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The Roommate (#1)

The Intimacy Experiment (#2)


Para Micah Benson.
Você é a razão pela qual meus personagens recebem o amor que
merecem.
the shameless series
aviso — bwc
capítulo um
capítulo dois
capítulo três
capítulo quatro
capítulo cinco
capítulo seis
capítulo sete
capítulo oito
capítulo nove
capítulo dez
capítulo onze
capítulo doze
capítulo treze
capítulo quatorze
capítulo quinze
capítulo dezesseis
capítulo dezessete
capítulo dezoito
capítulo dezenove
capítulo vinte
capítulo vinte e um
capítulo vinte e dois
capítulo vinte e três
capítulo vinte e quatro
capítulo vinte e cinco
capítulo vinte e seis
capítulo vinte e sete
capítulo vinte e oito
capítulo vinte e nove
capítulo trinta
capítulo trinta e um
capítulo trinta e dois
capítulo trinta e três
capítulo trinta e quatro
capítulo trinta e cinco
capítulo trinta e seis
capítulo trinta e sete
capítulo trinta e oito
agradecimentos
perguntas para discussão
sobre a autora
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Quando o homem dos seus sonhos passou a mão pelo rosto
devastadoramente lindo e disse:
— Eu tenho que te dizer uma coisa e não quero que você
surte — Clara Wheaton considerou, pela primeira vez, a
possibilidade alarmante de que ela poderia levar um fora de
alguém que nunca conseguiu namorar.
Ela amaldiçoou seus ancestrais malignos enquanto olhava
para o purificador de ar com cheiro de abacaxi pendurado no
retrovisor do Jeep Wrangler de Everett Bloom.
Não importava o quanto tivesse dito aos amigos de sua mãe
em Greenwich sobre “buscar novas oportunidades de carreira”,
ela havia se mudado para o outro lado do país porque parte dela
acreditava que tinha chance de conquistar o coração de Everett
depois de quatorze anos desejando-o.
— Aluguei meu quarto durante o verão — disse ele, com
palavras gentis e firmes, do jeito que alguém confessaria a uma
criança que o Papai Noel não existe.
— Você… alugou o seu quarto? — A resposta de Clara veio
devagar, a compreensão surgindo a cada sílaba. — Aquele que
você me ofereceu há duas semanas? — Se ele não estivesse
dirigindo, e sua mãe não a tivesse feito memorizar as regras de
etiqueta de Emily Post em sua adolescência, ela poderia tê-lo
atacado.
Ela havia quebrado o contrato de aluguel de seu
apartamento em Manhattan, deixado para trás seus amigos e
familiares e recusado um estágio de curadoria no Guggenheim.
Tudo por... nada?
Mesmo em comparação com as gerações de escândalos da
família Wheaton, certamente essa queda livre no desconhecido
poderia bater um recorde.
As palmeiras pelas quais passavam ao longo da rodovia
zombavam dela, uma marca registrada do final feliz de
Hollywood escorregando entre seus dedos.
Ela nem desfez as malas... um pretzel de aeroporto não
digerido ainda flutuava em algum lugar abaixo de seu
diafragma. Como Everett já poderia estar se despedindo?
— Não, ei, espere, não. Eu não aluguei seu quarto. — Seu
sorriso preguiçoso característico – o mesmo pelo qual ela se
apaixonou no momento em que sua família se mudou para a
casa ao lado todos aqueles anos atrás – voltou ao lugar. — Eu
aluguei o quarto master. A banda recebeu uma oferta para sair
em turnê de última hora. Nada muito ousado, mas estamos
abrindo para uma banda de blues fora de Santa Fé com esse som
louco e legal, e Trent comprou uma van irada para transportar
o equipamento…
Suas palavras descuidadas a enviaram de volta ao ensino
médio. Quantas vezes Everett cancelou os planos com ela em
favor do ensaio da banda depois que sua posição social
disparou no 2° ano do Ensino Médio? Quantas vezes desde
então ele olhou por cima do ombro em vez de nos olhos
quando ela tentou falar com ele?
Ninguém acreditaria que tinha dois diplomas de mestrado e
doutorado de instituições da Ivy League apenas para acabar
sendo tão estúpida.
— Quem alugou o quarto? — Clara interrompeu sua
descrição detalhada dos para-lamas antigos da van de turismo.
— O que? Ah, o quarto. Não se preocupe. Foi esse cara
super legal. Josh alguma coisa. Encontrei-o na Internet há
alguns dias. Bem tranquilo. — Ele acenou com a mão em sua
direção. — Você vai amá-lo.
Ela fechou os olhos para que ele não a visse revirá-los em
direção ao teto solar. Não importa quantas vezes ela tivesse
considerado até onde iria em sua busca para finalmente ganhar
a afeição de Everett Bloom, nunca tinha imaginado isso.
Ele virou o carro em uma rua ostentando orgulhosamente
uma faixa de pedestres arco-íris.
— Escute, eu vou te deixar lá e te dar minhas chaves e outras
coisas, mas tenho que sair imediatamente. Devemos estar no
Novo México até sexta-feira. — Os últimos vestígios de
desculpas esmaeceram com suas palavras.
Clara observou os dedos dele, aqueles que ela muitas vezes
imaginara correndo pelos seus cabelos em uma carícia terna,
retomarem sua batida furiosa no volante. Ela procurou por
qualquer vestígio de seu melhor amigo de infância sob seu
verniz indiferente e não encontrou.
A dor queimava em seu peito. Em algum lugar de sua
linhagem, um Wheaton brigou com o Destino, amaldiçoando
seus descendentes a pagar o preço. Essa era a única explicação
para porquê, na única vez que Clara deu um salto de fé, ela
tenha quebrado a cara de forma espetacular.
Ela respirou fundo. Tinha que haver uma maneira de salvar
essa coisa toda.
— Quanto tempo você vai ficar fora? — Se havia uma coisa
que aprendeu com sua família inútil, era o controle de danos.
— Difícil de dizer. — Everett parou o jipe em um rancho de
estilo espanhol que precisava desesperadamente de uma nova
camada de tinta. — Pelo menos três meses. Temos shows da
turnê até agosto.
— Tem certeza de que não pode esperar alguns dias para
partir? — Ela odiou a nota de súplica que sangrou em sua
pergunta. — Não conheço mais ninguém em Los Angeles.
Um rosto do passado, borrado pelas lentes da memória
adolescente, passou por sua mente antes que ela o afastasse.
— Ainda não tenho emprego aqui. Inferno, eu nem mesmo
tenho um carro. — Ela tentou rir, para aliviar o clima, mas o
que saiu soou mais como um grunhido.
Everett franziu a testa.
— Sinto muito, Cee. Eu sei que prometi ajudá-la a se
estabelecer, mas essa é uma grande oportunidade para a banda.
Você entende, certo? — Ele estendeu a mão e apertou a dela. —
Olha, isso não precisa mudar o plano que fizemos. Tudo o que
eu disse ao telefone ainda é verdade. Essa mudança, a
Califórnia, sair da asa da sua mãe… Vai ser bom para você.
Ele estendeu a palma da mão para um high five em um gesto
há muito familiar. Eles poderiam muito bem estar de volta à
sala de aula estudando para os SATs. Relutantemente, ela
completou o pedido silencioso.
— L.A. são as férias de verão da vida real. Relaxe e divirta-se.
Estarei de volta antes que você perceba.
Diversão? Ela queria gritar. Diversão era um luxo para
pessoas com menos a perder, mas como gerações de mulheres
Wheaton antes dela, Clara se resignou a fumegar
silenciosamente em vez de confrontar.
Se um amigo tivesse dito a ela uma semana atrás que
planejava se mudar para o outro lado do país e desistir de uma
vida melhor do que a maioria das pessoas poderia reivindicar
para ter chance com um cara – mesmo um cara
particularmente bonito – Clara teria investido todas as suas
forças em tentar detê-lo. Isso é loucura, ela poderia ter dito. É
sempre fácil quando não é com você. Ninguém de Greenwich
conhecia melhor as consequências de um impulso mal
concebido do que um Wheaton. Infelizmente, como cachaça,
o amor não correspondido se torna mais potente com o tempo.
Everett descarregou as malas dela do porta-malas do
Wrangler e a abraçou – forte e rápido demais para fornecer
muito conforto.
— Ligarei para você da estrada em alguns dias para ter
certeza de que está acomodada. — Ele se atrapalhou com seu
chaveiro.
Clara olhou para a própria mão com indiferença enquanto
ele pressionava o pequeno pedaço de metal em sua palma. O
desejo de correr, primitivo e sem sentido, cantou sob sua pele.
Ela tinha duas escolhas. Poderia chamar um táxi, reservar
um assento no próximo vôo de volta para o JFK e tentar
reconstruir sua antiga vida, peça por peça.
Ou poderia ficar.
Ficar nesta cidade que não conhecia, viver com um homem
que nunca conheceu, sem emprego ou amigos, sem a influência
que o nome de sua família tinha na Costa Leste.
Os caçadores de fofocas de Greenwich salivariam com a
desgraça dela. Ela já podia imaginar a manchete. Não mais
“florescendo”, a cuidadosa Clara mora com um estranho.
Não dessa vez. Ela endireitou os ombros, alisou a camisa e
passou a língua nos dentes para limpar o batom borrado. Você
só tem uma chance de causar uma primeira impressão.
A batida pesada do som do carro de Everett reverberou em
seus ouvidos quando ele se foi, mas Clara não se virou para vê-
lo ir embora.
A tinta caiu da porta desbotada quando ela pressionou a
palma da mão contra ela. Droga. Os tabloides festejariam com
uma notícia dessas.
Preparando-se, Clara entrou em sua nova casa da mesma
forma que os soldados entram em território inimigo: com
passos leves, olhos mapeando o terreno e cotovelos dobrados
contra o corpo.
O tapete de pelúcia silenciou suas sandálias de salto alto
enquanto ela examinava a sala de estar. Sem os óculos cor-de-
rosa elaborados por mais de uma década de luxúria reprimida,
o espaço deixava muito a desejar.
Ela correu a ponta do dedo pela manta de poeira que cobria
uma estante de livros no canto. Um odor de decomposição
emanava de recipientes de comida abandonados espalhados
pela mesa de centro. Clara tentou inspirar pela boca.
Embaixo de seu pé, algo estralou. Chutando o calcanhar, ela
identificou os restos de uma batatinha.
Apesar do fedor e da bagunça, a casinha irradiava um
aconchego retrô que contrastava diretamente com a extensa
área colonial de sua família em Connecticut e com o apertado
prédio de Morningside Heights que ela alugou perto do
campus.
O papel de parede desbotado exalava um charme kitsch,
lutando por seu afeto, mas ela não conseguia se livrar do peso
esmagador de sua decepção. Clara limpou o assento do sofá
antes de se sentar.
— Então essa é a sensação de estar bem e verdadeiramente
fodida.
— Escuto muito isso — disse uma voz baixa atrás dela.
Clara ficou de pé tão rápido que tropeçou.
— Oh… hum… Olá. — Ela lutou para ficar atrás de sua
enorme mala de rodinhas, criando um escudo de vinte e dois
quilos entre ela e o homem parado na porta que separava a
cozinha e a sala de estar.
Ele encostou no batente da porta.
— Suponho que você não esteja me roubando?
Quando Clara franziu a testa em confusão, ele gesticulou
para seu conjunto.
Ela abaixou o queixo e examinou a gola rolê preta sem
mangas e o jeans skinny combinando que ela havia escolhido
naquela manhã. Em algum momento dos seus vinte e poucos
anos, ela trocou o Argyle e o houndstooth1 de sua juventude
por um armário cheio de básicos monótonos elegantes.
Infelizmente, parecia que a roupa preta, embora amplamente
considerada emagrecedora e chique na cidade de Nova York,
era o traje preferido dos intrusos em Los Angeles.
— Er… não. — Clara puxou a gola, feliz, em retrospecto, por
ter sofrido a indignidade de retocar a maquiagem no minúsculo
banheiro do avião enquanto um de seus companheiros de

1
Design têxtil dois tons ou padrão que consiste em pequenos quadradinhos
quebrados ou irregulares.
viagem batia na porta. — Eu sou Clara Wheaton — ela disse
quando o silêncio permaneceu.
— Josh. — Ele cobriu a distância entre eles, oferecendo-lhe
um aperto de mão. — Prazer em conhecê-la.
Quando suas mãos se juntaram, ela inspecionou suas unhas
como um indicador de seus hábitos de higiene pessoal. Limpo
e elegante. Obrigada, Senhor.
Depois de cinco segundos, Josh ergueu uma sobrancelha e
Clara soltou sua mão com um sorriso tímido.
Apesar de sua altura impressionante e do fato de que seus
ombros ocupavam a maior parte do batente da porta, ela não o
achou intimidante. Suas roupas amarrotadas e os cachos loiros
crescidos sugeriam que ele acabara de rolar para fora da cama.
As sobrancelhas escuras marcantes deveriam tê-lo tornado
ranzinza, mas o resto de seu rosto resistia à preocupação.
Ele era fofo, mas não muito bonito. Não como Everett, cuja
mera presença ainda fazia sua fala vacilar depois de todos esses
anos. Clara aceitou essa pequena forma de misericórdia do
universo. Ela sempre achou impossível falar com homens
bonitos.
— Prazer em conhecê-lo — ela repetiu, acrescentando: —
Por favor, não me mate ou me moleste — como uma reflexão
tardia.
— Você que manda. — Ele levantou as duas mãos em um
gesto de impotência. — Então… acho que isso significa que
vamos morar juntos?
— Por enquanto. — Pelo menos o suficiente para ela
desenvolver um plano de contingência.
Josh olhou para a porta aberta do banheiro.
— Onde está Everett? Ele não ficou por perto para você se
instalar?
Os ombros de Clara se aproximaram de suas orelhas.
— A banda precisava pegar a estrada imediatamente.
— Muito louco, hein? Eles serem convidados para uma
turnê de última hora?
— Sim. — Ela lutou para manter a amargura fora de sua voz.
— Ousado.
— Deu certo para mim, no entanto. Não acreditei no
aluguel barato que Everett pediu em um lugar tão bom.
Clara decidiu não mencionar que Everett havia herdado a
casa, livre e limpa, de seu avô e provavelmente cobrava apenas
o suficiente para cobrir os impostos. Ela massageou as
têmporas, tentando afastar uma dor de cabeça monstruosa. Se
vinha de estresse, jet lag ou sonhos moribundos, não sabia dizer.
Quanto mais tempo ficava nesta casa, mais real o pesadelo se
tornava. Ela sentou-se no sofá quando sua visão turvou.
— Ei, você está bem? — Seu novo colega de quarto veio se
ajoelhar na frente dela, como os adultos fazem quando querem
falar com uma criança pequena. Clara desviou o olhar de onde
suas coxas esticavam as costuras de sua calça jeans.
Ele tinha uma mancha de sardas na ponte de seu nariz. Ela
se concentrou naquela que estava bem no centro e falou com
ele.
— Estou bem. Apenas calculando as consequências de uma
maldição familiar multigeracional. Finja que não estou aqui.
Você pensaria que décadas de dinheiro antigo e boa
educação cuidadosamente monitorada eliminariam a notória
inclinação dos Wheatons para o comportamento destrutivo,
mas se a recente prisão de seu irmão, Oliver, fosse uma
indicação, quanto mais sua linhagem crescia, mais sombrias
eram as consequências de seus erros comportamentais.
Comparativamente, ela se livrou fácil com uma casa velha e
um coração partido.
Josh franziu a testa.
— Hum, se você diz… Oh, ei, espere aqui um minuto.
Como se ela tivesse outro lugar para ir.
— Acho que tenho algo que pode ajudar. — Ele entrou na
cozinha e voltou um momento depois para colocar uma lata de
cerveja gelada em suas mãos. — Desculpe, não tenho nada mais
forte.
Clara não gostava muito de cerveja. Mas, neste ponto, não
poderia doer. Ela abriu a tampa e deu um gole profundo.
— Eca. — Por que os homens insistem em fingir que as
IPAs2 têm um gosto bom? Ela deixou cair a cabeça entre os

2
India Pale Ale, estilo de cerveja.
joelhos e empregou uma técnica de respiração profunda que
observou uma vez ao acompanhar seu primo para a aula de
Lamaze.
— Ei… Hã… você não vai botar tudo pra fora, vai?
Bile se acumulou no fundo de sua garganta com a sugestão.
Esse cara era tão útil quanto qualquer outro homem que ela
conhecia.
— Talvez você pudesse dizer algo reconfortante?
Depois de alguns segundos, ele soltou um suspiro.
— Seu corpo destrói e substitui todas as suas células a cada
sete anos.
Clara sentou-se lentamente.
— Ok, bem — ela franziu os lábios — você tentou.
Obrigada — ela disse, dispensando-o.
— Eu li isso em uma revista no consultório do dentista. —
Ele deu um sorriso fraco. — Achei bem legal. Acho que isso
significa que não importa o quão ruim nós erremos,
eventualmente teremos uma ficha limpa.
— Então você está me dizendo que em sete anos, vou
esquecer o fato de que desenraizei toda a minha vida e me
mudei para o outro lado do país porque um cara que nem é
meu namorado me encorajou a, e destaco, "seguir minha
felicidade"?
— Certo. Cientificamente falando, sim.
Ele tinha olhos bonitos. Grandes e marrons, mas não
aborrecidos. Eles pareciam calorosos, como se tivessem passado
algum tempo fervendo sobre uma chama aberta. Fofo, mas não
bonito, ela lembrou a si mesma.
— Bem, certo. Eu estava esperando um detalhe banal sobre
seu trabalho, para ser honesta. Mas nada mal para um começo
de conversa. — Ela enxugou a boca com a mão e devolveu a
cerveja.
— De alguma forma, eu não acho que ouvir sobre o meu
trabalho iria tranquilizá-la. — Ele tomou um longo gole de sua
lata descartada.
Acho que isso respondeu à pergunta se Josh era o tipo de
colega de quarto que comeria as sobras dela.
— Você não é um agente funerário, é?
Ele balançou sua cabeça.
— Eu trabalho na indústria do entretenimento.
Óbvio. Clara imediatamente perdeu o interesse. A última
coisa que ela precisava era de algum aspirante a cineasta
pedindo que ela lesse seu roteiro.
Josh deu a ela um olhar descarado.
— Você não é o que eu esperava.
Bem, isso faz dois de nós, amigo.
Ela esperava viver com Everett. Imaginou os dois fazendo
jantares juntos, seus ombros se tocando enquanto trabalhavam
lado a lado. Ela se imaginou assistindo filmes de ação noite
adentro como faziam quando tinham treze anos, só que dessa
vez, em vez de sofás separados, eles se enrolariam juntos sob um
cobertor compartilhando taças de vinho.
Esta casa deveria ter criado o cenário para sua história de
amor. Everett deveria ter escrito uma música naquele assento
da janela inspirada em seu primeiro beijo.
Em vez disso, ela tinha que dividir o banheiro com um
estranho.
Clara se levantou e afastou seus desejos não realizados.
— O que você quer dizer?
— Estou surpreso que uma garota como você — ele
gesticulou para sua mala Louis Vuitton — se aventuraria com
um colega de quarto em um lugar como este.
Clara juntou seu cabelo escuro sobre o ombro e alisou as
mechas.
— Recebi a mala de presente da minha avó. — Ela baixou
os olhos para o tapete. — Peguei o quarto porque estou
procurando emprego no momento. — A mentira ficou amarga
em sua língua e ela rapidamente voltou ao território da verdade.
— Eu conheço Everett desde sempre. Quando me formei, há
algumas semanas, ele me ofereceu seu quarto vago.
— Oh. Uma graduada, hein? O que você estava estudando?
— Recentemente concluí meu doutorado em história da
arte — disse ela com toda a bravata que conseguiu reunir.
Quando criança, sonhava em fazer sua própria arte, mas
eventualmente, percebeu que a arte exigia expor partes de si
mesma, que preferia manter escondidas – suas esperanças e
medos, suas paixões e anseios. A análise e a curadoria
permitiram que ela mantivesse a arte à distância enquanto
usava a escola como uma forma de estender a rampa de saída
para a idade adulta.
Josh sorriu.
— Isso é como um diploma especial que eles só dão para
pessoas ricas?
Clara cerrou os dentes com tanta força que pensou ter
ouvido um estalo.
— Vamos manter o bate-papo interpessoal no mínimo,
certo?
Ela pegou sua bolsa e procurou seu checklist de mudança,
encontrando-a enterrada debaixo do travesseiro do avião e do
kit de primeiros socorros. Clara compilou o documento de seis
páginas para incluir todo tipo de perguntas e instruções sobre
o que procurar para saber se uma nova casa estava regularizada
em Los Angeles. Segurar o documento tornou a respiração um
pouco mais fácil.
Quando ela olhou para cima, Josh não tinha saído.
— Por favor, não me interprete mal, mas, francamente,
Everett não me disse que tinha que sair da cidade até agora, e
sem ofensa, tenho certeza que você provavelmente é legal, mas
isso — ela gesticulou para o espaço entre eles — sai um pouco
fora da minha zona de conforto.
— Ei, eu também. — Ele colocou a mão no coração. — Já
vi muita encenação, sabe. Você é exatamente o tipo de socialite
pequenininha e temperamental que enlouquece e pinta as
paredes com sangue de galinha. Como posso saber se estou a
salvo de você?
Clara inclinou o quadril e olhou para o homem de mais de
um metro e oitenta à sua frente. Sua camiseta puída,
apresentando uma foto vintage de Debbie Harry, mal cobria
seu peito musculoso e ombros largos.
— Honestamente, você está preocupado comigo?
Seus olhos se fixaram no checklist em sua mão.
— Meu Deus. É plastificado? — Ele parecia positivamente
encantado.
— Minha mãe me deu uma máquina no natal passado —
disse ela na defensiva enquanto ele a pegava para uma inspeção
mais detalhada. — Impede manchas.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. Um estrondo alto sem um
traço de zombaria nele.
— "Verificar a pressão da água em todas as torneiras quanto
a inconsistência'' — ele leu na folha. — Isso é bom demais.
Você mesma escreveu isso?
— A Califórnia é conhecida por sua propensão a incêndios
florestais. Você deve documentar as condições pré-mudança
para se preparar para possíveis problemas com o seguro. Só o
dano da fumaça...
Ele riu um pouco mais do que ela considerou uma exibição
exagerada de alegria.
Clara pegou a folha de volta.
— Devemos discutir algumas regras da casa?
Os olhos de Josh brilharam.
— Tipo nenhuma festa durante a semana?
— Você tem razão. As regras soam um pouco agressivas.
Estou pensando mais na linha de diretrizes para uma
coabitação harmoniosa. Podemos também tirar o melhor
proveito de uma situação ruim.
Josh se endireitou.
— Claro. Infelizmente, você precisará estabelecer a primeira
regra. Estou sem prática.
— Bem, por exemplo, Everett mencionou um tempo atrás
que a fechadura da porta do banheiro não funciona. Então, até
que possamos consertar isso, sugiro que empreguemos uma
estratégia de três batidas.
— Por que três?
— Seria fácil perder uma ou duas pancadas… — Ela falou
para a velha mesa de centro. — Se você estivesse no chuveiro,
por exemplo.
— Bem, nós não queremos isso, certamente.
Ela olhou para cima para encontrar seu corpo inteiro
mudado com a inclinação de seus lábios. Os braços de Clara
ficaram arrepiados, apesar da amena tarde de junho. Josh tinha
algum tipo de magnetismo que ela não havia notado antes.
Mesmo quando ela foi e ficou atrás do sofá, colocando uma
barreira física entre eles, seu corpo clamava mais perto, mais
perto.
— Ei, escute. Você não precisa proteger sua virtude de mim,
ok? — Josh quebrou o feitiço como alguém tirando uma
jaqueta. Ele deve ter notado que a energia entre eles havia
mudado de brincalhona para algo mais carnal.
— Estou comprometido, então você não tem nada com que
se preocupar. Só vou morar aqui até poder convencer minha
ex-namorada a me deixar voltar. Ela é durona, mas tenho
certeza de que serei capaz de convencê-la em uma ou duas
semanas, e então estarei fora de seu caminho para sempre. —
Ele deu a notícia no tom gentil e treinado de alguém
acostumado a aumentar as esperanças das pessoas e ter que
desapontá-las facilmente.
— Oh — disse Clara, e então quando ela entendeu o que ele
quis dizer — Não. — Ela cruzou as mãos em um X. Ele teve a
ideia errada. Obviamente. Queria Everett. O amava quase
desde que ela conseguia se lembrar. Ela nem conhecia esse cara
com sua calça jeans rasgada e sua cabeleira bagunçada. — Claro
que não. Eu não pensei que você queria… — Ela acenou com a
mão pelo corpo e mostrou a língua com nojo.
Seus olhos seguiram o caminho que ela rastreou.
— Espere um segundo. Eu não quis dizer que não gostaria
em circunstâncias diferentes. Você é muito… — Ele estendeu
as mãos na frente do peito como se estivesse avaliando o peso
de um par de melões maduros.
Os olhos de Clara se arregalaram.
— Oh, Deus. Eu não posso acreditar que fiz isso. Eu sinto
muito. Só quis dizer que você… hum… qual a maneira
respeitosa de dizer… — Ele ergueu as mãos.
O sangue subiu para seu rosto.
— Eu entendi.
— Certo. Desculpe. Novamente. — Ele sacudiu todo o
corpo como um cachorro molhado. — Além disso, eu tinha
certeza que você e Everett tinham algo. A maneira como ele
falou sobre você, definitivamente parecia que vocês dois
tinham história.
Com a menção de seu amado, os hematomas desbotados em
seu coração floresceram novamente e latejaram. Ela não sabia o
quanto compartilhar sem parecer patética. Ela e Everett
certamente tinham história, mesmo que a parte romântica
fosse parcial.
Algo nas sobrancelhas sérias de Josh deu a Clara a impressão
de que ele poderia lidar com mais do que a versão açucarada de
seu passado com Everett – mais do que as histórias de merda
que ela contara a seus amigos e família no leste, para que eles
não a julgassem ou se preocupassem com sua decisão
precipitada de recomeçar.
Por alguma razão, ela se viu derramando suas tripas para
aquele estranho maltrapilho.
— Everett e eu crescemos juntos. Apesar de vivermos em
litorais diferentes há quase dez anos, mantemos contato por
telefone e visitas. Não sei se você chegou a conhecê-lo, mas ele
é uma mistura incrível de doce, inteligente e engraçado...
— E ele encorajou você a largar tudo e se mudar para cá,
apenas para abandonar você na primeira chance que ele teve?
— Josh arqueou uma sobrancelha.
Clara deu um passo para trás. A verdade doeu.
— Não foi exatamente isso que aconteceu. Eu sei o que
parece. — Ela baixou a voz, envergonhada por ter deixado o
volume aumentar. — Mas quando Everett ligou algumas
semanas atrás e pintou este retrato da vida em Los Angeles,
todos os pores do sol e ar do oceano e pessoas que não precisam
usar protetores bucais à noite porque não conseguem parar de
ranger os dentes de estresse…
Uma covinha apareceu na bochecha esquerda de Josh.
— Eu sei que parece estúpido, mas parecia um sinal ou algo
assim. Isto parecia minha chance. No amor, aventura, felizes
para sempre, toda a coisa da Hallmark.
— Deixe-me ver se entendi. Você, uma mulher que criou
um checklist de mudança laminado, tomou uma enorme
decisão de mudar de vida com base em um sinal nebuloso do
universo?
Clara encolheu os ombros.
— Você nunca fez algo estúpido para impressionar alguém
de quem você gostava?
Josh se jogou no sofá, apoiou os pés na mesinha de centro e
os cruzou na altura dos tornozelos.
— Não. Nunca.
— Acho que você quer dizer "Ainda não". — Clara agarrou
as alças de suas malas de rodinhas. — Então, qual desses quartos
é o meu?
Na manhã seguinte, Clara havia conseguido se afundar em seus
pertences. Tendo ocupado a maior parte do espaço em seu
novo quarto, ela agora estava na cadeira de madeira tentando
decidir por onde começar.
Desfazer as malas deveria fazê-la se sentir melhor. Mais em
casa. Tinha lido isso em um estudo sobre como os humanos se
ajustam a novos ambientes.
Mas havia usado meia mala com lembranças para
compartilhar com Everett, e agora, dispostas em toda sua glória
adolescente esquecida, as lembranças se revezavam dando um
soco no estômago dela.
Tiras de fotos de cabine enroladas, a caixa de papelão
molenga de sua triste tentativa de fazer seu próprio jogo de
tabuleiro na sétima série, até mesmo um Ziploc de seus bagels
favoritos de sua cidade natal – anteriormente congelados –
agora pingando por todo o roupão de banho.
Tudo doía. Clara encostou o queixo no peito.
Uma única batida soou na porta atrás dela.
— Entre. — O caos no tapete espelhava a bagunça que ela
tinha feito em sua vida. Que poético.
— Como está indo a arrumação? — Josh ofereceu a ela uma
caneca lascada cheia de café fumegante.
Clara tampou os olhos com as mãos, mas não antes de dar
uma olhada confirmando que a trilha de pelos no peito de Josh
combinavam com suas sobrancelhas castanho-escuras em vez
dos cachos loiros em sua cabeça.
— Que diabos está fazendo?
— Estava ouvindo pequenos suspiros tristes no corredor.
Achei que o café pudesse te animar. — Ele examinou sua
posição. — Você subiu nessa cadeira para evitar uma aranha?
Clara desceu com cuidado.
— Você não está usando roupas suficientes. — Ela fechou
os olhos, mas os músculos magros de seu peito nu ficaram
gravados em suas retinas.
— O que você quer dizer?
— Você não viu a lista de regras que eu coloquei debaixo da
sua porta na noite passada? — Ela passou uma hora e meia
depois do jantar escrevendo regras em folha pautada. Até
incluiu espaços designados para as duas assinaturas.
— Eu pensei que você disse que eram orientações?
— São orientações. — Ela tentou demonstrar paciência em
seu tom. — E as orientações dizem que todas as partes devem
usar pelo menos três peças de roupa ao entrar nas áreas públicas
da casa e/ou durante a interação direta com outro colega de
quarto e/ou convidados.
Josh olhou para seus pés descalços.
— E meias?
— O que você quer dizer com 'e meias'?
— Elas contam como uma ou duas peças de roupa?
Clara colocou as mãos nos quadris.
— Meias não contam.
Ele sugou o ar entre os dentes.
— Infelizmente, isso não está claro na literatura.
— Meia é um item de roupa não essencial.
Malícia surgiu em seu olhar.
— Só até você jogar strip poker.
— Obrigada por me trazer café. — Clara aceitou a caneca
principalmente para que ele parasse de falar.
— Sem problemas. Não sei como você gosta… mas também
não temos creme. Ou açúcar. — Ele fez uma careta. — Mas
escute, eu vou te levar ao supermercado assim que você
terminar de… — Seus olhos rastrearam a bagunça que ela fez no
quarto. — redecorar.
Cansada de fazer contato visual com os pelos dourados do
peito dele, Clara pegou a primeira peça de roupa que
encontrou – um enorme moletom velho esticado nas costas da
cadeira da escrivaninha – e jogou-o com a mão livre em seus
peitorais definidos.
Enquanto ele o vestia, ela foi pegar sua cópia das
orientações.
Assim que entrou no quarto principal, Clara teve que se
esforçar para não olhar para a cama. A cama de Everett. O
travesseiro provavelmente ainda tinha o cheiro dele. Ela deu
uma fungada furtiva da porta. Sim, toda esta sala cheirava a
Everett. Irish Spring e o vinil de centenas de discos.
Balançou a cabeça e procurou o papel do caderno,
finalmente localizando seu rascunho na mesa de cabeceira. Josh
já havia conseguido derramar café no canto do documento. Se
ao menos tivesse pensado em embalar seu equipamento de
laminação.
Quando voltou para seu quarto, Josh havia conseguido se
cobrir. As mangas de seu moletom Columbia terminavam em
seus cotovelos. Ela se recusou a achá-lo encantador.
— Achei que você tinha feito isso como um ponto de
partida. — Ele apontou para a folha. — Devemos colaborar na
cópia final, não? — A luta com o moletom piorou seu cabelo
já desgrenhado.
Uma imagem indesejada dele, emaranhado em lençóis
quentes do calor de seu corpo, flutuou por sua mente. Ela
tomou um grande gole de café, usando o gosto amargo para se
livrar da visão perturbadora.
— Ah, com certeza. — Ela entregou o papel. Francamente,
assumiu que ele não se importaria o suficiente para contestar
qualquer um dos itens.
Josh afundou em sua cama e tocou seu ninho de cabelo
selvagem. De algum lugar nas profundezas de sua juba, tirou
um par de óculos tartaruga e os colocou.
— Algumas das coisas que tem aqui funcionam.
Clara mordeu o interior de sua bochecha. Josh era
encantador para começo de conversa, mas sua nerd interior
começou a ofegar ao vê-lo com óculos.
— Dividir as contas. Certo. Um gráfico descrevendo as
responsabilidades de limpeza semanais. Muito organizado.
Vamos precisar pegar alguns desses suprimentos que você
listou. Acho que não temos lustra-móveis orgânico. — Sua
língua apareceu entre os dentes enquanto ele lia o resto da
página, dando um aceno de cabeça ocasional. — Vejo que você
me confiou a troca de lâmpadas.
Josh olhou para onde ela estava, desajeitadamente
demorando-se na porta, e deu uma olhada em seu corpo
pequeno.
— Faz sentido.
Ele virou a folha.
— Sem barulho da meia-noite às cinco da manhã. É
razoável… mas você esqueceu um monte de coisas.
Clara cruzou os braços.
— Como o que?
— Como sexo.
Seu pulso disparou em um galope.
— O que você quer dizer?
— Bem, qual é o plano se nós… você sabe. — Ele fez um
movimento de bombeamento com o punho.
Clara engoliu o nó na garganta.
— Você quer dizer como uma xuxinha na maçaneta da
porta?
Suas sobrancelhas dispararam até a linha do cabelo.
— Que porra é uma xuxinha?
Em resposta, pegou uma de sua bolsa de maquiagem e jogou
nele como um estilingue.
Ele pegou o material macio na frente de seu peito e testou a
durabilidade do elástico de cabelo entre os dedos.
Clara desviou os olhos novamente. Então ele tem mãos
bonitas. Grande coisa.
— Você nunca viu uma comédia de sexo dos anos 80?
— Ah, entendo — disse Josh. — Pensei que eles usavam
meias tubo.
— Talvez os caras usem meias tubo. Vamos supor que
qualquer item que decorar a maçaneta significa não perturbe.
— Normalmente ela teria lutado contra um sinal brega de
quarto de dormitório, mas percebeu que sua vida sexual inativa
a impediria de ter que empregar essa regra em particular.
— Ok. Legal. Embora eu deva avisar você, essas paredes são
finas. Quando me mudei no domingo, pude ouvir Everett e a
fadinha3 que ele trouxe para casa transando como se eu tivesse
um ingresso na primeira fila.
Clara respirou fundo. Claro, sabia que Everett não fora
celibatário nos últimos dez anos, mas não tinha motivos para

3
A expressão no original é “manic pixie dream girl”
imaginá-lo com outras mulheres… e na cama em que dormira
na noite anterior. Ela poderia se safar queimando os lençóis se
os substituísse?
— Oh. Merda, sinto muito — disse Josh.
Ela deve ter feito uma careta. Clara rapidamente controlou
suas feições de volta à calma.
— Se isso te faz sentir melhor, ela fez um som estridente
super irritante quando gozou.
Clara lutou contra a vontade de vomitar.
— Vamos continuar.
Josh semicerrou os olhos para o teto.
— Hum. — Ele estalou os dedos. — Do que você tem
medo?
— Perdão?
— Tipo, se você tem medo de cobras, cachorros grandes ou
bolas de algodão, eu deveria saber para poder protegê-la.
Ela apertou os olhos.
— Você percebe que um desses não se encaixa, né?
— E ratos, baratas, gambás?
— Exatamente quantos tipos de vermes você acha que
vivem aqui?
Josh revirou os ombros.
— Estou tentando me preparar, como seu colega de quarto.
Clara entendia seu ponto. Ela olhou para o tapete.
— Tenho medo de dirigir.
— Mas… você se mudou para L.A.?
Suas bochechas ficaram quentes.
— Sim. É tudo muito estúpido. Eu arruinei minha vida. Do
que você tem medo? — Seu olhar, dispensando mais
questionamentos, deve ter funcionado.
Josh fez uma careta.
— Ketchup.
— Você não gosta de ketchup?
— Não — ele estendeu a vogal em ênfase. — Eu não gosto
de rabanetes. Tenho medo de ketchup.
— Isso não é engraçado. Eu te disse uma coisa real.
— Não estou brincando! A visão do ketchup me incomoda
do mesmo jeito que outras pessoas não conseguem olhar para
os insetos. É a viscosidade ou algo assim. — Ele cobriu a boca
com as costas da mão. — Ugh, sério, nem consigo falar sobre
isso. Está fazendo meu sangue gelar. — Ele estendeu o
antebraço, onde os pelos se arrepiaram, como prova.
— Tudo bem, mas se alguém te desafiasse a comer ketchup,
você poderia fazer isso?
— Por que alguém me desafiaria a comer ketchup? — Ele
hesitou.
Clara encolheu os ombros.
— Você está jogando um daqueles jogos. Verdade ou
desafio.
— Você já jogou verdade ou desafio?
— Claro que já. — Ela jogou o cabelo por cima do ombro.
— Sim… mas aposto que você sempre escolheu a verdade.
— Fique sabendo que concluí muitos desafios.
A boca de Josh se repuxou para um lado.
— Oh, sim? Cite um.
Apesar do longo gole de café que ela usou para ganhar
tempo, nada veio à mente.
— Bem, não consigo pensar em nada de cabeça. Faz um
tempo.
— É uma pena. — Algo brilhante brilhou atrás de seus
olhos. — Desafios são divertidos.
— Divertido para quem, exatamente? — Por que sua voz
parecia tão ofegante?
— Todo mundo? — Uma explosão de charme
acompanhou suas palavras.
Falou como alguém que nunca foi ridicularizado.
— Não, são divertidos para quem lança o desafio e para
vários espectadores. A pessoa que realiza o desafio se sente
mortificada na pior das hipóteses e incomodada na melhor das
hipóteses.
— Então, desafios são contra as regras, hein?
— Orientações — ela disse automaticamente antes de
limpar a garganta. — Eu acho que é seguro dizer que, agora, eles
são.
Um toque agudo soou de sua mesa de cabeceira.
Clara agarrou seu celular. Porcaria. Ela forçou falsa alegria
em seu tom.
— Oi, mãe… sim, está tudo bem… mm-hm. Apenas
desempacotando. — Ela olhou por cima do ombro para
encontrar Josh olhando-a com óbvio interesse.
— Everett? — Clara mudou seu peso de uma perna para a
outra. — Hum, não. Ele não está aqui agora. Saiu para comprar
café.
Ela baixou a voz.
— Claro, vou dizer a ele que você disse olá. — Clara não
estava pronta para confessar sua humilhação à mãe perfeita.
— Ouça, mãe, eu tenho que ir. Tenho uma panela no
fogão… sim, estou cozinhando… hã… sopa. E está queimando.
Ok, Também te amo. Tchau.
Josh estreitou os olhos.
— Você não contou à sua mãe sobre Everett ir embora.
Ele poderia pelo menos fingir que não estava escutando.
— Ela vai se preocupar.
— Certo.
O silêncio entre eles estava repleto de estranheza.
— Então, mercado? — Josh gesticulou para sua caneca
abandonada. — Não posso beber café preto para sobreviver.
— Espere. Você fez café, percebeu que não tinha leite e me
deu as sobras?
Um sorriso culpado atravessou seu rosto.
— Um homem não pode fazer uma boa ação e reaproveitar
recursos com responsabilidade? Vamos. Eu vou dirigir.
— Tudo bem. — Ela o seguiu até o corredor. — Mas vou
comprar umas três garrafas de ketchup.

•••

Os olhos de Clara foram do traseiro bem formado de Josh para


os itens que ocupavam atualmente o carrinho de compras que
ele insistiu que compartilhassem.
Cereais com teor de açúcar maior do que a maioria dos
doces, burritos congelados suficientes para alimentar uma
família de cinco pessoas por uma semana e um saco tamanho
gigante de Flaming Hot Cheetos. Como uma pessoa pode
comer tudo isso e ainda parecer assim? A conta não batia.
Ela olhou para o recipiente solitário de iogurte desnatado no
carrinho, sua única contribuição até agora. Clara se sentia
melhor quando evitava comer coisas com muito açúcar ou sal,
mas nem todos os vegetais folhosos do mundo a fariam parecer
com as mães esbeltas e fitness desse supermercado. Não
importa o que ela comia, seus seios prodigiosos se recusavam a
encolher. Pelo menos seu traseiro tinha aumentado nos últimos
cinco anos para criar uma ilusão de equilíbrio.
Quando olhou para cima, Josh havia conseguido adicionar
um sabor ultrajante de torradas a suas compras. Ele parecia
navegar na loja com base em caprichos espontâneos,
desconsiderando completamente o layout cuidadosamente
construído.
Clara estacionou o carrinho ao lado dele.
— Posso te fazer uma pergunta impertinente?
Ele baixou os waffles congelados em sua mão.
— Só se eu puder perguntar também.
— Suponho que seja justo. — Por que ela deixou sua vida
fugir tanto do controle? — Como você come tanta besteira e
continua assim tão… — De dar água na boca, seu cérebro
forneceu inutilmente. — esguio.
Ele levantou um único ombro.
— Eu transo muito?
Clara sucumbiu a um ataque de tosse alarmante e teve de
afastar os olhares preocupados de vários compradores
preocupados. Bem feito por perguntar.
Aparentemente imperturbável, Josh liderou o caminho
para o corredor de verduras e serviu-se de uma amostra não
autorizada de uvas.
— Ok. Minha vez. Qual é o seu plano aqui?
Clara ergueu a melancia que acabara de escolher.
— Achei que poderia fazer uma salada de verão.
— Não. Não qual é o seu plano para a fruta. Qual é o seu
plano para L.A.?
Ela ajeitou seu vestido para evitar encontrar seus olhos.
— Meu plano explodiu na minha cara.
Era apenas uma questão de tempo até que sua mãe
descobrisse que Everett havia ido embora e educadamente
sugerisse que Clara voltasse para casa.
— Suponho que tentarei me esconder por algumas semanas.
Lamber minhas feridas. Se eu tiver sorte, os fofoqueiros não
vão farejar minha humilhação antes que eu possa voltar
furtivamente para Nova York e dar desculpas.
Ela estremeceu. Se alguém de sua casa percebesse que
Everett Bloom não se preocupou em ficar por aqui por tempo
suficiente para lhe rejeitar adequadamente, teria que se mudar
para Guam para escapar das risadinhas satisfeitas.
— Espere um minuto. — Josh parou de andar e ela teve que
parar o carrinho para evitar bater em seus calcanhares. — Você
não pode simplesmente voltar. Talvez Everett a tenha trazido
aqui, mas se sua antiga vida fosse tão boa, você não teria
agarrado a primeira chance de deixá-la.
Ele jogou uma garrafa enorme de cerveja sem álcool no
carrinho de lado. Isso definitivamente iria explodir e espirrar
em todos os lugares quando ele a abrisse.
— Não acredito por um segundo que você não fez um plano
B.
Clara não gostou de suas tentativas de diagnosticá-la um dia
depois de conhecê-la, mas não podia negar totalmente seu
argumento.
— Não acho que meu plano alternativo queira ouvir sobre
mim.
Contava como um plano de backup se o plano fosse uma
pessoa? Uma pessoa que teria todo o direito de bater a porta se
algum Wheaton aparecesse. Afinal, algumas feridas não
cicatrizam, e Clara suspeitava que essa não tivesse desaparecido,
mesmo depois de uma década.
Ela tentou deixar a conversa morrer, mas Josh acenou um
pacote de pretzels para ela. Seu aperto se intensificou ao redor
da alça do carrinho. Esse cara já sabia o suficiente para ser
incriminador.
— Minha tia Jill se mudou para cá há dez anos. Ela abriu
uma empresa de relações públicas em Malibu, pelo que pude
encontrar na Internet. Não a vejo ou falo com ela desde que
estava no colégio. — Clara diligentemente empacotou seu
peito de frango sem pele.
— Você não tem que manter contato com parentes de
sangue. O DNA da família funciona como um cartão para sair
da prisão. De jeito nenhum você fez algo ruim o suficiente para
impedi-la de querer vê-la.
— Não sei. — Preocupada com a saúde de Josh, apesar de
tudo, Clara ficava tentando colocar as comidas industrializadas
de volta na prateleira quando ele desviava o olhar. Seu
metabolismo pode desafiar a ciência, mas a julgar por algumas
das listas de ingredientes, ele consumia bem acima da
recomendação do FDA para xarope de milho. Quando eles
passaram por uma seção, ela disfarçadamente posicionou a
sacola de Cheetos atrás de um pacote gigante de toalhas de
papel.
— Jill se mudou para cá porque minha família a deserdou.
Josh pegou um ticket de papel no distribuidor em frente ao
balcão do açougue.
— As pessoas ainda deserdam nos dias de hoje? Achei que
essa prática só se aplicava a dinastias antigas.
Clara estudou a variedade de peru fatiado.
— Wheatons não gostam de um escândalo que não podem
encobrir com dinheiro ou influência, e tia Jill lançou a versão
de Greenwich que foi ouvida no mundo.
Depois de pedirem a carne do almoço, eles pararam no
corredor de limpeza para encontrar itens para cumprir as
tarefas estabelecidas nas orientações.
— Então o que essa senhora fez de tão ruim? Vendeu uma
herança de família? Oh, já sei. — Seus olhos dançaram. — Ela
vestiu branco depois do Dia do Trabalho.
Clara inspecionou as várias marcas de lustra-móveis. Ele não
tinha ideia sobre a extensão do escândalo que ela testemunhou.
— Você brinca, mas não é incomum para Wheatons doar
bibliotecas e alas de hospital para desfazer os danos causados
por sua impulsividade.
— Então ela… matou um cara?
— O que? Não. Ela fez algo estúpido, não ilegal. Jill dormiu
com o vice-prefeito de Greenwich quando tinha dezenove
anos.
Josh agarrou as duas garrafas que ela não conseguia decidir
e jogou-as no carrinho.
— Deixe-me adivinhar. O vice-prefeito era casado?
— Como você sabe? — Clara retomou sua posição atrás do
carrinho. — Provavelmente teria explodido depois de um
tempo, mas quando ele negou o caso, ela se acorrentou a uma
estátua no centro da cidade e leu um monte de cartas de amor
que ele escreveu para ela em um megafone. — Ela escolheu um
detergente, um limpador multiuso e vários desodorizantes de
ambiente. — Segundo todos os relatos, elas eram muito, muito
apimentadas.
Josh correu ao lado do carrinho.
— Eu já gosto dela.
Os detalhes apareceram em nítido contraste em sua
memória. O primeiro escândalo de Wheaton que a afetou
diretamente.
— O gabinete do prefeito teve que ligar para o corpo de
bombeiros para soltá-la e, a essa altura, estava em todos os
noticiários locais. — Sua classe inteira tinha ouvido falar sobre
isso no dia seguinte.
Outra manchete que havia chamuscado sua árvore
genealógica. E agora, como Jill, Clara subiu em um galho por
amor e encontrou o chão de cara.
— Sua tia parece foda. — Josh entrou na longa fila para
conferir.
— Infelizmente, meu avô não concorda com você. — Clara
engoliu o gosto amargo na boca. — O espetáculo custou-lhe o
emprego. Eu provavelmente deveria ter mencionado que meu
avô era o prefeito na época?
Surpreendeu-a que um homem que sempre a idolatrava
tivesse se voltado contra sua própria filha.
— Jill mudou-se para Los Angeles não muito depois disso.
Meus pais não queimaram todas as fotos dela nem nada, mas
não falamos sobre ela. É como se ela nunca tivesse existido.
O coração de Clara se contorceu ao pensar em sua avó e seus
pais se afastando e deixando um colossal vazio se abrir no meio
da família, isolando Jill o suficiente para que ela fugisse. A ideia
de solidão agravada pelo constrangimento fez Clara estremecer.
Ela trabalhou toda a sua vida para evitar o destino de Jill.
De boletins perfeitos a sua adesão estrita ao toque de
recolher, no papel, Clara era intocável. Ela ficou perto de casa
durante a faculdade e depois durante a pós-graduação, sempre
de prontidão para apagar o fogo ou acalmar os ânimos.
Mas não importava o quanto ela tentasse corresponder às
expectativas de sua família, o fracasso parecia inevitável sob o
peso de sua responsabilidade de defender e manter o nome
Wheaton.
— Você deveria procurá-la — disse Josh quando chegaram
à esteira rolante.
Clara mordeu a língua enquanto Josh descarregava o
carrinho sem se importar com princípios essenciais, como
agrupar itens perecíveis para permitir uma desembalagem
eficiente.
— Tenho certeza que ela está ocupada.
— Vamos lá — ele disse. — Que mal pode vir de um
telefonema?
No dia seguinte, Clara esperava que seu telefonema para o
escritório de Jill terminasse em desastre. Josh não sabia, não
podia, saber quão profundas eram as feridas em sua família. Os
escândalos Wheaton arruinaram vidas, terminaram
casamentos, dissolveram negócios. E se Clara contatasse Jill
apenas para descobrir que sua tia havia se tornado uma casca de
seu antigo eu?
Mas, pela primeira vez, todas as suas preocupações
acabaram sendo em vão. Depois de uma breve, embora
constrangedora conversa, Jill recomendou que se encontrassem
para almoçar em um restaurante perto de seu escritório.
Vestida com uma saia geralmente reservada para entrevistas de
emprego, Clara pediu um carro e partiu para Malibu.
Ao chegar, encontrou um restaurante alegre com um salão
ensolarado e um menu com duas páginas completas dedicadas
a vários tipos de torradas de abacate.
Depois de um abraço constrangido, onde uma abaixou
enquanto a outra se ergueu, Jill recostou-se na cadeira.
— Estou tão feliz que você ligou, Clara. Que surpresa
agradável. Não acredito no quão crescida você está.
— Obrigada. — Antes de se mudar, Clara sempre admirou
Jill pela maneira como ela transmitia uma espécie de calma sem
esforço que se destacava entre a multidão do country club em
Greenwich. — Me desculpe por não ter ligado antes. Ou…
sempre, na verdade.
A palavra tia ficou presa em sua língua. Por dez anos, Clara
tinha ouvido a mulher à sua frente ser chamada de “uma
mancha no legado da família”. Jill certamente entendeu as
consequências de frustrar as expectativas familiares em
primeira mão.
— Relaxa. — Jill dispensou seu pedido de desculpas. — Eu
não culpo você. — Sua voz, lembrava Clara, mel misturado
com uísque. Como se alguém tivesse aquecido suas cordas
vocais, suavizando as bordas.
Quando a mulher mais velha sacudiu seus longos cabelos
escuros, Clara percebeu a semelhança entre elas. Sempre soube
que não puxou a mãe. Tudo sobre Lily Wheaton permanecia
arrumado e compacto, desde seu corte de cabelo bem cuidado
até suas calças capri feitas sob medida. Se Lily era uma reta, Jill
e Clara eram curvas sinuosas.
— Você não está brava? — Clara mordeu o lábio inferior.
A risada morreu nos olhos de Jill e ela encarou o menu por
um longo momento.
— Eu posso ter algumas palavras especiais guardadas para
meu pai, mas tempo e espaço fornecem muita perspectiva.
Estou muito feliz em vê-la, de qualquer forma. Seu cabelo está
mais curto do que nas fotos de formatura que sua mãe me
enviou.
O chá gelado espirrou na toalha de mesa quando Clara
interrompeu o progresso do copo em direção à boca.
— Minha mãe te mandou fotos? — Até onde ela sabia, sua
mãe nunca colocou um dedo do pé fora da linha. Entrar em
contato com Jill, uma persona non grata, certamente contava
como imprudente.
— Sim, a cada alguns meses, há anos. Lily as envia por e-mail
após a maioria das ocasiões importantes. — A luz voltou aos
olhos de Jill. — Ela está muito orgulhosa de você.
A culpa subiu pela garganta de Clara.
— Eu deveria ser seu prêmio de consolação, mas abandonei
o manto.
Deixando um buraco em seu rastro.
— Eu sei como é isso. — Jill sorriu com tristeza. — De
alguma forma, os homens da nossa família tendem a se safar
muito mais do que as mulheres. Sua mãe navegou por muitas
tempestades do meu pai e irmão, e agora Oliver. Não pode ser
fácil.
Lily não sabia a definição de fácil. Aos seis anos, Clara
desceu as escadas de camisola para encontrar sua mãe sentada à
mesa da cozinha, soluçando com o rosto entre as mãos quando
a notícia de outro escândalo da família Wheaton estourou. Ela
se arrastou para o colo da mãe e prometeu ser diferente.
Prometeu nunca dar motivo para preocupar sua mãe – nunca
quebrar seu coração – e até alguns dias atrás, cumpriu fielmente
sua promessa.
Jill colocou a mão em cima da de Clara.
— Você está bem?
Clara acenou com a cabeça, lavando o nó na garganta com
o chá gelado restante.
— Você sente falta? Greenwich, quero dizer?
Farelos de carboidratos caíram dos dedos de Jill enquanto
ela partia o pão em pedaços.
— Claro, às vezes. Nunca vou me acostumar com o clima
quente no Natal. Mas estou grata pela página em branco que
tive aqui. Cometi muitos erros, mas pelo menos eles me
pertencem. Há um estranho orgulho em assumir total
responsabilidade pelas consequências de suas ações, não
importa quais sejam. — Limpando as lentes dos óculos de sol
com o guardanapo de pano, Jill continuou. — Mas chega de
falar sobre mim. O que a traz a Los Angeles?
Por onde deveria começar? A maior parte das justificativas
de Clara para se mudar era humilhante. Ela se esforçou para
selecionar aquela que a fazia parecer menos idiota. Vim para cá
porque estou chegando aos trinta e passei minha vida inteira no
casulo da universidade, evitando o mundo real. Porque estava
perseguindo uma paixão não correspondida de quatorze anos.
Porque não podia mais suportar o fardo de manter as
expectativas de nossa família.
Ela decidiu por uma versão resumida da história de Everett.
Pensar em seu abandono abrupto ainda lhe dava dor de
estômago, mas pelo menos essa versão da narrativa falava de
apenas uma fraqueza em vez de todo um emaranhado delas.
Compartilhar o episódio embaraçoso, mesmo que em parte,
aliviou ainda mais a queimadura da rejeição.
Quando ela terminou, Jill apoiou o cotovelo na mesa e
apoiou o queixo na palma da mão.
— Ok, depois de tudo isso, tenho que perguntar, o que há
de tão especial em Everett Bloom?
Essa pergunta acompanhou Clara desde a adolescência até a
idade adulta.
— Everett me faz sentir segura. Crescer com ele foi como ser
cozida em uma panela de lagosta. Tornamo-nos amigos
quando a água ainda estava fria, e quando começou a ferver,
quando ele se transformou nessa beldade, eu já estava
confortável demais para surtar, como normalmente faço em
torno de homens extremamente atraentes.
— Cozimento lento ou rápido, ainda soa doloroso — disse
Jill.
Nenhum contra-argumento veio à mente.
— Nós sabemos tudo um sobre o outro. Nossas famílias são
amigas. Sempre foi simples. E eu sei, se pudesse fazê-lo ver isso,
me ver como alguém além de sua vizinha nerd e dentuça,
seríamos perfeitos. Além disso, nunca fiz nada egoísta ou
impulsivo na minha vida. Tudo o que eu queria era um
gostinho de aventura, mas em vez disso acabei com um falso
começo.
Um barulho soou de seu bolso, fazendo com que a mesa
delas fosse o olhar de alguns outros clientes.
— Com licença. — Ela desbloqueou a tela de seu celular. —
Oh, pelo amor de Deus.
— O que foi?
— Nada. Desculpe. É meu novo colega de quarto. Eu dei a
ele meu número em caso de emergência e agora ele não para de
me enviar selfies. — A mensagem dizia, SOS, precisamos
desesperadamente de papel higiênico!!! e incluía uma foto de
Josh com a boca aberta em um grito silencioso de angústia.
Jill abaixou seu cardápio.
— Ooh, eu quero ver esse homem misterioso.
Clara a entregou o dispositivo por sobre a mesa, grata por
Josh pelo menos estar com todas as roupas dele na foto.
— Espere um segundo. — Sua tia aproximou o telefone do
rosto. — Clara… — seus olhos se arregalaram perigosamente —
este é Josh Darling.
Depois de pegar o telefone de volta, ela vasculhou seu
cérebro em busca de qualquer reconhecimento desse apelido.
Não conseguia lembrar de Josh mencionando seu sobrenome.
Mas Darling? Qual é.
— Esse não pode ser seu nome verdadeiro.
A expressão no rosto de Jill seria a desgraça da vida de Clara.
— Não é o nome verdadeiro dele… — Ela fez uma pausa
significativa quando o garçom chegou para anotar os pedidos.
Só depois que elas decidiram dividir uma pizza marguerita e ele
caminhou de volta para a cozinha, Jill retomou sua revelação.
— é o nome pornô.
Afundando em sua cadeira, Clara lançou seu olhar para as
mesas ao redor. Felizmente, ninguém parecia interessado o
suficiente na conversa para escutar.
— Por favor, diga-me que isso significa outra coisa além do
que eu acho que significa.
Jill se inclinou para frente.
— Você nunca ouviu falar de Josh Darling? Estou surpresa.
Acho que você se encaixa perfeitamente na demografia dele.
Cosmo o descreveu como 'erva-dos-gatos para mulheres
millenials’. — Suas palavras se chocaram enquanto ela corria
para falá-las. — Ele parece um galã dos anos noventa. Como
Zack Morris de Uma galera do barulho, sem a personalidade
idiota.
Fechando os olhos, Clara respirou fundo e soltou o ar bem
devagar pela boca. Sua vida inteira ela escolheu segurança ao
invés de aventura. Ela não tinha usado drogas. Raramente
bebia porque sabia que não conseguia aguentar a bebida. Tinha
exatamente um par de calcinhas sexy, e nunca as usava porque
entravam em sua bunda.
Como raios ela acidentalmente foi morar com uma estrela
pornô? E não uma estrela pornô comum, mas uma popular o
suficiente para receber um perfil em uma revista que ela
folheava regularmente no saguão do consultório de seu
dermatologista.
— Eu não assisto pornô — disse Clara, mal abrindo a boca.
Não tinha problemas com as pessoas cuidando dos negócios
sozinhas, mas sempre que Clara via pornografia, geralmente a
pedido de um futuro ex-namorado, mostrava mulheres sendo
degradadas. Não podia evitar se não achava mulheres de joelhos
com sêmen escorrendo de seus rostos sexy.
A ideia de que o idiota, bagunceiro e teimoso Josh fazia esse
tipo de vídeo não fazia sentido para ela. Como o mesmo cara
que trouxe seu café poderia dizer a alguma garota para “engole
tudo, sua vadia”? Seu estômago embrulhou e ela empurrou a
cesta de pão.
— Não me surpreende que você não goste de pornografia,
mas o assunto na cidade é que Josh Darling é um grande talento
— disse Jill.
Clara apertou as mãos na cintura e desejou um antiácido.
— Se isso é uma piada, não tem graça.
Ninguém poderia descobrir sobre isso. Os caras do ensino
médio adorariam a ideia de que Clara “A Puritana” Wheaton
estava tomando banho com um homem que tinha um pênis
mais famoso que o rosto. Sem mencionar a reação de sua mãe.
Ela apertou o guardanapo de linho.
Jill sorriu desamparadamente.
— Parece que você pode sentir o gosto da aventura, afinal.
A maioria das pessoas teria um problema com sua ex-namorada
vasculhando seu telefone, mas quando Josh saiu do set para
encontrar Naomi segurando seu celular entre o polegar e o
indicador, ele simplesmente agarrou o dispositivo sem se
preocupar em evidenciar a flagrante violação de sua
privacidade. Eles sempre compartilharam uma definição
confusa de limites.
— Clara disse que pode pegar papel higiênico no caminho
para casa. — Os olhos de Naomi percorreram seu corpo nu
com posse mal disfarçada.
Josh a deixou olhar. Pelo bem de sua carreira, ele precisava
voltar com ela eventualmente, então quem se importava se ela
nunca realmente parasse de se intrometer em seus negócios? O
relacionamento deles era tão inevitável quanto o
envelhecimento.
— O que está fazendo aqui? Você não vai filmar hoje. — Ele
verificou a programação. Desde que se espalhou a notícia sobre
o rompimento, os produtores sempre pisavam em ovos ao
escalá-los juntos.
— Eu estava na vizinhança. Pensei em deixar a
correspondência de seus fãs. — Ela sacudiu um saco de lixo
pesado na frente dele.
— Oh. Certo. Obrigado. Vou ficar online e começar a
respondê-las.
O ar frio resfriou o suor que secava em sua pele, lembrando-
o de sua nudez. Pegando duas toalhas de um assistente de
produção, ele enrolou uma em volta da cintura e outra sobre os
ombros e se dirigiu para os chuveiros.
Naomi acompanhou o ritmo dele. O vestido justo que ela
usava acentuava seu porte natural.
— Eu não sabia que você estaria morando com alguém
novamente tão cedo.
Ignorando-a, Josh ligou o chuveiro no mais quente e
esperou a água esquentar. Esses velhos armazéns sempre
vinham com um encanamento de merda.
— Sua pequena corrente de mensagens de texto soou
positivamente doméstica. — Naomi se empoleirou na
minúscula penteadeira da sala, balançando suas longas pernas.
Se a química deles na tela não vendesse tão bem, ele teria
considerado seriamente dizer a seu agente, Bennie, para colocar
uma cláusula de exclusão para Naomi Grant em seu próximo
contrato. Sua tenacidade a tornava uma excelente mulher de
negócios, mas também uma pé no saco colossal.
— Não me diga que você está com ciúmes. — Ele não caiu
nessa nem por um segundo. A relação deles, tanto romântica
quanto profissional, baseava-se em dois pilares fundamentais:
sempre usar camisinha e permanecer cada um em seu canto.
Eles não eram o tipo de pessoas que caiam no golpe do amor e
se apaixonavam.
Ele e Naomi se entendiam. Haviam estendido uma relação
comercial de sucesso em uma parceria por quase dois anos,
baseada no respeito mútuo e na troca de incontáveis orgasmos.
Normalmente, isso era o suficiente. Nas raras ocasiões em que
a solidão batia em seus calcanhares, bem, ele sempre podia ligar
a TV e assistir Meg Ryan, se apaixonando pela internet.
— Tenho quase certeza de que posso te aceitar de volta se
você quiser. — Ela mexeu no cabelo tingido de vermelho.
Josh revirou os olhos.
— Obrigado, Stu. — Ele usou o apelido que ela dizia odiar,
uma parte de seu nome verdadeiro, Hannah Sturm. Ela proibiu
o uso de qualquer coisa além de seu nome artístico no set, mas
ele muitas vezes esquecia quando se encontravam sozinhos.
Como tantas outras coisas sobre ela, ela nunca disse a ele a razão
pela qual odiava seu nome de batismo. Mesmo que eles
tivessem se conhecido como co-estrelas há quase dois anos, ele
podia contar em uma mão o número de coisas que sabia sobre
a infância dela.
— Posso lhe assegurar que compartilhar bens domésticos
com Clara é platônico. Eu tive que encontrar um lugar para
morar quando você me botou para fora. — Josh enfiou a mão
sob o jato de água do chuveiro para verificar a temperatura
novamente e puxou de volta quando o fluxo de gelo atingiu sua
palma.
— Oh, por favor. Você praticamente correu para fora da
minha casa. — Ela bateu um dedo contra os lábios. — Clara
platônica — Naomi demorou-se nas sílabas, provando o nome
na língua. — O que há de errado com ela?
— Ela é um tipo de princesa rica da Costa Leste.
Naomi sorriu como um gato pronto para devorar um rato
infeliz.
Ele tentou e falhou em fazer sua carranca de desaprovação.
Afinal, eles compartilhavam o mesmo senso de humor.
— Nem pense nisso. — Josh apontou o dedo em
advertência enquanto contava a Naomi a mesma coisa que
havia dito a si mesmo desde que Clara apareceu em sua sala dois
dias antes. Sua ex era bissexual e adorava novidades no quarto
quase tanto quanto ele. — Eu nunca conheci alguém tão
certinha. Você deveria ver essa garota. Duvido que ela já tenha
beijado um cara sem saber seu nome completo. — Ele não
mencionou que o desafio que Clara apresentou refletiu
diretamente em seu pau.
— Parece a abertura de um filme pornô. — Naomi pegou
uma caneta imaginária do nada e fez uma mímica de escrita. —
A doce e imaculada garota de cidade pequena se muda para a
grande cidade má e descobre um grande e malvado pau.
Josh balançou a cabeça e sorriu apesar de sua rudeza. A ideia
de arruinar sua nova colega de quarto era definitivamente
tentadora, mas até ele sabia como a história terminaria.
O quarto na casa de Everett já parecia mais dele do que o na
casa de Naomi. Todo o papel de parede dos anos setenta o
lembrava do condomínio de seus avós. Além disso, algo em
Clara o lembrava de um cervo bebê tropeçando ao andar.
— Ela é uma boa pessoa. Eu posso dizer. — Ele já tinha feito
um pacto consigo mesmo para manter distância.
— Você também — disse Naomi, com a voz afiada o
suficiente para que ele soubesse que havia conseguido deixá-la
furiosa. — E acabou de conhecê-la. Ela pode acabar sendo mais
maldosa do que nós dois.
— Impossível. — Josh puxou seu gibi debaixo da bunda
dela e gentilmente a golpeou com ele. — Além disso, eu não
tenho que transar com todas as mulheres bonitas que
encontrar.
Naomi zombou.
— Bem, há uma exceção para cada regra.
— Então, ela é linda, hein? — Naomi descruzou as pernas e
as cruzou na direção oposta.
— Você pararia de fingir estar preocupada? Estou lhe
dizendo, ela corou, corou de verdade, com a menção de dividir
o banheiro comigo. Você pode imaginar a cor que ela ficaria se
soubesse todos os lugares em que meu pau esteve?
Naomi olhou para sua virilha e engasgou em horror
simulado.
— O que ela vai fazer quando descobrir?
— Ela não vai descobrir. Confie em mim. Não tem como
aquela garota assistir pornografia.
— Você não ouviu? Somos a tendência agora. Elle,
Cosmopolitan, BuzzFeed. Todos e até suas mães estão falando
sobre nosso último vídeo. Até garotas certinhas sabem como
usar a internet, Josh.
— Falando naquele vídeo — ele disse. — Eu tenho uma
reunião com Bennie essa noite. Ele quer discutir meu contrato.
Espero que ele tenha vários para eu assinar.
Naomi torceu o nariz com a menção de seu agente. Podia
admitir que Bennie se encaixava no perfil de um bastardo
bajulador, mas ele pegou Josh como um gato de rua quando
abandonou a faculdade e estava sem rumo, comendo tacos de
um dólar e balas de menta.
— Não me olhe assim. Passei dois anos acorrentado a um
contrato de ações de merda. Estou farto de usar coleira. Quero
trabalhar com outros estúdios. Inferno, eu gostaria de lucrar
com meus próprios filmes. Cobertura da grande mídia significa
muito dinheiro, certo? Temos que aproveitar bem nossos
quinze minutos. É agora ou nunca.
Não importa o que acontecesse em suas vidas pessoais, seu
sucesso profissional se enredava até que às vezes ele não sabia
onde a carreira de Naomi Grant parava e a de Josh Darling
começava. Se ela não capitalizasse sua chance de verdadeiro
estrelato, ele teria que agarrar sua mão e arrastá-la junto.
Aquela mulher tinha dez vezes mais cérebro do que
qualquer um neste negócio acreditava, que era exatamente
como ela gostava. Ela lidava com segredos como lida com
moedas, e eles compraram para ela metade da indústria
enrolada em seu dedo mindinho. Todo o negócio iria virar de
cabeça para baixo se ela quisesse jogar a merda no ventilador.
Quando Naomi pulou da bancada e se dirigiu para a porta,
estava com sua máscara profissional de volta.
— Boa sorte — ela disse a ele, passando em uma onda de
perfume picante. — Bennie é quase tão barato quanto
repugnante. Confiar nele vai acabar com você um dia desses, e
não da maneira que você gosta.
A primeira vez que Josh encontrou Bennie, seu futuro agente
o declarou o maior idiota que ele havia encontrado em quase
três décadas no mundo da pornografia.
Desde aquele dia, mais de dois anos antes, eles se
encontraram para comer hambúrgueres inúmeras vezes.
O hambúrguer favorito de Bennie veio de um restaurante
de referência em Glendale, fundado em algum momento da
década de 1950. Até hoje, o interior do estabelecimento
evocava imagens de adolescentes dançando ao som de uma
jukebox e garçonetes de patins. Eles provavelmente filmaram
seriados aqui fora do horário de pico.
Josh avistou a careca brilhante de seu agente em uma mesa
nos fundos. Bennie não ergueu os olhos do telefone quando
Josh entrou na cabine de vinil pegajosa em frente a ele, mas
grunhiu em sua direção. Josh aceitou essa saudação ritual. Ele
havia passado tempo suficiente com Bennie para saber que o
homem emitia poucas palavras e a maioria delas eram palavrões
de qualquer maneira.
Bennie fumava cigarros sem filtro e cuspia na calçada, mas
conhecia todas as pessoas importantes e nunca tirava férias, o
que tornava a vida de Josh muito mais fácil.
— Como vai, Ben?
O homem corpulento ergueu os olhos para ver Josh sentado
à sua frente e sorriu.
— Como porra você está, Darling?
Josh apontou para um prato descartado de batatas fritas
encharcadas e um triste pedaço de pão.
— Vejo que começou sem mim.
— Ah, sinto muito. Você me conhece, sempre morrendo de
fome. — Bennie girou o prato oferecendo, de modo que as
batatas restantes ficassem de frente para Josh.
Ugh. Ele se contorceu e empurrou o prato às cegas.
— Oh, merda. — Bennie jogou um guardanapo no prato.
— Eu esqueci sua coisa com ketchup novamente. Me perdoe.
— Está tudo bem — disse Josh, desejando que seu estômago
se acalmasse.
— É porque parece sangue? — Bennie acenou com a mão
para chamar a garçonete.
As pessoas sempre perguntavam isso. Josh balançou a
cabeça, não confiando em si mesmo para abrir a boca no
momento.
Uma garçonete alegre se aproximou da mesa sem pressa. Ela
ignorou Bennie, mas seus olhos se iluminaram
consideravelmente quando encontraram Josh.
— O que posso fazer por vocês dois?
Os ouvidos de Josh se animaram com a atenção. Não pôde
evitar. Ele se especializou em garçonetes. Elas trabalhavam em
horários semelhantes aos dele e sempre levavam comida de
graça para casa. Naomi o criticava por sua indiscriminação
quando se tratava de mulheres, mas ele não se importava. Ele
sempre poderia encontrar algo para gostar. Inferno, mesmo
Clara, que tinha Nem pense nisso estampada na testa, o deixou
excitado.
— Você quer ouvir os especiais? — Cebolas fritas chiaram
na grelha atrás dela.
— Ele vai querer o hambúrguer. Médio. Fritas. Extra
crocante — disse Bennie, com os olhos voltados para o
telefone.
Ela rabiscou o pedido em seu bloco e fez beicinho com a
oportunidade roubada de demorar.
— Picles extras — Josh acrescentou, dando a ela seu melhor
sorriso. A maneira como ela mastigou a caneta ao se afastar deu
a ele a suspeita de que liberar toda a força de seu sorriso seria
arrumar problemas que ele não estava pronto para lidar.
Colocando a palma da mão sobre o telefone de Bennie, ele
inclinou a cabeça em direção ao estande da garçonete.
— Ei, você não se lembra por acaso se…
— Sim, você transou com ela na última vez que estivemos
aqui.
Josh franziu a testa. Ele não se lembrava do sexo, a marca
registrada de um desempenho sem brilho. Tentou se lembrar
da última vez que fez sexo com apenas uma garota, sem
câmeras. Em algum momento do ano passado, quando ele e
Naomi mal se suportavam, eles abriram seu relacionamento
para parceiros externos, além do trabalho. No começo, ele
gostava de festejar no bufê de gatinhas de L.A., mas como
qualquer outra coisa prontamente disponível, até buceta ficava
chata.
Bennie mexeu na pilha de papéis à sua frente, lembrando a
Josh o propósito do encontro.
— Então? — Josh se inclinou e bateu na mesa com as palmas
das mãos. — O que você tem para mim?
Bennie entregou os documentos.
Dois anos atrás, poucos dias depois de rodar seu primeiro
filme adulto, Josh havia “marcado uma reunião” com um
homem do Black Hat Studios. O executivo engomadinho havia
se apresentado a ele como Johnnie Walker Blue e ofereceu um
contrato de exclusividade trinta minutos depois de conhecê-lo.
Josh, ainda espantado pelo fato de que alguém, qualquer um,
queria pagá-lo para foder, rapidamente assinou na linha
pontilhada.
O contrato significava três anos de contracheques estáveis.
Isso também significava que ele não poderia trabalhar de forma
independente ou para outros estúdios, vender sua própria
mercadoria ou fazer aparições públicas sem a aprovação
explícita da Black Hat Studios.
Aquela noite custou a Josh milhares apenas em royalties
perdidos. Ele pediu a Bennie na semana passada para se
encontrar com o estúdio em seu nome, tentar amaciar as coisas
e ver se talvez os chefes renegociassem um ano antes.
Josh passou a mão pelo cabelo.
— Um bônus de cinco mil dólares? — Ele sabia o tipo de
números que trazia apenas por meio de mercadorias e
aparências. — Isso é uma piada?
— Sei que queríamos mais, mas tive que jogar sujo por isso.
— Bennie estendeu a mão sobre a mesa para pegar os papéis
com força.
— Mas por que? Eu sou a coisa mais próxima que eles têm
de um nome conhecido… e eles oferecem isso?
Antes que o homem mais velho pudesse responder, a
garçonete voltou com o hambúrguer de Josh, dobrando a
cintura para pousar o prato. Quando Josh não deu a ela um
olhar extra além de um rápido “Obrigado", ela bufou e saiu
pisando duro.
Bennie cruzou os braços sobre o estômago farto.
— Olha, você está fazendo sucesso agora, mas os figurões da
Black Hat dizem que essas novas senhoras que você trouxe com
o último vídeo não vão ficar por aqui. Dizem que suas
autoproclamadas “Queridinhas”4 não pagam por pornografia e
definitivamente não pagam por assinaturas. Elas assistem a esse
vídeo até ficarem entediadas e depois voltam para suas camas
frias e seus maridos mais frios ainda.

4
Trocadilho com o sobrenome de Josh, “Darling."
— Além disso, você tem todos os tipos de regras sobre com
quem vai trabalhar e que tipo de coisa vai fazer. Você é como
um monge com seu código de conduta auto-imposto. Black
Hat gosta de pessoas que podem intimidar. — Seu agente
tomou um longo gole de refrigerante. — Enquanto ainda for
vinculado ao acordo de ações, eles não têm muito incentivo
para abrir o velho talão de cheques.
— Eu sei que não sou um gênio, mas vi os números que
trouxe, e eles cresceram constantemente no ano passado.
Tenho sacos de cartas de fãs raivosos derramando do meu
armário e da parte de trás do meu carro. Eu valho pelo menos
três vezes mais. Até a Black Hat negocia. O que você não está
me dizendo?
Bennie enxugou a testa com um guardanapo de papel.
— Desde que você e Naomi se separaram, suas ações
sofreram um grande golpe. A fantasia doméstica de vocês dois
juntos o tornaram mais palatável para o público principal, mas
os poderosos não estão convencidos de que um homem
sozinho, mesmo um garoto bonito como você, pode atrair
números como esse, como atração principal.
Ele fez uma careta.
— Nunca soube que as pessoas se importavam com minha
vida pessoal.
— Está brincando? Vocês dois eram como o Brad e a Jen do
entretenimento adulto. Achei que eu faria um discurso no seu
casamento.
— O que?
— Esqueça. Ei, onde você está morando agora que a
velhinha te expulsou?
Josh deu uma mordida indiferente em seu hambúrguer.
— Encontrei uma sublocação no Craigslist. Veio
totalmente mobiliado. A única desvantagem é que agora tenho
uma socialite como colega de quarto.
— Caramba. Essa é a última coisa de que precisamos. Olha,
eles disseram que se você quer muito dinheiro, tem que
começar a fazer mais coisas pesadas. É aí que a Black Hat vê as
melhores margens. Eles querem que você trabalhe na nova
divisão extrema. São homens de negócios que não dão a
mínima para sua moral. Quer mais dinheiro, vai ter que se
comprometer.
O apetite de Josh o abandonou. Ele gostava de sexo tanto
quanto qualquer outro cara. Inferno, talvez mais,
considerando todas as coisas. Mas havia estabelecido limites
quando entrou neste negócio e não iria abandoná-los.
— Isso nunca vai acontecer.
Bennie ergueu as mãos.
— Entendo. Não é nenhum problema se você quiser se
limitar ao básico. Pegue os cinco mil e invista. — Ele olhou para
o hambúrguer de Josh com mais do que um toque de interesse.
— Qual é. Algumas das coisas que eles fazem nessa divisão
me dão arrepios. Você deveria ter visto as renúncias que eles
tentaram fazer com que Naomi assinasse. — Debaixo da mesa,
as mãos de Josh se fecharam em punhos. — Deixe-os se
aproveitarem de algum outro idiota para fazer cenas com as
garotas mal orientadas do meio-oeste que eles contratam. Não
vai ser eu. Eles podem me impedir de trabalhar para qualquer
outra pessoa, mas aquele contrato não me impede de passar o
próximo ano sentado, descansando, comendo bombons.
Atingi minha cota de desempenho.
— Eu odeio te dizer, mas você não tem que aprovar. —
Bennie arregaçou as mangas. — Sabe como são as coisas hoje
em dia. Ninguém quer mais pagar por pornografia. Não é o
tipo de coisa que é fácil de obter gratuitamente de amadores na
internet. A Black Hat quer investir em um público
especializado. Um que está disposto a pagar por conteúdo
exclusivo. Este é o caminho do futuro. Você não pode confiar
nessas covinhas para sempre. Mais cedo ou mais tarde, vai ter
que se perguntar, quer ganhar dinheiro de verdade ou não?
Quando a compreensão o atingiu, o rosto de Josh se
transformou em granito.
— Quanto eles ofereceram para você me convencer?
Bennie balançou a cabeça.
— Você não quer saber.
Josh saiu da mesa.
— Pare com isso. Não seja assim — disse Bennie, gemendo
como se Josh fosse uma criança tendo um ataque de raiva. Ele
apontou uma batata frita para a pilha de papéis com a oferta.
— Cinco mil não é nada.
Josh tirou da carteira notas suficientes para cobrir o
hambúrguer que não tinha comido, e mais vinte para
compensar a garçonete por sua dispensa abrupta.
— Não pegue isso — disse ele, apontando para o dinheiro e
praticamente rosnando.
Bennie gritou atrás de Josh enquanto ele saía pela porta, sem
nenhum traço de compostura.
— Quer se demitir? Deixe-me dar uma dica, querido, foder
é a única coisa em que você é bom, e você não é tão bom em
foder como pensa. Me ligue quando acordar, caralho!
Não pesquise seu colega de quarto e estrela pornô no google. Nada
de bom pode vir disso.
Clara repetia o mantra sempre que o silêncio da casa vazia
lhe dava ideias perigosas.
Saber que Josh estrelava vídeos explícitos infectou seu
cérebro. Um contágio com apenas uma cura.
Não importava o quanto ela tentasse se distrair, ou quantas
playlists de "concentração" criasse, sua mente continuava
flutuando de volta para Josh e sua grande… ocupação.
Josh em um uniforme de entregador de pizza acanhado.
Josh como um carteiro sexy com um pacote extra grande. As
possibilidades infinitas a atormentavam. Ela sabia que a
pornografia vinha em todas as formas e tamanhos. Que tipo de
vídeos Josh fazia? Ela dificilmente poderia ter pressionado Jill
para obter detalhes. A pornografia não era exatamente o tipo
de assunto que alguém poderia discutir confortavelmente com
um membro da família, mesmo um até recentemente distante.
Mas, apesar de sua imaginação hiperativa, não conseguia
imaginar um homem tão brincalhão como sexy o suficiente
para atrair o público.
Ela supôs que Josh tinha seus momentos.
Tendo dedicado grande parte de sua vida adulta ao meio
acadêmico favorecido por introvertidos, Clara conhecia
muitos homens que evitavam o contato visual. Os caras em seu
programa de doutorado em Columbia podiam olhar para a
pintura de uma orgia selvagem por horas, mas depois só
conseguiam falar com seu ouvido esquerdo no bar.
Josh não sofria de tal aversão. Manter o olhar fixo por muito
tempo a deixou tonta. A natureza ou a criação o tornaram
elétrico?
Mesmo com todas as janelas abertas para tentar aproveitar
qualquer traço de brisa e as luzes apagadas, ela não conseguia se
refrescar. Seu quarto estava pior. Um inferno escaldante sem o
benefício de um ventilador de teto. Everett tinha esquecido de
mencionar a falta de ar condicionado da casa quando lhe
ofereceu aluguel grátis. Ela vestiu uma velha camisola de
algodão que evocava lembranças reconfortantes de um diário
melancólico em seu quarto de menina, mesmo que não lhe
servisse da mesma forma que quando tinha doze anos.
Ela olhou para o teto e tentou soprar uma longa mecha de
cabelo úmido da testa. Clara recitou mentalmente as razões
pelas quais descobrir mais informações sobre as proezas
profissionais de Josh arruinaria sua vida.
Um, vê-lo nu tornaria impossível falar com ele novamente
sem criar um tornado de estranheza. O que significava, por
inteiro, que não poderia mais pedir a ele para pegar as coisas da
prateleira de cima dos armários da cozinha. Ela já havia
armazenado vários frascos de shampoo caro lá em cima.
Segundo, poderia ver algo completamente repreensível,
forçando-a confrontá-lo com base em sua moral feminista.
Esses tipos de intervenções tinham preços altos em termos de
tempo e energia.
Três, e se ele tivesse um pênis estranho? Ela supôs que
provavelmente não, caso contrário, provavelmente não o
teriam escalado. Eles tinham algum tipo de lista de verificação
para órgãos genitais escalados para pornografia?
Sua mente voltou à curiosidade espontânea, evitando todas
as ideias de entretenimento alternativo, comida ou sono.
Certo. Uma pesquisa rápida e superficial. Entrar e sair.
Como seu pau.
Oh, senhor.
Josh havia deixado um bilhete na geladeira. Encontro de
jantar depois do trabalho. Chego tarde.
Eram apenas sete horas. Tempo de sobra para uma rápida
sessão de coleta de informações. Quando seu colega de quarto
voltasse, ela teria saciado sua curiosidade e colocado um pijama.
Clara tirou as pernas do sofá e caminhou pelo carpete
descalça, inconscientemente na ponta dos pés. Pegou seu fiel
laptop repousado em sua mesa e o levou de volta para a sala de
estar.
Imaginando-se como uma agente secreta, caçando
informações em território inimigo com a respiração suspensa,
deitou-se de bruços no sofá e colocou um tornozelo atrás do
outro. Abrindo uma guia anônima, ela digitou Josh Darling.
Fingir que sua missão servia a um propósito maior, como
talvez defender a segurança nacional, tornou mais fácil clicar no
primeiro link que encontrou, um artigo sobre como Josh se
destacava na indústria pornográfica.
Josh Darling está evoluindo o pornô? Em uma indústria
famosa pelo olhar masculino, Darling silenciosamente
roubou cenas por quase dois anos com sua marca
registrada e sua reputação de priorizar o prazer de sua co-
estrela. Ao contrário dos retratos da mídia convencional
sobre o desejo feminino, Josh Darling não tem medo de se
aproximar do clitóris. Membros da indústria clamam
por trabalhar com ele, e o público fará o (cada vez mais)
impensável para vê-lo: pagar.
Sua aparência de garoto despojado pode parecer
despretensiosa, mas seu magnetismo desafia a definição,
especialmente quando ele atua ao lado de sua fogosa
namorada, Naomi Grant. Os executivos da Black Hat
Studios, que detém o contrato exclusivo de Darling,
atribuem amplamente ao duo sensação os créditos por
atraírem o público feminino de todas as idades. Enquanto
a graça das longas pernas de Miss Grant cativa, assistir
Josh Darling atuar é testemunhar um mestre
aperfeiçoando sua criação. Na era de encontros
fracassados e fotos de pau desenfreadas, Darling dá às
mulheres uma razão para acreditar que ainda vale a
pena sair da cama pelo sexo.
Clara não pôde deixar de notar que o artigo tinha um link
para um vídeo.
Seus dedos formigavam contra o teclado, e seu batimento
cardíaco disparou como o de um velocista antes de uma
corrida. Quão triste era que apenas pensar em assistir a esse
conteúdo fosse mais emocionante do que os últimos seis meses
de sua vida sexual?
Pelo amor de Deus, mulher, é só um pouco de pornografia.
Com um rápido olhar para trás, para a porta da frente
fechada, ela apertou o play.
O vídeo começava com uma linda ruiva nadando no que
parecia ser uma pequena piscina comunitária. Seu corpo
escultural ostentava um bronzeado dourado perfeito que
brilhava enquanto dava nados de borboleta.
Clara não esperava que a mulher do vídeo fosse tão linda. A
câmera percorreu apreciativamente seu corpo debaixo d'água,
passando por maiô vermelho apertado – Clara revirou os olhos
– antes de se afastar para revelar ninguém menos que Josh,
colega de quarto e, aparentemente, galã da pornografia, em um
uniforme de salva-vidas, com um nariz coberto de protetor
solar e óculos aviador, empoleirado no topo de uma cadeira de
guarda bem acima da água.
Mesmo sabendo o que esperar, a visão dele causou um
aperto em sua respiração. Enquanto ela observava, ele mexeu
seus longos membros casualmente na cadeira enquanto
observava atentamente as braçadas da nadadora.
Clara percebeu imediatamente por que as mulheres
gostavam de observá-lo. Ao contrário das estrelas pornôs
masculinas estereotipadas, ele não exibia músculos artificiais.
Mantinha o corpo esguio, mas tonificado, com uma facilidade
que, ela supôs, devia ser acompanhada pelo tipo de pênis que o
qualifica como estrela pornô.
Os olhos dela fixaram-se no rosto dele. Mesmo escondido
atrás de óculos escuros, podia sentir a atração de seus olhos,
atualmente direcionados para sua co-estrela. Eles te desafiavam
a pular e prometiam te segurar. Aparentemente, ele poderia
ligar e desligar a chama à vontade.
A linda garota nadando vacilou, seu fingimento de
“afogamento” uma brincadeira óbvia para chamar a atenção do
salva-vidas.
Sem perder o ritmo, Josh tirou a camiseta e os óculos e
mergulhou para um resgate rápido. Uma vez que ele puxou a
donzela para a segurança e a colocou em uma espreguiçadeira
próxima, começou os esforços de ressuscitação que pareciam
bem diferentes do que Clara havia aprendido como instrutora
de acampamento.
Enquanto Josh começava a despir a atleta de seu maiô, Clara
prestou atenção especial à maneira como ele atuava – embora a
palavra "atuava" não se encaixasse muito bem.
Josh e sua co-estrela não pareciam dois atores sendo pagos.
Agora que a pretensão da “trama” havia acabado, eles pareciam
apenas duas pessoas que realmente tinham tesão um pelo
outro.
Clara se abanou com a mão, tendo percebido por que esse
vídeo em particular havia chamado a atenção do repórter do
artigo.
O salva-vidas Josh de alguma forma comunicou com uma
destreza alarmante que achava sua co-estrela simultaneamente
a mulher mais sexy que ele já tinha visto e também sua melhor
amiga. A corrente de confiança e intimidade fez Clara querer
desviar o olhar quase tanto quanto fez querer apertar as coxas.
O entusiasmo com que explorou o corpo daquela mulher
parecia impossivelmente sexy. Como se ele não conseguisse o
suficiente dela. E se seus gemidos de prazer serviram como
qualquer indicação, o sentimento era mútuo. Clara não pôde
deixar de comparar a representação na tela com suas próprias
experiências decididamente menos entusiasmadas.
Ela tinha um problema. Josh se reposicionou na tela. Um
grande problema.
Ou Josh Darling havia transcendido sua definição atual de
relação sexual ou alguém precisava alertar o Oscar de que ele era
o melhor ator do mundo.
Josh abriu a porta da frente para encontrar uma bunda
espetacular apontada para ele.
A bunda em questão, ele notou com surpresa, pertencia à
sua companheira de quarto certinha. Sem desconfiar de sua
crítica admirada, Clara recostou-se no sofá assistindo a algo em
seu computador. A camisola fina que ela usava subia por suas
coxas, o servindo com uma visão quase livre de suas pernas e
doce bunda espreitando para fora da calcinha de algodão rosa
claro.
Ele mordeu o punho com força para evitar gemer.
Fechando os olhos, ele fez uma oração silenciosa para um
Deus que ele não acreditava. Senhor, me dê forças para não
foder minha colega de quarto.
Seu grunhido áspero encheu a sala.
Exceto que ele não fez nenhum som.
Os olhos de Josh se abriram. Porque ele afiou aquele
grunhido em seu cartão de visita. Usou-o inúmeras vezes para
indicar aos colegas de elenco e ao público que havia acertado o
ritmo. Esse ruído significava que seu corpo oscilava
perigosamente perto do nirvana, que mais algumas pinceladas
profundas o fariam ver estrelas.
Aquele grunhido significava que Clara estava assistindo
pornografia. Sua pornografia.
O peito de Josh se expandiu de orgulho. Bem, bem, bem,
Srta. Wheaton.
Obviamente, ele sabia que as pessoas assistiam aos vídeos
que ele fazia. Ele os fez para esse propósito. Mas ele nunca tinha
visto alguém vendo seu trabalho antes. E o fato de que os vídeos
dele podem alimentar os sonhos safados de uma garota como
Clara? Talvez ele não tenha perdido os últimos dois anos de sua
vida, afinal.
Josh observou sua própria bunda se contrair enquanto ele se
aproximava chegava cada vez mais perto do orgasmo na tela. A
cabeça de Clara se inclinou para seguir a trajetória de seu corpo
enquanto ele manobrava sua parceira para uma posição final
particularmente impressionante.
Cruzando os braços, ele se recostou no batente da porta,
aproveitando este momento de glória inesperada. Depois de
bloquear a imagem para um dia chuvoso, ele finalmente
anunciou sua presença deixando cair sua mochila no chão.
Clara respondeu ao baque suave como se alguém tivesse
disparado uma arma na sala de estar. Ela fechou o computador
com força e saltou do sofá, puxando a camisola até os joelhos,
sem sucesso.
— Eu pensei que você não estaria em casa até mais tarde —
ela deixou escapar, se contorcendo como um peixe preso em
uma linha.
As palavras ficaram presas em sua garganta. De frente, seu
pijama ficou positivamente pecaminoso. Os seios
impressionantes de Clara pressionaram contra o tecido gasto, e
ele fez contato visual direto com seus mamilos duros. Tudo
sobre ela parecia devasso. Porra. Aquela pequena balançada
sinalizou culpa ou ela estava simplesmente muito excitada?
Manchas rosadas marcaram suas bochechas e seus lábios
carnudos se separaram enquanto ela tentava recuperar o fôlego.
— Minha reunião terminou abruptamente. O que você
estava assistindo? — Ele fingiu ignorância. Ele sabia que deveria
se afastar dessa terrível tentação - sabia que nada de bom
poderia vir de permanecer nesta sala e imaginar o que poderia
ter encontrado se tivesse entrado dez minutos depois. Mas
quando seu rosto mudou de rosa para carmesim, e seu olhar
perfurou o tapete, ele não pôde resistir ao desejo de provocá-la.
— Oh, era um vídeo sobre… hum... meditação. — Ela
balançou a cabeça como reforço à sua declaração.
Josh deixou seu olhar viajar por seu corpo de uma forma que
ele sabia que ela notaria.
— Sério? — Ele perguntou, testando a verdade de suas
palavras. — Deve ter sido muito excitante.
Ela cruzou os braços.
— Você está corada.
Clara finalmente conseguiu fazer sua cabeça parar de
balançar e, em vez disso, mordeu o lábio inferior, chamando
sua atenção de volta para sua boca exuberante.
— Bem, é um exercício para a mente. — Seu tom subia com
cada palavra.
Josh embalou o queixo na mão, acariciando sua mandíbula.
— Terrivelmente alto para meditação.
— Você tem razão. Sou uma péssima mentirosa. — Clara
endireitou os ombros como se estivesse se preparando para a
batalha. — Não acredito que não consegui pensar em nada
melhor do que meditação. As pessoas presumem que posso
pensar por conta própria porque fui campeã regional de
debate, mas é realmente um conjunto de habilidades muito
diferente. — Ela abaixou a cabeça. — De qualquer forma, esse
não é o ponto. A questão é — ela continuou com uma
gravidade incrível em sua voz — eu estava assistindo
pornografia. — Ela levantou a mão para cobrir os olhos
enquanto completava sua confissão. — Eu estava assistindo a
sua pornografia. Mas eu juro que não estava fazendo nada
desagradável.
Graças a Deus. Seu pau não teria sobrevivido ao entrar e ter
aquela vista.
— Eu estava curiosa! Nunca conheci ninguém que… — ela
gesticulou para seu computador fechado.
Sua risada reverberou baixo em sua garganta.
— Por que não estou surpreso que você nunca conheceu
um artista adulto?
— Oh. Esse é o, hum, seu vocabulário preferido?
— Acho que depende com quem estou falando. — Ele
parou para considerar, afundando no sofá. As pessoas
geralmente não pediam sua opinião sobre o assunto. — Não
posso falar por todos, mas se estou com alguém da indústria, é
mais provável que eu diga performer. Estrela pornográfica é o
termo que ouço com mais frequência em um contexto cultural,
e estou bem com ele como uma abreviatura mais universal,
mesmo que pareça um pouco estúpido aplicá-lo a mim mesmo.
Clara olhou para o sofá com cansaço por um momento
antes de se juntar a ele.
Ele pretendia tornar isso mais confortável para ambos,
sentando-se. Não assustá-la ainda mais com a proximidade dele.
Josh estendeu a mão para tranquilizá-la com um tapinha gentil
no braço, mas se afastou no último momento e jogou para ela
o cobertor pendurado nas costas do sofá.
Sua vida girava em torno de tocar em estranhos. Não era de
se admirar que ele tivesse todos esses instintos para oferecer
conforto físico a Clara. Ele precisava ficar se lembrando de que
eles mal se conheciam. Josh nunca se preocupou que seu
trabalho afetasse seu estado mental, mas talvez devesse.
Ele não piscou ao lamber a boceta de uma mulher estranha
dez minutos depois de conhecê-la, então por que a ideia de dar
tapinhas no antebraço de Clara o fazia vibrar?
— Alguma outra pergunta? — Ninguém nunca teve apenas
uma quando se tratava de seu trabalho. Melhor acabar com a
inquisição inevitável agora.
Clara colocou a manta em volta dos ombros e Josh
lamentou a perda da visão.
— Sim. Desculpe. Qual o seu nome? Seu nome verdadeiro,
quero dizer.
Pelo menos essa foi fácil.
— É Josh. Joshua Conners.
— Não me diga que Darling é seu nome do meio?
Ele balançou a cabeça pesarosamente.
— Muitas pessoas gastam muito tempo e energia
inventando um nome falso quando entram no pornô, mas eu
usei o meu. No meu primeiro dia no set, tivemos esse diretor
britânico maluco. O cara usava uma boina, sem ironia. De
qualquer forma, subi e me apresentei. Ele me perguntou meu
nome, e eu disse a ele. Eu não conhecia nada melhor.
— Você não pensou em usar o nome do seu primeiro animal
de estimação e a rua em que você cresceu?
— Não tenho certeza se Dingus Winslow venderia bem.
Josh se aqueceu com a memória de seu amado hamster.
— Provavelmente não.
— Foi muita sorte que toda vez que o diretor queria que eu
levantasse minha perna ou o que quer que fosse, ele gritasse
“Josh, querido.” O assistente de produção do set naquele dia
deve ter pensado que era meu nome artístico. Eles anotaram, e
a próxima coisa que eu sei é que o vídeo saiu e estava nos
créditos.
— Como você...? — Ela pigarreou. — Por que você...? Isso
quer dizer... Como você se encontrou nesta linha de trabalho
em particular?
Ah sim. A versão cuidadosa de Clara de Como você acabou
fodendo na frente das câmeras?
— Eu costumava ser manobrista para grandes festas de
Hollywood no Valley. Uma noite, um cara me pegou me
divertindo com sua esposa em seu Maserati. Eu tinha certeza
que ele iria me bater, mas em vez disso, ele me ofereceu um
emprego se eu pudesse continuar e manter minha ereção
enquanto ele assistia. Eu tinha 24 anos e abandonei a faculdade.
A ideia de que alguém queria me pagar para fazer sexo parecia
muito melhor do que tentar conseguir um emprego de verdade.
Josh tentou avaliar sua reação. Ela não tinha fugido da sala
ou curvado o lábio em desgosto, então ele continuou falando.
— Acontece que eu tinha um talento especial para isso.
Nem todo mundo consegue lidar com o estresse de todas as
câmeras e ter que atuar sob comando, entende? — Ele se
recusou a admitir qualquer vergonha naquele momento. Ele
nunca permitiria que ninguém o fizesse se sentir mal por seu
trabalho e não pretendia começar agora. E daí se Clara não
aprovasse suas escolhas? Ela poderia entrar na fila atrás da longa
lista de outras pessoas. Uma fila que começava com sua mãe.
Uma pequena ruga se formou entre suas sobrancelhas.
— Mas você deve ter considerado outras ocupações?
— Ah, eu entendo. Você está pescando minha dor secreta.
Ela puxou a bainha de sua camisola novamente.
— Dor secreta?
— Sim, você sabe. Que terrível tragédia ocorreu para me
forçar a tomar uma carreira decadente no entretenimento
adulto? Por que alguém iria foder sem problemas, por dinheiro,
certo? — Ele apertou a mandíbula.
Ele havia participado dessa conversa inúmeras vezes,
especialmente com mulheres que queriam redimi-lo. Se Clara
achasse seu trabalho desagradável, ela poderia sair a qualquer
momento. Ele até daria uma mão enquanto ela arrumava as
malas.
— Isso não foi o que eu quis dizer. — Clara esfregou a
garganta com a mão trêmula.
— Bem, eu odeio te dizer isso, mas eu não tenho uma
história triste. Gosto do que faço e muitas outras pessoas
gostam do que faço. Na verdade… — mesmo quando eles
estavam sentados, ela teve que inclinar a cabeça para trás para
olhá-lo nos olhos.
Seus cílios muito pretos baixaram. Não era justo que ela
pudesse fazer o tímido parecer sexy.
— Eu acho que você gosta do que eu faço. — Ele voltou seu
olhar para seus mamilos com insinuações óbvias.
— Com licença. — Ela colocou a mão em seu ombro e deu
um pequeno empurrão. — Você deve saber que eu estava
assistindo aquele vídeo através de uma lente muito profissional,
até artística.
Ele tinha que admitir, uma mulher inferior nunca teria
conseguido transmitir uma justa indignação naquela camisola.
Mas todo o bom senso do mundo não a salvou de cair em
sua armadilha.
— Ótimo, então o que você achou?
— Sobre o que? — Os sons que ela emitia eram mais
guinchos do que palavras.
Ele baixou as mãos para o colo, intencionalmente atraindo
os olhos dela abaixo de sua cintura.
— Você sabe o que.
Sua garganta trabalhou enquanto ela engolia em seco. As
mechas perdidas de seu cabelo escuro agarraram-se à pele
úmida de seu pescoço.
— Bem, eu achei a performance muito… bem executada.
Posso ver como seus métodos seriam eficazes. — Seu rosto se
encheu de alarme. — Não que eu tenha sido afetada. Porque,
você sabe, isso seria inapropriado. — Os olhos de Clara
dispararam nervosamente para seus antebraços e depois de
volta para o tapete, seu refúgio claro.
O que havia com mulheres e antebraços?
Ele não conseguiu resistir a flexioná-los cerrando os punhos.
— Ahh, sim. Bem, estou procurando feedback estritamente
profissional.
— Como crítica construtiva?
— Estou sempre procurando melhorar meu ofício — ele
disse, sua voz tão séria que ela teria dificuldade em discernir se
ele estava falando sério. Ele passou o braço pelas costas do sofá.
— E você parece o tipo de garota que faria anotações.
Clara considerou quanta verdade esconder do homem
irritantemente confiante sentado ao lado dela. Ele já a tinha
aprisionado nessa conversa. Ela ansiava por conter qualquer
satisfação adicional. Parte dela queria dizer a Josh que achava o
que ele fazia degradante, nem que fosse para tirar o sorriso
malicioso de sua boca. Ela imaginou erguer o nariz para mostrar
a ele o quão abaixo dela, ela encontrou a pornografia como uma
indústria e uma forma de arte.
Mas ela não conseguiu.
Quer ela quisesse admitir ou não, aquele vídeo alcançou os
fins desejados.
Ela o viu fazer sexo objetivamente com uma linda mulher, e
isso a deixou tão quente que sua pele deveria ter explodido em
chamas.
Não porque ela queria dormir com ele. Não. Foi porque as
palavras que melhor descreviam sua vida amorosa eram mornas
e cuidadosas.
Em contraste, Josh deu à mulher naquele vídeo um prazer
que parecia chocantemente selvagem e vívido. Agora ele queria
que ela fornecesse notas sobre seu ofício ou, Deus me livre, sua
forma? A luxúria ainda fervilhava em seu cérebro como abelhas
furiosas. Ela mal conseguia pensar sobre o zumbido em seus
ouvidos.
Claro, isso provavelmente foi um erro. Nada mais do que
uma maneira de Josh chamá-la de dar atenção demais a um
vídeo dele fazendo sexo. Mas a aluna que vivia nela não poderia
deixar passar uma oportunidade de pesquisa em primeira mão.
O silêncio na sala aumentou, esperando por sua resposta.
Finalmente, ela soltou as palavras que ela manteve escondidas
debaixo de sua língua desde que ele entrou na sala.
— Você faz muito aquela coisa da boca.
Seus lábios formaram um O perfeito - claramente, ele havia
antecipado um feedback diferente.
— Você vai ter que ser mais específica.
Clara desesperadamente puxou o ar pelo buraco de sua
garganta. Você é uma mulher adulta. Você consegue fazer isso.
— Sexo oral — ela disse, fazendo um grande esforço para
não sussurrar.
— Nela ou em mim?
— Nela. — Se o chão pudesse se abrir e engoli-la agora, ela
realmente apreciaria.
— E? — O olhar vazio em seu rosto dizia que ele estava
tentando acompanhar a situação, mas não entendia seu ponto
de vista.
— Eu achei toda a sua… — Ela preparou a próxima palavra
em sua língua. — ... atenção oral surpreendente.
Josh olhou ao redor da sala como se o abajur ou a mesa de
centro pudessem oferecer uma tradução de seu feedback.
— Eu não consigo entender.
Clara acreditava que ele não estava sendo obtuso de
propósito.
— Não é realmente minha praia, eu acho. Embora a mulher
no vídeo certamente pareça gostar, acho que podemos marcar
como uma questão de preferência pessoal. — Ela cruzou as
mãos ordenadamente na frente dela.
Os olhos de Josh se estreitaram.
— Como seus parceiros geralmente te fazem gozar? — Seu
tom carecia de todos os traços de luxúria. Ela esperava que ele
puxasse os óculos do bolso a qualquer momento.
A conversa deles tinha tomado um rumo inesperado e
perigoso em relação a seu histórico menos que estelar de
experiências sexuais. Clara arrastou o pé pelo tapete à sua frente
e observou as fibras se dobrarem.
— Espere um minuto. — A realização deve ter raiado. —
Você deve estar brincando comigo. — Josh colocou uma mão
urgente em seu braço. — Clara Wheaton, por favor, me diga
que um homem a trouxe ao orgasmo.
Clara desejou que uma bandeira branca fosse acenada.
— Não é como se alguns deles não tivessem tentado — disse
ela, querendo defender alguns dos homens doces e bem-
intencionados que ela namorou. — Isso nunca aconteceu, e eu
poderia dizer que, depois de um tempo, eles se sentiram mal
com isso. Parecia mais eficiente e menos embaraçoso para todas
as partes envolvidas se eu cuidasse das coisas sozinha.
Ele balançou a cabeça com tanta veemência que ela se
perguntou como não quebrou seu pescoço. Dessa vez, quando
os olhos dele percorreram seu corpo com um calor flagrante,
ela soube que ele não fez isso para envergonhá-la.
— Que desperdício.
Ela não sabia o que fazer com a reação dele. Ele parecia quase
zangado, mais incomodado do que ela o tinha visto desde que
se mudou. Talvez ele sentisse pena dela. Bem, ela não precisava
de sua piedade. Ela deu a ele o olhar fulminante que ela
normalmente reservava para pessoas que faziam comentários
sarcásticos sobre sua família.
— Com licença. — Ela se sentou o mais ereta possível. —
Acontece que eu consigo ter orgasmos muito satisfatórios.
Seus olhos brilharam com as imagens que sua confissão
conjurou.
— Tenho certeza que sim. Mas não é a mesma coisa. A ideia
de perder o controle não te excita em nada?
Quando ele continuou, sua voz correu como mel sobre seu
corpo, lenta, doce e pegajosa.
— Você nunca implora por alguém que não se importa com
o quanto você quer? Alguém que não concede sua libertação
até que você implore por isso?
Clara apertou tudo abaixo da cintura. Ela teve que se
lembrar de que a voz dele era cheia de promessas, não porque
ele gostasse dela, mas para provar um ponto. Infelizmente, esse
conhecimento não a impediu de desejar que ele pressionasse
sua língua contra seu pulso acelerado.
— Você nunca deixou alguém aprender seu corpo? Deixou-
os provar cada centímetro de você até que a linha entre o prazer
e a dor se desfaça porque é muito bom? Demais?
Clara não conseguia parar de reproduzir imagens lúgubres
do vídeo que acabara de ver consigo mesma no lugar da co-
estrela de Josh.
— Você não quer alguém que fique duro. pra. caralho.
assistindo você se contorcer, ofegar e arquear as costas
conforme você se aproxima do ápice?
Os olhos de Clara se fecharam. Josh a transportou para um
lugar esplêndido e perverso.
Nada importava, exceto que ele continuou falando,
continuou usando aquela voz que era mais potente do que
qualquer beijo que ela já havia recebido.
Mas ele não fez isso. Em vez disso, Josh quebrou o fio
invisível de tensão pendurado entre eles. Quando ela abriu os
olhos, ele se recostou no sofá.
— Jesus, Clara. — Ele passou uma mão descuidada pelo
cabelo. — Você namorou um bando de idiotas preguiçosos se
eles deixaram você se safar dessa merda. Sexo não tem a ver com
eficiência.
— Talvez não para você — ela disse baixinho.
O olhar de Josh a penetrou por um momento, tão profundo
que ela se perguntou por um instante ridículo se ele poderia ver
não apenas suas roupas, mas também sua pele, para o abismo
de insegurança que havia por baixo.
Ele se levantou.
— Quer saber? Não.
Ela seguiu o movimento de seus braços enquanto eles se
cruzavam em uma demonstração de desafio.
— Não? — Clara lambeu os lábios secos como ossos.
— Não — ele disse novamente como se ainda mais
convencido do que precisava ser feito. — Isso é inaceitável.
— É?
Josh balançou o pescoço e os ombros, como um nadador se
preparando para mergulhar antes de uma corrida.
— Tire sua roupa íntima — ele disse, sua voz calma e
mortalmente séria.
Os olhos de Clara ficaram com as pálpebras pesadas com a
convicção em suas palavras, mas então sua mente alcançou seu
corpo.
— Desculpa... O que você disse?
— Eu vou consertar essa situação — Josh declarou
simplesmente. — Agora mesmo.
— Você não pode estar falando sério. — Ela tentou rir, mas
não conseguiu diante de sua determinação estoica. — Isso é
uma loucura.
— Olha. Não tenho delírios de grandeza, mas, neste
momento da minha vida, tornei minha missão singular de
ajudar as mulheres a gozarem mais e de uma forma melhor. Sua
existência como um ponto fora da curva joga fora a curva
inteira.
— Bem, quando você coloca dessa forma, soa tão sexy — ela
brincou.
— Você quer sexy?
— Não! — Seu apelo já era potente o suficiente para
atordoar. Ela jogou os braços na frente dela. — É só isso... Não
sei se você percebeu, mas não sou exatamente o tipo de garota
que faz sexo casual.
— Não me diga. — Ele esperou com expectativa. Quando
ela não se moveu para agir conforme as instruções, ele teve a
audácia de acenar com dois dedos para o lado em um gesto de
vamos apressar esse passo.
Clara mexeu em sua bainha.
— Agradeço a oferta. Eu acho. Mas não posso tirar minha
calcinha aqui. Eu mal te conheço, e embora eu saiba que você
tem muita experiência nessa área, parece realmente improvável
que eu pudesse, bem... Você sabe o que eu quero dizer.
Ela esfregou os braços, oprimida pela virada inesperada que
a noite havia tomado. Ela nunca deveria ter pesquisado seu
colega de quarto no Google.
— Qual é o problema? Não há nenhuma maneira não idiota
de dizer isso, mas recebo cerca de cinquenta mulheres por
semana me pedindo para fazer isso. Vai ser totalmente clínico.
Honra de escoteiro. — Ele a saudou com três dedos.
— Sim. Vou arriscar e dizer que essa conversa não é
sancionada pelos escoteiros da América. — Ela não podia
deixar de imaginar o estrago que ele poderia causar com aquela
mão.
— Se isso faz você se sentir melhor, podemos fazer isso por
cima da sua calcinha.
— Podemos? — Ele estava se oferecendo para cuidar de
muitas deficiências aqui.
Ele assentiu, um sorriso fácil de volta.
— Não pense muito. Nós vamos conseguir resolver esse
problema irritante e, da próxima vez que você fizer sexo com
algum Melvin que encontrar na biblioteca, estará preparada
para exigir o que merece.
Clara quase escorregou do sofá. Algo deve estar muito
errado com ela, porque ela se pegou considerando a oferta
maluca dele. Mulheres como ela não recebiam muitas
propostas indecentes. Aparentemente, Clara gostava delas. Ela
viajou por todo o país para experimentar o amor e a aventura, e
embora este encontro não pudesse ser estritamente qualificado
como qualquer um, a ideia fez seu coração bater de uma forma
que sua antiga vida nunca fizera.
Pense nisso como um experimento científico.
— E se não funcionar? — Suas palavras tremeram com a
força de seu medo. — E se eu for o problema? — Ela já tinha
ouvido antes. Controladora demais em sua própria cabeça,
pudica demais para desfrutar do sexo como todo mundo.
Josh não vacilou em sua convicção.
— Se eu não consigo te fazer gozar com minhas mãos — ele
disse, sua voz suave e incrivelmente gentil — isso é problema
meu. Não é teu. E se for esse o caso, vamos descobrir outra
coisa. Cada corpo é diferente, mas nenhum deles está errado.
Clara enxugou as mãos na camisola traidora e reuniu forças.
Ela poderia fazer isso. Ela poderia ser o tipo de garota que
fazia coisas assim.
— Ok. — Sua voz soou distante para seus próprios ouvidos.
Os olhos de Josh brilharam com um novo tipo de triunfo.
— Você está dizendo sim?
— Estou dizendo que sim. — Seu estômago agitou-se com
os nervos rebeldes. — Então, o que eu deveria... Quer dizer,
onde você quer que eu vá...
Pela primeira vez, Josh não aumentou seu desconforto
provocando-a. Seus olhos se fixaram em sua boca enquanto a
empurrava no sofá.
Ela poderia mapear suas sardas neste intervalo, a constelação
de pontos mal registrada. Deus, beijá-lo deve ser o paraíso. Mas
quando a boca dele ficou a centímetros da dela, ela se
acovardou, instintivamente se inclinando para trás, até que sua
cabeça bateu na parede atrás do sofá com um baque.
Sua risada suave era quase um ronronar.
— Não se preocupe, Wheaton. Eu não vou esquecer as
regras.
Com movimentos hábeis, Josh a guiou para uma posição
reclinada. Ele se aproximou dela mais como um animal nervoso
do que como um amante. Cada toque seu é cuidadoso.
Controlado. Um lembrete de que ele viu esse acordo como
profissional. Não prazer, mas seu trabalho.
Ele guiou os joelhos dela separados, criando espaço
suficiente para ele se ajoelhar entre eles.
— Você pode fechar os olhos se quiser.
Clara aceitou com gratidão a oportunidade de se desapegar.
Essa noite poderia transformá-la em um conto de advertência,
mas ela desperdiçou chances suficientes para reconhecer uma
oferta única na vida.
Ela deslizou um centímetro para baixo no sofá, deixando seu
corpo se abrir ainda mais, o minúsculo movimento o mais
próximo que ela já tinha chegado de um ato desviante.
Josh passou o polegar pela pele macia de sua coxa, fazendo-
a estremecer.
— Bom?
Clara abriu a boca para responder, mas as palavras
morreram, nervosas, em sua língua.
— Está tudo bem — disse ele em voz áspera, como se alguém
tivesse passado uma lixa em suas cordas vocais. — Você não tem
que responder. — O calor de sua respiração em sua pele já
quente era uma tortura decadente. — Vou aprender o que você
gosta.
Enquanto Clara tentava desesperadamente não pensar, Josh
beijou ao longo da linha onde sua calcinha encontrava sua
perna. O contato atingiu a metade inferior de seu corpo como
uma corrente. Passou-se um tempo embaraçosamente longo
desde que alguém a tocou com intenção sexual.
Josh empregou a boca e as mãos como um maestro
enquanto descia uma perna e depois a outra com uma paciência
desonesta, mas não seguiu nenhuma rotina discernível. Ele
moderou seu toque em várias pressões e padrões, nunca se
demorando em um ponto por muito tempo e evitando
completamente as áreas mais pertinentes de sua anatomia.
Cada golpe enlouquecedor deixava Clara mais indignada, mais
desesperada.
Finalmente, os nós dos dedos dele roçaram a frente de sua
calcinha, a fricção quase imperceptível contra o algodão
deixando-a sem fôlego. Mas apenas quando ela pensou que ele
finalmente lhe daria algum alívio, Josh fez o oposto, se
afastando e começando outra rodada de beijos de boca aberta
em sua perna.
— Oh vamos lá.
— Com licença. — Josh beliscou-a levemente atrás do
joelho e Clara soltou um guincho minúsculo, totalmente
involuntário. — Você queria algo? — Ele teve a coragem de
parecer inocente.
Clara apertou o braço do sofá e reprimiu um gemido, sem
saber quanto mais daquela coisa de queima lenta ela aguentaria.
Foi rude pedir educadamente que ele fosse direto ao ponto?
Não que ela não pudesse apreciar sua técnica. Os toques
lentos e ternos afrouxaram seus membros, tornando tudo
lânguido e nebuloso. Mas a prometeram um orgasmo e não
importava o quão talentoso ele era, Josh não iria entregá-lo
beijando suas coxas. Clara ergueu os quadris, dando-lhe uma
dica útil.
Em vez de seguir as instruções, Josh tirou as mãos
completamente, dando-lhe nada além do calor úmido de sua
boca enquanto beijava o algodão que cobria seu núcleo.
— Eu não vou deixar você me apressar.
Quando ele passou a mão em seu joelho, ela jurou que
ficaria louca. Em algum momento dos últimos cinco minutos,
todas as suas terminações nervosas se multiplicaram.
Parecia uma punição, embora não como qualquer outra
que ela já tivesse ganhado, quando ele circulou seu tornozelo
com os dedos e levou-o à boca para chupar a carne fina e tenra
que encontrou lá.
Dúvidas e medos familiares começaram a passar por sua
mente: estava demorando muito. Ele ia ficar cansado. Ou
entediado.
Josh pareceu notar sua mente vagando porque ele deu uma
mordida particularmente afiada em sua panturrilha. A pressão
aguda de seus dentes, misturando prazer e dor, a fez ofegar.
Toda a parte inferior de seu corpo formigou, implorando-lhe
para tirar sua própria mão de seu aperto mortal no sofá e
proporcionar o alívio que ele continuava a negar a ela.
Clara engoliu em seco.
— Wheaton — Josh disse, levemente. — Isso só funciona se
você relaxar. Apague a linha de chegada, ok? Não tenho
nenhuma expectativa que você cumpra.
Ele se moveu para lamber uma faixa de fogo em seu quadril.
— Eu não me importo se isso levar horas.
Horas?
— Não tenho outro lugar onde estar.
O timbre de sua voz por si só a estava fazendo suar neste
momento.
— Vou fazer você se sentir bem até que me diga que está
pronta para parar.
Clara podia sentir suas palavras entre as pernas. Cada sílaba
pulsava, enchendo-a de emoções ansiosas que ela não conseguia
separar, não conseguia nomear. Eles se misturaram em uma
única necessidade insistente.
Josh encostou a palma da mão contra sua calcinha e faíscas
explodiram atrás de suas pálpebras. Clara fez um som nada
feminino. Para pensar, um minuto atrás ela achou que seus
dentes em seu tornozelo eram bons.
Josh correu os dois polegares para cima e para baixo na
costura úmida de sua calcinha antes de apoiar uma mão em sua
perna e usar a outra para circular lentamente seu clitóris.
Com cada carícia, ele inspirava uma fome mais aguda e mais
profunda até que ela se viu chorando, enquanto ele a trabalhava
sem piedade. Foi uma cruel reviravolta do destino que durante
vinte e sete anos ela se conformou com uma pálida imitação do
prazer que Josh lhe proporcionava enquanto sitiava seus
sentidos.
Para agir dessa maneira com um verdadeiro estranho, bem
aqui na sala de estar, sem uma lista de reprodução
cuidadosamente selecionada de músicas lentas de R&B, a
carnalidade casual a embriagou de rebelião. Nesse ponto, ela
pegaria qualquer coisa que Josh lhe desse e imploraria por mais.
Ele tocou seu corpo como um violino de ouro, implacável
em sua busca para provar que ele poderia fazê-la gozar,
totalmente vestido, mal roçando a superfície de seu arsenal
amoroso. Essa vantagem, o pico de superioridade nele,
enquanto ele dobrava-a à sua vontade tornava tudo um pouco
mais quente. Ela não conseguia puxar oxigênio suficiente para
os pulmões. Clara não entendia - não conseguia nem seguir -
seus movimentos enquanto eles se confundiam em uma única
pulsação pesada em sua boceta.
Por mais variados que seus toques tivessem sido antes, eles
eram constantes, inabaláveis agora. Clara sabia que ela tinha
encharcado sua calcinha neste momento. Ela não ligou. Em
algum lugar ao longo da linha, Josh a desnudou de cada grama
de vergonha e a substituiu por desejo puro.
Ela pairou no precipício do orgasmo, seu corpo tão
sensibilizado que cada momento, cada movimento, quase, mas
não totalmente, a enviava ao limite. Quanto mais alto ela ficava,
mais firme Josh fazia seus golpes, mas nunca era o suficiente.
Ainda assim, mesmo com o passar dos minutos, Josh nunca
apressou para "chegar à parte boa". Ele nunca tentou tirar
vantagem de seu estado comprometido para negociar por
serviços em espécie. Tudo o que ele fez, ele fez para ela
desfrutar, para saborear, até que ela não pudesse sobreviver a
outro segundo no limite.
— Por favor — Clara sufocou.
Josh diminuiu os movimentos de sua mão.
— Do que você precisa?
Ambos sabiam a resposta, mas dizer em voz alta? Ela
balançou a cabeça.
O bastardo tirou a mão completamente. Todo aquele prazer
- apenas uma pausa.
Clara abriu os olhos para encontrar Josh inclinado sobre os
calcanhares. Ele teria parecido pronto para discutir o noticiário
da noite, se não fosse por suas pupilas dilatadas e a tensão sob
seu cinto.
— Eu quero gozar, seu idiota — ela disse lentamente por
entre os dentes.
Josh sorriu.
— Oh. Você quer? Por que você não disse antes?
Clara gemeu de frustração e fechou os olhos novamente,
bloqueando seu rosto estúpido e presunçoso. Ela tentou
imaginar Everett. Esperando que uma fantasia familiar
esculpida nas ranhuras de seu cérebro fizesse o trabalho. Ela se
imaginou passando as mãos pelo cabelo escuro dele, os olhos de
Everett traçando sua boca. Mas por alguma razão, as imagens
mal provocaram uma vibração em sua barriga.
Lágrimas de frustração se formaram nos cantos de seus
olhos enquanto a voz de Josh dominava sua carne frenética.
— Abra os olhos novamente e eu vou te dar o que você quer.
Contra seu melhor julgamento, ela obedeceu.
Sua arrogância fácil havia desaparecido. Não havia nada
além de convicção e uma pitada de posse em seu rosto agora.
Ela nunca tinha percebido que o contato visual poderia causar
hiperventilação.
Essa interação pode ser tudo sobre seu corpo, seu prazer,
mas aqui estava o consolo de Josh. Clara nunca poderia negar a
identidade do homem que a fez choramingar. Ela saberia
exatamente quem a levou ao limite.
— Selvagem fica bem em você — disse Josh, e dessa vez,
quando ele colocou as mãos sobre ela, ele não se conteve. A
diferença de ritmo e técnica era impressionante. Ele tinha
brincado com ela antes. Pegado leve. E era óbvio o porquê.
Ninguém, especialmente uma noviça como ela, poderia resistir
a um ataque de prazer como este. Clara não tinha poder
naquele momento, nem um pingo do controle que ela
considerava sua constante companheira. Nada importava mais,
nada além do jeito que ele a deixou desmoronar. Toda a tensão
evaporou de seus membros enquanto ela tremia em seus
braços.
Depois de alguns momentos, conforme as sensações
lentamente começaram a desaparecer, Josh pigarreou e fechou
as coxas dela. Mas a paixão em seu toque se foi. Seu rosto ficou
impassível, mais como um homem fechando o porta-malas de
seu carro do que como um amante provocando tremores
secundários.
— Bem, então está feito.
Clara tentou se orientar. Certo. Josh. Orgasmo. Ela e Josh.
Orgasmo. Ela… Oh céus.
— Sinto muito — ela disse automaticamente enquanto
passava a mão pela testa, escovando o cabelo que
provavelmente parecia um mato.
Josh se levantou.
Os olhos de Clara encontraram a protuberância em suas
calças como um míssil teleguiado.
Uau. OK. Então ele sofreu uma resposta involuntária. Para
feromônios. Isso foi bom. Casual. Nada para se preocupar…
novamente.
— Não se preocupe com isso, Wheaton. Não há necessidade
de ficar envergonhada. Pense dessa forma, isso dará uma grande
história quando você voltar para Connecticut. Você pode
jantar fora com sua história “A vez em que uma estrela pornô
me fez gozar” por pelo menos um ano. Inferno, considerando
os círculos que você frequenta, talvez pelo resto de sua vida.
Clara estremeceu. Quão triste ele achava que ela estava? Ela
realmente passou por aquela situação devastadora sozinha? Ela
reconhecidamente não compartilhava de sua riqueza de
experiência, mas Clara pensou que talvez isso tivesse sido algo
extraordinário.
Ele pegou sua bolsa e a segurou na frente de seu corpo.
Idiota. Como ela poderia pensar que um pouco de esfregar
em sua calcinha seria registrado no radar sexual de Josh? Sua
mente e corpo estavam compreensivelmente em guerra.
Ela não o tinha visto com a ruiva? Ele costumava ir até o fim
com mulheres de aparência incrível.
Josh provavelmente poderia ter química com uma planta.
— Certo. — Clara puxou um fio solto do sofá. — Suponho
que para você isso foi como trabalho?
Parte dela queria que ele discutisse. Para dizer a ela que ela
era especial.
— Não seja ridícula. — Josh voltou para seu quarto. — No
trabalho, eu sou pago.
Sua vergonha se transformou em algo vivo e respirando
ofegante contra seu pescoço.
Clara presumiu que ela atingiu o pico de vergonha no dia
em que Everett a deixou em sua porta com um abraço de um
braço só. Ela viu agora que tinha cometido um erro.
Ela poderia resistir a uma demissão deselegante. Pode resistir
a algumas semanas de desemprego. Ela poderia limpar pratos
sujos de um ano em 48 horas. Mas ela sabia, da raiz de seu
cabelo às profundezas de sua alma, ela não poderia ficar nesta
casa com o conhecimento de que ela havia recebido um
orgasmo de pena do seu colega de quarto.
Nada diz desculpas como cafeína e carboidratos. Pelo menos,
foi isso que Josh aprendeu ao longo de sua vida.
Então, quando não conseguiu dormir, saiu da cama e dirigiu
pela cidade até a melhor padaria que conhecia. Na impiedosa
hora das oito da manhã, as estradas estavam cheias de
motoristas, mas ele não podia se arriscar a trazer para Clara
croissants que passaram do ponto ou um bolinho queimado de
algum posto de gasolina comum ou cafeteria de rede nacional.
Com base na reação dela na noite anterior, ele teria sorte se,
presenteada com a melhor babka de L.A., ela falasse com ele
novamente.
Josh soube, quase no segundo em que as palavras saíram de
sua boca na noite anterior, que ele havia adotado a abordagem
errada momentos depois de fazer Clara gozar. Mas, com toda a
justiça, a experiência o havia confundido totalmente. Ele
esperava uma pequena emoção com a novidade de uma nova
mulher. Talvez uma onda de espírito competitivo com a
chance de puxar uma resposta apaixonada de uma puritana
como Clara. Não um pico de luxúria tão poderoso que o
deixasse tonto.
Ele era pago regularmente para fazer coisas muito mais sexy
do que um pouco de amassos desajeitados sobre as roupas no
seu próprio sofá. Calcinhas de algodão não deviam o excitar.
Ele não deveria saborear a suavidade da pele de Clara ou a
maneira como ela murmurava levemente quando gostava de
um determinado movimento.
Josh tinha feito mulheres gozarem com as mãos milhares de
vezes, mas ele não dependia mais de preliminares desde o ensino
médio, quando ele as rebaixou de prato principal para um
aperitivo.
Ele deveria estar seguro, mas algo sobre Clara, sobre os
barulhos que ela fazia, ou a maneira como ela se movia, ou a
combinação perversa, ameaçava prendê-lo sob seu feitiço.
Porque quando ele a observou, se contorcendo contra sua mão,
ofegante, sua pele ficou muito apertada para seu corpo.
Especialmente no momento em que ela disse por favor. Ela não
parecia uma engomadinha de sangue azul naquele momento.
Ela parecia insaciável. Ele não conseguia pensar em outra
palavra mais delicada para descrevê-la. Seu cabelo despenteado.
Lábios cheios entreabertos e molhados, onde ela continuou
passando a língua. Seu pau gostou de tudo. Toda a imagem
impertinente. Aparentemente, ele tinha um fetiche de boa
garota que nunca havia descoberto antes.
Ele a olhou como um adolescente inexperiente, seus olhos
tão famintos pelo prazer dela que deve tê-la assustado. Porque
quando a consciência voltou ao seu corpo, ela ficou totalmente
silenciosa. Josh sentiu aquela quietude como um balde de água
fria sobre sua cabeça. Ele quase arruinou tudo. Ele prometeu a
Clara um profissional e agiu como um amador.
Ele falhou. Na única coisa em que ele deveria ser bom.
Josh entrou na padaria, abrindo a porta para uma nuvem de
ar que pairava pesada com o cheiro de açúcar, manteiga e frutas
fingindo adicionar nutrientes à confecções diabólicos. Ele
reconheceu o cara atrás do balcão de idas anteriores.
— Ei, Frankie. Qual é o especial de hoje?
— Torta de creme de banana e tortinhas de figo. — Ele
puxou algumas bandejas da vitrine.
Josh balançou a cabeça. Nenhuma dessas guloseimas soava
como sua nova companheira de quarto. Ele ainda não a
conhecia, mas descobriu, para sua surpresa, que a queria. Havia
algo nela que o intrigava. Isso desafiava seus preconceitos sobre
uma garota rica de Connecticut.
A maneira como ela se inquietou na noite passada, quando
admitiu que seus parceiros anteriores a haviam deixado por
conta própria, fez seu sangue ferver. Ele ficou determinado a
dar a ela tudo que os outros caras não podiam, ou pior, não
dariam. Oferecer-se para ajudá-la parecia mais um chamado
religioso do que um trabalho. Portanto, apesar das sirenes
soando em seus ouvidos, ele assumiu o comando, dizendo a si
mesmo que o gesto era basicamente um serviço público.
Entra em cena em sua grande ereção.
Josh havia cerrado os dentes com o prazer inesperado, e
quase funcionou. Mas à medida que ela ficava cada vez mais
perto de desmoronar, enquanto as paredes que ela construía
contra o mundo se transformavam em escombros, ele se
esqueceu de sua promessa de deixá-la escapar para uma fantasia
clichê.
Depois disso, Josh observou, paralisado, enquanto ela
voltava à terra. Quando seus olhos clarearam e sua respiração
lentamente se nivelou. Ele admirou o suficiente de suas
bochechas rosadas e lábios rosados até que se lembrou que este
momento não pertencia a ele. O brilho pós-orgasmo de Clara,
brilhante como qualquer estrela, não era para saborear.
Nenhum deles podia se dar ao luxo de esquecer que ele não
era um cara qualquer, livre para se apaixonar por ela. Não. Josh
Darling era um artista adulto de segunda categoria que
provavelmente desapareceria na obscuridade no ano que vem.
Ele não poderia dar a Clara nada do que ela provavelmente
esperava depois de compartilhar um momento íntimo com
alguém: conforto, segurança, romance. Fora de questão. Fora
da mesa. Melhor evitar a discussão.
Seu contrato o deixou com uma enorme bagunça nas mãos.
Ele não conseguia nem começar a desvendar seu
relacionamento com Bennie e Naomi. A última coisa de que ele
precisava era Clara Wheaton pedindo-lhe para namorar.
Então ele foi direto ao ponto. Deixe-a saber que a
experiência deles havia expirado tão rapidamente quanto havia
começado.
— O que você recomendaria para uma mulher desprezada?
Frankie não perdeu o ritmo.
— Bolinhos de limão.
— Você está dizendo isso porque bolinho soa como
desprezo5?
— Absolutamente.
Embora ele não pudesse culpar a lógica de Frankie, Josh
precisava de mais. Apesar de seus melhores esforços para livrar-
se do último olhar ferido de Clara, ele se revirou por horas na
noite anterior enquanto um pensamento martelava o canto de
seu cérebro. E se ele acordasse e descobrisse que ela se foi?
Ele finalmente deu o braço a torcer e checou o banheiro. Só
ver a escova de dentes dela ao lado da dele na pia aliviou seus
medos.
Lá estava a verdade inesperada. Josh não queria que Clara
fosse embora. Mesmo que isso significasse que ele poderia ter a
casa só para ele. Que ele poderia andar nu comendo manteiga
de amendoim do pote e tocar Ramones no volume máximo até
as vacas voltarem para casa.
— E aqueles croissants de chocolate? Mulheres gostam de
chocolate, certo?

5
Trocadilho entre “scone” (bolinho) e “scorn” (desprezo/escória)
— Excelente escolha. — Frankie embalou alguns doces para
ele em uma caixa rosa. — E se você estiver realmente
preocupado com a reação da dama, posso sugerir adicionar
uma ou duas bombas de chocolate?
Josh não gostou das regras de Clara. Elas transformaram sua
vida em um grande jogo de Operação. Se ele se esquecesse de
usar uma base para copos ou deixasse o leite no balcão em vez
de guardá-lo imediatamente após o uso, ele mataria seu
paciente imaginário.
Ela já o odiava. Nesse ritmo, ele teria sorte de mantê-la na
Danvers Street pelo resto da semana.
— Quer saber, é melhor você me dar a bandeja inteira.
Everett Bloom, que se dane. Quanto antes Clara saísse desta
cidade, melhor.
A multidão implacável do tráfego zombou dela pela janela
do carro que ela chamou para levá-la ao escritório de Jill. Ela
nunca pensou que sentiria falta do metrô. Ela puxou um mapa
em seu telefone. Apenas mais alguns quilômetros. Depois de
invadir a vida de sua tia depois de tanto tempo, Clara não
aguentava ir embora sem dizer adeus.
Josh já havia partido antes que ela acordasse naquela manhã,
poupando-a da tortura de ter que enfrentá-lo na dura luz do
dia. Ele não entenderia por que o que aconteceu entre eles na
noite anterior a deixou tão envergonhada.
Pela segunda vez nessa semana, seguir seu instinto em vez de
sua cabeça a colocou em uma situação escandalosa. Josh nunca
imaginaria que ela não conseguia dormir porque seu corpo não
sabia como se acalmar da experiência sexual mais intensa de sua
vida.
Eram quase dez da manhã. Ele provavelmente tinha feito
coisas dez vezes mais sujas com mulheres dez vezes mais
gostosas do que ela agora.
Flores recém-colhidas, cortinas de topázio brilhantes e um
tapete floral antigo amenizavam as duras linhas industriais dos
escritórios de Relações Públicas da Wheaton + Partners.
Quando Clara bateu na porta do escritório de Jill, ela ergueu os
olhos de seu laptop com uma carranca angustiada.
— Ei. — Sua tia afastou a rigidez de seu rosto. — O que te
traz aqui? Tudo certo?
— Sim. Quero dizer, vai ficar. Desculpe incomodá-la no
trabalho. Eu queria me despedir antes de voltar para Nova
York. — Seu vôo das cinco horas não poderia vir em melhor
hora.
Preocupação marcou as feições de Jill.
— Mas você acabou de se mudar para cá.
— Sim, bem, parece que as coisas não estão indo tão bem
quanto eu esperava com meu novo colega de quarto. — Pense
em um grande eufemismo. Ela havia destruído completamente
qualquer amizade frágil que pudesse ter florescido entre ela e
Josh. — Acho que é melhor se eu sair daqui antes de causar
qualquer dano permanente.
Clara tinha ficado tão fora de controle na noite passada que
nem reconheceu aquela mulher ofegante no sofá. Ela fez um
espetáculo de si mesma e agora não tinha escolha a não ser fazer
as malas.
Jill abriu a boca para responder, mas um jovem segurando
uma prancheta contra o peito entrou correndo na sala antes
que ela pudesse pronunciar qualquer palavra.
— A promotora encerrou a ligação. Ela está pronta para
retomar sua reunião na sala de conferências B. — Seus olhos
pareciam os de uma lebre assustada. Aparentemente, os
promotores não gostavam de esperar.
— Merda. — Os dedos de Jill vasculharam a enorme pilha
de documentos em sua mesa. — Desculpe, Toni é uma nova
cliente. Ela me pediu para fazer sua campanha de reeleição. É
um grande negócio para nós. Normalmente, alguém no lugar
dela iria para uma das grandes empresas corporativas. — Jill
sorriu e Clara pôde ver por que os homens de Greenwich uma
vez caíram aos pés de sua tia. — Ela disse que gosta que sejamos
famosos por defender os oprimidos.
— Claro. Eu posso ver que este é um momento ruim. Eu
deveria ir — disse Clara, já se aproximando da porta. Ela
poderia ligar mais tarde a caminho do aeroporto.
— Não, espere. Não vá embora. A que horas é o seu voo?
Estou um pouco debaixo d'água no momento. Um dos meus
associados se demitiu na semana passada sem aviso prévio. —
Jill continuou vasculhando a bagunça na mesa. Uma pasta
despencou da borda, espalhando papéis em uma cachoeira a
seus pés.
Clara se inclinou para recuperar os itens caídos.
— Há algo que eu possa fazer?
— Na verdade — Jill inclinou a cabeça — o que você acha
sobre sentar no resto dessa reunião comigo e fazer algumas
anotações? Você estaria me fazendo um grande favor, e não
deve levar mais de quinze minutos. Quando terminar,
podemos nos sentar adequadamente e conversar.
— Ah bem. Eu realmente não sou… — Clara se conteve. Ela
mal podia argumentar que não podia tomar notas. Ela devia a
Jill todos os favores que ela precisava depois de interromper seu
trabalho duas vezes em tantos dias. — Quer saber, com certeza.
Eu posso fazer isso. Você tem um bloco de notas?
E foi assim que Clara se viu sentada à mesa de uma sala de
conferências em uma cadeira de frente à promotora pública do
condado de Los Angeles.
Clara nunca tinha visto ninguém usar um terno tão bem
quanto Toni Granger. Ela não sabia se a mulher tinha feito sob
medida para caber em seu corpo alto, ou se ela comandava o
material por pura força de vontade. O mingau de aveia que
Clara havia comido no café da manhã começou a nadar em seu
estômago.
— Por favor, aceite minhas desculpas por mantê-la
esperando. Essa é Clara. Ela estará sentada para capturar alguns
pontos da nossa conversa. — Apesar da calamidade em seu
escritório alguns momentos atrás, a voz de Jill agora irradiava
profissionalismo calmo.
A promotora deu um aceno de cabeça para Clara.
Empurrando os nervos de lado, Clara afundou feliz em uma
posição familiar pela primeira vez em quase uma semana.
Josh pode se destacar em orgasmos, mas com o número de
horas que ela era registrada em salas de aula ao longo de sua
vida, Clara sabia lidar com papel pautado como ninguém.
Toni recostou-se na cadeira.
— Como você sabe, tive um relacionamento conturbado
com meu eleitorado nos últimos anos. Quando decidi me
candidatar à promotoria, sabia que haveria pessoas nesta cidade
que não gostariam da ideia de uma mulher preta em um cargo
tão importante, mas, ultimamente, parece que a imprensa está
se esforçando para me derrubar.
Jill cruzou as mãos em cima da mesa.
— Sim, percebi que, à medida em que seu mandato chega
ao fim, suas críticas se tornam mais persistentes.
— Esse é um modo de falar. — Toni abanou a cabeça. —
Sempre fui tão rigorosa quanto a me manter longe de
polêmicas. Um sinal de escândalo e minha oposição garantiria
que eu nunca mais trabalhe nesta cidade. Mas ser cautelosa me
deixou quinze pontos atrás do meu adversário.
Com um juiz como pai, Clara cresceu em torno de mais do
que seu quinhão de funcionários políticos e legais. Com
números de pesquisas tão ruins, Jill certamente teria um
trabalho puxado.
— Você vai precisar de um grande caso, algo que desperte a
atenção do público e traga tempo de televisão gratuito para a
campanha. — Clara rabiscou algumas notas. Manchetes.
Endosso de grandes nomes.
Toni olhou para Clara pela primeira vez desde que Jill a
apresentou.
— Com licença?
Ela não quis dizer isso em voz alta.
— Oh. Eu sinto muito. Tenho certeza que Jill pode ajudar
mais. Eu assisto a muitos dramas políticos na TV.
O rosto de Toni se acalmou.
— Bem, parece que Hollywood acertou pela primeira vez.
Ninguém nesta cidade dá a mínima para casos comuns. Eu
preciso de algo grande. — Ela se voltou para Jill. — É aí que sua
empresa entra. Preciso galvanizar as pessoas.
Vinte minutos depois, Clara e Jill acenaram para a câmera
de Toni enquanto a promotora desligava.
— Eu gosto dela — disse Clara. — Ela tem aquele
magnetismo que faz as pessoas entrarem na linha. Você acha
que ela tem uma chance?
Jill inclinou o quadril para o lado e deu uma olhada em
Clara.
— Você quer vir trabalhar para mim?
Clara riu até perceber que sua tia não estava brincando.
— Eu? Não, não posso. Comprei uma passagem de avião.
— Clara tinha um plano para salvar sua reputação. É
obrigatório que ela saia desta cidade e longe dos feromônios de
Josh Darling o mais rápido possível.
— Certo, mas e se você não fosse embora? E se eu a
contratasse como associada júnior?
Clara torceu as mãos.
— Eu não tenho nenhuma experiência.
— Por favor. Você tem um PhD em Columbia.
— Em história da arte. — Um diploma inventado para
pessoas ricas. — Claro, se você precisa de alguém para discutir a
privatização da cultura na Florença do século XV, eu sou sua
garota, mas não sei nada sobre relações públicas.
— Você tem bons instintos e, como é uma Wheaton, tem
anos de educação prática em gestão de crises e reabilitação de
reputação. Os associados fazem principalmente trabalho chato.
Coleta de pesquisas, elaboração de comunicados de imprensa.
Nada que você não pudesse lidar.
— Prefiro ficar fora do radar. — Graças à sua família infame,
ela sabia como os holofotes podiam queimar.
Jill nivelou seu olhar.
— Você precisa de um motivo para ficar em Los Angeles.
Não importa o que tenha acontecido com seu colega de quarto,
eu sei que você não quer voltar depois de quatro dias e enfrentar
sua mãe. Faça-me um favor por algumas semanas até que eu
possa preencher o cargo. O salário não é bom, mas eu o
complemento com um chá verde desnecessariamente
sofisticado.
Clara balançou a cabeça. Ela queria ajudar. Ela gostava de
Jill, obviamente, e Toni Granger inspirava um senso
surpreendentemente forte de engajamento cívico, mas
trabalhar do outro lado da cidade, longe da casa de Everett, não
era uma opção de longo prazo. A logística por si só fez seu
cérebro sangrar.
— Eu não posso. Obrigada, mas eu não sou feita para esse
estilo de vida de aceitar as coisas como estão, tomar decisões
aleatórias. Eu fiz uma coisa estúpida, enorme e impulsiva. —
Duas. — Mas de agora em diante acho que gostaria de voltar à
minha zona de conforto e montar acampamento.
— Não. Olha, eu não acredito nisso. Você afirma ter vindo
aqui por causa de um cara, mas e se Everett Bloom fosse uma
desculpa para abandonar uma vida construída em torno de
agradar outras pessoas?
Por que as pessoas continuavam dizendo coisas assim para
ela? Às vezes, uma mudança pelo país era uma busca por
aventura tanto quanto chamar alguém para uma rapidinha.
Todos tinham uma ideia totalmente errada sobre a capacidade
de coragem de Clara.
— Eu não estou pedindo para você fazer nenhuma loucura.
Vá para casa depois de algumas semanas para relaxar e se
recuperar. Deixe todos em casa se perguntarem como você
passou seu tempo no outro lado do país. Eles nunca vão
adivinhar que eu tive você atrás de uma mesa das nove às cinco.
Clara mastigou a unha do polegar.
— Não é que eu esteja com medo. — Não só isso.
— Bem, então, o que é?
Por que L.A. insistiu em arrancar todos os seus band-aids
emocionais de uma vez?
— Eu não posso dirigir. — O custo de dirigir sessenta
quilômetros em cada sentido, de segunda a sexta-feira, era
realizável, mas certamente extravagante.
— Desde quando? Seu pai não comprou um Beemer para
você no ensino médio?
Clara não pôde deixar de esboçar um leve sorriso.
— Ele comprou. Tecnicamente eu tenho carteira, mas
prefiro não ficar atrás do volante. Em Nova York, não foi um
problema. Peguei transporte público ou caminhei na maioria
dos lugares. Mas aqui… Acho que poderia pegar um ônibus,
mas imagino que demoraria um pouco.
Jill ergueu as sobrancelhas.
— Você está omitindo uma terceira opção óbvia.
— Isso é intencional. — Clara fez uma careta. Doía mostrar
outro ponto fraco a este membro da família que ela mal
conhecia. Chegar com tantas peças quebradas, e faltando, e
ainda esperar aceitação.
Sua tia se inclinou e a abraçou. De alguma forma, o aperto
liberou toda a vergonha e medo dos últimos dias.
— Entendo. De verdade — Jill disse. — Mas talvez valha a
pena tentar dirigir novamente? Goste ou não, você se mudou
para L.A., garota. Você é inteligente e capaz. Eu sei, porque eu
contratei você.
Clara balançou a cabeça, mas não conseguiu conter a onda
de orgulho que aqueceu seu peito.
Quando Jill falou em seguida, suas palavras ganharam
gravidade.
— Alguns medos nos matam. Eles drenam nossas vidas
inteiras e morremos cheios de arrependimento. Mas este não é
um daqueles medos. Faça um plano. Não tem que ser agora,
mas você conhece a única maneira de melhorar na direção.
Clara tentou tirar a poeira de qualquer sentimento de
convicção que ela tinha entrado algumas semanas atrás
quando, bêbada com uma combinação de vinho tinto e
nostalgia, ela decidiu se mudar para L.A., mudando o curso de
seu futuro.
Sua resposta ressoou como um haltere jogado em seu
estômago.
— Dirigir.
Jill bateu no queixo com um único dedo.
— Eu não suponho que seu novo colega de quarto tenha
um carro?
O plano de Clara dependia de sua habilidade de fazer
panquecas.
A massa quatro tinha a cor certa, marrom dourado, contra
a massa dois anêmica. Mas a massa três tinha uma textura
melhor, menos grossa e mais arejada. Ela apertou o rabo de
cavalo. Depois de passar toda a viagem de volta de Malibu
planejando, ela precisava acertar.
O cheiro de carne assada encheu a pequena cozinha. Pelo
menos colocar bacon no forno era infalível.
Ela tentou ver o corredor até a porta de Josh enquanto
mantinha um olho na panqueca meio cozida na frente dela.
Depois de passar por seu carro no caminho, ela sabia que ele
estava em casa. Enquanto Clara considerava bater algumas
panelas e frigideiras para convocar, Josh saiu de seu quarto,
amarrotado como de costume.
Seu coração martelava em seu peito quando seu olhar caiu
imediatamente para as mãos dele. Mãos que ele tinha sobre ela
na noite passada. O avião que deveria tê-la levado para longe,
longe de sua última e mortificante interação, havia decolado
mais de uma hora atrás. Ela abaixou os ombros longe de suas
orelhas e reuniu sua determinação.
Enquanto ela apressadamente escondeu a evidência de seus
lotes fracassados debaixo da pia, Josh afundou em um
banquinho de bar gasto na ilha. Clara tentou cantarolar
casualmente.
Ele girou para examinar a cena de sua implosão culinária.
— O que aconteceu aqui?
Clara gesticulou para seu exército de panelas e encheu sua
voz com falsa alegria.
— Pensei em fazer o jantar. A noite passada foi bastante
estranha, como tenho certeza que você sabe. — Ela estremeceu.
— Achei que poderíamos começar de novo. Começar de novo,
por assim dizer.
— Você decidiu começar de novo deixando a cozinha
incrivelmente bagunçada?
Ela poderia ter chamado a peculiaridade brincalhona de seus
lábios de tímida se ela não soubesse melhor.
— Na verdade, não tenho muita experiência gastronômica.
Achei que o café da manhã para o jantar seria fácil. — Ela
enxugou o ovo cru escorrendo pela frente de seu avental com
uma toalha de papel molhada. — Talvez eu tenha calculado
mal.
— Isso é engraçado. Eu… ah… na verdade, comprei alguns
assados de desculpas esta manhã. — Ele estendeu a mão para
esfregar a nuca. — Mas então você não estava aqui quando eu
voltei. De qualquer forma, eles estão na geladeira. — Ele tossiu
em seu punho. — A maioria deles ainda está na geladeira.
— Você não tem nada pelo que se desculpar. — Clara
tamborilou os dedos sujos de massa na bancada. — Você é um
artista extremamente talentoso e eu aprecio o que você fez por
mim. Sou eu quem… bem, vamos apenas dizer que fiquei um
pouco nervosa. — Levantando os olhos, ela percebeu sua
expressão cautelosa. — Estou melhor agora, de qualquer
forma.
— Oh. Bem, ótimo. — Josh estreitou seu olhar. — Você está
usando macacão?
Ela virou por cima do ombro, espátula na mão.
— Estou. — O macacão representava um trabalho árduo
com sentido. — A comida estará pronta em um minuto.
— Não acredito que você cozinhou para mim. — Josh
olhou para ela. Esperançosamente, ele não achou seus motivos
suspeitos.
— Acho que tecnicamente isso conta como assar. — Clara
empilhou um prato alto com o melhor da fornada de
panquecas, bacon e frutas frescas, e colocou na frente de Josh.
Ela organizou as frutas em círculos concêntricos.
Mergulhando o queixo, ela empurrou o prato para mais
perto dele de forma encorajadora.
— Acho que ambos chegamos à conclusão de que devemos
partir o pão juntos.
— Você sabe que tem farinha… — Ele apontou para o nariz,
depois para a bochecha, depois para o pescoço, até que
finalmente acenou com a mão ao redor de todo o rosto.
Clara tentou se limpar com um pano de prato.
— Você está tornando tudo pior. — Josh desmontou de seu
banquinho e parou na frente dela. Tomando o material macio
de sua mão suada, ele dobrou os joelhos e esfregou suavemente
seu rosto. Seus dedos quentes seguraram seu queixo
delicadamente, guiando a direção de seu pescoço para que ele
pudesse abordar o pior da carnificina culinária. A frequência
cardíaca de Clara aumentou quando ele limpou seu nariz. A
estranha intimidade do ato pairou no ar entre eles, até que ela
teve dificuldade em recuperar o fôlego. A proximidade deu um
golpe poderoso.
Ele deu um passo para trás e Clara se virou, controlando o
apetite confuso que ele desencadeou e que não tinha nada a ver
com comida. Ela pegou um segundo prato para si mesma. De
alguma forma, sua terna assistência a abalou quase tanto
quanto sua coreografia de torcer de prazer na noite anterior.
Quando Josh voltou para seu banquinho do outro lado da
ilha, Clara se sentou ao lado dele, se esforçando para garantir
que seus cotovelos não roçassem acidentalmente enquanto
comiam.
— Oh, droga. Esqueci a calda!
— Vou pegar — disse Josh, mantendo um olho treinado
nela enquanto Clara mastigava um pedaço de bacon.
Ele colocou o xarope de bordo na frente dela.
— Isso é uma armadilha?
Clara cortou a panqueca em pequenos quadrados e se
concentrou em manter a voz calma.
— O que é uma armadilha?
Josh apontou para seu prato cheio.
— É muito esforço para alguém que você acabou de
conhecer.
— Você acha que eu tenho uma agenda sinistra para fazer
panquecas? — Clara tentou não piscar.
— Você está literalmente me adocicando. — Ele empurrou
o queixo para o pacotinho de manteiga que ela cortou na faca
e se moveu para colocar em seu prato.
Clara imbuiu sua voz com falsa inocência.
— Eu sinto muito. Você não queria doce?
— Eu definitivamente quero doce. — Josh pegou a faca
dela, roçando seu dedo indicador com o polegar. — Mas eu
moro nesta cidade há tempo suficiente para saber que não
existe comida de graça. Tem certeza que não está tramando
algo?
— Você mesmo disse que me comprou doces. Se não existe
refeição grátis, considere este jantar como um pagamento em
espécie.
Josh derramou uma dose saudável de xarope em sua pilha e
depois deu uma grande mordida, completa com frutas.
Enquanto ele engolia, seus olhos se fecharam e um gemido
retumbou profundamente em sua garganta. Ele baixou a palma
da mão sobre o balcão com um tapa retumbante.
— Isto. É. Uma. Armadilha. — Ele pontuava cada palavra
com um tapa na mão.
Sua cadeira gemeu quando ela a inclinou para trás,
apanhada em um ataque de risos nervosos.
— Você realmente gostou? Tem certeza de que não são
muito grossas?
— Jesus. — Josh olhou para ela como se ela tivesse batido na
cabeça dele com uma das frigideiras. — Você parece problema
quando ri.
— Eu não sou. Juro. — A voz de Clara parou em um
guincho.
Seus olhos caíram para onde sua camiseta desbotada
abraçava bíceps impressionantes. Ela cravou as unhas na palma
da mão.
Siga o plano.
— É, no entanto, possível que eu tenha um favor a pedir.
— Eu sabia — disse Josh em torno de uma mordida enorme.
Ele voou para trás do banco e balançou a cabeça. — Você
parece inocente, mas na verdade, você é uma atrevida astuta.
Ninguém jamais havia acusado Clara de motivos nefastos
antes. Ela discretamente enxugou a testa com um guardanapo.
— Você vai pelo menos ouvir a minha proposta?
— Tudo bem, mas estou exigindo pagamento em espécie.
— Ele estendeu a mão e pegou sua última fatia de bacon.
— Ok — disse ela, preparando-se para o grande discurso. —
Tente manter a mente aberta aqui. Quais são as chances de você
me emprestar seu carro?
— Muito próximas de zero — disse ele com veemência. —
Aquele carro é a única coisa que possuo e que significa algo para
mim. Eu a tenho desde o colégio. Você sabe quanto trabalho é
necessário para manter um Vette tão antigo funcionando?
— Eu não perguntaria se não fosse importante — Clara
disse, misturando seu tom com calma praticada. — Eu
consegui um emprego e preciso ir até o trabalho. — Sua mãe
lhe ensinara que qualquer negociação poderia ser resolvida com
razão e vozes controladas.
— Uau. Você trabalha rápido. — Josh se iluminou. — É
ótimo que você tenha conseguido um emprego, e ouça, eu sei
que você não é daqui, mas pedir emprestado o carro de alguém
em Los Angeles é um negócio enorme.
— Seria apenas por algumas horas — ela o assegurou. —
Vou trabalhar em torno de sua programação e, claro, vou pagar
pela gasolina. Eu poderia até mesmo lavá-lo. Talvez trocar os
pneus? — Ela deu uma cotovelada nele como um vendedor da
velha guarda. — O que você acha?
— Você não entende o quanto eu amo aquele carro. Você
não consegue pensar em outro favor que eu poderia fazer por
você? Tem certeza que não quer foder?
O garfo de Clara caiu no chão e eles bateram as cabeças
quando os dois tentaram pegá-lo.
— Desculpe — ele disse fracamente. — Aquilo foi uma
piada de mau gosto. Eu esqueci que você era… você. — Ele se
moveu e foi buscar novos talheres para ela. — Por que você não
tem seu próprio carro? Eu sei que você se mudou de Nova
York. — Ele interrompeu a interjeição dela. — Mas por que
“conseguir um carro” não estava em sua pequena lista de
verificação laminada?
Ela brincou com um dos ganchos em seu macacão.
— Eu sabia que eventualmente precisaria dirigir. O trânsito
de Los Angeles é famoso, mas Everett disse que eu poderia
pegar emprestado seu Jeep e achei que teria mais tempo para
praticar. — A confissão custou o apetite de Clara.
— Bem, ei, você poderia conseguir uma locação. Vou até
levá-la à concessionária. — Ele deu uma olhada rápida nela. —
Vamos colocá-la em um bom VW Bug com um daqueles
adesivos para a janela que diz Aprendendo a dirigir ou Bebê a
bordo ou algo assim.
— Eu não acho que posso conseguir um aluguel ainda. Eu
tenho esse… impedimento emocional para dirigir, lembra? É
por isso que quis pegar seu carro emprestado, para ver se
conseguia dirigir. Eu ficaria pelo bairro. Nada maluco. Eu
contrataria um instrutor, mas estou com medo de…
— Acabar batendo? — Ele assentiu com simpatia.
— …perder a calma. — Clara terminou. — É constrangedor
o suficiente admitir minha fraqueza para você. Eu não preciso
colocar outro estranho na mistura se o ponto for discutível. —
Ela perseguiu um mirtilo em torno do prato com o garfo. —
Achei que, como você já me viu em flagrante delito, o véu do
constrangimento tivesse sido levantado.
Josh franziu a testa.
— Isso é uma maneira elegante de dizer que te dei um
orgasmo? Porque, como eu disse a você, isso não foi grande
coisa.
Clara ignorou seu comentário penetrante. Ela não precisava
de um lembrete de quão pouco a noite passada significava para
ele.
— Consegui um emprego ajudando algumas pessoas de
quem realmente gosto. Eu sei que é pedir muito, mas estou
desesperada. Provavelmente levará cinco minutos. Vou sentar
no carro, enlouquecer, e então podemos jogar 'dirigir' no topo
da lista de falhas que estou acumulando rapidamente.
Josh voltou a comer.
— Eu não entendo. Por que você tem tanta certeza de que
não pode dirigir? Eu sei que você tem uma licença. Eu vi outro
dia quando você comprou vinho na mercearia.
— Eu causei um acidente — Clara finalmente admitiu, as
palavras arrancadas dela. — Foi algumas noites antes do baile
de debutantes. Isso é como um evento de sociedade chique —
ela disse em resposta ao seu olhar vazio. — Eu estava atrasada
para o ensaio e estava tão preocupada que, se não aparecesse,
Everett acabaria acompanhando outra pessoa.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Everett Bloom?
— O primeiro e único.
Josh suspirou.
— Sabe, estou começando a achar que esse cara é uma
merda.
— A saída estava chegando rápido e eu precisava mudar de
faixa. Odeio mudar de faixa. Nunca consigo cronometrar
corretamente. No final, liguei a seta e esperei pelo melhor. Não
recomendo essa estratégia.
— Ei, acidentes acontecem.
Ela lutou para controlar a respiração.
— Meu irmão mais novo, Oliver, estava no banco do
passageiro. Ele acabou com quatorze pontos, uma clavícula
machucada e um braço quebrado.
— Clara — disse Josh gentilmente — até os bons motoristas
cometem erros.
— Erros? — Ela soltou uma risada tensa e dolorida. — Eu
tenho instintos terríveis. Qualquer voz interior que outras
pessoas tenham que as diz o que fazer, a minha está quebrada.
Toda vez que tento seguir minha intuição, alguém se machuca.
Por muito tempo, eu não conseguia ficar atrás do volante sem
ouvir Oliver gritar.
Ela tentou afastar as memórias, mas só conseguiu fazer
chover farinha de seus cabelos.
— Você está sendo muito dura consigo mesma. Você era
uma criança.
— Tive uma série de instrutores caros ao longo dos anos,
mas era sempre a mesma história. Meu pai me considerou uma
causa perdida. Disse-me para me mudar para Nova York, onde
eu poderia pegar o metrô e chamar um táxi.
Os ombros de Clara caíram para frente.
— Olha, estou sendo pragmática. Nunca fui capaz de fazer
isso antes. É lógico que não serei capaz de fazer isso agora. Mas
disse a Jill que tentaria e não quero ser outro membro da família
que a decepcione. — Ela olhou para seu prato. — Sei que você
não tem motivo para me ajudar, que já sou mais problemática
do que você gostaria, mas como você ainda não disse não, vou
perguntar mais uma vez. Por favor, Josh?
Ele olhou para o teto.
— Você quer muito, hein?
Visões de duplo sentido sinistras escolheram aquele
momento muito inapropriado para invadir seus sentidos. Josh
era sexy mesmo quando não estava tentando. Nada em sua
linguagem corporal sugeria insinuações. Quanto muito, ela viu
preocupação tecida em suas feições. Ainda assim, suas palavras
a afetaram.
Por favor, tente se concentrar.
— Eu sinto que se eu puder fazer isso, a mudança não terá
sido em vão. Terei algo para mostrar, mesmo sem Everett. Se eu
conseguir superar esse medo, posso parar de evitar as ligações
de minha mãe e dizer a ela que conquistei algo.
— Certo, tudo bem. — Josh inclinou a cabeça para trás e
fechou os olhos. — Mas você vai ficar me devendo uma.
— Mesmo?
Ele assentiu.
— Cara, parece que você acabou de ganhar um urso de
pelúcia gigante na feira do condado.
— Obrigada, obrigada, obrigada! — Ela se lançou sobre ele
sem pensar, a gratidão superando sua ansiedade em tocá-lo.
Josh retribuiu o abraço, acariciando sua cabeça sem jeito. Ele
cheirava a um pomar, fresco e doce.
— Ok. Então. — Ele se desvencilhou de seus braços e
moveu-se para transferir algumas de suas panelas usadas para a
pia. — Vou lavar a louça, tentar minimizar os danos da bomba
de farinha que explodiu aqui, e depois nós vamos.
Seu sorriso vacilou.
— Espera. Você vem comigo? — Ela realmente não
precisava que Josh testemunhasse outra humilhação.
— Você achou que depois de todo aquele discurso eu iria
deixar você ir sozinha? Eu serei seu supervisor de veículos. —
Ele colocou as luvas de borracha amarelas que ela comprou
enquanto a pia se enchia de água com sabão. — Essa é a minha
oferta. É pegar ou largar.
Ela gostaria de poder largar, mas ela sabia que na segunda-
feira de manhã, ela teria Jill e Toni esperando por ela,
dependendo dela. Parecer estúpida ou fraca não era nada perto
da ideia de não atender às expectativas das pessoas que ela
admirava. Josh já pensava nela como uma anomalia, uma
alienígena do Planeta Pau No Cu.
Por que não jogar mais uma tora na fogueira de sua
reputação?
Clara tinha tropeçado em uma área da vida de Josh na qual ele
tinha problemas para abrir mão do controle.
— Repita as regras de sete a nove mais uma vez — disse Josh
do banco do passageiro do Corvette trinta minutos depois.
Eles ficaram sentados no carro, na entrada da garagem, pelos
últimos quinze minutos, enquanto ele tentava embarcar
totalmente no plano.
Clara inalou lentamente pelo nariz e depois repetiu as
“regras da estrada” de Josh no tom monótono de alguém para
quem as palavras perderam todo o significado.
— Sem afundar o pé no freio. Nada de apoiar o pé no freio.
Calçado adequado deve ser usado em todos os momentos. —
Ela inclinou a cabeça para ele em uma pergunta exagerada, as
mãos firmemente nas posições dez e dois no volante. — Por
favor, podemos ir? Prometo que seguirei todas as leis de
trânsito e que de forma alguma irei colocar este veículo em
perigo intencionalmente. Sob nenhuma circunstância vou ligar
os faróis altos sem permissão.
Pelo menos alguns dos nervos que ameaçavam comer suas
entranhas deram lugar à irritação e tédio. Se ele sugeriu as regras
para atraí-la intencionalmente para uma falsa sensação de
segurança ou não, elas tiveram esse efeito.
Josh afivelou o cinto de segurança e depois verificou
novamente.
— Eu notei sua falta de entusiasmo pelas regras, mas você
pode prosseguir.
Não exatamente um voto de confiança, mas melhor do que
a alternativa.
Clara olhou para ele com o canto do olho.
— Você é estranho no carro.
— Com licença? Você está escolhendo este momento para
falar com o dono do veículo extremamente valioso que você
está se preparando para pilotar?
— Muito estranho. — Clara murmurou enquanto fazia os
ajustes finais nos espelhos. Ela já os tinha colocado em posições
diferentes quatro vezes diferentes. Ela ligou o carro e o ronco
do motor a fez pular.
Enrolar parecia uma boa ideia.
— Sabe, Josh, é bom ver você tão apaixonado por alguma
coisa. Você realmente ama este velho Camaro, hein?
— Este é um Corvette — disse ele, batendo no apoio de
braço. — E ela não gosta de ser chamada de velha. Vamos
acabar com isso.
Lá se vão as táticas de distração. Clara se preparou e
lentamente deu ré com o carro para fora da garagem.
Os olhos de Josh continuavam alternando entre o rosto dela
e a estrada.
Ela mordeu o interior da bochecha.
— Você está me deixando mais nervosa.
— Desculpe. — Josh caiu para trás em seu assento. —
Ninguém nunca me pediu para ser o mocinho antes.
— O que você quer dizer? — A rua em que moravam não
atraia muita atenção, mas ela precisava passar por todos os
carros estacionados no meio-fio. Cada vez que ela passava por
um novo obstáculo, ela prendia a respiração.
— Refiro-me a toda esta situação, ser o heroi, aquele que
surge no momento de necessidade de uma donzela. É novo para
mim. Estou achando isso um pouco perturbador.
— Eu não sou uma donzela. — As palmas das mãos suadas
de Clara ameaçaram seu controle sobre o volante. Ela as
enxugou uma por vez no short de seu macacão.
— Com certeza você é. Uma jovem solteira de origem
nobre.
Clara balançou a cabeça quando eles se aproximaram de um
semáforo.
— Você acabou de citar Merriam-Webster?
— Minha mãe costumava ler contos de fadas quando eu era
pequeno. Eu pesquisei as palavras que eu não conhecia.
Um sorriso ameaçou os cantos da boca de Clara até
chegarem a um cruzamento de quatro vias.
— Clara? Ei. Você está bem?
Seus olhos começaram a lacrimejar. Ela tentou levantar o
queixo sem perder de vista a estrada.
Josh vasculhou o porta-luvas até remover um punhado de
lenços de papel.
— Tem certeza que quer fazer isso?
— Tenho certeza — disse ela, com apenas uma pitada de
tremor em sua voz.
Quando ela não pegou o lenço de papel, Josh enxugou
cuidadosamente os olhos dela, secando as lágrimas que
escapavam.
— Obrigada. — As bochechas de Clara esquentaram. — Sei
que não parece, mas sinto que estou perto de superar isso. —
Ela endireitou as omoplatas. — Tipo, se eu conseguir ir longe
o suficiente, eu vou sentir a vitória com a ponta dos dedos. Isso
provavelmente soa estúpido, certo?
— Não. Tenho certeza de que você é a pessoa mais
inteligente que já conheci. Objetivamente. — Seus olhos se
aqueceram da mesma forma que durante o jantar, quando ele
disse que ela parecia problema. Ela não tinha tempo para se
preocupar com o significado por trás daquele olhar.
— Minha tia está se arriscando por mim e eu quero fazer
valer a pena, sabe?
— Eu sei — disse ele. — Ei, ajudaria se eu cantasse? Você
sabe, algo calmante. — Ele começou nos primeiros compassos
de “Walking on Sunshine”.
Josh tinha um tom terrível e bateu com a mão no apoio de
braço na tentativa de enfatizar uma nota alta, mas o gesto
cortou um pouco da dormência de Clara.
Eu costumava pensar que talvez você me amasse… agora,
querida, tenho certeza. Seu coração disparou.
— Você é um cantor terrível.
— Desculpe, o que foi isso? — Ele colocou a mão sobre a
orelha. — Cantar mais alto?
Clara pisou no freio com muita força e estremeceu.
Josh ficou em silêncio.
Eles haviam alcançado a entrada da rodovia. Clara diminuiu
a velocidade do carro na rampa de acesso com semáforo,
embora soubesse que o sinal verde significava vá.
Ela parou o Corvette e o carro atrás dela buzinou em
protesto.
Clara tentou se concentrar na respiração. Dentro e fora.
Dentro e fora. Cada vez que uma nova buzina tocava, ela a
acertava como um chute na têmpora. Dentro e fora. Dentro e
fora.
Suas mãos tremeram no volante, vibrando tão intensamente
que o ricochete reverberou em seus ombros.
— Jesus, Clara. Isso não é nervosismo. Isso é terror. — Sua
voz vacilou. — Vamos esquecer isso — ele disse gentilmente.
Ele a persuadiu a parar no acostamento. — Eu vou te levar
aonde você precisar ir. Dirigir não vale isso.
Os dentes de Clara batiam apesar do calor do início do verão
enquanto ela arrastava o Corvette enquanto outros carros
passavam buzinando por eles. Ela percebeu o olhar de Josh pelo
canto do olho.
— Eu posso fazer isso.
Ele acenou com a cabeça uma vez, fazendo seus longos
cachos balançarem.
— Tudo bem. Converse comigo então.
— O que? — Ela não deveria estar no acostamento. Alguém
provavelmente já tinha notificado à polícia sobre ela. A
qualquer minuto o cara naquele caminhão sairia e a
confrontaria.
— Concentre-se na minha voz — disse Josh. — Funciona
no set quando as pessoas ficam nervosas. Quando elas não
conseguem ignorar as câmeras e as luzes.
— Isso foi um erro. — Os gritos de Oliver começaram,
tocando em um loop junto com os sons de metal amassando e
pneus cantando. Ela lutou contra o impulso de tapar os
ouvidos com os dedos.
— Continue falando.
— Eu sou uma pessoa que julga — ela deixou escapar.
Sua risada saiu em um estrondo.
— Agora, por que isso não me surpreende?
Seus olhos se voltaram para o espelho retrovisor.
— Estou falando sério. Eu admito facilmente. Conheço
uma pessoa e tomo uma decisão sobre seu caráter em meia hora.
Tenho um histórico notável. Minha hipótese está certa em
cerca de noventa por cento das vezes. Mas nas raras ocasiões em
que estou errada, é uma emoção. Algumas pessoas são como
um iceberg, com as partes bonitas e perigosas escondidas abaixo
da superfície.
— Você está tentando dizer que sou um iceberg perigoso e
lindo?
Clara bufou.
— Mais como uma calota polar. — Seu olhar disparou da
rodovia para as mãos no volante e depois de volta para a estrada.
— Estou tentando dizer obrigada.
— Agradeça-me depois — disse Josh.
— Pode não haver um depois. Acho que cheguei ao meu
limite.
— Ok, aqui estão nossas opções. Você pode sucumbir ou
podemos sentar aqui e conversar sobre ontem, quando eu
coloquei minhas mãos em sua…
Clara pressionou o pé no acelerador quase sem pensar. Josh
conseguiu encontrar a única coisa que a deixou mais nervosa
do que dirigir.

•••

Josh uivou triunfantemente, levantando o punho no ar para


bater no teto do carro.
— Você vê o que está acontecendo agora? Porque você,
Clara Wheaton, está acompanhando o ritmo da estrada. Eu
sinto que você precisa soltar algum tipo de grito primal.
Além de um pequeno arco em sua sobrancelha, Clara não o
viu, mas ele notou que suas mãos relaxaram um pouco no
volante. A cor voltou a suas bochechas. Ela até sugeriu que ele
ligasse o rádio, desde que mantivesse o volume próximo a um
sussurro. Uma vitória, se ele já viu uma.
A preocupação que se sentou pesada e desconhecida em seu
estômago lentamente desapareceu. Ele nunca tinha lidado com
nada assim com Naomi. Uma mulher que era tão auto-
suficiente que era quase uma falha. A última vez que ele se
lembrou de se preocupar com ela foi quando ela insistiu em
colocar um piercing na língua no calçadão de Venice Beach.
Após cerca de quinze minutos de cruzeiro sem
intercorrências pelo oceano, um grupo familiar de palmeiras
deu a Josh uma ideia.
— Ei, como você se sentiria sobre um pequeno desvio?
— Você quer dizer uma chance de sair do carro? — Clara
riu com força. — Sim, por favor.
— Eu conheço o lugar certo. — Josh a conduziu para a
próxima saída e depois por algumas ruas até que eles pararam
no estacionamento vazio de uma escola.
Ele correu para ajudar Clara a sair do banco do motorista,
principalmente porque não queria arriscar que ela ficasse com
as pernas de gelatina e o rosto plantado na calçada. Por mais que
sua cor tivesse retornado, ela ainda tinha um brilho de suor em
sua testa.
Quando ela colocou sua mão minúscula e úmida na dele, ele
firmou seu aperto por impulso. Ela suspirou quando seus pés
encontraram solo firme.
— Por favor, me diga que fica mais fácil.
Seu corpo, traindo todas as instruções de seu cérebro,
zumbiu com o contato com a pele dela.
— Tenho certeza que melhora. — Ele não tinha certeza se
estava falando com Clara ou com ele mesmo. Assim que ela se
levantou, Josh recuou, fora da atração de sua órbita, enquanto
ela observava os arredores.
— Como você sabia que esse lugar estava aqui? — Clara
balançou o cabelo.
— Esta foi a minha escola. — Josh inalou avidamente o
cheiro de grama recém-cortada. — Minha família se mudou de
Seattle para cá antes do colegial. Você quer dar uma olhada?
Quando ela assentiu, ele a guiou ao redor do prédio.
— Então, como era Josh Darling aos dezoito anos?
Ele observou, momentaneamente hipnotizado, enquanto
seus longos cabelos escuros balançavam ao vento.
— Bem, Josh Darling ainda não existia, mas Josh Conners
era seu clássico idiota. Eu matei tanta aula que eles quase me
reprovaram.
— Ah. — Ela deu dois passos para acompanhar cada um dos
dele. — Um rebelde.
— Essa é uma palavra para isso. Eu acho que a lei prefere
ocioso. Veja, ali — ele apontou para um conjunto de janelas de
canto — é onde eu cumpri um mês de detenção. Foi necessária
muita bajulação para que a diretora concordasse em me deixar
graduar a tempo.
— Isso não parece tão ruim. — Clara inclinou a cabeça para
trás e ofereceu sua pele de porcelana ao sol poente.
— Você nunca conheceu a Diretora Carlson. Tentei
transformar minha vida em uma história triste, mas não havia
muito com o que trabalhar. Filho único, no bom sentido. Meus
pais trabalhavam o tempo todo para pagar as contas, mas
sempre foram boas pessoas que me amavam e acho que nunca
descobri como esconder isso.
Josh engoliu o nó de culpa em sua garganta. Ele não tinha
visto seus pais desde o Dia de Ação de Graças, dois anos atrás.
Desde então, peru o deixava enjoado.
Clara parou de andar e olhou para ele.
— A diretora não acreditou?
Seu peito ardeu ao se lembrar da avaliação enviada a seus
pais, deixada descuidadamente na mesa da cozinha esperando
por ele quando ele voltou da escola. Insuficiente, busca de
prazer, preguiçoso, imprudente ao ponto de perigo.
Isso tinha sido quase dez anos atrás, mas ele sabia que não
havia mudado muito. Se ele visse a diretora Carlson
novamente, ela provavelmente aumentaria a lista. Defensivo,
fechado, sem esperança.
Com a mão nas costas dela, Josh guiou Clara ao redor de um
buraco.
— Ela não acreditou.
O que ele estava pensando, derramando seus problemas do
ensino médio para alguém com doutorado? Josh podia
imaginá-la aos dezoito anos. Uma daquelas garotas de ouro
com todo o privilégio e apoio das quais ele se ressentiu toda a
sua vida.
Quando Clara entrava em uma sala, as pessoas a
respeitavam.
Quando Josh entrava em uma sala, as pessoas se
perguntavam por que ele estava vestindo tantas roupas.
— Não sinta pena de mim. — As palavras saíram mais
ásperas do que ele pretendia.
— Eu não estava sentindo. — Clara realmente se magoou.
O sol deslizou abaixo do horizonte e as luzes do estádio ao
redor do campo de beisebol se acenderam.
Clara vagou naquela direção.
— E as atividades extracurriculares? Você praticava
esportes?
— Não, mas eu permaneci ativo. — Ele apontou para um
pedaço de árvores e um banco gasto. — Fiz sexo lá. — Ele deu
um aceno afetuoso para o banco. — Fui lá embaixo na Olivia
Delvecchio. Descobri sobre squirting…
— Ok, ok, eu entendo. Você é um garanhão.
— Já naquela época eu sabia onde estavam meus talentos.
— Ele lembrou de seu último encontro com Bennie. —
Embora eu ache que pode ter sido uma ilusão.
— O que você quer dizer?
Ele abaixou o queixo para ver a grama crescer.
— A Black Hat, o estúdio para o qual trabalho, me deu uma
oferta muito baixa recentemente quando meu agente pediu
para renegociar meu contrato.
Ela mostrou a ele sua fraqueza, e agora ele revelou a sua.
Apesar de toda a sua conversa fiada e seu vídeo “viral”, ninguém
que importasse o considerou digno de abrir o antigo talão de
cheques.
— Mesmo? Eu achei que eles cairiam em cima de toda
chance de mantê-lo nos registros. — Ela se sentou na
arquibancada. Deus, tudo o que ela fazia parecia tão polido e
apropriado.
Josh se sentou ao lado dela.
— É minha culpa. Assinei esse contrato terrível há alguns
anos. Nem li. Fiquei bêbado com a ideia de que alguém
pensasse que eu poderia fazer algo, qualquer coisa, bem. A
perda de receita apenas com as mercadorias… — Ele enterrou
as mãos no cabelo.
— Mercadoria? — A voz de Clara subiu uma oitava inteira.
O desconforto dela quebrou um pouco da autopiedade
dele, melhorando seu humor. Ela era uma boa companhia, sua
nova colega de quarto.
— Não se preocupe, Wheaton. Sempre que você quiser,
você tem a coisa real.
Clara engasgou quando entendeu o que ele quis dizer e
puxou as pontas de seu cardigã para mais perto.
— O que você vai fazer sobre esta situação de contrato?
Arrumar um advogado?
Ele admirou sua determinação em mudar de assunto, mas a
menção aos advogados caiu como uma pílula amarga.
— Nah. Não posso pagar um advogado, pelo menos não um
bom o suficiente para enfrentar a Black Hat. Suponho que
você saiba que partes da indústria pornográfica merecem a má
reputação. Que existem algumas pessoas não tão legais
mandando no jogo?
— Até te conhecer, eu achava que não havia nada que
valesse a pena na pornografia.
Ele havia imaginado isso.
— Como artista, você tem muito pouco a dizer sobre o que
é feito. Os produtores e chefes de estúdio puxam as cordas.
Tenho uma base de fãs sólida, mas não tenho muito domínio.
Acredite ou não, as mulheres não são o público principal da
maioria dos pornôs.
— É por isso que tanta coisa é nojenta? Por que os grandes
estúdios não investem no público feminino? — Ela torceu o
nariz. — Parece um mau negócio para mim.
— Você está dizendo que se os estúdios investissem no tipo
certo de pornografia, você assistiria? — Josh conjurou as brasas
de sua assinatura fumegante.
— Essa questão é insignificante no momento — disse ela,
cruzando as pernas na altura dos tornozelos.
— Droga. Você pode fazer qualquer coisa parecer
sofisticada, não é?
Ela apertou os olhos para o céu que escurecia.
— Certamente não com algo completamente prosaico.
— Você está de brincadeira? Você acabou de fazer.
Ela teve a coragem de piscar para ele. Tire essa garota do
banco do motorista por cinco minutos e de repente ela é uma
canalha. Ele não conseguia se lembrar da última vez que uma
mulher, ou qualquer outra pessoa, o surpreendeu tanto.
Clara se abaixou para pegar uma erva daninha.
— Então, se você não conseguir um novo contrato, você
desistiria?
Josh cobriu o rosto com as mãos e suspirou nelas.
— Eu não faço ideia. — Essa pergunta o assombrou por
dias. Se Bennie o fizesse ficar sem picles pelo resto da vida, Josh
nunca o perdoaria.
— Muitas pessoas fazem a transição de carreira aos vinte e
poucos anos — disse Clara. Sempre em busca da diplomacia.
— Você precisa fazer uma lista. Talvez duas. Eu gostaria de ter
trazido meu caderno. Qual é o seu conjunto de habilidades
primárias?
Josh colocou a mão no joelho descoberto de Clara. Meio
desafio, meio convite. Ele não aplicou muita pressão, apenas o
suficiente para causar arrepios. A visão dela espalhada pelo sofá
na noite anterior fez a adrenalina bombear em suas veias. Clara
não olhou para baixo, mas ele sentiu o aperto no corpo dela, a
rápida consciência. Ela imediatamente trouxe sua mão para
cobrir a dele, e ele esperou que ela o afastasse. Em vez disso, ela…
manteve. Por um momento incrível, ele se permitiu acreditar
que ela poderia guiá-lo mais alto até que seus dedos roçassem
sob o short de seu macacão para acariciar o topo de sua coxa,
leve como a brisa preguiçosa. Ela respirou fundo, mas não se
moveu.
Clara provavelmente iria socá-lo na boca a qualquer
momento. Provavelmente estava reunindo forças para o
encerramento. Seus olhos permaneceram no campo enquanto
ela afundava os dentes na maciez de seu lábio inferior. Seria
possível que Clara Wheaton gostasse de seu sexo com um lado
de exibição? Esse conhecimento correu direto para seu pênis.
Mas antes que ele pudesse investir em sua revelação, ela limpou
a garganta e colocou a mão de volta em seu colo.
— O quê mais?
Enquanto seu batimento cardíaco desacelerava, ele torturou
seu cérebro.
— Dirigir. Eu poderia me tornar um motorista de caminhão
ou entregador de pizza. — Não era de todo uma brincadeira.
Ele adorava pizza.
— Isso é um começo. Continue. — Ela aproveitou a chance
de mover a conversa de volta para um território seguro. Sua
família provavelmente havia contratado um conselheiro de
carreira para ela enquanto ela ainda estava na pré-escola.
— Impostos. Eu poderia conseguir o melhor dos seus
impostos — ele disse, entrando no jogo apesar de si mesmo. Ele
se levantou e começou a subir entre os assentos da
arquibancada. — Você deveria ver o reembolso que recebi no
ano passado.
Clara virou-se para observá-lo e torceu a boca para o lado.
— Você teria que voltar à escola para se tornar um contador.
Ele provavelmente teria que usar uma gravata para trabalhar
também.
— Esqueça isso.
Só porque Clara tinha começado a ver além do que ele fazia
– o que ele era – não significava que o resto do mundo seguiria
o exemplo. O sucesso relativo no pornô era igual ao fracasso
relativo no mundo real.
Sua cabeça doía ao tentar processar todos esses e se e talvez.
Ele ficou em um contrato de merda, para não mencionar um
relacionamento moribundo, por anos porque ele preferia o
caminho de menor resistência. Tudo o que sabia era que
gostava de trabalhar em pornografia. Não apenas a parte de ser
pago para fazer sexo – embora ele admitisse que não doía – mas
as pessoas e o processo de fazer algo que os outros gostassem.
Ele não estava pronto para um planejamento de longo prazo,
não tinha esse tipo de resistência, mas Clara continuou olhando
para ele com expectativa. Como se juntos pudessem resolver
todos os seus problemas.
— Eu sei muito sobre produção — ele disse finalmente,
voltando para onde ela estava sentada. — Só de estar perto disso
o tempo todo, você sabe. — Ele passou a mão pelo queixo. —
Você não acreditaria o quanto a edição afeta o tom de uma
parte. Ou seleção de música. Eu sei que é um pornô, então não
dá pra ficar muito emocional, mas eu vi algumas coisas que são
mais próximas da arte do que a maioria dos sucessos comerciais.
E é a produção que controla o elenco, os sets, até mesmo
certificando-se de que aderimos aos regulamentos de saúde e
segurança.
— Isso parece promissor. — Ela pulou em seu primeiro sinal
de interesse. — Você deve produzir algo.
— Ninguém me contrataria. Eu tenho um diploma do
ensino médio, trinta créditos universitários e experiência em
contas anais. Não é exatamente um currículo estelar.
Clara inclinou a cabeça para trás para olhar para ele, onde
ele estava na fileira acima dela.
— Não se venda mal. Eu pesquisei você no Google, lembra?
Ele engoliu em seco. Como se ele pudesse esquecer.
— Uma das manchetes que apareceram – na qual eu
definitivamente não cliquei, lembre-se – disse que você tem
mais de um milhão de fãs em seu site. Se você fizesse algo,
aposto que essas pessoas pagariam para assistir.
Josh afundou de volta ao lado dela.
— Eu não sei. A indústria pornográfica não atende
exatamente ao prazer das mulheres. Meu conjunto de
habilidades… se você pode até chamá-lo assim… é como ser o da
Vinci das esculturas de macarrão. Ninguém se importa.
— Você é um artista e encontrou uma maneira de ganhar a
vida com sua arte. — Clara ficou rosada. — Isso é muito
empreendedor. A maioria das pessoas desiste antes de ter a
chance de falhar.
Josh não conseguia se lembrar da última vez que alguém deu
a ele uma palestra estimulante, especialmente quando o assunto
os deixava obviamente desconfortáveis.
— Você é impressionante.
Clara negou o elogio.
— Não mesmo. — Ele puxou um punhado de grama e
contou as lâminas. — Você é um estudo de contradições. Uma
semana atrás, você nunca tinha ouvido falar de mim, e agora
você está sentada aqui defendendo inflexivelmente minha
“arte”.
Ela ergueu um ombro delicado.
— O que posso dizer? Sou uma eterna otimista.
— Essa é a parte em que pássaros e outras criaturas da
floresta saem e cantam sua balada sobre por que eu não deveria
abandonar o sonho de foder meu caminho para a fama?
Clara deixou escapar um suspiro amargo e endireitou os
cadarços.
— Infelizmente, os animais me odeiam.
— O que? — Josh bufou e se levantou, estendendo a mão
para ajudá-la.
— Eles podem sentir o cheiro do meu medo. — Não havia
uma pitada de piada em sua voz quando ela pegou a mão dele.
— É meio fofo que você seja tão maluca — ele disse, mais
para si mesmo do que para ela.
— Fofo é uma palavra para isso. — Ela começou a voltar para
o carro.
— Espere. — Ele se moveu para ficar na frente dela. — Ei.
Veja o que você fez em menos de uma semana. — Josh estendeu
as mãos na frente dele. — Mudou-se pelo país, começou um
novo emprego, ficou atrás do volante. Sem mencionar que
brincou com um aclamado artista adulto. — Suas covinhas
floresceram. — Até onde posso ver, Wheaton, você é muito
extraordinária.
O sorriso tímido de Clara o fez querer agarrar as alças
daquele macacão ridículo, puxar sua boca para a dele e,
finalmente, provar aqueles lábios de morango com os quais ele
sonhava desde que ela entrou em sua vida.
— Provavelmente deveríamos voltar. — Ele precisava de
portas entre eles, aquelas que ele pudesse trancar.
— Oh. Certo. — Clara limpou sua bunda e Josh tentou não
notar a maneira como as mãos dela deslizavam pela ondulação
generosa.
Porra. Se ele não fosse cuidadoso, ele iria acabar se
apaixonando por sua colega de quarto.
Duas semanas após o subemprego auto-imposto, Josh estava
perigosamente entediado. Foi desastroso ter tanto tempo livre
nas proximidades de Clara Wheaton.
Ele notou os sintomas pela primeira vez quando se viu
marcando seus banhos para seguir os dela. Algo dentro dele se
animava quando ele entrava e seu minúsculo banheiro ainda
tinha o cheiro de seu sabonete. Era como entrar em uma
campina. E se aquela campina também o fizesse pensar em
Clara, nua, molhada e coberta de bolhas? Bem, ele fuzilou
aqueles devaneios.
Era fácil culpar esse novo e estranho comportamento em seu
primeiro período de seca física na memória recente. Mesmo
que seu relacionamento romântico com Naomi tivesse
fracassado há mais de alguns meses, até a última quinta-feira, o
trabalho mantinha sua libido sob controle. Sua mão direita não
tinha visto tanta ação desde que ele atingiu a puberdade.
Josh apresentava sintomas mentais de declínio, bem como
físicos. Ele ficou tão desesperado por uma conversa que decidiu
acordar cedo para pegar Clara antes que ela fosse trabalhar.
Ao contrário de Josh, ela amava as manhãs. Assim que ele
tropeçou na cozinha, ela colocou uma música pop brega para
acompanhá-la enquanto ela fazia café e empacotava seu
almoço.
Ele nunca tinha visto tanta Tupperware em sua vida. Ela
ainda tinha pequenos recipientes para o molho, tão pequenos
que ele poderia colocar três deles na palma da mão. Eles eram
quase fofos. Bebês Tupperware.
Tudo parecia murchar quando ela saia pontualmente às sete
e meia. Ele se sentia tão inútil sentado que, no terceiro dia, se
ofereceu para levar Clara até seu escritório em Malibu. Josh não
tinha nada melhor para fazer. À noite, ele a buscava e a deixava
dirigir para casa para praticar. Era patético que, basicamente,
agir como chofer de sua colega de quarto lhe desse um pequeno
e distorcido senso de propósito, mas hoje em dia ele tinha que
levar as vitórias de onde quer que pudesse encontrá-las.
Ele ainda passava a maior parte do dia sozinho com nada
além dos pertences que Clara deixava como pegadas pela casa.
Todas as tardes, uma nova caixa de bugigangas era entregue em
sua porta. Embora suas mudanças fossem sutis, elas afetaram
todos os cômodos. Ele abria uma gaveta para encontrar bases
para copos ou luvas de forno. Toalhas de mão apareceram no
banheiro, junto com uma espécie de cesta de flores secas e
gravetos.
Ela pode ter um doutorado, mas de onde ele veio, essa merda
não passaria como arte.
Clara até comprou cortinas para seu quarto. Ele abriu a
porta um dia para encontrá-las penduradas alegremente acima
de sua janela, charmosas e úteis. De alguma forma, enquanto
trabalhava, ela ainda encontrou tempo para transformar a
caverna de Everett em algo semelhante a um lar. Como se ele
precisasse de mais evidências de sua competência para
pressionar a contusão de sua carreira paralisada.
Ele começou a correr à tarde para ter algo para fazer.
Tentando queimar a coceira que sentia em seus membros.
Naquelas longas corridas até o mar, ele tentava pensar em seu
futuro. Tentou fazer um brainstorm de parceiros de produção
e pessoas da indústria que lhe deviam um favor, mas mesmo
que pudesse encontrar alguém para deixá-lo produzir, Josh não
tinha ideia do que faria.
Quando ele voltou para casa de sua última corrida, ele sabia,
mesmo antes de esbarrar nos cinco cestos separados de Clara,
que ela devia ter ficado sem roupa íntima limpa. A casa inteira
estava cheia de uma umidade com cheiro doce que irradiava da
pequena lavanderia ao lado da varanda.
Ele fechou as mãos em punhos e imediatamente se moveu
para abrir uma janela.
Esta noite, como todas as noites desta semana, Clara se
depositou no sofá cercada por pilhas de documentos. Ele não
sabia com que tipo de carga de trabalho ela concordou quando
aceitou o emprego, mas parecia envolver muita leitura para
levar para casa.
Josh reorganizou seus cestos de roupa suja para que ele não
fosse barrado fora de sua própria cozinha.
— Você não precisa separar suas roupas em tantos ciclos
separados — ele disse a ela enquanto colocava uma das cestas
cheias aos seus pés.
— Eu sei que você provavelmente não se importa, já que
você parece viver em jeans e camisetas — disse ela — mas
diferentes tipos de roupas exigem diferentes temperaturas e
velocidades da água.
— Sim, essa é a maneira errada de pensar sobre isso.
— Com licença? — Clara baixou o documento na mão.
Curvando-se para examinar seu sistema de organização,
Josh começou a separar suas roupas, reorganizando os itens em
novas pilhas no tapete.
— O tecido determina as condições ideais de lavagem, não a
cor. Por exemplo — ele ergueu uma camiseta macia — o
algodão tende a encolher. Você só deve usar água fria e secar
algodão ao vento, não importa a cor. — Ele jogou um conjunto
de shorts por cima do ombro. — O linho amassa como uma
cadela, então você deve passar esse short imediatamente depois
que ele sair da máquina de lavar. — Dois pares de meias-calças
emaranhados em torno de seu pulso. Josh os separou e os
colocou sobre o braço do sofá.— Pendurar náilon evitará
aquela situação estática agressiva que você está enfrentando.
Aula terminada, Josh seguiu seu nariz até a cozinha. Ele
abriu o forno para investigar a origem de um agradável cheiro
apimentado.
— Oh, você pode fazer o que quiser com poliéster — ele
gritou para que ela pudesse ouví-lo através da porta. — É difícil
estragar o poliéster. — Josh olhou uma lasanha borbulhando
sob a grelha. — Posso comer um pouco da sua massa?
— Claro. É vegetariano… e fiz o molho do zero.
O estômago de Josh roncou. Outro sintoma. Em tão pouco
tempo, Clara já o havia viciado em vegetais. Provavelmente o
enganou em algum tipo de dependência de ferro com seu menu
mágico que disfarçava uma quantidade ímpia de folhas verdes.
Às vezes ele acordava no meio da noite com vontade de
espinafre.
Clara balançou a cabeça lentamente enquanto Josh se
juntava a ela no sofá com um prato fumegante.
— Como você… como você sabe tanto sobre lavanderia?
— Eu sei mais do que sua experiência média. Minha mãe
trabalha para uma lavanderia a seco. Desde que eu era pequeno.
Ela intimidou-me com essas coisas quando era criança. Na
última vez que ouvi ela ainda estava lá. Nesse ritmo, suas mãos
nunca deixarão de cheirar a alvejante.
— Na última vez que você ouviu?
— Faz alguns anos que não vejo ninguém da minha família.
Não desde que contei a eles sobre meu trabalho. — Josh soprou
em seu garfo cheio. — Eles não entenderam.
A culpa daquele momento o consumiu até que ele parou de
retornar suas ligações. Ele chegou ao ponto de mudar seu
número e seu endereço de e-mail. Ele não precisava de sermões
ou preocupação silenciosa.
Ele pigarreou.
— Acho que eles se sentem responsáveis. Acho que minha
mãe está convencida de que, se ela tivesse me levado mais à
igreja quando criança, talvez eu trabalhasse em um banco ou
algo assim agora.
— Eu sei o que você quer dizer.
Ele abaixou o garfo e franziu a testa. Clara era o sonho de
qualquer pai. Educada, respeitosa, estudiosa. O que mais sua
família poderia querer?
A dor percorreu seu rosto.
— Eu me ressinto da minha própria mãe por tomar as
decisões da minha família tão pessoalmente. Ela usa os erros das
outras pessoas como cicatrizes. Como se ela estivesse contando
todos os nossos crimes contra ela. Eu tive um limpo registro até
que me mudei para cá e desviei do curso escolhido. Mas agora…
seria mais fácil enfrentá-la se baixasse a barra.
Josh nunca considerou o custo que Clara poderia ter pago
por sua liberdade. Que os dois estavam fugindo de alguma
coisa. Que eles podiam ter algo em comum, afinal.
— Eu não estou bravo com minha mãe — disse ele. — Não
exatamente. Eu entendo de onde vem isso. Nenhum pai sonha
que seu filho cresça e faça pornografia. Mas é difícil carregar o
peso de sua decepção. Acho que se ela e meu pai me apoiassem,
mesmo que não entendessem, diabos, mesmo que não
gostassem, seria mais fácil suportar o resto da sociedade me
olhando como se eu fosse um lixo sob o sapato deles.
— As pessoas realmente olham para você assim?
— Quer dizer, nem todo mundo sabe o que eu faço. Não é
como se eu estivesse andando na rua distribuindo cartões de
visita em forma de pinto.
Clara cobriu a boca com a mão.
— Você tem isso? — Seus olhos estavam quase
completamente redondos.
— Não. Embora não seja uma má ideia de marketing. As
pessoas descobrem de qualquer maneira. Quase sempre aparece
nas festas. Meus amigos do ensino médio acham engraçado. —
Ele deu uma risadinha amarga. — Não me importo tanto com
o desprezo. Pelo menos essas pessoas costumam manter
distância. Os mais práticos são piores. Aqueles que pensam que
meu trabalho transforma meu corpo em propriedade pública.
— Você quer dizer que as pessoas te agarram?
— Ah, com certeza. Você já teve um cara esbarrando em
você no metrô quando você sabe que ele poderia ter evitado?
Ou talvez você esteja no bar e algum cara coloque a mão na sua
parte inferior das costas para “passar rápido”?
— Ugh, sim. — Ela pareceu irritada.
— É assim. Recebo muitas mãos indesejadas em lugares que
sou educado demais para mencionar. Quando as pessoas
descobrem que eu atuo, elas param de me ver como um
homem. É como se aos olhos deles, de repente, eu fosse um
grande presunto de Natal gordo. Todo mundo quer cortar
uma fatia.
— Eu sinto muito — disse Clara.
Josh olhou para sua comida.
— Muita gente passa por coisa pior. Quase todas as
mulheres que conheço que trabalham na indústria têm
histórias sobre sofrer assédio, até mesmo abuso. — Quantas
vezes Naomi voltou para casa cuspindo porque alguém tentou
tirar vantagem dela? Tentou obrigá-la a fazer coisas que não
queria e muitas vezes recusou explicitamente? Josh tentou usar
o pouco poder que tinha para protegê-la, mas o desequilíbrio
de poder continuava avassalador e, além disso, ele não podia
proteger a todos.
— Não é um jogo de soma zero. Reconhecer a sua dor não
afasta a de ninguém.
— Obrigado, mas chega de falar da minha dor. — Ele sorriu
para que ela soubesse que ele não estava fatalmente ferido. —
Esse é o meu limite de sentimentos por uma noite. — Ele
equilibrou o prato na coxa e pegou sua revista em quadrinhos
na mesa de centro. — Vou passar o resto da noite com os X-
Men.
Clara chegou mais perto.
— O que está acontecendo lá? — Ela apontou para um
painel.
— Mística está prestes a roubar o transmissor de
interferência de Forge.
Um momento depois, ela parou seu progresso com uma
mão em seu braço.
— Espere, não terminei com essa página!
Formigamento correu em direção ao seu ombro.
— Mais excitante do que o trabalho, hein?
— Sinto que estou ficando vesga tentando encontrar algo
interessante em todos esses arquivos. Desde que Jill me
contratou para trabalhar na campanha de reeleição de Toni
Granger, tenho tentado combater o fato de ser completamente
desqualificada com uma dedicação rigorosa à pesquisa. O
escritório de Granger entregou cerca de trinta caixas desses
documentos para que pudéssemos passar para ajudar a criar
nosso ângulo de relações públicas. Os advogados adoram
papelada.
— Eu ouvi sobre isso — disse Josh. — Se eu te ajudar a
examinar esses arquivos enfadonhos por, digamos, trinta
minutos, você teria permissão para fazer uma pausa e assistir a
um filme? Estou preocupado com a combustão do seu grande
cérebro.
— Oh meu Deus. Isso seria incrível. — Ela entregou a ele
uma pilha enorme. — Mas quem escolhe o filme?
— Obviamente eu.
— Por que obviamente você?
— Porque sou eu que estou salvando você da catarata
precoce.
— Tá bem — Ela retomou a leitura. — Mas podemos, por
favor, assistir Velocidade Máxima?
As sobrancelhas dele se juntaram.
— Você gosta de Velocidade Máxima?
— Não. — Ela destacou algo no papel. — Eu amo
Velocidade Máxima.
— Você quer dizer que ama Keanu Reeves?
— Você está tentando minimizar meu excelente gosto por
filmes para uma mera paixão por celebridades?
— Ah, não. Eu nem sonharia com isso.
— Boa. Porque eu quero que você saiba que sou uma fã
dedicada e de longa data do gênero de filmes de ação. — Clara
pegou um conjunto de documentos a seus pés. — Na verdade,
eu queria te perguntar sobre um desses. — Ela entregou a ele
um arquivo. — O nome Black Hat significa alguma coisa para
você? Achei ter encontrado o nome em um daqueles artigos
que surgiram quando eu pesquisei você no Google.
Ele queria provocá-la sobre a leitura de sua cobertura na
imprensa, mas a piada morreu quando ele parou na terceira
linha.
— Espere um minuto…
— O que foi? — Clara se inclinou para ler por cima do
ombro. Os seios dela roçaram seu ombro e ele quase gritou. Ele
definitivamente precisava levantar seu embargo de se
masturbar só de pensar nela. Ele não podia arriscar nem mesmo
um toque platônico até que se recuperasse novamente. Josh
teria ligado para um de seus encontros regulares - inferno, ele
até considerou dirigir até a casa de Naomi - mas ele sabia que
sua greve duraria mais se ele evitasse pessoas no negócio que lhe
diriam para parar e voltar ao trabalho. Um pequeno hiato de
relação sexual não causaria nenhum dano permanente.
Provavelmente.
Josh podia sentir a respiração dela contra seu pescoço. Ele
virou a cabeça apenas para encontrar seus rostos mais próximos
do que ele esperava. Clara tinha algo brilhante em seus lábios,
tornando-os mais rosados que o normal. Encontrou-se
olhando para eles, imaginando-os enrolados em seu…
— Eu tenho meleca? — Ela esfregou o nariz. — Se eu tiver,
você tem que me dizer.
— Relaxe. Seu nariz está limpo como um apito. — Josh
voltou os olhos para a página à sua frente.
— Encontrou algo aí? Pelo que li no escritório, Toni é uma
boa advogada com um histórico de casos sólidos, mas até agora
nada saltou como matéria de manchete.
— Eu preciso dos meus óculos. — Josh voltou de seu quarto
um momento depois, de óculos. — Ok. Sim. Veja isso. — Ele
correu o dedo por onde ele queria que ela o seguisse. — Toni
Granger não mencionou apenas o Black Hat, ela escreveu um
artigo inteiro sobre eles.
Quando Clara pegou o documento de suas mãos, o
moletom que ela usava caiu de seu ombro.
— Onde você conseguiu esse moletom? — Ele sabia que ela
não tinha ido para Berkeley.
— Oh, um. — Clara puxou seu colarinho caído. — É de
Everett. Todos os meus estão sendo lavados.
Josh rangeu os dentes. Everett. Novamente. Ele continuava
se permitindo convenientemente esquecer a paixão de toda da
vida dela.
— Parece que ela escreveu isso quando estava se inscrevendo
para o cargo de promotora pública assistente. — Ela folheou
algumas páginas. — Ei, o que é Big Porn?
— É como o Big Tobacco. A Black Hat é a maior
distribuidora de pornografia do mundo. Eles são donos de três
dos cinco principais sites de streaming, mais do que um
punhado de grandes estúdios, provavelmente um monte de
outras coisas que eu nem conheço. Seu alcance é longo.
Os olhos de Clara se arregalaram quando ela viu mais do
documento de posição.
— Parece que eles dizimaram completamente a estrutura da
indústria pornográfica em poucos anos. Toni argumenta que
seu modelo de distribuição ponta a ponta cria um perigoso
desequilíbrio de poder, com seus trabalhadores pagando os
custos. Você conhece essas pessoas?
— Sim. Quero dizer, todo mundo conhece o Black Hat. Eles
são difíceis de evitar. Eu não lido com a empresa diretamente,
eles geralmente passam por Bennie, mas sua holding controla o
estúdio que mantém meu contrato de exclusividade. Eles me
convidaram para reuniões algumas vezes nos últimos meses,
mas prefiro roer meu próprio braço do que ouvir homens de
negócios falarem sobre sinergia.
— Isso é sério. — Clara passou o dedo por um novo
parágrafo. — Ela está falando sobre demissão injusta,
condições de trabalho inseguras, assédio sexual. Este lugar
parece um desastre. Ela poderia ter exigido que eles
melhorassem suas políticas durante seu primeiro mandato. Por
que o escritório de Granger não está processando nenhuma
dessas violações?
— Meu palpite? Não há testemunhas suficientes para
depor. — Josh precisava de uma cerveja. — Meu contrato pode
ser um negócio bruto, mas quando se trata de pornografia, os
artistas são os sortudos. Tenho um agente, provavelmente
algum valor de mercado para negociar. Mas os diretores, a
equipe, as pessoas esvaziando as latas de lixo? Eles não podem
se dar ao luxo de arriscar seus empregos para derrubar uma
empresa com tanto poder e influência.
— Bem, alguém deveria fazer alguma coisa. Não acredito
que a imprensa não está falando sobre isso.
— Mesmo? Você está chocada que Hollywood não está em
alvoroço porque alguém pode estar sendo maltratado na
indústria pornô? Ninguém fora da nossa bolha dá a mínima.
— Bem, alguém faz. Toni obviamente…
Josh zombou.
— Toni escreveu isso há cinco anos para poder seguir os
passos de incontáveis políticos antes dela, que fizeram carreira
demonizando os trabalhadores do sexo. O que ela fez desde
então?
O silêncio dela pesou entre eles. Clara largou os papéis e
arrumou as pilhas.
Ele ajustou seu tom.
— Eu odeio dizer isso a você, mas o governo e a indústria
pornô não concordam exatamente.
— Toni não é assim. Cresci em uma família de políticos
locais e outras pessoas influentes e nunca vi um deles falar com
a mesma dedicação inabalável à reforma civil como ela. Ela se
importa.
O rosto de Josh se curvou com exasperação.
— Você não acha que ela é assim porque não tem ideia de
como é viver no mundo real. Você passou sua vida inteira em
escolas chiques. Aposto que você nunca aprendeu a lavar roupa
porque sempre pode pagar alguém para fazer isso por você.
Aqui, nem todos são atendidos. Você acha que todos nós temos
familiares ricos distribuindo empregos como balas de hortelã?
Clara estremeceu e puxou um travesseiro contra o peito,
recusando-se a olhar para ele.
— Eu sinto muito. — Josh suavizou sua voz. A discussão
deles esta noite despertou muitas memórias dolorosas. Mas isso
não era desculpa. Seu estômago afundou. — Clara, eu não
deveria ter dito isso…
— Não, você está certo. — Ela encontrou seu olhar com
seus grandes olhos de corça. — Nasci com uma colher de prata
na boca. Sempre soube disso. Esta é minha primeira incursão
no mundo real e estou tropeçando. Não sei o que é fazer o que
você faz. — Ela franziu o cenho. — Ou, aparentemente, como
lavar diferentes tipos de tecido. Serei a primeira a admitir que
estou um pouco confusa.
Josh ignorou a forma como seu estômago se revirou em sua
admissão crua de vulnerabilidade.
— Nós dois estamos em terreno irregular aqui. Por favor,
me perdoe?
Os olhos dela caíram para os lábios dele e ele se viu
respirando mais pesadamente.
— Se eu disser sim, podemos assistir Velocidade Máxima?
Ele precisava encontrar uma maneira de controlar sua
atração por ela. Ela não era combustível para suas fantasias e ela
definitivamente não era um poste de açoite para todas as suas
falhas pessoais.
— Podemos assistir a Velocidade Máxima — admitiu ele.

•••

Em tempos de turbulência, algumas pessoas se voltavam para


um pote de sorvete e outras tomavam um banho quente.
Quando Clara precisava de conforto, colocava um filme de
ação.
Apesar do pedido de desculpas de Josh, o constrangimento
pairava pesado no ar. Clara conhecia o peso palpável das
palavras não ditas. Ela passou uma vida inteira andando na
ponta dos pés por uma casa cheia de palavras que as pessoas
queriam dizer, mas nunca ousavam.
— Alguém com um diploma sofisticado em criticar
pinturas antigas não deveria preferir documentários
granulados e filmes estrangeiros com legendas? — Josh a olhou
de sua ponta do sofá enquanto os créditos de abertura de
Velocidade Máxima passavam pela tela plana de Everett.
— Você acha que eu sou muito mais intelectual do que
realmente sou — Clara disse, cortando a fatia de lasanha que
ela pegou em quadrados pequenos. A tensão recente sobre seu
status socioeconômico e educação reforçou o fato de que Josh
nunca iria olhar para ela como outra coisa senão sua
companheira de quarto mimada. Ela não precisava proteger
suas emoções contra ele porque o mundo fornecia barreiras
prontas para qualquer futuro entre eles.
Ainda assim, fosse porque não estava trabalhando e não
tinha nada melhor para fazer, ou porque a achava estranha,
Josh lhe deu uma atenção surpreendente. Se ele fosse qualquer
outro homem, ela poderia ter se contorcido sob o escrutínio.
Ele era a pessoa mais charmosa que ela já conhecera. Ela não
tinha ideia de como navegar no campo minado de suas
interações do dia a dia. Com Everett, pelo menos ela tinha a
vantagem de jogar em casa quando se tratava de tentar ganhar
seu favor: anos suados estudando seus gostos e desgostos para
garantir que suas interações sempre fossem fáceis.
Josh a estudou como uma lâmina sob um microscópio.
— E os filmes de época? Você sabe, muitos colarinhos,
babados, e olhos chorosos de saudade. Aposto que você gosta
disso.
Clara desajeitadamente arrancou um longo fio de queijo de
seu garfo. Graças a Deus ela não teve que se preocupar em
tentar impressionar Josh com seus modos à mesa.
Foi até legal, na verdade. A falta de expectativa romântica a
deixou relaxar. Algum dia ela olharia para trás, para este verão
com carinho e riria.
— Eu gosto de um bom drama da Regência, mas também
gosto de Keanu Reeves correndo muito em direção ao perigo
em uma camiseta justa para salvar a cidade de Los Angeles com
nada além de suas próprias mãos e sua coragem. — O molho
precisava de mais manjericão. Ela adicionou a erva à sua lista de
compras mental. — Minha personalidade contém multidões.
O personagem de Keanu Reeves, Jack, apareceu na tela e
Clara emitiu um pequeno zumbido feliz. Esse homem sabia
como usar calças cargo.
— Ahhh, entendi. — Josh caiu para trás contra o sofá. —
Essas coisas te deixam quente.
— Como é?
— Você se excita com o heroísmo. — Ele apontou para a
TV, onde os personagens tentavam sua ousada missão de
resgate. — Olhe para você. Bochechas rosadas, olhos
arregalados, respiração saindo em pequenas baforadas. Esses
são sinais clássicos.
Seu coração batia anormalmente. Ela supôs que fazer sexo
no cérebro era um risco ocupacional para Josh. Qual foi a
desculpa dela?
— Em primeiro lugar, pare de me assistir e assista ao filme.
Em segundo lugar, você está confundindo luxúria com
excitação saudável. — Ela se moveu para que uma das
almofadas bloqueasse a visão de seu rosto, só por precaução. —
Eles estão subindo em um poço de elevador. Esta é uma
situação de suspense. Estou preocupada com o bem-estar dos
reféns.
Josh abaixou o travesseiro e lançou-lhe um sorriso sujo. Um
que funcionou tão bem que, pela primeira vez na vida, Clara
teve que controlar o impulso de ronronar.
— Oh, por favor. Espere até que Keanu deslize para baixo
do ônibus para desarmar a bomba, aposto que você
enlouquecerá.
Esse momento a fez desfalecer.
— Minha devoção a Velocidade Máxima não é motivada
por nada remotamente carnal. — Pelo menos, não
inteiramente. — Este filme é uma celebração triunfante do
espírito humano.
— Você está inventando — disse ele, esticando os braços
acima da cabeça até que sua camisa levantou alto o suficiente
para revelar a parte inferior do estômago.
— Eu não estou. — Ela cruzou os braços para cobrir os
mamilos duvidosos. — Velocidade Máxima é sobre estar à
altura da ocasião. Sobre pessoas comuns como Jeff Daniels e
Keanu e Sandra Bullock que são boas e nobres, e sim, gostosas,
mas de uma forma suave e contida.
— Contida, minha bunda. Você não consegue bíceps assim
sem um extenso treinamento pessoal.
Clara ignorou aquele comentário impertinente.
— Velocidade Máxima é um filme de ação para o olhar
feminino. Você sabe como você pode dizer? A heroína calça
sapatos sensatos.
Josh olhou para a tela.
— Então você se identifica com a personagem de Sandra
Bullock?
— Eu gostaria. Keanu se apaixona por ela assim que ela
assume o volante. Eu, por outro lado, nunca me recuperaria do
constrangimento de Keanu me chamando de senhora.
Clara esfregou um guardanapo em uma gota de molho que
havia caído no sofá. Ela nunca deveria ter jantado na frente da
TV. Ela começou a adquirir maus hábitos de seu novo colega
de quarto.
Josh foi buscar para ela uma toalha de papel úmida para
enxugar melhor a mancha que crescia.
— O que há de errado com a senhora?
— Senhora é tão assexual. — Ela fez beicinho. — A palavra
tem gosto de serragem na minha boca.
— Aha! Assexual. Implicando que você gostaria que ele te
chamasse de algo sexy. Você quer fazer o mambo horizontal
com Keanu.
— O mambo horizontal? Sério? — Ela jogou a toalha
enrolada contra o peito dele. — Ninguém diz isso.
Ele jogou a toalha na lata de lixo.
— Não gostou dessa, hein? Que tal “comprar uma passagem
para a terra do prazer”?
Clara franziu o nariz.
— Não, obrigada.
— Destruir o caminhão de creme? Envolver-se em um
pequeno combate glândula a glândula? Eu posso continuar.
— Por favor, não. — Ela afundou em seu assento, tentando
esconder o quanto, mesmo aqueles nomes ridículos, de alguma
forma, a fizeram querer se jogar no colo de Josh.
— Como quiser.
— Não estou negando o fator gostosura aqui — ela admitiu
— mas há muito mais o que amar em Velocidade Máxima.
Josh fingiu tossir em sua mão.
— Velocidade Máxima é o Duro de Matar de um homem
pobre.
Clara apertou o coração.
— Como você ousa.
Ele riu e pegou o prato vazio dela.
Agarrando-se à borda dele, ela inclinou a cabeça.
— O que você está fazendo?
— Arrumando? — Ele puxou sua ponta até que ela o soltou.
— Oh. Obrigada. — Ele começou a espelhar o
comportamento dela como se eles fossem uma equipe. Uma
equipe inadequada para realizar qualquer coisa, com certeza,
mas ainda assim, ela apreciou o esforço.
— Duro de Matar é uma obra-prima. Eu vou concordar
com isso — ela disse quando ele voltou da cozinha. — Mas
Velocidade Máxima tem um conjunto único e cativante. Tem
aquele turista nerd de blazer, sabe? Eu me identifico com ele.
Eu também vim para Los Angeles com grandes sonhos e acabei
circulando o aeroporto em um ônibus com uma bomba.
Josh ergueu as sobrancelhas enquanto voltava ao seu lugar.
— Um ônibus metafórico, obviamente.
— Espera aí. — Ele franziu a testa e pausou o filme. — Eu
sou a bomba?
— Não seja bobo. — Ela pegou o controle remoto e apertou
retomar. Josh era definitivamente a bomba. Ele era um grande
emaranhado de hormônios tentando atraí-la para um fim
prematuro. Uma bomba mascarada por piadas bregas e olhos
gentis. Uma que poderia explodir sua vida inteira se acionada
no momento errado.
Ela enfiou as pernas embaixo dela com os joelhos apontando
para longe dele. Melhor não insistir.
— Com qual personagem você se identifica?
Josh mordeu o lábio inferior.
— Eu acho que o cara mau.
Clara soltou uma bufada de desdém pelo nariz.
— Bem, eu não sou Keanu, isso é certo. Não estou salvando
ninguém. Vejo aquele primeiro ônibus explodir e estou
correndo na outra direção. Não há nenhum filme comigo
como protagonista.
— Pare com isso. Você é mais legal do que acredita. Você
está me ajudando a aprender a dirigir, só pela bondade do seu
coração.
— Só porque você me lembra um animal ferido da floresta.
— Obrigada — disse Clara, a palavra pingando sarcasmo.
— Viu? Eu sou totalmente o vilão. Desiludido e irritado.
Bêbado de auto-importância.
— Você não é Howard Payne. — Ontem, ela o pegou
cortando hortênsias do vizinho idoso.
— É esse o nome dele? Fale sobre coincidências. Você sabe,
se você inverter o script, esta é uma história sobre um sistema
quebrado de aplicação da lei que abandona um policial
incapacitado no cumprimento do dever. Talvez ele quisesse
chamar a atenção para a infraestrutura em ruínas do
Departamento de Polícia de Los Angeles.
— Josh. Howard mata um monte de gente.
— Sim. Isso não é legal.
Ela jogou um travesseiro nele.
— Preste atenção.
O resto do filme passou em um silêncio amigável. No
clímax, Clara tentou enxugar os olhos vazando sem chamar a
atenção para si mesma.
— Você está chorando com Velocidade Máxima? — Josh
parecia surpreso e horrorizado.
— Keanu é tão doce aqui. — Clara soluçou. — Ele sabe que
eles podem morrer e se senta no chão com Sandra Bullock e a
abraça. Ele não tenta agarrar seu peito ou beijá-la. Ele a envolve
em seus braços, proporcionando uma sensação superficial de
segurança. Não é isso que todos nós queremos no fundo?
Alguém para nos segurar no final da linha?
— Estamos assistindo o mesmo filme aqui? Eu sinto que
você está lendo muito mais profundamente a cara de batata de
Keanu do que eu.
— Cara… de batata?
Josh encolheu os ombros.
— Minha mãe costumava dizer que o rosto de Keanu
parecia tão vazio quanto uma batata descascada.
Clara sorriu na palma da mão.
— Além disso — disse Josh. — Isso nem é o fim. E o felizes
para sempre?
— O que tem isso? — Clara desligou a TV quando os
créditos finais começaram.
— Bem, eles não duram. Jack e Annie.
— Claro que eles duram. — Ela ajeitou os travesseiros do
sofá.
— Eles não duram. Há uma sequência e Keanu nem mesmo
está nela. Sandra Bullock fica com algum outro policial.
Entrando no banheiro para escovar os dentes, Clara deixou
a porta aberta para poder responder.
— Eu não aceito isso.
Josh a seguiu, aceitando quando ela lhe ofereceu a pasta de
dente e preparando sua própria escova.
— O que você quer dizer? A sequência existe. Não está
aberto ao debate.
Clara moveu sua escova de dente para descansar dentro de
sua bochecha.
— Se eu nunca assisti, então nunca aconteceu.
— Isso está certo?
Ela acenou com a cabeça em torno de suas cerdas ocupadas.
— Você inventa uma realidade alternativa. Imagina — Josh
murmurou em torno de seu próprio gole mentolado.
Depois de dois minutos completos, Clara enxaguou a
escova.
— A arte pertence ao público, não ao artista. Eu acho que
você já sabe disso.
Josh balançou a cabeça.
— Quanto mais eu aprendo sobre você, menos eu entendo.
— Sempre quis ser um enigma. — Clara sorriu por cima do
ombro ao sair do banheiro.
Josh tinha que decidir se queria passar o resto da vida
ressentindo-se de pessoas como Clara por seu dinheiro,
inteligência e sucesso, ou se queria tirar sua carreira do piloto
automático. Uma ligação de Bennie alguns dias depois
aumentou o prazo de sua decisão. Black Hat não aceitava não
como resposta.
Os cachorros grandes o convidaram a visitar o quartel-
general para discutir pessoalmente as exigências de seu
contrato. Eles não queriam esperar quase outro ano por mais
conteúdo de Josh Darling. Ele decidiu jogar. O que ele tem a
perder?
— Agora, isso é muito cromo. — Josh assobiou baixinho ao
entrar na área de recepção de um prédio comercial indefinido
em Burbank. Ele tinha ouvido falar que havia muito dinheiro
na pornografia. Acontece que tudo acabou aqui.
Ele fez check-in com uma recepcionista que o fez soletrar
seu sobrenome duas vezes e verificou sua identidade antes de
conduzi-lo a uma cadeira metálica desconfortável para esperar.
Apesar do clamor idealista de Clara para reformar uma
indústria sobre a qual ela não conhecia quase nada, Josh não
tinha planos de entrar no mercado, ao estilo de Indiana Jones,
e expor esta fortaleza corporativa. Mesmo que ele quisesse, e
talvez parte dele quisesse, ele não era esse cara. Ele não teve o
mesmo luxo de oportunidade que Clara desfrutou. Na
verdade, a acalorada discussão de algumas noites atrás sobre a
estrutura de poder do pornô o fez perceber que nunca chegaria
a lugar nenhum se não fosse bonzinho com as pessoas no
comando. Ele teve que decidir entre nadar com os tubarões ou
se tornar seu amigo.
O homem que ele veio ver hoje, HD Pruitt, poderia mudar
a vida de Josh com um estalar de dedos.
Ele imaginou que poderia muito bem dar uma olhada no
cara.
— Josh Darling? — Um homem baixo e bronzeado em um
terno muito bem cortado se portava com ar de desafio ao entrar
na recepção.
Josh reconheceu HD Pruitt de sua foto no site da empresa.
Na noite anterior, ele tirou uma folha do caderno de Clara e
ficou acordado até tarde para fazer o dever de casa. Ele soube
que Pruitt havia começado a construir um império alguns anos
antes de Josh assinar seu contrato. Um capitalista de risco que
se tornou empresário, Pruitt ganhou muito dinheiro vendendo
dados de pesquisa antes de decidir trazer seus talentos para a
indústria do entretenimento adulto.
A empresa dele engoliu um monte de estúdios caseiros logo
de cara, e hoje em dia você não pode balançar um pau no pornô
sem acertar em algo pertencente ou operado por Black Hat. De
acordo com sua biografia, Pruitt “vivia para ultrapassar os
limites” e “ir além do que é educado”.
Nos círculos sociais de Josh, o homem tinha a reputação de
perseguir todas as fantasias depravadas que a Internet pudesse
inventar. Até hoje, Josh havia evitado Pruitt como uma praga.
Ele nunca teve nenhum interesse em jogos corporativos. Mas
ele não conseguia tirar aquele documento de posição de Toni
Granger da cabeça. Não conseguia parar de ouvir a voz
indignada de Clara enquanto ela contava a injustiça de um
sistema em que ele vivia todos os dias.
Josh puxou para baixo as mangas de seu próprio casaco
esportivo azul-marinho.
— Este sou eu. — Ele seguiu Pruitt até seu escritório.
— Você é um homem difícil de contatar. — A cadeira de
Pruitt estava alguns centímetros a mais acima daquela reservada
para visitantes, para que seu pequeno dono pudesse olhar para
seus convidados.
Josh puxou a poltrona de couro confortável em frente à
imponente escrivaninha de madeira escura.
— Acredite em mim, é só porque sou extremamente
irresponsável. — Josh puxou o celular do bolso. — Você não
acreditaria quantas dessas coisas eu estrago.
Pruitt juntou os dedos e deu uma olhada em Josh.
— Você é ainda mais alto do que parece no filme.
Josh se curvou em um esforço para ocupar menos espaço.
Em sua experiência, os homens baixos tendem a se ressentir de
sua altura. Como se Josh estivesse tentando superá-los
simplesmente por existir.
— Isso é provavelmente porque nos filmes eu geralmente
estou deitado.
Pruitt não sorriu.
Multidão resistente.
— Então, qual é o seu problema? Você é talentoso,
claramente. O público parece responder a você, mas seu
portfólio de trabalho é decididamente sem graça. Não me
entenda mal. — Pruitt ergueu a mão. — Você e Naomi Grant
mantiveram isso picante por um tempo, mas quantas vezes
você pode realmente assistir o mesmo casal transando?
A pergunta pairou no ar, enquanto Josh tentava decidir se
era retórica.
— Espero que você finalmente tenha decidido nos agraciar
com sua presença porque está pronto para levar seu trabalho
para o próximo nível? Tenho certeza de que não preciso dizer a
você, mas os amadores estão na moda agora. Artistas de renome
não trazem os mesmos números de antes. Variedade em vez de
qualidade. Não é bom para os negócios. Nossas ações caíram
nos últimos dois trimestres. A única maneira de proteger nossas
margens é indo mais longe. Ser criativo. Você se considera um
homem de grande ambição?
— Não senhor. Não posso dizer que sim.
— Bem, você deveria. Pornografia é poder. Nunca esqueça
isso. Podemos não obter o respeito de outras indústrias, mas
moldamos a cultura e a tecnologia de maneiras com as quais eles
só podem sonhar. Você fez um nome para si mesmo. Tem um
público jovem e agradável. Fresco. É isso que gosto de ver.
Quantos inscritos você tem em seus vídeos?
— Uh, não tenho certeza. — Josh não mantinha o controle.
Clara havia mencionado um número outro dia. — Cerca de
um milhão?
Pruit sorriu.
— Potenciais clientes vitalícios, mesmo que a maioria sejam
mulheres. Muitos de meus colegas não concordam comigo
sobre o investimento no talento masculino. Não, a menos que
você esteja disposto a fazer homem-homem? — Ele ergueu uma
sobrancelha curiosa.
Josh educadamente balançou a cabeça. Ele havia tentado
exatamente uma vez, porque você não fazia tanto sexo quanto
ele e não ficava nem um pouco curioso, mas ele descobriu que
preferia fortemente as mulheres.
— Pena. Eu tenho recebido muitos pedidos tanto de fãs
quanto de artistas. Seguindo. Você tem o quê, quase trinta?
Você tem pelo menos três, talvez até cinco anos bons em você,
se cuidar de si mesmo. Deixe de lado a carne vermelha. Invista
em algum creme embaixo dos olhos.
Josh ergueu a mão para procurar olheiras. A pele parecia
relativamente apertada. Talvez ele devesse pedir emprestado
algumas das loções extravagantes que sua colega de quarto
deixou no banheiro.
Pruitt deu uma risadinha.
— Oh, não se preocupe. Só as meninas não podem
envelhecer. Uma daquelas duras verdades do negócio. Os
homens mais velhos querem se ver na tela, mas não queremos
ver nossas esposas.
O CEO virou uma fotografia em sua mesa para que Josh
pudesse ver uma foto de uma morena de meia-idade com os
braços em volta de dois adolescentes. A mulher na foto parecia
doce, bonita, embora um pouco cansada.
— As pessoas são rápidas em demonizar a pornografia, mas
quantos casamentos salvamos? A pornografia impede que os
homens traiam quando suas esposas não fazem mais o truque.
É nosso dever fornecer forragem em constante evolução para a
imaginação sexual. Para levar o público a lugares os quais eles
nunca iriam na vida real.
Josh cravou as unhas nas palmas das mãos. Ele não podia
acreditar que aquele homem pudesse falar sobre sua esposa e a
mãe de seus filhos dessa maneira, muito menos com um
completo estranho. Quando ele respondeu, não conseguiu
evitar o tom de raiva.
— Não tenho certeza se estou pronto para deixar o público
mais radical ditar a direção da minha carreira.
O homem mais velho endireitou a gravata e sentou-se ainda
mais alto em sua cadeira semelhante a um trono.
— Eu vou ser sincero com você, Josh. De homem para
homem. Você teve sorte. Você seguiu a fama da bunda gostosa
da sua namorada para um mínimo de notoriedade, mas não
existe felizes para sempre nesta indústria. Sem Naomi Grant,
você vai desaparecer rapidamente.
Josh bateu os molares traseiros com força suficiente para
fazer sua mandíbula doer.
Pruitt pegou um peso de papel de vidro de sua mesa e fez
malabarismos.
— Eu te direi uma coisa. Eu vou começar devagar se você
quiser. Muito gentil. Vou até deixar você trabalhar com outros
estúdios, desde que dê à minha divisão hardcore cinquenta
títulos por ano e direitos exclusivos de participação.
Era uma oferta melhor do que Bennie já lhe trouxera, quase
generosa. A garganta de Josh se apertou. Ele se odiou um pouco
pelas próximas palavras que saíram de sua boca.
— Quanto?
Pruitt ergueu a mão para cobrir a boca por um momento
antes de abaixá-la.
— O quanto você fez no ano passado?
Através da névoa de sua raiva latente, Josh pegou a renda do
ano passado e dobrou antes de escrevê-la em um pedaço de
papel de um bloco na frente dele. Ele o deslizou sobre a mesa
para Pruitt.
O executivo pegou e leu, dando uma risadinha.
— Vou começar com o dobro desse valor.
Josh tentou envolver sua cabeça com esse tipo de dinheiro.
Um salário como esse validaria sua carreira.
— Bem-vindo às grandes ligas. — O homem mais poderoso
do pornô relaxou na cadeira e cruzou as mãos sobre o peito.
Pruitt estava convencido de que havia conseguido o que queria,
e talvez o tivesse feito se Josh não tivesse pensado no rosto de
Clara naquele exato momento.
Se ele não tivesse puxado o perfil dela no banco do motorista
de seu carro ao pôr do sol depois de um dia inteiro enfrentando
seus medos. As sombras de um sol poente em seu rosto a faziam
parecer uma estrela de cinema dos anos 1940. Mordendo o
lábio. Determinada a fazer o que ela achava que deveria. Não
importava o quanto isso a assustasse. Ele desejou que seu
cérebro não tivesse repetido a captura em sua voz quando ela
protestou contra os maus-tratos de pessoas que ela nunca
conheceu, pelo homem sentado em frente a ele. Ele não podia
mais alegar ignorância. Se ele pegasse esse dinheiro, Clara
sempre saberia que ele tinha feito isso porque era fraco.
— Eu sinto muito. — Ele colocou o papel de volta na mesa.
— Eu não posso aceitar. — Assim que seu contrato expirasse,
ele poderia encontrar trabalho em outros estúdios menores.
Talvez ele nunca fosse rico, mas pelo menos ele poderia ir
dormir à noite sem se preocupar com seu trabalho colocando
dinheiro no bolso de homens como esse cara. Ele poderia olhar
Clara nos olhos no café da manhã amanhã. Ele nunca seria bom
o suficiente para uma mulher como ela, mas pelo menos ele não
falharia neste teste moral básico.
— Você tem certeza sobre isso? Sinto que fui muito
generoso, Josh. — Os olhos de Pruitt estavam duros e frios.
Josh passou as mãos pelas calças que coçavam. Ele queria
desesperadamente sair desta sala, deste edifício.
— Agradeço seu tempo, mas acho que vou tentar minha
sorte em alguns outros empreendimentos quando meu
contrato terminar.
Pruitt endireitou-se na cadeira.
— Eu não tenho certeza que seria uma escolha sábia, filho.
— O que você está implicando? — Josh tinha uma suspeita
sorrateira que ele conhecia.
— Se você optar por se afastar desta empresa e de nossa
oferta muito generosa, pode ser difícil encontrar outras pessoas
neste negócio que estejam preparadas para trabalhar com você.
Eu fui claro?
— Sim, obrigado. Acho que consegui decifrar seu código.
— Josh se levantou, deixando sua altura enviar uma mensagem
final.
Pruitt levantou-se rapidamente.
— Por que você não leva alguns dias para pensar sobre isso?
— Ele endireitou as lapelas. — Decisões como esta não devem
ser tomadas no calor do momento. Pese suas opções. Verifique
seu saldo bancário. — Tirando um cartão de visita de sua
carteira, ele o jogou para Josh, que segurou o retângulo
minúsculo contra seu peito.
Lá se vai minha carreira, Josh pensou enquanto jogava o
cartão na primeira lata de lixo que encontrou no
estacionamento.
Quando voltou para casa e encontrou Josh de péssimo humor,
Clara imediatamente sugeriu que abrissem uma garrafa de
vinho e assistissem a Duro de Matar. Ela nunca tinha visto seu
novo colega de quarto franzir tanto o rosto. Seu rosto parecia
ressentir-se da expressão. Ela queria perguntar o que tinha
acontecido enquanto ela passou o dia na empresa de sua tia,
mas ao mesmo tempo, ela não queria bisbilhotar.
Clara tinha a estranha sensação de que os filmes de ação
estavam se tornando uma ponte entre ela e Josh. Uma
apreciação mútua que deu a eles algo para conversar, ou pelo
menos permitiu que ambos ocupassem a sala de estar com o
mínimo de constrangimento.
— Ei. Você gostaria de ir comigo a uma maratona de Rocky
em Silver Lake no início de agosto? — Ela tomou um gole
casual de seu vinho. — Eu vi um pôster em uma cafeteria perto
do trabalho e adoro Rocky e, obviamente, posso ir sozinha, a
menos que você ache que…
— Você pode parar de divagar. — Josh deu um tapinha no
pé dela onde ele descansou perto de sua coxa no sofá. — Eu
gostaria de ir com você. Eu nunca vi Rocky.
— Oh. Boa. Bem, eu vou pegar os ingressos então. Para
retribuir todas as aulas de direção.
Clara expirou. Não é um encontro. Claro que não é um
encontro. Eu não preciso esclarecer porque ele nunca consideraria
isso um encontro. Eles podem não ter muito em comum, mas no
mínimo, ambos apreciavam um filme em que o ator principal
suava profusamente.
Infelizmente, seu plano brilhante para reverter o mau
humor de Josh encontrou um obstáculo quase imediato. John
McClane mal havia chegado ao Nakatomi Plaza quando a
energia da casa foi cortada como um piscar de olhos por muito
tempo. Por alguns segundos, nem Josh nem Clara disseram
nada. Ninguém se mexeu.
— Você tem uma lanterna? — Ela falou na ponta do sofá
onde Josh estava sentado antes que o mundo mergulhasse na
escuridão.
— Se um de nós tivesse uma lanterna, seria você.
— Certo. — Clara procurou seu telefone na mesa lateral. —
Acho que podemos nos contentar com isso.
Josh fez o mesmo.
— Vou verificar o disjuntor.
Clara abriu as cortinas e espiou a rua.
— Não se preocupe. O quarteirão inteiro está sem energia.
— Uma tempestade de verão assolou o céu em um raro ataque
do clima de L.A., fazendo Clara pular.
Ela navegou até a estante onde guardava algumas velas
perfumadas.
— Eu vou acender isso, eu acho.
— Excelente. Agora a casa inteira vai cheirar a torta de
abóbora — ele brincou antes de ajudá-la a organizar as velas ao
redor da sala de estar para que o espaço assumisse um brilho
aconchegante. Os estampidos de relâmpagos e estrondos de
trovão se misturaram para formar uma orquestra malévola.
— Uau. Isso é meio ro-
— Assustador. — Clara terminou a frase de Josh com a
chance de que ele estivesse prestes a dizer a mesma palavra
proibida que ela pensou ao ver a luz de velas dançando em suas
feições.
— Certo, sim. — Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Isso é
exatamente o que eu ia dizer. Ei, o fogão ainda funciona
durante um apagão, certo?
— Sim. É gás, então você deve poder acendê-lo com um
fósforo. Aqui. — Ela pegou a caixa onde ela havia abandonado
na mesa de café e ofereceu a ele.
Seus dedos roçaram a pele macia na parte interna de seu
pulso e ela engoliu em seco. Não importa o quanto ela tentasse,
ela não parecia ser capaz de evitar tocá-lo, e cada vez que eles se
tocavam, um desejo febril ameaçava consumi-la.
— Legal. Obrigado. — A voz de Josh saiu mais baixa do que
o normal. — Vou fazer pipoca. — Ele correu para a cozinha.
Clara levou um momento para se recompor. Ele não está
sendo sexy de propósito. Pare de fetichizá-lo.
Ela aproveitou o fato de que Josh tinha saído do cômodo e
puxou o aro de seu sutiã onde ele cravava em sua caixa torácica.
Clara não era uma daquelas mulheres com um tamanho de
busto manejável que você dificilmente poderia dizer se elas
saíssem au naturel. Você definitivamente poderia dizer. Então
ela manteve tudo trancado em vez de jogar fora suas roupas de
baixo pesadas no momento em que ela chegou em casa do
trabalho, do jeito que ela desejava e certamente teria se ela
morasse sozinha. Ela não precisava que as pupilas de Josh
ficassem escuras e urgentes novamente do jeito que tinham
quando ele a encontrou em nada além de sua camisola estúpida
e imprudente.
— Tcharam. — Ele voltou da cozinha um pouco depois
com uma tigela gigante de pipoca, estendida para sua inspeção.
Ela só precisava inalar para saber que ele carregou os grãos
estourados no fogão com meio quilo de parmesão, flocos de
pimenta vermelha e azeite de oliva. Ele considerava isso um
“lanche saudável” e ela não teve coragem de corrigi-lo.
Eles se acomodaram em seus lugares designados no sofá,
Clara à esquerda, Josh à direita, com a almofada do meio como
amortecedor. Respeito rígido mas a barreira geralmente durava
cerca de meia hora. Cada um deles tendia a desenrolar seus
corpos à medida que se acomodavam.
Quando Josh tentou limpar discretamente as mãos nas
costas da almofada, ela sem pensar agarrou seu antebraço.
Normalmente ela não tocaria em ninguém sem um convite
explícito, mas Josh não parecia viver de acordo com as regras
normais de espaço pessoal e, por isso, às vezes ela também se
esquecia. Por um momento, ela se imaginou inclinando-se para
frente e passando a língua na palma da mão dele. Imaginou-se
deslizando o dedo indicador em sua boca e saboreando a forma
como a manteiga e o sal temperavam sua pele. Seu rosto
superaqueceu. Pare de agir como um pervertida. Ela marchou
até a cozinha para pegar toalhas de papel.
— Você quer jogar um jogo? — Josh ergueu um baralho de
cartas quando ela voltou. Ele se reposicionou na beirada de seu
lado do sofá. Ou ele queria escapar de seu olhar lascivo ou - ela
cerrou as coxas - a escuridão estava afetando ele também.
— Que tipo de jogo? — Clara engasgou com a língua.
Certamente ele não iria, não poderia sugerir strip poker.
— Eu pensei que poderia te ensinar Slap Jack — disse ele, a
imagem da inocência.
Depois de algumas mãos, Clara sabia que Josh estava
trapaceando, mas não sabia como.
Ela fez beicinho em seu copo de vinho. Ela não esperava que
Josh a derrotasse redondamente.
— Você está escondendo cartas debaixo da sua bunda?
— Essa declaração é incrivelmente ofensiva. Em primeiro
lugar, um Conners nunca trapaceia. Somos incrivelmente
honestos e íntegros. Em segundo lugar, e mais importante, não
tenho como minha bunda ser grande o suficiente para esconder
cartas. Eu gastei centenas de horas de elevações pélvicas
rigorosas para conseguir esses pãezinhos apertados.
Clara lambeu uma gota de vinho dos lábios. Ela já teve
bastante dificuldade em ficar sentada neste sofá, à luz de velas,
de frente para Josh, seus joelhos quase se tocando, sem ele
mencionar sexo. Ou sua bunda apertada para esse assunto.
Ela se lembrou de que Josh não era Everett. Nem perto. Por
volta do segundo ano, Everett decidiu que grandes emoções
não eram legais. Ele se comprometeu com um "modo de vida
suave". Ele nunca chorou no cinema ou riu tanto que a cerveja
lhe saiu do nariz. Josh, por outro lado, parecia sugar
naturalmente todo o suco de cada momento. Quando Josh
comeu algo que tinha um gosto bom, ele jogou a cabeça para
trás, fechou os olhos e gemeu. Clara mordeu o lábio pensando
nisso.
— Apenas distribua as cartas.
Ele fez o que ela ordenou, embaralhando com um
movimento impressionante de seu pulso. Clara não tinha
previsto o quanto esse jogo faria com que ela se concentrasse
nas mãos dele. Talvez ela estivesse perdendo tanto porque não
conseguia parar de pensar em todas as maneiras que ele usou
aqueles dedos longos para fazê-la gemer? Saber que ela mal
havia arranhado a superfície de seus talentos sexuais, a deixava
um pouco louca. De acordo com esse artigo, ele era o Michael
Jordan do sexo oral.
Clara perdeu mais uma rodada.
— Que bom que não estamos jogando por dinheiro, hein?
— Ele deu a ela um sorriso travesso.
Ela se contorceu. Controle-se. Ela estava fazendo a mesma
coisa que todas as outras pessoas que tratavam Josh como um
pedaço de carne. Se ele fosse um banqueiro de investimentos
ou um encanador, ela não estaria se imaginando rasgando todas
as suas roupas e implorando que ele a levasse. Sua profissão
ilícita havia distorcido seu cérebro em uma espécie de frenesi.
— Quantas taças de vinho você já bebeu?
— Duas? — Ah não. Ela estava babando?
— Você está toda rosada. — Josh roçou os dedos contra a
bochecha dela. — Você quer que eu pegue um pouco de água
para você?
As mãos de Clara voaram para suas bochechas.
— Não. Estou bem. Devo estar febril com espírito
competitivo.
— Eu tenho que admitir. — Josh se inclinou para frente. —
Gosto de ver você perder.
Calor se espalhou por seu peito com seu tom grave.
— É uma coisa horrível de se dizer!
— Não, quero dizer que é fofo.
Clara se iluminou.
— Você fica toda rabugenta como uma criança.
Oh. Como uma criança. Claro.
— Eu não estou fazendo beicinho. Estou me concentrando.
É assim que meu rosto fica quando me concentro.
Josh lançou um olhar para o livro-caixa.
— Talvez você devesse se concentrar menos.
Clara entregou-lhe suas cartas descartadas com mais força
do que o necessário.
— Este jogo é fraudado.
— Eu me ofereci para lhe dar uma desvantagem. — Josh
jogou um punhado de pipoca para ela.
Os grãos macios ricochetearam em seu nariz e ela engasgou.
— Você tem uma vantagem evolutiva. Seus braços são mais
longos, tornando mais fácil para você alcançar as cartas, e suas
mãos são maiores, o que significa que você pode folhear sua
pilha mais rapidamente.
Josh riu.
— Sua capacidade de racionalizar não conhece limites.
— Talvez devêssemos mudar para gin rummy?
Josh fez uma careta.
— Você está de brincadeira? Que tal Texas Hold'em?
Clara ficou de joelhos no sofá em indignação.
— O que há de errado com gin rummy? Eu costumava
brincar o tempo todo com meu avô.
— Exatamente. É um jogo para velhos. Eu encerro meu
caso.
De algum lugar no fundo das almofadas, um telefone tocou.
Josh e Clara enfiaram as mãos na costura do sofá e os braços se
roçaram. Arrepios surgiram em sua pele e ela rezou para que ele
não percebesse.
— É meu. — A boca de Josh se torceu como se ele tivesse
chupado um limão enquanto olhava a mensagem na tela.
— O que diz?
Josh jogou o telefone atrás dele.
— Nada. — Então ele enfiou um monte de pipoca na boca.
— Obviamente não é nada. Vamos. Quem está mandando
mensagens para você?
— HD Pruitt.
— Por que esse nome soa familiar?
Josh se inclinou para pegar os grãos dispersos.
— Porque ele é o CEO da Black Hat.
Clara engasgou.
— Aquele sobre o qual Toni escreveu?
— Sim. Tive uma reunião com ele esta manhã e ele me
ofereceu este negócio insano. Seis dígitos para encabeçar sua
divisão hardcore.
O que diabos eles fazem na divisão hardcore?
— Antes que você surte, eu recusei. Ele, uh, pode ter
ameaçado me colocar na lista proibida.
— Ele o quê? Josh, isso é terrível. Sem falar que é ilegal.
— Bastante padrão para Black Hat, tanto quanto posso
dizer. Achei que ele poderia tentar algo semelhante quando
concordei com a reunião. Não é grande coisa. Ainda tenho um
ano de contrato com eles, mas já cumpri minha cota de filmes.
Vou fazer um hiato. Eles não podem me processar nem nada.
— Mas o que você vai fazer por um ano? E quanto ao seu
talento?
Josh ergueu as sobrancelhas.
— Acho que vou ter que voltar a usar meu talento
recreacionalmente.
O batimento cardíaco de Clara parou.
— Os únicos direitos não bloqueados em meu contrato de
ações são para narração.
Colocando um alfinete no motivo pelo qual ela se
importava tanto com as “atividades recreativas” de Josh, Clara
estreitou os olhos.
— Espere, então você está dizendo que poderia narrar algo?
Josh inclinou a cabeça para o lado.
— Sim, eu acho, em teoria. As pessoas geralmente não
procuram um narrador em seus filmes pornôs. Esse tipo de
coisa provavelmente vai de zero a especial da vida selvagem bem
rápido.
Clara endireitou-se.
— Mas e se você não fizesse pornografia?
— Então eu não teria um emprego?
Uma ideia correu como uma carga em sua espinha.
— Ok, lembra daquela coisa com a qual você me ajudou?
Ele ergueu um ombro e franziu a testa.
— Aquela coisa. — Ela olhou para seu colo.
— Desculpe, não.
— Aff. Lembra daquela vez que você me deu um orgasmo?
— Ha. Sim. Eu sabia o que você queria dizer. Eu queria
ouvir você dizer isso.
Clara revirou os olhos. Idiota.
— Bem, muitas mulheres têm problemas assim. Eu
pesquisei sobre isso.
— Claro que você pesquisou
— Seus parceiros não sabem como fazê-las gozar. Ou então
eles sabem um jeito de como fazer isso e insistem nisso. — Uma
vez ela namorou um engenheiro que insistia que qualquer
posição além de papai e mamãe lhe causava uma enxaqueca. —
Mas você poderia ajudá-las. Você disse que queria produzir
algo. E se você fizesse algo entre pornografia e educação sexual?
Josh esfregou a nuca.
— Como um guia de como atingir o orgasmo?
— Sim! Exatamente. Você pode narrar dicas e truques e…
Eu não sei… Cenários focados no prazer sexual das mulheres.
Sua base de fãs devoraria isso.
Josh mordeu a unha do polegar.
— Não é uma má ideia, mas os custos iniciais associados a
algo assim aumentariam rapidamente. Você está falando em
contratar artistas, alugar um estúdio de som. Você precisa de
uma tonelada de equipamentos caros. Iluminação, edição,
hospedagem na web, marketing. Tenho algumas economias,
mas gastaria muito antes de ver o dinheiro de volta. Mesmo se
configurarmos um modelo de assinatura.
— Bem, eu poderia ajudar a pagar por isso. — Ela sempre
imaginou que, eventualmente, ela patrocinaria a criação de arte
significativa com sua riqueza. Embora esse tipo específico de
empreendimento nunca tivesse passado por sua mente, ela
descobriu que não se opunha. Na verdade, ela mal conseguia
recuperar o fôlego de tão excitada que a ideia a deixava.
— O que? Não. Não vou aceitar o seu dinheiro.
— Por que não? Muitos projetos atraem investidores. Eu
tenho um fundo fiduciário parado lá. Eu não sugeriria isso se
não acreditasse no conceito.
— Não. Sério. Pedir dinheiro emprestado arruína amizades.
As bochechas de Clara esquentaram.
— Você me considera sua amiga?
— Claro que você é minha amiga e prefiro manter as coisas
assim.
— Então não deixe a coisa do dinheiro tornar isso estranho.
As mulheres precisam disso. Não. — Ela se corrigiu. — As
mulheres merecem isso. — Ela levantou. Este parecia o tipo de
momento em que uma pessoa deveria se levantar. — As
mulheres precisam saber que seu prazer é importante. Se
construirmos o recurso certo, o mundo não terá mais desculpa
para não saber como o clitóris funciona.
Josh olhou para ela.
— Eu não posso acreditar que você disse clitóris no volume
máximo. Não sei dizer se estou com medo de você agora ou
excitado. Possivelmente ambos. Tem certeza de que só tomou
duas taças de vinho?
Se ao menos sua atração não se estendesse a toda a metade
feminina da população.
— Isso significa que você vai fazer isso?
Ele olhou para as mãos cruzadas no colo e sentou-se
estranhamente imóvel.
— Por que eu?
Ele não podia ver isso?
— Você é a inspiração perfeita. Deus sabe que não quero
inflar ainda mais o seu ego, mas posso imaginar que você é uma
porta de entrada para a pornografia para muitas mulheres.
Deve ser sua enorme… personalidade.
Um sorriso apareceu em seu rosto.
— Tenho quase certeza de que em algum lugar dessa
pequena palestra está o melhor elogio que já recebi. — Josh se
levantou do sofá e bateu no ombro dela com o seu. — Mas eu
não precisaria, sabe, de mulheres, para uma ideia como essa?
Não sou exatamente uma autoridade no corpo feminino.
Clara bufou.
— Obviamente. Mas você não teria que fazer isso sozinho.
— Você é voluntária?
— Eu? Ah não. Absolutamente não. — Sua visão nadou
com o simples pensamento de amarrar seu nome a um projeto
como esse. — Pense em mim como um saco de dinheiro
anônimo. Você deve conhecer alguém, uma mulher alguém,
que não se importaria de estar na frente das câmeras. — Ela
olhou para o teto. — Nua.
— Eu conheço muitas mulheres assim. Mas uma que não
seria dissuadida pela ameaça de Pruitt? Isso restringe a lista
consideravelmente. Há uma pessoa que me vem à mente, mas
isso pode tornar as coisas um pouco complicadas.
— Bem, ligue para ela. — Clara sabia que ele se referia a
Naomi Grant. Que essa ideia de negócio que ela teve
provavelmente forneceria o cenário para sua inevitável
reconciliação. Tentando ignorar o pânico subindo por seu
corpo, Clara percebeu que acabara de entregar a Josh uma
passagem de ida para fora de sua vida.
Josh aprendeu a definição da palavra estranho debaixo da
iluminação de discoteca de uma pista de boliche em West
Hollywood.
— Clara, gostaria que conhecesse Stu... ou uh... Quero
dizer, Naomi Grant. — Disse ele uma semana e meia depois,
levantando a voz sobre o som da queda de pinos ao apresentar
a sua ex-namorada à última mulher que ele tocou sexualmente.
Ele tentou ser estratégico com o local para estender sua
proposta de negócios. Nada corporativo ou exigente. O boliche
parecia inteligente porque dava a todos algo para fazer com as
mãos, mas ele não previra que a única pista disponível às duas
da tarde de um domingo, seria entre uma festa de aniversário
do ensino fundamental II e o treino da liga dos veteranos.
Clara deslocou o par de sapatos de boliche que segurava para
liberar a mão direita e estendeu-a para Stu apertar.
— Prazer em conhecê-la. Você prefere Naomi ou… Stu?
— Se você me chamar de Naomi, há uma chance melhor de
eu responder. — Sua ex olhou ao redor da pista de boliche com
uma carranca profunda.
Todos ficaram em um pequeno círculo olhando um para o
outro e segurando sapatos que não lhes pertenciam.
— Vamos? — Ele gesticulou para que as duas mulheres o
precedessem na escolha de suas bolas de boliche.
Enquanto Clara usava jeans e uma camisa branca simples de
manga curta, Naomi vestia um tipo de short de couro
ridiculamente minúsculo e uma de suas velhas camisetas do
Metallica cortada até cair em seus ombros e mostrar sua barriga.
Pelo menos externamente, as duas mulheres não tinham nada
em comum, além do fato óbvio de serem ambas lindas. Josh
lutou contra o impulso de correr.
— Da próxima vez não deixe ele escolher a atividade —
Naomi disse a Clara.
Clara baixou a cabeça.
— Anotado.
— Estou bem atrás de vocês.
Ambas as mulheres olharam para ele com as mãos plantadas
em seus quadris. Por que ele pensou que isso era uma boa ideia?
Ah, certo, porque os mendigos não podiam escolher. E,
depois de verificar com Clara várias vezes nos últimos dias se ela
ainda queria financiar esse empreendimento enquanto sóbria,
ele concordou em aceitar o dinheiro dela. Agora ele devia isso a
ela para garantir a melhor "protagonista" possível. Ninguém
mais na indústria tinha a combinação letal de talento, intelecto
e conhecimento de negócios que Naomi tinha. Infelizmente,
ela também odiava suas entranhas e queria foder com seus
miolos, tornando a negociação um tanto traiçoeira.
Depois de algumas rodadas estranhas de boliche e cervejas,
Clara deu uma cotovelada discreta em Josh.
— Pare de enrolar — ela disse baixinho enquanto Naomi
esperava que sua bola saísse da máquina. — Já examinamos o
campo centenas de vezes nos últimos dias. Pergunte a ela agora,
antes de perdermos nosso público.
— Agora? Você acha? Jogamos apenas vinte e quatro
rodadas.
Clara franziu a testa.
— Agora. Eu fico mais antiquada a cada segundo que passo
ao lado daquela mulher. — Ela puxou o contrato que um
advogado escreveu de sua bolsa e empurrou os papéis com
força contra o peito de Josh. — Estou dizendo isso não como
sua amiga, não como sua colega de quarto, mas como sua
parceira de negócios: se você não pedir a ela para olhar esses
documentos nos próximos cinco minutos — seus olhos cinzas
brilharam perigosamente — eu vou fazer você comê-los.
Josh engoliu em seco.
— Entendi.
Naomi voltou de sua vez.
— Ei, Stu, você pode se sentar por um segundo? Tem algo
que eu… Quer dizer, nós queremos discutir com você. — Ele
expôs a situação, atingindo a maioria dos pontos-chave da
proposta de projeto de Clara. Ela só estremeceu uma vez
quando ele acidentalmente disse "recurso para dar prazer às
mulheres" em vez de "recurso para o prazer das mulheres".
Quando ele terminou, ele caiu para trás em sua cadeira de
plástico rígido. Missão completa. Talvez agora eles pudessem
pedir nachos.
— Então, o que você acha?
Naomi olhou para Clara e Josh por cima da cerveja.
— Eu ouvi um milhão de propostas loucas ao longo dos
anos, mas eu tenho que admitir, esta superou todas as outras.
Você quer dar a Black Hat o dedo do meio e quer usar minha
mão, sem mencionar outras partes do corpo, para fazer isso?
Josh se inclinou para frente e apoiou os cotovelos nos
joelhos. Ele baixou a voz para que o aniversariante com o
chapéu de papel não os ouvisse.
— O conceito só funciona se houver uma mulher no
comando. Ninguém precisa de um site focado em como levar
os homens ao orgasmo. Clara diz que temos que atender às
necessidades do mercado.
Clara tomou um gole saudável de sua cerveja e a abaixou
com a mão trêmula. Ele não deveria ter implorado para que ela
viesse, mas ele não achava que conseguiria passar por isso sem
ela.
— Vamos, Stu. Não sou arrogante o suficiente para pensar
que sei tudo sobre o prazer das mulheres. Mas emprestar minha
doce voz como seu apresentador bonito? Pode funcionar.
O brilho dos olhos ardentes de Naomi teria arrancado a
tinta de um Buick.
Clara veio em seu socorro.
— Você pode contratar quem quiser. Escritoras, diretoras,
editoras, quantos cargos você precisar. Vamos deixá-las saber
sobre o risco de Pruitt, mas a beleza do plano é que não
precisamos de distribuição da Black Hat. Josh pode aproveitar
suas Darlings, e você trará seus próprios fãs para a mesa. Isso é
o suficiente de uma população de espectadores para fazer as
coisas rolarem. Mas se nosso objetivo é atrair o público
masculino também, precisamos de uma cenoura.
— Eu sou a cenoura? — Naomi deu um pequeno aceno
para o atendente de sapatos, que não tirava os olhos dela desde
que ela entrou.
— Você é mais do que uma cenoura — disse Clara. —
Separadamente, vocês são dois dos nomes mais quentes da
indústria, e a ideia de que vocês estão voltando juntos para
construir algo para as mulheres, focados em sua experiência e
satisfação, deixará as pessoas curiosas. Posso ajudá-los a obter
cobertura da imprensa. Estou aprendendo muito na firma de
relações públicas da minha tia. O anzol está pronto. Um site
focado no prazer sexual das mulheres não deveria parecer
revolucionário, mas é um pouco, você não acha?
Naomi ergueu uma sobrancelha finamente desenhada.
— Exatamente o quanto você sabe sobre dar prazer às
mulheres? — Seu tom era civilizado, mas seu subtexto era
direto: Quem é você e o que lhe dá o direito de andar em nosso
mundo?
Clara endireitou os ombros.
— Não tanto quanto eu gostaria, mas eu aprendo rápido.
Os olhos de Naomi dispararam para Josh.
— É aí que você entra, Romeu?
Josh sabia que ela pensava que ele tinha seduzido Clara para
algum tipo de névoa sexual, mas não foi esse o caso. Ela era uma
pessoa muito boa - alguém que queria usar seu dinheiro para
ajudar as pessoas. E ele a trouxe aqui e a ofereceu para uma leoa
porque ele só tinha convicção em seu potencial quando ela
estava a, no máximo, três metros dele. O suor gotejou em suas
têmporas e ele tentou se afogar na cerveja.
Naomi bateu com o pé e a sola do tênis de boliche bateu no
linóleo.
— Então é o quê, pornografia com mais beijos? Melhor
iluminação? Pétalas de rosa?
— Não é pornografia — disse Josh. — É uma educação
sexual com uma reforma. Menos clínico, mais divertido. Feito
para adultos.
Clara embarcou na sua onda.
— Vocês dois poderiam tornar isso divertido, excitante.
Vocês são especialistas em prazer. O foco principal seria a
instrução, em vez de excitação. As pessoas na tela executariam
diferentes posições e técnicas, você e Josh poderiam explicar o
que estão fazendo e por que funciona. O que funciona para
todos é diferente, então nunca ficaríamos sem material.
— Poderíamos dar conselhos e dicas para os parceiros
atuarem juntos e para as mulheres tentarem sozinhas —
acrescentou Josh, sentindo-se como o Robin do Batman de
Clara.
— Parece único — disse Naomi. — Mas não importa como
você o chame. A sociedade vê mulheres nuas e imediatamente
registra como material para bater umazinha depois.
— Mas tem um objetivo completamente diferente.
Queremos reescrever a narrativa com foco no estabelecimento
de uma intimidade saudável e orgasmos de oportunidades
iguais — disse Clara enquanto a pista ao lado deles celebrava
um spare particularmente bom, com uma rodada de gritos.
Naomi pegou sua bola e, depois de um preparo treinado,
lançou-a voando pela pista, derrubando nove pinos antes de
dizer por cima do ombro:
— Essa é uma bela visão. Delirante e arrogante, mas doce
com certeza.
— Eu deveria ter ficado em casa — Clara sussurrou para
Josh.
Mas ele não estava pronto para desistir.
— É por isso que precisamos de você, Stu. Eu sei que você
olha para a direção que a indústria está tomando e deseja poder
mudá-la, desmontar a máquina por dentro. Quantas vezes você
teve que trabalhar com um homem que fez você se sentir
nojenta?
— Josh mencionou que você teve alguns problemas com os
produtores e diretores tentando botar você para fazer coisas
que você não quer — acrescentou sua colega de quarto,
torcendo as mãos. — Esta é a sua chance de dar as cartas. Para
fazer o que quiser com quem quiser contratar. Liberdade
criativa completa.
— Vamos, Stu. Quantos de nós têm uma oportunidade
como essa?
Naomi estreitou os olhos.
— Quem está financiando este empreendimento
benevolente? Eu suponho que você não tenha recebido
recentemente uma herança.
— Essa seria eu. — Clara ergueu a mão e imediatamente a
colocou sob a coxa.
Naomi riu.
— Essa é uma reviravolta inesperada. Você seria minha
parceira criativa? Você é cheia de surpresas.
— Meu envolvimento seria exclusivamente financeiro. Se é
com isso que você está preocupada.
— É exatamente com isso que estou preocupada. — Naomi
virou-se para Josh. — Eu farei isso, mas apenas se Connecticut
aqui estiver envolvida no desenvolvimento, seleção de elenco,
edição, todo o processo.
O rosto de Clara ficou sem cor.
— Por que você quer que eu me envolva?
— Esse é um risco enorme. Não importa o que vocês dois
digam a si mesmos. Estou tratando isso como uma decisão de
negócios. Uma importante. Se chegarmos apenas às pessoas
que já assistem pornografia, é muito setorizado. Você é o
público-alvo. O tipo de mulher que vai assistir a essas coisas, se
beneficiar com isso, se tivermos sucesso, certo? Eu preciso de
você como um exemplo para o que a mulher americana média
quer saber e o que é ir longe demais. Além disso, se você tem
mais pele no jogo, é menos provável que se acovarde e retire o
financiamento.
— Só me sinto confortável com a nudez em obras de arte
renascentistas e, mesmo assim, às vezes fico superaquecida.
Naomi deu um sorriso genuíno, o que mudou quase todo o
seu rosto. Do gelo ao inferno.
— Essa é minha oferta final, Connecticut.
Josh agarrou o cotovelo de Clara.
— Você não tem que fazer isso. É muito. Você já tem um
emprego de tempo integral. Encontraremos outra pessoa.
— Não há mais ninguém — disse Clara entre dentes. —
Não gosto dela. — Ela enxugou as palmas das mãos na calça
jeans e estendeu a mão para Naomi apertar. — Você tem um
acordo, mas estou avisando agora que posso precisar de um sofá
para desmaiar.
Clara nunca tinha visto tantas pessoas de topless fora do sul da
França. Levou duas semanas para registrar seu novo negócio,
obter um número de identificação de empregador federal, abrir
uma conta bancária empresarial e obter todas as licenças e
autorizações exigidas pela lei da Califórnia, mas eles finalmente
estavam prontos para começar a recrutar artistas para seu
projeto ainda sem título.
Mais duas semanas mentindo para a mãe sobre passar “todo
o seu tempo livre” visitando museus de arte e aprimorando seu
grego antigo. Sempre que Lily queria usar o Skype, Clara dizia
que o Wi-Fi estava irregular e que Everett estava trabalhando
para consertá-lo. Ela provavelmente pegaria uma úlcera no
estômago por causa de todas as mentiras, mas não conseguia
parar.
Josh, Clara e Naomi alugaram um pequeno estúdio em
Burbank para realizar audições. Claro, Naomi apareceu
parecendo muito mais chique do que qualquer um tinha
direito. Esse é o tipo de mulher que Josh procura. Toda pernas e
cabelos e clavícula afiada o suficiente para arrancar um olho.
Todo e qualquer pensamento dele tocando Clara
novamente precisava cessar. Ela nunca seria como Naomi.
Nunca exalaria apelo sexual ou atrairia um homem com apenas
algumas palavras. Josh ia pra cama com mulherões, não leitoras
de livros.
Ele e Naomi haviam providenciado a logística de
recrutamento enquanto Clara trabalhava em seu emprego
diário para Jill. Fiel à sua palavra, ela ainda revisava tudo. O
improvável trio fazia ligações diárias à noite.
Hoje eles estariam vendo uma mistura de artistas adultos
experientes e um punhado de estudantes recrutados do
programa de psicologia de Naomi na Cal State. Além de ser
incrivelmente gostosa, Naomi também era um gênio
estudando para seu mestrado em psicologia social e dinâmica
familiar. Clara se certificou de que todos assinassem um acordo
de confidencialidade rígido na entrada.
Eles queriam montar um leque de origens e tipos de corpo,
e precisavam de pessoas que se sentissem confortáveis na frente
da câmera, bem como com o risco, e que acreditassem na
missão do projeto.
Clara estava perto do bebedouro no corredor, enchendo sua
garrafa reutilizável, quando Naomi saiu cambaleando da sala de
seleção.
— Até agora tudo bem, Connecticut, mas hoje a verdadeira
diversão começa. Você está nervosa?
Clara pensou em mentir, mas decidiu que, como os animais,
Naomi provavelmente podia sentir o cheiro do medo.
— Sim.
— Está tudo bem. — Naomi ajustou as alças de sua regata.
— Contanto que seus nervos não a impeçam de fazer seu
trabalho.
— Me lembra do meu trabalho de novo?
— Indicador para o aceitável.
— Certo. — Os olhos de Clara dispararam pelo corredor.
— Há muito mais pessoas aqui do que eu esperava.
— Ei. — A voz de Naomi relaxou do granito ao xisto. —
Você consegue fazer isso.
O voto de confiança foi surpreendente, mas agradável.
Clara sorriu.
— Obrigada.
— Mas se você não conseguir, prefiro descobrir agora.
Seu sorriso morreu.
— Isso foi menos reconfortante.
Naomi encolheu os ombros e foi embora.
— Hum…. Acho que sua garrafa pode estar cheia — disse a
voz de um homem atrás de Clara.
Ela se virou para encontrar um belo estranho gesticulando
para sua garrafa de água transbordando. Ele tinha um maxilar
semelhante ao de Josh, na verdade, embora este homem não
fosse tão forte e não tivesse a barba dourada que Clara passou a
apreciar em seu colega de quarto.
— Desculpe. — Ela saiu do caminho dele.
— Sem problemas. — O homem mostrou uma série de
dentes muito brancos e retos para ela. — Você está aqui para as
audições?
— Não. Quer dizer, sim. — Clara abaixou as mangas de seu
blazer favorito. — Eu faço parte da equipe de seleção. Eu não
sou, tipo, uma artista.
— Isso faz sentido. Eu me lembraria de uma garota como
você. — Ele estendeu a mão bronzeada. — Eu sou Matt.
Masterson. Eu conheço Josh e Naomi das filmagens do Infinity
Orgasm.
— Oh. — Ela riu nervosamente. — Entendi.
— Você assistiu?
— Não. — Ela deu um passo cuidadoso para trás. — Não,
infelizmente sou um pouco novata em pornografia.
— Bem, se você quiser alguma recomendação ou… — Ele se
inclinou na direção dela até que ela pudesse sentir o cheiro de
hortelã de seu hálito. — …uma demonstração prática, ficarei
feliz em ajudá-la. — Ele mostrou seus dentes gigantes e
brilhantes para ela novamente. Esse cara deve usar fio dental
umas dez vezes por dia.
Clara tentou não gaguejar.
— É uma oferta muito generosa, Matt.
— Desista, Masterson.
Ela não tinha ouvido Josh vir atrás dela.
— Oh. Oi.
— Apenas sendo amigável, Darling. — Matt não era tão alto
quanto Josh. Ele teve que inclinar ligeiramente a cabeça para
olhá-lo nos olhos.
— Direcione sua simpatia para outro lugar. Estamos
atrasados. — Josh pousou a mão levemente nas costas de Clara,
alguns centímetros abaixo de onde terminavam suas
omoplatas, e gentilmente a guiou em direção a sala de
conferência. — Precisamos ir. — Ele usou um tom muito mais
leve com ela do que com Matt.
Clara se inclinou para sussurrar para ele enquanto
caminhavam.
— O que você acha desse cara? Devemos escalá-lo? Ele
certamente parecia… higiênico. — O cheiro picante do
sabonete de Josh tomou conta dela e ela inalou superfluamente.
Josh puxou a cadeira dela e depois a dele.
— Acho que as mulheres gostam dele — disse ele em sílabas
cortadas.
Clara olhou para seu caderno. Na lista de verificação que ela
fez na noite anterior em um esforço para criar um sistema de
classificação objetivo para artistas em potencial.
— Você não acha que ele estava flertando comigo, acha?
— É claro que ele estava flertando com você. — Josh estava
com a ponta da caneta na boca, deixando uma leve impressão
de seus dentes no plástico.
Clara se viu sorrindo para seu caderno.
— Mesmo? Acho que poderia ter gostado. — Era difícil
dizer. Ela não tinha muita prática em receber atenção
masculina.
— Matt não é o cara para você, confie em mim.
— Por que não?
— Porque você deveria estar com um médico ou um
bombeiro… — Josh suspirou. — …ou pelo menos um professor
de jardim de infância.
— Oh, entendi. — Seus ombros caíram.
A boca de Josh baixou.
— Entendeu o que?
— Eu não sou… sexy o suficiente. — Seu estômago se
apertou. Matt provavelmente só ativou o charme porque
pensou que ela poderia ajudá-lo a conseguir um papel.
Josh deixou cair sua caneta.
— Que diabos você está falando?
— Eu sei que uso muitos cardigans. E eu não consigo,
mesmo que minha vida dependa disso, descobrir como usar um
modelador de cachos. — Ela baixou a voz. — Até meus lindos
sutiãs são de cores neutras.
Josh fechou os olhos e baixou a testa em sua mão.
— Não é isso que estou dizendo.
— Está tudo bem. — Ela engoliu seu desconforto. — Você
não tem que ser educado. Tem sido assim durante toda a minha
vida.
Everett nunca teria se afastado de Naomi.
— Clara — Josh colocou a mão onde ela começou a
ansiosamente girar os polegares em seu colo.
— Vocês dois estão prontos? — Naomi ocupou o último
lugar atrás da mesa de jogo e Josh se abaixou para pegar a caneta,
levando a mão com ele. — Temos uma fila no corredor.
— Sim. Estamos prontos. — Clara se encolheu o máximo
possível. Pernas, ombros, pescoço. A opinião de Josh sobre sua
capacidade de aquecer o sangue de um homem não a
surpreendeu tanto quanto confirmou sua sombria
autoavaliação. Ela não pertencia aqui, entre todas as pessoas
bonitas e sexualmente avançadas.
— Número um, por favor. — A voz de Naomi ressoou com
autoridade.
Uma morena corpulenta com uma manga de tatuagens e
um piercing no nariz entrou.
— Marissa Martinez — disse ela.
— Oi, Marissa. Antes de começarmos, você assinou os
formulários de autorização, o questionário do artista e o termo
de sigilo?
Clara ficou grata por Naomi ter assumido a liderança nessa
parte do processo. Ela falaria com mil advogados, notários e
banqueiros, se não tivesse que descobrir como você determina
se alguém tem o que é preciso, para atuar em um recurso de
educação sexual.
— Sim. — Marissa entregou uma pilha de papéis. — Aqui
está.
Naomi examinou os formulários.
— Vejo aqui que você afirmou que está confortável com
nudez total, atos sexuais sozinha ou com um a três parceiros.
Homens e mulheres. Excelente.
— E você leu os documentos sobre o risco da Black Hat? —
Josh, especialmente, insistiu que eles se certificassem de que
todas as pessoas que pudessem se envolver tivessem pleno
conhecimento do risco.
— Eu li. Não estou surpresa, honestamente. Eu tenho
amigos que ficaram do lado errado do estúdio antes. Eles
receberam as ameaças da lista proibida e coisas piores.
— Pior? — Clara murmurou para Josh, seu pânico
aumentando.
Ele estremeceu antes de voltar sua atenção para a audição.
— Estou feliz que alguém esteja enfrentando esses idiotas.
— Marissa desdobrou um novo pedaço de papel do bolso de
seu short. — Eu realmente gosto do manifesto da empresa que
você forneceu.
Os ouvidos de Clara se animaram. Ela havia escrito essa
parte, sua única contribuição para essa parte do processo. Para
ajudar no recrutamento de pessoas com ideias semelhantes.
Foram alguns parágrafos sobre o ímpeto da ideia, uma visão de
como o recurso ajudaria as mulheres e seus parceiros e um
compromisso da empresa em respeitar todos os envolvidos.
Naomi empurrou um arquivo pela mesa.
— Clara, por que você não lê os requisitos do teste? — Clara
se mexeu na cadeira.
— Eu?
Josh deu a ela um aceno encorajador.
— Uh… Tudo bem. — Ela pegou a folha. — Primeiro, por
favor, tire suas roupas. — Seu estômago revirou, mas Marissa
sorriu, tirando o short antes que Clara terminasse a frase. Um
blazer foi a escolha errada para esta ocasião.
Uma vez que ela estava totalmente nua, Naomi e Josh
fizeram algumas anotações. Clara escreveu a palavra nua em
letra cursiva em seu próprio bloco para não parecer
completamente antiprofissional.
— Pronta para seguir em frente? — Naomi usou uma voz
mais gentil com Marissa do que ela jamais havia usado com
Clara ou Josh. — Sabemos que esse processo pode ficar
complicado. Como um lembrete, você pode parar a qualquer
momento.
Marisa riu.
— Eu aprecio isso, mas já fiz isso um milhão de vezes. Além
disso, meu corpo arrasa.
— O quarto está quente o suficiente? — Josh insistiu que
eles ajustassem a temperatura da sala para uma temperatura
agradável de vinte e cinco graus.
— Oh sim. Isso é muito melhor do que as chamadas de
elenco normais de caixa de gelo.
— Nós estivemos no seu lugar. Estamos tentando tornar o
processo o mais confortável possível. Clara, acho que podemos
passar para a próxima parte.
— Claro, com certeza. — Seu aperto fez o papel enrolar. —
Por favor, sinta-se confortável e…
Bom Deus.
Josh tocou seu antebraço.
— Você está bem?
Clara forçou as palavras sobre o zumbido em seus ouvidos.
— …e leve-se ao orgasmo. O lubrificante foi fornecido. Você
pode usar qualquer tipo de material de leitura ou visualização
para ajudá-la a entrar no clima.
— Sem problemas. — Marissa reclinou-se na
espreguiçadeira confortável que Naomi trouxera, cobriu com
um lençol limpo e começou a estimular os seios.
— Oh céus. — Clara automaticamente ergueu os olhos para
o teto.
Naomi pigarreou.
— Você se importaria de amplificar suas reações? Queremos
ter certeza de que todos estão realmente confortáveis ao
expressar seu prazer.
Clara se obrigou a fazer contato visual com a artista quando
Marissa fez um sinal de positivo com a mão que não estava
entre suas coxas.
Ela nunca tinha visto nada tão explícito antes na vida real.
Embora Marissa parecesse estar se divertindo, Clara não
conseguia parar de suar.
— O que você acha, Clara? — O rosto de Naomi não
parecia ameaçador, mas Clara conhecia um teste quando via
um. — Você gostaria que Marissa experimentasse alguma
técnica em particular?
— Não, eu acho que isso é ok. Bom, quero dizer.
Naomi acenou com a cabeça.
— Marissa, fique à vontade para improvisar com conversa
suja, se quiser.
A atriz soltou uma série de frases que fizeram o rosto de
Clara passar de quente a escaldante.
— Por favor, me dê licença um momento. — Clara se
afastou da mesa e correu para o corredor, seguindo a direção
frenética de seus pés até que pudesse puxar ar fresco para os
pulmões.
Ela fechou os olhos. Tentou imaginar jardins zen ou
qualquer um dos mantras de meditação das aulas de ioga de
quarenta e cinco dólares que fizera em Manhattan. Ela não
poderia fazer isso. A prova estava em suas mãos trêmulas. Ela
estava brincando consigo mesma. Brincando com todos eles.
— Clara? — Josh saiu correndo pelas portas. — Você está
bem?
Ela empurrou as pernas bambas para um banco ao lado da
entrada do prédio.
— Eu sinto muito. Eu pensei que poderia lidar com isso.
Achei que poderia ficar calma, tranquila e serena, mas
obviamente não consigo.
Josh se sentou ao lado dela e afastou o cabelo de seu pescoço
suado enquanto ela tentava regular a respiração.
— Não. Eu sinto muito. — Seus olhos traçaram seu rosto e
ele correu o polegar para cima e para baixo ao lado de seu
pescoço suavemente. — Isso é tudo minha culpa.
Seu toque funcionou como um bálsamo, acalmando Clara
física e mentalmente.
— Do que você está falando? Pedi para você fazer um site
com pessoas nuas e fiquei com os joelhos fracos no primeiro
dia.
— Há uma grande diferença entre a nudez teórica e a
verdadeira. Eu sabia. Você não. Eu vi você corar no momento
em que percebeu que teríamos que compartilhar um banheiro.
Ela conseguiu dar um sorriso fraco com a memória.
— Agora estamos tentando construir este site e é um grande
salto para você. — Ele colocou o cabelo dela atrás da orelha,
acariciando-a de uma forma que a fez querer se tocar apesar de
sua humilhação. — Não é à toa que o processo está
transformando seu rosto em um tomate queimado.
Bem, essa é uma imagem pouco lisonjeira.
— Eu deveria ter me preparado mais. Deveria ter, não sei,
lido muito a revista National Geographic.
Os olhos de Josh se enrugaram. Ele estava tentando não rir
dela.
— Marissa não estava fazendo nada de errado ou
vergonhoso lá. — Clara apontou com o queixo para o prédio.
— Eu ainda sou uma puritana.
Josh juntou as mãos.
— Isso não é uma coisa tão ruim, você sabe.
Clara riu, do tipo amargo que machuca.
— Certo.
— Estou falando sério. É doce e talvez até… sexy, na verdade.
Clara zombou.
— Não me bajule. Minha falta de calma não é sexy. Marissa
e Naomi, mulheres que confiam em seus corpos, são sexy. Eu
sou um filme pra maiores de 12 anos sobre um coelho de
desenho animado.
Josh se levantou e pegou a mão dela, entrelaçando os dedos
deles e ajudando-a a se levantar. Ele usou as mãos unidas para
inclinar a cabeça dela até que ela estivesse olhando para ele.
— Não. Você não é mesmo. Você sabe quantos
pensamentos sujos eu tive sobre seu macacão?
Ela torceu o nariz.
— Você está brincando. — Algo quente dentro dela
floresceu até que ela percebeu que ele disse seu macacão, não
você. Ele provavelmente os imaginou no corpo flexível de
Naomi.
Josh passou a mão livre pelo cabelo, fazendo os fios ficarem
em pé.
— Eu não estou. Infelizmente. Você é como uma mina de
ouro inexplorada. Esperando por algum cara… ou mulher… vir
e descobrir você. Para descobrir todas as suas camadas ocultas,
revelar as profundezas da depravação que sei que existem em
algum lugar. — Ele usou as mãos unidas para dar um tapinha
no queixo dela. — Você é um desafio.
Clara olhou para onde seus pés apontavam um para o outro.
A ideia ridícula de inclinar seus quadris em direção aos de Josh,
para fechar os escassos centímetros entre seus corpos, subiu à
frente de seu cérebro, mas ela a afastou. Ele podia brincar sobre
desejá-la porque ele brincava sobre querer todo mundo.
Quanto mais cedo ela parasse de devorar as migalhas de sua
atenção, melhor. Ainda assim, sua garganta ficou seca e ela
desejou não ter deixado sua garrafa de água lá dentro. Clara
lambeu os lábios.
— Você acha que algum dia alguém vai aceitar esse desafio?
Josh puxou o lábio inferior carnudo entre os dentes e fechou
os olhos.
— Com certeza. — Seus olhos se abriram. — Quero dizer,
teoricamente. Provavelmente alguém com uma vasta coleção
de mocassins e clipes de dinheiro.
Certo. Alguém o oposto dele. Nesse ritmo, Josh tentaria
juntá-la com seu oftalmologista na próxima semana.
— Mas escute, se você não quiser fazer isso. — Sua voz ficou
séria. — Vou entrar lá agora e cancelar tudo. — Apesar de seus
comentários despreocupados de alguns momentos atrás, os
olhos de Josh agora tinham uma tremenda gravidade. Ele roçou
os nós dos dedos com o polegar. Ele era um bom homem. Um
bom amigo, ela lembrou a si mesma.
— Não. Estou bem. A mente sobre a matéria, certo? —
Clara era adulta. Ela poderia lidar com alguma nudez. Um
punhado de orgasmos. Esse era o objetivo desse esquema
maluco, certo? Que, se você superasse o desconforto do estigma
social, aprenderia algo que tornaria sua vida exponencialmente
melhor. Inferno, talvez quando Everett voltasse de sua turnê ela
tivesse uma lista inteira de novos movimentos em seu
repertório. Ela explodiria sua mente.
Os ombros de Josh relaxaram visivelmente, embora o calor
não tivesse sumido totalmente de seus olhos.
— Exatamente. Olha, fica mais fácil. Você se acostuma com
isso. Todo o desconforto meio que desaparece depois de alguns
dias. Você percebe que somos todos humanos. Todos nós
temos corpos e terminações nervosas. Atração e orgasmos —
Seu olhar deslizou para a garganta dela e ele engoliu em seco. —
São apenas uma resposta biológica.
— Certo. — Ela tirou um fio do ombro dele e deixou sua
mão se demorar ali. — É ciência.
Os músculos de Josh flexionaram sob os dedos dela.
— Ajudaria eu começar a andar pelo apartamento nu como
uma tática de dessensibilização?
— Bem, não, acho que isso pode me matar.
— Bem, se você mudar de ideia, você sabe onde me
encontrar.
Clara revirou os olhos.
— Eu vou ficar bem.
— Bem. — Josh estreitou os olhos como se quisesse dizer
mais, como se estivesse procurando por uma pista em algum
lugar do rosto dela.
Clara abriu a porta do estúdio.
— Vou para casa assistir a uma tonelada de pornografia.
A forma como a boca de Josh caiu no chão fez toda a
provação embaraçosa valer a pena. Ela bateu o pé.
— Você vem?
— Quer dizer, vou tentar não. — Josh murmurou.6

6
No inglês, “you coming?” pode ser “você vem?” mas também “você está
gozando?”. Clara pergunta se ele vai se juntar a ela, mas ele responde que vai tentar
não gozar.
Josh não ficou surpreso por Clara nunca ter visitado uma sex
shop antes. Ela entrou na loja com olhos gigantescos, como se
tivesse entrado em algum tipo de globo de neve erótico no meio
do Vale.
— Está tão quieto — ela sussurrou antes de vagar pelo
primeiro corredor.
Josh pegou um carrinho na frente da loja e a seguiu.
— O que você estava esperando? Uma trilha sonora de
gemidos agudos? — Eles tinham muitas compras a fazer para o
projeto e uma quantidade limitada de tempo para realizá-las.
— Parece muito limpo.
A qualquer minuto ela puxaria uma lupa.
A loja tinha paredes brancas e pisos de madeira com placas
escritas à mão marcando cada seção. Como a maioria das
butiques abertas nos últimos cinco anos em Los Angeles,
parecia um café artesanal. Exceto em vez de café com leite, o
quadro-negro atrás do balcão listava sabores de lubrificante
orgânico.
— Você baseou todas as suas suposições para esta
experiência em um filme dos anos 70?
Josh tentou desesperadamente evitar que Clara o
acompanhasse nesta parte da viagem. Ele teria ido enquanto ela
estava escondida em segurança em seu trabalho diurno, mas a
gerente da loja que prometeu um desconto nos brinquedos
sexuais só trabalhava nos fins de semana.
Apesar de sua melhor tentativa de pegar as chaves
sutilmente esta manhã, enquanto Clara relaxava no sofá, o
barulho do metal funcionou como um sino de vaca e ela veio
correndo, desesperada por mais prática de direção. Ela já o
havia enganado para conceder-lhe quatro viagens ao volante de
seu carro esta semana. Depois que ele a pegou no trabalho, eles
passaram as noites percorrendo muitos bairros de L.A.,
parando para jantar em restaurantes de Koreatown a Pasadena.
É certo que a prática parecia fazer a diferença. Sua direção havia
melhorado muito desde a primeira viagem fatídica. Ela agora
poderia se mesclar com hiperventilação mínima.
Josh não tinha descoberto uma maneira de dizer não para
seus olhos de corça em quase dois meses morando com ela.
Então, agora, ele teria que passar a próxima hora reprimindo
uma ereção enquanto Clara examinava cuidadosamente
objetos e implementos destinados a inspirar devassidão. Ele não
precisava de estímulos explícitos para ficar duro. Nos dias de
hoje, até ver Clara escovar os dentes fazia todo o sangue correr
para sua virilha.
— Precisamos disso? — Ela entregou a ele um par de
algemas.
Josh ignorou a forma como seu pau pulou com a excitação
descarada em seu tom.
— Cinquenta dólares? Por plástico? Sem chance. Eu
poderia quebrar aquelas coisas frágeis enquanto durmo.
A respiração de Clara engatou.
— Você poderia?
Josh acenou com a cabeça, imaginando se libertar da
engenhoca ridícula para rastejar por seu corpo nu.
— Bom saber. — Ela cuidadosamente colocou a mercadoria
de volta na prateleira. — Eu disse para você não se preocupar
tanto com o orçamento. Temos muito dinheiro na conta.
— Não é pelo dinheiro. — Disse ele, embora ele tivesse
passado quase uma hora na noite passada procurando ofertas
de preservativos a granel online. — Eu quero que tudo seja
perfeito.
Ele jogou algumas vendas de cetim no carrinho e mordeu o
interior da bochecha. Ele daria tudo para saber o que Clara
fantasiava. Se algum desses acessórios aparecia em seus sonhos.
Se ele aparecia.
Ele estava deitado na cama ontem à noite com a mão em
volta de seu pênis, imaginando-a se tocando sob aquela
calcinha de algodão ridícula, fingindo que o queria do jeito que
ele a queria. Desesperada, necessitada, tão faminta por ele que
ela teve que abafar seus gemidos com as costas da mão. Se seu
cérebro trabalhasse com a metade de seu pau, ele poderia ter
algo para mostrar. Josh não queria contar a Clara que, além das
bolas azuis, ele tinha um grande caso de bloqueio de escritor.
Todo o projeto dependia de sua habilidade de elaborar o
próximo Kama Sutra, e ele não conseguia se livrar dos nervos
que ameaçavam comer seus intestinos. Assim que terminassem
essa tarefa, ele não teria mais nada a fazer a não ser colocar a
caneta no papel. Uma perspectiva verdadeiramente
assustadora.
— Eu estou com medo. — As palavras saíram dele como
uma torneira pingando.
Clara baixou a caixa de plugues anal que estava estudando
com a testa franzida e olhou em volta.
— De que?
Josh respirou fundo.
— De estragar tudo. Eu sempre apenas apareci e apontei
meu pau para onde alguém me mandasse apontar. Agora, se eu
falhar, há muito mais em jogo. Quando ninguém esperava nada
de mim, eu não podia decepcionar ninguém. — Ele beliscou a
ponta do nariz. Exceto pela minha família, mas essa é uma
história diferente.
— Ei. — Clara lhe entregou uma caneca que dizia Foda-se a
dor. — Tenho fé absoluta em você.
Ele relaxou enquanto a observava tentando não rir. Pelo
menos uma pessoa achou todo esse processo divertido.
Ela pegou um vibrador de trinta centímetros.
— Você pode imaginar usar algo assim?
Josh cobriu os dentes com os lábios e ergueu uma
sobrancelha.
— Certo. — Suas bochechas coraram e ela cuidadosamente
recolocou a caixa na prateleira. — Claro que você pode.
Ela apontou para o próximo item que chamou sua atenção,
um conjunto de bolas Ben Wa de aço inoxidável.
— São como bolas de uísque?
Josh se sentia como seu Sherpa sexual. O problema era que
ele preferia dar uma demonstração prática. Não pense em
preparar sua doce buceta com sua mão. Não pense em seu suspiro
ofegante enquanto você desliza o metal frio dentro de seu corpo
quente e apertado. Não… Ele ergueu as paredes mentais.
Tentando penetrar em seu cérebro sequestrado por
hormônios, ele pegou um conjunto à esquerda de sua seleção e
colocou-o cuidadosamente no carrinho.
— Elas vão dentro de você, na verdade. Para fortalecer o
assoalho pélvico. Mas você também pode usá-las para a prática
de edging.
— O que é edging? — Suas palavras pingavam de
curiosidade.
Ele engoliu em seco, tentando se manter na linha.
— É quando seu corpo é mantido próximo ao orgasmo, mas
a liberação é adiada… ou proibida.
Quando ela falou, suas palavras saíram mais roucas do que
o normal.
— Por que você escolheu esse conjunto?
Josh se inclinou em direção a ela até que ele pudesse respirar
o cheiro de seu perfume. Ele fechou os olhos por um momento,
tentando se recompor.
— Elas… Uh… vem com um controle remoto.
De alguma forma, eles se moveram até que seus narizes
quase se tocassem. Com apenas um movimento de sua cabeça,
ele poderia capturar seus lábios. Cada subida e descida
exagerada de seu peito quebrou outro fio de seu controle débil.
Ele desviou os olhos dos dela e examinou a lista de compras
presa em seu punho.
— Terminamos neste corredor.
Quando Clara desapareceu no corredor, ele ajustou
cuidadosamente o jeans.
Poucos minutos depois, ela parou na frente de uma fileira
de embalagens por tanto tempo que Josh abandonou sua busca
por anéis penianos para ver o que havia cativado sua atenção.
Os itens em questão eram um conjunto de chicotes com
Naomi posando na embalagem com um corpete de couro e
batom vermelho de aparência venenosa. Ele tinha esquecido
que ela tinha sua própria linha.
— Não sabia que Naomi tinha tantos produtos — disse
Clara, tensionando os ombros. — Você fez algum progresso em
seus planos para se reconciliar com ela?
— Eu não pensava nisso há um tempo. — Um balde de água
gelada encharcou sua excitação. — Nós dois estivemos tão
ocupados. — Ele supôs neste ponto que ainda era sua situação
de vida futura mais provável. Ele sempre se esquecia que sua
casa atual tinha uma data de validade. Que mais cedo ou mais
tarde Everett voltaria e o expulsaria.
— Você teve notícias de Everett ultimamente? — Ela não
mencionou nada, mas isso não significa que eles não estavam
ligando e trocando mensagens de texto fora do alcance de sua
voz.
— Recebi pelo correio alguns cartões-postais e um porta-
cerveja promocional com o nome da banda. — Ela balançou a
cabeça. — Não sei por quanto tempo mais poderei inventar
desculpas por ele quando minha mãe ligar. — Clara girou um
conjunto de grampos de mamilo de aparência agressiva para
que a caixa ficasse voltada para o lado oposto dela.
— Qual é o problema com sua mãe? Não sabia que evitar
alguém que mora do outro lado do país poderia ser tão difícil.
Clara parou na frente de uma prateleira de revistas e franziu
a testa.
— Ela quer que eu seja como ela. Eu deveria encontrar um
homem respeitável de uma boa família e me estabelecer. Ter
alguns bebês e, em seguida, gerir a instituição de caridade de
minha escolha.
— Parece chato. — Josh estremeceu. — Quero dizer, a
menos que seja o que você quer.
— Eu acho que parte do meu problema é que eu passei tanto
tempo tentando agradá-la e ao meu pai, e eu nunca dei muita
atenção ao que eu queria. E agora…
Josh encontrou um pouco de esperança nessas duas últimas
palavras.
— Agora?
— Não importa. — Clara alisou a saia. — Se meus pais
descobrissem a verdade, sobre meu trabalho com Jill ou… te
conhecessem. Meu Deus. Eles morreriam.
Lava nadou em seu estômago.
— É impossível confraternizar com estrelas pornô, então?
— Ele não deveria estar surpreso. Soube desde o segundo em
que ela chegou que ela nunca o consideraria outra coisa senão
um pit stop no caminho para as coisas que ela realmente queria.
— Exatamente. Wheatons são muito sensíveis à ótica.
Minha mãe não queria que eu namorasse um assistente jurídico
durante a graduação porque ele andava de skate. Eu deveria ser
sua graça salvadora - aquela com quem ela não precisa se
preocupar com envergonhá-la.
Josh apertou a mandíbula. De vez em quando ele se deixava
esquecer de onde Clara vinha. Agora mesmo, essa ignorância
intencional parecia fatal.
— E ela gosta da ideia de você e Everett?
Clara se inclinou e reorganizou os itens no carrinho das
posições aleatórias que ele havia dado a eles.
— Ela gosta da família dele. Gosta que ela saiba de onde ele
veio e como ele cresceu. Tenho certeza de que ela e a Sra. Bloom
escolheram nossa porcelana de casamento quando estávamos
na oitava série. — Sua voz ficou mais aguda. — Ninguém
parece se importar que Everett e eu nunca tenhamos nos
beijado.
Uma satisfação perversa se espalhou por seu peito. Mesmo
que Everett Bloom tivesse que se casar com ela algum dia, Josh
sempre seria o primeiro homem a fazê-la gozar. Mas se Clara
tinha a versão de Greenwich de um casamento arranjado, o que
diabos Everett estava esperando? Josh dificilmente poderia
passar mais de quinze minutos com ela sem querer comê-la até
torcer o maxilar.
— Sinto muito, como é possível que você tenha uma
quedinha por aquele cara desde que era adolescente, mas de
alguma forma vocês nunca se beijaram?
— Às vezes, a antecipação de um beijo é melhor do que a
experiência real de qualquer maneira. — Josh observou o jeito
que ela passou a bainha do vestido entre os dedos, expondo
mais um centímetro de sua coxa pálida.
Se ela acreditava nisso, claramente ela precisava de mais
prática.
— Tenho certeza de que beijar fisicamente é melhor.
— Isso é porque você está acostumado à gratificação
instantânea. — Clara deu a ele um sorriso de gato Cheshire
enquanto caminhava à frente dele, deixando Josh ofegante em
seus calcanhares. — Metade do prazer em beijar é a expectativa.
A obsessão pela boca da outra pessoa. Pensar no formato de
seus lábios e no gosto de sua língua. Imaginar as mãos dele em
seu cabelo. Ou a maneira como ele vai te abraçar. — Ela parou
e se virou para ele. — Você pode passar uma noite inteira se
perguntando se ele vai puxar você inesperadamente e capturar
sua respiração no meio de uma frase. Ou inclinar-se tão
lentamente uma manhã que o desejo enrolará os dedos dos pés
e chamuscará as pontas dos dedos.
Josh cravou as unhas na palma da mão, com força suficiente
para deixar marcas. Seu corpo não se importava que ela estivesse
descrevendo o anseio por outro homem. Ele não teve
problemas para fingir que todos os ele em suas frases poderiam
ser substituídos com seu nome.
— Ele tem gosto de canela ou uísque? — Clara
distraidamente traçou o lábio inferior com a ponta do dedo
indicador enquanto sustentava o olhar dele. — Você imagina,
mais e mais, em mil interpretações, como ele vai te empurrar
contra a parede e pressionar todo o seu corpo contra o seu, até
que você esteja tremendo com o quanto você quer que ele te
leve.
Seus olhos dispararam para o tijolo exposto atrás dela. Ele
não teria problemas para levá-la até que a pedra áspera
pressionasse contra seu corpo macio antes de deixar cair a boca
em seu pescoço enquanto suas mãos empurravam aquela
bainha de algodão frágil até sua cintura.
Os olhos de Clara ficaram líquidos quando encontraram
seus lábios.
— Ou talvez ele não vá. Talvez ele mal roce a boca na sua.
Faça você abaixar o queixo e implorar.
Josh deixou escapar um som, preso entre um gemido e um
lamento.
O barulho pareceu tirar Clara de seu estupor.
— Você está bem?
— Sim. — A palavra saiu no tom errado. Ele tentou
novamente. — Sim. Eu estava pensando, talvez você devesse
escrever para o site.
— Eu? Mesmo?
Ele se concentrou em manter os olhos acima das narinas
dela.
— Você é boa em canalizar suas emoções. Tudo isso de
pensar em sexo, mas não fazer nada está fritando meu cérebro.
— Seu pênis pressionou com raiva contra o zíper. Ela estava
certa. O corpo de Josh não entendia o conceito de querer e não
ter. De constante exposição ao objeto de seu desejo com zero
esperança de cruzar a linha de chegada.
— Eu sei o que você quer dizer. Tudo isso sobre pensar em
pessoas sensuais fazendo coisas sexuais com brinquedos
sexuais. — Ela se abanou com a mão. — Eu nunca disse tanto
a palavra sexual na minha vida. Eu me sinto exausta.
— Eu não sei o que fazer. — Ele não podia fazer nenhuma
das coisas que ele queria. Todas elas envolviam diferentes partes
do corpo de Clara. O suor gotejou em sua testa enquanto
observava os olhos dela ficarem com as pálpebras pesadas.
Levou tudo que ele tinha para não cair de joelhos e implorar
para ela acabar com sua miséria.
— É como ter uma coceira que você mal consegue coçar —
a língua rosa dela traçou seu lábio inferior rosado.
Seu queixo caiu.
— Sim. — Deus, até a voz dela estava começando a fazer isso
por ele. Seria possível que ela estivesse tão excitada quanto ele?
— Bem, suponho que você deve canalizar toda essa energia
em uma direção produtiva. — Clara respirou apressadamente.
Ele esperava que "uma direção produtiva" fosse um código
para entre suas coxas.
Ela balançou a cabeça como se quisesse clareá-la.
— Você já tentou escrever um diário?
A cabeça de Josh virou para trás e ele piscou estupidamente.
— Desculpa, o que? Parecia que você tinha dito diário.
— Eu disse. Você deveria usar toda a sua energia erótica
como combustível para as cenas da próxima semana.
— Oh. Sim. Esse é o plano. — Só porque ele nunca tentou
produzir algo acadêmico com seu desejo sexual antes, não
significava que ele iria falhar. O fato de nunca ter escrito nada
além de um e-mail não era um mau sinal. Ele pegaria toda a sua
luxúria reprimida, todos esses desejos inesgotáveis e ele iria…
empacotá-los. Torná-los organizados e úteis, em vez de
confusos e enlouquecedores.
Quando finalmente chegaram ao caixa, Clara colocou as
compras em filas organizadas para a gerente.
A mulher alta com um moicano rosa totalizou todos,
incluindo o desconto prometido de trinta por cento, e
entregou um número impressionante de sacolas.
— Desculpa perguntar, tudo isso é para negócios ou lazer?
Clara corou.
— Eu acho que você poderia dizer que nosso negócio é
prazer.
Assim que chegassem em casa, Josh iria se trancar em seu
quarto e escrever no diário até que sua mão caísse.
Clara intencionalmente colocou a roupa de dormir menos sexy
que possuía em um esforço para sufocar o inferno de sua libido.
Embora ela normalmente usasse conjuntos de dormir
confortáveis, em vez de sedutores, esta noite ela tinha ido tão
longe a ponto de usar um par de pijamas masculinos
extragrandes que ela havia encomendado por acidente no
último Natal. Ela parecia ridícula, como se o fantasma de seu
bisavô tivesse cuspido xadrez em cima dela, mas ela não se
importava. Pelo menos esses pijamas não antagonizaram seus
pensamentos carnais.
Pela enésima vez na última hora, seus olhos saltaram da tela
do computador na mesa de centro para a porta fechada do
quarto de Josh. Atrás daquela fina tira de madeira, ela sabia que
ele estava escrevendo fantasias pornôs. Toda a umidade em sua
boca se deslocou abaixo de sua cintura.
Ir àquela sex shop foi um erro. Observar Josh selecionar
itens para seu projeto com autoridade e experiência disparou
milhares de sensores de prazer em seu cérebro. Ela puxou o top
longe de sua pele aquecida. O algodão não era tão respirável
quanto os fabricantes alegavam.
Para completar sua lista de afazeres da noite, ela precisava
garantir um nome de domínio. Infelizmente, ela, Josh, e Naomi
ainda não haviam concordado em como chamar o projeto.
LadyBoners.com e Orgasms4All.org, as últimas sugestões de
Josh, não fluíam exatamente bem.
O homem do momento abriu a porta.
— Ei. — Ele tinha um caderno preto gasto nas mãos.
— Oi. — Clara cruzou as pernas. — Como está indo?
— Está indo tudo bem. — Ele apontou o bloco aberto na
direção dela e folheou várias páginas cheias de sua caligrafia
escura e pontiaguda. — Assim que comecei, descobri que tinha
muito a dizer.
Clara engoliu em seco.
— Eu posso imaginar. — Tantas coisas. Um milhão de
fantasias de Josh giravam em sua mente. Ela precisava de algum
tipo de medicamento anti-libido. Ou um terapeuta.
Provavelmente ambos.
Josh se sentou no sofá ao lado dela. Perto o suficiente para
ela sentir o calor saindo de seu corpo. Ela cerrou os dentes para
não inalar seu perfume.
— O problema é que não consigo dizer se alguma coisa está
boa ou se estou escrevendo um monte de baboseira.
— Quer que eu dê uma olhada?
— Na verdade, eu estava pensando que talvez pudesse ler
para você. — Sua voz tinha um toque de insegurança. — Já que
é para ser entregue como narração. — Josh bagunçou a mecha
de cachos na frente de seus olhos. — A menos que isso seja
estranho? Já que é sexual. Eu sempre posso ligar para Naomi.
— Não. — Ela empurrou o computador sob a mesa de
centro e encarou Josh com as pernas dobradas na frente dela.
— Eu posso ouvir.
— Oh, tudo bem. Excelente. Portanto, é uma parte da série
introdutória. Para parceiros que estão se conhecendo
sexualmente e descobrindo o que funciona. Achei que, em vez
de mergulhar de cabeça, a mulher, a atriz em nosso caso,
poderia mostrar ao parceiro como ela se dá prazer. Ajudá-los a
ter uma noção de onde ela gosta de ser tocada e com quanta
pressão.
— Isso parece inteligente. — Clara se obrigou a desviar o
olhar de sua boca. Droga. Ela o queria, e muito.
— OK. Posso começar então?
— Não há tempo como o presente. — Ela se preparou.
Ninguém nunca morreu de overdose de desejo.
— Comece ajudando seu parceiro a entrar no clima. — Josh
alterou ligeiramente sua pronúncia para que suas sílabas
saíssem com mais autoridade do que sua voz normal. Ele
derramou a magia de seu carisma nas palavras inocentes,
tornando-as esfumaçadas e tentadoras. — Peça a ela para
descrever uma de suas fantasias favoritas. À medida que ela se
sentir confortável, incentive-a a tocar as partes do corpo que
são estimuladas pela história.
Josh abaixou o caderno enquanto Clara passava a mão para
cima e para baixo em sua coxa.
— O que você acha desse exercício? Heather, uma das
amigas de Naomi de Cal State que é uma terapeuta sexual
certificada, sugeriu.
Sua língua parecia grande em sua boca.
— Eu acho que está bom. E o tom que você está usando,
profundo e lento. Isso também é bom. É sexy, mas não
exagerado.
O canto da boca de Josh se ergueu.
— Obrigado. — Um de seus cachos imprudentes caiu na
frente de seu olho e Clara fechou as mãos em suas calças de
pijama para não estender a mão e correr os fios brilhantes entre
os dedos.
Ele folheou algumas páginas de seu caderno.
— Então eu tracei alguns guias para a artista, embora eu ache
que podemos dar a ela muita liberdade criativa para explorar
seus próprios desejos. A ideia seria explorar várias zonas
erógenas, começando com a boca, orelhas e garganta e, em
seguida, descermos por seu corpo, nos demorando em seus
seios.
— Uau. — Seu corpo queimava por seu toque em cada um
dos lugares que ele mencionou.
— Oh, boa ideia. — Ele rabiscou a palavra clavícula em seu
caderno e Clara percebeu que tinha começado a traçar sua
clavícula com dois dedos, imaginando sua boca. Ela empurrou
apressadamente a mão sob a bunda.
— Eu acho que muitos homens descartam a estimulação
dos mamilos porque eles não sabem a maneira correta de fazer
isso. As mulheres costumam passar mais tempo explorando
essa área em seus próprios corpos do que seus parceiros.
Os seios de Clara ficaram mais apertados à medida que cada
palavra escapava de seus lábios perfeitos. Ela ergueu os olhos
para ver Josh passando a mão pela boca enquanto olhava para
o peito dela.
— Poderíamos tentar — disse ele. — O exercício. Se você
quisesse. É normal ficar superestimulado quando você assume
o prazer como profissão. Quando entrei no negócio, meu pau
praticamente caiu de todas as sessões solo de que eu precisava
para relaxar.
— Tenho notado um aumento no meu apetite… sexual. —
Uma gota de suor escorregou entre seus seios.— Suponho que,
de certa forma, temos a obrigação, enquanto direção criativa,
de garantir que o que estamos sugerindo funcione. — Seu
batimento cardíaco atingiu um staccato alarmante. — Não
gostaríamos de aparecer no set, com os artistas que estamos
pagando, e desperdiçar o tempo deles com algo que não passou
por uma avaliação cuidadosa.
Seus olhos ardiam, uma expressão de fome diferente de tudo
que ela já tinha visto.
— Certo. Não é como se estivéssemos fazendo sexo.
— Não — Clara concordou com uma respiração ofegante.
— Definitivamente não é sexo.
— É masturbação. — Ele se mexeu na cadeira. —
Perfeitamente normal. E você disse antes que está agitada
ultimamente.
Clara balançou a cabeça. A protuberância maciça nas calças
dele fez seus lábios se abrirem. Mil alarmes soaram em seus
ouvidos, avisando-a de seus limites em ruínas, enquanto suas
mãos se desviavam para a barra de sua blusa.
— Tenho mesmo.
— Aposto que se você se tocasse - aliviasse aquela distração
- você estaria muito mais focada no seu trabalho. Tanto para
Jill, quanto no projeto.
Excelente ponto.
— E uma mente relaxada é mais criativa.
Josh posicionou o caderno na frente de seu colo.
— Estou sempre lendo sobre os benefícios de longo prazo
para a saúde de orgasmos regulares.
Seus dedos pararam.
— Você lê?
— Sim.
— Então eu iria, o quê…. tirar minha camisa e tocar meus
seios? — Aquilo soou como o tipo de coisa que uma pessoa
sensual, sexualmente liberada e controlada poderia fazer.
Josh pigarreou.
— Parece um bom começo.
Uma combinação de nervosismo e excitação intensa trouxe
arrepios aos seus braços.
— Eu posso fazer isso? — As palavras saíram como uma
pergunta.
Os olhos derretidos dele devoraram a boca dela.
— Eu acho que você deveria.
Clara desejou que seu corpo entrasse em ação.
— Não consigo fazer meus braços se moverem. — Como
seus membros ousam traí-la? — Desculpe. Eu nem gosto de
ficar nua sozinha — disse ela. — Muito menos com uma
audiência.
— O que há de errado em estar nu?
Um suspiro triste saiu de sua boca.
— Bem, nada se você se parece com você. Mas quando estou
nua, é tudo macio e tudo balança. — Ela se inclinou para frente
para esconder suas curvas.
Josh balançou a cabeça.
— Essas são as melhores partes. — Ele arregaçou as mangas
de seu pulôver. — Mudaria alguma coisa se eu dissesse o quão
atraente eu acho você?
— O que? — As tentativas de Clara de parecer calma
viraram fumaça.
— Ajudaria se eu explicasse como eu acho você sexy?
Objetivamente falando, obviamente. — Ele mostrou a ela
outra página em seu caderno. — É uma das dicas do parceiro.
Se a mulher com quem você está estiver se sentindo nervosa ou
tendo problemas para evocar uma fantasia, declarar seu desejo
por ela pode ajudar a definir o tom da sessão.
A mente de Clara ficou em branco.
— OK. Sim, vamos tentar isso.
Josh olhou para ela sem pressa, começando pelo topo de sua
cabeça e descendo até os pés calçados com meias.
Ela ficou quieta enquanto ele atraía seu olhar através de seu
corpo.
— Bem, há um monte de coisas boas acontecendo — ele
disse tão baixinho que ela quase não entendeu. — Há coisas
óbvias que eu noto quando você entra em uma sala. — Ele
começou a contar coisas nos dedos. — Seu cabelo é bonito.
Brilhoso e com uma cor viva. E você está sempre jogando ele ao
redor. Então eu recebo grandes lufadas do seu shampoo
quando estamos sentados no sofá, quer eu queira ou não. E
depois há seus seios, é claro. Deus, seus peitos são uma tortura.
O jeito que você insiste em escondê-los nessas camisas ridículas
de gola alta. Porque você está fazendo isso? Eles merecem
experimentar o ar fresco. É verão em Los Angeles, pelo amor de
Deus. — Ele esfregou o queixo como se doesse. — Acho que
imaginei vinte maneiras diferentes de arrancar sua blusa. Só
para que eu possa dar uma olhada neles.
Eles mal haviam começado e a respiração de Clara já estava
saindo muito rápido. Ela poderia desmaiar.
— Mas o que realmente me deixa louco é mais sutil —
continuou ele. — A sensação da sua pele quando eu te ajudo a
sair do carro e como você parece brilhar na região do rosto.
Também gosto daquilo que você faz, quando arqueia as costas
ao se alongar pela manhã. Ah, e a pequena verruga no topo do
seu lábio. Como um tesouro que marca o X.
Ele levantou o polegar para roçar a pele fina.
As pálpebras de Clara ficaram pesadas. O desejo encheu sua
garganta, tornando difícil respirar. Alguém já disse tantas coisas
boas sobre ela de uma só vez? Claro, eles eram superficiais, mas
também eram doces. Ouvir Josh admirar seu corpo de alguma
forma compensou todos os caras do ensino médio que a
chamaram de gordinha ou tiraram sarro de seus dentes grandes.
Ela não podia lutar contra o desejo repentino e avassalador
de abrir a boca. Quando ela cedeu ao instinto, Josh deixou o
dedo deslizar entre os lábios dela. Clara não se conteve. Ela
arrastou a língua pela áspera almofada de seu polegar, sentindo
o gosto de sal, quando ele fechou os olhos e gemeu.
— Mostre-me o que você gosta — disse ele, os olhos ainda
fechados. Era um pedido, uma ordem e um apelo ao mesmo
tempo.
E de repente ela precisava. Não importava se ela gostava de
cada parte de seu corpo. O que importava eram as palavras de
Josh e a forma como elas a elevavam a uma posição ao mesmo
tempo libertina e poderosa. Ele deu a ela a oportunidade de
soprar a faísca de desejo atrás de seus olhos até que ela ardesse.
Ela seria uma idiota se não aceitasse.
Antes que ela pudesse perder a coragem novamente, ela
moveu as pernas para trás para que pudesse sentar-se sobre os
calcanhares.
— Isso é profissional, certo? Estamos fazendo isso para o
bem do projeto?
Josh respirava lenta e uniformemente pelo nariz, mantendo-
se rígido.
— Sim. Absolutamente. Estamos trabalhando agora. —
Seus olhos eram praticamente todos pupila.
Clara agradeceu a sua estrela da sorte por Josh ser um artista
mestre. Quem se importava se ele estava fingindo querê-la
agora? Parecia incrivelmente real.
Ela relaxou os ombros quando a confirmação dele a
inundou. Eles concordaram explicitamente que o que quer que
acontecesse a seguir não significava que ela tinha sentimentos
por Josh. Com o desejo, ela poderia lidar. Mas algo mais
profundo… qualquer coisa a mais com Josh era impossível.
Inaceitável. Uma receita para um coração partido.
Mas ela ainda podia satisfazer uma de suas fantasias. Apenas
uma única e inofensiva confissão. Para um bem maior.
Ela tirou a blusa em um movimento fluido. Felizmente, o
material não ficou preso em seus cotovelos.
O ventilador de teto soprava ar frio contra a pele recém-
exposta. Claro, o sutiã que ela escolheu hoje era muito
pequeno. Seus seios se espalharam por cima do tecido creme
sem adornos.
Josh gemeu como se alguém o tivesse esfaqueado com uma
faca cega.
— Eu vou queimar cada uma dessas fodidas blusas de gola
alta sem mangas. Como diabos eles são melhores do que eu
imaginava?
Clara abaixou a cabeça e riu um pouco disso. Um ronronar
gutural que soava como outra pessoa, mas era bom em sua
garganta.
— Agora o sutiã? — Ela precisava de orientação, mas
também gostava da ideia de que anunciar seu progresso deixaria
Josh louco.
Certamente, quando ela encontrou seus olhos, ele
estremeceu como um homem desfrutando da cadeira elétrica.
— Você quer que eu pare? — Ela fingiu um tom de
preocupação.
Ele deu a ela seu sorriso mais encantador em segurança,
covinhas em pleno efeito.
— Não se atreva.
Clara levantou-se e virou-se de costas para ele, esperando
que não ter que fazer contato visual direto facilitasse um pouco
a remoção do sutiã, um obstáculo significativamente maior
para sua insegurança. Ela se inclinou um pouco para frente e
estendeu a mão para trás para soltá-lo, atrapalhando-se com o
fecho.
— Deixe-me ajudá-la. — Conforme Josh habilmente
desfazia o gancho, mais de suas reservas derreteram.
Ele deixou as costas de seus dedos roçarem ao longo de sua
coluna enquanto tirava a mão.
— Se você se recusar a se virar, há uma boa chance de eu
entrar em combustão espontânea. — Sua respiração não era
mais lenta e uniforme. Parecia que ele estava tentando subir um
lance de escadas carregando um carrinho de mão.
Clara girou, forçando seu corpo a não obedecer ao impulso
de se cobrir enquanto Josh lambia os lábios, olhando
descaradamente para o peito dela.
Ele assobiou em uma respiração.
— O que estou prestes a dizer vai soar como uma cantada.
Mas, por favor, acredite em mim quando digo que já vi
milhares de peitos na minha vida e nunca quis colocar minhas
mãos e minha boca e, sendo totalmente honesto, meu pau, em
um par tanto como o seu.
O rosto de Clara se aqueceu com o elogio ridículo.
— Ninguém em sã consciência pensaria que essa era uma
boa cantada. — Ainda assim, ela abaixou as omoplatas,
empurrando os seios ainda mais para fora, e segurou um em
cada mão até que a carne pesada derramasse sobre seus dedos.
Viu. Isso mal conta como segunda base. Comparar as metáforas
do beisebol adolescente com os níveis de intimidade era
estranhamente reconfortante. O talento de Josh era quase
suficiente para torná-la atrevida. Ela deixou seus polegares
roçarem seus mamilos, sentindo a onda de prazer até aquele
pequeno gesto enviado por sua barriga até o clitóris. Ela não se
tocava assim há um tempo, e na metade do tempo ela ficava tão
envergonhada com o tamanho de seus seios que fingia que eles
não existiam.
— OK. Então, um. Na minha fantasia, estou em uma praia
em algum lugar. — Ela olhou para ele. Com você. — E o sol está
aquecendo minha pele. — Os olhos dela devoraram seus largos
ombros. E você está nu. — Estou tomando banho de sol de
topless. — Josh cerrou os punhos. Porque eu queria provocar
você.
A atenção que ela deu aos seios, começando devagar e
variando a pressão, a fez querer se contorcer. Ela havia se
esquecido de como o prazer podia aumentar, mais completo do
que quando começava abaixo da cintura. Clara fechou os olhos
e jogou a cabeça para trás até que os longos fios de cabelo
roçaram o meio das costas.
— Saber que você adora brincar com seus peitos tirou pelo
menos cinco anos da minha vida. — A luxúria crua em sua voz
a fez derreter.
Clara não se deu conta da conversa suja de Josh quando
concordou com esse plano. Como suas palavras tornaram tudo
mais emocionante, urgente e deliciosamente indigno.
Ela abriu os olhos para encontrá-lo lutando com o controle.
Ele se moveu até estar de frente para ela no sofá, cada
centímetro de sua forma longa e esguia curvada para frente em
antecipação. Ela deixou seus olhos vagarem entre as pernas dele
e beliscou seus mamilos com força entre o polegar e o
indicador. A protuberância em suas calças era realmente
obscena. Ele parecia não saber que tinha começado a balançar
os quadris sutilmente.
— Você deveria tirar isso — ela disse, e então imediatamente
cobriu a boca com a mão.
Josh congelou.
— Huh?
Clara tirou os dedos dos lábios lentamente.
— Seu… pau. — Ela enrolou a boca em torno da palavra que
ele usou antes. — Você deveria tirar a calça e se tocar. Se você
quiser. — Ela abaixou a cabeça. — Eu sinto muito. Eu não
deveria ter dito isso. Eu me empolguei.
— Você está brincando comigo? — Josh arrancou sua
camiseta, dando a ela uma visão de seu abdômen ondulando
enquanto ele levantava os braços. Ele puxou a calça e a cueca
pelas pernas tão rápido que ela mal piscou antes que ele tivesse
a mão em volta de si.
— Meu Deus. — Sua voz tremeu quando a temperatura na
sala queimou. — É como se alguém desse a uma pintura de
Caravaggio uma mensalidade de academia.
Josh acalmou a mão ao redor da base de seu eixo grosso.
— Isso é… bom?
— Sim. — Era muito mais do que bom. A tela de seu
computador realmente não tinha feito justiça a ele. Não admira
que ele estivesse louco por perder todos aqueles dólares de
mercadorias. Mulheres em toda a América provavelmente
haviam esvaziado seus planos de previdência para uma cópia de
silicone do calor que Josh estava embalando.
— Você vai…? — Ele acenou com a cabeça em direção às
coxas ainda vestidas de pijama. — Você não tem ideia do
quanto eu quero te ver agora.
Clara teria topado qualquer coisa para fazer Josh continuar
olhando para ela exatamente assim, então ela empurrou o resto
de suas roupas para baixo e para fora do corpo.
— Porra. Eu… — Josh disse quando ela estava nua diante
dele. Ele parou de se mover. Na verdade, ela não tinha certeza
se ele não tinha parado de respirar. — Por favor, toque sua
boceta. Por favor. Eu sei que estou implorando. Eu sei que não
é viril, nem suave, nem legal. Mas por favor, Clara. Estou
enlouquecendo. — Josh soltou as palavras com uma voz
dolorida.
A luxúria cega deu a ela a confiança para levar a mão trêmula
ao estômago, para deixar os dedos deslizarem lentamente entre
as coxas. No momento em que sua mão fez contato com seu
sexo, ela e Josh xingaram.
Ele se aproximou até que cada uma de suas respirações
ásperas caísse contra o pescoço dela.
Ela choramingou quando seus quadris resistiram, buscando
a penetração. Implorando pelo homem ao lado dela.
Os olhos de Josh ficaram mais escuros, mais selvagens, até
que ele parecia a vítima de um naufrágio de feromônio.
De repente, tudo, a pressão de sua mão e o prazer que ela
proporcionou, dobrou. Josh trabalhou em golpes suaves,
engolindo cada vez que seu polegar roçava a cabeça de seu
pênis. Ele deixou sua boca cair aberta enquanto a observava se
esforçar para se soltar.
Sem pensamento ou intenção, Clara gemeu a única palavra
que se proibiu de pronunciar.
— Josh.
O som de seu nome em seus lábios pareceu quebrá-lo. Seu
corpo inteiro começou a tremer.
— Diga de novo — ele rangeu os dentes cerrados. Seu
antebraço estava tenso com tanta força que ela podia contar as
veias. Ele baixou a voz para uma ladainha. — Continue dizendo
meu nome.
Ela sustentou seu olhar enquanto inseria dois dedos em seu
corpo tenso, incapaz de encontrar qualquer espaço em sua
mente para a vergonha.
Não quando sua respiração estava tão irregular quanto a
dela.
Não quando ela perseguia um orgasmo que prometia
arruiná-la.
Fazia todo o sentido transformar o nome de Josh em um
mantra. Mesmo que ele não a estivesse tocando, ela podia senti-
lo em todos os lugares. O calor e a energia fortemente enrolada
saíram de seu corpo em ondas.
Tudo o que ela sempre acreditou sobre sexo e seu corpo,
tornou-se uma história antiga enquanto ela se movia como uma
mulher que nunca se desculpou por perseguir seu próprio
prazer. Deixe ele olhar. Deixá-lo ver o movimento frenético de
sua mão enquanto ela trazia exatamente o que queria.
Sua presença agia como uma privação sensorial, tudo
intensificado, focado em um único ponto.
— Por favor, diga-me que você entende o quão incrível você
parece agora. — Seus olhos reviraram em sua cabeça quando ela
acrescentou outro dedo. Ele ficou mais áspero com seus golpes.
— Eu faria coisas terríveis, Clara, para sofrer a tortura perfeita
de ver você se foder de novo e de novo. — Ele não a tocou, mas
suas palavras afundaram em sua pele.
Clara foi apanhada por ele. Afogou-se em sensações. Tão
distraída que quando ela caiu no precipício, ela gritou não só
de prazer, mas também de surpresa. Seus olhos se fecharam
quando ela deixou o orgasmo quebrar em seu corpo sem se
afastar. Quando ela piscou para encontrar Josh observando seu
rosto, o desejo nu em seus olhos atraiu os estremecimentos de
seu corpo.
Não foi até um momento depois, quando seu corpo
finalmente relaxou, quando ela caiu de costas no sofá como um
macarrão mole, que Josh permitiu sua própria liberação,
pintando seu estômago com a evidência de seu desejo. Suor
começou a esfriar em seu corpo trêmulo. Nada jamais foi tão
bom quanto a ilusão que Josh teceu de desejá-la.
A sala estava silenciosa, exceto pela mistura de suas
respirações desesperadas.
— Aquilo foi… — Josh finalmente disse. — Quero dizer,
você fez… Seu corpo é…
— Espero que os finais dessas frases sejam elogiosos. —
Clara sorriu enquanto lhe entregava um punhado de lenços de
papel da caixa na mesinha de canto, exausta, feliz e diferente da
mulher que era uma hora antes.
— Sim, muito — ele disse enquanto eles se olhavam. A sala
se encheu de algo mais do que atração e luxúria desenfreada.
Josh apertou a mandíbula e Clara foi a primeira a desviar o
olhar.
Ele gesticulou com o polegar por cima do ombro.
— Eu provavelmente deveria digitar minhas anotações.
Minhas descobertas, se você quiser.
Clara procurou no chão por seu pijama.
— Certo. sim. Faça isso. — Ela admirou sua bunda nua
quando ele se levantou para ir embora, cambaleando
ligeiramente.
— Ah, e Josh?
Ele se virou, segurando suas roupas enroladas na frente de
sua cintura.
— Eu diria que sua estratégia definitivamente funcionou.
Ele bufou um som que era quase uma risada.
Depois que Josh se trancou de volta em seu quarto, Clara se
limpou e vestiu um novo pijama. Então ela pegou seu laptop
descartado e digitou uma única palavra no mecanismo de busca
de domínio.
Ela sorriu ao adicionar sua seleção ao carrinho. Finalmente.
Seu projeto incipiente tinha um nome. Uma palavra esperando
para ser reclamada. Uma que batia no tempo com o thump-
thump de seu coração.
Shameless.7

7
Significa “sem vergonha”
Clara Wheaton tinha experimentado sua cota de
constrangimento. Ela tropeçou escada abaixo na frente de seus
colegas, usou o pronome francês errado ao se dirigir a um
falante nativo e uma vez gritou acidentalmente “abortar”
quando encontrou um ex-namorado em um pub de
Manhattan.
Tendo sofrido muito pior, ela decidiu não deixar seu
pequeno “ensaio na sala de estar” com Josh arruinar seu vínculo
estranho e inominável.
Ela precisava dele. Profissionalmente agora, bem como
pessoalmente. Ela simplesmente redesenharia alguns limites
entre eles. Não faria mal. Sem falta. Provavelmente seria uma
boa ideia parar de ficar com as lembranças dele se acariciando.
Apenas um pensamento.
Em uma tentativa desesperada de retornar à sua zona de
conforto e conhecer os artistas e a equipe que eles contrataram
ao longo da semana, Clara convenceu Josh que eles deveriam
fazer um churrasco no quintal de Everett.
Entreter era uma habilidade enraizada nas mulheres
Wheaton, praticamente desde o nascimento. Clara podia
dobrar guardanapos em catorze formas distintas. Essa
habilidade não veio a calhar nesta situação.
Em um esforço para parecer descontraída e descomplicada,
ela comprou copos de festa vermelhos e alugou mesas de
carteado e cadeiras dobráveis. Ela chegou ao ponto de permitir
que Josh escrevesse potluck nos convites.
— Ninguém da nossa idade pode ir a uma festa de mãos
vazias sem se sentir um idiota — ele disse. — Pelo menos deixe
que eles tragam cerveja.
Clara se consolou fazendo uma infinidade de mergulhos
para acomodar todas e quaisquer preferências dietéticas. Ela
ainda era a anfitriã, e depois do espetáculo que ela fez de si
mesma na seleção de elenco, esta era sua chance de fazer amigos.
Para mostrar a todos que ela não era chefe ou banqueira, mas
um deles. Com petiscos deliciosos e conversa estimulante.
À medida que se aproximava o horário de início da festa,
Josh saiu de seu quarto com uma camisa havaiana extravagante.
— Você realmente vai vestir isso? — Ela não sabia por que
se deu ao trabalho de perguntar. Clara adicionou framboesas
frescas em uma tigela de ponche.
— Claro que vou. — Josh roubou um pedaço de fruta antes
que ela pudesse afastá-lo e jogou-o na boca. — É isso que você
vai vestir?
Clara ajeitou a saia rodada de seu vestido vintage. Tinha gola
alta. Ela havia pensado que era encantador.
— Você não gostou?
— Não, eu gostei. — Ele deixou seu olhar percorrer sua
forma. — Mas é branco. Em um churrasco no quintal. Com
ponche vermelho.
Clara franziu o cenho. Ela não tinha considerado isso.
— Talvez eu pudesse usar meu avental durante a refeição?
— Ela puxou uma pilha de guingão e babados do armário e
segurou o material para sua inspeção.
— Isso parece de marca. — Ele se virou em direção à
geladeira e Clara notou um band-aid em sua têmpora.
Ela ficou na ponta dos pés para inspecionar a área
machucada.
— O que aconteceu aqui? — Ele provavelmente não tinha
pensado em aplicar um anti-séptico.
— Nada. — Josh se afastou. — Simplesmente desajeitado.
A campainha tocou.
— Eles chegaram cedo. — Ela torceu as mãos. — Eu não
coloquei os cartões de lugar na mesa ainda.
Josh a guiou em direção à porta pelos ombros.
— Vá cumprimentar nossos convidados. Vou definir os
cartões de lugar.
Clara jogou os triângulos de papel com o nome de cada
pessoa escrito em caligrafia em suas mãos em concha e correu
para a porta.
Naomi estava na porta, junto com um punhado de outros
membros do elenco e da equipe que Clara reconheceu, mas não
conhecia o nome. Naomi colocou uma grande bandeja de
vegetais de plástico nos braços de Clara.
— Eu não cozinho e não corto.
— Eu não culpo você. — Francamente, a ideia de Naomi
empunhando uma faca era aterrorizante. — Obrigada por vir.
Isto é perfeito. — Clara apontou para a porta que dava para os
fundos. — A festa é por ali.
Clara coletou alguns outros itens alimentares enquanto os
convidados em chinelos e camisetas regatas se aproximavam, se
apresentando e agradecendo pelo convite. A multidão cresceu
mais do que ela originalmente contabilizou. Ainda bem que ela
tinha bastante comida.
Depois de alguns preparativos de última hora, Clara se
juntou ao resto do grupo no pátio. Apesar da música tocando,
a cena não tinha alcançado o ar de camaradagem jovial que ela
esperava inspirar. Ela percebeu com perplexidade que alguns
dos rapazes transformaram seus cartões de lugar em bolas de
futebol de papel. Ah bem. Pelo menos eles os colocariam em
uso. Ela caminhou até onde Josh e Naomi estavam
conversando em um canto. Com mais do que sua indiferença
típica, a ex de Josh entregou-lhe algo pequeno e preto,
suavemente, do jeito que o pai de Clara passava uma gorjeta
para o manobrista.
Clara captou apenas o final da frase que acompanhava o
gesto encoberto.
— …que tem minhas coisas e tudo de Ginger.
Josh enfiou o item no bolso quando notou sua
aproximação.
— Tudo pronto na cozinha? — Ele virou suas covinhas para
farol alto.
— Uh, sim. Está tudo bem aqui? — O cérebro de Clara deu
uma olhada em uma dúzia de explicações para essa
transferência. O menos ridículo disso era que Naomi tinha
passado a Josh algum tipo de chave eletrônica para uma
masmorra de sexo escondida. Mas que tipo de “coisa” alguém
guardava em uma chave? Mais provavelmente era algum tipo
de pen drive… apenas um pouco menos desconcertante. Não é
da sua conta, de qualquer maneira, uma voz afetada em sua
cabeça a lembrou.
— Acho que começamos um pouco devagar. — Josh
franziu a testa para a reunião morna.
Agora que ele mencionou isso, a festa não estava exatamente
animada. A maioria dos convidados parecia tão desconfortável
quanto Clara se sentia.
— Você precisa incentivar a interação — disse Naomi. —
Metade dessas pessoas não se conhecem. Você tem um monte
de estranhos juntos e isso é Shania Twain tocando no seu
telefone? — Ela olhou para Clara acusadoramente. — Não é à
toa que está estranho.
Quem não gosta de “Man! I Feel Like A Woman!”?
— Ooh. Eu tenho uma ideia. Eu tenho uma lista de
perguntas, originalmente desenvolvida por Marcel Proust para
despertar uma conversa significativa, na minha sala. Eu poderia
pegar aqueles…
— Não — Josh e Naomi disseram em uníssono.
Josh abaixou a música e chamou a atenção dos convidados.
— Que tal uma rodada de Eu Nunca pelos velhos tempos?
Algumas pessoas trocaram sorrisos maliciosos. Outros riram
e se moveram para completar suas bebidas.
— Você primeiro, Darling — disse uma mulher que se
apresentou como Stacy. Seu acompanhante, um dos
abusadores de cartões de lugar, gritou e bebeu sua cerveja antes
de jogá-la no chão.
— Atores adultos adoram Eu Nunca porque isso lhes dá a
chance de se gabar de todo o sexo que fizeram — Naomi
explicou enquanto levava Clara até a mesa para jogar.
Interessante. Clara havia jogado o jogo algumas vezes no
acampamento. Ela sabia que, na maioria das vezes, as perguntas
se concentravam em atividades ilícitas. Embora ela tivesse que
imaginar essa multidão definia ilícito de forma diferente dos
conselheiros do acampamento Sparrow.
Ainda assim, jogos de bebida eram uma boa ideia. Um
lubrificante social deixaria todos à vontade. Ela se serviu de um
copo de ponche e entrou na briga.
— Tudo bem, pessoal. Vamos jogar com as duas mãos para
cima, e a última pessoa em pé pode tomar uma cerveja no final
da rodada. A última vez que brincamos com a regra de que você
tinha que beber por tudo o que tinha feito, a festa inteira
acabou no lixo. — Josh sorriu. — Vou começar: Nunca fodi os
dois membros de um casal
A ex dele deixou cair um dedo junto com alguns outros.
Clara baixou as sobrancelhas antes que alguém notasse sua
surpresa.
— Nunca gozei tão forte que desmaiei — disse Stacy.
Muitos outros dedos caíram.
Clara mudou seu peso de um lado para o outro. Ela nunca
tinha considerado essa possibilidade. Como…?
— Nunca fodi dez vezes em um dia.
Até mesmo Josh baixou um dedo nessa. Mas… isso desafiava
a ciência. Ela queria chamar um médico.
— Nunca me ofereceram um milhão de dólares por um caso
de uma noite.
Apenas Naomi baixou um dedo sobre isso.
Clara se virou para ela.
— Você está falando sério?
— Não aceitei — garantiu Naomi.
— Nunca recusei um milhão de dólares — disse o próximo
jogador.
Naomi mostrou a ele o dedo médio, convenientemente o
único remanescente em sua mão direita.
Todas as cabeças se voltaram para Clara para sua vez.
— Umm. Nunca quebrei um osso?
— Você quer dizer uma ereção? — Stacy dobrou um dedo
até a metade. — Tipo, quebrar o pau de alguém durante o sexo?
Porque eu certamente fiz isso.
Clara se obrigou a não recuar diante daquela imagem
mental.
— Não, eu quis dizer como um osso normal. — Ela ergueu
o braço e fingiu usar uma tipoia.
Stacy desinflou.
— Oh.
Noemi teve a vez dela.
— Nunca fodi uma celebridade.
— Como estamos definindo celebridade?
— Lista B e acima — Naomi esclareceu.
— Droga. Perto, mas não — disse o par de Stacy. — Eu
nunca comi um líder mundial.
A maioria das pessoas tinha uma mão sobrando ou menos.
Os dez dedos de Clara se destacaram como um sinal de néon
anunciando-a como uma pária. Algumas pessoas olharam para
ela com sobrancelhas arqueadas.
— Você deveria abaixar um dedo quando você fez alguma
coisa — Stacy sussurrou para ela inutilmente.
— Ah não. — Ela esticou o pescoço, tentando ver a mesa de
bebidas. — Acho que estamos ficando sem gelo. Vou verificar.
— Clara entrou na cozinha e abriu o freezer, deixando a rajada
de ar esfriar seu rosto aquecido.
— Você precisa de ajuda?
Ela fechou a porta e enfrentou Josh.
— Não. Eu sinto Muito. Eu sei que estou criando o hábito
de ficar deslocada.
— Esse jogo não foi divertido para você, hein?
— Não muito. Minha vida sexual é muito baunilha. — Ela
respirou fundo e desviou o olhar. Excluído o momento atual.
— Podemos jogar outra coisa.
— Não é o jogo, Josh. Olhe para mim. Eu não me encaixo.
Você vai lá e se diverte. Tenho certeza de que ninguém quer se
comportar da melhor maneira por minha causa.
— Vamos. Ninguém pensa em você assim. Todo mundo
quer te conhecer. Você é um mistério para eles.
— Mistério é uma boa palavra para esquisita. Os garotos
descolados do colégio costumavam me chamar de estraga-
prazeres. — Clara tinha tentado se misturar com os novos
amigos de Everett depois que ele começou a chamar a atenção
por sua aparência crescente, mas casual nunca fora fácil para
ela.
Josh estendeu a mão e a envolveu em um abraço.
— Você não está mais no colégio. — Ele dobrou os joelhos
para que o queixo dela pudesse descansar em seu ombro sem
esforço e aplicou a pressão perfeita, firme, mas frouxa. O cheiro
de roupa limpa encheu seu nariz. — Clara, aquelas pessoas lá
fora estão se exibindo. Metade dessas coisas é exagerada, com
certeza. Além disso, nossas vidas sexuais dificilmente são
medianas. Você fez toneladas de coisas que nenhuma dessas
pessoas jamais tentou.
Ela deu um passo para trás do abraço, agradecida por ele tê-
la deixado escapar primeiro. Uma parte dela poderia ter ficado
lá para sempre.
— Okay, certo.
— Jogue alguns dedos para cima.
Clara acenou para ele.
— Vamos. Estou falando sério. Coloque-os para cima.
Ela revirou os olhos e ergueu a mão direita.
— Nunca fiz doutorado.
Clara dobrou um dedo.
— Isso me fez, no caso.
— Nunca fiz couve de Bruxelas com um gosto bom.
— Qualquer coisa tem um gosto bom se você fritar em
gordura de bacon — disse Clara, mas ela sorriu um pouco
apesar de si mesma. Ela jurou fazer Josh comer vegetais por
qualquer meio necessário.
— Nunca tive uma ideia para o meu próprio negócio.
Ele a ganhou aí. Shameless a deixava orgulhosa.
— Nunca fui generoso o suficiente para financiar um bando
de trabalhadores do sexo que nenhum banco daria a mínima.
— A voz de Josh transmitiu seu respeito e ela corou.
Clara baixou o dedo anelar e deu de ombros.
— Eu acredito em vocês.
Josh tocou o Band-Aid na testa.
— Nunca fiz alguém bater em uma porta porque saí do
banheiro com uma toalha muito pequena.
Clara inclinou a cabeça. Ele a tinha perdido com aquele.
Josh estendeu a mão e baixou seu último dedo.
A compreensão veio.
— O que? Esta manhã?
Josh deu a ela um sorriso autodepreciativo.
— Você pode pensar que não se encaixa, mas essas pessoas
estão tão intimidadas por você quanto você por elas. Se você
relaxar, eles também. Eu prometo. — Ele a socou levemente no
braço. — Agora vamos voltar lá antes que Felix coma todo o
molho de caranguejo.
Ela havia entrado neste empreendimento comercial com um
pé fora da porta, mas com Josh ao seu lado, talvez ela devesse
parar de dizer a si mesma que os “garotos legais” nunca a
aceitariam.
— Obrigada.
O barulho da festa explodiu do lado de fora.
— A qualquer hora, Wheaton.

•••

Josh precisava controlar seus sentimentos por sua colega de


quarto. Seus sintomas físicos começaram a causar danos físicos
a ele. E os seus mentais? Bem, aqueles tinham ficado tão
poderosos que ele mal conseguia passar dez minutos sem pensar
em Clara.
Tudo o que ele sabia era que ele sempre queria que ela fosse
feliz. Quando ela sorria ou ria, ele se sentia poderoso e bem. Se
algo a machucasse, ele queria dar uma de Hulk.
Ele ficou grato quando ela sugeriu a festa, uma chance de
liberar energia sem liberar seu gozo. Seu pau estava oficialmente
preso depois que ele quase deixou escapar um "Eu acho que
você é a garota dos meus sonhos", enquanto chicoteado em um
frenesi sexual pela visão do corpo nu de Clara. Sua capacidade
de desejá-la o aterrorizava.
— Vamos lá, Darling. Estamos escolhendo times para flip
cup. Você e Naomi são capitães. Batalha dos Exs.
Naomi chamou sua atenção. Ele sabia que ela tinha visto ele
seguir Clara para dentro após o desastre anterior.
Josh deu a ela um aceno sutil e observou enquanto seus
ombros relaxavam. Seu comportamento frio não o enganou.
Naomi estava começando a gostar de Clara, quisesse ou não.
— Você escolhe primeiro — ela disse a ele, gesticulando para
os convidados reunidos que queriam jogar.
Josh encontrou Clara onde ela estava reorganizando os
copos de plástico perto do barril. Apesar da conversa que
tiveram na cozinha, ele sabia que ela iria adorar passar o resto
da festa fazendo as tarefas da anfitriã, em vez de interagir com
outras pessoas.
— Wheaton — ele chamou do outro lado do quintal. —
Você está comigo.
Ela se virou para ele com os olhos arregalados.
— Eu? — Ela olhou para todos os convidados. — Não.
Tudo bem. Vou ficar de fora nessa. Vocês todos vão em frente.
Josh balançou a cabeça e curvou o dedo.
— Venha pra cá. — Ele tornou sua missão pessoal garantir
que ela passasse o resto do churrasco se divertindo.
Clara obedeceu com visível relutância enquanto Felix e Max
alinhavam as longas fileiras de copos de cada lado da mesa,
derramando cerveja light sobre elas.
Josh puxou Clara para seu lado da mesa e bateu seu quadril
contra o dela.
— Este é fácil — disse ele, mostrando-lhe o movimento com
um copo vazio. — Está tudo no pulso.
— Eu sei jogar flip cup. — Ela ergueu o queixo em desafio.
— Passei os últimos nove anos em vários campus universitários.
— É justo — disse Josh. — Naomi e eu somos as âncoras.
Então fique perto de mim e eu poderei compensar qualquer
atraso.
Clara cruzou os braços.
— Por que você está supondo que eu vou me atrasar?
Ele não teve a chance de responder antes de Felix subir em
uma cadeira e gritar.
— Ok, pessoal. Ao meu comando. O primeiro jogador de
cada equipe deve responder à minha pergunta antes de começar
a beber. Jogadores prontos? Você prefere foder o Papai Noel
ou o Coelhinho da Páscoa?
As respostas gritadas do primeiro jogador de cada equipe se
misturaram em uma calamidade alarmante e então eles
partiram. Os outros membros da equipe aplaudiram e os
espectadores reclamaram através dos megafones de suas mãos
em concha. Um raio de espírito competitivo percorreu a
espinha de Josh.
Ele prendeu a respiração enquanto a linha acelerava em
direção a Clara. Por favor, não a deixe ficar nervosa. Josh mal
conseguia assistir enquanto a jogadora na frente dela, Stacy,
tentava. A outra equipe ganhou vantagem sobre eles enquanto
ela tentava repetidamente pousar seu copo. Josh cerrou os
dentes.
Merda. Agora a rodada terminaria na vez de Clara e ela se
sentiria horrível novamente. Ele mal podia suportar vê-la
chateada. Era como ver um cachorrinho com a perna quebrada.
Josh optou por não examinar por que se importava tanto que
Clara se encaixasse com seus amigos.
Finalmente, Stacy pousou seu copo. A outra equipe
acabaria com tudo a qualquer momento. Puta que pariu.
Exceto…
O queixo de Josh caiu quando Clara bebeu toda a cerveja
em um único gole e, em seguida, virou a xícara na primeira
tentativa, usando apenas o dedo indicador.
— O que diabos você está esperando? — As bochechas de
Clara estavam vermelhas e a cerveja brilhava em seus lábios
enquanto ela gritava com ele.
Josh sacudiu seu estupor e virou seu próprio copo enquanto
Naomi cambaleava na frente dele. A taça pousou depois de
algumas tentativas, vencendo o jogo no último segundo
possível em um borrão de cerveja velha e gritos de admiração
dos membros de sua equipe.
Sem pensar, Josh agarrou Clara pela cintura e a girou em um
círculo, fazendo sua saia balançar.
Ela riu em seus braços, seu sorriso brilhando contra suas
bochechas.
— Ponha-me no chão ou vou vomitar em cima de você e
então estaremos ambos em apuros.
— Josh adora apuros — disse Naomi, cruzando os braços e
estreitando os olhos enquanto observava seu abraço. Ele queria
atribuir sua expressão azeda à sua reputação de má perdedora,
mas isso não explicava por que ele se sentia tão culpado.
Imediatamente, ele parou de girar. Com relutância, ele
abaixou Clara. Um pensamento terrível acendeu um fogo em
seu cérebro. Porra. Se ele não tomasse cuidado, apuros
poderiam não ser a única coisa que ele amaria.
A maneira como ele se sentia por Clara, o coração batendo
forte cada vez que ela entrava uma sala, ávido por sua
aprovação, rindo de tudo o que ela dizia. Ele não tinha
reconhecido os sinais. Sempre assumiu que ele nasceu imune.
Limpando a garganta, ele abriu uma nova cerveja, deixando
o líquido frio e amargo permanecer em suas papilas gustativas
como um chamado para acordar. Não. Não é possível.
— De onde veio esse desempenho?
Ela levantou o ombro em direção ao ouvido.
— Sempre fui boa em flip cup. Não que você tenha
perguntado. — Ela mostrou a língua para ele e estendeu a mão
para ajudar Felix a organizar a próxima rodada.
Josh tentou não entrar em pânico.
Ele não se importava em admitir que queria dormir com
Clara. Ou mesmo que gostasse muito dela como pessoa. Josh
podia falar com ela mais facilmente do que a maioria das
pessoas, mesmo sobre coisas que ele nunca compartilhou com
ninguém. Mas isso não significava que ele queria estar com ela.
Ele nunca quis ser o namorado de alguém. Toda a
responsabilidade e expectativas. Não, obrigado.
Ele não podia estar se apaixonando por ela. Ele não iria. As
leis da evolução não deveriam permitir isso.
Josh observou Clara rir de algo que Felix disse. Ele franziu a
testa. O que foi tão engraçado?
Naomi ofereceu a ele um prato de molho de espinafre e
biscoitos.
— Não faça isso.
— Eu não estou fazendo nada. — Ele enxugou as palmas das
mãos no short antes de se servir de comida.
— Bom. Porque não funcionaria de qualquer maneira. —
Apesar de Naomi ter usado o mesmo argumento que ele fez
para si mesmo alguns minutos atrás, ele se viu fechando os
punhos.
A mãe dele costumava dizer: Se você quer que algo aconteça,
diga a Josh que não pode ser feito.
Clara tentou se concentrar em seu comunicado à imprensa para
o último evento de arrecadação de fundos de Toni, mas ela teve
que ler o mesmo parágrafo quatro vezes porque Josh
continuava emitindo suspiros perturbadores no estúdio. Ela
esfregou as costas do pulso no olho e o ignorou.
Josh jurou que só precisaria de vinte minutos para realizar
uma verificação final do equipamento antes que as filmagens
começassem amanhã, mas eles já haviam passado mais de uma
hora aqui enquanto ele inspecionava obsessivamente seu
modesto espaço de trabalho.
A configuração certamente parecia profissional. Sua equipe
esquelética, dois estudantes de cinema da UCLA, haviam
alugado todas as luzes, câmeras e microfones necessários - tudo.
Naomi tinha vindo mais cedo e dado luz verde, mas Josh se
recusou a aceitar a palavra de ninguém.
Clara deveria ter dito a ele para ir sem ela quando ele falou
em dirigir para Burbank depois do jantar. Mas ele ofereceu a ela
um conjunto de suas chaves sobressalentes naquela manhã, e
ela não queria que ele pensasse que ela estava rejeitando seu
gesto.
Pelo menos ela trouxe seu trabalho com ela. Entre a empresa
de relações públicas e todas as horas extras que ela dedicou nas
últimas semanas em Shameless, ela estava queimando a vela em
ambas as extremidades. Se ela não terminasse esta rodada de
anúncios para amanhã, mesmo sua tia extremamente
descontraída teria sua pele.
Outro suspiro lamentável a fez olhar para cima, só que desta
vez ela encontrou Josh deitado de costas, empurrando seus
quadris no ar.
Ela ficou boquiaberta para ele enquanto seus olhos
inalavam a imagem sensual.
— O que diabos você está fazendo? — Ele deveria perceber
que ela não tinha tempo para filtrar quaisquer sentimentos
menos que amigáveis que ela pudesse ter desenvolvido por ele.
Para descobrir onde estavam os limites de viver juntos,
trabalhar juntos e agora se tocarem. Ela tomou a decisão
executiva de culpar tudo pelos hormônios reprimidos e seguir
em frente. Ela esperava desesperadamente que ele tivesse feito
o mesmo.
Josh parou no meio do impulso e cobriu o rosto com as duas
mãos.
— Eles enquadraram a imagem toda errada. O ângulo é
muito aberto. Eles vão cortar os pés de Lance.
— Tem certeza? — Clara lembrava vagamente de Lance dos
testes. Ele tinha alguns piercings muito distinguíveis.
— Tenho quase certeza. Faça-me um favor, olhe pelas lentes
e me diga se você consegue ver meu corpo inteiro na foto. —
Josh manteve a posição de ponte com uma facilidade irritante.
Até onde ela sabia, ele não se submeteu a um regime tradicional
de exercícios fora da corrida. Todos aqueles músculos só de
sexo? Desprezível.
Ela se aproximou do tripé com cautela e ficou na ponta dos
pés para espiar pelo visor.
— Você tem razão. Corta em seus joelhos.
Josh se levantou e virou o olhar para o chão.
— Merda. Vamos ter que refazer toda essa área. De alguma
forma, eles enquadraram tudo trinta centímetros para a direita.
— Não podemos simplesmente mover a câmera?
— Não, a menos que você queira mover todas as luzes e o
microfone. Precisaríamos de uma escada. — Ele apontou para
a coisa vagamente parecida com um espanador montado acima
de sua cabeça.
Clara observou a fita fluorescente espalhada pelo chão.
— Essas pequenas marcas são para onde os artistas vão?
— Sim. Ginger e Lance vieram esta manhã e Naomi
enquadrou todas as posições para a cena de introdução.
— Então, precisamos mover a fita? Isso parece bastante
simples.
— Mais ou menos. Para saber para onde vai a nova fita,
precisaríamos reenquadrar todas as posições dos artistas.
Provavelmente estamos perto o suficiente de suas alturas, mas…
As palmas das mãos de Clara ficaram escorregadias.
— De que tipo de posições estamos falando?
Os olhos de Josh brilharam.
— Aquelas que tornam mais fácil para as mulheres
chegarem ao orgasmo durante a relação sexual.
Seu pulso acelerou enquanto ela se aproximava de onde ele
estava. Ela tinha medo disso.
— Tudo bem. — As palavras vacilaram enquanto ela lutava
para controlar sua excitação. Apesar de seus melhores esforços,
ela não conseguia invocar suas defesas contra tocá-lo. Seu peito
se encheu de antecipação. — Vamos percorrer as posições
rapidamente. Estou exausta e ainda tenho que encontrar um
sinônimo acessível para magnânimo — Ela franziu a testa para
que ele não visse que ela concordou com este exercício lascivo
para tirar vantagem de seu corpo incrível.
Josh piscou algumas vezes.
— Calma, você está se oferecendo para simular todas as
posições sexuais necessárias para a cena?
Seu tom incrédulo a fez questionar a si mesma.
— Eu pensei que você estava sugerindo que era isso que
precisávamos fazer?
— Oh. — Josh balançou nos calcanhares. — Sim. Isso é o
que é necessário. Não há maneira de contornar isso. — Ele
imediatamente se agachou e começou a rasgar a fita adesiva do
chão.
Uma vez que eles tinham uma área limpa, ele ficou atrás da
câmera e fez sinal para Clara ficar em uma posição específica.
— Fique aí mesmo.
Ele correu e se deitou de modo que seus ombros se
alinhassem com a posição atual de seus pés.
— OK. Então agora você monta na minha coxa e coloca a
fita aos nossos pés.
Por que montar e coxa, duas palavras aparentemente
inócuas, parecem sujas ao saírem da boca de Josh?
— Mas…. Estou de saia.
A respiração dele ficou presa.
— Eu poderia montar em sua coxa?
Ela massageou as têmporas. Seu longo corpo foi colocado
diante dela como um banquete excitante.
— Apenas me diga em que direção devo olhar.
— De joelhos, de costas para mim, coloque uma das pernas
de cada lado da minha perna esquerda.
Clara segurou a bainha enquanto ela cuidadosamente se
abaixava na posição, até que sua bunda estivesse quase, mas não
totalmente alinhada com a virilha de Josh e sua panturrilha
descansasse contra a parte interna da coxa dele. Como alguém
tinha confiança para tentar uma manobra tão complicada
enquanto estava nu, estava além dela.
Ela não conseguia descobrir como as partes do corpo
necessárias se alinhariam.
— Para onde vai meu pé? — Ela mudou para trás até que
seu tênis escorregou, batendo em algo que forçou um grito
agonizante de Josh.
— Oh Deus. Eu sinto muito. — Ela ficou de pé com
dificuldade e ficou impotente enquanto Josh rolava para a
posição fetal, agarrando seus não nomeáveis. — Devo ir buscar
uma bolsa de gelo?
— Estou bem. — A veia latejante em seu pescoço dizia o
contrário.
— E se houver danos permanentes? As mulheres da
América precisarão de um dia de folga para lamentar a perda do
valioso bem de Josh Darling.
— Por favor pare de falar. — Seus olhos se encheram de
lágrimas.
Clara observou impotente enquanto ele respirava lenta e
profundamente por vários minutos, até que ele finalmente
desenrolou o corpo.
— Você pode voltar à posição agora — disse Josh com
decididamente menos entusiasmo do que a primeira vez que ele
a instruiu a se ajoelhar. — Suavemente.
Assim que ela cumpriu a ordem, Josh arrancou alguns
pedaços de fita adesiva do rolo com os dentes e os entregou.
— Marque os pequenos Xs em cada um de nossos pés.
Ela se inclinou na direção dos pés dele em aquiescência e
sentiu sua saia viajar com ela.
— Você tem certeza que as mulheres gostam disso?
— Sim. — A voz de Josh ficou áspera. — É um conceito
semelhante ao cowgirl reverso. Você está no controle da
profundidade, da velocidade, do ângulo. — Ele moveu seus
quadris. — Vamos, uh, entrar na próxima posição.
Ela hesitou.
— Eu não quero machucar você de novo.
Ele acenou com desdém.
— Não se preocupe com isso. Meu pau tem seguro.
Clara levou a mão ao coração.
— Você está falando sério?
— Não. Claro que não. — Josh trouxe o peso da parte
superior do corpo sobre os cotovelos. — Mas eu realmente
gosto dessa cara que você acabou de fazer. A próxima posição é
a garota por cima. Então, se você puder…
— Eu sei o que é a garota no topo. — Clara tentou manter
um comportamento feminino enquanto ajustava sua montada.
Ela propositalmente empoleirou-se na parte inferior do
estômago de Josh, ao invés de arriscar entrar na zona de perigo
abaixo de seu cinto, e afofou sua saia para que ela não exibisse
uma quantidade exorbitante de coxa.
Ela empurrou o cabelo atrás das orelhas.
— Isto está certo?
— Quase. — Josh pressionou a mão suavemente contra o
meio das costas dela.
— O que você está fazendo? — Sua voz saiu soando mais
como um grito. Ela conseguiu chegar tão longe sem encontrar
sua ereção. Não que ele necessariamente tivesse uma. Ele
provavelmente não tinha. Considerando que ela quase o
desarmou. Além disso, ele fazia essas coisas para viver, sem as
camadas de tecido. Ela se formou em uma expressão
profissional.
O calor das pontas dos dedos de Josh através da seda de sua
blusa enviou arrepios agradáveis para cima e para baixo em sua
espinha. Ele a guiou até que seus peitos entrassem em contato.
— Vamos por este ângulo.
— Entendo — ela disse, tentando não notar a forma como
seus mamilos esfregavam contra o peito dele cada vez que ela
respirava. — Sempre achei que deveria me sentar direito. Você
sabe, para alavancagem. Isso é muito mais íntimo. — Ela inalou
pelo nariz enquanto estudava a linha dura de sua mandíbula.
— Mas não tem tanto espaço para… cavalgar. — Certamente o
vapor saía de seus ouvidos.
Josh sorriu com covinhas para ela.
— Na verdade, você não precisa cavalgar. Quer dizer, você
pode, a vista seria ótima. — Ele baixou o olhar por apenas um
momento. — Mas no tutorial, estamos sugerindo mais um
movimento de balanço para colocar seu clitóris em contato
com meu osso púbico. — Para seu crédito profissional, Josh fez
a descrição estimulante com uma cara séria.
— Como isso funcionaria? — Ela mal conseguia
pronunciar as palavras. O cheiro dele, uma mistura inebriante
de pele e sabão, fez uma névoa de luxúria rolar e cobrir metade
de seu cérebro.
— Eu poderia te mostrar, mas eu… Uh… teria que colocar
minhas mãos em sua bunda.
— Estaria tudo bem — disse Clara com toda a dignidade
que conseguiu reunir. O que tinha acontecido com sua força
de vontade?
Josh segurou-a por trás, apertando o tecido delicado de sua
saia até que as pontas de seus dedos queimaram sua pele nua.
Seus olhos se fecharam quando, a partir desse ponto de
alavanca, ele a apertou contra sua pélvis em uma figura fluida
de oito.
Puta merda. Ela mordeu o lábio para não gemer. Montar o
jeans áspero de sua calça, através apenas do tecido fino de sua
calcinha, criou uma fricção requintada.
— Meu Deus.
— Você está bem? — Josh congelou, apertando a
mandíbula com tanta força que um músculo se contraiu em
sua bochecha.
Clara murmurou uma confirmação e fechou os olhos com
força. Se ela abrisse a boca, diria algo desesperado. Algo
imundo. Ela sabia que poderia gozar assim se ele repetisse
aquele movimento.
Josh mudou seu controle para os quadris dela.
— Ainda temos que colocar a fita. — Sua respiração estava
irregular.
Clara não podia acreditar que ela já havia perdido um
segundo de sua vida sexual em qualquer posição, exceto esta.
Ela pressionou as palmas das mãos no chão de cada lado de seu
rosto, balançando-se sobre ele enquanto seus seios se
arrastavam em seu peito.
Quando ela abriu os olhos, ele estava olhando para ela.
Ela mordeu o lábio inferior com força suficiente para sentir
o gosto de sangue. O sexo a seco foi tragicamente subestimado.
— Droga, Clara. Você está me deixando louco.
Ele trouxe as mãos de volta para sua bunda e abriu a extensão
de seus dedos para que ele pudesse amassar sua pele
superaquecida.
Clara se esfregou desenfreadamente contra ele enquanto seu
prazer crescia.
— Oh Deus. Estou perto.
Seu aperto ficou forte o suficiente para que ela imaginasse
que acordaria amanhã com as marcas de seus dedos. A ideia a
fez estremecer contra ele.
— Não pare.
— Tudo que você mandar. — Josh grunhiu enquanto a
puxava para baixo desta vez, através de sua ereção
inconfundível.
— Sabe, funciona ainda melhor se você tirar a roupa —
Naomi disse em uma voz seca de dentro do quarto.
Josh e Clara se levantaram com dificuldade, ou pelo menos
tentaram. Seus pés escorregaram no piso laminado brilhante e
ela balançou os braços freneticamente, tentando recuperar o
equilíbrio.
— Porra — disse Josh quando o cotovelo de Clara bateu em
seu plexo solar.
— Não exatamente. — Naomi examinou suas unhas. —
Mas tenho certeza se eu tivesse aparecido dez minutos depois…
Clara abriu a boca para se desculpar ou explicar. O que saísse
primeiro.
— Sou uma mulher paciente, mas se você pronunciar as
palavras, “não é o que parece”, vou perder a cabeça.
A voz baixa de Josh continha traços de cansaço e advertência
quando ele disse
— Stu…
— Clara, você poderia nos dar um momento? — Naomi
arreganhou os dentes como uma pantera raivosa.
A indecisão prendeu os pés de Clara no chão. Por um lado,
ela provavelmente não deveria abandonar Josh. Afinal,
necessitou dos dois para fazer aquilo. Por outro lado, Naomi
era sua ex. Uma ex com quem ele ainda esperava se reconciliar,
pelo o que ela ouviu. Talvez ele quisesse a oportunidade de
explicar o problema com a fita diretamente? Clara dificilmente
queria ficar parada e ouvir Josh escrever sua resposta amadora
ao que os dois profissionais provavelmente consideravam uma
pergunta cotidiana.
Ela juntou suas coisas lentamente, dando a Josh bastante
tempo para sinalizar se ele precisava de apoio moral. Ela até se
inclinou para amarrar os cadarços.
— Clara, está tudo bem. — Ele manteve os olhos fixos em
Naomi. — Te encontro no carro.
Enquanto ela fugia, milhares de cenários para o que estava
acontecendo no estúdio passaram em technicolor por sua
mente. Cada um mais incendiário do que o anterior. Ela ligou
o motor e o rádio. Porque os dois resultados mais prováveis de
uma desavença entre Josh e Naomi eram gritar e trepar e, em
qualquer dos casos, ela não queria ouvir.

•••

Naomi apontou um dedo ameaçador diretamente para o


coração de Josh.
— Você não pode se controlar, pode?
Josh suspirou. Ele já estava se afogando na areia movediça de
seus sentimentos por Clara. A última coisa que ele precisava
agora era um sermão de sua ex-namorada.
— Eu não posso acreditar que você jogaria fora todos os
nossos futuros para molhar seu pau.
Ele estendeu a mão e afastou a mão de Naomi.
— Não fale sobre ela assim. Clara e eu não vamos fazer sexo.
— Pelo menos, não do tipo que Naomi o estava acusando.
Jesus, quando sua vida ficou tão complicada?
— Uau. — Naomi deu um passo para trás que fez seu
vestido balançar até os joelhos. — Eu nunca pensei que veria o
dia em que você mentiria na minha cara. — Ela abriu os braços
para longe do corpo. — Eu sabia que isso ia acontecer. Eu
soube assim que ela se mudou. Você não pode resistir a uma
mulher que nunca vai se comprometer com você.
Josh rejeitou a queimadura de vergonha em sua garganta.
— Você não sabe do que está falando. Estávamos corrigindo
um erro de enquadramento. Um que você não percebeu, por
falar nisso. — Eles precisavam chegar ao chão? Provavelmente
não. Mas Clara estava com aquela saia plissada e sedutora e ele
não se conteve.
— Não cometi um erro de enquadramento. — Ela pisou até
o suporte da câmera e olhou através da lente. — Você está
falando sobre o enquadramento da cena? Josh, mandei limpar
profissionalmente a grande angular. — Ela tirou a lente cara da
bolsa. — Esse é o padrão na plataforma. Voltei para trocá-lo.
Agora, graças às suas travessuras amorosas, tenho que atrasar o
horário de Lance e Ginger amanhã em uma hora para consertar
essa bagunça.
Ele esfregou a nuca.
— Oh.
Isso fazia sentido. Merda. Ele estava nervoso por ter tudo
pronto. Adicione a sensação cada vez mais tonta que ele tinha
sempre que Clara ficava a três metros dele, e ele claramente
tirou conclusões precipitadas.
Naomi bateu o pé.
— Além disso, mesmo que eu tivesse cometido um erro, o
que vocês dois estavam fazendo não era enquadramento.
— Jesus. Você tem razão. OK? Olha, se isso faz você se sentir
melhor, eu levei um chute no saco por meus esforços. — Ele
ainda tinha uma vaga dor de estômago. — Você acha que eu
não sei que Clara Wheaton é uma atração impossível? Ela é uma
gênia rica e culta e eu sou um degenerado que abandonou a
faculdade com mais pau do que cérebro.
Todo mundo achava que era com o ciúme que você tinha
que se preocupar ao tentar namorar tendo sua carreira, mas isso
era apenas a ponta do iceberg. O ciúme presumia que as pessoas
que não eram da indústria aceitavam as implicações morais e
sociais de sua profissão. Que eles não se importariam de
apresentar alguém que fez pornografia para colegas de trabalho
e pais. Que o objeto de sua afeição possa se imaginar de pé ao
seu lado na frente de amigos e familiares e declarando amor e
lealdade a alguém que grande parte do resto do mundo
considerava impuro. Clara deixara claro que sua família nunca
o aceitaria.
As sobrancelhas de Naomi se juntaram.
— Quando foi a última vez que você fez sexo?
Ele olhou para o teto, tentando se lembrar. Uma visão de
Clara, com os olhos fechados e a boca aberta enquanto ela
arqueava as costas de prazer, entrou em sua cabeça. Clara não
contava. Agora que ele começou a pensar sobre isso, talvez não
houvesse ninguém por um tempo.
— Muito. Tempo. — Naomi retrucou. — Se você tem que
pensar sobre isso, já faz muito tempo.
— Eu estive ocupado. — Começar um negócio exigia muito
mais mão de obra do que ele presumira quando se ofereceu.
— Sim — Naomi zombou. — Ocupado se apaixonando por
alguém completamente inapropriado. Você já parou para
pensar em todas as pessoas que podem ser pegas no fogo
cruzado se você partir o coração de Clara? O que vai acontecer
com Shameless quando vocês dois não aguentarem ficar na
mesma sala juntos? — Ela passou as mãos pelos cabelos. — Se
ela cortar nosso financiamento, estamos acabados.
— Quem disse que eu partiria o coração dela? — Ele não
queria machucar Clara. Sim, ele queria transar com ela. Mas ele
tinha fodido muitas pessoas e todos pareciam gostar disso. Pela
primeira vez em muito tempo, ele tinha muito mais do que sexo
em seu cérebro. Aquela palavra impossível saltou à mente
novamente, mas ele a guardou. Mais tarde, quando estivesse
sozinho, ele poderia tirá-la da caixa e examiná-la.
— Não me insulte fingindo que não sabe do que estou
falando — disse Naomi.
Foi a vez de Josh jogar as mãos no ar.
— O que você está falando não é da sua conta.
— Não é da minha conta? Josh, foi você que fez disso meu
negócio. E não só eu. E quanto a todos os artistas que
convencemos a nos seguir nesta missão suicida contra Pruitt?
O que acontece com eles quando os contracheques secarem?
— Tudo bem. — Ele ergueu as mãos. — Você provou o seu
ponto. Vou me afastar da Clara.
— Prometa. — Naomi estendeu a mão em expectativa.
Josh olhou para as unhas vermelho-sangue dela e tentou não
deixar seu medo transparecer em seu rosto.
— Não seja dramática.
— Eu pareço estar brincando agora? Jure para mim que
você não vai fazer sexo com Clara ou entrar em qualquer outro
tipo de envolvimento romântico maluco, ou eu saio deste
projeto esta noite. — Ela empurrou a mão para ele até que ele a
apertou brevemente com a sua.
— Você não acha que está sendo um pouco hipócrita agora?
Você e eu fizemos isso. — Ele queria que Stu dissesse que estava
tudo bem. Que é claro que ele e Clara poderiam encontrar uma
maneira de fazer isso funcionar. Ele não tinha certeza se
sobreviveria à alternativa.
— Eu não posso acreditar que ainda estamos tendo essa
conversa. Você e eu nunca trocamos dinheiro. Mas, mais
importante, você sabe tão bem quanto eu que a única razão
pela qual nosso relacionamento funcionou foi porque, na
maioria das vezes, deixamos um ao outro sozinhos.
Ela tinha um ponto.
— Eu nunca empurrei você e você nunca tentou me
controlar. Sempre admitimos o fato de que éramos duas
pessoas que gostavam de foder uma com a outra, tentando
desesperadamente manter as câmeras funcionando. — Ela deu
a ele seu sorriso de assinatura. Aquele em que ela mal moveu a
boca, mas seus olhos brilharam. — Gostei de você porque
nunca tive que me preocupar com você se apaixonando por
mim, Josh.
Ele odiava quando ela estava certa.
— Para que conste, você é adorável. Se você der a alguém
meia chance.
Naomi encolheu os ombros.
— Nesse caso, acho que nunca saberemos.
Josh engoliu em seco. Ele teve que perguntar.
— E se Clara for diferente? — Ele sabia que não estava certo.
Que ele deixou sua paixão por seu colega de quarto ir muito
longe. Mas seus sentimentos por ela eram muito confusos,
muito poderosos, para recuar agora. No grande esquema das
coisas, amar Clara Wheaton era realmente tão ruim?
Naomi balançou a cabeça.
— Ninguém é diferente. Todos eles querem a fantasia, mas
ninguém quer a realidade.
— Estou falando sério, Stu. Você deveria ter visto ela
quando eu quis parar. Essa coisa toda, essa ideia insana, ela fez
isso porque acredita em mim. — Ele esfregou a mão no rosto.
Ele não conseguia conciliar as palavras de Naomi com as ações
de Clara. — Parece ridículo, eu sei, mas pela primeira vez na
minha vida alguém quer que eu viva de acordo com meu
potencial. O que quer que isso signifique.
— Eu sei. — Sua boca se formou em uma linha fina e reta.
— Ela pensa que é mole, mas às vezes ela fica com esse olhar
em seus olhos. Eu nem sei como descrever.
Naomi suspirou.
— Como se ela pudesse comer unhas no café da manhã.
Josh sorriu para seus sapatos.
— Sim.
Quando Naomi falou, sua voz saiu mortalmente séria.
— É por isso que te fiz jurar.
Tudo que poderia dar errado aconteceu na manhã da primeira
grande apresentação de Clara para a equipe de campanha de
Toni Granger.
Ela dormiu demais, tendo se esquecido de definir um alarme
na noite anterior. Ela ficou sem pasta de dente, bateu o dedo do
pé na sala de estar em um dos amplificadores rebeldes de
Everett, e agora, o pior de tudo, o ônibus para Malibu, seu
arqui-inimigo, sumiu.
Não pela primeira vez naquela manhã, ela desejou que Josh
estivesse em casa. Ele a havia levado para trabalhar antes, mas
ela mal o tinha visto desde que as filmagens para Shameless
haviam começado alguns dias antes. Depois de deixá-la na noite
anterior, ele voltou em um táxi para se encontrar com alguns da
equipe para bebidas e não voltou.
Ela tentou não se deixar pensar muito na maneira como os
olhos de Ginger o engoliram toda vez que ele lhe deu uma
direção de cena na noite passada ou como Naomi ainda podia
tê-lo aos seus pés com um sussurro. Ele passou a noite com uma
delas? Ou, ela engoliu em seco, as duas? Seu coração nadou
entre seus ouvidos e ela fechou os olhos contra a dor. Como
Josh passava seu tempo livre não era da conta dela, mas isso não
significava que ela não se importasse.
Além disso, provavelmente ela estava exagerando e ele estava
apenas ocupado com assuntos de negócios. Ela não podia negar
que Shameless criou um buraco negro de trabalho. Mas ela
também não conseguia afastar a sensação de que sua súbita
ausência de casa coincidiu mais especificamente com Naomi
entrando no estúdio outra noite. Quando ele finalmente
voltou para o carro depois, Josh estava estranhamente quieto,
abrindo a boca apenas o tempo suficiente para perguntar a ela
“Você quer dirigir?"
Ela olhou para ele em cada semáforo no caminho de volta
para West Hollywood, tentando desviar seus pensamentos,
mas o céu noturno tinha pintado seu rosto com sombras,
reduzindo-o ao queixo e maçãs do rosto e as cavidades sob seus
olhos.
O carro se encheu com as palavras que ela queria dizer, mas
não conseguia pronunciar. Homens como Josh não pensavam
em perguntas como o que está acontecendo entre nós? de garotas
com quem eles nem tinham dormido.
Clara tentou se acostumar a ter um comportamento calmo
e distante, mas em vez disso, ela ficou distraída e desajeitada.
Quase como se a presença de Josh em sua vida tivesse sido a
corda que amarrava seu barco à costa e de repente ele a tivesse
deixado à deriva.
Ela passou as costas da mão pela testa úmida e, mantendo
um pé na calçada, olhou para a rua. Nada.
Ela olhou para o relógio. 8:07. Se o ônibus chegasse nos
próximos três minutos, ela chegaria apenas cinco minutos
atrasada para seu encontro com Toni. Cinco minutos atrasado
para uma reunião das nove e meia era plausível com o tráfego
de L.A. Não é bom, mas desculpável. O tipo de coisa que você
poderia fazer com um pedido de desculpas encantador.
8:08. Cada minuto que ela esperava tirava suas opções de
transporte alternativo. Eles entraram no horário nobre para os
passageiros de Los Angeles. Se ela chamasse um carro neste
momento, eles levariam vinte minutos para chegar aqui.
Ela não teve escolha a não ser ligar para Jill.
Sua chefe atendeu após apenas um toque, então Clara sabia
que ela também estava obsessivamente fazendo a contagem
regressiva para a reunião.
— E aí, como vai?
Clara ouviu as leves rachaduras na calma praticada de sua
tia.
Fazendo malabarismo com o telefone, ela mudou a pilha de
impressos que carregava para o outro braço.
— Eu sinto muito. Dormi demais e agora o ônibus está
atrasado. — A verdade tinha um gosto amargo.
Ela dormiu demais depois de ficar acordada metade da noite
esperando Josh voltar para casa. De alguma forma, ela deixou
seus sentimentos por ele entrarem em território traiçoeiro. A
cada dia, a maneira como ela se preocupava com ele ficava
menos amigável, mas um relacionamento romântico entre eles
era impossível. Pateticamente absurdo. Sua família iria pirar se
soubessem que ela compartilhava o mesmo teto com alguém
que fazia um excelente material para os tabloides. Além disso,
até onde ela sabia, Josh não namorava. Pelo menos não
mulheres como Clara. Eles desabafaram juntos algumas vezes.
Mas como ele disse a ela na primeira semana, ele não teve
problemas em separar sexo de sentimentos. Clara queria
acreditar que tinha aprendido a lição quando Everett partiu.
Então, por que ela se sentiu tão mal quando pensou em Josh
tocando alguém que não era ela?
— Eu não sei o que fazer — disse Clara, metade para Jill e
metade para si mesma. — Já estou aqui há vinte e cinco
minutos. Você pode ter que começar sem mim.
Houve uma longa pausa na outra linha, e ela percebeu que
sua tia, sua chefe, queria escolher as palavras com cuidado.
— Eu não posso começar sem você. Você tem as cópias da
apresentação. Se você não estiver aqui quando Toni chegar,
não tenho certeza de que ela não vai se virar e sair pela porta.
Porcaria.
A pilha de impressões nos braços de Clara incluía semanas
de pesquisas, projeções de impressão meticulosas e modelos
avançados de ROI. Eles trabalharam incansavelmente nessa
proposta de campanha do primeiro turno por semanas. Não
era o tipo de coisa que alguém, mesmo Jill, poderia recriar em
trinta minutos.
— Eu poderia lhe enviar o arquivo e você poderia imprimi-
lo no escritório? — A ansiedade arranhou sua garganta.
Jill suspirou sobre a linha.
— Com nossa impressora antiga, vai sair parecendo lixo. É
por isso que optamos por impressões de nível profissional. Vou
ter que remarcar. — Seu tom contido e resignado fez Clara
fechar os olhos.
Então era assim que se sentia ao decepcionar as pessoas que
você amava. O rosto de sua mãe franzindo a testa por trás das
pálpebras. Ela tinha visto aquele olhar dirigido a seu pai e Oliver
inúmeras vezes, mas antes de se mudar para L.A., ela nunca se
viu em sua trajetória direta.
Clara se viu se escondendo.
— Não, não. Eu vou descobrir algo. Eu estarei lá. — O que
era aquele ditado sobre fazer promessas que você não tinha
certeza se poderia cumprir? Ela desligou antes que seu cérebro
pudesse alcançar sua boca. 8:13.
Os raios pesados do sol bateram contra suas costas,
ameaçando liquefazê-la onde ela estava. Clara procurou um
lenço de papel em sua bolsa, e sua mão roçou metal frio e
afiado. A chave reserva de Josh. Seu voto de confiança.
Ela começou a andar o pequeno quarteirão de volta para a
casa. Até que a tinta preta brilhante do Corvette piscou para ela
na calçada. Ela imaginou onde Josh estava naquele momento,
provavelmente deitado nu na cama, beijando o ombro da
conquista da noite anterior. O estômago de Clara ameaçava
motim.
Ele perderia a cabeça se ela dirigisse o carro sem ele. A ideia
de tirar vantagem de sua chave sem permissão a fez balançar a
cabeça em sua própria linha de pensamento. Ela não podia
violar a única regra que Josh já havia dado a ela. Sem falar que a
ideia de dirigir sozinha fazia suas pernas tremerem.
Mas Jill precisava dela. Sua tia teve uma grande chance,
contratando-a para trabalhar neste projeto de alto nível. Clara
não podia deixar que a firma sofresse as consequências do
egoísmo de seu membro mais jovem. Ela teve que assumir a
responsabilidade por se oferecer demais.
Josh a deixava dirigir o Corvette quase todas as noites para o
estúdio e ela o trazia para casa logo após a reunião. Depois de
puxar seu número para cima em seu telefone, ela olhou para os
dígitos. 8:15. Quem ela estava enganando? Se ela perguntasse,
ele definitivamente diria não e então ela estaria sem opções.
Clara enrolou os dedos ao redor da chave até que as pontas
cravaram na palma da mão.
Por favor, não deixe ele me odiar por isso. Com um último
olhar para a rua em busca do ônibus, ela correu para o carro.
Os trinta segundos em que ela teve que mover o banco do
motorista para acomodar suas pernas curtas quase a detiveram.
O assento parecia resistir a deslizar para a frente, como se a
Vette quisesse salvá-la de si mesma. O silêncio sufocou o
interior vazio enquanto ela girava a chave na ignição até que o
ronco repentino do motor a fez pular.
Josh entenderia. Ele teria que.
— Isso não é tão ruim — disse Clara para o banco do
passageiro vazio alguns minutos depois. Se ela mantivesse um
fluxo constante de conversa, ela quase poderia fingir que Josh
a acompanhava.
Mas então a adrenalina começou a diminuir e o pânico
ameaçou tomá-la.
Ela engoliu em seco enquanto acelerava para manter o fluxo
do tráfego. Até agora ela só teve que trocar de faixa duas vezes.
Enquanto ela tentava relaxar seu aperto no volante, ela
percebeu que seus dedos estavam um pouco dormentes. No
segundo em que a reunião terminasse, ela e Jill levariam o carro
de volta, e Josh nunca saberia. Ela praticou suas falas para a
apresentação repetidamente em sua cabeça.
Por fim, ela saiu da interestadual e diminuiu a velocidade na
placa de quatro vias a alguns quarteirões da empresa.
Quase lá.
O Corvette conseguiu cruzar a metade do cruzamento antes
que Clara ouvisse o barulho familiar de borracha contra o
pavimento, seguido de um estalo metálico.
— Com licença, senhorita? Procuro a suspeita criminal Clara
Wheaton. — Josh entrou no quarto do hospital com as roupas
amarrotadas da noite anterior. Apesar do tom provocador, ele
tinha olheiras, traços óbvios de tensão.
Sua presença familiar invadiu Clara, acalmando-a de uma
forma que nada mais havia feito.
— Josh — ela disse, do jeito que alguém pode dizer Uau ao
ver uma estrela cadente voar pelo céu.
Mas então ela se lembrou. Lembrou-se de que ela não
merecia que ele corresse para sua cabeceira como um cavaleiro
de conto de fadas em armadura brilhante. Ela respirou fundo e
lutou contra a ameaça de lágrimas, não querendo arriscar Josh
oferecendo sua simpatia em vez da bronca que ela merecia.
Pareciam semanas desde que ela o havia visto, ao invés de
horas. Ela havia se acostumado demais a tê-lo por perto. Desde
a largura de seus ombros e a inclinação acentuada de seu nariz.
À maneira como ele a fazia rir, mesmo quando seu cérebro
insistia em trabalhar horas extras. Clara pegou o presente de sua
bondade e esmagou-o sob o calcanhar. Por que ele sempre
parecia tão bonito? Ela desviou os olhos do rosto dele por
tempo suficiente para notar o buquê levemente flácido em seu
punho. A inevitável avalanche de seus soluços explodiu.
— Calma lá — disse Josh. — Ei. Você está com dor? Você
quer que eu chame uma enfermeira? — Ele se aproximou da
cama dela, o rosto contraído, e levou as costas da mão à testa
dela.
— O que você está fazendo? — Ela soluçou, olhando para
ele por baixo de sua palma.
O topo das orelhas de Josh ficou rosa.
— Sempre me sentia melhor quando minha mãe fazia isso.
Como se qualquer ferida estivesse sendo levada a sério — Ele
limpou os rastros de suas lágrimas com o polegar quente.
Ela roubou seu carro e arruinou sua amizade. Por que ele
estava tão calmo? Tão doce? Os ombros dela ficaram tensos,
esperando que ele gritasse ou, pior, expressasse baixinho seu
desapontamento.
Josh deve ter confundido sua culpa com dor porque ele
disse:
— Calma, tigresa. Você teve um grande dia — e então,
aparentemente se lembrando das flores em sua outra mão, ele
as colocou cuidadosamente no colo dela.
Seu monitor de frequência cardíaca disparou. Era estúpido
e vão, mas Clara odiava que ele a estivesse vendo em seu horrível
vestido de hospital. Ela considerou toda essa cena dramática
demais para o que equivalia a um glorificado acidente. O dano
ao seu orgulho levaria mais tempo para curar do que seu corpo.
Apesar de seus protestos de que ela estava bem, apenas
abalada, os paramédicos no local insistiram que ela fosse ao
hospital para fazer exames quando sua pressão arterial não
baixou. Ela tentou explicar que a resposta fisiológica derivava
da preocupação com as reações de sua colega de quarto e da
chefe, mas seu raciocínio não acalmou os profissionais
médicos.
Pelo menos eles a deixaram assinar um formulário de
liberação e carona com Jill, que havia deixado Toni Granger na
sala de espera para correr para o seu lado, em vez de fazê-la ir na
ambulância. Uma vez no hospital, ela não encontrou nenhum
argumento eficaz contra a longa série de testes e espera. Ela
tinha acabado de convencer Jill a voltar para o escritório e
controlar os danos quando Josh chegou.
Clara apontou o queixo para o teto em um esforço para
diminuir o fluxo de água. Se ela olhasse para Josh, ela perderia
de novo. Por que ele estava agindo como se ela não tivesse feito
essa coisa horrível e egoísta? Se a família dela lhe ensinou
alguma coisa, foi que, quando você decepciona as pessoas, você
sofre as consequências. Sentimentos feridos na melhor das
hipóteses, artigos de notícias e pena de prisão na pior das
hipóteses. Você não ganha flores e certamente não recebe
apelidos afetuosos.
— Desculpe, elas estão um pouco amassadas. — Josh virou
as flores para que o lado menos amassado ficasse de frente para
ela e as segurou sob seu nariz. — Eu, ah, posso ter
acidentalmente sentado em cima delas durante a viagem.
Seu coração batia, dois tamanhos maiores do que seu peito.
Sua doçura torturou sua consciência culpada.
— Eu sinto muito, Josh. Eu sei que você deve estar lívido,
mas aconteça o que acontecer, vou me certificar de que seu
carro saia de tudo isso como novo.
Uma pequena ruga apareceu entre suas sobrancelhas.
— Wheaton, eu poderia dar a mínima para o carro agora.
Alguém tentou mutilar você. — Ele ainda estava segurando seu
rosto em sua mão, acariciando para frente e para trás sobre sua
mandíbula como se ela fosse feita de vidro.
— Isso não é exatamente verdade. O cara ficou confuso. Ele
é de fora da cidade, como eu, e não está acostumado a dirigir
em L.A. e ele se sentiu tão mal, Josh. Ele realmente se sentiu.
Ele estava um caco. — Ela imaginou o homem mais velho com
cabelo grisalho e um grande bigode sentado no meio-fio ao lado
dela com o rosto nas mãos.
— Mm-hm — disse ele, evasivo. Seus olhos traçaram sobre
seu rosto e pescoço, seus braços, e ele até tirou os cobertores
para inspecionar suas pernas. — Onde você está ferida?
— Tenho uma chicotada no pescoço e nos ombros. O cinto
de segurança causou mais danos do que qualquer coisa. —
Estou mais preocupada que você nunca me perdoe quando vir o
que deixei acontecer com o seu carro.
— Jesus. — Ele traçou um dedo muito levemente sobre a
linha vermelha furiosa cortando sua clavícula. — Eles vão
manter você aqui?
Clara estremeceu, mas não de dor. De alguma forma, seu
manuseio gentil causou mais estragos em seu coração do que
qualquer um dos flagrantes giros anteriores.
— Não. Eles fizeram todos os testes e tudo voltou limpo. —
Esses toques provavelmente não significavam nada para ele,
mas Clara certa vez passou trinta minutos convencida de que
deixar sua coxa tocar a de um garoto no cinema equivalia a um
momento fumegante de intimidade. — A última coisa que
ouvi é que eles estavam processando papéis de alta. Como você
sabia onde me encontrar?
Josh recuou e levou as mãos com ele.
— A polícia me ligou. Meu nome está no registro do carro.
Não se preocupe, eu disse a eles que deixei tudo limpo para você
pegar o carro emprestado, então você não está com problemas.
— Ele olhou para seus sapatos. — Eu gostaria que você tivesse
me chamado. Lance bebeu muito no bar ontem à noite, então
eu dormi em seu sofá para me certificar de que ele estava bem.
Se eu soubesse que você precisava de ajuda, teria voltado para
casa mais cedo.
Clara afundou de volta em seus travesseiros.
— Eu entrei em pânico. Eu queria ligar para você, mas achei
que você ficaria bravo.
— Por que eles não colocam cadeiras aqui? Chegue um
pouco para o lado — Sua estrutura alta preenchia o espaço que
ela tinha feito para ele e mais um pouco. — Eu estou bravo, sua
pequena idiota. Você me assustou pra caramba. Cheguei em
casa e o carro tinha sumido. Sem nota. Nada. — Ele balançou
sua cabeça. — Eu fiquei selvagem. Achei que alguém tinha
roubado e não sabia se você estava em casa na hora. Se eles
tinham tentado te machucar.
Josh estendeu a mão e empurrou o cabelo de sua testa. Seus
olhos procuraram os dela.
— Você não deveria ter pego o carro sem me perguntar. Mas
se você pensou, por um segundo, que algo assim teria me
impedido de ir atrás de você quando você precisava de mim…
— Ele deu a ela um sorriso sexy o suficiente para matar uma
legião de enfermeiras. — Bem, então você não é tão inteligente
quanto pensa que é.
Ela levou a mão ao coração, esperando em vão impedir que
escapasse da jaula de seu corpo.
— Eu ainda sinto muito. Você não tem ideia do quanto.
Peguei o carro porque não queria decepcionar Jill e Toni.
Ela cruzou as mãos no colo.
— Não estou tentando me desculpar. Não há desculpa para
o que fiz, mas achei que você merecia saber por quê. Eu fico
realmente doente por não atender às expectativas de outras
pessoas. — Clara soltou uma risada oca. — Mas mesmo
quando tento, ainda acabo machucando as pessoas. Eu
realmente sinto muito que desta vez você tenha sido um deles.
— Clara. — Josh inclinou o queixo dela até que ela
encontrou seus olhos. — Sobre o que você está falando? Esse
tipo de perfeição? É impossível. Você nunca vai agradar a
todos. Não me interprete mal. Você é boa, mas ninguém é tão
bom assim.
Clara pressionou o rosto no peito dele, para que ele não visse
o retorno de suas lágrimas embaraçosas. Ele cheirava a doce,
como açúcar de confeiteiro.
— Você comprou rosquinhas de novo?
Ele apoiou o queixo no topo da cabeça dela.
— O que, você é um cão de caça? Sim, tudo bem, comprei
um donut de “melhoras” quando peguei as flores, mas o
trânsito no caminho estava terrível e eu tive que comê-lo. Para
sustento. Foi uma emergência.
— Eu mereço isso — Clara disse, tentando esconder a
diversão em sua voz.
— Você bateu o meu Corvette.
— Verdade.
— Quer saber como consegui aquele carro? — Ele pegou a
mão dela, desenhando pequenos círculos sobre os nós dos
dedos com o polegar.
— Essa história vai me fazer sentir melhor ou pior?
— Bem, pertencia ao meu avô.
— Eu destruí uma herança de família? Sério?
— Não. Não, escute. Eu não acabei. Aqui. Beba essa água.
— Josh empurrou o copo plástico de sua mesa de cabeceira em
sua mão.
— Então, meu avô comprou o Vette em 1976. Chamou-o
de seu carro para a crise da meia-idade. Enfim, ele amou.
Durante toda a minha infância, eu tenho essas memórias dele
encerando e polindo a coisa. Minha avó disse que ele queria
uma desculpa para ficar ao lado do carro.
Josh colocou o cobertor cuidadosamente em volta das
pernas dela, de onde havia escorregado.
— De qualquer forma, quando eu tinha idade suficiente
para dirigir, não havia nenhuma maneira no inferno que meus
pais pudessem pagar para me comprar um carro. Nem a porra
de uma chance. — Ele acentuou a história com gestos
selvagens. — Mas cheguei em casa um dia depois da escola e lá
estava meu avô com o Corvette estacionado na garagem,
segurando as chaves.
Clara se animou com a animação no rosto de Josh.
— Eu não conseguia acreditar. Eu disse a ele que não podia
aceitar. Mesmo sendo um ímã total de gatinhas, eu sabia o
quanto ele amava aquele carro. Mas ele me olhou nos olhos e
disse: 'Pegue. Por favor. Dar ele a você, fazer você feliz, é melhor
do que no dia em que a ganhei. '
Josh pegou seu copo de água vazio e o colocou de volta na
mesa.
— Para mim, aquele carro sempre representou a ideia de que
as pessoas são mais importantes do que as coisas. Até as coisas
que você ama. Assistir você dirigindo neste verão, vencendo seu
medo, inferno, até mesmo imaginar você reunindo sua
coragem para ligar o motor sozinha esta manhã… — Ele olhou
para cima, pegando seu olhar. — De alguma forma, parece
melhor do que no dia em que o peguei.
— Essa é uma história muito boa.
Josh se mexeu para poder se recostar nos travesseiros dela e
cautelosamente colocar o braço em volta dos ombros dela.
— Obrigado, pensei que seria.
— Josh, como eu vou consertar isso para você?
— Eu não me preocuparia com isso, Wheaton — ele
sussurrou, pressionando os lábios contra a têmpora dela. —
Você parece extremamente pateta nesse vestido de hospital e
ainda tem um longo caminho.
— OW . . . OWWW. . . OW. . . OW!
Josh podia ouvir Clara alternadamente ganindo e
choramingando pela porta do banheiro, onde ela se trancou
depois de insistir que conseguia tomar banho sozinha apesar de
sua chicotada. O médico concordou em dar alta com a
recomendação de que ela descansasse e tomasse ibuprofeno
duas vezes ao dia até que a dor diminuísse.
Clara se recusou a reconhecer que manter sua rigorosa
rotina diária agora incluía desafios inesperados.
Ele encostou o rosto no compensado barato que os
separava. Ele estava do lado de fora do banheiro por quinze
minutos desde que ela entrou, caso ela caísse ou algo assim e ele
precisasse arrombar a porta.
— Pelo amor de Deus, Clara, deixe-me ajudá-la.
Até agora ela havia passado a manhã gingando como um
patinho perdido. De seu poleiro no balcão da cozinha, ele a
observou entrar na sala de estar, suspirar dramaticamente e se
virar. Alguns minutos depois, ela entrou na cozinha e abriu a
geladeira antes de parecer decidir que era muito esforço e se
contentar com punhados de cereais secos da caixa. O cereal
dele.
Ele se ofereceu para fazer ovos mexidos ou queijo grelhado,
suas duas especialidades, mas ela lhe disse que não merecia
comida quente depois que o mecânico disse que o Vette ficaria
fora de serviço por pelo menos uma semana.
Ela estava agindo como se uma coisa ruim nunca pudesse ser
absolvida, e isso estava o irritando. Só quem nunca fez nada de
errado pensaria que pegar um carro emprestado merecia esse
nível de autoflagelação.
Ele desistiu e usou o sistema estúpido de três batidas para
solicitar a entrada, intimidado o suficiente para empregar sua
regra doméstica ridícula.
— Absolutamente não — ela gritou por cima do barulho do
chuveiro.
— Clara, isso é uma loucura do próximo nível, até mesmo
para você. O médico disse que você não deve levantar os braços
acima da cintura até que a dor de cabeça diminua. É metade do
seu corpo. Eu sou o único que tem que estar perto de você o
tempo todo. Se você fede, é o meu nariz que sofre.
O som da água foi cortado abruptamente.
— Mas você vai me ver nua. Novamente. Isso quebra as
diretrizes para uma coabitação harmoniosa.
— Eu vi pelo menos vinte corpos nus nesta semana
filmando para o site e nada aconteceu. — Era um risco
ocupacional. Anos de aventuras dentro e fora das câmeras
entorpeceram seus sentidos sexuais. Mesmo que eles tivessem
trabalhado com mulheres lindas todos os dias nas últimas
semanas, era como se ele estivesse usando protetores de ouvido
ou óculos sujos durante as filmagens; nada penetrou.
— Eu não tenho palavras para explicar como sua forma
machucada e espancada não vai me enviar em uma espiral
sexual. Isso tudo é muito simples. Você está ferida. Você está
fedendo. Deixe-me entrar. Vai ser tão impessoal que você vai
pensar que passou por um lava-rápido.
Um momento depois, Clara abriu a porta, segurando uma
toalha em volta de si com uma das mãos.
O banheiro minúsculo estava facilmente dez graus mais
quente que o corredor e cheio de vapor. Ele piscou algumas
vezes para clarear sua visão. O efeito combinado do ambiente e
a visão de Clara com os cabelos úmidos, sua pele perolada de
água estava… sedutor.
— Puta merda. — Seu decote o fez ver estrelas.
Clara puxou a toalha com mais força em volta dos seios. Ele
não teve coragem de dizer a ela que quanto mais forte ela
puxava o material, mais ele queria se afogar no vale entre seus
seios deliciosos.
Ok. Ele talvez tenha calculado mal. Acontece que ele não era
totalmente imune. Ele tinha esquecido que estar no set
significava muitas pessoas, trabalhando, conversando e
comendo. Significava câmeras e luzes e fantasias e maquiagem
e outros sinais de artifício.
A intimidade de ver Clara em um espaço tão pequeno e
aquecido o fez querer tirar aquela toalha e lamber cada
centímetro dela.
Porra.
— Sinto muito — disse ele, afastando-se dela para se
recompor. Ele provavelmente a estava assustando. Ela está
ferida, seu idiota. Ela precisa de ajuda, não de você babando em
cima dela.
Ele fechou os olhos e pensou em ficar parado no trânsito.
Ele pensou em limpar os dentes. Sentado no trânsito
enquanto limpava os dentes. Aqui vamos nós. Isso foi o
suficiente.
Ele se virou para encontrá-la com uma gota de água
escorrendo pelo nariz dela. Seu coração apertou.
— Desculpe — disse ele novamente em torno de sua língua
grossa. — Superestimei minha própria resistência.
— O que você quer dizer? — Sua voz frágil rompeu seu
estupor de luxúria, pelo menos por um momento.
Ele finalmente percebeu as manchas azuis e roxas que
floresciam em seu pescoço. Ele endireitou os ombros com
determinação renovada para cuidar dela.
— Só que eu deveria ter me preparado mais, antes de entrar,
para que eu pudesse ajudá-la sem ostentar uma ereção
desenfreada.
Os olhos de Clara vagaram para sua virilha com suas
palavras. Quando ela lambeu o lábio superior, o pequeno gesto
o fez quase dobrar.
— Jesus, porra, Cristo. — Tráfego. Dentista. Vovó Pearl.
Os olhos de Clara se arregalaram.
— Eu sinto muito. Eu não vi nada. Prometo. — Ela manteve
os olhos firmemente fixos na pia atrás dele.
— Vamos limpar você. — Lembrou-se de que ia ter que
tomar banho com ela. Nu. As diretrizes não cobrem essa
merda.
Clara parecia ter chegado à mesma conclusão porque ela
dirigiu seu olhar para o chão de ladrilhos.
— Não precisamos fazer isso — disse ele, escolhendo a saída
do covarde. — Eu poderia ligar para Jill. — Sim, Jill. Sua tia não
correria o risco de gozar em suas calças sobre o corpo
convalescente de Clara.
O cabelo molhado de Clara pingou em uma pequena poça
aos pés deles.
— Está bem. Estou bem. Você está bem?
— Sim. — Josh engoliu duas vezes. — Bem.
Ela é apenas uma mulher nua. Apenas outra mulher nua.
Viu uma, você viu todas. Nada demais.
Ele arrancou a camiseta como um band-aid. Se ele
demorasse no ato de se despir, seu pênis continuaria a ter a ideia
errada. Ao alcançar o zíper da calça jeans, cometeu o erro
colossal de olhar para Clara. O brilho em seus olhos, a fome que
ela não sabia como esconder fez suas mãos tremerem.
É assim que eu morro.
Ele ficou com a cueca.
Ela ficaria grudenta e desconfortável quando ele se
molhasse, mas mesmo aquela fina camada de algodão parecia
um escudo contra o canto da sereia que saía da pele de Clara.
Ele girou a maçaneta para reiniciar a água quente, segurando
a mão sob o spray até que estivesse quente o suficiente para
entrar pelas portas de vidro.
— Pronta?
Ela segurou a toalha por mais um longo momento, mas
então deu a ele um pequeno aceno de cabeça e a soltou,
colocando o material em um gancho na pia antes de pegar a
mão que ele ofereceu para ajudá-la a entrar. Havia cerca de
trinta centímetros de espaço na frente dele para ela entrar.
Tenha piedade. Ele pensou que estaria seguro de volta aqui,
fora da linha direta de visão de seus seios, mas o encontro doce
de sua cintura e sua bunda perfeita de pêssego era quase pior.
Especialmente considerando que agora havia apenas cerca de
dez centímetros entre seu pênis coberto de algodão e seu corpo
macio e escorregadio.
Quando ela se virou para olhá-lo por cima do ombro,
provavelmente porque ele estava respirando como um
asmático, ele grunhiu.
— Vire-se.
Ele não tinha a intenção de sair um comando áspero, mas ele
nunca iria passar por isso se tivesse que fazer contato visual com
ela.
Josh precisava desaprender toda a sua personalidade. Ao
longo dos anos, ele aperfeiçoou o carisma dado por Deus em
uma arma primorosamente trabalhada. Ele exerceu seu charme
sem pensar por tanto tempo que Josh Darling se tornou uma
extensão natural dele, tão inconsciente quanto respirar. Mas ele
não podia arriscar flertar com Clara, não agora que sabia que
poderia estar se apaixonando por ela.
Ele pegou seu xampu floral e derramou um pouco em sua
mão. Sua cabeça era um lugar seguro para começar. Nada
erótico em seu cabelo. Além de como parecia sedoso.
— Feche seus olhos. — As palavras pareciam entalhadas em
sua garganta. Ele massageou os dedos em suas têmporas com
movimentos rápidos e eficientes.
Mas Clara não jogou limpo. Ela inclinou a cabeça
ligeiramente para trás em suas mãos. Ele se viu desacelerando,
observando como a boca dela se abriu um pouco quando ele
aplicou a quantidade certa de pressão. Ela fez pequenos ruídos,
pequenos gemidos ofegantes, e ele não sabia se eram sinais de
prazer ou dor.
— Isso está certo?
Clara mordeu o lábio e acenou com a cabeça.
O que estava acontecendo com ele? Ele se sentia louco. Ele
não tinha feito coisas cinquenta vezes mais sujas do que isso
com cinco vezes mais mulheres envolvidas? Por que ele estava
caindo aos pedaços lavando o cabelo de uma patricinha
puritana da WASP8 de bolso?
Ele manteve as mãos em movimento, até a base do crânio,
onde pressionou com os polegares, fazendo-a ofegar. Estava se
tornando impossível para ele lembrar que isso não deveriam ser
preliminares, especialmente quando ele podia facilmente ver
seus mamilos enrugados por cima do ombro.
Depois do que pareceu um milhão de anos em um estado de
tensão máxima, era hora de enxaguar a espuma de seu couro
cabeludo. Ele a guiou sob o jato do chuveiro, evitando
qualquer toque desnecessário. Ele sentiu um breve alívio
quando a água ficou limpa… antes que ele percebesse que ainda
tinha noventa por cento de seu corpo para cobrir.
— Só vou continuar lavando. — Ele transmitiu sua missão
pelo bem de ambos.
— Tudo bem — disse Clara, mas manteve os olhos
fechados. Provavelmente para que ela pudesse fingir que isso
não estava acontecendo.
Ele pegou o gel de banho em seguida, os olhos demorando-
se em sua bucha verde-limão. Mas por mais que soubesse que
deveria, Josh não conseguia desistir do contato direto com a
pele dela. O líquido frio esquentou rapidamente em sua palma.

WASP é a sigla para “White Anglo-Saxon Protestants”


8
Clara era muito menor do que ele. Ele teria que se ajoelhar para
alcançar a metade inferior dela.
Por sorte, o banheiro era longo o suficiente para ele ficar de
joelhos. O contato com o chão frio e duro tirou
momentaneamente seu corpo da aceleração.
— Espere — disse ele, sem saber se falava com ela ou com ele
mesmo.
Seus olhos se abriram como uma princesa acordando de um
sonho, e ele a ajudou a colocar a mão em seu ombro para se
equilibrar enquanto pegava seu pé esquerdo e o colocava em
sua coxa dobrada.
Qualquer pretensão de humildade parecia ter queimado
entre eles, substituída por outra emoção quente e pulsante,
quando ela se inclinou para obedecer. Certamente ela estava
ciente de que esta posição o apresentava com uma visão
desobstruída de sua boceta?
Ele correu as mãos escorregadias de sabão em seu pé e em
torno de seu tornozelo, massageando seu caminho até a
panturrilha. Sua coxa estava tensa quando ele a encobriu, e no
momento em que seus dedos alcançaram sua bunda, ela estava
empurrando seus quadris para frente, emitindo um convite
que ele não teve forças para recusar.
— Por favor, não faça isso — ele engasgou. — Clara, eu não
aguento.
Seus olhos se abriram.
— Eu não queria. Eu não estava tentando insinuar, me
desculpe. — Ela foi desligar o chuveiro, metade do corpo
coberto de sabão.
— Não. — A palavra saiu muito alta, reverberando no
pequeno espaço. Ele corrigiu o volume. — Está tudo bem,
lembra? — Josh cerrou os dentes. — Tente ficar parada.
Ele correu lavando o resto do corpo dela, sentindo-se como
Keanu tentando desarmar uma bomba. Clara não fechou os
olhos novamente.
Finalmente, ele terminou de enxaguar a pele fina atrás de
suas orelhas. Ele recuou até que suas costas estivessem
pressionadas contra a parede de vidro fria.
— Pronto. Feito.
Ele merecia uma maldita medalha.
— Ótimo — Clara disse, parada sob o spray com olhos
inseguros. — Obrigada. Por me ajudar. — Ela encolheu os
ombros.
Josh provavelmente deveria dar uma desculpa para sua
ereção. Não havia dentistas suficientes no estado para moderar
o quanto ele queria transar com ela agora. Claro, ele não faria.
Ele não conseguiria. Mesmo se ela quisesse. Mesmo se ela
implorasse a ele. Oh doce Jesus, por favor, não a deixe implorar.
Por que de novo? Oh, certo. Porque ele prometeu a Naomi.
Ele não podia quebrar sua palavra. Seu voto. Shameless tinha
chegado tão longe nas últimas semanas. As pessoas estavam
contando com ele. Ele finalmente estava fazendo algo
importante.
Clara deu um passo em sua direção, e depois outro, até que
ele pudesse colocar a língua para fora e lamber os lábios dela.
— O que você está fazendo? — Sua voz saiu mais áspera do
que uma betoneira. Naomi gritou em sua cabeça. Não. Pare.
Não.
Clara fechou os olhos e inclinou a cabeça ligeiramente, com
cuidado.
Josh trouxe uma mão trêmula para embalar seu rosto. Ele
queria tanto beijá-la que doía. Tinha sonhado em prová-la
tantas vezes que perdeu a conta. Beijar Clara tornou-se
imperativo. Como se o lábio inferior cheio fosse o antídoto
para um veneno que estava bombeando através de suas veias
por meses. Todos os argumentos contra este momento
tremeluziram de seu cérebro como lâmpadas queimadas.
Foda-se. Ele fechou o último centímetro entre eles. Até que
seus corpos molhados se pressionaram dos joelhos ao peito.
Clara escorregou e quase caiu, chiando quando seu queixo
pousou no ombro dele.
Josh a pegou debaixo dos braços.
— Você está bem?
Ela levou a mão à cabeça.
— Sim, acho que sim. Estou um pouco tonta.
Merda. E se ela teve uma concussão e eles não perceberam?
Ele pegou uma toalha e a envolveu com cuidado antes de guiá-
la para se sentar no assento do vaso sanitário fechado.
— Fique aqui e coloque a cabeça entre as pernas. — Foi o
que falaram na TV, certo? — Vou pegar um copo d'água para
você.
— Josh, estou bem. Passou. — Ela estendeu a mão e olhou
para ele, gotas de água presas em seus cílios.
— Não se preocupe — disse ele, saindo do banheiro em sua
cueca encharcada. — Eu não vou deixar nada mais te
machucar.
Especialmente eu.
Josh tratou Clara como uma paciente com pneumonia pelo
resto da semana. Ele saiu e comprou uma canja de frango com
macarrão e suco de laranja, com e sem polpa, apesar dos
protestos dela de que não havia nada de errado com seu sistema
imunológico.
Ele se recusou a deixá-la ir ao estúdio depois do trabalho,
dizendo que ela precisava de um tempo para descansar.
Então, esta noite, enquanto Josh instruía as pessoas gostosas
como se darem bem, Clara se viu relegada à atividade mais
comumente aceita de Clara Wheaton nas noites de sexta-feira -
limpar o interior da geladeira. Ela pode até enlouquecer e
descalcificar a cafeteira.
A mensagem de Josh veio em alto e bom som. Ele não a
queria. Apesar de todos os “sinais” que seu coração desesperado
presumiu detectar, ele tinha ido tão longe a ponto de sair
correndo do cômodo quando ela lhe ofereceu seu corpo nu em
uma bandeja de prata.
Aparentemente, às vezes uma ereção furiosa não passava de
uma consequência biológica.
Quando a campainha tocou, ela não se incomodou em
remover as luvas de borracha amarelas antes de atender.
— Você é a Srta. Wheaton? — O entregador segurava um
buquê deslumbrante.
— Eu sou. — Ela assinou seu nome e aceitou
cuidadosamente as flores coloridas, esperando até que estivesse
de costas para a porta fechada para enfiar o rosto no meio delas
e inalar. As hastes bem cuidadas contrastavam vividamente
com as flores silvestres embrulhadas em plástico que Josh
trouxera para o hospital.
Ela sabia, sem olhar para o cartão, que eram de seu pai. Ou
melhor, que sua mãe as havia enviado usando o cartão de
crédito de seu pai. Algumas mulheres recebiam flores
regularmente de pretendentes, mas Clara não era uma delas.
Não. Com a recente exceção de enfermidades, ela
acumulava buquês não para seu fascínio, mas para formaturas
e aniversários. Até mesmo o arranjo ocasional agridoce do Dia
dos Namorados que cheirava igualmente a frésias e pena.
Ela não se entregava mais à fantasia de poesia juvenil que
acompanhava suas rosas. Então, quando ela olhou para a
saudação dobrada escondida atrás das pétalas, a assinatura fez
sua mão voar para o coração acelerado.
C — Sua mãe me deixou uma mensagem de voz dizendo que
você sofreu um acidente. Ela parecia pensar que eu estava
cuidando de você, então imaginei que eu poderia pelo menos
mandar flores. Espero que você se recupere em breve. Até o final
de agosto. Com amor, E.
A palavra amor a atingiu bem no meio dos olhos. Ela sabia
que Everett não queria dizer isso romanticamente. Ele
certamente assinou o cartão sem pensar. A maneira como ela
costumava escrever uma carta para sua tia-avó Bárbara. Mas
ainda assim.
Ela esperou quatorze anos por essas quatro letras.
— Amor. — A palavra ficou ainda melhor quando ela disse
em voz alta.
Sua mãe ignorou seus desejos expressos e ligou diretamente
para Everett para ver como ela estava. A distância física entre
L.A. e Greenwich não fez nada para diminuir a tenacidade de
Lily Wheaton.
Seu estômago embrulhou enquanto ela procurava um vaso.
Everett voltaria em pouco mais de duas semanas; havia uma
chance de ele ver o último suspiro delas. Um nó desconhecido
se formou em sua barriga. Ela quase se esqueceu de Everett.
E ela tinha uma pessoa para agradecer.
Clara não devia lealdade a Everett, obviamente, mas, ao
mesmo tempo, com certeza quando ele voltasse as coisas
mudariam. Josh se mudaria, para começar. Por que essa ideia
doeu?
Ela franziu o cenho. Certamente, Everett voltar para casa
seria bom? Clara finalmente teria a chance pela qual veio para
a Califórnia… mas a que custo? Seus dias de planejar a
iluminação perfeita, atividades nostálgicas e roupas que
valorizavam a figura pareciam tão distantes. Como planos que
pertenciam inteiramente a outra pessoa.
Sem nenhum vaso à vista, ela se contentou com uma vasilha
e arrumou o buquê da melhor maneira possível no parapeito da
janela. As flores de Josh já haviam reivindicado o espaço em sua
mesa de cabeceira.
Ela tirou as luvas de borracha e entrou no quarto. Depois de
vários minutos de caça, Clara encontrou seus acessórios de
captura de Everett no armário, atrás da capa de chuva que ela
não havia tocado desde que chegara. Ela levou a pequena caixa
de chapéu para a varanda dos fundos. Uma viagem ao passado
a lembraria por que ela se arriscou tanto por aquele que
escapou.
Acomodando-se em uma cadeira Adirondack com a pintura
descascada, ela pegou um punhado de fotografias. Seu polegar
agarrou primeiro em uma foto dela e Everett do futebol
infantil, os braços pendurados nos ombros um do outro. Ele
tinha lama respingada em suas chuteiras e caneleiras, enquanto
o uniforme de Clara permanecia estranhamente imaculado.
Everett sempre a escolheu na aula de ginástica, mesmo que
todos o zoassem. Eles eram um par. Uma conclusão
precipitada. Até que eles não eram.
Ela estava tão animada para vir aqui e renovar o vínculo, mas
agora ela percebeu que estava nervosa com o retorno de Everett
para L.A. Para o bem ou para o mal, quando Everett a deixou
na porta, ela teve que escrever seu próprio destino pela primeira
vez. Ninguém poderia imaginar que ela gostaria tanto de
liberdade.
O anonimato trouxe benefícios definitivos. As pessoas aqui
não vincularam imediatamente seu sobrenome à biblioteca ou
à ala do hospital, como as pessoas que ela conheceu no leste.
Ninguém disse: Oh, sim. Claro que conheço seu pai ou Uma
pena a confusão de negociações privilegiadas de Oliver - cinco
minutos depois de esbarrar nela.
Em L.A., Clara tinha uma identidade própria. O futuro não
foi esculpido em granito.
— Os mosquitos vão comer você no jantar. — Josh saiu
carregando uma vela de citronela.
— Eles me amam — ela concordou. Ele realmente estava
extraordinariamente pensativo. O caderno familiar debaixo do
braço lhe disse que ele voltara para casa direto do set.
— Está tarde. — Ele franziu a testa. — Você deveria estar na
cama.
— Você tem que parar de ser maternal comigo. Estou
totalmente bem. Eu poderia dar uma cambalhota agora
mesmo. — Supondo que ela já tivesse aprendido a fazer estrela.
Josh puxou uma segunda cadeira ao lado dela.
— O que estamos olhando?
Ela entregou a ele a caixa de imagens. Claro, elas continham
evidências de várias fases estranhas, mas Josh já a tinha visto
despida tanto emocional quanto fisicamente. Ela não tinha
mais nada a esconder. Seu coração disparou... lembrando-a de
todas as coisas que ela tirou “da mesa”. Claro. Quase nada.
A noite tinha aquela energia única de verão quando o ar fica
pesado e cintilante. Quando cada inspiração parece liberdade e
o céu parece tão feliz por se livrar do sol que suspira de alívio.
Se Clara não tomasse cuidado, uma noite como esta poderia
deixá-la embriagada com seu potencial.
— Olhe para você. — Josh demorou-se em uma foto da
segunda série. — Clara, você parece exatamente a mesma. Que
tipo de criança de sete anos usa suéter?
Clara sorriu timidamente.
— Eu mesma escolhi esse.
— Claro que você escolheu. — Ele mostrou a ela uma foto
da equipe de debate do ensino fundamental. — Eu gosto dessa
franja.
— Minha mãe amava aquele corte de cabelo. Mesmo que eu
claramente não tenha testa suficiente para usar franja. — Clara
franziu o nariz. — Demorei até a oitava série para enfrentá-la e
exigir que eles crescessem. Há uma fase distinta da faixa de
cabeça se você continuar cavando.
— Espere, esta é a melhor. — Josh passou para ela uma
Polaroid desbotada. Esta apresentava Clara posando com um
enorme carvalho, expondo seus péssimos dentes pré-
ortodontia. — Eu também tive uma lacuna.
— De jeito nenhum. — Josh tinha um sorriso perfeito
completo com covinhas.
— Oh sim. — Ele se moveu para acender a vela com uma
caixa de fósforos do bolso de sua Levi's desbotada. — Grande
lacuna. Achei que tinha personalidade com P maiúsculo.
Chorei quando coloquei aparelho e fechou. — Josh cavou para
mais fotos. — Agora espere um minuto. — Ele bateu na
imagem com o polegar. — Quem é esse bebê?
Clara olhou para a imagem e depois olhou para a escuridão
do quintal.
— Essa é minha mãe.
— Você tem os olhos dela.
Mas não sua cintura fina ou postura perfeita. Não sua
paciência ou seu autocontrole.
— Eu nunca vi outro par do seu tom de ardósia.
Clara se mexeu na cadeira. Ninguém nunca mencionou a
cor dos olhos dela.
— Ela não sabia que a foto estava sendo tirada ou ela teria
dito que era indigno. Vê? — Clara apontou para os pés
descalços da mãe. Na foto, Lily estava na cozinha bebendo um
copo de chá gelado com o sol se pondo atrás dela.
— Ela sempre gostou de parecer arrumada, da cabeça aos
pés. Até o final do dia, quando ela chegava em casa e chutava os
saltos, era que eu realmente a reconhecia. Eu costumava pensar
que era o sinal de que ela estava se transformando de diretora
do conselho em mãe.
— Aposto que ela é um fogo de artifício.
— Geralmente — disse Clara. E então, por algum motivo
— Ela chorou no dia em que fui embora. Para voar até aqui,
quero dizer. Ela está acostumada a me ter a uma hora de viagem
de trem.
O chilrear dos grilos preencheu o silêncio.
— Ela nem me levou de carro ao aeroporto. Disse que estava
sendo egoísta, deixando-a sozinha. — Clara respirou fundo. —
Eu acho que ela estava com medo. Minha família já passou por
muita coisa, e minha mãe sempre suportou o peso disso.
Limpou a bagunça de outras pessoas. Prometi que ela nunca
mais teria que se preocupar comigo, mas então acordei um dia
e tudo na minha vida era descartável. Nada era meu.
— Então você veio aqui. — Josh entregou-lhe uma nova
imagem. Outra foto dela e Everett, embora desta vez do último
ano do ensino médio. Clara reconheceu o vestido amarelo e a
queimadura de sol no nariz da última semana.
Os braços e pernas de Everett estavam cheios. Ele parecia um
menino prestes a se tornar um homem. Eles se sentaram no
capô do Wrangler, esperando o início do ensaio de formatura.
— Isso sempre me incomodava — disse Clara. — Minha
mãe pode escolher sua vida, mas eu nunca pedi o que queria.
Josh apoiou os cotovelos nos joelhos e afundou o queixo
entre as mãos.
— Eu não sabia que você gostava do Everett há tanto tempo.
Clara acenou com a cabeça.
— Desde que me lembro.
A linha entre suas sobrancelhas ficou mais profunda.
— Eu não entendo.
— O que você quer dizer? — A ideia de querer alguém que
não te queria de volta? Ela não teve problemas em acreditar que
Josh nunca havia se deparado com essa situação.
— Você e esse cara. É o bumbum? O bom nome de família?
A herança?
— Não. — Clara afastou o cabelo pesado do pescoço. — Ou
não sei. Acho que nenhuma dessas coisas doeu, mas acho que a
resposta real é mais simples do que isso. — Ela balançou a
cabeça quando a verdade afundou. — Eu acho que eu queria
Everett por tanto tempo porque ele sempre manteve seu amor
fora do alcance do braço.
Josh brincou com a manga de sua camisa, evitando os olhos
dela.
— Eu estava sempre procurando o interruptor de luz certo.
Aquele momento que o faria ver como poderíamos ser bons
juntos. Minha vida é construída em torno de ritmos e rotina.
Perseguir Everett se tornou familiar. Confortável. Ninguém se
preocuparia comigo com Everett no braço.
Ao lado dela, os ombros de Josh ficaram tensos.
— Deus. Isso soa tão patético. Mudei-me pelo país, longe da
minha família, dos meus amigos, e Everett mal me viu. Mesmo
quando eu estava bem na frente dele. — Seu estômago nadou
de vergonha.
Josh balançou a cabeça.
— Você realmente não tem ideia, não é?
Clara baixou a foto e levou a mão à têmpora.
— O que? — Ela não conseguia decidir se queria uma
bebida forte ou quatorze horas de sono.
Josh se levantou e começou a andar pela varanda. Seus
sapatos batiam na madeira com cada movimento brusco até
que ele cerrou os punhos e plantou os pés.
— Porra. — Ela se preocupou com seu couro cabeludo
quando ele passou a mão pelo cabelo com uma força alarmante.
Seu peito subia e descia sob a camiseta.
— Escute, não consigo pensar em uma maneira educada de
dizer que se aquele cara — Josh apontou para a foto de Everett
que estava no chão — não se ajoelha e implora para te foder, ele
é um idiota. — Ele ergueu as mãos. — Se ele não acorda todas
as manhãs e ora pelo privilégio de beijar e tocar você, e Deus,
apenas olhar para você, então algo dentro dele está
profundamente perturbado.
O queixo de Clara caiu. Todos os sons, exceto a voz de Josh,
sumiram.
— Clara. — Parte da escuridão em seu olhar diminuiu. —
Se Everett não consegue ver que você é épica, dolorosamente
linda e tão sexy — ele fechou os olhos como se estivesse com
dor por um momento — que eu praticamente me esfrego
pensando na maneira como sua boca se move, então ele é
aquele que é patético e está cometendo o maior erro de sua vida
miserável.
A verdade pairava no ar entre eles, e por um momento Josh
conheceu tanto a glória quanto o triunfo. Admitir a
profundidade de sua atração por Clara, desafiando seus
equívocos sobre si mesma, fez com que ele se sentisse como se a
faixa apertada que havia sido enrolada em seu peito nas últimas
semanas tivesse finalmente sido cortada.
Mas então aquele momento acabou e ele teve que viver
depois de suas palavras. Ao observar os olhos enormes de Clara,
percebeu que poderia ter cometido um erro. Com um
punhado de frases desajeitadas e impulsivas, ele desencadeou
uma nova realidade. Tinha feito exatamente o que jurou não
fazer. Todos os olhares roubados e toques persistentes que ele
e Clara tinham diligentemente evitado abordar, se
reorganizaram dentro de uma narrativa alternativa: uma onde
ela sabia que ele a queria além do desejo físico.
Naomi o teria como café da manhã quando descobrisse
sobre isso. Discursos apaixonados definitivamente contaram
como "negócios engraçados".
Para seu crédito, ele tentou evitar Clara, trabalhou
ativamente para criar distância enquanto ansiava por
proximidade. Inferno, ele até considerou tentar dormir com
outra pessoa. Para diminuir a vantagem. Infelizmente, a ideia
de outras mulheres fez suas bolas ameaçarem enrolar dentro de
seu corpo.
Talvez nem tudo estivesse arruinado. Ele apenas a defendeu
contra a calúnia. Amigos faziam isso por outros amigos o
tempo todo. Claro, a maioria dos amigos provavelmente
poderia ter realizado a tarefa sem várias referências aos órgãos
genitais.
Então ele se empolgou um pouco. A ideia de que Clara não
era desejável e não era inerentemente adorável, o deixou
irracionalmente furioso. Josh não alegou inteligência
extraordinária, mas Everett Bloom era um tolo de primeiro
grau.
Mesmo com a camiseta grande e a calcinha boxer surrada
que ela estava usando, Clara tirou seu fôlego. Hoje em dia, a
única parte de seu corpo que não o deixava duro era seu queixo.
Clara moveu a boca algumas vezes, formando diferentes
letras que não passavam pelos lábios.
— O que você está pensando? — Sua confissão o deixou
rachado e sangrando aos pés dela.
— Você está dizendo que me quer? — As palavras tremeram
no ar noturno.
Merda. Ele esperava além da esperança que eles pudessem
evitar a confirmação direta. O site estava programado para ser
lançado em menos de uma semana. Por mais que ele não
quisesse admitir, Naomi tinha razão sobre seu histórico. Mas o
que ele poderia fazer? Mentir? Dizer não a Clara? Que quando
ele disse que gozava na maioria das noites pensando nela, ele
quis dizer isso metaforicamente?
— Eu definitivamente quero você. Mas para ser claro, não
estou pedindo nada aqui. Eu sei que você não pensa em mim
assim. — Clara poderia achá-lo sexy, mas ela nunca
consideraria namorar com ele. Pelo menos ela não perguntou
se ele estava apaixonado por ela. Ele nunca tinha sido bom em
mentir.
Clara ficou boquiaberta com ele de sua cadeira.
— Uh… você está de brincadeira?
— Não estou brincando. — Ele se abaixou e apagou a vela
para não ter que encontrar os olhos dela. — Mas não tenho
nenhum interesse em ser seu prêmio de consolação. Se você
quiser esperar a volta de Everett, podemos esquecer que essa
conversa aconteceu, ok? — À medida que a exaltação se
desvanecia, suas entranhas ficaram pretas.
— Então é assim que parece — Clara disse, tão quieta que
ele quase não entendeu. — É como se alguém tivesse sacodido
uma lata de refrigerante e abrisse dentro do meu peito.
Josh estremeceu.
— Alguma chance de ser agradável? — Parecia doloroso,
mas algo em seus olhos o fez ter esperanças.
Ela massageou abaixo de sua clavícula, dando a ele um
sorriso fraco.
— É incrível.
Ele se ajoelhou na frente dela, lentamente trazendo as mãos
para embalar seu rosto.
— Quão incrível, exatamente? Se você não se importa que
eu pergunte.
Clara esfregou o rosto na palma da mão dele.
— Vamos apenas dizer que quando imagino o momento
mais incrível da minha vida, geralmente estou vestindo uma
roupa melhor.
Josh passou o polegar pelo queixo dela, mapeando a
topografia de seu rosto. Enquanto ele aproximava suas bocas,
ele observou os cílios dela se fechando.
— Se você quiser, estou preparado para ajudá-la a tirar esse
pijama.
Ele capturou sua risada assustada com seus lábios,
suspirando quando o primeiro gosto dela caiu em sua língua.
O cheiro de seu shampoo floral, tão familiarmente tentador, o
cercou, trazendo de volta memórias carregadas de luxúria dela -
molhada, nua e desejosa. Incrivelmente, segurar Clara era
melhor do que ele imaginara. Todo o seu corpo ganhou vida
sob a pressão de seu beijo delicioso. Correndo o risco de assustá-
la com a intensidade de seu desejo por mais, ele tentou se educar
para ser gentil. Ele exigiu que seu corpo fosse lento. Esta noite,
Josh queria mostrar a ela que era capaz de mais do que ela
pensava.
Os dedos de Clara se enroscaram em seus longos cachos e ele
estremeceu quando ela passou as unhas em seu couro cabeludo.
Beijos eram a coisa mais difícil de fingir no set. Josh passou
horas praticando como inclinar a cabeça e mover a boca para
parecer que se importava. Não havia nada de performativo na
urgência que impulsionava esse momento. A intensidade de
seu desejo, misturada com alegria, bateu-lhe na cabeça. Josh
pegou seu lábio inferior entre os dentes, beliscando a pele macia
até que ela engasgou.
Naomi estava certa. Ele era louco por colocar em jogo tanto.
Pena que ele não se importava mais. Drogado com a suavidade
de Clara, com a doce picada de sua mordida enquanto ela
retribuía, Josh se rendeu. Como algo que parecia tão bom pode
ser ruim? Ele puxou Clara de pé. Ele queria ter acesso a mais
dela. Tudo dela.
À medida que suas bocas ficavam mais frenéticas, beijar
Clara não parecia mais uma escolha. Tocá-la, desejá-la, parecia
tão crucial quanto oxigênio.
Ela passou a ponta dos dedos abaixo do cós da calça jeans
dele, fazendo os músculos do estômago dele apertarem. Por que
ele estava surpreso que ela quisesse o grand finale para essa coisa
que se formou entre eles?
Josh pegou seus pulsos em suas mãos.
— Calma. Estou tentando saborear você. — Você só tem
uma chance com uma garota como essa, e ele não pretendia
desperdiçá-la com gratificação instantânea.
Clara soltou um pequeno gemido, e o som foi direto para
seu pau. Cedendo, ele deslizou uma de suas pernas entre as dela.
Ela aproveitou a oportunidade para se balançar contra sua
coxa. Se seu pênis estivesse meio duro antes, poderia martelar
pregos agora. Quando ela baixou a boca para o pescoço dele e
aplicou pressão, ele girou os quadris desamparadamente. Com
seu corpo, Clara o impeliu em direção à porta dos fundos.
— Sabe, esses seus cardigãs são enganosos. Não tenho
certeza se você é uma boa garota, afinal. — Ele correu beijos
leves por sua mandíbula e em sua clavícula enquanto suas
costas batiam na lateral da casa. — Eu não posso acreditar que
isso está realmente acontecendo.
Josh arrastou os nós dos dedos contra a faixa quente do
abdômen acima do short de Clara. Seu controle lendário
ameaçou se dissolver. Ele pretendia beijá-la por tanto tempo e
tão bem que suas pernas se dobrariam, mas já era ele quem se
apoiava na parede. Clara enganchou a perna para cima e em
volta da cintura dele, pressionando-se contra ele
descaradamente até que ele praguejasse.
Se ele apenas soubesse se ela queria Josh Darling ou Josh
Conners. O pânico correndo de sua cabeça para seu corpo,
fazendo-o tremer, não veio do medo do palco. Algo pior, algo
maior o fez travar os joelhos.
Nos últimos dois anos, ele havia drenado o sexo de qualquer
componente emocional. Não apenas em suas performances,
mas com Naomi também. Ela não permitiu que os sentimentos
se misturassem com o sexo.
Enquanto passava os dedos pelo cabelo de Clara, Josh não
estava apenas saboreando. Ele estava protelando. O medo
juntou-se ao desejo que cantava em suas veias.
Ele poderia foder com o melhor deles, mas não se tratava de
foder. Tirar suas roupas esta noite testaria sua capacidade de
abrir não apenas as calças, mas seu coração para Clara.
Ele escovou as mãos suavemente pelos lados dela para
descansar em seus ombros, ignorando seus seios tão
obviamente, que ela soltou um gemido de frustração e bateu os
punhos contra seu peito em protesto.
— Estou saboreada, eu prometo — ela disse a ele
azedamente, pegando seu zíper.
— Jesus. — Ele assobiou quando sentiu suas pequenas mãos
quentes através de seu jeans. — Você é perfeita. Você sabia
disso?
Ele moldou as mãos em seus seios, dando a cada um
exatamente o que queriam. Josh respirou fundo,
irregularmente.
— Porra.
Clara arqueou em seu toque.
— Josh?
Ele manteve sua posição, mas fez contato visual com ela. O
ruído branco da rua trovejou em seus ouvidos.
— Estamos prestes a fazer sexo, não estamos? — Ela mordeu
o lábio inferior.
Ele riu, colocando sua testa contra a dela.
— Sim, Wheaton. — Ele deu um pequeno beijo entre as
sobrancelhas dela. — Estamos prestes a fazer sexo. — A ideia de
não corresponder às expectativas dela o apavorou, mas quando
ele viu suas bochechas coradas e sua boca exuberante, ele sabia
que não tinha escolha. Ele daria a Clara tudo o que ele tinha,
mesmo que isso o matasse.
— Você está confortável em deixar as luzes acesas? — Josh
permaneceu na porta com o cabelo despenteado de seus dedos
e os lábios inchados de sua boca.
O coração de Clara batia contra sua caixa torácica.
— Sim. — Ela já estava aqui e iria até o fim. Ela pode ter feito
muitas coisas malucas nos últimos meses, mas essa
definitivamente levava a coroa.
Josh recompensou sua resposta com olhos que prometiam
assistir enquanto ela se desfazia debaixo dele.
Mas ainda assim, Clara congelou. Ela se conhecia, sabia que
nunca tinha conseguido separar o sexo do amor antes. E com
Josh, as apostas eram muito maiores. Ela já gostava dele como
pessoa, o respeitava como profissional, diabos, ela até sabia que
eles poderiam coabitar com sucesso. Apaixonar-se por ele seria
ridiculamente fácil, então dormir com ele deveria representar
um risco impossível. Exceto por uma verdade. Amar Josh ia
contra todas as expectativas que ela já conheceu. Cada sonho
que sua família já tinha definido para ela. Cada futuro que ela
já imaginou.
Talvez aquelas paredes fossem suficientes para protegê-la.
Talvez ela pudesse ter sexo incrível, alucinante, de sacudir a
terra e ainda estar de alguma forma a salvo de um coração
partido.
Ao contrário de Everett, esta situação era clara. Josh não
tinha prometido a ela nada mais do que o culminar do desejo
inflexível entre eles. Ele não a convidou para um encontro ou
para ser sua namorada. Parecia simples: se ela pudesse encontrar
uma maneira de jogar de acordo com as regras dele, ela poderia
ser feliz. Ela poderia ter Josh, pelo tempo que eles tivessem.
Pela primeira vez, pegue o que é oferecido sem esperar mais.
Uma noite com Josh era mais do que a maioria das mulheres
poderia esperar na vida.
— Você está em pânico. — Josh cruzou o quarto e pegou a
mão dela.
— Eu não estou — ela mentiu, mantendo seu olhar fixo em
seu ombro. A cama era um ambiente muito comum? Ela
deveria entrar furtivamente no banheiro e colocar algo
rendado? Como na terra ela poderia viver de acordo com sua
infinidade de experiências pervertidas? Ela não tinha chicotes
ou correntes. Sem vendas ou brinquedos. Novidade e
proximidade eram as únicas coisas que ela realmente tinha a seu
favor. Ela deveria ligar para o lance de “boa menina”? Fingir
que se sentia tímida em vez de devassa e selvagem?
— Ei. — Ele inclinou o queixo dela. — Não temos que fazer
isso esta noite se você não estiver pronta. — Josh puxou-a
contra ele e acariciou seu cabelo com a mão livre antes de beijar
o topo de sua cabeça. — Ficarei feliz em sentar no sofá e dar uns
amassos.
— Não — Clara disse desesperadamente, se afastando para
que ela pudesse levar a mão livre até o pescoço dele e segurá-lo
pelos cachos. Ela derramou desejo em seu beijo, provavelmente
machucando-o em sua ânsia. — Quero dizer — ela disse contra
seus lábios — não, obrigada.
Seu corpo zumbia com demandas. A boca dele deveria vir
com uma etiqueta de advertência. Josh a beijou como um
homem que voltou da guerra. Como se pensar nela sozinha o
tivesse mantido aquecido por mil noites solitárias.
Eles se beijaram até que ela se agarrou ao pescoço dele para
ficar de pé. Até que suas preocupações se dissolveram em seu
cérebro. Josh a levou de costas para a cama, arrancando as
roupas dela enquanto cobria seu corpo com o dele. Felizmente.
A roupa se tornou um fardo insuportável. Ela considerou cada
segundo não gasto com ele tocando sua pele nua um segundo
desperdiçado.
A boca dele trabalhou quente e doce contra o ponto de
pulsação atrás de sua orelha enquanto ele erguia sua blusa sobre
seus seios. Tudo o que ele fez a levou a uma queda lasciva. Até
que ela raspou as unhas sem corte nas costas dele através do
algodão fino de sua camiseta.
— Eu não tenho nenhuma iniciativa — ela o avisou entre
respirações pesadas enquanto ele a despia de sua camisa
completamente.
Josh recostou-se para olhar para ela. Cabelo dourado caia
sobre sua testa, lançando uma sombra sobre seus olhos
aquecidos. Ele descartou sua própria camiseta ao acaso.
— Eu me preocupo com a iniciativa — Ele a puxou para seu
colo para que ela sentasse em cima dele e capturou o lóbulo da
orelha entre os dentes de uma forma que atingiu seu sexo.
Clara deixou suas mãos explorarerm seus ombros. Ela queria
saboreá-lo em todos os lugares. Queria-o de maneiras que ela
nunca quis ninguém – frenética e confusa e completamente
fora de controle.
Ajudando-a a tirar o sutiã esportivo sem dar ao tecido uma
segunda olhada, Josh acariciou seus seios nus. Enquanto ele a
provocava, Clara se contorcia com a dor aguda que ele
provocava.
— Por favor. — Ela não tinha palavras para pedir todas as
coisas que ela queria.
Ele trouxe a boca para substituir os dedos, usando os dentes
para aplicar uma pressão decadente. Cada movimento de sua
língua era impecável. Ela nunca considerou seu corpo
especialmente carnal, mas agora ela se sentia feita para o sexo,
projetada para o prazer da cabeça aos pés.
— Por favor, o que? — Josh chupou uma mordida de amor
no topo de seu seio.
Clara se afastou dele para empurrar sua lingerie para baixo e
a tirou, antes de se sentar e deixar suas coxas se abrirem.
— Cale-se.
Ele gemeu e se inclinou para frente, trazendo a mão entre as
pernas dela.
— Eu sabia que você estaria assim. — Sua voz grave a fez
estremecer. — Tão quente para mim. Tão pronta. Você já
pensou sobre isso? — Josh circulou as pontas de dois dedos
contra seu clitóris. Clara estava molhada o suficiente para que
ambos pudessem ouvir enquanto ele a tocava. — Sobre o que
eu faria com você se você deixasse?
Ela empurrou seus quadris e choramingou.
— Sim. Oh Deus. — Todas as noites, durante meses que se
passaram como anos. — Sim.
Josh fechou os olhos por um momento como se quisesse
saborear sua confissão.
Abaixando-se, ele ergueu seus quadris em direção a sua
boca, traçando sua carne lisa com seus lábios, dentes e língua.
Todas as coisas que Clara sabia ser verdade, incluindo os limites
de tempo e espaço, deixaram de existir. Josh a queria. Cada
toque, cada som áspero que ele fez, confirmou o inimaginável.
Mais tarde, quando ele a fez gozar em sua língua, ela
lamentou, sentindo-se mais animal que humana enquanto
cravava as unhas na carne de seus braços. Josh a deitou
gentilmente. Seus toques suaves prolongaram seu prazer e
prepararam seu corpo para mais.
— Vai ser apertado. — A advertência de Josh guerreou com
seus olhos selvagens.
— Eu não me importo — disse Clara quando conseguiu
reunir ar suficiente para formar palavras novamente.
Josh olhou para ela como se ela fosse algo precioso enquanto
se levantava. O som de seu zíper descendo cortou o silêncio
carregado. Ela se permitiu olhar, devorando a forma como seus
músculos se moviam sob sua pele dourada. Clara lambeu os
lábios. Ela não conseguia decidir o que ela gostava mais. A
curva de sua mandíbula, a curva de seus bíceps, a superfície
plana de seu estômago, a curva acentuada de seus quadris. Sua
boca ficou seca. Seu pau grosso.
Clara inalou e expirou lentamente. Ela tinha visto os vídeos,
tinha visto ele se tocar, mas agora, confrontada com a realidade
de seu tamanho e… circunferência… quando tinha um novo
destino… bem, não era que ela não estivesse no jogo. Suas coxas
estavam encharcadas com o quanto ela o queria. Mas a
matemática de tudo permaneceu nebulosa.
Outro homem já foi tão confiante? Tão fluido e lupino
enquanto ele caminhava em sua direção.
A pele de Josh estava quente e suada quando Clara se
inclinou para passar as mãos por todos os lugares que ela
consumiu com os olhos.
— Seu corpo é surreal. Eu sei que você sabe — músculos
abdominais contraíram sob a ponta dos dedos — mas achei que
valia a pena repetir. — Ela mergulhou os polegares na curva
áspera entre sua perna e sua virilha. — Mesmo… dez de dez.
Josh resistiu à avaliação dela, deixando que ela demorasse,
até que ela pegou seu olhar e traçou a língua em seu lábio
inferior.
— Se você continuar me olhando assim, tudo isso vai acabar
antes de começar. — Sua voz se transformou em uma mistura
de fumaça e chamas.
Inclinando-se, ele capturou sua boca novamente, enfiando
as mãos em seu cabelo. Entre cada um de seus beijos
entorpecentes, a respiração de Clara ficou mais irregular.
Ela não queria rir, sabia que você não deveria rir de um
cavalheiro recentemente despojado de suas calças, mas ela
deixou uma pequena risadinha nervosa escapar de seus lábios
contra sua vontade.
Ele se afastou.
— O que acabou de acontecer?
Clara cobriu o rosto com as mãos.
— Às vezes, tenho reações inadequadas ao estresse.
Desta vez, a risada veio dele, e um pouco da tensão deixou
seus ombros.
— Meu pau está te estressando?
Clara enrolou os lábios na boca e deu um pequeno aceno de
cabeça.
Josh estremeceu e passou a mão pelo rosto.
— Entendo.
— Você entende? — Ele tinha adivinhado que ela era muito
inexperiente para acomodá-lo? Era de alguma forma
fisicamente óbvio?
— Sim, quero dizer, tenho certeza que você está pensando
sobre meu trabalho. Provavelmente se perguntando se sou
capaz de fazer sexo sem câmeras — Ele acenou com a mão em
um gesto amplo e amplo abaixo da cintura. Todo o seu corpo
carregava sinais de derrota, embora para seu crédito essa ereção
não se mexesse.
As sobrancelhas de Clara saltaram juntas. Desanimada? Ele
estava louco?
Ela colocou uma mecha solta de cabelo atrás da orelha e se
inclinou para frente. A maneira mais rápida de mostrar a Josh
que ela amava seu pau não envolvia palavras.
— O que você…? Oh Deus. — Josh suspirou quando ela
tomou a ponta de sua ereção entre os lábios. Seus dedos
tremiam quando ele os deslizou pelo cabelo dela, e ela levantou
a mão, envolvendo-a ao redor da base. Ele gemeu quando ela
passou a língua ao redor da cabeça. Clara ergueu os olhos,
apenas para ter seu coração disparado quando Josh olhou para
ela com luxúria nua. Normalmente, suas inseguranças
dominavam este exercício, mas isso não era sobre ela. Era sobre
mostrar a Josh como ele a deixava louca.
A julgar pela maneira como ele inchou contra sua garganta
enquanto segurava seu olhar, Josh não se importou com sua
falta de sutileza.
— Puta merda. — Cada expressão e resposta a recompensou
por seus esforços. Ele puxou o cabelo dela para longe do rosto
em um rabo de cavalo bagunçado, mas ainda assim, ele não
aplicou pressão. Em vez disso, ele correu as pontas dos dedos
suavemente contra a base de seu couro cabeludo, fazendo-a
suspirar com a boca cheia.
— Você está me deixando louco, Clara. Veja o que você faz
comigo. — Seus ferozes olhos castanhos tinham uma
intensidade que ela não esperava, e quando ela recuou e baixou
o olhar, ele guiou sua cabeça suavemente para trás com o
polegar sobre a maçã do rosto.
Ela percebeu a tensão em sua mandíbula enquanto se movia,
a forma como seus olhos estavam com as pálpebras pesadas e
turvas, como seu pescoço ficou tenso. Josh, geralmente tão
calmo e controlado, parecia extasiado.
Clara manteve os olhos treinados em seu rosto enquanto
colocava as mãos em sua bunda. Quando ela afundou as unhas
levemente, ele jogou a cabeça para trás. A pulsação em sua
garganta saltou. Encorajada, Clara tentou algo sobre o qual só
havia lido na Cosmo. Ela cantarolou.
Seu aperto em seu cabelo aumentou e ele assobiou por entre
os dentes.
— Clara. — Seu nome saiu mais fôlego do que palavra. Josh
deu um passo para trás, seus olhos torturados, frenéticos,
enquanto ele a colocava de pé para que suas costas ficassem
encostadas em sua frente.
— Eu quero você há meses — ele disse contra a concha de
sua orelha. — Cansei de esperar. — Josh deslizou sua mão ao
longo de seu tronco e quadril antes de mover entre suas pernas,
inserindo dois, e depois três dedos, enquanto a outra mão a
segurava no local pela cintura.
Ela engasgou, apertando ao redor dele, sem fôlego com a
promessa de ser preenchida. Todo o oxigênio do quarto
evaporou. Clara teve que trabalhar duas vezes mais para cada
respiração. O sangue latejava em seus ouvidos tão alto que ela
temia que estivesse afetando sua visão. Cada átomo em seu
corpo exigia mais.
— Preservativo?
Ele se desvencilhou dela o tempo suficiente para puxar um
pacote de papel alumínio de uma gaveta ao lado da cama e vesti-
lo.
Ela se deitou, sentindo-se lânguida e nervosa ao mesmo
tempo.
— Você tem certeza disso? — Ele voltou para a cama para
derramar seu corpo sobre o dela.
A adoração em seus olhos, tanto vulneráveis quanto
possessivos, fez seu coração apertar. Em resposta, Clara enrolou
as pernas em volta da cintura dele.
Os músculos trabalhando na garganta de Josh destacaram
seu ponto de pulso elevado enquanto ele posicionava seus
quadris. Clara sugou o ar, como se alguém a tivesse proibido,
quando ele a penetrou. O estiramento dele era profundo o
suficiente para que ela quase pudesse senti-lo em seus dentes.
Ela teve que respirar pelo nariz por alguns segundos. Cada vez
que ele exalava o pequeno movimento parecia pressionar sua
língua contra um fio vivo.
Josh beijou sua têmpora.
— Você está bem? — Sua voz tremeu enquanto ele
mantinha seu corpo imóvel.
— Sim. — Clara engasgou com o nome dele, usando a
palavra por favor como pontuação. Josh a torturou com prazer
até que ela cravou os calcanhares em suas costas.
Ele trouxe sua mão para onde seus corpos se uniam,
aplicando uma pressão constante como uma forma de arte
quando ele começou a empurrar. O tapa molhado quando seus
quadris encontraram sua bunda ecoou em seus ouvidos.
Seu pico estava tão perto, tão perto, tão…
— Oh Deus. Eu vou…
— Sim?
Sua boceta apertou ao redor dele enquanto ela
choramingava.
Josh a puxou para mais perto com as duas mãos em sua
bunda e enterrou-se dentro dela, mantendo a posição celestial.
Cada célula em seu corpo explodiu e se fundiu novamente.
Quando ela voltou à realidade, as pupilas de Josh estavam
escuras como breu e seus antebraços tensos onde ele se apoiou
acima dela.
Ele estava tremendo, ela percebeu, observando seu rosto.
— Josh?
— Dê-me um segundo — disse ele entre os dentes.
Verdade seja dita, ela não ouviu. Ela arrastou as unhas sobre
a pele úmida de suas costas nuas, com força suficiente para
deixar marcas.
Josh os virou para que ela ficasse por cima com tanta graça
que seu queixo caiu. A mudança de posição pareceu liberar
qualquer reserva que ele mantivesse, porque ele levou as mãos
aos quadris dela e pressionou seu corpo contra o dele com
vigorosa intenção. Ela reconheceu aquele número oito. O novo
ângulo a fez ver estrelas. Ele estava tocando partes dela que ela
nem sabia que existiam.
A intensidade com que Josh empurrou nela a deixou
selvagem.
— Você é tão bonita. Eu não consigo aguentar.
Clara estendeu a mão e segurou seus seios, tomando seus
mamilos entre os dedos e imitando seus toques anteriores. Os
olhos de Josh percorreram um caminho de seu rosto, até seus
seios, até onde seus corpos se encontravam. Até que
finalmente, ele gemeu, sacudindo os quadris para um punhado
de estocadas finais.
Clara sorriu, como um gato, contra seu ombro. Ele levou as
mãos às costas dela, traçando círculos suaves em seus ombros
até que ela se sentou e afastou o cabelo dos olhos.
Ele estendeu a mão para acariciar sua bochecha, deixando
sua mão demorar ao longo do lado de sua mandíbula.
— Eu queria fazer isso desde o primeiro momento em que
nos conhecemos.
— Você disse que pensava que eu era uma ladra.
Nenhum deles conseguiu recuperar o fôlego.
— Sim. — Josh passou a mão pela coluna dela. — Eu ia
deixar você me roubar. — Levando as palmas das mãos à
cintura dela, ele cuidadosamente desembaraçou seus membros
escorregadios.
Enquanto ela estava deitada de costas ao lado dele, Clara
apontou e flexionou os dedos dos pés sob as cobertas, testando
para ter certeza de que este corpo ainda pertencia a ela.
— Está com fome? — Josh se sentou e afundou os dentes de
brincadeira na pele onde o pescoço dela encontrava o ombro.
— Porque estou morrendo de fome.
Deus, ele é gostoso. Uma parte tão quente dela queria parar e
tirar uma foto para que algum dia, quando estivesse velha e
grisalha, pudesse se lembrar de que uma vez tinha ido até o fim
com um deus.
De alguma forma ela ganhou este oásis com um homem que
a fez se sentir divina. Se ela pudesse mantê-lo.
— Eu não me importaria em comer.
— Excelente. Eu conheço o lugar certo. — Ele pegou as
calças no tapete.
— Mas são quase três. Nada está aberto.
Ele caminhou até seu armário e jogou uma camiseta e seu
macacão.
— Oh vós de pouca fé.
Clara pegou as roupas e sorriu, lembrando-se de sua
afinidade com o traje.
— Tenho que me levantar para trabalhar em algumas horas.
Toni tem um grande evento de arrecadação de fundos e tudo
está em jogo.
As mãos de Josh pararam em sua cintura.
—Certo. Desculpe. — Ele esfregou a nuca timidamente.
A sensação de lata de refrigerante voltou. Bolhas de alegria
floresceram dos pés às pontas dos dedos. Esta noite não tinha
que acabar. Não se ela não deixasse.
— Vamos lá.
Alguém mais poderia se preocupar com o futuro dela. Sobre
as repercussões. Sobre a dor.
Clara tinha planos.
Ela amava essa vida confusa e ensolarada com a qual
tropeçou. De repente, palavras como destino e fado não
pareciam tão tolas. Outras pessoas faziam coisas assim todos os
dias. Dormiu com um homem bonito, sabia que não devia
nada a ela.
Josh não era o homem dos seus sonhos.
Ele era algo melhor, algo mais do que ela jamais se permitiu
imaginar.
E se L.A. não fosse um erro?
Ela tinha uma casa aconchegante. Um bom trabalho. Um
projeto apaixonante e gratificante, embora surpreendente.
Inferno, ela estava até fazendo progressos com Naomi.
Josh Conners e Clara Wheaton não faziam sentido no papel,
mas e se de alguma forma, impossivelmente, dois erros
resultassem em acerto? Pelo menos sob as cobertas.
Ele deu um beijo em sua têmpora.
— Acho que você pode ser a melhor coisa que já me
aconteceu.
O coração de Clara apertou em um punho. O momento foi
bom demais. Demais. Ele não quis dizer isso. Não como parece.
Merda. Ela vestiu as roupas e calçou os tênis. Alguém já
conseguiu cair na cama com um profissional do prazer sem
perder o coração?
Josh sempre saia do Café Da Esquina da Srta. Dee Vine com a
barriga cheia e purpurina grudada nas solas dos sapatos. Cerca
de uma hora após o sexo, uma famosa drag queen
cumprimentou ele e Clara com beijos estalados em ambas as
bochechas. A senhorita Dee os levou para uma mesa escondida
no fundo e piscou.
— Peça o que seu coração desejar — disse ela, entregando-
lhes menus e uma lata de giz de cera, e então, em um sussurro
conspiratório — mas temos os melhores waffles da
Gayzinhança.
Clara passou as mãos no papel de cera marrom que cobria a
mesa. Josh tentou não encará-la fixamente. Nas fracas luzes
fluorescentes, ela parecia com tudo o que ele sempre quis.
Todos os brinquedos que eram caros demais na época do
Natal. Cada carro esportivo que ele já babou por. Cada grama
de aprovação que ele nunca ganhou.
Ele se sentou sobre as mãos para evitar estender a mão e
acariciar o rosto dela. O próprio impulso o fez se perguntar se
ele tinha chegado ao fundo do poço. As palavras o deixaram.
Normalmente, fazer sexo com uma mulher o fazia se sentir mais
confortável perto dela. Ele usou com sucesso a relação sexual
como um quebra-gelo em situações sociais estranhas ou
desconhecidas em mais de uma ocasião.
De alguma forma esta noite ele atravessou uma porta para
uma realidade alternativa. Só em outra dimensão Clara o
deixaria abraçá-la, beijá-la e tocá-la sem uma lista de razões à
mão para justificar a intimidade. Suas moléculas se
reorganizaram para lhe dar essa chance de amá-la. Seus sete anos
devem ter acabado.
Depois que um garçom anotou o pedido, Josh se
concentrou em fazer contato visual com os botões brilhantes
do macacão de Clara. Ah Merda. E se ela pensasse que ele estava
olhando para seus seios? E agora, é claro, seus olhos se
desviaram para seus seios e sim, eles ainda eram incríveis.
Clara estendeu a mão sobre a mesa e deu um tapinha em seu
antebraço.
— Tudo certo?
— O que? Eu? Certo. — Isso soou muito casual. Ele não
queria que ela pensasse que esta noite não importava para ele.
Que ele considerava todas as transas iguais. Josh cobriu a mão
dela com a sua. — Quer dizer, estou bem. Muito bem. Eu estou
feliz. — Feliz era muito genérico. Feliz foi mercantilizado. Ele
precisava de um adjetivo melhor. Um que falava de
transformação. A alegria de chegar a um cume. Droga, ele
estava com problemas.
Clara recostou-se na cadeira e estreitou os olhos.
— Você está totalmente pirado.
— Não. — Ele enxugou as palmas das mãos suadas no short.
— Você está pirando porque acha que eu vou pirar?
— Agora estou.
— Bem, não. Eu prometo que estou muito feliz também. —
Mas ele podia ver algo triste em seus olhos. Clara reorganizou
os condimentos na mesa para que a garrafa Heinz ficasse
centralizada. — Agora, por favor, me conte a história do
ketchup.
— Não. É embaraçoso. — Josh deixou cair o rosto em suas
mãos.
Ela endireitou os pacotes de açúcar para que todos ficassem
na mesma direção.
— Essa reação não está me fazendo querer ouvir menos.
— É idiota. — Mas pelo menos deu a ele algo em que pensar,
além do quanto gostava do cheiro do perfume dela e como
queria borrifá-lo no travesseiro. Eles tinham uma linha direta
para essa merda?
Dolly Parton sussurrou nos alto-falantes do café e metade
dos clientes no balcão cantou junto. Clara balançou de um lado
para o outro e girou a mão para ele com expectativa.
— Tudo bem — disse ele, resignando-se. — Enquanto eu
crescia, todos os meus primos e eu costumávamos implicar uns
com os outros. Apenas pegadinhas idiotas. Como o mais novo,
eu era muito ardiloso e muito bom em me livrar de problemas.
Clara apoiou o cotovelo na mesa e apoiou o queixo na mão.
— Nenhuma surpresa aí.
— Uma noite, quando eu tinha sete anos, meu primo Fred
assumiu a culpa por algo que fiz, talvez derreter um caminhão
Tonka, não me lembro. De qualquer forma, em retaliação, ele
esperou até que eu adormecesse, encheu minhas duas mãos
com ketchup e depois me fez cócegas com uma pena até que eu
esfreguei todo o meu rosto.
— É isso?
Ela não percebeu a gravidade da situação. Ele fez seu pai
queimar seu pijama de super-herói favorito.
— Eu acordei no escuro com gotas da coisa pingando em
meus olhos. O vinagre queima como você não acreditaria. —
Sua garganta se fechou quando a memória do odor avassalador
ameaçou sufocá-lo. — Eu estava cagado de medo. Achei que
meu rosto estava descascando.
Clara escondeu o frasco de ketchup atrás de duas pilhas de
geleia e da pequena jarra de xarope.
— Isso parece traumático.
Um som suspeitosamente próximo a uma risadinha escapou
de sua boca antes que ela levantasse o antebraço e o sufocasse.
Josh sorriu autodepreciativamente.
— Eu disse que era idiota.
— Você não estava brincando. — O sorriso de Clara era tão
brilhante que ele esperava que todos os fusíveis da cozinha
explodissem a qualquer momento. Seu peito se apertou.
Falar com mulheres sempre foi fácil antes. Ele gostava delas.
Elas gostavam dele. A matemática era simples.
Até agora. Não havia nada simples em Clara.
— É melhor você levar essa história para o seu túmulo.
Ninguém fora da minha família sabe, e todos eles estão
amordaçados por extensas ameaças de chantagem.
— Você pode confiar em mim.
Com uma clareza surpreendente, Josh percebeu que podia.
Esta mulher que nunca deveria ter lhe dado um mínimo de
atenção bateu à sua porta. Seu coração subiu em sua garganta.
— Eu assustei você de novo — disse Clara. — Eu tenho que
admitir, se eu tivesse que adivinhar qual de nós ficaria nervoso
depois do sexo, eu nunca teria escolhido você.
— Eu sinto muito. Normalmente não sou assim. — O
ombro de Josh caiu. Ele tinha uma reputação de companheiro
de cama respeitoso, com certeza. Suas companheiras contavam
com ele para se divertir e dar algumas risadas, mas mesmo com
Naomi, ninguém esperava mais dele.
— Esta noite parece importante. — Ele balançou sua
cabeça. — Isso soou estranho. — A qualquer segundo ela iria
correr.
— Não. Eu entendo o que você quer dizer. — Ela sorriu
timidamente. — Parece que causamos algum tipo de mudança
cósmica agindo fora do personagem. — Clara exalou e colocou
o cabelo atrás das orelhas. — Vamos fazer um bom uso desses
giz de cera, vamos? Quem quer que desenhe a melhor
caricatura de nós dois pode atribuir ao outro a tarefa de sua
escolha.
— Quão vagamente estamos definindo tarefa? — Visões
lúgubres de Clara dobrando roupas em lingerie entraram em
sua mente.
Clara pegou o lápis mais próximo a ela e começou a
desenhar.
— Use sua imaginação.
Josh se escondeu mais embaixo da mesa para esconder a
reação de seu corpo à promessa em seu tom. Sua imaginação era
perversa.
Dez minutos depois, ele deixou cair seu próprio
instrumento de desenho.
— Ok. Momento da verdade.
Clara acrescentou um floreio final e veio se sentar ao lado
dele.
— Qual sou eu?
Ele rapidamente adicionou peitos verdes ao boneco de
Clara.
Ela riu e seu braço roçou contra o dele. A boca de Josh ficou
seca.
— Vejo que você buscou precisão anatômica.
Ele apontou alguns detalhes importantes na ilustração.
— Estamos em uma aventura. Você tem um telescópio e um
mapa. Eu tenho uma espada porque você é o cérebro da
operação e não podemos perder você para bandidos.
Ela se inclinou para mais perto da cobertura da mesa e seu
cabelo roçou ao longo de seu antebraço.
— Parece que você tem duas espadas.
— Não. A que está na minha mão esquerda é uma baguete.
Caso precisemos de um lanche.
— Eu nunca conheci um homem que ama tanto os assados
quanto você.
Josh bateu no queixo com o dedo indicador.
— E ainda assim você deu ao meu corpo dez de dez.
Suas bochechas ficaram com o delicado rosa de algodão
doce.
Beije ela, seu idiota. Você está autorizado agora.
Mas e se ela se afastasse? E se a razão pela qual ela estava
extraordinariamente calma foi porque ela provou dele e decidiu
não voltar por alguns segundos?
Ele se levantou abruptamente e Clara se endireitou para
seguir o exemplo.
— Vamos ver o seu.
Ambos se arrastaram para o lado dela da mesa.
A foto dela fez com que ele prendesse a respiração. Ela
conseguiu usar os giz de cera quebrados para criar algo bonito.
— Estamos nadando?
— Não. — Ela apontou para os redemoinhos azuis em
torno de suas imagens de desenhos animados. — Esse é o céu.
— Então, estamos voando? — Ele engoliu
embaraçosamente quando estendeu a mão e traçou a maneira
como ela se colocou debaixo de seu braço.
— Eu modelei como Chagall. Frequentemente, quando ele
desenha… amantes… eles estão flutuando nos braços um do
outro. Pegos em algum lugar entre acordados e sonhando. —
Ela pigarreou. — Como esta noite.
A pulsação de Josh trovejou em seus ouvidos e sua voz saiu
reverente.
— Nunca ouvi falar de Chagall.
Clara lhe passou um giz de cera.
— Este tom de azul me lembrou de seu trabalho. É o veludo
amassado do céu noturno.
— Eu tenho que te dizer uma coisa — ele disse, agora
segurando seu coração batendo em suas mãos. Pronto para
confessar que queria estar com ela mais do que jamais quis
qualquer coisa. A palavra amor pairou na ponta de sua língua.
Ele nunca tinha feito isso antes. Não quando importava tanto.
Suas sobrancelhas se juntaram e o medo passou por seu
rosto.
— Aqui está. — O garçom chegou com dois pratos cheios
de waffles.
Josh desajeitadamente voltou ao seu assento, sua coragem
extinguida. Ele diria a ela amanhã. Se ela ainda o quisesse na luz
da manhã.
Eles finalmente deixaram o café quando o céu de veludo
azul de Clara rompeu para revelar o laranja vivo da madrugada.
Enquanto a mulher dos seus sonhos esperava na porta, Josh
rapidamente rasgou o desenho dela do papel pardo que cobria
a mesa, enfiou o quadrado dobrado no bolso de trás e fez um
pedido.
Enquanto Clara não ficava imune ao choque de ver corpos nus
se contorcendo, pelo menos agora ela podia fazer isso sem se
esconder atrás dos dedos. Os clipes teaser em sua tela variaram
de estudiosos a quentes, com narração alternada de Josh e
Naomi. Enquanto gemidos de prazer derramavam em seus
fones de ouvido, ela cruzou os braços sobre os mamilos e
esperava que ninguém percebesse o quão bem seu último
segmento de Shameless funcionou.
Os vídeos de Naomi sempre despertavam seu interesse, mas
toda vez que a voz de Josh aparecia, Clara começava a ofegar.
Quando o próprio homem caminhou até sua mesa
improvisada no estúdio, o estômago de Clara se revirou com a
lembrança da última vez que ele a pegou assistindo algo
fumegante, a pesquisa no Google que havia começado tudo.
Quando ela apertou o pause, ela resistiu ao desejo de minimizar
a janela em seu computador.
— Esse é o vídeo promocional que Naomi enviou? O que
você acha? — Josh puxou uma cadeira ao lado dela. Ele
arregaçou as mangas da camisa e a visão do cabelo dourado
salpicado pela pele enrugada de seus antebraços a fez salivar.
Um ser humano alguma vez pareceu assim tão… comestível?
Dormir com ele na noite passada tinha enviado seu corpo para
um ciclo interminável de desejo. Ela correu pelo evento de Toni
o dia todo, revivendo memórias e se abanando antes de
finalmente sair mais cedo para encontrar Josh no estúdio.
— Clara? — Josh acenou com a mão na frente dela. — Me
ouviu?
— Ai sim. Desculpe. Você fez um ótimo trabalho
descrevendo o uso da mordida no tutorial sobre estimulação
oral do mamilo. — Seu rosto esquentou aproximadamente à
mesma temperatura que a superfície do sol. Ela não poderia ter
escolhido algo menos explícito para comentar? Gostou da
música de fundo?
Josh puxou a gola da camisa.
— Obrigado. Eu estou… Uh… feliz que você aprovou. — O
ar entre eles ardia enquanto o corpo dela oscilava mais perto do
dele. — Se precisar de alguma consulta adicional sobre o
assunto, não hesite em perguntar.
Era tudo o que Clara podia fazer para manter a língua
dentro da boca.
— Acho que uma demonstração prática seria útil. Para
minha compreensão profissional da coreografia. Como líder
empresarial.
Josh baixou a voz para que apenas Clara pudesse ouvir.
— Eu anotei três novas ideias de cena enquanto você estava
no trabalho hoje. Por alguma razão, acordei particularmente
inspirado esta manhã.
Clara escondeu um sorriso atrás dos lábios. Ela tinha
algumas ideias de cena próprias, mas... Quem ela estava
enganando? Ela nunca faria sexo casual com Josh, de todos os
homens. Sua única opção era uma conversa honesta sobre o
que significavam um para o outro. Clara pensou ter visto
esperança nos olhos dele na noite passada que refletiam os dela.
Era uma agonia evitar se permitir considerar um futuro com
ele, e ela não sabia o quanto mais poderia aguentar.
— Na verdade, eu queria falar com você sobre a noite
passada.
— Certo. — Josh se virou para olhar ao redor da sala. —
Talvez possamos discutir isso mais tarde?
Oh. Talvez ele estivesse tentando dar-lhe uma bronca,
afinal.
Ele tirou dois bilhetes impressos do bolso de trás.
— Não se esqueça, temos Rocky em duas horas.
Claro. Ela comprou os ingressos semanas atrás e os
pendurou na geladeira. Josh deve tê-los pego ao sair esta manhã.
Clara tinha tanta certeza então que a maratona de filmes seria
um passeio platônico. Mas agora…
Ela engoliu em seco.
— Ginger disse que sua nota sobre virar seu corpo para a
câmera na última cena fez uma grande diferença.
O elogio enviou um calor agradável florescendo no peito de
Clara.
— Todo mundo tem sido muito gentil. Acho que recebi
mais abraços nas últimas semanas do que em toda a minha
infância.
Josh franziu a testa.
— Wheatons normalmente reservam contato físico para
ocasiões especiais — disse ela em explicação. — Além disso,
todo mundo começou a me chamar de Connecticut. Eu escolhi
acreditar que eles querem dizer isso como um carinho.
— Naomi mostra afeto de maneiras estranhas.
— Pedir a ela para liderar o projeto foi a escolha certa. Ela
tem tantas ideias. Eu não sabia que o sexo poderia envolver
tantas travessuras.
— Stu certamente não tem medo de rir de si mesma ou de
seus parceiros no quarto — disse Josh.
— Mas ela também tem essas histórias que são
incrivelmente sinceras. Muitos dos artistas o fazem. É como se
eles tivessem se sentido confortáveis o suficiente com o sexo
para descobrir outro plano de intimidade. Estou acostumada a
me preocupar com a aparência do meu corpo ou se o cara está
imaginando outra pessoa toda vez que fecha os olhos. — Clara
balançou a cabeça. Tudo isso estava no passado agora. Na terra
antes de Josh. — Mas algumas das coisas que Naomi dirigiu são
incríveis. Acho que nossos vídeos podem ajudar as pessoas a ver
como é o sexo quando os parceiros realmente confiam um no
outro e o interesse da imprensa tem sido enorme. Eu marquei
todos os tipos de entrevistas para vocês dois para o lançamento
na próxima semana.
Clara passou a apreciar colocar suas habilidades de
doutorado em novas formas para Shameless, mas no final do
dia, Josh e Naomi ainda tinham muito a perder. As chamas
originais permaneceram aos únicos nomes A-list anexados ao
projeto. Suas reputações tinham que carregar o site, pelo menos
até que construíssem uma base de assinantes.
— Aqueles comunicados de imprensa que você redigiu
foram incríveis. Acho que você é muito boa em misturar
negócios e prazer.
Clara inclinou-se para ele. E se ele a beijasse agora, na frente
de todos?
— Com licença. — Uma loira de óculos e um cinto de
ferramentas estava na frente deles. — Um de vocês pode assinar
este projeto de iluminação antes de começarmos a perfurar as
montagens?
Josh pulou da cadeira como se alguém tivesse derramado
carvão em seu colo.
— Oh, ei, Wynn. Stu mencionou que você estava visitando
a cidade. Eu não sabia que ela havia a amarrado ao trabalho
manual durante as suas férias.
A loira sorriu ironicamente na direção de onde Naomi se
curvou sobre um conjunto de fotos de teste.
— Ela cobrou um favor muito antigo.
— Você já conheceu Clara? Ela é o cérebro e o dinheiro por
trás desta operação. Clara, Wynn é carpinteira e cenógrafa de
profissão e a única pessoa viva que conhece algum dos segredos
de Stu.
Wynn ergueu um par de palmas das mãos calejadas.
— Só porque a conheci quase imediatamente depois de ela
sair do útero.
Clara arqueou uma sobrancelha.
— Nossas mães fizeram o mesmo curso de Lamaze e
tornaram-se unidas pelo quadril — disse Wynn em resposta.
— Ah. Bem, prazer em conhecê-la. É muito generoso da sua
parte abrir mão do seu tempo pessoal para nos ajudar. — Clara
estendeu a mão e Wynn a pegou.
— Sem problemas. É revigorante trabalhar em um lugar
onde nem todas as pessoas responsáveis parecem um banco de
dados do privilégio masculino branco. — Ela se virou para
Josh. — Sem ofensa.
— Nenhuma ofensa tomada. Clara pode assinar seus
projetos. Ela tem o olho melhor. Vou voltar para a sala de
edição e tentar ser útil. — Josh pediu licença.
Wynn entregou os esboços para as montarias. Cada imagem
detalhava a forma como a luz e as sombras atuariam no cenário
e nos artistas.
— Uau, essas projeções da trajetória da luz são incrivelmente
úteis. — Clara estudou as imagens, procurando por qualquer
coisa que ela pudesse mudar e não conseguiu. Este design era
mais do que prático, era arte. — Eu não suponho que haja uma
chance de convencê-la a se mudar para L.A. e se juntar a nós
como uma contratada em tempo integral?
A loira torceu o nariz.
— Tentador, mas não. Minha família, meu trabalho e meu
namorado estão de volta a Boston. Hannah faz fugir da cidade
parecer fácil, mas eu sou uma pessoa caseira sem esperança.
Clara acenou com a cabeça.
— Eu tinha que tentar. Você é muito talentosa. Onde você
aprendeu tudo isso?
O rosto de Wynn desmoronou.
— Eu não cresci com irmãos.
— Desculpe?
— Desculpe, reação instintiva. — Wynn estremeceu. —
Quase sempre que alguém elogia meu trabalho, eles o seguem
perguntando se eu cresci em uma casa cheia de meninos. Você
sabe como as garotas do cinema que podem trocar um pneu ou
jogar uma bola de futebol estão sempre explicando suas
habilidades como se o talento fosse transferido pela
proximidade com a testosterona?
— Ah sim. Bem, eu tenho um irmão e tenho certeza de que
ele não teria a menor ideia do que fazer com o seu cinto de
ferramentas.
Naomi colocou uma xícara de café ao lado do cotovelo de
Clara. Certamente a bebida era um gesto não verbal de
aceitação?
— Obrigada. — Clara se inclinou sobre o líquido
fumegante na esperança de fazer um tratamento facial com
cafeína. Ela mal conseguiu dormir quatro horas na noite
passada. No momento, suas pálpebras pesavam dez quilos cada.
— Parecia que você precisava disso. — Tudo o que Naomi
disse soou como uma ameaça, mas Clara agora sabia que ela
tinha boas intenções. — Vocês duas se conheceram?
— Sim. Eu estava apenas admirando alguns dos trabalhos de
Wynn.
— Ela é incrivelmente talentosa. Praticamente perfeita… —
Naomi suspirou. — Se ela não fosse tragicamente
heterossexual.
Wynn salpicou um beijo na bochecha de sua amiga.
— E nessa nota, eu vou foder algo que não é um de seus
artistas.
Naomi se virou para Clara.
— Por que você está bagunçando meu estúdio? — Ela
juntou um punhado de bolas de papel de rascunho amassado
espalhadas pelo computador de Clara.
Opa. Clara não tinha percebido quantos rabiscos de designs
de logotipo ela acumulou enquanto assistia aos clipes de
visualização. Passaram-se anos desde que ela desenhou algo
para olhos além dos seus. Mas algo sobre canalizar Chagall para
Josh na noite passada havia liberado impulsos artísticos
adormecidos. Entre outras coisas. Ela sempre associou Chagall
com amor, e não qualquer amor. Ele pintou o amor romântico
pelos mitos e contos de fadas. O amor verdadeiro. O tipo entre
almas gêmeas. Amor que ela e Josh nunca poderiam ter. Exceto
que adormecer em seus braços parecia desconcertantemente
certo.
Naomi demorou-se em uma das primeiras imagens que
Clara havia esboçado, um par de fontes que quebrou Shameless
de modo que, embora ainda escrito como uma única palavra,
parecia mais uma declaração declarativa: Shame. Less.— Você
gosta disso? Eu pensei que-
— Você não tem que explicar isso para mim.
— Certo. — Ela deveria mencionar a mudança em seu
relacionamento com Josh? Ela não queria esconder as
informações de sua parceira de negócios. Naomi parecia
valorizar a honestidade acima de tudo. Mas e se ela surtasse ou
decidisse que Clara não era boa o suficiente para seu ex?
— Posso te fazer uma pergunta? — Clara deixou escapar as
palavras antes que pudesse pensar melhor.
Naomi olhou para ela com os lábios franzidos.
— Hm.
Clara plantou os pés e ficou muito reta.
— Você acha que as pessoas podem mudar? — O que ela
quis dizer, mas não conseguiu dizer, foi: Você acha que alguém
como eu poderia ser certo para alguém como Josh?
Naomi não respondeu de imediato. Ela prendeu o cabelo
em um coque e enfiou uma caneta nele de um jeito que Clara
achava que só funcionava em filmes. Quando ela respondeu,
sua voz estava pensativa e seus olhos eram afiados.
— Podem? Sim. Se as circunstâncias forem corretas. Mas
você tem que querer, e a maioria das pessoas não quer. — Ela
respirou fundo. — Ou algo grande o suficiente tem que
acontecer com você. Algo que deixa você sem outras opções.
Algo – não, alguém – grande aconteceu com Clara. Mas ela
não conseguia descobrir se os efeitos iriam durar.
Naomi olhou para ela.
— Foi assim que entrei no pornô.
— Foi? — Viver com Josh e trabalhar ao lado de tantos tipos
diferentes de artistas abriu significativamente a lacuna na
definição de Clara de um artista pornô.
— Acredite ou não, eu tive uma experiência perfeita no
ensino médio. Eu não era tão puxa-saco quanto você. —
Naomi sorriu afetadamente. — Mas eu tirei boas notas e fui
capitã do time de futebol, presidente da turma, a coisa toda. Eu
até tive o namorado perfeito. — Os lábios de Naomi se
torceram como se ela tivesse chupado um limão.
— A vida desmoronou quando descobri que o namorado
perfeito compartilhou na Internet, as fotos privadas que ele
implorou como um presente de aniversário de dezoito anos.
Veja, eu disse a ele que não estava pronta para dormir com ele.
— Sua voz soou oca.
Clara passou os braços em volta dos ombros da outra
mulher sem pensar. Ela esperava que Naomi se livrasse do
contato físico, mas em vez disso, ela apoiou o queixo em cima
da cabeça de Clara e suspirou.
— Se você contar a alguém sobre isso, eu vou negar e depois
te matar.
Eventualmente, eles se separaram timidamente. Quando
Naomi falou em seguida, sua voz permitiu que a dor sangrasse.
— Eu sabia que não importava o que eu fizesse, essas
imagens estariam lá para as pessoas verem sem minha
permissão. Sabia que não importariam quantos anos se
passassem, não importaria o que eu alcançasse, algumas pessoas
sempre me definiriam com base apenas no meu corpo. Então
eu vim aqui. Tirei minhas próprias fotos. Achei que, se
inundasse o mercado, poderia diminuir o valor dessas poses
originais. Que eu poderia reclamar meu corpo em meus
próprios termos.
— Isso foi realmente… — Clara começou a dizer.
— Impulsivo? Juvenil? Estúpido?
— Corajoso.
Naomi olhou Clara nos olhos.
— Eu estava apavorada e com tanta raiva que não conseguia
ver direito. — Ela pegou o café de Clara e colocou-o nas mãos
dela.
Clara deu um gole obediente.
— E sua família? Seus amigos? Eles apoiaram sua decisão?
— Não pedi permissão na época e não pretendo pedir
perdão agora. Mesmo Wynn, que entende por que eu tive que
sair, não consegue compreender por que nunca vou voltar. —
Ela ergueu as mãos na frente do peito. — Isso não é um convite
para me abraçar novamente.
— Eu nem sonharia com isso.
— A maioria das pessoas fará qualquer coisa para evitar
mudanças. — Naomi escovou o cabelo cor de fogo sobre o
ombro. — Mesmo aqueles que tentam, muitas vezes voltam aos
velhos hábitos assim que a vida fica difícil. Lembre-se disso
antes de fazer algo maluco. Às vezes pensamos que queremos
algo até a hora de viver com as consequências.
A resposta não foi pessimista, apenas baseada na firme dose
de realidade que Clara passara a esperar de Naomi.
Enquanto o café amargo passava por sua língua, Clara
tentou não fechar os olhos. Ela queria acreditar na mudança.
Para acreditar que ela poderia deixar sua antiga vida, suas
antigas responsabilidades e bagagem, para trás por Josh, se ele a
aceitasse. Ela queria que as pessoas dissessem: Oh sim. Clara
sempre pode lidar com os socos. Ela dá grandes mordidas nas
situações da vida.
Mas Naomi estava certa. Era fácil tentar. Engolir a
insegurança desencadeada por trabalhar com tantas mulheres
bonitas que sabiam muito mais sobre sexo do que ela poderia
imaginar. Evitar ligações de sua mãe e culpar a diferença de fuso
horário. Para alimentar a fantasia de ela e Josh vivendo felizes
para sempre, enquanto seu hiato na performance ajudou a
parar os milhares de obstáculos que estavam em seu caminho.
Essas eram as férias de verão da vida real, mas, mais cedo ou
mais tarde, o verão acabaria. Ela teria que enfrentar sua família,
teria que escolher entre a vida para a qual foi preparada e aquela
que pairava na borda do horizonte, escandalosamente
tentadora, mas com um preço de tudo que ela amava.
— A mudança sempre vem com um custo de fechamento
— disse Naomi. — Mas ainda vale a pena tentar. Não porque
as chances sejam particularmente boas, veja bem, mas
considerando a alternativa. A luta tem valor. Valorizamos tocar
as partes cruas e sangrentas de nossas almas, abrindo-as à luz do
sol e esperando que elas sarem.
Clara entendeu a mensagem. Se ela queria um futuro com
Josh, ela teria que lutar por isso.
— Sabe, você é a primeira pessoa que conheci que acho que
pode realmente mudar o mundo.
Naomi sorriu por cima do ombro enquanto se afastava.
— Diga-me algo que eu não sei.
Josh não pararia por nada em sua missão para levar Clara em
um encontro de verdade.
Embora ele adorasse compartilhar o café da manhã com ela
no meio da noite, ele queria algo mais formal. Um passeio
arranjado versus o encontro casual que eles vinham tendo há
semanas. Tudo tinha mudado para ele na noite passada. Agora
ele precisava descobrir se Clara sentia o mesmo.
Durante todo o dia ele se sentiu como um adolescente,
imaturo e inseguro, andando por aí. Ele passou tempo
suficiente com Clara antes que as coisas ficassem físicas para
saber que essa coisa entre eles era mais do que uma atração
comum.
Ele queria fincar uma bandeira. Para mostrar a Clara que ele
estava 100% nessa.
Ele não se importou que essa maratona de filmes tivesse sido
ideia dela. Desde que viram Velocidade Máxima pela primeira
vez, sempre que ele pensava em perseguições de carros e
confrontos, ele pensava em Clara. Ela era surpreendentemente
sanguinária para uma mulher que, uma semana antes, não o
deixava esmagar uma aranha que tinha aparecido na banheira.
— Eu provavelmente deveria ter tentado te levar a algum
lugar mais romântico do que o megaplex — ele a ajudou a sair
do carro alugado.
— Você está de brincadeira? Eu amo Rocky. Sylvester
Stallone me ensinou a socar.
— Você sabe dar um soco?
Clara plantou os pés e cerrou os punhos minúsculos.
Sua posição não era ruim.
— Ok. — Josh ergueu a palma da mão aberta. — Dê-me o
seu pior.
O sorriso de Clara o fez superaquecer e seu soco acertou
com uma pancada retumbante e uma quantidade não
insignificante de força.
Ele balançou o pulso.
— Droga. Você não estava brincando. Às vezes você fica
assustadoramente briguenta. — Josh deixou sua mão
permanecer na parte inferior das costas dela enquanto a
conduzia para dentro.
Josh tinha se vestido para a noite de encontro com uma
camisa de botão branca e seu melhor par de jeans, mas ele ainda
se sentia um idiota ao lado de Clara. Ela havia tirado o cardigã
e o enrolado no braço, revelando um vestido preto que ele
nunca tinha visto antes, sustentado por duas alças minúsculas
que ele poderia, e esperava que mais tarde, rasgasse com os
dentes.
Ele se acostumou com a beleza dela em baixo tom em casa.
Sem maquiagem, de moletom, cabelo empilhado no topo da
cabeça como um rolo de canela. Completamente arrumada, em
luz natural, ela tirou seu fôlego. Ele não tinha usado as palavras
certas na noite passada quando confessou o que sentia por ela.
Certamente não tinha usado a única palavra que vinha
nadando em seu cérebro desde o churrasco.
Mas estava tudo bem. Ele poderia consertar. Esta noite ele
faria uma declaração apropriada. Uma que não era baseada em
suas características físicas, mas diria a Clara como ela o fazia
querer recitar poemas épicos. Se ela o deixasse, ele faria o
possível para colocar cidades a seus pés, para navegar por
quatorze anos apenas para encontrar o caminho de volta para
sua cama.
— Você sabia que Rocky é tanto um conto revigorante de
determinação e coragem quanto um romance atemporal? Você
tirou a sorte grande. — Clara usou a voz sabe-tudo que o
deixou louco.
— Você acha que tudo é romântico. Você tentou me
convencer de que A Múmia era uma história de amor.
— Claro que A Múmia é uma história de amor. — Clara
colocou as mãos nos quadris. — Você está fora de si.
— Fora de mim? Não é à toa que você gosta desse filme.
Você está há um par de óculos de tartaruga de distância de um
bibliotecário. — Ele tentou pensar em um elogio digno para
ela. Como ele poderia dizer a ela o quanto esta noite significava
para ele, sem dizer algo ridículo como Seus olhos brilham como
diamantes?
Clara torceu o nariz.
— Obrigada. Os bibliotecários são pilares da sociedade.
Josh queria segurá-la, como em um movimento de dança
dos velhos tempos. Ele queria baixá-la em um arco dramático e
reivindicar seus lábios enquanto todos ao seu redor aplaudiam.
Ele teve que ficar escondido no estúdio para não atrair
atenção indesejada de Naomi. A última coisa que ele precisava
agora era lidar com as consequências da raiva de sua ex-
namorada que virou parceira de negócios.
De alguma forma, desafiando as leis da lógica e da ciência,
Clara parecia genuinamente interessada nele. Ele era o filho da
puta mais sortudo do mundo.
— Próximo — chamou o cobrador.
Josh percebeu que ele e Clara estavam de pé, sorrindo um
para o outro, segurando a fila.
— Desculpe — ele disse ao casal mais velho atrás deles.
— Sem problemas — disse a mulher, dando um tapinha no
braço de seu companheiro. — Lembramos como eram os
primeiros dias.
Ele esperava que Clara protestasse, mas ela simplesmente lhe
deu um sorriso tímido.
O orgulho acrescentou um centímetro à sua altura. Uma
estranha os confundiu com um casal. Não, espere. Não os
confundiu. Uma estranha os reconheceu como um casal.
O estômago de Josh revirou alegremente e ele conseguiu
acenar com a cabeça.
Enquanto se dirigiam para o balcão de admissão, Clara
pegou sua mão. Ele tentou não deixar transparecer a forma
como todo o seu corpo formigou em resposta. Josh tinha
participado de movimentos sexuais que ele não conseguia
soletrar, mas nenhum deles fez a felicidade bombear em suas
veias como segurar as mãos de Clara.
Ela estudou o cardápio.
— Devemos comprar M&M's ou Skittles?
— Obviamente precisamos pegar M&M's e jogá-los no
balde de pipoca.
— As pessoas fazem isso?
Josh pressionou sua coxa totalmente contra a dela.
— Oh, Clara. Fique comigo. Vou te mostrar um mundo
totalmente novo.
Eles encontraram assentos na parte de trás do cinema. Não
a fileira ocupada exclusivamente por adolescentes que vinham
para beijar, mas perto o suficiente para que Josh percebesse que
pelo menos poderia se safar colocando o braço em volta dela.
— Você está pronto? — Clara olhou para as curiosidades na
tela com excitação palpável.
Josh enfiou a língua entre os dentes.
— Para fazer barulho?
Ela deu a ele um olhar feroz por sua provocação.
— Ah não! A pipoca quente está derretendo todos os
M&M's. — Ela ergueu a evidência. Entre o polegar e o
indicador, ela capturou a mordida perfeita: dois pedaços de
pipoca fundidos por um chocolate agora pegajoso.
Josh se inclinou para frente e pegou sua oferta entre os
dentes, deixando seus caninos raspar suavemente contra as
pontas dos dedos dela. A mistura doce e salgada e o contato
com sua pele o deixaram quase tonto de prazer.
Clara corou e pegou seu próprio punhado. Depois de alguns
momentos mastigando a guloseima, ela se inclinou para trás.
— Você é um gênio.
— Uau. Mais elogios?
Ela assentiu solenemente.
— Sério. Você é o pacote completo.
Josh examinou o cinema meio vazio com horror simulado.
— Ei, pare de falar sobre o meu pacote. Este é um cinema
familiar.
Quando ela riu contra seu ombro, ele jurou que as vibrações
percorreram todo o caminho até seu coração que rugia. Ele se
viu curvando-se e cheirando o cabelo dela. Eu sou um caso
perdido.
As luzes diminuíram, sinalizando o início dos trailers. Ele
nunca tinha visto Rocky, mas conhecia a história. Um homem
que ninguém sonhava que poderia competir acabou se
mantendo no ringue com um campeão.
Velocidade Máxima. Duro de Matar. Rocky. Clara sempre
parecia se apaixonar pelo oprimido. Josh pegou a mão dela,
passou os lábios na parte de trás de seus dedos, e se perguntou
por que ele nunca tinha notado antes. Ela inclinou a cabeça em
seu ombro enquanto a música de abertura tocava.
Ao longo do filme, Clara se animava sempre que Josh ria e
apertava sua mão quando as coisas pareciam sombrias para o
garanhão italiano.
Quando chegasse em casa, escreveria uma carta para sua
diretora contando o quanto ela estava errada. Ele se tornou o
tipo de homem que saía com Clara Wheaton.
— Então… O que você achou? — Clara praticamente
saltitava quando saíram do cinema.
Josh teria assistido a qualquer coisa que a fizesse brilhar
como aquele filme.
— Eu gostei. Rocky é muito adorável. Apollo era legal.
Adrian é um gostoso.
Clara parou no meio do corredor.
— Bem, qual foi a sua parte favorita? — O resto dos
frequentadores do cinema lhes lançava olhares sujos enquanto
eles andavam.
— Hmmm. — Josh passou o braço em volta dos ombros
dela e deu a um cavalheiro carrancudo um pequeno aceno
enquanto o corredor se esvaziava. — Eu realmente gostei do
jeito que você se sentou na sua cadeira e lutou junto com
Sylvester Stallone.
Clara abaixou o queixo.
— Eu posso ter ficado um pouco animada demais. Falando
de… — Ela o encurralou em um canto e o beijou.
— Nós só temos quinze minutos antes do início da
sequência — ele disse contra os lábios dela, imaginando que ela
o mataria se eles perdessem os créditos iniciais.
— Talvez pudéssemos assistir em casa?
O pau de Josh se contraiu.
— Em casa? Você quer dizer que não quer ver seus heróis
brigando na tela grande?
Clara diminuiu a distância entre seus quadris e enfiou a mão
no bolso de trás dele.
— Eu pensei em te ensinar alguns movimentos de treino em
vez disso.
— Ok, mas as regras da liga dizem que todos os lutadores
devem estar sem camisa.
Ela deu um gritinho quando ele deu um tapinha amigável
em sua bunda e começou a levá-la em direção à porta. Se ele
pudesse, eles não sairiam da cama nas próximas quarenta e oito
horas.
— Você sabe o quanto eu amo regras. — Ela piscou para ele
com um par de olhos devastadores. — Oh, droga. Deixei meu
suéter no cinema. Espere um segundo. Eu vou pegar. — Clara
deu cerca de doze passos antes de parar.
Imediatamente, sua postura mudou. Ela se endireitou e
cruzou os braços sobre o peito antes de dar outro pequeno, mas
decisivo passo para longe dele.
— Toni. Olá. É bom te ver. — Sua voz mudou de tom.
Josh reconheceu Toni Granger do jornal, embora a mulher
usasse uma roupa casual. Ela era mais alta em pessoa do que ele
supunha.
— Pensei em levar a equipe para um pequeno impulso
moral de última hora. — Toni fez um gesto para um grupo de
sete ou oito pessoas esperando na fila para entrar na sala dois.
— O chefe deles os manteve trabalhando até tarde no sábado.
Procuramos por você, mas Jill disse que você já tinha saído para
um compromisso.
Clara torceu as mãos.
A promotora olhou para onde Josh estava esperando.
— Esse é o seu jovem? — Ela deu a ele um sorriso educado.
— Não. Claro que não — Clara disse, ficando branca.
Josh sentiu cada palavra como um soco no plexo solar.
— Não — ela repetiu, martelando impiedosamente o
ponto. — Eu estava perguntando a esse homem legal se ele sabia
onde ficavam os banheiros. — Os olhos de Clara encontraram
os dele, desesperados e suplicantes. — Obrigada novamente
por sua ajuda.
— Não há de quê — Josh puxou seus pés de chumbo em
direção à saída.
Ele estava na metade do estacionamento quando Clara
apareceu ao lado dele.
— Josh. Josh, espere. — Ela pegou a manga dele entre os
dedos. — Sinto muito por isso.
Algo dentro de Josh uivou de dor, mas ele sufocou seus
gritos.
— Está bem.
Ele sabia que ninguém compraria um conto de fadas sobre
uma princesa e uma estrela pornô.
— Onde está o seu suéter?
Ela balançou a cabeça.
— Eu não sei. Eu não me importo com o suéter. Eu me
preocupo com você. Eu... Eu não poderia arriscar que alguém
da equipe de campanha reconhecesse você. — Clara mordeu o
lábio inferior entre os dentes.
Ele alongou seus passos até que ela ficou vários passos atrás
dele. Quantas vezes as pessoas riram ao ouvir sua profissão? Ou
gaguejaram e se recusaram a olhar nos seus olhos? Quantas
pessoas o chamaram de nojento? Ele deveria ter superado essa
reação anos atrás.
De alguma forma, nenhum desses desrespeitos se
comparava a isso. Se ele vivesse até os cem anos, nunca
esqueceria a maneira como Clara o olhava quando pensava que
alguém que ela respeitava poderia ver. Mesmo agora, a
diferença em sua linguagem corporal refletia o espaço abrindo
entre eles.
Ele tinha sido um tolo ao pensar que uma garota de ouro
como ela algum dia o reconheceria como seu igual.
A bile subiu pela garganta de Josh.
— Eu entendo, Clara.
— Eles são políticos. — Ela olhou para as próprias mãos. —
Todo mundo está nervoso com a campanha de reeleição. Por
favor, entenda.
— Não importa. Não se culpe. — Por mais triste e patético
que fosse, ele não conseguia parar de tentar salvar sua aparência.
Ele morreria se ela soubesse o quão perto ele chegou de
acreditar que esta noite significava algo. — Não é como se este
fosse um encontro real.
Clara recuou por um momento.
— Oh. Certo. Ok.
Mais um prego no caixão. Tudo fazia sentido agora, sua
calma incomum; ela nunca pensou que eles conseguiriam
passar do quarto. Ele queria aliviar a culpa do rosto dela. Ela
não era culpada por sua esperança selvagem.
— Estamos nos divertindo. Brincando. — Sua voz soou
distante em seus próprios ouvidos.
Os olhos de Clara tornaram-se cinzentos como mil
trovoadas.
— Claro. Eu sei disso.
Ele gostaria de poder trocar de lugar com Rocky Balboa. Ele
daria qualquer coisa agora para bater em pedaços duros de
carne congelada e correr até vomitar. Talvez, então, ele pudesse
substituir a dor emocional que se acumulava como ácido em
seu estômago por uma dor física que significasse alguma coisa.
Isso aparecia do lado de fora.
Se o mundo fosse justo, Josh teria sido capaz de entrar em
um ringue e lutar pelo que ele queria. Se o mundo fosse justo,
ele teria uma chance.
A dor de Josh o fez desejar açúcar, então ele e Clara apareceram
no estúdio na manhã seguinte levando brownies. Eles não
deveriam estar lá até o meio-dia, mas ele não podia mais ficar
preso na casa com ela.
Quando ele sugeriu que eles fossem mais cedo, sua colega de
quarto, porque isso era tudo que ela seria para ele, não discutiu.
Mas seus olhos se voltaram para onde as chaves do carro
alugado estavam penduradas em um gancho perto da porta e
ela estremeceu como se tivessem brotado pernas grandes e
peludas.
— Está tudo bem — disse ele, compreendendo a hesitação
dela em voltar ao volante após o acidente. — Eu vou dirigir.
Enquanto conversava com Naomi, Josh tentou o seu
melhor para fingir que não tinha um carimbo gigante na testa
que dizia eu fiz sexo com Clara e nunca vou superar isso.
Como sua ex-namorada havia avisado de antemão, se
envolver com sua parceira de negócios e colega de quarto o
deixou sem lugar para lamber suas feridas. Ele não podia
escapar de Clara. Toda vez que ele se virava, ela parecia
despreocupada e bonita, o oposto de sua alma apodrecida. A
pior parte era que ela continuava tentando se desculpar com ele
repetidamente. O que só o fez se sentir pior. Ele nunca se
sentira tão sozinho quanto estava ao subir em sua cama vazia na
noite anterior, sabendo que ela estava deitada a metros de
distância e a quilômetros distante dele. Ele tinha lido a situação
com ela tão errado, que poderia muito bem ter sido escrito em
uma língua estrangeira.
Ele contaria como uma pequena vitória se pudesse pelo
menos evitar que Naomi detectasse seu enorme erro de cálculo.
Felizmente, sua ex parecia distraída.
Josh permaneceu paranoico a manhã toda, convencido de
que havia sinais de sua indiscrição em todos os lugares. Por um
momento, ele pensou ter visto uma mordida de amor
persistente no pulso de Clara, mas acabou sendo chocolate.
Isso deve ser carma. No passado, ele teria adorado a ideia de
uma brincadeira sem compromisso, mas essa era Clara. Clara.
Ele desejou nunca ter experimentado o gosto dela.
Só mais algumas semanas. Então, pelo menos, ele poderia se
mudar. Ela não seria a primeira pessoa que ele veria ao acordar
e a última antes de dormir. Deus, ele se sentia doente.
Sentindo uma mão em seu ombro, ele clicou em pausa e
tirou os fones de ouvido, voltando-se para encontrar o objeto
de sua afeição indesejada.
Sua respiração ficou presa na garganta ao vê-la, na forma
como o top leve que ela usava deixava seus braços e ombros nus.
Ele fingiu uma tosse para disfarçar sua reação. Mesmo que ela
mantivesse uma distância saudável entre eles, Josh sentiu o
cheiro do protetor solar em sua pele. De alguma forma, ela
reprogramou seu cérebro para achar todas essas coisas antes
comuns excitantes. Ela nem estava mostrando nenhum decote,
pelo amor de Deus.
— Kiana está ótima, não é? — Clara disse, olhando para a
tela por cima do ombro, alheia ao efeito que ela tinha sobre ele.
Josh forçou seu olhar de volta para o vídeo, onde uma loira
estava desfrutando de algumas carícias pesadas de seu parceiro.
A câmera focou em sua reação. Clara admirar abertamente
outra mulher no auge da paixão era demais para ele no
momento. Seu cérebro posterior sentou-se e rosnou. — Você
viu isso?
— Oh sim. Eu estava lá quando eles filmaram na semana
passada — ela disse, indiferente.
O conhecimento sensorial que ele ganhou na outra noite só
adicionou combustível ao seu desejo por ela. Ele se levantou
abruptamente, precisando colocar mais distância entre eles,
precisando pensar em qualquer coisa além de lamber sua pele
quente e úmida.
— Você quer pedir comida tailandesa para o almoço? — ele
perguntou.
— Oh, hum… — Ela ficou distraída com uma rachadura no
vinil da mesa.
— Clara tem planos — Naomi disse, juntando-se a eles. —
Mas eu vou comer macarrão com você.
— Planos? — Ele olhou para Clara buscando
esclarecimentos. Desde quando Clara tinha planos que não o
incluíam?
— Um encontro de dia — respondeu Naomi. Seus olhos
disseram a ele para não discutir. — Eu arranjei há duas semanas.
Meu dentista é bonito e solteiro. Eles vão se encontrar no
Griffith Park às duas.
— Um encontro às cegas, hein? — Josh tentou perguntar
como uma pessoa normal, uma pessoa com menos a perder.
Clara acenou com a cabeça.
— Naomi insistiu em armar porque não saí muito desde que
me mudei para cá.
Josh a beijou e segurou e esteve dentro dela, e ela ainda
prefere ir a um encontro com algum cara qualquer.
— Seu telefone está tocando — disse Naomi, entregando-
lhe o dispositivo eletrônico ofensivo. Suas sobrancelhas
erguidas disseram: O que há de errado com você?
O identificador de chamadas o fez fazer careta.
— É o Bennie. — Ele moveu o polegar para enviar a
chamada para o correio de voz. Tudo estava errado e ele não
sabia como consertar. Precisava falar com Clara. Agora.
— Atenda — Naomi disse a ele.
Ele atirou adagas nela.
— Olá?
— Darling. — A voz de seu agente soou em seu ouvido. —
Quanto tempo. Espero que você não tenha pensado que
terminou comigo.
— O que você quer, Bennie?
— Garoto... Melhor cuidar desse tom. Alguém menos
caridoso pode se ofender. Estou ligando para informá-lo sobre
alguns desenvolvimentos do setor que achei que poderiam ser
interessantes. Eu acredito que você conhece Paulo Santiago e
Lucie Corben?
Claro que Josh conhecia esses nomes. Paulo foi o editor que
deu a ele o download do software Final Cut em troca de uma
rodada de cervejas, e Lucie era uma maquiadora que lhe
contava piadas sujas até que ele riu tanto que acabou com todo
o seu trabalho manual. Eles eram duas de suas pessoas favoritas
no negócio.
— Vá direto ao ponto.
— Ambos foram dispensados de qualquer produção futura
de Black Hat.
Ele cobriu o bocal do telefone com a palma da mão.
— Pruitt está cumprindo suas ameaças.
Naomi amaldiçoou baixinho.
— Você é um pedaço de merda, Bennie. Fazer o trabalho
sujo daquele bastardo é baixo, mesmo para você. — Josh disse
ao telefone.
— Ei, garoto. Eu sou o mensageiro. A cada dia que você fica
sem assinar um novo contrato, a lista de pessoas que ficam sem
trabalho sobe. E se você está pensando em abusar da sorte,
deixe-me lembrá-lo de que as propriedades do Sr. Pruitt são
vastas. Ele tem muitos recursos dispensáveis. Ele pode se dar ao
luxo de esperar. Se você mudar de ideia sobre assinar, sabe onde
me encontrar — disse ele antes de desligar a ligação.
Em contraste com as pessoas apanhadas na mira estava
implícito. Josh sabia que Paulo e Lucie viviam de salário em
salário, como muitos funcionários de Pruitt. Ele pensou nos
filhos de Paulo e nos caros tratamentos de terapia hormonal em
curso de Lucie.
Ele não podia deixá-los sofrer por suas ações. Seus erros. Ele
bateu com o punho na mesa de jogo com tanta força que as
pernas cambalearam. Essa semana estava se preparando para ser
um verdadeiro chute nos dentes.
— Droga. Eu não posso valer tanto esforço. Por que ter todo
esse trabalho para me fazer ceder à sua vontade? Essa indústria
está cheia de caras brancos com paus grandes.
— Não acho que seja só sobre você — disse Naomi. —
Temos sido barulhentos em nossa dissidência. A palavra está se
espalhando sobre nosso pequeno projeto. As pessoas estão
ligando, prontas para desertar, não importa os riscos. Temos
entrevistas marcadas para a próxima semana. Acho que se trata
de Pruitt mandando uma mensagem. Sobre esmagar qualquer
um que se oponha a ele. Se ele não cortar isso pela raiz, ele
poderá se ver com uma revolta em massa em suas mãos.
— Bom — Clara disse do canto. — Desculpe. Isso é bom,
não é?
— Algumas semanas andando com um bando de
trabalhadoras do sexo e de repente você tem um gosto por
rebelião? — Naomi ergueu uma sobrancelha finamente
arqueada.
Clara encolheu os ombros recatadamente.
Josh afundou na cadeira dobrável com a cabeça girando.
Não havia como ele justificar ser tão egoísta. Veja o custo. Como
ele poderia deixar as pessoas de quem gostava sofrer quando ele
tinha o poder de impedir?
— Você não pode assinar esse contrato — disse Clara. — Se
você assinar, Pruitt e Bennie ganham. Além do mais — ela
cruzou as mãos. — Ainda não há nada que o impeça de demitir
mais pessoas depois que consegue o que deseja. Você estaria
desistindo de sua vantagem.
Josh esfregou as palmas das mãos contra os olhos.
— Minha influência não importa mais. Não podemos
contratar toda a indústria — disse ele. — Os bolsos do Black
Hat são mais profundos do que os seus.
Naomi balançou a cabeça.
— Precisamos aguentar o tempo suficiente para chegar à
imprensa. São apenas mais alguns dias.
Clara sorriu esperançosa. Ela, Naomi e tantas outras
mulheres incríveis deram seu tempo, conhecimento e
experiência para que essa pequena e provavelmente infrutífera
rebelião pudesse ver a luz do dia.
Josh olhou para a tela deixada em seu computador, para o
banner no topo do site, a primeira coisa que as pessoas veriam
quando visitassem, desenhado pela mão de Clara, trazido à vida
a partir de um esboço que Naomi havia resgatado entre cem
destinados ao lixo. Shameless, as letras brotando da terra como
flores frescas.
Ele poderia fazer isso por elas.
Mesmo que Clara tivesse partido seu coração. Mesmo que
ela continuasse a desconcertá-lo, continuasse a enfurecê-lo com
o quanto ela o fazia desejá-la. Se ela queria ir para a guerra
contra um monopólio do pornô, bem, o mínimo que ele podia
fazer era cavalgar ao lado dela.
Josh agarrou sua mochila, procurando um pen drive preto
indefinível que ele começou a manter à mão. Ele vinha
adicionando coisas a ele esporadicamente há meses. Mesmo
com as apostas aumentadas, ele não tinha certeza se algum dia
teria coragem de fazer algo com ele, mas segurá-lo, saber que ele
o tinha, tornava a respiração um pouco mais fácil. Não
importava o que acontecesse nas semanas seguintes, Josh
subestimou Black Hat pela última vez.
Clara estremeceu quando Toni Granger saiu do palco da Igreja
Batista local do condado de L.A.
Esta foi a terceira aparição pública de campanha que ela e Jill
compareceram nas últimas duas semanas, e a tendência era
clara. Toni precisaria de um milagre para defender sua posição
contra seu impetuoso oponente financiado pelo Comitê de
Ações Políticas com sua boca grande e promessas ainda
maiores.
— Ela foi destruída. — Jill concordou com a avaliação de
Clara sobre o desempenho da cliente no Fórum de Candidatos.
— Ele a fez parecer mole demais com o crime. — Ela tomou
um gole de café instantâneo em um copo de papel, cortesia da
escassa mesa de refrescos do evento.
No início desta semana, os apoiadores de seu oponente
lançaram um anúncio de ataque desagradável, mirando na
jugular. A multidão hoje obviamente tinha visto isso. Eles
praticamente comeram da mão de seu oponente enquanto ele
disparava estatísticas fora do contexto sobre o histórico de
condenações de Toni.
— Ela é uma candidata reformista — disse Clara, mudando
seu peso para a perna oposta e tentando defender Toni. — Ela
está tentando corrigir o sistema de encarceramento em massa
da justiça criminal.
Os pés de Clara latejavam em seus calcanhares. Josh estava
na sala esta manhã quando ela se arrumou para o evento. Ele
estava deitado no sofá, comendo waffles congelados, bem ao
lado de onde ela havia deixado seu par de sapatos de trabalho
preferido. Ela o estava evitando por três noites. Desde que ela
voltou de seu encontro sem graça com o dentista. Um encontro
que ela nem queria em primeiro lugar. Clara passou o
piquenique inteiro pensando em Josh. Ela não conseguia parar
de pensar nele. Ontem à noite ela acordou dizendo o nome dele
em seu travesseiro.
Ela precisava superar seu colega de quarto, e rápido. Ele
deixou muito claro que qualquer coisa além de sexo entre eles
estava fora de questão depois que ela o humilhou no cinema.
Pena que seu coração não pudesse separar a luxúria do amor tão
facilmente.
Ainda assim, ela desejou não ter se acovardado e resgatado
seus sapatos. Em algum momento da última hora, seus dedos
dos pés ficaram dormentes.
— O material que demos a ela não era ousado o suficiente.
— Quanto mais Clara trabalhava para Toni, mais ela a
admirava. A servidora pública fez um trabalho
verdadeiramente impagável, tentando lutar por igualdade e
justiça. Clara notou que não passava um único evento sem que
algum velho branco se aproximasse de Toni e tentasse explicar
seu próprio trabalho para ela.
— Ousadia a deixa nervosa. — Jill jogou o café em uma lata
de lixo próxima. — Vamos lá, ela vai querer debater. — Sua tia
abriu caminho para o saguão da igreja, onde a atual promotora
distrital agradecia aos eleitores em potencial.
Os olhos de Toni encontraram Jill acima da cabeça de um
idoso frequentador da igreja, e sua cliente acenou sutilmente
com a cabeça em direção à sala de espera que elas prepararam
antes do evento, um sinal claro de que Jill e Clara deveriam
esperar lá até que ela se juntasse a elas.
O estômago de Clara afundou. Toni tinha o mesmo olhar
que não estou brava, apenas desapontada como a mãe de Clara.
Poucos minutos depois, sua cliente se juntou a elas na sala,
fechando a porta atrás dela e afastando o barulho da multidão.
Ela segurava uma pasta de papel manilha debaixo do braço.
— Devo chamar Tricia se vamos falar sobre alterar a
estratégia de comunicação? — Jill perguntou, referindo-se à
chefe de equipe da campanha de Granger e se levantando da
cadeira dobrável em que estava sentada.
— Não — disse Toni. — Isso não será necessário, obrigada.
Clara havia passado incontáveis horas observando, fazendo
perguntas - algumas mais bem-vindas do que outras - e
aprendendo tudo o que podia sobre sua cliente. Ela sabia que o
lindo terno cinza-ardósia que Toni usava hoje costumava
pertencer a sua mãe. E que Toni só usava seu atual tom de
batom carmesim quando precisava de coragem. Ela se vestiu
para a batalha hoje. Talvez este seja realmente o fim.
— Clara, posso falar com você em particular por um
momento? — A voz da promotora tinha um tom estranho.
Clara ergueu os olhos do caderno, surpresa.
— Tem certeza de que não quer falar com Jill?
— Tenho certeza.
Jill deu a Clara um aceno de encorajamento enquanto ela
saia graciosamente da pequena sala.
— Clara — começou Toni, tomando o lugar que Jill havia
desocupado. — Trabalhamos juntas nos últimos meses. Gosto
de você. Você é inteligente, trabalha duro e não tem medo de
pedir ajuda quando não sabe o que fazer.
— Obrigada — disse Clara, lisonjeada, mas algo sobre a
maneira como a voz de Toni morreu no final de sua última frase
disparou um sinal de alerta.
A promotora olhou pela pequena janela da sala para onde
amigos e familiares permaneciam, conversando entre seus
carros, sem vontade de se despedir. Quando seus olhos
voltaram para Clara, seu olhar estava preocupado.
— Sei que minha campanha está em seu último suspiro. Eu
vi os números da votação. Eu pago sua tia e todos os outros da
minha equipe de campanha para fingirem que não é tão ruim,
mas você não é tão boa em esconder isso. Posso ver em seus
olhos que você sabe que não tenho muitas opções se quiser
manter meu emprego. É por isso que eu queria perguntar a
você – o que você me diria para fazer, se eu descobrisse que
alguém trabalhando na minha campanha, estava envolvido em
uma atividade que poderia ser inflamatória nas mãos erradas?
Clara pensou na liderança tênue de Toni recém-
conquistada, naquele primeiro dia no escritório de Jill quando
ela falou sobre criar uma cidade melhor e mais segura para
todos. Ela imaginou Josh antes de conhecê-lo, antes que ele
fizesse um único vídeo de entretenimento adulto. Ele contou a
ela histórias sobre trabalhar em três empregos para poder pagar
o aluguel.
Ela pensou em Naomi e Ginger e suas histórias de assédio no
set. As coisas que eles “tiveram que aturar” porque “era parte
do negócio”. Seu coração doía pelas incontáveis pessoas que
contrataram a Black Hat que poderiam acordar um dia e se
encontrar na lista proibida porque fizeram algo que irritou uma
empresa corrupta.
Toni tinha o poder de proteger todos eles. Sem mencionar
todos os seus outros constituintes. As pessoas com quem Clara
andava de ônibus pela manhã. As mães com bebês chorando,
os velhos com bengalas. Todos eles mereciam um promotor
público que lutaria para mantê-los seguros.
Clara sabia o que fazer diante de um escândalo. Ela ouviu a
frase tantas vezes crescendo na casa dos Wheaton, de vários
advogados e consultores aconselhando sua família: minimizar
os danos.
Quando ela falou, sua voz era clara, confiante.
— Eu diria para você despedi-lo silenciosamente. Afastar-se.
Fazer uma única declaração e não morder a isca quando receber
ligações pedindo comentários. Isso vai passar em breve se você
deixar o ciclo de notícias com fome. Sempre há outra história,
nova sujeira.
Toni tirou a pasta de papel manilha de debaixo do braço e
estendeu-a para Clara. Quando ela falou, ela não parecia
zangada, mas suas palavras eram duras, resignadas.
— Meu gerente de campanha colocou isso na minha mesa
esta manhã.
Clara pegou a pasta e abriu-a. Dentro havia um punhado de
artigos impressos da Internet. Vários sites de fofoca e
publicações de entretenimento que ela reconheceu.
Uma palavra se destacou nas manchetes. Shameless. Por um
momento, seu peito se inchou de orgulho. Conseguimos. Mas
então seus olhos encontraram um nome na gravura e não era o
que ela esperava ver.
Ao lado das atribuições da propriedade a Josh Darling e
Naomi Grant havia um terceiro nome. Sua visão turvou por
um momento, mas não mudou as letras impressas na página.
Elas soletravam Clara Wheaton.
Suas mãos trêmulas viraram página após página. O primeiro
artigo não era uma anomalia. Vários repórteres a nomearam
como financiadora do projeto e um até a anunciou como “a
novata inaugural de Josh Darling e Naomi Grant”. Ah não.
Não. Não. Ela não podia vomitar no terno da mãe de Toni.
— Clara — disse Toni — apoio seu direito de fazer o que
quiser com seu dinheiro e seu tempo, mas você deve saber que
não posso ter minha campanha associada a algo explícito
quando meu oponente está concorrendo em uma plataforma
de valores familiares. Você esteve no campo comigo em
eventos. Fomos fotografadas juntas. Um desses artigos
menciona seu trabalho na empresa. É apenas uma questão de
tempo até que alguém faça a conexão.
Toni estava certa, é claro. Um escândalo tão tarde na
campanha era veneno. Como Clara podia ter colocado a
campanha, a empresa, as pessoas com quem ela se importava
em risco assim? Ela costumava ser cuidadosa… mas tudo com
Shameless foi tão rápido. Mas como… Ela se certificou de que
seu nome não aparecesse em nenhuma cópia ou metadados do
site. Todos os artistas assinaram o acordo de confidencialidade.
O nome dela foi deixado de fora dos comunicados de imprensa
que ela redigiu para Josh e Naomi antes de agendarem qualquer
entrevista. A única maneira que esses repórteres poderiam
descobrir, se importar com uma ninguém como ela, era se um
dos famosos fundadores do site a tivesse nomeado diretamente.
Depois de tudo o que Naomi havia vivido no colégio, Clara
não conseguia imaginá-la expondo ninguém. Mas isso só
deixava…
Josh não faria isso. Ele sabia o quanto a reputação dela
significava para ela. Mas o como não importava tanto porque
não importava como, a palavra tinha sido espalhada. Jill e Toni
sofreriam ao lado dela. Que bagunça espetacular.
Ela se sacudiu mentalmente. Haveria muito tempo para
chafurdar na autocomiseração mais tarde. Agora ela precisava
se concentrar em fazer isso direito.
— A firma não teve nada a ver com isso. Minha tia nem
sabia. Por favor, não desconte nela.
Jill estava lá fora em algum lugar, provavelmente se
perguntando o que estava acontecendo, bebendo mais daquele
café terrível para manter as mãos ocupadas. Sua tia estava tão
orgulhosa de que sua empresa, mais famosa por elevar atores de
primeira linha e músicos envelhecidos, pudesse servir a alguém
como Toni – poderia ter um impacto maior. Perder a conta da
campanha Granger partiria seu coração, sem mencionar que
poderia desencorajar futuros clientes.
Toni se levantou.
— Clara, você é minha equipe de relações públicas. Eu
preciso que você fale com sua tia e encontre uma maneira de se
livrar disso. Eu sinto muito. Não posso me dar ao luxo de
apostar minha carreira em você.
— Compreendo. — As palavras tinham gosto de giz em sua
boca. — Vou consertar isso.
Toni deu uma última olhada em Clara, seus olhos
preocupados, e saiu.
Momentos depois, Jill voltou com uma caneta atrás da
orelha e um mini muffin esfarrapado na mão.
— O que diabos aconteceu?
Clara mostrou-lhe a pasta, incapaz de falar.
— Uau. — As sobrancelhas de Jill se ergueram tanto que
quase beijaram a linha do cabelo. — Você usou seu fundo
fiduciário para apoiar um programa dedicado a promover
oportunidades iguais de orgamos em escala? — Sua tia franziu
os lábios e acenou com a cabeça, impressionada. — Que legal.
— Tem mulheres nuas se masturbando na página inicial.
Jill engasgou com um pedaço de mini muffin, e a sala se
encheu com sua tosse por trinta segundos. Clara atingira um
nível inesperado de rebeldia, mesmo para os padrões generosos
de Jill Wheaton.
Clara poderia ter rido se todo o seu mundo não estivesse se
enrolando em torno dela.
— Você tem que me despedir .— Ela forçou as palavras
seguintes. — Divulgue um comunicado denunciando a mim e
ao site.
Jill deu um soco de leve no peito, ainda se recuperando do
ataque de tosse. Quando sua garganta estava limpa, ela disse:
— Eu não vou fazer isso. Clara, você é minha família.
A última das defesas de Clara se despedaçou.
A definição de família de Jill, o que elas faziam uma pela
outra, a maneira como perdoavam, desafiava tudo o que Clara
já conhecera. Mas Clara sabia muito bem a destruição que um
boato poderia causar, e o pior é que este era verdade.
— É a única maneira. Coloquei a empresa em risco e
provavelmente perdi a campanha da Toni. Você viu aquele cara
lá em cima. Ele não pega leve nos seus socos. Amanhã a esta
hora tudo estará nos noticiários: Funcionária da campanha
Granger vende pornografia. Não sorria — ela disse,
repreendendo sua tia.
Jill não sabia que deveria franzir a testa e franzir o cenho,
suspirar profundamente como se a existência de Clara fosse
uma provação? Essa era a única maneira de deixar alguém saber
que o decepcionaria.
Jill não estava aceitando.
— Deve haver outra maneira de salvar a história aqui. Eu
preciso de algum tempo para descobrir.
Os olhos de Clara se encheram de lágrimas. Como ela teve a
sorte de conseguir essa mulher, não apenas como parte da
família, mas também como chefe, mesmo que o último fosse de
curta duração? O resto dos Wheatons não perceberam o que
estavam perdendo. Uma década atrás, Jill havia lutado por
amor, e Clara agora percebia que nunca havia parado.
— Não há outra maneira. Você sabe que não tem.
Jill não respondeu, mas Clara viu concordância em seus
olhos.
Os joelhos dela imploravam por misericórdia contra o piso de
linóleo duro, mas Clara saboreou o desconforto enquanto
limpava a cozinha com uma diligência e vigor normalmente
reservados para alguém encobrir a cena de um crime.
Nas últimas horas, ela tivera muito tempo para refletir sobre
sua situação atual e criar um coquetel saudável de raiva e medo.
Esfregar era o único antídoto que ela conhecia.
Patsy Cline sussurrou em um alto-falante portátil
empoleirado no balcão da cozinha. A trilha sonora para a dor.
Clara passou a vida inteira tentando agradar a todos e de
alguma forma acabou não agradando a ninguém. Nem mesmo
ela.
A maldição Wheaton não abria exceções.
Por volta das cinco horas, Josh entrou e quase tropeçou
nela, posicionada como ela estava de quatro na frente da porta
da cozinha. Ela se levantou e tirou a poeira das calças de
moletom.
Ele usava o sorriso idiota que fazia as mulheres desmaiarem,
mas ela travou seus quadris e foi direto ao ponto.
— Você disse a um monte de repórteres que eu forneci o
financiamento para o Shameless? — Clara misturou cada
palavra com fúria.
O sorriso de Josh caiu e suas sobrancelhas se juntaram.
— O que?
Seu coração se torceu.
— Você já viu isso? — Ela entregou a ele as impressões do
artigo.
Josh pegou os documentos e começou a balançar a cabeça,
jogando seus cachos dourados.
— Naomi evitou totalmente essas perguntas. Espere… que
porra é essa? Clara. Você viu essa citação na página três? “O
agente de Darling, Bennie Mancusso, diz que as duas estrelas
devem seu sucesso à sua investidora, a famosa socialite de
Manhattan Clara Wheaton.” — Ele praguejou baixinho.
Clara empacou.
— Como o seu agente saberia meu nome?
Ele folheou as páginas.
— Isso tem o dedo da Black Hat por toda parte. Aposto que
seus advogados podem farejar um rastro de papel a uma milha
de distância. O banco, a hospedagem do site, o aluguel de
equipamentos. Não poderia ser tão difícil vincular todas essas
despesas a você se alguém estivesse procurando com bastante
atenção. Bennie e Pruitt provavelmente pensaram que destacar
sua experiência prejudicaria o site.
Ela estrangulou a esponja em suas mãos.
— Como você parece tão calmo?
O rosto de Josh endureceu.
— Olha, isso é ruim, não vou fingir que não é, mas vamos
lá. Eu sei que você era inexperiente antes de começarmos. Antes
de sabermos no que esse projeto poderia se transformar. Mas
agora? Suas impressões digitais estão em Shameless. — Seus
olhos ficaram cautelosos. — Achei que você estava orgulhosa
do que construímos juntos.
Esse foi o ponto. Ela amou cada parte de seu projeto. As
pessoas, o humor, seu minúsculo estúdio. Cada câmera, e
microfone, e monitor. Clara até gostava de brinquedos
selvagens com nomes de que ela nunca conseguia se lembrar.
Por que outro motivo ela teria labutado e ficado sem dormir ou
sem nutrição adequada para trazer Shameless ao mundo?
Mesmo que ninguém mais usasse o site, Clara já havia
aprendido com a criação deles. E não apenas sobre como ter um
sexo melhor. Foi a primeira verdadeira obra de arte que ela já
criou.
Mas agora tudo que ela sacrificou estava corrompido.
Nenhuma alegria ou orgulho que Shameless trouxe para ela,
mudou o fato de que seu envolvimento público com a
propriedade teve um custo enorme. O nome dela. Seu nome
verdadeiro foi comprometido.
A cabeça de Clara latejava enquanto frutas cítricas
quimicamente modificadas flutuavam do chão recém-polido e
picavam suas narinas. Ela nunca seria capaz de cortar o vínculo
entre sua identidade e sexo explícito.
— Esses artigos custaram-me o meu emprego. — A
realidade a atingiu novamente, tão fresca e dolorosa como da
primeira vez.
Ela falhou. Mais do que falhou. Um dia tinha enviado sua
carreira incipiente para uma lixeira.
— Trabalho em relações públicas e gestão de reputação para
uma campanha política — disse ela. — Este escândalo pode
acabar com a candidatura de Toni à reeleição e colocar uma
grande mancha no currículo da empresa de Jill. Eu não posso
desfazer isso. Quando você pesquisa Clara Wheaton agora,
sabe o que aparece? — Ela jogou os braços para o alto. — Não
é minha tese sobre Renoir. São peitos e bunda.
Josh passou por ela com lábios apertados e passos curtos e
agitados para se servir de um copo de água.
— Sinto muito — ele finalmente disse a ela depois de tomar
um gole.
Clara viu vermelho.
— Você não parece muito triste.
Josh baixou o copo no balcão com força suficiente para que
a superfície da água estremecesse.
— Sinto muito por você ter perdido seu emprego, ok? Eu
realmente sinto. — Sua boca se apertou. — Sinto muito que
seu pequeno segredo sujo tenha vazado. Lamento que por um
dia você tenha experimentado um pequeno pedaço da reação
que enfrentei nos últimos dois anos da minha vida. Mas eu
tenho que te dizer, no que diz respeito aos escândalos sexuais
políticos, esse parece muito manso.
Clara abriu e fechou a boca como um peixe. Ele estava
realmente… com raiva? Dela?
Ele flexionou os dedos ao lado do corpo.
— Na verdade, você sabe o quê? Não. Eu não sinto muito.
Não era todo o ponto de Shameless que as mulheres não
deveriam ser punidas por buscar prazer, e seus parceiros não
deveriam ter vergonha de querer aprender como dar a elas? Não
foi todo o seu sermão? Quando você vai parar de agir como
uma hipócrita e começar a praticar o que prega?
— Acredito no site tanto hoje quanto ontem, mas acreditar
nisso não muda quem eu sou. Isso não significa que estou
pronta para deixar tudo que amo para trás. No segundo em que
minha mãe ouvir sobre isso…
Josh fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás.
— Você pararia de se esconder atrás de sua família? Você é
uma mulher adulta, Clara. Você tem vinte e sete anos, pelo
amor de Deus. Quem se importa se sua mãe ficar brava?
— Eu me importo. — Ele realmente não viu o quanto isso a
machucou? Como ela mal conseguia ficar de pé o tempo
suficiente para discutir isso? — Gosto de deixar minha mãe
orgulhosa. Pode ser fácil para você ignorar o que todo mundo
pensa sobre você, mas eu não sou assim.
Todo o calor saiu dele.
— Eu nunca tive uma chance, tive?
Clara ficou impressionada com a mudança dramática em
seu tom.
— Do que você está falando?
— Por que você dormiu comigo? — Sua voz soou
estranhamente fina.
Seu olhar afundou em seus lábios e ela hesitou.
— Eu não sei.
— Sim, você sabe. Vamos. Você fez isso. Pelo menos
assuma. — Seus olhos queimaram diretamente através de sua
pele.
Ela se sentiu como uma presa sendo atraída para uma
armadilha doce como o mel.
— Eu queria. Estou atraída por você. É isso que você quer
ouvir?
— Então foi só sexo? — Ele manteve o tom leve o suficiente
para discutir o tempo.
Clara enterrou a verdade na barriga.
— Sim. — Apenas o melhor sexo que ela já teve. Apenas
sexo que virou todo o seu sistema de crenças de cabeça para
baixo.
— Mas você não faz sexo casual — disse ele. — Você me
disse isso na primeira noite em que toquei em você.
Clara estremeceu. Como ela tinha sido tola em confiar que
podia separar corpo e mente. Ela não sabia então que se
apaixonar por este homem a arruinaria?
— Nossa situação era diferente. Nós dois sabíamos que
nunca poderia ir mais longe entre nós. — O sentimento era
verdadeiro. O conhecimento não a protegeu.
A boca de Josh se curvou.
— Alguma vez discutimos isso? Porque não me lembro de
ter essa conversa com você. Você sabe o que eu penso? — Ele
baixou a voz. — Você não está realmente chateada por perder
seu emprego ou por encerrar a campanha de Toni Granger.
Você está com medo de que alguém descubra do que você
realmente tem vergonha nesta situação.
Clara balançou a cabeça em antecipação a uma acusação que
ela sabia que parte dela merecia.
Josh se inclinou para ela até que ela pudesse contar seus
cílios.
— A Greenwich em você está se perguntando se estou
mentindo agora. Eu sei que você não pode deixar de se
perguntar, e se eu tiver dito aos repórteres seu nome? Ou pior,
e se eu tiver dado com a língua nos dentes e descrito o seu gosto
em uma gravação.
Pela primeira vez, o sex appeal de Josh a fez se sentir barata
em vez de querida. Ele era um mestre, e seus poderes podiam
destruir tanto quanto deleitar.
— Você mesma disse que quer deixar sua mãe orgulhosa e a
última coisa que ela gostaria é ouvir sobre sua filha transando
com uma estrela pornô.
Clara ergueu o queixo. Ela não lhe daria a satisfação de
chocá-la.
— Eu nunca deveria ter dormido com você.
— Ah, por favor. Não seja assim. — O rosto de Josh se
transformou em uma máscara dura. — Nós dois sabemos por
que você fez isso. Então, daqui a alguns anos, quando seu
marido rico e de rosto vermelho subir em cima de você sob as
cobertas, você poderá fechar os olhos e se lembrar de ter se
contorcido no meu pau.
Clara ofegou quando seu insulto se conectou. Josh tinha
uma mira impecável.
— O que há de errado com você? — Ela não conhecia este
homem. Ele não era o mesmo que comprou mantimentos para
ela e a deixou dirigir seu carro. Ele não subiu em sua cama de
hospital ou a beijou como se ela fosse a última mulher na terra.
— Eu pensei que era óbvio. — Josh soltou uma risada
amarga. — Eu estou apaixonado por você. — Ele fez a confissão
como um homem no corredor da morte. Como se não
importasse, porque o amanhã nunca chegaria.
Clara congelou. Ela tinha imaginado este momento em
feitiços de fraqueza, mas nunca assim. As palavras que
deveriam significar tudo pareciam sem sentido.
— Que parte disso é amor? — Suas palavras frágeis ecoaram
na cozinha. Sua dor fez a pergunta vibrar no ar. — Aposto que
você nunca parou para considerar a realidade de um
relacionamento romântico entre nós. Bem, eu já. E a primeira
coisa que percebi é que, se estivermos juntos, Josh, alguém tem
que perder. Ou minha família ou sua carreira. Duas coisas que
amamos. Duas coisas sobre as quais construímos nossas vidas.
Duas peças nossas que nunca vão se encaixar.
— Eu não posso acreditar que você está me desqualificando
imediatamente. Não tenho a chance de defender meu caso? —
Ele parecia ferido, mas mais do que isso parecia um homem
cujo passado o alcançou. Um homem que sempre soube que
não poderia vencer e agora desejava nunca ter tentado.
— Josh, eu não sou uma idiota. Passo horas por dia rodeada
por suas ex-amantes. Eu vi seus vídeos cinco estrelas. Mesmo
que você não volte a atuar quando seu contrato expirar no ano
que vem, você ficaria entediado comigo em duas semanas, no
máximo um mês. Eu nunca poderia competir.
— Eu não posso acreditar nisso. Escute a si mesma. Você já
se decidiu. Você está tirando conclusões precipitadas sobre
coisas que podem ou não acontecer daqui a um ano, quando
nem mesmo tivemos a chance de aprender a viver juntos como
mais do que colegas de quarto. Você quer estar certa mais do
que quer ser feliz — disse Josh, como um adivinho.
Os olhos de Clara queimaram.
— Eu preciso sair daqui. — Ele uma vez a acusou de não
viver no mundo real, mas agora era ele quem pintava uma
fantasia que ele não podia realizar.
— Espera. — A voz de Josh soou distante, como se ela
tivesse afundado até o fundo do oceano enquanto ele
permanecia na superfície. — Não corra. — Ele pegou a mão
dela e ela viu o medo em seus olhos.
Ela colocou os braços atrás das costas.
— Eu não pertenço aqui. — Clara inclinou a cabeça para
trás para que as lágrimas se acumulassem em seus olhos. — Não
sobrou nada para mim nesta casa.
Pela segunda vez naquele verão, ela fez as malas.
Fazia algum tempo que Josh não dirigia pela estrada, odiando
sua vida, mas ele caiu no velho hábito com facilidade. Depois
que Clara saiu, ele não podia ficar em casa. Cada quarto pulsava
com memórias e promessas fantasmas do que poderia ter
acontecido se ele não tivesse inadvertidamente prejudicado a
mulher que amava.
Ele pegou as chaves e entrou em seu carro sem um plano.
Sem destino. Sem perceber que dirigir agora o lembrava, tão
fortemente quanto qualquer quarto que ele havia deixado para
trás, da pessoa de quem estava tentando escapar.
Tudo doeu. Nunca antes ele havia reparado que as
pálpebras podiam doer. Ele não conseguia parar de ver Clara
recuar quando a alimentou com aquelas mentiras sobre seu
futuro sem ele. Quando ele cuspiu na cara dela os mesmos
estereótipos vis que Bennie usou nele. Não importava o quanto
sua rejeição doeu. Atacar como um animal ferido não era
aceitável.
Josh desejou poder obter um pouco de raiva. De Bennie ou
Clara ou até mesmo de si mesmo. A raiva não teria esculpido
suas entranhas como angústia até que a única coisa que restasse
de seu corpo fosse uma concha oca. Pelo menos não no
começo.
De alguma forma ele tinha feito isso de novo. Josh sempre
teve um talento raro para afundar todos os navios em que
pisou. Repetindo sua conversa com Clara várias vezes, ele
tentou identificar, com precisão de milissegundos, o momento
em que tinha fodido tudo. Ele abaixou a janela até que o vento
da rodovia o atingiu no rosto.
Assim que descobriu o que tinha acontecido, ele deveria ter
oferecido conforto a Clara, não escolhido ceder ao seu ego. Ele
poderia ter ido atrás de Bennie ou pelo menos feito uma xícara
de café para ela. Em vez disso, ele teve uma explosão infantil
porque ela não gostou de ser lançada no mundo que ele
escolheu. Seu medo e raiva por seu nome vir a público junto
com Shameless tinha sido outro lembrete cruel de que Clara
não queria ser publicamente associada a ele.
Para adicionar insulto à injúria, ele escolheu o pior
momento possível para dizer a ela que a amava. Realmente
arruinou todo aquele momento. Claro, ela não acreditou nele.
Misturado com seu remorso havia uma porção de culpa.
Embora ele não tivesse revelado o nome dela, ele pensou
sobre isso. Parecia errado durante todas aquelas entrevistas não
lhe dar crédito por sua ideia e envolvimento. Shameless não
existiria sem Clara. Nem ele nem Naomi queriam todo o
crédito, por mais que gostassem de atenção. Mas Josh queria
parceiros que enfrentariam ao lado dele o pelotão de
fuzilamento da sociedade.
Em retrospectiva, o silêncio no pedido de Clara para ser um
parceiro silencioso era ensurdecedor. Alguma vez ela realmente
acreditou que eles poderiam vencer? Ou ela havia considerado
seu investimento, tanto nele quanto no empreendimento, uma
causa perdida o tempo todo?
Shameless representava tudo o que ele gostava na
pornografia. Uma celebração de sexo e prazer que não dava
desculpas. Sem todas as coisas que ele se ressentia de certos
estúdios: narrativas extremas superproduzidas que
confundiam fantasia com objetificação, artistas e equipe
tratados como lixo para que a máquina pudesse drená-los por
todo o seu valor. Mas Shameless sem Clara não fazia sentido
para ele.
Josh começou a suar quando parou na frente da casa de seus
pais. Ele não tinha a intenção de dirigir até aqui. Não
conscientemente. Mas parecia um castigo adequado. Agora ele
podia ver o quão longe ele tinha caído. Podia catalogar todas as
pessoas que ele machucou. Uma por uma. Desligou o motor e
deixou-se envolver pelo silêncio dos subúrbios.
Seja pela interferência do destino ou simplesmente por
causa do mau momento, sua mãe parou na porta da frente,
levantando a mão para proteger os olhos do sol enquanto se
abaixava para pegar o jornal. Josh respirou fundo e saiu do
carro.
— Sabe, você se parece muito com meu filho. — Suas
palavras foram altas o suficiente para serem carregadas pelo
gramado. A grama tinha aquela aparência recém-cortada, todas
as lâminas empurradas linearmente, que durou apenas algumas
horas depois que seu pai arrastou a velha máquina que ele se
recusou a substituir pelo quintal. Josh queria mergulhar de
cara. Para encher suas mãos com as lâminas quentes e afiadas
até que seus dedos estivessem pintados de verde e ele pudesse
fingir que nunca tinha partido.
Em vez disso, ele franziu o rosto contra a onda de emoções
confusas que surgiram ao ver sua mãe, ao mesmo tempo
familiar e dolorosamente distante.
— Ei, mãe.
Seu cabelo estava preso em um coque apertado, as ondas cor
de trigo marcadas com cinza. Ela vestia uma das camisas de
pesca de seu pai e uma calça capri branca, puída nas pontas.
Quando caminhou em direção a ele, ela caminhou
cuidadosamente pela calçada com o tipo de passos curtos e
urgentes que lhe diziam que a entrada era como brasas sob seus
pés descalços.
— “Ei, mãe”, hein… Isso é tudo que recebo depois de dois
anos? — Ela parou na grama a poucos metros dele. — Você
sempre teve muita coragem.
Seu peito doía ao olhar para ela. Em suas mãos e sua
mandíbula forte e as sardas tão parecidas com as dele que
espirrou em suas bochechas. Ele se sentia podre, como se o
núcleo dele tivesse se deteriorado e estivesse estragando tudo de
dentro para fora. Todas as razões pelas quais ele saiu de casa,
todas as razões pelas quais ele fugiu, pareciam quase tão
estúpidas quanto egoístas.
— Senti a sua falta. — Josh nunca tinha encontrado
nenhum talento especial para se desculpar.
Sua mãe cruzou os braços e não cedeu um centímetro.
— Você está com problemas.
— Eu sei — disse ele, surpreso ao encontrar alívio nas
palavras. Pelo menos ela estava falando com ele.
— Grandes problemas. — Ela ergueu o queixo da maneira
que pensou que compensava o fato de que ele era mais de trinta
centímetros mais alto que ela. — Eu não sei exatamente como
punir um homem de 26 anos que não vive mais sob o meu teto,
mas acredite em mim, eu vou dar um jeito.
Ele queria sorrir para ela, mas sabia que ela não iria gostar.
— Eu não duvido.
— Você está horrível — disse ela, daquele jeito suave e gentil
que só as mães conseguem fazer. Esse tom que não é
julgamento, mas reprovação. Como você ousa não cuidar do meu
filho? Ela correu os polegares suavemente pelas olheiras. — É
tudo por minha causa?
Josh tentou não pensar em Clara. Era extraordinário que
apenas segurar o nome dela em sua mente o fizesse estremecer.
Reconquistá-la parecia improvável. O resultado mais provável
da briga deles era que Josh passaria o resto de sua vida pensando
sobre este verão e tentando exorcizar seu arrependimento. Ele
estava perdido. De maneiras literais e profundas. E assim como
quando ele era pequeno, ele fez a única coisa que fazia sentido.
Ele tentou fazer o seu caminho de volta para a casa com as
venezianas azuis.
— Eu nunca deveria ter ficado tanto tempo longe.
Sua mãe deu um passo para trás, ajustando a forma como
seus óculos descansavam em suas orelhas em um gesto que o
mandou de volta para a cozinha antes do primeiro dia da quinta
série.
— Isso é verdade.
— Eu te magoei. — Estava escrito na maneira sem piscar
com que ela olhava para ele.
— Sim.
A única palavra bastou para que ele se perdesse. Ele dobrou
o braço para cobrir o rosto quando começou a chorar.
— Venha aqui. — Ela colocou os braços ao redor dele. —
Parece que você já começou a se punir.
— Sinto muito — disse ele, as palavras frágeis e trêmulas e
não o suficiente.
— Eu sei que você sente. — Ela afastou o cabelo de sua testa
em movimentos lentos. — Às vezes você é um desastre. Mas
você é meu.
Ela o segurou por tempo suficiente para que ele mergulhasse
no ombro de sua camisa.
Deus, ele se sentia um merda. Ter pais tão bons quanto os
dele e deixá-los voluntariamente, quando tantas pessoas foram
roubadas da segurança singular de ter sua mãe segurando-os.
Eventualmente, ela se afastou, enxugando os próprios
olhos.
— Bem, você vai entrar ou vamos ficar aqui e continuar a
fazer um espetáculo de nós mesmos?
Ele assentiu e a seguiu para dentro, sua garganta muito crua
para palavras.
— Nem trouxe flores — ela disse baixinho enquanto
fechava a porta atrás dele, arrancando uma risada dele que saiu
como um latido.
Uma vez lá dentro, ela foi até a pia, deixando a água correr
sobre suas mãos por tanto tempo que ele sabia que ela estava
aproveitando o momento para se recompor.
— Seu pai está na loja — ela disse antes que ele pudesse
perguntar.
A pequena cozinha parecia a mesma que ele se lembrava. O
tempo se esqueceu de chegar à casa dos Conners. A mesma
toalha de mesa alegre. A mesma pilha transbordante de livros
de receitas. A mesma geladeira coberta de incontáveis fotos de
familiares e amigos.
Josh não pôde evitar. Ele vagou e traçou os rostos dos bebês
de seus primos com a mão trêmula. Eles ficaram tão grandes
desde a última vez que os viu. Com que diabos Beth estava
alimentando eles?
Sua boca encheu de água com o cheiro de tomates picantes
que vinha do fogão. Quando ele se virou, sua mãe havia
colocado uma tigela de sopa na mesa. Aparentemente, sua raiva
não cancelou seu desejo constante de alimentá-lo.
— Você não merece minha comida, mas eu sou uma mulher
benevolente — ela disse, olhando para a colher que ela colocou
na expectativa.
Sentindo-se surreal, ele puxou a cadeira e se sentou. A
primeira mordida funcionou como um elixir. A dor que sentiu
pela perda de Clara não diminuiu, mas sua visão ficou um
pouco mais clara e seu corpo não parecia mais se voltar contra
ele a qualquer momento. A sopa de alguma forma aqueceu os
cantos de seu coração há muito entorpecido. A sensação de
estar em casa era avassaladora.
Apesar de todas as armadilhas da normalidade, a tensão na
sala era palpável. Depois de algumas mordidas, ele empurrou a
tigela.
— Se você quiser gritar comigo, apenas grite comigo.
Sua mãe tirou os ingredientes da geladeira e os levou para o
balcão. Josh tinha a sensação de que ela estava tentando evitar
olhar para ele.
— Eu não vou gritar com você. Embora eu possa dizer por
aquele olhar em seu rosto que faria você se sentir melhor. — Ela
espalhou manteiga no pão com movimentos raivosos e
espasmódicos. — O que diabos você estava pensando?
Josh ergueu as mãos em sinal de rendição. Ele sabia que
tinha fodido tudo de várias maneiras e era difícil saber por quais
motivos ela estava mais brava.
— Achei que você não gostaria de me ver.
Ela bateu a faca no balcão.
— Onde no mundo você tiraria uma ideia estúpida como
essa?
— Bem, para começar, a última vez que te vi, eu disse que
estava fazendo pornografia e você ficou branca e saiu correndo
da sala.
— Oh, pelo amor de Deus, Joshua, foi chocante. Talvez a
sua geração tenha a mente mais aberta, mas na minha época a
pornografia ainda era questionável. — Ela pegou a faca e voltou
a passar manteiga por apenas um momento antes de parar
novamente. — Além disso, você me contou enquanto eu
tentava tirar um peru de dez quilos do forno. Eu precisava de
um momento para processar.
— Foi mais do que um momento — resmungou ele,
reduzido à criança que recebia castigo regular na mesa da
cozinha.
— A questão é — ela colocou o queijo no pão ao acaso —
quando eu voltei para a cozinha você tinha ido. E quando tentei
ligar para você no dia seguinte, você tinha mudado seu número.
Ele estava com medo. Josh odiava ver sua mãe chateada.
Evitá-la parecia muito mais fácil em comparação. Ele não
esperava gostar de se apresentar tanto quanto gostava. Para
encontrar-se involuntariamente construindo uma vida com
Stu. Quanto mais tempo ele ficava longe, mais difícil se tornava
superar a distância que ele havia infligido.
O incômodo momento de silêncio foi quebrado por sua
mãe puxando uma frigideira do armário e colocando-a não
muito delicadamente no fogão. Quando ela falou, sua voz
falhou da maneira exata que ele sabia que ela estava tentando
evitar.
— Você tem alguma ideia de como é isso? Você me assustou
pra caramba. Fiquei muito preocupada por semanas. Tive de
atropelar Curtis Bronson na farmácia e ameaçá-lo com um
cortador de unha para descobrir que você estava morando com
uma nova namorada.
Ela jogou manteiga na panela e ela assobiou.
— Eu não estava brava por você ter escolhido pornografia.
Eu estava brava por você ter escolhido a pornografia em vez de
nós.
Ele nunca considerou que de todas as suas escolhas, seu
silêncio seria o que quebraria seus pais. Aos vinte e quatro anos,
ele se sentia um fracasso. Ninguém esperava nada dele e nada
era exatamente o que ele tinha dado a eles.
— Sempre achei que tinha que escolher.
O pão atingiu a panela quente com outro chiado. O cheiro
de torrada tornou-se outra memória acesa nesta dolorosa
caminhada pela estrada da memória.
Sua mãe finalmente se virou para ele.
— Essa é a pior parte. Você deu a mim e seu pai zero crédito.
Você nos cortou antes mesmo de termos a chance de responder.
Eu me senti uma mãe ruim, não porque você escolheu fazer
sexo na câmera, mas porque você não confiou em mim o
suficiente para amá-lo enquanto fazia isso.
Josh percebeu que havia internalizado muito do estigma em
torno de sua ocupação. Permitiu que ele construísse sua visão
daquela noite de novembro e da precipitação subsequente.
— Eu disse a mim mesmo que estava te fazendo um favor ao
ficar longe.
Ela suspirou, virando-se para virar o queijo grelhado.
— Na pressa de se proteger da dor de cabeça, você é sempre
o primeiro a tirar conclusões precipitadas.
A verdade dessa afirmação era inegável. Ele correu para
afastar Clara antes que ela pudesse condená-lo, da mesma
forma que ele fugiu de sua família.
— Se isso faz você se sentir melhor, passei a aceitar que é uma
estratégia péssima.
— Você deve às pessoas que o amam o benefício da dúvida.
— Ela empilhou os sanduíches fumegantes em um prato.
Josh esfregou os olhos e gemeu com o idiota absoluto que
ele se permitiu ser por tanto tempo.
— Eu realmente sinto muito, mãe.
Trazendo o prato com ela, ela se sentou em frente a ele,
separando duas metades até que eles criaram o tipo de puxão de
queijo normalmente reservado para comerciais de solteiros da
Kraft.
— Idiota. — O sorriso dela foi contagiante quando ela
passou para ele seu próprio queijo grelhado.
— Você realmente não se importa que eu esteja atuando?
— Olha, eu tive dois anos para processar essa informação e,
para mim, sempre se resume a isso: eu me importo em você
estar seguro e feliz. E sobre os bloqueadores que seu pai colocou
no meu computador para que eu nunca veja você
acidentalmente montando em alguém. Enquanto essas três
coisas durarem, você é um adulto e eu respeito suas escolhas.
A aceitação e o amor significavam mais para ele do que ele
jamais poderia articular.
— Obrigado.
— Sempre acreditei no poder infinito de sua bondade,
Joshua. Tenho certeza de que qualquer sexo que você escolha
fazer, dentro ou fora das câmeras, dos quais eu nunca quero
ouvir falar, é uma expressão disso. Agora vou comer o resto
deste sanduíche de queijo grelhado e, quando terminar,
gostaria de discutir coisas que de forma alguma envolvem sua
genitália pelo resto da tarde.
— Sim, senhora. — Josh deu sua própria mordida, deixando
seus olhos fecharem.
Ele sabia que sua mãe não o deixaria escapar facilmente.
Sabia que teria que se desculpar novamente quando seu pai
chegasse em casa. Acima de tudo, ele sabia que devia a Clara
mais do que um pedido de desculpas. Josh a tinha visto
enfrentar seus medos repetidamente nos últimos meses. Agora
era a sua vez.
Ele tinha todas as peças. Tudo de que ele precisava era
coragem para colocá-los juntos.
Imprudência bombou nas veias de Clara Wheaton, tão potente
quanto qualquer outro veneno. Seguindo os passos de muitas
mulheres desprezadas antes dela, ela saiu e gastou uma
quantidade absurda de dinheiro em um vôo e um vestido
projetado para fazer os homens ofegarem. No momento em
que ela saiu do aeroporto em Las Vegas - a última parada da
turnê da banda de Everett - toda a umidade foi drenada de seu
corpo. Bem, pelo menos o que restou após uma crise de choro
a bordo que atraiu sussurros preocupados de vários passageiros.
Ela supôs que a maioria das pessoas chorava no caminho de
casa, partindo da Cidade do Pecado, ao invés de no caminho
para lá.
O pacote de lenços de papel para viagem em sua bolsa não
tinha se mostrado páreo para o modo como seu confronto com
Josh a despojou de qualquer armadura restante que possuía
contra o mundo. Cada centímetro dela parecia esfolado e
aberto. Cru.
AMOR. Ele disse amor. Amor, na mesma respiração que ele
usou para declarar que ela nunca encontraria nada melhor.
Apesar de todas as preocupações que ela teve em sua vida,
nenhum de seus planos de contingência cobriu esse tipo de
implosão emocional. Por muito tempo, ela se recusou a se
permitir a ideia de construir um futuro romântico com Josh.
Duas pessoas tão diferentes do jeito que eram, não cabiam um
na vida do outro sem carnificina e derramamento de sangue.
Eles fizeram uma tentativa e acabaram sendo as primeiras
vítimas.
Reverter ao plano original, também conhecido como
Operação Everett, fazia sentido no papel. Clara precisava se
lembrar do que ela queria para que pudesse parar de pensar em
um amor que ela nunca poderia ter.
Tentando balançar os quadris, ela entrou em um bar na
periferia da cidade que fedia a cebola frita e cerveja velha. Fazer
com que ela se balançasse com a bagagem a reboque não era
uma tarefa fácil, mas ela trocou sua reputação de socialite
conservadora por uma defensora do clitóris. Ela pode muito
bem agir como tal. Algum tipo de atração sexual por osmose
deveria ter ocorrido depois de todo o tempo que ela passava
com pessoas que se destacavam em aumentar a pulsação. E… os
apêndices. A sola do salto grudou no chão pegajoso e ela
tropeçou. Ou não.
Às 19 horas, o bar comportava apenas um punhado de
clientes, mas o site da banda informava que o show começaria
em meia hora. Um pequeno palco com um pedestal de
microfone solitário e um amplificador de aparência
desanimada virado para baixo ocupava a maior parte da parede
posterior.
— Com licença? — Clara chamou a atenção do barman
mal-humorado. — Estou procurando Everett Bloom e o Shot
of Adrenaline.
Ele apontou um pano para a porta em um corredor escuro.
— Verifique nos fundos. Acho que ele foi fumar.
— Obrigada. — Clara envolveu-se com os braços e pisou
com cuidado sobre as pilhas de cascas de amendoim espalhadas
pelo chão. Reunir-se com Everett deveria cortar a névoa
miserável que a envolveu desde que ela deixou Danvers Street.
Em vez disso, ela apenas se sentiu entorpecida.
— Na verdade. — Ela se virou. — Posso tomar uma dose da
sua melhor tequila, por favor? — Dedos cruzados para que a
queimadura de álcool a lembrasse de que ela estava viva.
O bartender passou-lhe a bebida com um sorriso
agradecido.
— Por conta da casa.
Pelo menos ela sabia que o vestido funcionava.
Ela encontrou Everett sentado no meio-fio do
estacionamento com um cigarro entre dois dedos. O pôr do sol
pintou uma auréola estrelada sobre sua cabeça.
Ela esperou que seu coração saltasse como uma panqueca
sendo virada.
Não aconteceu.
Era quase como se ela tivesse deixado o órgão vital em West
Hollywood.
— Ei — ela disse, tentando não tossir. Não é sua melhor
maneira de puxar assunto.
Everett girou e ficou de queixo caído.
— Cee? Ai meu Deus, menina. — Apagando o cigarro na
calçada, ele se levantou e a envolveu em um abraço de urso. —
O que você está fazendo aqui?
Tirando o cabelo do rosto de onde ele acidentalmente
grudou as mechas pesadas em seu batom, ela ficou indiferente.
— Pensei em assistir ao show.
— Uau. — Ele acenou com o queixo para as malas dela. —
Você está planejando se mudar?
— Não exatamente. Eu, ah… — Só é embaraçoso se você
deixar que seja embaraçoso. — Estou voltando para Nova York.
Esta é uma escala.
— O que? — Seu rosto caiu. — A viagem já acabou? Em
quantos problemas você poderia ter se metido ao longo de um
verão?
— Você ficaria surpreso. — Sua risada se transformou em
uma careta.
— Eu não posso acreditar nisso. Eu não posso acreditar que
você está aqui. — Os olhos de Everett a traçaram da cabeça aos
pés. — Você parece diferente.
Clara tentou não se inquietar. Ela esperou muito tempo
para que ele olhasse para ela com interesse desenfreado. Então,
por que ela queria tirar a maquiagem e vestir um moletom?
Everett apenas a via no seu melhor. Seu mais polido. Josh a vira
coberta de farinha e ovo cru, com roupas de dormir que a
faziam parecer uma batata humana e com uma terrível camisola
de hospital - machucada e surrada. Para não mencionar
totalmente pelada. Ele olhou para ela da mesma forma quando
ela estava despojada até sua base e quando ela estava enfeitada
com esmero.
Everett gesticulou para sua forma geral.
— Você fez algo diferente?
Ela sabia que ele queria dizer se ela tingiu o cabelo ou perdeu
peso ou comprou um novo tom de batom. Mas a resposta mais
honesta foi além da aparência dela.
Neste verão, ela fez muitas coisas de forma diferente.
Enquanto no papel, ela estava terminando o verão da
mesma forma que começou, – desempregada, solteira e em
busca de moradia – ela descobriu recentemente que às vezes os
fatos contavam apenas metade da história.
Se o nome dela nunca tivesse aparecido nesses artigos, hoje
teria sido muito diferente. Ela teria visto a garrafa de
champanhe que Josh comprou semanas atrás e tentaria
esconder atrás de uma toranja na parte de trás da geladeira. Em
outra vida, eles estavam brindando ao sucesso agora, as bolhas
ardendo em seu nariz cada vez que ele a fazia rir.
— Sabe — disse ela, cruzando as pernas para se sentar ao
lado de Everett na calçada — acho que posso ser uma covarde.
Ele passou a mão pela cabeça, bagunçando o cabelo escuro.
— Deixa disso.
— Estou falando sério. — Ela ainda podia sentir a tequila
quente em sua garganta, soltando sua língua. — Passei todos
esses anos na escola de arte. Horas incontáveis observando os
criadores, seus padrões e motivações, seus medos e sua dor. E
eu nunca tive coragem de fazer algo com meu próprio nome
nele. — Shameless poderia ter mudado tudo se ela tivesse a
força para reivindicá-lo.
— Há coisas piores do que ter medo — disse Everett
gentilmente. — Sempre tive muito orgulho de você ter feito o
doutorado. Manter viva a história da arte. Eu imaginaria você
em um museu em algum lugar, mostrando a todos como você
é muito mais inteligente do que eles. O caminho que você
escolheu combina com você.
O futuro que ele descreveu sempre foi o plano. O
Guggenheim. Calças perfeitamente ajustadas. Uma vida inteira
preservada em uma sala com temperatura controlada.
— Eu sou mais do que meu trabalho. — As palavras saíram
nuas. Verdade sem acusação. A primeira lição, embora não a
última, que ela aprendeu com Josh.
Lá dentro, ela ouviu a banda começar a afinar. A batida da
bateria era quase visível no calor sufocante de Nevada. Por que
ela veio aqui?
De perto, era estupidamente óbvio que Everett nunca iria
querê-la. Ele nunca iria olhar para trás para sua amizade e
desejar mais. Nunca iria ficar acordado na cama se perguntando
onde ele errou. Jamais veria o nome dela na seção de casamentos
de domingo e sentiria o gosto pelo arrependimento.
Hollywood havia prometido a ela que se ela amasse muito,
sofresse por muito tempo, se jogasse em seu caminho,
novamente e novamente, eventualmente, seu melhor amigo de
infância se apaixonaria por ela.
Mas a vida real não contava com o livre arbítrio.
Não importava quantos motivos ela pudesse listar por que
Everett deveria amá-la. Ele não fez isso. Não da maneira que ela
sempre quis. E até que parasse de esperar por um amor que
sentia que merecia, ela nunca seria capaz de imaginar o futuro
com outra pessoa.
Everett passou as mãos pelas panturrilhas cobertas de jeans.
— Acho que você não é mais a garota com lábios
manchados de picolé tentando me enterrar na piscina.
Uma risadinha saiu de sua boca. Estranhamente doloroso.
Deus. Que pesadelo absoluto. Ela esteve esperando durante
todo o verão por algum tipo de fechamento. Para ele dizer algo
ou fazer algo que completasse a narrativa de seu caso de amor
unilateral. Não admira que ela não conseguisse encerrar
Everett. Como arquiteta de seu próprio sofrimento, Clara foi a
única pessoa que pôde levar a efeito essa peregrinação
emocional.
Com um olhar por cima do ombro, ele bateu o pé contra o
concreto, uma melodia nervosa e coceira.
— Eu provavelmente deveria voltar lá para dentro.
Quando Everett se levantou, virando as costas para ela pela
segunda vez naquele verão, ela percebeu que não tinha
nenhuma de suas respostas habituais da proximidade com ele.
Sua respiração estava calma. Seu rosto está frio. O único
impulso que ela lutou foi o de checar o relógio. Em algum
momento nos últimos meses, a posição de Everett mudou em
sua memória e em sua estima, a evolução ocorrendo tão
gradualmente que ela não havia notado até agora.
Ela podia ver porque ela gostou dele uma vez. Ele ainda era
bonito. Ainda disse seu nome como uma carícia. Quatorze
anos de fantasia acumularam muitas cicatrizes. Mas Everett não
era mais o cara que ela deixou escapar. Não, esse título estava
desesperadamente em perigo de pertencer a outra pessoa.
Josh pode ter agido como um idiota hipócrita, mas um dia
ruim não mudou o fato de que ele passou o verão fazendo-a se
sentir excepcional em todos os sentidos.
Everett foi… ela considerou um punhado de palavras mais
comumente atribuídas a mulheres: volúvel, tonto, tapado.
Parece que não há tantos termos prontamente disponíveis para
os homens.
A própria ideia de amar Everett de repente pareceu ridícula
para Clara. Um aspirante a estrela do rock vivendo com o
dinheiro do papai que se esqueceu de retornar suas ligações. Ela
não precisava de Everett Bloom com seu queixo fendido e seus
Ray-Bans e suas desculpas desanimadas. Que catalisador
embaraçoso para sua queda em desgraça.
É incrível como você pode estar errada sobre uma pessoa. Sobre
si mesma.
Clara apertou os lábios para evitar sorrir. Ela se perguntou
se foi a retrospectiva ou a tequila zumbindo em suas veias que
transformou a tragédia em comédia. Descartar velhos sonhos
foi surpreendentemente libertador.
— Eu te amei por muito tempo — ela disse em uma
expiração, deixando a verdade sair para o ar da noite.
Everett congelou.
— Clara — ele começou, mas depois não pareceu
particularmente inclinado a levar a frase adiante, como se a
confissão dela fosse um inconveniente mais do que qualquer
coisa.
Oh, pelo amor de Deus. Ela foi a que teve uma quedinha
por quatorze anos; o mínimo que podia fazer agora era ouvi-la
dizer isso.
Ele passou o polegar pela sobrancelha.
— Você só está dizendo isso porque nos conhecemos desde
sempre.
Ela deixou seus olhos passarem por ele e saiu fria e imparcial.
Os últimos vestígios do pôr-do-sol do céu renderam-se ao
anoitecer e, nesses azuis impossíveis, Clara viu Chagall. Ela viu
Josh quando seu cabelo caiu em seus olhos. Seu coração, que
tinha gritado em seu peito o dia todo, finalmente encontrou
uma maneira de falar com seu cérebro.
— Eu acho que você está certo. — Everett havia eclipsado
sua ambição, seu impulso, sua fome, todas as coisas que ela
agora mais amava em si mesma. Todas as coisas que Josh amou.
— Acho que amei minha ideia de amor. De paixão e parceria.
Da mão de outra pessoa na minha. Meu nome nos lábios de um
homem que me queria. Eu ansiava por certeza. A emoção e a
segurança de saber para quem eu estava voltando para casa no
final do dia.
Era estranho querer algo por tanto tempo, revirar tantas
vezes em sua mente, que a imagem se tornou tão desbotada e
gasta quanto uma velha Polaroid. Tornar-se tão consumido
pelo desejo em seu coração que, quando obtiver o que sempre
desejou, dificilmente poderá reconhecê-lo.
— Mas ainda assim, eu prendi essa fantasia em você por mais
tempo do que gostaria de admitir.
— Tenho sido um amigo de merda. — Everett deixou
escapar um longo suspiro. — Eu sinto muito. Quero dizer que
não sabia como você se sentia todos esses anos, mas sabia. Eu
sabia e fingia não saber porque era mais fácil. Eu não queria
perder você. Você sempre esteve lá para mim.
Foi uma resposta ruim, mas honesta, e no final das contas,
não importava muito. Ela recebeu o golpe como uma
alfinetada.
— Você sabe o que é engraçado?
Everett tirou um novo cigarro do bolso e o acendeu.
— Deus, eu espero que você tenha algo bom, porque eu me
sinto como um idiota colossal agora.
Clara tirou o cigarro da boca dele e o jogou no chão. Mesmo
que ela não estivesse apaixonada por ele, ela não queria que ele
tivesse câncer de pulmão.
— Você esteve lá no final. Não intencionalmente, é claro,
mas por pura sorte. Porque você me levou para a Danvers
Street. Você me levou até Josh.
As sobrancelhas de Everett se ergueram em direção à sua
testa.
— Não me diga você e o cara do Craigslist…?
Ela suspirou.
— Acho que ele pode ser o melhor erro que já cometi.
— A Clara Wheaton que conheço não comete erros.
Ela assobiou baixinho.
— Acho que você não me conhece mais. — Seus meses em
L.A. foram mais do que Josh. Em algum lugar em um bangalô
decadente em West Hollywood, ela construiu Shameless e uma
versão de si mesma que ela admirava.
Honestamente, e se as pessoas soubessem que ela investiu na
promoção do prazer das mulheres? Por vinte e sete anos ela
manteve um recorde quase perfeito, e tudo o que ela
conquistou foi uma vida da qual ela poderia fugir em um piscar
de olhos. Talvez fosse seu sangue Wheaton, ou se apaixonar
vertiginosamente pela última pessoa que ela esperava, mas de
alguma forma, de alguma forma, Clara tinha finalmente
desenvolvido um gosto por escândalos.
Ela se levantou, sua mente já a quilômetros de distância.
— Eu tenho que sair daqui.
— O que você 'tá falando? Você acabou de chegar. A banda
vai começar em dez minutos.
Inclinando-se na ponta dos pés, ela deu-lhe um beijo rápido
na bochecha.
— Desculpe, garoto — ela disse, jogando seu apelido
favorito por cima da cerca. Uma rápida olhada em seu relógio e
alguns cálculos cuidadosos confirmaram o caminho mais
rápido de volta para Josh. Ela podia esperar, pegar um vôo
amanhã, mas de repente a ideia de sentar ao volante, de confiar
em si mesma e navegar exatamente para o que queria, era
inegavelmente atraente. Claro, seu batimento cardíaco ainda
acelerou. Suas mãos provavelmente ainda tremeriam um pouco
quando ela as envolvesse no volante. Mas Clara agora sabia que
geralmente, as coisas assustadoras, aquelas que você gasta mais
tempo e energia falando sozinho, são as que fazem a vida valer
a pena. — Ei, eu realmente preciso de um favor.
— O que você quiser. — Everett deu de ombros. — Eu devo
muito a você.
Clara estendeu a mão com a palma para cima.
— Vou precisar das suas chaves.
A última coisa que Josh queria fazer dois dias depois de perder
Clara, era falar mais com a imprensa. Mas se ele não podia fazer
o certo pela mulher que amava, pelo menos ele poderia aparecer
para o projeto em que ambos acreditavam.
Então Josh estava sentado no estúdio de gravação da estação
de rádio KXZR em Torrance. Seguindo o cronograma de mini
imprensa que Clara havia feito para eles semanas atrás, ele e
Naomi estavam aparecendo no popular talk show de Dana
Novak. Ele tentou ligar e enviar mensagens de texto para Clara,
mas ela deve ter desligado o telefone. A palavra término passou
por seu cérebro em letras de néon.
O cabelo prateado cortado rente, característico da famosa
anfitriã, brilhou sob as luzes enquanto ela disparava uma série
de perguntas. Josh tentou sorrir. Os grandes fones de ouvido
que ele recebeu de sua assistente fizeram suas orelhas suar. Até
agora, eles não tinham se aproximado de Clara, mas ele sabia
que era apenas uma questão de tempo.
— Como você decidiu começar Shameless? — Dana tinha a
voz de rádio perfeita, clara e direta. — Serei a primeira a
reconhecer o triste estado da educação sexual na América. Mas
é um pouco difícil ir do pornô – e exs, devo acrescentar – para
os criadores no negócio de promover o prazer feminino.
Josh acenou com a cabeça para Naomi pegar essa. Ele não
tinha vontade de falar. Não queria perder mais um segundo
sem procurar Clara, mas Naomi tinha ameaçado esfolá-lo vivo
se ele perdesse a entrevista, e sua ex não era nada se não uma
mulher de palavra.
— Entramos no projeto com perspectivas diferentes, mas
com um objetivo comum — disse Naomi. — Nós dois
acreditamos que o sexo é melhor, para todos, quando os
parceiros entendem o corpo um do outro. Quando eles dão
permissão um ao outro para se comunicar, experimentar e
crescer. O prazer não tem um tamanho único. O bom sexo está
em constante evolução, assim como o discurso em torno dele.
Naomi deu a ele um meio sorriso.
— Acontece que Josh e eu fazemos mais sexo do que a
média, então aprendemos alguns truques que compartilhamos
no site, mas certamente não sabemos tudo. Nunca poderíamos
ter trazido Shameless à vida sozinhos.
Dana apoiou o queixo na palma da mão.
— Ah sim. Você tem um punhado de colaboradores
criativos. Mas vou te dizer, a que mais me interessa, e tenho
certeza que você pode adivinhar, é a socialite Clara Wheaton.
Antes de Shameless, ela nunca lidou com entretenimento
adulto, mas sua família tem uma lista de escândalos tão longa
quanto o meu braço. O que a fez decidir dar um passeio pelo
lado selvagem? — Ela olhou de um para o outro. — Ou devo
dizer qual de vocês?
Josh sabia que esse momento estava chegando. Ainda assim,
seu pulso saltou com o nome dela.
— Nós não vamos discutir a Srta. Wheaton de forma
alguma — disse ele no microfone com um tom monótono que
não tolerava discussão.
— Ooh, eu detecto um pouco de proteção? Eu tropecei no
triângulo amoroso mais atrevido da América?
Josh tirou os fones de ouvido e ficou de pé.
— Terminei aqui. — A visão que o recebeu quando ele se
virou roubou sua respiração. — Clara.
Uma nova onda de dor irrompeu ao vê-la. Sua beleza o
lembrou de que ele havia perdido a melhor chance de felicidade
que já conhecera. Ele queria se jogar sobre ela. Indigno,
apegado, ganancioso. Depois das últimas quarenta e oito horas,
ele queria inalá-la.
Mas ele não conseguiu.
Ainda não.
Ela o agraciou com um sorriso.
— Olá.
O sinal vermelho brilhante NO AR lançou um brilho
rosado em suas bochechas.
— Você é Clara Wheaton? A investidora? — Dana Novak
foi certamente rápida na absorção.
— Eu sou. — Clara afastou o cabelo do rosto.
Josh não sabia naquele momento se queria rir ou chorar. A
metáfora da lata de refrigerante de Clara finalmente fez sentido.
A emoção dentro dele não tinha para onde ir, então tudo se
alojou atrás de suas costelas.
— Excelente. Devemos puxar uma cadeira? — Dana
sinalizou para uma jovem que os observava por trás de uma
grande janela. — Senhoras e senhores, temos uma convidada
surpresa para vocês hoje.
— O que você está fazendo aqui? — Josh olhou para ela. Ele
não conseguia entender a presença dela. Metade dele acreditava
que se ele piscasse por muito tempo ela desapareceria. Ela
obviamente não queria que as pessoas soubessem sobre seu
envolvimento com Shameless, então por que ela apareceu
durante uma entrevista ao vivo? Quaisquer que fossem suas
razões, ele preferia qualquer cômodo com ela a um sem ela.
A assistente de Dana aproximou Clara do microfone e
puxou Josh de volta para sua própria cadeira.
— Eu vim para lhe dizer uma coisa — disse Clara, sua boca
a centímetros do microfone.
— Você quer me dizer algo agora? Enquanto centenas de
pessoas estão ouvindo?
— Milhares — Dana corrigiu.
—Sim. — Clara engoliu em seco. — Eu sei que disse que o
que aconteceu entre nós foi apenas sexo.
Os olhos de Josh dispararam ao redor da sala para seus
espectadores. Ele não tinha ideia do que estava acontecendo ou
se era bom. Ainda assim, a palavra sexo nos lábios de Clara foi o
suficiente para deixá-lo meio duro.
Naomi se endireitou na cadeira. Lá se vai esse segredo.
Dana juntou as mãos. Ele percebeu pelo rosto dela que ela
achava que a entrevista tinha ficado muito mais interessante.
Clara continuou.
— Mas nosso relacionamento é muito mais do que isso. Vim
dizer a você, e aparentemente a um bando de estranhos
ouvindo, que estou apaixonada por você.
O batimento cardíaco de Josh bateu em seus ouvidos. Ele
mordeu a língua, sentindo o gosto de moedas de um centavo.
— Me desculpe, eu estava com muito medo de aceitar isso
antes. Sempre pensei que o amor deveria causar coceira. Um
tipo de obsessão rastejante para fora da sua pele. Achei que
amor fosse sinônimo de anseio e saudade. Que tinha que doer.
Josh podia ler nas entrelinhas. Ela quis dizer, eu pensei que o
amor se parecia com Everett. Cara, ele odiava aquele homem.
Clara respirou fundo e inclinou o queixo até que ele olhou
diretamente para ela, em vez de seus próprios punhos cerrados.
— Mas o amor não é assim. Pelo menos não para mim.
Amar você é como mergulhar em um banho quente depois de
uma vida inteira sentindo frio até os ossos.
O peito de Josh subia e descia enquanto ele tentava reunir
oxigênio suficiente para processar essa revelação.
Clara pegou sua mão.
— É ter alguém me vendo, além do fingimento e da postura,
e decidir que sou mais do que suficiente.
Ele fechou os olhos e passou a ponta do nariz nas costas da
mão dela, saboreando suas palavras e a suavidade de pétalas de
sua pele.
A voz de Clara ganhou força.
— Meu amor por você não é um vício. Estar com você não
fornece uma sensação distorcida de validação para minha vida.
Você nunca foi uma aventura que eu tive que tirar do meu
sistema. Nosso amor parece… liberdade. O tipo pelo qual as
pessoas dão suas vidas.
A visão de Josh ficou turva. Ele não conseguia processar essa
reviravolta.
Clara deve ter interpretado mal o silêncio dele porque
aproximou a boca do microfone.
— Embora eu queira deixar bem claro que o sexo é
inacreditável. Melhor do que parece na tela. Sério. Vocês não
têm ideia.
Naomi pigarreou.
— Certo. Desculpe. Josh, a razão de Shameless existir é
porque você me encorajou a parar de pedir desculpas pelo que
eu quero e pelo que eu mereço. Listas de verificação,
orientações, condução terrível e tudo. Você é tudo que eu
nunca soube que precisava, mas não consigo imaginar minha
vida sem você e, francamente, não quero.
Ele se sentou, estupefato com sua boa sorte. Em mil vidas,
ele nunca se cansaria de Clara. De seu otimismo e sua coragem.
De seus beijos desesperados e da fé pela qual valia a pena lutar
pelas pessoas.
Naomi estreitou os olhos para ele.
— É melhor se mexer. Se você não a beijar em breve, eu vou.
Josh sacudiu seu estupor e se levantou, puxando Clara para
fora de sua cadeira.
Ele a queria naquele momento mais do que ele já quis
qualquer coisa em sua vida. Ele segurou o rosto dela com as
duas mãos.
— Ótimo discurso.
— Obrigada. — Ela mergulhou o polegar em sua covinha.
— Fui um pouco demais com a parte do sexo no final.
— Você encontrou o caminho de volta. — Ele trouxe sua
boca para a dela e Clara colocou os braços em volta do pescoço.
Seu mundo entrou nos eixos quando seus lábios se
encontraram em uma pressão terna. Ele não tinha certeza se a
merecia, mas com certeza não ia deixar ninguém levá-la
embora.
Josh nunca imaginou que teria esse tipo de suavidade com
Clara.
Dana bateu palmas.
— Então isso significa que veremos vocês dois em futuros
tutoriais para Shameless?
Clara congelou em seus braços, seus olhos incertos.
— Suponho que poderíamos fazer como um tutorial de
beijos? Beijos totalmente vestidos. Ooh, definido para batidas
lentas de R&B.
— Vamos precisar de muito mais tempo de ensaio antes que
ela esteja pronta para audiência. Na verdade, devemos ir
praticar. Agora mesmo. — Seus olhos nunca deixaram os de
Clara. — Naomi pode assumir daqui. — As bochechas de Josh
doíam de tanto sorrir. — Por favor, com licença.
Ele praticamente arrastou Clara para fora do estúdio e para
o corredor.
— Sinto muito pela maneira como agi — ele disse assim que
a porta se fechou atrás deles. — Eu fui um completo idiota. Eu
quero que você saiba que eu…
Clara olhou para o elevador antes de agarrar a frente de sua
camisa e arrastá-lo para uma escada afastada. Quando a porta
bateu atrás dele, ela correu os dedos pelos cabelos dele e moldou
suas curvas contra suas cavidades.
— Diga-me mais tarde — ela sussurrou em seu ouvido.
Josh não precisava de mais incentivos. Ele agarrou sua
bunda e a ergueu do chão para que ela pudesse enrolar as pernas
em volta de sua cintura antes de empurrá-la contra a parede e
chupar beijos quentes em seu pescoço, abaixo da orelha.
Clara gemeu com abandono.
— Vamos realmente fazer isso? Aqui? — Se este dia fosse
um sonho, ele nunca iria querer acordar.
Ela rebolou com os quadris contra ele.
— Acha que pode lidar com isso?
Josh riu contra seus lábios.
— Querida, ainda tenho muitos movimentos que você
nunca viu.
Ele equilibrou sua bunda na escada correndo contra a
parede.
— Este é um belo vestido — disse ele enquanto empurrava
o tecido acima da cintura dela. Com dedos impacientes, ele
empurrou sua calcinha para o lado. — Deus, Clara. Você tem
a boceta perfeita — ele disse quando a encontrou encharcada e
pronta para ele.
Clara apertou as coxas em torno de seus quadris,
choramingando enquanto mordia seu ombro.
— Eu amo você. Eu te amo muito.
Josh xingou como se ela tivesse dito algo sujo e empurrou
seus quadris contra ela.
— Se eu gozar nas minhas calças pelo som da sua voz e
alguma transa seca, vou perder toda a minha credibilidade nas
ruas.
Clara riu baixo em sua garganta quando ela fechou os olhos
e inclinou a cabeça para trás.
— Então o que você está esperando?
Josh não perdeu o ritmo. Ele enfiou a mão no bolso em
busca de um preservativo. Graças a Deus velhos hábitos custam
a morrer. Ele rasgou o pacote de papel alumínio com os dentes
e o deslizou.
— Isso é realmente inacreditável. Como se eu soubesse que
está acontecendo porque você está aqui e está incrível, mas...
— Josh? — A respiração irregular de Clara foi direto para
suas calças.
— Sim?
Ela estendeu a mão e agarrou sua bunda, alinhando seus
quadris até que ele afundou nela.
Enquanto seu calor apertado o rodeava, ele abaixou a cabeça
em seu ombro com um gemido torturado.
— Certo.
Com as mãos atrás de cada um de seus joelhos, ele inclinou
o ângulo de sua pélvis para que a cabeça de seu pênis esfregasse
seu ponto G. Ele poderia não ser capaz de fazê-la gozar duas
vezes em uma escada, mas ele poderia com certeza tentar.
Josh se viu embaraçosamente perto enquanto a ouvia
choramingar e balbuciar. Suas mãos cavaram em suas
omoplatas enquanto ele puxava as coxas dela mais contra seu
quadril e a sentiu tremer ao redor dele. Clara mordeu onde seu
pescoço encontrava seu ombro enquanto ela alcançava seu
prazer.
— Você é incrível. — Ele poderia passar horas observando-
a morder o lábio e se contorcer enquanto gozava.
Clara moveu as mãos para sua nuca, puxando sua boca para
a dela.
— Como diabos estar com você é melhor do que fantasiei
em um verão inteiro?
Cada palavra evocava uma nova e magnífica imagem em seu
cérebro até que ele ofegava à beira do infinito. Ambos famintos
e saciados. Sua definição de felicidade se expandiu para
abranger esse momento perfeito e selvagem.
Josh afundou as pontas dos dedos na pele sedosa de suas
coxas e cerrou os dentes para não gritar enquanto seu próprio
orgasmo o balançava. Ele encostou sua testa suada na dela.
— Eu não posso acreditar que você é real. — Ele deslizou
para fora dela e ajudou-a a descer do corrimão.
Ela rapidamente entregou a ele um punhado de lenços de
papel de sua bolsa.
— Sexo em público é tão bom quanto eu pensava, mas o
resultado é decididamente menos glamoroso.
Josh riu enquanto se limpava e colocava tudo de volta em
sua calça jeans.
A bolsa de Clara começou a tocar.
— É Jill — ela disse, olhando para o identificador de
chamadas piscando na tela.
— Talvez você precise responder isso.
— Olá? — Clara disse, curvando-se para levar o dispositivo
ao ouvido. Suas bochechas ficaram vermelhas como tijolos.
— Você tem que vir aqui — Josh ouviu Jill dizer no tom alto
e conciso de alguém tentando não entrar em pânico. — Eu
estou no meu escritório e Toni Granger simplesmente apareceu
pedindo para falar com você.
Clara olhou para Josh e lambeu o lábio inferior.
— Agora? — Seus olhos se arregalaram. — Ok. Ok. Estarei
aí assim que puder.
Depois de uma rápida parada no banheiro para se refrescar,
eles se dirigiram ao estacionamento.
— Vamos. Eu vou dirigir — Josh disse, pegando a mão dela.
Clara parou bruscamente.
— Na verdade, tenho um carro aqui.
Ele varreu os olhos pelo estacionamento.
— O que? Onde você conseguiu um carro?
— Bem, é uma história meio engraçada…
Josh levou a notícia de sua viagem espontânea com calma
notável, considerando todas as coisas.
— Eu amo que você tenha corrido de volta para aquele cara
na primeira chance que você teve? Não. — Josh abriu um
sorriso. — Mas, ao mesmo tempo, eu amo o visual de você
exigindo as chaves daquele idiota para voltar direto para mim.
Borboletas batiam as asas dentro do estômago de Clara. Ela
tinha ido de uma montanha-russa emocional para outra, e
agora Toni queria vê-la?
Josh apertou a mão dela enquanto eles estavam do lado de
fora do escritório de Jill.
— O que está acontecendo nesse lindo cérebro?
— Estou um pouco nervosa. — Muito nervosa. — Tive
toda aquela adrenalina bombeando em minhas veias de volta ao
estúdio, muitas endorfinas, mas agora tenho que enfrentar as
consequências de minhas ações.
— Você se arrepende? — Sua voz saiu anormalmente
neutra.
— Absolutamente não. Se outras pessoas não gostarem,
podem ir passear no bosque.
Josh balançou a cabeça.
— Temos que conseguir para você um livro de frases de
millenials ou algo assim. Frases como essa são o motivo pelo
qual os operadores de telemarketing estão sempre tentando
vender medicamentos para a osteoporose.
Ele hesitou quando chegaram à porta de Jill.
— Talvez eu deva esperar aqui.
Clara pressionou os lábios na bochecha dele.
— Por favor, venha comigo. Aconteça o que acontecer. Eu
gostaria de apresentá-lo à minha tia.
Ele endireitou a mandíbula.
— Lidere o caminho.
— Bom dia — disse Clara, pegando a mão de Josh enquanto
eles entravam na sala de conferências onde Jill e a promotora
aguardavam. — Peço desculpas por deixá-las esperando.
— Isso não é um problema. — Toni Granger alcançou sua
altura impressionante. — Eu entendo que você provavelmente
não esperava ouvir falar de mim.
A promotora se voltou para Josh.
— É bom ver você de novo, Josh.
Clara deu um passo involuntário para trás.
Josh olhou para o teto com as mãos cruzadas atrás das costas.
Arrepios surgiram na pele de Clara.
— Você pode imaginar minha surpresa — disse Toni —
quando fui à minha varanda esta manhã para pegar o jornal e
encontrei este jovem vagamente familiar na minha porta.
Toni colocou a mão no ombro de Josh.
— Quando lhe perguntei o que exatamente ele pensou que
estava fazendo, ele me disse que tinha algumas informações
valiosas para compartilhar comigo. Informações relevantes
para minha campanha. Ele me entregou um pen drive e
graciosamente disse que iria esperar do lado de fora, no caso de
eu ter alguma dúvida.
Clara lançou a Josh um olhar que dizia: Que diabos? Ele
tinha algumas explicações sérias a dar.
— Agora vou admitir que meu primeiro instinto foi chutar
a bunda dele por invadir uma propriedade privada, mas algo em
seus olhos me fez decidir ouvi-lo.
Josh ergueu as mãos.
— Quero esclarecer que a situação era urgente. Eu não
queria perder um tempo valioso esperando seu escritório abrir.
Você deve tornar mais difícil encontrar seu endereço na
Internet se não quiser receber visitas de constituintes
interessados.
— Estou feliz que você me encontrou — disse a promotora
antes de oferecer uma pequena olhada até Clara. — Josh
coletou uma grande quantidade de informações
incriminatórias sobre a corporação Black Hat e HD Pruitt.
Josh entrou diretamente na visão ligeiramente embaçada de
Clara.
— Há algumas semanas, tenho reunido um monte de e-
mails e mensagens de texto documentando o comportamento
duvidoso da Black Hat. O elenco e a equipe descobriram o que
eu estava tramando - não sou exatamente conhecido por minha
discrição, como você sabe - e eles próprios contaram histórias.
Toni diz que temos evidências de quase trinta violações das leis
trabalhistas. Stu até descobriu filmagens de produção que
podemos usar no tribunal.
— O que? — A mente de Clara correu em mil direções. —
Por que você não me contou?
— Eu não tinha certeza se conseguiria fazer isso, e eu sabia
que se eu dissesse para você eu teria que fazer. Eu precisava de
um motivo maior do que meu medo. Assim que você saiu, eu
sabia que tinha um.
A promotora sorriu com os lábios fechados.
— Ele também se ofereceu para servir em meu escritório
como testemunha em nome da indústria de entretenimento
adulto. Ele disse que achava que se ele se alinhasse com meus
esforços, isso ajudaria a comunidade a ver que eu não era –
quais foram as palavras exatas que você usou?
Josh corou.
— Apenas mais uma política idiota usando trabalhadores
do sexo como palanque.
— Ele parecia preocupado que eu pudesse não agir de
acordo com as evidências que ele ofereceu, então ele
educadamente me lembrou que em minha plataforma de
campanha eu prometi que quando eu lutasse pela igualdade,
não me esqueceria dos marginalizados ou estigmatizados. Só
posso imaginar que ele recebeu essa informação de você. Ele
também me entregou uma cópia de um documento de posição
que escrevi há cinco anos. — O olhar normalmente de aço da
promotora suavizou. — Você quer contar a ela o resto?
Josh pegou as mãos de Clara nas suas.
— Pedi a Toni que considerasse permitir que você voltasse
à equipe de campanha. Eu disse a ela que você sabia como
mudar as coisas. Você fez isso por mim, e se ela lhe desse outra
chance, você faria o mesmo por ela.
Clara se abanou.
— Posso sentar?
Josh a ajudou a sentar em uma cadeira.
— Você tem certeza disso? — Ela não podia acreditar no
risco que a promotora estava disposta a correr.
Toni se voltou para sua tia.
— Você está no comando do meu time de Relações
Públicas. Você acha que abrir um processo contra Black Hat
seria o suficiente para dominar o ciclo de notícias eleitorais?
— Vamos ver. Tem sexo. Dinheiro. Poder. — Jill contou as
palavras com seus dedos e sorriu. — Sim. Isso deve funcionar.
— Bem, Clara, o que você me diz? Você está pronta para
isso? — Toni sorriu afetadamente.
Clara se voltou para sua tia. Jill era uma das melhores e mais
fortes mulheres que ela conhecia. Ela deu uma chance a Clara,
sem fazer perguntas, mesmo depois de tudo que os Wheatons a
fizeram passar. Jill manteve suas convicções por um tempo
admiravelmente longo. Tinha lutado por eles não com armas,
mas com silêncio obstinado, aceitando a rejeição de sua família
com mais graça do que eles mereciam. Ela pagou por suas
escolhas, por sua liberdade, e as linhas suaves ao redor de seus
olhos marcavam a duração de sua sentença.
Jill havia lhe ensinado muito neste verão, mas Clara não
queria se transformar nela. Os Wheatons resistiram a
incontáveis escândalos. Já era hora de aprenderem a se perdoar.
— Eu topo. Mas você tem que voltar para casa comigo, em
Greenwich, no Natal.
As sobrancelhas de sua tia se ergueram.
— Podemos enfrentar a fofoca juntas. Duas vergonhas da
família voltam para casa. — Clara prendeu a respiração
enquanto esperava por uma resposta. Ela estava determinada
que sua família não fecharia a porta para ela, mas seria mais fácil
se ela tivesse Jill ao seu lado. Os Wheatons devem se orgulhar de
ambas. Nenhuma das duas tinha feito algo que um pouco de
relações públicas não pudesse consertar.
— Estou dentro. — Jill envolveu Clara em um abraço. —
Tenho orgulho de você — ela sussurrou em seu ouvido.
— Podemos não ser capazes de manter o seu nome fora da
boca da oposição inteiramente — Toni disse enquanto se
separavam. — Vamos precisar começar imediatamente, e nada
disso será fácil. Mesmo com as provas certas, Pruitt contratará
o melhor advogado de defesa que o dinheiro pode comprar. Ele
vai gastar mais do que nós em todos os sentidos, incluindo
relações públicas.
— Então vamos trabalhar. — Jill piscou enquanto conduzia
Toni para fora da sala de conferências.
Assim que ficaram sozinhos, Clara se virou para Josh.
— Não acredito que você fez isso. — Um processo judicial
era mais do que insultar Pruitt. Muito mais do que a pequena
e quieta rebelião de Shameless. Ir a julgamento, atrair os
holofotes, tudo comprometia o seu papel dentro da
comunidade de entretenimento adulto. Baseado no que ele
disse a ela antes, muitas pessoas na indústria iriam vê-lo como
um oportunista no melhor e um traidor na pior das hipóteses.
Enquanto crescia, Clara viu seus pais fazerem muitos
sacrifícios por amor aos filhos, mas nunca antes um homem
fizera algo assim por amor a ela. Ela realmente merecia isso?
Muito de Josh parecia bom demais para ser verdade. Depois
de três meses dizendo a si mesma: Isso não é para você. Aqueles
olhos, aquelas mãos, aquela boca, aquela bondade, aquele
humor. Nada disso pertence a você e não ouse se enganar. Até
ouvir a história de uma das pessoas mais autoritária que ela já
conheceu parecia surreal.
— Não fiz isso por você — disse Josh.
Os ombros de Clara afundaram.
— Oh.
— Mas eu consegui fazer isso por sua causa.
Ele traçou a curva de sua bochecha com as costas da mão.
Quando Josh a tocou, ele completou um circuito, de modo que
a eletricidade fluiu para frente e para trás entre seus corpos,
tornando cada centímetro dela mais vivo.
— Tudo isso parece grande — disse ele. — Não apenas
como eu amo você, e não apenas Shameless, mas esta chance
com Toni de ajudar as pessoas de quem gosto em uma escala
maior. — Ele falou com as mãos, o movimento gerando
entusiasmo por trás de suas palavras, como hélices em um
barco. — Nunca pensei que teria um impacto positivo. Se
fazendo isso, testemunhar e outras coisas, isso criar um
ambiente de trabalho mais seguro para profissionais do sexo, se
protege a indústria de homens como Pruitt, não vejo isso como
abandonar a pornografia ou virar traidor. Esse caso beneficiaria
todos nesse negócio que já foram deixados de lado.
Josh esfregou a nuca.
— E tudo bem, talvez seja um pouco por você, Clara. Mas
eu não me importo. Porque quando você saiu duas noites atrás,
percebi que faria qualquer coisa ao meu alcance para mostrar o
quanto você significa para mim.
A dor brilhou em seus olhos novamente.
— Eu fui estúpido e estava com medo. Tão certo de que
você me rejeitaria que eu a afastei. Eu queria apontar para você
como prova de minha própria inferioridade. Deixei que a
opinião da sociedade sobre meu valor me declarasse
desqualificado, antes que você tivesse a chance. Eu pensei que
se eu pudesse começar ajudando você a conseguir seu emprego
de volta, talvez você pelo menos me deixasse falar com você
sobre o resto, a parte de "amar você".
Ele puxou uma folha dobrada de papel solto do bolso.
— Tomei a liberdade de fazer uma lista de prós e contras.
— Você fez? — Clara olhou para o documento. — Isso é tão
romântico.
— Há muitas mulheres aterrorizantes na minha vida agora,
mas eu não me importo — disse Josh. — Porque quando olho
para você, Clara, é como se uma fera raivosa dentro de mim se
sentasse de cócoras e suspirasse, Finalmente. Mas eu quero ter
certeza de que você está bem com isso. Tudo isso. Antes de
prosseguirmos, você falou com sua família?
Clara fechou os olhos. Esta pergunta, entre tantas outras
coisas maravilhosas sobre este momento, mostrou a ela que
Josh tinha escutado, que ele se importava.
— Não. Ainda não. Mas acho que de alguma forma vai ficar
tudo bem. Vai ser doloroso, não me entenda mal, mas estou
ficando muito mais confortável com o desconforto. Você
estava certo. Usei minha família como desculpa para evitar
coisas que me assustavam, mesmo as coisas boas, por muito
tempo. Parei de pedir permissão. Vou escolher minha própria
vida. Eles vão me perdoar eventualmente. Não aceito não como
resposta.
— Droga. Esse foi um grande dia — Josh disse com um
sorriso de cair a calcinha. — Como se sente?
— Grata. — Clara ficou na ponta dos pés e colocou os
braços em volta do pescoço dele. — Obrigada. Sabe, eu não
acho que teria ficado contente sendo uma parceira anônima de
Shameless no final. Acho que teria lido a cobertura da imprensa
e visto os assinantes entrando e ferveria de ciúme. Eu me
importo muito com isso. Eu quero ajudar Toni a ganhar a
reeleição e derrubar Pruitt, mas acho que quando a campanha
acabar, posso me concentrar em tempo integral no site por um
tempo, queimar um pouco mais do meu fundo fiduciário.
Suas mãos viajaram de seu cabelo até a cintura para flertar
com a bainha de seu vestido. O roçar de seus dedos contra a
parte externa de suas coxas foi o suficiente para enviar um raio
de desejo por sua espinha.
Quando ela falou, suas palavras saíram um pouco sem
fôlego.
— Não é todo dia que você consegue derrubar um império
pornográfico.
DOIS ANOS DEPOIS…

— Você está queimando o peru — Clara sussurrou em seu


ouvido. Ela abaixou a temperatura do forno
significativamente, mas ficou na ponta dos pés para dar um
beijo na bochecha dele e suavizar o golpe.
— Seu pai disse que gosta de um "pássaro marrom dourado
com pele crocante." — Josh apertou timidamente a maçã do
rosto.
— Parece muito crocante para mim. — Ela pressionou as
mãos sobre os ombros dele, torcendo que sua camisa
amarrotada ficasse esticada. — Eu nunca vi você tão nervoso.
— Essa é a primeira vez que as famílias Wheaton e Conners
estão tendo o Dia de Ação de Graças sob o mesmo teto. Sem
mencionar alguns intrusos perdidos. — Ele voltou para o
forno. — Estou buscando a excelência.
Clara puxou o laço do avental de algodão amarrado em volta
de seus quadris.
— Sim, bem, sua mãe disse que se você não for lá e
apresentá-la a Toni, ela não terá escolha a não ser mostrar à
promotora suas fotos embaraçosas de bebê. Eu não arriscaria.
Ela trouxe um álbum inteiro. Eu sei porque ela me mostrou
tudo depois de cinco minutos da sua chegada.
— Eu disse a ela que Toni odeia conversa fiada. — Josh
resmungou. — Ela só passou por aqui para deixar um prato de
seus famosos inhames.
— É quase perturbador que ela consiga ser boa em tantas
coisas diferentes — disse Clara. Depois que a campanha de
Granger conquistou a reeleição, Clara deixou a empresa de
relações públicas para trabalhar em tempo integral na
Shameless, mas Toni permaneceu uma constante em suas
vidas.
Durante a batalha contra o Black Hat, a promotora
declarou Josh uma das melhores testemunhas com quem ela já
trabalhou, chamando-o de sua arma secreta para desbloquear o
que muitos chamaram de uma vitória quase impossível. No dia
em que o veredito de culpado veio contra Pruitt e seu império,
cimentando o lugar de Toni na história do serviço público, a
advogada convidou Josh para treinar como testemunha
especializada, para que ele pudesse continuar representando os
interesses da comunidade de entretenimento adulto, em nome
do seu escritório.
Ele aceitou a oferta e continuou a defender a reforma dentro
da indústria, além de suas responsabilidades pela Shameless.
Naomi entrou direto da sala. O detector de fumaça escolheu
aquele momento para começar a gemer.
— Há uma piada na ponta da minha língua sobre como
vocês dois sabem como aquecer um cômodo. — A ruiva pegou
uma cadeira e subiu nela para abanar com um pano de prato a
fumaça na sirene incessante. — Estou acostumada a apagar seus
incêndios no trabalho todos os dias, Connecticut, mas quando
aceitei sua oferta de vir para uma refeição de fim de ano, não
sabia que teria que lutar contra um incêndio literal.
— O que posso dizer, quando você se apaixona pelo homem
mais quente do mundo, aprende a aceitar a ameaça de uma
combustão ocasional. — Clara olhou para Josh com adoração
até que sua parceira de negócios fez um som exagerado de
náusea.
— Se você não puder fazer parar essa merda sentimental,
não terei escolha a não ser dormir com seu irmão — Naomi
disse, seu tom sério.
Clara engasgou.
— Você não tentaria dormir com Oliver.
Apesar do sucesso surpreendente de seu site, que agora tinha
quase trinta funcionários em tempo integral, as duas mulheres
ainda gostavam de testar os limites uma da outra.
— Oh, querida. — Naomi piscou e desceu da cadeira, tendo
vencido o alarme. — Eu não teria que tentar. — Ela voltou para
se juntar à festa.
— Eu tenho que sair daqui. — Clara se moveu para segui-la
enquanto sua mãe corria para a cozinha.
— Seu irmão derramou Cabernet em todas as páginas do
The Society. — Ela ergueu uma folha de jornal encharcado.
Vinho tinto sangrou na manchete Companheiros de quarto
transformados em parceiros de negócios dizem “sim”: Wheaton
prestes a virar Conners.
— Ah, não se preocupe — Josh disse, piscando para Clara
enquanto se movia para buscar um substituto. — Nós temos
um desse laminado.
Crise evitada, Clara guiou a mãe de volta para a sala. Ela
voltou para encontrar seu noivo brincando com um isqueiro
elétrico.
— Achei que poderia tostar os inhames — disse ele em
explicação. — Dar a eles um toque especial extra.
— Não vamos desafiar o destino — disse ela, removendo o
aparelho de suas mãos. — Eu não sei o que deu em você.
— Você nunca fez algo estúpido para impressionar alguém
de quem você gostava? — Josh passou os braços em volta dela
e puxou-a para um prolongado beijo.
Sempre pensei em escrever um livro. Simplesmente nunca
esperei que alguém o lesse. A brilhante surpresa de perceber
que estava errada não teria sido possível, ou tão doce, sem as
seguintes pessoas:
Minha agente, Jessica Watterson. Obrigado por ser
incrivelmente boa em vender livros, mas também por conseguir
muitos outros empregos, incluindo treinadora, líder de torcida
e terapeuta em meio período, que não aparecem em seu
currículo, mas poderiam se você quisesse adicioná-los. Serei
eternamente grata por sua cabeça fria. Obrigada por apoiar este
livro desde o início e por achar que é o melhor lar para ele.
Minha editora, Kristine Swartz. Você sempre me fez sentir
como se essa história fosse diferente e especial, e você nos guiou
(eu e o livro) a viver de acordo com esse potencial por meio de
sua habilidade e empatia.
Jessica Brock, Jessica Mangicaro e todos da Berkley que
ajudaram esta história a chegar aos leitores. Vocês todos são os
melhores no negócio, e ainda estou me beliscando por poder
trabalhar com sua equipe excepcional.
Heather Van Fleet e Lana Sloane. Vocês dois mudaram
minha vida quando decidiram orientar a mim e a este livro.
Vocês foram as primeiras pessoas a levar minha escrita a sério.
Suas impressões digitais permanecem nestas páginas. Eu amo
vocês. Obrigada.
A organização Pitch Wars, do passado e do presente. Esta
comunidade me deu o maior presente, tanto na arte quanto na
amizade. Nunca poderei retribuir, mas pretendo continuar
tentando.
Toda a minha turma de pupilos de Pitch Wars, mas
especialmente a turma heterogênea do Slack. Vocês são minha
família encontrada. Obrigada por compartilharem cada passo
desta jornada selvagem comigo. Eu não teria feito isso aqui sem
vocês.
Minha brilhante parceira de crítica, Lyssa Smith. Não sei o
que teria feito se não tivéssemos nos encontrado. Eu estou
mantendo você comigo para sempre.
Lane Rodgers. Obrigado por emprestar sua experiência no
assunto para este livro da maneira mais cuidadosa que se possa
imaginar. Seu apoio a esta história e seu objetivo de promover
a indústria do cinema adulto de forma positiva e precisa
significa muito.
Minha primeira irmã de armas, Denise Williams. Não sei o
que teria feito sem poder compartilhar essa experiência com
você. Estou muito grato por termos apoiado um ao outro em
todos os momentos.
O ARWA, especialmente Liz Locke e Nadine Latief.
Obrigado por fazerem um lar para mim em Austin e me
fazerem sentir como se meus sonhos não fossem apenas sonhos.
Os fundadores e a comunidade de All the Kissing. Vocês
criaram algo tão especial para o gênero romance. Obrigado por
me deixar fazer parte disso.
Meus amigos da minha cidade natal, com um
agradecimento especial para minhas primeiras leitoras, Emily e
Ilona, que acreditaram nesta história e em seu potencial, e para
Quinn, que não liga para comédias românticas e ainda me
ouviu falar sobre esta sem parar por anos. Sua fé em mim me
preencheu em tantos dias, tanto bons quanto ruins. Eu amo
muito todos vocês.
Minha melhor colega de quarto, Jess DiFrancesco.
Obrigado por ser a primeira pessoa a ler este livro. Eu não teria
conseguido de outra maneira.
Meryl Wilsner e Ruby Barrett. O que posso dizer? Alguns
dias vocês são meu batimento cardíaco. Alguns dias vocês são
meu suspiro profundo. Vocês são minhas lágrimas de riso e
conflito. Vocês estão em minhas palavras. Obrigado por sua
amizade.
Minha família (imediata e extensa). Obrigado por seu
entusiasmo sem fim por minha escrita, especialmente porque
forneci a vocês informações tão limitadas sobre o conteúdo
deste livro e constantemente insisti que vocês não
poderiam/não deveria lê-lo. Cada vez que vocês comemoraram
meu progresso ou mostrou interesse pelo meu trabalho, vocês
fizeram toda a diferença.
Meu pai. Você incutiu e cultivou meu amor pela leitura
desde cedo. Você transformou as livrarias nos meus lugares
favoritos no mundo. Uma vez você prometeu sempre comprar
livros para mim e nunca pareceu se arrepender dessa decisão –
apesar de muitos anos de eu abusar dessa gentileza em minha
busca para ler todos com capa rosa. (Aqui está outro livro com
uma capa rosa que você teve que comprar. Desculpe. Eu te
amo.)
Minha mãe. Você é a pessoa mais trabalhadora que eu
conheço e, de muitas maneiras, você moldou quem eu sou
como mulher. Você me ajudou a ser corajosa o suficiente para
ser uma escritora e, especificamente, a escritora deste livro – do
qual tenho tanto orgulho.
Micah Benson. A dedicação já é super piegas, então vou
deixar isso bem prático. Obrigado por pegar minha folga, por
ler cada página deste livro em vários rascunhos (muitas vezes
enquanto eu estava sentada diante de você olhando), por
acreditar em mim mesmo quando eu não acredito em mim
mesma. Obrigada por celebrar essa história em sua arte
(especialmente quando eu não fiz você explicitamente fazer
isso), e por admitir que sou, em ocasiões específicas, engraçada.
Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.
1. No início do livro, Clara e Josh construíram suas vidas em
torno das expectativas de outras pessoas (no caso de Josh, a
falta delas). Qual de seus papéis sociais internalizados foi mais
difícil de desaprender?

2. The Roommate transforma vários tropes durante a leitura– o


garoto da casa ao lado, Everett, torna-se um antagonista
preguiçoso em vez de interesse amoroso, e Naomi, a “ex-
namorada ciumenta”, torna-se parceira e confidente. Como
essa história teria sido diferente se qualquer uma dessas
tropes não tivesse sido subvertida?

3. Clara diz a Josh que seus ex-parceiros a decepcionaram no


quarto e que “parecia mais eficiente” lidar sozinha com a
situação. Por que você acha que ela se sentiu assim?

4. No início do livro, Clara acredita em certos estigmas


negativos sobre pornografia e artistas adultos que ela supera
examinando seu próprio preconceito e conhecendo Josh,
Naomi e outros profissionais da indústria. Você se pegou
examinando alguma de suas próprias ideias sobre pornografia
ou artistas adultos enquanto lia o romance? Como podemos
quebrar o estigma contra o trabalho sexual e tornar o mundo
mais seguro e mais receptivo às profissionais do sexo?

5. Embora o fato de entrarem no negócio juntos aproxime Josh


e Clara, também representa uma barreira para que eles
entrem em um relacionamento amoroso. Você acha que
começar Shameless no final das contas ajudou ou atrapalhou
sua história de amor?

6. Clara e sua tia Jill têm vários paralelos - ambas seguiram seus
corações para a notoriedade social e fugiram para L.A. sem
quase nenhum plano. Mas enquanto Jill corta todos os laços
com a família Wheaton depois de receber sua censura, Clara
se recusa a deixá-los afastá-la. Por que Clara também não
abandona os Wheatons após seu próprio escândalo?

7. Você acha que Josh e Clara teriam ficado juntos se sua


disputa contratual não o tivesse levado a parar de se
performar enquanto eram colegas de quarto?

8. Depois de se mudar pelo país em busca de um amor não


correspondido, Clara pergunta a Josh: “Você nunca fez algo
estúpido para impressionar alguém de quem gostava?” Bem,
você já? E talvez mais importante, valeu a pena?

9. Josh e Clara passam de companheiros de quarto a noivos no


epílogo. O que você acha que mudou quando eles
começaram a viver juntos como parceiros românticos?
Foto por Micah Benson

Rosie Danan escreve livros ardentes e generosos sobre as


provações e triunfos do amor moderno. Quando não
está escrevendo, ela gosta de correr lentamente ao som de
música rápida, acariciar os cães de outras pessoas e
competir contra si mesma em rodadas de Chopped
usando os diversos ingredientes que ocupam sua
geladeira. Como uma expatriada americana morando em
Londres, Rosie regularmente pega emprestado gírias que
não lhe pertencem.

REDES DA AUTORA:
RosieDanan.com
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