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ESTUDO DAS TERMINAÇÕES NERVOSAS DOS DISCOS INTERVERTEBRAIS DA


COLUNA LOMBAR DE HUMANOS Estudo das terminações nervosas dos discos
intervertebrais da coluna lombar de humanos *

Article  in  Revista Brasileira de Ortopedia · May 2002

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Francisco Prado Eugenio dos Santos Marcelo Wajchenberg


Hospital do Servidor Público Estadual "Francisco Morato de Oliveira" Hospital Israelita Albert Einstein
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ESTUDO DAS TERMINAÇÕES NERVOSAS DOS DISCOS INTERVERTEBRAIS DA COLUNA LOMBAR DE HUMANOS
ARTIGO ORIGINAL

Estudo das terminações nervosas dos discos


intervertebrais da coluna lombar de humanos*
VALDECI MANOEL DE OLIVEIRA1, EDUARDO BARROS PUERTAS2, MARIA TERESA SEIXAS ALVES3,
JOSÉ CARLOS MELO CHAGAS4, CARLOS EDUARDO ALGAVES SOUZA DE OLIVEIRA5,
FRANCISCO PRADO EUGÊNIO DOS SANTOS6, MARCELO WAJCHENBERG6

RESUMO ABSTRACT
Os autores estudaram a terminação nervosa existen- Study of nerve endings of intervertebral discs in the hu-
te na coluna lombar de humanos, utilizando cinco colu- man lumbar spine
nas de cadáveres de adultos jovens. Foram retirados os The authors studied the nerve endings of the human spine
discos intervertebrais de L1 até L5, num total de 25 dis- using five spines of young adult cadavers. A total of 25
cos. O material colhido foi fixado em formalina a 10%. intervertebral discs were removed from L1 to L5. This ma-
Os discos assim tratados foram a seguir divididos no terial was collected and immediately placed in formalin at
plano transverso e subdivididos em quatro partes no 10% and were macroscopically observed for disc morphol-
plano sagital, sendo identificada cada parte como: an- ogy and consistency, then they were sliced in the anterior,
terior, posterior e laterais. Foram a seguir feitos cortes posterior and lateral region and set in paraffin. Thin 4 mµ
finos de 4µµ m corados pelo método imunohistoquímico slices were dyed with the streptavidin-biotin-peroxidase
estrepto-avidina-biotina-peroxidase para o anticorpo immunohistochemical method for polyclonal antibody an-
policlonal antiproteína S100. Foi avaliada de maneira tiprotein S100. All the external region of the intervertebral
interativa toda a circunferência do disco intervertebral, disc was studied in an interactive way, with a digital-pic-
com aumento de 400 vezes, com auxilio de um sistema ture system analysis set, 400 times magnification. The au-
de análise digital de imagem. Os autores encontraram thors found nerve endings in the outer surface and in the
terminações nervosas em toda a superfície externa e ca- surface layer of the annulus fibrosus. No nerve endings
mada superficial do ânulo fibroso. Não foram encon- were found in the inner layer of the annulus fibrosus and
tradas terminações nervosas na camada interna do ânu- in the pulpous core. The number of nerve ending found in
lo fibroso e no núcleo pulposo. Houve diferença the lateral and posterior region of the intervertebral disc
estatisticamente significante entre o número de termi- was different when statistical analysis was performed.
nações nervosas nas regiões laterais e posterior do dis-
co intervertebral. Key words – Nerve endings; intervertebral discs; vertebral spine

Unitermos – Terminações nervosas; disco intervertebral; coluna


vertebral

* Resumo da Dissertação de Mestrado apresentada no Programa de Pós- 4. Doutor em Medicina; Médico Assistente do Grupo de Patologias da Co-
Graduação em Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de luna Vertebral da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia do Departa-
São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM). mento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM.
5. Mestre em Ortopedia e Traumatologia pelo Programa de Pós-Graduação
1. Mestre em Ortopedia e Traumatologia; Médico Assistente do Grupo de em Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM.
Patologias da Coluna Vertebral da Disciplina de Ortopedia e Traumatolo- 6. Médico Assistente do Grupo de Patologias da Coluna Vertebral da Disci-
gia do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM. plina de Ortopedia e Traumatologia do Departamento de Ortopedia e Trau-
matologia da Unifesp/EPM.
2. Professor Associado (Doutor); Chefe do Grupo de Patologias da Coluna
Endereço para correspondência: Universidade Federal de São Paulo/Escola
Vertebral da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia do Departamento
de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp/EPM. Paulista de Medicina, Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Rua
Napoleão de Barros, 715, 1º andar – 04024-002 – São Paulo, SP.
3. Professora Adjunta (Doutora) do Departamento de Patologia da Unifesp/ Recebido em 27/8/01. Aprovado para publicação em 21/3/02.
EPM. Copyright RBO2002

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V.M. OLIVEIRA, E.B. PUERTAS, M.T.S. ALVES, J.C.M. CHAGAS, C.E.A.S. OLIVEIRA, F.P.E. SANTOS & M. WAJCHENBERG

INTRODUÇÃO O material foi retirado aproximadamente 12 horas após


O disco intervertebral é suprido por vários ramos nervo- o óbito durante a necropsia realizada no Serviço de Verifi-
sos, sendo o principal o nervo sinuvertebral descrito por cação de Óbitos da Faculdade de Medicina da Universida-
Luschka(1). O nervo sinuvertebral tem uma origem espi- de de São Paulo (SVO-FMUSP), excluindo-se o cadáver com
nhal e outra no sistema nervoso simpático, a qual pode lesão visível do disco intervertebral ou cirurgia prévia na
explicar sua distribuição vascular(1,2,3,4). coluna vertebral.
A origem espinhal surge distal ao gânglio da raiz dorsal Foram retirados todos os discos intervertebrais, de L1 a
e entra no canal espinhal na linha média, dando ramos di- L5, de placa terminal a placa terminal, e colocados em so-
retamente para o disco abaixo e acima de cada nível. lução de formaldeído a 10%. Este material foi levado para
O nervo sinuvertebral surge diretamente à frente do ner- o Departamento de Patologia da Universidade Federal de
vo espinhal distal ao gânglio, juntamente com os ramos São Paulo-Escola Paulista de Medicina, onde esses discos
comunicantes. Em cada nível há vários filamentos, que se foram identificados, divididos no plano transverso e sub-
anastomosam entre si e com os ramos do lado oposto na divididos em quatro partes no plano sagital, sendo identifi-
linha média. Ele emite fibras nervosas para a dura-máter, cada cada parte como região anterior, regiões laterais e
para a adventícia de vasos sanguíneos e um número de fi- posterior, de acordo com as referências anatômicas, cha-
bras nervosas para o ligamento longitudinal posterior e para madas de A, B, C e D, respectivamente. Ao dividir as re-
a margem do ânulo fibroso. giões laterais não levamos em consideração o lado direito
A estrutura do disco intervertebral já está bem definida ou esquerdo e também não avaliamos o lado dominante
quanto a sua origem, composição do ânulo fibroso e nú- dos indivíduos porque não encontramos na literatura ne-
cleo pulposo; porém, sua inervação é controversa. A pro- nhuma referência a esse dado; portanto, iremos considerá-
posta deste trabalho é o estudo da inervação em toda a cir- las como uma única região, somando sua inervação e divi-
cunferência dos discos intervertebrais da coluna lombar em dindo por dois. Dessa forma, dos cinco cadáveres, tivemos
cadáveres de humanos adultos jovens, comparando com a um total de 25 discos e um total de cem fragmentos de
literatura(5). discos.

MATERIAL E MÉTODOS Método histológico


Material No Laboratório de Patologia da Unifesp/EPM, após a fi-
Foram estudados cinco cadáveres de adultos com idade xação, as peças foram desidratadas em concentrações cres-
entre 20 e 36 anos, sendo quatro do sexo masculino e um centes de álcool, diafanizadas em xilol e incluídas em pa-
do feminino, cujos dados estão sumarizados na tabela 1. rafina.

TABELA 1
Distribuição dos espécimes segundo o número de ordem, iniciais, número do Serviço de
Verificação de Óbitos (SVO), cor, sexo, idade, causa mortis e data da retirada das peças
Material distribution according to register number, initials, Death Verification Service
code, race, sex, cause of death, and date in which the specimens were collected

Nº de Iniciais Nº do Cor Sexo Idade/ Causa Data da


ordem SVO anos mortis retirada

I GAR 12002 Não-branca Masculino 36 Edema pulmonar alcoolismo 22/11/1999


II VLSN 12310 Branca Feminino 31 Infarto agudo miocárdio 30/11/1999
III FSJ 12570 Não branca Masculino 22 Asma brônquica 08/12/1999
IV FMAP 12578 Branca Masculino 35 Infarto agudo miocárdio 08/12/1999
V OCL 1329 Branca Masculino 20 Leptospirose 08/02/2000

SVO – Serviço de Verificação de Óbitos


Fonte: EPM/Unifesp

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ESTUDO DAS TERMINAÇÕES NERVOSAS DOS DISCOS INTERVERTEBRAIS DA COLUNA LOMBAR DE HUMANOS

1 2

3 4

Figs. 1, 2, 3 e 4 – Mostram as regiões A, B, C e D, respectivamente, com as terminações nervosas coradas em castanho pelo método
imunohistoquímico da estrepto-avidina-biotina-peroxidase para o anticorpo policlonal antiproteína S100
Fig. 1, 2, 3, and 4 – Show regions A, B, C and D, respectively, with the nerve endings dyed brown by the streptavidin-biotin-peroxidase
immunohistochemical method for polyclonal antibody antiprotein S100

Do material incluído em parafina foram confeccionados acromáticas) a um computador Pentium® MMX 233MHz
cortes histológicos com espessura máxima de 4µm em lâ- com 64MB de memória RAM, equipado com uma placa di-
minas previamente “silanizadas” (3-Aminopropyltrietho- gitalizadora e o software Pro-Image, trabalhando em am-
xysilane®, Sigma Chemical, CO, USA, código A3648), dei- biente Windows.
xadas na estufa a 60ºC por 24h (para maior adesão dos Estudamos o ânulo fibroso em sua superfície externa e
cortes), que foram coradas pelo método imunohistoquími- interna, como também todo o núcleo pulposo.
co da estrepto-avidina-biotina-peroxidase para o anticor-
po policlonal antiproteína S100 (Dako, código Z0311 lote Método estatístico
026, diluição 1/5.000).
Procedemos à contagem das terminações nervosas em Para avaliar possíveis diferenças entre os discos para cada
toda a extensão do disco, coradas pelo método imunohis- região, bem como diferença entre as regiões para cada dis-
toquímico, de maneira interativa, com aumento de 400 ve- co, usamos o teste não paramétrico para “K” amostras não
zes, com auxílio do sistema de análise digital de imagem independentes de Friedman(6), complementado, quando
Pro-Image®, que consiste de uma videocâmara JVC® mo- necessário, pelo teste de comparações múltiplas(7).
delo TK 1180V, que transmite a imagem capturada do mi- Em todos os casos, o nível de rejeição para a hipótese de
croscópio Olympus® (modelo BX40 com objetivas plan- nulidade foi sempre um valor menor ou igual a 0,05 (5%).
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Quando a estatística calculada apresentou significância, C em relação a D e resultado tendendo a significância en-
usamos um asterisco (*) para caracterizá-la; caso contrá- tre as regiões A em relação a D.
rio, isto é, não significante, usamos N.S.
DISCUSSÃO
RESULTADOS
Estudamos 25 discos intervertebrais de cadáveres de
Dos 25 discos intervertebrais estudados, em 15 (60%) adultos jovens, retirados durante necropsia, com aproxima-
encontramos terminações nervosas em toda a sua superfí- damente 12 horas de óbito. O tempo para fazer a retirada
cie externa. Não foram encontradas terminações nervosas das peças anatômicas foi semelhante ao de outros autores:
na região posterior de sete discos (28%), nas regiões ante- Bogduk et al(8) retiraram suas peças em aproximadamente
riores e posterior de um disco (4%), nas regiões laterais e 12 horas e Jackson et al(9), aproximadamente oito horas
posterior de um disco (4%), na região lateral de um disco após óbito. No início pensamos em retirar as peças entre
(4%) e, em um disco, não foi encontrada nenhuma termi- seis e oito horas após o óbito, porém, por motivos legais,
nação nervosa. isso não foi possível. As necropsias no SVO/FMUSP são rea-
Foram encontradas fibras nervosas de diferentes tama- lizadas em aproximadamente 12 horas após o óbito. Acre-
nhos e espessura variada em toda a circunferência da ca- ditamos que nesse tempo não ocorre degeneração das es-
mada externa e na superfície do ânulo fibroso. Encontra- truturas nervosas do disco intervertebral. Jelinek e
mos também grande número de fibras ao redor dos vasos Malinsky(10) estudaram os discos intervertebrais em 36 ca-
sanguíneos na periferia dessa estrutura. dáveres com idade variável de pré-natal a 77 anos de ida-
Não foram encontradas terminações nervosas na cama- de, nos quais esse material foi retirado entre duas e seis
da interna do ânulo fibroso e em toda a região do núcleo horas porque, segundo eles, quanto mais rápida a retirada
pulposo (figuras 1, 2, 3 e 4 mostram as regiões A, B, C e D, e a fixação do material, menor seria a autólise.
respectivamente, com as terminações nervosas coradas em Alguns autores estudaram a terminação nervosa na co-
castanho). luna lombar de cadáveres de adultos, porém não mencio-
A tabela 2 apresenta os resultados da média de termina- naram o número de terminações nervosas existentes. Eles
ções nervosas encontradas em cada disco intervertebral em estudaram o território inervado pelo nervo sinuvertebral e
relação às regiões A, B + C e D, respectivamente. disseram que este nervo era responsável pela inervação do
A tabela 3 mostra o número de terminações nervosas ligamento longitudinal posterior e parte posterior do ânulo
(média) nos discos L1, L2, L3, L4 e L5, segundo as re- fibroso(3,8).
giões A, B + C e D.
Como não houve diferença significante entre as regiões
TABELA 3
A, B + C e D dos cinco discos intervertebrais (tabela 2), Número (média) de terminações nervosas nos discos
consideramos para análise a média dessas regiões (tabela L1, L2, L3, L4 e L5 segundo as regiões A, B + C e D e
3) e obtivemos resultado significante entre as regiões B + número (média) de terminações das cinco peças das
regiões A, B + C e D entre si e resultado da estatística
Mean number of nerve endings in L1, L2, L3, L3, L4 and
TABELA 2 L5 discs according to regions A, B + C, and D, and mean
Número (média) de terminações nervosas number of nerve endings of the five specimens in regions A,
nas regiões A, B + C e D segundo os discos B + C, and D compared to one another, and statistical results
L1, L2, L3, L4 e L5 e resultado da estatística
Mean number of nerve endings in regions A, B + C, and D Regiões A B+C C χ 2 calculado
according to discs L1, L2, L3, L4, L5 and statistical results
Média L1 15,6 41,0 34,8 0,111 N.S.
Discos L1 L2 L3 L4 L5 χ 2 calculado Média L2 40,8 56,5 41,0 1,368 N.S.
Média L3 70,8 69,1 34,8 7,600* A > D
Média A 63,2 40,8 70,8 39,2 36,2 3,878 N.S. Média L4 39,2 34,7 18,0 1,200 N.S.
Média B + C 55,4 56,4 69,1 34,7 41,7 5,280 N.S. Média L5 36,2 41,7 17,2 0,737 N.S.
Média D 15,6 41,0 34,8 18,0 17,2 1,506 N.S. Média L1-L5 250,2 258,2 129,0 7,600* B + C > D

Fonte: EPM/Unifesp Fonte: EPM/Unifesp

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ESTUDO DAS TERMINAÇÕES NERVOSAS DOS DISCOS INTERVERTEBRAIS DA COLUNA LOMBAR DE HUMANOS

Jackson et al(9) estudaram as terminações nervosas de 12 que fizemos um estudo quantitativo e encontrarmos termi-
discos intervertebrais pós-necropsia de dois fetos e dois nações nervosas nessa estrutura.
natimortos e analisaram 15 fragmentos de discos retirados Outros autores(9,13,15) não encontraram terminações ner-
durante cirurgia de hérnia discal. Eles encontraram termi- vosas no ânulo fibroso, o que difere do nosso trabalho, pois
nações nervosas no ligamento longitudinal posterior, liga- encontramos essas estruturas na sua periferia.
mento longitudinal anterior e na superfície periférica do Ikari(16) usou o método de impregnação argêntica e não
ânulo fibroso. Eles não encontraram terminações nervosas encontrou fibras nervosas no ânulo fibroso.
na região profunda do ânulo fibroso e núcleo pulposo(3,8,9). Segundo Bogduk et al(8), Humzah e Soames(11) e Roberts
Procuramos avaliar a presença e a quantidade de termi- et al(15), a prata não é um bom meio para coloração, porque
nações nervosas existentes nas regiões anteriores, laterais ela cora as terminações nervosas e todas as substâncias vi-
e posterior dos discos intervertebrais. Nossos achados são zinhas da mesma forma. Porém, Cavanaugh et al(2), que
compatíveis com os de Perdersen et al(3), Bogduk et al(8) e estudaram a distribuição nervosa em coluna de coelhos
Humzah e Soames(11), porque encontramos terminações ner- usando essa mesma técnica, encontraram terminações ner-
vosas na superfície periférica do ânulo fibroso e também vosas na periferia do ânulo fibroso e ligamento longitudi-
não as achamos na região profunda dessa mesma estrutura nal posterior. Essa afirmação contradiz os achados dos au-
e no núcleo pulposo, porém, não estudamos essas estrutu- tores anteriormente citados.
ras nos ligamentos adjacentes ao disco. Nós utilizamos o método imunohistoquímico pela téc-
Wiberg(12) estudou seis discos intervertebrais de fetos e nica estrepto-avidina-biotina-peroxidase e encontramos boa
de adultos, em que não foram encontradas terminações ner- sensibilidade em detectar as terminações nervosas com 83%
vosas no ânulo fibroso e núcleo pulposo. Ele encontrou de positividade.
terminações nervosas apenas na superfície externa do liga- Roberts et al(15) estudaram a coluna lombar de humanos
mento longitudinal posterior. Atribuiu esse achado à e bovinos à procura de receptores mecânicos no ligamento
destruição das fibras nervosas durante a descalcificação. longitudinal anterior e disco intervertebral. Eles concluí-
Nossos resultados foram diferentes desse autor porque en- ram que esses receptores estavam presentes na camada ex-
contramos terminações nervosas em toda a periferia do dis- terna do ânulo fibroso e no ligamento longitudinal ante-
co intervertebral e o nosso material não foi submetido à rior.
descalcificação. Em nosso material não estudamos a inervação nos liga-
Jung e Brunschwig(13) estudaram segmentos da coluna mentos adjacentes ao disco intervertebral, porém Bogduk
dorsal e lombar usando a descalcificação. Eles encontra- et al(8), Humzah e Soames(11) e Jung e Brunschwig(13) estu-
ram terminações nervosas nos ligamentos anteriores e pos- daram esses ligamentos e encontraram terminações nervo-
terior e não encontraram terminações nervosas em toda a sas nessas estruturas. Mas nenhum desses autores pesqui-
região do ânulo fibroso. Eles diferem de Wiberg(12) porque sou a presença de receptores mecânicos.
conseguiram encontrar terminações nervosas no ligamen- Concordarmos com Humzah e Soames(11), Jelinek e Ma-
to longitudinal anterior em material descalcificado. Con- linsky(10) e Coppes et al(17), em relação à presença de termi-
cordam quanto à presença de terminações nervosas no li- nações nervosas na camada externa do ânulo fibroso.
gamento longitudinal posterior e sua ausência no ânulo Coppes et al(17) estudaram discos intervertebrais sadios
fibroso. e degenerados da coluna lombar de humanos e observaram
A maioria dos autores procedeu à contagem qualitativa terminações nervosas em toda a periferia dessa estrutura.
das terminações nervosas encontradas no ânulo fibroso, Em oito de 10 discos degenerados eles encontraram tam-
porém não chegaram a um consenso. Alguns autores(4,8,11) bém terminações nervosas na camada interna do disco in-
encontraram fibras não mielinizadas e outros(2,3), fibras tervertebral.
mielinizadas, enquanto outros mais(10,14) acharam fibras mie- Em nosso estudo encontramos terminações nervosas em
linizadas e fibras não-mielinizadas. Em nosso estudo não toda a camada externa do ânulo fibroso e não encontramos
fizemos contagem qualitativa das terminações nervosas essas estruturas na camada interna do ânulo fibroso e no
existentes no ânulo fibroso, mas concordamos com os au- núcleo pulposo. Estudamos apenas discos intervertebrais
tores que o ânulo fibroso possui terminação nervosa, por- sadios.
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V.M. OLIVEIRA, E.B. PUERTAS, M.T.S. ALVES, J.C.M. CHAGAS, C.E.A.S. OLIVEIRA, F.P.E. SANTOS & M. WAJCHENBERG

Encontramos inervação em toda a periferia do ânulo fi- 3. Pedersen H.S., Blunck C.F.J., Gardner E.: The anatomy of lumbosacral
posterior rami and meningeal branches of spinal nerves (sinu-vertebral
broso e o número de terminações nervosas encontradas na nerves). J Bone Joint Surg [Am] 38: 377-391, 1956.
região lateral e anterior foi praticamente o dobro da região
4. Roofe P.G.: Innervation of annulus fibrosus and posterior longitudinal
posterior (tabela 3). Na análise estatística observamos que ligaments. Arch Neurol Psychiatr 44: 100-103, 1940.
no disco L3 a diferença entre as regiões A e D apresentou 5. Oliveira V.M.: Estudo das terminações nervosas do disco intervertebral
significância (tabela 3), porém, ao obtermos a média das da coluna lombar de humanos [Dissertação de Mestrado]. São Paulo,
regiões, a significância foi entre as regiões B + C em rela- SP: EPM/Unifesp, 22, 49f, 2001.
ção a D (tabela 3) e entre a região A em relação a D existia 6. Holander M., Wolfe D.A: “Comparações múltiplas” in Nonparametric
statistical methods. John Wiley e Sons, p. 503, 1973.
tendência a significância. Não encontramos na literatura
estudos que fizeram análise quantitativa em relação às re- 7. Siegal S.: “Teste de Friedman” in Estatística não paramétrica (para as
ciências do comportamento). McGraw Hill, p. 350, 1975.
giões dos discos intervertebrais para compararmos os re-
8. Bogduk N., Tynan W., Wilson A.S.: The nerve supply to the human lum-
sultados. bar intervertebral disc. J Anat 132: 39-56, 1981.
9. Jackson H.C., Winkelmam R.K., Bickel W.M.: Nerve endings in the
CONCLUSÕES human lumbar spinal column and related structures. J Bone Joint Surg
[Am] 48: 1272-1281, 1966.
1) Nas peças estudadas, todas as camadas superficiais
10. Jelinek G., Malinsky J.: Inervace bedernich myolrathovych photenek
externas do ânulo fibroso continham terminações nervo- cloveka. Csl Worfal 4: 205-217, 1956.
sas.
11. Humzah M.D., Soames R.W.: Human intervertebral disc: structure and
2) Houve diferença estaticamente significante entre o function. Anat Rec 220: 337-356, 1988.
número de terminações nervosas nas regiões laterais e pos- 12. Wiberg G.: Back pain in relation to nerve supply of intervertebral disc.
terior do disco intervertebral. Acta Orthop Scand 19: 211-221, 1949.
3) Não foram observadas terminações nervosas na por- 13. Jung A., Brunschwig A.: Recherches histologiques sur l’innervation des
ção profunda do ânulo fibroso e no núcleo pulposo. articulations des corps vertébraux. Presse Med 40: 316-317, 1932.
4) No nosso material somente em L3 houve diferença 14. Ehrenhaft J.L.: Development of the vertebral column as related to cer-
estaticamente significante entre a região anterior e poste- tain congenital and pathological changes. Surg Gynec Obstet 76: 282-
292, 1943.
rior quanto à presença de terminações nervosas.
15. Roberts S., Eisenstein S.M., Menage J., Evans E.H., Ashton I.K.: Mech-
anoreceptors in intervertebral disc. Morphology, distribution and neu-
REFERÊNCIAS ropeptides. Spine 20: 2645-2651, 1995.
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2. Cavanaugh J.M., Kallakuri S., Ozaktay A.C.: Innervation of the rabbit ical examination of disease. J Bone Joint Surg [Am] 36: 195, 1954.
lumbar intervertebral disc and posterior longitudinal ligament. Spine 20: 17. Coppes M.H., Marani E., Thomeer R.T., Groen G.T.: Innervation of
2080-2085, 1995. “painful” lumbar disc. Spine 22: 2342-2349, 1997.

200 Rev Bras Ortop _ Vol. 37, Nº 5 – Maio, 2002

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