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CAPÍTULO VI:

PECADO, PENITÊNCIA E CONVERSÃO


Introdução
Na idade média as fronteiras das competências de cada setor da sociedade eram mui claras
e incontestáveis pelo resto da sociedade de modo geral. Dessa forma uma questão como o
“pecado” estava inteiramente sob o domínio da Igreja através de sua teologia. Com o surgir
das ciências muita coisa mudou por completo e aquilo que parecia ser de domínio único e
exclusivo de uma determinada instituição passou a ser objeto também de reflexão e análise
de outros sujeitos.
Chegamos assim à consciência de que não basta que a Igreja dite uma norma para que
algo seja verdade – “ipso facto” - na realidade no que diz respeito ao comportamento
humano toca à Igreja a tarefa da reflexão sobre seu significado moral, mas sem prescindir
da contribuição das ciências. Temos necessidade e uma leitura interdisciplinar dos
fenômenos humanos. Isso dará à teologia uma visão mais ampla e uma profundidade mais
notória ao se pronunciar sobre os problemas humanos. De fato, na questão “pecado”, tanto
a antropologia filosófica, psicologia, teologia e a ética estão de acordo que o ser humano
para poder manter sua harmonia deverá obedecer a si mesmo.
A complexidade do nosso tema consiste no fato de que são muitos os fatores humanos que
concorrem para que o pecado aconteça: toca a liberdade, o conhecimento, a vontade, a
responsabilidade, consciência de fé, as circunstâncias, o objeto em questão, etc. Como bem
sabemos para cada um desses fatores as ciências humanas têm uma contribuição a dar.
Essa complexidade pode ser observada já partir da pluralidade de enfoques possíveis dado
ao tema.
O tema do pecado é tão complexo que não só nos remete à fragilidade humana, antes
disso acusa a grandeza da pessoa humana que, até mesmo é capaz de contradizer a si
mesmo, mesmo que isso lhe cause um mal. Somente o ser humano tem capacidade de se
autoafirmar e autocontradizer-se. Esse fenômeno, unicamente humano, distingue o homem
pecador das demais obedientes criaturas presa no próprio dinamismo instintivo.
Com o tema “pecado” não entendemos a condição humana de fragilidade, de falimento de
suas escolhas, mas de contradição consigo mesmo por causa de uma escolha errada que o
coloca numa situação de desarmonia interior.
Não obstante a grandeza de seus ideais, a diligência na organização de seus projetos, a
clareza de seus princípios, a retidão de sua estrada, a lucidez de suas opções iniciais, a
pessoa humana erra, contraria a si mesmo! Essa realidade nos abraça por inteiro, permeia
todas as nossas dimensões. Vejamos a confissão do cantor e compositor Raul Seixas em
uma de suas canções:
“Eu devia estar contente por ter conseguido tudo o que eu quis… Mas confesso
abestalhado. Que eu estou decepcionado!”
(Raul Seixas).
O pecado não é uma simples opção errada, o pecado não se identifica com o erro e
também não é o sentimento de culpa, é algo mais profundo que ultrapassa as
circunstâncias morais, as exigências legais, mas diz respeito à oposição ao projeto de
felicidade pessoal (proposto por Deus) e é por isso que o seu produto final é o medo, a
angústia, a dor, o sofrimento, a decepção, a frustração.
O segundo tema, penitência, nos lança no mar da inquietude humana por causa da sua
dor interior. Para os gregos a vida humana, era humana por causa do contínuo conflito
entre alma e corpo. O corpo era concebido como a prisão da alma, daí derivava a

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experiência da pena, do peso, do sofrimento. No sentido judicial a pena é o “castigo” que o
culpado deverá cumprir proferida pela sentença do juiz. A vida humana tem a sua natural
“pena”. A penitência em termos religiosos é o compromisso que o fiel assume em cumprir
em vista da restauração da sua comunhão com Deus e com a comunidade, por causa de
um mal cometido.
A penitência não é um mal, mas sim uma atitude de livre responsabilidade pessoal diante
do compromisso com o Bem. A experiência da ambiguidade humana é uma pena, mas a
penitência é experiência do ser portador da consciência e limitação e fragilidade natural,
que lhe exige responsabilidade contínua sobre si mesmo e sobre os outros. Da experiência
de penitência, sem a qual não se dá sem o sofrimento e luta, a pessoa humana aprofunda
o que é possível para si; ou ele reconhece o seu potencial e se mete a caminho, ou
“suicida-se”!
A penitência, em sentido religioso, é a experiência que faz o fiel do reconhecimento de ter
errado, contrariado a Deus, de ter falhado em suas escolhas e daí perceber sua insuficiência
apesar da relativa lucidez de seus atos. Reconhecer o erro, refazer critérios, considerar seus
limites e voltar atrás é a sua mais dura pena. Seu orgulho é natural e gostaria sempre de
ser intocável.
Por fim, o terceiro tema é a conversão; retrata a possibilidade de agir diferente, de voltar
a sonhar, de viver em harmonia; não é a experiência frígida da conservação de um estado
estático, mas dinamismo de amor, fé e esperança. Penitência e conversão caminham
juntas! O ser humano é profundamente transcendente! Não obstante a grandeza de seus
erros e o peso que sente após suas faltas, traz consigo a possibilidade de um futuro mais
brilhante que seu passado: eis a esperança, a conversão, a mudança de vida, o retorno á
harmonia consigo mesmo e com os outros.
Se grande é o investimento que o homem faz em vista de uma escolha, muito mais
brilhante é o seu esforço de retomada de quanto sua escolha foi frustrante. Como bem dizia
Santo Agostinho o homem é por natureza - “homo viator” - um contínuo peregrino,
inquieto, sempre em busca de algo que dê respostas às suas perguntas e satisfaça seus
mais profundos apetites existenciais.
Para Santo Tomás de Aquino a relação do homem com Deus se dá no nível ontológico: o
homem vive uma contínua peregrinação entre “um exitus” (vindo de Deus) e um “reditus”
(retorno a Deus).

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6.1. A “perda do sentido do pecado”
“É possível que o maior pecado no mundo de hoje consista em que os homens tenham
começado a perder o sentido do pecado”1. Com esta célebre frase, o Papa Pio XII, já em
1946, denunciava o desaparecimento da consciência do pecado. 2 Porém, afirmar que o
homem moderno não possui mais nenhum senso sobre a realidade do pecado seria,
indubitavelmente, um juízo apressado e generalizado. Entretanto, é certo que muitos
momentos que antes conferiam ao pecado um perfil concreto, hoje vão desaparecendo aos
poucos. Muitas coisas hoje são vistas como “normais” e não pecaminosas.
São duas as principais causas da perda do sentido do pecado: a perda do sentido de Deus e
a liberdade questionada. Em profunda sintonia com aquilo que colhemos no nosso dia a dia,
Pierre Gaudette afirma que estamos diante de “um discurso fora de moda”3. Muito mais que
um parecer pessoal é, na realidade, uma constatação que podemos observar em nossa
sociedade. Uma vez que para as nossas sociedades pós-modernas as realidades sociais não
têm uma configuração definida, encontramos também a indiferença, o descrédito, o
aprofundamento4 e também a “pecadofobia”.5

6.2. Possíveis causas da “perda” do sentido do pecado


Vejamos brevemente algumas das possíveis causas da dificuldade da acolhida do assunto
pecado em nossos dias.
a) A mudança do discurso teológico da Igreja
A Igreja de hoje, tirando seu aspecto essencial, tem poucos elementos em comunhão com
o modelo eclesial que perdurou por muitos séculos. Mudou na sua teologia, na sua
catequese, na liturgia, na sua linguagem pastoral, na sua relação com a sociedade, no seu
relacionamento com as ciências humanas, etc. Muitas acusações ainda caem sobre a Igreja
do passado: centralizadora, juíza, moralista, controladora... 6. Nesse modelo de Igreja a
imagem de Deus, muito mais que de Pai misericordioso, era de juiz severo, distante,
vingativo. A ideia de pecado era contínua na cabeça dos fiéis gerando uma vida movida
pelo medo.7 Numa sociedade caracterizada por esse clima, os “amigos de Deus” também
eram sumamente temidos e respeitados pois eram seus porta-vozes.
Essa visão de Deus, parcialmente bíblica, aos poucos vai sendo renovada cedendo o lugar
para um bem mais atraente: “Jahwé é piedoso e compassivo, lento para a cólera e cheio de
amor; Jahwé é bom para com todos, compassivo em todas as suas obras” (cf. Sl 144,8-9);
“como um Pai é compassivo para com seus filhos; Jahwé é compassivo para com aqueles
que o temem; porque ele conhece a nossa estrutura, ele se lembra do pó que somos nós”
(Sl 102,13-14).
Uma religião dinamizada pela visão de Deus como senhor distante e severo, à espera do
julgamento de seus filhos, gera nos fiéis a experiência do medo, da submissão, da contínua
visão do limite, do pecado, do proibido, da rigidez, da tristeza, etc. (cf. Mt 25,25); ao
contrário, a visão de Deus como Pai misericordioso, concorre para que o fiel seja

1 Cf. Mensagem ao Congresso Catequético de Boston, outubro de 1946: Ecclesia 6 (1946),8.


2 Cf. VIDAL, Marciano. Moral de Atitudes, Volume I, Moral fundamental. Santuário, Aparecida, 1983, p.507.
3 Cf. GAUDETTE, Pierre. O pecado. Ave Maria, 1997. 7-24.
4 Cf. MOSER, Antônio. O Pecado - Do descrétido ao aprofundamento, Vozes, Petrópolis, 1996.
5 Cf. LEERS, Bernardino, “Pecadofobia”, In Revista Eclesiástica Brasileira (REB). vol. 59, N. 235 (1999), p.
515-529.
6 Cf. M. Foucault, Vigiar e Punir…, 63-86, 127-131; BAUMAN Zigmunt., Ética pós-moderna, Paulus, São Paulo
1997.
7 Cf. WALSCH, Neale Donald, Uma amizade com Deus – um diálogo incomum, Editora Sextante, Rio de
Janeiro 2000, 15-17.

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estimulado ao encontro, à aproximação, à vivência da liberdade, da subjetividade, da
serenidade de vida. Esta segunda visão divina não elimina a questão do pecado, mas pode
colaborar para que ele não seja tão evidenciado.

b) O avanço das ciências humanas


É inegável a grande contribuição das ciências humanas para uma maior compreensão da
pessoa e seu comportamento. Uma vez que o pecado é uma experiência que chama em
causa a liberdade da pessoa, as ciências como a psicologia8, psiquiatria, a sociologia e até
mesmo a genética nos fornecem dados plausíveis que, de fato, há situações extremas nas
quais a pessoa não é livre porque seu comportamento é determinado por fatores internos
ou então, são em força da massa, da cultura (estruturalismo), etc. Todavia o
questionamento científico certamente não generaliza e nem mesmo elimina por completo a
responsabilidade humana de modo geral. São casos!

c) A indiferença religiosa e o ateísmo


Quando falamos de pecado propriamente dito entramos diretamente na esfera religiosa.
Pecado é uma categoria, antes de tudo, teológica. Isso significa admissão de um “deus”,
opção por um projeto de vida que dele emerge (mandamentos!). Todavia nossa sociedade
vive dois fenômenos de igual teor que merecem proporcional atenção: de um lado a
crescente indiferença religiosa e do outro o ateísmo. O discurso “pecado” nesse contexto
confuso não poderia ser uma realidade bem-vinda! Em ambos os casos o relativismo moral
é a saída mais lógica, devido o subjetivismo crescente.

d) O pluralismo religioso e o sincretismo


Embora contraste com aquilo que observamos acima, neste início do terceiro milênio surgiu
também o despertar de uma grande religiosidade: merece destaque o fenômeno da “nova
era”, por exemplo. Com o renascer dessa nova religiosidade, sem religião, surgiu também a
ideia de uma religião sem instituição e sem fronteiras morais; dessa forma delega-se ao fiel
a responsabilidade de ser a “árvore do bem e do mal”.

e) O relativismo ético e moral


Da idade moderna tivemos como herança a valorização do indivíduo e da sua subjetividade.
Todavia caímos no subjetivismo que significa a negação do sujeito sadio. O subjetivismo,
em termos éticos, proclama a isenção humana de qualquer referencial orientativo. Os
princípios e valores, segundo o subjetivismo, inseparável do relativismo ético, anuncia a
possibilidade da pessoa humana de se “autoguiar” sendo puramente orientada pôr aquilo
que cada um retém como bom, justo, correto, agradável, honesto, etc. Na pós-
modernidade emerge um “neo-protagorismo”. Segundo o filósofo grego, Protágoras,
classificado na categoria dos sofistas, o “homem é a medida de todas as coisas”. Nesse
contexto cultural, não há lugar para Deus e nem para seus mandamentos.

6.3. Pecado sem religião?


Como já dissemos, o pecado propriamente dito, pertence à dimensão religiosa, trata-se,
portanto, de um ato que fere a fé da pessoa contrariando o próprio Deus. 9 Pois bem, nos
perguntamos, então: como fica o caso de quem vive, como refletimos acima, numa

8 Cf. ADAM. Michel. Le sentiment du péché. Etude de psychologie. Ed. du Centurion. Paris. 1967; CENCINI,
A., Viver a Reconciliação. Aspectos Psicológicos, São Paulo, Paulinas, 1989.
9 Cf. JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência, 1984. N.18.

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situação de total indiferença religiosa? Também ele peca? A pergunta nos leva a retomar o
discurso da dignidade do ser pessoa humana a partir de dados da antropologia teológica e
filosófica. Somos todos concordes que a dignidade da pessoa humana reside na sua
condição de consciente, livre, responsável e soberano em relação à qualidade dos seus
atos.
A resposta à pergunta acima é “sim” pelo simples fato de que a ofensa a Deus explicita
para quem tem uma clara opção religiosa é também um atentado à harmonia da própria
dignidade. Dessa forma o “pecado” para quem não tem opção religiosa se configura como
uma desobediência à própria consciência10, portanto a si mesmo11, gerando como
consequência uma culpa. Sobre isso, em 1960 o Santo Ofício já havia se pronunciado. 12

6.4. A importância da nossa reflexão do ponto de vista pastoral


O aprofundamento teológico da fragilidade humana e o pecado, nos ajuda a refletir sobre
critérios pedagógicos e princípios orientadores enquanto ministros da reconciliação13,
cultivando atitudes alicerçadas naquelas de Jesus Bom Pastor Misericordioso.
Infelizmente, são muitos os fiéis traumatizados com a “confissão” por terem sido vítimas de
duros confessores. Quanto mais formos fiéis ministros da Misericórdia divina,
continuamente rejeitaremos atitudes de juízes inquisidores, e seremos atraídos pela
compaixão, mas sem paternalismo, pela firmeza, mas sem violência e tentaremos ser e nos
deixaremos, ao máximo possível, nos guiar pelo real dinamismo evangélico. 14
Neste caminho de reflexão e aprendizado poderá nos ser de grande auxilio os conselhos
dos grandes mestres confessores do passado; apesar da distância dos contextos, a
sabedoria continua sendo válida15. Deles aprendemos a sensibilidade pedagógica na
acolhida, na compreensão e na orientação das pessoas.
Nos seu ofício de confessor, nos dizia Santo Afonso, o sacerdote deve ser “pai, médico,
doutor, juiz”.16 Pai que acolhe, inspira confiança e estimula; médico que escuta a história do
mal cometido, discerne com sabedoria o que esta em jogo; doutor que ensina com firmeza,
com profundidade e esclarece as dúvidas; juiz que inspirado na misericórdia divina aponta
decididamente o caminho da vida.

10 Cf. Catecismo da Igreja Católica, N. 1849.


11 Cf. LANFRANCONI, D. Pecado, in Dicionario de Teologia Moral. Edições Paulinas, 1990 (edição Italiana p.
903).
12 Cf. DENZINGER H. - SCHÖNMETZER A. (a cura), Enchiridion symbolorum, definitionum et declarationum de
rebus fidei et morum, Herder, Roma 1976 – DS 2291.
13 Cf. RITUAL DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA… CNBB, Pastoral da Penitência, Doc. 6, Paulinas, São Paulo
1983.
14 Cf. LEERS, Bernardino. O ministério da Reconciliação - Uma ética para confessores. Vozes, Petrópolis,
1988. p. 56-71.
15 Cf. LIGUORI, Santo Afonso. Pratica del Confessore - per ben esercitare il suo ministero. Casa Mariana,
1987.
16 Cf. LIGUORI, Santo Afonso. Pratica del confessore… 5-36.

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6.1. Os diversos sentidos bíblicos do termo “pecado”
Biblicamente temos vários termos usados para descrever o significado de “pecado”; cada
um deles quer acentuar aspectos específicos da mesma realidade.17 O que mais nos
interessa aqui é reconhecer que do ponto de vista bíblico encontramos uma diversidade de
modos de como o pecado é entendido.
a) HATTÁT: quer dizer, falhar, desviar, não acertar o seu fim; o pecado é concebido
como uma falha dos homens na sua relação a Deus; trata-se aspecto material. O ATO de
não correspondência a Deus. Exemplos: Ex 9,27; 10,16; Js 7,20; 1Sam 15,24.
b) AWON: estar curvo sob o peso do pecado, torcido; arruinado. Trata-se do aspecto
moral subjetivo do pecador; é culpa, é o estado da alma após ter cometido o pecado,
revela o peso e a grandeza do pecado; A CULPA nos curva. Exemplos: Gn 4, 13-14; Is
59,2,12; Sl 50.
c) PESHÁ: termo que manifesta o aspecto religioso; o pecado como revolta, rebelião
ou subtração do domínio Divino. Exemplos: Ex 23,21; Is 1,2.
d) HAMARTÍA: é o termo mais usado no NT. Significa mais especificamente o
falimento de uma expectativa; é a rejeição de Jesus diante do anúncio da Nova Aliança
(amor). È a atitude dos fariseus; é uma atitude de dureza, frieza, desprezo pela pessoa de
Jesus.
e) ANOMIA: significa a negação da lei divina no sentido histórico salvífico; é o rechaço
da revelação da vontade de Deus por seu Filho, Jesus Cristo. Anomia é a recusa da lei do
amor, recusa, indiferença, negação; é querer viver sem referência normativa interior. O
pecado é a negação da lei do amor. Pecadores são aqueles que não querem acolher o
advento de Deus em Jesus; pecado é um ato voluntário, de cegueira, de surdez, mudez e
paralisia diante da vontade de Deus e nem reconhece os sinais da sua presença na
história.18 Exemplos: Lc 14,15-24; 17,26-31.

6.2. As múltiplas manifestações do pecado


a) O pecado como rejeição do limite
“E Iahweh Deus deu ao homem este mandamento: Podes comer de todas as árvores do
jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal19 não comerás, porque no dia em
que dela comeres terás que morrer”20 (Gn 2,16-17).
É clara no texto bíblico a definição de limites por parte do criador. Se de um lado temos
limites, por outro lado, é clara a grande margem de liberdade. Eva rejeita os limites e assim
abusa do livre arbítrio. Eva reconhece os limites, é consciente dessa realidade de mais
possibilidade do que restrição quando diz: “Nós podemos comer dos frutos das árvores do
jardim. Mas do fruto das árvores que está no meio do jardim, Deus disse: dele não
comereis…” (Gn 3,3). O pecado pressupõe consciência de limites.

17 Cf. BORN, A. Van Den (ORG.), Pecado, In Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Vozes, Petrópolis, 1985, p.
1150-1151; HIDBER, Bruno. Aspetti Dogmatici-morali Del Sacramento della Penitenza, Accademia Alfonsiana,
Roma, Ano 1997-98. Appunti per gli studenti.
18 Cf. HIDBER, Bruno. Aspetti Dogmatici-morali..., Início do III Capítulo. S/p..
19 “A árvore da vida é um antigo símbolo mítico da imortalidade, conhecido no Oriente Médio (Pr 3,18). O
autor sagrado identifica “a árvore do conhecimento do bem e do mal” (2,17), que “está no meio do jardim”
(3,3) e cujos frutos são proibidos (3,11), com a árvore da vida ou da juventude perene (2,9; 3,22-24. 3,5.
Conhecer o bem e o mal significa a totalidade do conhecimento. Mas ao tentar obtê-los o homem entra em
conflito com Deus”. - A Bíblia Sagrada em CD – Vozes, nota explicativa do texto bíblico.
20 Cf. O significado bíblico do verbo “comer”.

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Por não aceitar sua condição de limitada, “Eva” aumenta o limite – coisa que Deus não
disse: “nele não tocareis, sob pena de morte” (cf. Gn 3,3 com Gn 2,17). A dramatização faz
parte do dinamismo psicológico de quem não aceita viver em uma determinada
consideração não aceitando os limites naturais. Quando Eva imputa a Deus a vingança da
“pena de morte” está jogando para o criador a acusação de punidor com uma medida
extrínseca, que vem de fora, ela será a vítima. Na realidade muito mais “pena de morte”
(ser vítima), o texto nos sugere o suicídio: “terás que morrer” (Gn 2,17).

b) O pecado como busca da autonomia absoluta


“A serpente disse então á mulher: Não, não morrereis! Mas Deus sabe que no dia em dele
comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal”
(Gn 3,4-5).
Não se trata somente da experiência da tentação, mas é também opção de Eva: a rejeição
dos limites está em função do seu projeto de autonomia. Ser concorrente do criador sendo
portadora do privilégio de decidir o que é bom e o que é mal. A humanidade não participa
dessa participa competência. No entanto, se não é hábil no decidir o que é bem e o que é
mal é, por outro lado, capaz de discernimento e assim de escolher um entre ambos (cf. Eclo
15,14-20). O grande sonho do pecado é aquele de ser autônomo no decidir e no escolher
sem referências a critérios morais. O pecado é o orgulho a serviço da ilusória soberania! É
falta de confiança na Palavra Divina, no plano de Deus. Nossa condição de criaturas nos
revela que participamos de uma autonomia moral relativa e a liberdade é verdadeira
quando aceita sua real situação de “liberdade condicionada”.

c) O pecado como traição da liberdade


“A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa á vista e que essa árvore era
desejável para adquirir o conhecimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deu-o também ao
seu marido que com ela estava e ele comeu21. Então abriram-se os olhos dos dois e
perceberam que estavam nus” (Gn 3,6-7).
A narração bíblica coloca o fato da “queda de Eva” dentro de um quadro marcado pela
certeza dos sentidos: evoca o paladar e a visão! A certeza empírica, todavia, não são
suficientes. Guiado pela certeza dos sentidos Eva cai em uma armadilha: engano, ilusão,
frustração, decepção, perda... As reais consequências sentidas foram totalmente opostas a
certeza dos sentidos. Por se tratar de uma liberdade pautada simplesmente nos sentidos,
esta o traiu. Na verdade as escolhas verdadeiramente sérias não devem ser unicamente
pautadas pelo apetite dos sentidos, mas por valores e princípios. A vida dos dois continua! 22
O pecado, muitas vezes, é consequência da concupiscência descontrolada, dos desejos
naturais satisfeitos sem serem orientados por referenciais, peal paixões desordenadas
ocasionando a indisciplina, o descontrole, etc. Assim nos alerta Tiago:
“Ninguém tentado diga: “É Deus quem me tenta”. Deus não pode ser tentado para o mal
nem tenta ninguém. Cada um é tentado pela própria concupiscência que alicia e seduz.
Depois, a concupiscência, após conceber, dá à luz o pecado, e este, uma vez consumado,
gera a morte” (Tg 1,14-15).

21 O texto evidencia a atitude de passividade de Adão diante da proposta recebida.


22 Cf. HIDBER Bruno, Peccato: Tradimento della libertà, Accademia Alfonsiana, Roma, 1999. Dispensa –
Appunti per gli studenti.

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O pecado é um ato de egoísmo, tantas vezes, marcado pelo império dos nossos sentidos; o
pecado é um ato que visa o benefício pessoal, negando a verdade, e por isso, é um ato
suicida e autodestrutivo23.

d) O pecado como desarmonia das relações e fuga da responsabilidade


“O homem respondeu: a mulher que puseste junto de mim me deu da árvore e eu comi!
Iahweh Deus disse à mulher: “Que fizeste? E a mulher respondeu: “A serpente me seduziu
e eu comi” (Gn 3,12).
Pecado é ofensa e ruptura da harmonia das relações “eu-eu”, “eu-tu”, “eu–Deus”...
comprometendo inevitavelmente o bem-estar do “nós”. Neste texto emergem algumas
características muito significativas da experiência do pecado:
A Fuga da responsabilidade: “a mulher que puseste junto a mim me deu e eu comi”.
Muito mais que assumir com liberdade e responsabilidade a pré-história da sua situação
existencial concreta, Eva quer responsabilizar um outro amenizando sua participação. A
busca de um culpado para os nossos males é uma tentação contínua em nossa vida.
A alienação24: “me deu e eu comi” - Adão parece rejeitar sua autêntica liberdade
enquanto capacidade de fazer escolhas livres canalizadas para o Bem, para a sua
promoção. Alienação é renúncia da liberdade, da capacidade de reação diante daquilo que
está á nossa frente.
A vitimização: uma vez que não somos capazes de reagir e de escolher, logo nos
tornamos vitimas. Ser vítima significa assumir uma postura passiva frente a uma
determinada situação. Negando a própria subjetividade, Adão aparece como vitima da
“mulher” e a mulher por sua vez vitima da serpente.

e) O pecado como culpa e vergonha


“Entrelaçaram folhas de figueiras e se cingiram. Eles ouviram o passo de Iahwéh Deus que
passeava no jardim à brisa do dia e o homem e a sua mulher se esconderam da presença
de Iahwéh Deus, entre as árvores do jardim. Iahwéh Deus chamou o homem: “Onde está?”
Disse ele: “ouvi teu passo no jardim”, respondeu o homem; “Tive medo porque estou nu e
me escondi” (Gn 3, 7-10).
O estar “nu” significa o despojamento de qualquer máscara permitindo-nos a total visão de
nossa identidade. Estar “nu” é encontro conosco mesmos que nos favorece um ver-nos
quem somos, o que fizemos, o que sentimos, etc. Essa visão de si mesmo pode causar
vergonha e repúdio a si mesmo dependendo das ações. Adão e EVA tentam se esconder de
Deus, mas não conseguem, obviamente de Deus e nós mesmos não conseguimos fugir;
usando folhas de figueira, símbolo de “paz, harmonia e prosperidade” Adão e Eva estão
manifestando seu imenso desejo de retomada da situação anterior que era de total
harmonia entre si e com Deus.

f) O pecado como pena


(Deus) disse à mulher: “multiplicarei as dores de tuas gravidezes, na dor darás à luz filhos.
Teu desejo te impelirá ao teu marido e ele te dominará” (Gn 3,16). “Ao homem ele disse:...
maldito é o solo por causa de ti. Com sofrimento dele te nutrirás todos os dias de tua vida...
Com o suor do teu rosto comerás o eu pão...” (Gn 4,17-19).
As consequências do pecado não estão confinadas somente no interior do coração de cada
pecador, mas pode também ir muito além. Vejamos algumas dimensões atingidas: o

23 Cf. LANFRANCONI, D., Pecado. In Dizionario di Teologia Morale. Milano: Edizione Paoline, 1990, p. 904.
24 Cf. HAERING, Bernhard. Il peccato in una epoca di secolarizzazione. Bari: Edizione Paoline, 1973, p. 8-91.

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pecado tem uma dimensão afetivo-moral: aparece a dor... Não se trata de uma questão
puramente física; o pecado tem uma dimensão social: as relações de harmonia se
convertem em relações de dominação; o pecado tem uma dimensão ecológica: ação
humana se reflete no solo; o pecado tem uma dimensão econômica: luta pela
sobrevivência, fadiga...; o pecado tem uma dimensão mortificante: pecado conduz a
morte... “Pois tu es pó e ao pó tornarás!”...

g) O pecado como “aversão a Deus” e “apego à criatura”


Santo Agostinho nos apresenta a ideia de pecado como fixação nos bens temporais em
detrimento dos bens divinos.25 A tal aversão a Deus, virar-se contra Deus, é uma
consequência de um apego a outra realidade fazendo a troca do criador, fim último, pela
criatura. Tal ideia podemos colher na narração de Gênesis: Eva prefere “comer da árvore”
(criatura) a obedecer o Criador. O pecado é sempre um exagerado apego estático aos
meios rompendo as relações para com Deus. É uma preferência desordenada.

h) O pecado como omissão


O Pecado não acontece somente com a ação má, mas também com a omissão, ou seja,
com o deixar de fazer aquilo que é bom e necessário.26 A fé cristã é profundamente
dinâmica, pois o mandamento do amor é rico em obras. O amor nos reúne como irmãos e
nos responsabiliza uns pelos outros em todas as circunstâncias. Amar implica servir o
próprio Deus na pessoa outro necessitado: dar de comer, dar de beber, vestir, visitar,
corrigir, ser solidário com o outro (cf. Mt 25,31ss; Tg 2,14ss). São Tiago é porta-voz
vibrante da necessidade de obras como consequência da própria fé, pois a fé sem obras é
morta nos seu isolamento e, por ouro lado, aquele que sabe fazer o bem e não o faz
incorre em pecado (cf. Tg 4,17). O amor cristão também deve se manifestar em relação ao
uso dos bens temporais. O cristão partilha o que tem; no egoísmo está a sua morte (1Jo
3,16-18).
A omissão é negação do bem necessário para mim e para o outro, omissão é
insensibilidade, fechamento, desvio da responsabilidade pessoal, fuga da solidariedade,
paralisia, corresponsabilidade e justiça. Omissão, não deixa de ser, no fundo, uma atitude
egoísta!

6.3. As diversas categorias de pecado


6.3.1. O pecado contra o Espírito Santo27
Disse Jesus: «Todo o pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia
contra o Espírito Santo não será perdoada. E àquele que falar contra o Filho do homem,
ser-lhe-á perdoado; mas, a quem falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem
neste mundo nem no futuro» (Mt 12,31-32).
A «blasfêmia» é recusa de aceitar a salvação que Deus oferece ao homem, mediante o
mesmo Espírito Santo. A negação da Graça da Salvação deixa o ser humano no vazio. É a
rejeição da Verdade; negação do Amor. Quando o ser humano de fecha, Deus não o

25 Cf. VIDAL, Marciano. Moral de Atitudes, Vol. I. Moral fundamental. Aparecida: Santuário, 1983, 570-572.
26 Cf. HAERING, Bernhard. Livres e fiéis em Cristo - Vol. 1. São Paulo: Edições Paulinas, 1979, 360.
27Cf. JOÃO PAULO II. Carta encíclica Dominum et Vivificantem. Sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do
mundo. Roma, 1986.

72
violenta. No endurecimento do próprio coração, está a recusa da salvação. Em termos
práticos isso significa:

1º – Desespero de salvação eterna:


Significa a desconfiança na Misericórdia divina. Deus nunca nos abandona. Desesperar-se
significa não crer no Amor de Deus que sempre está pronto para nos salvar. Mas é
necessário abertura, assim como fez o bom ladrão nos últimos momentos da sua existência.
Recordemos o texto bíblico:

2º – Presunção de salvação sem merecimento:


Todos nós desejamos a salvação e isso é um bem, é um dom de Deus! Todavia, conforme
as palavras de Jesus, a salvação tem um preço; é necessário ter boas obras e praticado a
caridade; ter vivido de acordo com a vontade de Deus; Deus promete nos pagar conforme
as suas obras; sem a experiência da caridade não há salvação. Esse merecimento é, na
verdade, uma expressão para significar a parcela de corresponsabilidade do fiel. "Quando
o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará
em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará
uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas
à sua direita, e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua
direita:
‘Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino
que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e
vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era
estrangeiro, e me receberam em sua casa; 36 eu estava sem roupa, e me vestiram;
eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me
visitar’. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome
e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos
como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi
que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ Então o Rei lhes responderá: ‘Eu
garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus
irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25,31-39).

3º – Negar a verdade conhecida:


A negação da verdade é a preferência ao pecado. Quem rejeita a verdade está rejeitando o
próprio Deus, portanto está descartando a própria salvação. Rejeitar a verdade significa a
rejeição do amor; fora do amor não há salvação; Deus é amor que se identifica com a
justiça e a verdade. Por isso Jesus Cristo declarou a seus discípulos: “eu sou o caminho, a
verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).

4º – Inveja da graça fraterna:


O amor nos proporciona a graça da alegria com o bem do outro. Ao contrário, o pecado
capital da inveja, nos leva à experiência da tristeza pelo bem do outro; isso significa que
descartamos a experiência da vida fraterna, como consequência é a negação do amor. Não
há verdadeiro amor a Deus sem amor ao próximo. Enfim, não posso me alegrar com Deus,
se me entristeço e nego o meu amor aos meus irmãos.
“Para sabermos se conhecemos a Deus, basta ver se cumprimos os seus
mandamentos. Quem diz que conhece a Deus, mas não cumpre os seus
mandamentos, é mentiroso, e a Verdade não está nele. Por outro lado, o amor de
Deus se realiza de fato em quem observa a Palavra de Deus. É assim que
reconhecemos que estamos com ele: quem diz que está com Deus deve comportar-

73
se como Jesus se comportou. Caríssimos, não lhes comunico um mandamento
novo, mas o mandamento antigo, esse mesmo que vocês receberam desde o
princípio. O mandamento antigo é a palavra que vocês ouviram E, no entanto, o
mandamento que lhes comunico é novo - pois ele é verdadeiro em Jesus e em
vocês - porque as trevas já estão se afastando, e a verdadeira luz já está brilhando.
Quem afirma que está na luz, mas odeia o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem
ama o seu irmão permanece na luz, e nele não há ocasião de tropeço. Ao contrário,
quem odeia o seu irmão está nas trevas: caminha nas trevas e não sabe aonde vai,
porque as trevas lhe cegaram os olhos” (1Jo 2,3-11).

5º – A obstinação no pecado:
Trata-se da negação da Conversão. É a dureza de coração que manifesta a negação do
amor a Deus e do amor aos irmãos. A palavra obstinação nos leva a pensar no exagerado
apego às próprias ideias e propósitos maléficos; trata se de uma atitude de fechamento à
verdade e pertinácia no erro rejeitando toda e qualquer interferência que vem de fora;
nessa lógica também Deus é descartado; a obstinação no pecado é a atitude de teimosia
naquilo que é contrário à vontade de Deus. Diz o Salmista:
“O pecado do ímpio sussurra ao seu coração; ele não tem o menor temor de Deus.
Em sua cega presunção, não percebe quão grande é sua perversidade. Tudo que
diz é distorcido e enganoso; não quer agir com prudência nem fazer o bem. Mesmo
à noite, trama maldades; suas ações nunca são boas, e não se esforça para fugir do
mal” (Sl 35,1-4).

6º – A impenitência final:
A experiência de conversão é consequência de um processo de reconhecimento dos
próprios pecados e a decisão de viver uma vida diferente de acordo com a vontade de
Deus; o impenitente é aquele que não assume o caminho da própria conversão, sendo
incapaz de se dobrar e reconhecer suas faltas. O impenitente, qual viciado, se acomoda se
no próprio erro. Mas essa não é vontade de Deus: “Não quero a morte do ímpio, mas que
se desvie de seu caminho e viva” (Ez 33,14-16). A salvação pressupõe um caminho de
conversão, por isso de São Paulo: “Deus quer que todos os homens se salvem e atinjam o
conhecimento da verdade” (Tim 2,4). A impenitência leva o sujeito a viver uma situação de
total relativismo não se importando para o bem e o mal verdade mentira. isso foi percebido
pelo profeta Isaías dizendo: 'Infelizes daqueles que chamam bem ao mal e mal ao bem,
que fazem das trevas luz e da luz, trevas; que tornam amargo o que é doce e doce o que é
amargo! Infelizes daqueles que são sábios aos seus próprios olhos e inteligentes em sua
própria opinião” (Is 5,20-21). Por isso Jesus advertiu a seus interlocutores dizendo-lhes:
“Se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo' (Lc 13,5).

6.3.2. Os pecados que bradam ao Céu


“A tradição catequética lembra também que existem “pecados que bradam ao céu". Bradam ao
céu o sangue de Abel (homicídio), o pecado dos sodomitas (contra a natureza); o clamor do
povo oprimido no Egito (exploração do pobre); a queixa do estrangeiro, da viúva e do órfão; a
injustiça contra o assalariado28. A expressão “pecados que bradam os céus” querem realçar a
questão da gravidade moral de tais atos. Explicitando, os pecados que bradam os céus
estão classificados em três categorias:

1. Atentar contra a sacralidade da vida: trata-se dos pecados do homicídio,


suicídio, aborto, eutanásia, pena de morte, etc. Trata-se de pecados (objetivamente

28 Catecismo da Igreja Católica, N.1867.

74
falando) que atentam contra o dom a sacralidade da contra o seu criador. A vida é
dom de Deus e em todas as circunstâncias deve ser preservada e defendida. O
apóstolo Paulo diz que “ninguém vive para si, nem morre para si. Se vivemos,
vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer
morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,7-8). No que diz respeito ao suicídio,
trata-se de um mal para o qual concorrem muitas causas; na maioria das vezes o
suicida vive graves transtornos mentais.

2. A sodomia (contra a natureza): a sodomia se referem aos atos homossexuais


conforme a descrição da situação moral de Sodomia que foi rejeitada por Deus (cf. Gn
18-19). A parte esse, fato, não há sagrada escritura aprovação dos atos sexuais contra a
natureza que não significa atos homossexuais, mas também atos sexuais com animais.
Ambos são rechaçados pela sagrada Escritura, tanto no Antigo como no Novo
Testamento.
 “Vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se iludam!
Nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados, 10 nem
os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os
bêbados, nem os caluniadores irão herdar o Reino de Deus” (1Cor 6,9-10).
 “Os homens, portanto, não têm desculpa, porque, embora conhecendo a Deus,
não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-
se em raciocínios vazios, e sua mente ficou obscurecida... Eles trocaram a
verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em lugar do
Criador, que é bendito para sempre... suas mulheres mudaram a relação natural
em relação contra a natureza. Os homens fizeram o mesmo: deixaram a relação
natural com a mulher e arderam de paixão uns com os outros, cometendo atos
torpes entre si, recebendo dessa maneira em si próprios a paga pela sua
aberração” (Rm 1,21.25-27).

6.3.3. Pecado venial e pecado mortal29


Essa categoria de pecado diz respeito à avaliação quanto à sua gravidade. Nem todos os
pecados tem a mesma gravidade e profundidade. Bem sabemos, de acordo com a
experiência, que nem todos os males humanos têm as mesmas gravidades, nem todas as
faltas têm a mesma profundidade, nem todos os pecados tem a mesma consistência e
consequência. O pecado em si, é sempre um mal que atenta sobre sempre contra o Amor a
Deus, a si mesmo e ao próximo, nem todos tem a mesma consistência.
A expressão “pecado venial” quer significar a leveza de um pecado. Essa realidade pode
se manifesta através da natureza dos atos, gestos e palavras. A venialidade do pecado
depende do comprometimento da consciência, do conhecimento do objeto do pecado, da
liberdade do sujeito, bem como das circunstâncias... Mas, sobretudo, da natureza da ação.
Por exemplo, um pecado por impaciência ou por palavras malditas nos relacionamentos
cotidianos, é bem diferente de um homicídio premeditado, aborto, furto de um bem
essencial a alguém, de um plano de corrupção, ou exploração sexual de uma pessoa
vulnerável.
Afirma o Catecismo da Igreja Católica: “A matéria grave é precisada pelos Dez
mandamentos, segundo a resposta de Jesus ao jovem rico: " Não mates, não come-
tas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não dó fraudes ninguém, honra
teu pai e tua mãe" (Mc 10,19). A gravidade dos pecados é maior ou menor: um assassinato

29
Cf. Catecismo da Igreja Católica, N. 1854-1864.

75
é mais grave que um roubo. A qualidade das pessoas lesadas é levada também em
consideração. A Violência exercida contra os pais é em mais grave que contra um estranho”
(CIC, 1857).
Para concluir recordemos o que nos diz São João:
“Se alguém vê o seu irmão cometer um pecado que não leva à morte, que ele
reze, e Deus dará a vida a esse irmão. Isso quando o pecado cometido não
leva para a morte. Existe um pecado que leva para a morte, mas não é a
respeito desse que eu digo para e rezar. Toda injustiça é pecado, mas existe
pecado que não leva para a morte” (1Jo 5,16-17).

6.3.4. Os pecados Capitais30


CONCEITUAÇÃO CONSEQUÊNCIAS VIRTUDE
PECADO
Básica Frutos Remédio
 Vaidade, narcisismo, a
 Conceito exagerado de si mesmo autoafirmação, a
1. Soberba presumindo senso de arrogância e o orgulho,  Humildade
superioridade. prepotência,
desobediência...
 Ganância, mesquinhez,
 Apego excessivo aos bens
2. Avareza não partilha, não doa,  Generosidade
materiais.
acumula bens...
 Dominação,
possessividade,
 Desejo extremo e egoísta pelo
3. Luxúria manipulação das  Castidade
prazer sensual e sexual.
pessoas, negação do
sacrifício...
 Atitude de manifesta sentimentos  Desprezo, violência,
raiva, ódio e cólera por alguma descontrole, injustiça,  Mansidão
4. Ira
coisa, por alguém ou grupo de homicídio...  Paciência
pessoas.
 Satisfação das necessidades de  Excesso, descontrole,
5. Gula  Temperança
comer e beber além do equilíbrio; vício, desequilíbrio...
 Manifestação de  Difamação,
6. Inveja descontentamento com o bem e perseguição, injúria,  Caridade
o sucesso alheio. mentira, indiferença...
 Estado de falta de ânimo para o  Negligência, desleixo,
7. Preguiça trabalho e qualquer esforço pelo morosidade, lentidão e  Diligência
bem dos outros. moleza, miséria, vício...

6.3.5. Pecado social31


Tanto o bem, quanto o mal, nunca ficam restritos à esfera individual (pessoal). Tanto as
nossas boas ações, quanto as más tem uma dimensão social, geram impacto coletivo. É
certo que o pecado é sempre uma realidade da pessoa, do indivíduo, por causa da
consciência, vontade, liberdade e responsabilidade. Mas as suas consequências
ultrapassam a própria pessoa (tanto para o bem quanto para o mal).

30
MAZZAROLO, Isidoro. O pecado o que é? Pecado Original, Individual, social, mortal, contra o Espírito Santo,
pecados Capitais. São Paulo: Paulus, 2019. Pag. 271-438.
31
MAZZAROLO, Isidoro. Obra citada. Pag. 157-164; PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ ». Compêndio
de Doutrina Social da Igreja, N. 117-118.

76
A expressão pecado social diz respeito às consequências da solidariedade no mal entre os
indivíduos. Tanto o mal quanto o bem, tem um dinamismo contagiante, envolvente,
gerando corresponsabilidade, formando rede.
O pecado social diz respeito a uma realidade coletiva que se opõe radicalmente à vontade
de Deus e que, por isso, nega o dinamismo do coletivo do Reino de Deus. O pecado social
atinge diretamente o bem comum, que o degenera e, dessa forma, ofende radicalmente a
dignidade da pessoa humana, nega a vida, atenta contra a justiça, despreza os valores
éticos, nega a ordem divina.
Na Sagrada Escritura encontramos diversas situações de pecado coletivo, como realidade
marcada pelo mal, generalizada decadência moral, opondo-se radicalmente à vontade de
Deus e envolvendo os mais variados sujeitos, por isso, tantas vezes se fala da cidade
pecaminosa, depravada, sanguinária. etc.
Revejamos alguns exemplos dramáticos:
 “Javé viu que a maldade do homem crescia na terra e que todo projeto do coração
humano era sempre mau... A terra se corrompera diante de Deus e estava cheia de
violência. Deus viu a terra corrompida, porque todo homem da terra tinha se
corrompido em seu comportamento” (Gn 6,6.12).
 “Assim diz o Senhor Javé: Ai da cidade que derrama sangue dentro de si mesma e
faz chegar a sua própria hora! Que fabrica seus ídolos, para com eles se contaminar!
O sangue que você derramou é a condenação para você. Ao fabricar ídolos, você se
contaminou, e assim apressou a sua hora e fez chegar o fim de sua existência. Por
isso, eu farei você passar vergonha entre as nações e ser objeto de caçoada entre os
outros países. Tanto os de perto como os de longe, todos vão rir de você, cidade
mal-afamada e cheia de desordens. Todos os chefes de Israel usam o poder para
derramar sangue. Aí são desprezados o pai e a mãe, o imigrante é oprimido, a viúva
e o órfão são explorados” (Ez 22,3-8).
 “Não há um só fiel em nosso país, não sobrou um único homem correto; está todo
mundo de tocaia, cada um caça um irmão para matar! Essa gente tem mãos
habilidosas para praticar o mal: o príncipe exige, o juiz se deixa comprar, o grande
mostra a sua ambição. E assim distorcem tudo. O melhor deles é como espinheiro, o
mais correto deles parece uma cerca de espinhos!” (Mq 7,2-4);
 “Cada um se cuide do seu próximo e não confie em nenhum dos irmãos, pois todo
irmão engana o seu irmão, e todo amigo espalha calúnias. Todo mundo logra o seu
próximo, e ninguém fala a verdade; treinam a língua para falar mentiras, e praticam
a injustiça até se cansar. Vivem no meio da falsidade e, por causa da falsidade,
recusam conhecer-me - oráculo de Javé” (Jr 9,3-5).
 “Jerusalém está desmoronando e Judá desmonta, pois o que eles dizem e fazem a
Javé, não passa de insulto à sua majestade. A expressão do rosto os condena: como
Sodoma, eles fazem propaganda do seu pecado e nem sequer o escondem.
Desgraçados! Preparam o mal para si mesmos” (Is 3,8-10).
 “Ai de Jerusalém, a rebelde, a contaminada, a cidade opressora! Cidade que não
escutou o chamado, que não aprendeu a lição. Ela não confiou em Javé, nem se
aproximou do seu Deus. Seus chefes são leões que rugem; seus juízes são lobos à
tarde, que não comeram nada desde a manhã; seus profetas são uns fanfarrões,
mestres de traição; seus sacerdotes profanam as coisas santas e violentam a lei de
Deus. Mas no meio dela está Javé, que é o justo, que não pratica a injustiça. Todo
dia ele dá a sua sentença; não há uma só manhã em que ele deixe de comparecer.
O criminoso, porém, não reconhece a sua culpa” (Sf 3,1-5).

77
6.3.6. Estrutura de pecado
O pecado social, por seu caráter coletivo, tem um dinamismo que tende a gerar estruturas
injustas, políticas opressoras, sistemas corruptos e imorais que atentam contra a dignidade
da pessoa humana, os valores éticos e o dinamismo do Reino de Deus.
Não há estruturas de pecado sem participação coletiva que tem na base a contribuição de
cada individuo. As estruturas de pecado, com seus mais variados sistemas, podem estar
presentes em todas áreas da vida da sociedade: na política, na economia, nas ciências, na
tecnologia, na religião32.
“Deve-se dizer que vivem em condições menos humanas, primeiramente os que são
privados do mínimo vital pelas carências materiais ou que por carências morais são
mutilados pelo egoísmo. E depois os que são oprimidos por estruturas opressivas, quer
provenham dos abusos da posse ou do poder, da exploração dos trabalhadores ou da
injustiça das transações” (PP,21)
“As decisões, graças às quais se constitui um ambiente humano, podem criar estruturas
específicas de pecado, impedindo a plena realização daqueles que vivem de diversos
modos oprimidos por elas. Destruir tais estruturas, substituindo-as por formas de
convivência mais autênticas é uma tarefa que exige coragem e paciência” (Centesimus
annus, 38).

7. A necessidade da penitência
Partindo da experiência bíblica podemos dizer que a verdadeira penitência 33 deve ser
interior (cf. Is 58,5-7; Jr 4,4; 9,24s; Rm 2,29; Cl 2,11; Gl 5,6; 6,15), mas manifesta-se
também em ritos exteriores (cf. Lv 4–5; 16,1-19; Nm 29,7-11; Lc 5,8; 18,9).
A penitência é também uma virtude (cf. Dt 4,9; Jó 42,6; Sl 51,10; Eclo 2,18; 1Cor 11,31;
Cl 3,9). Como já vimos a palavra penitência tem uma certa relação com palavra «pena» e
«peso». Trata-se moralmente do peso da responsabilidade que o fiel assume no processo
de mudança pelo simples fato de que nenhum processo de mudança é gratuito; ela tem um
«peso», um «preço».
Muito mais que um ato a ser executado, a penitência deve ser uma experiência de
compromisso «reparativo», ou seja, um empenho que o fiel assume no sentido de ajuda-lo
a não mais voltar ao que era antes ou fazer tudo melhor. Há perdas que são irreparáveis,
por exemplo, um homicídio.
Acima de tudo a penitência é uma experiência, ou compromisso de vigilância e
responsabilidade de um exercício de uma vida melhor. Vale dizer: e agora qual será o meu
compromisso, em que devo me exercitar... De nada serve, portanto, a tradicional penitência
pedida por muitos confessores: «filho reze 3 ave-marias e dois pai nossos!»
Do ponto de vista ético-existencial podemos dizer que a vida é uma «penitência», ou seja,
o bem viver e ser feliz, sadiamente feliz, requer de cada um de nós uma continua
predisposição para pensar o bem, programar o bem, sentir o bem, fazer o bem. Tudo isso
requer o exercício de virtudes e tem um peso, essa suave penitência é preço do Amor:
«aprendei de mim que sou manso e humilde coração, pois o meu jugo é suave e meu peso
é leve» (Mt 11,30).

8. A possibilidade da conversão

32
Cf. JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Evangelium Vitae. Sobre o valor e a inviolabilidade da vida
humana. Roma, 1995. N. 12; JOÃO PAULO II. Centesimus Annus, 38; PAULO VI. Populorum
progressio, 21.
33 Cf. MOLINARO, A, Penitenza, In Dizionario di Teologia Morale, Paoline. 1990, 922-932.

78
A penitência tem como meta a conversão. Esta é uma das mais evidentes manifestações da
grandeza do ser humano; ele, movido pela Graça de Deus, é capaz de “regenerar-se”, de
voltar atrás, refazer sua vida, reconsiderar seus pensamentos, seus projetos, redirecionar
seus planos. Enfim, isso é a capacidade de conversão. O ser humano é único capaz de
conversão. A conversão é um fenômeno que tem uma natureza profundamente moral e é
justamente por isso que essa experiência só cabe, de fato, ao ser humano, pois exige,
consciência, liberdade, escolha, ação.
Na realidade não existe o homem puramente convertido existencialmente falando; o fiel
está sempre em processo de mudança; veremos a seguir alguns motivos. Neste capítulo
queremos aprofundar essa esperança que brota para o pecador. Iniciaremos refletindo
sobre a conversão, a experiência da penitência e passaremos pela consciência moral e
chegaremos ao desafio da educação moral.
Conversão é a mudança moral pela qual o homem renuncia à sua conduta anterior negativa
para si, para outros e volta-se para Deus cumprindo sua vontade deixando para trás um
modo de pensar e agir. Na pregação dos profetas a conversão é o ato de abandono o
serviço aos ídolos que leva o fiel a descuidar do serviço a Deus e a observância de seus
preceitos (cf. Jr 7; cf. 1Ts 1,9). Conversão é, portanto, o retorno ao Bem!
Conforme a perspectiva bíblica esta conversão, porém, não é pura obra humana, mas é
fruto da intervenção de Deus na vida do homem (cf. Jr 24,7; 31,31-34; Ez 11,18-21; Os
14,2-10). Mas, uma vez que o homem dela participa com sua liberdade aceitando um
retorno (claro no caso do Filho pródigo – cf. Lc 15), a conversão se dá mediante um
processo e dessa forma, se configura como uma ação conjunta entre a iniciativa divina (que
toca a pessoa por dentro, a sensibiliza!) e a liberdade humana (que decide tomar um rumo
diferente). Com espírito de fé podemos dizer que ninguém converte e ninguém e também
ninguém se converte sozinho.
Tanto João Batista, como Jesus, começaram sua pregação exortando à conversão, em vista
da proximidade do Reino de Deus (cf. Mt 3,2; 4,17; Mc 1,15). Depois de Pentecostes os
apóstolos convidam seus ouvintes à conversão para serem batizados (cf. At 2,38; 20,21).
Isso nos que quer revelar que para poder abraçar a vida cristã é necessário renunciar a
tudo aquilo se opõe a Cristo.
Essa experiência de retorno, de mudança de perspectiva, de troca de direção que o fiel faz
em relação a Deus, não acontece automaticamente; ela se caracteriza por ser:
 Gradual, lenta, progressiva... Daqui o “princípio da gradualidade” 34
 Integral... tende a assumir a totalidade da pessoa, todas as suas dimensões, em vista
da sua saúde total...
 Livre e responsável, não existe processo de conversão forçado... Quem muda, deve
mudar por consciência própria, por amor, porque chegou a uma conclusão pessoal
dos rumos da própria vida!
 Contínua... abraça a totalidade da nossa existência... “ser perfeito como Pai, ser santo
como o Pai... é um caminho que jamais se encerra”.
É assim que todo fiel faz o seu caminho rumo a sua santidade. É uma obra conjunta entre
o sujeito e o Espírito Santo. A plenitude é o paraíso!

8.1. A conversão como responsabilidade pessoal


 «Convertam-se do seu mau comportamento, e obedeçam aos meus mandamentos e
estatutos, de acordo com toda a Lei que dei a seus antepassados e que lhes transmiti
através de meus servos, os profetas». Eles, porém, não obedeceram e foram mais

34 Trata-se de uma consideração pedagógica: mudar respeitando as fases...

79
teimosos ainda que seus antepassados, que não tinham acreditado em Javé seu Deus.
Desprezaram os estatutos dele e a aliança que ele havia feito com seus antepassados,
bem como as advertências que lhes havia feito. Correram atrás de ídolos vazios, e se
esvaziaram, imitando as nações vizinhas, coisa que Javé lhes tinha proibido” (1Re
17,13-15);
 “Converta-se ao Senhor e abandone o pecado. Suplique diante dele e reduza a ofensa
que você lhe fez. Volte para o Altíssimo, vire as costas para a injustiça e deteste
profundamente aquilo que ele abomina” (Eclo 17,20-21).
 “Se o injusto se arrepende de todos os erros que praticou e passa a guardar os meus
estatutos e a praticar o direito e a justiça, então ele permanecerá vivo, não morrerá.
Tudo de mau que ele praticou não será mais lembrado, e ele permanecerá vivo, por
causa da justiça que praticou. Por acaso, eu sinto prazer com a morte do injusto? -
oráculo do Senhor Javé. O que eu quero é que ele se converta dos seus maus caminhos,
e viva” (Ez 18,21-23).
 “Juro por minha vida - oráculo do Senhor Javé: Não sinto nenhum prazer com a morte
do injusto. O que eu quero, é que ele mude de comportamento e viva. Convertam-se,
convertam-se do seu mau comportamento. Por que vocês querem morrer, israelitas?”
(Ez 33,11)..
 “E eu lhes declaro: assim, haverá no céu mais alegria por um só pecador que se
converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão» (Lc 15,7).
 “O rapaz queria matar a fome com a lavagem que os porcos comiam, mas nem isso lhe
davam. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com
fartura, e eu aqui, morrendo de fome... Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e
dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu
filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Então se levantou, e foi ao encontro do
pai”. (Lc 15,16-20).
 “Portanto, arrependam-se e convertam-se para que os pecados de vocês sejam
perdoados. 20 Assim vocês poderão alcançar o tempo do repouso que vem do Senhor”
(At 3,19).
 “Filhos de Israel, convertam-se a ele desde o fundo da rebeldia de vocês” (Is 31,5).
 "Portanto, despojai-vos de toda maldade, mentira e hipocrisia, e de toda a inveja e
calúnia" (1Pd 2,1).
 “Renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo” (Ef 4,23-24).

8.2. A conversão como dom de deus


 “Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se
voltardes para nós, seremos salvos!” (Sl 80,4)
 "Ensinai-me os vossos caminhos, e na vossa verdade andarei; meu coração orientai para
vós: que respeite, Senhor, vosso nome!” (Sl 86,11).
 “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido... Dai-me
de novo a alegria de ser salvo e confirmai-me com espírito generoso” (Sl 51,12.14).
 "Dar-vos-ei um novo espírito e um novo coração; tirarei de vosso peito este coração de
pedra, no lugar colocarei novo coração de carne. Haverei de derramar meu Espírito em
vós e farei que caminheis obedecendo a meus preceitos, que observeis meus
mandamentos e guardeis a minha Lei” (Ez 36,26-27).

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