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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

YASMIN CARVALHO ARCANJO DA SILVA

A PERCEPÇÃO DOS MORADORES DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL


ACERCA DA ATUAL SITUAÇÃO INFLACIONÁRIA NO BRASIL

NATAL/RN
2021
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1 INTRODUÇÃO

1.1 Tema e delimitação

O presente projeto de pesquisa tem como tema “O consumidor e a inflação no


Brasil”, buscando analisar como o consumidor, a partir de sua percepção, é afetado pela
constante alta na inflação. O foco do estudo será nos moradores da Região Metropolitana de
Natal, especificamente dos municípios de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e
Nísia Floresta, que possuem renda bruta de até 5 (cinco) salários mínimos.

No que diz respeito aos tópicos da inflação, este estudo enfatiza os setores que mais
estão sendo afetados pela subida da taxa inflacionária, entre eles: os produtos básicos
(alimentos e bebidas); gás de cozinha; gasolina; e energia elétrica, causada pela deterioração
do cenário hídrico.

1.2 Problema

Diante da atual situação econômica em que o Brasil se encontra cabe aos


pesquisadores e analistas financeiros apurar, interpretar e divulgar os números que explicitam
a alta inflacionária nos preços, juntamente com suas causas e consequências. É a partir dessa
apuração que se obtém o entendimento das situações de crise e estabilidade econômica no
país.

Contudo, há uma carência de informações quando não há um aprofundamento no


conhecimento ofertado pelos “brasileiros comuns”1, já que as suas compreensões práticas e
teóricas complementariam a pesquisa, corroborando para o entendimento de como a inflação
realmente afeta a população, pois, em momentos de crise há muita mais do que índices ruins,
são a vida de pessoas que estão em jogo (LEITÃO, 2019).

Portanto, com base no que foi descrito acima, este projeto de pesquisa buscará
explorar o funcionamento da rotina do consumidor baseando-se na alta inflacionária que o
país sofreu nos últimos meses, utilizando como base os produtos mais usufruídos no dia a dia.
Baseado nisso, surge a seguinte problemática: Qual a percepção dos moradores da Região
Metropolitana de Natal acerca da atual situação inflacionária do Brasil?
1.3 Objetivos

1
Termo utilizado por Miriam Leitão em seu livro “Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda”
para designar os brasileiros que sofreram com a hiperinflação.
1.3.1 Objetivo geral

O presente estudo visa analisar como a inflação age na vida do consumidor, para,
assim, fazer-se ciente da sua percepção prática e teórica de como a subida na taxa
inflacionária influenciou sua rotina e sua situação financeira.

1.3.2 Objetivo específico

Para além do objetivo geral citado acima, pretende-se conhecer a realidade dos
moradores da Região Metropolitana de Natal perante a atual situação econômica do país, para,
assim, entender como a inflação está atingindo alguns municípios do estado do Rio Grande do
Norte.

1.4 Justificativa

O presente estudo justifica-se pela necessidade de conhecer e compreender como a


população entende os atuais acontecimentos na economia brasileira que ocasionaram uma alta
na inflação, a maior dos últimos 5 anos. Faz-se necessário ter essa perspectiva pois o
consumidor, especialmente os assalariados, se encontram como os mais afetados nas situações
de crise do país, como cita o economista Roberto Campos (1917-2001) “A inflação é um
monstro brutal e cruel que tortura particularmente os assalariados”.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Inflação

Quando se põe em análise a situação econômica do país percebe-se que a inflação é


uma tendência natural do estado (ROTHBARD, 2001). O Brasil, desde antes da
implementação da república, sofria com a inflação, sendo isso uma constante que ocorre em
momentos de crise econômica do país, como ocorreu na década de 1980, momento de
hiperinflação no país devido a uma perda contínua no valor da moeda brasileira. Como
esperado, os trabalhadores assalariados foram os mais prejudicados pela crise, como retrata o
museu virtual “Memorial da Democracia” em seu módulo extra sobre a hiperinflação.
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A hiperinflação era danosa a todo o país, prejudicando o planejamento das


empresas e afetando as contas dos governos. Mas os trabalhadores eram os
mais penalizados. Quando recebiam seus salários no final de um mês de
trabalho, eles haviam sido corroídos por índices que chegaram a ser de até
85% ao mês, acumulando perdas no poder de compra. Some-se a isso o fato
de que os reajustes salariais e a correção do salário-mínimo jamais repunham
inteiramente as perdas causadas pela inflação [...].

Em paralelo a este acontecimento, estamos vendo hoje o país enfrentar outra crise
econômica que ocasionou em subidas na taxa inflacionária. Não sendo diferente da década de
1980, os trabalhadores assalariados estão sentindo na pela, e na mesa, as reais consequências
do aumento nos preços de produtos e serviços ofertados ao consumidor, causando um
aumento no custo de vida da população.

O que está acontecendo é que a inflação está atingindo a população baseando-se em


sua renda, quanto mais baixa for a renda do cidadão maior será a taxa de inflação que o
atingirá, como mostra o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda.

2.1.1 IPCA e INPC

O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e o IPCA (Índice de Preços ao


Consumidor Amplo) são índices que medem a variação de preços dos produtos e serviços
consumidos pela população. Eles se diferem pela abrangência populacional de seu
levantamento, enquanto o INPC mede a variação média do custo de vida da população com
uma faixa salarial de até 5 (cinco) salários mínimos, o IPCA abrange uma camada maior, com
a faixa salarial de 1 (um) até 40 (quarenta) salários mínimos.

O Relatório de Mercado Focus publicado no segundo semestre deste ano indica uma
surpresa negativa nos resultados do IPCA e INPC. Depois de subir pela 23º vez, a meta para o
índice oficial de inflação atingiu os 8% e já foi ultrapassado no acumulado dos últimos 12
meses calculado no mês de agosto. Como mostra a tabela abaixo, juntamente com os outros
índices do IPCA e INPC.

Tabela 1 - Inflação - 2º semestre

IPCA - julho 0,71%

IPCA - agosto 0,88%

IPCA - acumulado no ano 5,67%

IPCA - acumulado nos últimos 12 meses 9,68%

INPC - julho 1,02%

INPC - agosto 0,88%

INPC - acumulado no ano 5,94%

INPC - acumulado nos últimos 12 meses 10,42%

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

Como mostra os dados, a inflação sofreu um aumento considerável e perceptível para


a economia brasileira, e, principalmente, para o custo de vida do “brasileiro comum”, pois no
ponto em que a inflação age como um recurso para trazer a estabilidade dos cofres públicos,
ela se encontra como um empecilho para a estabilidade financeira do consumidor.

2.2 Produtos inflacionados que afetaram a vida do consumidor

2.2.1 Gás de cozinha

Segundo André Braz (2021)2, o gás acumula uma alta histórica, seguindo o fluxo de
outros combustíveis. Este aumento no GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) ou gás de cozinha,
como é conhecido pela população, está diretamente relacionado com a alta nos preços
internacionais de petróleo. O barril de petróleo subiu mais de 40% desde o início do ano, e
esta variação está ligada ao mercado externo, onde os preços também subiram. O GLP sofreu
uma inflação de 13,75% no mês de agosto, e 29,3% no acumulado do ano.

2
Analista de inflação do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas)
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Existem outros fatores que interferem no valor final pago pelo consumidor, como o
ICMS, que é cobrado sob preço médio pago pelo consumidor, e se o preço do GLP sofreu
alta, o valor referente a esse tributo também aumentou.

2.2.2 Combustível

O combustível é o produto que mais afetou a alta inflacionária, no geral, esse grupo
subiu 2,8%. Quando analisados separadamente, teve-se a alta do etanol de 4,5%; o gás para
automóveis, de 2,06%; o diesel, de 1,19%; e a gasolina acarretou uma alta de 2,8%. No
acumulado do ano, a gasolina, combustível mais utilizado pelos brasileiros, obteve um
aumento de 31,09%.

Essa realidade se torna ainda mais desafiadora quando observa-se essa alta aplicada ao
dia a dia do trabalhador. A pandemia acarretou em um crescimento no número de desemprego
no país, com isso, percebeu-se a necessidade de ir atrás de trabalhos remotos, como os
entregadores e motoristas por aplicativo, que sentiram na pele o alta do combustível e tiveram
que reduzir as horas trabalhadas por dia, prejudicando sua renda mensal.

2.2.3 Setor de alimentação

Há uma pressão sobre os alimentos a curto prazo, aumentando o seu custo e


tornando a inflação ainda mais desafiadora (SICHEL, 2021)3, sendo percebido que está
ficando cada vez mais desafiador para as famílias manter a base da alimentação básica que é
necessária para o custo de vida.
Para o consumidor essa alta é sentida na mesa, e no bolso, para os analistas
econômicos esse aumento foi sentido no peso e no impacto que o grupo de alimentos
apresentou na variação final do IPCA, como foi apresentado pelo Ministério da Economia na
divulgação do IPCA de janeiro de 2021.

3
Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital Modalmais.
2.2.4 Energia elétrica

O setor de serviços que mais impactou a vida do brasileiro no ano de 2021 foi o da
energia elétrica. Diante do pior cenário hídrico dos últimos 91 anos, o Brasil está enfrentando
uma escassez de chuvas que está acarretando em uma baixa nos níveis dos reservatórios de
água das empresas das usinas hidrelétricas brasileiras, na qual representam 63% da geração de
energia do nosso país.

Diante disso, quando se faz necessário grandes quantidades de água para a geração de
energia em um momento onde os reservatórios não são suficientes para suprir a demanda, o
governo apresenta com suporte as usinas termelétricas, onde apresenta um custo mais caro.
Essa medida, por apresentar um custo maior, acaba elevando a cobrança nacional da bandeira
tarifária, na qual, no mês de agosto, atingiu um novo patamar, ultrapassando a bandeira
vermelha, e chegando a nova bandeira anunciada pelo diretor-geral da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, a bandeira "escassez hídrica", que aumenta para R$
14,20 a tarifa cobrada por kWh.

2.3 O entendimento do consumidor perante o cenário inflacionário

Diante do que foi dito anteriormente, percebe-se que a alta nos produtos e serviços que
suprem as necessidades básicas da população afetam com maior força o cidadão de baixa
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renda, que sofre desesperadamente com a inflação. Em interpretação ao assunto, os dados


mostrados acima são de entendimento de profissionais da área econômica-financeira e pessoas
que tiveram um investimento em sua educação financeira (grande maioria com perfil de classe
média-alta), ocasionando em falta de compreensão do “brasileiro comum”, que, muitas vezes,
não compreendem as informações divulgadas pelas instituições responsáveis e que são
disseminadas nos veículos de imprensa.

A partir do problema apresentado, tem-se a criação de duas hipóteses:

H¹: A compreensão do cidadão acerca da inflação está no seu dia a dia.


H²: As informações relevantes para o cidadão estão no local de compra, ou uso, do produto ou
serviço.
Com base nessas hipóteses, busca-se identificar o nível da educação financeira
adquirida pelo cidadão com renda baixa ao longo de sua vida, e verificar se esse
conhecimento consiste em sua realidade prática ou nas teorias apresentadas pelos
conhecimentos de economia e finanças.

3 METODOLOGIA

3.1 Tipologia da pesquisa

Este projeto de pesquisa, com natureza básica, qualitativa, descritiva, bibliográfica, irá
realizar um levantamento com os moradores da Região Metropolitana de Natal, especialmente
dos municípios de Natal, Parnamirim e Nísia Floresta, com renda até 5 salários mínimos,
para averiguar o aprofundamento do conhecimento financeiro acerca do funcionamento da
inflação em sua realidade diária.
O que se espera verificar é se a percepção dos “brasileiros comuns” condizem com o
que se conhece como educação financeira, ou ela se apresenta como produto de uma rotina
diária de anos usufruindo desses produtos e serviços inflacionados que estão afetando o custo
de vida do consumidor.

3.2 Técnica de coleta de dados

Para coletar as informações necessárias à pesquisa, será feito um levantamento

(survey) por meio de um questionário que terá como base as seguintes questões:

1. Descrição socioeconômica;
2. Descrição regional;

3. Perguntas para medir a educação financeira do questionado;

4. Perguntas comparativas sobre o custo de vida em um intervalo de 4 anos;

5. Perguntas sobre a percepção do questionado acerca da inflação.


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4 REFERÊNCIAS

09/09/2021 - Mercado - Folha (uol.com.br) Acesso em: 10 set. 2021


BANCO CENTRAL DO BRASIL - BCB. Relatório de Inflação, Brasília, v. 23, n. 2. junho,
2021.
'Bandeira da escassez hídrica' foi criada para cobrir rombo, diz diretor da Aneel | Brasil e
Política | Valor Investe (globo.com) Acessado em: 08 set. 2021
Boletim Focus: Mercado eleva projeção para inflação em 2021 (uol.com.br) Acesso em: 08
set. 2021
Economia | G1 (globo.com) Acesso em: 08 set. 2021
Energia elétrica e os impactos da crise hídrica: entenda como acender uma lâmpada pode
afetar algumas empresa (maisretorno.com) Acesso em: 10 set. 2021
Entenda como crise na energia pode aumentar inflação e preço de alimentos (fdr.com.br)
Acesso em: 10 set. 2021
Focus - Relatório de Mercado (bcb.gov.br) Acesso em: 10 set. 2021
Gasolina a R$ 7 o litro: por que o preço dos combustíveis está subindo – e quem são os
'culpados' por isso | Economia | G1 (globo.com) Acesso em: 09 set. 2021
https://www.bcb.gov.br/content/ri/relatorioinflacao/202106/ri202106p.pdf Acessado em: 10
set. 2021
Inflação para pobres é quase 30% maior que a de ricos com alta de energia e gás | CNN Brasil
Acesso em: 10 set. 2021
Projeção para inflação de 2021 chega a 8%, a 23ª alta seguida - TradeMap
Inflação encosta em dois dígitos após maior alta em 21 anos, puxada por gasolina -
Projeção da Inflação de 2021 sobe de 7,58% para 8,00%, diz Focus do BC | Abertura Simples
Inflação | IBGE
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo | IBGE
Preço dos alimentos sobe e governo ganha mais imposto (uol.com.br)
Os combustíveis e a inflação (gazetadopovo.com.br)
Preço do gás de cozinha sobe 5 vezes a inflação do ano e botijão chega a custar R$ 135;
entenda os motivos da alta | Economia | G1 (globo.com)
SECRETARIA DE POLÍTICA ECONÔMICA - SPE. Relatório IPCA alimentos. Janeiro,
2021

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