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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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APELAÇÃO CÍVEL nº 0158141-27.2014.8.19.0001

Apelantes: 1– CLÁUDIA MARIA DOS SANTOS


2 – JAIRO SOARES GOUDINHO
3 – RAIANE DOS SANTOS GOUDINHO
4 – CLÁUDIO LUIZ DOS SANTOS DA LUZ
5 – MITSUI SUMITOMO SEGUROS S/A
6 – MRS LOGÍSTICA S/A

Apelados: OS MESMOS

Relator: DESEMBARGADOR PAULO CESAR VIEIRA DE CARVALHO FILHO

APELAÇÕES CÍVEIS. Responsabilidade objetiva das


rés comprovada, não havendo que se falar em culpa
exclusiva da viação corré. Tese do recurso de
apelação de MRS LOGISTICA S/A afastada.
Irrelevância do aceite da obra pela Municipalidade,
vez que a responsabilidade pela má construção do
viaduto é da MRS LOGISTICA S/A. O agir imprudente
do motorista do veículo não afasta a
responsabilidade, também objetiva, da MRS
LOGISTICA S/A. Laudo pericial indicativo de
construção absolutamente defeituosa e que
concorreu eficazmente para o evento danoso.
Demonstrada a responsabilidade objetiva das
apelantes rés, a inexistência de culpa exclusiva da
vítima, sua condição de passageira, seu falecimento
em razão do acidente, a inocorrência de fortuito
externo ou fato doloso de terceiro, tem-se como
consequência a obrigação das rés de solidariamente
repararem o dano moral decorrente da morte de
Lorraine. Valor do dano moral razoável e
consentâneo com a jurisprudência a ser fixado em
R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) em favor da mãe
da vítima, autora Cláudia Maria dos Santos.

Fls.1

PAULO CESAR VIEIRA DE CARVALHO FILHO:16589 Assinado em 20/09/2021 16:30:57


Local: GAB. DES. PAULO CESAR VIEIRA DE CARVALHO FILHO
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Indenização por danos morais decorrente de morte


deve ser fixada de maneira individual e idêntica para
cada um dos parentes próximos. Fixação de
reparação por danos morais decorrentes da morte
de Lorraine no valor de R$ 300.000,00 reais (trezentos
mil reais) para cada um dos quatro apelantes
autores. Quanto ao valor dos danos morais a que faz
jus à autora Cláudia Maria dos Santos, decorrente
das lesões acidentárias caracterizadas por fratura
exposta de úmero direito, fratura da bacia pélvica e
fratura de fêmur direito e esquerdo, lesões estas
decorrentes do acidente ocorrido como coletivo,
além de registrar o sofrimento e dor incomensurável
decorrentes dessas lesões acidentárias, importa
estabelecer montante autônomo de danos morais
diante de sua causa. Danos morais decorrentes
dessas gravíssimas lesões acidentárias fixados em R$
60.000,00 (sessenta mil reais) em favor da autora
Cláudia Maria dos Santos. Impossibilidade de
extensão do dano moral decorrente das lesões
acidentárias para os autores Jairo e seus filhos
Cláudio Luiz e Raiane. Majoração dos danos morais
decorrentes do dano estético para o montante de R$
175.000,00 (cento e setenta e cinco mil reais).
Merece acolhida a pretensão formulada na
apelação dos autores no sentido de que as rés
custeiem cirurgia para retirada de síntese metálica.
Com efeito, não socorre o argumento contido na
sentença de que a autora vem realizando os
procedimentos necessários na rede pública, pois é
notório e, como tal, dispensa prova, a mais absoluta
dificuldade de realização de procedimentos
cirúrgicos na rede pública. Correção da sentença
quanto à fixação da pensão mensal nos moldes
arbitrados com a única corrigenda do necessário
recolhimento do FGTS e também da melhor exegese
do teor da Súmula 470 do STF, a fim de concluir pela
inocorrência da correção monetária já que o

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pensionamento é fixado em salários-mínimos, de


modo que a correção dos valores se dá com
atualização do salário-mínimo. Inexistência de
omissão na sentença sobre a constituição de capital
garantidor do pagamento das duas pensões fixadas,
pois a sentença foi complementada, pelo
julgamento dos embargos de declaração no sentido
de condenar as rés a constituir fundo de capital
garantidor, na linha da Súmula 313 do STJ. Caso de
condenação solidária das rés ao reembolso integral
das despesas médicas documentadas nos autos.
Documentação detalhada, nas quais as notas
contêm o nome da autora, a data, produto ou
serviço adquirido. Quanto ao pedido de custeio
pelas rés de acompanhante para a autora, não
merece prosperar tal pretensão. Com efeito, o Laudo
Pericial é incontroverso sobre o tema e dele consta o
seguinte: ‘Necessita a periciada a assistência
permanente de terceiros, para as atividades da vida
cotidiana? RESPOSTA: Não.’ Em vista disso, a referida
pretensão não pode ser acolhida. Determinação
para que, cessando para um dos beneficiários
(Cláudia ou Jairo), o direito ao recebimento da
pensão, sua cota parte será acrescida em favor do
outro. Afastamento da correção monetária em
qualquer pensionamento fixado, na linha do Verbete
nº 490 do STF, considerando que a sentença fixou os
pensionamentos em salários-mínimos.
DESPROVIMENTO DOS RECURSOS DAS APELANTES RÉS E
PROVIMENTO PARCIAL DOS APELOS DOS
RECORRENTES AUTORES.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação


Cível nº 0158141-27.2014.8.19.0001, A C O R D A M os Desembargadores

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da VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


ESTADO DO RIO DE JANEIRO, em votação unânime, em NEGAR
PROVIMENTO aos recursos das apelantes rés e em DAR PARCIAL
PROVIMENTO aos apelos dos recorrentes autores, nos termos do voto do
Relator.

RELATÓRIO

1. Recursos de apelação interpostos por MITSUI SUMITOMO


SEGUROS S/A, MRS LOGÍSTICA S.A. (“MRS”), CLÁUDIA MARIA DOS SANTOS
e OUTROS contra a sentença prolatada nos seguintes termos:

“A causa se encontra madura para o julgamento,


existindo elementos suficientes para a prolação de
sentença definitiva de mérito.
Primeiramente, passa-se a tecer algumas considerações
acerca da responsabilidade civil das empresas de
transporte público, como a primeira ré.
Cumpre esclarecer, desde logo, que no contrato de
transporte o transportador assume uma obrigação de
garantia. É a chamada cláusula de incolumidade, ou
seja, a obrigação que o transportador tem de conduzir
o passageiro são e salvo até o lugar de destino, hoje
regulada pelos arts. 734 e seguintes do Código Civil.
De acordo com os dispositivos legais acima citados, a
responsabilidade civil do transportador é objetiva, ou seja,
independe de culpa, e só pode ser excluída por motivo
de força maior (fortuito externo), fato exclusivo do
passageiro ou fato doloso de terceiro.

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Também se aplicam ao caso dos autos o art. 37, § 6º, da


Constituição da República, que prevê a responsabilidade
objetiva das pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviço público, e o art. 14, caput e § 3º,
da Lei 8078/90, que dispõe sobre a responsabilidade
objetiva do fornecedor de serviços.
Convém frisar, ainda, que a relação estabelecida
entre as partes é de consumo, porquanto presentes os
requisitos subjetivos (arts. 2º, caput, e 3º, caput, da Lei nº
8.078/90) e objetivo (art. 3º, § 2º, da Lei n.º 8.078/90) que a
caracterizam.
Em que pese a desnecessidade da demonstração de
culpa, para que fique demonstrada a responsabilidade
do prestador de serviços para a obtenção dos danos
reclamados se faz necessária a demonstração da
ligação entre o fato e o resultado lesivo, cabendo tal
comprovação à parte autora.
Nas sempre oportunas lições do ilustre Professor,
Desembargador SERGIO CAVALIERI FILHO, pode haver
responsabilidade sem culpa, mas não pode haver
responsabilidade sem nexo causal, isto é, sem o
elemento referencial entre a conduta e o resultado.
Neste sentido decide a jurisprudência, in verbis:
DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. AUTORA QUE NÃO COMPROVA
MINIMAMENTE O FATO CONSTITUTIVO DE SEU DIREITO,
ÔNUS QUE LHE COMPETIA, NOS TERMOS DO ARTIGO 373,
INCISO I, DO CPC. O INSTITUTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA É MECANISMO REVOLUCIONÁRIO DE FACILITAÇÃO
DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO, MAS DE FORMA
ALGUMA IMPORTA EM SUBVERSÃO DAS REGRAS
ELEMENTARES DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA SUA CONDIÇÃO DE PASSAGEIRA

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EM SUPOSTO ACIDENTE DE ÔNIBUS, SENTENÇA QUE SE


MANTÉM. IMPROVIMENTO AO RECURSO. (Des. Antonio
Carlos Arrabida Paes, 23a CCC, julgamento 20/07/2016;
AC 0027482-87.2011.8.19.0209).
A segunda ré, por sua vez, empresa férrea, que construiu
o viaduto por sobre a linha férrea, para permitir a
passagem dos veículos pela região e, portanto,
considerando que a construção da via é um modo de
otimizar a própria prestação dos serviços ferroviários e
fomentar o serviço que presta, conforme indicado no
contrato à fl. 57, cite-se:
"(V) o interesse da MRS na expansão do serviço de
transporte férrero no Estado do Rio de Janeiro, inclusive
quando aos fluxos de carga com destino aos Portos do
Estado"
E, ainda, é concessionária de serviços públicos, a sua
responsabilidade também é subjetiva, inclusive em
relação aos usuários da rodovia, respondendo
independentemente da comprovação de culpa, nos
termos do artigo 37, §6º, da CRFB/88, salvo se
comprovada a existência de alguma causa excludente
de ilicitude.
Ultrapassando essas considerações, devem ser analisadas
as provas produzidas nos autos.
É incontroversa ocorrência do acidente de trânsito
narrado na inicial, bem como a condição de
passageira da primeira autora e o falecimento de sua
filha Lorraine.
Alega a primeira ré culpa exclusiva de terceiros, na
medida em que o acidente ocorreu em razão da
construção da via e, ainda, pela ausência de mureta de
proteção.

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A segunda ré, por sua vez, alega que o acidente correu


pela imprudência do motorista do ônibus, preposto da
primeira ré.
Com efeito, o laudo pericial produzido por Perito
Criminal Paulo Roberto Ferreira de Souza, concluiu
que o ônibus da primeira ré "trafegava em velocidade
superior à velocidade máxima permitida para o local,
sendo de ser considerado que o viaduto possuía
inclinação em sua rampa de acesso que dificultava ou
tornava impossível para determinados tipos de veículos
chegar até o seu platô e não havia sinalização alguma
limitando o acesso a determinados tipos de veículos" (fl.
83).

O referido laudo afirma, ainda, que "em análise


efetuada no local do fato, verificou-se a existência
de uma deformidade mascarada com colocação de
material de asfalto, na tentativa de amenizar o impacto
dos autos que trafeguem na direção Itaguaí-Rio Santos
sentido Rio Santos; estes, geralmente chegam a
impactar em alta velocidade por não encontrar
quaisquer redutor de velocidade que anteceda
o início da subida do viaduto; viaduto este,
construído completamente fora das normas de
especificações do DNIT (Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes/DER-RJ que recomenda
como uma das Normas de construções de viaduto
uma taxa máxima de inclinação(aclive) admissível de
até 3%; o que corresponde a uma taxa bem menor à
constatada nos exames do referido viaduto" (fl. 80).
Elucidou o perito também que "assim, quando
o Autor ônibus placa KNT-3603-RJ da Empresa
"Cidade de Itaguaí" atingiu o ponto de deformidade

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da pista, ocorreu um violento choque entre o


Sistema de Direção e a pista, produziu um
escalavro, danificando peças vitais do auto, tais
como braços da direção e eixos, que levaram
o auto a adquirir a chamada Velocidade de Salto
(quando o veículo em movimento não é mais
suportado pelo solo) por aproximadamente 3 (três)
metros, iniciando um arrastamento descontrolado
por 34(trinta e quatro) metros, transpondo o
meio fio e em seguida dando início a
derrubada de 18 (dezoito) metros de guarda-
copos, conservando ainda velocidade suficiente
para seguir em frente, não fosse a queda pela
lateral a direita do viaduto, considerando a direção
Itaguaí-Rio Santos sentido Rio Santos" (fl. 80).
Assim, verificada a ocorrência do evento danoso
e o nexo causal, bem como a ausência de
causa excludente de responsabilidade, passa-se a
analisar se há prova dos prejuízos que os autores sofreram
e, ainda, se houve configuração dos danos morais
alegados.
Quanto ao pedido de pensionamento, conforme
precedentes do Superior Tribunal de Justiça é devida
a pensão mensal aos pais pela morte do filho menor,
fixada em 2/3 do salário mínimo a partir da data em que
a vítima completaria 14 anos de idade e até a data em
que atingiria 65 anos de idade, reduzindo-se pela metade
(1/3 do salário mínimo) no dia em ela faria 25 anos.
Veja-se:
"RECURSOS ESPECIAIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. FALECIMENTO DE MENOR
IMPÚBERE VÍTIMA DE AFOGAMENTO EM PISCINA DE
CLUBE ASSOCIATIVO. CULPA IN VIGILANDO.

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RESPONSABILIDADE CONCORRENTE DOS PAIS. NÃO


OCORRÊNCIA. PENSIONAMENTO AOS PAIS. FIXAÇÃO
DO TERMO FINAL. DATA EM QUE A VÍTIMA
COMPLETARIA 65 ANOS DE IDADE, SOB PENA DE
JULGAMENTO ULTRA PETITA, ASSEGURADO O DIREITO DE
ACRESCER. RECURSO ESPECIAL DA RÉ DESPROVIDO E
PROVIDO PARCIALMENTE O DOS AUTORES. 1. Trata-se
de ação de indenização por danos materiais e morais
decorrentes do falecimento de menor impúbere, com 8
(oito) anos de idade, respectivamente, filho e irmão dos
autores, o qual, entre o término da aula na escolinha de
futebol e a chegada do responsável para buscá-lo,
dirigiu-se à área da piscina na companhia de seu irmão,
de 7 (sete) anos, vindo a se afogar. 2. Os autores
fundaram o pedido inicial de responsabilização da
associação recreativa nos arts. 159, 1.518, e 1.537, I e
II, do CC/1916, sob o enfoque da responsabilidade
subjetiva da ré em face da omissão de seus
prepostos como causa do fatídico acidente, razão
pela qual o julgamento do recurso deve ser realizado
sob esses parâmetros, sem a necessidade de
pronunciamento a respeito da incidência ou não das
normas consumeristas à hipótese, por se tratar de questão
que ainda enseja cizânia tanto no campo doutrinário
quanto jurisprudencial, dada a diversidade de
situações envolvendo clubes recreativos que, a
depender do caso concreto, poderá ou não atrair
sua aplicação. 3. Tratando-se de acidentes em piscinas,
poços, lagos e afins, em princípio, a responsabilidade de
quem explora esse tipo de atividade é presumida,
embora decorra da existência de conduta culposa, ou
seja, proveniente da responsabilidade subjetiva, a qual só
poderá ser elidida mediante a comprovação de alguma

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situação excludente prevista na lei, como motivo de força


maior, fato de terceiro ou fato exclusivo da vítima. 4.
No caso, conforme se depreende da moldura fática
delineada pelo Tribunal estadual - o que afasta a
incidência da Súmula 7/STJ -, não se verifica a presença
de nenhuma circunstância que possa afastar a
responsabilização da demandada pelo evento danoso
e, consequentemente, pelo dever de indenizar os
danos causados. 5. Diversamente, a partir do
momento em que a associação recreativa permitiu
que os pais deixassem os filhos menores impúberes na
portaria do clube para frequentar as aulas na escolinha
de futebol - o que inclusive se tornou corriqueiro -, aceitou
a incumbência de guarda sobre eles, surgindo, em
contrapartida, para ela o dever de zelar por sua
incolumidade física ou demonstrar que, se não o fez, foi
por algum motivo que escapou ao seu controle, a fim de
tornar evidente que não incorreu em falta de vigilância
ou não agiu com culpa. 6. A jurisprudência desta
Corte tem reconhecido o dever de indenizar em
decorrência de acidente em piscina, tendo por base
a negligência quanto à segurança ou, em certos casos, o
descumprimento do dever de informação (REsp n.
1.226.974/PR, Relator o Ministro João Otávio de
Noronha, Terceira Turma, De de 30/9/2014 e REsp n.
418.713/SP, Relator o Ministro Franciulli Netto, Segunda
Turma, DJ de 8/9/2003). 7. Na hipótese, não deve ser
acolhida a alegação de culpa concorrente dos pais, o
que importaria em redução do valor da indenização, haja
vista que, tendo havido a aceitação tácita por parte da
associação do dever de guarda dos filhos dos
autores, reside nesse fato o elemento ontológico da
responsabilidade, o qual se sobrepõe à eventual ausência

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dos pais no momento do trágico incidente, como causa


direta e imediata do dano. 8. Segundo precedentes deste
Tribunal, é devido o pensionamento aos pais, pela
morte de filho, nos casos de família de baixa renda,
equivalente a 2/3 do salário mínimo ou do valor de sua
remuneração, desde os 14 até os 25 anos de idade e, a
partir daí, reduzido para 1/3 até a data correspondente à
expectativa média de vida da vítima, segundo tabela do
IBGE na data do óbito ou até o falecimento dos
beneficiários, o que ocorrer primeiro. No caso, tendo os
recorrentes formulado pedido apenas para que o valor
seja pago até a data em que o filho completaria 65
(sessenta e cinco) anos, o recurso deve ser provido nesta
extensão, sob pena de julgamento ultra petita. 9.
Cessando para um dos beneficiários o direito ao
recebimento da pensão, sua cota-parte será acrescida,
proporcionalmente, em favor do outro. 10. Recurso
especial da ré desprovido e provido parcialmente o
dos autores". (REsp 1346320/SP, Relator Ministro Marco
Aurélio Bellizze, Terceira Turma, Julgado em 16/08/2016).
Os valores do pensionamento deverão ser calculados
com base no salário mínimo nacional vigente à época
de cada obrigação, não sendo devidos 13º salário e nem
férias, dada a ausência de vínculo empregatício.
No que tange ao dano material, consubstanciado no
pensionamento mensal devido à parte autora, verifica-se
através dos documentos de fl. 121/122 que a autora
exercia a função de cuidadora de idosos e percebia
remuneração de R$ 802,53, correspondente, na data
do acidente, a 1,10 salários mínimos.
Destaque-se que, na ocasião, o valor do salário mínimo
era de R$ 724,00.

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Nesta esteira, deverão as demandadas pagarem à


autora a título de pensionamento mensal vitalício o
valor correspondente a 1,10 salários mínimos, incluídos os
acréscimos de 13º salário e férias (Súmula 490 do STF).
Nesse diapasão a constituição de capital se faz
necessária, para efeito de se assegurar o cumprimento
das obrigações futuras, conforme disposto no Verbete
Sumular nº 313 do STJ: "Em ação de indenização,
procedente o pedido, é necessária a constituição de
capital ou caução fidejussória para a garantia de
pagamento da pensão, independentemente da situação
financeira do demandado."
No que tange ao pleito indenizatório por danos
materiais relativos a luto, auxílio funeral e
sepultamento, vislumbro que restou devidamente
comprovada a quantia de R$ 3.200,00 (fl.109).
No que concerne aos danos estéticos, o perito verificou
que a autora possui "Existente e de grau máximo ", de
modo que, considerando a idade da primeira autora
na data do acidente e o percentual de dano, considera-
se que o valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) é
suficiente a ressarcir tais danos.
Quanto ao pedido de danos materiais consubstanciados
nos gastos despendidos com médicos e medicamentos,
tem-se que há prova nos autos de
medicamentos pela autora às fls. 110/115.
Por outro lado, as despesas com tratamento, cirurgias,
internações não foram comprovadas. Ademais, os
documentos de fls.90/106 demonstram que a parte
autora vem realizando todo o tratamento na rede
pública de saúde.
Com relação aos danos morais, patente a sua ocorrência,
seja em razão de a primeira autora ter sido vítima do

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acidente, seja em razão de ter sofrido a perda de sua


filha que contava com 13 anos de idade, em razão do ato
ilícito cometido pelas rés.
A fixação do dano moral deverá levar em consideração
as especificidades de cada caso. Desse modo, no
arbitramento do quantum compensatório, observando-
se o princípio da razoabilidade
que determina que o valor deve guardar
proporcionalidade ao fato, redundando logicamente
deste, mas não deve, em contrapartida, constituir fonte de
lucro.
Analisando a dor moral suportada pela primeira autora e
sopesando, ainda, as circunstâncias do acidente, tenho
como satisfatória, a importância de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais) a título de danos morais,
com juros de mora de 1% ao mês a contar
da citação, por se tratar de responsabilidade
contratual, e correção monetária a contar do
arbitramento (Súmula 362, STJ).
Passa-se aos pedidos relativos ao segundo
autor, que perdeu sua filha e, ainda, teve uma
grave alteração de sua rotina em razão das lesões
ocorridas com a sua esposa.
Com efeito, a dor pela perda de uma filha
causa dano à personalidade, à dignidade da
pessoa, passível de ser indenizada. O dano moral, nessa
circunstância, ocorre in re ipsa. E, atendendo os critérios
da proporcionalidade e razoabilidade, a reparação
de seu dano moral deve ser quantificado no valor
de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Nesse caso, como não há como reconhecer a
relação contratual, o termo inicial dos juros é o
evento danoso, verbis:

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PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTENTE.
ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAÇÃO. ERRO MÉDICO. ESTADO
VEGETATIVO IRREVERSÍVEL. ÓBITO PRECOCE DA GENITORA.
DANO MORAL EM RICOCHETE. ARBITRAMENTO. SÚMULA
7/STJ. VALOR IRRISÓRIO. REVISÃO. POSSIBILIDADE.
JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. RESPONSABILIDADE
CONTRATUAL. DATA DA CITAÇÃO. (...) 5. A
responsabilidade civil por erro médico tem
natureza contratual, pois era dever da instituição
hospitalar e de seu corpo médico realizar o
procedimento cirúrgico dentro dos parâmetros
científicos. 6. Entretanto, nas hipóteses em que
ocorre o óbito da vítima e a compensação
por dano moral é reivindicada pelos
respectivos familiares, o liame entre os parentes e
o causador do dano possui natureza extracontratual, nos
termos do art. 927, do CC e da Súmula 54/STJ. Termo
inicial dos juros de mora, portanto, é a data do evento
danoso, ou seja, a data em que configurado o erro
médico causador do dano. (...) 8. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido. (REsp 1698812/RJ,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 13/03/2018, DJe 16/03/2018)
Em relação aos demais autores, irmãos da falecida e
filhos da primeira autora, entendo que deve ser
quantificado o valor de R$ 50.000,00, para cada um, a
título de danos morais.
Em relação ao chamamento ao processo da seguradora,
ressalto que prevalece na jurisprudência o entendimento
de que a mesma responde de forma direta e solidária
com a concessionária ré, desde que ressalvados os

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limites da apólice do contrato de seguro celebrado.


Assim, restando incontroverso nos autos a existência de
contrato de seguro de responsabilidade civil entre a Ré e
a seguradora, devem ambas ser condenadas a indenizar
os prejuízos causados aos Autores.
Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE a pretensão
autoral para condenar as rés, de forma solidária:
a) ao pagamento de pensão vitalícia em favor dos 1º e 2º
autores (Claudia e Jairo), ao equivalente a 2/3 do salário
mínimo a partir da data em que a vítima completaria 14
anos de idade e até a data em que atingiria 65 anos de
idade, reduzindo-se pela metade (1/3 do salário mínimo)
no dia em ela faria 25 anos. Quanto às parcelas vencidas,
devem ser acrescidas de juros de mora a contar da data
do sinistro, sendo certo que, como a pensão foi fixada no
valor do salário mínimo, não há que se falar em correção
monetária;
b) ao pagamento de pensão vitalícia em favor da 1ª
autora (Claudia) o valor correspondente a 1,10 salários
mínimos, incluídos os acréscimos de 13º salário e férias
(Súmula 490 do STF). Os valores vencidos deverão ser
corrigidos monetariamente a contar da data em que
deveriam ser pagos e acrescidos de juros de mora no
termo da citação;
c) ao pagamento em favor dos autores a quantia de R$
3.200,00, relativo aos gastos com funeral, corrigido
monetariamente a contar do desembolso, pelos índices
oficiais da CGJ/RJ, e acrescido de juros de mora de 1%
ao mês a partir da citação;
d) ao pagamento em favor dos autores a quantia de
R$ 181,61 referentes aos gastos com medicamentos,
corrigido monetariamente a contar do desembolso,

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pelos índices oficiais da CGJ/RJ, e acrescido de juros de


mora de 1% ao mês a partir da citação;
e) ao pagamento em favor da 1ª autora (Claudia) a
quantia de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) a título de
danos estéticos, corrigido monetariamente a contar da
publicação desta sentença, pelos índices oficiais da
CGJ/RJ, e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a
partir da citação;
f) ao pagamento do valor de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais) a título de dano moral, em
favor da 1ª autora (Claudia), corrigido
monetariamente a contar da publicação desta
sentença, pelos índices oficiais da CGJ/RJ, e acrescido de
juros de mora de 1% ao mês a partir da citação;
g) ao pagamento do valor de R$ 100.000,00 (cem
mil reais) a título de dano moral, em favor do
2º autor (Jairo), corrigido monetariamente a contar
da publicação desta sentença, pelos índices oficiais
da CGJ/RJ, e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a
contar do evento danoso;
h) ao pagamento do valor de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais) a título de dano moral, para
cada um, em favor do 3º e 4º autores (Raiane dos Santos e
Claudio Luiz), corrigido monetariamente a contar
da publicação desta sentença, pelos índices oficiais
da CGJ/RJ, e acrescido de juros de mora de 1% ao mês a
contar do evento danoso.
Determino que o nome dos beneficiários sejam incluídos
na folha de pagamento da ré, nos termos do artigo 533,
§2º, do CPC/15, para fins de pagamento do
pensionamento.
Deve ser observado que eventual valor recebido a
título de seguro obrigatório deverá ser descontado da

Fls.16
1554

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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indenização arbitrada, em consonância com a Súmula


246 do STJ.
Condeno as rés, solidariamente, nas custas e honorários
advocatícios de 10% sobre o valor da condenação.
Na forma do inciso I do art. 229-A da Consolidação
Normativa da Corregedoria-Geral de Justiça,
acrescentado pelo Provimento 20/2013, ficam as partes
cientes de que os autos serão remetidos à Central de
Arquivamento.
Certificado quanto ao trânsito em julgado, não havendo
requerimento das partes, dê-se baixa e arquivem-se,
encaminhando-se ao DIPEA. “.

2. Os apelantes CLÁUDIA MARIA DOS SANTOS, JAIRO SOARES


GOUDINHO, RAIANE DOS SANTOS GOUDINHO e CLÁUDIO LUIZ DOS
SANTOS DA LUZ pretendem o provimento do recurso para: a)
majoração dos danos morais decorrentes da morte da filha e irmã dos
autores, pugnando pela fixação de quinhentos salários-mínimos para
cada um dos autores, na forma da Jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça; b) fixação de danos morais para cada um dos autores em
mais de cem mil reais decorrentes das lesões acidentárias sofridas pela
autora Cláudia Maria dos Santos e a repercussão dessas lesões na vida
dos demais autores; c) requer também a majoração do valor fixado em
decorrência do dano estético sofrido pela autora Cláudia Maria para o
montante de duzentos mil reais; d) pretende à condenação das rés ao
pagamento de 19,2 salários-mínimos como valor necessário ao
pagamento da cirurgia imprescindível para a retirada de síntese
metálica do braço da autora Cláudia; e) busca, ainda, decisão sobre o

Fls.17
1555

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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pedido de tutela antecipada para que as rés depositem mensalmente,


desde a data do pedido, pensão, em razão da incapacidade total e
permanente da primeira autora, no equivalente a 1,18 salários-mínimos,
esclarecendo, nesta parte, que apesar do pedido de tutela formulado,
não ocorreu sua apreciação e o pensionamento só foi fixado na
sentença; f) provimento do apelo à condenação das rés de capital
garantidor do pensionamento fixado; g) condenação das rés ao
recolhimento do FGTS referente ao pensionamento devido a primeira
autora, com fundamento em sua incapacidade total e definitiva; h)
condenação das rés ao pagamento das despesas médicas realizadas e
comprovadas em folhas 769/795; i) condenação das rés ao custeio do
tratamento neurológico e ortopédico da autora Cláudia Maria dos
Santos, na forma dos documentos contidos em folhas 667/668; j)
condenação das rés ao custeio de acompanhamento da primeira
autora, diante de sua dificuldade de realizar tarefas domésticas, como
arrumar a cama, pentear o cabelo, passar roupa, preparar alimentos,
varrer a casa e etc., não se olvidando que o parecer de folhas 667/668
do assistente técnico indica a necessidade de acompanhante, assim
como os depoimentos de folhas 772/882. Nesta linha, requer a
condenação das rés ao custeio de quatro acompanhantes mensais
com três jornadas diárias de 8 horas e a folga semanal; l) requer que a
pensão concedida, com base na morte da menor, filha de Cláudia
Maria dos Santos e Jairo Soares Goudinho, reverta em sua cota parte
para um dos beneficiários caso cesse por qualquer motivo o benefício
para qualquer dos beneficiários; m) pleiteia a aplicação correta da

Fls.18
1556

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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Súmula n. 490 do STF, na medida em que o pensionamento fixado na


alínea “b” de folhas 1196, parte dispositiva da sentença, arbitra o
pensionamento em salários-mínimos, o que afasta a incidência de
correção monetária, na medida em que a própria correção do salário-
mínimo vai atualizando os valores do pensionamento; n) majoração dos
honorários de sucumbência no valor máximo, diante de 6 anos árduos e
ininterruptos no caso, sendo que atuaram em complexo caso, com
impugnação do Laudo, oitiva de testemunhas que caracterizam o zelo
do trabalho e a importância da causa.

3. Apelação de MITSUI SUMITOMO SEGUROS S/A, na qual


aduz, em síntese, a) que o caso não comporta análise sob a ótica da
responsabilidade objetiva, mas sim da responsabilidade subjetiva da
MRS; b) sustenta a desproporcionalidade da valoração das provas do
relatório final do inquérito policial, cuja valoração correta conduz à
conclusão que a responsabilidade do evento foi única e exclusiva do
motorista do ônibus e que, assim, a MRS deve responder sozinha pelos
danos ocorridos; c) aduz que os valores fixados a título de danos morais
são excessivos e devem ser reduzidos; d) quanto aos juros incidentes
sobre o pensionamento vencido, sustenta que devem incidir a partir de
cada parcela que deveria ser paga e não da data do evento; e)
argumenta que a autora Cláudia foi beneficiada indevidamente com
um duplo pensionamento, inclusive o segundo pensionamento não tem
limitação de idade final, sendo incabível a cumulação de
pensionamentos. Neste mesmo aspecto, sustenta que o limite máximo

Fls.19
1557

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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do pensionamento não poderia ultrapassar a idade de 70 anos do


beneficiário; f) argumenta que a verba honorária, referente ao
pensionamento, deverá ter como limite de incidências as parcelas
vencidas e o limite máximo de 12 parcelas vincendas.

4. Apelação de MRS LOGÍSTICA LTDA, na qual argumenta a)


culpa exclusiva da ré diante do péssimo estado de conservação do
veículo e da conduta imprudente do motorista; b) ausência de
responsabilidade da MRS, em razão de barreiras de segurança instalada
e o aceite das obras pela Municipalidade; c) inocorrência de
responsabilidade objetiva da MRS; d) inaplicabilidade do Código de
Defesa do Consumidor; e) danos morais e estéticos descabidos, pois os
fatos decorreram de fato exclusivo de terceiro; f) redução dos valores
de danos morais, diante de sua fixação excessiva; g) danos materiais e
pensionamentos descabidos, em razão da exclusão do nexo causal no
caso presente, por força de conduta exclusiva de terceiro; h)
desnecessidade de acompanhante para autora Cláudia Maria, por
força do que dito pelo perito em folha 640; i) desnecessidade de
constituição de capital garantidor, bastando a inclusão dos
beneficiários em folha de pagamento, quando se trata de pessoa
jurídica de notória capacidade econômica.

5. Contrarrazões de apelação de MITSUI SUMITOMO


SEGUROS S.A. em fls. 1436/1445, sustentando: a) a inexistência de
elementos capazes de ensejar a majoração dos danos morais, sem que

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1558

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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se possa olvidar que o fato ocorreu por culpa exclusiva de terceiros,


pela conduta negligente e imprudente do preposto da empresa Viação
Itaguaí; b) quanto ao dano estético, também aqui o nexo causal foi
quebrado por se tratar de fato de terceiro e, para além disso, o Laudo
Pericial indica que as lesões estão estabilizadas e que não há
necessidade de uso ou complemento de qualquer procedimento, o que
permite a conclusão de que o valor fixado a título de dano estético é
exorbitante; c) argumenta pela desnecessidade de capital garantidor
sendo bastante a inclusão em folha de pagamento; d) por fim, sustenta
que o montante de 10% fixados a título de honorários já atende
plenamente ao esforço exercido pelos patronos dos autores, não
existindo motivo para majoração.

6. Contrarrazões de apelação de MRS LOGÍSTICA S.A.


(“MRS”) em folhas 1447/1452, sustentando: a) o não cabimento de
condenação em danos morais e estéticos, diante da culpa exclusiva da
viação Itaguaí; b) desnecessidade de capital garantidor bastando a
inclusão em folha de pagamento.

7. Contrarrazões de apelação dos autores CLÁUDIA MARIA


DOS SANTOS, JAIRO SOARES GOUDINHO, RAIANE DOS SANTOS
GOUDINHO e CLÁUDIO LUIZ DOS SANTOS DA LUZ, sustentando: a) a
reponsabilidade objetiva da MRS, de acordo com o artigo 37, § 6º, da
CRFB, na medida em que a MRS explora transporte público federal de
carga na malha do Sudeste, sendo que sua área de atuação

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1559

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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compreende o Município de Itaguaí, tendo celebrado com o referido


Município o convênio de cooperação (fls. 58/63), por meio do qual se
obrigou a construir, dentre outras obras, o viaduto onde ocorreram os
fatos narrados na inicial (fls. 56/61). Neste aspecto, afirma que o viaduto
a cargo da MRS foi construído por seu próprio interesse, pois teve como
objetivo uma ampliação e desenvolvimento de transporte ferroviário de
carga, pelo que, incidem os artigos 37, § 6º, da CRFB e 927, p. único, do
CC; b) quanto ao dano moral e estético, pugna por sua majoração, nos
termos como indica como corretos; c) sustenta a manutenção do
pensionamento vitalício fixado em favor da primeira autora; d) defende
a manutenção da sentença na parte que determinou a constituição de
capital garantidor; e) quanto aos juros de mora, defende que estes
devem ter fluência desde a citação e que a sentença, neste aspecto, é
irretocável; f) argumenta que a causa de cada um dos pensionamentos
da autora Cláudia é distinta e que o pensionamento vitalício decorre da
incapacidade permanente; g) sustenta a necessidade de majoração
dos honorários, em razão da complexidade da causa.

8. É o relatório. Passo a decidir.

VOTO

9. A questão é regida pela responsabilidade objetiva, em


conformidade com o disposto no artigo 37, parágrafo sexto, da
Constituição Federal e artigo 927, parágrafo único, do Código Civil:

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1560

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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Art. 37. A administração pública direta, indireta


ou fundacional, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e, também, ao seguinte:
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as
de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e


187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem

10. No caso da concessionária de transporte público CIDADE


DE ITAGUAI TRANSPORTE RODOVIÁRIO LTDA, não há necessidade de
maiores esclarecimentos quanto à responsabilidade objetiva incidente
na hipótese, vez que a regra do artigo 734 do CC traz a cláusula de
incolumidade que conduz à obrigação do transportador em conduzir o
passageiro são e salvo ao local de destino:

Art. 734. O transportador responde pelos


danos causados às pessoas transportadas e

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1561

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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suas bagagens, salvo motivo de força maior,


sendo nula qualquer cláusula excludente da
responsabilidade.

11. Para além disso, é irrefutável aqui que a relação


estabelecida entre as partes é de consumo, diante da presença dos
requisitos subjetivos e objetivos que a caracterizam, na forma dos artigos
2º, caput e 3º, caput e parágrafo segundo, da Lei nº 8.078/90:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica


que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a


coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações
de consumo.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,


pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel,


material ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no


mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.

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1562

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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12. Nesta linha, também incide o disposto no artigo 14, caput


e parágrafo terceiro, da Lei 8078/90, verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.

(...)

§ 3° O fornecedor de serviços só não será


responsabilizado quando provar:”

13. Quanto às rés MRS LOGISTICA S/A e a MITSUI SUMITOMO


SEGUROS S/A, a qual ingressou no feito através de chamamento ao
processo, em razão de contrato de seguro com cobertura acessória de
responsabilidade civil firmada com a MRS S/A, importa destacar que a
MRS é concessionária de serviços públicos de transporte férreo no Estado
do Rio de Janeiro, com fluxos de carga com destino aos portos do
estado, tendo sido a empresa que construiu o viaduto sobre a linha
férrea, justamente para permitir a passagem dos veículos pela região e
com objetivo de otimizar a prestação dos serviços ferroviários e fomentar
sua atividade.

14. Neste sentido, vale a transcrição do documento de folhas


58/63, consistente no convênio de cooperação firmado entre a MRS e o

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1563

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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Município de Itaguaí, por meio do qual a MRS se obrigou a construir,


dentre outras obras, o viaduto no qual ocorreu o acidente ensejador do
pedido de reparação de danos deste processo.

15. Mais especificamente sobre a criação do viaduto,


transcrevemos trechos do convênio de cooperação:

“1.2. Compreende este Convênio as seguintes


obras, que deverão ser custeadas pela MRS:
a) Pavimentação asfáltica de 4.000m (quatro mil
metros) lineares no ano de 2006, que serão
aplicados em local que as partes escolherão de
comum acordo, entre os quais poderão ser
incluídos os acessos à Estação de Brisamar;
b) Construção de um viaduto sobre a
linha férrea no trecho situado na avenida
Isoldakson Cruz de Brito, na localidade
denominada Rio Cação, no cruzamento com a
RJ-099; e
c) Ampliação e revitalização da ponte contígua
ao viaduto que será construído, referido na
alínea anterior 1.3. As obras acima
mencionadas serão realizadas pela MRS ou pela
empresa que vier a ser por ela contratada...”
Trechos extraídos do Convênio de Cooperação,
fls. 56/61 – grifamos -

16. Também merece transcrição parcial o item V deste


convênio de cooperação que consta de folha 57, verbis:

“(V) O INTERESSE DA MRS NA EXPANSÃO DE


SERVIÇO DE TRANSPORTE FÉRREO DO ESTADO DO

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1564

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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RIO DE JANEIRO, INCLUSIVE QUANTO AOS


FLUXOS DE CARGA COM DESTINO AOS PORTOS
DO ESTADO”.

17. No ponto fundamental, o teor do Laudo Pericial produzido


pelo perito criminal Paulo Roberto Ferreira de Souza, transcrevendo-se
aqui trecho elucidativo concluindo que o ônibus da empresa Cidade de
Itaguaí Transporte Rodoviário Ltda:

"... trafegava em velocidade superior à


velocidade máxima permitida para o
local, sendo de ser considerado que o
viaduto possuía inclinação em sua rampa de
acesso que dificultava ou tornava impossível
para determinados tipos de veículos chegar
até o seu platô e não havia
sinalização alguma limitando o acesso
a determinados tipos de veículos ... "em
análise efetuada no local do fato,
verificou-se a existência de uma deformidade
mascarada com colocação de material de
asfalto, na tentativa de amenizar o impacto dos
autos que trafeguem na direção Itaguaí-Rio
Santos sentido Rio Santos; estes, geralmente
chegam a impactar em alta
velocidade por não encontrar quaisquer
redutor de velocidade que anteceda o
início da subida do viaduto; viaduto este,
construído completamente fora das normas de
especificações do DNIT (Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes/DER-
RJ que recomenda como uma das Normas
de construções de viaduto uma taxa

Fls.27
1565

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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máxima de inclinação(aclive) admissível de


até 3%; o que corresponde a uma taxa bem
menor à constatada nos exames do referido
viaduto ... assim, quando o Autor ônibus
placa KNT-3603-RJ da Empresa "Cidade de
Itaguaí" atingiu o ponto de deformidade da
pista, ocorreu um violento choque entre
o Sistema de Direção e a pista,
produziu um escalavro, danificando peças
vitais do auto, tais como braços da
direção e eixos, que levaram o auto
a adquirir a chamada Velocidade de Salto
(quando o veículo em movimento não é
mais suportado pelo solo) por
aproximadamente 3 (três) metros,
iniciando um arrastamento descontrolado
por 34(trinta e quatro) metros,
transpondo o meio fio e em seguida
dando início a derrubada de 18
(dezoito) metros de guarda-copos,
conservando ainda velocidade suficiente
para seguir em frente, não fosse a
queda pela lateral a direita do viaduto,
considerando a direção Itaguaí-Rio Santos
sentido Rio Santos.”

18. Deste modo, irrefutável a responsabilidade objetiva das


rés e esta premissa permite a análise dos demais aspectos trazidos nos
recursos de apelação e afasta a tese trazida no recurso de apelação de
MRS LOGISTICA S/A no sentido de culpa exclusiva da viação corré.

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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19. Neste ponto, aliás, é completamente irrelevante o aceite


da obra pela Municipalidade, vez que a responsabilidade pela má
construção do viaduto é da MRS LOGISTICA S/A.

20. Do mesmo modo, a alegação contida em folha 1341


interposta por MITSUI SUMITOMO SEGUROS S/A não socorre sua
pretensão, pois o agir imprudente do motorista do veículo não afasta a
responsabilidade, também objetiva, da MRS LOGISTICA AS, apontada
pelo perito no trecho acima e indicativo de construção absolutamente
defeituosa e que concorreu eficazmente para o evento danoso.

21. Assim, passamos a analisar o pleito de majoração da


verba por danos morais decorrentes da morte de Lorraine dos Santos
Goudinho, filha de Cláudia Maria dos Santos e Jairo Soares Goudinho e
irmã dos autores Raiane dos Santos Goudinho e Cláudio Luiz dos Santos
da Luz.

22. Considerada a responsabilidade objetiva, a inexistência


de culpa exclusiva da vítima, sua condição de passageira, seu
falecimento como decorrência do acidente, a inocorrência de fortuito
externo ou fato doloso de terceiro, tem-se como consequência a
obrigação das rés de solidariamente repararem o dano moral
decorrente da morte de Lorraine.

Fls.29
1567

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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23. A questão aqui diz respeito ao montante de dano moral a


ser fixado, sendo certo que nos parece absolutamente razoável e
consentâneo com a jurisprudência o valor de dano moral a ser fixado
em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) em favor da mãe da vítima, autora
Cláudia Maria dos Santos.

24. Contudo, não nos parece minimamente razoável a


fixação a menor de danos morais pela mesma morte aos demais
parentes próximos, como é o caso do pai Jairo e dos irmãos, também
autores, Raiane e Cláudio.

25. Neste sentido, a jurisprudência mais recente do Superior


Tribunal de Justiça no balizamento de que a indenização por danos
morais decorrente de morte deve ser fixada de maneira individual e
idêntica para cada um dos parentes próximos.

26. A propósito:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. RESPONSABILIDADE


CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO EM RODOVIA
FEDERAL. DANOS MORAIS E MATERIAIS.
INDENIZAÇÃO.
1. Reconhecida na instância de origem a
conduta negligente da recorrente, com base no
conjunto probatório, impossível revisá-la, sob
pena de não observância do enunciado da
Súmula nº 07/STJ.

Fls.30
1568

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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2. Afastada a exorbitância na fixação dos danos


morais, pois sopesado o grau de culpa da União
no evento danoso, a gravidade do acidente,
envolvendo a morte de duas pessoas, e o
sofrimento decorrente aos familiares das vítimas,
inclusive menores de idade, inviável a
intervenção desta Corte Superior para o fim de
alterar o valor arbitrado na origem.
3. Recurso especial conhecido e desprovido.
(REsp 1179717/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, julgado em 04/03/2010, DJe
18/03/2010)

27. Por conseguinte, o caso é de fixação de reparação por


danos morais decorrentes da morte de Lorraine no valor de R$ 300.000,00
reais (trezentos mil reais) para cada um dos quatro autores, sendo certo
que o Superior Tribunal de Justiça trabalha com um teto de até 500
(quinhentos) salários-mínimos a título de reparação por danos morais
decorrente de morte de filho ou parente próximo.

28. Neste sentido:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. MORTE DA VÍTIMA EFETUADA POR
DISPARO DE ARMA DE VIGIA. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO EMPREGADOR PELOS ATOS
DANOSOS CAUSADOS A TERCEIROS POR SEUS
EMPREGADOS. DANOS MORAIS. VALOR. REVISÃO
POR ESTA CORTE. REEXAME DO SUPORTE FÁTICO-
PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 7/STJ.

Fls.31
1569

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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1. Na espécie, o Tribunal a quo, na análise


soberana das provas, entendeu ter a recorrente
a responsabilidade solidária para a reparação
do dano, ante a conduta desenvolvida na
hipótese sob exame. Dessa forma, têm-se que a
lide foi resolvida em decorrência do exame das
circunstâncias fático-probatórias, e assim, um
eventual acolhimento da pretensão da
recorrente, de modo a afastar a sua
responsabilidade e reconhecer a culpa
exclusiva da empreiteira, pressupõe,
necessariamente, o reexame dos fatos e provas
da lide, atividade vedada nesta instância
especial em virtude do óbice contido na Súmula
7/STJ.
2. Nos termos da jurisprudência consolidada
nesta Corte, a revisão de indenização por danos
morais só é possível em recurso especial
quando o valor fixado nas instâncias locais for
exorbitante ou ínfimo, de modo a afrontar os
princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. Ausentes tais hipóteses,
incide a Súmula 7/STJ, a impedir o
conhecimento do recurso.
3. A indenização por dano moral decorrente de
morte aos familiares da vítima é admitida por
esta Corte, geralmente, até o montante
equivalente a 500 (quinhentos) salários mínimos.
Precedentes.(AgRg no REsp 976.872/PE, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA,
julgado em 14/02/2012, DJe 28/02/2012) 4.
Agravo regimental não provido, com aplicação
de multa.
(AgRg no AREsp 199.076/CE, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
03/06/2014, DJe 12/06/2014)

Fls.32
1570

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

_______________________________________________________________________

29. Dando continuidade, e já agora, quanto ao valor dos


danos morais a que faz jus a autora Cláudia Maria dos Santos,
decorrentes das lesões acidentárias caracterizadas por fratura exposta
de úmero direito, fratura da bacia pélvica e fratura de fêmur direito e
esquerdo, lesões estas decorrentes do acidente ocorrido como coletivo,
além de registrar o sofrimento e dor incomensurável decorrentes dessas
lesões acidentárias, importa estabelecer montante autônomo de danos
morais diante da autonomia de sua causa.

30. Fixo aqui os danos morais decorrentes dessas gravíssimas


lesões acidentárias em R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) em favor da
autora Cláudia Maria dos Santos, considerando precedentes desta Corte
de Justiça.

31. A propósito:

“0024038-84.2008.8.19.0004 - APELAÇÃO
Des(a). ANDREA FORTUNA TEIXEIRA -
Julgamento: 29/07/2020 - VIGÉSIMA QUARTA
CÂMARA CÍVEL

“APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO DO CONSUMIDOR.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS
E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. OBJETOS
METÁLICOS NA PISTA. CONCESSIONÁRIA DE
SERVIÇO PÚBLICO DE EXPLORAÇÃO DE RODOVIA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. É OBJETIVA A

Fls.33
1571

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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RESPONSABILIDADE DAS CONCESSIONÁRIAS OU


PERMISSIONÁRIAS DE SERVIÇO PÚBLICO
POR DANOS CAUSADOS A TERCEIROS. A RELAÇÃO
HAVIDA ENTRE A CONCESSIONÁRIA QUE
ADMINISTRA RODOVIA E SEUS USUÁRIOS INSERE-SE
NO ÂMBITO DE INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. A CONCESSIONÁRIA
RESPONDE POR DANOS SOFRIDOS PELO USUÁRIO
DA RODOVIA, NA EXTENSÃO EM QUE
COMPROVADOS, QUANDO CAUSADOS PELA
PRESENÇA DE ANIMAL OU OBJETOS NA PISTA DE
ROLAMENTO. VEÍCULO EM QUE SE ENCONTRAVA A
AUTORA QUE COLIDIU COM PEÇAS METÁLICAS DE
GRANDE PORTE NA RODOVIA, PERTENCENTES A UM
CAMINHÃO, O QUE LEVOU O AUTOMÓVEL A
PERDER O CONTROLE, VINDO A CAIR EM UMA
RIBANCEIRA, CAUSANDO LESÕES GRAVÍSSIMAS NA
AUTORA E A MORTE DO COMPANHEIRO
DESTA. DANOS MATERIAIS REFERENTES ÀS DESPESAS
MÉDICASCOMPROVADOS. DANOS MORAIS CON-
SUBSTANCIADOS. QUANTUM DEBEATUR FIXADO EM
R$ 60.000,00 (SESSENTA MIL REAIS). MANUTENÇÃO.
PERÍCIA MÉDICA CONCLUSIVA QUANTO À
EXISTÊNCIA DE LESÕES DO TIPO PARCIAL E
PERMANENTE NA AUTORA, A QUE O PERITO ESTIMA
PERCENTUAL DE 15%. NESTE PASSO, A TÍTULO DE
PENSÃO VITALÍCIA MENSAL, EM RAZÃO DA
INCAPACIDADE PARCIAL E DEFINITIVA DA AUTORA,
O VALOR A SER ARBITRADO DEVER SER
EQUIVALENTE A 15% DO SALÁRIO MÍNIMO,
DEVENDO A SENTENÇA SER REFORMADA NESSE
ASPECTO. REEMBOLSO DAS DESPESAS DA RÉ PELA
SEGURADORA ATÉ O LIMITE DA APÓLICE,
CONFORME CONTRATO DE SEGURO. PARCIAL
PROVIMENTO DO RECURSO DA RÉ. DESPROVIMENTO
DOS DEMAIS RECURSOS.”

Fls.34
1572

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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32. Contudo, não merece acolhida a pretensão dos


apelantes autores no sentido da extensão do dano moral decorrente das
lesões acidentárias para os autores Jairo e seus filhos Cláudio e Raiane,
vez que a prova testemunhal invocada, especificamente o depoimento
de Ana Lúcia (folhas 879/881), embora demonstre o sofrimento
exacerbado da autora Cláudia Maria dos Santos, em razão destas
lesões acidentárias, não permite conclusão para além de dúvida
razoável no que diz respeito ao sofrimento e dor dos demais autores, em
razão dessas lesões, pois os depoimentos de Ana Lúcia, Francisco Carlos
e Carlos Alberto demonstram e fazem referência à dor sofrida pelos
familiares decorrente do acidente no aspecto da morte da jovenzinha
Lorraine de 13 anos de idade.

33. Seguindo adiante, e já agora quanto à reparação


decorrente do dano estético, importa referência ao teor do artigo 944,
do Código Civil:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão


do dano.

34. O Laudo Pericial, neste aspecto, especificamente em


folhas 637 e 638, além de especificar, conclui pelo dano estético em
grau máximo, e indica a ocorrência de “Imobilidade do membro
superior direito e em posição viciosa; Protusão do 1/3 inferior do úmero
direito e Encurtamento do membro inferior direito, de 20 mm.”, o que

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1573

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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enseja, na linha da Jurisprudência consolidada dessa Corte, a fixação


de danos morais que atendam ao aspecto compensatório e punitivo-
pedagógico, pelo que, majoro os danos morais decorrentes do dano
estético para o montante de R$ 175.000,00 (cento e setenta e cinco mil
reais).

35. Neste sentido:

0178854-81.2018.8.19.0001 - APELAÇÃO

Des(a). SIRLEY ABREU BIONDI - Julgamento:


29/06/2020 - DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

Ação Indenizatória em decorrência de erro


médico. Autora internada para nascimento de
seu filho. Sentença de procedência. Nexo de
causalidade reconhecido em laudo pericial
conclusivo. Apelo do Município, arguindo a
nulidade da sentença e pugnando pela
improcedência do pedido, ou redução do valor
da indenização. Preliminar de nulidade
afastada. Inexistência de alteração da causa
de pedir. Causa de pedir que consiste no erro
médico praticado no parto, sendo certo que as
consequências deste erro foram agravadas no
pós-parto no mesmo Hospital, tudo conforme
esclarecido pelo expert do Juízo. Também não
subsiste a tese de violação ao contraditório,
uma vez que todas as questões foram
respondidas nos laudos inicial e complementar.
Responsabilidade civil objetiva do Estado, a teor
do disposto no art. 37, §6º da CRFB/1988,
fundada na teoria do risco administrativo.

Fls.36
1574

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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Indubitável é que restou demonstrado nos autos,


através da farta prova documental produzida
pelos autores, ter havido o evento danoso, bem
como o nexo causal, consistente nas
complicações decorrentes do parto realizado
no Hospital do Município, onde houve demora
na condução do trabalho de parto e na
identificação da lesão causada ao neonato.
Conforme laudo pericial, há sequela de lesão
de plexo braquial Direito em decorrência de
complicação perinatal, restando ainda lesão
estética grave na menor, tanto pela lesão em si,
como pelas cicatrizes em áreas expostas. Dever
reparatório por dano moral e dano estético,
fixado em R$ 175.000,00 para a criança e R$
50.000,00 para cada um dos pais. Quantum
indenizatório que se mostra razoável e levou em
consideração a natureza e extensão do dano, o
caráter punitivo e preventivo que deve nortear a
fixação do valor, bem assim as condições
sociais e econômicas das partes. Valor que não
desafia reforma. Em relação ao valor da
indenização por dano moral e dano estético,
cumpre aqui citar as palavras do eminente
Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, por ocasião
do julgamento do RESp Nº 1.354.384 ¿ MT, em
18/12/2014, 3ª Turma: ¿pode-se estimar que,
para esta Corte Superior, um montante razoável
para a indenização por dano moral, nas
hipóteses de morte da vítima, situa-se na faixa
entre 300 e 500 salários mínimos¿. Lembramos
que o caso dos autos não trata de morte literal,
mas a gravidade da situação não destoa desse
sentimento de perda de uma vida saudável em
função das más escolhas do agente estatal.
Precedentes. Sentença que se mantém. Taxa
judiciária que é devida pelo Município, sendo

Fls.37
1575

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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determinado o seu recolhimento, ex officio, em


se tratando de matéria de ordem pública.
Honorários recursais incidentes à espécie, na
forma do art. 85, §§1º e 11 do CPC/2015.
DESPROVIMENTO DO RECURSO.

36. Seguindo adiante, nos deparamos com pretensão


formulada na apelação dos autores no sentido de que as rés custeiem
cirurgia para retirada de síntese metálica.

37. Neste sentido, apesar de pedido expresso na inicial, a


respeitável sentença registrou que “as despesas com tratamento,
cirurgias, internações não foram comprovadas. Ademais, os
documentos de folhas 90/106 demonstram que a parte autora vem
realizando todo tratamento na rede pública de saúde”.

38. Ora, o que pediu a autora Cláudia Maria foi o custeio de


cirurgia expressamente indicada como necessária pelo ortopedista que
funcionou como assistente técnico e indicou a necessidade de cirurgia
para retirada de síntese metálica.

39. Neste aspecto, deixou a sentença de apreciar pedido da


autora, e vale destacar que o Laudo do perito judicial sobre a
realização desta cirurgia registrou que “a decisão é do médico da
autora e não de peritos”.

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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40. Dos autos consta parecer do ortopedista (fls. 667/668),


assistente técnico da autora, apontando a necessidade da cirurgia e
seu custo total de 19,2 salários-mínimos.

41. Observo que a necessidade da cirurgia foi apontada a


longa data pelo advogado das autoras quando formulou pedido de
tutela antecipada para o custeio dessa cirurgia (fls. 1160/1168).

42. Não socorre o argumento contido na sentença de que a


autora vem realizando os procedimentos necessários na rede pública,
pois é notório e, como tal, dispensa prova, a mais absoluta dificuldade
de realização de procedimentos cirúrgicos na rede pública.

43. No mais, a obrigação de reparar o dano é do causador


que não pode transferi-la para o Estado, pelo que, merece acolhida tal
pedido formulado na inicial e não acolhido na sentença.

44. Mais à frente, se vê na apelação das autoras pedido de


tutela antecipada quanto ao pensionamento concedido a autora
Cláudia Maria, vez que sem apreciação da tutela antecipada foi
prolatada a sentença que reconheceu o direito à pensão pleiteada,
tendo sido opostos embargos de declaração para sanar tal omissão,
porém, desprovidos estes.

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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45. Neste ponto, registro que a respeitável sentença fixou em


favor de Cláudia Maria pensão vitalícia correspondente a 1,10 salários-
mínimos mensais, incluídos os acréscimos de décimo terceiro e férias,
porém, o fez somente na sentença e, de fato, deixou de apreciar
pedido de tutela, além de não ter feito referência, conforme pedido
expresso ao devido e necessário recolhimento do FGTS.

46. Contudo, no corpo deste voto, expressamente neste


ponto, se reconhece a correção da sentença quanto à fixação da
pensão mensal nos moldes arbitrados com a única corrigenda do
necessário recolhimento do FGTS e também da melhor exegese do teor
da Súmula 470 do STF, a fim de concluir pela inocorrência da correção
monetária já que o pensionamento é fixado em salários-mínimos, de
modo que a correção dos valores se dá com atualização do salário-
mínimo.

47. Desta forma, não é caso de decidir em julgamento de


apelação sobre deferimento de pedido de tutela antecipada dada a
natural exequibilidade do Acórdão.

48. Mais adiante, diversamente do que posto, não há


omissão na sentença de constituir capital garantidor do pagamento das
duas pensões fixadas, pois, nos embargos de declaração julgados em
folhas 1314/1315, a sentença foi complementada no sentido de

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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condenar as rés a constituir fundo de capital garantidor, na linha da


Súmula 313 do STJ:

Súmula 313 - Em ação de indenização,


procedente o pedido, é necessária a
constituição de capital ou caução fidejussória
para a garantia de pagamento da pensão,
independentemente da situação financeira do
demandado.

49. Por conseguinte, por razão lógica, está-se aqui a negar


provimento aos apelos MRS e MUTSUI que pretendiam a substituição da
constituição por fundo garantidor por inclusão na folha de pagamento
das empresas.

50. Já agora, quanto ao pedido contido na apelação dos


autores de reembolso das despesas médicas, em verdade, a sentença
foi omissa e, apesar de manejados os embargos de declaração, persistiu
a omissão.

51. Todavia, a prova dos autos é irrefutável quanto às


despesas médicas ocorridas, como se vê na documentação detalhada
de folhas 669/745, nas quais as notas contêm o nome da autora, a data,
produto ou serviço adquirido, sendo caso de condenação solidária das
rés ao reembolso integral das despesas médicas documentadas em
folhas 669/745.

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1579

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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52. De idêntica forma, o documento de folhas 667/668 indica


a necessidade de medicamento de uso contínuo, por indicação
médica, o que também deve ser arcado solidariamente pelas rés, as
quais deverão custear uma consulta com médico ortopedista a cada
trimestre, a um valor de meio-salário mínimo por consulta, perfazendo
dois salários-mínimos anuais por tempo indeterminado, além de uma
consulta com neurologista a cada trimestre no valor de meio salário
mínimo cada, perfazendo um total de dois salários mínimos anuais, por
tempo indeterminado, bem como o custeio dos medicamentos
prescritos pelo neurologista (ESCITALOPRAM 10 mg; CLOXAZOLAM 2mg;
AMITRYPTILLINA 25 mg; CLONAZEPAN 2mg), a um valor médio de meio
salário-mínimo mensal, por período indeterminado.

53. Já agora, quanto ao pedido de custeio pelas rés de


acompanhante para a autora, também aqui a sentença foi omissa e
omissa permaneceu ao julgar os embargos de declaração interpostos.

54. Neste aspecto, relevante o parecer técnico de folhas


667/668 da lavra do ortopedista Celso Garcia, o qual expressamente
apontou a necessidade de acompanhante.

55. Destaca a apelação dos autores que os depoimentos


colhidos em folhas 779/882, de 4 (quatro) testemunhas inquiridas em juízo
e ouvidas após mais de 4 (quatro) anos do evento danoso, indicam a
incapacidade da autora Cláudia Maria para realizar condutas básicas

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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do dia a dia, como pentear o cabelo, se deslocar para consultas


médicas a que repetidamente tem que comparecer e para todos os
demais atos da vida.

56. Contudo, o Laudo Pericial é incontroverso sobre o tema e


dele consta o seguinte:

14 – Necessita a periciada a assistência


permanente de terceiros, para as atividades da
vida cotidiana?
RESPOSTA: Não.

57. Por tal motivo, tal pedido não pode ser acolhido.

58. Já agora, destaco que merece acolhida pedido contido


na apelação dos autores, cessando para um dos beneficiários o direito à
pensão sua cota parte será acrescida em favor do outro, e isto, por
óbvio diz respeito ao pensionamento fixado sob alínea a da parte
dispositiva da sentença em folha 1195, quando da condenação das rés
ao pagamento de pensão vitalícia em favor do primeiro e segundo
autores, ou seja, Cláudia e Jairo no equivalente a 2/3 (dois terços) do
salário-mínimo a partir da data em que a vítima completaria 14 anos de
idade e até data em que atingiria 65 anos de idade, reduzindo-se pela
metade (1/2) no dia em que faria 25 anos.

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59. Neste sentido a jurisprudência do eg. STJ (REsp


1346320/SP).

60. Dando continuidade, não merece acolhida a busca de


alteração do termo a quo de incidência dos juros no caso dos
pensionamentos fixados nas linhas a e b da parte dispositiva, vez que,
em caso de responsabilidade extracontratual, os juros moratórios devem
incidir do evento danoso, a teor da Súmula 54 do Superior Tribunal de
Justiça.

61. Neste sentido o seguinte Acórdão:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


ACIDENTE DE TRABALHO. 1. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
QUESTÕES DEVIDAMENTE Tá ANALISADAS PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. 2. PENSIONAMENTO.
ALEGAÇÃO DE QUE O ACÓRDÃO TERIA
INCORRIDO EM JULGAMENTO ULTRA PETITA.
CONDENAÇÃO EM OBSERVÂNCIA AO
MONTANTE INDICADO NA PETIÇÃO INICIAL.
INSUBSISTÊNCIA. 3. DANOS MORAIS. JUROS DE
MORA. TERMO INICIAL. EVENTO DANOSO.
SÚMULA 54/STJ. 4. RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO. 1. Cinge-se a controvérsia a definir
a adequação da tutela jurisdicional prestada,
consubstanciada nas alegações de omissão no
acórdão recorrido e de que o Tribunal de
origem teria incorrido em julgamento ultra
petita, sob o argumento de que exarado
provimento condenatório em montante superior
ao efetivamente postulado pela parte no

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1582

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VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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recurso de apelação. Discute-se, ainda, sobre o


termo inicial dos juros de mora em relação aos
danos morais. 2. Afasta-se a apontada negativa
de prestação jurisdicional, pois o Tribunal
estadual analisou todas as questões suficientes
ao deslinde da controvérsia, não havendo falar
em violação ao art. 535, inciso II, do CPC/1973.
3. O efeito devolutivo do recurso de apelação
devolve ao órgão julgador a ampla atividade
cognitiva sobre as questões impugnadas no
apelo, respeitada a causa de pedir deduzida na
petição inicial. 3.1. Dessa forma, a condenação
imposta pela Corte local, a título de
pensionamento mensal, no montante apontado
pela autora/apelante na inicial, não configura
julgamento ultra petita. 4. Nos termos da
jurisprudência desta Corte, nos casos de
reparação por danos morais em
responsabilidade extracontratual, os juros de
mora devem incidir a partir do evento danoso
(Súmula n. 54/STJ). 5. Recurso especial
desprovido. (REsp 1377130/RS, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 04/05/2021, DJe 10/05/2021)

62. Pelo exposto, oriento o voto no sentido de PROVER


PARCIALMENTE O RECURSO DOS APELANTES-AUTORES a fim de condenar
solidariamente as rés:

A) ao pagamento de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) a


cada um dos autores, a título de danos morais, decorrentes da morte de
Lorraine, corrigido monetariamente a contar da publicação do Acórdão
pelos índices oficiais da CGJ/RJ e acrescidos de juros de mora de 1% ao
mês a partir da citação;

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1583

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B) ao pagamento de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), a título


de danos morais, decorrentes das lesões acidentárias em favor da
autora Cláudia Maria dos Santos, corrigido monetariamente a contar da
publicação do Acórdão pelos índices oficiais da CGJ/RJ e acrescidos
de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação;

C) ao pagamento à autora Cláudia Maria dos Santos, a


título de reparação por dano estético, no montante de R$ 175.000,00
(cento e setenta e cinco reais), corrigido monetariamente a contar da
publicação do Acórdão pelos índices oficiais da CGJ/RJ e acrescidos
de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação;

D) ao pagamento de 19,2 salários-mínimos para custeio total


da cirurgia, abrangendo honorários médicos, anestesiologia, despesas
hospitalares e de centro cirúrgico, a fim de que seja efetivada a retirada
da síntese metálica do cotovelo da autora Cláudia Maria dos Santos;

E) ao recolhimento mensal do FGTS relativo ao


pensionamento da autora Cláudia Maria dos Santos, em razão de sua
incapacidade total e definitiva;

F) ao pagamento das despesas médicas realizadas e


comprovadas através do documento de folhas 669/745;

Fls.46
1584

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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G) ao pagamento do custeio do tratamento ortopédico e


neurológico da autora Cláudia Maria dos Santos, incluindo o custeio da
medicação de uso diário na forma contido no corpo do voto e prescrita
nos documentos de fls. 667/668;

H) determino que, cessando para um dos beneficiários


(Cláudia ou Jairo) o direito ao recebimento da pensão, sua cota parte
será acrescida em favor do outro;

63. Oriento o voto, ainda, no sentido de afastar correção


monetária em qualquer pensionamento fixado, na linha do Verbete nº
490 do STF, considerando que a sentença fixou os pensionamentos em
salários-mínimos.

64. Por fim, condeno as apelantes-rés ao pagamento de


honorários no montante de 20% sobre o proveito econômico aferido na
causa.

Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2021.

DESEMBARGADOR PAULO CESAR VIEIRA DE CARVALHO FILHO


RELATOR

Fls.47

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