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Design têxtil dois tons ou padrão que consiste em pequenos quadradinhos
quebrados ou irregulares.
viagem batia na porta. — Eu sou Clara Wheaton — ela disse
quando o silêncio permaneceu.
— Josh. — Ele cobriu a distância entre eles, oferecendo-lhe
um aperto de mão. — Prazer em conhecê-la.
Quando suas mãos se juntaram, ela inspecionou suas unhas
como um indicador de seus hábitos de higiene pessoal. Limpo
e elegante. Obrigada, Senhor.
Depois de cinco segundos, Josh ergueu uma sobrancelha e
Clara soltou sua mão com um sorriso tímido.
Apesar de sua altura impressionante e do fato de que seus
ombros ocupavam a maior parte do batente da porta, ela não o
achou intimidante. Suas roupas amarrotadas e os cachos loiros
crescidos sugeriam que ele acabara de rolar para fora da cama.
As sobrancelhas escuras marcantes deveriam tê-lo tornado
ranzinza, mas o resto de seu rosto resistia à preocupação.
Ele era fofo, mas não muito bonito. Não como Everett, cuja
mera presença ainda fazia sua fala vacilar depois de todos esses
anos. Clara aceitou essa pequena forma de misericórdia do
universo. Ela sempre achou impossível falar com homens
bonitos.
— Prazer em conhecê-lo — ela repetiu, acrescentando: —
Por favor, não me mate ou me moleste — como uma reflexão
tardia.
— Você que manda. — Ele levantou as duas mãos em um
gesto de impotência. — Então… acho que isso significa que
vamos morar juntos?
— Por enquanto. — Pelo menos o suficiente para ela
desenvolver um plano de contingência.
Josh olhou para a porta aberta do banheiro.
— Onde está Everett? Ele não ficou por perto para você se
instalar?
Os ombros de Clara se aproximaram de suas orelhas.
— A banda precisava pegar a estrada imediatamente.
— Muito louco, hein? Eles serem convidados para uma
turnê de última hora?
— Sim. — Ela lutou para manter a amargura fora de sua voz.
— Ousado.
— Deu certo para mim, no entanto. Não acreditei no
aluguel barato que Everett pediu em um lugar tão bom.
Clara decidiu não mencionar que Everett havia herdado a
casa, livre e limpa, de seu avô e provavelmente cobrava apenas
o suficiente para cobrir os impostos. Ela massageou as
têmporas, tentando afastar uma dor de cabeça monstruosa. Se
vinha de estresse, jet lag ou sonhos moribundos, não sabia dizer.
Quanto mais tempo ficava nesta casa, mais real o pesadelo se
tornava. Ela sentou-se no sofá quando sua visão turvou.
— Ei, você está bem? — Seu novo colega de quarto veio se
ajoelhar na frente dela, como os adultos fazem quando querem
falar com uma criança pequena. Clara desviou o olhar de onde
suas coxas esticavam as costuras de sua calça jeans.
Ele tinha uma mancha de sardas na ponte de seu nariz. Ela
se concentrou naquela que estava bem no centro e falou com
ele.
— Estou bem. Apenas calculando as consequências de uma
maldição familiar multigeracional. Finja que não estou aqui.
Você pensaria que décadas de dinheiro antigo e boa
educação cuidadosamente monitorada eliminariam a notória
inclinação dos Wheatons para o comportamento destrutivo,
mas se a recente prisão de seu irmão, Oliver, fosse uma
indicação, quanto mais sua linhagem crescia, mais sombrias
eram as consequências de seus erros comportamentais.
Comparativamente, ela se livrou fácil com uma casa velha e
um coração partido.
Josh franziu a testa.
— Hum, se você diz… Oh, ei, espere aqui um minuto.
Como se ela tivesse outro lugar para ir.
— Acho que tenho algo que pode ajudar. — Ele entrou na
cozinha e voltou um momento depois para colocar uma lata de
cerveja gelada em suas mãos. — Desculpe, não tenho nada mais
forte.
Clara não gostava muito de cerveja. Mas, neste ponto, não
poderia doer. Ela abriu a tampa e deu um gole profundo.
— Eca. — Por que os homens insistem em fingir que as
IPAs2 têm um gosto bom? Ela deixou cair a cabeça entre os
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India Pale Ale, estilo de cerveja.
joelhos e empregou uma técnica de respiração profunda que
observou uma vez ao acompanhar seu primo para a aula de
Lamaze.
— Ei… Hã… você não vai botar tudo pra fora, vai?
Bile se acumulou no fundo de sua garganta com a sugestão.
Esse cara era tão útil quanto qualquer outro homem que ela
conhecia.
— Talvez você pudesse dizer algo reconfortante?
Depois de alguns segundos, ele soltou um suspiro.
— Seu corpo destrói e substitui todas as suas células a cada
sete anos.
Clara sentou-se lentamente.
— Ok, bem — ela franziu os lábios — você tentou.
Obrigada — ela disse, dispensando-o.
— Eu li isso em uma revista no consultório do dentista. —
Ele deu um sorriso fraco. — Achei bem legal. Acho que isso
significa que não importa o quão ruim nós erremos,
eventualmente teremos uma ficha limpa.
— Então você está me dizendo que em sete anos, vou
esquecer o fato de que desenraizei toda a minha vida e me
mudei para o outro lado do país porque um cara que nem é
meu namorado me encorajou a, e destaco, "seguir minha
felicidade"?
— Certo. Cientificamente falando, sim.
Ele tinha olhos bonitos. Grandes e marrons, mas não
aborrecidos. Eles pareciam calorosos, como se tivessem passado
algum tempo fervendo sobre uma chama aberta. Fofo, mas não
bonito, ela lembrou a si mesma.
— Bem, certo. Eu estava esperando um detalhe banal sobre
seu trabalho, para ser honesta. Mas nada mal para um começo
de conversa. — Ela enxugou a boca com a mão e devolveu a
cerveja.
— De alguma forma, eu não acho que ouvir sobre o meu
trabalho iria tranquilizá-la. — Ele tomou um longo gole de sua
lata descartada.
Acho que isso respondeu à pergunta se Josh era o tipo de
colega de quarto que comeria as sobras dela.
— Você não é um agente funerário, é?
Ele balançou sua cabeça.
— Eu trabalho na indústria do entretenimento.
Óbvio. Clara imediatamente perdeu o interesse. A última
coisa que ela precisava era de algum aspirante a cineasta
pedindo que ela lesse seu roteiro.
Josh deu a ela um olhar descarado.
— Você não é o que eu esperava.
Bem, isso faz dois de nós, amigo.
Ela esperava viver com Everett. Imaginou os dois fazendo
jantares juntos, seus ombros se tocando enquanto trabalhavam
lado a lado. Ela se imaginou assistindo filmes de ação noite
adentro como faziam quando tinham treze anos, só que dessa
vez, em vez de sofás separados, eles se enrolariam juntos sob um
cobertor compartilhando taças de vinho.
Esta casa deveria ter criado o cenário para sua história de
amor. Everett deveria ter escrito uma música naquele assento
da janela inspirada em seu primeiro beijo.
Em vez disso, ela tinha que dividir o banheiro com um
estranho.
Clara se levantou e afastou seus desejos não realizados.
— O que você quer dizer?
— Estou surpreso que uma garota como você — ele
gesticulou para sua mala Louis Vuitton — se aventuraria com
um colega de quarto em um lugar como este.
Clara juntou seu cabelo escuro sobre o ombro e alisou as
mechas.
— Recebi a mala de presente da minha avó. — Ela baixou
os olhos para o tapete. — Peguei o quarto porque estou
procurando emprego no momento. — A mentira ficou amarga
em sua língua e ela rapidamente voltou ao território da verdade.
— Eu conheço Everett desde sempre. Quando me formei, há
algumas semanas, ele me ofereceu seu quarto vago.
— Oh. Uma graduada, hein? O que você estava estudando?
— Recentemente concluí meu doutorado em história da
arte — disse ela com toda a bravata que conseguiu reunir.
Quando criança, sonhava em fazer sua própria arte, mas
eventualmente, percebeu que a arte exigia expor partes de si
mesma, que preferia manter escondidas – suas esperanças e
medos, suas paixões e anseios. A análise e a curadoria
permitiram que ela mantivesse a arte à distância enquanto
usava a escola como uma forma de estender a rampa de saída
para a idade adulta.
Josh sorriu.
— Isso é como um diploma especial que eles só dão para
pessoas ricas?
Clara cerrou os dentes com tanta força que pensou ter
ouvido um estalo.
— Vamos manter o bate-papo interpessoal no mínimo,
certo?
Ela pegou sua bolsa e procurou seu checklist de mudança,
encontrando-a enterrada debaixo do travesseiro do avião e do
kit de primeiros socorros. Clara compilou o documento de seis
páginas para incluir todo tipo de perguntas e instruções sobre
o que procurar para saber se uma nova casa estava regularizada
em Los Angeles. Segurar o documento tornou a respiração um
pouco mais fácil.
Quando ela olhou para cima, Josh não tinha saído.
— Por favor, não me interprete mal, mas, francamente,
Everett não me disse que tinha que sair da cidade até agora, e
sem ofensa, tenho certeza que você provavelmente é legal, mas
isso — ela gesticulou para o espaço entre eles — sai um pouco
fora da minha zona de conforto.
— Ei, eu também. — Ele colocou a mão no coração. — Já
vi muita encenação, sabe. Você é exatamente o tipo de socialite
pequenininha e temperamental que enlouquece e pinta as
paredes com sangue de galinha. Como posso saber se estou a
salvo de você?
Clara inclinou o quadril e olhou para o homem de mais de
um metro e oitenta à sua frente. Sua camiseta puída,
apresentando uma foto vintage de Debbie Harry, mal cobria
seu peito musculoso e ombros largos.
— Honestamente, você está preocupado comigo?
Seus olhos se fixaram no checklist em sua mão.
— Meu Deus. É plastificado? — Ele parecia positivamente
encantado.
— Minha mãe me deu uma máquina no natal passado —
disse ela na defensiva enquanto ele a pegava para uma inspeção
mais detalhada. — Impede manchas.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. Um estrondo alto sem um
traço de zombaria nele.
— "Verificar a pressão da água em todas as torneiras quanto
a inconsistência'' — ele leu na folha. — Isso é bom demais.
Você mesma escreveu isso?
— A Califórnia é conhecida por sua propensão a incêndios
florestais. Você deve documentar as condições pré-mudança
para se preparar para possíveis problemas com o seguro. Só o
dano da fumaça...
Ele riu um pouco mais do que ela considerou uma exibição
exagerada de alegria.
Clara pegou a folha de volta.
— Devemos discutir algumas regras da casa?
Os olhos de Josh brilharam.
— Tipo nenhuma festa durante a semana?
— Você tem razão. As regras soam um pouco agressivas.
Estou pensando mais na linha de diretrizes para uma
coabitação harmoniosa. Podemos também tirar o melhor
proveito de uma situação ruim.
Josh se endireitou.
— Claro. Infelizmente, você precisará estabelecer a primeira
regra. Estou sem prática.
— Bem, por exemplo, Everett mencionou um tempo atrás
que a fechadura da porta do banheiro não funciona. Então, até
que possamos consertar isso, sugiro que empreguemos uma
estratégia de três batidas.
— Por que três?
— Seria fácil perder uma ou duas pancadas… — Ela falou
para a velha mesa de centro. — Se você estivesse no chuveiro,
por exemplo.
— Bem, nós não queremos isso, certamente.
Ela olhou para cima para encontrar seu corpo inteiro
mudado com a inclinação de seus lábios. Os braços de Clara
ficaram arrepiados, apesar da amena tarde de junho. Josh tinha
algum tipo de magnetismo que ela não havia notado antes.
Mesmo quando ela foi e ficou atrás do sofá, colocando uma
barreira física entre eles, seu corpo clamava mais perto, mais
perto.
— Ei, escute. Você não precisa proteger sua virtude de mim,
ok? — Josh quebrou o feitiço como alguém tirando uma
jaqueta. Ele deve ter notado que a energia entre eles havia
mudado de brincalhona para algo mais carnal.
— Estou comprometido, então você não tem nada com que
se preocupar. Só vou morar aqui até poder convencer minha
ex-namorada a me deixar voltar. Ela é durona, mas tenho
certeza de que serei capaz de convencê-la em uma ou duas
semanas, e então estarei fora de seu caminho para sempre. —
Ele deu a notícia no tom gentil e treinado de alguém
acostumado a aumentar as esperanças das pessoas e ter que
desapontá-las facilmente.
— Oh — disse Clara, e então quando ela entendeu o que ele
quis dizer — Não. — Ela cruzou as mãos em um X. Ele teve a
ideia errada. Obviamente. Queria Everett. O amava quase
desde que ela conseguia se lembrar. Ela nem conhecia esse cara
com sua calça jeans rasgada e sua cabeleira bagunçada. — Claro
que não. Eu não pensei que você queria… — Ela acenou com a
mão pelo corpo e mostrou a língua com nojo.
Seus olhos seguiram o caminho que ela rastreou.
— Espere um segundo. Eu não quis dizer que não gostaria
em circunstâncias diferentes. Você é muito… — Ele estendeu
as mãos na frente do peito como se estivesse avaliando o peso
de um par de melões maduros.
Os olhos de Clara se arregalaram.
— Oh, Deus. Eu não posso acreditar que fiz isso. Eu sinto
muito. Só quis dizer que você… hum… qual a maneira
respeitosa de dizer… — Ele ergueu as mãos.
O sangue subiu para seu rosto.
— Eu entendi.
— Certo. Desculpe. Novamente. — Ele sacudiu todo o
corpo como um cachorro molhado. — Além disso, eu tinha
certeza que você e Everett tinham algo. A maneira como ele
falou sobre você, definitivamente parecia que vocês dois
tinham história.
Com a menção de seu amado, os hematomas desbotados em
seu coração floresceram novamente e latejaram. Ela não sabia o
quanto compartilhar sem parecer patética. Ela e Everett
certamente tinham história, mesmo que a parte romântica
fosse parcial.
Algo nas sobrancelhas sérias de Josh deu a Clara a impressão
de que ele poderia lidar com mais do que a versão açucarada de
seu passado com Everett – mais do que as histórias de merda
que ela contara a seus amigos e família no leste, para que eles
não a julgassem ou se preocupassem com sua decisão
precipitada de recomeçar.
Por alguma razão, ela se viu derramando suas tripas para
aquele estranho maltrapilho.
— Everett e eu crescemos juntos. Apesar de vivermos em
litorais diferentes há quase dez anos, mantemos contato por
telefone e visitas. Não sei se você chegou a conhecê-lo, mas ele
é uma mistura incrível de doce, inteligente e engraçado...
— E ele encorajou você a largar tudo e se mudar para cá,
apenas para abandonar você na primeira chance que ele teve?
— Josh arqueou uma sobrancelha.
Clara deu um passo para trás. A verdade doeu.
— Não foi exatamente isso que aconteceu. Eu sei o que
parece. — Ela baixou a voz, envergonhada por ter deixado o
volume aumentar. — Mas quando Everett ligou algumas
semanas atrás e pintou este retrato da vida em Los Angeles,
todos os pores do sol e ar do oceano e pessoas que não precisam
usar protetores bucais à noite porque não conseguem parar de
ranger os dentes de estresse…
Uma covinha apareceu na bochecha esquerda de Josh.
— Eu sei que parece estúpido, mas parecia um sinal ou algo
assim. Isto parecia minha chance. No amor, aventura, felizes
para sempre, toda a coisa da Hallmark.
— Deixe-me ver se entendi. Você, uma mulher que criou
um checklist de mudança laminado, tomou uma enorme
decisão de mudar de vida com base em um sinal nebuloso do
universo?
Clara encolheu os ombros.
— Você nunca fez algo estúpido para impressionar alguém
de quem você gostava?
Josh se jogou no sofá, apoiou os pés na mesinha de centro e
os cruzou na altura dos tornozelos.
— Não. Nunca.
— Acho que você quer dizer "Ainda não". — Clara agarrou
as alças de suas malas de rodinhas. — Então, qual desses quartos
é o meu?
Na manhã seguinte, Clara havia conseguido se afundar em seus
pertences. Tendo ocupado a maior parte do espaço em seu
novo quarto, ela agora estava na cadeira de madeira tentando
decidir por onde começar.
Desfazer as malas deveria fazê-la se sentir melhor. Mais em
casa. Tinha lido isso em um estudo sobre como os humanos se
ajustam a novos ambientes.
Mas havia usado meia mala com lembranças para
compartilhar com Everett, e agora, dispostas em toda sua glória
adolescente esquecida, as lembranças se revezavam dando um
soco no estômago dela.
Tiras de fotos de cabine enroladas, a caixa de papelão
molenga de sua triste tentativa de fazer seu próprio jogo de
tabuleiro na sétima série, até mesmo um Ziploc de seus bagels
favoritos de sua cidade natal – anteriormente congelados –
agora pingando por todo o roupão de banho.
Tudo doía. Clara encostou o queixo no peito.
Uma única batida soou na porta atrás dela.
— Entre. — O caos no tapete espelhava a bagunça que ela
tinha feito em sua vida. Que poético.
— Como está indo a arrumação? — Josh ofereceu a ela uma
caneca lascada cheia de café fumegante.
Clara tampou os olhos com as mãos, mas não antes de dar
uma olhada confirmando que a trilha de pelos no peito de Josh
combinavam com suas sobrancelhas castanho-escuras em vez
dos cachos loiros em sua cabeça.
— Que diabos está fazendo?
— Estava ouvindo pequenos suspiros tristes no corredor.
Achei que o café pudesse te animar. — Ele examinou sua
posição. — Você subiu nessa cadeira para evitar uma aranha?
Clara desceu com cuidado.
— Você não está usando roupas suficientes. — Ela fechou
os olhos, mas os músculos magros de seu peito nu ficaram
gravados em suas retinas.
— O que você quer dizer?
— Você não viu a lista de regras que eu coloquei debaixo da
sua porta na noite passada? — Ela passou uma hora e meia
depois do jantar escrevendo regras em folha pautada. Até
incluiu espaços designados para as duas assinaturas.
— Eu pensei que você disse que eram orientações?
— São orientações. — Ela tentou demonstrar paciência em
seu tom. — E as orientações dizem que todas as partes devem
usar pelo menos três peças de roupa ao entrar nas áreas públicas
da casa e/ou durante a interação direta com outro colega de
quarto e/ou convidados.
Josh olhou para seus pés descalços.
— E meias?
— O que você quer dizer com 'e meias'?
— Elas contam como uma ou duas peças de roupa?
Clara colocou as mãos nos quadris.
— Meias não contam.
Ele sugou o ar entre os dentes.
— Infelizmente, isso não está claro na literatura.
— Meia é um item de roupa não essencial.
Malícia surgiu em seu olhar.
— Só até você jogar strip poker.
— Obrigada por me trazer café. — Clara aceitou a caneca
principalmente para que ele parasse de falar.
— Sem problemas. Não sei como você gosta… mas também
não temos creme. Ou açúcar. — Ele fez uma careta. — Mas
escute, eu vou te levar ao supermercado assim que você
terminar de… — Seus olhos rastrearam a bagunça que ela fez no
quarto. — redecorar.
Cansada de fazer contato visual com os pelos dourados do
peito dele, Clara pegou a primeira peça de roupa que
encontrou – um enorme moletom velho esticado nas costas da
cadeira da escrivaninha – e jogou-o com a mão livre em seus
peitorais definidos.
Enquanto ele o vestia, ela foi pegar sua cópia das
orientações.
Assim que entrou no quarto principal, Clara teve que se
esforçar para não olhar para a cama. A cama de Everett. O
travesseiro provavelmente ainda tinha o cheiro dele. Ela deu
uma fungada furtiva da porta. Sim, toda esta sala cheirava a
Everett. Irish Spring e o vinil de centenas de discos.
Balançou a cabeça e procurou o papel do caderno,
finalmente localizando seu rascunho na mesa de cabeceira. Josh
já havia conseguido derramar café no canto do documento. Se
ao menos tivesse pensado em embalar seu equipamento de
laminação.
Quando voltou para seu quarto, Josh havia conseguido se
cobrir. As mangas de seu moletom Columbia terminavam em
seus cotovelos. Ela se recusou a achá-lo encantador.
— Achei que você tinha feito isso como um ponto de
partida. — Ele apontou para a folha. — Devemos colaborar na
cópia final, não? — A luta com o moletom piorou seu cabelo
já desgrenhado.
Uma imagem indesejada dele, emaranhado em lençóis
quentes do calor de seu corpo, flutuou por sua mente. Ela
tomou um grande gole de café, usando o gosto amargo para se
livrar da visão perturbadora.
— Ah, com certeza. — Ela entregou o papel. Francamente,
assumiu que ele não se importaria o suficiente para contestar
qualquer um dos itens.
Josh afundou em sua cama e tocou seu ninho de cabelo
selvagem. De algum lugar nas profundezas de sua juba, tirou
um par de óculos tartaruga e os colocou.
— Algumas das coisas que tem aqui funcionam.
Clara mordeu o interior de sua bochecha. Josh era
encantador para começo de conversa, mas sua nerd interior
começou a ofegar ao vê-lo com óculos.
— Dividir as contas. Certo. Um gráfico descrevendo as
responsabilidades de limpeza semanais. Muito organizado.
Vamos precisar pegar alguns desses suprimentos que você
listou. Acho que não temos lustra-móveis orgânico. — Sua
língua apareceu entre os dentes enquanto ele lia o resto da
página, dando um aceno de cabeça ocasional. — Vejo que você
me confiou a troca de lâmpadas.
Josh olhou para onde ela estava, desajeitadamente
demorando-se na porta, e deu uma olhada em seu corpo
pequeno.
— Faz sentido.
Ele virou a folha.
— Sem barulho da meia-noite às cinco da manhã. É
razoável… mas você esqueceu um monte de coisas.
Clara cruzou os braços.
— Como o que?
— Como sexo.
Seu pulso disparou em um galope.
— O que você quer dizer?
— Bem, qual é o plano se nós… você sabe. — Ele fez um
movimento de bombeamento com o punho.
Clara engoliu o nó na garganta.
— Você quer dizer como uma xuxinha na maçaneta da
porta?
Suas sobrancelhas dispararam até a linha do cabelo.
— Que porra é uma xuxinha?
Em resposta, pegou uma de sua bolsa de maquiagem e jogou
nele como um estilingue.
Ele pegou o material macio na frente de seu peito e testou a
durabilidade do elástico de cabelo entre os dedos.
Clara desviou os olhos novamente. Então ele tem mãos
bonitas. Grande coisa.
— Você nunca viu uma comédia de sexo dos anos 80?
— Ah, entendo — disse Josh. — Pensei que eles usavam
meias tubo.
— Talvez os caras usem meias tubo. Vamos supor que
qualquer item que decorar a maçaneta significa não perturbe.
— Normalmente ela teria lutado contra um sinal brega de
quarto de dormitório, mas percebeu que sua vida sexual inativa
a impediria de ter que empregar essa regra em particular.
— Ok. Legal. Embora eu deva avisar você, essas paredes são
finas. Quando me mudei no domingo, pude ouvir Everett e a
fadinha3 que ele trouxe para casa transando como se eu tivesse
um ingresso na primeira fila.
Clara respirou fundo. Claro, sabia que Everett não fora
celibatário nos últimos dez anos, mas não tinha motivos para
3
A expressão no original é “manic pixie dream girl”
imaginá-lo com outras mulheres… e na cama em que dormira
na noite anterior. Ela poderia se safar queimando os lençóis se
os substituísse?
— Oh. Merda, sinto muito — disse Josh.
Ela deve ter feito uma careta. Clara rapidamente controlou
suas feições de volta à calma.
— Se isso te faz sentir melhor, ela fez um som estridente
super irritante quando gozou.
Clara lutou contra a vontade de vomitar.
— Vamos continuar.
Josh semicerrou os olhos para o teto.
— Hum. — Ele estalou os dedos. — Do que você tem
medo?
— Perdão?
— Tipo, se você tem medo de cobras, cachorros grandes ou
bolas de algodão, eu deveria saber para poder protegê-la.
Ela apertou os olhos.
— Você percebe que um desses não se encaixa, né?
— E ratos, baratas, gambás?
— Exatamente quantos tipos de vermes você acha que
vivem aqui?
Josh revirou os ombros.
— Estou tentando me preparar, como seu colega de quarto.
Clara entendia seu ponto. Ela olhou para o tapete.
— Tenho medo de dirigir.
— Mas… você se mudou para L.A.?
Suas bochechas ficaram quentes.
— Sim. É tudo muito estúpido. Eu arruinei minha vida. Do
que você tem medo? — Seu olhar, dispensando mais
questionamentos, deve ter funcionado.
Josh fez uma careta.
— Ketchup.
— Você não gosta de ketchup?
— Não — ele estendeu a vogal em ênfase. — Eu não gosto
de rabanetes. Tenho medo de ketchup.
— Isso não é engraçado. Eu te disse uma coisa real.
— Não estou brincando! A visão do ketchup me incomoda
do mesmo jeito que outras pessoas não conseguem olhar para
os insetos. É a viscosidade ou algo assim. — Ele cobriu a boca
com as costas da mão. — Ugh, sério, nem consigo falar sobre
isso. Está fazendo meu sangue gelar. — Ele estendeu o
antebraço, onde os pelos se arrepiaram, como prova.
— Tudo bem, mas se alguém te desafiasse a comer ketchup,
você poderia fazer isso?
— Por que alguém me desafiaria a comer ketchup? — Ele
hesitou.
Clara encolheu os ombros.
— Você está jogando um daqueles jogos. Verdade ou
desafio.
— Você já jogou verdade ou desafio?
— Claro que já. — Ela jogou o cabelo por cima do ombro.
— Sim… mas aposto que você sempre escolheu a verdade.
— Fique sabendo que concluí muitos desafios.
A boca de Josh se repuxou para um lado.
— Oh, sim? Cite um.
Apesar do longo gole de café que ela usou para ganhar
tempo, nada veio à mente.
— Bem, não consigo pensar em nada de cabeça. Faz um
tempo.
— É uma pena. — Algo brilhante brilhou atrás de seus
olhos. — Desafios são divertidos.
— Divertido para quem, exatamente? — Por que sua voz
parecia tão ofegante?
— Todo mundo? — Uma explosão de charme
acompanhou suas palavras.
Falou como alguém que nunca foi ridicularizado.
— Não, são divertidos para quem lança o desafio e para
vários espectadores. A pessoa que realiza o desafio se sente
mortificada na pior das hipóteses e incomodada na melhor das
hipóteses.
— Então, desafios são contra as regras, hein?
— Orientações — ela disse automaticamente antes de
limpar a garganta. — Eu acho que é seguro dizer que, agora, eles
são.
Um toque agudo soou de sua mesa de cabeceira.
Clara agarrou seu celular. Porcaria. Ela forçou falsa alegria
em seu tom.
— Oi, mãe… sim, está tudo bem… mm-hm. Apenas
desempacotando. — Ela olhou por cima do ombro para
encontrar Josh olhando-a com óbvio interesse.
— Everett? — Clara mudou seu peso de uma perna para a
outra. — Hum, não. Ele não está aqui agora. Saiu para comprar
café.
Ela baixou a voz.
— Claro, vou dizer a ele que você disse olá. — Clara não
estava pronta para confessar sua humilhação à mãe perfeita.
— Ouça, mãe, eu tenho que ir. Tenho uma panela no
fogão… sim, estou cozinhando… hã… sopa. E está queimando.
Ok, Também te amo. Tchau.
Josh estreitou os olhos.
— Você não contou à sua mãe sobre Everett ir embora.
Ele poderia pelo menos fingir que não estava escutando.
— Ela vai se preocupar.
— Certo.
O silêncio entre eles estava repleto de estranheza.
— Então, mercado? — Josh gesticulou para sua caneca
abandonada. — Não posso beber café preto para sobreviver.
— Espere. Você fez café, percebeu que não tinha leite e me
deu as sobras?
Um sorriso culpado atravessou seu rosto.
— Um homem não pode fazer uma boa ação e reaproveitar
recursos com responsabilidade? Vamos. Eu vou dirigir.
— Tudo bem. — Ela o seguiu até o corredor. — Mas vou
comprar umas três garrafas de ketchup.
•••
4
Trocadilho com o sobrenome de Josh, “Darling."
— Além disso, você tem todos os tipos de regras sobre com
quem vai trabalhar e que tipo de coisa vai fazer. Você é como
um monge com seu código de conduta auto-imposto. Black
Hat gosta de pessoas que podem intimidar. — Seu agente
tomou um longo gole de refrigerante. — Enquanto ainda for
vinculado ao acordo de ações, eles não têm muito incentivo
para abrir o velho talão de cheques.
— Eu sei que não sou um gênio, mas vi os números que
trouxe, e eles cresceram constantemente no ano passado.
Tenho sacos de cartas de fãs raivosos derramando do meu
armário e da parte de trás do meu carro. Eu valho pelo menos
três vezes mais. Até a Black Hat negocia. O que você não está
me dizendo?
Bennie enxugou a testa com um guardanapo de papel.
— Desde que você e Naomi se separaram, suas ações
sofreram um grande golpe. A fantasia doméstica de vocês dois
juntos o tornaram mais palatável para o público principal, mas
os poderosos não estão convencidos de que um homem
sozinho, mesmo um garoto bonito como você, pode atrair
números como esse, como atração principal.
Ele fez uma careta.
— Nunca soube que as pessoas se importavam com minha
vida pessoal.
— Está brincando? Vocês dois eram como o Brad e a Jen do
entretenimento adulto. Achei que eu faria um discurso no seu
casamento.
— O que?
— Esqueça. Ei, onde você está morando agora que a
velhinha te expulsou?
Josh deu uma mordida indiferente em seu hambúrguer.
— Encontrei uma sublocação no Craigslist. Veio
totalmente mobiliado. A única desvantagem é que agora tenho
uma socialite como colega de quarto.
— Caramba. Essa é a última coisa de que precisamos. Olha,
eles disseram que se você quer muito dinheiro, tem que
começar a fazer mais coisas pesadas. É aí que a Black Hat vê as
melhores margens. Eles querem que você trabalhe na nova
divisão extrema. São homens de negócios que não dão a
mínima para sua moral. Quer mais dinheiro, vai ter que se
comprometer.
O apetite de Josh o abandonou. Ele gostava de sexo tanto
quanto qualquer outro cara. Inferno, talvez mais,
considerando todas as coisas. Mas havia estabelecido limites
quando entrou neste negócio e não iria abandoná-los.
— Isso nunca vai acontecer.
Bennie ergueu as mãos.
— Entendo. Não é nenhum problema se você quiser se
limitar ao básico. Pegue os cinco mil e invista. — Ele olhou para
o hambúrguer de Josh com mais do que um toque de interesse.
— Qual é. Algumas das coisas que eles fazem nessa divisão
me dão arrepios. Você deveria ter visto as renúncias que eles
tentaram fazer com que Naomi assinasse. — Debaixo da mesa,
as mãos de Josh se fecharam em punhos. — Deixe-os se
aproveitarem de algum outro idiota para fazer cenas com as
garotas mal orientadas do meio-oeste que eles contratam. Não
vai ser eu. Eles podem me impedir de trabalhar para qualquer
outra pessoa, mas aquele contrato não me impede de passar o
próximo ano sentado, descansando, comendo bombons.
Atingi minha cota de desempenho.
— Eu odeio te dizer, mas você não tem que aprovar. —
Bennie arregaçou as mangas. — Sabe como são as coisas hoje
em dia. Ninguém quer mais pagar por pornografia. Não é o
tipo de coisa que é fácil de obter gratuitamente de amadores na
internet. A Black Hat quer investir em um público
especializado. Um que está disposto a pagar por conteúdo
exclusivo. Este é o caminho do futuro. Você não pode confiar
nessas covinhas para sempre. Mais cedo ou mais tarde, vai ter
que se perguntar, quer ganhar dinheiro de verdade ou não?
Quando a compreensão o atingiu, o rosto de Josh se
transformou em granito.
— Quanto eles ofereceram para você me convencer?
Bennie balançou a cabeça.
— Você não quer saber.
Josh saiu da mesa.
— Pare com isso. Não seja assim — disse Bennie, gemendo
como se Josh fosse uma criança tendo um ataque de raiva. Ele
apontou uma batata frita para a pilha de papéis com a oferta.
— Cinco mil não é nada.
Josh tirou da carteira notas suficientes para cobrir o
hambúrguer que não tinha comido, e mais vinte para
compensar a garçonete por sua dispensa abrupta.
— Não pegue isso — disse ele, apontando para o dinheiro e
praticamente rosnando.
Bennie gritou atrás de Josh enquanto ele saía pela porta, sem
nenhum traço de compostura.
— Quer se demitir? Deixe-me dar uma dica, querido, foder
é a única coisa em que você é bom, e você não é tão bom em
foder como pensa. Me ligue quando acordar, caralho!
Não pesquise seu colega de quarto e estrela pornô no google. Nada
de bom pode vir disso.
Clara repetia o mantra sempre que o silêncio da casa vazia
lhe dava ideias perigosas.
Saber que Josh estrelava vídeos explícitos infectou seu
cérebro. Um contágio com apenas uma cura.
Não importava o quanto ela tentasse se distrair, ou quantas
playlists de "concentração" criasse, sua mente continuava
flutuando de volta para Josh e sua grande… ocupação.
Josh em um uniforme de entregador de pizza acanhado.
Josh como um carteiro sexy com um pacote extra grande. As
possibilidades infinitas a atormentavam. Ela sabia que a
pornografia vinha em todas as formas e tamanhos. Que tipo de
vídeos Josh fazia? Ela dificilmente poderia ter pressionado Jill
para obter detalhes. A pornografia não era exatamente o tipo
de assunto que alguém poderia discutir confortavelmente com
um membro da família, mesmo um até recentemente distante.
Mas, apesar de sua imaginação hiperativa, não conseguia
imaginar um homem tão brincalhão como sexy o suficiente
para atrair o público.
Ela supôs que Josh tinha seus momentos.
Tendo dedicado grande parte de sua vida adulta ao meio
acadêmico favorecido por introvertidos, Clara conhecia
muitos homens que evitavam o contato visual. Os caras em seu
programa de doutorado em Columbia podiam olhar para a
pintura de uma orgia selvagem por horas, mas depois só
conseguiam falar com seu ouvido esquerdo no bar.
Josh não sofria de tal aversão. Manter o olhar fixo por muito
tempo a deixou tonta. A natureza ou a criação o tornaram
elétrico?
Mesmo com todas as janelas abertas para tentar aproveitar
qualquer traço de brisa e as luzes apagadas, ela não conseguia se
refrescar. Seu quarto estava pior. Um inferno escaldante sem o
benefício de um ventilador de teto. Everett tinha esquecido de
mencionar a falta de ar condicionado da casa quando lhe
ofereceu aluguel grátis. Ela vestiu uma velha camisola de
algodão que evocava lembranças reconfortantes de um diário
melancólico em seu quarto de menina, mesmo que não lhe
servisse da mesma forma que quando tinha doze anos.
Ela olhou para o teto e tentou soprar uma longa mecha de
cabelo úmido da testa. Clara recitou mentalmente as razões
pelas quais descobrir mais informações sobre as proezas
profissionais de Josh arruinaria sua vida.
Um, vê-lo nu tornaria impossível falar com ele novamente
sem criar um tornado de estranheza. O que significava, por
inteiro, que não poderia mais pedir a ele para pegar as coisas da
prateleira de cima dos armários da cozinha. Ela já havia
armazenado vários frascos de shampoo caro lá em cima.
Segundo, poderia ver algo completamente repreensível,
forçando-a confrontá-lo com base em sua moral feminista.
Esses tipos de intervenções tinham preços altos em termos de
tempo e energia.
Três, e se ele tivesse um pênis estranho? Ela supôs que
provavelmente não, caso contrário, provavelmente não o
teriam escalado. Eles tinham algum tipo de lista de verificação
para órgãos genitais escalados para pornografia?
Sua mente voltou à curiosidade espontânea, evitando todas
as ideias de entretenimento alternativo, comida ou sono.
Certo. Uma pesquisa rápida e superficial. Entrar e sair.
Como seu pau.
Oh, senhor.
Josh havia deixado um bilhete na geladeira. Encontro de
jantar depois do trabalho. Chego tarde.
Eram apenas sete horas. Tempo de sobra para uma rápida
sessão de coleta de informações. Quando seu colega de quarto
voltasse, ela teria saciado sua curiosidade e colocado um pijama.
Clara tirou as pernas do sofá e caminhou pelo carpete
descalça, inconscientemente na ponta dos pés. Pegou seu fiel
laptop repousado em sua mesa e o levou de volta para a sala de
estar.
Imaginando-se como uma agente secreta, caçando
informações em território inimigo com a respiração suspensa,
deitou-se de bruços no sofá e colocou um tornozelo atrás do
outro. Abrindo uma guia anônima, ela digitou Josh Darling.
Fingir que sua missão servia a um propósito maior, como
talvez defender a segurança nacional, tornou mais fácil clicar no
primeiro link que encontrou, um artigo sobre como Josh se
destacava na indústria pornográfica.
Josh Darling está evoluindo o pornô? Em uma indústria
famosa pelo olhar masculino, Darling silenciosamente
roubou cenas por quase dois anos com sua marca
registrada e sua reputação de priorizar o prazer de sua co-
estrela. Ao contrário dos retratos da mídia convencional
sobre o desejo feminino, Josh Darling não tem medo de se
aproximar do clitóris. Membros da indústria clamam
por trabalhar com ele, e o público fará o (cada vez mais)
impensável para vê-lo: pagar.
Sua aparência de garoto despojado pode parecer
despretensiosa, mas seu magnetismo desafia a definição,
especialmente quando ele atua ao lado de sua fogosa
namorada, Naomi Grant. Os executivos da Black Hat
Studios, que detém o contrato exclusivo de Darling,
atribuem amplamente ao duo sensação os créditos por
atraírem o público feminino de todas as idades. Enquanto
a graça das longas pernas de Miss Grant cativa, assistir
Josh Darling atuar é testemunhar um mestre
aperfeiçoando sua criação. Na era de encontros
fracassados e fotos de pau desenfreadas, Darling dá às
mulheres uma razão para acreditar que ainda vale a
pena sair da cama pelo sexo.
Clara não pôde deixar de notar que o artigo tinha um link
para um vídeo.
Seus dedos formigavam contra o teclado, e seu batimento
cardíaco disparou como o de um velocista antes de uma
corrida. Quão triste era que apenas pensar em assistir a esse
conteúdo fosse mais emocionante do que os últimos seis meses
de sua vida sexual?
Pelo amor de Deus, mulher, é só um pouco de pornografia.
Com um rápido olhar para trás, para a porta da frente
fechada, ela apertou o play.
O vídeo começava com uma linda ruiva nadando no que
parecia ser uma pequena piscina comunitária. Seu corpo
escultural ostentava um bronzeado dourado perfeito que
brilhava enquanto dava nados de borboleta.
Clara não esperava que a mulher do vídeo fosse tão linda. A
câmera percorreu apreciativamente seu corpo debaixo d'água,
passando por maiô vermelho apertado – Clara revirou os olhos
– antes de se afastar para revelar ninguém menos que Josh,
colega de quarto e, aparentemente, galã da pornografia, em um
uniforme de salva-vidas, com um nariz coberto de protetor
solar e óculos aviador, empoleirado no topo de uma cadeira de
guarda bem acima da água.
Mesmo sabendo o que esperar, a visão dele causou um
aperto em sua respiração. Enquanto ela observava, ele mexeu
seus longos membros casualmente na cadeira enquanto
observava atentamente as braçadas da nadadora.
Clara percebeu imediatamente por que as mulheres
gostavam de observá-lo. Ao contrário das estrelas pornôs
masculinas estereotipadas, ele não exibia músculos artificiais.
Mantinha o corpo esguio, mas tonificado, com uma facilidade
que, ela supôs, devia ser acompanhada pelo tipo de pênis que o
qualifica como estrela pornô.
Os olhos dela fixaram-se no rosto dele. Mesmo escondido
atrás de óculos escuros, podia sentir a atração de seus olhos,
atualmente direcionados para sua co-estrela. Eles te desafiavam
a pular e prometiam te segurar. Aparentemente, ele poderia
ligar e desligar a chama à vontade.
A linda garota nadando vacilou, seu fingimento de
“afogamento” uma brincadeira óbvia para chamar a atenção do
salva-vidas.
Sem perder o ritmo, Josh tirou a camiseta e os óculos e
mergulhou para um resgate rápido. Uma vez que ele puxou a
donzela para a segurança e a colocou em uma espreguiçadeira
próxima, começou os esforços de ressuscitação que pareciam
bem diferentes do que Clara havia aprendido como instrutora
de acampamento.
Enquanto Josh começava a despir a atleta de seu maiô, Clara
prestou atenção especial à maneira como ele atuava – embora a
palavra "atuava" não se encaixasse muito bem.
Josh e sua co-estrela não pareciam dois atores sendo pagos.
Agora que a pretensão da “trama” havia acabado, eles pareciam
apenas duas pessoas que realmente tinham tesão um pelo
outro.
Clara se abanou com a mão, tendo percebido por que esse
vídeo em particular havia chamado a atenção do repórter do
artigo.
O salva-vidas Josh de alguma forma comunicou com uma
destreza alarmante que achava sua co-estrela simultaneamente
a mulher mais sexy que ele já tinha visto e também sua melhor
amiga. A corrente de confiança e intimidade fez Clara querer
desviar o olhar quase tanto quanto fez querer apertar as coxas.
O entusiasmo com que explorou o corpo daquela mulher
parecia impossivelmente sexy. Como se ele não conseguisse o
suficiente dela. E se seus gemidos de prazer serviram como
qualquer indicação, o sentimento era mútuo. Clara não pôde
deixar de comparar a representação na tela com suas próprias
experiências decididamente menos entusiasmadas.
Ela tinha um problema. Josh se reposicionou na tela. Um
grande problema.
Ou Josh Darling havia transcendido sua definição atual de
relação sexual ou alguém precisava alertar o Oscar de que ele era
o melhor ator do mundo.
Josh abriu a porta da frente para encontrar uma bunda
espetacular apontada para ele.
A bunda em questão, ele notou com surpresa, pertencia à
sua companheira de quarto certinha. Sem desconfiar de sua
crítica admirada, Clara recostou-se no sofá assistindo a algo em
seu computador. A camisola fina que ela usava subia por suas
coxas, o servindo com uma visão quase livre de suas pernas e
doce bunda espreitando para fora da calcinha de algodão rosa
claro.
Ele mordeu o punho com força para evitar gemer.
Fechando os olhos, ele fez uma oração silenciosa para um
Deus que ele não acreditava. Senhor, me dê forças para não
foder minha colega de quarto.
Seu grunhido áspero encheu a sala.
Exceto que ele não fez nenhum som.
Os olhos de Josh se abriram. Porque ele afiou aquele
grunhido em seu cartão de visita. Usou-o inúmeras vezes para
indicar aos colegas de elenco e ao público que havia acertado o
ritmo. Esse ruído significava que seu corpo oscilava
perigosamente perto do nirvana, que mais algumas pinceladas
profundas o fariam ver estrelas.
Aquele grunhido significava que Clara estava assistindo
pornografia. Sua pornografia.
O peito de Josh se expandiu de orgulho. Bem, bem, bem,
Srta. Wheaton.
Obviamente, ele sabia que as pessoas assistiam aos vídeos
que ele fazia. Ele os fez para esse propósito. Mas ele nunca tinha
visto alguém vendo seu trabalho antes. E o fato de que os vídeos
dele podem alimentar os sonhos safados de uma garota como
Clara? Talvez ele não tenha perdido os últimos dois anos de sua
vida, afinal.
Josh observou sua própria bunda se contrair enquanto ele se
aproximava chegava cada vez mais perto do orgasmo na tela. A
cabeça de Clara se inclinou para seguir a trajetória de seu corpo
enquanto ele manobrava sua parceira para uma posição final
particularmente impressionante.
Cruzando os braços, ele se recostou no batente da porta,
aproveitando este momento de glória inesperada. Depois de
bloquear a imagem para um dia chuvoso, ele finalmente
anunciou sua presença deixando cair sua mochila no chão.
Clara respondeu ao baque suave como se alguém tivesse
disparado uma arma na sala de estar. Ela fechou o computador
com força e saltou do sofá, puxando a camisola até os joelhos,
sem sucesso.
— Eu pensei que você não estaria em casa até mais tarde —
ela deixou escapar, se contorcendo como um peixe preso em
uma linha.
As palavras ficaram presas em sua garganta. De frente, seu
pijama ficou positivamente pecaminoso. Os seios
impressionantes de Clara pressionaram contra o tecido gasto, e
ele fez contato visual direto com seus mamilos duros. Tudo
sobre ela parecia devasso. Porra. Aquela pequena balançada
sinalizou culpa ou ela estava simplesmente muito excitada?
Manchas rosadas marcaram suas bochechas e seus lábios
carnudos se separaram enquanto ela tentava recuperar o fôlego.
— Minha reunião terminou abruptamente. O que você
estava assistindo? — Ele fingiu ignorância. Ele sabia que deveria
se afastar dessa terrível tentação - sabia que nada de bom
poderia vir de permanecer nesta sala e imaginar o que poderia
ter encontrado se tivesse entrado dez minutos depois. Mas
quando seu rosto mudou de rosa para carmesim, e seu olhar
perfurou o tapete, ele não pôde resistir ao desejo de provocá-la.
— Oh, era um vídeo sobre… hum... meditação. — Ela
balançou a cabeça como reforço à sua declaração.
Josh deixou seu olhar viajar por seu corpo de uma forma que
ele sabia que ela notaria.
— Sério? — Ele perguntou, testando a verdade de suas
palavras. — Deve ter sido muito excitante.
Ela cruzou os braços.
— Você está corada.
Clara finalmente conseguiu fazer sua cabeça parar de
balançar e, em vez disso, mordeu o lábio inferior, chamando
sua atenção de volta para sua boca exuberante.
— Bem, é um exercício para a mente. — Seu tom subia com
cada palavra.
Josh embalou o queixo na mão, acariciando sua mandíbula.
— Terrivelmente alto para meditação.
— Você tem razão. Sou uma péssima mentirosa. — Clara
endireitou os ombros como se estivesse se preparando para a
batalha. — Não acredito que não consegui pensar em nada
melhor do que meditação. As pessoas presumem que posso
pensar por conta própria porque fui campeã regional de
debate, mas é realmente um conjunto de habilidades muito
diferente. — Ela abaixou a cabeça. — De qualquer forma, esse
não é o ponto. A questão é — ela continuou com uma
gravidade incrível em sua voz — eu estava assistindo
pornografia. — Ela levantou a mão para cobrir os olhos
enquanto completava sua confissão. — Eu estava assistindo a
sua pornografia. Mas eu juro que não estava fazendo nada
desagradável.
Graças a Deus. Seu pau não teria sobrevivido ao entrar e ter
aquela vista.
— Eu estava curiosa! Nunca conheci ninguém que… — ela
gesticulou para seu computador fechado.
Sua risada reverberou baixo em sua garganta.
— Por que não estou surpreso que você nunca conheceu
um artista adulto?
— Oh. Esse é o, hum, seu vocabulário preferido?
— Acho que depende com quem estou falando. — Ele
parou para considerar, afundando no sofá. As pessoas
geralmente não pediam sua opinião sobre o assunto. — Não
posso falar por todos, mas se estou com alguém da indústria, é
mais provável que eu diga performer. Estrela pornográfica é o
termo que ouço com mais frequência em um contexto cultural,
e estou bem com ele como uma abreviatura mais universal,
mesmo que pareça um pouco estúpido aplicá-lo a mim mesmo.
Clara olhou para o sofá com cansaço por um momento
antes de se juntar a ele.
Ele pretendia tornar isso mais confortável para ambos,
sentando-se. Não assustá-la ainda mais com a proximidade dele.
Josh estendeu a mão para tranquilizá-la com um tapinha gentil
no braço, mas se afastou no último momento e jogou para ela
o cobertor pendurado nas costas do sofá.
Sua vida girava em torno de tocar em estranhos. Não era de
se admirar que ele tivesse todos esses instintos para oferecer
conforto físico a Clara. Ele precisava ficar se lembrando de que
eles mal se conheciam. Josh nunca se preocupou que seu
trabalho afetasse seu estado mental, mas talvez devesse.
Ele não piscou ao lamber a boceta de uma mulher estranha
dez minutos depois de conhecê-la, então por que a ideia de dar
tapinhas no antebraço de Clara o fazia vibrar?
— Alguma outra pergunta? — Ninguém nunca teve apenas
uma quando se tratava de seu trabalho. Melhor acabar com a
inquisição inevitável agora.
Clara colocou a manta em volta dos ombros e Josh
lamentou a perda da visão.
— Sim. Desculpe. Qual o seu nome? Seu nome verdadeiro,
quero dizer.
Pelo menos essa foi fácil.
— É Josh. Joshua Conners.
— Não me diga que Darling é seu nome do meio?
Ele balançou a cabeça pesarosamente.
— Muitas pessoas gastam muito tempo e energia
inventando um nome falso quando entram no pornô, mas eu
usei o meu. No meu primeiro dia no set, tivemos esse diretor
britânico maluco. O cara usava uma boina, sem ironia. De
qualquer forma, subi e me apresentei. Ele me perguntou meu
nome, e eu disse a ele. Eu não conhecia nada melhor.
— Você não pensou em usar o nome do seu primeiro animal
de estimação e a rua em que você cresceu?
— Não tenho certeza se Dingus Winslow venderia bem.
Josh se aqueceu com a memória de seu amado hamster.
— Provavelmente não.
— Foi muita sorte que toda vez que o diretor queria que eu
levantasse minha perna ou o que quer que fosse, ele gritasse
“Josh, querido.” O assistente de produção do set naquele dia
deve ter pensado que era meu nome artístico. Eles anotaram, e
a próxima coisa que eu sei é que o vídeo saiu e estava nos
créditos.
— Como você...? — Ela pigarreou. — Por que você...? Isso
quer dizer... Como você se encontrou nesta linha de trabalho
em particular?
Ah sim. A versão cuidadosa de Clara de Como você acabou
fodendo na frente das câmeras?
— Eu costumava ser manobrista para grandes festas de
Hollywood no Valley. Uma noite, um cara me pegou me
divertindo com sua esposa em seu Maserati. Eu tinha certeza
que ele iria me bater, mas em vez disso, ele me ofereceu um
emprego se eu pudesse continuar e manter minha ereção
enquanto ele assistia. Eu tinha 24 anos e abandonei a faculdade.
A ideia de que alguém queria me pagar para fazer sexo parecia
muito melhor do que tentar conseguir um emprego de verdade.
Josh tentou avaliar sua reação. Ela não tinha fugido da sala
ou curvado o lábio em desgosto, então ele continuou falando.
— Acontece que eu tinha um talento especial para isso.
Nem todo mundo consegue lidar com o estresse de todas as
câmeras e ter que atuar sob comando, entende? — Ele se
recusou a admitir qualquer vergonha naquele momento. Ele
nunca permitiria que ninguém o fizesse se sentir mal por seu
trabalho e não pretendia começar agora. E daí se Clara não
aprovasse suas escolhas? Ela poderia entrar na fila atrás da longa
lista de outras pessoas. Uma fila que começava com sua mãe.
Uma pequena ruga se formou entre suas sobrancelhas.
— Mas você deve ter considerado outras ocupações?
— Ah, eu entendo. Você está pescando minha dor secreta.
Ela puxou a bainha de sua camisola novamente.
— Dor secreta?
— Sim, você sabe. Que terrível tragédia ocorreu para me
forçar a tomar uma carreira decadente no entretenimento
adulto? Por que alguém iria foder sem problemas, por dinheiro,
certo? — Ele apertou a mandíbula.
Ele havia participado dessa conversa inúmeras vezes,
especialmente com mulheres que queriam redimi-lo. Se Clara
achasse seu trabalho desagradável, ela poderia sair a qualquer
momento. Ele até daria uma mão enquanto ela arrumava as
malas.
— Isso não foi o que eu quis dizer. — Clara esfregou a
garganta com a mão trêmula.
— Bem, eu odeio te dizer isso, mas eu não tenho uma
história triste. Gosto do que faço e muitas outras pessoas
gostam do que faço. Na verdade… — mesmo quando eles
estavam sentados, ela teve que inclinar a cabeça para trás para
olhá-lo nos olhos.
Seus cílios muito pretos baixaram. Não era justo que ela
pudesse fazer o tímido parecer sexy.
— Eu acho que você gosta do que eu faço. — Ele voltou seu
olhar para seus mamilos com insinuações óbvias.
— Com licença. — Ela colocou a mão em seu ombro e deu
um pequeno empurrão. — Você deve saber que eu estava
assistindo aquele vídeo através de uma lente muito profissional,
até artística.
Ele tinha que admitir, uma mulher inferior nunca teria
conseguido transmitir uma justa indignação naquela camisola.
Mas todo o bom senso do mundo não a salvou de cair em
sua armadilha.
— Ótimo, então o que você achou?
— Sobre o que? — Os sons que ela emitia eram mais
guinchos do que palavras.
Ele baixou as mãos para o colo, intencionalmente atraindo
os olhos dela abaixo de sua cintura.
— Você sabe o que.
Sua garganta trabalhou enquanto ela engolia em seco. As
mechas perdidas de seu cabelo escuro agarraram-se à pele
úmida de seu pescoço.
— Bem, eu achei a performance muito… bem executada.
Posso ver como seus métodos seriam eficazes. — Seu rosto se
encheu de alarme. — Não que eu tenha sido afetada. Porque,
você sabe, isso seria inapropriado. — Os olhos de Clara
dispararam nervosamente para seus antebraços e depois de
volta para o tapete, seu refúgio claro.
O que havia com mulheres e antebraços?
Ele não conseguiu resistir a flexioná-los cerrando os punhos.
— Ahh, sim. Bem, estou procurando feedback estritamente
profissional.
— Como crítica construtiva?
— Estou sempre procurando melhorar meu ofício — ele
disse, sua voz tão séria que ela teria dificuldade em discernir se
ele estava falando sério. Ele passou o braço pelas costas do sofá.
— E você parece o tipo de garota que faria anotações.
Clara considerou quanta verdade esconder do homem
irritantemente confiante sentado ao lado dela. Ele já a tinha
aprisionado nessa conversa. Ela ansiava por conter qualquer
satisfação adicional. Parte dela queria dizer a Josh que achava o
que ele fazia degradante, nem que fosse para tirar o sorriso
malicioso de sua boca. Ela imaginou erguer o nariz para mostrar
a ele o quão abaixo dela, ela encontrou a pornografia como uma
indústria e uma forma de arte.
Mas ela não conseguiu.
Quer ela quisesse admitir ou não, aquele vídeo alcançou os
fins desejados.
Ela o viu fazer sexo objetivamente com uma linda mulher, e
isso a deixou tão quente que sua pele deveria ter explodido em
chamas.
Não porque ela queria dormir com ele. Não. Foi porque as
palavras que melhor descreviam sua vida amorosa eram mornas
e cuidadosas.
Em contraste, Josh deu à mulher naquele vídeo um prazer
que parecia chocantemente selvagem e vívido. Agora ele queria
que ela fornecesse notas sobre seu ofício ou, Deus me livre, sua
forma? A luxúria ainda fervilhava em seu cérebro como abelhas
furiosas. Ela mal conseguia pensar sobre o zumbido em seus
ouvidos.
Claro, isso provavelmente foi um erro. Nada mais do que
uma maneira de Josh chamá-la de dar atenção demais a um
vídeo dele fazendo sexo. Mas a aluna que vivia nela não poderia
deixar passar uma oportunidade de pesquisa em primeira mão.
O silêncio na sala aumentou, esperando por sua resposta.
Finalmente, ela soltou as palavras que ela manteve escondidas
debaixo de sua língua desde que ele entrou na sala.
— Você faz muito aquela coisa da boca.
Seus lábios formaram um O perfeito - claramente, ele havia
antecipado um feedback diferente.
— Você vai ter que ser mais específica.
Clara desesperadamente puxou o ar pelo buraco de sua
garganta. Você é uma mulher adulta. Você consegue fazer isso.
— Sexo oral — ela disse, fazendo um grande esforço para
não sussurrar.
— Nela ou em mim?
— Nela. — Se o chão pudesse se abrir e engoli-la agora, ela
realmente apreciaria.
— E? — O olhar vazio em seu rosto dizia que ele estava
tentando acompanhar a situação, mas não entendia seu ponto
de vista.
— Eu achei toda a sua… — Ela preparou a próxima palavra
em sua língua. — ... atenção oral surpreendente.
Josh olhou ao redor da sala como se o abajur ou a mesa de
centro pudessem oferecer uma tradução de seu feedback.
— Eu não consigo entender.
Clara acreditava que ele não estava sendo obtuso de
propósito.
— Não é realmente minha praia, eu acho. Embora a mulher
no vídeo certamente pareça gostar, acho que podemos marcar
como uma questão de preferência pessoal. — Ela cruzou as
mãos ordenadamente na frente dela.
Os olhos de Josh se estreitaram.
— Como seus parceiros geralmente te fazem gozar? — Seu
tom carecia de todos os traços de luxúria. Ela esperava que ele
puxasse os óculos do bolso a qualquer momento.
A conversa deles tinha tomado um rumo inesperado e
perigoso em relação a seu histórico menos que estelar de
experiências sexuais. Clara arrastou o pé pelo tapete à sua frente
e observou as fibras se dobrarem.
— Espere um minuto. — A realização deve ter raiado. —
Você deve estar brincando comigo. — Josh colocou uma mão
urgente em seu braço. — Clara Wheaton, por favor, me diga
que um homem a trouxe ao orgasmo.
Clara desejou que uma bandeira branca fosse acenada.
— Não é como se alguns deles não tivessem tentado — disse
ela, querendo defender alguns dos homens doces e bem-
intencionados que ela namorou. — Isso nunca aconteceu, e eu
poderia dizer que, depois de um tempo, eles se sentiram mal
com isso. Parecia mais eficiente e menos embaraçoso para todas
as partes envolvidas se eu cuidasse das coisas sozinha.
Ele balançou a cabeça com tanta veemência que ela se
perguntou como não quebrou seu pescoço. Dessa vez, quando
os olhos dele percorreram seu corpo com um calor flagrante,
ela soube que ele não fez isso para envergonhá-la.
— Que desperdício.
Ela não sabia o que fazer com a reação dele. Ele parecia quase
zangado, mais incomodado do que ela o tinha visto desde que
se mudou. Talvez ele sentisse pena dela. Bem, ela não precisava
de sua piedade. Ela deu a ele o olhar fulminante que ela
normalmente reservava para pessoas que faziam comentários
sarcásticos sobre sua família.
— Com licença. — Ela se sentou o mais ereta possível. —
Acontece que eu consigo ter orgasmos muito satisfatórios.
Seus olhos brilharam com as imagens que sua confissão
conjurou.
— Tenho certeza que sim. Mas não é a mesma coisa. A ideia
de perder o controle não te excita em nada?
Quando ele continuou, sua voz correu como mel sobre seu
corpo, lenta, doce e pegajosa.
— Você nunca implora por alguém que não se importa com
o quanto você quer? Alguém que não concede sua libertação
até que você implore por isso?
Clara apertou tudo abaixo da cintura. Ela teve que se
lembrar de que a voz dele era cheia de promessas, não porque
ele gostasse dela, mas para provar um ponto. Infelizmente, esse
conhecimento não a impediu de desejar que ele pressionasse
sua língua contra seu pulso acelerado.
— Você nunca deixou alguém aprender seu corpo? Deixou-
os provar cada centímetro de você até que a linha entre o prazer
e a dor se desfaça porque é muito bom? Demais?
Clara não conseguia parar de reproduzir imagens lúgubres
do vídeo que acabara de ver consigo mesma no lugar da co-
estrela de Josh.
— Você não quer alguém que fique duro. pra. caralho.
assistindo você se contorcer, ofegar e arquear as costas
conforme você se aproxima do ápice?
Os olhos de Clara se fecharam. Josh a transportou para um
lugar esplêndido e perverso.
Nada importava, exceto que ele continuou falando,
continuou usando aquela voz que era mais potente do que
qualquer beijo que ela já havia recebido.
Mas ele não fez isso. Em vez disso, Josh quebrou o fio
invisível de tensão pendurado entre eles. Quando ela abriu os
olhos, ele se recostou no sofá.
— Jesus, Clara. — Ele passou uma mão descuidada pelo
cabelo. — Você namorou um bando de idiotas preguiçosos se
eles deixaram você se safar dessa merda. Sexo não tem a ver com
eficiência.
— Talvez não para você — ela disse baixinho.
O olhar de Josh a penetrou por um momento, tão profundo
que ela se perguntou por um instante ridículo se ele poderia ver
não apenas suas roupas, mas também sua pele, para o abismo
de insegurança que havia por baixo.
Ele se levantou.
— Quer saber? Não.
Ela seguiu o movimento de seus braços enquanto eles se
cruzavam em uma demonstração de desafio.
— Não? — Clara lambeu os lábios secos como ossos.
— Não — ele disse novamente como se ainda mais
convencido do que precisava ser feito. — Isso é inaceitável.
— É?
Josh balançou o pescoço e os ombros, como um nadador se
preparando para mergulhar antes de uma corrida.
— Tire sua roupa íntima — ele disse, sua voz calma e
mortalmente séria.
Os olhos de Clara ficaram com as pálpebras pesadas com a
convicção em suas palavras, mas então sua mente alcançou seu
corpo.
— Desculpa... O que você disse?
— Eu vou consertar essa situação — Josh declarou
simplesmente. — Agora mesmo.
— Você não pode estar falando sério. — Ela tentou rir, mas
não conseguiu diante de sua determinação estoica. — Isso é
uma loucura.
— Olha. Não tenho delírios de grandeza, mas, neste
momento da minha vida, tornei minha missão singular de
ajudar as mulheres a gozarem mais e de uma forma melhor. Sua
existência como um ponto fora da curva joga fora a curva
inteira.
— Bem, quando você coloca dessa forma, soa tão sexy — ela
brincou.
— Você quer sexy?
— Não! — Seu apelo já era potente o suficiente para
atordoar. Ela jogou os braços na frente dela. — É só isso... Não
sei se você percebeu, mas não sou exatamente o tipo de garota
que faz sexo casual.
— Não me diga. — Ele esperou com expectativa. Quando
ela não se moveu para agir conforme as instruções, ele teve a
audácia de acenar com dois dedos para o lado em um gesto de
vamos apressar esse passo.
Clara mexeu em sua bainha.
— Agradeço a oferta. Eu acho. Mas não posso tirar minha
calcinha aqui. Eu mal te conheço, e embora eu saiba que você
tem muita experiência nessa área, parece realmente improvável
que eu pudesse, bem... Você sabe o que eu quero dizer.
Ela esfregou os braços, oprimida pela virada inesperada que
a noite havia tomado. Ela nunca deveria ter pesquisado seu
colega de quarto no Google.
— Qual é o problema? Não há nenhuma maneira não idiota
de dizer isso, mas recebo cerca de cinquenta mulheres por
semana me pedindo para fazer isso. Vai ser totalmente clínico.
Honra de escoteiro. — Ele a saudou com três dedos.
— Sim. Vou arriscar e dizer que essa conversa não é
sancionada pelos escoteiros da América. — Ela não podia
deixar de imaginar o estrago que ele poderia causar com aquela
mão.
— Se isso faz você se sentir melhor, podemos fazer isso por
cima da sua calcinha.
— Podemos? — Ele estava se oferecendo para cuidar de
muitas deficiências aqui.
Ele assentiu, um sorriso fácil de volta.
— Não pense muito. Nós vamos conseguir resolver esse
problema irritante e, da próxima vez que você fizer sexo com
algum Melvin que encontrar na biblioteca, estará preparada
para exigir o que merece.
Clara quase escorregou do sofá. Algo deve estar muito
errado com ela, porque ela se pegou considerando a oferta
maluca dele. Mulheres como ela não recebiam muitas
propostas indecentes. Aparentemente, Clara gostava delas. Ela
viajou por todo o país para experimentar o amor e a aventura, e
embora este encontro não pudesse ser estritamente qualificado
como qualquer um, a ideia fez seu coração bater de uma forma
que sua antiga vida nunca fizera.
Pense nisso como um experimento científico.
— E se não funcionar? — Suas palavras tremeram com a
força de seu medo. — E se eu for o problema? — Ela já tinha
ouvido antes. Controladora demais em sua própria cabeça,
pudica demais para desfrutar do sexo como todo mundo.
Josh não vacilou em sua convicção.
— Se eu não consigo te fazer gozar com minhas mãos — ele
disse, sua voz suave e incrivelmente gentil — isso é problema
meu. Não é teu. E se for esse o caso, vamos descobrir outra
coisa. Cada corpo é diferente, mas nenhum deles está errado.
Clara enxugou as mãos na camisola traidora e reuniu forças.
Ela poderia fazer isso. Ela poderia ser o tipo de garota que
fazia coisas assim.
— Ok. — Sua voz soou distante para seus próprios ouvidos.
Os olhos de Josh brilharam com um novo tipo de triunfo.
— Você está dizendo sim?
— Estou dizendo que sim. — Seu estômago agitou-se com
os nervos rebeldes. — Então, o que eu deveria... Quer dizer,
onde você quer que eu vá...
Pela primeira vez, Josh não aumentou seu desconforto
provocando-a. Seus olhos se fixaram em sua boca enquanto a
empurrava no sofá.
Ela poderia mapear suas sardas neste intervalo, a constelação
de pontos mal registrada. Deus, beijá-lo deve ser o paraíso. Mas
quando a boca dele ficou a centímetros da dela, ela se
acovardou, instintivamente se inclinando para trás, até que sua
cabeça bateu na parede atrás do sofá com um baque.
Sua risada suave era quase um ronronar.
— Não se preocupe, Wheaton. Eu não vou esquecer as
regras.
Com movimentos hábeis, Josh a guiou para uma posição
reclinada. Ele se aproximou dela mais como um animal nervoso
do que como um amante. Cada toque seu é cuidadoso.
Controlado. Um lembrete de que ele viu esse acordo como
profissional. Não prazer, mas seu trabalho.
Ele guiou os joelhos dela separados, criando espaço
suficiente para ele se ajoelhar entre eles.
— Você pode fechar os olhos se quiser.
Clara aceitou com gratidão a oportunidade de se desapegar.
Essa noite poderia transformá-la em um conto de advertência,
mas ela desperdiçou chances suficientes para reconhecer uma
oferta única na vida.
Ela deslizou um centímetro para baixo no sofá, deixando seu
corpo se abrir ainda mais, o minúsculo movimento o mais
próximo que ela já tinha chegado de um ato desviante.
Josh passou o polegar pela pele macia de sua coxa, fazendo-
a estremecer.
— Bom?
Clara abriu a boca para responder, mas as palavras
morreram, nervosas, em sua língua.
— Está tudo bem — disse ele em voz áspera, como se alguém
tivesse passado uma lixa em suas cordas vocais. — Você não tem
que responder. — O calor de sua respiração em sua pele já
quente era uma tortura decadente. — Vou aprender o que você
gosta.
Enquanto Clara tentava desesperadamente não pensar, Josh
beijou ao longo da linha onde sua calcinha encontrava sua
perna. O contato atingiu a metade inferior de seu corpo como
uma corrente. Passou-se um tempo embaraçosamente longo
desde que alguém a tocou com intenção sexual.
Josh empregou a boca e as mãos como um maestro
enquanto descia uma perna e depois a outra com uma paciência
desonesta, mas não seguiu nenhuma rotina discernível. Ele
moderou seu toque em várias pressões e padrões, nunca se
demorando em um ponto por muito tempo e evitando
completamente as áreas mais pertinentes de sua anatomia.
Cada golpe enlouquecedor deixava Clara mais indignada, mais
desesperada.
Finalmente, os nós dos dedos dele roçaram a frente de sua
calcinha, a fricção quase imperceptível contra o algodão
deixando-a sem fôlego. Mas apenas quando ela pensou que ele
finalmente lhe daria algum alívio, Josh fez o oposto, se
afastando e começando outra rodada de beijos de boca aberta
em sua perna.
— Oh vamos lá.
— Com licença. — Josh beliscou-a levemente atrás do
joelho e Clara soltou um guincho minúsculo, totalmente
involuntário. — Você queria algo? — Ele teve a coragem de
parecer inocente.
Clara apertou o braço do sofá e reprimiu um gemido, sem
saber quanto mais daquela coisa de queima lenta ela aguentaria.
Foi rude pedir educadamente que ele fosse direto ao ponto?
Não que ela não pudesse apreciar sua técnica. Os toques
lentos e ternos afrouxaram seus membros, tornando tudo
lânguido e nebuloso. Mas a prometeram um orgasmo e não
importava o quão talentoso ele era, Josh não iria entregá-lo
beijando suas coxas. Clara ergueu os quadris, dando-lhe uma
dica útil.
Em vez de seguir as instruções, Josh tirou as mãos
completamente, dando-lhe nada além do calor úmido de sua
boca enquanto beijava o algodão que cobria seu núcleo.
— Eu não vou deixar você me apressar.
Quando ele passou a mão em seu joelho, ela jurou que
ficaria louca. Em algum momento dos últimos cinco minutos,
todas as suas terminações nervosas se multiplicaram.
Parecia uma punição, embora não como qualquer outra
que ela já tivesse ganhado, quando ele circulou seu tornozelo
com os dedos e levou-o à boca para chupar a carne fina e tenra
que encontrou lá.
Dúvidas e medos familiares começaram a passar por sua
mente: estava demorando muito. Ele ia ficar cansado. Ou
entediado.
Josh pareceu notar sua mente vagando porque ele deu uma
mordida particularmente afiada em sua panturrilha. A pressão
aguda de seus dentes, misturando prazer e dor, a fez ofegar.
Toda a parte inferior de seu corpo formigou, implorando-lhe
para tirar sua própria mão de seu aperto mortal no sofá e
proporcionar o alívio que ele continuava a negar a ela.
Clara engoliu em seco.
— Wheaton — Josh disse, levemente. — Isso só funciona se
você relaxar. Apague a linha de chegada, ok? Não tenho
nenhuma expectativa que você cumpra.
Ele se moveu para lamber uma faixa de fogo em seu quadril.
— Eu não me importo se isso levar horas.
Horas?
— Não tenho outro lugar onde estar.
O timbre de sua voz por si só a estava fazendo suar neste
momento.
— Vou fazer você se sentir bem até que me diga que está
pronta para parar.
Clara podia sentir suas palavras entre as pernas. Cada sílaba
pulsava, enchendo-a de emoções ansiosas que ela não conseguia
separar, não conseguia nomear. Eles se misturaram em uma
única necessidade insistente.
Josh encostou a palma da mão contra sua calcinha e faíscas
explodiram atrás de suas pálpebras. Clara fez um som nada
feminino. Para pensar, um minuto atrás ela achou que seus
dentes em seu tornozelo eram bons.
Josh correu os dois polegares para cima e para baixo na
costura úmida de sua calcinha antes de apoiar uma mão em sua
perna e usar a outra para circular lentamente seu clitóris.
Com cada carícia, ele inspirava uma fome mais aguda e mais
profunda até que ela se viu chorando, enquanto ele a trabalhava
sem piedade. Foi uma cruel reviravolta do destino que durante
vinte e sete anos ela se conformou com uma pálida imitação do
prazer que Josh lhe proporcionava enquanto sitiava seus
sentidos.
Para agir dessa maneira com um verdadeiro estranho, bem
aqui na sala de estar, sem uma lista de reprodução
cuidadosamente selecionada de músicas lentas de R&B, a
carnalidade casual a embriagou de rebelião. Nesse ponto, ela
pegaria qualquer coisa que Josh lhe desse e imploraria por mais.
Ele tocou seu corpo como um violino de ouro, implacável
em sua busca para provar que ele poderia fazê-la gozar,
totalmente vestido, mal roçando a superfície de seu arsenal
amoroso. Essa vantagem, o pico de superioridade nele,
enquanto ele dobrava-a à sua vontade tornava tudo um pouco
mais quente. Ela não conseguia puxar oxigênio suficiente para
os pulmões. Clara não entendia - não conseguia nem seguir -
seus movimentos enquanto eles se confundiam em uma única
pulsação pesada em sua boceta.
Por mais variados que seus toques tivessem sido antes, eles
eram constantes, inabaláveis agora. Clara sabia que ela tinha
encharcado sua calcinha neste momento. Ela não ligou. Em
algum lugar ao longo da linha, Josh a desnudou de cada grama
de vergonha e a substituiu por desejo puro.
Ela pairou no precipício do orgasmo, seu corpo tão
sensibilizado que cada momento, cada movimento, quase, mas
não totalmente, a enviava ao limite. Quanto mais alto ela ficava,
mais firme Josh fazia seus golpes, mas nunca era o suficiente.
Ainda assim, mesmo com o passar dos minutos, Josh nunca
apressou para "chegar à parte boa". Ele nunca tentou tirar
vantagem de seu estado comprometido para negociar por
serviços em espécie. Tudo o que ele fez, ele fez para ela
desfrutar, para saborear, até que ela não pudesse sobreviver a
outro segundo no limite.
— Por favor — Clara sufocou.
Josh diminuiu os movimentos de sua mão.
— Do que você precisa?
Ambos sabiam a resposta, mas dizer em voz alta? Ela
balançou a cabeça.
O bastardo tirou a mão completamente. Todo aquele prazer
- apenas uma pausa.
Clara abriu os olhos para encontrar Josh inclinado sobre os
calcanhares. Ele teria parecido pronto para discutir o noticiário
da noite, se não fosse por suas pupilas dilatadas e a tensão sob
seu cinto.
— Eu quero gozar, seu idiota — ela disse lentamente por
entre os dentes.
Josh sorriu.
— Oh. Você quer? Por que você não disse antes?
Clara gemeu de frustração e fechou os olhos novamente,
bloqueando seu rosto estúpido e presunçoso. Ela tentou
imaginar Everett. Esperando que uma fantasia familiar
esculpida nas ranhuras de seu cérebro fizesse o trabalho. Ela se
imaginou passando as mãos pelo cabelo escuro dele, os olhos de
Everett traçando sua boca. Mas por alguma razão, as imagens
mal provocaram uma vibração em sua barriga.
Lágrimas de frustração se formaram nos cantos de seus
olhos enquanto a voz de Josh dominava sua carne frenética.
— Abra os olhos novamente e eu vou te dar o que você quer.
Contra seu melhor julgamento, ela obedeceu.
Sua arrogância fácil havia desaparecido. Não havia nada
além de convicção e uma pitada de posse em seu rosto agora.
Ela nunca tinha percebido que o contato visual poderia causar
hiperventilação.
Essa interação pode ser tudo sobre seu corpo, seu prazer,
mas aqui estava o consolo de Josh. Clara nunca poderia negar a
identidade do homem que a fez choramingar. Ela saberia
exatamente quem a levou ao limite.
— Selvagem fica bem em você — disse Josh, e dessa vez,
quando ele colocou as mãos sobre ela, ele não se conteve. A
diferença de ritmo e técnica era impressionante. Ele tinha
brincado com ela antes. Pegado leve. E era óbvio o porquê.
Ninguém, especialmente uma noviça como ela, poderia resistir
a um ataque de prazer como este. Clara não tinha poder
naquele momento, nem um pingo do controle que ela
considerava sua constante companheira. Nada importava mais,
nada além do jeito que ele a deixou desmoronar. Toda a tensão
evaporou de seus membros enquanto ela tremia em seus
braços.
Depois de alguns momentos, conforme as sensações
lentamente começaram a desaparecer, Josh pigarreou e fechou
as coxas dela. Mas a paixão em seu toque se foi. Seu rosto ficou
impassível, mais como um homem fechando o porta-malas de
seu carro do que como um amante provocando tremores
secundários.
— Bem, então está feito.
Clara tentou se orientar. Certo. Josh. Orgasmo. Ela e Josh.
Orgasmo. Ela… Oh céus.
— Sinto muito — ela disse automaticamente enquanto
passava a mão pela testa, escovando o cabelo que
provavelmente parecia um mato.
Josh se levantou.
Os olhos de Clara encontraram a protuberância em suas
calças como um míssil teleguiado.
Uau. OK. Então ele sofreu uma resposta involuntária. Para
feromônios. Isso foi bom. Casual. Nada para se preocupar…
novamente.
— Não se preocupe com isso, Wheaton. Não há necessidade
de ficar envergonhada. Pense dessa forma, isso dará uma grande
história quando você voltar para Connecticut. Você pode
jantar fora com sua história “A vez em que uma estrela pornô
me fez gozar” por pelo menos um ano. Inferno, considerando
os círculos que você frequenta, talvez pelo resto de sua vida.
Clara estremeceu. Quão triste ele achava que ela estava? Ela
realmente passou por aquela situação devastadora sozinha? Ela
reconhecidamente não compartilhava de sua riqueza de
experiência, mas Clara pensou que talvez isso tivesse sido algo
extraordinário.
Ele pegou sua bolsa e a segurou na frente de seu corpo.
Idiota. Como ela poderia pensar que um pouco de esfregar
em sua calcinha seria registrado no radar sexual de Josh? Sua
mente e corpo estavam compreensivelmente em guerra.
Ela não o tinha visto com a ruiva? Ele costumava ir até o fim
com mulheres de aparência incrível.
Josh provavelmente poderia ter química com uma planta.
— Certo. — Clara puxou um fio solto do sofá. — Suponho
que para você isso foi como trabalho?
Parte dela queria que ele discutisse. Para dizer a ela que ela
era especial.
— Não seja ridícula. — Josh voltou para seu quarto. — No
trabalho, eu sou pago.
Sua vergonha se transformou em algo vivo e respirando
ofegante contra seu pescoço.
Clara presumiu que ela atingiu o pico de vergonha no dia
em que Everett a deixou em sua porta com um abraço de um
braço só. Ela viu agora que tinha cometido um erro.
Ela poderia resistir a uma demissão deselegante. Pode resistir
a algumas semanas de desemprego. Ela poderia limpar pratos
sujos de um ano em 48 horas. Mas ela sabia, da raiz de seu
cabelo às profundezas de sua alma, ela não poderia ficar nesta
casa com o conhecimento de que ela havia recebido um
orgasmo de pena do seu colega de quarto.
Nada diz desculpas como cafeína e carboidratos. Pelo menos,
foi isso que Josh aprendeu ao longo de sua vida.
Então, quando não conseguiu dormir, saiu da cama e dirigiu
pela cidade até a melhor padaria que conhecia. Na impiedosa
hora das oito da manhã, as estradas estavam cheias de
motoristas, mas ele não podia se arriscar a trazer para Clara
croissants que passaram do ponto ou um bolinho queimado de
algum posto de gasolina comum ou cafeteria de rede nacional.
Com base na reação dela na noite anterior, ele teria sorte se,
presenteada com a melhor babka de L.A., ela falasse com ele
novamente.
Josh soube, quase no segundo em que as palavras saíram de
sua boca na noite anterior, que ele havia adotado a abordagem
errada momentos depois de fazer Clara gozar. Mas, com toda a
justiça, a experiência o havia confundido totalmente. Ele
esperava uma pequena emoção com a novidade de uma nova
mulher. Talvez uma onda de espírito competitivo com a
chance de puxar uma resposta apaixonada de uma puritana
como Clara. Não um pico de luxúria tão poderoso que o
deixasse tonto.
Ele era pago regularmente para fazer coisas muito mais sexy
do que um pouco de amassos desajeitados sobre as roupas no
seu próprio sofá. Calcinhas de algodão não deviam o excitar.
Ele não deveria saborear a suavidade da pele de Clara ou a
maneira como ela murmurava levemente quando gostava de
um determinado movimento.
Josh tinha feito mulheres gozarem com as mãos milhares de
vezes, mas ele não dependia mais de preliminares desde o ensino
médio, quando ele as rebaixou de prato principal para um
aperitivo.
Ele deveria estar seguro, mas algo sobre Clara, sobre os
barulhos que ela fazia, ou a maneira como ela se movia, ou a
combinação perversa, ameaçava prendê-lo sob seu feitiço.
Porque quando ele a observou, se contorcendo contra sua mão,
ofegante, sua pele ficou muito apertada para seu corpo.
Especialmente no momento em que ela disse por favor. Ela não
parecia uma engomadinha de sangue azul naquele momento.
Ela parecia insaciável. Ele não conseguia pensar em outra
palavra mais delicada para descrevê-la. Seu cabelo despenteado.
Lábios cheios entreabertos e molhados, onde ela continuou
passando a língua. Seu pau gostou de tudo. Toda a imagem
impertinente. Aparentemente, ele tinha um fetiche de boa
garota que nunca havia descoberto antes.
Ele a olhou como um adolescente inexperiente, seus olhos
tão famintos pelo prazer dela que deve tê-la assustado. Porque
quando a consciência voltou ao seu corpo, ela ficou totalmente
silenciosa. Josh sentiu aquela quietude como um balde de água
fria sobre sua cabeça. Ele quase arruinou tudo. Ele prometeu a
Clara um profissional e agiu como um amador.
Ele falhou. Na única coisa em que ele deveria ser bom.
Josh entrou na padaria, abrindo a porta para uma nuvem de
ar que pairava pesada com o cheiro de açúcar, manteiga e frutas
fingindo adicionar nutrientes à confecções diabólicos. Ele
reconheceu o cara atrás do balcão de idas anteriores.
— Ei, Frankie. Qual é o especial de hoje?
— Torta de creme de banana e tortinhas de figo. — Ele
puxou algumas bandejas da vitrine.
Josh balançou a cabeça. Nenhuma dessas guloseimas soava
como sua nova companheira de quarto. Ele ainda não a
conhecia, mas descobriu, para sua surpresa, que a queria. Havia
algo nela que o intrigava. Isso desafiava seus preconceitos sobre
uma garota rica de Connecticut.
A maneira como ela se inquietou na noite passada, quando
admitiu que seus parceiros anteriores a haviam deixado por
conta própria, fez seu sangue ferver. Ele ficou determinado a
dar a ela tudo que os outros caras não podiam, ou pior, não
dariam. Oferecer-se para ajudá-la parecia mais um chamado
religioso do que um trabalho. Portanto, apesar das sirenes
soando em seus ouvidos, ele assumiu o comando, dizendo a si
mesmo que o gesto era basicamente um serviço público.
Entra em cena em sua grande ereção.
Josh havia cerrado os dentes com o prazer inesperado, e
quase funcionou. Mas à medida que ela ficava cada vez mais
perto de desmoronar, enquanto as paredes que ela construía
contra o mundo se transformavam em escombros, ele se
esqueceu de sua promessa de deixá-la escapar para uma fantasia
clichê.
Depois disso, Josh observou, paralisado, enquanto ela
voltava à terra. Quando seus olhos clarearam e sua respiração
lentamente se nivelou. Ele admirou o suficiente de suas
bochechas rosadas e lábios rosados até que se lembrou que este
momento não pertencia a ele. O brilho pós-orgasmo de Clara,
brilhante como qualquer estrela, não era para saborear.
Nenhum deles podia se dar ao luxo de esquecer que ele não
era um cara qualquer, livre para se apaixonar por ela. Não. Josh
Darling era um artista adulto de segunda categoria que
provavelmente desapareceria na obscuridade no ano que vem.
Ele não poderia dar a Clara nada do que ela provavelmente
esperava depois de compartilhar um momento íntimo com
alguém: conforto, segurança, romance. Fora de questão. Fora
da mesa. Melhor evitar a discussão.
Seu contrato o deixou com uma enorme bagunça nas mãos.
Ele não conseguia nem começar a desvendar seu
relacionamento com Bennie e Naomi. A última coisa de que ele
precisava era Clara Wheaton pedindo-lhe para namorar.
Então ele foi direto ao ponto. Deixe-a saber que a
experiência deles havia expirado tão rapidamente quanto havia
começado.
— O que você recomendaria para uma mulher desprezada?
Frankie não perdeu o ritmo.
— Bolinhos de limão.
— Você está dizendo isso porque bolinho soa como
desprezo5?
— Absolutamente.
Embora ele não pudesse culpar a lógica de Frankie, Josh
precisava de mais. Apesar de seus melhores esforços para livrar-
se do último olhar ferido de Clara, ele se revirou por horas na
noite anterior enquanto um pensamento martelava o canto de
seu cérebro. E se ele acordasse e descobrisse que ela se foi?
Ele finalmente deu o braço a torcer e checou o banheiro. Só
ver a escova de dentes dela ao lado da dele na pia aliviou seus
medos.
Lá estava a verdade inesperada. Josh não queria que Clara
fosse embora. Mesmo que isso significasse que ele poderia ter a
casa só para ele. Que ele poderia andar nu comendo manteiga
de amendoim do pote e tocar Ramones no volume máximo até
as vacas voltarem para casa.
— E aqueles croissants de chocolate? Mulheres gostam de
chocolate, certo?
5
Trocadilho entre “scone” (bolinho) e “scorn” (desprezo/escória)
— Excelente escolha. — Frankie embalou alguns doces para
ele em uma caixa rosa. — E se você estiver realmente
preocupado com a reação da dama, posso sugerir adicionar
uma ou duas bombas de chocolate?
Josh não gostou das regras de Clara. Elas transformaram sua
vida em um grande jogo de Operação. Se ele se esquecesse de
usar uma base para copos ou deixasse o leite no balcão em vez
de guardá-lo imediatamente após o uso, ele mataria seu
paciente imaginário.
Ela já o odiava. Nesse ritmo, ele teria sorte de mantê-la na
Danvers Street pelo resto da semana.
— Quer saber, é melhor você me dar a bandeja inteira.
Everett Bloom, que se dane. Quanto antes Clara saísse desta
cidade, melhor.
A multidão implacável do tráfego zombou dela pela janela
do carro que ela chamou para levá-la ao escritório de Jill. Ela
nunca pensou que sentiria falta do metrô. Ela puxou um mapa
em seu telefone. Apenas mais alguns quilômetros. Depois de
invadir a vida de sua tia depois de tanto tempo, Clara não
aguentava ir embora sem dizer adeus.
Josh já havia partido antes que ela acordasse naquela manhã,
poupando-a da tortura de ter que enfrentá-lo na dura luz do
dia. Ele não entenderia por que o que aconteceu entre eles na
noite anterior a deixou tão envergonhada.
Pela segunda vez nessa semana, seguir seu instinto em vez de
sua cabeça a colocou em uma situação escandalosa. Josh nunca
imaginaria que ela não conseguia dormir porque seu corpo não
sabia como se acalmar da experiência sexual mais intensa de sua
vida.
Eram quase dez da manhã. Ele provavelmente tinha feito
coisas dez vezes mais sujas com mulheres dez vezes mais
gostosas do que ela agora.
Flores recém-colhidas, cortinas de topázio brilhantes e um
tapete floral antigo amenizavam as duras linhas industriais dos
escritórios de Relações Públicas da Wheaton + Partners.
Quando Clara bateu na porta do escritório de Jill, ela ergueu os
olhos de seu laptop com uma carranca angustiada.
— Ei. — Sua tia afastou a rigidez de seu rosto. — O que te
traz aqui? Tudo certo?
— Sim. Quero dizer, vai ficar. Desculpe incomodá-la no
trabalho. Eu queria me despedir antes de voltar para Nova
York. — Seu vôo das cinco horas não poderia vir em melhor
hora.
Preocupação marcou as feições de Jill.
— Mas você acabou de se mudar para cá.
— Sim, bem, parece que as coisas não estão indo tão bem
quanto eu esperava com meu novo colega de quarto. — Pense
em um grande eufemismo. Ela havia destruído completamente
qualquer amizade frágil que pudesse ter florescido entre ela e
Josh. — Acho que é melhor se eu sair daqui antes de causar
qualquer dano permanente.
Clara tinha ficado tão fora de controle na noite passada que
nem reconheceu aquela mulher ofegante no sofá. Ela fez um
espetáculo de si mesma e agora não tinha escolha a não ser fazer
as malas.
Jill abriu a boca para responder, mas um jovem segurando
uma prancheta contra o peito entrou correndo na sala antes
que ela pudesse pronunciar qualquer palavra.
— A promotora encerrou a ligação. Ela está pronta para
retomar sua reunião na sala de conferências B. — Seus olhos
pareciam os de uma lebre assustada. Aparentemente, os
promotores não gostavam de esperar.
— Merda. — Os dedos de Jill vasculharam a enorme pilha
de documentos em sua mesa. — Desculpe, Toni é uma nova
cliente. Ela me pediu para fazer sua campanha de reeleição. É
um grande negócio para nós. Normalmente, alguém no lugar
dela iria para uma das grandes empresas corporativas. — Jill
sorriu e Clara pôde ver por que os homens de Greenwich uma
vez caíram aos pés de sua tia. — Ela disse que gosta que sejamos
famosos por defender os oprimidos.
— Claro. Eu posso ver que este é um momento ruim. Eu
deveria ir — disse Clara, já se aproximando da porta. Ela
poderia ligar mais tarde a caminho do aeroporto.
— Não, espere. Não vá embora. A que horas é o seu voo?
Estou um pouco debaixo d'água no momento. Um dos meus
associados se demitiu na semana passada sem aviso prévio. —
Jill continuou vasculhando a bagunça na mesa. Uma pasta
despencou da borda, espalhando papéis em uma cachoeira a
seus pés.
Clara se inclinou para recuperar os itens caídos.
— Há algo que eu possa fazer?
— Na verdade — Jill inclinou a cabeça — o que você acha
sobre sentar no resto dessa reunião comigo e fazer algumas
anotações? Você estaria me fazendo um grande favor, e não
deve levar mais de quinze minutos. Quando terminar,
podemos nos sentar adequadamente e conversar.
— Ah bem. Eu realmente não sou… — Clara se conteve. Ela
mal podia argumentar que não podia tomar notas. Ela devia a
Jill todos os favores que ela precisava depois de interromper seu
trabalho duas vezes em tantos dias. — Quer saber, com certeza.
Eu posso fazer isso. Você tem um bloco de notas?
E foi assim que Clara se viu sentada à mesa de uma sala de
conferências em uma cadeira de frente à promotora pública do
condado de Los Angeles.
Clara nunca tinha visto ninguém usar um terno tão bem
quanto Toni Granger. Ela não sabia se a mulher tinha feito sob
medida para caber em seu corpo alto, ou se ela comandava o
material por pura força de vontade. O mingau de aveia que
Clara havia comido no café da manhã começou a nadar em seu
estômago.
— Por favor, aceite minhas desculpas por mantê-la
esperando. Essa é Clara. Ela estará sentada para capturar alguns
pontos da nossa conversa. — Apesar da calamidade em seu
escritório alguns momentos atrás, a voz de Jill agora irradiava
profissionalismo calmo.
A promotora deu um aceno de cabeça para Clara.
Empurrando os nervos de lado, Clara afundou feliz em uma
posição familiar pela primeira vez em quase uma semana.
Josh pode se destacar em orgasmos, mas com o número de
horas que ela era registrada em salas de aula ao longo de sua
vida, Clara sabia lidar com papel pautado como ninguém.
Toni recostou-se na cadeira.
— Como você sabe, tive um relacionamento conturbado
com meu eleitorado nos últimos anos. Quando decidi me
candidatar à promotoria, sabia que haveria pessoas nesta cidade
que não gostariam da ideia de uma mulher preta em um cargo
tão importante, mas, ultimamente, parece que a imprensa está
se esforçando para me derrubar.
Jill cruzou as mãos em cima da mesa.
— Sim, percebi que, à medida em que seu mandato chega
ao fim, suas críticas se tornam mais persistentes.
— Esse é um modo de falar. — Toni abanou a cabeça. —
Sempre fui tão rigorosa quanto a me manter longe de
polêmicas. Um sinal de escândalo e minha oposição garantiria
que eu nunca mais trabalhe nesta cidade. Mas ser cautelosa me
deixou quinze pontos atrás do meu adversário.
Com um juiz como pai, Clara cresceu em torno de mais do
que seu quinhão de funcionários políticos e legais. Com
números de pesquisas tão ruins, Jill certamente teria um
trabalho puxado.
— Você vai precisar de um grande caso, algo que desperte a
atenção do público e traga tempo de televisão gratuito para a
campanha. — Clara rabiscou algumas notas. Manchetes.
Endosso de grandes nomes.
Toni olhou para Clara pela primeira vez desde que Jill a
apresentou.
— Com licença?
Ela não quis dizer isso em voz alta.
— Oh. Eu sinto muito. Tenho certeza que Jill pode ajudar
mais. Eu assisto a muitos dramas políticos na TV.
O rosto de Toni se acalmou.
— Bem, parece que Hollywood acertou pela primeira vez.
Ninguém nesta cidade dá a mínima para casos comuns. Eu
preciso de algo grande. — Ela se voltou para Jill. — É aí que sua
empresa entra. Preciso galvanizar as pessoas.
Vinte minutos depois, Clara e Jill acenaram para a câmera
de Toni enquanto a promotora desligava.
— Eu gosto dela — disse Clara. — Ela tem aquele
magnetismo que faz as pessoas entrarem na linha. Você acha
que ela tem uma chance?
Jill inclinou o quadril para o lado e deu uma olhada em
Clara.
— Você quer vir trabalhar para mim?
Clara riu até perceber que sua tia não estava brincando.
— Eu? Não, não posso. Comprei uma passagem de avião.
— Clara tinha um plano para salvar sua reputação. É
obrigatório que ela saia desta cidade e longe dos feromônios de
Josh Darling o mais rápido possível.
— Certo, mas e se você não fosse embora? E se eu a
contratasse como associada júnior?
Clara torceu as mãos.
— Eu não tenho nenhuma experiência.
— Por favor. Você tem um PhD em Columbia.
— Em história da arte. — Um diploma inventado para
pessoas ricas. — Claro, se você precisa de alguém para discutir a
privatização da cultura na Florença do século XV, eu sou sua
garota, mas não sei nada sobre relações públicas.
— Você tem bons instintos e, como é uma Wheaton, tem
anos de educação prática em gestão de crises e reabilitação de
reputação. Os associados fazem principalmente trabalho chato.
Coleta de pesquisas, elaboração de comunicados de imprensa.
Nada que você não pudesse lidar.
— Prefiro ficar fora do radar. — Graças à sua família infame,
ela sabia como os holofotes podiam queimar.
Jill nivelou seu olhar.
— Você precisa de um motivo para ficar em Los Angeles.
Não importa o que tenha acontecido com seu colega de quarto,
eu sei que você não quer voltar depois de quatro dias e enfrentar
sua mãe. Faça-me um favor por algumas semanas até que eu
possa preencher o cargo. O salário não é bom, mas eu o
complemento com um chá verde desnecessariamente
sofisticado.
Clara balançou a cabeça. Ela queria ajudar. Ela gostava de
Jill, obviamente, e Toni Granger inspirava um senso
surpreendentemente forte de engajamento cívico, mas
trabalhar do outro lado da cidade, longe da casa de Everett, não
era uma opção de longo prazo. A logística por si só fez seu
cérebro sangrar.
— Eu não posso. Obrigada, mas eu não sou feita para esse
estilo de vida de aceitar as coisas como estão, tomar decisões
aleatórias. Eu fiz uma coisa estúpida, enorme e impulsiva. —
Duas. — Mas de agora em diante acho que gostaria de voltar à
minha zona de conforto e montar acampamento.
— Não. Olha, eu não acredito nisso. Você afirma ter vindo
aqui por causa de um cara, mas e se Everett Bloom fosse uma
desculpa para abandonar uma vida construída em torno de
agradar outras pessoas?
Por que as pessoas continuavam dizendo coisas assim para
ela? Às vezes, uma mudança pelo país era uma busca por
aventura tanto quanto chamar alguém para uma rapidinha.
Todos tinham uma ideia totalmente errada sobre a capacidade
de coragem de Clara.
— Eu não estou pedindo para você fazer nenhuma loucura.
Vá para casa depois de algumas semanas para relaxar e se
recuperar. Deixe todos em casa se perguntarem como você
passou seu tempo no outro lado do país. Eles nunca vão
adivinhar que eu tive você atrás de uma mesa das nove às cinco.
Clara mastigou a unha do polegar.
— Não é que eu esteja com medo. — Não só isso.
— Bem, então, o que é?
Por que L.A. insistiu em arrancar todos os seus band-aids
emocionais de uma vez?
— Eu não posso dirigir. — O custo de dirigir sessenta
quilômetros em cada sentido, de segunda a sexta-feira, era
realizável, mas certamente extravagante.
— Desde quando? Seu pai não comprou um Beemer para
você no ensino médio?
Clara não pôde deixar de esboçar um leve sorriso.
— Ele comprou. Tecnicamente eu tenho carteira, mas
prefiro não ficar atrás do volante. Em Nova York, não foi um
problema. Peguei transporte público ou caminhei na maioria
dos lugares. Mas aqui… Acho que poderia pegar um ônibus,
mas imagino que demoraria um pouco.
Jill ergueu as sobrancelhas.
— Você está omitindo uma terceira opção óbvia.
— Isso é intencional. — Clara fez uma careta. Doía mostrar
outro ponto fraco a este membro da família que ela mal
conhecia. Chegar com tantas peças quebradas, e faltando, e
ainda esperar aceitação.
Sua tia se inclinou e a abraçou. De alguma forma, o aperto
liberou toda a vergonha e medo dos últimos dias.
— Entendo. De verdade — Jill disse. — Mas talvez valha a
pena tentar dirigir novamente? Goste ou não, você se mudou
para L.A., garota. Você é inteligente e capaz. Eu sei, porque eu
contratei você.
Clara balançou a cabeça, mas não conseguiu conter a onda
de orgulho que aqueceu seu peito.
Quando Jill falou em seguida, suas palavras ganharam
gravidade.
— Alguns medos nos matam. Eles drenam nossas vidas
inteiras e morremos cheios de arrependimento. Mas este não é
um daqueles medos. Faça um plano. Não tem que ser agora,
mas você conhece a única maneira de melhorar na direção.
Clara tentou tirar a poeira de qualquer sentimento de
convicção que ela tinha entrado algumas semanas atrás
quando, bêbada com uma combinação de vinho tinto e
nostalgia, ela decidiu se mudar para L.A., mudando o curso de
seu futuro.
Sua resposta ressoou como um haltere jogado em seu
estômago.
— Dirigir.
Jill bateu no queixo com um único dedo.
— Eu não suponho que seu novo colega de quarto tenha
um carro?
O plano de Clara dependia de sua habilidade de fazer
panquecas.
A massa quatro tinha a cor certa, marrom dourado, contra
a massa dois anêmica. Mas a massa três tinha uma textura
melhor, menos grossa e mais arejada. Ela apertou o rabo de
cavalo. Depois de passar toda a viagem de volta de Malibu
planejando, ela precisava acertar.
O cheiro de carne assada encheu a pequena cozinha. Pelo
menos colocar bacon no forno era infalível.
Ela tentou ver o corredor até a porta de Josh enquanto
mantinha um olho na panqueca meio cozida na frente dela.
Depois de passar por seu carro no caminho, ela sabia que ele
estava em casa. Enquanto Clara considerava bater algumas
panelas e frigideiras para convocar, Josh saiu de seu quarto,
amarrotado como de costume.
Seu coração martelava em seu peito quando seu olhar caiu
imediatamente para as mãos dele. Mãos que ele tinha sobre ela
na noite passada. O avião que deveria tê-la levado para longe,
longe de sua última e mortificante interação, havia decolado
mais de uma hora atrás. Ela abaixou os ombros longe de suas
orelhas e reuniu sua determinação.
Enquanto ela apressadamente escondeu a evidência de seus
lotes fracassados debaixo da pia, Josh afundou em um
banquinho de bar gasto na ilha. Clara tentou cantarolar
casualmente.
Ele girou para examinar a cena de sua implosão culinária.
— O que aconteceu aqui?
Clara gesticulou para seu exército de panelas e encheu sua
voz com falsa alegria.
— Pensei em fazer o jantar. A noite passada foi bastante
estranha, como tenho certeza que você sabe. — Ela estremeceu.
— Achei que poderíamos começar de novo. Começar de novo,
por assim dizer.
— Você decidiu começar de novo deixando a cozinha
incrivelmente bagunçada?
Ela poderia ter chamado a peculiaridade brincalhona de seus
lábios de tímida se ela não soubesse melhor.
— Na verdade, não tenho muita experiência gastronômica.
Achei que o café da manhã para o jantar seria fácil. — Ela
enxugou o ovo cru escorrendo pela frente de seu avental com
uma toalha de papel molhada. — Talvez eu tenha calculado
mal.
— Isso é engraçado. Eu… ah… na verdade, comprei alguns
assados de desculpas esta manhã. — Ele estendeu a mão para
esfregar a nuca. — Mas então você não estava aqui quando eu
voltei. De qualquer forma, eles estão na geladeira. — Ele tossiu
em seu punho. — A maioria deles ainda está na geladeira.
— Você não tem nada pelo que se desculpar. — Clara
tamborilou os dedos sujos de massa na bancada. — Você é um
artista extremamente talentoso e eu aprecio o que você fez por
mim. Sou eu quem… bem, vamos apenas dizer que fiquei um
pouco nervosa. — Levantando os olhos, ela percebeu sua
expressão cautelosa. — Estou melhor agora, de qualquer
forma.
— Oh. Bem, ótimo. — Josh estreitou seu olhar. — Você está
usando macacão?
Ela virou por cima do ombro, espátula na mão.
— Estou. — O macacão representava um trabalho árduo
com sentido. — A comida estará pronta em um minuto.
— Não acredito que você cozinhou para mim. — Josh
olhou para ela. Esperançosamente, ele não achou seus motivos
suspeitos.
— Acho que tecnicamente isso conta como assar. — Clara
empilhou um prato alto com o melhor da fornada de
panquecas, bacon e frutas frescas, e colocou na frente de Josh.
Ela organizou as frutas em círculos concêntricos.
Mergulhando o queixo, ela empurrou o prato para mais
perto dele de forma encorajadora.
— Acho que ambos chegamos à conclusão de que devemos
partir o pão juntos.
— Você sabe que tem farinha… — Ele apontou para o nariz,
depois para a bochecha, depois para o pescoço, até que
finalmente acenou com a mão ao redor de todo o rosto.
Clara tentou se limpar com um pano de prato.
— Você está tornando tudo pior. — Josh desmontou de seu
banquinho e parou na frente dela. Tomando o material macio
de sua mão suada, ele dobrou os joelhos e esfregou suavemente
seu rosto. Seus dedos quentes seguraram seu queixo
delicadamente, guiando a direção de seu pescoço para que ele
pudesse abordar o pior da carnificina culinária. A frequência
cardíaca de Clara aumentou quando ele limpou seu nariz. A
estranha intimidade do ato pairou no ar entre eles, até que ela
teve dificuldade em recuperar o fôlego. A proximidade deu um
golpe poderoso.
Ele deu um passo para trás e Clara se virou, controlando o
apetite confuso que ele desencadeou e que não tinha nada a ver
com comida. Ela pegou um segundo prato para si mesma. De
alguma forma, sua terna assistência a abalou quase tanto
quanto sua coreografia de torcer de prazer na noite anterior.
Quando Josh voltou para seu banquinho do outro lado da
ilha, Clara se sentou ao lado dele, se esforçando para garantir
que seus cotovelos não roçassem acidentalmente enquanto
comiam.
— Oh, droga. Esqueci a calda!
— Vou pegar — disse Josh, mantendo um olho treinado
nela enquanto Clara mastigava um pedaço de bacon.
Ele colocou o xarope de bordo na frente dela.
— Isso é uma armadilha?
Clara cortou a panqueca em pequenos quadrados e se
concentrou em manter a voz calma.
— O que é uma armadilha?
Josh apontou para seu prato cheio.
— É muito esforço para alguém que você acabou de
conhecer.
— Você acha que eu tenho uma agenda sinistra para fazer
panquecas? — Clara tentou não piscar.
— Você está literalmente me adocicando. — Ele empurrou
o queixo para o pacotinho de manteiga que ela cortou na faca
e se moveu para colocar em seu prato.
Clara imbuiu sua voz com falsa inocência.
— Eu sinto muito. Você não queria doce?
— Eu definitivamente quero doce. — Josh pegou a faca
dela, roçando seu dedo indicador com o polegar. — Mas eu
moro nesta cidade há tempo suficiente para saber que não
existe comida de graça. Tem certeza que não está tramando
algo?
— Você mesmo disse que me comprou doces. Se não existe
refeição grátis, considere este jantar como um pagamento em
espécie.
Josh derramou uma dose saudável de xarope em sua pilha e
depois deu uma grande mordida, completa com frutas.
Enquanto ele engolia, seus olhos se fecharam e um gemido
retumbou profundamente em sua garganta. Ele baixou a palma
da mão sobre o balcão com um tapa retumbante.
— Isto. É. Uma. Armadilha. — Ele pontuava cada palavra
com um tapa na mão.
Sua cadeira gemeu quando ela a inclinou para trás,
apanhada em um ataque de risos nervosos.
— Você realmente gostou? Tem certeza de que não são
muito grossas?
— Jesus. — Josh olhou para ela como se ela tivesse batido na
cabeça dele com uma das frigideiras. — Você parece problema
quando ri.
— Eu não sou. Juro. — A voz de Clara parou em um
guincho.
Seus olhos caíram para onde sua camiseta desbotada
abraçava bíceps impressionantes. Ela cravou as unhas na palma
da mão.
Siga o plano.
— É, no entanto, possível que eu tenha um favor a pedir.
— Eu sabia — disse Josh em torno de uma mordida enorme.
Ele voou para trás do banco e balançou a cabeça. — Você
parece inocente, mas na verdade, você é uma atrevida astuta.
Ninguém jamais havia acusado Clara de motivos nefastos
antes. Ela discretamente enxugou a testa com um guardanapo.
— Você vai pelo menos ouvir a minha proposta?
— Tudo bem, mas estou exigindo pagamento em espécie.
— Ele estendeu a mão e pegou sua última fatia de bacon.
— Ok — disse ela, preparando-se para o grande discurso. —
Tente manter a mente aberta aqui. Quais são as chances de você
me emprestar seu carro?
— Muito próximas de zero — disse ele com veemência. —
Aquele carro é a única coisa que possuo e que significa algo para
mim. Eu a tenho desde o colégio. Você sabe quanto trabalho é
necessário para manter um Vette tão antigo funcionando?
— Eu não perguntaria se não fosse importante — Clara
disse, misturando seu tom com calma praticada. — Eu
consegui um emprego e preciso ir até o trabalho. — Sua mãe
lhe ensinara que qualquer negociação poderia ser resolvida com
razão e vozes controladas.
— Uau. Você trabalha rápido. — Josh se iluminou. — É
ótimo que você tenha conseguido um emprego, e ouça, eu sei
que você não é daqui, mas pedir emprestado o carro de alguém
em Los Angeles é um negócio enorme.
— Seria apenas por algumas horas — ela o assegurou. —
Vou trabalhar em torno de sua programação e, claro, vou pagar
pela gasolina. Eu poderia até mesmo lavá-lo. Talvez trocar os
pneus? — Ela deu uma cotovelada nele como um vendedor da
velha guarda. — O que você acha?
— Você não entende o quanto eu amo aquele carro. Você
não consegue pensar em outro favor que eu poderia fazer por
você? Tem certeza que não quer foder?
O garfo de Clara caiu no chão e eles bateram as cabeças
quando os dois tentaram pegá-lo.
— Desculpe — ele disse fracamente. — Aquilo foi uma
piada de mau gosto. Eu esqueci que você era… você. — Ele se
moveu e foi buscar novos talheres para ela. — Por que você não
tem seu próprio carro? Eu sei que você se mudou de Nova
York. — Ele interrompeu a interjeição dela. — Mas por que
“conseguir um carro” não estava em sua pequena lista de
verificação laminada?
Ela brincou com um dos ganchos em seu macacão.
— Eu sabia que eventualmente precisaria dirigir. O trânsito
de Los Angeles é famoso, mas Everett disse que eu poderia
pegar emprestado seu Jeep e achei que teria mais tempo para
praticar. — A confissão custou o apetite de Clara.
— Bem, ei, você poderia conseguir uma locação. Vou até
levá-la à concessionária. — Ele deu uma olhada rápida nela. —
Vamos colocá-la em um bom VW Bug com um daqueles
adesivos para a janela que diz Aprendendo a dirigir ou Bebê a
bordo ou algo assim.
— Eu não acho que posso conseguir um aluguel ainda. Eu
tenho esse… impedimento emocional para dirigir, lembra? É
por isso que quis pegar seu carro emprestado, para ver se
conseguia dirigir. Eu ficaria pelo bairro. Nada maluco. Eu
contrataria um instrutor, mas estou com medo de…
— Acabar batendo? — Ele assentiu com simpatia.
— …perder a calma. — Clara terminou. — É constrangedor
o suficiente admitir minha fraqueza para você. Eu não preciso
colocar outro estranho na mistura se o ponto for discutível. —
Ela perseguiu um mirtilo em torno do prato com o garfo. —
Achei que, como você já me viu em flagrante delito, o véu do
constrangimento tivesse sido levantado.
Josh franziu a testa.
— Isso é uma maneira elegante de dizer que te dei um
orgasmo? Porque, como eu disse a você, isso não foi grande
coisa.
Clara ignorou seu comentário penetrante. Ela não precisava
de um lembrete de quão pouco a noite passada significava para
ele.
— Consegui um emprego ajudando algumas pessoas de
quem realmente gosto. Eu sei que é pedir muito, mas estou
desesperada. Provavelmente levará cinco minutos. Vou sentar
no carro, enlouquecer, e então podemos jogar 'dirigir' no topo
da lista de falhas que estou acumulando rapidamente.
Josh voltou a comer.
— Eu não entendo. Por que você tem tanta certeza de que
não pode dirigir? Eu sei que você tem uma licença. Eu vi outro
dia quando você comprou vinho na mercearia.
— Eu causei um acidente — Clara finalmente admitiu, as
palavras arrancadas dela. — Foi algumas noites antes do baile
de debutantes. Isso é como um evento de sociedade chique —
ela disse em resposta ao seu olhar vazio. — Eu estava atrasada
para o ensaio e estava tão preocupada que, se não aparecesse,
Everett acabaria acompanhando outra pessoa.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Everett Bloom?
— O primeiro e único.
Josh suspirou.
— Sabe, estou começando a achar que esse cara é uma
merda.
— A saída estava chegando rápido e eu precisava mudar de
faixa. Odeio mudar de faixa. Nunca consigo cronometrar
corretamente. No final, liguei a seta e esperei pelo melhor. Não
recomendo essa estratégia.
— Ei, acidentes acontecem.
Ela lutou para controlar a respiração.
— Meu irmão mais novo, Oliver, estava no banco do
passageiro. Ele acabou com quatorze pontos, uma clavícula
machucada e um braço quebrado.
— Clara — disse Josh gentilmente — até os bons motoristas
cometem erros.
— Erros? — Ela soltou uma risada tensa e dolorida. — Eu
tenho instintos terríveis. Qualquer voz interior que outras
pessoas tenham que as diz o que fazer, a minha está quebrada.
Toda vez que tento seguir minha intuição, alguém se machuca.
Por muito tempo, eu não conseguia ficar atrás do volante sem
ouvir Oliver gritar.
Ela tentou afastar as memórias, mas só conseguiu fazer
chover farinha de seus cabelos.
— Você está sendo muito dura consigo mesma. Você era
uma criança.
— Tive uma série de instrutores caros ao longo dos anos,
mas era sempre a mesma história. Meu pai me considerou uma
causa perdida. Disse-me para me mudar para Nova York, onde
eu poderia pegar o metrô e chamar um táxi.
Os ombros de Clara caíram para frente.
— Olha, estou sendo pragmática. Nunca fui capaz de fazer
isso antes. É lógico que não serei capaz de fazer isso agora. Mas
disse a Jill que tentaria e não quero ser outro membro da família
que a decepcione. — Ela olhou para seu prato. — Sei que você
não tem motivo para me ajudar, que já sou mais problemática
do que você gostaria, mas como você ainda não disse não, vou
perguntar mais uma vez. Por favor, Josh?
Ele olhou para o teto.
— Você quer muito, hein?
Visões de duplo sentido sinistras escolheram aquele
momento muito inapropriado para invadir seus sentidos. Josh
era sexy mesmo quando não estava tentando. Nada em sua
linguagem corporal sugeria insinuações. Quanto muito, ela viu
preocupação tecida em suas feições. Ainda assim, suas palavras
a afetaram.
Por favor, tente se concentrar.
— Eu sinto que se eu puder fazer isso, a mudança não terá
sido em vão. Terei algo para mostrar, mesmo sem Everett. Se eu
conseguir superar esse medo, posso parar de evitar as ligações
de minha mãe e dizer a ela que conquistei algo.
— Certo, tudo bem. — Josh inclinou a cabeça para trás e
fechou os olhos. — Mas você vai ficar me devendo uma.
— Mesmo?
Ele assentiu.
— Cara, parece que você acabou de ganhar um urso de
pelúcia gigante na feira do condado.
— Obrigada, obrigada, obrigada! — Ela se lançou sobre ele
sem pensar, a gratidão superando sua ansiedade em tocá-lo.
Josh retribuiu o abraço, acariciando sua cabeça sem jeito. Ele
cheirava a um pomar, fresco e doce.
— Ok. Então. — Ele se desvencilhou de seus braços e
moveu-se para transferir algumas de suas panelas usadas para a
pia. — Vou lavar a louça, tentar minimizar os danos da bomba
de farinha que explodiu aqui, e depois nós vamos.
Seu sorriso vacilou.
— Espera. Você vem comigo? — Ela realmente não
precisava que Josh testemunhasse outra humilhação.
— Você achou que depois de todo aquele discurso eu iria
deixar você ir sozinha? Eu serei seu supervisor de veículos. —
Ele colocou as luvas de borracha amarelas que ela comprou
enquanto a pia se enchia de água com sabão. — Essa é a minha
oferta. É pegar ou largar.
Ela gostaria de poder largar, mas ela sabia que na segunda-
feira de manhã, ela teria Jill e Toni esperando por ela,
dependendo dela. Parecer estúpida ou fraca não era nada perto
da ideia de não atender às expectativas das pessoas que ela
admirava. Josh já pensava nela como uma anomalia, uma
alienígena do Planeta Pau No Cu.
Por que não jogar mais uma tora na fogueira de sua
reputação?
Clara tinha tropeçado em uma área da vida de Josh na qual ele
tinha problemas para abrir mão do controle.
— Repita as regras de sete a nove mais uma vez — disse Josh
do banco do passageiro do Corvette trinta minutos depois.
Eles ficaram sentados no carro, na entrada da garagem, pelos
últimos quinze minutos, enquanto ele tentava embarcar
totalmente no plano.
Clara inalou lentamente pelo nariz e depois repetiu as
“regras da estrada” de Josh no tom monótono de alguém para
quem as palavras perderam todo o significado.
— Sem afundar o pé no freio. Nada de apoiar o pé no freio.
Calçado adequado deve ser usado em todos os momentos. —
Ela inclinou a cabeça para ele em uma pergunta exagerada, as
mãos firmemente nas posições dez e dois no volante. — Por
favor, podemos ir? Prometo que seguirei todas as leis de
trânsito e que de forma alguma irei colocar este veículo em
perigo intencionalmente. Sob nenhuma circunstância vou ligar
os faróis altos sem permissão.
Pelo menos alguns dos nervos que ameaçavam comer suas
entranhas deram lugar à irritação e tédio. Se ele sugeriu as regras
para atraí-la intencionalmente para uma falsa sensação de
segurança ou não, elas tiveram esse efeito.
Josh afivelou o cinto de segurança e depois verificou
novamente.
— Eu notei sua falta de entusiasmo pelas regras, mas você
pode prosseguir.
Não exatamente um voto de confiança, mas melhor do que
a alternativa.
Clara olhou para ele com o canto do olho.
— Você é estranho no carro.
— Com licença? Você está escolhendo este momento para
falar com o dono do veículo extremamente valioso que você
está se preparando para pilotar?
— Muito estranho. — Clara murmurou enquanto fazia os
ajustes finais nos espelhos. Ela já os tinha colocado em posições
diferentes quatro vezes diferentes. Ela ligou o carro e o ronco
do motor a fez pular.
Enrolar parecia uma boa ideia.
— Sabe, Josh, é bom ver você tão apaixonado por alguma
coisa. Você realmente ama este velho Camaro, hein?
— Este é um Corvette — disse ele, batendo no apoio de
braço. — E ela não gosta de ser chamada de velha. Vamos
acabar com isso.
Lá se vão as táticas de distração. Clara se preparou e
lentamente deu ré com o carro para fora da garagem.
Os olhos de Josh continuavam alternando entre o rosto dela
e a estrada.
Ela mordeu o interior da bochecha.
— Você está me deixando mais nervosa.
— Desculpe. — Josh caiu para trás em seu assento. —
Ninguém nunca me pediu para ser o mocinho antes.
— O que você quer dizer? — A rua em que moravam não
atraia muita atenção, mas ela precisava passar por todos os
carros estacionados no meio-fio. Cada vez que ela passava por
um novo obstáculo, ela prendia a respiração.
— Refiro-me a toda esta situação, ser o heroi, aquele que
surge no momento de necessidade de uma donzela. É novo para
mim. Estou achando isso um pouco perturbador.
— Eu não sou uma donzela. — As palmas das mãos suadas
de Clara ameaçaram seu controle sobre o volante. Ela as
enxugou uma por vez no short de seu macacão.
— Com certeza você é. Uma jovem solteira de origem
nobre.
Clara balançou a cabeça quando eles se aproximaram de um
semáforo.
— Você acabou de citar Merriam-Webster?
— Minha mãe costumava ler contos de fadas quando eu era
pequeno. Eu pesquisei as palavras que eu não conhecia.
Um sorriso ameaçou os cantos da boca de Clara até
chegarem a um cruzamento de quatro vias.
— Clara? Ei. Você está bem?
Seus olhos começaram a lacrimejar. Ela tentou levantar o
queixo sem perder de vista a estrada.
Josh vasculhou o porta-luvas até remover um punhado de
lenços de papel.
— Tem certeza que quer fazer isso?
— Tenho certeza — disse ela, com apenas uma pitada de
tremor em sua voz.
Quando ela não pegou o lenço de papel, Josh enxugou
cuidadosamente os olhos dela, secando as lágrimas que
escapavam.
— Obrigada. — As bochechas de Clara esquentaram. — Sei
que não parece, mas sinto que estou perto de superar isso. —
Ela endireitou as omoplatas. — Tipo, se eu conseguir ir longe
o suficiente, eu vou sentir a vitória com a ponta dos dedos. Isso
provavelmente soa estúpido, certo?
— Não. Tenho certeza de que você é a pessoa mais
inteligente que já conheci. Objetivamente. — Seus olhos se
aqueceram da mesma forma que durante o jantar, quando ele
disse que ela parecia problema. Ela não tinha tempo para se
preocupar com o significado por trás daquele olhar.
— Minha tia está se arriscando por mim e eu quero fazer
valer a pena, sabe?
— Eu sei — disse ele. — Ei, ajudaria se eu cantasse? Você
sabe, algo calmante. — Ele começou nos primeiros compassos
de “Walking on Sunshine”.
Josh tinha um tom terrível e bateu com a mão no apoio de
braço na tentativa de enfatizar uma nota alta, mas o gesto
cortou um pouco da dormência de Clara.
Eu costumava pensar que talvez você me amasse… agora,
querida, tenho certeza. Seu coração disparou.
— Você é um cantor terrível.
— Desculpe, o que foi isso? — Ele colocou a mão sobre a
orelha. — Cantar mais alto?
Clara pisou no freio com muita força e estremeceu.
Josh ficou em silêncio.
Eles haviam alcançado a entrada da rodovia. Clara diminuiu
a velocidade do carro na rampa de acesso com semáforo,
embora soubesse que o sinal verde significava vá.
Ela parou o Corvette e o carro atrás dela buzinou em
protesto.
Clara tentou se concentrar na respiração. Dentro e fora.
Dentro e fora. Cada vez que uma nova buzina tocava, ela a
acertava como um chute na têmpora. Dentro e fora. Dentro e
fora.
Suas mãos tremeram no volante, vibrando tão intensamente
que o ricochete reverberou em seus ombros.
— Jesus, Clara. Isso não é nervosismo. Isso é terror. — Sua
voz vacilou. — Vamos esquecer isso — ele disse gentilmente.
Ele a persuadiu a parar no acostamento. — Eu vou te levar
aonde você precisar ir. Dirigir não vale isso.
Os dentes de Clara batiam apesar do calor do início do verão
enquanto ela arrastava o Corvette enquanto outros carros
passavam buzinando por eles. Ela percebeu o olhar de Josh pelo
canto do olho.
— Eu posso fazer isso.
Ele acenou com a cabeça uma vez, fazendo seus longos
cachos balançarem.
— Tudo bem. Converse comigo então.
— O que? — Ela não deveria estar no acostamento. Alguém
provavelmente já tinha notificado à polícia sobre ela. A
qualquer minuto o cara naquele caminhão sairia e a
confrontaria.
— Concentre-se na minha voz — disse Josh. — Funciona
no set quando as pessoas ficam nervosas. Quando elas não
conseguem ignorar as câmeras e as luzes.
— Isso foi um erro. — Os gritos de Oliver começaram,
tocando em um loop junto com os sons de metal amassando e
pneus cantando. Ela lutou contra o impulso de tapar os
ouvidos com os dedos.
— Continue falando.
— Eu sou uma pessoa que julga — ela deixou escapar.
Sua risada saiu em um estrondo.
— Agora, por que isso não me surpreende?
Seus olhos se voltaram para o espelho retrovisor.
— Estou falando sério. Eu admito facilmente. Conheço
uma pessoa e tomo uma decisão sobre seu caráter em meia hora.
Tenho um histórico notável. Minha hipótese está certa em
cerca de noventa por cento das vezes. Mas nas raras ocasiões em
que estou errada, é uma emoção. Algumas pessoas são como
um iceberg, com as partes bonitas e perigosas escondidas abaixo
da superfície.
— Você está tentando dizer que sou um iceberg perigoso e
lindo?
Clara bufou.
— Mais como uma calota polar. — Seu olhar disparou da
rodovia para as mãos no volante e depois de volta para a estrada.
— Estou tentando dizer obrigada.
— Agradeça-me depois — disse Josh.
— Pode não haver um depois. Acho que cheguei ao meu
limite.
— Ok, aqui estão nossas opções. Você pode sucumbir ou
podemos sentar aqui e conversar sobre ontem, quando eu
coloquei minhas mãos em sua…
Clara pressionou o pé no acelerador quase sem pensar. Josh
conseguiu encontrar a única coisa que a deixou mais nervosa
do que dirigir.
•••
•••
6
No inglês, “you coming?” pode ser “você vem?” mas também “você está
gozando?”. Clara pergunta se ele vai se juntar a ela, mas ele responde que vai tentar
não gozar.
Josh não ficou surpreso por Clara nunca ter visitado uma sex
shop antes. Ela entrou na loja com olhos gigantescos, como se
tivesse entrado em algum tipo de globo de neve erótico no meio
do Vale.
— Está tão quieto — ela sussurrou antes de vagar pelo
primeiro corredor.
Josh pegou um carrinho na frente da loja e a seguiu.
— O que você estava esperando? Uma trilha sonora de
gemidos agudos? — Eles tinham muitas compras a fazer para o
projeto e uma quantidade limitada de tempo para realizá-las.
— Parece muito limpo.
A qualquer minuto ela puxaria uma lupa.
A loja tinha paredes brancas e pisos de madeira com placas
escritas à mão marcando cada seção. Como a maioria das
butiques abertas nos últimos cinco anos em Los Angeles,
parecia um café artesanal. Exceto em vez de café com leite, o
quadro-negro atrás do balcão listava sabores de lubrificante
orgânico.
— Você baseou todas as suas suposições para esta
experiência em um filme dos anos 70?
Josh tentou desesperadamente evitar que Clara o
acompanhasse nesta parte da viagem. Ele teria ido enquanto ela
estava escondida em segurança em seu trabalho diurno, mas a
gerente da loja que prometeu um desconto nos brinquedos
sexuais só trabalhava nos fins de semana.
Apesar de sua melhor tentativa de pegar as chaves
sutilmente esta manhã, enquanto Clara relaxava no sofá, o
barulho do metal funcionou como um sino de vaca e ela veio
correndo, desesperada por mais prática de direção. Ela já o
havia enganado para conceder-lhe quatro viagens ao volante de
seu carro esta semana. Depois que ele a pegou no trabalho, eles
passaram as noites percorrendo muitos bairros de L.A.,
parando para jantar em restaurantes de Koreatown a Pasadena.
É certo que a prática parecia fazer a diferença. Sua direção havia
melhorado muito desde a primeira viagem fatídica. Ela agora
poderia se mesclar com hiperventilação mínima.
Josh não tinha descoberto uma maneira de dizer não para
seus olhos de corça em quase dois meses morando com ela.
Então, agora, ele teria que passar a próxima hora reprimindo
uma ereção enquanto Clara examinava cuidadosamente
objetos e implementos destinados a inspirar devassidão. Ele não
precisava de estímulos explícitos para ficar duro. Nos dias de
hoje, até ver Clara escovar os dentes fazia todo o sangue correr
para sua virilha.
— Precisamos disso? — Ela entregou a ele um par de
algemas.
Josh ignorou a forma como seu pau pulou com a excitação
descarada em seu tom.
— Cinquenta dólares? Por plástico? Sem chance. Eu
poderia quebrar aquelas coisas frágeis enquanto durmo.
A respiração de Clara engatou.
— Você poderia?
Josh acenou com a cabeça, imaginando se libertar da
engenhoca ridícula para rastejar por seu corpo nu.
— Bom saber. — Ela cuidadosamente colocou a mercadoria
de volta na prateleira. — Eu disse para você não se preocupar
tanto com o orçamento. Temos muito dinheiro na conta.
— Não é pelo dinheiro. — Disse ele, embora ele tivesse
passado quase uma hora na noite passada procurando ofertas
de preservativos a granel online. — Eu quero que tudo seja
perfeito.
Ele jogou algumas vendas de cetim no carrinho e mordeu o
interior da bochecha. Ele daria tudo para saber o que Clara
fantasiava. Se algum desses acessórios aparecia em seus sonhos.
Se ele aparecia.
Ele estava deitado na cama ontem à noite com a mão em
volta de seu pênis, imaginando-a se tocando sob aquela
calcinha de algodão ridícula, fingindo que o queria do jeito que
ele a queria. Desesperada, necessitada, tão faminta por ele que
ela teve que abafar seus gemidos com as costas da mão. Se seu
cérebro trabalhasse com a metade de seu pau, ele poderia ter
algo para mostrar. Josh não queria contar a Clara que, além das
bolas azuis, ele tinha um grande caso de bloqueio de escritor.
Todo o projeto dependia de sua habilidade de elaborar o
próximo Kama Sutra, e ele não conseguia se livrar dos nervos
que ameaçavam comer seus intestinos. Assim que terminassem
essa tarefa, ele não teria mais nada a fazer a não ser colocar a
caneta no papel. Uma perspectiva verdadeiramente
assustadora.
— Eu estou com medo. — As palavras saíram dele como
uma torneira pingando.
Clara baixou a caixa de plugues anal que estava estudando
com a testa franzida e olhou em volta.
— De que?
Josh respirou fundo.
— De estragar tudo. Eu sempre apenas apareci e apontei
meu pau para onde alguém me mandasse apontar. Agora, se eu
falhar, há muito mais em jogo. Quando ninguém esperava nada
de mim, eu não podia decepcionar ninguém. — Ele beliscou a
ponta do nariz. Exceto pela minha família, mas essa é uma
história diferente.
— Ei. — Clara lhe entregou uma caneca que dizia Foda-se a
dor. — Tenho fé absoluta em você.
Ele relaxou enquanto a observava tentando não rir. Pelo
menos uma pessoa achou todo esse processo divertido.
Ela pegou um vibrador de trinta centímetros.
— Você pode imaginar usar algo assim?
Josh cobriu os dentes com os lábios e ergueu uma
sobrancelha.
— Certo. — Suas bochechas coraram e ela cuidadosamente
recolocou a caixa na prateleira. — Claro que você pode.
Ela apontou para o próximo item que chamou sua atenção,
um conjunto de bolas Ben Wa de aço inoxidável.
— São como bolas de uísque?
Josh se sentia como seu Sherpa sexual. O problema era que
ele preferia dar uma demonstração prática. Não pense em
preparar sua doce buceta com sua mão. Não pense em seu suspiro
ofegante enquanto você desliza o metal frio dentro de seu corpo
quente e apertado. Não… Ele ergueu as paredes mentais.
Tentando penetrar em seu cérebro sequestrado por
hormônios, ele pegou um conjunto à esquerda de sua seleção e
colocou-o cuidadosamente no carrinho.
— Elas vão dentro de você, na verdade. Para fortalecer o
assoalho pélvico. Mas você também pode usá-las para a prática
de edging.
— O que é edging? — Suas palavras pingavam de
curiosidade.
Ele engoliu em seco, tentando se manter na linha.
— É quando seu corpo é mantido próximo ao orgasmo, mas
a liberação é adiada… ou proibida.
Quando ela falou, suas palavras saíram mais roucas do que
o normal.
— Por que você escolheu esse conjunto?
Josh se inclinou em direção a ela até que ele pudesse respirar
o cheiro de seu perfume. Ele fechou os olhos por um momento,
tentando se recompor.
— Elas… Uh… vem com um controle remoto.
De alguma forma, eles se moveram até que seus narizes
quase se tocassem. Com apenas um movimento de sua cabeça,
ele poderia capturar seus lábios. Cada subida e descida
exagerada de seu peito quebrou outro fio de seu controle débil.
Ele desviou os olhos dos dela e examinou a lista de compras
presa em seu punho.
— Terminamos neste corredor.
Quando Clara desapareceu no corredor, ele ajustou
cuidadosamente o jeans.
Poucos minutos depois, ela parou na frente de uma fileira
de embalagens por tanto tempo que Josh abandonou sua busca
por anéis penianos para ver o que havia cativado sua atenção.
Os itens em questão eram um conjunto de chicotes com
Naomi posando na embalagem com um corpete de couro e
batom vermelho de aparência venenosa. Ele tinha esquecido
que ela tinha sua própria linha.
— Não sabia que Naomi tinha tantos produtos — disse
Clara, tensionando os ombros. — Você fez algum progresso em
seus planos para se reconciliar com ela?
— Eu não pensava nisso há um tempo. — Um balde de água
gelada encharcou sua excitação. — Nós dois estivemos tão
ocupados. — Ele supôs neste ponto que ainda era sua situação
de vida futura mais provável. Ele sempre se esquecia que sua
casa atual tinha uma data de validade. Que mais cedo ou mais
tarde Everett voltaria e o expulsaria.
— Você teve notícias de Everett ultimamente? — Ela não
mencionou nada, mas isso não significa que eles não estavam
ligando e trocando mensagens de texto fora do alcance de sua
voz.
— Recebi pelo correio alguns cartões-postais e um porta-
cerveja promocional com o nome da banda. — Ela balançou a
cabeça. — Não sei por quanto tempo mais poderei inventar
desculpas por ele quando minha mãe ligar. — Clara girou um
conjunto de grampos de mamilo de aparência agressiva para
que a caixa ficasse voltada para o lado oposto dela.
— Qual é o problema com sua mãe? Não sabia que evitar
alguém que mora do outro lado do país poderia ser tão difícil.
Clara parou na frente de uma prateleira de revistas e franziu
a testa.
— Ela quer que eu seja como ela. Eu deveria encontrar um
homem respeitável de uma boa família e me estabelecer. Ter
alguns bebês e, em seguida, gerir a instituição de caridade de
minha escolha.
— Parece chato. — Josh estremeceu. — Quero dizer, a
menos que seja o que você quer.
— Eu acho que parte do meu problema é que eu passei tanto
tempo tentando agradá-la e ao meu pai, e eu nunca dei muita
atenção ao que eu queria. E agora…
Josh encontrou um pouco de esperança nessas duas últimas
palavras.
— Agora?
— Não importa. — Clara alisou a saia. — Se meus pais
descobrissem a verdade, sobre meu trabalho com Jill ou… te
conhecessem. Meu Deus. Eles morreriam.
Lava nadou em seu estômago.
— É impossível confraternizar com estrelas pornô, então?
— Ele não deveria estar surpreso. Soube desde o segundo em
que ela chegou que ela nunca o consideraria outra coisa senão
um pit stop no caminho para as coisas que ela realmente queria.
— Exatamente. Wheatons são muito sensíveis à ótica.
Minha mãe não queria que eu namorasse um assistente jurídico
durante a graduação porque ele andava de skate. Eu deveria ser
sua graça salvadora - aquela com quem ela não precisa se
preocupar com envergonhá-la.
Josh apertou a mandíbula. De vez em quando ele se deixava
esquecer de onde Clara vinha. Agora mesmo, essa ignorância
intencional parecia fatal.
— E ela gosta da ideia de você e Everett?
Clara se inclinou e reorganizou os itens no carrinho das
posições aleatórias que ele havia dado a eles.
— Ela gosta da família dele. Gosta que ela saiba de onde ele
veio e como ele cresceu. Tenho certeza de que ela e a Sra. Bloom
escolheram nossa porcelana de casamento quando estávamos
na oitava série. — Sua voz ficou mais aguda. — Ninguém
parece se importar que Everett e eu nunca tenhamos nos
beijado.
Uma satisfação perversa se espalhou por seu peito. Mesmo
que Everett Bloom tivesse que se casar com ela algum dia, Josh
sempre seria o primeiro homem a fazê-la gozar. Mas se Clara
tinha a versão de Greenwich de um casamento arranjado, o que
diabos Everett estava esperando? Josh dificilmente poderia
passar mais de quinze minutos com ela sem querer comê-la até
torcer o maxilar.
— Sinto muito, como é possível que você tenha uma
quedinha por aquele cara desde que era adolescente, mas de
alguma forma vocês nunca se beijaram?
— Às vezes, a antecipação de um beijo é melhor do que a
experiência real de qualquer maneira. — Josh observou o jeito
que ela passou a bainha do vestido entre os dedos, expondo
mais um centímetro de sua coxa pálida.
Se ela acreditava nisso, claramente ela precisava de mais
prática.
— Tenho certeza de que beijar fisicamente é melhor.
— Isso é porque você está acostumado à gratificação
instantânea. — Clara deu a ele um sorriso de gato Cheshire
enquanto caminhava à frente dele, deixando Josh ofegante em
seus calcanhares. — Metade do prazer em beijar é a expectativa.
A obsessão pela boca da outra pessoa. Pensar no formato de
seus lábios e no gosto de sua língua. Imaginar as mãos dele em
seu cabelo. Ou a maneira como ele vai te abraçar. — Ela parou
e se virou para ele. — Você pode passar uma noite inteira se
perguntando se ele vai puxar você inesperadamente e capturar
sua respiração no meio de uma frase. Ou inclinar-se tão
lentamente uma manhã que o desejo enrolará os dedos dos pés
e chamuscará as pontas dos dedos.
Josh cravou as unhas na palma da mão, com força suficiente
para deixar marcas. Seu corpo não se importava que ela estivesse
descrevendo o anseio por outro homem. Ele não teve
problemas para fingir que todos os ele em suas frases poderiam
ser substituídos com seu nome.
— Ele tem gosto de canela ou uísque? — Clara
distraidamente traçou o lábio inferior com a ponta do dedo
indicador enquanto sustentava o olhar dele. — Você imagina,
mais e mais, em mil interpretações, como ele vai te empurrar
contra a parede e pressionar todo o seu corpo contra o seu, até
que você esteja tremendo com o quanto você quer que ele te
leve.
Seus olhos dispararam para o tijolo exposto atrás dela. Ele
não teria problemas para levá-la até que a pedra áspera
pressionasse contra seu corpo macio antes de deixar cair a boca
em seu pescoço enquanto suas mãos empurravam aquela
bainha de algodão frágil até sua cintura.
Os olhos de Clara ficaram líquidos quando encontraram
seus lábios.
— Ou talvez ele não vá. Talvez ele mal roce a boca na sua.
Faça você abaixar o queixo e implorar.
Josh deixou escapar um som, preso entre um gemido e um
lamento.
O barulho pareceu tirar Clara de seu estupor.
— Você está bem?
— Sim. — A palavra saiu no tom errado. Ele tentou
novamente. — Sim. Eu estava pensando, talvez você devesse
escrever para o site.
— Eu? Mesmo?
Ele se concentrou em manter os olhos acima das narinas
dela.
— Você é boa em canalizar suas emoções. Tudo isso de
pensar em sexo, mas não fazer nada está fritando meu cérebro.
— Seu pênis pressionou com raiva contra o zíper. Ela estava
certa. O corpo de Josh não entendia o conceito de querer e não
ter. De constante exposição ao objeto de seu desejo com zero
esperança de cruzar a linha de chegada.
— Eu sei o que você quer dizer. Tudo isso sobre pensar em
pessoas sensuais fazendo coisas sexuais com brinquedos
sexuais. — Ela se abanou com a mão. — Eu nunca disse tanto
a palavra sexual na minha vida. Eu me sinto exausta.
— Eu não sei o que fazer. — Ele não podia fazer nenhuma
das coisas que ele queria. Todas elas envolviam diferentes partes
do corpo de Clara. O suor gotejou em sua testa enquanto
observava os olhos dela ficarem com as pálpebras pesadas.
Levou tudo que ele tinha para não cair de joelhos e implorar
para ela acabar com sua miséria.
— É como ter uma coceira que você mal consegue coçar —
a língua rosa dela traçou seu lábio inferior rosado.
Seu queixo caiu.
— Sim. — Deus, até a voz dela estava começando a fazer isso
por ele. Seria possível que ela estivesse tão excitada quanto ele?
— Bem, suponho que você deve canalizar toda essa energia
em uma direção produtiva. — Clara respirou apressadamente.
Ele esperava que "uma direção produtiva" fosse um código
para entre suas coxas.
Ela balançou a cabeça como se quisesse clareá-la.
— Você já tentou escrever um diário?
A cabeça de Josh virou para trás e ele piscou estupidamente.
— Desculpa, o que? Parecia que você tinha dito diário.
— Eu disse. Você deveria usar toda a sua energia erótica
como combustível para as cenas da próxima semana.
— Oh. Sim. Esse é o plano. — Só porque ele nunca tentou
produzir algo acadêmico com seu desejo sexual antes, não
significava que ele iria falhar. O fato de nunca ter escrito nada
além de um e-mail não era um mau sinal. Ele pegaria toda a sua
luxúria reprimida, todos esses desejos inesgotáveis e ele iria…
empacotá-los. Torná-los organizados e úteis, em vez de
confusos e enlouquecedores.
Quando finalmente chegaram ao caixa, Clara colocou as
compras em filas organizadas para a gerente.
A mulher alta com um moicano rosa totalizou todos,
incluindo o desconto prometido de trinta por cento, e
entregou um número impressionante de sacolas.
— Desculpa perguntar, tudo isso é para negócios ou lazer?
Clara corou.
— Eu acho que você poderia dizer que nosso negócio é
prazer.
Assim que chegassem em casa, Josh iria se trancar em seu
quarto e escrever no diário até que sua mão caísse.
Clara intencionalmente colocou a roupa de dormir menos sexy
que possuía em um esforço para sufocar o inferno de sua libido.
Embora ela normalmente usasse conjuntos de dormir
confortáveis, em vez de sedutores, esta noite ela tinha ido tão
longe a ponto de usar um par de pijamas masculinos
extragrandes que ela havia encomendado por acidente no
último Natal. Ela parecia ridícula, como se o fantasma de seu
bisavô tivesse cuspido xadrez em cima dela, mas ela não se
importava. Pelo menos esses pijamas não antagonizaram seus
pensamentos carnais.
Pela enésima vez na última hora, seus olhos saltaram da tela
do computador na mesa de centro para a porta fechada do
quarto de Josh. Atrás daquela fina tira de madeira, ela sabia que
ele estava escrevendo fantasias pornôs. Toda a umidade em sua
boca se deslocou abaixo de sua cintura.
Ir àquela sex shop foi um erro. Observar Josh selecionar
itens para seu projeto com autoridade e experiência disparou
milhares de sensores de prazer em seu cérebro. Ela puxou o top
longe de sua pele aquecida. O algodão não era tão respirável
quanto os fabricantes alegavam.
Para completar sua lista de afazeres da noite, ela precisava
garantir um nome de domínio. Infelizmente, ela, Josh, e Naomi
ainda não haviam concordado em como chamar o projeto.
LadyBoners.com e Orgasms4All.org, as últimas sugestões de
Josh, não fluíam exatamente bem.
O homem do momento abriu a porta.
— Ei. — Ele tinha um caderno preto gasto nas mãos.
— Oi. — Clara cruzou as pernas. — Como está indo?
— Está indo tudo bem. — Ele apontou o bloco aberto na
direção dela e folheou várias páginas cheias de sua caligrafia
escura e pontiaguda. — Assim que comecei, descobri que tinha
muito a dizer.
Clara engoliu em seco.
— Eu posso imaginar. — Tantas coisas. Um milhão de
fantasias de Josh giravam em sua mente. Ela precisava de algum
tipo de medicamento anti-libido. Ou um terapeuta.
Provavelmente ambos.
Josh se sentou no sofá ao lado dela. Perto o suficiente para
ela sentir o calor saindo de seu corpo. Ela cerrou os dentes para
não inalar seu perfume.
— O problema é que não consigo dizer se alguma coisa está
boa ou se estou escrevendo um monte de baboseira.
— Quer que eu dê uma olhada?
— Na verdade, eu estava pensando que talvez pudesse ler
para você. — Sua voz tinha um toque de insegurança. — Já que
é para ser entregue como narração. — Josh bagunçou a mecha
de cachos na frente de seus olhos. — A menos que isso seja
estranho? Já que é sexual. Eu sempre posso ligar para Naomi.
— Não. — Ela empurrou o computador sob a mesa de
centro e encarou Josh com as pernas dobradas na frente dela.
— Eu posso ouvir.
— Oh, tudo bem. Excelente. Portanto, é uma parte da série
introdutória. Para parceiros que estão se conhecendo
sexualmente e descobrindo o que funciona. Achei que, em vez
de mergulhar de cabeça, a mulher, a atriz em nosso caso,
poderia mostrar ao parceiro como ela se dá prazer. Ajudá-los a
ter uma noção de onde ela gosta de ser tocada e com quanta
pressão.
— Isso parece inteligente. — Clara se obrigou a desviar o
olhar de sua boca. Droga. Ela o queria, e muito.
— OK. Posso começar então?
— Não há tempo como o presente. — Ela se preparou.
Ninguém nunca morreu de overdose de desejo.
— Comece ajudando seu parceiro a entrar no clima. — Josh
alterou ligeiramente sua pronúncia para que suas sílabas
saíssem com mais autoridade do que sua voz normal. Ele
derramou a magia de seu carisma nas palavras inocentes,
tornando-as esfumaçadas e tentadoras. — Peça a ela para
descrever uma de suas fantasias favoritas. À medida que ela se
sentir confortável, incentive-a a tocar as partes do corpo que
são estimuladas pela história.
Josh abaixou o caderno enquanto Clara passava a mão para
cima e para baixo em sua coxa.
— O que você acha desse exercício? Heather, uma das
amigas de Naomi de Cal State que é uma terapeuta sexual
certificada, sugeriu.
Sua língua parecia grande em sua boca.
— Eu acho que está bom. E o tom que você está usando,
profundo e lento. Isso também é bom. É sexy, mas não
exagerado.
O canto da boca de Josh se ergueu.
— Obrigado. — Um de seus cachos imprudentes caiu na
frente de seu olho e Clara fechou as mãos em suas calças de
pijama para não estender a mão e correr os fios brilhantes entre
os dedos.
Ele folheou algumas páginas de seu caderno.
— Então eu tracei alguns guias para a artista, embora eu ache
que podemos dar a ela muita liberdade criativa para explorar
seus próprios desejos. A ideia seria explorar várias zonas
erógenas, começando com a boca, orelhas e garganta e, em
seguida, descermos por seu corpo, nos demorando em seus
seios.
— Uau. — Seu corpo queimava por seu toque em cada um
dos lugares que ele mencionou.
— Oh, boa ideia. — Ele rabiscou a palavra clavícula em seu
caderno e Clara percebeu que tinha começado a traçar sua
clavícula com dois dedos, imaginando sua boca. Ela empurrou
apressadamente a mão sob a bunda.
— Eu acho que muitos homens descartam a estimulação
dos mamilos porque eles não sabem a maneira correta de fazer
isso. As mulheres costumam passar mais tempo explorando
essa área em seus próprios corpos do que seus parceiros.
Os seios de Clara ficaram mais apertados à medida que cada
palavra escapava de seus lábios perfeitos. Ela ergueu os olhos
para ver Josh passando a mão pela boca enquanto olhava para
o peito dela.
— Poderíamos tentar — disse ele. — O exercício. Se você
quisesse. É normal ficar superestimulado quando você assume
o prazer como profissão. Quando entrei no negócio, meu pau
praticamente caiu de todas as sessões solo de que eu precisava
para relaxar.
— Tenho notado um aumento no meu apetite… sexual. —
Uma gota de suor escorregou entre seus seios.— Suponho que,
de certa forma, temos a obrigação, enquanto direção criativa,
de garantir que o que estamos sugerindo funcione. — Seu
batimento cardíaco atingiu um staccato alarmante. — Não
gostaríamos de aparecer no set, com os artistas que estamos
pagando, e desperdiçar o tempo deles com algo que não passou
por uma avaliação cuidadosa.
Seus olhos ardiam, uma expressão de fome diferente de tudo
que ela já tinha visto.
— Certo. Não é como se estivéssemos fazendo sexo.
— Não — Clara concordou com uma respiração ofegante.
— Definitivamente não é sexo.
— É masturbação. — Ele se mexeu na cadeira. —
Perfeitamente normal. E você disse antes que está agitada
ultimamente.
Clara balançou a cabeça. A protuberância maciça nas calças
dele fez seus lábios se abrirem. Mil alarmes soaram em seus
ouvidos, avisando-a de seus limites em ruínas, enquanto suas
mãos se desviavam para a barra de sua blusa.
— Tenho mesmo.
— Aposto que se você se tocasse - aliviasse aquela distração
- você estaria muito mais focada no seu trabalho. Tanto para
Jill, quanto no projeto.
Excelente ponto.
— E uma mente relaxada é mais criativa.
Josh posicionou o caderno na frente de seu colo.
— Estou sempre lendo sobre os benefícios de longo prazo
para a saúde de orgasmos regulares.
Seus dedos pararam.
— Você lê?
— Sim.
— Então eu iria, o quê…. tirar minha camisa e tocar meus
seios? — Aquilo soou como o tipo de coisa que uma pessoa
sensual, sexualmente liberada e controlada poderia fazer.
Josh pigarreou.
— Parece um bom começo.
Uma combinação de nervosismo e excitação intensa trouxe
arrepios aos seus braços.
— Eu posso fazer isso? — As palavras saíram como uma
pergunta.
Os olhos derretidos dele devoraram a boca dela.
— Eu acho que você deveria.
Clara desejou que seu corpo entrasse em ação.
— Não consigo fazer meus braços se moverem. — Como
seus membros ousam traí-la? — Desculpe. Eu nem gosto de
ficar nua sozinha — disse ela. — Muito menos com uma
audiência.
— O que há de errado em estar nu?
Um suspiro triste saiu de sua boca.
— Bem, nada se você se parece com você. Mas quando estou
nua, é tudo macio e tudo balança. — Ela se inclinou para frente
para esconder suas curvas.
Josh balançou a cabeça.
— Essas são as melhores partes. — Ele arregaçou as mangas
de seu pulôver. — Mudaria alguma coisa se eu dissesse o quão
atraente eu acho você?
— O que? — As tentativas de Clara de parecer calma
viraram fumaça.
— Ajudaria se eu explicasse como eu acho você sexy?
Objetivamente falando, obviamente. — Ele mostrou a ela
outra página em seu caderno. — É uma das dicas do parceiro.
Se a mulher com quem você está estiver se sentindo nervosa ou
tendo problemas para evocar uma fantasia, declarar seu desejo
por ela pode ajudar a definir o tom da sessão.
A mente de Clara ficou em branco.
— OK. Sim, vamos tentar isso.
Josh olhou para ela sem pressa, começando pelo topo de sua
cabeça e descendo até os pés calçados com meias.
Ela ficou quieta enquanto ele atraía seu olhar através de seu
corpo.
— Bem, há um monte de coisas boas acontecendo — ele
disse tão baixinho que ela quase não entendeu. — Há coisas
óbvias que eu noto quando você entra em uma sala. — Ele
começou a contar coisas nos dedos. — Seu cabelo é bonito.
Brilhoso e com uma cor viva. E você está sempre jogando ele ao
redor. Então eu recebo grandes lufadas do seu shampoo
quando estamos sentados no sofá, quer eu queira ou não. E
depois há seus seios, é claro. Deus, seus peitos são uma tortura.
O jeito que você insiste em escondê-los nessas camisas ridículas
de gola alta. Porque você está fazendo isso? Eles merecem
experimentar o ar fresco. É verão em Los Angeles, pelo amor de
Deus. — Ele esfregou o queixo como se doesse. — Acho que
imaginei vinte maneiras diferentes de arrancar sua blusa. Só
para que eu possa dar uma olhada neles.
Eles mal haviam começado e a respiração de Clara já estava
saindo muito rápido. Ela poderia desmaiar.
— Mas o que realmente me deixa louco é mais sutil —
continuou ele. — A sensação da sua pele quando eu te ajudo a
sair do carro e como você parece brilhar na região do rosto.
Também gosto daquilo que você faz, quando arqueia as costas
ao se alongar pela manhã. Ah, e a pequena verruga no topo do
seu lábio. Como um tesouro que marca o X.
Ele levantou o polegar para roçar a pele fina.
As pálpebras de Clara ficaram pesadas. O desejo encheu sua
garganta, tornando difícil respirar. Alguém já disse tantas coisas
boas sobre ela de uma só vez? Claro, eles eram superficiais, mas
também eram doces. Ouvir Josh admirar seu corpo de alguma
forma compensou todos os caras do ensino médio que a
chamaram de gordinha ou tiraram sarro de seus dentes grandes.
Ela não podia lutar contra o desejo repentino e avassalador
de abrir a boca. Quando ela cedeu ao instinto, Josh deixou o
dedo deslizar entre os lábios dela. Clara não se conteve. Ela
arrastou a língua pela áspera almofada de seu polegar, sentindo
o gosto de sal, quando ele fechou os olhos e gemeu.
— Mostre-me o que você gosta — disse ele, os olhos ainda
fechados. Era um pedido, uma ordem e um apelo ao mesmo
tempo.
E de repente ela precisava. Não importava se ela gostava de
cada parte de seu corpo. O que importava eram as palavras de
Josh e a forma como elas a elevavam a uma posição ao mesmo
tempo libertina e poderosa. Ele deu a ela a oportunidade de
soprar a faísca de desejo atrás de seus olhos até que ela ardesse.
Ela seria uma idiota se não aceitasse.
Antes que ela pudesse perder a coragem novamente, ela
moveu as pernas para trás para que pudesse sentar-se sobre os
calcanhares.
— Isso é profissional, certo? Estamos fazendo isso para o
bem do projeto?
Josh respirava lenta e uniformemente pelo nariz, mantendo-
se rígido.
— Sim. Absolutamente. Estamos trabalhando agora. —
Seus olhos eram praticamente todos pupila.
Clara agradeceu a sua estrela da sorte por Josh ser um artista
mestre. Quem se importava se ele estava fingindo querê-la
agora? Parecia incrivelmente real.
Ela relaxou os ombros quando a confirmação dele a
inundou. Eles concordaram explicitamente que o que quer que
acontecesse a seguir não significava que ela tinha sentimentos
por Josh. Com o desejo, ela poderia lidar. Mas algo mais
profundo… qualquer coisa a mais com Josh era impossível.
Inaceitável. Uma receita para um coração partido.
Mas ela ainda podia satisfazer uma de suas fantasias. Apenas
uma única e inofensiva confissão. Para um bem maior.
Ela tirou a blusa em um movimento fluido. Felizmente, o
material não ficou preso em seus cotovelos.
O ventilador de teto soprava ar frio contra a pele recém-
exposta. Claro, o sutiã que ela escolheu hoje era muito
pequeno. Seus seios se espalharam por cima do tecido creme
sem adornos.
Josh gemeu como se alguém o tivesse esfaqueado com uma
faca cega.
— Eu vou queimar cada uma dessas fodidas blusas de gola
alta sem mangas. Como diabos eles são melhores do que eu
imaginava?
Clara abaixou a cabeça e riu um pouco disso. Um ronronar
gutural que soava como outra pessoa, mas era bom em sua
garganta.
— Agora o sutiã? — Ela precisava de orientação, mas
também gostava da ideia de que anunciar seu progresso deixaria
Josh louco.
Certamente, quando ela encontrou seus olhos, ele
estremeceu como um homem desfrutando da cadeira elétrica.
— Você quer que eu pare? — Ela fingiu um tom de
preocupação.
Ele deu a ela seu sorriso mais encantador em segurança,
covinhas em pleno efeito.
— Não se atreva.
Clara levantou-se e virou-se de costas para ele, esperando
que não ter que fazer contato visual direto facilitasse um pouco
a remoção do sutiã, um obstáculo significativamente maior
para sua insegurança. Ela se inclinou um pouco para frente e
estendeu a mão para trás para soltá-lo, atrapalhando-se com o
fecho.
— Deixe-me ajudá-la. — Conforme Josh habilmente
desfazia o gancho, mais de suas reservas derreteram.
Ele deixou as costas de seus dedos roçarem ao longo de sua
coluna enquanto tirava a mão.
— Se você se recusar a se virar, há uma boa chance de eu
entrar em combustão espontânea. — Sua respiração não era
mais lenta e uniforme. Parecia que ele estava tentando subir um
lance de escadas carregando um carrinho de mão.
Clara girou, forçando seu corpo a não obedecer ao impulso
de se cobrir enquanto Josh lambia os lábios, olhando
descaradamente para o peito dela.
Ele assobiou em uma respiração.
— O que estou prestes a dizer vai soar como uma cantada.
Mas, por favor, acredite em mim quando digo que já vi
milhares de peitos na minha vida e nunca quis colocar minhas
mãos e minha boca e, sendo totalmente honesto, meu pau, em
um par tanto como o seu.
O rosto de Clara se aqueceu com o elogio ridículo.
— Ninguém em sã consciência pensaria que essa era uma
boa cantada. — Ainda assim, ela abaixou as omoplatas,
empurrando os seios ainda mais para fora, e segurou um em
cada mão até que a carne pesada derramasse sobre seus dedos.
Viu. Isso mal conta como segunda base. Comparar as metáforas
do beisebol adolescente com os níveis de intimidade era
estranhamente reconfortante. O talento de Josh era quase
suficiente para torná-la atrevida. Ela deixou seus polegares
roçarem seus mamilos, sentindo a onda de prazer até aquele
pequeno gesto enviado por sua barriga até o clitóris. Ela não se
tocava assim há um tempo, e na metade do tempo ela ficava tão
envergonhada com o tamanho de seus seios que fingia que eles
não existiam.
— OK. Então, um. Na minha fantasia, estou em uma praia
em algum lugar. — Ela olhou para ele. Com você. — E o sol está
aquecendo minha pele. — Os olhos dela devoraram seus largos
ombros. E você está nu. — Estou tomando banho de sol de
topless. — Josh cerrou os punhos. Porque eu queria provocar
você.
A atenção que ela deu aos seios, começando devagar e
variando a pressão, a fez querer se contorcer. Ela havia se
esquecido de como o prazer podia aumentar, mais completo do
que quando começava abaixo da cintura. Clara fechou os olhos
e jogou a cabeça para trás até que os longos fios de cabelo
roçaram o meio das costas.
— Saber que você adora brincar com seus peitos tirou pelo
menos cinco anos da minha vida. — A luxúria crua em sua voz
a fez derreter.
Clara não se deu conta da conversa suja de Josh quando
concordou com esse plano. Como suas palavras tornaram tudo
mais emocionante, urgente e deliciosamente indigno.
Ela abriu os olhos para encontrá-lo lutando com o controle.
Ele se moveu até estar de frente para ela no sofá, cada
centímetro de sua forma longa e esguia curvada para frente em
antecipação. Ela deixou seus olhos vagarem entre as pernas dele
e beliscou seus mamilos com força entre o polegar e o
indicador. A protuberância em suas calças era realmente
obscena. Ele parecia não saber que tinha começado a balançar
os quadris sutilmente.
— Você deveria tirar isso — ela disse, e então imediatamente
cobriu a boca com a mão.
Josh congelou.
— Huh?
Clara tirou os dedos dos lábios lentamente.
— Seu… pau. — Ela enrolou a boca em torno da palavra que
ele usou antes. — Você deveria tirar a calça e se tocar. Se você
quiser. — Ela abaixou a cabeça. — Eu sinto muito. Eu não
deveria ter dito isso. Eu me empolguei.
— Você está brincando comigo? — Josh arrancou sua
camiseta, dando a ela uma visão de seu abdômen ondulando
enquanto ele levantava os braços. Ele puxou a calça e a cueca
pelas pernas tão rápido que ela mal piscou antes que ele tivesse
a mão em volta de si.
— Meu Deus. — Sua voz tremeu quando a temperatura na
sala queimou. — É como se alguém desse a uma pintura de
Caravaggio uma mensalidade de academia.
Josh acalmou a mão ao redor da base de seu eixo grosso.
— Isso é… bom?
— Sim. — Era muito mais do que bom. A tela de seu
computador realmente não tinha feito justiça a ele. Não admira
que ele estivesse louco por perder todos aqueles dólares de
mercadorias. Mulheres em toda a América provavelmente
haviam esvaziado seus planos de previdência para uma cópia de
silicone do calor que Josh estava embalando.
— Você vai…? — Ele acenou com a cabeça em direção às
coxas ainda vestidas de pijama. — Você não tem ideia do
quanto eu quero te ver agora.
Clara teria topado qualquer coisa para fazer Josh continuar
olhando para ela exatamente assim, então ela empurrou o resto
de suas roupas para baixo e para fora do corpo.
— Porra. Eu… — Josh disse quando ela estava nua diante
dele. Ele parou de se mover. Na verdade, ela não tinha certeza
se ele não tinha parado de respirar. — Por favor, toque sua
boceta. Por favor. Eu sei que estou implorando. Eu sei que não
é viril, nem suave, nem legal. Mas por favor, Clara. Estou
enlouquecendo. — Josh soltou as palavras com uma voz
dolorida.
A luxúria cega deu a ela a confiança para levar a mão trêmula
ao estômago, para deixar os dedos deslizarem lentamente entre
as coxas. No momento em que sua mão fez contato com seu
sexo, ela e Josh xingaram.
Ele se aproximou até que cada uma de suas respirações
ásperas caísse contra o pescoço dela.
Ela choramingou quando seus quadris resistiram, buscando
a penetração. Implorando pelo homem ao lado dela.
Os olhos de Josh ficaram mais escuros, mais selvagens, até
que ele parecia a vítima de um naufrágio de feromônio.
De repente, tudo, a pressão de sua mão e o prazer que ela
proporcionou, dobrou. Josh trabalhou em golpes suaves,
engolindo cada vez que seu polegar roçava a cabeça de seu
pênis. Ele deixou sua boca cair aberta enquanto a observava se
esforçar para se soltar.
Sem pensamento ou intenção, Clara gemeu a única palavra
que se proibiu de pronunciar.
— Josh.
O som de seu nome em seus lábios pareceu quebrá-lo. Seu
corpo inteiro começou a tremer.
— Diga de novo — ele rangeu os dentes cerrados. Seu
antebraço estava tenso com tanta força que ela podia contar as
veias. Ele baixou a voz para uma ladainha. — Continue dizendo
meu nome.
Ela sustentou seu olhar enquanto inseria dois dedos em seu
corpo tenso, incapaz de encontrar qualquer espaço em sua
mente para a vergonha.
Não quando sua respiração estava tão irregular quanto a
dela.
Não quando ela perseguia um orgasmo que prometia
arruiná-la.
Fazia todo o sentido transformar o nome de Josh em um
mantra. Mesmo que ele não a estivesse tocando, ela podia senti-
lo em todos os lugares. O calor e a energia fortemente enrolada
saíram de seu corpo em ondas.
Tudo o que ela sempre acreditou sobre sexo e seu corpo,
tornou-se uma história antiga enquanto ela se movia como uma
mulher que nunca se desculpou por perseguir seu próprio
prazer. Deixe ele olhar. Deixá-lo ver o movimento frenético de
sua mão enquanto ela trazia exatamente o que queria.
Sua presença agia como uma privação sensorial, tudo
intensificado, focado em um único ponto.
— Por favor, diga-me que você entende o quão incrível você
parece agora. — Seus olhos reviraram em sua cabeça quando ela
acrescentou outro dedo. Ele ficou mais áspero com seus golpes.
— Eu faria coisas terríveis, Clara, para sofrer a tortura perfeita
de ver você se foder de novo e de novo. — Ele não a tocou, mas
suas palavras afundaram em sua pele.
Clara foi apanhada por ele. Afogou-se em sensações. Tão
distraída que quando ela caiu no precipício, ela gritou não só
de prazer, mas também de surpresa. Seus olhos se fecharam
quando ela deixou o orgasmo quebrar em seu corpo sem se
afastar. Quando ela piscou para encontrar Josh observando seu
rosto, o desejo nu em seus olhos atraiu os estremecimentos de
seu corpo.
Não foi até um momento depois, quando seu corpo
finalmente relaxou, quando ela caiu de costas no sofá como um
macarrão mole, que Josh permitiu sua própria liberação,
pintando seu estômago com a evidência de seu desejo. Suor
começou a esfriar em seu corpo trêmulo. Nada jamais foi tão
bom quanto a ilusão que Josh teceu de desejá-la.
A sala estava silenciosa, exceto pela mistura de suas
respirações desesperadas.
— Aquilo foi… — Josh finalmente disse. — Quero dizer,
você fez… Seu corpo é…
— Espero que os finais dessas frases sejam elogiosos. —
Clara sorriu enquanto lhe entregava um punhado de lenços de
papel da caixa na mesinha de canto, exausta, feliz e diferente da
mulher que era uma hora antes.
— Sim, muito — ele disse enquanto eles se olhavam. A sala
se encheu de algo mais do que atração e luxúria desenfreada.
Josh apertou a mandíbula e Clara foi a primeira a desviar o
olhar.
Ele gesticulou com o polegar por cima do ombro.
— Eu provavelmente deveria digitar minhas anotações.
Minhas descobertas, se você quiser.
Clara procurou no chão por seu pijama.
— Certo. sim. Faça isso. — Ela admirou sua bunda nua
quando ele se levantou para ir embora, cambaleando
ligeiramente.
— Ah, e Josh?
Ele se virou, segurando suas roupas enroladas na frente de
sua cintura.
— Eu diria que sua estratégia definitivamente funcionou.
Ele bufou um som que era quase uma risada.
Depois que Josh se trancou de volta em seu quarto, Clara se
limpou e vestiu um novo pijama. Então ela pegou seu laptop
descartado e digitou uma única palavra no mecanismo de busca
de domínio.
Ela sorriu ao adicionar sua seleção ao carrinho. Finalmente.
Seu projeto incipiente tinha um nome. Uma palavra esperando
para ser reclamada. Uma que batia no tempo com o thump-
thump de seu coração.
Shameless.7
7
Significa “sem vergonha”
Clara Wheaton tinha experimentado sua cota de
constrangimento. Ela tropeçou escada abaixo na frente de seus
colegas, usou o pronome francês errado ao se dirigir a um
falante nativo e uma vez gritou acidentalmente “abortar”
quando encontrou um ex-namorado em um pub de
Manhattan.
Tendo sofrido muito pior, ela decidiu não deixar seu
pequeno “ensaio na sala de estar” com Josh arruinar seu vínculo
estranho e inominável.
Ela precisava dele. Profissionalmente agora, bem como
pessoalmente. Ela simplesmente redesenharia alguns limites
entre eles. Não faria mal. Sem falta. Provavelmente seria uma
boa ideia parar de ficar com as lembranças dele se acariciando.
Apenas um pensamento.
Em uma tentativa desesperada de retornar à sua zona de
conforto e conhecer os artistas e a equipe que eles contrataram
ao longo da semana, Clara convenceu Josh que eles deveriam
fazer um churrasco no quintal de Everett.
Entreter era uma habilidade enraizada nas mulheres
Wheaton, praticamente desde o nascimento. Clara podia
dobrar guardanapos em catorze formas distintas. Essa
habilidade não veio a calhar nesta situação.
Em um esforço para parecer descontraída e descomplicada,
ela comprou copos de festa vermelhos e alugou mesas de
carteado e cadeiras dobráveis. Ela chegou ao ponto de permitir
que Josh escrevesse potluck nos convites.
— Ninguém da nossa idade pode ir a uma festa de mãos
vazias sem se sentir um idiota — ele disse. — Pelo menos deixe
que eles tragam cerveja.
Clara se consolou fazendo uma infinidade de mergulhos
para acomodar todas e quaisquer preferências dietéticas. Ela
ainda era a anfitriã, e depois do espetáculo que ela fez de si
mesma na seleção de elenco, esta era sua chance de fazer amigos.
Para mostrar a todos que ela não era chefe ou banqueira, mas
um deles. Com petiscos deliciosos e conversa estimulante.
À medida que se aproximava o horário de início da festa,
Josh saiu de seu quarto com uma camisa havaiana extravagante.
— Você realmente vai vestir isso? — Ela não sabia por que
se deu ao trabalho de perguntar. Clara adicionou framboesas
frescas em uma tigela de ponche.
— Claro que vou. — Josh roubou um pedaço de fruta antes
que ela pudesse afastá-lo e jogou-o na boca. — É isso que você
vai vestir?
Clara ajeitou a saia rodada de seu vestido vintage. Tinha gola
alta. Ela havia pensado que era encantador.
— Você não gostou?
— Não, eu gostei. — Ele deixou seu olhar percorrer sua
forma. — Mas é branco. Em um churrasco no quintal. Com
ponche vermelho.
Clara franziu o cenho. Ela não tinha considerado isso.
— Talvez eu pudesse usar meu avental durante a refeição?
— Ela puxou uma pilha de guingão e babados do armário e
segurou o material para sua inspeção.
— Isso parece de marca. — Ele se virou em direção à
geladeira e Clara notou um band-aid em sua têmpora.
Ela ficou na ponta dos pés para inspecionar a área
machucada.
— O que aconteceu aqui? — Ele provavelmente não tinha
pensado em aplicar um anti-séptico.
— Nada. — Josh se afastou. — Simplesmente desajeitado.
A campainha tocou.
— Eles chegaram cedo. — Ela torceu as mãos. — Eu não
coloquei os cartões de lugar na mesa ainda.
Josh a guiou em direção à porta pelos ombros.
— Vá cumprimentar nossos convidados. Vou definir os
cartões de lugar.
Clara jogou os triângulos de papel com o nome de cada
pessoa escrito em caligrafia em suas mãos em concha e correu
para a porta.
Naomi estava na porta, junto com um punhado de outros
membros do elenco e da equipe que Clara reconheceu, mas não
conhecia o nome. Naomi colocou uma grande bandeja de
vegetais de plástico nos braços de Clara.
— Eu não cozinho e não corto.
— Eu não culpo você. — Francamente, a ideia de Naomi
empunhando uma faca era aterrorizante. — Obrigada por vir.
Isto é perfeito. — Clara apontou para a porta que dava para os
fundos. — A festa é por ali.
Clara coletou alguns outros itens alimentares enquanto os
convidados em chinelos e camisetas regatas se aproximavam, se
apresentando e agradecendo pelo convite. A multidão cresceu
mais do que ela originalmente contabilizou. Ainda bem que ela
tinha bastante comida.
Depois de alguns preparativos de última hora, Clara se
juntou ao resto do grupo no pátio. Apesar da música tocando,
a cena não tinha alcançado o ar de camaradagem jovial que ela
esperava inspirar. Ela percebeu com perplexidade que alguns
dos rapazes transformaram seus cartões de lugar em bolas de
futebol de papel. Ah bem. Pelo menos eles os colocariam em
uso. Ela caminhou até onde Josh e Naomi estavam
conversando em um canto. Com mais do que sua indiferença
típica, a ex de Josh entregou-lhe algo pequeno e preto,
suavemente, do jeito que o pai de Clara passava uma gorjeta
para o manobrista.
Clara captou apenas o final da frase que acompanhava o
gesto encoberto.
— …que tem minhas coisas e tudo de Ginger.
Josh enfiou o item no bolso quando notou sua
aproximação.
— Tudo pronto na cozinha? — Ele virou suas covinhas para
farol alto.
— Uh, sim. Está tudo bem aqui? — O cérebro de Clara deu
uma olhada em uma dúzia de explicações para essa
transferência. O menos ridículo disso era que Naomi tinha
passado a Josh algum tipo de chave eletrônica para uma
masmorra de sexo escondida. Mas que tipo de “coisa” alguém
guardava em uma chave? Mais provavelmente era algum tipo
de pen drive… apenas um pouco menos desconcertante. Não é
da sua conta, de qualquer maneira, uma voz afetada em sua
cabeça a lembrou.
— Acho que começamos um pouco devagar. — Josh
franziu a testa para a reunião morna.
Agora que ele mencionou isso, a festa não estava exatamente
animada. A maioria dos convidados parecia tão desconfortável
quanto Clara se sentia.
— Você precisa incentivar a interação — disse Naomi. —
Metade dessas pessoas não se conhecem. Você tem um monte
de estranhos juntos e isso é Shania Twain tocando no seu
telefone? — Ela olhou para Clara acusadoramente. — Não é à
toa que está estranho.
Quem não gosta de “Man! I Feel Like A Woman!”?
— Ooh. Eu tenho uma ideia. Eu tenho uma lista de
perguntas, originalmente desenvolvida por Marcel Proust para
despertar uma conversa significativa, na minha sala. Eu poderia
pegar aqueles…
— Não — Josh e Naomi disseram em uníssono.
Josh abaixou a música e chamou a atenção dos convidados.
— Que tal uma rodada de Eu Nunca pelos velhos tempos?
Algumas pessoas trocaram sorrisos maliciosos. Outros riram
e se moveram para completar suas bebidas.
— Você primeiro, Darling — disse uma mulher que se
apresentou como Stacy. Seu acompanhante, um dos
abusadores de cartões de lugar, gritou e bebeu sua cerveja antes
de jogá-la no chão.
— Atores adultos adoram Eu Nunca porque isso lhes dá a
chance de se gabar de todo o sexo que fizeram — Naomi
explicou enquanto levava Clara até a mesa para jogar.
Interessante. Clara havia jogado o jogo algumas vezes no
acampamento. Ela sabia que, na maioria das vezes, as perguntas
se concentravam em atividades ilícitas. Embora ela tivesse que
imaginar essa multidão definia ilícito de forma diferente dos
conselheiros do acampamento Sparrow.
Ainda assim, jogos de bebida eram uma boa ideia. Um
lubrificante social deixaria todos à vontade. Ela se serviu de um
copo de ponche e entrou na briga.
— Tudo bem, pessoal. Vamos jogar com as duas mãos para
cima, e a última pessoa em pé pode tomar uma cerveja no final
da rodada. A última vez que brincamos com a regra de que você
tinha que beber por tudo o que tinha feito, a festa inteira
acabou no lixo. — Josh sorriu. — Vou começar: Nunca fodi os
dois membros de um casal
A ex dele deixou cair um dedo junto com alguns outros.
Clara baixou as sobrancelhas antes que alguém notasse sua
surpresa.
— Nunca gozei tão forte que desmaiei — disse Stacy.
Muitos outros dedos caíram.
Clara mudou seu peso de um lado para o outro. Ela nunca
tinha considerado essa possibilidade. Como…?
— Nunca fodi dez vezes em um dia.
Até mesmo Josh baixou um dedo nessa. Mas… isso desafiava
a ciência. Ela queria chamar um médico.
— Nunca me ofereceram um milhão de dólares por um caso
de uma noite.
Apenas Naomi baixou um dedo sobre isso.
Clara se virou para ela.
— Você está falando sério?
— Não aceitei — garantiu Naomi.
— Nunca recusei um milhão de dólares — disse o próximo
jogador.
Naomi mostrou a ele o dedo médio, convenientemente o
único remanescente em sua mão direita.
Todas as cabeças se voltaram para Clara para sua vez.
— Umm. Nunca quebrei um osso?
— Você quer dizer uma ereção? — Stacy dobrou um dedo
até a metade. — Tipo, quebrar o pau de alguém durante o sexo?
Porque eu certamente fiz isso.
Clara se obrigou a não recuar diante daquela imagem
mental.
— Não, eu quis dizer como um osso normal. — Ela ergueu
o braço e fingiu usar uma tipoia.
Stacy desinflou.
— Oh.
Noemi teve a vez dela.
— Nunca fodi uma celebridade.
— Como estamos definindo celebridade?
— Lista B e acima — Naomi esclareceu.
— Droga. Perto, mas não — disse o par de Stacy. — Eu
nunca comi um líder mundial.
A maioria das pessoas tinha uma mão sobrando ou menos.
Os dez dedos de Clara se destacaram como um sinal de néon
anunciando-a como uma pária. Algumas pessoas olharam para
ela com sobrancelhas arqueadas.
— Você deveria abaixar um dedo quando você fez alguma
coisa — Stacy sussurrou para ela inutilmente.
— Ah não. — Ela esticou o pescoço, tentando ver a mesa de
bebidas. — Acho que estamos ficando sem gelo. Vou verificar.
— Clara entrou na cozinha e abriu o freezer, deixando a rajada
de ar esfriar seu rosto aquecido.
— Você precisa de ajuda?
Ela fechou a porta e enfrentou Josh.
— Não. Eu sinto Muito. Eu sei que estou criando o hábito
de ficar deslocada.
— Esse jogo não foi divertido para você, hein?
— Não muito. Minha vida sexual é muito baunilha. — Ela
respirou fundo e desviou o olhar. Excluído o momento atual.
— Podemos jogar outra coisa.
— Não é o jogo, Josh. Olhe para mim. Eu não me encaixo.
Você vai lá e se diverte. Tenho certeza de que ninguém quer se
comportar da melhor maneira por minha causa.
— Vamos. Ninguém pensa em você assim. Todo mundo
quer te conhecer. Você é um mistério para eles.
— Mistério é uma boa palavra para esquisita. Os garotos
descolados do colégio costumavam me chamar de estraga-
prazeres. — Clara tinha tentado se misturar com os novos
amigos de Everett depois que ele começou a chamar a atenção
por sua aparência crescente, mas casual nunca fora fácil para
ela.
Josh estendeu a mão e a envolveu em um abraço.
— Você não está mais no colégio. — Ele dobrou os joelhos
para que o queixo dela pudesse descansar em seu ombro sem
esforço e aplicou a pressão perfeita, firme, mas frouxa. O cheiro
de roupa limpa encheu seu nariz. — Clara, aquelas pessoas lá
fora estão se exibindo. Metade dessas coisas é exagerada, com
certeza. Além disso, nossas vidas sexuais dificilmente são
medianas. Você fez toneladas de coisas que nenhuma dessas
pessoas jamais tentou.
Ela deu um passo para trás do abraço, agradecida por ele tê-
la deixado escapar primeiro. Uma parte dela poderia ter ficado
lá para sempre.
— Okay, certo.
— Jogue alguns dedos para cima.
Clara acenou para ele.
— Vamos. Estou falando sério. Coloque-os para cima.
Ela revirou os olhos e ergueu a mão direita.
— Nunca fiz doutorado.
Clara dobrou um dedo.
— Isso me fez, no caso.
— Nunca fiz couve de Bruxelas com um gosto bom.
— Qualquer coisa tem um gosto bom se você fritar em
gordura de bacon — disse Clara, mas ela sorriu um pouco
apesar de si mesma. Ela jurou fazer Josh comer vegetais por
qualquer meio necessário.
— Nunca tive uma ideia para o meu próprio negócio.
Ele a ganhou aí. Shameless a deixava orgulhosa.
— Nunca fui generoso o suficiente para financiar um bando
de trabalhadores do sexo que nenhum banco daria a mínima.
— A voz de Josh transmitiu seu respeito e ela corou.
Clara baixou o dedo anelar e deu de ombros.
— Eu acredito em vocês.
Josh tocou o Band-Aid na testa.
— Nunca fiz alguém bater em uma porta porque saí do
banheiro com uma toalha muito pequena.
Clara inclinou a cabeça. Ele a tinha perdido com aquele.
Josh estendeu a mão e baixou seu último dedo.
A compreensão veio.
— O que? Esta manhã?
Josh deu a ela um sorriso autodepreciativo.
— Você pode pensar que não se encaixa, mas essas pessoas
estão tão intimidadas por você quanto você por elas. Se você
relaxar, eles também. Eu prometo. — Ele a socou levemente no
braço. — Agora vamos voltar lá antes que Felix coma todo o
molho de caranguejo.
Ela havia entrado neste empreendimento comercial com um
pé fora da porta, mas com Josh ao seu lado, talvez ela devesse
parar de dizer a si mesma que os “garotos legais” nunca a
aceitariam.
— Obrigada.
O barulho da festa explodiu do lado de fora.
— A qualquer hora, Wheaton.
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6. Clara e sua tia Jill têm vários paralelos - ambas seguiram seus
corações para a notoriedade social e fugiram para L.A. sem
quase nenhum plano. Mas enquanto Jill corta todos os laços
com a família Wheaton depois de receber sua censura, Clara
se recusa a deixá-los afastá-la. Por que Clara também não
abandona os Wheatons após seu próprio escândalo?
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