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M ATEMÁTICA A PLICADA À E NGENHARIA

Variáveis Complexas

Dr. Denilson Santos - Versão Quarentena Covid-19 002


1 de Abril de 2020

"Ao longo do tempo muitos homens conseguiram atingir o êxtase da criação. A estes homens
dá-se o nome de MATEMÁTICOS."

1 N ÚMEROS C OMPLEXOS
Os números complexos surgiram naturalmente, ao menos, desde a ocorrência das equações do
segundo grau nas tabuletas de argila da Suméria, cerca de 1700 a.C. Até sua total formalização
em 1833 pelo irlandês W. R. Hamilton (1805-1865) foi um trabalho árduo.
Ao contrário do senso popular, não foram as equações do 2o grau que motivaram a criação
do corpo dos complexos, e sim as equações de 3o grau solucionada pelo matemático Italiano
Niccolò Tartaglia (registrada de forma “inusitada” em 1545 pelo matemático Girolamo Cardano
em seu livro Ars magna). As equações de segundo grau eram vistas como a formulação
matemática de um problema concreto ou geométrico e se no processo de resolução surgia
uma raız quadrada de um número negativo, isto era interpretado como prova de que tal
problema não tinha solução. Iniciou-se em 1673 com o inglês J. Wallis (1616-1703) e continuou
com os franceses A. de Moivre (1667-1754) e J. D’Alembert (1717-1783), o inglês R. Cotes
(1682-1716), o suiço L. Euler (1707-1783), etc. e pode-se dizer que estabelecida pelo norueguês
C. Wessel (1745-1818) em 1799, pelo francês J. R. Argand (1768-1822) em 1806 e o alemão
C. F. Gauss (1777-1855) em 1831, que cunhou a expressão um tanto inapropriada “números
complexos”. A formalização completa deve-se, como já mencionamos a W. Hamilton.

1.1 D EFINIÇÃO :
Um número complexo Z pode ser definido como um par ordenado (a,b) de números reais a e
b. Como notação,
z = a + bi

1
onde i é a unidade imaginário. Na engenharia é utilizado o j como unidade imaginária
(Aprenda a diferenciar). p
i = −1
sendo representado também por z = (a, b), porém será utilizada a notação z = a + bi para
representa-lo por enquanto. O número a será chamado de parte real e o número b de parte
imaginária.

1.1.1 C OMPLEXO C ONJUGADO

O número z̄ é chamado de complexo conjugado e representa a reflexão do número em torno


do eixo das abcissas no Plano de Argand-Gauss.

z̄ = a − bi

1.1.2 P OTÊNCIAS DE I
p
i = −1
p p p
i 2 = −1 · −1 = ( −1)2 = −1
p p p p
i 3 = −1 · −1 · −1 = ( −1)2 · i = −1 · i = −i
p p p p p p
i 4 = −1 · −1 · −1 · −1 = ( −1)2 · ( −1)2 = (−1) · (−1) = 1
i5 = i4 ·i = i

1.1.3 VALOR A BSOLUTO - M ÓDULO


p
O número real não negativo a 2 + b 2 é chamado de valor absoluto de um número complexo.
p
|z| = a2 + b2

Geometricamente o valor absoluto de z representa o comprimento do vetor z, isto é, a distân-


cia entre o ponto z e a origem no Plano de Argand-Gauss.

1.1.4 P LANO DE A RGAND -G AUSS

Podemos estabelecer para fins de compreensão um paralelo entre o plano cartesiano e o Plano
Argand-Gauss, pois, podemos representar o eixo das abscissas (x) como o eixo real e o eixo
das ordenadas (y) como eixo imaginário.

2
Figura 1.1: Plano Argand-Gauss - z = a + bi

O plano recebe este nome em homenagem aos matemáticos, Jean-Robert Argand (1768 –
1822) e Carl Gauss (1777 – 1855), que associaram os números a e b de um número complexo a
coordenadas de um ponto no plano, criando assim uma representação geométrica para os
números complexos.

Figura 1.2: Os números complexos z 1 = 3 − 5i , z 2 = −1 + 4i , z 3 = 2 + 5i e z 4 = −4 − 6i , represen-


tados no plano.

1.2 O PERAÇÕES ALGÉBRICAS ENTRE NÚMEROS COMPLEXOS


Dados dois Números complexos quaisquer z 1 = x 1 + y 1 i e z 2 = x 2 + y 2 i ,

1. Adição

z1 + z2 = x1 + y 1 i + x2 + y 2 i
(1.1)
= (x 1 + x 2 ) + (y 1 + y 2 )i

3
2. Subtração

z1 − z2 = x1 + y 1 i − x2 + y 2 i
(1.2)
= (x 1 − x 2 ) + (y 1 − y 2 )i

3. Multiplicação

z 1 · z 2 = (x 1 + y 1 i ) · (x 2 + y 2 i )
= x1 x2 + x1 y 2 i + x2 y 1 i + y 1 y 2 i 2
(1.3)
= x1 x2 + x1 y 2 i + x2 y 1 i − y 1 y 2
= (x 1 x 2 − y 1 y 2 ) + (x 1 y 2 + x 2 y 1 )i

4. Divisão (z 2 6= 0)

z 1 z 1 z̄ 2
= ·
z 2 z 2 z̄ 2
(x 1 + y 1 i ) (x 2 − y 2 i )
= ·
(x 2 + y 2 i ) (x 2 − y 2 i )
(x 1 x 2 + y 1 y 2 ) + (x 2 y 1 − x 1 y 2 )i (1.4)
=
x 22 + y 22
(x 1 x 2 + y 1 y 2 ) (x 2 y 1 − x 1 y 2 )
= + i
x 22 + y 22 x 22 + y 22

1.3 F ORMA P OLAR


Sendo r e θ as coordenadas polares do ponto representando z, onde r ≥ 0. Então
(
x = r cos θ
(1.5)
y = r sen θ
e o número complexo z pode ser escrito na forma polar

z = r (cos θ + i sen θ) (1.6)


p
onde r = |z| = a 2 + b 2 O ângulo θ é chamado de argumento de z,
y
tgθ = (1.7)
x

4
Figura 1.3: θ = ar g (z) - Forma polar.

A forma polar do seu conjugado,

z = r (cos θ + i sen θ) ⇐⇒ z̄ = r (cos(−θ) + i sen(−θ))

z̄ = r (cos θ − i sen θ)

1.3.1 P RODUTOS

Dados dois Números complexos quaisquer z 1 = r 1 (cos θ1 + i sen θ1 ) e z 2 = r 2 (cos θ2 + i sen θ2 ),

1. Multiplicação

z 1 · z 2 = [r 1 (cos θ1 + i sen θ1 )] · [r 2 (cos θ2 + i sen θ2 )]


= r 1 r 2 (cos θ1 + i sen θ1 )(cos θ2 + i sen θ2 )
(1.8)
= r 1 r 2 [(cos θ1 cos θ2 − sen θ1 sen θ2 ) + i (sen θ1 cos θ2 + cos θ1 sen θ2 )]
= r 1 r 2 [(cos(θ1 + θ2 ) + i sen(θ1 + θ2 )]

Como consequência,

ar g (z 1 · z 2 ) = ar g (z 1 ) + ar g (z 2 ) (1.9)

1.4 F ÓRMULA DE E ULER


Para um número complexo z = x + i y, a função e z é definida como,

e z = e x+i y = e x (cos y + i sen y) (1.10)

Quando x = 0, z = i y podemos escrever, substituindo o y por θ,

e i θ = cos θ + i sen θ (1.11)

5
A equação acima é chamada de Fórmula de Euler, e verifica-se as seguintes propriedades:

1. e i θ1 · e i θ2 = e i (θ1 +θ2 )
¡ ¢−1
2. e i θ = e −i θ

e i θ1
3. = e i (θ1 −θ2 )
e i θ2
4. e i (θ+2kπ) = e i θ , k = 0, ±1, ±2, ±3, ...

1.4.1 T EOREMA DE M OIVRE

Os números complexos também podem ser representados na seguinte forma:

1. z = r e i θ

2. z = r ∠θ

Quando r=1, z = (cos θ + i sen θ), temos o Teorema de Moivre,

(cos θ + i sen θ)n = cos nθ + i sen nθ (1.12)

Assim,

1. z n = (r e i θ )n = r n e i nθ = r n (cos θ + i sen θ)n = r n (cos nθ + i sen nθ)


z1 r 1
2. = [cos(θ1 − θ2 ) + i sen(θ1 − θ2 )], (r 2 6= 0)
z2 r 2
1 1 1
3. = [cos(−θ) + i sen(−θ)] = [cos θ − i sen θ]
z r r
1 1
4. z −n = [cos(−nθ) + i sen(−nθ)] = n [cos nθ − i sen nθ]
rn r
θ + 2kπ θ + 2kπ
· µ ¶ µ ¶¸
pn
p
n
5. z = r cos +i
n n
p m(θ + 2kπ) m(θ + 2kπ)
¡m¢
· µ ¶ µ ¶¸
n
6. z n = r m cos + i sen
n n

1.5 C ÁLCULO DE R AÍZES DE UM NÚMERO COMPLEXO


1
O problema de extrair as raízes n-ésimas z n de um número complexo z é o de resolver a
equação,
z 0n = z (1.13)
para z 0 , quando z e o número positivo dados. Assim,

z 0n = z

6
Utilizando as relações dadas na secção anterior, onde r 0 e n 0 são incógnitas,

z 0n = r 0n [cos nθ0 − i sen nθ0 ] = r (cos θ + i sen θ) = z

Consequentemente, se os ângulos são medidos em radianos, e k é um inteiro positivo

r 0n = r, nθ0 = θ ± 2kπ

θ + 2kπ
θ0 =
n
Portanto existem exatamente n soluções distintas da equação, quando z 6= 0, a saber,

p θ + 2kπ θ + 2kπ
· µ ¶ µ ¶¸
z 0 = n r cos +i
n n

onde k=0,1,2,3,4,...,n-1.

1.5.1 E XERCÍCIOS

Ache todos os valores das raízes. Verifique graficamente.


1
1. (2i ) 2
1
2. (−i ) 3

3. z 4 + 4 = 0

4. z 2 = −4 − 3i

1.5.2 E XERCÍCIOS

Mostre que

e i θ − e −i θ
1. sen θ =
2i
e i θ + e −i θ
2. cos θ =
2

1.5.3 E XERCÍCIOS

Calcule o valor de z expressão:

1. cos(z) = 2

7
1.6 L OGARITMOS
Definimos a função logarítmica natural de uma variável complexa z pela equação:

ln z = ln r + i (θ ± 2kπ) (1.14)

θ é o argumento medido em radianos do número complexo z; k = (0, 1, 2, 3, ...) e ln r define o


logaritmo natural real positivo de r. Assim, a função ln z é multivalente com infinitos valores,
mesmo para números reais. Chamamos de valor principal de ln z o número definido por:

ln z = ln r + i θ

Bibliografia

1. Churchill, R. V., Variáveis Complexas e Aplicações, EDUSP/McGraw-Hill, 1975.

2. Knapp, Anthony W., Basic Real Analysis, Cornestones, Birkhauser, 2005.

3. Neto, Alcides Lins, Funções de Uma Variável Complexa, IMPA, 2005.

8
Equações Diferenciais

2 E QUAÇÕES D IFERENCIAIS
Uma Equação Diferencial é uma relação que envolve como incógnita uma função e suas
derivadas ou diferenciais ou “EQUAÇÃO DIFERENCIAL É UMA EQUAÇÃO QUE CONTÊM
DERIVADAS”.

1. Quanto ao tipo:
a) Equação Diferencial ordinária – EDO: Contém somente uma variável indepen-
dente.
dy
Exemplo: y 0 = x + 5 ou = x + 5 a variável independente é x.
dx
b) Equação Diferencial Parcial – EDP: Contém mais de uma variável independente.
∂2 u ∂2 u
Exemplo: + = x 2 + y as variáveis independentes são x e y.
∂x 2 ∂y 2
2. Quanto à ordem: É a ordem da derivada mais alta que ela contém.
Exemplos:
∂2 u ∂2 u
a) + = x 2 + y é de segunda ordem;
∂x 2 ∂y 2
dy
b) + 2y = 0 é de primeira ordem
dx
3. Quanto ao grau: É obtido considerando o grau da derivada de mais alta ordem como
sendo o grau da equação, como se faz no caso dos polinômios.
Exemplos:
∂2 u ∂2 u
a) + = x 2 + y é de segundo grau;
∂x 2 ∂y 2
dy 5
µ ¶
b) + 2y 2 = 0 é de primeiro grau
dx
4. Quanto ao tipo de solução:
a) Solução Geral: É a primitiva desta equação.
d3y
Exemplo: y = Ax 2 + B x +C é a solução geral da equação diferencial = 0 , pois,
d x3
d3y
integrando = 0 três vezes, tem-se:
d x3

d3y d d2y
µ 2 ¶ Z µ 2 ¶
d y d y
µ ¶
3
= 0 ⇒ 2
= 0 ⇒ d 2
= 0 ⇒ d =A
dx dx dx dx d x2

9
d2y d dy dy dy
µ ¶ Z µ ¶ Z
2
=A ⇒ =A ⇒ d = Ad x ⇒ = Ax + B
dx dx dx dx dx
dy
Z Z
= Ax + B ⇒ d y = (Ax + B )d x ⇒ d y = (Ax + B )d x
dx
e a solução geral será:y = Ax + B x +C
b) Solução Particular: É a primitiva da Equação Diferencial, mas com valores defini-
dos para as constantes arbitrárias por ela contida.
c) Solução Singular: É uma solução da equação diferencial que não pode ser obtida
por combinação das constantes arbitrárias, isto é, a partir da primitiva desta.
d) Solução explícita: É a solução na forma , isto é, a variável dependente (função)
pode ser isolada e igualada a uma expressão, a qual é função apenas da variável
independente (não ambígua).

2.1 M ÉTODOS DE RESOLUÇÃO PARA E QUAÇÕES D IFERENCIAIS


A forma padrão de uma equação diferencial de primeira ordem na função incógnita y(x) é

y 0 = f (x, y) (2.1)

ou
dy
= f (x, y) (2.2)
dx

2.1.1 M ÉTODO DA S EPARAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Uma Equação Diferencial de 1a Ordem permite ser resolvida por separação de variáveis,
quando M (x, y)d x + N (x, y)d y = 0, onde y = y(x) puder ser escrita na forma:

f 1 (x)g 2 (y)d x + f 2 (x)g 1 (y)d y = 0

1
para reduzirmos a uma forma mais simples multipliquemos a equação por
f 2 (x)g 2 (y)

¡ ¢ 1 1
f 1 (x)g 2 (y)d x + f 2 (x)g 1 (y)d y · = 0·
f 2 (x)g 2 (y) f 2 (x)g 2 (y)

reduzindo-se à forma:
f 1 (x) g 1 (y)
dx + dy =0
f 2 (x) g 2 (y)
onde por integração em ambos os membros encontramos a primitiva,

g 1 (y) f 1 (x)
Z Z
dy =− d x ⇒ G(y) = F (x) + K
g 2 (y) f 2 (x)

G(y) − F (x) = K ⇒ u(x, y) = 0

10
2.1.2 E QUAÇÕES NÃO - SEPARÁVEIS - FATOR INTEGRADOR

t y 0 + 2y = 4t 2
2 2
A EDO acima pode ser escrita como y 0 + y = 4t . Nesse caso p(t ) = está definida e é contínua
t t
para todo t em ℜ∗ e q(t ) está definida e é contínua para todo t em ℜ.
A solução geral é dada por
R ·Z R ¸
y(t ) = e − p(t )d t q(t ) · e p(t )d t +C

·Z ¸
2 2
R R
dt dt
y(t ) = e − t 4t · e t d t +C

Ou seja
K
· ¸
1 4 2
y(t ) = 2 [t + K ] = t + 2
t t

Figura 2.1: Gráfico da equação diferencial: t y 0 + 2y = 4t 2

2.1.3 E XISTÊNCIA E UNICIDADE DA SOLUÇÃO

As condições suficientes para a existência de uma solução única de uma equação diferencial
de primeira ordem são definidas pelo teorema de Picard:
dy
Teorema de Picard: Considere o problema de valor inicial = f (x, y) para y(x 0 ) = y 0 . Se
dx
a função f e a derivada parcial de f em função de y são contínuas numa vizinhança do ponto
(x 0 , y 0 ), existe uma solução única y = g (x) em certa vizinhança do ponto (x 0 , y 0 ) que verifica a
condição inicial g (x 0 ) = y 0 .
O intervalo onde existe a solução única pode ser maior ou menor que o intervalo onde
∂f
a função f e a sua derivada parcial são contínuas (o teorema não permite determinar o
∂y
tamanho do intervalo). As condições do teorema de Picard são condições suficientes, mas
∂f
não necessárias para a existência de solução única. Quando f ou a sua derivada parcial
∂y
não sejam contínuas, o teorema não nos permite concluir nada: provavelmente existe solução

11
única a pesar das duas condições não se verificarem.

Exemplo: Demonstre que a relação x 2 + y 2 − c 2 = 0 onde c é uma constante positiva, é


dy x
solução implícita da equação =− .
dx y
Demonstração: Derivando a relação dada obtemos,

x2 + y 2 − c2 x
= 0 =⇒ 2x + 2y y 0 = 0 =⇒ y 0 = −
dx y
x
e, portanto, a relação dada é solução implícita da equação diferencial. A função f (x, y) = −
y
∂f x
e a sua derivada parcial = 2 são contínuas em quaisquer pontos fora do eixo dos x. A
∂y y
solução implícita dada conduz a duas soluções explícitas:
1
y 1 = [c 2 − x 2 ] 2

e
1
y 1 = −[c 2 − x 2 ] 2
no intervalo −c < x < c. O teorema de Picard nada permite concluir no ponto y = 0, mas
segundo o resultado obtido acima vemos que em cada ponto y = 0 existem duas soluções,y 1 e
y2.

2.1.4 E XERCÍCIOS

1. Resolver as seguintes equações diferenciais por separação de variáveis


a) (x y 2 − y 2 + x − 1)d x + (x 2 y − 2x y + x 2 + 2y − 2x + 2)d y = 0
b) sen(3x)d x + 2y cos3 (3x)d y = 0
dy
c) e x y = e −y + e −2x−y
dx
2. Ache a solução da equação diferencial que satisfaça a condição inicial dada.
a) (1 + x 4 )d y + x(1 + 4y 2 )d x = 0, y(0) = 1
dy 1 + y3
b) + 2 = 0, y(1) = 1
d x x y (1 + x 2 )
3. Resolva o problema de valor inicial, e desenhe o gráfico da solução.
q
y 0 = 2x 1 − y 2 , y(0) = 0

12
2.1.5 E QUAÇÕES E XATAS

As equações exatas são equações que podem ser escritas na forma M (x, y)d x + N (x, y)d y = 0,
que pode ser escrito como,
dy
M (x, y) + N (x, y) =0 (2.3)
dx
em que as funções M (x, y) e N (x, y) satisfazem

∂M (x, y) ∂N (x, y)
= (2.4)
∂y ∂x

Uma Equação Diferencial Homogênea de 1a Ordem do tipo M (x, y)d x + N (x, y)d y = 0 é dita
exata se somente se, a diferencial da função u(x, y) for nula, isto é,

M (x, y)d x + N (x, y)d y = 0 (2.5)

∂u(x, y) ∂u(x, y)
µ ¶ µ ¶
du = dx + dy =0 (2.6)
∂x ∂y
1. è dita equação diferencial exata se for proveniente de uma função do tipo u(x, y) = C .

Assim,
∂u(x, y)
M (x, y) = (2.7)
∂x
∂u(x, y)
N (x, y) = (2.8)
∂y
Logo assumindo a Equação (2.4),

∂2 u(x, y) ∂2 u(x, y)
= (2.9)
∂x∂y ∂y∂x

2.1.6 S OLUÇÃO DA E QUAÇÃO D IFERENCIAL E XATA

Sendo as derivadas mistas de 2a ordem iguais, isto significa que as derivadas provém da
mesma função u(x, y) = C . Assim, a solução da equação diferencial será,
Z
u(x, y) = M (x, y)d x + h(y) (2.10)

onde h(y) é uma constante em relação a x, e para encontrar h(y) temos que derivar 2.10 em
relação a y.

∂u d d d d
Z Z
= M (x, y)d x + h(y) =⇒ N = M (x, y)d x + h(y)
∂x d y dy dy dy
Assim,
d
Z µ Z ¶
h(y) = N (x, y) − M (x, y)d x d y (2.11)
dy

13
2.1.7 FATOR I NTEGRADOR - EDO E XATAS

Podemos utilizar uma estratégia para resolução de EDO não exatas, convertendo-as para
exatas, Sendo a EDO não exata,

M (x, y)d x + N (x, y)d y = 0

Isto é,
∂M (x, y) ∂N (x, y)
6=
∂y ∂x
Podemos transformar a equação em exata multiplicando por um Fator Integrador que a
transforme,

M (x, y)d x + N (x, y)d y = 0 · (µ(x, y))


µ(x, y)M (x, y)d x + µ(x, y)N (x, y)d y = 0
Será exata se
∂ µ(x, y) · M (x, y) ∂ µ(x, y) · N (x, y)
¡ ¢ ¡ ¢
=
∂y ∂x
Pela regra do produto

∂M (x, y) ∂µ(x, y) ∂N (x, y) ∂µ(x, y)


µ(x, y) + M (x, y) = µ(x, y) + N (x, y)
∂y ∂y ∂x ∂x

assim
∂µ(x, y) ∂µ(x, y) ∂M (x, y) ∂N (x, y)
µ ¶
N (x, y) − M (x, y) = − µ(x, y)
∂x ∂y ∂y ∂x
Para depender somente de x
∂µ(x, y) d µ(x, y)
=
∂x dx
e
∂µ(x, y)
=0
∂y
e podemos encontrar o fator

∂M (x, y) ∂N (x, y) ∂M (x, y) ∂N (x, y)


   
− −
d µ(x, y)  ∂y ∂x  d µ(x, y)  ∂y ∂x 
=  · µ(x, y) =⇒ = dx
   
dx  N (x, y)  µ(x, y)  N (x, y) 

Integrando Z ∂M (x, y) ∂N (x, y)


 

d µ(x, y) ∂y ∂x
Z  
= dx
 
µ(x, y)

 N (x, y) 

14
Obtendo o fator integrador
R Ã M y − Nx !
dx
µ(x) = e N (2.12)
∂N (x,y) ∂M (x,y)
onde ∂x = Nx e ∂y = My

2.1.8 E XERCÍCIOS

1. Verifique se as equações diferenciais abaixo são exatas e resolva-as.


a) d y − (1 + x)d x = 0
b) d x − (1 + x)d y = 0
c) 2y(x − 1)d x + (x 2 − 2x)d y = 0
x dy
d) = −1
x + y dx
d y y − 9x 2
e) =
dx 2y − x
3
f) 5(y + 3)d x + 5xd y = 0 para y(2) = −
5
2. Verifique se as Equações Diferenciais são exatas e determine a solução de cada uma
delas de acordo com suas condições.

2.2 C LASSIFICAÇÃO DAS E QUAÇÕES D IFERENCIAIS L INEARES


1. Homogêneas e não homogêneas: Uma Equação Diferencial Linear é homogênea se
r (x) = 0 caso contrário ela é dita não homogênea.

2. De coeficientes constantes e de coeficientes variáveis: Uma Equação Diferencial Linear é


de coeficiente constante se os a i (x)0 s forem constante reais se não forem é uma Equação
Diferencial Linear de coeficientes variáveis.

3. De termo independente constante e variável Uma Equação Diferencial Linear é de


termo (independente) constante se r (x) for uma constante real, se não é uma Equação
Diferencial Linear de termo variável.

Dessa forma, dada uma Equação Diferencial Linear ela pode ser uma Equação Diferencial
Linear Homogênea de Coeficientes Constantes, Equação Diferencial Linear Não Homogênea
de Coeficientes Variáveis e Termo Constante, Equação Diferencial Linear Não Homogênea
de Coeficientes Constantes e Termo Variável, etc. Note que não faz sentido se referir a uma
EDL Homogênea de termo constante ou variável, dado que, por ser zero este termo ele já é
constante.

15
Equações Diferenciais não lineares de 1a ordem
redutíveis a lineares

As equações diferenciais não lineares são muito difícil de se obter soluções, mas existem
algumas delas que mesmo sendo não lineares, podem ser transformadas em equações lineares.
Os principais tipos de tais equações são:

2.3 E QUAÇÕES DE B ERNOULLI


Equação da forma:
dy
+ p(x)y = q(x)y n (2.13)
dx
para n 6= 1 e n 6= 0, onde p(x) e q(x) são funções continuas conhecidas como equação de
Bernoulli. Nesse caso, a ideia é realizar uma substituição na equação acima, de modo a
transformá-la em uma EDO linear. Pois se,

n = 0 ⇒ y 0 + p(x)y = g (x) ⇒ caso anterior

n = 1 ⇒ y 0 + [p(x) − g (x)]y = 0 ⇒ caso anterior e homogênea


Para resolver este problemas faremos a transformação de variável: substituindo

y 1−n = t

na equação e deriva-se em relação a x,

dy dt
(1 − n)y −n = (2.14)
dx dx
Substituindo (Eq. 2.13), que é:

dy dy
+ p(x)y = q(x)y n ⇒ = q(x)y n − p(x)y
dx dx
Substituindo na (Eq. 2.14 ) temos,

¢ dt
(1 − n)y −n q(x)y n − p(x)y =
¡

dx
¢ dt
⇒ (1 − n) q(x) − p(x)y 1−n =
¡
dx

16
Sabendo que y 1−n = t obtemos,

¡ ¢ dt
(1 − n) q(x) − p(x)t =
dx
A Equação se transformou em uma equação linear resolvida anteriormente,

dt ¡ ¢
+ (1 − n)p(x) t = (1 − n)q(x) (2.15)
dx

2.3.1 E XERCÍCIOS
d y 2y
1. − = 3x y 2
dx x
dy
2. + x y = x3 y 3
dx
dy
3. 2x y − y2 + x = 0
dx

2.4 E QUAÇÕES DE R ICATTI


A equação de Jacopo Francesco Riccati (Veneza, 28 de Maio de 1676 - Treviso, 15 de Abril de
1754) é da forma:
dy
= p(x)y 2 + q(x)y + r (x) (2.16)
dx
onde p, q e r designam funções de x. Observamos que, quando q(x)=0 temos a equação linear
e, quando r(x) = 0 temos a equação de Bernoulli. Joseph Liouville mostrou que a solução da
equação de Riccati só é possível quando se conhece uma solução particular y 0 . Caso contrário,
ela só é integrável através de uma função transcendente (Uma função é chamada de transcen-
dente quando não é algébrica (pode ser expressa em termos de somas, diferenças, produtos,
quocientes ou raízes de funções polinomiais). As funções trigonométricas, exponenciais e
logarítmicas são exemplos de funções transcedentes.).
Resolução:
Conhecendo-se uma solução particular y 0 da Eq. 2.16, pode-se resolver utilizando uma
mudança de variável,
y = y0 + z (2.17)
onde y 0 e z dependem de x. Como y 0 é solução, temos:

d y0
= p(x)y 02 + q(x)y 0 + r (x) (2.18)
dx
Por outro lado, derivando (Eq. 2.17) tem-se:

d y d y0 d z
= + (2.19)
dx dx dx

17
d y d y0 d z
= + (2.20)
dx dx dx
Substituindo (Eq. 2.17) e (Eq. 2.20) na equação (Eq. 2.16):

d y0 d z
+ = p(x)(y 0 + z)2 + q(x)(y 0 + z) + r (x) (2.21)
dx dx

d y0 d z
= p(x)z 2 + 2p(x)y 0 + q(x) z + p(x)y 02 + q(x)y 0 + r (x)
¡ ¢
+ (2.22)
dx dx
Substituindo (Eq. 2.17) em (Eq. 2.22) e reagrupando, resulta em:

dz ¡
− 2p(x)y 0 + q(x) z = +p(x)z 2
¢
(2.23)
dx
que é uma equação de Bernoulli na variável z, cuja solução já foi desenvolvida.

2.4.1 E XERCÍCIOS
d y y y2
1. Verificar se y = x é solução particular da equação + + = 3. Em caso afirmativo,
d x x x2
calcular a solução geral.
dy
2. Dar a solução geral da equação + y 2 + 3y + 2 = 0 sabendo que y = −1 é solução
dx
particular.
dy
3. Sabendo que y = 1 é solução particular da equação + (2x − 1)y − x y 2 = x − 1 calcular
dx
a sua solução geral.

2.5 M ODELAGEM M ATEMÁTICA


2.5.1 D INÂMICA P OPULACIONAL - T HOMAS M ALTHUS

É a hipótese de que a taxa segundo a qual a população de um país cresce em um determinado


instante é proporcional à população do país naquele instante.

dP dP
∝ P ou = aP
dt dt
Se a taxa de aumento da população (a) for constante a equação diferencial anterior será uma
equação de variáveis separáveis,

dP
Z Z
= ad t +C ⇒ P (t ) = P 0 e at
P

Onde P 0 é a população em t = 0. Este modelo pode ser uma boa aproximação em certo
intervalo, mas tem o inconveniente que a população cresce sem limite.

18
2.5.2 E XERCÍCIOS

Aplicações

1. A taxa de crescimento da população de uma certa cidade é proporcional ao número de


habitantes. Se a população em 1950 era de 50.000 e em 1980 de 75.000, qual a população
esperada em 2010?

2.5.3 L EI DO R ESFRIAMENTO DE G ASES DE N EWTON

A taxa segundo a qual a temperatura de um corpo varia é proporcional à diferença entre a


temperatura do corpo e a temperatura do meio que o rodeia (temperatura ambiente).

dT dT
∝ (T − Tm ) ou = k(T − Tm )
dt dt

• T (t ): Temperatura de um corpo no instante t;

• Tm : Temperatura do meio que o rodeia;


dT
• : Taxa de variação da temperatura do corpo.
dt

2.5.4 E XERCÍCIOS

Aplicações

1. Um corpo à temperatura inicial de 40o F é colocado ao ar livre, onde a temperatura


ambiente é de 100o F . Se após 5 minutos a temperatura do corpo é de 80o F . Usando o
método das variáveis separáveis, determinar o tempo necessário para a temperatura do
corpo atingir 60o F .

2. Joãozinho colocou uma forma que está a 20o C em um forno à 220o C e, após 15 minutos
a forma está a 120o C . Seja T temperatura do forno no instante t. Determine:
• A equação da temperatura (T)?
• A temperatura (T) após 30 e 45 minutos?
• A velocidade com que a temperatura (T) aumenta após 30 e após 45 minutos?

3. Uma latinha de cerveja a 20o C é colocada em um freezer com temperatura constante de


−12o C e após 60 min, ela está a 0o C . Sendo T temperatura da latinha após t minutos.
Determine:
• A equação da temperatura (T)?
• A temperatura (T) após 20 e 40 minutos?
• A taxa de decrescimento da temperatura após 20 e 40 minutos?
• Quanto tempo se deve aguardar para a cerveja estar a −4o C ?

19
4. Um indivíduo é encontrado morto em seu escritório pela secretária que liga imediata-
mente para a polícia. Quando a polícia chega, 2 horas depois da chamada, examina o
cadáver. Uma hora depois o detetive prende a secretária. Por quê?
Dados adicionais:
• Temperatura do ambiente: 20o C ;
• Temperatura do corpo na hora que a polícia chega: 35o C ;
• Temperatura do corpo uma hora depois: 34, 2o C .

20
Equações Diferenciais

3 E QUAÇÕES D IFERENCIAIS O RDINÁRIAS L INEARES H OMOGÊNEAS DE


2o ORDEM COM COEFICIENTES CONSTANTES
Como revisão da aula anterior, a resolução de uma EDO de 1o ordem na forma normal,

ay0 + by = 0

Cuja solução foi encontrada utilizando o método de separação de variáveis ou com o auxilio
de um fator de integração.
Utilizando uma nova abordagem de resolução, centrada na solução da equação, verifica-se
que a solução será uma função com a característica y = e λx , assim,

y = e λx ⇒ y 0 = λe λx

Substituindo na equação a y 0 + b y = 0,

aλe λx + be λx = 0 ⇒ e λx (aλ + b) = 0

Como e λx 6= 0 e a 6= 0 então
b
aλ + b = 0 ⇒ λ = −
a
A solução da EDO,
b
à !
− x
y =e a

Onde b é uma constante e a 6= 0.

3.1 EDO DE SEGUNDA ORDEM COM COEFICIENTES CONSTANTES


Uma equação diferencial linear de segunda ordem tem a forma,

d2y dy
P (x) 2
+Q(x) + R(x)y = G(x) (3.1)
dx dx
onde P, Q, R e G são funções contínuas. Neste caso G(x) = 0 para todo x. Tais equações são
chamadas equações lineares homogêneas.

A equação diferencial,

1. a y 00 + b y 0 + c y = 0 (Notação de Lagrange)

21
d2y dy
2. a 2
+b + c y = 0 (Notação de Leibniz)
dx dx
onde a (a 6= 0), b e c são constantes é chamada de EDO de 2o ordem linear com coeficientes
constantes.
O procedimento para encontrar as soluções (neste método) é através da equação característica,
isto é, se tentarmos encontrar uma solução da forma y = e λx (diferente de zero para qualquer
x) e substituí-la na equação a y 00 + b y 0 + c y = 0, obtêm-se:

y(x) = e λx ⇒ y(x)0 = λe λx ⇒ y(x)00 = λ2 e λx

Então, a equação em particular torna-se,

aλ2 e λx + bλe λx + ce λx = 0 ⇒ e λx (aλ2 + bλ + c) = 0

Como a imagem da função e λx 6= 0 para qualquer x, assim,


aλ2 + bλ + c = 0 é chamada de equação característica ou equação auxiliar.
A equação característica fornece as soluções para a EDO, cuja raízes são
p p
−b ± b 2 − 4ac −b b 2 − 4ac
λ1,2 = = ± (3.2)
2a 2a 2a
A solução da equação da EDO é a seguinte combinação linear,

y(x) = Ae λ1 x + B e λ2 x

Substituindo, µ p ¶ µ p ¶
−b b 2 −4ac −b b 2 −4ac
2a
+ 2a
x 2a
− 2a
x
y(x) = Ae +Be (3.3)
Onde A e B são constantes arbitrárias determinadas pelas condições iniciais do sistema.
Analisando as raízes (eq.3.2) da equação característica nota-se que a equação 3.3 fornecem
3 formas de solução geral,
• b 2 − 4ac > 0 → λ1 e λ2 reais e distintas.

• b 2 − 4ac = 0 → λ1 e λ2 reais e iguais.

• b 2 − 4ac < 0 → λ1 e λ2 são números complexos conjugados.

3.2 C ASO 1 : b 2 − 4ac > 0 → λ1 E λ2 REAIS E DISTINTAS


A solução fornece duas funções reais e linearmente independentes,

y(x) = Ae λ1 x + B e λ2 x

Exemplo: y 00 − 16 = 0
Equação Característica,

λ2 − 16 = 0 ⇒ (λ − 4)(λ + 4) = 0 ⇒ λ = {4, −4}

22
A solução Geral,
y(x) = Ae 4x + B e −4x

3.3 C ASO 2 : b 2 − 4ac = 0 → λ1 E λ2 REAIS E IGUAIS


Quando λ1 = λ2 temos necessariamente uma única solução exponencial y(x) = e λ1 x . Como
visto nas aulas anteriores a solução linearmente independente será dada por,

y(x) = Ae λ1 x + B xe λ2 x

pois,
y 1 (x) = Ae λ1 x
e
e λ1 x
Z Z
λ1 x λ1 x
y 2 (x) = e dx = e d x = xe λ1 x
e λ1 x
Exemplo: y 00 + 4y 0 + 4 = 0
Equação Característica,
p
2 −4 ± 16 − 16
λ + 4λ + 4 = 0 ⇒ λ1,2 = ⇒ λ = {−2, −2}
2
A solução Geral,
y(x) = Ae −2x + B xe −2x
São soluções linearmente independentes, que pode ser verificado pelo Wronskiano das fun-
ções.

3.4 C ASO 3 : b 2 − 4ac < 0 → λ1 E λ2 SÃO NÚMEROS COMPLEXOS CONJUGADOS


Quando as raízes λ1 e λ2 são complexas, podemos escrever λ1 = α + βi e λ2 = α − βi , onde α e
β > 0 são reais e i 2 = −1, a solução geral será na forma,

y(x) = C 1 e λ1 x +C 2 e λ2 x ⇒ y(x) = C 1 e (α+βi )x +C 2 e (α−βi )x


É possível reescrever esta solução utilizando o teorema de Euler:

e z = e (α+βi ) = e α e βi = e α (cos β + i sin β)

Assim, obtemos,

y(x) = C 1 e (α+βi )x +C 2 e (α−βi )x = C 1 e αx e βxi +C 2 e αx e −βxi

y(x) = C 1 e αx cos βx + i sin βx +C 2 e αx cos(−βx) + i sin(−βx)


¡ ¢ ¡ ¢

Como, cos(x) = cos(−x) (função par) e − sin(x) = sin(−x) (função ímpar),

y(x) = C 1 e αx cos βx + i sin βx +C 2 e αx cos βx − i sin βx


¡ ¢ ¡ ¢

23
y(x) = e αx (C 1 +C 2 ) cos βx + i (C 1 −C 2 ) sin βx
¡ ¢

Utilizando, A = C 1 +C 2 e B = i (C 1 −C 2 ) temos a solução geral,

y(x) = e αx A cos βx + B sin βx


¡ ¢

Onde A e B, C 1 e C 2 são constantes arbitrárias. Isso nos dá todas as soluções (reais ou com-
plexas) da equação diferencial. As soluções serão reais quando as constantes A e B forem
reais.
Exemplo: Resolva a equação y” – 6y’ + 13y = 0.
Equação Característica,
p
2 6 ± 36 − 52
λ − 6λ + 13 = 0 ⇒ λ1,2 = ⇒ λ = {3 + 2i , 3 − 2i }
2
A solução Geral,
y(x) = e 3α (A cos 2x + B sin 2x)

3.5 A PLICAÇÃO

Figura 3.1: Sistema massa mola

Um sistema com amortecimento, sofrendo ação restauradora da força da mola (−kx), livre
de forças externas, aplicando a lei de Newton obtêm-se,
Força do Amortecimento
F = −c ẋ
Força da Elasticidade
F = −kx
Equação do Movimento,
m ẍ = −kx − c ẋ
Reescrevendo a equação,
m ẍ + c ẋ + kx = 0 (3.4)
Sendo uma equação diferencial ordinária (ordem 2) com coeficientes constantes (m, k e c),
escrevendo a equação característica,

mλ2 + cλ + k = 0
¡ ¢
(3.5)

24
Cuja raízes são
p p s
−c ± c 2 − 4mk −c c 2 − 4mk −c ³ c ´2 k
λ1,2 = = ± = ± − (3.6)
2m 2m 2m 2m 2m m

A solução da equação (3.4) é a seguinte combinação linear,

x(t ) = C 1 e λ1 t +C 2 e λ2 t

Onde,  v   v 
t c
¶2 k
t c
−c u
uµ −c u
uµ ¶2 k
+ − − −
   
2m 2m m 2m 2m m
 t  t
x(t ) = C 1 e +C 2 e (3.7)
Onde C 1 e C 2 são constantes arbitrárias determinadas pelas condições iniciais do sistema.

3.5.1 E XERCÍCIOS :

Determinar a solução geral das Equações Diferenciais Lineares Homogêneas de 2a Ordem a


coeficientes constantes (equação Característica), dadas a seguir, pelo método proposto para
resolver este tipo de equações.

d2y d y
1. + − 2y = 0 R.: y = C 1 e x +C 2 e −2x
d x2 d x
d2y dy
2. 2
−4 + 4y = 0 R.: y = (C 1 +C 2 x)e 2x
dx dx
d2y dy
3. +2 +10y = 0 R.: y = e −x [A cos(3x) + B sen(3x)]
d x2 dx

3.5.2 E XERCÍCIOS :

Determinar a solução particular das Equações Diferenciais Lineares de 2a Ordem a Coeficien-


tes Constantes Homogêneas (equação Característica), dadas a seguir, pelo método proposto
para resolver este tipo de equações.

d2y dy dy 9 5
1. +4 − 5y = 0 para y(0) = 1 e (0) = 0 R.: y(x) = e −5x − e x
d x2 dx dx 4 4
d2y dy dy
2. 2
−2 +y =0 para y(0) = 0 e (0) = 3 R.: y(x) = xe x
dx dx dx
d2y dy dy
3. +4 + 5y = 0 para y(0) = 1 e (0) = −3 R.: y = e −2x [cos(x) − 4 sen(x)]
d x2 dx dx

25
4 E QUAÇÃO D IFERENCIAL O RDINÁRIA L INEAR DE 2a A C OEFICIENTES
C ONSTANTE N ÃO -H OMOGÊNEA
Seja y p uma solução particular e seja y h (solução homogênea) da equação L(y) = 0.

Teorema: A solução geral para L(x) = φ(x) é:

y = y p + yh (4.1)

4.1 M ÉTODO DOS COEFICIENTES A DETERMINAR


O método normalmente empregado para obter a solução é baseada na solução. A vantagem
deste método é que ele é mais simples que o método geral e a desvantagem é que ele não é
aplicável para certas equações lineares a coeficientes não constantes. O método é frequente-
mente aplicado à engenharia. Este método é adequado para equações lineares a coeficientes
constantes, isto é, onde r (x) é tal que a forma de uma solução particular y p (x) da equação
anterior pode ser prognosticada, por exemplo, r (x) pode ser uma potência única de x, um
polinômio, uma exponencial, um seno, um cosseno, ou uma soma dessas funções. O método
consiste em imaginar para y p (x) uma expressão semelhante à de r (x), contendo coeficientes
incógnitos que são determinados substituindo y p (x) e suas derivadas na equação original e
por igualdade de funções, determinam-se os coeficientes.

4.1.1 E XERCÍCIOS R ESOLVIDOS

L(y)=d(x) Forma da Solução Procurada


L(y) = 3x 2 y(x) = ax 2 + bx + c
L(y) = 7e 3x y(x) = ae 3x
L(y) = 17 cos(3x) y(x) = A cos(3x) + B sen(3x)
L(y) = 7 sen(2x) y(x) = A cos(2x) + B sen(2x)
L(y) = 7 sen(2x) + 8 cos(2x) y(x) = A cos(2x) + B sen(2x)
L(y) = 3e 5x + (x 2 + 7x + 3) y(x) = Ae 5x + B x 2 +C x + D
£ ¤

L(y) = 3e 5x [x 2 + 7x + 3] y(x) = e 5x Ax 2 + B x +C
£ ¤

L(y) = 3e 5x sen(2x) y(x) = e 5x [A cos(2x) + B sen(2x)]

26
5 T RANSFORMADA DE L APLACE
A Transformada de Laplace1 transforma equações diferenciais e integrais do espaço real, em
equações algébricas no plano complexo, onde elas podem ser resolvidas algebricamente, para
depois retonar o resultado ao plano real através da Transformada de Laplace inversa.
A transformação de Laplace consiste em três etapas:

1. A equação diferencial, no espaço real ℜ, é transformada em uma equação algébrica, no


espaço complexo conjugado ℑ , denominada equação subsidiária, através das transfor-
madas de Laplace.

2. A equação subsidiária, no plano complexo conjugado, é resolvida por métodos pura-


mente algébricos.

3. A solução da equação subsidiária, no plano complexo conjugado, é transformada, atra-


vés das Transformadas Inversas de Laplace (L −1 ) em uma resultado pertencente ao
espaço real.

5.1 T RANSFORMADA DE L APLACE


Seja f (t ) uma função definida para t ≥ 0. A integral
Z ∞
L { f (t )} = e −st f (t ) d t (5.1)
0

será chamada de Transformada de Laplace de f (t ), desde que a integral convirja.


Z ∞
F (s) = e −st f (t ) d t (5.2)
0

F(s) é a Transformada de Laplace. A Transformada de Laplace L { f (t )} é dada pela função F (s)


no plano complexo conjugado.
Exemplo: seja f (t ) = 1, então,
Z ∞ Z ∞
L { f (t )} = L {1} = e −st
·1dt = e −st d t
0 0
Z ∞ 1
e −st d t = −
0 s

5.1.1 E XERCÍCIOS

Determinar a Transformada de Laplace de θ(t ) = e 2kt .


s
Resposta: Θ(s) =
s − 2k

1 Pierre - Simon Marquis de Laplace - 1749-1827

27
5.2 C ONDIÇÃO SUFICIENTE DE E XISTÊNCIA
Se f(t) é contínua por partes no intervalo [0, ∞) e de ordem exponencial c, então L { f (t )} existe
para s > c.
O comportamento de F (s) quando s → ∞:
Teorema: Teorema da Linearidade
A transformada de Laplace é uma operação linear, isto é, para quaisquer funções f (t ) e g (t )
cujas transformadas de Laplace existam e quaisquer constantes a e b tem-se

L {a f (t ) + bg (t )} = a L { f (t )} + b L {g (t )} (5.3)

onde a e b são constantes.


Teorema: Resolução de PVI

Podemos aplicar a Transformada de Laplace para resolver problemas de valor inicial.

d n f (t ) n
½ ¾
L n
s n−k f k−1 (0)
X
= s F (s) − (5.4)
dtn k=1

d n f (t )
½ ¾
L = s n F (s) − s n−1 f (0) − s n−2 f 0 (0) − ... − f n−1 (0) (5.5)
dtn
d f (t )
½ ¾
L = sF (s) − f (0) (5.6)
dt
½ 2
d f (t )
¾
L = s 2 F (s) − s f (0) − f 0 (0) (5.7)
dt2

5.3 T RANSFORMADA I NVERSA L APLACE


1
Z σ+ j ∞
L −1
[F (s)] = F (s)e st d s = f (t )u(t ) (5.8)
2π j σ− j ∞

28
f (t ) L { f (t )}
1
1 s
1
e at s−a
1
t s2
2
t2 s3
6
t3 s4
24
t4 s5
a
sin(at ) a 2 +s 2
s
cos(at ) a 2 +s 2
a
sinh(at ) s 2 −a 2
s
cosh(at ) s 2 −a 2
b
e at sin(bt ) b 2 +(a−s)2
s−a
e at cos(bt ) b 2 +(a−s)2
1
e at t (a−s)2
2
e at t 2 − (a−s) 3

δ(t ) 1
y 0 (t ) sY (s) − y(0)
y 00 (t ) s 2 Y (s) − y(0)s − y 0 (0)

5.3.1 E XERCÍCIOS

1. Usando a definição de Transformada de Laplace, mostre que


1
a) L {1} = , s >0
s
1
b) L {e kt } = , s >k
s −k
n!
c) L {t n } = n+1 ,
s
N
s > 0, n ∈

k
d) L {sen(kt )} = 2 , s >0
s + k2
2. Determine as transformadas de Laplace das funções definidas pelas seguintes expres-
sões analíticas:
s −3
a) f (t ) = e 3t cos(2t ) R : F (s) =
(s − 3)2 + 4

29
6
b) f (t ) = t 3 e −t R : F (s) =
(s + 1)4
6s 2 − 2
c) f (t ) = t 2 sen(t ) R : F (s) =
(s 2 + 1)3
k
d) L {sen(kt )} = , s >0
s2 + k2

Exemplo 1. 2 x 2 y 00 + 3 x y 0 + 2 x 2 − 1 y = 0
¡ ¢

Substituímos

a n x n+r ,
X
y=
n=0

onde a 0 6= 0
Note que na derivada,
∞ ¡
y0 = n + r a n x n+r −1 ,
X ¢
n=0

o índice obrigatoriamente começa a variar a partir de n = 0, e não a partir de n = 1, pois


como o primeiro termo de y = a 0 x r + a 1 x r +1 + · · · em geral não é uma constante, este não
se anula por derivação. Não temos aqui a liberdade de escolha de começar, conforme a
conveniência, a partir de n = 1 ou de n = 0 , que tínhamos no método de resolução por série
de potências em um ponto ordinário. A mesma observação vale para a derivada de segunda
ordem
∞ ¡
y 00 = n + r n + r − 1 a n x n+r −2
X ¢¡ ¢
n=0
0 00
Substituindo y, y e y por suas expansões em série na equação diferencial dada, obtemos
∞ ∞ ∞ ∞
2(n + r )(n + r − 1) a n x n+r + 3(n + r )a n x n+r + 2 a n x n+r +2 − a n x n+r = 0
X X X X
n=0 n=0 n=0 n=0

Agrupando os termos em x n+r , obtemos


∞ ³ ´ ∞
2(n + r )(n + r − 1) + 3(n + r ) − 1 a n x n+r + 2 a n x n+r +2 = 0
X X
n=0 n=0

Fazendo n + 2 = k no segundo somatório,


∞ ³ ´ ∞
(n + r )(2 n + 2 r − 2 + 3) − 1 a n x n+r + 2 a k−2 x k+r = 0
X X
n=0 k=2

No segundo somatório podemos substituir k por qualquer letra, inclusive n. Separamos os


2 primeiros termos do primeiro somatório e combinamos os 2 somatórios restantes
³ ´ ³ ´
r (2 r + 1) − 1 a 0 x r + (r + 1) (2 r + 3) − 1 a 1 x r +1 +
∞ h³ ´ i
(n + r )(2 n + 2 r + 1) − 1 a n + 2 a n−2 x n+r = 0
X
+
n=2

30
Se quisermos obter uma série de potências, dividimos por x r . Portanto valem as mesmas
observações feitas no método de séries de potências e, então, o coeficiente de cada x n+r deve
se anular. Como a 0 6= 0 , temos
(i) r (2 r + 1) − 1 = 0 , chamada de equação indicial
³ ´
(ii) (r + 1) (2 r + 3) − 1 a 1 = 0
³ ´
(iii) (n + r )(2 n + 2 r + 1) − 1 a n + 2 a n−2 = 0 , para n = 2, 3, 4, . . .
Esta última é a fórmula de recorrência.
A equação indicial (i) é uma equação algébrica de grau 2. As suas raízes dão os possíveis
valores para r . No exemplo que estamos considerando a equação indicial é

2r 2 +r −1 = 0
cujas raízes são: r 1 = 12 e r 2 = −1.
Por razões que vão ser importantes mais tarde, nos casos mais complicados, é conveniente
trabalhar primeiro com a maior das raízes da equação indicial. Por esta razão indicamos por
r 1 e r 2 , respectivamente, a maior e a menor das raízes da equação indicial.
1
1 a Solução. Com r 1 = A equação (ii) fica 5 a 1 = 0 . Então a 0 pode ser escolhido arbi-
2
trariamente, com a única restrição que seja diferente de 0. Mas necessariamente a 1 = 0 .
Escolhemos a 0 = 1 .
A fórmula de recorrência fica
³¡ ¢¡ ¢ ´
2 n + 1 n + 1 − 1 a n + 2 a n−2 = 0 ,

para n = 2, 3, 4, . . . , ou seja,
¡ 2 ¢
2 n + 3 n a n + 2 a n−2 = 0 .
Segue que
2 a n−2
an = − ¡ ¢
n 2n +3
para n = 2, 3, 4, . . . .
Concluímos que
0 = a1 = a3 = a5 = · · ·

2 22 23
a 0 = 1 =⇒ a 2 = − =⇒ a 4 = =⇒ a 6 = −
2·7 2 · 4 · 7 · 11 2 · 4 · 6 · 7 · 11 · 15
Simplificando, obtemos

1 1 1
a 0 = 1 =⇒ a 2 = − =⇒ a 4 = =⇒ a 6 = −
1·7 1 · 2 · 7 · 11 1 · 2 · 3 · 7 · 11 · 15
Em geral,
(−1)n
a 2n = ¡ ¢, n≥1.
n! 7 · 11 · 15 · · · (4n + 3)

31
Obtemos então a solução
∞ (−1)n
µ ¶
1
2n
X
y 1 (x) = x 2 1+ x .
n=1 n! (7 · 11 · 15 · · · (4n + 3))

Note que esta solução pode ser reescrita na forma de um único somatório

1
∞ 3
(−1)n x 2n
X
y 1 (x) = x 2
n=0 n! (3 · 7 · 11 · · · (4n + 3))

2a Solução.
Com r 2 = −1 A equação (ii) fica
−a 1 = 0
Ainda podemos escolher a 0 arbitrariamente, com a única restrição que seja diferente de 0.
Mas necessariamente a 1 = 0 . Escolhemos a 0 = 1 .
A fórmula de recorrência fica
³¡ ¢¡ ¢ ´
2 n + 1 n + 1 − 1 a n + 2 a n−2 = 0 ,

para n = 2, 3, 4, . . . , ou seja,
¡ 2 ¢
2 n − 3 n a n + 2 a n−2 = 0
Segue que
2 a n−2
an = − ¡ ´,
n 2n −3

para n = 2, 3, 4, . . . .
Concluímos que
0 = a1 = a3 = a5 = · · ·

2 22 23
a 0 = 1 =⇒ a 2 = − =⇒ a 4 = =⇒ a 6 = − .
2·1 2·4·1·5 2·4·6·1·5·9
Simplificando, obtemos

1 1 1
a0 = 1 , a2 = − , a4 = , a6 = − .
1·1 1·2·1·5 1·2·3·1·5·9
Em geral,
(−1)n
a 2n = ¡ ¢, n≥1.
n! 1 · 5 · 9 · · · (4 n − 3)
Obtemos então a solução
∞ (−1)n
µ ¶
−1
x 2n
X
y 2 (x) = x 1+
n=1 n! (1 · 5 · 9 · · · (4 n − 3))

Encontramos assim duas soluções linearmente independentes para nossa equação diferencial

32
linear homogênea. É imediato que y 1 e y 1 são linearmente independentes. Uma delas não é
1
múltiplo da outra, pois num caso a potência de x de menor expoente que aparece é x 2 e no
outro caso é x −1 .
Veremos que existem 3 casos diferentes no Método de Frobenius. O exemplo dado acima
é do caso mais simples, em que a equação indicial em duas raízes distintas r 1 e r 2 , mas cuja
diferença r 1 − r 2 não é um inteiro. Existe ainda um segundo caso, de raiz dupla r 1 = r 2 , e um
terceiro caso, de raízes distintas r 1 6= r 2 tais que r 1 − r 2 = inteiro.

33

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