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Baixo custo de instalação, com danos ambientais dentro dos limites aceitáveis.

Essas
são as razões pelas quais os aterros sanitários de pequeno porte, com capacidade de
receber até 10 toneladas de lixo por dia, tornaram-se opções para resolver o problema
causado pela destinação incorreta de resíduos sólidos nas cidades com menos de 30
mil habitantes, de acordo com uma pesquisa desenvolvida para uma tese de
doutorado pela USP (Universidade de São Paulo).
Com investimentos significativamente mais baratos – na casa dos R$ 5 milhões,
contra R$ 52 milhões de um aterro sanitário com capacidade de receber 100 toneladas
de lixo por dia, – esses aterros possuem capacidade reduzida, precisam de menos
burocracia para terem a construção liberada e, segundo a pesquisa, não alteram o
meio ambiente.
“Eles são uma opção viável, tanto financeiramente quanto ecologicamente, para que
cidades de pequeno porte encarem de frente os problemas causados pelo lixo”, avalia
o pesquisador e engenheiro civil Cristiano Kenji Iwai, da Faculdade de Saúde Pública
da USP, autor da pesquisa.
Ele lembra ainda que essas cidades, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de
Georgrafia e Estatística), concentram uma população estimada em 60 milhões de
pessoas, que enviam seus resíduos, na grande maioria dos casos, para os lixões, que
são a opção menos ecologicamente correta na hora de se livrar do lixo. Basta dizer
que 2.906 mil lixões brasileiros, 98% localizam-se em cidades com essas
características.
Por ano, segundo a Abrete (Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de
Resíduos), o total de lixo enviado a locais inadequados no Brasil chega a 2,8 milhões
de toneladas, algo na casa dos 42,3% do total de resíduos produzidos no país.

Lixão x aterro
Como regra geral, os municípios optam pelos lixões por não terem condições de
construir os aterros sanitários. “Não podemos dizer que as pequenas cidades sejam
vilãs. Mas a situação do destino do lixo, nas cidades pequenas, é um problema grave”,
avalia a pesquisadora Livia Reis Campos, que defendeu uma dissertação de mestrado
sobre o assunto na Universidade Federal da Bahia.
Entre as cidades com menos de 30 mil habitantes, algo em torno de 68,5% - ou 2.785
cidades – não dão destinação correta ao lixo que produzem, depositando os resíduos
em lixões e aterros sem estrutura.
O primeiro, e talvez mais poderoso, argumento a favor dos aterros sanitários de
pequeno porte é o econômico. Segundo dados de um estudo elaborado pela FGV
(Fundação Getúlio Vargas), a construção de um aterro de grande porte, com
capacidade para receber 2 mil toneladas/dia de lixo e ou uma população de 2,5
milhões de pessoas não sai por menos de R$ 525,8 milhões.
Um de médio porte – e população de 1 milhão – fica na casa de R$ 236,5 milhões,
com capacidade para 800 toneladas/dia. Municípios com população de 200 mil
habitantes têm a opção de investir R$ 52,4 milhões para uma capacidade de 100
toneladas/dia.

Preço
Dessa forma, os aterros sanitários de menor porte tornam-se opções mais palatáveis
ao bolso das prefeituras de cidades pequenas. O presidente da Confederação
Nacional dos Municípios), Paulo Ziulkoski, avalia que a questão financeira é, de longe,
o maior problema que impede a erradicação dos lixões.
“Se não tiver dinheiro dos Estados e da União, nem daqui a 50 anos os lixões serão
eliminados. Municípios precisam de dinheiro para isso. Não há caixa para construir
aterros”.
Ziulkoski explica, para a grande maioria dos municípios, pensar em aterros sanitários é
uma impossibilidade. “Se não houver planejamento conjunto, essas metas serão
apenas uma “miragem”, diz o presidente da CNM.
Segundo Lívia, além desses aterros, há ainda uma outra opção, ainda mais em conta
– os aterros sanitários simplificados. Ela defende, em sua tese de mestrado, que
esses empreendimentos – que custam na casa de R$ 500 mil e R$ 1 milhão, em
valores corrigidos – a pesquisa é de 2008 – são construídos em terrenos públicos, o
que diminui o valor de investimento, e poderiam ser aplicados em 85% dos municípios
baianos, todos abaixo dos 30 mil habitantes.
“O aterro simplificado consiste em um tipo de tecnologia de destino final de resíduos
sólidos que requer um custo mais baixo para a sua construção e manutenção, além de
exigir a incorporação de mão de obra menos qualificada e sua gestão ser mais
simplificada, se adequando mais facilmente às restrições dos municípios pequenos”,
avalia.

Ambiente
Segundo Kenji Iwai, a questão ambiental, vista por muitos como outro entrave à
construção de aterros sanitários, não é um problema significativo. Para sua tese de
doutorado, ele desenvolveu trabalho de campo em três aterros sanitários do interior de
São Paulo e constatou que em nenhum deles houve contaminação do solo ou da água
dos lençóis freáticos. As cidades de Jaci, Angatuba e Luiz Antônio foram os alvos da
pesquisa.
“Os resultados encontrados foram comparados com os limites de risco à saúde
humana, que é um padrão para o Estado de São Paulo em geral, no gerenciamento de
áreas contaminadas. Em todos eles, as normas de segurança recomendadas foram
seguidas e não houve mudança significativa na estrutura do solo. Apenas em um dos
locais havia valores de bário superiores aos recomendados, mas era uma situação
pontual, que não se traduz em risco para a população ou para o meio ambiente”,
informou.
Iwai explica ainda que os aterros de resíduos sólidos em pequenas cidades foram
sistematizados em 1997 pela Cetesb como opção que pequenos municípios do Estado
de São Paulo poderiam adotar. Como os resultados foram positivos – hoje, apenas
7,6% do lixo estadual é destinado para lixões – a experiência serviu de modelo e foi
incentivada pelo governo federal. “Todo esse processo me incentivou a pesquisar
melhor a concepção e qualidade dos aterros sanitários de pequeno porte,”conta Iwai.
Apesar da viabilidade do método, o engenheiro deixa claro que é positivo aceitá-lo
como uma condição transitória. “Trata-se de uma evolução gradual que isso [os
aterros] pode fornecer, mas não se espera depender dessa tecnologia eternamente,
como uma solução única. É necessário também trabalhar as pessoas culturalmente
para redução da quantidade de resíduos destinada aos aterros sanitários.”
Vida útil
Normalmente, a vida útil ideal de um aterro sanitário é 10 anos, mas alguns não
chegam a durar esse tempo. Quando o aterro esgota sua capacidade, é preciso fechá-
lo e providenciar medidas como o reflorestamento, para diminuir os impactos
ambientais.
Mesmo depois de encerradas as operações, gás e chorume continuam sendo gerados
por pelo menos 15 anos. Sendo assim, não se recomenda que o terreno seja usado,
por exemplo, para construções.
Mesmo sendo a destinação mais comum das sobras não reaproveitáveis, o aterro
sanitário tem uma vida útil limitada. Esse tempo máximo de uso do aterro é um prazo
importante e deve ser respeitado pelo tratador.

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