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Não deixe de ler a Série que antecede esta:

The Boundarylands Omegaverse

Onde conhecerá os primeiros Alfas e como se chega a esta série


XANDER

Livro 4

The Unchained Omegaverse


Jesse
Amy Lynn
Celaena

Sabrina

Fevereiro 2023
SINOPSE

Presos e caçados, a única saída é juntos.

Tudo o que Xander queria era alguns momentos de paz depois de uma vida
inteira de dor, mas o destino tinha outros planos. Caçado como um animal
selvagem pelas forças Beta, ele sequestra o primeiro meio de fuga que cruza seu
caminho.

Depois de alguns anos difíceis, Lilibeth está finalmente começando de


novo. Depois de conseguir seu emprego dos sonhos, ela começa sua nova vida do
outro lado do país... até que um Alfa desesperado colide com sua recém-
descoberta liberdade e a faz refém.

O destino juntou o par de opostos, mas a atração primodial que os aproxima


parece muito com o destino.
CAPÍTULO 1
Xander

Voltar para casa tinha sido um erro.

Xander sentiu vontade de socar o vidro das janelas de parede a parede


que ofereciam uma vista espetacular do pôr do sol sobre as Rocky Mountains. As
palavras de seu irmão Alfa Axel vieram até ele, palavras que Axel havia assinado
com as mãos já que as grossas paredes de vidro de suas gaiolas eram muito
densas até mesmo para o sentido da audição de um Alfa.

‘As únicas mentiras que um Alfa conta, são para si mesmo. ‘

Na época, Xander atribuiu as palavras de Axel ao seu cinismo habitual,


mas caramba se o filho da puta não estava certo.

Em vez de descarregar sua frustração nas janelas, Xander tomou um


gole do café forte que havia preparado e considerou a vista que conhecia como a
palma de sua mão. Os picos distantes eram cobertos de branco mesmo durante
esses dias de verão. A luz dourada do entardecer dançava na encosta da Copper
Mountain.

Quantas noites durante sua prisão na instalação secreta do governo


Beta ele passou sonhando com este momento? Quantas vezes veio aqui em sua
mente enquanto os cientistas realizavam seus experimentos torturantes em seu
corpo?
Mas os sonhos não eram o mesmo que a realidade, e nem uma vez
durante esses cinco excruciantes anos de tortura Xander realmente acreditou que
um dia voltaria aqui. Ele tinha visto muitos corpos frios e sem vida passando por
sua jaula; viveu por muitos dias de tormento indescritível.

Ele sabia muito bem que não havia nenhuma boa razão para estar entre
aqueles que conseguiram sair daquele inferno quando tantos outros acabaram no
incinerador. Foi apenas uma simples estúpida sorte que finalmente havia acabado
a um mês.

— Xander.

Pelo tom dela, Xander imaginou que sua irmã Maggie estava tentando
chamar sua atenção por um tempo, forçando-se sob o peso de sua velha mochila
de caminhada em seus braços. — Eu embalei tudo que pensei que você poderia
precisar. Eu não acho que vai caber mais em você, mas foi o melhor que eu pude
fazer.

Maggie, sua gêmea, a única razão pela qual ele arriscou voltar aqui. A
vista, o conforto da cabana multimilionária de sua família – inferno, todos os bens
materiais – não o excitavam mais como antes. Talvez tenha sido a constante
experimentação e tortura que mudou sua perspectiva, ou talvez tenha sido sua
natureza Alfa há muito negada finalmente sendo libertada, mas este lugar e todas
as malditas coisas nele perderam todo o significado para Xander.

Bem, nem tudo.

Maggie ainda importava. Aqueles bastardos na instalação fizeram o


possível para esmagar seu espírito, mas o amor de Xander por sua irmã provou
que eles não haviam extinguido completamente sua humanidade.
Crescendo, eles tinham sido os únicos aliado um do outro. Xander
defendia Maggie durante as discussões familiares — que eram muitas — e ela era
a única da família que o chamava de Xander e não o ridiculamente pomposo
Alexander Randell Harrington IV que seus pais o batizaram. Apesar de Maggie ter
nascido dez minutos antes dele, seu pai insistia em se gabar de que seu
primogênito continuaria com seu nome e, um dia, assumiria seu lugar no
comando da família.

É claro que a fanfarronice parou quando, ao longo de alguns dias,


Xander cresceu 30 centímetros e dobrou sua massa muscular. Então, vieram as
bebedeiras chorosas de sua mãe e a promessa de seu pai de renegá-lo.

Apenas Maggie ficou ao lado de Xander, levando-o para a estação e


esperando na chuva pelo trem que deveria levá-lo para a fronteira noroeste do
Pacífico. Suas últimas palavras para ele foram uma promessa de visitá-lo assim
que pudesse.

No momento em que Xander sentiu o sol em seu rosto pela primeira


vez em meia década, ele soube que tinha que ver sua irmã antes de ir para casa,
uma das Boundarylands.

Nas semanas seguintes, ele viajou à noite, dormindo durante o dia nos
campos vazios de Nebraska e ao longo dos riachos das montanhas geladas do
Colorado antes de finalmente chegar à cabana escondida na floresta bem acima
do luxuoso Copper Mountain Resort. Ele esperava que o lugar estivesse vazio e
não ficou desapontado. Seus pais só o usavam no inverno, passando os verões em
Belize ou Capri ou onde quer que a elite de Denver estivesse se reunindo naquele
ano.
No dia em que Xander chegou, ele escreveu uma carta enigmática para
Maggie e a jogou em uma caixa de correio perto da periferia da cidade. Dois dias
depois, ela apareceu, jogou os braços em volta dele e o abraçou com tanta força
quanto naquele dia muito tempo atrás na estação de trem.

Depois que ela finalmente enxugou as lágrimas de alívio, Maggie o


colocou a par das notícias da família. Xander não ficou surpreso ao saber que seu
pai nunca mais falava seu nome e transferiu suas esperanças e aspirações para
seu irmão mais novo, Nathanial. Sua mãe ainda não havia se recuperado da
vergonha de ter um filho Alfa e passava a maior parte de suas noites tentando
anestesiar a dor com álcool, enquanto sua irmã mais nova, Genevieve, estava
noiva do filho do sócio mais próximo de seu pai.

— E você? — Xander perguntou.

Maggie deu de ombros. — Sou uma grande decepção, como sempre.

— Sim, mas você nunca vai me alcançar.

Isso lhe rendeu uma risada. — Acho que devo agradecer por isso.
Mamãe e papai ficaram loucos quando eu disse a eles que queria ir para a escola
de arte, mas tudo que eu tinha que fazer era lembrá-los de que pelo menos eu
não sou um Alfa, e eles pararam de me dar merda.

Xander balançou a cabeça, sorrindo. Ele estava feliz que sua irmã ainda
estava dando o melhor que podia, assim como sempre tinha feito – e fazendo-o
rir, assim como ela sempre fez.

Ele sentia falta das tempestades de merda que Maggie provocava só


porque ela podia, sua maneira de lidar com as expectativas opressivas de seus
pais. Se Xander tivesse nascido metade tão espirituoso ou inteligente quanto ela,
ele poderia ter feito a mesma coisa, mas como era, ele teve que se contentar com
uma rebelião inútil.

Ele não era especialmente bom nisso. Todo o tempo que Xander estava
bebendo a bebida de seus pais, batendo seus carros e tirando-os da cama para
buscá-lo na delegacia, seu coração não estava realmente nisso. Quase parecia que
estava simplesmente passando pelos movimentos até que sua verdadeira
natureza emergisse.

Xander pegou a mochila de Maggie. — Obrigado, por fazer isso. Tenho


certeza que ficará tudo bem.

— Eu gostaria que você não tivesse que ir. — O sorriso corajoso


desapareceu do rosto de Maggie, e Xander vislumbrou em seus olhos a dor que
ela tentou tanto esconder. — Eu estava apenas me acostumando a ter você de
volta.

Xander grunhiu, não confiando em sua voz. Cada dia passado preso no
subsolo parecia uma eternidade, mas seu mês com Maggie parecia passar em um
flash. Xander ficaria feliz com ela até à primeira neve. Inferno, ele teria ficado até
o momento em que o SUV de seus pais parasse na entrada.

Mas, como muitos de seus sonhos, tinha que abrir mão desse também.

Dois dias atrás, Xander estava nadando em um pequeno lago da


montanha a um quilômetro e meio da casa quando algum maldito observador de
pássaros o viu através de seus binóculos ridiculamente potentes. O avistamento
do Alfa foi notícia local naquela noite e, pela manhã, a rica cidade de Copper
Mountain estava repleta de vans de notícias de todo o país.
Maggie havia retornado de uma corrida matinal à cidade com um jornal
local, que trazia a notícia de que o governador estava chamando a guarda
nacional para expulsar e capturar o Alfa fugitivo.

— As pessoas estão dizendo que vão começar as buscas de porta em


porta hoje, — Maggie murmurou, incapaz de esconder o medo de seu rosto.

Xander apenas bufou, não querendo aumentar sua ansiedade, mas era
óbvio para ele que ninguém havia pensado no plano. Era quase impossível para
um grupo de Betas – mesmo os fortemente armados – deter um Alfa totalmente
crescido. Essa foi a razão pela qual o diretor da instalação ordenou o sequestro de
Alfas recém-transacionados a caminho de Boundarylands quando suas naturezas
ainda estavam se desenvolvendo.

Sob a grande história havia outra sobre a nova Boundaryland nas


montanhas Ozark. Aparentemente, outro irmão fugitivo chegou ao posto de
controle ontem, elevando o total geral para quatro. Ativistas dos direitos Alfa
estavam planejando comícios em algumas grandes cidades, mas esperava-se que
fossem ofuscados pelos manifestantes.

Xander sabia que poderia encenar um protesto próprio e reivindicar


esta cabana, mas isso apenas impediria o inevitável. O melhor advogado pro bono
do mundo não seria capaz de impedir o governo Beta de invadir o lugar e arrastá-
lo para Boundarylands à força — ou pior.

E Maggie não merecia isso. Se alguém descobrisse que ela estava


abrigando um Alfa fugitivo, sua vida estaria arruinada.
Então Xander estava indo para Ozarks. O fato de que o novo
Boundaryland devia sua existência ao irmão Alfa de confiança de Xander, Archer,
cuja cela ficava a dois metros da sua, era um consolo.

Além disso, esta nova terra em Ozark era muito mais próxima do que as
outras Boundarylands. Com alguma sorte, levaria apenas alguns dias para chegar
lá a pé. E quanto mais cedo chegasse lá, mais cedo Maggie pararia de se
preocupar.

— Envie-me uma carta assim que chegar. — Maggie tentou sorrir, seus
olhos brilhando com lágrimas. — Eu vou visitar você. Desta vez, nada vai me
parar.

— Isso pode não ser sábio, — disse Xander, odiando ter que lembrá-la
do perigo. — Pelo menos não por enquanto.

Maggie enxugou os olhos e, quando baixou a mão, seu sorriso


despreocupado voltou ao lugar. — Desde quando nós somos os espertos da
família?

Levou tudo que Xander tinha para pegar a mochila muito pequena e sair
pela porta. Essas semanas com sua irmã – a única Beta que restava no mundo que
se importava com o que acontecia com ele – tinha percorrido um longo caminho
para curar sua alma.

Mas agora, era hora de começar sua nova vida.

Uma vida que estava prestes a se tornar muito mais fácil.


Lilibeth

Lilibeth Rennert levou dois dias para percorrer todas as suas playlists
favoritas dos anos 80, 90 e 2000. Quando a última começou a se repetir, as Rocky
Mountains foram colocadas diante dela em todo o seu esplendor, mais bonitas do
que jamais imaginara que poderiam ser.

Desde que saiu de Los Angeles ontem de manhã, Lili parou apenas para
ir ao banheiro, gasolina, lanches e algumas sonecas na parte de trás da van de
mudança ao lado de suas poucas caixas de pertences. Ela não precisava de uma
van tão grande, mas quando o balconista lhe disse que eles não tinham a que ela
reservou e se ofereceu para atualizá-la de graça, Lili não teve opção de aceitar -
apesar do fato de dirigir um veículo tão grande a aterrorizou.

Até ontem, o único carro que Lili tinha dirigido era o velho Celica de sua
mãe, que tinha sido confiável o suficiente... A mente de Lili girou, pensando em
todas as coisas que poderiam dar errado ao volante de uma van tão grande. Sua
visibilidade ficou comprometida e levou uma eternidade para parar quando
acionou os freios e, sem direção hidráulica, cada curva na estrada parecia um
desafio herculano.

Pare com isso, Lilibeth sussurrou para si mesma. Tudo está bem.

E estava... claro, estava. Ela estava começando o capítulo mais


emocionante de sua vida, e logo iria finalmente provar os frutos de todo seu
trabalho duro, sacrifício e determinação.

Ela já havia se aventurado mais longe de casa do que jamais estivera


antes e, em mais alguns dias, chegaria a Nova York para se juntar a um — grupo
de elite de estagiários promissores— na sede do Charter National Bank,
selecionada a base de suas notas na faculdade, recomendações de professores e
entrevistas no campus.

Lili havia memorizado cada palavra de sua carta de oferta, mal


conseguindo acreditar que seu sonho estava prestes a se tornar realidade. Bem, o
sonho de sua mãe, de qualquer maneira... — Rennert estava rezando para que
sua filha fosse a única que conseguiria sair... de seu bairro de merda de Santa
Ana, do trabalho árduo que ela e sua própria mãe fizeram a vida toda, da
confiança no sistema de bem-estar público que falhou com elas com frequência.

E Lili tinha feito sua parte, se destacando na escola, ficando longe de


problemas e conseguindo uma bolsa integral para a UC Irvine. Levou cinco anos
para se formar, passando férias e verões em casa para ajudar com a avó
deficiente, trabalhando nos fins de semana para pagar seus livros e despesas de
subsistência.

Assim que conseguiu juntar dinheiro suficiente para voltar para casa
para uma visita, Lili estava determinada a levar a mãe para jantar no Silverado's, o
restaurante mais elegante de Costa Mesa, onde Claudia Rennert havia limpado
escritórios e servido de garçonete nas últimas três décadas. Pela primeira vez, sua
mãe seria capaz de manter a cabeça erguida enquanto outras pessoas a serviam.

O objetivo de Lili era chegar a Denver enquanto ainda estava claro, para
que pudesse ver um pouco da cidade com sua amiga Kelly da faculdade. Ela teria
conseguido também, se não tivesse se deparado com um engavetamento épico
que envergonharia até ao pior tráfego de Los Angeles.
Quando sua van mal se moveu por quase uma hora, Lili procurou seu
telefone, mantendo os olhos na estrada para o caso do tráfego começar a se
mover novamente.

— Ei garota, — Kelly respondeu brilhantemente. — Você já está aqui?

— Eu gostaria de estar, mas acho que não chegarei a sua casa esta
noite. Ainda estou nas montanhas. Deve haver um acidente terrível à frente
porque eles fecharam parte da estrada. O trânsito mal se move.

— Oh, não! — Kelly parecia desanimada. — Onde você está


exatamente?

— A última saída foi para Copper Mountain. Acho que posso ver os
esquis deslizando. — Pelo menos, Lili estava adivinhando o que eram aquelas
longas trilhas verticais na encosta da montanha.

— Oh, isso não é tão ruim, — disse Kelly. — Assim que você sair do
trânsito, estará a menos de uma hora e meia de distância. Você chegará aqui logo
após o anoitecer.

Fácil para Kelly dizer. Ela não estava tentando manobrar esta besta de
uma van em movimento pelas montanhas enquanto motoristas impacientes e
furiosos a cortavam e se apoiavam nas buzinas de seus caros SUVs. Lili não queria
adivinhar o quanto as coisas ficariam piores depois do anoitecer. — Eu não sei, —
ela se esquivou. — Estou com medo de dirigir essa coisa de noite.

Kelly riu. — Você é uma medrosa, Lili! — ela disse carinhosamente. —


Por que você não contratou um serviço de mudanças?
— A viagem parecia uma aventura, — disse Lili timidamente, embora a
verdade fosse que ela não tinha dinheiro para serviço de mudanças - ou qualquer
outra coisa, e não teria até receber seu primeiro salário. Todas as suas economias
tinham ido para o depósito de segurança em seu novo apartamento, algumas
roupas de trabalho e alugar a van.

Mas embora Kelly fosse uma boa amiga, ela vinha de uma família
abastada e nunca teve que pensar sobre esses tipos de problemas.

— Kelly, esse trânsito está terrível. Acho que vou... oh. — A visão de
três veículos do exército verdes maçantes barricando a estrada fez Lili prender a
respiração. Uma dúzia de soldados estava no meio da estrada, alguns
conversando com um comandante, outros revistando carros antes de permitir a
passagem.

— O que há de errado?

O que diabos eles poderiam estar procurando? Enquanto Lili observava,


um soldado escoltou um motorista para o lado da estrada e outro gritava nos
vidros escuros de um SUV.

— Ah, provavelmente nada, — disse Lilibeth. Se ela dissesse a Kelly


como a situação parecia tensa, Kelly só pensaria que ela estava fazendo um
grande negócio... como sempre. Ainda assim, havia uma dúzia de carros na frente
dela, e se eles passassem cinco minutos procurando cada um, seria mais uma
hora apenas para passar pelo posto de controle. — Ouça, eu pararei aqui e
pegarei um quarto de motel. Eles só estão impedindo as pessoas que saem da
cidade.

— Mas eu estava realmente ansiosa para vê-la!


— Eu também, — Lili suspirou. Ela havia planejado sua rota através do
país para visitar o máximo de velhos amigos de faculdade que pudesse – e
economizar dinheiro em motéis. — Mas eu ainda posso passar amanhã de manhã
e tomar um brunch.

Kelly gemeu. — Mas não podemos ir às boates de manhã. Ainda assim,


acho que é melhor do que nada.

Lili prometeu enviar uma mensagem quando estivesse a caminho,


secretamente grata por perder a grande noite que Kelly havia planejado. Ela
queria estar descansada para a viagem - e ela não tinha orçamento para boates
de cidade grande.

Depois de desligar, Lili agarrou o volante e o girou o mais forte que


pôde, movendo-se desajeitadamente para a pista contrária, já que o tamanho da
van tornava quase impossível fazer uma curva em U.

E também não tinha muita sorte com curvas.

Lili tentou ignorar os olhares irritados e divertidos de outros motoristas


enquanto executava possivelmente a manobra mais desajeitada da história. Ela
até viu um cara pegando seu telefone para filmá-la avançando alguns metros
antes de colocar a van em marcha à ré, repetidamente.

Você nunca mais verá nenhuma dessas pessoas, Lili lembrou a si


mesma.

— Pare!

— Pare!
Lili pisou no freio com tanta força que foi jogada para a frente, o cinto
de segurança cortando dolorosamente seu torso.

De repente, ela foi cercada por soldados - bem, dois deles, de qualquer
maneira - e o que estava ao seu lado estava batendo na janela com o cano de sua
arma. Embora estivesse quase escuro, o homem usava óculos escuros espelhados
— e o emblema em seu ombro dizia: ‘Forças Especiais.’

Lili baixou a janela, o coração batendo forte no peito. — O que diabos


você pensa que está fazendo?

— Desculpe, — Lili gaguejou. — Eu não percebi que estava fazendo algo


errado.

— Por que você não quer que a gente dê uma olhada na sua van? — ele
exigiu, seu rosto como granito.

— O quê? Eu não - quero dizer, vá em frente, olhe o quanto quiser.

— Por que você saiu da estrada?

Lili estava com medo de chorar. Ela não tinha comido nada depois de
um biscoito de salsicha gorduroso doze horas atrás, e tinha sido um dia muito
longo. — Porque eu... eu já estou na estrada há muito tempo e não quero dirigir
depois de escurecer.

O soldado a encarou, mas ela não tinha ideia do que ele estava
pensando por trás daqueles óculos. Estou falando a verdade! — ela queria dizer,
mas provavelmente era exatamente isso que as pessoas diziam quando mentiam
para a polícia.
— Posso perguntar o que você está procurando? — ela perguntou
timidamente.

— Desligue o motor. — O soldado fez um gesto cortante em seu


pescoço. — Tran, traga Gilbert aqui.

Lili obedeceu, estacionando a van e desligando a ignição. Ela estava


pegando a maçaneta da porta quando de repente havia duas armas apontadas
para seu rosto.

— Que porra você pensa que está fazendo agora?

Lili jogou as mãos para cima, encolhendo-se para longe dele. — Você
disse que queria verificar a parte de trás, então, eu ia abrir para você.

— Não. Se. Mova. — O soldado tirou os óculos para dar ênfase, e Lili
pôde ver as luzes azuis piscando refletidas em seus olhos.

— Você ficará nesse assento e não mova outro músculo até que eu diga
que pode ir. Entendeu?

As mãos de Lili tremiam, e ela parecia ter esquecido como falar, então
assentiu com força.

Querido Deus, ela cometeu um erro. Ela deveria ter continuado em


direção a Denver, mesmo que demorasse a noite toda.

— Tran, Gilbert, fiquem de olho nas portas enquanto dou uma olhada
na traseira. — Mais dois soldados estavam na periferia da visão de Lili. Nenhum
parecia amigável. — Eu não confio nesta.

Você está bem. Você está bem, Lili repetiu silenciosamente para si
mesma. Ela queria fechar os olhos com força, mas não se atreveu, então decidiu
se concentrar em um fio solto no couro falso que cobria o volante. Isso é chato,
mas tudo vai acabar em breve.

Uma vez que os soldados descobrissem que ela não tinha o que eles
estavam procurando, a deixariam ir – e depois de uma boa noite de sono, tudo
isso seria apenas uma história engraçada para contar a Kelly no brunch amanhã.

Lili ouviu o trinco traseiro se abrir e sentiu a vibração quando o painel


de aço foi aberto. Então, um mergulho quando o soldado entrou. Então, nada por
um momento.

— Ah, merda! — A voz do soldado estava em pânico. — Tran! Gilbert!


Pegue o...

Abruptamente, suas palavras se transformaram em um grito


incompleto. Lili olhou para os soldados e viu um correr de volta para a barricada
enquanto o outro olhava boquiaberto em choque para algo perto da traseira da
van.

Ela verificou os retrovisores laterais da van e viu um flash de... alguma


coisa. Algo enorme, rápido e indistinto na penumbra.

Mais gritos vieram dos carros ao redor dela. Pneus giravam, buzinas
zuniam e as pessoas gritavam quando o caos irrompeu. Carros colidiram uns com
os outros enquanto mais soldados corriam. Os veículos que conseguiram sair
queimaram borracha enquanto desciam a estrada, um pulando o meio-fio e
dirigindo sobre a paisagem em frente a um restaurante, quase perdendo um
pedestre em fuga.

Ninguém estava por perto. E nem Lili.


Com a adrenalina inundando seu sistema, ela girou a chave na ignição, e
o motor da van estremeceu para a vida.

Algo bateu na janela do passageiro. Lili virou a cabeça para ver o


soldado restante ser levantado do chão e jogado como uma bola de futebol – do
outro lado da estrada, caindo em uma pilha amontoada contra a barra de
proteção.

O que diabos era poderoso o suficiente para fazer isso? Lili não sabia – e
ela com certeza não ia esperar para descobrir.

Ela mal verificou a estrada antes de pisar no acelerador. Do lado de fora


de sua janela aberta, alguém estava atirando. O estalo de tiros se misturou com
os sons de gritos e vidros quebrando e carros se afastando do caos.

Mas a van de Lili não conseguia sair de lugar nenhum. O som de seu
motor era mais gemido do que rugido, mas pelo menos ele começou a se mover,
ganhando velocidade enquanto ela manobrava pelo engavetamento. Ela ia
conseguir — ela estava quase livre....

E então a porta do passageiro foi aberta. Algo se impulsionou para


dentro, fazendo a van tombar violentamente para a direita. Lili gritou e continuou
gritando enquanto a coisa – a criatura – se virava para ela.

Não, não uma criatura: um homem. Um maldito gigante.

Lili tirou o pé do acelerador e agarrou a porta, mas o gigante foi mais


rápido. Seu braço disparou e ele agarrou seu pulso, sua mão praticamente
desaparecendo em seus dedos enormes e esmagadores.
Muito assustada para respirar, Lili ignorou o fato de que a van ainda
estava se movendo lentamente para a frente para olhar nos olhos da fera, a
última coisa que veria antes de morrer. Olhando para ela estavam infernais
gêmeas, íris negras brilhando como fogo – revelando uma alma capaz de jogá-la
para o lado da montanha ou rasgá-la em pedaços.

— Dirija.

O comando encheu a cabine, roubando todo o ar, o espaço, cada


pensamento na mente de Lili se estilhaçando diante dela. Ela queria obedecer —
tentou — mas não conseguiu, seu corpo estava muito apavorado para responder.

O gigante esmagou sua mão no volante e forçou os dedos dela. Desta


vez, quando falou, seu rosto estava a poucos centímetros dela, tão perto que ela
podia sentir o calor de sua respiração.

— Eu disse dirija.

Era como se Lili estivesse vendo alguém segurar o volante e colocar a


van em marcha. Ela nem vacilou quando o som de balas batendo na lateral da van
atravessou a confusão.

Mesmo que Lili escapasse da van agora, o tiroteio não pararia. Os


soldados queriam essa criatura morta, não importava o que custasse.

O que significava que Lili não tinha escolha.

Então ela voltou a si, colocou o pé no acelerador e dirigiu.


CAPÍTULO 2
Xander

Havia muitas malditas tropas. Guarda Nacional, policiais locais,


Patrulha Rodoviária – o governador claramente tinha feito tudo. E a qualquer
momento, todos eles estariam em seu encalço.

Xander não tinha percebido quantos Betas estavam procurando por ele
quando saiu da cabana. Não foi até que contornou um ziguezague no meio da
encosta íngreme da montanha que viu as tropas enxameando a pacata cidade
turística abaixo. Eles estavam por toda parte, entupindo as ruas e bloqueando as
entradas dos hotéis, restaurantes e lojas de luxo e, o mais importante,
bloqueando as poucas estradas que saíam da cidade.

Xander poderia ter tomado a rota terrestre passando pela Elk


Mountain, mas essa opção tinha seus próprios problemas. Mais tempo ao ar livre
significava mais oportunidades para serem avistados pelos helicópteros que agora
patrulhavam as encostas. E as chances eram boas de que as estradas do outro
lado tivessem seus próprios bloqueios e postos de controle.

Check.

A voz do pai de Xander veio indesejável à sua mente. — Xadrez é pura


estratégia, filho, — ele disse a um Xander de treze anos do outro lado da mesa
que segurava o tabuleiro de xadrez de mármore. — A emoção não tem lugar no
jogo.
Mesmo assim, Xander sabia que não deveria se contorcer na cadeira,
mas não podia evitar. Ele odiava aquelas lições forçadas quando preferia estar
fazendo literalmente qualquer outra coisa. Sua impaciência geralmente lhe rendia
um tapa, um ciclo que continuou até dois anos depois, quando Xander revidou,
derrubando seu pai da cadeira e quebrando seus óculos.

Essa foi a última partida de xadrez que Xander já jogou... e a última vez
que seu pai ousou atacá-lo.

Mas o jogo que Xander aprendeu a desprezar não era completamente


inútil. Isso o ensinou a calcular suas próprias fraquezas antes de atacar seu
oponente... exatamente como estava fazendo agora.

Descer uma estrada sinuosa na montanha em uma velha e cansada van


em movimento enquanto era perseguido por toda a força policial do estado não
era exatamente uma posição privilegiada para se estar.

Mas esses mesmos policiais tinham suas próprias fraquezas. Seu fedor
se espalhava facilmente no ar rarefeito da montanha, assim como o som de seus
movimentos desajeitados. Eles nem estavam tentando ser furtivos, acreditando
erroneamente que seus números absolutos os protegeriam.

Se não fosse por Maggie, Xander teria simplesmente atravessado o


bloqueio, arrasando qualquer um dos bastardos que entrassem em seu caminho.
Mas era apenas uma questão de tempo até que alguém fizesse a conexão com os
únicos proprietários na área cuja árvore genealógica apresentava um Alfa.
Qualquer atitude que tomasse em seguida cairia diretamente no colo de sua
família.
Xander não se importava com o que isso significaria para o resto de sua
família – as instituições financeiras que deixariam de fazer negócios com seu
pai; as socialites que de repente perderiam o número de sua mãe — mas ele não
queria arriscar tornar a vida de sua irmã mais desafiadora do que já era.

Pegar carona na van em movimento fazendo uma curva desajeitada no


meio da estrada era uma oportunidade boa demais para deixar passar. Xander
pensou que o caos lhe daria a cobertura de que precisava para entrar sem ser
detectado e ficar escondido até que a van estivesse a alguns quilômetros do
bloqueio. Então saltaria – o motorista claramente inexperiente nem saberia.

Infelizmente, os soldados tinham outras ideias. Eles chegaram


intimando, interrogando o motorista sob a mira de uma arma e enfiando os canos
de suas armas em seu rosto.

O rosto dela.

Caramba. Por que a motorista solitária tinha que ser uma mulher?
Xander não esperava isso, e a surpresa lhe custou segundos valiosos.

Xander passou seus primeiros dezoito anos protegendo Maggie da ira


de seus pais, apenas para ser forçado a assistir impotente enquanto outras
mulheres Beta inocentes eram transformadas em cobaias e torturadas no Porão.

A visão de mais uma mulher sendo violentamente ameaçada fez o


sangue de Xander queimar. Todos os pensamentos sobre o que era sábio ou
prudente fugiram de sua mente quando seus instintos protetores assumiram o
controle, e ele entrou em ação.

Agora tinha que enfrentar as consequências.


Xander observou a cena retrocedendo atrás deles no espelho
lateral. Nada de surpreendente ali — soldados gritavam e gesticulavam
descontroladamente enquanto viam seus companheiros feridos caídos no
chão. Pelo menos nenhum deles estava correndo em direção a seus veículos.

Ainda não.

— Farei o que você disser, — implorou a mulher ao lado dele. —


Apenas, por favor, não me machuque.

Xander desviou sua atenção da ruína em seu rastro. O cheiro acre do


medo da motorista era tão denso que oprimia todos os seus sentidos, exceto a
visão.

Concentrando-se em seu rosto, Xander deu uma boa olhada na Beta


pela primeira vez. Ela era mais jovem do que pensava. Normalmente, o nível de
apreensão e contenção que Xander havia sentido ao se aproximar da van indicava
uma Beta mais madura, mas esta parecia ter pouco mais de vinte anos.

Ela o lembrava das garotas de faculdades comunitárias que seus pais


contrataram como Au Pairs 1quando ele e seus irmãos estavam na escola primária
– seu cabelo castanho com mechas de sol empilhado em sua cabeça em um
coque bagunçado, sua blusa rosa e shorts de ginástica fazendo-a parecer que
tinha acabado de voltar de uma corrida. Mas foram seus enormes olhos azuis e
lábios carnudos que realmente chamaram sua atenção.

— Relaxe, — Xander disse a ela. — Não sou eu que você precisa se


preocupar. Apenas dirija.

1
Um Au Pair normalmente será uma jovem mulher e, às vezes, um jovem de um país estrangeiro que escolhe
ajudar a cuidar dos filhos de uma família anfitriã.
Suas palavras não fizeram nada para acalmá-la. Em vez disso, ela
começou a hiperventilar, fazendo pequenos sons ofegantes enquanto buscava
por ar.

— Minha bolsa está no chão, — ela guinchou. — Eu não tenho muito


dinheiro, mas o que está lá é seu.

— Eu não quero seu maldito dinheiro.

O que ele faria com isso? Não era como se Xander pudesse entrar em
uma loja e comprar mantimentos. Inferno, ele passou por um triz em sua primeira
semana de fuga quando roubou um cooler de um acampamento. Não foi o dono
do cooler que deu uma boa olhada nele – aquele cara estava no lago em um
caiaque – mas a tropa de escoteiros caminhando no cume acima do lago.

Pé Grande!, ele os ouviu gritando. Felizmente, os meninos tinham


apenas sete ou oito anos, e Xander sabia por experiência própria que os adultos
não davam ouvidos a crianças dessa idade.

— Então o que você quer? — Ela tirou os olhos da estrada para olhar
para ele – realmente olhar para ele – e quase os acertou na barra de
proteção. Xander teve que agarrar o volante para endireitá-los.

— Obrigada, — ela disse automaticamente, sua atenção de volta na


estrada, então — Espere.

Então Xander esperou enquanto ela roubava olhares, o choque fazendo


seus olhos parecerem ainda maiores. Quando ela falou novamente, foi em uma
mistura de admiração e descrença. — Você é um Alfa, não é?
Nada em seu cheiro preparou Xander para o que ela fez em seguida. A
experiência lhe ensinara que quando as mulheres tinham tanto medo, o medo
tendia a paralisá-las. Ele tinha visto isso acontecer com um número suficiente de
cobaias que foram forçadas em gaiolas de Alfas.

Mas esta mulher de repente foi para a maçaneta da porta, apesar do


fato de que não tinha tirado o pé do acelerador e a van estava agora quase
sessenta. Ela estaria morta no instante em que batesse na calçada, e ele não se
deu a todo esse trabalho só para deixar isso acontecer.

Xander agarrou seu pulso e puxou-a de volta para seu assento.

A mulher gritou, a van deu uma guinada, e pelos próximos segundos, foi
tudo o que Xander pôde fazer para evitar que ela voasse para o lado em uma
queda íngreme e muito longa. A mulher lutou com ele, contorcendo-se e dando-
lhe cotoveladas e até mesmo dando cabeçadas em seu braço. A van ziguezagueou
descontroladamente até que Xander conseguiu segurar o volante e trazê-la de
volta ao controle.

A mulher tinha parado de lutar com ele no momento em que apertou a


mão livre em seu tornozelo, forçando seu pé para fora do acelerador. À frente, a
estrada se afastava do vale e entrava nas árvores quando começou a subir
novamente, e Xander permitiu que a van parasse no acostamento.

— Quando eu soltar, — disse ele, agarrando o queixo dela e forçando-a


a olhar para ele, — Você vai observar a estrada e dirigir. Entendeu?

Ela assentiu, mas Xander se distraiu com a maciez de sua pele, o calor
do sangue pulsando por baixo. Estranhamente, ela pareceu se acalmar sob seu
toque.
Quando Xander a soltou, ela cumpriu sua promessa. A van se arrastou
para a frente a trinta quilômetros por hora, permanecendo até ao acostamento.
Nenhum dos dois falou enquanto ela conseguia colocar a pesada van de volta à
velocidade e de volta à estrada.

Eles atingiram o topo de um pico e começaram a descer um longo e


suave declínio. Era mais ou menos uma reta, a floresta ficando mais densa à
medida que a altitude diminuía. Quando Xander viu o que deveria ter sido uma
estrada de serviço, agora esburacada e sufocada com ervas daninhas, ele sentiu a
mulher tensa como se soubesse o que ele ia dizer.

— Desça aqui.

Ela fez isso bem na hora. Eles mal tinham desaparecido entre as árvores
quando Xander ouviu o som distante de motores potentes indo rápido demais.

— Espere um pouco, — disse ele concisamente, mantendo os olhos no


espelho retrovisor.

— Mas...

— Faça isso.

A van saltou e chiou na estrada irregular. Mas quando os primeiros


veículos militares em formação passaram a toda velocidade na estrada ao lado
deles, a van estava obscurecida pela pesada cobertura de árvores.

— Agora, pare.

A mulher não esperou ser dito duas vezes. Ela pisou nos freios, desligou
o motor, então surpreendeu o inferno fora dele batendo o cotovelo em seu peito
e indo para a porta novamente.
A Beta não podia pesar mais de cinquenta quilos, e ele mal sentiu o
golpe. Ele não teve nenhum problema em agarrá-la antes que ela saísse.

— Não, não! — ela gritou, ainda se debatendo.

Xander sabia que poderia fazê-la parar de lutar sem suar a camisa se
quisesse... mas por alguma razão, ele não o fez.

Talvez fosse porque nunca tinha visto uma mulher Beta lutar tanto.

E isso estava dizendo alguma coisa, considerando que passou os últimos


cinco anos preso em uma câmara de tortura literal.

Quando ela finalmente se exauriu e caiu de costas no banco, Xander


teve a sensação de que era demais esperar que ela tivesse se acalmado, e ele
estava certo. Ela tinha acabado de sugar uma gigantesca lufada de ar para que
pudesse começar a gritar novamente, tentando atrair a atenção da próxima
rodada de veículos blindados que passavam zunindo, mas tapou a boca com a
mão dele antes que ela pudesse fazer um som.

— Eles não vão te salvar, — ele sussurrou.

Ele quis dizer isso como um aviso para que ela parasse de tentar alertar
os soldados que eram tão propensos a atirar nela quanto nele, mas o medo em
seus olhos mostrava que ela havia tomado suas palavras como uma ameaça.

Ela começou a se debater ainda mais forte, grunhindo como um animal


selvagem enquanto chutava a janela e batia a parte de trás de sua cabeça em seu
peito. Xander foi forçado a puxá-la em seus braços apenas para evitar que ela se
machucasse.
Ele nunca tinha visto alguém lutar tanto contra probabilidades tão
impossíveis, nem mesmo nas instalações. Poderia até tê-lo feito gostar um pouco
dela, se ela não estivesse se esforçando tanto para matar os dois.

Além de Maggie, os Betas que ele conhecia nunca mostraram esse tipo
de determinação. Especialmente não aquelas que viviam no exclusivo subúrbio de
Denver de sua família e tinham segundas residências em lugares como Copper
Mountain.

Mas Xander tinha certeza de que essa Beta não tinha vindo de uma das
mansões multimilionárias espalhadas na encosta abaixo da casa de sua família. A
julgar por seus tênis baratos e bolsa de vinil surrada, ela está apenas de
passagem. Provavelmente estava carregando tudo o que possuía na parte de trás
da van – e a julgar pelo chocalho oco quando ela dirigia pela estrada irregular, não
era muito.

Estranhamente, o pensamento provocou uma sensação que Xander não


sentia há anos.

A maneira como estava se esfregando contra ele enquanto lutava


chamou a atenção de seu pênis, claro, mas era algo sobre sua determinação inútil
que tornava difícil.

Xander limpou a garganta e a moveu para a frente em suas coxas, com


medo do que ela faria se detectasse sua excitação. — Pare. Acalme-se, e você não
vai se machucar.

Depois de alguns segundos, ela obedeceu... mais ou menos. Mesmo que


seu corpo tenha parado, Xander sentiu a tensão irradiando através de seus
músculos. Se a soltasse por um momento, ele sabia que ela começaria de novo.
E assim esperou, sentindo o calor de sua pele macia de marfim e
ouvindo a batida de seu pulso até que o último dos veículos militares desapareceu
na estrada.

Ela ainda estava com medo, mas seu medo havia diminuído o suficiente
para que outros elementos de seu perfume emergissem. Xander respirou fundo e
provocou insinuações de astúcia, determinação e irritação, tudo isso sustentado
pela complexa nota de base de uma mente ocupada e questionadora.

— Eles se foram, — Xander disse a ela. — Eu vou te soltar agora, mas só


se você prometer não fazer nada estúpido.

Ela assentiu, e ele tirou a mão lentamente de sua boca. Silêncio.

— Esse é um bom começo, — ele disse a ela. Mas no segundo em que


ele tirou o braço da cintura dela, ele se arrependeu.

Lilibeth

No instante em que o Alfa a soltou, Lili gritou – e continuou gritando.

Dê tudo o que você tem, sua mãe lhe disse no primeiro dia do ensino
médio, que ficava a 800 metros de distância, passando por motéis da SRO, becos
escuros e fétidos. Se alguém te agarrar, não retenha nada. Chute, morda,
grite. Vá para os olhos e as bolas.

Era a primeira vez que Lili ouvia sua mãe usar essa palavra. Claudia
Rennert era a mãe mais rígida do bairro, então Lili sabia que não estava
brincando.
Ela também sabia que sua mãe a teria levado se pudesse, mas não
podia arriscar se atrasar para o trabalho. Então, em vez disso, ela agarrou os
braços de Lili com força e fez a prometer sobre a vida de sua avó.

E Lili se lembrou dessa promessa quando o Alfa a agarrou


novamente. Desta vez, Lili se afastou de sua mão, dobrou os joelhos e abriu a
porta enquanto chutava as pernas dele para se impulsionar para fora da van. No
segundo em que Lili caiu no chão, ela rolou para ficar de pé e correu como o
inferno.

A adrenalina correndo por suas veias aguçou seus sentidos. Ela correu
mais rápido do que nunca, correndo por entre as árvores, desviando de galhos e
raízes, tudo isso enquanto mantinha os olhos focados na estrada à frente.

Ela quase conseguiu.

Seu pé tinha acabado de bater no cascalho solto quando o ar foi


arrancado de seus pulmões. Um braço enorme a enganchou ao redor de seu torso
e a levantou sem esforço do chão. O Alfa colocou a mão sobre a boca dela
novamente e a segurou em um aperto forte enquanto a carregava para a
cobertura das árvores.

Lili ainda não desistiu. Ela lutou com cada grama de sua força, mas não
foi suficiente. O Alfa era muito forte, e quanto mais ela chutava e se contorcia,
mais forte ele a segurava. Quando chegaram à van, ela mal conseguia respirar,
muito menos lutar.

O Alfa a colocou no chão com força, girando-a para que suas costas
ficassem contra a van, apoiando as mãos em ambos os lados para prendê-la no
lugar. Por um longo tempo, ele simplesmente a encarou como se ela fosse mais
uma curiosidade do que uma refém indisciplinada.

Então Lili fez a única coisa que podia agora que a fuga estava fora do
menu – ela o estudou de volta. O Alfa era a maior e mais perigosa ameaça que já
encontrou, mas ele ainda era apenas humano. O que significava que queria algo
dela, e quanto mais cedo descobrisse o que era, mais cedo ela poderia ser
libertada.

Seu peito e ombros maciços esticados contra sua camiseta azul simples.
Seus olhos, o cinza do asfalto molhado, a atingiram com uma intensidade que era
mais aterrorizante que seus músculos poderosos. Seu cabelo era muito longo,
grosso e escuro, caindo em seus olhos em ondas. E quando ele rosnou para ela,
viu que ele tinha os dentes brancos mais perfeitos, uniformes e ofuscantes que já
tinha visto.

Sem pensar, ela apertou os lábios sobre os próprios dentes, de repente


se sentindo constrangida com os dentes tortos e a lacuna que nunca havia
dinheiro para consertar. Essa era a outra coisa em que Lili iria gastar seus contra
cheques... junto com consertar o carro de sua mãe, encontrar um apartamento
mais seguro para ela e, finalmente, comprar uma lápide para sua avó.

Claro, se não observasse seus passos com este Alfa, poderia ser sua
própria lápide que precisaria comprar.

A energia inquietante em sua expressão fez Lili de repente temer que


ele não fosse simplesmente machucá-la – ou mesmo matá-la – mas consumi-la.
O Alfa abaixou a cabeça, tão perto que ela podia contar seus cílios
grossos. Também notou um grupo de marcas estranhas e descoloridas – quase
como pequenas tatuagens aleatórias – perto de seu colarinho.

Este não era apenas um Alfa fugitivo sem nome e sem rosto, uma das
dezenas que estavam em todos os noticiários. Este era um predador no ápice, o
Lobo Mau... um que nem mesmo sua mãe tinha pensado em avisá-la.

— Eu disse para você não fazer nada estúpido. — Ele soltou as palavras
como se fossem cacos de vidro. — Aqueles soldados não se importavam em quem
atingiam com essas balas - eu, você ou espectadores inocentes. Você realmente
quer dar a eles outra chance?

Lili balançou a cabeça. Ela não queria isso... mesmo que pudesse ser
preferível a qualquer coisa que o Alfa tinha reservado para ela.

O que a trouxe para o que sua mãe havia dito a ela naquele dia há
muito tempo.

Mas se você não conseguir escapar, mesmo depois de lutar o máximo


que pôde, então você para, Lili. Não lhes dê uma razão para fazer algo pior do que
já fizeram. Você me ouve? Você apenas… apenas espere até que acabe, e então
você corre.

Ok. Ela já tinha provado que escapar era impossível, então esperaria, e
observaria... e então ela iria correr.

Mas então o Alfa a surpreendeu. — Qual o seu nome?

Por que ele queria saber? — L-Lilibeth, — ela gaguejou, nunca odiando
tanto quanto agora. Tinha sido o nome mais chique que sua mãe poderia pensar,
um adequado para uma garota que ia alcançar mais do que sua mãe e sua avó
jamais poderiam sonhar, que deixaria sua marca no mundo.

— Certo. Lilibeth. — O Alfa assentiu. — Eu sou Xander.

— Por favor, não me mate, Xander.

As palavras saíram com pressa, envergonhando-a, revelando seu medo.


Ela não pretendia dizê-las, mas a verdade tinha vida própria. Lili realmente não
queria morrer... e apesar de tudo que sua mãe lhe ensinou, ela estava com medo
de não ser inteligente ou forte o suficiente para sair dessa viva sozinha.

O Alfa riu, um estrondo como pedregulhos esfregando uns contra os


outros.

— Porque eu te mataria, Lilibeth? Eu preciso de você. Você é quem me


levará para a nova Boundaryland.
CAPÍTULO 3
Lilibeth

Bam.

O punho do Alfa bateu contra a porta do passageiro novamente,


aprofundando o dano que já havia feito.

Lili nunca recuperaria seu depósito de segurança.

— Neste ritmo, nem chegaremos ao Novo México ao nascer do sol, —


Xander fumegava.

Lili engoliu em seco, desejando que seus nervos em frangalhos se


desembaraçassem, algo que era terrivelmente difícil quando a pessoa sentada a
centímetros de distância poderia facilmente fazer um amassado nela como na
porta de aço. Ela pulava toda vez que Xander gritava um comando ou dava um
soco na van, e o fato de que estava correndo com nada além de adrenalina por
horas agora definitivamente não ajudava.

— Mas se eu for muito rápido e nos levar para um penhasco, — disse


ela, segurando o volante com ainda mais força, — Não chegaremos lá de jeito
nenhum.

Xander ignorou isso. — Eu disse para você ir mais rápido pelo menos
meia dúzia de vezes agora. Eu lidarei com as consequências.

Como? Lili queria perguntar. Saltando e pegando a van no ar?


Mas em vez disso, segurou a língua. Seu temperamento só a colocaria
em apuros, pois sua mãe a havia avisado desde a primeira vez que Lili a ajudou a
limpar a colossal mansão dos Baxter.

— Nunca insulte a Sra. Baxter, — ela sussurrou, segurando o braço de


Lili com força enquanto esperavam na enorme porta de carvalho. — Não importa
o que.

Lili tinha feito o melhor que podia, embora a Sra. Baxter fosse a
velhinha mais malvada para quem sua mãe já trabalhara. E depois que ela fez Lili
polir duas colheres perfeitamente limpas, Lili esqueceu.

— Talvez você devesse polir a prata então, — ela explodiu enquanto sua
mãe olhava com horror. — Já que eu não consigo tirar a sujeira invisível.

As consequências de responder a um Alfa podem ser muito piores do


que ter que ficar até tarde para polir cada peça de prata.

Lili tentou ir mais rápido, empurrando o pedal do acelerador até onde


podia, mas até agora, as únicas ladeiras que já dirigiu foram em Echo Park, onde o
maior desafio foi encontrar uma vaga para estacionar. Aqui no meio do nada, um
movimento errado poderia mandá-los para um penhasco onde não seriam
encontrados por semanas.

Sem mencionar o fato de que estava escuro.

Realmente escuro, de uma forma que Lili nunca havia experimentado


antes. Na cidade, ela tinha dado como certo as luzes da rua e os faróis e os
sensores de movimento em cada vitrine. Aqui, tudo o que podia ver era o trecho
estranhamente iluminado da estrada à sua frente.
Não querendo irritar o Alfa mais do que precisava, ela acelerou
relutantemente, apenas para pisar no freio um segundo depois, quando a estrada
virou bruscamente.

— Maldição!

Bam!

— Sinto muito, — disse Lili pela centésima vez. Ela sentiu como se não
tivesse feito nada além de pedir desculpas desde que Xander entrou na
van. Desde que ele a sequestrou, para não colocar um ponto muito bom nisso, e
talvez fosse estúpido esperar que um criminoso mostrasse alguma decência em
relação à sua vítima, mas isso a estava irritando, especialmente quando ele
grunhiu em resposta.

— Estou tentando! — ela retrucou, imediatamente se arrependendo.

— Não, você não está. — Quando ela saiu da curva, Xander colocou a
mão enorme em seu joelho e pressionou.

A van avançou, balançando antes de se estabilizar. A estrada ficou


borrada na frente dela. Ao longe, Lili distinguiu as luzes de um carro que se
aproximava, mas não conseguia ver a estrada entre eles.

Ela pensou que poderia vomitar.

— Não faça isso! — ela gritou, deslizando o pé fora do pedal até que a
velocidade da van estava de volta sob controle.

— Então pare de fazer isso, — o Alfa gritou.

— O quê?

— Você sabe... encolhendo. Como um maldito cachorrinho machucado.


Não estou encolhida, pensou Lili automaticamente, mas apertou os
lábios com força. O Alfa deixou bem claro nas últimas horas que não gostava
muito dela. Tudo o que ela fazia, desde dirigir muito devagar até vacilar quando
ele olhava para ela e cantarolar distraidamente, parecia irritá-lo.

Pelo menos ele tinha batido na van ao invés dela... até agora. Mas o
jeito que ele estava olhando para ela agora fez Lili se perguntar quanto tempo sua
sorte iria durar.

Dizer que era enervante ser o objeto da atenção do Alfa era o


eufemismo do ano. Ou talvez fosse apenas esse Alfa — com seu cabelo escuro e
mãos fortes e olhar feroz. À medida que seu exame se aguçava, Lili teve a
estranha sensação de que ele não estava apenas olhando para ela,
mas através dela – como se já soubesse mais sobre ela do que estava deixando
transparecer. E essa foi a pior sensação que Lili poderia imaginar.

— Você tem problemas de confiança, — seu último namorado disse


com desgosto quando Lili terminou com ele na noite anterior ao encontro
marcado com seus pais. Mas ele estava apenas colocando em palavras o que ela
já sabia.

Lili confiava exatamente em duas pessoas vivas – sua mãe e ela mesma.

Sua avó não viveu o suficiente para ver Lili se formar e conseguir um
emprego que proporcionaria uma vida melhor para a família, então Lili estava
determinada a trabalhar muito mais.

O que significava que não podia estragar tudo.


Ela conseguiu manter as mãos firmes no volante e os olhos na estrada
enquanto a van silenciava novamente.

Se Xander a tivesse deixado ficar na estrada, Lili sabia que poderia tê-lo
levado ao seu destino sem problemas. Eles poderiam ter cruzado o Kansas em
questão de horas e atravessado a fronteira do Missouri pela manhã.

Em vez disso, Xander ordenou que ela dirigisse para o sul. Pelo resto da
viagem, eles ficariam em estradas secundárias, navegando pelo serviço de GPS
irregular e pelo senso de direção do Alfa. Ele insistiu que era mais seguro, mas Lili
não conseguia imaginar como. Qual era o sentido de evitar as autoridades e
adicionar três dias extras de condução se iam acabar mortos em uma horrível
confusão de aço esmagado?

— A estrada está livre à frente, — disse ele depois que ela passou por
outro conjunto de ziguezagues de revirar o estômago. — Você pode acelerar.

Lili olhou para o velocímetro. Oitenta quilômetros por hora parecia mais
do que razoável, dadas as condições da estrada. — Mas eu já estou...

— Eu não estava perguntando.

A respiração de Lili ficou presa na frieza de seu tom. O tamanho e a


força do homem a intimidavam o suficiente, mas quando ele levantou a voz, foi
impossível não ceder a um tipo primitivo de terror.

Lili não era estranha ao medo. De uma forma ou de outra, tinha sido
seu companheiro constante desde suas primeiras lembranças. Sua mãe e sua avó
fizeram o possível para protegê-la, nunca a deixando sozinha em casa, mas suas
advertências foram um pouco longe demais.
Nunca abra a porta para um estranho. Não vá para casa sozinha. Se
alguém que você não conhece tentar falar com você, vire-se e vá para o outro
lado.

Quando Lili tinha idade suficiente para pensar por si mesma, essas
lições haviam se enraizado tão profundamente que tudo o que fazia era afetado
por elas.

Hoje em dia, ela vivia com um lema simples: corra o mínimo de riscos
que puder. Normalmente tornava as decisões fáceis, mas esta noite não
esclareceu nada. Ela nunca teve que pesar os perigos de dirigir muito rápido em
uma estrada sinuosa versus aquelas apresentadas por irritar um Alfa fugitivo sem
nada a perder.

Claro, havia apenas um que poderia tentar argumentar.

— Hum, Xander, — Lili disse, sua voz trêmula. — Esta van é pesada e
difícil de dirigir. Eu realmente não quero bater aqui no escuro.

— Isso não acontecerá.

Lili cerrou os dentes. Não era a primeira vez que alguém menosprezava
seus medos; na verdade, isso acontecia o tempo todo. Seus amigos vinham
provocando-a há anos por causa de sua cautela.

Mas eles não estavam a um pagamento de aluguel perdido para o


despejo, ou para onze dólares e oito dias até ao próximo salário, ou o mau humor
de um chefe para perder um emprego. Ao contrário deles, Lili morava no mundo
real e muitas vezes difícil, e estava enjoada e cansada de ser ignorada.
— Se você realmente não gosta do jeito que eu dirijo, talvez você
devesse ter roubado alguém em um carro esportivo chique, — ela retrucou. —
Eles poderiam ter levado você para o Missouri muito mais rápido.

As palavras saíram, e Lili não conseguiu desfazê-las. Ela ficou tensa,


esperando pela explosão.

Mas Xander apenas balançou a cabeça. — Não funcionaria. Precisamos


de um lugar para dormir durante o dia e não ser notados.

Um lugar como a traseira de uma van em movimento. Merda.

— Tudo bem, — disse Lili, pensando rápido. Ela não gostava da


perspectiva de perder todas as suas posses, mas seria muito melhor do que
perder sua vida. — Por que você não me abandona no próximo sinal de civilização
e pega a van? Então você pode dirigir o mais rápido que quiser.

Um estrondo hostil veio de algum lugar nas proximidades do peito do


Alfa. — Não posso.

Lili tirou os olhos da estrada tempo suficiente para olhar para ele... sim,
ele parecia tão zangado quanto parecia. — O que você quer dizer, você não pode?
— ela perguntou timidamente.

— Quero dizer, eu não posso, — ele rosnou. — Eu não sei dirigir um


desses.

As sobrancelhas de Lili se ergueram. Ela não estava esperando isso.

— É como um carro, — disse ela cautelosamente. — Apesar de ser


maior e mais lento e mais difícil de dirigir. Ah, e esta tem uma transmissão ruim e
manuseio terrível.
Silêncio. Quando Lili reuniu coragem para dar outra olhada, Xander
cruzou os braços e estava olhando pelo para-brisa. Ocorreu a Lili que talvez ela
não fosse a pessoa com quem ele estava chateado o tempo todo.

Este Alfa estava com raiva de si mesmo.

— Você não sabe dirigir? — ela perguntou.

— Não.

Lili ficou tão assustada que mal reagiu ao tom áspero dele. Em uma
cidade grande como Los Angeles, se você quisesse ir a qualquer lugar que não
fosse a loja da esquina ou a igreja, teria que dirigir. Os adolescentes obtinham sua
licença o mais rápido possível, mesmo que não pudessem pagar um carro por
anos. Mesmo uma garota falida como Lili, que era forçada a esperar ônibus que
raramente chegavam perto de onde queria ir.

Xander pode ser um Alfa, mas ele não começou como um. E Lili tinha
certeza de que ele não tinha crescido em um bairro como o dela. Ela pode não ter
dito muito, mas quando o fez, foi com a enunciação firme e precisa do tipo de
pessoa para quem sua mãe e sua avó sempre trabalharam. As crianças dessas
famílias tendiam a receber seu próprio carro quando tinham idade suficiente para
dirigir.

A curiosidade de Lili levou a melhor sobre ela. — Quantos anos você


tinha quando se tornou um Alfa?

— Eu tinha dezoito anos quando minha natureza apareceu.

Então ele teve muito tempo para aprender a dirigir. — Bem, então, por
que...
— Não importa.

Lili fechou a boca tardiamente. Mensagem recebida.

Depois de alguns momentos de silêncio tenso, Xander acrescentou: —


Uma pergunta melhor é por que você está com tanto medo de cair de um
penhasco.

— Eu não estou com medo, — Lili retrucou. — Sou cautelosa. Há uma


diferença.

— Besteira. Qualquer um que lutaria com um Alfa do jeito que você


lutou comigo não pode se chamar de cauteloso.

Lili ergueu o queixo, magoada. — Não me desculparei por ter um forte


instinto de sobrevivência.

— Eu não te pedi. — Xander parecia mais calmo, provavelmente porque


achava que tinha recuperado a vantagem. — Mas não afirme ser algo que você
não é.

Lili sentiu a familiar agitação de irritação se aproximando da raiva. Foi


tão fácil para ele dispensá-la, apesar de ser ela quem estava no banco do
motorista fazendo todo o trabalho.

Sim, um Alfa poderia esmagar uma garota como ela com seu dedo
mindinho. E ele era o criminoso aqui. Ele poderia dar ordens a ela o dia todo se
quisesse, e ela não tinha escolha a não ser fazer o que ele dizia. Mas ninguém
conseguiu derrubá-la.

Não mais.
— Ok. Já que você é tão grande, forte e poderoso, por que você está
com tanto medo de me dizer por que não sabe dirigir?

— Eu não tenho medo de nada, — ele disse firmemente.

Ela atingiu um nervo - e deveria ter deixado isso acontecer. — Certo...


— ela disse em vez disso.

Xander xingou baixinho. — Você realmente quer saber? Tudo bem. Não
é que eu não pudesse aprender a dirigir - eu não precisava. O motorista da minha
família nos levava aonde precisávamos ir.

— Seu o quê? — Lili sentiu náuseas. Nem os patrões de suas mães


tinham motoristas. — O quão rico você é?

— Era. Eu não sou mais rico.

Lili caiu na gargalhada. Não foi engraçado - foi o oposto, na verdade —


mas seu estresse e exaustão, combinados com o ridículo da situação,
impossibilitavam qualquer outra reação.

Quando finalmente se controlou, Xander estava olhando para ela com


um olhar assassino o tempo todo, ela enxugou os olhos. — Pelo menos faz
sentido agora, do jeito que você está me tratando como a maldita empregada.
Você é um bebê de fundo fiduciário.

Xander a chocou com um rugido que sacudiu a van, fazendo Lili pisar no
freio. A van deslizou em um arco aterrorizante, soltando um guincho
doentio. Assim que parou estremecendo, Xander agarrou seu braço e a forçou a
encará-lo.
Ela tinha ido longe demais – Lili podia ver em seus olhos. O rosto de sua
mãe, a decepção silenciosa gravada nas linhas de sua testa, brilhou em sua
mente. Quando, quando, quando Lili aprenderia?

Se ao menos ele não fosse rico.

Rude, ela poderia lidar. Desagradável, assustador, exigente, Lili tinha


maneiras de lidar com tudo isso. Mas anos de limpeza das bagunças de crianças
ricas, sem nunca serem agradecidas ou sequer reconhecidas, deixaram sua marca.

— Você é tão boa quanto eles, — sua mãe consolara uma soluçante Lili,
de 15 anos, depois que a filha de seu patrão jogou seu uniforme de futebol úmido
e fedorento nela e exigiu que estivesse limpo em uma hora. — Melhor ainda,
porque você ganhou o seu lugar. Eles acabaram de nascer no deles.

E foi por isso que, apesar de seu coração bater forte em seu peito, Lili se
forçou a encontrar o olhar feroz de Xander.

— Ouça-me, Lili. Tudo o que você pensa que sabe sobre mim, não chega
nem perto da verdade. Eu sou um Alfa. Eu vivi um inferno que você não pode
imaginar. A única coisa que precisa saber é que estou indo para a nova
Boundarylands, e você é quem me levará até lá. Entendeu?

Lili apenas assentiu.

— Bom. — Xander baixou o braço dela e se virou. — Agora, porra, dirija.


CAPÍTULO 4
Xander

Por seis longas horas, Xander ouviu Lilibeth se virar. Mesmo que ele
tenha feito uma cama improvisada para ela de uma pilha de cobertores que
puxou de uma caixa de mudança, ela ainda estava tendo problemas para dormir.

Ele não podia culpá-la.

Embora o meio-dia tivesse chegado e passado, mudando o vento e


trazendo uma brisa pela porta traseira parcialmente aberta da van, o calor ainda
era opressivo dentro da caixa de metal. Mesmo a sombra das enormes coníferas
que cobriam o norte do Novo México não trouxe muito alívio.

O clima não incomodava Xander, mas, novamente, ele estava


acostumado a suportar extremas – temperaturas frias e quentes, armas afiadas e
pontudas.

Depois de anos em cativeiro, aprendeu a dormir sob quaisquer


condições — as luzes brilhantes que iluminavam sua cela dia e noite, agulhadas
inesperadas, rajadas repentinas de água fria. Claro, não era o melhor descanso,
mas era melhor do que nada.

Mas essa garota Beta... ela claramente nunca teve que aprimorar essas
habilidades.

Para ser justo, seu corpo não conseguia se regular com a mesma
eficiência que o de um Alfa. Xander havia considerado arrastar o colchão
enterrado atrás de pilhas de caixas de mudança para deixá-la mais confortável,
mas isso era tirar tudo e embalá-lo novamente, e o risco de ser visto era muito
grande.

Não que alguém pudesse passar por essa velha estrada de gado. Ele não
podia sentir outra alma viva por quilômetros. Ainda assim, Xander teria ficado
muito mais feliz se a van pudesse ter saído da estrada para um local mais
seguro. Do jeito que estava, eles estavam estacionados no mato na beira da
estrada.

Quando pararam ao amanhecer, Xander podia sentir a dor da exaustão


de Lilibeth, a nebulosidade de uma mente desesperada por descanso. Apesar de
toda sua lamúria ridícula, ela não estava mentindo sobre isso.

Nenhuma surpresa. Xander não tinha captado nem um cheiro de


engano desde que inalou o cheiro dela pela primeira vez.

Com o tempo, seu medo e ansiedade avassaladores haviam


desaparecido o suficiente para que pudesse finalmente pegar dicas do cheiro que
era só dela. À medida que ela gradualmente aceitava suas circunstâncias, notas
de noz-moscada, roupa limpa e luz do sol surgiram.

Sim, luz solar. Xander sabia muito bem que a luz não tinha cheiro, mas
como descrever a nota superior, brilhante e nutritiva?

E o que diabos ele estava fazendo escrevendo poesia na cabeça


enquanto deveria estar protegendo seu meio de transporte?

Protegendo Lilibeth.
Ele provavelmente não deveria ter perguntado o nome dela. Pensar
nela apenas como a motorista — sem rosto, logo esquecida — teria mantido as
coisas mais simples. Mas ela dificultou bastante com sua recusa em seguir as
ordens mais simples. A verdade era que ela não era uma boa refém.

Era apenas sorte de Xander escolher a Beta mais cautelosa da história


do mundo. Mas pelo menos era honesta. Sem falar que é adorável.

Xander soltou um gemido. Chamar qualquer coisa ou alguém de


adorável era apenas mais uma prova de que precisava dormir tanto quanto ela.

Lilibeth nem se mexeu com o som. Graças a Deus. A última coisa que
queria fazer era explicar a fonte de seu desgosto consigo mesmo... de novo.

Ele ainda estava se recuperando de seu bufo de escárnio ao descobrir


que não podia dirigir um carro. Por um momento, ele até considerou dizer a ela
toda a verdade – que enquanto não podia dirigir um carro, ele poderia andar de
moto melhor do que qualquer um que conhecia. Mas no final, decidiu contra
isso. Ele só ficaria com ela por alguns dias. Ele não lhe devia nenhuma explicação,
especialmente sobre sua vida pessoal.

Deixe-a pensar mal dele se quiser. Além disso, talvez se ela mantivesse
seus olhos revirados e comentários depreciativos, Xander pudesse esquecer sua
atração por ela.

Depois de cinco anos de solidão, seu desejo por toque era


compreensível, mas ainda era um pé no saco. A última coisa que precisava era ser
distraído pela luxúria enquanto fugia das autoridades Beta pelo país.
Haveria tempo para lidar com os desejos carnais uma vez que chegasse
ao novo Boundaryland de Archer.

Quando a natureza de Xander apareceu, ele ouviu rumores de


prostitutas que faziam viagens semanais para os outros territórios Alfa
estabelecidos, e esperava que o mesmo acontecesse para onde estava indo.

Ele teve sua cota de garotas quando ainda era um Beta – garotas que se
emocionavam ao se relacionar com o bad boy da elite de Denver. Assim como o
próprio Xander, aquelas garotas precisavam de um pouco de rebeldia em suas
vidas – um passeio rápido em sua Ducati, uma noite selvagem no lado errado da
cidade, um caso de uma noite – mas a verdade era que tinha sido pouco mais do
que encenação.

Uma vez que fez a transição, não demorou muito para Xander perceber
quão merdinha ele tinha sido, chegando à beira do perigo, mas nunca realmente
passando por cima. Não foi até que se tornou um Alfa que Xander entendeu quão
patético esse tipo de ato de desafio tinha sido.

Mas o desejo que sentia por Lili agora? O fogo no fundo de sua
barriga? A fantasia de deslizar dentro dela e se perder no prazer? Sim... não havia
nada de patético nisso.

Mas era um pé no saco – ou, mais precisamente, uma pulsação irritante


em suas calças.

Querer um corpo quente e disposto a explorar era uma coisa, mas


cobiçar uma Beta que se recusava a ouvir a razão, levava tudo o que dizia da
maneira errada e parecia determinada a brigar, era outra. Então, por que ele
estava ficando louco com devaneios de tirar o cabelo dela do rabo de cavalo e vê-
lo cair sobre seus ombros macios e cremosos?

Oh, olá — o pau de Xander acordou na pior hora possível. Ele precisava
estar descansando, não sonhando com uma garota que nunca veria novamente
depois que chegassem ao Missouri.

Sim, ele gostava de lutar com Lilibeth, a recusa em desistir mesmo


quando ela estava em desvantagem. Ele ficou intrigado com a contradição entre
sua cautela e suas explosões, como um gatinho com garras afiadas.

Xander olhou para Lilibeth, maravilhado com a tensão que a seguia até
ao sono. Outra mulher teria relaxado seu aperto na borda do cobertor em que
estava deitada. As linhas de preocupação em sua testa poderiam ter
diminuído. Mas assim como ele, em algum lugar ao longo do caminho, a Beta
tinha perdido sua capacidade de relaxar verdadeiramente.

A razão não era da sua conta. Mas Xander se aproximou dela no ninho
improvisado de lençóis e cobertores de qualquer maneira, dizendo a si mesmo
que fazia sentido bloquear o corpo dela com o seu, caso ela acordasse antes dele
e decidisse fugir.

Perto o suficiente para sentir a respiração dela em seu peito, Xander


teve que resistir ao desejo de puxá-la para seus braços, onde nada poderia
machucá-la. Havia algo intangível entre eles desde que entrou na van... alguma
força que o puxou para ela, que aliviou sua mente quanto mais perto ela estava
dele. Mesmo agora, podia sentir-se começando a cochilar, sua inquietação se
acalmou.
Xander não acreditava em destino. Mas algo o fez abandonar seu plano
de sair da cidade sem ser detectado.

E ele teve a sensação de que algo estava deitado ao lado dele na


escuridão.

Lilibeth

Lili olhou para o medidor de gasolina novamente, mordendo o lábio.


Ela quase disse algo meia hora atrás, quando eles passaram por um armazém
empoeirado com um par de bombas na frente, mas dois velhos estavam sentados
em um banco. Dirigir com um Alfa no banco do passageiro teria chamado a
atenção deles, não importa quão grossas fossem suas lentes bifocais.

Agora, porém, a situação estava ficando desesperadora.

— Temos apenas alguns quilômetros de gasolina restantes, — disse ela,


— Vamos precisar parar em breve.

— Muito perigoso, — Xander vociferou, assim como ela sabia que ele
faria.

Mas o som frustrado a incomodou muito menos do que da primeira vez


que o ouviu. Na verdade, todos os seus grunhidos e rugidos provocaram alguma
resposta primitiva dentro dela que não tinha nada a ver com medo.

Resumidamente, Lili se perguntou se estava experimentando o início da


síndrome de Estocolmo, suas defesas contra seu captor enfraquecendo. Mas para
que isso acontecesse, Xander não teria que tentar convencê-la de que seu ato
violento era justificado?

... ou até mesmo ser legal com ela de vez em quando?

— Tudo bem por mim, — ela disse levianamente. — Assim que o


tanque secar, você pode sair e caminhar o resto do caminho até ao Missouri.

Desta vez seu grunhido foi acompanhado por um olhar abrasador que
parecia rasgar a pele dela para que ele pudesse olhar para dentro. Infelizmente,
Lili ficou confortável o suficiente atrás do volante da van para desviar o olhar da
estrada e, mais infelizmente, ela não conseguiu resistir.

A eletricidade escaldante que o olhar de Xander enviou através dela


definitivamente a distraiu do assunto em questão.

— Havia uma placa lá atrás para uma cidade alguns quilômetros à


frente, — disse Lili, e o momento foi quebrado.

— Ok. — Xander se virou, uma carranca no rosto. — Encontre um posto


de gasolina, mas estacione na bomba mais distante.

Ele não a ameaçou para não tentar nada estúpido desta vez. Ele não
precisava.

Nas vinte e quatro horas que Lili esteve na companhia de Xander, ele
não fez nada além de estudar e analisar cada movimento que ela
fazia. Acrescente a isso sua óbvia força e velocidade relâmpago, e Lili não
conseguiria atravessá-lo antes de pular na frente de um ônibus.

Além disso, não se tratava apenas de se proteger. Ela não conseguia


esquecer a facilidade com que Xander arremessou o soldado para o outro lado da
rua e se recusou a arriscar a vida do funcionário do posto de gasolina ou dos
clientes.

Embora a verdade fosse que ela também não podia suportar a ideia de
que Xander machucaria um inocente.

Ele não teve escolha a não ser lutar contra os soldados armados, que
estavam tentando atirar nele. Mas depois de passar um tempo com ele, Lili já não
pensava nele como perigosamente violento — pelo menos, não com ela.

Quando acordou com a última luz do sol poente, Lili ficou surpresa ao
descobrir que o braço musculoso de Xander estava pendurado em sua cintura,
mas enquanto seu peito maciço subia e descia ritmicamente, seu choque deu
lugar a outra coisa... uma sensação de calor, proteção e segurança.

Talvez ela não devesse ter ficado surpresa. Afinal, todos esses músculos
poderiam ser tão eficazes para proteger quanto para atacar. Especialmente
aquelas costas largas, ombros poderosos e bíceps tão grandes e musculosos que
ela não achava que poderia envolver suas mãos ao redor deles.

Talvez aquelas histórias sobre Alfas furiosos caçando mulheres para


violá-las não fossem verdadeiras, afinal. Na verdade, Lili estava começando a
achar que não conseguia acreditar em nada que o governo tinha a dizer sobre
Alfas.

Ainda assim, o oposto também era possível. Aqueles braços poderiam


ter esmagado Lili com a mesma facilidade com que a protegiam na noite anterior,
e ela precisava manter isso em mente até que chegassem a Boundarylands.
Lili poderia sobreviver a mais dois dias de... o que quer que isso
fosse. Tecnicamente um sequestro, embora ela não se sentisse mais como uma
vítima.

Era mais como ser amarrada a ajudar a vizinha idosa de sua mãe a
mover móveis pesados – desconfortável, cansativo e improvável de ser
apreciado. E enquanto Lili sabia que não tinha escolha, a verdade era que poderia
ter ajudado o Alfa de qualquer maneira, tanto quanto ela ajudou a Sra. Schneck
ao longo dos anos, porque não havia mais ninguém para fazer isso.

A 'cidade' acabou por ser pouco mais do que uma encruzilhada com um
punhado de casas pontilhando a área circundante. Lili desligou os faróis ao entrar
no posto de gasolina, o relógio no painel marcando 11h38 – tarde o suficiente
para os moradores estarem na cama, aparentemente, porque ninguém estava nas
ruas além de alguns carros na frente do único bar.

Lili parou na bomba mais distante como Xander havia indicado, mesmo
que não pudesse ver ninguém dentro da cabine envidraçada do caixa. Por sorte,
as bombas ainda estavam ligadas. Ela inseriu seu cartão de crédito, tentando não
pensar no que essas despesas não planejadas estava fazendo com seu orçamento,
e tinha acabado de começar a abastecer quando o som de seu celular a fez pular.

Ela olhou para cima para ver Xander atirando adagas para ela com o
olhar no espelho lateral. — Está tudo bem, — disse ela com um sorriso
apaziguador, tirando o telefone do bolso. — É apenas o meu telefone.

Ela olhou para a tela – Kelly.


Ah merda. Lili tinha esquecido completamente os planos do brunch de
ontem. Ela considerou não responder, mas dado a quão tarde era, Kelly deve
estar preocupada, e Lili não podia levantar suspeitas.

Ela respirou fundo para se equilibrar, mas não fez muito bem em face
da verificação de um Alfa furioso.

— Ei, garota, — ela disse. — Desculpe por esta manhã, eu acordei mais
tarde...

— Oh, graças a Deus, você está viva! — A voz de Kelly estava tensa e
alta. — Eu tenho tentado ligar para você o dia todo.

— Sinto muito. Eu estava dirigindo pelo meio do nada, e deve ter


havido falhas no meu serviço. — Lili olhou para Xander, que ouvia com grande
interesse. — Eu não sabia que você ficaria tão preocupada quando eu não apareci
hoje.

— Preocupada? — Kelly ecoou, e agora Lili ouviu o medo em sua voz.

O que diabos estava acontecendo? — Lili, você está em todos os


noticiários.

Lili ficou atordoada em silêncio, o impacto das palavras de sua amiga


levou um momento para ser registrado completamente. — Eu estou o quê?

— Você não pode estar surpresa, — disse Kelly. — O que você achou
que aconteceria se você começasse a dirigir por aí com um Alfa fugitivo?

Ah, merda.
Lili virou as costas para Xander para evitar sua carranca assassina, mas
ela não precisava ver sua reação para saber quão ferrados eles estavam. — Ouça,
Kelly, eu não sei o que você ouviu, mas...

— Eu não tive que ouvir. Eu vi. — Kelly estava quase gritando agora. —
Eu vi a notícia quando estava me preparando para encontrá-la esta manhã, e lá
estava você, tentando fazer uma inversão de marcha. Um cara estava gravando o
vídeo e pegou a coisa toda - o soldado perseguindo você e o Alfa o atacando e
contornando a van. Então você fugiu com ele no banco do passageiro.

Lili fechou os olhos, abalada. Isso era ainda pior do que ela
imaginava. — Kelly, você tem que me ouvir. Não é o que você pensa.

— O que eu acho, é a menor de suas preocupações, — disse Kelly,


soando quase histérica. — Agora, você precisa se preocupar com o que as
autoridades pensam.

Lili começou a tremer e se apoiou na van. — E o que eles acham? — ela


disse fracamente.

— Eles estão dizendo que você está ajudando e incentivando um


fugitivo. É um crime, Lili. Um crime. Talvez até traição.

Traição?

— Não é verdade, Kelly. Você tem que acreditar em mim.

— Claro que sim, garota, — Kelly assegurou a ela em um tom que era
muito brilhante. — Mas a polícia com quem tenho falado é uma história
diferente.
— Você tem falado com a polícia? — Kelly não respondeu por um
momento.

— Eles estão, hum, aqui comigo agora, Lili, — ela finalmente admitiu. —
Eles querem que eu diga para você se entregar. É a única saída para você e para o
Alfa...

Abruptamente, o telefone foi arrancado da mão de Lili. Xander estava


fora da van e elevando-se sobre ela. Ele não tirou os olhos dela quando desligou a
ligação e desligou o telefone.

— Vamos, — disse ele, estendendo a mão. — Precisamos continuar.

— Eu... eu não acho que posso.

— Claro que você pode. — Xander a puxou para longe da van e a guiou
de volta para a porta do lado do motorista. — Agora, não há outra escolha.
CAPÍTULO 5
Lilibeth

— Há um desvio à sua direita. Encoste.

Foi a primeira vez que Xander falou desde que eles pararam para
gasolina horas atrás, e isso tirou Lili de sua ruminação.

— Droga, você perdeu, Lilibeth, — ele vociferou. — Volte. — Lili


balançou a cabeça. Ela não tinha perdido nada.

— Nós não podemos parar, — ela murmurou, mantendo os olhos


firmemente na estrada. Depois que sua ligação com Kelly foi interrompida, Lili
ligou o rádio da van para uma estação de notícias 24h e ficou horrorizada ao
saber que eles eram a matéria principal. — Os policiais estão no nosso encalço.

— Eu não me importo com alguns policiais Beta, — disse ele. — Além


disso, não é você quem manda aqui.

As palavras atingiram Lili por dentro, arrastando seu humor ainda mais
para baixo. Claro que ela não mandava. Por um segundo, ela erroneamente
pensou que ser alvo de uma caçada nacional os colocaria em pé de igualdade.

Mas ele ainda era seu captor, e ela, sua prisioneira. Isso não significava
que tinha que gostar, no entanto.

— E isso é tudo que estou fazendo, seguindo suas ordens, — ela


admitiu irritada. — Você me disse para dirigir, então eu estou dirigindo.
— E agora eu estou dizendo para você parar.

Lili não perdeu o ritmo. — E eu estou dizendo para você ir para o


inferno.

— O quê?

Ele parecia surpreso que qualquer um - muito menos uma pequena


Beta como ela - ousaria falar com ele assim. Bem, agora que ela oficialmente não
tinha mais nada a perder, era melhor ele se acostumar com isso.

— Você me ouviu, — disse ela, apertando o volante.

Com o canto do olho, ela podia ver seu olhar se estreitar em frustração,
e um rugido baixo e retumbante sacudiu o ar da cabine, mas desta vez não
incomodou muito Lili.

— Tome a próxima saída que você ver, Lilibeth. Eu não estou fazendo
exigências apenas para ser um idiota.

— Você poderia ter me enganado.

— Está quase amanhecendo, — ele explicou de má vontade. — E não é


como Oklahoma cheio de matas densas para se esconder. Precisamos encontrar
um lugar para dormir um pouco agora, porque quando chegarmos ao meio do
estado ficará plano até chegarmos ao Arkansas.

— Arkansas? — exclamou Lili. — Por que diabos estamos indo para lá?

Oklahoma faz fronteira com o Missouri.

— A mesma razão pela qual viemos para o sul em vez de atravessar o


Kansas. Viremos do sul e evitaremos quaisquer soldados que eles tenham postado
nos lugares lógicos. Temos que manter esses filhos da puta em alerta.
— Me desculpe, eu sou lenta, — Lili disse sarcasticamente. — Mas
exatamente qual filhos da puta estamos falando?

— Federais. São eles que comandam o show.

Aparentemente, ele não estava ouvindo o mesmo rádio que ela. — Não,
eles não estão. Quero dizer, o FBI pode estar coordenando, mas disseram no
noticiário que estão trabalhando com a polícia local para...

— Não é verdade. Ali... à sua esquerda. Encoste.

Desta vez Lili encostou... mas porque ela queria. Provavelmente não era
seguro dirigir e discutir, especialmente estando tão irritada como estava agora.

Desde que explodiu em sua vida, ela fez tudo o que ele exigiu dela.

Ok... talvez não tudo, mas todas as coisas razoáveis. Ela até consentiu
em empurrar a van a mais de 130 quilômetros por hora assim que saíram de
Rockies e entraram na Reserva Black Mesa, apesar do fato de que a suspensão de
merda da van batia e balançava a cada rachadura na estrada naquela velocidade.

— Você sabe, se você me devolver meu telefone, eu poderia usá-lo para


descobrir para onde ir, — disse ela zangada enquanto jogava a van no
estacionamento.

— E no momento em que você o ligasse, diria a eles exatamente onde


nos encontrar.

— Quem? Você continua dizendo...

Ele não precisou gritar para cortar suas palavras. O olhar escuro em
seus olhos fez o trabalho. — Você não quer saber, Lilibeth. Você realmente não
quer.
Seu tom era tão intenso que Lili acreditou nele. Melhor se concentrar
na única coisa que ela podia controlar – dirigir.

Ela ficou quieta enquanto Xander a guiava para um local escondido


entre as sempre-vivas baixas e raquíticas, então abriu a parte de trás e arrumou
seus cobertores para a noite.

Só quando ele cavou em suas caixas de comida e entregou a ela uma


barra energética e um pote de amendoins ela disse o que estava pensando.

— Sabe, você poderia ficar aqui atrás, e eu poderia continuar dirigindo.


Ninguém iria ver você.

— O inferno que você poderia, — disse Xander com a boca cheia de


amendoins. — Você está exausta. Você não fará mais trinta quilômetros.

— Mas temos que continuar dirigindo, — disse ela. — Quanto mais


paramos para descansar, maior a chance deles nos pegarem.

Em vez de discutir, Xander colocou a mão no ombro dela enquanto


continuava mastigando, assustando-a em silêncio. Eles estavam sentados na
beirada do porta malas com as pernas penduradas sobre a borda – as de Lili, pelo
menos, já que as de Xander facilmente alcançavam o chão.

Estranhamente, quanto mais tempo ficavam sentados assim, o peso e o


calor de sua mão enorme começavam a parecer calmantes... até mesmo
reconfortantes. O que provavelmente era uma evidência de que Xander estava
certo sobre ela estar muito cansada para pensar direito.
Ainda assim, Lili abriu caminho por cem noites sem dormir quando
estava fazendo malabarismos com a faculdade, trabalhando e ajudando em
casa. Mais uma não a mataria.

Quando Xander terminou de comer, ele juntou o lixo e o enfiou em uma


caixa vazia, mas não se levantou imediatamente. — Lilibeth, tente não se
preocupar. Eles não sabem onde estamos agora.

Instantaneamente, sua ansiedade voltou. — Como você pode dizer


isso? Aqueles eram soldados no bloqueio da estrada. A guarda nacional pode ir
aonde quiserem. Nossa única esperança é chegar a Boundarylands antes deles.

— Nossa? — Xander a olhou surpreso. — Você está planejando se


esconder em Boundarylands?

Uma risada quase histérica escapou dos lábios de Lili. — Nada sobre as
últimas quarenta e oito horas era o meu plano. Neste ponto, tudo que eu quero é
permanecer viva o tempo suficiente para resolver toda essa bagunça.

Xander colocou a mão no ombro dela novamente. — Mas Lilibeth...

Ela ouviu esse tom condescendente com muita frequência para lidar
com isso do Alfa que parecia determinado a matá-la. A raiva subiu à superfície, e
ela se afastou dele.

— Não, — ela sussurrou.

— Não... o quê?

A súbita ameaça de lágrimas só deixou Lili mais irritada.

Mas Lili, você precisa estabelecer metas razoáveis.

Mas Lili, a universidade só aceita alunos de boas escolas.


Mas Lili, ninguém contrata mulheres para esses trabalhos,
especialmente aquelas sem conexões familiares.

— Você é o único que me disse que não havia outra escolha! — ela
explodiu. — Mas não se preocupe, não pretendo ficar muito tempo. Só preciso de
um lugar onde tenham que falar comigo em vez de atirar. Assim que eu explicar o
que aconteceu, eles vão entender que sou sua refém, não sua cúmplice. Eles
terão que fazer isso.

O olhar de confusão de Xander se transformou em preocupação. — E


você acha que entrar em Boundaryland comigo escondido na traseira da van vai
provar isso?

Sim, não. Droga, ela não tinha certeza.

Tudo que Lili sabia era que antes que pudesse mudar isso, ela tinha que
chegar a algum lugar seguro. Algum lugar onde os soldados — os que já
haviam atirado nela — não pudessem alcançá-la.

Uma vez que estivesse em Boundaryland, ela descansaria um pouco e


começaria a fazer ligações. Por enquanto, tudo o que importava era alcançar a
segurança.

— O que eu acho é que depois de ser mantida contra a minha vontade,


levando gritos, rugidos, e conduzindo seu privilegiado rabo rico em quatro
estados, você me deve, — disse ela com pressa. — Depois de tudo que fiz por
você, não acho que seja pedir muito por um porto seguro enquanto limpo meu
nome.
Xander ficou em silêncio por tanto tempo que Lili imaginou que ela o
tinha irritado de novo, mas estava cansada demais para se importar.

— Concordo, — ele finalmente disse. — Você pode ficar comigo por


alguns dias assim que chegarmos ao Missouri, com uma condição.

— Oh, Deus, — Lili choramingou para si mesma.

— Apenas deite-se e descanse um pouco. Não precisa ser o dia todo.


Algumas horas estarão bem. Apenas o suficiente para você dormir um pouco,
para não adormecer ao volante e matar nós dois.

Lili estava exausta demais para discutir... o que significava que ele
provavelmente estava certo. Seus olhos já estavam fechando quando ela caiu
contra ele. — Mas apenas por algumas horas, — ela murmurou.

Xander

Xander olhou para a parede de caixas de papelão e pensou no que


Lilibeth havia dito. Ela estava aconchegada contra ele, dormindo tão
profundamente que não reagiu quando ele a pegou em seus braços e a deitou
sobre os cobertores.

Nenhuma surpresa. Desde que a adrenalina do telefonema deixou seu


sistema, ela estava oscilando à beira da exaustão. Se ela não tivesse saído da
estrada, ele teria agarrado o volante e forçado o problema.
Agora, sentado com as costas apoiadas na parede de aço, observando
sua pequena cúmplice Beta dormir, ele estava muito irritado para descansar — e
não era preciso ser um gênio para descobrir por quê.

Xander estava tão zangado quanto ela, mas não com as autoridades.

Ele estava com raiva de si mesmo.

Apenas um mês depois de sua vida fora da instalação, ele ficou mole e
sem foco – tanto que sequestrou uma van em movimento e sua motorista Beta
sem pensar nas consequências.

Ele disse a ela a verdade mais cedo... mas não toda. Ficar em estradas
secundárias garantiria que eles não fossem encontrados, mas não foi por falta de
recursos. Se o governo quisesse que ele fosse encontrado a todo custo, ele já
estaria preso ou morto.

Xander estava ouvindo o rádio, apesar do que Lili pensava. E ela havia
perdido a única linha que poderia tê-la feito entender o verdadeiro perigo em que
estava.

— Gritando para ser ouvido por um pequeno grupo de manifestantes


dos direitos dos Alfas...

Hoje era um grupo pequeno, mas se o governo não tomasse cuidado,


tinha potencial para crescer. E Xander estava bem ciente de quão insidiosa
ameaça o governo representava para aqueles que o desafiassem.

Eles não faziam isso à vista de todos, é claro.


Eles fizeram um grande esforço para esconder a 'pesquisa' que
acontecia na instalação, e sem dúvida fariam o mesmo para parar os Alfas que
escaparam de seu inferno.

Tinha sido pura genialidade designar a Ozark Boundaryland. Isso deu ao


governo Beta uma arma para reprimir qualquer simpatizante dos Alfas — prova
de que eles não apenas estavam operando dentro da lei, mas sendo mais do que
razoáveis em acomodar os Alfas.

O que Lili não percebeu – e o que Xander não quis dizer a ela – era que
ninguém iria acreditar em nada que ela dissesse. Não a polícia, os políticos ou a
grande maioria dos cidadãos Beta. Nenhum advogado decente a defenderia, e
nenhum juiz mostraria sua misericórdia.

Nunca.

Xander passara tempo suficiente com Betas para saber que as


autoridades raramente se importavam com a verdade. Em vez disso, criaram uma
história que era conveniente.

O governo tinha tudo o que precisava para convencer o público de que


nem Alfas nem dissidentes eram confiáveis – um punhado de soldados feridos e
um vídeo de uma mulher saindo do local com um Alfa no banco do
passageiro. Isso era mais que suficiente para condenar Lilibeth para sempre.

E se eles alguma vez colocassem as mãos nela...

O sangue de Xander ficou frio com o pensamento. Ele não acreditou por
um segundo que a 'instalação de pesquisa' onde estava detido fosse a única de
seu tipo. Se pesquisadores do governo fariam coisas indescritíveis com Alfas
recém-transformados, o que os impedia de construir instalações semelhantes
para lidar com civis problemáticos? De onde, aliás, vieram as mulheres Beta que
usaram em experimentos cruéis com seus irmãos Alfa?

Enquanto ouvia o som constante do coração de Lilibeth batendo


enquanto ela dormia, Xander fez um voto.

Ele não deixaria nada acontecer com ela.

Ela estava certa... ele devia a ela. Mas ela ainda não percebeu quanto
dano ele tinha feito.

Não levaria dias ou mesmo semanas para que as coisas 'se acalmassem'
uma vez que ela estivesse segura dentro de Boundarylands com ele.

Xander sabia em seu coração que uma vez que ela cruzasse a fronteira
de Boundarylands, Lilibeth nunca mais partiria.
CAPÍTULO 6
Lilibeth

Lili sentiu a mão enorme em seu ombro sacudindo-a suavemente muito


antes dela realmente acordar. A sensação invadiu seu sonho — um que ela teve
muitas vezes antes.

Ela era uma criança novamente, nadando na piscina pública. Ela estava
prendendo a respiração no fundo por muito mais tempo do que a realidade
jamais permitiria, apenas observando os raios da luz do sol dançar ao longo dos
azulejos azuis.

Tudo estava quieto e calmo nas profundezas do fundo da piscina. Os


problemas não podiam tocar Lili lá embaixo. Nem os braços e pernas chutando e
se debatendo acima. E ao contrário da vida real, aqui embaixo a pressão da água
acima de sua cabeça não fazia os tímpanos de Lili doerem.

Era um grande sonho. Talvez seu favorito.

Foi por isso que Lili ficou tão chateada quando sentiu a mão agarrá-la e
puxá-la para fora da água e para o mundo desperto.

Ela abriu os olhos para uma faixa de luz entrando pela porta
parcialmente aberta e respirou o cheiro de flores silvestres, óleo de motor e
Xander.

Grogue e mais do que um pouco perturbada por poder reconhecer o


aroma agradavelmente masculino do Alfa com os olhos fechados, Lili se forçou a
se sentar. Os músculos de seus ombros e costas pareciam mais rígidos do que
deveriam depois de um cochilo tão curto.

— Que horas são? — ela perguntou.

Xander deu de ombros. — Por volta das 15h.

— Três? — Lili ficou de pé. — Nós deveríamos estar na estrada horas


atrás! Você deveria me acordar!

— Eu acabei de fazer, — Xander disse indiferente. De sua posição


sentada no chão, ele entregou a ela uma garrafa de água e um pacote meio
comido de damascos secos. — Do jeito que você estava roncando, eu aposto que
você teria dormido mais quatro ou cinco horas se eu deixasse.

As bochechas de Lili ficaram vermelhas. — Eu não ronco.

— Se você diz. — Um sorriso divertido levantou o canto de seus lábios


quando ele apontou para a porta de correr. — Mas vá em frente, eu sei que você
está morrendo de vontade de voltar ao volante.

Os olhos de Lili se estreitaram quando ele não fez nenhum movimento


para se levantar. — Você não vem comigo?

— Eu pensei sobre o que você disse, e está certa, — disse ele. —


Podemos encontrar algum tráfego durante o dia. Seria melhor para nós dois se eu
ficasse aqui atrás.

Melhor se não houvesse mais avistamentos deles juntos, ele quis


dizer. E estava certo.

Lili assentiu e foi para a traseira da van, mas foi interrompida pela
estranha vontade de tranquilizá-lo.
Para tranquilizar Xander... seu sequestrador. Não fazia sentido, mas a
compulsão não podia ser negada.

— Eu prometo que não farei nada para trair você.

Não havia sequer uma ponta de dúvida em seus olhos quando ele
encontrou o olhar dela. — Eu sei, Lilibeth.

Quase robótica, ela pulou para baixo, segurou a porta giratória e andou
até à porta do lado do motorista. Uma vez ao volante, Lili levou um momento
para se recompor.

Não era assim que as coisas deveriam acontecer. A vida acontece, ela
lembrou a si mesma, sabedoria de um livro que leu na faculdade. Ela esperava
aprender a administrar melhor seu tempo, mas o livro de autoajuda insistia que o
primeiro passo era aprender a se adaptar ao inesperado.

O problema era que não havia espaço na vida de Lili para o inesperado.
Nunca houve.

As primeiras lembranças de Lili eram de ser entregue à avó pela manhã,


depois ser devolvida à mãe assim que o dia de trabalho terminava. Depois disso,
Nana partia para seu trabalho noturno.

A casa dos Rennert funcionava como um relógio porque tinha que ser, e
quando Lili estava conciliando seu próprio trabalho com seus estudos, ela
aprendeu bem a lição: faça um plano e cumpra-o.

Isso significava não dormir demais, não adoecer, não faltar a aula, sem
folga no trabalho.
Ser sequestrada não tinha apenas atrapalhado seus planos. Ele explodiu
em pedacinhos, e fez Lili querer bater em alguma coisa.

Em vez disso, Lili respirou fundo e ligou a van. Sim, ela aprendeu a 'se
adaptar ao inesperado', tudo bem, mas não foi seguindo o conselho do livro
para desacelerar, ter tempo para si mesma, descansar e recarregar.

Esse conselho era para pessoas como Xander, que andavam de chofer e
nunca se preocupavam com a origem do dinheiro para as compras. Pessoas que
podiam se dar ao luxo de brincar sem fazer nada.

Para pessoas como Lili, no entanto, a resposta era sempre a mesma:


engolir e fazer.

Ela estava na estrada há quinze minutos, terminando a garrafa de água


e mordiscando o último dos damascos, antes que duas coisas lhe ocorresse.
Primeiro, Xander concordou em confiar nela e ficar na parte de trás da van até
chegarem à Boundaryland, algo que nunca teria esperado. E dois, ela não tinha
ideia de como chegar lá.

O único sinal de estrada que Lili tinha visto dizia OK 133. Havia
realmente mais de uma centena dessas pequenas estradas de duas pistas neste
estado? E como deveria descobrir qual delas a levaria para nordeste até à
fronteira da nova Boundaryland?

Ela desejou que Xander estivesse na frente com ela.

E não apenas para que pudesse confiar em seu estranho super senso de
direção para saber aonde ir. Havia algo em sua presença que a acalmava,
derretendo sua ansiedade a um nível administrável, ajudando-a a organizar seus
pensamentos emaranhados.

Não muito diferente de como dormia muito melhor quando os braços


dele estavam em sua volta.

Uau.

De onde veio esse pensamento? Claramente, Lili ainda estava


estressada, ou em choque, ou talvez até sofrendo de PTSD2. Qualquer um deles
era melhor do que se apaixonar por um maldito Alfa.

Lili acelerou, desejando poder deixar seus pensamentos traidores para


trás tão facilmente quanto a paisagem de Oklahoma.

À medida que os quilômetros desapareciam sob as rodas, ela tentou ao


máximo se concentrar na estrada e não em Xander, mas era quase impossível.

Havia algo na maneira como ele olhava para ela, algo que sugeria que
ele podia ver mais do que estava na superfície. Quase como se ele pudesse
perscrutar além de suas palavras até suas esperanças e medos mais secretos.

A ideia era ao mesmo tempo emocionante e aterrorizante para alguém


que gostava de manter suas emoções sob controle.

Lili acelerou quando uma placa azul e branca passou zunindo.

Bem-vindo ao Arkansas.

Lágrimas brotaram em seus olhos, a cereja em cima do bolinho de


merda. Ela não deveria estar em qualquer lugar perto daqui. Seu plano de viagem

2
Transtorno de estresse pós-traumático.
original previa que estivesse em Ohio, pronta para cruzar a Pensilvânia amanhã,
chegando a Nova York no final da tarde.

Lili cerrou os dentes e conteve as lágrimas, mas não adiantou.

Ela teve o cuidado de não fazer barulho enquanto as enxugava.

Chorar era um sinal de fraqueza, uma perda de controle. Chorar levava


a soluçar, e Lili não podia permitir isso agora.

Os colapsos emocionais eram um privilégio reservado para aqueles


cujas vidas não dependiam deles manterem suas merdas juntas, que não seriam
reduzidos a pó se mostrassem a menor fraqueza. Quem não tinha que lutar todos
os dias apenas para manter o pé no fundo do poço.

Agora, Lili precisava ser mais afiada do que nunca – mais dura, mais
rápida, mais vigilante. Era como ela tinha sobrevivido a tudo que a vida tinha
jogado nela até agora... e era como sobreviveria a isso também.

Então ela cerrou os dentes, apertou o volante e dirigiu.

Outros vinte minutos trouxeram sinais de civilização — uma dispersão


de casas, um posto de gasolina e uma mercearia agrupados em torno de um único
semáforo, junto com algumas pessoas na calçada. Lili prendeu a respiração,
rezando para que nenhum deles conectasse essa van em movimento àquela das
notícias a centenas de quilômetros de distância.

Então um veículo da polícia parou atrás dela, a palavra 'xerife'


estampada em letras maiúsculas no capô. Seu coração batendo, Lili endireitou-se
e esperou que a luz mudasse. Não aja de forma suspeita, ela disse a si mesma, e
eles não ficarão desconfiados.
Mas antes mesmo da luz mudar, as luzes azuis se acenderam.

Merda!

Não havia como Lili fugir de um carro da polícia na van da mudança,


mesmo que quisesse. Ela não teve escolha a não ser dirigir lentamente pelo
cruzamento e encostar no acostamento assim que o sinal ficou verde.

Ela pegou sua bolsa e remexeu em sua carteira com as mãos trêmulas,
tentando encontrar alguma razão pela qual ela estaria dirigindo pelo Arkansas a
caminho de Nova York em vez de pegar a rota direta. Ela observou o policial sair
de seu carro, tomando seu tempo. Ele não parecia feliz, mas também não parecia
particularmente desconfiado.

Mas então, Lili sentiu o estrondo da porta dos fundos se fechando.

Deus, não.

Lili congelou de horror, olhando pelo retrovisor lateral enquanto Xander


pulava do compartimento de carga para ficar no meio da estrada. Ela não podia
ver a expressão dele, apenas a do xerife.

Ao ver o Alfa, o policial Beta congelou, sua boca aberta de horror.

Por favor, por favor, por favor, rezou Lili. Mas antes que pudesse
descobrir exatamente pelo que orar, o policial correu de volta para seu carro, deu
marcha à ré e deu o fora de lá.

Lili cedeu de alívio. Não haveria confronto.

Ninguém ia se machucar – não desta vez.

Seu alívio foi de curta duração, no entanto. Em questão de segundos, as


pessoas começaram a sair dos prédios, telefones na mão, gravando vídeos.
Goste ou não, mais uma vez, a vida de Lili estava se tornando viral.

A porta traseira da van se fechou e Xander apareceu do lado do


passageiro. Ele subiu em seu assento tão casualmente como se tivesse acabado
de sair para tomar ar.

Lili, por outro lado, estava quase hiperventilando.

— E-essas pessoas, — ela engasgou, apontando um dedo trêmulo.

— Não se preocupe, — disse Xander. — Estão todos com muito medo


de nos confrontar. Agora, sairemos daqui.

Xander

Xander estava preparado para deixar o cruzamento empoeirado à força,


mas estava feliz por não ter chegado a esse ponto. Especialmente agora que
estavam perto o suficiente de Ozarks para ele começar a sentir a atração de seus
irmãos Alfa já vivendo em liberdade.

— Isso é ruim. Muito ruim, — Lili murmurou enquanto a pequena


cidade desaparecia atrás deles. Ela estava passando dos oitenta sem que Xander
sequer a solicitasse, e ele podia sentir o pânico em seu cheiro. — E se aquele
policial vier atrás de nós?

— Ele não vai.

— Mas você o assustou pra caramba, — ela protestou, — Ele voltará


para a delegacia. Ele vai pedir reforços. Não só do departamento do xerife, mas
da patrulha rodoviária, do FBI, do...
A voz dela quebrou em quase histeria, então Xander disse o que sempre
fazia quando Maggie se assustava com seus pais descobrindo sobre o último
problema em que ela se meteu.

— Se algo acontecer, lidaremos com isso então, — disse ele,


descansando a mão no ombro de Lili. — Eu protegerei você.

Aos dezesseis anos, a única proteção que ele poderia oferecer a sua
irmã depois que ela destruiu o Mercedes de seu pai, era alegar que foi ele quem o
levou para um passeio... sozinho.

Maggie chorou quando disse a ela que, como punição, seu pai o proibiu
de praticar qualquer esporte no último ano. Então, ela jogou seus braços magros
ao redor dele e colocou maquiagem por toda a sua camisa.

Mas Xander era um Alfa agora e poderia fazer muito mais para proteger
Lilibeth do que simplesmente se oferecer para assumir a culpa.

E ele protegeria Lilibeth, corpo e alma, com sua vida se fosse preciso. E
ela acreditou nele, a julgar pela forma como seu batimento cardíaco diminuiu sob
seu toque.

Infelizmente, esse não foi o único efeito de tocá-la.

Xander puxou a mão para trás quando seu sangue começou a ferver,
acompanhado por imagens de Lili deitando o corpo nu no chão macio da grama
de sua terra natal e mostrando a ela todas as outras coisas que seu corpo poderia
fazer por ela.

Mas antes que pudesse pensar nisso, ele precisava levá-los em


segurança primeiro. Então, Xander se obrigou a ignorar a suavização do cheiro
dela e o jeito que ela inconscientemente inclinou a cabeça para que sua bochecha
roçasse os nós dos dedos dele. Ele manteve os olhos em frente para não se
distrair com a visão de seus braços magros e sardentos, ou a extensão lisa de suas
coxas ou seu cabelo como seda pálido emaranhada em torno de seus ombros.

Quando Xander embarcou no trem para Boundaryland cinco anos atrás


– um destino que nunca alcançaria – tudo sobre ser um Alfa era novo para ele. A
rápida transição de sua natureza o deixou desajeitado; a chocante intensidade de
seus sentidos tornava difícil saber onde focar.

Todos esses anos depois, Xander havia dominado o fluxo de estímulos


sensoriais que o bombardeavam a cada momento do dia, aprendendo a priorizá-
los sem pensar e ignorá-los quando necessário.

Ainda assim, ele ficou chocado ao descobrir o quanto perdeu no


cativeiro. A vida acima do solo era uma mistura de cores, sons e cheiros muito
mais ricos do que qualquer coisa que o laboratório frio, estéril e sem janelas
pudesse oferecer.

A revelação mais surpreendente foi uma liberdade de que Xander não


sabia que ele possuía e não tinha certeza do que fazer. Ele havia sido enterrado
sob a monotonia e o medo constante do subsolo, e demorou um pouco para
emergir quando estava livre.

Xander ainda não tinha palavras para descrevê-lo – essa consciência


que se tornava mais forte à medida que se aproximavam da fronteira do Missouri
– mas tinha certeza de que estava perto de outros Alfas que viviam em paz.
O que Xander não disse a Lili, no entanto, foi que esse novo sentido o
estava direcionando como a luz de um farol. Ele tinha certeza de que Lili não
entenderia. Inferno, ele estava apenas agora começando a entender isso.

— Estamos perto, — anunciou ele depois de mais ou menos uma hora


dirigindo.

Em algum lugar ao longo do caminho, eles passaram do território Beta


para a nova Boundaryland. Exatamente como Xander esperava, a fronteira era
muito nova para que guardas fossem colocados em todas as rotas menores de
entrada e saída, e eles conseguiram entrar sem incidentes.

— Como você sabe? — Lili perguntou, surpresa.

— Eu só sei.

Ele não elaborou, mas podia sentir seu ceticismo. — Não demorará
muito agora.

Xander guiou Lili ao longo de uma rota sinuosa que seguia os contornos
da terra. As estradas em que estavam agora eram pouco mais do que faixas
estreitas de pavimento rachado que tinham pouco uso desde que a população
Beta abandonou a área.

Sua próxima respiração trouxe algo surpreendente, algo que ele decidiu
guardar para si por enquanto.

Não eram apenas Alfas aqui nesta nova Boundaryland. Havia Ômegas
também. Como seus irmãos encontraram companheiras tão rapidamente era
desconcertante. O número de Ômegas adormecidas esperando pelo toque de um
Alfa para despertar sua verdadeira natureza era supostamente muito baixo. O
que fez desses pioneiros de Ozark Boundaryland alguns filhos da puta sortudos,
um pensamento que quase fez Xander perder a chance.

— Há uma curva à sua esquerda, — disse ele a Lilibeth. — Depois disso,


serão cerca de três quilômetros.

— Três quilômetros até ao quê? — Lilibeth perguntou.

Sua tensão voltou a subir depois que ele conseguiu acalmá-la


temporariamente. Na verdade, ela parecia ainda mais ansiosa agora do que
quando o policial os parou.

— Até chegarmos ao nosso destino.

Lilibeth mordeu o lábio inferior com os dentes. — E depois?

— E então... nós terminamos. — Xander não sabia mais o que dizer a


ela. Com todas as ameaças e perigos que enfrentou ao longo dos anos, não
estava acostumado a pensar além do curto prazo.

Mas, aparentemente, Lilibeth não funcionava dessa maneira.

— Você pode ter, — ela suspirou. — Mas meus problemas estão apenas
começando.

— Não se preocupe. Eu disse que iria protegê-la.

— Eu sei, mas... — O que quer que ela fosse dizer, ela pensou melhor.

Xander não estava disposto a deixá-la ir. — Mas o quê?

— Mas isso seria mais fácil de acreditar se você não fosse a razão pela
qual eu estou com todos esses problemas para começar.
Xander franziu o cenho. — Você não acredita em mim? Acha que estou
mentindo para você?

Lilibeth balançou a cabeça, mas apertou ainda mais o volante. — Eu só


acho que você e eu temos ideias muito diferentes sobre o conceito de proteção.

— Não há desacordo, — disse ele, perguntando-se por que ela estava


transformando algo tão fácil, tão difícil. — Prometi não deixar ninguém te
machucar.

— Mas apenas meu corpo, certo? — ela lançou-lhe um olhar. — Você


não prometeu proteger minha vida.

— Qual é a diferença?

— Bem, acho que devo agradecer por não me deixar levar um tiro.
Infelizmente, você também assustou um policial e deu a muitas pessoas a chance
de gravar um vídeo para dar à imprensa.

Xander não podia acreditar que ela ainda estava presa naquele
incidente. — Aquele confronto com o policial ia acontecer de qualquer maneira.
Melhor sair antes, do que depois que sua arma foi sacada.

— Você não sabe que ele ia sacar sua arma, — ela retrucou.

— Claro que sim. Vocês Betas tratam nossa própria existência como
uma ameaça.

Seu medo tomou a ponta da raiva, e ela se virou para ele, a van
balançando sobre um galho na estrada.
— E por que não deveríamos? É muito difícil ver os Alfas como
inocentes quando eles passaram os últimos dois anos sequestrando mulheres e
matando qualquer um que tentasse resgatá-las.

Xander tentou controlar seu temperamento. Ele sabia tudo sobre essas
histórias, tinha ouvido o pessoal da instalação falando sobre como eles
encobriram as transições Ômega naturais em Boundarylands para fazê-las parecer
mais sinistras e virar a opinião pública ainda mais contra os Alfas.

Não era culpa de Lilibeth que ela caiu no acobertamento junto com a
maior parte do país. Mas eles não eram estranhos neste momento, e o
pensamento de que ela poderia imaginá-lo fazendo as coisas que descreveu era
como engolir ácido.

— É muito difícil confiar em Betas quando você é quem caçou, torturou


e matou centenas de nós por mais de uma década, — ele esbravejou, — Tudo por
causa de experimentos secretos distorcidos.

— Você tem razão. — Agora Lilibeth nem olhava para ele. Seu queixo
estava tão apertado que ele temia que ela pudesse quebrar um dente. — Mas eu
nunca fiz nada. O único crime que cometi foi dirigir pelo país para começar uma
nova vida.

— Sim, — Xander murmurou. — E então algum garoto rico entrou no


seu caminho.

Ele não queria soar tão amargo e ele não estava preparado para a
forma como ela se encolheu. Ele desejou poder retirar as palavras; era a primeira
vez que Lilibeth mencionava o motivo pelo qual estava dirigindo pelo país.
Claro, ele nunca se deu ao trabalho de perguntar. E talvez ele devesse
um pedido de desculpas a ela por isso, mas teria que esperar. Ele podia sentir a
presença de seu irmão Archer se aproximando.

— Ali, — disse ele, apontando para a entrada arborizada alguns metros


à frente.

Muros de apreensão e ansiedade se ergueram dentro de Lilibeth


quando ela fez a curva.

Mas Xander não teve tempo para tentar acalmá-la, não quando saíram
da van para encontrar seu irmão Archer parado na porta da casa. Ao lado dele
estava uma mulher com cabelos escuros e ondulados e olhos cor de chocolate
combinando.

A sensação de calor que se desenrolava dentro de Xander era


esmagadora. Sua mão estava na porta antes mesmo de Lilibeth desligar o motor,
mas ele se obrigou a esperar. Ela parou ao lado da casa, onde o caminho era
sombreado pelo dossel de um enorme carvalho velho, e ele inalou o terror que a
engolfava.

— Vá em frente, — disse ela, sua voz tremendo. — Eu ficarei aqui.

— Você não precisa. Eu conheço esse Alfa muito bem, e...

— Eu disse que ficarei aqui.

Xander não discutiu. Lilibeth estava obviamente apavorada, e ele não


estava disposto a forçá-la a fazer nada que ela não quisesse. Ainda assim, parecia
estranho deixá-la na van enquanto ele saía para o sol da tarde.
Archer tinha descido da varanda quando Xander contornou a van, e eles
se abraçaram em um abraço tão forte quanto breve.

— Irmão, você conseguiu, — disse Archer. — Esta é minha


companheira, Sarah.

A Ômega de cabelos escuros se juntou a eles, olhando para Xander com


uma confiança silenciosa, seu sorriso exalando boas-vindas. — Estamos felizes
que você está aqui. Por favor, peça a sua companheira para sair da van e se juntar
a nós.

— Ela não é minha companheira, — disse Xander. — Apenas minha


carona.

Os olhos de Sarah se arregalaram. — Você encontrou uma Beta que


estava disposta a trazê-lo até aqui? Mesmo com todos os problemas nas notícias?

Xander abriu a boca para falar e descobriu que não conseguia


explicar. — É uma longa história, — ele se contentou em contar a ela. — Uma que
vai esperar por outra hora. Mas se estiver tudo bem, Lilibeth precisará ficar
comigo por alguns dias.

— Isso não é problema nenhum, — disse Archer. — Você está livre aqui.
Assim que instalarmos sua nova propriedade, ela é sua. Ninguém pode lhe dizer o
que você pode ou não fazer lá, incluindo convidar qualquer... convidados que
você queira.

Xander exalou com alívio. Um problema resolvido. Apague isso — a


maioria de seus problemas tinha acabado de ser resolvido em uma frase de seu
velho amigo.
Embora ele não gostasse de como Archer disse a palavra 'convidados' -
como se a mulher Beta sentada na van fosse seu pequeno segredo sujo.
CAPÍTULO 7
Lilibeth

Splash

Lili se levantou, com o coração batendo forte, e olhou através da


escuridão em direção ao riacho que serpenteava pela velha casa. Provavelmente
apenas um peixe, ela tentou se tranquilizar, recostando-se lentamente contra o
tapume de madeira descascado.

A maioria das pessoas provavelmente não pulava para fora de suas


peles a cada pequeno som na natureza. Mas a maioria das pessoas não tinha
tanto medo do deserto quanto Lili – nem tanto medo do escuro. E a maioria das
pessoas não chegou a centímetros da morte mais de uma vez no espaço de alguns
dias.

Ainda assim, era melhor do que entrar. Lili assumiu seu posto no final
da varanda mais afastada da estrada, tentando não pensar no apartamento bem
acima da cidade para o qual deveria se mudar. Até dormir no chão de uma
rodoviária seria melhor do que isso.

Ainda assim, a lua estava lançando a ocasional luz prateada fraca


sempre que as nuvens se separavam. Era como se Deus tivesse jogado um
cobertor de lã sobre o mundo. O riacho brilhava prateado; as folhas farfalharam...
mas se houvesse outro Alfa espreitando na floresta logo depois da varanda, Lili
nunca saberia.
Ela e Xander chegaram a esta casa pouco antes do pôr-do-sol, e havia
apenas meia hora para ter uma noção do extenso terreno antes que a escuridão
descesse. Pelo que Lili tinha visto no caminho, a velha casa ficava a um ou dois
quilômetros de seus vizinhos mais próximos e estava abandonada há muito
tempo. Seu telhado estava parcialmente caído, algumas das janelas estavam
quebradas, e a varanda em que estava sentada estava afastada da fundação.

Lili não conseguia imaginar por que Xander havia escolhido esta casa
em vez de algumas das casas maiores e mais novas pelas quais passaram –
aquelas com portões e fechaduras pesadas nas portas, construídas pouco antes
do êxodo Beta. Elas provavelmente serviram como casas de férias para os ricos,
com linhas modernas, muito vidro, aço e vistas deslumbrantes do lago. Agora,
eles se tornariam os lares dos Alfas.

Se Lili tivesse tido coragem de participar da conversa com o amigo e


companheiro de Xander, ela poderia ter entendido o raciocínio dele; mas o medo
de ficar cara a cara com outro Alfa a manteve na van. Especialmente desde que
Archer continuou olhando para ela. Lili se perguntou se era ela em particular ou
Betas em geral, mas aquele Alfa não ficou feliz em vê-la. E o sentimento era
mútuo. Na verdade, havia pouco o que gostar em qualquer coisa que ela tivesse
visto desde que chegaram à Boundarylands.

Esta casa assustadora e mal-assombrada pertencia a um filme de


terror. Os sons que ela ouvia na floresta eram piores do que as sirenes e o
barulho da rua entrando pela janela de sua casa. E ela com certeza poderia fazer
sem esta maldita escuridão.
Lili deveria estar chegando em Nova York amanhã, onde entregaria sua
van, pegaria as chaves de seu apartamento e participaria de uma recepção de
boas-vindas com seus colegas recém-formados antes do programa de
treinamento começar a sério no dia seguinte. Ela deveria estar carregando seus
pertences escada acima e apertando as dobras de seu terno novo, carregando seu
laptop e respondendo e-mails.

Em vez disso, estava recebendo pontadas e picadas de mosquito no


meio do nada. Lili não conseguia entender como as pessoas podiam viver
assim. Estava muito barulhento e muito quieto ao mesmo tempo; os sons
aterrorizantes da floresta contra uma quietude que parecia que o mundo havia
acabado.

Desde as primeiras memórias de Lili, ela esteve cercada por uma cidade
que nunca descansava. Mesmo com as cortinas fechadas, nunca estava realmente
escuro no quarto de Lili, e era assim que ela gostava. As luzes da rua, os faróis e as
janelas do prédio vizinho forneciam um brilho reconfortante a qualquer hora.

Não havia nada disso aqui. Lili podia ouvir Xander se movendo pela casa
– pelo menos, ela com certeza esperava que fosse Xander e não guaxinins
assassinos ou um assassino do machado.

Pare com isso, ela se repreendeu.

Claro, as coisas estavam ruins, mas não era como se ela estivesse
realmente vivendo em um filme de terror. Este lugar pode parecer o tipo de casa
onde adolescentes excitados eram apanhados um a um, mas era melhor do que a
prisão... ou onde quer que os militares prendessem simpatizantes Alfa nos dias de
hoje.
Lili só tinha que passar os próximos dias, falar com o FBI ou a guarda
nacional ou quem estava encarregado de caçá-los e limpar seu nome. Porque
senão ela viveria o resto de seus dias em uma instalação federal ou aqui em
Boundarylands.

Um galho quebrou nas tábuas da varanda a centímetros de onde Lili


estava, e começou de novo. Uma presença maciça se elevou sobre ela no escuro.

— Já que você tem medo do escuro, você sempre pode entrar, — disse
Xander, e Lili cedeu de alívio. Alguém tão grande não deveria ser capaz de se
mover tão silenciosamente.

— Estou bem, obrigada. E não tenho medo do escuro.

A mentira saiu tênue e áspera, e Lili de repente percebeu como estava


com sede. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Xander se abaixou e
estendeu uma caneca para ela.

Lili pegou e bebeu avidamente, a água fresca possivelmente a coisa


mais deliciosa que já provou. Em segundos, a caneca estava vazia e Xander riu
baixinho.

— Para nossa sorte, há um poço na propriedade. E não se esqueça, há


comida lá dentro também.

Ah sim... ela tinha esquecido a cesta de comida que a Ômega tinha


insistido em dar a eles. Lili não tinha uma refeição decente há dias, mas sua fome
foi enterrada sob seu medo.

Xander se abaixou graciosamente para se sentar ao lado dela. Suas


costas foram até ao parapeito da janela, e suas pernas se esticaram duas vezes
mais que as dela, mas sua companhia era mais reconfortante do que
esmagadora. Este não era o mesmo Alfa que estava latindo ordens enquanto Lili
dirigia pelo país. Ele começou a relaxar horas atrás quando cruzaram para
Boundarylands. Vendo como seu irmão o acalmou ainda mais. Agora ele parecia
francamente alegre... pelo menos para um Alfa.

O que fazia sentido – Xander finalmente estava onde pertencia. Mas


Lili? Ela se sentia mais à deriva do que nunca.

Lili ouviu o toque de um fósforo, e uma pequena chama iluminou o


espaço entre eles. Ela observou as mãos enormes de Xander tocar o fósforo no
pavio de uma velha lamparina de bronze, e a chama se tornou um brilho suave e
dourado.

Lili poderia ter chorado de alívio. Apenas ser capaz de distinguir o rosto
de Xander na escuridão a fez se sentir melhor.

Ou talvez fosse o jeito que ele estava olhando para ela. Pela milésima
vez, ela pensou como era injusto que ele pudesse sentir tanto sobre ela,
enquanto ela permanecia no escuro – literalmente, no momento.

— Então, o que você tem feito? — ela perguntou, tentando quebrar o


silêncio desconfortável.

— Não muito. Verificando o que precisa ser feito em casa. Começando


na frente com algumas tarefas.

Então Xander fez algo para o qual Lili não estava preparada, inclinando-
se para a frente e tirando sua camisa. O que quer que ele tenha feito, deixou seus
braços e torso poderosos brilhando de suor.
Lili tentou desviar os olhos da visão de seu abdômen ondulado, seus
antebraços cheios de músculos. Seu peito era incrivelmente esculpido, e seus
ombros – ela queria envolver suas mãos ao redor deles apenas para senti-los
flexionar sob sua pele.

E isso não era tudo o que queria fazer.

Lili quase deixou cair a caneca, a percepção a atingiu como mil volts.

Porra.

Isso era tudo o que precisava para sua libido despertar agora depois de
anos de hibernação forçada. Ela desviou o olhar um segundo tarde demais.

— Você está bem? — A voz de Xander estava mais divertida do que


preocupada.

— Sim, apenas... hum, pensando em aranhas.

Xander riu, uma risada suave em desacordo com tudo o que ela sabia
sobre ele. — Venha para dentro e verificarei ao redor e ter certeza de que não há
insetos.

— Eu acho que vou me arriscar aqui.

— Tudo bem, mas eu montei um quarto para você, — disse Xander. —


Eu varri e fechei a janela, e peguei seu colchão na van. Sacudi os cobertores
também. Está tudo pronto.

— Você... não tinha que fazer isso.

— Eu sei, — ele disse calmamente. — Mas como você disse, eu devo a


você.
Isso pegou Lili desprevenida, embora não tivesse certeza se era porque
ele realmente a estava escutando ou porque Xander sendo atencioso era tão
abrupto.

Não importa a razão para a mudança repentina em seu temperamento,


ela não tinha certeza se gostou. Era mais fácil mantê-lo à distância se ela
continuasse pensando nele como o perigoso Alfa criminoso que arruinou sua vida.

— Obrigada, — ela disse secamente. — Mas eu não estou pronta para


dormir.

— Nem eu, — disse Xander, soltando um suspiro longo e satisfeito. —


Pode demorar um pouco para voltar a um ciclo normal de sono.

Lili não conseguiu dar uma resposta para isso, e o silêncio se estendeu
entre eles mais uma vez. Xander não pareceu se importar. Ele não fez nenhum
movimento para se levantar, olhando para a escuridão.

— Para onde você estava indo antes de eu te encontrar? — ele


perguntou eventualmente.

Antes de você me encontrar? Levou tudo que Lili tinha para não reagir
às suas palavras. Ele fez parecer que ela tinha sido uma donzela em perigo, e ele
mergulhou e a salvou.

— Eu estava a caminho de Nova York. Eu tinha programado para chegar


amanhã.

Xander assentiu. A informação não parecia movê-lo de uma forma ou


de outra. Certamente, não parecia provocar nenhum remorso ou arrependimento
por seu papel em arruinar seus planos.
Lili decidiu que não deveria se surpreender. Ele ainda era um menino
rico de coração. Mesmo que quisesse se preocupar com o bem-estar dos outros,
provavelmente não fazia ideia de como fazer isso. A empatia era um músculo que
os ricos nunca tiveram que exercitar.

— O que você ia fazer em Nova York? — Xander perguntou, quase


como uma reflexão tardia.

— Eu tinha um emprego esperando por mim no Charter National Bank.


— Seu tom afiado o fez olhar para cima. — Um trabalho muito bom, na verdade.
Eu era um dos oito novos funcionários selecionados para um programa de
treinamento de gestão de elite.

— É mesmo?

— Você acha que eu estou mentindo? — Não seria a primeira vez.


Quando Lili avisou no bar onde trabalhava nos fins de semana, seu chefe se
recusou a acreditar que ela realmente estava indo para Nova York, acusando-a de
ir trabalhar para a concorrência. — Você acha que alguém como eu não pode
conseguir esse tipo de posição?

— Eu não disse isso. — Xander a observou com firmeza, recusando-se a


ser provocado.

— Você estava pensando nisso.

— Não, eu não estava. Mas obviamente, você estava.

— Eu? — E assim, o autocontrole de Lili desapareceu. Virando-se para


ele, ela apontou o dedo diretamente para o centro de seu peito. — Trabalhei duas
vezes mais do que qualquer um para obter meu diploma. Consegui dois empregos
de meio período para pagar minhas mensalidades e ainda me formei com honras.
Conquistei essa posição de forma justa, ao contrário de algumas pessoas cujos
pais conseguem empregos imediatamente da escola.

— Não duvido, — disse Xander. — Você é uma mulher determinada,


Lilibeth.

— Mas você não se importa, — ela chorou. Em algum lugar dentro dela,
uma represa havia estourado. Depois de dias se afogando em preocupação e
medo, deixar escapar essa explosão de raiva parecia catártico... mesmo que isso
viesse com consequências. — Por causa de você e seu maldito sequestro, tudo
isso se foi agora. E você não dá a mínima.

— Eu me importo, Lilibeth. Jurei que protegeria você.

— Isso mesmo. — ela soltou uma risada fria e amarga. — E do que


exatamente você vai me proteger aqui? Os ratos nesta casa em ruínas? Pássaros
no sótão? Ah, eu sei! Os peixes naquele riacho ali.

— Lilibeth, — ele tentou, mas ela o dispensou antes mesmo que ele
pudesse começar.

— Responda-me isso, você vai me proteger quando eu for defender


meu caso no FBI? Você ficará ao meu lado quando tento convencer o chefe de
recursos humanos do Charter National Bank que isso foi apenas uma terrível
confusão? Porque esse é o tipo de proteção que eu realmente preciso agora,
Xander.

Sua expressão plácida se aguçou. — Eu recuaria se fosse você, Lilibeth.


Você não vai gostar de onde seu temperamento leva.
— Você está me ameaçando?

Xander suspirou como se ela fosse uma garçonete que estragou seu
pedido. — Apenas dizendo a verdade, porque você realmente precisa ouvir. Sua
vida não está arruinada.

— Onde você sai me dizendo o que eu 'preciso ouvir'? — Lili não podia
acreditar em sua arrogância. — Acabei de lhe dizer que estou sem emprego, sem
casa, sem tudo pelo que trabalhei. Não só isso, há uma grande probabilidade de
eu acabar na prisão por seus crimes. Você estava ouvindo?

— Eu estava, na verdade, a cada palavra. É assim que eu sei. Você diz


que tem um bom trabalho esperando por você, mas você não acredita nisso.

— Oh meu Deus! Você sabe quantas pessoas matariam por esta


oportunidade?

Xander fechou a mão sobre o dedo que ela estava apontando para ele e
o afastou com firmeza. — Desde que nos conhecemos, você está preocupada,
com medo, ansiosa. E agora você está com raiva. Mas a única emoção que você
não sentiu? Tristeza, Lilibeth.

Lili estava sem palavras. — Você... você não sabe disso.

Xander pegou a mão dela novamente, mas desta vez ele a segurou na
sua, roçando a ponta do polegar suavemente sobre o pulso dela. — Claro que sim.

Ele soltou a mão dela e se concentrou em seu rosto, traçando as costas


de seus dedos lentamente por sua bochecha como se aprendesse seus
contornos. — Eu sempre sei o que você está sentindo. Cada emoção que você
experimenta emana seu próprio cheiro distinto.
— Isso não é verdade, — Lili insistiu com aspereza. Ela ouviu esse boato,
é claro, mas considerando tudo o que o governo havia mentido, ela não
acreditou.

Ela não sabia por que Xander estava brincando com ela dessa maneira,
mas era uma evidência de que ela tinha sido descuidada, que ela o deixou ir longe
demais. Apenas um tolo convidaria a esse tipo de perigo, permitindo-se ser
atraída tão perto – literalmente uma questão de centímetros – de um Alfa
violento e imprevisível.

Lili tentou recuar, mas ele não deixou, segurando seu pulso.

— O cheiro é muito fraco para os Betas perceberem, mas não para mim.
E acredite em mim, Lilibeth, o seu é mais forte do que a maioria. — O olhar de
Xander ficou escuro como carvão novamente. Não havia desonestidade ali...
apenas a verdade. — Eu podia sentir você tão claramente quando eu estava
limpando seu quarto no andar de cima, como se você estivesse bem na minha
frente.

— OK, tudo bem. — Lili só queria – precisava – que ele parasse de falar
sobre isso. Ele pode ser capaz de sentir suas emoções, mas isso não significa que
ele as interpretou corretamente. Eles não eram uma lente através da qual ele
pudesse ver as coisas mais íntimas sobre ela. — Então eu não fiquei triste. Isso
não significa nada.

— Claro que sim. — Xander se inclinou, desconfortavelmente perto. Seu


olhar era elétrico, enviando uma onda de energia carregada através de seu
corpo. — Diga-me por que você queria tanto esse emprego em Nova York.
Lili não devia nada a Xander, especialmente depois que ele reduziu os
sonhos de uma vida a nada com suas ações... e ainda assim, ela ainda se viu
respondendo a ele.

— Foi para isso que estudei. Sou formada em finanças com


especialização em economia.

— Por quê? Só por que o dinheiro é bom?

Suas palavras soaram como um soco. — Só alguém que nunca teve que
se preocupar com dinheiro pergunta isso.

— Vou tomar isso como um sim. Mas você não ama o trabalho.

Lili revirou os olhos. — Ninguém ama seu trabalho, Xander. É por isso,
que se chama trabalho. É apenas algo que você tem que fazer - para a maioria de
nós, de qualquer maneira.

— Algumas pessoas conseguem empregos fazendo coisas que gostam.

Lili riu na cara dele. — Você realmente é ingênuo. Minha avó limpou
escritórios até aos setenta e nove anos. Ela adorava cozinhar, mas ninguém
estava disposto a pagar-lhe um salário mínimo ou fornecer benefícios para
fazer kolaczki3.

— Então você realmente acredita que as pessoas ricas são as únicas que
conseguem experimentar a felicidade... ou prazer... ou satisfação.

— Esses são privilégios. Eles são reservados para pessoas com dinheiro
para comprá-los.

— Então você concorda. Você só aceitou aquele emprego pelo dinheiro.

3
Trata-se de um biscoito tipo envelope servido na ceia natalina.
— Há mais do que isso. — Xander estava distorcendo as palavras dela,
sendo deliberadamente obtuso. — Mas você não entenderia.

— Não? Diga-me uma coisa, Lilibeth. Qual das versões de mim que você
inventou não entenderia? O garoto rico sem noção e ingênuo? Ou o Alfa
selvagem e sem coração?

— Vá se foder, Xander.

As palavras pairaram no ar entre eles – um insulto, uma provocação, um


desafio – mas em vez de arrependimento ou medo, Lili sentiu seu sangue se
agitar. O brilho da lâmpada refletida faiscou nos olhos de Xander, e tarde demais,
ela se lembrou do que ele disse sobre ler suas emoções.

Certamente ele não tinha captado aquele pequeno lampejo de desejo


desonesto, resultado de alguma falha de ignição em seu cérebro, de estresse e
exaustão. Não significava nada.

Mas os lábios de Xander se curvaram lentamente em um sorriso de lobo


que não deixou margem para dúvidas.

Merda.

— Me foder? — ele ronronou, sua voz caindo para os tons mais


baixos. — Interessante. Talvez haja outra versão de mim em sua imaginação,
afinal. Uma que você goste mais do que o resto deles.

— Foda -se.

Ele deu de ombros, movendo-se tão perto que ela podia sentir o calor
de sua respiração em seu rosto. — Basicamente a mesma coisa.
Se ele chegasse mais perto, tudo o que ela teria que fazer era inclinar a
cabeça e NÃO. Lilibeth balançou a cabeça com força, desesperada para controlar
a situação. — Me deixe em paz.

Para seu crédito, Xander recuou lentamente. — Se você tem certeza


que é realmente o que quer.

— Nada disso foi sobre o que eu queria, — Lili retrucou.

Xander não piscou. — Mas pode ser.

Havia uma promessa nessas palavras, uma tão sombria e perversa que
Lili ficou cambaleando, seu corpo em chamas. Ela não aguentava mais isso. Não
merecia passar por isso. E se isso significava colocar a maior distância possível
entre ela e Xander, então não havia outra escolha.

Ela pegou a lamparina a óleo e se dirigiu para a porta, tomando cuidado


para não roçar nele ao passar. A perspectiva de entrar na velha casa em ruínas era
apenas um pouco menos aterrorizante do que ficar aqui, onde ela não podia
controlar os impulsos de seu corpo traidor.

— Eu te avisei, Lilibeth. — O sussurro de Xander a seguiu enquanto ela


girava a maçaneta enferrujada e entrava na casa. — Eu disse que você não
gostaria de onde seu temperamento levaria você.
CAPÍTULO 8
Xander

Xander ficou surpreso ao descobrir que gostava de caminhar.

Pelo menos, ele gostou hoje.

Quando ele estava fugindo, cobrindo tanta distância quanto podia todas
as noites, seus sentidos estavam em alerta para qualquer possível ameaça. Ele
não podia ter tempo para simplesmente apreciar o ambiente e o simples prazer
de mover os músculos de seu corpo.

E antes disso... bem, Xander não estava mentindo quando disse a Lili
que não sabia dirigir. O que ele não tinha dito a ela era que ele poderia pilotar. E
ele fez o passeio, obtendo sua licença de moto aos dezesseis anos. Ele teve que
falsificar a assinatura de seus pais na declaração exigida pelo Departamento de
Trânsito, mas ele o dominou anos atrás para desculpar suas frequentes ausências
da escola. Não que eles se importassem... eles simplesmente não tinham ido ao
redor para fazê-lo eles mesmos.

Pagar pela primeira vez também não foi um problema. Na família de


Xander, o dinheiro era dado em vez de afeição, então ele tinha mais do que o
suficiente. Mas o que não tinha era nem um pingo de paciência ou maturidade, e
não demorou muito para ele cair.

Na época, o acidente parecia um grande fracasso, mas acabou sendo a


experiência que mudou – e talvez até salvou – sua vida.
A moto foi destruída, mas, felizmente, Xander saiu sem um arranhão,
então ele foi capaz de ir com o motorista do caminhão de reboque até ao
mecânico mais próximo – uma loja escondida no lado errado de Denver. Nem
sequer tinha um sinal na frente.

Foi onde ele conheceu Mac, um cara velho em um macacão desbotado


que deu uma olhada na moto cara e no maço de dinheiro na carteira de couro
cara de Xander, e riu.

— Aceito seu dinheiro, filho, mas devo dizer que não gosto muito de um
homem que trata uma boa máquina dessa maneira.

E Xander, com quem nunca falaram assim, disse a primeira coisa que
lhe veio à mente. — Então, me ensine.

Agora, enquanto o sol começava a subir e os pássaros anunciavam a


chegada de um novo dia de verão nos galhos acima, Xander ria da lembrança das
tardes que passara na loja de Mac, sujando as roupas e sujando as unhas,
aprendendo a desmontar uma moto e montá-la novamente.

Mac acabou sendo mais um pai para ele do que o próprio pai de
Xander. Quando Mac morreu de ataque cardíaco no início do último ano de
Xander, ele experimentou seu primeiro e único desgosto.

E talvez tenha sido por isso, que ele passou por tantas garotas naquele
ano que perdeu a conta, nunca chegando perto o suficiente para sentir falta delas
quando terminava as coisas. À sua maneira, porém, Xander manteve seu código.
Ele nunca afirmou ser um cavalheiro, mas era decente. Ele nunca
mentiu para as garotas e nunca falou sobre suas façanhas. Acima de tudo, nunca
torceu nenhum braço ou empurrou alguém para algo que eles já não quisessem.

E foi por isso que ele não perseguiu Lilibeth com mais força na noite
passada, embora o cheiro de sua excitação o tivesse deixado selvagem. Como um
Alfa de sangue quente que não transava há cinco anos, Xander teria cortado seu
braço esquerdo para dar a ela o passeio de uma vida.

Não era apenas o fato de que Lilibeth era gostosa como o inferno, com
aqueles olhos azuis grandes e inocentes e lábios grossos. Havia mais nela do que
massas de cabelo com mechas de todos os tons de loiro e aquela pequena lacuna
fofa em seus dentes.

Lilibeth tinha um temperamento, com certeza, e quase toda vez que ela
ficava brava, Xander ficava duro. Estar perto dela era como estar no centro de um
furacão, todos os seus pensamentos conflitantes e necessidades girando em
torno dele. O que ele não daria para mergulhar profundamente naquela
tempestade, para cavalgar a tempestade até que ambos estivessem suados e
feridos.

Ainda assim, ele manteve esses pensamentos para si mesmo.

Lilibeth não era uma garota rica procurando um passeio pelo lado
selvagem. Ela era uma mulher ambiciosa, faminta de independência, e Xander
não podia oferecer nada para competir com isso.

Além disso, agora que Xander finalmente chegou às Boundarylands, ele


precisava concentrar toda a sua energia na construção de sua nova vida.
Ele não tinha dormido muito na noite passada. Lilibeth tinha dormido
como uma pedra quando estava aconchegada contra ele na van, mas ela se
revirava no quarto que ele arrumou para ela, e Xander não foi capaz de ignorar
sua inquietação por sua nova vida.

Ainda assim, o ar fresco o restaurou. Pela primeira vez em anos, ele não
estava constantemente olhando por cima do ombro, preparando-se para se
defender contra ameaças conhecidas e desconhecidas. E havia muito para
experimentar aqui. Xander nunca esteve no Centro-Oeste, e ele esperava que
fosse chato e sem graça, mas nada poderia estar mais longe da verdade.

Essas montanhas não eram nada como Rockies. Nem de longe tão alto,
seus planaltos arborizados e suavemente arredondados deram lugar a penhascos
escarpados; eles coletavam a névoa da manhã em seus vales como bolas de
algodão em um prato de cristal. E em cada curva havia água: lagos, riachos e
cachoeiras, correndo sobre rochas e serpenteando preguiçosamente pelos
contornos da terra, coletando peixinhos e libélulas em poças paradas.

Xander estava ansioso para colocar as mãos em uma vara de pescar, e


ele avistou muitos veados e outros animais. Ele pegaria algumas dicas de caça de
Archer e comeria bem durante todo o inverno. Havia tempo para plantar um
jardim e havia um velho pomar não muito longe da casa que ele poderia
persuadir a produzir. Ele estava tão ocupado pensando em tudo isso que se viu na
casa de Archer antes que percebesse.

— Eu sabia que te veria hoje, — Archer chamou enquanto dava a volta


na casa. — Eu estive passando por algumas ferramentas e reservei o suficiente
para você começar.
Xander o seguiu até uma oficina espaçosa que cheirava agradavelmente
a madeira fresca. Archer estava restaurando o pequeno prédio da maneira
correta, tomando seu tempo e consertando o que podia, substituindo o que
estava muito danificado para salvar.

— Então, como foi sua primeira noite? — Archer perguntou, servindo-


lhe uma xícara de café de um coador antigo posto na bancada. Eles se sentaram
em dois bancos de madeira velhos, cercados por quadros de pinos com fileiras de
ferramentas e uma cadeira em construção.

— Eh... poderia ter descansado mais, — Xander se esquivou.

Ele não podia dizer exatamente a seu amigo que não conseguia parar de
pensar em trepar com a Beta no quarto ao lado... mas pela expressão presunçosa
de Archer, ele descobriu. — Sim, eu tive dificuldade em me acostumar a dormir
com uma Beta em casa também.

— Espere... o quê? Sarah era uma Beta?

Archer riu. — Acho que tenho muito o que colocar em dia, irmão.
Desculpe atormentar você com isso quando você acabou de chegar aqui, mas há
alguns, uh, efeitos remanescentes do nosso tempo no Porão.

Isso não soou bem. — Como o quê?

A expressão de Archer era cautelosa, como se ele não tivesse certeza se


estava dando boas notícias.

— Bem, para começar, parece que podemos transformar verdadeiras


Betas em Ômegas. Leva tempo e não acontece a menos que haja uma conexão
forte, mas não sou o único. Não sei o que fez isso, ou se isso afetou a todos nós,
mas... sim.

Xander ficou atordoado. — Merda.

— Certo. Então você pode querer ter cuidado sobre quanto tempo você
deixa essa 'convidada' ficar, — disse Archer, tão delicadamente quanto um Alfa
era capaz. — Quero dizer, a menos que você esteja planejando mantê-la por
perto.

— Mantê -la? — Ambos os homens se viraram para encontrar Sarah na


porta, um olhar de fúria em seu rosto. — Eu estava vindo aqui para avisá-lo para
não matá-la, Archer. Não a menos que ele queira lidar comigo.

— De onde você tirou a ideia de que eu machuquei Lilibeth? — Xander


exigiu.

Archer se mexeu desconfortavelmente. — Eu estava começando a fazer


isso. Tivemos outro irmão aparecendo esta manhã.

— Alguém que conhecemos?

— Não, a cela dele era do outro lado do corredor. O nome dele é Wyatt.

O nome era familiar, mas Xander não conseguia identificá-lo. — Tudo


bem, mas o que ele tem a ver com Lilibeth?

— Ele estava perguntando sobre você, — Archer disse


relutantemente. — Aparentemente, você e sua motorista tiveram alguns
problemas no caminho para cá.

— Sua motorista? — Sarah disparou. — Você está falando sério,


Archer? Você viu o mesmo vídeo que eu. Ele sequestrou aquela garota.
— Foi essa a palavra que eles usaram no noticiário? — Xander
interrompeu. — 'Sequestro?' Se fosse, as coisas seriam muito melhores para
Lili. Ela seria exonerada – inferno, ela poderia partir hoje.

Mas Sarah frustrou suas esperanças, lançando-lhe um olhar


venenoso. — Não. Eles deixaram bem claro que a consideram uma cúmplice. Mas
um olhar para o rosto daquela pobre garota, e você poderia dizer que ela estava
apavorada. Não há como ela ter ido com você de boa vontade.

— Isso é verdade, — Xander admitiu, — Mas eu nunca iria machucá-la.


Ela sabe disso. E eu a deixarei ficar comigo até que isso seja resolvido.

A boca de Sarah se abriu. — Você deve estar brincando. Não é à toa que
ela não quis sair da van ontem. Você acha mesmo que deixá-la dormir no seu sofá
por alguns dias vai compensar isso?

— Eu não tenho um sofá, — Xander disse desconfortavelmente. Ele


realmente não tinha olhado para isso dessa maneira.

Sarah deu um passo em sua direção, e ele teve que resistir à vontade de
recuar. Ele tinha ouvido falar que Ômegas podiam ser espirituosas, mas esta era
absolutamente aterrorizante. Até Archer parecia que preferia estar em qualquer
outro lugar.

— E por que diabos você ainda precisava de alguém para trazê-lo aqui?
— Sara continuou. — Você não poderia simplesmente roubar um carro?

— Eu não sei dirigir um carro.


Sarah revirou os olhos. — Deixe-me ver se entendi. Uma Beta inocente
e indefesa vai ter que passar o resto de sua vida em terapia só porque você não
conseguiu passar no teste de motorista?

Xander olhou para Archer, mas seu amigo apenas deu de ombros. — Ela
costumava ser uma advogada, — disse ele se desculpando.

— Eu tinha uma licença de moto, — disse Xander a Sarah. — Mas


imaginei que seria notável como o inferno em uma moto na terra Beta. É por isso
que eu fui para a van de mudança, era grande o suficiente para me esconder.

— Sim, parece que você foi muito furtivo lá fora.

— Então, você pilota, Xander? — Archer estava obviamente tentando


mudar de assunto. — Me deparei com uma velha Harley Night Train quando eu
estava limpando uma das garagens próximas.

— Não brinca, porra, — disse Xander, acrescentando tardiamente —


Desculpe, senhora — quando Sarah deu a ele um olhar fulminante.

— Bem, é preta, de qualquer maneira. Eu não sei muito sobre motos, e


precisa ser trabalhada, mas é sua se você quiser.

— Inferno, sim, eu quero. Desculpe. — Se realmente era um Night Train,


era uma das Harleys mais poderosas na estrada. Xander praticamente podia
sentir suas mãos no guidão, o vento chicoteando seu cabelo.

— É o seguinte, me acompanhe, — Archer disse, dando a sua


companheira um beijo na bochecha enquanto a conduzia para fora da porta.
Xander o seguiu, sentindo-se ridículo enquanto fazia uma leve reverência para
Sarah. Ele obviamente tinha muito a aprender quando se tratava de Ômegas.
— Diga a Lilibeth que estou saindo para ver como ela está em breve, —
disse Sarah friamente.

Xander esperou até que estivessem fora do alcance da voz para falar. —
Desculpe por ter irritado sua Ômega. Ela é, uh, sempre assim?

Archer deu-lhe um olhar de pena. — Não realmente. Ela se deu muito


bem com todos os outros que apareceram. Até mesmo Axel, se você pode
acreditar.

— Axel está aqui?

— Ele apareceu um dia antes de você. Alguém está batendo na nossa


porta quase todos os dias.

— Isso é uma ótima notícia, — disse Xander com entusiasmo. Ele não se
atreveu a esperar que os homens que sofreram ao lado dele chegariam em
segurança. — E Sarah se dá bem com todos eles?

— Mais ou menos, — disse Archer. — Antes de hoje, a única pessoa que


eu já a vi se enfurecer com mais força foi eu.
CAPÍTULO 9
Lilibeth

Quando amanheceu, Lili sentiu como se tivesse adormecido em uma


realidade e acordado em outra. A floresta densa e agourenta e a água negra do
riacho deram lugar a uma vista tão bonita que seria adequado para um cartão de
felicitações.

Por um momento, Lili esqueceu seus medos e simplesmente


contemplou a vista das copas das árvores verdejantes e do céu azul cristalino da
janela do quarto. Pássaros voando de um galho para o próximo a poucos metros
de distância. Acrescente a isso o brilho da luz do sol refletida no riacho, e era um
dia lindo.

Lili descobriu que os sons da natureza não a incomodavam tanto agora.


No escuro, parecia que as coisas estavam rastejando ao redor dela, mas à luz do
dia, os sons eram... agradáveis. A combinação do canto dos pássaros, o farfalhar
das folhas e o riacho borbulhante eram como um daqueles aplicativos que
deveriam ajudá-lo a relaxar.

Ela não iria tão longe a ponto de dizer que era pacífico – ela não
estava acostumada com a natureza ainda – mas ela finalmente entendeu por que
os outros poderiam descrevê-la dessa maneira.

Saindo de seu quarto, ela descobriu exatamente por que estava tão
quieta – a casa estava vazia. Xander não estava lá.
Depois de saber ontem quão quieto ele podia ser, ela verificou todos os
cômodos da casa só para ter certeza. Então saiu e esquadrinhou o quintal da
varanda, pensando que poderia encontrá-lo trabalhando lá, mas não havia sinal
de Xander.

Inferno, não havia sinal de ninguém — nenhuma casa ou caixa de


correio ou fumaça subindo de uma chaminé distante. Nada além de árvores.

Lili sentiu uma pequena pontada de pânico ao pensar em estar


realmente sozinha. Certamente Xander não poderia estar muito longe. Ele não a
abandonaria, não é? Depois que ela o rejeitou na noite passada... talvez.

Não, ela disse a si mesma. Era muito mais provável que ele estivesse
apenas fazendo suas tarefas diárias. O que eram, porém, ela não podia adivinhar.
Onde ele iria? Talvez para a floresta, ou de volta para a casa daquele outro Alfa,
ou...

Lili suspirou. A verdade era que ela não tinha a menor ideia para onde
os Alfas iam ou como eles passavam seus dias em Boundarylands. Tudo o que ela
sabia era que aquele não era lugar para Betas.

Ela tinha aprendido isso na aula de educação cívica da quinta série. Ela
tinha esquecido muito do que tinha aprendido sobre os Tratados, mas ela se
lembrava que essas terras eram reservadas para uso Alfa e que qualquer Beta
com meio cérebro sabia que deveria manter-se longe – especialmente as
mulheres.

Mas esses mesmos tratados podem funcionar a seu favor agora, já que
essas eram as únicas terras onde a lei Beta não se aplicava. Os policiais, o FBI, a
Guarda Nacional – nenhum deles poderia aparecer com um mandado e prendê-la.
Por enquanto, pelo menos, ela levaria o bem e o mal.

Lili era uma profissional nisso. Ela se concentrou em todas as coisas


pelas quais ela era grata – um lugar seguro para dormir, comida, suas posses, a
proteção de Xander.

Ok, ela não tinha certeza sobre esse último. Especialmente depois
daquele momento estranho entre eles na noite passada, quando parecia que ele
podia ver através dela. Através de suas roupas, através de sua pele, até os ossos.
Como se ele conhecesse cada emoção que rolava dentro dela quando ele estava
perto.

Como a luxúria.

Até pensar nisso agora foi o suficiente para trazer um rubor às


bochechas de Lili.

Caramba. Ela era uma mulher adulta, com direito a desejos normais e
naturais.

Mas querer um Alfa? Mesmo alguém como Xander, que era


objetivamente um dos espécimes mais quentes de masculinidade que Lili já tinha
visto? Isso não podia estar certo.

Especialmente considerando que ele era seu maldito sequestrador.

Lili balançou a cabeça, enojada consigo mesma. Pensamentos do que


poderia ter acontecido se ela tivesse a coragem de ficar na varanda por último, a
manteve acordada a noite toda. Ela tinha perdido tempo suficiente – para não
mencionar sua dignidade – em fantasias de todas as coisas que ele poderia fazer
com ela com aquelas mãos fortes. Ou aqueles lábios macios que se curvaram tão
maliciosamente, seu sorriso fazendo as pequenas linhas nos cantos se
destacarem, banindo a escuridão de seus olhos.

Ela se perguntou como seria tocá-lo, traçar seus dedos por seu peito
largo até seu abdômen ondulado, todo o caminho até seu...

Não. Lili tinha que parar de ficar obcecada com Xander e começar a
planejar como ela iria sair de Boundarylands e voltar para a vida pela qual ela
trabalhou tanto.

E o primeiro passo era descobrir onde ela...

Lili tropeçou mentalmente na palavra 'captor', que era o que ela


considerava Xander até esta manhã. Mas não parecia mais se encaixar.

Se ela ainda estivesse presa contra sua vontade, Xander não teria
deixado a porta aberta para ela entrar e sair quando quisesse. Ele não teria tido
tempo para preparar o quarto dela na noite passada. Ele não a teria deixado
sozinha.

Ela não gostava da ideia de ficar o dia todo esperando que ele voltasse,
mas pela primeira vez em sua vida, Lili não tinha planos para o que fazer a
seguir. Ela nunca foi do tipo ociosa, então ela achou que poderia muito bem dar
um passeio e limpar sua mente.

Uma parte dela queria explorar a floresta, mas ela estava receosa de
entrar lá sozinha. A última coisa que ela precisava era acabar perdida, morrendo
de fome e sendo atacada por animais selvagens. Então ela deixou a casa em
ruínas para trás e atravessou o quintal coberto de mato, seguindo em direção à
estrada.

Ela só tinha andado cerca de 400 metros pela estrada quando viu uma
figura enorme vindo em sua direção. Lili acelerou o passo em alívio – até que ela
percebeu que não era Xander, mas um Alfa que ela nunca tinha visto antes.

Lili congelou, mas era tarde demais para se esconder. Para sua surpresa,
o Alfa sorriu. — Ei, eu conheço você, — ele disse em uma voz quase tão profunda
quanto a de Xander. — Você é famosa.

— Você deve ter me confundido com outra pessoa, — disse Lili,


tentando disfarçar seu pânico.

— Eu não acho. — O Alfa tirou um telefone do bolso e o ergueu.

Sua curiosidade levando a melhor sobre ela, Lili avançou alguns passos
para ver a tela. Um vídeo embaçado foi exibido, mostrando uma van em
movimento acelerando em uma saraivada de balas com um Alfa enorme no banco
do passageiro, exatamente como Kelly descreveu ter visto no noticiário.

— Onde você conseguiu isso? — Lili perguntou trêmula.

— O telefone? Estava na caminhonete que roubei para chegar aqui. —


O Alfa não parecia nem um pouco incomodado em admitir esse fato, seu tom tão
casual quanto seu jeans desbotado e uma camisa havaiana bem gasta.
Aparentemente, o desprezo pelas leis Beta era uma coisa Alfa.

— Não, o vídeo.

— Apareceu como uma notificação de notícias. Houve outra esta manhã


- a mesma van, mas com um policial.
Oh, não... tinha que ser de um dos espectadores naquela pequena
cidade do Arkansas com seus malditos telefones.

— Posso ver esse telefone por um minuto?

Lili ficou surpresa quando o Alfa prontamente o entregou. Ela percorreu


rapidamente as manchetes das notícias:

ALFA SUSPEITO DE TIROTEIO NO ARKANSAS

ALFA LEVA BETA CÚMPLICE EM ONDAS DE CRIMES

O coração de Lili afundou. Essas manchetes eram o prego em seu


caixão. O público nunca acreditaria que ela não estava ajudando Xander
voluntariamente agora.

— Ei, não fique tão assustada, — o Alfa disse enquanto lhe entregava o
telefone. — As coisas vão dar certo.

— Você não sabe disso, — Lili disse friamente. — Você nem me


conhece.

O Alfa deu de ombros. — É verdade, mas o Alfa com quem você estava
viajando obviamente sim. Ele não teria trazido você aqui se não confiasse em
você, e isso é bom o suficiente para mim.

— Ótimo, — disse Lili, tentando sorrir. — Isso faz com que dois de vocês
estejam do meu lado - contra todos os Betas da América.

A expressão do Alfa ficou séria. — Ouça, cada Alfa aqui estava em uma
situação desesperadora não muito tempo atrás, e agora olhe para nós. Temos
nossa liberdade e terra para chamar de nossa. Sobrevivemos porque nos
concentramos em passar um dia de cada vez. Você também pode.
Lili balançou a cabeça em descrença que um Alfa, de todas as pessoas,
estava tentando animá-la. Mas ela não estava em posição de recusar um aliado.

— Eu sou Lili, — disse ela, estendendo a mão.

O Alfa não fez nenhum movimento para pegá-la. — Eu sou Wyatt. E


estou feliz em conhecê-la, mas nós realmente não fazemos isso.

— Fazer… o quê?

— Tocar a companheira de outro Alfa.

Lili se encolheu. — Eu não sou companheira de ninguém.

— Você tem certeza disso? — Wyatt disse, dando-lhe um olhar cético.

— Nunca tive tanta certeza de nada na minha vida. — Que era


absolutamente verdade... apesar daquela onda de desejo na noite passada, as
horas sem dormir que passei imaginando Xander despindo-a e levando-a ali
mesmo na varanda. Lili sentiu seu rosto esquentar e rapidamente mudou de
assunto. — Mas já que estamos conversando, Wyatt, posso te perguntar uma
coisa? Existem outras coisas tabus por aqui além de, você sabe, tocar pessoas que
não são sua companheira? Coisas que eu deveria saber?

— Não muito, — disse Wyatt. — Não minta. Não roube. E não pise na
propriedade de outra pessoa a menos que você seja convidada.

Isso era um pequeno conforto, considerando que Lili não tinha ideia de
onde a propriedade de Xander começava ou terminava. Ela estava começando a
ver que seria mais difícil do que ela esperava ficar fora de problemas e fora do
radar.

— E a estrada? Posso andar nela?


— Claro. As estradas pertencem a todos.

— Mesmo Betas?

— Até Betas. — Wyatt deu-lhe um sorriso gentil. — Mas se você ainda


está nervosa, ficarei feliz em andar com você por um tempo.

Notavelmente, considerando que Wyatt era uma ameaça tão grande


quanto Xander tinha sido quando ela o encontrou pela primeira vez ou Archer
com seu olhar sombrio, Lili se sentiu segura. Não: mais do que tranquilizada, ela
se sentiu... quente.

Não do jeito escaldante do foda-me-agora que Xander a fez sentir, mas


como outro ser humano realmente se importava se ela vivesse ou morresse.
Ainda assim, isso não significava que ela precisava correr mais riscos
desnecessários hoje.

— Tudo bem, — disse ela. — Eu não quero te incomodar.

— Me incomodar com o quê? Acabei de chegar, não é como se eu


tivesse tempo para fazer uma lista de tarefas. Além disso, faz um tempo desde
que tive a chance de falar com alguém.

— Nesse caso... — Lili se surpreendeu ao acompanhar Wyatt.

Talvez ela fosse ingênua, mas ele era legal – muito mais legal do que ela
jamais acreditou que um Alfa poderia ser capaz. Na verdade, ela sentiu o mesmo
tipo de conexão instantânea com ele que ela sentiu com Kelly naquele dia
durante seu primeiro ano, quando Lili a perseguiu para devolver o caderno que
ela havia esquecido na aula.

Como se pudessem ser amigos.


Não seja ridícula, Lili se repreendeu. Só porque esse Alfa não a fazia se
sentir do jeito que Xander fazia – ocupando todo o espaço em sua mente, fazendo
seu sangue ferver – não significava que eles estavam destinados a serem
amigos. Ele estava apenas sendo educado, algo que Xander ainda não sabia como
fazer.

O que fez sua atração por ele ainda mais confusa. Sim, Xander era
incrivelmente gostoso e esmagadoramente masculino mas, para ser justa, Wyatt
também era, com seu cabelo loiro espesso e olhos verde-mar e uma barba que
não conseguia esconder suas feições clássicas e esculpidas. E não era como se um
Alfa pudesse realmente fazer sexo com uma Beta, a menos que ele quisesse
colocá-la no hospital.

— Então, onde você cresceu, Lili?

A pergunta de Wyatt tirou Lili do turbilhão vertiginoso de seus


pensamentos. — Los Angeles, toda a minha vida. Na verdade, este é o leste mais
distante que eu já estive.

Eles caíram em um vai-e-vem fácil sobre seus passados, suas famílias,


seus sonhos para o futuro – todas as coisas sobre as quais Xander nunca falou.
Não havia sentido em se perguntar por que ele era tão fechado; pela primeira vez,
Lili foi capaz de simplesmente curtir a conversa. Wyatt era um bom ouvinte,
nunca a desafiando ou fazendo-a se sentir desconfortável, mesmo quando ela
teve a sensação de que ele não acreditava inteiramente nela.

Quando ele de repente deu uma risada suave, Lili seguiu seu olhar e viu
alguém se aproximando ao longe, movendo-se rápido.

— E... é por isso que eu não tocaria em você, — disse Wyatt.


— Lilibeth!

Era a voz de Xander, tudo bem, mas levou alguns segundos para que
sua visão inferior pudesse reconhecê-lo. Ele estava empurrando uma grande
moto preta... e ele não parecia feliz.

— O que você pensa que está fazendo? — Ele exigiu enquanto se


aproximava deles.

— Dando um passeio, — disse Lili com firmeza. Ela não estava disposta
a deixá-lo intimidá-la na frente da primeira pessoa amigável que ela conheceu em
anos. — Você tinha ido quando eu acordei, e eu não queria esperar o dia todo.

— Não isso. — Xander olhou para Wyatt. — O que você está fazendo
aqui com ele?

— Com Wyatt?

Xander se ergueu em toda a sua altura, mas os dois Alfas estavam


equilibrados, e Wyatt não parecia nem um pouco intimidado.

— Olá, irmão, — ele disse uniformemente. — Fico feliz em ver que você
conseguiu.

— Então você é Wyatt, — Xander disse friamente, olhando-o de cima a


baixo.

— E você é Alexander Randall Harrington IV. — Wyatt sorriu. — Eu


estava apenas dizendo a sua mulher que vocês são famosos.

Lili não disse nada, confusa com o nome verdadeiro de Xander — o tipo
de nome que aparecia na revista Forbes e na lateral das alas do prédio da
universidade. Do tipo que pertencia a homens que usavam ternos feitos sob
medida, abotoaduras de ouro e pertenciam aos clubes mais exclusivos.

Um nome que não combinava com Xander. Felizmente, ele parecia um


pouco apaziguado por Wyatt se referir a ela como 'sua mulher'. Não que Lili fosse
deixar isso de lado.

— Eu não sou mulher de ninguém.

Mas nenhum dos Alfas sequer a reconheceu, pois eles pareciam estar
travados em uma competição de olhares. Xander se aproximou e colocou a mão
no ombro dela. Parecia para Lili quase como se estivesse marcando seu território
especialmente quando ele se inclinou perto do cabelo dela e respirou fundo.

Que porra, ele estava cheirando ela?

Wyatt ergueu as mãos em falsa derrota. — Viu? Eu nem apertei a mão


dela. Como a senhora disse, estávamos apenas dando uma volta.

A incredulidade de Lili se transformou em raiva. Ela realmente deveria


acreditar que Xander poderia dizer o que ela estava fazendo pelo jeito que ela
cheirava? E por que ele achava que era da sua conta?

Ela afastou a mão dele. — Foi um prazer conhecê-lo, Wyatt, — ela disse
rigidamente. — Xander, voltarei para casa.

Depois de alguns passos, ela se virou. — Ah, e Wyatt, deixe-me saber se


você quiser dar outra caminhada novamente em breve. Esta foi a única diversão
que tive durante toda a semana.
Ela não olhou para trás novamente, indo o mais rápido que podia sem
correr, mas ela ainda podia ouvir Xander se aproximando dela, as rodas da moto
levantando cascalho.

Ele a alcançou e acompanhou seu ritmo, sem dizer nada. Lili bufou em
silêncio enquanto aguentou, o que foi apenas alguns minutos.

— Por que diabos você fez isso?

— Fiz o quê?

— Dizer a Wyatt que eu era sua mulher?

— Eu não, — disse Xander. — Foi ele que te chamou assim.

— Mas você não o corrigiu.

Xander deu de ombros como se a distinção não tivesse sentido. —


Agora ele sabe manter distância.

— E se eu não quiser que ele mantenha distância?

Xander parou abruptamente e fez uma careta para ela. — Você está
dizendo que quer aquele Alfa?

— Não! Não do jeito que você quer dizer. O que eu quero é alguém para
conversar.

— Então, fale comigo. — Xander começou a empurrar a moto


novamente.

— Nós não conversamos! — Lili disse, correndo para alcançá-lo. — Nós


discutimos. Nós atacamos um ao outro. — E, ocasionalmente, dizendo coisas com
seus corpos que não podiam dizer em voz alta. Lili afastou o pensamento. —
Wyatt é legal. Ele foi a primeira pessoa aqui a falar comigo como se eu fosse uma
pessoa, não uma... uma curiosidade ou algum brinquedo com o qual você brinca
quando está entediado.

— Eu não penso em você assim.

— Oh, sério? — A voz de Lili estava ficando mais alta, mas ela não
conseguia parar. — Então me diga uma coisa que você sabe sobre mim, uma coisa
pessoal, além de onde eu estava tentando ir quando você me sequestrou. Qual é
o nome da minha mãe? De que bairro eu vim? Onde estudei?

A carranca de Xander se aprofundou, uma veia se destacando ao longo


de seu queixo.

Quando ele não disse nada em resposta, Lili riu amargamente.

— Foi o que eu pensei. E por que você está arrastando essa pilha de
lixo, afinal? Você me disse que não sabia dirigir.

— Eu não dirijo. Eu piloto. Vou consertar esta moto e colocá-la de volta


na estrada.

Lili revirou os olhos. — Vindo de um cara que foi conduzido em uma


limusine. Como se você conhecesse um cárter de óleo de um carburador.

Tarde demais, Lili lembrou que provocar um Alfa não tinha funcionado
tão bem para ela no passado. Mas Xander apenas grunhiu, nem mesmo
diminuindo o ritmo.

Eles caminharam o resto do caminho em silêncio. Quando chegaram à


casa, Xander foi em direção a uma garagem em ruínas ao lado da casa. — Eu
preciso ir trabalhar.
Lili não viu a urgência, mas ela estava mais do que feliz por ele lhe dar
algum espaço. Ela também tinha coisas para fazer.

Embora ela achasse que tinha conseguido a ponta mais curta do palito.
Seria muito mais fácil arrumar aquela lata enferrujada do que consertar sua vida
destroçada.
CAPÍTULO 10
Lilibeth

Posso descansar mais tarde.

Essas palavras foram ditas tantas vezes na casa de Lili que eram
praticamente o lema da família. A avó dela dizia enquanto cortava legumes
depois de trabalhar um turno de oito horas. Sua mãe terminava de limpar a
cozinha apenas para começar a pilha interminável de contas e avisos. Há apenas
uma semana, Lili teve que explicar à mãe por que ficou acordada até tarde
costurando as roupas que havia comprado em uma loja de consignação para seu
novo emprego depois de passar o dia fazendo as malas.

Posso descansar mais tarde.

Às vezes, ao adormecer à noite, Lili fantasiava sobre o que faria quando


o 'mais tarde' finalmente chegasse - quando sua carreira estivesse segura,
houvesse dinheiro no banco e ela pagasse as contas da mãe. Lili sonhava em sair
de férias para algum lugar ensolarado — Havaí, talvez, ou México — e ficar
deitada na praia por dias a fio.

O problema era que ela nunca tinha realmente considerado a


possibilidade de que não fazer nada se tornaria... bem, terrivelmente
desconfortável.
Lili estava acostumada a estar ocupada. Mas, aparentemente, em algum
lugar ao longo da linha, ela cresceu tão acostumada a ter prazos e uma
interminável lista de tarefas que não sabia o que fazer sem eles.

Então, ela procurou ao redor da casa quebrada por algo para fazer.

A casa precisava de muito amor, mas não do tipo que Lili sabia dar.
Crescendo em prédios onde o mais não poderia ser, dependia para consertar
qualquer coisa por meses, ela havia aprendido a lidar com os problemas mais
básicos de reparos domésticos - coisas como consertar maçanetas quebradas e
apertar puxadores de armários soltos. Lili tinha certeza de que ela era a única
pessoa em seu seminário de Economia Avançada que sabia como substituir um
flange quebrado de vaso sanitário, e embora ela planejasse pagar alguém para
fazer essas coisas assim que sua nova vida começasse, consertar as coisas sempre
dava Lili um sentimento secreto e brilhante de orgulho.

Mas a enorme quantidade de trabalho que precisava ser feito na casa


fazia com que suas habilidades parecessem inúteis – como colocar um band-aid
em um braço decepado. Quem se importava com dobradiças barulhentas quando
havia um buraco no teto?

Então Lili decidiu trabalhar em algo mais básico. A poucos passos da


porta dos fundos, ela encontrou a bomba d'água. Depois de encher um balde e
encontrar uma caixa antiga de Borax, Lili se ajoelhou e começou a esfregar o chão
da cozinha.

Lili mal podia acreditar na ironia de que depois de todos os seus anos de
sacrifício, ela estava fazendo exatamente o mesmo trabalho que sua avó tinha
quando ela chegou da Polônia, uma viúva grávida sem dinheiro. Infelizmente,
esfregar a madeira com tanta força que o suor escorria por suas têmporas não
parou de girar em seu cérebro. E os pensamentos que rolavam e se agitavam lá
estavam longe de ser repousantes.

Afinal, hoje deveria ser o primeiro dia de Lili em Nova York. Agora, ela
deveria estar carregando suas caixas por três lances de escada até seu novo
apartamento. Esta noite ela deveria estar colocando seu vestido cinza e novos
saltos pretos e participando da recepção de boas-vindas, onde conheceria seu
novo chefe pessoalmente. E amanhã, ela deveria estar se apresentando para o
trabalho no primeiro emprego em sua vida para o qual ela não precisava bater um
ponto.

Em vez disso, Lili estava nas profundezas do deserto de Ozark vestida


com uma camiseta e shorts de brechó, tentando consertar uma casa em que ela
não estaria morando depois de passear com um Alfa e ser escoltada de volta por
outro.

Lili não tinha certeza do que uma pessoa normal faria em tais
circunstâncias. Chorar em um canto? Sacudir o punho para Deus? Esquecer as
consequências e voltar para o mundo Beta?

Nenhuma delas parecia certa.

Ela provavelmente estava apenas em choque. Depois de assistir ao


vídeo no telefone de Wyatt, Lili sabia que sua situação havia ido de mal a quase
impossível. Ainda assim, ela não conseguia reunir nenhum sentimento forte sobre
isso.

Ela não estava devastada. Ela não estava com raiva. E ela também não
estava se sentindo entorpecida, como na noite anterior.
Então... o que diabos ela estava sentindo? Tentar identificar era como
tentar focar em um único fragmento brilhante em um caleidoscópio em constante
mudança.

Pela primeira vez em sua vida, Lili não tinha um plano ou um próximo
passo. Ela não podia dizer o que queria. E isso a deixou se sentindo livre e
profundamente inquieta.

Ou talvez fosse a percepção de que Xander estava certo quando


apontou que ela não estava tão entusiasmada com seu trabalho no Charter
National Bank quanto fingia estar.

Mas o que ele não entendia era que ela precisava disso. Sem isso, o
futuro de Lili – para não mencionar o de sua mãe – desmoronaria. Quem tinha
tempo para se preocupar com a felicidade quando coisas tão importantes
estavam em jogo?

Mas aqui nesta casa não havia balanços para avaliar, nenhum mercado
para prever, ninguém para se impressionar com sua capacidade de traduzir
moedas ou analisar retornos históricos.

Havia apenas a casa, a terra em que estava e o deserto além. E tempo...


mais tempo do que Lili poderia preencher.

Infelizmente, havia apenas um assunto em que sua mente estava


disposta a se concentrar – e esse era Xander. A forma como a varanda vibrou
quando ele grunhiu para ela. A maneira como seus olhos se enchiam de faíscas
quando ele estava com raiva. A forma como os músculos de seus ombros nus
ondulavam quando ele se movia.
As coisas que ela queria que ele fizesse com ela... as coisas que ela
queria fazer com ele.

— Droga! — Lili murmurou enquanto jogava a escova de cerdas duras


na água, espirrando na frente de sua camiseta e encharcando-a.

Sim, ela queria Xander. Ele pode até ser a única coisa que ela se lembra
de querer para si mesma, não para a sobrevivência ou o benefício de outra
pessoa. Estar com ele não beneficiaria nenhum deles além do único momento de
libertação. Com certeza, não a deixaria mais perto da segurança ou da fuga.

E estava completamente fora de questão de qualquer maneira. Xander


era um Alfa. Lili era uma Beta. Esses eram fatos.

Além disso, ele era seu captor. Alguém para temer e evitar, não
aconchegar. Era mais do que perigoso pensar que só porque ele estava deixando
Lili ficar em sua casa, Xander estava cuidando dos melhores interesses dela. Se ele
se importasse com o que acontecia com ela, ele nunca a teria colocado nessa
confusão em primeiro lugar.

Deve haver algo errado com Lili para querer Xander assim. Não só era
contrário à sua própria auto preservação, mas também era... escandaloso.

Proibido.

Até a palavra provocou um arrepio nas terminações nervosas de Lili. Ela


tinha feito o que era esperado dela todos os dias de sua vida. Ela tinha mais
autodisciplina do que qualquer um que ela conhecia, além de sua mãe.

E a ideia de deixar tudo isso de lado por uma hora ou uma noite era
inebriante.
Lili se levantou do chão e esticou os ombros e as costas. Ela tentou se
convencer de que era o trabalho extenuante que a deixava com a respiração tão
difícil. Mas a verdade era que as imagens que explodiam em sua mente quando
ela se permitia pensar em Xander eram chocantes... tentadoras.

Ar fresco. Isso é o que ela precisava.

Deixando a água ensaboada para trás, Lili saiu para a varanda e afundou
nos degraus, evitando olhar para o final onde ela e Xander estavam presos no
concurso de olhares sensuais na noite anterior. Em vez disso, ela se concentrou
em um ponto bem na frente dela, onde uma borboleta pairava sobre caules altos
com pontas de flores azul-claras.

Então um flash de movimento chamou sua atenção. Xander.

Ele arrastava a moto para uma lona velha estendida na grama – ou pelo
menos parte da moto. Ele havia tirado as rodas e o guidão e parecia estar
desmontando o motor, seus músculos brilhando de suor ao sol da tarde. Ele jogou
sua camisa em uma pedra, e seus sapatos em nenhum lugar à vista. Seu jeans
estava baixo em seus quadris, seu abdômen definido desaparecendo em um jeans
desbotado.

A boca de Lili ficou seca. Ela tinha certeza de que nunca houve uma
visão mais sexy na história do planeta. A sensação de agitação que acompanhou
seus pensamentos anteriores deu lugar à luxúria, e ela teve que morder o lábio
para não choramingar.

A cabeça de Xander virou de qualquer maneira.


Claro, seus estúpidos sentidos Alfa o deram uma pista; eles
provavelmente exageravam quando qualquer mulher adequada mostrava
interesse sexual. Lili desejou poder ter uma palavrinha com quem achasse que era
uma boa ideia equipar homens de seu tamanho e poder com tanta virilidade
óbvia e irresistível.

Um pensamento dissonante lhe ocorreu: este homem, aquele que a


encarava com a intensidade de um inferno fora de controle, nunca foi o pirralho
mimado e rico que ela tentou fazê-lo parecer. Nada nele sugeria arrogância ou
avareza. Lili havia criado essa versão dele para evitar qualquer sentimento de
simpatia ou compreensão... para que ela pudesse ficar com raiva e ressentida.

Então ela ser a vítima de Xander.

Mas ela não podia mais fingir ser isso. Ela veio para Boundaryland por
vontade própria. Nada a impedia de sair. Nenhum policial ou soldado estava
respirando em seu pescoço no momento.

Havia apenas Xander, e ela não conseguiu manter a ilusão, a versão


falsa dele, por mais um momento.

Especialmente quando seus olhos mudaram de cinza para a cor da noite


mais escura quando ele largou sua chave inglesa e veio em direção a ela.
Xander

Sujar as mãos com um trabalho bom e honesto foi a melhor sensação


que Xander experimentou desde seus primeiros momentos de liberdade depois
de escapar do subsolo.

Ou melhor, a segunda melhor sensação, mas ele estava fazendo o


possível para esquecer aqueles momentos explosivos na varanda com Lilibeth.

Nas últimas horas, ele se dedicou a desmontar o motor v-2 de quatro


tempos da moto. A condição da Harley era enganosa. Quando Xander terminasse,
a Night Rider voltaria a ser uma beleza, uma máquina elegante facilmente capaz
de velocidades acima de 100 mph, algo para o qual essas estradas vazias eram
perfeitas.

Xander adorava velocidade – sempre gostou, desde que ele andou pela
primeira vez em seu triciclo quando criança – mas a sensação de restaurar a moto
era ainda melhor.

Trabalhar com as mãos era o que Xander mais sentia falta durante seu
tempo no subsolo, além de Maggie.

— É a única coisa em que você é bom, — seu pai se enfureceu com ele
uma vez depois de outro relatório de notas decepcionante. Xander não se
importou. A essa altura, ganhar a aprovação de Mac se tornara muito mais
importante do que impressionar seu pai.

A única maneira de deixar seu pai feliz era concordando em assumir o


negócio têxtil da família, o que era uma piada, porque antes de Xander se tornar
um Alfa, seu pai havia supervisionado seus piores três trimestres consecutivos.
Na verdade, apenas o bisavô de Xander foi realmente um sucesso.

Cada geração sucessiva vivia da fortuna que ele deixou para trás.

Não era preciso muita habilidade para jogar golfe, beber conhaque com
seus comparsas no clube e ser fotografado em vários eventos de caridade, até
onde Xander sabia. Ele gostaria de ver seu pai tentar reconstruir os garfos de
suspensão ou ajustar o câmbio dianteiro de uma moto.

Como Mac gostava de dizer, consertar moto era mais uma arte do que
uma ciência, e se dominá-la era a maior conquista de Xander na vida, bem, ele
estava bem com isso.

Trabalhar com moto fazia Xander se sentir vivo. No dia em que entrou
na oficina de Mac, perdeu todo o desejo de aprender a dirigir um carro. Por que
ele queria andar em uma caixa quando podia experimentar o chão voando sob
suas rodas, o ar passando por seu corpo, as vívidas vistas desobstruídas à sua
frente?

Mas hoje, pela primeira vez, Xander não conseguia se perder no


trabalho. Lilibeth continuava atrapalhando.

Não literalmente, claro.

Ele a ouviu se movendo pela casa, limpando pelo som, mas era o cheiro
dela que o fazia companhia na garagem. Ela o seguia aonde quer que fosse,
invadia sua mente sempre que tentava se concentrar.

Vê-la com aquele Alfa Wyatt fez Xander ver vermelho, mas ele não
precisava daquela onda de fúria para esclarecer que queria Lilibeth. Ele não tinha
certeza exatamente quando ela se tornou sua obsessão, mas pode ter sido tão
cedo quanto quando ele tomou sua primeira respiração de seu cheiro – embora
tentar mantê-los vivos o tenha distraído um pouco.

Mas tinha movido a agulha em outra coisa. Um olhar para o sorriso


estúpido de Wyatt e Xander poderia facilmente tê-lo esmagado em um monte
trêmulo de carne rasgada. Ele não queria simplesmente proteger Lilibeth, ele
queria possuí-la, ter certeza de que todos no mundo sabiam melhor do que olhar
para ela da maneira errada.

Minha, ele queria rugir, alto o suficiente para cada Alfa que já
considerou vir para o Ozarks saber que ela foi reivindicada. E então Xander, que
antes havia dado as costas para tudo que era seguro, decidiu fazê-lo
novamente. Ele não podia prometer nada a Lilibeth. Ele não sabia como seria sua
vida no próximo ano ou mesmo na próxima semana, exceto que ele nunca
deixaria esta terra.

Tudo o que ele sabia era que o que ele poderia dar a ela era mil vezes
melhor do que qualquer coisa que ela encontraria naquele apartamento em Nova
York ou no banco abafado pelo qual ela estava tão obcecada.

Se ele ainda tinha dúvidas, elas desapareceram quando ela saiu da casa,
sua camiseta xadrez molhada e grudada em suas curvas.

Ele esteve perto dela a manhã toda, mas quando ela colocou os olhos
nele, seu cheiro cravado com desejo puro e denso, e ele sabia: Lilibeth o queria
tanto quanto ele a queria, da mesma forma que ele queria esta moto ou esta
terra ou mesmo a sua liberdade.

Como se fosse para ser.


Ontem à noite ela se assustou e fugiu, mas se ela pensou que poderia se
salvar de seus próprios desejos, ela estava errada. Sua necessidade por ele se
tornou mais forte da noite para o dia. Xander inalou uma pitada de sua umidade e
soube que ela estava molhada para ele, tão molhada quanto uma Beta poderia
ficar.

A vontade de tocá-la, saborear e dirigir-se para dentro dela oprimiu


todos os outros pensamentos racionais, e Xander foi em direção a ela como se a
própria gravidade o impulsionasse. Ela o observava como um gato, uma leoa,
feroz, voraz e astuta, nem mesmo se preocupando em esconder sua fome.

Xander queria uivar em triunfo. Ele sabia que Wyatt nunca poderia
fazê-la se sentir assim.

Ainda assim, ele tinha que ser cauteloso. Ele não queria que ela
corresse novamente. Com o tempo, Lilibeth descobriria que seu medo não tinha
nada a ver com ele. Foi um produto de propaganda Beta e doutrinação. Mas essa
era uma lição que levaria tempo.

Ela estava sentada na varanda, seus shorts subindo tão alto que
deixavam pouco para a imaginação, e seus esforços furtivos para puxá-los para
baixo não estavam ajudando.

— Você também não conseguiu se concentrar, não é? — ele perguntou


a ela, deixando seu olhar vagar sobre seu corpo, certificando-se de que ela o visse
fazer isso.

Umidade escorria dela, e ela trancou os joelhos juntos, com os olhos


arregalados. Ainda assim, ela se recuperou rapidamente e deu a ele o que ela
provavelmente pensou ser um encolher de ombros indiferente.
— Porque você me quer, certo? — ele murmurou, deixando sua voz cair
baixa.

Desta vez, Xander realmente a viu tremer. Uma sensação de poder


carnal o encorajou, e ele ficou tentado a ver até onde poderia levá-la apenas com
suas palavras.

Em vez disso, ele se sentou na outra extremidade do degrau largo,


deixando um espaço entre eles. Ele podia sentir seu calor, sentir seu coração
acelerado, e se ele fechasse os olhos, Xander tinha certeza de que poderia se
perder no cheiro dela. Mas ele não iria a lugar nenhum sem ela.

— Aqui está o que acontecerá agora, Lilibeth. — Era um aviso e uma


ameaça, uma promessa e um convite. — Em três segundos, eu vou te beijar com
força. Então eu pegarei sua mão e vou te levar para o quarto onde você dormiu
na noite passada, te deitar e te foder com tanta força que você nunca será capaz
de esquecer.

Os lábios de Lili se separaram, sua língua trêmula os molhando com


sede, e ela inconscientemente avançou em direção a ele.

— Vou deixá-la tão satisfeita que você nunca será capaz de olhar para
outro homem sem se decepcionar, — continuou Xander. Não havia como voltar
atrás agora. Ele sabia disso, mas seus instintos lhe diziam que Lilibeth precisava
ouvir, deixar que suas palavras destruíssem as defesas que já haviam começado a
cair. — Eu te levarei, Lilibeth. Toda você. Então, se não foi para isso que você veio
aqui, é melhor você sair agora. Entendeu?

Ela deu um gemido estrangulado, toda a confirmação que Xander


precisava. — Bom, — ele vociferou. — Um… dois…
Ela não o deixou chegar a três, rastejando em seu colo e beijando-o
primeiro. Ela estava quente, necessitada e urgente, tentando moldar seu corpo ao
dele, contorcendo-se em seus braços e apertando-o em sua paixão.

Ela se afastou o suficiente para sussurrar — Por favor.

Xander já estava de pé, movendo-se em direção à porta com Lilibeth em


seus braços. Ele chutou a porta aberta. Uma das dobradiças quebrou, mas ele não
se importou... até que ele ouviu o som de uma caminhonete entrando em sua
garagem.

Seu rugido de frustração não assustou Lilibeth tanto quanto a


enfureceu.

— Não! — ela gritou quando ele a colocou de pé, agarrando seus braços
e tentando subir de volta nele.

Só quando ele a pegou pelos ombros e a virou para que ela pudesse ver
o SUV modelo mais velho estacionando na frente da casa, Lilibeth caiu em si.

— Agora não, — ela gemeu assim que Sarah saiu do veículo.

Xander se moveu na frente de Lilibeth para dar a ela uma chance de se


recuperar. — O que você está fazendo aqui? — ele exigiu grosseiramente. Ele não
tinha esquecido a bronca que Sarah lhe dera mais cedo.

— Eu disse que estava vindo para me encontrar com Lili, — ela disse
friamente. — Não me diga que você já esqueceu.

Merda.
— E não me dê esse olhar, — Sarah continuou. — Eu trouxe mais
suprimentos. Eles estão na parte de trás do SUV. Você pode descarregá-los
enquanto sua convidada e eu tomamos uma xícara de chá.
CAPÍTULO 11
Lilibeth

Lili conhecia o problema quando o via, mesmo que tomasse a forma de


uma Ômega alguns centímetros mais baixa e dez quilos mais leve que ela.

Não foi apenas o senso de tempo incrivelmente terrível da Ômega que a


colocou no limite, embora talvez Lili devesse agradecer a Sarah por interromper o
que poderia ter sido o maior erro de sua vida.

Simplesmente havia algo em Sarah que a enervava. Talvez fosse seu


tom áspero quando ela falou com Xander, ou talvez fosse seu olhar direto que era
tão intenso e intimidador quanto o de seu companheiro.

Por tudo que Lili sabia, toda Ômega era confiante ao ponto de ousadia.
Claro, Sarah pode estar acostumada a estar perto de homens de dois metros e
meio de altura com bíceps como troncos de árvore, mas onde estava a submissão
natural pela qual as Ômegas eram conhecidas? E de onde ela saiu entrando em
casa sem ser convidada?

Tarde demais, Lili percebeu que havia pensado na casa como sua casa
também.

Faça um movimento como esse de volta para casa e havia uma boa
chance de você ser recebida com o cano de uma arma.

Você não está mais em Santa Ana, Lili lembrou a si mesma enquanto
seguia Sarah para dentro.
Qualquer paixão que ela estava sentindo momentos antes desapareceu
instantaneamente, deixando-a no limite.

Tudo o que ela queria era acabar com essa visita, o que significava que
ela teria que fingir o seu caminho. Felizmente, Lili tinha bastante pratica em fingir
ser confiante e simpática quando não sentia nada.

Irritou Lili que essa Ômega não tivesse que fingir. Não só ela era muito
atraente, como parecia ter se nomeado o comitê oficial de boas-vindas da nova
Boundaryland.

— Eu trouxe um lanche, — disse Sarah, indo direto para a cozinha e


começando a desembalar uma garrafa térmica, copos e um recipiente de
plástico. — Eu sabia que sua cozinha ainda não estava em condições de cozinhar,
e pensei que você gostaria de um pouco de chá.

Ela abriu a garrafa térmica e a fragrância de menta encheu a cozinha.

— Obrigada, — Lili disse rigidamente. Para ser educada, ela mordiscou


um biscoito, mas estava tão delicioso que acabou devorando. — Você fez isso?

Sarah sorriu. — Claro que sim. Era a receita da minha avó, ela
costumava fazer para mim sempre que eu vinha visitar. Eu usei nozes pretas da
mesma árvore que ela fez.

— Espere, você quer dizer uma árvore em sua propriedade?

— Sim. Archer e eu moramos na casa em que meus avós viveram até


morrerem. Eles amavam os Ozarks. — Seu sorriso se tornou melancólico. —
Gostaria que eles tivessem vivido o suficiente para ver que vai prosperar
novamente depois que o governo forçou tantos de seus vizinhos a sair.
Lili pensou sobre isso. Não lhe ocorreu pensar nos antigos donos das
casas na nova Boundaryland. A campanha do governo para transferir os cidadãos
Beta das áreas rurais para as cidades vinha acontecendo há anos; ela passou a
pensar nas áreas rurais como sem alma, lugares cuja história havia sido tão
completamente esquadrinhada que poderia muito bem nunca ter existido.

Mas isso não era verdade. A cozinha em que estavam podia estar em
ruínas, mas entre essas ruínas havia pistas abundantes para as pessoas que uma
vez viveram aqui. Ela traçou um dedo ao longo de um pedaço de papel de parede
quase escondido por camadas de tinta descascada.

— Olhe para isso, — Sarah exclamou. — Essas rosas de repolho! Pena


que você não pode mais ter papel de parede assim.

— Vamos sentar na sala de jantar, — disse Lili, interrompendo a


conversa. Ela não queria falar sobre esta casa que era apenas um ponto de
passagem para ela. — Ainda há algumas cadeiras velhas lá.

Depois de espanar algumas cadeiras e testá-las para ter certeza de que


não iriam desmoronar, as duas mulheres sentaram-se em um local ensolarado na
janela. Xander abriu todas as janelas do andar de baixo, e o cheiro de lilases
entrou.

— Então, — Sarah disse depois que ela encheu suas xícaras de chá. —
Como você está?

— Tudo bem, — disse Lili rápido demais. Era como ela sempre
respondia à pergunta, sabendo que ninguém nunca estava genuinamente
interessado nos problemas de qualquer outra pessoa.
Além disso, ela ainda não tinha certeza do que se tratava. Era algum
tipo de teste? Sarah estava tentando descobrir como Lili se encaixava na foto com
Xander?

Lili tinha sofrido esse tipo de escrutínio tantas vezes que ela construiu
muros para se defender contra isso. Melhor se fechar durante a orientação de
calouros, grupos de estudo, recepções com o reitor, entrevistas de emprego... do
que ter que suportar a surpresa e a suspeita das pessoas quando descobrem que
alguém como Lili de alguma forma conseguiu se infiltrar em suas fileiras.

Sarah a observou pensativa, uma pequena ruga entre as sobrancelhas.


— Não, o que eu quis dizer foi, como você está realmente?

Lili deu de ombros irritada. Ela odiava quando as pessoas pressionavam


por mais do que ela estava disposta a dar. — Quero dizer, eu acordei esta manhã,
então as coisas não estão tão ruins quanto poderiam estar.

Sarah não piscou. — Mas elas não são boas, são?

Afaste-se, pensou Lili. Ser interrogada dessa maneira a lembrou muito


das vezes que o Serviço de Proteção à Criança apareceu para falar com sua mãe
sobre denúncias anônimas de que Lili estava voltando para uma casa vazia
quando mal havia começado o ensino fundamental. A maioria de seus vizinhos
arrumava desculpas para checar Lili ou trazer um lanche para ela, mas sempre
havia alguma velha intrometida que não conseguia resistir a mexer a panela.

Sarah era aparentemente a vizinha intrometida e metida de merda da


nova Boundaryland.
— Desculpe, — Lili disse friamente, pousando sua xícara. — Você se
importa de me dizer por que você está aqui?

— Eu só queria ter certeza de que você está bem. — Se Sarah notou o


tom de Lili, ela não demonstrou. — A maneira como você estava agindo ontem,
não querendo sair da van - e depois de ver aquele vídeo - bem, acho que queria
ter certeza de que Xander não estava, você sabe, controlando você. Que ele não
está te machucando.

Oh, pelo amor de Deus, aparentemente, todo mundo tinha visto o


vídeo.

Ser fofoca era o pior pesadelo de Lili. Ela arregaçou as mangas e


mostrou os braços a Sarah. — Não. Sem hematomas, sem marcas de cordas. E ele
não está me mantendo trancada em um armário, como você pode ver.

A linha entre as sobrancelhas de Sarah se aprofundou. — Lili, me


desculpe se a ofendi. Eu prometo que não queria.

— Meu nome é Lilibeth. — Lili sabia que estava exagerando, mas não
conseguia parar. — Só as pessoas que eu tenho perto me chamam de Lili.

— Lilibeth. Eu realmente sinto muito. — Agora Sarah estava ficando


nervosa, suas bochechas ficando rosadas. — Eu apenas assumi, esse foi o nome
que eles chamaram você na reportagem.

— Sim, bem, eles erraram um monte de coisas nesse relatório. — Lili


não conseguiu se desculpar por sua defesa. Ela não conhecia essa Ômega – ou sua
vida. Tudo o que ela sabia era que Sarah havia interrompido o que teria sido o
maior erro ou a maior foda de sua vida.
Ou talvez, ambos.

Lili estava começando a pensar que não sabia mais de nada – e Sarah só
estava piorando. — Ouça, Sarah...

Mas a Ômega ergueu a mão. — Espere, — ela disse suplicante. — Você


está certa. Não é da minha conta. Eu costumava ser uma advogada, e bem, às
vezes eu esqueço quão focada eu posso ficar quando percebo uma ameaça. Mas
eu... sei como é ser o objeto de uma ameaça, uma campanha de difamação, e eu
não queria deixá-la desconfortável.

Claro que Sarah era advogada. Lili balançou a cabeça em desgosto.


Advogados eram as pessoas que ajudavam caras como o pai de Xander a manter
suas fortunas enquanto todos os outros pagavam seus impostos.

— Desculpe, mas concorrer a promotor público e ter seu oponente te


chamando de alguns nomes, não é a mesma coisa que todo o FBI tentando
desacreditar e matar você.

Os olhos de Sara se arregalaram. — Eu nunca... o que faz você pensar


que eu concorri a um cargo?

— Não é isso que os advogados fazem depois de subirem a escada o


suficiente? Além disso, você já se nomeou prefeita por aqui. — Lili estava
respirando com dificuldade, mais furiosa do que esteve em anos. Era como se
todo o estresse que ela estava segurando nos últimos dias tivesse decidido sair de
uma vez.

— Eu não... Lilibeth, não é assim. Não, espere, — ela disse quando Lili
começou a cortá-la. — Deixe-me explicar. Eu estava envolvida em uma batalha
judicial desagradável com minha família. Eu herdei a casa, e eles estavam
determinados não apenas a me impedir de obtê-la, mas a me declarar
incompetente para que pudessem controlar minha vida. Meus pais eram ambos
advogados e conheciam todos os juízes, eles quase conseguiram.

Sarah fez uma pausa, olhando para o chão enquanto se recompunha.


Quando ela olhou para cima novamente, seus olhos castanhos suaves estavam
brilhantes. — A única maneira que consegui pensar para revidar foi obter meu
diploma de direito. Mesmo assim, eles continuaram empurrando a ideia de que
eu era uma fraude, incompetente, maliciosa, qualquer coisa para minar meu caso.
Mas no final, eu ganhei. A casa é minha.

Lili sentiu como se o tapete tivesse sido puxado debaixo dela.

— Eu não sabia, — disse ela, mas isso não foi suficiente, não quando ela
cometeu o mesmo erro que as pessoas sempre cometeram com ela. Ela julgou
Sarah antes de conhecê-la; assumiu que ela conhecia sua história com base em
um punhado de detalhes. E ela estava errada. — Eu sinto muito.

— Não se desculpe, — disse Sarah. — Apenas... me dê uma chance.


Além disso, eu sei como é ficar presa em uma casa com um Alfa. Nós mulheres
temos que ficar juntas.

Lili se surpreendeu rindo. Foi bom – não, foi incrível, derretendo a


ansiedade que tinha crescido quase ao ponto de ruptura. Como ela se permitiu
inventar uma história inteira sobre alguém que acabara de
conhecer? Especialmente alguém que trouxe biscoitos para ela.
— Bem, eu não sei se você pode comparar Xander e eu com vocês dois,
— disse ela. — Nós não estamos, você sabe, juntos. E pelo que eu vi, você e
Archer parecem se dar muito bem.

Foi a vez de Sarah rir, trocando sua linha de expressão por pequenas
covinhas em sua pele lisa e morena. — Nem sempre foi assim.

— Não?

— Oh Deus, não. Quando eu encontrei Archer de cócoras em minha


casa e ele se recusou a sair, eu tinha certeza que iríamos nos matar.

— Provavelmente não por muito tempo. Quero dizer, vocês obviamente


tem, hum, química.

Lili não pretendia ir até lá; se a atração física fosse suficiente para se dar
bem, ela e Xander já estariam escolhendo porcelana. Ou machados e armadilhas
para ursos, ou o que quer que os Alfas precisassem para organizar as tarefas
domésticas.

— Bem, sim, mas demorou um pouco antes de qualquer um de nós


perceber que estava lá, já que estávamos lutando dia e noite.

— Sério? Eu pensei que isso mudaria no segundo em que ele tocasse


em você.

— Dificilmente! As coisas só pioraram a partir daí.

— Mas... — Lili tentou se lembrar de suas lições do ensino médio. — Eu


pensei que seu tipo - quero dizer, Ômegas - não podem deixar de se relacionar
com o primeiro Alfa com quem você entrar em contato.
Lili se encolheu de vergonha quando Sarah riu tanto que as lágrimas
vieram aos seus olhos.

— Oh, docinho, — ela finalmente disse, limpando-os, — Eu não nasci


uma Ômega adormecida. Eu era uma verdadeira Beta, assim como você.

— Mas... isso é impossível!

— Pensei a mesma coisa. Mas acontece que o que aconteceu com


nossos Alfas naquele laboratório, o que quer que os cientistas tenham feito com
eles, tornou o impossível, possível.

— Não entendo.

Sarah pegou a mão de Lili, apertando-a antes que Lili pudesse se


afastar. — Nosso melhor palpite neste momento é que houve um efeito colateral
não intencional de seus experimentos, que permite que os Alfas transformem até
aos verdadeiros Betas em Ômegas.

Lili quase deixou cair sua xícara de chá. As más notícias nunca
acabariam? — Todos os Alfas podem fazer isso?

— Neste momento, são três por três, — disse Sarah, — Até onde
sabemos... sim.

— Mas eu... isso não acontecerá comigo, certo? — Lili ouviu o


desespero em sua voz, mas ela tinha que saber. — Quero dizer, Xander e eu
estamos juntos há dias. Eu ainda sou uma Beta, e ele me tocou muitas vezes.

Tocado. Abraçado. Beijado.

— Sim, hum, essa é a outra razão pela qual eu vim ver você. — Pela
primeira vez, Sarah parecia insegura de si mesma. — Até onde podemos dizer,
tem que haver algum tipo de conexão entre o Alfa e a Beta para fazer sua
transição. Significando tocar - mesmo sexo casual - provavelmente não causaria
isso a menos que houvesse um vínculo sólido.

Lili cedeu de alívio. — Então eu deveria estar bem. Xander e eu somos


pouco mais que estranhos. E não podemos conversar sem discutir.

— Eu não disse que você tinha que se dar bem, — Sarah disse em
advertência. — Deus sabe, Archer e eu não a princípio. E me perdoe por dizer
isso, mas você e Xander com certeza não pareciam estranhos quando eu parei
hoje.

Oh Deus. Lili esperava que Sarah não os tivesse visto se beijando. Pior
ainda, agora ela tinha que se perguntar se a razão de ter feito isso era porque ela
estava se tornando uma Ômega.

Isso mataria sua mãe. Sua mãe.

Lili de repente percebeu que no furacão de sua vida nos últimos dias,
ela nem tinha pensado em tentar ligar para casa. E se sua mãe tinha visto as
notícias - e é claro que ela tinha visto as notícias - ela provavelmente estava em
um inferno se preocupando com ela.

— Isso não foi... nada, — Lili disse com firmeza. Qualquer confusão que
ela tinha sobre seus sentimentos por Xander se foi. De agora em diante, ela não
chegaria perto dele. Ela nem sequer olharia para ele.

E ela com certeza não iria se esgueirar por aí vendo-o trabalhar sem a
camisa até que ela estivesse tão irritada que não pudesse se controlar.
— Bem... bom. — Sarah não parecia exatamente convencida. Ela
começou a embalar os copos vazios e a garrafa térmica de volta em sua bolsa. —
Mas se você precisar conversar, você sabe onde eu moro.

— Obrigada pela oferta. Mas não espero ficar aqui por muito mais
tempo. — Especialmente não agora que ela entendia os riscos. — Espero que
meus amigos possam esclarecer as coisas com as autoridades para que eu possa
sair nos próximos dias.

Sarah assentiu. — Bem, eu... — Ela parecia estar lutando para escolher
suas palavras. — Espero que funcione para você.

Mas mesmo depois que Lili a acompanhou até a porta e a fechou atrás
dela, foram as palavras que Sarah não disse que ecoaram na mente de Lili.

Mas não conte com isso.

Xander

Tentar trabalhar depois que Sarah e Lilibeth desapareceram na casa


acabou sendo impossível. Não que Xander tivesse que se esforçar para ouvi-
las; cada pedacinho de sua conversa chegou até ele tão facilmente como se
estivessem a poucos metros de distância.

Xander não estava orgulhoso de espionar, mas ele largou a chave e se


encostou na moto, tentando entender as fortes emoções que fluíam entre as
duas mulheres... e sua própria reação a elas.
Quando Lilibeth ficou tensa com as perguntas inocentes de Sarah,
Xander ficou tenso. Quando ela se tornou defensiva, ele também. Quando ela
revidou com raiva, as mãos dele se fecharam em punhos.

Não que ele realmente se sentisse tenso, defensivo ou zangado. Mas,


por alguma razão, ele se viu espelhando Lilibeth sem nem mesmo se preocupar
em processar as palavras que estavam trocando.

Até que Sarah mencionou como Xander e seus irmãos Alfa podiam de
alguma forma transformar Betas verdadeiras em Ômegas. Isso chamou sua
atenção — e também a diferença gritante nas reações dele e de Lilibeth.

O medo de Lili aumentou acentuadamente, o que realmente não


surpreendeu Xander, considerando que era sua reação habitual a cada reviravolta
inesperada. Mas para um cara que estava determinado a compartimentar sua
atração por ela, mantendo-a completamente separada de seus planos para o
futuro, Xander ficou chocado ao descobrir que sentia algo completamente
diferente.

Ele a queria, não por uma noite ou alguns dias, mas para sempre. A
possibilidade de que Lilibeth pudesse se tornar uma Ômega capaz de se unir e
acasalar com ele encheu Xander de possessividade.

Ele se lembrou do momento em que escolheu a van dela para entrar,


apesar de estar cercada por soldados. O caos do momento o impediu de
questionar essa decisão, mas agora?

Agora ficou claro. Lilibeth nasceu para ser dele... assim como ele foi
feito para ela.
Não importava o que tinha acontecido no laboratório para mudar sua
química. Qualquer que seja a mudança evolutiva que tenha ocorrido dentro dele
pode ter sido produto da ciência — mas isso não significava que também não
fosse um ato de Deus.

Enquanto estava preso, o desejo de liberdade de Xander era mais do


que apenas a necessidade de ver o sol e respirar o ar fora de sua jaula. Ele teve
uma vaga, mas insistente sensação de que algo estava esperando por ele.

Ele pensou que retornar à sua antiga vida iria preenchê-lo. Mas apesar
de sua alegria em ver Maggie novamente, a sensação do destino acenando para
ele só se tornou mais forte.

Agora Xander sabia por quê.

Lilibeth era seu destino, mesmo que ele demorasse a perceber isso.

Quando as mulheres finalmente saíram da casa, Lilibeth esperou até


que a Ômega voltasse para a caminhonete e se afastasse antes de olhar em sua
direção.

Instantaneamente, Xander sentiu como ela estava em conflito. Ela


queria se retirar para a casa e se esconder; ela também queria ficar... para
continuar de onde eles pararam.

Ele sabia que não demoraria muito para convencê-la do jeito que ele
queria. Tudo o que ele tinha que fazer era ir até ela, pegá-la e beijá-la
novamente. Isso é tudo o que seria necessário para provar tudo o que eles
poderiam se tornar.

E ainda assim, ele se conteve.


O tempo que passaram juntos ensinou a Xander que empurrar Lilibeth
era inútil. Isso só aumentaria seu medo e relutância, e acrescentaria combustível
para a batalha acontecendo em sua mente... e isso era a última coisa que ele
queria agora.

Ele esperou, prendendo a respiração. Quando ela finalmente falou, era


óbvio que, apesar de suas emoções estarem mais turbulentas do que nunca, ela
havia escolhido as palavras com cuidado.

— Acho que você ouviu tudo isso.

— Eu ouvi.

— Bom. — O canto de um de seus olhos se contraiu, e ela desviou o


olhar. — Então você sabe que eu não posso mais ficar aqui.

Xander ficou em sua altura máxima, quase derrubando a moto. — Não


seja ridícula.

Lilibeth se encolheu como se ele a xingasse. — Eu não sou. Eu estou


sendo responsável. Se eu ficar aqui com você, há uma chance de eu me tornar
uma Ômega, e isso não pode acontecer.

Sim, pode, Xander queria rugir. Lilibeth tinha que reconhecer a verdade
que estava surgindo entre eles, que já estava acontecendo, que sua natureza era
uma casca seca pronta para explodir em chamas - e tocando um ao outro estava o
fósforo já pronto para acender.

Mas sua Lilibeth, sua mulher, tinha que chegar lá sozinha. Xander a
tinha visto lutar contra o inevitável toda vez que o encontrava. Isso também fazia
parte de sua natureza, uma parte que ele apreciava.
— Esta é uma Boundaryland, Lilibeth, e você é uma Beta, — ele disse a
ela com firmeza. — Você não pode simplesmente ir para onde quiser.

Os olhos de Lilibeth brilharam de raiva. — Você está falando sério? Eu


sou sua prisioneira?

— Eu nunca te chamei assim. Você é minha convidada, obviamente.

— Se isso for verdade, então eu posso sair quando eu quiser.

O temperamento de Xander explodiu - não com Lilibeth, mas com essa


discussão ridícula que dava voltas em círculos. — Onde você iria? Para a casa de
Sarah?

Ele não pretendia jogar isso na cara dela, mas sua desconfiança da
Ômega era óbvia. E não era como se houvesse outras amigas em potencial em
cujo sofá ela pudesse dormir.

Lilibeth fez uma careta. — Não. Mesmo se Sarah tivesse me pedido, eu


não teria ido. — Um pouco do calor desapareceu de sua voz, e Xander esperava
que ela estivesse começando a perceber como suas opções eram limitadas. —
Tive a sensação ontem de que seu Alfa não gosta muito de Betas.

— Ele não gosta, — concordou Xander. — Não são muitos os Alfas que
foram trancados na instalação.

— Tudo bem. Eu não preciso de muitos amigos. Apenas um.

Xander percebeu onde ela queria chegar com seu argumento. — De


jeito nenhum.

— Vou ver se Wyatt me deixa ficar algumas noites com ele.


— Absolutamente, não! — O rugido de Xander soltou um turbilhão de
folhas das árvores acima de sua cabeça, e elas voaram graciosamente para o
chão. — Não há nenhuma maneira no inferno que eu permitirei que minha
mulher fique com outro Alfa.

— Mas é exatamente por isso que eu tenho que ir. — Tarde demais,
Xander notou o medo na determinação teimosa de Lilibeth. Ela não estava com
medo que ele a machucasse. Era o oposto que a aterrorizava. — Você acabou de
me chamar de sua mulher, e eu não sou. Mas se eu ficar, há uma chance...

Ela balançou a cabeça em vez de terminar a frase.

— Isso seria tão ruim?

— Sim. Talvez não para você - você está onde deveria estar, Xander.
Mas minha vida ainda está esperando por mim no mundo Beta.

— Em Nova York? — As palavras ficaram amargas na boca de Xander.

— Sim. — Lilibeth mordeu o lábio. — Não. Eu não sei. Tudo que eu sei é
que não está aqui.

Xander deu dois passos, diminuindo a distância até onde ela estava. —
Você tem certeza sobre isso? — ele sussurrou.

Os pensamentos de Lilibeth se entrelaçaram, tornando-se


irremediavelmente entrelaçados com seu desejo. Ele bebeu profundamente de
seu perfume, a sugestão de escorregadio deixando seu pênis duro como
pedra. Mas, por mais intoxicante que a conexão deles fosse para ele, Lilibeth
ainda a achava aterrorizante.
— Eu te direi o que eu sei. Isso, — ela disse trêmula, gesticulando para o
espaço entre eles, — Não acontece quando eu falo com Wyatt. Esse...
sentimento não existe. Se o que Sarah disse é verdade, então ele não pode me
transformar em uma Ômega.

Xander olhou para ela, mal capaz de acreditar que ela estaria disposta a
passar a noite na casa de outro Alfa. Isso o mataria, ou ele acabaria matando
Wyatt. Ele não sabia o que seria pior.

Ou talvez o pior castigo fosse estar tão perto de Lilibeth sem poder
tomá-la em seus braços.

Xander tropeçou para trás, precisando colocar alguma distância entre


eles.

Porra. Ela estava certa. Ela e o outro Alfa não tinham uma conexão, não
do jeito que ela e Xander tinham.

Xander era seu destino, não Wyatt. E esse pensamento trouxe-lhe


conforto. Porque se havia uma coisa que sua vida lhe ensinara, era que o destino
não podia ser negado por nada nem por ninguém... nem mesmo uma pequena
Beta assustada que jurava que não acreditava nele.

— Vá em frente, — ele disse baixinho, não mais com medo. — Fique


com Wyatt se você quiser.

Ela o olhou surpresa. — Você quer dizer isso?

— Sim, — disse ele. — Mas não pense que vai ajudar em nada. Wyatt
pode ser seu amigo, mas eu sou seu Alfa, e eu sei que você não poderá ficar longe
por muito tempo.
E quando Lilibeth voltasse para ele – e Xander sabia em seus ossos que
ela voltaria – sua rendição seria mil vezes mais doce do que se ele a tivesse
forçado a ficar.
CAPÍTULO 12
Lilibeth

Pouco depois da caminhada de um quilômetro e meio até à casa de


Wyatt, Lili estava reconsiderando sua recusa em permitir que Xander a
acompanhasse.

Ela queria algum tempo sozinha para pensar, mas o que ela não tinha
contado era quão difícil seria a caminhada, embora a estrada para a casa de
Wyatt fosse plana. Lili deveria ter percorrido a distância em vinte minutos, mas
depois de meia hora, ela ainda não conseguia ver a casa que ele havia descrito
para ela. Ela sentiu como se houvesse pesos em torno de seus tornozelos, como
se estivesse arrastando os pés para a frente a cada passo.

Não que Lili estivesse fora de forma. Correr pelo campus entre as aulas
e servir mesas nos fins de semana a manteve magra e forte. Mas quanto mais ela
se afastava da casa de Xander, era como se seu corpo estivesse encenando um
protesto que estava ganhando força. Quando ela finalmente chegou à casa de
Wyatt à beira do lago, um chalé de telhas brancas com um deck que se estendia
sobre a água nos fundos, Lili o encontrou esperando por ela na estrada, em uma
caixa de correio que não via serviço há anos.

Ela deveria saber agora que os Alfas sempre sentiriam sua aproximação
a um quilômetro de distância. Fosse a audição ou o olfato ou algum outro sentido
que só os Alfas possuíam, Lili estava aprendendo que nunca seria capaz de
guardar segredos enquanto estivesse em Boundarylands.

— Não esperava vê-la novamente tão cedo, — Wyatt chamou.

Lili hesitou no meio da estrada. — Eu sei. Posso ir se você estiver


ocupado.

— Nem um pouco. Quando eu disse que você era bem-vinda a qualquer


hora, eu estava falando sério, Lilibeth.

— Por favor, me chame de Lili, — disse ela, lembrando-se da confusão


que fizera sobre seu nome com Sarah. — Todos os meus amigos fazem.

— Entendido, Lili.

Wyatt sustentou seu olhar, deixando-a saber que ele entendia o


significado de suas palavras. Foi divertido; dos três Alfas que Lili conheceu, Wyatt
parecia o mais alegre e descontraído - e ainda assim ele também parecia entendê-
la melhor, quase sem tentar - tanto que Lili teve dificuldade em manter a guarda
perto dele.

Depois de sua apresentação desastrosa ao primeiro Alfa que conheceu,


Lili nunca teria imaginado que poderia se sentir tão confiante com outro Alfa
depois de conhecê-lo por tão pouco tempo. Mas Wyatt confiou nela primeiro,
dando-lhe um convite permanente para sua propriedade, que até Lili sabia que
era um assunto incrivelmente sério para Alfas.

Mesmo assim, seu estômago se revirou enquanto ela o seguia em


direção à porta. Do lado de fora, ela parou, e Wyatt se virou para ela com um
olhar questionador em seus olhos.
Apenas pergunte a ele, ela tentou dizer a si mesma, mas as palavras
pareciam presas em sua garganta.

— Acho que você quer saber se pode passar a noite aqui, — disse Wyatt
gentilmente.

— Como você sabia disso? — Lili gaguejou. Sentidos aprimorados eram


uma coisa, mas ler mentes? — Você é vidente?

— Claro que não, — disse Wyatt com uma risada. — Você é fácil de ler,
Lil.

Lil. Isso era novo... e mesmo que Lili normalmente ficasse irritada por
alguém lhe dando um apelido sem permissão, ela gostou do jeito que soou vindo
de Wyatt.

— Isso é meio surpreendente, — disse ela, — já que tenho ouvido o


oposto a minha vida toda.

— Não brinca. — Lá estava aquele sorriso irônico novamente, onde um


canto de sua boca subiu e o outro baixou.

— Já fui chamada de tudo, de reservada a indiferente, — ela admitiu.

— Bem, isso é Betas para você, — disse Wyatt. — Lembre-se, podemos


ver muito mais do que seus amigos do lado de fora.

— Talvez você possa.

Ela não queria dizer isso, mas embora Xander pudesse sentir um monte
de coisas sobre ela que Lili desejava que ele não pudesse, ele entendeu muitas
coisas erradas, especialmente quando eles estavam discutindo.
— Acho que as coisas não correram muito bem quando você voltou
para a casa de Xander, — disse Wyatt.

Wyatt também errou as coisas. Lili sentiu o calor percorrer seu rosto,
lembrando-se da tempestade de fogo que o toque de Xander acendeu dentro
dela.

Eu te tomarei, Lilibeth. Toda você.

O pensamento de admitir a atração entre ela e Xander fez Lili querer se


virar e correr. Mas ela também não podia mentir para Wyatt – e não apenas
porque ele era um Alfa e seria capaz de dizer.

Wyatt era a coisa mais próxima de um amigo que ela tinha agora, e qual
era o sentido de encontrar um amigo em tempos difíceis se você não podia dizer a
verdade?

Lili respirou fundo. — Na verdade... é o oposto. Estávamos nos dando


muito bem.

— Ahhh. — O sorriso de Wyatt não durou muito, dando lugar à


confusão. — Mas... por que exatamente isso é um problema?

— Por causa da coisa toda de transformar Betas em Ômegas! Sarah me


disse que se uma conexão entre uma mulher Beta e um Alfa é muito forte, ela
pode... você sabe. — Lili parou, quase como se dizer as palavras em voz alta
tornasse a ameaça muito real.

— Ok, sim, — disse Wyatt. — Archer e sua companheira estavam me


contando sobre isso. Mas ainda não estou entendendo por que isso é um
problema.
Lili revirou os olhos. Tanto para a conexão intuitiva que ela imaginou
entre os dois. Wyatt podia ser um amigo, mas ainda era um homem — e um Alfa.

— Porque me tornar uma Ômega não estava exatamente no meu plano


de vida, — ela disse a ele.

Wyatt deu de ombros. — Sim, bem, a vida nem sempre acontece do


jeito que queremos. Tome-me, por exemplo. Antes da minha natureza Alfa
aparecer, o sonho da minha vida era me tornar um jóquei.

Lili deu-lhe um olhar duvidoso. Ela não podia imaginar o gigante de


mais de dois metros e trezentos quilos como ele montando um cavalo sem
esmagá-lo. — Sério?

Wyatt riu. — Nah, apenas enganando você. Mas é verdade do mesmo


jeito. Você pode planejar tudo o que quiser, mas a vida ainda acontecerá do jeito
que quer acontecer.

— Você quer dizer... destino?

— Sim, se você quiser chamar assim.

— Eu não, — Lili disse bruscamente. — Eu não acredito em destino ou


qualquer coisa do tipo.

— Obviamente, — disse Wyatt com seriedade fingida. — Se você


fizesse, você não estaria dormindo no meu quarto de hóspedes.

Lili tentou encará-lo, mas rapidamente se desfez. Era impossível ser


séria perto dele por muito tempo.

— Então, isso significa que eu posso ficar? — ela perguntou


esperançosa.
— Se é isso que você quer, com certeza.

O tom de Wyatt deixou claro que ele não achava que era a melhor
ideia, mas tudo o que importava era que ele disse sim. Agora que Lili tinha
colocado alguma distância entre ela e Xander, talvez ela pudesse clarear a cabeça
o suficiente para bolar um plano para sair de Boundaryland e voltar para a
sociedade Beta.

— Obrigada, — disse Lili, abrindo os braços para abraçá-lo.

Wyatt recuou como se tivesse brotado presas. — Eu aprecio o gesto,


mas ainda não posso tocar em você, Lili.

— Por que não? Se ficarei aqui com você, então obviamente não sou a
mulher de Xander.

Ela pretendia adicionar um toque de desprezo às palavras para mostrar


quão estranha a ideia realmente era... mas por algum motivo dizer a frase — a
mulher de Xander— parecia o oposto. Recordando aqueles momentos em seus
braços, a forma como eles se devoraram, trouxe o desejo de volta, mas desta vez
foi acompanhado por uma dor aguda.

Volte para ele.

O pensamento foi tão indesejável que a mão de Lili disparou como se


ela pudesse literalmente empurrá-la para longe, então ficou suspensa
desajeitadamente no ar enquanto Wyatt a observava com indisfarçável ceticismo.

— Então você continua me dizendo, — ele murmurou enquanto abria a


porta e entrava na casa.
Lili quase desejou que ele tivesse discutido com ela para que ela
pudesse defender seu ponto de vista de uma vez por todas.

Sim, tudo bem, ela queria Xander, mas isso era apenas biologia. Seus
hormônios estavam subindo ao céu de um potente coquetel de drogas forçadas, a
proximidade e sobreviver ao perigo juntos. E mesmo que Xander fosse quase
injustamente atraente, isso não significava que Lili tivesse qualquer intenção de
desistir de sua vida para se tornar uma Ômega.

— Eu prometo que não vou me impor por muito tempo, — disse ela em
vez disso. — Na verdade, se você me deixar usar o carregador de telefone em sua
caminhonete para carregar meu celular, eu posso começar a consertar esse mal-
entendido com a polícia. Espero que isso não demore mais do que alguns dias.

— Claro, — disse Wyatt, parando ao lado do veículo vermelho


brilhante. Ele a encarou com os braços cruzados, e agora não era apenas
ceticismo em sua expressão, mas preocupação. — Mas Lil... eu não teria muitas
esperanças.

Lili suspirou. Wyatt estava começando a soar como Xander. — Vai ficar
tudo bem, — ela insistiu.

Tinha que ficar, o resto de sua vida dependia disso.

***
Lili esperou até que Wyatt voltasse para dentro, deixando-a sozinha em
sua caminhonete, antes de ligar o telefone novamente, mesmo sabendo que não
importava. Wyatt seria capaz de ouvir cada palavra que ela dissesse.

Mas ela precisava da ilusão de privacidade se quisesse fazer isso. Ela


não podia estragar tudo: ela tinha que conseguir alguém em posição de poder
para ouvir a verdade.

Imediatamente após a inicialização, a tela do telefone dela piscou com


dezenas de notificações. Lili tentou ignorá-las, mas era impossível. Havia muitas –
incontáveis telefonemas, mensagens de amigos e conhecidos preocupados,
mensagens diretas de estranhos nas redes sociais cheias de insultos e ameaças.

E então havia os alertas de notícias. Lili apenas olhou para um casal


antes de seu estômago se contorcer irremediavelmente em nós.

Ela apressadamente abriu os contatos em seu telefone. Lili tinha


planejado ligar para sua mãe primeiro, mas depois de ler aquelas ameaças de
morte e manchetes, sua coragem falhou. Ela simplesmente não tinha coragem
para enfrentar sua mãe, desoladora demais para pensar sobre o que ela tinha
passado nos últimos dias. Saber que sua filha estava com um Alfa poderia colocá-
la no limite.

Lili decidiu tirar uma mais fácil do caminho e ligou para Kelly primeiro.

O telefone atendeu ao primeiro toque. — Senhorita Rennert, — disse


uma voz masculina cortada.

— Quem é você? — Lili exigiu. — Onde está Kelly?

— Estou aqui, Lili, — Kelly respondeu, sua voz metálica.


Então os policiais ainda estavam na casa de sua amiga e a colocaram no
viva-voz. Isso não era bom.

— Esse é o tenente Franzen, — Kelly disse apressadamente. — Você


precisa ouvi-lo, Lili.

Tenente de quê? - Lili se perguntou. Polícia local? Guarda Nacional?


Alguma outra agência da qual ela nunca tinha ouvido falar?

— Nós sabemos que você está na Ozark Boundaryland com o Alfa, Srta.
Rennert. — O homem falava como um robô. Se não fosse pelo tom gelado em
cada palavra, ela poderia ter acreditado que ele era um. — Estamos de olho no
perímetro e podemos levar um helicóptero para lá em quatro minutos. Preciso
que você saia agora e se renda.

— Ouça, Tenente, você entendeu tudo errado, — ela disse a ele. — Eu


não estou com Xander. Eu estou...

— Render-se é sua única opção, Srta. Rennert, — ele repetiu


asperamente. — Você entende?

— Não! — Lili odiava as lágrimas que ardiam em seus olhos. — Eu não


entendo nada disso. Por que eu deveria me render quando não fiz nada de
errado?

— Ajudar e ser cúmplice de um Alfa ilegal é um crime.

— Eu não ajudei ninguém. — Sua voz estava ficando estridente, toda a


frustração e raiva que ela estava mantendo dentro começando a ferver. — Ele
me sequestrou!
— Nós temos provas em vídeo do contrário. Você voluntariamente
deixou a cena de um ataque Alfa às tropas do governo. Você estava atrás do
volante do veículo, Srta. Rennert.

— Que outra escolha eu tinha? Os soldados estavam atirando em mim.


Era fugir com o Alfa ou ser baleada na rua.

— Nossos homens estavam lá para proteger os civis, — disse o tenente


friamente. — Suas ordens eram para manter a ordem enquanto o Alfa era levado
sob custódia. Você ignorou vários avisos verbais. Você tentou ferir os policiais
com seu veículo.

O sangue de Lili gelou quando ela percebeu que não importa o que ela
dissesse, este homem iria contra-atacar com as mentiras que a mídia já estava
espalhando. — Mas ele me segurou contra minha vontade.

— Você honestamente espera que eu acredite que não houve uma


única oportunidade para você escapar, Srta. Rennert? Também temos evidências
de que o Alfa andava na parte de trás da van às vezes, deixando você sozinha
atrás do volante.

— Isso… não era o que parecia!

— Infelizmente para você, srta. Rennert, era exatamente o que parecia,


— disse o tenente. — Você pode ter sido radicalizada por um grupo de direitos
Alfa, mas isso não é uma defesa para o seu papel no planejamento disso.

— Meu… o quê? — Lili nunca fez parte de nenhum grupo de direitos


Alfa, radical ou não. Seus estudos e trabalho mal lhe davam tempo para roubar
algumas horas de sono à noite, muito menos se envolver com ativismo de
qualquer tipo.

— E agora que você está cercada pela ameaça Alfa, você descobriu que
a realidade não combina com sua pequena fantasia, e você está desesperada por
uma saída.

Isso não podia estar acontecendo. Lili procurou freneticamente por um


argumento que pudesse convencê-lo. — Não foi isso que aconteceu. Você tem
que me ouvir.

— Não, Srta. Rennert. Você é quem precisa ouvir. Você tem apenas dois
caminhos a seguir: ou ficar nesse inferno para sempre ou se render aos meus
homens.

— Lili. — A voz assustada de Kelly irrompeu. — Ouça o tenente, por


favor. Eu sei que você está com medo agora, mas ele é o único que pode ajudá-la.
Ele diz que eles vão levá-la para um lugar onde eles vão desprogramá-la. As
pessoas que radicalizaram você... — Lágrimas escorrendo pelo rosto, Lili desligou.

Ela não sabia exatamente o que o tenente tinha reservado para ela, mas
tinha certeza de que era muito pior do que 'desprogramar'.

O fato de terem sido capazes de distorcer o que aconteceu em Copper


Mountain significava que eles poderiam - e fariam - qualquer coisa que eles
queriam com ela.

Prisão, morte, retratação forçada de sua história... as possibilidades


aterrorizantes giravam na cabeça de Lili. Era como se o topo de seu mundo
tivesse caído, e agora ela estava mergulhando nas profundezas do inferno. E
apesar de uma vida inteira vencendo as probabilidades em luta após luta, Lili não
achava que sobreviveria a esse pouso.

Xander estava certo o tempo todo. As autoridades Beta nunca iriam


deixá-la livre.
CAPÍTULO 13
Lilibeth

Você é uma convidada aqui, Lili lembrou a si mesma pela centésima vez,
enquanto a vontade de se levantar e andar ficava quase insuportável.

Por que ela não conseguia relaxar? Não era o ambiente. No entanto, a
casa de Wyatt era tão antiga quanto a de Xander, estava muito melhor
conservada, sem tábuas faltando ou vidraças rachadas. Na verdade, até onde Lili
podia dizer, tudo que Wyatt estava fazendo além de limpar o lugar era tirar
as coisas. Primeiro a lava-louças, depois o micro-ondas embutido e agora a lareira
a gás que podia ser ligada com um botão no controle remoto.

Lili gostaria de perguntar a Wyatt por que, mas a voz de Claudia Rennert
estava fixa demais em sua cabeça. Antes de cada brincadeira e festa do pijama,
sua mãe a lembrava de ser educada.

Diga por favor e obrigado. Coloque o guardanapo no colo. Não peça


segundas porções. Não limpe as mãos nas toalhas extravagantes e não faça
muitas perguntas.

Claro, Lili poderia simplesmente dizer a Wyatt o que estava sentindo,


exceto que ela nem sabia como descrevê-lo. Ela não estava doente,
exatamente; era mais uma inquietação, um estado profundamente inquieto e
nervoso que não a deixava ficar quieta.
A princípio, Lili pensou que fosse uma reação ao telefonema com o
tenente e Kelly. Ser abandonada por sua melhor amiga quando Lili mais precisava
dela era de partir o coração. Acrescente a isso o tenente esmagando sua última
esperança de redenção, e era incrível que ela ainda estivesse de pé.

Se Lili já não estivesse tão entorpecida de ver suas esperanças e sonhos


evaporarem nos últimos dias, ela provavelmente cairia em um canto e choraria.

Mas quando a tarde deu lugar a uma noite fresca e alegre e Wyatt
acendeu uma pequena fogueira para testar a corrente de ar na chaminé, Lili
começou a pensar que a tensão nervosa dentro dela poderia ser algo
completamente diferente.

Porque não era apenas a agitação desagradável. O sangue de Lili parecia


estar pegando fogo. Os pensamentos de Xander, dos quais ela tentou ignorar
fugindo para a casa de Wyatt, a seguiram.

Não apenas seguiu, mas inchou até que Xander era tudo em que ela
conseguia pensar. Tudo o que ela ansiava. Parecia uma tensão incessante dentro
dela, puxando-a de volta para ele.

— Com fome? — Wyatt chamou da cozinha e Lili se virou da janela.

Ela nem tinha notado que tinha se levantado novamente. Ela estava
com fome? Ela não podia dizer, não com aquela urgência esmagadora que excluía
todo o resto.

— Acho que estou bem por agora. Obrigada.

— Faça como quiser, — disse Wyatt, não indelicado.


Ele fritou o peixe-gato que havia pescado no início do dia, e a casa se
encheu de aromas saborosos. Todo o tempo, porém, Wyatt continuou olhando
para ela com uma expressão inescrutável.

Lili sabia que ele poderia dizer que havia algo errado. Ele era um Alfa,
afinal, com todos aqueles sentidos sobre-humanos para identificar suas emoções
não ditas.

Mas ele era um amigo, e bom nisso - e ele deu a ela todo o espaço que
precisava, mesmo além de sua cautela em tocá-la.

O que foi muito foda. Lili era uma mulher independente, uma mulher
Beta. Ela não era propriedade de ninguém ou companheira ou Ômega – e isso não
ia mudar.

E foi por isso que ela lutou tanto contra a insistência teimosa de seu
corpo. Ela cedeu à pressão interna para andar de um lado para o outro, mas
ainda estava lutando contra o desejo de sair correndo pela porta da frente e
entrar na escuridão aterrorizante em direção à casa.

Em direção à segurança. Em direção ao descanso.

Em direção a Xander.

— Não.

— Perdão? — Wyatt estava olhando para ela com um leve sorriso,


segurando uma travessa cheia de filés com crosta dourada.

— Desculpe, nada.

Lili sabia que estava corando, mas Wyatt fingiu não notar, sentando-se
na única cadeira da casa e comendo seu jantar.
Esse sentimento que ela estava lutando era precisamente por que ela
precisava estar aqui na casa de Wyatt. Como poderia confiar em si mesma perto
de Xander quando ela não conseguia controlar seu comportamento a um
quilômetro e meio de distância? Era como se ele fosse uma droga, e seu
sofrimento só terminaria quando ela conseguisse sua próxima dose.

Bem, ela simplesmente teria que suportar a dor da abstinência.

Quando Wyatt terminou de lavar a louça do jantar e o fogo se


transformou em brasas, acendeu uma lamparina a óleo e levou Lili ao pequeno
segundo quarto, onde havia deixado uma pilha de colchas em um tapete
trançado.

— Tem certeza que está tudo bem? — ele perguntou da porta.

— Tudo bem, — Lili retrucou.

Ela se colocou de frente para a parede e apertando os


punhos. Qualquer coisa para combater a pressão dentro dela. Uma vez que Wyatt
saiu do quarto, ela balançou e se mexeu e torceu seu corpo, transformando seu
peito em uma bagunça cheia de nós, rezando pelo sono que não viria.

À medida que a noite passava, a necessidade dentro dela só piorava. O


que começou como uma coceira se transformou em uma queimadura, depois em
um inferno que ela temia que a consumisse.

— Xander!

Levou um momento para Lili perceber que o uivo agonizante e


comovente tinha vindo dela. Oh, Deus... o que havia de errado com ela? Ela se
sentou com as colchas enroladas nas pernas, tremendo apesar do calor dentro
dela.

— Lili?

A porta do quarto se abriu e Wyatt parou na soleira. Ele acendeu a


lamparina e, em sua auréola dourada, Lili viu que seu cabelo estava desgrenhado
e seu rosto enrugado por causa do travesseiro. Ele não parecia aborrecido por ser
acordado; na verdade, ele parecia quase divertido.

— O que está acontecendo comigo?

— Nada de ruim, — ele disse a ela gentilmente. — Não tenha medo.

Mas não era ele que estava queimando por dentro. — Por favor, Wyatt,
— Lili implorou. — Diga-me que isso não é... o que eu acho que é.

Diga-me que não estou me tornando uma Ômega.

Wyatt se mexeu desconfortavelmente, desviando o olhar. Pela primeira


vez, Lili desejou que os Alfas não fossem tão honestos porque este seria um
momento perfeito para ser enganada.

— Isso não pode estar acontecendo, Wyatt! — ela gritou. — Eu tenho


planos para minha vida. Eu tenho que ajudar minha mãe. Eu deveria ser a única a
finalmente nos tirar da pobreza. Eu não posso decepcioná-la!

Lágrimas rolaram pelas bochechas de Lili, e ela as enxugou com


raiva. Lili nunca, nunca chorou na frente de ninguém, e isso a fez se sentir mais
exposta do que qualquer outra coisa poderia... mas o que quer que estivesse
acontecendo dentro dela estava provando ser mais forte do que suas melhores
defesas.
Wyatt a observou com simpatia em seus olhos, mas não disse as
palavras que ela queria ouvir.

— Lutar contra o que está dentro de você só piora as coisas, Lil. Confie
em mim, eu sei. Mas se você apenas ceder ao que está sentindo e for até ele, a
dor vai parar.

Foi a profunda tristeza em sua voz, em desacordo com tudo o que Lili
sabia sobre Wyatt, que a convenceu. O que quer que ele tenha experimentado
para merecer aquela dor, ela entendeu que ele estava lhe oferecendo a lição para
que ela não tivesse que aprender da maneira mais difícil.

Ele abriu a porta e segurou para ela - e naquele momento, Lili percebeu
que Wyatt sabia o tempo todo que isso ia acontecer. Foi por isso que ele
concordou em deixá-la ficar com ele. Ele não precisava mandá-la de volta para
Xander porque sabia que o próprio corpo dela faria isso por ele.

Lili olhou além dele para a escuridão. A ideia de sair à noite sozinha a
enchia de medo, mas não o suficiente para dominar sua necessidade de estar com
Xander.

— Obrigada, — ela disse a Wyatt, quase inconscientemente


contornando seu corpo para evitar tocá-lo.

Então, ela correu.


Xander

Xander apertou o parafuso o máximo possível, depois deu um passo


para trás para examinar sua obra. A Night Rider estava longe de terminar, mas a
carroceria podia esperar. Por enquanto, pelo menos ele conseguiu, mesmo que
levasse o dia todo. E havia gasolina suficiente no tanque para abastecê-la até que
pudesse encontrar mais.

Mas a sensação de satisfação foi passageira, dando lugar à dor


monótona que o perseguia o dia todo.

Xander sabia exatamente o que era. Ele observou o suficiente de seus


irmãos condenados passar por isso para reconhecer a dor da separação entre
companheiros. E sim, Lilibeth pode não ver dessa forma ainda, mas isso não nega
o fato de que sua natureza mutável, juntamente com seu vínculo cada vez mais
profundo, não permitiria que ela ficasse longe por muito tempo.

Mas mais uma vez, ele subestimou quão duro sua pequena foguete
era. Se ela estava tendo metade dos problemas por se separar como ele, ela deve
estar em agonia.

Desde a primeira pontada de desconforto quando Lilibeth estava no


meio do caminho, Xander fez tudo o que podia para manter sua mente longe
dela, jogando-se em seu trabalho e nunca descansando nem para comer, mas não
funcionou.

Mil vezes, ele quase abandonou seu plano e foi atrás dela... mas de
alguma forma Xander conseguiu se conter. Trazê-la de volta à força era a pior
coisa que podia fazer. Ele não tinha dúvidas de que Lilibeth estava
desesperadamente faminta por ele, mas depois que eles se devorassem, ela
usaria isso como uma desculpa para culpá-lo pelas mudanças que aconteciam
dentro dela. Em sua mente, Xander voltaria a ser seu captor, o inimigo que ela
estava determinada a escapar.

Ele estava limpando suas ferramentas e guardando-as para a noite


quando ouviu algo que o fez parar: seu nome, carregado pelo vento, um grito
agudo.

Lilibeth.

Ele estava na moto com o acelerador bem ligado antes que o eco
deixasse seus ouvidos. Ele disparou pela estrada, sem se importar com os
buracos, sulcos e raízes expostas que poderiam derrubá-lo e destruir a moto.

Tudo o que importava era chegar a sua mulher.

Ele deixou seus sentidos guiá-lo no lugar subconsciente onde eles


evidenciavam mais poder, e quando a cabana de Wyatt apareceu, Xander sabia
que ele arrombaria a porta se isso fosse necessário para chegar até ela.

O irmão trouxe problemas para si mesmo no momento em que decidiu


deixar a mulher de outro Alfa ficar em sua casa. Mas, felizmente, todos foram
poupados de qualquer teatralidade quando Lilibeth saiu correndo da casa e
desceu a estrada em direção a ele.

Xander parou a centímetros dela e desligou o motor.

Ela jogou os braços ao redor dele, e ele usou seu impulso para puxá-la
para seu colo. Ela começou a beijá-lo quase antes que ele pudesse firmar a moto
com um pé no chão.
Ela estava selvagem com necessidade, rastejando por seu corpo e
agarrando-se firmemente. As pernas dela envolveram a cintura dele, tão perto
que ele podia sentir a umidade dela escorregando por suas roupas. O cheiro dela
o encheu e elevou sua fome.

Era inebriante, saber que seu toque tinha tanto poder sobre ela, que a
excitava ao ponto da inconciência.

Sim. Foi por isso que ele se obrigou a esperar, porque agora Lilibeth não
seria capaz de fingir que ela poderia resistir ao que havia entre eles.

Todas as outras vezes que eles se tocavam, Xander era o agressor. Era o
braço dele sobre ela enquanto ela dormia, a ponta de seu dedo traçando sua
bochecha, suas palavras alimentando seu desejo.

Lilibeth nunca havia dado o primeiro passo até àquele momento — e


era quase mais do que Xander podia aguentar.

— Casa, — ele vociferou contra sua pele febril. — Espere.

Ele ligou a moto, indo devagar no início e mantendo a moto em uma


velocidade segura, mas quando Lilibeth bateu os punhos nas costas dele e gritou:
— Mais rápido! — não havia nada que ele pudesse fazer a não ser obedecer.

Eles voaram pela estrada passando pela superfície preta e vítrea do


lago, então subiram o caminho em direção à casa – e o pneu dianteiro da moto
bateu em uma pedra.

Por uma fração de segundo, eles estavam no ar - e então eles caíram


com força, a moto derrapando em um arco perigoso, oscilando à beira de um
acidente. Xander sentiu a emoção da primeira vez que pilotou. Ele provou o ar de
um homem livre e sentiu o cabelo de Lilibeth chicoteando ao redor deles.

Esses sentidos trabalhando profundamente em sua mente


subconsciente calcularam a correção e a executaram perfeitamente. Em um
piscar de olhos, a moto foi endireitada e diminuindo a velocidade, parando em
frente à casa de Xander.

Ele tomou Lilibeth em seus braços, certo de que precisaria tranquilizar


sua mente nervosa e cautelosa, mas em vez disso, ela o agarrou, tentando tirar
sua camisa.

Ele a ajudou, rasgando o tecido e jogando os restos no quintal. Ele


estava prestes a chutar a porta e carregá-la escada acima para seu quarto, mas
ela começou a balançar fora de seu alcance.

Assim que seus pés tocaram o chão, Lilibeth caiu de joelhos e começou
freneticamente a abrir o zíper de sua calça jeans.

O pênis de Xander saltou livre, mais rígido e inchado do que jamais


esteve em sua vida. Ele gemeu quando Lilibeth o acariciou com as mãos, mas
quando ela abriu sua doce boca carnuda e sua língua saiu, ele a puxou para cima e
a jogou por cima do ombro.

— Aqui não. — Ele sufocou as palavras. Seria preciso muito foco para
contar o resto, que embora não houvesse cama, ele queria levá-la pela primeira
vez no quarto que seria deles, na casa que eles encheriam com seus filhos. Que
ela nunca mais teria que temer nada porque ele era seu Alfa agora, e a protegeria
com sua vida.
No momento em que ele a deitou na pilha de cobertores de lã que
serviam como sua cama, ela conseguiu tirar o short. Xander levou uma fração de
segundo para apreciar a delicada calcinha rosa que combinava com seu sutiã
antes de arrancá-la.

Lilibeth estava fazendo os mais doces sons de desejo, ofegante e


choramingando e tentando puxá-lo para cima dela. Mas ele a fez esperar o tempo
suficiente para absorver todo o seu corpo lindo e feminino sob a luz pálida da lua
que entrava pela janela – os seios pesados e arredondados, as curvas suaves de
sua barriga e quadris, o contraste de seus braços esbeltos e coxas grossas.

— Lili. — Ele engoliu em seco e, embora quisesse dizer que ela era
linda, a palavra que escapou de seus lábios foi — Minha.
CAPÍTULO 14
Lilibeth

Quando Xander se afastou dela, olhando para seu corpo, a breve pausa
em seu contato permitiu apenas o suficiente da razão de Lili retornar para que ela
entendesse que havia escolhido isso.

Ele a chamou de Lili... e ela não se importou. Na verdade, parecia certo.


Melhor do que certo.

Perfeito.

No momento, não importava se seu corpo estava se transformando em


outra coisa, mesmo algo irreconhecível para ela, porque sua alma era a mesma...
e sua alma ansiava por Xander por muito mais tempo do que ela se permitiu
reconhecer. Desde o primeiro momento que ela olhou para aqueles olhos cor de
granito, algum canto profundo dela sabia que nunca seria a mesma novamente,
que nunca se sentiria inteira novamente até que estivesse em seus braços.

Seus joelhos roçaram seus quadris quando ele se posicionou acima


dela. O toque foi como um raio de eletricidade, e uma onda de prazer cresceu
dentro dela.

Nada jamais foi tão bom quanto isso. Lili esteve com alguns homens,
mas nunca se sentiu particularmente especial. Seus parceiros estavam bem, e as
sensações agradáveis o suficiente, mas depois, Lili sempre ficava se sentindo um
pouco decepcionada e vazia.
Mas não desta vez.

De alguma forma, antes mesmo de começarem, ela tinha certeza disso.

Xander não segurou nada. Ele lhe ofereceu tudo dele. Todas as suas
emoções, sua luxúria, necessidade e paixão – e pela primeira vez, Lili se abriu em
troca.

Ela o deixou vê-la, não a persona que ela trabalhou tanto para criar para
o resto do mundo, aquela que deveria impressionar e atrair, acima de tudo,
esconder quem ela realmente era — mas a verdadeira eu com todas as suas
falhas, medos, vergonha, anseio e esperança.

Lili olhou para Xander e viu tudo o que ela estava sentindo espelhado
de volta, e ela ergueu os quadris sem pensar, precisando dele dentro dela mais do
que jamais precisou de qualquer coisa, mesmo ar para respirar, e implorou.

— Por favor, Xander. Eu preciso de você.

Ele não sorriu. Na verdade, ela nunca o tinha visto parecer mais sério
enquanto ele traçava um dedo pela barriga nua dela, sobre os quadris e entre as
pernas. Ele separou os lábios de sua boceta suavemente, nunca quebrando seu
olhar, e quando ele deslizou um dedo nela, preparando-a para ele, ela engasgou.

— Você está tão molhada para mim, — ele vociferou. Ela sentiu as
paredes de sua boceta esticar e inchar quando ele deslizou em um dedo e depois
outro. Ele a provocou com eles, acariciando lentamente dentro e fora enquanto
seu clitóris pulsava quase dolorosamente.
— Mais, mais, — disse ela com os dentes cerrados, resistindo e se
contorcendo e tentando levá-lo mais fundo. Xander puxou os dedos e os enfiou
na boca, seus olhos se fechando em êxtase, um estrondo profundo em seu peito.

Então ele posicionou a cabeça de seu pênis em sua abertura.

Através do nevoeiro da luxúria, Lili se lembrou de quão grande parecia


em suas mãos. Muito grande, muito mais do que ela jamais poderia levar dentro
dela.

Mas esse pensamento foi embora quando Xander tocou seu clitóris com
o polegar. Uma vez, duas vezes...

E Lili explodiu com uma força que parecia que iria rasgá-la em dois, mas
ela não se importou. Ela preferia morrer no meio desse êxtase do que viver sem
ele um segundo a mais.

No auge de seu orgasmo, Xander pressionou dentro dela com um


impulso duro, levando o prazer mais alto e mais forte do que ela jamais pensou
ser possível.

Lili sentiu-se girando pelo espaço, um ciclone rodopiante de prazer,


onda após onda no momento que Xander começou a entrar e sair.

Lili flutuou para fora do prazer vertiginoso como uma folha flutuando
em uma corrente de ar, apenas para ser pega por um vento cruzado quando
Xander saiu dela. Seu corpo gritou sua fúria.

— Não! — ela gemeu, mas ele agarrou seus quadris e a virou para que
ela ficasse de joelhos. Ela os abriu e contraiu sua bunda, mas desta vez ela não
precisou implorar antes que Xander entrasse nela novamente, pegando o ritmo
que seus corpos estabeleceram juntos.

Parecia certo... inegável. O que quer que Lili pensasse que sabia sobre
sexo, sobre desejo, era como uma cartilha de jardim de infância juntando poeira
em um sótão.

Quem ela era com Xander, esse era seu verdadeiro eu, o todo, não o
conjunto de versões e peças pelas quais ela girava no decorrer de seu esforço sem
fim. O eu que não planejava demais ou pensava demais, mas bebia a sensação e
conduzia com a intuição, que não se acovardava com a paixão, mas a deixava cair
sobre ela.

Esse pensamento e todos os outros desapareceram quando Xander se


aproximou e começou a acariciar seu clitóris enquanto a fodia.

A noite passou numa fuga de prazer, uma sinfonia de sons animalescos


de necessidade, uma colagem de sensações. Por um tempo, eles estavam fora —
contra a varanda. Em seguida, na rocha lisa e coberta de musgo que se projetava
do chão nos fundos da casa – embora Lili não se lembrasse como eles chegaram
lá. Xander até transou com ela no patamar do segundo andar e contra a janela
curvada com vista para a floresta à noite... e ainda não era suficiente.

Em seus poucos espaços de clareza, Lili ficou maravilhada com o que


estava acontecendo. Ela mal se reconhecia e, embora essa nova versão a
aterrorizasse, também a empolgava... tudo porque Xander a fazia se sentir segura
o suficiente para experimentar tudo.

Em toda a vida de Lili, ninguém jamais a havia desafiado ou a entendido


como ele, e ela sabia em seus ossos que ninguém mais o faria novamente.
E então ela cedeu a ele, a tudo isso. E em troca, Xander deu tudo a ela.

Xander

Não havia som mais bonito do que Lili gritando ao gozar.

Houve um tempo, lá na instalação, quando a equipe pela primeira vez


começou a trazer cobaias do sexo feminino, quando Xander tinha inveja de seus
irmãos Alfa que foram escolhidos para receber Ômegas. Ouvindo os gemidos e
gritos de paixão que às vezes se prolongavam por dias, sabendo que poderia
morrer sem experimentar nada parecido — parecia um novo tipo de tortura
destinado a quebrar sua vontade.

Mas sua inveja não durou. Logo após o término das baterias dos
primeiros indivíduos, a equipe começou a experimentar os pares
acasalados. Embora 'experimentar' não começasse a descrever a crueldade do
que aconteceu a seguir.

Xander sabia, quando fazia a transição, que os Alfas acasalavam para a


vida toda, mas era um conceito abstrato na época, perdido na enormidade das
mudanças físicas que o tinham em suas garras.

O que ele não tinha entendido era que o vínculo era tão profundo que
se tornou a base da sobrevivência dos companheiros, que seus eus individuais
não podiam mais se sustentar sozinhos.

Então, quando os cientistas arrancaram as Ômegas dos braços de seus


Alfas, Xander ouviu seus gritos. Ele observou seus irmãos baterem em suas gaiolas
até suas mãos ficarem ensanguentadas. Por mais horrível que fosse vê-los morrer,
era a agonia daquele que foi deixado para trás para definhar que nunca o
deixaria.

Foi quase o suficiente para roubar de Xander qualquer desejo de sexo


pelo resto de sua vida.

Mas quando Lili apareceu, essa necessidade voltou à vida, mais forte do
que nunca. A conexão entre eles era diferente de tudo que ele já sentiu como
uma Beta. Não parecia justo colocar essas experiências desajeitadas na mesma
categoria que Xander experimentou com ela.

Quando adolescente, ele tinha sido um garoto idiota e imprudente, e se


continuasse sendo um Beta, Xander tinha certeza de que teria se tornado um
adulto idiota e imprudente que não tinha a capacidade emocional de entender o
que estava perdendo.

Mas agora, como Alfa, ele entendia a enormidade desse vínculo


surpreendente com Lili.

E era só o começo.

Haveria mais noites de paixão como esta. Anos de aprofundamento da


conexão e prazer, solidificação de sua confiança e compromisso. E toda vez que
Xander via as estrelas cadentes nos olhos de Lili sinalizando que ela estava prestes
a gozar novamente, ele experimentava a satisfação esmagadora do que
significava ser um Alfa.

O amanhecer estava começando a raiar quando Xander sentiu algo


mudar dentro dele. Eles estavam fazendo amor no quarto onde começaram, e
embora o prazer de Lili tivesse continuado a se aprofundar durante toda a noite,
ele viu a fadiga a dominando, sentiu a exaustão trêmula em seus músculos. No
entanto, ela estava construindo para o que prometia ser seu orgasmo mais
espetacular ainda, se contorcendo em seus braços e gritando seu nome, quando
ele sentiu uma pressão começando a se formar na base de seu pênis.

Lili também sentiu. Seus olhos se abriram, e ela olhou para ele –
primeiro com surpresa, então em êxtase quando ele gozou, sua semente vindo
em jatos quentes, seu nó prendendo-a a ele até que ele finalmente desmoronou.

Ele rolou de costas, levando Lili com ele, observando-a estremecer de


prazer enquanto seu próprio orgasmo final explodia, e ela pulsava de novo e de
novo em torno de seu nó, segurando-o como uma preciosa vida.

Xander não se importou que sua mulher adormecesse logo após as


últimas ondas de sua paixão retrocederem. Ele se contentou em ficar quieto
enquanto seu nó desaparecia lentamente, segurando-a em seus braços, ouvindo
seu pulso firme combinando com o dele.

Esse... esse era o destino que havia escapado dele, do qual ele havia
praticamente desistido.

Xander não sabia de tudo. Inferno, alguns dias, parecia que ele não
sabia de nada. Mas uma coisa em que ele apostaria sua vida era que nunca seria
capaz de dar um nó nessa mulher a menos que o destino o permitisse.

De certa forma, Xander era um homem desde o dia em que sua


verdadeira natureza emergiu. Mas tinha levado o inferno dos últimos cinco anos e
a jornada de uma vida inteira para trazê-lo a este lugar, esta terra, esta mulher, e
ele a protegeria e cuidaria com cada fibra de seu ser.
Sua infância se foi há muito tempo, e seu sofrimento ficou para trás.
Acabou o tempo das brincadeiras.

Xander estava acasalado agora, e sua mulher nunca mais sairia do seu
lado.
CAPÍTULO 15
Lilibeth

Lili esperou pelo arrependimento que ela tinha certeza que estava
esperando ao virar da esquina.

Ontem à noite, ela havia traído tudo em que acreditava, jogando a


cautela não apenas ao vento, mas tão longe que levou até esta manhã para
retornar.

Quando ela acordou no piso áspero de madeira do quarto de Xander,


depois de tirar os cobertores enquanto dormia, o sol já estava alto no céu. Ela
teve muito tempo para cair em si e para que o remorso se instalasse.

Mas não importa o quanto ela tentasse, Lili não conseguia angariar nem
um pingo de auto-aversão. A culpa, que tinha sido sua companheira constante
desde que ela conseguia se lembrar, parecia tê-la abandonado também.

O que deixou a pergunta óbvia... o que diabos havia de errado com ela?

Qualquer Beta normal estaria escondendo a cabeça de vergonha.


Alguém que teve responsabilidade perfurada em sua cabeça desde o nascimento
deveria estar indo para a penitência. E já que Lili não estava fazendo nada disso...
E oh, merda – ela tinha esquecido o nó de Xander. Ou talvez ela tivesse sonhado
essa parte. Lili certamente esperava que sim porque se Xander tivesse realmente
dado um nó nela...
Não importa de que maneira ela gozou, Lili continuou gozando ao
mesmo resultado. Já que Betas não deveriam querer Alfas, e Alfas não podiam
dar nó em Betas... então ela não era mais uma Beta.

Não, ela não estava disposta a aceitar essa conclusão ainda.

Pensar em círculos lhe deu dor de cabeça, então Lili se levantou e


dobrou os cobertores, constrangida em sua nudez. Ela encontrou sua calcinha
com bastante facilidade, mas seu sutiã estava preso tão longe sob uma cômoda
velha que ela decidiu ficar sem ele durante o dia, em vez de ficar de quatro e
pescá-lo. Sua camisa e calça, por outro lado, não foram encontradas em lugar
algum.

Ela espiou no corredor antes de correr para seu quarto e pegar roupas
limpas. Ela definitivamente precisava de um banho, mas como ainda não havia
água corrente, ela supôs que precisaria caminhar até ao riacho ou até mesmo
nadar no lago – embora isso significasse retornar à estrada principal, e Lili
definitivamente não estava com vontade de encontrar nenhum vizinho. Nem
mesmo Wyatt.

Vá até ele.

As palavras de Wyatt, a bondade em sua voz, voltaram para Lili


enquanto ela estava incerta no quarto vazio, imaginando o que fazer a
seguir. Wyatt fez parecer tão fácil, como se tudo o que ela precisasse fazer era
voltar para a casa de Xander e seus problemas teriam desaparecido. E enquanto
Lili definitivamente tinha tido o sexo de uma vida – ela podia sentir-se corar com
o mero pensamento do que ela e Xander tinham feito – o resto de sua vida ainda
estava em desordem.
Enquanto isso, Xander estava fazendo sabe-se lá o quê à beira do lago,
enquanto ela...

Espere um minuto. Lili virou a cabeça para a janela empoeirada da


frente, imaginando como diabos ela sabia onde ele estava. O lago nem era visível
da casa, a mais de 800 metros de distância, e ainda assim ela de alguma forma
sabia para onde ele tinha ido.

Pensando sobre isso, esse sentido não era novo. Estava lá na noite
passada quando Lili saiu correndo da casa de Wyatt, dizendo que Xander estava a
caminho dela.

Era como se houvesse uma parte de Xander dentro dela agora... ou


talvez fosse uma parte de Lili nele. De qualquer forma, a distância entre eles era
como um cordão elástico, e ela podia dizer pela resistência dentro dela o quanto
ele se estendia.

E agora, a outra extremidade da corda estava fazendo um arco em


movimento rápido, traçando a borda do lago. Ele pegou a moto, então. Lili se
lembrou de como estava na garupa dele, parando bruscamente na frente dele,
seu cabelo emaranhado pelo vento.

Ele estava certo — era uma bela máquina, toda preta fosca e cromada
desgastada e sem um pouco de exibicionismo. Como Xander, era sólida, poderosa
e potencialmente mortal, mas quando ele andava de moto tornava-se uma
extensão dele, de sua vontade e seu espírito, sua fome imprudente de beber
profundamente de sua liberdade.

Como poderia haver um lugar para ela naquela imagem? Lili estava tão
fora de sua zona de conforto, um rato da cidade jogado na natureza, uma criatura
de hábitos, ordem, rituais e regras. Sim, ela adorava sentir o rugido da moto entre
suas pernas enquanto enterrava o rosto no peito de Xander, mas momentos
ocasionais como esse não somavam uma vida.

E ela não era forte do jeito que ele era. A noite anterior tinha deixado
Lili fraca, exausta, dolorida, esfolada, escoriada e machucada. Lili não trocaria
isso, mas ela definitivamente precisava se recuperar disso.

Ela vagou pela casa, pegando os vários objetos que os antigos donos
haviam deixado para trás, colocando-os no chão novamente. Um vaso de vidro
lapidado, uma xícara lascada, uma velha fotografia pregada na parede de um
quarto. Havia significado em cada um deles, histórias inteiras com as quais
sonhar, mas Lili estava muito inquieta.

Sem saber para onde estava indo, ela se viu do lado de fora na
varanda. O sol em seu rosto era bom — até mesmo restaurador. Ela ansiava por
andar, então ela partiu para a floresta.

Lili desejou não ter sido tão brusca com Sarah. Ela tinha um monte de
perguntas que a Ômega provavelmente poderia ajudar. Se ao menos Lili pudesse
perguntar a ela se a necessidade de estar ao lado de Xander era uma coisa
Ômega... e se isso algum dia iria embora.

E, claro, a mãe de todas as perguntas – o quanto minha vida vai mudar?

Mas mesmo que Lili pudesse superar seu constrangimento o suficiente


para visitar, ela não estava realmente com vontade de ver ninguém hoje – nem
Wyatt ou Sarah ou mesmo Xander. A última coisa que ela precisava era estar
perto de pessoas que pudessem sentir todo o tumulto dentro dela. As chances
eram de que eles tivessem suas próprias perguntas, e Lili não tinha respostas.
Nem para ela mesma. Como ela poderia explicar arriscando tudo pelo
que ela trabalhou tanto em troca de algumas horas de prazer com Xander?

Lili vinha seguindo um plano desde que conseguia se lembrar. Às vezes,


o plano mudava — ela mudava de ideia sobre o que queria ser quando crescesse
de novo e de novo, — mas sempre houve um plano, e sempre foi responsável.

Mas agora, Lili se viu sem ideia do que viria a seguir. Ela nem sabia
como se sentir. Ela não sabia de nada.

Além da agradável percepção de que caminhar pela floresta era bom.

Melhor do que bom - era um banquete para os sentidos que pareciam


ter despertado de um longo sono. Quando foi a última vez que ela realmente
ouviu um pássaro cantar em uma árvore? Sempre houve tantos tons de
verde? Por que a terra cheirava tão bem aqui?

Até mesmo a umidade sobre a qual Lili havia sido avisada, praticamente
inexistente em LA, parecia mais um embrulho transparente do que um
cobertor. O que era estranho porque ela sempre amou ar condicionado, mesmo
que seus apartamentos nunca tivessem.

Mas agora, o brilho de orvalho em sua pele era bom, e seu corpo
parecia se ajustar ao aumento da temperatura enquanto o sol subia em direção
ao seu ápice.

O mundo era muito maior do que Lili jamais imaginara. Maior que Los
Angeles, maior que seus problemas, maior que os planos que ela fez.

Era quase como se tudo o que antes parecia real e importante fosse
apenas uma ilusão. Apenas a terra sob seus pés e este momento eram reais.
Lili não tinha chegado a Nova York. Ela não tinha começado seu novo
emprego. Ela pode nem ser mais uma Beta. Mas ainda assim, o mundo continuou
girando. Uma sabedoria além da sua, uma natureza que ela não poderia resistir
para sempre, a convidou para simplesmente relaxar e ceder à ordem natural das
coisas.

Enquanto caminhava por um caminho tênue que corria paralelo ao


lago, Lili decidiu tentar algo novo. Ela deixou seus planos e preocupações
escaparem de seus pensamentos como areia por uma peneira e esperou para ver
o que viria para substituí-los.

Ela andou, observou, ouviu e respirou. E estava... tudo bem.

Uma parte teimosa e dura dela ainda ansiava por alguma grande
revelação. Como um poema de Robert Frost, Lili queria as respostas em belos
versos que ela pudesse pendurar na parede, direções que ela pudesse consultar
sempre que se sentisse desafiada.

Mas não era assim que a vida funcionava.

Embora tivessem se afastado no momento, Lili sabia que suas


preocupações retornariam... mas agora ela sabia que elas não tinham o poder de
controlá-la. Ela tinha escolhas. Nada estava escrito em pedra. E ela podia esperar
até que as respostas chegassem, em vez de tentar forçar soluções.

A floresta se abriu em uma clareira, e Lili se viu na beira de um pequeno


lago, um lugar espaçoso em um riacho sinuoso que provavelmente desembocava
no lago. E Lili, com a mente aberta para o que poderia ser e não para o
que deveria ser, teve uma súbita vontade de tirar as roupas e entrar na água fria,
enxaguando o suor e a sujeira dos esforços da noite anterior.
Ela conseguiu desabotoar a camisa até à metade antes que os
pensamentos chegassem.

Lili fez uma pausa, olhando mais de perto para a água. De longe, parecia
vítreo e refletivo, mas de perto era esverdeado e escuro.

Lili estava acostumada com a água cristalina da piscina do campus ou


com o azul do oceano. Ela se perguntou o que estava lá embaixo, como se sentiria
em seus pés descalços... que tipo de criaturas poderiam estar à espreita.

— Não me diga que você está se acovardando.

Lili se virou para encontrar Xander encostado em uma árvore, braços


cruzados, observando-a com diversão.

— Você me seguiu até aqui? — ela exigiu.

Xander apontou para uma fileira de peixes que pendurou em um


galho. — Eu estava pescando, até que ouvi você tirando a roupa.

Lili revirou os olhos. — Eu ainda estou completamente vestida se você


não percebeu.

Ele atirou-lhe um sorriso de lobo. — Se você não contar esses três


botões. Precisa de ajuda com o resto?

Lili sentiu o desmoronamento dos compartimentos que ela construiu


para manter todos os seus sentimentos conflitantes, uma voz retumbou... seu
corpo estava acordando faminta por ele novamente.

E Lili não estava pronta. Sua necessidade de controle veio à tona. —


Acho que deixarei de nadar hoje, — ela disse rigidamente.
Xander caminhou em direção a ela... não, ele andou em direção a ela
como um lobo, um faminto que viu um coelho indefeso. E o corpo traidor de Lili
pulsava com necessidade.

— Agora, por que você quer fazer isso? — ele vociferou, ficando muito
perto.

— Porque…

As razões de Lili evaporaram quando Xander começou a desabotoar de


onde ela havia parado.

— Deixe-me adivinhar, você não tem certeza de que é seguro.

Seu tom era gentilmente zombeteiro, mas Lili agarrou suas palavras. —
Exatamente.

Por que sua natureza cautelosa tinha que ser uma característica
ruim? Ela já tinha saído de sua zona de conforto hoje, andando pelo deserto,
arriscando se perder ou ser comida ou...

— A água nem está limpa, — ela apontou. — E não consigo ver o que há
lá embaixo. Podem ser cobras ou pedras afiadas ou...

— Apenas admita que você está com medo, Lili, — disse Xander,
deslizando a camisa de seus ombros. Seus mamilos endureceram quando a brisa
os acariciou. — Mas você está comigo, lembra? Além disso, não há cobras. Não
hoje, de qualquer maneira.

Lili olhou para a água em dúvida. Ainda parecia bastante questionável,


mas o calor dentro dela estava crescendo, queimando através de sua
hesitação. — Você promete? Quero dizer, você pode realmente sentir o que está
na água?

— Querida, eu posso sentir tudo.

As palavras murmuradas em um tom mais baixo do que qualquer Beta,


enviaram uma onda de arrepios através de Lili. Xander tinha acabado de chamá-la
de — querida — e ela não odiava isso.

Suas mãos estavam sobre ela, e ela não o empurrou. Ele arrastou os
dedos pelos lados dela, traçando suas costelas, sua cintura, seus quadris, então de
volta até ao cós de sua calça jeans, deixando arrepios em seu rastro.

— Se viver... — Ele soltou o botão.

— Se respirar... — Ele puxou o zíper para baixo.

— Se o coração bater... — Xander empurrou seu jeans rudemente sobre


seus quadris, fazendo-a ofegar. — Então eu sei tudo sobre isso. Agora tire essas
malditas calças.

— Tudo? — A voz de Lili tremeu, mas não foi de medo. Não mais. A
lagoa poderia estar cheia de motosserras e lixo tóxico, por mais que seu corpo
ganancioso se importasse. Ela chutou as calças e ficou diante dele apenas de
calcinha... calcinha que já estava encharcada.

— Eu posso dizer quão perto uma criatura está. Ouvir cada movimento
dela. Sentir o que ele quer.

A boca de Lili de repente ficou seca. — E... o que ele quer?

— Eu acho que você sabe, — seu Alfa disse, seus olhos de nuvem de
tempestade brilhando com relâmpagos. — Deixe-me dar a você, Lili.
Deus a ajude; ela ia fazer isso de novo. Lili sentiu suas pálpebras caírem
enquanto levantava o rosto... e então Xander a envolveu em seus braços e a
jogou no lago.

O choque do frio atravessou seu corpo quando ela mergulhou no centro


da lagoa. Lili chutou, e seus pés roçaram em algo viscoso, e então ela quebrou a
superfície, gaguejando e gritando.

— Frio! Oh meu Deus, está tão frio!

Ela começou a nadar para a praia, mas Xander entrou na água e


bloqueou seu caminho. Ele tirou suas roupas, amassando sua camisa e jeans e
jogando-os por cima do ombro sem olhar para ver onde eles pousaram. — Ah,
não, você não.

— Isso foi um jogo sujo, — ela engasgou quando ele a pegou em seus
braços, aparentemente indiferente à temperatura da água. O calor de seu corpo
parecia o paraíso.

— É por isso que eu tive que ajudá-la a se decidir. É bom, não é?

Para surpresa de Lili, ela já estava começando a se acostumar com a


temperatura. — Um pouco, — ela admitiu.

— Veja, Lili, você pode ser espontânea.

Lili piscou para tirar a água dos olhos. — Como isso foi espontâneo? Eu
estava lá cuidando da minha vida e...

Ele a cortou com um beijo.

Lili sentiu-se afundar novamente, mas desta vez as profundezas eram


aveludadas e acariciantes, em vez de frias e úmidas. Beijar Xander parecia
sustento, fortalecendo seu sangue, renovando seu espírito. Ela não conseguia
chegar perto o suficiente, não importa o quanto ela se agarrasse a ele, quão
profundamente ela o beijasse.

Ela o sentiu endurecer, o peso de seu pênis pressionando a carne macia


de sua barriga, e ela se afastou surpresa.

— Você não precisa... hum, se recuperar?

Xander riu. — Você tem muito a aprender sobre Alfas, querida.

Querida.

— Não Alfas. — Ela pressionou a testa no peito dele, de repente se


sentindo tímida. — Só você.

Oh Deus... ela disse a parte silenciosa em voz alta. Lili nunca murmurou
um único carinho para ninguém, a menos que você contasse Babcia, a palavra
polonesa para vovó. E ela definitivamente nunca colocaria seu coração lá fora
para ser pisoteado.

Mas Xander não parecia se importar. Na verdade, ele reagiu levantando


as pernas dela e envolvendo-as ao redor de sua cintura para que ela balançasse
contra ele, a fricção molhada desencadeando pequenas explosões dentro
dela. Ele beijou sua bochecha, arrastando beijos por seu pescoço.

— Você vai descobrir todo tipo de coisas novas, — ele murmurou. —


Agora que você é uma Ômega.

Como uma bolha de sabão frágil, a fantasia que Lili estava explodindo
em espiral.
Ela não disse a palavra em voz alta. Nem se permitiu pensar nisso. Mas
Xander o jogou como se fosse a melhor notícia de todos os tempos, e Lili não
estava pronta.

Ela tentou se esquivar de seu alcance. Ela estava segura em sua


negação, até mesmo contente a maior parte do tempo. Havia uma razão para
tantas pessoas cederem à sua atração... e Lili era apenas humana, não importava
qual fosse sua natureza.

— Deixe-me ir, — disse ela, empurrando o peito de Xander enquanto


ele a segurava no lugar.

— Você já tentou isso, Lili, — ele disse a ela. — Lembra o que aconteceu
quando você fugiu da verdade antes?

Suas palavras parecem um tapa na cara. — Eu não quero falar sobre


isso.

— Você vai ter eventualmente.

— Não parada em uma lagoa, não vou! — Mas a luta tinha saído dela, e
ela cedeu contra Xander, deixando-o envolver seus braços ao redor dela.

— O lugar não importa. A verdade está em toda parte.

Ele continuou agindo como se já soubesse tudo o que ela poderia


dizer. E não ajudou que ele provavelmente sabia.

— Pelo menos se voltássemos para a casa, eu não estaria tão... — Lili


engoliu em seco, tentando nomear a sensação e não conseguindo.

— Exposta? Nua? — Xander não esperou por uma resposta. — Por que
isso é uma coisa tão ruim?
Xander ergueu o queixo dela com os dedos, forçando-a a olhar para
ele. Seu rosto - tão familiar para ela agora quanto o dela - estava tão lindo como
sempre contra o céu azul brilhante, seu cabelo em cachos molhados em seu
pescoço.

— Eu sou seu homem, — disse ele, as palavras retumbando de dentro


dele. — Você é minha mulher. Lili, intimidade não é apenas sexo. Não quando
você pertence a alguém do jeito que você pertence a mim.

Mas isso não era verdade. Lili não podia deixar isso acontecer. Ela não
pertencia a ninguém além de si mesma.

Imediatamente ela sentiu a picada da mentira. Ela nunca tinha sido sua
própria pessoa, não da maneira que importava.

Desde criança, ela fazia coisas para outras pessoas – sua avó, sua mãe,
sua futura família. Nunca foi sobre ela. Lili estava se entregando por tanto tempo
que nem sabia mais o que queria.

Exceto... ela queria Xander.

E talvez isso fosse o suficiente para este momento de qualquer maneira.

Xander a observava, não com preocupação, mas com a mais gentil e


paciente calma, como se soubesse que ela não iria a lugar nenhum, e tudo o que
precisava fazer era esperar.

Ele faria isso por mim, pensou Lili, maravilhada. Seu Alfa realmente não
a deixaria.

Com isso, sua vontade teimosa cedeu, e Lili jogou os braços em torno
de Xander. Em torno de seu homem. Ela o beijou em gratidão e necessidade, uma
súplica e uma promessa, banindo cada dúvida e pensamento de sua mente que
não era ele.

Xander mergulhou mais fundo na lagoa, beijando-a o tempo todo até


que a água estava em volta de seu peito. Então ele afundou de modo que a água
lambeu seu queixo, e o cabelo de Lili rodou em torno de seus ombros.

Xander a ergueu, beijando seu pescoço, suas orelhas, suas clavículas. Lili
sentiu a pressa de sua pele lisa e quente em contraste com a água fria.

— Eu preciso de você, Xander, — disse ela. — Vamos para terra firme


e...

— Ainda não.

Ela sentiu a vibração de suas palavras, viajando através de seu peito, a


água, em seu próprio corpo. Tudo estava conectado — ela nunca tinha visto isso
antes porque a verdade estava escondida atrás das calçadas lotadas e ônibus da
cidade, as lojas apertadas e caminhões de almoço, as luzes que nunca se
apagavam e as ruas que nunca se esvaziavam. A água, a costa, a floresta, a cor do
céu, o cheiro das flores silvestres – como ela viveu sua vida sem isso?

Como ela tinha sobrevivido?

Porque isso é tudo que eu fiz, ela pensou. Eu sobrevivi. Mas eu


nunca vivi.

Xander a ergueu, água escorrendo de sua pele e descendo por seus


braços até que sua boca estava em seus seios. Ele provocou seu mamilo duro com
a superfície larga e plana de sua língua, e o contraste entre seu calor e o ar frio fez
algo novo para Lili. Ela jogou a cabeça para trás e gritou.
Ela tentou puxar a cabeça dele para mais perto, mas ele resistiu. Ele foi
devagar porque sabia que isso a levava mais alto; ele estava aprendendo cada
segredo que seu corpo tinha para contar.

Ele a segurou facilmente no lugar com uma mão enquanto a outra


mergulhava sob a superfície da água. Ela o sentiu movendo a água com a mão,
agitando-a para que as ondas da água acariciassem seu clitóris da maneira mais
suave. Mas Lili não queria gentil. Ela apertou os quadris contra a mão dele,
desejando que ele a tocasse, a enchesse, a tomasse, mas ainda assim, ele resistiu.

Então, de repente, quando ela achou que não aguentaria mais


provocações, ela se viu balançando no ar, e Xander enganchou as pernas dela
sobre os ombros dele, abrindo bem as pernas dela. Ela descansou as mãos na
cabeça dele, correndo os dedos pelo cabelo liso e molhado, sabendo que ele
nunca a deixaria cair.

— Deus, olhe para você, — disse ele, balançando a cabeça com


admiração. Ele traçou a abertura de sua boceta com a ponta do dedo, então usou
outro para espalhar seus lábios. — Linda.

Ninguém nunca tinha olhado para ela com tanta atenção antes... pelo
menos lá embaixo.

Mas ela pertencia a Xander agora, assim como ele pertencia a ela.
Então ela lutou contra o desejo de se contorcer de vergonha.

Então Xander abaixou a cabeça e passou a língua contra o clitóris dela, e


Lili parou de pensar.
Era a tortura mais requintada, o prazer mais agudo. Lili não sabia
quanto tempo se passou enquanto Xander brincava com ela, usando os lábios e a
língua e até aos dentes, levando-a ao limite repetidamente antes de recuar. Não
foi até que ela estava batendo em seus ombros com os punhos e gritando que ele
riu e a jogou no ar, pegando-a antes que ela batesse na água.

— Lembre-se disso, Lili, — ele disse com seriedade fingida. — Eu


também posso ser teimoso. Então, se você tiver alguma dessas ideias malucas na
cabeça de novo, se você esquecer quem você é, eu terei que encontrar uma
maneira de lembrá-la. Você entendeu?

— Sim, — Lili engasgou, tentando se enrolar nele novamente.

Sua voz baixou, e ele a segurou em seu aperto de ferro. — Me diga


quem você é.

— Eu-eu sou sua mulher. Sua Lili.

O estrondo em seu peito aumentou, e sua voz perdeu o tom de


provocação. — O que mais?

Lili apertou os olhos e se concentrou no pequeno e secreto lugar que


ela havia escondido tão bem que até ela esqueceu que estava lá. O lugar onde os
sonhos nasceram, onde a esperança veio jogar.

E ali, como uma pérola aninhada em veludo, estava a resposta que


sempre esteve ali.

Seu destino.

— Eu sou sua Ômega, — ela sussurrou. — E você é meu Alfa.


Xander jogou a cabeça para trás e rugiu. Em três passos largos, ele a
carregou para a margem gramada, para um trecho de musgo pontilhado de
trevo. Ele a deslizou para baixo em seu peito enquanto a água escorria entre seus
corpos e usou sua mão para guiar seu pênis para sua abertura. Lili enganchou as
pernas ao redor dele e segurou em seus ombros.

Um impulso, e ele estava dentro dela, enchendo-a, unindo-os. Lili gritou


- de alegria, de prazer, de espanto com a certeza deste momento, nua ao ar livre
sem vergonha, apenas gratidão.

Movendo-se muito mais graciosamente do que deveria ter sido possível


para um homem do seu tamanho, ele lentamente caiu no chão, mantendo Lili
presa a ele enquanto a colocava em seu colo. Ela olhou diretamente em seus
olhos.

Era como se eles tivessem feito amor de todas as formas, exceto por
isso, com ela no topo controlando quão rápido e quão profundo. A princípio ela se
sentiu tímida, mas depois pensou na façanha de imprudência que acabara de
realizar e percebeu que já havia feito a parte mais difícil.

Ela tinha confiado.

Lili deixou o cabelo cair para trás e seu corpo encontrou seu ritmo. Ela
sentiu a respiração de Xander parar e seu pulso acelerar enquanto eles escalavam
a beira do penhasco de sua paixão, e então, segurando um ao outro para salvar
sua vida, eles pularam no êxtase brilhante e cintilante como um.
CAPÍTULO 16
Lilibeth

No momento em que Lili e Xander finalmente rolaram de costas,


respirando com dificuldade e brilhando de suor, o sol estava se pondo e uma
noite quente e úmida estava se instalando na floresta.

— Eu falo sério desta vez, — Lili disse a Xander. — Eu realmente não


posso fazer isso de novo até que eu descanse um pouco.

— Você já tentou isso, lembra?

Xander rolou em seu cotovelo e olhou para ela, um olhar de completa


satisfação em seu rosto enquanto ele alisava os cabelos úmidos que estavam
grudados em sua bochecha. E, no entanto, Lili sabia que tudo o que ela tinha que
fazer era dizer a palavra, e ele estaria pronto para ir novamente.

Descobriu-se que os rumores e risadinhas sobre a resistência dos Alfas


eram verdadeiros. Na verdade, eles eram um eufemismo.

Não só isso, Xander poderia fazer mais com seu dedo mindinho do que
todos os seus amantes anteriores juntos. Lili sabia que ela era abençoada, mas
agora ela tinha que lidar com um companheiro que ainda estava cheio de energia
enquanto ela se sentia como uma esponja espremida.

— Podemos pegar comida hoje à noite? — ela perguntou, cobrindo um


enorme bocejo. — Eu não acho que estou a fim de cozinhar.
Xander riu. — Você terá sua vez, — ele prometeu, — Mas eu não me
importo de cozinhar enquanto você ainda está se instalando.

— É assim que estamos chamando? — Lili brincou, levantando uma


sobrancelha. Apenas alguns dias atrás, ela nunca poderia ter imaginado brincar
com Xander. Agora, parecia a coisa mais natural do mundo.

E ainda…

O sorriso de Lili desapareceu enquanto ela pensava nos próximos


dias. Agora, ela sentia que poderia dormir por doze horas seguidas - mas o que
então? Como ela deveria desembaraçar todos os fios de sua vida para que
pudesse juntá-los novamente? E como seria quando ela terminasse?

— Você está pronta para terminar nossa conversa agora?

Ele leu sua mente... de novo. Lili soltou um longo suspiro. Não, ela não
estava pronta, e duvidava que algum dia estivesse.

Mas ela conhecia Xander bem o suficiente para saber que ele não
deixaria o assunto passar. Ele era um homem que conseguiu o que queria.

Sua primeira impressão dele estava errada, no entanto. Xander não era
como as crianças mimadas e malcriadas que viviam nas mansões que ela e sua
mãe limpavam. Ele rejeitou as armadilhas da riqueza, virando cada carrinho de
maçã dourado até que ele destruiu o brilho do privilégio com o qual ele nasceu –
e isso foi antes de se tornar um Alfa.

— Tudo bem, — disse Lili calmamente.


Xander não fazia rodeios. — Por que você tem tanto medo de sua nova
natureza? — ele perguntou, traçando pequenos círculos ao longo do braço dela
com a ponta do dedo.

— Você já sabe a resposta, — Lili murmurou, cansada demais para se


irritar. — Lembra aquela vida inteira que estava esperando por mim?

— Esqueça o trabalho. Não foi isso que eu perguntei. — Não havia calor
em sua voz, nenhum argumento. — Eu quero saber por que o pensamento de ser
uma Ômega - minha Ômega - aterroriza você.

A adorável sensação de flutuação se esvaiu quando Lili percebeu que


Xander ainda não tinha entendido. Gemendo, ela se apoiou nos cotovelos, o
cabelo emaranhado caindo sobre o rosto.

— Veja, isso é o que você não entende. Não é de você que eu tenho
medo - é o que isso significa para outras pessoas. Aquele trabalho que eu estava
prestes a começar? O dinheiro que eu estava prestes a ganhar? Não era para
mim, Xander. Nada disso era para mim.

Xander franziu o cenho. — Isso deve tornar mais fácil deixar tudo ir.

— Você está errado. — A voz de Lili falhou. — Faz mil vezes mais
difícil. Eu era a melhor esperança da minha família, a primeira a ir para a
faculdade, a primeira a conseguir um emprego decente. Eu deveria nos tirar da
pobreza.

— Mas você não precisa mais se preocupar com nada disso.


Lili olhou para ele bruscamente. Como ela poderia fazê-lo entender que
seu relacionamento com sua família não era nada parecido com o dele? Que ela
sempre se preocuparia até ter certeza de que sua mãe estava provida?

— Minha avó morreu enquanto eu estava me formando, — ela disse a


ele. — Mas minha mãe ainda está lá fora trabalhando todos os dias, limpando
casas chiques e aguentando pirralhos mimados só para colocar comida na mesa.

— Mas você não pode ser responsável por todos, Lili.

— Então quem será? — Ela sentou-se para que pudesse olhar para
ele. — Minha avó trabalhou até ao dia em que morreu. Não era só porque ela não
podia pagar um médico, Xander. Ela não podia tirar um dia de folga. E a mesma
coisa acontecerá com minha mãe agora que eu...

Foi só quando sentiu uma lágrima rolar pelo rosto que Lili percebeu que
tinha começado a chorar – de novo. Ela chorou mais esta semana do que em
anos, mas ela se recusou a quebrar, não na frente de Xander, não agora.

Mas ele tinha outras ideias.

Ele estendeu a mão para ela e a puxou contra seu peito antes que ela
pudesse enxugar as lágrimas, o que só a fez chorar mais. Mas o calor do corpo
dele a cercava, e ela sentiu a força dele fluindo através dela, protegendo-a da dor.

Lili nunca tinha sido segurada assim. Nunca se sentido tão protegida e
segura... e a represa se rompeu.

A única lágrima deu lugar a um soluço alto e confuso, e uma vez que
começou, Lili sabia que não haveria como parar até que ela chorasse. Ela gemeu e
tremeu, e Xander a abraçou forte durante tudo, acariciando suas costas e
beijando o topo de sua cabeça, paciente como sempre. Ele não tentou impedi-la,
não a silenciou ou tentou convencê-la a se sentir melhor.

Ele estava contente em simplesmente estar com ela, e isso a fez se


sentir mais perto dele do que qualquer orgasmo – mesmo um tão devastador
quanto os que ela acabara de experimentar.

Quando suas lágrimas finalmente diminuíram, Xander virou o rosto para


ele, parecendo não se importar com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo.

— Melhor? — ele perguntou suavemente.

Lili assentiu, não confiando em sua voz ainda.

— Eu entendo agora, — disse ele. — Você tem medo de que sua


felicidade custe o preço do sofrimento de todos os outros.

Ela assentiu novamente. Ela mesma não poderia ter colocado melhor.

— Você sabe, é engraçado, — disse ele, aninhando-a mais perto. —


Meus pais não se importavam com minha felicidade, desde que eu não trouxesse
vergonha para a família.

— E você?

— É melhor você acreditar que eu fiz. — Lili podia ouvir o sorriso em


sua voz. — Acho que de certa forma eles ficaram aliviados quando minha
natureza Alfa apareceu porque significava que eles não precisavam mais lidar
comigo.

— Então, basicamente o oposto de como minha família vai lidar com


isso.
Xander ficou quieto por um momento. — Você tem certeza sobre isso?
— ele perguntou eventualmente. — Você falou com sua mãe desde que chegou
aqui?

Lili balançou a cabeça. A verdade era que até ao pensamento de ligar


para sua mãe a enchia de pavor e vergonha.

— Então você não pode ter certeza. Lili, você sabe que eu ainda sou
tecnicamente rico, certo? Aquele fundo fiduciário que você gosta de tirar sarro
ainda está lá. Meus pais não podem tocar no dinheiro - nem mesmo agora que eu
sou um Alfa.

Lili já estava balançando a cabeça. — Nós não aceitamos caridade, —


disse ela no mesmo tom frágil com que sua mãe recusou sugestões bem
intencionadas de que ela procurasse vale-refeição ou auxílio-moradia.

— Não é caridade. Você é minha companheira, e você está bem no


caminho para se tornar minha Ômega, e isso significa que não há mais você e eu -
apenas nós e nosso.

— Não sei. — Era tão tentador acreditar que Xander estava estendendo
a mão para ela, mas ela nunca havia pedido ajuda antes, e Lili não conseguia nem
imaginar como seria. Além disso, ela nunca convenceria sua mãe a deixá-lo ajudar
financeiramente.

Mas não seria apenas ele. Só nós e nosso.

— Você não precisa dizer sim agora, — disse Xander pacientemente. —


Pense nisso por um tempo.
— Eu nem sei como ela está lidando com as notícias agora, — Lili
admitiu miseravelmente. — Honestamente, estou com medo da reação dela
para... nós.

— Sua mãe pode surpreendê-la. — Xander parecia muito mais confiante


do que Lili se sentia. — Especialmente se ela te ama metade do que você
obviamente a ama.

De repente, ela estava sendo erguida novamente, Xander a colocando


no chão na grama aplainada onde eles estavam deitados. Ele pegou suas roupas.

— O que você está fazendo? — perguntou Lili.

— Vestindo-se para que eu possa levá-la de volta ao seu telefone, e


você pode descobrir.

***

Lili sabia que ela era corajosa, apesar de sua natureza cautelosa. Caso
contrário, ela nunca teria se candidatado à faculdade, trabalhado duro para
ganhar bolsas de estudos e ajuda financeira e continuado mesmo quando ela
estava exausta, e a estrada parecia muito difícil de suportar.

Mas agora, ela estava se comportando como uma covarde.

Ela olhou para as informações de sua mãe na tela, desejando tocar no


número.

— Está tudo bem, Lili, — disse Xander, parado perto da varanda. — Vá


em frente. Está na hora.
Lili engoliu em seco, perguntando-se por que ela tinha que se relacionar
com o que tinha que ser o Alfa mais compreensivo de todas Boundarylands. Seria
muito mais fácil se ela ainda o odiasse.

Mas ela quase esqueceu o Xander que lutou contra soldados armados e
policiais para garantir sua liberdade. Aquele que conseguia fazer um xerife se virar
e correr sem levantar um dedo. Que colocou seu irmão Alfa em seu lugar com
apenas um rosnado.

Xander era todas essas coisas, mas não com ela. Porque ele era o
companheiro de Lili, e reservava o melhor de si para ela. O resto do mundo ficou
com o Alfa na sua cara, mas ela ficou com o homem no meio.

Lili sorriu fracamente. Xander estava certo, era hora. Ela tocou o
número na tela.

Sua mãe atendeu no primeiro toque, parecendo sem fôlego. — Lili? É


realmente você?

Lágrimas brotaram nos olhos de Lili novamente. Como ela pôde esperar
tanto?

— Sou eu, mãe, e eu estou bem, mas antes que você diga mais alguma
coisa, você está sozinha?

— Sim. Houve agentes federais aqui por alguns dias, mas eles se foram
agora.

— Eles te ameaçaram? — Lili estava segurando o telefone com tanta


força que sua mão doía.
— Não, nada disso. Eles disseram que um de seus oficiais conversou
com você, e eles estavam fechando o seu caso.

Xander tocou o braço dela e assentiu. — Ela está dizendo a verdade, —


ele sussurrou.

Lili sentiu um pouco da tensão se esvair dela. Ela não sabia o que teria
feito se sua mãe estivesse sendo pressionada ou ameaçada.

— Mas os repórteres não param de aparecer, — sua mãe continuou. —


Eles esperam do lado de fora do nosso prédio como abutres, apenas esperando
que eu vá embora. Não que eu tenha para onde ir.

— O que você quer dizer? — Lili disse bruscamente.

— Não se preocupe com isso, querida. Está tudo bem.

— Mãe, — Lili implorou. — Diga-me.

O silêncio se estendeu entre elas, e Lili podia imaginar sua mãe parada
na janelinha quadrada da cozinha, olhando para o estacionamento para o
emaranhado de saídas da rodovia e rampas que constituíam sua visão. — A
agência me demitiu, — ela finalmente admitiu.

O estômago de Lili caiu, uma raiva impotente tomando conta dela.


Nunca lhe ocorreu que sua mãe seria pega no fogo cruzado. Ela não tinha
economias suficientes para durar mais do que um par de semanas. — Oh, mãe...
eu sinto muito. Você poderia ver se algum de seus clientes pode te contratar por
conta própria?
A voz de sua mãe estava cheia de vergonha. — São eles que queriam
que eu fosse demitida. Depois de ver as notícias... bem. Você sabe como eles são
sobre suas preciosas reputações.

Malditos covardes. Lili teve a fantasia de pedir a Xander para fazer os


patrões de sua mãe verem as coisas de forma diferente.

— Mas chega de falar de mim, — sua mãe estava dizendo. — Tem


certeza que está tudo bem, querida?

O carinho apertou o coração de Lili. Ela nunca tinha percebido o quanto


isso significava para ela. — Eu estou bem, mãe. Verdadeiramente.

— Mas... as coisas que aqueles agentes estavam dizendo, Lili. Eles


disseram que você se tornou radical e violenta. Aquele contrabando de Alfas
através das fronteiras estaduais foi traição.

— Eles mentiram, mãe, — Lili disse a ela, esfregando a dor em sua testa.

— Eu nunca acreditei neles, — sua mãe assegurou a ela. — Eu disse a


eles que conhecia minha filha melhor do que ninguém, e você nunca faria algo
assim a menos que fosse forçada.

Lili olhou para cima e encontrou o olhar de Xander. Ele pegou a mão
dela e deu-lhe um aceno de cabeça.

— Sobre isso, mãe. — Lili respirou fundo. — Fui sequestrada. Essa parte
era verdade. Mas estou na nova Ozark Boundaryland agora, e... bem, acho que
ficarei aqui por um tempo.

— Um tempo? — O pânico aumentou a voz de sua mãe. — Exatamente


quanto tempo?
— Hum... provavelmente o resto da minha vida.

— Oh não, querida, não, — sua mãe lamentou. — Tem que haver algo
que possamos fazer para tirar o governo de suas costas. Nós vamos conseguir um
advogado para você, e vamos levá-los ao tribunal.

O coração de Lili se partiu um pouco ao ouvir o plano ingênuo de sua


mãe. Mesmo que usassem cada centavo do dinheiro de Xander contratando os
melhores advogados do país, eles ainda não ganhariam. Ninguém podia enfrentar
as fileiras impenetráveis de um governo. Eles não tinham apenas equipes
jurídicas em todas as agências; eles tinham os juízes também.

E mesmo que, por algum milagre, Lili conseguisse um juiz que decidisse
a seu favor, o governo ainda não mudaria sua história, não quando serviu tão bem
aos seus propósitos de propaganda.

— Mãe, não podemos. Isso só traria mais problemas para nós duas.

— Bem, eu tenho que fazer alguma coisa. Tem que haver alguma
maneira que eu possa ajudar enquanto você está presa nesse lugar horrível.

Lili estremeceu. — Mãe... essa é a coisa. Não é horrível, e eu não estou


presa. Estou aqui por escolha.

— O que você está falando?

— Quero dizer que algo aconteceu, e eu não sou mais uma Beta.

— Isso não é possível, — disse sua mãe depois de uma pausa


chocada. — A agência nos fez fazer os testes de Ômega adormecidas, lembra?
Eles deram negativos. Ainda tenho os relatórios.
— Eu sei que não faz sentido, mas... — Lili segurou a mão de Xander um
pouco mais forte. — Eu preciso que você confie em mim, mãe. Isso não é uma
coisa ruim, o Alfa com quem estou — o nome dele é Xander. Ele é um bom
homem, e estou feliz. Ele é meu... ele é meu companheiro.

Foi a primeira vez que ela disse a palavra em voz alta.

Ela ouviu o soluço estrangulado de sua mãe, e seu coração ficou


apertado.

Este era o momento que Lili estava temendo, a razão pela qual ela
estava evitando atender o telefone. Doeu tanto quando sua melhor amiga a
abandonou; Lili não suportaria se sua mãe também a abandonasse.

Mas sua mãe limpou a garganta. — Bem, querida, eu também estou


feliz.

Lili mal podia acreditar. — Sério, mãe? Você não está apenas dizendo
isso? Porque...

— Claro que estou falando sério, — sua mãe disse com firmeza. — Tudo
o que eu sempre quis é que você fosse feliz. Você me pegou de surpresa, só isso.
Agora, você diz que o nome desse jovem é Xander? Por que você não me conta
tudo sobre ele, querida.

Assim Lili fez.


CAPÍTULO 17
Xander

Xander sabia que Lili precisava de seu incentivo para fazer a ligação. A
presença dele tinha sido útil quando ela estava tentando ter certeza de que
ninguém estava coagindo Claudia Rennert a contar. E ele tinha que admitir que
tinha gostado de ouvir sua mulher contar à mãe todas as coisas maravilhosas que
ela amava sobre ele e ouvir a devoção em sua voz.

Mas uma vez que isso estava fora do caminho, e as duas mulheres
passaram a colocar em dia tudo o que havia acontecido desde a última vez que se
falaram, Xander sabia que Lili não se importaria se ele as deixasse para a
conversa.

Ele ficou por um tempo de qualquer maneira.

Havia algo surpreendente na maneira como as duas mulheres falavam


uma com a outra, como se Xander as estivesse ouvindo curar de suas feridas
emocionais em tempo real. Não era nada parecido com a maneira como os
membros de sua família falaram uns com os outros em todos os anos em que
viveu em casa.

Cada palavra entre Lili e sua mãe revelava seu amor uma pela outra, seu
cuidado e preocupação, sua aceitação.

Quando Lili disse a Xander como se sentia responsável pela segurança


de sua família, ele assumiu que o senso de obrigação havia sido incutido nela
implacavelmente por fontes externas. Afinal, foi assim com sua família — as
tentativas de seu pai de transformá-lo em um ‘cavalheiro decente’ pela força e o
uso liberal da culpa de sua mãe.

Mas claramente não era assim que as coisas eram na família de Lili. Em
vez disso, após o choque inicial de Claudia, todas as referências à vida de Lili
foram acompanhadas por suas fervorosas esperanças pela segurança e felicidade
de Lili... e nem um pouco de julgamento.

Ouvindo-as, Xander entendeu como Lili se tornou a mulher forte e


resiliente cuja presença o atraiu para sua van de mudança no cruzamento uma
semana atrás. Ele ficou surpreso e honrado por Lili ser toda dele agora.

Ou ela seria em breve.

Seu cheiro estava mudando, mudando ligeiramente desde que ela


pegou o telefone. Muito pouco restou da branda base Beta, e o que havia tomado
seu lugar era mil vezes mais complexo e vibrante.

Mesmo que Archer tivesse explicado o processo para ele com alguns
detalhes, Xander ainda mal podia acreditar que Lili estava se transformando em
uma Ômega diante de seus olhos. Dada a rapidez com que a transformação
estava acontecendo, não demoraria muito para que seu cio começasse.

Ele havia pensado bastante no assunto. Por um lado, a perspectiva de


tomá-la repetidamente por quatro dias seguidos o emocionava. Ele mal podia
esperar para ver os grandes olhos azuis de Lili brilharem de puro desejo por ele,
sabendo que ela nunca olharia para outro homem da mesma maneira. Vê-la
implorar para ele saciar a fome que a consumia em sua presença. Senti-la perder
o controle uma e outra vez, gritando seu nome. Para amarrá-la de novo e de novo
até que ela desmaiasse de exaustão.

Mas Xander desejou poder dar a ela um lindo quarto e uma cama macia
para que ela experimentasse seu primeiro cio com o conforto que ela merecia.

Ele sabia que Lili não via o que ele valorizava na casa que eles
fariam. Ela não tinha experiência para reconhecer a qualidade de sua construção
e materiais ou os detalhes finos escondidos sob o valor de um século de poeira e
tinta velha. E ela não sabia que ele tinha as habilidades para consertar
tudo. Xander não tinha aprendido a consertar motos sem aprender a mexer em
quase todas as ferramentas na garagem.

Seria muito mais doce quando ele a surpreendesse com cada projeto de
restauração. Primeiro, ele planejou substituir a carpintaria de acabamento
danificada e raspar a pintura dos painéis extensos. Então ele puxaria os tapetes
para revelar o desenho embutido no piso de madeira. Em seguida, ele consertaria
as paredes de torno e gesso atrás do papel de parede descascado e religaria as
luminárias originais. E então ele enchia todos os cômodos da casa com móveis
que ele fez com suas próprias mãos.

Com o tempo, se tornaria uma casa grande e acolhedora, muito melhor


do que a mansão fria e estéril em que ele cresceu. Ao longo dos próximos meses,
Xander se dedicaria a torná-lo um lar digno de sua companheira... e a família que
eles formariam juntos.

O mesmo instinto que o atraiu para Lili o fez ter certeza de que eles
teriam filhos, muitos deles, correndo pelos corredores e brincando no riacho e
explorando a floresta. A essas crianças nunca faltaria amor, proteção ou
segurança. Juntos, eles construiriam a família que Xander nunca teve, aquela pela
qual Lili sempre desejou.

Mas antes que isso pudesse acontecer, Xander precisava fazer Lili
passar pelo primeiro ciclo. E isso exigiria alguns preparativos simples.

Lili ergueu o rosto doce e cheio de lágrimas para sorrir para ele, e ele
ergueu uma sobrancelha inquisitivamente.

— Vá em frente, — ela sussurrou, e embora Xander pudesse ouvir cada


palavra que ela e Claudia diziam, ele as ignorou para dar-lhes alguma privacidade.

No andar de cima, ele fez o quarto deles o mais confortável possível


com o que eles tinham à mão. Ele puxou o colchão dela para o centro do quarto
onde antes pregara uma lona no teto, ele olhou por uma abertura para ver o céu
brilhando com estrelas. Ele encontrou um tesouro de utensílios domésticos
antigos no sótão e encheu jarras com água, então colocou a comida que Sarah
enviou em travessas de porcelana incompatíveis. Ele acrescentou uma velha
colcha costurada à mão aos lençóis da van e, quando terminou, Xander ficou
convencido de que ele e Lili não teriam que deixar seu ninho improvisado até que
o cio dela terminasse.

A única coisa que restava a fazer agora era esperar.

Lilibeth

Quando Lili desligou o telefone com a mãe, sentiu-se uma nova pessoa.
Como ela poderia ter duvidado que o amor de sua mãe por ela era mais
forte do que qualquer coisa com que o governo pudesse ameaçá-la? Que era
profundo o suficiente para aceitar as escolhas de Lili mesmo quando não eram o
que ela esperava?

Elas prometeram conversar novamente em alguns dias, e Lili estava


confiante de que, com a ajuda de Xander, eles descobririam uma maneira de
aliviar os fardos que haviam sido colocados aos pés de sua mãe sem culpa
dela. Mas, por enquanto, Lili se sentiu segura de que sua mãe estava tão resiliente
e forte como sempre.

E feliz - não apenas porque sua filha estava apaixonada, mas porque ela
encontrou a vida que deveria viver.

Nesta hora, na semana passada, Lili estava ocupada embalando seus


pertences em caixas de papelão e se despedindo de sua vida em Los Angeles.
Seus planos cuidadosamente traçados finalmente estavam se concretizando, e Lili
estava pronta.

E agora?

O pêndulo de sua vida tinha dado um giro selvagem, e continuou


balançando. Lili não sabia o que estava prestes a experimentar de um momento
para o outro – medo, luxúria, culpa, alívio, amor. Ela nem sabia que era capaz de
sentir emoções tão brilhante, mas agora estava aprendendo a experimentar cada
momento com gratidão e admiração.

A Lili da semana passada teria ficado horrorizada com tal noção,


perdida sem um plano para o futuro.
Mas uma mudança importante estava ocorrendo dentro dela, e não era
apenas sua nova natureza Ômega. Era como se Lili tivesse queimado tudo o que
ela achava que sabia sobre a vida, e das cinzas, pequenos brotos verdes
começavam a surgir em direção ao sol. E desta vez, ela cuidaria de suas
esperanças e sonhos com vontade, curiosidade e fé, em vez do peso das
expectativas e do medo do fracasso.

Por muito tempo, ela se esforçou para manter o controle de cada


pequeno detalhe de sua vida. Mas quanto mais ela tentava, mais ansiosa ela
ficava até que tudo explodiu em uma montanha nevada – e ela percebeu que a
sensação de controle que ela perseguia tão obstinadamente sempre foi uma
ilusão.

Ela pensou que tinha perdido tudo... e ainda assim, uma vez que ela se
soltou e aceitou seu destino em vez de lutar contra ele, Lili descobriu que ainda
estava de pé. Não só isso, ela estava prosperando.

Descobriu-se que Lilibeth Rennert era mais resiliente do que jamais


acreditara.

E foi Xander quem a mostrou. Sim, ele quebrou sua vida em pedaços
primeiro, mas depois a ajudou a montá-la novamente para que fosse melhor do
que antes.

E agora, com boas notícias para compartilhar, Lili correu para encontrar
seu companheiro.

Ela o encontrou no andar de cima no quarto que dava para a entrada. O


lago era visível à distância, alguns pequenos pontos brancos pontilhando a água
que refletia o céu. Xander tinha puxado o colchão dela para dentro do quarto e o
cercado com o que parecia ser o equivalente a um mês de provisões.

Ela bateu palmas, deliciada, na travessa pintada com um delicado


desenho de rosas, uma jarra de vidro leitoso verde-menta, um par de colheres de
chá de prata manchada. — Onde você encontrou tudo isso?

— No sótão, — Xander disse a ela, obviamente satisfeito com sua


reação. — Há muito mais de onde veio se você estiver interessada. Como foi o
resto da sua ligação?

Lili se sentou ao lado dele no colchão e pegou sua mão. — Foi


maravilhoso. Ainda há alguns problemas para lidar - a imprensa está basicamente
acampando na porta da mamãe, e o FBI fez todas essas ameaças veladas - mas ela
está lidando bem com isso, e espero que eu possa resolver as coisas para ela.

Xander beijou sua testa. — Maldição, nós vamos.

Nós. Lili nunca se cansaria dessa simples palavrinha.

— Obrigada por me pressionar para fazer essa ligação, — disse ela. —


Mas o que há com tudo isso? Estamos convidando toda a população de
Boundaryland para um jantar em nosso quarto?

— Não. Isso é tudo para nós... porque vamos precisar.

Lili não perdeu a forma como sua voz ficou mais baixa e áspera, a fome
em seus olhos. Ela ficou chocada que ele pudesse pensar em fazer isso de novo
depois de fazer amor a tarde toda no lago.
Mas mesmo quando esse pensamento passou por sua mente, seu corpo
pegou fogo. O calor bruto irradiava de dentro dela enquanto a mancha umedecia
sua calcinha.

O canto da boca de Xander se ergueu. Ele sabia — ele sempre soube.

— Você nunca está satisfeito? — Lili exigiu em horror simulado.

— Não quando se trata de você, querida — ele retumbou. — Mas me


pergunte novamente em quatro dias.

— Quatro... dias?

O sorriso de Xander se alargou para um sorriso malicioso. — Isso é


quanto tempo seu cio vai durar.

Os pensamentos de Lili derraparam. Ela estava tão envolvida em tudo o


que aconteceu naquele dia que ela esqueceu completamente de seu cio.

— Mas você não quer dizer… — Lili se sentiu fraca. — Você não pode
querer dizer que está acontecendo agora.

— Logo, — Xander vociferou, puxando-a em seus braços. — Muito em


breve. Mas não há razão para não termos uma vantagem agora.
CAPÍTULO 18
Xander

Duas semanas depois

Mesmo nos sonhos de liberdade que Xander às vezes se permitia à


noite em sua cela, ele nunca havia imaginado que a vida poderia ser assim.

Suas fantasias eram customizar motos em uma loja própria. De assar


um peixe que ele pegou em uma fogueira que ele acendeu na beira da água. De
simplesmente saber que sua irmã estava segura.

E todas essas coisas aconteceram.

Apenas alguns dias atrás, ele recebeu a carta que Maggie havia escrito
para ele, aos cuidados da amiga de Sarah que trazia suprimentos para a
comunidade novata a cada poucos dias. Xander pedira a Darlene que pedisse dois
conjuntos de varas — uma grande, uma pequena — para pescar no
riacho. Quanto à moto, aparentemente havia um Alfa idoso em Southern
Boundarylands que havia trabalhado em motos que remontavam ao modelo
militar que as Harleys usavam nas linhas de frente na Primeira Guerra Mundial, e
Xander havia escrito para perguntar sobre seu vasto estoque de peças.

Mas nenhuma dessas coisas acabou sendo o que mais importava...


porque agora havia Lili.
Com seu primeiro cio terminado e suas mordidas curadas, Lili e Xander
se estabeleceram em uma rotina, que deixava muito tempo para aventuras
espontâneas e fazer amor sempre que o espírito os movia – o que era o tempo
todo.

Mas havia outros momentos, quando Lili estava ocupada com seu
jardim ou com os tesouros no sótão, que Xander se via parando em seu trabalho
para respirar o ar abafado do final do verão e contemplar suas terras e
simplesmente deixar a sensação de liberdade o envolver. Ele havia descoberto o
dom daqueles anos de dor e privação, que era a capacidade de saborear cada
pequeno prazer e beleza despretensiosa, coisas que teriam escapado de sua
atenção no passado.

Hoje, por exemplo, Xander tinha uma tarefa a fazer.

Quando ele tirou a moto do galpão e sua companheira subiu atrás dele,
envolvendo os braços em volta de sua cintura, ele tirou um momento para
aproveitar a expectativa de visitar um amigo, de acelerar por uma estrada vazia
em uma tranquila tarde de verão. Ele notou as taboas balançando na brisa ao
longo da margem do lago, as abelhas pairando sobre as centáureas crescendo
selvagens ao lado da estrada, o doce aroma de cozimento quando ele entrou na
garagem de Archer.

Archer estava esperando por ele na varanda, recostado em uma velha


cadeira de madeira bebendo uma cerveja. Outra garrafa gelada estava na
mesinha ao lado dele.
Lili deslizou para fora da moto quase antes de pararem completamente.
Ela beijou Xander na bochecha e deu a Archer um sorriso tenso, então
desapareceu dentro da casa.

— Vejo que sua mulher ainda não se afeiçoou a mim, — Archer


observou quando a porta da frente bateu.

Xander deu de ombros, então sentou a outra cadeira e pegou sua


cerveja. — Lili ainda está superando o olhar que você deu a ela quando
chegamos.

Archer fez uma careta. — Foi tão ruim assim?

— Como se eu soubesse. Mas Lili tem uma memória longa.

— Acho que sei alguma coisa sobre isso. — Archer estendeu sua cerveja
e bateu contra a de Xander, e então os dois beberam.

Porra, isso foi bom.

A companheira de Archer, Sarah, também não gostou dele. Xander


ainda a pegava olhando de lado ocasionalmente durante suas visitas frequentes,
mas ele supôs que estava tudo bem, já que as Ômegas estavam se dando bem
como se fossem amigas a tempos.

— O tempo vai consertar isso, de qualquer maneira, — Archer disse


contente. — Ela ainda é amiga daquele outro Alfa?

— Sim.

Na verdade, Lili tinha visitado Wyatt várias vezes durante as últimas


semanas. Xander podia dizer que Archer não pensava muito bem da ideia, mas
talvez fosse apenas Wyatt que ele não gostava.
Cada Alfa que sobreviveu ao inferno do Porão lidou com a dor à sua
maneira. Wyatt usou o humor, enquanto Archer se apoiou em sua força e
autocontrole. Então, talvez não fosse surpreendente que os dois não se dessem
muito bem.

Felizmente, não era da conta de Xander, assim como não era da conta
de Archer com quem Lili se socializava. No que dizia respeito a Xander, qualquer
amizade que deixasse sua companheira feliz era uma coisa boa.

Afinal, não era como se suas afeições pudessem ser roubadas. Xander
sabia que Lili o amava mais do que qualquer outra coisa neste mundo. Na
verdade, ele nunca teve tanta certeza de nada em sua vida.

— Como está a madeira? — perguntou Archer. Na semana passada, ele


ajudou Xander a derrubar e moer alguns pinheiros de bom tamanho para escorar
a estrutura da velha casa.

— Parece estar curando bem, — disse Xander. — Não será possível


dizer sobre o encolhimento até que a umidade diminua, mas não estou vendo
nenhuma rachadura ou curvatura.

Archer assentiu. — Bem, então, daremos uma olhada no último


carregamento de Darlene.

Xander o seguiu pela casa até à grande oficina nos fundos, onde Archer
havia limpado uma extremidade para guardar as provisões que Darlene trouxe.
Ele e Xander abriram uma conta da qual Darlene poderia sacar fundos para os
suprimentos que os Alfas precisavam, e Xander havia transferido uma boa parte
de sua confiança.
— Droga. Darlene se superou.

— Sim. Entre ela e nossas companheiras, está se transformando em um


maldito mercado de pulgas por aqui, — Archer riu. — Mas falando sério, Lili tem
talento. Sarah diz que ela tem um olho real para o que manter e como
reaproveitar merda. Como aquela escada… — ele indicou uma escada de madeira
fina e delicada encostada na parede. — Depois de lixar e polir, Sarah vai usá-la
para exibir sua coleção de colchas.

Xander sentiu seu peito inchar de orgulho. Ninguém tinha que


convencê-lo do talento de sua Ômega, mas ele esperava que os elogios de seus
amigos ajudassem Lili a ver o valor das habilidades que ela adquiriu apenas
tentando sobreviver. Ela e Sarah saíam juntas várias vezes por semana para
limpar casas vazias, recuperando o que podiam, para preparar para o fluxo
constante de Alfas recém-chegados. Com Lili no trabalho, eles também puderam
fazer pequenos reparos e preparar as casas.

Mais importante ainda, Xander podia sentir que Lili estava feliz...
realmente feliz.

Archer puxou um pano manchado de lona de uma mesa de jogo para


revelar fileiras de ferramentas. — Conseguiu aquele conjunto de catraca que você
queria. E dê uma olhada nessas talhadeiras antigas que Darlene encontrou em
uma venda de garagem.

Xander olhou para uma folha de compensado encostada na bancada. —


Você acha que ela estaria disposta a trazer um pacote disso?

— Eu não vejo por que não, mas eu pensei que você estava apenas
trabalhando no antigo enquadramento.
— Não é para a casa. Preciso fazer formas para uma fundação. Vou
construir uma pequena cabana para a mãe de Lili.

— Vocês estão trazendo sua sogra para morar com vocês?

Archer parecia tão chocado que Xander riu. — Não é uma coisa ruim.

— Você está seriamente bem com isso?

— Sim, na verdade, eu estou. E não só porque eu devo isso a ela.

A conversa de Lili com sua mãe deixou claro que a vida de Claudia havia
sido destruída tão completamente que jogar dinheiro no problema não ajudaria.
Claudia não tinha apenas perdido seu emprego e sua renda; a imprensa a
perseguia e difamava a ponto de ela receber ameaças de morte por causa das
ações de sua filha.

— Isso é, uau, — Archer disse depois que Xander explicou a situação. —


Você não está preocupado com o que isso pode fazer com o seu relacionamento?

— É por isso que estou construindo a casa dela a meio quilômetro da


casa, — disse Xander, sorrindo. — Dessa forma, todos nós temos nossa
privacidade, mas Claudia ainda estará perto o suficiente para que as crianças
possam ir e ficar com a avó todos os meses por quatro dias.

Archer revirou os olhos. — Merda. Primeiro você convida sua sogra, e


agora você está falando sobre filhos.

— Eu não sei por que isso te assusta tanto, — Xander disse suavemente.
— Nós, Alfas, podemos ser independentes, mas nunca fomos feitos para ficar
sozinhos.

— O que achar melhor, cara.


— Você sabia que antes dos Tratados, antes dos Betas começarem a
fazer todos os tipos de regras de merda, as pessoas viviam juntas de maneira
muito diferente do que eles fazem agora? Famílias multigeracionais sob o mesmo
teto, casamentos mistos, Alfas e Betas e Ômegas trabalhando e brincando juntos.

— Sim, mas isso é história antiga.

— Na verdade não, — disse Xander. — Em algumas partes do país, isso


ainda acontecia até à virada do século passado.

— Quem te disse isso?

— Wyatt. Acontece que ele estudou antropologia antes de sua


transição.

— Bem, bom para ele, — Archer vociferou. — Enquanto o bastardo não


convencer todo mundo a trazer um monte de Betas velhas para viver com eles.

— É uma mulher. — Ambos os homens se viraram ao som da voz


irritada de Lili. Sarah estava com ela, carregando um prato de biscoitos de aveia
quentinho que ela ofereceu a Archer, ignorando Xander. — E Deus te ajude se ela
ouvir você chamá-la de velha. Ela tem quarenta e dois anos.

Archer baixou a cabeça contritamente enquanto pegava um biscoito. —


Ela deve ter tido você quando ela era muito jovem.

— Logo depois do ensino médio, — disse Lili, cruzando os braços e


desafiando-o a dizer outra palavra sobre sua mãe.

Felizmente, ele foi esperto o suficiente para manter a boca fechada. —


Certo, — Lili fungou. — Xander, você conseguiu o que precisava?
— Sim, mas não tenho certeza de como vamos levá-lo para casa na
parte de trás da moto.

— Eu vou levá-lo, — disse Archer. — Eu posso levá-lo para você no SUV


mais tarde hoje. Minha maneira de me desculpar por insultar você e sua mãe, Lili.

A expressão severa de Lili derreteu. — Obrigada, Archer.

— Esses parecem bons, — disse Xander. Os biscoitos estavam cheios de


pedaços de chocolate e nozes picadas e tinham um cheiro incrível.

— Ah, tudo bem, — Sarah cedeu. — Você pode muito bem ter um, mas
então você precisa sair antes que isso se transforme em um maldito festival de
amor.

Lili parecia despreocupada com o atrito entre Sarah e seu


companheiro. — Ela embalou alguns para eu levar para casa, mas não conte
comigo compartilhando, — ela brincou.

— Bem, acho que vamos indo, então, — disse Xander.

— Vejo você em breve, irmão, — Archer disse com a boca cheia de


biscoito.

— Não tão cedo. — Xander trocou um olhar com Lili. — Tenho a


sensação de que podemos estar ocupados por um tempo quando chegarmos em
casa.

— Não brinca, — disse Archer, colocando seu braço ao redor de sua


própria companheira e puxando-a para perto. — Parece ter muito disso por aí.

— Você tem que parar de fazer isso, — Lili murmurou enquanto o


seguia até a moto. — As pessoas vão falar.
— Nunca, — disse Xander. Ele jogou a perna sobre o assento e esperou
que ela subisse e envolvesse os braços ao redor dele. — Quando se trata de você,
eu nunca vou parar.

FIM
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