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FILOSOFIA 3ºANO

SEMINÁRIO DE ESTUDO ORIENTADO VI


DOCENTE JOÃO RIBEIRO MENDES

Questão 7: Podem os seres humanos melhorados contar como propriedade intelectual de


alguém?
“Vejam a obra de Deus: quem pode endireitar o que Ele fez torto?”
Ecclesiastes 7:13

Não, os seres humanos melhorados não podem contar como propriedade


intelectual de ninguém. A técnica de melhoramento genético pode estar patenteada mas
uma vez que ela se comercializa torna-se pública, quero dizer com isto que, a pessoa
que pagou para ser geneticamente melhorada passa a ser o único proprietário do que
possuirá no interior do seu corpo. Se o contrário acontecesse, seria um atento à
liberdade humana e à sua dignidade.
Considerando que a natureza não pode ser propriedade de ninguém, e uma vez
que os seres humanos são criaturas da mesma, é deixado bem claro que estes não podem
ser patenteados. Mas podemos inferir que o facto de serem geneticamente modificados
altera a definição da natureza humana, e desta forma podem ser reivindicado direitos de
propriedade intelectual sobre eles, posto que, deixaram de pertencer à natureza. Se o
genoma humano sofrer uma modificação num número humano significativo isso
alterará a definição do ser humano. Teríamos que redefinir novos padrões morais para
esta nova sociedade. Com a tentativa de aplicar a engenharia genética aos homens,
surgem logo as suspeitas de novas práticas eugénicas. Ao melhorar o ser humano, a vida
hei-lhe grandemente facilitada, já não precisa de lutar para obter o que deseja. Quem
escreveria a história? Prejudicaria o património genético da humanidade, perverteria a
imprevisibilidade da natureza, tornaria a raça humana homogénea, colocaria a dignidade
humana em causa e facilitaria o controlo social. A velocidade com que se propagou o
uso de drogas como o Prozac e o Ritalin é alarmante, de facto, mostra a nossa fácil
adesão para com produtos de melhoramento humano. Uma vida perfeita não facultaria
emoções, a razão é que os defeitos, e não só as qualidades, são inerentes ao homem.
Se pegarmos por outro ângulo, as empresas que descobrem novos produtos de
melhoramento humano têm todo o direito de obterem protecção das patentes todavia
decorrem consequências alertantes. O acesso aos produtos de melhoramento humano,
físico ou psicológico, será destinado a pessoas que possam pagá-los. Por conseguinte,

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criar-se-á um abismo entre os que têm acesso e os que não podem obtê-los. Se olharmos
de mais perto concordaríamos facilmente que alguns tratamentos de melhoramento
humano como, por exemplo, os tratamentos de cura para cancros deveriam estar
disponíveis para todos, isto é, excluídos de patentes dado que seria imoral proceder de
maneira diferente. As consequências da manipulação genética seriam muito mais
profundas, além de imprevisíveis. Podemos imaginar o impacto que as primeiras
crianças geneticamente melhoradas poderão causar na nossa sociedade. Um futuro
como no filme “GATTACA”é plausível: homens geneticamente modificados são
antepostos socialmente aos que não o foram. Se este cenário se concretizar o acaso já
não terá lugar na sociedade e só as pessoas geneticamente melhoradas serão dignas da
humanidade e a igualdade humana será ameaçada. As técnicas de hoje podem causar
problemas no desenvolvimento dos embriões por falta de conhecimento. Não podemos
relegar para segundo plano que decisões genéticas são irrevogáveis. Se formos capazes
de retardar o envelhecimento causaria mudanças demográficas uma vez que as mulheres
tendem a viver mais do que os homens isso implicaria que as mulheres idosas passariam
a ser um grupo significativo de eleitoras, consumidoras e líderes. Dado que a politica
sofre mudanças quando uma geração substitui a outra, como seria se cada geração
permanecesse no poder por muito mais tempo? Tudo isto afecta as nossas definições do
que é certo ou errado, do que é digno ou indigno. O prolongamento da vida aumentará
os problemas económicos pois a sociedade terá que suportar os custos da pessoa idosa
por mais tempo. Os mais novos teriam dificuldade em “subir na hierarquia social
organizada por escalões etários”. Bebes por encomenda são concebidos para serem
perfeitos logo acarretará a extinção da competição e do mérito. As patentes tornam-se
prejudiciais para a inovação científica e tecnológica e prejudicam os consumidores uma
vez que criam monopólios de empresas que deixariam de competir nos preços e
qualidade dos produtos. E como não podemos deixar de olhar para o outro lado da
moeda, as patentes incentivam a investir em pesquisas uma vez que o retorno é
imediato. Mas é necessário que o uso das tecnologias visem a promover o bem-estar e
os valores humanos e não se concentrem apenas nos lucros das empresas.
Fukuyama receia o desaparecimento da verdadeira essência do ser humano com
a introdução de tecnologias de melhoramento nas nossas vidas. Para ele os direitos do

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homem são colocados em causa, que correspondem às bases da própria moralidade


humana. O grande desenvolvimento da ciência acarreta cada vez mais implicações sobre
os direitos humanos, obrigando à formação de instituições e políticas que protejam o ser
humano, enquanto ser natural, e todos os direitos que daí advêm.

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