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Não deixe de ler a Série que antecede esta:

The Boundarylands Omegaverse

Onde conhecerá os primeiros Alfas e como se chega a esta série


BRONN

Livro 7

The Unchained Omegaverse


Jesse
Amy Lynn
Celaena

Sabrina

Março 2023
SINOPSE

Eles o transformaram em um monstro.

Por anos, ele foi mantido no subsolo, seu corpo e mente distorcidos pelos
cientistas mais cruéis do mundo Beta. Testado, torturado e aperfeiçoado na
máquina de matar perfeita, Bronn aprendeu que sua sobrevivência dependia da
morte de outras pessoas.

Agora ele está fora dessa prisão, mas isso não significa que ele está livre. Como
ele pode estar quando a redenção é impossível para alguém com tanto sangue
nas mãos?

Só ela pode transformá-lo de volta em um homem.

Gabriella aprendeu que a segurança é o caminho para a felicidade. Mas agora, seu
mundo virou de cabeça para baixo, e aqueles que prometeram mantê-la segura
são os mesmos que ameaçam sua vida. Quando ela pensa que não tem mais para
onde ir, ela encontra um aliado improvável... o Alfa mais perigoso que o mundo já
viu.
CAPÍTULO 1
Gabriella

Crack!

O som do tapa ecoou pela sala branca e moderna de Gabriella Pineda.


Seu corpo cambaleou com o golpe.

Cambaleando para trás em seu sofá, seu rosto virado para o lado.

A dor levou um momento para encontrá-la através do choque, mas com


todas as outras emoções batendo nela, Gabby mal percebeu.

Lágrimas arderam em seus olhos quando ela tocou cuidadosamente seu


queixo. Nada quebrado, mas o hematoma ia exigir muito corretivo.

Ela olhou para o rosto do homem que a atingiu.

Darren Snyder - descendente rico de uma família proeminente de


Denver, neto de um ex-governador, filho de um senador, candidato ao Congresso
- e noivo de Gabby.

Este homem que ela acreditava que a protegeria de todas as ameaças,


cuja riqueza e status serviriam como paredes para protegê-la dos perigos do
mundo exterior, ele não apenas a atingiu.

Ele gostou.

Gabby recuou com a satisfação nos olhos azuis gelados de Darren


enquanto ele flexionou e fechava a mão, e algo dentro dela se despedaçou.
Nos últimos dias, ela suportou cada insulto e palavra raivosa que ele
jogou em sua direção. Ela mordeu a língua e engoliu sua própria raiva.

Mas, não mais.

A expressão de Darren começou a mudar conforme as implicações do


que ele tinha feito começaram a se aprofundar. Uma coisa era abusar de uma
mulher em particular, onde ninguém ouviria suas palavras cruéis. Gabby era
bonita certeza de que ele encontraria uma maneira de justificar o golpe nela, pelo
menos para si mesmo.

Mas Darren perdeu o controle e a agrediu na frente dos outros, e por


ser um homem que não podia admitir seus próprios erros, seus olhos se
estreitaram de raiva.

— Maldição, Gabriella! — ele amaldiçoou. — Olha o que você me fez


fazer.

Gabby se perguntou por que Darren se incomodava com o teatro. Ele


sabia tão bem quanto ela que não receberia apoio das outras duas pessoas na
sala.

Com certeza, os obscuros agentes do governo observavam a cena tão


impassíveis como sempre - a agente Hoss em frente às janelas do chão ao teto do
apartamento de Gabby bem acima da cidade e Singh de seu posto perto da porta.
Na verdade, eles pareciam quase entediados, como se esse episódio angustiante
na vida de Gabby não passasse de um enredo clichê de novela que se tornou
cansativo.
Bem, se eles achavam a vida dela tão tediosa, estavam livres para sair
pela porta e encontrar alguém para atormentar.

Gabby sabia que era esperar demais. Todos os três, os agentes do


governo e Darren - haviam conspirado para mantê-la prisioneira em seu próprio
apartamento por vários dias. Era improvável que um pouco de tédio os
dissuadisse de sua tarefa.

Eles poderiam ir se foder.

Gabby deixou cair a mão de seu queixo e endureceu sua coluna.

— Me bata o quanto quiser, Darren. Isso não vai me convencer a


assinar nada na sua falsa coletiva de imprensa.

— Gabriella, — vociferou Darren, — estou colocando meu pescoço em


risco por você. Quem você acha que saiu por aí e tirou aqueles malditos
repórteres de suas costas?

— Eu nunca pedi para você...

— E agora você quer me fazer de mentiroso por não assinar a


declaração?

— Oh, por favor. — O lábio de Gabby ardia; ela provou sangue


acobreado, mas ela não estava prestes a dar a Darren a satisfação de saber o
quanto doía. — Não finja que nada disso foi por mim. Você estava apenas
protegendo sua bunda, como sempre. A única coisa com a qual você se importa é
você mesmo e sua preciosa carreira política.

As mãos de Darren se fecharam em punhos, seu rosto sem cor - e


Gabby se preparou para outro golpe.
Mas depois de olhar para Singh, ele murchou. — Você está sendo uma
vadia ingrata, sabia disso, Gabriella? Você se importa mais com uma vagabunda
encrenqueira aleatória do que com seu próprio futuro marido.

Futuro marido, minha bunda. Gabby vinha reconsiderando o noivado


desde o retorno apressado da Europa. Ela estava se vestindo para uma noite na
ópera quando recebeu um telefonema de uma mulher que se identificou como
Agente Hoss. Houve um incidente envolvendo sua ex-melhor amiga, Margaret
Harrington, disse a agente, e Gabby precisava retornar de suas férias
imediatamente.

Só quando estava no avião Gabby percebeu que deveria ter exigido


mais detalhes. Hoss nunca mencionou para qual agência ela trabalhava, o que
exatamente Maggie havia feito, ou mesmo onde sua amiga estava agora. Mas, no
momento, tudo o que Gabby podia fazer era controlar a raiva de Darren.

Era seu costume ouvir as ligações dela, insistindo para que ela
mantivesse o volume do telefone alto o tempo todo. Quando ouviu o nome de
Maggie, ficou irado.

Interromper suas férias por qualquer motivo o deixaria furioso, mas


Darren e Maggie se odiavam desde o primeiro encontro. Darren gostava de suas
mulheres de fala mansa e agradável, o que definitivamente não era Maggie - e ela
desprezava sua política tradicional de Beta-primeiro.

Darren reclamou sem parar desde o momento em que deixaram o hotel


5 estrelas. Em algum lugar além do oceano, ele apontou que Gabby não via
Maggie há dois anos.
E Gabby, que lutava contra uma enxaqueca desde a decolagem, falou
sem pensar. — Só porque você não a vê há dois anos, não significa que eu não a
tenha visto.

Darren parou com seu terceiro martíni a meio caminho da boca,


espirrando um pouco sobre o copo. — Você tem saído com ela pelas minhas
costas? Depois que eu expressamente a proibi de entrar em contato com ela?

Ele fez parecer que Gabby o estava traindo. Mas ela se desculpou
mesmo assim... porque a verdade é que ela também se sentia ressentida.

Maggie era complicada. Gabby amava seu espírito impetuoso, sua


criatividade incrível, as travessuras selvagens que as duas faziam desde o colégio.
Mas elas eram mais velhas agora, e era hora de ambas agirem como adultas.

As opções para as mulheres tornaram-se bastante limitadas no clima


político atual, mesmo sem um histórico tão duvidoso quanto o de Maggie. Mas
enquanto Gabby se voltava para o casamento e a estabilidade, Maggie manteve
as noites e as más decisões. Nos últimos anos, as duas mulheres naturalmente
começaram a se separar.

A vergonhosa verdade era que Gabby não estava realmente surpresa


por Maggie ter ido longe demais dessa vez. Mas não foi até que o sedã preto
pegou ela e Darren no aeroporto e os trouxe para seu apartamento que ela
descobriu a verdadeira extensão dos problemas de Maggie.

Ainda assim, apesar do que Maggie tinha feito, Gabby não conseguiu
virar as costas completamente para sua velha melhor amiga. A distância que havia
crescido entre elas, mesmo os crimes dos quais Maggie era acusada, não
conseguiam destruir o amor que Gabby ainda sentia por ela.
— Tenho direito aos meus próprios amigos, — disse ela a Darren agora,
recusando-se a recuar apesar da presença dos agentes. — E você não pode me
obrigar a assinar nada. Eu era sua noiva, não uma criança.

— Você ainda não entendeu nada, não é? Se você será a esposa de um


senador, você tem que aprender a agir como uma, — retrucou Darren.

— E não me olhe com esse olhar patético. Eu deixei bem claro desde o
começo que você teria que fazer alguns sacrifícios pessoais se quisesse ficar
comigo.

— E eu fiz. — Gabby parou de ir a clubes, parou de ficar fora até tarde,


começou a se vestir de forma mais conservadora, até manteve a boca fechada
sobre questões polêmicas - tudo porque Darren insistiu. Por alguma razão, seus
pedidos pareciam razoáveis na época, mas eles continuaram se acumulando até
que Gabby desistiu de mais do que pretendia. — Não que eu tenha recebido algo
em troca.

— Sua cadela egoísta. — Darren moeu cada palavra como se tivessem


um gosto amargo em sua língua. — Eu lhe dei respeitabilidade. Você tem que ser
alguém importante.

— Eu já era alguém.

Darren riu amargamente. — Você não passa de um fardo. Você e sua


mãe conseguiram desperdiçar uma maldita fortuna. Eu vi suas finanças, Gabby.
Você mal consegue se sustentar.

Havia tanta coisa errada nas palavras de Darren que Gabby ficou sem
fala. Sua mãe pode ter se casado com dinheiro, mas seu marido havia triplicado
suas posses desde então. Quanto a Gabby, seu salário como diretora de
publicidade de um império de cosméticos sofisticado pagava cada centavo de seu
estilo de vida luxuoso.

— Espere, — disse Darren, algo lhe ocorrendo. — O que quer dizer com
você era minha noiva?

Gabby arrancou o lenço de bolso de seda de seu paletó e limpou o


sangue de sua boca antes de colocá-lo de volta. Ela nunca se sentiu tão brava - ou
tão imprudente. — Eu não acho que teria que explicar o pretérito para um 'futuro
senador'.

O rosto de Darren ficou branco e ele ergueu o punho. — Eu farei você


se arrepender...

Mas suas palavras se transformaram em um grito estrangulado quando


a agente Hoss agarrou seu pulso e o torceu. De repente, ele estava de joelhos
com o braço em um ângulo não natural atrás das costas.

— Controle-se, Snyder, — Hoss exigiu, dando um pequeno puxão no


braço de Darren que o fez gritar novamente.

— Ok. Ok!

Hoss o soltou e ele caiu de bunda, o rosto um misto de dor. — Você


sabe que não podemos ter o rosto dela bagunçado para as câmeras, — continuou
ela. — Há um limite para o que podemos cobrir com maquiagem.

Gabby não contradisse as palavras de Hoss. No momento, a


preocupação da agente com a imagem era a única coisa que salvava Gabby de
outro olho roxo ou lábio cortado. Darren havia agendado uma assinatura pública
da declaração para esta tarde, embora Gabby nunca tivesse concordado em
comparecer.

Ela nem sabia o que era uma Declaração de Repúdio até que Hoss
soletrou para ela. Ela estava ignorando o telefone e se recusando a ler as notícias
durante as férias, em uma vã tentativa de se divertir e colocar seu relacionamento
com Darren de volta nos trilhos.

Acabou que ela perdeu muito.

No tempo em que ela esteve fora, o governo esteve ocupado,


aprovando uma nova lei que exigia que todos os Betas com laços Alfa conhecidos
assinassem um documento jurando não ter mais comunicação com Alfas
residentes nas três fronteiras nacionais.

A maioria dos Betas já havia cumprido, mas alguns até agora recusaram.

Infelizmente para Gabby, sua amiga Maggie era uma delas. E sendo a
tagarela impulsiva que Maggie era, ela o fez de uma forma muito pública. Uma
que levou a um interrogatório de agentes do governo e à descoberta de que
Maggie havia se juntado a um violento grupo paramilitar pró-Alfa e estava
escondida no apartamento de Gabby.

Os agentes conseguiram um mandado para revistar o apartamento


onde, segundo Hoss, começou uma luta. Hoss explicou a Gabby que as manchas
de sangue em seu papel de parede de seda e no tapete Kvadrat não eram, como
Gabby temia a princípio, dos ferimentos de Maggie, mas de seu ataque aos
agentes antes de ela escapar.
Hoss nunca nomeou os agentes, mas pelas horríveis cicatrizes de
queimaduras no rosto da mulher, juntamente com o fato de o agente Singh
mancar, Gabby suspeitou que eles eram as vítimas de Maggie - e que mencionar
isso a colocaria em ainda mais problemas.

A princípio, Gabby ficou horrorizada com as ações de Maggie. Mas as


dúvidas começaram a surgir assim que ela se recuperou do choque inicial.

Maggie podia ser precipitada e imprevisível, mas não era violenta.


Recusar-se a renunciar a seu amado irmão gêmeo, Xander, era completamente
crível... mas atacar agentes do governo? Gabby só conseguia pensar em um
motivo para Maggie fazer algo assim: autodefesa.

E quanto mais Gabby ficava confinada com Hoss e Singh, mais fácil era
acreditar que foi isso que aconteceu.

Depois de ser detida pelos dois agentes por quase uma semana, ela
sabia como eles tratavam os suspeitos. Gabby teve que pedir permissão para usar
o banheiro ou o chuveiro. Ela não tinha voz em que comida era entregue.

Eles se recusaram a permitir que ela ligasse para o advogado e reagiram


ao menor pedido - uma aspirina, por dez minutos para si mesma - com hostilidade
aberta. Gabby não tinha ideia de quando os agentes dormiam, mas sempre que
eles a deixavam sair de seu quarto, o agente Singh ficava de guarda na porta e
Hoss estava na cara dela.

Por fim, os agentes pararam de fingir que respondiam às perguntas dela


e falaram apenas com Darren. Nos últimos dias, Gabby passou a maior parte do
tempo banida para seu quarto, mas ela conseguiu ouvir um pouco da conversa
dos outros com o ouvido colado na parede.
Frases como ‘controle de danos’ e ‘mal necessário’ e ‘rápido e indolor’.

Gabby não tinha ideia de quanto tempo duraria a campanha de


pressão, mas estava começando a temer que o final do jogo fosse brutal.

Ela pode até perder a vida. E, no entanto, quanto mais demorava, mais
ela se convencia da inocência de Maggie.

E quanto mais determinada ela se tornava, nunca negaria sua amiga.

Enojada com todos eles e sabendo que mais discussões não a levariam a
lugar algum, Gabby caminhou em direção à cozinha. O que ela realmente queria
era calçar os tênis de corrida e descarregar sua frustração na calçada, mas como
isso não era uma opção, ela se contentou em se mudar para o canto mais distante
do condomínio, onde uma pilha e mais pilha de a correspondência se acumulara
durante toda a semana no balcão de mármore preto.

Gabby ignorou. Ela não tinha visto o ponto. Os agentes vasculharam


tudo, exceto o lixo eletrônico e as revistas. Ela estava prestes a jogar toda a pilha
no lixo quando um nome em uma das ofertas de cartão de crédito chamou sua
atenção.

Gabgab Pineda.

Os agentes devem ter pensado que era um erro de digitação, mas


Gabby sabia melhor. Houve apenas uma pessoa na terra que a chamou de
Gabgab.

Maggie.
Sua amiga lhe dera o apelido durante as provas finais do último ano,
quando Gabby bebia tantos energéticos para ficar acordada que não conseguia
parar de falar.

O coração de Gabby disparou, mas ela enfiou cuidadosamente o


envelope dentro de uma revista de viagens antes de pedir para usar o banheiro.
Hoss concordou com relutância. Uma vez lá dentro, Gabby rasgou a carta
rapidamente, sabendo que não demoraria muito.

A familiar caligrafia confusa de Maggie estava um relato do que


realmente aconteceu no apartamento: a exigência de Hoss de que Maggie
assinasse a declaração publicamente, as ameaças de matá-la depois e sua fuga
desesperada.

Gabby caiu contra a parede em alívio. Maggie havia chegado viva à


Fronteira. Por enquanto, pelo menos, ela estava segura.

Havia apenas mais algumas linhas na carta - o nome da organização de


direitos Alfa que havia disfarçado e entregue a carta, junto com a promessa de
que ajudariam Gabby se ela precisasse.

Querido Deus, ela precisava disso.

Depois de ler o que eles fizeram com Maggie, Gabby não podia mais
fingir que Hoss e Singh a deixariam ir embora após a assinatura pública. Não com
tudo o que ela ouviu e viu e as dúvidas que ela tão tolamente expressou. Ela até
cortou a possibilidade de que Darren tentasse ajudá-la.

Depois que Gabby lhes desse o que eles queriam, ela não passaria de
uma ponta solta, que precisaria ser amarrada de forma rápida e limpa.
O pânico ameaçou dominar Gabby quando ela enfiou a carta de volta
no bolso de trás e rapidamente se recompôs.

O que era necessário era um plano... seguido por uma determinação


inabalável. Maggie provou que a fuga era possível – difícil e complicada, mas
possível.

Como Darren havia dito, o sucesso exigiria sacrifícios. Sua casa, seu
trabalho, seus amigos, sua vida aqui em Denver, todos eles teriam que ir.

Mas tudo bem. Enquanto Gabby estivesse respirando, ela sempre


poderia se reinventar. Essa foi apenas uma das muitas lições que ela aprendeu
com sua mãe.

Depois de examinar suas opções, Gabby abriu o frasco sem marca de


pílulas para dormir que Darren trouxera das férias e colocou-o na mão dela. Ele
disse que o ajudaram com o jet lag.

Gabby não sabia disso, mas depois de se ver acordada à uma da manhã,
ela desistiu e tomou meio comprimido. A maldita coisa a nocauteou por quatorze
horas.

Ela fechou os dedos nas cápsulas e fez uma pausa antes de abrir a
porta.

— Você pode fazer isso, — ela sussurrou para si mesma, como já havia
feito mil vezes antes.

Ela abaixou a cabeça quando entrou na sala, ficando submissa diante


de Darren. Ela não teve que fingir as lágrimas que encheram seus olhos enquanto
olhava para o homem que uma vez amou.
— D-desculpe, Darren, — ela gaguejou enquanto Hoss observava sem
nenhuma reação. Ela e Singh provavelmente pensaram que a ameaça de Darren
bater nela de novo havia colocado algum juízo nela.

Gabby tremeu enquanto colocava as mãos no peito de Darren e


descansava a bochecha contra o fino tecido italiano, tomando cuidado para não
sujar de maquiagem. Sua pele se arrepiou de desgosto, mas ela sabia que os
outros veriam apenas arrependimento e derrota.

Darren ficou rígido por um momento antes de relutantemente envolver


seus braços em volta dela. — Está tudo bem, Gabby. — Não estava, claro, ela
apostava que ele já estava planejando como a faria pagar por sua rebelião.

— Você sabe que eu só quero o que é melhor para nós.

— Eu sei, — ela murmurou. — Eu não quero mais brigar. Eu prometo


que vou assinar o estúpido documento se isso te deixar feliz.

— É um começo, — ele murmurou. — Pelo menos podemos acabar com


isso e voltar a ser como as coisas eram.

De jeito nenhum.

— Gostaria disso. — Gabby sorriu para ele esperançosa, deixando uma


lágrima escorrer por sua bochecha para mostrar a ele o quanto ela estava
arrependida. — Posso pegar algo para todos vocês antes de descermos para
enfrentar as câmeras? Talvez uma boa xícara de chá de camomila calmante? É o
mínimo que posso fazer.

Darren olhou para Hoss. — Temos tempo?


Ela olhou para o relógio e deu de ombros. — Claro. O que quer que a
faça feliz. E você, Singh?

— OK. — Foi a primeira palavra que ele falou durante todo o dia.

Gabby se forçou a não se apressar. Ela pegou a lata do caro chá


orgânico a granel e quatro xícaras e pires antes de encher a chaleira na pia,
deslizando habilmente as pílulas quando se virou para colocá-la no fogão. Quando
estava pronto, ela acrescentou uma quantidade generosa de açúcar para
esconder qualquer gosto amargo e serviu em uma bandeja laqueada.

— Não se importa se eu fizer isso, — disse Hoss zombeteiramente com


um aceno exagerado do mindinho, certificando-se de que Gabby soubesse quão
pouco ela pensava nas xícaras pintadas à mão e nos guardanapos de chá de linho
engomado.

Mas isso não a impediu de tomar um grande gole. Singh solicitou um


segundo. Até Darren se dignou a agradecê-la.

Vinte minutos depois, Gabby passou por cima de seus corpos


inconscientes e saiu pela porta.
CAPÍTULO 2
Gabriella

Gabby havia chegado muito longe no mundo graças à mãe.

Uma viúva pobre de 19 anos quando deixou a Espanha para fazer uma
nova vida nos Estados Unidos, Isabella Pineda chegou à porta de um parente
distante com uma única mala e um bebê de oito meses. Alguns anos depois, ela
trabalhou de empregada de hotel a garçonete. Depois disso, ela subiu para uma
posição de vendas em um novo empreendimento imobiliário de luxo.

Isabella aproveitou ao máximo sua beleza e ambição, estudando seus


clientes ricos para aprender como as pessoas ricas se comportavam e inventando
uma história de fundo para si mesma que incluía vagas referências à nobreza
espanhola e à educação da Sorbonne.

Ainda criança, Gabby notava a atenção que sua mãe recebia dos
homens. Ela era inteligente o suficiente para fazer a conexão entre as noites que
Isabella passava com seus 'amigos' e as flores e presentes caros que enchiam seu
modesto apartamento.

Mas ainda eram apenas as duas até Gabby completar treze anos.

Foi quando Isabella voltou para casa com um enorme diamante no dedo
e anunciou que logo se mudariam para uma grande casa nova.

Seu padrasto, Martin Benton, era um cara legal. Ele não era muito
atencioso, mas era generoso o suficiente para pagar pela educação particular,
professores particulares e guarda-roupa de Gabby. Mais importante do que tudo
isso, ele adorava a mãe de Gabby.

E Isabella o adorava de volta.

Gabby não descreveria o casamento deles exatamente como um


casamento por amor.

Tanto a mãe quanto o padrasto eram muito pragmáticos para esse tipo
de absurdo. Mas eles claramente gostaram um do outro... e do que o outro
trouxe para o relacionamento.

Martin Benton, quase trinta anos mais velho que sua mãe, conseguiu
uma mulher carismática, inteligente e bonita para se exibir, e a mãe de Gabby
teve a segurança e o conforto que ela sempre desejou.

— Nada é gravado em pedra, — ela sempre dizia a Gabby. — Sempre há


uma saída, um caminho para cima, uma saída. Você só precisa ser corajosa o
suficiente para encontrá-lo.

Todos esses anos depois, enquanto ela corria pelo beco atrás de seu
apartamento em uma longa capa de chuva preta, enormes óculos escuros e um
cachecol que escondia seu longo rabo de cavalo, Gabby rezou para que sua mãe
estivesse certa. Porque agora ela precisava desesperadamente de uma saída.

Contornando a esquina do prédio, Gabby avistou uma longa fila de vans


da mídia estacionadas na rua lateral. Mesmo a meio quarteirão de distância, ela
podia ouvir a multidão ao redor do pódio que havia sido montado para a coletiva
de imprensa. Um grande destacamento de segurança não fez nenhum esforço
para camuflar sua presença, falando em seus rádios e afastando o punhado de
manifestantes.

Gabby puxou a gola do casaco mais para cima e acelerou o passo. No


espaço de algumas semanas, sua vida brilhante e invejável desmoronou ao seu
redor - e ela tinha a sensação de que o pior ainda estava por vir.

Faltava pouco mais de um quilômetro para chegar ao endereço que


constava na carta que Maggie lhe enviara, mas Gabby não se atreveu a chamar
um táxi ou uma carona compartilhada. Não demoraria muito para que mais
agentes chegassem ao apartamento dela, se perguntando por que seus colegas
não atendiam seus telefones, e então o inferno iria explodir.

Um ano atrás, Gabby não teria sonhado que um desentendimento


sobre um documento oficial sem sentido levaria a mais do que um tapa na palma
da mão. Mas, nos últimos meses, os noticiários estavam cheios de imagens de
bloqueios de estradas, perseguições em alta velocidade e ruas encharcadas de
sangue enquanto o governo agitava a controvérsia Alfa a um ponto febril.

Como ela pode ter estado em negação por tanto tempo?

Era tentador culpar Darren, cujas palavras ultimamente pareciam


escritas pela máquina de propaganda no centro de sua política, mas a verdade era
que Gabby deveria ter pensado melhor.

Ela tinha feito o ensino médio com o irmão de Maggie, Xander, pelo
amor de Deus, e embora Xander fosse um pouco selvagem, ele também era
corajoso, engraçado e gentil. Sua natureza Alfa certamente não poderia ter tirado
todas essas boas qualidades.
Agora Gabby podia ver que covarde ela tinha sido.

— Chega, — ela murmurou para si mesma enquanto desviava do


trânsito, saindo do centro da cidade para uma área de prédios de apartamentos
modestos e vitrines cobertas de grafite. Essa vida estava atrás dela agora. Ela não
tinha casa, nem emprego, nem noivo e, se não tomasse cuidado, também não
tinha futuro.

Pelo menos sua mãe e Martin estavam jogando golfe na Escócia por um
mês, a salvo do alcance do governo. Gabby não queria morrer, mas estava ainda
mais determinada a não deixar sua mãe se envolver na bagunça que ela havia
feito.

Ela tinha que ser inteligente... e durona. Tão durona quanto aquela
garota de dezenove anos que dormia no chão e trabalhava em turnos duplos
lavando banheiros para dar uma vida ao bebê.

Gabby havia deixado o telefone e a carteira no apartamento.

Ela não sabia muito sobre tecnologia, mas tinha certeza de que os
cartões de crédito e as torres de celular levariam os agentes diretamente até ela.

Nos momentos de pânico depois que Darren e os agentes desmaiaram,


ela vasculhou suas carteiras e encontrou quase duzentos dólares em dinheiro.
Então ela trocou sua roupa de bom gosto por calças de ioga e uma jaqueta
simples e encheu uma pequena mochila com apenas o necessário.

Duzentos dólares... o suficiente para cortar o cabelo ou um pote de seu


creme noturno favorito ou uma rodada de drinques com os amigos de Darren.
Fazia tanto tempo que Gabby não fazia compras em uma mercearia comum que
ela não tinha ideia de até onde o dinheiro chegaria - mas ela não podia se
preocupar com isso agora.

Tudo o que importava era colocar um pé na frente do outro até chegar


ao grupo de direitos Alfa. Mas quando ela finalmente chegou, sem fôlego e
suando, ela descobriu que o endereço que havia recebido pertencia a uma
lavanderia.

Isso pode estar certo? Ela deu um passo para trás e olhou para o velho
letreiro de néon, metade das letras das palavras 'Melhor Limpador' piscando.

Mas as luzes estavam acesas lá dentro e Gabby podia ver as prateleiras


de roupas através das janelas de vidro fosco.

Depois de verificar novamente o endereço, ela respirou fundo e abriu a


porta, um sino tocando acima dela. — Já estou indo, — a voz de uma mulher veio
de trás.

Gabby examinou o pequeno espaço em busca de qualquer sinal de uma


insurreição oculta, mas havia apenas as prateleiras de roupas, uma máquina de
costura industrial e um balcão arrumado. Eventualmente, uma mulher de trinta e
tantos anos saiu de entre a cortina de camisas, calças e vestidos pendurados,
segurando uma pilha de recibos que enfiou em uma gaveta.

— Como posso ajudá-la? — ela perguntou agradavelmente.

Gabby mordeu o lábio, pensando rapidamente. E se ela tivesse


cometido um erro?

Se ela dissesse a coisa errada, essa mulher pegaria o telefone e ligaria


para a polícia?
Mas ela não tinha outras opções. Ela tirou a carta do bolso de trás e a
desdobrou com as mãos trêmulas. — Um... recebi esta carta de uma amiga. Ela
disse que eu deveria... vir aqui.

Gabby prendeu a respiração enquanto a mulher pegava o papel e o


examinava. Quando ela olhou para cima, seu sorriso foi substituído por
preocupação... e calor.

— Você está no lugar certo, — ela disse calmamente. Ela deu a volta e
virou a placa na porta para 'Fechado' e abaixou a persiana que cobria a janela. —
Rápido, siga-me.

Gabby a seguiu ao redor do balcão até um espaço bem iluminado que


abrigava várias máquinas para passar e lavar roupas.

Mas o espaço não era puramente industrial. As paredes estavam


cobertas de desenhos de crianças, e havia um suéter rosa cuidadosamente
dobrado sobre uma cadeira.

Gabby sentiu um pouco da tensão diminuir. Os desenhos... o suéter.


Certamente não eram posses de um extremista.

— Sou Joan Watt, — disse a mulher. — Pobrezinha.

E então, antes que Gabby pudesse reagir, Joan a abraçou e Gabby


respirou seu xampu de limão. Um soluço escapou de seus lábios. Ela não
conseguia se lembrar da última vez que alguém a abraçou.

Desde que conheceu Darren, ela sobreviveu a beijos no ar e rapidinhas,


sexo insatisfatório. E embora Gabby fosse pelo menos quinze centímetros mais
alta, parecia que Joan a estava sustentando.
Quando ela finalmente se afastou, o sorriso da mulher mais velha
continha tanto alívio quanto tristeza.

— Graças a Deus você conseguiu. Quando ouvi no noticiário que a


coletiva de imprensa aconteceria hoje, fiquei com medo de que você... mas não
importa. Você está aqui e é isso que importa.

— Sou Gabby. Gabby Pineda.

— Ah, eu sei quem você é. — Os olhos de Joan se enrugaram quando


ela sorriu.

— Todos nós sabemos.

— Nós?

— A Society for Alfa Liberation and Equality. SALE. Não é a melhor sigla,
eu sei, — Joan disse levemente, — mas tem suas vantagens. Quando alguém
convoca uma reunião de emergência, eu apenas digo ao meu marido que estou
indo para uma promoção.

Gabby riu. A piada não era tão engraçada, mas ela percebeu que Joan
estava tentando deixá-la à vontade.

E, no entanto, ela não era nada do que Gabby esperava. Era difícil
imaginar como essa mãe pequena e bem-humorada poderia protegê-la do tipo de
poder de fogo que o governo tinha de prontidão.

Mas então Joan deslizou a mão sob uma placa de pressão e apertou um
botão oculto. Com um rangido, o pesado mecanismo começou a se erguer
lentamente do gabinete embutido, revelando uma abertura oculta embaixo que
conduzia ao piso. Os degraus de uma escada erguiam-se da escuridão.
— Ah, — disse Gabby. — Uau.

— Esta é a sala segura, — disse Joan, sem nenhum traço de humor. —


Deixe-me ir primeiro para que eu possa acender a luz.

Ela subiu agilmente no armário e caiu na cavidade escondida, seus pés


encontrando os degraus da escada enquanto ela se abaixava. Em segundos, Joan
desapareceu na escuridão, apenas para aparecer um momento depois, depois de
acender uma luz fluorescente brilhante.

Por favor, não deixe que isso seja um erro, Gabby rezou enquanto subia
na mesa e entrava no buraco. Depois de alguns momentos embaraçosos, ela
chegou ao fundo.

Ela se viu em uma ante-sala vazia com piso de linóleo rachado. As


paredes eram forradas de prateleiras. Um lado com jarros de água e enlatados; o
outro estava abastecido com pequenos equipamentos eletrônicos. Seguindo seu
olhar, Joan foi rápida em tranquilizá-la.

— É melhor aqui, eu prometo.

Ela destrancou a única porta no espaço digitando um código e então


levou Gabby a um estúdio pequeno, mas confortável. Havia uma cozinha
compacta em uma extremidade e um banheiro fechado na outra. Na parede entre
elas, alguém pendurou cortinas sobre uma moldura de janela com uma luz LED
atrás do vidro. Isso não enganaria ninguém, mas saber que alguém havia se
esforçado tocou Gabby.

Pela primeira vez, ela se permitiu acreditar que poderia estar segura,
pelo menos por enquanto.
— A cama está arrumada com lençóis limpos, — disse Joan, — e a TV
funciona. Há produtos de higiene básicos no banheiro, talheres na cozinha e verei
como você está todos os dias para ver se precisa de alguma coisa.

— Eu-eu não sei o que dizer. — Para seu constrangimento, as lágrimas


rolaram pelo rosto de Gabby.

A expressão de Joan se suavizou. — Não é preciso agradecer. Você faria


o mesmo.

Você não pode saber disso, pensou Gabby, sentindo-se culpada.

Ela sempre acreditou que era uma boa pessoa, alguém que poderia
fazer a diferença no mundo, mas nunca foi posta à prova.

Não até agora.

— Acho que você está exausta, — disse Joan, dando um tapinha em seu
ombro.

— Por que você não descansa, e podemos conversar mais amanhã.

— Obrigada, — Gabby murmurou.

— A loja está aberta entre as seis da manhã e às seis da tarde, então


você precisa ficar aqui durante esse horário. Mas não se preocupe muito em ficar
quieta. Nosso equipamento faz muito barulho.

Gabby se forçou a sorrir. — Ótimo, acho que posso cantar no chuveiro,


então. Mas, sério, Joan, isso é incrível. Você tinha tudo isso pronto só para mim?

— De nada, mas não é só para você. Com o governo pressionando tanto


o movimento, tivemos que construir uma rede de salas seguras em todo o país
para proteger nossos membros mais ativos. Está tão ruim que os líderes do
movimento colocam suas vidas em risco quando viajam, então tentamos mantê-
los a salvo das autoridades quando estão na área.

— Mas isso não é arriscado? Quero dizer, não apenas para eles, mas...
— Gabby fez um gesto impotente. — Para as pessoas que os ajudam. Como você.

Joan encolheu os ombros como se fosse apenas um pequeno


inconveniente. — Suponho. Mas há coisas piores do que correr alguns riscos.

Depois de tudo que ela passou nos últimos dias, Gabby não achou que
suas palavras chegassem perto de reconhecer a seriedade da ameaça. — Como o
quê?

O olhar de Joan ficou opaco. — Como saber que você teve a chance de
fazer a coisa certa - e não fez.

***

Gabby passou sua primeira noite no quarto seguro em uma fuga


entorpecida, alternando entre a gratidão por ter conseguido sair viva e a culpa e o
medo. Quando ela tentou dormir, as imagens do desdém de Darren e as armas
brilhantes dos agentes a mantiveram acordada.

E quando, finalmente, ela adormeceu, acordou sem saber que horas


eram. Gabby não tinha percebido o quanto ela confiava em seu telefone até
agora. Ela sentiu como se tivesse sido completamente isolada do mundo.

Sentindo-se sem amarras, ela ligou a televisão e ficou surpresa ao ver a


cobertura panorâmica de sua fuga. Mas ela não deveria ter ficado surpresa.
Como publicitária, ela sabia o quanto era importante controlar a
mensagem e, naquele momento, parecia que o governo estava no meio de uma
campanha para transformá-la na vilã mais odiada da América.

E não eram apenas especialistas aleatórios e cabeças falantes. Apenas


alguns segundos depois que ela começou a mudar de canal, Darren apareceu na
tela.

A mão de Gabby congelou no controle remoto enquanto ouvia o


homem que ela amava tecer uma teia de mentiras sobre ela.

— É com o coração pesado que estou diante de vocês hoje e admito


que fui vítima das mentiras de Gabriella Pineda, — disse ele do palanque ainda
montado do lado de fora do apartamento dela. — Eu realmente acreditava que a
mulher por quem me apaixonei era uma seguidora honesta e fiel da causa Beta,
mas agora sei que ela não passava de uma ativista de direitos Alfa que tentou
usar minhas conexões políticas para se infiltrar e espionar nosso governo.

O quê? Gabby não tinha feito nada disso. Ninguém poderia acreditar
nisso sobre ela... poderiam?

— Ontem, depois de horas de interrogatório por estes excelentes


agentes especiais, Karen Hoss e Trevor Singh, a Srta. Pineda finalmente cedeu e
confessou seus crimes. Infelizmente, antes que ela pudesse ser presa e obrigada a
pagar por seus erros, seus direitos Alfa radicais associados encenaram um ataque
violento para permitir que ela escapasse da custódia do governo.

O queixo de Gabby caiu. Ela nunca tinha ouvido tanta besteira


descarada em toda a sua vida. Quem diabos tinha inventado essa história?
Ela não aguentava mais ser chamada de mentirosa, ameaça e traidora,
então desligou a televisão, pegou um travesseiro e o usou para abafar os soluços.

Ela perdeu a noção do tempo enquanto chorava, não apenas por tudo
que havia perdido, mas também pelo profundo sentimento de culpa que se
enraizou em seu peito. No andar de cima, uma mulher estava arriscando sua vida
para proteger pessoas que ela nem conhecia... e aqui estava Gabby, preocupada
com o que seus amigos estariam pensando.

Tempo passou. Joan trouxe suas empanadas; horas depois, café fresco e
um donut. Quando Gabby mencionou que não sabia que horas eram, Joan trouxe
para ela um pequeno relógio a pilha.

As horas se transformaram em dias, depois em uma semana. Gabby


tentou ler os livros e revistas que Joan trouxe para ela, mas não conseguia se
concentrar. Ela fazia sua rotina de pilates no chão, tomava banhos longos e
quentes e limpava a cozinha mesmo quando não estava suja.

Eventualmente, porém, ela teve que enfrentar o fato de que, se os


agentes não a encontrassem e a matassem, o tédio poderia. O isolamento era
pior do que ela jamais poderia ter imaginado. Então, quando ela finalmente cedeu
e ligou a TV, seu alívio por não se ver no noticiário deu lugar à decepção quando
descobriu que não conseguia se concentrar nem mesmo nos programas que
amava. Ainda assim, ela o manteve ligado o dia todo apenas pela chance de ver
outros rostos humanos, ouvir outras vozes humanas.

O tempo começou a fazer coisas estranhas, parecendo esticar como um


elástico. Ela acordaria e descobriria que dormiu por quatorze horas seguidas. Por
mais que Gabby se esforçasse, passando horas em um canal de fitness todos os
dias, ela não conseguia se livrar de uma sensação de inquietação e coceira. Ela se
sentia desesperada por ar fresco, a sensação do sol em sua pele.

Mas ela não estava desesperada o suficiente para ir embora. As


lembranças das horas em seu apartamento com os agentes ainda a perseguiam.
Mesmo subir a escada à noite para uma mudança de cenário era assustador
demais para ser considerado. A ideia de alguém pegá-la — reconhecê-la e chamar
a polícia — poderia reduzi-la a uma confusão trêmula.

Depois que a segunda semana passou, no entanto, Gabby se obrigou a


ligar o noticiário. Seu rosto ainda estava em toda a televisão, mas pelo menos
desta vez a visão não a fez cair em lágrimas. Depois de um tempo, Gabby quase
esqueceu que eles estavam falando sobre ela... e a sensação de pânico começou a
diminuir.

Isso lhe deu coragem para pensar que talvez, apenas talvez, ela pudesse
encontrar forças para sair do esconderijo. Pensar em recomeçar a viver.

Gabby subiu até ao topo da escada e abriu a porta alguns centímetros.


Acima dos sons das máquinas, ela podia ouvir Joan andando pela loja,
conversando com os clientes, e até mesmo aquela pequena evidência de que o
mundo continuava a girar melhorou seu humor.

Na próxima vez que Joan desceu as escadas, segurando uma


embalagem de comida para viagem e uma garrafa de chá gelado, Gabby estava
pronta com um sorriso e uma piada que ela tinha visto na televisão tarde da
noite. Pela primeira vez, ela e Joan conversaram como velhas amigas, e nenhuma
delas mencionou nada sobre Alfas ou agentes do governo.
Mas quando estavam terminando o fast food, ouviram batidas fortes na
porta, uma voz de homem gritando. — Aqui é a polícia. Abra, ou vamos arrombar
a porta.

O coração de Gabby se apertou de medo, mas Joan simplesmente levou


um dedo aos lábios e subiu silenciosamente a escada. No topo, ela olhou para
baixo e repetiu o gesto... e colocou a prensa de volta no lugar, selando Gabby.

Gabby estava encolhida no chão da ante-sala, com os braços em volta


dos joelhos, estremecendo com o som de vidro quebrando e o que parecia ser
dezenas de botas pesadas. Mesmo com a porta fechada, ela podia ouvir cada
palavra que os policiais diziam.

— Joan Watt, você está presa por conspiração contra a polícia,


cumplicidade com Alfas e seus aliados e conspiração para derrubar o governo
Beta. Tenho um mandado de busca nesta propriedade em busca de evidências de
seus crimes. Você tem algo a dizer?

A voz de Joan soou clara e forte. — Só que não direi mais nada até ter
um advogado.

Houve um breve silêncio, depois um baque surdo e o grito de dor de


Joan.

Gabby tapou a boca com as mãos horrorizada, mas os policiais apenas


riram.

— Vamos ver como você se sente sobre isso quando voltarmos para a
estação.
Os gemidos de Joan diminuíram quando os passos se afastaram. Gabby
ouviu o carrilhão da porta da frente e, por um segundo, ela ousou esperar que
eles tivessem ido embora, mas então uma cacofonia de estrondos e tinidos
começou.

Eles estavam revirando a loja, ela percebeu. Procurando... por ela. Por
mais que Gabby estivesse com medo pela segurança de Joan, ela estava feliz que
sua nova amiga não estava aqui para ver sua loja sendo destruída. Gavetas foram
abertas e despejadas. O metal guinchou e Gabby imaginou as fileiras de roupas
empilhadas no chão.

Por duas horas, Gabby ficou sentada tremendo de terror enquanto os


policiais vasculhavam cada centímetro do lugar... tudo, exceto o maquinário que
era pesado demais para ser movido. Finalmente, os sons diminuíram. Os homens
falaram baixinho por um momento, então a porta da frente soou uma última vez.

Gabby tremeu silenciosamente, as lágrimas emaranhando seu cabelo


enquanto ela caía no chão frio, apavorada demais para rastejar até à cama.

Ela ficou deitada em posição fetal a noite toda e, quando uma luz fraca
apareceu pelas frestas da porta, ela se levantou e se forçou a comer torradas e
beber água. Então ela caiu na cama, exausta.

Um dia se desenrolava no outro, Gabby entrando e saindo de


pesadelos, tremendo em um momento e queimando no seguinte, mesmo
sabendo que seus sintomas não tinham nada a ver com uma doença física.

Na noite do quinto dia, Gabby ouviu passos acima dela, parando na


prensa. Ela estava com tanto medo por tanto tempo que uma parte dela quase
desejou que quem quer que estivesse lá em cima a matasse rapidamente e
acabasse com seu sofrimento. Ela não se preocupou em sair da cama, não havia
onde se esconder.

Ela havia deixado a porta da ante-sala aberta, mas não foram as


brilhantes botas pretas da polícia que ela viu descendo a escada. Em vez disso, um
par de botas de caminhada surradas seguidas por calças de camuflagem que não
escondiam as curvas do usuário.

Gabby sentou-se, tentando entender o que estava vendo.

Alta demais para ser Joan, a silhueta da mulher contra a luz forte movia-
se com confiança, os membros longos exibindo uma graça quase balética.

Quando ela entrou no quarto, Gabby viu que ela era jovem... não mais
velha do que a própria Gabby - e bonita, seu cabelo castanho com mechas de sol
em uma trança grossa nas costas e seus olhos âmbar vivos e brilhantes. Ela não
usava maquiagem e sua única joia era um relógio masculino. Não havia insígnia
ou distintivo em suas roupas.

Por um momento, elas apenas olharam uma para a outra, e Gabby


tardiamente percebeu quão horrível ela devia estar e cheirar. Mas a mulher sorriu
calorosamente, movendo-se lentamente como se tivesse medo de assustá-la.

— Estou tão feliz em ver que você está bem, Srta. Pineda. Meu nome é
Courtney e vim para levá-la a um lugar seguro.
CAPÍTULO 3
Gabriella

Não demorou muito para Gabby perceber que sua salvadora era mais
do que apenas uma grande durona. Courtney Smith foi nada menos que incrível.
Membro fundador da SALE, ela fez de tudo, desde coordenar e entregar
suprimentos para a mais nova fronteira do país até transportar fugitivos de
direitos Alfa por todo o país, o que foi uma notícia muito boa para Gabby.

Ela também era a coisa mais próxima que Gabby tinha de uma amiga
agora.

Gabby percebeu isso na noite do terceiro dia, quando Courtney voltou


para a caminhonete e entregou a ela um saco de papel branco engordurado. —
Tomate extra, segure o queijo e a cebola. E eu trouxe algo para você mais tarde.

Gabby apertou os olhos para as letras brilhantes no objeto fino e


brilhante que Courtney estava segurando - e começou a chorar.

Nos últimos dias, tudo o que Gabby podia fazer era seguir as instruções
de Courtney. Ela comia quando mandava, dormia quando mandava, mantinha o
boné baixo sobre o rosto enquanto dirigiam em zigue-zague entre um esconderijo
SALE e outro na tentativa de despistar as autoridades que estavam rastreando. E
mesmo que Gabby preferisse o silêncio, ela suspeitava que as ocasionais
perguntas sem sentido de Courtney eram para verificar seu estado mental, então
ela fez o possível para responder.
Uma delas era sobre seu doce favorito na infância.

— Melancia Airheads, — Gabby disse agora, em algum lugar entre um


soluço e uma risada. — Não acredito que você lembrou!

Courtney apenas deu de ombros enquanto voltava para a rampa de


entrada da rodovia, mas Gabby poderia jurar que viu um indício de sorriso tocar
brevemente seus lábios. — Estaremos lá em menos de uma hora, então
aproveite. Vai demorar um pouco até que você consiga provar guloseimas
novamente.

Gabby sentiu a tensão voltando novamente. Ainda assim, ela se forçou


a dar uma mordida em seu hambúrguer.

— Courtney... — ela começou quando comeu tudo o que pôde e enfiou


o embrulho na sacola. — Eu já disse obrigada? Quer dizer, eu sei que não tenho
estado no meu melhor nos últimos dias, mas você arriscou sua vida por mim.

Courtney bufou. — Dificilmente. Não quero me gabar, mas seria preciso


mais do que alguns patetas do FBI para me atrasar.

— Não duvido, — disse Gabby apressadamente. Ela tinha visto o


esconderijo das armas trancadas na caixa de aço aparafusada na carroceria da
caminhonete. — Ainda assim, você dirigiu até Denver para me buscar, só para
fazer a viagem de volta para...

As palavras de Gabby sumiram. Mesmo depois de três dias sabendo do


plano de Courtney, ela ainda não conseguia dizer em voz alta.
Courtney desviou o olhar da estrada por um momento para checá-la. —
Vai ficar tudo bem, — disse ela, estendendo a mão para dar um aperto
reconfortante na mão de Gabby. — Maggie ficará tão feliz em ver você.

— Você jura que ela está me esperando? — Gabby perguntou, embora


elas já tivessem discutido isso uma dúzia de vezes.

— Claro, — Courtney respondeu pacientemente. — Ela escreveu aquela


carta para você, lembre-se. Ela quer que você esteja segura. Confie em mim, eu
ouvi aquela mulher falar muito sobre você. Ela faria qualquer coisa por você.

Por mais reconfortante que fosse ouvir isso, Gabby ainda não tinha
certeza se estava pronta para deixar o mundo Beta para trás e se abrigar na
fronteira.

Nem mesmo temporariamente.

— E se passássemos mais uma noite em St. Louis? — Gaby tentou. —


Você poderia tomar café da manhã naquele café bonitinho de novo e...

— Não posso, — disse Courtney com firmeza. — Todos os detalhes


foram planejados com precisão. Só temos uma janela de quinze minutos às
segundas, quartas e sextas-feiras, quando a patrulha rodoviária que monitora os
pontos de controle muda de turno, então é agora ou nunca.

Gabby não ousou dizer a Courtney que — nunca — parecia a melhor


opção para ela. Especialmente agora que estavam se aproximando de um ponto
sem volta a 100 quilômetros por hora.

— E... Maggie vai estar lá.

— Sim. Ela e seu companheiro estão sempre lá nos dias de entrega.


O estômago de Gabby revirou. Foi a isso que ela foi reduzida - uma
entrega. Como as caixas de pêssegos enlatados e jarros de óleo de motor que
enchiam a traseira da caminhonete que Courtney dirigia.

— E você tem certeza de que não há outro lugar para onde possamos ir.
Aceito qualquer coisa, uma garagem, um sótão, uma barraca...

— Não. A fronteira é o único lugar onde a lei protege você. No minuto


em que você cruza a linha de volta para o mundo Beta, você é alvo de todos os
policiais, agentes federais e caçadores de recompensas do país.

Isso calou Gabby.

Do lado de fora da janela, a paisagem de outono se tornara ainda mais


bonita do que as verdejantes terras agrícolas do leste do Tennessee. As árvores
brilhavam em amarelo, laranja e vermelho ao longo dos cumes das colinas suaves,
e riachos e cachoeiras brilhavam ao sol.

Gabby nunca tinha estado no Missouri. Embora ela tivesse visitado


todas as principais capitais da moda do mundo, suas viagens nos estados se
limitavam principalmente à cidade de Nova York.

Ela nem sabia que a cordilheira Ozark ficava no Missouri. Ela esperava
celeiros vermelhos, vacas e campos de milho, mas havia apenas deserto
flanqueando a estrada sem sinalização que Courtney havia tomado.

Em seguida, acabou em uma trilha de terra... e algumas centenas de


metros depois, elas estavam quicando sobre o que parecia ser nada além de
grama achatada levando a uma floresta densa. Gabby sentiu uma dor aguda no
ombro quando elas atingiram um barranco e ela foi jogada contra a porta do
passageiro.

— É apenas temporário, — disse Courtney, confundindo seu gemido de


dor com medo. — Continue dizendo isso a si mesma. Se tudo correr bem, o calor
vai diminuir em alguns meses, e podemos colocar você em um avião para sua
família na Espanha.

Gabby assentiu, guardando seu ceticismo para si mesma.

Seu rosto ainda estava estampado nos noticiários. A recompensa por


sua captura chegou a quase um milhão de dólares. Eles até deram a ela um
apelido - o #FelonFiancee.

No futuro previsível, Gabby não poderia passar pela segurança do


aeroporto, nem mesmo com um disfarce e um passaporte falso.

Ela era simplesmente reconhecível demais.

Mas Courtney fez o possível para convencer Gabby de que, com o


tempo, outra notícia viria a dominar as manchetes. E que haveria outra depois
dessa. Que se ela desse tempo suficiente, seis meses deveriam resolver o
problema, estimou Courtney — Gabby se tornaria anônima novamente.

Mas não era Courtney quem tinha que passar esse tempo vivendo na
nova fronteira cercada por Alfas.

Até sua vida desmoronar, Gabby não tinha opiniões fortes sobre os
Alfas. Ela entendeu que Darren teve que assumir uma postura linha-dura contra
eles por razões políticas, mas ela nunca esperou que o problema a afetasse, além
de ter conhecido uma vez um Alfa em transição.
Mas esta fronteira para a qual ela estava indo... era muito real.

E embora Courtney jurasse que Maggie havia se oferecido para abrigar


Gabby pelos próximos meses - que ela não guardava ressentimentos - Gabby não
tinha tanta certeza.

A amizade delas havia sido tensa nos últimos anos.

Elas se separaram, e Gabby sabia que ela carregava a maior parte da


culpa.

Ela sentia falta do simples e descomplicado que ela e Maggie


costumavam ter juntas - duas ricas garotas de clube com nada mais na agenda do
que dançar a noite toda e ir às melhores festas. Mas Gabby havia deixado essas
coisas para trás quando Darren apareceu. Ele treinou e convenceu e até fez seu
cara técnico limpar suas redes sociais de todas as fotos das duas juntas.

E Gabby não foi a única que mudou. Inferno, Maggie nem era mais uma
Beta. Se Gabby deu pouca atenção à situação dos Alfas, ela nunca considerou
como seria ser uma Ômega. Ela não sabia nada sobre elas, na verdade, e não
podia deixar de se sentir cautelosa sobre como a nova natureza de Maggie
poderia tê-la mudado.

— Chegamos.

Mais uma vez, Gabby estava perdida em seus pensamentos quando


Courtney parou ao lado de algumas outras caminhonetes em uma clareira
rodeada de árvores e dividida por uma cerca rústica. Ela desligou o motor e abriu
a porta. — Fique aqui por um minuto enquanto eu procuro Maggie.
Não é um problema. Gabby estava mais do que feliz em ficar onde
estava, especialmente quando a alternativa envolvia enfrentar meia dúzia de
Alfas.

Ela estremeceu com a visão.

É claro que ela sabia que eles eram mais altos do que o homem Beta
comum, mas esses caras pareciam gigantes, brutamontes enormes e musculosos
que faziam os Betas do lado dela da cerca da fronteira parecerem brinquedos.

Além do mais, cada um deles parecia se eriçar com intensidade, como


se fossem negociações de vida ou morte em vez de uma entrega de frete padrão.

Agora que ela estava aqui, ela entendia o medo e a obsessão de Darren
por Alfas. Apenas a visão deles era aterrorizante. Era assustador imaginar quanto
dano aquelas mãos poderosas e enormes poderiam causar.

E aquela cerca de fronteira não poderia começar a mantê-los


confinados.

Feita de troncos partidos amarrados com arame grosso, servia


estritamente como um marcador. Gabby suspeitava que um daqueles Alfas
poderia estilhaçá-la como palitos de dente com as próprias mãos.

Embora os Betas parecessem à vontade, Courtney havia dito a Gabby


que eles nunca tinham permissão para pisar nas terras dos Alfas sem uma
permissão claramente declarada, embora fossem a única linha de vida do Alfa
para os bens de que precisavam para sobreviver.

E ainda os comerciantes - um punhado de homens e uma outra mulher -


não pareciam especialmente nervosos. Quando um deles passou uma prancheta
por cima da cerca, ele até a seguiu com um aperto de mão, sua mão diminuída
pela enorme mão do Alfa.

Gabby prendeu a respiração enquanto Courtney se aproximava de um


dos Alfas que estava a certa distância dos outros. Ela deve tê-lo conhecido bem,
pois parecia muito à vontade para conversar com ele.

Amigável... até paquerador.

O que assustou Gabby. Apesar de saber que Maggie havia se unido a


um Alfa, a ideia parecia surreal. Ela nunca poderia gostar de um Alfa, não desse
jeito.

Pensamentos sobre o que ela estava prestes a fazer fizeram seu pulso
disparar.

Gabby abaixou a cabeça e fechou os olhos.

— Respire, — ela sussurrou para si mesma. — Lembre-se, sempre há


um caminho. Você só precisa ser corajosa o suficiente para encontrá-lo.

Quem ela estava enganando? Nem mesmo um super-herói tinha


coragem de enfrentar seis meses vivendo entre esses gigantes.

Gabby respirou fundo outra vez e expirou lentamente. Então outro. Na


terceira, ela sentiu um formigamento de consciência subindo pela nuca... quase
como se alguém a estivesse observando.

Ela levantou a cabeça e se viu olhando diretamente nos olhos do maior


Alfa do grupo.

Merda.
Gabby desviou o olhar, rezando para que o Alfa entendesse a dica e
seguisse em frente, mas quando ela arriscou um olhar, os olhos dele ainda
estavam nela.

Então ergueu o queixo e cheirou o ar, o resto do corpo imóvel.

Gabby sabia que os Alfas tinham sentidos fortes, mas isso era ridículo.

Ele não conseguia sentir o cheiro dela, mesmo que ela tivesse sido
forçada a usar o xampu barato de farmácia que estava em todos os esconderijos
da SALE.

Era mais provável que ele tivesse se irritado com a presença de um


intruso. Talvez ele fosse algum tipo de guarda. Ele seria um bom candidato já que
tudo em sua linguagem corporal gritava cai fora.

Embora ele fosse apenas uma ou duas polegadas mais alto que os
outros Alfas, o poder de sua presença dava a impressão de que ele se elevava
sobre eles. Algo nele chamava a atenção, e Gabby se viu lutando para desviar o
olhar.

Verdade seja dita... havia muito para ver.

Mesmo daqui, ela podia ver que seus braços musculosos estavam
entrecruzados com cicatrizes, e seu cabelo escuro e grosso parecia não ter sido
cortado em um ano. Ele não se preocupava em se barbear há alguns dias e estava
a caminho de uma barba espessa. Ele usava uma jaqueta de couro surrada que
parecia ter sido atropelada. Nenhum brechó quereria, mas o Alfa usava com uma
arrogância de James Dean.
Mesmo em seu apogeu de festeira, Gabby nunca se sentira atraída por
problemas. Sempre houve caras ricos e inofensivos o suficiente por aí para
mantê-la ocupada e ela não via nenhum benefício em arriscar, não importa o que
Maggie pensasse.

E, no entanto, essa má ideia viva e respirando a mantinha extasiada.


Parecia ver um tigre no zoológico. Ela nunca sonhou em entrar na jaula com um
tigre, mas havia um fascínio inebriante em sua força primal, seu vociferado muito
baixo para os ouvidos humanos.

Algo que Maggie disse uma vez anos atrás voltou para Gabby. Elas
beberam demais em uma festa no telhado no centro de Denver, quando Maggie
subiu na borda, deixando o vento chicotear seu cabelo em volta do rosto. Claro,
Gabby imediatamente a puxou de volta, para grande decepção de Maggie.

Você não quer sentir a adrenalina?

Não, ela não queria. Gabby não era uma caçadora de emoções. Só tolos
e bêbados se arriscam só para se sentirem vivos.

Mas em algum lugar ao longo do caminho, Gabby deve ter se tornado


uma tola porque olhar para o Alfa mortal foi o suficiente para fazer seus joelhos
tremerem de emoção.

O que diabos ela estava fazendo?

Voltando a si, Gabby desviou os olhos e contou até cem enquanto


olhava para o padrão do tapete de Courtney. Mas quando ela roubou outro olhar,
o Alfa ainda não havia se movido. Na verdade, sua expressão se tornou ainda mais
ameaçadora, seus olhos se estreitaram em barras de pedra.
Gabby se mexeu nervosamente em seu assento. O Alfa não tinha algo
melhor para fazer? Ela claramente não representava uma ameaça. E embora
Gabby soubesse usar uma paleta de maquiagem, ela não se vangloriava de ser tão
bonita que os homens iriam olhar abertamente para ela.

Pensando bem, os Alfas poderiam ser atraídos pelas Betas?

Ela tinha ouvido as histórias de horror sobre Alfas devastando mulheres


perdidas nas Fronteiras do Noroeste e Sudeste, mas eles supostamente estavam
procurando por Ômegas adormecidas.

Felizmente, Gabby sabia que ela era Beta pura, por completo.

Uma batida repentina contra a janela lateral de Gabby a fez pular.

Ela levou a mão ao peito aliviada quando viu que era apenas Courtney
voltando para a caminhonete.

— Estamos todos bem, — disse ela. — Eu encontrei Maggie. Pegue sua


bolsa.

Maggie!

Gabby estava tão distraída com o Alfa que quase esqueceu o motivo de
estar ali. Ela saiu da caminhonete com as pernas trêmulas, obrigando-se a não
olhar por cima do ombro.

Não importava. Ela ainda podia sentir o olhar do Alfa em suas costas tão
certo como se ele a tivesse tocado com uma daquelas mãos poderosas.

Não, isso não estava certo. Era como se ele a estivesse seguindo...
rastreando-a.

— Gabby! Oh meu Deus, é você mesmo!


Gabby ficou chocada com sua disposição ao ver sua amiga correndo em
direção à cerca, seu cabelo esvoaçando atrás dela.

Incapaz de se conter, Gabby correu também e elas colidiram por cima


da cerca em um longo e feroz abraço.

Quando Gabby finalmente se afastou, ambas estavam um pouco


chorosas.

— Eu estava tão preocupada, — disse Maggie. — Eu estava com medo


de nunca mais te ver.

Gabby apertou as mãos com força, muito emocionada para falar. Ela
não tinha percebido o quanto ela temia a raiva de Maggie - e o quanto ela
merecia. Todas aquelas mensagens não respondidas, ligações não retornadas, os
meses que se transformaram em anos. Gabby esteve perto de perder a amizade
mais preciosa que ela já teve, tudo porque ela estava tentando se agarrar a um
mentiroso desprezível e miserável.

Maggie se virou para Courtney, que assistia ao reencontro com seu leve
e enigmático sorriso.

— Como posso recompensá-la? — perguntou Maggie.

Courtney acenou com a mão. — Não é problema. Você sabe que eu sou
louca por reencontros.

— Bem, obrigada, — disse Maggie. — Eu devo a você. Vou trazer outra


pintura. Algum pedido? Talvez um retrato de sua arma de fogo favorita?

Courtney fez um som que estava perto de uma risada. — Tudo menos
gatinhos. Ou palhaços tristes.
— Talvez eu pudesse fazer Hunter posar.

As sobrancelhas de Courtney franziram em confusão quando ela olhou


para o belo Alfa com quem ela estava conversando antes. — Por que Hunter?

— Não importa, — disse Maggie revirando os olhos. Obviamente, havia


mais nessa história. — Pegou suas coisas, Gabby?

Gabby hesitou um pouco demais antes de responder. A verdade é que


ela ainda estava olhando furtivamente para o Alfa, que havia voltado para seu
posto perto da cerca, mas ainda a encarava.

— Eu-eu não sei sobre isso, Maggie. Significa o mundo para mim que
você esteja disposta a me ajudar, mas...

— Vai ficar tudo bem, eu prometo, — disse Maggie com firmeza. — Vou
falar com Axel. Ele está construindo uma nova casa para nós não muito longe de
nossa casa atual. Ainda não está terminada, mas tem quatro paredes e um teto.
Vai te ajudar no inverno.

Gabby não sabia o que dizer. Esta nova Maggie estava cheia de
surpresas. Nossa casa? Tipo... os dois tinham arrumado a casa juntos? A mulher
que tinha jurado que nunca iria sossegar, que raramente saía duas vezes com o
mesmo homem?

— Axel é seu... companheiro? — Bem na hora, Gabby se lembrou do


treinamento de Courtney, o vocabulário que ela havia prometido facilitaria seu
caminho no mundo Alfa.

— Sim! — Maggie sorriu. — Você vai amá-lo.


Gabby não tinha tanta certeza disso, especialmente porque ela era uma
convidada intrusa com problemas em seu rastro. Ela tentou encontrar as palavras
certas. — Quase parece que ele não sabe que eu estava vindo.

— Isso é porque ele não sabe, — Maggie disse brilhantemente. — Eu


nem sabia que Courtney tinha encontrado você até alguns minutos atrás.

O coração de Gabby afundou. — Mas... mas você tem certeza que ele
não vai se importar?

Mesmo com medo de viver na fronteira pelos próximos seis meses,


Gabby sabia que não tinha muitas outras opções. Era isso ou prisão.

— Eu prometo. — Maggie deu a ela um sorriso confiante. — Você não é


a primeira Beta a encontrar refúgio aqui. Lembra do meu irmão Xander? Ele
acolheu a mãe de sua companheira depois que ela teve alguns problemas com as
autoridades. Alguns dos outros têm família vindo também. Especialmente, agora
que os governos se tornaram tão rígidos com suas declarações de repúdio.

Gabby deu uma olhada nos Alfas, tentando imaginá-los com famílias.
Pais e irmãos e irmãs. Ela não conseguia imaginar.

Courtney deu um aperto no ombro. — Lembre-se, é apenas por alguns


meses. Você ficará bem.

De repente, Gabby não estava pronta para se despedir de Courtney.

— Mas você voltará, certo? Quer dizer...

Maggie olhou de uma mulher para a outra e sorriu. — Podemos visitar


Courtney toda semana, se você quiser. Ela nunca perde uma entrega. Embora
você provavelmente seja obrigada a ajudar com o descarregamento.
— Falando nisso, eu preciso voltar ao trabalho. — Courtney piscou para
Gabby e correu até a caminhonete onde seus companheiros Betas formaram uma
linha de montagem para transportar os suprimentos para as mãos dos Alfas.
Metade do conteúdo da primeira caminhonete já havia sido esvaziada e
carregada em um trailer atrelado a um dos veículos Alfas.

— Courtney é ótima, não é? — Maggie disse gentilmente, e Gabby


olhou para cima rapidamente para ver uma bondade desconhecida nos olhos de
sua velha amiga.

Tudo era diferente agora, e tantas emoções emaranhadas dentro de


Gabby que se confundiam em um entorpecimento bem-vindo. Ela pegou sua
bolsa e pulou a cerca da fronteira antes que pudesse se convencer do contrário e
quase ficou surpresa quando um raio não caiu.

— Isso não foi tão ruim, — disse ela, mais para si mesma do que para
Maggie.

— E é apenas durante o inverno.

Maggie deslizou sua mão em torno da de Gabby e a conduziu em


direção ao grupo. — Vai ser ótimo. Você verá. Vamos, vou apresentá-la ao meu
Alfa Axel.

Mas Gabby ainda podia sentir os olhos do estranho taciturno seguindo


cada passo dela.
CAPÍTULO 4
Gabriella

Não demorou muito para Gabby perceber que Maggie não havia
mudado muito, afinal. Ela ainda era brilhante, alegre e de espírito livre, e
enquanto explicava como sua vida havia mudado agora que ela era uma Ômega,
Gabby teve que admitir que não parecia haver muita desvantagem.

— É incrível, Gabby. Tenho mais energia do que nunca na minha vida.


Meu cabelo está mais grosso, minhas unhas estão mais fortes, minha pele está
melhor do que nunca. E nunca mais fico doente! Não posso. Não me lembro da
última vez que minhas alergias surgiram e, se eu me cortar ou algo assim, sara tão
rápido que mal percebo.

Gabby pôde ver por si mesma que Maggie não estava exagerando. Em
contraste com sua própria palidez, as olheiras roxas sob os olhos e o cabelo fino,
Maggie era a imagem de boa saúde e vitalidade. O que foi muito engraçado
quando Gabby se lembrou de quantos dias as duas passaram no sofá se
recuperando de uma ressaca, rezando para o deus da porcelana e sobrevivendo
de comida para viagem.

Embora Maggie pudesse ter desistido de seus hábitos festeiros, ficou


claro para Gabby que ela ainda era impetuosa, desinibida e obstinada como
sempre. Ela ainda agia sem pensar, mergulhava em decisões questionáveis e
causava problemas onde quer que fosse.
Felizmente, agora ela tinha um Alfa de 2,20 metros — para cuidar da
bagunça em que acidentalmente se meteu. Infelizmente, Gabby não achava que
nem Axel seria capaz de consertar o último desastre de Maggie.

Elas estavam na sala de estar da 'casa’ que Maggie havia oferecido para
colocá-la, e o coração de Gabby estava afundando mais rápido do que o Titanic.

— Ainda não está terminado, obviamente, — disse Maggie, uma pitada


de dúvida rastejando em sua voz.

Isso foi um eufemismo. Era verdade que a casa tecnicamente tinha


quatro paredes se o drywall inacabado contasse, e você não era exigente quanto
aos buracos onde as janelas estariam. Mas quanto ao telhado, apenas o piso de
compensado acima deles - o que se tornaria o segundo andar do local - a
protegeria dos elementos.

A eletricidade e o encanamento haviam sido danificados, mas sem


quaisquer acessórios, eles não serviriam de muito.

— Vai ser lindo, — disse Gabby.

E seria, com o quarto maior com vista para o lago, o deck envolvente
que atualmente era apenas um esqueleto de madeira, a lareira parcialmente
coberta com uma bela pedra.

— Acho que não pensei nisso o tempo todo, — Maggie suspirou,


lembrando Gabby de todas as vezes que ela as colocou em apuros com sua falta
de planejamento. E assim como então, Maggie ficou surpresa quando as coisas
deram errado; ela nunca parecia entender sobre esses episódios. A esse respeito,
uma natureza Ômega não parecia fazer diferença.
— É muito bem construído, — disse Gabby com tato.

Era verdade: a fundação havia sido reforçada para minimizar o


deslocamento na encosta íngreme. A estrutura parecia sólida, as vigas do teto de
dez centímetros de espessura e unidas com o que parecia ser ferragens de ferro
martelado. Nada iria derrubar a estrutura... mas levaria muito tempo para
proteger alguém dos elementos.

O companheiro de Maggie parecia igualmente surpreso com seu plano.

— Maggie, amor, por que você disse a Gabby que ela poderia ficar na
casa nova? — ele perguntou, parecendo perplexo, mas não totalmente surpreso.
Ele aparentemente conhecia bem sua companheira, apesar do fato de que eles
não estavam juntos há muito tempo. — Você sabe que não terminarei até a
primavera, no mínimo.

— Eu não sei, — disse Maggie com um encolher de ombros


envergonhada. — Acho que pensei que você seria capaz de usar um pouco de sua
magia e consertar algo rapidamente.

Gabby se mexeu desconfortavelmente, desejando poder desaparecer


no chão. A última coisa que ela queria era causar atrito entre Maggie e seu novo
parceiro - que, apesar da preocupação de Gabby sobre seu tamanho e força
imponentes, ele parecia um cara decente.

Embora obviamente surpreso com a notícia de que Gabby seria


hóspede de Maggie até a primavera seguinte, ele não disse uma palavra de
protesto.

Até agora.
Gabby pulou de susto quando um estrondo profundo veio de seu peito.

Ela deu um passo para trás, desejando tornar-se invisível contra a


parede de gesso não preparada. Ela nunca se considerou covarde, especialmente
desde que sua mãe a ensinou a ser destemida. Gabby gostava de acreditar que
havia herdado a coragem de Isabella. Afinal, ela tinha feito um ótimo trabalho ao
lidar com Darren e aqueles agentes assassinos.

Mas havia uma linha entre coragem e estupidez, e irritar um Alfa de


bom grado era um nível superior de estupidez.

Maggie, por outro lado, não parecia perturbada. Ela apenas revirou os
olhos para seu companheiro. — Pare com isso, querido. Você está assustando
Gabby.

O olhar do Alfa cintilou em sua direção, e sua expressão se suavizou. —


Perdoe-me. Faz muito tempo que não penso em emoções Beta.

Gabby não poderia ter ficado mais surpresa. Ela nunca tinha ouvido
falar de um Alfa admitindo que estava errado. Ou se preocupando com a
etiqueta, aliás.

— Por favor, não se preocupe com isso. Sou eu quem deveria estar se
desculpando por entrar em sua casa sem avisar e causar todo esse inconveniente.

— Não é problema, — disse Axel, envolvendo o braço em torno de


Maggie e puxando-a para perto. — Eu sei como Maggie está aliviada por você ter
chegado aqui com segurança. E enquanto ela estiver feliz, eu estarei feliz.

Era difícil conciliar os dois lados desse Alfa. Em um minuto, Axel estava
fazendo sons assustadores como um leão prestes a derrubar uma gazela e, no
seguinte, ele parecia um adolescente embriagado. Gabby percebeu que estava
errada ao presumir que essas criaturas tinham uma gama limitada de emoções ou
que pensavam apenas em si mesmos. Ao contrário, ela estava recebendo uma
boa educação hoje.

— Bem, se o novo lugar não funcionar, então você ficará no antigo


conosco, — disse Maggie alegremente.

— Eu não sei, — Gabby disse apressadamente. A ideia de passar o


inverno na casa coberta de neve com um Alfa, mesmo um tão decente quanto
Axel, já estava dando um nó em seu estômago.

Ela não era a única que tinha escrúpulos. — Sim, isso não funcionará, —
disse Axel com firmeza.

— Por que não? — Maggie parecia genuinamente perplexa.

— De cabeça, consigo pensar em pelo menos quatro boas razões por


mês.

Gabby sentiu seu rosto esquentar quando percebeu que Axel estava
falando sobre o cio de Maggie. Cerca de quatro dias de sexo sem parar, se o que
ela ouviu era verdade.

Até aquele momento, Gabby vinha fazendo o possível para não pensar
nesse aspecto da nova vida de Maggie. O pensamento de... fazer isso com um ser
humano tão grande era o suficiente para fazê-la se sentir fraca.

— Talvez não tenha sido uma boa ideia, afinal, — Gabby gaguejou. — Se
voltarmos agora, talvez eu possa pegar uma carona com Courtney.
— Não seja ridícula! — Maggie agarrou sua mão, puxando-a para fora
do canteiro de obras e de volta para sua casa atual, uma aconchegante casa de
fazenda que havia sido abandonada durante os esforços de realocação rural do
governo. — Os federais estão atrás de você, Gab, e você sabe que eles não vão
desistir. Não deixarei uma coisinha como sexo atrapalhar sua segurança,
especialmente quando estamos falando sobre Hoss e Singh. — Ela estremeceu. —
Eles são monstros.

Axel fez um som de engasgo. — Desde quando sexo é uma 'coisinha'?

Maggie deu-lhe um pequeno empurrão. — Você sabe que não é isso


que eu quis dizer, querido. A questão é que agora que Gabby está aqui, temos
que mantê-la segura.

— Você está certa, — Axel suspirou. — Tudo bem. Vou ver alguns dos
caras, e podemos começar a montar algo amanhã. Xander não está usando toda a
madeira que cortou para a cabana da Sra. Rennert. Se usarmos a fundação
daquela velha cabana, provavelmente podemos conseguir algo simples
emoldurado em alguns dias e habitável em uma semana ou mais.

Gabby sentiu-se fraca. — Você está falando em construir uma casa? Do


zero?

— Não será muito, provavelmente apenas um ou dois quartos, mas vai


te ajudar durante o inverno. Tenho certeza que o irmão de Maggie vai ajudar, e
provavelmente alguns dos meus vizinhos também.

— É... é demais, — Gabby protestou. Ela não conseguia imaginar por


que esse Alfa faria tanto esforço por uma completa estranha. — Não há nenhuma
maneira que eu poderia te pagar de volta.
A expressão de Axel relaxou em algo que era quase um sorriso. — Não
se preocupe com isso. Essa é uma das diferenças entre o seu mundo e as terras
fronteiriças, ninguém marca pontos aqui. Nós apenas fazemos o que precisa ser
feito.

***

O fim da semana não poderia chegar rápido o suficiente.

Gabby sentiu uma pontada de culpa com o pensamento. Ela


dificilmente se sentia miserável na casa de Maggie e Axel. Na verdade, ela ficou
surpresa com o quanto gostou, especialmente tendo tempo sozinha para se
reconectar com sua velha amiga.

Maggie pode não ter se tornado mais confiável, mas ela era diferente
de maneiras difíceis de definir. Mais atenciosa, talvez, prestando muita atenção
em Gabby enquanto conversavam e expressando simpatia genuína pelo que ela
havia passado.

Ela nem disse 'eu avisei' quando Gabby confessou quão mal Darren a
tratou, especialmente perto do fim. Em vez disso, os olhos de Maggie se
encheram de lágrimas quando ela puxou Gabby para um longo abraço.

— Sinto muito, que você tenha passado por isso, — ela murmurou. —
Algum dia você encontrará alguém que te trate do jeito que você merece.

Gabby não compartilhava de seu otimismo - especialmente agora - mas


as palavras de Maggie foram um longo caminho para curar as cicatrizes que
Darren havia deixado e apagar a vergonha que ela carregava. Em pouco tempo,
ela estava se sentindo mais próxima do que nunca de sua melhor amiga.

Elas tomavam café pela manhã, trabalhavam no jardim e faziam longas


caminhadas. À tarde, Gabby assistia Maggie pintar e decidiu que era melhor do
que a TV. Elas nunca ficaram sem conversa, e Gabby se pegou rindo mais do que
em meses - talvez até anos.

Ela até começou a gostar da companhia de Axel depois de andar na


ponta dos pés perto dele no primeiro dia. Era verdade que ele era rude e um
pouco desajeitado perto dela, mas por baixo de seu exterior estóico havia um
homem gentil, generoso e amoroso que tratava Maggie como uma rainha.

Por mais que Gabby estivesse feliz em ver como os dois se davam bem,
o relacionamento deles não era isento de desafios - pelo menos, para ela.

Porque o fato inevitável era que Maggie e Axel não conseguiam manter
as mãos longe um do outro.

Cada vez que Gabby dobrava uma esquina, o casal parecia estar se
agarrando, se beijando e se apalpando com a paixão de recém-casados.

Gabby temia que fosse apenas uma questão de tempo até que ela se
deparasse com algo realmente mortificante. Até agora, Maggie e Axel
conseguiram manter suas roupas durante o dia... mas o mesmo não poderia ser
dito para as noites frias de outono, quando ela ficava presa ouvindo-os fazer isso
por horas.

Todas as noites. Gabby não havia sonhado que seria possível manter
isso por tanto tempo.
Ela sabia que eles estavam fazendo o possível para ficarem quietos. Ela
os ouviu silenciando um ao outro durante uma sessão particularmente
barulhenta, mas seus esforços geralmente eram abandonados quando as coisas
esquentavam. Havia tanto barulho que as paredes podiam filtrar, mesmo do
quarto que Maggie lhe dera no outro extremo da casa.

Mesmo que a mortificação de Gabby tenha diminuído o suficiente para


que ela pudesse enfrentá-los pela manhã sem ficar vermelha como uma
beterraba, a falta de sono estava começando a afetá-la. Ela estava exausta só de
ouvi-los, e era impossível relaxar até que eles finalmente terminassem a noite.
Gabby estava começando a pensar em arriscar uma hipotermia no canteiro de
obras se isso significasse ter uma boa noite de sono.

Ela não disse nada, porém, visto que o problema era só dela. De alguma
forma, Maggie e Axel pareciam perfeitamente descansados todos os dias.

Fiel à sua palavra, um dia após a chegada de Gabby, Axel foi ver alguns
amigos e, naquela tarde, uma carga de madeira havia sido entregue no local de
uma velha cabana de caça a oitocentos metros da casa.

Todos os dias desde então, os sons da construção preenchiam as horas


até ao final da tarde, quando os outros Alfas iam para casa e Axel se dirigia para o
chuveiro para lavar o suor e a sujeira de um longo dia.

Na manhã seguinte à construção do telhado, Maggie sugeriu um


passeio até à casa de sua amiga Sarah para colher mirtilos dos arbustos selvagens
que cercavam seu quintal. Por mais intrigada que Gabby estivesse com a
promessa de Maggie de assar uma torta - ela nunca havia cozinhado mais do que
um ocasional jantar congelado - ela estava cansada demais para qualquer coisa
além de uma segunda xícara de café. — Talvez depois que eu tiver um pouco mais
de cafeína, — ela disse.

Maggie começou a espalhar suas tintas e lonas em preparação para


iniciar um novo design para os armários da cozinha. Ela estava colando seus
esboços quando os outros Alfas pararam na entrada. Axel os encontrou na
varanda, como fazia todas as manhãs, para conversar sobre os planos do dia
antes de ir para o local.

Ele apresentou cada um deles a Gabby no primeiro dia e, embora ela


tenha ficado profundamente desconfortável no início, estava começando a
perceber quão equivocada fora sua primeira impressão dos Alfas.

Sim, eles eram enormes. E sim, eles poderiam quebrar seu pescoço tão
facilmente quanto estalar os dedos. Mas isso não significava que eles queriam.

Foi Maggie quem lhe ensinou que a lei fundamental da fronteira era o
respeito. Dê, e você receberá de volta. Era tão simples quanto isso.

Então, embora Gabby não achasse que adicionaria nenhum desses Alfas
à sua lista de cartões de Natal quando voltasse ao seu mundo, ela não estava mais
apavorada com a visão de um Alfa passando pelas janelas.

Hoje, no entanto, ela estava empoleirada em uma banqueta ao lado do


balcão da cozinha para poder observar Maggie pintar, o que significava que ela
podia ver diretamente a porta da frente aberta para a varanda.

Ela avistou Xander, irmão de Maggie, que de alguma forma conseguiu


se parecer com ela, apesar de ter o dobro de seu tamanho. Um Alfa chamado
Ransom, que aparentemente era algum tipo de gênio mecânico e trazia uma
enorme caixa de ferramentas todos os dias. Então havia Wyatt, que a
surpreendeu com sua natureza descontraída e senso de humor seco.

Hoje, um quarto irmão se juntou aos outros... um com um perfil familiar


recortado contra o sol da manhã. Quando ele saiu para a sombra da saliência da
varanda, a respiração de Gabby ficou presa na garganta.

Era o Alfa que ela encontrou no dia em que chegou à fronteira.

Assim como a primeira vez que ela colocou os olhos nele, uma sensação
peculiar de formigamento percorreu suas terminações nervosas da cabeça aos
pés. Suas mãos tremiam, derramando café sobre a borda da caneca.

Ela pulou e pegou uma esponja da pia e começou a limpar o balcão - do


outro lado, onde ela ficaria fora de vista.

Maggie ergueu os olhos de sua paleta. — Você está bem?

— Tudo bem, tudo bem, — Gabby disse levemente, deixando o cabelo


cair sobre o rosto para disfarçar o constrangimento. — Apenas um pequeno
derramamento.

Mas Maggie ainda estava olhando para ela com preocupação, então
Gabby enxaguou a esponja e voltou para seu banquinho, determinada a manter
os olhos para si mesma e evitar outro olhar para baixo sobrecarregado.

Sim, ela apenas sentaria aqui e jogaria com calma até que os Alfas
saíssem para começar o trabalho. Quão difícil isso poderia ser?

— Então... hum... eu vejo seu irmão e Ransom e Wyatt lá fora, mas, uh,
quem é o cara novo?

Sim, isso foi muito legal, observou seu crítico interno.


Felizmente, Maggie não pareceu notar, inclinando-se sobre o balcão
para dar uma olhada. — Oh, é apenas Bronn. Nosso vizinho.

Bronn... um nome perfeito para alguém que parecia ser capaz de


arrancar um carvalho com uma mão.

Gabby assentiu com a cabeça, tentando resistir ao impulso de espiar


pela porta enquanto Maggie tagarelava sobre o projeto que inventara para fazer
os armários parecerem um campo de flores. Ela não pareceu notar que Gabby
não estava acrescentando nada à conversa, passando a falar sobre a incrível
catadora de lixo que Sarah era e todos os tesouros que ela havia encontrado em
casas abandonadas.

Gabby mal prestou atenção, segurando sua caneca com tanta força que
doía. Cada músculo em seu corpo estava tenso e preparado, enquanto ao mesmo
tempo, ela nunca se sentiu tão exposta.

Foi horrível... e também inebriante.

Ela não percebeu que havia perdido a batalha até que se virou para
olhar, piscando sob o sol... e encontrou Bronn olhando diretamente para ela. Ou
pelo menos na direção dela. Certamente ele não podia vê-la na penumbra da
cozinha...?

— Maggie, — ela deixou escapar. — O quão melhores são os sentidos


Alfa do que os nossos? Quero dizer, especificamente a visão. Como eles podem
ver no escuro?

Maggie olhou para cima em confusão. — Hum, sim. Axel pode, de


qualquer maneira. Por que você pergunta?
Gabby sentiu vontade de derreter no tapete. — Nenhuma razão, —
disse ela, visando um tom leve. Quando Maggie continuou olhando para ela, ela
tentou fingir um bocejo.

— Uau! Eu não sei o que deu em mim! — ela disse, sua voz estranha e
fina. — Eu me pergunto se estou ficando doente com alguma coisa?

Maggie se levantou e deu a volta no balcão para colocar uma mão fria
em sua testa. — Você se sente um pouco febril, — ela disse preocupada.

Essa era a última coisa que Gabby precisava. Maggie provavelmente a


faria tomar algum remédio caseiro feito de ervas daninhas ou escamas de peixe
ou algo assim. — Tenho certeza que é apenas estresse, — disse ela rapidamente.
— Eu ficarei bem.

— Talvez você devesse ir com calma hoje. Você pode encontrar Sarah
outra hora.

— Sim, definitivamente, outra hora. — Gabby continuou balançando a


cabeça e sorrindo até que Maggie finalmente pareceu tranquilizada.

Porque enquanto aquele Alfa estivesse lá fora, não havia nenhuma


maneira no inferno que Gabby arriscaria encontrá-lo cara a cara.
CAPÍTULO 5
Gabriella

Isso não poderia estar acontecendo.

Gabby rolou pela enésima vez no colchão duro que parecia


perfeitamente bom na noite anterior. Apesar de tentar todos os truques que
aprendeu com seu treinador de atenção plena, nada conseguia clarear sua mente.

Talvez fosse porque sua cabeça não estava cheia de uma confusão de
pensamentos para variar, todos competindo por sua total atenção. Em vez disso,
Gabby foi perseguida por um pensamento singular e avassalador que ela não
podia ignorar, por mais que tentasse.

Bronn.

Deus a ajude; ela tinha tesão por um Alfa.

Não adiantava negar. Alguns segundos de seu olhar feroz, e ela sentiu-
se começar a derreter em uma poça. Não ajudou que Bronn carregasse uma carga
de dois por quatro em seu ombro, exibindo seus músculos duros e firmes do
braço e aquele peito enorme.

Caramba. A sensação quente e derretida de desejo reunindo-se em sua


barriga havia escolhido o pior momento possível para voltar depois do inverno
ártico que tinha sido sua vida sexual com Darren. Gabby sempre se sentiu um
pouco culpada por não ser capaz de se excitar com o noivo... embora agora ela
suspeitasse que alguma parte dela havia descoberto o verdadeiro caráter de
Darren e trancado as coisas em legítima defesa.

Aparentemente, seu subconsciente não tinha tais escrúpulos sobre esse


Alfa aleatório.

Não importava que ele fosse o Alfa mais intimidador, taciturno e hostil
do mundo; ele de alguma forma conseguiu fazer o motor dela funcionar, e agora
ele mudou para alta velocidade.

Não era como se Gabby não tivesse interesse de outros homens além
de Darren - pelo contrário, parecia que ela recebia propostas ainda mais
frequentemente quando os dois se tornaram um casal. Mas nem uma vez, fosse o
irmão da fraternidade de Darren ou um estranho aleatório em um bar, Gabby
sentiu o menor desejo em troca.

Não até ela chegar, atordoada e vulnerável, em Boundaryland e


praticamente obcecada no primeiro Alfa que ela viu.

Que foi o que finalmente deu a pista para ela. Gabby se sentou na cama
e quase se deu um tapa na testa, meio mortificada e meio aliviada por ter
descoberto o que havia de errado com ela.

Pelo menos agora que ela sabia, ela poderia consertar a situação...
porque tinha que haver uma solução.

Afinal, a atração — especialmente a atração sexual — era apenas uma


resposta fisiológica a estímulos. Isso não significava nada. Essa onda
particularmente perturbadora de luxúria provavelmente foi causada por um pico
inoportuno de hormônios ao mesmo tempo em que ela estava lidando com uma
quantidade incomum de estresse.

Claro, Gabby era uma especialista em marketing, não uma bióloga,


então ela não tinha ideia se isso era verdade. Mas parecia bom, então ela aceitou.

Se seu mundo não tivesse virado de cabeça para baixo, ela saberia o
que fazer: viajar ou se jogar no trabalho. Talvez faça uma desintoxicação ou
aprenda um novo idioma.

Mas aqui no deserto do Missouri, nenhum dos confortos habituais de


Gabby estava disponível. Sua vida foi abalada até ao âmago.

Nada estava sob seu controle, incluindo suas próprias emoções.

Diante de tudo isso, era de se admirar que Gabby tivesse sido distraída
por um Alfa quente e gostoso com corpo de demônio e rosto de anjo negro?

Uma distração como essa era muito mais fácil de se concentrar do que
se perguntar se SALE apareceria com um passaporte falso que passaria na
inspeção Alfandegária. As deliciosas sensações de arrepio que Gabby
experimentava toda vez que pensava em Bronn apenas exigiam que ela sentisse
— não pensasse.

E depois dos últimos dias, Gabby estava feliz por ter uma pausa em seus
pensamentos.

O som de passos no caminho de cascalho do lado de fora da janela fez


seu coração disparar. Ela não conseguia controlar sua curiosidade.

Movendo-se o mais silenciosamente que pôde, Gabby se levantou da


cama e abriu a cortina alguns centímetros.
Sim. Era ele.

Gabby mordeu o lábio ao ver Bronn conversando com Wyatt enquanto


eles reuniam outra carga de madeira na traseira do caminhão. Eles estavam muito
longe para Maggie entender o que eles estavam dizendo, mas isso não importava.

Nas duas últimas vezes que ela encontrou Bronn, Gabby foi forçada a se
contentar com um ou dois olhares furtivos. Agora ela tinha a oportunidade de dar
uma boa olhada.

E caramba se não havia muito para olhar.

Destacar-se entre os homens que eram conhecidos por sua ameaça e


inacessibilidade era uma façanha - mas Bronn conseguiu fazer os outros Alfas
parecerem tão inofensivos quanto um happy hour em uma convenção estatuaria.

A princípio, Gabby presumira, pelo olhar ameaçador dele, que ele não
gostava ou não confiava nela. Dadas as histórias que Maggie havia compartilhado
sobre os horrores que os Alfas experimentaram enquanto estavam trancados no
laboratório secreto, Gabby não culparia Bronn por desconfiar dos Betas.

Inferno, ela não era muito fã no momento.

Mas talvez ela estivesse errada sobre sua motivação. Ele estava lá fora
agora, canalizando sua melhor impressão de príncipe das trevas, mesmo que
fosse apenas ele e Wyatt.

Talvez ele fosse apenas mal-humorado por natureza... mas caramba se


não ficava bem nele.

Uma última olhada.


Gabby deixou seu olhar percorrer lentamente seu corpo e foi
recompensada com um delicioso arrepio. Ela sabia que realmente precisava soltar
a cortina e ir embora. Isso não poderia ser saudável.

Mas, por outro lado, desde quando olhar fazia mal a alguém?

Certamente não havia nenhum mal em apreciar a visão dele um pouco


mais.

Os dedos de Gabby se apertaram ao redor do fino tecido da cortina


enquanto ela absorvia a visão do corpo esculpido de Bronn. Toda vez que os
músculos de Bronn se moviam e flexionavam, sua pele esticada ondulava. Ela
podia ver cada contorno de suas costas e ombros flexionando sob sua camiseta
enquanto ele levantava a madeira pesada.

Ela se lembrou do rosnado de Axel e tentou imaginar como seria o de


Bronn. Isso a assustaria? …ou faria seu coração bater forte de emoção?

Gabby lambeu os lábios enquanto a imagem do peito dele se


expandindo enchia sua mente. Sua respiração acelerou enquanto ela imaginava o
estrondo de seu domínio enquanto ele se elevava sobre ela.

Ela pensou em tocá-lo, arrastando as pontas dos dedos lentamente por


seu peito sólido e largo até aos cumes de seu abdômen... até que ele pegou a
mão dela e...

Pare com isso.

Graças a Deus que um traço de sua personalidade tensa de esposa de


político permaneceu para interromper aquela linha de pensamento antes que ela
saísse dos trilhos.
O que diabos ela estava fazendo? Ela nunca olhou para um homem com
tanta fome, nunca ficou paralisada apenas observando-o se mover. Nem Darren,
nem nenhum de seus outros namorados, nem mesmo um estranho.

Ela certamente nunca estudou um do jeito que estava estudando este


Alfa agora, como se estivesse tentando memorizar tudo sobre ele para durar pelo
resto de sua vida.

A primeira impressão que Gabby teve de Bronn foi a de um predador


perigoso... mas era ela quem acompanhava cada movimento dele, sentindo a
fome crescer dentro dela, como se estivesse se preparando para atacar.

De repente, os dois Alfas congelaram, seus corpos ficando tensos em


estado de alerta. O único movimento deles era inclinar a cabeça em conjunto,
como se testassem o vento.

Gabby prendeu a respiração e se encostou na parede, apavorada por


ter sido descoberta. Mas ela não fez um som. O que significava que o que quer
que chamasse a atenção deles era perigoso o suficiente para colocar um Alfa em
alerta, o que era um pensamento aterrorizante.

Então o som de risadas cortou a tensão, e Gabby caiu contra a parede


em alívio.

— Parece que alguém está preparando algo bom naquela casa, — disse
a voz de Wyatt. — E eu sei que não é para mim. Vou te dizer uma coisa, irmão, eu
não te culparia se você quisesse dar um tempo.
Gabby quase engasgou. Eles não podiam... certamente os dois homens
não estavam falando sobre ela, estavam? Sobre as fantasias selvagens que ela
estava entregando, a umidade em sua calcinha? Mas isso era impossível!

Ela estava escondida atrás de uma parede, imóvel e silenciosa. Eles


teriam que ser leitores de mente para entender o que ela estava pensando.

E Gabby tinha certeza de que Maggie teria mencionado isso.

Ela se afastou silenciosamente da janela até que ela estava encolhida na


porta, escondida pelas sombras. Ela perdeu a resposta de Bronn, entregue em um
vociferado baixo. Mas Wyatt continuou rindo enquanto os dois homens
desapareciam na floresta.

Gabby soltou o ar lentamente. Nada havia acontecido, ela disse a si


mesma. Os Alfas não detectaram sua presença. Ela apenas foi vítima de sua
imaginação hiperativa, nada mais.

Mesmo assim, ela iria se certificar de que estava em plena posse de seu
juízo antes de mostrar seu rosto novamente, até mesmo para Maggie. E amanhã,
ela sairia de casa antes que os problemas tivessem a chance de aparecer e
começar a cochichar do lado de fora de sua janela novamente.

***

— Então, você é a famosa Gabriella Pineda de quem tanto ouvi falar!


Você não tem ideia do quanto estávamos ansiosos para conhecê-la.
A mulher pequena e bonita que veio até à porta estava vestida com
uma alegre saia amarela e um top xadrez combinando, seus longos cachos
escuros puxados para trás com uma larga fita de gorgorão. Sua única maquiagem
era um pouco de brilho labial rosa, e o efeito geral era tão saudável quanto uma
torta de maçã.

Gabby trocou um olhar com Maggie, que lhe deu um sorriso


tranquilizador. Entre todas as coisas boas que ela tinha a dizer sobre sua amiga
Sarah, ela se esqueceu de mencionar sua semelhança com June Cleaver.

Por dentro, a casa de Sarah brilhava e cheirava a limão e canela. Era


elegantemente mobiliada com peças de qualidade e cortinas perfeitamente
passadas, e a mesa do hall trazia um vaso de cristal cheio de rosas. E uma pintura
de paisagem que Gabby reconheceu como obra de Maggie estava pendurada em
um lugar de destaque sobre a lareira.

Gabby não tinha certeza do que ela esperava, mas não era Sarah. Sua
impressão inicial de Ômegas como vítimas derrotadas, frágeis e submissas
evaporou quando Gabby descobriu que Maggie havia se tornado uma.

Mas Maggie havia descrito Sarah como um comitê de boas-vindas de


uma mulher, faz-tudo e gerente da comunidade, e Gabby estava tendo problemas
para enquadrar essa descrição com sua anfitriã esbelta e feminina.

— Espero que você não se importe por eu ter planejado almoçar lá fora
hoje, — disse Sarah enquanto os conduzia até às portas de vidro nos fundos da
casa. — Acho que hoje será um dos últimos dias quentes até à primavera, e
pensei que deveríamos aproveitar enquanto podemos.
— Ótima ideia, — disse Maggie, pegando uma bandeja de copos e uma
jarra de chá gelado do balcão.

— Sua casa é linda, — acrescentou Gabby. — Parece que você viveu


aqui por muito tempo, em vez de apenas alguns meses.

— Era dos meus avós. — Os olhos de Sarah se suavizaram. — Eu vinha


aqui todo verão quando criança, e é um sonho realizado poder viver aqui agora
com Archer.

Droga, Gabby pensou, outra Ômega apaixonada.

— Olá! — uma voz chamou, e mais duas mulheres saíram para o pátio
dos fundos.

— Esta é Lili, — disse Maggie, apontando com a cabeça para uma


mulher alta e esguia com grandes olhos azuis e um lindo espaço entre os dentes
da frente. — E esta é Ruby. — Uma mulher de sorriso meigo e curvas generosas
acenou timidamente.

— Sinta-se em casa, senhoras, — disse Sarah, — e já volto com meu


prato mundialmente famoso.

— Ela é real? — Gabby deixou escapar quando Sarah desapareceu na


casa. — Eu juro que se ela trouxer um assado de coroa e batatas duquesa...

— Merda! — uma voz gritou lá de dentro, fazendo Gabby pular.

— Queimou a maldita coisa de novo.

Todas riram quando Sarah saiu segurando uma pizza chamuscada em


uma tábua enorme. — Desculpe, pessoal.

— Onde diabos você conseguiu uma pizza congelada? — Lili disse.


Sarah parecia um pouco envergonhada. — Courtney trouxe isso como
uma piada.

— Você não foi a única que Sarah enganou, Gabby, — Maggie explicou.
— Ela estava fazendo malabarismos com tudo sozinha no início, e ninguém
conseguia descobrir como ela fazia isso.

— Até que descobrimos que Archer estava fazendo a maior parte do


trabalho doméstico e cozinhando.

— Ei, ele é melhor nisso! — Sarah protestou. — Além disso, nós


compartilhamos.

— É assim que estamos chamando? — Lili disse. — Porque eu ouvi você


jogar uma moeda, e o perdedor tem que... — Ela mexeu as sobrancelhas
sugestivamente.

— Oh meu Deus, vocês vão chocar a pobre Gabby! — disse Sarah. —


Além disso, aquela coisa de cara ou coroa era Ruby e Diesel.

Ruby corou, mas seus olhos brilharam. — Darlene vem?

— Ela disse que estaria aqui, mas sei que ela está lutando contra o
enjoo matinal, — disse Sarah. Então, virando-se para Gabby, ela acrescentou: —
Ela engravidou durante o primeiro cio. Dá para imaginar?

— Não, — Gabby respondeu honestamente. — Eu realmente, não


posso.

— Estou meio aliviada por ela não estar aqui para sua primeira visita, —
admitiu Sarah. — Darlene e eu somos amigas desde sempre, então ela conhece
todos os meus segredos.
— Como o fato de que você não pode cozinhar merda nenhuma, —
Maggie brincou.

— Oh, graças a Deus, — Gabby deixou escapar. — Eu estava começando


a pensar que vocês eram todas perfeitas.

Todas as mulheres caíram na gargalhada. — Não existe perfeição em


uma fronteira, — disse Lili e começou a contar uma história engraçada sobre
tentar ensinar seu companheiro a dirigir e acabar tendo que fazer Axel tirar o
caminhão do lago.

Pela primeira vez desde que ela e Maggie saíram de casa, Gabby
começou a relaxar. Agora, se apenas aquele maldito Alfa ficasse fora de sua
mente.

Gabby fez o possível para banir todos os pensamentos sobre Bronn


enquanto tentava acompanhar a conversa que fluía confortavelmente ao redor da
mesa.

Do outro lado da entrada da garagem de Sarah, o lago banhava os


salgueiros que cresciam na beira, e borboletas disparavam entre os crisântemos
coloridos que cresciam ao longo do caminho. Do outro lado da casa havia um
bosque de velhas árvores frutíferas que haviam sido recentemente podadas para
restaurar sua forma.

O sol de outono era maravilhoso no rosto de Gabby, e o chá gelado era


azedo e frio. Embora ela não pudesse manter todos os detalhes corretos, era
difícil não se animar com as histórias das provações e tribulações das Ômegas
enquanto elas se acomodavam em suas novas vidas.
A princípio, ela contou com sua experiência como acompanhante de um
candidato político, fazendo contribuições apropriadas para a conversa; mas na
segunda ou terceira vez o grupo se desfez na gargalhada, Gabby relaxou e se
juntou a elas. Ela sabia que era um peixe fora d'água, mas as outras a faziam se
sentir tão bem-vinda que ela sempre se esquecia das diferenças em suas
naturezas.

Ela estava enxugando as lágrimas de riso dos olhos depois que Ruby
confidenciou que seu companheiro tropeçou em uma ninhada de gatinhos em um
antigo galpão e levou a nova família para a cozinha para se aquecer. A pobre
Ômega acordou na manhã seguinte e descobriu que sua frigideira de ferro
fundido e seu roupão haviam sido transformados em uma cama improvisada para
gatos.

— O Diesel simplesmente não pode deixar de acolher os desgarrados,


— disse ela com carinho.

— Pelo menos nossos Alfas compensam todos os problemas que eles


causam quando o sol se põe, — disse Sarah, e todas riram... exceto Gabby.

— Ah, não, — disse Sarah. — Acho que escandalizamos a sua amiga,


Maggie.

— Não se preocupe com isso, — disse Maggie, apertando a mão de


Gabby.

— Acredite em mim, antigamente, essa garota podia festejar com o


melhor deles.
— O que mudou? — Ruby perguntou inocentemente, e a mesa de
repente ficou quieta.

Gabby baixou o olhar para a toalha de mesa conscientemente. — Um


cara, — ela admitiu, mortificada.

— Um verdadeiro idiota, — acrescentou Maggie.

Para surpresa de Gabby, suas palavras foram recebidas com alguns


gemidos de compreensão.

— Fale-me sobre isso, — disse alguém.

— Oh Deus, acho que todas nós sabemos como é isso.

Gabby olhou para cima e ficou surpresa ao ver nada além de expressões
de verdadeira empatia. — Mas... mas vocês estão todas em relacionamentos
perfeitos.

Desta vez ninguém riu. Em vez disso, Lili estendeu a mão sobre a mesa e
pegou a outra mão. — Não é perfeito, — disse ela, — mas maravilhoso. Alfas
sabem como tratar bem suas parceiras.

— Não se sinta mal com o que aconteceu no passado, — Ruby disse


com seriedade. — Não foi sua culpa.

Gabby ficou surpresa ao encontrar lágrimas em seus olhos. — Você não


pode saber disso, — disse ela em um sussurro sufocado.

Alguém empurrou uma caixa de lenços para ela em meio a um coro de


murmúrios de apoio.
— Dê um tempo, — disse Maggie, com um olhar de sabedoria que
Gabby quase quis se beliscar para ter certeza de que era mesmo sua velha amiga
falando.

A conversa continuou novamente, deixando Gabby se deliciar com o


carinho que as mulheres sentiam uma pela outra. Havia tantas emoções girando
dentro dela que era difícil separar todas elas.

Até este momento, ela nunca tinha percebido quanta vergonha ela
carregava sobre seu relacionamento com Darren. Mas estar com essas mulheres -
que eram mais abertas e autênticas do que todas as suas velhas amigas juntas - a
fez questionar quem ela havia se tornado e o que havia acontecido com a garota
que antes estava tão determinada a criar uma vida para si mesma.

Como ela poderia ter se apaixonado pelas mentiras e abuso psicológico


de Darren? Como ela poderia ter sacrificado tanto - sua carreira, seus princípios,
sua alma - por alguém tão terrivelmente indigno?

Ouvir as outras mulheres falarem sobre seus próprios relacionamentos,


os problemas que tiveram com parceiros e familiares no passado, fez com que ela
se sentisse menos sozinha.

Essa conversa não era como suas contas de mídia social


cuidadosamente organizadas, onde a vida era apresentada como perfeita, não
importa o que realmente estivesse acontecendo. Essas mulheres não tinham
medo de revelar suas imperfeições e erros. Na verdade, elas pareciam se
fortalecer ao compartilhar seus segredos.

Nas poucas vezes que Gabby pensou em Ômegas no passado, ela


acreditou nos julgamentos da sociedade Beta de que elas eram tão subservientes,
tão carentes de atenção, que mal contavam como humanos. E, no entanto,
compartilhar um almoço de pizza queimada com essas mulheres era melhor do
que qualquer brunch com champanhe ou jantar formal que ela já havia
comparecido em Denver ou DC.

O que fez Gabby se perguntar: se o governo Beta estava espalhando


mentiras sobre Ômegas... sobre o que mais eles estavam mentindo?

— Oh, ei, Bronn, — disse Sarah, levantando-se. — Eu não ouvi você


entrar. Vocês precisam de alguma coisa?

Gabby congelou quando o Alfa passou por baixo do batente da porta e


saiu para o pátio. Seu peito, pelo amor de Deus, estava nu, e ela não conseguia
desviar o olhar daquele torso largo e poderoso brilhando de suor. Sua língua saiu
e ela percebeu tarde demais que estava lambendo os lábios como um cachorro
olhando para uma costeleta de porco.

— Archer me pediu para vir. — Bronn dirigiu-se ao grupo, mas seus


olhos se fixaram em Gabby, e ela sentiu sua temperatura subir sob seu escrutínio.
— Ele disse que você tinha um velho fogão a lenha no galpão de armazenamento.
Poderíamos usá-lo para a cabana.

— Boa ideia! — disse Sarah. — Eu te mostrarei onde é.

Bronn a seguiu, mas não antes de estreitar os olhos para Gabby como
se tentasse decifrar alguma coisa.

— Obrigada, por ajudar Axel com isso, Bronn, — disse Maggie quando
ele passou.

— Não é um problema.
— Eu sei que Gabby também gosta disso, — Maggie continuou
cravando seu dedo na coxa de Gabby debaixo da mesa, forte o suficiente para
machucar. — Não é, Gabby?

Gabby olhou para ela. Que diabos? Agora todo mundo estava olhando
para ela, então ela não tinha escolha a não ser responder ou correr o risco de
parecer rude.

Ela forçou seu sorriso de primeira-dama. — Claro. Você é muito gentil.

Ele olhou diretamente em seus olhos, e pela primeira vez ela notou que
os dele eram tocados com brilhos de ouro. Ele assentiu - uma vez - e ela poderia
jurar que o desapontou de alguma forma.

Gabby não respirou até que ele estivesse fora de vista.

Ela tinha certeza de que havia feito um espetáculo de si mesma, mas a


conversa retomou novamente. Gabby tentou parecer que estava prestando
atenção, embora, em sua mente, estivesse seguindo Bronn sem camisa até ao
antigo galpão.

Em instantes ele estava de volta, carregando um velho fogão de ferro


fundido que devia pesar pelo menos quinhentos quilos como se fosse um saco de
folhas.

Gabby inalou seu perfume quando ele passou por trás dela e sentiu
suas pálpebras vibrarem com a combinação de sempre-verde, pederneira e suor.
Ela estremeceu, mordendo o lábio para conter um gemido. E então, ele se foi.

Por um momento, Gabby pairou no limite dos sentidos que ele havia
incendiado - e então ela se forçou a se afastar do limite. Ela forçou um sorriso em
seu rosto e observou os lábios das outras se movendo, fazendo sua melhor
impressão de vivo interesse.

Ela só ficaria aqui por alguns meses, Gabby lembrou a si mesma. No


final do inverno, ela seria notícia velha e então conseguiria embarcar
furtivamente em um voo internacional de volta à Espanha, para nunca mais
voltar.

Isso não passava de um breve interlúdio que se transformaria em


histórias para divertir seus futuros netos. O tempo em que a vovó foi forçada a
viver entre Alfas e Ômegas antes de escapar com vida.

O pensamento deixou um gosto amargo em sua boca... o gosto da


traição.

Essas mulheres não mostraram nada além de bondade. Elas mereciam


ter sua história contada.

Quanto aos Alfas... Gabby não tinha ideia da história que contaria sobre
eles. Só que as coisas que Bronn a fazia sentir teriam que permanecer em segredo
pelo resto de sua vida.
CAPÍTULO 6
Gabriella

Para a surpresa de Gabby, os Alfas terminaram de construir a cabana


em apenas cinco dias.

Sim, eles eram homens enormes e poderosos. Sim, eles começaram


cedo e não paravam até ao pôr do sol. Mas ainda parecia um milagre que não
houvesse nada além de uma fundação velha e rachada no local uma semana
atrás, e agora havia uma casa. Uma real com telhado e janelas e uma porta da
frente que Maggie tinha pintado com trepadeiras, flores e borboletas, e paredes
feitas de madeira resistente construída para resistir a qualquer coisa que o clima
do Missouri pudesse causar.

Maggie não deixou Gabby olhar lá dentro até terminar, e então ela
insistiu em trazer uma garrafa de champanhe e três copos de suco para batizar
sua nova casa enquanto um crepúsculo roxo descia sobre a montanha.

— Como eu disse, não é muito, — Axel advertiu Gabby enquanto


segurava a porta aberta para ela. — Mas deve ser confortável o suficiente para
você passar o inverno.

Dois passos na porta, porém, Gabby se apaixonou.

O brilho suave de lamparinas a óleo iluminava as aconchegantes


paredes de pinho nodoso, o piso de madeira, a pequena cozinha com suas
prateleiras contendo potes cheios de arroz, macarrão, café e pratos e canecas
coloridas que não combinavam.

Tudo era de segunda mão, desde a pia da fazenda até ao balcão. Os


Alfas construíram uma pequena lareira de ardósia para o fogão que Bronn
trouxera, e ao lado dela havia uma tina de cobre cheia de gravetos para combinar
com a lenha empilhada cuidadosamente do lado de fora.

Gabby sabia que tinha que agradecer a Maggie pela decoração. Algo
lhe disse que os Alfas não foram os únicos a escolher o jarro amarelo cheio de
flores silvestres e tapete trançado - ou as cortinas, que apresentavam um
desenho de cowboys... belos cowboys de peito nu com travessuras em seus olhos.

Gabby jogou os braços em volta de Maggie, com os olhos marejados. —


Eu não posso acreditar nisso! É linda - cada pequeno detalhe, eu nem sei... Eu
estava esperando uma caixa escura e suja, mas esta é a casinha mais doce que eu
já vi.

— Cabana, — Axel grunhiu.

— Ah, sim, claro, é... — Gabby se deteve na hora porque ela estava tão
empolgada com sua alegria que quase tentou abraçá-lo também. O que, como
Maggie havia explicado, era definitivamente um não, não. — uma cabana, — ela
confirmou, seus braços caindo desajeitadamente ao seu lado.

Mas seu embaraço não afetou sua excitação. Ela esperava um abrigo
simples, com a velha fundação como piso e talvez uma pilha de velhos cobertores
para dormir. Falando nisso, ela não viu uma cama, mas havia mais duas portas nas
paredes.
— São... — ela perguntou, apontando para elas em um tom de
admiração.

— Bem, estou chamando-os de seu quarto e banheiro, — disse Maggie,


— mesmo que sejam um pouco, hum, modestos.

Gabby sabia que não havia aquecimento ou água corrente, então ela
estava um pouco assustada com o que isso poderia significar. No entanto, ela
empurrou a primeira porta e encontrou uma pequena sala com uma velha
estante de livros pintada de amarelo limão e com tampo de mármore. Suas
prateleiras estavam abastecidas com artigos de toalete e, acima delas, havia um
espelho redondo cuja moldura foi pintada para combinar.

Gabby se virou para encarar Maggie, que havia se espremido no


quartinho com ela. — Onde diabos você encontrou esse papel de parede?

Maggie sorriu. — Gostou? Sarah o encontrou no porão de uma velha


cabana no lago. Ela acha que é dos anos 1960, em perfeitas condições,
provavelmente sobra de um projeto maior.

Gabby traçou o desenho de nenúfares e cisnes prateados. — É


fantástico.

— Talvez isso compense por ter que ir até nossa casa para tomar banho.
Embora... você pode querer esperar se for a segunda semana do mês.

Pela expressão de Maggie, Gabby suspeitou que era hora de seu cio.
Anotado, ela pensou; ela certamente faria a caminhada de 800 metros no dia
anterior. Depois de uma semana ouvindo os dois irem para a cidade do prazer
todas as noites, ela estava ansiosa por sua primeira noite de sono tranquilo em
muito tempo.

Maggie já estava a meio caminho da porta. — Venha ver o seu quarto.

Não era muito maior que o banheiro, mas havia uma cama de solteiro
com cabeceira antiquada e uma pequena cômoda para suas roupas. Cortinas de
renda esvoaçavam com a brisa que entrava pela janela, e uma colcha desbotada
de rosa e branco cobria a cama.

— O colchão é quase novo, — disse Maggie. — Não há muita


necessidade de tamanho duplo por aqui.

— Até termos filhos, pelo menos, — disse Axel do corredor.

As mulheres trocaram um olhar e caíram na gargalhada. Sério? Gabby


murmurou, e o rubor de Maggie deu a ela toda a resposta que ela precisava. —
Quando eu estiver bem e pronta, — ela gritou de volta.

— Venha aqui para que eu possa te mostrar como o fogão funciona,


Gabby.

Ela seguiu Maggie até à sala principal para encontrar Axel agachado na
frente do fogão com a porta de ferro aberta. — Pegue alguns gravetos, — ele
disse a ela.

Ele era certamente direto, pensou Gabby, reprimindo um sorriso. Uma


grande mudança em relação a Darren, que podia falar para cima, para baixo e
para contornar um problema sem nunca realmente se posicionar, para melhor
mudar com os ventos políticos. Certa vez, ela o vira discursar para um grupo de
veteranos por quase uma hora sem nunca sair e dizer se apoiaria um projeto de
lei para melhorar o acesso deles ao tratamento de saúde mental.

Ela se ajoelhou ao lado dele e fez o que ele mostrou, e em um tempo


surpreendentemente curto, ela acendeu seu primeiro fogo, o fogão já emitindo
um calor adorável para afugentar o frio da noite.

Quando terminaram, Maggie abriu o champanhe e serviu uma taça para


cada um. — Venha para fora, — disse ela. — Há algo que eu acho que você vai
querer ver.

Os três levaram seus copos para o pequeno deque de madeira que dava
para a encosta da montanha. Ao contrário da casa de Maggie e Axel, que dava
diretamente para o lago, a cabana de Gabby tinha vista para a margem distante e
para a floresta que crescia quase até à borda.

De dia, era um lindo quadro de azuis e verdes, a água refletindo as


mudanças de humor do céu. Mas agora, à beira da noite, a linha das árvores havia
diminuído em formas escuras, iluminadas pela lua refletida na superfície da água
e meia dúzia de pontos dourados de luz cintilando ao longo da costa como luzes
de fadas.

Gabby engasgou com a beleza da cena. — São as casas dos outros


Alfas?

— Sim, — disse Axel, apontando para cada um. — Essa é o de Ransom,


e essa é o de Wyatt... e essa pertence a um cara novo, não entendi o nome dele.
E, claro, o mais próximo é Bronn.
Bronn. Gabby sabia que ele era vizinho de seus amigos, mas de alguma
forma ver a luz de suas janelas - sabendo que ele estava lá embaixo, movendo-se
em torno de sua própria casa - tornou real de uma forma que não tinha sido até
agora.

Depois disso, eles brindaram e beberam, mas logo Axel anunciou que
precisava acordar cedo para ajudar a limpar um riacho na propriedade de Rowan.

— Eu virei amanhã à tarde, — Maggie prometeu, dando-lhe um abraço.


— Vou assar pão amanhã. Vou trazer um pouco para você.

Houve um tempo em que isso teria parecido absurdo a Gabby, vindo de


uma mulher que tinha dificuldade em descobrir como fazer salada de um kit. Mas
ela observou em primeira mão que sua amiga havia aprendido uma tonelada de
novas habilidades aqui na fronteira. Todas as manhãs, Maggie fazia muffins ou
panquecas ou alguma outra guloseima deliciosa.

— Então farei café, supondo que consiga acender o fogo sem sua ajuda,
Axel.

Ele apenas resmungou em resposta, mas Gabby tinha certeza de que


era um grunhido mais amigável do que o normal. Ela provavelmente não era a
única que estava ansiosa por uma noite sozinha.

Ela os observou descendo a colina, depois serviu-se do restante do


champanhe e carregou uma das duas cadeiras de madeira para fora. Ela disse a si
mesma que era apenas uma coincidência que ela posicionou de frente para a casa
de Bronn. Não era culpa dela que essa direção tivesse a vista mais bonita.
Foi difícil manter o fingimento enquanto ela acabava com o espumante.
Ela se viu olhando para a luz dourada que vinha de suas janelas como se pudesse
lhe dizer algo.

Quem poderia culpá-la? Era impossível não sentir um pouco de carinho


pelo Alfa depois que ele ajudou a construir uma maldita casa para ela. Darren
nunca teria feito isso. Inferno, na maioria dos dias ele reclamava de ter que pegar
um café com leite para Gabby quando ele já estava fazendo uma corrida.

Mas Bronn pode ter sido o único a pregar as tábuas do convés sob seus
pés no lugar. Ou lixar e envernizar a cadeira em que ela estava sentada. Ou...

Gabby deixou seus olhos se fecharem e o imaginou, sem camisa e


úmido de suor, martelando ao sol, e sentiu-se sorrir. Ela se perguntou se seria um
pouco assustador passar sua primeira noite sozinha na floresta. Mas ela não
estava realmente sozinha esta noite, não com pensamentos sobre Bronn para lhe
fazer companhia.

***

Gabby ainda estava vestida quando acordou de manhã, mas conseguiu


se deitar e se esconder debaixo das colchas. Enquanto ela bocejava e se
espreguiçava, ocorreu-lhe que o sol já estava muito alto no céu e percebeu que
ela devia ter dormido muito mais do que o normal.

Quinze horas, descobriu-se quando ela verificou o relógio.


Surpreendente. Ela não fazia isso desde que ficou monofônica na faculdade.
Para sua sorte, ela não precisava se preocupar em chegar ao escritório
ou verificar sua caixa de entrada... ou mesmo retornar as mensagens de texto de
Darren.

Deus, ele era estranha sobre isso - se ela não as respondesse em dez
minutos, ele ligaria para ela e exigiria saber o porquê.

Talvez houvesse algo nessa coisa fora da rede. A princípio, a ideia de


ficar sem telefone, sem internet, sem TV parecia uma tortura, mas depois dos
primeiros dias, Gabby não sentiu falta.

Ela se levantou e se enrolou em um cobertor para a curta caminhada


até à fonte natural perto de sua cabana, onde lavou o rosto e apertou os dentes.
Mais tarde, se estivesse quente o suficiente, ela voltaria e tentaria um banho de
esponja - e deitaria em uma pedra como um lagarto ao sol para secar.

Gabby riu com o pensamento, sentindo-se um pouco embriagada com a


liberdade de fazer o que quisesse. Seus problemas, pela primeira vez, pareciam
distantes.

No caminho de volta, ela parou perto da pilha de lenha e carregou uma


braçada para dentro de casa. Ela mexeu as cinzas assim como Axel mostrou a ela
antes de empilhar cuidadosamente os gravetos dentro do fogão. Logo, ela
acendeu um fogo que rapidamente aqueceu a cabana.

OK. Talvez este inverno fosse factível, afinal.

Gabby ficou surpresa com o sentimento de orgulho que seguiu aquele


pensamento. Quem diria que ela aprenderia a fazer uma fogueira? Ou tomar
banho ao ar livre? Ou passar tanto tempo sem retocar suas raízes, aliás? Ela olhou
ao redor de sua nova casa, apreciando como o sol brilhava nas paredes de pinho e
brilhava na pia de porcelana.

Seu estômago roncou, e ela invadiu os suprimentos que Maggie havia


deixado para fazer um café da manhã com mingau de aveia empilhado com frutas
secas e nozes e regado com o melhor mel que ela já provou.

Ela pegou um balde de água da nascente e esquentou um pouco para o


café. Não foi tão ruim para sua primeira tentativa, apenas um pouco amargo.

Amanhã ela tiraria a panela do fogão assim que fervesse. Quando ela
terminou, Gabby encheu a pia com o resto da água quente e lavou os pratos,
secando-os com uma toalha de saco de farinha antes de colocá-los de volta na
prateleira.

Então ela secou as mãos e levou um minuto para olhar ao redor da sala,
sentindo-se inexplicavelmente satisfeita consigo mesma.

A cabana não era nada como seu apartamento moderno e elegante.


Não tinha nenhum dos toques luxuosos de designer ou acabamentos caros. As
cortinas, a colcha e os móveis simples só podiam ser descritos como antiquados, o
que não era um termo que Gabby já tivesse aplicado a seu gosto - e ainda assim
ela achava que nunca tinha visto um cômodo de que gostasse mais.

O problema com a decoração sofisticada é que ela não foi feita para
viver. Pareceu a Gabby uma incrível ironia que todo o seu trabalho árduo e alto
salário tivessem comprado para ela uma casa que ela nunca foi totalmente
confortável - mas ela se sentia maravilhosamente à vontade nesta cabana
simples, que veio sem nenhum custo, exceto sua amizade com uma mulher que
ela quase descartara.
Em seu apartamento, Gabby tinha uma máquina de café expresso, piso
aquecido, eletrodomésticos de última geração e todas as luzes, alto-falantes e
dispositivos podiam ser controlados por seu telefone. Aqui tudo exigia esforço, do
calor ao banho e à lavagem da louça.

Havia algo familiar no trabalho. Algo estranhamente reconfortante.

Antes de sua mãe se casar com Martin e sua fortuna, elas moravam em
uma série de apartamentos pequenos e miseráveis, mas Gabby nunca se
importou. Sua mãe sempre engenhosa tinha um jeito de fazer até ao espaço mais
humilde parecer o Ritz. Ela decorou com refugos e achados do mercado de
pulgas. E embora ela insistisse que Gabby a ajudasse a manter a casa impecável,
sua mãe fazia as tarefas parecerem divertidas, cantando enquanto elas tiravam o
pó e fingindo dançar com o aspirador de pó.

Gabby sabia que sua mãe estava feliz com sua nova e luxuosa vida de
primeira classe. Sempre foi seu sonho, mas pela primeira vez, Gabby se perguntou
se tinha sido dela.

Ela não estava reclamando, longe disso. Ela sabia que sua mãe tinha
feito tudo ao seu alcance para dar a Gabby as oportunidades que ela nunca teve.
E, em troca, Gabby fez o possível para mostrar à mãe o quanto ela era grata.

Foi por isso que ela trabalhou incansavelmente para se tornar a vice-
presidente mais jovem de sua empresa. Por que ela namorou apenas homens
influentes e bem-sucedidos.

Por que tudo o que ela possuía, desde a louça até à bolsa e a
mensalidade da academia, era o melhor que o dinheiro poderia comprar.
Não era porque ela ansiava por essas coisas. Era para deixar sua mãe
orgulhosa.

A constatação deixou Gabby estranhamente inquieta. Talvez houvesse


algo como introspecção demais.

O que ela precisava era se mexer e, como tinha certeza de que ninguém
ensinava pilates na fronteira, resolveu dar um passeio. As trilhas que Maggie
havia apontado ofereciam vistas incríveis, ar fresco e o bem mais raro em uma
cidade do tamanho de Denver — a solidão. E tudo isso de graça.

Gabby sentiu-se inesperadamente alegre ao partir na direção oposta da


casa de Axel e Maggie em uma trilha cujas curvas suaves levavam a uma campina
que ela tinha visto de seu deck.

Ela esperava silêncio, mas foi saudada pelo canto dos pássaros e
esquilos chilreando acima dela nos galhos, animais farfalhando na vegetação
rasteira e o som de alguém martelando à distância.

Duas vezes, Gabby parou em seu caminho de admiração; uma vez


quando ela avistou alguns veados pastando em um trevo e novamente quando
ela viu um falcão pairando sobre o lago, planando e mergulhando nas correntes
de ar.

Gabby estava começando a ver o que Maggie e as outras Ômegas


amavam em estar aqui. Mas, apesar das coisas terem saído muito melhor do que
ela temia e de ter um belo retiro para esperar seu banimento, ela duvidava que
pudesse viver aqui em tempo integral.

Ela não tinha constituição para isso.


Provavelmente porque ela era uma Beta, não uma Ômega. Gabby
deveria estar com sua própria espécie - mesmo que os Betas fossem os que
viraram sua vida de cabeça para baixo.

Gabby não tinha certeza de quanto tempo ela estava andando quando
decidiu se virar. Ela estava pensando que poderia lavar suas roupas no manancial
antes que Maggie viesse.

Mas depois de cinco ou dez minutos, ela percebeu que não reconhecia
o caminho que estava seguindo. Pior ainda, quando ela se virou, ela não
conseguia descobrir de que lado ela veio.

— Merda, — ela murmurou, começando em direção a uma formação


rochosa que se projetava da terra antes de mudar de ideia e tomar o caminho à
sua direita.

— Você estava certa na primeira vez.

Gabby ganiu ao som da voz baixa e estrondosa e procurou


freneticamente nas árvores por sua fonte, pronta para correr para ela.

— Sua cabana fica a pouco mais de um quilômetro dessa trilha.

Gabby viu um flash de movimento, uma figura enorme emergindo do


mato. Seu coração bateu ainda mais forte quando ela viu quem era.

Bronn saiu de entre as árvores. Mesmo que ele estivesse a alguns


metros de distância e erguido as mãos para se desculpar por assustá-la, ele ainda
tinha aquele olhar perigoso em seus olhos. A visão disso foi o suficiente para fazer
a respiração de Gabby ficar presa na garganta.
— Desculpe, — ela disse quando percebeu que tinha sido pega olhando
para ele. — Você me assustou.

Ela não queria que isso saísse como uma acusação, mas Bronn apenas
deu de ombros.

— Não poderia ser ajudada. Mais alguns passos, e você teria entrado
em minha propriedade.

Oh merda. Maggie a havia avisado sobre isso. Aparentemente, as


consequências por aqui por invasão, mesmo por acidente, podem ser sérias. —
Sinto muito. Eu não sabia.

— Agora você sabe.

O tom de Bronn era tão inescrutável quanto sua expressão. Maggie não
sabia se ele esperava que ela dissesse algo mais.

— Um... talvez você devesse pensar em colocar uma cerca.

— Não há necessidade. Axel sabe onde fica o limite da propriedade, e


eu também.

Significando que ela, a estranha, era a única com um problema.

Isso estava bom, Gabby disse a si mesma.

Bom, mesmo.

Ela não veio aqui para fazer amigos - ou cuidar de paixões imprudentes.
O que ela precisava fazer era manter a cabeça baixa, passar despercebida e sair
assim que o mundo Beta esquecesse seu nome.

— Ok, bem, eu prometo não o incomodar mais.


Bronn não se mexeu. Nem piscou. Mas Gabby podia sentir os olhos dele
nela quando ela virou as costas e começou a andar na outra direção.

Depois de percorrer alguns metros, Gabby parou e, contra seu melhor


julgamento, forçou-se a se virar.

Bronn pode não ser seu maior fã, mas ajudou a construir sua casa. Ele
desistiu de vários dias e dedicou seu tempo e suor.

O que significava que não importava quão perturbada ele a fizesse se


sentir, as boas maneiras que haviam sido inculcadas nela desde o nascimento não
permitiriam que Gabby fosse embora sem reconhecer o que ele havia feito por
ela.

— Antes de ir, quero agradecer. — Ela parecia rígida e formal para seus
próprios ouvidos. — Por ajudar a construir a cabana. Isso foi gentil da sua parte.

Bronn não piscou. — Gentil? Você realmente deveria parar de usar essa
palavra para me descrever.

Gabby não sabia como responder a isso. — Bem... — ela começou,


sentindo-se um pouco tola. — De qualquer forma, eu aprecio isso.

Desta vez foi Bronn quem a parou quando ela se virou.

— Axel mostrou a você como usar o fogão?

— Sim, — ela disse, incapaz de manter um pouco de orgulho em sua


voz. — Eu fiz meu primeiro fogo esta manhã. Obrigada, por trazê-lo para mim.

Ele assentiu. — Ótimo. Uma frente fria está chegando. Quanta madeira
você tem?
— A pilha chega mais ou menos aqui, — disse ela, desenhando uma
linha no ar em seu quadril.

— Não é o suficiente. Você sabe como cortar madeira?

Gabby se perguntou se essa era uma pergunta capciosa. Quão difícil


poderia ser? Pegue o machado encostado na casa, derrube-o em um tronco. —
Tenho certeza que posso descobrir.

Bronn ignorou isso. — Vou passar mais tarde e te ensinar.

Gabby se sentiu perturbada. Ela não precisava de ajuda e


definitivamente não conseguia se imaginar tão perto de Bronn enquanto ele tinha
um machado na mão... mas ela não queria parecer ingrata. Ou, Deus me livre,
desrespeitosa.

— OK. — Ela decidiu que seria melhor acabar logo com isso. — Eu tenho
algum tempo agora, se isso funcionar.

— Não posso agora. — Bronn já estava voltando para sua casa. — Muito
a fazer. Estarei lá esta noite.

Não foi até que ele desapareceu de volta na cobertura das árvores que
Gabby voltou a si e se perguntou quanto tempo ele estava parado ali,
observando-a.
CAPÍTULO 7
Bronn

Bronn não confiava em seus instintos há anos, não desde que eles
quase o mataram.

Quando ele foi forçado a sair do trem indo para Southeastern


Boundaryland logo após sua natureza Alfa aparecer, a primeira coisa que ele fez
foi atacar os guardas que o levavam embora. Mas sua natureza ainda era muito
nova, sua força ainda se desenvolvendo, e ele não era páreo para as algemas e
correntes que colocaram nele.

Tudo o que ele conseguiu foi uma cabeçada que quebrou o braço de um
guarda e como punição, os cientistas Beta do laboratório subterrâneo do governo
apelidado de Porão não o alimentaram por uma semana. Lá embaixo, os
cientistas Beta realizavam todos os tipos de experimentos cruéis e muitas vezes
mortais em Alfas e, por um momento, Bronn pensou que tinha escapado
facilmente.

Não demorou muito para ele saber quão errado estava.

Como se viu, os bastardos encarregados do Porão gostaram da luta que


ele mostrou e fizeram planos para ele. Planos que incluíam muito mais combates.

O que se seguiu foram anos de mais sangue, morte e dor do que a


psique de qualquer ser humano poderia suportar. E, no entanto, de alguma
forma, Bronn havia sobrevivido. Não sem cicatrizes, no entanto.
As físicas eram bastante fáceis de suportar. As marcas desbotadas
permanentes que enlaçavam seus membros e torso eram uma visão comum
nesta terra fronteiriça - marcas da história compartilhada de todos os irmãos Alfas
que chamavam este lugar de lar.

Mas foram as feridas invisíveis, aquelas que ainda viviam apodrecendo


e não cicatrizadas em sua cabeça e coração, que pesaram sobre ele até ao fim.
Lembranças das coisas que aconteceram com ele no Porão.

Memórias das coisas que ele tinha feito.

Normalmente, Bronn fazia o possível para não cutucar essas partes de


sua mente. Desde o dia em que ele e seus irmãos Alfa escaparam do Porão, a vida
melhorou. Não é perfeita, mas melhor.

Agora eles estavam livres. Eles tinham suas próprias terras. Alguns de
seus irmãos até encontraram companheiras. Pela primeira vez, eles tiveram uma
chance real de um futuro.

Bem, pelo menos seus irmãos o fizeram.

Mas não Bronn.

Claro, ele ficou satisfeito em ver seus vizinhos e irmãos encontrarem


companheiras e começarem famílias, mas no fundo ele sabia que sua própria
linhagem terminaria com ele.

A violência, a sede de sangue e vingança, a pura raiva animal que vivia


dentro dele, ele não podia arriscar passar isso para outra geração. E ele nunca
prenderia uma Ômega inocente com um monstro como ele como companheiro.
Esses pensamentos não eram novos. Eles viviam no fundo da mente de
Bronn desde que ele pisou pela primeira vez nesta terra que agora era sua. Mas
recentemente eles se tornaram mais barulhentos, abrindo caminho para a frente.

Por causa dela.

Gabriella Pineda.

Bronn soube o nome dela com um dos Betas no dia em que ela cruzou a
fronteira. Uma beleza de cabelos escuros, com o rosto de uma estrela de cinema
estrangeira e o porte de uma maldita princesa, ela o atormentou como uma febre
mortal desde a primeira vez que ele colocou os olhos nela.

Antes disso, se ele fosse honesto.

Ele sentiu o cheiro dela - perturbada, ferida, mas forte - muito antes da
caminhonete de Courtney entrar na clareira, e o sangue de Bronn disparou como
o predador que ele era.

Aquele desejo familiar de atacar, matar, cortar, rasgar e arrancar a


carne dos ossos voltou à vida com um rugido.

Mas desta vez foi diferente. Desta vez, a Beta que o provocava não era
seu alvo. Não era ela quem ele queria derrubar, mas quem quer que fosse
responsável pelo medo e pela dor que a enchia.

Porra.

A mulher fazia Bronn sentir coisas que ele não queria sentir, tentava-o
com pensamentos que um homem como ele não podia pensar.

E o pior era que ele não entendia o porquê.

Ela era uma Beta, pelo amor de Deus. Uma ferida nisso.
Sim, mas as feridas dela são suas feridas, sussurrou sua voz interior.

Bronn amaldiçoou novamente, sabendo que era verdade.

A verdade é que ele sempre soube, muito antes de Axel compartilhar os


detalhes de seu abuso e fuga das autoridades Beta. Ele sabia desde aquele
primeiro olhar. Desde a primeira lufada de seu perfume no ar.

Esta mulher foi forçada a uma situação que ela não pediu. Ela estava
tropeçando, marcada e quebrada, em um mundo desconhecido. E ela precisava
de ajuda.

Foi por isso que no dia em que Axel apareceu em sua porta, pedindo a
ajuda de Bronn para construir um lar temporário para a Beta, ele concordou
relutantemente.

Lembrou-se de seus primeiros dias no Porão, de como estivera sozinho


e com medo. Bronn teria vendido sua alma para que alguém viesse em seu
auxílio. Talvez se tivessem, as coisas teriam sido diferentes para ele.

Era tarde demais para ele, mas não para Gabriella. Ele até conseguiu se
convencer de que não estava fazendo isso por causa do calor que sentia toda vez
que sentia o cheiro dela descendo a montanha da casa de Axel, mas porque havia
uma chance de ajudá-la, ele poderia exorcizar alguns de sua própria culpa e
sofrimento.

Além disso, quão difícil poderia ser construir uma pequena cabana?

Pura maldita tortura, foi a resposta.


Bronn ficou surpreso com seu próprio desejo pela Beta, claro, mas
acabou que ele estava totalmente despreparado para sentir que a luxúria era
recíproca.

Por que, em nome de Deus, uma linda mulher Beta se sentiria atraída
por uma fera cheia de cicatrizes como ele? Não fazia sentido. E ainda... ela era.

A prova estava ali no ar para que todos sentissem.

E seus irmãos Alfa acasalados no canteiro de obras ficaram mais do que


felizes em brincar e provocá-lo sobre isso, chegando a mandá-lo sozinho para
pegar o fogão, sabendo que Gabriella estaria lá.

No momento em que a cabana foi terminada, Bronn jurou que ele


também estava. Ele prometeu a si mesmo que, enquanto Gabriella fosse hóspede
de Axel, ele ficaria longe de sua propriedade e manteria distância dela.

Foi uma promessa que ele quebrou em menos de vinte e quatro horas.

Nem parecia uma decisão. Em um minuto, ele estava cavando uma vala
de escoamento para direcionar a água da chuva para longe de sua casa, e no
próximo, ele jogou sua picareta no chão e a perseguia como um cão de caça.

O cheiro se intensificou quando a Beta desceu a velha trilha do bando,


aprofundando-se em plena floração no momento em que Bronn alcançou a borda
de sua propriedade.

Por que tinha que ser ela?

Bronn silenciosamente amaldiçoou seu destino por encontrar a única


mulher que não podia ignorar. Ele sabia que não poderia tê-la. Seus pecados
passados eram muito graves para serem perdoados, e ele aceitou isso. Ele não era
mais um homem completo.

Mas aqui estava ele, escondido nas árvores, dizendo a si mesmo que
não havia problema em espionar a Beta porque não planejava falar com ela. Ele
só queria…

O que ele queria? Para ver o rosto dela. Observar aquela caminhada -
aquela caminhada graciosa e sem esforço que estava tão deslocada aqui no
deserto. Ver seus cabelos agitados pelo vento, suas bochechas rosadas pela brisa,
seus seios...

Bronn jogou a cabeça para trás em angústia, implorando ao destino que


o deixasse em paz.

E naturalmente foi então que ela apareceu, dez vezes mais bonita do
que sua memória. Ela parou no final da trilha e lentamente se virou, dando a ele
uma visão agonizante de sua bunda exuberante e redonda.

Ela estava perto. Muito perto.

Ele rezou para que ela tivesse o bom senso de se virar. Que Axel teria se
assegurado de que ela soubesse onde terminava sua terra para que ela não
invadisse acidentalmente. Mas ela continuou vindo, continuando em direção a
ele, cantarolando fragmentos de alguma melodia desafinada.

— Você estava certa da primeira vez, — ele falou em desespero.

Ela pulou como um coelho baleado e procurou freneticamente nas


árvores a fonte de sua voz. Quando ela finalmente encontrou, seus olhos
disparados como uma bala deslizando para dentro da câmara, e de repente Bronn
percebeu que seu pênis estava tão duro que doía. Mas ele não conseguia desviar
os olhos.

Ele nunca sentiu uma atração como a que o compeliu a seguir Gabby.

Gabby.

O nome não combinava com ela. Era o nome de uma criança, e ela era
uma mulher, forte, orgulhosa e majestosa.

Mas ela não teria permanecido assim se tivesse dado aquele passo para
a terra dele. Ela não seria mais a convidada protegida de Axel ou a amiga de
infância de Maggie.

Ela seria dele por lei — para fazer o que quisesse.

E Bronn não confiava em si mesmo com esse tipo de poder. Ele pode ter
mantido intacta a corda desgastada de seu autocontrole desde sua fuga do Porão,
mas temia o que poderia acontecer se fosse testado.

Bronn conhecia sua própria natureza. Ele era um animal, um predador,


um assassino de sangue frio. Foi apenas um pequeno salto desses pecados para
se tornar um destruidor de mulheres.

Nem todas as mulheres. Apenas uma.

Se ela soubesse o que ele realmente era, ficaria apavorada.

Então o que ele fez? Bronn teve vontade de se esfaquear com um prego
enferrujado quando percebeu que acabara de se oferecer para ensinar Gabby a
cortar madeira.

Não importava que Axel provavelmente já tivesse decidido que seria


mais fácil continuar reabastecendo sua pilha de lenha sozinho.
Bronn resmungou de irritação enquanto esfregava a mão no rosto.

O predador dentro dele nunca descansava. Estava sempre procurando


uma saída, qualquer desculpa para se aproximar de sua presa.

Ele disse a ela que estava muito ocupado para ensiná-la agora, mas isso
não o impediu de remoer seus erros e decisões de merda por quase uma hora
antes de pegar sua picareta e voltar ao trabalho.

Quando o sol começou a descer em direção ao horizonte, ele mal havia


cavado mais alguns metros. Os membros de Bronn estavam rígidos e
desajeitados, o machado falhando em afundar mais do que alguns centímetros na
terra rochosa.

Tudo porque não havia espaço em sua mente para nada além dela.
CAPÍTULO 8
Gabriella

Apenas respire. Continue respirando.

Gabby repetiu as frases que aprendeu no escritório de seu treinador de


atenção plena enquanto voltava para sua cabana.

A cada passo, ela respirava o ar fresco e se concentrava em liberar a


tensão em seus músculos, mas a sensação de paz pela qual ela lutava ainda a
iludia.

— Merda, — ela retrucou e instantaneamente se sentiu um pouco


melhor.

Engraçado, seu treinador nunca havia mencionado palavrões como uma


ferramenta de alívio do estresse. Apenas por diversão, Gabby tentou outro.

— Filho da puta!

Um pouco mais de vapor escapou da panela de pressão de sua mente.

Droga, isso era bom. Fazia muito tempo desde que Gabby se permitira
desabafar sua frustração em vez de tentar abafá-la ainda mais... desde que ela
estivesse fazendo o papel de noiva do político perfeito.

Bem, dane-se isso.


Logo, Gabby estava amaldiçoando uma risca azul, lançando bombas F
por toda a trilha para casa. Depois de meio quilômetro disso, ela estava se
sentindo muito melhor.

Foi uma mudança tão grande em relação a como ela se sentia nos
últimos meses que Gabby começou a se perguntar se essa permanência forçada
na fronteira poderia ser exatamente o que ela precisava. De certa forma, fazia um
estranho tipo de sentido. Desde que ela se perdeu no mundo Beta, era razoável
pensar que ela poderia se encontrar aqui entre os Alfas.

Claro, os Alfas eram o motivo de ela estar aqui desabafando sua


frustração em primeiro lugar.

Isso foi injusto. Nem todos os Alfas - apenas Bronn.

O melhor que se podia dizer sobre sua conversa com ele era que fora
breve. Gabby ficou tão assustada que suas antigas defesas assumiram o controle.

Foi só depois que ela voltou para casa e desabou em sua pequena cama
de solteiro que ela se permitiu repassar todo o encontro em sua mente. Oh Deus,
que idiota ela tinha sido.

Apenas a visão dele emergindo das árvores, todo fumegante e


primitivo, foi o suficiente para fazer seu desejo ganhar vida.

Foi ridículo. Bronn era um estranho — perigoso, aliás.

A única coisa que ela deveria sentir por ele era cautela. Mas seu corpo
tinha outros planos.

Especialmente as partes inferiores de seu corpo.


Não. Gabby não queria pensar nisso. Cavalos selvagens não poderiam
arrastá-la na direção de suas terras novamente. Ela ficaria nesta cabana durante
todo o inverno, se fosse preciso.

Claro, isso não iria ajudá-la esta noite quando ele aparecesse em sua
porta.

Gabby fez o possível para se manter ocupada pelo resto do dia. Ela
lavou suas roupas na água fria da nascente e preparou um almoço simples antes
de fazer a caminhada para visitar Maggie.

Ela pensou brevemente em perguntar a Maggie se ela poderia ficar para


jantar, mas rapidamente abandonou a ideia. De alguma forma ela sabia que isso
não impediria Bronn de encontrá-la. Se ela não estivesse na cabana quando ele
chegasse, ele tinha acabado de chegar na casa de Axel.

Gabby sabia que estava dando mais importância a isso do que


precisava. Um vizinho se ofereceu para ensiná-la a cortar lenha para que ela não
morresse de frio. Foi uma coisa decente a fazer.

Além disso, o fato de ela estar lutando contra uma fome poderosa por
ele não significava que ele sentia o mesmo por ela.

Na verdade, a expressão e o comportamento de Bronn deixaram bem


claro que ele não se importava com ela. Mas se fosse esse o caso, por que ele se
ofereceu para vir?

Urg. Ela estava pensando demais nisso.

Gabby tentou ser gentil consigo mesma ao chegar na casa de Maggie e


bater na porta. Não deveria ser uma surpresa que ela tivesse problemas de
confiança depois de tudo o que aconteceu com Darren. Ela estava cautelosa
agora, duvidando de tudo que estranhos lhe diziam e inclinada a duvidar de
qualquer coisa que ela não pudesse ver ou experimentar.

Maggie abriu a porta com um sorriso. — Você chegou bem na hora. Eu


preciso fazer algumas coisas. Quer vir?

Gabby nunca concordou com nada tão rápido em sua vida. Qualquer
coisa para fugir da tentação. Axel estava caçando, então as duas mulheres
pegaram a caminhonete e dirigiram até à casa de Sarah, onde pegaram várias
caixas de suprimentos para serem entregues a alguns dos recém-chegados.

— E eu tenho uma surpresa para você, — acrescentou Sarah,


entregando a Gabby uma grande caixa de papelão. — Pensei que você gostaria de
uma muda de roupa íntima limpa.

— Isso parece mais do que uma roupa íntima.

— Pode haver algumas roupas ali também. — Por alguma razão, Sarah
parecia um pouco incerta, e Gabby correu para agradecê-la profusamente.

— Espero que estejam boas, — disse Sarah em dúvida. — Maggie me


disse que você está acostumada, hum...

— Eu disse a ela como crianças mimadas costumávamos ser, — Maggie


chilreou.

— E que você costumava gastar a economia de uma pequena nação em


roupas de grife.

Gabby queria afundar no chão. Não porque não fosse verdade... mas
porque ela estava envergonhada por seu comportamento anterior.
— Tenho certeza que tudo será perfeito, — ela disse honestamente. —
Ontem à noite, eu teria trocado todo o meu armário por uma parca quente.

— Eu não sei, — Maggie brincou. — Eu gostaria que você tivesse pelo


menos trazido aquele minivestido de camurça e aquelas botas Marc Jacobs - para
mim, se não para você.

Uma vez que elas estavam de volta na caminhonete, Maggie disse


casualmente, — Então você me dirá o que te deixou amuada, ou eu tenho que
arrancar isso de você?

Gabby sentiu o rosto esquentar de vergonha. — Não é nada.

— Sim? — Maggie deu a ela um olhar cético. — Você quer que eu


acredite que você acabou de se encantar com a beleza natural dos Ozarks?

O canto da boca de Gabby se contraiu. — Você sabe que o sarcasmo é


a forma mais baixa de humor, certo?

— De jeito nenhum. Isso é trocadilho, e você sabe disso. — Maggie


estendeu a mão e apertou o braço de Gabby. — Agora me diga o que está
acontecendo. E se você disser 'nada' de novo, a deixarei aqui no meio da estrada
e deixá-la caminhar os nove quilômetros de volta para casa.

A perspectiva causou um arrepio em Gabby, embora ela soubesse que


Maggie estava brincando com ela.

— Oh, tudo bem, — ela bufou, mas precisou de algumas respirações


profundas antes que ela pudesse dizer. — O que você acha de Bronn?

— Bronn? — Maggie lançou-lhe um olhar duro, apenas para pisar no


freio quando ela voltou os olhos para a estrada, perdendo por pouco uma
tartaruga que se movia lentamente na direção do lago. — Desculpe, se eu tivesse
matado, teria que cozinhá-la.

— Isso é nojento. Mas não mude de assunto.

— Eu não estou, eu juro. Eu simplesmente não sei como responder.


Bronn nunca me deu uma razão para pensar muito sobre ele. Ele tende a ficar na
dele. Por quê?

Gabby quase disse a Maggie para esquecer, mas ela sabia que era inútil.
Uma vez que a curiosidade de Maggie foi despertada, ela era como um cachorro
com um osso.

Ela tentou encolher os ombros. — Eu só encontrei com ele esta manhã


enquanto dava uma caminhada, só isso.

Maggie freou novamente, desta vez em aparente estado de choque. —


Oh merda. Você não invadiu a terra dele, não é?

— Não, — Gabby a assegurou. — Na verdade, foi assim que começamos


a conversar. Ele apareceu bem quando eu estava prestes a... acidentalmente, é
claro.

Maggie soltou um suspiro. — Eu deveria ter pensado nisso. Sinto muito,


Gab - os Alfas têm essa habilidade estranha de saber exatamente onde estão as
linhas o tempo todo, mas eu conheço Ômegas que estão aqui há meses e ainda
estão tentando descobrir.

— Não é grande coisa, — disse Gabby, mas ela foi secretamente


encorajada por não ser a única que lutou. Ela já estava constrangida por ser uma
das poucas Betas em território Alfa. A última coisa que ela queria era se tornar
motivo de chacota... ou morta.

— Eu falarei com Axel esta noite. Eu sei que ele não vai se importar em
marcar a linha da propriedade para que isso não aconteça novamente. — Algo a
atingiu. — Por favor, me diga que Bronn não foi rude ou... ele não ameaçou você,
não é?

— Não, de jeito nenhum. Ele é apenas... fechado. — Então, depois de


um momento, Gabby acrescentou: — Mas ele se ofereceu para vir hoje à noite
para me ensinar a cortar lenha.

— Sério? Isso é estranho. Ele sabe que Axel cuidará disso. Eu me


pergunto por que... oh!

Maggie saiu da estrada ao lado de uma velha casa de fazenda com um


quintal cheio de ervas daninhas e desligou o motor antes de se virar no banco
para dar a Gabby um olhar avaliador.

— Ele está a fim de você?

— Não. De jeito nenhum. Nem um pouco. — As negações não podiam


sair da boca de Gabby rápido o suficiente. — Não é desse jeito.

— Tem certeza disso?

— Claro que tenho certeza! — Agora havia uma mentira. Gabby não
tinha certeza de nada no momento, mas sabia que não devia deixar Maggie ter
uma ideia em sua cabeça. — Ele estava apenas sendo gentil.

Maggie chocou Gabby ao cair na gargalhada. — Puta merda. É ainda


pior. Você está afim dele.
Zangada, Gabby franziu os lábios e olhou pelo para-brisa. — Agora você
está apenas sendo má. Eu só queria saber se o cara pode ser um serial killer antes
de aparecer na minha porta hoje à noite.

— Oh, não fique amuada. — Maggie suavizou. — Se Bronn realmente


deixa você tão desconfortável, pedirei a Axel para dizer a ele para ficar longe.

— Não. Quero dizer... — O que diabos ela quis dizer? — Não é grande
coisa, sério. Provavelmente só estou sendo estranha por causa de como as coisas
terminaram com Darren. Questões de confiança, estou certa?

Maggie não respondeu imediatamente, ignorando o esforço de Gabby


para rir. — Honestamente? — ela finalmente disse. — Eu não tenho a sensação
de que Bronn seja uma ameaça para você, especialmente porque você é nossa
hóspede e mora em nossas terras. Além disso, o cara ajudou a construir sua casa.
Ele teria que ser um idiota para apontar um dedo em você, não importa suas
intenções.

— Suas intenções?

Maggie ignorou a incredulidade de Gabby. — Você foi testada, certo?

Ela deu um aceno rígido. Como parceira de uma figura do governo, ela
fez o teste de sangue de Ômega dormente quando saiu pela primeira vez em
comercialização. — Eu sou negativo. Obviamente.

Assim como noventa e nove por cento das mulheres Beta, se as


estatísticas fossem verdadeiras... e até este exato momento, nunca ocorreu a
Gabby duvidar delas. Mas ela teve a sensação de expressão de Maggie que ela
não sabia toda a história.
— Eu não ficaria muito confortável, — disse Maggie. — Todas as
Ômegas aqui, exceto eu, testaram negativo quando eram Betas.

As palavras caíram como uma pedra entre elas. A mente de Gabby


correu para entendê-las. — Eu pensei que era uma teoria da conspiração. A coisa
toda sobre os experimentos nas instalações que transformam os Alfas para que
eles possam mudar a natureza de uma mulher apenas passando muito tempo
com elas.

— Não é uma conspiração, — Maggie disse calmamente. — E não é


mais uma teoria, também. Desculpe ser a única a dizer a você, Gab. Mas não se
preocupe muito com isso. A coisa da transição tem mais a ver com a conexão
emocional do que com o tempo. Então, se você não se apegar a ninguém, você
deve ficar bem.

Gabby não percebeu que estava prendendo a respiração. — Tem


certeza? Porque...

Ela não teve coragem de dizer isso. Mas ela se sentia atraída por Bronn
de uma forma profunda que não tinha nada a ver com escolha.

— Tenho certeza. — Maggie deu um aperto na mão dela. — Agora,


pegaremos o papel higiênico desse Alfa. O pobre rapaz está aqui há quase uma
semana, e a entrega chegou ontem.

Gabby relaxou com alívio. Enquanto o que Maggie estava dizendo sobre
a conexão emocional fosse verdade, ela estava perfeitamente segura.
Ela pode querer foder seu vizinho Bronn, mas não havia absolutamente
nenhuma maneira de ela se apegar emocionalmente a ele ou a qualquer outro
Alfa. A ideia era ridícula.

Impensável.

Absolutamente ridículo.
CAPÍTULO 9
Gabriella

Passava um pouco das cinco horas, de acordo com o painel digital da


caminhonete de Maggie, quando elas se separaram do lado de fora da casa dela.
Gabby recusou a oferta de entrar para tomar uma xícara de chá, embora não
estivesse com pressa de voltar para a cabana.

Ela não tinha certeza se poderia suportar o escrutínio pensativo de sua


amiga por muito mais tempo sem quebrar. Mesmo que pudesse, como explicaria
sua hesitação em partir? Que a ideia de voltar para sua casa sozinha para
enfrentar Bronn a aterrorizava quase tanto quanto a intrigava?

Exceto que 'intrigada' não era a palavra certa... mas Gabby realmente
não queria considerar o que seria.

Depois de carregar a caixa de roupas que Sarah lhe dera por todo o
caminho para casa, Gabby esperava estar cansada, especialmente porque ajudou
Maggie a fazer meia dúzia de entregas. Mas mesmo depois de acender uma
fogueira e pendurar todas as suas roupas novas (todas boas e limpas; nenhuma
especialmente elegante) no armário, ela ainda estava cheia de energia sem rumo.

Gabby culpou sua inquietação pela falta de estrutura que marcava seus
dias agora. Em sua antiga vida, quase todos os momentos de seu dia eram
contabilizados no calendário que sua assistente atualizava constantemente.
Lembretes e alertas apareciam em seu telefone ao longo do dia, informando onde
ela deveria estar, com quem se encontraria e o que precisava realizar. Mesmo
quando Gabby terminava suas obrigações de trabalho, ela tentava se exercitar na
academia antes de encontrar Darren para jantar.

No início do relacionamento, eles iam à sinfonia ou à inauguração de


um museu ou tomavam drinques em um lounge sofisticado, mas não demorou
muito para Gabby perceber que Darren escolhia locais onde seria notado e
fotografado. Assim que sua candidatura foi anunciada, os eventos políticos
superaram as noites de encontros até que Gabby se sentiu como um hamster em
uma roda girando cada vez mais rápido.

A vida na fronteira não era nada disso. Os Alfas trabalhavam duro, mas
o nascer e o pôr do sol ditavam a programação muito mais do que qualquer
relógio. As estações também entravam nos cálculos diários de onde Axel e os
outros iam e o que faziam, trabalhando sozinhos e em equipes para preparar a
jovem comunidade para seu primeiro inverno.

Diante de tudo isso, Gabby não tinha ideia do que Bronn quis dizer com
'esta noite'. Ela tinha certeza de que seria antes de escurecer - caso contrário, ela
provavelmente cortaria uma mão - e depois que suas tarefas mais urgentes
fossem concluídas.

Então, depois que ela experimentou todas as suas roupas novas e


velhas e se decidiu por uma blusa de seda safira e jeans pretos confortáveis, e fez
o que pôde para domar seu cabelo encaracolado na ausência de cremes e
alisadores, não havia nada a fazer a não ser andar de um lado para o outro no
piso de sua pequena casa.
Ocorreu a Gabby que Bronn poderia vê-la andando enquanto subia a
trilha. Dado o que Maggie disse a ela sobre Alfas vendo no escuro, ela não queria
correr nenhum risco.

Então, quando uma batida finalmente soou em sua porta, Gabby estava
sentada à mesa da cozinha, fingindo ler um dos romances que Sarah
cuidadosamente enfiou em sua caixa.

Não foi tanto uma batida, mas um punho acertando a madeira com
tanta força que toda a cabana tremeu. Gabby pulou da cadeira, então hesitou,
não querendo parecer muito ansiosa.

— Só um segundo! — ela falou, para dar a impressão de que ela estava


no meio de... alguma coisa. Então, depois de contar até dez, ela fixou o que
esperava ser uma expressão neutra em seu rosto e abriu a porta.

Bronn estava parado no degrau, seu corpo bloqueando quase toda a


visão, seu cabelo molhado e vestido com roupas limpas. Sua expressão era tão
sombria e pétrea como sempre, mas a coisa que roubou a saudação dos lábios de
Gabby eram do tamanho e do poder do homem parado a poucos centímetros de
distância.

Claro, ela já sabia que ele era grande. Mas na companhia de Axel e dos
outros, Gabby tentou pensar nele como... não exatamente intercambiável, mas
não mais ameaçador do que Axel ou aquele discreto Alfa Wyatt.

Ela estava mentindo para si mesma.

Incapaz de manter a distância que mantinha entre eles antes, Gabby


teve que inclinar a cabeça para trás apenas para olhar para ele. Ela recuou
lentamente para dentro do cômodo, quase tropeçando e caindo de bunda,
esperando não parecer tão apavorada quanto se sentia.

Não era apenas o tamanho de Bronn, os músculos tensos contra o


algodão de sua camisa. Era tudo sobre ele. Não havia nada de suave em suas
feições, nos contornos de seu rosto e no contorno rígido de seu queixo. Ele havia
se barbeado desde a primeira vez que ela o viu, mas a barba por fazer já estava
espessa e estava a caminho de ser quase uma barba novamente. Mesmo
molhado, seu cabelo escuro parecia rebelde, caindo sobre a gola da camisa. E ela
quase juraria que as chamas refletidas em seus olhos castanhos escuros não
vinham do fogão, mas de algum inferno dentro dele.

Gabby de repente percebeu que ela estava olhando - e já fazia um bom


tempo, dada a perplexidade de sua carranca sempre presente.

Mortificada, ela disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

— O que você está usando no pescoço?

A ponta do dedo estava a meio caminho do anel de metal retorcido


pendurado na corrente de prata simples antes de ela puxar a mão para trás.

Puta merda, Gabby. Tem um desejo de morte? – ela se repreendeu


mentalmente, recuando mais um passo.

Bronn tocou o objeto estranho e olhou para ela, sem piscar. Gabby
desistiu de obter uma resposta quando ele resmungou algo baixinho.

Ela deveria ter deixado passar, mas as palavras não faziam sentido. —
Você disse 'cano da arma?'
— Parte de um, de qualquer maneira. É uma seção transversal de um
Smith & Wesson 460XVR.

— Mas por quê?

Sua carranca se aprofundou. — Lembrança.

Gabby engoliu em seco. Lembrança, como alguns serial killers cortavam


as orelhas de suas vítimas e as mantinham em uma caixa?

Tinha que haver uma explicação lógica. Axel disse a ela que os Alfas
odiavam armas. Eles preferiram lutar com os punhos.

— Uma Smith and Wesson, qualquer que seja o tipo que você disse, é
uma arma especial ou algo assim? Como um item de colecionador?

Os lábios de Bronn se curvaram ligeiramente. — Porra, não. A única


razão pela qual um Beta precisaria de uma arma como essa seria para derrubar
um urso pardo de 380 quilos ou seu equivalente. A maior velocidade de cano de
qualquer revólver de produção no mundo. Você está pronta?

A boca de Gabby caiu aberta. A sequência de palavras era o máximo


que ela já tinha ouvido Bronn dizer - e ela mal entendia nenhuma delas. —
Pronta, você quer dizer, para ir cortar lenha?

— Não é por isso que estou aqui?

— Certo, pegarei minha jaqueta.

— Você não vai precisar. Golpear aquele machado vai esquentar você.

Ele já estava saindo pela porta e Gabby murmurou sua resposta. — Oh,
tudo bem.
O homem não era rude, exatamente - não como Darren. Ou zombador,
como a agente Hoss tinha feito. Na verdade, Gabby estava tendo dificuldade em
detectar qualquer emoção em suas respostas concisas.

Bronn não dava a mínima para o que alguém pensava dele. Isso era
óbvio, mas ele também não precisava menosprezar ninguém. Ele disse o que
pensava - nem mais, nem menos.

Depois de passar tanto tempo com um homem cujas palavras foram


planejadas e analisadas para criar a impressão certa, Gabby quase se esqueceu de
como ouvir sem todas as suas defesas prontas.

Ela o seguiu até ao enorme toco ao lado da pilha de lenha. Afundado no


topo estava um machado pesado e de cabo longo que Gabby duvidava que
pudesse levantar acima de sua cabeça.

— Espere, — disse ela. — Axel me deixou uma machadinha na pilha de


lenha. Vou buscá-la.

— Não precisa. Machadinha são para gravetos. Estamos partindo toras.

Cortar toras — isso parecia ainda mais difícil do que cortar madeira.

A consternação de Gabby deve ter aparecido em seu rosto porque


Bronn acrescentou: — Vamos começar pequeno.

Mas o pedaço de madeira que ele pegou, um pedaço de tronco de


árvore tão longo quanto o antebraço dela, pareceu enorme para Gabby - tão
grosso quanto sua cintura. Ele o colocou no toco e pegou o machado.
— Cortes limpos, — ele disse a ela, balançando o machado para baixo.
A tora se partiu bem no meio. Bronn jogou uma das metades no chão e então
apoiou a outra no final.

Ele entregou o machado a ela e apontou para o meio do semicírculo. —


Mire aqui.

Gabby se perguntou se ele estava brincando ou não. — Eu não posso.


Esta coisa é muito pesada.

Sua expressão não mudou. — Claro que você pode.

OK. Então ele não estava brincando.

— Sério? — O machado devia pesar dez quilos. — Você só consegue


fazer isso porque tem mais de dois metros de altura e é musculoso.

— Dois metros e trinta. Mas o tamanho de uma pessoa não tem nada a
ver com isso.

Gabby sentiu uma pontada de irritação. — Tenho certeza de que tem


algo a ver com isso.

— Você é forte o suficiente. — Afirmado como um fato, apesar das


evidências em contrário bem na frente dele. Mas... os Alfas não mentiam, então
devia haver algum tipo de desconexão entre as percepções dele e as dela.

Bronn tirou o machado das mãos dela e se posicionou como se fosse


derrubá-lo. — Você não divide toras com os braços, — ele disse, enrijecendo os
músculos de suas costas, abdômen e ombros, sua camisa esticada sobre eles,
enfatizando sua definição. — Use todo o seu corpo.

Ele devolveu o machado como se tivesse dito a ela algo útil.


Gabby repetiu a posição dele, sentindo-se ridícula, seus próprios
músculos construídos na academia se esforçando sob o peso do implemento
pesado.

E, no entanto, havia algo na confiança de Bronn nela que, equivocada


ou não, parecia... boa.

Muito bom.

Era algo que Gabby nunca tinha obtido de Darren, e quando se tratava
de sua força física, de ninguém.

Ouvir Bronn sugerir que ela poderia realizar uma façanha de força foi de
alguma forma mais lisonjeiro do que os elogios de rotina que ela recebeu sobre
sua figura, seus braços de Michelle Obama e panturrilhas tonificadas.

Mais do que lisonjeiro. Foi uma porra de tesão.

Gabby não teve tempo de processar esse pensamento desonesto. Em


vez disso, ela colocou as mãos em volta do cabo do machado, encontrando um
equilíbrio que parecia certo.

— Fique aqui. — Bronn estava apontando para o chão à sua frente, mas
quando Gabby fez o que ele disse, ele não se afastou, tão perto que Gabby podia
sentir o calor emanando de sua pele atrás dela.

Então ela sentiu suas mãos enormes e calejadas pousar em seu corpo.
Uma ajustou seu quadril e a outra guiou a cabeça do machado um pouco mais
alto, corrigindo seu equilíbrio. Através do tecido sedoso de sua camisa, ela sentiu
os dedos dele flexionarem e apertarem e não pôde deixar de se perguntar como
eles seriam na pele nua.
Nada como o de Darren, com certeza. Sua mente passou por uma
imagem de Bronn tocando seu corpo nu assim, e um arrepio a percorreu.

As mãos de Bronn pararam brevemente. Oh Deus, ele notou. Gabby


queria morrer de vergonha, mas ele agia como se nada tivesse acontecido.

— Pernas afastadas, — ele grunhiu, e quando ela não respondeu rápido


o suficiente, ele usou a ponta da bota para afastar os pés dela. — Mais amplo.

Havia algo tão sexual em abrir as pernas para ele, mesmo a serviço de
uma tarefa doméstica, que Gabby recusou. — Por quê?

Abruptamente, Bronn deu um passo para trás, esfregando as mãos na


calça jeans como se estivesse limpando algo desagradável. — Se essa lâmina
escorregar, você vai querer que ela entre no chão e não no seu pé.

Gabby obedeceu, embora se sentisse ainda mais exposta. Ela olhou por
cima do ombro e encontrou Bronn olhando para ela tão intensamente como
sempre.

Deus, o que ela daria para saber o que se passava na mente dele. Como
ele a via. O que ele sentia.

Gabby baixou o machado, liberando sua frustração em um golpe


glorioso - e o pedaço de madeira se partiu em dois, assim como aconteceu com
Bronn.

— Oh meu Deus, — ela engasgou, sua irritação esquecida. Ela pegou um


dos pedaços e examinou o toco. — Eu fiz isso. Você viu?

Bronn grunhiu. — Ótimo. Agora faça de novo.


Ele apoiou outro tronco no toco, mas desta vez não o dividiu para ela
primeiro. Gabby olhou para o corte transversal com seus círculos marcando os
anos de sua vida e afastou o medo de que a primeira vez fosse um acaso. Ela
posicionou seu corpo da maneira que Bronn havia mostrado a ela e baixou o
machado, mas desta vez ele se alojou na madeira sem cortá-la.

— Tem que dobrar mais os joelhos. — Ele puxou o machado e entregou


a ela. — Corpo inteiro, lembra?

Como se ela pudesse esquecer seu corpo quando ele estava por perto.

Gabby fechou os olhos e lembrou-se da sensação de suas mãos


guiando-a para o lugar, não lutando contra as sensações perversas desta vez.

Ela abriu os olhos, baixou o machado e partiu a madeira ao meio.

Seu coração batia rápido, este segundo triunfo a fez se sentir


repentinamente feroz. Ela encostou o machado no toco e se virou para Bronn,
encorajada.

— Você é um bom professor, — ela disse a ele.

Bronn não mordeu a isca da conversa. Ele não reconheceu o elogio. Em


vez disso, ele pegou um toco de uma pilha diferente e o jogou na frente dela.

— Carvalho, — disse ele antes de apontar para a madeira que ela já


havia rachado. — Pinheiro. Carvalho é mais difícil.

— Então, por que não cortar pinheiros durante todo o inverno?

— Pense assim, e você ficará sem pinheiros. Além disso, o carvalho


queima mais devagar e mais quente. Você vai gostar quando as noites ficarem
longas e frias em janeiro.
Gabby assentiu com a cabeça e retomou sua postura, escondendo o
sorriso perverso que provocava os cantos de seus lábios. Ela poderia pensar em
outras maneiras de aquecer aquelas noites frias de janeiro.

Seu foco se desviou quando ela girou o machado em um arco, e a


lâmina saltou antes de afundar na madeira.

— Merda. — Gabby lançou um olhar para Bronn. — Você pode retirá-lo


para mim?

— Não dessa vez. — Ele a observou com os braços cruzados, o rosto


inexpressivo. — Eu não estarei por perto toda vez que ficar preso. Tem que
aprender a consertar seus próprios erros.

Gabby olhou para o cabo de madeira.

Ok, isso fazia sentido. Quando ela era criança, antes que o dinheiro de
seu sogro resolvesse todos os tipos de problemas, antes que Darren começasse a
microgerenciar sua vida, Gabby estava acostumada a lutar para conseguir o que
queria.

Se ela tivesse feito isso então, ela poderia fazê-lo novamente.

Ela respirou fundo, envolveu o cabo com as mãos e puxou. A princípio,


não se moveu, então ela apoiou um pé contra o toco e colocou todo o seu corpo
nele, sentindo a lâmina ceder um pouco enquanto ela puxava. Gabby ajustou a
posição de suas mãos e fingiu que estava sozinha aqui fora, que estava lutando
para sobreviver, e puxou novamente... sem sucesso.

— Você não está se esforçando o suficiente.


Gabby congelou com as palavras, sua visão escurecendo com fúria. Não
importa que fosse Bronn dizendo isso - ele não tinha o direito.

— Axel me contou sobre os agentes Beta, — disse ele com tanta


expressão como se estivesse lendo o verso de uma garrafa de molho para salada.
— Ele me contou o que eles fizeram com você. Que seu noivo abusou de você. Ele
me contou como você conseguiu escapar e atravessou a cidade sozinha. Agora, se
você pode fazer isso, você pode puxar essa maldita lâmina.

Se fosse qualquer outra pessoa, Gabby teria falado com ele antes de
sair pisando duro e deixar a tarefa para outra pessoa terminar. Mas era Bronn, e
isso a deixou com apenas uma escolha.

Gabby deixou aquela imagem voltar, aquela em que ela estava nua nos
braços dele enquanto a neve caía do lado de fora de sua janela. Desta vez, ela
soltou um grito quando puxou, experimentando uma onda que era uma espécie
de primordial da liberação sexual.

O machado se soltou e ela o deixou cair enquanto cambaleava para


trás.

A única reação de Bronn foi arquear quase imperceptivelmente a


sobrancelha.

Gabby passou por ele e pegou seu próprio tronco. Ela arrumou do jeito
que ele tinha feito e dividiu, depois pegou as metades e as dividiu também. Ela fez
isso de novo e de novo até que suas roupas ficaram encharcadas de suor e seu
coração disparou pelo esforço, e ela empilhou uma pilha de madeira decente.

— Ok. Acho que você conseguiu.


Gabby olhou para cima para ver Bronn começando a caminhar em
direção à trilha.

Ela não tinha notado o crepúsculo caindo, e ele era apenas um contorno
indistinto contra o pano de fundo da floresta.

— Pare, — ela gritou. — Onde você está indo?

Ele olhou por cima do ombro. — Casa.

— Só... só isso?

— Você aprendeu. Não há razão para ficar por aqui.

Mas Gabby não estava pronta para ele ir, ainda não. Ela procurou algo
para dizer e se perdeu imaginando o que diabos ela estava fazendo. — Mas você
não veio aqui esta noite apenas para me mostrar como cortar lenha, — disse ela.
— Axel poderia ter feito isso. Ou Maggie ou... ou qualquer um. Então, por que
veio?

Ela gostaria de poder distinguir a expressão de Bronn enquanto os


segundos passavam no silêncio entre eles. — O inverno é difícil, — ele finalmente
disse. — Mas da próxima vez que você ficar presa, você saberá o que fazer.

Qual foi o que exatamente? – Gabby quis gritar, sabendo que ele não se
dignaria a responder. Tentar mais? Essa foi a soma total de sua lição para ela?

— Por favor, Bronn. — Ela estremeceu com a nota suplicante em sua


voz. — Fique e converse só um pouco mais.

Suas sobrancelhas baixaram. — Por quê?


Boa pergunta. O problema era que Gabby não sabia ao certo por que
estava tão desesperada para impedi-lo de ir embora. — Porque é estranho que
você saiba tanto sobre mim e eu não saiba nada sobre você.

Deve ter sido uma resposta boa o suficiente porque Bronn suavizou sua
postura, mas ele ainda não se aproximou. — O que você quer saber?

— Como você sabe todas essas coisas? Quero dizer, construir coisas e
cortar madeira e tudo mais?

Ele a encarou por um momento antes de finalmente suspirar. — Não há


muito o que contar. Cresci no Arkansas. Meus pais morreram; meu avô me criou.
Me tornei um Alfa aos dezesseis anos. Essa história é suficiente para você?

— Vamos lá, Bronn. — Foi a primeira vez que ela se dirigiu a ele usando
o nome dele, e parecia bom demais em seus lábios. — Detalhes, por favor.

Agora ele parecia absolutamente desconfortável. — Como o quê?

— Tipo, como sua mãe e seu pai morreram? — Gabby perguntou


exasperada, sem se preocupar em formular a pergunta com simpatia, o que ela
imaginou que seria um desperdício para ele. — Quantos anos você tinha? O que
seu avô fazia? Que tipo de criança você era?

Ele a encarou como se ela tivesse lhe pedido para recitar o Novo
Testamento em cantonês. Houve um tique em seu queixo quando ele finalmente
assinalou suas respostas.

— Acidente de carro. Três. Tinha uma loja de armas. Média.

— Loja de armas, — repetiu Gabby, ignorando as trágicas circunstâncias


da morte de seus pais e sua descrição lamentavelmente inadequada de seu eu
mais jovem. Pelo menos ele deu a ela um detalhe com o qual ela poderia
trabalhar.

— Isso é interessante. Então é daí que seu talismã... — apontando para


o pescoço dele —...veio?

— Porra, não. — A súbita veemência de Bronn assustou Gabby, mas ele


não estava olhando para ela. Seu olhar se desviou para as árvores atrás dela.

— E não é um talismã. Não tem nada de mágico nisso. É só para me


lembrar do que acontecerá com qualquer um que tentar me machucar de novo.

Gabby não sabia o que dizer. A vergonha a inundou por ter incitado
Bronn a essa confissão relutante. Uma parte dela queria confortá-lo, mas a parte
mais esperta não ousava.

— De novo? — ela perguntou em um sussurro. Quando ele não


respondeu, ela passou para a próxima pergunta em sua mente, aquela que ela
não tinha certeza se queria saber a resposta. — Então, o homem que possuía
aquela arma... é ele...

O rosto de Bronn se contorceu em um sorriso de escárnio amargo. —


Oh, ele está morto. Eles estão todos mortos.

Todos.

Mesmo os cantos mais sombrios de sua mente não poderiam ter


imaginado uma resposta mais assustadora. A boca de Gabby ficou aberta quando
Bronn virou as costas para ela mais uma vez.

— Boa noite, Gabriella.

— Espere, — ela gritou atrás dele. — Você voltará amanhã?


Ele fez uma pausa, mas não se virou. — Por quê?

— Para... eu não sei, para me ensinar outra coisa.

De onde isso veio? O homem basicamente confessou vários


assassinatos na frente dela, e ela o estava convidando para voltar? O que diabos
estava acontecendo com ela?

Bronn começou a descer o caminho. — Isso é tudo que eu sei.

Desta vez, Gabby não o impediu enquanto ele desaparecia entre as


árvores.

Mas ela também não acreditou nele. Nem por um segundo.

Havia muito mais sobre Bronn - e a história do cano da arma em seu


pescoço - do que ele deixava transparecer, e Gabby estava determinada a
descobrir.
CAPÍTULO 10
Bronn

A vida lhe deu pouco espaço para erros.

O avô de Bronn havia lhe ensinado isso. Havia uma razão para os
proprietários de armas dirigirem centenas de quilômetros para que Don Hayes
substituísse um percussor empenado ou consertasse uma rachadura na coronha
ou calibrasse o tempo de uma arma de fogo - sua reputação de trabalho de
qualidade era insuperável.

— Não vale a pena fazer nenhum trabalho que não valha a pena fazer
direito, — vovô costumava dizer, e isso dobrou quando ele começou a ensinar seu
ofício a Bronn.

Uma arma pode ser uma coisa bonita, na opinião de Bronn, mas ele
nunca gostou de atirar. Por um lado, não havia muito o que imaginar de uma vez
que os subúrbios engoliam a velha casa de fazenda do vovô. Ainda assim, a
atenção aos detalhes que vovô incutiu em Bronn o serviu bem depois que ele
escapou do Porão. Sem ela, ele nunca teria chegado a Ozark Boundaryland.

Havia tantas maneiras pelas quais ele poderia ter morrido. Uma das
armadilhas que ele armou em sua primeira semana rendeu um agente que estava
disposto a falar - especialmente depois que ele descobriu que a pena para o
silêncio era a morte. Bronn havia extraído informações vitais do homem, detalhes
que o ajudaram a evitar bloqueios de estradas e escapar das ferramentas de
rastreamento de alta tecnologia que o governo estava usando.

Havia o helicóptero de operações especiais que teria avistado o


acampamento de Bronn perto de um riacho se ele não o tivesse camuflado tão
bem com samambaias e folhas. E ele só conseguiu passar pelos agentes federais
que estavam se passando por manifestantes dos direitos Alfa perto do limite por
estar atento a cada detalhe, incluindo os minúsculos dispositivos de comunicação
dentro de seus colares.

A vida não recompensa os idiotas, e muitas pessoas inocentes nunca


tiveram uma segunda chance. Foi por isso que Bronn foi ver Gabby sozinho,
apesar de saber quanto risco ele estava correndo.

De volta a sua casa, ele fez algo que nunca havia feito antes e baixou as
persianas sobre as janelas de sua casa.

Elas foram um presente da companheira de Archer, Sarah, resgatadas


de uma casa que ela limpou. Na época, parecia mais fácil aceitá-las do que recusá-
las.

As persianas impediam que seus olhos se desviassem para o ponto


fraco da lanterna amarela em sua varanda, mas não conseguia bloquear todas as
outras evidências de quão perto ela estava.

Durante toda a semana, ele havia respirado a vulnerabilidade e a


fragilidade que envolviam o cheiro de Gabby. Nenhuma persiana frágil poderia
defendê-lo disso. Ou o som de seus pés esmagando as folhas caídas do outono
enquanto ela caminhava pela manhã.
Bronn se sentia pelo menos parcialmente responsável por sua
segurança. E desde que ele se recusou a mentir para si mesmo, ele reconheceu
que não era a única razão pela qual ele parava durante o dia quando o vento
mudava em sua direção, fechando os olhos e inclinando a cabeça para absorver o
máximo possível do cheiro dela. Era uma mistura exótica de cassis e baunilha e
outras notas que ele não conseguia separar por mais que tentasse.

E força.

Bronn não estava mentindo quando disse a Gabby que ela era forte o
suficiente para sua tarefa. Ela obviamente colocou muito trabalho naquele corpo
dela. Mas isso não mudava o fato de que, quando comparada com as ameaças
que enfrentava, Gabby era francamente delicada.

Se ele precisava de provas, ele conseguiu hoje à noite quando colocou


as mãos nela pela primeira vez. Seus dedos se apertaram involuntariamente
quando ele a sentiu responder ao seu toque, e ele não pôde deixar de notar quão
macio era o corpo dela.

E frágil... muito frágil. Não seria preciso um Alfa para derrubá-la. Um


macho Beta médio poderia fazer o trabalho. De acordo com as histórias que Axel
havia compartilhado, eles já haviam tentado.

O pensamento fez o mal dentro de Bronn se levantar e exigir vingança.

Como sempre, ele o forçou a descer. Ele nunca pediu por esse poder
mortal, mas mesmo assim criou raízes e ficou mais forte cada vez que ele matava.
A violência dentro dele não sabia distinguir o certo do errado; apenas ansiava por
sangue e destruição.
Assim que deixou o Porão, Bronn jurou que nunca tiraria a vida de outro
homem em defesa da sua. Se ele matasse de novo, seria apenas para proteger os
outros. Fora isso, ele preferia morrer.

Se ele pudesse se dar ao luxo de se enganar, Bronn diria a si mesmo que


ajudar Gabby poderia fazer uma pequena diferença em sua dívida cármica. Não
que ele fosse capaz de eliminá-la completamente. Ele tinha muito sangue nas
mãos. Mas imaginar-se totalmente humano novamente... saborear a doçura da
redenção, mesmo que por um segundo...

Bronn afastou o pensamento e pegou seu uísque na cozinha, tirando a


tampa e tomando um grande gole. Ele deu as boas-vindas à queimadura.

Redenção. Houve uma piada.

Ele com certeza não estava pensando em redenção ou nas habilidades


de sobrevivência de Gabby quando deslizou as mãos em volta da cintura dela e
puxou seus quadris contra os dele. Ou quando ele chutou as pernas dela. Ou
quando ele pegou uma sugestão de excitação subindo no ar quando ele a tocou.

Porra.

O que diabos ele estava pensando, indo até lá?

Ele não podia ajudá-la. Ele era um maldito monstro, incapaz de fazer o
bem. Bastou um pequeno toque, a menor carícia da pele dela contra a dele, e
Bronn sentiu todo o controle de seu corpo se esvaindo.

Mesmo agora, ele não conseguia parar de pensar nela.

Seus ombros arredondados... a curva de seu quadril. A conexão quase


elétrica vibrando mesmo entre suas camadas de roupas. E aquele cheiro,
entrando em seu corpo e mudando-o por dentro, libertando seu coração de suas
restrições.

Bronn não queria ajudar esta mulher; ele a queria. Ponto final.

Graças a Deus ele caiu em si antes que fosse tarde demais.

Ele se afastou da janela e sentiu a cortina dentro dele descer também.

Gabby era uma boa mulher, corajosa e determinada. Ela merecia um


homem que fosse digno dela. Não um assassino.

Bronn não tirou uma única vida ou mesmo uma dúzia. No momento em
que ele deixou o Porão, o número de homens que ele matou ultrapassou uma
centena. E com essas vidas, a alma de Bronn também partiu.

Ele esperava que Gabby visse isso. Que no momento em que ela tivesse
uma ideia de que tipo de homem ele era e as coisas horríveis que ele tinha feito,
ela se viraria e fugiria.

Mas ela não tinha. Ela ainda o queria. Inferno, ela implorou para ele
voltar amanhã.

De jeito nenhum.

Bronn cometeu um erro esta noite. Ele viu isso agora. Ele pensou que
seria capaz de controlar seu desejo... e o dela.

O desejo que existia desde o primeiro olhar crescia cada vez que se
encontravam. E agora ele sabia com certeza que não iria a lugar nenhum.

O que significava que só havia um caminho possível a seguir. Ele tinha


que evitá-la. De verdade desta vez. Nada de segui-la pela floresta.
Sem observar das sombras. Nada de sair para a varanda tarde da noite e
respirar os traços fracos dela.

Bronn bebeu o resto da bebida da garrafa, tentando afogar sua


angústia.

Ele não tinha nascido um monstro. Isso aconteceu em um laboratório


quando mentes crivadas de maldade o quebraram repetidamente,
transformando-o em uma máquina de matar.

Bronn lutou contra isso - é claro que lutou. Mas no final, isso não
importava. Suas mãos eram as que arrancavam os corações dos peitos dos
homens, que estrangulavam a vida deles, que despedaçavam seus corpos.

Mas algum resquício da humanidade de Bronn permaneceu. Apenas o


suficiente para lembrá-lo de que a única coisa que podia oferecer a uma mulher
era dor. E Gabby já havia sofrido demais.

Pela centésima vez, ele amaldiçoou o destino por trazê-la aqui. Mas isso
não significava que ele não pudesse fantasiar sobre ela.

Bronn deixou a garrafa vazia cair de sua mão enquanto caminhava para
seu quarto. Deitou-se na cama, sabendo que o sono o escaparia.

Mas pelo menos agora, com a falsa segurança da solidão e uma casa
escura, ele poderia aliviar o estresse.

Bronn puxou seu pênis e começou a acariciar. Seu corpo respondeu,


apesar da provocação amarga de sua mente, lembrando-o de sua indignidade.

Ele fechou os olhos com força e tentou apagar tudo, exceto a sensação
de urgência crescendo dentro dele, mas era inútil.
Gabby estava lá, nos recessos de sua imaginação, ajoelhada diante dele
com emoções proibidas em seus olhos, o cheiro do fluído subindo dela.

Bronn se soltou, perdendo-se na fantasia. Em sua mente, ele podia vê-


la, senti-la. Os olhos dela se encontraram com os dele. Sua boca em torno de seu
eixo. Sua língua contra sua pele.

Droga, era tão bom.

Ele podia ouvi-la gritando seu nome enquanto sua boceta se esticava ao
redor de seu pênis. Sentir o coração dela martelando contra o peito dele
enquanto o prazer crescia dentro dela.

Era tão real... mais do que qualquer dia de sua vida desde que ele saiu
de casa, mais do que qualquer dor que ele sofreu ou cicatriz que ele carregava.

Enquanto suas bolas se contraíam, Bronn agarrou os lençóis com tanta


força que eles rasgaram sob seus dedos. Ele continuou bombeando seu pênis
mais forte, mais rápido.

Um borrão de emoção e desejo atingiu o pico dentro dele... e então ele


se quebrou, rugindo na noite enquanto seu corpo se dissolvia em sensações.

Por um momento abençoado, sua mente ficou em branco.

Quando Bronn desceu, sua auto-aversão esperando por ele, ele quase
perdeu algo estranho. Antes que seu pênis pudesse amolecer em sua mão, ele
sentiu um leve inchaço em sua base.

Santa mãe de Deus - foi o começo de um nó. Bronn afastou a mão como
se ela o tivesse queimado.
Ele saltou da cama e olhou para si mesmo sob o luar que entrava pela
janela, quase tentado a arrancar aquela coisa miserável de seu corpo. Porque se
apenas fantasiar sobre ela fez isso acontecer, isso significava que uma conexão já
havia começado a criar raízes.
CAPÍTULO 11
Gabriella

À medida que os dias se transformavam em semanas, Gabby foi forçada


a aceitar que Bronn não voltaria.

Além disso, ele parecia estar fazendo um esforço concentrado para


evitar toda a parte leste de sua propriedade e a fronteira que dividia com as
terras de Axel.

— Exagero, você não acha? — Gabby resmungou em sua caminhada


matinal algumas semanas depois da aula de cortar lenha.

Ela se assustou quando um bando de pássaros de repente subiu aos


céus através da névoa da manhã em sua aproximação. Embora ela estivesse
fazendo a mesma caminhada todas as manhãs durante um mês, Gabby ainda não
estava acostumada com toda a vida selvagem que a cercava.

Era apenas mais uma prova de que ela não pertencia ali.

Embora ela estivesse melhorando. Ela não tinha gritado em pânico


ultimamente como fez na primeira vez que se deparou com uma cobra em seu
caminho.

Ainda assim, cada dia trazia algum novo choque ou inconveniência de


viver na natureza, como encontrar os lençóis que ela pendurou para secar com
crosta de gelo em uma manhã fria ou esquecer de acender as lamparinas a óleo
até que estivesse escuro demais para encontrar os fósforos.
Mas Gabby tinha que admitir que, em muitos dias, as surpresas
desagradáveis eram superadas em número por prazeres inesperados. Ela nunca
dormiu tão bem desde que se mudara para a cabana, e sua pele adquirira um
brilho saudável que nenhum creme BB poderia igualar.

E em vez de ficar sozinha, Gabby tinha todo um novo círculo de amigas


Ômegas. Embora não gostasse de admitir, sentia-se mais próxima dessas
mulheres do que das amigas que deixou em Denver. Talvez porque, ao contrário
de seu círculo de socialites e políticos, cada palavra que saía de suas bocas era
genuína.

Tanto que ela se viu respondendo da mesma forma, abrindo-se sobre


Darren e outras coisas dolorosas que ela nunca havia compartilhado com outra
alma, nem mesmo com Maggie. Ninguém a julgou; ninguém lhe deu conselhos
indesejados. Em vez disso, elas apenas encheram sua xícara de café e ouviram.

Mas ainda havia um assunto que Gabby nunca tocava, aquele que a
visitava todas as noites enquanto ela pensava no Alfa vivendo na montanha
abaixo dela. Tornou-se seu ritual noturno encontrar alívio para as fantasias de seu
corpo pressionando contra o dela, especialmente seu peito nu e braços
poderosos.

E suas cicatrizes.

Não que elas fossem excitantes por si mesmas, mas a intimidade de vê-
las, de conhecer sua fonte, era a conexão que podia transformar uma leve
excitação em orgasmos tão poderosos que ela teve que morder o travesseiro para
não gritar.
Mas quando o sol nasceu, suas fantasias noturnas se dissolveram em
pó.

Embora ela seguisse o mesmo caminho ao longo do marcador da


propriedade em sua caminhada diária, a corda amarrada entre os postes que Axel
havia cravado na terra era um lembrete visceral de todas as barreiras entre ela e
Bronn.

Ele era um Alfa; ela era uma Beta. Ele era forte; ela era fraca.

Ele era engenhoso; ela estava à mercê dos outros para a sobrevivência
diária.

Mas apenas um deles foi sábio o suficiente para evitar o outro.

Na verdade, Gabby não tinha visto nenhum vestígio de Bronn - nenhum


toco onde ele havia derrubado uma árvore, nenhuma terra remexida onde ele
havia cultivado, nem mesmo fumaça saindo de sua chaminé. Era como se ele
tivesse desaparecido.

Gabby tentou não ficar desapontada. Ela mal conhecia o homem, o


maior período de tempo que passaram juntos foi de trinta minutos cortando
lenha - e ainda assim ela não podia ignorar a estranha compulsão de vê-lo
novamente.

Não, compulsão não era a palavra certa para isso. Isso sugeria um
desejo fora do controle de Gabby, que poderia levar ao tipo de conexão de que
Maggie havia falado. Isso poderia condenar involuntariamente ela para passar o
resto de sua vida acasalada com um Alfa em Ozark Boundaryland.

O que definitivamente não aconteceria.


Essa vida pode ser boa para Maggie e as outras Ômegas. As mulheres
que ela conheceu eram de uma raça diferente — e não apenas no sentido literal.
Elas pareciam constitucionalmente construídas para a solidão do deserto, os dias
tranquilos e pacíficos e as noites barulhentas gastas fazendo amor com seus Alfas
gigantes.

Essa última parte não parecia tão ruim, na verdade, especialmente


quando Gabby ficou descuidada o suficiente para ser surpreendida por devaneios
de ser espancada pelo enorme pênis de Bronn.

Gabby esperava que a passagem do tempo eventualmente fizesse com


que sua pequena fantasia desaparecesse. Mas cada dia parecia mais urgente, a
dor dentro dela mais profunda. Pena que não havia um Beta bonito e limpo para
uma aventura casual - um ambientalista quente, talvez, alguém que dedicou sua
considerável fortuna ao estudo de espécies ameaçadas e...

Eh.

As velhas fantasias de Gabby, aquelas que sempre a haviam tirado do


sério durante toda a sua vida, não faziam mais isso por ela. Em vez disso, todo
ambientalista, estrela de cinema ou filantropo sexy imaginado invariavelmente se
transformava em Bronn.

Mas era apenas fantasia, Gabby racionalizou.

Ela não tinha nenhum sentimento forte por Bronn, certamente nenhum
que pudesse se transformar em algo real, como os laços que as Ômegas
compartilhavam com seus companheiros.
Bronn era um Alfa e Gabby era uma Beta - e ao contrário de suas novas
amigas cujas naturezas haviam sido despertadas inesperadamente, Gabby tinha
certeza de que sua própria natureza Beta era completamente inequívoca.

O que provavelmente era o verdadeiro motivo pelo qual ela estava tão
fascinada por Bronn. Ele era fruto proibido. Fora dos limites. Tabu. E isso só o
tornava mais atraente.

Mas ele claramente não pensava a mesma coisa sobre ela.

Não deveria ter sido uma surpresa. A única vez que ele a procurou, ele
disse que estava lá apenas para ensiná-la a cortar lenha... e os Alfas não mentiam.

Expectativas claras, limites claros. Ironicamente, essas eram


exatamente as coisas pelas quais ela implorava quando estava com Darren, que
parecia continuar movendo as traves do gol. Bem, Bronn superou irritantemente
as expectativas.

Ainda assim, todas as manhãs, quando Gabby saía com as botas de


caminhada e as meias de lã que Courtney trouxera para ela, ela não conseguia
parar de procurá-lo nas árvores do outro lado da propriedade.

Ela percorreu esse caminho tantas vezes que estava começando a


formar uma trilha ao longo da barreira de corda.

Agora que o outono estava avançado, as folhas cobriam o chão como


uma colcha de retalhos, e Gabby podia ver mais longe nas terras de Bronn além
dos galhos nus das árvores. Até hoje, quando o sol nascente encontrava a geada
da manhã e embaçava o ar em um cinza perolado, tornando a paisagem tranquila
assustadoramente adorável.
Sua caminhada diária terminava no local onde a propriedade de Axel
fazia fronteira entre a fronteira e o território Beta. O ponto decisivo de Gabby era
a carcaça esmagada na árvore contra a qual Maggie havia batido com um Land
Cruiser roubado quando chegou, uma visão que sempre a fazia sorrir. Maggie
sempre soube fazer uma entrada.

Ela daria um tapinha carinhoso no porta malas antes de se virar e voltar


para a cabana, onde faria o almoço no fogão e o levaria para o convés para comer
se o tempo estivesse bom.

Gabby nunca havia seguido uma rotina tão previsível antes e ficou
surpresa com quão agradável ela a achou. Sem surpresas, sem prazos, sem pular
refeições ou e-mails intermináveis.

Cheia de contentamento, Gabby decidiu demorar um pouco antes de


voltar. Não havia razão para correr para casa, já que ela não visitaria Maggie nos
próximos quatro dias. Como Gabby havia aprendido da maneira mais difícil no
mês passado, era melhor dar uma boa distância da casa deles até que o cio de
Maggie terminasse.

Ela estava a pelo menos uns 400 metros de sua casa algumas semanas
atrás, colhendo verduras silvestres para uma salada, quando ouviu um rosnado
seguido por um grito e quase pulou para fora de sua pele. No momento em que
ela percebeu o que estava ouvindo - a saraivada de gemidos seguidos por um sim
- sim - sim! forneceu uma pista bastante definitiva - ela estava correndo para
casa.
Gabby gostaria de apagar aquela pequena cena de sua memória. Ela
era totalmente a favor de sua melhor amiga transar, mas havia certos detalhes
que ela preferia não saber sobre a vida amorosa de Maggie.

O sol começava a romper a névoa, dissolvendo-a e refletindo


caleidoscópios de luz das gotas que se espalhavam pelos galhos. Gabby deu uma
olhada e ficou brevemente cega por seu brilho.

Ela pensou ter ouvido um galho estalar e congelou. Erguendo a mão


para proteger os olhos, ela tentou espiar através da névoa fumegante, mas não
adiantou. Ela só conseguia distinguir formas brilhantes. E nenhum deles se
parecia com Bronn.

Um sentimento familiar de desapontamento percorreu Gabby.


Provavelmente era apenas um cervo procurando o café da manhã.

Ou talvez alguns. Gabby tinha visto uma corça bebendo no riacho que
passava pelas terras de Axel e Bronn, mas os passos que ouvia pareciam menos
cautelosos.

E eles estavam se aproximando... correndo, pelo que parecia.

O cabelo na nuca de Gabby se arrepiou. Não era Bronn lá fora ou


qualquer outro Alfa, aliás. E com certeza não era nenhum veado.

Gabby deu um passo cauteloso para trás e depois outro, mas mal
começou a se virar quando ouviu o crepitar de um rádio.

— Relatório de estado.

Gabby congelou. Mesmo através da estática do rádio, ela reconheceu a


voz – uma que ela rezava para nunca mais ouvir.
A agente Hoss a encontrou.

— A área está livre. — Uma voz masculina respondeu. Também era


familiar, mas Gabby lutou para identificá-la. — Imagens térmicas mais próximos
hostis estão a mais de um quilômetro de distância.

— Roger. Continue para o próximo setor.

O coração de Gabby bateu contra o peito. Por que diabos Hoss estava
vindo atrás dela agora?

Fazia mais de um mês desde sua fuga. Gabby rastreou as manchetes


nos jornais que Courtney trouxe, e não houve menção a ela em mais de uma
semana. Sua fuga pode ter sido um olho roxo na atual administração - e quase
afundou a carreira política de Darren - mas a história estava desaparecendo.

Mas parecia que a mulher não estava contente com isso e havia
enviado outra pessoa para acabar com ela.

Gabby não esperou para ver quem era. Ela se virou e correu.

Em pânico, ela colidiu com a barreira de corda e derrapou por alguns


metros antes de se firmar.

— O alvo está em movimento.

— Você tem luz verde para derrubá-la.

As palavras fizeram o sangue de Gabby gelar, mas ela se recusou a


deixar Hoss ser a última voz que ela ouviu.

Sabendo que quem quer que estivesse atrás dela provavelmente havia
sido arrancado das fileiras de elite dos assassinos do governo, Gabby ficou
desesperada. Ela desviou para um arbusto espesso, rezando para que seu
perseguidor não fosse magro o suficiente para navegar pelos espaços estreitos
entre eles.

Resumidamente, a estratégia funcionou. Os passos e as vozes ficavam


cada vez mais distantes. Mas, eventualmente, o matagal diminuiu e Gabby se viu
de volta ao ar livre.

Se ao menos isso tivesse acontecido algumas semanas atrás, as folhas


de outono ainda estariam agarradas às árvores e lhe dariam alguma cobertura.

Ocorreu a Gabby que essa era provavelmente uma das razões pelas
quais Hoss havia esperado até agora para atacar. Ela queria que as condições
fossem perfeitas.

Inferno, ela provavelmente tinha Gabby sob vigilância por semanas


enquanto Hoss aprendia sua rotina, rastreava as condições do solo e escolhia seu
momento.

Um momento quando a névoa deu cobertura e o Alfa mais próximo


estava muito perdido no cio com sua companheira para sentir a invasão.

Algo passou zunindo pela orelha de Gabby antes de se alojar no tronco


do carvalho bem na frente dela. Caramba, eles estavam atirando nela.

Gabby gritou e correu mais rápido, mas não foi rápida o suficiente. O
segundo tiro atingiu seu ombro, o impacto a fez cambalear antes que a dor
aparecesse, uma garra afiada rasgando sua carne.

Milagrosamente, Gabby ficou de pé, aproveitando a adrenalina.

Ela esperou que a dor a paralisasse, mas foi o embaçamento de sua


visão e a súbita exaustão nas pernas que a derrubaram. No momento em que ela
desabou no chão, Gabby havia perdido quase toda a sensação em suas
extremidades e sua tentativa apavorada de engatinhar levou apenas alguns
centímetros.

Então é assim que eu morro. O pensamento vagou na periferia de sua


consciência, e Gabby precisou de todo o foco para chegar atrás dela, procurando
o buraco de bala que a condenou.

Em vez disso, seus dedos roçaram a ponta farpada de um dardo.

Oh Deus. Ainda pior que a morte, então — se ela tivesse sido


tranquilizada, Hoss a queria viva.

Gabby tentou gritar, mas conseguiu apenas um leve sussurro. — Bronn.

— Singh! Hostil avançando pelo suldoeste. — A voz metálica de Hoss


era urgente.

— Roger. — Uma sombra caiu no rosto de Gabby. Embora seu campo


de visão estivesse se estreitando rapidamente, ela ainda conseguia distinguir as
feições do agente Singh. — Alvo para baixo. Protegendo agora.

O ar foi forçado a sair dos pulmões de Gabby quando Singh ergueu o


corpo inerte dela por cima do ombro. Mais figuras apareceram atrás dele,
borradas, de cabeça para baixo e camufladas.

Os outros soldados flanquearam Singh enquanto corriam de volta por


onde vieram, ninguém falando.

— Singh. — A voz de Hoss era ainda mais urgente. — Você precisa se


apressar - aquele hostil está se movendo rápido. — Apenas um segundo se
passou antes que ela acrescentasse: — Puta merda. Macon, tem certeza de que é
um hostil e não um animal? Nem mesmo os Alfas podem correr tão rápido.

Se Hoss recebeu uma resposta de quem ela estava falando, Gabby não
ouviu. Ela estava muito ocupada sendo repetidamente jogada contra o ombro de
Singh enquanto ele aumentava o ritmo.

— Movam -se, — ele gritou para os homens ao seu redor, abandonando


qualquer tentativa de furtividade. — Temos companhia.

Gabby fez o possível para manter o café da manhã no estômago


enquanto caía de cabeça para baixo. Sua visão havia desaparecido a ponto de ela
não conseguir mais ver nada além do borrão do chão que passava.

Houve mais algumas trocas de rádio, mas naquele ponto, a mente de


Gabby não conseguia desvendar as palavras. Tudo o que ela conseguiu ouvir foi
um coro de gritos seguidos de rajadas explosivas de tiros.

Então, de repente, ela estava caindo em direção ao chão. Incapaz de


mover os braços para amortecer a queda, seu corpo atingiu a terra com um
baque surdo.

Depois disso, as pálpebras de Gabby se fecharam. Mesmo os gritos


distorcidos de dor e terror ao seu redor não eram suficientes para manter a
escuridão sob controle.
CAPÍTULO 12
Bronn

Bronn havia adiado a remoção da velha cerca elétrica para gado do


outro lado de sua propriedade por semanas, mas queria terminar o trabalho
antes da primeira neve. Pelo que parecia, não segurava corrente há anos, mas se
estivesse enterrado em um banco de neve, poderia representar um perigo para
qualquer animal grande o suficiente para se enroscar no arame.

Bronn não teve nenhum problema em matar e comer cervos, faisões e


outros animais que caçava, mas a morte desnecessária era algo que ele jurara
evitar sempre que possível, humano ou animal.

O problema era que a linha da cerca ficava no extremo oeste de sua


propriedade — o ponto mais distante de Gabriella — e havia algo estranho no ar
hoje. Ele não conseguia identificar exatamente o quê. Não havia cheiro de perigo
imediato, nem sons estranhos.

Ainda assim, algo estava errado. Uma energia estranha pairava no ar


com a névoa, zumbindo e alertando sobre o perigo iminente. Ele não estava
preocupado consigo mesmo, mas com Gabriella.

Ele começou a usar o nome completo dela, mesmo que apenas em sua
mente. Um nome particular, bastante adorável para a mulher que o usava, era
uma indulgência que ele não merecia; e no entanto, uma vez que ele começou,
Bronn não conseguia voltar para seu apelido casual.
Embora ele tivesse mantido sua promessa de não colocar os olhos nela
no último mês, isso não significava que ele não a estivesse monitorando o melhor
que podia. Bronn sabia que não poderia fazer nada para manter Gabriella segura
depois que ela deixasse a Boundaryland. Até então, porém, ele considerava isso
seu trabalho — especialmente quando Axel não estava disponível.

Não levaria mais de uma hora para retirar a cerca. Ele terminaria e
voltaria antes que alguém notasse que ele tinha saído.

Ha. Isso foi uma piada. Ninguém dava a mínima para onde Bronn estava
em determinado momento, e ele gostava assim.

Sim, continue dizendo isso a si mesmo, amigo, disse a vozinha em sua


cabeça.

Bronn começou a cortar a trança de arame nos parafusos de conexão e


enrolá-la em torno de um poste que havia arrancado do chão. Foi um trabalho
árduo - perigoso também, se você não prestasse atenção - e seus antebraços
foram cortados em três ou quatro lugares na primeira meia hora.

Mas então o vento mudou e ele ouviu o som de uma voz - uma Beta
falando em voz baixa.

Bronn congelou, imaginando se ele havia imaginado. Ele podia sentir o


cheiro de Gabby - fraco, mas inconfundível - mas o dela era único, além de um
produto químico estranho...

Bloqueadores de cheiro.
Bronn estava em movimento antes que pudesse concluir o pensamento,
rasgando a floresta em alta velocidade em direção à outra extremidade de suas
terras, onde Gabriella fazia sua caminhada diária.

Tudo se encaixou com uma velocidade doentia: os bloqueadores de


cheiro que os Betas criaram e refinaram no Porão, o momento do cio de Maggie,
a estranha energia no ar. Só pode significar uma coisa.

A raiva explodiu dentro de Bronn quando ele ouviu o grito de Gabriella,


fortalecendo seu corpo até que ele correu tão rápido que a floresta se
transformou em um borrão. Ele podia ver o mergulho final antes que a terra se
nivelasse pouco antes da linha da propriedade quando ouviu Gabby chamar seu
nome.

— Bronn...

Sua voz era fraca, apenas um sussurro.

Bronn avistou o primeiro dos soldados Beta meio segundo depois.

O medo de que Gabriella tivesse se machucado o impulsionou através


do homem, nem mesmo se preocupando em golpear porque sabia o que a
combinação de massa e velocidade faria.

Ele mal sentiu o impacto, mas ouviu o rasgo úmido do tecido humano e
ficou temporariamente cego pelo sangue que espirrou em seu rosto. Ele limpou
para encontrar outro dos bastardos na frente dele, tentando apontar seu rifle
militar com as mãos que tremiam tanto que seu primeiro tiro foi longe.
Bronn fez um trabalho rápido com o Beta, agarrando-o pelo pescoço e
sacudindo-o como uma boneca de pano. Sua coluna quebrou, mas ele ainda
estava gritando quando Bronn o largou. Uma bota em seu crânio pôs fim a isso.

Ele farejou o ar em busca do cheiro de Gabriella e mal o encontrou,


desaparecendo rapidamente no nível do solo atrás de uma pilha de pedras, mas
antes que pudesse chegar lá, outro soldado vestido de preto veio atirando nele.
Bronn arrancou a arma de suas mãos e a quebrou na rocha. Em seguida, agarrou
o braço do soldado chocado e puxou-o ao longo da rocha enquanto ele corria,
arrastando o rosto contra ela até que não restasse mais nada.

O que ele viu quando dobrou a esquina, no entanto, fez Bronn congelar.
Havia mais um soldado agachado sobre o corpo imóvel de Gabby, o cano de sua
arma pressionado contra seu pescoço ensanguentado.

Bronn respirou fundo. Gabby estava inconsciente, mas viva.

Então ele fechou os olhos e deixou todos os seus demônios saírem da


jaula.

O homem nunca soube o que o atingiu. Bronn tinha um conhecimento


profundo dos tempos de resposta humanos, um que ele nunca havia pedido, mas
que agora o servia bem. Ele enrijeceu os músculos das pernas e das costas
enquanto o soldado gritava que a mataria.

— Não, você não vai, — Bronn prometeu com um grunhido quase baixo
demais para ouvidos Beta.
No tempo que levou para o dedo do soldado apertar o gatilho, ele
executou uma cabeçada aérea no ombro do homem, fazendo-o cair esparramado
enquanto as balas pulverizavam as árvores acima deles.

Teria sido mais fácil matá-lo.

Mas um homem que ousou ameaçar Gabriella não merecia uma morte
fácil.

Bronn arrancou a arma das mãos do soldado e o prendeu no lugar com


um pé em seu antebraço, esmagando os ossos, músculos e tendões em uma
polpa. Então ele pegou a longa e perversa faca tática do cinto do bastardo e o
colocou de pé.

— Quando eles treinaram você, eles disseram que os Alfas nunca


mentem?

Os olhos do homem derramaram lágrimas enquanto ele assentiu


desesperadamente. Bronn ergueu um de seus braços e o empurrou contra um
gigantesco carvalho branco, depois enfiou a faca no antebraço, cravando-a
profundamente no tronco até que apenas o cabo ficasse exposto.

Ele esperou que os gritos cessassem antes de usar sua própria faca para
empalar o outro braço. Ele teria que se lembrar de pedir a Courtney para trazer
outra.

— Então, ouça com atenção, — disse ele, recuando. — Se você


conseguir se libertar nos próximos sessenta segundos, eu deixarei você viver.
Para seu crédito, o soldado conseguiu libertar um braço antes de
sangrar - se é que você poderia chamar de braço a massa irreconhecível em
pedaços que pendia abaixo de seu cotovelo.

Enquanto Bronn embalava o corpo flácido de Gabby, ele percebeu que


acabara de fazer o impensável.

Ele mentiu, ele nunca deixaria o bastardo viver.

Bronn carregou Gabby de volta para sua casa e a deitou em sua cama
antes de encontrar o pequeno dardo cravado em seu ombro. Então, uma vez que
ele estabeleceu que seu pulso estava fraco, mas estável, e que o sangue em suas
roupas era de um corte raso que ela sofreu quando caiu, ele agarrou as farpas
sintéticas e gentilmente puxou o dardo, deixando um quase buraco imperceptível
na pele de Gabby.

Os covardes a haviam dopado.

Bronn sabia que não deveria se surpreender. A prática era comum no


Porão. Homens, mulheres, Alfas, Betas, Ômegas - a equipe preferia tranquilizar
qualquer coisa que se movesse a arriscar uma briga.

Quatro soldados treinados — e eles estavam com medo de uma mulher


desarmada. Betas de merda.

Depois de cobrir Gabriella com um cobertor de lã e colocar um


travesseiro sob sua cabeça, Bronn puxou uma cadeira para o quarto e sentou-se
ao lado da cama. Ele sabia por experiência que ela ficaria bem em questão de
horas - provavelmente mais perto de um dia, dado quão profundamente ela
estava fora. O que lhe dava muito tempo para pensar.
Bronn sabia que poderia dizer que foi forçado a agir quando Betas
armados invadiram as terras de seu vizinho. Todo Alfa na fronteira entenderia,
especialmente porque Axel estava ocupado com o cio de sua Ômega.

Mas Bronn saberia que era outra mentira.

Ele não tinha feito isso por Axel ou para defender esta terra pela qual
todos eles lutaram tanto.

Ele tinha feito isso por ela... por Gabriella.

Manter distância havia forçado seu autocontrole ao ponto de ruptura.


Ele acordava depois de cada noite agitada com o cheiro suave dela descendo a
montanha. Nas primeiras horas de trabalho, ele ouvia os passos dela no mesmo
caminho todas as manhãs, seguindo os contornos da linha que separava sua
propriedade da de Axel.

E mesmo que ele tentasse se proteger contra isso, ele nunca poderia
resistir a largar suas ferramentas para saborear a esperança em seu cheiro de que
este poderia ser o dia em que ele reapareceria, o desejo que estava sempre a um
suspiro de alcançá-la.

A vontade de não ceder à tentação foi quase mais do que ele poderia
aguentar. Mas, de alguma forma, Bronn encontrou forças para continuar
resistindo.

Bastaria um deslize - um toque descuidado - e Bronn destruiria a


inocência de Gabby.

Ele prefere morrer.


Então, todos os dias, ele se lançava nas tarefas que deveriam durar toda
a temporada. Ele caçou e pescou; ele salgava a carne para curar; ele preparava as
peles para serem curtidas. Ele plantou as colheitas de inverno e transformou o
que restou das que colheu de volta na terra, corrigindo o solo com o rico
composto que cultivou durante o outono. Ele limpou e lubrificou as ferramentas
que havia recolhido e consertou as que haviam sido negligenciadas. Quando não
conseguia dormir à noite, desmontava o motor de um trator enferrujado em sua
garagem e limpava cada componente antes de montá-lo novamente.

Mas não importa quanto trabalho ele fizesse para si mesmo, Bronn
nunca conseguia tirar Gabriella de sua mente. A imagem dela dançava em seus
pensamentos enquanto ele trabalhava. Ele treinou seus sentidos para captar cada
suspiro, cada nota que ela cantarolava, cada mudança sutil em seu perfume.

O que tornava o problema atual de Bronn ainda mais irritante. Ele não
podia deixá-la aqui para acordar sozinha e desorientada, e como Axel estava
ocupado com o cio de Maggie, ele também não podia levá-la para casa. E não
havia nenhuma maneira no inferno que ele arriscaria deixá-la sozinha em sua
cabana.

Bronn se mexeu desconfortavelmente na cadeira antes de notar


sangue fresco umedecendo a manga da camisa. Franzindo a testa, ele rolou o
punho e descobriu um buraco limpo e sangrento alguns centímetros acima de seu
pulso.

Bronn amaldiçoou baixinho, relutante em sair do lado de Gabby,


mesmo pelo tempo que levou para limpar o ferimento e trocar de camisa. Mas
quando ele se levantou, sentiu o tecido de sua calça puxando dolorosamente sua
pele.

Droga, ele havia levado um tiro na coxa também, o sangue seco colando
suas calças na ferida.

Calças novas, camisa nova — só mais duas coisas para colocar na lista
de Courtney. Bronn se inclinou para o aborrecimento, deixando-o ferver
enquanto tirava a roupa e pegava o álcool isopropílico. Ele embebeu um pano e o
segurou na ferida, abraçando a dor aguda.

Qualquer coisa para se distrair do conhecimento de que tinha feito algo


que um homem como ele não tinha o direito de fazer.

Ele encontrou um lindo e delicado pássaro ferido... e o trouxe para sua


casa sem alma.

Gabriella

A cabeça de Gabby nunca doeu tanto, nem mesmo depois que ela e
Maggie bateram o recorde de Jaeger-shot estabelecido pelos garotos da
fraternidade com quem festejaram.

Doía demais abrir os olhos. Doía pensar. Dane-se... doía existir.

Gabby desejou poder voltar para o nada rançoso do sono, mas a dor
que se enraizou em seu corpo não permitia isso.
Respirar dói. Sua boca estava pegajosa e nojenta, e sua garganta ardia
como se ela tivesse passado semanas no deserto. Até o gemido dela soava como
um gato doente.

— Você está bem, Gabriella, — disse uma voz profunda e calmante,


suavizando sua agitação como se ela tivesse sido mergulhada em xarope de bordo
quente.

— Eu ouvi você.

Como o orador sabia o nome dela? Será que isso importava? Enquanto
ele continuasse falando, Gabby tinha certeza de que a sensação de flutuar
continuaria.

Mesmo assim, ela foi atormentada pelo pensamento de que algo


estava errado, mas Gabby não conseguia se lembrar do que era.

Não havia como algo ser tão ruim, especialmente quando a fonte
daquela voz profunda e suave estava aqui para protegê-la.

Mãos fortes e quentes deslizaram sob sua cabeça e a levantaram, e um


copo frio foi pressionado contra seus lábios. Gabby bebeu avidamente. A água fria
parecia o céu descendo por sua garganta ressecada.

— Obrigada, — ela conseguiu resmungar quando tudo se foi.

— Não fale. Você foi drogada, você esteve apagada por um tempo, mas
precisa de mais tempo para se recuperar.

Drogada.

Gabby procurou em sua memória, mas encontrou apenas imagens


desconexas. Correndo - ela estava correndo pela floresta e tropeçou - não. Ela
caiu. Ela estava com tanto medo. Algo acertou suas costas... e então suas pernas
pararam de funcionar.

Gritando! Ela gritou tanto — ou pelo menos tentou, mas o som não
saiu.

Gabby se contorceu, agarrando o cobertor em cima dela e lutando para


abrir os olhos. Mas a luz ofuscante através das fendas pareciam facas em suas
órbitas oculares, e ela desistiu e ficou ofegante, ainda incapaz de falar.

Braços fortes a reuniram contra um peito grande e sólido como uma


rocha. Parecia o lugar mais quente e seguro em que ela já estivera, um casulo
macio que cheirava bem, como a própria floresta.

— Está tudo bem. Você está segura agora.

Gabby esperava que ele continuasse dizendo isso. Ela sabia que não se
cansaria disso. Ela queria agradecer a esse estranho gentil, mas quando
finalmente conseguiu mover os lábios e a língua se desprender do céu da boca, o
que saiu foi: — Onde estou?

— Minha casa, — disse ele gravemente, como se fosse um assunto


muito sério.

— Minha cama.

Uma onda de calor se espalhou por seu corpo como a luz do sol. Ela
sabia quem era. Se ela pudesse pensar que ela se lembraria de seu nome, mas de
alguma forma, ela não estava surpresa por estar aqui nesta cama incomum. Era
duas vezes maior do que deveria. Ou talvez ela tivesse encolhido? Como naquele
filme…
— O filme, — ela murmurou, franzindo a testa em concentração. —
Com o…

— Shhh. — Mesmo silenciando-a, a voz era agradável. Não, espere algo


se mexeu lá embaixo, aquecendo Gabby de dentro para fora.

Bom, sim, mas também muito, muito sexy. Ela se aninhou contra suas
mãos grandes, e ele acariciou sua bochecha e penteou seu cabelo com os dedos.

— Mmm. — Gabby queria bocejar, mas parecia muito trabalho.

Ela pode ter adormecido novamente. Tudo o que ela sabia era que as
mãos se afastaram e ela ouviu uma cadeira raspando no chão.

— Não. Fique. — Levou toda a sua energia, mas Gabby apalpou a cama,
tentando encontrar a mão dele.

Ela o ouviu respirar fundo e expirar lentamente, e então a cama cedeu


com seu peso, e ele ergueu Gabby com cuidado... como se ela fosse feita de vidro,
o que a fez rir - em seu colo.

O que foi ainda melhor do que antes. Tão bom que ela nem se importou
com a dor de seu cérebro.

Pelo menos... ela não se importou até que o galo começasse a tomar
forma.

Então as formas se transformaram em memórias, e as memórias


rodopiaram até que começaram a se unir - e Gabby não gostou nem um pouco
disso.

Homens. Soldados. Muitos deles - não, isso não estava certo...

O agente Singh estava lá. A voz de Hoss no rádio. Oh Deus!


O corpo de Gabby estremeceu de medo, como se quisesse rastejar para
longe novamente.

Mas ela não rastejou. Ela ficou presa e...

Uma grande onda de realidade caiu como um pedaço de um iceberg


caindo na água. A realidade fria e brutal tomou conta dela.

Não para matá-la, mas para levá-la. Só Deus sabia o que eles
planejavam fazer depois disso.

Gabby estava com tanto medo, mas então...

Ela abriu os olhos aos trancos e barrancos e descobriu que estava


olhando para o rosto de Bronn. Claro, era quem era!

Ela tentou sorrir. — Você... você salvou minha vida, — ela se


maravilhou.

Seu peito roncou. Ela gostou. Mas então ele disse algo, e ela teve que se
concentrar.

— Aqueles Betas não estavam aqui para matar você, Gabriella.

— Eu sei. — Ela tentou se sentar, apenas para deslizar de volta para


baixo novamente. Mas Bronn a pegou.

— Você sabe o que eles estavam planejando?

— Não. — Ela balançou a cabeça o melhor que pôde. — Foi o agente


Singh quem me agarrou e ouvi a agente Hoss em seus rádios. Eram eles que
queriam me matar no meu apartamento. Eles são horríveis, Bronn.
Ele estava olhando para ela com aqueles grandes olhos castanhos com
manchas douradas, como brownies com pedacinhos de manteiga. — Hoss? Esse
nome soa familiar.

— Você a conhece? — Talvez fosse hora de sentar depois de tudo.


Bronn ajudou a sustentá-la para que suas costas descansassem contra a cabeceira
da cama.

— Como? Você acha que ela visitou as instalações em algum momento?

— Não…

— Ela provavelmente tem cinquenta, talvez cinquenta e cinco. Mais ou


menos da minha altura. Cabelos castanhos curtos com muitos fios grisalhos.

— Ela nunca esteve lá. — Bronn parecia certo. — Eu teria sabido.

Mas como isso foi possível? Durante seu tempo na fronteira, ela ouviu
todos os tipos de histórias sobre coisas que aconteceram naquele inferno.

A curiosidade de Gabby foi despertada, mas ela sabia que não deveria
pressionar.

Bronn salvou sua vida, e a última coisa que ela queria era lembrá-lo de
memórias dolorosas... de novo.

Ela decidiu mudar de assunto. Olhando ao redor do quarto, ela


procurou por algo para iniciar uma conversa, mas estava tão vazio que ele poderia
muito bem ter se mudado. A porta do armário estava aberta, revelando meia
dúzia de camisas e um par de pares de botas no chão. As paredes eram brancas;
assim como as persianas que cobriam as janelas. As únicas coisas interessantes
eram meia dúzia de pedras de tamanhos diferentes alinhadas na cômoda.
— O que ela disse? — Bronn perguntou, e Gabby levou um segundo
para lembrar que eles estavam falando sobre Hoss. — O que ela poderia querer
com você?

Gabby tentou dar de ombros, mas descobriu que ainda não tinha
energia. — Não tenho certeza, mas acho que ela não está planejando me jogar
em uma parada. Não sei por que eles usaram drogas em vez de balas desta vez,
mas se eu conheço Hoss, o objetivo dela é me matar.

Um rosnado baixo encheu o quarto. — Isso não acontecerá. Ela nunca


mais vai chegar perto de você.

Gabby sabia que Bronn não podia prometer isso, mas mesmo assim ela
sorriu. Era uma tolice ele estar agindo de forma tão protetora. Ele mal a conhecia,
vinha evitando-a há semanas. No entanto, fazia tanto tempo que ninguém a
defendia - além de Maggie, é claro - que Gabby queria aproveitar o sentimento.

— Vou pedir a Axel para instalar mais algumas fechaduras na porta da


cabana, — disse ela em vez disso.

Bronn não gostou nem um pouco disso, se o estrondo em seu peito


fosse uma indicação. — Você não voltará para a cabana. Não até que Axel possa
protegê-la.

Oh sim. Ela havia se esquecido disso. — Tudo bem. Então você tem um
telefone para me emprestar?

Bronn franziu a testa. — Por que você precisa de um telefone?

— Então eu posso ver se alguma das Ômegas me deixará ficar na casa


delas.
O estrondo se aprofundou até que Gabby não conseguiu mais ouvi-lo,
experimentando-o como uma vibração que passou por seu próprio corpo.

— Você já tem um lugar, — Bronn grunhiu. — Bem aqui comigo.


CAPÍTULO 13
Bronn

Foda-se.

As palavras saíram antes que Bronn pudesse considerar como elas


soavam... e pela expressão em seu rosto, elas não soaram nada boas para
Gabriella.

Logo depois de sua carranca veio a mudança em seu cheiro. Quando ela
começou a acordar, havia uma qualidade doce e sonhadora em seu cochilo, mas
agora era contornado pela indiferença da cautela e das dúvidas.

— Eu não acho que seja uma boa ideia, — ela disse calmamente.

Bronn tinha visto quanto esforço ela havia feito apenas para se sentar,
mas a cor estava voltando ao rosto dela, e ele podia sentir que ela recuperava as
forças.

Suas palavras feriram seu orgulho. Mas isso não era uma questão de
ego. Isso era sobre mantê-la viva. E só havia um lugar onde ele poderia fazer isso -
aqui em sua própria casa.

Ver Gabriella inconsciente e vulnerável apenas sobrecarregou o instinto


de Bronn de protegê-la e mantê-la por perto. Mesmo ela tinha que saber que ele
era o único que poderia fazer o trabalho direito.
Por que outra razão ela o teria procurado quando acordou? Por que ela
teria implorado para ele ficar?

— Por que não? — Ele perguntou a ela.

As linhas ao redor de seus olhos apertaram. — Honestamente?

Como se houvesse outra maneira. Ele assentiu.

— Maggie me contou sobre o que poderia acontecer se eu passasse


muito tempo com um Alfa não acasalado como você. Eu poderia... mudar. Me
transformar em uma Ômega.

Um Alfa como você.

Não ele em particular, como se pudesse ser qualquer pessoa de quem


estivessem falando. Bronn engoliu o veneno de suas palavras.

— Leva mais do que tempo, — explicou. — Tem que haver um...

— Conexão, — ela terminou para ele. — Maggie me disse isso também.


Mas eu só me preocupo porque...

Bronn respirou fundo enquanto hesitava. Ele não precisava dela para
terminar o pensamento. Ele já sabia onde sua linha de raciocínio estava indo.

Mas mesmo que ele não acreditasse que a atração inegável que
sentiam um pelo outro era um sinal de verdadeira conexão, uma de coração,
mente e alma, ele ainda não conseguia ignorar suas palavras.

Foi apenas instinto carnal. Uma necessidade que impulsionava todos os


animais.
E se ele conseguiu se controlar perto dela por meses, certamente
poderia fazê-lo por mais quatro dias.

Fazia tanto tempo que Bronn não ficava com uma mulher. Desde os
dezesseis anos. Mesmo assim, ele só tinha feito isso uma vez - ou uma vez e meia,
dependendo da sua opinião sobre oral - e a maioria das pessoas exigia mais do
que isso para satisfazer até mesmo o nível básico da necessidade sexual humana.

A questão era que Bronn não era a maioria das pessoas. Ele nem era a
maioria dos Alfas. Claro, ele tinha testemunhado o impulso quase fora de controle
que tantos de seus irmãos experimentavam na presença de uma mulher solteira,
e ele entendia isso também. Mas, como tudo nele, essa parte havia sido
cauterizada a ponto de ele quase não perceber mais.

Até Gabriella.

Ao contrário dele, ela era inteira.

Não - mais do que inteira; seus maus tratos por seu noivo apenas a
deixaram pronta para a cura. Como poderia uma mulher tão cheia de vida não
arder com a necessidade de toque, paixão e êxtase?

Mas isso não significava que ela era para ele.

Ela estava confundindo instinto de sobrevivência com conexão. Mesmo


em seu estado semiconsciente, ela se concentrou nele como alguém que poderia
protegê-la do perigo. Essa era uma necessidade poderosa... e fácil de interpretar
mal.

Mas mesmo assim, ele entendeu sua preocupação.


Se uma conexão tivesse começado, cada momento teceria novos fios
unindo-os. E se sua natureza mudasse além do ponto sem retorno... se o desejo
de acasalar se tornasse muito forte... então Gabriella acabaria ligada a um
monstro.

Merda. Talvez ela estivesse certa em ser cautelosa. Mesmo que ela
tivesse sido drogada, era ele que não pensava direito. Bastou alguns momentos a
sós e ele já estava racionalizando para ficar por perto.

Bronn sabia o que ele era. Seu passado foi impregnado de sangue e
morte; sua alma nunca seria reparada. Ele não podia fingir que não era nada além
de um assassino, e isso significava que tocar em Gabriella a mancharia.

Amá-la seria uma profanação.

Bronn não deixaria isso acontecer. Mas pelos próximos dias, ele não
teve outra opção a não ser mantê-la por perto e protegê-la de qualquer ameaça
que a seguisse até aqui.

Enquanto ela ainda estava inconsciente, ele pensou em todos os


cenários possíveis, tentando encontrar aquela brecha que o deixaria colocar
distância entre eles até que Axel pudesse assumir. Mas o pensamento de entregá-
la a qualquer outro irmão escureceu sua visão com raiva.

Não era porque ele não confiava neles. Era porque Bronn os entendia.
Claro, eles a protegeriam com suas vidas... mas e se isso significasse tocá-la, como
ele foi forçado a fazer? E se ela abrisse os olhos para um Alfa diferente olhando
para ela com preocupação?

E se uma conexão criasse raízes - e não fosse com ele?


Bronn teve que se virar até que pudesse forçar sua angústia de volta
para o pântano envenenado de sua alma. Quando ele olhou para Gabriella
novamente, ele estava de volta no controle... embora por quanto tempo, ele não
sabia.

— Eu sei que a situação não é ideal, — ele murmurou. — Mas faremos


funcionar. Vamos ficar fora do caminho um do outro. Você fica com a casa. Eu fico
do lado de fora.

Gabriella parecia incrédula. — Você está dizendo que dormiria lá fora?

— Sim.

— Você não pode! — Gabriella pôs a mão em seu braço. Bronn sabia
que ela tinha feito isso sem pensar, que não tinha a intenção de enviar uma
explosão de desejo através dele. — Está abaixo de zero todas as noites esta
semana, e está ficando cada vez mais frio.

Bronn sacudiu a mão dela. — Isso não será um problema.

Seu olhar estava procurando como se ela estivesse tentando ver as


coisas que ele não estava dizendo. Preocupação fluiu em seu cheiro. Preocupação
com ele.

Bronn não conseguia se lembrar da última vez que alguém se


preocupou com ele. Uma lembrança do vovô brilhou em sua mente... como ele
parecia assustado quando Bronn foi levado para o hospital depois de sofrer uma
concussão durante o treino de futebol.

Ele empurrou isso para baixo também.


— Bronn, — Gabriella estava dizendo. — Eu entendo que vocês, Alfas
são durões e tudo mais, mas eu cresci em Denver. Você tem alguma ideia de
quantas pessoas morrem lá por exposição a cada ano?

Bronn deu uma risada amarga. — O frio não vai me matar.

— Você tem razão. — Gabriella endireitou-se, a determinação escrita


na postura de seus ombros, a rigidez de suas feições. — Porque eu ficarei na casa
de Sarah, e você terá sua casa só para você.

Uma nota de irritação irrompeu e Bronn a agarrou. — Isso não


acontecerá.

— Eu não estava pedindo permissão.

Ele não pôde deixar de se divertir. Ninguém ousava enfrentá-lo há


muito tempo, e ele achou o desafio dela adorável. — Não é minha permissão que
você precisa. É de Archer, e não há nenhuma maneira no inferno que ele ou
qualquer outro Alfa acasalado deixará uma Beta ficar em sua casa.

— Axel deixou.

— Só por causa de Maggie. E ele não conseguiu construir sua cabana


rápido o suficiente.

Gabriella murchou, mas apenas por um momento. — A mãe de Lili! Ela


me deixaria ficar na casa dela. Xander não se importaria.

Bronn não tinha tanta certeza disso, não que isso importasse. — Você
arriscaria trazer mais soldados para a porta da Sra. Rennert?

Seus ombros caíram em derrota. Ela não olhou para ele quando falou.
— Você realmente acha que eles vão voltar por mim?
O medo naquela voz baixa fez Bronn querer abrir um buraco na parede.

— Eu sei o que eu vi. — Ele farejou a determinação dos soldados, até


quando se transformou em terror. — Essa campanha foi organizada e planejada.
Agente Hoss - ou quem quer que esteja dando as cartas - eles não vão deixar que
uma derrota os detenha.

— Mas... — As bochechas de Gabriella ficaram rosadas enquanto ela


enrolava o lençol em volta do dedo. — Homens morreram.

O horror que ela não conseguia esconder... atingiu Bronn no estômago.


Ele foi intencionalmente vago quando disse que ela não precisava mais se
preocupar com aqueles homens. Se ela tivesse visto a carnificina... os restos que
nem pareciam mais humanos, não importava.

Ela sabia. De alguma forma, ela viu dentro da podridão em seu núcleo.

Mas pelo menos agora ela entendeu quão sério isso era.

— Ouça-me, — disse ele, resistindo ao impulso de pegar as mãos dela,


para fazê-la olhar para ele. — Se houvesse outra maneira, eu aceitaria. Mas não
há. Então temos que aceitar. Você dentro; eu fora. Quatro dias. Entendeu?

Ela deu um pequeno aceno de cabeça. — Entendi.

Bronn se levantou e saiu do quarto... enquanto ainda podia.


CAPÍTULO 14
Gabriella

Se houvesse outra maneira, eu aceitaria.

As palavras de Bronn ecoaram na mente de Gabby. Ela sabia que ele


estava certo, cada momento que passavam na presença um do outro era
perigoso. Cada interação os aproximava da beira de uma conexão verdadeira.

E, no entanto, como toda rejeição, ainda doía. Gabby não podia culpar
Bronn por fazer tudo o que podia para evitar ficar preso para sempre com uma
quase estranha - obviamente, ela sentia o mesmo.

No entanto, era um lembrete doloroso de que nenhum homem jamais a


quis para si mesma. Darren queria uma mulher adequada para primeira-dama em
seu braço, alguém que fizesse o que ele mandava e mantivesse a boca fechada.
Antes de Darren, houve uma série de namorados que pareciam interessados em
sua riqueza e beleza e nada mais.

O estranho era que aqui na Terra Fronteiriça, essas mesmas duas coisas
não significavam quase nada. Mesmo que Gabby tivesse uma maneira de acessar
suas contas bancárias, não havia nada para comprar, a menos que ela descobrisse
como negociar com os contrabandistas. E como sua nova rotina de cuidados
pessoais se limitava a lavar o rosto com água de nascente aquecida no fogão,
tomar banho rápido na casa de Maggie e deixar o cabelo secar ao sol, ela não se
parecia em nada com as fotos que havia postado religiosamente nas redes sociais.
No pequeno espelho de seu banheiro, a mulher que olhava para ela era uma
estranha.

Uma estranha com pele brilhante e cabelos lustrosos, apesar das raízes
escuras, mas ainda assim uma estranha, que desapareceria tão rapidamente
quanto apareceu quando Gabby voltasse à sociedade Beta.

Estranhamente, as coisas que ela havia perdido tão desesperadamente


durante seus primeiros dias de fuga - seu perfume de marca, pedicure com pedras
quentes, a consulta permanente de modelagem de sobrancelha com a esteticista
mais procurada em Denver - desapareceram de sua mente. Ela se surpreendeu ao
perder as coisas mais estranhas: pegar o caminho mais longo para trabalhar ao
longo da Cherry Creek Trail nas manhãs quentes de primavera, buquês de tulipas
em baldes do lado de fora de uma floricultura perto de seu escritório, polvorones
coloridos de uma pequena padaria ao lado de seu mecânico.

E tão surpreendente foi o que ela não perdeu: mensagens de texto em


grupo com as amigas para decidir em qual clube da moda elas se encontrariam,
experimentando os últimos estilos em butiques exclusivas, dirigindo o carro de
luxo que Martin e sua mãe compraram para ela comemorar sua grande
promoção.

Gabby não sabia por que esses pensamentos a perseguiam enquanto


ela andava pela sala de Bronn, mas eram um pouco mais suportáveis do que
tentar dormir em sua cama enorme.

Não era desconfortável - os lençóis brancos tinham um cheiro incrível


por terem sido secos no varal, e os travesseiros eram macios como nuvens. Mas
depois de se virar na cama por uma hora, ela desistiu e preparou uma xícara de
chá, que bebeu lentamente enquanto vagava pela casa de Bronn.

Engraçado como os padrões de Gabby mudaram.

A casa dele, embora austera quando julgada em relação ao


apartamento dela em Denver, era absolutamente luxuosa em comparação com a
pequena cabana que havia sido sua casa no mês anterior. Havia cadeiras
confortáveis estofadas com almofadas de lã fofas, lindas luminárias de pé de ferro
que lançavam a luz perfeita para leitura (ou, pela aparência do armário cheio de
peças minúsculas, amarrando iscas de pesca), e cada batente da porta havia sido
ampliado e equipado com belas portas de carvalho maciço. Gabby passou a ponta
do dedo pelas lombadas dos romances cuidadosamente alinhados na estante,
imaginando se ele emprestaria alguns a ela, já que ela havia lido tudo o que Sarah
lhe dera pelo menos duas vezes.

Não era o Ritz, mas a casa de Bronn seria mais do que confortável para
uma noite ou quatro.

Então, por que ela não conseguia relaxar e aproveitar nada disso?
Mesmo depois de terminar o chá e enxaguar a xícara na pia de cobre martelado,
Gabby se sentia mais inquieta do que nunca.

Talvez fosse o clima, a chuva intermitente que parecia estar se


transformando na primeira tempestade de inverno da temporada. As nuvens
começaram a rolar pouco antes do pôr do sol quando a temperatura despencou.

Gabby tinha experiência suficiente neste ponto que ela poderia


facilmente manter o fogo aceso para aquecer a casa, mas era impossível ignorar o
barulho das vidraças enquanto o vento aumentava. As primeiras gotas grossas
que se espalharam contra o telhado soaram como uma explosão de tímpanos.

Os galhos das árvores perto da casa batiam nas janelas e as paredes


gemiam a cada rajada.

Então a chuva se intensificou antes de se transformar em granizo que


parecia forte o suficiente para amassar a caminhonete estacionada na garagem -
a caminhonete em que Gabby tentou imaginar Bronn se abrigando. Não havia
como ele dormir na cabine. Estava tão ruim lá fora que, quando Gabby
semicerrou os olhos na escuridão, mal conseguiu distinguir a forma da
caminhonete sob a chuva forte.

Ela sabia que as temperaturas continuariam caindo com o passar da


noite, e não tinha dúvidas de que haveria neve no chão pela manhã. Bronn
provavelmente estava congelando lá fora... por causa dela.

A culpa caiu pesadamente sobre Gabby. Não havia como ela descansar
enquanto ele estava lá fora, congelando suas bolas.

Dane-se. Gabby pegou a primeira coisa que encontrou no armário do


corredor da frente, um casaco de lona de vinil forrado de lã que se tornou popular
entre os homens de seu círculo como roupa pós-esqui. Ao contrário de suas
versões de designer, no entanto, este cheirava a fumaça de madeira e pinho e
algo exclusivamente Bronn, e Gabby poderia facilmente imaginá-lo usando o dele
para caçar e pescar e... qualquer outra coisa que ele fizesse o dia todo.

Ela se pegou pressionando o casaco macio contra o rosto, respirando


seu perfume, então corou quando o vestiu. A coisa passava de seus joelhos, uma
lembrança risível da grande diferença de tamanho.
Gabby o envolveu com força antes de abrir a porta da frente.

Uma rajada de ar congelante atingiu seu rosto, atirando-a com granizo.


Ela deu apenas alguns passos quando escorregou no pátio de lajes geladas e
quase caiu, apoiando-se em um galho saliente e recebendo água gelada
despejada sobre ela como recompensa.

Ela se arrastou cuidadosamente até à caminhonete, tremendo e


puxando o capuz do casaco sobre o rosto em um esforço para evitar as agulhas de
granizo que de alguma forma a encontraram de qualquer maneira. Ela colocou as
mãos em concha ao redor dos olhos e olhou através do vidro.

O veículo estava vazio.

Droga. O coração de Gabby caiu, tentando pensar onde Bronn poderia


estar, imaginando-o encolhido sob uma árvore, ensopado até aos ossos. Então ela
sentiu um cheiro de fumaça de madeira e seguiu ao redor da casa, onde avistou
um brilho amarelo bruxuleante na floresta.

Gabby embrulhou o casaco com mais força, grata pelo acabamento


encerado que a manteve pelo menos parcialmente seca e começou a caminhar
pela floresta em direção ao fogo.

Ela tinha andado apenas alguns metros quando a voz estrondosa de


Bronn soou. — Volte para dentro, Gabriella.

Gabby congelou. O primeiro pensamento que lhe ocorreu, por algum


motivo, foi o quanto ela odiava quando Darren usava seu nome completo — e
como soava diferente nos lábios de Bronn, como se ele saboreasse cada sílaba.
O que era ridículo. Ninguém estava saboreando nada neste clima.
Gabby suspirou e continuou caminhando em direção a Bronn. Quando ele falou
de novo, foi com uma nota distinta de aborrecimento.

— Gabriella.

Oh sim. O homem podia dizer o nome dela quantas vezes quisesse. A


frustração que o aprofundou só o fez soar mais sexy.

Ela viu sua forma imponente caminhando em sua direção através das
folhas de chuva congelada. Levou apenas alguns passos para cobrir a distância
entre eles, mas com o brilho do fogo atrás dele, ela não conseguiu distinguir sua
expressão.

— Você deveria ficar dentro de casa.

Gabby se endireitou em toda a sua altura. — Eu só concordei com isso


antes de começar a chover granizo. Isso é estúpido - você precisa voltar para
dentro.

O som que Bronn fez comunicou quão pouco ele pensava em seu plano.
— Não é nada. Volte para casa.

Gabby revirou os olhos com essa demonstração espetacular de


teimosia. Bem, dois poderiam jogar esse jogo. Ela cruzou os braços. — Só se você
vier comigo.

— Você sabe que eu não posso.

— Ah, pelo amor de Deus. — Agora era Gabby quem estava perdendo a
paciência.
— Engula esse maldito orgulho Alfa, Bronn. Não é apenas miserável
aqui, é perigoso. Mesmo para alguém como você.

Bronn bufou. — Eu tenho uma fogueira. Estou bem.

Em uma aparente repreensão, o céu se abriu e a chuva voltou,


encharcando não só os dois, mas o fogo, que chiou e estalou antes de se extinguir
completamente.

— Merda.

Gabby fez o possível para não parecer presunçosa. — Agora, você


voltará para dentro?

— Eu ficarei bem, — Bronn resmungou. — Vou construir outra.

— E simplesmente vai apagar de novo.

Bronn a ignorou, começando a juntar pequenos galhos encharcados de


chuva para fogueira. Ela correu atrás dele e agarrou sua mão, chocada com quão
frio estava. — Droga, Bronn. Sua pele é como gelo. Não estou pedindo mais,
estou dizendo a você - volte para casa agora.

Bronn olhou para suas mãos unidas como se estivesse segurando uma
cobra. — Foi você quem me lembrou que não é uma boa ideia.

— E agora eu estou dizendo a você que está tudo bem, — Gabby


rebateu. — Eu prometo que posso passar uma noite sob o mesmo teto sem me
apaixonar perdidamente por você.

Bronn deu um puxão indiferente em sua mão, mas desistiu quando ela
não soltou. Ele soltou mais algumas palavras antes de ceder.
— Uma noite, — ele resmungou. — Amanhã, estarei de volta aqui,
mesmo que um tsunami chegue.

Estava tão frio que Gabby já estava perdendo a sensibilidade nos dedos
dos pés enquanto ela o arrastava para a casa. Ela tinha que reconhecer o estado
de Missouri - seu clima imprevisível daria a ela uma corrida pelas Rocky
Mountains.

Estranhamente, Bronn não soltou a mão dela até que ela a puxou para
abrir a porta. Ela sacudiu o casaco antes de relutantemente pendurá-lo em um
gancho para secar. A verdade era que ela gostava de usá-lo, inalando seu cheiro
estranhamente reconfortante.

Isso a lembrou de quando ela acordou em seus braços, ainda grogue do


tranquilizante. O pensamento foi tão surpreendente que Gabby se ocupou em
cuidar do fogo para que Bronn não visse sua expressão.

— O que você está fazendo?

Quando Gabby se endireitou, Bronn estava tão perto que ela esbarrou
nele. — Com o que se parece? — ela exigiu, afobada.

Ele pegou o atiçador da mão dela e pegou um pedaço de madeira da


lata de latão. — Eu farei isso.

Gabby se deixou cair no sofá, a pele formigando onde Bronn havia


roçado nela, e observou-o habilmente deslocar as toras em chamas antes de
adicionar a nova. As chamas o lamberam por alguns segundos antes de pegar,
chamas amarelas subindo alto e enchendo a sala de calor.
Gabby não percebeu que ela estava olhando até que ele se virou e a
pegou. Mesmo assim, era difícil desviar os olhos.

Havia algo em observar Bronn fazer algo tão elementar, tão... primitivo,
que despertou um desejo dentro dela.

Não apenas para tocar e ser tocada - certo, muito mais do que
simplesmente tocada - mas também para ser segurada em seus braços. Para
sentir o tipo de proteção completa que só ele poderia dar. Não apenas de seu
corpo, mas de sua mente e alma.

As mãos de Bronn ainda podem estar frias por causa do ar livre, mas e o
resto dele? Como seria passar as próprias mãos pelas costas largas dele, pelos
bíceps duros, pelos contornos do abdômen?

E como seria se ele a tocasse de volta?

Gabby prendeu a respiração. O que ela estava pensando? Ela havia


prometido a si mesma que não pensaria dessa maneira. Mas a promessa era
difícil de lembrar quando ele estava bem na frente dela, onde ela podia respirar
seu perfume enquanto olhava diretamente para ele.

Um estrondo no peito de Bronn a tirou de seus pensamentos.

Bronn recuou. — Eu sabia que isso era uma má ideia.

— Não, tudo bem, — Gabby gaguejou. — Você fica aqui e aproveita o


fogo, e eu vou para o quarto.

Bronn estava bloqueando seu caminho. — Uma parede fina não vai
mudar nada, não quando... — Ele balançou a cabeça, carrancudo.
Mas ela não estava disposta a deixá-lo escapar com isso. — Não quando
o quê?

Ele olhou diretamente nos olhos dela, e até isso parecia incrivelmente
íntimo. — Não quando eu posso sentir o cheiro do seu desejo.

O que… Ah!

Alfas poderiam seriamente fazer isso? Gabby pensou no dia em que


ouviu Bronn e Wyatt conversando do lado de fora de sua janela. Assumindo que
ela estava escondida, ela não se preocupou em suprimir o desejo que sentia.

Cheira como se alguém estivesse preparando algo bom nessa casa,


Wyatt havia dito. E eu sei que não é para mim.

Gabby queria afundar no chão, mas ela tinha que saber. — Quando
você diz que pode sentir o cheiro do meu desejo, você realmente não quer dizer...

— Suas calcinhas estão encharcadas.

Um arrepio percorreu Gabby, e não foi inteiramente de vergonha.


Especialmente porque eles pareciam presos em alguma batalha silenciosa,
comunicando coisas com seus olhos que as palavras não podiam transmitir.

— E agora mesmo você... — Gabby engoliu em seco, sentindo-se um


pouco fraca.

— Eu estava respirando o quanto você queria me tocar.

OK. Gabby se forçou a respirar fundo. Não era como se isso nunca
tivesse acontecido com ninguém antes... embora a maioria das pessoas nunca se
encontrasse fodendo os olhos de um Alfa. Mas havia coisas piores - como ficar
preso na Terra Fronteiriça e ter o governo Beta tentando matá-la.
Ela decidiu confessar tudo, apenas para impedi-lo de voltar para a
chuva gelada. Bronn não merecia pagar o preço porque não conseguia controlar
suas emoções.

— Desculpe. — Ela estava torcendo a bainha da camisa com os dedos.

— Provavelmente é apenas uma reação estranha a todo o estresse que


estou passando. Mas ainda não deve ser um problema, pois é apenas uma via de
mão única.

A carranca de Bronn se aprofundou. — O que você está falando?

Ele iria seriamente fazê-la soletrar? — Eu só quis dizer que você... não
tem o mesmo tipo de reação comigo.

Ele ficou em silêncio por um momento, estudando-a sem piscar. —


Você acha que eu não quero você?

Os joelhos de Gabby pareciam que iam ceder. Ele a estava torturando


deliberadamente, ou... ou ela estava perdendo algo importante. — O que eu acho
é que você deixou bem óbvio desde a primeira vez que me viu que não me queria
por perto.

— Óbvio? Como?

— Bem, teve aquela aula de cortar lenha, que foi legal, mas depois
disso, você sumiu por um mês inteiro. Quer dizer, eu agradeço por você ter
salvado minha vida e tudo mais, mas se não fosse pelos soldados Beta
aparecendo, aposto que nunca mais te veria.

Bronn não se preocupou em negar. — É isso?

Não foi o suficiente? E qual era o sentido de discutir sobre isso?


— Antes de me ensinar a cortar lenha, você mal reconhecia minha
existência. E quando o fez, o olhar em seu rosto - era como se você estivesse
pensando no melhor lugar para enterrar meu corpo.

Seus olhos se estreitaram e Gabby praticamente podia sentir o calor


saindo dele. — Isso não é o que eu estava pensando.

Gabby mordeu o lábio. Não pergunte. Não pergunte. Não pergunte.

— Então o que você estava pensando?

Ela nunca iria aprender, não é?

Ele deu dois passos que o trouxeram tão perto que ela podia contar a
barba por fazer em seu queixo.

— Eu estava pensando sobre o seu gosto quando eu te beijasse. Como


você estaria molhada quando eu te tocasse. E como você soaria quando você
gritasse meu nome.
CAPÍTULO 15
Bronn

No momento em que Gabriella pegou sua mão, Bronn sabia que


chegaria a isso.

Não de uma forma racional que lhe permitisse escapar do toque dela
ou, melhor ainda, pregar a própria mão em uma árvore para não ser tentado. Na
verdade, esse era todo o problema: uma vez que ela o tocou, a razão saiu pela
janela.

Eles podem não estar ligados, mas de alguma forma ela o marcou, não
com uma mordida reivindicante, mas com algum fio invisível que ele não
suportaria quebrar.

Mas agora, ela tornou tudo muito pior. Tão ruim quanto poderia ficar.
Uma necessidade profundamente enterrada que Bronn pensou ter extinguido há
muito tempo voltou à vida, mais voraz do que nunca.

Ele nunca deveria ter voltado para esta casa com ela. Ela estava muito
perto. Não importava se ela estava no quarto ao lado ou do outro lado da
propriedade. Ela sempre estaria muito perto. Inferno, ele tinha a sensação de que
não importaria se ela voltasse para Denver. Ele ainda estaria ciente dela.

Ainda sentindo seu desejo por ele. A maneira como ela queria tocar
seus braços... seus ombros. Para passar as mãos em seu peito e em torno de sua
cintura. Puxa-lo para mais perto, acariciar suas costas. Deslizar os dedos pelos
cabelos dele antes de arrastá-los lentamente para baixo, para baixo, para baixo.

Seu pênis já tinha começado a inchar enquanto ele estava agachado


diante do fogo, mas agora estava dolorosamente duro.

Se ao menos ele fosse tão indiferente a Gabriella quanto ela parecia


pensar que ele era. Isso tornaria tudo muito mais fácil, suportar contra essa força
que o estava dilacerando.

Ele nunca quis ninguém do jeito que queria Gabriella agora. De pé


diante dele com o cabelo bagunçado pelo vento caindo em cascata sobre os
ombros, o suéter de segunda mão escorregando dos ombros, os lábios
entreabertos em choque e desejo, era quase possível para Bronn se convencer de
que Gabriella era um anjo que oferecia não apenas êxtase... redenção.

A ilusão era uma mentira, uma mentira cruel. Não haveria redenção
para alguém como ele, tão encharcado de sangue e carnificina que nunca poderia
ficar limpo.

Mas aqui estava ele, impotente para resistir. Porque havia algo em
Gabriella que o fazia querer tentar. Algo que o convenceu de que isso era
diferente. Que o desejo que sentiam um pelo outro era mais do que um produto
de suas naturezas, mais do que tempo que passaram juntos... que por algum
grande ato de graça, cada um deles viu quem o outro realmente era.

O que Bronn viu foi uma mulher incrivelmente forte e bonita.

Uma Beta que enfrentou o vento gelado e a chuva por causa de um


Alfa, e só isso a diferenciava.
Ele não estava mentindo quando disse a ela que não corria perigo com a
tempestade. Seria preciso muito mais do que uma noite fria, úmida e sem dormir
para matá-lo.

Mas Gabriella não sabia disso.

Ela não tinha noção do que seu corpo poderia suportar. Ela só conhecia
seus próprios limites, sua própria natureza frágil. Ela conhecia o perigo e o
sofrimento que enfrentaria no frio. Mas, naquele momento, ela estava mais
preocupada com a vida dele do que com seu bem-estar.

Bronn tinha pouca experiência com compaixão. Seu avô sem dúvida o
amava, mas havia pouca ternura no homem.

Assim como não havia nenhum em Bronn.

Mas se isso fosse verdade, então como ele poderia explicar a


profundidade da emoção que sentia por Gabriella? Sentimentos que vão além da
simples luxúria — embora houvesse muito disso — e na necessidade física de
protegê-la, de mantê-la perto, de torná-la dele.

Mas esses sentimentos indiscutivelmente nobres não mudaram o fato


de que a maior e mais imediata ameaça para Gabriella era ele.

Imediatamente, sua mente começou a criar novas desculpas para


resolver a dissonância de seus desejos.

Quem melhor para proteger alguém tão frágil e precioso como


Gabriella do que o Alfa mais letal que já existiu? Quem mais poderia esmagar
todas as ameaças sem suar a camisa?

Ninguém além dele.


Deve ser por isso que o destino os manteve juntos. Ele era o único que
poderia salvá-la, assim como ela era a única que tinha chance de acalmar a
tempestade dentro dele.

Naquele momento, o que restava de seu autocontrole se estilhaçou.


Sem pensar nas consequências, Bronn estendeu a mão para ela.

Ele mergulhou as mãos no emaranhado de seu cabelo selvagem,


inclinando seus lábios para encontrar os dele. A mudança nela foi instantânea —
beijando-o com uma ferocidade que combinava com a dele.

Bronn era um homem no deserto que encontrou um oásis do qual não


ousava beber, amaldiçoado a morrer a centímetros de sua salvação - até o
momento em que se soltou e mergulhou em sua essência vivificante.

Tudo mudou em um flash. Lugares mortos dentro dele ganharam vida


quando ele provou sua boca e passou as mãos sobre seu corpo, provocando gritos
suaves dela que combinavam com sua urgência.

O primeiro gosto apenas acendeu o pavio seco de sua fome. Com o


cabelo dela em seu punho, Bronn se forçou a recuar apenas para poder olhar em
seus olhos... e vendo o fogo queimando nela também, ele a ergueu em seus
braços e a carregou para o quarto enquanto ela o beijava e arranhava.

O cheiro de Gabriella era espesso e escorregadio. O coração dela batia


contra o peito dele, e ele fechou os olhos. Ele a segurou contra ele no pé de sua
cama por um momento, tentando gravar este momento em sua memória.

— Bronn! — Seu grito rasgou seus olhos abertos novamente. Ela estava
puxando seu pescoço, envolvendo suas pernas em volta de sua cintura, usando
cada músculo de seu corpo para se aproximar dele. Seu lindo rosto estava tenso
de desejo, uma agonia que ele conhecia muito bem enquanto percorria sua casa
noite após noite sem dormir no vale abaixo dela.

Eles não podiam esperar mais.

Bronn a deitou na cama e ela se ajoelhou e começou a abrir a fivela do


cinto dele. Ele empurrou a mão dela e fez isso sozinho, rasgando o couro com
tanta força que os passadores do cinto rasgaram de seu jeans.

Gabriella tirou as próprias roupas e Bronn deu um passo para trás


enquanto tirava a camisa para poder observar a beleza violenta da tempestade
que a consumia. Ela jogou a cabeça para trás enquanto tirava a camisa e a jogava
no chão, então se contorceu de costas para tirar as calças.

Até então, Bronn estava nu. Ele agarrou seus pulsos com uma mão e os
puxou bem acima de sua cabeça, fazendo-a cair de joelhos. Ela estava usando um
sutiã e calcinha que não combinavam com ela - algodão branco simples que
cobria muito de seus belos seios e subia em seus quadris. Mas de alguma forma, a
modéstia das roupas era a coisa mais perigosamente sexy que Bronn já tinha visto
em sua vida.

Especialmente quando ele viu a mancha úmida de sua excitação


manchando o algodão branco, um pequeno riacho escorrendo por suas coxas.

Era um convite que Bronn não podia recusar.

Ele separou rudemente as pernas dela e se ajoelhou entre elas,


beijando sua boca, seu queixo, seu pescoço. Ela mordeu seu queixo e torceu os
dedos em seu cabelo, e tentou detê-lo quando ele beijou seu caminho até seus
seios, circulando seus mamilos duros através do algodão.

— Não, não, não! — Ela gritou, batendo nas costas dele com os punhos.

— Dentro de mim!

— Não até que eu prove você. — Bronn não se importava com a força
com que ela o atingia; ele mal sentiu. Ele não seria negado, mesmo que seu pênis
estivesse tão duro que doía.

Ele rasgou o fecho frontal de seu sutiã e pegou seus seios em suas
mãos, quentes, macios e redondos em sua mão. Quando ele brincou com seu
mamilo com a língua, Gabriella gritou e resistiu contra ele. Ele acalmou seus
quadris com a mão, mas sabia que não poderia segurá-la lá por muito tempo.

Não quando sua própria necessidade ameaçava afogá-lo.

Ele puxou para trás e encontrou a borda elástica de sua calcinha e


puxou-a para baixo apenas o suficiente para expor seu montículo brilhante. Ele
pressionou seu rosto contra ela, inalando irregularmente, enchendo seus pulmões
com seu cheiro antes de arrastar sua língua ao longo de sua abertura, todo o
caminho até seu clitóris.

Néctar de uma deusa, elixir de êxtase — agora, com o gosto de


Gabriella em sua língua, ele estava pronto.

Ela estava além das palavras, rangendo os dentes e jogando a cabeça


de um lado para o outro. Ele empurrou mais as pernas dela e se posicionou em
sua entrada - e parou.
— Olhe para mim, Gabriella. Observe-me tomá-la. — As palavras eram
dele, mas também não. Elas vieram de um lugar profundo dentro dele. Em algum
lugar ele tentou desesperadamente esquecer, mas não seria mais ignorado.

Seus olhos se abriram e se fixaram nos dele, e ele a penetrou em um


impulso duro e selvagem, enfiando seu pênis em sua boceta quente, apertada e
acolhedora.

E ela gozou.

Bronn ficou chocado com a força repentina de seu êxtase, mas não o
suficiente para parar.

Ele se moveu mais profundamente dentro dela enquanto ela gritava de


prazer, seu corpo preso e dilacerado por ondas poderosas que combinavam com
seus impulsos. Ele continuou e continuou, o tempo dobrando-se sobre si mesmo,
até que finalmente ela cedeu sob ele, choramingando enquanto seus olhos
estavam vidrados.

Só então Bronn fez uma pausa, seu corpo ficou tenso e seu pênis
enterrado profundamente. Ele afastou uma mecha de cabelo dos olhos dela. —
Gabriella. Você está bem?

Ela olhou para ele, tremendo, lábios machucados e firmes... e balançou


a cabeça. Seus lábios se moveram, mas ela não conseguia pronunciar as palavras.

Horrorizado, Bronn se abaixou, apoiando-se sobre ela, rezando para


não tê-la machucado. — Querida, — ele murmurou, com medo de respirar. —
Eu...
— C-Cont…, — ela tentou, ofegante enquanto seus quadris ficavam
tensos contra ele. — Bronn. C-continue me fodendo.

Claro que sim.

Com a umidade escorregadia de Gabriella entre seus corpos e o eco de


seus gritos ecoando no quarto, ele colocou toda culpa e dúvida para trás e deu a
ela exatamente o que ela precisava.

— Eu nunca... nunca...— ela gemeu quando estava prestes a gozar pela


terceira ou possivelmente quarta vez. A essa altura, Bronn estava se aproximando
de seu próprio ponto sem retorno, cada célula de seu corpo despertada ao ponto
de uma tortura requintada. Ele sabia o que ela queria dizer.

Eu nunca me senti assim. Nunca foi tão bom.

Ele sabia porque era o mesmo para ele. E não apenas porque da última
vez que fez sexo, ele era um adolescente atrapalhado com muito entusiasmo, mas
pouca habilidade. Desta vez ele estava fazendo amor com uma mulher, uma
mulher inteira — não apenas seu corpo, mas suas emoções e sua mente, dando-
lhe o dom da liberação e recebendo-o em troca.

E Gabriella estava lá com ele quando Bronn sentiu-se explodir, quando


ele deixou seu corpo por um momento, e seus antigos instintos assumiram o
controle. Puro prazer o prendeu a esta mulher em seus braços, envolvendo-os
com um milhão de fios de êxtase.

Mais alto, mais alto, mais alto até que ele não pudesse dizer onde ele
terminava e ela começava.

Então ele sentiu a pressão crescendo na base de seu pênis...


Horrorizado, Bronn sufocou seu rugido de triunfo e recuou, saindo de
Gabby e lutando para longe dela. De seu gemido de surpresa, ele percebeu que se
tivesse esperado mais, ele a teria machucado, rasgando-a com o nó que já estava
desaparecendo de seu pênis.

— Oh Deus, Gabriella, me desculpe, — disse ele, puxando-a em seus


braços, embalando-a contra ele como a coisa mais preciosa do mundo, beijando
seu cabelo. — Você está...

— Estou bem. Estou... muito melhor do que bem. Isso foi... oh, Bronn...

Ela inclinou a cabeça e o beijou com ternura, pequenos beijos em seus


lábios, queixo, peito antes de se aconchegar contra seu peito.

— O que aconteceu agora? Está tudo bem?

— Sim, — disse ele, ainda tentando recuperar o fôlego. — Está tudo


bem.

Melhor do que bem. Tudo era espetacular... e esse era o problema.

Bronn fez uma careta, feliz por não poder vê-lo.

Ele pode ser um monstro, mas era um monstro amaldiçoado com uma
consciência. Uma que era assombrada pelo pensamento do que teria acontecido
se ele tivesse permitido que seu nó se fechasse dentro dela.

Quanto mais perto eles teriam aumentado? Quão mais forte a conexão
deles teria se tornado?

Tendo chegado tão perto de destruir a vida de Gabriella, Bronn sabia


que nunca poderia arriscar novamente.
Depois de apenas alguns minutos, Gabriella caiu em um sono profundo
e exausto em seus braços. Bronn esperou um pouco mais para ter certeza, então
cuidadosamente se desvencilhou da cama. Ele a cobriu com um cobertor e
deslizou um travesseiro sob sua cabeça.

Então ele se abaixou para beijá-la antes de se afastar... uma última vez.

Sim, certo, sua voz interior riu. Já ouvi isso antes.


CAPÍTULO 16
Gabriella

A melhor transa de sua vida, seguida pelo sono mais profundo — Gabby
não poderia imaginar uma noite mais perfeita. E, no entanto, ela não conseguia
ceder a isso.

Algo ainda estava faltando. Mas o quê?

Gabby havia se entregado inteiramente ao sexo. Ou melhor, o poder da


paixão de Bronn a havia dominado. Cada toque sacudiu suas inibições, medos,
toda insegurança que ela tinha sobre seu corpo.

E ela se alegrou em cada segundo. Depois de se contentar com as


transas secas como serragem de Darren por tanto tempo, ela não teve escrúpulos
em beber cada gota de prazer que pudesse.

Ela e Bronn eram bons juntos. Não, pare com isso - eles eram incríveis
pra caralho.

Gabby ainda estava sorrindo quando despertou o suficiente para abrir


os olhos.

Instantaneamente, ela percebeu qual era o problema. Ela estava


sozinha. Bronn não estava mais na cama com ela.

Uma olhada nas janelas escuras do quarto mostrou a ela que ainda era
noite. Ela deve ter apenas cochilado, não dormido.
Então, por que Bronn não estava ao lado dela?

A adorável sensação dentro dela começou a desaparecer quando ela se


endireitou. Ele tinha acabado de sair para beber água ou fazer um lanche... certo?
Ele não iria – não poderia – ter saído de novo. Ele iria?

Uma sensação doentia de certeza a atingiu com força.

Aquele filho da…

Gabby ficou de pé e saiu da cama em um piscar de olhos. Ela correu


para a sala bem a tempo de pegar Bronn totalmente vestido e abrindo a porta da
frente.

— Onde diabos você pensa que está indo?

— Volte para a cama, Gabriella.

Era uma ordem, não um pedido.

Havia uma frieza em sua voz que não existia antes, uma dureza que ela
lutou para entender.

Tudo o que ela sabia era que não gostava disso.

— Dane-se. — Ela cruzou os braços enquanto observava suas costas


endurecerem. Estava claro que ele não estava acostumado com ninguém falando
com ele daquele jeito.

Mas depois do que eles fizeram juntos - o que eles compartilharam -


Gabby sentiu que ganhou o direito de abandonar o ato recatado. — Você volta
para a cama.
Bronn virou-se para encará-la, e ela ficou surpresa ao encontrá-lo com
uma expressão cheia de arrependimento. — Eu não posso fazer isso.

— Claro que pode, — ela respondeu. Aparentemente, o ato de amor


deles tinha feito mais do que levantar seu ânimo. Também havia aumentado sua
confiança. — Tudo o que você precisa fazer é se virar, voltar para o quarto e
voltar para debaixo das cobertas.

Suas sobrancelhas baixaram. — Eu não vou.

— Por quê? Eu fiz algo errado?

A pergunta acabou saindo. Gabby não pôde evitar. Ela se sentiu


terrivelmente constrangida.

Bronn estava prestes a dizer a ela que, apesar dos orgasmos incríveis
que ele lhe deu, o sexo não funcionou para ele? Afinal, ela era apenas uma Beta.
Talvez fosse preciso muito mais do que isso para abalar o mundo de um Alfa.

Bronn suspirou. — Foi um longo dia, Gabriella. Nós dois precisamos


descansar.

Alguns anos atrás, aquela não resposta teria sido tudo que Gabby
precisaria ouvir para saber onde ela estava.

Mas Gabby não tinha dezenove anos, e Bronn não era um filho da puta
que ela pegou em um clube, e isso não era um caso de uma noite que terminaria
com um deles se vestindo no escuro e escapando enquanto o outro dormiu. Se
tudo o que ele sempre quis fazer foi foder e correr, ele poderia dizer isso na cara
dela.
— E você prefere arriscar sua vida dormindo no frio congelante do que
passar mais um segundo ao meu lado, entendi.

As mãos de Bronn se fecharam em punhos e seu rosto escureceu com


alguma emoção oculta. — Não é isso que está acontecendo aqui.

Um fino pico de irritação rompeu o pântano de desânimo de Gabby.


Uma coisa era ser rejeitada por um homem Beta. Mas Bronn era todo Alfa, o que
significava que ele não deveria jogar.

— Você poderia ter me enganado. — Ela endireitou as costas e olhou


para Bronn. — Então, se não é isso que está acontecendo, você precisa me dizer o
que é.

O canto de sua boca se contraiu. — Você sabe o motivo pelo qual não
posso ficar, Gabriella.

Foda-se isso.

Sim, Gabby sabia o motivo - pelo menos a desculpa esfarrapada que


Bronn havia desenterrado para colocar uma parede entre eles. E sim, ela já tinha
caído nessa antes - até teria usado ela mesma - mas ela não era a única que veio
como um trem de carga nesta cama, e ela não ia sentar lá e deixá-lo fingir que
não tinha acontecido.

Ela caminhou em direção a Bronn, deixando sua raiva impulsioná-la,


quase desafiando-o a detê-la.

Mas quando ela ficou na frente dele, a apenas alguns centímetros de


distância, ela pegou algo em sua expressão que ela havia perdido antes, um leve
traço de medo. Como se ele não se controlasse com todas as suas forças, ele
desmoronaria.

Mas não podia ser isso que estava acontecendo. Afinal, Bronn era um
Alfa. Imparável. Inquebrável.

Ainda assim, os dedos de Gabby se contraíram com o desejo de tocá-lo.


Para pegar sua mão ou colocar a dela em seu peito, para confortá-lo. Mas com
uma clareza quase intuitiva, ela sabia que um movimento como esse apenas o
afastaria ainda mais.

— Eu entendo o risco para minha natureza, Bronn. — Ela falou lenta e


claramente, desejando que ele a ouvisse. — Mas eu sou uma mulher adulta, e
isso é problema meu, não seu.

Houve aquela contração novamente, como se ele estivesse prestes a


rosnar para ela.

— Você não entende porra nenhuma.

A amargura em sua voz quase distraiu Gabby de suas palavras - que


eram estranhamente semelhantes ao que Darren disse depois que ele bateu nela.

Você ainda não entendeu, não é?

A constatação acendeu a chama sob a irritação latente de Gabby,


transformando-a em raiva total. O que havia com os homens sempre duvidando
de sua inteligência?

O que ela realmente deveria estar se perguntando era se algum dia


aprenderia - ou se realmente passaria a vida deixando os homens tratá-la dessa
maneira repetidamente.
Alguma parte raivosa de Gabby que ela não sabia que existia veio à
vida, e ela deu a ele um rosnado próprio. Ela não era a mesma mulher que deixou
seu anel de noivado na pia e andou na ponta dos pés sobre o corpo inconsciente
de seu noivo. Muito aconteceu para ela fingir ser menos do que era, nunca mais.

Ela o empurrou para o lado e pegou o casaco que ela usava antes do
gancho. — Você quer dormir sozinho esta noite? Tudo bem.

— Que diabos você está fazendo, Gabriella?

— Com o que se parece? — Ela puxou o casaco sobre os braços e o


prendeu bem apertado em volta da cintura nua. — Vou voltar para a minha
cabana.

— Não seja ridícula. — Gabby revirou os olhos com a escolha de


palavras dele. — Mesmo que não estivesse congelando lá fora, pode haver uma
dúzia de soldados Beta esperando por você.

Gabby virou-se para ele, repentinamente furiosa. — Não, não há. Se


houvesse, você saberia. Não é para isso que servem seus sentidos super Alfa?
Você não pode ter as duas coisas, Bronn.

Parecia que ela o havia esbofeteado. — Você não pode ficar sozinha
agora.

— Não fui eu que pedi para estar. Quero estar com você, mas você não
quer a mesma coisa. Não vou implorar por isso e não ficarei aqui jogando
joguinhos a noite toda. Então, obrigada de qualquer maneira, mas prefiro me
arriscar lá fora.
Ela só conseguiu abrir uma fresta da porta antes que Bronn a fechasse.
— Você não vai a lugar nenhum.

Seu grunhido gutural teve o efeito oposto ao pretendido. Uma vez que
ele perdeu seu autocontrole, foi como se alguém tivesse jogado a bandeira na
linha de partida e Gabby estava pronta.

Ela empurrou a mão dele para fora da porta, ficando entre ela e ele, e
olhou para ele com raiva.

— Você não pode me dizer o que fazer.

— Eu não passei por tudo isso apenas para permitir que seu orgulho
ferido deixasse você ser morta.

O sangue correu para as terminações nervosas de Gabby, iluminando-a


com uma energia estranha e sensual. Ela não tinha certeza do que queria fazer
com ele - bater nele? foder com ele? fugir?

Tudo isso ao mesmo tempo. O que era confuso como o inferno.

— Passar por tudo isso? — ela zombou, desfazendo o cinto do casaco e


deixando-o cair aberto, deixando bem claro do que ela estava falando.

— Bem, então, permita-me pedir desculpas. Eu não sabia que estava


incomodando você transando por horas.

Bronn balançou a cabeça com impaciência. — Você sabe que não foi
isso que eu quis dizer, Gabriella.

— Honestamente, eu não sei de nada. — Ela agarrou a maçaneta da


porta novamente, embora o pé de Bronn a impedisse de abri-la. — Você diz que
me quer, então me diz para ir. Você diz que eu posso ficar, então me faz ir
embora.

— Eu disse para você sair da sala. — Sua voz estava subindo para um
rugido. — Não da casa.

— Neste ponto, o que importa? Nós fizemos a ação. Não há como


colocar aquele gênio de volta na garrafa, mesmo se quiséssemos... o que eu não
quero, a propósito.

— Você deve.

Gabby quase riu do absurdo de mais um homem dizendo a ela o que ela
deveria fazer, pensar, sentir. — Por quê? Porque eu posso me tornar uma
Ômega? Depois de conhecer as outras, essa não é a ameaça que costumava ser.

— Mas...

— Não. — Sem pensar, Gabby colocou a mão no peito dele e empurrou,


mas foi tão inútil quanto tentar empurrar toda a cordilheira rochosa. — Eu me
recuso a me arrepender do melhor sexo que já tive na minha vida, não importa
quais sejam as consequências. Além disso, quem se importa se eu ficar presa aqui
pelo resto da minha vida? Não é como se eu tivesse uma oferta melhor. No
minuto em que eu sair, estarei morta - ou pior. Então não me diga o que eu
deveria estar sentindo sobre tudo isso.

Os ombros de Bronn cederam e, de repente, ele parecia totalmente


derrotado. Não pela primeira vez naquela noite, Gabby foi atingida pela sensação
de que não sabia absolutamente nada sobre ele.

— Você não diria isso se soubesse com quem está presa aqui.
Ele deu um passo para trás, não mais bloqueando a porta.

Gabby sentiu sua culpa e dor quase como se ela estivesse em sua
mente... e pela primeira vez, ela se perguntou se ele tinha uma boa razão para
esconder a verdade. Algo tão feio, tão doloroso, que o estava matando
lentamente de dentro para fora.

Uma mulher com bom senso se viraria e fugiria do tipo de problema


que poderia derrubar um Alfa. Mas Gabby parecia ter trocado o bom senso pelo
direito de seguir seus instintos pela primeira vez em sua vida.

O que quer que estivesse envenenando Bronn, Gabby decidiu que tinha
forças para lidar com isso.

Ela sustentou seu olhar sem medo. — Me conta.


CAPÍTULO 17
Bronn

Não estava funcionando.

Bronn pode ter sido um jovem ingênuo de dezessete anos quando foi
levado pela primeira vez para o porão, mas emergiu anos depois como um
homem a ser temido. Ele exercia seus poderes suados para intimidar, silenciar e
repelir qualquer um que ousasse chegar muito perto, e funcionou como um
encanto... até Gabriella.

De alguma forma, diante de suas ameaças e da fúria e do mal fervendo


logo abaixo de sua pele, Gabriella se manteve firme e continuou empurrando,
empurrando, empurrando, como se algo de bom pudesse vir dele, dando-lhe as
respostas que ela estava procurando.

Ele sabia o quanto ela queria acreditar nele. Estava escrito em sua
expressão compassiva, em suas mãos trêmulas com o desejo de confortá-lo, na
complexidade de seu perfume adorável. E depois de fazer amor com ela, o desejo
de Bronn de dar a Gabriella o que ela queria se transformou em uma necessidade
profunda.

Mas ele se recusou a ceder a esses instintos perigosos — os dele ou


dela. Outro homem pode ser capaz de mentir para uma mulher apenas para que
ele possa viver nessa felicidade um pouco mais... mas essa porta estava fechada
para Bronn para sempre.
Só havia uma coisa a fazer: dar a ela as respostas e sofrer as
consequências quando elas se revelassem muito piores do que ela jamais poderia
ter imaginado.

Ele olhou em seus adoráveis e apaixonados olhos castanhos suaves. —


Eu sou um assassino, Gabriella.

Sua expressão não mudou. Ela parecia estar esperando que ele dissesse
algo mais, mas ele se forçou a ficar em silêncio, enraizado no chão, suportando o
peso de sua vergonha e auto-aversão.

— Eu sei, — ela disse gentilmente. — Eu descobri isso sozinha quando


você me contou sobre o seu colar.

Sem pensar, seus dedos foram para o anel de metal frio apoiado em seu
peito.

— Havia mais do que apenas um cara.

Ela assentiu com a cabeça, simpatia injustificada brilhando em seus


olhos. — Está tudo bem. Eu posso não estar totalmente consciente quando você
me encontrou, mas eu me lembro de algumas coisas. Aqueles soldados...

Ela balançou a cabeça, incapaz de dizer mais alguma coisa, e Bronn


deixou sua repulsa afundar nele, suportando a dor sobre a dor.

— Mais do que eles, — ele disse a ela.

Gabby pareceu chocada então, Bronn podia imaginar como seria se


preparar para o que ela pensava ser o pior, apenas para ter a terra se movendo
sob seus pés mais uma vez. Ele gostaria de poder oferecer a ela algum tipo de
conforto, mas o que você poderia dizer a uma mulher que acabou de saber que
fez sexo com um assassino de sangue frio?

A cor sumiu de seu rosto, mas Bronn teve que dar crédito a ela por
tentar esconder seu horror. — Q-quantos?

— Mais de cem. — Ele não adoçaria nada disso. Melhor arrancar o


curativo de uma só vez, deixá-la ver a doença apodrecer dentro dele. — Não sei o
número exato. Perdi a conta.

Mas ainda assim ela não desviaria o olhar. Na verdade, Gabriella parecia
confusa. — O que você quer dizer com não sabe? Como você pôde esquecer uma
coisa dessas?

O esforço necessário para observar as emoções devastando seu belo


rosto era mais do que Bronn poderia suportar. Ele poderia olhá-la nos olhos ou
dizer a verdade - não os dois.

— Eu nem sempre estava em meu juízo perfeito quando matava. Eles


me atiraram cheio de tanta merda que estavam criando para os militares - drogas
experimentais, produtos químicos, soros. Alguns deles amorteceram emoções
como empatia e compaixão e intensificaram impulsos violentos e raiva. Depois,
nem sempre consegui distinguir o que realmente aconteceu ou que imaginei.

O cheiro de Gabriella se suavizou, mas ainda foi um choque quando ele


sentiu a mão dela em seu braço novamente. — Você está me dizendo que tudo
isso aconteceu enquanto você estava naquela instalação.

Bronn levantou o queixo, dando-lhe um olhar duro. Onde mais poderia


ter acontecido?
— Você não era um assassino do governo, ou, eu não sei, assassino da
máfia, — ela continuou, o alívio se infiltrando em sua voz.

Bronn só conseguiu balançar a cabeça. — Quando eu teria tempo para


me tornar um assassino? Gabriella, eu tinha dezesseis anos quando me tornei um
Alfa e acabei no laboratório.

Ele apenas parecia estar confirmando qualquer impressão errônea que


tivesse dado a ela. — O laboratório onde eles te drogaram e te forçaram a matar
pessoas, — ela disse firmemente.

O peito de Bronn estava tão apertado que ele queria rugir. — Não tente
defender o que eu fiz. Não fui drogado o tempo todo. Nem mesmo na maior
parte.

Mas ela não daria uma polegada. — Mas você foi forçado, certo?

Ela estava tentando tanto encontrar o que havia de bom nele, mas era
como tentar tirar água de um poço seco. Ela precisava ouvir o que ele estava
dizendo, para entender.

— Não, Gabriella. — Ele não cederia à tentação de apelar para a


bondade dela. — Às vezes... às vezes eu gostava.

Ela se encolheu como se ele a tivesse esbofeteado, e o estômago de


Bronn se contorceu. Mas foi melhor assim.

— Você não quis dizer isso, — ela sussurrou.

— Eu vi como eles estavam com medo, mas no momento, parecia pura


retribuição por tudo o que fizeram. Eram minhas mãos que os faziam pagar. —
Bronn experimentou a familiar amargura da verdade, o conhecimento de que
nunca escaparia dela. — Às vezes, esse sentimento era o que me ajudava.

Ele se lembrou de como os ex-colegas de suas vítimas comemoravam


quando o teto de sua cela se abria apenas o suficiente para deixá-los cair.

Com que facilidade eles se voltaram um contra o outro.

E no dia seguinte, haveria muito mais veneno em seus olhos quando


passassem por sua jaula.

O medo deles dera a Bronn uma lasca de poder. Tudo o que ele tinha
que fazer era retribuir os olhares daqueles bastardos Beta, e eles começariam a
suar.

Porque se eles cometessem um erro, se acidentalmente ultrapassassem


a linha, eles poderiam ser os próximos a serem jogados na besta.

Mas Gabriella simplesmente não desistia. — Que pecados? Quem eram


essas pessoas que você matou?

— Betas. — Bronn não precisou fingir seu desprezo. — Cientistas.


Técnicos. Guardas.

— Tudo isso aconteceu quando você e os outros escaparam?

Bronn balançou a cabeça. — Esses eram os funcionários, as pessoas que


foram contratadas para conduzir os experimentos e nos manter na linha. Eles não
foram pagos para nos torturar - pelo menos, acho que não - mas não deixaram
que isso os impedisse. E o diretor não dava a mínima, contanto que eles tivessem
resultados.

— Então por que…


— Se eles cometiam um erro, ou quebravam uma regra, ou quando o
diretor decidia que eles estavam se tornando uma responsabilidade, eles eram
jogados na minha jaula. E eu me livrei deles.

— Eu não entendo. — Felizmente, ela deixou cair a mão. Ela não estava
mais tocando nele. — Por que ele sacrificaria seu próprio pessoal? E por que faria
isso... desse jeito?

Bronn sentiu um forte desejo de se consolar com o fato de estar se


concentrando no diretor e não em seu papel. Mas ele tinha que fazê-la entender
quão covarde, quão mau, o diretor tinha sido, e quanto seus irmãos tinham
sofrido.

— Tudo e todos na instalação eram descartáveis. Os Alfa, as Ômegas e


os Betas que o diretor contratou para administrar o local. Ele sabia que a única
maneira de manter seu trabalho em segredo era garantir que as pessoas
morressem antes que pudessem expô-lo.

O horror contorceu o rosto de Gabriella. — Ele matou todo mundo?

— Todos menos um punhado em quem ele confiava, pessoas tão más


quanto ele.

Todos os outros que pegaram aquele elevador até ao Porão morreram


lá.

— Mas como ele conseguiu que as pessoas trabalhassem lá? E por que
não houve algum tipo de motim quando eles perceberam o que estava
acontecendo?
Uma vez Bronn tinha sido tão ingênuo, tinha se perguntado a mesma
coisa. — O diretor controlava tudo naquele lugar. Ele mentiu para os novos
recrutas. Inferno, ele mentiu para todos.

— Mas... mas você disse que eles comemoravam. Quando um deles foi
morto.

Foi morto não, você os matou. Ela estava lutando tanto para manter um
pingo de sua crença nele, e parecia uma facada no estômago de Bronn. — Se eles
vissem isso acontecendo, eles tinham que saber que poderiam ser eles da
próxima vez.

— Nunca subestime a capacidade de negação de um Beta, — disse


Bronn com amargura. — Esses eram os mesmos bastardos que riam do
sofrimento de mulheres e Alfas. Mas quando chegava a vez deles, eles nunca
deixavam de ficar chocados.

E então eles implorariam.

Ajoelhados no chão da cela diante dele com lágrimas nos olhos,


desesperadamente tagarelando até que ele cortava suas vozes.

Gabriella desabou no sofá, a luz do fogo dançando em sua pele,


brilhando em seus olhos, em desacordo com o vazio em sua expressão enquanto
ela tentava digerir tudo o que ele disse a ela. Bronn ficou onde estava, os braços
pendurados inutilmente ao lado do corpo.

— Por que você foi o responsável por matar? — ela perguntou


eventualmente.
— Eu fui um dos primeiros Alfas lá. Eu era um pouco maior que os
outros Alfas. Um pouco mais forte. E o diretor... ele sabia do que eu era capaz.
Que eu estava quebrado.

A expressão vidrada de Gabriella se aguçou. — Não fale assim, Bronn.


Você só estava fazendo o que precisava para sobreviver.

A atração que Bronn sentiu ameaçou dominá-lo. Esta mulher, esta bela
e pura alma, queria oferecer-lhe a redenção.

Ele não tinha o direito de pegá-la.

— Você é boa, Gabriella, — ele disse simplesmente. — Eu sei que você


quer acreditar que o homem que você acabou de...

Ele não podia dizer isso. O homem com quem você acabou de foder -
aquele por quem você arriscou tudo é tão decente quanto você.

— Mas eu sei o que sou, — continuou ele. — O que eu sou é um


monstro.

Mas em vez de convencê-la, em vez de fazê-la ver a razão, Bronn só


conseguiu fazê-la bater os pés. A compaixão em seus olhos foi sobreposta por
outra coisa, algo duro, afiado e inteligente.

— Antes de começar a pensar que você pode ler minha mente, que tal
me dizer uma coisa. Você já machucou alguém antes de ser sequestrado?

Claro que não. — Eu era apenas uma criança.

— Então, a primeira vez que você recorreu à violência foi para se


proteger depois de ser drogado e experimentado. Quando os homens Beta que
causaram tanto sofrimento e morte a seus irmãos colocaram um deles em sua
jaula.

— Pare com isso. — Bronn queria afastar suas palavras, esmagá-las. —


Não foi assim.

— Não? Que parte eu entendi errado? — Havia um brilho perigoso em


seus olhos, não muito diferente do que ele tinha visto na companheira de Archer.
Sarah tinha sido advogada antes, e a ligação com um Alfa não tinha feito nada
para embotar seu intelecto ou fogo.

Bronn percebeu que havia subestimado Gabriella, mas isso não mudou
nada. — Eu não estava me protegendo quando os matei.

— Oh sério? — Seu tom era neutro. — O que teria acontecido se você


tivesse se recusado a matar os Betas que o diretor colocou em sua cela.

Memórias há muito enterradas abriram caminho na mente de Bronn. O


choque de milhares de volts de eletricidade disparando por seu corpo até que ele
convulsionou no chão frio. A dor das injeções aplicadas de forma selvagem com
agulhas monstruosas, deliberadamente errando a veia repetidas vezes. As
ameaças de violência indescritível lançadas contra ele.

Você fará o que eu disser, número 49. A voz do diretor ainda ecoava em
sua cabeça. Mate e você viverá. Recuse e você acabará no mesma fornalha que o
pedaço de merda que teve o trabalho antes de você.

Bronn era muito mais jovem naquela época, muito mais ingênuo. Um
adolescente jogado em um mundo de dor e sofrimento inimagináveis.

Ele não queria matar... mas mais do que isso, ele não queria morrer.
Levou tempo para arrancar a inocência de Bronn, mas com cada ataque
a seu corpo e mente, o núcleo duro, afiado e cruel do mal crescia dentro dele.
Eventualmente, ele aprendeu a enterrar a dor e o horror.

Ele aprendera a sobreviver.

Nada sobre o que Gabriella estava dizendo era novo. Mas havia algo...
algo sobre como ela disse as palavras, como ela se recusou a esconder qualquer
parte dela, como ela não escondeu seu horror ou sua compaixão incansável.

Tudo isso se juntou em sua mente e, pela primeira vez, Bronn viu algo
que nunca havia se permitido considerar antes.

Gabriella estava certa. Ele nunca teve escolha, não se quisesse viver. Ele
tinha feito o que tinha que fazer para sobreviver.

Gabriella estava de pé, vindo em sua direção, e Bronn era impotente


para detê-la. Ele não conseguia se mover por conta própria, mas quando ela
pegou sua mão e o puxou para o quarto, ele a seguiu.

Ela conhecia seu segredo mais profundo e obscuro, mas ainda assim o
desejava.

Era impossível... mas o cheiro dela não mentia, cheio de sua crença
inextinguível nele — e atado com a onda aguda e necessária de desejo.

Bronn amaldiçoou sua fraqueza. Ele não resistiu, mas teve que fazer
uma última tentativa para detê-la.

— Tenha cuidado, Gabriella. Não sou o homem que você pensa que
sou.
Ela parou na porta do quarto e se virou para ele, levantando a mão para
beijá-la. — Talvez não, — disse ela. — Mas também não acredito que você seja o
homem que pensa ser.
CAPÍTULO 18
Gabriella

Onde diabos alguém encontrou um colchão tão grande?

Na noite passada, quando Bronn finalmente se rendeu e a seguiu de


volta para a cama, ele teve o cuidado de ficar do seu lado do colchão. Certamente
havia espaço de sobra, mas o espaço entre eles parecia um pouco ridículo,
considerando todas as coisas íntimas e picantes que haviam feito um com o
outro. Mas ela sabia que era importante para ele, então ela respeitou o limite
imaginário.

Gabby nem se importava muito.

Ela sentiu sua presença reconfortante durante a noite, subindo à


superfície de seu delicioso sono sonhador como se apenas para se assegurar de
que ele ainda estava lá antes de cair no sono novamente.

Agora ela se sentia completamente descansada. Descontraída, até.

Os terríveis eventos de ontem - o ataque, a tentativa de sequestro,


Bronn vindo em seu socorro - pareciam uma memória distante. Ao mesmo
tempo, cada momento com Bronn estava fresco em sua mente.

E não apenas a parte em que eles cederam à atração e fizeram amor


por horas. Gabby também se lembrava de cada palavra da confissão comovente
de Bronn. Os terríveis detalhes de seu sofrimento ficaram gravados no coração de
Gabby, e ela sabia que carregaria a dor de sua inocência perdida pelo resto de sua
vida.

O corpo de Gabby havia revivido, mas seu espírito demoraria um pouco


mais para ser restaurado. O que ela precisava era sentar com uma boa amiga e
um bule de café e conversar sobre isso.

Pena que sua melhor amiga estava ocupada... no meio de uma festa de
foda de dias.

Ainda assim, ela não poderia ficar aqui o dia todo. Gabby bocejou,
espreguiçou-se e sentou-se na cama. Uma rápida olhada ao redor confirmou que
ela estava sozinha no quarto.

No espaço de um único dia, ela de alguma forma ficou tão sintonizada


com a presença de Bronn que podia sentir suas idas e vindas. Havia um tipo
particular de quietude, uma qualidade do ar que ela não conseguia descrever,
quando Bronn não estava por perto.

E quando ele voltou, a quietude deu lugar a uma espécie de vibração


que estava fora de seu corpo e zumbia em suas veias. Uma combinação de
energia e serenidade, duas sensações que deveriam se anular, mas ao invés disso
a fizeram se sentir... certa.

— Caramba, Gabby, — ela se repreendeu. Ela parecia uma daquelas


mulheres em seu estúdio de Pilates que juravam pelos cristais que carregavam
para amplificar sua 'força vital'.

Levou um minuto para encontrar as roupas que ela havia descartado


em sua pressa frenética na noite anterior, mas logo ela estava vestida e de pé em
uma poça de sol na sala de estar. Ela viu a parte de trás da cabeça de Bronn pela
janela, sentado em uma cadeira Adirondack de madeira.

Gabby sorriu. Tanto sorriso! Ela encontrou uma caneca no armário e se


serviu de uma xícara de café da cafeteira no fogão antes de sair.

Bronn deu um tapinha no braço da outra cadeira sem olhar para cima, e
Gabby aceitou o convite, esperando que isso significasse que ele havia se
acostumado com ela o suficiente para que sua presença não o fizesse querer fugir
automaticamente.

Mas então ele moveu a cadeira alguns centímetros para longe, e ela
percebeu que provavelmente levaria mais do que trepar para acostumá-lo com a
ideia. — Você dormiu bem?

Bronn assentiu antes de bebericar seu café.

— Ótimo. Estou feliz.

Gabby se encolheu na cadeira. Havia espaço para duas dela, mais um


exemplo de mobiliário de tamanho Alfa que ela suspeitava que o próprio Bronn
havia feito. Ela podia ver por que ele escolheu este local, que estava escondido
em um pequeno desfiladeiro repleto de pedras entre Axel e a montanha de
Gabby e a próxima. Tinha uma vista perfeita do lago através do prado de flores
silvestres, a floresta além se estendendo em ambos os lados do caminho de terra
que levava à estrada que circundava o lago.

Gabby nunca teria imaginado que ela gostava da vida rústica, mas,
novamente, ela nunca havia sido exposta a isso. Como a maioria dos outros Betas,
sua mãe preferia a versão da natureza que levava um jardineiro para podar e
aparar.

Da mesma forma, ela nunca percebeu que realmente poderia gostar de


um homem de poucas palavras, porque ela também nunca havia sido exposta a
isso.

Os homens ricos e poderosos com quem ela saíra geralmente gostavam


de se ouvir falar. Ninguém tanto quanto Darren, que nunca poderia usar algumas
palavras quando cem bastariam.

Gabby não conseguia se lembrar de uma única manhã em que eles


tivessem tomado café em um silêncio amigável como aquele. E quando ela
perguntou a Darren se ele tinha dormido bem, ela foi presenteada com uma
descrição exaustiva de seus sonhos, seu refluxo ácido, sua avaliação da
temperatura ambiente e observações pontuais sobre como suas posições
instáveis tornavam impossível descansar.

Mas isso... isso era legal. O silêncio deu a Gabby a chance de observar
os arredores, os detalhes que ela teria perdido se não tivesse dado as rédeas aos
seus sentidos. Ela fechou os olhos e respirou fundo, separando a terra do prado, a
qualidade salgada do ar que vinha do lago e outras notas que eram novas para
ela.

Gabby percebeu que nunca havia se preocupado com o que Bronn


esperava dela, como fazia todos os dias com Darren. Ainda não havia penteado o
cabelo nem lavado o rosto. E mesmo que ela sentisse vontade de colocá-la, Gabby
não tinha maquiagem. Mesmo o rasgo em sua blusa por ter sido arrancada de seu
corpo não a deteve.
E tudo porque o homem sentado ao lado dela era alguém que ela
realmente apreciava e respeitava. Surpreendeu-a agora que ela já havia se
conformado com um relacionamento sem essas qualidades.

Gabby se perguntou se Bronn fazia isso todas as manhãs. De repente,


parecia um hábito muito bom sentar-se em silêncio enquanto o sol nascia,
deixando a vida tomar conta de você, em vez de persegui-la com o fervor da
superlotação.

Pensando bem, ninguém na fronteira parecia agitado, embora


preenchessem seus dias com trabalho. Eles sempre encontravam tempo para
ajudar uns aos outros, sem que ninguém vigiasse quem devia favores e repartisse
o que fosse preciso.

Bronn inesperadamente quebrou o silêncio. — Eu estive pensando


sobre ontem.

Gabby colocou sua caneca cuidadosamente no chão ao lado de sua


cadeira, seu coração acelerando. — Oh?

— Quem tentou te pegar ontem tentará de novo.

Gabby tentou não deixar transparecer sua decepção. É claro que ele
não estava falando sobre aquela parte de ontem, ela se repreendeu.

Ela voltou sua atenção para as coisas horríveis que aconteceram. As


coisas que ela preferiria tentar ignorar.

Mas Bronn estava certo - ela tinha que enfrentar os fatos e bolar um
plano para se manter viva.
— E se eu ficar longe da fronteira? — ela sugeriu. — Posso mudar a rota
da minha caminhada matinal, sem problemas.

Bronn balançou a cabeça. — Isso não vai detê-los. Se eles estão


dispostos a arriscar cruzar a fronteira, alguns quilômetros não vão fazer diferença.

A verdade das palavras de Bronn atingiu Gabby como um calafrio.

— Talvez eu devesse sair da minha cabana. Vou ficar em outro lugar no


Boundaryland.

Como aqui com você foi sua surpreendente reflexão tardia. Ela queria
isso? Gabby não tinha percebido que sua mente subconsciente estava
considerando isso.

— Não. — Seu tom não admitia discussão. — Eu sei como esses Betas
pensam. Eles são estúpidos o suficiente para acreditar que podem passar por um
Alfa com bastante poder de fogo e tecnologia e qualquer outra merda que eles
inventarem. Eles não vão desistir.

A cada palavra de Bronn, o ânimo de Gabby piorava. Ela estava com


muito mais problemas do que se permitira acreditar.

— Parece... — Sua voz guinchou como um coelho assustado, e ela


limpou a garganta. — Como se a única coisa que eu pudesse fazer fosse ir
embora. Sair de Boundaryland.

Dizer isso em voz alta tornou a perspectiva dolorosamente real. Gabby


se imaginou empacotando algumas das roupas que as Ômegas lhe deram,
despedindo-se de sua preciosa casinha e caminhando de volta da mesma maneira
que ela veio. Só quando ela pensou sobre isso ela percebeu o quanto ela não
queria fazer nada disso.

Então, quando Bronn falou, Gabby aproveitou o aço em sua voz. —


Absolutamente, não.

Aqui estava ela, encurralada e temendo por sua vida, e ainda assim a
possessividade de Bronn enviava um arrepio por seu corpo como se alguém
estivesse passando a mão pelas teclas de um piano.

Mas isso não mudou sua situação - ou o risco que ela estava expondo
aos moradores das terras fronteiriças com sua presença. Gabby não poderia viver
consigo mesma se alguém se machucasse. Embora se fosse tão longe, as chances
eram muito boas de que ela mesma estaria morta.

Ela deu um suspiro trêmulo. — Se eles continuarem vindo como você


diz.

— Então vamos detê-los. Vamos matar o suficiente deles para enviar


uma mensagem. Deixe-os saber o que acontece com qualquer um que se atreva a
cruzar nossas fronteiras e vir atrás de um dos nossos.

Um dos nossos. O calor crescente dessas palavras quase compensou a


perspectiva aterrorizante de uma batalha.

Porque mesmo que o pensamento de pertencer aqui, de ser desejada,


não pudesse distrair Gabby do fato de que toda a coragem e força de Bronn não
poderiam parar as balas.

Bronn bebeu o resto de seu café e se levantou. — Vamos.

Gabby teve que se apressar para acompanhá-lo. — Onde estamos indo?


— Para reunir um exército.

Gabriella

Eles estavam de volta à cerca, mas agora Gabby estava do lado Alfa,
olhando para a trilha profundamente esburacada que os contrabandistas haviam
feito na estrada Beta. Um punhado de Betas estava descarregando um caminhão-
plataforma, e quase uma dúzia de Alfas vieram para carregar os suprimentos -
ferramentas, sacos de concreto e outros materiais de construção - em seus
próprios caminhões para levar de volta ao terreno grande e plano à beira de Lake
Victoria que eles haviam limpado para o futuro centro comunitário.

Enquanto observava os Betas dirigirem-se lentamente para a floresta,


Gabby lembrou-se do dia em que chegara, encolhida na caminhonete de
Courtney. Ela estava quase apavorada demais para abrir a porta, muito menos
cruzar a linha que separava os mundos Alfa e Beta.

Ela nunca poderia imaginar que, depois de apenas algumas semanas,


ela voltaria na companhia de amigos. E não apenas casuais, como as mulheres
com quem ela se socializou em Denver, mas amigas que ouviram, se importaram
e forneceram todo o apoio e encorajamento que ela poderia pedir. Tanto é assim
que mesmo o fato de Maggie estar temporariamente ausente do grupo não
diminui o conforto que Gabby tirava de sua presença.

Então havia Bronn…


E agora, a coisa que Gabby mais temia era ir embora.

Mesmo que ela não tivesse um alvo nas costas, a ideia de retornar à sua
antiga vida ainda seria como um torno apertando seu coração. Não foi até que ela
se adaptou ao ritmo da vida na fronteira que Gabby percebeu quanta ansiedade e
pavor ela carregava.

Cada interação, cada evento que ela participava, exigia que ela atuasse
de acordo com os padrões de seu círculo Beta de elite. Os mundos da política e da
alta sociedade deixavam pouco espaço para erros. Cada detalhe, desde o
comprimento de suas saias até ao momento de sua chegada aos eventos de gala
e a disposição dos assentos em jantares, tinha que ser perfeito.

Qualquer erro levantava as sobrancelhas. Faça disso um hábito e os


convites pararão de chegar. As vendedoras da Prada e da Balenciaga fingiriam
esquecer seu nome. E uma única grande gafe pode colocá-lo na lista negra.

Desnecessário dizer que Gabby agora estava morta para eles... mesmo
que ela ainda não estivesse morta.

O surpreendente era quão pouco ela se importava. Pela primeira vez


em sua vida, Gabby não sentiu o peso esmagador de rótulos e expectativas
forçando-a a se conformar. Ela tinha sido uma filha obediente, uma enteada
mimada, uma festeira, uma formadora de opinião, o brinde da sociedade e,
finalmente, a tão fotografada noiva de um futuro congressista.

Gabby sabia que a sorte tinha muito a ver com isso. Sem seu pedigree
europeu, a beleza de sua mãe, a riqueza e as conexões de seu padrasto, ela nunca
teria subido a alturas tão vertiginosas.
Mas ela estava começando a pensar que tinha sido tanto uma maldição
quanto uma bênção. Aqui na fronteira, onde ela podia ser ela mesma - quem quer
que Gabriella Pineda estivesse se tornando - o mundo que ela habitava parecia
uma vitrine para esconder a feiúra que havia por baixo.

Suas novas amigas não se preocuparam em esconder nada. Gabby ficou


chocada com a honestidade crua delas no início, com as admissões diretas e
confissões alegres que provocavam risos nas reuniões de Ômegas.

E assim como elas se aceitaram, elas aceitaram Gabby.

E não apenas as Ômegas, também. Os Alfas e até aos contrabandistas


Beta a trataram com respeito e gentileza. Porque ela era uma deles... como
evidenciado pelos olhares de horror em suas amigas quando ela terminou de
contar o que havia acontecido com os agentes Hoss e Singh no dia anterior.

— Oh meu Deus, — Sarah engasgou, seu rosto branco. — Você está


bem?

— Estou bem. Sério. Bronn chegou bem a tempo.

— Merda. — Gabby nunca se cansaria com a cara doce de Ruby


xingando. — Os caras vão ficar furiosos quando Bronn contar a eles quantos
soldados estavam na propriedade de Axel.

Era verdade. Mesmo agora, Gabby podia ouvir as vozes do Alfa subindo
à distância enquanto Bronn explicava a situação, o ar misturado com sua fúria
quase palpável.

— Sinto muito, — disse ela, odiando que o problema a tivesse seguido


até aqui - e que ela era incapaz de pará-lo sozinha. — Eu disse a Bronn que estava
disposta a deixar Boundaryland para que eles deixassem vocês em paz, mas ele
não quis saber disso.

— Claro que não! — Lili disse indignada. — Ninguém aqui tem medo de
uma briga.

Pelo olhar em seus rostos, Gabby acreditou nelas... mas ela não podia
acreditar que entendiam o quanto os agentes do governo e todas as conexões de
Darren poderiam ser uma ameaça.

— Vamos voltar para a parte em que Bronn disse que não permitiria
que você fosse embora, — disse Darlene com um sorriso perverso em seus lábios
vermelho-cereja.

— Não foi assim, — disse ela, corando.

Darlene levantou uma sobrancelha cuidadosamente desenhada. — Oh,


sério? Você passou a noite na casa dele, certo?

De repente, todas as outras conversas pararam e todos estavam


olhando para ela com expectativa. Tudo o que faltava era uma lâmpada acender
acima de sua cabeça e uma cadeira de interrogatório.

— Bem, sim, mas...

— E onde exatamente você dormiu? — Sarah conseguiu fazer a palavra


soar suja.

— Isso não é da sua conta.

Instantaneamente Gabby percebeu seu erro quando Ruby começou a


rir.

— Oh meu Deus, — Lili riu. — Você e Bronn? Eu não esperava por isso.
— Eu sabia, — disse Darlene presunçosamente. — Vamos lá, meninas -
vocês não viram o jeito que ele olha para ela?

— E ela também. — A pequena lacuna entre os dentes da frente de Lili


fez seu sorriso ainda mais malicioso. — Lembra daquele dia na casa de Sarah
quando ele entrou em casa? Ela ficou toda nervosa. Ela nem olhava para ele.

— Estou bem aqui, — Gabby protestou.

Lili não se intimidou. — Muito impressionante, dado o quanto suas


pernas devem estar doloridas agora.

Sarah trocou um olhar com Ruby, e as duas caíram na gargalhada.

— Sinto muito, — disse Ruby, — mas a expressão em seu rosto...

— Vão com calma com ela, pessoal, — Darlene repreendeu


provocando. — Vocês todas se lembram de como é - você nunca esquece sua
primeira vez.
CAPÍTULO 19
Gabriella

Se Gabby tivesse alguma dúvida de que Bronn falava sério em cada


palavra que dizia, a hora seguinte as desconsideraria.

Quando ele disse a ela que planejava montar um exército, ela imaginou
que ele chamaria os mesmos caras que ajudaram a construir sua cabana.

Três ou quatro Alfas podem muito bem ser um exército quando estão
enfrentando Betas.

Mas quando eles deixaram a área comercial da fronteira, Bronn reuniu


todos os Alfas à vista - um total de onze.

— Vejo você na casa de Axel em dois dias, — disse um Alfa enquanto


passava em uma caminhonete Ford vintage lindamente restaurada. Gabby o
reconheceu como o vizinho de Axel, Rowan, que havia acampado algumas vezes
na cabana.

Bronn levantou a mão em reconhecimento antes de entrar em sua


caminhonete, gesticulando para Gabby fazer o mesmo.

Considerando que ele mais do que atingiu seu objetivo, ele não parecia
muito satisfeito. As linhas reveladoras se formaram nos cantos de sua boca, e ele
agarrou o volante como se fosse estrangulá-lo até à morte.
Gabby esperou até que tivessem percorrido alguns quilômetros antes
de decidir dizer algo. — Você está preocupado, — disse ela, mais uma afirmação
do que uma pergunta. — Quer me dizer por quê?

Ele deu de ombros sem olhar para ela. — Nada importante.

Pelo menos ele não havia negado. Isso foi progresso. — Então, não há
razão para não compartilhar.

As linhas que contornavam em sua carranca se aprofundaram. Gabby


esperou até ficar óbvio que ele não pretendia responder. — Você está...
preocupado com os soldados Beta? — ela disse com cuidado.

— De jeito nenhum.

Está bem então. — Tem alguma coisa a ver com Axel sair de casa em
dois dias e ver que sua terra se tornou uma zona de guerra?

— Nah. Axel pode ficar surpreso, mas ele vai entender.

— Esse é um amigo bastante compreensivo.

Isso fez Bronn dar-lhe um olhar duro, pelo menos. — A terra do irmão
foi violada. É melhor você acreditar que ele estará pronto para lutar.

Certo, toda essa coisa de pena de morte para invasores. Fazia um tipo
distorcido de sentido. — Ok... não são os soldados, e não é Axel. Então o que é?

A pausa foi ainda mais longa desta vez, pois Bronn parecia afundar no
banco do motorista. Quando ele finalmente conseguiu responder, suas palavras
foram afetadas. — Eu ouvi o que você estava falando com as Ômegas.

Oh.
Gabby estava tão envolvida na conversa que momentaneamente se
esqueceu da habilidade dos Alfas de ouvir coisas a uma grande distância. Ela tinha
esquecido de ser cuidadosa.

E então Bronn ouviu as garotas brincando e rindo. E não apenas ele -


todos os outros Alfas ao redor também. O que significava que o segredo, tal como
era, havia sido revelado.

— Sinto muito, — ela deixou escapar. — Eu tentei impedi-las.

— Sim. — Outro olhar de dor. — Eu ouvi isso também.

— Por favor, não se preocupe, Bronn. Elas não queriam dizer nada com
isso. — No último mês, Gabby havia aprendido que se havia uma coisa que o
pequeno bando de Ômegas amava mais do que adicionar bourbon ao chá, era
provocar a garota Beta.

Mas Bronn apenas grunhiu. — Não era isso que estava acontecendo.

Gabby fazia o possível para ser paciente, mas não conseguia entender
por que Bronn parecia levar tão a sério uma fofoca inofensiva.

— Não, sério. Elas fazem isso o tempo todo.

— Uh-huh. — A caminhonete quicou quando Bronn passou por cima de


um galho caído que ele poderia facilmente ter evitado. — Eu não dou a mínima
para a provocação. Mas Lili chamou você de 'uma de nós'.

O rosto de Gabby ficou quente, lembrando. As palavras que lhe deram


um sentimento tão bem-vindo de pertencer, Bronn interpretou de maneira muito
diferente. — Ela apenas quis dizer, nós somos amigas. Maggie e eu as vemos
quase todos os dias.
Ele não ia deixar passar. — Alguém já disse isso para você antes?

— Eu não tenho acompanhado, — ela admitiu. — Por que isso importa?

Bronn olhou para ela abertamente. — Porque Darlene estava certa.


Quando nós... — Ele cortou o ar, mas Gabby sabia o que ele não conseguia dizer.
Quando fizemos sexo. Quando fodemos a noite toda.

— Mas…

— Eu não posso deixar você ir! — A raiva em sua voz não era para ela,
mas doía mesmo assim. Gabby podia ver quanto esforço estava sendo necessário
para Bronn manter suas emoções sob controle. — Mesmo que fosse o único jeito,
eu não posso ver você ir embora para sempre. Não agora.

Em vez de provocá-la, o juramento de Bronn baniu a dor que ela sentiu,


substituindo-a pela mesma sensação de bem-estar que experimentou ao acordar
em sua cama. Mas Gabby ansiava por ouvi-lo dizer isso - que ele se importava
com ela, mesmo que fosse a última coisa que ele queria.

Que ele a protegeria. Talvez até à valorize.

— Então, o que isso significa? — ela arriscou.

— Significa que dormirei no sofá esta noite.

***

Gabby sabia que Bronn não estava brincando, mas disse a si mesma que
pelo menos era uma melhoria em relação a ele passar a noite na floresta. Mas
pelo resto do dia, ela o rastreou como um gato nervoso, avistando-o pelas janelas
enquanto ele trabalhava na casa.

Ela sabia que não fazia diferença. Se uma ameaça se materializasse,


Bronn voltaria para casa antes que ela percebesse que estava em apuros, mesmo
que ele estivesse no limite de suas terras.

Mas ela apreciou, no entanto.

Bronn veio algumas vezes - para almoçar, para beber água. Uma vez
com a desculpa de que precisava substituir a lâmina de seu canivete, embora ela
o tivesse visto fazer isso no dia anterior.

Ele estava checando ela, e ela estava grata. À tarde, ela fez uma jarra de
limonada e levou para a varanda, e quando ela ficou do lado de fora depois que
ele bebeu um copo grande, ele não pareceu se importar.

Até agora, Gabby odiava a ideia de que ele pudesse dizer o que ela
estava pensando ou pelo menos ler suas emoções através de seu cheiro. Parecia
uma vantagem injusta, quando cada encontro parecia uma luta.

Agora, porém, o que isso importa? Depois do que eles fizeram juntos,
Gabby não se importava que ele soubesse que ela o estava checando.

E quando ele tirou a camisa pela cabeça e a usou para enxugar o suor
da testa, ela teve a sensação de que não era só porque ele era gostoso.

Embora ele fosse muito, muito, gostoso... especialmente quando ele


deu a ela um daqueles olhares lentos depois de puxar o toco de uma árvore
morta do chão com nada além de seus próprios braços, seus músculos
flexionados e brilhando com suor. Veja o que posso fazer, aquele olhar parecia
dizer, embora ela quase não precisasse de um lembrete.

Mas fora isso, ele mal reconheceu sua presença.

Ele pegou uma serra no toco e cortou-o em rodelas tão grossas quanto
a cintura dela antes de carregá-los de volta para a pilha de lenha, desaparecendo
pela casa. Momentos depois, ela ouviu os golpes ritmados do machado.

Ele mantinha distância, mesmo quando chegava para dormir. A essa


altura, Gabby já havia desistido e voltado para dentro, ocupando-se em fazer o
jantar para não pensar nas coisas imundas que queria fazer com ele.

A atração que sentia por Bronn estava ficando cada vez mais forte. Ou,
para ser franca, Gabby estava com mais tesão do que nunca em sua vida, e isso
simplesmente não parava.

Mas não foi só isso. A conexão entre eles, a atração que ela não
conseguia definir, mas com certeza sabia que estava lá, também crescia o tempo
todo. E embora Gabby soubesse que Bronn considerava isso um desastre, ela
nunca se sentira tão bem em toda a sua vida.

Atração. Certo. Conexão.

Enquanto Gabby picava alho e temperava o peixe-gato que Bronn havia


pescado antes, ela pensou em como não havia palavras na língua Beta que
capturassem a magnitude do que ela sentia na presença dele. Nenhum poema,
nenhum cartão de felicitações poderia descrever o sentimento.

Era como se todas as peças do quebra-cabeça que faltavam em sua vida


tivessem aparecido magicamente e se encaixado. Quando Bronn estava em um
cômodo com ela, Gabby sentia uma paz que não tinha nada a ver com suas
circunstâncias. Ela tinha certeza de que, mesmo que os soldados aparecessem e
incendiassem a terra ao seu redor, saber que Bronn estava lá fora era tudo o que
ela precisava para manter a calma.

Ela se sentia... inteira.

Mas Bronn não sentia o mesmo.

Gabby se perguntou se era por causa da vergonha que ainda perdurava


das coisas que ele havia feito no passado ou se ele estava se preparando para a
possibilidade de que os Betas conseguissem eliminá-la. Ou algo totalmente
diferente.

Não que isso importasse. Enquanto Bronn mantivesse as paredes


erguidas, ela não poderia alcançá-lo. Não do jeito que ela queria.

Gabby já havia perdido o suficiente de sua dignidade, implorando para


que ele ficasse com ela na primeira vez. Ela não estava prestes a fazer isso de
novo. E assim, depois de um jantar silencioso em lados opostos da mesa, quando
Bronn se agachou com um livro na frente do fogo, ela enfiou o rabo entre as
pernas e foi para a cama.

Mas ela não dormiu. Não até às primeiras horas da manhã, depois de
ouvir Bronn movendo-se inquieto pela casa. Atiçando o fogo. Arrumando os
pratos. Outros sons ela não conseguiu identificar.

Mesmo depois de ouvir o sofá gemer sob o peso dele quando ele
finalmente se deitou para dormir, Gabby se remexeu e se virou e observou os
minutos se arrastarem no relógio luminescente no criado-mudo.
Quando o sol finalmente nasceu, nenhum deles estava descansado.

Isso ficou claro no momento em que Gabby saiu do quarto e encontrou


Bronn sentado no sofá com uma xícara de café em uma das mãos e a cabeça na
outra.

Ele ergueu os olhos injetados e acenou com a cabeça para uma segunda
caneca fumegante na mesa de centro.

— Obrigada, — Gabby disse enquanto se sentava na cadeira em frente


a ele. Seu primeiro gole provou que Bronn estava prestando atenção... ele
acrescentou um pouco de leite e duas colheres de açúcar, do jeito que ela
gostava.

Havia aquele calor crescendo dentro dela novamente, como um campo


de margaridas erguendo suas flores ao sol. Sabendo que Bronn notou um detalhe
tão pequeno, que ele se preocupou o suficiente para deixá-la o mais confortável
possível em sua casa, mesmo que mantivesse distância... só fez crescer o
contentamento pacífico, um enigmático contraponto à sua exaustão.

— Acho que você não dormiu muito ontem à noite também, — disse ela
em tom de conversa.

— Eu ficarei bem. Só mais um dia antes de você voltar para sua cabana.

Não foi a resposta calorosa e confusa que ela esperava, e Gabby se


repreendeu por ser irreal.

Ela teve que aceitar que não haveria repetição de sua extravagância
sexual ou mesmo outra conversa mais profunda do que algumas palavras aqui e
ali.
Gabby sabia que tinha sorte de ter uma casa para onde voltar,
especialmente uma perto de sua melhor amiga. E, no entanto, por mais
confortável que estivesse em sua pequena cabana, ela sabia que seria apertada e
solitária depois de passar os últimos dias com Bronn.

Um rosnado baixo e estrondoso a fez pular. Bronn se levantou, o café


espirrando na borda da caneca em sua mão. — Não faça isso.

— Fazer o quê? — Gabby disse, seu coração batendo forte. Tudo o que
ela fez desde que se arrastou para fora da cama foi se jogar na cadeira e tomar
um gole de café.

— Pensando. Sobre... o que você está pensando. Apenas pare.

Gabby olhou para ele em silêncio. Ele não sabia que era a pior coisa que
poderia ter dito? Era aquele velho ditado sobre elefantes cor de rosa - no
momento em que você tentou não pensar neles, eles desfilaram em sua cabeça e
você não conseguiu se livrar deles.

E se aquilo em que ela tentava não pensar não fosse um elefante, mas a
maneira como ela se sentia quando Bronn a tocava, beijava ou... bem, isso foi
ainda pior. Memórias de suas mãos em sua pele, seus lábios descendo por seu
corpo, seu enorme pênis posicionado em sua abertura molhada e pronta
encheram sua mente e excluíram todo o resto.

Ela o queria. Ela precisava dele.

— Gabriella, — ele grunhiu, mas o efeito de seu aviso foi o oposto do


que ele pretendia. O sangue correu em suas veias, suavizando e preparando seu
corpo para seu toque; excitação cobria sua boceta, doendo por ele.
Gabby sabia que seu cheiro havia chegado a Bronn quando a caneca se
quebrou em suas mãos, espalhando café no chão em meio aos cacos. Ele nem
olhou para baixo.

— Não podemos fazer isso.

O próprio corpo de Gabby aceitou o desafio, seus mamilos endurecendo


desafiadoramente, sua respiração acelerada. Tudo o que ele dizia e fazia parecia
destinado a excitá-la ainda mais.

— Por quê? — ela exigiu, de repente cansada de considerar os


sentimentos dele toda vez que ela falava ou até mesmo olhava para ele. —
Porque você é um monstro? Um assassino sem remorsos? Você acha que
ninguém jamais poderia te amar, então você se tranca e diz a si mesmo que não
precisa de ninguém. Mas não funcionará, Bronn. Leia minhas emoções, mas
quando se trata das suas, você não sabe merda nenhuma.

Ela estava se movendo em direção a ele como se estivesse sendo


puxada por uma corda invisível, quase... perseguindo-o. Rondando, seu corpo ágil
e sensual, cada movimento conduzido por sua fome.

Não, por sua fome um pelo outro, pelo que eles se tornaram quando
estavam nos braços um do outro - dois corações, duas almas unificadas em uma
paixão que parecia que nunca iria acabar. Os olhos de Bronn estavam arregalados
de apreensão que foi rapidamente eclipsada pela necessidade. Seu pênis estava
tenso contra suas calças, já tão duro que a boca de Gabby salivou para prová-lo.

Ele balançou a cabeça, incapaz de pronunciar até mesmo a palavra


pare.
Saber que seu cheiro, seu corpo, sua voz tinha aquele efeito sobre ele
fez Gabby querer rugir de volta para ele. Ela nunca se sentiu mais poderosa... ou
mais desejável. A energia sexual dentro dela era inegável, e ela desejava ceder a
ela. Mas quando ela estava a alguns centímetros de distância, ela parou incerta.

Se ele a parasse agora, se a rejeitasse, Gabby não tinha certeza se iria se


recuperar.

Ela estava perto o suficiente para ver cada detalhe das cicatrizes que
emergiam da gola da camisa dele. Ela se lembrou de como eram sob as pontas
dos dedos, uma rede de dor, uma insígnia de sobrevivência. Droga, Bronn, ela
telegrafou com todas as suas forças, você sabe que sou boa para você.

— Não me provoque, mulher. — Suas palavras eram como pedras


sendo reduzidas a pó.

— Eu não estou. — Ela mal conseguia recuperar o fôlego. Seus dedos se


contraíram com o desejo de tocá-lo. — Eu sei que você me ouviu ontem à noite.
Eu queria tanto você que não conseguia dormir. Eu mal conseguia me impedir de
vir aqui e...

Sua voz falhou com a visão aterrorizante dos punhos de Bronn ficando
brancos, seu queixo duro como aço enquanto o estrondo em seu peito ficava
perigosamente mais alto.

— Eu sei que este é nosso último dia juntos, — ela disse


apressadamente. — Amanhã, você me levará de volta para minha cabana, e eu
nunca mais vou te ver.
— É o que há de melhor. — Pelo menos ele teve a decência de ser
honesto.

Gabby deu o último passo, esmagando a porcelana quebrada sob seus


pés, tão perto que ela podia sentir o calor emanando de seu corpo... e estendeu
uma mão trêmula para pressionar um dedo em seus lábios.

— Mas isso é amanhã. Este dia - minha última vez com você - precisa
durar pelo resto da minha vida. Então vamos...

Ela nunca terminaria aquela frase.

Com um rugido que sacudiu as paredes ao redor deles, Bronn a pegou


nos braços e a carregou até a porta da frente. Ele a abriu com um chute e saiu
para o sol de outono, desceu os degraus e entrou na campina. Ele a beijou como
um homem se afogando, e ela o beijou de volta, alimentando-se de seu fogo,
segurando seu pescoço para salvar sua vida.

O ritmo de seus passos tornou-se o ritmo de seu desejo, uma constante


batida de desejo. Umidade derramou dela, encharcando suas roupas, e uma parte
dela se perguntou onde Bronn a estava levando, mas o resto dela não se
importava. Tudo o que importava era tocá-lo, envolvendo-se em torno dele até
que ela não pudesse dizer onde terminava, e ele começava.

Ela se sentiu baixada ao chão e abriu os olhos para descobrir uma visão
surpreendente. Ele a trouxe para um riacho na encosta de uma montanha. Ele
serpenteava ao longo da borda do prado antes de parar no lago. Mas neste ponto
era amplo e sombreado por salgueiros. Mais importante, estava escondido - da
casa, da estrada, de tudo.
Bronn se ajoelhou ao lado dela por um momento, sem se mover, nem
mesmo respirar, apenas olhando para ela. — Você é linda, Gabriella, — disse ele
asperamente.

E então ele rasgou sua camisa e rasgou seu sutiã, seus seios se
derramando sob o sol, e uma torrente de excitação jorrou dela.

— E você é minha.

O rugido de Bronn ecoou pelo vale enquanto Gabby rasgava suas


roupas. Eles lutaram ferozmente até que ambos estivessem nus, Gabby de
alguma forma terminando em cima dele, se contorcendo contra ele, gemendo
com a sensação de sua boceta molhada deslizando para cima e para baixo em seu
eixo.

— Eu quero, eu quero, eu quero... — Ela estava perdendo a capacidade


de formar palavras, e também não conseguia encontrar o foco para listar tudo o
que queria dele. Suas mãos, sua boca, seu pênis. Sua barba raspando contra sua
pele. Suas bolas batendo contra ela toda vez que ele dirigia mais fundo dentro
dela. Ela queria tudo.

— Eu sei o que você quer, mulher, — ele grunhiu e agarrou seus pulsos,
segurando-a longe dele, fazendo-a esperar. — Olhe para mim. Olhe para o meu
pau, como estou duro por você.

Cada sílaba era mais combustível para o fogo dentro de Gabby, e ela se
jogou na pira de sua paixão. Ele estava dando a ela exatamente o que ela pediu —
desta vez, sem pensar no passado ou no futuro, apenas no momento em que
estavam e nas demandas de seus corpos.
— Deixe-me-deixe-me… — Os dentes de Gabby batiam, mas não de
frio. Bronn a estava provocando, seu pênis ereto roçando na abertura de sua
boceta, mas quanto mais ela tentava se aproximar, mais firmemente ele a
segurava.

Até que, sem aviso, ele a soltou apenas para agarrar seus quadris com
suas mãos poderosas.

Ele a guiou direto para seu pênis, e ela gritou quando ele a penetrou,
jogando a cabeça para trás e torcendo os quadris para levá-lo cada vez mais
fundo. As paredes de sua boceta incharam ao redor dele, encharcando-o com
suavidade, acendendo o vórtice que se enrolou cada vez mais apertado antes de
finalmente explodir no momento da liberação.

— Isso mesmo, — disse Bronn, sem tirar os olhos dela. — Deixe-me ver
você gozar. Goze para mim, Gabriella, só para mim.

E isso a levou até lá. Gabby gritou quando Bronn entrou uma última vez
e a segurou lá, empalada e preenchida por ele. Seu olhar era quase reverente
enquanto ela gritava e uivava. Seu orgasmo continuou até que ela finalmente caiu
contra ele, vencida e mole.

Bronn riu.

Era um som lindo, profundo, timbrado e perverso, e Gabby lutou para


ficar de joelhos, atônita.

— Você nunca...
Mas ele beijou as palavras. Ela nunca o tinha ouvido rir, e talvez nunca
mais. Ela o acrescentou ao tesouro de lembranças preciosas que levaria para
sempre.

Mas este não era o momento. Nesse momento, ela era de Bronn e ele
era dela.

Ela separou sua boca da dele e o empurrou para longe. Ele entendeu a
mensagem e se apoiou nos cotovelos, observando-a avidamente enquanto ela
percorria seu corpo, beijando e saboreando cada centímetro, traçando suas
cicatrizes com as pontas dos dedos, lábios e língua. Gabby desejou poder queimar
a memória de seu corpo em sua alma. Ela não queria esquecer nada disso – nem a
dor, nem a tristeza, nem as cicatrizes. Definitivamente não o sentimento de
retidão, de algo maior do que eles os aproximando.

Além do campo de cicatrizes, o torso de Bronn se estreitava no


magnífico plano de faixas de seu abdômen. Ela podia senti-los tensos enquanto
traçava os sulcos com a língua, deixando seu pênis descansar contra sua
bochecha, seguindo o V de pelo escuro que formava uma flecha para baixo,
descendo pelos cachos na base de seu pênis.

Ela colocou a mão ao redor do eixo e sentiu o sangue de Bronn


aumentar em resposta. Ela pretendia provocá-lo por um tempo, mas sua fome
não permitiria, e ele estava pronto.

— Deus, sim, Gabriella, assim, — disse ele, colocando a mão no alto da


cabeça dela para guiá-la. As palavras de Bronn eram tão eróticas quanto seu
toque, e ele sabia disso. Ele continuou a murmurar instruções e provocações,
tornando-os cada vez mais sujos em resposta às contorções do corpo dela até
que, finalmente, ela não aguentou mais.

Ela ergueu o rosto de seu pênis. — Por favor...

Instantaneamente, Gabriella estava de costas, as mãos de Bronn


envolvendo seus tornozelos. Ele os separou e olhou para sua fenda inchada e
brilhante. — Minha, — ele repetiu maravilhado, quase para si mesmo.

Gabby empinou os quadris, e ele riu, sua risada sombria novamente. Ele
colocou as mãos ao redor de sua bunda, guiando-a para ele, suportando seu peso.
As pernas dela abertas contra o peito dele, e ele estava fodendo com ela no ar,
meio de cabeça para baixo, apenas a cabeça e os ombros descansando.

Como se para provar o pouco esforço necessário para mantê-la ali, ele
se moveu para que suas costas descansassem em uma mão. Com o polegar do
outro, ele começou a circular seu clitóris, com a mão encharcada de fluído,
chegando tão perto que Gabby estava se debatendo e implorando para que ele a
tocasse. E o tempo todo ele estava se movendo dentro dela, mantendo aquele
ritmo constante que ela sabia que ele tinha cronometrado perfeitamente para
ela.

Ela estava completamente sob o controle de Bronn, e aquele era o lugar


mais erótico que ela jamais estaria. Quando finalmente ele deu um toque em seu
clitóris, e ela começou a gozar, ele a virou. Ele dirigiu-se de volta para dentro,
encontrando seu clitóris com os dedos de modo que, à medida que seu orgasmo
se aprofundava e se intensificava, ele a golpeava por trás e tamborilava em seu
clitóris na velocidade de um beija-flor.
A sensação cegou Gabby. Ela sentiu como se estivesse deixando seu
corpo e disparando ao longo da borda prateada do universo, traçando a linha
entre a luz e a escuridão, cada estrela que continha brilhando dentro dela.

Ela sentiu Bronn empurrar uma última vez. Seu rugido dividiu o ar, e ela
sentiu os jatos dele gozarem dentro dela, preenchendo-a mais completamente do
que ela sonhava ser possível. A base de seu pênis começou a inchar, a pressão
aumentando e aumentando dentro dela, e Gabby pensou na palavra nó e então a
esqueceu quando um instinto de dentro dela cantou de alegria. O êxtase eclipsou
sua visão e audição e todos os outros sentidos que ela possuía.

Tudo menos o conhecimento de que este homem, este Alfa, era seu
destino.
CAPÍTULO 20
Gabriella

O amanhecer rompeu em uma aquarela de rosa e ouro. Sua beleza


parecia quase cruel quando Gabby olhou pela janela do quarto de Bronn, uma
lembrança da beleza natural desta terra que ela não poderia compartilhar com
ele.

Fomos feitos um para o outro.

Não era tanto um pensamento, mas uma certeza avassaladora, mas


Gabby o empurrou para baixo com todas as suas forças. Haveria tempo para
pensar sobre o que poderia ter acontecido mais tarde, uma vez que ela tivesse
deixado a fronteira para sempre. Na verdade, ela teria o resto de sua vida.

Por enquanto, porém, ela tinha que se recompor o suficiente para


passar pelo adeus e a viagem de volta para sua cabana, onde fecharia a porta
atrás de si e enfrentaria a noite sozinha... e a seguinte, e a próxima, até que não
havia mais razão para ficar aqui.

Então ela retornaria ao mundo Beta, para uma nova vida que ela nem
poderia começar a imaginar.

Ao lado dela, Bronn se mexeu e quase imediatamente saiu da cama


como se estivesse pegando fogo. Com os olhos quase fechados, Gabby o
observou cambalear para o outro lado do quarto e esfregar o rosto com as mãos,
com o coração partido.
Para que ela nem pudesse deitar em seus braços uma última vez.

— Hora de levantar, — disse ele rapidamente, mas ela não perdeu a


rouquidão reveladora em sua voz. A rebelde nela se perguntou por que eles
estavam fazendo algo que os tornava tão miseráveis... mas para o bem de ambos,
ela empurrou isso também, para o poço de emoções que só poderiam lhe trazer
dor.

Ela esperou até que Bronn vestisse as roupas e saísse do quarto para
afastar as cobertas. Um rápido inventário confirmou que ela tinha acrescentado
algumas novas contusões, arranhões e dores às que tinha adquirido em seu
último ataque de paixão ardente, mas tudo ainda funcionava.

Gabby não perdeu tempo se vestindo e se arrumando. Era melhor


simplesmente acabar logo com isso. Essa mágoa era a moeda que ela tinha que
pagar pelo prazer proibido. E embora a dor fosse forte o suficiente para tirar seu
fôlego, Gabby sabia que faria tudo de novo em um piscar de olhos.

Seus pés mal tocaram o chão quando ela ouviu Bronn abrindo as
torneiras, e a água começou a cair na enorme banheira. Bronn apareceu na porta,
olhando resolutamente para além dela, relutando até mesmo em encará-la.

— Eu pensei que você poderia querer um banho antes de irmos, —


disse ele calmamente.

Não sem você.

A súplica morreu em seus lábios quando ela reconheceu a expressão


congelada e distante que já vira Bronn usar antes. Na primeira vez, ela confundiu
isso com indiferença ou até mesmo animosidade, mas agora ela sabia que era
culpa e vergonha dele. Era uma barreira muito grande para eles cruzarem até que
ele encontrasse uma maneira de restaurar sua própria humanidade.

Gabby tentou... mas não foi o suficiente. Bronn já havia decidido deixá-
la ir. Cortar o que havia entre eles enquanto ainda podia.

Mas antes que ela deixasse isso acontecer, ainda havia um mistério
sobre ele que a atormentava.

— Posso te fazer uma pergunta? — ela disse antes que ele pudesse sair
pela porta e deixá-la sozinha novamente.

Ele fez uma pausa antes de se virar relutantemente para encará-la. —


Como se eu pudesse te impedir.

— Por que você usa esse colar?

Ele a olhou por um momento antes de balançar a cabeça. — Eu já te


disse isso.

— Não, — Gabby se aproximou para ver melhor o anel de metal opaco


em seu pescoço. — Você explicou o que era. Não o que significa para você.

Os músculos ao redor de seu queixo se contraíram, mas ele não se


afastou.

Ainda não, pelo menos. — A resposta é realmente tão importante para


você?

Estranhamente, era. Gabby podia sentir que havia muita história


naquela pequena seção transversal do cano de uma arma. — Eu prometo, esta
será a última coisa que eu pedirei a você.
Por alguma razão, essa garantia só fez seu humor mais sombrio, mas ele
respirou fundo e ergueu o queixo.

— O dia em que todos escapamos do porão foi sangrento, — ele


começou. — O laboratório em si estava vazio, mas havia um prédio acima dele
cheio de guardas e outros trabalhadores. Alguns foram espertos e fugiram ao
primeiro sinal de problema, mas outros ficaram e tentaram nos pegar um por um
quando saímos dos elevadores.

Gabby tentou imaginar a cena em sua mente, mas ela sabia que sua
imaginação estava aquém do verdadeiro horror daquele dia.

— Um grupo de nós subiu primeiro para limpá-los e abrir caminho para


alguns dos irmãos mais feridos escaparem. Isso, — ele ergueu o anel com o
polegar antes de deixá-lo cair novamente, — veio do cano do último guarda no
prédio. Depois que ele caiu, jurei que nunca mais mataria por mim mesmo, não
importa o que acontecesse. Que só recorreria à violência se a vida de outra
pessoa estivesse em perigo.

— Como a minha, — Gabby sussurrou, de repente percebendo o


significado completo do que Bronn tinha feito no dia em que a salvou do Agente
Singh.

— Como a sua, — ele repetiu. — Então eu peguei isso para me lembrar


dessa promessa.

Gabby sentiu o rasgo em seu coração aumentar a cada palavra que ele
dizia, e ela ansiava por alcançá-lo. — Bronn.
— Não, Gabby, — ele a parou antes que ela pudesse dar um único
passo.

— Você fez sua pergunta e obteve sua resposta. Agora tome um banho.
Estamos desperdiçando a luz do dia.

O peso da angústia de Bronn permaneceu no quarto muito tempo


depois que seu corpo partiu. Tanta dor, tanto sofrimento desnecessário.

Ela não pensou muito em seu raciocínio, obviamente, mas enquanto ela
se abaixava na água fumegante, Gabby lembrou a si mesma que o trauma que
Bronn tinha experimentado naquele laboratório era real. Toda a paixão do mundo
poderia nunca ser suficiente para convencê-lo de que ele era digno de amor e
carinho... pelo menos não no tempo que restava antes de eles se separarem.

Algo estava incomodando Gabby por um tempo agora, um pensamento


que nunca entrou em foco - mas enquanto Gabby flutuava no calor celestial da
banheira, ela de repente se lembrou.

A única vez que ela viu sua mãe chorar.

Gabby teria perdido se não tivesse decidido surpreender Isabella


voltando para casa para seu aniversário no primeiro ano. Ela não tinha pensado
em mandar uma mensagem para Martin antes que o táxi do aeroporto a deixasse
naquela noite e, quando ela entrou pela porta, ouviu soluços vindos do andar de
cima.

Ela largou as malas e correu escada acima, seguindo o som da voz da


mãe até ao banheiro — que havia sido transformado.
A ardósia cinza fria e os acessórios modernos desapareceram,
substituídos por uma banheira rosa em forma de coração ladeada por querubins
de pedra, pias em forma de concha com torneiras douradas e enormes urnas
transbordando de rosas cor-de-rosa.

Gabby reconheceu tudo de uma vez, da página arrancada de uma


revista que sua mãe havia colado em seu — livro dos sonhos. — Gabby pensou
que sua mãe havia jogado fora o álbum de recortes quando Martin apareceu.

— Mas como... — ela perguntou enquanto sua mãe enxugava os olhos e


seu marido sorria.

— Foi o que ela sempre quis, — Martin deu de ombros.

Gabby gostaria de ter se esforçado mais para conhecer seu padrasto,


especialmente agora que ela poderia nunca ter a chance. Mas talvez ela pudesse
aprender com o exemplo dele.

Ela se apaixonou por um homem, um Alfa, cuja ficha estava longe de ser
limpa, mas esperava que ele começasse de novo quando ela entrasse em sua
vida. Bronn não era esse homem. Gabby não tinha dúvidas de que ele se
importava com ela; o tormento em seus olhos dizia tudo o que ele não podia.

Então ela tentaria novamente. E desta vez, Gabby colocaria todas as


suas expectativas e suposições para trás onde elas pertenciam e lembraria quem
era Bronn e o que ele havia passado. Só porque ele jurou ficar longe dela, isso não
significava que Gabby tinha que parar de tentar.

Era apenas o final de outubro. Ainda faltavam os meses restantes de


outono e o longo inverno para fazê-lo mudar de ideia, e Gabby tinha muito tempo
disponível. Mesmo se ela empilhasse lenha ao redor da cabana, ainda sobrariam
muitas horas por dia para tentar cortar os limites defensivos de Bronn.

Levaria tempo – ele não havia construído aquelas paredes da noite para
o dia, e levaria muito tempo para derrubá-las. Com toda a probabilidade, mais
tempo do que ela tinha. Mas, assim como seu padrasto se recusou a desistir anos
atrás, Gabby decidiu que não desistiria até que toda a esperança se perdesse.

Ela caminhava pelas terras de Bronn todas as manhãs, exatamente


como fizera quando chegara.

Se ela nunca o visse, ela escreveria cartas para ele e pediria a uma das
Ômegas para entregá-las. E se isso não funcionasse, Gabby não ficaria muito
orgulhosa de ficar na beira da propriedade de Axel e gritar até que ele desistisse e
falasse com ela.

É verdade que todos os outros Alfas na Terra Fronteiriça também a


ouviriam, mas e daí? Não era como se Gabby tivesse mais uma reputação a
proteger ou fãs nas redes sociais cujas expectativas ela precisava atender.

Além disso, ela não tinha vergonha de seus sentimentos por Bronn. Por
que ela deveria ter? Ele era um bom homem, forte, corajoso e resiliente. Tudo o
que Darren não tinha sido.

Gabby decidiu que, se sobrevivesse o suficiente, escreveria uma nota de


agradecimento ao padrasto. Por acolhê-la apesar de não saber nada sobre como
ser pai. Por dar a ela tudo o que ela precisava e muito mais.

Por amar sua mãe do jeito que ela merecia ser amada.
Gabby se lavou com o sabonete cremoso de aveia que Bronn havia
deixado para ela, e foi como se seus medos tivessem desaparecido junto com o
suor e a sujeira. Ela se vestiu e foi procurá-lo com uma nova determinação que
tornou fácil perdoar seu silêncio enquanto ele a conduzia pela trilha de volta à
terra de Axel e Maggie.

Ela não ficou surpresa ao encontrar Axel esperando por eles logo depois
da linha da propriedade. O cio de Maggie teria acabado mais cedo naquela manhã
e, enquanto ela sem dúvida dormia pacificamente, Axel teria uma surpresa e
tanto quando saísse do quarto pela primeira vez em dias.

Axel ergueu a mão em saudação, com uma expressão confusa no rosto.

— Que diabos, Bronn? Eu desapareço por alguns dias, e toda a maldita


fronteira vai para a merda.

Bronn ficou tenso, obviamente sem ver graça na situação. — Então você
ouviu o que aconteceu.

— Você poderia dizer isso. Archer e Rowan apareceram perto do nascer


do sol. Mal me deixaram terminar meu pão antes de me arrastarem para fora
para limpar a bagunça que você deixou. Você deveria ter visto o tamanho da
trincheira que tivemos que cavar para todos aqueles Betas.

Bronn lançou um olhar para Gabby. Certamente ela não era a única
mulher que não tinha estômago para a violência na escala do que os Alfas
enfurecidos cometiam mas, novamente, suas amigas Ômega eram algumas
garotas seriamente fortes.
— Isso ajudará, Axel, — Bronn murmurou amargamente. — E de nada,
a propósito. Alguém teve que defender sua hóspede e cuidá-la enquanto você
estava ocupado.

Axel deixou cair o tom de brincadeira, jogando um braço sobre o ombro


de Bronn. — Você sabe que eu aprecio isso, irmão. E que eu faria o mesmo por
você e sua Ômega.

Bronn olhou para o chão. — Acredite em mim, você nunca vai precisar.

O sorriso de Axel desapareceu e ele olhou para Gabby em busca de


esclarecimentos, mas ela só conseguiu dar de ombros. Não cabia a ela explicar.

— Certo, — disse Axel depois de um silêncio constrangedor. — Bem,


Maggie já deve estar acordada. Vamos tomar um café.

Ele começou a subir a trilha e Bronn manteve o ritmo, deixando Gabby


seguindo atrás deles. Ninguém falou, o que foi bom porque ela estava sem fôlego
em alguns momentos devido ao esforço de acompanhá-los.

A cada passo, ela ficava mais nervosa. E se Maggie ainda estivesse


dormindo por causa do cio? A última coisa que Gabby queria era ficar parada
conversando embaraçosamente com dois Alfas.

Quando ela viu o telhado de sua cabana, ela aproveitou a chance por
alguns minutos para se recompor.

— Vocês vão na frente. Eu preciso trocar de roupa. Encontro vocês na


casa.
Bronn deu a Gabby um olhar duro antes de sair com Axel, um que ela
não conseguiu interpretar. Arrependimento? Alívio? Alguma outra emoção
sombria que ele nunca compartilharia?

Gabby fechou a porta e se apoiou nela, observando sua pequena casa.


Parecia insuportavelmente vazia agora - não de coisas, mas de Bronn.

Isso ia ser mais difícil do que ela pensava.

Ela teve que se recompor para poder enfrentar Maggie sem cair no
choro... e depois se despedir de Bronn. Gabby tinha tanta certeza de que poderia
lidar com isso, mas agora ela tinha suas dúvidas.

Nunca deixe que vejam você suar. O conselho de sua mãe, dado com
perfeita postura antes de ela sair - repetidamente com sapo após sapo até que ela
encontrou seu príncipe.

Gabby respirou fundo e foi até seu armário minúsculo, escolhendo sua
roupa mais bonita. Ela se virou para colocá-la na cama, e congelou.

No centro da colcha cuidadosamente dobrada havia um envelope pardo


com o nome dela escrito em tinta vermelha. Letras maiúsculas em negrito que ela
reconheceria em qualquer lugar.

Era a caligrafia de Darren e, ao lado dela, havia uma mochila de lona


costurada com a insígnia do Exército Beta dos Estados Unidos.

O coração de Gabby disparou de medo. Como diabos Darren conseguiu


colocar aquela coisa em sua cabana? Só havia uma resposta — e ela não gostou
nem um pouco.
Darren não o deixou aqui, é claro. Ele era muito covarde para chegar
perto da fronteira. Mas Gabby não tinha dúvidas de que ele - ou mais
provavelmente seu pai - havia pago dinheiro suficiente ou trocado favores
suficientes ou cumprido ameaças suficientes para convencer alguém a entregar
para ele. O governo Beta, sem dúvida, ficou muito feliz em cooperar. Eles já
haviam deixado claro que não deixariam algumas baixas aqui e ali atrapalharem
seus objetivos.

Ainda assim, Gabby não tinha ideia de como alguém conseguiu cruzar a
terra Alfa sem ser detectado. Axel poderia estar ocupado cuidando das
necessidades de Maggie, mas todos os outros Alfas ao redor estavam em alerta
há dias.

As apostas estavam aumentando rápido demais para Gabby


acompanhar, cada segundo que passava multiplicava seus medos. Ela pegou o
envelope e o abriu com as mãos trêmulas.

Uma folha de papel dobrada e uma dúzia de fotos caíram. Gabby as


espalhou sobre a cama, apertando os olhos para as fotos borradas e escuras antes
de perceber que estava olhando imagens de satélite.

As primeiras mostravam árvores, vistas de cima, com alguns telhados


dispersos circulados em vermelho. Levou um momento para descobrir que o resto
eram imagens térmicas do interior dessas casas, as figuras avermelhadas
fantasmagóricas dos ocupantes dentro.

A fúria subiu pela garganta de Gabby. Os bastardos fizeram um


reconhecimento por satélite da fronteira, e essas eram as casas dos Alfas. Amigos
dela.
Enquanto ela olhava para as fotos, paisagens familiares entraram em
foco. Lá estava o pequeno pomar ao lado da casa de Sarah e Archer. E havia suas
assinaturas de calor vermelho - a menor de Sarah na sala de estar e Archer na
cozinha.

Havia a casa de Darlene, e a de Lili... e a de Maggie.

Um soluço quebrado explodiu no peito de Gabby. Oh Deus... o que ela


tinha feito? Ela nunca deveria ter vindo aqui. Ela colocou em perigo a vida de seus
amigos, novos e antigos. Ela nunca se perdoaria se alguém se machucasse.

Mas com o que exatamente ela estava sendo ameaçada?

Gabby pegou a carta, tentada a amassá-la e queimá-la, mas se forçou a


desdobrá-la e ler.

Gabriella,

Suas ações não me deixaram escolha. Eu te dei cada chance de tomar a


decisão certa. Eu pensei que se eu pudesse apenas fazer você ver o mal que estava
fazendo, você retomaria seus sentidos - por nós, para o bem do país, por uma
questão de simples decência comum.

Decência! Como ele ousa lançar palavras como essa? Gabby tremia de
raiva enquanto continuava a ler.

Sua decisão covarde de fugir de suas responsabilidades, em luz da


ameaça sem precedentes que nossa nação enfrenta neste momento, equivale a
traição. Minha família e eu enfrentamos a batalha de nossas vidas para limpar
nosso bom nome e restaurar a confiança de nossos constituintes ao mesmo tempo
quando a liderança constante é mais necessária.

Fique tranquila, não vamos desistir do desafio. Eu não tenho o luxo de


insistir em sua traição pessoal neste momento.

Devo considerar o bem maior.

Sou capaz de misericórdia, Gabriella, mas o tempo para isso


infelizmente passou.

Negligenciar a gravidade de seus crimes seria equivalente a aprovação


tácita do flagelo que ameaça os próprios fundamentos da sociedade Beta. Está,
portanto, fora de minhas mãos.

Acredito que fui um noivo atencioso e generoso, e você teve a


oportunidade de estar ao meu lado enquanto subia as alturas do poder e status.
Não é exagero supor que qualquer mulher teria ficado emocionada em ocupar o
seu lugar - e ainda assim não foi o suficiente.

Por razões que nunca entenderei, você rejeitou meu amor e lealdade...

— Ha! — Gabby revirou os olhos com desgosto antes de terminar a


carta de Darren.

...e em troca, fez alguns inimigos muito perigosos.


Então agora você deve fazer as pazes.

Assim que escurecer esta noite, siga as instruções na mochila para


aplicar os produtos químicos bloqueadores de cheiro e esconda seu corpo com as
roupas térmicas de evasão. Não pule nenhuma das etapas. Estas precauções irão
garantir que seus movimentos não sejam detectados.

Saia da sua cabana e siga a rota indicada até ao local marcada na


fronteira. Este é o mesmo local onde você encontrou a unidade das Forças
Especiais.

Lá, você se renderá aos agentes postados em toda a fronteira e será


levada sob custódia do governo. Nos próximos dias, você será cobrada por seus
crimes contra o tipo Beta e julgada perante um júri de seus semelhantes.

Se você não aparecer no local designado até às 23:00, meu pai usará
seus poderes como chefe das Forças Armadas do Senado Comitê para autorizar
um ataque de míssil encoberto nos alvos indicado nas fotografias anexas. A taxa
de sobrevivência é estimado em 0,000042%.

Não me traz nenhum prazer dizer que seu destino está selado,
Gabriella. Mas o destino de Ozark Boundaryland e todos os seus habitantes está
em suas mãos. Eu confio em você para fazer a escolha certa.

Sinceramente,

Darren W. Snyder

O papel caiu da mão de Gabby, sua pele úmida com o choque.


Ela deveria saber do que Darren era capaz quando encurralado em um
canto. Seu orgulho era tão frágil quanto falso, e ele não se importaria com quanto
dano colateral causaria em sua busca para se vingar.

O resto de sua família era de sangue frio, desde seu pai senador
desprezível até sua mãe conivente e de duas caras e os irmãos que mal podiam
esperar para segui-lo escada acima. Eles não pensariam em assassinar centenas
de inocentes para aumentar seus índices de aprovação em alguns pontos.

Gabby sabia o que estava reservado para ela - nada menos que uma
sentença de morte. O 'julgamento' a que Darren se referia seria justiça apenas no
nome, uma farsa feita para a TV com o objetivo de provocar histeria entre sua
base.

Quando terminassem de julgá-la no tribunal da opinião pública, o


veredicto seria unânime.

A execução de Gabby entraria para a história como uma vitória contra a


ameaça Alfa.

Não é de admirar que os soldados estivessem determinados a capturá-


la viva. Não bastaria desfilar seu cadáver diante das massas.

Muito melhor para o país testemunhar em horário nobre o destino


daqueles que ousaram ficar do lado dos Alfas.

Pela primeira vez, Darren havia pensado em seu plano até ao fim. Ele
não deixou escolha a não ser participar de seu próprio assassinato.

Caso contrário, centenas morreriam. Os Alfas. As Ômegas.

Maggie.
...Bronn.

Gabby enxugou as lágrimas com um gesto selvagem. Ela não queria


morrer... ela queria começar uma nova vida aqui, com Bronn ao seu lado.

Mas isso não foi possível. O melhor que ela poderia fazer seria salvá-lo,
a Maggie e a todos os outros com quem ela se importava.

Por isso, ela morreria mil vezes.

A porta da frente se abriu e bateu contra a parede. Gabby saiu correndo


do quarto para encontrar Bronn parado logo acima da soleira.

— Gabriella, — disse ele, cansado. — Você está bem?

— Claro, — ela disse muito rapidamente.

Ele olhou ao redor da sala, sem esconder seu ceticismo.

— Você não está, — ele disse eventualmente. — Pude sentir sua aflição
na casa de Axel.

Merda. Gabby não sabia se ria ou chorava. Ela conseguiu o que queria,
no final, porque mesmo quando ela estava sozinha, Bronn nunca estava longe.

Mas ela ainda tinha que salvá-lo. Gabby pensou rápido.

Ela não teve que fabricar a oscilação em sua voz. — É apenas... Acho
que não sabia como seria difícil. Saindo de casa.

O músculo do queixo de Bronn se contraiu. Ele não acreditou nela.

Antes que ele pudesse passar por ela para revistar o quarto, Gabby se
endireitou e forçou um sorriso. — Mas sobreviverei. Só preciso trocar de roupa e
já venho.
Os olhos de Bronn se estreitaram, mas ele não conseguiu fazer
nenhuma objeção. — Tem certeza que está tudo bem?

— Totalmente bem. Vá em frente.

Seu escrutínio parecia um holofote de mil watts. — Eu acho que vou


esperar por você.

— Oh. Ok. Sem problemas.

Gabby sabia quando estava vencida. Sua única opção agora era...

Ela estava sem opções. Ele viu através dela. Sabia quando ela estava
mentindo.

Mas ele não sabia sobre a carta e ela não ia deixá-lo descobrir. Ela
levantou um dedo em um gesto de — só um segundo— e disparou para seu
quarto, fechando a porta atrás dela. Movendo-se rapidamente, ela enfiou a carta
na mochila e a cobriu com a colcha. Trinta segundos para trocar de roupa, e ela
estava mais pronta do que nunca.

— Tem certeza que está tudo bem? — ele perguntou novamente


quando ela voltou. Desta vez, foi Gabby quem não ousou olhar para ele.

Porque se o olhar em seus olhos combinasse com a tristeza em seu tom,


ela estaria perdida.

Em vez disso, ela passou por ele e abriu a porta. Nenhuma resposta era
melhor do que uma que o traísse.
CAPÍTULO 21
Bronn

Bronn não nasceu paciente.

Era a qualidade que mais irritava seu avô.

— Você com certeza é um teimoso, — ele costumava dizer.

Foi só depois de passar um tempo no Porão que Bronn percebeu que


seu avô também não havia nascido paciente, mas havia aprendido isso da
maneira mais difícil. Três viagens ao exterior nas forças armadas tinham uma
maneira de instilar essa característica em um homem.

O avô de Bronn não falava muito sobre os horrores que presenciara,


mas contava histórias sobre as horas intermináveis jogando cartas em uma tenda
sufocante à espera de autorização, de pedidos, de consertos de veículos, de
reabastecimento.

Bronn poderia se relacionar. No Porão, ele passou a preferir as surras às


horas e dias intermináveis em sua cela sem nada para fazer, ler ou assistir. Com o
tempo, porém, ele aprendeu a se render ao silêncio, a se concentrar em
sobreviver a um momento, depois ao próximo e ao próximo.

Assim como seu avô costumava dizer: — Eventualmente, até um idiota


como eu descobre.
Depois de escapar, Bronn percebeu que não usaria mais essas
habilidades... mas isso foi antes de Gabby. Ela era um problema sem solução
rápida e sem respostas fáceis, e ela estava se tornando tão teimosa quanto ele, se
não mais.

Então, quando ela se recusou a contar a ele o que a deixou tão agitada,
quando ela mentiu e disse que estava bem, Bronn não se preocupou em lutar
contra ela. A forte resolução em seu cheiro o convenceu de que não mudaria
qualquer coisa. Sua única opção, a única área em que ele sabia que suas próprias
habilidades de relacionamento superavam as dela, era esperá-la.

Então ele se forçou a ignorar o desespero, o engano e o medo atrás dela


enquanto caminhava na frente dele em direção à casa de Axel.

Em vez disso, ele tentou descobrir o que poderia ter acontecido para
assustá-la ainda mais do que ser cercada pelas Forças Especiais... e por que ela
estava tão determinada a manter isso para si mesma.

Bronn pode não conhecer Gabriella há muito tempo, mas ainda a


conhecia muito bem. Ela foi forte o suficiente para superar seu medo e
inexperiência para escapar de agentes Beta endurecidos para sobreviver.

Mas aquela tinha sido uma situação de luta ou fuga, e esta não era.

Qualquer que fosse a ameaça, ela estava gastando tempo para pensar
em uma resposta, um plano de ação – e ela não estava compartilhando com ele.

Essa foi a parte que mais o deixou perplexo. Ela tinha que saber que ele
seria um trunfo em quase qualquer luta. Não apenas ele, mas todo o exército de
irmãos. Mas se ela não estava tentando alcançá-lo, isso significava que ela estava
enfrentando um problema que não poderia ser resolvido com força bruta e
selvageria.

Bronn ficou perto enquanto caminhavam para a casa de Axel. Ele não se
importava em andar atrás dela, pois isso lhe dava uma visão de 360 graus de
qualquer coisa que pudesse prejudicá-la, mas nada parecia fora do comum.

Uma vez lá dentro, as coisas continuaram parecendo estranhas. Em vez


de falar o que pensava como fazia em todas as outras conversas que Bronn havia
testemunhado, Gabby ficava quieta enquanto os irmãos Alfa de Bronn falavam
sobre estratégias - mesmo quando tinham a ver com ela.

Ela tinha pouco a dizer sobre o plano que eles bolaram para ela retomar
suas caminhadas diárias pela manhã enquanto eles a rastreavam do perímetro. Se
a decisão de tentar atrair as forças invasoras a assustava, ela não o disse. Na
verdade, Gabriella parecia perdida em pensamentos, os olhos desfocados e o café
esfriando na caneca.

O mais preocupante de tudo era que ela mal falava com Maggie. Além
de um longo abraço quando chegaram, Gabriella quase parecia estar fazendo um
esforço para não olhar para sua melhor amiga.

A única exceção foi quando Bronn ouviu as mulheres conversando na


cozinha.

— Você acha que eu poderia pegar seu telefone emprestado hoje à


noite? — Gabriella perguntou em um tom abafado.

— Claro, mas... — A testa de Maggie enrugou com preocupação. — Tem


alguma coisa errada? Tem alguma coisa...
Gabriella dispensou sua preocupação. — Faz um tempo desde que
verifiquei meus e-mails e mensagens. Provavelmente devo ver se alguém me
contatou sobre o, você sabe... o ataque.

Maggie pressionou o telefone na mão de Gabriella. — Espero que eles


não estejam tentando amordaçar os grupos de direitos Alfa, — disse ela com
fervor. — Courtney estará de volta na segunda-feira, vamos pedir a ela para fazer
algumas perguntas.

Mas Bronn percebeu a mentira, e isso apenas aprofundou sua


preocupação.

Que uso Gabriella de repente teria para um telefone? Com quem ela
planejava entrar em contato?

Quando os Alfas finalmente terminaram de falar e foram para casa


dormir um pouco antes de voltarem cedo na manhã seguinte, Bronn também se
despediu. Mas, em vez de voltar para casa, ele se posicionou perto da cabana
dela, escondido atrás das densas sempre-vivas, e esperou.

Não demorou muito para que ela chegasse, acompanhada de Axel e


Maggie, que se despediram brevemente sem entrar. A porta se fechou atrás de
Gabriella — mas depois as coisas ficaram mais estranhas.

Gabriella não foi para a cama. Ela não colocou os pés na frente do fogo.
Em vez disso, Bronn podia ouvi-la se movendo com propósito. Primeiro veio o
farfalhar de papéis e o som de uma caneta esferográfica rabiscando um ou dois
parágrafos. Então o barulho de cabides enquanto ela selecionava roupas limpas e
o som de zíperes e fivelas enquanto ela se vestia. O que quer que ela estivesse
planejando envolvia suas botas de caminhada de sola grossa.
Pior do que não saber suas intenções era ser mais do que capaz de ler
suas emoções. Enquanto Bronn permanecia em perfeita imobilidade, o medo de
Gabriella se transformou em pavor. À medida que a noite avançava, a última e
tênue camada de esperança se desvaneceu, substituída por tristeza e resignação.

Mas então, de repente, o turbilhão de seu cheiro desapareceu. Não


mudou. Nenhuma outra emoção veio tomar seu lugar. Seu cheiro simplesmente
desapareceu, assim como as batidas de seu coração e o som de sua respiração.

Bronn ficou tenso, confuso. Mesmo uma pessoa moribunda não


desligava tão completamente em um instante. Foi como se um interruptor tivesse
sido acionado e Gabriella tivesse desaparecido.

Mas isso era impossível. Gabriella era uma mulher incrível, mas ainda
estava sujeita às leis da física e da biologia e...

Algo estava errado, tão completamente fodido que Bronn estava se


movendo antes que pudesse se conter, espinhos gelados de advertência
espetando seus membros e fazendo seu pulso disparar.

Mas depois de apenas alguns passos, Bronn parou, derrapando na terra


macia e quase colidindo com uma árvore. O cheiro de Gabriella havia
desaparecido, mas ela não.

A uns dez metros de distância, ela saiu da cabana, fechou a porta atrás
de si e subiu a trilha.

Além do fato de estar ao ar livre na calada da noite, ela fez várias outras
escolhas estranhas. No lugar do jeans e do suéter que usava antes, ela estava
envolta no que parecia ser um tecido sintético estampado com a mesma
camuflagem universal preferida pelas forças armadas Beta, além de uma máscara
facial com capuz do mesmo design.

Mais estranho ainda, ela não fez barulho enquanto se movia. Outra
impossibilidade porque Bronn podia ver os galhos quebrando e as rochas agitadas
sob seus passos - mas era como se a trilha sonora de um programa de televisão
tivesse sido desligada. Ele ainda podia ouvir os sons da outra noite - o farfalhar
das folhas, o piar triste de uma coruja - apenas não ela.

Se Bronn não estivesse vigiando a cabana, se ele não tivesse saído de


debaixo da cobertura das sempre-vivas, havia uma boa chance de que ela
pudesse evitá-lo completamente. O pensamento o gelou até aos ossos.

O que diabos estava acontecendo? Bronn com certeza iria descobrir,


mas confrontá-la não era o caminho certo. A julgar pela maneira como se fechara
antes, Gabriella estava determinada a manter sua missão em segredo.

Ele partiu atrás dela, movendo-se quase tão silenciosamente quanto


ela, graças à discrição natural dos Alfas. Ele pretendia descobrir para onde ela
estava indo e por quê antes de tornar sua presença conhecida.

Mas quando ele se aproximou da cabana, algo chamou sua atenção...


um grande envelope pardo pregado na porta. O nome de Gabriella estava
impresso em letras grandes na frente, mas ela riscou com uma caneta — e
escreveu o nome dele.

Ele olhou da carta para sua forma sombria desaparecendo na floresta e


rasgou o envelope. Mesmo com uma grande vantagem, ele ainda a ultrapassaria
facilmente.
Dentro do envelope havia uma pilha de fotografias e alguns papéis, um
deles um bilhete endereçado a ele.

Querido Bronn,

Esta não é a carta que quero escrever para você. Se houvesse alguma
outra forma, por favor, acredite que eu aceitaria.

O tempo que passei com você foi o melhor da minha vida. Eu nunca
sonhei que poderia ser verdadeiramente feliz com um homem, não depois de más
decisões que foram feitas no passado e suas consequências. Mas você me fez
sentir segura. E você me fez sentir como se eu fosse importante.

Estou escrevendo isso porque preciso que você saiba o quanto eu


desejei que as coisas não precisassem terminar assim. Se eu pudesse realizar um
desejo, seria ficar aqui com você para sempre.

Mas foi você quem me disse que não pode fugir do seu passado. Que
você só pode aceitar e seguir em frente. E meu passado tem me seguido até aqui
de maneiras que ameaçam todos na fronteira.

Depois de examinar o conteúdo deste envelope, você verá que não


havia outra decisão que eu pudesse tomar. Meu ex-noivo e seu pai são homens
poderosos com conexões até ao presidente, e não fazem ameaças sem saber que
podem apoiá-los.

Se eu não me entregar, ele destruirá esta terra e todos morando aqui.


Eu nunca poderia ficar parada e deixar isso acontecer. Não por meus amigos... e
especialmente não por você.
Você não apenas salvou minha vida naquele dia, Bronn... restaurou
minha fé. Você cuidou de mim quando teria sido muito mais fácil abandonar. É
quem você é, e se você duvidar de mim, pergunte a Axel e seus outros irmãos Alfa.
Porque eu não tenho dúvidas de que você salvou alguns deles também.

Minha mais querida esperança é que algum dia você entenda que há
muito mais para você do que o que aconteceu no passado. Que você nunca
poderia se tornar o monstro que aqueles bastardos doentes tentaram moldar
você.

Você é um bom homem, Bronn. Alguém digno de amor.

Eu deveria saber porque eu te amo. E esse amor é o que me dá a força


que eu preciso agora.

Não tenho o direito de pedir mais nada a você, mas imploro que me
perdoe, e a si mesmo para que você possa ser livre para viver a vida que merece. E
prometa-me que se uma chance para o amor aparecer novamente, você a pegue.

Gabriella Pineda

Bronn olhou para a carta muito tempo depois que as palavras borraram
diante de seus olhos. Por fim, dobrou-a e enfiou-a cuidadosamente no bolso
antes de examinar as fotografias e os papéis, desdobrando a carta que o ex-noivo
bastardo de Gabriella havia enviado.

Descreveu sua ameaça em detalhes arrepiantes, depois passou a dar


instruções sobre o que ela deveria fazer a seguir.
Bronn esmagou a carta em seu punho enquanto a raiva crescia dentro
dele, tornando o mundo tão vermelho quanto o sangue que estava prestes a
derramar.

O ex de Gabriella era um verme que havia assinado sua própria


sentença de morte. Assim como todos os outros covardes que pensavam que
poderiam se esgueirar sem serem detectados para a terra Alfa e roubar o que era
dele.

Não esta noite... nunca.

Bronn apenas olhou para as fotos antes de jogá-las no chão e esfregá-


las na terra com a ponta da bota. Ele entrou na cabana brevemente e encontrou
os restos do que havia sido deixado para Gabriella - uma lata vazia de bloqueador
de cheiro e equipamento extra com estampa de camuflagem.

Capuz. Máscara facial. Luvas - todas muito pequenas para caber em um


Alfa.

Mas o poncho - o igual do que ela usava - era dimensionado para caber
até no maior soldado, pouco mais que um enorme lençol de tecido com um
buraco para a cabeça do usuário.

Bronn o vestiu. Não conseguiu cobri-lo completamente, mas ele faria


funcionar. Essas imagens térmicas vieram de satélites no alto do céu acima dele, e
se ele ficasse na cobertura das árvores, eles não detectariam o estranho flash de
movimento.

Além disso, só precisava funcionar brevemente. Só até Bronn estar


perto o suficiente para atacar.
Ele não tinha ideia de quantos soldados estariam esperando por ele.

Não havia tempo para convocar reforços desta vez, mesmo que
houvesse equipamento suficiente para seu exército de irmãos.

Bronn não se importava. Um batalhão inteiro pode estar esperando e os


enfrentaria sem hesitação.

Betas como eles o transformaram em um assassino frio, pouco mais que


uma máquina mortal. Agora eles seriam forçados a confrontar a besta que eles
criaram.

Pela primeira vez, Bronn viu que a violência que havia marcado sua
alma poderia ser usada não apenas para o mal... mas para a justiça. E agora ele
iria aproveitá-la para salvar a mulher que amava, para trazê-la para casa, onde ela
pertencia.

Para ele.

Essa certeza desencadeou uma emoção que iludiu Bronn por tanto
tempo que ele mal a reconheceu.

Orgulho.
CAPÍTULO 22
Gabriella

Era difícil acreditar que houve um tempo em que Gabby tinha medo
daquela floresta.

Quando ela chegou, imaginou ser atacada por ursos, lobos, cobras... e -
o mais assustador de tudo - Alfas. Cada estalo de um galho evocava pensamentos
de um predador a rastreando; todas as plantas e insetos ameaçavam envenenar.

Mas agora ela entendia que os maiores perigos para sua vida nunca
estiveram aqui em Ozark Boundaryland, mas no mundo que ela deixou para trás.
Que havia coisas muito mais perigosas do que garras e presas e até mesmo
gigantes de dois metros de altura. Que mesmo um homem tão fraco e patético
como Darren Snyder poderia causar sofrimento em uma escala que ela nunca
pensou ser possível em um Beta.

Depois de apenas meia temporada na natureza, Gabby ficou surpresa


ao perceber que ela não apenas se acostumou com isso, mas também passou a
amá-la.

Bem a tempo de deixar esta vida para sempre.

Não é de admirar que ela nunca tenha se sentido em paz em seu


luxuoso apartamento. Pode ter sido o auge do estilo, com todo o conforto que o
dinheiro pode comprar, mas no final, tinha sido uma jaula.

Não que ela tivesse sofrido como Bronn e seus irmãos.


Mesmo sua morte iminente dificilmente parecia comparável ao que
eles passaram. Mas Gabby entendia agora que a verdadeira liberdade não podia
ser comprada ou mesmo dada... tinha que vir de dentro. Assim como Bronn foi
algemado por suas memórias torturantes, Gabby foi atrofiada por expectativas -
de sua mãe, seus colegas, seus amigos, Darren... mas acima de tudo ela mesma.

Por que ela pensou que era tão importante subir aos níveis mais altos
de sua empresa? Tornar-se milionária aos vinte e cinco anos?

A esposa de um político proeminente com trinta? Nenhuma dessas


coisas a fez feliz. Ela nunca sentiu que era o suficiente. Como se ela tivesse
conquistado respeito suficiente, ou admiração, ou afirmação.

Aqui, porém, Gabby foi aceita desde o início. Não por seu título, saldo
bancário ou destaque na mídia social, mas por si mesma.

Ela aprendera que o único respeito que importava era o próprio... o que
lhe deu coragem para fazer o que tinha que fazer agora.

Infelizmente, enquanto caminhava pela floresta, suas forças


começaram a falhar. Não, não exatamente a força dela... mas algo estava
tornando cada vez mais difícil dar cada passo.

Gabby passou de correr para caminhar para o que parecia cambalear.


Ela lutou contra um peso de chumbo que apertava seu coração e apertava seus
músculos dolorosamente.

Por favor, ela rezou. Eu tenho que fazer isso. Eu não posso parar agora.

Algum instinto lhe dizia que a dor só aumentaria quanto mais ela se
afastasse de Bronn. Provavelmente era psicossomático, o resultado de reprimir a
dor que só poderia atrapalhar o que ela tinha que fazer. No momento em que
Gabby estava a menos de 400 metros da fronteira, ela estava lutando para dar
cada passo.

Mas sua dor não importava. Não poderia. Porque ela não conseguia
parar de salvar Bronn, ou mesmo todo o Boundaryland.

Gabby tinha que parar a Agente Hoss e os Snyders e qualquer ramo


distorcido das forças armadas Beta que foi encarregado de esmagar os Alfas. Ela
precisava iluminar seus planos sombrios até que todos os cidadãos Beta do país
entendessem que seus líderes de confiança não passavam de mentirosos,
covardes... e assassinos.

Gabby fez uma pausa para recuperar o fôlego e tirou o telefone de


Maggie do bolso. Já era tempo. Ela abriu o site da Society for Alfa Liberation and
Equality, a organização de defesa à qual Courtney pertencia. Ela estava prestes a
transmitir o vídeo da câmera para o fórum público quando percebeu que havia
um problema em seu plano.

Se ela estivesse segurando o telefone quando saísse ao ar livre na


fronteira, a primeira coisa que os Betas fariam seria pegá-lo dela. Ela tinha que
escondê-lo de alguma forma, mas também tinha que ter certeza de não bloquear
a lente.

O pânico se agitou dentro dela enquanto ela tentava freneticamente


pensar em uma solução... e então seus olhos se depararam com o reflexo da tela
de seu telefone no tecido de seu poncho.

Não, não o tecido, mas um painel de sensor costurado em um bolso de


tecido. Gabby não tinha ideia do que significavam os números na tela, mas havia
uma sensação de justiça poética em usar a própria tecnologia do governo para
colocá-los de joelhos. Ela cuidadosamente abriu o bolso e puxou o sensor até
rasgar a costura que o prendia no lugar... e o recolocou com o telefone voltado
para fora contra a tampa transparente.

Então, para o caso de o sensor poder denunciá-la, ela o enfiou dentro


do sutiã. Tome isso, idiotas, ela pensou com uma pequena sensação de triunfo.

Ela verificou duas vezes para ter certeza de que a lente da câmera
estava desobstruída. Por enquanto, quem visitasse o site da SALE veria apenas o
borrão escuro da floresta iluminada pelas estrelas.

Mas isso logo mudaria.

Gabby estava respirando com dificuldade quando chegou ao topo da


elevação onde sua caminhada geralmente terminava. Quando ela emergiu da
linha das árvores e caminhou para o campo aberto, luzes poderosas se
acenderam abruptamente, cegando-a momentaneamente.

— Mãos acima da cabeça, Pineda.

Gabby reconheceria aquela voz fria e calculista em qualquer lugar. A


última vez que ela tinha visto a agente Hoss, ela estava desmaiada em um ângulo
estranho no sofá branco de Gabby.

Infelizmente, parecia haver pouca chance de a agente perder qualquer


parte da ação esta noite. Enquanto Gabby lentamente levantava as mãos, alguém
ajustou as luzes para revelar quase uma dúzia de soldados dispostos de cada lado
de Hoss. Atrás deles havia uma fileira de veículos do Exército construídos para
todas as condições de batalha imagináveis: jipes, quadriciclos, caminhões e até
mesmo um veículo de assalto anfíbio modificado.

— Estou surpresa por você ter aparecido pessoalmente, agente Hoss, —


disse Gabby, sem se preocupar em disfarçar seu desdém. Saber que não havia
nada que ela pudesse fazer para impedir seu destino era surpreendentemente
libertador. — Achei que você enviaria seus subordinados para fazer o trabalho e
assisti-lo em tempo real de algum lugar seguro. Como quando você enviou o
Agente Singh para a morte.

Era um palpite, mas o brilho na careta tensa de Hoss sugeria que Gabby
havia acertado seu alvo. Não que fizesse diferença para o resultado desequilibrá-
la, mas ver Hoss suar era satisfatório.

Alguns dos soldados se entreolharam incertos, e Gabby imaginou que


eles não sabiam que sua oficial superior havia desistido da missão que terminou
em um banho de sangue e custou a vida de seus camaradas. Ela suspeitava que a
moral da tropa estava prestes a despencar.

— Deixe-me expressar minhas condolências, a propósito, — Gabby


continuou conversando. — Sinto falta daquelas longas conversas que o Agente
Singh e eu costumávamos ter. O cara nunca cala a boca, certo?

Hoss parecia que estava prestes a explodir. — Depois de sua última


proeza, nossas ordens eram para limpar sua bagunça pessoalmente. Acredite em
mim, Pineda, quando terminarmos, você não será nem uma lembrança neste
lugar.

— Nós? — ela perguntou. — Você realmente substituiu Singh tão


rapidamente?
A porta de um dos veículos se abriu, e um homem saiu e começou a
caminhar em direção a eles, abrindo caminho através do mato em caros
mocassins italianos com sola de couro que Gabby reconheceria em qualquer
lugar.

Que diabos Darren estava fazendo aqui? Em seu terno Saville Row e o
pesado relógio de ouro, ele estava ridiculamente deslocado entre as tropas,
especialmente quando franzia a testa e limpava fiapos imaginários da manga.

Gabby engoliu em seco e tentou se ajustar a esse novo


desenvolvimento.

A quem quer que Hoss se reportasse, eles deveriam ser muito


poderosos para dar ordens a um membro da potência política que era a família
Snyder.

Ela resistiu ao impulso de verificar o telefone e certificar-se de que


ainda estava gravando. Trazer a corrupção de Darren à tona enviaria ondas de
choque pela capital do país, mas aparentemente a podridão seria ainda mais
profunda se uma figura sombria nos bastidores estivesse puxando as cordas.

Gabby se recusou a deixar Darren ver seu choque. — Imagine ver você
aqui, — ela disse calmamente. — Eu não tinha ideia de que nosso pequeno mal-
entendido era importante o suficiente para você e seu pessoal aparecerem
pessoalmente.

O rosto de Darren ficou vermelho com a sugestão de que ele era


superado por um mero agente do governo. — Você me causou muitos problemas,
Gabriella, — ele disse acusadoramente. — Você e seu novo cachorro de colo.
Demorou um segundo para Gabby perceber que ele estava se referindo
a Bronn, tão absurdo era o pensamento de alguém tão esquelético e covarde
como Darren descrevendo um Alfa dessa maneira.

— Bronn não fez nada com você, — ela respondeu, rezando para que a
câmera captasse tudo o que estava sendo dito. — Você é o único que enviou
agentes para invadir a terra Alfa, que você sabe muito bem que é contra a lei. Eu
pensei que você teria aprendido sua lição quando você tentou me sequestrar.

— Suficiente! — Hoss gritou. Seu rosto ficou vermelho de raiva e Gabby


quase podia provar sua fúria.

Temperamento, temperamento, ela quase observou, mas incitar a


mulher longe demais não parecia sensato, considerando a forma como seus
dedos estavam se contorcendo ao lado de sua pistola no coldre.

— Eu não vim a este lugar esquecido por Deus apenas para ouvir vocês
dois brigando, — disse Hoss depois de se recompor. — De joelhos, Pineda.
Mantenha suas mãos onde eu possa vê-las se você quiser mantê-las.

Gabby nem teve chance de obedecer antes que os soldados mais


próximos levantassem seus rifles. — Está bem, está bem! — ela disse, caindo
apressadamente de joelhos. — Eu não quero nenhum problema.

Dois soldados ultrapassaram a linha divisória e amarraram as mãos de


Gabby atrás dela com laços de plástico, apertando-os desnecessariamente antes
de puxá-la de pé - mas pelo menos o telefone no bolso de seu poncho
permaneceu desobstruído.
— Pineda, você só tem causado problemas, então terá que me
desculpar por não acreditar em sua palavra. Especialmente, porque a última vez
que você me fez uma promessa foi pouco antes de drogar todos na sala.

Gabby abaixou a cabeça para sinalizar remorso, embora, na realidade,


ela estivesse sentindo vontade de rir. Se Hoss fosse a melhor que eles tinham, o
governo Beta estava muito acima de suas cabeças, não importa o que
acontecesse esta noite.

— Perkins! — Hoss chamou um soldado que Gabby não havia notado


até agora. Ele estava sentado em um dos quadriciclos, olhando para um laptop
aberto.

— Alguém a seguiu?

Depois de um tenso momento de silêncio, ele ergueu a cabeça. —


Todas as varreduras de satélites térmicos são negativas.

— Imagine isso, — disse Hoss com falsa surpresa, voltando-se para


Gabby. — Você conseguiu dizer a verdade pela primeira vez.

— Você não me deu nenhuma escolha. Eu não ia deixar você matar


pessoas inocentes.

— Inocentes? — Darren a desafiou, indignado. — Não existe tal coisa


quando se trata de Alfas. Para dizer a verdade, Gabriella, eu quase gostaria que
você não tivesse aparecido. Eu teria um assento na primeira fila para ver a mão de
Deus chover fogo sobre este novo Sodoma e Gomorra.
Gabby sentiu uma onda de náusea com a invocação casual de Deus por
Darren. Como ela poderia ter dado anos de sua vida para este monstro? Nenhum
Deus em que ela pudesse acreditar faria algo tão maligno.

Ela se forçou a lembrar que tudo o que importava era capturar a


confissão involuntária de Darren na câmera. — Eles são apenas pessoas, Darren.
Você e seu governo já não os submeteram o suficiente? Ou trancá-los naquele
buraco infernal de um laboratório secreto durante anos foi apenas um
aquecimento?

— Inacreditável, — disse Darren, suas palavras misturadas com seu tom


superior característico. — Um mês foi o suficiente para esses animais fazerem
uma lavagem cerebral em você. Ou foi outra coisa? Você desenvolveu o gosto de
comer carne vermelha Alfa todas as noites?

Gabby se lançou para ele antes que pudesse pensar e foi recompensada
com um golpe no ombro com a coronha de uma pistola. Darren se permitiu um
leve sorriso enquanto ela cambaleava para ficar de pé.

— Sabe de uma coisa, Gabriella, no começo eu pensei que ninguém


acreditaria na história que o chefe de Hoss inventou. Que seria um erro
espalharmos a notícia de que você sempre foi uma simpatizante Alfa, quando
você estava com um dos homens mais poderosos do país. — Ele não pôde deixar
de se vangloriar de sua própria autocongratulação. — Mas agora estou
começando a achar que ele estava certo.

Gabby balançou a cabeça em descrença, surpresa que Darren ainda


pudesse surpreendê-la com as profundezas a que ele estava disposto a afundar.
— Você quer saber a melhor parte deste último mês? — ela exigiu — Eu
não tive que ouvir você tagarelando sem parar o dia todo. Você sabia que existem
homens que não sentem a necessidade de compartilhar todos os pensamentos
insípidos que têm?

O rosto de Darren se contraiu de fúria, como sempre acontecia quando


alguém o criticava. — Foda-se, Gabriella, você não sabe...

Suas palavras foram cortadas quando Hoss o rebateu. — Fale baixo, seu
idiota! Esses desgraçados podem ouvir um rato mijar a cinco quilômetros de
distância!

Darren esfregou o queixo, os olhos arregalados. Teria sido engraçado se


ele não fosse o mais cruel quando foi feito para se sentir pequeno. Se ele tivesse o
grande botão vermelho agora, Gabby tinha certeza que ele o apertaria.

Hoss o ignorou e acenou com a cabeça para seus homens. Gabby


percebeu que ela estava ficando sem paciência. — Segure-a quieta.

Dois deles agarraram seus braços com força, embora ela não fosse uma
ameaça para ninguém com os pulsos amarrados. — Não se preocupe, Pineda,
você terá muita paz e sossego em sua cela em algumas horas. Você ficará na
solitária enquanto aguarda o julgamento. Nada além de você e quatro paredes de
concreto. Pronto?

Esse último parecia ser para Darren, que hesitou brevemente antes de
decidir parar de fazer beicinho e a seguiu até à fronteira.

Gabby se encolheu de Hoss involuntariamente e foi recompensada com


uma forte sacudida.
O rosto de Hoss estava impassível quando ela circulou atrás de Gabby e
colocou as mãos em seus ombros.

— O que você está fazendo? — Gabby engasgou. Ela poderia ter


aceitado sua morte, mas ela não estava preparada para Hoss tocá-la.

— Revistando você. Eu terminei com seus truques.

Foi mais como dar um tapa nela, mas Gabby se manteve imóvel,
sabendo o que estava por vir.

— O que diabos é isso? — Hoss exigiu quando ela chegou à frente.

Gabby deu de ombros. — Apenas mais um truque.

Hoss arrancou o telefone do bolso, xingando quando viu o vídeo. Ela


jogou o telefone no chão e pisou nele com a bota, repetidamente até que a tela
foi quebrada. Ela se ergueu em toda a sua altura e olhou nos olhos de Gabby, sua
boca era uma linha fina de raiva.

— Para quem você estava transmitindo isso?

— Você não consegue adivinhar? — Gabby disse timidamente. —


Foram vocês que disseram ao público que sou uma espiã de direitos Alfa.

Hoss olhou para ela por um longo momento, seu rosto pálido. Então ela
deu um passo para trás como se tivesse sido queimada. — Puta merda, — ela
respirou, cobrindo o rosto com as mãos antes de jogá-las fora novamente.

Darren parecia confuso. — Isso é... ruim?

Hoss se virou para ele e, por um momento, Gabby pensou que estava
prestes a bater em Darren. Em vez disso, ela gritou a centímetros de seu rosto.
— Aquela putinha com quem você quase se casou acabou de te filmar
confessando abertamente vários crimes federais, e você pergunta se isso é ruim?
Aqui está uma pista, Snyder - amanhã pode estar em toda a internet. Isso ajuda?

Darren enrijeceu. — O que eu quis dizer, — disse ele com uma tentativa
de dignidade, — é quão ruim é?

— Bem, vejamos, — retrucou Hoss. — Meu chefe vai querer nossas


cabeças por isso, e isso não é uma figura de linguagem. A menos que...

Hoss virou-se para olhar para Gabby, esquecendo-se de Darren. — A


menos que eu traga a cabeça dela em um prato primeiro.

Ela puxou a pistola do coldre e apontou para a cabeça de Gabby.

— Eu não sei, — disse Darren incerto. Ele realmente era muito mais
estúpido do que Gabby jamais imaginou. — Ele vive dizendo que quer um
julgamento. Lembra? Para influenciar a opinião pública?

Hoss lançou-lhe um olhar fulminante. — Eu não posso acreditar que um


idiota como você está concorrendo a um cargo público. O que ele queria era um
pedido público de desculpas antes que ela desaparecesse silenciosamente para
sempre, mas você estragou tudo também. Então a próxima melhor coisa é matá-
la, descobrir para onde ela enviou o vídeo e se antecipar. Eles vão alegar que foi
uma farsa profunda e revidar com força.

Gabby não gostou do som disso, mas por outro lado, ela estava se
sentindo melhor, apesar do golpe no ombro e das algemas cortando
dolorosamente seus pulsos. O peso que ela sentiu no caminho até aqui se
dissipou, e seu sangue parecia estar pegando fogo.
A sensação a encorajou, assim como o conhecimento de que ela não
tinha nada a perder. Ela olhou Hoss diretamente nos olhos.

— Se você me matar, nunca vai saber para onde mandei o vídeo.

Os lábios de Hoss se apertaram com tanta força que quase


desapareceram.

— Sua cadela, — ela vociferou, empurrando o soldado que a segurava.

Ele quase parecia aliviado por recuar. — É assim que você quer jogar?
Porque estou mais do que feliz em extrair a verdade de você antes de falar. Você
estará gritando pela morte quando me contar tudo.

Gabby engoliu em seco, percebendo que poderia ter ido longe demais -
e teve uma lembrança repentina de estar na cama de Bronn com a cabeça dela no
peito dele e os braços dele em volta dela.

Se houvesse um céu, seria isso. Dela. Bronn. Para sempre.

Hoss puxou Gabby para a frente. — Vamos. Eu não tenho tempo para...

— Temos um sinal, senhora, — disse o soldado com o laptop.

Hoss congelou. Pela primeira vez esta noite, ela parecia incerta. — Quão
perto?

— Perto, senhora. — Havia pânico inegável em sua voz. — Menor que...

Suas palavras foram interrompidas por um grito - um som sobrenatural


de pura dor e terror que continuou sem parar.

Gabby seguiu um flash de movimento e viu um dos soldados cair de


joelhos na terra, tocos sangrentos onde deveriam estar seus braços.
O caos começou quando o resto dos soldados começaram a atirar
cegamente na floresta. Hoss aumentou a velocidade, arrastando Gabby na
direção dos veículos com uma força surpreendente.

— Segure-os! — ela gritou inutilmente.

Gabby virou a cabeça, mas não conseguiu entender a cena.

Movimentos indistintos entre os soldados — alguns atirando, outros


cambaleando, alguns no chão. Houve muita gritaria.

Bronn.

Tinha que ser, e toda a sua maldita tripulação. Mas como um exército
inteiro de Alfas poderia escapar da detecção pelos satélites térmicos?

Um rugido cortou a noite como se fosse uma resposta. Gabby conhecia


aquele rugido. Ele veio para salvá-la.

A alegria que a encheu durou pouco. Se Bronn a salvasse, o chefe de


Hoss cumpriria sua promessa e lançaria os mísseis, reduzindo Ozark Boundaryland
a escombros fumegantes.

Eles alcançaram um dos caminhões, Darren logo atrás, e Hoss estava


com a mão na maçaneta da porta quando os gritos cessaram e um novo som
encheu o ar.

Um rosnado baixo e chacoalhante de pura raiva... e estava bem atrás


deles.

Hoss desistiu na porta e puxou Gabby na frente dela como um escudo,


empurrando a arma dolorosamente contra sua cabeça. Ao lado dela, Darren
estava paralisado de medo, o cheiro de mijo subindo dele.
— Deixe ela ir. — Bronn saiu das árvores e foi para os faróis, parecendo
cada pedaço do monstro que ele descreveu ser. Ele era incrivelmente grande em
silhueta, ombros jogados para trás, músculos ondulados, queixo como pedra. O
sangue escorria de suas mãos. Suas roupas estavam salpicadas de sangue.

Não, não um monstro, mas um anjo vingador com o poder e a glória da


retidão.

— Mais um passo, e eu vou matá-la. — Hoss enfiou o cano no crânio de


Gabby, mas ela se recusou a recuar, com os olhos em seu Alfa.

— Bronn, pare, — implorou Gabby. — Você não entende. Você tem que
voltar para casa agora, ou algo horrível acontecerá.

Bronn riu, um som terrível. Darren soltou um pequeno gemido.

— Se você quer dizer que este pequeno verme vai chorar para seu pai,
deixe-o. Não tenho medo de nada que o exército Beta possa jogar contra nós.

— Você-você sabe sobre isso? — Ele deve tê-la seguido e encontrado o


bilhete. — Então você sabe que o que está em jogo é mais importante do que a
minha vida. Nós... — A voz de Gabby se transformou em um soluço, mas ela o
conteve. — Não temos escolha.

Bronn sustentou o olhar dela, e o curioso pulsar nas veias de Gabby se


intensificou, como se eliminasse sua incerteza e medo. Ela não poderia desviar o
olhar mesmo que quisesse, uma conexão invisível girando entre eles como os fios
de seda de uma teia, milhares de vezes mais forte do que qualquer um poderia
imaginar.
— Passei anos acreditando que não tinha escolha, — trovejou Bronn.
— Agora, eu sei que sim. Estou escolhendo você, Gabriella.

Suas palavras roubaram seu fôlego. Eles a lembravam do que sua mãe
sempre dizia.

Sempre há uma saída.

Seus olhos permaneceram nos dela, e um sentimento de retidão se


espalhou por ela.

— Nós podemos fazer isso. — Essas palavras foram feitas apenas para
ela. Darren e Hoss poderiam muito bem estar em outro planeta. — Apenas
lembre-se do que eu te ensinei naquela primeira noite - quando você balançar,
use todo o seu corpo.

Gabby despencou do alto etéreo em confusão. O que ele quis dizer? O


que cortar lenha poderia ter a ver com tudo isso?

Então ela viu Bronn puxar algo de seu cinto. O aço brilhou quando ele o
estendeu para ela.

A machadinha — aquela que ela havia deixado encostada na lateral da


cabana.

Deixou a mão de Bronn em uma espiral em câmera lenta, e Gabby


instintivamente soube o que fazer.

Ela se contorceu nos braços de Hoss e pegou a machadinha com as


mãos amarradas. O tempo pareceu acelerar quando os dedos de Gabby se
fecharam ao redor do cabo, e o ímpeto fez o resto. Ela continuou girando até que
a lâmina se enterrou no lado da agente com um baque doentio.
Hoss gritou quando ela caiu, sua arma disparando antes de voar de sua
mão, mas a bala pegou apenas folhas acima deles.

Gabby se virou para ver a mão de Bronn em volta do pescoço de


Darren, levantando-o do chão. — Você, — ele rugiu.

— P-por favor, por favor, não...

Bronn deu-lhe uma forte sacudida. — Eu sei quem você é. Você é a


causa de tudo isso. Você machucou Gabriella.

Lágrimas escorriam pelo rosto de Darren. Levou algumas tentativas


distorcidas para pronunciar suas próximas palavras. — Eu sou. Eu nunca...

Bronn jogou a cabeça para trás e rugiu.

— Tudo bem, fui eu, — Darren lamentou enquanto os ecos diminuíam.

— Sinto muito, sinto muito.

— Não sinto muito, — Bronn vociferou.

— Eu sou um homem muito importante, — Darren resmungou. — O


que você quiser, eu posso conseguir para você.

— O que eu quero, — disse Bronn friamente, com o rosto a centímetros


do de Darren, — é que você saiba como é levar um soco de alguém muito maior e
mais forte do que você.

— Não, — chorou Darren. — Oh, Deus não.

Gabby estremeceu e fechou os olhos com força. Houve um baque forte


e, quando ela os abriu novamente, o corpo de Darren jazia no chão com um
buraco em forma de punho onde costumava estar seu rosto.
Os joelhos de Gabby se dobraram, mas Bronn a segurou, puxando-a
para seus braços. Instantaneamente, o pior de seu medo desapareceu. — Você
não deveria ter feito isso, — disse ela, batendo os dentes.

— Ele mereceu.

— Não. Quero dizer, você não deveria ter vindo atrás de mim. Não vale
a pena. Você deveria ter me deixado morrer.

— Não minha mulher, — Bronn murmurou. — Nunca.

O coração de Gabby acelerou. Ela era sua mulher. Mas sua alegria foi
ofuscada pela enormidade do que aconteceria agora.

— Eu nunca deveria ter vindo aqui, — ela disse calmamente, deixando


sua cabeça cair contra o peito dele. — Isso é tudo minha culpa. Nossos amigos,
nossos irmãos e irmãs, todos eles vão morrer por minha causa.

Bronn se afastou e a forçou a olhar para ele. — Eles não vão. Porque
você vai salvá-los.

Gabby balançou a cabeça em desespero. — Como eu poderia fazer isso?

— Eu não sei, — ele admitiu. — Mas você vai. Você tem isso em você,
Gabriella. Você é mais inteligente e mais forte do que imagina. Se alguém pode
encontrar uma maneira de sair disso, é você.

Há um caminho, um caminho para cima, uma saída. Você só precisa ser


corajosa o suficiente para encontrá-lo.

As palavras de sua mãe ecoaram em sua cabeça.

Ela colocou as mãos no peito de Bronn e sentiu as batidas lentas e


constantes de seu coração e deixou seus olhos se fecharem. Seu próprio pulso
combinava com o dele, e sua respiração desacelerou. Ela se concentrou na
conexão entre eles, aquela que a excitava e a levantava para fazer coisas que ela
nunca sonhou que pudesse.

Um rádio estalou.

E a resposta veio a ela.

Gabby seguiu o som até um dos soldados caídos. Tentando não olhar
para o corpo em pedaços, ela puxou o dispositivo de sua jaqueta e apertou o
botão.

— Aqui é Gabriella Pineda, — ela disse com uma voz forte e clara. —
Traga-me o homem responsável.

Houve uma pausa chocada - então, — Sim, senhora.

Em menos de trinta segundos, ela ouviu uma voz masculina fria e


composta. — Senhorita Pineda.

— Com quem estou falando?

— Você perguntou pelo homem responsável, sim?

Gabby respirou fundo. Ela não precisava saber o nome dele para fazer
isso. — Seu pessoal está morto.

— Estou ciente.

— Ótimo. Então você já sabe que precisa cancelar o ataque com


mísseis.

— Porque eu faria isso? — Ele parecia quase divertido.


— Se você está acompanhando o que está acontecendo aqui, sabe que
o vídeo já está na internet. Pela manhã, milhões de pessoas o terão visto. Mais
importante, eles saberão exatamente a quem culpar pelo que aconteceu aqui
esta noite.

— A família Snyder, — disse ele calmamente. — É um risco que estou


disposto a correr.

Gabriella pensou em Darren, no que restava dele, caído no chão. Então


ela se lembrou do olhar presunçoso em seu rosto quando ele estava pronto para
matá-la e a todos que ela amava.

— Você está certo. O mundo vai culpar os Snyders porque eles são os
únicos que Darren implica em seus crimes. Agora, você e o governo Beta podem
descartar ele e sua família como sementes ruins, personagens desonestos. Mas se
você continuar com seu plano de bombardear este lugar, você vai provar que isso
vai além deles. Que há outra pessoa no comando do navio.

A voz do outro lado parou por um momento. — Mas eles não saberão
que sou eu.

— Não a princípio, — ela admitiu. — Mas ainda há pessoas que se


preocupam com a verdade. Jornalistas que vão se perguntar quem pode ser o
misterioso chefe de Hoss. Ativistas com muito mais coragem do que vocês jamais
imaginaram. Então, acho que a verdadeira questão é se Darren e a agente Hoss
conseguiram estragar tão mal esta pequena missão, quão bem você realmente
acha que eles cobriram a trilha que leva de volta a você?

Desta vez, o silêncio se estendeu. Gabby se contentou em esperar.


— Você ganhou desta vez, senhorita Pineda, — disse finalmente a voz
fria e desencarnada.

Gabby jogou o rádio na floresta.

— Certo que eu ganhei.


CAPÍTULO 23
Gabriella

Não houve mais conversa sobre por que eles não poderiam ficar juntos
depois disso.

Na verdade, não houve mais conversa alguma.

No momento em que o rádio tocou o chão, Bronn pegou Gabby em


seus braços e a carregou - sobre os soldados mortos, sobre a fronteira entre as
terras de Axel e as dele, e finalmente de volta para casa.

A casa deles.

O pensamento foi filtrado pela névoa do choque, e Gabby se aninhou


mais perto do peito de Bronn, apreciando a sensação de segurança. Não apenas
neste momento, mas para sempre. Ela nunca mais teria que enfrentar nenhuma
ameaça sozinha.

Bronn a carregou pela soleira e pelo corredor até ao quarto, onde a


deitou na cama com tanto cuidado que trouxe lágrimas aos olhos de Gabby. Ela
nunca foi tratada dessa forma, como se fosse algo frágil e precioso - mas, ao
mesmo tempo, Bronn acreditou em sua força e capacidade quando ela achava
que não tinha muito.

Como essas duas coisas poderiam ser verdadeiras fazia parte do


mistério do vínculo entre eles, o vínculo que Gabby agora entendia havia se
enraizado no primeiro dia em que seus olhos se encontraram na clareira da
floresta. Tinha crescido de forma constante, apesar de ambos os esforços para
negá-lo, porque os dois estavam destinados a ficar juntos.

Isso também parecia banal e inadequado. Destinado a ficar juntos - não


como um poema de cartão comemorativo, mas no sentido de que separados,
seus lugares machucados e esfarrapados nunca poderiam se curar; eles eram
solitários em um mundo que os havia tratado cruelmente.

Mas quando eles se entregaram um ao outro, algo novo foi criado. A


dor foi limpa, as feridas curadas e o mundo era um lugar apenas esperando que
eles explorassem.

Bronn beijou sua testa e desapareceu no banheiro. Segundos depois,


ela ouviu água correndo na banheira e um sorriso sonhador brincou em seus
lábios. Dois banhos em um dia... foi absolutamente decadente.

Bronn apareceu no batente da porta, seus olhos escuros de desejo. —


Precisamos tirar esses malditos bloqueadores de você. Preciso sentir seu cheiro,
Gabriella. Tudo de você.

A contundência de suas palavras causou um arrepio delicioso na


espinha de Gabby. Ela adorava ouvi-lo falar dela dessa maneira, deixando claro
que ela era dele e sempre seria. Que ela finalmente voltou para casa.

— Provavelmente não faria mal lavar todo esse sangue também, —


disse ela.

Sangue da Agente Hoss. Em vez de ficar horrorizada, Gabby examinou


as listras vermelha em seus braços com um sentimento de admiração.

Ela se defendeu. Defendeu-se e vingou-se. E ela faria isso de novo.


Bronn olhou para suas próprias mãos sujas de sangue, suas roupas
salpicadas de sangue, como se só agora percebesse.

— Vamos, — disse ele, pegando-a e colocando-a cuidadosamente em


pé. — Nós vamos limpar isso primeiro, para não estragar seu banho.

Lá estava aquele — nós— novamente. Gabby achava que nunca se


cansaria de ouvi-lo dizer isso.

Bronn levou-a para a cozinha, onde a despiu com cuidado e limpou o


pior de seu corpo com uma esponja. Quando ele tirou suas próprias roupas e se
lavou, era impossível não notar como seu pau estava duro como pedra.

— Melhor? — Gabby murmurou, exibindo seu corpo oferecendo para


ele.

O calor em seus olhos era toda a resposta que ela precisava. — Perfeito,
— ele vociferou.

Ambos sabiam que ela era perfeitamente capaz de andar, mas Bronn a
carregou de volta para a banheira e a colocou na água fumegante.

Ela sentiu seu corpo derreter no calor, a água ondulante, a última de


sua tensão se esvaindo.

— Junte-se a mim? — ela murmurou.

Bronn engoliu em seco. Ele não precisaria de persuasão. A massa de seu


corpo espirrou água na lateral da banheira quando ele entrou, mas ele ignorou e
puxou Gabby para cima dele.
— Bronn. — Gabby engasgou quando sentiu seu pau duro pressionando
contra seu traseiro. Suas pernas se abriram por vontade própria e ela se
contorceu para guiá-lo para mais perto...

Mas Bronn não estava tendo isso. Ele agarrou seus quadris e moveu seu
corpo para que sua boceta deslizasse ao longo de seu eixo, provocando-a. Fluído
jorrou dela, e Bronn gemeu.

— Minha, — ele murmurou quando o cheiro de seu desejo encheu o ar.


Mas ele segurou seu corpo trêmulo fora de alcance, suspendendo-a logo acima da
promessa de um prazer avassalador.

Ele colocou os lábios em seu ouvido. — Prometa-me que nunca mais


tentará ir embora.

Foi preciso esforço para falar, para desviar sua atenção da deliciosa
tortura. — Mas eu estava tentando te salvar.

— Prometa-me, — ele vociferou. — Jure.

— Eu p-prometo. — A ideia de perder Bronn, de viver mais um dia sem


ele, era mais aterrorizante do que qualquer outra coisa que ela havia enfrentado.

— Nunca esqueça que você é minha, Gabriella, — ele rugiu enquanto a


puxava para baixo em seu enorme eixo. Sua boceta levou tudo, seus quadris
arqueando freneticamente para tomar cada centímetro de seu comprimento.

Gabby gritou quando o prazer começou a espiralar em direção à


liberação, reprimida por muito tempo para conter.

— Diga meu nome, — Bronn ordenou a ela, arrastando-a para cima


apenas para bater nela novamente. — Diga-me quem eu sou.
— Você é meu Alfa, Bronn! — Gabby uivou as palavras, agarrou-se a
elas enquanto era lançada na tempestade de sua foda. — Não há ninguém além
de você!

Bronn puxou-a abruptamente para longe dele, e Gabby gritou de


frustração - um grito que se transformou em seu próprio rosnado feroz quando
ele a virou em seu colo de forma que eles estavam olhando nos olhos um do
outro.

— Então prove isso.

A última consciência de Gabby, os poucos fragmentos remanescentes


de seu eu Beta, não tinha ideia do que ele queria dela.

Mas seu corpo, sua natureza inconstante, sabia exatamente o que fazer.

Ansiava por isso. Precisava.

Ela cavou os dedos em seus ombros e o montou, fodendo-o como se


nunca tivesse o suficiente. Os sons que vinham dela eram os de um animal com a
água espirrando pelas laterais. Os olhos de Bronn nunca deixaram os dela,
queimando por ela, reclamando-a. O mundo ao redor deles desapareceu até que
fossem apenas os dois em um lugar sem culpa, medo ou dor. Houve apenas este
momento.

Gabby puxou os lábios para trás de seus dentes, sentindo uma nova e
afiada energia preenchê-la. Ela rosnou e se curvou para o ombro liso de Bronn - e
afundou os dentes em sua pele.

Ele endureceu, então rugiu quando Gabby provou seu sangue.


Uma pequena parte quase esquecida dela se perguntou por que ela não
estava horrorizada com o que tinha feito - e então essa parte piscou e se foi.

Gabby de alguma forma sabia que não estava machucando Bronn, mas
curando-o.

Escolhendo-o e tornando-o seu. Prometendo honrar tudo o que ele era,


ficar ao seu lado enquanto ela vivesse.

Porque ela era sua companheira, como sempre foi destinada a ser.

***

— Estou ficando cansado de cavar sepulturas, irmão, — disse Axel,


apoiando-se no cabo da pá e enxugando a testa. — É melhor que isso não vire um
hábito.

— Lutando contra intrusos em sua propriedade? — Bronn atirou de


volta. — Mais do que feliz em desistir assim que provar que estou a altura do
trabalho.

Gabby nunca teria sonhado que veria dois Alfas trocando merda desse
jeito - e se divertindo. Na verdade, Bronn realmente parecia estar se divertindo -
embora ela soubesse que não deveria acusá-lo disso.

Pelo menos ainda não.

Gabby pode ver as mudanças ocorrendo em seu Alfa, o


enfraquecimento de suas defesas rígidas, os minúsculos fragmentados de
vulnerabilidade enquanto ele começou a confiar em si mesmo perto dos outros.
Ela entendeu que isso nunca poderia ter acontecido até que Bronn ousasse olhar
dentro de sua alma e descobrir que, no lugar dos demônios que carregou por
tanto tempo, havia um homem que fez o melhor que pôde diante de uma batalha
esmagadora.

Um homem que tinha sido forte. Que tinha sobrevivido.

Gabby se permitiu um sorriso reservado enquanto relaxava em um


tronco caído ao lado de Maggie. Observar seus dois Alfas limparem os restos
sangrentos da luta de ontem não estava no topo de sua lista, mas ela não
suportava ficar longe de Bronn, mesmo depois de fazer amor a noite toda.

Para a surpresa de Gabby, observar a tarefa mórbida não trouxe


flashbacks traumáticos ou mesmo muito desconforto, além de se perguntar como
eles conseguiram tirar todo o sangue de suas roupas.

— Você... simplesmente se acostuma com isso? — ela perguntou a


Maggie.

— Espero que não, — riu Maggie. — Já vi violência suficiente para durar


um tempo, e nem estava consciente disso. — Então ela ficou séria. — Mas sim, eu
sei o que você quer dizer. Coisas que costumavam me chocar - bem, acho que
vejo de forma diferente agora. O mal veio aqui, e nossos Alfas fizeram o que tinha
que ser feito. Para nos proteger e proteger a Terra Fronteiriça.

Gabby assentiu lentamente. — É só que meu corpo - minha natureza -


parecia saber no minuto em que mudei. Como... como se sempre tivesse estado
lá, embora eu nunca tenha sido uma Ômega adormecida.
Maggie apertou sua mão. — Podemos nunca entender o que aconteceu
naquele lugar, — disse ela com tristeza, — e como isso mudou não apenas os
Alfas, mas aqueles com quem eles se importam. Tudo o que podemos fazer é
aceitar isso.

Talvez tenha sido daí que veio a nova sensação de paz de Gabby -
aceitação. Pelo menos em parte.

As mulheres tomaram seu café em um silêncio confortável por um


tempo, observando seus companheiros trabalhando duro. Foi muito melhor do
que a Netflix.

— Eles são sempre assim? — Gabby perguntou enquanto Bronn e Axel


acusavam um ao outro de afrouxar, embora a evidência da justiça brutal entregue
neste lugar estivesse quase enterrada para sempre.

— Oh, por favor, — disse Maggie, revirando os olhos. — Eles não são
piores do que você e eu costumávamos ser. Lembre-se daquela discussão que
tivemos: Férias de primavera em Miami?

— Oh uau, eu tinha esquecido tudo sobre isso. — A memória trouxe um


sorriso ao rosto dela. — Nós limpamos aquele bar da piscina, estávamos gritando
tão alto.

— E os garotos da cabana estavam apostando em quem daria um tapa


na outra primeiro.

— Eles não estavam! — Gabby disse, escandalizada.

Maggie assentiu presunçosamente. — Eles apostaram dez pratas em


cada uma. Mas não se sinta tão mal, todo mundo apostou que seria eu.
— Você sempre soube como agitar as coisas, — Gabby suspirou com
carinho.

— O que está acontecendo aí? — Axel e Bronn pararam de trabalhar


para observá-las.

— Nada, amor, — Maggie disse docemente. — Só tentando distrair Gab


das coisas.

Gabby quase podia ver o arrepio de Bronn. Ela sabia exatamente o que
ele estava pensando, que se ela precisava de conforto, era seu trabalho fornecê-
lo.

— Estou bem, — disse ela apressadamente. — Na verdade, estamos


apenas fofocando sobre os velhos tempos.

Gabby viu as narinas de Bronn contraírem enquanto ele testava seu


cheiro.

Satisfeito, ele assentiu e voltou ao trabalho.

Porque ela estava bem.

Porque, embora parte do que aconteceu ontem tenha sido horrível,


também a libertou, não apenas do medo, mas de todas as expectativas de sua
família e da sociedade que a mantinham sob controle.

Maggie estava olhando para ela com uma sugestão de um sorriso. —


Não é tão ruim, é? — ela disse, dando a Gabby uma cotovelada conspiratória.

Gabby corou. — Você quer dizer…


Não havia mais dúvidas de que sua natureza estava mudando. Se ela já
não fosse uma Ômega, logo seria. Especialmente considerando aquela mordida
reivindicatória - e a que Bronn lhe dera em troca.

— Eu não estou tentando embaraçar você, — disse Maggie, dando um


tapinha em seu joelho. — Eu só estou animada que você ficará.

— A coisa da Ômega... é honestamente muito legal, — admitiu Gabby.

— Eu te disse. — Maggie passou o braço em volta do ombro de Gabby.


— O que nos torna irmãs Ômega!

Gabby riu. — Se nossos velhos eus pudessem nos ver agora...

— Sem brincadeiras. — Os olhos de Maggie se iluminaram. — Ei,


podemos cuidar uma da outra quando...

— Uau, — Gabby interrompeu. — Uma coisa de cada vez. Deixe-me


passar pela minha primeira semana como uma Ômega antes de você começar a
planejar as futuras brincadeiras de nossos filhos.

Maggie lançou-lhe um olhar compreensivo. — Deixar você passar pela


primeiro cio, você quer dizer.

Sim... isso também.

Gabby não sabia em quanto tempo isso aconteceria, mas ela não podia
fingir que não estava ansiosa por isso.

— Quase pronto, senhoras, — disse Axel. — Este é o último buraco que


temos que cavar hoje.

— Mais um, — Bronn o corrigiu.


Axel balançou a cabeça. — Não, só resta um corpo.

Bronn largou a pá e virou-se lentamente, observando o grande pedaço


de terra mexida. — Mas todos que enterramos até agora são homens. Ainda não
enterramos uma mulher.

Axel deu a ele um longo olhar. — Eu não encontrei nenhuma mulher


entre os mortos esta manhã, irmão.

O estômago de Gabby apertou. Não era possível. — Mas eu... eu


mesmo enterrei uma machadinha no estômago de Hoss.

— Eu não sei o que te dizer, — Axel disse se desculpando. — Ela não


estava aqui esta manhã.

— Um animal pode ter arrastado seu corpo durante a noite, — Bronn


disse, mas seu coração não estava nisso.

— Sim, claro. Tenho certeza que é isso. — Mas Gabby tinha suas
dúvidas. Se alguma vez houve um rato ferido que poderia escapar de um navio
afundando, era a Agente Hoss. — Mas e se não foi isso que aconteceu?

Bronn caminhou até ela e juntou as mãos dela, olhando-a nos olhos.

— Então lidaremos com isso como tudo mais daqui em diante, — disse
ele. — Juntos.

FIM
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