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Essa tendência às cenas bélicas, deve-se a sua formação inicial com o pintor de batalhas
Albrecht Adam, que lhe ensinou com grande maestria, traçar detalhadamente, cavalos, uniformes
militares e paisagens.
Foi nesse momento da formação profissional do pintor que surgiu a oportunidade para
integrar, como desenhista, o projeto de reconhecimento científico do interior do Brasil,
organizado por Georg Heinrich von Langsdorff – cientista renomado da Universidade de Gotinga
e cônsul geral da Rússia a serviço do czar Alexandre I, no Brasil.
No Brasil, a sua chegada aconteceu no Rio de Janeiro em 3 de março de 1822, e seu
primeiro destino foi a Fazenda da Mandioca, localizada no interior do Rio de Janeiro, de
propriedade de Langsdorff e reduto de importantes pesquisas agrícolas. Foi daí que nasceram os
primeiros trabalhos sobre escravos e mão-de-obra livre, além das primeiras cenas que
caracterizavam o cotidiano da cidade.
Rugendas viu o Brasil para muito além de suas flora e fauna “exóticas”. Acompanhou
toda a efervescência política que acontecia no Brasil, já que em setembro de 1822 chegou a
assistir a independência do Brasil e a coroação de D.Pedro I. Entrou em contato também com
uma realidade social desconhecida: o cativeiro dos negros, os navios negreiros, passando pelo
desembarque dos escravos, mercados de escravos, cenas de torturas e até mesmo o registro da
sensualidade das negras africanas em terras brasileiras.
Ele chegou ao Brasil ainda muito jovem, com apenas 19 anos e durante os primeiros
meses permaneceu ligado a Langsdorff. Porém, pouco tempo depois de sua chegada,
desvinculou-se da expedição por intervir violentamente a favor do colega e zoólogo Ménétriès,
sobre pagamentos e entregas de materiais ao barão Langsdorff. Depois de muitos insultos e
acusações de ambas as partes, concluía-se uma relação iniciada há quase três anos, a partir do
contrato firmado na Alemanha em 1821. Nesta ocasião, provavelmente estava se ligando a outros
artistas da Missão Artística Francesa que havia chegado ao Brasil em 1816 para a fundação da
Academia de Belas-Artes.
Conforme o relato de viagem escrito por Langsdorff, a expedição já havia passado pelo
interior das províncias de São Paulo, Minas Gerais, entre outros lugares como Barbacena, São
João Del Rei, Ouro Preto, Sabará e Diamantina. Foi neste caminho que Rugendas desvinculou-se
da expedição, faltando pouco para que a rota desta fosse concluída.
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Na capital brasileira, estabeleceu relações com outros artistas, notadamente com Jean-
Baptiste Debret, com a família de Nicolas Antoine Taunay e com Aymé Adrien, que o
substituiria na expedição de Langsdorff a partir de 1825.
Este ambiente foi muito importante para o pintor, pois criou condições para que ele
refletisse sobre o que significava o “Novo Mundo”. Estes amigos proporcionaram os primeiros
contatos, facilitando a Rugendas acesso ao mundo cultural francês quando retornou a Europa em
1825.
Apesar dos desacertos iniciais ligados à expedição, o pintor alemão continuou de forma
independente com o seu trabalho. Ele passou a fixar imagens de paisagens e tipos humanos ainda
pouco conhecidos na Europa. Porém, a rota que Rugendas teria realizado depois de 1º de
novembro é motivo para numerosas especulações. Alguns estudiosos como Gertrud Richert
sugere que o artista passou pelas províncias de Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo e
Bahia.
De volta à Europa, Rugendas tratou de reunir cem dos seus desenhos no Brasil e publicá-
los numa obra suntuosa intitulada, Viagem pitoresca através do Brasil, cuja primeira edição saiu
simultaneamente em alemão e francês, editada pela litografia de Engelmann & Cia.
Rugendas também teve uma passagem pela América do Sul e o México onde desenhou e
pintou aspectos daquelas regiões. Quando retornou à Europa, semelhante ao que fez no Brasil,
publicou uma obra reunindo suas pinturas. Na época o rei da Prússia também lhe encomendou
algumas telas sobre as paisagens da América do Sul.
Depois de sua morte, em 1858 na cidade de Wilheim, muitos de seus desenhos foram para
o museu de Munich na Alemanha. Em 1928, após uma grave crise financeira, o museu vendeu
inúmeras obras e desenhos de Rugendas a Clovis Ribeiro e Wath Rodrigues que compraram
algumas e as trouxeram para o Brasil (São Paulo), onde outros colecionadores também
adquiriram as obras do pintor no que resultou na dispersão do material iconográfico.
No entanto, é lamentável tendo em vista a grandiosidade de sua obra, que não se tenha
ainda realizado um estudo mais detalhado, para não dizer completo, sobre este artista que
registrou romântica e sabiamente cenas de um Brasil oitocentista.
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como se a energia estivesse se esvaindo; as cores espelhavam a tristeza e a dor que sentia o
escravo: pobre, preso e humilhado em toda a sua essência.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
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RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. 8ª ed. Belo Horizonte:
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Http://www.nascente.com.br/rugendas/r000.Html. Acesso em 25 de Set de 2004.