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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

WLADIMIR MACHADO DE SOUZA JÚNIOR

DIREITO COLETIVO DO TRABALHO E A PREVALÊNCIA


DAS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS SOBRE O LEGISLADO

CANOAS-RS

2021
WLADIMIR MACHADO DE SOUZA JÚNIOR

DIREITO COLETIVO DO TRABALHO E A PREVALÊNCIA


DAS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS SOBRE O LEGISLADO

Trabalho de Conclusão de Curso, na


modalidade monografia, apresentado à
Faculdade de Direito do Centro Universitário
Ritter dos Reis como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Juliano Gianechini


Fernandes

CANOAS-RS

2021
WLADIMIR MACHADO DE SOUZA JÚNIOR

DIREITO COLETIVO DO TRABALHO E A PREVALÊNCIA


DAS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS SOBRE O LEGISLADO

Trabalho de conclusão de curso apresentado


ao curso de direito do Centro Universitário
Ritter dos Reis como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em Direito.

CANOAS, ____ de _____________de 2021.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Orientador Prof. Juliano Gianechini Fernandes

_____________________________________________
Membro da Banca Prof.

_____________________________________________
Membro da Banca Prof.
“Sem a direção e capacitação dada por
Deus, seria impossível concluir esse
trabalho. Toda honra e glória seja dada ao
que é digno. Assim, agradeço e dedico
esta monografia a Ele.”
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo e todos, gostaria de agradecer a Deus, o nosso criador, que


esteve comigo em todos os momentos durante a elaboração do presente trabalho.
Toda honra e glória seja dada ao Senhor, pois é Ele que nos capacita. Sou grato por
Ele me sustentar até aqui, por não me deixar esmorecer e, ainda, me dar conforto nos
momentos de aflição, que durante a vida acadêmica, não são poucos.

Agradeço também, a minha querida esposa Caroline de Souza, por estar


sempre ao meu lado, me apoiando, motivando e auxiliando no que fosse preciso. Foi
a principal responsável pela minha entrada na faculdade, fez a inscrição do Enem e
me empurrou até a prova. Além do mais, sofreu junto, chorou junto, se preocupou
junto. Não tenho palavras para expressar o quão grato sou, e quão importante e
grande foi sua presença ao meu lado nessa etapa da minha vida.

Aos meus pais, Célia Roseli e Wladimir Machado, gratidão eterna. Desde
sempre me motivaram e serviram de base, para que minha preocupação maior, fosse
os estudos. Nunca me deixaram faltar nada e tiverem papel essencial para que eu me
tornasse o homem que sou hoje. E eu sei, que esse momento é de grande alegria
para eles, e dar-lhes essa felicidade, já faz tudo valer a pena.

As minhas irmãs, Juliana e Tatiane, agradeço por torcerem por mim; por
ficarem felizes pelas minhas conquistas e por sempre estarem ali do meu lado, junto
de suas famílias, quando precisei. Elas são grandes responsáveis também por quem
hoje sou, como irmãs mais velhas, serviram de espelho para mim, e me ajudaram a
errar menos.

Também, agradeço a todos os demais familiares e colegas que estiverem ao


meu lado durante esta trajetória, me dando o suporte necessário sempre que
solicitado.

Ainda, agradeço ao meu orientador Professor Juliano Gianechini Fernandes,


que contribuiu de forma muito significativa para a elaboração desse trabalho, sendo
muito atencioso as dúvidas e servindo de guia para que eu chegasse ao fim desse
caminho. O professor Eduardo Guimarães Brandão, também merece meu
agradecimento, pois foi deveras atencioso durante a elaboração do projeto dessa
monografia, auxiliando a identificação das problemáticas acerca do tema abordado
para melhor andamento da pesquisa.

Por fim, agradeço a todos professores da graduação em direito do Centro


Universitário Ritter dos Reis, que se esforçam ao máximo para passar seus
conhecimentos a todos os alunos, sempre de forma muito atenciosa, tendo toda
paciência e compreensão com as nossas dificuldades.
RESUMO

Esta monografia trata das alterações nas negociações coletivas trazidas pela lei
13.467/2017, conhecida como Reforma Trabalhista, dando ênfase ao artigo 611-A,
que incluiu na Consolidação da Leis do Trabalho a prevalência do acordado sobre o
legislado. O tema se mostra bastante relevante atualmente, pois apesar de parecer
bastante positivo uma maior autonomia das partes nas relações de emprego, ao
pensar nos princípios presentes no ordenamento jurídico trabalhista, essa autonomia
pode ser algo muito perigoso. Primeiro se buscou explicar a importância do direito
coletivo do trabalho, como também, dos sindicatos para as negociações coletivas.
Após, se viu a grande relevância dos princípios constitucionais e específicos no direito
do trabalho, sendo utilizados, para, principalmente, a organização do ordenamento e
proteção ao trabalhador, parte mais frágil da relação. No último capítulo, trouxe a
problemática de fato, utilizando do exposto nos capítulos anteriores e expondo as
violações principiológicas trazidas pela Reforma. No presente trabalho, quanto à
abordagem, foi utilizada a pesquisa qualitativa; quanto à natureza, a metodologia de
pesquisa aplicada, buscando assim uma solução prática para a solução do problema
exposto; já quanto à aos objetivos, a pesquisa exploratória. Os procedimentos
utilizados para a formulação desse trabalho foram as pesquisas bibliográficas e
documentais. Por fim, se concluiu através da pesquisa que a inclusão dos artigos 611-
A trouxe um grande risco à parte hipossuficiente da relação de emprego, o
trabalhador. As negociações coletivas ao prevalecerem o que está expressamente
previsto em lei, viola diversos princípios específicos e constitucionais, o que faz com
que a disparidade entre empregado e empregador se acentue, sendo negligenciada a
proteção ao trabalhador, que é a gênese do direito do trabalho.

Palavras-chave: Reforma trabalhista. Direito coletivo do trabalho. Negociações


coletivas. Princípios no direito do trabalho. Prevalência do acordado sobre o legislado.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

1 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO .................................................................. 12

1.1 Origem ............................................................................................................ 13

1.2 Organização Sindical ...................................................................................... 15

1.2.1 Sindicatos ............................................................................................. 16

1.2.2 Natureza Jurídica ..................................................................................... 18

1.2.3 Unicidade Sindical ................................................................................... 20

1.2.4 Categorias................................................................................................ 21

1.2.5 Estrutura Sindical................................................................................... 24

1.3 Negociação Coletiva ....................................................................................... 25

1.3.1 Instrumentos Normativos ......................................................................... 27

2 PRINCÍPIOS PRESENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO TRABALHISTA .... 30

2.1 Princípios Constitucionais presentes no Direito do Trabalho .......................... 31

2.1.1 Princípio Valorização Social do Trabalho ................................................ 31

2.1.2 Princípio do Direito a Dignidade da Pessoa Humana .............................. 33

2.1.3 Princípio da Vedação do Retrocesso Social ............................................ 35

2.1.4 Princípio da Legalidade ........................................................................... 36

2.2 Princípios Específicos do Direito do Trabalho ................................................. 38

2.2.1 Princípio da Proteção ............................................................................... 38


2.2.1.1 Princípio In Dubio Pro Operario ............................................... 39

2.2.1.2 Princípio da Norma Mais Favorável .................................................. 41

2.2.1.3 Princípio da Condição Mais Benéfica ............................................... 42

2.2.2 Princípio da Primazia da Realidade ......................................................... 44

2.2.3 Princípio da Irrenunciabilidade ................................................................. 46

3 A FLEXIBILIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO E A PREVALÊNCIA DO


ACORDADO SOBRE O LEGISLADO ...................................................................... 49

3.1 A Flexibilização do Direito do Trabalho ........................................................... 50

3.2 A prevalência do acordado sobre o legislado.................................................. 51

3.3. Análise dos princípios constitucionais violados .............................................. 54

3.3.1 A inconstitucionalidade da prevalência do acordado sobre o legislado ... 54

3.4 Análise dos princípios específicos do direito do trabalho violados .................. 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 64


INTRODUÇÃO

A Lei Nº 13.467/2017 ficou conhecida como Reforma Trabalhista, pois apesar


de haver apenas seis artigos, modificou mais de 100 pontos diferentes na CLT. Sem
dúvidas, a rapidez com que a Lei foi aprovada, deixou muitas dúvidas e desconfianças,
o que gerou, e geram até hoje, muita discussão acerca dos temas trazidos pela
referida Lei.

Com a chegada da Reforma Trabalhista, foram incluídos, dentre tantos outros,


os artigos 611-A e 611-B. O primeiro nos traz um rol das matérias em que as
negociações coletivas podem versar, tendo assim, prevalência ao que está expresso
em lei. Mas, por se tratar de rol exemplificativo, não se limita às matérias contidas nos
incisos, podendo haver outras. Já, como em toda regra há exceção, o artigo 611-B
versa sobre objetos ilícitos das convenções e acordos coletivos, e apresenta um rol
taxativo de direitos que não podem ser suprimidos ou reduzidos nas negociações.

O tema proposto se mostra cada vez mais presente em nosso meio, pois a
flexibilização das negociações coletivas afeta a sociedade como um todo. Existem
diversas opiniões sobre o tema, muitas divergem, e é isso que faz com que ele se
renove e mesmo após quase quatro anos da Reforma Trabalhista, seja ainda muito
atual.

A possibilidade de negociações entre as partes pode ser algo positivo, pois


permite a regulamentação do contrato de trabalho conforme a necessidade dos
interessados, porém, elas prevalecerem o que está na lei pode ser perigoso, como
veremos no presente trabalho.

A Constituição Federal e a CLT trazem princípios que norteiam todo o


ordenamento jurídico trabalhista. Portanto, a preocupação de as negociações
prevalecerem o legislado, é no sentido de proteger estes, que em algum momento
podem ser violados.
10

Na esfera trabalhista, é sabido que o empregado é parte vulnerável da relação


de emprego e os novos artigos 611-A e 611-B podem acentuar essa disparidade que
já se evidencia.

O objetivo geral dessa monografia é identificar dentre os principais princípios


constitucionais e específicos do ordenamento jurídico trabalhista, quais deles são
violados pela prevalência do negociado sobre o legislado.

Os objetivos específicos são: analisar o direito coletivo do trabalho do trabalho,


como forma de melhorar a compreensão da importância das negociações coletivas,
como também, dos sindicatos, parte integrante dessas negociações; analisar os
princípios constitucionais e os princípios específicos do ordenamento jurídico
trabalhista, evidenciando a relevância dos mesmos para o direito do trabalho; e,
analisar as violações principiológicas trazidas pela prevalência das negociações sobre
o expresso em lei.

Na elaboração do presente trabalho, quanto à abordagem, foi utilizada a


pesquisa qualitativa; quanto à natureza, a metodologia de pesquisa aplicada,
buscando assim uma solução prática para a solução do problema exposto; já quanto
à aos objetivos, a pesquisa exploratória. Os procedimentos utilizados para a
formulação desse trabalho foram as pesquisas bibliográficas e documentais. Assim,
utilizando dessa metodologia, assim foi estruturada a presente monografia.

O primeiro capítulo, analisará o direito coletivo do trabalho de forma breve,


trazendo um pouco de seu contexto histórico, seu conceito, dando maior ênfase a
explicações acerca dos sindicatos e das negociações coletivas trabalhistas.

Já o segundo capítulo, tratará dos princípios constitucionais e específicos


presentes no ordenamento jurídico trabalhista, mostrando seus conceitos, assim como
suas diferenças; e, também, evidenciando a relevância de tais para o direito do
trabalho.

Os dois capítulos inicias serão de suma importância para o trabalho, pois trarão
definições gerais sobre diversos fatores, que apesar de serem “corriqueiras” no direito
11

do trabalho, são necessárias. Terão como objetivo principal facilitar o entendimento


da problemática trazida pelo terceiro capítulo.

Este último, é o capítulo que explanará sobre a problemática de fato. Primeiro,


contextualizará suscintamente a Reforma Trabalhista, com seu aporte histórico e
principais mudanças que trouxe para o direito coletivo do trabalho; dissertará sobre a
flexibilização do direito do trabalho; trará as compreensões doutrinárias acerca da
prevalência das negociações coletivas sobre o previsto em lei, e, ainda, analisará essa
mudança utilizando os princípios como base fundamental.

Por fim, se tem a conclusão, trazendo as hipóteses de pesquisa da presente


monografia, identificando, se estão ou não confirmadas.
1 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

O Direito do Trabalho se divide em duas partes: Direito Individual do Trabalho


e Direito Coletivo do Trabalho.

O primeiro, é o mais conhecido, pois está presente no dia a dia de cada


trabalhador. Na prática, regula os contratos de trabalho firmados entre empregados e
empregadores, fixando direitos e obrigações das partes. Já o segundo, normatiza as
relações entre as entidades sindicais, que representam os empregados e
empregadores e também, as relações entre as organizações de trabalhadores e
empregadores diretamente.1

Resume Gustavo Cisneiros2: “O direito coletivo regula a relação sindical e não


a relação individual envolvendo empregado e empregador”.
De forma ampla, define Giuliano Mazzoni3:

Relação coletiva de trabalho é a relação jurídica constituída entre dois ou


mais grupos, respectivamente de empregadores e trabalhadores,
sindicalmente representados, ou então entre um empresário e um sindicato
ou mais sindicatos de trabalhadores para regular as condições de trabalho
dos sócios representados e o comportamento dos grupos visando ordenar as
relações de trabalho ou os interesses coletivos dos grupos.

Ainda, no mesmo sentido conceitua Maurício Godinho Delgado4:

Direito Coletivo do Trabalho é o conjunto de regras, princípios e institutos


regulatórios das relações entre os seres coletivos trabalhistas: de um lado, os
obreiros, representados pelas entidades sindicais, e, de outro, os seres
coletivos empresariais, atuando quer isoladamente, quer através de seus
sindicatos.

Também são consideradas relações coletivas, aquelas dos próprios


empregados com uma ou mais empresas, sem intervenção sindical, que tenham como

1 MARQUES, Fabíola; ABUD, Cláudia José. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.
175, p. 4.
2 CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho: Sintetizado. 2. ed. São Paulo: Forense, 2018, p.233.
3 MAZZONI, Giuliano, 1977, p.1206; apud NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do

Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1261.


4 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019, p.

1589.
13

objetivo a proteção de seus interesses, pois embora em um âmbito mais restrito, ainda
assim, buscam o interesse de um grupo.5

Portanto, o direito coletivo do trabalho é relação jurídica na esfera trabalhista


envolvendo interesses grupais, e não individuais e seus sujeitos são grupos de
empregados e empregadores, geralmente representados por seus sindicatos
respectivos, formando uma relação intersindical.

1.1 Origem

É de suma importância analisar a origem do Direito Coletivo do Trabalho antes


de prosseguir com seus demais atributos. Localizar-se temporalmente facilita a
compreensão do assunto e ajuda a uma melhor absorção da temática apresentada.

Entre os séculos XVIII e XIX, os trabalhadores negociavam individualmente


com empregadores, o que resultava em uma relação precária e de exploração. Diante
da evolução do capitalismo, estes trabalhadores influenciados por seus instintos e as
ideologias do sistema que vinha em ascensão, viram uma necessidade de se
organizarem em grupos, para buscar uma paridade de forças através da quantidade.6
o que, anos mais tarde, resultaria na criação dos sindicatos.

Nesta mesma ideia versa Carlos Henrique Bezerra Leite7 :“O direito coletivo do
trabalho nasce com o reconhecimento do direito de associação dos trabalhadores, o
que efetivamente só se deu após a Revolução Industrial (século XVIII).”

Em Londres, no ano de 1720, é considerado por muitos doutrinadores o início


do Direito Coletivo do Trabalho, pois lá surgiram as primeiras organizações, chamadas
trade unions, que buscavam reivindicar melhores salários e limitações nas jornadas
de trabalho8.

5 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 1263.
6 MARTINEZ, Luciano. Condutas antissindicais, São Paulo: Saraiva, 2012, p. 27.
7 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021,

p. 371.
8 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021,

p. 371.
14

Após esse período, a livre sindicalização passou a ser inserida nos


ordenamentos jurídicos de vários países. A Constituição Mexicana de 19179 foi a
primeira a inserir esse direito. Em seu artigo 123, inciso XVIII traz: “Tanto os
trabalhadores quanto os empregadores terão o direito de se associar na defesa de
seus respectivos interesses, formando sindicatos, associações profissionais, etc.”

Logo após, em 1919, foi igualmente reconhecido o direito de associação pela


Constituição de Weimar, sendo assim, a Alemanha, o primeiro país da Europa a
reconhecer tal direito.10

Ainda, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos11 trouxe, em


seu artigo 23, item 4, que: “Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas
sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses”. Isso, facilitou
que se propagasse o direito da livre sindicalização para o restante do mundo.

No Brasil, algumas décadas depois, as organizações operárias começaram a


aparecer. Foram elas as responsáveis pelas primeiras manifestações envolvendo
redução de jornada e verbas salariais. Assim lecionam Francisco Ferreira Jorge Neto
e Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante12 :

As primeiras organizações operárias começam a dar sinais de existência na


metade do séc. XIX, responsáveis pelas primeiras reivindicações salariais e
de redução de jornada, com, muitas vezes, atribuições assistenciais, como a
Liga Operária (1870); Liga Operária de Socorros Mútuos (1872); União
Operária (1880); Liga de Resistência dos Trabalhadores em Madeira (1901);
Liga dos Operários em Couro (1901); Liga de Resistência das Costureiras
(1906) etc.

No âmbito Constitucional, o direito de associação existe desde a Constituição


de 1824, que assim versava no art. 72, § 8º: “a todos é lícito associarem-se e reunirem-

9 MÉXICO. Constitucion (1917). Tradução nossa. Constitucion de Mexico. Art. 123, XVIII.
10 10 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2021, p. 371.
11 Assembleia Geral da ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nações Unidas, 217

(III) A, 1948, Paris. Art. 23, item 4.


12 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do

Trabalho, 9. ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 1251.


15

se livremente, sem armas”. As constituições de 1934, 1937, 1946 e de 1967, esta


última com a Emenda Constitucional no ano de 1969, mantiveram esse direito.13

A atual magna carta, promulgada em 1988, garante também esse direito ao


citar em seu artigo 8º: “É livre a associação profissional ou sindical”. Ao utilizar a
redação de Gustavo Cisneiros14, conclui-se que: “o Estado não pode coibir a liberdade
de associação (salvo a associação com fins ilícitos)”.

Corrobora também para tais alegações o artigo 5º, incisos XVII e XVIII15 da
Constituição Federal, que assim dispõem:

Art. 5º (...):
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;

Portanto, é notório a legalidade atual da livre associação sindical. Agora, após


o contexto histórico, identificando a origem do direito coletivo, é de extrema relevância
a conceituação do mesmo, para posterior análise das entidades nele contidas.

1.2 Organização Sindical

Entre os séculos V e XV, conhecida como Idade Média, a utilização de escravos


deu lugar para o modelo de servidão. Nesse modelo os servos prestavam serviços
aos senhores feudais por troca de proteção. Porém, perto do final da Idade Média, a
servidão começa a perder força em razão do movimento das classes superiores, que
buscavam diminuir o número de trabalhadores em suas terras. Assim, parte da
população começou a migrar dos campos para as cidades. Com o intuito de trazer
mais proximidade as pessoas, surge as corporações de ofício.16

13 MARQUES, Fabíola; ABUD, Cláudia José. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p.
175.
14 CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho: Sintetizado. 2. ed. São Paulo: Forense, 2018, p.233.
15 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988. Art. 5º, XVI, XVIII.


16 CORREIA, Henrique. Resumo de direito do trabalho. São Paulo: juspodivm, 2018, p. 2.
16

As corporações de ofício eram instituições que organizavam as relações de


trabalho. Estabeleciam relacionamentos entre as pessoas que estavam no mundo do
trabalho, e especificamente, eram desenvolvidas conforme o ambiente em que
estavam inseridas.17

Ainda, Maurício Godinho Delgado18 assim leciona:

(as corporações de ofício) eram, em certa medida, associações de produtores


ou, até mesmo, forma de organização da produção incrustada nas cidades
europeias do período. Elas integravam-se, hierarquicamente, por três
segmentos de indivíduos: aprendizes, companheiros e mestres — o que, por
si só, já demarca sua grande distância do moderno sindicalismo.

Apesar da grande diferença das corporações de ofício com o sindicalismo


moderno, a história do direito coletivo brasileiro, surgiu a partir das corporações
presentes em Olinda, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, na Europa ideias
liberais relacionadas a liberdade individual começaram a surgir, ideias estas,
incompatíveis com as corporações de ofício. Influenciando então, a Constituição
Imperial de 1824, que em seu art. 179, § 25, aboliu as corporações de ofício.19

Assim, a organização de trabalhadores em grupos já não é algo recente, no


passado se reuniam em grupos através das corporações de ofício, hoje, é através dos
sindicatos.

1.2.1 Sindicatos

Entende-se por Sindicato a organização que representa uma classe de


empregado ou empregador, e busca defender os interesses coletivos do grupo.
Corrobora com tal afirmação Amauri Mascaro Nascimento20: “Sindicato é uma
organização social constituída para, segundo um princípio de autonomia privada

17 OLIVEIRA, Elizandro Chaves de. REIS, Jaime Estevão dos. O poder nas corporações de ofício.
VII Congresso Internacional de História, 397-404, 2017.
18 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019, p.

1619.
19 BARROS, Cássio Mesquita. Reforma da organização sindical: como obter êxito? Seminário

Nacional sobre a Reforma da organização sindical e legislação trabalhista. 2003, p. 3.


20 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,

p. 1302.
17

coletiva, defender os interesses trabalhistas e econômicos nas relações coletivas


entre os grupos sociais”.

No mesmo sentido, expõe César Reinaldo Offa Basile21:

Sindicato representa uma associação de pessoas físicas ou jurídicas


pertencentes a uma mesma atividade econômica ou profissional, possuindo
como principal atribuição a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.

Portanto, o objetivo principal dos sindicatos não é a disciplina de classe, mas a


defesa de classe, a exigência de melhores condições de trabalho, a negociação
coletiva e a condução dos processos desencadeados por conflitos coletivos.

Ainda, pode-se utilizar a própria Consolidação das Leis do Trabalho para


conceituar os sindicatos. O CAPUT do art. 511 da CLT22 expressa:

Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos
seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como
empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou
profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou
profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas. (Redação
restabelecida pelo Decreto-lei nº 8.987-A, de 1946).

Nesse contexto, é sabido que o princípio da livre associação encontra guarida


Constitucional em seu artigo 8º que assim afirma: “É livre a associação profissional
ou sindical”23. Portanto, ninguém pode ser obrigado a se afiliar ou se manter filiado a
um sindicato. Também, é possível afirmar que o sindicato se assemelha a uma
associação, porém de forma muito mais ampla, uma vez que, judicial e
extrajudicialmente, representa toda a categoria, não só seus afiliados.24

Assim, partindo do conceito jurídico do artigo celetista supramencionado (art.


511, CLT), se conclui que a afiliação aos sindicatos não se limita a empregados e
empregadores. Trabalhadores autônomos e profissionais liberais também podem

21 BASILE, César Reinaldo Offa. Coleção sinopses jurídicas 28 - Direito do trabalho:


remuneração, duração do trabalho e direito coletivo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 205.
22 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.

511.
23 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988. Art. 8º, caput.


24 CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho: Sintetizado. 2. ed. São Paulo: Forense, 2018, p.233.
18

filiar-se, desde que possuam profissão ou realizem atividades idênticas, similares ou


conexas. O que permite essa afiliação é o fato de que os sindicatos têm como objetivo
a proteção dos interesses da classe num todo, não estando restrito, apenas, aos
empregados e empregadores, nos limitados aspectos da relação stricto sensu.25

Ao falar de contribuição, regula o inciso IV26 do artigo 8º da Constituição Federal


que sua fixação se dará em assembleia geral, e nos casos de categoria profissional,
será descontada em folha, e serve para custear o sistema confederativo da
representação sindical respectiva.

Uma das principais mudanças trazidas pela Reforma Trabalhista nesse tema,
é a não obrigatoriedade da contribuição sindical. O artigo 578 da CLT diz que as
contribuições devem ser aplicadas, recolhidas e pagas, desde que, prévia e
expressamente autorizadas27. No mesmo sentido, o artigo 579 afirma a necessidade
dessa autorização, assim como, estipula que, a contribuição confederativa, a
mensalidade sindical, e as demais contribuições que vierem a ser incluídas pelo
estatuto ou por negociações, só podem ser exigidas dos empregados filiados ao
sindicato.28

Por fim, os sindicatos buscam na força do grupo uma paridade entre


empregados e empregadores, servem como um protetor dos interesses da classe ao
qual representa e a seus filiados, em contrapartida, são exigidas contribuições.

1.2.2 Natureza Jurídica

No Brasil, as discussões acerca da natureza jurídica dos sindicatos são


bastante pacificadas. Porém, na esfera global, essa natureza jurídica varia conforme
o ordenamento jurídico de cada país, como afirma Carlos Henrique Bezerra Leite29 :

25 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 1121.
26 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Centro Gráfico, 1988. Art. 8º, IV.
27 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.

578.
28 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.

579 e 579-A.
29 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021,

p. 391.
19

“A natureza jurídica dos sindicatos varia de acordo com o ordenamento jurídico de


cada Estado”.

Países totalitários tiram toda e qualquer autonomia dos sindicatos e os


consideram órgãos do próprio Estado. São países onde não existe liberdade sindical.
Nesses países os sindicatos são considerados pessoas jurídicas de direito público, e
como exemplos, têm os sindicatos dos países integrantes do antigo bloco socialista e,
também, os da Itália fascista. Eles possuíam essa natureza jurídica, chamada de
natureza publicística. Por outro lado, em países onde a liberdade sindical existe, os
sindicatos têm autonomia perante o Estado, possuindo assim poder normativo. Esses
sindicatos possuem natureza jurídica privatística, sendo considerados pessoa jurídica
de direito privado. Ainda, alguns doutrinadores, cito Cesarino Júnior, define sindicato
sendo uma pessoa jurídica de direito social, isto é, uma instituição coletiva que busca
a proteção aos fracos.30

Assim, atualmente, o sindicato brasileiro é, nas palavras de Jorge Neto e


Cavalcante31: “visto como pessoa jurídica de Direito Privado. Não há mais
interferência do Estado (art. 8º, I, CF). A associação é livre (art. 5º, XX, art. 8º). Possui
uma estrutura associativa”.

No ano de 1937, durante o sistema constitucional, e até mesmo depois, embora


o sindicato se conservando como pessoa jurídica de direito privado, apresentou
características publicísticas em suas atribuições legais, como também, no exercício
de funções designadas de Poder Público.32

Maurício Godinho Delgado33 corrobora com essa afirmação ao assim expor:

Ainda que sendo entidades integradas por seres da sociedade civil


(trabalhadores subordinados ou autônomos, e empregadores), os sindicatos

30 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021,
p. 391.
31 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do

Trabalho, 9. ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 1288.


32 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,

p. 1303.
33 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019, p.

1617.
20

tinham estrutura e funcionamento de órgãos estatais ou paraestatais, com


funções de caráter público. Daí sua natureza publicística

Somente com a Constituição de 1988 o vínculo com o Poder Público foi


efetivamente rompido, dando uma verdadeira autonomia aos sindicatos.34

Assim, os sindicatos têm sua natureza jurídica nos dias atuais bem definida,
não tendo interferências estatais, agindo de forma autônoma, dentro dos limites legais.

1.2.3 Unicidade Sindical

Existem sistemas jurídicos em que em uma mesma base territorial podem


existir apenas um sindicato, enquanto em outros, é permitido mais sindicatos em uma
mesma base territorial. O primeiro sistema é chamado de Unicidade Sindical, já o
segundo, é denominado de Pluridade Sindical. Sobre isso, afirma Amauri Mascaro
Nascimento35:

Há sistemas jurídicos nos quais em uma mesma base territorial a lei permite
apenas um sindicato representativo do mesmo grupo, enquanto em outros é
facultada a constituição, no mesmo grupo, de mais de um sindicato
denominando-se o primeiro sistema “unicidade sindical” ou sistema do
“sindicato único”, como no Brasil, e o segundo, “pluralidade” ou “pluralismo
sindical”, como na França.

No Brasil, o sistema adotado é o de Unicidade Sindical. Tal sistema foi


recepcionado pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 8º, inciso II. Assim
expressa a magna carta36:

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: II -


é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau,
representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base
territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores
interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;

34 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 1303.
35 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,

p. 1278.
36 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988. Art. 8º, II.


21

A Consolidação das Leis do Trabalho fortaleceu esse sistema em seu artigo


516: “Não será reconhecido mais de um Sindicato representativo da mesma categoria
econômica ou profissional, ou profissão liberal, em uma dada base territorial”.37

Portanto, nunca haverá no Brasil mais de uma organização sindical dentro da


mesma base territorial, que represente a mesma categoria. Entende-se por base
territorial uma área municipal, intermunicipal, estadual, interestadual ou nacional. Ou
seja, é vetado a criação de um sindicato que abranja apenas um bairro, ou ainda, que
abranja mais de um país.38

Ocorre que, a tendência é de rever o conceito de unicidade, para então adotar


o sistema de pluralidade. O fundamento para tal, é de que a pluralidade se adequa
melhor ao direito de liberdade sindical. Porém, na verdade, o que teremos é uma
divisão sindical, o que não se alinha a verdadeira ideia de pluralismo, pois o real
sentido é formação de correntes de pensamentos diferentes, para disputarem espaço
dentro de uma unidade de poder, o que é diferente de pluralidade de poder.39

Por fim, é de incumbência do Ministério do Trabalho proceder o registro de


novas organizações sindicais nos termos da Súmula 677 do STF: “Até que lei venha
a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das
entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade” 40. E, além
dessa incumbência, cabe também ao Ministério do Trabalho o controle do número de
sindicatos em cada base territorial, assim zelando pelo princípio da unicidade sindical.

1.2.4 Categorias

No ordenamento jurídico brasileiro, os trabalhadores são organizados em


grupos denominados de categorias. São elas a categorias profissional e a

37 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.
516.
38 BASILE, César Reinaldo Offa. Coleção sinopses jurídicas 28 - Direito do trabalho:

remuneração, duração do trabalho e direito coletivo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 202.
39 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros,

2005, p. 304.
40 BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Súmula 677. Sessão Plenária de 24/09/2003. Fonte de

publicação: DJ de 09/10/2003, p. 4; DJ de 10/10/2003, p. 4; DJ de 13/10/2003, p. 4.


22

diferenciada, do lado dos trabalhadores, e a categoria econômica, do lado dos


empregadores. 41

Apesar das categorias se apresentarem como um resquício do corporativismo,


ainda é um fundamento da organização sindical no Brasil. A Constituição Pátria de
1988 recepcionou tal entendimento em diversos dispositivos que citam as categorias,
aos quais, lista-se abaixo alguns exemplos.42

O parágrafo único do art. 7º: “São assegurados à categoria dos trabalhadores


domésticos os direitos previstos nos incisos (...)”43.

O art. 8º, incisos II, III e IV44:

II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer


grau, representativa de categoria profissional ou econômica (...);
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria (...);
IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha (...)”.

O art. 149 e o parágrafo único do artigo 20645:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de


intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias
profissionais ou econômicas, (...);
Art. 206. (...) Parágrafo Único. A lei disporá sobre as categorias de
trabalhadores considerados profissionais da educação básica (...).

Diante o exposto, não há dúvidas que a organização sindical por meio de


categorias encontra guarida constitucional. Portanto, é importante conceituar cada
uma delas.

41 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019, p.
1602.
42 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 966.
43 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988. Art. 7º, §Ú.


44 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988. Art. 8º, II, III, IV.


45 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988. Art. 149; Art. 206, parágrafo único.


23

A categoria profissional é caracterizada por uma situação semelhante


enfrentada pelos trabalhadores frente às atividades desenvolvidas por seus
empregadores. Ou seja, todos os trabalhadores vinculados a empregadores que
exerçam atividade econômica igual, similar ou conexa.46

Encontra guarida na Consolidação das Leis do Trabalho tal afirmação no § 2º


do art. 51147:

Art. 511 (...) § 2º A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou


trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade
econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, compõe a
expressão social elementar compreendida como categoria profissional

Já a categoria econômica nada mais é do que o encontro de empregadores que


desenvolvem atividades idênticas, semelhantes ou conexas, que formarão um
sindicato patronal.48

O paralelismo sindical estipula que para cada sindicato de categoria


econômica, deverá ter um para categoria econômica correspondente. Como por
exemplo os sindicatos dos bancos x bancários; indústria x industriário; metalúrgica x
metalúrgicos; etc.49

Existe ainda, a chamada categoria profissional diferenciada, esta categoria leva


em consideração a profissão do empregado, não a atividade do empregador. Embora
a Consolidação das Leis do Trabalho, em seu art. 511, § 3º, autoriza a formação dessa
categoria por condições de vidas singulares, as jurisprudências mostram que, na
prática, somente as categorias que possuam estatuto próprio ou as arrolados no rol
do art. 577 da CLT são consideradas diferenciadas.50

Em suma, a categoria profissional e profissional diferenciada criam sindicatos


formados por grupos de trabalhadores, diferenciando-as apenas o foco em que a

46 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 1127.
47 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.
511, § 2º.
48 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 1126.
49 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. De acordo com a reforma trabalhista. 14. ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2017, p. 1282.


50 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 1131.
24

dado, na primeira, é a atividade do empregador, na segunda, suas próprias profissões.


Já a categoria econômica cria sindicatos formados por grupos de empregadores
conforme a principal atividade econômica por eles desenvolvida. Estes últimos,
também são chamados de sindicatos patronais.

1.2.5 Estrutura Sindical

Pelo que expõe a CLT, ao falar em estrutura sindical, se pode citar sua divisão
em três entidades sindicais: os sindicatos, as federações e as confederações. Em
caráter ilustrativo, podemos pensar em uma pirâmide, onde os Sindicatos estão na
base, sendo considerados associações sindicais de 1º grau. Nas palavras de Ricardo
Resende51, vimos o:

Sindicato, atuando na base da pirâmide, diretamente em contato com os


trabalhadores. É a entidade que detém a prioridade da negociação coletiva,
e pode se auto-organizar, independentemente de qualquer ingerência estatal,
observada apenas a regra da unicidade e a limitação territorial mínima.

Já no meio e no topo dessa pirâmide, respectivamente, se encontra as


Federações e as Confederações. Estas, de acordo com o art. 533 da CLT52, são
consideradas associações sindicais de grau superior.

As Federações são formadas a partir de um grupo de cinco ou mais sindicatos,


observando os critérios estabelecidos no art. 534 da CLT que assim elenca:

É facultado aos Sindicatos, quando em número não inferior a 5 (cinco), desde


que representem a maioria absoluta de um grupo de atividades ou profissões
idênticas, similares ou conexas, organizarem-se em federação.

Por serem consideradas entidades sindicais de grau superior, sua área de


atuação deverá ser, somente, em âmbito estadual, interestadual ou nacional.53

51 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 1139, grifo do autor.
52 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.
533.
53 BASILE, César Reinaldo Offa. Coleção sinopses jurídicas 28 - Direito do trabalho:

remuneração, duração do trabalho e direito coletivo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 208.
25

Já as Confederações, são formadas por um grupo de no mínimo três


federações, devendo, obrigatoriamente, estabelecer sua sede na capital da República,
como assim estipula o art. 535 da CLT: “As Confederações organizar-se-ão com o
mínimo de 3 (três) federações e terão sede na Capital da República”. Portanto, seu
âmbito de atuação é, exclusivamente, nacional.54

Os parágrafos do artigo acima citado, estipulam as nomenclaturas que devem


ser aderidas pelas confederações assim como traz restrições quanto ao número, algo
que a CF de 1988 não recepcionou, diante da autonomia das organizações sindicais,
que não devem sofrer interferências do Poder Público, ainda assim, grande parte das
confederações, hoje, aderiram às nomenclaturas descritas no dispositivo legal.55

Ainda, no mais alto nível das relações do trabalho existem as centrais sindicais,
reconhecidas formalmente com a promulgação da Lei 11.648/2008, explicando em
seu art. 1º, que são entidades de representação geral dos trabalhadores no âmbito
nacional. 56

1.3 Negociação Coletiva

O principal método de solução de conflitos e pacificação social no Direito do


Trabalho é a Negociação Coletiva. É um método de autocomposição, onde as próprias
partes se envolvem e buscam a melhor maneira de solucionar o conflito, assim
colocando um fim no mesmo.57

No mesmo sentido também conceitua Amauri Mascaro Nascimento58:

Negociações coletivas são uma técnica que trabalhadores e empregadores


podem usar para a autocomposição dos seus conflitos coletivos de trabalho.
Desenvolvem-se segundo um procedimento via de regra informal, direto,

54 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.
535.
55 BASILE, César Reinaldo Offa. Coleção sinopses jurídicas 28 - Direito do trabalho:

remuneração, duração do trabalho e direito coletivo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 210.
56 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021,

p. 392.
57 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 1147.
58 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,

p. 384.
26

iniciado pelos trabalhadores por meio das suas respectivas representações,


em nível de empresa ou de categoria econômico-profissional, que,
formulando reivindicações, tentam obter o consentimento dos empregadores,
parcial ou total, para as suas pretensões de melhoria das condições que
disciplinarão os contratos individuais de trabalho daqueles que são
representados nas tratativas.

Os métodos de solução de conflitos entre indivíduos e sociais, hoje, são


divididos em três grupos: autocomposição, heterocomposição e autotutela. A essência
para se diferenciar os grupos são os sujeitos envolvidos e na sistemática operacional
para chegar à solução do conflito. Na autotutela e na autocomposição, somente os
sujeitos do confronto estão presente para buscar a solução do conflito, sendo que na
primeira, apenas um dos lados estará presente. Já na heterocomposição, há um
terceiro auxiliando a solucionar o conflito, como por exemplo a arbitragem. Assim, as
negociações coletivas estão enquadradas no grupo dos instrumentos de
autocomposição.59

Internacionalmente, as negociações coletivas são reguladas por convenções


da Organização Internacional do Trabalho - OIT, as quais incentivam o seu uso como
uma maneira de autocomposição dos conflitos coletivos60.

As convenções da OIT são, nas palavras de Arnaldo Sussekind61:

Tratados multilaterais abertos, de caráter normativo. Multilaterais, porque


podem ter um número irrestrito de partes: abertos, porque podem ser
ratificadas, sem limitação de prazo, por qualquer dos estados-membros da
OIT, ainda que esse Estado não tivesse integrado a Organização quando da
aprovação do tratado (...); de caráter normativo, porque contém normas
gerais, cujo destino é a incorporação ao direito interno dos países que
manifestaram sua adesão ao respectivo tratado.

Atualmente, no Brasil, estão ratificadas duas convenções que versam sobre as


negociações coletivas62, sendo elas as convenções de nº 98 e nº 154, das quais, a

59 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019, p.
1640.
60 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,

p. 1381.
61 SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções e recomendações da OIT. Revista Academia Brasileira de

Letras Jurídicas, Rio de Janeiro, revista nº 24, p. 9-11.


62 Convenções ratificadas pelo Brasil. Organização internacional do trabalho. Disponível em:

https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/lang--pt/index.htm. Acesso em: 02 Mai 2021.


27

primeira versa sobre Direito de Sindicalização e de Negociação Coletiva 63, e a


segunda, sobre o Fomento à Negociação Coletiva64.

A convenção 98, tem como objetivo estimular empregados e empregadores a


resolverem os conflitos oriundos da relação laboral através das negociações
coletivas.65 A convenção 154, segue a mesma ideia, como o próprio título já
demonstra.

A convenção 154 da OIT, em seu artigo 2º, fixa negociação coletiva como66:

todas as negociações que tenham lugar entre, de uma parte, um empregador,


um grupo de empregadores ou uma organização ou várias organizações de
empregadores, e, de outra parte, uma ou várias organizações de
trabalhadores, com fim de: a) fixar as condições de trabalho e emprego; ou
b) regular as relações entre empregadores e trabalhadores; ou
c) regular as relações entre os empregadores ou suas organizações e uma
ou várias organizações de trabalhadores, ou alcançar todos estes objetivos
de uma só vez.

Ainda, a Constituição Federal, como magna carta, obriga em seu art. 8º, inciso
VI, a participação dos sindicatos nas negociações coletivas, também, o artigo 616, da
CLT, proíbe a recusa da participação do sindicato na negociação coletiva quando
provocados.

1.3.1 Instrumentos Normativos

Como exposto acima, o objetivo das negociações é solucionar conflitos de


interesses entre trabalhadores e empregadores. Portanto, entende-se por instrumento
normativo, todo documento que formaliza uma solução, mesmo que temporária, de
um conflito oriundo de uma relação coletiva de trabalho.67

63 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção 98, de 1951. Direito de


Sindicalização e de Negociação Coletiva.
64 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Convenção 154, de 1983. Fomento à

Negociação Coletiva.
65 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011,

p. 1294.
66 GUNTHER, Luiz Eduardo. A negociação coletiva do trabalho como direito fundamental:

necessidade de afirmação da tutela dos direitos de personalidade na atividade empresarial


mundializada. Revista Jurídica - UniCuritiba, Curitiba, n. 21, temática n. 5, p. 95-121, 2008.
67 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 1018.
28

São denominados instrumentos normativos, os Acordos Coletivos de Trabalho


– ACT a as Convenções Coletivas de Trabalho – CCT. Ainda, a OIT não faz distinção
entre esses dois instrumentos, chamando ambos de convênios coletivos. 68

Os acordos coletivos possuem embasamento legal no §1º do art. 611 da CLT69,


que assim expõe:

Art. 611 § 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias


profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da
correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho,
aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de
trabalho. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967).

Polo exposto, resta claro que o ACT possui um âmbito de atuação limitado. Os
sujeitos desses acordos são, de um lado, o sindicato representativo da categoria
profissional e, do outro, uma ou mais empresas da categoria econômica equivalente,
assim se restringindo apenas a estes, e não a toda a classe.

Já, as convenções coletivas possuem um âmbito de atuação muito maior, pois


possuem eficácia na classe como um todo, incluindo aqueles que não são sócios de
sindicato algum.

Nas palavras de César Reinaldo Offa Basile70:

Convenção coletiva de trabalho é o acordo de caráter normativo (impessoal


e abstrato) pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias
econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no
âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho
(CLT, art. 611, caput).

Portanto, o que diferencia os dois instrumentos normativos é seu âmbito de


atuação e a legitimidade das partes. Enquanto o ACT é firmado entre o sindicato dos
trabalhadores (categoria profissional) e empregadores, atuando sozinho ou no
máximo por outros empregadores, e só possuem eficácia nos contratos das partes

68 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021,
p. 406.
69 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.

611, § 1º.
70 BASILE, César Reinaldo Offa. Coleção sinopses jurídicas 28 - Direito do trabalho:

remuneração, duração do trabalho e direito coletivo. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 233.
29

envolvidas, a CCT é uma negociação entre sindicatos, mantendo-se o sindicato dos


trabalhadores, porém, agora, negocia com o sindicato patronal (categoria econômica),
trazendo assim eficácia para a classe toda.71

Ainda, ao falar de hierarquia entre estes instrumentos, os acordos, por serem


mais específicos, têm prevalência sobre as convenções, como afirma a redação
trazida pela reforma trabalhista ao art. 620 da CLT72: “As condições estabelecidas em
acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerão sobre as estipuladas em convenção
coletiva de trabalho”.

Por fim, diante o exposto no presente capítulo, fica claro o conceito e a


importância das negociações coletivas para o direito do trabalho. No próximo capítulo,
será exposto as bases principiológicas do ordenamento jurídico trabalhista relevantes
ao presente trabalho, o que auxiliará o correto entendimento da gravidade do
problema apresentado no último capítulo.

71RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 1148.
72BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Art.
620.
2 PRINCÍPIOS PRESENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO TRABALHISTA

Os princípios são fontes formais do direito e, ainda que alguns doutrinadores


discordem, são fundamentais para o sistema jurídico73. Eles trazem coerência interna
ao ordenamento jurídico que estão inseridos, como assim afirma Ricardo Resende 74:
“Princípios são os elementos de sustentação do ordenamento jurídico, elementos
estes que lhe dão coerência interna”. No mesmo sentido afirma Carlos Henrique
Bezerra Leite75 “A coerência interna de um sistema jurídico decorre dos princípios
sobre os quais se organiza”.

Ainda, na definição de Alexy76: “Princípios são, (...), mandamentos de


otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e
pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende somente das
possibilidades fálicas, mas também das possibilidades jurídicas”.

Ou seja, são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida
possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes.77 Portanto, evidencia-
se a importância dos princípios no ordenamento jurídico trabalhista.

Existem três funções básicas que os princípios desempenham: a função


informativa, a função normativa e a função interpretativa.78

A função informativa é quando o princípio é utilizado como base para o


legislador no momento em que está criando uma norma jurídica, tendo assim, caráter
de fonte material do direito.79 Já em sua função normativa, os princípios são utilizados
em casos concretos, para preencher possíveis lacuna, como assim expõe o artigo 8°
da CLT:

73 CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho: Sintetizado. 2. ed. São Paulo: Forense, 2018, p. 7.
74 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 20.
75 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2021,

p. 52.
76 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. 2. ed.

São Paulo: Malheiros, 2011, p. 90.


77 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 19.
78 SANDES, Fagner; RENZETTI, Rogério. Direito e Processo do Trabalho. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 2020, p. 24.


79 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 19.
31

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas
gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo
com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que
nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

Assim diante da omissão da lei, assume um caráter de fonte supletiva de


direito.80 No tocante da função interpretativa, os princípios têm a responsabilidade de
auxiliar a interpretação da norma jurídica, portanto, ao haver dúvidas sobre o sentido
de uma norma, deve-se buscar a interpretação que mais se alinha com os princípios
do ordenamento jurídico em que ela se enquadra.81

Por fim, existem diversos princípios que norteiam o direito do trabalho e por
divergências doutrinarias seria quase impossível numerá-los. Portanto, no presente
tópico, os princípios serão divididos em constitucionais e específicos ao direito do
trabalho, sendo assim, para corroborar a uma melhor compreensão do tema proposto,
é necessário abordar alguns deles, que constam a seguir.

2.1 Princípios Constitucionais presentes no Direito do Trabalho

A Constituição Federal é a Lei que tem maior força dentro de uma sociedade
politicamente organizada, dela se forma, organiza e estabelece uma sociedade.82 Ela
traz organização ao ordenamento jurídico, tendo como incumbência, além de instituir
órgãos supremos e definir suas competências, estabelecer princípios83, que serão
observados, auxiliando a interpretação nas mais diversas áreas do direito.

2.1.1 Princípio Valorização Social do Trabalho

Para maior compreensão desse tópico, é importante antes de tudo, trazer o


conceito de direito social.

80 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho.
27. ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 51.
81 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 19.
82FILHO, Francisco de Salles Almeida Mafra. Constituição: Conceito. Princípios Fundamentais do

Estado Democrático de Direito. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 17 maio 2021.


83 MENDES, Gilmar Ferreira. Série IDP - Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo:

Saraiva, 2018, p. 56.


32

Os direitos socias são direitos fundamentais do homem que têm por finalidade
melhorar a condição de vida dos hipossuficientes, buscando materializar a igualdade
social, sendo fundamentos do Estado Democrático84, pelo art. 1º, IV, da CF, que assim
estipula:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 85

Reconhecer os direitos sociais como fundamentais é, primeiramente, ter o


reconhecimento de que a manutenção desses direitos é essencial para a dignidade
do homem e, delimitar a atuação da vontade nessa seara, tanto do legislador quando
das partes, levando em consideração a indivisibilidade e a inalienabilidade dos direitos
fundamentais.86

Existem muitos outros dispositivos referentes aos direitos sociais do trabalho


presente na Constituição Federal de 1988, que têm como objetivos embasar a
regulação da relação contratual, assim como, fixar o estatuto básico do vínculo
empregatício. Ainda, é evidente que a Constituição Federal busca limitar o poder de
conformação do legislador e, também, das partes no momento de formar um contrato
de trabalho, definindo e estruturando, para aplicação em casos concretos, um modelo
básico jurídico de relação de emprego. 87

O art. 170 da CF, estipula como fundamento da ordem econômica, a


valorização do trabalho humano, buscando assegurar a todos uma existência digna a
partir da observância de alguns princípios. Dentre estes princípios, o dispositivo legal
traz em seu inciso VIII a busca pelo pleno emprego.88

84 MORAIS, Alexandre de. Direito constitucional. 37. ed. São Paulo: Atlas, 2021. p. 261.
85 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Centro Gráfico, 1988, art. 1º.
86 EMMANOEL, Pereira. Direitos sociais trabalhistas: Responsabilidade, flexibilização,

sindicabilidade judicial e as relações negociadas. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 86.


87 MENDES, Gilmar Ferreira. Série IDP - Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo:

Saraiva, 2018, p. 704.


88 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988. Art. 1º, IV. Disponível em: <https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988


/CON1988_05.10.1988/art_170>. Acesso em: 18 Abr 2021
33

Nesse sentido, Rafael Marques89 leciona:

(...) a valorização do trabalho humano não apenas importa em criar medidas


de proteção ao trabalhador, como ocorreu no caso do Estado de Bem-Estar
Social, mas sim admitir o trabalho e o trabalhador como principal agente de
transformação da economia e meio de inserção social. Com isso o capital
deixa de ser o centro dos debates econômicos, devendo-se voltar para o
aspecto, quem sabe subjetivo, da força produtiva humana. [...] A livre
iniciativa, bem compreendida, além de reunir os alicerces e fundamentos da
ordem econômica, também deita raízes nos direitos fundamentais. É daí que
surge a observação de que as leis restritivas da livre iniciativa, vale dizer,
aquelas que asseguram o acesso de todos ao livre exercício de profissão ou
ofício, devem observar o conteúdo essencial dos direitos fundamentais,
funcionando como uma espécie de limite negativo ao legislador, fazendo valer
o princípio da dignidade da pessoa humana, art. 1º, III, da Carta de 1988 [...]

Assim, é considerado pleno emprego o emprego que traz dignidade ao homem.


Ainda, a valorização do trabalho, transforma a economia e serve como instrumento
para a inserção social. Sendo assim, se evidência a relevância social do trabalho, e
ao liga-lo ao princípio da dignidade da pessoa humana, o eleva a princípio
fundamental, ao qual deve ser observado e garantido a todos.

2.1.2 Princípio do Direito a Dignidade da Pessoa Humana

A ideia desse princípio é uma das mais antigas, pois suas raízes advêm dos
pensamentos clássicos e ideário cristão. Embora não pareça correto atribuir a religião
cristã a origem da percepção da necessidade da dignidade humana, se tem o fato de
que ambos os testamentos da Bíblia Sagrada trazem versículos que expressam a
criação do homem à imagem e semelhança de Deus. Textos esses aos quais se
derivaram a ideia de que todos os seres humanos possuem um valor intrínseco, assim,
merecendo dignidade, não podendo ser usado como simples instrumento, ou então,
visto como simples objeto.90

Saindo do viés religioso e indo para o filosófico/político da antiguidade clássica,


percebe-se a modulação da dignidade da pessoa de acordo com a posição social

89 MARQUES, Rafael da Silva. Valor social do trabalho, na ordem econômica, na Constituição


brasileira de 1988. São Paulo: LTr, 2007, p. 115-116.
90 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição

Federal de 1988. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 30.


34

ocupada e o grau em que era reconhecida a pessoa pela sociedade, existindo assim,
as pessoas mais dignas ou menos dignas.91

Já nos séculos XVII e XVIII, o entendimento acerca da dignidade da pessoa


humana passou por um processo de racionalização e laicização, considerando todos
os homens iguais em dignidade e liberdade.92

Alguns séculos depois, após a Segunda Guerra Mundial, esse princípio se


tornou um grande senso ético de todo lado ocidental do mundo, sendo assim,
materializado em diversas convenções internacionais, declarações de direitos e
constituições.93

No Brasil não foi diferente, esse princípio é considerado o ponto central do


ordenamento jurídico pátrio, sendo elencado como princípio fundamental pelo art. 1º,
III, da CF de 1988. Demonstrar sua importância e relevância dentro do direito do
trabalho não é uma difícil tarefa, pois todo trabalhador, é uma pessoa humana.94

Ricardo Resende95 assim conceitua:

Entende-se pelo princípio da dignidade humana a noção de que o ser


humano é um fim em si mesmo, não podendo ser utilizado como meio para
atingir determinado objetivo. Veda-se, assim, a coisificação do homem e, no
caso específico do direito laboral, a coisificação do trabalhador.
Em outras palavras, não se admite seja o trabalhador usado como mero
objeto, na busca incessante pelo lucro e pelos interesses do capital.

Assim, a dignidade da pessoa humana serve como proteção ao trabalhador,


evitando que seja utilizado como uma simples ferramenta para o aumento do poderio
econômico do empregador.

91 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição


Federal de 1988. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 30.
92 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição

Federal de 1988. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 32.


93 BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos

fundamentais e a construção do novo modelo. 9ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2020, p. 244.
94 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 53.
95 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: Ed. Método, 2020, p. 21. (grifo do autor)
35

2.1.3 Princípio da Vedação do Retrocesso Social

O princípio da vedação do retrocesso social é uma garantia constitucional


implícita que se origina de alguns outros, como por exemplo o princípio da segurança
jurídica, da máxima efetividade dos direitos constitucionais, da dignidade da pessoa
humana, dentro outros, porém é um princípio autônomo com valor próprio.96

Como conteúdo deste princípio, assim Narbal Antônio Mendonça Fileti97


descreve:

O conteúdo do princípio da proibição de retrocesso social está centrado na


possibilidade de reconhecimento do grau de vinculação do legislador aos
ditames constitucionais relativos aos direitos sociais, significando que, (...)
fica o legislador proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem a
criação de mecanismo equivalente ou substituto.

Ou seja, direitos já adquiridos não podem retroceder sem uma contrapartida


adequada, pois estariam trazendo prejuízos aos beneficiários dos mesmos. Estes
direitos estão ligados ao mínimo existencial, e ao perdê-los, não é possível viver com
dignidade.98

Ainda, conceitua Canotilho99 sobre o presente princípio:

O princípio da democracia económica e social aponta para a proibição de


retrocesso social. (...). Com isto quer dizer-se que os direitos sociais e
económicos (ex.: direito dos trabalhadores, direito à assistência, direito à
educação), uma vez alcançados ou conquistados, passam a constituir,
simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjectivo. Desta
forma, e independentemente do problema «fáctico» da irreversibilidade das
conquistas sociais (existem crises, situações económicas difíceis, recessões
económicas), o princípio em análise justifica, pelo menos, a subtracção à livre
e oportunística disposição do legislador, da diminuição de direitos adquiridos
(ex.: segurança social, subsídio de desemprego, prestações de saúde), em
clara violação do princípio da protecção da confiança e da segurança dos
cidadãos no âmbito económico, social e cultural.

96 MELO, Geraldo Magela. A VEDAÇÃO AO RETROCESSO E O DIREITO DO TRABALHO. Rev.


Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.52, n.82, p.65-74, jul./dez.2010. p. 65.
97
FILETI, Narbal Antônio Mendonça. O princípio da proibição de retrocesso social. Breves
considerações. Revista Jus Navigandi. ISSN15184862, Teresina, ano 14, n. 2059, 19 fev. 2009. p. 6
98 LEWANDOWSKI, Ricardo. Proibição do retrocesso. Folha de São Paulo, São Paulo, p. a03, 1 fev.

2018.
99 CANOTILHO, José Joaquim. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993, p. 468.
36

Negar o reconhecimento deste princípio, significa admitir que os legisladores,


que estão indiscutivelmente ligados aos princípios fundamentais e as normas
presentes na constituição, ganham a capacidade de tomar suas decisões de forma
livre, por mais que estejam de forma evidente desrespeitando à vontade
constituinte.100

Por fim, diante o exposto, se percebe a importância de tal princípio para o


ordenamento jurídico pátrio, uma vez que visa defender os direitos já adquiridos,
vedado o retrocesso dos mesmos, garantindo assim, para todos, uma maior
segurança jurídica.

2.1.4 Princípio da Legalidade

A gênese desse princípio no ordenamento jurídico brasileiro foi o art. 179, I, da


primeira Constituição Federal pátria, outorgada no ano de 1824, que assim expõe:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos


Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.
I. Nenhum Cidadão póde ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma
cousa, senão em virtude da Lei.101

Após esse marco, o princípio da legalidade se viu presente em quase todas as


constituições posteriores, com exceção apenas da constituição federal de 1937.
Passados quase dois séculos, o princípio ainda persiste e encontra escopo no art. 5º,
inciso II da CF de 1988 que assim diz: “Art. 5º (...) II – ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”

Também, o Estado de Direito tem o princípio da legalidade como um de seus


principais fundamentos. A CF/88 define o Brasil como um Estado Democrático de
Direito, assim, a criação de leis deve seguir um padrão democrático. Portanto, o

100 GARCIA, Sérgio Renato Tejada. O princípio da vedação de retrocesso na jurisprudência pátria -
análise de precedentes do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Regionais Federais e da Turma
Nacional de Uniformização. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 36, jun. 2010.
101 BRASIL. Constituição (1824) Constituição Política do Império do Brazil. Rio de

Janeiro, 1824.art. 179, I. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm> Acesso em: 19 Abr 2021.
37

princípio tratado, serve para limitar o poder soberano do Estado e assegurar uma
maior autonomia do povo.102

Mas não se limita somente a isto, pois nos dias de hoje, o Estado presta
serviços e cria alternativas que buscam o bem de todos, assim, o princípio da
legalidade também, regula esses serviços e atribui deveres à comunidade humana,
formando uma unidade política.103

Portanto, mostra-se evidente a importância deste princípio para o ordenamento


jurídico pátrio, servindo de base da democracia e fundamento do Estado Democrático
de Direito.104

O princípio da legalidade está diretamente ligado a segurança jurídica e é de


fundamental importância para tal.105 Corrobora para tal afirmação, Ingo Wolfgang
Sarlet106, ao assim expor:

No caso da ordem jurídica brasileira, a Constituição Federal de 1988, após


mencionar a segurança como valor fundamental no seu Preâmbulo, incluiu a
segurança no seleto elenco dos direitos “invioláveis” arrolados no caput do
artigo 5º, ao lado dos direitos à vida, liberdade, igualdade e propriedade.
Muito embora em nenhum momento tenha o nosso Constituinte referido
expressamente um direito à segurança jurídica, este (em algumas de suas
manifestações mais relevantes) acabou sendo contemplado em diversos
dispositivos da Constituição, a começar pelo princípio da legalidade (...).

102 ALMEIDA, Guilherme Assis de. Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. Art. 5º,
II. In: FORENSE, Equipe editora (org.). Constituição Federal Comentada. São Paulo: Editora
Forense, 2018, p. 52.
103 MACHADO, Costa; FERRAZ, Anna Candida da Cunha. Constituição Federal interpretada:

artigo por artigo, parágrafo por parágrafo, 12a ed. 2021. Santana de Parnaíba/SP: Editora Manole,
2021, p. 16.
104 Flavio Quinaud Pedron. Rafael Alves Nunes. Princípio da legalidade limita poder estatal e protege

os cidadãos. Revista Consultor Jurídico, 21 de fevereiro de 2020, 7h02


105ALMEIDA, Guilherme Assis de. Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. Art. 5º,

II. In: FORENSE, Equipe editora (org.). Constituição Federal Comentada. São Paulo: Editora
Forense, 2018, p. 52..
106 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia do Direito Fundamental à Segurança Jurídica: Dignidade da

pessoa humana, direitos fundamentais e proibição de retrocesso social no direito Constitucional


Brasileiro. Revista Brasileira de Direito Público, Belo Horizonte, ano 3, n. 11, p. 111-156, out./dez.
2005.
38

Assim, de maneira simplista, o princípio da legalidade traz o dever de todos se


sujeitarem à lei, sendo que somente ela pode obrigar alguém a fazer, ou não fazer,
algo. Além do mais, delimita a atuação do Estado e garanti liberdade aos indivíduos. 107

Por fim, além das obrigações acima expostas, este princípio também, traz uma
maior segurança jurídica a todos os inseridos no ordenamento jurídico brasileiro.

2.2 Princípios Específicos do Direito do Trabalho

É sabido que a Constituição Federal está no topo da pirâmide hierárquica


quanto aos princípios no Direito do Trabalho, porém logo abaixo está a Consolidação
das Leis do Trabalho. Tal norma infraconstitucional traz princípios importantes e que
atuam somente na esfera trabalhista, sendo assim chamados de princípios
específicos.

2.2.1 Princípio da Proteção

O princípio da proteção é o princípio mais importante na esfera trabalhista,


considerado até, por muitos doutrinadores o único princípio, alegando que os demais
surgem através dele.108

A superioridade econômica do empregador é evidente na relação entre ele e o


empregado, o que faz ser considerado a parte mais forte da relação jurídica. Sendo
assim, o princípio da proteção busca utilizar normas e condições mais favoráveis ao
empregado, afim de tentar compensar essa hipossuficiência existente, como afirma
Carlos Henrique Bezerra Leite109:

O princípio da proteção (ou princípio tutelar) constitui a gênese do direito do


trabalho, cujo objeto (...) consiste em estabelecer uma igualdade jurídica
entre empregado e empregador, em virtude da manifesta superioridade
econômica deste diante daquele.

107 Flavio Quinaud Pedron. Rafael Alves Nunes. Princípio da legalidade limita poder estatal e protege
os cidadãos. Revista Consultor Jurídico, 21 de fevereiro de 2020, 7h02
108 CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho: Sintetizado. 2ed. São Paulo: ed. Forense, 2018, p. 8.
109 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 57.
39

Ainda, no mesmo sentido, assim conceitua Américo Plá Rodriguez110:

O princípio da proteção (...) ao invés de inspirar-se num propósito de


igualdade, responde ao objetivo de estabelecer um amparo preferencial a
uma das partes: o trabalhador.
Enquanto no direito comum uma constante preocupação parece assegurar a
igualdade jurídica entre os contratantes, no Direito do Trabalho a
preocupação central parece ser a de proteger uma das partes com o objetivo
de, mediante essa proteção, alcançar-se uma igualdade substancial e
verdadeira entre as partes.

A importância de equilibrar essa relação buscando uma superioridade jurídica


para o empregado, é garantir a tutela de seus direitos mínimos expostos na legislação
trabalhista.111

Para buscar essa proteção de forma mais efetiva, o princípio da proteção se


desdobra em três outros princípios: in dubio pro operário112, norma mais favorável e
condição mais benéfica.

2.2.1.1 Princípio In Dubio Pro Operario

Esse princípio está ligado a interpretação do Direito do Trabalho. Existem


situações em que uma mesma norma possui mais de uma possível interpretação, ou
seja, traz dúvidas quanto ao seu real sentido. Assim, nesses casos, o responsável
deverá utilizar, dentre as hipóteses interpretativas cabíveis, aquela que seja mas
benéfica ao empregado.113

No mesmo sentido, conceitua Américo Plá Rodriguez114: no caso de que uma


norma seja suscetível de entender-se de vários modos, deve-se preferir a
interpretação mais favorável ao trabalhador.

110 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 2000, p. 83.
111 SANDES, Fagner; RENZETTI, Rogério. Direito e Processo do Trabalho. 2ed. São Paulo: ed.
Saraiva, 2020, p. 25.
112 Tradução Livre: Em caso de dúvida, deve-se beneficiar o empregado”
113 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 24ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2009, p. 455.
114 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 2000, p.

107.
40

Esse é um conceito muito discutido pela doutrina, e entre as diversas


discussões doutrinárias acerca desse princípio é quanto a sua limitação.

Na esfera processual trabalhista, a discussão está em o dever ou não aplica-


lho em instrução probatória. Assim, vejamos o exposto no art. 818, §1º da CLT:
Art. 818 § 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos deste artigo ou à maior facilidade de obtenção da prova
do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte
a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Portanto, majoritariamente, este princípio não deve ser aplicado no que diz
respeito à instrução probatória, uma vez que existe uma metodologia própria na esfera
processual. Metodologia esta que se refere ao ônus da prova, permitindo sua inversão
pelo juiz, nos termos do artigo supracitado.115

Outro ponto de discussão, trazido por Maurício Godinho Delgado, é sobre sua
redundância, uma vez que: ele abrange dimensão temática já acobertada por outro
princípio justrabalhista específico (o da norma mais favorável)116.

Também, Tissembaum e Devealli117 trazem como limitação desse princípio a


sua aplicação às leis da previdência social. Essa limitação, para Américo Plá
Rodriguez é considerada óbvia, uma vez que, mesmo que profundamente ligados, o
Direito do Trabalho e o Direito da Previdência Social são distintos, e o princípio ora
versado, se refere apenas ao primeiro.118

Assim, diante o exposto, percebe-se que mesmo havendo discussões, esse


princípio é muito presente no direito do trabalho, e mesmo com suas limitações, é
muito relevante para a proteção dos trabalhadores.

115 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,
2021, p. 58
116 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019, p.

249.
117 Tissembaum; Devealli, apud RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3.

ed. São Paulo: Ltr, 2000, p. 118.


118 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 2000, p.

118.
41

2.2.1.2 Princípio da Norma Mais Favorável

Este princípio, se difere do anterior, pois antes, havia apenas uma norma
aplicável ao mesmo caso concreto, e em dúvida de interpretação, se utilizaria a mais
favorável ao empregado, já neste, há mais de uma norma aplicável ao mesmo caso.
Ao utilizar-se das regras de hierarquia das normas, seria fácil resolver este
impasse. Caso o conflito fosse entre normas de graus diferentes, se utilizaria a de
grau superior, e caso fossem de mesmo grau, prevaleceria a que entrou em vigor mais
recentemente119.

É nesse ponto que torna peculiar o direito do trabalho. Com o princípio ora
versado, não se vale a hierarquia das aplicações das normas dentro do direito do
trabalho, ou seja, não necessariamente a Constituição estará no topo da pirâmide.
Assim, existindo duas ou mais normas que podem ser aplicadas dentro de um mesmo
caso concreto, deve-se aplicar a mais favorável ao empregado, independentemente
de sua posição hierárquica.120

A CLT expressa em seu art. 620 uma exceção para essa regra, onde assim
expõe: “As condições estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre
prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho. (Redação dada
pela Lei nº 13.467, de 2017)”. Se percebe então, que no tocante a negociações
coletivas o acordo prevalece a convenção, aqui a hierarquia se mantém, contrariando
o princípio e priorizando o acordo, mesmo que seja menos favorável. 121

Acontece que esse princípio trouxe algumas dificuldades práticas quando a sua
aplicação ao se deparar com algumas cláusulas previstas em acordos ou convenções
coletivas. Portanto, dele se derivam três teorias que buscam justificar a aplicação do
princípio diante desse conflito: a teoria da acumulação, a teoria do conglobamento e
a teoria da incindibilidade dos institutos.122

119 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 2000, p.
123.
120 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 58.
121 SANDES, Fagner; RENZETTI, Rogério. Direito e Processo do Trabalho. 2ed. São Paulo: ed.

Saraiva, 2020, p. 25.


122 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: Ed. Método, 2020. p. 27.
42

A teoria da acumulação analisa as normas legais e os instrumentos normativos


que são possíveis de serem aplicados no caso, separa de cada um a parte que é mais
favorável ao trabalhador e as acumula, formando uma nova norma.123

Já a teoria do conglobamento, a norma deve ser analisada como um todo.


Sendo considerado o conjunto da norma mais favorável do que a outra, deve-se
utilizá-la por completo, não podendo utilizar preceitos da norma considerada menos
vantajosa. Essa teoria usa a norma em sus integralidade, assim respeitando a
organização das fontes jurídicas bem como suas cláusulas internas.124

Por fim, a teoria da incindibilidade dos institutos não leva em consideração cada
dispositivo ou norma do conjunto, mas sim, os institutos do direito do trabalho.125 Tem-
se por instituto, nas palavras de Luciano Martinez126:

o bloco de vantagens jurídicas que contém elementos internos pertinentes


entre si, por exemplo, a jornada e o intervalo; o salário e as utilidades não
salariais; a estabilidade e as parcelas decorrentes da cessação do vínculo.

Portanto, pode-se apreciar o caso separando-o por institutos e, aplicando a


norma mais favorável para cada um deles.

2.2.1.3 Princípio da Condição Mais Benéfica

Por fim, por esse terceiro princípio, derivado do princípio protetor, entende-se,
como o próprio nome já diz, que se deve priorizar a condição mais benéfica ao
empregado. Explica Américo Plá Rodriguez127: “a regra da condição mais benéfica
pressupõe a existência de uma situação concreta, anteriormente reconhecida, e
determina que ela deve ser respeitada, na medida em que seja mais favorável ao
trabalhador que a nova norma aplicável”.

123 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2020, p. 107.
124 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2020, p. 107.
125 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 59.
126 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2020, p. 107.
127RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 2000, p.

131.
43

No mesmo sentido, afirma Jorge Neto e Cavalcante128:

Uma condição de trabalho inserida no universo da contratação não pode ser


substituída por outra menos vantajosa, na mesma relação de emprego (art.
468, CLT). Na jurisprudência do TST encontramos: “As cláusulas
regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas
anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou
alteração do regulamento” (Súm. 51, I).

Ainda, vejamos o exposto no art. 5º, XXXVI, da CF129: “a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

Tem-se por direito adquirido, na conceituação de Arnaldo Rizzardo130: “o direito


que já se incorporou ao patrimônio da pessoa, o que passou a pertencer a alguém e
que merece a proteção jurídica contra qualquer oposição de terceiro”.

A Consolidação das Leis do Trabalho recepcionou essa ideia ao assim expor:

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das


respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que
não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de
nulidade da cláusula infringente desta garantia. 131

Tal dispositivo trouxe a ideia de direito adquirido para o TST que utilizou do
princípio da condição mais benéfica para sumular que cláusulas que revoguem ou
alterem vantagens já concedidas, só atingirão empregados contratados após essas
alterações ou revogações.132 Sumulou também que, só serão permitidas alterações

128JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do


Trabalho, 9ed. São Paulo: ed. Atlas, 2018, p. 121.

129 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Centro Gráfico, 1988, art. 5º, XXXVI.
130 RIZZARDO, Arnaldo. Introdução ao Direito e Parte Geral do Código Civil. 8ed. Rio de Janeiro:

ed. Forense, 2015, p. 177.


131 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Diário Oficial da União, 9 ago. 1943, art. 468, caput.


132 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 51. Norma regulamentar. Vantagens e opção

pelo novo regulamento. Art. 468 da CLT. DJ de 20, 22 e 25.04.2005.


44

no complemento de aposentadoria paga diretamente pelo empregador, se foram mais


benéficas ao empregado.133

Assim percebe-se que o princípio abordado está diretamente ligado a ideia de


direito adquirido. Portanto deve prevalecer a condição mais benéfica diante de normas
editadas que venham trazer prejuízo ao trabalhador.134

Por fim, diante todo o exposto até então no presente trabalho, já se evidencia
o empregado como parte hipossuficiente das relações laborais, e como os outros dois
princípios acima, o princípio da condição mais benéfica serve para proteger essa parte
mais frágil, garantindo que seus direitos já adquiridos, não sejam suprimidos. Mas
também, estipula que caso surja um direito novo, mais benéfico que o anterior, o
empregado possa dele usufruir.

2.2.2 Princípio da Primazia da Realidade

Esse princípio tem por fundamento a proteção da parte mais vulnerável da


relação contratual trabalhista, o empregado, diante das situações em que lhe seja
imposto executar atividades em condições divergentes daquelas previamente
estipuladas, ou então, executa essa atividade, observando sempre a presença de
subordinação, sem um contrato escrito.135

Para que essa proteção ocorra, os fatos serão considerados mais relevantes
do que a formalidade, ou seja, o que realmente acontece na prática tem prevalência
sobre o que o contrato estabelece como regra. Corrobora para tal afirmação Ricardo
Resende136:

É o princípio segundo o qual os fatos, para o Direito do Trabalho, serão


sempre mais relevantes que os ajustes formais, isto é, prima-se pelo que
realmente aconteceu no mundo dos fatos em detrimento daquilo que restou
formalizado no mundo do direito, sempre que não haja coincidência entre
estes dois elementos. É o triunfo da verdade real sobre a verdade formal.

133 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 288. Complementação dos proventos da
aposentadoria. Fonte de publicação: DJ de 18, 19 e 20.04.2016.
134 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: Ed. Método, 2020. p. 29.
135 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de Direito e Processo do

Trabalho. 27ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2019, p. 58.


136 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: Ed. Método, 2020. p. 31.
45

Então, para o Direito do Trabalho, os documentos possuem validade somente


se forem de encontro com a realidade fática. Embasa este entendimento o art. 9º da
CLT que assim expõe: “Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com
o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na
presente Consolidação”.

A súmula 12 do TST137, assim preceitua: “As anotações apostas pelo


empregador na carteira profissional do empregado não geram presunção "juris et de
jure" (absoluta), mas apenas "juris tantum"(relativa). Com base nesta súmula,
exemplifica Fagner Sandes e Rogério Renzetti138:

Determinado empregado tem registro na CTPS de salário no valor de mil


reais; todo dia vinte de cada mês, ocorre o pagamento de mais quinhentos
reais “por fora”, como forma de burlar os encargos trabalhistas. Nessa
hipótese, o real salário do obreiro corresponde ao valor de mil e quinhentos
reais, pouco importa o que está anotado na sua CTPS.

Dá forças também a este princípio, o caput do art. 456 da CLT, ao versar assim:
“Art. 456. A prova do contrato individual do trabalho será feita pelas anotações
constantes da carteira profissional ou por instrumento escrito e suprida por todos os
meios permitidos em direito”139. Tal força vem da possibilidade de comprovar o
contrato de trabalho por meio de qualquer prova em direito admitido.140

O termo, condição mais benéfica, para Maurício Godinho Delgado141, não


parece ser o mais adequado, uma vez que:

O que o princípio abrange são as cláusulas contratuais, ou qualquer


dispositivo que tenha, no Direito do Trabalho, essa natureza. Por isso é que,
tecnicamente, seria mais bem enunciado pela expressão princípio da cláusula
mais benéfica.

137 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 12. Carteira profissional. DJ de 19, 20 e
21.11.2003.
138 SANDES, Fagner; RENZETTI, Rogério. Direito e Processo do Trabalho. 2ed. São Paulo: ed.

Saraiva, 2020, p. 26.


139 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Diário Oficial da União, 9 ago. 1943, art. 456, caput.


140 CISNEIROS, Gustavo. Direito do Trabalho-Sintetizado. 2ed. São Paulo: ed. Forense, 2018, p.

17.
141 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019, p.

238.
46

Por fim, resta claro que no direito do trabalho, o maior valor se dá a realidade
fática. Mesmo que o contrato seja omisso a respeito de alguma situação, como no
exemplo do salário acima citado, prevalecera a real condição em que o empregado
está inserido.

2.2.3 Princípio da Irrenunciabilidade

O princípio da Irrenunciabilidade, também conhecido como princípio da


indisponibilidade, é um princípio exclusivo do empregado. Ele não admite que, em
regra, o trabalhador renuncie seus direitos, devido a grande quantidade de normas de
ordem pública existentes no direito do trabalho.142 Tem-se por renúncia, nas palavras
de Fabíola Marques e Cláudia José Abud143: “o ato unilateral do empregado que
desiste de um direito assegurado por lei”.

É importante salientar que, se deve cuidar para não confundir renúncia com
transação. A renúncia é um ato unilateral, onde somente um dos lados abdica de
direitos, sem uma contraprestação da parte que se beneficiou da renúncia. Já a
transação, é ato bilateral, e ambos os lados abrem mão de direitos.144

Luciano Martinez145 assim afirma:

O princípio da indisponibilidade dos direitos ou da irrenunciabilidade de


direitos baseia-se no mandamento nuclear protetivo segundo o qual não é
dado ao empregado dispor (renunciar ou transacionar) de direito trabalhista,
sendo, por conta disso, nulo qualquer ato jurídico praticado contra essa
disposição.

Este princípio está diretamente ligado ao da proteção, pois se a renúncia fosse


permitida livremente, a posição de hipossuficiência econômica do empregado diante

142 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,
2021, p. 60.
143 MARQUES, Fabíola; ABUD, Cláudia José. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: ed. Atlas, 2013,

p. 8.
144 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 37.
145 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2020, p. 112.
47

do empregador, faria com que o primeiro, ao ser mais vulnerável, abrisse mão de
direitos que em situação de paridade, não abdicaria.146

Corrobora com o alegado Ricardo Resende147 ao assim expor:

Este princípio é importante para proteger o empregado que, no mais das


vezes, é coagido pelo empregador mediante os mais variados estratagemas,
sempre no sentido de renunciar a direitos e, consequentemente, reduzir os
custos do negócio empresarial. Dessa forma, ao passo que o ordenamento
não permite ao empregado dispor destes direitos, acaba por protegê-lo da
supremacia do empregador na relação que se estabelece entre ambos.

Visto a importância desse princípio para o ordenamento jurídico trabalhista, o


TST, em sua súmula 276 consagrou-o ao considerar o direito de aviso prévio
irrenunciável148:

Súmula nº 276 do TST AVISO PRÉVIO. RENÚNCIA PELO EMPREGADO


(mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. O direito ao aviso prévio
é irrenunciável pelo empregado. O pedido de dispensa de cumprimento não
exime o empregador de pagar o respectivo valor, salvo comprovação de
haver o prestador dos serviços obtido novo emprego.

Consagrou-o também a CLT, ao assim versar em seu artigo 9º: “Serão nulos
de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a
aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação”.149

Ainda, é importantíssimo salientar que o princípio da irrenunciabilidade tem sua


aplicação, apenas, dentro do contrato, não sendo exigida de forma intercontratual150.
Para melhor compreensão, Luciano Martinez151 leciona:

(...) por exemplo, apesar de saber-se do limite ordinário de oito horas de


trabalho por dia de serviço dentro de um determinado contrato, não há linde
a considerar se o empregado decide ter um segundo emprego, logo depois
de findo o seu primeiro expediente laboral.

146 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do
Trabalho, 9ed. São Paulo: ed. Atlas, 2018, p. 123.
147 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8. ed. São Paulo: Método, 2020, p. 36.
148 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 60.
149 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do

trabalho. Diário Oficial da União, 9 ago. 1943, art. 9º, caput.


150 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2020, p. 112.
151 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 11ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2020, p. 112.
48

Outro argumento para a irrenunciabilidade dos direitos por parte do empregado,


é que os direitos dos trabalhadores são de ordem pública, porém, essa afirmação não
quer dizer que as normas trabalhistas integram o poder público, pois normas de ordem
pública podem integrar tanto o poder público quanto o privado. Considerar uma norma
de ordem pública, penas afirma que o Estado preferiu excluir a possibilidade de
negociar, ao tocante dessa norma, ao contrário do legislado.152

No mesmo sentido, explica Clóvis Beviláqua153: “as Leis de ordem pública são
aquelas que, em um Estado, estabelece os princípios, cuja manutenção se considera
indispensável á organização da vida social, segundo os preceitos do direito”.

Por fim, diante os argumentos expostos, se torna evidente que a


irrenunciabilidade de direitos do empregado é necessária, pois renunciar direitos de
ordem pública gera um grande dano ao ordenamento jurídico, como também,
possibilitar a renúncia de direito por parte do empregado, aumenta o risco de coação
do empregador para com ele, em razão de ser a parte mais vulnerável, forçando a
abdicar direitos em troca da manutenção do emprego.

152 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Ltr, 2000, p.
152.
153 Clóvis Bevilaquá, apud RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. São

Paulo: Ltr, 2000, p. 152.


3 A FLEXIBILIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO E A PREVALÊNCIA DO
ACORDADO SOBRE O LEGISLADO

Oriunda do Decreto-Lei Nº 5.452 de 1º de maio de 1943 e sancionada pelo ex-


presidente Getúlio Vargas, entra em vigor no dia 10 de novembro de 1943 a
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.154 Esta, unificou todas as Legislações
Trabalhistas que existiam na época em um só decreto, inserindo, assim,
definitivamente, os direitos trabalhistas na legislação brasileira. Ao passar dos anos,
a CLT foi tendo diversas mudanças pontuais, devido à evolução e modernização das
relações de emprego.

A Lei 13.467/2017, conhecida como Reforma Trabalhista, teve seu início com
o Projeto de Lei nº 6.787, de 22 de dezembro de 2016. O projeto foi encaminhado
para à Câmara dos Deputados pelo então Presidente da República Michel Temer, e
modificava apenas sete artigos da CLT, sendo eles: art. 47, 47-A, 58-A, 523-A, 611-
A, 634 e 775. Porém, de maneira substancial e antidemocrática, foi ampliado o PL
pelo relator Deputado Rogério Marinho, alterando não só 97 artigos da CLT, como
também, alguns artigos de outras leis que se relacionam com o direito do trabalho,
com o argumento de que as relações trabalhistas precisavam de uma
modernização.155

De forma atípica, levando em consideração que o projeto era um tanto quanto


complexo, o mesmo tramitou de forma bastante célere no congresso, sendo aprovado
e convertido em lei no dia 13 de julho de 2017, apenas alguns meses após ter sido
encaminhado à Câmara.156

Assim exposto, o presente capítulo expõe um breve histórico acerca da


flexibilização do direito do trabalho, como também, analisa uma das principais
mudanças trazidas pela Reforma, a inclusão dos art. 611-A e 611-B, ao qual trouxe

154 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.
155 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: Saraiva, 2021,
p. 19.
156 BRASIL, LEI Nº 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017. Brasília, DF.
50

ao ordenamento jurídico trabalhista a prevalência das negociações coletivas sobre o


que está expresso em lei.

3.1 A Flexibilização do Direito do Trabalho

Por se tratar de uma ciência social e bastante dinâmica, o direito está em


constante mutação e sofre influência através das mudanças presentes nos campos
econômico, político e social. Dentre os diversos ramos existentes no direito, o direito
do trabalho é o que mais sofre influência com essas transformações.157

Além do mais, a globalização trouxe impactos ao direito do trabalho, que se


tornam evidentes a luz de que, não são poucas as discussões envolvendo a
necessidade de mudanças na legislação atual, com o argumento de que ela se
encontra notoriamente desatualizada e em total desalinho com a sociedade
moderna.158

É importante recordar, que a Revolução Industrial foi o marco do nascimento


do direito do trabalho, buscando proteger os trabalhadores, vulgos hipossuficientes,
que eram explorados. Esta ideia, parece esgotar as possibilidades de argumentos
contrários, porém, muitos hoje defendem que no exercício da autonomia privada
coletiva, as entidades sindicais podem criar e acabar com direitos e obrigações
trabalhistas.159

Os direitos dos trabalhadores foram conquistados aos poucos no decorrer dos


anos e sempre com muito esforço, porém, a Reforma Trabalhista, para Ricardo
Resende160:

comprometeu décadas de ganhos sociais na área trabalhista, ao estabelecer,


entre outras medidas, a possibilidade de flexibilização de diversos pontos da

157 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: Saraiva, 2021,
p. 185.
158 BRAGHINI, Marcelo. Reforma Trabalhista: Flexibilização das Normas Sociais do Trabalho.

2ed. Sao Paulo: LTr; 2017, p. 108.


159JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do
Trabalho, 9ed. São Paulo: ed. Atlas, 2018, p. 986.
160 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: Método, 2020. p. 31.
51

legislação trabalhista mediante negociação coletiva (consagrando, nestes


casos, a prevalência do negociado sobre o legislado), (...)

Conceituando, a flexibilização trabalhista é a possibilidade de atenuação das


nomas presentes no direito do trabalho, por meio de autorização de norma
heterônoma estatal (aquela vinda de preceito legal) ou autônoma (vindas de
convenções ou acordos coletivos).161

É importante entender, que a flexibilização para funcionar, deve ser utilizada


somente quando os reais interesses do trabalhador e empregado estiverem alinhados,
afinal, a atenuação deve servir como uma espécie de equilíbrio entre o princípio da
proteção e a manutenção da saúde da empresa, pontos que geralmente estão em
conflito, mas por outra ótica, ao mesmo tempo estão em concordância. 162

Conflitantes pois os interesses entre os dois não são os mesmos, mas se


alinham, no momento de dificuldade da empresa, em que o empregado se vê
ameaçado pelo desemprego, abdicando de alguns se seus direitos em prol da
manutenção da empresa ao qual lhe dá o sustento.

Por fim, percebe-se claro que a ideia de flexibilização é de grande valia para o
direito do trabalho e foi de grande relevância para o contexto da Reforma Trabalhista.
Especificamente nas negociações coletivas, infelizmente, outras ideias tão
importantes quanto foram esquecidas. Diante disso, analisar os artigos 611-A e 611-
B, que trazem o princípio da prevalência do negociado sobre o legislado, sobre outra
ótica, é de grande valia.

3.2 A prevalência do acordado sobre o legislado

Um dos objetivos da Lei 13.467/2017 foi fortalecer as negociações coletivas,


pois antes, quando o operador do direito estava diante de duas normas aplicáveis a

161 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 18ed. São Paulo: LTr, 2019, pág.
72.
162 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. De acordo com a reforma trabalhista. 14ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2017, p. 33.


52

um mesmo caso concreto, como por exemplo uma lei e uma cláusula de acordo
coletivo, prevalecia a mais favorável ao obreiro, o que, não é mais assim.163

A Reforma, como já citado, inseriu e modificou mais de uma centena de


dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho. Dentre essas tantas mudanças,
se tem como uma das mais impactantes, a inserção dos artigos 611-A e 611-B, que
colocam as negociações coletivas acima da lei, prevalecendo aquelas sobre esta,
como podemos ver no CAPUT do art. 611-A164: “A convenção coletiva e o acordo
coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem
sobre: (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)”.

Acompanham o referido artigo quinze incisos, que buscam expor temas em que
essa prevalência deve ocorrer, in verbis165:

Art. 611-A. (...)


I – pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais;
II – banco de horas anual;
III – intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para
jornadas superiores a seis horas;
IV – adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei n.
13.189, de 19 de novembro de 2015;
V – plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal
do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como
funções de confiança;
VI – regulamento empresarial;
VII – representante dos trabalhadores no local de trabalho;
VIII – teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente;
IX – remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo
empregado, e remuneração por desempenho individual;
X – modalidade de registro de jornada de trabalho;
XI – troca do dia de feriado;
XII – enquadramento do grau de insalubridade;
XIII – prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia
das autoridades competentes do Ministério do Trabalho;
XIV – prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos
em programas de incentivo;
XV – participação nos lucros ou resultados da empresa.

163 CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho: Sintetizado. 2ed. São Paulo: ed. Forense, 2018, p.
237.
164 BRASIL. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Consolidação das Leis do Trabalho. CAPUT, Art.

611-A. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).


165 BRASIL. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 611-A,

inc. I ao XV. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).


53

Nota-se, que os temas não se limitam a estes quinze incisos, uma vez que o
CAPUT traz a expressão “entre outros”, sendo assim, trata-se de um rol
exemplificativo.

Para comprovar o alegado, seguem alguns dispositivos legais: art. 7º, inciso VI
da CF, permite que o salário seja reduzido mediante negociação coletiva; o art. 476-
A da CLT, que permite a suspensão de contrato, desde que isso conste em
negociação coletiva, para o funcionário participar de cursos ou qualificações
profissionais; a Lei 9.601/1998, que possibilita contrato por tempo determinado, sem
que haja implicação das restrições celetistas, desde que esteja previsto em
negociação coletiva. Essa breve lista já elucida que as hipóteses previstas nos quinze
incisos supramencionados não esgotam as possibilidades, portanto, não se tratando
de um rol taxativo.166

Essa prevalência não tem caráter absoluto, pois a Lei não pode autorizar que,
direitos garantidos pela Constituição ou por outras normas de ordem pública, sejam
flexibilizados. Assim a própria reforma busca limita-la.167

Para isso, a Reforma Trabalhista, acrescentou o artigo 611-B, que estabelece


constitui a supressão ou redução de diversos direitos como objetos ilícitos de
negociações coletivas, assim expondo em seu caput: “Constituem objeto ilícito de
convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão
ou a redução dos seguintes direitos: (...)”168. O termo exclusivamente, traz ao rol do
dispositivo, um caráter taxativo, ou seja, se limita aos seus incisos.

Tal dispositivo, acompanhado de seus trinta incisos, demonstra uma


preocupação em proibir cláusulas que sejam divergentes a normas de ordem
pública.169 Tornando evidente a intenção de o referido artigo impor limites a autonomia
da vontade coletiva.

166 CISNEIROS, Gustavo. Direito do trabalho: Sintetizado. 2ed. São Paulo: ed. Forense, 2018, p.
238.
167 RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: Ed. Método, 2020, p. 1120.
168 BRASIL. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 611-B,

caput. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).


169 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 405.
54

Por mais que o legislador tenha imposto o rol do artigo 611-B como taxativo, na
prática, não é bem assim, pois existem outros direitos indisponíveis que não foram
elencados. Tal fato faz surgir certa insegurança jurídica, que somente correções
futuras na legislação, ou então, desenvolvimento de jurisprudências, pode dirimir. 170

Por fim, é nítido que a inclusão do art. 611-A pela reforma, deu força as
negociações coletivas, porém, por outro lado, diminuiu a força da lei. Apesar do art.
611-B tentar amenizar os impactos, não é o suficiente. Portanto, abaixo será
analisado, os impactos causados pela prevalência do acordado sobre o legislado, a
luz dos princípios constitucionais e específicos do ordenamento jurídico trabalhista,
que foram violados pelos artigos mencionados.

3.3 Análise dos princípios constitucionais violados

Conforme já citado e devidamente discorrido no capítulo dois do presente


trabalho, se torna evidente a importância da Constituição Federal para o ordenamento
jurídico como um todo, o que, na justiça do trabalho não seria diferente.

A inconstitucionalidade do artigo 611-A da CLT, incluído pela Lei 13.467/2017,


é um tema muito discutido por diversos doutrinadores. Diante disso, passa-se a expor
uma análise acerca da inconstitucional do dispositivo legal.

3.3.1 A inconstitucionalidade da prevalência do acordado sobre o legislado

Dentre os doutrinadores que consideram como inconstitucional o art. 611-A da


CLT, está Carlos Henrique Bezerra Leite. Corrobora para tal alegação, o seguinte
exposto pelo mesmo: “as regras constantes do novel art. 611-A, caput, da CLT são, a
nosso sentir, inconstitucionais, por diversos fundamentos”.171

O caput do art. 7º da CF, elenca direitos dos trabalhadores rurais ou urbanos,


que, dentre outros, visam a melhoria de suas condições sociais, sendo esses

170
RESENDE, Ricardo. Direito do trabalho. 8ed. São Paulo: Ed. Método, 2020, p. 1164.
171
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,
2021, p. 404.
55

considerados direitos sociais.172 As negociações coletivas, estão presentes no inciso


XXVI do artigo supracitado, portanto, são direitos fundamentais sociais dos
trabalhadores, e estes, devem ter como objetivo, a implicação da melhoria das
condições sociais dos mesmos, em respeito ao caput do artigo. 173

Também, a CF elenca três hipóteses que os direitos sociais podem ser


suprimidos ou reduzidos por negociações coletivas174, que são: redução de salário,
compensação/redução de jornada e estabelecimento da jornada em turnos
ininterruptos de revezamento, previstas, respectivamente, nos incisos VI, XIII e XIV,
do art. 7º da CF.175

Por fim, conclui Bezerra Leite176:

são inconstitucionais todos incisos do art. 611-A da CLT, à exceção dos


incisos I, IV, V, VI, VII, IX, XI, XIV e XV, os quais deverão ser apreciados
concretamente, a fim de que o intérprete avalie se as regras da convenção
ou do acordo coletivo estão em conformidade aos princípios da vedação do
retrocesso social, da progressividade, da razoabilidade e da
proporcionalidade.

No Brasil, o direito fundamental à saúde tem extrema relevância, pois é


considerado como um ramo do direito à vida, como também, está diretamente ligado
ao princípio da dignidade da pessoa humana.177

O art. 611-A, inciso XII, versa, especificamente, que as negociações que


versarem sobre o enquadramento do grau de insalubridade, prevalecem o disposto
em lei. 178 As condições de trabalho consideradas insalubres, estão regulamentadas
pela Norma Regulamentadora nº 15 (NR-15), da portaria nº 3.214/1978 do Ministério

172 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Art.
7º, caput.
173 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 404.
174 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 404.
175 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Centro Gráfico, 1988, art. 7º, VI, XIII e XIV.


176 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 13ed. São Paulo: ed. Saraiva,

2021, p. 405.
177 SOUSA, José Franklin de. Direito à saúde. Direito Sanitário. Joinville: ed. Clube de Autores, 2018,

p. 157.
178 BRASIL. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 611-A,

XII. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).


56

do Trabalho, e são aquelas que, através de agentes químicos, físicos ou biológicos,


trazem prejuízo a saúde do trabalhador. Portanto, o adicional insalubridade é direito
de trabalhadores que, durante seu labor, estejam expostos a situações que tragam
risco a sua saúde.179 Assim, permitir a que uma negociação verse sobre o grau de
insalubridade, sem que um profissional competente para tal esteja presente, é uma
grande afronta ao direito à vida, como também, ao princípio da dignidade da pessoa
humana.

Ainda, o inciso VII do artigo 611-A da CLT, permite a prevalência de das


negociações que versarem sobre: “teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho
intermitente”.180 Porém, clausulas das negociações nesse sentido, podem atingir o
direito fundamental à duração do trabalho e/ou à proteção do salário, sendo assim
nulas, pois conflitam com a constituição.181

O artigo 611-B, como já citado, foi uma forma de amenizar os impactos trazidos
pelo artigo 611-A. Acontece, que mesmo ele, que era para amenizar impactos, trouxe
uma afronta à princípio constitucional. Vejamos o que expressa em seu parágrafo
único: “regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como
normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste
artigo”.182

Diante o exposto, se percebe clara a intenção do legislador de separar os temas


duração do trabalho e saúde do empregado, o que evidencia o retrocesso social. Pois,
ao ler o art. 7º, XXII, da CF/88 se nota que os dois temas estão ligados, assim como,
ao ler o art. 4º da Convenção nº 155 da OIT, esta, ratificada pelo Brasil. Assim, o

179 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. De acordo com a reforma trabalhista. 14ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 809.
180 BRASIL. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 611-A,

XIII. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).


181 LEDUR, José Felipe. Barreiras constitucionais à erosão dos direitos dos trabalhadores e a

reforma trabalhista. Revista eletrônica [do] Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba,
PR, v. 7, n. 63, p. 64-88, nov. 2017.
182 BRASIL. Lei nº 13.467 de 13 de julho de 2017. Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 611-B,

parágrafo único. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).


57

parágrafo único do art. 611-B da CLT, gera somente a precarização do direito à saúde,
ofendendo o princípio constitucional do não retrocesso.183

Corrobora para esse entendimento, Rebeca Luise Bensabath Dantas de


Assis184, que assim leciona:

é notável que a inserção legislativa consubstanciada no novo artigo 611- A


da CLT, introduzida pela lei nº 13.4/2017, constitui verdadeira afronta ao
princípio da vedação ao retrocesso social, por permitir que por meio de
acordos ou convenções coletivas, direitos previstos em lei e que asseguram
patamares mínimos e dignos de proteção aos trabalhadores possam ser
reduzidos.

Ainda, o artigo 611-A fere diretamente o princípio da legalidade, pois coloca os


instrumentos normativos oriundos das negociações coletivas acima da lei. Sendo que,
o princípio da legalidade afirma que ninguém deve ser obrigado a fazer, ou não, algo,
senão em virtude de Lei.

Também, o referido artigo não só os coloca acima da lei infraconstitucional,


como também, lhes dão mais força até que a constituição federal, considerada magna
carta nacional, estando no topo da pirâmide do ordenamento jurídico brasileiro.

Gilmar Ferreira Mendes ao assim lecionar:

A situação normativo‐hierárquica privilegiada da lei como fonte única do


direito e da justiça, fruto do pensamento racional‐iluminista, não pôde resistir
ao advento das leis constitucionais contemporâneas como normas superiores
repletas de princípios e valores condicionantes de toda a produção e
interpretação/aplicação da lei. Rebaixada de sua proeminência normativa
inicial, a lei passou a ter com a Constituição uma relação de subordinação
(formal e material), submetida à possibilidade constante de ter sua validade
contestada, e de ser, portanto, anulada, perante um Tribunal ou órgão judicial
especificamente encarregado da fiscalização de sua adequação aos
princípios constitucionais que lhe são superiores.

183 Lima, G. G., & Marra da Costa, M. O. (2019). A reforma trabalhista e o princípio da vedação ao
retrocesso social: impactos do parágrafo único do artigo 611-B da CLT sobre os
trabalhadores. Revista Dos Estudantes De Direito Da Universidade De Brasília, n15, 285–294p. 289.
184 ASSIS, Rebeca Luise Bensabath Dantas. A valorização do negociado sobre o legislado na reforma

trabalhista. Revista eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia, Salvador, BA, Ano V,
n. 9, p. 212-222, Out. de 2017, p. 220.;
58

Portanto, colocar as convenções e acordos coletivos acima da lei


constitucional, é clara afronta a diversos princípios, como também, menospreza a
Constituição Federal, essa tida como base do ordenamento jurídico pátrio.

Por fim, diante todo o exposto, resta clara a inconstitucionalidade, mesmo que
parcial, dos dispositivos 611-A e 611-B da CLT, ambos introduzidos pela lei
13.467/2017.

3.4 Análise dos princípios específicos do direito do trabalho violados

O artigo 611-A da CLT, incluído pela Lei 13.467/2017, a traz clara afronta ao
direito do trabalho, além do mais, viola diversos princípios específicos a esta área do
direito.

O art. 127 da Constituição Federal, incumbe ao ministério público do trabalho:


“a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis”.185 Atuando de acordo com essa incumbência, e
corroborando com a afirmação no parágrafo anterior, expõe o Ministério Público do
Trabalho em sua Nota Técnica nº 5, de 17 de abril de 2017186, que a reforma
trabalhista traria:

impactos nas mais variadas áreas das relações de trabalho, desde o acesso
à justiça, formas de contratação e rescisão, organização sindical, negociação
coletiva, jornada de trabalho, inserção de pessoas com deficiência e
aprendizes no mercado de trabalho e tantos outros temas, que, segundo
anunciado, modificam mais de 100 pontos da CLT.

Um dos maiores impactos na esfera trabalhista, gerados pelo art. 611-A, foi no
princípio da proteção. Esse princípio, é considerado um dos pilares do ordenamento
jurídico trabalhista, e como já dito no capítulo dois do presente trabalho, busca
proteger o trabalhador, considerado a parte mais frágil da relação empregado x
empregador.

185 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Centro Gráfico, 1988, art. 127.
186 BRASIL, Ministério Público do Trabalho. Nota técnica nº 05, de 17 de abril de 2017, da secretaria

de relações institucionais do ministério público do trabalho (MPT).


59

De modo semelhante, Vólia Bomfim Cassar187 assim leciona:

A prevalência do negociado sobre o legislado enfraquece o princípio da


indisponibilidade dos direitos legais trabalhistas, assim como derruba o
princípio da prevalência da norma mais favorável. Torna os direitos
trabalhistas menos públicos e mais privados, transformando a maioria dos
direitos contidos na CLT, que não se encontram na Constituição, em direitos
disponíveis, de característica privada.

Os artigos 611-A e 620, inseridos pela reforma à CLT, trouxeram grande


insegurança ao trabalhador e puseram em risco o princípio da proteção, ao relativiza-
lo.188

Como também já citado no presente trabalho, o princípio da proteção se divide


em três subprincípios. Dentre eles, o mais atingido pelos artigos supramencionados é
o da norma mais favorável.

O art. 611 estipula que as negociações prevalecerão sobre a lei. Em nada fala
de norma mais favorável, ou seja, mesmo sendo mais danosa ao trabalhar, a
negociação mesmo assim prevalecerá.

Nesse sentido, assim expõe Rodrigo Trindade de Souza189:

As ausências de consultas prévias e de mínimos acordos entre organizações


representativas de capital e trabalho tornam a lei de difícil submissão à norma
convencional. Além da Convenção n. 154, também as de números 98 e 151
estabelecem que o objetivo da negociação coletiva deve ser a fixação de “[...]
condições de trabalho que sejam mais favoráveis do que as previstas na
legislação.” Esse está longe de ser o pretendido no novo texto da CLT.

O art. 620 da CLT, assim expõe: “as condições estabelecidas em acordo


coletivo de trabalho sempre prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva
de trabalho”. Portanto, mais uma vez a norma mais favorável de nada vale, pois

187 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. De acordo com a reforma trabalhista. 14ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 1229.
188 OLIVEIRA, Rafael Niebuhr Maiade de. DUTRA, Debora. Análise de constitucionalidade do primado

do “negociado sobre o legislado” no âmbito da reforma trabalhista. Revista Ponto de Vista Jurídico,
Caçador, v.9, nº 1, p. 122 – 141, jan./jun. 2020.
189 SOUZA, Rodrigo Trindade de. REFORMA TRABALHISTA: RISCOS E INSEGURANÇAS DE

APLICAÇÃO. Revista do Tribunal Regional da 3ª Região, Belo Horizonte, edição especial, p. 471-
478, nov. 2007
60

havendo conflito entre dois instrumentos normativos de negociação, prevalecerá o


acordo coletivo do trabalho, mesmo a sendo a convenção melhor para o trabalhador.

Por fim, evidencia-se que garantir a prevalência do negociado sobre o legislado,


trouxe muitos impactos negativos para o ordenamento jurídico trabalhista, atacando
diretamente o empregador, diminuindo a proteção que lhe era conferida, assim
aumentando a disparidade que já era evidente entre ele e seu empregador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como forma de resposta e solução da rápida evolução e modernização das


relações de emprego, surgiu a Lei nº 13.467 de 13 de julho 2017, trazendo inúmeras
alterações ao ordenamento jurídico trabalhista, ficando assim reconhecida como
Reforma Trabalhista. Dentre essas alterações, o presente trabalho salientou os artigos
611-A e 611-B, os quais foram inseridos à Consolidação das Leis do Trabalho pela lei
acima citada, trazendo para o ordenamento, com algumas exceções, a prevalência
das negociações coletivas sob o expressamente previsto em lei. Tais dispositivos
inseridos geraram muita discussão no meio acadêmico quanto a possíveis violações
de princípios presentes no direito do trabalho.

A luz dessa problemática, se iniciou explanando sobre o direito coletivo do


trabalho, dando maiores ênfases para os sindicatos, explicando a sua organização
como um todo. Subsequentemente, foi esclarecida a ideia de negociações coletivas,
das quais os sindicatos são figuras centrais, e também foi exposto os instrumentos
normativos oriundos dessas negociações, as convenções coletivas do trabalho - CCT
e os acordos coletivos do trabalho - ACT. Assim, se pode compreender um pouco do
risco que essas negociações prevalecerem o legislado poderia trazer.

Em seguida, se trouxe alguns princípios presentes no ordenamento jurídico


trabalhista. Primeiro, foi ressaltado alguns princípios constitucionais que fundamentam
o direito do trabalho, logo após, se elencou também, alguns princípios específicos
trabalhistas. Todos citados, são considerados de extrema relevância para a presente
monografia, explica-los foi fundamental antes de entrarmos na problemática de fato
exposto no terceiro capítulo.

Ainda, após discorrer nos dois primeiros capítulos sobre as negociações


coletivas, seus sujeitos e sobre alguns princípios relevantes no direito do trabalho, no
último capítulo, foi utilizado esses conhecimentos para compreender melhor a
problemática de fato, e assim se passou a analisar: o negociado prevalecer o legislado
viola princípios presentes no direito do trabalho? Princípios específicos ou princípios
constitucionais? acentua a disparidade entre empregado e empregador?
62

Durante a pesquisa, que foi feita de forma bibliográfica e documental, ou seja,


com base em diversos livros, artigos, teses e dissertações, se observou que essa
prevalência viola diversos princípios.

Ao falar em princípio constitucional, essa prevalência é considerada por muitos


doutrinadores um dispositivo inconstitucional. Ao permitir que uma negociação verse
sobre o grau de insalubridade, sem que um profissional competente para tal esteja
presente, e ainda permitir que ela prevaleça ao que está na Lei, é uma grande afronta
ao princípio da dignidade da pessoa humana. Também, intenção do legislador de
separar os temas duração do trabalho e saúde do empregado, no parágrafo único do
art. 611-B, traz um retrocesso, evidenciando a violação do princípio de vedação ao
retrocesso social. Ainda, colocando a negociação acima da lei, viola o princípio da
legalidade, que diz que ninguém é obrigado a fazer algo se não em virtude da lei.

Já quanto aos princípios específicos do direito do trabalho, viola principalmente


o da proteção, tido por muitos como o epicentro do ordenamento jurídico laboral, e do
qual muitos outros se derivam, como se evidencia no item 3.4. Os art. 611-A e 620,
tentam relativizar esse princípio, o que traz grande afronta ao mesmo. Essa afronta
faz com que eleve a força do empregador, aumentando ainda mais a disparidade
existente entre este e o empregado, tornando este último, ainda mais vulnerável do
que antes.

Assim, diante o exposto, se confirmam as hipóteses de que a prevalência das


negociações coletivas do trabalho sobre a Lei é Inconstitucional. Ela viola diversos
princípios constitucionais previstos no ordenamento jurídico trabalhista. Além dos
princípios constitucionais, viola também os específicos. Ainda, verificou que o grande
prejudicado com a inclusão dessa prevalência foi o empregado, tento sua força, já
muito pequena antes, ainda mais reduzida, Além de correr o risco de ter direitos
suprimidos para manutenção do empregado, oriundo de coação por parte do
empregador, ameaçando a demissão em caso de renúncia de certas negociações.

Por fim, diante da evidente violação de princípios apresentada, cabe utilizar o


controle concentrado de constitucionalidade, na forma de Ação Direta de
Inconstitucionalidade, com o objetivo de solucionar a problemática analisada, assim,
63

protegendo a magna carta, assegurando os princípios presentes na mesma, como


também, a proteção de todos os empregados que podem ser prejudicados com essa
vulnerabilidade acentuada.
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