Você está na página 1de 278

Novos Desafios da

Pesquisa em Nutrição
e Produção Animal
Edição 2018

Organizadores:
Prof. Dr. Julio Cesar de Carvalho Balieiro
Prof. Dr. Augusto Hauber Gameiro
Profa. Dra. Angélica Simone Cravo pereira
Prof. Dr. Paulo Henrique Mazza Rodrigues
Prof. Dr. Cesar Augusto Pospissil Garbossa
Prof. Dr. Marcio Antonio Brunetto
Prof. Dr. Ricardo Vieira Ventura 1
2
NOVOS DESAFIOS DA PESQUISA EM
NUTRIÇÃO E PRODUÇÃO ANIMAL

Edição 2018

Organizadores
Prof. Dr. Julio Cesar de Carvalho Balieiro
Prof. Dr. Augusto Hauber Gameiro
Profa. Dra. Angélica Simone Cravo pereira
Prof. Dr. Paulo Henrique Mazza Rodrigues
Prof. Dr. Cesar Augusto Pospissil Garbossa
Prof. Dr. Marcio Antonio Brunetto
Prof. Dr. Ricardo Vieira Ventura

Programa de Pós-Graduação em Nutrição


e Produção Animal

3
ISBN: 978-85-60014-31-6
Edição 2018
Direitos autorais

Os organizadores autorizam a reprodução total ou parcial deste


trabalho, para qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e
pesquisa, desde que citada a fonte.

O conteúdo e revisão ortográfica são de inteira responsabilidade de


seus autores.

Edição
Editora 5D
Rua Siqueira Campos, 2.090 - 1º andar
Pirassununga - SP - CEP: 13630-010
Tel.: 19 3562-1514
contato@5dpublicidade.com.br
www.5dpublicidade.com.br

Capa e Editoração Eletrônica


Alexandre Rais
Elaine Machado
Amanda Segobe

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO


(Biblioteca Virginie Buff D’Ápice da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)

4
5
APRESENTAÇÃO

A organização da edição 2018 do livro “Novos Desafios da Pesquisa


em Nutrição e Produção Animal” tem por objetivo divulgar os mais recentes
avanços na pesquisa desenvolvida dentro do Departamento de Nutrição e
Produção Animal (VNP) da FMVZ-USP, bem como apresentar a visão crítica
dos pesquisadores sobre temas relevantes à nutrição e produção animal.
A edição deste ano organizou a obra em 14 capítulos, onde os autores
apresentam seus resultados de pesquisa e revisam, com visão abrangente e
crítica, importantes temas de interesse da comunidade científica desta área de
conhecimento.
Todas estas contribuições são fruto de consolidação e do avanço
de projetos científicos desenvolvidos por docentes, alunos e colaboradores
do VNP, os quais tem resultado no avanço do conhecimento científico e na
formação de recursos humanos altamente qualificados em nível de iniciação
científica, mestrado e doutorado.
Os organizadores acreditam que esta coletânea possa contribuir com
a difusão do conhecimento científico, cujo conteúdo específico fica, muitas
vezes, fragmentado em artigos publicados em revistas especializadas.
Desta forma, este livro é recomendado para todos que buscam
aprofundamento científico em relação à fronteira do conhecimento sobre
alguns dos grandes temas de importância para a Nutrição e Produção Animal.

OS ORGANIZADORES

6
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

CAPÍTULO I...............................................................................................010
Uso Ractopamina na dieta de fêmeas suínas gestantes sobre os parâmetros
fisiológicos da fêmea e os efeitos no neonato

CAPÍTULO II.............................................................................................031
A influência da Homeopatia sobre a produção de bovinos de corte confinados

CAPÍTULO III............................................................................................052
Aditivos zootécnicos e a manipulação da fermentação ruminal

CAPÍTULO IV............................................................................................074
Alimentos não convencionais para cães e gatos

CAPÍTULO V.............................................................................................093
Diagnóstico situacional dos atuais gargalos da suinocultura brasileira

CAPÍTULO VI............................................................................................107
Efeito da administração de Ibuprofeno em frangos de corte alimentados de 1
a 42 dias em substituição aos antibióticos melhoradores de desempenho

CAPÍTULO VII..........................................................................................125
Microalgas na alimentação de vacas leiteiras

CAPÍTULO VIII.........................................................................................143
Espectroscopia em infravermelho próximo (NIRS) utilizado para análises
bromatológicas em gramíneas

CAPÍTULO IX............................................................................................166
Valoração econômica dos dejetos na produção animal por meio do balanço de
nutrientes: Aplicações na bovinocultura leiteira e na suinocultura

CAPÍTULO X.............................................................................................185
Principais causas e processamento de leite instável não ácido

CAPÍTULO XI............................................................................................203
Sistemas agropecuários e sua interface com a adaptação às mudanças climáticas

CAPÍTULO XII..........................................................................................227
Seleção genômica aplicada a pequenas populações de gado de leite

7
CAPÍTULO XIII.........................................................................................243
Influência da dieta materna nos parâmetros físico químicos de qualidade da
carcaça dos cordeiros

CAPÍTULO XIV.........................................................................................262
Novas perspectivas sobre a utilização de monensina sódica para cordeiros
confinados

8
9
CAPÍTULO I

USO RACTOPAMINA NA DIETA DE FÊMEAS SUÍNAS


GESTANTES SOBRE OS PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DA
FÊMEA E OS EFEITOS NO NEONATO

C. H. G. Martinez1 , G. M. Ravagnani1, B. B. D. Muro1 , M. V.


Mendonça1 , M. S. Passarelli1 , R. F. Strefezzi2, S. M. M. K, Martins1 , A.
F. C. Andrade1

1
Núcleo de Pesquisa em Suínos, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia –
Universidade de São Paulo
2
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – Universidade de São Paulo

rESUMO
A seleção de fêmeas suínas hiperprolíficas aumentou a discrepância entre
número de conceptos e a capacidade uterina, levando a uma maior demanda
de nutrientes e uma diminuição geral no peso ao nascimento. O baixo
peso ao nascimento é a causa mais comum de mortalidade no período pré-
desmame e influencia negativamente no desenvolvimento e a eficiência
alimentar pós-desmame. O uso de aditivos como a ractopamina (Rac)
durante a gestação de fêmeas suínas é uma alternativa para melhorar o aporte
nutricional ao feto. Este composto é considerado repartidor de nutrientes,
promovendo a lipólise, a retenção de nitrogênio, e consequentemente pode
apresentar impactos positivos no desenvolvimento do feto. No entanto,
estudos têm mostrado que a suplementação de Rac em suínos na terminação
podem levar a alterações comportamentais e fisiológicas similares as
respostas típicas do estresse, mas não há evidências científicas sobre o uso
de Rac em fêmeas suínas gestantes e os efeitos no neonato, tornando assim
necessárias pesquisas avaliando o efeito da suplementação de Rac em fêmeas
suínas gestantes sobre a vitalidade e parâmetros sanguíneos da progênie.

1. INTRODUÇÃO
A seleção de fêmeas suínas para hiperprolificidade, trouxe como
consequências uma diminuição no crescimento fetal e maior variabilidade
do peso ao nascimento (Foxcroft et al., 2007; Bérard et al., 2010; Alvarenga
et al., 2013). O maior número de fetos, a capacidade uterina limitada e
o desenvolvimento insuficiente da vascularização placentária aumentam
a competição por nutrientes e oxigênio resultando em leitegadas com
características de crescimento intrauterino retardado e leitões mais leves ao
nascimento (Vallet et al., 2002; Foxcroft et al., 2009; Alvarenga et al., 2013).

10
O baixo peso ao nascimento está relacionado ao aumento da
mortalidade no período neonatal (Kirkden et al., 2013), pois leitões menores
ingerem quantidades insuficientes de colostro e leite, o que leva à menor
aquisição de imunidade passiva e os torna susceptíveis a hipotermia (Wolf
et al., 2008). Além disso, o baixo peso também está relacionado a menores
taxas de crescimento, e eficiência alimentar devido a uma menor quantidade
de fibras musculares (Alvarenga et al., 2013; Ji et al., 2017).
A nutrição materna desempenha um papel crucial no fluxo de nutrientes
que será fornecido ao desenvolvimento fetal e à eficiência placentária (Wu
et al., 2004; Che et al., 2017). A entrega de nutrientes é considerada um dos
principais determinantes do crescimento fetal, mesmo no início da gestação
(Fowden et al., 2009). O aumento do consumo de alimento materno tem sido
sugerido para melhorar o aporte nutricional do feto e o desenvolvimento da
glândula mamária (Dywer et al., 1993; Wu et al., 2006; Ren et al., 2018). Por
outro lado, a suplementação com agonistas β2-adrenérgicos é uma alternativa
para aumentar a nutrição fetal e o desenvolvimento da progênie (Kim et al.,
1994; Hoshi et al., 2005b; Gatford et al., 2009; Garbossa et al., 2015).
A ractopamina é um agonista β-adrenérgico que promove a lipólise
e a retenção de nitrogênio e consequentemente um incremento na deposição
muscular (Smith e Paulson, 1994; Cantarelli et al., 2009; Agostini et al., 2010).
Hoshi et al. (2005b) relataram maiores taxas de crescimento da progênie e
correlação positiva entre o número de fibras musculares com as variáveis peso
de abate, peso de carcaça e profundidade de Longissimus dorsi (0,80; 0,86 e
0,67, respectivamente) em leitões nascidos de porcas alimentadas com Rac
durante os 25 a 50 dias da gestação. Resultados similares foram encontrados
por Gatford et al. (2009) e Garbossa et al. (2015) que avaliaram os efeitos da
suplementação de Rac em porcas no mesmo estágio da gestação e relataram
aumento no peso fetal e no peso ao nascer, respectivamente.
A estrutura da Rac é similar as catecolaminas naturais adrenalina
e noradrenalina (Mersmann, 1998; Moody et al., 2000). A suplementação
de Rac em suínos na terminação pode determinar alterações nos parâmetros
sanguíneos, elevando os valores séricos de adrenalina e noradrenalina que
podem levar a alterações comportamentais e fisiológicas similares a respostas
típicas de estresse. (Marchant-Forde et al., 2003; Ritter et al., 2017). Contudo,
não há evidências científicas sobre os efeitos na vitalidade ou parâmetros
sanguíneos em leitões nascidos de porcas suplementadas com agonistas β2-
adrenérgicos durante a gestação, sendo fundamental o entendimento do efeito
da suplementação de Rac em fêmeas suínas gestantes sobre a vitalidade e
parâmetros sanguíneos da progênie. Assim, pretende-se discutir e apresentar
resultados sobre os efeitos da suplementação dietética com Rac durante 25-
50 dias de gestação sobre os efeitos da vitalidade dos leitões, parâmetros

11
sanguíneos, fibras musculares e características de desenvolvimento.

2. RACTOPAMINA
A Ractopamina é um aditivo zootécnico considerado como repartidor
de nutrientes sendo classificado como agonista beta-adrenérgico (β-agonistas)
da família das fenoletanolaminas. Este aditivo determina uma menor deposição
de tecido adiposo e maior porcentagem de carne magra na carcaça (Smith &
Paulson, 1994).
Os β-agonistas sintéticos como o cimaterol, clembuterol, ractopamina,
salbutamol e zilpaterol são semelhantes em estrutura a β-agonistas naturais
como a epinefrina e norepinefrina, (Mersmann, 1998; Moody et al., 2000).
Esses compostos se ligam aos receptores β-adrenérgicos redirecionando os
nutrientes destinados ao crescimento de gordura para o crescimento muscular
(Ritter et al., 2017). Entre os 3 subtipos de receptores β-adrenérgicos conhecidos
(β1, β2 e β3) cada β-agonista apresenta ligações preferenciais a cada subtipo
de receptor, sendo β1 (ractopamina) ou β2 (cimaterol, clembuterol, salbutamol
e zilpaterol). Os quais variam por espécie e tipo de tecido. Por exemplo, o
receptor β1 é o subtipo predominante de tecido adiposo suíno e músculo
esquelético, enquanto β2 é o subtipo predominante encontrado em bovinos de
corte (Mersmann, 1998; Moody et al., 2000; Mills, 2002). Portanto, os efeitos
dos β-agonistas no crescimento e nas características de carcaça variam entre
as espécies e dependem do subtipo de receptor β predominante do animal e da
ligação preferencial do β-agonista alimentado (Moody et al., 2000).
Quando os β-agonistas se ligam aos receptores β-adrenérgicos das
células adiposas e do músculo esquelético, é ativado o sistema de sinalização
com a participação da proteína G, heterotrímero formado por três subunidades
Gα e Gβγ que na forma inativa encontra-se ligada a guanosina difosfato (GDP)
(Benovic, 1988). A subunidade Gα se separa então do dímero Gβγ, se liga
à guanocina trifosfato (GTP), e ativa a adenilciclase (AC), que converte a
adenosina trifosfato (ATP) em adenosina monofosfato cíclico (cAMP) (Alberts
et al., 2004). O cAMP, atua como um sinalizador intracelular, ativando a
proteína quinase (PKA) dependente de AMPc, essa por sua vez libera e ativa
as subunidades catalíticas (Benovic 1988) (Figura 1) que fosforilam a lipase,
inibindo a lipogênese (Moody et al., 2000; Mills, 2002), promovendo a lipólise
e a retenção de nitrogênio determinando um aumento na síntese proteica
(Cantarelli et al. 2009).
Outro fator importante da ractopamina está relacionado com o IGF-I
(Fator de crescimento similar a insulina-I), que pode ser mediador da ação
hipertrófica sobre o músculo esquelético, (Roe et al., 1989) que junto a com
maior retenção de nitrogênio aumenta a taxa de deposição proteica (Cantarelli
et al., 2009), e consequentemente a deposição do músculo melhorando assim,

12
o desempenho e as características de carcaça (Ritter, 2017). Neste contexto,
a ractopamina para suínos determina aumento na deposição de carne em
detrimento da gordura, gerando um produto mais atrativo para o consumidor
(Agostini et al., 2011).

Figura 1. Mecanismo de ação dos β-agonistas. β, receptor beta adrenérgico; α,γ e β, subunidades
da proteína G; AC, adenil ciclase; GTP, guanosina trifosfato; AMPc, adenosina monofosfato
ciclico; PKA, proteína quinase A dependente de cAMP; (Adaptado de Almeida et al., 2012).

Em períodos de suplementação de β-agonistas prolongados, a


intensidade da resposta do receptor pode ser reduzida por parte das células,
devido ao mecanismo de regulação aos β-agonistas (Moody et al., 2000). A
dessensibilização aos β-agonistas consiste no desacoplamento dos receptores da
proteína G, sequestro e internalização temporária dos receptores desacoplados
e degradação de receptores internalizados (Alberts et al., 2004). Em períodos
maiores do que 28 dias de suplementação com β-agonistas, o AMPc ativa a
proteína quinase β-adrenoreceptor, que fosforila o receptor desacoplando
a proteína G, resultando na desativação dos receptores e a migração desses
receptores inativos para o espaço intracitoplasmático e diminuindo a quantidade
de receptores disponíveis na membrana (Moody et al., 2000; Mills, 2002).
Com relação aos níveis de inclusão da ractopamina, vários estudos
têm demonstrado que o ganho de peso é alcançado com uma inclusão
mínima de 5 mg/kg, porém, tem sido observada melhora nas características
de desempenho, deposição de carne magra na carcaça e eficiência alimentar,
quando suplementados com níveis maiores como 10, 15 e 20 mg/kg sendo, no

13
intervalo entre cinco e 15 mg/kg mais eficiente. (Stoller et al., 2003; Armstrong
et al., 2004; Weber et al., 2006; Bridi et al., 2008; Cantareli et al., 2009; Kiefer
& Sanches, 2009; Sanches et al., 2010a; Agostini et al., 2011; Ferreira et al.,
2011; Leal et al., 2015).

3. ASPECTOS GERAIS DA GESTAÇÃO DA FÊMEA SUÍNA


MODERNA
Durante a gestação da fêmea suína é importante considerar dois
aspectos principais, do ponto de vista reprodutivo, o objetivo é conseguir o
maior número de partos/fêmea/ano e do ponto de vista produtivo, o objetivo
é obter o maior número de leitões desmamados/fêmea/ano (Penz et al., 2009).
Portanto, o manejo nutricional adequado das fêmeas gestantes é fundamental
para que as fêmeas conservem um ótimo escore de condição corporal e
consequentemente assegurar uma maior sobrevivência embrionária, ter um
maior número de leitões nascidos vivos e otimizar a longevidade da porca
(Ferguson et al., 2003; Solà-Oriol, et al., 2017).
As necessidades nutricionais da fêmea gestante estão mudando
significativamente à medida que a gestação avança, entretanto, a ingestão de
alimentos deve ser restrita para controlar escore de condição corporal (Kraeling
& Webel, 2015). O nível de restrição dependerá da idade e da produtividade
prevista, mas está principalmente relacionado à quantidade de energia e
nutrientes que cada porca ou leitoa utilizam para recuperar as reservas corporais
ou para crescimento, respectivamente. Vignola (2009) mostrou que o consumo
de ração deve ser diminuído após cobertura, pois porcas superalimentadas
durante as duas primeiras semanas da gestação, apresentam alta mortalidade
embrionária e produzem leitegadas pequenas. Nesta fase, maiores níveis
nutricionais aumentam o metabolismo de esteroides no fígado, reduzindo suas
concentrações circulantes e diminuindo assim os níveis de progesterona e de
estradiol (Ferguson et al., 2003). Após 5 dias da cobertura, a quantidade de
ração pode ser aumentada para satisfazer à curva de crescimento desejada ou
recuperação da lactação anterior (Langendijk, 2015).
Em fêmeas selecionadas para maior prolificidade, as perdas
embrionárias precoces após a ovulação, são menores principalmente no
período de implantação e pós-implantação (Foxcroft et al., 2006; Freking et
al., 2007). No entanto, a maior prolificidade pode ter aumentado a discrepância
entre o número de conceptos que sobreviveram ao período pós-implantação
e a capacidade uterina, particularmente em porcas com paridade mais alta
(Foxcroft et al., 2007). Causando consequentemente um crescimento fetal
diminuído e maior variabilidade do peso ao nascimento (Foxcroft et al., 2007;
Bérard et al., 2010; Alvarenga et al., 2013).
Para o adequado crescimento e desenvolvimento fetal a capacidade

14
uterina e função placentária são cruciais em todas as espécies (Foxcroft et al.,
2009), a medida que há aumento no número de leitões, o fluxo sanguíneo da
placenta para o feto diminui de forma concomitante (Père & Etienne, 2000).
Porém, limitações do desenvolvimento placentário durante a gestação de fêmeas
suínas resultam em leitegadas com características crescimento intra-uterino
retardado (CIUR) (Foxcroft et al., 2007). Town et al. (2004) relataram que os
embriões competem pelo espaço uterino e pelo desenvolvimento placentário,
assim, fetos com desenvolvimento placentário deficiente apresentam uma
redução no número de fibras musculares e a massa de praticamente todos os
órgãos fetais em relação ao cérebro (estratégia de preservação do cérebro)
como evidenciado em fêmeas de maior prolíficidade.
Usualmente, leitões com baixo peso ao nascimento são acometidos
pelo CIUR e sendo estes responsáveis pelo aumento nas taxas de mortalidade
devido à alta incidência de disfunções gastrointestinais, metabólicas,
respiratórias ou imunológicas (Quiniou et al., 2002; Bee, 2004; Gondret et
al., 2006; Wu et al., 2006), além da menor quantidade de fibras musculares
que limita o potencial de crescimento pós-natal (Dwyer et al., 1993, Du et
al., 2015). Contudo, o crescimento fetal e o peso ao nascimento predizem a
sobrevivência neonatal e o potencial de crescimento pós-natal em suínos como
em outras espécies (Campbell & Dunkin, 1982; Wigmore & Stickland, 1983;
Dwyer et al. 1993).
Do ponto de vista produtivo, o baixo peso ao nascimento diminui
o desempenho pós-natal, (reduz o ganho de peso diário, aumenta a taxa de
conversão alimentar e diminui a qualidade da carcaça) e aumenta o número
de dias para atingir o peso de abate comparado com leitões de maior peso ao
nascimento (Quiniou et al., 2002; Gondret et al., 2006; Rehfeldt & Kuhn 2006;
Young et al., 2009; Nissen & Oksbjerg, 2011). A criação de leitões com baixo
peso ao nascimento tem efeitos negativos sobre a economia na produção de
suínos. (Royston et al., 1982; Wootton et al., 1983; Wu et al., 2010). Portanto,
há intensa pesquisa em estratégias de melhoramento e manejo para aliviar a
incidência do baixo peso ao nascimento e os efeitos negativos no desempenho
de crescimento subsequente.

4. USO DE RACTOPAMINA DURANTE A GESTAÇÃO


O crescimento fetal é determinado pela nutrição materna e ambientes
endócrinos, que dependem da eficiência do transporte de nutrientes por
parte da placenta (Metges et al., 2014), assim, o crescimento fetal anormal
está associado a alterações no transporte placentário (Jansson et al., 2006a)
e podem contribuir diretamente a fetos com sinais de CIUR ou aumento do
crescimento (Jansson et al., 2006b). Adicionalmente, o crescimento fetal e o
peso ao nascimento também podem ser restringidos por outros fatores como

15
as exigências nutricionais para crescimento em marrãs, tamanho da leitegada
e restrição alimentar utilizada durante a gestação em produções comerciais de
suínos (Gatford et al., 2009).
Visando reduzir o número de leitões de baixo peso ao nascimento,
Dwyer et al. (1993) mostraram que o segundo terço da gestação em suínos é um
período crítico para o crescimento e desenvolvimento fetal. Quando se aumenta
o aporte nutricional nesta fase, é melhorado o crescimento fetal aumentando
o tamanho e a área das fibras musculares primárias para formar suporte para o
desenvolvimento posterior de fibras secundárias e consequentemente o ganho
muscular e crescimento pós-natal (Wigmore & Stickland, 1983; Rehfeldt et al.,
2001).
A suplementação de β-agonistas a fêmeas suínas gestantes tem sido
sugerida como uma alternativa para melhorar o aporte nutricional ao feto e
aumentar seu crescimento e desenvolvimento pós-natal. Kim et al. (1994)
suplementaram com salbutamol (β-agonista) em porcas durante três diferentes
estágios da gestação e observaram maiores quantidade de fibras musculares
ao nascimento, mas não no peso ao nascimento quando comparado ao grupo
controle. Os β-agonistas ativam os receptores β-adrenérgicos presentes na
placenta, aumentando a concentração de AMPc que está relacionado com
um maior fluxo sanguíneo para os fetos através de um efeito vasodilatador
(Karadas et al., 2007), que junto com a maior retenção de nitrogênio pode
determinar um incremento muscular dos leitões ao nascimento (Hoshi et al.,
2005a).
Em um estudo realizado por Hoshi et al., (2005a) foi avaliado a
suplementação de 20 mg/kg de Rac em porcas durante diferentes períodos da
gestação e observaram que os melhores resultados foram atingidos quando
suplementaram dos 25 aos 50 dias de gestação. Embora os autores não tenham
observado diferenças estatísticas quanto ao número de fibras musculares no
músculo semitendinoso de leitões nascidos de fêmeas suplementadas, foi
verificado uma correlação positiva entre o número de fibras musculares e as
variáveis peso de abate, peso de carcaça e profundidade do músculo Longíssimus
dorsi (0,80; 0,86 e 0,67, respectivamente). Resultados semelhantes foram
observados por Gatford et al. (2009) que suplementaram 20 mg/kg de Rac em
porcas no mesmo estágio de gestação e observaram um aumento de 9% no
peso fetal comparado com o grupo controle.
Já em outro experimento realizado por Garbossa et al. (2015), no
qual estes suplementaram com 20 mg/kg de Rac durante os 25 aos 50 dias da
gestação. Os autores observaram um aumento de 8,6% no peso ao nascimento
em leitões nascidos de fêmeas suplementadas com Rac comparado com
o grupo controle. O número de fibras musculares diminuiu em decorrência
do aumento no diâmetro das fibras no músculo semitendinoso em leitões

16
nascidos de porcas suplementadas. Adicionalmente, a eficiência placentária e
relação cérebro-fígado não foram diferentes em leitões nascidos de fêmeas
suplementadas com Rac comparado com o grupo controle.
A suplementação de ractopamina durante os 25 – 50 dias da gestação
tem efeitos positivos no desenvolvimento pré-natal (Hoshi et al., 2005a; Garford
et al., 2009), melhorando desenvolvimento muscular fetal e consequentemente
pode aumentar o peso ao nascimento (Garbossa et al., 2015). Embora os efeitos
positivos da Rac tenham sido demonstrados por esses autores, não foi levado
em consideração a prolificidade das porcas, que provavelmente esses efeitos
da suplementação de Rac em porcas seja diferente entre a alta prolificidade (>
14 leitões nascidos) e baixa prolificidade (< 14 leitões nascidos).
Em um estudo realizado por Martinez et al. (dados não publicados) pelo Núcleo
de Pesquisa em Suínos, no Laboratório de Pesquisa em Suínos (VNP – FMVZ/
USP), foi avaliado o efeito da suplementação de 10 e 20 mg/kg de Rac durante
os 25 aos 50 dias da gestação (41 porcas gestantes com diferentes ordens de
parto), sobre o peso ao nascimento dos leitões e a porcentagem de leitões com
baixo peso ao nascimento (<800g e <1000g) de acordo com a prolificidade das
fêmeas (baixa, <14 leitões nascidos totais; alta, >14 leitões nascidos totais) e o
número de fibras musculares no musculo semitendinoso.
Foram observados maiores valores de peso total da leitegada e
menores valores de peso médio ao nascimento em fêmeas de alta prolificidade
comparado com fêmeas de baixa prolificidade (P<0,01; Tabela 1). Este efeito
corrobora ao fato de que a maior número de leitões nascidos totais (alta
prolificidade) maior peso e tamanho da leitegada, e que existe uma correlação
negativa entre o tamanho da leitegada e peso ao nascimento dos leitões
(Quiniou et al., 2002; Wolf et al., 2008). Não foi verificado efeito de interação
entre a Rac e a prolificidade para essas variáveis. No entanto, quando avaliado
o efeito da suplementação Rac (contraste 1 = controle × 10 mg/kg + 20 mg/kg)
foi observada uma tendência (P=0,065) de maiores pesos médios dos leitões ao
nascimento, nos grupos Rac (Tabela 1).
Em fêmeas de baixa prolificidade o peso ao nascimento foi 17% maior
em porcas tratadas com Rac comparado com o grupo controle, no entanto, na
alta prolificidade o peso ao nascimento foi 1,7% maior em fêmeas tratadas com
Rac comparado com o grupo controle. Embora não tenham sido observadas
diferenças estatísticas (P>0,05) entre a porcentagem de leitões de baixo peso
ao nascimento (<800g e <1000g), a porcentagem de leitões de baixo peso foi
numericamente maior na alta prolificidade e numericamente menor em fêmeas
suplementadas com Rac. Provavelmente devido ao baixo número de animais
utilizados no experimento (41 porcas gestantes) as diferenças estatísticas não
foram evidentes (Tabela 1).

17
Tabela 1. Efeito da suplementação de 10 e 20 mg de ractopamina durante os 25 aos 50 dias da gestação
sobre o peso dos leitões ao nascimento e a porcentagem de leitões nascidos de baixo peso de acordo com a
prolificidade das porcas.

Controle= sem Rac; Rac10= 10 mg/kg de Rac; Rac20= 20 mg/kg de Rac; LNT= leitões nascidos
totais; C1= Contraste 1: controle × Rac suplementação; C2= Contraste 2: 10 mg/kg × 20 mg/kg;
*Efeito da prolificidade P<0,01
1PTleitegada: Peso total da leitegada; PLnascimento: Peso médio dos leitões ao nascimento;
Leitões <800g, porcentagem de leitões nascidos com peso menos que 800g; Leitões <1000g,
porcentagem de leitões nascidos com peso menos que 1000g
2EPM, erro padrão da media.

A retenção de nitrogênio causada pela Rac (Cantarelli et al. 2009),


pode contribuir para uma maior quantidade de síntese proteica no feto,
aumentando a formação de tecido muscular. No entanto, não houve diferenças
no número de fibras musculares (n/mm2), diâmetro e perímetro (µm) no
músculo semitendinoso de leitões recém-nascidos (Tabela 2). Similar aos
resultados encontrados por Hoshi et al (2005b), que não observaram diferenças
no número de fibras musculares no músculo semitendinoso de leitões nascidos
de fêmeas suplementadas com 20 mg/kg de Rac durante a gestação. Além disso,
as diferenças no desempenho dos leitões com maior capacidade de crescimento
muscular serão evidentes somente após os 70 dias de vida, comparado com
leitões de menor capacidade de crescimento (Dwyer et al., 1993).

Tabela 2. Efeito da suplementação de 10 e 20 mg de ractopamina durante os 25 aos 50 dias da gestação sobre


o número, diâmetro e perímetro das fibras musculares do músculo semitendinoso de leitões ao nascimento.

Controle= sem Rac; Rac10= 10 mg/kg de Rac; Rac20= 20 mg/kg de Rac; C1= Contraste 1:
controle × Rac suplementação; C2= Contraste 2: 10 mg/kg × 20 mg/kg;
1fibras musculares no musculo semitendinosus
2EPM, erro padrão da media

Contudo, foi evidenciado que em fêmeas de alta prolificidade, os


efeitos positivos da suplementação de Rac no peso ao nascimento são menores
que em fêmeas de baixa prolificidade, a porcentagem de leitões de baixo
peso ao nascimento não diminui significativamente com suplementação de

18
Rac comparado ao grupo controle. Esses resultados reforçam a suposição
de que a restrição no espaço uterino diminui o desenvolvimento fetal e
consequentemente o peso ao nascimento (Foxcroft, 2007). A suplementação
de Rac durante a gestação tem capacidade de melhorar o fluxo sanguíneo e
aporte de nutrientes ao feto (Bird et al., 2003; Karadas et al., 2007) que pode
estar relacionado a um maior desenvolvimento fetal. Porém, em porcas de alta
prolificidade, há uma maior limitação do desenvolvimento fetal devido espaço
uterino reduzido (Van Der Lende & Van Rens, 2003).

5. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS


DEVIDO AO USO DA RACTOPAMINA

FREQUÊNCIA CARDÍACA, RESPIRATÓRIA E TEMPERATURA RETAL

Os β-agonistas sintéticos, por serem similares em estrutura as


catecolaminas naturais adrenalina e noradrenalina (Mersmann, 1998; Moody
et al., 2000), podem gerar alterações fisiológicas nos animais suplementados
como aumento na frequência cardíaca, que por sua vez pode causar mudanças
na frequência respiratória, levando a quadros de estresse e alterações de
comportamento (Marchant-Forde et al., 2003; Angostini et al., 2011).
Marchant-Forde et al. (2003), que suplementaram 10 mg/kg de Rac
em suínos na terminação, e observaram que os leitões ficaram mais ativos
e alertas, houve aumento na frequência cardíaca e apresentaram maiores
dificuldades de manejo quando comparados ao controle. Segundo os autores,
este fato foi, provavelmente, devido ao aumento nos valores séricos de
adrenalina e noradrenalina. Portanto, a utilização da ractopamina em suínos,
tem potencial de estimular respostas típicas do estresse.
Angostini et al., (2011) suplementaram 10 e 20 mg de Rac em suínos
durante 21 dias na fase de terminação, não observaram alterações na frequência
cardíaca, respiratória e temperatura retal quando avaliadas na pesagem antes do
embarque para o frigorifico. Esses resultados foram similares aos encontrados
por Catalano et al. (2012) que suplementaram 0, 10, 20 ou 40 mg / kg Rac em
suínos na fase de terminação e não relataram diferenças na frequência cardíaca
em animais em repouso avaliada no final do período de suplementação.
Contudo, os efeitos da Rac na frequência cardíaca em suínos durante a fase
de terminação são conflitivos na literatura, provavelmente porque os autores
avaliaram a frequência cardíaca no momento final do período de suplementação
(pesagem final, manejo pré-abate, transporte, etc) e não foi avaliado durante
todo o período de suplementação de Rac.
Em um experimento realizado por Martinez et al. (dados não
publicados) suplementaram 10 e 20 mg/kg de Rac durante os 25 aos 50 dias da

19
gestação, e verificaram um aumento nos valores de frequência cardíaca com a
suplementação de Rac (contraste 1 = controle × 10 mg/kg + 20 mg/kg) onde os
valores de 20 mg/kg foram maiores quando comparados com a suplementação
de 10 mg/kg de Rac durante todo o período de suplementação (Figura 2).
Adicionalmente, foi verificado uma diminuição nos valores de frequência
cardíaca ao longo do período de suplementação de Rac (P<0,05).
A suplementação de Rac tem a capacidade de aumentar a frequência cardíaca em
fêmeas suínas gestantes. No entanto, esse aumento diminui em relação aos dias
de suplementação (25 a 50 dias da gestação). Uma possível explicação é que
o aumento na frequência cardíaca é uma consequência do aumento nos níveis
de adrenalina e noradrenalina séricos por parte do sistema nervoso simpático
como estratégia de regulação, estimulando a ligação com os receptores beta-
adrenérgicos disponíveis para diminuir a ação da ractopamina (Marchant-
Forde et al., 2003). Além disso, em períodos de suplementação de β-agonistas
prolongados, a intensidade de resposta dos receptores β-adrenergicos diminui
devido ao mecanismo de regulação aos β-agonistas (Moody et al., 2000;
Alberts et al., 2004).

Figura 2. Efeito da suplementação de ractopamina sobre a frequência Cardíaca durante os 25 aos


50 dias da gestação. C1= Contraste 1: controle × Rac suplementação; C2= Contraste 2: 10 mg/
kg × 20 mg/kg; *Efeito C1, P < 0,05; **Efeito C2, P < 0,05; Efeito de tempo, P < 0,0001; EPM:
Controle= 0,586; 10 mg/kg= 0,576; 20 mg/kg= 0,617.

Contudo, mais estudos são necessários avaliando o efeito da


suplementação de Rac na frequência cardíaca, considerando todo o período
de suplementação de Rac, devido ao mecanismo de regulação dos receptores

20
β-adrenérgicos que provavelmente seja uma possível explicação aos resultados
conflitantes nos estudos supracitados.
Tabela 3. Efeito da suplementação de ractopamina sobre frequência respiratória e temperatura retal das
fêmeas durante o dia 25 a 50 da gestação.

Controle= sem Rac; Rac10= 10 mg/kg de Rac; Rac20= 20 mg/kg de Rac; C1= Contraste 1:
controle × Rac suplementação; C2= Contraste 2: 10 mg/kg × 20 mg/kg;
T= Efeito de tempo; Tto × T= Interação de tratamento e tempo; 2EPM, erro padrão da média.

Em relação aos valores de frequência respiratória e temperatura retal,


não foram verificadas diferenças estatísticas (P>0,05) da suplementação de Rac
durante os 25 a 50 dias da gestação (Tabela 3). As avaliações de frequências
cardíaca, respiratória e temperatura retal foram realizadas quando as porcas
estavam em repouso, portanto, sugere-se que a Rac não altera a frequência
respiratória e temperatura quando o animal se encontra em repouso.
Em contraste, um estudo realizado por Angostini et al., (2011) não
observaram mudanças na frequência respiratória em suínos durante a fase
terminação, no entanto, outros estudos relataram o efeito da suplementação
de Rac durante a fase de terminação sobre a porcentagem de suínos fatigados
após o manejo (gentil e agressivo). Noel et al., (2016) e Peterson et al.,
(2015) observaram aumentos na porcentagem de suínos fatigados após o
manejo agressivo em suínos suplementados com 10 e 7,5 mg/kg de Rac
respectivamente, quando comparados com o grupo controle. No entanto, Puls
et al., (2015) não observaram diferenças na porcentagem de leitões fatigados
após o manejo agressivo em suínos suplementados com 10 mg/kg de Rac.
Quanto a temperatura retal, estudos relataram que não é alterada com a
suplementação de 5, 10 e 20 mg/kg de Rac em suínos em repouso (James et
al., 2013; Puls et al., 2013; Peterson et al., 2015), ou suplementação de 5 ou
7,5 mg/kg em suínos após o manejo agressivo (Puls et al., 2013; Peterson et
al., 2015). No entanto, James et al, (2013) reportaram que a suplementação
de 10 ou 20 mg / kg de Rac aumentou a temperatura retal após o manejo
agressivo.
Embora existam conflitos na literatura, alterações na frequência respiratória
e temperatura retal em suínos em repouso não são evidenciadas em nenhum
desses estudos citados anteriormente. A porcentagem de leitões fatigados e
a temperatura retal depende da dose de Rac suplementada e do método de
manejo utilizado (Ritter et al., 2017).

21
6. VITALIDADE DE LEITÕES NASCIDOS DE PORCAS
SUPLEMENTADAS COM RACTOPAMINA DURANTE A GESTAÇÃO

A suplementação de Rac pode aumentar a retenção de nitrogênio,


contribuindo a uma maior síntese proteica (Cantarelli et al. 2009), além disso,
a Rac influencia no metabolismo lipídico estimulando a lipólise e inibindo
a lipogênese (Moody et al., 2000; Mills, 2002). Portanto, pode desviar
nutrientes para ser aproveitados no desenvolvimento fetal, contribuir a uma
maior sobrevivência embrionária (Gatford et al., 2009) e aumentar o peso ao
nascimento (Garbossa et al., 2015). No entanto, no terço final da gestação a
mortalidade fetal pode aumentar devido ao espaço uterino limitado (Van Der
Lende & Van Rens, 2003), que consequentemente junto com o maior peso ao
nascimento pode alterar a duração do parto (Canario et al., 2006) e a vitalidade
dos leitões devido a maior dificuldade na passagem pelo canal do parto (Trujillo
et al., 2011).
Em um experimento realizado por Martinez et al. (dados não
publicados) avaliaram o efeito da suplementação de 10 e 20 mg/kg de Rac
durante os 25 aos 50 dias da gestação sobre a vitalidade dos leitões ao
nascimento. Para a avaliação de vitalidade foi utilizado o teste de pontuação
Apgar descrito por Randall (1971), adaptado por Zaleski & Hacker (1993) e
modificado por Motta-Rojas (2005), medindo frequência cardíaca (bradicardia,
normal e taquicardia), tempo entre nascimento e a primeira respiração (> 1 min,
entre 16 s e 1 min e <15 s), cor da pele e focinho (pálido, rosa ou cianótico),
tentativa de ficar em posição quadrupedal (> 5 min, entre 1 e 5 min, e <1
min) e mancha da pele com mecônio (grave, leve ou ausente). Cada variável
recebeu uma pontuação de 0 (menos favorável) a 2 (mais favorável) que
totalizando uma pontuação de 1 a 10 para cada leitão nascido. Os leitões foram
classificados em três grupos segundo a pontuação do Apgar: vitalidade baixa
(classificação ≤ 5 pontos); vitalidade média (entre 6 e 7 pontos), e vitalidade
alta (classificação ≥ 8 pontos); Todas as medidas de vitalidade foram realizadas
no primeiro minuto de vida (Trujillo et al., 2011).
A porcentagem de leitões com vitalidade alta (escore apgar 8 – 10) e
vitalidade média (escore apgar 6 – 7) não apresentaram diferenças estatísticas
entre os tratamentos (P > 0,05). No entanto, houve efeito da suplementação de
Rac (contraste 1 = controle × 10 mg/kg + 20 mg/kg) sobre a porcentagem de
leitões com vitalidade baixa (P < 0,05; Tabela 4).

22
Tabela 4. Efeito da suplementação de ractopamina durante a gestação sobre a vitalidade de leitões recém-
nascidos.

Controle= sem Rac; Rac10= 10 mg/kg de Rac; Rac20= 20 mg/kg de Rac; C1= Contraste 1:
controle × Rac suplementação; C2= Contraste 2: 10 mg/kg × 20 mg/kg;
1escore Apgar 1 – 5; 2escore Apgar 6 – 7; 3escore Apgar 8 – 10; 4EPM, erro padrão da média.

A suplementação de Rac durante os 25 a 50 dias da gestação,


aumentou a porcentagem de leitões com vitalidade baixa. Trujillo et al. (2011),
observaram que os leitões com escore de vitalidade baixa (≤ 5), apresentaram
os maiores pesos ao nascimento, segundo os autores, os leitões de maior
peso têm maiores dificuldades na passagem pelo canal do parto e uma maior
incidência de cordão umbilical rompido. Apesar de não ser observadas
diferenças (p>0,05) no peso ao nascimento, houve uma tendência (P=0,06) a
ser superior nos leitões nascidos de fêmeas suplementadas com Rac (Tabela 1).

Tabela 5. Efeito da suplementação de ractopamina durante a gestação sobre a gasometria sanguínea de leitões
recém-nascidos.

Controle= sem Rac; Rac10= 10 mg/kg de Rac; Rac20= 20 mg/kg de Rac; C1= Contraste 1:
controle × Rac suplementação; C2= Contraste 2: 10 mg/kg × 20 mg/kg;
1pCO2= pressão parcial de dióxido de carbono; pO2= pressão parcial de oxigênio; BEecf=
concentração de excesso de base do fluido extracelular; HCO3= bicarbonato; TCO2= teor de
dióxido de carbono no plasma; SO2= saturação de oxigênio; LAC= lactato

A dificuldade na passagem pelo canal do parto e o cordão umbilical


rompido estão associados a uma maior incidência de asfixia fetal (↑pCO2) e
hipóxia (↓pO2), que consequentemente podem causar acidose respiratória e
metabólica (Trujillo et al., 2011). Quando avaliada a gasometria sanguínea, foi
observada uma diminuição nos valores de pH em leitões nascidos de fêmeas
do tratamento Rac10 quando comparado ao Rac20 (Tabela 5), o que pode estar
relacionado ao aumento na porcentagem de leitões com vitalidade baixa no
mesmo tratamento (Tabela 4). Contudo, quando avaliada a suplementação de
10 e 20 mg de Rac durante a gestação não foram observadas diferenças entre

23
os valores sanguíneos de pCO2, pO2, BEecf, HCO3, TCO2, SO2, e LAC de
leitões nascidos de fêmeas suplementada com Rac (Tabela 5).
Os resultados evidenciaram que a suplementação de ractopamina
durante os 25 a 50 dias da gestação aumentou a porcentagem de leitões de
vitalidade baixa. No entanto, é importante salientar que embora não tenham
sido evidenciadas diferenças estatísticas (P>0,05) na porcentagem de leitões
de vitalidade alta, esta foi numericamente maior quando suplementada a Rac
(Controle × Rac10 + Rac20; Tabela 4). Portanto, mais estudos devem ser
realizados utilizando um maior número de animais para entender melhor o
efeito da Rac na vitalidade do leitão em porcas de acordo com a prolificidade
e os possíveis benefícios econômicos que a suplementação de Rac pode trazer
em uma granja comercial de produção de suínos.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de Rac em Fêmeas suínas gestantes tem sido estudado como
alternativa para melhorar o aporte nutricional ao feto e diminuir a porcentagem
de leitões de baixo peso ao nascimento, a qual aumenta com o número de
leitões nascidos totais. Adicionalmente, em estudos anteriores o uso Rac em
fêmeas gestantes demonstrou efeitos positivos no desenvolvimento pós-natal
da progênie (Hoshi et al., 2005b; Garbossa et al., 2015), no entanto, esses
efeitos positivos da Rac dependem da prolificidade das porcas suplementadas,
pois quando aumenta o número de leitões nascidos há uma diminuição dos
efeitos positivos da Rac no peso ao nascimento.
Embora a porcentagem de leitões com vitalidade alta não tenha sido
diferente estatisticamente, houve um efeito positivo com o uso de Rac que
pode ter um grande impacto econômico, devido a que os leitões de vitalidade
alta estão relacionados a maiores taxas de sobrevivência e menor tempo para
entrar em contato com o teto logo após o nascimento (Trujillo et al., 2011).
Porém, mais pesquisas devem ser realizadas para entender melhor o efeito da
suplementacao de Rac em femeas suinas gestantes sobre peso ao nascimento,
vitalidade da leitegada, e desempenho da progênie.
Em conclusão, a suplementação de 10 e 20 mg/kg de ractopamina
na dieta de fêmeas suínas durante os 25 a 50 dias da gestação: (1) aumenta
a frequência cardíaca das fêmeas sem alterações na frequência respiratória e
temperatura retal, (2) tem efeitos positivos no peso ao nascimento, porém esse
efeito positivo diminui com o aumento de número de leitões nascidos, (3) pode
aumentar a porcentagem de leitões com vitalidade baixa.

8. referências bibliográficas
AGOSTINI, P.S., SILVA, C.A., BRIDI, A.M., ABRAMI, R.A.M., PACHECO, G.D., LOZANO, A.P.,
YWAZAKI, M.S., DALTO, D.B., GAVIOLI, D.F., OLIVEIRA, E.R., BONAFÉ, E.G., SOUZA, N.E. E
VISENTAINER, J.V. Efeito da ractopamina na performance e na fisiologia do suínoeffects. Archivos de

24
Zootecnia, v. 60, n. 231, p. 659 – 670, 2011.

ALBERTS B, JOHNSON A, LEWIS J, RAFF M, ROBERTS K, WALTER P. Comunicação cellular. In:


Alberts B, Johnson A, Lewis J, Raff M, Roberts K, Walter P, editors. Biologia Molecular da Célula. São
Paulo: Artmed; p. 831-906, 2004

ALVARENGA A. L. N., CHIARINI-GARCIA H, CARDEAL P. C., MOREIRA L. P, FOXCROFT


G. R., FONTES D. O., ALMEIDA F. R. C. L. Intrauterine growth retardation affects birth weight and
postnatal development in pigs, impairing muscle accretion, duodenal mucosa morphology and carcass
traits. Reproduction, Fertility and Development. n. 25, p. 387–395, 2013

ARMSTRONG, T.A.; IVERS, D.J.; WAGNER, J.R.; ANDERSON, D.B.; WELDON, W.C.; BERG,
E.P. The effect of dietary ractopamina concentration and duration of feeding on growth performance,
carcass characteristics and meat quality of finishing pig. Journal of Animal Science, v.82, n.11, p.3245-
3253, 2004.

ARAÚJO T. S, JARDIM PORTO L. C, GUILHEN MARIO E., PEREIRA L. J., DA SILVA FERREIRA
M. S, ZANGERÔNIMO M. G., NAPIMOGA M. H., BOTION L. M., DE SOUSA R. V., Ractopamine
effect on lipid metabolism and GLUT4 amount of finishing pigs. Turkish Journal of Veterinary and
Animal Sciences, v. 38, p. 54-62, 2014.

BIRD I. M., ZHANG L. B., MAGNESS R. R. Possible mechanisms underlying pregnancy-induced


changes in uterine artery endothelial function. American Journal of Physiology. v. 284 p. 245–258,
2003.

BEE, G. Effect of early gestation feeding, birth weight and gender of progeny on muscle-fibre
characteristics of pigs at slaughter. J. Anim. Sci. v. 82, p. 826–836, 2004

BENOVIC JL, BOUVIER M, CARON MG, LEFKOWITZ RJ. Regulation of adenylyl cyclase-coupled
β-adrenergic receptors. Annu. Rev. Cell. Biol. v. 4, p. 405-428, 1988

BÉRARD, J. et al. Intrauterine crowding decreases average birth weight and affects muscle fiber
hyperplasia in piglets. Journal of Animal Science, v. 88, n. 10, p. 3242– 3250, 2010.

BRIDI, A.M.; OLIVEIRA, A.R.; FONSECA, N.A.; COUTINHO, L.L.; HOSHI, E.H.; BOROSKY,
J.C.; SILVA, C.A. Effects of ractopamina and gender on performance and carcass quality of swine with
different halothane genotypes. Ciências Agrárias, v.29, n.3, p.713-722, 2008

CAMPBELL R.G.; DUNKIN A.C. The effect of birth weight on the estimated milk intake, growth and
body composition of sow-reared piglets. Animal Production v. 35, p. 193–197, 1982

CANARIO L., ROY N., GRUAND J., BIDANEL J. P. Genetic variation of farrowing kinetics traits
and their relationships with litter size and perinatal mortality in French Large White sows. Journal of
Animal Science, v. 84, p.1053–1058, 2006.

CANTARELLI, V. S., FIALHO E. T., ALMEIDA E. C., ZANGERONIMO M. G., RODRIGUES P. B.,
FREITAS R. T. F. Ractopamine for finishing barrows fed restricted or ad libitum diets: Performance
and nitrogen balance. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 38, p. 2375–2382, 2009.

CATALANO, D., R. ODORE, S. AMEDEO, C. BELLINO, E. BIASIBETTI, B. MINISCALCO, G.


PERONA, P. POLLICINO, P. SAVARINO, L. TOMASSONE, R. ZANATTA, AND M. T.

CAPUCCHIO. Physiopathological changes related to the use of ractopamine in swine: Clinical and
pathological investigations. Livest. Sci. v. 144, p. 74–81. 2012

25
CHE, L., YANG, Z.G., XU, M.M., XU, S.Y., CHE, L.Q., LIN, Y., FANG, Z.F., FENG, B., LI, J.,
CHEN, D.W., WU, D. Maternal nutrition modulates fetal development by inducing placental efficiency
changes in gilts. BMC Genomics v. 18, p. 213, 2017.

DU, M., WANG, B., FU, X., YANG, Q., & ZHU, M. Fetal programming in meat production, Review.
Meat Science, v. 109, p. 40–47, 2015

DWYER, C. M.; FLETCHER, J. M.; STICKLAND, N. C. Muscle Cellularity and Postnatal-Growth in


the Pig. Journal of Animal Science, v. 71, n. 1, p. 3339–3343, 1993.

FERGUSON, E. M. et al. Effect of different nutritional regimens before ovulation on plasma


concentrations of metabolic and reproductive hormones and oocyte maturation in gilts. Reproduction,
p. 61–71, 2003.

FERREIRA, M.S.S.; SOUSA, R.V.; SILVA, V.O.; ZANGERÔNIMO, M.G.; AMARAL, N.O.
Cloridrato de ractopamina em dietas para suínos em terminação. Acta Scientiarum, Animal Sciences,
v.33, n.1, p.25-32, 2011

FOXCROFT GR, DIXON WT, DYCK MK, NOVAK S, HARDING JC AND ALMEIDA FC. Prenatal
programming of postnatal development in the pig. Society for Reproduction of Fertility Supplement v.
66, p. 213–231, 2009.

FOXCROFT G. R., DIXON W. T., NOVAK S., PUTMAN C. T., TOWN S. C., VINSKY M. D. A. The
biological basis for prenatal programming of postnatal performance in pigs,, Journal of Animal Science,
v 84, n 1, p. 105–112, 2006

FOXCROFT, G.R., Pre-natal programming of variation in post-natal performance– How and when?
Adv. Pork Prod. V. 18, p. 167–189, 2007.

FOWDEN, A. L. et al. Placental efficiency and adaptation: Endocrine regulation. The Journal of
physiology, v. 587, p. 3459–3472, 2009.

FREKING, B.A., LEYMASTER, K.A., VALLET, J.L., CHRISTENSON, R.K. Number of fetuses and
conceptus growth throughout gestation in lines of pigs selected for ovulation rate or uterine capacity. J.
Anim. Sci. v. 85, p. 2093–2103, 2007.

GARBOSSA C. A. P., CARVALHO JÚNIOR F. M., SILVEIRA H., FARIA P. B., SCHINCKEL
A. P., ABREU M. L. T., and CANTARELLI V. S. Effects of ractopamine and arginine dietary
supplementation for sows on growth performance and carcass quality of their progenies. Journal of
animal science, v. 93, n. 6, p. 2872–2884, 2015.

GATFORD, K. L., M. J. DE BLASIO, C. T. ROBERTS, M. B. NOTTLE, K. L. KIND, W. H. E.


J. VAN WETTERE, R. J. SMITS, AND OWENS J. A. Responses to maternal GH or ractopamine
during early-mid pregnancy are similar in primiparous and multiparous pregnant pigs. Journal of
Endocrinology, v. 203, n. 1, p. 143–154, 2009

GONDRET, F., LEFAUCHEUR, L., JUIN, H., LOUVEAU, I., AND LEBRET, B. Low birth weight is
associated with enlarged muscle fibre area and impaired meat tenderness of the longissimus muscle in
pigs. J. Anim. Sci. v. 84, p. 93–103, 2006

HOSHI E. H., FONSECA N. A. N., PINHEIRO J. W., MARCAL W. S., AND SILVA C. A. Effects of
the use of ractopamine in pregnant sows on reproductive and blood parameters. Spanish Journal of
Agricultural Research, v. 3, n. 2, p. 213– 219, 2005a.

HOSHI E. H., FONSECA N. A. N., PINHEIROJ. W., BRIDI A. M., AND SILVA C. A. Muscle fiber

26
number and growth performance of pigs from sows treated with ractopamine. Asian-Australasian
Journal of Animal Sciences, v. 18, n. 10, p. 1492–1497, 2005b.

JAMES, B. W., M. D. TOKACH, R. D. GOODBAND, J. L. NELSSEN, S. S. DRITZ, K. Q. OWEN, J.


C. WOODWORTH, AND R. C. SULABO. Effect of dietary L-carnitine and ractopamine HCl on the
metabolic response to handling in finishing pigs. J. Anim. Sci. v. 91, p.4426–4439, 2013

JANSSON N, PETTERSSON J, HAAFIZ A, ERICSSON A, PALMBERG I, TRANBERG M, ET AL.


Down-regulation of placental transport of amino acids precedes the development of intrauterine growth
restriction in rats fed a low protein diet. J Physiol. V. 576 n. 3, p. 935–946, 2006b

JANSSON T, POWELL TL. Human placental transport in altered fetal growth: does the placenta
function as a nutrient sensor? A review. Placenta. V. 27, Suppl A, p. 91–97. 2006a

JI Y., WU Z., DAI Z., WANG X., LI J., WANG B., WU G. Fetal and neonatal programming of
postnatal growth and feed efficiency in swine. Journal of Animal Science and Biotechnology p. 8-42,
2017

KARADAS B., KAYA T., CETIN M., PARLAK A., DURMUS N., BAGCIVAN I., AND GULTURK
S. Effects of formoterol and BRL 37344 on human umbilical arteries in vitro in normotensive and pre-
eclamptic pregnancy. Vascular Pharmacology, v. 46, p. 360–366, 2007.

KIEFER, C.; SANCHES, J.F. Metanálise dos níveis de ractopamina em dietas para suínos em
terminação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.6, p.1037-1044, 2009.

KIM Y. S., SAINZ R. D., FERLAZZO J., AND TULLOH N. M. Effect of maternal administration of
salbutamol to sows on postnatal growth and carcass characteristics in the progeny. Australian Journal of
Agricultural Research, East Melbourne, v. 45, n. 2, p. 271-278, 1994.

KIRKDEN R. D., BROOM D. M., ANDERSEN I. L. INVITED REVIEW: Piglet mortality:


Management solutions Journal of Animal Science, v. 91, p. 3361–3389, 2013

KRAELING, R.R., WEBEL, S.K. Current strategies for reproductive management of gilts and sows in
North America. J. Anim. Sci. Biotechnol. v. 6 n 1, p. 3, 2015.

LANGENDIJK, P. Early gestation feeding and management for optimal reproductive performance. In:
The Gestating and Lactating Sows. Chantal Farmer (edit). Academic Publishers, Wageningen, p. 27–46,
2015

LEAL, R S; MATTOS, B O; CANTARELLI, V S; CARVALHO, G C; PIMENTA, MESG; PIMENTA,


CJ Performance and carcass yield of pig fed diets containing different levels of ractopamine. Rev. Bras.
Saúde Prod. Anim., Salvador, v.16, n.3, p.582-590, 2015

MARCHANT, J. N. et al. The effects of ractopamine on the behaviour and physiology in pigs. Journal
of Animal Science, v. 82, n. 2, p. 416–422, 2003.

MERSMANN, H. J. Overview of the effects of β-adrenergic receptor agonists on animal growth


including mechanisms of action. J. Anim. Sci. v. 76, p. 160–172. 1998

METGES CC, GÖRS S, LANG IS, HAMMON HM, BRÜSSOW K, WEITZEL JM, ET AL. Low and
high dietary protein: carbohydrate ratios during pregnancy affect materno-fetal glucose metabolism in
pigs. J Nutr. v. 144, n. 2, p. 155–63, 2014

MILLS, S. E. Biological basis of the ractopamine response. J. Anim. Sci. v. 80, n. 2, p. 28–32, 2002

27
MOODY, D. E.; HANCOCK, D. L.; ANDERSON, D. B. Phenethanolamine repartitioning agents. In:
D’MELLO, J.P.F. (Ed.) Farm animal metabolism and nutrition. New York: CAB International, p.65-95
2000.

MOTA-ROJAS D., MARTÍNEZ-BURNES J., TRUJILLO-ORTEGA M. E., LÓPEZ A., ROSALES


A.M., RAMÍREZ-NECOECHEA R., OROZCO H., MERINO A., ALONSO-SPILSBURY M. The
effects of vetrabutin chlorhydrate and oxytocin on stillbirth rate and asphyxia in swine. Theriogenology,
v. 64, p. 1889–1897, 2005

NISSEN, P.M., OKSBJERG, N. Birth weight and postnatal dietary protein level affect performance:
muscle metabolism and meat quality in pigs. Animal v. 5, p. 1382–1389, 2011

NOEL, J. A., R. M. BROXTERMAN, G. M. MCCOY, J. C. CRAIG, K. J. PHELPS, D. D. BURNETT,


M. A. VAUGHN, T. J. BARSTOW, T.G. O’QUINN, J. C. WOODWORTH, J. M. DEROUCHEY, T. G.
ROZELL, AND J. M. GONZALEZ. Use of electromyography to detect muscle exhaustion in finishing
barrows fed ractopamine HCl. J. Anim. Sci. v. 94, n. 6, p. 2344–2356, 2016

PENZ, J. A. M.; BRUNO, D.; SILVA, G. Interação nutrição-reprodução em suínos Nutrition-


reproduction interaction in swine. Acta Scientiae Veterinariae, v. 37, n. Supl 1, p. 183–194, 2009.
PÈRE, M. C.; ETIENNE, M. Uterine blood flow in sows: effects of pregnancy stage and litter size.
Reproduction, nutrition, development, v. 40, n. 4, p. 369–382, 2000.

PETERSON, C. M., C. M. PILCHER, H. M. ROTHE, J. N. MARCHANT-FORDE, M. J. RITTER,


S. N. CARR, C. L. PULS, AND M. ELLIS. Effect of feeding ractopamine hydrochloride on growth
performance and responses to handling and transport in heavy-weight pigs. J. Anim. Sci. v. 93, p.
1239–1249, 2015

PULS, C. L., M. ELLIS, F. K. MCKEITH, AND A. L. SCHROEDER. Effects of feeding ractopamine


to immunologically- and physically- castrated barrows, and gilts on physical and physiological
responses to animal handling and transport procedures. In: Proc. 2013 Midwest Anim. Sci. Meetings.
Des Moines, IA. p. 85, 2013

PULS, C. L., W. E. TROUT, M. J. RITTER, F. K. MCKEITH, S. N. CARR, AND M. ELLIS. Impact


of ractopamine hydrochloride on growth performance, carcass and pork quality characteristics, and
responses to handling and transport in finishing pigs. J. Anim. Sci. v. 93, p. 1229–1238, 2015

QUINIOU, N., DAGORN, J., GAUDRE, D. Variation of piglets’ birth weight and consequences on
subsequent performance. Livest. Prod. Sci. v. 78, p. 63–70, 2002

RANDALL, G.C.B. The relationship of arterial blood pH and pCO2 to the viability of the newborn
piglet. Canadian journal of comparative medicine and veterinary science. v. 35, p. 141, 1971

REHFELDT, C., AND KUHN, G. Consequences of birth weight for postnatal growth performances and
carcass quality in pigs as related to myogenesis. J. Anim. Sci. v. 84, p. 113–123, 2006

REHFELDT C., KUHN G., NÜRNBERG G., KANITZ E., SCHNEIDER F., BEYER, M.,
NÜRNBERG K., ENDER K. Effects of exogenous somatotropin during early gestation on maternal
performance, fetal growth, and compositional traits in pigs. Journal of Animal Science. v. 79, p. 1789-
1799, 2001

REN P, YANG XJ, RAILTON R, JENDZA J, ANIL L, BAIDOO SK. Effects of different levels of feed
intake during four short periods of gestation and housing systems on sows and litter performance.
Anim Reprod Sci. v. 188, p. 21-34. 2018

RITTER M. J., JOHNSON A. K., BENJAMIN M. E., CARR S. N., ELLIS M., FAUCITANO L.,

28
GRANDIN T., SALAK-JOHNSON J. L., THOMSON D. U., GOLDHAWK C., CALVO-LORENZO
M. S. Review: Effects of Ractopamine Hydrochloride (Paylean) on welfare indicators for market
weight pigs, Translational Animal Science, v. 1, n. 4, p. 533–558, 1 December 2017,

ROE, J. A.; HARPER, J. M. M.; BUTTERY, P. J. Protein metabolism in ovine primary muscle cultures
derived from satellite cells – effects of selected peptide hormones and growth factors. Journal of
Endocrinology, 1989.

ROYSTON, J.P., FLECKNELL, P.A., WOOTTON, R. New evidence that the intra-uterine growth-
retarded piglet is a member of a discrete subpopulation. Biol. Neonate v. 42, p. 100–104, 1982

SANCHES, J.F.; KIEFER, C.; MOURA, M.S.; SILVA, C.M.; LUZ, M.F.; CARRIJO, A.S. Níveis de
ractopamina para suínos machos castrados em terminação e mantidos sob conforto térmico. Ciência
Rural, v.40, n.2, p.403-408, 2010a.

SOLÀ-ORIOL D., GASA J., Feeding strategies in pig production: Sows and their piglets. Animal Feed
Science and Technology v. 233, p. 34–52, 2017

SMITH, D. J.; PAULSON, G. D. Growth characteristics of Hydrochloride and metabolic disposition of


ractopamine hydrochloridehy Rats Receiving After oral or intraperintoneal administration. Journal of
Animal Science, v. 73, p. 404 – 414, 1994.

STOLLER, G.M.; ZERBY, H.N.; MOELLER, S.J.; BAAS, T.J.; JOHNSON, C.; WATKINS, L.E. The
effect of feeding ractopamina (Paylean) on muscle quality and sensory characteristics in three diverse
genetic lines of swine. Journal of Animal Science, v.81, n.6, p.1508-1516, 2003

TRUJILLO-ORTEGA M. E., MOTA-ROJAS D., JUÁREZ O., VILLANUEVA-GARCÍA D.,


ROLDAN-SANTIAGO P., BECERRIL-HERRERA M., HERNÁNDEZ-GONZÁLEZ R., MORA-
MEDINA P., ALONSO-SPILSBURY M., ROSALES A. M., MARTÍNEZ-RODRÍGUEZ R.,
RAMÍREZ-NECOECHEA R. Porcine neonates failing vitality score: physio-metabolic profile and
latency to the first teat contact. Czech Journal of Animal Science, v. 56, n. 11, p. 499–508, 2011

TOWN, S. C., PUTMAN, C. T., TURCHINSKY, N. J., DIXON, W. T., AND FOXCROFT, G. R.
Number of conceptuses in utero affects porcine fetal muscle development. Reproduction v. 128, p.
443–454, 2004

VALLET, K. L., H. G. KLEMCKE, AND R. K. CHRISTENDON. Interrelationships among conceptus


size, uterine protein secretion, fetal erythropoiesis, and uterine capacity. J. Anim. Sci. v. 80, p. 729–
737, 2002.

VAN DER LENDE T., VAN RENS B. T. Critical periods for foetal mortality in gilts identified by
analysing the length distribution of mummified foetuses and frequency of non-fresh stillborn piglets.
Animal Reproduction Science v. 75, p.141–150, 2003.

VIGNOLA, M. Sow feeding management during lactation. London Swine Conference. Tools of the
Trade, p. 107–117, 2009

WEBER, T.E.; RICHERT, B.T.; BELURY, M.A.; GU, Y.; ENRIGHT, K.; SCHINCKEL, A.P.
Evaluation of the effects of dietary fat, conjugated linoleic acid, and ractopamine on growth
performance, pork quality, and fatty acid prolifes genetically lean gilts. Journal of Animal Science,
v.84, n.3, p.720-732, 2006

WIGMORE, P. M. C.; STICKLAND, N. C. Muscle development in large and small pig fetuses. Journal
of Anatomy, p. 235–245, 1983.

29
WOLF, J.; ŽÁKOVÁ, E.; GROENEVELD, E. Within-litter variation of birth weight in hyperprolific
Czech Large White sows and its relation to litter size traits , stillborn piglets and losses until weaning.
Livestock Science, v. 115, p. 195–205, 2008.

WOOTTON, R., FLECKNELL, P.A., ROYSTON, J.P., JOHN, M. Intrauterine growth retardation
detected in several species by non-normal birthweight distributions. J. Reprod. Fertil. v. 69, p. 659–663,
1983

WU, G., BAZER, F.W., BURGHARDT, R.C., JOHNSON, G.A., KIM, S.W., LI, X.L., SATTERFIELD,
M.C., SPENCER, T.E. Impacts of amino acid nutrition on pregnancy outcome in pigs: mechanisms
and implication for swine production. J. Anim. Sci. v. 88, p. 195–204, 2010

WU G, BAZER FW, CUDD TA, MEININGER CJ, SPENCER TE. Maternal nutrition and fetal
development. J Nutr. v. 134, n. 9, p. 2169–2172. 2004

WU, G., BAZER, F. W., WALLACE, J.M. AND SPENCER, T.E. Board invited review: Intrauterine
growth retardation: Implications for the animal sciences. J. Anim. Sci. v. 84, p. 2316-2337, 2006

YOUNG, J.F., BERTRAM, H.C., OKSBJERG, N. Rest before slaughter ameliorates pre-slaughter
stress-induced increased drip loss but not stress-induced increase in toughness of pork. Meat Sci. v. 83,
p. 634–641, 2009

ZALESKI H. M., HACKER R. R. Comparison of viability scoring and blood gas analysis as measures
of piglet viability. Canadian Journal of Animal Science, v. 73, p. 649, 1993.

30
CAPÍTULO II

A INFLUÊNCIA DA HOMEOPATIA SOBRE A PRODUÇÃO DE


BOVINOS DE CORTE CONFINADOS

Jéssica L. Gemelli2, Adrielle M. Ferrinho2, Lenise F. Mueller2, Taiane S.


Martins1 , Tamyres R. Amorim2, Julian A. Muñoz2, Gabriella M. Vespe2 e
Angélica S. C. Pereira1

1
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo,
Pirassununga, SP, Brasil.
2
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo,
Pirassununga, SP, Brasil.

rESUMO
A fim de buscar alternativas nutricionais para amenizar os distúrbios metabólicos
decorrentes da utilização de dietas altamente energéticas, objetivou-se avaliar
a ação da homeopatia terapêutica na proteção hepática e ruminal, ganho médio
diário (GMD) e características de carcaça e carne de bovinos da raça Nelore,
terminados em confinamento. Foram utilizados 40 animais, machos não
castrados, idade média de 24 meses e peso vivo inicial médio de 416 + 41,96 kg,
distribuídos em dois blocos, de acordo com o peso vivo inicial, considerando
três dietas: T1 – grupo controle; T2 – inclusão de Figotonus® e T3 –inclusão
de Convermax®. A proporção de volumoso: concentrado da dieta foi de 30:70.
Não houve diferença entre as dietas para as variáveis estudadas (P>0,05). O
uso de aditivos homeopáticos no presente estudo, não proporcionou melhorias
nos atributos de carcaça e carne em animais terminados em confinamento..

1. INTRODUÇÃO
O sistema de produção de bovinos de corte tem se intensificado por
meio da utilização de novas tecnologias de processos e de insumos, a fim de
aumentar a produtividade e rentabilidade do sistema. Entre as tecnologias
adotadas, destaca-se o confinamento, um sistema de produção intensivo que
visa fornecer aos animais uma dieta altamente energética, contendo cerca
de 80% de concentrado na matéria seca (Pinto & Millen, 2016). No entanto,
sabe-se que animais alimentados com esse tipo de dieta, são suscetíveis a
distúrbios digestivos tais como, aumento no movimento peristáltico e hiper
excreção, podendo resultar em má absorção de nutrientes, desidratação,
prejudicando o ganho de peso (Pande, 2002). Além disso, dietas altamente
energéticas ocasionam distúrbios como, timpanismo e acidose metabólica, que
são prejudiciais ao desempenho animal (Scott et al, 2003). Diante disso, com

31
intuito de proteger o rebanho bovino contra tais distúrbios metabólicos, o uso
de antibióticos como a monensina tem aumentado de forma indiscriminada na
produção animal.
Entretanto, o uso descontrolado dos antibióticos ao longo dos anos
demonstrou que não só os microorganismos patogênicos são eliminados,
como também os desejáveis à saúde animal, ocasionando um descontrole
da microbiota ruminal. Acrescenta-se a este fator, a resistência dos
microorganismos patogênicos ao efeito dos agentes antimicrobianos. Tais
problemas, somados aos relacionados à saúde pública, à segurança alimentar,
meio ambiente e bem-estar animal, levaram alguns países da União Europeia
em 2006 a proibir e/ou restringir o uso deste composto na nutrição animal por
meio da Regulamentação 1831/2003/EC.
Neste sentido, tem sido estudado o uso de estratégias a fim de
minimizar os efeitos negativos na produção animal (Real, 2008; Sato et al.,
2012; Zábranský et al., 2015). As perdas ocorridas em função destes problemas
metabólicos podem ser evitadas com a utilização de produtos alternativos,
como os homeopáticos. A homeopatia tem como mecanismo de atuação
amenizar distúrbios metabólicos em decorrência de dietas de altos níveis
energéticos, promovendo maior proteção hepática e ruminal (Wedekin et al.,
1994). O homeopático tem como objetivo aperfeiçoar a população e a atividade
da microbiota ruminal (protozoários e bactérias) e melhorar a decomposição
e digestão da celulose, facilitando a manutenção do movimento normal rino-
reticular e intestinal para a adequada maceração, bem como a mistura e
passagem da ingesta e expulsões normais de gases (Pradhan & Biswas, 1994).
O uso da homeopatia vem crescendo na área da pecuária, justamente
pelo fato de trazer consigo inúmeras vantagens, como destaque, permitir a
automedicação dos animais por meio da suplementação mineral, evitando
assim o estresse no manejo dos animais quando comparados aos tratamentos
por medicação individual (Real, 2008). Neste sentido, o uso de aditivos
homeopáticos pode ser uma alternativa viável e benéfica para bovinos, podendo
complementar e melhorar o sistema de produção de alimentos saudáveis (carne
e leite) para os humanos.
Contudo, o principal foco das pesquisas com produtos homeopáticos
tem sido o tratamento de doenças em diversas espécies, principalmente infecções
respiratórias e diarreia em suínos (Da Silva et al., 2011; Soto et al., 2008),
como promotores de crescimento e melhoradores do sistema imunológico em
aves (Amalcaburio et al., 2009; Hadipour et al., 2011; Sato et al., 2012) e no
tratamento para mastite e diarreia em bovinos de leite (Kayne & Rafferty, 1994;
Walkenhorst, 2006; Hornig, 2014; Williamson & Lacy-Hulbert, 2014). Já, em
bovinos de corte, sua utilização está relacionada com índices de desempenho
produtivo, parâmetros ruminais, prevenção de distúrbios metabólicos (Ítavo

32
et al., 2010; Soto et al., 2010; Marafon et al., 2014; Zábranský et al., 2015),
controle de ectoparasitas (Silva et al., 2007) e endoparasitas (Pinheiro et al.,
2007). Porém, ainda faltam evidências para comprovar seu efeito na qualidade
da carne bovina.
Devido à carência de pesquisas publicadas, particularmente em
relação à utilização de homeopáticos na produção de bovinos de corte e os
efeitos na qualidade de carne, há necessidade do desenvolvimento de mais
pesquisas para comprovar a eficiência desses modificadores metabólicos,
como alternativa viável e benéfica para bovinos, objetivando a prevenção de
distúrbios metabólicos e consequentemente aprimorando a qualidade da carne.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

HISTÓRIA DA HOMEOPATIA
Hipócrates (460 – 350 a.C), conhecido como o Pai da Medicina,
sustentava alguns princípios terapêuticos que futuramente seriam conhecidos
como métodos homeopáticos. O mesmo defendia a chamada “Cura pelos
Contrários” (Contraria Contraris Curentus,) na qual consistia em tratar os
sintomas com medidas contrárias a eles, e a “Cura pelos Semelhantes” (Similia
Similibus Curentur), posteriormente conhecida como Lei dos Semelhantes,
onde o objetivo era amenizar ou curar os sintomas da doença com medidas
semelhantes a ela. Essas doutrinas, criadas por Hipócrates, foram reavivadas
mais tarde por Galeno (129 – 199 d.C), Avicena (980 – 1037) e Paracelso
(1493 – 1591). Galeno baseava-se na “Cura pelos Contrários” e categorizava
as doenças em fria, quente, úmida e seca. Acreditava também no antagonismo
de forças (quente/frio; úmido/seco), ou seja, no tratamento de uma doença
considerada “quente”, utilizava-se um medicamento ou princípio “frio” e
vice-versa. Avicena, parceiro de Galeno, exerceu grande papel ao possibilitar
a descoberta de várias doenças, dentre as principais, a gripe e a tuberculose
(Santos et al., 2012). Paracelso, por sua vez, era contra a doutrina empregada
por Hipócrates e colocava-se contra o princípio da “Cura pelos Contrários”.
Porém, em favor do princípio da “Cura pelos Semelhantes”, o mesmo
introduziu limites de dosagens aos tratamentos e também implementou várias
substâncias inorgânicas e orgânicas importantes, como o ópio (sedativo), o
ferro (antianêmico) e o mercúrio (antisséptico) (Correa et al., 1997).
Embora Hipócrates, Paracelso, Avicena e Galeno tenham sido
os percursores dos princípios, que foram considerados como princípios
homeopáticos, quem difundiu esta prática medicinal, aprofundou os
conhecimentos e estabeleceu a então Medicina Homeopática foi o médico
alemão Samuel Hahnemann (1775 – 1843), em meados do século XVIII.
Segundo Hahnemann, a homeopatia, do grego homeo – semelhantes e phatos

33
– doença, consiste em estimular a reação orgânica por meio de administrações
mínimas e diluídas de medicamentos (Shenbri, 1992).
A descoberta da homeopatia foi baseada na curiosidade do médico alemão,
que experimentou a planta China officinalis, utilizada para fins terapêuticos
no tratamento da Malária. Após a ingestão da planta, Hahnemann manifestou
sinais clínicos brandos da doença, atribuindo tal efeito à chamada Lei dos
Semelhantes. O mesmo, após anos de estudo, atribuiu quatro princípios
à homeopatia: A Lei dos Semelhantes (Similia similibuscurantur), a
experimentação no homem sadio, o uso do remédio único individualizado e o
emprego de medicamentos diluídos e dinamizados (Souza, 2002).
No ano de 1796, Samuel publicou o livro intitulado “Ensaio sobre um novo
princípio para averiguar os poderes curativos das substâncias medicinais”,
relatando seus principais experimentos e descobertas. Mais tardiamente, em
1810 publicou o “Organon da Arte de Curar”, considerado até hoje como a
“Bíblia da Homeopatia” (Santos et al., 2012).
Dentre os principais seguidores da doutrina de Samuel Hahnemann, destacam-
se Constantin Hering (1800 – 1880), fundador de vários institutos de terapia
homeopática e responsável por uma das maiores publicações da área, a
obra “Matéria Médica”, além de James Tyler Kent (1849 – 1916), escritor
conceituado, responsável pelas obras “Repertório”, “Matéria Médica” e
“Filosofia Homeopática” (Correa et al., 1997).
No Brasil, a homeopatia foi introduzida em 1840 pelo francês Benoit Jules
Mure (1809 – 1858). Mure, conhecido por ser um adepto dos ensinamentos de
Hahnemann, propagou a medicina homeopática no Brasil, com o auxílio do
médico português João Vicente Martins, responsável por mais tarde fundar o
Instituto Hahnemanniano do Brasil (IHB), no Rio de Janeiro.
Em estudos realizados por Teixeira (2011), somente a partir de 1980, a
homeopatia foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal
de Medicina (CFM) e, neste mesmo ano, foi criada a Associação Médica
Homeopática Brasileira (AMHB).

3. PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS BÁSICOS DA HOMEOPATIA

Lei dos semelhantes (Similia Similibus Curantur)

O princípio da semelhança foi introduzido por Empédocles no século


V a.C e reforçado por Hipócrates um século mais tarde. Ambos salientaram a
idéia de que os semelhantes eram curados por semelhantes, expressa por meio
da frase “Similia similibus curentes” (Paiva, 1998).

Como descrito por Hipócrates:

34
“A doença é produzida pelos semelhantes e mediante os
semelhantes que a produziram... o paciente retorna da doença
à saúde. Desse modo, o que provoca a estrangúria que existe:
a tosse como a estrangúria, é causada e curada pelo mesmo
agente.”.

Com o decorrer do tempo e o avanço da medicina, este princípio evoluiu


para a então conhecida “Lei dos Semelhantes”, nomeada por Hahnemann em
1976, que caracteriza a Lei como a cura de uma doença por meio da utilização
de um medicamento que reproduz no homem sadio, sintomas semelhantes aos
manifestados pela doença (Souza, 2002).

Experimentação em um indivíduo sadio


O conhecimento do princípio do indivíduo sadio se deu por meio
da experimentação, onde o próprio Hahnemann administrou em si algumas
substâncias e observou sinais e sintomas que se diferenciavam conforme o tipo
da substância ingerida (Rodrigues, 2009).
Posteriormente, iniciaram-se inúmeros estudos e testes em
indivíduos sadios, buscando observar os efeitos ou influência dos fármacos
após a medicação. As doses das substâncias testadas eram caracterizadas
em dose tóxica, hipotóxica e dinamizada. Esse estudo foi intitulado como
“Experimentação patogenética” e as manifestações apresentadas pelos
indivíduos foram denominadas de patogenesia (Futuro, 2012).

“Todos os efeitos patogenéticos de cada medicamento precisam


ser conhecidos, isto é, todos os sintomas e alterações mórbidas
da saúde que cada um deles é especialmente capaz de provocar
no homem sadio devem ser primeiramente observados antes
de esperar encontrar e escolher, entre eles, o meio de cura
homeopático adequado para a maioria das doenças naturais
(Organon da arte de curar, § 106)..”.

Desta maneira, o conhecimento das propriedades terapêuticas e


seus efeitos foram estudados e implantados na medicina homeopática por
meio do Simillimum, que compreende a escolha da conduta terapêutica em
conformidade ou similitude aos sinais clínicos apresentados pelo paciente
(Siqueira, 2009; Futuro, 2012).

Uso do remédio único e individualizado


Em contradição a muitos homeopatas que acreditavam na associação
de duas ou mais substâncias para alcançar a totalidade dos sinais clínicos, com

35
o intuito de complementá-los, Hahnemann defendeu a idéia da implantação de
apenas uma única substância, sem o uso de associação medicamentosa, pelo
fato de distinguir e estabelecer a terapêutica oferecida por cada medicamento
(Fontes, 2005; 2009; Soares, 1997).
A esse respeito, Organon da arte de curar (§ 273), descreveu:

“Em nenhum caso de tratamento é necessário e, por conseguinte,


não é admissível administrar a um doente mais do que uma
única e simples substância medicamentosa de cada vez. É
inconcebível que possa existir a menor dúvida acerca do que
está mais de acordo com a natureza e é mais racional: prescrever
uma única substância medicamentosa simples e bem conhecida
num caso de doença ou misturar várias diferentes. Na única,
verdadeira, simples e natural arte de curar, a homeopatia, não
é absolutamente permitida dar ao doente, duas substâncias
medicamentosas diferentes de uma só vez.”.

Emprego de medicamentos diluídos e dinamizados


O princípio da dinamização consiste em administrações de doses
ponderais ou infinitesimais das substâncias, este talvez seja o princípio que
mais defina a medicina homeopática, o conceito de que doses ponderais ou
dinamizadas de algumas substâncias que apresentam o poder de desenvolver
respostas biológicas nos seres vivos (Teixeira, 2011).
Este fundamento foi desenvolvido, a partir de testes realizados por
Hahnemann em indivíduos, no qual, foram testadas pequenas quantidades
das substâncias, com o objetivo de evitar possíveis intoxicações ou reações
indesejáveis. De acordo com Teixeira (2011), a dinamização é um processo no
qual as substâncias são diluídas e agitadas consecutivamente, consistindo em
diluições centesimais (1:100) e sucessivas da substância padrão, acompanhadas
de 100 agitações vigorosas (sucussões) por passagem:
• 1 parte da substância matriz (reinos vegetal, animal ou mineral) + 99 partes
de água + 100 sucussões + 1CH (10-2 mol);
• 1 parte da 1CH + 99 partes de água + 100 sucussões + 2 CH (10-4 mol);
• 1 parte da 2 CH + 99 partes de água + 100 sucussões + 3 CH (10-6 mol);
• 1 parte da 3 CH + 99 partes de água + 100 sucussões + 4 CH (10-8 mol); Etc.
• 12 CH = 10-24 mol da substância matriz (Número de Avogadro: 6,02 x 10-23
mol = 1 molécula-grama) + ausência de matéria (“imponderável”).
Por meio desses processos, homeopatas acreditam que o poder de “cura”
das substâncias que estavam adormecidas se pronuncia e se potencializa,
propiciando uma ação medicamentosa mais eficiente (Organon da arte de
curar, § 269).

36
Ação do medicamento homeopático
De acordo com Nogueira et al. (1986), os medicamentos
homeopáticos são originados de matérias vegetais (Ex.: Bryonia alba,
Aconitumnapellus, Belladonna), minerais (Ex.: Ferrummetallicum,
Phosphorus, Mercuriussolubilis), animais (Ex.: Apis melífera, Cantharis,
Lachesismuta) e gênero sintético (Ex.: Formalin, Anilinus).
Benites (2002) relatou que os medicamentos homeopáticos são
diluídos em três escalas, Hahnemanianas [Centesimais (C ou CH) e cinquenta
milesimal (LM)] e as de Hering [Decimal (D, X ou DH)].
O princípio medicamentoso da homeopatia, segundo Lasne (1997) e
Conte et al. (1997; 2000) é desenvolvido pelo procedimento de dinamização,
onde, é extraída a energia eletromagnética dos componentes. Desta maneira,
acredita-se que as terminações nervosas do sistema nervoso, responsáveis
pela detecção de quaisquer energias, captam as energias contidas neste tipo de
medicação.
Real (2008) descreveu que essa capacidade de captação de energia
se dá pela existência de terminações nervosas no trato digestivo, além das
mucosas bucais, nasais, pele, entre outras. Essa captação de energia gera
estímulos, desencadeando ações corretivas necessárias no organismo. A ação
corretiva dependerá da necessidade ou desequilíbrio apresentado.
De acordo com Teixeira (2013), os medicamentos homeopáticos
agem por meio de uma ação primária e uma ação secundária ou reação vital.
A ação primária, baseada na racionalidade de Hahnemann é descrita como os
efeitos terapêuticos, adversos e colaterais das drogas convencionais. Já, a ação
secundária, caracterizada por ser o princípio de cura terapêutico da homeopatia
é conhecida pelo o efeito intitulado “efeito rebote”, ou seja, apresenta uma
reação contrária a doença.
Em Organon da arte de curar, Hahnemann descreve os efeitos das
duas ações:
“[...] A mão que é banhada em água quente, a princípio fica muito
mais quente do que a outra não banhada (ação primária); porém,
após ser retirada da água quente e estar completamente enxuta
novamente, torna-se fria depois de algum tempo e, finalmente,
muito mais fria do que a outra (ação secundária). Depois de
aquecida por um intenso exercício físico (ação primária), a
pessoa é atingida por frio e tremores (ação secundária). Para
quem ontem se aqueceu com bastante vinho (ação primária),
hoje qualquer ventinho é muito frio (ação oposta do organismo,
secundária). Um braço mergulhado por tempo muito longo em
água muito fria é, a princípio, muito mais pálido e frio (ação
primária) do que o outro; porém, fora da água e enxuto, torna-se,

37
a seguir, não apenas mais quente do que o outro, mas também
vermelho, quente e inflamado (ação secundária, reação da força
vital). À ingestão de café forte, segue-se uma superexcitação
(ação primária); porém, um grande relaxamento e sonolência
(reação, ação secundária) permanecem por algum tempo se não
continuarem a ser suprimidos através de mais café (paliativo, de
curta duração). Após o sono profundo e entorpecedor produzido
pelo ópio (ação primária), a noite seguinte será tanto mais insone
(reação, ação secundária). Depois da constipação produzida pelo
ópio (ação primária), segue-se a diarreia (ação secundária) e,
após purgativos que irritam os intestinos, sobrevêm obstrução
e constipação por vários dias (ação secundária). Assim, por
toda parte, após a ação primária de uma potência capaz de, em
grandes doses, transformar profundamente o estado de saúde do
organismo sadio, é justamente o oposto que sempre ocorre (se,
como se disse, tal fato realmente existe) na ação secundária, por
meio de nossa força vital (Organon, parágrafo 65).”.

Utilização da homeopatia populacional em Bovinos de Corte


O uso da homeopatia populacional vem crescendo na área da pecuária,
com vantagens, como destaque, permitir a automedicação dos animais, por
meio da suplementação mineral, evitando-se assim o estresse no manejo
e assegurando bem-estar aos animais, quando comparados à tratamentos
invasivos, com uso de medicação individual (Souza, 2002). Neste sentido,
visto que o caráter energético deste princípio terapêutico confere aos animais
tratados a redução do estresse, o uso de aditivos homeopáticos pode ser uma
alternativa viável e benéfica para bovinos, a fim de complementar e melhorar
o sistema e consequentemente a produção de alimentos saudáveis (carne) para
os humanos (Real, 2008).
Por volta de 1980, o termo homeopatia individual e curativa defendida
por Hahnemann, foi denominada de homeopatia populacional por sua ação
estimulatória, preventiva e de modo coletivo ou populacional (Real, 2008). O
intuito era não somente tratar o indivíduo, mas sim a população, ou rebanho de
modo geral (Real, 1987; 1991).
A maioria dos problemas relacionados à saúde do rebanho em fazendas
são problemas multifatoriais, casualmente relacionados às deficiências de
fatores nutricionais na alimentação, técnicas de manejo, gestão ou sistemas
habitacionais. Na maioria dos casos, a cura, a longo prazo, é impossível sem
medidas adicionais. A homeopatia neste caso, é uma ferramenta importante,
principalmente em relação ao equilíbrio dos fatores nutricionais (Hovi et al.,
2001).

38
A homeopatia populacional divide-se em três principais fundamentos: “o
rebanho como um só organismo, “o rebanho em permanente desequilíbrio e “a
ação moduladora da homeopatia” (Real, 1996).

Primeiro Fundamento: O rebanho como um só organismo


De acordo com Real (2008), o lote de rebanho é considerado como
um só organismo, a partir do pressuposto de que os animais compartilham
os mesmos parâmetros climáticos, como: temperatura, umidade, pressão
atmosférica, chuvas e estiagens. Além disso, estes animais partilham da mesma
fonte hídrica e alimentação, sejam elas baseadas em pastagens, concentrados
ou suplementações.

Segundo Fundamento: Rebanho em permanente desequilíbrio orgânico


A evolução e intensificação do sistema de criação de bovinos,
além de uma pressão de seleção genética cada vez mais rigorosa visando o
aperfeiçoamento de raças, constitui fator positivo aos olhos zootécnicos.
No entanto, Real (2008) observaram que essa criação intensiva,
restringindo cada vez mais a possibilidade de fuga e toda a ambiência controlada,
resulta em uma perda de equilíbrio orgânico, reduzindo a produtividade e
tornando os animais mais suscetíveis ao surgimento de doenças (Dantzer &
Morméde, 1978 apud Real, 2008).

Terceiro Fundamento: ação moduladora


Ao buscar a melhora no equilíbrio orgânico dos animais, a ação moduladora
homeopática, como o próprio nome nos sugere, atua modulando a reação
energética do organismo. Segundo Real (2008):

“A ação moduladora dos medicamentos homeopáticos,


repetida e diária atua como informação energética via sistema
neuroendócrino, promovendo a eliminação de toxinas e a
harmonia funcional, restaurando as defesas e o equilíbrio
orgânico perdido.”.

Principais utilizações da medicina homeopática em bovinos de corte

Protetores ruminais e hepáticos

A maior parte das dietas oferecidas nos sistemas de confinamentos possui um


alto nível energético, ou seja, uma dieta com índices elevados de concentrado,
cerca de 80% da matéria seca (Pinto & Millen, 2016). Entretanto, sabe-se
que dietas com alto índice de concentrado podem acarretar em problemas

39
metabólicos nos animais como a acidose ruminal (Slyter, 1976).
Em estudo realizado por Nagajara & Titgemeyer (2007), concluiu-
se que o desenvolvimento da acidose pode ser atribuído à alta ingestão de
carboidratos fermentáveis que culminarão com a diminuição do pH ruminal
(menor que 5,0 ou 5,2), contribuindo para um aumento de glicose livre no
rúmen e elevando os níveis de substâncias tóxicas no organismo.
Além disso, o fator genético também pode interferir possíveis
desordens metabólicas, visto que animais Bos taurus indicus, quando
comparados aos Bos taurus taurus, demonstram maior sensibilidade às
mesmas, como a acidose, o que é evidenciado quando são observadas lesões
no rúmen desses animais (Pacheco et al., 2012; Millen et al., 2015; Watanabe,
2016).
Conforme Huber (1976), a acidose pode resultar em quadros de
acidose sistêmica, ruminites, estase ruminal, diarreias, laminites e desordens
hepáticas. De acordo com Brent (1976), abscessos hepáticos e ruminites
complementam o quadro clínico dos bovinos, pois devido às lesões nas papilas
ruminais ocasionadas em decorrência da acidose, há uma porta de entrada para
microrganismos, que podem atingir a corrente sanguínea, e consequentemente
o sistema porta, predispondo a formação de abscessos hepáticos. Glock
& De Groot (1998) observaram que os rompimentos dos abscessos podem
causar a morte súbita dos animais, devido ao rompimento das veias hepáticas,
culminando em choque séptico.
A fim de buscar estratégias nutricionais para evitar processos de
acidose ruminal, têm-se desenvolvido estratégias homeopáticas, que buscam
oferecer maior proteção hepática e ruminal, em especial, para animais
submetidos às dietas de altos níveis energéticos (Wedekin et al., 1994).
Em estudo realizado por Neumann (2000), foram avaliados os efeitos
da homeopatia em novilhos de corte alimentados com dietas contendo 100%
de alimento concentrado (CAB-38 + grão de milho inteiro + pellets de bagaço
de cana-de-açúcar), aditivadas com produto homeopático de ação protetora
hepática e ruminal. O autor observou diminuição na incidência de abscessos
hepáticos e uma melhora significativa no consumo de matéria seca (9,52 contra
9,01 kg/dia), porcentagem de peso vivo (2,10 contra 2,01%), ganho médio
diário (1,575 contra 1,435 kg/dia) e conversão alimentar (6,07 contra 6,48).

Efeito dos aditivos homeopáticos no desempenho animal e qualidade da


carne
Os aditivos incluídos nas dietas de bovinos complementam a nutrição
e aprimoram o desempenho animal (Lucci, 1997). O efeito positivo da adição
de medicamentos homeopáticos no suplemento proteico de machos mestiços
em sistema extensivo, foi avaliado por Signoretti et al. (2008). Estes autores

40
observaram que o ganho médio diário por animal foi maior nos animais tratados
com medicamentos homeopáticos em relação aos não tratados. Similarmente,
Ítavo et al. (2010) observaram resultados superiores para ganho médio diário
e conversão alimentar nos animais tratados, quando comprados com o grupo
controle, em experimento envolvendo novilhos da raça Brangus recebendo
tratamento homeopático.
Estudos que tenham como objetivo compreender o efeito de aditivos
homeopáticos no desempenho animal tornam-se importantes para pecuária
de corte, porque também podem influenciar a qualidade da carne bovina. A
qualidade da carne é uma medida das características desejadas e valorizadas
pelos consumidores, que, por sua vez, estão cada vez mais preocupados em
relação à saúde, exigindo produtos diferenciados com padrão superior de
qualidade e que procedam de sistemas produtivos mais competitivos que
garantam o bem-estar animal, formando-se assim, nichos específicos de
mercado.
Nos últimos anos, a procura por produtos orgânicos tem crescido,
devido à questão relacionada com produtos saudáveis, sustentáveis e
ecologicamente corretos. Neste cenário, têm surgido vegetais orgânicos,
leite orgânico, carne orgânica, com a utilização de princípio ativo natural em
substituição aos químicos, sendo referenciado como mercado “do bem”.
Atualmente, o mercado “do bem” inclui também grupos de fazendeiros
como os da Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO), no
Pantanal, nas prateleiras, iniciativas como essas são disponibilizadas como
linhas de carne com selos especiais. Porém, o processo de certificação orgânica
é mais exigente, porque necessita de aprovação do Ministério da Agricultura.
Segundo Kijlstra & Eijck (2006) a produção pecuária orgânica
é um meio de produção de alimentos com regras direcionadas para o bem-
estar animal, cuidado com o meio ambiente, uso restrito de medicamentos e
produção de um produto saudável sem resíduos (pesticidas ou medicamentos).
Como consequência deste sistema surge o interesse em produtos homeopáticos,
em substituição aos medicamentos químicos, visto que são substâncias
preparadas a partir de matérias vegetais, minerais e animais, que não têm
efeitos colaterais.
Além disso, após o tratamento homeopático, não há resíduo de
medicamento na carne ou leite, o que traz vantagens financeiras e relativas à
saúde dos criadores e consumidores (Tiefenthaler et al., 1996).
Em outra vertente, semelhante ao uso de aditivos em dietas de animais de
produção, o uso de homeopáticos pode ser uma estratégia rentável e benéfica
para o sistema como um todo. Além de os produtos homeopáticos atuarem
no controle de distúrbios metabólicos ocasionados por uma dieta altamente
energética, há relatos de que a administração de homeopatia na alimentação de

41
bovino de corte promove um aumento no desempenho e conversão alimentar,
melhorando a microbiota ruminal e proporcionando consequentemente uma
melhora na absorção dos nutrientes da dieta. (Ítavo et al., 2010; Soto et al.,
2010; Marafon et al., 2014; Zábranský et al., 2015). No entanto, os estudos
com avaliação da qualidade de carcaça e carne de bovinos de corte são escassos
na literatura.
Contudo, foi observado em estudos com a utilização da homeopatia
em outras espécies, benefícios importantes relacionados à qualidade de carcaça
e carne. Em frangos de corte, por exemplo, observou-se melhora no rendimento
de carcaça e redução do teor de colesterol sanguíneo aos 42 dias de idade
(Santos et al., 2014). Em peixes, Andretto et al. (2014) verificaram melhora
no metabolismo lipídico, diminuição das taxas de lipídeo total, principalmente
para os ácidos graxos saturados, melhora da relação n-6 / n-3, com uso de um
complexo a fim de estimular a função hepática sem alteração do desempenho
dos animais.
Porém, em ruminantes, observam-se estudos com bovinos de leite,
relacionados à saúde do úbere, incluindo prevenção ou tratamento de mastite
aguda ou subclínica, além da secura dos tetos (Schütte, 1994; Klocke, 2010)
ou saúde do úbere em geral (Schlecht, 2004). Para bezerros, há relatos do uso
de homeopáticos no tratamento da diarréias (Frerking & Romansky-Rieken,
1981; Kayne & Rafferty, 1994; Verdier et al., 2003; Hornig, 2014).
O uso de homeopáticos para bovinos de corte relaciona-se à melhoria
dos parâmetros ruminais e prevenção de distúrbios metabólicos (Ítavo et al.,
2010; Soto et al., 2010; Marafon et al., 2014; Zábranský et al., 2015), controle
de carrapatos (Silva et al., 2007) e endoparasitas (Pinheiro et al., 2007). No
que se refere à qualidade de carcaça e carne, Ribeiro et al. (2011) observaram
que o uso de produtos homeopáticos (Fator Estresse® e o Fator Pró Final®)
fornecido na proporção de 4 g/animal/dia nos últimos 60 dias do experimento
(total de dias de confinamento 112 dias) possibilitou um acréscimo de 1,8%
no RC. Com relação à AOL e EGS, os autores apresentaram resultados
semelhantes quando não encontraram diferença entre os animais tratados com
homeopáticos e grupo controle.
No entanto, Freitas et al. (2015) não observaram diferença no
rendimento de carcaça, área de lombo e gordura subcutânea de bovinos
não castrados e não castrados tratados com homeopáticos, quando utilizou
dois produtos homeopáticos, o primeiro (Cantharis vesicatoria10-400,
Ignatiaarnara10-400, Staphysagria10-60, Buforana10-60 ) foi adicionado
40 g/dia/animal no suplemento mineral durante 22 dias antes do início do
confinamento, e o segundo homeopático (Natrummuriaticum10-60, Calcium
carbonicum10-30, Silicea terra 10-40, hypothalamus10-30) foi adicionado100
g/dia/animal na dieta durante os 85 dias do confinamento.

42
Estudo: “Efeitos da ação de protetores homeopáticos sobre o desempenho
e qualidade de carne de bovinos Nelore confinados com dietas de alto
concentrado”
A fim de buscar alternativas nutricionais para amenizar os distúrbios
metabólicos decorrentes da utilização de dietas altamente energéticas, foi
realizado um estudo pelo Laboratório de Pesquisa em Gado de Corte (LPGC) e
Laboratório de Ciência da Carne (LCC) da Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia da Universidade de São Paulo – FMVZ/USP, campus Fernando
Costa, Pirassununga – SP, que objetivou avaliar a ação da homeopatia
terapêutica na proteção hepática e ruminal, ganho médio diário (GMD) e
características de carcaça e carne de bovinos da raça Nelore, terminados em
regime intensivo de engorda.
O confinamento experimental foi conduzido no LPGC – FMVZ/USP
e as análises de qualidade da carne foram realizadas no LCC – FMVZ/USP.
Foram utilizados 40 animais, machos não castrados, idade média de 24 meses
e peso vivo inicial médio de 416 +- 41,96 kg. Os animais foram previamente
adaptados à dieta por 20 dias, antes do início do experimento e o concentrado
foi aumentado gradualmente, até atingir a proporção de volumoso:concentrado
de 30:70.
Foi considerado um delineamento em blocos casualizados (DBC)
totalizando 40 animais, distribuídos em dois blocos, de acordo com o peso
vivo inicial (leve e pesado). Durante o período experimental foram utilizadas
três dietas (Tabela 1): T1 – grupo controle, com 12 animais; T2 – inclusão de
Figotonus, com 14 animais (20g/dia/animal) e T3 – inclusão de Convermax,
com 14 animais (60g/dia/animal). Os mesmos foram mantidos em instalações
cobertas, com baias de piso de concreto, considerando lotação de dois animais.
Tabela 1. Composição das dietas experimentais (%MS).

43
1T1 – Dieta controle (sem adição de protetores homeopáticos); T2 – Dieta contendo protetor
homeopático Figotonus®; T3 – Dieta contendo protetor homeopático Convermax®.
2Composição por quilograma de produto: cálcio (g) 8,72; cobalto (mg) 5,92; cobre (mg) 106,56;
enxofre (g) 2,56; flúor (mg) 64; fósforo (mg) 6,4; iodo (mg) 5,64; manganês (mg) 88,8; selênio
(mg) 1,48; zinco (mg) 319,68; monensina sódica (mg) 160.
3Composição Convermax® (20 kg/produto): Medicago sativa 10-30; Avena sativa 10-30,
Natrum muriaticum 10-30; Silicea terra 10-30; Phosphorus 10-60; Calcium carbonicum 10-30;
Choinantus 10-60; Lycopodium 10-60; Acidum picricum 10-24; Ignatia amara 10-400; Veiculo
qsp 100 g.
4Composição Figotonus® (20 kg/produto): Chelidonium majus 10-24; Natrum muriaticum 10-
400, Phosphorus 10-28; Myrica cerifera10-60; Carduus marinus 10-24; China officinalis 10-60;
Carboneum tetrachloricum 10-30; Chionantus virginica 10-30; Veiculo qsp 1000 g.

Os animais foram confinados por 90 dias e após este período foram


abatidos no abatedouro escola da Universidade de São Paulo (USP), Campus
Fernando Costa USP – Pirassununga, SP, de acordo com o regulamento
estabelecido pelo Sistema de Inspeção Estadual do estado de São Paulo (SISP).
Durante o abate foi avaliada a presença ou não de abscessos
hepáticos, analisados em todos os animais e foram classificados de acordo com
a incidência e severidade dos mesmos. Essa classificação teve como base o
trabalho de Brink et al. (1990), em que são classificados em (0): fígados sem
abscessos; (A-): fígados com um ou dois pequenos abscessos menores que
2,5 cm de diâmetro ou cicatrizes de abscessos; (A): fígados com dois a quatro
abscessos ativos, pouco menores que 2,5 cm de diâmetro; (A+): fígados com
um ou mais abscessos, maiores que 2,5 cm de diâmetro e porções do diafragma
aderidos a superfície do fígado.
Imediatamente após o abate, as carcaças quentes foram pesadas
(PCQ, kg) para determinação do rendimento de carcaça (RC, %) e conduzidas
à câmara fria (0 e 2º C), por 24 horas. Em seguida foi realizada a pesagem da
carcaça fria (PCF, kg) e a mensuração do pH (pH 24 h).
Durante a desossa, foram avaliadas a área de olho de lombo (AOL,
cm²) e espessura de gordura subcutânea (EGS, mm) entre a 12ª e 13ª costelas.
Também foram coletados bifes de 2,54 cm do músculo Longissimus dorsi,
maturados por 14 dias (0 a 2°C) e em seguida congelados a -20ºC para
posteriores análises de perdas por cocção (PPC, %), força de cisalhamento
(FC, N) e cor da carne.
A análise de coloração da carne foi realizada em bifes descongelados
do músculo Longissimus dorsi, após exposição das amostras ao ambiente por
30 minutos para oxigenação da mesma (AMSA, 2012). A determinação da
cor considerou o sistema CIELab (CIE, 1986) e foi realizada em três pontos
distintos da amostra, utilizando um espectrofotômetro. Os valores de cor foram
considerados como a média das três leituras.
Para a análise de força de cisalhamento, os bifes foram assados

44
conforme protocolo proposto pela American Meat Science Association
(AMSA, 2013), em seguida foram retirados 6 cilindros (1,27 cm de diâmetro)
no sentido paralelo às fibras com o auxilio de uma furadeira de bancada. A
força de cisalhamento de cada amostra foi obtida considerando a média das
6 repetições utilizando um texturômetro Brooksfield CT-3 Texture Analyser,
equipado com lâmina de corte Warner-Bratzler (WHEELER et al., 2001).
As amostras do músculo Longissimus dorsi foram submetidas à
cocção em forno elétrico de dupla resistência até atingir temperatura interna de
72°C, resfriadas em temperatura ambiente, pesadas e calculadas a perdas por
cocção (PPC, %), segundo Honikel (1998).

Resultados parciais
Em relação a avaliação macroscópica de fígado, não foram
encontrados abscessos hepáticos em nenhum dos animais. Acredita-se que a
proporção volumoso:concentrado da dieta utilizada no estudo não tenha sido
suficiente para o surgimento de abscessos hepáticos. O tamanho da partícula
da silagem foi um fator limitante que impossibilitou o aumento do nível
energético da dieta.
Não houve efeito das dietas (P>0.05) para o ganho de peso médio
diário dos animais (GMD; Tabela 2). Os resultados de GMD do presente estudo
corroboram com os encontrados por Ítavo et al. (2010). Os autores avaliaram
a inclusão de um aditivo homeopático na dieta e não verificaram efeito dos
tratamentos sobre o GMD dos animais. Resultados contrastantes foram
apresentados por Ribeiro et al. (2011), que observaram um aumento de 17%
nos valores de GMD dos animais suplementados com aditivos homeopáticos
em comparação aos animais do tratamento controle.
Não houve diferença (P>0,05) entre as dietas para as variáveis RC, AOL
e EGS (Tabela 2), indicando que os aditivos homeopáticos não apresentaram
efeito sobre as características de carcaça. Em estudo realizado por Freitas et al.
(2015), foram acrescentados dois aditivos homeopáticos na dieta dos animais.
O primeiro aditivo (Cantharis vesicatoria10-400, Ignatiaarnara10-400,
Staphysagria10-60, Buforana10-60) foi adicionado ao suplemento mineral
durante 22 dias antes do início do confinamento e considerou a dose de 40
g/dia/animal. Já o segundo homeopático (Natrummuriaticum10-60, Calcium
carbonicum10-30, Silicea terra 10-40, hypothalamus10-30) foi adicionado na
dieta durante os 85 dias do confinamento, na dose de 100 g/dia/animal e os
autores não encontraram diferenças no RC, AOL e EGS das carcaças.
Similarmente, Ítavo et al. (2010) avaliaram o efeito da adição de um
princípio homeopático (Fator Nutri Pró Final®: chamomilla CH12, gramíneas
CH12, soja CH12, milho CH12, Bixaorellana 0.75g, sacarose q.s.p. 100g)
fornecido na dose de 2 g/animal/dia, durante os 98 dias de confinamento e

45
não observaram diferenças entre os tratamentos para RC. Já, Ribeiro et al.
(2011), observaram que o uso de aditivos homeopáticos (Fator Estresse® e o
Fator Pró Final®) fornecidos na dose de 4 g/animal/dia, nos últimos 60 dias
do experimento (total de dias de confinamento de 112 dias) possibilitou um
acréscimo de 1,8% no RC. Com relação à AOL e EGS, estes mesmos autores
apresentaram resultados semelhantes aos do presente estudo, não encontrando
diferença entre os animais tratados com homeopáticos em comparação ao
grupo controle.
Não foram observadas diferenças (P>0,05) para os valores de pH
(24h) entre as dietas estudadas. Os resultados estão em concordância com o
comportamento bioquímico característico da transformação do músculo em
carne, que após 24 horas do abate (pH final) está em torno de 5,5 a 5,8, valores
normais para bovinos (Lawrie, 2005; Muchenje et al., 2009). Da mesma forma,
quando ao considerar a raça, este estudo apresenta resultados semelhantes aos
encontrados por Ribeiro et al. (2012), que verificaram valores médios de pH de
5,63 (24h após o abate) para animais zebuínos.
Tabela 2. Médias e erro padrão da média do ganho médio diário (GMD) e características de carcaça de bovinos
Nelore, em função dos tratamentos.

Erro padrão da média.


1GMD: Ganho médio diário; RC: Rendimento de carcaça quente; pH: Potencial Hidrogênionico;
AOL: Área de olho de lombo; EGS: Espessura de gordura subcutânea.
2T1 – Dieta controle (sem adição de protetores homeopáticos); T2 – Dieta contendo protetor
homeopático Figotonus®; T3 – Dieta contendo protetor homeopático Convermax®.

Não houve diferença entre as dietas (P>0,05) para as variáveis L*


(Luminosidade), a* (intensidade de vermelho) e b* (intensidade de amarelo;
Tabela 3). Os valores observados foram próximos àqueles citados por Purchas
(1988) e Muchenje et al. (2009), que definiram valores ideais entre 33,2 e 41
para L*, valores entre 11,1 e 22 para a* e para b*, o intervalo ideal deve estar
entre 13,1 e 34,54.
Não foram observadas diferenças (P>0,05) entre as dietas para as
variáveis perdas por cocção (PPC) e força de cisalhamento (FC; Tabela 3),
indicando que os homeopáticos não influenciaram a maciez da carne, visto que
os valores médios de FC foram superiores a 4,5 kgF/cm3 (equivalente a 44,13

46
N). Segundo Shackelford et al. (1991), este é o valor aceitável e determinante
para considerar a carne macia. Diferente dos resultados encontrados no presente
estudo, Ribeiro et al. (2012) encontraram valores de 4,28 kgF (equivalente
a 41,97 N) para FC, ao avaliarem a inclusão de dois aditivos homeopáticos
na dieta de animais zebuínos confinados. Já os valores encontrados para PPC
neste estudo corroboram com os observados por Muchenje et al. (2009), que
consideram os limites entre 13,1 e 34,54 como resultados aceitáveis para PPC
na carne bovina.
Tabela 3. Médias e erro padrão da média das características de cor, força de cisalhamento (FC em Newton) e
perda por cocção (PPC, %).

EPM: Erro padrão da média.


1L*: Luminosidade; a*: intensidade de vermelho; b*: intensidade de amarelo; Força de
cisalhamento (FC em Newton); Perdas por cocção (PPC, %).
2T1 – Dieta controle (sem adição de protetores homeopáticos); T2 – Dieta contendo protetor
homeopático Figotonus®; T3 – Dieta contendo protetor homeopático Convermax®.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de produtos com intuito de substituir antibióticos,
amenizar os distúrbios metabólicos e proporcionar benefícios às características
de carcaça e carne devem ser explorados, visto que atualmente há nichos de
mercados exigentes, no que se refere ao uso de antibióticos em animais de
produção.
O uso de aditivos homeopáticos no presente estudo não proporcionou
melhorias nos atributos de carcaça e carne em animais terminados em
confinamento. Sugerem-se estudos com dietas de maiores níveis energéticos, a
fim de desafiar os animais, para que seja possível observar efeito da homeopatia
sobre as características avaliadas.

5. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento
001. Os autores agradecem à empresa Real H – Nutrição e Saúde Animal pelo
fornecimento dos aditivos homeopáticos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMERICAN MEAT SCIENCE ASSOCIATION (2012). Meat Color Measurements Guidelines

47
Handbook. Champaign, Illinois.136p.

AMERICAN MEAT SCIENCE ASSOCIATION (2013). Meat Evaluation Handbook - Beef Grading.
Champaign, Illinois.160p.

AMALCABURIO, R.; FILHO, L.; HONORATO, L. A.; MENEZES, N. A. Homeopathic remedies in a


semi-intensive alternative system of broiler production. International Journal of High Dilution Research
8, p 33-39, 2009.

BENITES, N. R. Homeopatia. In: SPINOSA, H. S.; GORNIAK, S. L.; BERNARDI, M. M. Farmacologia


aplicada à medicina veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.700-708, 2002.

BRENT, B. E. Relationship of acidosis to other feedlot ailments. Journal of Animal science. 43:930–935,
1976.

BRESSAN, M. C. et al. Physicochemical properties of meat from Bos taurus and Bos indicus. Revista
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 40, n. 6, p. 1250- 1259, June 2011.

CONTE, R.R. et alli. Theorie des Hautes Diluitions et Aspects Expérimentaux. 2a Ed. Polytechnic. Paris.
1997

CONTE, R.R. et alli. Theorie des Hautes Dilutions. Application au Vivant. Polythechnic. Paris. 2000

CORRÊA, A. D.; SIQUEIRA-BATISTA, R.; QUINTAS, LEM. Similia Similibus Curentur: notação
histórica da medicina homeopática. Rev Ass Med Brasil, v. 43, n. 4, p. 347-51, 1997.

DANTZER, M.R.; MORMÈDE, P. El Stress em La Cria Intensiva del Ganado. Ed Acribia. Zaragoza.
Espanha. 1984.

DA SILVA, S.L.M.; ARCANJO, A.H.M.; PINTO, L. D.R.; ROSA, G.P.; SOUZA, G.H. Gain of mass
between two profiles of treatments to pigs with selforganizing factors. International Journal of High
Dilution Research V.10, p 271-282, 2011.

DRANSFIELD, E. Optimisation of tenderisation, aging and tenderness. Meat Science, v. 36, p.105-121,
1994.

FONTES, O. L. Farmácia Homeopática: Teoria e Prática. 2. ed. Barueri: Manole Ltda; 2005.

FONTES, O. L. Farmácia Homeopática: Teoria e Prática. 3. ed. Barueri: Manole Ltda; 2009.

FREITAS, V.M,; LEÃO, K.M.; ARAUJO-NETO, F.R.; MARQUES, T.C.; FERREIRA, R. M.;
GARCIA, L.L.F.; OLIVEIRA, E.B. Efeitos da castração cirúrgica, imunocastração e homeopatia sobre
o desempenho, características de carcaça e comportamento de bovinos machos cruzados terminados em
confinamento. Ciências Agrárias, Londrina, v. 36, n. 3, p. 1725-1734, 2015.

FUTURO, DÉBORA OMENA. Fundamentos da filosofia homeopática. 2012.

GLOCK, R.D.; B. D DE GROOT. Sudden deathof feedlot cattle. Journal of Animal science, v.76, p.315–
319, 1998.

HADIPOUR, M.M.; HABIBI, G.H.; GHORASHINEJAD, A.; OLYAIE, A.; TORKI, M. Evaluation of
the homeopathic remedies medication on commercial broiler chickens performance. Journal of Animal
and Veterinary Advances 10, p 2102-2105, 2011.

48
HAHNEMANN, S. Organon da arte de curar, 6ª ed. Ribeirão Preto: Museu de Homeopatia Abrahão
Brickmann; 1995.

HONIKEL, K.O. Reference methods for the assessment of physical characteristics of meat. Meat
Science, 49, 447-457, 1998.

HORNIG, V. (2014) Effekte peroral applizierter Homöopathika auf den klinischen Verlauf von
neonatalen Diarrhoen beim Kalb: eine prospektive, doppelt geblindete Feldstudie [Homeopathic use in
cases of neonatal diarrhea in calves: a double blind randomized clinical trial]. PhD thesis, University of
Veterinary Medicine Hanover, Germany

HOVI, M.; VAARST, M. Positive health: preventive measures and alternative strategies. In: Proceedings
of the 5th NAHWOA Workshop, Roedding/Denmark. 2001. p.11-13.

HUBER, T. L. 1976. Physiological effects of acidosis on feedlot cattle. Journal Animal Science. 43:902–
909.

ÍTAVO, L.C.V et al. Homeopatia na terminação de novilhos em confinamento. Archivos de zootecnia, v.


59, n. 226, p. 225-232, 2010.

JOHNSON, R.D. et al. Effects of percentage brahman and angus breeding, ageseason of feeding
and slaughter end point on meat palatability and muscle characteristics. Journal of Animal Science,
Champaign, v.68, n.7, p.1980-1986, 1990.

KAYNE, S.; RAFFERTY, A. The use of Arsenicum album 30c to complement conventional treatment of
neonatal diarrhoea (‘scours’) in calves. British Homoeopathic Journal 83, p 202–204, 1994.

LASNE, I. L. Homeopathie: Traitement de/par L’Information. Hautes Diluition de Natura Rerum. 1993.
Disponível em: <http://www.highdilutions.net/VersionFR/Natura/IndexNatura.php> Acesso em: 22
maio de 2018.

LAWRIE, R.A. Ciência da carne. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 384 p.

LUCCI, C.S. Nutrição e manejo de bovinos leiteiros. 1 ed. Manole. São Paulo. 169 pp, 1997.

MARAFON, F. et al. Homeopatia e desempenho de novilhos confinados com dieta 100 % ou 48 % de


concentrado. Arch. zootec. [online]. 2014, vol.63, n.241 [citado 2018-10-09], pp.199-202. Disponible
em: <http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-05922014000100020&lng=es&nr
m=iso>. ISSN 1885-4494. http://dx.doi.org/10.4321/S0004-05922014000100020.

MUCHENJE, V. et al. Some biochemical aspects pertaining to beef eating quality and consumer health:
A review. Food chemistry, v. 112, n. 2, p. 279-289, 2009.

NEUMANN, MIKAEL. Viabilização técnica e econômica de dietas 100% concentrado (CAB-38+ Grãos
de milho inteiro+ pellets de bagaço de cana-de-açúcar) aditivadas com produto homeopático protetor da
atividade hepática na terminação de novilhos de corte em confinamento. Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, PR, 2000.

NOGUEIRA, G.W.G; RIMOLI, M.A; TURCI, M.B; GUILHERME, S.D; MOLLO, S. A; BARNABÉ,
V.D. Doutrina Médica Homeopática, São Paulo, Grupo de Estudos Homeopáticos de São Paulo “Benoit
Mure”, 1986.

PACHECO, R.D.L., MILLEN, D.D., DILORENZO, N., et al. 2012. Effects of feeding a multivalent
polyclonal antibody preparation on feedlot performance, carcass characteristics, rumenitis, and blood
gas profile in Bos indicus biotype yearling bulls. Journal of Animal Science, 90: 1898–1909. Abstract.

49
PANDE, C.B. (2002). Role of herbal medicines in changing scenario worldwide. Pashudhan 17 (11) pp. 4.

PINHEIRO, R.M.K. Influência do grupo genético, condição sexual e uso de bioterápico, nas
características de carcaça e qualidade da carne de bovinos de corte. Tese mestrado Medina veterinária,
Universidade Federal Fluminense. Niterói, RJ. P. 116, 2007.

PINTO, A.C.J., e MILLEN, D.D. Levantamento sobre as recomendações e práticas de manejo adotadas
por nutricionistas de bovinos confinados no Brasil em 2015. Anais do I Simpósio de Nutrição de Bovinos
de Corte e Leite, Dracena- SP. 1:126, 2016.

PRADHAN, N. R. AND BISWAS, U. (1994). Studies on the efficacy of Ruchamax against indigestion
in cattle. Indian Vet. Med. J. 18 (4): 268-272.

PURCHAS, R.W. Some experiences with dark-cutting beef in New Zealand. In: proceeding of an
australian workshop. Australia meat and live – stock research and development corporation. Sidney.
Proceedings. Sidney, p. 42-51, 1988.

REAL, C.M. Etiologia da Mortandade de Vacas no Matogrosso do Sul-Brasil. Hora Veterinária


63,39-53, 1991.

REAL, C.M. Anais do XV PANVET - Lei dos Semelhantes. Campo Grande. 1996.

REAL, C.M. Homeopatia Populacional. Fundamentos e Ruptura de um Paradigma. 2008. Disponível


em: < http://realh.com.br/arquivos/site-downloads-498916459.pdf > Acesso em: 28 maio 2018.

RIBEIRO, J.S.; GONÇALVES, T. M.; MACHADO NETO, O. R.; CAMPOS, F. R.; FARIA, W. L.
Homeopatia na terminação de novilhos nelores e tabapuãs confinados. Agropecuária Científica no Semi-
Árido, Patos, v. 7, n. 1, p. 38-44, 2011.

RIBEIRO, J. S.; GONÇALVES, T. M.; LADEIRA, M. M.; TULLIO, R. E.; CAMPOS, F. R.;
BERGMANN, J. A. G.; MACHADO NETO, O. R.; CARVALHO, J. R. E. Reactivity, performance,
color and tenderness of meat from Zebu cattle finished in feedlot. Revista Brasileira de Zootecia, v.41,
n.4, p.1009-1015, 2012.

RODRIGUES, C. M. Soluções Homeopáticas e Resposta Alelopatica de conyza bonariensis (Dissertação)


Mestrado em Fitotecnia. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2009.

SANTOS, ROSILENE. Homeopatia: histórico e fundamentos. 2012.

SANTOS, F. R.; SANTANA, R. O.; CARVALHO, E. A.; COSTA, N. A.; MINAFRA, C. S.; OLIVEIRA,
P. Desempenho e perfil sérico bioquímico de frangos de corte alimentados com rações contendo produtos
homeopáticos. Revista Brasileira Saúde Produção Animal, v. 15, n. 2, p. 394-405, 2014.

SATO, C.; LISTAR, V. G.; BONAMIN, L. V. Development of broiler chickens after treatment with
thymulin 5cH: a zoo technical approach. Homeopathy 101, p 68-73, 2012.

SCOTT, T.L.; MILTON, C.T.; ERICKSON, G.E.; KLOPFENSTEIN, T.J.; STOCK R.A. Corn processing
method in finishing diets containing wet corn gluten feed. Journal Animal Science. Savoy, v.81, p.3182-
3190, 2003.

SHACKELFORD, S. D. et al. An evaluation of tenderness of the longissimus muscle of Angus by


Hereford versus Brahman crossbred heifers. Journal of animal science, v. 69, n. 1, p. 171-177, 1991.

SIGNORETTI, RICARDO D. et al. Desempenho e infestação por parasitos em machos leiteiros

50
suplementados com sal proteinado com ou sem os medicamentos homeopáticos. Revista Brasileira de
Parasitologia Veterinária, v. 17, n. 1, p. 40-44, 2008.

SILVA, N.L.; MOLETTA, J.L.; MINHO, A.P.; FILIPPSEN, L.F. Uso de isoterápico no controle da
infestação natural por Boophilus microplus em bovinos. Arquivos da AMVHB, v. 3, n. 1, p. 40-42, 2007.
SLYTER, L. L. Influence of acidosis on rumen function. Journal of Animal science. 43:910–929, 1976.
SOARES, A. A. D. Farmácia Homeopática. Volume único. São Paulo: Andrei Ltda; 1997.

SOUZA, M. F. A. Homeopatia veterinária. In: conferência virtual global sobre produção orgânica de
bovinos de corte, 1., 2002, Campo Grande. Anais eletrônicos. Campo Grande: Embrapa, 2002. Disponível
em: <http:www.pap.embrapa.br/agencia/congressovirtual/pdf/portugues/02pt02.pdf>. Acesso em: 22 maio
2018.

SOUZA, MÔNICA F, A. Homeopatia veterinária. In: conferência virtual global sobre produção orgânica
de bovinos de corte. 2002. p. 1-4.

SOTO, F.; VUADEN, E. R.; COELHO, C. D.; BENITES, N. R.; BONAMIN, L. V.; AZEVEDO , S. S.
A randomized controlled trial of homeopathic treatment of weaned piglets in a commercial swine herd.
Homeopathy 97, p 202-205, 2008.

SOTO, L. P, ZBRUNA, M. V, FRIZZO, L. S, SIGNORINIA, M. L, SEQUEIRA, G. J, ROSMINI, M. R..


Effects Of bacterial inoculants in milk on the performance of intensively reared calves. Anim Feed Sci and
Tech., 2010, 189, 117–122

SIQUEIRA, C. M. Alterações Celulares Induzidas por um novo Bioterápico do Tipo Nosódio Vivo sobre
as Linhagens MDCK e J774. (Dissertação) Mestrado em Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

TEIXEIRA, MARCUS ZULIAN. Evidências científicas da episteme homeopática. Revista de Homeopatia,


v. 74, n. 1/2, p. 33-56, 2011.

TIEFENTHALE, A. Homeopatia para animais domésticos e de produção. Organização Andrei. São Paulo.
336 pp, 1996.

WALKENHORST, M. Vergleich von homöopathischer und antibiotischer Laktationstherapie zur


Behandlung von Mastitiden des Rindes [Comparison of homeopathic and antibiotic treatment of mastitis in
lactationg dairy cows]. PhD thesis, University of Zürich, Switzerland, 2006.

WATANABE, D. H. M. Desempenho de bovinos Nelore e ½ Angus/Nelore adaptados em confinamento


por 9 ou 14 dias. 61 f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Animal) – Faculdade de Ciências
Agrárias e Tecnológicas, Universidade Estadual Paulista, Dracena, 2016.

WEDEKIN, VALÉRIA S. P. & AMARAL, ANA MARIA P. Confinamento de bovinos em 1991.


Informações Econômicas, SP, 21(9):9-18, jul. 1991.

WHIPPLE, G. et al. Evaluation of attributes that affect longissimus muscle tenderness in Bos taurus and
Bos indicus cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 68, n. 9, p. 2716-2728, Sept. 1990.

WHEELER, T. L. et al. Mechanisms associated with the variation in tenderness of meat from Brahman and
Hereford cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 68, n. 12, p. 4206-4220, Dec. 1990.

WHEELER, T. L., SHACKELFORD, S. D., KOOHMARAIE, M. (2001). Shear force procedures for meat
tenderness measurement. Roman L. Hruska U. S. Marc. USDA, Clay Center, NE.

WILLIAMSON, J. H.; LACY-HULBERT, S. J. Lack of efficacy of homeopathic therapy against post-


calving clinical mastitis in dairy herds in the Waikato region of New Zealand. New Zealand Veterinary
Journal 62, 8-14, 2014.

51
CAPÍTULO III

ADITIVOS ZOOTÉCNICOS E A MANIPULAÇÃO DA


FERMENTAÇÃO RUMINAL

Souza, J. M.¹; Souza, J. C. S. M.¹; Sousa, D. O.²; Mesquita, L. G.¹;


Fabrício, E. C.³, Alcantara, A. H. D.4, Rennó, F. P.¹; Balieiro,J. C. C.¹

1
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo,
Pirassununga – SP.
2
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP.
3
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Anhembi Morumbi, Leme – SP.
4
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo,
Pirassununga – SP.

1. INTRODUÇÃO
Um dos maiores objetivos na nutrição de ruminantes consiste no
aumento da eficiência alimentar e a diminuição de custos com alimentação.
Neste contexto, a manipulação ruminal, por meio de substâncias introduzidas
na alimentação, como aditivos zootécnicos, têm oferecido alternativas para
aumentar a eficiência de utilização das dietas consumidas pelos ruminantes.
Os ruminantes possuem a capacidade de aproveitar os nutrientes
oriundos da fermentação ruminal, resultado da simbiose existente entre estes
e microrganismos anaeróbios presentes no rúmen, que por sua vez convertem
componentes da dieta em produtos como os Ácidos Graxos de Cadeia Curta
(AGCC) e a Proteína Microbiana (Pmic). Qualquer estratégia de manipulação
da fermentação ruminal deve levar em consideração aspectos relacionados
à microbiota presente no rúmen, assim como as características desta câmara
fermentativa. O ambiente ruminal é considerado um complexo ecossistema,
apresentando uma microbiota ruminal, composta por uma imensa variedade
de bactérias, arqueas, protozoários e fungos, de extrema importância para o
aproveitamento do alimento. Dentre estes microrganismos presentes no rúmen,
as bactérias são os mais investigados, cujo efeito sobre o desempenho animal
é significativo (Fernando et al., 2010).
Para uma efetiva manipulação da microbiota ruminal, com o
intuito de melhorias na produção animal, a compreensão da população de
microrganismos ruminais é fundamental para o fornecimento de condições
necessárias ao melhor aproveitamento do processo de digestão (McSweeney
et al., 1994). Tais microrganismos são altamente sensíveis a alterações na
dieta, em que quantidades de espécies bacterianas individuais podem alterar
em resposta à alimentação (LI et al., 2009; Hernandez-Sanabria et al., 2012),

52
alterando o modo de aproveitamento da dieta ofertada.
Desta forma, levando em consideração a diversidade de
microrganismos presentes no rúmen, a alimentação dos ruminantes é algo
extremamente complexo, sendo que vários fatores podem influenciar o
desenvolvimento de tais microrganismos ruminais, como por exemplo tipo de
concentrado e volumoso, relação Volumoso:Concentrado da dieta, pH ruminal
e uso de aditivos visando melhora da fermentação ruminal e do aproveitamento
da fibra. Neste contexto, destaca-se a importância das pesquisas voltadas para a
manipulação da fermentação ruminal, desenvolvendo estudos que possibilitem
maior conhecimento acerca da dinâmica da microbiota com base nas condições
ruminais, principalmente em relação ao efeito da adição de aditivos sobre a
população de bactérias celulolíticas e amilolíticas, fungos e protozoários.
Grande variedade de aditivos apresentam potencial para manipular
o ambiente ruminal, afetando a composição da microbiota ruminal e,
consequentemente, o metabolismo ruminal. Dentre os aditivos disponíveis,
tem-se ionóforos, enzimas exógenas e probióticos, como leveduras (S.
cerevisiae) e o fungo Aspergillus oryzae, que possuem potencial para alterar a
fermentação ruminal podendo elevar, por exemplo, o aproveitamento da fração
fibrosa pelos ruminantes (Newbold et al., 1992; Newbold, 1997; Sosa et al.,
2011). Entretanto, os resultados quanto a utilização de enzimas e probióticos
são inconsistentes, além do fato de que o mecanismo de ação destes aditivos
não estar completamente elucidado.
Portanto, a geração de conhecimentos sobre a biodiversidade de
microrganismos ruminais, assim como os diferentes fatores que as afetam
diretamente, como a utilização de aditivos, permitem o aumento da utilização
de alimentos de forma efetiva, otimizando a fermentação e, consequentemente,
a digestão da dieta, além de representar um potencial incremento à produção
de ruminantes.

2. ADITIVOS PARA RUMINANTES


Os aditivos apresentam potencial para manipular o ambiente ruminal,
influenciando alguns componentes do metabolismo do rúmen, incluindo
inibidores de metano, de proteólise, de deaminação, agentes defaunantes,
enzimas microbianas, agentes tamponantes, aumento na produção de
propionato por ionóforos, probióticos, aditivos microbianos e surfactantes
não-iônicos. Concomitantemente, os aditivos agem na redução da excreção de
compostos nitrogenados e a emissão de metano, que representam a ineficiência
do processo fermentativo do rúmen, aumentando a eficiência de utilização de
alimentos, proporcionando aumento do desempenho produtivo dos animais
(Morais et al., 2011).
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

53
(MAPA), os aditivos são definidos como substâncias intencionalmente
adicionadas aos alimentos com a finalidade de conservar, intensificar ou
modificar suas propriedades, desde que não prejudiquem seu valor nutritivo.
Ionóforos, antibióticos não ionóforos, leveduras e fungos, enzimas, tampões,
dentre outros, são alguns dos os aditivos liberados para o uso no Brasil e
utilizados em ruminantes.
Dentre os aditivos existentes no mercado voltados para melhoria
da eficiência produtiva, destacam-se os ionóforos, enzimas exógenas e os
probióticos. Dentre os probióticos, destaca-se as leveduras e culturas vivas
do fungo Aspergillus oryzae. Tais aditivos apresentam efeitos positivos
significativos sobre a digestibilidade da fibra e, consequentemente, sobre a
produtividade animal. Entretanto, apesar de relatos positivos, os resultados são
inconsistentes, além do fato de que o mecanismo de ação, e a especificidade do
substrato, bem como efeito dose resposta, são pouco compreendidos.

3. IONOFOROS
A monensina e os ionóforos são os principais aditivos utilizados na
nutrição de ruminantes, desde da década de 1970 a monensina vem sendo
utilizada na dieta de bovinos confinados e à pasto. Existem mais de 120
ionóforos conhecidos, esses são resultados da fermentação de actinomicetos,
que são produzidos por bactérias do gênero Streptomyces, porém somente
salinomicina, laidlomicina, monensina e lasalocida são permitidas para o uso
em dietas dos ruminantes (Nagaraja et al., 1997).
Os ionóforos são geralmente bacteriostáticos, e promovem
modificações no ambiente ruminal, isto é, na população microbiana do rúmen,
isso ocorre através da seleção de bactérias Gram- negativas produtoras de
ácido succínico estas por sua vez promovem a inibição das bactérias Gram-
positivas (produtoras de ácido acético, lático e butírico). As bactérias Gram-
negativas possuem maior resistência à ação dos ionóforos que as Gram-
positivas, isso ocorre devido a seu invólucro constituído por parede celular e
membrana externa de proteção a qual é formada por proteínas lipoproteínas e
lipopolissacarídeos a qual possui porinas (canais de proteína que medem cerca
de 600 Dalton), como o tamanho dos ionóforos ultrapassa 600 Dalton, eles
não conseguem transpassar esses canais, tornando as células impermeáveis aos
ionóforos (Morais et al., 2011).
O modo de ação dos inóforos sobre as bactérias Gram-positivas
está relacionado ao mecanismo da bomba iônica a qual regula o balanço
químico entre o meio interno e externo da célula. Ao se ligarem as membranas
celulares de protozoários e bactérias os ionóforos facilitam o movimento dos
cátions através da membrana celular. Havendo, portanto, a troca de um cátion
monovalente por um próton (no caso da monensina) ou um cátion divalente

54
por dois prótons (lasalocida). Por sua vez essas reações desencadeiam em uma
reduzida concentração de K+, baixo pH e maior concentração intracelular de
Na+. Por isso as bactérias Gram-positivas são forçadas a utilizar o sistema
de transporte celular para dissipar o H+ e o Na+ intracelular na tentativa de
manter o equilíbrio na célula. As bombas de Na+ e K+ ATPase ou prótons
ATPase permitem que o organismo expulse H+ com o gasto de 1 ATP por
próton. Com a baixa concentração de K+ intracelular, as reservas energéticas e
a taxa de síntese proteica, reduzem a capacidade de divisão celular. Portanto, o
funcionamento da bomba iônica fica prejudicado, devido a maior concentração
de cátions dentro da célula consequentemente haverá aumento da pressão
osmótica a agua penetra deixando a célula “cheia” e rompe, levando a morte
celular (Russel & Strobel, 1989; Oliveira et al., 2005).
As bactérias produtoras de lactato, butirato, acetato são mais sensíveis
a ação dos ionóforos que as bactérias produtoras de propionato e succinato.
Devido a essa mudança da população microbiana no rúmen, a proporção de
acetato:propionato tende a aumentar. O tipo de dieta e o nível de suplementados,
interfere na ação da monensina.
Animais que recebem dietas a base de volumoso apresentam em
seus rumens principalmente bactérias Gram-negativas ao passo que animais
recebendo maior inclusão de concentrado apresentam maior número de
bactéria Gram-positivas. Dessa forma espera-se maior efeito dos ionóforos
em dietas com maior participação do concentrado do que em dietas com mais
volumoso, uma vez que os ionóforos atuam principalmente sobre as bactérias
Gram- positivas (Rodrigues, 1996).
Em experimentos in vivo e in vitro demonstram que a monensina
reduz a produção de metano, essa redução está relacionada com a inibição das
bactérias que produzem e fornece H2 (principalmente as produtoras de acetato
e butirato) e formato para a metanogênese do que um efeito direto sobre a
população de metanogênicas, já que essas são mais resistentes aos ionóforos
do que aquelas que fornecem o substrato (Guan et al., 2006).
Em meta análise realizada por Golder & Lean (2016), onde foram
agrupados 31 estudos, totalizando 67 comparações, avaliando o efeito da
utilização de ionóforos sobre a performance de bovinos de corte, os autores
concluíram que a utilização de lasalocida aumentou o ganho diário (+40 g/dia),
elevou a eficiência alimentar (410 g/kg), sem afetar o consumo. Neumann et al.
(2018) concluíram que o uso de monensina reduziu o consumo de matéria seca
em função do peso vivo (2,36 vs. 2,55 %) e melhorou a conversão alimentar
(8,61 vs. 10,06 kg/kg), peso vivo (511 vs. 494 kg) e espessura de gordura (4,97
vs. 4.25 mm) nos bovinos de corte que receberam monensina via dieta quando
comparado ao grupo controle.
Entretanto, as bactérias Gram-positivas tendem a desenvolver

55
resistência a ação dos ionóforos (Dawson & Boling, 1983). Concomitantemente,
A União Europeia baniu a utilização de ionóforos desde janeiro de 2006,
justificado pela detecção de resíduos de monesina na carne e no leite,
constituindo uma ameaça para o consumo humano, assim o uso de antibiótico
na produção animal é considerado pela Organização Mundial de Saúde um
risco crescente para a saúde humana (Soares, 2015). Dessa forma, as pesquisas
têm sido desenvolvidas com o intuito de proporcionar alternativas ao uso de
ionóforos, aditivos “naturais” que promovam aumento da eficiência alimentar
sem prejuízo ao desempenho e saúde, a fim de garantir maior segurança e
qualidade dos alimentos, como os probióticos e enzimas exógenas.

4. ENZIMAS EXÓGENAS
A utilização de enzimas exógenas na nutrição de ruminantes ainda
é algo relativamente recente (os primeiros relatos datam da década de 60)
(Burroughs et al., 1960; Perry et al. 1966), apesar que a adoção desta tecnologia
na nutrição animal não é algo recente, sendo utilizada na produção de aves e
suínos (Brito, 2010). Inicialmente, acreditava-se que as enzimas exógenas, ao
chegar no ambiente ruminal, seriam rapidamente desnaturadas ou digeridas,
evitando assim a possibilidade de promover qualquer tipo de ação positiva
na fermentação ruminal (Beauchemin et al., 1999). Entretanto, foi verificado
que algumas enzimas apresentavam estabilidade no líquido ruminal (Morgavi
et al., 2004) e, dessa forma, tal fato não seria um limitante para a maioria das
enzimas exógenas utilizadas na nutrição de ruminantes.
Enzimas são proteínas produzidas por um organismo vivo que
aceleram reações químicas específicas devido ao seu grau de afinidade com
o substrato (Gurung et al., 2013), e catalisam diversas reações em cadeia e
tornam as macromoléculas em precursores simples. A natureza proteica das
enzimas tem importante implicação para sua estabilidade em altas temperaturas
ou durante o transito no trato digestório. Como proteínas, elas podem ser
desnaturadas pelo calor e pH, e ainda podem ser submetidas a proteólises por
enzimas digestivas ou bacterianas. Uma característica única das enzimas é a
alta especificidade por um substrato, sendo que cada enzima degrada substratos
em sítios específicos de reação (Ravindran, 2013). As enzimas possuem origem
de um organismo vivo, podendo ser bacteriana, fúngica ou de leveduras.
As enzimas exógenas para ruminantes podem ser divididas quanto a
especificidade ao substrato: amilolíticas, fibrolíticas (celulases e hemicelulases)
e proteolíticas. Dentre elas, as enzimas fibrolíticas são as mais pesquisadas
pela comunidade científica, com o intuito de elevar a digestibilidade da fibra.
Entretanto, as enzimas amilolíticas e proteolíticas têm sido objeto de
estudo com o intuito de elevar a degradabilidade do amido no rúmen, uma vez
que a enzima amilolítica atua quebrando a estrutura do amido em partículas

56
menores (Rojo et al., 2005; Van Soest et al., 1991), e a enzima proteolítica
reduz a proteção da matriz proteica presente nos grânulos de amido sobre a
ação dos microrganismos ruminais (DePeters et al., 2007; Wang et al., 2009).
Há relatos na literatura de efeitos positivos quanto a utilização de
enzimas exógenas na dieta de ruminantes (Krause et al., 2003; Beauchemin
et al., 2004; Tricarico et al., 2008; Beauchemin & Holtshausen, 2011).
Entretanto, há inconsistência nos resultados apresentados, principalmente pelo
fato das diferentes dietas utilizadas, bem como o tipo e métodos de aplicação
da enzima, estabilidade e atividade das enzimas (Meale et al., 2014; McAllister
et al., 1999; Beauchemin et al., 1997).
A a- amilase aumenta a disponibilidade de produtos resultantes da
hidrólise do amido no rúmen, tais como os oligossacarídeos, aumentando
a degradação do amido no rúmen pelo fato de fornecer substratos mais
facilmente hidrolisáveis pelos microrganismos ruminais (Tricarico et al.,
2008). Klingerman et al. (2009), ao suplementarem vacas recebendo dieta
com base em silagem de milho com enzima amilolíticas (0,88 mL de enzima/
Kg MS; Amaize, Alltech®), observaram aumento na digestibilidade da MS
e FDN, além de melhora na eficiência na produção de leite, apesar de seu
mecanismo não ser totalmente conhecido. Por outro lado, Hristov et al.
(2008) não observaram nenhum efeito sobre a fermentação ruminal, síntese
de proteína microbiana e digestão de nutrientes em vacas leiteiras recebendo
baixas concentrações dos complexos enzimáticos contendo amilases.
Especificamente, as enzimas fibrolíticas exógenas podem ser
classificadas com base em sua atividade específica como celulase, que hidrolisam
a fibra da parede celular da planta em glicose, celobiose ou celooligossacarídeos
com atividade combinada de três enzimas: endoglucanases, exoglucanases e
glucosidase (Zhang & Lynd, 2004). A xilanase catalisa a hidrólise de ligações
β-1,4-xilosídicas em xilano que são constituintes da hemicelulose. O grupo
de enzimas com atividade xilanase inclui endo xilanases que atacam a cadeia
principal de xilano e xilosidases que hidrolisam xilooligassacarídeos em xilose
(Kamble & Jadhav, 2012). Bactérias, fungos e leveduras tem sido identificados
como adequados para produção de xilanases (Kamble & Jadhav, 2012). Os mais
importantes produtos de xilanases são: Aspergillus, Trichoderma, Streptomyces,
Phanerochaetes, Chytridiomycetes, Ruminococcus, Fibrobacteres, Clostridia
e Bacillus (Cai et al., 2004).
Comercialmente são utilizadas cepas clássicas ou geneticamente
modificadas para produzi-las, em que o fungo filamentoso Trichoderma
longibrachiatum e Aspergillus niger é um dos mais bem conhecidos sistemas
de produção industrial (Paloheimo et al., 2011).
Celulases são produzidas utilizando fungos e bactérias, com ênfase na
utilização de fungos por causa da sua capacidade de produzir quantidades de

57
enzima e por vezes o processo é menos complexo do que a extração da celulase
de origem bacteriana (Sujani & Seresinhe, 2015). Com aumento da tecnologia
em microbiologia, o isolamento e caracterização de novas celulases de origem
bacteriana estão se tornando mais populares. Com o refinamento dos estudos
os procedimentos de extração das bactérias frequentemente têm uma taxa de
crescimento maior do que os fungos, as celulases bacterianas são muitas vezes
mais complexas e estão em complexos enzimáticos que proporcionam função
e sinergia (Sujani & Seresinhe, 2015).
O uso de enzima fibrolítica exógena com intuito de aumentar a
eficiência alimentar por ruminantes tem despertado interesse da comunidade
científica. Adição de complexos enzimáticos para degradação da fibra na
dieta de ruminantes tem sido estudada desde 1960 e, pelo fato de depender de
condições favoráveis específicas para sua ação, tais como temperatura e pH
(Morgavi et al., 2000), as respostas positivas em função da suplementação com
enzimas dependem de fatores como tipo de forragem, método de aplicação
e doses, especificidade ao substrato e tipo de complexo enzimático utilizado
(Meale et al., 2014). Assim, os resultados de pesquisa com enzima fibrolítica
na alimentação de ruminantes têm se mostrado inconsistentes, com grande
variabilidade de resultados dificultando a comparação entre estudos, assim
como a validação da eficácia da enzima, sendo que a forma de ação das enzimas
sobre a degradação da fibra não é totalmente entendida.
Neste contexto, há indícios na literatura de que a utilização de
complexos enzimáticos pode funcionar melhor do que extratos de enzimas
puras (Yu et al., 2005), onde por exemplo as xilanases agem removendo a
xilose (Eun & Beauchemin, 2007), que por sua vez aumentam a acessibilidade
à celulose para as celulases (Grabber et al., 2002), melhorando assim a
liberação de glicose (Tirado-González et al., 2018).
Beauchemin et al. (1995) observaram que a resposta das enzimas
fibrolíticas na dieta de bovinos de corte foi dependente da fonte volumosa,
sendo que a aplicação de um produto enzimático a base de xilanase e celulase
resultou em aumento de 30% no GMD de novilhos de corte alimentados
com feno de alfafa, mas sem efeito quando aplicado na silagem de cevada.
Entretanto, Silva (2016) observou que a utilização de doses crescentes de
enzima fibrolítica na dieta de vacas leiteiras, da raça holandesa no terço médio
da lactação, promoveu aumento linear no consumo de matéria orgânica, fibra
em detergente neutro e matéria seca, refletindo no aumento linear de consumo
de energia líquida e no balanço de energia líquida, porém o tratamento
enzimático não afetou a produção de leite e seus componentes.
Neste sentido, a relação volumoso:concentrado também pode afetar
os resultados da suplementação com enzima fibrolítica. Tirado-González et
al. (2018) realizaram uma extensa meta-análise, com o intuito de quantificar

58
os efeitos da utilização de enzima fibrolítica exógena em dietas de ruminantes
com diferentes proporções de volumosos sobre a digestibilidade in vitro,
in situ e in vivo e o desempenho produtivo. Os autores observaram que em
dietas com baixa forragem (relação V:C <50%), a suplementação com enzima
fibrolítica para bovinos leiteiros não afetou positivamente a produção de leite
e o teor de sólidos no leite. Por outro lado, quando a enzima foi aplicada em
dietas ricas em volumoso (relação V:C >50%), houve aumento na produção de
leite (+1,96 kg/dia), proteína do leite (+99,44 g/dia), e gordura do leite (+83
g/dia). Entretanto, a enzima fibrolítica exógena afetou negativamente o CMS,
independente da relação V:C. Já para bovinos de corte, os autores relataram
aumento do GMD (+0,30 kg/dia) em animais recebendo dietas com menos de
50% de volumoso e tratados com enzima fibrolítica, além de aumento no CMS
(+0,9 kg/dia) quando a enzima foi adicionada às dietas contendo mais que 50%
de volumoso.
Souza et. al (2018) estão desenvolvendo um projeto de pesquisa
na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - FMVZ – USP, em
Pirassununga/SP, cujo objetivo consiste em avaliar o efeito da inclusão
de enzima fibrolítica (Fibrozime, Alltech®) sobre a produção de gases e
digestibilidade in vitro da MS e do FDN de volumosos através de um ensaio de
produção de gases e degradabilidade in vitro. O ensaio de cinética fermentativa
e degradação in vitro foram desenvolvidos de acordo com a metodologia
descrita por Theodorou et al. (1994), Mauricio et al. (1998) e adaptada por
Bueno et al. (2005).
Para tanto, foram utilizadas duas fontes volumosas: silagem de
milho e silagem de cana-de-açúcar de alta digestibilidade da FDN (ADFDN -
IACSP93-3046), devidamente secos em forno com ventilação forçada a 55ºC
durante 72h, e posteriormente moídos em moinho de facas Wiley (1mm). A
composição química dos volumosos utilizados no ensaio de degradabilidade e
produção de gases está descrita na Tabela 1.
Tabela 1. Composição química dos volumosos utilizados no ensaio de degradabilidade e produção de gases in
vitro.

1
Tese de Doutorado, Dados não publicados

59
¹MS = matéria seca; MM = matéria mineral; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em
detergente ácido; PB = proteína bruta.

O material moído foi transferido para bags F-57 (Ankom®). Tais bags
foram transferidos para frascos de vidro, devidamente identificados. Foram
adicionados 90 ml de meio final, composto de solução de microminerais e
macrominerais, solução-tampão, rezasurim, meio B e água destilada em cada
frasco, e em seguida foi adicionado os aditivos nos respectivos frascos.
As fontes volumosas foram submetidas as seguintes doses da enzima fibrolítica:
E0 – sem adição de enzima; E8 – 8g de enzima; E16 – 16g de enzima; E24
– 24g de enzima. O delineamento experimental foi em DIC, com arranjo
fatorial de tratamentos 4x2, com quatro níveis do fator enzima (0, 8, 16 e 24g)
e dois níveis do fator volumoso (silagem de cana e de milho), totalizando 8
tratamentos.
Seis fêmeas da raça Holandesa, fistuladas no rúmen, alimentadas
com 60% de silagem de milho e 40% de concentrado foram utilizadas
para doação de inócuos na fermentação in vitro, totalizando três repetições
por tratamento. Proporções iguais de líquido e conteúdo ruminal (sólido)
foram coletadas, e imediatamente transportadas ao laboratório, onde foram
processadas em liquidificador, previamente insuflado com CO2, e em seguida
filtrado em tecido de algodão. Tal procedimento foi repetido para cada um
dos inócuos. Posteriormente, foram adicionados 10 ml do inócuo em cada
frasco e imediatamente tampados, homogeneizados e incubados em estufa de
circulação forçada à 39ºC por 96 horas. Para efeito de análise laboratorial,
todos os tratamentos foram realizados em duplicatas.
Após o período de incubação, os frascos foram abertos e os bags
retirados para determinação da DIVMS e DIVFDN dos volumosos. Os bags
foram lavados em água corrente até total clareamento, e transferidos para estufa
de ventilação forçada, à 55ºC, e mantidos por 72 horas. Sequencialmente,
foram secos em estufa não-ventilada, à 105ºC por 45 minutos. Em seguida,
foram acondicionados em dessecador e devidamente pesados para obtenção
da MS não-digerida). Posteriormente, os sacos foram destinados à análise
de FDN, em equipamento analisador de fibra (Ankom®), à 90ºC por 1 hora,
e sequencialmente lavados com água quente e acetona, secos à 60ºC por 72
horas e posteriormente pesados, conforme metodologia anterior (Detmann et
al., 2001; Casali et al., 2008).
Os dados foram analisados em delineamento inteiramente casualizado,
com 8 tratamentos e 3 repetições (inócuos), pelo PROC MIXED do SAS versão
9.3. Os graus de liberdade e testes foram ajustados usando a opção Kenward-
Roger. A significância foi declarada a P ≤ 0,05.
Os resultados parciais de digestibilidade in vitro da MS (DIVMS)

60
e do FDN (DIVFDN) de diferentes volumosos, em função da utilização de
enzima fibrolítica, estão descritos na Tabela 2.
Tabela 2. Digestibilidade in vitro da MS e FDN das silagens de milho e cana-de-açúcar em função da utilização
de enzima fibrolítica.

¹ * A: volume final ou produção potencial de gases; b e c: constantes do modelo; L: tempo de


colonização; DIVMS: digestibilidade in vitro da MS após 96horas de incubação; DIVFDN:
digestibilidade in vitro da FDN após 96horas de incubação. ²Doses de enzima fibrolítica; ³V:efeito
volumoso; E: efeito enzima; V*E: efeito interação volumoso x enzima.

Observa-se que houve efeito da fonte volumosa, onde a silagem


de milho apresentou os maiores valores de DIVMS (61,7 vs. 49,2 ± 0,55;
P < 0,01) e DIVFDN (65,9 vs. 53,9 ± 0,39; P < 0,01) quando comparada a
silagem de cana-de-açúcar. Entretanto, não houve efeito significativo (P
> 0,70) da enzima fibrolítica sobre a DIVMS e DIVFDN, independente da
fonte volumosa. Evidentemente, tratam-se de resultados parciais e outras
variáveis do estudo, como a produção de gases potencial, metano e ácido
graxos, serão devidamente analisadas e inseridas na discussão futuramente.
Concomitantemente, o mecanismo de ação, e a especificidade do substrato,
tipo de complexo enzimático, bem como efeito dose resposta, não são
completamente compreendidos, havendo ainda necessidade de mais estudos
elucidativos.

5. PROBIÓTICOS
O uso de aditivos microbianos, assim como enzimas exógenas, vem
aumentando em resposta a demanda para uso de substâncias “naturais”, que
atuem como promotoras de crescimento melhorando a eficiência produtiva
de ruminantes, tornando-se uma alternativa aos ionóforos, já que estes foram
banidos pela União Europeia desde janeiro de 2006, devido a carga antibiótica
na carne e aumento da resistência dos microrganismos (Morais et al., 2011).
Dentre os probióticos, destacam-se as leveduras (Saccharomyces cerevisiae),
que são fungos unicelulares, especialmente do gênero Saccharomyces. A
suplementação com este probiótico em dietas de ruminantes representa uma
estratégia para maximizar a utilização de forragens de baixa qualidade e grãos,
aumentando a eficiência alimentar (Shiver-Munsch, 2011 apud Anjum, 2018).
Wallace & Newbold (1993) relatam que este aditivo apresenta efeito positivo
sobre a produção de leite e ganho de peso em uma magnitude semelhante aos
ionóforos (7 a 8% de aumento).

61
A ação da levedura no ambiente ruminal é atribuída a diferentes
fatores, que se dá através da modificação do ambiente ruminal. Tais
microrganismos auxiliam na remoção do oxigênio desnecessário no rúmen,
reduzindo o potencial redox (Chaucheyras-Durand; Fonty, 2002; Křížová
et al., 2011), contribuindo de forma positiva para as condições ruminais
e, consequentemente, para crescimento e atividade dos microrganismos
anaeróbicos, principalmente microrganismos celulolíticos (Wadhwa & Bakshi,
2013) e desta forma favorecendo a digestibilidade ruminal da MS e FDN
(Guedes et al., 2008) e estimulando o fluxo de proteína microbiana (Jouany &
Morgavi, 2007).
No ambiente ruminal, as leveduras competem com bactérias
amilolíticas produtoras de lactato (tais como S. bovis e Ruminobacter
amylophilus, pela utilização do carboidrato, reduzindo assim a porcentagem
das bactérias produtoras de lactato presentes no rúmen (Chaucheyras-Durand
et al., 2008), além de fornecer nutrientes favoráveis ao crescimento de
bactérias, fungos e protozoários, tais como aminoácidos, peptídeos e ácidos
orgânicos, que são essenciais para as bactérias consumidoras de lactato,
como por exemplo a S. ruminantium, aumentando sua população no rúmen
e, consequentemente, reduzindo a concentração de lactato (Monnerat et al.,
2013). Willians et al. (1991) observaram que novilhos suplementados com
Saccharomyces cerevisiae tiveram menores valores médios e menor pico de
concentração de L-lactato, e consequentemente maior pH do fluido ruminal.
Além de todos estes benefícios, a levedura fornece tiamina que é
necessário pelos fungos para realizar a zoosporogênese (Chaucheyras-Durand
et al., 1995), e a S. cerevisiae pode estimular os protozoários ruminais, que
engloba grânulos de amido rapidamente e estabiliza o pH ruminal (Brossard et
al., 2006, Ding et al., 2014).
Oliveira et al. (2010) observaram que a suplementação com levedura
(Saccharomyces cerevisiae cepa KA500) para vacas holandesas reduziu
a contagem de células somáticas do leite, sem efeito significativo sobre as
variáveis que descreveram a função ruminal ou a digestibilidade dos nutrientes
no trato digestivo total.
Ding et al. (2014) avaliou o efeito do fornecimento de levedura sobre
a microbiota ruminal e degradação de fibra, em novilhos recebendo dietas com
diferentes níveis de concentrado (relação volumoso:concentrado de 70:30,
50:50, 30:70 e 10:90. A quantificação de bactérias por meio da técnica de
qPCR detectou que o fornecimento de S. cerevisiae proporcionou o aumento
total de bactérias, fungos, protozoários, e bactérias utilizadoras de lactato, mas
reduziu a população de bactérias produtoras de lactato e degradação de amido.
Aumentando o nível de inclusão de concentrado, a porcentagem
para Butyriovibrio fibrosolvens, Fibrobacter succinogenes e Ruminobacter

62
amylophilus foi reduzida, enquanto para Lactobacillus aumentou. Contudo,
a inclusão de levedura resultou em aumento da população de fungos e
protozoários ruminais em comparação ao controle, além da redução em
porcentagem para R. amylophilus, e aumento para S. ruminantium.
Bakr et al. (2015) relataram redução do N-amoniacal e aumento do pH
ruminal, da concentração de ácidos graxos voláteis total e da digestibilidade
da celulose em vacas holandesas no período de transição e início de lactação,
suplementadas com levedura (Levucell SC, CNCM 1-1077). Anjum et al.
(2018) observaram que a suplementação de levedura para búfalos aumentou a
produção de leite (9,6 vs. 9.15 L/dia) e leite corrigido para gordura 4% (11,32
vs. 11,85 L/dia) em comparação ao grupo controle, sem efeitos sobre pH, CMS
e digestibilidade da MS. Entretanto, o coeficiente de digestibilidade da FDN
e FDA foram maiores quando os animais receberam a levedura, e a contagem
de células somáticas foi significativamente menor para o grupo recebendo
probiótico.
De forma geral, as respostas ao uso de levedura têm sido bastante
variáveis, em função de diferentes estratégias adotadas, como processamento,
cepa, dose suplementada e dieta, e tais discrepâncias dos resultados devem-
se principalmente pela falta de padrão das dietas ou doses, dificultando a
comparação entre os estudos. No entanto, com o aumento do conhecimento
dos mecanismos de ação das leveduras, poderá ser possível predizer em que
condições de alimentação essas serão mais benéficas para ruminantes.
Outro probiótico capaz de incrementar a eficiência produtiva de
ruminantes é o Aspergillus oryzae, que é um fungo filamentoso pertencente
ao filo Ascomycota, com capacidade de produzir uma grande gama de enzimas
em diferentes formas de cultivo (Kitano et al., 2002). Esta espécie foi isolada
pela primeira vez por H. Ahlburg em 1876, a partir do koji (Toledo Pinto,
2012), e é utilizada na cultura oriental há um milênio, na produção de comidas
fermentadas da culinária japonesa (Machida et al., 2005).
O genoma deste fungo foi completamente sequenciado por Machida
et al. (2005), e observou-se que o genoma do A. oryzae é entre 25 a 30% maior
do que outras espécies do gênero Aspergillus, como A. nidulans e A. fumigatus.
Importante ressaltar que, apesar de apresentar os genes relacionados com
a síntese de aflatoxina, não há relatos de expressão gênica desta substância
por parte deste microrganismo. A aflatoxina é uma substância carcinogênica
produzida pelo gênero Aspergillus, principalmente pela espécie Aspergillus
flavus, e o fato da espécie A. oryzae não produzir tal toxina pode ser explicado
pela seleção de linhagens não-tóxicas para utilização na culinária oriental.
A utilização de A. oryzae na alimentação de ruminantes tem gerado
muito interesse, entretanto seu modo de ação ainda não está completamente
elucidado. Sabe-se que o efeito deste gênero de fungo deve-se em parte à

63
presença de enzimas nos extratos fermentativos, como celulase e xilanase, que
consequentemente podem afetar a degradação da parede celular (Newbold et al.
1992). Concomitantemente, há indícios de que os benefícios da suplementação
com A. oryzae pode ocorrer de forma indireta, pelo fato de facilitar a aderência
de bactérias celulolíticas à fibra, através de atração quimiostática em resposta
à liberação de compostos, tais como açúcares solúveis, ou por alteração da
própria superfície da fibra, devido à ação física sobre a mesma, promovendo
assim melhoras na degradação da fibra (Newbold et al., 1992; Newbold, 1997;
Sosa et al., 2011). Além disso, é possível que tal microrganismo aumente a taxa
ou extensão de degradação da fibra por meio de estimulo aos microrganismos
celulolíticos, tais como os fungos ruminais, como o Neocallimastix frontalis
(Chang et al., 1999; Wiedmeier et al., 1987, SUN et al., 2014). O fungo A.
oryzae produz maltodextrinas que servem de substrato para bactérias como
Butyrivibrio fibrosolvens, Selenomonas ruminantium e Megasphaera elsdenii,
indicando que a suplementação com este fungo pode atuar estabilizando o pH
ruminal (Beharka & Nagaraja, 1998; Tricarico et al., 2008).
Toledo Pinto (2012) identificou 47 proteínas distintas do secretoma
de A. oryzae quando crescido em estado sólido de bagaço de cana, sendo
que 19 são pertencentes à família das glicosil hidrolases, que por sua vez
estão relacionadas com a degradação de biomassa lignocelulósica, ao passo
que o grupo enzimático mais abundante nas identificações é o relacionado à
degradação de celulose, como as beta-glicosidases.
Almeida et al. (2012) avaliaram 49 isolados do trato digestório de
bovinos leiteiros, alimentados com forragem tropical, sendo 27 Aspergillus
spp., quatro Gliocladium spp., seis Paecilomyces spp., nove Rhizophus spp.
e três Scedos-porium, e observaram que o gênero Aspergillus apresentou
maior média de índice de atividade celulolítica quando comparado ao gênero
Rhizophus. A utilização na dieta de ruminantes têm apresentado resultados
satisfatórios quanto ao desempenho e produtividade animal, promovendo
aumento de consumo (Van Horn et al., 1984; Gomez-Alarcon et al., 1991;
Caton et al., 1993; Latif et al., 2014) e aumento no ganho de peso (Tricarico et
al., 2007) e produção de leite (Huber et al., 1985; Kellems et al., 1987; Denigan
et al., 1992).
Meta-análise de dados realizada por Williams & Newbold (1990)
reporta que a suplementação de A. oryzae teve efeito variável na produção de
leite (-9% a +12%), em função de diferentes demandas nutricionais dos animais
e proporções de concentrado na dieta utilizados, com valores médios em torno
de 5%. Concomitantemente, as respostas em função da suplementação com
A. oryzae parecem ser maiores no início da lactação (Kellems et al., 1987;
Denigan et al., 1992). Huber et al. (1985) reportaram aumento na produção
de leite quando a suplementação com este fungo esteve associada a uma dieta

64
com maior proporção de concentrado.
Caton et al. (1993), em estudo sobre o efeito da suplementação com
extratos do fungo Aspergillus orizae em novilhos pastejando gramínea de
clima temperado (Bromus inermis), relataram aumento na eficiência de síntese
microbiana e no fluxo de N microbiano para o duodeno com a suplementação.
Gomez-Alarcon et al. (1991) relataram aumento da digestibilidade do trato
total e ruminal das frações fibrosas ao suplementar vacas holandesas com 3g/
dia de A. oryzae, além de aumentar a taxa de fermentação ruminal da alfafa.
Entretanto, Chiquette (1995) descreve que a adição de A. oryzae na dieta de
novilhos de corte não afetou a IMS ou a digestibilidade ruminal e do trato total.

6. OUTROS ADITIVOS
A necessidade de atender à crescente demanda por proteína animal, os
produtores e exportadores de carne bovina tem buscado alternativas de aditivos
“naturais” que substitua os ionóforos, priorizando a segurança alimentar.
Como alternativa aos ionóforos, assim como probióticos e enzimas exógenas,
os óleos essenciais são aditivos zootécnicos utilizados como melhoradores
de desempenho animal, apresentando diversos princípios ativos. O s
compostos secundários dos vegetais possuem atividades antimicrobianas sobre
a fermentação ruminal, e podem reduzir a produção de metano causada pela
fermentação. Contudo, os efeitos destes compostos dependem do tipo de dieta
fornecida ao animal, sistemas de produção e pH ruminal (Araújo, 2010).
Os óleos essenciais podem alterar a ação da degradação proteica
do rúmen através da redução da atividade microbiana, fungos anaeróbios e
metanogênese, além de afetar o padrão de colonização bacteriana dos substratos
(Caetano & Caetano Júnior, 2017). Devido sua propriedade hidrofóbica, estes
compostos interagem com lipídios da membrana celular e das mitocôndrias
da parede celular, esta interação do composto/membrana torna a membrana
mais fluída e permeável permitindo o extravasamento de íons e conteúdos
citoplasmáticos. A perda do conteúdo citoplasmático juntamente com o gasto
energético para acionar as bombas iônicas, levam a redução da população
microbiana em questão (Araújo, 2010).
De acordo com Souza et al. (2014), bovinos nelores suplementados
com mineral e 2,43 g/animal/dia de óleos essenciais de caju e mamona durante
o período seco do ano, mantidos em pastagem de Brachiaria brizantha,
apresentaram ganho em peso médio ao final do período experimental. O
ganho de peso foi de 6,53kg para o grupo testemunha e 17,36kg para o grupo
tratamento, e um ganho de peso médio diário (GPMD) de 0,109 kg/animal/dia
e 0,289 kg/animal/dia, respectivamente. Este trabalho mostrou que a utilização
de óleo essencial na dieta de bovinos mostra resultados semelhantes ao uso de
ionóforos como moduladores da fermentação ruminal.

65
Além dos óleos essenciais, têm-se o própolis como aditivos para
ruminantes. O extrato de própolis é um produto natural com ação semelhante
aos ionóforos, possui atividade antibacteriana contra bactérias gram-positivas,
podendo estar relacionado com os compostos flavonóides presentes em sua
composição química. A atividade antimicrobiana da própolis decorre da
inibição das bactérias gram-positivas produtoras de acetato, acarretando
redução na relação acetato: propionato no rúmen, gerando uma diminuição
na produção de metano. Assim como os ionóforos utilizados na alimentação
de ruminantes, a própolis também altera a permeabilidade da membrana
bacteriana, permitindo o fluxo de íons (Silva et al., 2016).
O extrato de própolis pode agir inibindo a produção de gases
oriundos da fermentação ruminal, principalmente metano, tornando o processo
fermentativo mais eficiente, já que esta produção de metano realizada pelas
bactérias ruminais pode gerar uma perda energética de 13% do alimento
ingerido. Uma alternativa para reduzir a produção de metano, é aumentar a
produção de ácido propiônico. Esta relação inversa entre o metano e o ácido
propiônico baseia-se direcionar os hidrogênios e carbonos, excedentes da
produção de acetato, para a produção de propianato (Stradiotti Jr et al, 2004).
De acordo com o trabalho realizado por Stradiotti et al. (2004), o nível
de 66,7% de extrato de própolis inibiu a produção de gases proveniente da
fermentação de diferentes alimentos, este nível revelou ser eficiente na redução
da produção final de gases para carboidratos fibrosos e não fibrosos. Verificou
ainda, que o consumo de matéria seca, pH, amônia ruminal e a concentração
de proteína microbiana no rúmen de bovinos alimentados com volumoso não
sofreram alteração. Contudo, o uso da própolis podem influenciar a natureza da
flora ruminal, modificando a composição de suas bactérias, sendo necessário
mais pesquisas para determinar seu uso na alimentação de ruminantes.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de aditivos na alimentação de bovinos consiste em uma prática
viável, proporcionando melhora na eficiência produtiva. Para a grande variedade
de aditivos disponíveis, sua utilização se torna interessante a medida que
apresenta melhoras na eficiência alimentar e melhoria em índices zootécnicos.
A adoção de determinado aditivo vai depender de vários fatores, como relação
volumoso:concetrado, tipo de processamento de grão e fonte volumosa, dentre
outros, sendo que essas condições influenciam significativamente o resultado
final das respostas. Entretanto, há uma grande variedade de resultados quanto
à utilização de probióticos, como leveduras, e enzimas exógenas, havendo
necessidades de maiores pesquisas quanto mecanismo de ação para melhor
entendimento e utilização. Apesar disto, a utilização de probióticos em
substituição a outros aditivos é uma tendência para o futuro, uma vez que, por

66
serem produtos “naturais”, não deixam resíduos ou provocam resistência, além
de vir ao encontro às novas exigências do mercado externo.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, P.N.M.; FREITAS, C.E.S.; ABRÃO, F.O.; RIBEIRO, I.C.O.; VIEIRA, E.A.; GERASEEV,
L.C.; DUARTE, E.R. Atividade celulolítica de fungos aeróbios isolados do rúmen de bovinos leiteiros
alimentados com forragens tropicais. Revista Caatinga, Mossoró, v.27, n.4, p.202 –207, 2014

ANJUM, M.I.; JAVAID, S.; ANSAR, M.S.; GHAFFAR, A. Effects of yeast (Saccharomyces cerevisiae)
supplementation on intake, digestibility, rumen fermentation and milk yield in Nili-Ravi buffaloes.
Iranian Journal of Veterinary Research, v. 19, n. 2, p. 96-100, 2018.

ARAUJO, R.C. Óleos essenciais de plantas brasileiras como manipuladores da fermentação ruminal
in vitro. Diss. Universidade de São Paulo, 2010. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/11/11139/tde-17032011-165221/en.php>

BAKR, H.A.; HASSAN, M.S.; GIADINIS, N.D.; PANOUSIS, N.; OSTOJIĆ ANDRIĆ, D.; ABD
EL-TAWAB, M.M.; BOJKOVSKI, J. Effect of Saccharomyces cerevisiae supplementation on health
and performance of dairy cows during transition and early lactation period. Biotechnology in Animal
Husbandry, v.31, n.3, p 349-364 , 2015.

BARBOSA, F.A; FARIA, G.A; VILELA, H. Leveduras vivas na alimentação de bovinos. Bioscience
Journal, v.20, n.1, p.143-150. 2004.

BEAUCHEMIN K.A.; COLOMBATTO D.; MORGAVI D.P. A rationale for the development of feed
enzyme products for ruminants. Canadian Journal of Animal Science. v.84, p.23–36. 2004.

BEAUCHEMIN, K.A.; JONES, S. D. M.; RODE, L.M.; SEWALT, V. J. H. Effects of fibrolytic enzyme
in corn or barley diets on performance and carcass characteristics of feedlot cattle. Canadian Journal of
Animal Science. v.77, p.645-653. 1997.

BEAUCHEMIN, K.A.; HOLTSHAUSEN L. Developments in enzyme usage in ruminants. Pages


206–230 in Enzymes in Farm Animal Nutrition. M. R. Bedford and G. G. Partridge, ed. CABI Publ.,
Wallingford, UK. 2011.

BEAUCHEMIN, K.A.; RODE, L.M.; KARREN, D.; CANADA, A.; BOX, P. O. Use of feed enzymes in
feedlot finishing diets. n. October 1996, 1999.

BEAUCHEMIN, K. A.; RODE, L.M.; SEWALT, V.J.H. Fibrolytic enzymes increase fiber digestibility
and growth rate of steers fed dry forages. Canadian Journal of Animal Science,v.75, p.641–644, 1995.

BEAUCHEMIN, K.A.; COLOMBATTO, D.; MORGAVI, D.P.; YANG., W Z. Use of exogenous


fibrolytic enzymes to improve feed utilization by ruminants. Journal of Animal Science.v.81: p.37-47.
2003.

BEHARKA, A.A., NAGARAJA, T.G. Effect of Aspergillus oryzae extract alone or in combination with
antimicrobial compounds on ruminal bacteria. Journal of Dairy Science. v.81, p.1591-1598. 1998.

BRITO, F.O. Níveis de complexo enzimático em dietas para ruminantes. 2010. 82 f. Dissertação
(Mestrado em Zootecnia) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São
Paulo, Pirassununga, 2010.
BROSSARD, L.; CHAUCHEYRAS-DURAND, F.; MICHALET-DOREAUAND, B.; MARTIN, C.

67
Dose effect of live yeasts on rumen microbial communities and fermentations during butyric latent
acidosis in sheep: new type of interaction. Animal Science, v. 82, n. 6, p. 829–836, 2006.

BUENO, I.C.S. et al. Influence of inoculums source in a gas production method. Animal Feed Science
and Technology, v.123-124, p.95-105, 2005.
BURROUGHS, W.; WOODS, W.; EWING, S. A.; GREIG, J.; THEURER, A. B. Enzyme additions to
fattening cattle rations. Journal of Animal Science. v.19, p.458-464. 1960.

CAETANO, G.A.O.; CAETANO JÚNIOR, M.B.C. O estado da arte da nutrição de ruminantes. Pubvet,
2016. Disponível em: < http://www.pubvet.com.br/artigo/3746/o-estado-da-arte-da-nutriccedilatildeo-
de-ruminantes>

CAI, Q.; YUE, X.; NIU, T.; JI C.; MA, Q. The screening of culture condition and properties of xylanase
by white-rot fungus Pleurotus ostreatus. Process Biochemistry, v.39, p.1561-1566, 2004.

CASALI, A.O.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; PEREIRA, J. C.; HENRIQUES, L. T.;
FREITAS, S. G. de; PAULINO, M. F. Influência do tempo de incubação e do tamanho de partículas sobre
os teores de compostos indigestíveis em alimentos e fezes bovinas obtidos por procedimentos in situ.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p. 335-342, 2008.

CATON, J.S.; ERICKSON, D.O.; CAREY, D.A. et al. Influence of Aspergillus oryzae fermentation
extract on forage intake, site of digestion, in situ degradability and duodenal amino acid flow in steers
grazing cool-season pasture. Journal of Animal Science, v.71, p.779-787, 1993.

CHANG, J.S.; HARPER, E.M.; CALZA, R.E. Fermentation extract effects on the morphology
andmetabolism of the rumen fungus Neocallimastix frontalis EB188. Journal of Applied Microbiology,
v.86, p.389–398, 1999.

CHAUCHEYRAS-DURAND, F., WALKER, N.D.; BACH, A. Effects of active dry yeasts on the rumen
microbial ecosystem: past, present and future. Animal Feed Science and Technology. v.145, p.5-26, 2008.

CHAUCHEYRAS-DURAND, F.; FONTY, G. Influence of a probiotic yeast (Saccharomyces cerevisiae


CNCM I-1077) on microbial colonization and fermentation in the rumen of newborn lambs. Microbial
Ecology in Health and Disease, v.14, n. 1, p.30–36, 2002.

CHAUCHEYRAS-DURAND, F.; FONTY, G.; BERTIN, G.; GOUET, P. Effects of live Saccharomyces
cerevisiae cells on zoospore germination, growth, and cellulolytic activity of the rumen anaerobic fungus,
Neocallimastix frontalis MCH3. Current Microbiology, v. 31, p. 201–205, 1995.

CHIQUETTE, J. Saccharomyces cerevisiae and Aspergillus oryzae, used alone or in combination, as a


feed supplement for beef and dairy cattle. Canadian Journal of Animal Science v.75, p.405-415, 1995.

DENIGAN, M.E.; HUBER, J.T.; ALHADHRAMI, G.; AL-DEHNEH, A. Influence of feeding varying
levels of Amaferm® on performance of lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v.75, p.1616 –
1621, 1992.

DePETERS, E. J.; GETACHEW, G.; FADEL, J. G. Influence of corn hybrid, protease and methods of
processing on in vitro gas production. Animal Feed Science and Technology, v.135, n.1-2, p.157-175,
2007.

DETMANN, E.; PAULINO, M.F.; ZERVOUDAKIS, J.T. et al. Cromo e indicadores internos na
determinação do consumo de novilhos mestiços, suplementados, a pasto. Revista Brasileira de Zootecnia,
v.30, p.1600-1609, 2001.

68
DING, G.; CHANG, Y.; ZHAO, L.; ZHOU, Z.; REN, L.; MENG, Q. Effect of Saccharomyces cerevisiae
on alfalfa nutrient degradation characteristics and rumen microbial populations of steers fed diets with
different concentrate-to-forage ratios. Journal of Animal Science and Biotechnology, v. 5, p. 24, 2014.

EUN J.S.; BEAUCHEMIN K.A.; SCHULZE H. Use of an in vitro fermentation bioassay to evaluate
improvements in degradation of alfalfa hay due to exogenous feed enzymes. Animal Feed Scienc
Technology. v.135, p.315–328; 2007.

FERNANDO, S. C.; PURVIS II,H.T.; NAJAR, F.Z.; SUKHARNIKOV, L. O.; KREHBIEL, C.R.;
NAGARAJA, T.G.; ROE, B.A.; DESILVA, U. Rumen Microbial Population Dynamics during
Adaptation to a High-Grain Diet. Applied and Environmental Microbiology, Oklahoma, v. 76, n. 22, p.
7482-7490, 2010.

GOLDER. H.M.; LEAN, I.J. A meta-analysis of lasalocid effects on rumen measures, beef and dairy
performance, and carcass traits in cattle. Journal of Animal Science, v.94, p. 306 – 326, 2016.

GOMEZ-ALARCON, R.A., HUBER, J.T., HIGGINBOTHAM, G.E., WIERSMA, F., AMMON, D.;
TAYLOR, B. Influence of feeding Aspergillus oryzae fermentation extract on the milk yields, eating
patterns, and body temperatures of lactating cows. Journal of Animal Science, v.69, p.1733-1740. 1991.

GONZÁLEZ, L.A.; MANTECA, X.; CALSAMIGLIA, S.; SCHWARTZKOPF-GENSWEIN, K. S.;


FERRET, A. Ruminal acidosis in feedlot cattle: Interplay between feed ingredients, rumen function and
feeding behavior (a review). Animal Feed Science and Technology, v. 172, p. 66-79, 2012.

GRABBER J.H.; RALPH J.; HATFIELD R.D. Model studies of ferulate-coniferyl alcohol cross-product
formation in primary maize walls: implications for lignification in grasses. Journal of Agricultural and
Food Chemistry. v.50, p.6008–6016, 2002.

GUAN, H.; WITTENBERG, K.M.; OMINSKI, K.H.; KRAUSE, D.O. Efficacy of ionophores in cattle
diets for mitigation of enteric methane. Journal of Animal Science. v.84, p.1896-1906, 2006.

GUEDES, C.M.; GONGALVES, D.; RODRIGUES, M.A.M.; DIAS-DA-SILVA, A. Effects of a


Saccharomyces cerevisiae yeast on ruminal fermentation and fiber degradation of maize silages in cows.
Animal Feed Science and Technology, v. 145, n. 1–4, p.27–40, 2008

GURUNG, N.; RAY, S.; BOSE, S.; RAI, V.A broader view: Microbial enzymes and their relevance in
industries medicine, and beyond. BioMed Research International, v. 2013, 18 p., 2013.

HERNANDEZ-SANABRIA, E.; GOONEWARDENE, L. A.; WANG, Z.; DURUNNA, O. N.; MOORE,


S. S.; GUAN, L. L. Impact of Feed Efficiency and Diet on Adaptive Variations in the Bacterial
Community in the Rumen Fluid of Cattle. Applied and Environmental Microbiology, Canada, v. 78, n.
4, p. 1203-1214, 2012.

HRISTOV, A.N.; BASEL, C.E.; MELGAR, A.; FOLEY, A.E.; ROPP, J.K.; HUNT, C.W.; TRICARICO,
J. M. Effect of exogenous polysaccharidedegrading enzyme preparations on ruminal fermentation and
digestibility of nutrients in dairy cows. Animal Feed Science and Technology. n. 145, p. 182 – 193, 2008.

HUBER, J.T., HIGGINBOTHAM, G.E.; Ware, D. Influence of feeding vitaferm, containing an enzyme-
producing culture from Aspergillus oryzae, on performance of lactating cows. Journal of Dairy Science,
v.68, p.30. (Suppl. 1) 1985.

JOUANY, J.P.; MORGAVI, D.P. Use of ‘natural’products as alternatives to antibiotic feed additives in
ruminant production. Animal. 1: 1443-1466, 2007.

69
KAMBLE, R.D.; JADHAV, A.R. Isolation, identification and screening of potential cellulase-free
xylanase producing fungi and its production. African Journal of Biotechnology, v. 11, p. 14175-
14181, 2012.

KAMBLE, R.D.; JADHAV, A.R. Isolation, identification and screening of potential cellulase-free
xylanase producing fungi and its production. African Journal of Biotechnology, v. 11, p. 14175-14181,
2012.

KAMRA, D. N. Rumen microbial ecosystem. Current Science, v. 89, n. 1, p. 124-134, 2005.


KELLEMS, R.O.; JOHNSTON, N.P.; WALLENTINE, M.V.; LAGERSTEDT, A.; ANDRUS, D.;
JONES; R.; HUBER. J. T.; Effect of feeding Aspergillus oryzae on performance of cows during early
lactation. Journal of Dairy Science. v.70 (Suppl.1), p. 219 (Abstr.), 1987.

KITANO, H., KATAOKA, K., FURUKAWA, K., HARA, S. Specific expression and temperature-
dependent expression of the acid-protease-encoding gene (pepA) in Aspergillus oryzae in solid-state
culture (rice-koji). Journal of Bioscience and Bioengineering, v.93, p. 565-567, 2002.

KLINGERMAN, C. M.; HU, W.; McDONELL, E. E.; DERBROSIAN, M. C.; KUNG JUNIOR, L. An
evaluation of exogenous enzyme with amylolytic activity for dairy cows. Journal Dairy Science, v. 92,
n. 3, p. 1050-1059, 2009.
KRAUSE DO, DENMAN SE, MACKIE RI, MORRISON M, RAE AL, ATTWOOD GT, MCSWEENEY
CS. Opportunities to improve fiber degradation in the rumen: microbiology, ecology, and genomics.
FEMS Microbiology Rev. v.27, p.663–693. 2003.

KŘÍŽOVÁ, L.; RICHTER, M.; TŘINÁCTÝ, J.; ŘÍHA, J.; KUMPRECHTOVÁ, D. The effect of feeding
live yeast cultures on ruminal pH and redox potential in dry cows as continuously measured by a new
wireless device. Czech Journal of Dairy Science, v. 56, n. 1, p. 37–45, 2011.

LATIF, M. R.; ZAHRAN, S. M.; AHMED, M. H.; ZEWEIL, H. S.; SALLAM, S. M. A. Effect of Feeding
Saccharomyces cerevisiae and/or Aspergillus oryzae on Nutrient Utilization and Rumen Fermentation
Characteristics of Sheep. Alex. Journal of agricultural research, v.59, n.2, p.121‐127, 2014.

LI, M.; PENNER, G. B.; HERNANDEZ-SANABRIA, E.; OBA, M.; GUAN, L. L. Effects of sampling
location and time, and host animal on assessment of bacterial diversity and fermentation parameters in
the bovine rumen. Journal of Applied.

MACHIDA, M., ASAI, K., SANO, M., TANAKA, T., KUMAGAI, T., TERAI, G., et al. Genome
sequencing and analysis of Aspergillus oryzae. Nature, v.438, p. 1157-1161, 2005.

MANDEBVU, P.; WEST, J.W.; FROETSCHEL, M.A.; HATFIELD, R.D.; GATES, R.N.; HILL.
G.M. Effect of enzyme or microbial treatments of bermudagrass forages before ensiling on cell wall
composition, end products of silage fermentation and in situ digestion kinetics. Animal Feed Science
Technology, v.77, p.317-329, 1999.

MAURICIO, R.M. et al. Uso de líquido ruminal e fezes como fonte de inóculo para técnica in vitro de
produção de gases. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35.,
1998. Botucatu, Anais... Botucatu-SP: SBZ, p. 314-316, 1998.

MCALLISTER, T.A.; OOSTING, S.J.; POPP, J.D.; MIR, Z.; YANKE, L.J.; HRISTOV, A.N.;
TREACHER R.J.; CHENG. K.J. Effect of exogenous enzymes on digestibility of barley silage and
growth performance of feedlot cattle. Canadian Journal of Animal Science, v.79, p.353-360. 1999.

MCSWEENEY, C.S.; MACKIE, R.I.; WHITE, B.A. Transport and intracellular metabolism of major

70
feed compounds by ruminal bacteria: the potential for metabolic manipulation. Australian Journal of
Agricultural Research, n.45, p.731–756, 1994.

MEALE, S.J.; BEAUCHEMIN, K.A.; HRISTOV, A.N.; CHAVES, A.V.; MCALLISTER, T.A. Board-
invited review: Opportunities and challenges in using exogenous enzymes to improve ruminant
production. Journal of Animal Science, v.92, p.427–442, 2014.

MONNERAT, J.P.; PAULINO, P.V.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; VALADARES, R.D.;
DUARTE, M.S. Effects of Saccharomyces cerevisiae and monensin on digestion, ruminal parameters,
and balance of nitrogenous compounds of beef cattle fed diets with different starch concentrations.
Tropical Animal Health and Production, v.45, n.5, p.1251–1257, 2013.

MORAIS, J.A.S.; BERCHIELLI, T.T.; REIS, R.A. Aditivos. In: BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.;
OLIVEIRA, S. G. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal, 2ª Ed. p. 565-599, 2011.

MORGAVI, D.P.; BEAUCHEMIN, K.A.; NSEREKO, V.L.; RODE, L.M.; MCALLISTER, T.A.;
WANG, Y. Trichoderma enzymes promote Fibrobacter succinogenes S85 adhesion to, and degradation
of, complex substrates but not pure cellulose. Journal of the Science of Food and Agriculture, v.84, n.10,
p.1083–1090, 2004.

MORGAVI, D.P.; BEAUCHEMIN, K.A.; NSEREKO, V.L.; RODE, L.M.; IWAASA, A.D.; YANG,
W.Z.; MCALLISTER, T.A.; WANG, Y. Synergy between ruminal fibrolytic enzymes and enzymes from
Trichoderma longibrachiatum. Journal of Dairy Science, v.83, p.1310-1321, 2000.

NAGARAJA, T.G.; NEWBOLD, C.J.; Van NEVEL, C.J. et al. Manipulation of ruminal fermentation.
In: HOBSON, P.N.; STEWART, C.S. (Eds.). The rumen microbial ecosystem. 2.ed. London: Blackie
Academic & Professional. 1997. 523-632p.

NEUMANN, M.; KYOSHI, U. R.; HEKER, J.C.J.; ASKEL, J. E.; SOUZA, M. A.; VIGNE G. L. D.;
POCZYNEK, M.; COELHO, M. G.; ETO, A. K. Growth performance and safety of meat from cattle
feedlot finished with monensin in the ration. Ciências Agrárias, Londrina, v.39, n.2, p.697-710, 2018.

NEWBOLD, C.; FRUMHOLTZ, P.; WALLACE, R. Influence of Aspergillus oryzae fermentation extract
on rumen fermentation and blood constituents in sheep given diets of grass hay and barley. The Journal
of Agricultural Science, v.119, n.3, p.423-427. 1992.

NEWBOLD, J. Proposed mechanisms for enzymes as modifiers of ruminal fermentation. In: Florida
Ruminant Nutrition Symposium, 1997, Gainesville. Proceedings... University of Florida, Gainesville,
January, 16-17, 1997.

OLIVEIRA, B.M.L.; BITENCOURT, L.L.; SILVA, J.R.M.; DIAS JÚNIOR, G.S.; BRANCO, I.C.C.;
PEREIRA, R.A.N.; PEREIRA, M.N. Suplementação de vacas leiteiras com Saccharomyces cerevisiae
cepa KA500. Arquivo brasileiro de medicina veterinária e zootecnia, v.62, n.5, p.1174-1182, 2010.

OLIVEIRA, J.S.; ZANINE, A.M.; SANTOS, E.M. Uso de aditivos na nutrição de ruminantes. Revista
Electrónica de Veterinária (REDVET), 2005.

PALOHEIMO, M.; PIIRONEN, J.; VEHMAANPERӒ. Xylanases and cellulases as feed additives. In:
BEDFORD, M. R.; PARTRIDGE, G. G. (Ed.). Enzymes in farm animal nutrition. 2nd ed. London, UK,
CAB International. 2011. 12-53p.

PERRY, T.W., PURKHISER, E.D., BEESON, W.M. Efficiency of cattle digestibility of energy and
nutrients and on growth and feed effects of supplemental enzymes on nitrogen balance. Journal of
Animal Science, v.25, p.760–764. 1966.

71
RAVINDRAN, V. Feed enzymes: the science, practice, and metabolic realities. Journal of Applied
Poultry Research, v.22, p.628-636, 2013.

ROJO, R.; MENDOZA, G.D.; GONZÁLEZ, S.S. et al. Effects of exogenous amylases from Bacillus
licheniformis and Aspergillus niger on ruminal starch digestion and lamb performance. Animal Feed
Science and Technology, v.123-124, p.655-665, 2005.

RUSSELL, J.B.; STROBEL, H.J. Mini-review: the effect of ionophores on ruminal fermentation.
Applied and Environmental Microbiology, v.55, n.1, p.1-6, 1989.

SHRIVER-MUNSCH, CM Effect of feeding various dosages of Saccharomyces cerevisiae fermentation


product on health, reproduction and costs in multiparous dairy cows. MVSc Thesis. Oregon State
University, USA. P: 17. 2011.

SILVA, S.C.C. et al. Efeito do uso de própolis sobre a presença de bactérias gram-positivas e negativas
no liquido ruminal de bovinos. Acta Tecnológica v.11, 2017. Disponível em: < http://portaldeperiodicos.
ifma.edu.br/index.php/actatecnologica/article/view/192>

SILVA, T. H. Enzima fibrolítica exógena na alimentação de vacas em lactação. 2016. 121 f. Dissertação
(Mestre em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo,
Pirassununga, 2016.

SOARES, M. S.; SILVA, L. G.; FRAZÃO, O. S.; SILVA, A. L. N. Aditivos alimentares na nutrição de
ruminantes. Revista Eletrônica Nutritime – Artigo 314, v.12, n.04, p. 4162- 4174, 2015.

SOSA, A.; GALINDO, J.; TEJIDO, M.L.; DÍAZ, A.; MARTÍNEZ, M.E.; SARO, C.; CARRO,
M.D.; RANILLA, M.J. Effects of Aspergillus oryzae on in vitro ruminal fermentation. Options
Méditerranéennes, (Série A), n.99, 2011.

SOUZA, L.R. et al. Desempenho de bovinos Nelore suplementados com óleos essenciais de caju e
mamona, mantidos em pastagens de Brachiária brizantha. Pubvet: Londrina, v.8., 2014.

STRADIOTTI JR, D. et al. Ação do extrato de própolis sobre a fermentação in vitro de deferentes
alimentos pela técnica de produção de gases. Revista brasileira de zootecnia, 2004.

SUJANI, S.; SERESINHE, R. T. Exogenous enzymes in ruminant nutrition: A review. Asian Journal of
Animal Sciences, v.9, p.85-99, 2015.

SUN, H.; WU, Y.M.; WANG, Y.M.; LIU, J.X.; MYUNG, K.H. Effects of Aspergillus oryzae culture
and 2-hydroxy-4-(methylthio)-butanoic acid on in vitro rumen fermentation and microbial populations
between different roughage sources. Asian-Australasian Journal of Animal Sciences. v.27, n.9, p.1285-
1292, 2014.

THEODOROU, M.K. et al. A simple gas production method using a pressure transducter to determine
the fermentation kinects of ruminants feeds. Animal Feed Science and Technology, v.48, p.185-197,
1994.

TIRADO-GONZÁLEZA, D.N.; MIRANDA-ROMERO, L.A.; RUÍZ-FLORES, A.; MEDINA-


CUÉLLAR, S.E.; RAMÍREZ-VALVERDE, R.; TIRADO-ESTRADA, G. Meta-analysis: effects of
exogenous fibrolytic enzymes in ruminant diets. Journal of Applied Animal Research, v.46, n.1, p.771-
783, 2018.

TOLEDO PINTO, A.C.R. Caracterização do secretoma de Aspergillus oryzae crescido em estado


sólido de bagaço de cana. 2012. Dissertação (Mestrado em Biologia Molecular) – Instituto de Ciências

72
Biológicas, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2012.

TRICARICO, J. M.; JOHNSTON, J. D.; DAWSON, K. ª Dietary supplementation of ruminant diets with
an Aspergillus oryzae-amylase. Animal Feed Science and Technology, v.145, p.136-150, 2008.

TRICARICO, J.M.; ABNEY, M.D.; GALYEAN, M.L.; RIVERA, J.D.; HANSON, K.C.; MCLEOD,
K.R.; HARMON, D.L. Effects of a dietary Aspergillus oryzae extract containing alpha-amylase activity
on performance and carcass characteristics of finishing beef cattle. Journal of Animal Science, v.85,
n.802–811, 2007.

VAN HORN, H.H.; HARRIS JR., B.; TAYLOR, M.J.; BACHMAN, K.C.; WILCOX, C. J. By-product
feeds for lactating dairy cows: effects of cottonseed hulls, sunflower hulls, corrugated paper, peanut
hulls, sugarcane bagasse, and whole cottonseed with additives of fat, sodium bicarbonate, and aspergillus
oryzae product on milk production. Journal of Dairy Science, v.67, n.12, p.2922-2938. 1984.

VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J.B.; LEWIS, B.A. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber,
and non-starch polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy Science, v.74, n.10,
p.3583-3597, 1991.

WADHWA, M; BAKHSHI, MPS (2013). Utilization of fruit and vegetable wastes as livestock feed and
as substrate for generation of other value-added products. FAO. Rome. http://fao.org/docrep/018/i3273e/
i3273e.pdf.

WALLACE RJ, NEWBOLD CJ. Rumen Fermentation and its manipulation: The development of yeast
cultures as feed additives. In : Biotechnology in the Feed Industry (Lyons TP, ed) Alltech Technical
Publications, Kentucky, 173-192. 1993.

WALLACE, R.J. Ruminal microbiology, biotechnology and ruminant nutrition: progress and problems.
Journal of Animal Science, v. 72, p.2992–3003, 1994.

WANG, P.; JOHNSTON, D.B.; RAUSCH, K.D. et al. Effects of protease and urea on a granular starch
hydrolyzing process for corn ethanol production. Cereal Chemistry, v.86, n.3, p.319-322, 2009.

WIEDMEIER, R.D.; ARAMBEL, M.J.; WALTERS, J.L. Effect of yeast culture and Aspergillus oryzae
fermentation extract on ruminal characteristics and nutrient digestibility. Journal of Dairy Science, v.70,
p.2063–2068, 1987.

WILLIAMS, P.E.V.; NEWBOLD, C.J. Rumen probiosis: the effects of novel microorganisms on rumen
fermentation and ruminant productivity. In Recent advances in animal nutrition (ed. Haresign, W. and
Cole, D. J. A.). Butterworths, London. 1990. 211p.

WILLIAMS, P.E.V.; TAIT, C.A.G.; INNES, G.M. et al. Effects of the inclusion of yeast culture
(Saccharomyces cerevisiae plus growth medium) in the diet of dairy cows on milk yield and forage
degradation and fermentation patterns in the rumen of steers. Journal of Animal Science, v.69, p.3016-
3026, 1991.

YU P, MCKINNON J, CHRISTENSEN DA. Improving the nutritional value of oat hulls for ruminant
animals with pretreatment of a multienzyme cocktail: in vitro studies. Journal of Animal Science. v.83,
p.1133–1141. 2005.

ZHANG, Y.H.P.; LYND L.R. Toward an aggregated understanding of enzymatic hydrolysis of cellulose:
Noncomplexed cellulase systems. Biotechnology Bioengeneering., v. 88, p. 797-824, 2004.

73
CAPÍTULO IV

ALIMENTOS NÃO CONVENCIONAIS PARA CÃES E GATOS

Henrique Tobaro Macedo1, Vivian Pedrinelli1, Mariana Fragoso Rentas1,


Larissa Risolia1, Rafael Zafalon1, Mariana Perini1, Roberta Rodrigues1,
Marcio Antonio Brunetto1

Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e


1

Zootecnia, Universidade de São Paulo – FMVZ/USP

RESUMO
Atualmente existe um grande número de dietas secas e úmidas comerciais
desenvolvidas para proporcionar o consumo completo e balanceado dos
nutrientes essenciais para cães e gatos. No entanto, tutores estão buscando cada
vez mais fornecer alimentos não convencionais como nutrição principal para
seus animais. Os principais motivos são: integridade e valor nutricional do
alimento utilizado, não compreensão dos rótulos de alimentos industrializados,
vontade de cozinhar para seu animal e reforçar a ligação humano-animal. As
modalidades de alimentação não convencional incluem alimentação vegetariana
ou vegana, fornecimento de alimentos crus e dietas preparadas em casa (dietas
caseiras). Em todas estas práticas, uma adequada formulação é fundamental
para a manutenção da saúde e bem-estar dos animais de companhia. Muitos
indivíduos desconhecem que atingir este objetivo requer conhecimento
especializado e na maioria das vezes possui um custo maior. Além disso,
pessoas adeptas à prática de alimentação não convencional acreditam que
a utilização desta modalidade é segura, mas inúmeros fatores de risco estão
envolvidos. Diversas doenças estão relacionadas a má nutrição gerada pelo
consumo de alimento deficiente ou crus. As principais enfermidades envolvidas
neste processo são desnutrição proteico-energética, hiperparatireoidismo
secundário nutricional e contaminação bacteriana. Assim, o esclarecimento
quanto ao risco do fornecimento de dietas não convencionais é fundamental
para a promoção da qualidade de vida e longevidade de cães e gatos.

1. INTRODUÇÃO
No início do século XX, o limitado conhecimento sobre a absorção
de nutrientes e necessidades nutricionais de cães e gatos fez com que, durante
décadas, animais de companhia fossem alimentados basicamente com sobras
de mesa, restos da casa e subprodutos do consumo humano, como as vísceras.
Desde então, houve uma evolução tanto no pensamento quanto nas áreas da
nutrição e ciência dos alimentos, que passaram por grandes avanços e têm

74
melhorado as questões de saúde e bem-estar dos pets.
Embora atualmente haja um grande número de dietas secas e úmidas
comerciais desenvolvidas para fornecer um consumo completo e balanceado
dos nutrientes essenciais para cães e gatos, tutores destes animais estão cada
vez mais em busca do fornecimento de dietas caseiras como alimento principal
para seus animais. Os principais motivos são a falta de compreensão de rótulos
de alimentos industrializados, preocupação com presença de conservantes e
corantes, vontade de cozinhar para seu animal, reforçar a ligação humano-
animal e maior palatabilidade. Contudo, grande parte deles desconhece que
uma dieta caseira balanceada pode ter alto custo e preparo complexo, além da
necessidade de ser formulada por um profissional capacitado (Berschneider,
2002; Michel, 2006; Remillard, 2008). Desta forma, utilizam como alternativa
as receitas de dietas encontradas na internet, livros e pessoas sem formação
na área, ou seja, fornecem dietas muitas vezes incompletas que podem trazer
riscos à saúde do animal e das pessoas, como deficiências nutricionais e
contaminação bacteriana e parasitária (Streiff et al., 2002; Freeman et al.,
2013; Stockman et al., 2013; Pedrinelli et al., 2017).
Pessoas adeptas ao alimento caseiro afirmam que estas dietas são
seguras e representam uma forma natural de alimentar seus animais. No entanto,
dentre os fatores de risco nutricional para cães e gatos, estão o fornecimento
de alimentos caseiros como fonte de mais de 10% das calorias diárias, bem
como, o emprego de dietas veganas e vegetarianas (Freeman et al., 2011). Por
exemplo, a carne fresca, crua ou cozida, é mais palatável para a maioria dos
cães e gatos e, pode até ser mais digestível (Vester et al., 2010). No entanto,
estudos demonstraram que muitas vezes alimentos caseiros podem não atender
as exigências nutricionais de cães e gatos, levando-os a consumir nutrientes
abaixo das quantidades recomendadas ou acima dos limites superiores de
segurança (Streiff et al., 2002; Stockman et al., 2013; Pedrinelli et al., 2017).
Assim, é importante que tutores, veterinários e zootecnistas conheçam
e entendam os riscos e benefícios da alimentação caseira. Somente assim serão
capazes de promover, com qualidade, sáude e bem-estar aos seus animais de
companhia.

2. DIFERENÇAS ENTRE OS TIPOS DE DIETAS NÃO


CONVENCIONAIS
A definição de dietas não convencionais pode ser definida de
forma ampla e engloba dietas “naturais” comercialmente disponível, dietas
vegetarianas e alimentos crus, bem como, uma variedade de alimentos
preparados em casa (dietas caseiras).

3. DIETAS VEGETARIANAS

75
A escolha por consumir uma dieta vegetariana possui diversas razões,
que incluem preocupações étnicas, religião e saúde. Assim, a convicção destes
indivíduos pode ser tão grande que optam por alimentar seus animais de
maneira semelhante (Michel, 2006). Em determinado estudo, verificou-se que
todas as pessoas que alimentavam seus gatos com dieta vegetariana também
eram vegetarianas (Wakefield, 2006).
As necessidades de nutrientes essenciais para gatos pode tornar a
formulação de dietas vegetarianas completas e balanceadas um grande desafio.
Alguns nutrientes são encontrados somente em ingredientes de origem animal,
como taurina e vitamina A, em alimentos fermentados, no caso da cobalamina,
ou o ácido araquidônico, que estão presentes em pequenas quantidades
em algumas espécies de algas. Cães também apresentam necessidades de
nutrientes como cobalamina (NRC, 2006). Ademais, as exigências proteicas
de cães e gatos são muito elevadas e, muitos dos aminoácidos essenciais são
limitados na maior parte das fontes vegetais de proteína.
Dentro do vegetarianismo, a prática alimentar inclui a ingestão de
produtos de origem animal, como ovos e leite. No entanto, uma forma mais
estrita do vegetarianismo, o veganismo, não admite esta prática, o que torna
necessário a utilização de formas sintéticas de alguns nutrientes para balancear
e completar uma dieta. Assim, a dieta também não poderia ser chamada de
natural.
O fato de cães não serem tão exigentes quanto os gatos em relação
às necessidades nutricionais fez com que uma série de alimentos comerciais
vegetarianos e até veganos fossem lançados no mercado internacional. No caso
de felinos, as opções ainda são muito limitadas (Michel, 2006). A adequação
nutricional de alimentos vegetarianos foi avaliada em um estudo realizado
por nosso grupo de pesquisa (Pedrinelli, 2018). Neste estudo analisou-se a
composição de macronutrientes e minerais de 100 receitas caseiras, bem
como a adequação nutricional desses alimentos em relação às recomendações
da Nutritional Guidelines for Complete and Complementary Pet Food for
Cats and Dogs (FEDIAF, 2018) e do Nutrient Requirements of Dogs and
Cats (NRC, 2006). Os resultados apontaram que as receitas vegetarianas e
veganas apresentaram poucas diferenças quando comparadas com receitas que
continham carnes e/ou vísceras nas análises de minerais (tabelas 1 e 2). Porém,
como observado no estudo, dietas com esta característica apresentam pontos
de atenção, especialmente na quantidade de proteína, as quais apresentaram
teores mais baixos do que os alimentos formulados com carne e outros produtos
de origem animal, tanto em receitas para cães quanto em receitas para gatos.
O fato de uma receita ser vegetariana ou vegana, por si só, não implica que
a composição nutricional seja inadequada, desde que a formulação seja feita
considerando-se o suprimento de todos os nutrientes (Parr & Remillard, 2014).

76
Tabela 1. Receitas vegetarianas/veganas e concentração de macro nutrientes e minerais em receitas para cães.

Legenda: EP=erro padrão; p=probabilidade de significância; 1Ca=cálcio, P=fósforo; †Todas as


receitas apresentaram concentrações deste nutriente abaixo das recomendações.

Tabela 2. Receitas vegetarianas/veganas e concentração de macro nutrientes e minerais em receitas para gatos.

Legenda: EP = erro padrão; p = probabilidade de significância; 1Ca = cálcio, P = fósforo;


†Todas as receitas apresentaram concentrações deste nutriente abaixo das recomendações.

77
Este estudo serve para ilustrar os desafios da formulação de uma dieta
vegetariana nutricionalmente adequada. Ele também ilustra as armadilhas ao
se confiar apenas na formulação de dietas encontradas em livros e websites,
sem que haja análises que comprovem sua adequação nutricional. Por se
tratar de uma escolha consciente dos proprietários, a adequação nutricional
deste tipo de dieta para cães e gatos deve ser relativamente fácil. Além disso,
possivelmente, algumas estariam dispostas a considerar as implicações étnicas
e sociais para atender as necessidades nutricionais dos animais de estimação. De
um modo geral, as mesmas preocupações que se aplicam às dietas vegetarianas
preparadas em casa, também se aplicam às dietas caseiras em geral.

4. ALIMENTOS CRUS
A prática da utilização de dietas contendo carne crua têm sido usada
para alimentar animais por muitos anos, especialmente por zoológicos e
instalações de corrida de cães (Michel, 2006). O uso dessas dietas para cães e
gatos como uma fonte alternativa de alimentos é bastante recente. Desta forma,
fica difícil se avaliar a popularidade dos alimentos crus.
Atualmente há algumas modalidades de alimentação caseira crua,
como BARF®, meaty bones e prey model. BARF® é um acrônimo para a
expressão em inglês “biologically aproppriate raw food”, ou alimento cru
biologicamente apropriado em tradução livre (Billinghurst, 2001; Barf World,
2017). O princípio desta dieta é o fornecimento de carnes, vegetais, frutas e
ossos, todos em sua forma crua, baseando-se numa dieta dos ancestrais dos
cães. Além disso, evita-se o fornecimento de grãos e suplementos. O modelo
intermediário seria o de meaty bones, que consiste no fornecimento de ossos com
carnes ou carcaças, além de restos de comida para complementação nutricional
(Lonsdale, 2001). Já o modelo prey model proporciona a oportunidade de
cães e gatos domiciliados consumirem uma dieta que replica a dieta de cães
selvagens sem que os mesmos precisem caçar seu próprio alimento. Uma
alimentação tipo prey model consiste no fornecimento de: 80,0% de músculo de
espécies como bovinos, caprinos, aves ou peixes; 10,0% de ossos comestíveis,
como costelas, rabo bovino e pescoço de frango; 5,0% de fígado; e 5,0% de
outras vísceras, como rim, baço, timo e cérebro (Perfectly Rawsome, 2018).
Freeman & Michel (2001) classificaram as dietas com alimentos crus em três
categorias: dietas comerciais balanceadas, geralmente vendidas congeladas;
dietas produzidas em domicílio, que inclui BARF e, dietas com carnes cruas
em conjunto com grãos que podem ser cozidos.
Os proprietários que optam pelo fornecimento de alimentos crus para
cães alegam benefícios como melhora no hálito e saúde dental, melhora da
qualidade de pele e pelos, redução da quantidade de fezes e melhor digestão e
absorção de nutrientes (Billinghurst, 2001; Lonsdale, 2001; Barf World, 2017).

78
Um estudo realizado por Algya et al. (2017) avaliou a digestibilidade aparente
e parâmetros sanguíneos de alimentos comerciais extrusados, cozidos e crus
em cães. Cães que consumiram alimento cozido apresentaram digestibilidade
de proteína bruta maior do que cães que consumiram alimento cru e extrusado.
Já a digestibilidade da gordura foi maior em cães que consumiram as dietas
cruas e cozidas do que em animais que consumiram a dieta extrusada. Quanto
aos parâmetros sanguíneos, os cães que consumiram as dietas cruas e cozidas
apresentaram concentrações de triglicérides séricos menores do que os
animais que consumiram alimento extrusado, porém as dietas cozidas e cruas
continham menores teores de gordura do que a dieta extrusada, de acordo com
os fabricantes.
Outros estudos avaliaram a digestibilidade de alimentos caseiros.
Felix et al. (2009) observaram que o alimento caseiro cozido apresentou
maiores coeficientes de digestibilidade aparente de proteína bruta e matéria
orgânica quando comparado com um alimento comercial econômico e um
alimento comercial super premium. Este mesmo estudo demonstrou que
cães alimentados com dieta caseira cozida apresentaram menor produção de
fezes do que cães alimentados com ambos os alimentos comerciais. Porém,
a composição das dietas era diferente, sendo que o alimento super premium
apresentou mais que o dobro de fibra bruta do que o alimento caseiro, o que
pode ter influenciado nos resultados de digestibilidade (Burrows et al., 1982).
França (2009) avaliou a digestibilidade de seis diferentes dietas: uma
ração extrusada, uma ração úmida, uma caseira com frango cru, uma caseira
com frango aquecido por três minutos em micro-ondas, uma caseira com carne
bovina crua e uma caseira com carne bovina aquecida por três minutos em
micro-ondas. No estudo, foi observado que a digestibilidade da proteína bruta
da ração seca e ração úmida foi inferior à das dietas caseiras e, a digestibilidade
da gordura foi maior nas dietas caseiras de frango e a de carne bovina cozida.
Para o coeficiente de digestibilidade da matéria seca, a ração seca não diferiu
do alimento caseiro a base de carne bovina crua, mas foi menor do que os
outros alimentos. Porém, novamente, a composição das dietas utilizadas foi
diferente quanto aos teores de gordura e fibra.

5. DIETAS CASEIRAS
A ampla utilização de alimentos para cães e gatos preparados
comercialmente é uma prática bastante recente que acontece em países
desenvolvidos e está começando agora em alguns países em desenvolvimento.
Dessa forma, a preparação de alimentos caseiros para animais de estimação
passou a ser, nos Estados Unidos, uma prática não convencional nos últimos
50 anos (Michel, 2006). Diversas razões se aplicam às pessoas que desejam
preparar o alimento para seus animais de estimação. Preocupação com a

79
integridade e valor nutricional do alimento utilizado, reforçar o vínculo
com seu animal de estimação ou que o alimento fornecido é intragável
e que provavelmente eles não consumiriam. No entanto, existem casos
que uma dieta preparada em casa pode ser indicada com objetivo de obter
um diagnóstico (em casos de dietas de eliminação) ou razões coadjuvantes
de enfermidades. A recomendação de dietas coadjuvantes preparadas pelo
proprietário ocorre quando não há disponibilidade de uma dieta comercial ou
existem enfermidades concomitantes. Além disso, há envolvimento maior de
sentimento de propósito e maior conforto por parte do proprietário quando os
animais apresentam doenças crônicas ou em fases terminais (Michel, 2006).
Existem vários inconvenientes na preparação doméstica de alimentos
para cães e gatos. Muitas vezes desconhecido pelo proprietário, o custo
deste tipo de alimentação é maior, além do investimento de tempo quando
comparado ao fornecimento de um alimento comercial. Outro importante fator
é a formulação de um alimento completo e balanceado que muitas vezes requer
conhecimento especializado (Berschneider, 2002; Michel, 2006; Remillard,
2008).
A adequação das dietas formuladas pode não ser um trabalho fácil e
direto de ser realizado. No Brasil, um estudo avaliou 106 dietas caseiras para
cães e gatos publicadas em livros e websites (Pedrinelli et al., 2017). De todas
as receitas analisadas em software, sendo 80 para cães, 24 para gatos e 2 para
cães e gatos, nenhuma atendeu todas as necessidades de acordo com a FEDIAF
(FEDIAF, 2018). As principais deficiências encontradas nas dietas foram: ferro,
deficiente em 100% das dietas para gatos e 68,0% das dietas de cães; vitamina
E, com mais de 80,0% de dietas deficientes para ambas as espécies; e cálcio,
com 73,0% de dietas deficientes para ambas as espécies. Outro dado importante
levantado por este estudo foi a falha em informar a quantidade recomendada
de alimento, ausente em 71,0% das dietas. Ainda no Brasil, Pedrinelli et al.
(2018) avaliaram em laboratório a composição de macronutrientes e minerais
de 100 receitas para cães e gatos publicadas em websites, artigos científicos
e livros digitalizados veterinários ou não especializados. Todas as receitas
foram preparadas pelos autores e a composição de macronutirentes e minerais
avaliada de acordo com sua adequação nutricional, comparando-se os resultados
obtidos com as recomendações da FEDIAF e NRC. Os resultados das análises
bromatológicas e minerais dos alimentos caseiros e as recomendações do NRC
para cães e gatos estão apresentados respectivamente nas tabelas 3 e 5. As
comparações com a FEDIAF estão apresentadas na tabela 4, para cães, e na
tabela 6, para gatos.
Tabela 3. Resultados das análises bromatológicas e de minerais (expressos em 100 gramas de matéria seca) de
75 alimentos caseiros para cães adultos saudáveis, em comparação com as recomendações para cães adultos
do NRC (2006).

80
Legenda: NRC=Nutrient Requirements of Dogs and Cats (2006); DV=desvio-padrão;
CV=coeficiente de variação; p=probabilidade de significância.

81
Tabela 4. Resultados das análises bromatológicas e de minerais (expressos em 100 gramas de matéria seca) de
75 alimentos caseiros para cães adultos saudáveis, em comparação com as recomendações para cães adultos
pouco ativos da FEDIAF (2018).

Legenda: FEDIAF=Fédération Européenne de l’Industrie des Aliments pour Animaux Familiers


(2018); DV=desvio-padrão; CV=coeficiente de variação; p=probabilidade de significância;
1Ca=cálcio, P=fósforo.

82
Tabela 5 – Resultados das análises bromatológicas e de minerais (expressos em 100 gramas de matéria seca)
de 25 alimentos caseiros para gatos adultos saudáveis, em comparação com as recomendações para gatos
adultos do NRC (2006).

Legenda: NRC=Nutrient Requirements of Dogs and Cats (2006); DV=desvio-padrão;


CV=coeficiente de variação; p=probabilidade de significância.

83
Tabela 6 – Resultados das análises bromatológicas e de minerais (expressos em 100 gramas de matéria seca) de
25 alimentos caseiros para gatos adultos saudáveis, em comparação com as recomendações para gatos adultos
ativos da FEDIAF (2018).

Legenda: FEDIAF=Fédération Européenne de l’Industrie des Aliments pour Animaux Familiers


(2018); DV=desvio-padrão; CV=coeficiente de variação; p=probabilidade de significância;
1Ca=cálcio, P=fósforo.

84
Neste mesmo estudo, ainda foi avaliado o suprimento das dietas
abaixo das recomendações para cada um dos nutrientes. Tais resultados
correspondentes às comparações com o NRC (2006) e FEDIAF (2018) para as
dietas de cães estão ilustradas na Figura 1 e para as dietas de gatos, na Figura 2.
Além disso, a influência do número de ingredientes das receitas na concentração
de macronutrientes e minerais também foi avaliada. Os resultados referentes às
receitas de cães podem ser observados na Tabela 7 e às de gatos na Tabela 8.
Todos os resultados com diferenças significativas apresentaram menor número
de ingredientes no grupo de receitas com teores abaixo das recomendações.

Figura 1. Suprimento de nutrientes abaixo das recomendações de consumo diário do NRC


- Nutrient Requirements of Dogs and Cats (2006) e da FEDIAF - Fédération Européenne de
l’Industrie des Aliments pour Animaux Familiers (2018) das receitas de cães avaliadas.

Figura 2. Suprimento de nutrientes abaixo das recomendações de consumo diário do NRC


- Nutrient Requirements of Dogs and Cats (2006) e da FEDIAF - Fédération Européenne de
l’Industrie des Aliments pour Animaux Familiers (2018) das receitas de gatos avaliadas.

85
Tabela 7. Número de ingredientes da receita e concentração de macro nutrientes e minerais em receitas para
cães com base nas recomendações do NRC (2006) e FEDIAF (2018).

Legenda: NRC=Nutrient Requirements of Dogs and Cats (2006); FEDIAF=Fédération


Européenne de l’Industrie des Aliments pour Animaux Familiers (2018); EP=erro padrão;
p=probabilidade de significância; 1Ca=cálcio, P=fósforo; †Todas as receitas apresentaram
concentrações deste nutriente abaixo das recomendações.

Tabela 8. Número de ingredientes da receita e concentração de macro nutrientes e minerais em receitas para
gatos com base nas recomendações do NRC (2006) e FEDIAF (2018).

86
Legenda: NRC=Nutrient Requirements of Dogs and Cats (2006); FEDIAF=Fédération
Européenne de l’Industrie des Aliments pour Animaux Familiers (2018); EP=erro padrão;
p=probabilidade de significância; 1Ca=cálcio, P=fósforo; †Todas as receitas apresentaram
concentrações deste nutriente abaixo das recomendações.

6. RISCOS E CONSEQUÊNCIAS DA ALIMENTAÇÃO CASEIRA


O risco do animal desenvolver doenças relacionadas à má nutrição
existe caso o mesmo consuma uma dieta desbalanceada, não importando o
produtor, como o produto é posicionado no mercado ou mesmo se o produto
é conhecido do médico-veterinário (Parr & Remillard, 2014). Os fatores de
risco associados à alimentação são diversos e, incluem o fornecimento de
dietas não-convencionais, o consumo de restos de alimento em quantidade
correspondente a mais do que 10,0% das calorias diárias e o fornecimento de
suplementos (Quadro 1) (Baldwin et al., 2010; Freeman et al., 2011).

Quadro 1. Fatores de risco associados à nutrição de cães e gatos.

Fonte: Adaptado de Baldwin et al. (2010) e Freeman et al. (2011).

As consequências de deficiências nutricionais são diversas. Quanto


à alterações de pele e pelagem, uma das causas nutricionais que pode ser
responsável é a desnutrição protéico-energética, que pode levar a escassez de
pelame ou alopecia, queratinização anormal, mudança de coloração de pelame
e alterações na cicatrização (Roudebush & Schoenherr, 2001). Outro problema

87
relacionado à má nutrição e que tem relação com pelagem é a deficiência de
fenilalanina e tirosina, que pode ser consequência de deficiência de proteína
total. A deficiência destes aminoácidos pode levar à mudança de coloração de
pelagem, principalmente em animais de pelagem preta, que passam a apresentar
pelagem marrom-avermelhada. A eumelanina e a feomelanina, dois pigmentos
responsáveis pela coloração de pelagem de cães e gatos, são sintetizados a
partir da dopaquinona, um produto da oxidação da tirosina.
Uma vez que há menos tirosina do que o recomendado, a eumelanina não
apresentará expressão total e o pigmento feomelanina prevalece, o que resulta
em mudança de pelagem de preto para marrom avermelhado (Roudebush &
Schoenherr, 2001; NRC, 2006).
A deficiência de ácidos graxos também pode levar a pelagem ressecada
e opaca, descamação e eritema, além de redução na repilação e exsudação
interdigital. O ácido linoleico (18:2, ω-6) é importante na manutenção da
barreira transepidermal (NRC, 2006). A pele também pode ser afetada por
deficiências de nutrientes como vitaminas A e E, biotina, riboflavina e zinco.
A avaliação específica destes nutrientes é cara, portanto caso se desconfie do
consumo inadequado de algum destes nutrientes, pode-se fazer o diagnóstico
terapêutico e fornecer uma dieta sabidamente balanceada (Parr & Remillard,
2014).
Cães que consomem dietas com baixas quantidades de retinol ou
beta caroteno e gatos que consomem dietas com teores de retinol baixos
podem desenvolver sinais de deficiência de vitamina A. Como a vitamina A é
armazenada no fígado, os sinais de sua deficiência geralmente demoram de 3 a
6 meses para serem notados, dependendo do estoque prévio no organismo do
animal. Alguns dos sinais clínicos de deficiência de vitamina A são a cegueira
noturna, ou nictalopia e, ressecamento de conjuntiva (xeroftalmia) (Wedekind
et al., 2010).
Uma das maiores preocupações em relação ao desbalanço de dietas
caseiras é a deficiência de cálcio. Uma relação cálcio:fósforo menor do que
1:1 pode desencadear o hiperparatireoidismo secundário nutricional (HSN)
como consequência da tentativa do organismo de manter a homeostase do
cálcio. O mecanismo desta doença se caracteriza pelo aumento da secreção de
paratormônio (PTH) em resposta à redução de cálcio iônico. O PTH, por sua
vez, aumenta a reabsorção óssea, reabsorção de cálcio pelos rins e aumenta
a eliminação de fósforo pela urina, além de aumentar a conversão nos rins
de 25-hidroxivitamina D3 em 1,25-dihidroxivitamina D3, que aumenta a
absorção de cálcio pelo intestino delgado. Como consequência, microfraturas
ou fraturas completas podem ocorrer. Para o diagnóstico, pode-se dosar cálcio
iônico, que pode estar dentro do intervalo de referência devido aos mecanismos
acima explicados, e PTH, além de radiografias para investigação de fraturas e

88
densidade óssea (NRC, 2006; Wedekind et al., 2010).
Quanto à saúde oral de cães e gatos, um estudo conduzido por Gawor
et al. (2006) avaliou os efeitos de diferentes alimentos nesse parâmetro.
Os autores observaram que cães e gatos que consumiram alimentos moles
(alimentos úmidos comerciais e/ou alimentos caseiros) apresentaram pior
saúde oral do que animais que consumiram alimento seco extrusado ou mistura
de alimento seco e alimento úmido ou caseiro.
Em estudo publicado por Buckley et al. (2011), foi avaliada por
meio de questionários e avaliação clínica a influência do tipo de alimento no
index de higiene oral de cães e gatos (IHO), calculado com base nos escores
de depósitos dentários, tamanho de linfonodos e saúde de gengiva, sendo
que quanto menor o valor melhor a condição de higiene oral. Para os gatos
avaliados, o IHO foi menor naqueles que consumiram dietas úmidas, dietas
extrusadas, mistura de dietas extrusada e úmida e mistura de dieta extrusada
ou úmida com alimento caseiro quando comparados com os animais que
consumiram somente alimento caseiro, sugerindo que a adição de alimentos
comerciais na dieta pode ser benéfica para a saúde oral de gatos. Já quanto
aos resultados de cães, os que foram manejados com alimentos extrusados ou
mistura de alimentos extrusados apresentaram IHO menor do que cães que
consumiam alimento caseiro ou mistura de alimento caseiro e ração extrusada
ou úmida, e o IHO de cães que consumiam alimentos úmidos não diferiu do de
cães que consumiam alimento caseiro.
Além de potenciais deficiências e excessos nutricionais, os alimentos
crus também podem apresentar o risco de contaminação por bactérias e
parasitas, como Salmonella sp. e Toxoplasma gondii (Freeman et al., 2013).
Um estudo realizado por Strohmeyer et al. (2006) avaliou mais de 57 alimentos
crus comerciais para cães. Destes, 99,0% tiveram algum tipo de contaminação
bacteriana, e a maior parte das amostras apresentou mais de um patógeno
contaminante.
O parasita Toxoplasma gondii, da subclasse coccidia, é muito
estudado por sua importância zoonótica. Seu ciclo vital inclui felinos como
hospedeiro definitivo, e pode envolver outros mamíferos, como cães e seres
humanos (Fortes, 2004). Os cães, quando ingerem oocistos esporulados,
podem eliminar a forma infecciosa nas fezes (Lindsey et al., 1997). Vegetais e
produtos de origem animal contaminados com oocistos, principalmente carne
suína ou de ovinos, além do consumo ou contato com fezes contaminadas, são
os grandes responsáveis pela infecção de T. gondii (Fortes, 2004; Freeman et
al., 2013). Um estudo conduzido por Camossi et al. (2008) realizado na cidade
de Botucatu, em São Paulo, apontou, entre outros fatores, o consumo de carne
crua como fator de risco de infecção de T. gondii em cães.
Já quanto à presença de Salmonella sp. em pet food, França (2009) avaliou a

89
presença desta bactéria em seis alimentos: um comercial úmido, um comercial
extrusado, e quatro alimentos caseiros (dois com proteínas cruas e dois com
proteínas cruas aquecidas por 3 minutos em micro-ondas). Salmonella sp. foi
encowntrada em todos os alimentos caseiros e no alimento úmido, mas não na
ração extrusada.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O número de indivíduos que fornecem dietas não convencionais
para seus animais de estimação está crescendo. Dessa forma, tutores,
médicos-veterinários e zootecnistas praticantes desta modalidade necessitam
compreender os riscos e benefícios deste tipo de nutrição como forma de
promover ótimo desempenho dos animais. Assim, a transmissão de informação
clara e correta sobre esta prática é fundamental para que cães e gatos consumam
dietas balanceadas. Além disso, a importância se faz devido aos riscos que são
promovidos quando são fornecidas dietas mal formuladas. Por fim, a adequada
nutrição é necessária para garantir saúde, qualidade de vida e longevidade dos
animais de companhia.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AAFCO. Official Publication. Champaign, EUA: AAFCO, 2016.

ALGYA, K. M.; CROSS, T.-W. L.; LEUCK, K. N.; KASTNER, M. E.; BABA, T.; LYE, L.; GODOY,
M. R. C.; SWANSON, K. S. Nutrient digestibility, fecal characteristics, serum chemistry, and urinalysis
of adult dogs fed extruded, mildly cooked, and raw diets. In: 17th Annual AAVN Clinical Nutrition and
Research Abstract Symposium, Anais. 2017.

BALDWIN, K.; BARTGES, J.; BUFFINGTON, T.; FREEMAN, L. M.; GRABOW, M.; LEGRED, J.;
OSTWALD JR, D. AAHA Nutritional assessment guidelines for dogs and cats. Journal of the American
Animal Hospital Association, v. 46, p. 285–296, 2010.

BARF WORLD. BARF World. Disponível em: <http://barfworld.com/what_is_barf.php>. Acesso em:


5 abr. 2018.

BERSCHNEIDER, H. M. Alternative diets. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 17, n. 1,


p. 1–5, 2002.

BILLINGHURST, I. The BARF Diet. 1. ed. Wenatchee, EUA: Dogwise Publishing, 2001.

BUCKLEY, C.; COLYER, A.; SKRZYWANEK, M.; JODKOWSKA, K.; KURSKI, G.; GAWOR, J.;
CEREGRZYN, M. The impact of home-prepared diets and home oral hygiene on oral health in cats
and dogs. British Journal of Nutrition, v. 106, n. S1, p. S124–S127, 2011. Disponível em: <http://www.
journals.cambridge.org/abstract_S0007114511000821>.

BURROWS, C. F.; KRONFELD, D. S.; BANTA, C. A.; MERRITT, A. M. Effects of fiber on digestibility
and transit time in dogs. The Journal of Nutrition, v. 112, n. 9, p. 1726–1732, 1982.

CAMOSSI, L. G.; FACCIOLI, P. Y.; MENOZZI, B. D.; DAHER, S. R.; LANGONI, H. Environmental
risk factors for canine toxoplasmosis in a deprived district of Botucatu, SP, Brazil. Journal of Venomous
Animals and Toxins including Tropical Diseases, v. 14, n. 3, p. 450–465, 2008.

90
FEDIAF. Nutritional Guidelines for Complete and Complementary Pet Food for Cats and Dogs.
FELIX, A. P.; SÁ-FORTES, C. M. L.; SILVA, A. C. M.; NASCIMENTO, S. T.; CARCIOFI, A. C.;
LAURENTIZ, A. C.; BERGAMASCHINE, A. F. Digestibilidade de uma dieta caseira e dois alimentos
comerciais, econômico e super-prêmio, para cães. Archives of Veterinary Science, v. 14, n. 1, p. 25–30,
2009.

FORTES, E. Parasitologia Veterinária. 4. ed. São Paulo, Brasil: Ícone Editora, 2004.
FRANÇA, J. Alimentos convencionais versus naturais para cães adultos. 2009. Universidade Federal de
Lavras, 2009.

FREEMAN, L.; BECVAROVA, I.; CAVE, N.; MACKAY, C.; NGUYEN, P.; RAMA, B.; TAKASHIMA,
G.; TIFFIN, R.; TSJIMOTO, H.; BEUKELEN, P. Nutritional Assessment Guidelines. Journal of
Small Animal Practice, v. 82, p. 254–263, 2011. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/22616443>.

FREEMAN, L. M.; CHANDLER, M. L.; HAMPER, B. A.; WEETH, L. P. Current knowledge about
the risks and benefits of raw meat–based diets for dogs and cats. Journal of the American Veterinary
Medical Association, v. 243, n. 11, p. 1549–1558, 2013. Disponível em: <http://avmajournals.avma.org/
doi/abs/10.2460/javma.243.11.1549>.

FREEMAN, L. M.; MICHEL, K. E. Evaluation of raw food diets for dogs. Journal of the American
Veterinary Medical Association, v. 218, n. 5, p. 705–709, 2001.

GAWOR, J. P.; REITER, A. M.; JODKOWSKA, K.; KURSKI, G.; WOJTACKI, M. P.; KUREK, A.
Influence of diet on oral health in cats and dogs. The Journal of Nutrition, v. 136, p. 2021S–2023S, 2006.

GROSS, K. L.; YAMKA, R. M.; KHOO, C.; FRIESEN, K. G.; JEWELL, D. E.; SCHOENHERR, W.
D.; DEBRAEKELEER, J.; ZICKER, S. C. Macronutrients. In: HAND, M. S.; THATCHER, C. D.;
REMILLARD, R. L.; ROUDEBUSH, P.; NOVOTNY, B. J. (Ed.). Small Animal Clinical Nutrition. 5.
ed. Topeka, EUA: Mark Morris Institute, 2010. p. 49–105.

HEINZE, C. R.; GOMEZ, F. C.; FREEMAN, L. M. Assessment of commercial diets and recipes for
home-prepared diets recommended for dogs with cancer. Journal of the American Veterinary Medical
Association, v. 241, n. 11, p. 1453–1460, 2012. Disponível em: <http://avmajournals.avma.org/doi/
abs/10.2460/javma.241.11.1453>.

LARSEN, J. A.; FARCAS, A. Nutrition of aging dogs. Veterinary Clinics of North America: Small
Animal Practice, v. 44, p. 741–759, 2014.

LARSEN, J. A.; PARKS, E. M.; HEINZE, C. R.; FASCETTI, A. J. Evaluation of recipes for home-
prepared diets for dogs and cats with chronic kidney disease. Journal of the American Veterinary
Medical Association, v. 240, n. 5, p. 532–538, 2012. Disponível em: <http://avmajournals.avma.org/doi/
abs/10.2460/javma.240.5.532%5Cnpapers3://publication/doi/10.2460/javma.240.5.532>.

LINDSEY, D. S.; DUBEY, J. P.; BUTLER, J. M.; BLAGBURN, B. L. Mechanical transmission of


Toxoplasma gondii oocysts by dogs. Veterinary Parasithology, v. 73, p. 27–33, 1997.

LONSDALE, T. Raw Meaty Bones. 1. ed. Wenatchee, EUA: Dogwise Publishing, 2001.

MICHEL, K. E. Unconventional diets for dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small
Animal Practice, v. 36, p. 1269–1281, 2006.

NRC. Nutrient Requirements of Dogs and Cats. 1. ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 2006.
PARR, J. M.; REMILLARD, R. L. Handling alternative dietary requests from pet owners. Veterinary

91
Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 44, p. 667–688, 2014.

PEDRINELLI, V. Determinação das concentrações de macro e micro minerais e metais pesados em


alimentos caseiros para cães e gatos adultos. 2018. 104 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) –
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.

PEDRINELLI, V.; GOMES, M. de O. S.; CARCIOFI, A. C. Analysis of recipes of home-prepared diets


for dogs and cats published in Portuguese. Journal of Nutritional Science, v. 6, n. e33, p. 1–5, 2017.

PERFECTLY RAWSOME. Prey model raw food diet for dog. Disponível em: <https://perfectlyrawsome.
com/dogs/prey-model-raw-diet/>. Acesso em: 9 abr. 2018.

REMILLARD, R. L. Homemade diets: Attributes, pitfalls, and a call for action. Topics in Companion
Animal Medicine, v. 23, n. 3, p. 137–142, 2008.

ROUDEBUSH, P.; SCHOENHERR, W. D. Skin and Hair Disorders. In: HAND, M. S.; THATCHER, C.
D.; REMILLARD, R. L.; ROUDEBUSH, P.; NOVOTNY, B. J. (Ed.). Small Animal Clinical Nutrition.
5. ed. Topeka, EUA: Mark Morris Institute, 2001. p. 637–665.

STOCKMAN, J.; FASCETTI, A. J.; KASS, P. H.; LARSEN, J. A. Evaluation of recipes of home-
prepared maintenance diets for dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.
242, n. 11, p. 1500–1505, 2013. Disponível em: <http://avmajournals.avma.org/doi/pdf/10.2460/
javma.242.11.1500%5Cnhttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23683013>.

STREIFF, E. L.; ZWISCHENBERGER, B.; BUTTERWICK, R. F.; WAGNER, E.; IBEN, C.; BAUER,
J. E. A comparison of the nutritional adequacy of home-prepared and commercial diets for dogs. Journal
of Nutrition, v. 132, p. 1698S–1700S, 2002. Disponível em: <http://www.nutrition.org/cgi/content/
abstract/132/6/1698S>.

STROHMEYER, R. A.; MORLEY, P. S.; HYATT, D. R.; DARGATZ, D. A.; SCORZA, A. V.; LAPPIN,
M. R. Evaluation of bacterial and protozoal contamination of commercially available raw meat diets for
dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 228, n. 4, p. 537–542, 2006. Disponível
em: <http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.228.4.537>.

TAL, M.; PARR, J. M.; MACKENZIE, S.; VERBRUGGHE, A. Dietary imbalances in a large breed
puppy, leading to compression fractures, vitamin D deficiency, and suspected nutritional secondary
hyperparathyroidism. The Canadian Veterinary Journal, v. 59, p. 36–42, jan. 2018.

TEIXEIRA, F. A.; SANTOS, A. L. S. Deficiências nutricionais graves em cão recebendo dieta de


eliminação caseira. Veterinary & Science, v. 18, p. 26–37, 2016.

THATCHER, C. D.; HAND, M. S.; REMILLARD, R. L. Small Animal Clinical Nutrition: An Iterative
Process. In: HAND, M. S.; THATCHER, C. D.; REMILLARD, R. L.; ROUDEBUSH, P.; NOVOTNY,
B. J. (Ed.). Small Animal Clinical Nutrition. 5. ed. Topeka, EUA: Mark Morris Institute, 2010. p. 3–20.

VESTER, B. M.; BURKE, S. L.; LIU, K. J.; DIKEMAN, C. L.; SIMMONS, L. G.; SWANSON, K. S.
Influence of feeding raw or extruded feline diets on nutrient digestibility and nitrogen metabolism of
African wildcats (Felis lybica). Zoo biology, v. 29, n. 6, p. 676-686, 2010.

WEDEKIND, K. J.; YU, S.; KATS, L.; PAETAU-ROBINSON, I.; COWELL, C. S. Micronutrients:
minerals and vitamins. In: HAND, M. S.; THATCHER, C. D.; REMILLARD, R. L.; ROUDEBUSH, P.;
NOVOTNY, B. J. (Ed.). Small Animal Clinical Nutrition. 5. ed. Topeka, EUA: Mark Morris Institute,
2010. p. 107–148.

WAKEFIELD, L. A.; SHOFER, F. S.; MICHEL, K. E. Evaluation of cats fed vegetarian diets and
attitudes of their caregivers. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 229, n. 1, p.
70-73, 2006.

92
CAPÍTULO V

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS ATUAIS GARGALOS DA


SUINOCULTURA BRASILEIRA

Diego F. Leal1,4, Augusto H. Gameiro2, Bruno B.D. Muro1, Mauricio C.


Dutra2, Rafaella F. Carnevale1, Cesar A. P. Garbossa4

1
Departamento de Reprodução Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,
Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP
2
Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE), Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Pirassununga-SP
3
Trouw Nutrition Brasil, Campinas-SP
4
Laboratório de Pesquisa em Suínos (LPS), Departamento de Nutrição e Produção
Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo,
Pirassununga-SP

RESUMO
A suinocultura moderna ganha, cada vez mais, notoriedade devido a
constante adesão a novas tecnologias, significativa melhora dos seus índices
de produtividade e também pela preocupação em se produzir de forma
sustentável. Isso fica evidente quando se observa as transformações ocorridas
nas últimas décadas nas áreas da ambiência, sanidade, nutrição, bem-estar
animal e genética. Atualmente se fala de suinocultura 4.0, referindo-se à quarta
revolução industrial, a qual, por sua vez, diz respeito a junção da automatização
industrial com a tecnologia, utilizando ferramentas como internet das coisas,
big data, cloud computing, bem como por sistemas cyber-físicos.
O melhoramento genético talvez seja o que represente a mais
extraordinária mudança ocorrida na produção de suínos e o que mais contribuiu
para o incremento na produtividade, visto que a fêmea suína moderna produz
leitegadas cada vez mais numerosas – mais de 14 leitões/parto – e desmamam
30 leitões/fêmea/ano (DFA) (Kim et al., 2013). As matrizes suínas apresentam
potencial para atingir a impressiva marca dos 40 DFA (Koketsu et al., 2017;
Figura 1), índice que já é uma realidade em países como a Dinamarca. Algumas
estimativas mais otimistas já falam de 54 DFA em um período de 40 anos
(Rosa, 2018).
A atuação do Brasil no que tange ao cenário da suinocultura mundial
é, indubitavelmente, de protagonista. O Brasil ocupa a quarta posição no
ranking mundial de produção – 3,75 milhões de toneladas por ano e também no
de exportação de carne suína totalizando 697 mil toneladas anualmente. Vale
frisar que 18,5% da produção brasileira de carne suína é exportada para mais

93
de 70 países, incluindo mercados exigentes como é o caso do Japão e Coréia
do Sul (ABPA, 2018). A abertura de novos mercados a cada ano somado à
manutenção de antigos compradores da carne suína brasileira, refletem a
qualidade e robustez da atividade suinícola nacional.
No contexto econômico, a indústria suinícola brasileira é importante
geradora de divisas. Isso se torna claro quando se observa o Produto Interno
Bruto (PIB) da atividade no ano de 2015, que foi de R$ 62,57 bilhões. Esse
segmento produtivo também foi responsável naquele mesmo ano, pela geração
de 126 mil empregos diretos e mais de 900 mil indiretos (ABCS, 2016), o que
demonstra mais uma vez a importância socioeconômica da atividade.

Figura 1. Esquema demonstrando como obter 40 DFA. (Fonte: Koketsu, 2017)

Algumas características colocam o Brasil em uma situação de


vantagem sobre outros países produtores. A primeira delas está relacionada
as suas dimensões territoriais, o que permite a sua expansão. Nesse contexto,
é digno de nota a crescente migração da atividade suinícola dos tradicionais
estados produtores na região Sul do Brasil para a região Centro-Oeste, a qual
é considerada a nova fronteira da suinocultura nacional. Nesta última região,
em decorrência da abundante oferta de grãos em conjunto com sua grande
extensão territorial ¬– 1,6 milhões de quilômetros quadrados. Porém, questões
de logística, distância dos grandes centros consumidores e de portos para o
escoamento da produção destinada à exportação juntamente com a escassez
de mão de obra qualificada, são alguns dos empecilhos que ainda precisam ser
vencidos para que a suinocultura tem maior desenvolvimento no Centro-Oeste
brasileiro (Lopes, 2018).
Outra grande vantagem do Brasil diz respeito ao seu invejável status
sanitário. Quando comparado aos principais países produtores mundiais,
o Brasil é livre das principais enfermidades que impactam a produção e o
comércio de carne suína, como por exemplo a Diarreia Epidêmica dos suínos

94
(PED), a Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS) e a Peste
Suína Africana (Guedes, 2016). Contudo, essa vantagem sanitária desfrutada
pela suinocultura brasileira, produz um fenômeno curioso. Há no Brasil uma
falta de cultura com relação a prevenção de doenças e implementação de
medidas mais rigorosas de biossegurança, o que deixa a suinocultura brasileira,
de certa maneira, vulnerável a entrada de novas enfermidades e ocorrência de
um evento sanitário, o que resultaria em forte impacto negativo tanto sobre a
produção quanto as exportações de carne suína. Um exemplo disso foi o surto
de peste suína africana ocorridos na década de 70 que quase extinguiu a nossa
suinocultura nos anos de 1980.
Não obstante a consolidação e desenvolvimento da suinocultura
brasileira nas áreas de nutrição, genética e sanidade, ainda alguns obstáculos a
serem transpostos existem em determinados setores da cadeia produtiva, com
o objetivo de que o Brasil possa expressar a sua vocação para o agronegócio
em totalidade e figurar como grande liderança mundial na produção de suínos,
resultando em reais avanços econômicos e sociais para o país.
Face ao exposto, o presente capítulo discorrerá, sobre os atuais gargalos
da suinocultura brasileira, elencados por profissionais diretamente envolvidos
na cadeia da produção de suínos. Acrescenta-se, ainda, que a problemática da
variação do custo de produção, resultado da oscilação no preço de grãos é,
um dos mais reconhecidos entraves na suinocultura brasileira, porém não será
abordado neste capítulo. Um novo projeto em fase de desenvolvimento pelo
mesmo grupo de pesquisa se ocupará do tema. Por fim, convém salientar que
não há a pretensão de esgotar o assunto aqui tratado, uma vez que, diante da
complexidade inerente à própria atividade, não somente um único capítulo,
mas um volume completo seria necessário para contemplar todos as variáveis
que influenciam esta desafiadora, porém apaixonante atividade.

1. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
Inicialmente, foi elaborada entre os pesquisadores uma pergunta que
possuísse como característica ser a mais abrangente possível e que permitisse
aos entrevistados total liberdade de resposta. Foi então determinado o número
de profissionais a serem entrevistados bem como o perfil destes. Optou-se
então por contatar recursos humanos diretamente envolvidos com a atividade
suinícola brasileira. Não houve restrição com relação ao cargo ocupado pelo
participante, dessa forma, professores, gerentes de granja e técnicos vinculados
ou não a empresas, com a característica comum de atuarem em diversos
estados, foram entrevistados. Previamente a entrevista, foi realizado um
primeiro contato com os potenciais participantes, explicado detalhadamente
qual seria o objetivo do trabalho em desenvolvimento e, por fim, os potenciais
participantes foram questionados se gostariam de contribuir com a pesquisa.

95
Após aceite, um novo contato foi realizado e explicado mais uma vez,
de forma detalhada, o objetivo do trabalho. Durante a entrevista, os participantes
foram indagados qual seria, na visão de cada um deles, os três principais
gargalos atuais da suinocultura brasileira. As respostas foram agrupadas e as
que mais se repetiram, foram selecionadas para compor o presente capítulo.
Dos profissionais entrevistados, 75% desses relataram que o principal gargalo
da suinocultura brasileira, atualmente, é a gestão e qualificação de mão de obra.
Enquanto 16,7% desses citaram deficiências no que diz respeito a prevenção
de doenças, e 8,3% dos entrevistados relataram a questões de bem-estar animal
como principal gargalo.

2. DEFINIÇÃO E ANÁLISE DOS ATUAIS GARGALOS DA


SUINOCULTURA
O próximo tópico analisará, de forma pormenorizada, os três
principais obstáculos enfrentados pela produção suinícola nacional, de acordo
com a opinião dos profissionais da suinocultura consultados. Será dada atenção
especial ao fator humano da cadeia produtiva, mais especificamente no que diz
respeito à qualificação e ao gerenciamento de recursos humanos, pois além
de ter sido mencionada por 75% (9/11) dos entrevistados como o principal
gargalo da suinocultura brasileira, os autores também julgam ser essa a base de
qualquer setor produtivo.

3. QUALIFICAÇÃO E GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS NA


SUINOCULTURA
O gerenciamento do capital humano de qualquer organização
é, inquestionavelmente, a base do sucesso de suas operações e, também, o
aspecto mais complexo de toda ela. De fato, cada ser humano é um universo
em particular, possuindo habilidades, desafios e crenças próprias. Fazer com
que diferentes indivíduos trabalhem de forma coesa e motivados é tarefa árdua
e, pelo menos deveria ser, o principal foco de qualquer empresa; uma vez que
as pessoas são os agentes de transformação, serão essas as responsáveis por
colocar em ação informações contidas nos manuais de boas práticas, bem como
aquelas obtidas em cursos de capacitação, além de alimentar as ferramentas de
gerenciamento com dados produtivos.
O papel do gestor é de fundamental importância dentro deste
cenário O bom gestor é aquele que identifica os pontos fracos de sua equipe,
propõe mudanças de forma conjunta e avalia sua própria postura diante da
equipe, conduzindo pelo exemplo e não somente pelo uso de jargões e teorias
administrativas. É capaz de identificar os fatores que motivam e os que
desestimulam os seus colaboradores. Mais ainda, o indivíduo que assume o
papel de líder deve trabalhar de forma verdadeira, para que cada componente

96
da equipe saiba que é uma parte importante do processo, extinguindo assim a
figura do “eu mando e vocês obedecem”.
Apesar da vasta literatura disponível sobre qualificação e gestão de
recursos humanos (Chiavenato, 1999; Chiavenato, 2006; Callado, 2006; Souza,
2014) e de empresas prestadoras de serviço nessa área, deve-se ter sempre em
mente que não existe forma e modelo únicos de como gerir pessoas. É preciso
que ocorra uma adequação à cada realidade (Souza, 2014).
A suinocultura moderna adquiriu característica industrial e, dessa
forma, requer um formato de administração de pessoal que se harmonize
com esse modelo. Assim, tanto a capacitação como a gestão de mão de obra
assumem papel de extrema relevância dentro da atividade suinícola moderna
para que se possa alcançar altos patamares de produtividade. Convém
salientar que a evolução tecnológica ocorrida nas áreas de genética, nutrição
e instalações não tem sido acompanhada no mesmo ritmo, pela gestão eficaz
de recursos humanos dentro da suinocultura brasileira (Machado, 2014). Por
outro lado, existem bolsões de excelência, os quais conseguem atingir alta
produtividade, como uma média de 36,17 DFA. Essas granjas compartilham
um fator em comum: todas elas realizam grandes investimentos na gestão
do capital humano, o que auxilia a tangibilizar a importância das pessoas no
contexto da cadeia produtiva.
Outro aspecto que deve ser ressaltado é que na atividade suinícola,
a gestão de recursos humanos possui características particulares, pois trata-se
de uma atividade fatigante a qual requer intenso esforço físico, persistência e
trabalho em conjunto de todos os envolvidos para condução das suas atividades
diárias. É preciso considerar esses fatores antes de implementar qualquer
estratégia motivacional por parte do setor de recursos humanos. Nesse mesmo
sentido, o provimento e o desenvolvimento de pessoas, ambos componentes do
processo básico do sistema de gestão de recursos humanos, devem também ser
moldados para atender as particularidades da suinocultura.
De fato, um dos grandes desafios enfrentados atualmente é captar
recursos humanos para a suinocultura. Os mais jovens estão deixando o campo
em busca de novas oportunidades nos centros urbanos, pois consideram que
fora da zona rural há melhores possibilidades de remuneração bem como
perspectivas profissionais mais vantajosas. Desta forma, o setor de recrutamento
de recursos humanos necessita estar inteirado das inovações e tendências da
suinocultura tecnificada para, dessa maneira, desmistificar antigos paradigmas
e fazer com que mais pessoas permaneçam no campo.
Não restam dúvidas de que para se atingir alta produtividade, a equipe
além de estar devidamente capacitada também deve estar motivada; todavia, só
é possível haver motivação se algumas premissas forem atendidas. A primeira
delas diz respeito ao atendimento das necessidades básicas – fazendo aqui

97
uma alusão à hierarquia das necessidades de Maslow. Os funcionários de uma
granja produtora de suínos necessitam dispor de um ambiente de trabalho
agradável, onde se procure sempre a diminuição da insalubridade inerente à
atividade. Esses também devem ter acesso a áreas adequadas que favoreçam o
conforto físico e mental nos momentos de descanso/lazer e alimentação.
Em acréscimo, não somente o ambiente físico da granja deve prover
condições favoráveis para a execução do trabalho, mas também o ambiente
psicológico é de fundamental importância. Não há como sustentar boa
produtividade a longo prazo em ambiente psicológico desfavorável. Gerir
pessoas de forma ameaçadora e humilhante são práticas cruéis e ultrapassadas,
além de serem infrutíferas.
Com as necessidades básicas atendidas, o próximo passo é o
desenvolvimento de estratégias motivacionais, tais como possibilidade de
progressão de carreira, bonificações baseadas na produtividade e inclusão dos
funcionários no processo de tomada de decisões. A adoção desse modelo de
gerenciamento, no qual os colaboradores são vistos como peças fundamentais e
gratificados de forma material ou emocional, auxiliam no processo de retenção
de pessoas. De fato, um dos grandes problemas enfrentados atualmente pela
atividade suinícola é a grande rotatividade de mão de obra. A alta rotatividade
de mão de obra além de onerar o produtor traz impactos negativos sobre a
produtividade.
Como supracitado, a quarta revolução industrial já é uma realidade na
suinocultura e, dessa forma, se faz necessário o treinamento do capital humano
para se tirar o melhor proveito das ferramentas tecnológicas disponíveis. As
pessoas sempre ocuparão papel central dentro do setor produtivo; a visão
de que a automatização resultaria em diminuição de postos de trabalhos e
desemprego é irreal. De fato, com a capacitação e uso de novas tecnologias, é
possível extinguir atividades desgastantes e promover qualidade de vida para
os funcionários, desta maneira, a tecnologia deve ser vista como aliada e não
como vilã.
Considerando tais colocações, sem o gerenciamento de capital
humano, torna-se muito complexo quaisquer adoções de conceitos de bem-
estar animal, cumprimento de procedimentos para evitar a entrada de patógenos
no rebanho (biossegurança) e, em última instância, não se atinge o nível de
profissionalismo exigido pela suinocultura moderna.

4. FALTA DE CULTURA NA PREVENÇÃO DE ENFERMIDADES


Dentro do cenário internacional, a atividade suinícola brasileira se
destaca por possuir uma condição sanitária invejável, sendo negativo para as
principais enfermidades causadoras de perdas econômicas tais como: síndrome
respiratória e reprodutiva suína (PRRS), diarreia epidêmica suína (PED), peste

98
suína africana, doença de Aujeszky e febre aftosa. Algumas dessas doenças
– Aujeszky, febre aftosa e peste suína clássica – já foram diagnosticadas
em território nacional, passaram por um rigoroso processo de erradicação e
continuam sob um rigoroso processo epidemiológico de controle. Outras como
a PRRS, PED e peste suína africana, nunca foram diagnosticadas no rebanho
brasileiro mesmo com a circulação desses vírus em rebanhos de países vizinhos
e/ou em países que nos exportam material genético, seja por meio de animais
vivos ou sêmen (Dutra, 2018; comunicação pessoal).
O monitoramento epidemiológico feito na estação quarentenária
de Cananéia, que controla a entrada de todos os animais vivos importados e
também pelo fato do Brasil ser exclusivamente exportador de material genético
para os países da América do Sul, fazendo um fluxo unidirecional de animais
por nossas fronteiras, são alguns dos fatores responsáveis para e excelente
condição sanitária do rebanho suíno brasileiro. Vale ressaltar que algumas
características geográficas apresentadas pelo Brasil como a Amazônia, o
Pantanal e os Pampas, funcionam como uma grande barreira natural e auxiliam
no isolamento de granjas suinícolas dentro do território nacional.
Devido a boa condição sanitária do rebanho brasileiro, muitas vezes
se tem um comodismo na realização das práticas de biossegurança. Dutra
(2017), mostrou que as práticas de biossegurança têm sido negligenciadas nas
granjas brasileiras tanto no que diz respeito a medidas que minimizem os riscos
internos quanto externos. De fato, das granjas analisadas, 56% não possuíam
ou não manejavam o seu quarentenário de maneira adequada, o controle
adequado de pragas não era realizado em 60% delas, a água disponibilizada
para o consumo dos animais não era tratada em 76% das unidades suinícolas
avaliadas, 80% negligenciavam riscos relacionados ao transporte, 40%
não adotavam programas adequados de limpeza e desinfecção e 72% não
respeitavam o período de vazio sanitário.
A suinocultura brasileira apesar do seu grande avanço, ainda
possui gargalos que a deixam vulnerável a ocorrência de enfermidades;
instalações muito antigas e construídas com materiais inadequados, carência
na padronização de instalações e materiais utilizados, superlotação das
instalações e falta de investimento no treinamento de recursos humanos, são
alguns desses. A negligência na adoção de medidas que minimizem riscos
tende, a médio e longo prazo, a aumentar as enfermidades presentes, promover
maior pressão de infecção ambiental, levando, por fim, a uma maior utilização
de antimicrobianos.
No que diz respeito ao uso de antimicrobianos, apesar de estudos
demostrarem que estes não aumentam a produtividade per se (Wegner, 2003),
a utilização de antimicrobianos na produção suinícola brasileira é, ainda,
exorbitante. Além das falhas nos manejos básicos de biossegurança, a questão

99
cultural está também atrelada à utilização de antimicrobianos; a crença de
que o uso de antimicrobianos é pré-requisito básico para obtenção da máxima
eficiência no ganho de peso e conversão alimentar, resulta, via de regra, na
utilização exagerada desses fármacos. Uma estimativa do consumo global
de antimicrobianos em 2014 revelou que se utiliza em média 172 mg de
antibiótico por quilo de suíno produzido (Van boeckel et al., 2015), enquanto
no Brasil esse valor é de 358 mg (Dutra, 2017).
O uso excessivo de antimicrobianos na produção animal vem sendo
amplamente debatido nos últimos anos por contribuir com a resistência
bacteriana a diversos princípios ativos e consequentemente oferecer riscos à
saúde pública. O uso indiscriminado de muitos fármacos e o rápido surgimento
e difusão de patógenos apresentando resistências simples ou múltiplas a essas
drogas, tanto em humanos como em animais, aponta para a necessidade do uso
prudente em animais de produção. Segundo Dutra (2017), as granjas suinícolas
brasileiras utilizam, em média, sete princípios ativos (Figura 2) diferentes nas
diferentes fases de produção e os animais tem contato com antimicrobiano
cerca de 66.3% de sua vida (Figura 3). Corroborando com o exposto, manejos
como aplicação de antimicrobianos de amplo espectro no primeiro dia de
vida do leitão e animais submetidos aos efeitos de antimicrobianos durante
todo seu período de alojamento em creche e/ou terminação não são raros
na suinocultura brasileira e contribuem muito para um rápido surgimento e
difusão de patógenos apresentando resistências simples ou múltiplas a esses
medicamentos.

Figura 2. Número de princípios ativos utilizados por granjas de suínos no Brasil (Fonte: Dutra, 2017)

100
Figura 3. Tempo de exposição (%) a antimicrobianos durante a vida de suínos criados em granjas brasileiras.
(Fonte: Dutra, 2017)

Estamos vivendo hoje uma era pós-antibiótica e a suinocultura


brasileira, pelas razões já citadas, deve fazer uma autocrítica de modo a elevar
seus padrões de biossegurança, utilizar alternativas eficazes para uma redução
drástica do uso de antimicrobianos e assim manter sua posição de destaque
internacional frente aos desafios constantes do setor.

5. A PROBLEMÁTICA DO BEM-ESTAR ANIMAL


O tema do bem-estar animal é um dos mais debatidos atualmente
dentro da indústria suinícola mundial; grande parte disso, em decorrência
da crescente demanda do mercado consumidor por adquirir proteína animal
oriunda de animais criados de forma ética. Associado a isso, a comunidade
científica vem dedicando grande atenção a essa temática e desenvolvendo
soluções para mudar antigos paradigmas e promover melhor qualidade de vida
aos suínos.
Nos últimos 30 anos grandes avanços ocorreram no âmbito do bem-
estar animal dentro da cadeia brasileira da carne suína. Provavelmente, o
aspecto mais tangível seja a mudança gradativa da criação de fêmeas suínas
gestantes em gaiolas para o sistema de gestação coletiva. Deve-se salientar
que ainda não existe uma legislação específica a esse respeito no Brasil, porém
o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento vem se esforçando
em estabelecer normas de boas práticas de manejo em granjas de suínos,
exemplo é a Portaria Nº 195, de 4 de Julho de 2018 a qual foi publicada com
o objetivo de consulta pública para futura redação da instrução normativa de
Boas Práticas de Produção de Suínos. Não obstante, produtores e agroindústria
estão se adequando a essa nova tendência que é considerada um caminho sem
volta dentro da suinocultura tecnificada. De fato, grandes empresas da cadeia
da carne suína como BRF, Aurora e JBS se comprometeram a fazer a transição

101
gradual de gaiolas de gestação para o sistema de baias coletivas até 2026.
Convém salientar que o presente capítulo não discorrerá sobre
os diferentes sistemas de alojamento de porcas gestantes em grupos bem
como sobre as vantagens e desvantagens de cada um desses; informações
mais detalhadas sobre o tema podem ser encontradas em outras publicações
(Spoolder et al., 2009; Dias et al., 2014; WAP, 2015). Acrescenta-se, ainda, que
atualmente existem alternativas economicamente viáveis para o alojamento em
grupo de matrizes suínas gestantes, com índices de produtividade semelhantes
ou mesmo superiores ao sistema tradicional. No entanto, a mudança para o
novo sistema deve ser feita de forma gradativa e baseada em planejamento
cuidadoso, evitando-se assim possíveis impactos negativos sobre a atividade
suinícola (WAP/MAPA, 2015).
O bem-estar animal na suinocultura vai além do alojamento de porcas
em gestação coletiva e carece de uma abordagem holística. Produzir suínos
com qualidade de vida mais uma vez coloca o homem como um dos principais
atores. Antes de mais nada, é preciso pensar na qualidade de vida (bem-estar)
dos funcionários. Estes necessitam ser bem remunerados – mais importante
do que receber apenas um bom salário – o que por sua vez permitirá acesso a
assistência médica adequada, a boa alimentação e ao lazer. Ressalta-se mais
uma vez, de forma proposital, que a equipe precisa estar inserida em ambiente
psicológico agradável, onde predomine o respeito mútuo entre os que assumem
cargos de chefia e colaboradores. Pessoas que são submetidas a maus tratos e
que vivem sob condições de vida degradante não serão capazes, via de regra,
de perceberem que os suínos são seres sencientes e precisam ser manejados de
forma ética.
Os suínos foram retirados da sua vida livre na natureza e colocados em
condições de confinamento com a finalidade se servir de alimento. Diante desse
contexto, é papel do homem manejar os suínos sob condições de bem-estar
animal o que envolve a provisão de ração balanceada, fresca, em quantidade
apropriada e formulada para suprir as exigências nutricionais nas diferentes
fases produtivas; é imprescindível garantir que os animais não fiquem sem
arraçoamento, salvo durante o período de jejum pré-abate. O acesso a água de
qualidade, na temperatura adequada e de forma abundante. O monitoramento
da saúde do rebanho de forma a identificar possíveis enfermidades e tomar
decisões rápidas para corrigi-las; identificar um animal debilitado e não tomar
nenhuma atitude é, no mínimo, falta de bem-estar animal. O conforto térmico,
ou seja, os funcionários devem ser treinados para saber qual a temperatura de
conforto das diferentes fases dos suínos. É preciso, ainda, que os manejadores
sejam treinados para identificar quando os animais estejam passando frio ou
calor e promovam conforto térmico. O alojamento em instalações que estejam
em boas condições estruturais, sem acúmulo de fezes e excesso de umidade.

102
De acordo com os especialistas consultados para a elaboração deste
capítulo, o maior gargalo com relação ao bem-estar animal, atualmente, está
fora da porteira. O que não quer dizer que da porteira para dentro não existam
ainda problemas a serem resolvidos. No entanto, há uma crescente percepção
dentro das granjas de que produzir suínos com bem-estar resulta em grandes
benefícios tanto para manejadores quanto para os suínos. O resultado disso são
ganhos na produtividade e um melhor ambiente de trabalho.
Fora da porteira, os maiores obstáculos ao bem-estar animal, estão
relacionados ao transporte de suínos para o abate, os manejos realizados no
pré-abate e o abate propriamente dito. O transporte por si só já é considerado o
momento mais estressante da vida dos suínos, uma vez que esses serão expostos
a estímulos que não nunca foram submetidos; acrescenta-se, a esse fator, a
condução inadequada dos animais das baias de terminação até o caminhão,
embarcadouros impróprios, densidade exagerada, estresse térmico e mistura
de novos animais que levam a disputas hierárquicas, condução indevida do
caminhão pelo motorista, o que deixam os suínos suscetíveis à lesões. Fatos
que podem ocasionar a perda de todo o trabalho realizado durante meses
dentro da granja já que contribuem com maior índice de óbito de animais ou
danos à carcaça, o que do ponto de vista de bem-estar animal e econômico é
contraproducente.
Com relação ao transporte, é necessário que os motoristas sejam bem
treinados para conduzirem de forma a minimizar a chance de causar lesões e
morte dos suínos. Esses precisam assegurar o conforto dos animais durante a
viagem prevenindo o estresse térmico. É digno de ressalva que não existe ainda
um plano de contingência oficial em caso de acidente envolvendo veículos
que transportam carga viva, outro ponto que carece atenção das autoridades
responsáveis.
Ainda no que diz respeito ao pré-abate, o desembarque dos animais no
frigorífico carece atenção, é preciso haver treinamento das pessoas envolvidas
nessa etapa para que o bem-estar animal seja levado em consideração. O uso de
manejos agressivos como conduzir os animais com bastão de choque ou outros
objetos que além de causarem sofrimento aos suínos também levam a lesões
de carcaça é inadmissível.
Durante o abate propriamente dito é preciso, ainda, garantir o bem-
estar dos suínos. Para tanto, é preciso que os equipamentos de insensibilização
estejam devidamente regulados, os suínos corretamente imobilizados,
garantindo um melhor posicionamento dos eletrodos durante a insensibilização
elétrica assim como as pessoas que trabalhem na linha de abate estejam
devidamente capacitadas (Vide programa Steps – Abate Humanitário de
Suínos).
Mais uma vez nota-se que o fator humano é parte fundamental no

103
processo de garantia do bem-estar dos suínos. É preciso, capacitar pessoas e
prover um ambiente de trabalho adequado, onde o bem-estar humano também
seja levado em consideração e, assim, promove-se qualidade de vida paras os
suínos do nascimento ao abate (Figura 4). Deve-se ressaltar que o bem-estar
humano está sempre atrelado ao bem-estar animal.

Figura 4. Bem-estar presente em toda a cadeia da carne suína garantindo a qualidade do produto final
(Fonte: ABCS)

104
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atividade suinícola está bem consolidada no Brasil e não há
dúvidas com relação ao seu futuro promissor e papel como umas das
principais lideranças mundiais junto é esse mercado. Porém, existem gargalos
– não consideramos aqui aqueles de ordem mercadológica – que precisam ser
resolvidos para que essa atividade se expanda e utilize todo o seu potencial.
Fica evidente que independente dos gargalos elencados pelos profissionais da
suinocultura, participantes do presente trabalho, o fator humano é o principal
componente de toda a engrenagem que faz girar a produção de suínos e, dessa
forma, é preciso que se trabalhe de forma sistemática para prover qualidade
de vida para as pessoas que consequentemente irão trabalhar para melhorar o
bem-estar e a sanidade do rebanho o que resultara em ganhos econômicos e
sociais para o Brasil.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL (ABPA). Relatório anual 2018. 176p.

CALLADO, A.A.C. Agronegócio. São Paulo: Atlas, 2006.

CARVALHO, E. Gestão de sucesso na suinocultura. Disponível em: http://www.agroceresmultimix.


com.br/blog/gestao-de-sucesso-na-suinocultura-modulo-1/ Acesso em: 28 set. 2018

CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de
Janeiro: Campus, 1999.

CHIAVENATO, I. Recursos Humanos. O capital humano das organizações. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2006.

DIAS, C. P. ; SILVA, C. ; MANTECA, XAVIER . Bem-estar dos suínos. 1. ed. LONDRINA: Midiograf
Gráfica e Editora, 2014. v. 1. 403p.

DUTRA, M.C. Uso de antimicrobianos em suinocultura no Brasil: análise crítica e impacto sobre
marcadores moleculares de resistência. 2017. 78p. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo, São
Paulo.

GUEDES, R.M.C. Um papo franco sobre sanidade de suínos no Brasil. Suinocultura industrial.
Disponível em: https://www.suinoculturaindustrial.com.br/imprensa/um-papo-franco-sobre-a-sanidade-
de-suinos-no-brasil/20161218-230456-d856 Acesso em: 25 set. 2018

KOKETSU, Y., TANI, S., LIDA, R. Factors for improving reproductive performance of sows and herd
productivity in commercial breeding herds. Porcine Health and Management. v.3, p.1-10, 2017.

MACHADO, I.P. Administração prática dos recursos humanos em granjas de suínos: plano de cargo e
salários e sistema de bonificação. In: Produção de suínos teoria e prática. Brasília, DF, 2014. p.782-793.

PROGRAMA STEPS - ABATE HUMANITARIO DE SUÍNOS. Disponível em: http://www.agricultura.


gov.br/assuntos/boas-praticas-e-bem-estar-animal/arquivos-publicacoes-bem-estar-animal/programa-
steps-abate-humanitario-de-suinos.pdf/view Acesso em:30 set. 2018.

ROSA, A. Genética 4.0 promete desmamar 54 leitões por matriz/ano. O Presente Rural. ed, 161, p.22. 2018.

105
SOUZA, I.T. Seleção, Recrutamento, treinamento e motivação de mão de obra na produção de suínos. In:
Produção de suínos teoria e prática. Brasília, DF, 2014. p.771-781.

SPOOLDER, H.A.M., GEUDEKE, M.J., VAN DER PEET-SCHWERING, C.M.C., SOEDE, N.M.
Group housing of sows in early pregnancy: A review of success and risk factors. Livestock Science,
v.125, p.1–14, 2009.

VAN BOECKEL, T.P., BROWNER, C., GILBERT, M., GRENFELL, B.T., LEVIN, S.A., ROBINSON,
T.P., LAXMYNARAYAN, R. Global trends in antimicrobial use in food animals. Proceedings of the
National Academy of Science, v.112, n.18, p.5649-5654. 2015.

WEGENER, H.C. Antibiotics in animal feed and their role in resistance development. Current Opinion
in Microbiology, v.6, p.439-435, 2003.

WORLD ANIMAL PROTECTION (WAP). Gestação coletiva de matrizes suínas. 2015. 24 p.

106
CAPÍTULO VI

EFEITO DA ADMINISTRAÇÃO DE IBUPROFENO EM


FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS DE 1 A 42 DIAS EM
SUBSTITUIÇÃO AOS ANTIBIÓTICOS MELHORADORES DE
DESEMPENHO

Almeida, E. R. M. 1; Górniak, S. L. 1; Andréo-Filho, N. 2; Pelissari, P. H.


1
; Dias, M. T.1; Araújo, C. S. S. 2; Hueza, I. M. 1,2

1
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-
USP), São Paulo - SP, Brasil
2
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Diadema - SP, Brasil

RESUMO
Os antibióticos utilizados como melhoradores de desempenho (MD) têm sido
banidos da produção animal, pois estão relacionados ao surgimento de cepas
bacterianas resistentes em humanos. O mecanismo pelo qual estes agem como
MD é ainda desconhecido. Há hipóteses de que os MD ajam no TGI diminuindo
uma inflamação local. Isto posto, o uso de anti-inflamatórios não-esteroidais
(AINE) poderia promover o melhor desempenho das aves? Assim, elegeu-se
o ibuprofeno (IBF) para avaliar se este poderia melhorar o desempenho das
aves, bem como avaliar possíveis efeitos tóxicos. Para tal, foram utilizados 40
frangos de corte (Cobb 500) de 1 dia de idade (DI) distribuídas em 4 grupos
(n=10/grupo) a saber: grupo controle (CO) e 3 tratados com as doses de 2,5; 5
ou 10mg/kg de IBF na ração, diariamente, por 42 dias. As aves foram alojadas
individualmente e tiveram o consumo de ração (CR) e o ganho de peso (GP)
avaliados. Aos 21 e 42 DI, coletou-se sangue para o hemograma e para a
bioquímica sérica. Aos 21 DI, houve basofilia em todas as aves tratadas com
o IBF, efeito esse que aos 42 dias deu lugar à linfopenia e heterofilopenia nas
aves tratadas com 10mg/kg. Aos 21 DI, a ALT estava diminuída nos grupos
tratados com IBF (p<0,01) e a albumina aumentada e a globulina diminuída
no grupo da maior dose (p<0,01). O ácido úrico estava aumentado aos 21 e 42
DI nas aves tratadas com 5 e 10mg/kg de IBF. Em relação ao GP e ao CR, não
foram encontradas diferenças nestes parâmetros entre os grupos. Assim, apesar
do não comprometimento do GP e do CR, o IBF não promoveu melhora no
desempenho das aves. Ainda, com os resultados obtidos do hemograma e da
bioquímica sérica, o IBF pode promover alterações que na realidade da granja
poderão vir a ser deletérias à avicultura.

1. INTRODUÇÃO

107
A avicultura, não apenas aquela desenvolvida no Brasil como em
qualquer outro país produtor de frangos de corte no mundo, vem sofrendo
uma pressão não somente de consumidores mais exigentes com a qualidade
e sanidade dos produtos que adquirem, como principalmente de órgãos
reguladores governamentais em saúde pública que observaram que a prática
da administração de antibióticos (ATB) utilizados na produção animal como
promotores de crescimento pode estar promovendo resistência bacteriana à
diferentes ATB de uso humano (Hughes & Heritage, 2004).
Promotores de crescimento são ATB utilizados na avicultura, que
promovem aumento no ganho de peso (GP) das aves em torno de 2 a 4% e
melhoria na conversão alimentar que gira entre 4 a 10%, o que reflete em
ganhos consideráveis para o setor avícola e para a própria economia do país,
uma vez que o Brasil está entre os maiores produtores de proteína animal no
mundo (Cristina, 2005).
Vale ressaltar que as dosagens empregadas destes ATB são muito
inferiores àquelas terapêuticas, que são destinadas a tratar animais enfermos, ou
as profiláticas, que tem como objetivo principal, diminuir a incidência de uma
enfermidade de forma preventiva no rebanho. ATB utilizados como promotores
de crescimento tem como objetivo único o de controlar o crescimento
indesejado de populações microbianas no trato gastrointestinal (TGI) com
características patogênicas e consequentemente reduzir a fixação das mesmas
nas paredes das células epiteliais e liberação de toxinas no meio gástrico que
possam levar ao desenvolvimento de uma resposta inflamatória com alterações
morfológicas, como o espessamento e diminuição das vilosidades intestinais
e com maior grau de descamação celular, o que resulta em menor absorção de
nutrientes, alteração da osmolaridade intestinal e diarreia com consequência
direta sobre o ganho de peso e a conversão alimentar dos animais (Parker &
Armstrong, 1987).
Apesar da melhora dos índices zootécnicos e retorno econômico
importante ao produtor e ao país exportador; como dito anteriormente, as
preocupações com a saúde pública são crescentes, isto devido à elevada
ocorrência nas últimas décadas de resistência bacteriana e ao surgimento, em
hospitais, de bactérias super-resistentes não responsivas ao arsenal terapêutico
existente (Landers et al., 2012). E apesar de muita controvérsia, o uso de
promotores de crescimento tem sido apontado como uma das causas da
transmissão de resistência entre cepas bacterianas, sendo por esta razão seu uso
praticamente banido de alguns países como aqueles da Comunidade Europeia,
gerando desta forma, pressão sobre os países exportadores que vem buscando
desenvolver novos métodos para a melhora no desempenho do plantel, como
uso de prebióticos, probióticos, ácidos orgânicos (Andreatti-Filho & Sampaio,
1999) e algumas tentativas com óleos e extratos vegetais, como Aloe vera

108
(Darabighane & Nahashon, 2014).
Um dos aspectos que chama a atenção em relação ao uso de promotores
de crescimento está no fato do mecanismo de ação de baixas concentrações dos
mesmos não ser totalmente elucidado. O mais aceito, é que estes promotores
de crescimento interfiram no metabolismo bacteriano, inibindo assim a
aderência e redução na liberação de toxinas pelas bactérias patogênicas e
consequentemente menor ativação da resposta imune e mitigação do processo
inflamatório local e melhor absorção de nutrientes com menor gasto energético
decorrente da resposta imune (Wolowczuk et al., 2008).
No entanto, há ainda relatos de que a administração de ATB em baixas
concentrações por períodos prolongados promove efeito anti-inflamatório per
se e melhora no quadro clínico de pacientes humanos (Koerner et al., 2007;
Tauber & Nau, 2008), mesmo quando há ausência de patógenos no hospedeiro,
como é o caso da administração de macrolídeos na terapia da panbronqueolite
difusa e na fibrose cística em humanos (Oda et al., 1994), doenças estas
caracterizadas por intenso processo inflamatório, com infiltrado neutrofílico
e presença de muco abundante, cuja administração de eritromicina em baixas
doses, em pacientes não infectados, promove sobrevida de até 5 anos em 98%
dos pacientes (Amsden, 2005).
Desta forma, é possível assumir que a diminuição do processo
inflamatório por meio da diminuição de uma população bacteriana agressiva
sobre o epitélio intestinal, ou decorrente de um possível mecanismo anti-
inflamatório dos ATB per se, seja a responsável em promover melhor aporte de
nutrientes e otimização nos índices zootécnicos de produção. Somado a este
fator, têm-se relatos de que o uso de anti-inflamatórios não-esteroidais (AINE)
pode promover melhoras no bem-estar de aves (Baert, 2003).
Diferentemente do que ocorre com aves silvestres, sejam aquelas
de cativeiro (santuários de recuperação), sejam aquelas tidas como pets, o
uso de AINE é bastante limitado em aves comerciais para a terapêutica de
processos inflamatórios. Porém, alguns estudos vêm mostrando que os AINE
proporcionam efeitos benéficos sobre o plantel, como melhora dos sinais
clínicos em frangos de corte com coccidiose (Hornok et al., 1999; Allen, 2000;
Cristofol et al., 2000 e Vermeulen, 2001); redução na ascite em frangos quando
tratado com ácido acetilsalicílico (AAS) (Proudfoot & Hulan, 1983; Boulianne
& Hunter, 1990 e Balog et al., 2000); melhor taxa de sobrevivência sob estresse
térmico (Oliver & Birrenkott, 1982). Para alterações locomotoras, muito
comuns em frangos de corte, o uso carprofeno mostrou-se eficaz, melhorando
o desempenho das aves (McGeown et al., 1999) e ainda, Thomas et al. (1966)
verificaram que o tratamento de galinhas poedeiras com o AAS promovia
melhora na qualidade do ovo das mesmas e maior eficiência alimentar das
mesmas.

109
Isso posto, é possível levantar a hipótese de que o uso de AINE
em doses adequadas e não tóxicas, podem promover em frangos de corte,
não apenas um melhor bem-estar animal, como anteriormente citado, como
também, uma diminuição no processo inflamatório do TGI gerado pela
presença da própria microbiota das aves.

MATERIAL E MÉTODOS
PREPARO DA RAÇÃO E AJUSTE DAS DOSES
INCORPORAÇÃO DO FÁRMACO À UMA PARTIDA DE RAÇÃO
A ração basal contendo IBF foi preparada de modo que sua
concentração final fosse de 11,25 mg de IBF por grama de ração. Assim, 39,83
g de IBF foram incorporados diretamente, em sua forma de pó, à 3500 g de
ração, por diluição geométrica, em que cada etapa foi homogeneizada pelo
período de 15 minutos. Na etapa final da incorporação, também por diluição
geométrica, foi utilizado misturador mecânico com câmara em “V”.

INCORPORAÇÃO DA PARTIDA DE RAÇÃO À RAÇÃO TOTAL


A ração basal preparada foi incorporada ao restante de ração por meio
de um misturador mecânico de maior capacidade. As doses utilizadas - 2,5; 5,0
e 10,0 mg de IBF por quilograma de peso vivo por dia (mg/kg de IBF por PV)
- foram ajustadas semanalmente, de acordo com o consumo e peso médios das
aves. As tabelas 1 e 2 mostram as quantidades de ração basal incorporadas ao
montante de ração a ser consumido em cada semana, por tratamento.
Tabela 1. Quantidade, em gramas, de ração basal contendo IBF adicionada à ração, da primeira à terceira
semana de experimentação.

110
2. ESTUDO BIOLÓGICO

AS AVES
Foram utilizados pintinhos, machos, de 1 dia da espécie Gallus gallus
da linhagem Cobb 500 vacinados contra a doença de Marek e Gumboro que
foram criados até os 42 dias de idade. As aves foram pesadas a cada três dias e
foram alojadas em gaiolas metabólicas de forma casualizada.
Foram utilizados 40 frangos de corte dividos em 10 aves por grupo, a saber:
um grupo controle (CO), sem tratamento, e 3 grupos tratados com as doses:
2,5 mg/kg 5,0 mg/kg e 10,0 mg/kg. Cada gaiola metabólica alojou uma ave
individualmente.
O experimento foi realizado em conformidade com as normas e
procedimentos da Comissão de Ética no Uso de Animais da Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP)
(CEUA: 8676210217).

INSTALAÇÕES
Os experimentos foram realizados nos galpões experimentais do
Laboratório de pesquisa em aves, do Departamento de Nutrição e Produção
Animal da Faculdade de Medina Veterinária e Zootecnia da Universidade de
São Paulo (FMVZ/USP), Campus de Pirassununga, localizado a 21º8” de
latitude sul e 47º25’42” de longitude leste a uma altitude de 634 metros em um
período total de 42 dias de experimentação.
As aves foram alocadas em bateria vertical, até 21 dias de
experimentação. A instalação utilizada apresenta gaiolas de alumínio
inoxidável, de dimensões 34 cm de largura, 1 metro de comprimento e 24 cm
de altura, dispostas verticalmente com presença de comedouros do tipo calha e
bebedouros do tipo nipple e escamoteador, figura 1.

Figura 1. Bateria vertical em gaiolas de alumínio inoxidável, comedouros tipo calha e bebedouro
tipo nipple, de 1 aos 21 dias de tratamento – Faculdade de Medina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo (FMVZ/USP – Campus Pirassununga)
Fonte: Almeida ERM, 2018

111
Aos 21 dias de experimentação, os frangos foram transferidos para
outro galpão experimental do Aviário, com gaiolas de aço galvanizado,
de dimensões 50 cm de largura, 50 cm de comprimento e 45 cm de altura,
dispostas horizontalmente, com bebedouros do tipo nipple com copinho,
figura 2. Ambos os galpões tiveram oferta de alimento e água ad libitum, e a
temperatura e a ventilação foram monitoradas diariamente.

Figura 2. Gaiolas horizontais de aço galvanizado, comedouros tipo calha e bebedouro tipo nipple
com copinho, de 21 aos 42 dias de tratamento – Faculdade de Medina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo (FMVZ/USP – Campus Pirassununga)
Fonte: Almeida ERM, 2018

AVALIAÇÃO DO PESO E CONSUMO DE RAÇÃO


O consumo de ração foi avaliado diariamente por meio da diferença
entre os pesos da ração do dia pelo dia anterior. Já o ganho de peso foi avaliado
a cada três dias, o qual foi calculado pela diferença entre peso final e peso inicial
dos frangos para o mesmo intervalo de tempo. Para a conversão alimentar foi
feita a relação entre o consumo médio de ração total e o ganho de peso médio
total.

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS SANGUÍNEOS E BIOQUÍMICA


SÉRICA COLETA
O sangue foi coletado por punção da veia ulnar, com auxílio de seringa
descartável de 5 mL contendo anticoagulante ácido etilenodiaminotetracético
(EDTA) para as avaliações hematológicas e sem EDTA para a realização dos
parâmetros bioquímicos.

HEMOGRAMA
A contagem de células sanguíneas, como leucócitos e eritrócitos,
foi feita manualmente com a utilização de um hemocitômetro (câmara de
Neubauer), onde foram colocadas amostras de sangue diluídas, e em solução
azul de toluidina (0,01%), com uma diluição sanguínea de 1:100. As células
leucocitárias (eosinófilos, basófilos, linfócitos, monócitos e heterofilos) e os
trombócitos foram contados por esfregaço de sangue, por contagem indireta,
através de microscopia óptica. As lâminas com o esfregaço foram coradas com

112
Wright para facilitar a contagem de células nucleadas.
Ainda, foi realizado o hematócrito, a interpretação do leucograma e a
observação da morfologia celular. Para determinação do hematócrito foi utilizado
tubo capilar à 1200g durante 5 minutos, pelo método de microhematócrito,
utilizando uma centrífuga Fanem®, e os resultados foram expressos em
porcentagem. Já a determinação da concentração de hemoglobinas em gramas
por decilitro, foi feita por meio da técnica de cianometahemoglobina, com a
utilização de reagentes da BIOCLIN®.

PARÂMETROS BIOQUÍMICOS
Após coagulação, o soro obtido foi armazenado à temperatura de 4
a 8ºC, conforme recomendações do fabricante, em microtubos devidamente
identificados para a posterior análise dos parâmetros bioquímicos, e que
foram realizados pelos métodos cinético e colorimétrico, por meio de “Kits”
comerciais da BIOCLIN.

ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados obtidos foram apresentados na forma de média e seus
respectivos erros-padrão, e as diferenças entre os grupos foram consideradas
estatisticamente significantes quando p<0,05. Foi utilizado ANOVA seguido
pelo teste de Dunnettt, submetidos à análise de variância pelo programa
GraphPad Prism 5,0.

RESULTADOS
AVALIAÇÃO DO PESO, GANHO DE PESO E CONSUMO
Em relação ao peso das aves, não foram observadas diferenças
estatísticas significantes entre os grupos que receberam as três doses de IBF e
o grupo CO ao longo dos 42 dias de experimentação, com exceção da pesagem
aos 36 dias de vida das aves, quando foi observada de forma pontual uma
diminuição de peso das aves pertencentes ao grupo tratado com a dose de 5
mg/kg de IBF. Os valores médios obtidos podem ser observados na tabela 3.
Tabela 3. Peso a cada três dias e peso total de frangos de corte (em gramas)
tratados ou não com diferentes doses de IBF, a cada três dias, durante 42 dias.

113
A CO: grupo controle. Média do peso seguido de erro-padrão; ANOVA seguido de Dunnettt (*p<0,05); n=
número de animais.
Em relação ao GP dos animais, a ANOVA empregada não foi capaz
de detectar diferenças estatisticamente significantes entre os grupos de animais
nos diferentes dias avaliados, bem como no GP totais dos animais (tabela 4).

Tabela 4. Ganho de peso (GP) a cada 3 dias e GP total de frangos de corte (em gramas) tratados ou não com
diferentes doses de IBF).

A CO: Grupo controle. Média do GP seguido de erro-padrão; ANOVA seguido de Dunnettt; n= número de animais.

114
Tabela 5: Consumo de ração a cada 3 dias e consumo total de frangos de corte (em gramas) tratados ou não
com diferentes doses de IBF.

a CO: Grupo controle. Média do consumo seguido de erro-padrão; ANOVA seguido de Dunnettt (*p<0,05 e
**p<0,01); n= número de animais

PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS


HEMOGRAMA COMPLETO E BIOQUÍMICA SÉRICA AOS 21 DIAS

No presente estudo realizado com três diferentes doses de IBF, pôde-


se observar que houve alterações nos parâmetros bioquímicos das aves que
receberam o fármaco. A análise estatística empregada (ANOVA) revelou haver
alterações entre os grupos de aves nos seguintes parâmetros bioquímicos:
ALT; ácido úrico, globulina e albumina sérica. O teste post hoc de Dunnett
revelou que houve diminuição estatisticamente significante na ALT de todas
as aves tratadas com diferentes doses do IBF quando comparadas com os
animais do grupo controle (p<0,01). Em relação ao ácido úrico, o mesmo teste
evidenciou que aves pertencentes aos grupos tratados com 5,0 e 10,0 mg/kg
de IBF tiveram um aumento estatisticamente significativo neste parâmetro
quando comparado ao grupo CO (p<0,01). Já em relação às proteínas séricas
albumina e globulina, estas se mostraram estatisticamente aumentadas e
diminuídas, respectivamente, nas aves do grupo tratado com a maior dose
quando comparadas com aquelas do grupo CO (Tabela 6).
A análise estatística empregada, quando do estudo hematológico das
aves, apenas revelou haver alterações estatisticamente significantes entre os
grupos de animais no número de basófilos circulantes. O Dunnettt revelou uma

115
diminuição estatisticamente significante no número destas células sanguíneas
em todos os grupos de aves tratadas com o IBF (p<0,05) quando comparadas
com o grupo CO (tabela 7).
Tabela 6. Parâmetros bioquímicos de frangos de corte tratados ou não com diferentes doses de IBF, por 21 dias.
São apresentadas as médias seguidas dos respectivos erros-padrões.

aCO: controle; n= número de animais; AST: aspartato aminotransferase; ALT: alanina


aminotransferase; GLIC: glicose; PROT: proteína total; ALB: albumina; GLOB: globulina; AC
UR: ácido úrico; CREAT: creatinina. ANOVA seguido de Teste de Dunnettt, *p<0,05 e **p<0,01.

Tabela 7. Parâmetros hematológicos de frangos de corte tratados ou não com diferentes doses de IBF, aos 21
dias. São apresentadas as médias seguidas dos respectivos erros-padrões.

116
CO: controle. n: número de aves. MCV = Volume Corpuscular Médio; MCH = Hemoglobina
Corpuscular Média; MCHC = Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. ANOVA
seguido de Teste de Dunnettt, *p<0,05.

3. HEMOGRAMA COMPLETO E BIOQUÍMICA SÉRICA AOS 42


DIAS
Aos 42 dias, não foi observado alterações nos parâmetros bioquímicos
das aves que receberam o fármaco, com exceção ao ácido úrico. O teste post
hoc de Dunnett revelou que houve aumento estatisticamente significante nos
grupos de 5,0 e 10,0 mg/kg, quando comparados ao grupo CO (tabela 8).
A análise estatística empregada, quando do estudo hematológico das
aves, revelou haver alterações estatisticamente significantes entre os grupos
de animais nos números de leucócitos, linfócitos absolutos e heterofilos
absolutos. O teste de Dunnett mostrou diminuição estatisticamente significante
nos números de leucócitos e linfócitos absolutos no grupo que recebeu a dose
de 10,0 mg/kg; e diminuição estatisticamente significante no número de
heterofilos absolutos, nos grupos que receberam as doses de 2,5 e 10,0 mg/kg
de IBF, também comparados ao grupo CO (tabela 9).

Tabela 8. Parâmetros bioquímicos de frangos de corte tratados ou não com diferentes doses de IBF, por 42 dias.
São apresentadas as médias seguidas dos respectivos erros-padrões.

aCO: controle; n= número de animais; AST: aspartato aminotransferase; ALT: alanina


aminotransferase; GLIC: glicose; PROT: proteína total; ALB: albumina; GLOB: globulina; AC
UR: ácido úrico; CREAT: creatinina. ANOVA seguido de Teste de Dunnettt, *p<0,05 e **p<0,01.

117
Tabela 9. Parâmetros hematológicos de frangos de corte tratados ou não com diferentes doses de IBF, aos 42
dias. São apresentadas as médias seguidas dos respectivos erros-padrões.

CO: controle. n: número de aves. MCV = Volume Corpuscular Médio; MCH = Hemoglobina
Corpuscular Média; MCHC = Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média. ANOVA
seguido de Teste de Dunnettt, *p<0,05.

4. DISCUSSÃO
Atualmente é mundialmente reconhecido que o uso de ATB
melhoradores de desempenho vem sendo banido da produção animal devido
à sua possível relação com a ocorrência de resistência cruzada entre bactérias
altamente patogênicas e de importância na saúde humana (Hughes & Heritage,
2004). No entanto, a pressão para a substituição destes melhoradores de
desempenho é imensa, uma vez que a retirada destes medicamentos na
produção leva a prejuízos consideráveis ao produtor. De fato, uma busca na
literatura mostra que o número de artigos com novos pré e probióticos e ainda
uso de ácidos orgânicos, enzimas e ervas na avicultura só tem aumentado
(Sethiya, 2016).
Como dito anteriormente, várias são as hipóteses de como os ATB melhorados
de desempenho atuam, sendo uma das possíveis formas, uma ação direta

118
destes, quando administrados em baixas concentrações, promoverem uma
diminuição na resposta inflamatório do TGI, o que, além de facilitar a absorção
de nutrientes, diminui gastos energéticos com a elicitação e desenvolvimento
de uma resposta imunomediada. Assim, seria o uso de AINE benéfico à
produção animal? O uso de AINE na avicultura com objetivo terapêutico de
processos dolorosos, inflamatórios ou antitérmicos é muito raro; no entanto,
alguns estudos tem evidenciado que o emprego destes medicamentos em
aves comerciais, sejam elas de corte, sejam aquelas produtoras de ovos,
tem promovido alguns resultados animadores para a avicultura; porém, nem
sempre replicáveis ou eficientes para todos os parâmetros zootécnicos, como
por exemplo, o uso do ácido acetilsalicílico para a melhora da qualidade da
casca do ovo (Balog & Hester, 1991), porém sem melhorar a produção e a
eficiência alimentar de galinhas poedeiras (Mcdaniel et al., 1993). Ainda, em
um estudo com o ácido acetilsalicílico realizado por Stilborn e colaboradores
(1988) foi sugerido que o uso deste AINE não promovia melhora na
performance de frangos de corte durante o estresse térmico, o que não foi
observado por Mohammed (2010), o qual verificou que o uso deste fármaco
durante períodos de estresse térmico, poderia melhorar o conforto térmico e a
produção de poedeiras. Porém, parcos são os estudos utilizando AINE como
substituto dos ATB melhoradores de desempenho. Dentre os AINE a serem
utilizados, imaginou-se que aquele a ser empregado neste estudo deveria ser
de baixo custo, e apto farmacotecnicamente a ser incorporado na ração dos
animais, sem que este sofresse alterações do meio, como ocorre com o ácido
acetilsalicílico, que ao ser incorporado na água de bebida dos animais ou
mantido em ambiente com forte conteúdo úmido, como a ração, sofre hidrólise
e consequentemente promove menor biodisponibilidade (Poźniak et al., 2013
e Mitchell et al.,1993). E ainda, que já houvesse estudo de farmacocinética
e toxicidade (Roder et al.,1996) que não demonstrasse os efeitos deletérios
que esta classe de medicamento possui, como o efeito colateral sobre o TGI,
levando a ocorrência de gastrite e ulcerações gástricas (Xavier, Maruo et al.,
2008) que poderia diminuir o consumo de ração e, consequentemente, o menor
desempenho dos animais, tendo sido o eleito para este estudo o IBF.
De fato, com os resultados aqui obtidos, pudemos depreender que,
apesar de alterações pontuais quanto ao, ora aumento e ora diminuição no
consumo de alimentos em alguns períodos experimentais daquelas aves tratadas
com o IBF, não foram observadas alterações estatisticamente significantes no
CR total, bem como no peso e no GP total destas aves, tanto aos 21 quanto aos
42 dias vida, evidenciando assim que as doses aqui empregadas, apesar de não
terem conferido às aves melhor desempenho no que diz respeito à eficiência
alimentar, uma vez que estas se mostraram semelhantes àquelas do grupo
controle, não promoveram alterações gástricas características do uso contínuo

119
de AINE.
Quando foi realizado o hemograma das aves, foi possível averiguar
que o perfil hematológico ao longo do tratamento das aves foi diferente,
havendo em um primeiro momento uma diminuição no número de basófilos
circulantes daquelas aves tratadas com IBF. Diferentemente do que se sabe
em mamíferos, pouco se sabe a respeito da ação específica de basófilos em
aves, podendo estar envolvida não somente em processos alérgicos, como
também participando na resposta imune celular cutânea de aves desafiadas
com fitohemaglutinina (Corrier & Deloach, 1990). Porém, há estudos que
sugerem que essas células desempenham papel importante ou são reflexo de
condições orgânicas promovidas por estresse. Estudos realizados por Maxwell,
1993 e outros pesquisadores (Morgulis, 2002; Cardoso & Tessari, 2003),
mostram que situações de estresse, seja de transporte para abatedouro, estresse
térmico ou diminuição na oferta de alimentos, faz com que haja a liberação de
corticosteroides endógenos e a ocorrência de basofilia. Assim, é possível supor
que o tratamento com o IBF até os 21 dias de vida, tenha promovido algum
conforto ao estresse da criação em gaiolas metabólicas, já que nestes animais,
o número de basófilos circulantes estava diminuído quando comparado ao
grupo controle.
Porém, quando o hemograma foi avaliado aos 42 dias de vida das
aves, a diminuição no número de basófilos daquelas aves tratadas com o AINE
deu lugar à leucopenia, reflexa à linfopenia e à heterofilopenia. Sabe-se que
uma leucopenia pode significar infecção viral ou bacteriana em aves (Dein,
1986; Fudge & Joseph, 2000; Latimer & Bienzle, 2000 e Schmidt, 2007);
porém, em nenhum momento experimental foram observados sinais clínicos
que corroborassem esta informação. Não houve morbidade e tão pouco
mortalidade nas aves tratadas com o IBF. Assim, não restam dúvidas de que
outros estudos devam ser realizados para o melhor entendimento dos efeitos do
IBF sobre o leucograma de aves.
Já em relação aos estudos do perfil bioquímico das aves, foi
observado aos 21 dias, uma diminuição dos níveis da enzima ALT. Sabe-
se que para avaliações de função hepática, as enzimas ALT, AST, fosfatase
alcalina (FA) e gama glutamil transpeptidase (GGT) podem ser elencadas para
estudos de possível hepatotoxicidade, mas vale lembrar que a FA é uma enzima
inespecífica, a qual pode ser liberada por atividade osteoclástica nos ossos,
pelo TGI e também pelo fígado (Campbell, 2004 e Schmidt, 2007) e ainda, a
GGT está mais relacionada a lesões colestáticas que aquelas exclusivamente
hepáticas (Campbell, 2004 e Schmidt, 2007). Assim, as enzimas AST e
ALT quando aumentadas em um indivíduo são claramente marcadoras de
hepatotoxicidade. No entanto, o aumento da ALT isoladamente, não reflete em
alterações hepáticas. Ainda, este mesmo parâmetro, quando avaliado aos 42

120
dias de vida, não se mostra mais elevado quando comparado ao do controle,
mostrando que o IBF não é, nas doses aqui empregadas, hepatotóxico. De fato,
em um estudo realizado por Ghodasara et al. (2014), apenas doses de 80ppm e
acima foram capazes de promover hepatotoxicidade.
Por outro lado, também aos 21 dias, foi observado um aumento da
albumina sérica e uma diminuição nos níveis de globulina naquelas aves
tratadas com 10,0 mg/kg de IBF. Uma alteração na razão albumina/globulina,
com aumento deste índice, pode denotar a presença de enfermidades e infecções
(Kaneko, 1997), porém, mais uma vez ressaltamos que em nenhum momento
foram observadas morbidades ou mortalidades decorrentes de processos
infecciosos neste experimento. Assim, estudos devem ser verticalizados com o
objetivo de melhor entender estes resultados, uma vez que em conjunto, estas
diferenças estatísticas não refletiram nos animais, significância biológica.
Ainda, nota-se mais uma vez, que aos 42 dias e vida, estes parâmetros se
encontraram dentro da normalidade quando comparados com aqueles do grupo
controle.
Ainda discutindo as alterações dos parâmetros bioquímicos aqui
avaliados, aquele que mais chama a atenção está relacionado aos níveis de
ácido úrico, os quais se mostraram, tanto aos 21 dias quanto aos 42 dias de vida,
aumentados de forma dose-resposta, com significância estatística nos animais
tratados com as doses de 5,0 e 10,0 mg/kg de IBF. O ácido úrico é o principal
produto de excreção do metabolismo do nitrogênio nas aves, e seu aumento pode
sugerir disfunções renais (Lumeij, 1997). Sabe-se que o uso indiscriminado de
AINE está associado ao comprometimento das funções renais, sendo o IBF um
exemplo em humanos (Whelton & Watson,1998; Melgaço, 2010). Somado a
este fator, tem-se que o IBF é conhecido por causar intoxicações em animais
domésticos mamíferos e por possuir baixa margem de segurança (Xavier et
al., 2008). No entanto, naquele estudo realizado por Ghodasara et al. (2014),
em que doses de 80, 400 e 800 ppm foram utilizados por 21 dias, não foram
encontrados sinais de lesão renal e aumento do ácido úrico. Assim, não restam
dúvidas de que mais estudos devam ser realizados para o melhor entendimento
deste resultado, o qual pode estar inclusive relacionado à constituição da ração
e sua interação química com o IBF adicionado, interferindo assim em sua
biodisponibilidade e possível ação benéfica ou tóxica aos animais.

5. CONCLUSÃO
O uso do IBF como melhoradores de desempenho não promoveu
melhora no ganho de peso das aves tratadas com o medicamento. O hemograma
revelou que, aos 21 dias de experimentação, o número diminuído de basófilos
nos três grupos que receberam o fármaco, possa estar relacionado a diminuição
de estresse ou desconforto, que são comuns aos frangos de corte; por outro

121
lado, os parâmetros bioquímicos evidenciaram possíveis efeitos nefrotóxico
ao longo dos 42 dias de experimentação nos grupos que receberam as doses
de 5,0 e 10,0 mg/kg; já para a melhor compreensão dos resultados obtidos,
faz-se necessário novos estudos incluindo àqueles de interação da molécula
do IBF com a ração e estabilidade, somado as características fisiológicas e
anatômicas própria das aves. Assim, podemos concluir que o uso de IBF, apesar
de favorecer o bem-estar de forma transiente, não foi eficaz em melhorar o
desempenho zootécnico de frangos de corte, podendo inclusive induzir um
possível efeito nefrotóxico.
Apoio financeiro: Este trabalho foi desenvolvido com o suporte da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brasil [1723701/2017].

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLEN, P.C. Effects of treatments with cyclooxygenase inhibitors on chickens infected with Eimeria
acervulina. Poultry Science, v.79, n.9, p.1251-1258, 2000.

ANDREATTI-FILHO, R.L.; SAMPAIO, H.M. Probióticos e prebióticos: realidade na avicultura


industrial moderna. Revista de Educação Continuada CRMV-SP, v.2, p.59-71, 1999.

BAERT, K. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of non-steroidal anti-inflammatory drugs in birds.


2003. Tese de Doutorado. Ghent University.

BALOG, J.M. et al. Effect of dietary aspirin on ascites in broilers raised in a hypobaric chamber. Poultry
Science, v.79, n.8, p.1101-1105, 2000.

BALOG, JANICE M.; HESTER, PATRICIA Y. Effect of dietary acetylsalicylic acid on eggshell quality.
Poultry Science, v.70, n.3, p.624-630, 1991.

BOULIANNE, M.; HUNTER, D.B. Aspirin: a treatment for sudden death syndrome in turkeys?. In:
Proceedings-Western Poultry Disease Conference (USA). 1990.

CAMPBELL, T.W. Clinical chemistry of birds. Veterinary hematology and clinical chemistry, v.2, p.582-
598, 2004.

CARDOSO, A.L.S.P.; TESSARI, E.N.C. Estudo dos parâmetros hematológicos em frangos de corte.
Arquivos do Instituto Biológico, v.70, n.4, p.419-424, 2003.

CORRIER, D.E.; DELOACH, J.R. Evaluation of cell-mediated, cutaneous basophil hypersensitivity in


young chickens by an interdigital skin test. Poultry Science, v.69, n.3, p.403-408, 1990.

CRISTINA, A.V.C.S. Alternativas ao uso de promotores de crescimento em avicultura. Poli-nutri


Nutrição Animal, (2005). Disponível em: <http://www.polinutri.com.br/upload/artigo/213.pdf>. Acesso
em: 04 fev. 2017.

CRISTOFOL, C. et al. Pharmacokinetics of indomethacin in poultry. Avian diseases, p. 210-214, 2000.

DARABIGHANE, B.; NAHASHON, S.N. A review on effects of Aloe vera as a feed additive in broiler
chicken diets. Annual Animal Science, v.14, p.491-500, 2014.

DEIN, F.J. Hematology. In: Clinical Avian Medicine, Philadelphia, W B Sauders, 1986, p.174-191.
FUDGE, A.M; JOSEPH, V. Avian Complete Blood Count. In: FUDGE, A.M. Laboratory Medicine –

122
Avian and Exotic Pets; W.B. Saunders, 2000, p.19-27.

GHODASARA, P.D. et al. Toxicopathological studies of meloxicam, ibuprofen and diclofenac sodium in
broiler chicks. Indian Journal of Veterinary Pathology, v.38, n.4, p.250-255, 2014.

HORNOK, S. et al. Study on the course of Cryptosporidium baileyi infection in chickens treated with
interleukin-1 or indomethacin. Acta Veterinaria Hungarica, v.47, n.2, p.207-216, 1999.

HUGHES, P.; HERITAGE, J. Antibiotic growth-promoters in food animals. FAO Animal Production and
Health Paper, p.129-152, 2004.

KANEKO, J.J. Serum proteins and the dysproteinemias. In: Clinical Biochemistry of Domestic Animals
(Fifth Edition). 1997. p.117-138.

KOERNER, I.P.; GATTING, M.; NOPPENS, R.; KEMPSKI, O.; BRAMBRINK, A.M. Induction of
cerebral ischemic tolerance by erythromycin preconditioning reprograms the transcriptional response to
ischemia and suppresses inflammation. Anesthesiology, v.106, p.538-547, 2007.

LANDERS, T.F.; COHEN, B.; WITTUM, T.E.; LARSON, E.L. A review of antibiotic use in food,
animals: perspective, policy and potential. Public Health Reports, v.127, p.4-22, 2012.

LATIMER, K.S.; BIENZLE, D. Determination and interpretation of the avian leukogram. Lippincott
Williams & Wilkins, Philadelphia, p.417-432, 2000.

LUMEIJ, J.T. Avian clinical biochemistry. In: Clinical Biochemistry of Domestic Animals (Fifth
Edition). 1997. p.857-883.

MAXWELL, M.H. Avian blood leucocyte responses to stress. World’s Poultry Science Journal, v.49,
n.1, p.34-43, 1993.

MCDANIEL, C.D. et al. Response of layer breeders to dietary acetylsalicylic acid. 1. Effects on hen
performance and eggshell quality. Poultry science, v.72, n.6, p.1084-1092, 1993

MCGEOWN, D. et al. Effect of carprofen on lameness in broiler chickens. The Veterinary Record, v.144,
n.24, p.668, 1999.

MELGAÇO, S.S.C. et al. Nefrotoxicidade dos anti-inflamatórios não esteroidais. Medicina (Ribeirao
Preto. Online), v.43, n.4, p.382-390, 2010.

MITCHELL, J.A. Selectivity of nonsteroidal antiinflammatory drugs as inhibitors of constitutive and


inducible cyclooxygenase. Proceedings of the National Academy of Sciences, v.90, n.24, p.11693-11697,
1993.

MOHAMMED, A.A. Effect of acetyl salicylic acid (ASA) in drinking water on productive performance
and blood characteristic of layer hens during heat stress. International Journal of Poultry Science, v.9,
n.4, p.382-385, 2010.

MORGULIS, M.S. Imunologia aplicada. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:
FUNEP/UNESP, p.375-429, 2002.

ODA, H.; KADOTA, J.; KOHNO, S.; HARA, K. Erythromycin inhibits neutrophil chemotaxis in
bronchoalveoli of diffuse panbronchiolitis. Chest, v.106, p.1116-1123, 1994.

OLIVER, J.C.; BIRRENKOTT J.R. Response of broilers to hyperthermic stress following treatment

123
with a new cyclo-oxygenase inhibitor. Poultry science, v.61, n.6, p.1069-1072, 1982.

PARKER, D.S.; ARMSTRONG, D.G. Antibiotic feed additives and livestock production. Proceedings of
the Nutrition Society, v.46, p.415–421, 1987.

POŹNIAK, B. et al. Comparative pharmacokinetics of acetylsalicylic acid and sodium salicylate in


chickens and turkeys. British poultry science, v.54, n.4, p.538-544, 2013.

PROUDFOOT, F.G.; HULAN, H.W. Effects of dietary aspirin (acetylsalicylic acid) on the incidence of
sudden death syndrome and the general performance of broiler chickens. Canadian Journal of Animal
Science, v.63, n.2, p.469-471, 1983.

RODER, J.D. et al. Bioavailability and pharmacokinetics of ibuprofen in the broiler chicken. Journal of
veterinary pharmacology and therapeutics, v.19, n.3, p.200-204, 1996.

SCHMIDT, E. M. S. et al. Patologia clínica em aves de produção–uma ferramenta para monitorar a


sanidade avícola–revisão. Archives of Veterinary Science, v.12, n.3, 2007.

SETHIYA, N.K. Review on Natural Growth Promoters Available for Improving Gut Health of Poultry:
An Alternative to Antibiotic Growth Promoters. Asian Journal of Poultry Science, v.10, n.1, p.1–29,
2016.

STILBORN, H.L. et al. Ascorbic acid and acetylsalicylic acid (aspirin) in the diet of broilers maintained
under heat stress conditions. Poultry Science, v.67, n.8, p.1183-1187, 1988.

TAUBER, S.C.; NAU, R. Immunomodulatory properties of antibiotics. Current Molecular Pharmacology,


v.1, p.68-79, 2008.

THOMAS, J.M. et al. Effect of increasing dietary levels of acetyl-salicylic acid on performance and cecal
microbial counts of white leghorn pullets. Poultry science, v.45, p.1313-1317, 1966.

VERMEULEN, B.; REMON, J.P. The oral bioavailability of ibuprofen enantiomers in broiler chickens.
Journal of veterinary pharmacology and therapeutics, v.24, n.2, p.105-109, 2001.

WHELTON, A.; WATSON, A. J. Nonsteroidal anti-inflammatory drugs: effects on kidney function. In:
Clinical Nephrotoxins. Springer, Dordrecht, 1998. p.203-216.

WOLOWCZUK, I.; VERWAERDE, V.; VILTART, O.; DELANOYE, A.; DELACRE, M.; POT, B.;
GRANGETTE, C. Feeding our imune system: impacto on metabolismo. Clinical and Developmental
Immunology, 2008.

XAVIER, F.G.; MARUO, V.M.; SPINOSA, H.S. Toxicologia dos medicamentos. Spinosa, HS; Górniak,
SL; Palermo-Neto, J. Toxicologia aplicada à medicina veterinária, v.1, p.117-133, 2008.

124
CAPÍTULO VII

MICROALGAS NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS LEITEIRAS

Júlia Avansi Marques1*, Lucas Ghedin Ghizzi1, Mauro Sérgio da Silva


Dias1, Larissa Schneider Gheller1, Tássia Barrera de Paula e Silva1,
Guilherme Gomes da Silva1, Nathália Trevisan Scognamiglio Grigoletto1,
Francisco Palma Rennó1#

1
Departamento de Nutrição e Produção Animal – VNP, da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo – FMVZ/USP.
*julia.avansi.marques@usp.br
#francisco.renno@usp.br

1. INTRODUÇÃO
Em vista da expectativa de crescimento da população mundial e
demanda por alimentos, a pesquisa por alimentos alternativos ao uso daqueles
considerados convencionais na alimentação animal adquire relevância (Toyes-
Vargas et al., 2017; Altomonte et al., 2018; Loeb, 2018), uma vez que eles, em
sua grande maioria, fazem parte do cardápio alimentar da população humana e
que pode num futuro próximo se tornar motivo de competição para alimentar
“homens e animais”. Muitos alimentos e aditivos antigamente de uso restrito
aos monogástricos, vêm sendo testados, de forma a definir sua aplicabilidade e
limitação para ruminantes (Brask-Pedersen et al., 2013; Takiya et al., 2017).
Dentre os alimentos alternativos utilizados atualmente na alimentação
de ruminantes e monogástricos, destacam-se subprodutos, como os da indústria
de óleo de palma (AbuBakr et al., 2014) e da indústria de processamento
de milho, beterraba, colza e soja (Ertl et al., 2015). Além destes, o uso de
alimentos de origem não-vegetal, como insetos (Khan et al., 2016; Loeb,
2018), já vem sendo pesquisado para monogástricos como fonte barata de
proteína. As microalgas também estão recebendo destaque e interesse das
pesquisas atualmente, com ampla utilização na indústria alimentícia de animais
aquáticos, aves e suínos, ruminantes e humana (He, et al., 2002; Becker, 2007;
Silva et al., 2016; Sinedino et al., 2017).
Microalgas são microrganismos uni ou pluricelulares, fotoautotróficos,
menores do que 400 μm. Podem ser utilizadas como alimento não-convencional
para animais, sendo muito eficientes em utilizar energia solar, podendo utilizar-
se de água salgada ou de baixa qualidade para seu crescimento, não dependendo
de terras férteis, e sendo caracterizadas por elevada produção por unidade de
área em comparação com demais culturas tradicionais (ex: milho, soja, etc.;
Patil et al., 2008; Priyadarshani & Rath, 2012), contribuindo para a redução

125
da exploração de recursos naturais (Holman & Malau-Aduli, 2013). Ademais,
algumas espécies de microalgas são utilizadas para produção de biodiesel
(Kovač et al., 2013), na indústria farmacêutica e de cosméticos (Christaki et al.,
2011; Ribeiro et al., 2017) e seu produto residual, parcialmente ou totalmente
desengordurado, pode ser aplicado na alimentação animal (Lum et al., 2013;
Drewery et al., 2014; Silva et al., 2016).
A produção em larga escala de microalgas é realizada em fábricas, por
meio de 4 etapas principais: 1) produção de inoculo; 2) preparação do meio de
cultura; 3) produção de biomassa em biorreatores; 4) coleta e processamento
da biomassa (Acién et al., 2017). O crescimento da biomassa de microalgas
ocorre em fotobiorreatores, com controle de pH, temperatura e oxigênio do
meio, que permitem trocas de gases e de calor, além de maximizar a intercepção
da radiação solar (Acién et al., 2012).
Microalgas apresentam composição química muito variável de acordo com seu
gênero, espécie e condições de crescimento (Spalaore et al., 2006; Venckus, et
al., 2017). De maneira geral, são compostas por: 39-71% de proteína bruta, 10-
57% de carboidratos, principalmente polissacarídeos, celulose e amido (Chen
et al., 2013) e 6-86% de lipídios, principalmente esteróis e ácidos graxos poli-
insaturados de cadeia longa (Spalaore et al., 2006; Ryckebosch et al., 2014).
Os gêneros Chlorella e Prototheca, da família Chlorellaceae, se
compõem de algas verdes, eucariontes. Enquanto o gênero Chlorella é
estudado para suplementação proteica, por apresentar de 51-58% de PB em sua
composição (Becker et al., 2007), o gênero Prototheca, particularmente a espécie
Prototheca moriformis, pode ser utilizado na alimentação de ruminantes após
retirada de óleo, em associação com casca de soja, substituindo parcialmente o
milho moído como fonte de carboidratos não-fibrosos (Van Emon et al., 2015;
Da Silva et al., 2016).
Microalgas do gênero Spirulina, pertencentes ao grupo de
cianobactérias, são as mais utilizadas na alimentação animal como fonte
proteica, por apresentarem proteína de alto valor biológico e digestibilidade
(Kupras et al., 2003). Já o gênero Nannochloropsis representa uma classe de
microalgas eucariontes também utilizada como fonte alternativa de proteína,
comercializada em associação com Chlorella spp. (Stamm, 2015).
As microalgas do gênero Schizochytrium pertencem à família
Thraustochytriaceae, sendo microrganismos de origem marinha, eucariontes.
Apresentam de 50-60% de lipídios em sua composição química. Além
disso, contêm alto teor de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa,
da família ômega-3, principalmente ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido
docosahexaenóico (DHA), presentes em óleos marinhos (Kamlangdee & Fan,
2003).
A aquicultura é pioneira na inclusão de microalgas na alimentação.

126
Atualmente, na Europa, as únicas microalgas registradas para uso na
alimentação animal são Spirulina máxima, Spirulina platensis, e Schizochytrium
spp., para a nutrição de animais aquáticos (Altomonte et al., 2018). A pesquisa
sobre o uso de microalgas na alimentação de monogástricos, principalmente
aves e suínos, tem seus primeiros registros na década de 50 e 70 (Combs,
1952; Fevrier & Seve, 1975), recebendo também destaque atualmente (He et
al., 2002; Toyes-Vargas et al., 2017). Já as pesquisas em relação a ruminantes
tiveram seu início há 20 anos (Franklin et al., 1999; Papadopoulos et al., 2002),
com crescente interesse na última década (Glover et al., 2012; Da Silva et al.,
2016; Sinedino et al., 2017).
Para a alimentação de ruminantes, os produtos à base de microalgas
utilizados têm sido divididos em:
1) Farelo de alga integral e farelo de alga desengordurado, sendo que
o desengordurado apresenta apenas 5% de lipídios;
2) Óleos à base de microalgas, apresentando 55-56% de lipídios;
3) Biomassa de alga desidratada ou desidratada a frio, com 5-60%
de lipídios, podendo ser artificialmente encapsulada e protegida do rúmen
(Altomonte et al., 2018).
Quanto a seu valor nutricional, os produtos podem ser classificados
em:
1) Energéticos, utillizados em substituição parcial ao milho
ou concentrado (Boeckaert et al., 2008; Da Silva et al., 2016), ou como
suplementos lipídicos (Toral et al., 2010; Stamey et al., 2012);
2) Proteicos, em substituição parcial à soja e demais alimentos
proteicos (Reynolds et al., 2006; Póti et al., 2015; Stamm, 2015; Lamminen et
al., 2017; Altomonte et al., 2018).
Como vantagem em relação a monogástricos, os ruminantes podem
se beneficiar do nitrogênio não-proteico e digerir a parede celular presente nas
microalgas (Lum et al., 2013). A alteração do perfil de ácidos graxos do leite,
com aumento de ácido linoleico conjugado e ômega-3 também é vantajosa,
com relevância para a saúde humana. Porém, o processo de bio-hidrogenação
ruminal oferece empecilhos à transferência dos ácidos graxos da dieta para
os tecidos e leite de ruminantes (AbuGhazaleh et al., 2009). Também é
questionado se o uso de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa pode
levar a efeitos negativos na digestibilidade ruminal da fibra e consumo de
matéria seca (Jenkins, 1993), bem como reduzir os teores de gordura do leite
(Bauman & Griinari, 2003).
No entanto, apesar de seu potencial, de acordo com AbuGhazaleh
et al. (2009), há poucas pesquisas sobre o efeito do uso de algas como um
suplemento dietético de ácidos graxos para vacas leiteiras. Dessa forma, seus
efeitos no desempenho produtivo de ruminantes necessitam ser investigados,

127
considerando ainda diferentes níveis de inclusão de microalgas.

2. UTILIZAÇÃO DE MICROALGAS NA NUTRIÇÃO DE


RUMINANTES: RESULTADOS DE PESQUISA
A combinação de microalga desengordurada com casca de soja
apresenta elevado conteúdo de carboidratos não-fibrosos, o que pode se tornar
um ingrediente vantajoso na substituição do milho na dieta de ruminantes. O
farelo apresenta 57% de microalga desengordurada e 43% de casca de soja,
diferindo dos demais produtos à base de microalgas por não conter alto teor de
óleo ou proteína bruta (Lodge-Ivey et al., 2014, Meale et al., 2014).
Van Emon et al. (2015) relata o fornecimento deste farelo a novilhos
de corte em crescimento, com níveis de inclusão de 15%, 30% e 45% de farelo
de alga desengordurado na dieta, em substituição ao milho moído. Após 55
dias de confinamento, o fornecimento do farelo resultou em aumento linear
do consumo de matéria seca, provavelmente devido a maior palatabilidade
da dieta, e aumento do ganho de peso médio diário apenas no nível de 45%
de inclusão, em relação à dieta controle. Quanto à eficiência alimentar,
houve redução linear conforme se elevou o nível de inclusão do farelo, em
consequência do aumento do consumo de matéria seca. Não houve diferenças
quanto ao ganho de peso médio diário nos níveis de 15 e 30% de inclusão de
farelo em relação ao controle, bem como de peso final entre todos os grupos,
comprovando que o farelo de alga desidratada pode ser um adequado substituto
ao milho moído para novilhos em crescimento.
Dentre os benefícios da suplementação de ácidos graxos ômega-3 na
dieta de vacas leiteiras, destacam-se efeitos positivos como aumento do número
de folículos e taxa de clivagem de oócitos (Moallem et al., 2013; Gandra et al.,
2017), maior taxa de concepção e redução de dias em aberto (Sinedino et al.,
2017), e maior capacidade fagocitária na resposta imune celular (Gandra et al.,
2016).
Glover et al. (2012) estudaram a adição de uma microalga rica em
DHA (100 g/dia) na dietas de vacas leiteiras, contendo pastagens ou silagem de
milho como volumoso. A adição de microalgas à dieta não afetou o consumo
de matéria seca, a produção de leite e os teores de proteína e lactose, mas
reduziu o teor de gordura do leite e aumentou as concentrações de DHA na
gordura do leite.
Stamey et al. (2012) estudaram a inclusão de biomassa de microalga
rica em DHA protegida no rúmen e do óleo extraído desta alga, nas doses
de 14,5 e 29,0 g/dia. Os tratamentos não afetaram o consumo, a produção e
a composição do leite. As concentrações de ácidos graxos de cadeia curta e
média do leite também não foram afetadas pelos tratamentos. Em relação ao
tratamento controle, os tratamentos com DHA aumentaram a concentração de

128
DHA e C18:1 trans no leite, além de aumentar as concentrações séricas de
DHA.

3. UTILIZAÇÃO DE MICROALGAS NA NUTRIÇÃO DE


RUMINANTES: RESULTADOS DE PESQUISA DO LABORATÓRIO
DE PESQUISA EM BOVINOS DE LEITE (LPBL)
Em nosso grupo de pesquisa, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos
avaliando diferentes tipos de microalgas na dieta de vacas leite. O primeiro
trabalho a ser apresentado (Da Silva et al., 2016) avaliou a substituição de
milho moído por farelo de alga, composto de casca de soja e microalga
desengordurada. Recentemente, um segundo trabalho foi conduzido (Marques
et al., 2018 – submetido para publicação), avaliando a utilização de microalgas
ricas em DHA com fonte alternativa de lipídios na dieta de vacas leiteiras.

4. SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DE MILHO MOÍDO POR FARELO


DE ALGA NA DIETA DE VACAS DE LEITE: PRODUÇÃO E
COMPOSIÇÃO DO LEITE, DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES
E PERFIL METABÓLICO
Em estudo desenvolvido em nosso laboratório de pesquisa (Da Silva et
al., 2016), o farelo de alga desengordurado (TerraVia Holdings Inc., South San
Francisco, CA, EUA) foi fornecido a vacas em lactação, em substituição parcial
ao milho moído (9,17 % de inclusão na dieta). Vinte vacas holandesas (57,7 ±
49,4 de DEL, 25,3 ± 5,3 de produção de leite e 590 ± 71 kg de peso vivo, média
± DP) foram utilizadas em experimento em delineamento cross-over, com 21
dias de período experimental, sendo aplicados os seguintes tratamentos: dieta
controle e dieta com inclusão de farelo de alga desengordurado (Tabela 1).
Tabela 1. Ingredientes e composição química das dietas experimentais (% de MS).

1CON: sem farelo de microalga; ALG: farelo de microalga substituindo 34,2% de milho moído.
²Composto por 57% de microalga desengordurada e 43% de casca de soja. Composição: 97,1 %

129
de MS, 97,5% de MO (% MS), 27,4 % de FDN, 7,79 % de PB e 5,57 % de EE.
³Conteúdo por kg de produto: 88 g Ca, 42 g P, 18 g S, 45 g Mg, 123 g Na, 14 mg Co, 500 mg Cu, 20
mg Cr, 1050 mg Fe, 28 mg I, 1400 mg Mn, 18 Se, 2800 mg Zn, 80 mg biotina, 20.0000 UI vitamina
A, 40.000 UI vitamina D e 1200 UI vitamina E.

Não houve diferenças significativas entre os grupos quanto à produção


de leite, produção de leite corrigida para gordura (LCG), teor e produção de
sólidos do leite (P ≥ 0,192; Tabela 2).
Tabela 2. Efeitos na produção e composição do leite de vacas alimentadas com dieta substituindo parcialmente
milho moído por farelo de alga desengordurado.

1CON: sem farelo de microalga; ALG: farelo de microalga substituindo 34,2% de milho moído.
2Produção de leite corrigida para gordura: 3,5% LCG = (0,432 + 0,165 × % de gordura do leite)
× produção de leite (kg/d) (Sklan, 1992 et al.).

Da mesma maneira, não foram observadas diferenças nas concentrações de


glicose, ureia, proteínas totais, triglicérides, AST e GGT sanguíneas (P ≥
0,056; Tabela 3). Porém, o farelo de alga desengordurado elevou os níveis de
colesterol total e HDL sanguíneos em relação à dieta controle (P ≤ 0,037).
Tabela 3. Efeitos em metabólitos sanguíneos (mg/dL) de vacas alimentadas com dieta substituindo parcialmente
milho moído por farelo de alga desengordurado.

130
1CON: sem farelo de microalga; ALG: farelo de microalga substituindo 34,2% de milho moído.

O consumo e digestibilidade da MS foram similares entre os grupos


(P ≥ 0,275; Tabela 4). No entanto, houve aumento do consumo de FDN, EE
e da digestibilidade de EE no grupo que recebeu a dieta com farelo de alga
desengordurado (P ≤ 0,012).
Tabela 4. Efeitos no consumo e digestibilidade aparente do trato total de nutrientes de vacas alimentadas com
dieta substituindo parcialmente milho moído por farelo de alga desengordurado.

1CON: sem farelo de microalga; ALG: farelo de microalga substituindo 34,2% de milho moído.
2Estimados de acordo com Hall (2000), na qual: CNF = 1 – [(PB – PB da ureia + ureia) + FDN
+ EE + cinzas]; expressos em g/kg de MS.

O maior consumo de FDN e EE pelos animais que receberam a dieta


com farelo de alga desengordurado se justifica pelo maior teor destes nutrientes
na composição do farelo. Em contraste com os resultados de Van Emon et al.
(2015), não houve redução do consumo de matéria seca pelo fornecimento do
farelo de alga, provavelmente devido ao menor nível de inclusão realizado em
nosso experimento.
O aumento no teor de EE da dieta com farelo de alga em relação à
dieta controle, e a inclusão de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa
presentes na microalga favorece o aumento na digestibilidade do EE (Wu et
al., 1991, Palmquist & Mattos, 2011), que foi encontrada no estudo. A elevação
dos níveis de colesterol sanguíneos é devido à maior digestibilidade do EE, o
que aumentou sua absorção intestinal (Noble, 1981).
Portanto, a substituição parcial de milho moído por farelo de alga
desengordurado, a 9,17 % na dieta, pode ser realizada sem prejuízos ao
desempenho de vacas leiteiras. A produção e composição do leite não foram

131
alteradas, tendo efeitos mínimos na digestibilidade de nutrientes e elevando o
colesterol sanguíneo dos animais.

5. EFEITO DE DOSES CRESCENTES DE MICROALGAS RICAS


EM DHA NA DIETA DE VACAS LEITEIRAS
Recentemente, nosso grupo realizou pesquisa sobre o uso de
microalgas ricas em DHA (All-G Rich™, Alltech Animal Health and Nutrition,
Nicholasville, KY, EUA) na dieta de vacas leiteiras (Marques et al. 2018 –
submetido para publicação). Os tratamentos foram formulados com níveis
crescentes de microalgas na dieta, avaliando seus efeitos sobre o desempenho
animal. Vinte e quatro vacas holandesas [130,3 ± 15,4 de DEL e 30,8 ± 0,543
kg/dia de produção de leite (média ± EP)] foram utilizadas em experimento em
delineamento de quadrado Latino 4 × 4, avaliando os seguintes tratamentos:
dieta controle, sem alga (0 g/kg MS); e doses crescentes de microalga (2 g, 4
g ou 6 g/kg MS), substituindo parcialmente o grão de soja cru integral na dieta
(Tabela 5).
Tabela 5. Ingredientes e composição química das dietas experimentais (% da MS).

1A0: controle, dieta basal; A2, suplementação de 2 g/kg MS de microalga na dieta; A4,
suplementação de 4 g/kg MS de microalga na dieta; A6, suplementação de 6 g/kg MS de microalga
na dieta.
2Conteúdo por kg do produto: 190 g Ca, 60 g P, 20 g Mg, 35 g K, 70 g Na, 20 g S, 15 mg Co, 700
mg Cu, 40 mg I, 700 mg Fe, 1600 mg Mn, 2500 mg Zn, 20.000 UI Vitamina A, 50.000 UI Vitamina
D, e 1500 UI Vitamina E.
3Composição: 97,2% de MS, 97,2% de MO, 60,8% de EE, 17,1% de CNF, 15,1% de PB, 4,16%
de FDN, 0,410% de FDA, 2,84% de MM; Ácidos graxos (g/100g): 52,2% de C16:0, 31,9% de
DHA, 15,9% outros.

A inclusão de microalga reduziu linearmente o consumo de MS, MO,


FDN, PB e EE (P ≤ 0,009; Tabela 6). A digestibilidade aparente do trato total
(DATT) de MS, MO, PB e EE foi aumentada linearmente pela microalga (P ≤
0,003), enquanto houve tendência para efeito quadrático na digestibilidade da
FDN (P = 0,062), com valor máximo na inclusão de 4 g/kg MS de microalga.

132
Tabela 6. Ingestão de nutrientes e digestibilidade aparente do trato total de vacas leiteiras alimentadas com
doses crescentes de microalgas (All-G Rich™, Alltech®).

1A0: controle, dieta basal; A2, suplementação de 2 g/kg MS de microalga na dieta; A4,
suplementação de 4 g/kg MS de microalga na dieta; A6, suplementação de 6 g/kg MS de microalga
na dieta. 2Contrastes linear (L) ou quadrático (Q).

A produção de LCG foi afetada de maneira quadrática (P ≤ 0,027;


Tabela 7), com apenas tendência para a produção de leite (P ≤ 0,053),
apresentando produções máximas na inclusão de 2 g/kg MS de microalga. Os
teores de gordura, proteína e lactose do leite foram reduzidos, com aumento
da eficiência de produção de leite pela inclusão de microalga (P ≤ 0,001) e
redução da eficiência de produção de LCG (P = 0,029). A produção de gordura
foi afetada de maneira quadrática (P = 0,041), enquanto as produções de
proteína e lactose foram afetadas com tendência quadrática (P ≤ 0,089), com
produções máximas em doses intermediárias de microalga.
Houve baixa detecção de DHA no leite (apenas em 4 amostras);
no entanto, o perfil de ácidos graxos do leite foi alterado pela inclusão de
microalga. A proporção de ácidos graxos saturados foi reduzida, enquanto a
proporção de ácidos graxos poli-insaturados foi aumentada na gordura do leite
pela microalga (P < 0,001; Tabela 8). Houve redução nas proporções de C18:0,
C18:1 cis-9, C18:2 cis-9,12 e C18:3 cis-9,12,15, com aumento nas proporções
de C18:2 cis-9, trans-11, C18:1 trans-9 e C18:1 trans-11, pela inclusão de
microalga (P < 0,001).

133
Tabela 7. Produção, composição do leite e eficiência de vacas leiteiras alimentadas com doses crescentes de
microalgas (All-G Rich™, Alltech®).

1A0: controle, dieta basal; A2, suplementação de 2 g/kg MS de microalga na dieta; A4,
suplementação de 4 g/kg MS de microalga na dieta; A6, suplementação de 6 g/kg MS de microalga
na dieta. 2Contrastes linear (L) ou quadrático (Q). 3Produção de leite corrigida para gordura:
3,5% LCG = (0,432 + 0,165 × % de gordura do leite) × produção de leite (kg/d) (Sklan, 1992 et
al.). 4PL/IMS = produção de leite (kg/d) / ingestão de matéria seca (kg/d); PLCG/IMS = produção
de leite corrigida para gordura (kg/d) / ingestão de matéria seca (kg/d).

A redução no CMS pela inclusão de microalga pode ser justificada


por aspectos relacionados à suplementação lipídica de ácidos graxos poli-
insaturados, tais como alta liberação de hormônios intestinais ligados à
saciedade, como colecistoquinina e glucagon-like peptide-1 (Reilling e
Reynolds, 2007), concordando com outros estudos (Shingfield et al., 2006;
Boeckaert et al., 2008; Moate et al., 2013). Aumentos na DATT da MS, MO,
PB e EE podem ser relacionados a menor taxa de passagem e maior tempo
de retenção da digesta, devido à redução do consumo (Van Soest, 1994;
Harvatine e Allen, 2006). Apesar da digestibilidade ruminal da FDN não ter
sido avaliada neste estudo, o efeito quadrático na DATT de FDN revela que
doses intermediárias de microalgas não interfiram de maneira negativa sobre
a digestibilidade ruminal da fibra. Porém, em doses elevadas, efeitos mais
intensos da suplementação de ácidos graxos poli-insaturados podem diminuir
a digestibilidade da fibra (Fievez et al., 2007; Barletta et al., 2016), o que
resultou em um efeito quadrático pela adição de microalga.

134
Tabela 8. Perfil de ácidos graxos do leite (g/100g) de vacas leiteiras alimentadas com doses crescentes de
microalgas (All-G Rich™, Alltech®).

1A0: controle, dieta basal; A2, suplementação de 2 g/kg MS de microalga na dieta; A4,
suplementação de 4 g/kg MS de microalga na dieta; A6, suplementação de 6 g/kg MS de microalga
na dieta. 2Contrastes linear (L) ou quadrático (Q). ³Ácidos graxos saturados/ácidos graxos
insaturados. 4Relação ômega-6/ômega-3.

O aumento na produção de leite e de LCG em doses intermediárias de


microalga pode se justificar devido a: redução no teor de gordura do leite, o que
aumenta a produção de leite por reduzir a energia necessária para sua produção
(Moallem et al., 2010); e aumento na digestibilidade aparente total da MS, o
que pode ter elevado o consumo de energia líquida em doses intermediárias de

135
microalga, apesar da redução no consumo de MS (Keady et al., 2008; Khan et
al., 2015). No entanto, na dose mais elevada de microalga testada neste estudo,
a produção de leite provavelmente foi negativamente afetada pela drástica
redução no consumo de matéria seca.
A baixa transferência de DHA para a gordura do leite está relacionada
com sua alta biohidrogenação ruminal e incorporação preferencial a ésteres
de colesterol e fosfolipídios, limitando sua presença nos produtos de origem
animal (Boeckaert et al., 2007; Chilliard et al., 2007). A redução no teor de
gordura do leite pela inclusão de microalgas e ácidos graxos poli-insaturados
de origem marinha é relatada em diversos estudos (Boeckaert et al., 2008;
Sinedino et al., 2017). Ácidos graxos poli-insaturados podem interferir no
processo de bio-hidrogenação ruminal, elevando a concentração de ácidos
graxos intermediários de 18 carbonos de configuração trans, principalmente
os derivados do metabolismo do ácido linoleico (Barletta et al., 2016). Como
consequência, a síntese denovo de ácidos graxos de cadeia curta é inibida,
levando à redução no teor de gordura do leite e aumento na proporção de
ácidos graxos de cadeia longa (Bauman & Griinari, 2003; Angulo et al., 2012).
No entanto, ainda não é claro se o DHA ou algum de seus
intermediários são responsáveis pelos efeitos negativos na biohidrogenação
ruminal (Aldai et al., 2018). Apesar do ácido graxo C18:2 trans-10 cis-12 ser
o único inequivocadamente reconhecido como potente depressor da gordura
do leite (Baumgard et al., 2000; Peterson et al., 2002), este não foi detectado
neste experimento. Outros estudos com óleos de origem marinha também
relatam pouca relevância deste ácido graxo, indicando que outros ácidos,
principalmente C18 trans, estão envolvidos neste tipo de depressão da gordura
do leite (Shingfield et al., 2006; Boeckaert et al., 2008; Altomonte et al., 2018).
Houve redução dos teores de proteína e lactose no leite com a inclusão
de microalga, com tendência quadrática na produção destes sólidos. Outros
autores, estudando a inclusão de microalgas ou óleo de peixe na dieta de vacas
leiteiras, também relatam alterações nos teores ou produção de proteína e
lactose do leite (Boeckaert et al., 2008; Sinedino et al., 2017; Altomonte et
al., 2018), sendo os resultados variáveis de acordo com diferentes níveis de
inclusão e efeitos obtidos na produção de leite. Uma possível razão para a
redução no teor de proteína é a deficiência em histidina relatada em certas
microalgas, o que pode limitar a síntese de proteína na glândula mamária
(Lamminen et al., 2017).
Como conclusão, a microalga foi benéfica ao desempenho dos
animais, reduzindo o consumo, elevando a digestibilidade dos nutrientes,
melhorando a eficiência produtiva e modificando o perfil de ácidos graxos
do leite. A digestibilidade aparente do trato total de FDN foi afetada de
maneira quadrática, assim como a produção de leite e de LCG. Portanto, doses

136
intermediárias de microalgas ricas em DHA podem ser recomendadas a vacas
leiteiras.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de microalgas apresenta resultados promissores, se mostrando
como boa alternativa a alimentos tradicionais na nutrição de vacas de leite.
Há oportunidade para um amplo campo de pesquisa a ser desenvolvido, sendo
uma possibilidade à alimentação no futuro.

7. AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Laboratório de Pesquisa em Bovinos de Leite
(LPBL) do Departamento de Produção e Nutrição Animal (VNP) da Faculdade
de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ
USP) pela infraestrutura fornecida às pesquisas e pela equipe de funcionários,
estagiários, alunos de graduação e pós-graduação. Ainda, agradecemos pelo
apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), da Alltech Animal Nutrition and Health e da TerraVia Holdings
Inc.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABUBAKR, A.; ALIMON, A. R.; YAAKUB, H.; ABDULLAH, N.; IVAN, M. Effect of Feeding Palm
Oil By-Products Based Diets on Total Bacteria, Cellulolytic Bacteria and Methanogenic Archaea in the
Rumen of Goats. PLoS ONE, v. 9, n.4, p.e95713, 2014.

ABUGHAZALEH, A.A.; POTU, R.B.; IBRAHIM, S. Short communication: the effect of substituting
fish oil in dairy cow diets with docosahexaenoic acid-micro algae on milk composition and fatty acids
profile. Journal of Dairy Science, v. 92, p. 6156-6159, 2009.

ACIÉN, F.G.; FERNÁNDEZ, J.M.; MAGÁN, J.J.; MOLINA, E. Research review paper: Production
cost of a real microalgae production plant and strategies to reduce it. Biotechnology Advances, v.30,
p.1344-1353, 2012

ACIÉN, F.G.; MOLINA, E.; FERNÁNDEZ-SEVILLA, J.M.; BARBOSA, M.; GOUVEIA,


L.; SEPÚLVEDA, C.; BAZAES, J.; ARBIB, Z. Economics of microalgae production. Microalgae-Based
Biofuels and Bioproducts, p.485–503, 2017.

ALDAI, N.; DELMONTE, P.; ALVES, S.; BESSA, R.J.B.; KRAMER, J. Evidence for the initial steps of
DHA biohydrogenation by mixed ruminal microorganisms from sheep involves formation of conjugated
fatty acids. Journal of Agricultural Food Chemistry, v.66, n.4, p.842-855, 2018.

ALTOMONTE, I.; SALARI, F.; LICITRA, R.; MARTINI, M. Use of microalgae in ruminant nutrition
and implications on milk quality – A Review. Livestock Science, v.214, p.25-35, 2018.

ANGULO, J.; MAHECHA, L.; NUERNBERG, K.; NUERNBERG, G.; DANNENBERGER, D.;
OLIVEIRA, M.; BOUTINAUD, M.; LEROUX, C.; ALBRECHT, E.; BERNARD, L. Effects of
polyunsaturated fatty acids from plant oils and algae on milk fat yield and composition are associated
with mammary lipogenic and SREBF1 gene expression. Animal, v.6, p.1961-1972, 2012.

137
BARLETTA, R.V.; GANDRA, J.R.; BETTERO, V.P.; ARAUJO, C.E.; DEL VALLE, T.A.; ALMEIDA,
G.F.; FERREIRA DE JESUS, E.; MINGOTI, R.D.; BENEVENTO, B.C.; FREITAS JUNIOR, J.E.;
RENNÓ, F.P. Ruminal biohydrogenation and abomasal flow of fatty acids in lactating cows: oilseed
provides ruminal protection for fatty acids. Animal Feed Science and Technology, v.219, p.111-121,
2016.

BAUMAN, D.E.; GRIINARI., J.M. Nutritional regulation of milk fat synthesis. Annual Review of
Nutrition, v.23, p.203-227, 2003.

BAUMGARD, L.H.; CORL, B.A.; DWYER, D.; SAEBØ, A.; BAUMAN, D.E. Identification of the
conjugated linoleic acid isomer that inhibits milk fat synthesis. American Journal of Physiology, v.278,
n.1, p.R179–8, 2000.

BECKER, W.E. Micro-Algae as a Source of Protein. Biotechnology Advances, v.25, p.207-210, 2007.
BOECKAERT, C.; VLAEMINCK, B.; MESTDAGH, J.; FIEVEZ, V. In vitro examination of DHA-
edible micro-algae: 1. Effect on rumen lipolysis and biohydrogenation of linoleic and linolenic acids.
Animal Feed Science and Technology, v.136, Issue 1, p.63–79, 2007.

BOECKAERT, C.; VLAEMINCK, B.; DIJKSTRA, J.; ISSA-ZACHARIA, A.; VAN NESPEN, T.;
VAN STRAALEN, W.; FIEVEZ, V. Effect of dietary starch or micro algae supplementation on rumen
fermentation and milk fatty acid composition of dairy cows. Journal of Dairy Science, v.91, p.4714–
4727, 2008.

BRASK-PEDERSEN, D. N.; GLITSØ, L. V.; SKOV, L. K.; LUND, P.; SEHESTED, J. Effect of
exogenous phytase on degradation of inositol phosphate in dairy cows. Journal of Dairy Science, v.96,
n.3, p.1691-1700, 2013.

CHEN, C.Y.; ZHAO, X.Q.; YEN, H.W.; HO, S.H.; CHENG, C.L.; LEE, D.J.; BAI, F.; CHANG, J.S.
Microalgae-based carbohydrates for biofuel production. Biochemical Engineering Journal, v.78, p.1– 10,
2013.

CHILLIARD, Y.; GLASSER, F.; FERLAY, A.; BERNARD, L.; ROUEL, J.; DOREAU, M. Diet, rumen
biohydrogenation and nutritional quality of cow and goat milk fat. European Journal of Lipid Science
Technology, v.109, p.828–855, 2007.

CHRISTAKI, E.; FLOROU-PANERI, P.; BONOS, E. Microalgae: a novel ingredient in nutrition.


International Journal of Food and Science Nutrition, v. 62, p.794-799, 2011.

COMBS, G. F. Algae (Chlorella) as a source of nutrientes for the chick. Science, v.116, n.3017, p.453-
454, 1952.

DA SILVA, G.G.; FERREIRA DE JESUS, E.; TAKIYA, C.S.; DEL VALLE, T.A.; DA SILVA, T.H.;
VENDRAMINI, T.H.A.; YU, E.J.; RENNÓ, F.P. Short communication: Partial replacement of ground
corn with algae meal in a dairy cow diet: Milk yield and composition, nutrient digestibility, and metabolic
profile. Journal of Dairy Science, v.99, p.8880–8884, 2016.

DREWERY, M.L.; SAWYER, J.E.; PINCHAK, W.E.; WICKERSHAM, T.A. Effect of increasing
amounts of postextraction algal residue on straw utilization in steers. Journal of Animal Science, v.92,
p.4642 - 4649, 2014.

ERTL, P.; ZEBELI, Q.; ZOLLITSCH, W.; KNAUS, W. Feeding of by-products completely replaced
cereals and pulses in dairy cows and enhanced edible feed conversion ratio. Journal of Dairy Science, v.
98, n.2, p.1225–1233, 2015.

138
FIEVEZ, V.; BOECKAERT, C.; VLAEMINCK, B.; MESTDAGH, J.; DEMEYER, D. In vitro
examination of DHA-edible micro-algae: 2. Effect on rumen methane production and apparent
digestibility of hay. Animal Feed Science and Technology, v.136, Issue 1, p.80–95, 2007.

FEVRIER, C.; SEVE, B. Incorporation of a spirulina (Spirulina maxima) in swine food. Annales de la
nutrition et de l1alimentation, v. 29, n.6, p.625-650, 1975.

FRANKLIN, S.T.; MARTIN, K.R.; BAER, R.J.; SCHINGOETHE, D.J.; HIPPEN, A.R. Dietary marine
algae (Schizochytrium sp.) increases concentrations of conjugated linoleic, docosahexaenoic and
transvaccenic acids in milk of dairy cows. Journal of Nutrition, v.129, n.11, p.2048-2054, 1999.

GANDRA, J.R.; BARLETTA, R.V.; MINGOTI, R.D.; VERDURICO, L.C.; FREITAS JUNIOR, J.E.;
OLIVEIRA, L.J.; TAKIYA, C.S.; KFOURY JUNIOR, J.R.; WILTBANK, M.C.; RENNÓ, F.P. Effects of
whole flaxseed, raw soybeans, and calcium salts of fatty acids on measures of cellular immune function
of transition dairy cows. Journal of Dairy Science, v.99, p.4590-4606, 2016.

GANDRA, J.R.; VERCURICO, L.C.; MINGOTI, R.D.; TAKIYA, C.S.; GARDINAL, R.;
VENDRAMINI, T.H.A.; BARLETTA, R.V.; VISINTIN, J.A.; RENNÓ, F.P. Whole flaxseed, raw
soybeans, and calcium salts of fatty acids supplementation for transition cows: follicle development and
embryo quality. Italian Journal of Animal Science, v.16, p.538-545, 2017.

GLOVER, K.E.; BUDGE, S.; ROSE, M.; RUPASINGHE, H.P.V.; MACLAREN, L.; GRENN-
JOHNSON, J.; FREDEEN, A.H. Effect of feeding fresh forage and marine algae on the fatty acid
composition and oxidation of milk and butter. Journal of Dairy Science, v.95, n.6, p.2797–2809, 2012.

HALL, M.B. Calculation of non-structural carbohydrate content of feeds that contain non-protein
nitrogen. University of Florida, A-25 (Bulletin 339), 2000.

HARVATINE, K.J.; ALLEN, M.S. Effects of Fatty Acid Supplements on Ruminal and Total Tract
Nutrient Digestion in Lactating Dairy Cows. Journal of Dairy Science, v.89, p.1092–1103, 2006.

HE, M.L.; HOLLWICH, W.; RAMBECK, W.A. Supplementation of algae to the diet of pigs: a new
possibility to improve the iodine content in the meat. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition,
v.86, n.3-4, p.97-104, 2002.

HOLMAN, B.W.B.; MALAU-ADULI, A.E.O. Spirulina as a livestock supplement and animal feed.
Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, v.97, p.615-623, 2013.

JENKINS, T.J. Lipid metabolism in the rumen. Journal of Dairy Science, v.78, p.3851-1863, 1993.

KAMLANGDEE, N.; FAN, K.W. Short communication: Polyunsaturated fatty acids production by
Schizochytrium sp. isolated from mangrove. Songklanakarin Journal of Science and Technology, v.25,
n.5, p.643-65, 2003.

KEADY, T.W.J.; KILPATRICK, D.J.; MAYNE, C.S.; GORDON, F.J. Effects of replacing grass silage
with maize silages, differing in maturity, on performance and potential concentrate sparing effect of dairy
cows offered two feed value grass silages. Livestock Science, v.119, n.1-3, p.1-11, 2008.

KHAN, N.A.; YU, P.A.M.; CONE, J.W.; HENDRIKS, W.H. Nutritive value of maize silage in relation
to dairy cow performance and milk quality. Journal of the Science of Food and Agriculture, v.95, n.2,
p.238-252, 2015.

KHAN, S.; KHAN, R.U.; SULTAN, A.; KHAN, M.; HAYAT, S.U.; SHAHID, M.S. Evaluating the
suitability of maggot meal as a partial substitute of soya bean on the productive traits, digestibility indices
and organoleptic properties of broiler meat. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, v.100,

139
n.4, p.649-656, 2016.

KOVAĈ, D.J.; SIMEUNOVIĆ, J.B.; BABIĆ, O.B.; MIŠAN, A.Č., MILOVANOVIĆ, I.L. Algae in food
and feed. Food and Feed Research, v. 0, p.21-31, 2013.

KULPYS, J.; PAULAUSKAS, E.; PILIPAVIPIUS, V.; STANKEVIPIUS, R. Influence of cyanobacteria


Arthrospira (Spirulina) platensis biomass additives towards the body condition of lactation cows and
biochemical milk indexes. Agronomy Research, v.7, p.823-835, 2009.

LAMMINEN, M.; HALMEMIES-BEAUCHET-FILLEAU, A.; KOKKONEN, T.; SIMPURA, I.;


JAAKKOLA, S.; VANHATALO, A. Comparison of microalgae and rapeseed meal as supplementary
protein in the grass silage based nutrition of dairy cows. Animal Feed Science and Technology, v.234,
p.295–311, 2017.

LODGE-IVEY, S.L.; TRACEY, L.N.; SALAZAR, A. Ruminant Nutrition Symposium: The utility of
lipid extracted algae as a protein source in forage or starch-based ruminant diets. Journal of Animal
Science, v.92, n.4, p.1331-1342, 2014.

LOEB, J. Looking for alternative animal feeds. Veterinary Record, v.183, p.284-285, 2018.

LUM, K.K.; KIM, J.; LEI, X.G. Dual potential of microalgae as a sustainable biofuel feedstock and
animal feed. Jounal of Animal Science and Biotechnology, v.4, p.53, 2013.

MARQUES, J.A.; DEL VALLE, T.A.; GHIZZI, L.G.; ZILIO, E.M.C.; DIAS, M.S.S.; NUNES, A.T.;
SILVA, T. B. P.; GHELLER, L. S.; TREVISAN, N. S.; RENNÓ, F. P. Increasing dietary levels of DHA-
rich microalgae: ruminal fermentation, animal performance, and milk fatty acid profile of mid-lactating
dairy cows. Journal of Dairy Science, 2018.

MEALE, S.J.; CHAVES, A.V.; HE, M.L.; MCALLISTER, T.A. Dose-response of supplementing marine
algae (Schizochytrium spp.) on production performance, fatty acid profiles, and wool parameters of
growing lambs. Journal of Animal Science, v.92, n.5, p.2202-2213, 2014.

MOALLEM, U.; SHAFRAN, A.; ZACHUT, M.; DEKEL, I.; PORTNICK, Y.; ARIELI, A. Dietary
a-linolenic acid from flaxseed oil improved folliculogenesis and IVF performance in dairy cows, similar
to eicosapentaenoic and docosahexaenoic acids from fish oil. Reproduction, v.146, p.603-614, 2013.

MOATE, P.J.; WILLIAMS, S.R.O.; HANNAH, M.C.; ECKARD, R.J.; AULDIST, M.J.; RIBAUX, B.E.;
JACOBS, J.L.; WALES, W.J. Effects of feeding algal meal high in docosahexaenoic acid on feed intake,
milk production, and methane emissions in dairy cows. Journal of Dairy Science, v.96, p.3177-3188,
2013.

NOBLE, R.C. Digestion, transport and absorption of lipids. In: Lipid Metabolism in Ruminant Animals,
p. 68-89 (W. W. Christie). Pergamon Press Ltd., Oxford, UK, 1981.

PALMQUIST, D.L.; MATTOS, W.R.S. Metabolismo de lipídeos. In: BERCHIELI, T. T.; PIRES, A. V.;
OLIVEIRA, S. G. Nutrição de ruminantes. 2 ed. Jaboticabal: FUNEP, cap. 10, p.299-322, 2011.

PAPADOPOULOS, G.; GOULAS, C.; APOSTOLAKI, E.; ABRIL, E. Effects of dietary supplements of
algae, containing polyunsaturated fatty acids, on milk yield and the composition of milk products in dairy
ewes. Journal of Dairy Research, v.69, n.3, p.357-365, 2002.

PATIL, V.; TRAN, K.Q.; GISELRØD, H.R. Towards sustainable production of biofuels from microalgae.
International Journal of Molecular Science, v.9, p.1188-1195, 2008.

140
PETERSON, D.G.; BAUMGARD, L.H.; BAUMAN, D.E. Milk fat response to low doses of trans-10,
cis-12 conjugated linoleic acid (CLA). Journal of Dairy Science, v.85, p.1764–66, 2002.

PÓTI, P.; PAJOR, F.; BODNÁR, Á.; PENKSZA, K., KÖLES, P. Effect of micro-alga supplementation
on goat and cow milk fatty acid composition. Chilean Journal of Agricultural Research, v.75, p.259-263,
2015.

PRIYADARSHANI, I.; RATH, B. 2012. Commercial and industrial applications of micro algae – A
review Journal of Algal Biomass Utilizatio, v. 3, n.4, p.89–100, 2012.

RELLING, A.E.; REYNOLDS, C.K. Feeding rumen-inert fats differing in their degree of saturation
decreases intake and increases plasma concentrations of gut peptides in lactating dairy cows. Journal of
Dairy Science, v. 90, p. 1506–1515, 2007.

REYNOLDS, C.K.; CANNON, V.L.; LOERCH, S.C. Effects of forage source and supplementation
with soybean and marine algal oil on milk fatty acid composition of ewes. Animal Feed Science and
Technology, v.131, p.333–357, 2006.

RIBEIRO, J.E.S.; MARTINI, M.; ALTOMONTE, I.; SALARI, F.; NARDONI, S.; SORCE, C.; DA
SILVA, F.L.H.; ANDREUCCI, A. Production of Chlorella protothecoides biomass, chlorophyll and
carotenoids using the dairy industry by-product scotta as a substrate. Biocatalysis and Agricultural
Biotechnology, v.11, p.207-213, 2017.

RYCKEBOSCH, E.; BRUNEEL, C.; TERMOTE-VERHALLE, R.; GOIRIS, K.; MUYLAERT, K.;
FOUBERT, I. Nutritional evaluation of microalgae oils rich in omega-3 long chain polyunsaturated fatty
acids as an alternative for fish oil. Food Chemistry, v.160, p.393-400, 2004.

SHINGFIELD, K.J.; REYNOLDS, C.K.; HERVÁS, G.; GRIINARI, J.M.; GRANDISON, A.S.;
BEEVER, D.E. Examination of the Persistency of Milk Fatty Acid Composition Responses to Fish Oil
and Sunflower Oil in the Diet of Dairy Cows. Journal of Dairy Science, v.89, p.714–732, 2006.

SHINGFIELD, K.J.; KAIRENIUS, P.; ARRÖLÄ, A.; PAILLARD, D.; MUETZEL, S.; AHVENJÄRVI,
S.; VANHATALO, A.; HUHTANEN, P.; TOIVONEN, V.; GRIINARI, J. M.; WALLACE, J.W. Dietary
Fish Oil Supplements Modify Ruminal Biohydrogenation, Alter the Flow of Fatty Acids at the Omasum,
and Induce Changes in the Ruminal Butyrivibrio Population in Lactating Cows. The Journal of Nutrition,
v.142, n.8, p.1437-48, 2012.

SINEDINO, L.D.P.; HONDA, P.M.; SOUZA, L.R.L.; LOCK, A.L.; BOLAND, M.P.; STAPLES,
C.R.; THATCHER, W.W.; SANTOS, J.E.P. Effects of supplementation with docosahexaenoic acid on
reproduction of dairy cows. Reproduction, v.153, p.707–723, 2017.

SKLAN, D.; ASHKENAZI, R.; BRUN, A.; DEVORIN, A.; TABORI, K. Fatty acids, calcium soaps of
fatty acids, and cottonseeds fed to high yielding cows, Journal of Dairy Science, v.75, p.2463-2472, 1992.
SPOLAORE, P.; JOANNIS-CASSAN, C.; DURAN, E.; ISAMBERT, A. Commercial applications of
microalgae. Journal of Bioscience and Bioengineering, v.101, p.87-96, 2006.

STAMEY, J.A.; SHEPERD, D.M.; DE VETH, M. J.; CORL, B.A. Use of algae or algal oil rich in n-3
fatty acids as a feed supplement for dairy cattle. Journal of Dairy Science, v.95, p.5269–5275, 2012.

STAMM, M. Effects of different microalgae supplements on fatty acid composition, oxidation stability,
milk fat globule size and phospholipid content of bovine milk. Thesis, ISSN 0355-1180, 2015.

TAKIYA, C.S.; CALOMENI, G.D.; SILVA, T.H.; VENDRAMINI, T.H.A.; SILVA, G.G.; CONSENTINI,
C.E.C.; BERTONI, J.C.; ZILIO, E.M.C.; RENNÓ, F.P. Increasing dietary doses of an Aspergillus oryzae

141
extract with alpha-amylase activity in nutrient digestibility and ruminal fermentation of lactating dairy
cows. Animal Feed Science and Technology, v.228, p.159-167, 2017.

TORAL, P.G.; HERVÁS, G.; GÓMEZ-CORTÉS, P.; FRUTOS, P.; JUÁREZ, M.; DE LA FUENTE, M.A.
Milk fatty acid profile and dairy sheep performance in response to diet supplementation with sunflower
oil plus incremental levels of marine algae. Journal of Dairy Science, v.93, p.1655–1667, 2010.

TOYES-VARGAS, E.; ORTEGA-PÉREZ, R.; ESPINOZA-VILLAVICENCIO, J.L.; ARELLANO-


PERÉZ, M.; CIVERA, R.; PALACIOS, E. Effect of marine by-production parameters, yolk lipid
composition and sensory quality. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, v.102, n.2, p.462-
473, 2017.

VAN EMON, M.L.; LOY, D.D.; HANSEN, S.L. Determining the preference, in vitro digestibility,
in situ disappearance, and grower period performance of steers fed a novel algae meal derived from
heterotrophic microalgae. Journal of Animal Science, v.93, p.3121–3129, 2015.

VAN SOEST, P. J. Nutritional ecology of the ruminant. 2nd ed. Cornell University Press, Ithaca, NY,
1994.

VENCKUS, P.; KOSTKEVIČIENÉ, J.; BENDIKIENÉ, V. Green algae Chlorella vulgaris cultivation in
municipal wastewater and biomass composition. Journal of Environmental Engineering and Landscape
Management, v.25, p.56-63, 2017.

WU, Z.; OHAJURUKA, O.A.; PALMQUIST, D.L. Ruminal synthesis biohydrogenation, and digestibility
of fatty acids by dairy cows. Journal of Dairy Science, v.74, p.3025–3034, 1991.

142
CAPÍTULO VIII

ESPECTROSCOPIA EM INFRAVERMELHO PRÓXIMO (NIRS)


UTILIZADO PARA ANÁLISES BROMATOLÓGICAS EM
GRAMÍNEAS

Iuli Caetano da Silva Brandão Guimarães1*, Thiago Henrique da Silva2,


Cristina Maria Cirino Picchi3, Gilberto Batista de Souza3, Romualdo S.
Fukushima1

1
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo,
Departamento de Nutrição e Produção Animal, Pirassununga, SP, Brasil.
2
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo,
Departamento de Zootecnia, Pirassununga, SP, Brasil.
3
Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP, Brasil.
*Autor correspondente. E-mail: iuli@usp.br

RESUMO
Lignina em detergente ácido (LDA) é o método de mensuração de lignina
mais amplamente utilizado no mundo. Entretanto, trata-se de um método
laborioso, oneroso e com baixa capacidade de correta mensuração. O método
esprectrofotométrico Lignina em brometo de acetila (LBA) tem revelado
alguns benefícios comparado ao LDA, sobretudo quando acoplado ao uso
da espectroscopia de refletância no infravermelho próximo (NIRS), a qual é
rápida e minimamente invasiva. A correlação entre digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS) bem como da fibra em detergente neutro (DIVFDN)
com diferentes métodos de quantificação de lignina foram mensuradas com
o intuito de elucidar o melhor método a ser empregado na análise de rotina
de avaliação de digestibilidade de Brachiaria spp. Além disso, a capacidade
do NIRS de estimar a matéria seca, matéria mineral e as diferentes frações da
fibra vegetal foi mensurada por correlação e regressão. Maiores coeficientes
de Pearson foram detectados para análises envolvendo a LBA comparada à
LDA, quando correlacionadas com DIVMS e DIVFDN. Também foi detectado
que o NIRS tem altos coeficientes de correlação de Pearson (r >0,84) e de
determinação (R2 >0,71) com todas as frações mensuradas neste estudo
[matéria seca (MS), matéria mineral, parede celular (PC), fibra em detergente
neutro (FDN), fibra em detergente ácido, LBA, usando PC e FDN e com as
DIVMS e DIVFDN], exceto com LDA, a qual demonstrou r = 0,75 e R2
= 0,56. Conclui-se que o método LBA seja ele executado com PC ou com
FDN, é melhor correlacionado com a digestibilidade das forrageiras e com
as estimativas do NIRS quando comparado à LDA. Além disso, a tecnologia

143
NIRS é extremamente capaz de estimar a quantidade de lignina bem como de
outros nutrientes da Brachiaria spp.

1. INTRODUÇÃO
No ano de 2050 haverá mais três bilhões de pessoas, o que gerará
a necessidade de aumentar em mais de 70% a produção global de alimentos
(Gazzoni, 2010). O cenário agropecuário mundial demonstra claramente um
mercado competitivo que exige maior eficiência e precisão nos mais diversos
serviços e campos de atuação. Somado a isso, deve-se considerar a cada vez
maior demanda social pela proteção ambiental e bem-estar animal (Kovács
et al., 2014). Nesse contexto, a agropecuária do século XXI será guiada pela
sustentabilidade e a constante inovação tecnológica, com grande inter-relação
entre elas.
De acordo com Hofmann & Stewart (1972) as espécies de ruminantes
podem ser classificadas de acordo com suas preferências de consumo por
diferentes alimentos, em que 3 classes são descritas: 1) selecionadores, os quais
preferem inatamente alimentos com menor concentração de fibras tais como
frutas, brotos e folhas (tipicamente de arbusto e árvores); 2) pastejadores, os
quais inatamente preferem capins; ou 3) consumidores intermediários, os quais
mudam entre selecionadores e pastejadores de acordo com a disponibilidade
sazonal. Diante da história evolutiva, os ruminantes foram predominantemente
selecionadores e somente um quarto deles eram pastejadores, sendo que
a família Bovidae e Cervidae têm espécies representadas nas 3 classes e as
outras famílias são exclusivamente selecionadores (antilocapridae, giraffidae,
moschdae, tragulidae).
O tamanho da população de ruminantes domesticados é cerca de 50
vezes o tamanho da população de ruminantes silvestres, sendo que 95% deste
são constituídos pela soma da população de bovinos, ovinos, e caprinos os
quais estão contidos dentro da família Bovidae. Embora 35.3% das espécies
dentro da família Bovidae são selecionadores, 26.5% são intermediários e
39.2% são pastejadores, a maioria das espécies domesticadas são pastejadoras
(Hackmann & Spain, 2010).
Diante do exposto, fica evidente a divisão de classes por preferências
alimentares entre as espécies de ruminantes. Hofmann (1973) examinou
as preferências alimentares entre estes grupos diante das suas diferenças
anatômicas e concluiu que as adaptações gerais do sistema digestivo destes
animais correspondem ao seu comportamento ecológico na natureza. Ele
descreve que ruminantes pastejadores são melhor adaptados para consumir
fibras de plantas com lenta digestão (típicas de capins) comparados aos animais
selecionadores.
A fisiologia do trato gastrointestinal dos ruminantes os possibilita

144
utilizar material fibroso na composição de sua dieta (Van Soest, 1994). Estes
animais possuem a capacidade de converter fibra, que não seria utilizada por
monogástricos, em carne e leite (Burns, 2008), entretanto esta conversão ainda
é bastante ineficiente (Varga & Kolver, 1997).
Fibra (vinda de alimentos volumosos) é o elemento físico das dietas
que deve ser fornecida em quantidades satisfatórias para o bom funcionamento
do rúmen. Além disso a fibra deve ter forma física capaz de prover a função
normal do rúmen, pois quando em volume adequado estimula a mastigação e a
produção de saliva, que ajudam a tamponar o rúmen contra as severas reduções
do pH ruminal quando dietas com alta densidade energética são fornecidas aos
animais (Allen, 1997). O limite mínimo de tempo mastigando e a formação
do tapete flutuante dentro do rúmen (“mat” ruminal) são correlacionados com
o adequado fornecimento de fibra física nas dietas, Mertens (1997) afirma
que a fibra em detergente neutro (FDN) obtida em laboratório seja a entidade
responsável por tais fenômenos.
A participação de ingredientes volumosos na alimentação de
ruminantes pode variar de 50-100% do total de MS da dieta. O fornecimento
de volumosos na alimentação de rebanhos pode ser natural: pastos, forragem
verde picada e fornecida no cocho, ou conservado: silagem, feno, silagem
pré-murchada (Botrel et al., 1998). A maioria dos rebanhos de ruminantes
sempre foi alimentada com pastagens no Brasil, porque além do alto custo
dos volumosos conservados, em ambientes tropicais sua produção encontra
obstáculos como umidade e frequentes chuvas (Bernardes et al., 2015).
Na forma de pastagem ou conservada (feno, silagem), em condições
climáticas favoráveis, como na maioria das regiões do Brasil, gramíneas
são a opção mais viável economicamente para alimentação do rebanho de
ruminantes, nas águas e na seca (Balsalobre et al., 2003; Pereira & Polizel,
2016), gerando produção de carne, leite, lã, peles, entre outros produtos de
origem animal, que são alguns dos mais expressivos componentes do PIB
agrícola brasileiro (Gasques et al., 2018).
É bem aceito que a digestibilidade da forragem tem forte influência
sobre o consumo de matéria seca dos animais ruminantes (Allen & Voelker,
2007). A distensão ruminal estimula receptores de tensão localizados no
retículo e no saco cranial dorsal do rúmen emitindo um sinal de saciedade
para o centro da fome, via nervo vago aferente. Esta distensão é afetada pelos
peso e volume da digesta ruminal os quais são determinados pela concentração
de FDN e pela sua característica de digestão (fragilidade, taxa de digestão
e passagem) (Allen & Piantoni, 2014). Além disso, outros fatores como
tamanho das partículas, taxa de redução das partículas, proporção das frações
potencialmente degradáveis (FDNpd) e indegradáveis (FDNi), gravidade
específica funcional, proporção de forragem vs. concentrado nas dietas, tipo de

145
forragem e suas espécies, estágio de maturidade da planta, relação folha:caule
(Lund, 2002; Kuoppala et al., 2010) e população microbiana ruminal (Allen &
Mertens, 1988) podem afetar o consumo de alimentos pelos ruminantes.
Os efeitos de depressão de consumo pela digestibilidade da fibra são
pronunciados em animais que estão em desafio energético (pico de lactação,
vacas de alta produção leiteira, por exemplo), que são alimentados com
dietas com alta proporção de forragens (Allen & Piantoni, 2014) ou quando a
forragem é de baixa digestibilidade (Jung & Allen, 1995).
Para ilustrar o impacto da digestibilidade das forragens sobre a produtividade
de ruminantes podemos citar o trabalho de Oba & Allen (1999), que
demonstraram que uma unidade percentual de aumento na degradabilidade da
FDN de forragem no rúmen aumenta 0,17 kg/dia no consumo de matéria seca
e 0,25 kg/dia de leite corrigido para gordura. Além disso, Jung et al. (2004)
relataram aumento de 0,12 kg/dia de consumo de matéria seca e 0,14 kg/
dia de leite corrigido para gordura, com a mesma elevação no percentual de
degradabilidade da FDN.
Assim como existe o fator físico limitante do consumo de matéria seca
quando há ingestão de rações com alta proporção de fibra, existem também os
fatores negativos da baixa inclusão de fibra nas rações, os quais podem levar à
acidose ruminal, abcesso hepático, depressão da gordura no leite entre outros
problemas (Nocek, 1997; NRC, 2001), pois concentração de FDN dietético é
inversamente relacionada com pH ruminal, pela sua capacidade de promover a
mastigação com consequente secreção de tamponantes pela saliva, e também,
devido ao seu baixo potencial fermentativo (NRC, 2001). Deste modo, é
extremamente necessário o fornecimento adequado de fibras nas dietas de
ruminantes.
Diante do que foi mencionado, a máxima produção por animais
ruminantes depende da adequada utilização de nutrientes provenientes da
alimentação. Para isso, é de fundamental importância a máxima utilização do
potencial nutritivo dos alimentos concentrados e volumosos. Quanto a estes, o
principal obstáculo à digestão microbiana dos carboidratos da parede celular é
a lignina (Fukushima & Hatfield, 2001).
Em sistemas de produção onde os animais são alimentados por dietas
baseadas em forragens, a quantidade e a qualidade da forragem consumida são
os maiores determinantes da produtividade a ser alcançada. Na maioria das
situações, o consumo de energia e proteína determina o desempenho animal,
sendo a energia disponível no alimento consumido, no caso a forragem,
relacionada intimamente com a concentração de parede celular da planta, pois
ela pode ter pobre digestibilidade, o que leva a limitação de consumo bem
como baixa disponibilidade de nutrientes (Buxton et al., 1995).

146
2. BRACHIARIA SPP.
Quando se opta por um sistema de produção de ruminantes a pasto,
antes de ser decidida a gramínea a ser utilizada, deve-se levar em conta fatores
como clima e microclima da região – incidência solar anual, quantidade
e distribuição de precipitações, temperaturas médias ao longo do ano e
características do solo – quantidade de matéria orgânica, nutrientes disponíveis
e indisponíveis, erosão, lixiviação (Pezzopane et al., 2015).
Após, é importante conhecer as exigências de cada planta para que
a escolha da espécie a ser cultivada, de acordo com os fatores supracitados,
aliados às condições de manejo da pastagem, elevem ao máximo seu potencial
produtivo para alimentar os rebanhos ao longo dos anos (Alvim et al., 2002). A
tabela 1 apresenta algumas características e exigências de algumas gramíneas
utilizadas comumente no Brasil.
Tabela 1. Características forrageiras de algumas gramíneas tropicais.
Adaptado de Botrel et al. (1998); Gobbi et al. (2005).

O capim da família Gramineae (ou Poaceae), subfamília Panicoideae,


tribo Paniceae, gênero Brachiaria é uma gramínea perene, cespitosa ou
decumbente, dependendo da espécie. Em sua maioria é nativa da África tropical,
considerada uma das melhores forragens para formação de pastos, pois cobre
completamente o terreno em aproximadamente quatro meses, é resistente
ao pisoteio e a estiagem, previne erosão, proporciona grande quantidade de
forragem verde de boa aceitabilidade e bom valor nutritivo, dependendo do
estágio de desenvolvimento em que é utilizada (IPEAN, 1968).

147
Cada espécie desse gênero é mais adaptada a uma região diferente,
abrangendo diferentes climas, variações de temperatura e umidade, qualidade
e profundidade de solo (Seiffert, 1980). De um modo geral, África, Austrália
e América do Sul são os países que mais a utilizam, porém há estudos para
adaptabilidade em outras partes do mundo, como Vanuatu, Índia, Malásia,
Tailândia e Indonésia (DwarI & Mondal, 2011; Hare et al., 2015; Low, 2015;
Louw-Gaume et al., 2017).
O Brasil é um território extenso, com grande diversidade de climas
e solos. Isso é ótimo pois possibilita a criação de animais das mais diversas
formas, utilizando diferentes tecnologias e técnicas, para adaptação ao meio.
Assim, órgãos como a Embrapa trabalham para ajudar agropecuaristas a
utilizarem suas terras da melhor forma, de acordo com cada região e diferentes
características de rebanho. Por sua adaptabilidade nos mais variados ambientes
e com uma gama de espécies e cultivares, a Brachiaria sempre foi bastante
estudada (IPEAN, 1968; Alvim et al., 2002; Pereira & Polizel, 2016).
Pesquisas envolvendo várias espécies e cultivares testam a Brachiaria
para melhoria de condição do solo (Gichangi et al., 2017); sua associação
com bactérias para autopreservação em solos áridos (Mutai et al., 2017); sua
produção e capacidade de suporte em sistemas de integração lavoura pecuária
(Montagner et al., 2018) bem como sistemas silvopastoris (Dias-Filho, 2006;
Pezzopane et al., 2015) e até mesmo seu rendimento e digestibilidade cortada
e ensilada (Bernardes et al., 2015).
Expostos esses fatos, fica claro o porquê de a Brachiaria ser a
principal forrageira de escolha para pastagens no Brasil. Também fica clara
a necessidade de se continuar estudando esta gramínea e continuar investindo
em educação continuada no campo, para que haja conhecimento do seu valor
nutricional, maior rendimento e aproveitamento da mesma (Xavier et al., 2002;
Karia et al., 2006; Euclides et al., 2009; Santos et al., 2015; Gobbi et al., 2018).

3. LIGNINA
Para se estimar o valor nutritivo de uma cultura forrageira é preciso
considerar alguns parâmetros. São eles 1) ingestão de ração, 2) digestibilidade
da ração e 3) eficiência de utilização da ração ingerida. Desses, o segundo é
considerado primário, pois tem grande influência nos outros dois parâmetros
(Raymond, 1969).
Uma das barreiras à digestão da fibra por ruminantes é a lignina, uma
estrutura fenólica complexa, hidrofóbica, composta por álcoois aromáticos
(monolignois) coniferil, sinapil, p-cumaril, sempre em diferentes combinações,
ligações e proporções, dependendo do tipo da planta e de seu estádio de
maturidade (Kondo et al., 1987; Hatfield & Fukushima, 2005).
Componente da parede celular de plantas vasculares, a lignina (do

148
latim “lignum”, madeira) é um polímero altamente ramificado de compostos
fenilpropanóides (derivados da fenilalanina) (Freudenberg & Neish, 1968).
Há indícios de que o processo de lignificação surgiu na Terra há 430 milhões
de anos, para que as plantas se adaptassem à vida terrestre. As funções
principais da lignina são permitir que a planta cresça sem perder sua estrutura
– suporte mecânico – e defesa contra pragas e microrganismos. Esse papel está
relacionado ao modo como a lignina interage com outras moléculas da parede
celular, fortalecendo toda a estrutura (Figura 1; Boudet & Grima-Pettenati,
1996).

Figura 1. Esquema de precursores e subunidades da lignina. Adaptado de Potts; Weklych; Conn,


1974; Boerjan; Ralph; Baucher, 2003; Rubin, 2008.

Durante o crescimento celular, há uma reorganização da PC. Esse


fato permite inclusão de lignina na parede e fortalecimento de sua matriz.
Em gramíneas, a ordem de máxima deposição dos componentes da PC é:
hemicelulose, celulose, seguidas pela lignina (até 14 dias após a deposição de
hemicelulose máxima) (Bidlack & Buxton, 1992). Para definição, as paredes
secundárias são derivadas de paredes primárias por espessamento e inclusão de
lignina na matriz (Figura 2; Hatfield, 1989).

149
Figura 2. Esquema de lignificação da parede cellular vegetal. Adaptado de Jung; Allen, 1995.

Figura 3. Desenho da parede celular de plantas. Adaptado de Giddings et al. (1980); Bidlack et
al. (1992); Nojiri & Kondo (1996); Mohnen et al. (2008).

A PC secundária das plantas usualmente contém celulose (40-80%),


hemicelulose (10-40%) e lignina (5-25%). Em gramíneas, geralmente são 45-
60% de celulose, 20-40% de hemicelulose e 5-10% de lignina (Bidlack, 1990).
Celulose e hemicelulose ficam mais organizadas na PC secundária do que na

150
primária (Figura 3; Hatfield, 1989) e o arranjo desses componentes permite
que o vínculo entre as microfibrilas de celulose e a lignina sejam como hastes
de aço embutidas em concreto (Houtman & Atalla, 1995).
O controle e o desenvolvimento da PC durante o crescimento das
plantas ainda não são completamente elucidados, mas sugere-se que a lignina
é formada na PC. A lignificação acompanha a formação da PC secundária e
começa com a geração de radicais livres que reagem espontaneamente para
formar lignina e também algumas ligações com polissacarídeos. Ligações entre
radicais livres de monômeros de lignina e polissacarídeos podem produzir
a lignina chamada “non-core lignin”, enquanto a polimerização de radicais
livres monoméricos resulta em ligninas altamente condensadas, chamadas
“core lignin” (Figura 4; Bolwell, 1988).

Figura 4. Ligações entre hemicelulose e lignina, na região “non-core”. Adaptado de Pande & Roy
(1996); Seca et al. (1998).

A quantidade de lignina existente e sua distribuição espacial


(tridimensional) variam muito entre espécies, entre plantas da mesma espécie
e em diferentes partes da planta. Isso é um obstaculiza seu estudo (Rogers &
Campbell, 2004; Rubin, 2008).
Porém, torna-se primordial a importância de se estudar este polímero
para correta estimativa do valor nutritivo de uma forragem e, por conseguinte
calcular uma dieta que se aproxime ao máximo da realidade, no cocho de
alimentação. Apesar de a lignina ser um importante componente da parede
celular de forrageiras, resistente à degradação, ela não é facilmente quantificada
dentre os vários tipos de forragens, por sua complexidade e distribuição (Engels
& Jung, 1998; Raffrenato et al., 2017).

4. QUANTIFICAÇÃO DE LIGNINA EM PLANTAS


Alguns métodos para quantificação de lignina foram desenvolvidos
ao longo dos anos, para diferentes espécies vegetais. Dentre os mais escolhidos
por pesquisadores envolvendo desenvolvimento de forragens e sua utilização
para ruminantes são: Lignina em Detergente Ácido (Van Soest, 1963),

151
Lignina Klason (Theander & Westerlund, 1986) e Lignina em Permanganato
de Potássio (Van Soest & Wine, 1968), que são gravimétricos. Um método
alternativo, espectrofotométrico, proposto por Morrison (1972) para medir os
níveis de lignina em plantas forrageiras foi o Lignina em Brometo de Acetila.
Fato é que cada um desses procedimentos gera resultados diferentes
de lignina para uma mesma amostra vegetal (Van Soest & Wine, 1968; Gomes
et al., 2011). Com esse último método tem sido vistas maiores coeficientes de
correlação de Pearson (r) e coeficientes de determinação (R2) em regressões
lineares simples com digestibilidade in vitro da matéria seca e da fibra em
detergente neutro, comparado aos outros métodos anteriormente citados
(Fukushima & Hatfield, 2004; Fukushima et al., 2015).
Para se testar os métodos de quantificação de lignina em forrageiras,
ensaios de digestibilidade são feitos, posto que se sabe sobre a estreita relação
negativa entre eles (Jung & Vogel, 1986; Jung et al., 1997). Embora ensaios de
digestibilidade in vivo seriam necessários para determinação das características
nutritivas das forragens, são laboriosos, caros e demorados. Além disso,
acabam sendo inaplicáveis em alguns casos, como quando as amostras são
pequenas, ou há necessidade de um ambiente mais controlado (Kondo et al.,
1987). Assim sendo, algumas técnicas alternativas foram desenvolvidas para
simplificar a avaliação de alimentos para ruminantes. Ensaios in situ e in vitro
tentam reproduzir a forma como o sistema digestivo do animal atua (Goering
& Van Soest, 1970; Iowerth et al., 1975; Huntington & Givens, 1997).

5. ESPECTROSCOPIA EM INFRAVERMELHO PRÓXIMO


Considerando que a rápida e minimamente invasiva determinação
do valor nutritivo de forrageiras pode ser útil para seu manejo e para o
planejamento da dieta para ruminantes, desde 1976 há a possibilidade de se
utilizar um método de quantificação de nutrientes e constituintes dessas plantas
– a tecnologia da espectroscopia de refletância no infravermelho próximo, ou
NIRS (Norris et al., 1976).
Com um conjunto de vantagens a favor da sua utilização mais
rotineiramente e alguns percalços, como todo método existente, crescentemente
esta ferramenta vem sendo escolhida por pesquisadores, laboratórios e
departamentos de pesquisa (Reeves et al., 1989; Rabotnikof et al., 1995;
Fontaneli et al., 2004; Ward et al., 2011).
O princípio deste método é baseado em espectros obtidos por
espectroscopia de refletância na faixa do infravermelho próximo, com
comprimento de onda de 750 a 2500 nanômetros (13.333 a 4.000 cm-1,
Shenk et al., 1979). As absorções predominantes nas regiões próximas ao
infravermelho são causadas por ligações envolvendo -OH, ou -NH ou -CH, o
que corresponde em alimentos à classificação geral de carboidratos, proteínas

152
e gordura. Qualquer propriedade que afete a resistência de ligação, como
aromaticidade, grupos polares ou ligação de hidrogênio a átomos vizinhos,
afetará o comprimento de onda da absorção, alterando a assinatura espectral
de maneira característica. É então possível construir modelos de calibração
relacionados ao valor nutritivo de alimentos (constituintes da parede celular
determinados pelos métodos de Van Soest, valores de digestibilidade in vivo e
in vitro) e às medidas feitas pelo NIRS (Redshaw et al., 1986).
A precisão da previsão na técnica NIRS está baseada fortemente na
obtenção de modelos de calibração para cada propriedade a ser predita (um
modelo para MS, um para MM, um para PC, etecetera). Para isso é necessária
quantidade razoável de espectros coletados com seus valores de referência
(análises bromatológicas, físico-químicas tradicionais) para as propriedades a
serem preditas. Quando o método é calibrado com pelo menos 50 amostras de
referência diferentes, é rápido realizar análises. Os resultados são tão precisos
quanto os de uma análise química, se as condições padrão para preparação
da amostra forem seguidas corretamente (método de preservação, secagem,
moagem, peneiramento (Norris et al., 1976; Winch & Major, 1981).
A aplicação da regressão de componentes principais (PCR) é para o
desenvolvimento de uma equação de predição da composição de forragem por
espectroscopia de infravermelho próximo. A PCR envolve duas etapas: (a) a
criação de novas variáveis sintéticas pela análise de componentes principais
(PCA) de dados espectrais e (b) a regressão linear múltipla com essas novas
variáveis. (Bertrand et al., 1987).
Deve-se ponderar que o NIRS é uma ferramenta como qualquer
outra, que pode produzir bons resultados se usada adequadamente e resultados
ruins, se usados de maneira inadequada. Todas as ferramentas, como balanças,
cromatógrafos a gás e outras, produzirão resultados bons ou ruins, dependendo
do operador (Undersander, 2006).

6. TRABALHO DO GRUPO DE PESQUISA

MATERIAL E MÉTODOS
No presente estudo foi proposto comparar dois métodos de
quantificação de lignina e desenvolver modelos de calibração multivariada
para análise de lignina em amostras de Brachiaria spp. e suas correlações com
ensaios de digestibilidade in vitro da MS (DIVMS) e da FDN (DIVFDN). Para
isso, foram utilizadas 169 amostras de Brachiaria spp. as quais foram colhidas
em quatro unidades da Embrapa, em diferentes estádios de maturidade, sob
diferentes condições climáticas e de solo. Foram feitas análises de LDA, LBA
(neste, duas preparações fibrosas foram comparadas: parede
celular - PC e fibra em detergente neutro - FDN), DIVMS e DIVFDN. Ainda,

153
as mesmas amostras foram analisadas no NIRS (149 utilizadas para calibração
e validação interna; 20 delas para validação externa). Os resultados de LDA,
LBA e NIRS foram confrontados com os de DIVMS e DIVFDN. Para certificar
a normalidade dos resíduos e a Levene. Correlação de Pearson e regressão
linear simples foram feitos pelo SAS 9.4, a 5% de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Homocedasticidade das variâncias, foram executados,
respectivamente, o teste de Shapiro-Wilk e a digestibilidade da fibra é
estreitamente ligada à concentração de lignina (Akin et al., 1977), portanto, a
quantidade de lignina mensurada nos alimentos deve obter adequados níveis
de precisão e acurácia (Faichney, 1975).
Fukushima & Hatield (2004) compararam diferente métodos de
quantificação de lignina em algumas forrageiras e às correlacionaram com
a DIVMS. Foram detectados altos valores de coeficiente de Pearson para o
método LBA quando comparado à LDA. A conclusão de que o método de LBA
é melhor estimador de digestibilidade do que a LDA pode vir do achado de
Moore & Jung (2001) os quais afirmam que a LDA subestima a concentração
de lignina em gramíneas e em leguminosas.
No presente estudo foi detectado, assim como o trabalho de Fukushima
& Hatield (2004), maiores valores de correlação de Pearson entre o método
LBA com as DIVMS e DIVFDN [tanto pelo método convencional de Tilley
& Terry (1963) como pelas estimativas do NIRS] quando comparado à LDA
(Tabela 2).
Tabela 2. Coeficientes de correlação de Pearson (r) e respectivos valores de P, entre digestibilidades e métodos
de quantificação de lignina, em amostras de Brachiaria spp.

Altos valores de coeficientes de Pearson negativos significativos (r > -

154
0,80; P<0,05) foram detectados para as correlações entre LBA e digestibilidades
da MS, da FDN e suas estimativas de digestibilidades no NIRS. Por outro
lado, todos as correlações entre LDA com as digestibilidades já citadas
apresentam coeficientes de Pearson negativos significativos (P<0.05) abaixo
de -0,80. Conclui-se que as análises de LBA se correlacionam melhor com
as digestibilidades in vitro da MS e da FDN tanto pelo método convencional
como pelo NIRS.
A predição da dimensão da FDN potencialmente digestível pode não
ser estimada adequadamente com a lignina mensurada pela hidrólise ácida nas
forrageiras. Isto se deve à falta de acurácia dos métodos gravimétricos para
determinar a real ação inibitória da lignina na digestão dos carboidratos fibrosos
(Fukushima et al., 2015). A explicação para tal fato é a possível influência do
ambiente analítico sobre a estrutura química e sobre a distribuição espacial da
lignina contida na parede celular vegetal (Detmann et al., 2007).
Ainda, alguns autores reportaram que a LDA subestima o conteúdo
de lignina em gramíneas devido a parcial solubilização da mesma. A lignina
é frequentemente vista no interior da parede celular ligada à hemicelulose,
intercalando com microfibras de celulose numa estrutura tridimensional
(Weimer, 1992). Devido à dissolução da hemicelulose pela solução de
detergente ácido, a lignina fica em um arranjo aberto, de tal modo que alguns
fragmentos são também removidos (Lowry et al., 1994).
A parede celular vegetal é o substrato utilizado na mensuração da
LBA. Entretanto a execução da análise de quantificação de parede celular é
demorada e laboriosa, não sendo um método atrativo de ser empregado como
rotina em laboratórios. Este fato, pode impactar negativamente na disseminação
da técnica de quantificação da LBA entre os pesquisadores.

155
Na tentativa de facilitar ainda mais as metodologias aplicadas à análise
do LBA, foi feito um teste comparando a mensuração de LBA tanto vindo da
PC como da FDN, para se avaliar a diferença entre as técnicas. Na tabela 3
pode ser visto que tanto o LBA vindo da PC como a LBA vindo da FDN, e suas
estimativas em NIRS, possuem alta correlação entre elas (r>0,90; P<0.05).
Este resultado é de extrema importância prática, pois descarta a necessidade de
utilização de quantificação de parede celular para mensuração da LBA.
Espectroscopia NIR é uma técnica que vem ganhando espaço na
investigação científica. É uma ciência baseada nas mensurações das vibrações
moleculares em que suas frequências dependem de fatores intrínsecos aos
átomos, às suas ligações e às estruturas das moléculas como um todo. Ou seja,
cada frequência pode ser associada a um grupo específico de ligações químicas
(Jamrógiewicz, 2012).
Entre as vantagens deste método analítico pode-se citar a rapidez
e por ser minimamente invasiva (Porep et al., 2015). Entretanto, a principal
desvantagem é a dependência, em alguns casos, dos métodos quimiométricos.
Por ser um metodologia aplicada de forma indireta (via calibração
multivariada), necessita de uma comparação com método de referência.
Assim, sua confiabilidade depende da acurácia e precisão do método referência
escolhido, sendo que os erros de uma análise referência podem ser incluídos no
NIRS. Ainda como ponto negativo pode-se ser citado a sua baixa sensibilidade
à estimativa de substância com baixas concentrações nas amostras (Luypaert
et al., 2007; Jamrógiewicz, 2012).

156
Valores altos de coeficientes de Pearson (r>0,84, P<0,05) foram
detectados para matéria seca, matéria mineral, parede celular, fibra em
detergente neutro, fibra em detergente ácido, lignina em brometo de acetila
(tanto utilizando parede celular como utilizando FDN) e DIVMS e DIFDN
quando correlacionados às estimativas do NIRS. Por outro lado, coeficiente
de Pearson igual a 0,75 (P<0.05) foi detectado para lignina em detergente
ácido, mostrando que o erro é transportado para o NIRS quando a análise
quimiométrica é de baixa acurácia e precisão (Tabela 4).
Na figura 5 é apresentada as regressões lineares simples de alguns
nutrientes analisados pelos métodos laboratoriais convencionais pelas
estimativas do NIRS. Por meio destas análises matemáticas (principalmente
o coeficiente de determinação - R2) é possível quantificar o quanto o modelo
consegue explicar os valores observados. Ou seja, qual a porcentagem dos
valores estimados pelo NIRS é explicado pela equação desenvolvida.

157

Figura 5. Regressões lineares simples entre os resultados de análises de a) matéria seca; b)


matéria mineral; c) parede celular; d) fibra em detergente neutro; e) fibra em detergente ácido; f)
lignina em detergente ácido; g) lignina em brometo de acetila vinda de parede celular; h) lignina
em brometo de acetila vinda de fibra em detergente neutro, i) digestibilidade in vitro da matéria
seca e j) digestibilidade in vitro da fibra em detergente neutro laboratoriais e os estimados pelo
NIRS, apresentando bissetrizes Y = X.

Dentre as análises de regressões realizadas para os diversos


nutrientes, o que chama mais atenção é a LDA (item f da Figura 5), que possui
um coeficiente de determinação de 0,56, demonstrando alta variabilidade
dos dados quimiométricos laboratoriais. Ou seja, a baixa precisão do método
laboratorial é transportada para as estimativas do NIRS, podendo o LDA ser
um estimador de baixa qualidade para a digestibilidade de forragens, como
previamente hipotetizado.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de serem necessárias mais pesquisas sobre a utilização
da espectroscopia em infravermelho próximo na área de ciências agrárias
e animal, essa ferramenta tem grande potencial para uso em rotina, hajam
vistas as vantagens sobre os procedimentos clássicos de análises químicas
bromatológicas: ser precisa, não destrutiva, com baixo custo e com possibilidade

158
de análises simultâneas de vários analitos.
Os métodos tradicionais de avaliação do valor nutritivo em forrageiras,
envolvem processos físico-químicos que têm como principais limitações o
longo tempo para sua realização, alto custo e utilização de reagentes químicos
que por vezes são nocivos à saúde humana.
A principal dificuldade para o uso da espectrometria NIR é a
complexidade de seus espectros, com isso surgiu a quimiometria, uma
área especificamente destinada à análise de dados químicos de natureza
multivariada. Uma vez que a calibração é feita corretamente, por profissional
capacitado, a tecnologia permite todas as vantagens supracitadas.
A calibração pode ser atualizada, com novos dados, a fim de que seu
modelo fique cada vez mais acurado e preciso ao longo do tempo. Isso faz com
que a técnica seja ainda mais uma boa escolha para análises bromatológicas.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKIN, D.E.; ROBINSON, E.L.; BARTON II, F.E.; HIMMELSBACH, D.S. Change with maturity in
anatomy, histochemistry, chemistry and tissue digestibility of bermuda grass parts. Journal of Agricultural
and Food Chemistry, v. 25, p. 179-186, 1977.

ALLEN, M. S. Relationship Between Fermentation Acid Production in the Rumen and the Requirement
for Physically Effective Fiber. Journal of Dairy Science, v. 80, n. 7, p. 1447–1462, 1997.

ALLEN, M. S.; MERTENS, D. R. Evaluating constraints on fiber digestion by rumen microbes. Journal
of Nutrition, v. 118, n. 2, p. 261–270, 1988.

ALLEN, M. S.; PIANTONI, P. Carbohydrate Nutrition: Managing Energy Intake and Partitioning
Through Lactation. Veterinary Clinics of North America - Food Animal Practice, v. 30, n. 3, p. 577–597,
2014.

ALLEN, M.S.; VOELKER, L.J. A. In vivo methods to measure digestibility and digestion kinetics of fed
fractions in the rumen. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL AVANÇOS EM TÉCNICAS DE PESQUISA
EM NUTRIÇÃO DE RUMINANTES, 2007, Pirassununga, Anais...Pirassununga: Universidade de São
Paulo, 2007. p. 72-89.

ALVIM, M. J.; BOTREL, M. A.; XAVIER, D. F. As principais espécies de Brachiaria utilizadas no País.
Embrapa gado de Leite, v. Comunicado, p. 3–6, 2002.

BALSALOBRE, M. A. A.; CORSI, M.; SANTOS, P. M.; PENATI, M. A.; DEMETRIO, C. G. B.


Cinética da degradação ruminal do capim tanzânia irrigado sob três níveis de resídue pós-pastejo. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 32, n. 6 SUPPL. 1, p. 1747–1762, 2003.

BERNARDES, T. F.; SCHMIDT, P.; DANIEL, J. L. P. XVII International Silage Conference. [s.l: s.n.]
BERTRAND, D.; LILA, M.; FURTOSS, V.; ROBERT, P.; DOWNEY, G. Application of principal
component analysis to the prediction of lucerne forage content and in vitro dry matter digestibility by
NIR spectroscopy. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 41, n. 4, p. 299–307, 1987.

BIDLACK, J. E. Cell-wall components and lignin biosynthesis in forages. 1990. Iowa State University,
1990.

BIDLACK, J. E.; BUXTON, D. R. Content and deposition rates of cellulose, hemicellulose, and lignin

159
during regrowth of forage grasses and legumes. Canadian Journal of Plant Science, v. 818, p. 809–818,
1992.

BIDLACK, J.; MALONE, M.; BENSON, R. Molecular structure and component integration of secondary
cell walls in plants. In: Proceedings of the Oklahoma Academy of Science, Anais...1992.

BOERJAN, W.; RALPH, J.; BAUCHER, M. Lignin Biosynthesis. Annual Review of Plant Biology, v.
54, n. 1, p. 519–546, 2003.

BOLWELL, G. P. Synthesis of Cell Wall Components : Aspects of Control. v. 27, n. 5, p. 1235–1253,


1988.

BOTREL, M. A.; NOVAES, L. P.; ALVIM, M. J. Características de forrageiras de algumas gramíneas


tropicais. [s.l: s.n.]

BOUDET, A. M.; GRIMA-PETTENATI, J. Lignin genetic engineering. Molecular Breeding, v. 2, n. 1,


p. 25–39, 1996.

BURNS, J. C. ASAS Centennial Paper: Utilization of pasture and forages by ruminants: A historical
perspective. Journal of Animal Science, v. 86, n. 12, p. 3647–3663, 2008.

BUXTON, D. R.; MERTENS, D. R.; MOORE, K. J.; BOYD, L. J.; OLDFIELD, J. E. Forage Quality
for Ruminants: Plant and Animal Considerations11This paper includes data presented by the senior
author to the 28th Pacific Northwest Animal Nutrition Conference, Boise, ID, October 26–28, 1993. The
Professional Animal Scientist, v. 11, n. 3, p. 121–131, 1995.

DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; HENRIQUES, L.T.; PINA, D.S.; PAULINO, M.F.;
MAGALHÃES, A.L.R.; FIGUEIREDO, D.M.; PORTO, M.O.; CHIZZOTTI, M.L. Reparametrização
do modelo baseado na lei de superfície para predição da fração digestível da fibra em detergente neutro
em condições brasileiras. Revista brasileira de Zootecnia, v.36, p.155-164, 2007.

DIAS-FILHO, M. B. Sistemas Silvipastoris na Recuperação de Pastagens Degradadas. [s.l: s.n.]


DWARI, S.; MONDAL, A. K. Systematic studies (morphology, anatomy and palynology) of economically
viable grass Brachiaria mutica (Forsskil) Stapf in Eastern India. African Journal of Plant Science, v. 5,
n. 5, p. 296–304, 2011.

ENGELS, F. M.; JUNG, H. G. Alfalfa Stem Tissues : Cell-wall Development and Lignification. Annals
of Botany, v. 82, p. 561–568, 1998.

EUCLIDES, V. P. B.; MACEDO, M. C. M.; VALLE, C. B. do; DIFANTE, G. dos S.; BARBOSA, R. A.;
CACERE, E. R. Valor nutritivo da forragem e produção animal em pastagens de Brachiaria brizantha.
Pesquisa Agropecuaria Brasileira, v. 44, n. 1, p. 98–106, 2009.

FAICHNEY, G.J. The use of markers to partition digestion within the gastrointestinal tract of ruminants.
In: McDonald, I.W., Warner, A.C.I. Digestion and metabolism in the ruminant. Armidale: University of
New England Publisher Unit, p. 277-291, 1975.

FONTANELI, R. S.; SCHEFFER-BASSO, S. M.; DÜRR, J. W.; APPELT, J. V.; BORTOLINI, F.;
HAUBERT, F. A. Predição da composição química de bermudas (Cynodon spp.) pela espectroscopia de
reflectância no infravermelho proximal. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 4, p. 838–842, 2004.

FREUDENBERG, K., NEISH, A. C. Constitution and Biosynthesis of Lignin. Molecular-Biology


Biochemistry and Biophysics, vol. 2. Berlin: Springer-Verlag, 129 p. 1968.

FUKUSHIMA, R. S.; HATFIELD, R. D. Comparison of the acetyl bromide spectrophotometric method

160
with other analytical lignin methods for determining lignin concentration in forage samples. Journal of
Agricultural and Food Chemistry, v. 52, n. 12, p. 3713–3720, 2004.

FUKUSHIMA, R. S.; KERLEY, M. S.; RAMOS, M. H.; PORTER, J. H.; KALLENBACH, R. L.


Comparison of acetyl bromide lignin with acid detergent lignin and Klason lignin and correlation with in
vitro forage degradability. Animal Feed Science and Technology, v. 201, n. December, p. 25–37, 2015.

GASQUES, J. G.; BACCHI, M. R. P.; BASTOS, E. T. Crescimento e Produtividade da Agricultura


Brasileira. Carta de Conjuntura - IPEA, v. 38, n. 1o trimestre, p. 1–9, 2018.

GAZZONI, D. L. 2050, desafios e oportunidades para o agronegócio. Disponível em: <http://www.ipea.


gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1085:catid=28&Itemid=23>.

GICHANGI, E. M.; NJARUI, D. M. G.; GATHERU, M. Plant shoots and roots biomass of brachiaria
grasses and their effects on soil carbon in the semi-arid tropics of Kenya. Tropical and Subtropical
Agroecosystems, v. 20, p. 65–74, 2017.

GIDDINGS, T. H.; BROWER, D. L.; STAEHELIN, L. A. Visualization of particle complexes in the


plasma membrane of Micrasterias Denticulata associated with the formation of cellulose fibrils in
primary and secondary cell walls. Journal of Cell Biology, v. 84, n. 2, p. 327–339, 1980.

GOBBI, K. F.; GARCIA, R.; NETO, A. F. G.; PEREIRA, O. G.; BERNARDINO, F. S.; ROCHA, F. C.
Composição química e digestibilidade in vitro do feno de Brachiaria decumbens Stapf. tratado com uréia.
Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 3, p. 720–725, 2005.

GOBBI, K. F.; LUGÃO, S. M. B.; BETT, V.; ABRAHÃO, J. J. S.; TACAIAMA, A. A. K. Massa de
forragem e características morfológicas de gramíneas do gênero Brachiaria na região do arenito caiuá/
PR. Boletim de Indústria Animal, v. 75, p. 1–9, 2018.

GOERING, H.K.; VAN SOEST, P.J. Forage Fiber Analysis (Apparatus, Reagents, Procedures and
Some Application). Agricultural Handbook No 379, Agricultural Research Service, U.S. Department of
Agriculture, 1970.

GOMES, D. I.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S. de C.; FUKUSHIMA, R. S.; DE SOUZA, M.
A.; VALENTE, T. N. P.; PAULINO, M. F.; DE QUEIROZ, A. C. Evaluation of lignin contents in tropical
forages using different analytical methods and their correlations with degradation of insoluble fiber.
Animal Feed Science and Technology, v. 168, n. 3–4, p. 206–222, 2011.

HACKMANN, T. J.; SPAIN, J. N. Invited review: Ruminant ecology and evolution: Perspectives useful
to ruminant livestock research and production. Journal of Dairy Science, v. 93, n. 4, p. 1320–1334, 2010.

HARE, M. D.; PIZARRO, E. A.; PHENGPHET, S.; SONGSIRI, T.; SUTIN, N. Evaluation of new hybrid
brachiaria lines in Thailand. 1. Forage production and quality. Tropical Grasslands - Forrajes Tropicales,
v. 3, n. 2, p. 83, 2015.

HATFIELD, R. D. Structural Polysaccharides in Forages and Their Degradability. Agronomy Journal,


v. 81, p. 39–46, 1989.

HATFIELD, R.; FUKUSHIMA, R. S. Can lignin be accurately measured? Crop Science, v. 45, n. 3, p.
832–839, 2005.

HOFMANN, R.R. The ruminant stomach: Stomach structure and feeding habits of East African game
ruminants. East African Monographs in Biology, 2ed. Nairobi:East African Literature Bureau, 1973.
354 p.

161
HOFMANN, R. R.; STEWART, D. R. M. Grazer of browser: a classification based on the stomach
structure and feeding habits of East African ruminants. Mammalia, v. 36, n. 1, p. 226–240, 1972.

HOUTMAN, C. J.; ATALLA, R. H. Cellulose-Lignin interactions. Plant Physiology, v. 107, n. 1 995, p.


977–984, 1995.

HUNTINGTON, J. A.; GIVENS, D. I. Studies on in situ degradation of feeds in the rumen : 1 . Effect of
species , bag mobility and incubation sequence on dry matter disappearance. Animal Feed Science and
Technology, v. 64, p. 227–241, 1997.

IOWERTH, D.; JONES, H.; HAYWARD, M. V. The effect of pepsin pretreatment of herbage on the
prediction of dry matter digestibility from solubility in fungal cellulase solutions. Journal of the Science
of Food and Agriculture, v. 26, n. 5, p. 711–718, 1975.

IPEAN, I. de P. e E. A. do N.-. Capim Braquiária. In: Culturas da Amazônia. 1a ed. Belém,PA: Setor de
Inf. e Divulgação, 1968. p. 9.

JAMRÓGIEWICZ, M. Application of the near-infrared spectroscopy in the pharmaceutical technology.


Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 66, p. 1–10, 2012.

JUNG, H. G.; ALLEN, M. S. Characteristics of plant cell walls affecting intake and digestibility of
forages by ruminants. Journal of animal science, v. 73, n. 9, p. 2774–2790, 1995.

JUNG, H. G.; MERTENS, D. R.; PAYNE, A. J. Correlation of Acid Detergent Lignin and Klason Lignin
with Digestibility of Forage Dry Matter and Neutral Detergent Fiber. Journal of Dairy Science, v. 80, n.
8, p. 1622–1628, 1997.

JUNG, H.J.G., RAETH-KNIGHT, M.; LINN, J.G. Forage fiber digestibility: Measurement, variability,
and impact. In: 65th Minnesota Nutrition Conference. Proceedings...St. Paul, MN. University of
Minnesota, Minneapolis, p. 105– 125, 2004.

JUNG, H. G.; VOGEL, K. P. Influence of lignin on digestibility of forage cell wall material. Journal of
animal science, v. 62, n. 6, p. 1703–1712, 1986.

KARIA, C. T.; DUARTE, J. B.; ARAÚJO, A. C. G. Desenvolvimento de cultivares do gênero Brachiaria


(trin.) Griseb. no Brasil. 1a ed. Planaltina,DF: Embrapa Cerrados, 2006.

KONDO, T.; MIZUNO, K.; KATO, T. Some characteristics of forage plant lignin. Japan Agricultural
Research …, v. 21, p. 47–52, 1987.

KOVÁCS, L.; JURKOVICH, V.; BAKONY, M.; SZENCI, O.; PÓTI, P.; TŐZSÉR, J. Welfare implication
of measuring heart rate and heart rate variability in dairy cattle: literature review and conclusions for
future research. Animal, v. 8, n. 2, p. 316–30, 2014.

KUOPPALA, K.; RINNE, M.; AHVENJÄRVI, S.; NOUSIAINEN, J.; HUHTANEN, P. The effect of
harvesting strategy of grass silage on digestion and nutrient supply in dairy cows. Journal of Dairy
Science, v. 93, n. 7, p. 3253–3263, 2010.

LOUW-GAUME, A. E.; SCHWEIZER, N.; RAO, I. M.; GAUME, A. J.; FROSSARD, E. Temporal
differences in plant growth and root exudation of two Brachiaria grasses in response to low phosphorus
supply. Tropical Grasslands-Forrajes Tropicales, v. 5, n. 3, p. 103, 2017.

LOW, S. Signal Grass (Brachiaria decumbens) Toxicity in Grazing Ruminants. Agriculture, v. 5, n. 4, p.


971–990, 2015.

162
LOWRY, J.B.; CONLAN, A.C.; SCHLINK, A.C.; MCSWEENEY, C.S. Acid detergent dispersible lignin
in tropical grasses. Journal of the Science of Food and Agriculture, v.65, p.41-49, 1994.

LUND, P. The effect of forage type on passage kinetics and digestibility of fibre in dairy cows. Thesis
(Doctor of Philosophy). The Royal Veterinary and Agricultural University, Copenhagen, Denmark, 2002.

LUYPAERT, J.; MASSART, D. L.; VANDER HEYDEN, Y. Near-infrared spectroscopy applications in


pharmaceutical analysis. Talanta, v. 72, n. 3, p. 865–883, 2007.

MERTENS, D. R. Creating a System for Meeting the Fiber Requirements of Dairy Cows. Journal of
Dairy Science, v. 80, n. 7, p. 1463–1481, 1997.

MOHNEN, D.; BAR-PELED, M.; SOMERVILLE, C. Cell wall polysaccharide synthesis. In: HIMMEL,
M. (Ed.). Biomass Recalcitrance: Deconstructing Plant Cell Wall Bioenergy. Oxford: Blackwell, 2008.
p. 94–187.

MONTAGNER, D. B.; ARAÚJO, A. R. de; EUCLIDES, V. P. B.; MACEDO, M. C. M.; ZIMMER,


A. H.; ANDRADE, R. A. S. Potencial produtivo dos capins BRS Piatã e BRS Paiaguás em sistema de
integração lavoura-pecuária. 1a ed. Campo Grande,MS: Embrapa Gado de Corte, 2018.

MOORE, K.J.; JUNG, H.G. Lignin and fiber digestion. Journal of Range Management, v.54, p.420-430,
2001.

MORRISON, I. M. A Semi-micro Method for the Determination of Lignin and its Use in Predicting the
Digestibility of Forage Crops. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 23, p. 455–463, 1972.

MUTAI, C.; NJUGUNA, J.; GHIMIRE, S. Brachiaria Grasses (Brachiaria spp.) harbor a diverse bacterial
community with multiple attributes beneficial to plant growth and development. MicrobiologyOpen, v.
6, n. 5, p. 1–11, 2017.

NOCEK, J.E. Bovine acidosis: Implications on laminitis. Journal of Dairy Science, v. 80, p. 1005-1028,
1997.

NOJIRI, M.; KONDO, T. Application of regioselectively substituted methylcelluloses to characterize the


reaction mechanism of cellulase. Macromolecules, v. 29, n. 7, p. 2392–2395, 1996.

NORRIS, K. .; BARNES, R. F.; MOORE, J. .; SHENK, J. S. Predicting Forage Quality by Infrared


Replectance Spectroscopy. Journal of Animal Science, v. 43, n. 4, p. 889, 1976.

NRC. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 7th ed. ed. [s.l.] National Academy Press, 2001. v. 6
OBA, M.; ALLEN, M.S. Evaluation of the importance of the digestibility of neutral detergent fiber from
forage: effects on dry matter intake and milk yield of dairy cows. Journal of Dairy Science. v. 82, p.
589-596, 1999.

PANDE, H.; ROY, D. N. Delignification kinetics of soda pulping of kenaf. Journal of Wood Chemistry
and Technology, v. 16, n. 3, p. 311–325, 1996.

PEREIRA, L. E. T.; POLIZEL, G. H. G. Princípios e recomendações para o manejo de pastagens.


Pirassununga: PRCEU-pró-reitoria de cultura e extensão universitária, 2016.

PEZZOPANE, J. R. M.; BOSI, C.; NICODEMO, M. L. F.; SANTOS, P. M.; DA CRUZ, P. G.;
PARMEJIANI, R. S. Microclimate and soil moisture in a silvopastoral system in southeastern Brazil.
Bragantia, v. 74, n. 1, p. 110–119, 2015.

POREP, J. U.; KAMMERER, D. R.; CARLE, R. On-line application of near infrared (NIR) spectroscopy

163
in food production. Trends in Food Science & Technology, v. 46, n. 2, p. 211–230, 2015.

POTTS, J. R. M.; WEKLYCH, R.; CONN, E. E. The 4-Hydroxylation of cinnamic acid by sorghum
microsomes and the requirement for cytochrome P-450. The Journal of Biological Chemistry, v. 249, n.
16, p. 5019–5026, 1974.

RABOTNIKOF, C. M.; PLANAS, G. M.; COLOMER, J. S.; STRITZLER, N. P. Near infrared


reflectance spectroscopy (NIRS) for predicting forage quality of perennial warm-season grasses in La
Pampa, Argentina. Annales de Zootechnie, v. 44, n. 1, p. 97–100, 1995.

RAFFRENATO, E.; FIEVISOHN, R.; COTANCH, K. W.; GRANT, R. J.; CHASE, L. E.; VAN
AMBURGH, M. E. Effect of lignin linkages with other plant cell wall components on in vitro and in
vivo neutral detergent fiber digestibility and rate of digestion of grass forages. Journal of Dairy Science,
v. 100, n. 10, p. 8119–8131, 2017.

RAYMOND, W. F. The Nutritive Value Of Forage Crops. Advances in Agronomy, v. 21, p. 1–108, 1969.

REDSHAW, E. S.; MATHISON, G. W.; MILLIGAN, L. P.; WEISENBURGER, R. D. Near infrared


reflectance spectroscopy for predicting forage composition and voluntary consumption and digestibility
in cattle and sheep. Canadian Journal of Animal Science, v. 66, p. 103–115, 1986.

REEVES, J. B.; BLOSSER, T. H.; COLENBRANDER, V. F. Near Infrared Reflectance Spectroscopy for
Analyzing Undried Silage. Journal of Dairy Science, v. 72, n. 1, p. 79–88, 1989.

ROGERS, L. A.; CAMPBELL, M. M. The genetic control of lignin deposition during plant growth and
development. New Phytologist, v. 164, n. 1, p. 17–30, 2004.

RUBIN, E. M. Genomics of cellulosic biofuels. Nature, v. 454, n. 7206, p. 841–845, 2008.

SANTOS, P. M.; VINHOLIS, M. de M. B.; DIAS-FILHO, M. B., et al. Produção animal no Brasil:
caracterização, simulação de cenários para pastagens e alternativas de adaptação às mudanças climáticas.
1a ed. São Carlos, SP: Embrapa Pecuária Sudeste, 2015.

SECA, a M. L.; CAVALEIRO, J. a S.; DOMINGUES, F. M. J.; SILVESTRE, a J. D.; EVTUGUIN, D.;
NETO, C. P. Structural characterization of the bark and core lignins from kenaf (Hibiscus cannabinus).
Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 46, n. 8, p. 3100–3108, 1998.

SEIFFERT, N. F. Gramíneas forrageiras do gênero Brachiaria. [s.l: s.n.]

SHENK, J. S.; WESTERHAUS, M. O.; HOOVER, M. R. Analysis of Forages by Infrared Reflectance.


Journal of Dairy Science, v. 62, n. 5, p. 807–812, 1979.

SOEST, P. J. VAN; WINE, R. H. Determination of Lignin and Cellulose in Acid-Detergent Fiber with
Permanganate. JOURNAL OF THE A.O.A.C., v. 51, n. 4, p. 780–785, 1968.

THEANDER, O.; WESTERLUND, E. A. Dietary Fiber. 3. Improved Procedures for Analysis of Dietary
Fiber. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 34, p. 330–336, 1986.

TILLEY, J.M.A.; TERRY, R.A. A two-stage technique for the in vitro digestion of forage crops. Journal
of the British Grassland Society, v.18, p.104-111, 1963.

UNDERSANDER, D. Uses and Abuses of NIR for Feed Analysis. In: Florida Ruminant Nutrition
Symposium, Florida. Anais... Florida: 2006.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2ed. Ithaca: Cornell University Press, 1994. 476 p.

164
VAN SOEST, P. J. Use of Detergents in the Analysis of Fibrous Feeds . II . A Rapid Method for the
Determination of Fiber and Lignin. Journal of the A.O.A.C., v. 46, n. 5, p. 829–835, 1963.

VARGA, G. A.; KOLVER, E. S. Microbial and Animal Limitations to Fiber Digestion and Utilization.
In: The Journal of Nutrition, 5, Anais...1997.

WARD, A.; NIELSEN, A. L.; MØLLER, H. Rapid assessment of mineral concentration in meadow
grasses by near infrared reflectance spectroscopy. Sensors, v. 11, n. 5, p. 4830–4839, 2011.

WEIMER, P.J. Cellulose degradation by ruminal microorganisms. Critical Reviews in Biotechnology,


v.12, p.189-223, 1992.

WINCH, J. E.; MAJOR, H. Predicting nitrogen and digestibility of forages using near infrared reflectance
photometry. Canadian Journal of Plant Science, v. 61, p. 45–51, 1981.

XAVIER, D. F.; CARVALHO, M. M.; BOTREL, M. de A.; VILELA, D. Características e potencialidades


de pastagens de braquiárias para produção de leite. 1a ed. [s.l: s.n.]

165
CAPÍTULO IX

VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS DEJETOS NA PRODUÇÃO


ANIMAL POR MEIO DO BALANÇO DE NUTRIENTES:
APLICAÇÕES NA BOVINOCULTURA LEITEIRA E NA
SUINOCULTURA

Mirian Fabiana da Silva1; Rafael Araújo Nacimento1; Esther Afonso


Ramalho1; Oscar Alejandro Ojeda-Rojas1; Julio Cesar Pascale
Palhares1,2; Francisco Palma Rennó1; Augusto Hauber Gameiro1

1
Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Universidade de São Paulo
2
EMBRAPA Pecuária Sudeste.

RESUMO
O balanço de nutrientes é um método utilizado para avaliar o desempenho
ambiental das propriedades agropecuárias e outras atividades, por meio de
inputs e outputs de nutrientes, como nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio
(K). Objetivou-se avaliar o balanço de nutrientes como uma ferramenta para
valorar economicamente os dejetos da produção de um sistema intensivo de
bovinocultura leiteira (SIBL) e um sistema de criação de suínos em terminação
(SCST). Para as estimativas, foram utilizados dados de campo e extrapolados
para números correspondentes a unidades representativas da produção animal
no Brasil. Para o SIBL foi considerada uma criação de 74 vacas em lactação
sob sistema de criação free stall com dieta à base de silagem de milho e ração
à base de milho e coprodutos de soja por 305 dias de lactação. Para o SCST
foi considerada uma criação de 773 suínos em fase de terminação em sistema
intensivo de criação, submetidos a dietas à base de milho e coprodutos de soja
por 117 dias. O nutriente com maior eficiência em sua utilização para a SIBL
foi o P (32,40%) seguido do N (26,06%). O fato se inverte para SCST, com o
N (38,57%) apresentando a maior eficiência no uso, seguido pelo P (20,14%).
Para ambos os sistemas de criação, o K apresentou a pior taxa de eficiência na
utilização (18,04% e 16,19%, respectivamente). O valor do dejeto produzido
em um ano no SCST totalizou R$ 54.595,40 e R$ 67.615,21 no SIBL. Os
resultados obtidos sugerem que o balanço de nutrientes é uma ferramenta que
pode ser usada para a valoração econômica dos dejetos da produção animal. Os
resultados enfatizam a importância da gestão dos dejetos da produção animal
bem como sua comercialização como sugestão para o correto destino deste
produto.

166
1. INTRODUÇÃO
Os sistemas agroindustriais do leite e de carne suína no Brasil têm
importância significativa no agronegócio e contribuem de forma importante
com a econômica nacional. Segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal,
no ano de 2017 o rebanho brasileiro contou com um total de 17,06 milhões de
vacas leiteiras, que produziram 33,49 bilhões de litros de leite (IBGE, 2017).
Já a suinocultura demonstra crescimento na produção de carne, saltando de
2,94 milhões de toneladas de carne produzida em 2006, para 3,75 milhões
de toneladas em 2017 (ABPA, 2018), chegando a 43,19 milhões de cabeças
(IBGE, 2017).
Os sistemas produtivos de leite e de carne suína brasileira têm passado
por diversas transformações nos últimos anos, entre as mais importantes pode-
se citar: o aumento da produção e produtividade; a redução do número total de
produtores; a escassez de mão de obra especializada; as mudanças na legislação
trabalhista e ambiental; as novas exigências com relação à qualidade do produto;
e o aumento da competição, entre outras. Estes desafios influenciam direta ou
indiretamente a viabilidade econômica dos empreendimentos pecuários. Nesse
contexto, torna-se cada dia mais relevante o uso de práticas e tecnologias
que permitam aprimorar os sistemas produtivos, levando em consideração o
enfoque econômico, ambiental e social.
A intensificação da atividade possibilita aumentar a produção e a
produtividade das propriedades, e atender à demanda por alimentos pela
população. Porém, na bovinocultura leiteira e na suinocultura – como nos
diversos setores produtivos – esta intensificação traz importantes repercussões,
dentre as mais relevantes estão os impactos negativos ao meio ambiente,
principalmente, devido aos resíduos gerados, tanto pela quantidade quanto
pela composição, sendo que na maioria dos casos, esses resíduos não recebem
disposição adequada e tornam-se fonte de contaminação do solo, das águas
superficiais e subterrâneas e de emissões de gases e odores.
Diante deste cenário, o manejo ambiental deve ser cada vez mais
internalizado na produção de leite e suínos, contribuindo assim para adequação
das atividades, seja visando a utilização responsável dos recursos naturais e o
uso de práticas que minimizem os impactos ambientais negativos.
Um dos pontos a ser analisado é a eficiência do uso dos nutrientes, uma vez que
quando manejados adequadamente, reduz-se o uso de insumos, melhora-se a
ciclagem de nutrientes e minimizam-se as perdas para o ambiente (Rasmussen
et al., 2011; Gourley et al., 2012; Mu et al., 2017). Por conseguinte, o balanço de
nutrientes (BN) pode ser uma ferramenta importante para realizar a estimativa
da diferença entre as entradas e saídas de nutrientes da atividade (Rasmussen et
al., 2011; Gourley et al., 2012; Mu et al., 2017). Essas informações podem ser
adotadas como medidas de controle e monitoramento dos fluxos de nutrientes,

167
com a finalidade de minimizar as emissões e as fontes de contaminação
ambiental e aumentar a eficiência no uso de recursos, contribuindo de forma
positiva para o retorno econômico das atividades de produção de leite e suínos.
O manejo de dejetos deve ser implantado para evitar impactos
ambientais, mas também para a geração de ganhos econômicos, buscando
a sustentabilidade dos sistemas de produção. Assim, os dejetos representam
uma oportunidade econômica dada sua utilização como fertilizante e,
consequentemente, reduzindo a entrada de insumos externos como adubos
químicos. Nesse sentido, objetivou-se discutir o uso do BN como um método
prático para valoração econômica dos dejetos em sistemas de produção
intensivo característicos do Brasil, especificamente na produção de leite em
sistema de confinamento e de suínos na fase de engorda.

2. O QUE É O BALANÇO DE NUTRIENTES?


O BN é um método utilizado para avaliar o desempenho ambiental das
propriedades agropecuárias e também de outras atividades. O BN é a diferença
entre entradas (inputs) e saídas (outputs) de nutrientes do sistema, e permite
o cálculo de indicadores ambientais, tais como a eficiência na utilização de
nutrientes e a perda de nutrientes por áreas ou por produto (Gordon et al., 2002;
Rasmussen et al., 2011; Mu et al., 2017). São utilizados os dados dos teores de
nutrientes presentes no sistema, contabilizando os nutrientes importados como
fertilizantes, alimentos e animais, e os exportados do sistema, como venda de
produtos (leite, carne), animais, grãos e dejetos (Rasmussen et al., 2011).
No cálculo do BN, de forma simplificada, é possível aproximar a
quantidade de nutrientes dos dejetos, considerando a entrada de insumos e a
saída de produtos animais. Nesta condição não são considerados o cálculo a
fixação biológica, a deposição atmosférica, a desnitrificação e a volatilização
de amônia. O BN pode ser representado pela seguinte equação:

Em geral, o uso do BN concentra-se basicamente na análise de


nutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), dado que são

168
esses os principais nutrientes manejados por um sistema de produção animal.
Adicionalmente, as perdas desses minerais podem eventualmente causar
impactos ambientais (Gourley et al., 2012).

3. UTILIZAÇÃO DO BALANÇO DE NUTRIENTES NA PRODUÇÃO


ANIMAL
As atividades humanas têm elevado drasticamente os níveis de
utilização de N e P ao redor do mundo, destacando dentre elas a intensificação
da produção animal (Galloway et al., 2004; Liu et al., 2006). Com a
intensificação vieram as produções em grande escala de dejetos e resíduos,
e os problemas com a destinação destes, uma vez que as áreas agricultáveis
adjacentes à produção animal são incapazes de absorver todo o resíduo gerado
(Bernal et al., 2009; Szogi et al., 2015).
A depender da abordagem recebida, os dejetos da produção animal
podem ser tanto uma fonte de nutrientes e algo benéfico para a natureza,
gerando energia e melhorando o solo; quanto um perigo para esta, gerando
gases de efeito estufa, eutrofização de corpos de água e poluição do solo
(Sutton et al., 2011).
O gerenciamento eficiente dos balanços de N, P e K pode contribuir
com a produção agropecuária mais sustentável. O acúmulo ou perdas de
nutrientes pode causar contaminação da água, do solo e do ar. Isso acontece
quando a quantidade de nutrientes importados excede a quantidade de nutrientes
exportados da propriedade. Por outro lado, quando os nutrientes exportados
excedem a quantidade de nutrientes importados, pode causar diminuição
da fertilidade do solo e consequentemente redução da produtividade das
culturas. Assim, o equilíbrio entre as exportações e importações de nutrientes
é fundamental. O desenvolvimento sustentável das atividades agropecuárias
exige maior eficiência no uso de nutrientes e no equilíbrio dos fluxos de
nutrientes dos animais e do solo (Soberon et al., 2013).
Dessa forma, a utilização dos dejetos projetando a reciclagem dos
nutrientes contidos neles, reduz eficazmente os problemas com a poluição
(Petersen et al., 2007). Ainda, a sua utilização contribui para a redução na
compra de fertilizantes, além da melhoria das propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo.
Com isso, se faz necessário conhecer a composição química dos
dejetos, para assim evitar o overload de nutrientes no solo (Konzen, 2003).
Neste sentido, com o BN pode-se estimar a produção de resíduos pecuários e
determinar a quantidade de nutrientes contida nestes.
Bai et al. (2014) avaliaram a eficiência na utilização de N e P na
produção de suínos. Os autores sugeriram o método de balanço de massas
comum como a ferramenta de eleição para estimar a excreção dos elementos

169
e de policiamento agroambiental na produção animal. Gordon et al. (2002)
sugeriram que a utilização do BN é um meio de se avaliar a sustentabilidade
da produção, afirmando sua utilidade para definir melhores práticas de manejo
além de predizer possíveis impactos das mudanças e comparar sistemas.
O BN pode ser usado como método para a valoração econômica dos
dejetos da produção animal como fertilizante (i.e., ureia, superfosfato simples e
cloreto de potássio) (Rasmussen et al., 2011). Basicamente, é possível calcular
os níveis dos elementos nos dejetos (i.e. perdas por volatilização de N), valorá-
los de acordo com os preços de mercado dos fertilizantes comerciais e por
equivalência, definir seu valor econômico. Porém, a maioria dos trabalhos
utiliza o BN como método de avaliação ambiental por meio de indicadores de
eficiência de uso e perda de nutrientes (Gourley et al., 2012; Bai et al., 2014;
Mu et al., 2016).
No Brasil, alguns trabalhos abordam e discutem a importância dos
impactos das perdas de nutrientes nos sistemas de produção animal, bem como
o destino dos nutrientes e as consequências de seu mal uso (Shigaki et al.,
2006; Da Veiga & Pandolfo, 2010). No entanto, desconhece-se a existência
de trabalhos que utilizem o BN como método de valoração dos dejetos na
produção animal.
Em resumo, o BN se apresenta como uma ferramenta que pode
auxiliar o produtor no processo de tomada de decisões relacionadas à gestão
dos dejetos da propriedade, buscando adotar medidas que visem o equilíbrio
nos fluxos de nutrientes e a redução das emissões e fontes de contaminação
ambiental. Ainda, tem-se a possibilidade de utilização da ferramenta na
valoração dos dejetos como fertilizantes. No entanto, apesar de sua usabilidade
na gestão de dejetos, para nosso conhecimento, o uso da técnica é escassa no
Brasil.
A seguir, são apresentados dois estudos de caso utilizando o BN para
a valoração dos dejetos na produção animal.

4. COMO O BALANÇO DE NUTRIENTES PODE AUXILIAR NA


VALORAÇÃO DOS DEJETOS NA BOVINOCULTURA LEITEIRA?
ESTUDO DE CASO
O BN foi calculado com base nos dados da pesquisa realizada por
Silva et al. (2016). A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Pesquisa
em Bovinos de Leite do Departamento de Nutrição e Produção Animal da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo,
em Pirassununga. As vacas da raça Holandesa foram mantidas em confinamento
com instalação tipo free stall. A ração completa foi fornecida duas vezes ao dia,
às 07 e às 13 horas. As vacas foram ordenhadas mecanicamente duas vezes ao
dia (06 h e 16 h).

170
Para a análise considerou-se o rebanho leiteiro com 74 vacas em
lactação. A produção total de leite no período de 305 dias foi de 704.184 kg,
sendo 9.516 kg de leite/vaca. O peso corporal médio dos animais foi de 658
kg e o consumo de matéria seca de 23,1 kg/dia/animal (Figura 1). Os dados
utilizados para o cálculo do balanço foram: composição, consumo da dieta
e produção de leite. O período de análise foi de 305 dias, ou seja, o período
médio de lactação. Para o cálculo considerou-se os elementos nitrogênio (N),
fósforo (P) e potássio (K), sendo as entradas os ingredientes da dieta e a saída
o produto leite. Os cálculos foram feitos com base na matéria seca. Não foi
considerada a aquisição e venda de animais.
O balanço foi calculado pela diferença entre a quantidade de N, P e
K que entrou através dos alimentos e a saída por meio da produção de leite.
Os cálculos das entradas de N, P e K foram gerados considerando as médias
desses elementos nas análises dos produtos utilizados na dieta.

Figura 1. Caracterização do sistema de produção.

A dieta das vacas foi composta por: 50% de silagem de milho, 27,8%
de milho moído, 14,4% de farelo de soja, 5,15% de soja em grão, 0,13%
de ureia, 0,13% de sulfato de amônia, 0,74% de calcário, 1,62% de mistura
mineral e vitamina e 0,04% de sal comum na matéria seca. A composição dos
alimentos foi obtida por meio da tabela brasileira de composição de alimentos
para bovinos (Valadares Filho et al., 2016; Tabela 1).

171
Tabela 1. Composição dos insumos.

Fonte: adaptado de Valadares Filho, Júnior e Capelle (2016)

Os cálculos para as entradas (nitrogênio, fósforo e potássio dos


alimentos) gerados foram:

A produção de leite total foi calculada pela média de produção por


vaca por dia, multiplicando pelo número de vacas em lactação e pelo período de
lactação (305 dias). A composição do leite foi obtida pela tabela de composição
de alimentos da Universidade Estadual de Campinas (NEPA, 2011), na qual
constam: 0,484% de N; 0,082% de P; e 0,133% de K. As quantidades dos
nutrientes presentes no leite foram calculadas multiplicando a produção total
pelos teores de N, P e K. Os cálculos para as saídas de nitrogênio, fósforo e
potássio do leite foram:

A eficiência do uso dos nutrientes foi calculada pela relação entre a

172
quantidade de nutrientes no leite e a quantidade de nutrientes nos alimentos,
segundo a equação:

O valor estimado do dejeto no período foi calculado com base no


preço médio de mercado dos fertilizantes equivalentes, como ureia (45% N),
superfosfato simples (18% P2O5) e cloreto de potássio (60% K2O). Utilizou os
preços médios no ano de 2017 de acordo com o Instituto de Economia Agrícola
(IEA-SP, 2017). Para o nitrogênio, considerou-se a perda por volatilização de
28% segundo Xiccato et al. (2005) e sem perdas para P e K. Para a conversação
do P em P2O5 e K em K2O utilizou-se as seguintes equações de acordo com
Rasmussen et al. (2011):

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 2 apresenta as entradas, a saída e o BN do sistema de
produção de leite analisado. O balanço foi positivo para os três nutrientes, ou
seja, as entradas foram maiores que a saída, no período analisado. A entrada de
N foi de 13.077,15 kg, sendo que 45% desse valor foi constituído pelo farelo
de soja. A entrada de P foi de 1.782,31 kg, 28% proveniente da silagem de
milho. Já a entrada de K foi de 5.191,55 kg, 48% desse valor representado pela
silagem de milho. A eficiência de uso do N foi de 26,06%, do P 32,40% e do K
18,04%. A eficiência de uso dos nutrientes pode ser melhorada utilizando-se de
manejo nutricional, aproveitamento dos resíduos como fertilizante e aumento
da produção de leite por animal.
Tabela 2 – Balanço de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) no período de lactação (305 dias)

173
Para minimizar a perdas de nutrientes deve-se estabelecer um manejo
nutricional que tenha como princípio o uso eficiente dos nutrientes da dieta.
As estratégias de manejo alimentar e nutricional têm demonstrado melhoria
no aproveitamento dos nutrientes pelas vacas em lactação. A redução de
proteína bruta da dieta e o balanceamento correto da energia podem aumentar
a eficiência de uso do nitrogênio dos alimentos (Broderick, 2003; Hanigan
& Knowlton, 2010; Powell & Rotz, 2015; Bahrami-Yekdangi et al., 2016). A
redução da ingestão dos minerais pode reduzir as suas excreções (Kojima et
al., 2005; Hanigan & Knowlton, 2010; Kebreab et al., 2010). O bem-estar dos
animais também contribui na melhoria do BN, pois o aumento do estresse em
geral conduzirá ao aumento das exigências nutricionais das vacas.
Considerou-se que a diferença entre entradas e saída ficou no sistema
na forma de resíduos, que devem ser manejados a fim de reduzir o potencial
poluidor do sistema de produção. Sabe-se que parte destas diferenças são
utilizadas na formação dos ossos, tecidos e outros processos fisiológicos.
As quantidades de N, P e K do dejeto referem aos resultados do BN. A
quantidade estimada de N no dejeto foi de 6.961,61 kg (Tabela 3), considerou-
se a perda por volatilização do nitrogênio de 28% de acordo com Xiccato et al.
(2005). No período estudado, estimou-se que o valor do dejeto total, o valor
do dejeto por vaca e o valor do dejeto por litro de leite foi de R$ 67.615,21, R$
913,72 e de R$ 0,10, respectivamente. Esses valores demonstram a importância
econômica da produção de dejeto na propriedade leiteira e que sua correta
utilização tem impactos positivos na economia e no meio ambiente.

Tabela 3. Quantificação do nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) e a valoração do dejeto no período de
lactação (305 dias).

174
¹ Considerou-se perda de N de 28%, de acordo com Xiccato et al. (2005);
² Adubo comercial utilizado para as estimativas: Ureia (45% N); Superfosfato simples (18%
P2O5); e Cloreto de potássio (60% K2O); preços sugeridos e levantados juntos ao Instituto de
Economia Agrícola de São Paulo para o ano de 2017 (IEA-SP, 2017).
³ Valor total do dejeto produzido = R$ 67.615,21.

Os resultados demonstram que o manejo dos resíduos com fertilizante


deveria ser parte da rotina produtiva. Uma opção seria utilizar o dejeto na
produção de milho para silagem ou mesmo vendê-lo após o manejo. Desta
forma, o manejo dos resíduos contribuirá com o ambiente e com a economia do
rebanho, reduzindo o custo da produção de silagem de milho ou gerando uma
receita a mais com a venda de dejeto.

6. COMO O BALANÇO DE NUTRIENTES PODE AUXILIAR NA


VALORAÇÃO DOS DEJETOS SUÍNOS? ESTUDO DE CASO
Os dados de desempenho zootécnico (peso, ganho de peso, consumo
de ração e conversão alimentar) utilizados para a análise do BN, foram
provenientes de estudo conduzido por Palhares et al. (2009; 2010). Naquele
experimento, suínos machos castrados (~31,5 kg; Landrace x Large White)
foram submetidos a dietas basais nas fases de crescimento e terminação (~70
a 197 dias) em sistema de criação intensivo por um período de 17 semanas
(Figura 2).
Figura 2. Caracterização do sistema de produção.

175
¹ Rendimento de carcaça apresentado por suíno macho castrado com peso médio de 133,39 kg
(BERTOL et al., 2015);
² Considerado como miúdos de porco mecanicamente separados (UNIFESP, 2018).

Os resultados do estudo foram extrapolados para uma unidade de


terminação (UT) com 773 animais. Esta decisão foi tomada de acordo com
o tamanho médio das UT’s encontradas no Brasil (ABCS & SEBRAE, 2016)
com período de criação de 117 dias e 7 dias de vazio sanitário (EMBRAPA,
2003).
Os animais foram submetidos a dietas a base de milho e coprodutos de
soja em um programa de alimentação composto por quatro fases (crescimento
1 e 2, e terminação 1 e 2) seguindo as recomendações para suínos machos
castrados com alto potencial genético proposto por Rostagno et al. (2005;
Tabela 4).

Tabela 4. Composição centesimal e níveis nutricionais calculados das dietas¹ componentes do programa de
alimentação de suínos machos castrados.

176
¹ Dietas formuladas de acordo com as recomendações de Rostagno et al. (2005) atendendo as
exigências nutricionais de suínos machos castrados de alto potencial genético com desempenho
superior na fase de crescimento e terminação.

Como input no BN foi considerado apenas as quantidade de N, P e


K consumidos via dieta. Para a determinação das quantidades dos nutrientes
nas dietas, estas foram amostradas e sua composição nutricional para N, P e K
definida por análise bromatológica.
Para a determinação dos outputs de N, P e K via produto (carne
suína), foi considerado o peso final dos animais (~135 kg) e rendimento de
carcaça de 80,23%, como observado por Bertol et al. (2015) para suínos
machos castrados com peso vivo de 133,39 kg e alimentados com dietas a base
de milho e coprodutos de soja, assemelhando-se às características zootécnicas
e de manejo dietético do presente estudo. Dessa forma, o valor estimado de
carne produzida (kg/animal) foi definido pela fórmula abaixo:

A composição química de N, P e K presentes na carne suína foi estimada


de acordo com a Tabela de Composição Química dos Alimentos (UNIFESP,
2018). Para isto foi considerada a carcaça de porco, crua, composta por carne
magra e gordura. Considerou-se para os cálculos os miúdos mecanicamente
separados como material não aproveitado. Os valores de P e K foram expressos
em mg. Para estimar o teor de N, a quantidade de proteína apresentada no
produto foi dividida pelo fator de correção proposto por Kjeldahl (6,25).
Posteriormente, os valores de N, P e K encontrados foram multiplicados pela
quantidade total de carne produzida estimada e resíduo não-consumível.
A eficiência na utilização dos nutrientes foi determinada pela divisão
entre os outputs e o input dos nutrientes (Equação 7). Para este estudo, os
outputs foram considerados a saída dos nutrientes pela carne e resíduos de
abate (i.e. vísceras) e o input foi considerado a entrada de nutrientes via ração.
A valoração do dejeto suíno foi calculado com base no preço médio
de mercado dos fertilizantes equivalentes, tais como: ureia (45% de N),
superfosfato simples (18% de P2O5) e cloreto de potássio (60% de K2O)
sendo os preços levantados junto ao Instituto de Economia Agrícola (IEA-SP,
2017). Ainda, considerou-se 120 dias de armazenamento dos dejetos suínos em
esterqueira aberta (Kunz et al., 2005) e perda estimada de 50% do N devido
a volatilização deste em amônia, sem perdas para P e K (Vivan et al., 2010).
O método proposto utilizado para a conversão e valoração do dejeto suíno
equivalentes aos fertilizantes comerciais está de acordo com Rasmussen et al.
(2011).

177
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados apontam o farelo de soja como o principal responsável
pelo input de N e K no sistema, representando 61,79% e 60,38% de inclusão,
respectivamente (Tabela 5).
Já para o P, o principal responsável pelo seu input no sistema
foi o fosfato bicálcio (52,27%). Sabidamente, o farelo de soja entra como
ingrediente proteico em dietas de monogástricos (aves e suínos). Com isso, já
era esperado que este apresentasse a maior participação na inclusão de N no
sistema. Da mesma forma, fontes inorgânicas de P, frequentemente utilizando
o fosfato bicálcico, são responsáveis por “corrigir” os níveis de P nas dietas de
monogástricos, tendo em vista que a grande porção do P contido nos grãos se
apresentando indisponíveis, na forma de fitato ou ácido fítico.
Ainda, os resultados do presente estudo apontaram para uma menor
eficiência percentual na utilização do K em comparação aos demais minerais
analisados.
Tabela 5. Níveis (%) de participação de N, P e K por ingrediente de acordo com sua inclusão média nas dietas¹

¹ Considerou-se os ingredientes com maior participação na dieta (99,27%); composição


nutricional de acordo com Rostagno et al. (2005). ² Fósforo (P) disponível;
² Composição química determinada para N pelo método de Kjeldahl, o P pelo método calorimétrico
e o K pelo método de fotometria de chama;
³ Total em relação a composição nutricional analisada de NPK nas dietas.

Enquanto o K apresenta 16,19% de eficiência na utilização, o N


apresentou maior eficiência no uso (38,57%) seguido pelo P (20,14%). O BN
está apresentado na tabela 6.

178
Tabela 6. Balanço de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) nas fases de crescimento e terminação.

¹ Consumo de ração total simulado para 773 animais em 117 dias; consumo de ração por animal
= 249,48kg;
² Níveis nutricionais contidos em miúdos de porco mecanicamente separados de acordo com a
Tabela de Composição Química dos Alimentos (UNIFESP, 2018).
³ Níveis nutricionais contidos em carcaça de porco, crua, composta por carne magra e gordura, de
acordo com a Tabela de Composição Química dos Alimentos (UNIFESP, 2018).

Diante dos resultados, algumas sugestões são bem conhecidas e


discutidas objetivando a maior retenção dos nutrientes, bem como a redução
do potencial poluente dos dejetos.
Alternativas como a redução dos níveis de inclusão de coprodutos de soja,
visando a redução dos níveis de proteína bruta (PB) na dieta, possibilitam
também a redução de K sem afetar o desempenho e o rendimento de carcaça
dos animais (Soto et al., 2018), e possibilitando a redução das concentrações
de N nos dejetos (He et al., 2016). Coprodutos de soja processados também
apresentam maior digestibilidade da PB, o que causaria a menor excreção de N
(Carvalho et al., 2007). Utilizando o conceito de proteína ideal, Tuitoek et al.
(1997) sugeriu que os níveis de PB podem ser reduzidos para 13 a 12,8% no
período de crescimento e terminação, sem danos ao animal. Outra alternativa
seria a substituição dos coprodutos de soja por outros ingredientes como fontes
de proteína, como coprodutos de soja por outros ingredientes como fontes de
proteína, como algas marinhas (Angell et al., 2016).
Para o P, o uso de tecnologias nutricionais na alimentação de suínos, como
a fitase, melhoram o aproveitamento não somente de P (González-Veja et
al., 2015) mas também de aminoácidos como a metionina e a lisina, dentre

179
outros (Cowieson et al., 2017; Zouaoui et al., 2018). Outra possibilidade
seria a utilização de ingredientes, como variedades de milho com melhor
biodisponibilidade dos nutrientes (Jeong et al., 2015) e ainda a aplicação de
métodos de near infrared reflectance spectroscopy (NIRS) para a avaliação
rápida do conteúdo nutricional dos ingredientes (Xu et al., 2017).
De maneira geral, a utilização de dietas balanceadas e o melhor
conhecimento tanto das exigências nutricionais dos animais, em cada fase de
criação, quanto da composição nutricional dos ingredientes, aliadas ainda ao
uso de tecnologias nutricionais consolidadas, podem contribuir na diminuição
da excreção de nutrientes que poderiam se tornar potenciais poluidores no
ambiente.
Outro método para a redução do potencial poluente dos dejetos suínos
seria a reutilização do N, P e K como fertilizantes. Isto se apresenta como
um estratégia interessante em vista dos altos custos das fontes comerciais e a
futura limitação, principalmente de P (Szogi et al., 2015). Com isso, o estudo
propõe a utilização do BN como ferramenta para estimar o valor comercial dos
dejetos suínos.
Neste trabalho, a receita com a venda do dejeto por ciclo de produção
apresentou valor total de R$ 18.547,48 (Tabela 7).
Tabela 7. Valoração do dejeto suíno¹ produzido (117 dias) em equivalência aos fertilizantes comerciais

¹ Considerou-se o armazenamento em esterqueira aberta por 120 dias (KUNZ et al., 2005), com
50% de perda de N e sem perdas para P e K (VIVAN et al., 2010);
² Adubo comercial utilizado para as estimativas: Ureia (45% N); Superfosfato simples (18%
P2O5); e Cloreto de potássio (60% K2O); preços sugeridos e levantados juntos ao Instituto de
Economia Agrícola de São Paulo para o ano de 2017 (IEA-SP, 2017).
³ Valor total do dejeto produzido = R$ 18.547,48.

Segundo a estimativa, para cada suíno terminado haveria um


acréscimo de R$ 23,99 na receita, valor correspondente a R$ 0,18/kg de suíno.
Ainda, considerando uma UT com 117 dias de alojamento e 7 dias de vazio
sanitário, teríamos 2,94 lotes por ano. Dessa forma, com a venda dos dejetos
suínos ter-se-ia o acréscimo de R$ 54.595,40/ano na receita.
Em resumo, os resultados do presente estudo demonstram a melhor
eficiência na utilização do N (38,57%), seguido pelo P (18,85%), tendo o
K apresentado a menor taxa de eficiência na utilização dentre os minerais,

180
estimado pelo método de BN (16,45%).
Ainda, o estudo aponta que, nas condições estudadas, o valor com
a comercialização dos dejetos suínos em equivalência aos fertilizantes
comerciais (N, P2O5 e K2O) seria de R$ 18.547,48, correspondendo a R$
23,99/animal e R$ 54.595,40/ano.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O BN é uma ferramenta útil para avaliar e direcionar estratégias
para planejamento, execução, monitoramento e ajustes no manejo produtivo
de sistema pecuários. O conhecimento do valor econômico dos dejetos é
importante para a tomada de decisão gerencial da atividade, com a finalidade
de melhorar a eficiência econômica e ambiental.
Como sugestão, os autores reforçam a importância do manejo dos
nutrientes e uso dos dejetos da produção animal como fertilizantes, como parte
da rotina das propriedades produtoras de animais, empregando-o na própria
propriedade ou vendendo-o como adubo a fim de se dar o correto destino a este
produto e reduzindo o seu potencial poluente.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABCS; SEBRAE. Mapeamento da suinocultura brasileira. 1. ed. Brasília, DF: Associação Brasileira dos
Criadores de Suínos, 2016.

ABPA. Relatório anual 2018. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/storage/files/relatorio-anual-2018.


pdf>. Acesso em: 28 set. 2018.

ANGELL, A. R.; ANGELL, S. F.; DE NYS, R.; PAUL, N. A. Seaweed as a protein source for mono-
gastric livestock. Trends in Food Science and Technology, v. 54, p. 74–84, 2016.

BAHRAMI-YEKDANGI, M.; GHORBANI, G. R.; KHORVASH, M.; KHAN, M. A.; GHAFFARI,


M. H. Reducing crude protein and rumen degradable protein with a constant concentration of rumen
undegradable protein in the diet of dairy cows: Production performance, nutrient digestibility, nitrogen
efficiency, and blood metabolites1. Journal of Animal Science, v. 94, n. 2, p. 718–725, 2016.

BAI, Z. H.; MA, L.; QIN, W.; CHEN, Q.; OENEMA, O.; ZHANG, F. S. Changes in pig production
in china and their effects on nitrogen and phosphorus use and losses. Environmental Science and
Technology, v. 48, n. 21, p. 12742–12749, 2014.

BERNAL, M. P.; ALBURQUERQUE, J. A.; MORAL, R. Composting of animal manures and chemical
criteria for compost maturity assessment. A review. Bioresource Technology, v. 100, n. 22, p. 5444–5453,
2009.

BERTOL, T. M.; OLIVEIRA, E. A.; COLDEBELLA, A.; KAWSKI, V. L.; SCANDOLERA, A. J.;
WARPECHOWSKI, M. B.; BERTOL, T. M.; OLIVEIRA, E. A.; COLDEBELLA, A.; KAWSKI, V. L.;
SCANDOLERA, A. J.; WARPECHOWSKI, M. B. Meat quality and cut yield of pigs slaughtered over
100 kg live weight. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 67, n. 4, p. 1166–1174,
2015.

BRODERICK, G. A. Effects of Varying Dietary Protein and Energy Levels on the Production of Lactating
Dairy Cows. Journal of Dairy Science, v. 86, n. 4, p. 1370–1381, 2003.

181
CARVALHO, A. d’Á.; LOVATTO, P. A.; HAUSCHILD, L.; ANDRETTA, I.; LEHNEN, C. R.;
ZANELLA, I. Processamento da soja integral e uso em dietas para suínos: digestibilidade e metabolismo.
Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n. 6 suppl, p. 2023–2028, 2007.

COWIESON, A. J. J.; RUCKEBUSCH, J.-P. P.; SORBARA, J. O. B. O. B.; WILSON, J. W. W.;


GUGGENBUHL, P.; ROOS, F. F. F. A systematic view on the effect of phytase on ileal amino acid
digestibility in broilers. Animal Feed Science and Technology, v. 225, p. 182–194, 2017.

DA VEIGA, M.; PANDOLFO, C. M. Simpósio produção animal e recursos hídricos. (Embrapa Suínos e
Aves, Ed.) In: Uso de esterco como fertilizante e o potencial impacto nos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, Concórdia. Anais... Concórdia: Embrapa, 2010.

EMBRAPA. Produção de suínos: Planejamento da produção. Disponível em: <http://www.cnpsa.


embrapa.br/SP/suinos/planejamento.html>. Acesso em: 25 set. 2018.

GALLOWAY, J. N.; DENTENER, F. J.; CAPONE, D. G.; BOYER, E. W.; HOWARTH, R. W.;
SEITZINGER, S. P.; ASNER, G. P.; CLEVELAND, C. C.; GREEN, P. A.; HOLLAND, E. A.; KARL, D.
M.; MICHAELS, A. F.; PORTER, J. H.; TOWNSEND, A. R.; VÖROSMARTY, C. J. Nitrogen Cycles:
Past, Present, and Future. Biogeochemistry, v. 70, n. 2, p. 153–226, 2004.

GONZÁLEZ-VEGA, J. C.; WALK, C. L.; STEIN, H. H. Effects of microbial phytase on apparent and
standardized total tract digestibility of calcium in calcium supplements fed to growing pigs1. Journal of
Animal Science, v. 93, n. 5, p. 2255–2264, 2015.

GORDON, S. H.; BHOGAL, A.; WALKER, A. W. Integration of organic poultry in whole farm systems:
manure nutrient budgets. UK Organic Research 2002: Proceedings of the COR Conference, p. 237–242,
2002.

GOURLEY, C. J. P.; DOUGHERTY, W. J.; WEAVER, D. M.; AARONS, S. R.; AWTY, I. M.; GIBSON,
D. M.; HANNAH, M. C.; SMITH, A. P.; PEVERILL, K. I. Farm-scale nitrogen, phosphorus, potassium
and sulfur balances and use efficiencies on Australian dairy farms. Animal Production Science, v. 52, n.
10, p. 929–944, 2012.

HANIGAN, M. D.; KNOWLTON, K. F. Nutritional approaches to maximize N and P efficiency. In: Mid-
South Ruminant Nutrition Conference., Arlington, Texas. Anais... Arlington, Texas: 2010.
HE, L.; WU, L.; XU, Z.; LI, T.; YAO, K.; CUI, Z.; YIN, Y.; WU, G. Low-protein diets affect ileal amino
acid digestibility and gene expression of digestive enzymes in growing and finishing pigs. Amino Acids,
v. 48, n. 1, p. 21–30, 2016.

IBGE. Pesquisa pecuária municipal. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/ppm/quadros/


brasil/2017>. Acesso em: 1 out. 2018.

IEA-SP. Instituto de Economia Agrícola: Preços médios mensais pagos pela agricultura. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/Precos_Medios.aspx?cod_sis=5>. Acesso em: 26 set. 2018.

JEONG, Y. D.; LEE, S. H.; PARK, C. S.; CHO, S. B.; PARK, S. K. Variation in coefficient of total tract
apparent digestibility of dry matter, nitrogen, and phosphorus and coefficient of total tract standardized
digestibility of phosphorus in different corns fed to growing-finishing pigs. Animal Feed Science and
Technology, v. 201, p. 66–71, 2015.

KEBREAB, E.; STRATHE, A.; FADEL, J.; MORAES, L.; FRANCE, J. Impact of dietary manipulation
on nutrient flows and greenhouse gas emissions in cattle. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 39, n. suppl
spe, p. 458–464, 2010.

KOJIMA, H.; KUME, S.; NONAKA, K.; OSHITA, T.; KOZAKAI, T.; HIROOKA, H. Effects of feeding

182
and animal performance on nitrogen, phosphorus and potassium excretion by Holstein cows. Animal
Science Journal, v. 76, n. 2, p. 139–145, 2005.

KONZEN, E. A. Fertilização de Lavoura e Pastagem com Dejetos de Suínos e Cama de Aves. Circular
Técnica, 31, p. 1–10, 2003.

KUNZ, A.; CHIOCHETTA, O.; MIELE, M.; GIROTTO, A. F.; SANGOI, V. Comparativo de custos
de implantação de diferentes tecnologias de armazenagem/ tratamento e distribuição de dejetos suínos.
Circular Técnica, v. 42, 2005.

LIU, X.; JU, X.; ZHANG, Y.; HE, C.; KOPSCH, J.; FUSUO, Z. Nitrogen deposition in agroecosystems
in the Beijing area. Agriculture, Ecosystems & Environment, v. 113, n. 1–4, p. 370–377, 2006.

MU, W.; VAN MIDDELAAR, C. E.; BLOEMHOF, J. M.; ENGEL, B.; DE BOER, I. J. M. Benchmarking
the environmental performance of specialized milk production systems: selection of a set of indicators.
Ecological Indicators, v. 72, p. 91–98, 2017.

MU, W.; VAN MIDDELAAR, C. E.; BLOEMHOF, J. M.; OENEMA, J.; DE BOER, I. J. M. Nutrient
balance at chain level: a valuable approach to benchmark nutrient losses of milk production systems.
Journal of Cleaner Production, v. 112, p. 2419–2428, 2016.

NEPA. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. 4. ed. Campinas, SP: BookEditora, 2011.

PALHARES, J. C. P.; GAVA, D.; MIELE, M.; LIMA, G. J. M. M. Influência da estratégia nutricional
sobre o consumo de água de suínos em crescimento e terminação e sobre o custo do uso dos dejetos
como adubo. Disponível em: <https://pt.engormix.com/suinocultura/artigos/agua-suinos-custo-dejetos-
adubo-t36855.htm>. Acesso em: 30 set. 2018.

PALHARES, J. C. P.; MIELE, M.; LIMA, G. J. M. M. de. Impacto de estratégias nutricionais no custo
de armazenagem, transporte e distribuição de dejetos de suínos. In: I Simpósio internacional sobre
gerenciamento de resíduos de animais ordenamento territorial das produções animais e políticas públicas
relacionadas ao gerenciamento dos resíduos animais, Florianópolis, SC. Anais... Florianópolis, SC: 2009.

PETERSEN, S. O.; SOMMER, S. G.; BÉLINE, F.; BURTON, C.; DACH, J.; DOURMAD, J. Y.; LEIP,
A.; MISSELBROOK, T.; NICHOLSON, F.; POULSEN, H. D.; PROVOLO, G.; SØRENSEN, P.;
VINNERÅS, B.; WEISKE, A.; BERNAL, M.-P.; BÖHM, R.; JUHÁSZ, C.; MIHELIC, R. Recycling of
livestock manure in a whole-farm perspective. Livestock Science, v. 112, n. 3, p. 180–191, 2007.

POWELL, J. M.; ROTZ, C. A. Measures of Nitrogen Use Efficiency and Nitrogen Loss from Dairy
Production Systems. Journal of Environmental Quality, v.44, p.336-344, 2015.

RASMUSSEN, C. N.; RISTOW, P.; KETTERINGS, Q. M. Whole Farm Nutrient Balance Calculator:
user’s manual. Ithaca: Cornell University, 2011. 19p.

ROSTAGNO, H. S.; ALBINO, L. F. T.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.; OLIVEIRA, R. F.; LOPES,
D. C.; FERREIRA, A. S.; BARRETO, S. L. T. Tabela Brasileira para Aves e Suínos. [s.l: s.n.]v. 2, 2005.

SHIGAKI, F.; SHARPLEY, A.; PROCHNOW, L. I. Animal-based agriculture, phosphorus management


and water quality in Brazil: options for the future. Scientia Agricola, v. 63, n. 2, p. 194–209, abr. 2006.

SILVA, T. H.; TAKIYA, C. S.; VENDRAMINI, T. H. A.; JESUS, E. F. de; ZANFERARI, F.; RENNÓ, F.
P. Effects of dietary fibrolytic enzymes on chewing time, ruminal fermentation, and performance of mid-
lactating dairy cows. Animal Feed Science and Technology, v. 221, p. 35–43, 1 nov. 2016.

SOBERON, M. A.; KETTERINGS, Q. M.; RASMUSSEN, C. N.; CZYMMEK, K. J. Whole Farm

183
Nutrient Balance Calculator for New York Dairy Farms. Natural Sciences Education, v. 42, n. 1, p. 57,
2013.

SOTO, J. A.; TOKACH, M. D.; DRITZ, S. S.; WOODWORTH, J. C.; DEROUCHEY, J. M.;
GOODBAND, B. D.; TEDO, G.; MEREU, A.; FERNANDEZ-FIGARES IBANEZ, I.; LACHICA,
M.; GONZÁLEZ-VALERO, L.; BARGO, F.; IPHARRAGUERRE, I. R.; MORAIS, S. Dietary
Supplementation of Choline and Potassium in Low Crude Protein Diets on Growth and Carcass
Performance of Finishing Pigs. Journal of Animal Science, 2018. . Disponível em: <https://academic.
oup.com/jas/article-abstract/96/suppl_2/126/4967258>. Acesso em: 25 set. 2018.

SUTTON, M. A.; OENEMA, O.; ERISMAN, J. W.; LEIP, A.; VAN GRINSVEN, H.; WINIWARTER,
W. Too much of a good thing. Nature, v. 472, n. 7342, p. 159–161, 2011.

SZOGI, A. A.; VANOTTI, M. B.; RO, K. S. Methods for Treatment of Animal Manures to Reduce
Nutrient Pollution Prior to Soil Application. Current Pollution Reports, v. 1, n. 1, p. 47–56, 2015.

TUITOEK, K.; YOUNG, L. G.; DE LANGE, C. F.; KERR, B. J. The effect of reducing excess dietary
amino acids on growing-finishing pig performance: an elevation of the ideal protein concept. Journal of
Animal Science, v. 75, n. 6, p. 1575, 1997.

UNIFESP. Tabela de Composição Química dos Alimentos. Disponível em: <http://tabnut.dis.epm.br/>.


Acesso em: 25 set. 2018.

VALADARES FILHO, S. C.; JÚNIOR, V. R.; CAPELLE, E. R. Composição química e bromatológica


de alimentos. Disponível em: <http://cqbal.agropecuaria.ws/bin/relatorios/filtroAlimentos.php>. Acesso
em: 1 out. 2018.

VIVAN, M.; KUNZ, A.; STOLBERG, J.; PERDOMO, C.; TECHIO, V. H. Eficiência da interação
biodigestor e lagoas de estabilização na remoção de poluentes em dejetos de suínos. Revista Brasileira
de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 14, n. 3, p. 320–325, 2010.

XICCATO, G.; SCHIAVON, S.; GALLO, L.; BAILONI, L.; BITTANTE, G. Nitrogen excretion in dairy
cow, beef and veal cattle, pig, and rabbit farms in Northern Italy. Italian Journal of Animal Science, v. 4,
n. sup3, p. 103–111, 2005.

XU, S.; ZHAO, Y.; SHI, X.; WANG, M. Rapid Determination of Carbon, Nitrogen, and Phosphorus
Contents of Field Crops in China Using Visible and Near-Infrared Reflectance Spectroscopy. Crop
Science, v. 57, n. 1, p. 475, 2017.

ZOUAOUI, M.; LÉTOURNEAU-MONTMINY, M. P.; GUAY, F. Effect of phytase on amino acid


digestibility in pig: A meta-analysis. Animal Feed Science and Technology, v. 238, p. 18–28, 2018.

184
CAPÍTULO X

PRINCIPAIS CAUSAS E PROCESSAMENTO DE LEITE


INSTÁVEL NÃO ÁCIDO

Cristian Marlon M.R. Martins1, Danielle de Cássia Martins da Fonseca1,


Bruna Gomes Alves1, Camylla Pedrosa Monteiro1, Marcos V. dos Santos1

Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da Faculdade de


1

Medicina Veterinária e Zootecnia – Universidade de São Paulo


E-mail: mveiga@usp.br

RESUMO
O teste do álcool ou Alizarol tem sido realizado, rotineiramente, antes da
coleta de leite nas fazendas e na plataforma de recebimento de laticínios, com
o objetivo de estimar a estabilidade térmica do leite. A estabilidade do leite
ao álcool é diminuída de acordo com o aumento de acidez do leite, ou por
interferência de fatores ambientais, genéticos e nutricionais das vacas leiteiras.
As alterações de estabilidade do leite sem aumento de acidez foram denominadas
de leite instável não ácido (LINA), o que causa risco de problemas durante
o processamento térmico para a produção de derivados lácteos. O principal
componente lácteo associado negativamente com a estabilidade do leite ao
álcool é o cálcio iônico (Cai). Quando há concentração de Cai aumentada,
ocorre aumento de cálcio ligado e redução da carga negativa total das micelas
e da força de repulsão eletrostática entre elas. Sendo assim, há aumento da
força de atração entre as micelas e maior facilidade de formação de coágulos
durante o contato com o álcool. Deficiências nutricionais, especialmente de
energia, são o principal fator associado a ocorrência de LINA, principalmente
em épocas de temperatura ambiente elevada, uma vez que o estresse térmico
causa redução no consumo de alimentos, bem como redirecionamento
nutrientes para a manutenção da temperatura corporal. A acidificação ruminal
e sanguínea também foram fatores associados com o aumento de Cai do leite
e, consequentemente, com a redução da estabilidade ao álcool. Porém, a
acidificação ruminal pode não estar associada com instabilidade da proteína e
que esta pode estar associada a acidificações mais intensas ou que envolvam
redução no consumo de matéria seca e digestibilidade dos nutrientes. Por
fim, o LINA pode ser utilizado alternativamente para produção de derivados
pasteurizados, embora não haja estudos que indiquem se o LINA poderia ser
processado por Ultra Alta Temperatura (UAT), especialmente pelo sistema de
injeção direta de vapor.

185
1. INTRODUÇÃO
O teste do álcool/Alizarol tem sido realizado há mais de um século, de
forma rotineira nas fazendas leiteiras, antes da captação do leite pela indústria
e também na plataforma de recebimento nos laticínios, com o objetivo de
estimar a estabilidade térmica do leite. A partir de 1930, este teste foi usado
como medida para avaliar a acidez do leite, com o propósito de identificar se
o leite havia sido misturado com colostro ou com leite de vacas com mastite.
Além disso, o teste do álcool pode ser utilizado como método rápido para
estimar a estabilidade das proteínas do leite, uma vez que mede indiretamente
a estabilidade do leite ao tratamento térmico ou ao pH. O resultado positivo
do teste é dado quando há formação de coágulos visíveis, o que indica que o
leite encontra-se inapropriado ao processamento, enquanto quando o resultado
é negativo, o leite pode ser processado (Santos & Fonseca, 2007).
Atualmente, o limite de CCS do leite passou a ser definido pela IN
31/2018, a qual estabeleceu o limite de <500.000 células/ml (Janeiro/2014 a
Junho/2019) e posteriormente <400.000 células/ml (a partir de Julho/2019)
para as regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste (limites para as regiões Norte e
Nordeste passam a vigorar um ano após nas demais regiões). Em relção à
estabilidade ao teste do etanol, considera-se mínima de 72% v/v para poder ser
considerado adequado para o processamento industrial, segundo a Instrução
Normativa Nº 62 (IN 62) (BRASIL, 2011). No entanto, diversas indústrias
laticinistas utilizam concentrações alcoólicas superiores ao preconizado pela
normativa (de 76% à 82%), na tentativa de captar leite de “maior” estabilidade.
Ainda, considerando que possa haver alguma redução de estabilidade durante o
transporte e armazenamento, alguns laticínios optam por aumentar a graduação
alcoólica do teste realizado ainda na fazenda para garantir estabilidade mínima
no momento da utilização do leite na indústria.
Embora o teste do álcool seja usado para tomada de decisão sobre
o recebimento do leite, em especial para alguns tipos de derivados lácteos
como leite UHT, podem ocorrer resultados falso-positivos, e desta forma,
métodos auxiliares devem ser usados como confirmação. A diluição do
álcool na concentração correta (volume/volume) e a manutenção dessa
concentração até o momento da utilização é um fator crítico para acurácia
do teste, uma vez que pequenas variações (1-2%) pode produzir resultados
diferentes. Adicionalmente, a temperatura da solução do teste de estabilidade
ao etanol pode alterar a capacidade do leite em coagular. Por exemplo, baixas
temperaturas reduzem o ponto de coagulação, o que pode ser explicado pelo
desvio do equilíbrio salino decorrente da dissolução do fosfato de cálcio
coloidal aumentando os níveis de cálcio solúvel (Santos e Fonseca, 2007).
Em algumas situações, as cooperativas e laticínios rejeitam leite com
resultado positivo ao teste do álcool, ainda que o mesmo apresente baixa CBT,

186
baixa CCS, pH normal e sólidos totais dentro da faixa de normalidade. Desta
forma, fatores não relacionados à acidez do leite também foram associados
com instabilidade da proteína, caracterizando o leite instável não ácido (Lina
et al., 2006). No caso do LINA, quando o leite apresenta resultado positivo na
prova do álcool podem acontecer problemas durante o processamento térmico
para a produção de derivados lácteos. A ocorrência de leite ácido no Brasil nos
últimos anos é relativamente baixa, devido às melhorias na obtenção higiênica
do leite e conservação desde a criação da IN 51 (BRASIL, 2002). Porém, a
ocorrência de LINA tem sido grande, em aproximadamente metade do leite
analisado no Brasil (Fisher et al., 2012).
Apesar do teste do álcool/Alizarol ainda ser amplamente utilizado
no Brasil, a associação entre estabilidade ao álcool e a térmica do LINA é
de média à baixa, indicando que o teste apresenta limitações para estimar a
estabilidade térmica do leite. Portanto, aumentar o teor alcoólico utilizado
no teste do álcool não resulta em aumento da estimativa de estabilidade
térmica, o que pode aumentar o percentual de leite rejeitado por problemas
de instabilidade ao teste. Em estudo realizado no Chile, a estabilidade térmica
do leite foi correlacionada com os resultados da prova do álcool a 70, 75, 80 e
85%, sendo que o leite estável a 75% de álcool apresentou estabilidade térmica
de 60-70 segundos a 135º C. Não foi observada correlação significativa entre a
resistência à prova do álcool e a estabilidade térmica do leite, o que justificaria
a utilização desta prova em concentração < 75% de álcool (Molina et al., 2001).

2. ALTERAÇÕES DE COMPOSIÇÃO DO LEITE ASSOCIADOS À


INSTABILIDADE DA PROTEÍNA

O EQUILÍBRIO SALINO DO LEITE

Alterações do equilíbrio entre cálcio solúvel e coloidal afetam


diretamente os resultados do teste do álcool e possivelmente, a estabilidade
térmica do leite. Existe correlação negativa entre o teor de cálcio iônico (Cai)
do leite cru e a estabilidade ao álcool, sugerindo função importante deste
elemento na estabilidade do leite. As micelas de caseína apresentam cargas
negativas, as quais são equilibradas pela quantidade de Ca ligado à proteína.
Quando há aumento do nível de Cai (carga positiva), aumenta-se o cálcio ligado
e reduz-se a carga negativa total das micelas e a força de repulsão eletrostática
entre elas. Desta forma, há aumento da força de atração entre as micelas, o que
facilita a formação de coágulos durante o contato com o etanol (Barros et al.,
1999).

187
Figura 1. Esquema de coagulação do leite bovino ao teste do etanol resultante do aumento da
concentração de cálcio iônico do leite

Sendo assim, estima-se que no leite com teor aumentado de Cai ocorre
redução da estabilidade térmica durante o processamento e armazenamento do
leite. Por outro lado, o teor de fósforo do leite apresenta correlação positiva
com a estabilidade ao álcool (Tabela 1).

188
Tabela 1. Variações da composição do leite individual em função da estabilidade ao teste do álcool.

E: leite estável; I: leite instável; SNG: sólidos não-gordurosos, ST: sólidos totais, CCS: contagem
de células somáticas, DP: desvio padrão, NS: não-significativo.

De forma semelhante ao cálcio, o citrato do leite encontra-se na forma


solúvel e coloidal. A adição de citrato ao leite aumenta a estabilidade térmica
devido ao seu efeito de sequestrar o Cai e reduzir o fosfato de cálcio coloidal.
O mecanismo de desestruturação das micelas de caseína quando em
contato com o álcool pode ser explicado pela ação desnaturante do álcool. A
adição de etanol no leite resulta em colapso da região C-terminal da κ-caseína,
aumento do pKa dos resíduos glutamato e aspartato e redução da solubilidade
do cálcio e dos fosfatos da micela, fatores estes que facilitam a coagulação.
Ao expor o interior hidrofóbico da micela ao contato com a água e com íons,
as caseínas se aglomeram formando um tipo de “gel” na superfície do leite,
caracterizando o processo de coagulação (O’Connell et al., 2006).

3. PROTEÍNAS DO LEITE
As micelas de caseína variam quanto à composição das submicelas
em dois tipos principais: 1) formadas por α, β e κ-caseína; e 2) formadas por α
e κ-caseína. As submicelas são interligadas por íons para a formação da micela

189
propriamente dita, na qual o arranjo dimensional destas ligações engloba a
κ-caseína na parte externa, com a projeção do terminal C (Walstra, 1999).
A κ –caseína se projeta na parte externa por seu caráter hidrofílico e estável
na presença de íons de cálcio, e, desta forma, protege o interior hidrofóbico
e cálcio-sensível (composto por α e β-caseína) do contato com a água e da
ionização com o cálcio. Adicionalmente, a κ-caseína reage com a água e
impede a agregação das micelas por repulsão eletrostática (Creamer et al.,
1998; Walstra, 1999). A κ-caseína apresenta sequência de 169 aminoácidos
(Rijnkels, 2002), sendo que variações nas posições 136 (treonina por isoleucina,
respectivamente) e 148 (aspartato por alanina, respectivamente) caracterizam
as duas principais variantes genéticas de κ-caseína, A e B, respectivamente
(Alexander et al., 1988).
As caseínas α e β são as frações em maior proporção dentre as caseínas
do leite, porém são hidrofóbicas e sensíveis à presença de cálcio e, portanto, são
projetadas no interior da micela de caseína (Figura 2) (Fonseca & Santos, 2000;
Swaisgood, 2003). A β-caseína é considerada a mais hidrofóbica encontrada no
leite por apresentar um C-terminal hidrofóbico dominante (Swaisgood, 2003)
e sensível a altas concentrações de sais de cálcio, embora seja menos sensível
à precipitação com cálcio do que as α-caseínas (Walstra, 1999). Barbosa et al.
(2012) relataram que amostras de LINA apresentaram maior concentração de
β-caseína do que κ-caseína, quando comparadas a amostras de leite estável.
A κ-caseína é a única subunidade da micela de caseína que é hidrofílica e
estável ao cálcio, e desta forma, protege o interior hidrofóbico (composto por
α e β-caseína) do contato com a água e da ionização com o cálcio.

Figura 2. Figura esquemática da micela de caseína do leite


Fonte: adaptado de Di Martins, A. (2009).

190
4. FATORES QUE ALTERAM A ESTABILIDADE DO LEITE AO
TESTE DO ÁLCOOL/ALIZAROL
A ocorrência de LINA é um problema atualmente encontrado em
várias regiões do Brasil. Como as causas da instabilidade proteica do leite na
grande maioria das situações a campo são multifatoriais, e em alguns casos
desconhecidas, torna-se difícil a correção através de medidas de manejo. A
prevalência média de LINA no Sul do Brasil foi de 55%, chegando a até 80% em
determinadas épocas do ano com baixa oferta de alimentos, como períodos de
transição entre pastagens de verão e inverno, e em épocas de cultivo de cereais
nas áreas de pastos no Sul do Brasil. Portanto, o balanceamento nutricional
e manejo do rebanho foram os principais fatores associados ao LINA, no
entanto, outras causas também já foram investigadas, como predisposição
genética, fatores raciais e sanidade da glândula mamária.

DEFICIÊNCIA NUTRICIONAL E MANEJO


A maior ocorrência de instabilidade do leite ao teste do álcool ocorre
em rebanhos em sistema de pastejo e em época de baixa disponibilidade de
forragens, ou seja, épocas de seca nas regiões sudeste, central e nordeste, e em
épocas de transição de pastagens de verão (final de ciclo) para pastagens de
inverno (ainda não aptas para o pastejo) na região sul do Brasil.
Desta forma, a deficiência de nutrientes é um fator importante
associado com a instabilidade do leite ao passo que a restrição alimentar pode
alterar a proporção entre as subunidades de caseína (redução da proporção
de ĸ-caseína na micela), e também aumentar o espaço entre as células do
epitélio alveolar mamário. Esse aumento do espaço entre as células epiteliais
da glândula mamária aumenta a passagem de íons para o leite, como o
Cai, facilitando a coagulação do leite (Stumpf et al., 2013). O adequado
planejamento de volumoso ou de alimentos alternativos em épocas de escassez
é fator fundamental para prevenir a ocorrência de problemas de instabilidade do
leite ao teste do álcool. Dentre as deficiências nutricionais causadas pela baixa
oferta de alimentos, a deficiência de energia é a principal causa de instabilidade
do leite, principalmente nas primeiras semanas de lactação, período este em que
as vacas passam por balanço energético negativo. Desta maneira, a ocorrência
de partos em períodos de transição deficientes e balanço energético negativo
acentuado pode ser uma das causas de ocorrência de instabilidade do leite no
rebanho.
A ocorrência de LINA também pode ser agravada em épocas de
temperaturas elevadas. O clima quente e úmido proporciona condições
extremamente estressantes para vacas em lactação e a principal resposta
fisiológica dos animais à exposição ao calor excessivo é a redução no consumo
de alimentos, o que reduz a disponibilidade de nutrientes para síntese de leite.

191
Além disso, o estresse térmico resulta em maior direcionamento de aminoácidos
e glicose absorvidos à reações e síntese de enzimas endógenas para auxiliar nos
processos de manutenção de temperatura interna, consequentemente com menor
quantidade destes nutrientes na glândula mamária. Portanto, especialmente
no verão, as estratégias de resfriamento como sombra, ventilação e aspersão
podem ser adotadas na prevenção da ocorrência de LINA. Adicionalmente,
manejos alimentares podem ser empregados em tentativa de aumentar o CMS,
tais como: aumento do número de tratos ofertados, aumento da área de cocho
e manutenção de cocho e bebedouros limpos.
Embora a deficiência de energia seja o principal fator nutricional
resultante em instabilidade do leite ao teste do álcool, o excesso do fornecimento
de proteína bruta, especialmente de proteína degradável no rúmen (PDR),
pode potencializar a redução da estabilidade do leite de vacas com deficiência
energética. Neste contexto, um estudo foi realizado durante 13 dias, no
qual vacas receberam dieta padrão (para atender as exigências de energia e
proteína) e, de forma abrupta, foram induzidas ao LINA pela restrição de 50%
das suas exigências diárias de energia e proteína durante um período de 4 dias
(Schmidt, 2014). Após este período foram testadas 3 dietas durante 7 dias com
o objetivo de recuperar a estabilidade do leite: 1) atendimento de 100% das
exigências de energia e proteína; 2) atendimento de 100% das exigências de
energia e restrição de 50% da proteína; 3) atendimento de 100% das exigências
de proteína e restrição de 50% da energia. Este mesmo autor observou que
durante o fornecimento da dieta padrão o nível de etanol na solução alcóolica
para induzir a coagulação foi de 74 a 74,5% e com a indução ao LINA, este
nível caiu para 65,5 a 66%. No período de recuperação da estabilidade do
leite, a dieta 1 recuperou a estabilidade do leite para 72% de etanol na mistura
alcóolica, a dieta 2 recuperou a estabilidade para 68,84% e a dieta 3 reduziu
ainda mais a estabilidade do leite (de 66 para 62% de etanol na mistura
alcoólica necessário para coagulação do leite). Isto indica que o desequilíbrio
de proteína/energia também pode ser um fator resultante no LINA.
Um estudo conduzido por nossa equipe mostrou que a redução da
relação de proteína degradável no rúmen (PDR): proteína não degradável no
rúmen (PNDR) para vacas em lactação (média de 36 L/d) pode otimizar o
desempenho produtivo e aumentar o teor de proteína e a estabilidade ao teste
do álcool (Martins et al., 2018a). Porém, a inclusão de PNDR deve ser realizada
para suplementar e não causar deficiência de PDR para síntese de proteína
microbiana, uma vez que esta é a fonte proteica disponível para alimentação
de ruminantes com o perfil de aminoácidos mais próximo ao da caseína. No
estudo de Martins et al. (2018a) foram avaliadas duas fontes de amido (milho
moído à 2 mm vs milho floculado) e duas relações de PDR:PNDR (alta: 67,5%
PDR e 32,5% de PNDR vs baixa: 60% PDR e 40% PNDR, % da PB). Em

192
dietas à base de milho moído, a baixa relação PDR:PNDR aumentou o CMS
e a produção de leite, bem como a estabilidade do leite ao teste do álcool e ao
aquecimento à 140° C.

Tabela 2. Efeito do processamento do amido e da relação PDR:PNDR sobre o desempenho produtivo e


estabilidade do leite.

MS = Matéria seca; PL = Produção de leite; PLC = Produção de leite corrigida para 3,5% de
gordura; ESD = Extrato seco desengordurado; ST = Sólidos totais; NUL = Nitrogênio ureico do
leite; Cai = Cálcio iônico; TA: Teste do álcool (concentração de etanol na mistura necessária
para provocar coagulação); TC: Tempo de coagulação à 140º C.

5. ACIDIFICAÇÃO RUMINAL E SANGUÍNEA


Na tentativa de manter/aumentar a produção de leite ou mesmo
prevenir problemas com instabilidade do leite nas épocas de deficiência
de forragens, há recomendações de aumento do fornecimento de cereais
energéticos (carboidratos não fibrosos - CNF), como milho, cevada, trigo ou
aveia. Estes cereais auxiliam no atendimento das exigências de energia e de
carboidratos para síntese de proteína microbiana no rúmen, e podem reduzir
a chance de ocorrência de instabilidade do leite. Entretanto, o aumento do
fornecimento de CNF pode aumentar o risco de acidose ruminal, subaguda
ou mesmo aguda, especialmente quando é associado a dietas deficientes
em fibra fisicamente efetiva (FDNfe). A acidificação ruminal pode resultar
em acidificação sanguínea, fazendo com que o metabolismo animal inicie
mecanismos de conservação de cátions (como o Cai) nos fluídos biológicos na
tentativa de compensar os elementos acidogênicos em excesso no sangue.
Com o aumento da concentração de Cai no sangue ocorre aumento da
concentração deste íon no leite, facilitando a coagulação das micelas de caseína
durante o teste do álcool. Fagnani et al., (2014) relataram que 65,52% das

193
amostras de LINA são oriundas de vacas com algum distúrbio metabólico, tais
como: acidose respiratória ou metabólica, alcalose respiratória ou metabólica,
acidose respiratória mais alcalose metabólica e alcalose respiratória mais
acidose metabólica. De forma semelhante, Martins et al. (2015) observou
que ao induzir à acidose metabólica em vacas leiteiras com o uso de dieta
aniônica e sulfato de amônio houve redução do CMS, da produção de leite e
da estabilidade ao teste do álcool. Estes resultados indicaram que distúrbios
metabólicos e acidificação ruminal e sanguínea poderiam ser predisponentes
da ocorrência de LINA.
No entanto, experimentos recentes conduzidos por nossa equipe
demonstraram que os efeitos da acidificação ruminal sobre a estabilidade
do leite pode depender da intensidade com que as mesmas ocorrem. Dietas
totalmente misturadas (TMR) com até 60% de concentrado na matéria seca
da dieta total, 33% de amido e 27% de FDN sem inclusão de tamponantes não
resultaram em estabilidade ao teste do álcool; diferentemente de dietas com
25% de amido e 31% de FDN com inclusão de tamponantes (Martins et al.,
2018b). Ainda, dietas com milho floculado (26% de amido e 31% de FDN) não
apresentaram menor estabilidade ao teste do álcool em relação a dietas a base
de milho moído (Martins et al., 2018b).
O fornecimento de tamponante (bicarbonato de sódio) e alcalinizante
(óxido de magnésio) ou estabilizante (citrato) na dieta das vacas leiteiras
não resultou em alterações na estabilidade do leite, sendo, na maioria dos
casos, estratégias isoladas pouco efetivas para prevenção de problemas por
instabilidade. O estudo de Martins et al. (2018b) teve as seguintes hipóteses:
1) a substituição parcial (33%) de milho moído (MM) por polpa cítrica (PC),
em dietas com relação volumoso:concentrado de 40:60, reduz a acidificação
ruminal e sanguínea e aumenta a estabilidade do leite; 2) o uso de tamponante/
alcalinizante (TAC; bicarbonato de sódio associado à óxido de magnésio) reduz
a acidificação sanguínea, especialmente em dietas sem substituição de MM por
PC, o que resulta em aumento da estabilidade do leite. Contrariamente à nossa
hipótese, não observamos efeito da substituição parcial de MM por PC e da
inclusão de TAC sobre a estabilidade do leite ao teste do álcool, porém as vacas
alimentadas somente com MM tiveram maior estabilidade ao aquecimento
à 140 °C (Tabela 3). Este resultado foi associado ao menor CMS das vacas
alimentadas com PC na dieta, e, consequentemente, menor disponibilidade de
nutrientes para produção de leite. Estes resultados indicaram que a moderada
acidificação ruminal, como em casos de acidose ruminal subaguda, não seria
suficiente para causar LINA.

194
Tabela 3. Efeito da substituição parcial de milho moído por polpa cítrica sobre o desempenho produtivo e
estabilidade do leite

MS = Matéria seca; PL = Produção de leite; PLC = Produção de leite corrigida para 3,5% de
gordura; ESD = Extrato seco desengordurado; ST = Sólidos totais; NUL = Nitrogênio ureico do
leite; Cai = Cálcio iônico; TA = Teste do álcool (concentração de etanol na mistura necessária
para provocar coagulação; TC = Tempo de coagulação à 140 C.

Um terceiro experimento da nossa equipe objetivou avaliar


acidificação sanguínea de maior intensidade, na qual as vacas foram induzidas
a acidose metabólica pelo uso de dieta aniônica (inclusão de cloreto de
amônio em substituição ao bicarbonato de sódio) (Martins et al. 2018c). Com
a utilização da dieta aniônica, o pH urinário das vacas reduziu de 8 (dieta
controle) para 5,8 (Figura 2). No entanto, contrariamente à nossa hipótese não
houve efeito destas dietas sobre a produção (Figura 3) e composição do leite,
estabilidade do leite ao etanol e ao aquecimento à 140º C e concentração de Cai
(Tabela 4). Resultado diferente havia sido observado por Martins et al. (2015),
com redução da estabilidade do leite ao etanol e ao aquecimento à 140o C com
a utilização de dieta aniônica. Porém, Martins et al. (2015) utilizaram sulfato
de amônio em substituição ao bicarbonato de sódio, o que reduziu o CMS e a
produção de leite.
No experimento de Martins et al. (2018c) foi utilizado cloreto de
amônio em substituição ao bicarbonato de sódio para reduzir o balanço cátio-
aniônico da dieta (BCAD), e não foram observadas alterações na produção de
leite em relação ao grupo controle, o que pode indicar que o CMS possa não
ter sido alterado. Desta forma, pode-se sugerir que no estudo de Martins et al.

195
(2015), a redução no CMS pode ter contribuído para redução da estabilidade
do leite. Portanto, os efeitos da acidificação ruminal e sanguínea sobre a
estabilidade do leite podem depender da intensidade com que as mesmas
ocorrem e/ou estarem associados com redução do CMS e com a digestibilidade
dos nutrientes em casos de acidificações mais intensas.

Figura 3. Efeito das dietas experimentais sobre o pH urinário de vacas leiteiras em lactação

Figura 4. Produção de leite de acordo com o tipo de dieta e os dias de experimento

196
Tabela 4. Efeito de dieta acidogênica sobre a composição e estabilidade do leite de vacas leiteiras.

TA = Teste do Álcool (% de etanol na mistura para provocar coagulação do leite); TC = Tempo de


coagulação à 140º C; Cai = Cálcio iônico; NU = Nitrogênio ureico do leite; ESD = Extrato seco
desengordurado; ST = Sólidos totais. 1% Prot = percentual do total de proteínas identificadas por
CLAE (αs1-CN + αs2-CN + β-CN + κ-CN + β-Lg + α-La = 100%).

6. FATORES GENÉTICOS E RACIAIS


Amostras de leite instável ao teste do álcool podem apresentar
alterações na proporção entre as subunidades de caseínas (α, β e ĸ –caseína) em
comparação a amostras estáveis ao teste do álcool. A ĸ-caseína é a subunidade
proteica hidrofílica e estável ao Ca, e situa-se nas regiões externas da micela
de caseína e, portanto, contribui com a estabilidade do interior hidrofóbico
formado principalmente por α e β –caseína. O polimorfismo na expressão do
gene de ĸ-caseína pode alterar a estabilidade alcoólica da micela de caseína,
porém esta associação ainda é contraditória na literatura. Enquanto um estudo
observou que a predominância do alelo B em relação ao alelo A do gene de
ĸ-caseína aumenta a chance de coagulação da micela, em comparação ao leite
de vacas com expressão similar dos alelos A e B (Robitaille, 1995), um estudo
conduzido no Brasil com rebanhos de vacas das raças Holandesa e Girolando
não observou associação das variações de polimorfismo de ĸ-caseína sobre a
estabilidade do leite. No Brasil, foi observado maior predominância do alelo
AA do gene de ĸ-caseína em vacas das raças Holandesa e Girolando, porém em
vacas Jersey houve predomínio do genótipo BB (Botaro et al., 2009).

7. MASTITE SUBCLÍNICA
Rebanhos com alta CCS apresentam maiores chances de ter leite de
menor estabilidade ao teste do álcool, o que sugere que a prevalência de mastite
subclínica no rebanho pode ser um fator associado com a instabilidade do leite
ao teste do álcool. No entanto, este fato pode ser apenas uma associação, e não
causa e efeito, uma vez que rebanhos com alta CCS podem apresentar menor

197
uso de tecnologias, manejo dos animais deficiente, dietas inadequadas e sistema
imune suprimido, envolvendo diversos fatores nutricionais e metabólicos que
também podem resultar em instabilidade do leite.
Ao comparar a estabilidade do leite de quartos contralaterais (da
mesma vaca) sadios vs infectados (quartos contralaterais com baixa CCS vs alta
CCS, quartos contralaterais com isolamento de patógeno vs sem isolamento
de patógeno), não foi observado efeito da infecção intramamária sobre a
estabilidade do leite ao teste do álcool (Martins et al., 2018). No entanto, ainda
não há estudos suficientes para poder afirmar que a mastite subclínica não altera
a estabilidade do leite, uma vez que mais estudos precisam ser conduzidos com
o objetivo de avaliar diferentes patógenos causadores da mastite e seus efeitos
sobre a resposta inflamatória e de alterações da composição e estabilidade do
leite.

8. PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE LEITE INSTÁVEL AO


TESTE DO ÁLCOOL
O leite instável ao álcool 72% sem acidez elevada pode ser
processado por pasteurização rápida sem apresentar problemas de coagulação
durante o processamento, ou alteração das características reológicas do leite
pasteurizado durante a vida de prateleira, quando comparado ao leite estável ao
álcool 80%. Adicionalmente, não há alterações das características sensoriais
do leite instável pasteurizado, demonstrando que o mesmo apresenta potencial
de ser processado e comercializável na forma de leite pasteurizado (Tabela 5)
(Martins et al. 2018c).
Tabela 5. Avaliação sensorial do leite estável ao teste do etanol 80% ou instável ao teste do etanol 72%.

De forma semelhante, o LINA apresenta estabilidade térmica para


ser aproveitado para produção de iogurte batido (Ribeiro et al., 2006), queijos
de massa firme (Costabel et al., 2009; Oliveira et al., 2011) e queijo tipo prato
(Abreu, 2015). O rendimento industrial pode não depender diretamente da
estabilidade do leite, e sim do teor de seus componentes, como o de caseína.
A coagulação da micela de caseína é responsável pela formação da massa do
queijo e, quanto maior o teor de caseína maior será a produção desta massa.
Desta forma, como os resultados de associação entre os componentes do
leite (gordura, proteína e lactose) e estabilidade ao teste do álcool não são
consistentes, as alterações ou não do rendimento industrial do processamento

198
de leite instável podem estar relacionados a alterações do teor dos componentes
do leite. Por exemplo, dietas com baixa digestibilidade ruminal (forragens de
baixa qualidade, e/ou inclusão de concentrado insuficiente para atender as
exigências de energia, proteína e minerais e vitaminas) podem não atender
à exigência energética e proteica do animal e limitar a síntese de proteína
microbiana, reduzindo o teor de proteína e a estabilidade do leite.
Há indícios de que o processamento de leite com menor estabilidade
ao teste do álcool aumenta as deposições de resíduos sólidos de leite nas placas
de troca de calor do pasteurizador e nos sistemas de processamento por ultra alta
temperatura (UAT), o que pode causar interrupções adicionais para limpeza do
sistema. Existem dois sistemas básicos de processamento por UAT: 1) troca de
calor em placas; 2) injeção direta de vapor. No primeiro sistema o aquecimento
do leite até 140o C ocorre de forma menos acentuada, o que pode favorecer
a complexação de β-lactoglobulina com ĸ-caseína, amentando a estabilidade
da micela proteica. No sistema de injeção direta de vapor, o aumento da
temperatura do leite até 140o C é muito mais acentuado, reduzindo a formação
destes complexos na micela, tornando a mesma mais propensa a coagulação.
Este último é atualmente o sistema mais usado como processamento por UAT,
uma vez que melhor conserva as características naturais de sabor do leite e
atividade de vitaminas do mesmo.
Portanto, apesar do LINA apresentar estabilidade térmica para
ser processado por pasteurização e produção de derivados, tais como leite
pasteurizado, iogurte e queijos, seus efeitos na eficiência de processamento da
planta ainda continuam sem comprovações científicas. Adicionalmente, ainda
faltam estudos que avaliaram o efeito da estabilidade alcoólica do LINA sobre
a resistência térmica com processamentos industriais de UAT.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prova do álcool apresenta limitações para estimar a estabilidade do
leite ao tratamento térmico e elevar a concentração de etanol na mistura para
valores acima de 76% pode não garantir o aumento de estabilidade térmica
desejado, penalizando o pagamento de leite ao produtor. Porém, a prova
do álcool é um teste muito barato, de simples realização e que permite uma
avaliação geral da acidez e estabilidade do leite antes da captação do leite na
fazenda, e ainda não há método prático que possa substituí-lo com resultados
acurados. Desta forma, os resultados desta prova não devem ser utilizados com
fator único para a não recepção ou descontos no preço do leite, uma vez que
seus resultados são afetados por diversos fatores, muitos dos quais o produtor
não tem controle.
Pode-se dizer que rebanhos que recebem dietas balanceadas em
quantidades adequadas durante todo o ano apresentam baixa chance de terem

199
problemas por LINA. Fatores de manejo como espaço de cocho e número de
tratos por dia, bem como sistema de resfriamento das vacas em períodos quentes,
podem auxiliar na prevenção da ocorrência de LINA. O balanceamento da
dieta envolve o atendimento da exigência de energia, proteína metabolizável,
minerais e vitaminas; bem como o respeito aos limites mínimos de inclusão
de fibra efetiva para o adequado funcionamento ruminal. Também a dieta
deve-se atentar à prevenção da acidificação excessiva e aos limites máximos
de inclusão de PDR que possam otimizar o crescimento microbiano e evitar
excesso de nitrogênio disponível no rúmen.
Problemas de instabilidade do leite nos rebanhos devido a mastite
subclínica ou predisposição genética parecem ser pouco prováveis, podendo
ocorrer em casos muito específicos. Porém, estes fatores precisam ser
melhores esclarecidos em pesquisas futuras. O LINA apresenta resistência
térmica para ser aproveitado em processos de pasteurização, para produções de
leite pasteurizado, iogurte e queijos. Questões como rendimento de produção
e de funcionamento da planta (devido ao risco da presença de coágulos nas
tubulações dos equipamentos) precisam ser melhores estudadas. O leite estável
ao álcool >75% apresenta estabilidade térmica para processamentos industriais
de UAT, porém mais estudos são necessários para avaliar questões como
rendimento de produção e vida de prateleira dos derivados processados por
UAT, especialmente nos sistemas de injeção direta de vapor.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ABREU, A.S. Fatores nutricionais e não nutricionais que afetam a composição do leite bovino. 2015.
2015.271f. Tese (Doutorado em Zootécnica) - Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS.

ALEXANDER, L. J.; STEWART, A. J.; MACKINLAY, A. G.; KAPELINSKAYA, T. V.; TKACH, T. M.;
GORODTSKY, S. I. Isolation and characterization of the bovine kappa-casein gene. European Journal
Biochemistry, v. 178, n. 2, p. 395-401, 1988.

BARBOSA, R. S.; FISHER, V.; RIBEIRO, M. E. R.; ZANELA, M.B.; STUMPF, M. T.; KOLLING,
G. J.; SCHAFHÄUSER JÚNIOR, J.; BARROS, L. E.; EGITO, A. S. Caracterização eletroforética
de proteínas e estabilidade do leite em vacas submetidas à restrição alimentar. Pesquisa agropecuaria
brasileira, v.47, n.4, p.621-628, 2012.

BARROS, L. Transtornos metabólicos que afetam a qualidade do leite. In: GONZÁLES, F. H. D.;
DURR, J. W.; FONTANELLI, R. S. (Eds.). Uso do leite para monitorar a nutrição e o metabolismo de
vacas leiteiras. Porto Alegre: 2001. p. 44-57.

BARROS, L.; DENIS, N.; GONZALEZ, A.; NÚÑEZ, A. Prueba del alcohol em leche y relación con
calcio iónico. Revista Prácticas Veterinarias, v.9, p.315, 1999.

BOTARO, B. G.; LIMA, Y. V. R.; CORTINHAS, C. S.; PRADA e SILVA, L. F.; RENNÓ, F. P.; SANTOS,
M. V. Effect of the kappa-casein gene polymorphism, breed and seasonality on physicochemical
characteristics, composition and stability of bovine milk. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.12,
p.2447-2454, 2009.

200
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de Inspeção de Produtos
de Origem Animal. Instrução Normativa Nº 62, De 29 De Dezembro De 2011. Alterar o caput, excluir o
parágrafo único e inserir os §§ 1º ao 3º, todos do art. 1º, da Instrução Normativa MAPA nº 51, de 18 de
setembro de 2002. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, Dez./2011.

COSTABEL, L. M. Estudio de la relación entre aptitud a la coagulación por cuajo y prueba de alcohol
en muestras de leche de vacas individuales. In: I CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE LEITE
INSTÁVEL. 1., 2009, Pelotas. Anais... Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2009.

CREAMER, L. K.; PLOWMAN, J. E.; LIDDELL, M. J.; SMITH, M. H.; HILL, J. P. Micelle stability:
α-casein structure and function. Journal of Dairy Science, v. 81, p. 3004-3012, 1998.

FAGNANI, R.; BELOTI, V.; BATTAGLINI, A. P. Acid-base balance of dairy cows and its relationship
with alcoholic stability and mineral composition of milk. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.34, n.5, p.
398-402, 2014.

FARIA, P.F.; RANGEL, A.H.N.; URBANO, S.A.; BORBA, L.H.F.; GALVÃO Jr., J.G.B.; SILVA, E.R.
Unstable milk occurrence in the semiarid region and its relation with the physicochemical characteristics
of milk. Livestock Research for Rural Development. v. 29, n.1, p.1-8, 2017.

FISHER, V.; RIBEIRO, M. E. R.; ZANELA, M. B.; MARQUES, L. T.; ABREU, A. S.; MACHADO,
S. C.; FRUSCALSO, V.; BARBOSA, R. S.; STUMPF, M. T. Leite instável não ácido: um problema
solucionável? Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.13, n.3, p.838-849, 2012.

FONSECA, L. F. L.; SANTOS, M. V. Qualidade do leite e controle da mastite. São Paulo: Lemos
Editorial, 2000. 175p.

MARQUES, L. T.; ZANELA, M. B.; RIBEIRO, M. E. R.; STUMPF JUNIOR, W.; FISCHER, V.
Ocorrência do leite instável ao álcool 76% e não ácido (lina) e efeito sobre os aspectos físico-químicos
do leite. Revista Brasileira de Agrociência, v.13, n.1, p.91-97, 2007.

MARTINS, C. M. M. R.; ARCARI, M. A.; WELTER, K. C.; SARAN NETO, A.; OLIVEIRA, C. A. F.;
SANTOS, M. V. Effect of dietary cation-anion difference on performance of lactating dairy cows and
stability of milk proteins. Journal of Dairy Science, v.98, p.2650-2661, 2015.

MOLINA, L. H.; GONZALES, R.; BRITO, C.; CARRILLO, B.; PINTO, M. A. Correlation between heat
stability and alcohol test of milks at a milk collection center. Archivos de Medicina Veterinaria, v.33, n.2,
p.233-240, 2001.

O’CONNELL, J. E.; SARACINO, P.; HUPPERTZ, T.; UNIAKE, T.; DE KRUIF, C.G.; KELLY, A.L.;
FOX, P.F. Influence of ethanol on the rennet- induced coagulation of milk. Journal of Dairy Research, v.
73, p. 312-317, 2006.

OLIVEIRA, C.A.F.; LOPES, L.C.; FRANCO, R.C.; CORASSIN, C.H. Composição e características
físicoquímicas do leite instável não ácido recebido em laticínio do Estado de São Paulo, Brasil. Revista
Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.12, n.2, p.508-515, 2011.

RIBEIRO, M.E.R.; KROLOW, A.C.R.; BARBOSA, R.S.; DELLINGHAUSEN, C.; ZANELA, M. B.;
FISCHER, V.; VON HAUSEN, L.J.O. Ensaios preliminares sobre o efeito do Leite Instável Não Ácido
(LINA) na industrialização do iogurte batido. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO
LEITE, 9., 2006, Goiânia. Anais... Goiânia: Gráfica e Editora Talento, 2006.

RIJNKELS, M. Multispecies comparison of the casein gene loci and evolution of casein gene family.
Journal of Mammary Gland Biology Neoplasia, v.7, n.3, p.327-345, 2002.

201
ROBITAILLE, G. Influence of kappa-casein and beta-lactoglobulin genetic variants on the heat stability
of milk. Journal of Dairy Research, v.62, n.4, p.593-600, 1995.

SANTOS, M. V.; FONSECA, L. F. L. Estratégias para controle de mastite e melhoria da qualidade do


leite. Barueri, SP: Manole. 2007. 314p.

SCHMIDT, F. A. Efeito do suprimento das exigências de energia e/ou proteína na recuperação da


instabilidade do leite ao teste do álcool. 2014. 78 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) –
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages.

STUMPF, M. T.; FISHER, V.; MCMANUS, C. M.; KOLLING, G. J.; ZANELA, M. B.; SANTOS, C. S.;
ABREU, A. S.; MONTAGNER, P. Severe feed restriction increases permeability of mammary gland cell
tight junctions and reduces ethanol stability of milk. Animal, v.7, n.7, p.1137-1142, 2013.

SWAISGOOD, H. E. Chemistry of the caseins. In: FOX, P. F.; MCSWEENEY, P. L. H. (Ed.). Advanced
dairy chemistry. 3rd ed. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers, New York, 2003. v.1.

WALSTRA, P. Casein sub-micelles: do they exist? International Dairy Journal, v.9, p.189-192, 1999.

ZANELA, M. B.; FISCHER, V.; RIBEIRO, M. E. R.; BARBOSA, R. S.; MARQUES, L. T.; STUMPF
JUNIOR, W.; ZANELA, C. Leite instável não-ácido e composição do leite de vacas Jersey sob restrição
alimentar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.41, p.835-840, 2006.

202
CAPÍTULO XI

SISTEMAS AGROPECUÁRIOS INTEGRADOS E SUA


INTERFACE COM A ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS

Guilherme A. de Sene2, Fábio L. Henrique1, Rosana R. P. da S. Corte1,


Alice H. P. M. Assunpção2, Ramos J. Tseu2, Laura A. R. Solorzano1,
Patrícia P. A. Oliveira3, Paulo Henrique M. Rodrigues1

1
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo,
Pirassununga – SP.
2
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo,
Pirassununga – SP.
3
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Pecuária Sudeste, São Carlos – SP.

RESUMO
Os diferentes sistemas integrados de produção agropecuária apresentam-se
como uma alternativa para a produção sustentável de alimentos, fibras, madeira
e até mesmo energia. Dentre suas vantagens destaca-se a possibilidade do
desenvolvimento de diferentes cadeias produtivas dentro de uma mesma área,
utilizando-se do sinergismo entre os componentes do sistema para aumentar a
produtividade, minimizar os impactos ambientais dos sistemas de produção,
amortizar os custos de produção, proporcionando um aumento de renda para
o produtor, que torna-se também, um provedor de serviços ambientais, uma
vez que tais sistemas apresentam grande biodiversidade e potencial tanto
na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) como no aumento
do sequestro de carbono. Desta forma, objetivou-se apresentar as formas de
implantação dos diferentes sistemas integrados, bem como, o impacto do
componente arbóreo sobre o solo, pastagem, bem-estar, desempenho animal e
as emissões de gases de efeito estufa provocadas pelo sistema.

1. INTRODUÇÃO
Possuindo 191 milhões de cabeças, o Brasil é detentor do maior
rebanho comercial de bovinos no mundo, em que aproximadamente 80% é
correspondente ao gado de corte e 20% ao gado leiteiro (Anualpec, 2017).
Isto torna o país o maior exportador mundial de carne, com 1,8 milhões de
toneladas por ano, e segundo maior produtor, com 9,2 milhões de toneladas por
ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com 11,3 milhões de toneladas
por ano (USDA, 2017).
A produção em escala mundial torna a pecuária brasileira

203
correspondente a 4,21% do PIB do país, arrecadando 200,4 bilhões de reais
no setor de corte e 63,6 bilhões de reais no setor de leite (CEPEA/USP, 2017).
Estando em constante aumento, é previsto que, entre os anos de 2015/2016 a
2025/2026, a pecuária do Brasil terá um crescimento anual entre 2,3 e 3,1%
sobre a produção de leite, podendo levar a atual produção de 34,2 bilhões de
litros até a 47,3 bilhões de litros ao final deste período (MAPA, 2016). Quanto
ao setor de corte, as projeções indicam que o crescimento na atividade será
intenso e a produção de carne avançará rapidamente nos próximos 10 anos
(OECD-FAO, 2015, citado por MAPA, 2016).
Em consideração à produção atual e projeções futuras da pecuária,
aumentam-se as preocupações sobre o impacto ambiental gerado por essa
atividade, tais como o aumento do uso e degradação dos recursos naturais, a
contribuição para o aquecimento global, esgotamento dos recursos hídricos,
erosão dos solos e alteração dos habitats (FAO, 2013), destacando-se o impacto
do aquecimento global que pode contribuir para intensificar as mudanças
climáticas, sendo foco de atenção e preocupação mundial, segundo Oliveira
(2015). Para tornar possível a diminuição deste efeito, é necessário conhecer
e entender suas causas, especialmente a emissão GEE decorrentes de ações
antropogênicas no meio ambiente.
No setor pecuário, os focos da emissão de GEE são o gás metano
(CH4), sendo uma de suas fontes a fermentação entérica dos ruminantes, o
óxido nitroso (N2O), gerado pelo uso de fertilizantes nitrogenados, e o dióxido
de carbono (CO2), emitido pelo uso de combustíveis fosseis e energia (O´Mara,
2012). Apesar de as proporções de CH4 e N2O serem menores que as de CO2
na atmosfera, estes apresentam maior potencial de aquecimento, sendo de 25 e
296 (IPCC, 2006) vezes maior, respectivamente, quando comparados ao CO2,
(Snyder et al., 2008).
Sendo assim, há uma cobrança sobre a pecuária, principalmente do
setor de bovinocultura, por estratégias de mitigação da produção de GEE.
Sabendo-se que dois terços do rebanho bovino é oriundo de sistemas de
produção quase exclusivamente a pasto e que estão localizados em zona tropical
(Ferraz & Felicio, 2010), é necessária a busca por alternativas sustentáveis que
promovam o desenvolvimento econômico e material sem agredir o ambiente,
baseando-se em três pilares: econômico, social e ambiental (Embrapa, 2015).
O uso de sistemas integrados apresentam-se como alternativa
inteligente e sustentável, pois sua implementação promove a otimização dos
ciclos biológicos dos animais e dos vegetais, tal como dos insumos produzidos
e seus respectivos resíduos (Balbino et al., 2011). Além disso, estes sistemas
integrados promovem benefícios econômicos, como o aumento da renda
líquida, permitindo maior capacitação do produtor, geração de empregos direta
e indiretamente e estabilidade econômica com redução de riscos e incertezas

204
devido à diversificação da produção (Embrapa, 2016).
A implementação de sistemas integrados tem como base a hipótese de
que estes são capazes de promover a recuperação direta de pastagens (Oliveira,
2007). Espera-se também que a execução de manejo intensivo destas pastagens
e dos sistemas (ILPF, ILP, IPF, ILF) impulsionem uma grande capacidade
de mitigação da produção de GEE. Isto torna-se possível em decorrência da
elevada produção de massa de forragem das gramíneas tropicais, o eficiente
uso de fertilizantes nitrogenados e ao acúmulo de matéria-orgânica no solo
(Oliveira et.al., 2007; Primavesi, 2007; Segnini et. al., 2007;), e a introdução do
componente arbóreo, capaz de incrementar o sequestro de carbono e promover
mitigação dos gases de efeito estufa.

2. DEFINIÇÕES
São definidos como sistemas de produção agropecuários integrados
aqueles que interagem com dois ou mais setores de produção agrícola, pecuária
ou de silvicultura, podendo ser em consorciação, rotação ou sucessão destes.
Assim, eles têm como foco a melhoria da eficiência no uso dos recursos naturais
e aumento da sustentabilidade dos sistemas de produção, proporcionando
incrementos econômicos, ambientais e sociais.
Os sistemas de integração podem ser caracterizados, como:
• Integração Lavoura-Pecuária (ILP) – Agropastoril: promove a
interação entre lavoura e pecuária em uma mesma área, em um mesmo ano
agrícola ou em múltiplos anos, sendo implantado através da rotação, consórcio
ou sucessão.
• Integração Pecuária-Floresta (IPF) - Silvipastoril: interação por
consórcio entre pecuária e floresta.
• Integração Lavoura-Floresta (ILF) – Silviagrícola: implantação em
consórcio entre lavoura e floresta, pela utilização de espécies arbóreas junto a
cultivos agrícolas (anuais ou perenes).
• Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) - Agrossilvipastoril:
une todos os componentes, agrícola, pecuário e florestal em um único sistema,
podendo ser feito de forma rotacionada, em consórcio ou sucessão. A lavoura
pode ser implantada na fase inicial do componente florestal ou em ciclos
durante o desenvolvimento do sistema (Balbino et al., 2011).

3. IMPLANTAÇÃO DOS SISTEMAS INTEGRADOS


Os sistemas agropecuários integrados são planejados para explorar
o sinergismo entre seus componentes, sendo assim, apresentam em seu
planejamento um dos pontos chave para o sucesso do sistema (Carvalho &
Moraes, 2011).
Desta forma, um dos primeiros passos dos sistemas integrados é

205
atentar para as espécies de plantas e animais, bem como ao tipo de consórcio
que melhor se adeque à região, uma vez que apenas no caso da integração entre
os componentes ser adequadamente gerenciada é que o resultado final poderá
ser a maior sustentabilidade econômica, ambiental e social (FAO, 2010).
Independente do sistema de integração a ser implantado, o
condicionamento prévio do solo, através de correções químicas e físicas, é
indispensável para maximização da produtividade e conservação do meio
ambiente. Sendo assim, a adequação química do solo deve atender às exigências
do componente mais exigente a ser implantado na área.
Dentre os sistemas integrados, destaca-se a integração lavoura
pecuária (ILP), que consiste na utilização da mesma área para lavoura e pecuária
de forma consorciada, sequencial ou rotacionada, sendo seus principais
benefícios provenientes do potencial sinergismo entre os componentes do
sistema (Faleiros & Farias Neto, 2008).
São observadas basicamente 3 situações para a implantação de
ILP: 1) fazendas pecuárias que utilizam a lavoura para amortizar os custos
da recuperação de pastagens degradadas, 2) fazendas especializadas em
lavoura que utilizam as forrageiras para o sistema de plantio direto (SPD) e na
entressafra podem utilizar a forragem produzida na alimentação de bovinos e
3) fazendas que, sistematicamente, utilizam a rotação entre pastagens e lavoura
para intensificar o uso da terra e se beneficiar do sinergismo entre as duas
atividades (Faleiros & Farias Neto, 2008). Mais recentemente, problemas
fitossanitários também têm requerido o uso dos sistemas integrados para o
controle de pragas e doenças, por meio a rotação de culturas.
A seguir serão abordados alguns sistemas específicos de ILP, suas
aplicações e formas de implantação.
a) Sistema Barreirão: Utilizado para recuperação de pastagens
degradadas em fazendas que desejam alterar o tipo de gramínea forrageira
existente. Sua principal característica é a aração profunda do solo no início
do período chuvoso, visando romper camadas compactadas ou adensadas,
incorporação profunda de corretivos, bem como incorporação profunda
do banco de sementes das plantas invasoras. A consorciação segue as
recomendações convencionais de espaçamento e densidade para as culturas
anuais, podendo a forrageira ser plantada misturada ao adubo (maior
profundidade de plantio) na mesma linha da cultura, nas entrelinhas ou ainda
podendo ser realizado seu plantio juntamente com a adubação de cobertura,
sendo a densidade de plantio variável em função da cultura anual e da espécie
forrageira, mas normalmente abaixo da recomendação técnica convencional
para não prejudicar a produtividade da lavoura (Oliveira et al., 1996).
b) Sistema Santa Fé: Consiste na produção consorciada de grãos
(milho, soja, arroz, sorgo e milheto) com espécies forrageiras tropicais em

206
áreas de lavoura, tanto no SPD como no sistema convencional. Neste caso, o
espaçamento e a densidade de plantio são semelhantes ao sistema Barreirão
(Embrapa, 2015).
c) Sistema Santa Brígida: Consiste em um consórcio triplo entre
milho, braquiária e uma espécie leguminosa (Guandu Anão), objetivando
produzir forragem mais rica em proteína e promover fixação biológica
de nitrogênio através da leguminosa, e, com isso, reduzir a necessidade de
fertilizante nitrogenado mineral no cultivo em sucessão. Neste sistema, o milho
deve ser plantado seguindo as recomendações convencionais de espaçamento
e densidade, enquanto que, de forma mais prática, as sementes de guandu
e braquiária devem ser misturadas ao superfosfato simples e semeadas nas
entrelinhas do milho a uma profundidade de 2 a 3 cm (Embrapa, 2015).
d) Sistema São Mateus: Indicado para a região do Bolsão Sul Mato-
Grossense, tendo como base o cultivo de soja em SPD visando amortizar
os custos da recuperação da pastagem. No primeiro ano, durante o período
de inverno e primavera, é realizada a correção química e física do solo para
no período chuvoso implantar a pastagem temporária de braquiária, a qual
poderá ser utilizada de 6 a 9 meses, com início de pastejo aos 60 a 70 dias
após a emergência, podendo-se obter neste período uma elevada produção por
área. No início do período chuvoso (2º ano), deve-se proceder a dessecação
da pastagem temporária e, cerca de 20 dias após, efetuar a semeadura da soja
em SPD. Após a colheita da soja, deve-se semear imediatamente a pastagem,
a qual será utilizada nos próximos 2 anos, retornando a soja no terceiro ano
(Embrapa, 2015).

4. IMPLANTAÇÃO E DEFINIÇÃO DO COMPONENTE FLORESTAL


Os sistemas de integração que contêm o componente florestal
podem ser classificados em silvipastoril (IPF), silviagrícola (ILF) ou ainda
agrosilvipastoril (ILPF), sendo este último, um sistema onde se realiza na
mesma área a ILF seguido da IPF, ou vice-versa.
Durante o planejamento da implantação do componente arbóreo no
sistema integrado, deve-se atentar na escolha da espécie arbórea que apresente
as seguintes características:
• Boa adaptação à região de cultivo.
• Arquitetura da copa favorável ao sistema, permitindo maior
transmissão de luz ao sub-bosque.
• Crescimento rápido, permitindo rápido estabelecimento da IPF.
• Ausência de efeitos tóxicos aos animais ou efeitos alelopáticos sobre
as forrageiras.
• Ser preferencialmente perenifólia, fornecendo sombreamento aos
animais durante todo o ano.

207
• Fornecer produtos de maior valor agregado para que o mercado os
absorva com facilidade (Pedreira et al., 2014).
Dentre as espécies florestais mais utilizadas em pastagens no Brasil,
destacam-se: eucaliptos (Eucalyptus spp. e Corymbia spp.), grevílea (Grevillea
robusta), pinus (Pinus spp.), teca (Tectona grandis), paricá (Schyzolobium
amazonicum), mogno africano (Kaya ivorensis), cedro australiano (Toona
ciliata), canafístula (Pelthophorum dubium) e acácia mangium (Acacia
mangium) (Carvalho et al., 2001; Paciullo et al., 2007; Porfírio da Silva et al.,
2009). Nos sistemas em que a pecuária seja praticada a grevílea somente é
indicada se for cercada, pois os bovinos possuem preferência por essa espécie
e a danificam comprometendo seu crescimento.
Espécies nativas, que apresentam crescimento lento, podem ser
utilizadas. No entanto, é necessária a construção de barreiras de proteção,
evitando que o gado cause danos às árvores (Porfírio da Silva et al., 2009).
Visando minimizar os custos de implantação, é possível cultivar lavouras nas
entrelinhas das árvores durante o período necessário para seu desenvolvimento,
antes da implantação da pastagem e da entrada dos animais, formando assim o
sistema ILPF (Almeida, 2010).
Para adequada condução do sistema, o componente arbóreo deve ser o
primeiro a ser implantado. O espaçamento entre fileiras (simples ou múltiplas)
deve ser em função do maquinário para semeadura e colheita agrícola. No
entanto, do ponto de vista pecuário, o espaçamento pode variar de 10 a 50
metros, sendo que espaçamentos menores podem prejudicar a produção
forrageira e consequentemente a produção animal (Almeida, 2010; 2015).
Atualmente a preferência são por espaçamentos maiores que 20 metros entre
linhas, para evitar o sombreamento excessivo das pastagens.
Em áreas planas, a orientação das linhas no sentido leste - oeste proporciona
um menor sombreamento às culturas consorciadas (lavoura e pastagem).
Por outro lado, em terrenos acidentados ou erodíveis, deve-se privilegiar a
conservação do solo e o plantio em nível em detrimento da orientação leste -
oeste (Reis et al., 2007).
Quanto ao espaçamento entre as árvores e linhas de árvores, se o
interesse for produzir madeira para serraria ou laminação, as árvores devem
ser cultivadas com maior espaçamento entre elas, o qual deve ser associado
às práticas de desramas e desbastes. Já para a produção de lenha, carvão ou
palanques de cerca, pode-se utilizar espaçamentos menores entre as árvores, de
forma a se obter maior volume de madeira em menor tempo (Embrapa, 2015).
Dentro da ILPF, o componente arbóreo, além de contribuir com a
geração de renda a longo prazo, contribui com a reciclagem de nutrientes
que se encontram em profundidade, atuam como quebra-vento, criando um
microclima favorável para manutenção da umidade na área, proporcionando

208
sombreamento aos animais e melhorando o desempenho dos mesmos.

5. EFEITO DO COMPONENTE FLORESTAL SOBRE AS


CARACTERÍSTICAS DO SOLO
Os sistemas silvipastoris (IPF) são baseados na introdução do
componente arbóreo em sistemas de produção pecuários e têm por objetivo
a diminuição dos impactos ambientais negativos, próprios dos sistemas
tradicionais de criação de gado (Radomski & Ribaski, 2012). Estes sistemas
são caracterizados por favorecer a recuperação de pastagens degradadas e
melhorar as características do solo, permitindo assim reduzir a dependência
externa de insumos, intensificando o uso do recurso solo e seu potencial
produtivo em longo prazo (Franke & Furtado, 2001). Vários benefícios são
alcançados neste sistema com relação aos aspectos de solo-planta-animal,
destacando-se a conservação do solo, a melhoria das condições físico-químicas
e da atividade biológica na superfície deste, além do conforto térmico para os
animais (Leme et al., 2005). Este tipo de sistema em si possui influência sobre
a fração orgânica do solo e ciclagem de nutrientes. A presença das árvores
proporciona deposição gradual de biomassa no solo, aumentando o teor de
matéria orgânica e de nutrientes, como nitrogênio, cálcio, magnésio, potássio
e fósforo, em relação a uma monocultura com as mesmas taxas de entrada de
nutrientes. Esse efeito é ainda potencializado com o uso de leguminosas.
No geral, as árvores beneficiam as pastagens, principalmente quanto
à proteção do solo e à disponibilidade de nutrientes, pois, com raízes mais
profundas, parcial ou totalmente ativas no solo, 1) possibilitam a estabilização
física da massa do solo, seja pelo efeito direto de aproximação das partículas
ou por influência indireta da adição de matéria orgânica sobre as propriedades
físicas do solo; 2) o deslocamento de nutrientes de camadas mais profundas
para a superfície do solo; 3) a reserva temporária de nutrientes, imobilizados
nas raízes e parte aérea, evitando sua perda por erosão ou mesmo lixiviação;
4) a redistribuição de carbono e nutrientes em profundidade, favorecendo a
atividade microbiana e da fauna do solo, com consequências benéficas em
termos de aeração e permeabilidade e o 5) aumento da capacidade de sequestro
de carbono pelos sistemas nos quais as arvores estão inseridas (Gatto et al.,
2010). Por outro lado, as árvores também influenciam na produtividade e no
valor nutritivo das forrageiras e a intensidade destes efeitos varia em função do
arranjo e da espécie arbórea utilizada, do grau de sombreamento e da tolerância
da espécie forrageira à sombra (Oliveira et al., 2007; Paciullo et al., 2008;
Castro et al., 2009).
A transformação de florestas em pastagens ou áreas agrícolas dos
trópicos americanos não permitiu manter níveis adequados de carbono orgânico
no solo (COS) (Amézquita et al., 2004). No entanto, a IPF tem demostrado

209
manter ou aumentar potencialmente os níveis de COS, o que é uma alternativa
simples ao cultivo sustentável. Oelbermann & Ibrahim (2006) mostraram que
em um sistema silvipastoril de 19 anos ininterruptos capturou-se mais CO2
na vegetação e acumulou-se e mais carbono no solo do que nos sistemas
somente com gramíneas. Esta maior assimilação de COS no sistema é devido
à maior entrada de C dos resíduos da colheita, bem como das folhas e ramos
das árvores. Oelbermann et al. (2006) constataram que, aos quatro anos de
SSP, o COS foi 6% maior que em uma monocultura. Esses resultados mostram
que os sistemas silvipastoris têm o potencial de acumular C e diminuir o CO2
atmosférico.
Além do efeito benéfico dos sistemas silvipastoris no sequestro de C,
tem sido observada também a influência favorável das árvores nos indicadores
de fertilidade do solo. Assim, os teores de MO, N, C, P, K, Ca, Mg, bem como
o pH, podem ser mais elevados nos solos dos sistemas IPF, no que diz respeito
às monoculturas de gramíneas. De acordo a isto, Ovalle & Avendaño (1984) e
Machecha et al., (1999) indicam que a deposição gradual de biomassa no solo,
por leguminosas arbóreas, aumenta o teor de MO. Andrade (2000) relatou que
a Acacia mangium depositou a maior quantidade de material vegetal formador
de serapilheira, quando comparado com outro grupo de plantas arbóreas. Essa
serapilheira apresentou a menor taxa de mineralização, refletindo o maior
tempo de residência da MO e nutrientes depositados na superfície do solo.
Machecha et al. (1999) avaliaram a composição química do solo em pastos de
capim-estrela isolado e consorciado com Leucena, verificando que os teores de
N, C e MO foram maiores nas áreas consorciadas, podendo ser explicado pelas
contribuições de MO provenientes da poda, excretas, serapilheira e os resíduos
de pastejo de cada um dos componentes botânicos do relvado, que foram
maiores na consorciação (140,4 t/ha.ano de MO) do que no capim sozinho
(46,5 t/ha.ano).
Sánchez et al. (2003) observaram que a presença de árvores nas
pastagens aumenta o teor de MO e melhora o microclima. Isso favorece a
atividade biológica da micro e macro fauna, especialmente de bactérias e
fungos micorrízicos (Machecha, 2002), o que produz maior mineralização,
mobilização e disponibilidade de alguns nutrientes no solo, como o P e K.
Além disso, o sistema radicular estendido e profundo das árvores aumenta
a área disponível para armazenar água e nutrientes, em profundidades que
estão além do alcance das raízes das gramíneas. Considerações semelhantes
foram relatadas por Crespo et al. (1998), ao avaliarem dois sistemas, com e
sem Leucaena leucocephala, em 100% da área de uma pastagem nativa. Esses
autores verificaram que, no último caso, a serapilheira acumulada foi maior
(2,45 vs. 1,80 t de MS ha/ano) e o balanço de N no solo foi positivo (+ 69 vs.
-21 kg ha/ano).

210
Em termos gerais, a incorporação de árvores e arbustos nos sistemas
pecuários tradicionais melhora sua estrutura e reduz os processos de erosão.
Esses resultados são explicados pela maior reciclagem de nutrientes que ocorre
e pela fixação do N, assim como pelo aprofundamento das raízes das árvores,
pela maior atividade da macro e mesofauna e pelo controle da erosão (Crespo,
2008).
Por outro lado, tem-se indicado que uma redução do componente
arbóreo em áreas pastoris resulta na redução de reciclagem de nutrientes e
da área de sombra, o que resulta em condições ambientais adversas para o
comportamento dos animais e a fertilidade do solo (Iriondo et al., 1998; Nodari
et al., 2001).
Em prados permanentes, ocorre o retorno da biomassa acumulada
para o solo, de acordo com o seu ciclo vegetativo, onde, através do processo
de mineralização, os elementos biogênicos retornam ao seu estado mineral
separando-se da matéria orgânica. Desta forma, começa o funcionamento
do ciclo biogeoquímico, que é definido como o movimento dos elementos
e compostos inorgânicos essenciais para a vida. Este evento é de grande
importância nas relações entre solo, pastagem e meio ambiente (Gallardo et
al., 1990).
Em estudo da reciclagem de nutrientes, Crespo et al. (2000)
mostraram um balanço positivo para N (+22 kg/ha) e P (+1 kg/ha) quando
houve associação de gramíneas com Leucena. O K não variou na área com
gramíneas nativas, sem Leucena. Este efeito favorável não se deve apenas
à fixação biológica do N atmosférico, mas também à entrada de nutrientes,
através da decomposição da serapilheira produzida.
Em termos gerais, pode-se dizer que as pastagens que contêm apenas
gramíneas perenes sem árvores apresentam pouca capacidade de reciclar
nutrientes e o N do solo tende a se imobilizar por períodos prolongados. Para
superar estas desvantagens, o estabelecimento de sistemas silvipastoris são
eficazes em aumentar o sequestro de carbono e aumentar a fertilidade dos
solos. Os sistemas silvipastoris levam à sustentabilidade dos ecossistemas e
constituem uma necessidade imperativa de recuperar a fertilidade dos solos
degradados.

6. EFEITOS DO COMPONENTE FLORESTAL SOBRE A PRODUÇÃO


E COMPOSIÇÃO DA PASTAGEM
A pecuária praticada em zonas tropicais tem limitações que reduzem
significativamente sua produtividade. Algumas das principais limitações
são a forte dependência de gramíneas como forragem, seca durante longos
períodos e baixo nível de tecnologia (Pérez & Díaz, 2008). No entanto, uma
das maiores limitações é a baixa produção e baixa qualidade nutricional da

211
forragem durante a época seca. Nestes sistemas onde há dependência do pasto,
o gado não pode satisfazer suas necessidades nutricionais durante períodos de
seca e sua produção diminui. Uma alternativa para melhorar a disponibilidade
de forragem, apesar da precipitação local, são sistemas agrossilvipastoris que
contêm árvores, destinadas ou não ao consumo animal (Bautista et al., 2011).
A ILPF tem sido caracterizada como combinação intencional e
intensiva de árvores com culturas agrícolas e pastos em que o manejo é
realizado de forma a aumentar a produtividade geral da área (Broom et al.,
2013). Portanto, os sistemas agrossilvipastoris integrados são estratégias para
a diversificação da produção na mesma área, com o objetivo de aumentar
a sustentabilidade (Pezzopane et al., 2017). A presença de mais de um
componente vegetal, ocupando mais de um estrato espacial (especialmente
quando há inclusão de árvores) e animais, simultaneamente em um sistema,
resulta em interações que variam no tempo (efeito da idade das plantas) e no
espaço (efeito da posição em relação as árvores) (Silva, 2012). Tanto a seleção
de plantas assim como o manejo podem maximizar interações facilitadoras
positivas entre espécies e minimizar interações competitivas negativas, pois a
competição pela luz, por exemplo, pode resultar em um impacto negativo das
árvores na produtividade das pastagens, especialmente se as plantas tiverem
uma via fotossintética C4 com pontos de saturação de luz em cerca de 85%
do sol pleno. No entanto, as plantas de pastagem com a via fotossintética C3 e
fotossíntese de saturação de luz a 50% do sol pleno não terão seu crescimento
ou rendimento afetado negativamente por certos graus de sombra de árvores.
No estudo de Pezzopane et al. (2017) foi observado que o aumento da
restrição da luz, partindo da luz até à sombra moderada, reduz a produção da
matéria seca (MS) das forragens assim como de produtos agrícolas tropicais
em sistemas de ILPF, e durante o período de seca a presença de árvores pode
afetar negativamente a produção pela competição por água.
As forragens sombreadas possuem um elevado valor nutritivo como
a proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da MS (Pezzopane et al., 2017).
Em condições controladas, o sombreamento aumentou o teor de PB de 9,6
para 12,9% nas plantas da cultivar Tanzânia colocadas em pleno sol com 54%
de sombreamento e, na cultivar Massai, 10,5% na luz solar para 15,9% no
sombreamento (Silveira et al., 2012).
Segundo Broom (2017), a produção de biomassa comestível é
muito maior nos sistemas silvipastoris do que nos sistemas de pastagens
convencionais. A Tabela 1 mostra as mudanças no uso de nitrogênio como
fertilizante, produção vegetal e valor nutritivo da forragem entre duas pastagens,
uma composta simplesmente por uma gramínea (Cynodon plectostachyus) e
outra contendo L. Leucocephala, além de Cynodon plectostachyus.

212
Tabela 1. Diferenças no uso de nitrogênio e produção vegetal, em uma pastagem com monocultura de Cynodon
plectostachyus e outra com Cynodon plectostachyus e Leucaena leucocephala.

Fonte: Broom et al. (2013) e Broom (2017)

7. PAPEL DO COMPONENTE FLORESTAL SOBRE O CONFORTO


TÉRMICO E BEM-ESTAR ANIMAL
Os fatores climáticos, que formam a característica ambiental dentro
dos diversos ciclos de produção, interferem diretamente no metabolismo dos
animais e no suprimento de suas exigências nutricionais, em seu consumo
e também na eficiência de utilização dos nutrientes ingeridos (NRC, 1981;
Davis, 2004; Mader, 2004), quando estes indivíduos são expostos diretamente
a situações que alterem sua homeostase (Degen & Young, 2002). Ou seja,
temperaturas extremas em relação à zona de termoneutralidade destes
indivíduos obrigam maiores gastos energéticos destes animais para a ativação
das vias de termorregulação (Joyce & Blaxter, 1964; Degen & Young, 2002).
O estabelecimento das zonas de conforto térmico ou termoneutralidade
é dependente da interação entre o animal e os principais fatores climáticos
formadores do ambiente, como por exemplo, a temperatura do ar, a umidade
relativa, a velocidade do vento e a incidência de radiação solar (Titto,
1998; Silva, 2000; Baêta & Souza, 2010). Em regiões tropicais, devido seu
posicionamento global, existe uma maior incidência de radiação solar que
resulta em altas temperaturas do ar e dificulta a dissipação de calor pelos
animais (Silva, 1999; 2000).
As estratégias que os animais recorrem para responder às
adversidades climáticas dentro dos sistemas produtivos podem ser mesuradas
por mecanismos fisiológicos, devido à síntese e liberação de alguns hormônios,
ocasionando também alterações nas frequências cardíaca e respiratória e na
distribuição do fluxo sanguíneo entre órgãos vitais e tecidos periféricos, na
busca por alcançarem o equilíbrio térmico, havendo assim uma versatilidade
considerada em relação às estas vias ao longo do dia, das estações do ano,
devido à variabilidade da produção de calor metabólico (Young et al., 1989;
Pereira, 2013).
Para que haja um equilíbrio entre animal e ambiente dentro do
ciclo produtivo, é necessária uma combinação entre indivíduos adaptados

213
ou aclimatados dentro do ambiente a ser explorado, bem como, busca por
alternativas aplicáveis para a melhoria estrutural e construtiva do sistema de
produção (Euclídes Filho et al., 1999; McManus et al., 2009)
É possível classificar a adaptabilidade de uma raça específica de animais
a um determinado ambiente, considerando a manutenção da homotermia nesta
relação e também devido ao ponderamento das mensurações de desempenhos
produtivos, reprodutivos e de sobrevivência durante as situações estressantes
(Baccari JR., 1986). Atualmente, a quantificação e qualificação das proteínas
de choque térmico (HSPs) estão sendo muito utilizadas para acusarem a
adaptabilidade dos indivíduos devido à expressão de suas funções protetora
das células no organismo dos animais quando desafiados às altas temperaturas
(Hooper et al., 2018).
Já a busca por estratégias que amenizem as incitações prejudiciais
geradas pelos fatores climáticos pode ser resumida em melhorias nas
instalações dos sistemas de produção e um exemplo extremamente prático é a
utilização e adequação sombras para os animais. Elas podem ser construídas
artificialmente (Chiquitelli Neto et al., 2015) ou adequadas ao sistema produtivo
de maneira natural, através do plantio de árvores (nativas ou exóticas). Assim,
podem ser exploradas, inclusive, pela formação de um sistema silvipastoril que
acarreta excelentes resultados tanto para o desempenho animal, quanto para os
benefícios ambientais e econômicos (Bosi et al., 2011; Vinholis et al., 2013).
Em relação ao bem-estar animal, os animais nos sistemas silvipastoris
apresentam-se menos reativos a abordagem humana. Usando uma série
de indicadores de bem-estar, Mancera & Galindo (2011) mostraram que a
resposta de medo do gado em áreas com mais árvores é menor do que em
animais mantidos em pastagens com menos árvores. Eles encontraram redução
no número de bovinos com baixo escore corporal em áreas com árvores do que
em áreas sem árvores, mas com fornecimento de pastagem equivalente.
Complementarmente, com o aumento da biodiversidade nos sistemas
silvipastoris, algumas aves e insetos maiores são predadores de carrapatos.
Então, nestes sistemas o número de carrapatos por hectare é reduzido e a
prevalência de doenças transmitidas por carrapatos é reduzida. Essas doenças
incluem a anaplasmose cuja a prevalência pode reduzir de 25% para níveis
abaixo de 5% (Murgueitio & Giraldo, 2009). Portanto, como as doenças
transmitidas por carrapatos fazem parte das principais causas do prejuízo
na produção de animais tropicais, o impacto dos predadores de carrapatos
é de considerável importância econômica. A redução de carrapatos e
consequentemente de doenças melhora o bem-estar animal.

214
8. EFEITOS DO COMPONENTE FLORESTAL SOBRE O
DESEMPENHO ANIMAL
Nos sistemas integrados, a presença do componente arbóreo agrega
sustentabilidade a produção de carne, leite, grãos, fibra, energia e produtos
florestais, dentre outros, na mesma área, em plantio consorciado, em sucessão
ou rotacionado, buscando efeitos sinérgicos e potencializadores entre os
componentes envolvidos naquele agroecossistema (Kichel, 2012).
Como já citado anteriormente, ressalta-se que em sistemas com
a presença de arvores, a composição bromatológica da forrageira é alterada
positivamente em relação a alguns nutrientes, a qual pode influenciar
diretamente a produção animal. Pesquisa recente demonstrou que há uma
melhoria na qualidade das pastagens destes sistemas (Pezzopane et al., 2017).
O teor de proteína bruta (PB) e a digestibilidade da MS in vitro aumentam com
o sombreamento.
Melhoras no teor de PB da pastagem constituem uma das maiores
vantagens dos sistemas silvipastoris para produção animal nos trópicos
comparado com os sistemas baseados em monoculturas de pasto (Paciullo et
al., 2009). Segundo Bernardino et al. (2011) com esse melhor valor nutricional,
especialmente proteico da forrageira nos sistemas com componentes arbóreos,
pode-se observar na produção de bovinos de corte ganhos de peso individuais
similares aos sistemas de pastagens em monocultivo, normalmente pastagem
de Brachiaria brizantha em lotação contínua em torno de 0,600 kg/dia,
evidenciando seu potencial de utilização.
As melhorias nutricionais do pasto em sistemas silvipastoris
resultantes do sombreamento e da maior disponibilidade de nutrientes no solo,
associadas às melhores condições de conforto térmico dos animais, sinalizam
a possibilidade de aumento no consumo de forragem e no ganho de peso de
animais em pastejo (Paciullo et al., 2009). Contudo, trabalhos relacionados ao
componente animal, nas condições de sistema silvipastoril são escassos.
O grupo de pesquisa em parceria com a Embrapa Pecuária Sudeste
avaliou o efeito de sistemas integrados extensivo (EXT), intensivo (INT),
integração lavoura pecuária (ILP), integração lavoura pecuária floresta (ILPF)
e um sistema silvipastoril (IPF) na recria de bovinos Canchim (N=30; 262 ±
5.31 kg e 15 meses). No estudo foram utilizados dois cultivares de braquiária:
no sistema extensivo, a pastagem era Urochloa decumbens com taxa de lotação
contínua e nos demais U. brizantha, cv. BRS Piatã com sistema rotacionado.
Foi verificado efeito dos sistemas (p<0.0001) e interação entre os
sistemas e estações do ano (p<0.0001) para peso vivo em kg/ha e para lotação
(UA/ha), desta forma, as variáveis foram apresentadas com a interação. Como
esperado, os animais apresentaram maior ganho de peso vivo em kg ha -1
no verão (Figura 1). No verão e no outono, o maior ganho em kg ha -1 foi

215
evidenciado no sistema INT quando comparado ao ILPF e EXT que não
diferiram dos demais IPF e ILP.
Já na primavera, os animais dos sistemas ILP e EXT apresentaram os
menores ganhos por ha quando comparados aos demais INT, ILPF e IPF.
Dentre as estações do ano, o inverno foi a pior para o ganho de peso por
hectare, sendo que os sistemas com árvores apresentaram menores ganhos
(IPF: -8 e ILPF: 9 kg ha -1) quando comparado aos demais (INT:41, ILP:36 e
EXT:30 kg há -1). Possivelmente, a presença das árvores no sistema ocasionou
sombreamento e competição com a forragem, agravando a escassez hídrica
que ocorre no inverno.

Figura 1. Peso vivo (kg ha -1) de bovinos recriados em sistemas integrados (EXT: sistema
extensivo com lotação contínua; INT: sistema intensivo com com pastejo rotacionado; ILP:
sistema com integração lavoura pecuária; ILPF: sistema com integração lavoura, pecuária e
floresta; IPF: sistema silvipastoril).

Já na primavera, os animais dos sistemas ILP e EXT apresentaram os


menores ganhos por ha quando comparados aos demais INT, ILPF e IPF.
Quanto a taxa de lotação, tanto no inverno quanto na primavera não
foram verificadas diferenças entre os sistemas (Figura 2).

216
Figura 2. Lotação (UA ha -1) de bovinos recriados em sistemas integrados (EXT: sistema extensivo
com lotação contínua; INT: sistema intensivo com com pastejo rotacionado; ILP: sistema com
integração lavoura pecuária; ILPF: sistema com integração lavoura, pecuária e floresta; IPF:
sistema silvipastoril).

Já no verão e outono, no sistema INT foram colocadas mais unidades


animais por hectare quando comparado aos sistemas ILP, ILPF e EXT, sem
diferença com o IPF. Valores intermediários foram observados nos sistemas
ILP e ILPF que foram semelhantes ao IPF. O sistema extensivo apresentou a
pior lotação sendo inferior aos demais sistemas.
De maneira geral, a presença do componente arbóreo tanto no sistema
ILPF, quanto no IPF promoveu semelhante ganho (kg ha -1) aos animais
quando comparado aos demais sistemas. Contudo, outras medidas e variáveis
serão testadas pelo grupo de pesquisa para complementar o trabalho.
Oliveira et al. (2014) avaliaram sistemas formados com capim piatã
(B. brizantha cv. BRS Piatã) e três diferentes densidades arbóreas: pequena (5
arvores/ha) média (227 arvores/ha) e grande (357 arvores/ha). Os autores não
verificaram diferença no ganho de peso de novilhas, mesmo com sombreamento
promovido pelo componente florestal no inverno. Já para a variável ganho/ha
(kg peso vivo/ha) o sistema com densidade pequena apresentou maior ganho no
outono, já na primavera e verão os melhores ganhos/ha foram detectados para
as densidades pequena e média, sem diferença no inverno entre os sistemas.
Nas estações das águas, primavera e verão, e no outono, o ganho de
peso/ha foi reduzido conforme aumentou a porcentagem de sombra no sistema,
como observado para a o sistema com densidade de 357arvores/há, sugerindo
que a adoção de um sistema integrado com uma densidade de arvores média

217
pode ser uma boa escolha para produtores diversificarem as fontes de renda
sem diminuir a produtividade animal por hectare.
Santos (2016) avaliaram dois arranjos de sistema silvipastoril com
densidades de 417 e 715 arvores/ha e um sistema sem a presença de árvores
(controle) com a forrageira Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã no desempenho
de bovinos no cerrado. A taxa de lotação foi maior no tratamento sem árvores e
o ganho animal médio diário não diferiu entre os sistemas avaliados. O ganho/
há foi superior no sistema com densidade de 417 quando comparado ao com
715 arvores/há e os dois foram inferiores ao sistema sem árvores. Ao adotar
o sistema silvipastoril com árvores de eucalipto sendo o objetivo principal a
produção animal recomenda-se espaçamentos entre renques não inferiores a 22
m, compondo a densidade arbórea igual ou inferior a 417 arvores/ha.
Avaliando o desempenho de novilhas, Paciullo et al. (2009)
testaram monocultivo (pastagem de Brachiaria decumbens) e em um sistema
silvipastoril com pastagem de Brachiaria decumbens, com leguminosa
herbácea Stylosanthes guianensis cv. Mineirão e leguminosas arbóreas
Acacia mangium, A. angustissima e Mimosa artemisiana, além de árvores de
Eucalyptus grandis. Os autores verificaram maior ganho de peso em novilhas
em sistema silvipastoril (0.512 kg/dia vs. 0,452 kg/dia do tratamento sem
árvores), permitindo o desenvolvimento ponderal acelerado para as novilhas
em crescimento e assegurando a precocidade à primeira cobertura e ao primeiro
parto. Os autores justificaram esse maior ganho no sistema silvipastoril devido
ao maior teor de proteína bruta que pode ter contribuído para melhorar a
qualidade da dieta das novilhas, favorecendo então o desempenho desses
animais.
Em experimentos com sistemas integrados em que o capim massai
foi plantado após 4 anos de lavoura de soja com (ILPF) e sem eucalipto (ILP)
comparando a um sistema com pastagem degradada, Kichel et al. (2012)
avaliaram a produtividade da recria (kg peso vivo/há). Os autores verificaram
que a produtividade nos sistemas integrados foi mais que três vezes superior
(490 e 482 kg/ha) para ILP e ILPF quando comparados a pastagem degradada
(141 kg/ha). Esses sistemas, além de alta produtividade, têm grande potencial
para sequestrar carbono, compensando ou até mesmo superando a fixação de
carbono.

9. PRODUÇÃO DE CARNE E GASES DE EFEITO ESTUFA (GEE)


A prática do uso da ILPF em sistemas de produção animal reduz
a produção de GEE (Tabela 2) de várias maneiras. De um lado, a perda de
carbono das plantas em crescimento neste sistema é menor; de outro lado, a
perda de carbono do solo é menor porque a estrutura do solo é mantida melhor.
Adicionalmente, a área onde as árvores são exploradas tem maior probabilidade

218
de ser usada continuamente, em vez de por um curto período. Portanto, há
menos perda de carbono quando as árvores ou outras plantas são removidas.
Também há redução na produção de metano a partir de ruminantes que se
alimentam no sistema (Murgueitio & Ibrahim, 2008; Broom et al., 2013).
A Tabela 2 mostra que os sistemas silvipastoris intensivos podem
produzir 12 vezes mais carne do que os sistemas extensivos e 4,5 vezes mais
carne do que as pastagens melhoradas (Murgueitio et al., 2012) e as emissões
de metano aumentam 6,8 e 2,8 vezes, respectivamente. Assim, as emissões
de metano por tonelada de carne em sistemas silvipastoris intensivos são
1,8 vezes menores do que na pecuária extensiva. A produção em três níveis
(pastos, arbustos com folhas comestíveis e árvores que também podem ter
folhas comestíveis) é muito eficiente no fornecimento de alimentos para o
gado, portanto, menos terra é necessária para uma determinada quantidade de
produção animal. Assim, mais produção por unidade de área de terra pode
resultar em menos emissões de gases de efeito estufa (Murgueitio et al., 2011).
Tabela 2. Produção de carne e emissões de carbono em três sistemas de produção de bovinos na Colômbia

Fonte: Murgueitio & Ibrahim (2008); Broom et al. (2013); Améndola et al. (2016) e Broom (2017).

O grupo de pesquisa em conjunto com a Embrapa Pecuária Sudeste


apresentou no SIMPRUCERRADO 2018, o balanço entre as emissões
e remoções antrópicas de GEE para sistemas de produção exclusivos e
integrados, que variou de 3,29 a 29,15 t CO2eq./ha.ano (Tabela 3) (Oliveira et
al., 2018), sendo o menor valor para as pastagens extensivas e o maior valor
para o iLPF, evidenciando que os drenos de C (sequestro de C no solo e no fuste
do eucalipto) foram maiores que as emissões de GEE e mostrando que todos
apresentaram potencial de mitigação dos GEE e possibilidade de zerar a pegada
de C da carne e ainda gerar créditos de carbono. Vale ressaltar que os sistemas
integrados contendo floresta, como o silvipastoril e o agrossilvipastoril, pela
presença do eucalipto possuem um potencial superior em relação aos outros
sistemas avaliados para a mitigação das emissões (Tabela 3). Apesar da alta

219
lotação e maior ganho de peso médio do sistema intensivo, ainda assim foi
possível mitigar as emissões de GEE por meio da taxa anual de sequestro de C
no solo das áreas de pastagens, gerando créditos de C.
Tabela 3. Balanço entre as emissões e remoções antrópicas de GEEs, considerando-se apenas os principais
processos produtivos em sistemas de produção de bovinos de corte com ou sem integração.

Fonte: Oliveira et al., 2008


a n.ha; b t/ha.ano/ c tCO2 eq/ha.ano
**EXT = pastagem extensiva; IPF = silvipastoril; ILP = integração lavoura pecuária; ILPF =
agrossilvipastoril; INT= pastagem intensiva;
& Resultados obtidos nos sistemas, considerando a área total de cada um.
† segundo Segnini, et.al, 2007 – resultados para a profundidade de 0-100 cm.
* Resultados obtidos nos sistemas por Pezzopane et al., dados não publicados.
£ usado o fator de conversão 3,67 € Resultados obtidos nos sistemas por Berndt et al., dados não
publicados e considerando-se um fator de correção de 28, oriundo do potencial de aquecimento
28 vezes maior do metano em relação ao gás carbônico (IPCC, 2013).
§ Resultados obtidos nos sistemas para pastagens por Alves, 2017 e segundo Besen, 2015 para
milho. As emissões da lavoura de milho foram consideradas somente para os sistemas integrados
com o componente lavoura, a ocupação com milho foi de 33,33% da área e 50% do tempo do ano
agrostológico, representando portanto 16,67% das emissões de GEE. Para o CH4 considerou-se
um fator de correção de 18 e para o N2O um fator de 265, oriundos do potencial de aquecimento
de 28 e 265 vezes maior do CH4 e do N2O em relação ao gás carbônico, respectivamente (IPCC,
2013).

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O uso de sistemas integrados na produção agropecuária apresenta-se
como uma alternativa sustentável que possibilita a intensificação do uso da
terra através da diversificação da produção, reduzindo assim, o desmatamento
de novas áreas.
A intensificação da ciclagem de nutrientes, bem como a melhora
dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, favorecem o aumento
da qualidade da pastagem e consequentemente o desempenho animal, o qual,

220
também é auxiliado pelo microclima criado dentro do sistema.
De maneira geral, os sistemas integrados diminuem os riscos
econômicos através da diversificação das atividades comerciais dentro da
propriedade, melhora a utilização dos recursos naturais através da sinergia
entre seus componentes e auxiliam na mitigação dos GEE, possibilitando
assim, uma vantagem comercial através da inserção de questões ambientais
nas discussões e negociações com o mercado internacional.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALMEIDA, R. G. Sistemas agrossilvipastoris: benefícios técnicos, econômicos, ambientais e sociais. In:
ENCONTRO SOBRE ZOOTECNIA DE MATO GROSSO DO SUL, 7, 2010, Campo Grande. Anais...
Campo Grande: UFMS, 2010, p. 1-10. 1 CD-ROM.

ALMEIDA, R. G. de. O planejamento e a gestão do iLPF macrovisão do sistema iLPF. Opiniões,


Ribeirão Preto, SP., v.12, n. 40, p. 37-38, 2015.

AMÉNDOLA, L.; SOLORIO, F. J.; KU-VERA, J. C.; AMÉNDOLA-MASSIOTTI, R.D.; ZARZA, H.;
GALINDO, F. Social behaviour of cattle in tropical silvopastoral and monoculture systems. Animal,
v.10, p.863-867, 2016.

AMÉZQUITA, M. C.; IBRAHIM, M. A.; BUURMAN, P. Carbon sequestration in pasture, agroforestal


and silvo-pastoral systems in american tropical forestry systems. Proc. 2nd. Intern. Congress in
Agroforestry Systems. Mérida, Mex, 2004, 64p.

ANDRADE, H. Dinámica productiva de sistemas silvopastoriles con Acacia mangium y Eucalyptus


deglupta en el trópico húmedo. Tesis (Maestría) CATIE, Turrialba, Costa Rica, 2000, 50p.

ANUALPEC 2017. Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio. p. 34, 36
e 64. 2017.

BACCARI JR., F., 1986. Métodos e técnicas de avaliação de adaptabilidade às condições tropicais.
1st International Symposium on Animal Bioclimatology in the Tropics: Small and Large Ruminants.
Proceedings. Fortaleza, pp. 9–17.

BAÊTA, F. C.; SOUZA, C. F. Ambiência em edificações rurais - conforto animal. 2ª ed. Viçosa, MG:
Ed. UFV, 2010.

BALBINO, L. C.; BARCELLOS, A. O.; STONE, L. F. Marco referencial: integração lavoura-pecuária-


floresta. Brasília: Embrapa, 2011. 130 p. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores.

BARROS, G. S. de C.; SILVA, A. F.; FACHINELLO, A. L.; CASTRO, N. R.; GILIO, L. PIB Cadeias
do Agronegócio: 40 Trimestre de 2016. Piracicaba: CEPEA/ESALQ/USP, 2016. 15 p. Disponível em:
http://www.cepea.esalq.usp.br/upload/kceditor/files/Relatorio%20PIBAGRO%20Cadeias_2016(1).pdf.
Acesso em 01 out. 2018.

BAUTISTA, T. M., LÓPEZ, O. S., Pérez, H. P., Vargas, M. M., Gallardo, L. F., Gómez, M. F. C. Sistemas
agro- y silvopastoriles en la comunidad El Limón, Municipio de Paso de Ovejas, Veracruz, México.
Tropical and Subtropical Agroecosystems, v.14, p. 63-76, 2011.

BOSI, C. et al. Avaliação microclimática em sistema silvipastoril: temperatura do ar e déficit de pressão


de vapor. In: Anais da III Jornada Científica - Embrapa São Carlos, 2011.

221
BROOM, D. E. Components of sustainable animal production and the use of silvopastoral systems. R.
Bras. Zootec, v.46, n.8, p. 683-688, 2017.

BROOM, D. E.; GALINDO, F. A.; MURGUEITIO, E. Sustainable, efficient livestock production with
high biodiversity and good welfare for animals Proc R Soc B, v.280, p.1-9, 2013.

CARVALHO, M.M.; XAVIER, D.F.; ALVIM, M.J. Uso de leguminosas arbóreas na recuperação e
sustentabilidade de pastagens cultivadas. In: CARVALHO, M. M.; ALVIM, M. J.; CARNEIRO, J. C.
(Ed.). Sistemas agroflorestais pecuários: opções de sustentabilidade para áreas tropicais e subtropicais.
Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite; Brasília: FAO, 2001. p. 189-204.

CARVALHO, P. C. F. & MORAES, A. Integration of Grasslands within Crop Systems in South America.
Grasslands Productivity and Ecosystems Services. Eds. Lemaire, G.; Hodgson, J. Chabbi, A, 2001, 219-
226 p.

CASTRO, C.; PACIULLO, D.; GOMIDE, C.; MÜLLER, M.; NASCIMENTO JÚNIOR, É.
Características Agronômicas, Massa de Forragem e Valor Nutritivo de Brachiaria decumbens em Sistema
Silvipastoril. Pesquisa Florestal Brasileira, v.60, p.19-25, 2010.

CHIQUITELLI NETO, M. et al. Effect of artificial shading on performance and reproductive parameters
of semi-confined young Brangus bulls. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science.
São Paulo, v. 52, n. 1, p. 68-77, 2015.

CRESPO, G.; RODRÍGUEZ, I.; SÁNCHEZ, R.; FRAGA, S. Influencia de Albizia lebbeck y Leucaena
leucocephala en Agroforestería para la Producción Animal, 1998. Disponle en: http://www.cipav.org.co/
redagropec/memoria 99/pCrespo.htm.

CRESPO, G. Importancia de los sistemas silvopastoriles para matener y restaurar la fertilidad del suelo
en las regiones tropicales. Rev. Cubana Cienc. Agríc, v.42, p.329-335, 2008.

DEGEN, A.A.; YOUNG, B.A. Effect of air temperature and energy intake on body mass, body
composition and energy requirements in sheep. Journal of Agricultural Science, Cambridge, v.138, n.2,
p.221-226, 2002.

EMBRAPA. ILPF em núm3r05. 2016. Sinop, MT: Embrapa, 2016. 12 p. 01 Folder. Disponível em:
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/158636/1/2016-cpamt-ilpf-em-numeros.pdf.
Acesso em 01 out. 2018.

EMBRAPA. Integração lavoura-pecuária-floresta: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasilia,


2015, 393p.

EUCLIDES FILHO, K., FIGUEIREDO, G.R., ALVES, R.G.O. Efeitos genéticos aditivos direto e
materno sobre o peso à desmama em animais mestiços europeu-zebu. Revista Brasileira de Zootecnia,
v. 28, p. 275–278, 1999.

FALEIRO, F.G.; FARIAS NETO, A.L. Savanas: desafios e estratégias para o equilíbrio entre sociedade,
agronegócio e recursos naturais. Brasilia: Embrapa Cerrados, 2008, 1198p.

FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) “Consensus” on Integrated Crop-
Livestock Systems for Sustainable Development. Plant Production and Protection Division Consultation
Documents. 2010.

FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations). World Statistical Compendium for
rawchides and skins, leather and leather footwear 1993-2012, p. 169, 2013.

222
FERRAZ, J. B. S.; FELÍCIO, P. E. Production systems: an example from Brazil. Meat Science, v.84,
p.238-243, 2010.

FRANKE I. L.; FURTADO S.C. Sistemas silvipastoris: Fundamentos y aplicabilidade. Rio Branco:
Embrapa Acre, Embrapa Acre. Documentos v.74, p. 51, 2001.

GALLARDO, J.F.; SANTA R. I.; SAN MIGUEL, C.; EGIDO, J.A. Producción de hojarasca en sistemas
de dehesas en Salamanca, España. Revista Acta/Alimento Ciência. v.71, p.209, 1990.

GATTO, A. et al. Estoque de carbono no solo e na biomassa em plantações de eucalipto. Revista


Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 34, n.5, p.1069-1079, 2010.

HOOPER H. B. et al. Heat loss efficiency and HSPs gene expression of Nellore cows in tropical climate
conditions. International Journal of Biometeorology https://doi.org/10.1007/s00484-018-1576-5, 2018.

IPCC - Intergovernamental Panel on Climate Change. Emissions from livestock and manure management.
In: Eggleston, H. S.; Buendia, L.; Miwa, K.; Ngara, T.; Tabane, K. (eds). IPCC Guideliness for nacional
greenhouse gas inventories. Hayama: IGES, 2006. p. 747-846.

IRIONDO, E.; ALVAREZ, E.; CHINEA, A.; BORROTO, D. Experiencias campesinas sobre utilización
de árboles y arbustos en huertos caseros. IV Taller Internacional Silvopastoril «Los árboles y arbustos en
la ganadería». Estación Experimental «Indio Hatuey». Matanzas, Cuba. p. 258, 1998.

JOYCE, J.P.; BLAXTER, K.L. The effect of air movement, air temperature and infrared radiation on the
energy requirements of sheep. British Journal of Nutrition, Cambridge, v.18, n.1, p.5-27, 1964.

KICHEL, A.N.; ALMEIDA, R.G.; COSTA, J.A.A. Integração lavoura-pecuária-floresta e sustenta-


bilidade na produção de soja. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 6, 2012, Cuiabá, MT. Anais...
Cuiabá, MT: Embrapa; Aprosoja, 2012. p. 1-3. 1 CD-ROM.

LEME, T.M.S.P.; PIRES, M.F.A.; VERNEQUE, R.S.V.; ALVIM, M.J.; AROEIRA, L.J.M.
Comportamento de vacas mestiças Holandês x Zebu, em pastagem de Brachiaria decumbens em sistema
silvipastoril. Ciência e Agrotecnologia. v. 29, n 3, p.668-675, 1998.

MACHECHA, L. El silvopastoreo: una alternativa de producción que disminuye el impacto ambiental de


la ganadería bovina. Rev. Col. Cienc. Pec. v.15, n2, p.226 - 230, 2002.

MACHECHA, L.; ROSALES, M.; MOLINA, C.H. Experiencias de un sistema silvopastoril de Leucaena
leucocephala, Cynodon plectostachius y Prosopis juliflora en el valle del Cauca. En: Agroforestería para
la producción animal en América Latina. Estudio FAO sobre Producción y Sanidad Animal. 143 Eds. M.
Sánchez y M. Rosales. Roma. 1999, 407p.

MADER, T.L.; DAVIS, M.S. Effect of management strategies on reducing heat stress of feedlot cattle:
Feed and water intake. Journal of Animal Science, Savoy, v.82, n.10, p.3077- 3087, 2004.

MANCERA, A. K.; GALINDO, F. Evaluation of some sustainability indicators in extensive bovine


stockbreeding systems in the state of Veracruz. VI Reunión Nacional de Innovación Forestal 31. México:
León Guanajauato, 2011.

MAPA. Projeções do agronegócio Brasil 2015/2016 a 2025/2026 – Projeções de Longo prazo. Brasília,
DF: MAPA, 2016. 138 p. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/politica-agricola/todas-
publicacoes-de-politicaagricola/projecoes-do-agronegocio/proj_agronegocio2016.pdf/view. Acesso em
01 out. 2018.

McMANUS C. et al. Heat tolerance in naturalized Brazilian cattle breeds. Livestock Science. v. 120, p.

223
256–264, 2009.

MURGUEITIO, E.; IBRAHIM, M. Ganaderıía y medio ambiente en América Latina. In: Ganaderıía del
Futuro (eds E Murgueitio, CA Cuartas, JF Naranjo), Cali, Colombia: Fundación CIPAV. p. 19–39, 2008.

MURGUEITIO, E.; CHARÁ J.; BARAHONA, R.; CUARTAS, C. A.; NARANJO, J. F. Los sistemas
silvopastoriles intensivos, herramienta da mitigación y adaptación del cambio climático. Proc IV
Congreso Internacional Sistemas Silvopastoriles Intensivos, 1–8. Morelia y Valle de Apatzingán/
Tepalcatepec. Fundación Produce Michoacán, Cofupro, Sagarpa, CIPAV, UADY. Morelia (Michoaca´n),
México, 2012.

MURGUEITIO, E.; CALLE, Z.; URIBE, F.; CALLE, A.; SOLORIO, B. Native trees and shrubs for the
productive rehabilitation of tropical cattle ranching lands. Forest Ecol. Manage. 261, pp.1654–1663,
2011.

MURGUEITIO, E.; GIRALDO, C. Sistemas silvopastoriles y control de parasitos. Revista Carta


Fedegán v.115, p. 60–63, 2009.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Effect of environment on nutrientrequirements of domestic


animals. Washington, D.C.: National Academy Press, p.168, 1981.

NODARI, R. O.; VIDAR, M. A.; GUERRA, M.P. Pastures species diversity in the South Brazil. Foro
Iberoamericano de Pastos. Alicante, España. p. 451, 2001.

OELBERMANN, M.; IBRAHIM, A. The Carbon quandary: Can Agroforestry systems sequester enough
of it?. IV Congreso Latinoamericano de Agroforestería para la producción pecuaria sostenible, Cuba.
Secc. Conferencias, p.7, 2006.

OELBERMANN, M.; VORONEY, R.P.; KASS, D.C.L.; SCHLÖNVOIGT, A. M. Soil carbon and
Nitrogen dynamics using stable isotopes in 19- and 10- year old tropical agroforestry systems. Geoderma
v.130, p.356, 2006.

Oliveira CCd, Villela SDJ, Almeida RGd, Alves FV, Behling-Neto A, Martins PGMdA. Performance of
Nellore heifers, forage mass, and structural and nutritional characteristics of Brachiaria brizantha grass
in integrated production systems. Trop Anim Health Pro, v. 46, n.1, p. 167-172, 2014.

OLIVEIRA, P. P. A. Recuperação e reforma de pastagens. In: PEDREIRA, C. G. S.; de MOURA, J. C.;


da SILVA, S. C.; FARIA, V. P. de. (Ed.). SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS, 24., 2007,
Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, p.39-73, 2007.

OLIVEIRA, T.K.; MACEDO, R.L.G.; SANTOS, Í.P.A.; HIGASHIKAWA, E.M.; VENTURIN, N.


Produtividade de Brachiaria brizantha (Hochst. ex A. Rich.) Stapf cv. Marandu sob diferentes arranjos
estruturais de sistema agrossilvipastoril com eucalipto. Ciência e Agrotecnologia, v.31, n.3, 748-757,
2007.

OLIVEIRA, P. P. A. Gases de efeito estufa em sistemas de produção animal brasileiros e a importância


do balanço de carbono para a preservação ambiental. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 08, n.
especial do IV SMUD (2015), p. 623–634, 2015.

OLIVEIRA, P. P. A.; PEZZOPANE, J. R. M.; PEDROSO, A. de F.; NICODEMO, M. L. F.; BERNDT,


A. Produção de carne carbono neutro: um novo conceito para carne sustentável produzida nos trópicos.
In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE RUMINANTES NO CERRADO, 4., Uberlândia,
MG. Anais... Uberlândia, MG: FAMEV UFU, 2018. 55-66 Uberlândia-MG, 12 e 13 de abril de 2018.

OLIVEIRA, I.P. de; KLUTHCOUSKI, J.; YOKOYAMA, L.P.; DUTRA, L.G.; PORTES, T. de A.; SILVA,

224
A.E. da; PINHEIRO, B. da S.; FERREIRA, E.; CASTRO, E. da M. Sistema Barreirão: recuperação/
renovação de pastagens degradadas em consórcios com culturas anuais. Goiânia, p.90, 1996.

O`MARA, F. P. The role of grasslands in food security and climate change. Annals of Botany, v. 110, p.
1263–1270, 2012.

OVALLE, C.; AVENDAÑO, J. Utilización silvopastoral del espinal. 2. Influencia del espino (Acacia
caven (red) Hook et Am.) sobre algunos elementos del medio. Agric. Técn. v.44, p.353, 1984.

PACIULLO, D.S.C. et al. Arranjos e modelos de sistemas silvipastoris. In: SÍMPOSIO INTERNACIONAL
“SISTEMAS AGROSILVIPASTORIS NA AMÉRICA DO SUL”, 2, 2007, Juiz de Fora. Anais... Juiz de
Fora, p.20, 2007.

PACIULLO, D.S.C.; CAMPOS, N.R.; GOMIDE, C.M.A.; CASTRO, C.D.; TAVELA, R.C.;
ROSSIELLO, R.O. Crescimento de capim-braquiária influenciado pelo grau de sombreamento e pela
estação do ano. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, n.7:917-923, 2008.

PACIULLO, D.S.C.; LOPES, F.C.F.; MALAQUIAS JUNIOR, J.D.; VIANA FILHO, A.; RODRIGUEZ,
N.M.; MORENZ, M.J.F.; AROEIRA, L.J.M. Característica do pasto e desempenho de novilhas em
sistema silvipastoril e pastagem de braquiária em monocultivo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.44,
n.11, p.1528-1535, 2009.

PEDREIRA, B. C. et al. Sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta. In: PEDREIRA, B. C. et al.


(Org.). Intensificação da produção animal em pastagens: Simpósio de Pecuária Integrada, 1, 2014, Sinop.
Anais.... Sinop. EMBRAPA, v. 1, p. 217-238, 2014.

PEREIRA, A. M. F. Termodinâmica e termorregulação animal. Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e


Engenharia de Alimentos, 2013, 53 p. (Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos. Disciplina
de Termodinâmica e termorregulação animal).

PÉREZ, H. P., DÍAZ, R. P. Ganadería bovina de doble propósito: Problemática y perspectivas hacia
un desarrollo sustentable. In: González-Stagnaro, C., Madrid, B.N., Soto-Belloso, E. (Eds.). Desarrollo
Sostenible de la ganadería doble propósito. Fundación GIRARZ. Ediciones Astro Data S.A. Maracaibo,
Venezuela, p. 58-69, 2008.

PEZZOPANE, J. R. M.; BERNARDI, A. C. C.; CRISTIAM, B.; OLIVEIRA, P. P. A.; MARCONATO,


M. H.; PEDROSO, A. F.; ESTEVES, S. N. Forage productivity and nutritive value during pasture
renovation in integrated systems. Agroforest Syst. 2017.

PORFÍRIO-DA-SILVA, V. et al. Arborização de pastagens com espécies florestais madeireiras:


implantação e manejo. Colombo: Embrapa Florestas, 2009. 48 p.

RADOMSKI, M.I.; RIBASKI, J. Fertilidade do solo e produtividade da pastagem em sistema silvipastoril


com Grevillea robusta. Pesquisa florestal brasileira, v.32, n.69, p.53-61, 2012.

RAZZ, R.; CLAVERO, T. Cambios en las características químicas de suelos en un banco de Leucaena
leucocephala y en un monocultivo de Brachiaria brizantha. Rev. Fac. Agron. (LUZ). v.231, p.326, 2006.

REIS, H.A. et al. Agrossilvicultura no Cerrado, região noroeste do estado de Minas Gerais.
In: FERNANDES, E.N. et al. (Ed.). Sistemas Agrossilvipastoris na América do Sul: desafios e
potencialidades. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, cap.s, p.137-154, 2007.

SÁNCHEZ, M.; ROSALES, M.; MURGUEITIO, E. Agroforestería pecuaria en América Latina. En:
Agroforestería para laproducción animal en América Latina. Eds. D.M Sánchez y M. Rosales. FAO.
Roma. p.10, 2003.

225
SANTOS, D.C. Características do capim piatã e desempenho de bovinos em sistemas silvipastoris no
cerrado brasileiro. TESE DOUTORADO. Escola de Veterinaria e Zootecnia da Universu=idade Federal
de Goias, p.102., 2016.

SILVA, R. G. Estimativas do balanço térmico por radiação em vacas holandesas expostas ao sol e à
sombra em ambiente tropical. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.6, p.1403-1411, 1999.

SILVA, R. G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: Nobel, 2000, 286 p.

SILVA, V. P. Produtividade em sistema de integração lavoura-pecuária-floresta no subtrópico brasileiro.


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, p. 110, 2012.

SILVEIRA, S. R.; RIBEIRO, R. S.; SILVA, P. L. P.; SANTOS, N. A.; TEIXEIRA, N. C.; PACIULLO,
D. S.; ZAPATA-CADAVID, A.; MAURICIO, R. M. Valor nutritivo de Panicum maximum, cultivares
Tanzania y Massai, de acuerdo a niveles de sombra y de fertilización nitrogenada. In Proc. 2nd Congreso
Nacional de Sistemas Silvopastoriles (eds J Arroquy, R Ledesma, B Rolda´n, A Gómez). Santiago del
Estero, Argentina: INTA, Min Agric, p. 289–293, 2012.

TITTO, E.A.L. Clima: Influência na produção de leite. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AMBIÊNCIA
NA PRODUÇÃO DE LEITE, 1998, Piracicaba. Anais... Piracicaba: Fundação de Estudos Agrários Luiz
de Queiroz, p.10-23, 1998.

UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE NATIONAL AGRICULTURAL STATISTICS


SERVICE (USDA). 2017 Livestock Reporter. Disponível em: https://www.nass.usda.gov/Statistics_by_
Subject/index.php?sector=ANIMALS%20&%20PRODUCTS Acesso em: 01 out. 2018.

VINHOLIS, M. M. B. et al. Estudo da viabilidade econômica de sistemas de produção agrossilvipastoris


em São Carlos, SP. Circular técnica, São Carlos, n. 112, p. 1-33, 2013.

YOUNG, B.A. et al. Physiological adaptation to the environment. Journal of Animal Science, Savoy,
v.67, n.9, p.2426-2432, 1989.

226
CAPÍTULO XII

SELEÇÃO GENÔMICA APLICADA A PEQUENAS POPULAÇÕES


DE GADO DE LEITE

Bruno da Costa Perez1, Julio Cesar de Carvalho Balieiro2, Lucas Tassoni


Andrietta1, Fernando de Oliveira Bussiman1, Rafael Guimarães Vizoná2,
Lígia Garcia Mesquita2, Ricardo Vieira Ventura2

1
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo,
FZEA/USP, Pirassununga, São Paulo, Brasil
2
Faculdade de Medicina Veterinaria e Zootecnia, Universidade de São Paulo, FMVZ/
USP, Pirassununga, São Paulo, Brasil

rESUMO
Os programas de seleção em gado de leite tem hoje, como foco principal,
aumentar a eficiência e a taxa de ganho genético anual por meio da
implementação da seleção genômica. Os altos custos da genotipagem e a
limitada disponibilidade de fenótipos representam desafios a viabilidade de
tal método de seleção. O estabelecimento de uma população de referência
grande o suficiente para seleção genômica é problemático para raças bovinas
numericamente reduzidas. Uma solução à este obstáculo é o uso de populações
de referência combinadas constituindo de diferentes raças ou animais da
mesma raça oriundos de diferentes países. Resultados demonstram que o nível
de relacionamento entre as populações que são combinadas é um fator mais
relevantes para o sucesso da seleção genômica por meio de compartilhamento
de informações genômicas. A concatenação de populações intimamente
relacionadas facilita a estimativa precisa dos efeitos dos marcadores
moleculares e, portanto, resulta em maior precisão da predição genômica. O
uso de informações genotípica e fenotípica de fêmeas para ampliar o tamanho
da população de referência é uma estratégia comum na seleção genômica. A
inclusão de fêmeas é aconselhável para populações pequenas e características
de difícil mensuração. Considerar a estrutura completa da população para o
desenvolvimento de estratégias de genotipagem seletiva de vacas se mostrou
como ferramenta valiosa para incrementar a acurácia e reduzir o viés em
avaliações genômicas. Obter métodos que otimizem o valor da fenotipagem e
da genotipagem de vacas afim de implementar esquemas de a seleção genômica
em populações de tamanho reduzidos será crucial para guiar o ganho genético
em populações de tamanho reduzido a longo prazo.

227
1. INTRODUÇÃO
A inclusão da informação de marcadores moleculares em programas
de seleção genética para populações de animais dométicos foi vislumbrada
há algumas décadas (Smith, 1967; Soller, 1978). A recente disponibilidade
de paineis comerciais contendo informações referentes a marcadores de
polimorfismo de base única (SNP) ofereceu novas oportunidades viabilizar
este processo, atualmente conhecido como “seleção genômica”. O conceito
básico que permea esta nova abordagem considera a inclusão de grande
número de marcadores SNP para detecção de regiões no genoma responsáveis
por variações favoráveis às características de interesse econômico em animais
domésticos. A diminuição progressiva de preços dos paineis disponíveis para
uso commercial permitiu a genotipagem de milhares de animais, garantindo
maior confiança nas estimativas de valor genético dos animais por meio da
inclusão de informação de marcadors moleculares nos modelos de análise
(Bouquet & Juga, 2013).
A introdução da seleção genômica tornou possível a obtenção de
estimativas de valor genético com acurácia superior para animais jovens
e mudou consideravelmente o processo de tomada de decisão em rebanhos
leiteiros (Schöpke & Swalve, 2016). O aumento da confiança no mérito
genético estimado de forma precoce na vida do animal garante a diminuição
do interval de gerações quando comparado com esquemas tradicionais de
teste de progênie (Schaeffer, 2006), ocasinando em um aumento substancial
no ganho genético por geração (Garcia-Ruiz et al., 2016). O estabelecimento
de programas de seleção genômica demanda não apenas considerável
investimento inicial, mas também o investimento contínuo em genotipagem,
coleta e armazenamento de dados, elaboração dos processos de estimação de
valor genético e, por consequência, seleção dos indivíduos superiores. Mesmo
com altos custos para sua implementação, programas de seleção genômica tem
potencial para, a longo prazo, reduzir os custos gerais com a manutenção de
touros até idades avançadas (frequentemente até 6 ou 9 anos de idade) comum
aos programas de teste de progênie tradicionalmente implementados em todo
o mundo (Schaeffer, 2006).
Em geral, o uso de informação genômica para tomada de decisão
causou um amento na eficiência dos programas de seleção em gado de leite
(Schaeffer, 2006; Konig et al., 2009; Bouquet & Juga, 2016). O progresso
genético obtido por meio de Testes de Progênie, com o uso de inseminação
artificial, permitiu a ampla disseminação de material genético de touros de alto
mérito genético (Robertson & Rendel, 1950). No entanto, testes de progênie
são responsáveis pelo alongamento do interval de geração, por altos custos
relacionados a manutenção dos touros em teste e das vacas que compõe

228
os grupos contemporâneos. Além disso, o número de touros inclusos em
programas de teste de progênie é, por vezes, bastante limitado por motivos
estruturais ou econômicos. No caso específico de populações de tamanho
reduzido, a restrição ao número de touros em teste muitas vezes se dá pelo
parentesco elevado entre os candidatos devido ao pequeno tamanho efetivo
da população ou pelo número insuficiente de touros produzidos e disponíveis
para avaliaçao por geração (Calus, 2016; Plieschke et al., 2017). Uma vez
que a implementação da seleção genômica reduz de forma definitiva os
entraves apresentados nos testes de progênie (Schaeffer, 2006), sua adoção
como ferramenta padrão para seleção genética aplicada ao gado de leite foi
reforçada (Hayes et al., 2009), principalmente em bovinos da raça Holandesa.

2. PRINCIPAIS ASPECTOS RELACIONADOS A POPULAÇÕES


DE TAMANHO REDUZIDO
A implementação de um programa de seleção genômica em
populações pequenas é desafiador em diversos aspectos. Inicialmente, o
custo de implementação pode se tornar desproporcionalmente alto, uma vez
que o valor de informação obtido através da genotipagem por animal torna-
se reduzida (Bouquet & Juga, 2016). O sucesso da seleção genômica está
intimamente relacionado ao tamanho do conjunto de indivíduos genotipados
(população de referência), onde os efeitos dos marcadores são estimados para
obtenção da equação de predição que, posteriormente, será utilizada para
estimação dos valores genômicos dos animais jovens (Jimenez-Montero et al.,
2012; Ding et al., 2015; Andonov et al., 2016; Calus, 2016). Portanto, torna-se
claro que o número limitado de indivíduos com registros fenotípicos e com
material genético disponível para genotipagem em populações de tamanho
reduzido consiste em um obstáculo à implementação de um amplo programa
que considere informação genotípica.
Mesmo com os obstáculos destacados anteriormente, resultados
da implementação de seleção genômica em populações pequenas é superior
obtidos através de esquemas tradicionais de seleção genética utilizados
no passado (Kariuki et al., 2014; Thomasen et al., 2014), tanto em ganhos
genéticos por geração, quanto economia de recursos e estrutura física requerida.
A superioridade observada é logicamente inferior à reportada para populações
com maior número de indivíduos, sendo a principal limitação para tal a alta
frequência (comparativamente) de animais com estimativas de valor genético
pouco acuradas (Jimenez-Montero et al., 2012; Ding et al., 2015; Plieschke et
al., 2016, Uemoto et al., 2017).
A quantitade limitada de informação disponível consiste no maior
obstáculo para seleção, seja baseada em informação de pedigree ou marcadores
moleculares, em populações com número reduzido de animais. Diferentes

229
motivos podem acarretar situações onde a disponibilidade de informação de
forma ampla é limitada. Primeiramente, existem populações bovinas que, de
fato, são numericamente pequenas, como por exemplo, raças com importância
exclusivamente regional (Kariuki et al., 2014), ou em países com populações
reduzidas de raças originalmente numerosas, devido a restrições territoriais
(Uemoto et al., 2017). Restrições no número de observações e qualidade da
informação podem também ser um obstáculo quando se pretende praticar
seleção para características de dificil mensuração, ou cujo registro fenotipo
por animal tem altos custos econômicos, estruturais ou logísticos, como por
exemplo, perfis hormonais, mensuração de metano ou resposta imune de vacas
leiteiras. Características nas quais o fenótipo dos animais só pode ser acessado
em idades avançadas, como os relacionados à vida útil produtiva, também
sofrem com a ausência de quantitade de informação suficiente para obtenção de
resultados adequados a tomada de decisão com confiabilidade suficiente. Além
disso, características limitadas ao sexo, como produção de leite e fertilidade
de fêmeas podem ser problematicas para implementação de uma fenotipagem
ampla e numerosa. As situações descritas acima são todas exemplos de limitação
da quantitade e qualidade da informação, seja genotipica ou fenotipica.

3. DESEQUILÍBRIO DE LIGAÇÃO E RELACIONAMENTO DOS


ANIMAIS
A seleção genômica é baseada no fato de que marcadores moleculares
estão em desequilibrio de ligação com variantes causais no genoma. O
desequilibrio de ligação pode ser induzido por seleção, a combinação de
determinados alelos é favorecida em detrimento de outros. Sob processo de
seleção, os acasalamentos entre indivíduos é direcionada, com o objetivo de
aumentar a frequencia dos alelos favoráveis (Falconer & Mackay, 1996). Em
populações de tamanho reduzido, o desequilíbrio de ligação pode também
ocorrer devido ao acaso, uma vez que a deriva genética oriunda de um baixo
tamanho efetivo da população é capaz de influenciar frequências alélicas de
marcadores vizinhos (Falconer & Mackay, 1996). A redução na variabilidade
pode ocasionar em aumento do desiquilíbrio de ligação, o que torna-se
relevante quando lidamos com populações pequenas, onde poucos indivíduos
são responsáveis por grande parte da variação genética existente.
Em geral, indivíduos geneticamente relacionados tem uma maior
probabilidade de compartilhar alelos ou haplótipos de um ancestral comun
do que indivíduos não relacionados. Consequentemente, o padrão de
desequilibrio de ligação da população depende do desenvolvimento histórico
da mesma, especialmente na definição do número efetivo de indivíduos que
a compõe (Schöpke & Swalve, 2016). O tamanho efetivo da população Bos
taurus diminuiu de mais de 50.000 para números entre 1.000 e 2.000 durante

230
o processo de domesticação. Com a formação das diferentes raças atualmente
conhecidas, a intensidade de seleção e a consanguinidade praticadas ocasionou
na redução do número efetivo para algo em torno de 100 (Roos et al., 2008).
Consequentemente, existem segmentos cromossômicos de tamanho maior que
são identicos por descendência, ocasionando em desequilíbrio de ligação de
longo suficiente entre raças (Goddard & Hayes, 2009).
Em populações onde o relacionamento entre os animais é alto,
o desiquilíbrio de ligação oriundo dessa conexão entre indivíduos ajuda na
obtenção de estimativas de valor genético mais confiáveis através do uso de
informação genômica (Schöpke & Swalve, 2016). Com a redução do nível
de relacionamento entre os animais, o valor da informação genotípica para
estimação de mérito genético com confiabilidade suficiente para tomada
de decisão adequada torna-se reduzido (De Los Campos et al., 2013).
Consequentemente, o relacionamento entre os indivíduos que compõe as
populações de referência e validação, assim como o tamanho efetivo da
população da qual os indivíduos que formam a população de referência, tem
grande influência sobre a acurácia da seleção genômica (Jimenez-Montero et
al., 2012; Wjentjes et al., 2013; Wu et al., 2015).
Em pequenas populações, há certa interação entre o tamanho da
população de referência e a proporção do efeito de desiquilíbrio de ligação,
com relacionamentos interfamiliares exibindo influência na acurácia
da seleção genômica (Clark et al., 2012). Quanto menor o tamanho da
população de referência, maior o efeito de família comparado ao efeito de
desiquilíbrio de ligação (Bouquet & Juga, 2013). Alguns autores reportaram
que a acurácia de seleção genômica está intimamente relacionada ao nível
de conexão existente entre animais da população de referência com animais
da população de validação (Habier et al., 2010; Pzsczola et al., 2012). No
entanto, populações de referência de tamanho elevado terão um efeito de
família reduzido e as similaridades observadas em frequencia alélica e
padrões de desequilibrio de ligação tornam-se mais importantes (Schöpke &
Swalve, 2016). Consequentemente, há uma maior demanda do uso efetivo
de genotipagem seletiva com intuito de formar populações de referência
menos conectadas entre si, abrangindo o máximo de variação presente na
população e aumentando o grau de conexão com a população de validação.

4. POPULAÇÕES DE REFERÊNCIA CONJUNTAS OU MULTI-


RACIAIS
A coperação entre entre institutos de pesquisa, ou entre diferentes
programas de melhoramento possibilitou, em certo grau, a montagem de
populações de referência conjuntas pelo mundo (Bouquet & Juga, 2013).
Diversos projetos colaborativos de compartilhamento de informações

231
genotipicas e fenotípicas foram estabelecidos entre países europeus (Lund
et al., 2010) e de forma intercontinental (VanRaden et al., 2012). Estas
colaborações se beneficiaram do relacionamento elevado entre animais
presentes nas populações de referência de diferentes países, principalmente
na raça Holandes (Lund et al., 2011). Resultados obtidos com tais populações
de referência conjuntas superaram as acurácias obtidas em relação à seleção
genômica com base em apenas uma das populações de referência (Lund et
al., 2011). Existe um esforço em se estudar as consequencias de combinar
populações de diferentes países e até mesmo diferentes raças em populações
de referência conjuntas (Lund et al., 2014). Em termos de acurácia da predição
genômica, os resultados obtidos são variados. Aumentos de acurácia de até
32% foram reportados (Zhou et al., 2013), porém, diminuição da acurácia
também foi observada (Erbe et al., 2012) com a utilização de populações de
referência conjuntas.
A possibilidade de unificar populações da mesma raça oriundas de
diferentes países é extrema relevância. VanRaden et al. (2012) observaram um
aumento de 2% na acurácia de seleção para produção de leite quando da inclusão
de infomação (genotipica e fenotípica) de touros oriundos do Canadá, Itália e
Reino Unido, na raça Holandesa. Resultados ainda superiores (aumentos de 1
a 5%) foram obtidos para a raça Pardo Suíço quando incluidas informações de
animais da Austria, Alemanha e Suiça na população de referência de animais
dos Estados Unidos (Vanraden et al., 2012). Para a raça Jersey, a inclusão
de touros da Dinamarca para formação de população de referência conjunta
com touros dos Estados Unidos ocasionou um aumento de 2% em acurácia de
seleção (Wiggans et al., 2015).
No geral, a decisão de combinar populações de referência de diferentes
raças ou países em uma única população de referência conjunta depende fortemente
do grau de relacionamento entre as mesmas. Este processo tem se mostrado
pouco efetivo para populações numerosas, porém, uma ferramenta valiosa para
tornar mais competitivas populações pequenas de gado de leite, incrementando
considereavelmente a acurácia de seleção obtida quando comparada com o uso
de populações de referência contendo genótipos de apenas uma população.

5. INCLUSÃO DE INFORMAÇÃO FENOTIPICA E GENOTIPICA DE


FÊMEAS NA POPULAÇÃO DE REFERÊNCIA
Frequentemente, os animais de eleição para serem incluidos na
população de referência são touros, os quais possuem provas genéticas de alta
confiabilidade, cuja avaliação está baseada em um grande número de filhas.
Em pequenas populações, o número de informações fenotípicas oriundas das
filhas de touros é reduzido (Mchugh et al., 2011; Jimenez-Montero et al., 2012;
Plieshcke et al., 2017) ocasionando em frequência maior de animais com acurácia

232
do mérito genético insuficiente. Desta forma, a inclusão de fêmeas na população
de referência tem sido utilizada como ferramenta para sobrepor obstáculos
impostos sobre populações bovinas com aptidão leiteira de tamanho reduzido.
É importante destacar, no entanto, que mesmo em raças com grandes números
de indivíduos, a redução e, em alguns casos, a eliminação dos testes de progênie
serão responsáveis pela diminuição do número de touros com progênie avaliada,
ocasionando em problemas para a estruturação de populações de referência
robustas contendo apenas machos. Portanto, a inclusão de informação oriunda
de fêmeas na população de referência é de extremo interesse (Mchugh et al.,
2011; Thomasen et al., 2014; Ding et al., 2015; Uemoto et al., 2017).
Um exemplo de ampla incorporação de informação fenotípica e
genotípica oriunda de fêmeas na população de referência foi praticada pela
Australia. Neste projeto, genótipos de 10.000 vacas da raça Holandesa foram
inclusos na população de referência composta exclusivamente por machos
(Schopke & Swalve, 2016). Como resultado, foram obtidos ganhos em acurácia
de até 8% para indivíduos jovens ou sem informação fenotipica, como machos
em idade precoce. Da mesma forma, atualmente, a população de referência
da raça Holandesa nos Estados Unidos contém uma grande proporção de
informação genotipica e fenotipica de fêmeas (Vanraden et al., 2012).
O número de individuos ou a disponibilidade de informação de alta
conexibilidade não são os únicos obstáculos impostos para implementação de
seleção genômica em populações de bovinos leiteiros de tamanho reduzido.
Alguns problemas surgem quando a característica a qual se pretende execer
seleção é de dificil mensuração, expressada apenas em um dos sexos ou para
a qual não há fenotipagem regular estabelecida. Diversos estudos sobre o uso
de vacas ganotipadas foram estabelecidos para investigar a possibilidade de
seleção para características relacionadas a eficiência alimentar (Pryce et al.,
2012), fertilidade de vacas (Berry et al., 2012) e relacionadas a saúde (Egger
et al., 2014).
Em estudo sobre os impactos da fenotipagem sobre a acurácia da
seleção genômica, Buch et al. (2012) reportaram que, em situações onde o
numero de informações fenotipicas disponíveis é escasso, o impacto de
incluir fêmeas na população de referência torna-se maior. Dessa forma,
resultados indicam que este processo é capaz de acelerar a disponibilidade
de mérito genético de confiabilidade adequada até mesmo para características
recentemente incluidas como critério de seleção e para as quais não se possui
um grande número de observações (Calus et al., 2012). Egger-Danner et al.
(2014), sugeriram que em situações de limitação de recursos, como o caso em
populações pequenas, a genotipagem de fêmeas pode ser mais viavel do que
de machos. Jimenez-Montero et al. (2012), por meio de simulação, também
sugeriram que populações de referência compostas apenas por fêmeas podem

233
resultar em acurácias de seleção superiores à quando utilizados apenas machos
com alta confiabilidade em seu valor genético em populações de tamanho
reduzido, devido ao número insuficiente dos mesmos.
O ganho genético possivel de ser atingido quando se utiliza
populações de referência compostas por vacas, bem como, o número de vacas
a serem incluidas para se obter confiabilidade suficiente, está na dependência
da herdabiliade da característica (Calus et al., 2012; Jimenez-Montero et al.,
2012), da sua relação com o índice de seleção proposto (Calus et al., 2012) e
o valor economico da característica (Buch et al., 2012). Estudos considerando
dados reais (Dassoneville et al., 2014; Lourenço et al., 2014, Thomasen et al.,
2014; Ding et al., 2015; Uemoto et al., 2017) e simulados (Jimenez-Montero
et al., 2012; Plieschke et al., 2016) observaram benefícios da inclusão de vacas
na população de referência por meio do incremento de acurácia na seleção
genômica. O nível de ganho em acurácia foi associado à proporção de vacas e
touros inclusos na populaçào de referência (Dehnavi et al., 2018). Calus et al.
(2013) reportaram um aumento de 4% a 9% quando utilizaram uma população
de referência contendo genótipos de 1.609 vacas, em detrimento de 296 touros,
além de aumentos, entre 1% e 5%, quando combinado estas populações em
uma única. Lourenço et al. (2014) observaram um efeito positivo, porém
reduzido, de 1% a 2% em acurácia ao incluírem genotipos de 343 vacas de
elite em uma população de referência contendo 1.305 touros.
A inclusão de vacas oriundas de rebanhos elite é um fator crítico
quando é necessário decidir qual conjunto de vacas devem ser genotipadas
para, posteriormente, serem incluídas na população de referência. Em geral,
autores tem reportado que, quando o valor da genotipagem se torna alto, o foco
do criador passa a ser a genotipagem de vacas de elite ou de valor genético
superior em rebanhos comerciais (Pryce & Daetwyller, 2011; Dassoneville et
al., 2012; Bouquet & Juga et al., 2013). No entanto, a presença de tratamento
preferêncial, que consiste no aumento da performance do animal por meio de
métodos de manejo e alimentação, principalmente aplicado a vacas mães de
touros, pode resultar em predição viesada do valor genético (Dassoneville et al.,
2012; Dehnavi et al., 2018). Resultados tem apontado para a ausência de efeitos
negativos sobre a acurácia de seleção a partir da inclusão de vacas de rebanho
elite ou tratadas preferêncialmente (Lourenço et al., 2014). Jimenez-Montero
et al. (2012) sugeriram, através de simulação, que estratégias de genotipagem
considerando vacas com performance extrema (maiores e menores valores
na populaçào) resultam nos melhores resultados em acurácia de seleção em
populaçòes de referência contendo números reduzidos de animais (entre 1.000
e 5.000).
Como descrito por Pszczola et al. (2012), minimizar o relacionamento
entre animais inseridos na população de referência, enquanto se maximiza o

234
relacionamento entre a população de referência e a população de validação,
consiste na estratégia mais valiosa para se obter resultados significativos de
acurácia de seleção via abordagem genômica. Uma vez que a confiabilidade
do valor genético obtido através de modelos genômicos diminui conforme a
distância genética entre individuos da população de referência e validação se
deteriora (Habier et al., 2010; Clark et al., 2012), a longo prazo, a população de
referência precisa ser atualizada com genótipos de indivíduos das gerações mais
recentes. Dessa forma, a conexão entre a população utilizada para se obter as
equações de predição genômica e os indivíduos candidatos à seleção (animais
jovens) se mantem em nível equilibrado, evitando queda da confiabilidade das
estimativas (Pryce et al., 2014; Ventura et al., 2016).
Pouco esforço de pesquisa tem sido direcionado para investigar o
impacto da estrutura da população e sua relação com os animais incluídos na
população de referência sobre os resultados obtidos na seleção genômica. Em
estudo preliminar, Perez et al. (2018), utilizando elementos da teoria de grafos,
investigaram a inclusão de vacas por estratégias de genotipagem seletiva
considerando como base a estrutura da população de validação para a obtenção
das vacas a serem genotipadas. Os resultados apontaram para acréscimos de
1% a 3% na acurácia de seleção quando as vacas são genotipadas de forma
proporcional à frequencia de indivíduos dentro de cada família detectada na
população completa, em detrimento de não considerer essa configuração.
O padrão de resultados, observando superioridade das estratégas de
genotipagem de vacas que leva em consideração a estrutura da população
completa em detrimento de métodos tradicionais foram confirmados por
meio de estudo posterior, também via simulação. Para tal estudo, foi simulada
uma população mimetizando estrutura, aspectos genéticos e genômicos de
populações bovinas com aptidão leiteira. Uma característica de herdabilidade
0,15 limitada ao sexo também foi simulada como alvo de seleção. O
principal objetivo do estudo em questão foi investigar o efeito de diferentes
estratégias de genotipagem de vacas para inclusão de animais em população
de referência, previamente constituida apenas por touros, sobre a acurácia de
seleção genômica. Os resultados apresentados na Tabela 1 mostram valores
de acurácia de seleção genômica, medido através da correlação produto-
momento de Pearson entre os valores genéticos estimados e verdadeiros para
os animais candidatos a seleção (inclusos na população de validação), por
meio de diferentes métodos de genotipagem seletiva de vacas, considerando
ou desconsiderando a estrutura da população completa nas mesmas.
Os resultados obtidos apontaram para um ganho em acurácia de seleção
de até 2% quando as vacas incluídas na população de referência previamente
composta por touros foram selecionadas por extremos de valor genético e
amostradas dentro de grupos distintos proporcinalmente à frequencia destes

235
grupos na população total considerada. Este método foi inclusive superior
à genotipagem aleatória de vacas. Estes valores corroboram com a idéia de
que, considerar grupos distintos dentro da população, é uma valiosa estratégia
para populações pequenas. Estudos relacionados ao melhoramento de plantas
obtiveram resultados semelhantes ao investigarem o uso de elementos da
teoria de grafo para obtenção de um conjunto de indivíduos que maximize o
valor da informação genotipica para o sucesso da seleção genômica (Rincent
et al., 2017).
Tabela 1. Média (e respectivos desvios padrão) das correlações lineares entre os valores genéticos
preditos e verdadeiros para os indivíduos contidos na população de validação, obtidas através dos métodos de
genotipagem seletiva de vacas estudadas.

1 Média e desvio padrão obtidos através de cinco replicas do processo de simulação,


2 1000/2000/5000 representam o número de vacas incluidas na população de
referência constituida de 764 touros. O tamanho total das populações de referência são, 1.764,
2.764 e 5.764 respectivamente.
RND = aleatoriamente; TdEBV = vacas superiores em valor genético; EXdEBV =
vacas extremas (alto e baixo) para Valor Genético Predito; TdEBVACC = vacas superiores em
acurácia do valor genético; TdEBVC_M = vacas superiores em valor genético amostradas dentro
de grupos distintos; EXdEBVC_M = vacas extremas (alto e baixo) em valor genético amostradas
dentro de grupos distintos; TdEBVACC_M = vacas superiores em acurácia do valor genético
amostradas dentro de grupos distintos.

Impactos da genotipagem seletiva de fêmeas considerando estrutura


populacional sobre o viés e erro de predição na seleção genômica foram
investigados. Os resultados são apresentados na Tabela 2. Os resultados
observados mostram valores em concordância com os resultados obtidos para
acurácia de seleção apresentados na Tabela 1. Os métodos que consideram
a estrutura populacional (TdEBVC_M, EXdEBVC_M e TdEBVACC_M)
exibem resultados superiores que suas versões tradicionais (TdEBV, EXdEBV e
TdEBVACC) quanto ao viés (b) e ao Erro Quadrático Médio de predição (MSE).
Os menores valores para o MSE foram obtidos para o método EXdEBVC_M,
em detrimento de maiores valores de viés observados para o mesmo método.
Novamente, observa-se que a utilização da estrutura populacional como

236
ferramenta para amostragem de vacas de grupos geneticamente distintos na
população visando posterior inclusão na população de referência, pode trazer
benefícios aos resultados da seleção genômica em populações bovinas com
aptidão leiteira de tamanho reduzido.
Tabela 2. Média1 (e respectivo desvio padrão) para o Erro Quadrático Médio (MSE), coeficiente
de regressão (b) e coeficiente de determinação (R2) para a regressão entre os valores genéticos preditos e
verdadeiros dos individuos na população de validação obtidas através dos métodos de genotipagem seletiva
de vacas estudados.

1 Média e desvio padrão obtidos através de cinco replicas do processo de simulação,


2 1000/2000/5000 representam o número de vacas incluidas na população de
referência constituida de 764 touros. O tamanho total das populações de referência são, 1.764,
2.764 e 5.764 respectivamente.
RND = aleatoriamente; TdEBV = vacas superiores em valor genético; EXdEBV =
vacas extremas (alto e baixo) para Valor Genético Predito; TdEBVACC = vacas superiores em
acurácia do valor genético;

Em geral, vacas são menos informativas do que touros devido a baixa


confiabilidade de seu valor genético, quando utilizados como pseudo-fenótipos
em avaliações genômicas. Dependendo da herdabilidade da característica,
de três a dez vacas são necessárias para suprir a informação fornecida por
um touro genotipado (Boichard et al., 2015). Do ponto de vista econômico,
populações de referência compostas por vacas são preferidas quando a
herdabilidade da característica, assim como os custos de fenotipagem, são altos
(Gonzalez-Recio et al., 2014). Em outros casos, uma população de referência
contendo elevado número de touros genotipados oriundos de pequenos grupos

237
de progênie apresentam melhores resultados (Gonzalez-Recio et al., 2014).
No entanto, populações medias ou pequenas sofrem com o limitado numero
de machos discponíveis e, portanto, uma população de referência contendo
exclusivamente touros de alta acurácia pode ser inviável.
Atualmente, especialmente considerando a população da raça
Holandesa, há uma forte tendência em busca de genotipagem massiva de
vacas por parte de criadores e organizações que controlam registros da
raça. No entanto, é necessário se certificar que as vacas escolhidas para
genotipagem não incluam observações fenotípicas viesadas na avaliação
(Dassoneville et al., 2012; Schöpke & Swalve, 2016). Por sua vez, criadores
ou consórcios de raças de tamanho reduzido muitas vezes não possuem
recursos financeiros suficientes para viabilizar uma genotipagem ampla, ou
possivel de ser aplicada de forma aleatória e massiva na população. A inclusão
de fêmeas na populaçào de referência pode ser uma escolha estratégica,
especialmente em populações pequenas de bovinos com aptidão leiteira ou
quando a característica que se pretende selecionar é de dificil mensuração.
No entanto, estratégias alternativas considerando a inclusão de vacas que
otimizem o valor de genotipagem e fenotipagem necessitam ser elaboradas
(Mchugh et al., 2011; Jimenez-Montero et al., 2012; Plieschke et al., 2016).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na era da genômica, o problema distinto de informação limitada para
compor a população de referência e soluções para se minimizar tal obstáculo devem
ser investigadas quando se pretende implementar tal método em populações de
tamanho reduzido. A utilização de populações de referência combinadas se
mostrou como solução viável em alguns casos, no entanto, para populações
de importância regional, como é o caso de populações zebuínas no Brasil. É
importante, em tais situações, levar em conta a consistência do desequilibrio
de ligação presente quando informações de diferentes raças ou populações da
mesma raça são combinadas em uma única população de referência. No escopo
de populações pequenas, o nível de relacionamento dentro de famílias tem
importancia destacada. Estratégias de genotipagem que levem em consideração
a estrutura populacional como um todo podem ser utilizadas como forma de
captar a diversidade genética presente na população. A obtenção do conjunto
de vacas capaz de maximizar o valor, tanto da informação fenotípica, quanto
genotípica deve ser o foco quando se pretende implementar um programa de
seleção genômica em populações de tamanho reduzido com aptidão leiteira.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANDONOV, S.; LOURENCO, D. A. L.; FRAGOMENI, B. O.; MASUDA, Y.; POCRINIC, I.;
TSURUTA, S., & MISZTAL, I. Accuracy of breeding values in small genotyped populations using

238
different sources of external information – A simulation study. Journal of Dairy Science, 100:1-7, 2017.

BERRY, D.P.; BASTIAANSEN, J.W.M.; VEERKAMP, R.F.; WIJGA, S, WALL, E.; BERGLUND, B
AND CALUS, M.P.L. Genome-wide associations for fertility traits in Holstein–Friesian dairy cows
using data from experimental research herds in four European countries. Animal 6, 1206–1215, 2012.

BOICHARD, D.; DUCROCQ, V AND FRITZ, S. Sustainable dairy cattle selection in the genomic era.
Journal of Animal Breeding and Genetics 132, 135–143, 2015.

BOUQUET, A., & JUGA, J. Integrating genomic selection into dairy cattle breeding programs: a review.
Animal, 7:5, 705-713, 2013.

BUCH, L.H.; KARGO, M.; BERG, P.; LASSEN, J AND SØRENSEN, A.C. The value of cows
in reference populations for genomic selection of new functional traits. Animal 6, 880–886, 2012.

CALUS, M.P.L.; DE HAAS, Y AND VEERKAMP, R.F. Combining cow and bull reference populations
to increase accuracy of genomic prediction and genome-wide association studies. Journal of Dairy
Science 96, 6703–6715, 2013.

CALUS, M.P.L.; DE HAAS, Y.; PSZCZOLA, M AND VEERKAMP, RF. Predicted accuracy of and
response to genomic selection for new traits in dairy cattle. Animal 7, 183–191, 2012.

CLARK, SA, HICKEY, JM, DAETWYLER, HD AND VAN DER WERF, HJH. The importance of
information on relatives for the prediction of genomic breeding values and the implications for the
makeup of reference data sets in livestock breeding schemes. Genetics Selection Evolution 44, 4–13,
2012.

DASSONNEVILLE, R.; BAUR, A.; FRITZ, S.; BOICHARD, D AND DUCROCQ, V. Inclusion of cow
records in genomic evaluations and impact on bias due to preferential treatment. Genetics Selection
Evolution 44, 40–48, 2012.

DEHNAVI, E.; MAHYARI, S. A.; SCHENKEL, F. S., & SARGOLZAEI, M. The effect of using cow
genomic information on accuracy and bias of genomic breeding values in a simulated Holstein dairy
cattle population. Journal of Dairy Science, 101(6), 5166–5176, 2018.

DELOSCAMPOS, G.; VAZQUEZ, A.I.; FERNANDO, R.; KLIMENTIDIS, Y.C. AND SORENSEN,
D. Prediction of complex human traits using the genomic best linear unbiased predictor. PLoS Genetics
9, 1–15, 2013.

DE ROOS, A.P.W.; HAYES, B.J.; SPELMAN, R.J. AND GODDARD, M.E. Linkage disequilibrium
and persistence of phase in Holstein–Friesian, Jersey and Angus cattle. Genetics 179, 1503–1512, 2008.

DING, X.; ZHANG, Z.; LI, X.; WANG, S.; WU, X.; SUN, D.; YU, Y.; LIU, J.; WANG, Y.; ZHANG,
Y.; ZHANG, S.; ZHANG, Y., & ZHANG, Q. Accuracy of genomic prediction for milk production traits
in the Chinese Holstein population using a reference population consisting of cows. Journal of Dairy
Science, 96:5315-5323, 2013.

EGGER-DANNER, C.; SCHWARZENBACHER, H AND WILLAM, A. Short communication:


genotyping of cows to speed up availability of genomic estimated breeding values for direct health traits
in Austrian Fleckvieh (Simmental) cattle-genetic and economic aspects. Journal of Dairy Science97,
4552–6455, 2014.

ERBE, M, HAYES, B.J.; MATUKUMALLI, LK.; GOSWAMI, S.; BOWMAN, PJ.;


REICH, CM.; MASON, B AND GODDARD, ME. Improving accuracy of genomic
predictions within and between dairy cattle breeds with imputed high-density single

239
nucleotide polymorphism panels. Journal of DairyScience 95,4114–4129, 2012.
FALCONER, DS AND MACKAY, TFC. Introduction to quantitative genetics, 4th edition. Pearson,
Harlow, England, 1996.

GARCIA-RUIZ, A.; COLE, J. B.; VAN RADEN, P. M.; WIGGANS, G. R.; RUIZ-LOPES, F. J., &
VAN TASSEL, C. P. Changes in genetic selection differentials and generation intervals in US Holstein
dairy cattle as a result of genomic selection. Proceedings of the National Academic Science USA, Jul 12,
113(28):E3995-4004, 2016.

GODDARD, M. Genomic selection: prediction of accuracy and maximisation of long term response.
Genetica 136, 245–257, 2009.

GODDARD, ME AND HAYES, BJ. Mapping genes for complex traits in domestic animals and their use
in breeding programmes. Nature Reviews Genetics 10, 381–391, 2009.

GONZALEZ-RECIO, O.; COFFEY, MP AND PRYCE, JE. On the value of the phenotypes in the
genomic era. Journal of Dairy Science 97, 7905–7915, 2014.

HABIER, D.; TETENS, J.; SEEFRIED, F.; LICHTNER, P AND THALLER, G. The impact of genetic
relationship information on genomic breeding values in German Holstein cattle. Genetics Selection
Evolution 42, 5–17, 2010.

HAYES, BJ.; BOWMAN, PJ.; CHAMBERLAIN, AC.; VERBYLA, K AND GODDARD, ME. Accuracy
of genomic breeding values in multi-breed dairy cattle populations. Genetics Selection Evolution 41,
51–60, 2009.

JIMÉNEZ-MONTERO, JÁ.; GONZÁLEZ-RECIO, O AND ALENDA, R . Genotyping strategies for


genomic selection in small dairy cattle populations. Animal6, 1216–1224, 2012.

KARIUKI, CM.; KOMEN, H.; KAHI, AK AND VAN ARENDONK, JAM. Optimizing the design of
small-sized nucleus breeding programs for dairy cattle with minimal performance recording. Journal of
Dairy Science 97, 7963–7974, 2014.

KEMPER, KE AND GODDARD, ME. Understanding and predicting complex traits: knowledge from
cattle. Human Molecular Genetics 21, R45–R51, 2012.

KÖNIG, S AND SWALVE, HH.Application of selection index calculations to determine selection


strategies in genomic breeding programs.Journal of Dairy Science 92, 5292–5303, 2009.

LOURENCO, DAL.; MISZTAL, I.; TSURUTA, S.; AGUILAR, I.; EZRA, E.; RON, M.; SHIRAK, A
AND WELLER, JI. Methods for genomic evaluation of a relatively small genotyped dairy population
and effect of genotyped cow information in multiparity analyses. Journal of Dairy Science 97, 1742–
1752, 2014.

LUND, MS.; DE ROOS, APW.; DE VRIES, AG.; DRUET, T.; DUCROCQ, V.; FRITZ, S.; GUILLAUME,
F.; GULDBRANDTSEN, B.; LIU, ZT.; REENTS, R.; SCHROOTEN, C.; SEEFRIED, FAND SU, GS. A
common reference population from four European Holstein populations increases reliability of genomic
predictions. Genetics Selection Evolution 43, 43–51, 2011.

LUND, MS.; DE ROOS, APW.; DE VRIES, AG.; DRUET, T.; DUCROCQ, V.; GUILLAUME, F.;
GULDBRANDTSEN, B.; LIU, Z.; REENTS, R.; SCHROOTEN, C.; SEEFRIED, M AND SU, G.
Improving genomic prediction by Euro-Genomics collaboration. In Proceedings of 9th WCGALP 2010,
August 1 to 6, 2010, Leipzig, Germany. pp. 7–10, 2010.

240
LUND, MS.; SU, G.; JANSS, L.; GULDBRANDTSEN, B AND BRØNDUM, RF. Genomic evaluation
of cattle in a multi-breed context. Livestock Science 166,101–110, 2014.

MCHUGH, N.; MEUWISSEN, T. H. E.; CROMIE, A. R., & SONESSON, A. K. Use of female
information in dairy cattle genomic breeding programs. Journal of Dairy Science, 94:4109-4118, 2011.

PLIESCHKE, L.; EDEL, C.; PIMENTEL, E. C. G.; EMMERLING, R.; BENNEWITZ, J., & GOTZ K.
U. Systematic genotyping of groups of cows to improve genomic estimated breeding values of selection
candidates. Genetics Selection Evolution, 48:73, 2016.

PRYCE, JE.; HAYES, BJ AND GODDARD, M. Genotyping dairy females can improve
the reliability of genomic selection and provide farmers with new management tools. In
Proceedings of 38th ICAR Biennial Session. 28 May to 1 June 2012, Cork, Ireland, 2012.

PRYCE, JE.; ARIAS, J.; BOWMAN, PJ.; DAVIS, SR.; MACDONALD, KA.; WAGHORN, GC.;
WALES, WJ.; WILLIAMS, JY.; SPELMAN, RJ AND HAYES, BJ. Accuracy of genomic predictions
of residual feed intake and 250-day body weight in growing heifers using 625,000 single nucleotide
polymorphism markers.Journal of Dairy Science 95, 2108–2119, 2012.

PSZCZOLA, M.; MULDER, HA AND CALUS, MPL. Effect of enlarging the reference population with
(un)genotyped animals on the accuracy of genomic selection in dairy cattle. Journal of Dairy Science
94, 431–441, 2011.

PSZCZOLA, M.; STRABEL, T.; MULDER, HA AND CALUS, MPL. Reliability of direct genomic
values for animals with different relationships within and to the reference population. Journal of Dairy
Science 95, 5412–5421, 2012.

PSZCZOLA, M.; STRABEL, T AND CALUS, MPL. Size of required reference population updates to
achieve constant genomic prediction accuracy across generations. In: Proceedings of 10th WCGALP2014.
17 to 22 August 2014, Vancouver, BA, Canada.

ROBERTSON, A, & RENDEL, J, M. The use of progeny testing with artificial insemination in dairy
cattle, Journal of Genetics, 50(1), 21–31, 1950.

SCHAEFFER, LR. Strategy for applying genome-wide selection in dairy cattle. Journal of Animal
Breeding and Genetics 123, 218–223, 2006.

SCHÖPKE, K. & SWALVE, H. H. Review: Opportunities and challenges for small populations of dairy
cattle in the era of genomics. Animal, 10:6, 1050-1060, 2016.

SMITH, JM AND HAIGH, J. The hitch-hiking effect of a favourable gene. Genetics Research 23, 23–35,
1974.

THOMASEN, JR.; SØRENSEN, AC.; LUND, MS AND GULDBRANDTSEN, B. Adding cows to the
reference population makes a small dairy cattle population competitive. Journal of Dairy Science 97,
5822–5832, 2014.

UEMOTO, Y.; OSAWA, T., & SABURI, J. Effect of genotyped cows in the reference population on the
genomic evaluation of Holstein cattle. Animal, 11:3, 382-393, 2017.

VANRADEN, PM.; OLSON, KM.; NULL, DJ.; SARGOLZAEI, M.; WINTERS, M & VAN KAAM,
JBCHM. Reliability increases from combining 50,000- and 777,000-marker genotypes from four
countries. Interbull Bulletin 46, 75–79, 2012.

VENTURA, R. V.; LARMER, S.; SCHENKEL, F. S.; MILLES, S. P.; SULLIVAN, P. Genomic clustering

241
helps to improve prediction in a multibreed population. Journal of Animal Science, 94(5):1844-56, 2016.

WIENTJES, YCJ.; VEERKAMP, RF AND CALUS, MPL. The effect of linkage disequilibrium and
family relationships on the reliability of genomic prediction. Genetics 193, 621–631, 2013.

WU, X.; LUND, M. S.; SUN, D.; ZHANG, Q., & SU, G. Impact of relationship between test and training
animals and among training animals on reliability of genomic prediction. Journal of Animal Breeding
and Genetics, 132, 366-375, 2015.

ZHOU, L.; DING, X.; ZHANG, Q.; WANG, Y.; LUND, MS AND SU, G. Consistency of linkage
disequilibrium between Chinese and Nordic Holsteins and genomic prediction for Chinese Holsteins
using a joint reference population. Genetics Selection Evolution 45, 7–14, 2013.

ZHOU, L.; HERINGSTAD, B, SU, G.; GULDBRANDTSEN, B.; MEUWISSEN, T.; SVENDSEN,
M.; GROVE, H.; NIELSEN, US AND LUND, MS. Genomic predictions based on a joint reference
population for the Nordic Red cattle breeds. Journal of Dairy Science 97, 4485–4496, 2014.

242
CAPÍTULO XIII

INFLUÊNCIA DA DIETA MATERNA NOS PARÂMETOS FÍSICO


QUÍMICOS DE QUALIDADE DA CARCAÇA DOS CORDEIROS

Fernanda Ferreira dos Santos1, Luciano Brochine1, Sarita Bonagurio


Gallo1

1
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo -
FMVZ/USP

rESUMO
O consumo de carne ovina no Brasil vem aumentando ao longo dos últimos
anos, sendo a demanda maior que a oferta produzida internamente, o que torna
o país um importador da carne de cordeiro. Para que os produtores possam
competir com os produtos importados, eles precisam produzir com qualidade
e eficiência, o ano todo. Uma das maneiras é investindo na programação
fetal, melhorando a produtividade e qualidade da carne ovina por meio da
alimentação da ovelha durante toda a gestação. O objetivo deste trabalho foi
avaliar a qualidade da carcaça de cordeiros cujas mães foram alimentadas com
diferentes dietas energéticas. Foram utilizadas 30 ovelhas, divididas entre dois
tratamentos: (i) TRAT A era o tratamento com baixa energia, apenas a fim de
suprir a exigência de mantença, de acordo com o NRC e (ii) TRAT B com dieta
20% mais energética do que as exigências para cada fase produtiva, de acordo
com o NRC e com suplementação de cromo. As dietas foram fornecidas no
início e final de gestação e durante a lactação. Os cordeiros nascidos foram
desmamados em média com 80 dias e confinados. No confinamento receberam
os mesmos manejos alimentares e sanitários. No abate foram coletadas as
informações de temperatura e pH logo após o abate e depois de 24 horas,
PCQ e PCF. Depois o lombo foi separado e realizado as medidas de peso
por descongelamento e por cocção. Houve diferença estatística apenas na
temperatura inicial, sendo o trat A com menor temperatura, possivelmente por
serem animais menores e diferença na perda por descongelamento, sendo que
o Trat B teve maior perda, contudo todos os parâmetros estavam dentro da
normalidade. Apenas com esses dados, não é possível determinar uma alteração
na qualidade de carcaça de cordeiros apenas por meio da dieta materna, sendo
que a dieta e os manejos oferecidos diretamente aos cordeiros tem um poder
maior de mudar as características de carcaça do ovino.

1. INTRODUÇÃO
O número de cabeças de ovinos, em caráter mundial, vem diminuindo

243
quando comparado com outras espécies animais. Está queda se deve a vários
fatores, como o baixo preço da lã e a sua substituição por material sintético,
inviabilizando a criação em alguns casos. A queda do consumo da carne
de cordeiros, em alguns países, se deve ao alto preço da carne e da grande
quantidade de gordura presente nas carcaças. É sabido que determinadas raças
apresentam uma quantidade de gordura maior que outras, sendo fundamental
estudar as características de cada raça. No Brasil, houve uma queda do número
de animais do rebanho de ovinos na última década, no entanto, há um aumento
na procura pela carne de cordeiros, principalmente nos grandes centros urbanos
da região Sudeste. Neste caso o cordeiro é um animal jovem que apresenta uma
carcaça de qualidade superior.
A carne ovina representa somente 7% do total de carne produzida
no mundo, correspondendo a 15% do total de carne exportada no mercado
internacional, valor este superior ao da carne bovina (12%), aves (11%) e suína
(3%). Os maiores exportadores são Nova Zelândia e Austrália, que juntos são
responsáveis por 80% de toda a carne exportada. Os maiores importadores são
os países do Sudeste da Ásia e Norte da África. O Brasil é um país importador,
pois a produção nacional não supre a demanda interna. Isso se faz notar,
por exemplo, em estados como o Ceará, que tem um dos maiores rebanhos
nacionais e importa cerca de 35% da carne ovina consumida (Garcia et al.,
2000; IBGE, 2017). Com a alta capacidade de produção de forragem que nosso
país possui e um clima onde ao qual os animais se adaptam bem, fica muito
evidente o potencial que temos para aumentar a produção interna da carne
ovina.
Historicamente, a carne ovina era produto de raças para lã, e no
continente mediterrâneo, para leite. No Brasil, como em todo o mundo, esta
carne era vista como um subproduto, sendo abatidos animais velhos ou de
descarte. Atualmente, com a mudança do perfil do consumidor e do mercado
de lã, o produtor tem a preocupação de vender uma carne de qualidade,
oriunda de cordeiros. No entanto, o consumo da carne ovina é muito variável
de uma região para outra, dependendo da cultura, do costume culinário e das
raças presentes na região, como se observa quando comparamos a preferência
dos gregos por animais leves (6 kg) e dos australianos por animais pesados (30
kg). No Brasil, o perfil do consumidor ainda é desconhecido. Acredita-se que
no estado de São Paulo o peso dos animais ao abate deva estar entre 25 a 35 kg,
mas na região Sul e Nordeste o hábito de consumo é por animais mais pesados.
A procura pela carne de ovino no Brasil poderia ser ainda maior
com a organização dos criadores, fornecendo durante todo o ano um produto
padronizado, com excelente qualidade e um bom trabalho de marketing. Para
que ocorra está padronização é necessário estabelecer uma faixa de peso ideal
para o abate e conhecer melhor as características das raças encontradas no

244
Brasil.
A raça Santa Inês está bastante difundida na região Sudeste, Nordeste
e Centro Oeste do nosso país. É uma raça rústica, de médio a grande porte,
podendo fornecer uma boa quantidade de carne. A raça Dorper apresenta uma
excelente carcaça, sendo muito usada em cruzamentos industriais.

2. A NUTRIÇÃO MATERNA E SEUS EFEITOS NA CARCAÇA DOS


CORDEIROS
Mudanças na composição de micro e macronutrientes da dieta
materna, durante ou em um determinado período da gestação, tem efeitos
no embrião, placenta ou no feto. Estes efeitos de programação nutricional
podem ser diretos ou mediados por mudanças endócrinas na mãe que afetam
os processos reprodutivos. As consequências do crescimento do concepto
não serão refletidas simplesmente na composição corpórea e alterações
na mortalidade e morbidade durante o período neonatal, mas provável que
continuem durante todo ciclo de vida (Mcmillen, 2006).
Desempenho satisfatório dos cordeiros no confinamento depende
da sua formação fetal, uma vez que a nutrição materna durante a gestação
influencia diretamente no desenvolvimento fetal, podendo ter consequências
ao longo da vida. Ovelhas subnutridas durante a gestação produzem fetos
menores e com piores desempenhos. Portanto, além da genética e da nutrição
do cordeiro, a nutrição materna é essencial para o desenvolvimento fetal e o
crescimento e a saúde pós-natal (Barker, 1995; Godfrey & Barker, 2000; Drake
& Walker, 2004; DU et al., 2015; Van Emon, 2017).
Para obter um desenvolvimento satisfatório na fase fetal, e
posteriormente bom desempenho no confinamento, a alimentação,
inquestionavelmente, é um dos mais preponderantes, especialmente os níveis de
energia na dieta. Dentre os nutrientes a serem supridos, a energia tem recebido
atenção especial por ser de fundamental importância para o funcionamento dos
órgãos vitais, a atividade e renovação das células e processos de utilização dos
nutrientes, entre outros (Zundt et al., 2001).
O crescimento do cordeiro nas primeiras semanas após o nascimento
está relacionado com a quantidade de colostro e leite ingeridos, e a produção
destes pode ser influenciada pela nutrição da ovelha antes e após o parto. A
subnutrição da ovelha durante a gestação pode diminuir o número das fibras
musculares dos fetos com consequências no seu crescimento e desempenho
pós natal (Greenwood et al., 2000). Reduzido número de miofibras em fetos
de cordeiros tem sido reportado devido à severa subnutrição da mãe no início
e final da prenhez, ou de toda a gestação. Em contraste, moderada subnutrição
da ovelha durante o início da prenhez não afetou o desenvolvimento muscular
dos descendentes e o número de miofibras não foi afetado, sendo de interesse

245
estudar a restrição alimentar no final da gestação (Greenwood et al., 2000). No
sistema de terminação, cordeiros com alimentação restrita tem mostrado uma
redução da fibra muscular (atrofia), exibindo uma menor taxa de queda de pH
post - mortem (Lefaucherur & Gerrard, 1998).
Portanto, a nutrição adequada durante todo o período gestacional deve
ser garantida com uso de fontes de energia que permitam o nascimento de um
cordeiro saudável, capaz de responder bem a uma dieta em confinamento com
crescimento adequado da massa muscular para produzir uma carcaça e carne
com atributos valorizados pelo consumidor. Rações a base de carboidratos
não fibrosos, com altos teores de amido como fonte de energia, ajudam no
aumento do propionato para o sangue, consequentemente elevando a produção
de glicose e a liberação de insulina, favorecendo o desenvolvimento fetal no
meio e final da gestação (Radunz et al., 2011).
No final da gestação, as ovelhas têm um aumento das suas exigências
nutricionais devido ao crescimento fetal e a produção de colostro, mas sua
capacidade de ingestão é menor pois há pouco espaço na cavidade abdominal
para o rúmen dilatar. Por isso, para conseguir suprir as exigências energéticas,
utiliza-se de suplementação com concentrados a base de milho de soja e, mais
recentemente, tem-se estudado a utilização de cromo na dieta, para melhorar a
eficiência na utilização do amido fornecido nos concentrados.
A ação do cromo sobre a resposta celular à insulina é intermediada
pela cromodulina, um oligopeptídeo com sítio de ligação para íons de cromo,
que uma vez saturada pelo metal liga-se ao receptor de insulina estimulado
pelo hormônio ativando a tirosina quinase do receptor, ou seja, a cromodulina
desempenha um papel no mecanismo de amplificação automática da sinalização
da insulina (Vincent, 2000). Portanto, o cromo atua na normalização do
metabolismo e da absorção de glicose pelos tecidos, ou seja, ele aumenta a
sensibilidade dos tecidos a insulina e dessa forma os animais podem ter um
melhor aproveitamento da toda energia disponível (Davis & Vicent, 1997;
Sumner, 2007).
Os impactos da suplementação do cromo seriam importantes para
todos os tecidos, uma vez que permite um aumento da captação de glicose.
A cromodulina pode aumentar a captação de glicose pelos adipócitos e
tem impacto no metabolismo do colesterol (Amata, 2013), embora suínos
suplementados com cromo tenham apresentaram aumento da musculosidade
em detrimento da porcentagem de gordura (Mooney & Cromwell, 1995).

3. PARÂMETROS PARA AVALIAR A QUALIDADE DE


CARCAÇA
O produto carne é a resultante de uma série de alterações bioquímicas
e fisiológicas que o músculo sofre desde o momento do abate animal. Na

246
transformação de músculo em carne, Olivo & Olivo (2005) destacam a
ocorrência dos seguintes processos: glicólise anaeróbia, abaixamento do pH e
a proteólise, fundamentais para sua qualidade final (Silva, 2015).
Pinheiro et al. (2010) ressaltaram que a qualidade da carne pode ser
avaliada pelo seu pH, cor, capacidade de retenção de água, sensibilidade e
perdas no cozimento, e por aspectos sanitários e nutricionais. Santos-Cruz et
al. (2013) afirmaram que estas características podem mostrar claramente se a
carne é de maior ou menor de qualidade, e os resultados podem ser utilizados
para determinar o preço dos produtos com diferentes qualidades, para sua
distribuição em diferentes tipos de mercado.
O pH da carne é um importante parâmetro de qualidade já que pode
influenciar a cor, a capacidade de retenção de água, a maciez, dentre outros
fatores. O pH muscular logo após o abate está em torno de 7,0. Com a sangria
acaba o suprimento de oxigênio para o músculo e assim o glicogênio muscular
não pode mais seguir a via glicolítica aeróbica na geração de ATP (adenosina
trifosfato). Uma das funções do ATP é gerar energia para a contração e
relaxamento muscular. Sendo assim, inicia-se a via glicolítica anaeróbica que
tem como produto final o ácido lático. Sem a corrente sanguínea o ácido lático
não pode ser levado até o fígado para ser metabolizado e se acumula no tecido
muscular provocando a queda do pH. O valor do pH, após 24 horas do abate
(pH final), está em torno de 5,80 a 5,50. Quando o pH atinge esses valores
ocorre à inibição enzimática e a glicólise anaeróbica paralisa (Forrest et al.,
1979; Pardi et al., 1993; Osório et al., 1998).
A velocidade da queda do pH e a temperatura muscular são muito
importantes. Se o valor do pH cai rapidamente logo após o abate, a carne pode
ser pálida, flácida e com baixa capacidade de retenção de água, sendo então
chamada de PSE (pale, soft, exudative); essa anomalia é mais encontrada em
carne de suíno. Genética, reservas elevadas de glicogênio e uma sensibilidade
especial por parte do individuo ou da própria fibra muscular são, dentre muitas
causas, a predisposição para este tipo de anomalia. O reticulo sarcoplasmático
sensibilizado acelera a saída do Ca2+ (cálcio), ativa a ATPase e a glicólise,
originando uma rápida formação e acumulo do ácido lático (Forrest et al.,
1979; Osório et al., 1998).
No entanto, se o pH final permanece alto, acima de 6,20 a carne
apresenta a anomalia denominada DFD (dark, firm, dry), que é uma carne
escura, firme e seca. Neste caso a reserva inicial de glicogênio é baixa devido
a fatores ante mortem, como por exemplo, uma situação de estresse antes do
abate, não havendo tempo suficiente para a sua reposição no músculo (Forrest
et al., 1979; Prändal et al., 1994). Esse tipo de anomalia pode ser encontrada
em carne de cordeiro (Apple et al., 1995), embora tenha pouca evidência a esse
respeito.

247
O músculo em repouso apresenta concentração muito baixa de
Ca2+ (cálcio) no reticulo sarcoplasmático. Para que o músculo permaneça
em repouso deve-se ter alta concentração de ATP – Mg (adenosina trifosfato
ligado a magnésio). Desta forma, a troponina e a tropomiosina, duas proteínas
reguladoras da contração e relaxamento muscular, inibem a formação de
enlaces cruzados entre as proteínas contrateis, miosina e actina.
Na contração muscular há liberação do Ca2+ pelo reticulo
sarcoplasmático. O Ca2+ se liga à troponina, alterando a ligação da troponina
– tropomiosina com a actina. Agora a miosina pode se ligar com a actina. Para
que haja o relaxamento muscular precisa de ATP - Mg. Com o abate a síntese
de ATP, oriundo do glicogênio e fosfocreatina é esgotável, e à medida que
a concentração de ATP – Mg cai, a ligação da actina – miosina vai ficando
permanente; é o que se denomina de rigor mortis. A instalação do rigor
mortis é acompanhada de trocas físicas, tais como perda de elasticidade e
extensibilidade, encurtamento e aumento de tensão.
Neste ponto é importante compreender a influência da temperatura
(TºC) de resfriamento. Se a carcaça é resfriada muito rapidamente, a ponto de
atingir valor abaixo de 10ºC, antes do pH ficar abaixo de 6,0, ou seja, antes
da instalação do rigor mortis estar completa, ocorre maior encurtamento das
fibras musculares, diminuindo o tamanho do sarcômero e provavelmente
prejudicando a maciez e a capacidade de retenção de água (Geesink et al.,
2001).
O valor e a velocidade da queda do pH e a temperatura da carcaça
variam segundo a espécie animal, raça, manejo antes do abate, estimulação
elétrica, composição da carcaça, reserva de glicogênio, sexo, idade do animal,
enfim vários fatores podem alterar o pH e a temperatura. O pH de machos
pode ser maior do que das fêmeas (McGeehin et al., 2001), mas ainda pode-
se encontrar valores iguais entre machos, fêmeas e criptorquidas (Alvi et al.,
1980; Dransfield et al., 1990; Velasco et al., 2000); ou ainda interação entre
sexos e raças (Bonagurio, 2001). O valor de pH pode diminuir com o aumento
do tempo de maturação da carne (Vergara & Gallego, 2000) e aumento da
temperatura de resfriamento (0, 16 e 23ºC) da carcaça (Jonhson et al., 1989).
Alta temperatura (35ºC) pode resultar em carne com alto pH e força de
cisalhamento, ou seja, carne mais dura. (Geesink et al., 2000).
Devido à gama de fatores que influenciam o pH, algumas técnicas
foram desenvolvidas com o objetivo de adequar o seu valor, como é o caso
da estimulação elétrica da carcaça, que resulta em queda rápida do pH com o
objetivo de prevenir o encurtamento das fibras pelo frio e aumentar a maciez
(Geesink et al., 2000; Vergara & Gallego, 2000).
O tipo de fibra muscular (glicolítica ou oxidativa) e a sua
concentração no músculo podem influenciar a queda do pH. Os músculos com

248
maiores atividades físicas terão pH mais baixos, como os músculos da perna
comparados com os abdominais (Osório et al., 1998).
A restrição alimentar em ovelhas durante a gestação, não influenciou
o pH muscular dos fetos. No entanto, houve diferença nas fibras musculares
de cordeiros abatidos com 35 kg, filhos de ovelhas que sofreram restrição
alimentar durante a gestação e ovelhas que tiveram alimento à vontade. Este
perfil diferente das fibras musculares alterou o valor de pH e a qualidade da
carne (Krausgrill et al., 1999).
A idade à desmama (35 ou 45 dias) não influenciou o valor de pH de
cordeiros abatidos com 25kg (Vergara & Gallego, 1999). No entanto, Sañudo
et al. (1996) encontraram diferenças de pH entre carcaças de 8,0 a 13kg,
desmamados com 50 dias de idade e abatidos com 57 a 97 dias. Neste caso, a
nutrição (leite e dieta completa), idade à desmama e o peso de abate alteraram
o valor de pH. Velasco et al. (2004) compararam cordeiros desmamados com
animais terminados no pé da mãe até atingirem o peso de abate de 35kg, e
observaram diferença no pH da carne. Além do efeito da desmama os autores
estudaram cordeiros terminados no pasto recebendo dieta completa ou somente
cevada, e a nutrição no sistema de terminação também foi um fator de alteração
do pH. Cordeiros mantidos no pasto têm uma carga de exercícios físicos maior
comparados com animais confinados, e esses exercícios podem alterar o pH
(Aalhus et al., 1991). Com exercícios a concentração de glicogênio muscular
fica reduzida e mantêm alto o valor de pH (Phetrick & Rowe, 1996).
É necessária uma concentração de glicogênio em torno de 45 mmol em 1kg
de músculo para abaixar o pH de 7,20 para 5,50 (Immonen et al., 2000). No
entanto, Díaz et al. (2002), não encontram diferenças de pH entre os animais
terminados no pasto ou confinados.
A capacidade de retenção de água (CRA) pode ser definida como a
habilidade da carne de reter parcial ou totalmente a água nela contida (Felício,
1999). É uma propriedade de importância fundamental em termos de qualidade,
tanto na carne destinada ao consumo direto, como para a industrialização.
É uma medida de grande importância para a qualidade, porque afeta a
aparência e a perda de peso antes do cozimento e a sensação organoleptica de
suculência durante a mastigação (Canhos & Dias, 1983). Além de que quando
o tecido tem pouca capacidade de retenção de água, as perdas de umidade e,
consequentemente, de peso durante o armazenamento é grande.
A alteração que ocorre na capacidade de retenção de água de
um determinado músculo depende da velocidade de diminuição e do valor
final do pH, e também da quantidade de proteína desnaturada. As proteínas
desnaturadas perdem a sua capacidade de retenção de água. Quanto ao pH,
quanto mais próximo for da neutralidade, ou seja, ao pH do músculo vivo,
maior será a sua capacidade de retenção de água (Canhos & Dias, 1983).

249
Uma pequena parte (0,1%) da água intramuscular do tecido (0,5g
H2O/100 g proteína) é “água de constituição”, intimamente ligada às moléculas
dos miofilamentos. Uma outra parte (5 – 10%), denomina-se “água interfacial”,
encontra-se na superfície das proteínas, tem uma mobilidade relativamente
restrita e permanece líquida mesmo após o congelamento (-20ºC). Quanto
ao restante (90 – 95% da água intracelular) discute-se se sofreria alguma
atração pelas proteínas, ou se seria livre, contida apenas pela membrana
celular (sarcolema). Há também a água extracelular (cerca de 10% da água
dos músculos in vivo), cujas dimensões e quantidade de água, no pós rigor,
estaria na dependência das condições em que se desenvolve o rigor mortis e a
velocidade e extensão do declínio de pH que o acompanha (Felício, 1999).
O pH final da carne próximo ao ponto isoelétrico das proteínas
proporcionará um ambiente em que se igualam as cargas positivas e negativas,
ocorrendo uma atração entre elas, não se tornando disponíveis para a ligação
com as moléculas de água. No entanto, com valores de pH superiores ou
inferiores ao ponto isoelétrico, haverá predomínio de proteínas de cargas
positivas ou negativas, tornando-se solúveis e reagindo com a água (Bodwell
& McClain, 1976; Cheftel et al., 1989). Esse efeito do pH sobre a capacidade
de retenção de água é mais intenso em carnes com anomalias como o PSE, ou
seja, a carne se torna mais seca devido a grandes perdas de água.
Somente uma parte da capacidade de retenção de água se deve à
queda do pH. A instalação do rigor mortis também afeta a CRA. No rigor
mortis ocorre uma ligação mais forte entre as proteínas actina e miosina,
com formação de uma rede espessa que diminui o espaço para a molécula de
água. Somado a esta mudança física, o consumo de ATP e a ligação dos íons
cálcio e magnésio aos grupos reativos das proteínas miofibrilares, carregadas
negativamente, diminuem a sua ligação com a molécula de água (Bodwell
& McClain, 1976; Forrest et al., 1979). Com essas informações fica fácil
compreender porque uma carne que sofre uma contração muscular intensa terá
maior perda de peso por cozimento (Lepetit et al., 2000).
Geesink et al. (2000), também compreenderam estas afirmações ao
estudarem varias temperaturas de resfriamento (5, 10, 15, 20, 25, 30, 35ºC)
e observaram que a perda por gotejamento foi menor para 25ºC e acima
disso. Isso é efeito da desnaturação protéica, resultado de um baixo pH em
combinação com a alta temperatura do músculo. Além, disso o encurtamento
do sarcômero poder ter contribuído para o aumento da perda por gotejamento
das amostras incubadas a 35ºC.
Há três grupos de procedimentos básicos para medir a CRA (Felício,
1999):
1) Nenhuma força é aplicada: medem-se as perdas de peso por
extravasamento de água extracelular, submetendo-se amostras de carne apenas

250
à força da gravidade, pendurando-as em trilhos de uma câmara fria, protegidas
com sacos plásticos, por um tempo determinado.
2) Aplicação de força mecânica: aplica-se pressão positiva ou
negativa, de modo a forçar o extravasamento de água intra e extracelular;
exemplos disso são os métodos de centrifugação e de compressão em papel de
filtro, mas os resultados apenas revelam uma tendência do que poderá ocorrer
com essa carne durante a comercialização.
3) Aplicação de calor: os métodos deste grupo servem para medir a
liberação de água intra e extracelular de amostras submetidas ao cozimento,
que desnatura as proteínas da carne.
Os fatores de variação que influenciam a CRA podem ser divididos
em intrínsecos e extrínsecos (Osório et al., 1998). Os intrínsecos seriam: tipo
de músculo (que pode estar relacionado com o tipo de fibra muscular), espécie,
raça, sexo, idade, e individuo. Os extrínsecos seriam a alimentação, estresse
antes do abate, estimulação elétrica e cozimento (Osório et al., 1998). O uso
de estimulação elétrica tende a diminuir a CRA devido a alterações no pH
(Vergara & Gallego, 2000).
Alguns autores encontraram diferenças na CRA entre o sexo e a
raça (Sañudo et al., 1997; Velasco et al., 2000), entretanto outros estudos não
descreveram esta diferença (Solomon et al., 1980; Dransfield et al., 1990).
Russo et al. (2003) estudaram a qualidade da carne de cordeiros de diversas
classificações e observaram que carcaças mais pesadas tiveram maior CRA e
menor perda por gotejamento e isso é muito importante por estar relacionado
com a aparência da carne crua após o armazenamento.
Cordeiros alimentados com feno tiveram a carne mais exudativa do
que cordeiros que receberam outro tipo de forrageira. E os animais do pasto
foram menos suculentos que os cordeiros confinados, provavelmente devido
ao seu menor estado de engorduramento (Osório et al., 1998).
As medidas de CRA estudadas por Immonen et al. (2000) foram afetadas
pela concentração de glicogênio muscular. Safari et al. (2001) concluíram que
a baixa perda de peso por cozimento (PPC) estava relacionada com o alto
nível de gordura da carcaça. E Aalhus et al. (1991) já haviam observado que
cordeiros que foram exercitados (semelhante a animais mantidos no pasto)
tiveram a tendência de ter maior perda por gotejamento. No entanto, Díaz et al.
(2002) não encontraram diferença na CRA entre cordeiros terminados no pasto
ou no confinamento. Velasco et al. (2004) não encontraram efeito significativo
entre cordeiros mantidos no pasto, alimentados com concentrado ou cevada. E
cordeiros confinados recebendo dietas diferentes também não tiveram a CRA
alterada pela nutrição (Russo et al., 1999; Zapata et al., 2000).
O tempo de aleitamento e a idade à desmama não influenciaram a CRA
no trabalho de Vergara & Gallego (1999). No entanto, Sañudo et al. (1991)

251
trabalharam com carcaças leves e mostraram a importância da desmama antes
do abate sobre a suculência da carne.
Com o objetivo de avaliar a qualidade da carcaça de cordeiros cujas
mães receberam diferentes teores de energia e com e sem suplementação de
cromo, foram utilizadas 30 ovelhas mestiças das raças santa inês e dorper,
entre borregas e adultas, divididas em dois tratamentos, de acordo com as
tabelas 1, 2 e 3:
• Trat A: ovelhas receberam durante toda estação de monta até a
lactação dieta apenas para suprir a exigência de mantença, de acordo com o
NRC (2007); A dieta era apenas com feno de gramínea de boa qualidade.
• Trat B: ovelhas receberam 20% a mais de energia para suprir as
exigências de cada fase produtiva, de acordo com o NRC (2007), como fonte
principal de energia o amido e suplementação com cromo.
Tabela1. Dieta experimental das ovelhas em Reprodução / início da gestação.

* Recomendação da Kemin. Exigência do NRC (2017)


Fonte: elaborada pela autora

252
Tabela 2. Dieta experimental das ovelhas em fim da gestação.

* Recomendação da Kemin. Exigência do NRC (2017)


Fonte: elaborada pelos autores

Tabela 3. Dieta experimental das ovelhas em Lactação.


* Recomendação da Kemin. Exigência do NRC (2017)

Fonte: elaborada pela autora

253
As fêmeas foram mantidas em piquetes de 200m², com dois cochos
de água e dois cochos de comida cada, o suficiente para que todos os animais
pudessem se alimentar ao mesmo tempo. Os piquetes foram raspados para que
não tivesse pasto disponível para alimentação.
A estação de nascimento foi acompanhada a fim de realizar os
manejos de recém nascido (pesagem, cura de umbigo, verificação da mamada
do colostro, colocação de brinco para identificação). Com 10 dias após o
início dos nascimentos, foi fornecida dieta de creep-feeding a vontade para os
cordeiros.
No confinamento, foram utilizados os cordeiros nascidos (total de 10
animais) oriundos da programação fetal, não castrados, com idade aproximada
de 80 dias, recém-desmamados, mestiços do cruzamento de Dorper com
Santa Inês, que permaneceram confinados em baias individuais, de 1,70 x
2,30 cm, com piso ripado, acesso a água a vontade e sombra. Foram mantidos
no confinamento por um período de 56 dias. As medidas sanitárias no início
do confinamento foram: reforço da vacina contra clostridioses e uso de anti-
helmíntico de amplo espectro.
A dieta e os manejos foram os mesmos para todos os cordeiros,
formuladas para um ganho de peso de 300 gramas por dia, segundo as
recomendações do NRC (2007), para que apenas a alimentação materna fosse
avaliada no desempenho dos animais, conforme Tabela 5.
Tabela 4. Composição de alimentos e análise bromatológica das dietas experimentais de cordeiros em confinamento.

Fonte: elaborada pelos autores

254
A dieta foi ofertada duas vezes ao dia, às 8h e às 15h, com controle do
ofertado diariamente e consumido em dias alternados. A pesagem da sobra do
ofertado permitiu calcular a oferta com uma margem de 5% a 10% a mais para
o ofertado, garantido o consumo ad libitum, mas que não permita seleção do
alimento.
Após 56 dias de confinamento, os animais foram abatidos no
abatedouro escola da Universidade de São Paulo, campus Pirassununga. Para
o abate, os animais ficaram em jejum sólido por 16 horas. O atordoamento foi
realizado por meio de choque elétrico e posteriormente a sangria pelo corte
da veia jugular. Após a sangria era retirado o couro e as vísceras. As carcaças
eram resfriadas em câmaras frias por 24 horas em temperatura de 2°C.
Após este período, as carcaças foram seccionadas longitudinalmente
em duas meias-carcaças e foram realizados os cortes comerciais no lado
esquerdo, retirando do lombo para pesagem e depois embalado em papel
alumínio e saco de polietileno, e congelado a –10ºC para posterior análise.
As leituras de pH e temperatura foram realizadas às 0hs e 24 horas post
- mortem, com auxílio de um peagâmetro portátil com eletrodo de penetração
com resolução de 0,01 unidades de pH.
Para as análises de perda por descongelamento, foram separados
três bifes por amostra de LD de 2,5cm de espessura. Estes serão pesados
congelados dentro de suas embalagens, e deixados descongelar em uma
câmara de maturação (B.O.D) a 2ºC over night. No dia seguinte as amostras
serão pesadas novamente.
Amostras usadas na análise de perda de peso por cozimento foram
os mesmos bifes utilizados para perda por resfriamento. Estas foram pesadas
e assadas em forno elétrico pré-aquecido. Ao atingir a temperatura interna
de 36º C as amostras foram viradas e permaneceram no forno até atingir a
temperatura interna de 72ºC (temperatura foi controlada com auxílio de um
termômetro em espeto). Após assados os bifes foram deixados resfriar em
temperatura ambiente e pesados novamente
O delineamento foi inteiramente casualizado e para as análises
estatísticas foram verificadas a normalidade dos resíduos e homogeneidade
das variâncias pelos testes Shapiro Wilk e Levene´s, respectivamente. Os
tratamentos foram comparados pela tabela da ANOVA, com significância
quando p<0,05.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de pH, temperatura e peso da carcaça após o abate e
após 24 horas em câmara fria foram demonstrados na tabela 5.

255
Tabela 5. Resultado do pH e temperatura da carcaça e peso de carcaça quente e fria.

Legenda: pH0h: pH da carcaça no momento do abate; T0h: temperatura da carcaça no momento


do abate; PCQ: peso de carcaça quente; pH24h: pH da carcaça após 24 horas do abate; T24h:
temperatura da carcaça após 24 horas do abate; PCF: peso de carcaça fria; Trat A: dieta de
ovelhas com teor energético para suprir apenas a exigência de mantença; Trat B: dieta energética
20% acima da exigência para cada fase produtiva, como fonte principal de energia o amido e
suplementação de cromo; EPM: erro padrão da média.

Não houve diferença estatística para as características de pH da


carcaça no momento do abate, peso de carcaça quente, pH da carcaça 24 horas
após o abate, temperatura da carcaça após 24 horas do abate e peso de carcaça
fria. Contudo, a temperatura logo após o abate teve diferença estatística, sendo
a temperatura do tratamento com suplementação de cromo mais quente do
que a carcaça do tratamento com energia apenas para suprir a exigência de
mantença.
As médias de PCQ (20,38 e 20,34) e PCF (19,22 e 22,23) encontrados
no presente estudo atendem aos valores mínimos indicados por Silva Sobrinho
(2001) para caracterização de carcaças com boa qualidade, com PCQ igual ou
maior que 14,4 kg e PCF maior ou igual que 13,8 kg.
O pH logo após o abate encontrou-se próximo a neutralidade. No
animal vivo, o pH fisiológico do músculo apresenta-se com pH próximo ao
neutro e vai decaindo a partir do momento do abate, atingindo a faixa 6,56 a 6,69
aos 45 minutos pós-abate (Sañudo et al., 1992). Durante o abate experimental,
o tempo decorrido entre a sangria e a mensuração do pH e temperatura foi
menor do que 45 minutos.
Carnes tidas como adequadas são representadas pela sigla RFN
(red, firm and normal), apresentando cor vermelho brilhante, textura firme e
exsudação normal (2% do peso) e com pH final entre 5,3 e 5,8 (Smulders et al.,
1992; Gomide et al., 2013), sendo que os animais do experimento apresentaram
o pH final dentro da normalidade, independente do tratamento materno.
É importante salientar que o pH final influencia nas características
qualitativas da carne, afetando sua aparência, conservação e propriedades
tecnológicas, refletindo direta e indiretamente na maciez, flavor, rendimento
comercial e industrial bem como no valor nutritivo (Gomide et al., 2013).
Quanto a temperatura da carcaça, após o abate na tentativa de
manutenção da homeostase há discreta elevação da temperatura do organismo

256
e sua posterior redução será em função do status energético do animal, e,
portanto da quantidade de energia armazenada, proporcionada pelas dietas
(Silva, 2015). A menor temperatura inicial do tratamento com baixa energia
possivelmente se deve ao seu menor peso (apesar da diferença entre os pesos
de carcaça quente não ser significativa), que fez com que perdesse calor mais
rapidamente em relação aos animais do tratamento com mais energia e cromo.
As características do post mortem dos cordeiros, em termos de
declínio do pH e da temperatura verificados nas carcaças se deram de forma
adequada, contribuindo para o desenvolvimento normal do processo de rigor
mortis, relacionado com a produção de uma carne de boa qualidade. A
tabela 6 mostra o resultado do peso do lombo congelado e descongelado e as
perdas nesse processo e o peso do lombo assado e as perdas por cocção.
Tabela 6. Resultado do peso de lombo congelado, descongelado e assado e as perdas.

Legenda: Trat A: dieta de ovelhas com teor energético para suprir apenas a exigência de
mantença; Trat B: dieta energética 20% acima da exigência para cada fase produtiva, como fonte
principal de energia o amido e suplementação de cromo; EPM: erro padrão da média.
O peso do lombo congelado e descongelado não teve diferença estatística, entre os tratamentos,
apesar de que houve diferença do peso perdido no processo de descongelamento. O peso do lombo
assado e a perda por cocção não tiveram diferença significativa entre os tratamentos.

Todas as modificações metabólicas e endócrinas no feto decorrentes


de nutrição inadequada da ovelha apontam para impactos negativos no
crescimento e desenvolvimento da musculatura, favorecendo o acúmulo
de tecido adiposo (Du et al., 2010). Assim, apesar de que este trabalho não
apresenta a espessura de gordura da carcaça de cada tratamento, especula-se
que a menor perda no descongelamento tenha ocorrido no tratamento de baixa
energia pois acumulou mais gordura, protegendo a carcaça. Contudo, a perda
por resfriamento pode variar de 1 a 7%, sendo que a média obtida em ambos
os tratamentos está dentro da normalidade (Martins et al., 2000).
Pinheiro et al. (2010) observaram que a perda de peso no cozimento
do músculo Longissimus lumborum de ovelhas a raça Santa Inês abatidas em
diferentes estágios fisiológicos, variou de 32 a 36%, valores semelhantes com
o que foi encontrado neste experimento. Os autores enfatizam que durante a
cocção da carne, ocorrem perdas quantitativas e qualitativas, e são desejáveis
menores perdas durante o preparo da carne. Logo, menor valor de perda de peso

257
na cocção é desejável, para que sejam mantidas, em especial, as características
de qualidade da carne em questão.
Como a perda por cocção não teve diferença entre os tratamentos,
pode-se dizer que nenhum dos tratamentos promoveu grande perda de
nutrientes e qualidade da carne.

5. CONCLUSÃO
O excesso de energia e a utilização de cromo na dieta materna não
afetaram os parâmetros físicos-químicos de qualidade de carcaça avaliados.
Apesar da importância da programação fetal na vida produtiva dos cordeiros,
apenas com os parâmetros avaliados, não é possível determinar se essas dietas
maternas afetam a qualidade da carne ovina.

6. AGRADECIMENTOS
Agradecemos a toda equipe do Grupo de Estudos em Pequenos
Ruminantes da USP (GEPRUSP) pela colaboração no experimento.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AALHUS, J. L.; PRICE, M. A.; SHAND, P. J. & HAWRYSH, Z. J. Endurance-exercised growing sheep:
II. Tenderness increase and change in meat quality. Meat science, v.29(1), p.57-68; 1991.

ALVI, A.S. The influence of sex status on meat quality characteristic in sheep. Fleischwirtschaft,
Frankfurt, v.60, n.11, p.2037-2042, 1980.

APPLE, J. K.; DIKEMAN, M. E.; MINTON, J. E.; MCMURPHY, R. M.; FEDDE, M. R.; LEITH, D. E.
& UNRUH, J. A. Effects of restraint and isolation stress and epidural blockade on endocrine and blood
metabolite status, muscle glycogen metabolism, and incidence of dark-cutting longissimus muscle of
sheep. Journal of Animal Science, Champaign, v.73, n.8, p.2295-2307, 1995.

BARKER, D.J.P. Fetal origins of coronary heart disease. Br. Med. J. ; v311, p.171–174, 1995.

BODWELL, C.E.; McCLAIN, P.E. Composicón química de los tejidos animales. PRICE, J.F.;
SCHWEIGERT, B.S. (eds). Ciencia de la carne y de los produtos carnicos. Traduzido por BARRADO,
M. Zaragoza: Acribia, 1976. 668p.

BONAGURIO, S. Qualidade da carne de cordeiros Santa inês puros e mestiços com Texel abatidos com
diferentes pesos. Lavras, 2001, 150 p. Dissertação (mestrado), Universidade Federal de Lavras.

CANHOS, D.A.L.; DIAS, E.L. Tecnologia de carne bovina e produtos derivados. Fundação Tropical de
Pesquisa e Tecnologia - FTPT. 1983. 440p.

CHEFTEL, J.C.; CUQ, J.L.; LORIENT, D. Proteínas alimentarias: bioquímica, propriedades funcionales,
valor nutricional, modificaciones químicas. Zaragoza: Acribia, 1989. 346p.

DAVIS, C. M.; VINCENT, J. B. Chromium oligopeptide activates insulin receptor tyrosine kinase
activity. Biochemistry, v. 36, n. 15, p. 4382-4385, 1997.

DIAZ, M. T.; VELASCO, S.; CANEQUE, V.; LAUZURICA, S.; DE HUIDOBRO, F. R.; PÉREZ, C. &
MANZANARES, C. Use of concentrate or pasture for fattening lambs and its effect on carcass and meat

258
quality.. Small Ruminant Research, v. 43, p. 257 – 268, 2002.

DRAKE, A.J.; WALKER, B.R. The intergenerational effects of fetal programming: non- genomic
mechanisms for the inheritance of low birth weight and cardiovascular risk. J. Endod. 2004; 180: 1–16

DRANSFIELD, E.; NUTE, G. R.; HOGG, B. W., & WALTERS, B. R. Carcass and eating quality of ram,
castrated ram and ewe lambs. Animal Science, London, v.50, n.2, p.291-299, 1990.

DU, M.; TONG, J.; ZHAO, J.; UNDERWOOD, K. R.; ZHU, M.; FORD, S. P., & NATHANIELSZ, P.
W. Fetal programming of skeletal muscle development in ruminant animals. Journal of Animal Science,
v. 88, n. 13, p. 51-60, 2010.

FELICIO, P.E. Qualidade da carne bovina: características físicas e organolépticas. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36., 1999, Porto Alegre. Anais ... Porto
Alegre: SBZ, 1999. p.89-97.

FORREST, J.C.; Fundamentos de ciencia de la carne. Traduzido por BERNABÉ SANZ PÉREZ. Zaragoza:
Acribia, 1979. 364p. Tradução de: Principles of meat Science. GARCIA, I. F. F.; BONAGURIO, S.;
PEREZ, J. R. O. Comercialização da carne ovina. In: Encontro Mineiro de Ovinocultura, 1., 1998,
Lavras. Anais... Lavras: UFLA, 2000. 177p.

GEESINK, G. H.; MAREKO, M. H. D.; MORTON, J. D., & BICKERSTAFFE, R. Effect of stress and
hight voltage electrical stimulation on tenderness of lamb m. longissimus. Meat Science, v. 57, p. 265
- 271, 2001.

GEESINK, G. H.; BEKHIT, A. D.; BICKERSTAFFE, R. Rigor temperature and meat quality
characteristics of lamb longissimus muscle. Meat Science, v. 78, p. 2842 - 2848, 2000.

GODFREY, K.M.; BARKER, D.J.P. Fetal nutrition and adult disease. Am. J. Clin. Nutr. 2000; 71:
1344S–1352S

GOMIDE, L. A. M.; RAMOS, E. M.; FONTES, P. R. Ciência e qualidade da carne: fundamentos. 1. ed.
Viçosa, MG: UFV, 2013. 197 p.

GREENWOOD, P. L.; HUNT, A. S.; HERMANSON, J. W., & BELL, A. W. Effect of birth weight and
postnatal nutrition on neonatal sheep: II. Sheletal muscle growth and development. Journal of Animal
Science, v. 78, p. 50 – 61, 2000.

IMMONEN, K.; RUUSUNEN, M.; PUOLANNE, E. Some effects of residual glycogen concentration
on the physical and sensory quality of normal pH beef. Meat Science, Barking, v.55, n.1, p.33-38, Sept.
2000.

JOHNSON, M. H.; BIDNER, T. D.; MCMILLIN, K. W.; DUGAS, S. M., & HEMBRY, F. G. The effect
of three temperature conditioning treatments and subcutaneous fat removal on lamb quality. Journal of
Animal Science, v. 67, p. 2309 - 2315, 1989.

KRAUSGRILL, D. I.; TULLOH, N. M.; SHORTHOSE, W. R., & SHARPE, K. Effects of weight
loss in ewes in early pregnancy on muscles and meat quality of lamb. Journal of Agricultural Science,
Cambridge, v.132, n.2, p.103-166, Mar. 1999.

LEFAUCHEUR, L.; GERRARD, P. Muscle fibre plasticity in farm mammals. Proceeding of the
Americam Society of Animal Science, 1998. Internet.

LEPETIT, J.; GRAJALES, A.; FAVIER, R. Modelling the effect of sarcomere length on collagen thermal
shortening in cooked meat: consequence on meat toughness. Meat Science, Barking, v.54, n.3, p.239-

259
250, Mar. 2000.

MARTINS, R. R. C.; DE OLIVEIRA, N. M.; OSÓRIO, J. D. S., & OSÓRIO, M. T. M. Peso vivo ao abate
como indicador do peso e das características quantitativas e qualitativas das carcaças em ovinos jovens
da raça Ideal. Bagé: Embrapa Pecuária Sul, 2000. 29 p. (Embrapa Pecuária Sul. Boletim de Pesquisa, 21)

McGEEHIN, B.; SHERIDAN, J. J.; BUTLER, F. Factors affecting the pH decline in lamb after slaughter.
Meat Science, v. 58, p. 79 – 84, 2001.

MCMILLEN, I. C.; EDWARDS, L. J.; DUFFIELD, J., & MUHLHAUSLER, B. S. Regulation of


leptin synthesis and secretion before birth: implications for the early programming of adult obesity.
Reproduction, v. 131, n. 3, p. 415-427, 2006

MOONEY, K. W.; CROMWELL, G. L. Effects of dietary chromium picolinate supplementation on


growth, carcass characteristics, and accretion rates of carcass tissues in growing-finishing swine. Journal
of Animal Science, v. 73, n. 11, p. 3351-3357, 1995.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient Requeriments of Small Ruminants. 1. ed.


Washington, DC, USA: National Academy Press, 2007. 362p.

OLIVO, R.; OLIVO, N. O mundo das Carnes. Criciúma: Ed. do Autor, 2005, 214p.

OSÓRIO, J. C. S.; ASTIZ, C.; OSÓRIO, M. T. M., & ALFRANCA, I. Produção de Carne Ovina,
Alternativa para o Rio Grande do Sul. Editora da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1998.166p.

PARDI, M. C.; SANTOS, I. F.; SOUZA, E. R., & PARDI, H. S. Ciência, higiene e tecnologia da carne:
tecnologia da sua obtenção e transformação. Goiânia: Centro Editorial e Gráfico Universidade de Goiás,
v.1, 586p, 1993

PETHICK, D. W.; ROWE, J. B. The effect of nutrition and exercise on carcass parameters and the level
of glycogen in skeletal muscle of Merino sheep. Australian Journal of Agricultural Research, v. 47, n. 4,
p. 525-537, 1996.

PINHEIRO, R.S.B.; JORGE, A.M.; SOUZA, H.B.A.; BOIAGO, M.M. Coloração da gordura e qualidade
da carne de ovelhas de descarte abatidas em distintos estágios fisiológicos. Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária e Zootecnia, v.62, n.2, p.468-474, 2010.

PRÄNDAL, O.; FISCHER, A.; SCHMIDHOFER, T. Tecnología e higiene de la carne. Traduação de


ESCOBAR, J.E. Zaragoza: Acribia, 1994. 854p. Tradução de: Fleisch. Technologie und Hygiene der
Gewinnung und Verarbeiyung.

RADUNZ, A. E.; FLUHARTY, F. L.; ZERBY, H. N., & LOERCH, S. C. Winter-feeding systems for
gestating sheep I. Effects on pre- and postpartum ewe performance and lamb progeny preweaning
performance. Journal of Animal Science, v. 89, p. 467-477, 2011.

RUSSO , C.; PREZIUSO, G.; VERITÀ, P. EU carcass classification system: carcass and meat quality in
light lambs. Meat Science, v. 64, p. 411 – 416, 2003.

SAFARI, E.; FOGARTY, N. M.; FERRIER, G. R.; HOPKINS, L. D., & GILMOUR, A. Diverse
lamb genotypes. 3. Eating quality and the relationship between its objective measurement and sensory
assessment. Meat Science, Barking, v.57, n.2, p.153-159, 2001.

SANTOS-CRUZ, C.L.; PÉREZ, J.R.O.; LIMA, T.R.; CRUZ, C.A.C.; CRUZ, B.C.C.; JUNQUEIRA,
R.S. Centesimal composition and physicochemical parameters of meat from Santa Inês lambs fed with
passion fruit peel. Semina: Ciências Agrárias, v.34, n.4, p.1977-1988, 2013

260
SAÑUDO, C.; CAMPO, M. M.; SIERRA, I.; MARÍA, G. A.; OLLETA, J. L., & SANTOLARIA, P.
Breed effect on carcase and meat quality of suckling lambs. Meat Science, Barking, v.46, n.4, p.357-365,
1997.

SAÑUDO, C.; SANTOLARIA, M. P.; MARIA, G.; OSORIO, M., & SIERRA, I. Influence of carcass
weight on instrumental and sensory lamb meat quality in intensive production systems. Meat Science,
Barking, v.42, n.2, p.195-202, Feb. 1996.

SAÑUDO, C.A.; DELFA, R.; CASAS, M. Influencia del genótipo en la calidad de la carne el ternasco
de Aragón. In: JORNADAS CIENTÍFICAS DE LA SOCIEDADE ESPÃNOLA DE OVINOTECNIA Y
CAPRINOTECNIA, 16., 1992, Pamploma. Anais... Pamploma: SEOC, 1992. p.473-479.

SILVA SOBRINHO, A. G. Aspectos quantitativos e qualitativos da produção de carne ovina. In:


A PRODUÇÃO animal na visão dos brasileiros. Piracicaba: Fundação de Estudos Agrários Luiz de
Queiroz, p. 425-446, 2001.

SMULDERS, F.J.M.; TOLDRA, F.; FLORES, J.; PRIETO, M. New technologies for meat and meat
products. Utrecht, The Netherlands: Audet Tijdschriften, p.186-188. 1992.

SOLOMON, M. B.; KEMP, J. D.; MOODY, W. G.; ELY, D. G., & FOX, J. D. Effect of breed and
slaughter weight on physical, chemical and organoleptic properties of lamb carcasses. Journal of Animal
Science, Champaign, v.51, n.5, p.1102-1107, 1980.

SUMNER, J. M.; VALDEZ, F., & MCNAMARA, J. P. Effects of chromium propionate on response to
an intravenous glucose tolerance test in growing Holstein heifers. Journal of Dairy Science, v. 90, p.
3467-3474, 2007.

VAN EMON, M. L.; VONNAHME, K. A.; ECKERMAN, S. R.; BERG, P. T.; MADDOCK- ARLIN, K.
R., & SCHAUER, C. S. Effects of metabolizable protein supplementation to ewes during late gestation
on wether lamb feedlot performance, carcass characteristics, and nitrogen balance. Small ruminant
research, 150, 118-125. 2017

VELASCO, S.; LAUZURICA, S.; CAÑEQUE, V.; PÉREZ, C.; HUIDOBRO, F.; MANZANARES, C.,
& DÍAZ, M. T. Carcass and meat quality of Talaverana breed sucking lambs in relation to gender and
slaughter weight. Animal Science, London, v.70, n.2, p.253-263, 2000.

VELASCO, S.; CAÑEQUE, V.; LAUZURICA, S.; PÉREZ, C., & HUIDOBRO, F. Effect of different
feeds on meat quality and fatty acid composition of lambs fattened at pasture. Meat Science, v. 66, p.
457- 465, 2004.

VERGARA, H.; GALLEGO, L. Effect of electrical stunning on meat quality of lamb. Meat Science,
Barking, v. 56, p.345 - 349, 2000.

VINCENT, J. B. The biochemistry of chromium. The Journal of nutrition, v. 130, n. 4, p. 715- 718, 2000
ZAPATA, J. F. F.; SEABRA, L. M. J.; NOGUEIRA, C. M., & BARROS, N. Estudo da qualidade da carne
ovina do nordeste brasileiro: propriedades físicas e sensoriais. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 20,
n. 2, Campinas, 2000.

261
CAPÍTULO XIV

NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE A UTILIZAÇÃO DE


MONENSINA SÓDICA PARA CORDEIROS CONFINADOS

André Storti Martins1, Daniel Montanher Polizel2, José Paulo Roman


Barroso1, Gabriela Bagio Oliveira2, Arnaldo Cintra Limede1, Lairana
Aline Sardinha1, Alexandre Arantes Miszura1, Alexandre Vaz Pires1,2

1
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – FMVZ/USP – Departamento de
Nutrição e Produção Animal.
2
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP – Departamento de
Zootecnia.

rESUMO
Cada vez mais, a produção animal deverá passar por um importante processo
de intensificação, visando melhorar os índices produtivos e com especial
atenção à sustentabilidade. Dentro da ovinocultura voltada à produção de
carne, algumas das principais ferramentas para alcançar essa intensificação
sustentável são a terminação de cordeiros em confinamento, e o uso de
aditivos alimentares que permitam melhor aproveitamento de nutrientes,
minimizando os impactos da pecuária no meio ambiente, e permitindo
melhora na produtividade com maior economia de recursos. Na alimentação
de cordeiros mantidos em sistemas de engorda em confinamento são usadas
baixas proporções de volumoso:concentrado, que demandam especial cuidado
à saúde ruminal desses animais. Nesse aspecto, o principal aditivo utilizado na
nutrição de cordeiros é a monensina sódica, um antibiótico ionóforo capaz de
modular os padrões de fermentação ruminal, com resultados muito positivos no
desempenho de bovinos. No entanto, não existe uma recomendação concreta
para a inclusão deste aditivo na alimentação de ovinos, e trabalhos atuais
utilizando doses próximas à recomendação para bovinos têm apresentado
resultados insatisfatórios. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da
monensina sobre os parâmetros de fermentação ruminal em ovinos recebendo
dietas de alto teor de concentrado. Levando em consideração a literatura
consultada e o levantamento de dados sobre a inclusão de 25 mg de monensina/
kg de MS é necessário discutir a dose ideal de monensina a ser utilizada para
cordeiros, visto que a consistência dos dados demonstra que a dose em questão
não traz benefícios em relação a fermentação ruminal, digestibilidade dos
nutrientes e desempenho animal.

262
1. INTRODUÇÃO
A crescente preocupação com o meio ambiente, como a emissão
de metano (CH4), amônia (NH3) e óxido nitroso (N2O), e a necessidade de
aumentar a produção de alimentos devido ao crescimento populacional nas
próximas décadas (Pradhan et al., 2015) trazem à discussão os impactos
ambientais provocados pela produção animal. Intensificação sustentável
será a forma de atender às demandas futuras de alimentos sem afetar o meio
ambiente.
Uma das principais ferramentas utilizadas para intensificar a criação de
animais destinados à produção de carne é a realização de terminação em sistema
de confinamento. Este tipo de criação permite uma produção mais eficiente,
acelerando a terminação dos animais quando comparados aos animais criados
em pastagem (Notter et al., 1991). O uso de aditivos alimentares que melhorem
a conversão de nutrientes em proteína animal e reduzam perdas energéticas das
rotas fermentativas é outra importante ferramenta para minimizar os impactos
da pecuária no meio ambiente, e permitir melhora na produtividade com maior
economia de recursos (Tedeschi, 2003).
A utilização de ionóforos na alimentação de ruminantes é uma das
maneiras mais estudadas e eficientes de manipular a fermentação ruminal
e, consequentemente, otimizar a eficiência alimentar desses animais. O uso
desses aditivos em dietas de ruminantes é capaz de modular os padrões de
fermentação do rúmen, com melhor eficiência de retenção de energia e
utilização de nitrogênio advindo da dieta (Tedeschi, 2003), alteração nas
proporções molares dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) produzidos
no rúmen (Perry et al., 1976); mitigação na produção de metano (Russel &
Strobel, 1989); diminui a deaminação e absorção de amônia, aumentando o
influxo de proteína de origem alimentar para o intestino delgado (Bergen &
Bates, 1984), e reduz a ocorrência de distúrbios digestivos (McGuffey et al.,
2001).
Dentre os diversos ionóforos liberados para uso na nutrição de
ruminantes, o principal e mais estudado é a monensina sódica, um antibiótico
carboxílico poliéter, inicialmente desenvolvido como coccidiostático
empregado na alimentação de aves (Magliocca et al., 1994), sintetizada pela
Streptomyces cinnamonensis (Haney & Hoehn, 1967).
Os efeitos benéficos do uso da monensina sódica sobre a saúde e
a produção de ruminantes já estão bem consolidados, no entanto, a maioria
dos trabalhos realizados avaliaram seu uso em bovinos (McGuffey et al.,
2001). Poucos e controversos resultados de pesquisa são encontrados sobre
o uso de monensina sódica na alimentação de ovinos. Em trabalhos recentes
desenvolvidos por nosso grupo de pesquisa, realizados no Sistema de Intensivo
de Criação de Ovinos e Caprinos (SIPOC) do Departamento de Zootecnia da

263
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, têm sido utilizadas a dose
de 25 mg de monensina/kg de MS como controle positivo, principalmente em
experimentos avaliando metabolismo ruminal, e os resultados obtidos não são
satisfatórios.
Definir a melhor maneira de utilizar esse aditivo na dieta de ovinos
é de fundamental importância para compreender suas implicações e buscar
melhores resultados na eficiência alimentar desses animais.

2. IONÓFOROS NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES


Ionóforos são moléculas classificadas como antibióticos pelo FDA
(Food and Drug Administration), capazes de transportar íons e que formam
complexos lipossolúveis com cátions, permitindo sua passagem pela
membrana lipídica de bactérias gram-positivas e protozoários do rúmen,
interferindo no equilíbrio sódio-potássio celular (Russell & Strobel, 1989).
Porém, são antibióticos classificados como de uso não compartilhado com os
seres humanos.
Por diferenças na composição da membrana celular, os ionóforos são
altamente eficazes contra as bactérias Gram-positivas, mas apresentam pouca ou
nenhuma atividade contra as bactérias Gram-negativas. Os ionóforos possuem
tamanho superior a 600 Daltons. As bactérias Gram-negativas possuem seu
envoltório composto por uma parede celular, além de uma membrana externa
de proteção formada por proteínas, lipoproteínas e lipopolissacarídeos, com
canais de proteínas com tamanho limite de 600 Daltons, denominadas porinas,
o que torna as células impermeáveis aos ionóforos. Por outro lado, as bactérias
Gram-positivas apresentam apenas uma membrana, porosa, que permite a ação
dos ionóforos (Morais et al., 2006).
O mecanismo de ação dos ionóforos está relacionado com sua
capacidade de alterar o fluxo de cátions através da membrana, desencadeando
uma reação de rápida saída de K+ e entrada de H+, o que leva a um acúmulo
de H+ no citoplasma das bactérias gram-positivas, provocando redução do
pH. As bactérias utilizam mecanismo de transporte ativo para dissipar o H+
intracelular, com gasto energético, reduzindo as reservas e a taxa de síntese
de proteína, diminuindo a capacidade de divisão celular dos microrganismos
(McGuffey et al., 2001). O mal funcionamento da bomba iônica provoca
desequilíbrio osmótico, com entrada de água na célula, podendo ocorrer o
rompimento da mesma. Dessa forma, a utilização de ionóforos provoca um
estado de letargia ou morte das bactérias (Russell & Strobel, 1989).
Fungos e protozoários podem também ser sensíveis à ação dos
ionóforos, dependendo da espécie, período de alimentação e tipo de dieta
(McGuffey et al., 2001).
Os efeitos da utilização de ionóforos como aditivos para ruminantes são

264
decorrentes das alterações na população microbiana do rúmen (Galloway et
al., 1993). Bactérias que têm os ácidos lático, acético, butírico e fórmico, e
hidrogênio como principais produtos finais da fermentação são suscetíveis à
ação dos ionóforos, enquanto as produtoras de ácido succínico e propiônico, e
utilizadoras de lactato são resistentes (Chen & Wolin, 1979; Russell & Strobel,
1989).
Dessa forma, os ionóforos são capazes de modular padrões de
fementação do rúmen, alterando a proporção dos ácidos graxos de cadeia curta.
Ocorre aumento da proporção de ácido propiônico e redução da proporção
de ácido acético, reduzindo a relação acetato:propionato, diminui também a
produção de metano e gás carbono (Tedeschi, 2003). Podem, ainda, diminuir
distúrbios digestivos, por ação nos microrganismos ruminais que produzem
lactato (Streptococcus bovis e Lactobacillus spp), reduzindo a ocorrência de
bruscas oscilações no pH ruminal (Burrin & Britton, 1986).
Aumento da retenção de energia, redução de distúrbios metabólicos,
aumento no ganho de peso, redução da ingestão de matéria seca e aumento da
eficiência alimentar são consequencias do uso destes aditivos (Tedeschi, 2003;
Duffield et al., 2012; González et al., 2012).
A adição de monensina sódica à dieta de animais alimentados com rações com
alto teor de carboidratos rapidamente fermentescíveis no rúmen reduz a perda
energética na forma de metano e auxilia na manutenção do pH ruminal, pelo
controle de microorganismos produtores de ácido lático (Bergen & Bates,
1984).
São numerosos os estudos que avaliam o uso de monensina sódica
na nutrição de bovinos, e seus efeitos no desempenho animal. De acordo com
Bergen e Bates (1984), em rações com alta proporção de concentrado, a adição
de monensina sódica reduz o consumo de MS, mas não afeta o ganho médio
diário dos animais e ainda melhora a conversão alimentar. Goodrich et al.
(1984) compilaram dados de 228 experimentos com bovinos (11.274 animais),
e observaram melhora de 7,5% na conversão alimentar, devido a aumento de
1,6% no ganho de peso e redução de 6,4% no consumo de matéria seca.
Em revisão realizada por Tedeschi et al. (2003), a inclusão de
monensina sódica na dieta de bovinos confinados aumentou entre 1,6 e 1,8% o
ganho de peso, e reduziu de 4 a 6% o consumo de matéria seca, com melhora
de 6 a 7,5% na conversão alimentar.
Uma meta-analise a partir de 64 artigos e 169 experimentos, realizada
por Duffield et al. (2012), com a utilização de monensina em dietas de bovinos
em crescimento e terminação concluíram que o uso do ionóforo reduziu a
conversão alimentar em 0,53 kg de alimento/kg de peso corporal ganho. A
monensina sódica também reduziu o consumo de matéria seca em 0,27 kg e
aumentou o ganho médio diário em 0,03 kg, sendo a dose média utilizada pelos

265
trabalhos de 28,1 mg de monensina/kg de MS.
Tedeschi et al. (2003) simularam o impacto da utilização de monensina
sódica em confinamentos comerciais nos Estados Unidos na economia de
alimento. Para isso, os autores assumiram uma população de 26 milhões de
animais confinados, número similar ao rebanho confinado no ano de 2001,
os quais foram alimentados com monensina sódica. Se ocorresse a retirada
do aditivo das dietas os autores estimaram que o CMS aumentaria em 52,9
kg por animal durante o ciclo de confinamento, resultando na necessidade de
aumentar a área de produção de milho dos EUA em mais de 135 mil hectares
para atender a essa demanda. Com base nesses dados, a utilização dos ionóforos
em dietas para ruminantes possui grande apelo, principalmente com relação à
eficiência do sistema produtivo.
Esses efeitos positivos no desempenho de bovinos recebendo
ionóforos podem ser explicados pelas mudanças na proporção de ácidos graxos
de cadeia curta causados por essas moléculas, principalmente por aumentarem a
proporção molar de ácido propiônico e redução do percentual de ácido butírico
e acético (Tomkins et al., 2015; Vendramini et al., 2016), proporcionando
assim, aumento na gliconeogênese hepática a partir do propionato, resultando
efeitos positivos no metabolismo energético (Baird et al., 1980). Ellis et al.
(2012) compilaram 16 trabalhos entre os anos de 1976 a 2009 e avaliaram
doses de monensina sódica sobre o perfil de AGCC em bovinos alimentados
com dietas com alto teor de concentrado. Os autores observaram que a inclusão
do ionóforo aumentou a proporção molar de propionato, diminuiu o butirato e
não afetou o acetato.
Outra razão para explicar o aumento no GMD poderia ser a redução da
produção e emissão de metano entérico pelos ruminantes quando alimentados
com ionóforos. De acordo com McGuffey et al. (2001) 12% da energia bruta
dos alimentos pode ser perdida com a eructação de metano. Os ionóforos
reduzem a produção de metano (Russel e Strobel, 1989; Tedeschi et al., 2003),
ou seja, melhoram a eficiência de retenção de energia da dieta consumida. A
capacidade do ionóforos em reduzir a produção de metano e alterar a proporção
de ácidos graxos de cadeia curta produzida pela fermentação ruminal explica
parte do aumento potencial no desempenho e/ou eficiência alimentar dos
animais (Richardson et al., 1976; Russell & Strobel, 1989).
Um dos pontos mais importantes, e que deve ser levado em
consideração quanto à utilização de ionóforos, é a dosagem a ser utilizada,
visto que os ionóforos são dose-dependentes, ou seja, devem ser fornecidos em
doses específicas para obter os resultados esperados. Em meta-análise realizada
por Ellis et al. (2012) os autores concluíram que as alterações na proporção
molar dos AGCC no fluido ruminal são dose dependentes, e que a inclusão
de monensina sódica deve ser considerada nas modelagens envolvendo o

266
processo de fermentação ruminal.

3. MONENSINA SÓDICA NA DIETA DE CORDEIROS EM


CONFINAMENTO
O confinamento é utilizado como umas das principais ferramentas
para intensificar a terminação de cordeiros destinados à produção de carne. Este
tipo de criação permite uma produção mais eficiente durante o período de seca,
sendo algumas vantagens desse sistema o crescimento rápido e eficiente dos
animais quando comparados aos animais criados em pastagem (Notter et al.,
1991). Dietas com elevado teor de concentrado tendem a promover aumento
no ganho de peso, maior rendimento de carcaça e melhorias na qualidade da
carne.
No entanto, o aumento da concentração de carboidratos não fibrosos
na dieta, que são rapidamente fermentados no rúmen e baixa quantidade de
fibra proveniente da dieta podem reduzir o pH ruminal e digestão da fibra,
prejudicando o desempenho do animal. (Gastaldello Junior, 2010).
A adição de monensina sódica em dietas de cordeiros em terminação recebendo
alta proporção de grãos resulta em melhora na eficiência alimentar (Nockels et
al., 1978; Calhoun et al., 1979; Joyner et al., 1979) e, em alguns casos, pode
aumentar o GMD (Nockels et al., 1978; Calhoun et al., 1979) e melhorar o
rendimento de carcaça (Calhoun et al., 1979), além de auxiliar na manutenção
do pH ruminal, pelo controle de microorganismos produtores de ácido lático
(Bergen & Bates, 1984).
A dose terapêutica de monensina sódica recomendada varia conforme
a espécie animal e o tipo de dieta envolvida. A dose recomendada para bovinos
é de 0,5 a 1 mg/kg de PC, com intervalo de 24 horas, pela via oral (Radostits
et al., 2007). No Brasil, a monensina sódica sódica comercializada não traz
nenhuma recomendação específica para a espécie ovina, e são poucos os estudos
que avaliaram seus efeitos na terminação de ovinos. Porém, é de conhecimento
que doses acima de 12 mg/kg de PC levam à intoxicação do ovino, devido
ao intenso metabolismo de cálcio nas fibras musculares, de forma que a
sobrecarga intracelular de cálcio pode exceder a capacidade homeostática e
levar a alterações degenerativo-necróticas na fibra muscular (Novilla, 1992;
Rozza et al., 2007). De acordo com levantamento realizado pelo nosso grupo,
as doses utilizadas na maioria dos experimentos para ovinos variam de 22 a 33
mg/kg de MS, quantia essa muito inferior a dose que poderia causar intoxicação
ao animal. Portanto, a ausência de resultados positivos quando utilizada a dose
de 25 mg/kg não estaria relacionado a uma possível toxicidade ao animal, mas
ao fato de que nesta dose a monensina poderia causar efeito negativo ou nulo
sobre o ambiente ruminal do animal.
Daugherty et al. (1986) avaliaram a inclusão de 25 mg de monensina/

267
kg de dieta e verificaram que não houve efeito do ionóforo sobre o consumo de
matéria seca, ganho médio diário e conversão alimentar de cordeiros recebendo
dietas com 80% de concentrado. Da mesma forma, Chavira et al. (2005), ao
trabalharem com cordeiros cruzas Pelibuey com 19,9 kg de peso corporal e
recebendo 25 mg de monesina/kg de MS , não observaram efeito significativo
desse ionóforo na eficiência alimentar.
Rodrigues et al. (2001) avaliaram a inclusão de 40 mg de monensina
sódica por animal dia em dietas contendo diferentes proporções de concentrado.
Os autores concluíram que os efeitos da monensina sobre a digestibilidade dos
alimentos são relativamente pequenos e dependente do nível de fibra da dieta.
Os melhores resultados foram observados quando a monensina sódica foi
utilizada com dietas contendo 25% ou 75% de concentrado. Adicionalmente,
os autores concluíram que os efeitos não são oriundos totalmente da diminuição
no consumo de matéria seca causada pela monensina sódica.
Araújo (2005), ao trabalhar com ovelhas recebendo diferentes
teores de monensina sódica (0, 25, 50, 75 mg/animal/dia), não observou
diferença significativa na digestibilidade de proteína bruta, obtendo resultados
semelhantes a outros autores (Marounek et al., 1989, Pomar et al., 1989, Zinn
et al., 1994, Osborne et al., 2004).
Nos últimos 7 anos nosso grupo de pesquisa tem avaliado diferentes moléculas
como aditivos na alimentação de cordeiros em terminação. Ao realizar
trabalhos com o objetivo de testar diferentes moléculas, é importante realizar
comparativos com uma dieta controle (sem inclusão de aditivos), e também
com uma dieta contendo monensina sódica (controle positivo), que é o aditivo
mais utilizado na produção de cordeiros (Faleiro Neto, 2015; Ribeiro, 2015;
Polizel et al., 2016). As doses de monensina sódica utilizadas nesses estudos
foram de 25 mg/kg de MS.
Faleiro Neto (2015), realizou quatro estudos avaliando dietas com
diferentes doses de óleos essenciais para terminação de cordeiros. A inclusão de
25 mg de monensina/kg de MS foi utilizada como sendo o tratamento controle
positivo, além de uma dieta sem inclusão de aditivos (controle negativo). Não
foram observados efeitos do fornecimento de monensina sódica sobre pH
ruminal. Além disso, a inclusão de monensina não afetou a proporção dos
ácidos graxos de cadeia curta, digestibilidade aparente dos nutrientes e balanço
de nitrogênio quando comparado ao grupo controle.
Utilizando 45 cordeiros, Polizel et al. (2016) avaliaram os efeitos da
inclusão de narasina no desempenho de cordeiros recebendo dietas compostas
por 10% de volumoso (Feno de “coastcross”) e 90% de concentrado. Uma
dieta sem inclusão de aditivos foi usada como controle negativo, e uma dieta
com 25 mg de monensina/kg de MS foi usada como controle positivo. Os
autores verificaram que a narasina aumentou linearmente o GMD e a eficiência

268
alimentar, entretanto, a utilização de 25 mg de monensina sódica não afetou
o desempenho dos animais quando comparado ao tratamento controle (sem
aditivos). O resultado obtido no presente estudo gerou grande questionamento
sobre os efeitos da monensina sódica em cordeiros alimentados com dietas
contendo elevado teor de concentrado, especialmente em relação a dose
utilizada. Com base nesses resultados, o grupo de pesquisa se mobilizou em
fazer uma revisão de literatura para determinar os efeitos de diferentes doses
de monensina sobre os parâmetros de fermentação ruminal e desempenho de
cordeiros.
Os poucos estudos que avaliaram doses de monensina sódica para
cordeiros em terminação, com objetivo de determinar uma melhor inclusão
da molécula, são da década de 70, e levantam o questionamento se a dose
utilizada atualmente (22 a 33 mg/kg de MS) seria a ideal.
Nockels et al., (1978) avaliaram o desempenho de 120 cordeiros alimentados
com dietas contendo 0, 5,5, 11, 22 ou 33 mg de monensina/kg e observaram
que os animais que receberam as doses de 5,5 e 11 mg/kg apresentaram
maior ganho de peso total ao longo do período experimental, enquanto que
os animais alimentados com as doses mais elevadas tiveram resultados iguais
aos animais do tratamento controle. Os autores concluiram que a melhor
dose de monensina sódica para cordeiros em terminação foi a de 5,5 mg/kg,
aumentando seu ganho médio diário, e ainda apontaram que essa dose difere
bastante da dose recomendada para o uso em bovinos.
Joyner et al. (1979) avaliaram a inclusão de 0, 5, 10, 20 e 30 mg de monensina/
kg na dieta de 300 cordeiros, e observaram que a utilização da menor dose
de monensina sódica (5 mg/kg) foi o suficiente para a redução na conversão
alimentar dos cordeiros, quando comparado ao tratamento controle. Os
mesmos autores também avaliaram a calorimetria respirométrica utilizando 12
cordeiros, os quais foram alimentados com 0, 10 ou 20 mg de monensina/kg.
Os autores relataram diminuição na perda de energia através das
fezes, urina e metano para os animais alimentados com 10 e 20 mg/kg. Ou seja,
as doses mais baixas (5 ou 10 mg/kg) apresentaram resultados satisfatórios
quando adicionado em dietas de ovinos.
Calhoum et al. (1979) testaram cinco doses de monensina sódica na
dieta de 249 cordeiros em terminação (0, 5,5, 11, 22 ou 33 mg de monensina/
kg), em dietas com dois diferentes teores de energia. Todas as dosagens de
monensina sódica utilizadas foram capazes de controlar uma infestação inicial
de cocidiose, sendo essa uma das principais características dos ionóforos. O
aumento das doses de monensina sódica reduziu linearmente o consumo de
matéria seca. Nas dietas com menor ingestão de energia (2,61 Mcal EL), todos
os teores de monensina sódica foram suficientes para aumentar a eficiência
alimentar. No entanto, em dietas com elevada ingestão de energia (3,18 Mcal

269
EL) só houve aumento na eficiência alimentar na menor dosagem de monensina
(5,5 mg/kg).
Utilizando 96 cordeiros, Horton & Stockdale (1981) avaliaram a
inclusão de monensina sódica nas doses de 0, 11, 22 e 33 mg de monensina/
kg em dietas peletizadas à base de cevada e farelo de alfafa. Todos os teores
de monensina sódica foram eficientes em controlar uma infestação inicial
de coccidiose. O aumento da dose de monensina até 33 mg/kg foi associado
com redução de 5% no consumo, porém sem aumentar o ganho de peso ou a
eficiência alimentar. O desempenho foi otimizado quando usada a dosagem de
11 mg/kg, sem alterar o consumo, mas promovendo aumento de 8% no ganho
e 9% na eficiência alimentar.

4. LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
O levantamento bibliográfico realizado para a análise conjunta
dos dados sobre a utilização de 25 mg de monensina/kg de MS levou em
consideração todos os experimentos realizados nos últimos 7 anos no Sistema
de Intensivo de Criação de Ovinos e Caprinos (SIPOC) do Departamento de
Zootecnia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Durante esse
período foram realizados 32 experimentos avaliando o manejo nutricional de
ovinos, durante as fases de cria, recria, terminação e lactação. Como o foco do
presente estudo foi avaliar os efeitos da monensina sódica sobre os parâmetros
de fermentação ruminal, foram selecionados apenas os experimentos que
avaliaram o metabolismo ruminal, totalizando 18 experimentos.
Algumas premissas foram previamente estabelecidas para a inclusão
do banco de dados de cada experimento na análise estatística avaliando a
efetividade da utilização de 25 mg de monensina/kg de MS. As premissas
adotadas foram: 1) dietas deveriam ser compostas por no mínimo 80% de
concentrado; 2) dietas isonitrogenadas, com valores de PB entre 15 e 18%
na MS. 3) o milho como o principal ingrediente energético da ração, com
inclusões superiores a 50%; 4) presença de um tratamento controle, ou seja,
sem a inclusão de aditivos; 5) presença de um tratamento com a inclusão de 25
mg de monensina/kg de MS; 6) experimentos utilizando machos, castrados ou
não; 7) tenha sido avaliados pH ruminal, nitrogênio amoniacal e a proporção
molar dos AGCC e; 8) a monensina sódica utilizada fosse o Rumensin 100
ou 200 (Elanco Animal Health). Sendo assim, foram utilizados o banco de
dados de 7 experimentos que atenderam a todas essas premissas, envolvendo
a participação de 82 animais, sete dias de colheita de fluido ruminal (1, 7, 14,
18, 20, 21 e 28 em função do início do fornecimento das dietas experimentais),
totalizando 326 observações (163 observações para a dieta controle e 163 para
dietas contendo 25 mg de monensina/kg de MS).
O conjunto de dados foi submetido a avaliação da normalidade dos

270
resíduos pelo teste de Shapiro Wilk, homogeneidade das variâncias pelo teste
de Levene e retirada dos “outliers” com base no valor do r de student, sendo
essas análises realizadas utilizando o Procedimento GLM do SAS 9.0.
A análise de variância foi realizada através do Procedimento Mixed do
SAS 9.0, considerando no modelo estatístico o efeito fixo de tratamento, efeito
fixo de experimento, efeito fixo do momento da colheita (dia), interação entre
tratamento e experimento, e interação entre tratamento e momento da colheita.
Além disso, o efeito animal foi inserido no modelo como variável aleatório.
Foi utilizado o comando LSMEANS para obtenção das médias e a comparação
entre os tratamentos foi realizado com base no teste F da análise de variância.
Para a interpretação dos resultados foi efeito significativo quando P ≤ 0,05 e
tendência quando 0,05 < P < 0,10.
Os resultados obtidos a partir da análise conjunta dos dados estão
apresentados na Tabela 1. A inclusão de 25 mg de monensina/kg de MS não
afeitou a proporção molar do ácido acético (P = 0,88), propiônico (P = 0,53),
isobutírico (P = 0,73), butírico (P = 0,51) e isovalérico (P = 0,61). Houve
tendência (P = 0,09) em redução na proporção molar no ácido valérico quando
utilizado a monensina sódica. Não houve efeito das dietas sobre a relação
acetato:propionato (P = 0,71), concentração total de AGCC (P = 0,56), pH
ruminal (P = 0,82) e nitrogênio amoniacal (P = 0,45).
Tabela 1. Efeito da inclusão de 25 ppm de monensina sódica sobre os parâmetros de fermentação ruminal de
cordeiros alimentados com dietas contendo elevado teor de concentrado.

1M0 = dietas sem a inclusão de aditivos; M25 = dietas contendo 25 mg de monensina/kg de MS.
2EPM = erro padrão da média. 3D×E = interação entre dietas e experimento; D×T = interação
entre dieta e momento da colheita (dias)

Houve interação entre dieta e experimento para a proporção molar do


ácido valérico (P = 0,03) e tendência de interação para a concentração molar
total de AGCC (P = 0,09). Realizando o desdobramento dessas interações foi
possível observar que a inclusão de 25 mg de monensina sódica/kg de MS

271
reduziu (P = 0,04) a proporção molar do ácido valérico no experimento 2 (Tabela
2). Entretanto, esse efeito não foi observado nos demais experimentos (P >
0,05). Além disso, a inclusão de monensina sódica aumentou a concentração
total de AGCC (P = 0,03) no experimento 2 (Tabela 3), demonstrando maior
acúmulo de ácido, podendo ser resultante de uma maior fermentação ruminal.
Entretanto, esse efeito não foi observado nos demais experimento (P > 0,05).
Tabela 2. Desdobramento da interação entre dieta e experimento para a proporção molar do ácido valérico

1M0 = dietas sem a inclusão de aditivos; M25 = dietas contendo 25 mg de monensina/kg de MS.
2EPM = erro padrão da média. 3D×E = interação entre dietas e experimento; D×T = interação
entre dieta e momento da colheita (dias)

A monensina sódica é um dos aditivos mais estudados na nutrição de


ruminantes, e existe um consenso na literatura com relação a ação desse aditivo
sobre os parâmetros de fermentação ruminal. Ellis et al. (2012) compilaram 16
trabalhos entre os anos de 1976 e 2009, que avaliaram doses de monensina
sobre o perfil de AGCC em bovinos alimentados com dietas com alto teor de
concentrado. Os autores observaram que a maioria dos estudos avaliaram a
inclusão de 0 a 40 mg de monensina/kg de MS, e que a inclusão do ionóforo
aumentou a proporção molar de propionato (P = 0,003), diminuiu o butirato
(P = 0,002) e sem afetar o acetato (P = 0,068). Os autores deixam claro que os
resultados obtidos da meta-análise demonstram que as alterações no perfil de
AGCC são dose dependentes, ou seja, a quantidade de monensina adicionada
na dieta pode alterar para mais ou para menos o resultado das variáveis em
questão. Sendo assim, a ausência de resultados no levantamento feito com a
utilização de 25 mg de monensina/kg de MS para cordeiros alimentados com
dietas contendo elevado teor de concentrado, permite levantar questionamentos
com relação a essa dosagem de inclusão. Com base nos trabalhos realizados
no passado, em que foram avaliadas doses de monensina sódica para ovinos
(Nockels et al., 1978; Calhoun et al., 1979; Joyner et al., 1979), é possível notar
que as doses mais baixas de inclusão apresentam resultados positivos quanto a
desempenho, parâmetros de fermentação ruminal e controle de coccidiose.

272
Tabela 3. Desdobramento da interação entre dieta e experimento para a concentração total de ácidos graxos
de cadeia curta .

1M0 = dietas sem a inclusão de aditivos; M25 = dietas contendo 25 mg de monensina/kg de MS.
2EPM = erro padrão da média. 3D×E = interação entre dietas e experimento; D×T = interação
entre dieta e momento da colheita (dias)

Houve efeito de experimento para a proporção molar do ácido


isobutírico (P = 0,01), butírico (P < 0,01), valérico (P < 0,01), concentração total
de AGCC (P = 0,01), pH ruminal (P < 0,01) e tendência para a concentração
de nitrogênio amoniacal (P = 0,06). Esses dados demonstram que mesmo
que sejam utilizadas dietas similares entre os experimentos, o processo de
fermentação ruminal pode ser influenciado por outros fatores, como os animais
utilizados, época do ano, temperatura média, entre outros.
Foi observado efeito de tempo (P < 0,05) para todas as variáveis
analisadas, exceto para a concentração de nitrogênio amoniacal, em que foi
observado apenas uma tendência de efeito do momento de coleta (P = 0,08).
Esses resultados elucidam a diferença entre os dias em que as
amostragens são realizadas, deixando claro que os parâmetros de fermentação
ruminal são diretamente influenciados pela ingestão de matéria seca, o
tempo de exposição as dietas (dia do experimento), a adaptação ruminal dos
microrganismos a fermentação dos substratos presentes na dieta, assim como,
a presença e a ação de um aditivo alimentar. No levantamento em questão
foram utilizados dados referente aos dias 1, 7, 14, 18, 20, 21 e 28 em função do
início do fornecimento das dietas experimentais, e o efeito do tempo era algo
esperado, visto que algumas colheitas foram realizadas nos dias iniciais dos
experimentos (1, 7 e 14), momento esse caracterizado como sendo de adaptação
dos microrganismos ruminais as dietas experimentais. A fermentação ruminal
pode ser influenciada por muitos fatores, sendo a dieta um dos principais. A
mudança abrupta na dieta, seja pela composição ou pela inclusão de aditivos,
é um fator capaz de causar grandes alterações na fermentação ruminal, por
alterar a população microbiana, bem como produto final dessa fermentação
(Valadares Filho & Pina, 2006). De acordo com Brown et al. (2006), o período
de adaptação é considerado um momento diferenciado, em que as práticas de
manejo nutricionais podem promover ou prejudicar o desempenho e a saúde

273
ruminal dos animais. Essa adaptação se refere ao tempo gasto para que ocorra
as alterações e estabilização da microbiota ruminal, seja pela alteração nas
dietas, seja pela presença de aditivos, com o objetivo de estabilizar a absorção
dos metabólitos ruminais (Berndt et al., 2013). Ou seja, durante a adaptação
uma série de eventos ocorrem no ambiente ruminal, alterando assim as rotas de
fermentação, até o momento em que haverá uma estabilização dos processos.
Sendo assim, no período de adaptação alterações nos padrões de fermentação
ruminais ao longo dos dias são esperados, em especial, nos primeiros 14 dias
de fornecimento das dietas.
Não foi observado interação (P > 0,05) entre dieta e tempos (dia da
coleta) para as variáveis analisadas, mostrando que o comportamento dos
parâmetros de fermentação ruminal em função das dietas ofertadas (controle
ou com a inclusão de monensina sódica) não sofreu influência do momento da
colheita.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando em consideração a literatura consultada e o levantamento de
dados sobre a utilização de 25 mg de monensina/kg de MS é possível abrir uma
discussão sobre a dose ideal de monensina sódica a ser utilizada para cordeiros
alimentados com dietas contendo elevado teor de concentrado, visto que a
consistência dos dados demonstra que a dose em questão não traz benefícios
em relação a fermentação ruminal, digestibilidade dos nutrientes e desempenho
animal. Trabalhos das décadas de 70 e 80 demonstram que doses mais baixas
(5,5 até 10 mg/kg de MS) apresentam resultados positivos na fermentação
ruminal, aumentando a eficiência energética dos animais, fazendo com que
ocorra aumento no desempenho e eficiência alimentar de cordeiros, além de
cumprir com o papel de controlar contaminações com coccidiose. Sendo assim,
faz-se necessário a realização de novas pesquisas com o foco em estabelecer
uma dosagem padrão de monensina sódica a ser utilizada para ovinos, capaz de
otimizar o processo produtivo, tornando a ovinocultura um sistema de criação
ainda mais viável e sustentável. Deve-se ressaltar que em todos os trabalhos
realizados pelo nosso grupo de pesquisa, os animais não foram desafiados para
coccidiose devido às condições adequadas das instalações experimentais.
Assim sendo, além de avaliar o desempenho e o metabolismo ruminal
dos animais, é necessário também avaliar se doses menores de monenesina
sódica seriam eficientes para contralar adequadamente quadros de cocccidiose.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, J.S. Avaliação do ionóforo monensina sódica no consumo, digestibilidade, ganho de peso e
pH ruminal em ovinos. 2005. 126p. Tese (Doutorado em Zootecnia) Unversidade Federal de Lavras,
Lavras, MG.

274
BAIRD, G.D., LOMAX, M.A., SYMONDS, H.W. AND SHAW, S.R (1980) Net hepatic and splanchnic
metabolism of lactate, pyruvate and propionate in dairy cows in vivo in relation to lactation nutrient
supply. Biochemical Journal, v.86, p.47-57.

BERGEN, W.G.; BATES, D.B. Ionophores: their effect on production efficiency and mode of action.
Journal of Animal Science, Champaign, v.58, n.61, p.1465-1483, 1984.

BERNDT, A.; SOLÓRZANO, L.A.; SAKAMOTO, L.S. Pecuária de corte frente à emissão de gases de
efeito estufa e estratégias diretas e indiretas para mitigar a emissão de metano. VI Simpósio Internacional
de Nutrição de Ruminantes (Anais). p.03-19. 2013.

BROWN, M.S.; PONCE, C.H.; PULIKANI, R. Adaptation of beef cattle to high-concentrate diets:
performance and ruminal metabolism. Journal of Animal Science, v.84, p.25-33, 2006.

BURRIN, D.; BRITTON, R. Response to monensin in cattle during subacute acidosis. Journal of Animal
Science, v.63, p.888-893, 1986.

CALHOUN, M.C.; CARROLL, L.H.; LIVINGSTON JR, C.W.; SHELTON, M. Effect of dietary
monensin on coccidial oocyst numbers, feedlot performance and carcass characteristics of lambs. Journal
of Animal Science, v.49, p.10-19, 1979.

CHAVIRA, S.J., BARRERA, A.A.G., BAUTISTA H.C., GÓMEZ M.F.M., CORTÉS J.F.C. Effect of
ionophore supplementation and trenbolone implant in growth and carcass characteristics of lambs.
Journal of Applied Animal Research, v..28, n.1, p.49-52, 2005.

CHEN, M.; WOLIN, M.J. Effect of monensin and lasalocid-sodium on the growth of methanogenic and
rumen saccharolytic bacteria. Applied and Environmental microbiology. v.38, p.72-77, 1979

DAUGHERTY, M.S.; GALYEN, M.L.; HALLFORD, D.M.; HAGEMAN, J.H. Vitamin B12 and
monensin effects on performance, liver and serum vitamin B12 concentrations and activity of propionate
metabolizing hepatic enzymes in feedlot lambs. Journal of Animal Science, v.61, p.451-463, 1986.

DUFFIELD, T.F.; MERRILL, J.K.; BAGG, R.N. Meta-analysis of the effects of monensin in beef cattle
on feed efficiency, body weight gain, and dry matter intake. Journal of Animal Science, v.90, p.4583–
4592, 2012.

ELLIS, J.L.; DIJKSTRA, J.; BANNINK, A.; KEBREAB, E.; HOOK, S.E.; ARCHIBEQUE, S.;
FRANCE, J. Quantifying the effect of monensin dose on the rumen volatile fatty acid profile in high-
grain0fed beef cattle. Journal of Animal Science, v.90, p.2717-2726, 2012.

FALEIRO NETO, J.A. Impacto de óleos essenciais de plantas brasileiras sobre parâmetros de fermentação
ruminal, digestibilidade e balanço de nitrogênio em ovinos. Tese, Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2015.

GALLOWAY, D.L., GOETSCH, A.L., PATIL, A. et al. Feed intake and digestion by Holstein steer calves
consuming low-quality grass supplemented with lasalocid or monensin. Canadian Journal of Animal
Science, v.73, n.4, p.869-879, 1993.

GASTALDELLO JUNIOR, A.L.; PIRES, A.V.; SUSIN, I.; MENDES, C.Q.; FERREIRA, E.M.;
MOURÃO, G.B. Desempenho e características de carcaça de cordeiros alimentados com dietas contendo
alta proporção de concentrado adicionadas de agentes tamponantes. Revista Brasileira de Zootecnia,
v.39, p.556-562, 2010.

GONZÁLEZ, L.A.; MANTECA, X.; CALSAMIGLIA, S.; SCHWARTZKOPF‑GENSWEIN, K.S.;


FERRET, A. Ruminal acidosis in feedlot cattle: interplay between feed ingredients, rumen function and

275
feeding behavior (a review). Animal Feed Science and Technology, v.172, p.66‑79, 2012.

GOODRICH, R.D., GARRETT, J.E., GAST, D.R. et al. Influence of monensin on the performance of
cattle. Journal of Animal Science, v.58, n.6, p.1484-1498, 1984.

HANEY J.R., M.E.; HOEHN, M.M. Monensin, a new biologically active compound. I. Discovery and
isolation. Antimicrobial Agents Chemother, v.7, p.349-352, 1967.

HORTON, G.M.J; STOCKDALE, P.H.G. Oocyst discharge, rumen metabolism and performance of
early weaned lambs with naturally occurring coccidiosis fed monensin. Canadian Veterinary Journal,
v.22, n.6, p.175-178, 1981.

JOYNER JR., A.E.; BROWN, L.J.; FOGG, T.J.; ROSSI, R.T. Effect of monensin on growth, feed
efficiency and energy metabolism of lambs. Journal of Animal Science, v.48, p.1065-1069, 1979.

MAGLIOCCA, F.C.; SILVEIRA, A.C.; FURLAN, L.R. et al. Efeito da niacina e da monensina sódica no
desempenho de novilhos em confinamento. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.29, n.6, p.983-988, 1994.

MAROUNEK, M.; SKRIVANOVÁ, V.; MACHAÑOVÁ, L. Effect of monensin on digestibility of


nutrients, ruminal volatile fatty acids and parameters in young calves. Landwirtschaftliche Forschung,
v.42, p.273-280, 1989.

McGUFFEY, R.K.; RICHARDSON, L.F.; WILKINSON, J.I.D. Ionophores for dairy cattle: current
status and future outlook. Journal of Dairy Science, v.84, Suppl. E, p.E194-E203, 2001.

MORAIS, J.A.S., BERCHIELLI, T.T., REIS, R.A. Aditivos. In BERCHIELLI, T.T., PIRES, A.V.,
OLIVEIRA, S.G. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006. p.539-563.

NOCKELS, C.F.; JACKSON, D.W.; BERRY, B.W. Optimum level of monensin for fattening lambs.
Journal of Animal Science, v.47, p.788-790, 1978.

NOTTER, D.R.; KELLY, R.F.; MCCLAUGHERTY. Effects of ewe breed and management system on
efficiency of lamb production: lamb growth, survival and carcass characteristics. Journal of Animal
Science, v.69, p.22-23, 1991.

NOVILLA, M.N. The veterinary importance of the toxic syndrome induced by ionophores. Veterinarya
and Human Toxicology, Manhattan, v.34, n. , p.66-70. 1992.

OSBORNE, J.K., MUTSVANGWA T., ALZAHAL O., DUFFIELD T.F., BAGG R., DICK P., VESSIE
G. Effects of monensin on ruminal forage degradability and total tract diet digestibility in lactating dairy
cows during grain-induced subacute ruminal acidosis. Journal of Dairy Science, v.87, n.6, p.1840-1847,
2004.

PRADHAN, P.; FISCHER, G.; VAN VELTHUIZEN, H.; REUSSER, D.E.; KROPP, J.P. Closing yield
gaps: How sustainable can we be? PLoS One, v.10, n.6, p.0129487, 2015.

PERRY, T.W.; BEESON, W.M.; MOHLER, M.T. Effect of monensin on beef cattle performance. Journal
of Animal Science, v.42, p.761-765, 1976.

POMAR, C.F.; BERNIER, J.R.; SEOANE, L.; LATRILLE. High-roughage rations with or without
monensin for veal production. 2. Ration digestibility. Canadian Journal of Animal Science, Ottawa, v.69,
n.2, p.403-410, 1989.

POLIZEL, D.M.; WESTPHALEN M.F.; SILVA R.G.; MISZURA A.A.; SANTOS M.H.; FERRAZ JR
M.V.C.; BIEHL M.V.; PIRES A.V.; SUSIN I. Performance of lambs fed high concentrate-diets containing

276
monensin or narasin. Journal of Animal Science, v.94, p.821–822, 2016

RADOSTITS O.M.; GAY C.C.; HINCHCLIFF K.W. Veterinary Medicine. A textbook of the Diseases of
Cattle, Horses, Sheep, Pigs and Goats. SaundersLTD, 2007. 2056p.

RICHARDSON, L.F.; RAUN, A.P.; POTTER, E.L. Effect of monensin on ruminal fermentation “in
vitro” and “in vivo”. Journal Animal Science, v.43, p.644-657, 1976.

RIBEIRO, A.D.B. Uso de óleo essencial de tomilho (Thymus vulgaris) na dieta de ovinos. Dissertação,
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2015.

RODRIGUES, P.H.M.; MATTOS, W.R.S.; MELOTTI, L.; RODRIGUES, R.R. Monensina e


digestibilidade aparente em ovinos alimentados com proporções de volumoso/concentrado. Scientia
Agricola, v.58, n.3, p. 449-455, 2001.

ROZZA, D.B.; CORRÊA, A.M.R.; LEAL, J.S.; BANDARRA, P.M.; GUAGNINI, F.S.; RAYMUNDO,
D.L.; DRIEMEIER, D. Intoxicação experimental por monensina em búfalos e bovinos. Pesquisa
Veterinária Brasileira, v.27, n.4, p.172-178. 2007.

RUSSELL, J.B.; STROBEL, H.J. Mini-review: the effect of ionophores on ruminal fermentations.
Applied and Environmental Microbiology, v.55, p.1-6, 1989.

TEDESCHI, L.O.; FOX, D.G.; TYLUTKI, T.P. Potential environmental benefits of ionophores in
ruminants diets. Journal of Environmental Quality, v.32, p.1591-1602, 2003.

TOMKINS, N.W.; DENMAN, S.E.; PILAJUN, R.; WANAPAT, M.; MCSWEENEY, C.S.; ELLIOTT, R.
Manipulating rumen fermentation and methanogenesis using an essential oil and monensin in beef cattle
fed a tropical grass hay. Animal Feed Science and Technology, v.200, p.25-34, 2015.

VENDRAMINI, T.H.A.; TAKIYA, C.S.; SILVA, T.H.; ZANFERARI, F.; RENTAS, M. F.; BERTONI,
J.C.; CONSENTINI, C.E.C.; GARDINAL, R.; ACEDO, T.S.; RENNÓ, F.P. Effects of a blend of
essential oils, chitosan or monensin on nutrient intake and digestibility of lactating dairy cows. Animal
Feed Science and Technology, v.214, p.12-21, 2016.

ZINN, R.A. Comparative feeding value of supplemental fat in finishing diets for steers supplemented
with without monensin. Journal of Animal Science, v.66, n.1, p.213-227, 1988.

277
PATROCÍNIO COLABORAÇÃO

APOIO

278
www.5Dpublicidade.com.br

Você também pode gostar