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Livro 4
Sabrina
Fevereiro 2023
SINOPSE
Tudo o que Xander queria era alguns momentos de paz depois de uma vida
inteira de dor, mas o destino tinha outros planos. Caçado como um animal
selvagem pelas forças Beta, ele sequestra o primeiro meio de fuga que cruza seu
caminho.
Ele sabia muito bem que não havia nenhuma boa razão para estar entre
aqueles que conseguiram sair daquele inferno quando tantos outros acabaram no
incinerador. Foi apenas uma simples estúpida sorte que finalmente havia acabado
a um mês.
— Xander.
Pelo tom dela, Xander imaginou que sua irmã Maggie estava tentando
chamar sua atenção por um tempo, forçando-se sob o peso de sua velha mochila
de caminhada em seus braços. — Eu embalei tudo que pensei que você poderia
precisar. Eu não acho que vai caber mais em você, mas foi o melhor que eu pude
fazer.
Maggie, sua gêmea, a única razão pela qual ele arriscou voltar aqui. A
vista, o conforto da cabana multimilionária de sua família – inferno, todos os bens
materiais – não o excitavam mais como antes. Talvez tenha sido a constante
experimentação e tortura que mudou sua perspectiva, ou talvez tenha sido sua
natureza Alfa há muito negada finalmente sendo libertada, mas este lugar e todas
as malditas coisas nele perderam todo o significado para Xander.
Nas semanas seguintes, ele viajou à noite, dormindo durante o dia nos
campos vazios de Nebraska e ao longo dos riachos das montanhas geladas do
Colorado antes de finalmente chegar à cabana escondida na floresta bem acima
do luxuoso Copper Mountain Resort. Ele esperava que o lugar estivesse vazio e
não ficou desapontado. Seus pais só o usavam no inverno, passando os verões em
Belize ou Capri ou onde quer que a elite de Denver estivesse se reunindo naquele
ano.
No dia em que Xander chegou, ele escreveu uma carta enigmática para
Maggie e a jogou em uma caixa de correio perto da periferia da cidade. Dois dias
depois, ela apareceu, jogou os braços em volta dele e o abraçou com tanta força
quanto naquele dia muito tempo atrás na estação de trem.
Isso lhe rendeu uma risada. — Acho que devo agradecer por isso.
Mamãe e papai ficaram loucos quando eu disse a eles que queria ir para a escola
de arte, mas tudo que eu tinha que fazer era lembrá-los de que pelo menos eu
não sou um Alfa, e eles pararam de me dar merda.
Xander balançou a cabeça, sorrindo. Ele estava feliz que sua irmã ainda
estava dando o melhor que podia, assim como sempre tinha feito – e fazendo-o
rir, assim como ela sempre fez.
Ele não era especialmente bom nisso. Todo o tempo que Xander estava
bebendo a bebida de seus pais, batendo seus carros e tirando-os da cama para
buscá-lo na delegacia, seu coração não estava realmente nisso. Quase parecia que
estava simplesmente passando pelos movimentos até que sua verdadeira
natureza emergisse.
Xander grunhiu, não confiando em sua voz. Cada dia passado preso no
subsolo parecia uma eternidade, mas seu mês com Maggie parecia passar em um
flash. Xander ficaria feliz com ela até à primeira neve. Inferno, ele teria ficado até
o momento em que o SUV de seus pais parasse na entrada.
Mas, como muitos de seus sonhos, tinha que abrir mão desse também.
Xander apenas bufou, não querendo aumentar sua ansiedade, mas era
óbvio para ele que ninguém havia pensado no plano. Era quase impossível para
um grupo de Betas – mesmo os fortemente armados – deter um Alfa totalmente
crescido. Essa foi a razão pela qual o diretor da instalação ordenou o sequestro de
Alfas recém-transacionados a caminho de Boundarylands quando suas naturezas
ainda estavam se desenvolvendo.
Além disso, esta nova terra em Ozark era muito mais próxima do que as
outras Boundarylands. Com alguma sorte, levaria apenas alguns dias para chegar
lá a pé. E quanto mais cedo chegasse lá, mais cedo Maggie pararia de se
preocupar.
— Envie-me uma carta assim que chegar. — Maggie tentou sorrir, seus
olhos brilhando com lágrimas. — Eu vou visitar você. Desta vez, nada vai me
parar.
— Isso pode não ser sábio, — disse Xander, odiando ter que lembrá-la
do perigo. — Pelo menos não por enquanto.
Levou tudo que Xander tinha para pegar a mochila muito pequena e sair
pela porta. Essas semanas com sua irmã – a única Beta que restava no mundo que
se importava com o que acontecia com ele – tinha percorrido um longo caminho
para curar sua alma.
Lilibeth Rennert levou dois dias para percorrer todas as suas playlists
favoritas dos anos 80, 90 e 2000. Quando a última começou a se repetir, as Rocky
Mountains foram colocadas diante dela em todo o seu esplendor, mais bonitas do
que jamais imaginara que poderiam ser.
Desde que saiu de Los Angeles ontem de manhã, Lili parou apenas para
ir ao banheiro, gasolina, lanches e algumas sonecas na parte de trás da van de
mudança ao lado de suas poucas caixas de pertences. Ela não precisava de uma
van tão grande, mas quando o balconista lhe disse que eles não tinham a que ela
reservou e se ofereceu para atualizá-la de graça, Lili não teve opção de aceitar -
apesar do fato de dirigir um veículo tão grande a aterrorizou.
Até ontem, o único carro que Lili tinha dirigido era o velho Celica de sua
mãe, que tinha sido confiável o suficiente... A mente de Lili girou, pensando em
todas as coisas que poderiam dar errado ao volante de uma van tão grande. Sua
visibilidade ficou comprometida e levou uma eternidade para parar quando
acionou os freios e, sem direção hidráulica, cada curva na estrada parecia um
desafio herculano.
Pare com isso, Lilibeth sussurrou para si mesma. Tudo está bem.
Assim que conseguiu juntar dinheiro suficiente para voltar para casa
para uma visita, Lili estava determinada a levar a mãe para jantar no Silverado's, o
restaurante mais elegante de Costa Mesa, onde Claudia Rennert havia limpado
escritórios e servido de garçonete nas últimas três décadas. Pela primeira vez, sua
mãe seria capaz de manter a cabeça erguida enquanto outras pessoas a serviam.
O objetivo de Lili era chegar a Denver enquanto ainda estava claro, para
que pudesse ver um pouco da cidade com sua amiga Kelly da faculdade. Ela teria
conseguido também, se não tivesse se deparado com um engavetamento épico
que envergonharia até ao pior tráfego de Los Angeles.
Quando sua van mal se moveu por quase uma hora, Lili procurou seu
telefone, mantendo os olhos na estrada para o caso do tráfego começar a se
mover novamente.
— Eu gostaria de estar, mas acho que não chegarei a sua casa esta
noite. Ainda estou nas montanhas. Deve haver um acidente terrível à frente
porque eles fecharam parte da estrada. O trânsito mal se move.
— A última saída foi para Copper Mountain. Acho que posso ver os
esquis deslizando. — Pelo menos, Lili estava adivinhando o que eram aquelas
longas trilhas verticais na encosta da montanha.
— Oh, isso não é tão ruim, — disse Kelly. — Assim que você sair do
trânsito, estará a menos de uma hora e meia de distância. Você chegará aqui logo
após o anoitecer.
Fácil para Kelly dizer. Ela não estava tentando manobrar esta besta de
uma van em movimento pelas montanhas enquanto motoristas impacientes e
furiosos a cortavam e se apoiavam nas buzinas de seus caros SUVs. Lili não queria
adivinhar o quanto as coisas ficariam piores depois do anoitecer. — Eu não sei, —
ela se esquivou. — Estou com medo de dirigir essa coisa de noite.
Mas embora Kelly fosse uma boa amiga, ela vinha de uma família
abastada e nunca teve que pensar sobre esses tipos de problemas.
— Kelly, esse trânsito está terrível. Acho que vou... oh. — A visão de
três veículos do exército verdes maçantes barricando a estrada fez Lili prender a
respiração. Uma dúzia de soldados estava no meio da estrada, alguns
conversando com um comandante, outros revistando carros antes de permitir a
passagem.
— O que há de errado?
— Pare!
— Pare!
Lili pisou no freio com tanta força que foi jogada para a frente, o cinto
de segurança cortando dolorosamente seu torso.
De repente, ela foi cercada por soldados - bem, dois deles, de qualquer
maneira - e o que estava ao seu lado estava batendo na janela com o cano de sua
arma. Embora estivesse quase escuro, o homem usava óculos escuros espelhados
— e o emblema em seu ombro dizia: ‘Forças Especiais.’
— Por que você não quer que a gente dê uma olhada na sua van? — ele
exigiu, seu rosto como granito.
Lili estava com medo de chorar. Ela não tinha comido nada depois de
um biscoito de salsicha gorduroso doze horas atrás, e tinha sido um dia muito
longo. — Porque eu... eu já estou na estrada há muito tempo e não quero dirigir
depois de escurecer.
O soldado a encarou, mas ela não tinha ideia do que ele estava
pensando por trás daqueles óculos. Estou falando a verdade! — ela queria dizer,
mas provavelmente era exatamente isso que as pessoas diziam quando mentiam
para a polícia.
— Posso perguntar o que você está procurando? — ela perguntou
timidamente.
Lili jogou as mãos para cima, encolhendo-se para longe dele. — Você
disse que queria verificar a parte de trás, então, eu ia abrir para você.
— Não. Se. Mova. — O soldado tirou os óculos para dar ênfase, e Lili
pôde ver as luzes azuis piscando refletidas em seus olhos.
— Você ficará nesse assento e não mova outro músculo até que eu diga
que pode ir. Entendeu?
As mãos de Lili tremiam, e ela parecia ter esquecido como falar, então
assentiu com força.
— Tran, Gilbert, fiquem de olho nas portas enquanto dou uma olhada
na traseira. — Mais dois soldados estavam na periferia da visão de Lili. Nenhum
parecia amigável. — Eu não confio nesta.
Você está bem. Você está bem, Lili repetiu silenciosamente para si
mesma. Ela queria fechar os olhos com força, mas não se atreveu, então decidiu
se concentrar em um fio solto no couro falso que cobria o volante. Isso é chato,
mas tudo vai acabar em breve.
Uma vez que os soldados descobrissem que ela não tinha o que eles
estavam procurando, a deixariam ir – e depois de uma boa noite de sono, tudo
isso seria apenas uma história engraçada para contar a Kelly no brunch amanhã.
Mais gritos vieram dos carros ao redor dela. Pneus giravam, buzinas
zuniam e as pessoas gritavam quando o caos irrompeu. Carros colidiram uns com
os outros enquanto mais soldados corriam. Os veículos que conseguiram sair
queimaram borracha enquanto desciam a estrada, um pulando o meio-fio e
dirigindo sobre a paisagem em frente a um restaurante, quase perdendo um
pedestre em fuga.
O que diabos era poderoso o suficiente para fazer isso? Lili não sabia – e
ela com certeza não ia esperar para descobrir.
Mas a van de Lili não conseguia sair de lugar nenhum. O som de seu
motor era mais gemido do que rugido, mas pelo menos ele começou a se mover,
ganhando velocidade enquanto ela manobrava pelo engavetamento. Ela ia
conseguir — ela estava quase livre....
— Dirija.
— Eu disse dirija.
Xander não tinha percebido quantos Betas estavam procurando por ele
quando saiu da cabana. Não foi até que contornou um ziguezague no meio da
encosta íngreme da montanha que viu as tropas enxameando a pacata cidade
turística abaixo. Eles estavam por toda parte, entupindo as ruas e bloqueando as
entradas dos hotéis, restaurantes e lojas de luxo e, o mais importante,
bloqueando as poucas estradas que saíam da cidade.
Check.
Essa foi a última partida de xadrez que Xander já jogou... e a última vez
que seu pai ousou atacá-lo.
Mas esses mesmos policiais tinham suas próprias fraquezas. Seu fedor
se espalhava facilmente no ar rarefeito da montanha, assim como o som de seus
movimentos desajeitados. Eles nem estavam tentando ser furtivos, acreditando
erroneamente que seus números absolutos os protegeriam.
O rosto dela.
Caramba. Por que a motorista solitária tinha que ser uma mulher?
Xander não esperava isso, e a surpresa lhe custou segundos valiosos.
Ainda não.
1
Um Au Pair normalmente será uma jovem mulher e, às vezes, um jovem de um país estrangeiro que escolhe
ajudar a cuidar dos filhos de uma família anfitriã.
Suas palavras não fizeram nada para acalmá-la. Em vez disso, ela
começou a hiperventilar, fazendo pequenos sons ofegantes enquanto buscava
por ar.
O que ele faria com isso? Não era como se Xander pudesse entrar em
uma loja e comprar mantimentos. Inferno, ele passou por um triz em sua primeira
semana de fuga quando roubou um cooler de um acampamento. Não foi o dono
do cooler que deu uma boa olhada nele – aquele cara estava no lago em um
caiaque – mas a tropa de escoteiros caminhando no cume acima do lago.
— Então o que você quer? — Ela tirou os olhos da estrada para olhar
para ele – realmente olhar para ele – e quase os acertou na barra de
proteção. Xander teve que agarrar o volante para endireitá-los.
A mulher gritou, a van deu uma guinada, e pelos próximos segundos, foi
tudo o que Xander pôde fazer para evitar que ela voasse para o lado em uma
queda íngreme e muito longa. A mulher lutou com ele, contorcendo-se e dando-
lhe cotoveladas e até mesmo dando cabeçadas em seu braço. A van ziguezagueou
descontroladamente até que Xander conseguiu segurar o volante e trazê-la de
volta ao controle.
Ela assentiu, mas Xander se distraiu com a maciez de sua pele, o calor
do sangue pulsando por baixo. Estranhamente, ela pareceu se acalmar sob seu
toque.
Quando Xander a soltou, ela cumpriu sua promessa. A van se arrastou
para a frente a trinta quilômetros por hora, permanecendo até ao acostamento.
Nenhum dos dois falou enquanto ela conseguia colocar a pesada van de volta à
velocidade e de volta à estrada.
— Desça aqui.
Ela fez isso bem na hora. Eles mal tinham desaparecido entre as árvores
quando Xander ouviu o som distante de motores potentes indo rápido demais.
— Mas...
— Faça isso.
— Agora, pare.
A mulher não esperou ser dito duas vezes. Ela pisou nos freios, desligou
o motor, então surpreendeu o inferno fora dele batendo o cotovelo em seu peito
e indo para a porta novamente.
A Beta não podia pesar mais de cinquenta quilos, e ele mal sentiu o
golpe. Ele não teve nenhum problema em agarrá-la antes que ela saísse.
Xander sabia que poderia fazê-la parar de lutar sem suar a camisa se
quisesse... mas por alguma razão, ele não o fez.
Talvez fosse porque nunca tinha visto uma mulher Beta lutar tanto.
Ele quis dizer isso como um aviso para que ela parasse de tentar alertar
os soldados que eram tão propensos a atirar nela quanto nele, mas o medo em
seus olhos mostrava que ela havia tomado suas palavras como uma ameaça.
Além de Maggie, os Betas que ele conhecia nunca mostraram esse tipo
de determinação. Especialmente não aquelas que viviam no exclusivo subúrbio de
Denver de sua família e tinham segundas residências em lugares como Copper
Mountain.
Mas Xander tinha certeza de que essa Beta não tinha vindo de uma das
mansões multimilionárias espalhadas na encosta abaixo da casa de sua família. A
julgar por seus tênis baratos e bolsa de vinil surrada, ela está apenas de
passagem. Provavelmente estava carregando tudo o que possuía na parte de trás
da van – e a julgar pelo chocalho oco quando ela dirigia pela estrada irregular, não
era muito.
Ela ainda estava com medo, mas seu medo havia diminuído o suficiente
para que outros elementos de seu perfume emergissem. Xander respirou fundo e
provocou insinuações de astúcia, determinação e irritação, tudo isso sustentado
pela complexa nota de base de uma mente ocupada e questionadora.
Lilibeth
Dê tudo o que você tem, sua mãe lhe disse no primeiro dia do ensino
médio, que ficava a 800 metros de distância, passando por motéis da SRO, becos
escuros e fétidos. Se alguém te agarrar, não retenha nada. Chute, morda,
grite. Vá para os olhos e as bolas.
Era a primeira vez que Lili ouvia sua mãe usar essa palavra. Claudia
Rennert era a mãe mais rígida do bairro, então Lili sabia que não estava
brincando.
Ela também sabia que sua mãe a teria levado se pudesse, mas não
podia arriscar se atrasar para o trabalho. Então, em vez disso, ela agarrou os
braços de Lili com força e fez a prometer sobre a vida de sua avó.
A adrenalina correndo por suas veias aguçou seus sentidos. Ela correu
mais rápido do que nunca, correndo por entre as árvores, desviando de galhos e
raízes, tudo isso enquanto mantinha os olhos focados na estrada à frente.
Lili ainda não desistiu. Ela lutou com cada grama de sua força, mas não
foi suficiente. O Alfa era muito forte, e quanto mais ela chutava e se contorcia,
mais forte ele a segurava. Quando chegaram à van, ela mal conseguia respirar,
muito menos lutar.
O Alfa a colocou no chão com força, girando-a para que suas costas
ficassem contra a van, apoiando as mãos em ambos os lados para prendê-la no
lugar. Por um longo tempo, ele simplesmente a encarou como se ela fosse mais
uma curiosidade do que uma refém indisciplinada.
Então Lili fez a única coisa que podia agora que a fuga estava fora do
menu – ela o estudou de volta. O Alfa era a maior e mais perigosa ameaça que já
encontrou, mas ele ainda era apenas humano. O que significava que queria algo
dela, e quanto mais cedo descobrisse o que era, mais cedo ela poderia ser
libertada.
Seu peito e ombros maciços esticados contra sua camiseta azul simples.
Seus olhos, o cinza do asfalto molhado, a atingiram com uma intensidade que era
mais aterrorizante que seus músculos poderosos. Seu cabelo era muito longo,
grosso e escuro, caindo em seus olhos em ondas. E quando ele rosnou para ela,
viu que ele tinha os dentes brancos mais perfeitos, uniformes e ofuscantes que já
tinha visto.
Claro, se não observasse seus passos com este Alfa, poderia ser sua
própria lápide que precisaria comprar.
Este não era apenas um Alfa fugitivo sem nome e sem rosto, uma das
dezenas que estavam em todos os noticiários. Este era um predador no ápice, o
Lobo Mau... um que nem mesmo sua mãe tinha pensado em avisá-la.
— Eu disse para você não fazer nada estúpido. — Ele soltou as palavras
como se fossem cacos de vidro. — Aqueles soldados não se importavam em quem
atingiam com essas balas - eu, você ou espectadores inocentes. Você realmente
quer dar a eles outra chance?
Lili balançou a cabeça. Ela não queria isso... mesmo que pudesse ser
preferível a qualquer coisa que o Alfa tinha reservado para ela.
O que a trouxe para o que sua mãe havia dito a ela naquele dia há
muito tempo.
Ok. Ela já tinha provado que escapar era impossível, então esperaria, e
observaria... e então ela iria correr.
Por que ele queria saber? — L-Lilibeth, — ela gaguejou, nunca odiando
tanto quanto agora. Tinha sido o nome mais chique que sua mãe poderia pensar,
um adequado para uma garota que ia alcançar mais do que sua mãe e sua avó
jamais poderiam sonhar, que deixaria sua marca no mundo.
Bam.
Xander ignorou isso. — Eu disse para você ir mais rápido pelo menos
meia dúzia de vezes agora. Eu lidarei com as consequências.
Lili tinha feito o melhor que podia, embora a Sra. Baxter fosse a
velhinha mais malvada para quem sua mãe já trabalhara. E depois que ela fez Lili
polir duas colheres perfeitamente limpas, Lili esqueceu.
— Talvez você devesse polir a prata então, — ela explodiu enquanto sua
mãe olhava com horror. — Já que eu não consigo tirar a sujeira invisível.
— Maldição!
Bam!
— Sinto muito, — disse Lili pela centésima vez. Ela sentiu como se não
tivesse feito nada além de pedir desculpas desde que Xander entrou na
van. Desde que ele a sequestrou, para não colocar um ponto muito bom nisso, e
talvez fosse estúpido esperar que um criminoso mostrasse alguma decência em
relação à sua vítima, mas isso a estava irritando, especialmente quando ele
grunhiu em resposta.
— Não, você não está. — Quando ela saiu da curva, Xander colocou a
mão enorme em seu joelho e pressionou.
— Não faça isso! — ela gritou, deslizando o pé fora do pedal até que a
velocidade da van estava de volta sob controle.
— O quê?
Pelo menos ele tinha batido na van ao invés dela... até agora. Mas o
jeito que ele estava olhando para ela agora fez Lili se perguntar quanto tempo sua
sorte iria durar.
Lili confiava exatamente em duas pessoas vivas – sua mãe e ela mesma.
Sua avó não viveu o suficiente para ver Lili se formar e conseguir um
emprego que proporcionaria uma vida melhor para a família, então Lili estava
determinada a trabalhar muito mais.
Se Xander a tivesse deixado ficar na estrada, Lili sabia que poderia tê-lo
levado ao seu destino sem problemas. Eles poderiam ter cruzado o Kansas em
questão de horas e atravessado a fronteira do Missouri pela manhã.
Em vez disso, Xander ordenou que ela dirigisse para o sul. Pelo resto da
viagem, eles ficariam em estradas secundárias, navegando pelo serviço de GPS
irregular e pelo senso de direção do Alfa. Ele insistiu que era mais seguro, mas Lili
não conseguia imaginar como. Qual era o sentido de evitar as autoridades e
adicionar três dias extras de condução se iam acabar mortos em uma horrível
confusão de aço esmagado?
— A estrada está livre à frente, — disse ele depois que ela passou por
outro conjunto de ziguezagues de revirar o estômago. — Você pode acelerar.
Lili olhou para o velocímetro. Oitenta quilômetros por hora parecia mais
do que razoável, dadas as condições da estrada. — Mas eu já estou...
Lili não era estranha ao medo. De uma forma ou de outra, tinha sido
seu companheiro constante desde suas primeiras lembranças. Sua mãe e sua avó
fizeram o possível para protegê-la, nunca a deixando sozinha em casa, mas suas
advertências foram um pouco longe demais.
Nunca abra a porta para um estranho. Não vá para casa sozinha. Se
alguém que você não conhece tentar falar com você, vire-se e vá para o outro
lado.
Quando Lili tinha idade suficiente para pensar por si mesma, essas
lições haviam se enraizado tão profundamente que tudo o que fazia era afetado
por elas.
Hoje em dia, ela vivia com um lema simples: corra o mínimo de riscos
que puder. Normalmente tornava as decisões fáceis, mas esta noite não
esclareceu nada. Ela nunca teve que pesar os perigos de dirigir muito rápido em
uma estrada sinuosa versus aquelas apresentadas por irritar um Alfa fugitivo sem
nada a perder.
— Hum, Xander, — Lili disse, sua voz trêmula. — Esta van é pesada e
difícil de dirigir. Eu realmente não quero bater aqui no escuro.
Lili cerrou os dentes. Não era a primeira vez que alguém menosprezava
seus medos; na verdade, isso acontecia o tempo todo. Seus amigos vinham
provocando-a há anos por causa de sua cautela.
Lili tirou os olhos da estrada tempo suficiente para olhar para ele... sim,
ele parecia tão zangado quanto parecia. — O que você quer dizer, você não pode?
— ela perguntou timidamente.
— Não.
Lili ficou tão assustada que mal reagiu ao tom áspero dele. Em uma
cidade grande como Los Angeles, se você quisesse ir a qualquer lugar que não
fosse a loja da esquina ou a igreja, teria que dirigir. Os adolescentes obtinham sua
licença o mais rápido possível, mesmo que não pudessem pagar um carro por
anos. Mesmo uma garota falida como Lili, que era forçada a esperar ônibus que
raramente chegavam perto de onde queria ir.
Xander pode ser um Alfa, mas ele não começou como um. E Lili tinha
certeza de que ele não tinha crescido em um bairro como o dela. Ela pode não ter
dito muito, mas quando o fez, foi com a enunciação firme e precisa do tipo de
pessoa para quem sua mãe e sua avó sempre trabalharam. As crianças dessas
famílias tendiam a receber seu próprio carro quando tinham idade suficiente para
dirigir.
Então ele teve muito tempo para aprender a dirigir. — Bem, então, por
que...
— Não importa.
Sim, um Alfa poderia esmagar uma garota como ela com seu dedo
mindinho. E ele era o criminoso aqui. Ele poderia dar ordens a ela o dia todo se
quisesse, e ela não tinha escolha a não ser fazer o que ele dizia. Mas ninguém
conseguiu derrubá-la.
Não mais.
— Ok. Já que você é tão grande, forte e poderoso, por que você está
com tanto medo de me dizer por que não sabe dirigir?
Xander xingou baixinho. — Você realmente quer saber? Tudo bem. Não
é que eu não pudesse aprender a dirigir - eu não precisava. O motorista da minha
família nos levava aonde precisávamos ir.
Xander a chocou com um rugido que sacudiu a van, fazendo Lili pisar no
freio. A van deslizou em um arco aterrorizante, soltando um guincho
doentio. Assim que parou estremecendo, Xander agarrou seu braço e a forçou a
encará-lo.
Ela tinha ido longe demais – Lili podia ver em seus olhos. O rosto de sua
mãe, a decepção silenciosa gravada nas linhas de sua testa, brilhou em sua
mente. Quando, quando, quando Lili aprenderia?
— Você é tão boa quanto eles, — sua mãe consolara uma soluçante Lili,
de 15 anos, depois que a filha de seu patrão jogou seu uniforme de futebol úmido
e fedorento nela e exigiu que estivesse limpo em uma hora. — Melhor ainda,
porque você ganhou o seu lugar. Eles acabaram de nascer no deles.
E foi por isso que, apesar de seu coração bater forte em seu peito, Lili se
forçou a encontrar o olhar feroz de Xander.
— Ouça-me, Lili. Tudo o que você pensa que sabe sobre mim, não chega
nem perto da verdade. Eu sou um Alfa. Eu vivi um inferno que você não pode
imaginar. A única coisa que precisa saber é que estou indo para a nova
Boundarylands, e você é quem me levará até lá. Entendeu?
Por seis longas horas, Xander ouviu Lilibeth se virar. Mesmo que ele
tenha feito uma cama improvisada para ela de uma pilha de cobertores que
puxou de uma caixa de mudança, ela ainda estava tendo problemas para dormir.
Mas essa garota Beta... ela claramente nunca teve que aprimorar essas
habilidades.
Para ser justo, seu corpo não conseguia se regular com a mesma
eficiência que o de um Alfa. Xander havia considerado arrastar o colchão
enterrado atrás de pilhas de caixas de mudança para deixá-la mais confortável,
mas isso era tirar tudo e embalá-lo novamente, e o risco de ser visto era muito
grande.
Não que alguém pudesse passar por essa velha estrada de gado. Ele não
podia sentir outra alma viva por quilômetros. Ainda assim, Xander teria ficado
muito mais feliz se a van pudesse ter saído da estrada para um local mais
seguro. Do jeito que estava, eles estavam estacionados no mato na beira da
estrada.
Sim, luz solar. Xander sabia muito bem que a luz não tinha cheiro, mas
como descrever a nota superior, brilhante e nutritiva?
Protegendo Lilibeth.
Ele provavelmente não deveria ter perguntado o nome dela. Pensar
nela apenas como a motorista — sem rosto, logo esquecida — teria mantido as
coisas mais simples. Mas ela dificultou bastante com sua recusa em seguir as
ordens mais simples. A verdade era que ela não era uma boa refém.
Lilibeth nem se mexeu com o som. Graças a Deus. A última coisa que
queria fazer era explicar a fonte de seu desgosto consigo mesmo... de novo.
Deixe-a pensar mal dele se quiser. Além disso, talvez se ela mantivesse
seus olhos revirados e comentários depreciativos, Xander pudesse esquecer sua
atração por ela.
Ele teve sua cota de garotas quando ainda era um Beta – garotas que se
emocionavam ao se relacionar com o bad boy da elite de Denver. Assim como o
próprio Xander, aquelas garotas precisavam de um pouco de rebeldia em suas
vidas – um passeio rápido em sua Ducati, uma noite selvagem no lado errado da
cidade, um caso de uma noite – mas a verdade era que tinha sido pouco mais do
que encenação.
Uma vez que fez a transição, não demorou muito para Xander perceber
quão merdinha ele tinha sido, chegando à beira do perigo, mas nunca realmente
passando por cima. Não foi até que se tornou um Alfa que Xander entendeu quão
patético esse tipo de ato de desafio tinha sido.
Mas o desejo que sentia por Lili agora? O fogo no fundo de sua
barriga? A fantasia de deslizar dentro dela e se perder no prazer? Sim... não havia
nada de patético nisso.
Oh, olá — o pau de Xander acordou na pior hora possível. Ele precisava
estar descansando, não sonhando com uma garota que nunca veria novamente
depois que chegassem ao Missouri.
Xander olhou para Lilibeth, maravilhado com a tensão que a seguia até
ao sono. Outra mulher teria relaxado seu aperto na borda do cobertor em que
estava deitada. As linhas de preocupação em sua testa poderiam ter
diminuído. Mas assim como ele, em algum lugar ao longo do caminho, a Beta
tinha perdido sua capacidade de relaxar verdadeiramente.
A razão não era da sua conta. Mas Xander se aproximou dela no ninho
improvisado de lençóis e cobertores de qualquer maneira, dizendo a si mesmo
que fazia sentido bloquear o corpo dela com o seu, caso ela acordasse antes dele
e decidisse fugir.
Lilibeth
— Muito perigoso, — Xander vociferou, assim como ela sabia que ele
faria.
Desta vez seu grunhido foi acompanhado por um olhar abrasador que
parecia rasgar a pele dela para que ele pudesse olhar para dentro. Infelizmente,
Lili ficou confortável o suficiente atrás do volante da van para desviar o olhar da
estrada e, mais infelizmente, ela não conseguiu resistir.
Ele não a ameaçou para não tentar nada estúpido desta vez. Ele não
precisava.
Nas vinte e quatro horas que Lili esteve na companhia de Xander, ele
não fez nada além de estudar e analisar cada movimento que ela
fazia. Acrescente a isso sua óbvia força e velocidade relâmpago, e Lili não
conseguiria atravessá-lo antes de pular na frente de um ônibus.
Embora a verdade fosse que ela também não podia suportar a ideia de
que Xander machucaria um inocente.
Ele não teve escolha a não ser lutar contra os soldados armados, que
estavam tentando atirar nele. Mas depois de passar um tempo com ele, Lili já não
pensava nele como perigosamente violento — pelo menos, não com ela.
Quando acordou com a última luz do sol poente, Lili ficou surpresa ao
descobrir que o braço musculoso de Xander estava pendurado em sua cintura,
mas enquanto seu peito maciço subia e descia ritmicamente, seu choque deu
lugar a outra coisa... uma sensação de calor, proteção e segurança.
Talvez ela não devesse ter ficado surpresa. Afinal, todos esses músculos
poderiam ser tão eficazes para proteger quanto para atacar. Especialmente
aquelas costas largas, ombros poderosos e bíceps tão grandes e musculosos que
ela não achava que poderia envolver suas mãos ao redor deles.
Era mais como ser amarrada a ajudar a vizinha idosa de sua mãe a
mover móveis pesados – desconfortável, cansativo e improvável de ser
apreciado. E enquanto Lili sabia que não tinha escolha, a verdade era que poderia
ter ajudado o Alfa de qualquer maneira, tanto quanto ela ajudou a Sra. Schneck
ao longo dos anos, porque não havia mais ninguém para fazer isso.
A 'cidade' acabou por ser pouco mais do que uma encruzilhada com um
punhado de casas pontilhando a área circundante. Lili desligou os faróis ao entrar
no posto de gasolina, o relógio no painel marcando 11h38 – tarde o suficiente
para os moradores estarem na cama, aparentemente, porque ninguém estava nas
ruas além de alguns carros na frente do único bar.
Lili parou na bomba mais distante como Xander havia indicado, mesmo
que não pudesse ver ninguém dentro da cabine envidraçada do caixa. Por sorte,
as bombas ainda estavam ligadas. Ela inseriu seu cartão de crédito, tentando não
pensar no que essas despesas não planejadas estava fazendo com seu orçamento,
e tinha acabado de começar a abastecer quando o som de seu celular a fez pular.
Ela olhou para cima para ver Xander atirando adagas para ela com o
olhar no espelho lateral. — Está tudo bem, — disse ela com um sorriso
apaziguador, tirando o telefone do bolso. — É apenas o meu telefone.
Ela respirou fundo para se equilibrar, mas não fez muito bem em face
da verificação de um Alfa furioso.
— Ei, garota, — ela disse. — Desculpe por esta manhã, eu acordei mais
tarde...
— Oh, graças a Deus, você está viva! — A voz de Kelly estava tensa e
alta. — Eu tenho tentado ligar para você o dia todo.
— Você não pode estar surpresa, — disse Kelly. — O que você achou
que aconteceria se você começasse a dirigir por aí com um Alfa fugitivo?
Ah, merda.
Lili virou as costas para Xander para evitar sua carranca assassina, mas
ela não precisava ver sua reação para saber quão ferrados eles estavam. — Ouça,
Kelly, eu não sei o que você ouviu, mas...
— Eu não tive que ouvir. Eu vi. — Kelly estava quase gritando agora. —
Eu vi a notícia quando estava me preparando para encontrá-la esta manhã, e lá
estava você, tentando fazer uma inversão de marcha. Um cara estava gravando o
vídeo e pegou a coisa toda - o soldado perseguindo você e o Alfa o atacando e
contornando a van. Então você fugiu com ele no banco do passageiro.
Lili fechou os olhos, abalada. Isso era ainda pior do que ela
imaginava. — Kelly, você tem que me ouvir. Não é o que você pensa.
Traição?
— Claro que sim, garota, — Kelly assegurou a ela em um tom que era
muito brilhante. — Mas a polícia com quem tenho falado é uma história
diferente.
— Você tem falado com a polícia? — Kelly não respondeu por um
momento.
— Eles estão, hum, aqui comigo agora, Lili, — ela finalmente admitiu. —
Eles querem que eu diga para você se entregar. É a única saída para você e para o
Alfa...
— Claro que você pode. — Xander a puxou para longe da van e a guiou
de volta para a porta do lado do motorista. — Agora, não há outra escolha.
CAPÍTULO 5
Lilibeth
Foi a primeira vez que Xander falou desde que eles pararam para
gasolina horas atrás, e isso tirou Lili de sua ruminação.
As palavras atingiram Lili por dentro, arrastando seu humor ainda mais
para baixo. Claro que ela não mandava. Por um segundo, ela erroneamente
pensou que ser alvo de uma caçada nacional os colocaria em pé de igualdade.
Mas ele ainda era seu captor, e ela, sua prisioneira. Isso não significava
que tinha que gostar, no entanto.
— O quê?
Com o canto do olho, ela podia ver seu olhar se estreitar em frustração,
e um rugido baixo e retumbante sacudiu o ar da cabine, mas desta vez não
incomodou muito Lili.
— Tome a próxima saída que você ver, Lilibeth. Eu não estou fazendo
exigências apenas para ser um idiota.
— Arkansas? — exclamou Lili. — Por que diabos estamos indo para lá?
Aparentemente, ele não estava ouvindo o mesmo rádio que ela. — Não,
eles não estão. Quero dizer, o FBI pode estar coordenando, mas disseram no
noticiário que estão trabalhando com a polícia local para...
Desta vez Lili encostou... mas porque ela queria. Provavelmente não era
seguro dirigir e discutir, especialmente estando tão irritada como estava agora.
Desde que explodiu em sua vida, ela fez tudo o que ele exigiu dela.
Ok... talvez não tudo, mas todas as coisas razoáveis. Ela até consentiu
em empurrar a van a mais de 130 quilômetros por hora assim que saíram de
Rockies e entraram na Reserva Black Mesa, apesar do fato de que a suspensão de
merda da van batia e balançava a cada rachadura na estrada naquela velocidade.
Ele não precisou gritar para cortar suas palavras. O olhar escuro em
seus olhos fez o trabalho. — Você não quer saber, Lilibeth. Você realmente não
quer.
Seu tom era tão intenso que Lili acreditou nele. Melhor se concentrar
na única coisa que ela podia controlar – dirigir.
Uma risada quase histérica escapou dos lábios de Lili. — Nada sobre as
últimas quarenta e oito horas era o meu plano. Neste ponto, tudo que eu quero é
permanecer viva o tempo suficiente para resolver toda essa bagunça.
Ela ouviu esse tom condescendente com muita frequência para lidar
com isso do Alfa que parecia determinado a matá-la. A raiva subiu à superfície, e
ela se afastou dele.
— Não... o quê?
— Você é o único que me disse que não havia outra escolha! — ela
explodiu. — Mas não se preocupe, não pretendo ficar muito tempo. Só preciso de
um lugar onde tenham que falar comigo em vez de atirar. Assim que eu explicar o
que aconteceu, eles vão entender que sou sua refém, não sua cúmplice. Eles
terão que fazer isso.
Tudo que Lili sabia era que antes que pudesse mudar isso, ela tinha que
chegar a algum lugar seguro. Algum lugar onde os soldados — os que já
haviam atirado nela — não pudessem alcançá-la.
Lili estava exausta demais para discutir... o que significava que ele
provavelmente estava certo. Seus olhos já estavam fechando quando ela caiu
contra ele. — Mas apenas por algumas horas, — ela murmurou.
Xander
Xander estava tão zangado quanto ela, mas não com as autoridades.
Apenas um mês depois de sua vida fora da instalação, ele ficou mole e
sem foco – tanto que sequestrou uma van em movimento e sua motorista Beta
sem pensar nas consequências.
Ele disse a ela a verdade mais cedo... mas não toda. Ficar em estradas
secundárias garantiria que eles não fossem encontrados, mas não foi por falta de
recursos. Se o governo quisesse que ele fosse encontrado a todo custo, ele já
estaria preso ou morto.
Xander estava ouvindo o rádio, apesar do que Lili pensava. E ela havia
perdido a única linha que poderia tê-la feito entender o verdadeiro perigo em que
estava.
O que Lili não percebeu – e o que Xander não quis dizer a ela – era que
ninguém iria acreditar em nada que ela dissesse. Não a polícia, os políticos ou a
grande maioria dos cidadãos Beta. Nenhum advogado decente a defenderia, e
nenhum juiz mostraria sua misericórdia.
Nunca.
O sangue de Xander ficou frio com o pensamento. Ele não acreditou por
um segundo que a 'instalação de pesquisa' onde estava detido fosse a única de
seu tipo. Se pesquisadores do governo fariam coisas indescritíveis com Alfas
recém-transformados, o que os impedia de construir instalações semelhantes
para lidar com civis problemáticos? De onde, aliás, vieram as mulheres Beta que
usaram em experimentos cruéis com seus irmãos Alfa?
Ela estava certa... ele devia a ela. Mas ela ainda não percebeu quanto
dano ele tinha feito.
Não levaria dias ou mesmo semanas para que as coisas 'se acalmassem'
uma vez que ela estivesse segura dentro de Boundarylands com ele.
Xander sabia em seu coração que uma vez que ela cruzasse a fronteira
de Boundarylands, Lilibeth nunca mais partiria.
CAPÍTULO 6
Lilibeth
Ela era uma criança novamente, nadando na piscina pública. Ela estava
prendendo a respiração no fundo por muito mais tempo do que a realidade
jamais permitiria, apenas observando os raios da luz do sol dançar ao longo dos
azulejos azuis.
Foi por isso que Lili ficou tão chateada quando sentiu a mão agarrá-la e
puxá-la para fora da água e para o mundo desperto.
Ela abriu os olhos para uma faixa de luz entrando pela porta
parcialmente aberta e respirou o cheiro de flores silvestres, óleo de motor e
Xander.
Lili assentiu e foi para a traseira da van, mas foi interrompida pela
estranha vontade de tranquilizá-lo.
Para tranquilizar Xander... seu sequestrador. Não fazia sentido, mas a
compulsão não podia ser negada.
Não havia sequer uma ponta de dúvida em seus olhos quando ele
encontrou o olhar dela. — Eu sei, Lilibeth.
Quase robótica, ela pulou para baixo, segurou a porta giratória e andou
até à porta do lado do motorista. Uma vez ao volante, Lili levou um momento
para se recompor.
Não era assim que as coisas deveriam acontecer. A vida acontece, ela
lembrou a si mesma, sabedoria de um livro que leu na faculdade. Ela esperava
aprender a administrar melhor seu tempo, mas o livro de autoajuda insistia que o
primeiro passo era aprender a se adaptar ao inesperado.
O problema era que não havia espaço na vida de Lili para o inesperado.
Nunca houve.
A casa dos Rennert funcionava como um relógio porque tinha que ser, e
quando Lili estava conciliando seu próprio trabalho com seus estudos, ela
aprendeu bem a lição: faça um plano e cumpra-o.
Isso significava não dormir demais, não adoecer, não faltar a aula, sem
folga no trabalho.
Ser sequestrada não tinha apenas atrapalhado seus planos. Ele explodiu
em pedacinhos, e fez Lili querer bater em alguma coisa.
Em vez disso, Lili respirou fundo e ligou a van. Sim, ela aprendeu a 'se
adaptar ao inesperado', tudo bem, mas não foi seguindo o conselho do livro
para desacelerar, ter tempo para si mesma, descansar e recarregar.
Esse conselho era para pessoas como Xander, que andavam de chofer e
nunca se preocupavam com a origem do dinheiro para as compras. Pessoas que
podiam se dar ao luxo de brincar sem fazer nada.
O único sinal de estrada que Lili tinha visto dizia OK 133. Havia
realmente mais de uma centena dessas pequenas estradas de duas pistas neste
estado? E como deveria descobrir qual delas a levaria para nordeste até à
fronteira da nova Boundaryland?
E não apenas para que pudesse confiar em seu estranho super senso de
direção para saber aonde ir. Havia algo em sua presença que a acalmava,
derretendo sua ansiedade a um nível administrável, ajudando-a a organizar seus
pensamentos emaranhados.
Uau.
Havia algo na maneira como ele olhava para ela, algo que sugeria que
ele podia ver mais do que estava na superfície. Quase como se ele pudesse
perscrutar além de suas palavras até suas esperanças e medos mais secretos.
Bem-vindo ao Arkansas.
2
Transtorno de estresse pós-traumático.
original previa que estivesse em Ohio, pronta para cruzar a Pensilvânia amanhã,
chegando a Nova York no final da tarde.
Agora, Lili precisava ser mais afiada do que nunca – mais dura, mais
rápida, mais vigilante. Era como ela tinha sobrevivido a tudo que a vida tinha
jogado nela até agora... e era como sobreviveria a isso também.
Merda!
Ela pegou sua bolsa e remexeu em sua carteira com as mãos trêmulas,
tentando encontrar alguma razão pela qual ela estaria dirigindo pelo Arkansas a
caminho de Nova York em vez de pegar a rota direta. Ela observou o policial sair
de seu carro, tomando seu tempo. Ele não parecia feliz, mas também não parecia
particularmente desconfiado.
Deus, não.
Por favor, por favor, por favor, rezou Lili. Mas antes que pudesse
descobrir exatamente pelo que orar, o policial correu de volta para seu carro, deu
marcha à ré e deu o fora de lá.
Xander
Aos dezesseis anos, a única proteção que ele poderia oferecer a sua
irmã depois que ela destruiu o Mercedes de seu pai, era alegar que foi ele quem o
levou para um passeio... sozinho.
Maggie chorou quando disse a ela que, como punição, seu pai o proibiu
de praticar qualquer esporte no último ano. Então, ela jogou seus braços magros
ao redor dele e colocou maquiagem por toda a sua camisa.
Mas Xander era um Alfa agora e poderia fazer muito mais para proteger
Lilibeth do que simplesmente se oferecer para assumir a culpa.
E ele protegeria Lilibeth, corpo e alma, com sua vida se fosse preciso. E
ela acreditou nele, a julgar pela forma como seu batimento cardíaco diminuiu sob
seu toque.
Xander puxou a mão para trás quando seu sangue começou a ferver,
acompanhado por imagens de Lili deitando o corpo nu no chão macio da grama
de sua terra natal e mostrando a ela todas as outras coisas que seu corpo poderia
fazer por ela.
— Eu só sei.
Ele não elaborou, mas podia sentir seu ceticismo. — Não demorará
muito agora.
Xander guiou Lili ao longo de uma rota sinuosa que seguia os contornos
da terra. As estradas em que estavam agora eram pouco mais do que faixas
estreitas de pavimento rachado que tinham pouco uso desde que a população
Beta abandonou a área.
Sua próxima respiração trouxe algo surpreendente, algo que ele decidiu
guardar para si por enquanto.
Não eram apenas Alfas aqui nesta nova Boundaryland. Havia Ômegas
também. Como seus irmãos encontraram companheiras tão rapidamente era
desconcertante. O número de Ômegas adormecidas esperando pelo toque de um
Alfa para despertar sua verdadeira natureza era supostamente muito baixo. O
que fez desses pioneiros de Ozark Boundaryland alguns filhos da puta sortudos,
um pensamento que quase fez Xander perder a chance.
— Você pode ter, — ela suspirou. — Mas meus problemas estão apenas
começando.
— Eu sei, mas... — O que quer que ela fosse dizer, ela pensou melhor.
— Mas isso seria mais fácil de acreditar se você não fosse a razão pela
qual eu estou com todos esses problemas para começar.
Xander franziu o cenho. — Você não acredita em mim? Acha que estou
mentindo para você?
— Qual é a diferença?
— Bem, acho que devo agradecer por não me deixar levar um tiro.
Infelizmente, você também assustou um policial e deu a muitas pessoas a chance
de gravar um vídeo para dar à imprensa.
Xander não podia acreditar que ela ainda estava presa naquele
incidente. — Aquele confronto com o policial ia acontecer de qualquer maneira.
Melhor sair antes, do que depois que sua arma foi sacada.
— Você não sabe que ele ia sacar sua arma, — ela retrucou.
— Claro que sim. Vocês Betas tratam nossa própria existência como
uma ameaça.
Seu medo tomou a ponta da raiva, e ela se virou para ele, a van
balançando sobre um galho na estrada.
— E por que não deveríamos? É muito difícil ver os Alfas como
inocentes quando eles passaram os últimos dois anos sequestrando mulheres e
matando qualquer um que tentasse resgatá-las.
Xander tentou controlar seu temperamento. Ele sabia tudo sobre essas
histórias, tinha ouvido o pessoal da instalação falando sobre como eles
encobriram as transições Ômega naturais em Boundarylands para fazê-las parecer
mais sinistras e virar a opinião pública ainda mais contra os Alfas.
Não era culpa de Lilibeth que ela caiu no acobertamento junto com a
maior parte do país. Mas eles não eram estranhos neste momento, e o
pensamento de que ela poderia imaginá-lo fazendo as coisas que descreveu era
como engolir ácido.
— Você tem razão. — Agora Lilibeth nem olhava para ele. Seu queixo
estava tão apertado que ele temia que ela pudesse quebrar um dente. — Mas eu
nunca fiz nada. O único crime que cometi foi dirigir pelo país para começar uma
nova vida.
Ele não queria soar tão amargo e ele não estava preparado para a
forma como ela se encolheu. Ele desejou poder retirar as palavras; era a primeira
vez que Lilibeth mencionava o motivo pelo qual estava dirigindo pelo país.
Claro, ele nunca se deu ao trabalho de perguntar. E talvez ele devesse
um pedido de desculpas a ela por isso, mas teria que esperar. Ele podia sentir a
presença de seu irmão Archer se aproximando.
Mas Xander não teve tempo para tentar acalmá-la, não quando saíram
da van para encontrar seu irmão Archer parado na porta da casa. Ao lado dele
estava uma mulher com cabelos escuros e ondulados e olhos cor de chocolate
combinando.
— Isso não é problema nenhum, — disse Archer. — Você está livre aqui.
Assim que instalarmos sua nova propriedade, ela é sua. Ninguém pode lhe dizer o
que você pode ou não fazer lá, incluindo convidar qualquer... convidados que
você queira.
Splash
Ainda assim, era melhor do que entrar. Lili assumiu seu posto no final
da varanda mais afastada da estrada, tentando não pensar no apartamento bem
acima da cidade para o qual deveria se mudar. Até dormir no chão de uma
rodoviária seria melhor do que isso.
Lili não conseguia imaginar por que Xander havia escolhido esta casa
em vez de algumas das casas maiores e mais novas pelas quais passaram –
aquelas com portões e fechaduras pesadas nas portas, construídas pouco antes
do êxodo Beta. Elas provavelmente serviram como casas de férias para os ricos,
com linhas modernas, muito vidro, aço e vistas deslumbrantes do lago. Agora,
eles se tornariam os lares dos Alfas.
Desde as primeiras memórias de Lili, ela esteve cercada por uma cidade
que nunca descansava. Mesmo com as cortinas fechadas, nunca estava realmente
escuro no quarto de Lili, e era assim que ela gostava. As luzes da rua, os faróis e as
janelas do prédio vizinho forneciam um brilho reconfortante a qualquer hora.
Não havia nada disso aqui. Lili podia ouvir Xander se movendo pela casa
– pelo menos, ela com certeza esperava que fosse Xander e não guaxinins
assassinos ou um assassino do machado.
Claro, as coisas estavam ruins, mas não era como se ela estivesse
realmente vivendo em um filme de terror. Este lugar pode parecer o tipo de casa
onde adolescentes excitados eram apanhados um a um, mas era melhor do que a
prisão... ou onde quer que os militares prendessem simpatizantes Alfa nos dias de
hoje.
Lili só tinha que passar os próximos dias, falar com o FBI ou a guarda
nacional ou quem estava encarregado de caçá-los e limpar seu nome. Porque
senão ela viveria o resto de seus dias em uma instalação federal ou aqui em
Boundarylands.
— Já que você tem medo do escuro, você sempre pode entrar, — disse
Xander, e Lili cedeu de alívio. Alguém tão grande não deveria ser capaz de se
mover tão silenciosamente.
Lili poderia ter chorado de alívio. Apenas ser capaz de distinguir o rosto
de Xander na escuridão a fez se sentir melhor.
Ou talvez fosse o jeito que ele estava olhando para ela. Pela milésima
vez, ela pensou como era injusto que ele pudesse sentir tanto sobre ela,
enquanto ela permanecia no escuro – literalmente, no momento.
Então Xander fez algo para o qual Lili não estava preparada, inclinando-
se para a frente e tirando sua camisa. O que quer que ele tenha feito, deixou seus
braços e torso poderosos brilhando de suor.
Lili tentou desviar os olhos da visão de seu abdômen ondulado, seus
antebraços cheios de músculos. Seu peito era incrivelmente esculpido, e seus
ombros – ela queria envolver suas mãos ao redor deles apenas para senti-los
flexionar sob sua pele.
Lili quase deixou cair a caneca, a percepção a atingiu como mil volts.
Porra.
Isso era tudo o que precisava para sua libido despertar agora depois de
anos de hibernação forçada. Ela desviou o olhar um segundo tarde demais.
Xander riu, uma risada suave em desacordo com tudo o que ela sabia
sobre ele. — Venha para dentro e verificarei ao redor e ter certeza de que não há
insetos.
Lili não conseguiu dar uma resposta para isso, e o silêncio se estendeu
entre eles mais uma vez. Xander não pareceu se importar. Ele não fez nenhum
movimento para se levantar, olhando para a escuridão.
Antes de você me encontrar? Levou tudo que Lili tinha para não reagir
às suas palavras. Ele fez parecer que ela tinha sido uma donzela em perigo, e ele
mergulhou e a salvou.
— É mesmo?
— Mas você não se importa, — ela chorou. Em algum lugar dentro dela,
uma represa havia estourado. Depois de dias se afogando em preocupação e
medo, deixar escapar essa explosão de raiva parecia catártico... mesmo que isso
viesse com consequências. — Por causa de você e seu maldito sequestro, tudo
isso se foi agora. E você não dá a mínima.
— Lilibeth, — ele tentou, mas ela o dispensou antes mesmo que ele
pudesse começar.
Xander suspirou como se ela fosse uma garçonete que estragou seu
pedido. — Apenas dizendo a verdade, porque você realmente precisa ouvir. Sua
vida não está arruinada.
— Onde você sai me dizendo o que eu 'preciso ouvir'? — Lili não podia
acreditar em sua arrogância. — Acabei de lhe dizer que estou sem emprego, sem
casa, sem tudo pelo que trabalhei. Não só isso, há uma grande probabilidade de
eu acabar na prisão por seus crimes. Você estava ouvindo?
Xander fechou a mão sobre o dedo que ela estava apontando para ele e
o afastou com firmeza. — Desde que nos conhecemos, você está preocupada,
com medo, ansiosa. E agora você está com raiva. Mas a única emoção que você
não sentiu? Tristeza, Lilibeth.
Xander pegou a mão dela novamente, mas desta vez ele a segurou na
sua, roçando a ponta do polegar suavemente sobre o pulso dela. — Claro que sim.
Ela não sabia por que Xander estava brincando com ela dessa maneira,
mas era uma evidência de que ela tinha sido descuidada, que ela o deixou ir longe
demais. Apenas um tolo convidaria a esse tipo de perigo, permitindo-se ser
atraída tão perto – literalmente uma questão de centímetros – de um Alfa
violento e imprevisível.
Lili tentou recuar, mas ele não deixou, segurando seu pulso.
— O cheiro é muito fraco para os Betas perceberem, mas não para mim.
E acredite em mim, Lilibeth, o seu é mais forte do que a maioria. — O olhar de
Xander ficou escuro como carvão novamente. Não havia desonestidade ali...
apenas a verdade. — Eu podia sentir você tão claramente quando eu estava
limpando seu quarto no andar de cima, como se você estivesse bem na minha
frente.
— OK, tudo bem. — Lili só queria – precisava – que ele parasse de falar
sobre isso. Ele pode ser capaz de sentir suas emoções, mas isso não significa que
ele as interpretou corretamente. Eles não eram uma lente através da qual ele
pudesse ver as coisas mais íntimas sobre ela. — Então eu não fiquei triste. Isso
não significa nada.
Suas palavras soaram como um soco. — Só alguém que nunca teve que
se preocupar com dinheiro pergunta isso.
— Vou tomar isso como um sim. Mas você não ama o trabalho.
Lili revirou os olhos. — Ninguém ama seu trabalho, Xander. É por isso,
que se chama trabalho. É apenas algo que você tem que fazer - para a maioria de
nós, de qualquer maneira.
Lili riu na cara dele. — Você realmente é ingênuo. Minha avó limpou
escritórios até aos setenta e nove anos. Ela adorava cozinhar, mas ninguém
estava disposto a pagar-lhe um salário mínimo ou fornecer benefícios para
fazer kolaczki3.
— Então você realmente acredita que as pessoas ricas são as únicas que
conseguem experimentar a felicidade... ou prazer... ou satisfação.
— Esses são privilégios. Eles são reservados para pessoas com dinheiro
para comprá-los.
3
Trata-se de um biscoito tipo envelope servido na ceia natalina.
— Há mais do que isso. — Xander estava distorcendo as palavras dela,
sendo deliberadamente obtuso. — Mas você não entenderia.
— Não? Diga-me uma coisa, Lilibeth. Qual das versões de mim que você
inventou não entenderia? O garoto rico sem noção e ingênuo? Ou o Alfa
selvagem e sem coração?
— Vá se foder, Xander.
Merda.
— Foda -se.
Ele deu de ombros, movendo-se tão perto que ela podia sentir o calor
de sua respiração em seu rosto. — Basicamente a mesma coisa.
Se ele chegasse mais perto, tudo o que ela teria que fazer era inclinar a
cabeça e NÃO. Lilibeth balançou a cabeça com força, desesperada para controlar
a situação. — Me deixe em paz.
Havia uma promessa nessas palavras, uma tão sombria e perversa que
Lili ficou cambaleando, seu corpo em chamas. Ela não aguentava mais isso. Não
merecia passar por isso. E se isso significava colocar a maior distância possível
entre ela e Xander, então não havia outra escolha.
Quando ele estava fugindo, cobrindo tanta distância quanto podia todas
as noites, seus sentidos estavam em alerta para qualquer possível ameaça. Ele
não podia ter tempo para simplesmente apreciar o ambiente e o simples prazer
de mover os músculos de seu corpo.
E antes disso... bem, Xander não estava mentindo quando disse a Lili
que não sabia dirigir. O que ele não tinha dito a ela era que ele poderia pilotar. E
ele fez o passeio, obtendo sua licença de moto aos dezesseis anos. Ele teve que
falsificar a assinatura de seus pais na declaração exigida pelo Departamento de
Trânsito, mas ele o dominou anos atrás para desculpar suas frequentes ausências
da escola. Não que eles se importassem... eles simplesmente não tinham ido ao
redor para fazê-lo eles mesmos.
— Aceito seu dinheiro, filho, mas devo dizer que não gosto muito de um
homem que trata uma boa máquina dessa maneira.
E Xander, com quem nunca falaram assim, disse a primeira coisa que
lhe veio à mente. — Então, me ensine.
Mac acabou sendo mais um pai para ele do que o próprio pai de
Xander. Quando Mac morreu de ataque cardíaco no início do último ano de
Xander, ele experimentou seu primeiro e único desgosto.
E talvez tenha sido por isso, que ele passou por tantas garotas naquele
ano que perdeu a conta, nunca chegando perto o suficiente para sentir falta delas
quando terminava as coisas. À sua maneira, porém, Xander manteve seu código.
Ele nunca afirmou ser um cavalheiro, mas era decente. Ele nunca
mentiu para as garotas e nunca falou sobre suas façanhas. Acima de tudo, nunca
torceu nenhum braço ou empurrou alguém para algo que eles já não quisessem.
E foi por isso que ele não perseguiu Lilibeth com mais força na noite
passada, embora o cheiro de sua excitação o tivesse deixado selvagem. Como um
Alfa de sangue quente que não transava há cinco anos, Xander teria cortado seu
braço esquerdo para dar a ela o passeio de uma vida.
Não era apenas o fato de que Lilibeth era gostosa como o inferno, com
aqueles olhos azuis grandes e inocentes e lábios grossos. Havia mais nela do que
massas de cabelo com mechas de todos os tons de loiro e aquela pequena lacuna
fofa em seus dentes.
Lilibeth tinha um temperamento, com certeza, e quase toda vez que ela
ficava brava, Xander ficava duro. Estar perto dela era como estar no centro de um
furacão, todos os seus pensamentos conflitantes e necessidades girando em
torno dele. O que ele não daria para mergulhar profundamente naquela
tempestade, para cavalgar a tempestade até que ambos estivessem suados e
feridos.
Lilibeth não era uma garota rica procurando um passeio pelo lado
selvagem. Ela era uma mulher ambiciosa, faminta de independência, e Xander
não podia oferecer nada para competir com isso.
Ainda assim, o ar fresco o restaurou. Pela primeira vez em anos, ele não
estava constantemente olhando por cima do ombro, preparando-se para se
defender contra ameaças conhecidas e desconhecidas. E havia muito para
experimentar aqui. Xander nunca esteve no Centro-Oeste, e ele esperava que
fosse chato e sem graça, mas nada poderia estar mais longe da verdade.
Essas montanhas não eram nada como Rockies. Nem de longe tão alto,
seus planaltos arborizados e suavemente arredondados deram lugar a penhascos
escarpados; eles coletavam a névoa da manhã em seus vales como bolas de
algodão em um prato de cristal. E em cada curva havia água: lagos, riachos e
cachoeiras, correndo sobre rochas e serpenteando preguiçosamente pelos
contornos da terra, coletando peixinhos e libélulas em poças paradas.
Ele não podia dizer exatamente a seu amigo que não conseguia parar de
pensar em trepar com a Beta no quarto ao lado... mas pela expressão presunçosa
de Archer, ele descobriu. — Sim, eu tive dificuldade em me acostumar a dormir
com uma Beta em casa também.
Archer riu. — Acho que tenho muito o que colocar em dia, irmão.
Desculpe atormentar você com isso quando você acabou de chegar aqui, mas há
alguns, uh, efeitos remanescentes do nosso tempo no Porão.
— Certo. Então você pode querer ter cuidado sobre quanto tempo você
deixa essa 'convidada' ficar, — disse Archer, tão delicadamente quanto um Alfa
era capaz. — Quero dizer, a menos que você esteja planejando mantê-la por
perto.
— Não, a cela dele era do outro lado do corredor. O nome dele é Wyatt.
A boca de Sarah se abriu. — Você deve estar brincando. Não é à toa que
ela não quis sair da van ontem. Você acha mesmo que deixá-la dormir no seu sofá
por alguns dias vai compensar isso?
Sarah deu um passo em sua direção, e ele teve que resistir à vontade de
recuar. Ele tinha ouvido falar que Ômegas podiam ser espirituosas, mas esta era
absolutamente aterrorizante. Até Archer parecia que preferia estar em qualquer
outro lugar.
— E por que diabos você ainda precisava de alguém para trazê-lo aqui?
— Sara continuou. — Você não poderia simplesmente roubar um carro?
Xander olhou para Archer, mas seu amigo apenas deu de ombros. — Ela
costumava ser uma advogada, — disse ele se desculpando.
Xander esperou até que estivessem fora do alcance da voz para falar. —
Desculpe por ter irritado sua Ômega. Ela é, uh, sempre assim?
— Isso é uma ótima notícia, — disse Xander com entusiasmo. Ele não se
atreveu a esperar que os homens que sofreram ao lado dele chegariam em
segurança. — E Sarah se dá bem com todos eles?
Ela não iria tão longe a ponto de dizer que era pacífico – ela não
estava acostumada com a natureza ainda – mas ela finalmente entendeu por que
os outros poderiam descrevê-la dessa maneira.
Saindo de seu quarto, ela descobriu exatamente por que estava tão
quieta – a casa estava vazia. Xander não estava lá.
Depois de saber ontem quão quieto ele podia ser, ela verificou todos os
cômodos da casa só para ter certeza. Então saiu e esquadrinhou o quintal da
varanda, pensando que poderia encontrá-lo trabalhando lá, mas não havia sinal
de Xander.
Não, ela disse a si mesma. Era muito mais provável que ele estivesse
apenas fazendo suas tarefas diárias. O que eram, porém, ela não podia adivinhar.
Onde ele iria? Talvez para a floresta, ou de volta para a casa daquele outro Alfa,
ou...
Lili suspirou. A verdade era que ela não tinha a menor ideia para onde
os Alfas iam ou como eles passavam seus dias em Boundarylands. Tudo o que ela
sabia era que aquele não era lugar para Betas.
Ela tinha aprendido isso na aula de educação cívica da quinta série. Ela
tinha esquecido muito do que tinha aprendido sobre os Tratados, mas ela se
lembrava que essas terras eram reservadas para uso Alfa e que qualquer Beta
com meio cérebro sabia que deveria manter-se longe – especialmente as
mulheres.
Mas esses mesmos tratados podem funcionar a seu favor agora, já que
essas eram as únicas terras onde a lei Beta não se aplicava. Os policiais, o FBI, a
Guarda Nacional – nenhum deles poderia aparecer com um mandado e prendê-la.
Por enquanto, pelo menos, ela levaria o bem e o mal.
Ok, ela não tinha certeza sobre esse último. Especialmente depois
daquele momento estranho entre eles na noite passada, quando parecia que ele
podia ver através dela. Através de suas roupas, através de sua pele, até os ossos.
Como se ele conhecesse cada emoção que rolava dentro dela quando ele estava
perto.
Como a luxúria.
Caramba. Ela era uma mulher adulta, com direito a desejos normais e
naturais.
Ela se perguntou como seria tocá-lo, traçar seus dedos por seu peito
largo até seu abdômen ondulado, todo o caminho até seu...
Não. Lili tinha que parar de ficar obcecada com Xander e começar a
planejar como ela iria sair de Boundarylands e voltar para a vida pela qual ela
trabalhou tanto.
Se ela ainda estivesse presa contra sua vontade, Xander não teria
deixado a porta aberta para ela entrar e sair quando quisesse. Ele não teria tido
tempo para preparar o quarto dela na noite passada. Ele não a teria deixado
sozinha.
Ela não gostava da ideia de ficar o dia todo esperando que ele voltasse,
mas pela primeira vez em sua vida, Lili não tinha planos para o que fazer a
seguir. Ela nunca foi do tipo ociosa, então ela achou que poderia muito bem dar
um passeio e limpar sua mente.
Uma parte dela queria explorar a floresta, mas ela estava receosa de
entrar lá sozinha. A última coisa que ela precisava era acabar perdida, morrendo
de fome e sendo atacada por animais selvagens. Então ela deixou a casa em
ruínas para trás e atravessou o quintal coberto de mato, seguindo em direção à
estrada.
Ela só tinha andado cerca de 400 metros pela estrada quando viu uma
figura enorme vindo em sua direção. Lili acelerou o passo em alívio – até que ela
percebeu que não era Xander, mas um Alfa que ela nunca tinha visto antes.
Lili congelou, mas era tarde demais para se esconder. Para sua surpresa,
o Alfa sorriu. — Ei, eu conheço você, — ele disse em uma voz quase tão profunda
quanto a de Xander. — Você é famosa.
Sua curiosidade levando a melhor sobre ela, Lili avançou alguns passos
para ver a tela. Um vídeo embaçado foi exibido, mostrando uma van em
movimento acelerando em uma saraivada de balas com um Alfa enorme no banco
do passageiro, exatamente como Kelly descreveu ter visto no noticiário.
— Não, o vídeo.
— Ei, não fique tão assustada, — o Alfa disse enquanto lhe entregava o
telefone. — As coisas vão dar certo.
O Alfa deu de ombros. — É verdade, mas o Alfa com quem você estava
viajando obviamente sim. Ele não teria trazido você aqui se não confiasse em
você, e isso é bom o suficiente para mim.
— Ótimo, — disse Lili, tentando sorrir. — Isso faz com que dois de vocês
estejam do meu lado - contra todos os Betas da América.
A expressão do Alfa ficou séria. — Ouça, cada Alfa aqui estava em uma
situação desesperadora não muito tempo atrás, e agora olhe para nós. Temos
nossa liberdade e terra para chamar de nossa. Sobrevivemos porque nos
concentramos em passar um dia de cada vez. Você também pode.
Lili balançou a cabeça em descrença que um Alfa, de todas as pessoas,
estava tentando animá-la. Mas ela não estava em posição de recusar um aliado.
— Fazer… o quê?
— Não muito, — disse Wyatt. — Não minta. Não roube. E não pise na
propriedade de outra pessoa a menos que você seja convidada.
Isso era um pequeno conforto, considerando que Lili não tinha ideia de
onde a propriedade de Xander começava ou terminava. Ela estava começando a
ver que seria mais difícil do que ela esperava ficar fora de problemas e fora do
radar.
— Mesmo Betas?
Talvez ela fosse ingênua, mas ele era legal – muito mais legal do que ela
jamais acreditou que um Alfa poderia ser capaz. Na verdade, ela sentiu o mesmo
tipo de conexão instantânea com ele que ela sentiu com Kelly naquele dia
durante seu primeiro ano, quando Lili a perseguiu para devolver o caderno que
ela havia esquecido na aula.
O que fez sua atração por ele ainda mais confusa. Sim, Xander era
incrivelmente gostoso e esmagadoramente masculino mas, para ser justa, Wyatt
também era, com seu cabelo loiro espesso e olhos verde-mar e uma barba que
não conseguia esconder suas feições clássicas e esculpidas. E não era como se um
Alfa pudesse realmente fazer sexo com uma Beta, a menos que ele quisesse
colocá-la no hospital.
Quando ele de repente deu uma risada suave, Lili seguiu seu olhar e viu
alguém se aproximando ao longe, movendo-se rápido.
Era a voz de Xander, tudo bem, mas levou alguns segundos para que
sua visão inferior pudesse reconhecê-lo. Ele estava empurrando uma grande
moto preta... e ele não parecia feliz.
— Dando um passeio, — disse Lili com firmeza. Ela não estava disposta
a deixá-lo intimidá-la na frente da primeira pessoa amigável que ela conheceu em
anos. — Você tinha ido quando eu acordei, e eu não queria esperar o dia todo.
— Não isso. — Xander olhou para Wyatt. — O que você está fazendo
aqui com ele?
— Com Wyatt?
— Olá, irmão, — ele disse uniformemente. — Fico feliz em ver que você
conseguiu.
Lili não disse nada, confusa com o nome verdadeiro de Xander — o tipo
de nome que aparecia na revista Forbes e na lateral das alas do prédio da
universidade. Do tipo que pertencia a homens que usavam ternos feitos sob
medida, abotoaduras de ouro e pertenciam aos clubes mais exclusivos.
Mas nenhum dos Alfas sequer a reconheceu, pois eles pareciam estar
travados em uma competição de olhares. Xander se aproximou e colocou a mão
no ombro dela. Parecia para Lili quase como se estivesse marcando seu território
especialmente quando ele se inclinou perto do cabelo dela e respirou fundo.
Ela afastou a mão dele. — Foi um prazer conhecê-lo, Wyatt, — ela disse
rigidamente. — Xander, voltarei para casa.
Ele a alcançou e acompanhou seu ritmo, sem dizer nada. Lili bufou em
silêncio enquanto aguentou, o que foi apenas alguns minutos.
— Fiz o quê?
Xander parou abruptamente e fez uma careta para ela. — Você está
dizendo que quer aquele Alfa?
— Não! Não do jeito que você quer dizer. O que eu quero é alguém para
conversar.
— Oh, sério? — A voz de Lili estava ficando mais alta, mas ela não
conseguia parar. — Então me diga uma coisa que você sabe sobre mim, uma coisa
pessoal, além de onde eu estava tentando ir quando você me sequestrou. Qual é
o nome da minha mãe? De que bairro eu vim? Onde estudei?
— Foi o que eu pensei. E por que você está arrastando essa pilha de
lixo, afinal? Você me disse que não sabia dirigir.
Tarde demais, Lili lembrou que provocar um Alfa não tinha funcionado
tão bem para ela no passado. Mas Xander apenas grunhiu, nem mesmo
diminuindo o ritmo.
Embora ela achasse que tinha conseguido a ponta mais curta do palito.
Seria muito mais fácil arrumar aquela lata enferrujada do que consertar sua vida
destroçada.
CAPÍTULO 10
Lilibeth
Essas palavras foram ditas tantas vezes na casa de Lili que eram
praticamente o lema da família. A avó dela dizia enquanto cortava legumes
depois de trabalhar um turno de oito horas. Sua mãe terminava de limpar a
cozinha apenas para começar a pilha interminável de contas e avisos. Há apenas
uma semana, Lili teve que explicar à mãe por que ficou acordada até tarde
costurando as roupas que havia comprado em uma loja de consignação para seu
novo emprego depois de passar o dia fazendo as malas.
Então, ela procurou ao redor da casa quebrada por algo para fazer.
A casa precisava de muito amor, mas não do tipo que Lili sabia dar.
Crescendo em prédios onde o mais não poderia ser, dependia para consertar
qualquer coisa por meses, ela havia aprendido a lidar com os problemas mais
básicos de reparos domésticos - coisas como consertar maçanetas quebradas e
apertar puxadores de armários soltos. Lili tinha certeza de que ela era a única
pessoa em seu seminário de Economia Avançada que sabia como substituir um
flange quebrado de vaso sanitário, e embora ela planejasse pagar alguém para
fazer essas coisas assim que sua nova vida começasse, consertar as coisas sempre
dava Lili um sentimento secreto e brilhante de orgulho.
Lili mal podia acreditar na ironia de que depois de todos os seus anos de
sacrifício, ela estava fazendo exatamente o mesmo trabalho que sua avó tinha
quando ela chegou da Polônia, uma viúva grávida sem dinheiro. Infelizmente,
esfregar a madeira com tanta força que o suor escorria por suas têmporas não
parou de girar em seu cérebro. E os pensamentos que rolavam e se agitavam lá
estavam longe de ser repousantes.
Afinal, hoje deveria ser o primeiro dia de Lili em Nova York. Agora, ela
deveria estar carregando suas caixas por três lances de escada até seu novo
apartamento. Esta noite ela deveria estar colocando seu vestido cinza e novos
saltos pretos e participando da recepção de boas-vindas, onde conheceria seu
novo chefe pessoalmente. E amanhã, ela deveria estar se apresentando para o
trabalho no primeiro emprego em sua vida para o qual ela não precisava bater um
ponto.
Lili não tinha certeza do que uma pessoa normal faria em tais
circunstâncias. Chorar em um canto? Sacudir o punho para Deus? Esquecer as
consequências e voltar para o mundo Beta?
Ela não estava devastada. Ela não estava com raiva. E ela também não
estava se sentindo entorpecida, como na noite anterior.
Então... o que diabos ela estava sentindo? Tentar identificar era como
tentar focar em um único fragmento brilhante em um caleidoscópio em constante
mudança.
Pela primeira vez em sua vida, Lili não tinha um plano ou um próximo
passo. Ela não podia dizer o que queria. E isso a deixou se sentindo livre e
profundamente inquieta.
Mas o que ele não entendia era que ela precisava disso. Sem isso, o
futuro de Lili – para não mencionar o de sua mãe – desmoronaria. Quem tinha
tempo para se preocupar com a felicidade quando coisas tão importantes
estavam em jogo?
Mas aqui nesta casa não havia balanços para avaliar, nenhum mercado
para prever, ninguém para se impressionar com sua capacidade de traduzir
moedas ou analisar retornos históricos.
Sim, ela queria Xander. Ele pode até ser a única coisa que ela se lembra
de querer para si mesma, não para a sobrevivência ou o benefício de outra
pessoa. Estar com ele não beneficiaria nenhum deles além do único momento de
libertação. Com certeza, não a deixaria mais perto da segurança ou da fuga.
Além disso, ele era seu captor. Alguém para temer e evitar, não
aconchegar. Era mais do que perigoso pensar que só porque ele estava deixando
Lili ficar em sua casa, Xander estava cuidando dos melhores interesses dela. Se ele
se importasse com o que acontecia com ela, ele nunca a teria colocado nessa
confusão em primeiro lugar.
Deve haver algo errado com Lili para querer Xander assim. Não só era
contrário à sua própria auto preservação, mas também era... escandaloso.
Proibido.
E a ideia de deixar tudo isso de lado por uma hora ou uma noite era
inebriante.
Lili se levantou do chão e esticou os ombros e as costas. Ela tentou se
convencer de que era o trabalho extenuante que a deixava com a respiração tão
difícil. Mas a verdade era que as imagens que explodiam em sua mente quando
ela se permitia pensar em Xander eram chocantes... tentadoras.
Deixando a água ensaboada para trás, Lili saiu para a varanda e afundou
nos degraus, evitando olhar para o final onde ela e Xander estavam presos no
concurso de olhares sensuais na noite anterior. Em vez disso, ela se concentrou
em um ponto bem na frente dela, onde uma borboleta pairava sobre caules altos
com pontas de flores azul-claras.
Ele arrastava a moto para uma lona velha estendida na grama – ou pelo
menos parte da moto. Ele havia tirado as rodas e o guidão e parecia estar
desmontando o motor, seus músculos brilhando de suor ao sol da tarde. Ele jogou
sua camisa em uma pedra, e seus sapatos em nenhum lugar à vista. Seu jeans
estava baixo em seus quadris, seu abdômen definido desaparecendo em um jeans
desbotado.
A boca de Lili ficou seca. Ela tinha certeza de que nunca houve uma
visão mais sexy na história do planeta. A sensação de agitação que acompanhou
seus pensamentos anteriores deu lugar à luxúria, e ela teve que morder o lábio
para não choramingar.
Mas ela não podia mais fingir ser isso. Ela veio para Boundaryland por
vontade própria. Nada a impedia de sair. Nenhum policial ou soldado estava
respirando em seu pescoço no momento.
Xander adorava velocidade – sempre gostou, desde que ele andou pela
primeira vez em seu triciclo quando criança – mas a sensação de restaurar a moto
era ainda melhor.
Trabalhar com as mãos era o que Xander mais sentia falta durante seu
tempo no subsolo, além de Maggie.
— É a única coisa em que você é bom, — seu pai se enfureceu com ele
uma vez depois de outro relatório de notas decepcionante. Xander não se
importou. A essa altura, ganhar a aprovação de Mac se tornara muito mais
importante do que impressionar seu pai.
Cada geração sucessiva vivia da fortuna que ele deixou para trás.
Não era preciso muita habilidade para jogar golfe, beber conhaque com
seus comparsas no clube e ser fotografado em vários eventos de caridade, até
onde Xander sabia. Ele gostaria de ver seu pai tentar reconstruir os garfos de
suspensão ou ajustar o câmbio dianteiro de uma moto.
Como Mac gostava de dizer, consertar moto era mais uma arte do que
uma ciência, e se dominá-la era a maior conquista de Xander na vida, bem, ele
estava bem com isso.
Trabalhar com moto fazia Xander se sentir vivo. No dia em que entrou
na oficina de Mac, perdeu todo o desejo de aprender a dirigir um carro. Por que
ele queria andar em uma caixa quando podia experimentar o chão voando sob
suas rodas, o ar passando por seu corpo, as vívidas vistas desobstruídas à sua
frente?
Ele a ouviu se movendo pela casa, limpando pelo som, mas era o cheiro
dela que o fazia companhia na garagem. Ela o seguia aonde quer que fosse,
invadia sua mente sempre que tentava se concentrar.
Vê-la com aquele Alfa Wyatt fez Xander ver vermelho, mas ele não
precisava daquela onda de fúria para esclarecer que queria Lilibeth. Ele não tinha
certeza exatamente quando ela se tornou sua obsessão, mas pode ter sido tão
cedo quanto quando ele tomou sua primeira respiração de seu cheiro – embora
tentar mantê-los vivos o tenha distraído um pouco.
Minha, ele queria rugir, alto o suficiente para cada Alfa que já
considerou vir para o Ozarks saber que ela foi reivindicada. E então Xander, que
antes havia dado as costas para tudo que era seguro, decidiu fazê-lo
novamente. Ele não podia prometer nada a Lilibeth. Ele não sabia como seria sua
vida no próximo ano ou mesmo na próxima semana, exceto que ele nunca
deixaria esta terra.
Tudo o que ele sabia era que o que ele poderia dar a ela era mil vezes
melhor do que qualquer coisa que ela encontraria naquele apartamento em Nova
York ou no banco abafado pelo qual ela estava tão obcecada.
Se ele ainda tinha dúvidas, elas desapareceram quando ela saiu da casa,
sua camiseta xadrez molhada e grudada em suas curvas.
Ele esteve perto dela a manhã toda, mas quando ela colocou os olhos
nele, seu cheiro cravado com desejo puro e denso, e ele sabia: Lilibeth o queria
tanto quanto ele a queria, da mesma forma que ele queria esta moto ou esta
terra ou mesmo a sua liberdade.
Xander queria uivar em triunfo. Ele sabia que Wyatt nunca poderia
fazê-la se sentir assim.
Ainda assim, ele tinha que ser cauteloso. Ele não queria que ela
corresse novamente. Com o tempo, Lilibeth descobriria que seu medo não tinha
nada a ver com ele. Foi um produto de propaganda Beta e doutrinação. Mas essa
era uma lição que levaria tempo.
Ela estava sentada na varanda, seus shorts subindo tão alto que
deixavam pouco para a imaginação, e seus esforços furtivos para puxá-los para
baixo não estavam ajudando.
— Vou deixá-la tão satisfeita que você nunca será capaz de olhar para
outro homem sem se decepcionar, — continuou Xander. Não havia como voltar
atrás agora. Ele sabia disso, mas seus instintos lhe diziam que Lilibeth precisava
ouvir, deixar que suas palavras destruíssem as defesas que já haviam começado a
cair. — Eu te levarei, Lilibeth. Toda você. Então, se não foi para isso que você veio
aqui, é melhor você sair agora. Entendeu?
— Não! — ela gritou quando ele a colocou de pé, agarrando seus braços
e tentando subir de volta nele.
Só quando ele a pegou pelos ombros e a virou para que ela pudesse ver
o SUV modelo mais velho estacionando na frente da casa, Lilibeth caiu em si.
— Eu disse que estava vindo para me encontrar com Lili, — ela disse
friamente. — Não me diga que você já esqueceu.
Merda.
— E não me dê esse olhar, — Sarah continuou. — Eu trouxe mais
suprimentos. Eles estão na parte de trás do SUV. Você pode descarregá-los
enquanto sua convidada e eu tomamos uma xícara de chá.
CAPÍTULO 11
Lilibeth
Por tudo que Lili sabia, toda Ômega era confiante ao ponto de ousadia.
Claro, Sarah pode estar acostumada a estar perto de homens de dois metros e
meio de altura com bíceps como troncos de árvore, mas onde estava a submissão
natural pela qual as Ômegas eram conhecidas? E de onde ela saiu entrando em
casa sem ser convidada?
Tarde demais, Lili percebeu que havia pensado na casa como sua casa
também.
Faça um movimento como esse de volta para casa e havia uma boa
chance de você ser recebida com o cano de uma arma.
Você não está mais em Santa Ana, Lili lembrou a si mesma enquanto
seguia Sarah para dentro.
Qualquer paixão que ela estava sentindo momentos antes desapareceu
instantaneamente, deixando-a no limite.
Tudo o que ela queria era acabar com essa visita, o que significava que
ela teria que fingir o seu caminho. Felizmente, Lili tinha bastante pratica em fingir
ser confiante e simpática quando não sentia nada.
Irritou Lili que essa Ômega não tivesse que fingir. Não só ela era muito
atraente, como parecia ter se nomeado o comitê oficial de boas-vindas da nova
Boundaryland.
Sarah sorriu. — Claro que sim. Era a receita da minha avó, ela
costumava fazer para mim sempre que eu vinha visitar. Eu usei nozes pretas da
mesma árvore que ela fez.
Mas isso não era verdade. A cozinha em que estavam podia estar em
ruínas, mas entre essas ruínas havia pistas abundantes para as pessoas que uma
vez viveram aqui. Ela traçou um dedo ao longo de um pedaço de papel de parede
quase escondido por camadas de tinta descascada.
— Então, — Sarah disse depois que ela encheu suas xícaras de chá. —
Como você está?
— Tudo bem, — disse Lili rápido demais. Era como ela sempre
respondia à pergunta, sabendo que ninguém nunca estava genuinamente
interessado nos problemas de qualquer outra pessoa.
Além disso, ela ainda não tinha certeza do que se tratava. Era algum
tipo de teste? Sarah estava tentando descobrir como Lili se encaixava na foto com
Xander?
Lili tinha sofrido esse tipo de escrutínio tantas vezes que ela construiu
muros para se defender contra isso. Melhor se fechar durante a orientação de
calouros, grupos de estudo, recepções com o reitor, entrevistas de emprego... do
que ter que suportar a surpresa e a suspeita das pessoas quando descobrem que
alguém como Lili de alguma forma conseguiu se infiltrar em suas fileiras.
— Meu nome é Lilibeth. — Lili sabia que estava exagerando, mas não
conseguia parar. — Só as pessoas que eu tenho perto me chamam de Lili.
Lili estava começando a pensar que não sabia mais de nada – e Sarah só
estava piorando. — Ouça, Sarah...
— Eu não... Lilibeth, não é assim. Não, espere, — ela disse quando Lili
começou a cortá-la. — Deixe-me explicar. Eu estava envolvida em uma batalha
judicial desagradável com minha família. Eu herdei a casa, e eles estavam
determinados não apenas a me impedir de obtê-la, mas a me declarar
incompetente para que pudessem controlar minha vida. Meus pais eram ambos
advogados e conheciam todos os juízes, eles quase conseguiram.
— Eu não sabia, — disse ela, mas isso não foi suficiente, não quando ela
cometeu o mesmo erro que as pessoas sempre cometeram com ela. Ela julgou
Sarah antes de conhecê-la; assumiu que ela conhecia sua história com base em
um punhado de detalhes. E ela estava errada. — Eu sinto muito.
Foi a vez de Sarah rir, trocando sua linha de expressão por pequenas
covinhas em sua pele lisa e morena. — Nem sempre foi assim.
— Não?
Lili não pretendia ir até lá; se a atração física fosse suficiente para se dar
bem, ela e Xander já estariam escolhendo porcelana. Ou machados e armadilhas
para ursos, ou o que quer que os Alfas precisassem para organizar as tarefas
domésticas.
— Não entendo.
Lili quase deixou cair sua xícara de chá. As más notícias nunca
acabariam? — Todos os Alfas podem fazer isso?
— Neste momento, são três por três, — disse Sarah, — Até onde
sabemos... sim.
— Sim, hum, essa é a outra razão pela qual eu vim ver você. — Pela
primeira vez, Sarah parecia insegura de si mesma. — Até onde podemos dizer,
tem que haver algum tipo de conexão entre o Alfa e a Beta para fazer sua
transição. Significando tocar - mesmo sexo casual - provavelmente não causaria
isso a menos que houvesse um vínculo sólido.
— Eu não disse que você tinha que se dar bem, — Sarah disse em
advertência. — Deus sabe, Archer e eu não a princípio. E me perdoe por dizer
isso, mas você e Xander com certeza não pareciam estranhos quando eu parei
hoje.
Oh Deus. Lili esperava que Sarah não os tivesse visto se beijando. Pior
ainda, agora ela tinha que se perguntar se a razão de ter feito isso era porque ela
estava se tornando uma Ômega.
Lili de repente percebeu que no furacão de sua vida nos últimos dias,
ela nem tinha pensado em tentar ligar para casa. E se sua mãe tinha visto as
notícias - e é claro que ela tinha visto as notícias - ela provavelmente estava em
um inferno se preocupando com ela.
— Isso não foi... nada, — Lili disse com firmeza. Qualquer confusão que
ela tinha sobre seus sentimentos por Xander se foi. De agora em diante, ela não
chegaria perto dele. Ela nem sequer olharia para ele.
E ela com certeza não iria se esgueirar por aí vendo-o trabalhar sem a
camisa até que ela estivesse tão irritada que não pudesse se controlar.
— Bem... bom. — Sarah não parecia exatamente convencida. Ela
começou a embalar os copos vazios e a garrafa térmica de volta em sua bolsa. —
Mas se você precisar conversar, você sabe onde eu moro.
— Obrigada pela oferta. Mas não espero ficar aqui por muito mais
tempo. — Especialmente não agora que ela entendia os riscos. — Espero que
meus amigos possam esclarecer as coisas com as autoridades para que eu possa
sair nos próximos dias.
Sarah assentiu. — Bem, eu... — Ela parecia estar lutando para escolher
suas palavras. — Espero que funcione para você.
Mas mesmo depois que Lili a acompanhou até a porta e a fechou atrás
dela, foram as palavras que Sarah não disse que ecoaram na mente de Lili.
Xander
Até que Sarah mencionou como Xander e seus irmãos Alfa podiam de
alguma forma transformar Betas verdadeiras em Ômegas. Isso chamou sua
atenção — e também a diferença gritante nas reações dele e de Lilibeth.
Ele a queria, não por uma noite ou alguns dias, mas para sempre. A
possibilidade de que Lilibeth pudesse se tornar uma Ômega capaz de se unir e
acasalar com ele encheu Xander de possessividade.
Agora ficou claro. Lilibeth nasceu para ser dele... assim como ele foi
feito para ela.
Não importava o que tinha acontecido no laboratório para mudar sua
química. Qualquer que seja a mudança evolutiva que tenha ocorrido dentro dele
pode ter sido produto da ciência — mas isso não significava que também não
fosse um ato de Deus.
Ele pensou que retornar à sua antiga vida iria preenchê-lo. Mas apesar
de sua alegria em ver Maggie novamente, a sensação do destino acenando para
ele só se tornou mais forte.
Lilibeth era seu destino, mesmo que ele demorasse a perceber isso.
Ele sabia que não demoraria muito para convencê-la do jeito que ele
queria. Tudo o que ele tinha que fazer era ir até ela, pegá-la e beijá-la
novamente. Isso é tudo o que seria necessário para provar tudo o que eles
poderiam se tornar.
— Eu ouvi.
Sim, pode, Xander queria rugir. Lilibeth tinha que reconhecer a verdade
que estava surgindo entre eles, que já estava acontecendo, que sua natureza era
uma casca seca pronta para explodir em chamas - e tocando um ao outro estava o
fósforo já pronto para acender.
Mas sua Lilibeth, sua mulher, tinha que chegar lá sozinha. Xander a
tinha visto lutar contra o inevitável toda vez que o encontrava. Isso também fazia
parte de sua natureza, uma parte que ele apreciava.
— Esta é uma Boundaryland, Lilibeth, e você é uma Beta, — ele disse a
ela com firmeza. — Você não pode simplesmente ir para onde quiser.
Ele não pretendia jogar isso na cara dela, mas sua desconfiança da
Ômega era óbvia. E não era como se houvesse outras amigas em potencial em
cujo sofá ela pudesse dormir.
— Ele não gosta, — concordou Xander. — Não são muitos os Alfas que
foram trancados na instalação.
— Mas é exatamente por isso que eu tenho que ir. — Tarde demais,
Xander notou o medo na determinação teimosa de Lilibeth. Ela não estava com
medo que ele a machucasse. Era o oposto que a aterrorizava. — Você acabou de
me chamar de sua mulher, e eu não sou. Mas se eu ficar, há uma chance...
— Sim. Talvez não para você - você está onde deveria estar, Xander.
Mas minha vida ainda está esperando por mim no mundo Beta.
— Sim. — Lilibeth mordeu o lábio. — Não. Eu não sei. Tudo que eu sei é
que não está aqui.
Xander deu dois passos, diminuindo a distância até onde ela estava. —
Você tem certeza sobre isso? — ele sussurrou.
Xander olhou para ela, mal capaz de acreditar que ela estaria disposta a
passar a noite na casa de outro Alfa. Isso o mataria, ou ele acabaria matando
Wyatt. Ele não sabia o que seria pior.
Ou talvez o pior castigo fosse estar tão perto de Lilibeth sem poder
tomá-la em seus braços.
Porra. Ela estava certa. Ela e o outro Alfa não tinham uma conexão, não
do jeito que ela e Xander tinham.
— Sim, — disse ele. — Mas não pense que vai ajudar em nada. Wyatt
pode ser seu amigo, mas eu sou seu Alfa, e eu sei que você não poderá ficar longe
por muito tempo.
E quando Lilibeth voltasse para ele – e Xander sabia em seus ossos que
ela voltaria – sua rendição seria mil vezes mais doce do que se ele a tivesse
forçado a ficar.
CAPÍTULO 12
Lilibeth
Ela queria algum tempo sozinha para pensar, mas o que ela não tinha
contado era quão difícil seria a caminhada, embora a estrada para a casa de
Wyatt fosse plana. Lili deveria ter percorrido a distância em vinte minutos, mas
depois de meia hora, ela ainda não conseguia ver a casa que ele havia descrito
para ela. Ela sentiu como se houvesse pesos em torno de seus tornozelos, como
se estivesse arrastando os pés para a frente a cada passo.
Não que Lili estivesse fora de forma. Correr pelo campus entre as aulas
e servir mesas nos fins de semana a manteve magra e forte. Mas quanto mais ela
se afastava da casa de Xander, era como se seu corpo estivesse encenando um
protesto que estava ganhando força. Quando ela finalmente chegou à casa de
Wyatt à beira do lago, um chalé de telhas brancas com um deck que se estendia
sobre a água nos fundos, Lili o encontrou esperando por ela na estrada, em uma
caixa de correio que não via serviço há anos.
Ela deveria saber agora que os Alfas sempre sentiriam sua aproximação
a um quilômetro de distância. Fosse a audição ou o olfato ou algum outro sentido
que só os Alfas possuíam, Lili estava aprendendo que nunca seria capaz de
guardar segredos enquanto estivesse em Boundarylands.
— Entendido, Lili.
— Acho que você quer saber se pode passar a noite aqui, — disse Wyatt
gentilmente.
— Claro que não, — disse Wyatt com uma risada. — Você é fácil de ler,
Lil.
Lil. Isso era novo... e mesmo que Lili normalmente ficasse irritada por
alguém lhe dando um apelido sem permissão, ela gostou do jeito que soou vindo
de Wyatt.
Ela não queria dizer isso, mas embora Xander pudesse sentir um monte
de coisas sobre ela que Lili desejava que ele não pudesse, ele entendeu muitas
coisas erradas, especialmente quando eles estavam discutindo.
— Acho que as coisas não correram muito bem quando você voltou
para a casa de Xander, — disse Wyatt.
Wyatt também errou as coisas. Lili sentiu o calor percorrer seu rosto,
lembrando-se da tempestade de fogo que o toque de Xander acendeu dentro
dela.
Wyatt era a coisa mais próxima de um amigo que ela tinha agora, e qual
era o sentido de encontrar um amigo em tempos difíceis se você não podia dizer a
verdade?
O tom de Wyatt deixou claro que ele não achava que era a melhor
ideia, mas tudo o que importava era que ele disse sim. Agora que Lili tinha
colocado alguma distância entre ela e Xander, talvez ela pudesse clarear a cabeça
o suficiente para bolar um plano para sair de Boundaryland e voltar para a
sociedade Beta.
— Por que não? Se ficarei aqui com você, então obviamente não sou a
mulher de Xander.
Sim, tudo bem, ela queria Xander, mas isso era apenas biologia. Seus
hormônios estavam subindo ao céu de um potente coquetel de drogas forçadas, a
proximidade e sobreviver ao perigo juntos. E mesmo que Xander fosse quase
injustamente atraente, isso não significava que Lili tivesse qualquer intenção de
desistir de sua vida para se tornar uma Ômega.
— Eu prometo que não vou me impor por muito tempo, — disse ela em
vez disso. — Na verdade, se você me deixar usar o carregador de telefone em sua
caminhonete para carregar meu celular, eu posso começar a consertar esse mal-
entendido com a polícia. Espero que isso não demore mais do que alguns dias.
Lili suspirou. Wyatt estava começando a soar como Xander. — Vai ficar
tudo bem, — ela insistiu.
***
Lili esperou até que Wyatt voltasse para dentro, deixando-a sozinha em
sua caminhonete, antes de ligar o telefone novamente, mesmo sabendo que não
importava. Wyatt seria capaz de ouvir cada palavra que ela dissesse.
Lili decidiu tirar uma mais fácil do caminho e ligou para Kelly primeiro.
— Nós sabemos que você está na Ozark Boundaryland com o Alfa, Srta.
Rennert. — O homem falava como um robô. Se não fosse pelo tom gelado em
cada palavra, ela poderia ter acreditado que ele era um. — Estamos de olho no
perímetro e podemos levar um helicóptero para lá em quatro minutos. Preciso
que você saia agora e se renda.
O sangue de Lili gelou quando ela percebeu que não importa o que ela
dissesse, este homem iria contra-atacar com as mentiras que a mídia já estava
espalhando. — Mas ele me segurou contra minha vontade.
— E agora que você está cercada pela ameaça Alfa, você descobriu que
a realidade não combina com sua pequena fantasia, e você está desesperada por
uma saída.
— Não, Srta. Rennert. Você é quem precisa ouvir. Você tem apenas dois
caminhos a seguir: ou ficar nesse inferno para sempre ou se render aos meus
homens.
Ela não sabia exatamente o que o tenente tinha reservado para ela, mas
tinha certeza de que era muito pior do que 'desprogramar'.
Você é uma convidada aqui, Lili lembrou a si mesma pela centésima vez,
enquanto a vontade de se levantar e andar ficava quase insuportável.
Por que ela não conseguia relaxar? Não era o ambiente. No entanto, a
casa de Wyatt era tão antiga quanto a de Xander, estava muito melhor
conservada, sem tábuas faltando ou vidraças rachadas. Na verdade, até onde Lili
podia dizer, tudo que Wyatt estava fazendo além de limpar o lugar era tirar
as coisas. Primeiro a lava-louças, depois o micro-ondas embutido e agora a lareira
a gás que podia ser ligada com um botão no controle remoto.
Lili gostaria de perguntar a Wyatt por que, mas a voz de Claudia Rennert
estava fixa demais em sua cabeça. Antes de cada brincadeira e festa do pijama,
sua mãe a lembrava de ser educada.
Mas quando a tarde deu lugar a uma noite fresca e alegre e Wyatt
acendeu uma pequena fogueira para testar a corrente de ar na chaminé, Lili
começou a pensar que a tensão nervosa dentro dela poderia ser algo
completamente diferente.
Não apenas seguiu, mas inchou até que Xander era tudo em que ela
conseguia pensar. Tudo o que ela ansiava. Parecia uma tensão incessante dentro
dela, puxando-a de volta para ele.
Ela nem tinha notado que tinha se levantado novamente. Ela estava
com fome? Ela não podia dizer, não com aquela urgência esmagadora que excluía
todo o resto.
Lili sabia que ele poderia dizer que havia algo errado. Ele era um Alfa,
afinal, com todos aqueles sentidos sobre-humanos para identificar suas emoções
não ditas.
Mas ele era um amigo, e bom nisso - e ele deu a ela todo o espaço que
precisava, mesmo além de sua cautela em tocá-la.
O que foi muito foda. Lili era uma mulher independente, uma mulher
Beta. Ela não era propriedade de ninguém ou companheira ou Ômega – e isso não
ia mudar.
E foi por isso que ela lutou tanto contra a insistência teimosa de seu
corpo. Ela cedeu à pressão interna para andar de um lado para o outro, mas
ainda estava lutando contra o desejo de sair correndo pela porta da frente e
entrar na escuridão aterrorizante em direção à casa.
Em direção a Xander.
— Não.
— Desculpe, nada.
Lili sabia que estava corando, mas Wyatt fingiu não notar, sentando-se
na única cadeira da casa e comendo seu jantar.
Esse sentimento que ela estava lutando era precisamente por que ela
precisava estar aqui na casa de Wyatt. Como poderia confiar em si mesma perto
de Xander quando ela não conseguia controlar seu comportamento a um
quilômetro e meio de distância? Era como se ele fosse uma droga, e seu
sofrimento só terminaria quando ela conseguisse sua próxima dose.
— Xander!
— Lili?
Mas não era ele que estava queimando por dentro. — Por favor, Wyatt,
— Lili implorou. — Diga-me que isso não é... o que eu acho que é.
— Lutar contra o que está dentro de você só piora as coisas, Lil. Confie
em mim, eu sei. Mas se você apenas ceder ao que está sentindo e for até ele, a
dor vai parar.
Foi a profunda tristeza em sua voz, em desacordo com tudo o que Lili
sabia sobre Wyatt, que a convenceu. O que quer que ele tenha experimentado
para merecer aquela dor, ela entendeu que ele estava lhe oferecendo a lição para
que ela não tivesse que aprender da maneira mais difícil.
Ele abriu a porta e segurou para ela - e naquele momento, Lili percebeu
que Wyatt sabia o tempo todo que isso ia acontecer. Foi por isso que ele
concordou em deixá-la ficar com ele. Ele não precisava mandá-la de volta para
Xander porque sabia que o próprio corpo dela faria isso por ele.
Lili olhou além dele para a escuridão. A ideia de sair à noite sozinha a
enchia de medo, mas não o suficiente para dominar sua necessidade de estar com
Xander.
Mas mais uma vez, ele subestimou quão duro sua pequena foguete
era. Se ela estava tendo metade dos problemas por se separar como ele, ela deve
estar em agonia.
Mil vezes, ele quase abandonou seu plano e foi atrás dela... mas de
alguma forma Xander conseguiu se conter. Trazê-la de volta à força era a pior
coisa que podia fazer. Ele não tinha dúvidas de que Lilibeth estava
desesperadamente faminta por ele, mas depois que eles se devorassem, ela
usaria isso como uma desculpa para culpá-lo pelas mudanças que aconteciam
dentro dela. Em sua mente, Xander voltaria a ser seu captor, o inimigo que ela
estava determinada a escapar.
Lilibeth.
Ele estava na moto com o acelerador bem ligado antes que o eco
deixasse seus ouvidos. Ele disparou pela estrada, sem se importar com os
buracos, sulcos e raízes expostas que poderiam derrubá-lo e destruir a moto.
Ela jogou os braços ao redor dele, e ele usou seu impulso para puxá-la
para seu colo. Ela começou a beijá-lo quase antes que ele pudesse firmar a moto
com um pé no chão.
Ela estava selvagem com necessidade, rastejando por seu corpo e
agarrando-se firmemente. As pernas dela envolveram a cintura dele, tão perto
que ele podia sentir a umidade dela escorregando por suas roupas. O cheiro dela
o encheu e elevou sua fome.
Era inebriante, saber que seu toque tinha tanto poder sobre ela, que a
excitava ao ponto da inconciência.
Sim. Foi por isso que ele se obrigou a esperar, porque agora Lilibeth não
seria capaz de fingir que ela poderia resistir ao que havia entre eles.
Todas as outras vezes que eles se tocavam, Xander era o agressor. Era o
braço dele sobre ela enquanto ela dormia, a ponta de seu dedo traçando sua
bochecha, suas palavras alimentando seu desejo.
Assim que seus pés tocaram o chão, Lilibeth caiu de joelhos e começou
freneticamente a abrir o zíper de sua calça jeans.
— Aqui não. — Ele sufocou as palavras. Seria preciso muito foco para
contar o resto, que embora não houvesse cama, ele queria levá-la pela primeira
vez no quarto que seria deles, na casa que eles encheriam com seus filhos. Que
ela nunca mais teria que temer nada porque ele era seu Alfa agora, e a protegeria
com sua vida.
No momento em que ele a deitou na pilha de cobertores de lã que
serviam como sua cama, ela conseguiu tirar o short. Xander levou uma fração de
segundo para apreciar a delicada calcinha rosa que combinava com seu sutiã
antes de arrancá-la.
— Lili. — Ele engoliu em seco e, embora quisesse dizer que ela era
linda, a palavra que escapou de seus lábios foi — Minha.
CAPÍTULO 14
Lilibeth
Quando Xander se afastou dela, olhando para seu corpo, a breve pausa
em seu contato permitiu apenas o suficiente da razão de Lili retornar para que ela
entendesse que havia escolhido isso.
Perfeito.
Nada jamais foi tão bom quanto isso. Lili esteve com alguns homens,
mas nunca se sentiu particularmente especial. Seus parceiros estavam bem, e as
sensações agradáveis o suficiente, mas depois, Lili sempre ficava se sentindo um
pouco decepcionada e vazia.
Mas não desta vez.
Xander não segurou nada. Ele lhe ofereceu tudo dele. Todas as suas
emoções, sua luxúria, necessidade e paixão – e pela primeira vez, Lili se abriu em
troca.
Ela o deixou vê-la, não a persona que ela trabalhou tanto para criar para
o resto do mundo, aquela que deveria impressionar e atrair, acima de tudo,
esconder quem ela realmente era — mas a verdadeira eu com todas as suas
falhas, medos, vergonha, anseio e esperança.
Lili olhou para Xander e viu tudo o que ela estava sentindo espelhado
de volta, e ela ergueu os quadris sem pensar, precisando dele dentro dela mais do
que jamais precisou de qualquer coisa, mesmo ar para respirar, e implorou.
Ele não sorriu. Na verdade, ela nunca o tinha visto parecer mais sério
enquanto ele traçava um dedo pela barriga nua dela, sobre os quadris e entre as
pernas. Ele separou os lábios de sua boceta suavemente, nunca quebrando seu
olhar, e quando ele deslizou um dedo nela, preparando-a para ele, ela engasgou.
— Você está tão molhada para mim, — ele vociferou. Ela sentiu as
paredes de sua boceta esticar e inchar quando ele deslizou em um dedo e depois
outro. Ele a provocou com eles, acariciando lentamente dentro e fora enquanto
seu clitóris pulsava quase dolorosamente.
— Mais, mais, — disse ela com os dentes cerrados, resistindo e se
contorcendo e tentando levá-lo mais fundo. Xander puxou os dedos e os enfiou
na boca, seus olhos se fechando em êxtase, um estrondo profundo em seu peito.
Mas esse pensamento foi embora quando Xander tocou seu clitóris com
o polegar. Uma vez, duas vezes...
E Lili explodiu com uma força que parecia que iria rasgá-la em dois, mas
ela não se importou. Ela preferia morrer no meio desse êxtase do que viver sem
ele um segundo a mais.
Lili flutuou para fora do prazer vertiginoso como uma folha flutuando
em uma corrente de ar, apenas para ser pega por um vento cruzado quando
Xander saiu dela. Seu corpo gritou sua fúria.
— Não! — ela gemeu, mas ele agarrou seus quadris e a virou para que
ela ficasse de joelhos. Ela os abriu e contraiu sua bunda, mas desta vez ela não
precisou implorar antes que Xander entrasse nela novamente, pegando o ritmo
que seus corpos estabeleceram juntos.
Parecia certo... inegável. O que quer que Lili pensasse que sabia sobre
sexo, sobre desejo, era como uma cartilha de jardim de infância juntando poeira
em um sótão.
Quem ela era com Xander, esse era seu verdadeiro eu, o todo, não o
conjunto de versões e peças pelas quais ela girava no decorrer de seu esforço sem
fim. O eu que não planejava demais ou pensava demais, mas bebia a sensação e
conduzia com a intuição, que não se acovardava com a paixão, mas a deixava cair
sobre ela.
Xander
Mas sua inveja não durou. Logo após o término das baterias dos
primeiros indivíduos, a equipe começou a experimentar os pares
acasalados. Embora 'experimentar' não começasse a descrever a crueldade do
que aconteceu a seguir.
O que ele não tinha entendido era que o vínculo era tão profundo que
se tornou a base da sobrevivência dos companheiros, que seus eus individuais
não podiam mais se sustentar sozinhos.
Mas quando Lili apareceu, essa necessidade voltou à vida, mais forte do
que nunca. A conexão entre eles era diferente de tudo que ele já sentiu como
uma Beta. Não parecia justo colocar essas experiências desajeitadas na mesma
categoria que Xander experimentou com ela.
E era só o começo.
Lili também sentiu. Seus olhos se abriram, e ela olhou para ele –
primeiro com surpresa, então em êxtase quando ele gozou, sua semente vindo
em jatos quentes, seu nó prendendo-a a ele até que ele finalmente desmoronou.
Esse... esse era o destino que havia escapado dele, do qual ele havia
praticamente desistido.
Xander não sabia de tudo. Inferno, alguns dias, parecia que ele não
sabia de nada. Mas uma coisa em que ele apostaria sua vida era que nunca seria
capaz de dar um nó nessa mulher a menos que o destino o permitisse.
Xander estava acasalado agora, e sua mulher nunca mais sairia do seu
lado.
CAPÍTULO 15
Lilibeth
Lili esperou pelo arrependimento que ela tinha certeza que estava
esperando ao virar da esquina.
Mas não importa o quanto ela tentasse, Lili não conseguia angariar nem
um pingo de auto-aversão. A culpa, que tinha sido sua companheira constante
desde que ela conseguia se lembrar, parecia tê-la abandonado também.
O que deixou a pergunta óbvia... o que diabos havia de errado com ela?
Ela espiou no corredor antes de correr para seu quarto e pegar roupas
limpas. Ela definitivamente precisava de um banho, mas como ainda não havia
água corrente, ela supôs que precisaria caminhar até ao riacho ou até mesmo
nadar no lago – embora isso significasse retornar à estrada principal, e Lili
definitivamente não estava com vontade de encontrar nenhum vizinho. Nem
mesmo Wyatt.
Vá até ele.
Pensando sobre isso, esse sentido não era novo. Estava lá na noite
passada quando Lili saiu correndo da casa de Wyatt, dizendo que Xander estava a
caminho dela.
Ele estava certo — era uma bela máquina, toda preta fosca e cromada
desgastada e sem um pouco de exibicionismo. Como Xander, era sólida, poderosa
e potencialmente mortal, mas quando ele andava de moto tornava-se uma
extensão dele, de sua vontade e seu espírito, sua fome imprudente de beber
profundamente de sua liberdade.
Como poderia haver um lugar para ela naquela imagem? Lili estava tão
fora de sua zona de conforto, um rato da cidade jogado na natureza, uma criatura
de hábitos, ordem, rituais e regras. Sim, ela adorava sentir o rugido da moto entre
suas pernas enquanto enterrava o rosto no peito de Xander, mas momentos
ocasionais como esse não somavam uma vida.
E ela não era forte do jeito que ele era. A noite anterior tinha deixado
Lili fraca, exausta, dolorida, esfolada, escoriada e machucada. Lili não trocaria
isso, mas ela definitivamente precisava se recuperar disso.
Ela vagou pela casa, pegando os vários objetos que os antigos donos
haviam deixado para trás, colocando-os no chão novamente. Um vaso de vidro
lapidado, uma xícara lascada, uma velha fotografia pregada na parede de um
quarto. Havia significado em cada um deles, histórias inteiras com as quais
sonhar, mas Lili estava muito inquieta.
Sem saber para onde estava indo, ela se viu do lado de fora na
varanda. O sol em seu rosto era bom — até mesmo restaurador. Ela ansiava por
andar, então ela partiu para a floresta.
Lili desejou não ter sido tão brusca com Sarah. Ela tinha um monte de
perguntas que a Ômega provavelmente poderia ajudar. Se ao menos Lili pudesse
perguntar a ela se a necessidade de estar ao lado de Xander era uma coisa
Ômega... e se isso algum dia iria embora.
Mas agora, Lili se viu sem ideia do que viria a seguir. Ela nem sabia
como se sentir. Ela não sabia de nada.
Até mesmo a umidade sobre a qual Lili havia sido avisada, praticamente
inexistente em LA, parecia mais um embrulho transparente do que um
cobertor. O que era estranho porque ela sempre amou ar condicionado, mesmo
que seus apartamentos nunca tivessem.
Mas agora, o brilho de orvalho em sua pele era bom, e seu corpo
parecia se ajustar ao aumento da temperatura enquanto o sol subia em direção
ao seu ápice.
O mundo era muito maior do que Lili jamais imaginara. Maior que Los
Angeles, maior que seus problemas, maior que os planos que ela fez.
Era quase como se tudo o que antes parecia real e importante fosse
apenas uma ilusão. Apenas a terra sob seus pés e este momento eram reais.
Lili não tinha chegado a Nova York. Ela não tinha começado seu novo
emprego. Ela pode nem ser mais uma Beta. Mas ainda assim, o mundo continuou
girando. Uma sabedoria além da sua, uma natureza que ela não poderia resistir
para sempre, a convidou para simplesmente relaxar e ceder à ordem natural das
coisas.
Uma parte teimosa e dura dela ainda ansiava por alguma grande
revelação. Como um poema de Robert Frost, Lili queria as respostas em belos
versos que ela pudesse pendurar na parede, direções que ela pudesse consultar
sempre que se sentisse desafiada.
Lili fez uma pausa, olhando mais de perto para a água. De longe, parecia
vítreo e refletivo, mas de perto era esverdeado e escuro.
— Agora, por que você quer fazer isso? — ele vociferou, ficando muito
perto.
— Porque…
Seu tom era gentilmente zombeteiro, mas Lili agarrou suas palavras. —
Exatamente.
Por que sua natureza cautelosa tinha que ser uma característica
ruim? Ela já tinha saído de sua zona de conforto hoje, andando pelo deserto,
arriscando se perder ou ser comida ou...
— A água nem está limpa, — ela apontou. — E não consigo ver o que há
lá embaixo. Podem ser cobras ou pedras afiadas ou...
— Apenas admita que você está com medo, Lili, — disse Xander,
deslizando a camisa de seus ombros. Seus mamilos endureceram quando a brisa
os acariciou. — Mas você está comigo, lembra? Além disso, não há cobras. Não
hoje, de qualquer maneira.
Suas mãos estavam sobre ela, e ela não o empurrou. Ele arrastou os
dedos pelos lados dela, traçando suas costelas, sua cintura, seus quadris, então de
volta até ao cós de sua calça jeans, deixando arrepios em seu rastro.
— Tudo? — A voz de Lili tremeu, mas não foi de medo. Não mais. A
lagoa poderia estar cheia de motosserras e lixo tóxico, por mais que seu corpo
ganancioso se importasse. Ela chutou as calças e ficou diante dele apenas de
calcinha... calcinha que já estava encharcada.
— Eu posso dizer quão perto uma criatura está. Ouvir cada movimento
dela. Sentir o que ele quer.
— Eu acho que você sabe, — seu Alfa disse, seus olhos de nuvem de
tempestade brilhando com relâmpagos. — Deixe-me dar a você, Lili.
Deus a ajude; ela ia fazer isso de novo. Lili sentiu suas pálpebras caírem
enquanto levantava o rosto... e então Xander a envolveu em seus braços e a
jogou no lago.
— Isso foi um jogo sujo, — ela engasgou quando ele a pegou em seus
braços, aparentemente indiferente à temperatura da água. O calor de seu corpo
parecia o paraíso.
Lili piscou para tirar a água dos olhos. — Como isso foi espontâneo? Eu
estava lá cuidando da minha vida e...
Querida.
Oh Deus... ela disse a parte silenciosa em voz alta. Lili nunca murmurou
um único carinho para ninguém, a menos que você contasse Babcia, a palavra
polonesa para vovó. E ela definitivamente nunca colocaria seu coração lá fora
para ser pisoteado.
Como uma bolha de sabão frágil, a fantasia que Lili estava explodindo
em espiral.
Ela não disse a palavra em voz alta. Nem se permitiu pensar nisso. Mas
Xander o jogou como se fosse a melhor notícia de todos os tempos, e Lili não
estava pronta.
— Você já tentou isso, Lili, — ele disse a ela. — Lembra o que aconteceu
quando você fugiu da verdade antes?
— Não parada em uma lagoa, não vou! — Mas a luta tinha saído dela, e
ela cedeu contra Xander, deixando-o envolver seus braços ao redor dela.
— Exposta? Nua? — Xander não esperou por uma resposta. — Por que
isso é uma coisa tão ruim?
Xander ergueu o queixo dela com os dedos, forçando-a a olhar para
ele. Seu rosto - tão familiar para ela agora quanto o dela - estava tão lindo como
sempre contra o céu azul brilhante, seu cabelo em cachos molhados em seu
pescoço.
Mas isso não era verdade. Lili não podia deixar isso acontecer. Ela não
pertencia a ninguém além de si mesma.
Imediatamente ela sentiu a picada da mentira. Ela nunca tinha sido sua
própria pessoa, não da maneira que importava.
Desde criança, ela fazia coisas para outras pessoas – sua avó, sua mãe,
sua futura família. Nunca foi sobre ela. Lili estava se entregando por tanto tempo
que nem sabia mais o que queria.
Ele faria isso por mim, pensou Lili, maravilhada. Seu Alfa realmente não
a deixaria.
Com isso, sua vontade teimosa cedeu, e Lili jogou os braços em torno
de Xander. Em torno de seu homem. Ela o beijou em gratidão e necessidade, uma
súplica e uma promessa, banindo cada dúvida e pensamento de sua mente que
não era ele.
Xander a ergueu, beijando seu pescoço, suas orelhas, suas clavículas. Lili
sentiu a pressa de sua pele lisa e quente em contraste com a água fria.
— Ainda não.
Ninguém nunca tinha olhado para ela com tanta atenção antes... pelo
menos lá embaixo.
Mas ela pertencia a Xander agora, assim como ele pertencia a ela.
Então ela lutou contra o desejo de se contorcer de vergonha.
Seu destino.
Era como se eles tivessem feito amor de todas as formas, exceto por
isso, com ela no topo controlando quão rápido e quão profundo. A princípio ela se
sentiu tímida, mas depois pensou na façanha de imprudência que acabara de
realizar e percebeu que já havia feito a parte mais difícil.
Lili deixou o cabelo cair para trás e seu corpo encontrou seu ritmo. Ela
sentiu a respiração de Xander parar e seu pulso acelerar enquanto eles escalavam
a beira do penhasco de sua paixão, e então, segurando um ao outro para salvar
sua vida, eles pularam no êxtase brilhante e cintilante como um.
CAPÍTULO 16
Lilibeth
Não só isso, Xander poderia fazer mais com seu dedo mindinho do que
todos os seus amantes anteriores juntos. Lili sabia que ela era abençoada, mas
agora ela tinha que lidar com um companheiro que ainda estava cheio de energia
enquanto ela se sentia como uma esponja espremida.
E ainda…
Ele leu sua mente... de novo. Lili soltou um longo suspiro. Não, ela não
estava pronta, e duvidava que algum dia estivesse.
Mas ela conhecia Xander bem o suficiente para saber que ele não
deixaria o assunto passar. Ele era um homem que conseguiu o que queria.
Sua primeira impressão dele estava errada, no entanto. Xander não era
como as crianças mimadas e malcriadas que viviam nas mansões que ela e sua
mãe limpavam. Ele rejeitou as armadilhas da riqueza, virando cada carrinho de
maçã dourado até que ele destruiu o brilho do privilégio com o qual ele nasceu –
e isso foi antes de se tornar um Alfa.
— Esqueça o trabalho. Não foi isso que eu perguntei. — Não havia calor
em sua voz, nenhum argumento. — Eu quero saber por que o pensamento de ser
uma Ômega - minha Ômega - aterroriza você.
— Veja, isso é o que você não entende. Não é de você que eu tenho
medo - é o que isso significa para outras pessoas. Aquele trabalho que eu estava
prestes a começar? O dinheiro que eu estava prestes a ganhar? Não era para
mim, Xander. Nada disso era para mim.
Xander franziu o cenho. — Isso deve tornar mais fácil deixar tudo ir.
— Você está errado. — A voz de Lili falhou. — Faz mil vezes mais
difícil. Eu era a melhor esperança da minha família, a primeira a ir para a
faculdade, a primeira a conseguir um emprego decente. Eu deveria nos tirar da
pobreza.
— Então quem será? — Ela sentou-se para que pudesse olhar para
ele. — Minha avó trabalhou até ao dia em que morreu. Não era só porque ela não
podia pagar um médico, Xander. Ela não podia tirar um dia de folga. E a mesma
coisa acontecerá com minha mãe agora que eu...
Foi só quando sentiu uma lágrima rolar pelo rosto que Lili percebeu que
tinha começado a chorar – de novo. Ela chorou mais esta semana do que em
anos, mas ela se recusou a quebrar, não na frente de Xander, não agora.
Ele estendeu a mão para ela e a puxou contra seu peito antes que ela
pudesse enxugar as lágrimas, o que só a fez chorar mais. Mas o calor do corpo
dele a cercava, e ela sentiu a força dele fluindo através dela, protegendo-a da dor.
Lili nunca tinha sido segurada assim. Nunca se sentido tão protegida e
segura... e a represa se rompeu.
A única lágrima deu lugar a um soluço alto e confuso, e uma vez que
começou, Lili sabia que não haveria como parar até que ela chorasse. Ela gemeu e
tremeu, e Xander a abraçou forte durante tudo, acariciando suas costas e
beijando o topo de sua cabeça, paciente como sempre. Ele não tentou impedi-la,
não a silenciou ou tentou convencê-la a se sentir melhor.
Ela assentiu novamente. Ela mesma não poderia ter colocado melhor.
— E você?
— Então você não pode ter certeza. Lili, você sabe que eu ainda sou
tecnicamente rico, certo? Aquele fundo fiduciário que você gosta de tirar sarro
ainda está lá. Meus pais não podem tocar no dinheiro - nem mesmo agora que eu
sou um Alfa.
— Não sei. — Era tão tentador acreditar que Xander estava estendendo
a mão para ela, mas ela nunca havia pedido ajuda antes, e Lili não conseguia nem
imaginar como seria. Além disso, ela nunca convenceria sua mãe a deixá-lo ajudar
financeiramente.
***
Lili sabia que ela era corajosa, apesar de sua natureza cautelosa. Caso
contrário, ela nunca teria se candidatado à faculdade, trabalhado duro para
ganhar bolsas de estudos e ajuda financeira e continuado mesmo quando ela
estava exausta, e a estrada parecia muito difícil de suportar.
Mas ela quase esqueceu o Xander que lutou contra soldados armados e
policiais para garantir sua liberdade. Aquele que conseguia fazer um xerife se virar
e correr sem levantar um dedo. Que colocou seu irmão Alfa em seu lugar com
apenas um rosnado.
Xander era todas essas coisas, mas não com ela. Porque ele era o
companheiro de Lili, e reservava o melhor de si para ela. O resto do mundo ficou
com o Alfa na sua cara, mas ela ficou com o homem no meio.
Lili sorriu fracamente. Xander estava certo, era hora. Ela tocou o
número na tela.
Lágrimas brotaram nos olhos de Lili novamente. Como ela pôde esperar
tanto?
— Sou eu, mãe, e eu estou bem, mas antes que você diga mais alguma
coisa, você está sozinha?
— Sim. Houve agentes federais aqui por alguns dias, mas eles se foram
agora.
Lili sentiu um pouco da tensão se esvair dela. Ela não sabia o que teria
feito se sua mãe estivesse sendo pressionada ou ameaçada.
O silêncio se estendeu entre elas, e Lili podia imaginar sua mãe parada
na janelinha quadrada da cozinha, olhando para o estacionamento para o
emaranhado de saídas da rodovia e rampas que constituíam sua visão. — A
agência me demitiu, — ela finalmente admitiu.
— Eles mentiram, mãe, — Lili disse a ela, esfregando a dor em sua testa.
Lili olhou para cima e encontrou o olhar de Xander. Ele pegou a mão
dela e deu-lhe um aceno de cabeça.
— Sobre isso, mãe. — Lili respirou fundo. — Fui sequestrada. Essa parte
era verdade. Mas estou na nova Ozark Boundaryland agora, e... bem, acho que
ficarei aqui por um tempo.
— Oh não, querida, não, — sua mãe lamentou. — Tem que haver algo
que possamos fazer para tirar o governo de suas costas. Nós vamos conseguir um
advogado para você, e vamos levá-los ao tribunal.
E mesmo que, por algum milagre, Lili conseguisse um juiz que decidisse
a seu favor, o governo ainda não mudaria sua história, não quando serviu tão bem
aos seus propósitos de propaganda.
— Mãe, não podemos. Isso só traria mais problemas para nós duas.
— Bem, eu tenho que fazer alguma coisa. Tem que haver alguma
maneira que eu possa ajudar enquanto você está presa nesse lugar horrível.
— Quero dizer que algo aconteceu, e eu não sou mais uma Beta.
Este era o momento que Lili estava temendo, a razão pela qual ela
estava evitando atender o telefone. Doeu tanto quando sua melhor amiga a
abandonou; Lili não suportaria se sua mãe também a abandonasse.
Lili mal podia acreditar. — Sério, mãe? Você não está apenas dizendo
isso? Porque...
— Claro que estou falando sério, — sua mãe disse com firmeza. — Tudo
o que eu sempre quis é que você fosse feliz. Você me pegou de surpresa, só isso.
Agora, você diz que o nome desse jovem é Xander? Por que você não me conta
tudo sobre ele, querida.
Xander sabia que Lili precisava de seu incentivo para fazer a ligação. A
presença dele tinha sido útil quando ela estava tentando ter certeza de que
ninguém estava coagindo Claudia Rennert a contar. E ele tinha que admitir que
tinha gostado de ouvir sua mulher contar à mãe todas as coisas maravilhosas que
ela amava sobre ele e ouvir a devoção em sua voz.
Mas uma vez que isso estava fora do caminho, e as duas mulheres
passaram a colocar em dia tudo o que havia acontecido desde a última vez que se
falaram, Xander sabia que Lili não se importaria se ele as deixasse para a
conversa.
Cada palavra entre Lili e sua mãe revelava seu amor uma pela outra, seu
cuidado e preocupação, sua aceitação.
Mas claramente não era assim que as coisas eram na família de Lili. Em
vez disso, após o choque inicial de Claudia, todas as referências à vida de Lili
foram acompanhadas por suas fervorosas esperanças pela segurança e felicidade
de Lili... e nem um pouco de julgamento.
Mesmo que Archer tivesse explicado o processo para ele com alguns
detalhes, Xander ainda mal podia acreditar que Lili estava se transformando em
uma Ômega diante de seus olhos. Dada a rapidez com que a transformação
estava acontecendo, não demoraria muito para que seu cio começasse.
Mas Xander desejou poder dar a ela um lindo quarto e uma cama macia
para que ela experimentasse seu primeiro cio com o conforto que ela merecia.
Ele sabia que Lili não via o que ele valorizava na casa que eles
fariam. Ela não tinha experiência para reconhecer a qualidade de sua construção
e materiais ou os detalhes finos escondidos sob o valor de um século de poeira e
tinta velha. E ela não sabia que ele tinha as habilidades para consertar
tudo. Xander não tinha aprendido a consertar motos sem aprender a mexer em
quase todas as ferramentas na garagem.
Seria muito mais doce quando ele a surpreendesse com cada projeto de
restauração. Primeiro, ele planejou substituir a carpintaria de acabamento
danificada e raspar a pintura dos painéis extensos. Então ele puxaria os tapetes
para revelar o desenho embutido no piso de madeira. Em seguida, ele consertaria
as paredes de torno e gesso atrás do papel de parede descascado e religaria as
luminárias originais. E então ele enchia todos os cômodos da casa com móveis
que ele fez com suas próprias mãos.
O mesmo instinto que o atraiu para Lili o fez ter certeza de que eles
teriam filhos, muitos deles, correndo pelos corredores e brincando no riacho e
explorando a floresta. A essas crianças nunca faltaria amor, proteção ou
segurança. Juntos, eles construiriam a família que Xander nunca teve, aquela pela
qual Lili sempre desejou.
Mas antes que isso pudesse acontecer, Xander precisava fazer Lili
passar pelo primeiro ciclo. E isso exigiria alguns preparativos simples.
Lili ergueu o rosto doce e cheio de lágrimas para sorrir para ele, e ele
ergueu uma sobrancelha inquisitivamente.
Lilibeth
Quando Lili desligou o telefone com a mãe, sentiu-se uma nova pessoa.
Como ela poderia ter duvidado que o amor de sua mãe por ela era mais
forte do que qualquer coisa com que o governo pudesse ameaçá-la? Que era
profundo o suficiente para aceitar as escolhas de Lili mesmo quando não eram o
que ela esperava?
E feliz - não apenas porque sua filha estava apaixonada, mas porque ela
encontrou a vida que deveria viver.
E agora?
Ela pensou que tinha perdido tudo... e ainda assim, uma vez que ela se
soltou e aceitou seu destino em vez de lutar contra ele, Lili descobriu que ainda
estava de pé. Não só isso, ela estava prosperando.
E foi Xander quem a mostrou. Sim, ele quebrou sua vida em pedaços
primeiro, mas depois a ajudou a montá-la novamente para que fosse melhor do
que antes.
E agora, com boas notícias para compartilhar, Lili correu para encontrar
seu companheiro.
Lili não perdeu a forma como sua voz ficou mais baixa e áspera, a fome
em seus olhos. Ela ficou chocada que ele pudesse pensar em fazer isso de novo
depois de fazer amor a tarde toda no lago.
Mas mesmo quando esse pensamento passou por sua mente, seu corpo
pegou fogo. O calor bruto irradiava de dentro dela enquanto a mancha umedecia
sua calcinha.
— Quatro... dias?
— Mas você não quer dizer… — Lili se sentiu fraca. — Você não pode
querer dizer que está acontecendo agora.
Apenas alguns dias atrás, ele recebeu a carta que Maggie havia escrito
para ele, aos cuidados da amiga de Sarah que trazia suprimentos para a
comunidade novata a cada poucos dias. Xander pedira a Darlene que pedisse dois
conjuntos de varas — uma grande, uma pequena — para pescar no
riacho. Quanto à moto, aparentemente havia um Alfa idoso em Southern
Boundarylands que havia trabalhado em motos que remontavam ao modelo
militar que as Harleys usavam nas linhas de frente na Primeira Guerra Mundial, e
Xander havia escrito para perguntar sobre seu vasto estoque de peças.
Mas havia outros momentos, quando Lili estava ocupada com seu
jardim ou com os tesouros no sótão, que Xander se via parando em seu trabalho
para respirar o ar abafado do final do verão e contemplar suas terras e
simplesmente deixar a sensação de liberdade o envolver. Ele havia descoberto o
dom daqueles anos de dor e privação, que era a capacidade de saborear cada
pequeno prazer e beleza despretensiosa, coisas que teriam escapado de sua
atenção no passado.
Quando ele tirou a moto do galpão e sua companheira subiu atrás dele,
envolvendo os braços em volta de sua cintura, ele tirou um momento para
aproveitar a expectativa de visitar um amigo, de acelerar por uma estrada vazia
em uma tranquila tarde de verão. Ele notou as taboas balançando na brisa ao
longo da margem do lago, as abelhas pairando sobre as centáureas crescendo
selvagens ao lado da estrada, o doce aroma de cozimento quando ele entrou na
garagem de Archer.
— Acho que sei alguma coisa sobre isso. — Archer estendeu sua cerveja
e bateu contra a de Xander, e então os dois beberam.
— Sim.
Felizmente, não era da conta de Xander, assim como não era da conta
de Archer com quem Lili se socializava. No que dizia respeito a Xander, qualquer
amizade que deixasse sua companheira feliz era uma coisa boa.
Afinal, não era como se suas afeições pudessem ser roubadas. Xander
sabia que Lili o amava mais do que qualquer outra coisa neste mundo. Na
verdade, ele nunca teve tanta certeza de nada em sua vida.
Xander o seguiu pela casa até à grande oficina nos fundos, onde Archer
havia limpado uma extremidade para guardar as provisões que Darlene trouxe.
Ele e Xander abriram uma conta da qual Darlene poderia sacar fundos para os
suprimentos que os Alfas precisavam, e Xander havia transferido uma boa parte
de sua confiança.
— Droga. Darlene se superou.
Mais importante ainda, Xander podia sentir que Lili estava feliz...
realmente feliz.
— Eu não vejo por que não, mas eu pensei que você estava apenas
trabalhando no antigo enquadramento.
— Não é para a casa. Preciso fazer formas para uma fundação. Vou
construir uma pequena cabana para a mãe de Lili.
Archer parecia tão chocado que Xander riu. — Não é uma coisa ruim.
A conversa de Lili com sua mãe deixou claro que a vida de Claudia havia
sido destruída tão completamente que jogar dinheiro no problema não ajudaria.
Claudia não tinha apenas perdido seu emprego e sua renda; a imprensa a
perseguia e difamava a ponto de ela receber ameaças de morte por causa das
ações de sua filha.
— Eu não sei por que isso te assusta tanto, — Xander disse suavemente.
— Nós, Alfas, podemos ser independentes, mas nunca fomos feitos para ficar
sozinhos.
— Ah, tudo bem, — Sarah cedeu. — Você pode muito bem ter um, mas
então você precisa sair antes que isso se transforme em um maldito festival de
amor.
FIM
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