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Abstract
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Comunicação & Informação
v. 12, n.1: p. 09-15 - jan./jun. 2009
tar que a cidadania é resultado (cujo início podemos situar
de uma prática da comunicação no século XV), com a longa
ou de uma ação comunicacio- ascensão da burguesia em
nal. A comunicação deve, além luta contra o feudalismo, que
se retorna pouco a pouco ao
de ou-tras funções, cumprir com
exercício da cidadania, como
o exer-cício de cidadania. parte da existência dos ho-
Apesar de as regras sociais mens vivendo novamente em
gregas terem sido diferentes para núcleos urbanos (COVRE,
homens, mulheres e crianças, os 2005, p.17).
gregos fundaram a democracia
como forma de liberdade, usu- A segunda situação mostra o
fruto de direitos e organização lado negativo da proliferação do
na vida social. Ser um cidadão capitalismo e da burguesia para a
grego significava respeitar as prática da cidadania, pois “deli-
regras sociais entre direitos, de- neia-se o processo de exploração
veres e obrigações. Porém, com e dominação do capital”, justifica
a ascensão da burguesia, a partir Covre (Ibid., p.20).
do século XI, a antiga convivên- Considerando a Grécia como
cia cordata, participativa e cole- ponto de partida para estudar a
tiva que havia entre os cidadãos estrutura de uma sociedade ou
da pólis sofreu várias transfor- oikos e o exercício de cidadania,
mações. Durante os séculos XII não se pode negar que entre algu-
e XIII houve “um forte surto de mas práticas de cidadania estava
individualização reforçado pela pôr em ação aquilo que os gregos
mobilidade e pela tendência ex- e nós denominamos de virtudes.
pansionista da sociedade”, justi- Bennett (1995) acredita na im-
fica Elias (1990, p. 59). portância de buscarmos as vir-
Com o despontar do capita- tudes e ensiná-las às gerações
lismo frente à crescente bur- presentes e futuras. No século
guesia mundial, ocorreram duas IV, Aristóteles definiu a virtude
situações distintas para o exercí- como a predisposição para al-
cio da cidadania, conforme cons- guém fazer o bem a outra pes-
tatou Covre (2005, p. 21-31). A soa por meio de ações fundamen-
primeira situação diz respeito tais como a justiça, temperança,
ao lado positivo da ascensão da ge-nerosidade e honestidade, en-
burguesia e do capitalismo, pois tre outras. Todas têm seu valor
surgem, nas cidades, os cidadãos e significado, mas, hoje em dia,
que trabalham, comercializam e essas virtudes são as que mais
cumprem com seus direitos e de- nos faltam para desempenhar-
veres. A partir daí, há uma grande mos aquele ideal gregário de co-
valorização do trabalho como munidade e sociedade visando à
forma de legitimar a cidadania prática de cidadania.
“propondo igualdade formal Montes (2001) alega que, na
para todos”, aponta Covre (Ibid., Grécia, a liberdade era o grande
p.20), acrescentando que diferenciador na convivência
das relações sociais. Ser um ci-
foi só com o desenvolvimen- dadão e, portanto, viver na pólis
to da sociedade capitalista era um exercício de liberdade,
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visto que a política, como forma verdade, a empatia é a primeira
de organização social de uma ci- etapa nas relações sociais para se
dade, buscava na liberdade do obter a simpatia. Ao colocar-se
cidadão a boa convivência nas na situação do público e com-
relações sociais para o bem-estar preender o que esse público es-
do oikos ou sociedade. A política pera do referido cantor, este, por
ou organização da pólis ditava sua vez, poderá satisfazer a ex-
as regras da convivência social pectativa do seu público, criando
e nesta encontravam-se as qua- uma empatia positiva, ou seja,
tro virtudes básicas do oikos: a uma atitude simpática. Caso con-
prudência, a temperança, a cora- trário, se a empatia for negativa
gem e a justiça. e o cantor não interagir com o
É na constante busca ou res- público poderá ocorrer a antipa-
gate de algumas virtudes que a tia do público para com o cantor.
comunicação, verbal e não- A empatia de um cidadão
verbal, pode e deve ser o mais para com o outro se dá no mo-
sensato instrumento de cidada- mento em que o primeiro se co-
nia. Para tanto, é necessário que loca na situação do outro ou dos
apliquemos, no dia-a-dia, a trilo- outros e entende as suas reais
gia do ethos-pathos-logos, com a necessidades e anseios, tanto em
finalidade de reconhecermos as uma situação presente como em
necessidades, dificuldades e an- uma situação futura. Colocar em
seios do outro cidadão. prática as virtudes humanas é
uma forma de se criar empatia
com um indivíduo, um grupo de
Empatia e cidadania pessoas, uma comunidade e até
mesmo com uma sociedade re-
Quando tentamos interagir presentativa de um povo.
com alguém, mostramos a essa
pessoa nosso ethos, ou seja, nos-
sos princípios, costumes, ges- Cidadania e comunicação
tos, idiossincrasias e outras car- no século XXI
acterísticas que fazem parte do
ser humano. Mas é no pathos que Em cada época e em cada cul-
se evidencia a empatia. De ori- tura algumas virtudes são mais
gem grega, a empatia (en= dentro valorizadas que outras, de acordo
+ pathos= sentimento) significa com as transformações sociais. Se
o sentimento que alguém tem as quatro virtudes básicas, con-
ao colocar-se no lugar de ou- sideradas cardeais, prevaleceram
tra pessoa, embora muitas vezes durante séculos, e se as virtudes
essa palavra seja confundida com têm que se adequar a cada época
“resultado positivo”. O logos é o ou cultura, entende-se que essas
juízo ou conclusão a respeito da virtudes básicas ou cardeais ain-
relação e interação entre ethos e da são necessárias para o século
pathos. XXI, além de ou-tras como:
É comum se ouvir a seguinte paciência, tolerância, respeito,
expressão: “aquele cantor teve cooperação, consenso; além da
empatia com o público”. Na generosidade ou solidariedade
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já citadas por outros estudio- de oxigênio primeiro em você e
sos das virtudes. depois na criança”. Pois a criança
Outros citam a coragem não saberá fazê-lo e, mesmo que
como uma das virtudes básicas. o saiba, precisará de um adulto
Lembremos aqui, que a cora- para tomar outras decisões vitais
gem é uma faca de dois gumes. para ambos naquele momento,
Com ela podemos nos defender analisa Sêga (2006, p. 141). Co-
e defendermos o outro cidadão; locar-se no lugar do outro, é uma
mas com ela também ferimos ou forma de exercer a cidadania e
matamos para defender nossa tão compreender a trilogia ethos-pa-
proclamada honra, dignidade ou thos-logos.
vida material. Usarmos a cora- A comunicação verbal e
gem em prol do outro é um gesto não-verbal, como também, os
nobre, principalmente quando te- meios de comunicação de massa
mos coragem para denunciar um são instrumentos facilitadores
seqüestro, um estupro, um roubo para conscientizar crianças, jo-
ou qualquer outro ato reprovável vens e adultos na prática de ati-
à ética e ao bem-estar de uma so- tudes concretas para o bem-estar
ciedade. Mais uma vez, a comu- da coletividade em geral. Algu-
nicação verbal, apoiada pela mí- mas políticas e modelos de edu-
dia, exerce sua ação de cidadania cação no Brasil estão voltados
e ética ao ter coragem de denun- para o ensino e a prática da ci-
ciar, mesmo que de forma sigi- dadania entre professores, alunos
losa, algo que contrarie as regras e a comunidade em que vivem,
desse bem-estar social, ainda que tanto em escolas públicas como
seja um bem-estar individual, privadas. Conscientes dos pro-
visando posteriormente um bem- blemas ambientais, as políticas
estar coletivo. Exercer a ética é de educação aliam-se às políti-
exercer cidadania apoiada por cas de comunicação para, em
qualquer tipo de comunicação, conjunto, encontrarem soluções
verbal, não-verbal ou midiática. para o planeta a curto, médio e
Ao analisar a ética, Morin longo prazo. Certas políticas de
(2005) classificou-a em dois tipos: comunicação não-verbal foram
ética egoísta e ética altruísta. O adotadas, já algum tempo, em
autor argumenta que existem con- determinados países como for-
tradições éticas e que o problema ma de politizar a cidadania e a
ético surge quando dois deveres civilidade. Exemplos disso são
antagônicos se impõem. Alega as rampas para deficientes físicos
que a ética é egoísta visando uma nas calçadas de cruzamentos de
direção altruísta. Se lembrarmos trânsito e os sinais sonoros para
as recomendações da comissária deficientes visuais nas travessias
de bordo, assim que sentamos em de semáforos, entre outros.
um avião, veremos que Morin Nos países desenvolvidos, a
(2005, p.21) está com razão. Esta prática da cidadania é adotada
é uma das recomendações que logo na primeira infância. Já nos
ouvimos em caso de emergência países em desenvolvimento, al-
no avião: “Caso esteja ao lado de gumas ações sociais se encarre-
uma criança, coloque a máscara gam de explicar à sociedade os
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papéis dos cidadãos e, com isso, soas idosas e aos que sofrem de
estabelecem empatia com a co- doenças degenerativas, aos de-
letividade. Respeitar o gramado pendentes químicos e aos homos-
de um jardim, não jogar lixo na sexuais são assuntos tratados de
rua, não roubar objetos alheios e forma sutilmente inteligente pela
respeitar as pessoas mais velhas, teledramaturgia brasileira.
entre outros exemplos, são ações Há, também, pessoas que
que fazem parte de uma educa- agem espontaneamente pelo
ção de base, adotadas pelas famí- bem-estar dos outros como os
lias, escolas e outras instituições. voluntários que vão para ou-
Podemos interpretar que as ações vir e dar carinho aos pacientes
como o respeito, a paciência, de hospitais, levam palavras de
tolerância, cooperação e o con- esperança, de alegria ou como
senso são as virtudes do século fazem os “doutores da alegria”
XXI, sem esquecermos as outras que utilizam a comunicação ver-
já consagradas virtudes. bal e não-verbal para amenizar
Exercer a cidadania ou colo- o sofrimento de pacientes de
car em prática uma ou mais vir- doenças graves, muitas vezes em
tudes eleva a dignidade humana fase terminal, como o câncer e a
e o bem-estar social e, para tal Aids. Ultimamente, as empresas
exercício, a comunicação so- de água e luz também vêm cum-
cial verbal ou não-verbal, bem prindo com a participação ci-
como os meios de comunicação dadã, anunciando junto às contas
de massa, são os instrumentos e de água e luz fotos de crianças e
os maiores aliados para se atingir adolescentes desaparecidos.
esse objetivo. A mídia colabora Ainda, por meio da comuni-
na medida em que divulga cam- cação verbal e não-verbal, têm
panhas de propagandas insti- surgido atitudes independentes
tucionais sem fins lucrativos e como a do cidadão brasiliense,
incentiva os cidadãos a colabora- conhecido como T-Bone, que
rem com o bem-estar social por resolveu fazer das paradas de
meio de campanhas de vacinação ônibus um local para leitura, em-
e campanhas de conscientização prestando livros em vários pon-
sobre os problemas ambientais. tos de ônibus, com o intuito das
A televisão, por sua vez, ou- pessoas lerem mais, sem custo
trora tão criticada pela desagre- nenhum para o leitor, tendo como
gação da família e da sociedade responsabilidade deste apenas
por romper a moral e os bons assinar seu nome em um papel,
costumes, hoje apresenta tele- devolvendo os livros ao terminar
novelas brasileiras que abordam a leitura. Um gesto que faz com
problemas e questionamentos de que cada leitor tenha a consciên-
diferentes naturezas, despertando cia de devolver aquilo que lhe foi
no telespectador uma reflexão emprestado, dando oportunidade
para respostas e atitudes urgen- para que outros cidadãos possam
tes. Questões como preconceito adquirir o mesmo conhecimento
racial, étnico e religioso, respeito de leitura, ao mesmo tempo em
e tratamento adequado aos defi- que reconhece esse gesto como
cientes visuais e físicos, às pes- exemplo de cidadania e civili
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dade que deverá ser exercido de sistematizar melhor a socie-
por todos que ali passarem. dade. Gohn (2007, p. 16) com-
“É evidente que a cidadania preende que “no novo milênio, os
implica a participação de todos”, movimentos sociais estão retor-
enfatiza Pernalete (2006, p.23), e nando à cena e à mídia”. Como
essa participação coletiva é um exemplos disso, Gohn cita: as
grande passo para que sejam ex- lutas de defesa das culturas lo-
ercidos os Direitos Humanos e a cais contra a devastadora globa-
Democracia. Do mesmo modo, lização; a reivindicação ética na
as virtudes humanas podem som- política; a busca de autonomia
atizar ações humanas universais para a resolução de problemas, já
em direção aos Direitos Huma- que “ter autonomia é priorizar a
nos que também são universais. cidadania” (Ibid., p.17).
Muitas ações humanas exigem Vários pensadores contem-
desafios para que sejam encon- porâneos acreditam que, desde
tradas: coragem, cooperação, a última década do século XX,
generosidade, tolerância, consen- alguns movimentos sociais de-
so, entre outras tantas virtudes e senvolveram determinados con-
motivos para se exercer a cida- ceitos e valores como forma
dania e os proclamados Direitos de integrar a sociedade em um
Humanos. “A democracia requer conjunto de ideais, ações e es-
um povo maduro, os cidadãos, in- tratégias para uma maior mobi-
dispensáveis para exigir, propor, lização social. Conceitos como
controlar, corrigir, desmentir, cidadania planetária, susten-
dialogar [...]”, menciona Perna- tabilidade democrática e par-
lete (Ibid. p. 29, grifo da autora). ticipação cidadã fazem parte
Acrescenta a autora que de discussões entre grupos e in-
stituições, além de serem divul-
As organizações comunitárias gados pelos meios de comuni-
contribuem para antecipar a cação de massa e pela Internet,
realização de pequenos son- reitera Gohn (Ibid., p.19).
hos, combatem o anonimato
social, reduzem os níveis de
falta de identidade, comum
nestes tempos globalizados,
e constituem uma base sólida Conclusão
para se formar verdadeiras
democracias participativas Se na antiguidade a prática
(PERNALETE, 2006, p. 24). da cidadania se fazia de for-
ma livre, espontânea e sim-
ples, hoje, em pleno Terceiro
Paralelamente a esses es- Milênio, o homem tem a seu
forços individuais e coletivos, dispor, além dessas mesmas
muitos movimentos sociais vêm práticas atemporais, outra alia-
trabalhando, há bastante tempo, da mundialmente conhecida, a
para o bem-estar social da cole- Internet, como forma de exercer
tividade. Os movimentos sociais a tão dignificante cidadania.
são ações organizadas por atores Entre algumas contribuições
ou sujeitos sociais com o intuito que a Internet vem prestando
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a várias sociedades mundiais trocarem experiências de vida
está àquela relacionada à saúde, e ajuda mútua, além de ser um
auxiliando pacientes portado- instrumento facilitador para o
res de determinadas doenças a ensino a distância.
Referências
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