na minha vida.

— Sim, mas você ainda pensa nele o tempo todo. Diga que
estou errada.

Farrah mexeu nos anéis de fichário de seu caderno de desenho.

— Isso foi o que eu pensei. Agora, você sabe o que eles dizem. A
melhor maneira de superar alguém é ficar com outra pessoa. Nesse caso,
esse 'outro' é um deus grego cujo nome rima com Jake Bryan.

— Não acontecerá.

Olivia soltou um bufo exasperado. — Eu não entendo por que


você está sendo tão teimosa. O menino é GOSTOSO. G maiúsculo, O
maiúsculo, S maiúsculo, T maiúsculo. Você viu o abdômen dele?

— Não. — Farrah ergueu as sobrancelhas. — Você já?

As bochechas de Olivia coraram. — Talvez eu tenha dado


uma pequena espiada quando o vi saindo do chuveiro no meu caminho
para o quarto do Sammy.

As sobrancelhas de Farrah se arquearam ainda mais.

— Pare. Fui devolver a caneta de Sammy. De qualquer forma,


esse não é o ponto. O que quero dizer é que Blake é a pessoa perfeita para
ajudá-la a superar Leo.

— Ele é fofo, mas é tão... — Farrah procurou a palavra certa. —


Arrogante.

— Mmm. Aposto que sim.

— Olivia! — Foi a vez de Farrah ficar vermelha.


Olivia riu. — Olha, você disse que não está esperando Aquele
com quem perder sua virgindade. Provavelmente é melhor assim. Menos
pressão. E já que estamos em Xangai, que maneira melhor de perder a
virgindade e superar Leo do que ficar com um cara gostoso que sabe o que
está fazendo? Porque, acredite em mim, Blake parece saber o que está
fazendo.

No papel, fazia sentido. Farrah estava fisicamente atraída por


Blake. Ela até gostava de sair com ele (na maioria das vezes).

Mas Blake achava que romance era uma besteira, o que era a
coisa mais blasfema em que Farrah poderia pensar.

Então, novamente, não importava o que ele pensava sobre o


amor se fosse um lance, certo?

ECA. Sua cabeça doía.

Olivia colocou a mão no braço de Farrah. — Lembre-se, estamos


estudando no exterior. O que acontece em Xangai fica em Xangai.

Será? Farrah não tinha tanta certeza.

No entanto, mais tarde naquela noite, depois que Olivia foi


embora e o luar fluiu através das cortinas como um rio de seda prateada,
Farrah se pegou pensando nas palavras de Olivia. Ela pensou sobre elas
repetidamente até que adormeceu com sonhos do Texas e olhos azuis
cristalinos.
Blake estava sozinho.

Era uma verdadeira vadia, considerando que ele passou anos


desejando mais tempo sozinho.

Ele escolheu ficar para o feriado nacional enquanto seus amigos


estavam na Tailândia, mas estava começando a se arrepender de sua
decisão.

No início, ter o dormitório só para ele era ótimo. Blake


caminhou pelos corredores seminu e explodiu sua música o mais alto que
quis. Ele não teve que estudar ou fazer lição de casa. Ele fazia o que
queria, sempre que queria.

A onda durou dois ou três dias antes de Blake começar a sentir


falta do barulho e agitação de FEA. Ele sentia falta de brincar com
Farrah. Ele até sentia falta das mensagens idiotas de Luke. Claro, ele
gostava de explorar Xangai, mas seria bom, você sabe, ter alguém com
ele.

Ele não conseguia nem falar com sua família ou amigos em


casa. Além da diferença de horário entre Austin e Xangai, sua mãe e irmã
estavam ocupadas com a escola como professora e aluna de arte,
respectivamente. Landon estava ocupado se preparando para assumir o
império de sua mãe. Ele não queria ligar para Cleo e abrir uma lata de
minhocas, e preferia arrancar os olhos do que falar com o pai.

Depois de sua corrida matinal no parque da World Expo, Blake


foi para Nanjing Road em vez de voltar para o dormitório. Ele precisava
estar perto de pessoas.

Ele desceu na estação da Praça do Povo e caminhou para o leste


de Nanjing. A famosa rua de pedestres fervilhava de atividade. Ele queria
pessoas; ele tem pessoas. Elas fluíram em uma onda de
humanidade implacável e sem fim.

Xangai era a cidade mais populosa do país mais populoso do


mundo e nunca deixava que você se esquecesse disso.

Blake vagava sem rumo, sem saber o que estava procurando. Ele
passou por casais, famílias e turistas boquiabertos com o
espetáculo. Placas enormes e anúncios em vídeo pairavam no alto,
gritando por atenção.

Poucos dias atrás, essas coisas o faziam se sentir


vivo. Gratuitamente. Ninguém o conhecia aqui. Ele poderia fazer e ser
quem quisesse. Mas agora…

Blake parou. O homem atrás dele praguejou e caminhou ao seu


redor, batendo no ombro de Blake ao fazê-lo. Uma jovem mãe
de aparência atormentada passou correndo com três filhos. Seu olhar
passou rapidamente por Blake antes de voltar sua atenção para a criança
que tentava raspar um pedaço de chiclete velho da calçada. Um grupo de
adolescentes se juntou a um telefone e riu de algo na tela.
Blake os viu, mas não os viu. Ele só conseguia se concentrar na
imagem em sua mente, de si mesmo em pé no meio da rua mais
movimentada de Xangai, cercado por pessoas que não sabiam e não se
importavam com quem ele era.

Uma formiga entre milhares. Um estranho em uma terra


estranha.

A solidão se instalou como uma pedra na boca do


estômago. Pela primeira vez na vida, Blake estava com saudades de casa.

Ele retomou sua caminhada pela Nanjing Road e manteve os


olhos atentos a algo, qualquer coisa que o lembrasse de casa. Ele
desviou do McDonalds, ele não estava tão desesperado e virou à esquerda
para uma rua adjacente. Dez minutos depois, ele tropeçou em um bar de
esportes chamado The End Zone.

Não era o nome mais criativo, mas parecia confortavelmente


americano.

— Ei. — A bartender sorriu quando ele entrou. Ela parecia uma


jovem Angelina Jolie, e seu crachá indicava que ela se chamava Mina.

— Ei. — Blake estacionou no bar e pediu uma xícara de café e


o prato típico do café da manhã - ovos, bacon, batatas fritas caseiras,
torradas.

O lugar estava vazio a essa hora da manhã e não havia jogos


interessantes na TV, então Blake decidiu flertar com Mina, que parecia
feliz demais para flertar de volta. No espaço de dez minutos, Blake soube
que ela cresceu em Phoenix, se formou em relações públicas no estado do
Arizona e tirou um ano sabático para viajar e visitar seu irmão em Xangai.

Blake ficou chocado ao saber que o irmão de Mina era o dono


da End Zone. Pelo que ela disse a ele, seu irmão era apenas alguns anos
mais velho que ela, e ela tinha vinte e dois, vinte e três no máximo.

— Como ele acabou aqui? — Blake partiu um pedaço de bacon e


o colocou na boca. Tinha gosto de casa.

Os sinos acima da porta tilintaram quando outro cliente entrou.


— Ele odiava a escola e largou o penúltimo ano para fazer um mochilão
pela Ásia. Ele amava tanto Xangai que se mudou para cá. Conseguiu um
emprego na indústria de restaurantes, fez alguns bons contatos e abriu
este lugar há dois anos.

— Você faz isso parecer fácil. — As rodas na cabeça de Blake


começaram a girar. Quando decidiu se formar em negócios, estava
pensando em um emprego corporativo em marketing ou operações. Não
é empreendedorismo. Ele não sabia nada sobre como começar e
administrar um negócio. A ideia de fazer suas próprias coisas era
tentadora, no entanto. Blake poderia ser seu próprio patrão. Ninguém
diria a ele o que fazer.

— Foi difícil no início, mas ele fez funcionar. Greg é bom nesse
tipo de coisa. — Mina saiu para cuidar do outro cliente, mas não sem
antes dar uma piscadela para Blake, dizendo que ela voltaria.

O coração de Blake bateu rápido. As rodas em sua cabeça


giraram mais rápido.
Ele gostava de bares esportivos. Ele sabia do que as pessoas que
frequentavam bares esportivos gostavam porque ele cresceu com eles. Ele
sabia como construir e vender uma marca - ele vinha se vendendo como
uma marca há anos.

Foi como se uma represa tivesse rompido. Depois de meses sem


saber o que fazer após a formatura, as ideias fluíram tão rápido que Blake
não conseguiu acompanhar.

Ele pediu a conta e rabiscou sua assinatura, ansioso para voltar


ao dormitório e colocar algumas de suas ideias no papel. Elas podem não
levar a lugar nenhum, mas era bom ter um plano. Ele mal podia esperar
para contar...

A quem?

A família dele? Seu pai não ficaria feliz a menos que Blake
voltasse ao mundo do futebol; sua mãe e Joy fariam o possível para apoiá-
lo, mas não conseguiam.

Amigos dele? Seus amigos de Xangai estavam na Tailândia e não


o conheciam bem o suficiente para entender por que ele estava tão
animado.

Enquanto isso, seus amigos em casa estavam distantes e poucos


entre eles depois que ele deixou o time. Ele e Cleo não se separaram nas
melhores condições, e Landon estava muito ocupado com sua mãe.

Quando Blake levou o TSU Mustangs ao seu terceiro


campeonato nacional, ele tinha 50.000 pessoas torcendo por ele. Quando
se tratava de vitórias pessoais, ele não tinha ninguém.
A compreensão o invadiu como um banho frio.

— Foi legal conversar com você. — Mina pegou o recibo


assinado do balcão. — Tenho que ficar de olho nas coisas até que meu
irmão chegue hoje à noite, mas estarei livre depois das oito. — Ela
pressionou outro pedaço de papel na mão de Blake. — Nós poderíamos
nos divertir um pouco. Sem amarras.

Blake ergueu as sobrancelhas. — Sem amarras, hein?

— Estou em Xangai por mais algumas semanas e você é uma


gracinha. — Mina encolheu os ombros. — Não precisa ser grande coisa.

Blake pensou no dormitório vazio esperando por ele no campus


e colocou o número dela em seu bolso. — Vejo você às oito.
Os raios aqueciam a pele de Farrah como um cobertor luxuoso,
o som da água batendo contra a costa fornecia uma trilha sonora natural
calmante, e a bebida de coco ao lado dela era a melhor que ela já havia
provado.

A vida era boa.

Ela se ergueu para tomar outro gole de sua bebida.

— Você está bloqueando meu sol, — disse Kris.

— Desculpa. — Farrah deitou-se. Apesar de seu cenário idílico,


Kris estava mais rabugenta do que o normal.

— Se anima. — Courtney esticou os braços sobre a


cabeça. Horas de sol escureceram suas sardas até que se assemelharam a
uma constelação de estrelas em seu nariz e bochechas. — Olhe para este
lugar. Como você pode não ser feliz aqui?

Koh Samui era um destino turístico popular, mas o grupo teve a


sorte de tropeçar nessa praia remota no caminho de volta para o
resort. Coqueiros balançando, grandes pedras emoldurando o trecho
imaculado de areia branca e fina, água cristalina que brilhava como uma
folha de água-marinha sob o sol. Era um cartão postal tropical que ganhou
vida.
— É a namorada estúpida do meu pai. — Kris ajustou seus
óculos de sol. — Ela o convenceu a passar o Natal em
Aspen. Aspen! Estará nevando e merda. Quer dizer, quem quer um Natal
branco?

O resto do grupo trocou olhares.

— Uh, isso é uma pergunta retórica? — Sammy perguntou.

Kris o ignorou. — Nós passamos todo Natal em St. Barths desde


que eu tinha cinco anos. É tradição. Agora essa garota entra valsando e
tenta mudar tudo. — Ela suspirou. — Pelo lado bom, papai se sente tão
mal que vai me comprar Harry Winston de Natal. Ele geralmente me dá
Tiffany.

— Há um forro de diamantes em cada nuvem15, — Leo brincou,


ganhando um soco nas costelas, de Courtney.

Seu sarcasmo passou pela cabeça de Kris. — Verdade. — Farrah


sufocou uma risada.

Enquanto isso, Olivia tentava envolver Nardo em uma conversa,


um sinal claro do quanto ela gostava de Sammy. Ela pensava que Nardo
era um idiota pomposo e queixoso, mas ele era o melhor amigo de
Sammy, por razões que ninguém conseguia imaginar. Sammy era o cara
mais simpático do planeta; Nardo, não.

— O que você está lendo? — Olivia virou de barriga para olhar o


livro grosso nas mãos de Nardo.

15
Fazendo um tocadlho com o ditado popular ‘Every cloud has a silver lining’ – Toda nuvem tem uma
linha de prata. Significando que tudo tem um lado positivo.
— Um livro.

— Não brinca, Sherlock. Que livro?

Nardo empurrou os óculos para cima do nariz. Ele era o mais


pálido do grupo e passou meia garrafa de protetor solar antes de
chegarem à praia. Mesmo assim, Farrah podia ver a pele de suas costas
ficando rosa. — Guerra e Paz e Guerra.

— Você quer dizer Guerra e Paz.

— Não, esse é um romance do século 19 de Leo Tolstoy sobre a


invasão francesa na Rússia. Isto é Guerra e Paz e Guerra, de Peter
Turchin. Ele explora a ascensão e queda de impérios da perspectiva da
biologia evolutiva.

Os olhos de Olivia ficaram vidrados. — Uau. Leitura divertida na


praia.

— Você sabe que fala como uma Wikipedia humana? — Farrah


perguntou.

Nardo parecia emocionado. — Obrigado.

Sammy rolou de lado e beijou o ombro de Olivia. — Ele sempre


foi assim. Você deveria ver nosso dormitório em Harvey Mudd. Está
repleto de livros de história política.

Olivia torceu o nariz. — Vocês não são graduados em


matemática?

— Eu sou em economia. — Nardo voltou ao seu livro. — Você


pode ler fora do seu curso.
— Eu sei. Acabei de terminar Crazy Rich Asians16.

O rosto de Farrah se abriu em um sorriso enorme ao ver a


expressão de Nardo.

— Com licença. Achei que estávamos de férias. — Courtney


arrancou o livro das mãos de Nardo, ignorando seu grito de protesto. —
Vamos fazer algo divertido.

— Estamos fazendo algo divertido, — disse Sammy. — Estamos


na praia.

— Não, algo divertido. Eu sei! — Courtney estalou os dedos. —


Vamos nadar pelados!

Os olhos de Farrah se arregalaram de horror.

— Eu te amo, mas essa é a pior ideia que já ouvi. — A expressão


de Olivia combinava com a de Farrah. — É plena luz do dia.

— E daí? Estamos entre amigos. Viva e deixe viver, Liv.

— Não, obrigada.

Luke ergueu a mão. — Eu farei isso.

— Eu também, — disse Nardo.

Cada cabeça girou na direção dele.

— Você irá? — Sammy perguntou, boquiaberto.

As bochechas de Nardo combinavam com suas costas. — Como


a Courtney disse, estamos de férias.

16
Podres de ricos, romance de Kevin Kwan. Um filme foi baseado no livro de mesmo nome,
a comédia romântica americana de 2018 dirigido por Jon M. Chu , com roteiro de Peter Chiarelli e Adele
Lim.
— Ótimo, — Kris disse. — Viu o que você fez, Court? Agora
teremos que ver Luke e Nardo nus.

Os meninos se entreolharam. Sem dizer uma palavra, eles


juntaram punhados de areia e os jogaram em Kris antes que ela pudesse
se desviar. Sua boca congelou em um O chocado quando os grãos
salpicaram seu cabelo e decote.

Todos caíram na gargalhada.

— Blech! — Kris gaguejou. — Tenho areia na boca! Eu vou


matar vocês. — Ela tentou limpar a areia do rosto e espalhou-a ainda mais
nas bochechas.

Eles riram ainda mais.

— Um mergulho nua vai tirar a areia. Vamos, rapazes, não sejam


chatos, — Courtney adulou.

— Calma, — Leo disse. — A Festa da Lua Cheia é hoje à


noite. Vamos nos divertir então.

— Eu estou calma. Desculpe-me por tentar garantir que todos se


divirtam.

— Estamos nos divertindo, — Leo argumentou. — As pessoas


sabem se divertir sem você. Não temos que fazer tudo o que você diz o
tempo todo.

A risada parou.

O coração de Farrah batia forte como um carpinteiro


martelando um prego na parede. Courtney e Leo não
brigavam. Nunca. Ele era muito tranquilo e ela era... bem, ela era
Courtney.

— O que você disse? — O rosto de Courtney ficou vermelho.

Ele beliscou sua têmpora. — Não faremos isso agora.

— Oh, nós estamos fazendo isso agora. Você começou


isso. Termine isso. — O desafio era claro.

— Só estou dizendo que você não precisa ser tão maníaca por
controle o tempo todo.

Kris estremeceu.

Olivia enterrou o rosto no ombro de Farrah.

— Maníaca por controle? — Courtney estava o Monte Etna


esperando para entrar em erupção. Farrah viu vapor saindo de suas
orelhas. — Dane-se! É fácil para você ser o relaxado e descontraído. Sou
eu quem garante que nos divirtamos. Eu venho com as atividades. Eu
mantenho esse grupo unido. Nós não iríamos estar aqui se não fosse por
mim!

— Escute a si mesma. — O tom afiado de Leo enviou uma onda


de choque pelo grupo. — Ninguém pede que você faça essas coisas. É
como se você tivesse algum tipo de complexo de deus.

Courtney, Olivia e Farrah se engasgaram ao mesmo tempo.

— Leo. — Kris tirou os óculos escuros e sacudiu um pouco de


areia do ombro. Sua voz era glacial. — Você deveria voltar para o hotel.
— Com prazer. — Leo jogou a toalha por cima do ombro e foi
embora, deixando o silêncio em seu rastro.

— Isso evoluiu rapidamente, — Luke finalmente disse.

— Você está bem? — Farrah não sabia o que dizer. Eles nunca
tiveram uma grande briga no grupo antes.

— Sim. Eu não posso acreditar nele. Complexo de Deus. —


Courtney esguichou protetor solar na palma da mão e esfregou nos braços
com mais força do que o necessário. — Eu não tenho um complexo de
deus.

Nardo tossiu.

— Claro que não. Você assume o comando e ele não consegue


lidar com isso. — Kris colocou os óculos de sol novamente. — Rapazes. Se
você me perguntar, eles não valem a pena.

— Muito obrigado, — disse Sammy.

Olivia deu um tapinha na mão dele. — Não se preocupe,


querido. Você é a exceção.

O grupo ficou em um silêncio desconfortável.

Farrah tentou se concentrar no som das ondas, mas sua mente


estava correndo a um milhão de quilômetros por minuto. Ela costumava
fantasiar sobre a separação de Courtney e Leo. Eles se separariam
amigavelmente, Leo perceberia que esteve apaixonado por Farrah o
tempo todo e Courtney lhes daria sua bênção.

Ela não sabia quando ou como, mas em algum lugar ao longo do


caminho, aquela fantasia havia se dissolvido.
Farrah não queria que Courtney e Leo terminassem. Ela queria
que o grupo ficasse do jeito que estava. Sua amizade coletiva significava
mais do que qualquer desejo individual egoísta.

Farrah fechou os olhos com força e acalmou seus pensamentos


o suficiente para permitir que o calor e as ondas fizessem sua mágica.

Era tão bom aqui. Ela não queria voltar para Xangai. Ela queria
ficar aqui para sempre. Quem estava em Xangai, afinal?

Blake. Blake está em Xangai.

O pensamento foi tão inesperado que chutou Farrah para fora


de seu estado de sonho. Ela estava no paraíso. O que ela estava fazendo
pensando em Blake e suas covinhas e músculos? Bom Deus, esses
músculos. Ele provavelmente poderia ergue-la sem suar.

A boca de Farrah secou. Ela se perguntou o que ele estava


fazendo. Saindo todas as noites? Fazendo sexo selvagem com um elenco
rotativo de garotas em todos os cantos do dormitório?

Provavelmente. Ela não o tinha visto ficar com ninguém desde


que o programa começou, mas isso não significa que ele não fez isso. Você
não poderia ser um universitário com essa aparência e não receber
regularmente.

Era o caminho mental errado, porque Farrah não conseguia


manter o fluxo de imagens resultante sob controle.

Blake nu. Blake e uma garota sem rosto fazendo sexo em seu
quarto. Blake e uma garota sem rosto fazendo sexo na cozinha. Blake e
Farrah fazendo sexo na sala dos alunos.
Uau. De onde diabos veio isso?

Os olhos de Farrah se abriram. Ela bateu seu portão mental em


pânico e parou as imagens em seu caminho. Eles continuaram a pairar
perto da entrada, esperando por uma oportunidade para entrar
sorrateiramente.

Seu coração bateu em dobro. A última fantasia veio tão


vividamente que ela poderia muito bem tê-la transmitido para o mundo.

Farrah deu uma espiada em seus amigos. Eles se espreguiçaram


em suas toalhas de praia, alheios.

Ela fechou os olhos com força novamente. Pense em Leo. Pense


na Festa da Lua Cheia. Pense na vovó com seu velho pijama rosa.

Nada funcionou. A fantasia dela e Blake empurrou contra sua


consciência. Se ela se permitisse, ela ainda poderia ver - sua carne macia
pressionada contra os músculos rígidos de Blake, suas mãos agarrando
seus quadris, suas bocas fundidas em um abraço faminto.

Uma onda de calor percorreu seu corpo. Farrah virou de bruços


e enterrou o rosto nos braços. A dor permaneceu.

— Espere! Meu cronômetro não disparou ainda — Olivia


protestou. — Devemos virar a cada 20 minutos. — Ela cutucou as costas
de Farrah. — Hum. Você está meio vermelha. Talvez deva aplicar mais
protetor solar.

— Estou bem — disse Farrah, com a voz abafada.

— Estou reaplicando para você. Fique parada.


Farrah não resistiu enquanto Olivia lambuzava ela com FPS 50.
Em vez disso, ela ficou lá e se perguntou por que, exatamente, ela estava
fantasiando sobre sexo com Blake Ryan.

No fundo, ela sabia a resposta.

Estou tão ferrada.


O período de seca de Blake? Finalizado.

Graças a Deus. Se ele ficasse mais sem sexo, eles teriam que
levá-lo para o pronto-socorro para uma cirurgia de emergência de bola
azul.

No entanto, apesar das consideráveis habilidades de Mina na


cama, sua aventura não foi tão satisfatória quanto ele esperava. Era como
junk food: bom no momento, até que a onda se dissipou e o deixou mais
vazio do que nunca.

Blake observou enquanto Mina calçava seu saltos e colocava a


alça da bolsa no ombro. Luke mandou uma mensagem algumas horas
atrás dizendo que passaria por aqui depois que deixasse sua bagagem na
casa da família anfitriã. Ele esperava que seu ex-colega de quarto batesse
em sua porta a qualquer minuto agora.

Alguém bateu.

Bem, esse foi um momento assustadoramente preciso.

— Essa é a minha deixa, — Mina falou lentamente. Como Blake,


ela não tinha desejo de bater papo depois do sexo. Eles se encontraram,
transaram e se separaram. Fácil. Simples. Sem amarras.

— Vou acompanhá-la até à saída.


Blake abriu a porta, esperando ver o corpo corpulento de Luke
preenchendo a porta. Para seu choque, ele encontrou Farrah ali vestida
com... pijama de ovelha?

Sim, aquelas eram definitivamente ovelhas brancas fofas


marchando em sua camisa e calças. Elas eram tão adoráveis e distantes do
estilo polido de Farrah que Blake não conseguiu conter uma risada.

— Ei, eu... — Farrah parou quando viu Mina. Uma olhada no


cabelo despenteado de Mina e nos lábios inchados e não precisava ser um
gênio para descobrir o que ela e Blake estavam fazendo.

Surpresa e outra emoção que Blake não conseguiu identificar


passaram por seu rosto.

Garras de culpa serpentearam por sua espinha.

Espere. Não tenho nada do que me culpar. Blake era solteiro. Ele
poderia ficar com quem quisesse.

— Eu conheço o caminho. — Mina ficou na ponta dos pés para


plantar um beijo prolongado na boca de Blake. Ele respondeu com
hesitação, hiper consciente da presença de Farrah. — Me ligue mais tarde.

Ela acenou com a cabeça para Farrah ao sair. — Belo pijama. —


Ela passeou pelo corredor e desapareceu na escada.

— Desculpe, — Farrah disse, aquela expressão estranha ainda


em seu rosto. — Eu não sabia que você tinha companhia.

— Está bem. Ela estava indo embora de qualquer maneira. —


Blake se encostou no batente da porta. Não. A culpa não tinha nada que
ver aqui. Nenhum mesmo. — A que devo este prazer?
— Não é nada.

— Se não fosse nada, você não estaria aqui.

Farrah soltou um suspiro. — Ok, não quero que você pense


muito sobre isso, mas comprei uma coisa da Tailândia e queria dar a você
antes que me esqueça. — Ela entregou a ele uma pequena estatueta de
elefante. Ele esteve tão ocupado olhando para as ovelhas que não notou o
elefante. — É inspirado em um elefante no santuário que visitamos. Ele
me lembrou de você.

Blake pegou o elefante e esfregou o polegar sobre a intrincada


escultura de pedra. Um nó se formou em sua garganta. Ele não conseguia
se lembrar da última vez que recebeu um presente de alguém que não
esperava algo em troca.

O poço de solidão que o atormentou na semana anterior


encolheu do tamanho de um punho para o tamanho de uma ervilha.

Pare de ser um fracote e endureça. É um elefante, pelo amor de


Deus.

Blake ignorou o calor que inundou suas veias e deu seu sorriso
característico, aquele que ele sabia que fazia as garotas derreterem. Para
seu aborrecimento, Farrah permaneceu imperturbável. — O elefante
também era bonito e atlético?

— Arrogante e exibicionista.

— Eu vou aceitar. — Blake avaliou o elefante. Caramba, era um


animal bonito. — Obrigado. Isso é tão atencioso.
Farrah parecia envergonhado. — Não é grande coisa. Só uma
bugiganga que peguei.

— Bem, eu agradeço. Mostra o quanto você sentiu minha falta.


— Ele balançou as sobrancelhas.

— Eu não senti sua falta.

— Você pensou em mim.

— Dificilmente.

— Você pensou em mim o suficiente para comprar isso. — Blake


brandiu o elefante em triunfo.

A expressão de Farrah não tinha preço.

— Você sabe o quê? Estou pegando de volta. — Ela tentou


roubar a estatueta de suas mãos. Ele o segurou acima da cabeça, rindo
quando ela saltou para tentar alcançá-lo. — Estou dando para Josh.

Blake ficou imóvel. — Quem é Josh?

— Meu primo.

Ele relaxou. — Bem, Josh terá que ficar sem porque Blake Jr. é
meu.

— É claro que você deu o seu nome. O quão narcisista você


pode ser?

— Muito. Agora pare de tentar pegá-lo de volta, ou você não


receberá seu presente de agradecimento.

Isso chamou sua atenção. — Qual é o meu presente?

— O que quer que você queira que seja.


— Essa é a resposta mais preguiçosa de todas.

— Ainda assim, funciona. Você prefere algo que deseja ou algo


que outra pessoa pensa que você deseja?

Farrah franziu a testa. — Bom ponto. Tudo bem. Eu quero


jantar. Um bom jantar. Estou faminta.

— É isso?

— Você quer que eu pergunte pelo seu primogênito também?

— Se você quiser criá-lo para mim, com certeza. — Blake


encolheu os ombros. — Nesse ínterim, é o jantar, milady.

— Eu vou trocar.

— Não. Você deve usar esse PJs17. Eles são fofos. — Ele tentou
manter o rosto sério. Ele falhou.

— Cale-se. — Farrah girou nos calcanhares e marchou em


direção à escada.

— Estou falando sério. Eles são fofos! — Blake gritou atrás dela.

Ela mostrou o dedo para ele sem se virar. — Encontre-me no


saguão em dez minutos.

Blake ainda estava rindo quando enfiou o elefante na gaveta da


escrivaninha. Ele vestiu roupas normais e pegou o telefone para pedir a
Luke para deixar para a próxima vez quando uma mensagem de seu amigo
apareceu.

17
Pijamas
Não posso ir esta noite. A família anfitriã preparou o jantar para
mim.

Às vezes, o universo se alinha.

Legal. Próxima vez.

No caminho de Blake para o saguão, ele passou por Zack e Scott,


que exibiam bronzeado escuro de sua semana de mochila no Vietnã. Flo
estava lá embaixo, cercada por uma pilha de sacolas de compras
estampadas com caracteres coreanos. Ela estava exibindo o que parecia
ser um pacote de máscaras de Jason para seus amigos.

Hum. Isso me lembra, o Halloween está chegando.

— Estou pronto!

Farrah desceu as escadas com um casaco, jeans e botas. Um


lenço enrolado em sua garganta; luvas cobriam suas mãos.

Estava quinze graus lá fora.

— Não sabia que íamos jantar na Sibéria.

— Ha-ha. — Farrah levantou o capuz. — Sou de SoCal18. Estou


com frio.

— Eu sou do Texas e você não me vê vestido como um esquimó.

— Você é um cara. Caras, tomam decisões terríveis.

— Isso é sexista.

— Processe-me.

Blake sorriu. Droga, ele tinha sentido falta dela.

18
South of California- sul da Califórnia
— Então, onde você quer jantar, princesa?

Ela deu uma olhada em sua direção, mas deixou o apelido


passar. — Alguma chance de você ter descoberto um novo restaurante
legal por aqui?

Hum. Ele tentou um monte de restaurantes, mas nenhum -


espere. Um sorriso lento se espalhou por seu rosto.

— Na verdade, descobri. Não é novo e não está por aqui, mas


você vai adorar. Vamos!

— Aonde estamos indo? — Farrah bufou enquanto corria para


acompanhá-lo. Blake tinha uns bons dezoito centímetros sobre ela; cada
passo que ele dava era equivalente a dois dela.

— Você verá.

Eles subiram em um dos táxis parados fora dos portões do


campus. Blake deu o endereço ao motorista, que pisou no acelerador em
um movimento repentino que jogou Blake e Farrah contra o banco de
trás.

— O mínimo que você pode fazer é me dizer que tipo de


culinária é, — disse Farrah quando eles se endireitaram. — Bonito, por
favor.

— E estragar a surpresa? De jeito nenhum.

Ela fez beicinho. — Ok. Pelo menos me diga se a comida é boa.

— Eu não faço ideia.

— Blake!
O motorista pisou no freio ao se aproximar de um sinal
vermelho. Todo mundo deu um pulo para a frente.

Cristo. A direção desse homem foi a razão pela qual inventaram


os cintos de segurança.

— Como você pode não saber se a comida é boa ou não? —


Farrah apertou o peito. — Você está me levando a... um restaurante não
testado?

Blake riu. — Olivia estragou você.

— Diga o que quiser, mas a garota conhece seus


restaurantes. Ela nunca me conduziu mal.

— Não é sobre a comida. Confie em mim, você vai adorar.

— É o jantar. Claro que é sobre a comida.

Blake sorriu em resposta. Ele se recusou a sucumbir aos apelos


de Farrah por mais informações. Em vez disso, ele a distraiu com
perguntas sobre a Tailândia, sobre a qual ela ficou mais do que feliz em
falar. Fora o que parecia ser um drama Courtney-Leo, a viagem parecia
uma explosão, especialmente a Festa da Lua Cheia. Beber na praia, pular
corda com fogo e garotas de biquíni (incluindo Farrah) cobertas de pintura
corporal? Blake se arrependeu de ter ficado para trás.

Eles chegaram ao seu destino. Era um local bem conhecido, mas


não entre a multidão da faculdade. Ele duvidava que Farrah tivesse ouvido
falar disso.

A expressão em seu rosto quando o prédio apareceu provou que


ele estava certo.
— O que é este lugar? — ela respirou, seus olhos arregalados de
espanto enquanto ela observava a maravilha arquitetônica à sua frente.

Situada no canto noroeste da Concessão Francesa, a mansão


lembrava um castelo de contos de fadas do norte da Europa com
suas torres e pináculos góticos e de telhas marrons Tudor. Também havia
toques chineses, como os dois leões de pedra que guardavam o portão da
frente e os ladrilhos de vidro em estilo chinês ao longo do telhado. Foi um
afastamento radical da arquitetura colonial que constituiu a maior parte
da Concessão Francesa.

Blake sorriu com a reação de Farrah. — Chama-se Moller


Villa. Pertenceu a um europeu rico, mas agora é um hotel. Não
se preocupe, há um restaurante lá dentro.

— Como você encontrou este lugar? Não posso acreditar que


nunca ouvi falar disso e devo ser a estudante de design.

— Não está em muitos guias de Xangai. Só sei disso porque


estava em um café nas proximidades, e um dos funcionários recomendou.

Farrah olhou em sua direção. — Você conheceu algumas


pessoas novas enquanto estávamos fora.

Ela estava, sem dúvida, se referindo a Mina. Para seu próprio


bem, Blake optou por não morder a isca.

Eles não tinham reservas, mas a anfitriã os recebeu depois que


Farrah disse algo a ela em mandarim. Ele não conseguia entender tudo o
que ela dizia, mas aprendeu as palavras ‘namorado’ ( nan pengyou) e ‘um
ano’ (yi nian).
— O que você disse a ela? — ele sussurrou enquanto a anfitriã
os conduzia até à mesa.

— Eu disse a ela que você é meu namorado e é


nosso aniversário de um ano. Foi aqui que tivemos nosso primeiro
encontro, mas você se esqueceu de fazer a reserva.

— Me jogando embaixo do ônibus. Comportamento típico de


namorada.

Sua risada prateada era música para seus ouvidos.

Calma, cara. Pare de agir como se você nunca tivesse tido um


encontro...

Ele se conteve a tempo. Este não era um encontro. Isso foi - por
que eles estavam aqui de novo? Certo. Ele estava agradecendo pelo
elefante.

Não era 100% um encontro.

Apenas um cara e uma garota que ele achou extremamente


atraente, jantando em um hotel romântico em Xangai.

Merda.

Eles se sentaram e examinaram seus menus. Blake não estava


mentindo quando disse que não sabia se a comida era boa. A julgar pela
forma como os olhos de Farrah percorreram a sala, examinando cada
detalhe, não importava. Ambos sabiam o que estavam fazendo aqui, e não
era pelo cordeiro.

— Você realmente ama isso.


Seu olhar estalou para o dele. — O quê?

— Projeto. Você não parou de olhar para a arquitetura desde


que chegamos.

— Desculpa. Estou sendo uma péssima companhia de jantar. —


Farrah mordeu o lábio. — Este concurso de design está tomando conta da
minha vida.

— Não há nada pelo que se desculpar. — Na verdade, sua


paixão o fascinou. Como foi acordar todos os dias sentindo-se tão
animado com alguma coisa? Muito bom, ele apostou. — Como você ficou
tão interessada em design de interiores?

— Você poderia dizer que foi um sonho de toda a vida. — Farrah


sorriu. — Parece cafona, mas quando eu tinha sete anos, meus pais
redecoraram a casa e eu os acompanhei até às lojas de móveis e tintas. A
maioria das crianças da minha idade acharia isso chato. Eu amei. Acontece
que eu tinha um talento especial para combinar cores e organizar
móveis. Meu pai até me levou ao escritório dele... — Uma sombra cruzou
seu rosto. Farrah pigarreou e tomou um gole de água. — De qualquer
forma, o resto é história.

— Um prodígio de sete anos, — brincou Blake. Ele esfaqueou


um pedaço de carne com o garfo. — Você acha que gosta tanto de design
porque é boa nisso, ou é boa porque gosta?

— Eu nunca pensei sobre isso. — Farrah traçou a borda do copo


com o dedo. — Ambos, eu acho. Sou boa nisso e gosto disso. Adoro pegar
um espaço e ajudá-lo a cumprir seu potencial. Como se este restaurante
fosse apenas uma sala, certo? Mas com a mobília e as cores certas, é um
local de jantar formal. Mude as coisas e pode ser uma biblioteca
aconchegante ou uma galeria minimalista moderna. Pode ser qualquer
coisa. Meu trabalho é moldar um espaço em algo que seja perfeito para
o proprietário - algo que vai transformá-lo de apenas um quarto em uma
experiência, ou em uma casa. Passamos a maior parte de nossas vidas
dentro de casa. Quão incrível é moldar algo que é uma parte tão
importante da vida das pessoas?

Blake ficou tão arrebatado pelo entusiasmo de Farrah que pôde


imaginar tudo o que ela estava dizendo - a biblioteca, a galeria, os suspiros
de alegria quando os proprietários viram suas casas redecoradas pela
primeira vez.

— Estou divagando.

— Não. Eu adoro ouvir você falar sobre isso. É... cativante. — A


palavra escapou sem pensar. Parte de Blake queria voltar atrás, mas era a
palavra perfeita para descrever como ele se sentiu ao ver o brilho nos
olhos de Farrah e ouvir a animação em sua voz.

Farrah corou.

O estômago de Blake deu um giro lento. Ele pensava que tinha


superado as coisas bobas que seu corpo fazia quando estava perto
dela. Afinal, ele fez sexo o suficiente nos últimos três dias para tirar
qualquer garota de seu sistema.

Acho que não.

Farrah agarrou água. — Não é assim que você se sente em


relação ao futebol?
O calor se dissipou. Blake se inclinou para trás e brincou com
seu copo vidro. — Se isso fosse verdade, eu ainda estaria no time.

— Você era tão bom. Ou foi o que ouvi. — Farrah encolheu os


ombros. — Eu não sigo futebol.

Um sorriso tocou seus lábios. — Graças a Deus. Eu sou o oposto


de você - bom no que fiz, mas particularmente não gostei disso. Não o
suficiente para fazer isso pelos próximos dez, vinte anos da minha vida.

— Foi por isso que você desistiu?

Blake engoliu em seco. — Foi parte disso.

Felizmente, Farrah não o pressionou sobre o


assunto. Infelizmente, ela fez uma pergunta mais difícil. — Se não for
futebol, o que você quer fazer?

Blake se lembrou de sua empolgação no End Zone. Ele pensou


que poderia fazer isso - começar seu próprio negócio. Depois de dormir
sobre ele, parecia ridículo. Claro, ele já havia projetado o menu em sua
mente e tinha um milhão de ideias de marketing e como queria que o
lugar fosse, mas os sonhos não exigem capital. As empresas, sim.

O único capital que ele tinha eram alguns milhares de dólares


em economias. Uma licença de licor por si só custa mais do que isso.

Blake se forçou a sorrir ainda mais. — Eu vou descobrir.


— Ele não pode fazer isso comigo. — Kris pegou um vestido do
cabide e o jogou na pilha crescente de roupas penduradas em seu braço,
sem olhar para a etiqueta de preço. — Eu não o deixarei.

— Tome cuidado! — Olivia estremeceu. — Esse vestido vale mil


dólares.

— Bom. Vou comprar um em todas as cores. — Kris adicionou o


vermelho, dourado e versões azuis antes de passar para a seção de saia.

Farrah foi atrás dela, tentando ignorar o fato de que o valor


total dos itens nos braços de Kris era igual ao PIB de um país pequeno.

— Ela sempre faz isso quando está chateada, — Courtney


sussurrou. — Ela ficará bem depois de alguma terapia de varejo.

— Querida, isso não é 'alguma'. Isso é muita terapia de varejo,


— disse Olivia enquanto Kris jogava sua carga nos braços de uma
vendedora para que pudesse folhear uma prateleira de saias da Maison
Margiela. — Além disso, eu não acho que fazer compras vai resolver desta
vez. Seu pai vai se casar com alguém cinco anos mais velho que ela. Isso
deve doer.

— Eu posso te ouvir. — Kris puxou uma saia com tanta força do


cabide que o delicado material se rasgou. Todo mundo engasgou. A
vendedora parecia que ia ter um ataque cardíaco. — Calma. Eu pagarei
por isso.

— Querida, vá devagar — Farrah disse gentilmente. — Não


podemos carregar tudo isso de volta para o dormitório.

— Vou contratar alguém para levá-lo de volta. Você não sabe? O


dinheiro pode comprar qualquer coisa, incluindo uma piranha ruiva de 26
anos que pensa que pode tomar o lugar da minha mãe. — Os lábios de
Kris tremeram antes que ela se contivesse. Jogou o cabelo por cima do
ombro, seu queixo erguido em desafio.

— Oh querida. — Os olhos de Courtney brilharam com


simpatia. — Vai ficar tudo bem.

— Talvez ela não seja tão ruim, — disse Olivia. — Talvez ela
realmente ame seu pai.

— Por favor. — Kris fungou. — Ele tem o dobro da idade dela e


eu amo meu pai, mas ele não é George Clooney. A única coisa que ela ama
nele é sua conta bancária.

— Então... a estratégia é drenar antes que eles se casem? —


Farrah brincou, tentando aliviar o clima.

Não funcionou.

— Hilário, — disse Kris. — Não posso impedir o casamento


enquanto estou em Xangai, mas posso traçar estratégias. Eles não vão se
casar até novembro próximo. Nesse ínterim, deixarei o papai saber
exatamente o quanto estou chateada.
— Oh, acho que ele sabe, — disse Courtney. — Todo o salão
feminino ouviu você gritar ontem.

Farrah e Olivia acenaram afirmativamente com a cabeça.

— A única língua que meu pai entende é dinheiro, e ele tem


muito dinheiro. O que eu gastei hoje nem vai dar um... — Kris parou e
ergueu um dedo. — Espere.

Elas esperaram.

— Courtney, seu aniversário está chegando.

— Duas semanas. — Courtney esfregou as mãos em


antecipação. — Nós iremos à forra. Gino's e 808 nunca mais serão os
mesmos.

— Esqueça Gino's e 808. — Kris pescou seu Amex preto de sua


bolsa e o entregou à vendedora, que o agarrou e correu para o caixa sem
deixar cair nenhuma das peças de roupa no chão. — Tenho algo melhor
em mente.

O que era esse algo, ninguém sabia. Kris se recusou a contar a


elas por que queria que fosse uma ‘surpresa’. Tudo o que ela disse foi não
agendar nada para todo o fim de semana de aniversário de Courtney e
avisar o resto do grupo.

Quando elas voltaram para o dormitório, Kris correu para seu


quarto com suas compras. Olivia, que tinha chegado à rodada de
entrevistas para o estágio da CB Lippmann, foi se preparar para sua vídeo
chamada amanhã, enquanto Courtney tinha um encontro pelo Skype com
sua família.
Isso deixou Farrah com o resto da tarde para ela. Ela havia
terminado o dever de casa e não estava com vontade de lutar com o
YouTube ou Netflix. Entre sua VPN e o WiFi lento como uma lesma do
dormitório, o streaming de vídeo era uma luta constante.

Ela vagou até ao andar dos meninos para encontrar Sammy. Ele
não estava lá. Nem Blake. Farrah se perguntou se ele estava com a
morena que ela vira saindo de seu quarto outro dia. Seu estômago se
revirou com o pensamento.

Eles estavam namorando? Onde eles se encontraram? Se eles


estivessem namorando, o jantar de Blake e Farrah parecia bastante íntimo
para um cara que tinha namorada, não? Farrah poderia ter jurado...

Não. Pare.

Farrah se forçou a parar de pensar em Blake e examinou suas


outras opções de companhia. Luke e Leo viviam em casas de família, e ela
não estava desesperada o suficiente para procurar Nardo.

Como último recurso, ela verificou a sala dos alunos, que os


FEAers nunca usavam. Por que fariam isso, se eles tinham uma cidade
inteira para jogar?

O salão silencioso carregava o cheiro de mofo de um lugar que


não era perturbado há algum tempo. Farrah estava prestes a sair quando
percebeu a pessoa lendo na poltrona no canto. Um tênue raio de sol
iluminou as feições esculpidas de Leo.

— Dostoievski, — disse ela, distinguindo a capa do livro à


distância. — Impressionante.
A cabeça de Leo se ergueu. Seus ombros relaxaram quando ele
viu quem era. — Você deveria trabalhar para a CIA. Eu não ouvi você
entrar.

— Acho que são menos minhas habilidades de espionagem e


mais o Crime e Castigo. — Farrah puxou a cadeira em frente a Leo. — Não
são muitos os estudantes universitários que passam as tardes de sábado
lendo literatura russa.

— Eles quem estão perdendo. O que é mais emocionante do


que Crime e Castigo?

A boca de Farrah se curvou. — Você tem um ponto.

Esta foi a primeira vez que ela viu Leo desde a Tailândia. Ele e
Courtney disseram que se reconciliaram após a briga, mas o ar entre eles
permaneceu tenso. Leo havia dispensado todos os jantares em grupo
desde que voltaram, citando deveres escolares ou obrigações de estadia
linguística.

— Parece que você acabou de correr uma maratona.

— Tipo isso. Fui fazer compras com Kris.

— Ah, isso explica tudo.

— Eu não sei se Courtney te contou, mas Kris descobriu que seu


pai está se casando novamente com uma jovem de 26 anos que ele
conheceu em um bar há alguns meses. Ela está chateada. — Farrah
observou a reação ao nome de Courtney.

— Eu não estava ciente. — O rosto de Leo estava tão liso e vazio


como mármore. — Isso é péssimo.
É hora de parar de rodeios. — O que está acontecendo com
você e Courtney? — Fosse o que fosse, eles precisavam engolir e fazer
as pazes - de verdade.

— Eu não sei o que você quer dizer.

— Você teve aquela grande briga na Tailândia e as coisas não


foram as mesmas desde então.

Leo folheou seu livro. — Elas têm estado bem.

— Você nos evitou - correção, você evitou Courtney - desde que


voltamos.

— Eu estive ocupado.

— Besteira. — Farrah bateu com as mãos nos apoios de braço,


fazendo Leo pular. — Diga a verdade. O que está acontecendo? Vocês
estão terminando?

— Não estamos namorando.

— Eu não sou idiota. Nenhum de vocês esteve com ninguém


desde o início do ano. No mundo da faculdade, isso é namoro.

— Sério? — Leo arqueou uma sobrancelha. — Devo pegar um


dicionário?

— Não mude de assunto.

Ele abriu e fechou o livro. — Olha, Courtney é uma garota


legal. Ela é divertida e eu gosto de sair com ela. Mas... — Ele parou. Suas
sobrancelhas se juntaram em um V. — Ela pode ser um pouco...

— Mandona?
Leo encolheu os ombros.

— Todos nós sabemos que ela é mandona. Ela sabe que é


mandona. Isso é parte do charme dela.

— Eu acho. — Leo suspirou. — Às vezes me pergunto como seria


estar com alguém mais tranquilo. Alguém como você, por exemplo.

Farrah se engasgou com sua saliva. Ele não disse isso. Ele acabou
de dizer aquilo?

Este foi o momento que ela fantasiou desde que ela colocou os
olhos em Leo.

Ela esperava fogos de artifício.

Ela esperava palmas suadas e nervosismo no estômago.

Em vez disso, não havia... nada. As borboletas que costumavam


levantar voo sempre que ela via Leo nem se mexeram.

— Hum, eu...

— Hipoteticamente. — O rosto de Leo se enrugou em um


sorriso. — Eu sei que não sou seu tipo.

— Você não é? — Isso era novidade para ela. Leo


era exatamente o seu tipo: alto, moreno, bonito, sensível, inteligente. Ele
verificou todas as caixas de sua lista de verificação do Ideal Guy.

E ainda assim, nada.

Talvez ela estivesse tão acostumada a ansiar por ele que não
percebeu mais a agitação.
— Nah, você precisa de alguém que possa desafiá-la. Você
ficaria entediada comigo. Nós dois apenas ficaríamos sentados o dia todo
pensando.

Ela riu. — Existem coisas piores na vida.

— Verdade, mas não seria muito emocionante.

— É por isso que você e Courtney são perfeitos. Ela fala o


suficiente por vocês dois.

A risada de Leo se juntou à dela. — Isso ela faz.

No crepúsculo que se aproximava, Leo parecia uma escultura


ganhando vida. Mas enquanto Farrah estava sentada ali em frente ao
garoto com quem ela fantasiava desde o início do semestre, ela não sentiu
nada. Sem borboletas, sem batimentos cardíacos saltados, sem tontura
por sua mera presença.

Havia apenas uma pessoa que a fazia se sentir assim.

Ele era loiro, arrogante e irritante, tudo que Farrah pensava que
não queria. Mas ele também era doce, atencioso e a fazia rir de uma
forma que ninguém mais conseguia.

Oh Deus.

Farrah deslizou para baixo em sua cadeira. Ela ignorou o olhar


questionador de Leo e em vez disso se perguntou como diabos ela acabou
se apaixonando por Blake Ryan.
Blake ia pular.

70 andares, 232 metros e nada além de uma corda para impedi-


lo de navegar para a vida após a morte na tenra idade de 21 anos.

Foi uma aposta e tanto.

O fim de semana de aniversário de Courtney poderia muito bem


se transformar no fim de semana da morte de Blake, mas foda-se, o que
era a vida sem alguns riscos?

Ao lado dele, Farrah agarrou-se ao corrimão com uma das mãos


e ao colar com a outra, os olhos arregalados e o rosto mortalmente
branco. Terror emanava dela em ondas.

— Eu não posso fazer isso. — Ela puxou o cinto como se


estivesse muito apertado. — Tire isso de mim. Eu não consigo fazer
isso. Vou morrer.

— Vai ficar tudo bem, — o operador de bungee jump disse


suavemente. — Fizemos milhares desses saltos; nós sabemos o que
estamos fazendo. Nosso equipamento de segurança é top de linha.

— Passo. — Farrah recuou e puxou seu arreio novamente. Sua


respiração saiu em baforadas curtas e em pânico.
O operador olhou para Blake, a única pessoa em seu grupo que
ainda tinha que pular além de Farrah.

— Vou falar com ela, — disse Blake. — Dê-nos um minuto.

Ele caminhou até Farrah e colocou as mãos nos ombros dela. Ela
estremeceu sob seu domínio. — Respire fundo. Em um, dois, fora um,
dois. É isso. Como você está se sentindo?

— Não é bom. Eu odeio alturas. — Farrah engoliu em seco


novamente. — Não sei por que concordei com isso. Diga a Courtney que
sinto muito, e que irei devolver o dinheiro a Kris. Espere, não. Eu mesma
direi a elas quando descer. — Ela ergueu a mão para chamar o operador
uma vez.

Blake agarrou o pulso dela e o abaixou. — Uau. Antes de sair,


me escute.

— Não perca seu tempo. Eu não estou mudando de ideia. Dê o


seu salto e eu o encontrarei...

— 11.265 quilômetros.

As sobrancelhas de Farrah se franziram em confusão. — Como


é?

— Essa é a quantidade de quilômetros que você voou para ir dos


Estados Unidos à China. 11.265 quilômetros.

— Hum, ok?

— Você gastou todo esse tempo e dinheiro para chegar aqui, a


fim de ficar de fora e assistir outras pessoas viverem suas vidas?
O queixo de Farrah caiu. As palavras soaram ásperas aos
próprios ouvidos de Blake, mas precisavam ser ditas.

— Isso não é viver. — Farrah apontou o dedo para a plataforma


de salto. — Isso é morrer. Se eu pular dessa plataforma, morrerei.

— Besteira.

— Não é besteira!

— Farrah, pense em todos que pularam esta noite e


sobreviveram. Porra, até Luke fez isso, e ele pesa três vezes mais do que
você. Se ele não consegue quebrar a corda, ninguém consegue. — Os
olhos de Blake brilharam. — Eu odeio quebrar isso com você, mas você
não é tão especial.

— Ha ha. — A expressão de Farrah se iluminou antes de ficar


tensa novamente. — Eu ainda não estou fazendo isso. Mesmo se a corda
não quebrar, terei um ataque cardíaco no ar.

— OK. — Blake a soltou. — Não vamos forçá-la a fazer algo que


você não quer. Se você estiver realmente desconfortável com a ideia,
pode ir embora e ninguém irá julgá-la por isso. Mas antes de fazer isso,
olhe ao redor e me diga o que você vê.

Ela fez. Blake seguiu seu olhar e avaliou os arredores. Eles


estavam no topo da Torre de Macau, lar do salto de bungee jump mais
alto do mundo. Abaixo deles, as luzes da cidade e os amplos hotéis-
cassinos brilhavam como um tapete de estrelas caídas.

— Vejo Macau?
— Você vê Macau, eu vejo uma escolha. — Seis meses atrás,
Blake teria se dado um soco na cara se ouvisse essas palavras saindo de a
boca dele. Ele parecia um maldito livro de autoajuda. Mas isso não era
sobre ele; tratava-se de Farrah. — Você pode ficar em sua zona de
conforto ou fazer algo que faça seu coração disparar. Um está seguro. O
outro é assustador como o inferno. Você sabe onde o caminho seguro a
leva - mas ele só a leva até lá. O caminho assustador? Ninguém sabe. Pode
ser horrível. Ou pode ser a melhor decisão que você tomará.

Blake ficou tão envolvido em seu discurso que esqueceu se eles


estavam falando sobre o bungee jump ou qualquer outra coisa.

Droga, eu deveria ser um palestrante motivacional.

Os olhos de Farrah nadaram com incerteza. — Eu... — Ela olhou


em volta mais uma vez. — Estou muito assustada.

— Você deveria estar. Eu também. Mas pense em como será


bom depois de fazer isso. Bungee jump: $ 500. Enfrentando seus medos:
não tem preço.

A risada de Farrah era música para os ouvidos de Blake. Ela


afrouxou o aperto em seu colar. — Você é uma bola de queijo.

— Não há nada de errado com o queijo. É delicioso. — O rosto


de Blake se suavizou. — Que tal agora? Se você não pular, eu também não
vou.

Seus olhos se arregalaram. — Você não tem que fazer isso.


— Eu quero. Para que são os amigos? — Blake deu um sorriso
torto. — Segunda opção: se você pular, eu pulo primeiro. Eu te pegarei se
você cair. Não que você vá, — ele acrescentou rapidamente.

Uma apresentação de slides de emoções passou pelo rosto de


Farrah. Medo, nervosismo e, finalmente, determinação. — Não, — ela
disse. — Eu vou primeiro. Eu preciso de você aqui para apoio moral.

Blake sorriu. — Você entendeu.

Ele acenou para o operador. Ainda bem que Kris reservou uma
hora inteira para eles. Caso contrário, a equipe os teria expulsado há
muito tempo.

— Se eu morrer, a culpa é sua — disse Farrah enquanto a


operadora verificava seu arnês para se certificar de que estava bem
apertado e corretamente afivelado.

— Anotado. — Sem pensar, Blake estendeu a mão e apertou a


mão dela. O toque da pele dela contra a dele fez seu coração disparar de
uma forma que nada tinha a ver com o salto iminente de uma torre de 70
andares. — Você ficará bem. Vou pagar uma bebida para você depois que
terminarmos.

— Preparada? — perguntou o operador.

Farrah respirou fundo. Sua pele tinha uma leve tonalidade


verde. — Não. — Ela assumiu sua posição na plataforma de salto e olhou
por cima do ombro para Blake. — Faça uma bebida dupla.

— Feito.
Farrah olhou para a frente. Blake prendeu a respiração, o
coração batendo forte o triplo. Ela hesitou, e por um segundo ele pensou
que ela fosse desistir novamente. Mas ela deu o salto e seu grito ecoou no
ar frio da noite. Ele poderia identificar o momento em que o rebote
aconteceu porque ouviu outro grito - mais fraco desta vez - e então...
silêncio.

Um sorriso se espalhou pelo rosto de Blake. Droga, ela fez


isso. Ela realmente fez isso.

Uma onda de orgulho o inundou.

— Sua vez. — O operador acenou para Blake.

Depois de passar no teste de segurança, Blake ocupou o lugar de


Farrah na plataforma de salto e olhou para baixo. 232 metros era um
longo caminho para cair.

— Preparado? — O operador e um assistente agarraram a parte


de trás do cinto de segurança de Blake.

Ele assentiu. Eles se soltam.

Blake imaginou o rosto de Farrah. Se ela podia fazer isso, ele


também podia.

Foda-se.

Ele estava em Macau. Ele estava no topo do mundo. Era agora


ou nunca.

Blake fechou os olhos e caiu.


Farrah não morreu. Pelo contrário, ela nunca se sentiu mais
viva.

Ela agarrou a mão de Kris e a girou, sua pele zumbindo com


energia. Ela não conseguia parar de sorrir. Ela estava no topo do mundo.

— Obrigada por isso! — ela gritou por cima da música.

A ideia que Kris teve durante sua sessão de terapia de varejo


acabou sendo uma ideia gigantesca - uma viagem com todas as
despesas pagas a Macau para o fim de semana do aniversário de
Courtney. Só os pacotes de bungee jump custam US $ 4.500 para o
grupo. Isso sem contar os voos, refeições, bebidas, suítes em
um hotel cinco estrelas e várias outras atividades. A conta total deve ser
executada em cinco dígitos.

Farrah não conseguia imaginar que nenhum pai estaria bem


com seu filho gastando tanto dinheiro em um fim de semana, mas ela não
conseguia se importar. Ela estava muito feliz, muito tonta,
também... tudo.

— A qualquer momento. Eu amo Macau! — Kris gritou de


volta. Seus olhos brilharam com uma mistura de triunfo, desafio e
satisfação. — E papai vai pirar quando vir a fatura do cartão de crédito do
mês que vem. Mal posso esperar! Ele finalmente vai entender como estou
chateada com Gloria.

Então a ruiva tinha um nome.

A música fez a transição das batidas hipnóticas e down-time do


EDM para um remix club mais sensual do último sucesso do R&B. Farrah
sorriu ao ver Courtney e Leo se beijando no canto. Acho que a conversa
dela com ele funcionou.

O aniversário de Courtney caiu um dia antes do Halloween, e ela


insistiu em usar uma roupa fantasiosa. Seu vestido melindroso dourado
brilhava como um raio de sol na boate escura.

O olhar de Farrah percorreu o clube e pousou em Blake, que


estava bebendo com Luke no bar. Na fraca iluminação avermelhada do
clube, ele parecia o pecado e a tentação ao mesmo tempo. Blake virou a
cabeça para dizer algo a Luke, e o movimento destacou seu perfil -
as maçãs do rosto esculpidas, o nariz reto e alto, o queixo forte. Como era
possível que o rosto de alguém fosse tão perfeito? Não era justo.

No entanto, quando Farrah olhou para ele, ela não pensou em


como Blake se parecia com um deus grego. Ok, ela pensou um pouco, mas
tudo em que conseguiu se concentrar foi na maneira como ele a segurou
no topo da Torre de Macau. O calor que a percorreu quando ele se
ofereceu para pular o salto com ela. Como ele a fez sentir que poderia
vencer seu maior medo físico - e ela o fez.

— Você entendeu mal.


— O quê? — Farrah perguntou, distraída. Blake riu de algo que
Luke disse. O friozinho na barriga deu uma cambalhota que deixaria
Simone Biles orgulhosa.

— Você tem uma queda por Blake, — Kris cantou.

Farrah se virou para encarar a amiga. Ela ficou vermelha. — Eu


não.

— Por favor. Eu reconheço esse olhar. Você totalmente quer


saltar sobre os ossos de Blake.

— Shh! — Farrah olhou de volta para o bar. Blake continuou


conversando profundamente com Luke. — Você quer que todos ouçam?

— Ninguém pode ouvir merda nenhuma. Está barulhento aqui.

— Ele pode ouvir você! — Farrah gesticulou para Nardo.

— Obrigado por saber que estou aqui, — disse ele com ironia. —
Não se preocupe, não contarei a ninguém. Uma garota que gosta de Blake
Ryan dificilmente é novidade. Caras, assim sempre têm uma fila de
garotas esperando para pegá-los. — Nardo fungou. — É uma escolha
pouco inspirada, na verdade.

— Obrigada pela sua opinião não solicitada. — Kris empurrou


Farrah em direção ao bar. — Chame ele para dançar.

— Acho que não. — Lá se vai o discurso anterior eu-posso-


conquistar o mundo.

Farrah não dava o primeiro passo. Nunca. A ideia de rejeição e a


humilhação que a acompanha era demais para suportar.
— Por que não? Você gosta dele, não é?

— Essa não é a questão. Eu não posso simplesmente ir lá e


perguntar a ele.

— Querida, estamos no século vinte e um. As meninas podem


fazer o primeiro movimento.

— E se ele disser não?

— Então ele é um idiota. Você é gostosa!

— Ok, mas isso não significa

— Farrah Lin, se você der mais uma desculpa, enfiarei o pé na


sua bunda. Vá!

OK. Ela poderia fazer isso. Ela estava pedindo a Blake para
dançar, não para se casar com ela.

Farrah se obrigou a caminhar até ao bar. Seu estômago se


contraiu mais a cada passo.

Luke a notou primeiro. — E aí?

— E aí. Quer dizer, oi. — Bom.

Os olhos de Blake se enrugaram em um sorriso. — Vejo que


você está aqui para reclamar sua bebida.

— O quê? Oh, minha bebida! — Certo. A bebida pós-salto que


ele prometeu a ela. — É por isso que estou aqui, — disse Farrah, aliviado
por ter uma desculpa.

— O que você acha de uma dose dupla de tequila?


Parecia terrível, mas ela precisava de coragem líquida. —
Perfeito.

Quando Blake fez o pedido, Farrah trabalhou para domar seus


nervos. Ela pulou da porra de uma torre esta noite, pelo amor de Deus. Ela
não deveria estar tão nervosa com uma dança simples.

— Eu preciso fazer xixi antes de beber mais tequila, — Luke


anunciou. Farrah olhou para o líquido marrom-amarelado em seu copo e
franziu o nariz.

— Uh, obrigado por nos avisar. — Blake deu um tapinha no


ombro de Luke. — Vá fazer o que você quer, cara.

— Paz. — Luke jogou o sinal da paz e saiu andando devagar. Ele


era tão alto que se elevava sobre todos os outros no clube.

— Ele se foi, — disse Farrah.

— Oh sim, ele terminou. Terei sorte se ele não vomitar em


nosso banheiro esta noite. — Blake borrifou sal na pele entre o polegar e
o indicador e entregou o saleiro para ela.

Ela fez o mesmo. — Por vencer os medos.

— Por vencer os medos. — Farrah bateu seu copo contra o de


Blake e bebeu a tequila. Ela fez uma careta e mordeu a rodela de limão,
deixando a fruta azeda equilibrar o sabor do álcool que descia por sua
garganta.

Deus, as doses de tequila eram nojentas. Pelo lado bom, não


demorou muito para que seu zumbido voltasse e acalmasse seus nervos
em frangalhos.
Era isso. É hora de perguntar a ele. — Quem é a garota? —
Espere. Essa não era a pergunta certa.

Blake inclinou a cabeça. — Que garota?

— A garota que vi saindo do seu quarto na noite em que fomos


para a Villa Moller. — Farrah tinha evitado perguntar ou pensar sobre a
Garota Misteriosa desde aquela noite, mas agora ela não conseguia parar
de pensar nela. Não era preciso ser um gênio para perceber o que Blake e
a Garota Misteriosa estavam tramando.

Foi uma coisa única ou ele ainda a estava vendo?

Farrah lutou contra a vontade de vomitar. Sim, a alta pós-


salto tinha desaparecido 100%.

O desconforto encheu o rosto de Blake. — Ela é uma garota com


quem eu estava saindo.

— Saindo, — ou seja, mais de uma vez.

— Era, — como no pretérito.

— Oh. — Farrah brincou com seu copo vazio. — Qual é o nome


dela?

— Mina.

— Ela é muito bonita.

O desconforto aumentou. — Eu acho.

— Você ainda está saindo com ela?

— Ela está saindo de Xangai na próxima semana. Posso dizer


adeus.
— Uau, isso é romântico. — Saiu mais sarcástico do que ela
pretendia. O que havia de errado com ela?

A cabeça de Farrah girou. A dose de tequila não foi uma boa


ideia. Blake fez uma careta. — O nosso relacionamento não é
romântico. Nós sabíamos que seria puramente físico. Eu sei que é difícil
para você entender...

— Uau. — Farrah prendeu a respiração. — Por que é difícil para


mim entender? Por que sou virgem? Isso não significa que eu cresci em
um convento, Blake. Eu sei o que são parceiros de foda.

— Não! Você está interpretando isso da maneira errada. —


Blake passou a mão pelo cabelo, o rosto tenso de frustração. — Eu quis
dizer que você é uma romântica. Você mesmo disse. Você acredita no
Único e no amor épico e tudo isso. Eu não. Não foi para isso que vim aqui.

Ele estava certo. Ele disse isso o tempo todo. Blake não
acreditava no amor. Farrah foi uma idiota por esquecer isso. Ela tinha
estado tão envolvida em seus devaneios que ignorou o que estava bem na
sua frente e leu muito em cada olhar, cada palavra, cada ação. Quando
Blake a levou para jantar e deu aquele discurso estimulante na torre, não
era porque gostava dela. Ele estava apenas sendo um bom amigo.

Bons amigos tinham o seu lugar, mas Farrah estava cansada de


se apaixonar por caras que ela não podia ter. Eles sempre estiveram
emocionalmente indisponíveis, como Blake, ou literalmente indisponíveis,
como Leo.

Ela precisava parar de viver nas nuvens e voltar à realidade. —


Talvez não seja por isso que vim aqui também. — Farrah agarrou o drink
mais perto dela e bebeu. Vodka. Blech. — Ei! — o dono da bebida
protestou.

O zumbido se intensificou. Seu coração batia rápido com


adrenalina. — Eu posso ter encontros casuais, — disse Farrah. — Vou
provar isso.

As sobrancelhas de Blake se franziram. — Farrah... — Sua voz


carregava um aviso.

Farrah o ignorou. Ela agarrou a camisa do dono da bebida. Ele


era jovem. Aparência decente. Ele serviria. — Você. Você é solteiro?

— Uh, sim.

— Bom. Vamos dançar.

Farrah o arrastou para a pista de dança sem dar a Blake outro


olhar. Ela ignorou seus amigos surpresos e colocou os braços em volta do
pescoço do cara.

A música seguiu para outra canção R&B ainda mais sexy. Farrah
apertou o quadril contra o do Cara do Drink, girando com a batida da
música. Ele estava usando muito perfume e seu hálito cheirava a vodca
barata.

Felizmente, ela estava bêbada o suficiente para ignorar essas


duas coisas. Foda-se Blake. Farrah não estava esperando pelo Príncipe
Encantado, e ela não era ingênua o suficiente para pensar que ela o
encontraria durante os estudos no exterior. Seu erro foi a visão de túnel -
focando em um cara que ela gostava e ignorando o resto de suas opções.
Era hora de dar uma chance a outros caras. Ela não precisava de
borboletas e batimentos cardíacos para se divertir.

— Uau. — Os olhos do cara da bebida ficaram vidrados. — Estou


tão feliz que você pegou minha bebida. Sou Greg.

— Greg, eu sou Farrah. Agora cale a boca.

— OK. — Um minuto se passou. — Então, de onde você é?

Farrah gemeu. Em vez de responder, ela agarrou a nuca dele e o


beijou. Isso vai calá-lo.

Greg não beijava muito bem, mas o que faltava em habilidade


ele compensava com entusiasmo. Seus lábios se moveram ansiosamente
sobre os dela, e suas mãos seguraram seu traseiro...

Greg se foi.

Farrah franziu a testa. Seus olhos se abriram para ver Blake


elevando-se sobre eles com um rosto como um trovão. Ele agarrou o
ombro de Greg com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.

— Você fez o seu ponto. — Sua voz estava calma, mas afiada em
aço. Um músculo pulsou em seu maxilar.

— Eu não estou fazendo um ponto. Estou beijando. — Farrah riu


de seu jogo de palavras. — Agora, deixe-o ir para que possamos continuar
a beijar.

— Sim, cara, você está me machucando, — Greg reclamou. Ele


tentou se desvencilhar do aperto de Blake.
Blake apertou com mais força. — Vou contar até três antes de
reorganizar seu rosto, — disse ele, ainda com aquela voz mortalmente
calma.

Greg olhou para Blake, então para Farrah, então para Blake
novamente. Ele ergueu as mãos. — Não precisa atirar em mim duas vezes.

Ele saiu correndo.

Covarde.

— Olha o que você fez. Feliz agora? — A sala inclinou-se para a


direita. Farrah balançou a cabeça até que se corrigiu.

— Nem um pouco. Você está bêbada.

— Não brinca. Estamos em um bar.

— Aquele cara estava com as mãos em cima de você!

— E daí? Se eu não quisesse as mãos dele em cima de mim, eu


mesma teria cuidado disso. — Farrah empurrou o peito de Blake, seu
zumbido dando lugar à raiva. Blake não se mexeu. Foi como tentar
empurrar uma árvore. Um com covinhas idiotas e olhos azuis idiotas da
cor de cristais. Só agora, as covinhas não estavam em lugar nenhum, e
seus olhos escureceram para um tom furioso de safira. — Você não tinha
o direito de assustá-lo assim.

— Eu estava tentando te ajudar!

— Eu não preciso da sua ajuda!


— Gente. — Sammy se interpôs entre eles. Olivia deve ter feito
isso porque ele parecia que preferia estar em qualquer lugar, menos
aqui. — Vamos diminuir um pouco. Por que não...

— Cale a boca, Sammy, — Farrah e Blake disseram em uníssono.

— Sim, ok. — Sammy voltou para onde Olivia estava com o resto
de seus amigos. Ela olhou para ele. — O quê? Tentei.

— Vamos discutir isso lá fora, — disse Blake com os dentes


cerrados. — Todo mundo está olhando.

Ele estava certo. Uma multidão se formou e as pessoas assistiam


ao drama se desenrolar com os olhos arregalados. Ela meio que esperava
que um deles estourasse um balde de pipoca.

— Não há nada para discutir.

— Farrah, por favor.

— Ok, — ela retrucou. Ela seguiu Blake para fora da sala VIP até
à saída. O suor escorreu por sua testa. Talvez o ar fresco lhe fizesse bem.

— Nenhuma reentrada depois que você sair, — o segurança


avisou.

— VIP. — Farrah mostrou sua pulseira roxa como prova.

O segurança semicerrou os olhos e acenou com a cabeça.

Não havia ninguém perto da saída, exceto por um punhado de


taxistas fumando e conversando ao lado de seus carros. Farrah respirou
fundo.

Blake a encarou. — Você não está agindo como você.


— Nem você. Você está agindo como um idiota.

— Estou agindo como um idiota? Você me deu uma bronca por


tentar ajudá-la!

— Eu disse que não preciso da sua ajuda.

As narinas de Blake dilataram-se. — Tudo bem. Foi mal. Vá


beijar aquele cara. Na verdade, vá fazer sexo selvagem e balance nos
lustres. Veja se me importo.

— Você se importa. — As palavras escaparam antes que Farrah


pudesse detê-las.

— Como?

Ela cruzou os braços sobre o peito. — Você se importa, ou não o


teria puxado para longe de mim. — Talvez ela estivesse lendo muito sobre
as coisas novamente. Talvez não. O ar fresco do outono clareou a névoa
em sua cabeça o suficiente para ela perceber que Blake não estava agindo
da maneira que um amigo normal agiria quando a visse beijando outra
pessoa. — Por quê?

Blake ficou tenso. — Não sei do que você está falando.

— Estou falando sobre porque você está tão preocupado com


quem eu fico.

— Eu não estou!

— Você está gritando!

— Eu não estou gritando! — ele gritou mais alto. — Eu… —


Blake esfregou o rosto. Seus ombros caíram. — Porra.
— Diga-me. — O coração de Farrah disparou como se ela
estivesse na beira da plataforma de salto novamente, pronta para cair. Ela
estava indo por um caminho perigoso, mas talvez, apenas talvez... — Por
que você se importa?

— Talvez seja a mesma razão pela qual você se importa, — disse


Blake calmamente. — Por que todas as perguntas sobre Mina esta noite?

A cabeça de Farrah latejava no ritmo de seu pulso.

Eles se encararam, o ar entre eles pesado com palavras que


nenhum dos dois queria dizer. — Por quê. — Ela lambeu os lábios. Sua
boca estava tão seca que não ajudou. — Blake, eu...

— Eu amo você.

A respiração de Farrah ficou presa na garganta. A tontura


borbulhou dentro dela. Ele disse...

— Eu te amo como uma irmã, e não quero ver você se


machucar.

A vertigem entrou em colapso. — Você me ama como uma irmã,


— ela repetiu entorpecida.

Irmã. Pior que amigo. Pior que inimigo. Essas coisas, nas
condições certas, podem se transformar em algo mais. ’Irmã’ era
intocável.

Blake não a via como uma perspectiva romântica ou sexual. Por


que deveria, quando tinha garotas como Mina esperando nos
bastidores? Garotas que eram bonitas e experientes e pareciam um
cruzamento entre Megan Fox e uma jovem Angelina Jolie. Como Farrah
poderia competir com isso?

Ela não podia, e ela não queria.

Farrah ergueu o queixo. Ela estaria condenada se se permitisse


lamentar por alguém que não a queria de volta.

Ela superou Leo. Ela superaria Blake.

— É bom saber, — disse ela. Para seu alívio, sua voz saiu
uniforme. — Estou feliz por termos isso resolvido. — Ela se virou para
reentrar no clube quando Blake agarrou seu braço.

— Farrah, você é... — Blake parou e engoliu em seco. Ele parecia


torturado, como se houvesse uma guerra acontecendo dentro dele. —
Eu não...

— Você não precisa dizer mais nada. Compreendo. — Farrah se


desvencilhou de suas mãos e retomou a caminhada até ao bar. Ela piscou
para conter a sensação de queimação atrás das pálpebras. — Agora, se me
dá licença, tenho o aniversário de uma amiga para comemorar.

Farrah não sabia se Blake a seguia. Ela não olhou para trás para
verificar.
CENA BÔNUS – BAR DE MACAU: PONTO DE VISTA DE UM BLAKE
MUITO CIUMENTO

Blake estava na merda.

Enquanto Luke tagarelava sobre Rugby ou Teletubbies ou


qualquer outra coisa, Blake não conseguia tirar os olhos da pista de dança.

De uma pessoa específica na pista de dança, para ser exato.

Farrah girou Kris, seu sorriso iluminando o clube como a luz do


sol cortando nuvens escuras. Ela estava tonta desde o bungee jump, e a
boca de Blake se curvou em um sorriso quando ela sacudiu o cabelo e
rebolou ao som da música. Os movimentos estavam totalmente em
desacordo com a música EDM explodindo pelos alto-falantes, mas isso só
os tornou mais charmosos.

Ele se encolheu no segundo em que o pensamento passou por


sua mente.

Movimentos de dança charmosos? O que há de errado com


você?

Blake tomou um gole de uísque e se forçou a se concentrar no


que Luke estava dizendo em vez do pacote de tentação a três metros de
distância.

Ela é virgem e está na FEA, pensou ele. Ambas as coisas que


levariam a um grande drama se ele se envolvesse com Farrah e a merda
fosse para o sul.
Depois do que aconteceu no ano passado com o futebol e Cleo,
a última coisa que ele precisava era de mais drama.

— …sem intenção de me tornar profissional, — disse Luke. — O


coaching pode ser divertido.

— Vá em frente, — disse Blake, embora não tivesse ideia do que


Luke estava falando. Ele esperava que fosse Rugby e não competições de
comida ou algo assim. Luke conseguia engolir mais cachorros-quentes em
dez minutos do que um ser humano normal comia em um ano, mas enfiar
milhares de calorias na boca no menor tempo possível não parecia um
caminho viável de treinamento.

Então, novamente, a julgar pelo rosto corado de Luke e pupilas


dilatadas, ele não se lembraria dessa conversa pela manhã.

— Você tem razão. — Luke assentiu. — Abshoo... abshosh... —


Ele balançou a cabeça e tentou novamente. — Absolutamente certo.

Blake riu. — Talvez você devesse ir com calma pelo resto da


noite, cara.

— Talvez. — Alguém atrás de Blake chamou a atenção de


Luke. — E aí? — O Wisconsinite assentiu.

Blake se virou, seu estômago fazendo uma dancinha engraçada


quando viu Farrah parada ali, parecendo ainda mais bonita de perto em
seu pequeno vestido preto e saltos.

— E aí. Quero dizer, oi. — As bochechas de Farrah coloriram um


adorável rosa.

Encantador. Adorável.
Sim, Blake realmente estava na merda.

Ele afastou seus patéticos pensamentos e sorriu, lembrando-se


de sua promessa a ela na Torre de Macau. — Vejo que você está aqui para
reivindicar sua bebida.

Ele mesmo poderia tomar outra bebida. Talvez isso mantivesse


seus pensamentos fora do caminho perigoso que eles tomaram, como
imaginar o sabor de Farrah, ou imaginar aquelas longas pernas enroladas
em sua cintura enquanto ele...

Uau. Devagar, caralho.

Blake fechou a tampa daquela fantasia em particular mais


rápido do que você poderia dizer ‘bloqueio de pau’. Farrah era virgem. Ela
não faria um encontro casual, e infelizmente, isso era tudo que Blake
podia dar neste momento.

Uma estranha pontada de arrependimento perfurou seu peito


mesmo quando o Blake Jr lá embaixo se animou com as fantasias pornôs
que passavam por sua cabeça.

— O quê? Ah, minha bebida! — Farrah parecia distraída, graças


a Deus. Espero que ela não tenha notado a ereção agora contra o zíper
dele como um cachorro contra uma coleira. — É por isso que estou aqui.

— Como soa uma dose dupla de tequila?

Esperançosamente, um duplo seria o suficiente para tirar a


mente de Blake da luxúria que pulsava em seu sangue.

— Perfeito.
— Eu preciso fazer xixi antes de beber mais tequila, — Luke
anunciou quando Blake fez o pedido.

Blake tinha esquecido totalmente que seu amigo ainda estava


lá.

— Uh, obrigado por nos avisar. — Ele deu um tapinha no ombro


de Luke. — Vá fazer suas coisas, cara.

— Paz. — Luke saiu trotando, deixando Blake e Farrah sozinhos.

— Ele se foi. — Ela parecia divertida.

— Ah, sim, ele terminou. Terei sorte se ele não vomitar em


nosso banheiro esta noite. — Blake fez uma careta quando se lembrou da
bagunça da noite passada. Luke deveria ser proibido de beber após a
quarta bebida.

Ele ergueu o copo. — Por vencer os medos.

— Por vencer os medos.

Eles tomaram suas bebidas ao mesmo tempo. O líquido suave e


ardente se acumulou no estômago de Blake, aliviando um pouco sua
tensão.

Isso foi, até que Farrah perguntou: — Quem era a garota?

Ele franziu a testa. — Que garota? — Ele não tinha falado com
nenhuma garota esta noite, exceto as do grupo.

— A garota que eu vi saindo do seu quarto na noite em que


fomos para Moller Villa.

Mina.
E a tensão estava de volta. Ela se amontoou nos ombros de
Blake e percorreu sua espinha até que ele ficou rígido como uma tábua.

Ele e Farrah não estavam namorando. Eles nunca se beijaram, e


ele poderia ficar com quem quisesse.

Então, por que ele se sentia tão culpado?

— Ela é uma garota que eu estava saindo. — Para ser honesto,


Blake não via Mina desde a noite em que Farrah voltou da Tailândia. Eles
trocaram alguns sexts19 e mensagens regulares, mas nenhum encontro
pessoal. Blake estava bem com isso. Foi divertido enquanto durou, e Mina
impediu Blake de subir pelas paredes com frustração sexual, mas nenhum
dos dois tinha ilusões sobre o relacionamento deles ser mais do que era:
um caso casual e de curta duração.

— Oh. — Farrah brincava com seu copo, uma carranca


contemplativa em seu rosto. — Qual é o nome dela?

— Mina.

— Ela é muito bonita.

— Eu acho. — Esta não era uma conversa que Blake esperava


ter, nunca, e ele ansiava por outra dose de tequila para queimar o
desconforto.

E sim, Mina era gostosa, mas ela não se igualava Farrah – não
que ele pudesse dizer isso a Farrah.

— Você ainda está vendo-a?

19
Mensagens eróticas.
— Ela está deixando Xangai na próxima semana. Eu devo
despedir dela.

Eu provavelmente não vou. Mina não disse a ele que dia ela
planejava partir, e ele não perguntou.

— Uau, isso é romântico.

Blake endureceu com o tom de Farrah. Por alguma razão, seu


julgamento ralava mais do que o de outros.

— O nosso relacionamento não é romântico, — disse ele. — Nós


sabíamos que seria puramente físico. Eu sei que é difícil para você
entender...

No minuto em que as palavras saíram de sua boca, ele sabia que


tinha cometido um erro.

O rosto de Farrah empalideceu. — Uau. Por que é difícil para


mim entender? Por que eu sou virgem? Isso não significa que cresci em
um convento, Blake. Eu sei o que são os amigos de foda.

— Não! Você está levando isso do jeito errado. — Blake passou


uma mão frustrada pelo cabelo. Esta conversa tinha ido para a merda mais
rápido do que tomar uma dose. — Eu quis dizer que você é uma
romântica. Você mesmo disse. Você acredita no Único e no amor épico e
tudo mais. Eu não. Não foi para isso que vim aqui.

Ele falou com menos convicção do que na última vez que ele e
Farrah discutiram esse assunto, depois de seu dia no M50. Blake ainda
acreditava que o amor era um trapaceiro - quem na vida real tinha
relacionamentos como o de The Notebook ou qualquer filme que
Hollywood inventou para alimentar sonhos irreais e arrecadar dinheiro? -
mas parte dele desejava que não, se apenas Farrah não parecesse tão
chateada.

— Talvez também não seja para isso que eu vim aqui, — ela
retrucou. Ela pegou uma bebida aleatória do balcão e bebeu. — Eu posso
ter conexões casuais. Eu provarei isso.

As sobrancelhas de Blake se juntaram em uma carranca. O que


diabos ela quis dizer, ela vai provar isso?

— Farrah... — Aviso em camadas em sua voz.

É melhor ela não fazer o que ele pensou que ela ia fazer; Blake
queria sair de Macau sem matar ninguém.

As chances de isso acontecer evaporaram quando Farrah pegou


um filho da puta de aparência formal do bar e o puxou para a pista de
dança, onde o filho da puta começou a acariciá-la como um adolescente
excitado sentindo uma garota pela primeira vez.

Em vez de afastá-lo, Farrah enrolou os braços em volta do


pescoço do Mauricinho e apertou contra ele em um show que poderia
fazer uma stripper corar.

Mas. Que. Porra.

Ciúme borbulhou na garganta de Blake, sufocando-o, mas ele


estava muito chateado para investigar por que, exatamente, a visão de
Farrah com outro cara o fez querer bater o punho na parede. Ou, melhor
ainda, na cara do Mauricinho.
Blake não era uma pessoa violenta. Ele podia contar o número
de brigas físicas que ele participou em uma mão, mas naquele momento,
ele ficaria feliz em rasgar o Mauricinho, membro por membro.

E se o babaca de camisa xadrez não tirasse as mãos de Farrah


nos próximos dez segundos, era exatamente isso que ia acontecer.

— Ei, o que eu perdi? — Luke se aproximou e arrotou. — Onde


está Far... oh. — Ele a viu na pista de dança e riu. — Ela trabalha rápido.

Os olhos de Blake se contraíram. Ele teria brigado com Luke se o


Mauricinho não tivesse escolhido aquele momento para beijar Farrah. Nos
lábios. Enquanto sua mão avançava perigosamente perto de seu traseiro.

Uma névoa vermelha caiu sobre a visão de Blake.

Foda-se essa merda.

Ele se afastou do bar e caminhou em direção ao que logo seria


um banho de sangue, ignorando os gritos confusos de Luke.

No momento em que ele alcançou o casal desavisado, o


Mauricinho estava agarrando a bunda de Farrah.

A névoa escureceu.

Blake arrancou o Preppy Fucker20 dela e quase o jogou do outro


lado da sala. Ele sentiu uma alegria sombria com o estremecimento de dor
do outro cara, mas sua atenção logo se desviou para Farrah, que parecia
igualmente confusa e irritada.

20
Arrogante, vaidoso, exibicionista.
— Você fez o seu ponto. — Blake lutou para manter a voz calma
mesmo quando cada músculo de seu corpo se retesou, pronto para
saltar. A raiva flutuou dele em ondas, silenciosas, mas mortais.

Ele não conseguia se lembrar da última vez que tinha estado tão
excitado com uma garota. Talvez nunca. Ele não ficou com ciúmes, mas
caramba se Farrah não ferrou com a cabeça dele. Ela podia tocar suas
emoções como um violino, e isso o irritou quase tanto quanto a visão dela
beijando outro cara.

Quase.

O olho de Blake se contraiu novamente.

— Eu não estou fazendo um ponto. Estou dando uns


amassos. — Farrah riu, embora não houvesse nada de engraçado na
situação. — Agora solte-o para que possamos continuar nos beijando.

Fúria fria correu por ele com a sugestão, amplificada pela


decisão imprudente de Mauricinho de falar: — Sim, cara, você está me
machucando.

Blake apertou o ombro do idiota, provocando outro gemido de


dor. — Vou contar até três antes de reorganizar seu rosto.

O covarde deve ter visto a seriedade na expressão de Blake


porque ele saiu correndo sem lutar.

Que pena. Parte de Blake apreciou a ideia de uma pequena


reorganização facial. Não seria tão fácil beijar alguém com o lábio e o nariz
arrebentados, seria?
Os olhos de Farrah se aguçaram de raiva. — Olha o que você
fez. Feliz agora?

— Nem um pouco. Você está bêbada. — Agora que o


Mauricinho estava fora de seu rosto, um pouco da raiva no estômago de
Blake aliviou, mas os gases verdes nocivos do ciúme perduraram.

— Não brinca. Estamos em um bar.

— Aquele cara estava com as mãos em cima de você! — Só


assim, a raiva voltou rugindo.

— E daí? Se eu não quisesse suas mãos em cima de mim, eu


teria cuidado disso sozinha. — Farrah empurrou o peito de Blake. Ele não
se mexeu, o que pareceu irritá-la ainda mais. — Você não tinha o direito
de assustá-lo assim.

— Eu estava tentando ajudá-la! — Blake não conseguia


entender por que Farrah estava sendo tão teimosa. Ela não poderia ter
gostado das mãos daquele idiota por toda parte... poderia?

A perspectiva fez seu maxilar cerrar tanto que ele pensou que
seus dentes fossem quebrar. — Eu não preciso da sua ajuda! — Farrah
ergueu o queixo em desafio.

Sammy entrou na briga e disse alguma coisa.

— Cala a boca, Sammy, — Blake e Farrah cantaram em coro.

Apesar de ter dispensado o amigo, Blake não tinha realmente


ouvido o que Sammy disse. Ele estava muito ocupado pensando em toda a
situação fodida. Por que diabos Farrah teve que sair com aquele filho da
puta em primeiro lugar? Por que ela não o empurrou quando ele a
beijou? Por que Blake se importava?

Alguém tossiu, e Blake percebeu que sua discussão havia


chamado a atenção de todos ao seu redor.

A música tocava ao fundo, mas as pessoas pararam de dançar


para formar uma multidão em torno de Blake e Farrah. Curiosidade e
antecipação sem fôlego por mais drama permearam o ar.

Blake forçou uma respiração profunda pelo nariz. — Vamos


discutir isso lá fora. Todo mundo está olhando.

— Não há nada para discutir.

A frustração vazou em suas veias. Às vezes, ela podia ser tão


difícil. — Farrah, por favor.

Ele pensou que ela ia discutir novamente, mas depois de um


momento de hesitação, ela concordou com relutância.

Eles abriram caminho através da multidão desapontada e para o


ar frio da noite. — Você não está agindo como você mesma, — disse
Blake, examinando Farrah. Seus olhos brilharam com aborrecimento e
outra coisa que ele não conseguia nomear.

Eles tinham ido a boates como um grupo de toneladas de vezes


em Xangai, e enquanto Farrah não estava protegida de forma alguma, ela
também não era do tipo que ficava com caras aleatórios na pista de
dança.

Graças a Deus, caso contrário Blake poderia estar na cadeia


agora.
Ninguém tocou em Farrah, especialmente não fodidos bêbados
que estavam apenas querendo molhar o pau. Ela merecia mais do que
isso.

— Nem você. Você está agindo como um idiota, — ela retrucou.

Ele a encarou incrédulo. — Estou agindo como um idiota? Você


me xingou por tentar ajudá-la!

— Eu disse que não preciso da sua ajuda.

Talvez Farrah realmente quisesse ficar com o Mauricinho.

O sangue de Blake ferveu com o pensamento. — Foi mal, — ele


vociferou. — Foi mal. Vá dar uns amassos com aquele cara. Na verdade, vá
fazer sexo selvagem e balance nos lustres. Veja se me importo.

— Você se importa.

Suas palavras afundaram sob sua pele e fizeram seu coração


bater três vezes. — Como?

Farrah cruzou os braços sobre o peito. — Você se importa, ou


não o teria puxado para longe de mim. Por quê?

A tensão apertou seus ombros e endureceu suas feições. — Eu


não sei do que você está falando.

— Estou falando sobre porque você está tão preocupado com


quem eu fico.

— Eu não estou!

— Você está gritando! — ela atirou de volta.


— Eu não estou gritando! Eu... — Blake passou a mão pelo
rosto. Emoções conflitantes giravam dentro dele enquanto uma dor de
cabeça florescia atrás de seus olhos. — Porra.

Se ele estava sendo honesto consigo mesmo, ele sabia


exatamente por que odiava ver Farrah com outro cara. Mas ele também
sabia o que Farrah queria — o grande amor, o romance de Hollywood, as
rosas vermelhas e o conto de fadas — e ele não podia lhe dar essas coisas.

Mesmo que ela fizesse seu coração pular uma batida toda vez
que entrava em uma sala.

Mesmo que o pensamento de alguém dando a ela o que ela


queria, fazia seu peito doer.

Para não mencionar, ela era virgem, e ele havia jurado que não
pegaria mais virgens após o desastre de Lorna no ensino médio.

— Diga-me. — A voz de Farrah suavizou. — Por que você se


importa?

— Talvez seja a mesma razão pela qual você se importa, — disse


Blake, em parte para protelar, e em parte porque ele queria ouvi-la dizer
isso. Ele não sentiu falta do aborrecimento de Farrah quando ela
mencionou Mina. — Por quê todas as perguntas sobre Mina esta noite?

O ar engrossou com suas palavras não ditas.

Blake não tinha certeza se queria manter essas palavras em uma


caixa trancada onde não tivesse que lidar com elas, ou se queria que elas
caíssem no concreto rachado como um par de dados rolados – algo que
tinha o poder de salvá-lo ou arruiná-lo, dependendo de como eles cairiam.
— Porque. — Farrah lambeu os lábios, e ele quase gemeu,
imaginando o deslizar de sua língua contra a dele. Ele se perguntou qual
seria o gosto dela. Doce, sem dúvida, como mel e tentação. — Blake, eu...

— Eu te amo.

Merda. Ele não queria dizer isso.

O pânico correu por seu sistema, e a esperança nos olhos de


Farrah fez seu estômago mergulhar em queda livre.

— Eu te amo como uma irmã, e eu não quero ver você se


machucar, — ele esclareceu. As palavras tinham um gosto amargo em sua
língua.

Se Blake pensava em Joy do jeito que pensava em Farrah, ele


estaria em um inferno sério na vida após a morte.

Mas ele também não amava Farrah. Eles só se conheciam há


alguns meses, e enquanto ela fazia seu coração bater de uma maneira que
ninguém mais podia, era muito cedo para chamar o que eles tinham de
‘amor’ no sentido tradicional. Certo?

A dor de cabeça de Blake se intensificou.

— Você me ama como uma irmã, — repetiu Farrah. A esperança


se foi, substituída por... nada. A expressão vazia e a voz monótona dela
enviaram um arrepio de trepidação pela espinha dele. — Bom
saber. Estou feliz por termos resolvido isso.

Ela se virou para sair, e Blake agarrou seu braço sem pensar. Ele
não podia deixá-la ir assim. Ele não sabia o que ia dizer, tudo o que sabia
era que odiava a visão de Farrah dando as costas para ele. Odiava o
pensamento de que seu relacionamento, ou o que quer que eles tivessem,
poderia não ser o mesmo depois desta noite.

Acima de tudo, ele se odiava por não ser capaz de dizer as


palavras enterradas no fundo de si mesmo. As que ela queria ouvir, e as
que ele era covarde demais para admitir, até para si mesmo.

— Farrah, você é... — Blake fez uma pausa, dividido. Farrah


olhou para ele, seus olhos brilhando como piscinas de chocolate sob o
luar. Ele queria se perder naqueles olhos, beijá-la sem sentido e apagar
qualquer lembrança do Mauricinho de sua mente.

E isso o assustou para caramba.

— Eu não... — As palavras ficaram presas em sua garganta.

Droga. Blake não tinha certeza se ficava aliviado ou frustrado


por sua incapacidade de expressar a tempestade de emoções que se
alastravam dentro dele.

— Você não precisa dizer mais nada. Eu entendo. — Farrah tirou


o braço de seu aperto. O calor que normalmente emanava dela se foi,
substituído por uma frente fria que revirou o estômago de Blake. —
Agora, se você me dá licença, eu tenho o aniversário de uma amiga para
comemorar.

Ela desapareceu dentro do clube e deixou Blake parado na


calçada com uma dor no peito, imaginando o que diabos ele tinha
acabado de fazer.
Blake ficou de olho no chão enquanto subia uma encosta
íngreme de escadas em ruínas. Não havia corrimãos e, embora ele possa
não ter um plano de vida ainda, ele sabia que não incluía derrubar a
Grande Muralha da China.

A FEA chegou a Pequim ontem para sua grande viagem do


semestre de outono. Depois de uma curta noite de descanso,
os laoshis os levaram para a Grande Muralha esta manhã. Em vez de ir
para Badaling ou Mutianyu - as seções mais turísticas e, portanto, mais
fáceis de navegar da Muralha - eles estavam caminhando de Jinshanling a
Simatai. Sem bondes, apenas escadas íngremes e mais subidas verticais do
que Blake gostaria.

Em um dia normal, Blake poderia ter completado a caminhada


em três horas em vez das quatro habituais, mas ele estava tão distraído
que ficou para trás de seus amigos, até mesmo Kris.

Bem, nem todos os seus amigos.

Blake alcançou a próxima torre de vigia e bebeu de sua garrafa


de água. Ele observou Farrah com o canto do olho enquanto ela subia
lentamente as escadas em direção a ele, o rosto rosado pelo esforço.
Ela tropeçou em uma pedra solta e caiu para a frente. O coração
de Blake parou. Ele estendeu a mão para ajudá-la, mas Farrah recuperou o
equilíbrio e subiu o resto da escada.

O batimento cardíaco de Blake voltou ao normal. — Você está


bem? — ele perguntou.

— Sim. — Farrah afastou uma mecha de cabelo dos olhos.

Foi a primeira palavra que ela disse a ele em seis dias (não que
ele estivesse contando). Ela o evitava desde Macau, e ele não a culpava.

Ele agiu como um idiota naquela noite.

Farrah passou por ele e se arrastou pela janela da torre de vigia


para o próximo trecho da parede. Blake fez o mesmo. Ele esperou até que
eles atravessassem o caminho estreito sob a torre de vigia e alcançassem
a seção principal mais ampla antes de falar.

— Então, você está gostando da caminhada? — Ele estremeceu


no instante em que as palavras saíram de sua boca. Muito ruim.

— Ok.

Blake tentou uma abordagem diferente. — Você já esteve em


Pequim antes?

— Não.

— É uma cidade interessante.

— Mmhmm.

— Ouvi dizer que os laoshis estão nos servindo cogumelos


venenosos para o jantar esta noite.
— Ótimo.

Blake gemeu. — Farrah.

— O quê?

— Fale comigo.

— Estou falando com você.

Várias palavras. Isso foi uma melhoria. — Olha, eu sei que agi
como um idiota semana passada. Eu sinto muito. — Blake tropeçou na
última palavra porque ele ainda arrancaria o braço daquele cara se tivesse
a chance.

A imagem de Farrah e o babaca se beijando passou por sua


mente. O maxilar de Blake contraiu.

Ele não se arrependeu de ter arrancado o babaca dela. Ele


lamentava a maneira como tratou Farrah. Ele estava preocupado com
seus próprios problemas e ciúmes e descontou nela.

Além disso, aquela parte sobre amá-la como uma irmã? Besteira
completa.

Se Blake pensava em Joy da mesma forma que pensava em


Farrah, ele estaria em um inferno sério na vida após a morte.

— Desculpas aceitas. — O silêncio caiu.

Blake lutou para encontrar as palavras certas para dizer. Farrah


caminhava ao lado dele, mas ela estava tão distante que ele esperava que
ela escorregasse por seus dedos e desaparecesse no ar a qualquer
momento.
Eles passaram pelas próximas torres de vigia sem dizer uma
palavra. Declive após declive, um passo após o outro.

Depois de uma hora, eles pararam para descansar. Farrah


afundou no chão. — Você pode ir em frente, — disse ela. — Você não tem
que ficar comigo.

— Eu quero.

Farrah lançou um olhar perplexo em sua direção antes de se


virar para examinar a paisagem. Blake seguiu seu olhar. Era uma cena que
ele tinha visto várias vezes em fotos, mas nada comparado com a coisa
real. Nem mesmo perto.

Montanhas escarpadas os cercavam como sentinelas, envoltas


em mantos de silêncio. A antiga muralha suspirou quando eles ficaram de
pé, seguindo os passos dos milhares que vieram antes deles. No entanto,
ele serpenteava pelo terreno acidentado, infinita e persistentemente,
como fizera por milênios.

A parede representou uma figura impressionante entre a


explosão de folhagem vermelha, laranja e verde antes de desaparecer
na névoa baixa ao longe. De vez em quando, uma brisa soprava, levando
consigo os sussurros da história - as dinastias que surgiam e caíram; os
fantasmas de imperadores passados e vidas sacrificadas; os gritos
desbotados de guerreiros antigos que lutaram nesta mesma terra.

Arrepios explodiram na pele de Blake. Ele achou difícil


compreender o fato de que ele estava em milhares de anos de história. Ele
se lembrava de ter visitado o Álamo quando criança e se maravilhado com
sua idade.
Comparado com a Grande Muralha, o Álamo era um feto
maluco.

— Ele sempre quis vir aqui.

Blake se sentou ao lado de Farrah. Seus pés suspiraram de


alívio. — Quem?

— Meu pai.

— Ainda há tempo. Tenho a sensação de que a parede ficará


aqui por um tempo, — brincou Blake.

Farrah baixou os olhos. — Ele morreu há quatro anos.

Ah, porra. — Eu sinto muito. — Blake se sentia um idiota. Ele


não conseguia fazer nada direito atualmente.

— Tudo bem. Você não sabia. — Seu sorriso vacilou e durou


cinco segundos antes de cair.

Isso partiu o coração de Blake. Ele era péssimo em confortar as


pessoas. Ele nunca sabia o que dizer, e as lágrimas o deixavam mais
desconfortável do que uma freira que tropeçava em uma orgia. Se fosse
qualquer outra pessoa, Blake teria dado o fora de lá.

Mas não era outra pessoa. Essa era Farrah.

Ele colocou um braço hesitante em volta dos ombros dela. Para


seu alívio, ela não se afastou.

— Meu pai passou a maior parte de sua vida na China e nunca


viu seu marco mais famoso. — Farrah brincou com o pingente em seu
pescoço. — Ele costumava me dizer que nós visitaríamos juntos. Um dia,
disse ele, voaremos para Pequim e percorreremos todo o muro, de uma
ponta a outra. Será a maior caminhada entre pai e filha já feita. Eu tinha
apenas sete anos na época, mas até eu sabia que era impossível andar
por toda a muralha. Mesmo assim, gostei de imaginar. Parecia uma
grande aventura.

Sua voz engrossou com lágrimas não derramadas.

Blake a apertou com força, desejando poder fazer mais para


ajudar. Farrah fungou e enxugou o nariz com as costas da mão.

— De qualquer forma, me fale sobre seu pai. Vocês são


próximos?

Blake engoliu em seco. Ele teve que lutar contra seu instinto
para evitar a pergunta antes de dar sua resposta. — Fomos. Uma
vez. Muito tempo atrás.

Quando ele era criança, seu pai o levava ao zoológico e fazia


caretas engraçadas imitando os animais até que Blake soltasse uma
gargalhada. Ele levava Blake para pescar a cada dois meses e quase brigou
com o pai de Ted Crenshaw depois que Ted empurrou Blake no recreio e
ele esfolou seu joelho.

Então Blake cresceu e mostrou talento para o futebol. Seu pai


deixou de ser seu pai e passou a ser seu treinador. Ele nunca mudou de
volta.

— O que aconteceu?
— Nós nos distanciamos. — Blake brincou com as pontas do
cabelo de Farrah. Eles deslizaram por seus dedos como seda. — Temos
ideias diferentes de como devo viver minha vida.

— Acho que ele não queria que você parasse de futebol.

Ele soltou uma risada sem humor. — Isso é para dizer o


mínimo. Seu maior sonho é assinar com a NFL. Ele jogava bola na
faculdade também, sabe, mas rompeu o LCA21 e isso acabou com seus
sonhos profissionais. Então ele viveu esses sonhos através de mim até que
eu entre aspas 'joguei meu futuro fora' porque eu sou um idiota que não
consegue fazer nada certo, exceto jogar uma bola.

Farrah ergueu a cabeça para olhar para ele. — Isso não é


verdade. Eu vi quão duro você trabalha. Você é definitivamente mais do
que um idiota.

— Talvez. — Blake não tinha certeza. Ele passou a maior parte


de sua vida tão focado no futebol que não tinha tempo para fazer muito
mais. Ele se formou em negócios e se saiu bem nas aulas, mas não tinha
nenhuma experiência em negócios, exceto por um estágio de verão após
seu segundo ano. Ele teve que lutar com seu pai com unhas e dentes por
causa disso. Joe Ryan não entendia por que Blake jogaria fora o
equivalente a um verão de preparação pré-temporada para labutar em
um escritório.

Ele pensou em sua ideia de abrir seu próprio bar de esportes,


mas foi tudo o que ele fez - pensar sobre isso. Blake estava com muito

21
Ligamento cruzado anterior
medo do que poderia acontecer se tentasse fazer isso. A última coisa que
ele queria era falhar e provar que seu pai estava certo.

— Talvez não. Com certeza. — O tom de Farrah não admitia


oposição. — Confie em mim, idiotas não aprendem mandarim tão rápido
quanto você.

A boca de Blake se curvou. — Você conhece muitos idiotas


que aprendem mandarim, não é?

— Eu sou de Los Angeles. Você ficaria surpreso. — Ela esfregou


os braços. Blake a puxou para mais perto. A sensação de frio no ar era boa
quando eles estavam andando, mas começou a incomodar depois que eles
pararam de se mover. — Então por que saiu do futebol? A maioria dos
caras mataria por uma chance de entrar para a NFL.

Ela não foi a primeira pessoa a lhe fazer essa pergunta, mas foi a
primeira pessoa a quem ele quis dizer a verdade.

Blake pesou suas palavras antes de responder.

— Uma semana depois de termos vencido o campeonato


nacional, encontrei a esposa de Dan Griffin em um evento de ex-
alunos. Ele era um quarterback do Mustang naquela época. Um dos
melhores. Jogou por dezesseis temporadas na NFL antes de se aposentar e
se tornar um locutor de esportes. — Um nó se formou na garganta de
Blake quando ele se lembrou do olhar dela. Ela estava tão triste e zangada
que partiu seu coração. — Ele morreu de CTE poucos dias antes do
evento.
Encefalopatia traumática crônica, uma doença cerebral
degenerativa encontrada em pessoas com histórico de trauma cerebral
repetitivo - como as concussões que jogadores de futebol americano
costumavam suportar em campo.

Blake já tinha ouvido falar de CTE antes. Ele nunca esperou que
afetasse alguém que ele conhecia, especialmente alguém
tão grandioso quanto Dan. Ele era invencível, ou assim parecia.

Os olhos de Farrah se arregalaram. — Meu Deus.

— Eu era próximo de Dan. Ele ia a todos os jogos e era meu


mentor, de certa forma, mas só encontrei sua esposa algumas vezes. Ela
não gostava muito do mundo do futebol, e eu não sabia por que ela queria
falar comigo especificamente, exceto... — Blake olhou para baixo. — Para
me avisar, eu acho. Para sair enquanto podia. Ela não queria que o que
aconteceu com Dan acontecesse comigo.

Seus caminhos eram semelhantes. Tanto Blake quanto Dan


nasceram e foram criados no Texas, estrelas do futebol americano de
colégio que escolheram estudar na TSU após uma guerra de recrutamento
entre as melhores escolas da Primeira Divisão do país. Ambos os
vencedores do Heisman foram preparados para a NFL. Ambos animados e
oprimidos pelas expectativas das pessoas ao seu redor.

Havia apenas uma diferença.

— Dan adorava futebol, — disse Blake. — Ele viveu por isso e,


no final, morreu por isso. Gosto de futebol, mas sempre foi mais para meu
pai do que para mim. Eu teria ficado feliz em ser um estudante normal,
em vez de um suposto astro do esporte. — Às vezes, ele fantasiava sobre
como seria sua vida se fosse esse o caso. O relacionamento dele com o pai
seria diferente ou eles estariam em desacordo por causa de outra
coisa? Seu pai teria ficado ressentido com Blake por não seguir o caminho
do futebol que ele queria, mas não podia seguir? — Não quero morrer por
algo que não amo.

Quando Blake descobriu o que aconteceu com Dan, ele se


lembrou de todos os golpes que levou em campo. Cada ataque se repetiu
em sua mente, incluindo uma queda brutal pela defesa de Oklahoma em
seu segundo ano. Tinha causado uma dor tão forte que ele tinha certeza
de que sofrera uma concussão, mas a superou porque o time contava com
ele e foi isso que ele fez.

Os Mustangs venceram. A dor foi embora. Mas e se um dia isso


não acontecesse? Blake estava saudável agora. Se ele continuasse em seu
caminho, ele poderia não estar.

A morte de Dan limpou a poeira e ele viu a escrita em sua


parede. Ele poderia dizer o mesmo para seus amigos, família e
fãs? Provavelmente não. O futebol era uma religião no Texas. Blake seria
criticado por ser egoísta e dramático se revelasse que desistiu porque ele
estava preocupado com o CTE. Então ele manteve a boca fechada e deixou
a especulação correr solta. Era melhor do que a alternativa.

Farrah apertou sua mão. — Isso é compreensível. Não consigo


imaginar que alguém ficaria bravo com isso.

— Você não conheceu meu pai.

O olhar de Farrah baixou.


Blake estremeceu quando percebeu quão insensível sua
reclamação deve soar. — Eu sinto muito. Ele e eu temos nossas
diferenças, mas sei que tenho sorte de ele ainda estar aqui.

— Tudo bem. — Farrah brincou com seu colar novamente. —


Meu pai também não era o melhor pai quando estava vivo. Me sinto
péssima dizendo isso porque ele foi um bom pai por um tempo. — Sua voz
vacilou. — Ele teve uma... vida interessante antes de se casar com minha
mãe. Eles se acomodaram e me tiveram, e tudo estava ótimo até que não
estava mais. Meus pais começaram a brigar todas as noites
por coisas estúpidas - que canal assistir, de quem era a vez de levar
o lixo para fora - até que meu pai se mudou. Eu tinha treze anos.

O peito de Blake apertou quando Farrah falou. Treze já era difícil


o suficiente sem ter que lidar com a separação de seus pais.

— Eles se separaram por um ano antes de se divorciarem.


Naquele ano, sem minha mãe ficar de olho nele, meu pai voltou aos
velhos hábitos ruins. Fumar, beber, jogar. Ele acumulou uma tonelada de
dívidas, e ele e minha mãe ainda tinham algumas contas conjuntas, então
você pode imaginar como isso diminuiu. Lembro-me de entrar no quarto
da minha mãe um dia depois que eles se divorciaram e vê-la chorar.
Minha mãe nunca chora. Eu estava tão chateada com meu pai por nos
fazer passar por tudo isso aquela dor que, quando o vi durante nossa
próxima visita, chamei-o de todos esses nomes horríveis e eu... — Farrah
engoliu em seco. — Eu disse que gostaria que ele estivesse morto.

A tensão aumentou até que Blake não conseguiu respirar.


— Alguns dias depois, recebemos um telefonema do meu
tio. Meu pai vinha lidando com cirrose hepática há anos, mas piorou sem
minha mãe cuidando dele. Meu tio ligou para nos dizer que meu pai
estava em coma.

Uma sensação de mau presságio caiu sobre Blake.

— Alguns dias depois, ele morreu.

Seu coração explodiu. Farrah irradiava tanta dor que Blake


sentiu no fundo de seus ossos.

Ele a abraçou com força, incapaz de fazer qualquer coisa além


de segurá-la e manter os pedaços juntos enquanto ela se desfazia.

— Você pode imaginar se a última coisa que sua filha disse a


você foi que ela gostaria que você estivesse morto? — A única maneira de
Blake saber o quanto Farrah doía era pela maneira como seus ombros se
erguiam enquanto ela desabava em soluços silenciosos.

— Shh. Tudo bem. — Ele esfregou as costas dela e pressionou os


lábios no topo de sua cabeça, sentindo-se impotente. — Tudo bem.

— Eu sou uma pessoa terrível. Não importa o que ele fizesse, ele
era meu pai e eu o amava. E agora eu vou... — Ela soluçou. — Eu nunca
terei a chance de dizer a ele.

— Ele sabe.

Farrah balançou a cabeça.

— Ele sabe, — Blake insistiu. — Todos nós já dissemos coisas das


quais nos arrependemos por causa da raiva. Tenho certeza que seu pai
também. Ele sabia que você não queria dizer isso. E essas foram apenas
algumas palavras de quantas você falou com ele ao longo de sua vida? —
Ele ergueu o queixo dela. Apesar de seu nariz vermelho e olhos inchados,
ela tirou seu fôlego. Sua verdadeira beleza não era física; estava em sua
alma. Ele viu isso brilhar em tudo o que ela fazia, e era tão brilhante e
quente como o sol em um dia de verão. — Você é uma pessoa
incrível. Você nunca machucaria alguém de propósito. Isso está vindo de
mim, alguém que te conhece há três meses. Seu pai conheceu você
durante toda a sua vida.

Os lábios de Farrah tremeram. Ela acenou com a cabeça uma vez


antes de enterrar o rosto em seu peito novamente. Blake ficou sentado
ali, segurando-a até que seus soluços diminuíssem.

Assim que o fizeram, ela se afastou e enxugou o rosto. — Eu


sinto muito. Eu estraguei sua camisa.

— É uma camisa estúpida. Posso comprar outra. — Blake


enxugou as lágrimas restantes. — Como você está se sentindo?

— Melhor. — Farrah fungou. — Eu nunca disse a ninguém o que


aconteceu com meu pai antes. Nem mesmo minha mãe.

Droga. Blake estava prestes a chorar também. Endureça,


cara. — Obrigado por confiar em mim.

Ela deu a ele um sorriso vacilante. — Obrigada por confiar


em mim.

Eles se sentaram lá em seu cantinho da parede, cada um


guardião dos segredos do outro. A briga deles em Macau era uma
memória apagada, mas uma coisa daquela noite permaneceu cristalina na
mente de Blake: o olhar nos olhos de Farrah quando ele perguntou por
que ela se importava com ele e Mina.

No fundo, ele sabia o que ela ia dizer. Ele a interrompeu com


uma mentira porque estava com muito medo de admitir o que sabia o
tempo todo, mas depois de hoje não adiantava negar: Blake estava
apaixonado por Farrah. Ele estava tão envolvido que não tinha a menor
chance de sair e, o que é pior, ele não queria.

Blake fechou os olhos e encostou a cabeça na parede.

Estou tão fodido.


Os seixos rangeram sob os pés de Farrah enquanto ela e Blake
seguiram Wang laoshi até seu albergue em Gubei, uma cidade aquática no
sopé da seção Simatai da muralha. Como Farrah esperava, eles foram os
últimos FEAers a chegar.

Farrah estava exausta, mas tinha inteligência suficiente para


admirar a vista. Apesar de ser uma cidade artificial — antiga— (modelada
a partir da atual cidade histórica de Wuzhen, no sul da China), Gubei era
linda. Sua arquitetura tradicional remonta aos dias da China imperial. Ruas
de pedra serpenteavam por casas de madeira com telhados de telha e
beirais extensos; pequenas pontes em arco curvadas sobre canais
estreitos. Enquanto o sol se punha abaixo do horizonte, as luzes
acenderam, uma a uma, até que toda a cidade brilhou com seu calor. As
manchas laranja dançaram e brilharam na água, competindo com o céu
pálido de fogo por atenção.

— Totó, não estamos mais no Texas, — murmurou Blake.

A risada borbulhou dentro dela. Foi um alívio depois das fortes


emoções daquele dia. — Não, Dorothy, não estamos.

Farrah estava aceitando seus sentimentos não correspondidos


por Blake. Ela nem estava mais brava com o que aconteceu em Macau. Ela
sentira muita falta de Blake durante a semana anterior para ficar com
raiva dele. Seus sentimentos românticos eram uma coisa; a amizade deles
era outra. O que aconteceu na muralha foi a prova disso.

Ela manteve sua culpa sobre o que aconteceu com seu pai em
segredo por tanto tempo que falar sobre isso parecia como se um peso
de mil toneladas tivesse sido tirado de seus ombros.

Farrah teve oportunidade de falar sobre isso antes, mas ela


estava com muito medo. Com medo de que as pessoas a julgassem por ser
uma pessoa terrível e uma filha terrível, com medo de que nunca mais
olhassem para ela da mesma forma depois.

Ela não tinha esse medo com Blake. De alguma forma, ela sabia
que ele entenderia.

Blake olhou de relance em sua direção. Sua boca se curvou para


revelar aquelas covinhas devastadoras.

— Estou feliz que estamos conversando de novo, — ele


sussurrou. — Senti a sua falta. — Lá se foram as malditas
borboletas. Farrah amava todas as criaturas vivas, mas aquelas borboletas
precisavam morrer.

— Eu também senti sua falta... irmão. — Ela deu um soco no


ombro dele.

Oh Deus, eu não acabei de dizer isso.

Blake franziu a testa.

Quando chegaram ao albergue, o crepúsculo já havia caído


sobre a cidade. Vozes filtradas pela porta aberta do complexo. A FEA
reservou o prédio inteiro, que era grande o suficiente para abrigar todos
os 70 alunos se eles lotassem quatro em um quarto.

Farrah entrou no pátio e encontrou o resto da FEA jantando nas


mesas espalhadas por todo o espaço. O cheiro de porco e macarrão
flutuou no ar, provocando um ronco em seu estômago. Ela planejou tomar
banho antes de comer, mas ela estava faminta.

— Gente, aqui! — Courtney acenou para a mesa do grupo no


canto dos fundos.

— Demorou bastante. Achamos que você tivesse morrido. —


Luke pegou o prato quase vazio de bolinhos. — Eu entendo por que Farrah
demorou tanto, mas o que aconteceu com você? — ele perguntou a
Blake. — Você deveria estar em boa forma.

Farrah mostrou a língua para ele. — Muito obrigada.

— Cara. Blake e Farrah ainda não comeram. — Sammy bateu na


mão de Luke.

— Eu peguei leve. — Blake olhou para Farrah quando a equipe


do albergue trouxe outra rodada de comida caseira fumegante: tomate
frito com ovos mexidos, frango kung pao com arroz branco, feijão
verde frito com especiarias e carne de porco desfiada em molho de feijão
doce.

Farrah devorou sua primeira porção e continuou por alguns


segundos. Ela suportou mais atividade física hoje do que em meses. Ela
poderia comer uma vaca agora.
A equipe assistiu em um silêncio atordoado enquanto os alunos
devoravam cada pedaço de comida em quinze minutos.

— Droga. Isso acertou o ponto. — Luke se recostou na cadeira,


deu um tapinha no estômago e arrotou.

Ao lado dele, Kris torceu o nariz e se aproximou de Blake.

— Eu estou banhada. Estou alimentada. Estou pronta para


dormir. — Olivia bocejou. Seus olhos caídos de exaustão.

— Você não pode ir para a cama! — Courtney consultou o


relógio. — São apenas sete.

— Como? Parece meia-noite — Olivia gemeu.

— Acordamos às sete da manhã, — ressaltou Farrah.

— Ótimo. Um dia de doze horas é o suficiente para mim. Estou


acabada.

— Eu concordo. — Leo também não conseguiu conter um


bocejo.

— Pare. Somos jovens e a noite também. Não vamos dormir. —


Courtney plantou as mãos na mesa. — Estamos jogando um jogo. Alguém
tem cartas?

Silêncio.

Ela suspirou. — Tudo bem. Então será Eu Nunca.

A última coisa que Farrah queria era jogar Eu Nunca, mas ela se
sentaria durante um jogo para satisfazer Courtney. Caso contrário, ela
nunca ouviria o fim disso.
— Nunca recebi uma nota abaixo de A, — disse Nardo, causando
uma onda de olhares em volta da mesa. — O quê? Eu não tenho.

— Grande. Coisa, — disse Olivia. — Nem eu.

— Então mantenha o dedo levantado. É assim que funciona.

— Tudo bem. Nunca I já foi rejeitado de uma faculdade. —


Nardo olhou para Sammy. — Você contou para ela?

— Não. Sim. — Sammy pigarreou. — Ficar na lista de espera


do MIT ainda é uma honra.

Nardo apertou os lábios e dobrou um dedo para baixo. — Eu


nunca, nunca, não consegui uma rodada de entrevistas para um estágio.

— Eu nunca...

— Pare! — Courtney cortou o ar com as mãos. — Este não é o


Olivia e Nardo Show. Ambos são inteligentes, nós entendemos. Vamos
continuar. Farrah, é a sua vez. Por favor, faça-o bem.

— Sem pressão. — Farrah tentou pensar em algo que ninguém


havia dito ainda. — Eu nunca... fiz um ménage à trois.

— Duh, — Luke disse. — Você é virgem. Você nunca teve um


casal... ai!

— Desculpe, — Farrah disse docemente. — Meu pé escorregou.

— Sim, certo, — ele resmungou.

Duas pessoas na mesa baixaram os dedos: Blake e Sammy.

— Formatura do ensino médio. — Blake encolheu os ombros.


Não foi uma surpresa - ela sabia que ele era experiente - mas
o ciúme ainda palpitava em seu peito ao pensar em Blake com duas
garotas sem nome e sem rosto.

Sammy, por outro lado, foi uma surpresa.

— Você fez um ménage à trois? — A boca de Olivia formou um


surpreso O.

— Anos atrás. — Sammy se mexeu na cadeira. — Não é grande


coisa.

— Sammy Sam. — Kris o olhou com um novo respeito. — Não é


você cheio de surpresas?

— Cara, você não pode nos deixar esperando. Conte-nos os


detalhes! — Luke pediu.

— De jeito nenhum.

— Vamos!

Farrah ergueu a cabeça para o céu. A lua brilhava forte e


clara. Até as estrelas apareceram.

— Vou dar um passeio, — disse ela.

— Estamos na periferia da cidade. Não há nada por perto, —


Sammy apontou, claramente ansioso para desviar a atenção de si mesmo.

— Eu só preciso parar de comer. — Farrah se levantou. — Volto


em breve.

— Eu irei com você. — Blake empurrou sua cadeira para trás. —


Eu também gostaria de dar uma caminhada.
— Uma caminhada parece uma boa ideia. — Kris cutucou
Courtney, que parecia prestes a discutir. — Certo, Court?

A compreensão surgiu no rosto de Courtney. — Certo. Gostaria


de conseguir me levantar, mas não consigo. — Ela esticou os braços sobre
a cabeça. — Divirtam-se gente. Lembre-se, não temos toque de recolher.

O rosto de Luke se contorceu em confusão. — Nós temos toque


de recolher. Os laoshis disseram... ai! Vocês parariam de me chutar?

— Pare de dizer coisas que não valem a pena, — disse Kris.

Enquanto suas amigas discutiam, Farrah escapuliu pela entrada


do albergue com Blake a reboque.

— Você não precisava vir comigo. — Ela puxou a jaqueta mais


apertada em torno de seu corpo. O vento roçou a pele exposta de seu
rosto e mãos, fazendo-a estremecer.

— Eu estava planejando dar um passeio, de qualquer maneira. É


melhor ter companhia. — O braço de Blake roçou o dela enquanto
caminhavam.

Seu coração deu um salto. As camadas de roupa entre eles não


fizeram nada para entorpecer o efeito que ele tinha sobre ela.

Eles vagaram pelo labirinto de edifícios até chegarem a uma das


pequenas pontes em arco perto da parte principal da cidade.

— Eu não posso acreditar que este lugar é real, — disse


Blake. — Não há nada assim no Texas.
— Depende de como você define o real. — Farrah apoiou os
braços na grade. — O governo o construiu como um local turístico. Não
existia até alguns anos atrás.

Blake passou as mãos pela pedra lisa. — Parece real para mim.

— Sim. — Farrah inalou o ar fresco e frio. Queimou seus


pulmões de um jeito bom. — Como você acabou aqui, Blake?

— Da mesma forma que você fez. Eu saí do albergue.

— Eu quis dizer na China.

— Peguei um avião. — A boca dele se curvou com a expressão


dela. — Acho que essa não é a resposta que você estava procurando.

— Você não tem laços pessoais com a China e não estudou


chinês. Por que você escolheu Xangai? Não estou dizendo que você tem
que ter essas coisas para estar aqui, — acrescentou ela. — Eu só estou
curiosa. A maioria das pessoas prefere ir para a Europa ou Austrália. A
China é muito... estrangeira para eles.

— Vai soar estúpido.

— Me teste.

As bochechas de Blake ficaram rosadas. — Eu assisti Skyfall, —


ele admitiu.

A risada de Farrah ecoou pelo ar. — Essa é uma ótima cena, ela
concordou, lembrando-se da luta de Bond com um assassino no topo de
um arranha-céu de Xangai.
— Uma das melhores cenas coreografadas na história de Bond,
se você me perguntar. — Blake se juntou à alegria de Farrah. — Conheço
alguém que escolheu o destino de seus estudos no exterior fechando os
olhos e apontando para um mapa, então poderia ter sido pior.

— Onde eles foram parar?

O sorriso de Blake se alargou. — Moscovo. Em dezembro.

Ela desatou a rir novamente. — E eles seguiram em frente?

— Sim. Felizmente para eles, era um programa de apenas três


semanas. — Blake se aproximou. — E você? Por quê Xangai?

— Eu queria ver este lugar com meus próprios olhos. Minha mãe
está sempre falando sobre a China, mas eu nunca tinha visto. — Farrah
traçou suas iniciais com o dedo na grade. — Quase não escolhi
Xangai. Estudei mandarim para fazer minha mãe feliz. Fui contra a
vontade dela e me formei em design de interiores em vez de engenharia
ou qualquer outra coisa, então achei que seria um bom
compromisso. Funcionou, mais ou menos. Ela ainda me irrita por não ter
aprendido mandarim antes. Aparentemente, perdi meus anos do ensino
médio com francês.

— Ainda melhor do que eu. Eu só falo inglês.

— E um pouco de mandarim, — Farrah o corrigiu. — Eu esqueci


a maior parte do meu francês, então ela pode ter razão. Eu ia dar uma
olhada nisso em Paris. Mas quando chegou a hora de escolher meu local
de estudo no exterior... eu não sei. Eu queria clicar em Paris, mas de
alguma forma cliquei em Xangai. E aqui estou eu. — Ela deu um sorriso
torto. — De certa forma, eu escolhi com ainda menos reflexão do que
você.

— Ei! — Blake fingiu estar ofendido. — O que você quer dizer


com menos reflexão? Eu coloquei muito esforço no processo de tomada
de decisão.

Ela deu um tapinha na mão dele. — Claro que sim.

Para sua surpresa, Blake envolveu os dedos nos dela. O calor de


sua pele a aqueceu da cabeça aos pés. — De qualquer forma, estou feliz
que você esteja aqui.

A respiração de Farrah ficou presa na garganta. Blake estava tão


perto que ela podia ver cada detalhe de seu rosto - os cílios escuros, as
maçãs do rosto que cortavam a noite como facas, os olhos azul-
gelo escurecendo para a cor de safiras. Ela o via com mais clareza do que
qualquer pessoa em sua vida.

— Blake. — Seu nome foi um sussurro na noite.

Seu pomo de Adão balançou. — Sim?

— Você realmente pensa em mim como uma irmã?

Era uma pergunta perigosa. Havia todas as chances de ela não


gostar da resposta. Mas, caramba, algo sobre este lugar a fazia acreditar
em magia, e ela merecia dar uma última chance. Ela devia isso a si mesma.

Sem arrependimentos.

Mil emoções passaram pelo rosto de Blake. Sua mão tremia


contra a dela. O tempo todo, o coração de Farrah batia forte contra o
peito, desesperado para alcançar algo do outro lado.
— Não. — Sua mão permaneceu entrelaçada com a dela.

As batidas se intensificaram. — O que você pensa de mim?

Blake ficou em silêncio por tanto tempo que ela achou que ele
não a ouviu. Ela estava debatendo se deveria repetir a pergunta ou fugir
mortificada quando ele se aproximou.

— Eu acho... — a voz de Blake ficou áspera. — …que você é uma


espertinha teimosa demais para o seu próprio bem. Acho que você me
deixa mais louco do que qualquer pessoa deveria. E acho que posso
morrer se não puder ficar com você.

O ar saiu dos pulmões de Farrah. Ela tinha clareza de que a


qualquer momento de alguém correndo pela rua em um carro sem
freios. A estrada levaria ao lugar mais aterrorizante ou mais incrível que
ela já tinha visto.

Só havia uma maneira de descobrir.

Farrah agarrou o rosto de Blake Ryan e o beijou.

Suas bocas se exploravam, com fome e desespero, como se


tivessem desejado um ao outro durante toda a vida e só agora tivessem a
chance de se conhecer. Farrah gemeu e enredou as mãos em seus
cabelos, seu corpo inteiro doendo. Blake tinha gosto de gelo e fogo, como
amor e perigo, como um anjo e o demônio, e ela não conseguia o
suficiente. Ela queria beber até à última gota dele.

Ele a empurrou contra a grade e moldou seu corpo ao dela até


que ela não soube onde ela terminava e ele começava. Eles despejaram
tudo o que tinham um no outro - cada sentimento, cada pensamento,
cada memória, tanto boa quanto ruim. Eles se deixaram abertos para que
o outro pudesse entrar e preencher o espaço que estivera vazio por muito
tempo.

O tempo foi passando, levando consigo tudo o que aconteceu


antes ou que aconteceria e deixando-os apenas com este momento. Os
edifícios circundantes desmoronaram. A parede desabou, as árvores
desapareceram e as colinas se achataram, recuando para a inexistência
enquanto esperavam o nascimento do mundo. Então, sem mais nem
menos, o mundo estava lá, explodindo de tanta empolgação que
ultrapassava tudo. A civilização passada, a natureza passada, o sol, a lua e
as estrelas até que tudo se acalmasse novamente.

Por tudo isso, Blake e Farrah permaneceram, impassíveis pela


criação e destruição ao redor deles. Aqui, finalmente, eles encontraram
um lugar que o tempo não podia tocar.

Mas, no final, o universo consegue o que quer e, embora


tenham lutado contra isso até que seus pulmões ficassem sem fôlego, eles
eventualmente tiveram que se separar.

Eles se encararam.

A exaltação correu pelas veias de Farrah. Isso a preencheu até


que ela pensou que fosse explodir, então ela fez a única coisa que podia
fazer: ela riu. O som dançou no ar e ecoou de volta para ela, fazendo-a rir
ainda mais. O rosto de Blake se abriu em um sorriso. A risada dele se
juntou à dela, sua harmonia dizendo tudo que eles não podiam dizer em
palavras.
— Não vamos voltar, — disse Blake. — Vamos ficar mais um
pouco.

— Sim. — Farrah afundou em seus braços. — Vamos.

Eles olharam para o céu. As estrelas brilharam de volta,


cintilando com alegria.

Farrah sempre igualou as estrelas ao amor, que parecia tão


nebuloso e fora de alcance quanto os diamantes no céu. Mas enquanto
ela estava lá ao lado de Blake, sob os céus infinitos de uma terra
estrangeira, as estrelas pareciam um pouco mais próximas.
Um momento pode mudar sua vida.

Pode acontecer em qualquer lugar, a qualquer hora, e


geralmente acontece quando você menos espera.

Para Blake, aconteceu em uma pequena ponte em uma pequena


cidade do outro lado do mundo de casa.

No momento em que seus lábios tocaram os de Farrah, ele era


um caso perdido. Suas desculpas para não se envolver com ninguém da
FEA viraram pó, assim como sua aversão a virgens. Na verdade, o ciúme
passou por ele ao pensar em Farrah dormindo com outra pessoa.

Farrah não era como Lorna. Ela não era como ninguém que ele
já conheceu antes.

Pela primeira vez na vida, Blake acreditou no romance de


Hollywood, nas borboletas e nos fogos de artifício, porque os viu. Eles
eram tão brilhantes e inesperados quanto a garota que entrou em sua
vida como um meteoro cruzando a noite, iluminando a escuridão e
mostrando a ele o que era possível se ele acreditasse nas estrelas.

— Vou te contar um segredo, mas você não pode contar a


ninguém. — Blake segurou a mão de Farrah enquanto caminhavam ao
longo do Bund. As luzes dos prédios cintilavam no rio Huangpu,
transformando suas águas em um arco-íris de cores.
As últimas semanas passaram em um borrão de noites na
cidade, beijos roubados entre as aulas e sessões de amassos aquecidos no
quarto de Blake. Ele se viu fazendo coisas que costumavam fazer ele se
encolher, como deixar notas de Post-it cafonas para Farrah em lugares
aleatórios e comprar flores para ela sem motivo. O que é pior, ele gostava
de fazer essas coisas.

Sim, ele era um caso perdido e não se importava.

— Fiquei intrigada. — Farrah bateu um dedo no queixo. —


Deixe-me adivinhar. Você é um espião, enviado em uma missão para se
infiltrar em um grupo de estudantes americanos infelizes no exterior que
podem ou não estar escondendo segredos de estado.

— Logo na primeira tentativa. Missão: chegar perto do alvo. —


Blake parou e encarou Farrah, fechando a distância entre eles até que
suas bocas estivessem a centímetros de distância. — Como eu estou indo?

— Você está fazendo um ótimo trabalho, Agente Ryan. — A


respiração de Farrah sussurrou em seus lábios. — Continue assim e você
pode conseguir uma promoção.

— Poderia? Acho que tenho que trabalhar mais. — Blake traçou


os lábios dela com a língua, provocando-a até que ela pegou sua cabeça
entre as mãos e juntou suas bocas em um beijo ardente. Ela tinha gosto
de sol, mel e calor, e ele queria se afogar nela. Para ficar tão envolvido em
suas profundezas, ninguém poderia encontrá-lo. Seriam apenas os dois,
perdidos no infinito.

— Mãe, olha! — A voz estridente cortou sua felicidade.


Blake abriu um olho para ver um menino olhando para eles com
curiosidade e nojo.

— O que eles estão fazendo?

A mãe do menino franziu a testa. — Nada. Eles estão... fazendo


coisas adultas. Você é muito jovem para saber.

— Mas...

— Vamos. — Ela agarrou a mão do filho e o apressou, mas não


antes de olhar para Blake. Se olhar pudesse matar, seu cadáver estaria
comendo sujeira.

— Oops. — Farrah deu uma risadinha contra sua boca. — Acho


que ofendemos a sensibilidade dela.

— Você viu o jeito que ela olhou para mim? Você pensaria que
eu estava tendo uma orgia na beira do rio, em vez de beijar minha
namorada.

A palavra escapou sem pensar.

As sobrancelhas de Farrah se ergueram. — Namorada?

Porra.

Fazia duas semanas desde seu primeiro beijo, e eles ainda não
haviam discutido seu status de relacionamento. Exclusividade não era
oficial, mas implícita.

Blake lambeu os lábios. — Desculpe, eu não quis


dizer namorada. Eu quis dizer garota. Amiga.

— Entendo.
— Sem pressão.

— OK.

Ele tinha uma sensação horrível de que estava se enfiando em


um buraco mais profundo com cada palavra que saía de sua boca.

— Então, que tal aquele beijo? — Blake mostrou suas covinhas


em uma tentativa de aquecer a expressão de Farrah. Não funcionou. —
Muito bom, hein?

— Mmmhmm.

Ah, droga. Era hora de parar de rodeios. — Olha. Não é que eu


não queira que você seja minha namorada. É só... — Ele procurou as
palavras certas para dizer. — Nós não conversamos sobre isso, e eu não
quero assumir. Estamos aqui há um ano. Não sabemos o que acontecerá
quando partirmos. Não quero colocar muita pressão sobre nós e o tempo
que temos juntos.

— Então você quer que sejamos amigos com benefícios como


você e Mina?

— Porra, não! — Amigos com benefícios eram, por


definição, não exclusivos. O pensamento de Farrah tocando outro cara -
ou outro cara tocando Farrah - fez com que Blake ficasse vermelho. Então
ele viu a expressão magoada em seu rosto e percebeu como sua
interjeição deve ter soado. — Não me entenda mal. Eu adoraria fazer sexo
com você. Mas não é... Quero dizer, não precisamos fazer sexo. Sem
pressão sobre isso também. Ou com o relacionamento. Não que tenhamos
um relacionamento.
Ele não fazia sentido, nem para si mesmo.

Blake finalmente entendeu como os caras sem jogo devem se


sentir. Ele queria afundar no chão.

A carranca de Farrah se aprofundou.

Ele considerou se jogar por cima do parapeito do Huangpu


quando a carranca desapareceu, substituída por um largo sorriso.

— Você é adorável quando está nervoso.

— Eu não estou nervoso. —Blake estreitou os olhos. —


Espere. Você estava me provocando o tempo todo?

Farrah deu uma risadinha. — Você tinha que ver sua cara. Você
está tão vermelho.

Ela gritou de surpresa quando ele a pegou e a girou. — Eu não


posso acreditar que você fez isso comigo. Estou pensando em jogar você
no rio — ameaçou ele.

— Você nunca faria isso! — Ela colocou os braços e as pernas


em volta dele e o segurou com força. — Além disso, você pode me
culpar? A chance de ver Blake Ryan tropeçando em si mesmo era boa
demais para resistir.

— É desumano.

— Oh vamos lá. — Farrah apoiou a testa na dele. — Eu acho que


é fofo.
Blake ficou horrorizado. — Os ursos de pelúcia são
fofos. Filhotes são fofos. Caras, não querem ser fofos. É o equivalente
sexual da Sibéria.

— Fofo é sexy. — Farrah se abaixou até ao chão, deslizando seu


corpo contra o dele enquanto o fazia. A necessidade o cortou, profunda e
inebriante.

— Não pense que isso vai te tirar do gancho.

— O quê? — Ela piscou, inocente como uma corça.

— Essa coisa que você está fazendo. — Blake gemeu quando ela
enganchou os dedos nas presilhas de seu cinto e o puxou para perto. Suas
curvas suaves se fundiram nas linhas duras de seu corpo, e a necessidade
aumentou cinco níveis.

— Eu não sou o único no gancho. Foi você quem disse que não
sou sua namorada.

— Você quer ser?

Seu sorriso desapareceu em seu tom sério. — Você está falando


sério?

O coração de Blake bateu forte contra sua caixa torácica. Ele


assentiu.

Os olhos de Farrah se arregalaram. Isso foi uma coisa boa? Ele


não sabia dizer.

Uma batida, uma eternidade. Duas batidas, duas eternidades.


Quanto mais Blake esperava por uma resposta, mais ele queria
morrer. Ele não estava acostumado a se sentir assim - fora de
controle, indefeso e pronto para cair do precipício ao comando de outro.

Ele estava tão preso à espera de uma resposta verbal que levou
um segundo para registrar o calor dos lábios de Farrah nos seus. A língua
dela duelou com a dele; as mãos dele emaranhadas em seu cabelo. Cada
centímetro dele doía por ela - corpo, coração e alma.

Blake estava perdido e nunca quis ser encontrado.

— Então. — Sua respiração ficou difícil e pesada quando eles


pararam para respirar. — Isso é um sim?

Os olhos de Farrah brilharam. — Isso é um sim.

Blake sorriu tão largo que seu rosto poderia se dividir em


dois. — Você não sabe no que se meteu.

— Tentando fazer com que eu já me arrependa da minha


decisão?

— Nunca. — Ele afastou uma mecha de cabelo de seus olhos. —


É você e eu, amor. Não há como recuar agora.

— Suponho que haja coisas piores na vida. — Farrah se


aconchegou mais perto dele. — Era esse o segredo que você queria me
contar?

Certo. O segredo.

— Não. — Blake hesitou, pensando se deveria dizer isso em voz


alta.
Que diabos. Ele deu um mergulho hoje. Pode muito bem
derrubar todos eles.

— Tenho trabalhado em um projeto. Para depois da formatura.


— Aqui vai nada. — Quero abrir um bar de esportes. Estou trabalhando
em um plano de negócios, e é apenas um esboço neste momento, mas
espero ter algo pronto no Natal.

Blake tentou avaliar a reação de Farrah. Os nervos reviraram seu


estômago em nós. Dizer isso em voz alta tornava seu plano real. Era louco
e rebuscado, mas era real, e embora a ideia de abrir seu próprio negócio o
deixasse enjoado, ele também se sentia... animado?

Sim, isso era definitivamente um lampejo de excitação sob os


nervos.

— Blake.

Ele prendeu a respiração.

— Isso é incrível! — Farrah jogou os braços em volta do pescoço


dele. — Posso ver seu plano de negócios? Como você vai chamar o
bar? Você deveria ter uma bebida exclusiva!

— Uau, vá devagar. — Blake riu. O alívio borbulhou dentro


dele. Ela não achou que a ideia dele fosse estúpida. — Sim, você pode ver
depois que eu terminar, ainda não decidi um nome e vamos cruzar a
ponte das bebidas exclusivas quando chegarmos lá.

— Tudo vai dar certo. Estou tão animada por você. — Os olhos
de Farrah brilharam ao luar.

— Você não acha que é uma ideia idiota?


— Claro que não! Por que eu acharia que é uma ideia idiota?

— Não tenho experiência em administrar um negócio e há um


milhão de bares esportivos por aí. — Blake franziu a testa. — E se for um
fracasso?

— Ninguém tem experiência em administrar uma empresa antes


de administrar uma empresa, e pode haver um milhão de bares esportivos
por aí, mas eles não são seus bares esportivos. — Farrah segurou o rosto
dele com as mãos. — Você é uma das pessoas mais inteligentes e
trabalhadoras que conheço. Se é isso que você quer fazer e dar tudo de si,
você terá sucesso. Eu tenho fé em você.

Um calor intenso o inundou, lavando a dúvida e a


incerteza. Blake não conseguia se lembrar da última vez que alguém tinha
tanta fé nele.

— Não sei o que fiz para merecer você, mas deve ter sido uma
coisa e tanto. — Ele tentou não deixar transparecer muita emoção em sua
voz.

— Você pode me retribuir com bebidas ilimitadas em seu bar. —


Ela deu-lhe um beijo suave. — E beijos ilimitados.

— Sim, senhora. Seu desejo é uma ordem.

Blake entrelaçou os dedos dela com os dele enquanto


retomavam a caminhada ao longo do Bund. Já era tarde e eles teriam aula
amanhã, mas ele não teve coragem de sair. A eletricidade do horizonte de
Xangai acenou, atraindo-o como um ímã para almas perdidas.
— Eu não consigo superar essa visão. — Farrah parecia
nostálgica, como se falasse de um lugar perdido nas areias do tempo.

Blake olhou através do rio para o horizonte icônico da cidade. A


selva de arranha-céus pulsava com energia, iluminando a noite com um
arco-íris de azuis elétricos, roxos neon, amarelos brilhantes e vermelhos
ardentes. No meio dela ficava a Torre Pérola, estendendo-se em direção
ao céu com a ambição de alguém determinado a estar no topo do
mundo. E em certos momentos fugazes, quando a expansão cintilante de
maravilhas feitas pelo homem se mesclava com os diamantes no céu, essa
ambição se tornava realidade.

Xangai, a Paris do Oriente. Era o mais diferente do Texas que


você poderia imaginar, mas lembrava Blake de Nova York. Como Nova
York, era uma cidade que definia uma nação e guardava os sonhos de
milhões de pessoas em suas palmas de concreto. Ao contrário de Nova
York, Xangai era uma cidade que ainda acordava e se maravilhava com seu
sucesso todos os dias, intoxicada e desacostumada com o poder que
exercia.

Blake respirou fundo. O ar frio e cortante queimou seus


pulmões.

Naquele momento, ele viu - seu futuro, refletido nas luzes e


sombras diante dele.

Naquele momento, olhando para aquela vista, com Farrah nos


braços, ele acreditou.

Ele poderia fazer qualquer coisa.


Ele poderia ser seu próprio patrão.

Ele poderia ser livre.


— Você me conhece há quatro meses e quer fast food. — Olivia
cruzou os braços sobre o peito. — Eu falhei com você como amiga.

Farrah riu. — Não é tão sério. Estou desejando um McFlurry, só


isso.

Olivia fez uma careta. — Estou de bom humor, então não direi
nada.

— Obrigado, CB Lippmann, — Farrah brincou.

Olivia recebeu o e-mail naquela manhã: ela era oficialmente


estagiária de verão para a prestigiosa firma de investimentos. Farrah ouviu
seu grito animado por todo o corredor. Olivia estava flutuando no ar
desde então, pelo menos até Farrah arrastar ela, Sammy e Blake para o
McDonald's.

O lugar estava lotado, então os caras estavam reservando


lugares para eles enquanto esperavam na fila.

Farrah examinou o menu. Havia itens básicos como o Big Mac e


McChicken, mas também havia itens feitos sob medida para o público
chinês, incluindo tortas de taro, chá com leite e um hambúrguer de frango
picante de Sichuan.
As tortas de taro pareciam tentadoras, mas ela pediu um
McFlurry como pretendia, mais dois hambúrgueres e batatas fritas para
Blake e Sammy (cada um).

— Tem certeza de que não quer nada, Liv? — Farrah provocou.

— ECA. Não, obrigada. Não me pergunte de novo. — Um brilho


astuto apareceu nos olhos de Olivia. — Vamos conversar sobre um
assunto mais saboroso. Você e Blake já fizeram a ação?

Farrah corou. — Defina 'ação'.

— Não seja tímida. Você já fez sexo?

— Defina 'sexo'.

— Farrah Lin!

Farrah olhou em volta. Sammy e Blake estavam sentados em


uma mesa no canto traseiro. Não havia nenhuma maneira que eles
pudessem ouvi-la.

Blake chamou sua atenção e piscou.

Ela sorriu quando seu coração deu um salto feliz.

— Chegamos ao segundo lugar, — disse ela. — Nenhuma


terceira ou base doméstica ainda.

— Por que não? Ele parece ser bom no bastão. — Olivia sorriu.
— Sammy ficaria orgulhoso de minha analogia com o beisebol.

— Talvez não quando você está usando para discutir as


habilidades sexuais de outro cara. De qualquer forma, para responder à
sua pergunta, Blake quer levar as coisas devagar.
As sobrancelhas de Olivia se ergueram de surpresa.

Uma pontada de insegurança amorteceu o humor de Farrah. Por


um lado, era doce que Blake não quisesse apressar as coisas. Por outro
lado, os universitários não queriam fazer sexo assim, o tempo todo? Era
normal que ele não parecesse ter problemas em dizer não toda vez que o
sexo surgisse?

Ela era a virgem. Ela deveria ser a única a dizer não.

O atendente chamou o número do pedido. Elas pegaram a


comida e foram até à mesa.

— Não pense demais — disse Olivia ao ver a expressão no rosto


de Farrah. — Ele sabe que você nunca fez isso antes, então provavelmente
não quer apressar você antes de estar pronta.

— Estou pronta. — Farrah sabia que ela estava choramingando,


mas não se importou. Sério, quão difícil foi entregar sua virgindade nos
dias de hoje?

Olivia deu uma risadinha. — Hashtag Problemas de Farrah.

— Shh! Fale baixo, eles podem ouvir.

— O que é tão engraçado? — Sammy perguntou. A bandeja não


atingiu a mesa antes que ele pegasse uma batata frita.

— Nada, — Olivia e Farrah disseram em coro.

— Sammy, há algumas coisas que é melhor os caras não


saberem, — disse Blake.
— Você está certo, você está certo. A propósito, — Sammy disse
com a boca cheia de hambúrguer. — Há algo que preciso contar a vocês.

— Incluindo eu? — Olivia apontou para si mesma.

— Sim. — Ele mastigou e engoliu. — Eu vou, uh, ser um


estagiário na NASA neste verão.

Houve uma batida de silêncio antes que um grito alto fizesse


todas as cabeças no restaurante girarem em sua direção.

— Vamos estar juntos em Nova York?! — Olivia jogou os braços


em volta do pescoço de Sammy. Ela parecia emocionada por alguém que
sempre disse que os relacionamentos com estudos no exterior não duram
depois que o programa termina.

Sammy sorriu. — Sim.

— Parabéns! — Farrah estendeu o braço sobre a mesa para


abraçar a amiga. — Seu cientista de foguetes, você.

— Dificilmente. Estarei trabalhando em modelos matemáticos


para um projeto de mudança climática. Não exatamente coisas de Neil
Armstrong.

— Tanto faz. Qualquer pessoa que trabalhe na NASA é um


cientista de foguetes aos meus olhos. — Farrah limpou a boca com um
guardanapo. — Você é o sonho da minha mãe. Se eu me formasse em
matemática e conseguisse um estágio na NASA, ela desmaiaria de
felicidade.

— Talvez tenha sido uma boa coisa você não ter feito isso, —
Sammy brincou.
— Parabéns, cara. — Blake deu um tapinha no ombro de
Sammy. Seu sorriso não atingiu seus olhos.

— Mal posso esperar para começar minha planilha de Nova


York. — Olivia pegou seu telefone. — Há tantos restaurantes incríveis que
temos que experimentar. Vamos começar no West Village e avançar para
os outros bairros.

Farrah escondeu um sorriso. Algumas coisas nunca mudam.

***

Quando eles voltaram para o dormitório, Olivia e Sammy se


separaram para planejar o verão em Nova York enquanto Farrah
permanecia no corredor fora do quarto de Blake. Seu mau humor atípico a
impediu de entrar como normal.

— O que está errado? — Ela se encostou na porta e observou


Blake pendurar sua jaqueta no armário com mais cuidado do que o
normal.

— Nada.

— Você está quieto.

— Não tenho nada a dizer.

— Você sempre tem algo a dizer, mesmo quando ninguém quer


que você diga nada.
Nem uma sugestão de sorriso. Não era a melhor piada de
Farrah, mas Blake geralmente a agradava com pelo menos uma risada.

Ela entrou e colocou as mãos nos ombros de Blake, forçando-o a


olhar para ela. — Você pode me dizer qualquer coisa. Você sabe disso.

— Eu sei. — Blake soltou um suspiro. — Vai soar estúpido.

— Me teste.

— Todo mundo tem planos incríveis para o verão. Sammy com a


NASA, Olivia com CB, você com seu estágio de design

— Ainda não enviei minha inscrição — Farrah o lembrou. Ela


precisava dar os toques finais em seu design final. Ela não gostou, mas era
bom o suficiente. Nesse ponto, Farrah estava feliz por ter algo no papel,
especialmente porque o prazo estava acabando rapidamente.

— Você vai, e você vai conseguir. — Blake confiante realista


aliviou os nervos um pouco.

— Obrigada. Você também terá um verão incrível. — Ela


esfregou o braço dele. — Não se preocupe.

— Fazendo o quê? Pelo menos vocês têm algo de concreto


planejado. — Blake se separou e se sentou em sua cama. — Tudo o que
tenho é um sonho louco de abrir um bar.

— Não é loucura. — O tom feroz de Farrah se surpreendeu. —


Você sabe o que mais começou como um sonho
louco? Apple. Microsoft. Todas as pequenas empresas e empresas
mundiais. Você não saberá se algo é alcançável a menos que tente.
— Há muito o que pensar, — argumentou Blake. — O aluguel, o
marketing, as licenças de bebidas, a comida. Não tenho capital para alugar
um espaço comercial, muito menos para contratar pessoal. As despesas
são muito grandes para meus pais ajudarem, mesmo que eles queiram
ajudar, o que não é uma garantia. — Ele percebeu o sorriso dela. — O que
é tão engraçado?

— Você já está pensando como um empresário.

— Obrigado, mas isso não resolve o meu problema.

Ela se sentou ao lado dele. — Deixe-me perguntar isso. É um bar


de esportes o que você realmente quer?

O rosto de Blake se suavizou. — É sim. Não quero praticar


esportes para viver, mas adoro o aspecto comunitário disso. Une as
pessoas. Bem, a menos que você esteja torcendo por times rivais. Você
pode assistir aos jogos em casa, mas não há nada como estar cercado por
pessoas tão empolgadas quanto você com cada gol, cada ponto
marcado. É empolgante.

Farrah riu. — Vou acreditar na sua palavra. — O único esporte


que ela assistia era a parte de ginástica olímpica a cada quatro anos. — Se
é isso que você realmente quer, vá em frente. Pode não ser tão 'concreto'
como um estágio em uma empresa estabelecida, mas este é
o seu sonho. Muitas pessoas começaram seus próprios negócios, e eu
garanto que você é capaz.

— Você tem razão. Mas ainda preciso encontrar o dinheiro. —


Blake balançou a cabeça. — A menos que eu ganhe na loteria, não terei o
suficiente para alugar, muito menos todo o resto.
— Existem empréstimos e investidores. Você vai descobrir. Você
é Blake Ryan.

— Sou Blake Ryan, estrela do futebol. Não é Blake Ryan,


empresário. — Seus olhos brilharam com vulnerabilidade.

O coração de Farrah doeu. O mundo viu Blake, o jogador de


futebol. Arrogante, atlético, bonito. Aquele que toda garota queria e todo
cara queria ser.

Foi assim que ela o viu uma vez também.

Embora essas coisas possam ser uma parte dele, ele se abriu o
suficiente para ela ver além das piscadelas e piadas irreverentes para a
pessoa lá no fundo - o menino cuja vida foi definida por algo que outra
pessoa escolheu para ele, que tinha sido repetidamente dito que seu valor
se baseava em suas habilidades com a bola, e que queria ser amado como
uma pessoa em vez de uma mercadoria.

Lágrimas arderam em seus olhos. - Você será - Farrah disse


ferozmente. — Você é Blake Ryan, qualquer coisa que você queira
ser. Homem de negócios. Presidente. CEO da porra do espaço. Se Elon
Musk pode fazer isso, você também pode.

Ele riu suavemente. — Eu também não sou Elon Musk.

— Não. — Farrah pressionou sua testa contra a dele. — Você é


melhor. Você é você.
Blake não sabia que boa ação ele fez em sua vida passada, mas
deve ter sido uma grande ação porque trouxe a garota dos seus sonhos
para sua vida.

Seu peito apertou toda vez que ele se lembrou do olhar de


Farrah quando ela deu a ele uma conversa estimulante muito
necessária outro dia. O olhar que disse a ele que ela quis dizer cada
palavra que disse, que ela acreditava que ele poderia fazer isso. Que ela
acreditava nele.

Ninguém nunca tinha olhado para ele assim antes.

Blake estava tão concentrado em seus pensamentos que não


percebeu que sua mãe atendeu a ligação no Skype até que a voz dela
invadiu sua consciência.

— Blake! — O rosto de Helen preencheu a tela. Ela estava


usando seu velho moletom da fraternidade, o que ela sempre usava
quando limpava a casa. Blake fez um cálculo mental rápido. Eram nove da
noite em Xangai, o que significava que eram sete da manhã em
Austin. Confie em sua mãe para limpar tão cedo em um sábado. — Como
você está querido? Não tenho notícias suas há semanas. — Sua voz
carregava uma repreensão gentil.
O estômago de Blake se revirou de culpa. — Eu sei. Eu sinto
muito. As coisas estão meio malucas.

— Está tudo bem, querido, desde que você prometa ligar com
mais frequência. Agora me fale sobre essas 'coisas malucas' que você tem
feito.

Blake contou à mãe suas aulas, amigos e lugares favoritos na


cidade. Ele hesitou antes de acrescentar: — Tenho visto alguém no
programa. O nome dela é Farrah.

Ele ficou tenso em antecipação à resposta de sua mãe. Ela vinha


planejando o casamento dele e de Cleo desde que eram crianças, e levou
muito a sério o fim do namoro. Ele não tinha ideia de como ela reagiria a
essa notícia.

As sobrancelhas de Helen se ergueram. — Há quanto tempo


você está saindo com ela?

— Algumas semanas.

— E esta é a primeira vez que ouço dela? — Houve aquela


repreensão novamente. — Bem, não me deixe em suspense. Como ela é?

— Ela é incrível. Linda, inteligente, engraçada. Quando estou


perto dela, eu... — A voz de Blake sumiu. Só de pensar em Farrah o
deixava tonto como um menino de escola. Ele se transformou em um
daqueles namorados sentimentais de quem costumava zombar. — Não
sei. Eu me sinto ótimo.

— Ela parece adorável. — Helen fez uma pausa. — De onde ela


é?
— LA22.

— Entendo.

Sinos de alerta tocaram em sua cabeça. — Por que você parece


aliviada?

— Não estou aliviada. — A expressão culpada de Helen dizia o


contrário. — Eu estou feliz que você está se divertindo em Xangai. É uma
boa pausa de... tudo o que aconteceu no ano passado. Esperançosamente,
quando você estiver em casa, você estará pronto para consertar tudo.

Os sinos de aviso soaram mais alto. — O que é 'tudo'?

— Ah você sabe. Todo esse negócio de futebol com seu pai e seu
relacionamento com Cleo. É uma pena que você não volte para casa no
Dia de Ação de Graças. Ela está trazendo seu famoso macarrão com
queijo. Eu sei o quanto você ama esse prato.

Blake respirou fundo e controladamente. — Não há nada para


resolver. Eu larguei o futebol, e papai terá que superar isso. Quanto a
Cleo, não vamos voltar a ficar juntos.

— Claro que você vai. Você a ama, — disse Helen. — Eu entendo


que você precisava de uma pausa para limpar sua cabeça, mas vocês dois
estão destinados a ser. Vocês são amigos desde crianças.

— Isso é tudo que somos, mãe. Amigos.

— Você namorou por um ano!

Foi um erro, Blake queria dizer. Ele deveria ter pensado melhor
antes de ceder às expectativas de sua família. Eles eram os únicos que
22
Los Angeles.
queriam que ele namorasse Cleo. Ele a amava, mas não da maneira que
eles queriam que ele amasse. Se ele tinha alguma dúvida antes, seu
relacionamento com Farrah esclareceu tudo. Os sentimentos que ele tinha
por Cleo no auge do relacionamento deles não chegavam perto de seus
sentimentos por Farrah agora. — Sim, e percebi que estamos melhor
como amigos.

Helen beliscou sua têmpora. — Essa garota Farrah...

— Eu a amo.

As palavras saíram sem pensar. O queixo de Helen


caiu. Enquanto isso, o coração de Blake disparou com adrenalina com a
admissão.

Nem ele nem Farrah haviam abordado a palavra com A


ainda. Ele deveria estar apavorado - o amor era o compromisso final. Mas
ele não estava. Porque, para ser honesto, no fundo sabia que estava
apaixonado por Farrah muito antes de dizer essas palavras em voz alta.

Ele estava se apaixonando por ela, pouco a pouco, desde o


momento em que se conheceram.

Não foi assustador. Era inevitável.

— Oh querido. — Helen suspirou. — Você a conhece por


quê? Três meses? Eu sei que deve ser emocionante estar em um país
estrangeiro e tudo, mas você tem que ser prático. Ela mora em LA; você
mora no Texas. Relacionamentos de longa distância são difíceis. Enquanto
isso, Cleo está bem aqui. Ela apoiou você em tudo, inclusive depois que
você saiu do time.
— Talvez eu não queira ficar no Texas. — Mais uma vez, as
palavras escaparam.

Blake nunca havia considerado se mudar do Texas. É onde sua


família e amigos estavam. Ninguém que ele conhecesse deixou o estado
para sempre. No entanto, agora que ele havia sugerido a possibilidade, a
ideia parecia cada vez mais atraente.

Ele poderia ir a qualquer lugar. Nova York, LA. Inferno, ele


poderia se mudar para Xangai se quisesse.

A adrenalina aumentou mais um nível. Helen empalideceu. —


Não seja ridículo.

— Não é ridículo. Eu me formarei em breve. Eu não tenho que


ficar no Texas como todo mundo.

— Para onde você vai? Como você vai pagar?

Blake repetiu o mantra de Farrah. — Eu descobrirei.

Sua mãe estava perdendo o juízo. — Por que você não fala com
seu pai? Tenho certeza que ele pensará sobre isso.

Blake apostou que sim.

Helen virou a cabeça em direção à sala de estar. — Joe! Blake


quer falar com você.

— Não! Mãe...

Tarde demais.

Helen se levantou para abrir caminho para o pai de Blake.

Porra.
— Então. — Joe Ryan se sentou e fixou seu olhar penetrante em
Blake. Mais velho e mais cansado do mundo, com rugas. Fora isso, Joe
parecia o mesmo de quando tinha a idade de Blake. O mesmo cabelo loiro
espesso - graças a Deus Blake não teve que se preocupar em ficar careca
quando era mais velho - os mesmos olhos azuis e queixo quadrado, a
mesma expressão áspera e determinada.

— Então.

Silêncio.

— Como está a China? — Joe parecia que preferia estar em


qualquer lugar, menos aqui.

Isso fazia dois deles. — Tudo bem.

A resposta de Blake lhe rendeu um olhar severo. — Tente


novamente com uma resposta real.

Blake reprimiu uma resposta cáustica. Em vez disso, ele deu a


seu pai um rápido resumo do semestre. Ele omitiu os detalhes que deu à
mãe e se concentrou nas aulas. Ele não precisava que seu pai lhe desse
merda sobre sair quando ele deveria... arrumar sua vida.

— E fora da aula? O que você está fazendo?

— Saindo.

Outro olhar fulminante. — Você está me dizendo que pagamos


milhares de dólares para você voar pelo mundo e se divertir? — O rosto
de Joe se contorceu como se as palavras deixassem um gosto ruim em sua
boca.
Blake agarrou seu laptop com tanta força que ficou surpreso
que não quebrou. — Há a questão das minhas aulas, que acabei de
mencionar, — disse ele, lutando para manter a calma. — Intercâmbio
cultural, aprendizagem de línguas estrangeiras. Você sabe, pequenas
coisas.

— Quão útil isso será? Não fui para outro país quando estava na
faculdade e me saí bem.

Sim, se você considerar ser um velho amargo que vive


indiretamente por meio de seu filho, ‘ótimo’.

— O que eu quero saber é o que você fará quando voltar. — Joe


tamborilou com os dedos na mesa. — Você está se formando este
ano. Pensou sobre isso? Ou você está tão ocupado correndo por Xangai
que não pensou em seu futuro desde que o jogou fora?

— Eu não joguei meu futuro fora. — O maxilar de Blake contraiu


com uma mistura de medo e irritação. — Eu tenho... Vou ter...
uma graduação em negócios.

— Esse diploma é uma formalidade. Quando foi a última vez que


você fez algo relacionado a negócios?

— Fiz estágio na Z Hotels.

— Sim, você estagiou na empresa que dirige a família de seu


melhor amigo. — Joe bufou. — Laura Zinterhofer não lhe dará uma função
de gerenciamento só porque você anda por aí com o filho dela.
O maxilar de Blake tensionou mais ainda. — Eu nunca disse
isso. Eu ganhei aquele estágio. Landon não soube que eu me inscrevi até
depois de receber.

— Tudo bem. Diga-me, qual é o seu grande plano de


negócios pós-faculdade? — Joe se recostou e cruzou os braços sobre o
peito.

Blake deveria ter esperado. Ele estava longe de estar pronto


para contar a ninguém além de Farrah sobre seus planos. Com seu
incentivo, ele montou uma lista de tarefas de tudo o que precisava para
tornar o bar de esportes uma realidade. Era... muito. O custo estimado
sozinho fez seus olhos nadar.

No entanto, o sorriso condescendente no rosto de seu pai puxou


as palavras antes que ele pudesse detê-las. — Estou abrindo um bar de
esportes.

Uma batida de silêncio, seguida por gargalhadas altas quando


Joe caiu na gargalhada. — Fale sério.

— Estou falando sério, — disse Blake com os dentes cerrados.

— Você não sabe nada sobre como administrar um negócio. Um


bar de esportes? Vamos lá. Há um milhão de bares esportivos por
aí. Acredite em alguém que está por aí há muito mais tempo do que você,
filho: mantenha-se no que você é bom. Você é bom no futebol. É isso.

A raiva corroeu o estômago de Blake. — Não voltarei ao


futebol. Uma carreira na NFL é o seu sonho, não o meu.
— É? Você com certeza não recusou aqueles Heismans. Você
tem talento e perspectivas que outros garotos de sua idade matariam, e
você está jogando tudo fora! — Joe bateu na mesa. — Sabe quanto
dinheiro pode ganhar na NFL? Pense nos patrocínios. O reconhecimento
do nome. Se você for inteligente, pode levar isso ao banco mesmo depois
de se aposentar.

— Não é pelo dinheiro! — Blake gritou.

— Não é até que você esteja desempregado e falido! — Joe


gritou de volta. — Se você acha que sua mãe e eu vamos financiar sua
quimera, pense novamente!

— Eu não preciso de você para me financiar. Vou fazer isso


sozinho!

— Ha, eu gostaria de ver isso acontecer.

— Isso acontecerá e não será graças a você. — Blake desligou


sem dizer mais nada. Pressionar o botão ‘encerrar chamada’ não foi tão
satisfatório quanto bater um telefone, mas funcionou.

Seu coração disparou pelo peito como um piloto de corrida


decidido a vencer a Indy 100.

Foda-se seu pai. Blake iria ser o dono do bar de esportes de


maior sucesso do mundo e, quando o fizesse, iria esfregá-lo na cara de Joe
Ryan.

Nesse ínterim, ele precisava se acalmar antes de abrir um


buraco na parede. Nada arruína mais seu dia como uma conversa com seu
pai.
Assim que a névoa vermelha se dissipou de sua visão, Blake
mandou uma mensagem para Farrah. Ela era a única pessoa que poderia
fazê-lo se sentir melhor.

Está ocupada? Eu sinto sua falta.

Ela respondeu menos de um minuto depois. Já chego aí.

A frequência cardíaca de Blake diminuiu. Ele respirou fundo e


tentou limpar sua mente. Ele tinha um monte de merda para fazer se
quisesse que seu empreendimento fosse um sucesso.

Primeiro da lista: descobrir onde ele queria abrir o bar.

Ele ouviu uma batida.

— Venho trazendo presentes — Farrah disse quando Blake abriu


a porta. Ela desembrulhou uma toalha de papel para revelar uma pilha dos
lendários biscoitos de chocolate de Sammy. — Passei pela cozinha e
peguei alguns antes de Luke chegar até eles. Eu juro que ele está
aqui mais desde que se mudou para sua casa de família. — Ela balançou a
cabeça. — Como foi sua ligação com sua mãe?

Blake colocou um biscoito na boca. — Tudo bem. Até que se


transformou em uma ligação com meu pai.

Farrah estremeceu. — Não é bom?

— Essa é uma maneira de colocar as coisas. Contei a ele sobre a


ideia do bar de esportes. Ele acha que é idiota.

Ela caminhou até à mesa dele e colocou os biscoitos na


mesa. Ela se virou e disse, na voz mais calma possível: — Foda-se o que ele
pensa.
Blake teve que levantar o queixo do chão. Ele nunca tinha
ouvido Farrah ser tão direta.

— Se ele não consegue ver o seu potencial, é problema


dele. Não deixe que as limitações dele controlem sua vida. Você consegue
fazer isso. — Farrah segurou o rosto dele com as mãos. — Eu sei que você
pode.

Seu coração doeu. A pessoa que ele viu refletida nos olhos dela
era a pessoa que ele sempre quis ser: corajoso, inteligente,
apaixonado. Alguém que perseguia seus sonhos e acreditava em si
mesmo. Alguém digno de amor e respeito.

— O que eu faria sem você?

— Oh, você provavelmente estaria se olhando no espelho e


calculando quantas flexões precisa para manter seu físico.

Farrah gritou quando Blake a levantou e a jogou na cama com


um grunhido brincalhão. — Quem disse que eu não faço isso mesmo?

Seus olhos brilharam de tanto rir. — Admiro a


sua autoconsciência.

— Admira, hein? Continue. — Blake mordeu seu lábio inferior,


desfrutando sua inalação afiada.

Sim, ele tinha um monte de merda para descobrir, mas faria isso
mais tarde. No momento, havia coisas mais agradáveis na agenda.

— Como desejar. Eu não estou aqui para... — Sua respiração


ficou superficial quando ele beijou seu pescoço, lambendo e chupando até
que ele atingiu o pulso vibrando descontroladamente em sua garganta. —
Aumentar o seu ego.

— Para o que você está aqui? — Blake roçou os lábios em sua


clavícula. Seu perfume de flor de laranjeira e baunilha fez seu sangue
correr para o sul.

— Por isto. — Farrah trouxe sua cabeça até à dela e capturou


sua boca em um beijo ardente.

O pensamento coerente se esvaiu. Suas línguas se enredaram


em um duelo sensual que deixou Blake sem fôlego. Ele se perdeu em seu
sabor, no calor de seu abraço, na sensação inebriante de estar nos braços
da garota que amava.

Farrah puxou a bainha de sua camisa. Ele entendeu a deixa e


puxou o incômodo pedaço de tecido sobre a cabeça, ansioso para se livrar
de uma barreira a menos entre eles. Ela rastreou cada movimento, seus
olhos derretidos de desejo.

— Blake. — Seu sussurro ofegante quase o matou.

— Sim, bebê? — Blake levantou a blusa dela e deu um beijo


quente em seu estômago. Ele avançou lentamente até chegar à borda
rendada de seu sutiã.

— Estou pronta.
— Estou pronta.

Blake congelou.

O coração de Farrah bateu forte contra sua caixa torácica. Era


isso.

Tchau, dezenove anos de virgindade.

— Tem certeza? — A testa de Blake enrugou com...


preocupação? Não a reação que ela esperava ou ansiava.

— Sim. — Farrah os manobrou para que Blake se deitasse de


costas e ela pairasse sobre ele. Ela deixou uma trilha de beijos em seu
pescoço, ombros, tórax e estômago até que a jornada agonizantemente
lenta a levou ao topo de sua calça jeans. Ela o acariciou através do
jeans. Ele era tão grande e duro que enviou picos de medo e ansiedade
através dela.

Os músculos do estômago de Blake se contraíram; um gemido


baixo saiu de sua garganta. Ele agarrou seus braços e a puxou para
cima. — Não faça isso.

— Por que não? — Ela encolheu os ombros e começou a


desafivelar o cinto.
Ele cobriu a mão dela com a sua, forçando-a a ficar quieta. — Eu
não sei se eu... nós não temos que fazer isso agora. Nós podemos esperar.
— Ela notou gotas de suor se formando em sua testa.

— Eu não quero esperar. Estou pronta. — Farrah esperou


dezenove anos. Ela estava cansada de esperar.

O relógio tiquetaqueava no canto, lembrando-a de que cada


segundo os aproximava do fim. Ela esperou a vida inteira para encontrar
alguém que a fizesse se sentir como Blake. Para experimentar o que seus
amigos sempre falavam. Ela não ia deixar escapar por entre os dedos. —
Eu quero você agora.

Farrah tirou sua mão de baixo da de Blake. Ela puxou sua calça
jeans e boxer para baixo e respirou fundo ao ver sua excitação. Seu corpo
doía por senti-lo dentro dela enquanto sua mente se perguntava como no
mundo ele se encaixaria. Ele era maior do que qualquer pessoa com quem
ela tinha estado, e embora ela não tivesse tido relações sexuais reais com
seus parceiros anteriores, eles eram administráveis. Blake, por outro
lado...

— Eu não quero te assustar. — A voz de Blake era tão áspera


que mal era reconhecível.

— Eu não estou assustada. — Para provar seu ponto, Farrah se


ajoelhou e o levou em sua boca. Blake estremeceu quando ela se deleitou
com o gosto e a sensação de seu comprimento de aço coberto de
veludo. Algumas de suas amigas achavam que boquetes eram
degradantes, mas Farrah discordou. Não havia nada mais poderoso do que
ter controle total sobre o prazer de outra pessoa.
Além disso, quando você é uma virgem de 19 anos que fez de
tudo, mas se torna muito boa em ‘tudo, menos’.

Farrah rodou a língua sobre a cabeça inchada e acariciou com as


mãos seu eixo aquecido. Sua boca seguiu seus dedos da base até à ponta e
vice-versa. Blake soltou um suspiro e agarrou seu cabelo com uma das
mãos quando ela aumentou o ritmo. Farrah gemeu com o puxão suave em
seu couro cabeludo. O fogo em sua barriga cresceu; a excitação umedeceu
suas coxas. Ela o chupou avidamente enquanto suas mãos vagavam,
acariciando e acariciando até que ambos estivessem prontos para explodir
de desejo.

O corpo de Blake ficou tenso. — Eu vou gozar, — ele avisou. Sua


respiração saiu em ofegos curtos; um leve brilho de suor brilhou em sua
pele.

Em resposta, Farrah o levou mais fundo em sua garganta. Ela


queria saboreá-lo, devorá-lo, amá-lo. Ela queria tudo dele.

As costas de Blake arquearam e seu aperto aumentou quando


ele gozou em sua boca. Farrah lambeu cada gota, ordenhando-o até que
ele desabasse de volta na cama.

Ela não conseguiu conter um sorriso presunçoso enquanto


deslizava por seu corpo e pressionava um beijo em seu pescoço.

— Puta merda, — ele gemeu. Ele passou os dedos pelos cabelos


dela e a olhou com tanto amor que fez o coração de Farrah doer. Ninguém
tinha olhado para ela assim antes. Isso a assustou pra caralho, mas o
pensamento de perdê-lo a assustou mais. Farrah se aconchegou mais
perto dele, confortada pela sensação sólida de seu corpo contra o dela. —
Você será a minha morte.

— Em francês, eles usam o termo la petite mort, 'a pequena


morte', como um eufemismo para orgasmo, então você está tecnicamente
correto.

A risada de Blake reverberou por ela, fazendo-a sorrir. Farrah


amava sua risada. Era rico e reconfortante, como uma xícara de chocolate
quente em um dia nevado de inverno.

Ela arrastou os dedos sobre o peito e as cristas duras de seu


abdômen. Para sua surpresa, Blake se mexeu contra ela. — Como isso é
possível?

Ele não se incomodou em esconder seu sorriso arrogante. —


Estamina, baby. Eu tenho muito disto.

A excitação de Farrah disparou novamente. Ela se lembrou de


como ele se sentia em sua boca. Agora ela queria senti-lo dentro dela,
enchendo-a até que ela perdesse todo o senso de tempo e espaço.

— Você tem camisinha? — Ela estendeu a mão para ele, seu


coração batendo forte de excitação. Finalmente. Ela estava indo para...

Blake agarrou seu pulso e a virou de modo que ela estava


deitada de costas novamente. — Ainda não. Tenho um favor a retribuir.

A inquietação se desenrolou em seu estômago. — Tudo


bem. Você não precisa.

— Qualquer cara que não gosta é um idiota. Eu pareço um idiota


para você?
— Bem. — Farrah desviou o olhar para baixo.

Seu peito retumbou com mais risadas. — Nós chegaremos a isso


mais tarde. Nesse ínterim... — Ele passou os lábios sobre sua boca,
bochechas, queixo, pescoço, ombros e seios, deixando um rastro de fogo
em seu rastro.

Farrah fechou os olhos e se entregou à sensação de seu


toque. Mesmo assim, um canto de sua mente permaneceu alerta, ansiosa,
preocupada e imaginando se desta vez seria diferente.

A boca de Blake se fechou em torno de seu mamilo, lambendo-


o, enquanto ele rolava o outro entre os dedos. Farrah engasgou com a
sensação. A dor entre as pernas dela se intensificou e ela cravou as unhas
em seus ombros, deixando marcas em forma de meia-lua em sua pele.

Se doeu, Blake não demonstrou. Ele chupou forte em seu


mamilo, então o soltou com um estalo audível. Ele soprou na ponta
sensível e inchada, que endureceu ainda mais com o ar frio. Ele repetiu
esse processo do outro lado, alternando entre seus seios até Farrah se
contorcer de necessidade.

— Blake, por favor, — ela implorou.

— Por favor, o quê? — Ele deslizou seu short e calcinha por suas
pernas e deslizou um dedo entre os lábios lisos de sua boceta. Ele
gemeu. — Jesus, você está pingando.

Ela estava. Farrah nunca esteve tão excitada em sua vida. Suas
coxas estavam escorregadias com seus sucos; seu sexo apertou como se
ela precisasse de algo - alguém - enterrado bem fundo dentro dela.
— Por favor. Eu preciso de você. — Seu gemido se transformou
em um gemido quando Blake esfregou o polegar sobre seu clitóris. Seus
quadris resistiram, buscando alívio.

— Você me tem. — Blake substituiu sua mão pela boca.

A cabeça de Farrah caiu para trás. Cada arranhão de sua língua


contra sua carne sensível causou uma onda de sensação chiando através
dela. Foi o suficiente para transformar seu corpo em uma terminação
nervosa gigante, em carne viva e pulsando de necessidade; não foi o
suficiente para acalmar as vozes. Elas sussurraram em sua mente,
levantando dúvidas sobre seu corpo, sobre se Blake gostava do que estava
fazendo ou se estava fazendo porque achava que devia. Sobre porque ela
oscilou no limite, mas não conseguiu se forçar a pisar.

Ela agarrou os lençóis com tanta força que os nós dos dedos
ficaram brancos. Ela não tinha esse problema quando estava
sozinha. Farrah podia chegar ao orgasmo todas as vezes, então ela sabia
que era possível. Simplesmente não era possível com um cara.

Talvez seja diferente com Blake. Ela se sentia mais conectada a


ele do que a qualquer cara em seu passado, e Deus sabia que ele era
talentoso. As coisas que ele estava fazendo com a boca...

Farrah gritou quando ele chupou seu clitóris e passou a língua


sobre o ponto mais sensível de seu feixe de nervos.

Isto. Estava. Incrível. Mas não era o suficiente.

Ela tentou fazer seu corpo passar da linha de chegada. Não deve
ser difícil. Ela estava tão excitada que poderia explodir, mas não o fez. Ela
permaneceu no fio da navalha, contida por alguma força que não queria
que ela caísse. Seu corpo ansiava por alívio, mas não o daria a ela.

Era a piada mais cruel do mundo.

Droga.

Lágrimas de frustração vazaram do canto de seus olhos. Um


soluço escapou de sua garganta.

Blake parou. A cama mudou quando ele se moveu para encará-


la. — Você está bem? Eu te machuquei? — Ele parecia em pânico.

Farrah balançou a cabeça. Ela manteve os olhos fechados,


mortificada demais para olhar para ele. Ela não só não podia gozar, como
estava chorando (e não de alegria) no meio de um sexo oral incrível. O que
havia de errado com ela?

— Farrah, olhe para mim. Me diga o que está errado.

Ela abriu os olhos com relutância. A preocupação gravou as


feições de Blake, e suas sobrancelhas se uniram em um profundo V.

— Não há nada de errado, — ela soluçou. Ela enxugou as


lágrimas. — Eu sinto muito. Isso é tão embaraçoso.

O clima estava arruinado. Não adiantava negar.

— Não se desculpe. — Blake se deitou ao lado dela e a envolveu


em seus braços. — Shh. Tudo bem.

— Não é você. Realmente não é. Eu só... — Farrah fungou. — Eu


não consigo, você sabe.

Ele parecia confuso. — Você não consegue o quê?


— Eu não consigo... gozar. — Ela sussurrou a última palavra.

Uma pausa, então Blake riu. — É com isso que você está
preocupada? Farrah, eu sei que as meninas demoram mais. Está tudo
bem, nós podemos...

— Não, eu não consigo gozar, ponto final. — Ela manteve o


olhar abaixado, com medo de sua reação. — Quer dizer, consigo sozinha,
mas nunca fui capaz de ter um orgasmo com um cara. Nunca.

Desta vez, a pausa foi mais prolongada. — Bem, você não


conheceu ninguém tão talentoso quanto eu, — brincou Blake em uma
tentativa óbvia de aliviar o clima.

Farrah esboçou um sorriso aguado. — Verdade. — As lágrimas


diminuíram, graças a Deus. — Talvez seja apenas oral. Se fizéssemos sexo,
poderia ser diferente, — disse ela, esperançosa.

Você atinge pontos diferentes durante a relação sexual,


certo? Pode ser isso.

— Não estamos fazendo sexo como se fosse um experimento


científico, — disse Blake. — Ainda não. Embora eu adorasse ver você com
um jaleco de laboratório um dia.

Desta vez, ele arrancou uma risada fraca dela.

— Você conhece aquele ditado: tente, tente de


novo. Continuaremos tentando até chegarmos lá. Assim que o fizermos,
iremos para a próxima base.

Farrah franziu a testa. Ótimo. Ela seria virgem pelo resto da vida.
— Olhe pelo lado bom. — Blake beijou sua testa. — Você me
terá, Blake Ryan, à sua total disposição. Eu sou basicamente seu escravo
sexual voluntário. Nenhuma outra garota pode dizer isso.

— É melhor que não. — Farrah mordeu o lábio. — E se for eu? E


se houver algo errado comigo?

Velhos medos ressurgiram, ameaçando afogá-la em suas águas


turbulentas.

— Não há nada de errado com você. — O olhar de Blake ficou


feroz. — Você é perfeita.

— Ninguém é perfeito.

— Você é. Para mim.

Farrah enterrou o rosto no peito de Blake, com medo de ver o


quanto suas palavras a afetaram. Ela podia sentir seu coração batendo,
uma batida, constante que forçou aqueles velhos medos a recuar.

Mas em seu lugar vieram outros que eram ainda mais insidiosos,
porque estavam baseados na realidade.

Eles não eram medos; eram inevitabilidades.

E Farrah sabia que se ela não tomasse cuidado, eles poderiam


quebrar seu coração.
Você consegue fazer isso. Você é Blake Ryan. Meninas não te
assustam.

Blake andava de um lado para o outro em seu quarto, seu pulso


latejando de antecipação. Seu estômago embrulhou e ele não sabia se
estava animado ou prestes a vomitar.

Provavelmente um pouco de ambos.

Blake tinha feito um monte de merdas assustadoras em sua


vida. Ele se levantou na frente de uma centena de câmeras e disse ao
mundo que estava desistindo do futebol. Ele voou meio mundo para
passar um ano em um país onde ele não conhecia o idioma ou a
cultura. Ele estava se preparando para abrir seu próprio bar de esportes,
embora não tivesse nenhuma experiência em administrar qualquer coisa
que se parecesse com um negócio (graças a Deus pelo Google). Na
verdade, ele concluiu seu primeiro plano de negócios da vida real outro
dia. Análise de mercado, plano de marketing, plano operacional, plano
financeiro, plano de gestão... tudo feito.

Mas ele nunca disse a uma garota que a amava -


e falava sério. Ele disse isso a Cleo, mais por obrigação do que qualquer
outra coisa, e as palavras tinham gosto de papelão. Vazio e sem
sentido. Agora, essas mesmas palavras queimavam dentro dele, gritando
para sair.

Blake quase disse isso a Farrah na noite em que ela disse que
estava prestes a perder a virgindade. Mas então,
bem, isso aconteceu. Blake não estava chateado - embora ele mentisse se
dissesse que seu ego não foi atingido - mas o momento estava errado. Ele
não teve coragem de dizer a ela na cara novamente.

Em sua mente? Sim, um milhão de vezes. Cada vez que ele


olhava para ela, via seu sorriso, ouvia sua voz, sentia o calor de sua pele
contra a dele, ele se perguntou como havia sobrevivido sem ela. Vinte e
um anos sem saber que ela existia apenas para ter seu mundo de cabeça
para baixo em três meses. No entanto, nesses três meses, ele viveu mais e
amou mais do que nos anos anteriores.

Existia um mundo inteiro fora do Texas, e Blake só agora estava


sentindo o gostinho dele.

— Não seja um maricas. — Blake continuou a andar, dando a si


mesmo uma conversa estimulante como um louco. Graças a Deus ele não
tinha um colega de quarto. Se alguém o pegasse assim, eles o
internariam. — Faltam apenas três semanas para o semestre. Depois
disso, você não verá Farrah novamente até ao final de janeiro próximo.

Ele olhou para a estatueta de elefante que Farrah deu a ele


depois que ela voltou da Tailândia. Blake Jr. olhou de volta, positivamente
pingando julgamento. Diga já a ela, seu idiota, ele gritou.

Ótimo. Agora Blake estava ouvindo vozes de objetos


inanimados. Ele precisava sair daqui antes de ele realmente enlouquecer.
— É isso aí, — ele murmurou baixinho enquanto corria pelo
corredor, quase derrubando Nardo no processo.

— Onde está o fogo? — Nardo gritou.

Blake o ignorou. Ele parou na frente do quarto de Farrah. Ele


não conseguia respirar.

Foi uma boa ideia? Provavelmente não. Mas que caralho. Como
Drake disse, Só se vive uma vez porra.

Depois de um último momento de hesitação, Blake bateu com


os nós dos dedos na porta.

Thump. Thump. Thump.

Farrah abriu a porta. Ela estava vestindo seu adorável pijama de


ovelha e uma daquelas máscaras brancas pegajosas que faziam as
meninas parecerem figurantes de filmes de terror.

— Ei. — A surpresa brilhou em seus olhos. — Está tudo bem?

A mente de Blake ficou em branco. O discurso que ele ensaiou


se foi. Sua capacidade de falar, sumiu.

Tudo o que ele podia fazer era olhar para Farrah, desejando que
o chão o engolisse inteiro.

A preocupação substituiu a surpresa. — Você precisa...

— Eu amo você. — As palavras saíram de sua língua, doces e


ricas como mel. Não era como ele imaginava que isso aconteceria. Ele
tinha um florido discurso inteiro alinhado (graças àquelas comédias
românticas que Farrah o forçou a assistir) antes de soltar a bomba A. Mas,
diabos, já tinha saído. Não havia como voltar agora.

O resto da confissão de Blake caiu de seus lábios, como se eles


estivessem com medo de não ter a chance de ver a luz do dia se
esperassem muito. — Eu não esperava, nem queria, mas aconteceu. Para
ser sincero, isso aconteceu há um tempo e só agora estou tendo coragem
de lhe contar. Você disse uma vez que cada segundo conta, e eu não
quero mais um segundo sem que você saiba que estou totalmente,
completamente, cem por cento apaixonado por você.

Farrah ficou imóvel.

O minuto seguinte se estendeu por toda a eternidade.

Silêncio não era rejeição, mas ele ficaria doente se Farrah não
dissesse algo logo.

Alguém pigarreou.

Uma garota com cabelos com mechas verdes apareceu atrás do


ombro de Farrah. Demorou um segundo para Blake identificá-la como a
companheira de quarto de Farrah, Janice - e perceber que ela ouviu cada
palavra que ele disse.

Porra.

— Er, estou indo para a biblioteca. — Janice parecia estar


tentando não rir. — Eu não voltarei por um tempo, então, é isso.

Ela estava definitivamente tentando não rir.

Boa sorte, ela murmurou enquanto deslizava por Farrah para o


corredor. As bochechas de Blake queimaram de vergonha. Felizmente (ou
não), ele não teve que pensar muito nessa reviravolta humilhante de
eventos.

— Hum.

Não era a primeira palavra que Blake queria ouvir depois de sua
confissão.

— Eu sinto muito. Eu preciso... — Farrah deu um passo para o


lado. — Entre.

Ele entrou, embora quisesse fugir. Ele tinha a sensação de que


não iria gostar do que Farrah tinha a dizer.

Seu idiota. Seu idiota estúpido, estúpido. Ele deveria ter mantido
a boca fechada. Pelo menos então, ele poderia ter mantido a esperança de
que Farrah sentisse por ele o mesmo que ele por ela.

A ignorância, como eles dizem, é uma bênção.

— Eu preciso tirar isso. — Farrah tirou a máscara e jogou-a no


lixo. Sua pele brilhava sob as luzes. — Eu não sei o que dizer.

Seu peito ficou vazio. — Você não precisa dizer nada. — Blake
forçou um sorriso e tentou se convencer de que não estava morrendo por
dentro.

— Não. Eu quero. — Farrah brincou com seu colar. — Quando te


conheci, disse a mim mesma que não iria me apaixonar por você.

Jesus. Suas palavras cortaram como uma faca cirúrgica no


coração de Blake.
— Compreendo. — Ele precisava sair daqui. — Eu deveria
encontrar Luke para jantar, então eu...

— Mas me apaixonei.

Ele não podia ficar aqui mais um minuto. Ele precisava ir...
espere, o quê?

A cabeça de Blake se ergueu. — O que você disse?

— Eu me apaixonei por você. — Os olhos de Farrah brilharam de


emoção. Ela agarrou o colar até que os nós dos dedos ficassem
brancos. — Aquele lugar que você está agora? Eu estou bem aí com
você. Isso me assusta muito, o que é engraçado porque sempre me
considerei uma romântica. Você sabe, eu adoro ler e assistir romances e
quando eu estava no ensino médio, eu li todas essas revistas de noivas e
sonhei em me apaixonar e me casar um dia. Não que eu esteja esperando
que nos casemos, porque obviamente é muito cedo - quero dizer, se isso
acontecer - mas esta é a primeira vez que estou apaixonada e não
esperava me sentir assim e...

— Farrah. — Blake fechou a lacuna entre eles até que ele


pudesse contar cada cílio marcando aqueles lindos olhos.

— Não tenho certeza se isso é normal e desculpe, estou


divagando, nem sei o que estou...

— Farrah, cale a boca para que eu possa beijar você. — Ela calou
a boca.

Blake gentilmente tirou a mão dela de seu colar e enredou seus


dedos nos dela antes de capturar sua boca com a dele. O que começou
como um beijo inocente, uma exploração deste novo estágio em seu
relacionamento, rapidamente esquentou até que todo o corpo de Blake
estava em chamas. Suas terminações nervosas vibraram quando Farrah
varreu sua língua entre seus lábios, saboreando e provocando.

Ele estava tão perdido no calor e no gosto dela que não


percebeu que eles se moveram até que Farrah o empurrou para a cama e
montou nele.

Os jeans de Blake se contraíram dolorosamente.

O cabelo dela roçou seu peito enquanto ela pairava sobre ele, as
bochechas coradas, a boca inchada, parecendo por todo mundo como se
ela tivesse saído de um sonho. O sonho dele.

— Eu te amo, — disse ela. Cada palavra saiu lenta e


cuidadosamente, como se ela as estivesse testando.

Blake passou o polegar pela bochecha de Farrah. A pele dela era


macia e quente contra a dele. Seu olhar acariciou seu rosto, demorando-
se na curva delicada de seu maxilar, a inclinação suave de seu nariz, a
pequena pinta acima de sua sobrancelha direita, e a varredura de cílios
negros emoldurando seus profundos olhos chocolate.

— Eu também te amo.

Ele os virou até que ele estava pairando sobre ela. — Vamos
fazer uma experiência.

A sobrancelha de Farrah franziu. — Que tipo de experimento?


— Este. — Blake roçou os lábios nos dela e se abaixou para
acariciá-la, deleitando-se com sua respiração aguda enquanto explorava
sua carne mais íntima.

Eles tentaram várias vezes levar Farrah até à linha de chegada,


sem sucesso. Ela chegou perto durante a última tentativa, mas sem
dados. Foi um golpe (sem trocadilhos) para o orgulho de Blake. Quando
uma garota confirmava que sim, ele fazia questão de que eles
comparecessem. Sempre. Era uma marca registrada de Blake Ryan. O fato
de ele não poder fazer isso por Farrah o irritava profundamente.

Mas pela primeira vez, seu orgulho não era a coisa mais
importante.

Blake manteve o olhar no rosto de Farrah, entendendo


suas reações - a forma como suas pálpebras tremiam e os lábios se
separaram quando ele esfregou o polegar sobre seu clitóris, a maneira
como ela se arqueou quando ele deslizou um dedo dentro de seu calor -
até que seus dedos estivessem escorregadios com seus sucos.

Em seguida, ele guiou a mão de Farrah para baixo para substituir


a sua. Ele se recostou.

Seus olhos se abriram. — O qu...

— Toque-se para mim.

As bochechas de Farrah ficaram da cor de tomates maduros. —


Eu não posso.
— Você pode. Você disse que pode gozar quando faz isso por
conta própria. — Blake passou o polegar pela pele macia da parte interna
da coxa de Farrah. — Mostre-me.

Na época do futebol, Blake seguia um método de aprendizagem


simples: 1) Observe como os profissionais fazem isso; 2) Faça você
mesmo; 3) Continue até fazer bem; 4) Adicione seu próprio talento até
fazer melhor.

O método rendeu a ele dois Heismans e três campeonatos


nacionais. O corpo de uma menina era mais complicado do que uma
partida de futebol, mas o princípio era o mesmo. Ele não podia acreditar
que não tinha feito a conexão antes.

Farrah balançou a cabeça. — Eu preciso ficar sozinha quando eu


fizer isso.

— Por quê?

— Porque. — Ela vacilou. — Acho que fico mais relaxada quando


estou sozinha.

— Você confia em mim?

Farrah engoliu em seco, com os olhos brilhantes. — Sim. — Saiu


como um sussurro.

Blake liberou o ar de seus pulmões. — Feche seus olhos.

Outro gole. Seus olhos se fecharam.

O toque inicial de Farrah foi hesitante. Ela acariciou-se como se


fosse a primeira vez, mas, eventualmente, seu corpo se arqueou e sua
respiração saiu em pequenos ofegos sexy enquanto ela se trazia à beira do
orgasmo.

A luxúria correu por suas veias, queimando-o com sua


intensidade. Blake fechou as mãos em punhos e desejou que seu corpo
ficasse sob controle.

Farrah gemeu e tirou as mãos do corpo. Ela abriu os olhos. — Eu


não posso. — A frustração destruiu sua voz. — Eu não posso fazer isso
com você assistindo. É embaraçoso.

— Embaraçoso? — Blake estava pasmo. — Essa foi a coisa mais


sexy que eu já vi, e eu me olho no espelho todos os dias.

Farrah sufocou uma risada. — Que elogio.

— Não é um elogio. É a verdade. Eu poderia te observar para


sempre. — Porque eu quero estar com você para sempre. As palavras
estavam na ponta da língua, mas ele as engoliu. — Você não precisa ter
vergonha de mim. nunca. Nem mesmo se você estiver, não sei, ouvindo
Nickelback.

— Eu gosto de Nickelback.

Blake tentou esconder seu horror.

Farrah deu uma risadinha. — Brincando. Você deveria ter visto a


expressão em seu rosto.

— Graças a Deus. Viu? Se eu não te julgar por isso, não vou te


julgar por nada.

— Eu sei. — Ela soltou um suspiro. — Não sei por que isso é tão
difícil. Eu não tenho nenhum problema quando estou sozinha.
— Ajudaria se eu fosse primeiro?

Seus olhos ficaram do tamanho de pires. — O quê?

— Você tem vergonha de se tocar na minha frente. E se eu


fizesse primeiro? — Blake abaixou a calça e agarrou seu pau. Ele manteve
seu olhar no dela enquanto deslizava a mão sobre seu
comprimento, duro como uma rocha e latejante pelo show de Farrah.

Os lábios de Farrah se separaram. Seus olhos dispararam para


baixo, para cima e para baixo novamente. Eles ficaram lá.

Enquanto isso, Blake passou o olhar pelo rosto e corpo dela. Ele
brilhava com um leve brilho de suor de seus esforços anteriores. Seu
cabelo estava despenteado e seus lábios inchados. Ele se lembrou de
como se sentia entre aqueles lábios, lembrou-se do calor da respiração
dela contra sua pele e da forma como as curvas suaves dela se moldavam
contra as dele.

Sua respiração se acelerou. Ele aumentou o passo até que sua


cabeça caiu para trás, e ele gozou com um rugido. Então Farrah estava lá,
envolvendo-o com o calor de sua boca, e ele gozou com mais força,
agarrando seu cabelo para salvar a vida enquanto ela ordenhava até à
última gota dele.

Assim que terminaram, ele desabou contra a parede, os ouvidos


zumbindo com a intensidade de seu orgasmo.

Farrah lambeu os lábios. Seus olhos brilhavam de excitação. —


Isso foi incrível.

— Não é constrangedor? — Ela balançou a cabeça.


— É assim que me sinto quando estou observando você. Exceto
mais porque os caras são bastardos com tesão.

Caso em questão: Blake endureceu novamente. Quando se


tratava de Farrah, ele era insaciável.

— Bom. — Farrah se acomodou em sua posição anterior. —


Vamos tentar de novo.
O pulso de Farrah disparou com nervosismo e excitação. Ela já
tinha visto caras se tocarem antes - no pornô. Não fez muito por ela. Mas
assistir Blake? Parecia ainda mais íntimo do que ela imaginava que o sexo
seria.

Chamas de luxúria a envolveram, fazendo seus seios doerem e


seu núcleo chorar de necessidade. Não ajudou que Blake estivesse
sentado ali, parecendo mais lindo do que qualquer humano tinha o direito
de parecer. Seus olhos, escuros e encobertos pelo desejo, observaram-na
deslizar as mãos sobre o corpo pela segunda vez naquela noite.

— Tudo bem se não chegarmos lá desta vez. — Sua voz rolou


sobre ela, rouca, mas reconfortante. — Teremos na próxima vez e depois
disso. Temos todo o tempo do mundo.

Eles não tinham. Eles sabiam disso, e foi por isso que Farrah se
recusou a desviar o olhar enquanto se tocava. Ela se recusou a recuar para
o canto de sua mente que a provocava com suas dúvidas. Em vez disso, ela
se concentrou na maneira como seu corpo zumbia quando ela o trouxe à
vida, e quando essas dúvidas a alcançaram para arrastá-la para o lugar
onde só ela era permitida, ela se concentrou em Blake e na maneira como
ele a olhava - como se ele nunca quisesse piscar. Como se ele nunca
tivesse desejado ninguém do jeito que a desejava.
Naquele momento, ela acreditou em tudo que ele disse a ela.

Sua respiração engatou. Imagens de Blake se acariciando


inundaram sua mente. Seus movimentos ficaram mais rápidos, mais
espasmódicos.

Tão perto.

Seus cílios tremeram. O canto em sua mente acenou. Farrah


cerrou os dentes e ordenou que seus pensamentos se calassem. Para sua
surpresa, eles obedeceram.

No entanto, isso não se comparava à sua surpresa quando seu


orgasmo a atingiu menos de um minuto depois. A onda de prazer foi tão
repentina e inesperada que ela não registrou o que estava acontecendo
até que já estava descendo...

— Oh meu Deus, — ela engasgou. Farrah estava tão envolvida


no clímax que não percebeu que Blake havia se movido.

A boca dele substituiu a mão dela. Sua língua girou em torno de


seu botão apertado, lambendo e provocando, antes que ele o introduzisse
profundamente em sua boca e o sugasse com força.

Farrah gritou. Ela tentou fugir, mas as mãos fortes de Blake a


imobilizaram enquanto ele se deliciava com sua carne mais sensível.

Sua respiração saiu em ofegos curtos.

Ela estava queimando. Queimando tão quente e tão


primorosamente que ela não podia suportar, mas ela nunca quis que
acabasse.
O corpo de Farrah não teve tempo de se recuperar de sua última
alta antes de Blake levá-la ao pico novamente. Lá ela balançou, suspensa
por uma eternidade, até que ela desabou com uma força que a
chocou. Ela já havia caído, mas ele ainda estava lá, persuadindo-a mais e
mais até que ela não tivesse mais nada para dar.

Depois que as dores de seu último orgasmo diminuíram, Farrah


desabou, mole e exausta, nos braços de Blake. — Oh meu Deus, — ela
repetiu. Foi tudo o que ela conseguiu dizer. Ela não conseguia pensar
direito. Ela não conseguia nem lembrar seu nome.

Ele acariciou seu pescoço. — Bom?

— Muito, muito bom. Uau. — Agora Farrah entendeu o


falatório. Não admira que suas amigas falavam entusiasmadamente sobre
sexo oral. Farrah poderia fazer isso o dia todo, todos os dias.

A risada de Blake reverberou contra sua pele. — Sorte sua,


querida, você tem a melhor pessoa para o trabalho. — Ele passou o braço
em volta da cintura dela e puxou-a para perto de forma que suas costas se
aninhassem contra sua frente. Ele apoiou o queixo no ombro dela. —
Obrigado por confiar em mim.

Farrah se virou para olhar para ele. — Obrigado por ser


confiável.

Eles estavam sendo tão cafonas que ela teria se encolhido se


tivesse lido em um livro, mas este não era um livro. Esta era a vida dela. E
agora, estava perfeito.
Blake e Farrah ficaram em silêncio, satisfeitos com a presença
um do outro. Farrah esfregou um polegar distraído sobre o colar.

Três meses.

Três meses na CCU não mudaram nada além do superficial. Ela


tinha novas aulas, novos amigos e uma nova situação de vida, mas ela
permaneceu a mesma durante tudo isso.

Três meses em Xangai mudaram sua vida.

Para pensar, ela esteve tão perto de escolher Paris. Em um


universo alternativo, Farrah alternativa estava vagando pela capital
francesa com um grupo diferente de amigos, beijando meninos diferentes,
viajando para cidades diferentes e aprendendo um idioma diferente.

Esta Farrah estremeceu, seu coração se partiu por cada versão


de si mesma que não estava bem aqui nos braços de Blake, porque este
era o paraíso e todos os outros mundos eram uma mera imitação.

— Você sempre faz isso.

— Fazer o quê? — Ela se aconchegou mais perto dele para se


assegurar de que ele ainda estava lá.

— Brincar com seu colar quando estiver pensando


profundamente. Ou nervosa. Ou brava. Ou triste. — Blake apoiou o queixo
no ombro dela e passou os dedos pelo pingente de prata. — Você não
está nervosa, brava ou triste - pelo menos, espero que não... então, um
centavo pelos seus pensamentos.
Farrah enrolou sua mão sobre a de Blake. — Meu pai me deu
este colar. — A parte de trás de seus olhos arderam quando ela se
lembrou daquele dia.

Seu pai a pegou para o almoço semanal. Ele a levou para o In-N-
Out, como sempre fazia, porque nenhum dos dois queria se sentar para
uma refeição completa. Era muito estranho. Para a surpresa de Farrah, ele
a presenteou com o colar depois que eles acabaram com seus doubles-
doubles23 e batatas fritas.

— Ele comprou no meu aniversário de quinze anos. Eu ainda


tinha algumas semanas pela frente, mas ele disse que mal podia
esperar. Ele queria que eu o tivesse mais cedo. Isso foi antes de eu ver
minha mãe chorando e eu... — Os lábios de Farrah tremeram. Blake
apertou seu aperto e deu um beijo em seu ombro. — De uma forma
estranha, o colar me conforta. Como se enquanto estou com ele, tenho
meu pai comigo e posso dizer todas as coisas que não disse quando ele
estava vivo.

Blake ficou em silêncio por um longo momento. — Então você


está dizendo que seu pai estava assistindo cada vez que nos chupamos?

— Blake!

— Desculpa. Desculpa. — Ele enterrou o rosto em seu cabelo. —


Eu faço piadas nos momentos mais inadequados.

Um sorriso apareceu em sua boca. Farrah sempre poderia


contar com Blake para iluminar as coisas. — Tudo bem. Eu gosto de suas
piadas inapropriadas. A maior parte do tempo.
23
Cheesburguer duplo; duas fatias de queijo, duplo de carne, alface, tomate e molho.
— Coisa errada a dizer, amor. Agora serei imparável.

— Você é o grande Blake Ryan. Você já não deveria ser


imparável?

O estômago dele roncou de tanto rir. — Você me pegou. Mas


você não respondeu minha pergunta. No que você estava pensando
antes? Você só fica quieta quando está pensando profundamente.

Farrah rolou para ficar cara a cara com Blake. Ele estava tão
perto que ela podia contar cada cílio e ver o leve punhado de sardas em
seu nariz. — Eu estava pensando em como sou sortuda por ter conhecido
você.

Seus olhos escureceram para safiras. — A sorte não teve nada a


ver com isso. — Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. —
Estamos aqui porque devemos estar aqui.

— Você realmente acredita nisso? — Farrah queria acreditar. Se


eles deveriam estar aqui, então era o destino. O destino, tão grande e
onisciente como ela era, não uniria duas pessoas e depois as separaria.

O destino foi a única coisa que superou o tempo.

— Eu realmente acredito.

Farrah deixou a fé de Blake varrê-la porque, no final do dia, isso


era tudo que eles tinham.

Ela o beijou, um beijo longo e lento que aumentou o calor e a


paixão até que ela não aguentou mais. Seus corpos se moveram juntos,
pele contra pele, e ela gemeu por ele, desejando aquela conexão final.
— Tem certeza? — Blake ofegou. Ela podia senti-lo contra seu
estômago, quente e duro.

A dor se intensificou.

— Sim. — Ela morreria se ele não fizesse isso. Morrer de tortura


ardente e requintada. — Eu tenho camisinhas na minha gaveta. Por
precaução, — ela disse quando viu a expressão em seu rosto.

Isso foi bom o suficiente.

Farrah ouviu sua gaveta abrir e fechar, seguida pelo som de


papel alumínio rasgando. Blake voltou, abraçando-a, beijando-a e
acariciando-a até que ela gemeu e passou as unhas por suas costas com
impaciência.

Cada centímetro dela estava em chamas, consumido pelas


chamas do desejo. Tudo em que ela conseguia pensar era em Blake dentro
dela.

Então, finalmente, maravilhosamente, ele estava. Ele a penetrou


em um golpe fluido, revestindo-se até o talo. Farrah se arqueou contra ele
com um suspiro de dor e prazer.

Blake ficou imóvel. — Você está bem?

— Sim. — Ela agarrou seus braços. — Continue.

Farrah contraiu o queixo enquanto ele se movia novamente. As


estocadas iniciais de Blake foram lentas, mas ele era tão grande que
demorou um pouco para se ajustar. Eventualmente, seus músculos
relaxaram e a dor diminuiu, substituída por uma sensação tão grande que
a deixou sem fôlego. Ele a preencheu completamente até que não
houvesse mais espaço para mais nada. Havia apenas Blake.

Ela moveu os quadris no ritmo dele e sibilou quando ele


esfregou o polegar sobre seu clitóris inchado.

Farrah não conseguia acreditar que ela estava fazendo


isso. Sexo.

Exceto que era maior do que sexo. Foi exaustivo. Mente,


coração, corpo, alma. Tudo isso exposto para o menino em seus braços.

As chamas se intensificaram, afogando-a em seus corações.

Blake gemeu. Suas estocadas ficaram mais rápidas, mais


fortes. Em resposta, ela subiu cada vez mais alto, desesperada para
alcançar o pico mais uma vez, agora que sabia que não estaria sozinha
quando chegasse lá.

— Farrah.

— Sim? — Ela envolveu as pernas ao redor dele, incitando-o


mais fundo até que ele atingiu um ponto que a fez ofegar de prazer.

— Eu amo você.

As pessoas dizem que você não deve confiar na confissão de um


cara durante o sexo. Que os hormônios confundem seus cérebros e os
fazem dizer coisas que não querem dizer.

Talvez isso fosse verdade para alguns caras, mas Farrah não se
importava com outros caras. Ela se importava com Blake, e mesmo que
ele não tivesse confessado antes, mesmo que nunca tivesse pronunciado a
palavra — amor— em voz alta até agora, ela viu em seus olhos. Um véu se
ergueu, permitindo que ela visse tudo dele e tudo dela refletido naquelas
profundezas azuis. Cada sentimento, cada decisão, cada escolha -
não apenas deles, mas de todos que vieram antes deles. Milhares de anos,
milhões de peças móveis que precisavam se encaixar, mesmo que apenas
por um segundo, para que pudessem estar onde estavam naquele
momento.

Ela viu tudo.

E agora que ela caminhava entre as estrelas, como ela poderia


não acreditar no destino? Como ela poderia não acreditar no amor?

— Eu também te amo.

O sorriso de Blake poderia fazer o sol se esconder de vergonha.

Para provar suas palavras, eles despejaram tudo o que tinham


um no outro, incitando um ao outro a ir mais alto, mais rápido.

Farrah caiu pela borda primeiro; Blake os seguiu logo depois,


seus gemidos de êxtase se misturando até que nenhum dos dois
conseguiu formar uma palavra e eles caíram nos braços um do outro.
O vento soprava nas bochechas, nariz e orelhas de Blake. Ele
ainda tinha ouvidos? Ele não sabia dizer. Todas as sensações deixaram seu
corpo.

Ele lamentou profundamente sua decisão de passear por


Tianzifang uma última vez antes do final do semestre. O enclave artístico
era um dos locais favoritos de Blake na cidade, e seu labirinto de becos,
lojas, galerias e restaurantes o tornava o lugar perfeito para passar a
noite... a menos que fosse inverno.

Eles deveriam ter ido ao laser tag como Luke sugeriu. Pelo
menos eles estariam aquecidos.

— Vamos entrar. — Farrah apertou sua mão. — Você está


congelando. —

— Estou bem. — A respiração de Blake fumegou no ar frio.

— Eu disse que deveríamos ter feito laser tag. Eu disse que você
deveria ter usado um gorro. — Luke balançou para a frente e para trás na
ponta dos pés. Seu próprio gorro estava confortável em sua cabeça,
aquele bastardo. — Eu estou sempre certo.

— Você não me disse que eu deveria usar um gorro.

— Bem, eu teria se eu soubesse que você não iria.


— O que aconteceu com mimar o aniversariante? — Blake
resmungou.

— Você disse que queria algo discreto. Sem presentes, sem


festa,

Courtney o lembrou.

— Não significa que eu quero que vocês se unam contra mim.

— Estou do seu lado. — Farrah beijou sua bochecha. — Sempre.

Uma onda de amor inundou as veias de Blake e aqueceu sua


pele fria. Ele virou a cabeça para que ele pudesse lhe dar um beijo
adequado.

Seus amigos gemeram e fizeram ruídos falsos de engasgo.

— Vocês estão me dando uma dor de dente, — Kris disse. —


Primeira Court e Leo, então Liv e Sammy, e agora vocês dois. Eu sou a
única pessoa sã que restou no grupo.

Ela voltou sua atenção para um raro sinal Visa afixado na


barraca de um vendedor. Mesmo em um mercado favorável aos
turistas como Tianzifang, o dinheiro reinava supremo. — Ooh. Eles
aceitam Visa? — Ela jogou um gorro azul marinho em Blake, que o pegou
no ar. — Não diga que nunca te dei nada.

— Uh, obrigado.

Kris pegou uma braçada de joias e entregou seu cartão ao


vendedor, que parecia não acreditar na sua sorte.
Normalmente, Kris não tocaria em prata falsa com uma vara
de três metros, mas Blake suspeitava que ela ainda estava tentando se
vingar de seu pai por se casar com — O Monstro Ruivo, — como ela
chamava sua futura madrasta.

A máquina do cartão de crédito apitou. A testa do vendedor se


enrugou. — Seu cartão foi recusado. — Ele devolveu o Visa para Kris com
visivelmente menos entusiasmo.

— Isso é impossível. — Kris empurrou o Visa de volta para sua


mão. — Tente novamente.

Ele fez. Recusado.

— Tente este. — Ela pescou outro cartão de sua carteira.

Também recusado.

— Está tudo bem, — disse Blake. — Eu posso pagar pelo gorro.

— Há algo errado com a máquina, — Kris disparou. — Está


bem. Eu tenho dinheiro. — Ela jogou as joias de volta em suas caixas e
colocou uma nota de cinquenta kuai no balcão. — Fique com o troco.

— Obrigado pelo presente. — Blake puxou o chapéu pela


cabeça. Calor instantâneo. É incrível o que um pedaço de lã pode fazer.

— Sim, tanto faz. Espere até que meu pai saiba disso. — Kris
ergueu a gola de seu casaco forrado de pele. — Nosso contador terá
muitos problemas.

Ao lado dela, Olivia soltou um grande bocejo. Seu terceiro da


noite.
— Por que você não volta para o dormitório? — Blake
sugeriu. — Você tem um voo cedo. Não há necessidade de ficar acordada
até tarde por mim.

— Tem certeza?

— Sim. Farrah e eu ficaremos aqui um pouco mais. — Blake


queria algum tempo sozinho com Farrah antes de partirem.

— Percebi a indireta. Feliz aniversário. — Olivia abraçou Blake e


Farrah. — Se eu não te ver antes de partirmos, tenha um Natal incrível.

— Você também. — Farrah apertou a amiga com força. — Amo


você.

O resto do grupo se despediu e se dispersou, deixando Blake e


Farrah sozinhos.

— Finalmente. — Blake passou os braços em volta da cintura de


Farrah. — Eu pensei que eles nunca iriam embora.

Ela riu. — Eles são nossos amigos.

— Sim, e eles estavam limitando nosso estilo. — O estômago de


Blake roncou. — Você desce para um segundo jantar? Estou ficando com
fome de novo.

Caminhar no frio realmente queimava as calorias.

— Estou sempre disposta a comer.

— Ótimo. Há um lugar vietnamita incrível por aqui em algum


lugar.
Deu algumas voltas erradas, mas Blake finalmente localizou o
minúsculo restaurante que ele encontrou alguns meses atrás, quando
seus amigos estavam na Tailândia. O local despretensioso ficava em um
beco lateral em frente a uma loja de bugigangas. Cabines de couro
cobriam as paredes; treliças de madeira, plantas verdes exuberantes e
arandelas de parede âmbar enfatizavam a intimidade do pequeno espaço,
que apesar da hora tardia fervilhava de atividade.

— Se eu não soubesse melhor, pensaria que você estava


tentando me seduzir — brincou Farrah. Ela tirou o casaco e pendurou-o no
prendedor de parede perto da mesa.

As covinhas de Blake brilharam. — Está funcionando?

— Oh sim. Espere até voltarmos para o dormitório. — O sorriso


de Farrah se tornou malicioso. — Eu tenho outro presente de aniversário
para você.

O sangue de Blake esquentou. Apesar de seu pedido de ‘não dar


presentes’, Farrah deu a ele um lindo porta-cartões de visita com
monograma no jantar, — porque todo empresário de sucesso precisa de
um, — explicou ela. Ele amava o título do cartão, mas no momento, ele
estava muito mais interessado nas possibilidades carnais piscando em sua
mente.

— Esqueça um segundo jantar. — Blake jogou o guardanapo na


mesa e se levantou. — Vamos pular para a sobremesa.

Ele teve algumas ideias criativas envolvendo chantilly e


chocolate que gostaria de colocar em ação.
A gargalhada prateada de Farrah fez com que os outros
comensais virassem a cabeça. — Ah não. Sente-se, — disse ela. — Você
não pode me tentar com Pho24 sem seguir em frente.

Blake fez beicinho. Droga. — Eu não posso acreditar que você


está escolhendo sopa de macarrão em vez de mim.

— Para ser justa, eu escolheria sopa de macarrão a quase


qualquer coisa. Exceto você. — Farrah esticou o braço por cima da mesa e
entrelaçou os dedos. — Você sabe que eu iria a qualquer lugar com você.

Seu coração derreteu em uma pilha de gosma. Era assustador


quanto poder ela tinha sobre ele. — E você sabe que eu não posso negar
nada a você. — Ele levou a mão dela à boca e deu um beijo nas costas
dela. — Especialmente não comida. Você é assustadora quando está com
fome.

Farrah sorriu. — Eu treinei você bem.

— O que eu sou, um cachorro?

Ela deu um tapinha na mão dele com a que estava livre. —


Um cachorro muito quente. — Ela deu uma risadinha. — Veja o que eu
fiz? Quente. Cachorro. É engraçado, — ela disse quando Blake ergueu as
sobrancelhas.

— Fique feliz por eu te amar tanto. Piadas tão ruins deveriam


ser proibidas.

Farrah mostrou a língua. — Só estou deixando passar porque é


seu aniversário.
24
Sopa Vietnamita, caldo de carne servido fumegante numa tigela com massa de arroz e carne
fatiada.
Um garçom apressado se aproximou da mesa. Eles não tinham
olhado o menu ainda, mas depois de uma rápida verificação, Blake e
Farrah fizeram seus pedidos habituais de comida vietnamita - pho com
peito e lagarto para ela, banh mi de porco grelhado para ele e dois
summer rolls para compartilhar.

— Estou feliz por podermos comemorar seu aniversário antes


de partirmos. — Farrah esfregou o polegar sobre os nós dos dedos de
Blake. — Espero que tenha gostado.

— Hoje é o melhor aniversário que tive em muito


tempo. Porque é meu primeiro aniversário com você. — Um ano atrás,
Blake teria engasgado com a quantidade de queijo com essas
palavras. Agora, ele não se importava. Era verdade.

O aniversário de Blake só aconteceria na semana que vem - para


sua sorte, seu aniversário caía dois dias antes do Natal - mas Farrah
insistiu em comemorar antes de voltarem para casa nas férias. Ele vetou
uma grande festa, para a decepção de Courtney, e se contentou com um
jantar em grupo em um dos restaurantes chiques de Olivia. Blake teria
preferido cerveja e pizza em uma lanchonete casual, mas as garotas o
teriam matado.

Farrah prendeu a respiração. — Quem diria que você era brega?

Ele sorriu, tentando não pensar no fato de que não a veria


pessoalmente novamente até ao final de janeiro. Ele não conseguia
acreditar que o semestre havia acabado. Três meses e meio se passaram
em um piscar de olhos. Se sua vida não tivesse mudado tanto, ele teria
pensado que acabara de chegar a Xangai. — Brega, sou eu. Faça-me um
favor e não conte a ninguém.

Seus olhos brilharam de emoção. — Seu segredo está seguro


comigo. — O garçom voltou com a comida. Uma mordida disse a Blake
que era tão bom como ele se lembrava.

— 9/10 em recomendações de alimentos. — Farrah sorveu o


caldo de sua colher. — Estou impressionada.

— 9/10? — Blake ficou insultado. — Qual é o que está


perdendo?

— Aquela pizzaria para a qual você nos levou.

— Quê - oh. — Blake fez uma careta quando se lembrou da


crosta de pizza velha e das coberturas descoladas de algumas semanas
atrás. — Tudo bem. Eu deixei cair a bola naquele. Mas isso deve ser bom o
suficiente para compensar.

— Mmhmm.

Eles comeram o resto da refeição em um silêncio


confortável. Essa era uma das coisas favoritas de Blake em seu
relacionamento com Farrah. Com suas namoradas anteriores, ele tinha
que dar um show e ser tão animado e charmoso quanto todos esperavam
que ele fosse. Isso foi verdade até mesmo com Cleo, com quem ele
cresceu. Com Farrah, ele conseguia respirar.

Levaram menos de 20 minutos para terminar de comer toda a


comida. Quando eles terminaram, o estômago de Blake se apertou contra
suas calças. Ele estava tão cheio que não conseguia se mover.
Talvez um segundo jantar tenha sido uma má ideia.

— Vou me refrescar. — Farrah saiu correndo da cabine. — Eu


derramei sopa na minha camisa.

— Tudo bem. Nós vamos tirar você dessa camisa em breve. —


Blake riu quando Farrah deu um tapa no braço dele.

Enquanto ela usava o banheiro, Blake pagou a conta. Nenhuma


cultura de gorjetas na China, que demorou um pouco para se acostumar,
mas que agora ele apreciava.

Depois de semanas lutando para se ajustar aos costumes e estilo


de vida não familiares da China no início do semestre, Blake finalmente se
acomodou em uma rotina confortável em Xangai. O barulho e a poluição
não o incomodavam mais, e ele até gostou de alguns dos alimentos que
jurou que nunca experimentaria. Descobriu-se que o tofu fedorento era
bastante delicioso, uma vez que você supera a parte fedorenta.

Seria estranho voltar para os Estados Unidos. Blake já estava se


preparando para o choque cultural reverso, embora fosse bom não ter
que lidar com banheiros agachados por um tempo.

Depois que Farrah voltou do banheiro, eles vestiram os casacos


e caminharam até à estação de metrô mais próxima. Estava tão frio que
suas respirações embaçavam em torno do rosto cada vez que respiravam.

— Nossa última noite. — Farrah parecia melancólica. — Tem


sido um passeio selvagem.

— Nossa última noite em Xangai neste semestre, — corrigiu


Blake. — Nós temos o próximo semestre.
Ele não podia esperar. Ele sentia falta da mãe e da irmã, mas
não estava ansioso para ver o pai. Ele gostava mais de seu velho quando
ele estava a mais de 7.000 milhas de distância. Além disso, um mês sem
ver Farrah seria uma tortura.

Claro, eles tinham Skype, mas não era a mesma coisa.

Por outro lado, Blake sempre quis experimentar o cibersexo... —


Você está certo. — Farrah balançou a cabeça. — Eu não queria ficar toda
piegas no seu aniversário. Vamos conversar sobre outra coisa.

— Como o que faremos quando voltarmos para o dormitório? —


Blake balançou as sobrancelhas. As fantasias de todas as coisas sujas que
ele e Farrah podiam fazer no vídeo se transformaram em fantasias de
todas as coisas sujas que fariam pessoalmente.

Foda-se o cibersexo. Nada supera o sexo real. Pele contra


pele. Boca contra boca. Boca contra... outras partes do corpo.

Blake endureceu até que era quase doloroso quando uma onda
de luxúria disparou por suas veias. Ele olhou para o mapa acima,
informando quantas paradas eles haviam deixado antes de chegarem ao
SFSU.

Quatro.

Porra. Isso foi quatro paradas a mais.

Enquanto isso, sua excitação não passou despercebida. Os olhos


de Farrah escureceram de desejo e ela se aproximou até que seu peito
roçasse o dele. Mesmo que houvesse várias camadas de roupas entre eles,
o corpo de Blake reagiu como se ela tivesse se despido.
Se eles não saíssem desse maldito trem logo, ele iria
enlouquecer. Literalmente.

Não ajudou o fato de Farrah começar a sussurrar coisas em seu


ouvido - coisas que o deixaram pronto para jogá-la no chão do trem e
tomá-la, ali mesmo, os espectadores que se danem.

Felizmente, eles chegaram à parada antes que ele fizesse algo


que os prendesse por indecência pública.

Farrah riu quando Blake agarrou a mão dela e empurrou seu


caminho para fora do trem lotado com a urgência de um homem a
caminho do pronto-socorro para uma situação de risco de vida.

No caso dele, a situação era de bolas azuis.

— Você acha isso engraçado? — Blake resmungou.

Os olhos de Farrah brilharam com luxúria e diversão. — É muito


engraçado.

O dormitório apareceu. — Vamos ver isso.

Eles chegaram ao seu quarto em tempo recorde. Blake chutou a


porta atrás de si e jogou Farrah na cama, provocando um pequeno grito
de surpresa. Ele não perdeu tempo tirando as roupas de ambos.

Ela observou, os olhos brilhando de excitação, enquanto ele


enrolava uma camisinha e então - ele estava dentro dela, dirigindo fundo
com um golpe duro.

Jesus. Ela estava tão apertada e molhada que o deixou fora de


si. O controle se tornou uma memória distante. Blake bateu nela,
impulsionado por uma necessidade irracional e uma luxúria insaciável.
A primeira vez foi longa, doce e gentil. Foi fazer amor. Esta? Isso
era foda. Rápido, áspero, carnal. Não havia nada de gentil nisso.

Farrah deu o melhor que conseguiu, seus quadris batendo para


encontrar os dele, as unhas arranhando suas costas até que deixaram
marcas vermelhas em sua pele.

Blake sibilou de prazer. Ele empurrou com mais força,


impulsionado pela luxúria e um desejo de enterrar-se tão profundamente
que nada poderia separá-los.

Cílios quentes de sensação chicotearam seu corpo, queimando-


o, envolvendo-o em seu calor até que ele sentiu os músculos dela se
contraírem ao redor dele. Ele diminuiu suas estocadas e riu do grito
frustrado de Farrah.

Blake abaixou a cabeça para beliscar seu lábio inferior. Ela


choramingou em resposta. — Isso é por rir de mim antes.

Farrah agarrou seu cabelo e puxou sua cabeça para trás para
que ficassem cara a cara. A dor e o prazer o inundaram. — Blake Ryan, se
você não me foder o mais forte que pode agora, eu nunca te darei um
boquete de novo.

Blake não achou que fosse possível, mas se endureceu ainda


mais. Farrah normal era sexy. A Farrah agressiva era um nível totalmente
diferente.

Blake se apoiou na cama e retomou suas estocadas. Em parte,


porque ele gostava de boquetes no futuro, em parte porque iria gozar
apenas com as palavras dela.
Ele aumentou seu ritmo e força até que ele bateu nela com
tanta força que a cabeceira da cama bateu contra a parede. Farrah
enrijeceu. Suas unhas cravaram-se mais profundamente e ela gritou, um
gemido longo e agudo, enquanto explodia ao redor dele. Dor e prazer se
misturaram até que Blake também gozou com tanta força que estrelas
salpicaram sua visão.

Quando eles finalmente estavam saciados, eles desabaram, sem


ossos, nos braços um do outro.

— Feliz aniversário, — Farrah engasgou.

Ele abafou a risada contra o pescoço dela. — Acho que perdi


algumas células cerebrais de tanto gozar. — Blake reuniu energia para
remover e descartar seu preservativo antes de afundar de volta em sua
cama reconhecidamente irregular. Mas com Farrah ao lado dele, parecia o
paraíso.

— Você...

— Eu sei. — Blake balançou a cabeça. — Eu me preparei para


isso. — Farrah sorriu e se virou para montá-lo. Ele estava exausto, mas ele
se animou do mesmo jeito. — Por respeito ao seu vigésimo segundo ano
na terra, não farei piada. No entanto, acho que deveríamos ter mais uma
sessão. Já que é seu aniversário e tudo.

— É a melhor ideia que já ouvi.

O cabelo de Farrah caiu sobre seus ombros como seda


preta. Sua pele escorregadia de suor brilhava à luz da lua filtrada por suas
cortinas. Ela era a coisa mais linda que ele já tinha visto.
Blake pousou as mãos nos quadris dela. — Eu sentirei muito a
sua falta.

— O intervalo é de apenas algumas semanas. — As pontas de


seu cabelo roçaram seu peito quando ela tomou sua boca em um beijo
doce. — Como você disse, temos o próximo semestre. Será como se nunca
tivéssemos partido. — Ela parecia estar tentando se convencer tanto
quanto Blake.

— Você tem razão. — Ele esfregou o polegar sobre sua pele de


cetim quente, tentando imprimir a sensação em sua mente.

— Eu estou sempre certa. — Farrah pescou um preservativo


novo de sua gaveta e o enrolou antes de guiá-lo lentamente para dentro
dela. Blake assobiou um suspiro. — Agora, onde estávamos?

Ela começou a se mover, e Blake esqueceu tudo sobre amanhã,


ontem, ou como diabos ele veio parar aqui. A única coisa que importava
era que ele estava aqui, agora, com ela.
— Meu Deus. Seu cabelo! — A boca de Farrah caiu quando viu
Olivia.

A outra garota tocou seus cabelos com


uma mão envergonhada. — Parece estúpido?

— Não, parece incrível! — O cabelo de Olivia, que já estava na


altura da cintura, balançava ao redor de seus ombros em um bob médio
limpo e simples. O novo estilo realçou suas maçãs do rosto e fez seus
olhos saltarem. — Eu amei.

— Obrigada. — Olivia sorriu. — Achei que seria mais


profissional.

As meninas se entreolharam por um momento antes de


fecharem a distância restante entre elas e se abraçarem.

— É tão bom ver você! — Olivia gritou. — Faz uma eternidade.

— Parece que sim. — Os subúrbios de LA pareciam tão


mundanos após a agitação de Xangai. Farrah gostou do clima quente e de
conversar com sua família e amigos, mas ela sentia falta de FEA e Blake. —
Você viu Kris?

— Ainda não. Você?


— Ainda não. — Farrah ajudou Olivia a carregar sua bagagem
escada acima. Seus braços se esticaram com o esforço. A FEA precisa
investir em um elevador. — Você acha que ela está bem?

— Ela está bem. — Olivia parecia insegura. — É Kris.

O salão das meninas estava uma bagunça de barulho e


malas. Os tons suaves do último hit pop flutuaram do quarto de Flo e
Janet para o corredor. Charlotte passou, arrastando um enorme edredom
atrás dela. Tudo ao redor, as meninas riam e se abraçavam e relembravam
suas férias de inverno, tão animadas que tropeçavam nas palavras.

FEA estava de volta.

Farrah desempacotou a bolsa de higiene de Olivia enquanto sua


amiga jogava suas roupas na cama. — Onde está Sammy? Mal posso
esperar para vê-lo. — Farrah sentia falta de sua risada contagiante e de
suas piadas bem-humoradas. Ele era o irmão mais próximo que ela já teve.

— Ele acabou de pousar. Ele estará aqui em breve. — Os olhos


de Olivia brilharam. Ela apontou o queixo para algo atrás de Farrah. —
Nesse ínterim, alguém está aqui para ver você.

Farrah se virou. Ela sentiu quem era antes de seus olhos


confirmarem seu palpite.

— Ei, meninas. — Blake mostrou suas covinhas devastadoras. —


Sentiu minha falta?

Depois de seis semanas conversando com ele pela tela do


computador, Blake parecia maior que a vida. Seu corpo magro e
musculoso preenchia o batente da porta. Sua camisa azul clara se estendia
sobre os ombros largos e combinava com a cor de seus olhos - os mesmos
olhos que bebiam Farrah como um homem morrendo de sede no deserto.

— Ei, Blake. — Olivia cutucou Farrah, que


permaneceu imóvel enquanto seu coração derretia mais rápido do que o
sorvete italiano durante o verão.

Olivia atualizou sua cotovelada para um empurrão suave. — É


Blake, — ela sibilou.

Isso funcionou.

Farrah recuperou o controle de seus membros e voou pelo


quarto para os braços dele. Blake a segurou, seu aperto firme e forte. Ela
enterrou o rosto em seu pescoço e respirou seu cheiro fresco e familiar. —
Senti sua falta, — disse ela, muito emocionada para brincar. — Eu senti
tanto sua falta.

— Também senti sua falta. — Seu hálito quente fez cócegas em


sua pele. Sua boca se chocou contra a dela, suas línguas se enredando
enquanto seus dedos se cravavam em seus braços. Ele tinha gosto de
fome e desejo. De saudade. Do amor. Ele a beijou como se sua vida
dependesse disso.

Farrah afundou no abraço de Blake. Depois de semanas de


espera e desejo, isso era melhor do que ela imaginava. Ela passou os
dedos pelo cabelo dele, desesperada para...

— Aham.

Desesperado para...

— Aham!
Blake e Farrah gemeram em uníssono. Eles se separaram e
olharam para Olivia, que havia desempacotado em tempo recorde e agora
estava coordenando as cores de seu armário.

— Vão para um quarto. — Olivia pendurou um vestido sem alças


de cobalto em um cabide. — Seu próprio quarto.

— Você está nos expulsando? — Blake exigiu.

— Sim. Eu amo vocês, mas não quero ver vocês fazendo sexo.

— Talvez você aprenda uma ou duas coisas.

Olivia engasgou.

Farrah tentou não rir. — Não seja rude.

— Eu não sou. — O sorriso de Blake era diabólico puro. — Eu


estava apenas fingindo uma hipótese.

— Fora! — Olivia apontou para a porta. — Farrah, largue esse


patife.

— Ela nunca deveria.

— Se ela tivesse que escolher entre você e eu, quem você acha
que ela escolheria?

Blake olhou para Farrah, que encolheu os ombros. Ele ergueu as


mãos em sinal de rendição. — Estou fora, estou fora. Posso dizer quando
não sou desejado.

— Eu sempre quero você. — Farrah enroscou os braços em volta


do pescoço dele. Ela poderia flutuar do chão, ela estava tão feliz.

Os olhos de Blake escureceram para safiras. — Continue.


— ECA. — Olivia pendurou seu macacão azul ao lado de seu
vestido azul. — Nojento.

— Parece que alguém precisa da visita de Sammy.

Desta vez, Farrah não conseguiu conter a risada. Ela arrastou


Blake para o corredor e fechou a porta antes que Olivia jogasse um sapato
em sua cabeça.

— Não a provoque! Você chegou perto de ser empalado por um


estilete.

— Nah. Tenho bons reflexos. É um dos meus muitos talentos.

— Ano novo, mesmo Blake.

— Você não pode melhorar a perfeição. — Desta vez, foi Blake


quem a puxou pelo corredor.

— Seu quarto é o outro lado.

— Vamos para o seu quarto. Janice ainda não voltou, não é?

— Não. — Janice nunca estava no dormitório.

Farrah abriu a porta e acendeu as luzes. Estava claro qual lado


era dela e qual era de Janice. A metade do espaço de Janice era um
dormitório padrão - sem decorações, sem toques pessoais, exceto por um
pôster de Billie Eilish acima de sua cama.

Enquanto isso, Farrah tratou seu espaço como um miniprojeto


de design de interiores, embora com um orçamento extremo. Ela
substituiu os lençóis brancos e ásperos da FEA por um lindo conjunto de
bolinhas cinza e branco que encontrou em um mercado local. Não era sua
combinação de cores favorita, mas foi a melhor que ela pôde
encontrar. Felizmente, ela também pegou uma almofada dourada que
embelezou o visual e combinou com as molduras que trouxe de
casa. As molduras de vários tamanhos exibiam algumas de
suas memórias favoritas - Farrah e suas amigas segurando seus diplomas
de formatura do ensino médio; Farrah e sua mãe em seu primeiro dia de
faculdade; Farrah parada no meio do primeiro cômodo que ela projetou
(um projeto pro bono para a filha pré-adolescente de sua vizinha); Farrah
e sua amiga Maggie comendo pizza em Roma e reclamando para a
câmera.

Blake pegou a foto da pizza e riu. — Esta é uma ótima foto.

— Foi um grande dia. — Férias de primavera no ano


passado. Enquanto seus amigos festejavam em Cancún e na Cidade do
Panamá, Farrah e Maggie fugiram para a Itália. Foi ideia de Maggie -
ela era uma estudante de clássicos e obcecada por tudo que fosse grego e
italiano. Acabou sendo a melhor decisão que Farrah já tomou.

Bem, o segundo melhor.

Era estranho. A Itália parecia uma vida inteira atrás. Farrah


manteve contato com Maggie, mas o drama da vida grega e as travessuras
do campus de que Maggie se queixou podem muito bem ser de outro
mundo.

Depois de um ano no exterior, o primeiro ano seria um grande


ajuste.
Farrah empurrou o pensamento para fora de sua mente. Ela não
pensaria no próximo ano, não quando ela tivesse Blake aqui e um
semestre inteiro da FEA sobrando.

— Venha aqui. — Blake se sentou na beira da cama e deu um


tapinha em seu colo.

Ela se enrolou em seu abraço, absorvendo a familiaridade como


se fosse uma lufada de ar fresco depois de ficar presa em um quarto sem
janelas por semanas.

— Conte-me sobre sua folga. — O timbre profundo de sua voz a


fez estremecer de felicidade.

— Foi bom. Comi muito. Encontrei com amigos. O de sempre. Eu


contei a você tudo de emocionante que aconteceu. — Skype não era a
mesma coisa que ver um ao outro pessoalmente, mas era melhor do que
nada. — Exceto por uma coisa.

— Sério? — Os olhos de Blake brilharam de intriga. — O que é?

— Eu te mostrarei. — Farrah pescou seu caderno de desenho na


gaveta da mesinha de cabeceira ao mesmo tempo. Ela abriu seu conceito
de design final para o concurso IDAA. — Eu terminei isso durante as férias
de inverno e enviei meu portfólio na semana passada. — Seu pulso
disparou com os nervos. — É isso. Está fora de minhas mãos.

— Puta merda, — Blake respirou. Ele passou os dedos pelo


desenho. — Farrah, isso é incrível.

Depois de sofrer com o terceiro projeto por meses, Farrah


acordou no meio da noite com uma visão cristalina do que ela queria
fazer. Ela começou a esboçar e não parou até terminar tudo, com medo
de fazer uma pausa para que a inspiração não a deixasse.

— Obrigada. — Farrah lutou para conter o sorriso. — Estou


muito orgulhosa deste.

Ela não se incomodou em tentar ser humilde,


porque tinha orgulho de seu trabalho. Era um de seus designs favoritos,
sem exceção.

Farrah descartou sua ideia de suíte de hotel tradicional anterior


e mudou para o tema de uma vila em uma ilha que se apoiava em cores
naturais, tecidos fluidos e espaços abertos: cortinas macias e onduladas ao
redor da cama e penduradas no teto; uma sala ao ar livre com uma mesa
de centro de madeira de formato orgânico e móveis de fibra
natural; obras de arte indígenas e detalhes em água que se destacam nos
azuis claros do mar.

O design de interiores não é sobre a aparência de um espaço; é


sobre como você se sente. A villa de Farrah pode não existir na vida real,
mas apenas olhar para o esboço evocou uma sensação de liberdade,
aventura e felicidade.

Felizmente, os juízes do NIDA concordaram.

— Eu gostaria que estivéssemos lá agora. — Blake passou os


dedos pelo desenho. — Só nós dois em uma ilha isolada, onde nada pode
nos atingir.

— Talvez um dia. — O estômago de Farrah vibrou. — Você acha


que eu posso vencer?
— Você está de brincadeira? — Blake roçou os lábios nos
dela. — Não sou especialista em design, mas posso dizer que isso é algo
especial. Você vai ganhar. Sem dúvidas.

Ela sorriu com a confiança dele. — Você deveria ter sido uma
líder de torcida em vez de um jogador de futebol.

Blake começou a rir. — Você tem razão. Eu estraguei tudo.

— De qualquer forma, chega de falar sobre mim. Como estava


Austin?

— Tudo bem. — Ele hesitou. — Eu também tenho


novidades. Encontrei um investidor para o bar.

O queixo de Farrah caiu. — O quê? Isso é


incrível! Quem? Como? Conte-me tudo!

Ele riu de sua tontura. — Não fique muito animada. É meu


amigo Landon, então não é como se eu tivesse convencido
um grande empresário de que não sei investir. Sua família é enorme no
mundo da hotelaria, e ele teve acesso a metade de sua herança quando
fez 21 anos. Ele está tentando mostrar à mãe que sabe o que está
fazendo, então ficaremos dividindo a metade no bar. — Blake sorriu. —
Além disso, ele é um grande amigo.

— Isso ainda é incrível. — Farrah não conseguiu conter sua


empolgação. Ela testemunhou em primeira mão como Blake trabalhou
duro nos últimos meses. Ela tinha lido seu plano de negócios. Ela viu como
seus olhos se iluminaram quando ele falou sobre o bar. Seu
empreendimento seria um sucesso. Ela tinha certeza disso. — Estou tão
orgulhosa de você. Sua família também deve estar.

— Eu acho. Minha irmã está. Minha mãe está começando. Meu


pai está cético. Ele acha que a única coisa em que sou bom é futebol. —
Apesar de seu tom casual, Farrah detectou a mágoa por trás de suas
palavras.

A raiva passou por ela. Ela nunca conheceu Joe Ryan, mas ela
daria a esse homem um pedaço de sua mente quando o visse. — Foda-se
seu pai. Ele está tentando sabotar seus sonhos antes mesmo de você tirá-
los do papel, e eu. Não. Estou. Aqui. Para. Isto.

A boca de Blake se curvou em um sorriso. — Você é adorável


quando está com raiva.

— Estou falando sério! — Ela bateu no colchão com o punho. —


Não o deixarei fazer isso com você.

— Eu não quero reclamar muito. — Blake esfregou o polegar


sobre o medalhão. — Eu sei que tenho sorte de meu pai ainda estar por
perto.

Sua raiva derreteu, substituída por uma dor em seu


coração. Deus, ela amava esse menino. — Se você está preocupado
comigo, não se preocupe. Meu relacionamento com meu pai era
diferente. Não estou dizendo que você não deve tentar consertar as
cercas com seu pai; ele ainda é seu pai. Mas não o deixe desencorajar
você. Você é capaz de grandes coisas, Blake Ryan. Não se esqueça disso.
Os olhos de Blake escureceram de emoção. — Eu não mereço
você. Você sabe disso? — Ele a puxou com força e apoiou a bochecha no
topo de sua cabeça.

Farrah fechou os olhos, absorvendo a força calorosa de seu


abraço. — Eu sei.

— Eu amo Você. — Havia uma estranha tendência em sua voz,


um tremor que não era típico de Blake.

A velha Farrah teria se agarrado a esse detalhe minucioso e


analisado em demasia, mas a Nova Farrah se convenceu de que era sua
imaginação.

FEA estava em sessão novamente, o grupo estava reunido e ela


e Blake estavam juntos novamente. Seria um semestre incrível, e ela não
iria desperdiçá-lo se preocupando com demônios que não existiam.

— Eu também te amo.

Seus lábios se encontraram em uma promessa terna. Blake


sentia o mesmo, cheirava o mesmo e tinha o mesmo gosto -
como chocolate amargo e rico. Como pecado e desejo. Como as estrelas e
os sonhos. Ele tinha gosto de Blake.

Seu Blake.
Blake se sentia uma merda.

Ele acordou com uma boca seca e como um avô de


ressaca. Gatorade e um café da manhã cheio de carboidratos ajudaram
com os sintomas físicos, mas ele ainda se sentia um merda, e não tinha
nada a ver com beber muito ontem.

O desejo de regurgitar o jianbing daquela manhã o forçou a


manter a boca fechada até que passasse, mas seu estômago permaneceu
enjoado.

— De quem foi a ideia brilhante de vir aqui depois de ontem à


noite? — Luke se encolheu quando os percussionistas de metais bateram
em seus instrumentos.

O som perfurou a cabeça de Blake como uma broca na parede


de gesso.

— É o Ano Novo, Luke! Se anima. — Courtney balançou a mão


de Leo para a frente e para trás, tonta como uma colegial.

— O Ano Novo foi semanas atrás.

— Este é o Ano Novo Lunar. Não seja tão americano.

Luke ficou mais rabugento. — Eu sou americano. Um americano


de ressaca.
— Você está livre para voltar para o dormitório a qualquer hora
que quiser.

Ele ficou em silêncio.

O grupo vagou pelos caminhos lotados do Jardim Yuyuan. Todos


e sua mãe (e pai e avós e irmãos) estavam fora com força total para o
Festival das Lanternas da Primavera anual do Garden.

Lanternas de vários tamanhos, cores e formas penduradas em


todos os poleiros imagináveis - telhados, tetos, portas, varandas. Com a
temática de porco em massa nas instalações, serviram como uma ode ao
Ano do Porco e deslumbrou os espectadores com seu tamanho e
complexidade. Havia atividades para todos os tipos de participantes -
danças do leão e do dragão para os interessados
em entretenimento, charadas de lanternas para os mais orientados e
doces tradicionais de Ano Novo para os obcecados por culinária.

Blake apertou ainda mais a mão de Farrah. Era a sua rocha, a


única coisa que o impedia de desmoronar em uma poça de
arrependimento no chão.

Deus, eu sou um idiota.

— Como você está se sentindo? — Farrah evitou uma criança


adorável que estava olhando para uma das instalações de porcos com
admiração. Sua boca se curvou em um pequeno sorriso antes de se virar
para Blake, e sua sobrancelha se enrugou com preocupação. — Podemos
voltar para a FEA se isso for demais.
— Não, é o Ano Novo. Além disso, você quer ver os fogos de
artifício.

— Já vi fogos de artifício antes.

— Sério, estou bem. Eu me sinto muito melhor. — Blake apertou


a mão dela novamente, desta vez para tranquilizá-la.

— OK. Mas se você não se sentir bem, diga-me.

— Sim mãe.

Ela torceu o nariz. — Não me chame assim. É esquisito.

Ele riu. Alguma tensão diminuiu. O resto permaneceu - uma bola


de chumbo de preocupação, auto aversão e culpa que o atormentou por
semanas.

Sua mente voltou para a festa de Ano Novo de Landon nas férias
de inverno. Isso acontecia muito hoje em dia.

Blake deveria ter pensado melhor do que beber tanto quando


Cleo estava lá. Certo, Blake geralmente conseguia segurar seu álcool. Até
o mês passado, ele desmaiou apenas uma vez, quando era um calouro
tentando acompanhar seus colegas de time mais velhos em sua primeira
festa de fraternidade. Na manhã seguinte à festa, ele acordou na banheira
com o pênis desenhado por todo o rosto em um Sharpie preto. Foi
constrangedor e uma vadia para tirar o marcador, mas inofensivo.

Acordar nu em um quarto de hotel sem nenhuma lembrança da


noite anterior, enquanto Cleo valsou para fora do chuveiro? Muito menos
inofensivo.
A vontade de vomitar aumentou novamente. Blake respirou
fundo, trêmulo. Ele não conseguia pensar com todo o barulho e comoção
ao seu redor.

Isso provavelmente era uma coisa boa.

O grupo fez uma pausa para assistir a uma das danças do


leão. As fantasias enormes eram decoradas em vermelho vivo e dourado,
as cores mais sortudas da cultura chinesa. Vermelho para alegria e boa
sorte, ouro para realização e boa sorte. Havia dois artistas por leão -
um para manipular a cabeça e outro a cauda. Sua agilidade e coordenação
fariam o antigo treinador de futebol de Blake babar.

Apesar de seu traje pesado, os dançarinos giravam e


rodopiavam e saltavam de um pólo a outro sem tropeçar. Os suspiros e
aplausos do público abafaram a bateria e os pratos no fundo quando os
artistas deram uma cambalhota nos postes de 6 metros e acertaram
uma aterrissagem sólida.

Blake assistiu sem assistir. Em qualquer outro momento, ele


estaria lá com seus amigos, torcendo pelos dançarinos, mas ele não
conseguia tirar o que aconteceu no Ano Novo - o Ano Novo americano -
de sua mente.

Blake engoliu sua bebida e observou o ambiente. O duplex dos


Zinterhofers ocupava os dois últimos andares de seu principal hotel no
centro de Austin. Blake estivera aqui mais vezes do que podia contar, mas
sua magnificência nunca deixava de impressionar. Com seus pisos de
madeira polida, janelas do chão ao teto e vistas panorâmicas do horizonte
da cidade, a cobertura estava muito longe da casa confortável, mas
modesta dos Ryans nos subúrbios de Austin.

Blake varreu seu olhar sobre os participantes. Era uma mistura


eclética de seus amigos do colégio e os ricos associados dos
Zinterhofers. Landon estava no canto, falando com uma mulher mais velha
em um vestido apertado que exibia um decote abundante. Ela tocou seu
braço e riu alto demais de algo que ele disse.

Coroa na caça.

Blake colocou seu copo vazio no balcão e se moveu para


resgatar Landon das garras da coroa. Ele deu dois passos quando uma voz
familiar o parou.

— Ei, Blake.

Sua garganta ficou seca. Ele virou. — Ei, Cleo.

Os dois amigos de infância se entreolharam. Foi a primeira vez


que falaram desde a separação. Ele a evitou a noite toda - maldita Joy por
trazê-la - mas vê-la ali bem na frente dele fez o peito de Blake doer. O
relacionamento romântico deles pode não ter funcionado, mas Cleo foi
uma grande parte de sua vida. Eles eram amigos desde que podiam andar.

Ele não tinha percebido o quanto sentia falta dela como amiga
até agora.

— É bom te ver. — Blake passou a mão nervosa nas atrás do


pescoço dele. — Você parece ótima.

O vestido verde de Cleo combinava com a cor de seus olhos. Sua


pele brilhava sob as luzes e seus cabelos caíam em cachos escuros e
brilhantes, passando pelos ombros. Na verdade, ele notou vários caras
olhando para ela com o canto do olho.

— Obrigado. Você também.

Houve uma pausa estranha.

Cleo pigarreou. — Como está Xangai?

— Está ótimo! — Blake estremeceu. Isso saiu mais entusiasmado


do que ele pretendia. — Diferente, mas...

— Sim. — Outra pausa.

Ele não aguentava mais. Se ele tivesse que dançar ao redor do


elefante na sala mais uma vez, ele gritaria.

Era hora de se levantar e olhar aquele elefante maldito nos


olhos. — Sinto muito sobre a maneira como lidei com as coisas antes de
sair, — Blake disse. — E por estar desaparecido desde então.

— Você esteve ocupado. — Cleo brincou com sua bolsa. — Ouvi


dizer que está namorando alguém em Xangai.

Seu maxilar se contraiu. Eu matarei Joy.

— Estou. — Essa conversa estava piorando a cada minuto. —


Cleo, eu me importo com você. Você é uma das minhas amigas mais
antigas. Mas nunca funcionamos como um casal. Nós dois sabemos disso.

As bochechas de Cleo empalideceram. Seus olhos giraram com


uma mistura de tristeza, resignação e - pânico? Não. Isso não fazia
sentido.
— Eu sei. — Seu sorriso parecia forçado. — Eu não culpo
você. Você é uma boa pessoa, Blake, e foi bom enquanto durou.

O alívio passou por ele. — Sim, foi.

— Por que não começamos de novo? Deixar tudo para trás e


brindar à nossa amizade. — Cleo acenou para o barman. — Duas doses de
tequila, — ela ordenou.

As sobrancelhas de Blake se ergueram. Cleo raramente bebia e


ela odiava tequila.

Mesmo assim, seu alívio superou sua surpresa. Ele poderia dizer
que Cleo não estava 100% recuperada do rompimento, mas pelo menos
ela estava disposta a tentar. Ela poderia escolher os caras. Ela
eventualmente seguiria em frente, o que significava que sua família teria
que seguir em frente.

Uma pedra de duas toneladas caiu de seus ombros.

— À amizade. — Cleo ergueu seu copo.

— À amizade. — Blake bateu seu copo contra o dela e tomou a


bebida. Ele riu da careta de Cleo. — Nós poderíamos ter bebido algo
diferente de tequila.

— Está bem. — Ela enxugou a boca com as costas da mão. —


Vamos fazer outro. Pelos bons tempos.

— Talvez devêssemos dar um tempo. — Sua sugestão foi tanto


para seu próprio benefício quanto para o de Cleo. Ele deveria ter jantado
antes da festa, mas perdeu a noção do tempo no Skype com
Farrah. Agora, seu estômago revirou com o pensamento de outro shot.
Cleo estalou a língua. — Xangai tornou você mole. — Oh
infernos não.

— Mole? — Blake estreitou os olhos. Sim, sua cabeça estava


começando a girar, mas sua reputação estava em jogo aqui. — Mole,
minha bunda. — Ele se virou para o barman. — Outra rodada de
tiros. Faça-os duplos.

A dança do leão terminou com aplausos entusiásticos da


multidão.

— Isso foi legal. — Luke bocejou. — Vamos buscar


comida. Estou com fome.

— Nós comemos literalmente meia hora atrás, — Kris disparou.

— Nós não temos que comer uma refeição completa, apenas


lanches, — Luke disse em uma voz conciliatória.

Blake esperava que o resto do grupo pisasse em ovos ao redor


de Kris, mas Luke? Isso foi um choque.

Eles abriram caminho no meio da multidão em direção aos


vendedores que vendiam lanches do Festival da Primavera,
como bolos niangao cozidos no vapor, bolinhos de arroz glutinosos
embrulhados em folhas de bambu e vários doces.

Blake seguiu Farrah em meio à multidão, muito perdido em seus


pensamentos para navegar sozinho.
Blake abriu os olhos.

Isso foi um erro.

A luz do sol perfurou suas retinas como lasers e intensificou o


latejar em sua cabeça. Ele fechou os olhos com força.

Um gemido rouco encheu a sala. Demorou um minuto para


perceber que vinha dele.

Onde diabos ele estava? Que dia era hoje?

Blake tentou juntar os fatos da noite anterior, mas tudo que


conseguia se lembrar era chegar na festa de Landon, bebendo, discutindo
com Joy, bebendo, conversando com Cleo, bebendo e... era isso. Ele não
conseguia se lembrar dos fogos de artifício ou do que fez quando o relógio
bateu meia-noite.

Blake gemeu novamente. Ele se virou de lado para não olhar


para as janelas e tentou abrir os olhos novamente. Melhor. Quase.

— Eu nunca vou beber álcool de novo, — ele murmurou.

— Isso é o que você sempre diz.

Blake ergueu a cabeça e olhou por cima do ombro. A luz


brilhante o atingiu com força total, mas não foi nada comparado ao pavor
que se abateu sobre seu corpo quando seus olhos confirmaram o que seu
cérebro sabia.

— Bom dia dorminhoco. — Cleo saiu do banheiro em uma


nuvem de vapor. Seu cabelo úmido caía sobre os ombros em cachos
apertados. Uma toalha enrolada em seu corpo, apenas grande o suficiente
para cobrir os pedaços necessários.
— O que você está fazendo aqui? — Os olhos de Blake se
ajustaram à luz e ele percebeu que estava em uma das suítes dos
Zinterhofers. Eles sempre reservavam alguns quartos para convidados que
estivessem embriagados demais para dirigir para casa depois de uma de
suas festas de Ano Novo.

— Tomando banho, bobo. — Cleo deixou cair sua toalha. Ele


desviou o olhar. Ela riu da reação dele. — Qual é. Não é nada que você não
viu antes. — Ele a ouviu mais do que a viu se vestir. — Você pode olhar
agora.

— O que aconteceu ontem à noite? — O latejar em sua cabeça


se intensificou. Blake esfregou a têmpora. — Nós não... nós... — Ele não
teve coragem de dizer isso.

Houve uma pausa. — Você não se lembra?

Se eu lembrasse, não estaria perguntando a você.

Blake mordeu a língua. A ressaca o deixava mal-humorado como


uma merda. — Eu não me lembro de nada depois do nosso terceiro... -
Quarto?- shot.

Cleo piscou. Seus olhos brilharam verdes na luz do sol. Mil


emoções cintilaram em seu rosto, muito rápido para ele discernir uma
única delas.

— Nós somos amigos. Certo?

— Certo. — Blake tentou sorrir. As britadeiras em sua cabeça se


multiplicaram. — Pense em todos os brindes de amizade que tivemos
ontem.
Ela meio que riu, meio bufou. — Sim. Então você realmente não
se lembra do que aconteceu ontem à noite?

A inquietação se desenrolou em seu estômago. — Não…

— Isso é ruim. — Cleo respirou fundo e olhou para baixo. Os


segundos passaram. Quando ela olhou para cima novamente, sua
expressão era quase apologética. — Blake, dormimos juntos.

— Terra para Blake. — Farrah acenou com a mão livre na frente


do rosto de Blake. — Alôôôô? Alguém em casa?

Ele voltou ao presente, mas a culpa e a náusea daquela manhã


continuaram a se agitar em seu estômago.

— Desculpa. — Ele precisava gritar para ser ouvido acima do


barulho. Era perto da hora dos fogos de artifício, e a ansiedade percorreu
a multidão. — Eu estava pensando.

— Tudo bem. — Farrah deu um tapinha em sua mão. — Eu te


apoio tentando coisas novas no ano novo.

Blake olhou de soslaio para ela. — Você tem que ser uma
espertinha o tempo todo?

— É melhor do que ser um idiota o tempo todo.

Ele não pôde deixar de rir. Quando ele estava perto de Farrah,
era fácil esquecer que qualquer outra coisa existia. Fácil fingir que estava
tudo bem quando ele queria cair de joelhos e implorar seu perdão.
Ele queria contar a ela o que aconteceu na primeira noite de
ano-novo de volta, mas ela olhou para ele com tanto amor e confiança
que ele sabia que não poderia contar a ela. Ainda não.

Talvez nunca.

O que aconteceu com Cleo era um caso isolado. Não adiantava


destruir Farrah e a si mesmo por causa de um erro estúpido de que ele
não se lembrava. Certo?

O peso de chumbo em seu estômago ficou mais pesado.

— Os fogos de artifício estão prestes a começar. — Courtney


esfregou as palmas das mãos. Seus olhos brilharam de excitação. —
Precisamos encontrar um bom lugar.

— Boa sorte. — Leo se aproximou dela para permitir que um


jovem casal passasse. — Este lugar é um zoológico.

— Isso é pensamento negativo e não vou tolerar


isso. Encontraremos um lugar.

Cumprindo sua palavra, Courtney abriu caminho no meio da


multidão e os espremeu em um canto da ponte Zig Zag do Garden. Ela
ganhou muitos olhares sujos, mas eles teriam uma vista fantástica dos
fogos de artifício.

— Droga, Court. — Sammy parecia impressionado. — Eu


poderia ter usado você durante minhas compras de Natal.

— Venha para Seattle e eu sou toda sua. — Courtney se inclinou


para Leo, que colocou um braço sobre seus ombros. — Senti saudades de
vocês.
— Estou tão feliz por estar aqui em vez de voltar para casa. —
Kris girou o anel em volta do dedo. — Meu pai e a futura madrasta podem
sugar um saco gigante de bolas.

O resto do grupo trocou olhares.

Farrah havia informado Blake sobre o drama. A noiva do pai de


Kris o convenceu a cortar Kris por ‘gastos irresponsáveis’. Parecia que sua
viagem extravagante a Macau para o aniversário de Courtney foi a gota
d'água. Ele jogou a bomba sobre Kris no dia em que ela voltou para casa.

Kris com um Amex preto estava mal-humorada o suficiente. Kris


sem Amex preto? Território nuclear.

— Ele vai ceder. Ele sempre faz isso, — Courtney a tranquilizou.

— Você é sua única filha, — acrescentou Olivia. — Obviamente,


você tem prioridade sobre a namorada dele.

— Ha. Diga isso a ele. Ela fez uma lavagem cerebral nele. Como
se ela fosse responsável com dinheiro! Ela tem cerca de vinte Birkins. —
Os lábios de Kris tremeram. Ela contraiu o maxilar e jogou o cabelo sobre
o ombro. — Está bem. Quando eu estiver em casa no verão, farei meu pai
ver como ela é patética caçadora de ouro. O casamento deles não
acontecerá. Não no meu turno.

— Deixe-nos saber se podemos ajudar, — disse Luke. —


Podemos, não sei, descobrir sujeira sobre ela online.

A julgar pelas expressões nos rostos de seus amigos, Blake não


foi o único que ficou surpreso. Kris e Luke geralmente brigavam mais do
que um casal de velhos.
Kris sufocou uma risada. — Obrigado, mas eu dou conta.

— Nós entramos na Twilight Zone? — Sammy apertou seu


coração. — Vocês estão agindo como amigos.

— Okay, certo!

— Até parece!

Kris e Luke falaram ao mesmo tempo. Eles se entreolharam


timidamente enquanto todos riam.

— Sempre fomos amigos. Todos nós. Não importa o quanto


alguns de nós briguem. — Courtney apertou as mãos de Kris e Luke. — Na
verdade, somos mais do que isso. Somos uma família. E não há mais
ninguém com quem eu prefira comemorar o Ano Novo Lunar.

O grupo se entreolhou. Nove estudantes universitários de todos


os Estados Unidos, reunidos pelo destino ou pelas circunstâncias. Eles não
poderiam ser mais diferentes. Alguns deles nunca teriam sido amigos se
tivessem se conhecido em qualquer outro lugar, exceto em Xangai. No
entanto, aqui estavam eles.

Uma família.

Em um lugar tão louco e em constante mudança como Xangai,


eles eram constantes um do outro. Os que protegiam uns dos outros. De
superar o choque cultural a noites malucas na cidade, eles cresceram
nesta cidade juntos, e esse era um vínculo que só eles podiam
compartilhar.
Apesar do ar frio, a pele de Blake esquentou. Foi quase o
suficiente para fazê-lo esquecer o show de merda que foi o resto de sua
vida.

Um apito estridente acalmou a multidão. Cada cabeça girou


para cima. Alguns segundos depois, o céu noturno explodiu em uma
exibição deslumbrante de luzes. Os fogos de artifício regaram a tela escura
com borrifos de cores brilhantes - ouro brilhante, verde pálido, vermelho
profundo e todos os matizes intermediários. Cada vez que um se fechava,
outro florescia, criando uma dança interminável e intrincada que deixava
os espectadores na Terra sem fôlego.

Blake desviou o olhar do espetáculo para olhar para Farrah. Fitas


de luz cintilaram em suas feições enquanto ela olhava para o show, seus
olhos brilhando de excitação e um sorriso de admiração em seu rosto.

Se ele pudesse ter um desejo para o resto de sua vida, seria para
Farrah ser tão feliz quanto estava neste momento. Sempre.

Os braços de Blake envolveram sua cintura por trás. Ele


pressionou sua bochecha contra a dela. — Feliz Ano Novo Lunar, baby.

Farrah se aconchegou ainda mais em seu abraço. — Feliz Ano


Novo Lunar, Blake.

Ninguém no grupo disse nada depois disso. Eles se consolaram


na presença um do outro e viram as luzes incendiarem os céus, tão
brilhantes que transformaram a noite em dia.

O amanhecer de um novo ano.


Fevereiro em Xangai foi péssimo. A empolgação do Ano Novo
Lunar logo desapareceu, deixando para trás chuva, frio e umidade. As
aulas eram duas vezes mais difíceis e a carga horária duas vezes mais
pesada do que no semestre anterior. Kris caiu ainda mais em um medo
sobre seu pai e perder seus cartões de crédito, e Blake estava agindo de
forma estranha.

Havia dias em que ele parecia ser o normal -


arrogante, charmoso, pronto com um sorriso e uma piada rápida. Outros
dias ele estava mal-humorado e distante, como se sua mente estivesse a
um milhão de quilômetros de distância. Cada vez que Farrah tentava
descobrir o que estava errado, ele mudava de assunto ou a distraía com
sexo.

Ok, então ela se deixou distrair. Mas não hoje. Hoje, ela
descobriria o que estava acontecendo, de uma vez por todas.

Etapa um: subornar Blake com comida. Os muffins de mirtilo


recém-assados de Sammy cheiravam tão bem que Farrah ficou tentada a
comê-los todos sozinha.

Não. Eu não posso. Ela tinha que salvá-los para Blake. Como se
costuma dizer, o caminho mais rápido para os segredos de um cara era
pelo estômago. Ou algo assim.
Antes de ir para o quarto de Blake, Farrah passou pelo corredor
das meninas para vestir algo mais atraente do que leggings e
uma camiseta.

Quando Farrah passou pelo quarto de Courtney, a voz elevada


de Leo a parou.

— Não acredito que você escondeu isso de mim o tempo todo!

Seus olhos se arregalaram. Ela nunca tinha ouvido Leo gritar


antes, nem mesmo quando Luke derramou molho de soja em seu cachecol
favorito.

Farrah apertou os muffins com mais força. A aula de História da


China Moderna de Blake terminaria a qualquer minuto, mas a curiosidade
mórbida a compeliu a se aproximar da porta de Courtney. Ela ouviu tudo o
que seus amigos disseram através das paredes finas.

— Não é grande coisa. — Courtney parecia desafiadora. — Nós


nos beijamos uma vez, mas Nardo e eu somos amigos. É isso.

Farrah demorou um pouco para registrar o que Courtney


disse. Quando ela fez, ela engasgou. Courtney ficou com Nardo?

Mas. Que. Porra.

Quem ficaria com Nardo quando eles tivessem Leo?

Courtney e Leo devem ter ouvido seu suspiro porque ficaram


em silêncio.

Merda.
Antes que Farrah pudesse sair, a porta se abriu, revelando
um Leo irritado.

Atrás dele, Courtney a encarava com olhos enormes.

— Oi, — Farrah disse fracamente. Ela ergueu sua sacola de


guloseimas. — Eu trouxe muffins.

— Eu estava saindo. — Leo passou por ela. — Aproveite os


muffins.

Courtney cruzou os braços sobre o peito. Ela não o impediu.

— O que diabos aconteceu? — Farrah perguntou assim que Leo


estava fora do alcance. Sua mente girou. Leo e Courtney eram os alicerces
do grupo. O primeiro casal, mesmo que eles insistissem que não estavam
namorando. O relacionamento deles fazia parte da estrutura da FEA.

— Nós brigamos.

— Não! Sério?

Courtney olhou para ela. — Podemos dispensar o sarcasmo?

— Desculpa. — Farrah entrou na sala e fechou a porta. — Então


eu, uh, ouvi algo sobre Nardo?

Para seu crédito, Courtney não piscou ao perceber que Farrah


estava bisbilhotando. Ela olhou para baixo e esfregou os sapatos no
chão. — Nós demos uns amassos na Festa da Lua Cheia.

Farrah engasgou novamente. Puta merda.

Os olhos de sua mente voltaram àquela noite. Foi um borrão de


música, álcool e dança sob as estrelas, mas ela se lembrou de Courtney e
Nardo se afastando por um tempo. Naquela época, não parecia grande
coisa, mas agora...

— Achei que vocês estivessem no banheiro por um longo


tempo!

— Havia uma longa fila! E não é como se tivéssemos feito


sexo. Nós apenas nos beijamos.

Farrah beliscou sua têmpora. Ela tinha tantas perguntas que não
sabia por onde começar. — Por que você o beijou em primeiro lugar?

De todos os caras do programa, Nardo era a última pessoa com


quem ela esperava que Courtney traísse Leo (não que ela esperasse que
Courtney traísse). Nardo era pretensioso, insuportável e nem mesmo tão
fofo, a menos que você goste do tipo hippie mauricinho. Enquanto isso,
Leo era inteligente, gentil e bonito e, bem, melhor em todos os aspectos.

— Não sei.

— Court.

Courtney suspirou. — Eu estava bêbada e chateada com Leo por


causa da nossa briga naquele dia, e Nardo estava olhando para mim
como... como se ele nunca fosse dizer as coisas que Leo me disse. O beijo
simplesmente aconteceu. É uma desculpa de merda, mas essa é a
verdade. — Ela olhou para baixo novamente. — Foi uma vez só. Não é
como se estivéssemos tendo um caso o tempo todo. Nardo e eu não
gostamos um do outro assim. O beijo confirmou isso.

Farrah estava dividida. Uma parte dela sabia que Courtney


estava errada por trair Leo. Essa era a única coisa que ela nunca toleraria
em um relacionamento - traição. Não era sobre o ato físico. Era sobre
confiança. Uma vez quebrado, era difícil, senão impossível, consertar.

Ainda assim, Courtney era uma de suas amigas mais


próximas. Ela trazia canja de galinha para Farrah quando estava doente,
segurava o cabelo quando bebia muito e estava sempre à distância de
uma ligação ou mensagem de texto quando a merda ia para o sul. Claro,
ela poderia ser mandona e autoritária, mas ela tinha um bom coração. Ela
também era o núcleo do grupo.

Se Farrah tivesse que escolher entre Courtney e Leo, ela sabia


quem escolheria. Cem por cento.

— Então, por que você disse a Leo agora? — ela perguntou. Ela
tentou manter seu tom o menos crítico possível. — A Tailândia foi há
muito tempo.

— Eu não ia, mas minha tia disse algo... — Courtney mordeu o


lábio. — Não é importante. De qualquer forma, não consegui guardar o
segredo por mais tempo e achei que já havia passado tempo suficiente
para que ele ouvir de mim. Eu estava errada.

A cabeça de Farrah girou, tentando descobrir o que isso


significava. — Então você e Leo... terminaram?

— Provavelmente. — Courtney sorriu fracamente. — Nós nunca


estivemos realmente juntos, de qualquer maneira. Não da mesma forma
que você e Blake ou Sammy e Liv são. Leo e eu sabíamos que tudo o que
tínhamos não duraria depois da FEA.
— Isso não é verdade, — Farrah argumentou. Exceto, olhando
para trás em retrospectiva, era verdade. Ela havia inflado o
relacionamento de Courtney e Leo em sua mente quando ela tinha uma
queda por ele, porque mesmo o menor interesse de uma de suas amigas
em um cara que ela estava interessada era um grande obstáculo em sua
mente. Mas agora que ela não estava mais interessada em Leo, ela
percebeu quão casual o relacionamento de Courtney e Leo tinha sido, pelo
menos em comparação com os outros no grupo. — Ele ainda está
chateado com você e Nardo. Isso conta para alguma coisa.

— Suspeito que seja o ego dele falando mais do que qualquer


outra coisa. — Courtney suspirou. — Não me entenda mal. Gosto muito
do Leo, mas não somos o fim do jogo. Ele vai se acalmar e vamos voltar a
ser amigos. Espero. — Ela mordeu o lábio. — É com isso que estou mais
preocupada. Não quero que o grupo se desintegre quando temos apenas
três meses restantes.

Três meses.

O pânico inundou o sistema de Farrah. Ela reprimiu


pensamentos sobre o que poderia acontecer depois deste semestre, mas
as palavras de Courtney trouxeram todos os seus medos à superfície.

Assim que a FEA terminou, foi isso. O grupo iria se espalhar para
suas respectivas bases nos Estados Unidos e se ver... quando? Uma vez
por ano, se tivessem sorte, até que se passasse o tempo suficiente e os
estudos no exterior não passassem de uma vaga lembrança.

O peito de Farrah se contraiu ao pensar em nunca mais ver seus


amigos. Claro, havia rede social e Skype, mas não era a mesma coisa que
sair pessoalmente. O grupo permaneceria tão próximo quanto agora se
não se vissem todos os dias? Duvidoso.

Também havia Blake. Ela morava na Califórnia; ele morava no


Texas. Mais de 1.000 milhas os separavam de volta para casa, e embora
Farrah conhecesse pessoas que tiveram relacionamentos de longa
distância, ela não conseguia pensar em nenhum que durasse.

Ela não percebeu que alcançou seu colar até que o metal cavou
um sulco em sua palma.

— Não vamos desmoronar, — disse Farrah. Não podemos.

— Espero que não. — O lábio de Courtney tremeu. — Eu só


queria que fôssemos uma família. Não suporto a ideia de estragar as
coisas de novo.

Novamente?

Isso não fazia sentido. O grupo não teve grandes problemas até
agora. Mas a visão de Courtney com os olhos marejados era tão estranha,
como ver um leão correndo selvagemente nas ruas de Manhattan, que
Farrah não teve a chance de pensar na escolha de palavras de sua
amiga. Ela também não insistiu em porque Courtney parecia mais
chateada com a separação do grupo do que com a separação de Leo.

Foi estranho. Courtney era a pessoa mais alegre e extrovertida


do grupo, mas também a menos aberta sobre sua vida pessoal. Até Kris
compartilhou mais do que ela. Não era algo que você notava até que
realmente pensasse a respeito, porque Courtney fez um ótimo trabalho
em encobrir realidades feias e cobri-las com papel de parede brilhante.
— Você não vai. Como você disse, o Leo vai se acalmar e as
coisas vão voltar ao normal, — disse Farrah. Ela não pressionou Courtney
por esclarecimentos sobre o que ela queria dizer com ‘de novo’. Ela sabia,
melhor do que ninguém, que alguns segredos não deveriam ser
compartilhados. — Nesse ínterim, tenho muffins do Sammy. — Ela ergueu
a sacola como prova. — Garantido para fazer você se sentir melhor ou seu
dinheiro de volta, sem perguntas.

Courtney riu. Ela enxugou uma lágrima da bochecha e jogou o


cabelo sobre o ombro. — Dê-me isso.

Farrah deu.

Ela e Courtney passaram a noite comendo compulsivamente e


assistindo K-dramas, e foi tão bom e reconfortante que Farrah quase se
esqueceu do comportamento estranho de Blake. Ela ainda precisava falar
com ele, mas isso poderia esperar.

Courtney precisava dela agora.


— Michelle Kwan, morra de inveja! — Farrah deslizou tão
graciosamente ao redor do rinque que alguém pensaria que ela esteve
patinando no gelo a vida toda - se ela não estivesse segurando a barreira
do hóquei o tempo todo.

Blake riu do brilho triunfante nos olhos dela. Duas horas atrás,
Farrah nunca tinha posto os pés em uma pista de gelo. Agora ela
balançava como se fosse uma campeã mundial. A menor conquista -
um giro simples, um pequeno salto - fez seu rosto se iluminar de
empolgação.

Foi adorável pra caralho.

— Tenho certeza de que as medalhas olímpicas de Michelle


Kwan estão tremendo de medo, — ele provocou.

— Eles deviam. — Farrah soltou a barreira e alcançou Blake com


a outra mão. Ele diminuiu o ritmo, esperando que ela acertasse o passo
antes de levá-los para o meio do rinque.

O lugar estava todo enfeitado para o Dia dos Namorados. Luzes


cintilantes e fios de flâmulas rosa, vermelho e branco cruzando no
alto. Uma barraca especial vendia chocolate quente, chocolates e outros
doces variados à margem, enquanto um vendedor vagava pela arena,
vendendo rosas vermelhas para casais desavisados. Uma lista de
reprodução eclética de canções de amor que incluía todos, de Luther
Vandross a Ariana Grande, explodiu nos alto-falantes.

— Eu aprendo rápido. — Farrah enlaçou os braços em volta do


pescoço de Blake. — Se eu tentasse, poderia ganhar três medalhas
olímpicas.

— É claro. Você pode fazer qualquer coisa. — Blake roçou os


lábios nos dela. Ela tinha gosto de vinho e chocolate e algo que era
genuinamente Farrah. Se o céu tivesse um gostinho, seria esse.

— Você está tentando me sugar para sexo esta noite, não é?

— Hum. Eu tinha outra coisa em mente para chupar. — As


bochechas de Farrah ficaram da cor de tomates maduros.

Blake deu uma risadinha. Farrah era uma gata selvagem na


cama, especialmente agora que eles fizeram isso algumas (ok, dezenas de)
vezes, mas ela ainda ficava tão nervosa sempre que ele fazia piadas como
aquela que ele não conseguia evitar provocá-la de vez em quando.

— Shhh! Alguém pode te ouvir.

— Deixe-os. Temos uma vida sexual incrível. Talvez possamos


inspirá-los.

Farrah balançou a cabeça. — O que eu farei com você?

— Posso pensar em algumas coisas.

— Hum. — Ela se aproximou até que seu corpo estava nivelado


com o de Blake. Todo o seu sangue correu para o sul, deixando-o tão duro
que ele pensou que fosse se despedaçar. — Eu também posso.
— Cuidado, — Blake vociferou. Seu pulso batia forte de
desejo. — Não comece algo que você não pode terminar.

— Acho que estabelecemos que posso terminar. — Farrah


enganchou os dedos nas presilhas do cinto e pressionou seus quadris
juntos até que sua excitação se aninhou entre suas coxas. Sua respiração
acelerou para dentro e para fora; sua pele estava tão sensível que a mais
leve brisa o fazia estremecer desconfortavelmente. — Eu e você.

O aluno se tornou o professor.

Seus lábios se tocaram em um beijo doce, quente que não


combinava com os sujos, não doces pensamentos correndo pela mente de
Blake. Ele enredou as mãos nos cabelos de Farrah e aprofundou o abraço,
deixando-se perder no gosto e no toque dela. Eram apenas os dois -
sem preocupações, sem culpa, sem decisões a tomar sobre o futuro.

— Feliz Dia dos Namorados. — Os lábios de Farrah roçaram os


dele enquanto ela falava.

— Feliz Dia dos Namorados. — Blake esfregou o polegar sobre a


suavidade de sua bochecha. — Espero que você esteja gostando.

— Este é o melhor Dia dos Namorados que já tive. Claro, é o


único Dia dos Namorados que celebrei como parte de um casal, mas ainda
assim. É incrível. — Os olhos de Farrah brilharam. — Você foi bem, Blake
Ryan.

— Eu procuro agradar. — Blake sorriu, mas uma culpa familiar


demais invadiu seu estômago com o amor em seus olhos. Com ajuda
de Sammy - que recebeu informações de Olivia - ele elaborou a celebração
perfeita do Dia dos Namorados. Por pura sorte, o feriado caiu em uma
sexta-feira deste ano, então eles não precisaram se preocupar com as
aulas de amanhã.

O encontro começou com uma massagem para casais após o


teste de sexta-feira para ajudá-los a relaxar da semana, seguida por
uma aula de degustação de chocolate e confecção de trufas, um
passeio relaxante pelo bairro e um jantar ao pôr do sol em um restaurante
na cobertura com vista para o Bund. Agora, eles estavam em sua parada
final da noite: o rinque de patinação no gelo. Farrah mencionou que
queria aprender a patinar toda vez que assistiam a uma cena
de patinação no gelo em uma comédia romântica - acontece que
há muitos desses tipos de cenas - então parecia um final adequado para a
noite.

Sim, foi exagero (e Blake nem queria verificar sua conta no


banco), mas este pode ser o último Dia dos Namorados que eles passarão
juntos por um tempo. Ele queria fazer valer a pena.

Para ser honesto, ele também estava tentando compensar o que


aconteceu no Ano Novo com Cleo - não que ele já tivesse contado para
Farrah.

A culpa se expandiu em um balão de chumbo. Ele deveria contar


a ela. O segredo o estava matando por dentro e ela merecia saber.

Foi um erro estúpido e único - um que ele nem se


lembrava. Talvez ela entendesse. O Dia dos Namorados não era a melhor
hora para trazer isso à tona, no entanto. Ele esperaria uma semana, daria
tempo suficiente entre hoje e seu aniversário para...
— É o dia perfeito. Estou feliz que as coisas voltaram ao normal,
pelo menos conosco.

Blake franziu a testa. — Eu não sabia que eles não eram


normais.

— Nós vamos. — Farrah hesitou. — Você tem agido meio


estranho recentemente. Como se você estivesse aqui, mas sua mente está
a quilômetros de distância. Eu pensei... eu não sei. Que algo estava
acontecendo. — Seus olhos procuraram seu rosto. — Você me diria se
algo estivesse errado, certo?

O balão de chumbo ficou mais pesado. — Sim. Estou estressado


com o bar, mas é um monte de coisas técnicas que eu não queria
incomodar você. Locações, licenças de licor, autorizações. Esse tipo de
coisas. — Blake forçou um sorriso. — Há muito o que fazer antes de eu ir
para casa.

Não foi uma mentira total. Ele tinha uma tonelada de merda em
seu prato. Felizmente, Landon estava no solo em Austin, o que tornou
muito mais fácil avaliar espaços potenciais para aluguel e negociar com
empreiteiros. Isso não significava que Blake iria se sentar e deixar seu
melhor amigo fazer todo o trabalho.

Foi ideia dele abrir um bar de esportes; ele precisava tomar


posse.

— Eu posso imaginar. — O rosto de Farrah clareou. — Me diga


se posso ajudar.

— Obrigada. — Blake a beijou na testa. — Eu vou.


— Eu estava pensando demais, como sempre. — Farrah
descansou sua bochecha contra seu peito. — Agora, se Leo e Courtney
apenas se reconciliassem, tudo seria perfeito.

— Eles ainda não estão se falando, hein? — Farrah o informou


sobre o que aconteceu. Blake não ficou surpreso. Courtney não aceitou
bem a resistência e que as coisas não estavam indo do jeito dela.

Então, novamente, ele fez algo muito pior, então ele não
poderia falar.

— É mais como se Leo não estivesse falando com ela. Acho que
ele precisa de espaço. Não que eu o culpe. — Farrah se aconchegou mais
perto de Blake. — Se alguém me traísse, nunca mais falaria com ele.

Seu coração parou e disparou em dobro. — Sério?

— Sim. É uma grande violação de confiança. Se alguém trair uma


vez, trairá novamente.

Blake teve o desejo repentino de vomitar. Talvez patinar no gelo


não fosse a melhor ideia agora. Ele precisava se sentar e respirar. — Isso
não é sempre verdade.

— É 99% do tempo. — Farrah ergueu a cabeça para olhar para


ele. — Quero dizer, no caso de Court, foi apenas um beijo. O que não é
ótimo, mas pelo menos ela não dormiu com Nardo. Isso seria
imperdoável.

— Sim. Imperdoável, — Blake engasgou. Porra. Foda-se, foda-se,


foda-se.
— Eu sinto muito. Eu não tive a intenção de trazer à tona um
assunto tão deprimente, especialmente no Dia dos Namorados. — Farrah
entrelaçou os dedos. — Vamos nos concentrar em outra coisa. Como o
que faremos quando voltarmos para o dormitório. — Ela mexeu as
sobrancelhas. — Eu tenho uma longa lista de tarefas. Trocadilho
pretendido.

Blake forçou um sorriso enquanto seu estômago revirava. Todos


os traços de excitação desapareceram, substituídos por pânico.

Esqueça de contar a Farrah sobre o que aconteceu com Cleo no


Ano Novo.

Ela não poderia descobrir.

Nunca.
— Conte-me sobre esse Blake. — A mãe de Farrah avaliou sua
filha com olhos de falcão. — Quem é ele? De onde ele é? O que ele está
estudando? Como ele trata você?

— Mãe, pare. — Farrah cruzou as pernas e ajustou seu laptop


para minimizar o brilho da tela. — Não estamos jogando Twenty
Questions.

— Essas são perguntas válidas. Nunca ouvi você soar tão tonta
como quando está falando sobre esse garoto — provocou Cheryl. — Eu
sou sua mãe. Você deveria me dizer essas coisas.

— Você gostaria dele. — Farrah sorriu ao pensar em Blake


conhecendo sua mãe. Ele era forte, mas Cheryl o destruiria em um
segundo se ele ultrapassasse a linha. — Ele é de Austin. Ele é um veterano
no sudeste do Texas. Ele costumava ser o zagueiro do time de futebol
deles.

— Costumava ser?

— Ele... — Farrah hesitou. — Ele decidiu que não quer seguir


carreira no futebol.

— Ele tem razão. Os esportes são perigosos. Um golpe errado e


você está fora. Pelo menos ele tem bom senso. — Cheryl acenou com a
cabeça em aprovação. — Então, o que ele quer fazer?
— Ele está estudando negócios.

— Que tipo de negócio? Ele está pensando em fazer um


MBA? Ele entrou em algum programa de MBA? Ele está indo para
Wharton? — Cheryl se iluminou. — É um ótimo programa. Gradue-se a
partir daí e você estará feito para o resto da vida.

Farrah estava acostumada com as perguntas intermináveis de


sua mãe sobre sua vida amorosa, mas elas nunca a deixavam nervosa - até
agora. — Ele está abrindo seu próprio negócio.

— Que tipo de negócio?

— Er, um restaurante. — A mãe dela não aceitaria bem o ‘bar de


esportes’. Ela os considerava estabelecimentos de — classe baixa.

— Que tipo de restaurante?

— Mãe!

— Você não pode me culpar por estar curiosa. Eu quero saber


sobre o garoto por quem minha filha está tão apaixonada. Qual é o GPA
dele?

Farrah gemeu. — Como vou saber o GPA dele?

— Você pergunta a ele.

— Eu não estou perguntando a ele.

— Por que não?

— Porque. É invasivo.
— Você não fará uma colonoscopia para ele. Você está
perguntando quais são as notas dele. Um bom GPA leva a um bom
emprego e uma boa vida. Lembre-se disso.

— Isso é tão antiquado. Existem muitas pessoas de sucesso que


não se formaram na faculdade. Veja Bill Gates e Steve Jobs.

— Oh, me desculpe. — Cheryl ergueu as sobrancelhas. — Não


sabia que ele inventou a próxima Microsoft e a Apple. Envie-me uma
demonstração para que eu possa mostrá-la aos meus amigos.

— Har-har. — Farrah jogou um grão de pipoca na tela enquanto


sua mãe ria. — Só estou dizendo que notas não são tudo. Blake é
inteligente e trabalha muito. E eu realmente gosto dele.

O rosto de Cheryl se suavizou. — Eu posso dizer. Estou feliz que


você encontrou alguém de quem você gosta tanto. Contanto que ele te
trate bem e não seja um idiota. — Ela estremeceu. — Não se case com um
cara estúpido nem passe o resto da vida cuidando dele.

— Mãe, sou muito jovem para pensar em casamento.

— Não estou dizendo para se casar agora. Você tem quase vinte
anos. Quando você se formar, conseguir um emprego e namorar por
alguns anos, vai chegar a hora. Você não quer esperar muito para ter
filhos. Você não terá energia para correr atrás deles. Tome-me, por
exemplo.

— Ei! Fui um bom bebê — Farrah protestou. — Além disso, você


me teve quando tinha vinte e oito anos.
— Sim, e teria sido mais fácil se eu tivesse você aos vinte e cinco
anos.

Sobre o cadáver de Farrah. — Eu quero aproveitar meus vinte


anos, muito obrigada.

Cheryl balançou a cabeça. — Você é jovem. Você não me escuta


agora, mas verá.

— Como chegamos nesse assunto? — Farrah descruzou as


pernas e as sacudiu. Arrepios dispararam para cima e para baixo em suas
coxas e canelas. — Não importa. Diga-me o que está acontecendo com
você.

— Drama na associação, como sempre. — Cheryl era membro


de uma associação de dança chinesa local que, tecnicamente, se
concentrava na dança de salão, mas era na verdade uma desculpa para a
comunidade chinesa mais velha de LA se reunir semanalmente e
fofocar. — As eleições para a presidência estão chegando e todos estão
brigando por isso. Tão estúpido.

Cheryl sempre reclamava dos outros membros, mas se recusava


a seguir o conselho de Farrah e desistia. Então, novamente, entre as
saídas para dançar, piqueniques, festas de fim de semana e viagens de fim
de semana para o Canadá, ela teve uma vida social melhor do que Farrah.

— Você deveria se candidatar à presidência.

— Ha! Vou para dançar e comer comida de graça. Eles podem


lutar pela presidência o quanto quiserem. Tenho o suficiente para fazer no
meu verdadeiro trabalho.
Válido.

— A propósito... — Os olhos de Cheryl brilharam. — Algo veio


para você pelo correio hoje. — Ela brandiu um envelope com um logotipo
distinto em ouro e verde claro no canto superior esquerdo.

O coração de Farrah disparou. A competição. Puta merda.

Ela enviou sua inscrição e portfólio no início de janeiro e não


esperava receber os resultados finalistas até março. Houve mais uma
rodada depois disso, mas ainda assim, este era um grande negócio
assustador. Ela estava avançando ou morta na água.

— Eu não abri

— Abra! — Farrah levou o punho à boca. Seu coração estava


perto de pular do peito, alcançando a tela e rasgando o envelope.

Era isso.

Faça isso ou pare com isso.

Oh Deus, e se ela não conseguisse chegar à rodada final? O que


ela ia fazer? Farrah se candidatou a alguns outros estágios apenas no caso,
mas para ser honesta, ela não havia tentado o seu melhor neles e eles...

— Você é uma finalista.

Eles provavelmente perceberam através de seu


formulário. Algum estilista chique de Nova York provavelmente estava
estudando sua aplicação agora com uma sobrancelha
franzida, imaginando - espere.
Farrah baixou o punho, sem saber se ouviu direito. — Sou
finalista?

— Você é uma finalista.

Mãe e filha se entreolharam antes de explodir em gritos


simultâneos.

— Sou finalista! — Farrah saltou de excitação. Seu MacBook


escorregou de seu colo e teria caído no chão se ela não o tivesse agarrado
no último minuto. Ela segurou a tela perto do rosto, os olhos
arregalados. — Sou finalista, sou finalista!

Isso era vida real?

Talvez ela estivesse sonhando. Deus, isso seria


uma merda. Farrah se beliscou na coxa.

Puta - ok. Não sonhando.

De todos os aspirantes a designers de interiores do mundo (ok,


na América), ela, Farrah Lin, era uma das finalistas do concurso de
estudantes de maior prestígio da indústria. Ela poderia trabalhar para seu
ídolo, Kelly Burke. Inferno, se as coisas corressem bem, ela poderia ter
uma oferta de emprego no final do verão.

Isso era irreal.

Uma energia selvagem e inquieta correu por ela. Ela precisava


fazer algo. Contar a alguém as boas notícias. Dançar. Gritar com toda a
força de seus pulmões. Algo!

— Estou orgulhosa de você. — Cheryl sorriu. — Que bom que eu


não criei uma filha estúpida. Embora eu não possa acreditar que eles não
enviaram e-mail para você. O que é isso, 1999? Tem certeza de que deseja
trabalhar para uma empresa que não sabe usar e-mail?

— Mãe! — Farrah estava com muito bom humor para se


ofender. — Eles são tradicionais assim. É parte de seu apelo.

— Eu acho que você sabe melhor do que eu. Agora, o que você
ainda está fazendo aqui? — Cheryl acenou para que sua filha se
afastasse. — Comemore com seus amigos. Falo com você mais tarde.

— OK! Falo com você mais tarde, — Farrah cantou.

Elas não disseram ‘Eu te amo’. Na verdade, a ideia de dizer essas


palavras em cantonês fez Farrah se encolher. Tão estranho. Mas algumas
coisas não precisam ser ditas.

Farrah acenou um adeus, fechou seu laptop e correu para o


corredor. Ela hesitou, debatendo a quem contar primeiro. Depois de uma
fração de segundo indecisão, ela correu para o quarto de Olivia e bateu na
porta.

***

— Senhoras, isso era muito esperado. — Courtney suspirou de


felicidade enquanto o pedicure massageava seus pés.

O spa cheirava a loção e óleo essencial de lavanda. Música suave


saindo de alto-falantes ocultos. Copos meio vazios de espumante estavam
ao lado de cada garota.
Foi o paraíso.

— Mmm. — Farrah não conseguia reunir energia suficiente para


palavras reais. As massagens sempre a deixavam em um estado de sonho
sonolento.

— Tão esperado. — Olivia mexeu os dedos dos pés. — Tenho


estado tão estressada. Você sabe como é difícil encontrar uma boa
sublocação de verão em Nova York?

— Eu te disse, você pode ficar na casa da minha família na


cidade. Nunca visitamos Nova York no verão. — Kris estremeceu. — Calor
e turistas.

— Obrigada, mas não tenho certeza se Upper East Side é minha


vibe. Sem ofensa.

— Eu não me importo. — Kris deu um gole em seu


champanhe. — A oferta está aberta se você mudar de ideia.

— Obrigada. Amo você. — Olivia mandou um beijo para ela.

— Quando você toma a decisão final? — Courtney perguntou a


Farrah.

— Abril. Os estágios começam em junho. — NIDA cobriu ao


vencedor voos e hospedagem, então o curto prazo não era grande
coisa. Mas agora que a alegria de ser finalista passou, Farrah voltou a se
preocupar. Ela estava a um passo do estágio dos sonhos dela. Se ela
chegar tão perto e não conseguir... Farrah não queria pensar sobre isso.
— Então você estará em Nova York? — Olivia estava tão
animada que quase chutou a pedicure no rosto. — Oh meu Deus, duibuqi!
— Desculpa!

O pedicure acenou. — Mei shir. — Está tudo bem / não se


preocupe.

— Você, eu e Sammy em Nova York juntos. — Olivia suspirou. —


Será o melhor verão de todos.

— Eu não ganhei ainda. — Farrah vacilou entre a excitação e o


nervosismo. Ela não queria azarar, mas já podia imaginar: fazer compras
no Soho, piqueniques no Central Park, coquetéis no Meatpacking
District. Blake fará uma visita e eles terão encontros românticos duplos na
cidade e farão divertidas caminhadas pelo interior do estado no fim de
semana. — Mesmo se eu fizer isso, não tenho garantia de meu local
de primeira escolha.

— Pssh. — Olivia descartou sua preocupação. — Claro que você


vai ganhar.

— Veremos. — A antecipação borbulhou no estômago de


Farrah. Olivia estava certa. Se tudo desse certo, seria um verão incrível.

— Ugh, FOMO25 sério. — Courtney fez beicinho. — Vocês vão


viver isso com seus estágios incríveis, e eu ficarei presa como babá de
alunos do ensino médio no acampamento.

25
A FOMO é a sigla da expressão em inglês ’fear of missing out’, que em português significa algo
como ‘medo de ficar de fora’, e que se caracteriza por uma necessidade constante de saber o que outras
pessoas estão fazendo, associado a sentimentos de ansiedade, que impactam fortemente as atividades
de vida diária, assim como a produtividade no trabalho.
— Você adora ser conselheira do acampamento, — disse Kris. —
Você pode fazer artes e ofícios e mandar nas pessoas o dia todo.

— Hum. Isso é verdade. — Todo mundo riu.

Farrah afundou ainda mais em sua cadeira. Seu peito brilhava


com calor. Já fazia muito tempo que as meninas saíam, apenas as
quatro. Isso a lembrou dos primeiros dias da FEA.

— Quais são seus planos de verão? — ela perguntou a Kris.

— Meu pai diz que eu preciso conseguir um emprego. — Kris


disse ‘emprego’ como se fosse uma bolsa Prada da temporada passada. —
O que é totalmente injusto e obra da minha madrasta malvada. Nunca tive
um emprego e não pretendo começar agora. Os empregos são para
plebeus. Sem ofensa.

— Eh.

— Nenhuma tomada.

— Tanto faz.

— De qualquer forma, ele vai ceder como fez com meu cartão
de crédito. — Kris brandiu seu Amex Platinum no ar. — Eu tenho $ 2.000
mensais de limite, mas eu só tenho que dar a ele um gelo por mais um
tempo. Eu sou sua única filha. Sou insubstituível.

Às vezes, Farrah ficava maravilhada com o mundo em que Kris


vivia. Deve ser bom.

— Nunca muda. — Olivia deu um tapinha no braço de Kris.


— Eu amo vocês, meninas. Gostaria que pudéssemos ficar em
Xangai para sempre, — disse Courtney com um suspiro.

Se apenas. Farrah temia o dia em que eles teriam que partir. Ela
teria que dizer adeus a Blake, seus amigos, seu café favorito e local
de jianbing e chá de bolha...

Não pense nisso. Você tem dois meses restantes. Aproveite.

— Espere. — Courtney se levantou em sua cadeira, seus olhos


brilhando de excitação. — Vamos fazer um pacto.

— Eu não estou fazendo outro pacto de sangue. Não pergunte,


— Kris disse quando Farrah e Olivia ficaram de queixo caído.

— Eu não vou. — Olivia fez uma careta. — Algumas coisas são


melhores não ditas.

— Não é um pacto de sangue. É um pacto de casamento!

Farrah não tinha certeza se ouviu direito. — Como é?

— Todas nós temos que nos convidar para nossos


casamentos. Porque isso significa que temos que ficar em contato. Por
anos e anos.

— E se eu não quiser um casamento? E se eu fugir? —


Perguntou Olivia. As outras três olharam para ela.

— Brincadeira! Eu nunca fugiria. Já tenho meu quadro de


casamento no Pinterest. — Olivia riu. — Deus, eu fugindo. Você pode
imaginar?

— Não, — disse Kris. — Eu não posso.


Os casamentos eram as Olimpíadas de planejamento,
organização e tabelas de assentos. Era basicamente o sonho molhado de
Olivia.

— Então, senhoras? Estamos dentro? — Courtney estendeu a


mão.

— Apesar da minha visão no que diz respeito aos painéis do


Pinterest, não planejo me casar antes dos meus trinta anos, com uma
posição executiva sênior em Wall Street e um chalé de fim de semana nos
Hamptons, — advertiu Olivia. — Mas estou dentro. — Ela colocou a mão
sobre a de Courtney.

Farrah fez o mesmo. — Eu também. — Ela não estava pronta


para pensar em casamento, embora ela e Blake fossem os bebês mais
fofos. Um dia. Ela amou a ideia do pacto, no entanto. Isso manteria seu
legado de Xangai vivo.

— Kris? — Courtney solicitado.

A filipina encolheu os ombros. — Certo. Tanto faz. — Ela


colocou a mão em cima da de Farrah, completando o pacto.

— Repita comigo: juro que convido todas vocês para o meu


casamento, aconteça o que acontecer.

— Sério?

— Apenas faça isso, Kris.

— Eu juro que vou convidar todos vocês para o meu casamento,


aconteça o que acontecer, — eles recitaram obedientemente.
— É isso. O pacto é inquebrável. — Courtney sorriu. — Vocês
estão todas presas a mim em seus casamentos, vadias.

Um brilho perverso apareceu nos olhos de Kris. — Alguém quer


apostar em quem se casa primeiro e quando?

— Não contra você — Farrah riu. — Muito rica para o meu


sangue.

— Não importa. Vamos nos reunir antes do primeiro casamento,


— disse Olivia. — Talvez antes de nos formarmos!

— Duh, — Courtney disse com a confiança de alguém que viu o


futuro. — Claro que vamos.
— Obrigado pela ajuda, cara. — Blake deu um soco
no Sammy. — Agradeço.

— Sem problemas. — Sammy desembrulhou seu lenço. O calor


no dormitório estava no máximo, transformando o saguão em um deserto
escaldante em comparação com o frio ao ar livre. — Tenho certeza de que
Farrah vai adorar.

— Sim. — Blake espiou dentro de sua sacola de compras


para verificar se o presente ainda estava lá. Levou uma eternidade para
descobrir o que comprar para Farrah de aniversário e mais tempo para
achar. Se não fosse por Sammy, ele estaria preso decidindo entre as
opções de joias clichês. — Espero que sim.

— Eu nunca estou errado.

Foi uma coisa totalmente diferente de Sammy de se dizer.

Os meninos subiram as escadas de dois em dois até chegarem


ao patamar do segundo andar. — Olivia está contagiando você.

— Há noventa e nove por cento de chance de você estar certo.

— Não diga a ela o que eu comprei para Farrah, — Blake avisou.

Sammy apertou seu coração. — Eu não posso acreditar que você


pensa que eu iria entregar o ouro. Eu...
— Você ia contar a ela, não ia?

— Bem, ela já sabe.

Blake abriu a porta de seu quarto e empurrou a sacola de


compras debaixo da cama. — Inacreditável.

— O que, você acha que eu tive essa ideia de presente


sozinho? Não se preocupe. Liv não vai contar.

— Se Farrah descobrir antes do aniversário dela, matarei você


da maneira mais dolorosa possível.

Sammy não parecia preocupado. — Você está tão manso. É


adorável. Sério.

— Saia do meu quarto.

— Talvez você devesse ter comprado um diamante para ela.

Blake empurrou o outro garoto para o corredor e bateu à porta


na cara dele.

— De nada! — Sammy gritou pela porta.

— Da maneira mais dolorosa possível! — Blake o lembrou. Ele


esperou até que a risada e os passos de Sammy diminuíssem antes de se
jogar na cama e abrir o laptop. Ele tinha um encontro no cinema com
Farrah em algumas horas, mas o mais importante primeiro: e-mail.

A procura de um lar para o bar estava a todo vapor. Não havia


muito que Blake pudesse fazer em Xangai, então Landon estava
examinando espaços em potencial para alugar enquanto Blake organizava
o registro comercial.
Seu estômago vibrou enquanto ele examinava os
documentos. Mesmo depois de criar seu plano de negócios, possuir um
bar parecia mais um sonho do que realidade. Agora, esse sonho estava se
tornando mais concreto a cada dia.

Engole isso, pai. Blake mal podia esperar para ver o rosto de seu
pai na grande inauguração. Seria épico.

Uma nova notificação de e-mail apareceu. Landon. A linha de


assunto: rodada três.

Blake abriu cerca de uma dúzia de imagens anexadas. Landon


estava ocupado explorando lugares. Ele gostaria de poder estar no chão
com seu amigo, mas por agora, fotos teriam que servir.

Blake mergulhou em dissecar os layouts, a iluminação, a


metragem quadrada e se ela se encaixava no que ele imaginou para o
espaço. Aquela com o loft o intrigou. Era o mais caro do lote, mas a área
de cima daria uma sala de jogos doentia. Ele poderia enfeitá-lo com uma
mesa de sinuca, dardos, shuffleboard26, tudo. Os torneios de beer pong no
Gino's sempre foram populares. Talvez ele usasse o espaço para sediar as
Olimpíadas semanais de esportes de bar. Pessoas que gostavam de
esportes eram competitivas - elas engoliam essa merda.

Blake estava tão absorto nas plantas que o tempo


passou. Quando ele olhou o relógio novamente, duas horas haviam se
passado.

— Merda!
26
O shuffleboard é um esporte individual de precisão e estratégia cujo objetivo principal é lançar
discos, com o auxílio de um taco, de forma que deslizem sobre uma pista e parem dentro da zona de
pontuação triangular ao final da pista.
Farrah o mataria se ele se atrasasse. As prévias de filmes eram
sua parte favorita.

Ele estava prestes a fechar o laptop quando outra notificação


apareceu. Desta vez, foi uma iMessage de Cleo.

Está ocupado?

O coração de Blake parou. Ele não tinha notícias de Cleo desde o


Ano Novo. Ele tinha pensado em falar com ela algumas vezes - mais pela
esperança de que ela mudasse seu relato sobre o que aconteceu do que
um desejo real de falar com ela - mas algo o impedia a cada vez.

Seus dedos pairaram sobre o teclado. Ele poderia ignorar a


mensagem. Ele já estava atrasado para seu encontro com Farrah.

Não. Estou livre, Blake digitou.

A curiosidade mórbida o obrigou a ficar. O que levou Cleo a


contatá-lo após semanas de silêncio no rádio?

Ótimo. Vou falar com você pelo Skype.

A inquietação no estômago de Blake cresceu quando ele aceitou


a chamada do Skype.

O rosto de Cleo preencheu a tela.

— Há quanto tempo. — Ele tentou aliviar o clima. Eles estavam


a milhares de quilômetros de distância, mas o ar entre eles estalava de
tensão.

— Isso é porque você está em Xangai. — Cleo parecia mais


pálida do que o normal. Ela jogou o cabelo em um rabo de
cavalo bagunçado - um sinal claro de que não estava se sentindo bem - e
a tensão revestia sua boca.

— Estou bem ciente.

Eles ficaram em silêncio. Engraçado. Se eles não tivessem


namorado e terminado as coisas do jeito que fizeram, estariam
conversando com a mesma frequência que Blake fazia com Joy. Parte dele
desejava que eles pudessem voltar a ser como as coisas eram. Outra parte
reconheceu que isso era impossível, não importa o que eles tivessem
concordado no Ano Novo (antes de dormirem juntos).

As coisas mudam. Pessoas mudam. Mas eles nunca mudam de


volta.

— O que aconteceu no Ano Novo... — Eles falaram ao mesmo


tempo.

— Você vai primeiro...

Blake e Cleo se entreolharam e riram em um raro momento de


normalidade.

— Você vai primeiro, — Cleo repetiu. Ela brincou com a


manga. Com seu moletom enorme e rosto nu, ela parecia ter quatorze
anos.

Esse foi o ano em que tudo mudou. Blake tinha dezesseis anos,
preso no meio do estrelato no colégio. Enquanto isso, Cleo começou a
olhar para ele do jeito que as garotas sempre olham para ele.
Blake desejou que ela não tivesse feito isso. Ele sentia falta dos
primeiros dias simples de sua amizade, antes que os hormônios, a família
e a sociedade o atrapalhassem.

O arrependimento o consumia. — Sinto muito por ter fugido


assim, — disse ele. Quando Cleo disse a ele que eles dormiram juntos, ele
disparou para fora do quarto como se houvesse uma matilha de cães
infernais em sua perseguição. — Eu lembrei que tinha que estar em algum
lugar.

Era uma mentira idiota e os dois sabiam disso.

Um sorriso tenso apareceu nos lábios de Cleo. — Tudo


bem. Você sempre corre. — Blake franziu a testa. Antes que ele pudesse
perguntar o que ela quis dizer, Cleo acrescentou: — Eu também sinto
muito. Concordamos em deixar o passado para trás e ser apenas amigos e,
bem, meio que bagunçamos.

— Sim. Tequila é uma bastarda. — Blake tamborilou os dedos na


coxa. A energia nervosa ziguezagueava por suas veias. — Eu nunca vi você
beber tanto.

— Eu não vou beber álcool por um tempo, eu te direi isso. —


Cleo pigarreou. — Como vai…

— Ela está bem. — Falando em Farrah, ele estava atrasado para


o encontro.

Engraçado como ele se concentrava nisso quando havia o


grande problema de ele dormir com a ex-namorada enquanto ele e Farrah
estavam juntos.
As cólicas se intensificaram.

Cleo o observou atentamente. — Você realmente a ama, não é?

— Eu realmente amo.

— Eu sinto muito.

— Não é sua culpa. Eu é que não me controlei. Eu poderia ter


parado de beber. Eu poderia ter...

— Isso não foi o que eu quis dizer. — Cleo respirou fundo. Seus
olhos nadaram com pesar e desculpas. — Sinto muito pelo que estou
prestes a dizer.

Merda.

Isso não era um bom presságio. Não mesmo.

Blake agarrou a ponta de seu laptop. A batida do pavor cresceu


em seu peito, ficando cada vez mais alta até que ele pensou que ficaria
surdo com o som.

Cleo mordeu o lábio, o que sempre fazia quando se deparava


com uma decisão difícil. Ele viu quando ela teve que decidir entre ir para a
STU ou Texas A&M para a faculdade, e quando ela não tinha certeza se
terminaria com o namorado do primeiro ano ou não.

Desta vez, as apostas eram muito mais altas do que a faculdade


e os relacionamentos fugazes do ensino médio, mas Blake não sabia quão
alto até Cleo abrir a boca e virar de cabeça para baixo seu mundo inteiro.

— Blake, estou grávida.


— …Feliz aniversário, querida Farrah, feliz aniversário para você!

Farrah fechou os olhos e apagou as velas de seu bolo enquanto


suas amigas aplaudiam e comemoravam. O flash da câmera de Courtney
iluminou a sala, tão forte que Farrah viu por trás de suas pálpebras.

Vinte anos. Ela oficialmente não era mais uma adolescente.

Farrah temia esse dia há anos, mas vinte não parecia tão
diferente. Ela tinha os mesmos sonhos e preocupações, os mesmos gostos
em comida, música e roupas. O mundo não desabou.

Na verdade, ela estava animada. Ela tinha toda uma nova


década para viver e explorar, e estava começando da melhor maneira
possível: cercada por pessoas que amava em uma das maiores cidades do
mundo.

Vinte poderia ser pior.

— O que você desejou? — Luke perguntou.

— Boa tentativa. — Farrah cortou o bolo, um caso enorme de


chocolate com cobertura de cream cheese, cortesia de Sammy. Sua boca
encheu de água com a visão. Conhecendo Sammy, seria delicioso. — Se eu
te contar, não vai se tornar realidade.
— Isso é um mito, — Luke zombou. — Eu digo às pessoas meus
desejos o tempo todo. Por exemplo, gostaria que você cortasse aquele
bolo mais rápido.

— Não seja rude. — Olivia colocou as fatias em pratos de papel


e as distribuiu. Ela deixou Luke para o fim, o que lhe rendeu um olhar de
descontentamento.

— Talvez o que você desejou esteja em uma dessas bolsas. —


Courtney acenou com a cabeça para a pilha de presentes sobre a
mesa. Ela se empoleirou no braço do sofá da sala dos alunos, a câmera na
mão e pronta. — Só há uma maneira de descobrir!

— Sutil. — Nardo riu. — Farrah, Courtney entrará em


combustão se você não abrir seus presentes logo.

Ele estava agindo como um ser humano normal. Isso a assustou.

Leo encostou-se na parede do outro lado da sala com um sorriso


malicioso. Ele estava conversando com Courtney novamente, graças a
Deus. Eles não estavam namorando - aquele relacionamento acabou
para sempre - mas pelo menos as coisas voltaram ao normal com o
grupo. Farrah não seria capaz de demorar mais um segundo andando na
ponta dos pés em torno de Courtney e Leo, tentando evitar dizer o nome
do outro.

— Adoro presentes, mesmo quando não são para mim. —


Courtney empurrou uma caixa retangular média nas mãos de Farrah. —
Abra o meu primeiro. Pleeeease.
— Ok, ok. — Sorrindo, Farrah desembrulhou o presente e abriu
a caixa para revelar duas fotos emolduradas. Um era um esboço
arquitetônico de Xangai, o outro uma foto do grupo no Bund no semestre
passado. Eles estavam em uma alta pós-prova e passaram a noite
comendo, bebendo e rindo enquanto caminhavam pela cidade. Deviam
ser quatro, cinco da manhã quando eles circularam de volta ao Bund. A
essa altura, as luzes estavam apagadas e a cidade quieta. Farrah não se
lembrava do que eles fizeram lá, mas se lembrava de como se sentia -
como se ela nunca tivesse estado mais apaixonada, por uma cidade ou
pelas pessoas ao seu redor.

Como se tudo fosse possível.

Como se o momento durasse para sempre. Em certo sentido,


sim.

Farrah deslizou os dedos pela moldura. Lá estava ela com seus


amigos, seus sorrisos imortalizados para a posteridade.

— Você gostou?

— Eu amei. — Farrah abraçou Courtney, respirando o perfume


Tommy Girl familiar de sua amiga. — Obrigada.

— A qualquer hora, bebê. — Courtney a apertou com força.

Farrah se recompôs e terminou de desembrulhar o resto de seus


presentes, que incluíam um lindo bloco de desenho com monograma de
Olivia, delicados brincos de ouro e água-marinha da Kris, uma bolsa
divertida de Sammy e um lenço de seda da Leo. Ela deixou Blake para o
final.
Farrah balançou a caixa grande. Ele sacudiu em resposta.

— Ooh. O que é isso? — As joias não faziam aquele


barulho. Talvez um livro? Não, definitivamente havia vários objetos ali.

— Você verá. — As covinhas de Blake brilharam. A visão aliviou


a tensão nos ombros de Farrah. Ele estava agindo mal nas últimas
semanas - mais do que no início do semestre - mas parecia com um humor
melhor esta noite.

Pare de pensar demais. Ele está estressado com o bar. É isso.

Era seu vigésimo aniversário. Farrah não sabotaria sua própria


celebração com suas dúvidas.

— Abra, — Blake encorajou. Seus olhos brilharam com


antecipação. Sim. Ela estava pensando demais. As coisas estavam bem.

Farrah rasgou o papel de embrulho, determinada a colocar


aquelas vozes irritantes em sua cabeça para a cama de uma vez por
todas. Ela engasgou quando viu o que havia sob a folha multicolorida. —
Oh meu Deus, onde você encontrou isso?!

— Demorou um pouco, — Blake admitiu. — Sammy me ajudou a


localizá-lo em uma pequena loja no distrito de arte. Acho que é o único
lugar na cidade que vende.

— Esses são... — Kris semicerrou os olhos para a caixa. —


Marcadores?

— Eles não são apenas marcadores. São marcadores Pantone


de duas pontas em edição limitada em 150 cores, criados em colaboração
com Kelly Burke, também conhecida como a melhor designer de interiores
de todos os tempos. Eles estão à venda por apenas um mês. — Farah
abraçou a caixa contra o peito. — Eles são lindos!

Ela não conseguia acreditar. Ela queria os marcadores desde que


Kelly Burke anunciou a colaboração no ano passado, e agora aqui estavam
eles, em seus braços. Imagine todas as coisas que ela poderia fazer com
eles!

A mente de Farrah zumbia com ideias. Ela estava tentada a


deixar a festa agora e começar a experimentar.

Kris torceu o nariz. — Cada um com sua mania.

— Esses marcadores são caros. — Leo olhou para Blake. — Pelo


menos algumas centenas de dólares.

— Sério? — Kris reexaminou o conjunto com mais respeito. —


Huh.

Em sua tontura, Farrah havia esquecido porque não comprou o


conjunto para si mesma - os marcadores eram caros. Muito caro para ela
justificar o custo, não importa o quanto ela os desejasse.

— Valeu a pena, — disse Blake antes que ela pudesse abrir a


boca. — Contanto que você goste deles.

— Eu adoro eles. — Farrah colocou os marcadores na mesa e


deu um beijo demorado em seus lábios. — Obrigada amor.

— De nada. — Ele passou as costas da mão pela bochecha


dela. — Feliz aniversário.

Farrah fechou os olhos, deleitando-se com seu toque. Vinte foi


assustadoramente incrível.
Ela se afastou de Blake para abraçar Sammy. — Obrigado por
ajudar. E pelo bolo.

Não precisava ser um gênio para descobrir como Blake


descobriu sobre os marcadores. A única pessoa que Farrah contou foi
Olivia, que deve ter contado a Sammy, que contou a Blake.

Ainda assim, Farrah ficou emocionada com Blake e Sammy teve


muitos problemas para encontrar seu presente. Encontrar esse produto
de nicho em Xangai não foi fácil. Ela não podia acreditar que eles
venderam os marcadores aqui.

— Não foi nada. Blake fez a maior parte do trabalho braçal. Eu


meramente traduzi. — Sammy beijou sua bochecha. — Feliz aniversário.

— Mmhmm. Obrigado mesmo assim. — Farrah piscou para


Olivia. — Você tem um dos bons.

— Digo o mesmo.

As meninas trocaram olhares conhecedores.

— Vou levar isso... — Farrah apontou para a pilha de presentes


— ...até ao meu quarto. Vocês vão em frente. Te encontro no 808.

— Vou te ajudar. — Blake começou a juntar o papel de


embrulho amassado.

— Claro que você vai. — Luke sorriu.

As bochechas de Farrah ficaram vermelhas. Ela ignorou os gritos


sugestivos de suas amigas enquanto pegava os presentes da mesa. —
Vamos, Blake. Vamos. Talvez quando voltarmos, eles terão amadurecido,
— ela disse incisivamente.
— A maturidade é superestimada. — As batidas de abertura de
‘Birthday Sex’ de Jeremih explodiram do iPhone de Courtney. — Divirtam-
se, — ela cantou. Ela arrastou a última palavra para várias sílabas.

Blake deu uma risadinha. O rubor de Farrah aumentou. — Eu


odeio vocês.

— Amo você também. — Olivia mandou um beijo para ela. —


Feliz aniversário querida. —

Farrah amoleceu. — Obrigado. Pelos presentes e bolo e...


tudo. Vocês são os melhores, mesmo se agem como garotos
de treze anos. — Ela tentou rir, mas se engasgou novamente.

— Ah não. Não chore no seu aniversário. Vá guardar seus


presentes e faça sexo. — Courtney acenou para ela. — Você merece isso.

— Vamos ser honestos, eles não vão chegar a 808, — Farrah


ouviu Kris dizer.

Os sapatos de Farrah e Blake ecoaram na escada enquanto eles


caminhavam para o terceiro andar. O resto da FEA estava no 808, mas
Farrah queria que seu bolo e seu presente desembrulhassem no
dormitório. Era mais fácil do que sair, carregar os presentes de volta para
o quarto e sair novamente.

Para sua surpresa, ela abriu a porta de uma sala vazia. Farrah
convidou Janice para a festa de pré-aniversário, mas Janice recusou,
dizendo que tinha trabalho a fazer. Ela esperava encontrar Janice em seu
laptop, mas sua colega de quarto não estava à vista.
Farrah não tinha certeza se deveria se sentir aliviada ou
insultada. Era possível que Janice mentisse sobre ter trabalho para não ir
ao seu aniversário, o que foi uma merda. Ao mesmo tempo…

— Parece que temos o seu quarto só para nós. Um presente de


aniversário do universo, talvez? — Blake colocou seus presentes em sua
mesa e piscou. Mesmo com uma camisa branca simples e jeans, ele fez
seu coração palpitar.

— Se for... — Farrah acrescentou sua coleção à pilha e foi até


Blake. Ela enganchou os dedos nas presilhas de seu cinto. — Longe de
mim recusar.

Seus lábios se encontraram em um beijo longo e profundo que


tirou todos os outros pensamentos de sua mente. Ela separou os lábios e
ele varreu a língua para dentro, aumentando o calor até que ela ardeu de
necessidade.

Blake a ergueu. Farrah esperava que ele os carregasse para a


cama. Em vez disso, ele a jogou contra a parede, provocando um suspiro
de surpresa e antecipação dela. Ele manteve uma mão em sua cintura
enquanto usava a outra para desabotoar seu vestido e sutiã. Seus
movimentos eram espasmódicos, quase desesperados enquanto ele
deslizava o material por seu corpo.

Seus mamilos endureceram com o ar frio. Blake passou a palma


da mão aberta sobre eles e ela estremeceu, uma dor muito
familiar florescendo entre as pernas dela. Ele brincou com seus seios por
mais um tempo, puxando e torcendo com tanta habilidade que ele
poderia muito bem, estar em sua cabeça. Farrah sempre presumiu que
esse nível de conexão sexual e perícia era irreal, inventado por filmes de
romance para dar esperança à população feminina, quando na verdade a
maioria dos rapazes era como os que Farrah encontrou no passado -
rápido, desajeitado, estranho.

Não Blake. Ele sabia exatamente o que fazer, quando fazer. No


momento em que ele abaixou a cabeça para chupar suas protuberâncias
sensibilizadas, Farrah estava prestes a desmoronar. Seu corpo era um fio
vivo de sensações, crepitante e escaldante. Cada terminação nervosa era
sensível ao toque.

Blake colocou um dedo entre os lábios suaves de sua boceta e


achou aquele ponto, e ela se despedaçou. Farrah explodiu de prazer tão
intenso que ela viu estrelas. Continuou e continuou, e assim que ela
desceu do alto, Blake a jogou na cama. Ela ouviu o farfalhar de uma
camisinha sendo desembrulhada. Um segundo depois, ele estava dentro
dela, enchendo-a a ponto de explodir.

Farrah agarrou seus ombros e gritou. O calor aumentou até que


as chamas a consumiram mais uma vez. Ela se arqueou, pressionando o
peito contra o de Blake. Sua mão escorregou entre seus corpos. As pontas
dos dedos dele roçaram seu clitóris enquanto ele batia nela, levando-a
cada vez mais alto para um lugar onde ela não conseguia respirar, não
conseguia pensar. As sensações correram selvagens por seu sistema, tão
intensas e abrangentes que ela quase chorou. Farrah ansiava pela
liberação, mas nunca queria que isso acabasse. Tudo o que ela podia fazer
era cavalgar a onda de prazer até que seu corpo detonasse, e seus gritos
de êxtase se misturassem aos de Blake enquanto eles voltavam para a
terra juntos.

Depois de vinte anos, ela encontrou o cara que poderia levá-la


para o céu e voltar.

Farrah desabou na cama e tentou recuperar o fôlego. —


Melhor. Presente. De. Aniversário. De Todos. — ela ofegou.

Blake deu uma risadinha. Ele rolou para o lado e afastou o


cabelo de seu rosto. — Melhor do que os marcadores?

— Está perto. Eu realmente gosto dos marcadores. — Farrah


passou a mão para cima e para baixo em seu braço. Kris estava certa. Eles
não iriam chegar a 808. Ela não tinha nenhuma vontade de se vestir e suar
muito em um ambiente lotado do clube. Ela preferia ficar aqui com Blake
em seu mundinho. — Mas eu gosto mais de você.

Ela esperava que ele respondesse com um comentário


espertinho. Quando ele não o fez, ela olhou para cima para encontrá-lo
olhando para ela com tanto amor que machucou seu coração. Não por
causa do amor, mas por causa do que se escondia por trás dele -
uma tristeza que despertou sua sensação anterior de mau presságio.

— O que está errado?

— Nada está errado. — Blake brincou com as pontas de seu


cabelo. — Como se sente com vinte?

— Tudo bem, e não mude de assunto. Algo está errado. Eu


posso sentir isso. — Farrah se apoiou no cotovelo para que ficassem na
altura dos olhos. — É o seu pai?
— Não. Estou estressado com o bar, só isso. Ainda há muito o
que fazer. — Ele disse isso da última vez que ela mencionou seu
comportamento estranho.

Ela acreditou nele então. Ela não tinha certeza se acreditava


nele agora. — Vamos conversar sobre outra coisa. Eu não quero ser
deprimente no seu aniversário.

— Você pode falar comigo sobre qualquer coisa a qualquer


hora. Você sabe disso. — Lá estava - aquela melancolia que não deveria
estar ali.

— Eu já te disse o quanto eu te amo?

Farrah sorriu ao mesmo tempo que seu coração se apertou com


inquietação. — Você pode ter mencionado isso uma ou duas vezes, mas
eu não me importaria de ouvir novamente.

— Bem, eu quero. Eu te amo tanto. — Blake segurou sua


bochecha. Ela detectou um leve tremor em sua mão. — Nunca esqueça
isso.

— Eu não vou. — Ela se inclinou para um beijo.

— Farrah. — A ferocidade em sua voz a assustou. — Quero


dizer. Não importa o que aconteça, nunca se esqueça do quanto eu te
amo. — Os olhos de Blake escureceram de emoção. — Estou totalmente,
completamente, cem por cento apaixonado por você. Sempre estarei.

Um nó se formou na garganta de Farrah. — Eu sei, — ela disse


suavemente. — Estou totalmente, completamente, cem por cento
apaixonada por você também. — Ela examinou seu rosto, procurando
respostas para uma pergunta que ela não sabia. — Tem certeza de que
está tudo bem? Além do estresse sobre o bar.

Blake entrelaçou os dedos nos dela com a mão livre e apertou


como se estivesse se segurando para salvar a vida. — Não temos muito
tempo restante.

Não, eles não tinham. Eles tinham oito semanas.

Oito semanas, cinquenta e quatro dias e mil noventa e


seis horas antes de terem que voltar à realidade.

Mas eles não precisavam fazer isso agora.

— Temos muito. — Farrah devolveu seu aperto. — Temos esta


noite.

Blake e Farrah se beijaram novamente, um beijo profundo,


ávido e apaixonado que deu a ela tudo que seu lado romântico queria.

Farrah se perdeu no abraço, deixando que ele afastasse suas


preocupações e a vozinha dentro dela dizendo que esse beijo, por mais
amoroso e terno que seja, era também o tipo de beijo que você dava em
alguém um pouco antes de se despedir.
DUAS SEMANAS DEPOIS

Blake sinalizou pedindo a conta. A End Zone era seu refúgio


atualmente. Ninguém na FEA sabia sobre este lugar, o que significava que
ele poderia chafurdar na autopiedade em paz.

O barman trouxe a conta. Não foi Mina, ela deixou Xangai meses
atrás. Ela enviou a ele uma pequena mensagem antes de sair, e foi isso.

Honestamente, sua aventura de curta duração parecia ter


acontecido há muito tempo.

Blake bebeu o resto de seu uísque e rabiscou sua assinatura. Na


parede, o relógio marcava seis horas. O grupo tinha reservas para o jantar
às seis e meia em algum restaurante novo e badalado que Olivia
escolheu. Farrah mandou uma mensagem para ele com o convite. Ele não
respondeu.

— Vejo você amanhã, — disse o barman.

Blake acenou com a cabeça. Ele abriu caminho através da


multidão do happy hour e saiu. A primavera chegara a Xangai e a cidade
explodiu em cores e sol. Dado o humor de Blake, pode muito bem ser
cinza e tempestuoso.
Duas semanas.

Duas semanas evitando Farrah e dando desculpas sobre porque


ele não podia sair.

Duas semanas sem vê-la, sem tocá-la, ouvindo sua risada. Duas
semanas de inferno.

Blake precisava contar a ela sobre Cleo. Ele disse a si mesmo


para esperar até depois do aniversário dela, mas cada vez que tentava
dizer as palavras, elas estavam presas em sua garganta como vidro
estilhaçado, cortando-o por dentro até que ele não pudesse mais falar.

Ele bateu o cartão do metrô no leitor, tão perdido em seus


pensamentos que mal registrou o tráfego da hora do rush fluindo ao seu
redor. Trabalhadores de escritório, famílias e alunos lotaram a estação,
sua conversa tão alta que às vezes abafava os anúncios de PA.

Uma garotinha, de cerca de quatro ou cinco anos, passou


correndo por Blake em direção à plataforma. Seu estômago embrulhou
quando viu o trem entrando na estação. Ele começou a correr atrás dela
quando seu pai em pânico a alcançou e a pegou em seus braços. A menina
riu e jogou os braços em volta do pescoço do pai, alheia a quão perto
esteve do perigo.

Blake exalou e os seguiu até ao trem. O alívio durou dois


segundos antes que as imagens de todas as coisas terríveis que poderiam
acontecer a uma criança surgissem - sequestros, bullying, acidentes
rodoviários. Coisas que nenhum pai poderia controlar.
Seus ombros ficaram tensos. Mais pessoas se espremeram no
trem antes que as portas se fechassem, embalando-as como sardinhas em
uma lata.

O suor brotou em sua testa.

Blake não estava pronto para nada disso. Não voltar para o
dormitório, não contar a Farrah a verdade, e certamente não ser um
maldito pai. Ele tinha 22 anos, pelo amor de Deus! Cleo tinha 20 anos. Eles
não tinham ideia do que estavam fazendo.

Blake não sabia como trocar uma fralda ou acalmar um bebê


para dormir. E se ele estragar tudo e arruinar a criança para o resto da
vida? Como ele poderia ser responsável por outro ser humano quando ele
não conseguia organizar sua própria vida?

O suor se intensificou. Jesus, estava uma sauna aqui.

A mulher ao lado de Blake se afastou dele. Sem dúvida ela viu


quão doente ele parecia e preocupado que ele pudesse vomitar nela.

Era um medo válido.

A cabeça de Blake latejava, forte e pesada.

Ele poderia pedir ajuda a sua mãe. Ele contou a ela sobre a
gravidez de Cleo alguns dias depois que Cleo deu a notícia. Rasgue o Band-
Aid e tudo mais.

Assim que superou o choque, Helen ficou em êxtase. Ela queria


netos mais do que qualquer coisa e amava Cleo. Ela nunca escondeu seu
desejo de que Blake e Cleo se casassem e se estabelecessem um
dia. Agora, seus sonhos haviam se tornado realidade, embora mais cedo
do que ela esperava.

O pai de Blake? Não tão feliz. Se não fosse por Helen, ele teria
renegado Blake na hora. A seus olhos, esta última bomba provou de uma
vez por todas quão fodido seu filho era.

Ele estava certo.

Desde que Blake deixou o futebol, sua vida se transformou em


uma confusão desesperadora. Seu relacionamento com Farrah foi a única
coisa boa que resultou disso, e ele estava prestes a perder isso também.

O trem parou na estação SFSU. Blake abriu caminho para fora,


ignorando os protestos e olhares sujos dos outros passageiros. Ele subiu
as escadas de dois em dois até atingir o nível da rua e respirar fundo o ar
fresco.

A claustrofobia diminuiu. A ansiedade não.

Enquanto caminhava em direção ao dormitório, Blake pensou


em cenários de como terminar com Farrah. Ele deveria contar a ela sobre
Cleo?

Foi apenas um beijo. O que não é ótimo, mas pelo menos ela não
dormiu com Nardo. Isso seria imperdoável.

As palavras de Farrah no Dia dos Namorados o


assombravam. Era estúpido porque ele iria perdê-la de qualquer maneira,
mas ele não queria que ela pensasse que ele tinha feito a única coisa que
ela considerava imperdoável.

Então, o que diabos ele deveria dizer a ela?


Blake entrou no saguão da FEA e seguiu em direção às
escadas. Sua cabeça latejava de indecisão.

Ele precisava de mais uma noite para descobrir como terminar


as coisas com Farrah.

Ele sabia que estava arrastando o inevitável. Ele tinha que deixar
Farrah ir. Não importava se acontecesse amanhã ou daqui a dois
meses. Isso iria esmagá-lo do mesmo jeito.

Mas, por enquanto, ele tinha mais um...

— Ei.

Blake parou no meio do caminho. Farrah estava do lado de fora


de sua porta, os braços cruzados. Ela usava uma carranca e seu pijama de
ovelha favorito.

Os lábios de Blake se curvaram em um breve sorriso antes de


desaparecer.

— Nós deveríamos conversar.

Lá se foi mais uma noite.

Ele engoliu em seco e acenou com a cabeça. Ele não podia adiar
mais.

Não havia amanhã.

O tempo acabou.
Arrepios salpicaram a pele de Farrah. Ela esfregou os braços e
estremeceu com uma combinação de frio e pavor.

— Você não foi jantar. — Blake destrancou a porta, os ombros


tensos e o maxilar cerrado.

— Não. — Farrah o seguiu para dentro e sentou-se na cama


vazia à sua frente. Normalmente ela teria se enrolado na cama de Blake e
esperado que ele se juntasse a ela, mas isso não parecia mais certo.

Blake enfiou a carteira em uma gaveta e arrumou os livros em


sua mesa. Ele centralizou seu laptop e alinhou seus lápis até que
estivessem paralelos um ao outro. Só então ele se sentou em frente a
Farrah, com o rosto fechado. Apenas alguns metros os separavam, mas
eles podiam muito bem estar sentados em lados opostos de um
desfiladeiro.

O radar de problemas de Farrah se aproximou da zona de


perigo. — Faz um tempo que não conversamos.

Depois do aniversário dela, Blake desapareceu do mapa. Ele


parou de sair, comeu sem o grupo e respondeu às mensagens e convites
dela com desculpas curtas. Ela não conseguiu encontrá-lo em seu quarto
ou, se ele estava lá, ele não atendeu a porta.
Farrah tentou esperar. Se Blake precisava de um tempo sozinho
para resolver questões pessoais, ela respeitava isso. Ela teria preferido
mais comunicação, mas cada um lida com os problemas do seu jeito.

No entanto, eles estavam entrando na terceira semana de Blake


Incomunicável, e ela havia chegado ao fim de sua paciência. Cada segundo
que eles tinham deixado em Xangai contava, e eles perderam milhões de
segundos.

Já era o bastante. Ela queria respostas.

Blake apoiou os antebraços nos joelhos e juntou as mãos. Ele


olhou para o chão como se fosse a coisa mais fascinante que ele já tinha
visto. — Eu estive ocupado.

Farrah resistiu à vontade de jogar um travesseiro nele. — Com?

— Aulas. Planos do bar. Esse tipo de coisas.

Aquele velho refrão de novo. Ele parecia um disco quebrado.

A raiva aguçou os sentidos de Farrah. Ela estava cansada das


desculpas dele, da incerteza e de se sentir um lixo porque o namorado
sumiu. Ela queria saber o que diabos estava acontecendo. — Você terá
que fazer melhor do que isso.

A cabeça de Blake se ergueu. Dor e surpresa cintilaram em seu


rosto antes que sua expressão se fechasse.

Apesar de sua irritação, o coração de Farrah deu um pulo ao ver


aqueles lindos olhos azuis, então se encolheu como uma ameixa com a
falta de sensibilidade neles.
— Diga-me a verdade. — Ela forçou as palavras a passarem pelo
nó em sua garganta. — Você pode confiar em mim.

A grande questão era: ela poderia confiar nele? Farrah odiava


duvidar dele, mas era difícil não perder a fé quando o amor de sua vida o
evitava como se você tivesse uma praga.

Os ombros de Blake se curvaram. A tensão rolou dele em


ondas. Ele fechou os olhos e, quando os abriu novamente, estavam tão
duros e frios quanto as paredes que os rodeavam.

O estômago de Farrah despencou.

— Eu sinto muito. — Sua voz estava monótona e vazia. — Eu


não queria fazer assim, mas acho que não devemos mais nos ver.

O tempo parou. As palavras de Blake giraram em torno dela,


ameaçando arrastá-la para baixo, mas se recusando a afundar.

O corpo de Farrah reagiu primeiro, seu coração batendo forte


contra o peito em dobro, enquanto seu cérebro lutava para processar as
implicações da declaração de Blake.

— O quê?

— Foi divertido enquanto durou, mas o ano está quase


acabando e eu... Eu não estou mais interessado. Sinto muito, — ele
repetiu.

— Você está mentindo. — Ele tinha que estar. Não tinha


como. De jeito nenhum ela poderia estar tão errada.

Os últimos sete meses passaram pela mente de Farrah como um


filme passando a uma velocidade duas vezes maior. Seu
primeiro encontro na escada. Seu primeiro beijo. Sua primeira vez fazendo
sexo. Na primeira vez, eles disseram ‘Eu te amo’. Os segredos que
compartilharam, os lugares que exploraram, as noites que passaram nos
braços um do outro.

Ela lutou para respirar. O ar tornou-se espesso em um lodo


escuro e feio, tornando impossível para o oxigênio alcançar seus
pulmões. Havia tantos pensamentos passando por sua mente que ela não
conseguia se concentrar, então Farrah agarrou-se ao mais fácil de engolir.

Blake estava mentindo. Ela olhou em seus olhos e viu o amor


ali. Ela sentiu isso. Você não poderia fingir esse tipo de emoção.

Ele enrijeceu. — Eu não estou.

— Você está. — Farrah não sabia quem ela estava tentando


convencer mais, ele ou ela mesma. — Você disse que me amava.

— Eu menti.

Farrah respirou fundo. Verdade ou não, essas duas palavras a


cortaram como uma faca.

Não chore. Não chore. Não. Chore. Porra.

— Você está cheio de merda. — Sua voz tremia de incerteza. —


Olhe para você. Você está tremendo.

Blake cerrou os punhos. Os nós dos dedos dele ficaram


brancos. — Farrah. — Sua voz parecia uma bomba explodindo no
silêncio. — Voltei com a minha ex-namorada nas férias. Eu não sabia como
te dizer. Eu a amo e cometi um erro aqui. Conosco. Mas estou tentando
consertar.
Um soluço escapou. A temperatura caiu mais vinte graus, e um
rugido estranho encheu seus ouvidos. O punho em torno de seu coração
apertou, e bem quando ela estava prestes a explodir de dor, ele se soltou
e quebrou tudo em seu rastro.

Eu preciso sair daqui.

Mesmo assim, os pés de Farrah permaneceram colados no lugar


enquanto ela tentava compreender o que estava acontecendo. O Blake na
frente dela não era o Blake que ela conhecia. Ele era tão estoico, tão
antipático, que ela se perguntou se isso era um pesadelo ou se os últimos
sete meses haviam sido um sonho.

— Eu sinto muito.

Isso quebrou o encanto.

— Pare de dizer isso! — Os olhos de Blake se


arregalaram. Farrah agarrou seu colar com força com uma das mãos até
que o metal cavou sulcos dolorosos em sua palma. — Era tudo uma
mentira então, no ano passado.

Blake desviou o olhar.

— Por quê? Por que você fingiu que se importava? Foi alguma
piada de mau gosto? Você queria ver se eu seria crédula o suficiente para
me apaixonar por você? Bem, parabéns caralho. — Lágrimas queimaram
seus olhos. — Você ganhou. Blake Ryan, o campeão. Seu pai estava
certo. Você não deveria ter desistido. Ninguém joga melhor do que você.
Uma lágrima escorreu e escaldou sua bochecha. Farrah o
enxugou com raiva. Ela já tinha dado muito a ele. Ela não ia dar a ele a
satisfação de vê-la chorar também.

Blake podia muito bem ser esculpido em mármore por toda a


emoção que demonstrou. — Eu sinto mu...

Seu sangue borbulhava de raiva. — Se você disser 'sinto muito'


mais uma vez, — ela sibilou. — Vou para a cozinha, volto e corto suas
bolas com uma faca enferrujada. Na verdade, posso fazer isso de qualquer
maneira. Você é um idiota de merda. Sinto muito por ter perdido todo
esse tempo com você, e sinto mais por sua namorada. Ela merece coisa
melhor.

Farrah reuniu forças para se levantar. Ela caminhou até à porta,


rezando para que suas pernas não cedessem antes de chegar ao
corredor. Ela agarrou a maçaneta e se virou para dar uma última olhada
em Blake.

Além do leve tremor em seus ombros, ele ficou ali sentado


imóvel, o rosto em branco.

Blake Ryan. Seu primeiro amor. Seu primeiro amante. Seu


primeiro desgosto. Farrah fechou a porta com um leve ‘clique’. Seus pés
se moveram. Um passo, dois passos e assim por diante até chegar ao
quarto. O zumbido em seus ouvidos bateu em sincronia com seus passos.

Ela rezou para que Janice não estivesse ali. Ela estava.

A Dama da Sorte a odiava hoje.


Janice ergueu os olhos quando Farrah entrou antes de voltar ao
livro. Um segundo depois, sua cabeça apareceu novamente. Sua testa
franzida com preocupação. — Você está bem?

— Sim. — Farrah sorriu com tanta força que suas bochechas


doeram. — Estou bem. Eu estou ótima. Eu... eu...

O alarme disparou no rosto de Janice.

— Eu... — A raiva de Farrah se desvaneceu como uma chama


perdendo oxigênio.

Não. Não se atreva a ir embora.

Ela agarrou os tentáculos restantes de fúria com mãos


desesperadas. Eles eram as únicas coisas que a mantinham unida, mas ela
pode muito bem ter tentado agarrar areia. Eles escorregaram por entre
seus dedos até que não houvesse mais nada.

— Eu estou... — Dor apressou-se para preencher o


vazio. Dor incrível, de esmagar a alma, o tipo que a forçou a dobrar sobre
isso doeu tanto. A represa que ela ergueu para conter as lágrimas
desmoronou, enviando correntes de luto líquido por suas bochechas.

Foi isso.

Farrah se enrolou como uma bola no chão. Ela abraçou os


joelhos contra o peito e soluçou - soluços enormes e devastadores que
sacudiram seu corpo, mas não fizeram barulho. Seu estômago doeu. Seus
lados doeram. Seu coração doía tanto que ela tinha certeza de que estava
morrendo.

O tempo todo, seu cérebro a torturava com memórias.


‘Aconteça o que acontecer, podemos superar isso juntos.’

‘Eu amo você.’

‘Nunca se esqueça do quanto eu te amo.’

Parecia tão real, tão sincero. Farrah não apenas amava


Blake; ela confiava nele. Ela confiava nele o suficiente não apenas para dar
a ele sua virgindade, mas também seu coração. Acontece que ele estava
brincando com ela o tempo todo.

Eu sou uma idiota.

Farrah enterrou o rosto nos joelhos, lutando para respirar entre


os soluços. Sua boca secou e seus olhos queimaram, mas ela não
conseguia parar. Foi demais.

Tudo - a dor, o constrangimento, o choque - era demais.

Janice sentou-se ao lado dela no chão e, embora as duas


meninas não tivessem falado mais do que uma dúzia de palavras uma com
a outra desde o início do ano, ela colocou o braço em volta dos ombros de
Farrah e ficou com ela até Farrah ficar sem lágrimas para chorar.
1 MÊS DEPOIS

O dia havia chegado. Graduação FEA. Sua última noite em


Xangai. Blake não derramou uma lágrima em sua formatura do ensino
médio, mas um nó se formou em sua garganta quando
Wang laoshi terminou seu discurso e a cerimônia seguiu para a parte
retrospectiva da noite. As luzes diminuíram, uma tela de projetor gigante
deslizou pela parede e os acordes de abertura da clássica canção de Emil
Chau — Peng You (Friends) encheu o auditório.

Imagens do ano passado passaram pela tela. Lá estavam Blake e


Luke, suados, sorridentes e mostrando os polegares extravagantes depois
de sua caça ao tesouro da semana de orientação. Em seguida, uma
foto semi-espontânea da primeira noite da FEA no 808 - Sammy e Olivia
dançando juntos, Farrah mostrando a língua para a câmera e Courtney no
palco, segurando uma bebida em cada mão com o rosto franzido de tanto
rir.

O nó na garganta de Blake cresceu com a alegria no rosto de


Farrah.
Seu olhar vagou para onde ela estava sentada duas fileiras
abaixo e três assentos à sua direita. Ela estava rindo? Choro? Ela ficou tão
quieta que ele não sabia.

A apresentação de slides continuou. Os caras jogando


basquete. Farrah e Olivia em uma praia na Tailândia. O grupo na pré-
caminhada da Grande Muralha. Courtney e Leo segurando escorpiões em
gravetos no mercado noturno de Pequim.

Havia inúmeras outras fotos de Blake e seus amigos em


restaurantes, táxis, riquixás, bares e clubes; posando em vestiários e
dormitórios e salas VIP; hospedando uma competição de canto simulada
na sala dos alunos; na rua com pessoas aleatórias cujos nomes eles
esqueceram ou nunca souberam para começar.

Blake não pôde deixar de rir ao ver a foto de Farrah desmaiada


no sofá de uma sala de karaokê. Eles haviam percorrido a trilha Sheshan
naquele dia e, quando a noite chegou, eles estavam cansados demais para
ir a uma discoteca. Em vez disso, eles se conformaram com a KTV. Farrah
adormeceu após a segunda música.

Sammy enfiou a cabeça no porta-retratos. Ele havia tomado


alguns drinques e seu rosto combinava com a cor de sua camisa
vermelha. Courtney fingiu lamber a bochecha de Farrah enquanto Olivia
agarrava um punhado do cabelo da garota adormecida e fazia uma pose
sexy exagerada atrás do sofá, seus lábios franzidos em um beicinho de
modelo.

A risada de Blake morreu quando a próxima foto


apareceu. Blake e Farrah se beijando em um bar na cobertura do Bund, os
dedos entrelaçados ao lado do corpo. O horizonte cintilava atrás deles,
brilhante e cheio de promessas. Ele só podia ver seus perfis, mas o amor
que irradiava da foto o atingiu como um soco no estômago.

Blake desviou o olhar. A dor tinha se estabilizado em uma dor


surda ao longo do último mês, mas agora as pontadas agudas de seu
coração se partindo voltaram com uma vingança.

Felizmente, a apresentação de slides terminou e


Wang laoshi começou a chamar os alunos ao palco para receberem seus
certificados de formatura.

— Parabéns. — Wang laoshi apertou a mão de Blake. — Boa


sorte com seus empreendimentos futuros.

— Obrigado. — Ele iria precisar disso.

Entre a escola, o bar e a preparação para a vida como pai, Blake


mal dormia esses dias. Ele correu com pura adrenalina e medo do que
poderia acontecer se ele diminuísse a velocidade.

Então ele não fez.

Blake olhou para a multidão antes de sair do palco. As luzes


dificultavam ver os detalhes, mas ele só conseguia distinguir Farrah no
meio da multidão. Ela ficou com o rosto impassível, como se estivesse
assistindo a uma comédia que não era particularmente engraçada.

Eles não se falavam desde a separação. Eles mal se viam,


embora vivessem no mesmo dormitório. Isso provavelmente foi uma coisa
boa, porque toda vez que Blake pensava tanto em Farrah, a dor cortava
suas entranhas e retalhou seu coração novamente.
Ele ouviu de Luke - o único de seus amigos que ainda falava com
ele - que Farrah venceu o concurso de design. Blake desejou poder dizer
algo. Ele sabia o que a competição significava para ela. Ele se lembrou das
noites que passaram juntos na biblioteca - ele trabalhando em seu plano
de negócios, ela trabalhando em seus projetos - fazendo intervalos para rir
e se beijar.

O maxilar de Blake contraiu com as memórias.

Controle-se, cara.

Ele voltou ao seu lugar e examinou o certificado em suas


mãos. Não era seu diploma oficial da faculdade, mas pode muito bem
ser. Isso sinalizou o fim do capítulo de estudante despreocupado de sua
vida. O capítulo seguinte, como um adulto e pai de verdade, assomava à
sua frente como uma nuvem de tempestade. Linda, inevitável, um tanto
excitante, mas principalmente aterrorizante.

Não importava que ele não estivesse pronto.

O futuro estava chegando, gostasse Blake ou não, e isso


significava que ele tinha que deixar o passado para trás.

No palco, Wang laoshi entregou o último certificado e olhou ao


redor do auditório. — Foi um prazer. Classe, vocês estão dispensados.

A sala explodiu em aplausos, embora Blake tenha visto mais de


uma pessoa enxugar as lágrimas dos olhos.

A conversa se intensificou quando todos se levantaram e saíram


pela porta. Eles tinham uma hora antes do baile oficial de final de
semestre.
Lá fora, o cheiro de uma tempestade iminente pairava quente e
pesado no ar. A umidade aderiu à pele de Blake como um filme
plástico. Ele precisava tomar banho antes do baile.

Uma parte dele queria pular o baile de vez, mas FEA merecia um
adeus adequado.

— Você vai para o inferno mais tarde, — disse Blake quando


Luke acertou o passo com ele. — Courtney já estava lançando punhais
para você por sentar-se comigo.

Luke encolheu os ombros. — Esta noite é nossa última noite. O


que ela fará, me expulsar?

Blake esboçou um sorriso. — Isso é corajoso da sua parte.

— Ei, estou chateado por você não ter me contado sobre sua
garota em casa, mas... — Luke deu um tapinha no ombro dele. — Você é
meu melhor amigo aqui. Estou com você.

Outro nó se formou na garganta de Blake. — Obrigado,


cara. Isso significa muito.

Silêncio constrangedor.

— Então...— Eles falaram ao mesmo tempo.

— Este momento nunca aconteceu, — disse Blake.

— Nunca.

— Legal.

— Sim.
Quando chegaram ao dormitório, encontraram seus amigos -
ou, no caso de Blake, ex-amigos - amontoados no pátio. Farrah ficou no
meio do grupo, a mão apoiada na base da garganta. Seu colar, o de seu
pai, estava faltando.

— Tem certeza de que não o deixou no seu quarto? —


Perguntou Olivia.

— Estava com ele no auditório, mas deve ter caído. Eu não sei
onde. — A voz de Farrah ficou tensa com o estresse.

Um flash de relâmpago iluminou o céu, seguido por um estalo


de trovão que fez todos eles pularem.

— Nós vamos encontrar. Tem que ser por aqui em algum lugar,
e o auditório não fica muito longe do dormitório. — Sammy colocou a
mão no ombro de Farrah. — Por enquanto, vamos entrar. Vai chover
muito.

Courtney percebeu que Blake estava observando. — Posso


ajudar? — ela retrucou.

— Seja legal, Court. — Foi a primeira vez que Blake ouviu Luke
repreender Courtney.

O choque passou por seu rosto.

— Espero que você encontre seu colar, — disse Blake para


Farrah.

O grupo ficou em silêncio. Sete pares de olhos dispararam entre


os ex-amantes.
Os dedos de Farrah se fecharam em punho. Como Courtney, ela
permaneceu em silêncio.

Outro estrondo de trovão abalou o ar.

Gotas enormes de água espirraram no chão e turvaram a visão


de Blake. O que começou como uma garoa se transformou em uma chuva
torrencial.

Gritos de pânico encheram o ar enquanto todos corriam para


dentro para evitar ficar encharcados.

— Meu novo Gucci! — Kris lamentou.

Blake enxugou a água dos olhos e seguiu os outros para o


saguão.

— Ei, você se importa se eu pegar seu secador de cabelo


emprestado? De jeito nenhum chegarei à minha casa e voltar para o baile.
— Luke passou os dedos pelas mechas molhadas.

— Sim. Está na minha última gaveta. — Blake jogou para o


amigo seu cartão-chave.

— Encontro você mais tarde.

— Legal. Até mais.

Ninguém mais falou com Blake no caminho para as escadas,


embora Sammy tenha lhe lançado um olhar estranho. Ele não tinha sido
tão hostil quanto as meninas. Ele até disse oi em algumas ocasiões. Mas
ele claramente escolheu um lado na separação.
Farrah roçou em Blake. O ar entre eles estalou com eletricidade
por um momento, e então ela se foi.

Blake esperou até que o saguão se esvaziasse antes de colocar


seu certificado encharcado em uma mesa próxima e voltar para fora.

***

— Você é um idiota, — Sammy murmurou baixinho. Ele se


esquivou de uma poça apenas para pisar em outra. A água respingou em
seus sapatos e nas pernas das calças. — Droga!

Ele teve que deixar seu telefone no auditório esta noite, de


todas as noites, quando a maior tempestade do ano atingiu a cidade. Ele
não percebeu que não tinha seu fiel companheiro eletrônico até que ele
se trocou para o baile.

Sammy consultou o relógio. Ele tinha meia hora para chegar ao


auditório, encontrar seu telefone, voltar para seu quarto e se trocar antes
que os ônibus partissem para o baile.

A FEA pagou um bom dinheiro para reservar um salão de baile


de hotel para a despedida do semestre, e o fanático
por dinheiro Wang laoshi deixou claro: qualquer pessoa que perdesse o
ônibus teria que encontrar seu próprio caminho para o hotel. Em uma
noite normal, ele poderia pegar um táxi, mas tentar encontrar um táxi
vazio em uma noite como esta? Boa sorte.

Olivia vai me matar.


Sammy estava com o auditório em vista quando percebeu uma
figura à espreita nos arbustos próximos.

Seu ritmo diminuiu; sua frequência cardíaca acelerou. Ninguém


em sã consciência iria ficar do lado de fora com aquele tempo. A figura era
um assassino enlouquecido ou simplesmente enlouquecendo. De
qualquer forma, Sammy não tinha interesse em ser a notícia sobre
homicídios daquela noite.

Um raio atingiu o céu e iluminou a figura, que vestia uma


conhecida camiseta cinza e jeans. Ele vasculhava a folhagem como se
estivessem procurando por algo.

O pulso de Sammy voltou ao normal. — Blake?

A cabeça de Blake se ergueu. Ele não usava guarda-chuva ou


capa de chuva, e sua camisa estava tão encharcada que parecia preta. —
O que você está fazendo aqui?

— Deixei meu telefone no auditório. — Sammy se aproximou e


ergueu o guarda-chuva para cobrir os dois. — O que você está fazendo
aqui?

Esta foi a primeira conversa real desde a separação de Blake e


Farrah. Sammy quase caiu quando soube da separação. Não fazia
sentido. Ele viu a maneira como Blake olhava para Farrah. Não havia como
fingir esse tipo de emoção.

Devia haver mais na história do que Blake estava contando a


eles. Mas não importa. Se Blake quisesse dizer a verdade, ele o faria. Do
contrário, era melhor deixar Farrah sofrer e seguir em frente, em vez de
tentar consertar as coisas e torná-las piores.

— Estou procurando minhas lentes de contato.

— Eu não sabia que você usava óculos. — Sammy tinha certeza


de que Blake não usava óculos. O cara podia ler um cardápio postado do
lado de fora de um restaurante a seis metros de distância.

Blake encolheu os ombros.

Um sorriso triste cruzou o rosto de Sammy. Se Farrah soubesse


o quanto Blake ainda a amava.
Um trovão caiu do lado de fora, seguido pelo alto tamborilar das
gotas de chuva batendo contra as janelas. Flashes de relâmpagos
iluminaram os céus com uma luz misteriosa. Foi a pior tempestade que
eles experimentaram em Xangai, e combinava perfeitamente com o
humor de Farrah.

Ela pegou seu colar antes de lembrar que não o tinha. A


esperança de encontrá-lo antes de seu voo amanhã de manhã diminuía a
cada segundo.

Farrah devia estar ansiosa por este verão. Ela ganhou o concurso
de design - aquele que ela sonhava em ganhar desde que descobriu sobre
isso anos atrás. Ela recebeu o e-mail enquanto esperava para embarcar
em seu voo após a viagem do semestre da primavera da FEA a Chengdu, e
seu grito resultante quase a fez ser presa pela segurança do aeroporto.

Sim, ela estava animada com o potencial de estagiar em Nova


York com Kelly Burke (colocação de estágio final pendente). Mas ela
também lamentou o que tinha que acabar para o próximo capítulo de sua
vida começar.

Farrah fechou a mão em punho e a pousou na base da garganta


enquanto vagava pelo corredor do quarto andar. Fotos de grupo de todas
as aulas desde o início da FEA Shanghai nos anos 80 cobriam as
paredes. Os grupos começaram pequenos - havia apenas uma dúzia de
alunos na primeira classe - antes de se expandir para o tamanho atual
de mais de setenta alunos de graduação.

Era surreal olhar para as fotos e perceber quantas pessoas


haviam caminhado por esses corredores antes delas. Os membros da
primeira classe estariam na casa dos cinquenta agora. No entanto, lá
estavam eles em sua foto, imortalizados atrás de um vidro, para sempre
dezenove e vinte e vinte e um. Farrah detectou uma sombra de seus
amigos em todos eles - uma sugestão do sorriso bem-humorado de
Sammy, um traço da altivez real de Kris, um brilho malicioso nos olhos que
deixaria Courtney orgulhosa.

As semelhanças superficiais estavam lá, mas ela se perguntou se


eles riam tão forte e amavam tão profundamente, se eles tinham seus
corações partidos e se eles encontravam família aqui, ou se eles eram
apenas navios passando na noite. Eles mantiveram contato décadas
depois? Xangai os mudou ou foi uma mera nota de rodapé nas histórias de
suas vidas?

Inexplicavelmente, seu coração doeu por esses estranhos. Ela


nunca saberia suas histórias e segredos, mas ela os conhecia. Afinal, ela
estava seguindo seus passos.

Farrah passou as mãos pelas imagens envoltas em vidro até


chegar ao final da série. A foto da turma deste ano, tirada ontem e já
fixada na parede como as dezenas antes deles. Eles organizaram os alunos
por altura. Farrah ficou na fila do meio com Olivia e Nardo, enquanto Kris
e Courtney se sentaram de pernas cruzadas na frente deles. Luke, Sammy
e Leo se ergueram na parte de trás.

O olhar de Farrah se desviou para o loiro ao lado de Luke. As


covinhas de Blake estavam com força total, mas havia sombras sob seus
olhos e uma ruga em sua testa.

Ela lutou contra o desejo de analisar excessivamente as minúcias


de sua expressão. Em vez disso, Farrah desviou os olhos da foto e se
concentrou no trecho de parede em branco que a seguia. No próximo ano,
haveria outra foto. Depois outra, e outra, até que a turma de Farrah fosse
apenas uma das muitas memórias da FEA.

O som de saltos batendo contra o linóleo ecoou na


escada. Apenas uma pessoa na FEA que usava salto que fazia tanto
barulho.

— Ei. — Kris parou ao lado de Farrah.

— Ei.

As duas amigas examinaram a parede em silêncio. Kris cheirava


a sua mistura usual de perfume Chanel e shampoo caro. Farrah respirou,
deixando o cheiro familiar confortá-la.

— É uma loucura, não é? — Kris tocou a foto da classe antes de


se afastar como se isso a queimasse. — Este ano voou.

— Sim. Eu não posso acreditar.

— Não será o mesmo. — Kris olhou para Farrah. Não houve


lágrimas, nenhuma emoção evidente, exceto pela melancolia em sua
voz. — Mesmo se todos nós voltarmos para Xangai, não será a mesma
coisa.

Farrah tirou a mão da garganta e envolveu a cintura de Kris com


um braço. — Eu sei.

Kris apoiou a cabeça no ombro de Farrah em um gesto


estranhamente vulnerável, mas nenhuma das garotas reconheceu sua
estranheza.

Em vez disso, elas ficaram lá, absorvendo seus últimos


momentos juntas neste lugar, enquanto a tempestade rugia lá fora.
As luzes diminuíram. A música aumentou. O ar se encheu de
vertigem e nostalgia.

Em uma hora, os FEAers transformaram a dança séria do


programa em uma rave que lembra seus primeiros dias inebriantes em
Xangai, só que desta vez foi um último grito em vez de um pontapé inicial.

Blake se encostou na parede e deu um gole em sua


bebida. Alguns meses atrás, ele estaria ali com eles na pista de
dança. Agora parecia errado. Os futuros pais têm permissão para dançar
daquele jeito? Os e-books parentais que ele baixou não cobriam a
etiqueta de festa dos pais.

— Você fez isso? — Ele sentiu a nova presença ao lado dele sem
ter que virar a cabeça.

— Sim. — A desaprovação veio alta e clara. — Você deveria ter


feito isso sozinho.

— Eu não poderia.

— Você tem braços e pernas. Você poderia ter pegado aquele


medalhão, entrado no dormitório e subido as escadas para o quarto de
Farrah e entregado a ela.
— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. — Blake engoliu
o resto de sua bebida e bateu em uma mesa próxima. Sua cabeça latejava
de tensão.

— Eu não sei nada porque você não me dirá nada. — Sammy


cutucou o peito de Blake com um dedo. — É melhor você me avisar
rápido, a menos que queira outro soco no rosto. Obviamente, você ainda
sente algo por Farrah, então por que a grande separação?

— É complicado.

— Descomplique.

Blake exalou bruscamente. Ele olhou ao redor. Todo mundo


estava muito perdido em seus próprios mundos para prestar atenção nele
e em Sammy. Luke, Leo e Nardo se reuniram no bar com alguns outros
caras. Courtney e Kris dançaram como maníacas ao mais recente Top 40
das paradas. Farrah e Olivia não estavam à vista.

— Aqui não.

Blake os conduziu ao terraço e fechou a porta corrediça atrás


deles, abafando a música e risos estridentes. A chuva havia diminuído e a
lua brilhava forte no céu.

Sammy encostou-se na grade e cruzou os braços sobre o


peito. — Vamos ouvir, Ryan.

— Quem é você e o que fez com Sammy Yu? — Blake tentou


aliviar o clima. Ele conhecia Sammy há meses. Ele nunca o tinha visto
assim.
Sammy não sorriu com o jogo não intencional de palavras. —
Me irrita quando as pessoas machucam meus amigos, e você machucou
uma das minhas melhores amigas. Eu quero saber por quê.

Sammy pode contar a Farrah. Ela era, como ele disse, uma de
suas melhores amigas.

Mas este era Sammy. Por mais estranho que tivesse sido no mês
passado, ele nunca voltaria atrás em sua palavra.

O maxilar de Blake contraiu enquanto ele vasculhava suas


opções. — Prometa que não vai contar a ninguém. Nem mesmo
Olivia. Principalmente Olivia.

— Eu prometo.

Blake hesitou mais um segundo antes de derramar o feijão. Ano-


novo, Cleo, sua gravidez, porque ele terminou com
Farrah. Tudo. Enquanto ele falava, a expressão de Sammy mudou de raiva
para choque e depois para simpatia antes de se decidir por uma mistura
dos três.

— Puta merda.

— Sim.

— Você será pai.

— Sim.

— Você está apaixonado por Farrah e vai ter um filho com outra
pessoa.
Blake se encolheu. O resumo realista de Sammy de sua bagunça
bateu mais forte do que deveria. Blake teve meses para se reconciliar com
sua situação; claramente, ele ainda tinha trabalho a fazer.

— Você precisa dizer a Farrah.

— Não!

As sobrancelhas de Sammy se ergueram com a resposta


veemente de Blake.

Blake respirou fundo. O mero pensamento de Farrah descobrir a


verdade fez seu coração disparar como um coelho em pânico. — Ela
merece um término limpo.

— Ela acha que você jogou com ela.

— E é assim que ficará, — disse Blake severamente. — Você


prometeu. — Seria melhor que Farrah pensasse que ele jogou em vez de
ter traído ela? Provavelmente não. Dadas suas palavras duras na noite em
que se separaram, trair era mais redimível - mesmo que ela odiasse
traidores. Afinal, Blake nem se lembrava de sua noite com Cleo.

Mas esse era o ponto. Blake não queria ser resgatado. Farrah
merecia um término limpo, e ela não poderia ter um se pensasse que ele
ainda a amava e apenas cometeu um erro no Ano-Novo. Ela tinha que
pensar que ele nunca a amou. Era a única maneira de ela seguir em frente.

Um pico martelou no coração de Blake ao pensar em Farrah


seguindo em frente com outra pessoa.

— Jesus. — Sammy esfregou a mão no rosto. — O que você vai


fazer?
— A única coisa que posso fazer. Ir para casa e ser um pai.

O olhar de Sammy desviou-se para a porta da varanda. Ele se


empurrou para fora da grade e colocou a mão no ombro de Blake. — Boa
sorte.

Algo em seu tom obrigou Blake a se virar. Seu sangue gelou.

Farrah estava no canto, meio escondida nas sombras. Ele não


podia ver seu rosto, mas conhecia cada curva de seu corpo. O cheiro dela,
a maneira como ela se movia, estava tudo impresso em sua memória.

— Há quanto tempo você está parada aí? — Seu pulso bateu


forte de medo. Se ela ouviu o que ele disse...

— Logo depois que Sammy saiu. — Farrah saiu das sombras, e


seu coração tropeçou tentando chegar até ela. Parada ali banhada ao luar,
ela o lembrava da primeira vez que se beijaram. A Grande Muralha, as
estrelas, seu beijo... podem muito bem ser um sonho de uma vida
anterior.

Blake enfiou as mãos nos bolsos e os cerrou em punhos,


parando suas emoções descontroladas. — Você encontrou o seu colar.

Seu pingente descansou contra sua garganta, onde


pertencia. Pelo menos uma coisa deu certo hoje.

— Sammy encontrou. — Farrah brincou com seu colar. — Vocês


pareciam estar tendo uma conversa intensa.

— Estávamos relembrando, — mentiu Blake.


Esta foi a primeira conversa desde a viagem de avião. Farrah não
estava ignorando ou gritando com ele, mas ele quase teria preferido isso
ao seu desprezo óbvio, mas civilizado.

— A que horas é o seu voo amanhã? — Uma conversa fiada não


tiraria aquele olhar de seu rosto, aquele que dizia que ela o achava mais
baixo do que uma escória na sola de seu sapato, mas ele estava
desesperado para ouvir sua voz.

— Dez da manhã. — Farrah olhou por cima do ombro em


direção ao salão de baile. — Você?

— Oito. À noite. Eu sou um dos últimos a sair.

Houve uma pausa de silêncio. — Bem. — Farrah deu um passo


em direção à porta. — Tenha um voo seguro.

— Espere. — Blake não sabia o que o levou a fazer isso. Talvez


fosse o ar fresco ou o fato de ser a última noite deles juntos. Talvez tenha
sido uma última tentativa de recuperar a magia de um amor perdido,
mesmo que apenas por um momento. Fosse o que fosse, o fez fechar a
lacuna entre eles até que estivessem a apenas alguns centímetros de
distância. — Eu preciso te contar uma coisa.

Farrah olhou para ele, seus olhos líquidos ao luar, seu rosto
inescrutável.

— Eu... — Blake estendeu a mão para ela antes de pensar duas


vezes e soltar o braço. — Eu sinto muito.

— Pelo quê?
— Por tudo. — Por mais do que você possa saber. — Eu nunca
quis te machucar. Eu fui um idiota quando terminei com você, me
desculpe.

Ele estava se repetindo do avião, mas caramba, ele precisava


que ela soubesse.

— Você foi mais idiota quando traiu sua namorada. — Blake se


encolheu. Ele mereceu isso. Não quer dizer que não doeu como uma
cadela.

— Eu também tenho uma coisa para te contar. — A voz de


Farrah era suave e fria como vidro. — Obrigada.

Ele deve ter ouvido errado. — Como é?

— Você tem razão. Você é um idiota.

— Er, eu não disse que sou um idiota -

— Mas você me ensinou algumas lições importantes. Um dia,


encontrarei a pessoa em quem posso confiar mais do que qualquer outra,
porque você me mostrou tudo que eu não deveria procurar.

O coração de Blake se contraiu. Seria tão fácil. Bem ali, quando


ele e Farrah eram as únicas pessoas no mundo, seria tão fácil contar a
verdade a ela. Não iria consertar as coisas - ele a traiu, mesmo que não se
lembrasse de ter feito isso - mas pelo menos ela saberia. Tudo o que ele
fez, tudo o que disse a ela era verdade. Ela era o amor de sua vida.

Então ele se lembrou da expressão no rosto de Cleo quando ela


disse que estava grávida. A reação de sua família. A pasta de e-books dos
pais em seu computador. Como sua mãe já estava escolhendo amostras
de cores para o berçário.

Ele se lembrou de todas as razões pelas quais Farrah não podia


saber a verdade, então ele disse as palavras que arranharam sua garganta
quando ele as forçou a sair.

— Espero que você o encontre.

As narinas de Farrah dilataram-se. Por uma fração de segundo,


sua máscara de pedra rachou e ele viu a dor em seus olhos.

Seu coração se apertou novamente.

Farrah se virou e entrou no salão sem dizer uma palavra. Tudo o


que Blake pôde fazer foi vê-la partir. Não sobrou nada para dizer, exceto
as três palavras que ele nunca poderia dizer a ela novamente.

Eu amo você.
Os FEAers terminaram sua noite no único lugar que fazia
sentido: o Gino's. Sua casa longe de casa. No ano passado, eles gastaram
dinheiro suficiente aqui para manter o bar no verde por pelo menos mais
doze meses, o que pode ter sido o motivo pelo qual o proprietário os
ofereceu uma rodada de cervejas grátis na última noite.

Courtney levantou sua bebida e olhou para as dezenas de rostos


que a encaravam. — Gente, nós chegamos até aqui. Esta é a nossa última
noite. Nossa última chance de garantir que não deixemos Xangai com
nenhum arrependimento. Diga o que quiser, faça o que quiser ou fique
quieto para sempre.

Farrah desviou os olhos para a parte de trás do grupo, onde


Blake estava parado como uma estátua.

Espero que você o encontre. Suas palavras ecoaram em sua


mente, provocando-a. — Nós voltamos para nossas próprias cidades e
vivemos amanhã, mas não importa o que aconteça, acho que é seguro
dizer que este é um ano que guardaremos para sempre. Então, saúde! —
Courtney aumentou mais sua bebida. — Para a FEA, Xangai e uma noite
que não lembraremos com amigos que nunca esqueceremos!

— Saúde!
Farrah ergueu seu copo quando FEA irrompeu em uma
cacofonia de tagarelice e tilintar de copos.

Em sua visão periférica, Farrah viu uma lágrima escorrer pela


bochecha de Janice. O final do semestre atingiu a todos com mais força do
que o esperado.

Janice chamou a atenção de Farrah, e as duas meninas trocaram


sorrisos lacrimejantes. Elas eram companheiras de quarto, não amigas,
mas Farrah não esqueceria a maneira como Janice a confortou na noite
em que terminou com Blake. Parte dela gostaria de ter conhecido Janice
melhor este ano, mas era tarde demais para isso.

— Eu não suporto essa merda sentimental, — Kris disse.

— Não minta. Você adora. — Olivia colocou um braço sobre os


ombros de Kris. — Vou ter saudades suas.

Kris suspirou e terminou sua vodca de cranberry. — Eu sentirei


sua falta também. — Ela chamou a atenção de Farrah e revirou os olhos
brincando. Farrah sorriu. Kris pode ser espinhosa, mas ela mataria por
seus amigos. Esse tipo de lealdade era difícil de conseguir.

A música mudou para — Glad You Came— do The Wanted, uma


das canções de retrocesso favoritas de Farrah. Seu coração doeu com a
letra. De todas as cidades do mundo, eles acabaram aqui. Mas e se eles
não tivessem? Mesmo que uma pessoa escolhesse outra cidade, todo o
ano teria sido diferente.

Dessa forma, a letra não poderia ter sido mais adequada,


embora ela soubesse que a música era sobre orgasmos.
Isso também era adequado.

A boca de Farrah se curvou para sua própria piada interna.

Ela pode ter pontas soltas para amarrar. Ela pode nunca
esquecer Blake, e ela pode não ver metade das pessoas aqui novamente,
mas ela era grata por tudo que aconteceu nos últimos oito meses. Quanta
sorte ela teve por ter passado um ano em Xangai, por ter estranhos se
transformando em família e por ter amado tão profundamente que deixou
cicatrizes em seu coração?

A história dela e de Blake não terminou em um feliz para


sempre, mas ele mostrou a ela que o amor - aquele amor profundo e
consumidor sobre o qual as pessoas escreviam músicas, filmes e livros -
era real. Farrah experimentou isso, mesmo que ele não tivesse. Embora
esta história não tenha saído do jeito que ela esperava, talvez a próxima
acabe.

Farrah respirou fundo e empurrou sua tristeza de lado. Foi ela


ontem à noite. É hora de aproveitar.

Ela se juntou a seus amigos na pista de dança. A camisa


desabotoada de Sammy mostrava seu peito musculoso, um sinal claro de
que ele estava bêbado. Courtney pulou nas costas de Luke e deu
um soco no ar, embora eles não estivessem tocando uma música
de soco. Olivia e Kris se revezaram girando até que Kris colidiu com Nardo,
que tentou para iniciar uma linha de conga. Ninguém, exceto Flo se juntou
a ele, mas foi bom vê-lo se soltar para uma mudança.

— Farrah, traga sua bunda sexy aqui! — Courtney desceu das


costas de Luke e envolveu Farrah, Kris e Olivia em um abraço coletivo.
— Eu amo vocês, meninas, — disse ela, seus olhos azuis
brilhando de emoção.

— Sem choro, — Kris avisou. — Isso me dá gastura. —

O queixo de Olivia caiu. — Kris Carrera acabou de usar o termo


‘gastura’?

— Não, eu não fiz. Você não pode provar isso. Se você contar a
alguém, eu mato você. — Elas riram ao mesmo tempo. Farrah teve um
ataque mental instantâneo e o guardou em sua caixa de memórias
queridas. Ela esperava nunca ter esquecido o amor que sentiu naquele
momento.

— É isso, pessoal. — Ela apertou suas amigas com mais força. —


Vamos fazer valer a pena.

E pelo resto da noite, elas fizeram. Farrah e suas amigas


absorveram a magia de suas últimas horas juntas, rendendo-se à música,
às luzes e à pulsante energia de neon que percorria Xangai.

Amanhã parecia estar muito longe.


A meia-noite veio e se foi. Blake não se juntou à folia da FEA,
com medo dos segredos que poderiam vazar caso ele bebesse demais. No
entanto, ele não teve coragem de voltar para o dormitório.

Depois do brinde de Courtney, Blake saiu para tomar um pouco


de ar fresco. Ele acabou ficando no banco perto da entrada de Gino,
observando as idas e vindas da madrugada de Xangai: os vendedores
ambulantes vendendo espetos de carne para os foliões bêbados. O
motorista do táxi fumando pela janela aberta. O grupo de adolescentes
descolados bebendo na calçada, embora fosse noite de escola e eles não
pudessem ter mais de dezesseis anos.

Blake tentou enquadrar a cena à sua frente com sua vida em


casa: churrascos de bairro, cercas de piquete brancas e minivans nos
subúrbios do Texas. Ele não conseguiu.

Ele se lembrou de chegar a Xangai e de ficar impressionado com


o barulho, as pessoas, as comidas estranhas, os sons e as imagens. Ele
nunca tinha visitado a Ásia antes. Nem tinha pensado nisso até que ele
saiu do time e o caos que se seguiu o forçou a correr o mais longe
possível.
Blake não esperava amar tanto esta cidade. Ela tinha suas
falhas, mas este ano se tornou sua casa longe de casa. Aqui, ele era livre
para ser quem queria ser - e gostava de quem ele era em Xangai.

Isso abriu seus olhos para um mundo além do Texas, e agora


que ele tinha visto, ele não queria voltar.

Seu filho ou filha cresceria e, se o bar fosse bem-sucedido, ele se


expandiria. Caso contrário, ele tentaria um mercado diferente. De
qualquer forma, Blake não deveria ficar em sua cidade natal pelo resto de
sua vida. Isso, ele sabia com certeza.

À medida que as primeiras horas da manhã avançavam, os


FEAers gotejavam para fora do Gino's em ondas. Alguns voaram
cedo; alguns tinham outras atividades em mente.

Luke e Janice foram os primeiros a sair. Ele piscou para Blake no


caminho enquanto Janice acariciava seu pescoço. Pelo que Blake sabia,
eles falaram menos de dez palavras um com o outro antes desta noite.

Terminando o semestre com um estrondo - literalmente. Bom


para eles. Courtney, Kris, Leo e Olivia partiram em seguida. Todos eles
ignoraram Blake exceto Leo, que o reconheceu com uma leve inclinação
do queixo. Quando o relógio bateu duas horas, a maior parte da FEA já
havia partido. Exceto Farrah.

A preocupação incomodava Blake. Ele estava prestes a dar uma


olhada nela quando a porta se abriu e um Sammy sóbrio saiu tropeçando
segurando Farrah. Seus olhos estavam semicerrados; sua cabeça tombou
para a frente no peito.
— Ela está bem? — Sem saber o que fazer, Blake se levantou,
sentou e se levantou novamente.

— Sim. Ela deve ficar bem depois de um pouco de descanso e


água. Ela adormeceu lá e o Gino's está prestes a fechar. — Sammy apoiou
Farrah contra a grade. — Você pode levá-la de volta para o dormitório? Eu
tenho que pegar o Nardo. A última vez que o vi, ele estava vomitando suas
tripas no banheiro.

Blake hesitou. — Claro. — Ele colocou o braço de Farrah sobre o


ombro e colocou o braço livre em volta da cintura dela. — Vá cuidar de
Nardo.

— Você não vai embora até amanhã à noite, certo?

— Sim.

— Legal. Até logo.

Sammy desapareceu dentro enquanto Blake lutava para guiar


Farrah até um táxi. Ela não pesava muito, mas não foi fácil arrastar 52
quilos de peso morto escada abaixo e atravessar a rua sem matar nenhum
dos dois.

Blake finalmente os encurralou em um táxi. No minuto em que


se sentaram, Farrah baixou a cabeça em seu ombro. Seus roncos suaves
encheram o banco de trás, abafando a balada piegas dos anos 80 no rádio.

A boca de Blake se curvou em um sorriso quando ele se lembrou


de como Farrah costumava negar que ela roncava.

Lá fora, as ruas de Xangai passaram zunindo em um borrão de


luzes. Blake tentou se concentrar na paisagem urbana que passava, em
vez da garota ao lado dele. Quantas vezes Farrah descansou a cabeça em
seu ombro enquanto ele a segurava? Era uma sensação tão familiar que
quase o enganou fazendo-o acreditar que ainda eram um casal.

Ele não a tocou. Ele estava com muito medo até mesmo de
olhar para ela, para que seu coração não se partisse novamente. Ainda
assim, ele sentia que estava aproveitando para roubar esses momentos
privados quando ela não queria nada com ele quando estava acordada.

O táxi parou em frente ao dormitório. Blake pagou o motorista e


pegou Farrah no estilo nupcial. Ele aprendeu sua lição; arrastar não era o
caminho a percorrer.

Assim que chegaram ao quarto dela, Blake colocou Farrah no


chão e a segurou com um braço enquanto procurava sua chave com o
outro. Felizmente, ela carregava uma pequena bolsa em vez de uma
daquelas bolsas cavernosas que as meninas amam. Blake encontrou a
chave em um momento.

A porta se abriu com um clique. Janice deve ter ido para a casa
de Luke porque sua cama estava vazia.

Blake colocou Farrah em sua cama e começou a trabalhar


tirando seus sapatos, colocando a lata de lixo ao lado de sua cama e
movendo uma garrafa de água pela metade de sua mesa para a mesinha
de cabeceira.

Tudo pronto.

Ele se permitiu o luxo de demorar mais um minuto. Seu peito


apertou quando ele olhou para a forma adormecida de Farrah. No
passado, Farrah sempre tinha um pequeno sorriso enquanto dormia,
como se ela estivesse tão feliz que a alegria a seguia em seus
sonhos. Agora, sua testa franzida e sua boca virada para baixo nos cantos.

Antes que ele pudesse se conter, Blake passou os dedos pela


têmpora dela, como se isso fosse de alguma forma limpar sua tristeza.

O rosto de Farrah relaxou. Ela suspirou e mudou de posição.

Blake congelou. Ele precisava sair antes que ela acordasse e o


visse ali.

Ele apagou a luz e...

— Blake — murmurou ela.

Merda.

— Você prometeu que não iria embora. — Ela mudou


novamente. Os olhos de Blake se ajustaram à escuridão o suficiente para
ver que os dela ainda estavam fechados, e ele percebeu que ela estava
falando enquanto dormia.

O fato de Farrah estar chamando por ele enquanto dormia


provava que ela não o superou tanto quanto fingia ter. Isso deveria ter
feito Blake se sentir melhor; isso não aconteceu. Isso o fez querer chorar
porque ele entendeu em primeira mão o quanto ela deve estar sofrendo.

— Eu sei, baby, — ele sussurrou. Ele colocou uma mecha de


cabelo atrás das orelhas. — Eu não vou. Você sempre terá um pedaço de
mim com você.

Farrah suspirou.
O aperto em seu peito se intensificou. Blake puxou sua mão,
mas Farrah choramingou e agarrou sua manga. — Não. Fique comigo... —
Sua voz sumiu sonolenta.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha, e Blake teve que


prender a respiração para que seu soluço não perturbasse o silêncio.

Ele se acomodou na cama ao lado de Farrah e a segurou em


seus braços. Ele manteve seu toque leve, para não a acordar. — OK. Eu
ficarei com você. — Outra lágrima escapou e caiu em sua testa. Blake
beijou-a. — Eu te amo, Farrah, — ele sussurrou.

Farrah deu outro suspiro mais satisfeito. — Obrigada por ficar.


— Ela enterrou o rosto em seu peito, abafando suas palavras. — Eu te
amo, Blake.

Agora, as lágrimas estavam caindo rápido demais para ele


enxugar, então ele ficou lá e as deixou cair. Blake não pôde ficar com
Farrah a noite inteira. Era muito arriscado. Mas ele ficou até o peito dela
subir e descer em um ritmo constante, e ela cochilar com um pequeno
sorriso no rosto, como sempre fazia quando estavam juntos.
— É isso.

Farrah e Olivia olharam para o dormitório, o lugar onde viveram,


riram e amaram por um ano, e onde Farrah teve alguns dos melhores -
e mais comoventes - momentos de sua vida.

Ela foi a primeira de suas amigas a partir. Ela passou a manhã


inteira se despedindo – de seus amigos, para a FEA, de tudo e todos que
ela amou no ano passado.

Todos, exceto um.

O peito de Farrah se apertou.

— Nos veremos em breve, — disse Olivia. — Estaremos juntos


em Nova York neste verão.

— Esperançosamente. — Farrah não tinha recebido sua missão


de verão ainda, mas o pensamento de Nova York era a única coisa que a
fazia continuar hoje.

Farrah, Olivia e Sammy juntos em Nova York. Seria um


sonho. Ela nem se importava de jogar na terceira roda para
o relacionamento nauseantemente doce de seus amigos - o único em seu
grupo que durou o ano inteiro.
Mas por mais que Farrah amasse Olivia e Sammy, não era sobre
os três. Era sobre o coletivo, e ela não teve coragem de dizer à amiga que
mesmo se todos eles se encontrassem novamente, não seria a mesma
coisa. Eles nunca seriam tão jovens e despreocupados como agora. Eles
nunca viveriam no mesmo dormitório, sabendo que os outros eram
apenas alguns quartos ou um andar abaixo. Eles não podiam entrar em
um táxi e jantar na Concessão Francesa, ou dançar noite a fora no 808, ou
fazer viagens espontâneas de um dia para uma cidade aquática vizinha. A
magia do grupo só existia neste lugar e momento.

O que mais assustou Farrah foi não sair de Xangai; era a


possibilidade de esquecerem o que a FEA significava para eles. Por um
ano, talvez dois ou três, eles relembrariam e permaneceriam em contato,
mas o que acontece depois de cinco anos, dez anos? Xangai será apenas
mais uma memória, relegada para a caixa de areia do tempo.

Seu motorista de táxi, que estava ocupado xingando seu


futuro genro ao telefone, desligou. Ele se sentou no banco do motorista e
ligou o motor, um sinal claro de que era hora de partir.

Pânico e arrependimento tomaram conta de Farrah. Ela resistiu


em ir ao quarto de Blake para se despedir. Ela não tinha razão para
isso. Eles não permaneceram amigos após a separação, mas parecia
errado partir sem vê-lo uma última vez. Ela não precisava falar com
ele; ela só queria vê-lo. Para se lembrar de que, apesar de como acabou, o
que eles tinham era real.

Lágrimas pinicaram os olhos de Farrah. Ela fungou e os enxugou


com as costas da mão. — Desculpa. Eu sou uma bagunça.
Olivia não estava prestando atenção. Ela olhou por cima do
ombro de Farrah com uma expressão estranha no rosto.

Farrah se virou. Seu coração explodiu em seu peito quando viu


Blake parado ali. Ela pode muito bem tê-lo conjurado com seus
pensamentos. Vestido com um agasalho de aquecimento com fones de
ouvido embutidos nas orelhas, ele estava claramente a caminho da
academia.

Eles se encararam, ambos sem palavras.

Farrah não conseguia respirar. Ela sonhou com ele na noite


passada, um sonho tão vívido que ela poderia jurar que era real. Ela até
acordou com o que ela pensava ser o seu aroma cítrico e fresco
característico persistente em seus lençóis. Às vezes, sua imaginação
selvagem a sugava.

Olivia pigarreou. — Estou dizendo 'vejo você mais tarde', já que


isso não é um adeus. — Ela apertou Farrah com força e sussurrou: — Faça
o que você precisa fazer.

— Eu te amo muito. — Olivia tinha sido sua confidente, parceira


no crime e a melhor amiga que ela poderia ter pedido em Xangai. Farrah
nunca se esqueceria disso.

Olivia parecia mais triste do que Farrah jamais a virá. — Eu


também te amo.

O abraço durou mais alguns instantes até que Olivia a soltou. Ela
desviou o olhar para Blake antes de desaparecer no saguão.
Farrah respirou fundo e se virou novamente. Blake ainda estava
parado lá, mas ele havia tirado seus fones de ouvido. Seu queixo ficou
tenso. Ele fechou a distância entre eles e abriu os braços sem dizer uma
palavra.

Esse simples gesto fez Farrah esquecer tudo, desde o impaciente


motorista de táxi até à maneira como Blake partiu seu coração e todas as
noites que ela passou chorando por ele. Em vez disso, ela agiu por instinto
e foi para os braços dele, pressionando a bochecha com tanta força contra
seu peito que ela ouviu seu coração bater.

Seus braços fortes a envolveram em um abraço familiar. Farrah


fechou os olhos com força e tentou saborear cada milissegundo, sabendo
que cada um poderia ser o último.

Eles não eram amigos. Eles também não eram inimigos. O que
quer que fossem, parecia um adeus adequado. Para o bem ou para o mal,
Xangai não teria sido o mesmo sem ele.

— Tenha um voo seguro. — O estrondo profundo da voz de


Blake a tirou de seu transe.

Farrah se permitiu mais um segundo antes de se livrar das


garras de Blake. Suas mãos caíram para os lados.

— Obrigada. — Farrah conteve uma nova onda de


lágrimas. Agora não. Ainda não.

— Eu acho que isso é um adeus.

— Sim. — Sua voz saiu mais rouca do que ela gostaria. Ela
pigarreou. — Eu acho que é.
Blake baixou os olhos. Seu pomo de Adão balançou. —
Farrah, eu...

Essa ligeira hesitação fez seu coração galopar como um cavalo


de corrida ao ouvir a partida da pistola.

— Eu… — O maxilar de Blake tensionou. — Adeus.

Farrah desinflou. O que ela esperava? Que ele estava fazendo


para cair de joelhos e dizer o quanto a amava e que grande erro ele
cometeu? A vida não era um livro ou um filme. Era bobagem pensar de
outra forma.

Ela subiu no táxi, incapaz de olhar para Blake por mais


tempo. Ela estava prestes a fechar a porta quando ele falou novamente.

— Você me odeia?

Sua cabeça se ergueu de surpresa. O maxilar de Blake


permaneceu tenso enquanto esperava pela resposta dela.

Ela o odiava? Ela tinha motivos para isso. Ele partiu seu coração,
a fez acreditar que eles ficariam juntos para sempre quando ela era
apenas mais um entalhe em seu cinto, e arruinou seus últimos meses em
Xangai. Ao mesmo tempo…

— Não.

Seus olhos brilharam de surpresa. — Não?

— Não.

Blake lhe causou mais dor do que ela poderia ter imaginado,
mas também a fez mais feliz do que ela pensava ser possível. Ele
confirmou que o Amor Verdadeiro existia, mesmo que não fosse
correspondido, e isso fez com que toda a mágoa valesse a pena.

Um dia Farrah encontraria alguém que faria o que ela tinha com
Blake empalidecer em comparação, e talvez então ela se esquecesse
do menino de olhos azuis na frente dela. Mas Blake sempre seria seu
primeiro amor e, por isso, ela nunca poderia odiá-lo, não importa o
quanto quisesse.

— Eu sinto muito. — A expressão de pedra de Blake


rachou. Seus olhos brilharam com pesar, tristeza e algo que Farrah não
conseguiu identificar. — Por tudo.

— Eu sei.

Eles se encararam pela última vez. O ar entre eles estava pesado


com promessas quebradas e palavras não ditas, mas seu tempo havia se
esgotado. Nem todo mundo tem um final feliz e nem todas as pontas
soltas ficam amarradas na vida real. As únicas coisas que eles podiam levar
com eles eram as memórias.

— Elas realmente funcionam para você?

— Como é?

— Suas falas cafonas. Elas realmente funcionam para você?

— Obrigada por confiar em mim o suficiente para me contar


sobre o seu pai.

— Eu acho que você me deixa mais louco do que qualquer


pessoa deveria. E acho que posso morrer se não puder ficar com você.
— Você nunca vai me perder. Eu sempre te amarei. Sempre.

Farrah deu um sorriso triste. Foi bom enquanto durou. — Adeus.

Ela fechou a porta do táxi e se acomodou em seu assento. Ela


manteve os olhos à frente enquanto o motorista saía do pátio.

Eles não chegaram à rua principal antes que o céu se abrisse e


gotas de água espirraram contra as janelas como lágrimas de cristal.

Farrah encostou a cabeça no vidro. Ela podia apenas distinguir


os prédios que definiam o horizonte de Xangai através da chuva: a Pearl
Tower, a Jinmao Tower, a World Financial Tower.

Tinha sido uma manhã de despedidas de partir o coração, mas


agora ela tinha que dizer o adeus mais difícil de todas: para Xangai e para
a pessoa que ela foi aqui, neste lugar e neste tempo, sabendo que nunca
mais seria assim.

Adeus, Xangai. Até nos encontrarmos novamente.


O táxi saiu do pátio, levando consigo os destroços do coração de
Blake.

Seu maxilar cerrou-se com tanta força que ele pensou que seus
dentes fossem quebrar. Levou toda a sua força de vontade para não cair
de joelhos na frente de Farrah e implorar seu perdão. O abraço foi ruim
o suficiente - ele não deveria ter feito isso, mas que escolha ele tinha? Ele
não podia deixá-la sair de Xangai sem... alguma coisa.

Blake gostaria de poder retomar tudo o que aconteceu desde as


férias de inverno. Ele gostaria de poder fazer a Farrah promessas de
futuras visitas, e-mails e telefonemas, de maneiras mais tangíveis de se
manter conectado, além de lembranças e arrependimentos
compartilhados. Ele não podia, então deu a ela a única coisa em seu
poder: desculpas e um último abraço.

Blake abaixou a cabeça, conectou os fones de ouvido e retomou


sua caminhada até à academia. Quanto mais ele se afastava do
dormitório, mais fácil era guardar as memórias do ano passado em uma
gaveta segura perto de seu coração. Ele não tinha o luxo de viver no
passado. Ele tinha uma família e uma ex (?) namorada que precisava
enfrentar em menos de 48 horas. Ele tinha um bebê a caminho e um
monte de merda que precisava descobrir. Mas as memórias sempre
estariam lá para ele usar quando precisasse.

A última imagem - a do rosto de Farrah antes de ela sair -


deslizou para dentro e Blake fechou a gaveta com um empurrão firme.

Isso partiu seu coração, mas ele não podia mais negar. Este
capítulo de suas vidas acabou.

[CONTINUA]
A história de Blake e Farrah continua em quando o destino os reúne cinco anos
depois.

Cinco anos atrás, ele partiu o coração dela. Agora, ele fará qualquer coisa para
reconquistá-la.

FARRAH
Quando Farrah entrou em sua reunião de almoço, ela não esperava vê-lo.
Blake Ryan.
Seu primeiro amor.
Seu primeiro desgosto.
E agora, seu primeiro cliente como designer de interiores freelancer.
Já se passaram cinco anos, mas ela nunca esquecerá a maneira como ele a
despedaçou.
Ele sussurrará palavras bonitas, mas ela jamais voltará a acreditar nele.
Seu corpo anseia por ele, mas ela nunca lhe dará seu coração.
De novo não.
Jamais.
BLAKE
Dinheiro. Aparência. Um império de bares esportivos em expansão.
Na superfície, Blake tem tudo.
Mas por dentro, ele é assombrado — tanto por pesadelos de uma perda trágica quanto
por sonhos com a garota que um dia traiu.
Quando o destino os reúne, ele vê isso como um sinal: é hora de recuperar o amor de
sua vida.
Custe o que custar.

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