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ISLAMISMO NO SÉCULO XXI: UM OLHAR HISTÓRICO SOBRE A RELIGIÃO E O

AVANÇO DO FUNDAMENTALISMO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Autora: Mônica Storto Valentin1


Orientador: Luis de Castro Campos Júnior2

Resumo: O Islamismo é a religião que mais cresce no mundo e, no Brasil, ainda é


visto com vários preconceitos e sem esclarecimentos. Assim, o objetivo do trabalho
atual é analisar historicamente a religião islâmica, buscando compreender suas
principais doutrinas, símbolos e manifestações, de modo contextualizá-los com a
atualidade. Foram ministrados 7 (sete) encontros com os alunos do 3º ano do ensino
médio de uma escola pública, utilizando filmes, documentários, debates,
questionários, produção de textos e, por fim, uma pesquisa produzida pelos próprios
alunos, destacando o Islamismo no mundo atual e como ele é reproduzido pelas
atuais mídias. O trabalho buscou contribuir com a desmistificação da religião
Islâmica, apresentando esclarecimentos sobre os preconceitos existentes.

Palavras-chave: Religião; Islamismo; Tolerância; Fundamentalismo;

1 INTRODUÇÃO

As religiões apresentam diversidade de crenças e práticas que são


presentes na vida da maioria dos indivíduos. Desse modo, o estudo sobre a
religiosidade é necessário para que o conhecimento sobre alguma religião seja livre
de preconceitos por meio de novas perspectivas e esclarecimentos. Os meios de
comunicação (como a TV aberta, internet, entre outras) dificilmente veiculam aquilo
que, de fato, é pregado pelo Islã, se limitando apenas a acontecimentos trágicos
provocados por grupos fundamentalistas. Assim, os estudos sobre o Islamismo
podem contribuir para a desmistificação dessa religião.
O Islamismo, religião foco deste Projeto de Intervenção, é a segunda maior
religião do mundo em número de fiéis e a religião que mais cresce, com um número
aproximado de 1,6 bilhões de adeptos atualmente (mais de 20% da população
mundial) (MUBARAK, 2014). Segundo relatório do Centro de Pesquisas Pew1

1
Professora do Quadro Próprio do Magistério do Paraná, participante do Programa de
Desenvolvimento Educacional – Edição 2017. Atua no Colégio Estadual Papa Paulo VI – Nova
América da Colina - PR
2
Professor Doutor, docente da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP – Campus de
Jacarezinho – PR.
(2015), estima-se que a população muçulmana crescerá em torno de 35% nos
próximos vinte anos, chegando a aproximadamente 2,2 bilhões de fiéis.
Diante de dados tão expressivos, é possível perceber a crescente influência
islâmica em nossa sociedade. Sendo necessário, portanto, um conhecimento mais
aprofundado dessa religião, de modo a levar a tolerância e o respeito ao “diferente”,
visto que ela ainda é vista com estranheza, carregada de preconceito, em muitos
países, inclusive no Brasil. Para isso, a questão norteadora presente no trabalho é a
seguinte: “De que modo é possível desconstruir ideias preconceituosas a respeito da
religião islâmica, colaborando para o desenvolvimento de um senso crítico, evitando
generalizações e levando à tolerância para com os membros desta religião?”. Assim,
o objetivo do trabalho atual consiste em analisar historicamente o islamismo,
buscando compreender suas principais doutrinas, símbolos e manifestações, de
modo contextualizá-los com a atualidade.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Dos conceitos de história, cultura e religião

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p. 47) caracterizam,


como finalidade da História, a “busca pela superação das carências humanas”,
através de ações conscientes dos sujeitos históricos, sendo tais carências
entendidas como os mecanismos de exclusão social e de desrespeito aos direitos
humanos, que incluem, dentre muitos aspectos, o respeito à vida e o livre culto. Para
a compreensão do objetivo deste Projeto de Intervenção, também é necessário
entender dois conceitos desta linha de estudo: cultura e religião. De acordo com
Leite (2004, p. 12):

Cultura é o sistema integrado de padrões de comportamento aprendidos, os


quais são característicos dos membros de uma sociedade e não o resultado
de herança biológica. É o resultado da invenção social e é transmitida e
aprendida somente através da comunicação e da aprendizagem.

Assim, entende-se que a cultura é algo complexo, que inclui o


conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e
aptidões adquiridos pelo ser humano vivendo em sociedade. A cultura permite
enxergar a forma como o ser humano, em relação com outros componentes de seu
grupo, explica o mundo, através do conhecimento do conjunto de significados
atribuídos pelos indivíduos à realidade em que vivem (ALVES, 2003).
Os conceitos de cultura e religião, segundo Oliveira (2012, p. 3) são
entendidos como “ parte de um sistema simbólico que dá significado às coisas e às
ações humanas”. Assim, a religião é parte integrante da cultura, visto que a essência
do fenômeno religioso é a “de buscar significar e de responder a perguntas sobre a
existência humana e sobre o sentido da vida”.
Religião, porém, não possui um conceito universal, tampouco uma
etimologia bem definida da palavra em si. Rubens Alves (2003, p. 8), pontua a
principal marca das religiões como “o esforço para pensar a realidade toda a partir
da exigência de que a vida faça sentido”, não importa o quão diferente elas sejam
umas das outras.
O historiador da religião Mircea Eliade (1992, p. 14) afirma que o Sagrado é
repleto de “ser”, de significado. Desse modo, o Sagrado vai além de uma crença
estabelecida, simbólica e ritualística, constituindo uma fé que ultrapassa o material,
o mundano. Para ele, a “potência sagrada quer dizer ao mesmo tempo realidade,
perenidade e eficácia”, ou seja, o Sagrado é o oposto do profano (aquilo que não
pertence ao âmbito religioso).
É de grande importância que esses assuntos tratados no trabalho atual
sejam levados em consideração visando o contexto dos alunos, pois, o Ensino
Religioso existe para suprir a necessidade de socialização do conhecimento do
Transcendente e para apontar possíveis diferenças e semelhanças permitindo ao
educando o respeito à diversidade religiosa. Nas escolas públicas, esse ensino deve
ser orientado por alguns eixos norteadores de conteúdos comuns, de modo a serem
analisadas as culturas e tradições religiosas, com seus ritos, hábitos e crenças de
caráter moral (ethos) e seus Textos Sagrados, sejam eles de tradição oral ou
escritos. De acordo com Soares e Stigar (2016, p. 141):

A escola é o espaço de construção de conhecimentos e, principalmente, de


socialização dos conhecimentos historicamente produzidos e acumulados.
E, como todo conhecimento humano é sempre patrimônio da humanidade, o
conhecimento religioso deve também estar disponível a todos que a ele
queiram ter acesso.
O conhecimento religioso acontece inserido em determinada cultura, sendo
ele influenciado por ela, ao passo que também é um dos fatores que a influenciam.
Essa dualidade é descrita por Soares e Stigar (2016, p.142) levando em
consideração a grande influência do transcendente em toda produção cultural
existente. Sinteticamente, os mesmos autores definem:

O Ensino Religioso como parte integrante da vida escolar é: um processo


de observação, reflexão e informação sobre o fenômeno religioso, a partir
do contexto social e cultural do educando. É um processo interativo entre
educador e educando, na busca de realização enquanto seres humanos,
inseridos numa sociedade, onde devem ser reconhecidos e respeitados
como cidadãos; é uma abertura ao diálogo inter-religioso, na perspectiva
dos valores universais, comuns a todas as tradições religiosas, tendo por
base a alteridade e o direito à liberdade de consciência e opção religiosa.

A questão da alteridade é também muito presente na disciplina de História, o


que justifica, também, a necessidade de conhecer a religião Islâmica de modo mais
aprofundado e livre de preconceitos consolidados. Nas Diretrizes Curriculares da
Educação Básica (2008, p. 57), consta que

(...) a aprendizagem histórica configura a capacidade dos jovens se


orientarem na vida e constituírem uma identidade a partir da alteridade. A
constituição desta identidade se dá na relação com os múltiplos sujeitos e
suas respectivas visões de mundo e temporalidades em diversos contextos
espaço-temporais por meio da narrativa histórica.

2.2. Da necessidade de conhecer a religião islâmica

Percebe-se que as bases da construção do conhecimento histórico são as


relações entre os mais diversos sujeitos, construídas ao longo do tempo.
Observando a realidade atual, é possível perceber grande deficiência de
conhecimento com relação às muitas religiões, devido ao remanescente caráter
proselitista e cristocêntrico do Ensino Religioso nas escolas (SOARES & STIGAR,
2016).
O Islamismo foi eleito foco deste projeto de intervenção devido aos recentes
acontecimentos trágicos ao redor do mundo, que culminaram na construção de uma
imagem errônea do que é pregado por essa religião. Desta forma, através da
compreensão do credo do Islamismo, sua história, preceitos e ensinamentos,
direcionando-os para um senso investigativo, pois muito do conhecimento desta
religião veiculado pela mídia é parcial e impreciso.
Na cultura brasileira, costuma-se confundir os termos ligados a religião
Islâmica. Por isto, é necessário que haja estudos sobre o tema (com foco nas
crenças, nos termos, costumes, conceitos), para que os professores sejam mais
preparados visando ensinar os alunos no contexto escolar (MUBARAK, 2014).

2.3. Do Islamismo

O termo Islamismo tem origem do árabe islam, que significa “submissão”,


em sua raiz etimológica. Já a palavra “muçulmano” vem do árabe muslim, que
designa “aquele que se submete a Deus”. A própria etimologia da palavra já denota
o que é pregado, essencialmente, por este credo. De acordo com o Instituto
Brasileiro de Estudos Islâmicos, (2007)3, para o Islamismo:

(...) a submissão sem reservas à vontade de Deus Altíssimo é a verdadeira


fonte de paz. Conhecer as leis de Deus (fé, amor ao próximo, respeito
mútuo, caridade, fraternidade, tolerância, entre outras) e praticá-las no dia-
a-dia pavimenta o caminho para o encontro da verdadeira paz.

A religião islâmica tem sua origem datada do século VII D.C., fundada pelo
profeta Mohammad (Maomé). De acordo com a tradição, o comerciante da cidade
de Meca, na península arábica, recebeu a visita do anjo Gabriel, que o anunciou
como o último dos cinco grandes profetas da humanidade, dando-o a missão de
pregar os ensinamentos enviados diretamente de Deus ou Allah. Assim, durante 23
anos, Mohammad escreveu o Corão (ou Alcorão), livro dos quais os Islâmicos
prestam culto (MUBARAK, 2014). Sobre o Corão, Armstrong (2001, p. 39) define
como:

Reza o Alcorão, as escrituras reveladas que ele transmitiu aos árabes no


comedem do século VII, que o primeiro dever de um muçulmano consiste
em construir uma sociedade justa e igualitária, onde os pobres e os fracos

3
Disponível em: http://www.ibeipr.com.br/perguntas_ver.php?id_pergunta=7. Acesso em 24/04/2017.
sejam tratados com respeito. Isso demanda uma jihad (palavra que se deve
traduzir por "luta" ou "esforço", não por "guerra santa", como pensam
geralmente os ocidentais) em todas as vertentes: espiritual, política, social,
pessoal, militar e econômica. Organizando a vida inteira de modo que Deus
tenha prioridade e seus planos para a humanidade se concretizem
plenamente, os fiéis chegarão a uma integração pessoal e social que lhes
permitirá vislumbrar a unidade que é Deus.

Devido a perseguições em sua pregação em Meca, que durou


aproximadamente uma década, Mohammad migrou para a cidade de Medina
(conhecida como Yathrib até 622 D.C.), onde o profeta e sua mensagem foram
melhor recebidos. Neste acontecimento, conhecido como Hégira, iniciou-se o
calendário muçulmano. Após numerosas batalhas com os opositores de Meca e a
morte de Mohammad, a população islâmica se viu vitoriosa, porém, com um
problema de sucessão do profeta à frente do povo.
Assim, houve a divisão do povo em dois: dos apoiadores de Abu Bakr al-
Siddiq, que acompanhou Mohammad durante a Hégira e esteve ao lado dele
durante as batalhas, surgindo o grupo dos Sunitas, vertente islâmica mais ortodoxa
e de maioria religiosa, que tem por princípio seguir a suna, o caminho trilhado pelo
profeta. Já os que eram a favor da sucessão por Ali ibn Abi Talib, primo e genro do
antecessor, seu parente mais próximo e pupilo, ficaram conhecidos como Xiitas, um
grupo menos numeroso que reconhece Ali como sucessor de Mohammad.
Apesar destas divergências, a essência da religião é a mesma para Sunitas
e Xiitas. Por práticas religiosas concretas, todo muçulmano possui cinco pilares
essenciais para o seguimento do islã, obrigatórios a todos os devotos: 1) Shehadah
(a Profissão Islâmica da Fé, que consiste em uma declaração de fé, de que não
existe outro deus além de Alá e que Mohammad é seu mensageiro); 2) Salah (a
Oração, que designa as cinco orações diárias, voltadas para Meca); 3) Zakat (a
Caridade Compulsória, uma doação em forma de tributo para ajudar os
necessitados); 4) A observação do jejum durante o Ramadan, o nono mês do
calendário muçulmano, tempo sagrado de vivência da fraternidade e da valorização
da família; e 5) Raj (a Peregrinação, com destino a Meca, que deve ser realizada,
pelo menos, uma vez na vida, se as condições físicas e financeiras permitirem).
A religião Islâmica também tem algumas características culturais em vários
aspectos. O casamento, por exemplo, considerado a forma pela qual uma pessoa
será realmente feliz. Os Xiitas seguem a prática matrimonial de casamentos
arranjados, já os sunitas desaprovam tal prática. Para o Islamismo, os homens
podem se casar com até quatro mulheres e essa prática é chamada poligamia. As
mulheres costumam usar o véu (em árabe, Hijab) como sinal de respeito e honra a
Deus e a seus maridos. Pode-se perceber, através desta breve explanação sobre a
religião islâmica, que ela tem por fim pregar a tolerância, a obediência a sua
divindade superior e a busca da salam, ou seja, a paz que é encontrada através da
unidade, com Alá e com os seres humanos.

3 MÉTODO

3.1 Participantes, local e materiais

O projeto foi aplicado em alunos do 3º ano do ensino médio do Colégio


Estadual Papa Paulo VI durante as aulas da disciplina de História. Para as
atividades desenvolvidas (questionários, produções de textos, debates, encenações
teatrais), havia a utilização matérias impressos em folhas de papel, materiais
didáticos (cadernos, canetas, lápis, etc) e recursos multimídia (como computadores
e datashow).

3.2 Procedimento

A Intervenção Pedagógica foi dividida em 7 encontros. Em geral, cada


encontro tinha objetivos e métodos específicos, sendo que cada encontro se
estruturava da seguinte maneira: apresentação objetivo do encontro; em seguida,
havia a exposição do tema do encontro por meio de algum recurso de exposição –
slides, documentários, músicas, filmes, textos; na sequência, uma atividade era
proposta para os alunos que poderiam realizá-las dentro e/ou fora da sala de aula.
Cada encontro poderia ser trabalhado com uma duração entre três e seis aulas.

3.2.1 Encontros

1º Encontro (4 aulas): Inicialmente, de modo a compreender a extensão do


conhecimento dos alunos quanto ao objeto de estudo do projeto, foram
apresentados slides sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica. Logo em seguida,
foi realizado um questionário oral (Apêndice 1) com perguntas sobre influências das
religiões na vida dos próprios alunos. O encontro foi finalizado com um debate
acerca das respostas que os alunos deram, tendo a professora como mediadora,
incitando a participação dos discentes. Este encontro teve como atividade proposta
uma tarefa para casa na qual eles deveriam assistir a dois vídeos encontrados no
site "YouTube", dos quais explanavam sobre o Islamismo.
2º Encontro (3 aulas): Houve, primeiramente, uma breve explicação sobre a
importância de os alunos aprenderem sobre o Islamismo e, em seguida, ocorreu a
aplicação de um questionário diagnóstico individual (Apêndice 2) com perguntas
sobre a religião islâmica. Este deveria ser respondido com base nas aulas anteriores
e nos vídeos que deveriam ser assistidos em casa (tarefa do 1º Encontro). Após os
alunos terem respondido as perguntas previamente elaboradas, a professora fez a
correção sua com explicações, resoluções de dúvidas e debate sobre o Islamismo,
com o objetivo de ampliar o conhecimento por parte dos alunos sobe a religião
islâmica.
3º Encontro (5 aulas): Com o intuito de incitar uma visão crítica sobre a
formação histórica do Islamismo, foi apresentado o documentário "A história do
Islamismo" aos alunos, complementando todo o conteúdo que já havia sido
ministrado. Os alunos participaram de debates sobre o surgimento e a expansão do
Islamismo pelo mundo. Como atividade proposta pelo encontro, ao término do
debate, os alunos foram divididos em 4 grupos e cada grupo confeccionou um breve
texto referente ao documentário que assistiram. Cada texto foi exposto aos demais
grupos da sala.
4º Encontro (5 aulas): Nesses encontros foi exibido o filme "Cruzada", de
Ridley Scott, para os alunos, com o intuito de possibilitar uma visão crítica dos
conflitos que ocorreram entre cristãos e muçulmanos pela cidade de Jerusalém,
cujos resultados do conhecido Cerco de Jerusalém foram determinantes para a
permanência do povo islâmico no Oriente Médio. Após assistirem ao filme, foi
promovido um debate para que os alunos expusessem suas opiniões e dúvidas.
Eles poderiam utilizar um texto de apoio acerca do conteúdo (Apêndice 3). Após isto,
os alunos foram divididos em 4 grupos para produzir uma cena teatral (atividade do
encontro) sobre a cena que consideravam mais importante do filme e apresentá-la.
5º Encontro (6 aulas): Os alunos formaram grupos de três a seis integrantes
para lerem 4 textos sobre o Islamismo (um deles tinha como assunto o Islamismo de
modo geral, outro sobre o Corão, o terceiro sobre ensinamentos islâmicos e o último
sobre a população de muçulmanos – Apêndice 4). O objetivo foi fazer com que os
compreendessem a “essência” do islã, seus ritos e suas principais tradições com um
embasamento teórico sem vieses de mídia. Após a leitura, os alunos foram divididos
em 4 grupos para elaboraram perguntas que pudessem ser expostas para a turma.
Estas perguntas foram respondidas pela professora ou pelos alunos. Como atividade
do encontro, foi dada uma lista com 7 filmes (Apêndice 5) para os alunos assistirem
em casa.
6º Encontro (4 aulas): Foi proposta uma atividade extraclasse, da qual os
alunos deveriam entrevistar um seguidor do Islamismo. A entrevista poderia ser
realizada presencialmente ou virtualmente. Para isso, os alunos foram orientados
em sala de aula sobre como realizar uma entrevista, tanto em questões técnicas
(quais perguntas seriam relevantes, sobre a duração da entrevista, entre outros
aspectos), quanto na parte ética (de, principalmente, respeitarem a opinião do
entrevistado, sem promover embates ou questionamentos de cunho
preconceituoso). As entrevistas seriam relatadas e discutidas por todos os alunos
em sala de aula. Neste penúltimo encontro, também foi solicitado para que eles
realizassem uma pesquisa na internet referente a questões que culminaram nos
atuais conflitos religiosos quem têm ocorrido na África, Ásia e Europa e também, se
possível, organizarem para a aula pequenos relatos pessoais de quem acompanha
estes conflitos. Todo esse material deveria ser levado à sala de aula e discutido
entre a turma, analisando de forma crítica e levantando as principais causas e
consequências desses conflitos pesquisados.
7º Encontro (5 aulas): Os alunos foram orientados a se dividirem em grupos
para realizarem uma pesquisa baseada em livros diferentes para cada grupo. A
pesquisa deveria conter dados importantes e o contexto histórico, político e social da
formação dos principais grupos extremistas islâmicos do cenário mundial, visto que
os mesmos são colocados em evidência pela mídia, bem como a “justificativa”
baseada na religião que os mesmos atribuem às suas atitudes. Em um segundo
momento, os alunos se organizaram em círculo na sala de aula e ouviram as
músicas "Som da liberdade" de Ivair Filho e o jingle da "Campanha Liberdade
Religiosa", com letra de Guilene Leonardi. Haveria então, um debate acerca do
assunto sobre intolerância religiosa. Para finalizar o projeto os alunos, divididos em
grupos, deixariam uma mensagem – oral ou escrita – para a turma, com o intuito de
desmistificarem qualquer conceito equivocado que ainda existia sobre o Islamismo e
seus participantes e desconstruindo qualquer tipo de generalização preconceituosa
sobre a religião.

4. RESULTADOS E REFLEXÕES

A religiosidade dos alunos se encontrou totalmente ligada às suas famílias.


Todos os alunos possuem a mesma religião que é praticada pelos integrantes do
seu núcleo familiar, sendo estas, ou o catolicismo ou alguma vertente do
protestantismo4. A maioria dos alunos vai aos locais específicos onde há a prática de
sua religião pelo menos uma vez por semana e participa de algum grupo de ensino
religioso, como por exemplo catequese ou grupo de oração.

No início os alunos demonstraram possuir pouco conhecimento sobre o


islamismo. Foi preciso, inclusive, que a professora explicasse com mais detalhes
sobre a religião e seus praticantes, pois apenas o nome não tinha sido suficiente
para alguns. Os alunos que já tinham um contato prévio com o assunto tentaram
auxiliar a professora explicando aos outros como eram (para eles) o islamismo. As
falas destes com algum conhecimento se limitavam a “aqueles caras barbudos”,
“aquele pessoal dos homens bomba”, “Tem aquele cara das Torres Gêmeas, o
Osama Bin Laden”, “aquelas mulheres que usam roupas tapando tudo”. Quando
lhes foram apresentados os vídeos sobre o islamismo, os alunos foram
demonstrando possuir um conhecimento prévio sobre a religião maior que eles
haviam imaginado, comentando sobre Maomé, Oriente Médio, Meca, Alcorão. Nos
debates neste primeiro momento, mesmo com as explicações da docente e
apresentação dos vídeos, os alunos ainda demonstravam uma visão estereotipada
do islamismo e seus praticantes.

Ainda no começo da intervenção os alunos responderam um questionário


com perguntas fechadas sobre o islamismo (ver apêndice 2). Essas perguntas
deveriam ser respondidas com base nos vídeos que foram indicados a eles com a

4
Em suas diferentes vertentes. Podendo ser originários do Protestantismo histórico (igrejas Batista,
Presbiteriana, Metodista) ou do pentecostalismo (Assembleia de Deus, Congregação Cristã, Quadrangular, etc.)
proposta de assistirem em casa. Foi identificado que eles passaram a ter maior
conhecimento sobre o islamismo, de forma geral, acertando sete itens.

A dificuldade nas questões envolvia datas e que necessitavam escrita, alguns


alunos escreveram o nome da cidade de Meca errado "Neca", "Mequa" constituindo
a natureza dos erros encontrados. Porém, com o debate inicial após a correção e
discussão, levantaram-se diversos questionamentos sobre o assunto por parte dos
alunos. Pediram para que fosse mostrado onde fica Meca, Terra Santa, Jerusalém,
como que era o corão, maiores explicações sobre Maomé, como eram as
vestimentas, o motivo das mulheres usarem burca. A professora neste momento se
tornou papel fundamental para o desenvolvimento da aula, não apenas para sanar a
dúvida dos alunos, mas também para continuar incentivando maior participação
possível durante os debates.

Nas aulas seguintes foram expostas aos alunos as produções em vídeo sobre
o Islamismo, tornando-se as que tiveram maior adesão dos alunos. Todos eles
participaram ativamente das discussões e, principalmente, das enquetes produzidas
baseadas no filme "A Cruzada". Nas discussões os alunos começaram a relatar que
"O Islã é uma religião e deve ser respeitada como qualquer outra", "no jornal só se
fala sobre terrorismo", "é difícil de achar na internet algo sobre o islã que não
destaque o terrorismo", "as mulheres no Islã também não são iguais os homens
como acontece aqui no Brasil", em resposta à essa última fala um aluno disse "mas
as mulheres aqui tem muito mais liberdade que lá", "A mulher precisa de autorização
do marido pra muitas coisas, inclusive para trabalhar. Isso é errado". Ficou bem
claro que nas discussões os alunos começaram a analisar o islamismo baseando-se
na cultura em que estão inseridos, eles passaram a colocar aspectos positivos e
negativos do islã com base em sua vivência, mas não apareceu crítica alguma se
baseando na visão simplista dos islâmicos. E nas apresentações, todos os grupos
reproduziram as cenas de conflito do filme. Alguns grupos fizeram algo mais
caricato, com comédia, outros tentaram reproduzir fielmente as cenas. Também
houve debate sobre o filme e cada vez mais os alunos se mostravam interessados
em discutir o tema, fazendo diversas perguntas como "quem eram os cavaleiros
templários", "como foram as cruzadas", "como estão as cidades representadas no
filme hoje", "por que ainda existem guerras naquele lugar?". O debate se voltou para
tentar contextualizar os conflitos daquela região, explicando aos alunos as relações
que se estabeleceram desde o surgimento do islã até os dias atuais.

Embora não conseguissem realizar a entrevista com os seguidores do


islamismo, houve toda a preparação para que os alunos estivessem capacitados
visando a realização do trabalho. Os discentes encontraram facilmente relatos de
islâmicos na internet para trazerem à sala de aula5. Estes relatos, entretanto, foram
todos de vítimas de grupos terroristas do Estado Islâmico. O questionamento aos
alunos sobre o motivo de todos levarem relatos sobre a mesma coisa suscitou um
debate sobre como a mídia, mesmo na internet que parece ser um meio de
comunicação imparcial, expressa uma imagem sobre a vida do povo islâmico. Os
alunos disseram que só conseguiram encontrar esse tipo de relato: "quando eu
procurei na internet foi só isso que apareceu". Os relatos em si acabaram sendo tão
importantes para a aula, pois a professora percebeu que seria relevante questionar
os alunos os motivos de apenas terem encontrado esse tipo de relato, incitando a
visão crítica da sala. Em todo esse momento a professora explicou sobre os grupos
terroristas, colocando o extremismo deles em destaque e que eles não representam
o povo islâmico.

Nas últimas aulas os alunos trouxeram diversas notícias sobre os grupos


terroristas islâmicos, que foram o Estado Islâmico, Boko Haram, Hamas e o Talibã.
Acrescentando o que tinha sido discutido nas aulas anteriores, a professora buscou
falar do assunto com cuidado o tempo todo para que os alunos não passassem a
perceber esses grupos terroristas com a visão errônea de que eles representam o
islã e como eles se utilizam da religião islâmica para justificarem seus atos.

Em um último momento os alunos após ouvirem as músicas "Som da


liberdade" e a música da campanha "Liberdade religiosa" começaram a relatar sobre
tudo o que aprenderam sobre o Islã sob uma visão de tolerância e respeito à religião
islâmica, "Devemos respeitar a religião de todo mundo, e com o islamismo não é
diferente", "As pessoas tem que ter a liberdade pra escolher a religião que
quiserem", "Não devemos impor a religião para ninguém, assim como os grupos
terroristas estão tentando fazer". E relataram que os grupos terroristas não são o

5
Na verdade tais relatos tornaram-se importantes para os alunos compreenderem a imagem dos adeptos ao
islamismo veiculadas nas chamadas mídias sociais. No caso específico sites de busca como Google e mídias que
permitem maior interação como Facebook.
resultado do que o islamismo propõe "A religião islâmica é muito maior que esses
grupos", "Os terroristas só usam a religião deles como desculpa pra impor suas
ideias por meio da violência".

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de intervenção pedagógica se mostrou efetivo ao inserir a religião
islâmica nos estudos dos alunos como forma de desconstrução de preconceitos e
visões generalistas sobre o Islamismo e seus praticantes. Os alunos no início do
projeto sabiam pouco sobre o assunto e possuíam aquela visão de que todos eram
terroristas, barbudos, pobres, as mulheres sofriam, só viviam de burca, e outras
características estereotipadas que são transmitidas pelos meios de comunicação. Já
ao final do projeto os estudantes estavam conhecendo melhor a religião, com um
discurso diferente daquele que se deu no início do projeto. Eles falaram de liberdade
religiosa, tema que não tinha aparecido no início das aulas.

Mas é importante destacar que apenas o fato dos alunos terem conhecimento
mais aprofundado sobre o assunto venha a contribuir para que eles construam uma
visão de tolerância, sem preconceitos e visão generalista. O modo como foi
desenvolvido o projeto ajudou a tratar de cada assunto no momento certo. O
assunto da intolerância e liberdade religiosa, tanto como os debates sobre os grupos
terroristas, apenas aconteceu na parte final do projeto, pois assim os alunos
estariam preparados para compreender melhor sobre estes temas e seria mais
seguro tratar com eles isso sem que resultasse em mais preconceito e intolerância.
O projeto organizado dessa forma foi de fundamental importância para que os
resultados obtidos elucidassem aqueles esperados no momento de sua elaboração .
Primeiro é importante entender a visão dos alunos sobre o tema, introduzir a partir
daí o assunto, aos poucos, com base nas deficiências que o professor identificou a
partir da fala dos discentes. Em um segundo momento deve-se ir aumentando a
densidade do conteúdo, tentando sempre fazer com que os mesmos se sintam
motivados nos estudos. Neste contexto o uso de filmes e debates ao longo da
disciplina se mostrou aqui efetivo, em que a exigência de longos trabalhos e deveres
escritos poderia acarretar desânimo e não engajamento pela maior parte dos alunos
como ocorreu no projeto. E após estarem com um conhecimento adequado sobre o
assunto, a classe poderia discutir as questões polêmicas que geram tantos debates
e visões extremistas.

Vale destacar que o professor deve sempre estar atento ao que é discutido
nas aulas e saber conduzir bem os debates e interrogações dos alunos. Ele é o
papel chave para que a intervenção, da forma como foi elaborada, venha atingir os
seus objetivos.
REFERÊNCIAS

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mágico. Uberlândia, 19/12/2008. 89 f . Disponível em:
<http://www.recantodasletras.com.br/trabalhosacademicos/1344663>. Acesso em 12
jul. 2016.

MUBARAK, Caleb. Islamismo: una introducción. Tradução: Hellen Ramiro de


Araújo. 1ª ed. Missões Mundiais, Sevilla, 2014.

OLIVEIRA, J. L. M.. Análise antropológica do fenômeno religioso. 2012. Trabalho


do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião). Disponível em:
<http://www.ucb.br/sites/000/14/pdf/fenomenoreligioso.pdf>. Acesso em 15 jul. 2016.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação.


Diretrizes Curriculares da Educação Básica: história. 2008. Curitiba: SEED/PR.
Disponível em: <www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_hist.pdf>.
Acesso em: 14 jul. 2016.
SOARES, Afonso Maria Ligorio; STIGAR, Robson. Perspectivas para o Ensino
Religioso: a Ciência da Religião como novo paradigma. São Paulo: Rever, nº. 01,
pp. 137-152, jan/abr 2016.

STACEY, Aisha. A população de muçulmanos: estatística e dados. 26 jan. 2015


Disponível em: <http://www.islamreligion.com/pt/articles/4394/populacao-de-
muculmanos-parte-1-de-2/>. Acesso em 15 jul. 2016.
APÊNDICE 1 – questionário oral com perguntas sobre influências das religiões
na vida dos próprios alunos do 1º encontro.

a) Vocês frequentam alguma religião? Qual?


b) É a mesma de sua família?
c) Qual é a importância da igreja que você frequenta em sua vida? E da sua família
ou pessoas que você convive?
d) Outras perguntas consideradas curiosidade e relevantes por parte dos alunos e
alunas ao assunto trabalhado.
APÊNDICE 2 – questionário diagnóstico individual do 2º encontro.

1. Quem é o principal profeta do Islamismo?


( ) Jesus
( ) Maomé
( ) Cristo
( ) Moisés

2. Qual é o livro sagrado do Islamismo?


( ) Testamento ( ) Alcorão
( ) Torá
( ) Bíblia

3. Quem é o Deus no Islamismo?


( ) Jesus Cristo
( ) Allah
( ) Maomé
( ) Moisés

4. Como são chamados os seguidores do Islamismo?


( ) Cristo
( ) Allah
( ) Maomé
( ) Moisés

5. O que significa Islã em árabe?


( ) Fé
( ) Emoção
( ) Sagrado
( ) Submissão

6. Complete: O Islamismo crê em um só Deus por isso é considerada uma religião

(Uma palavra, 10 letras)


7. Marque a alternativa ERRADA:
( ) O muçulmano deve orar cinco vezes ao longo do dia.
( ) O Alcorão é dividido em suras.
( ) Os muçulmanos não crêem no juízo final.
( ) O muçulmano deve ao menos uma vez na vida peregrinar a Meca.

8. Qual destes profetas não foi um profeta do Islamismo?


( ) Jesus
( ) Moisés
( ) Abraão
( ) José

9. Em que ano nasceu o Islamismo?


( ) 615
( ) 610
( ) 622
( ) 630

10. Cidade sagrada para o islamismo:

(Quatro letras)
APÊNDICE 3 – texto de apoio acerca do conteúdo do 4º encontro.

Leitura e debate sobre o relato do filme: “Cruzada”, de Ridley Scott.

É provável que a escolha de Ridley Scott em filmar Cruzada relacione-se


com a intensificação gradativa dos embates entre árabes e judeus no início do
século XXI e com o envolvimento cada vez maior de países ocidentais e da
comunidade internacional no conflito, o que reacendeu as discussões sobre as suas
origens históricas. Cabe ressaltar que a película de Scott foi lançada em 2005,
depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, quando as
Torres Gêmeas foram destruídas por radicais muçulmanos. Esse fato colocou o
terrorismo, associado ao islã, no centro dos debates dos noticiários de jornais e TVs
de todo mundo. Na época, o presidente George W. Bush propôs “uma cruzada”
contra o “mal do oriente”, organizando uma guerra entre norte-americanos e afegãos
em nome da defesa da segurança, da liberdade e da democracia. Em resposta,
Osama Bin Laden utilizou o discurso de Bush para afirmar que os Estados Unidos
realizavam no Afeganistão uma cruzada contra os muçulmanos.

Fonte:http://revistas.ufpr.br/historia/article/viewFile/30561/19757 (Acesso em: 20 out.


2016).
APÊNDICE 4 – textos sobre o Islamismo do 5º encontro.
APÊNDICE 5 – lista de filmes do 5º encontro.

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