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O olhar perdido e triste de um cão e a tragédia

anunciada...

Esta imagem
me chamou
atenção. Um
cão, um rio e
uma igreja ao
fundo. Não fosse
pela tragédia
envolvida e pela
visão
desoladora e
destruidora a
que nos
remetem, outras
impressões
estaríamos aqui
relatando.
Estaríamos
relatando sobre a formosura e beleza das cidades e vilarejos serranos do
estado do Rio de Janeiro. De Cidades como Petrópolis, cujo nome nos
lembra do Imperador Pedro II, a grande polis de Pedro, a bela Petrópolis,
não só de Pedro, mas de todos os Joões e Marias, figuras humanas que
sofreram e sofrem as agruras desta tragédia anunciada...
De Teresópolis, a cidade da Teresa e de todas as mulheres sofridas,
perdidas e desaparecidas nos escombros da tragédia. E de Nova Friburgo,
de vaga lembrança de Friburgo - Freiburg, a cidade alemã de cujo nome
tomou, e que de nova em seu nome homenageia e que agora os seus
mortos ela pranteia...

Um cão, um olhar perdido. Perdido de desolação e de desamparo sem a sua


família e sua casa desaparecida, destruída que foi pelo despreparo, pelas
destemperanças e pelas intervenções destruidoras da natureza e do meio-
ambiente, realizadas por nós, os ditos seres inteligentes... Mas que
inteligência é esta?

Passa ano, vem ano e em todo janeiro as mesmas e sempre tragédias. Não
são as águas de janeiro e nem as de março, que fecham o verão, mas sim
as águas de sempre que trazem a morte. Mas, não são as chuvas que
causam estas tragédias, dramas e mortes, e sim as águas do despreparo,
da falta de diretrizes no uso do solo, e do não planejamento da sua
ocupação e do seu impacto no meio-ambiente. As pessoas morrem por falta
de uma vontade política maior para que tudo isto seja equacionado e
resolvido, definitivamente. Há que se tomar medidas de prevenção das
causas e não medidas paliativas de contenção e de “apaga-incêndio”.
Vamos evitar o óbvio, vamos evitar o que é gritantemente previsível.

Mesmo assim, há que se louvar a capacidade de enfrentamento de crise e


de superação do povo brasileiro, nestes momentos difíceis e pesarosos.
Percebe-se o grande desprendimento apresentado em todas as situações de
desespero e de morte.
Parece-nos que somente diante de grandes tragédias humanas, divulgadas
e relatadas pela mídia, é que o ser humano se humaniza e se sente solidário
com o povo sofrido.
Parece que a solidariedade só existe nas grandes tragédias... E que nos
tempos de bonança de bons tempos no clima e nas vidas, quando todos se
nos parecem felizes e bem abastados, não nos preocupamos pelas misérias,
pelas ausências de alimento, pelas vidas minguadas de sobrevivência e de
subsistência. Não somos sensibilizados. Se nos apresenta como se “o que os
olhos não veem, o coração não sente”. Quem não sabe como vivem os
desesperados da vida, os sobreviventes do descaso humano e os menos
aventurados na bem-aventurança dos abastados, não sente, não se importa
e não dá o devido valor. Somente nos solidarizamos na morte, na desgraça
e nas perdas... E isto é triste e vergonhoso...

As tragédias quando acontecem, devem ser estudadas, pesquisadas, e após


extensa análise das causas, medidas concretas devem ser tomadas para
que tal “acidente” não mais ocorra. Assim como nos casos de acidentes
aeronáuticos, quando medidas corretivas e preventivas são imediatamente
tomadas e isto de modo contínuo e consistente.
O grande problema está em não termos uma legislação que possibilite ao
poder judiciário a perfeita responsabilidade dos agentes públicos por tais
tragédias humanas. E ficamos assim: a culpa foi da natureza, das chuvas e
da irresponsabilidade das próprias vítimas, que são ao mesmo tempo,
segundo nossa vil avaliação, vítima e réu julgado culpado, nesta corrente
sem fim de irresponsabilidades sociais...

No momento em que começarmos a meditar sobre tudo isto e que


desviamos o olhar para o nosso próprio quintal, para os nossos problemas
de ocupação urbana em nossos municípios, e nos levantamentos de áreas
de risco e de ocupações ilegais ou de situação iminente de risco,
iniciaremos então a nossa caminhada para uma vida melhor, para todos e
para cada um de nós, nesta grande nave cósmica, que é a Terra, e que,
para ela devemos o nosso respeito. No dia em que soubermos respeitar a
Natureza e todos os seus elos e elementos, começaremos a vivência de um
mundo de esperança de vidas melhores e de felicidade para todos e para
cada um... Ou você prefere ficar como aquele cachorro, com olhar perdido
de desesperança e de impotência... Fale, grite, manifeste-se! Não cometa o
erro da omissão...

José Carlos Ramires


17/Jan/2011

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