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PARIPIRANGA
2021
ANA IOLANDA SANTOS MENEZES
Orientador: Prof.______________________
Co-orientador: Prof.____________________
PARIPIRANGA
2021
Orientador: Prof.______________________
Menezes, Ana Iolanda Santos; Carvalho, Maria Helena Costa
* Cutter Sistema de garantia de direitos das crianças e dos adolescentes: fragili-
dades, potencialidades e desafios / Ana Iolanda Santos Manezes; Maria He-
lena Costa Carvalho. - Paripiranga, 2021.
LXXIX 79 f.
Notas
* CDD
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca Examinadora
____________________________________________________
Msc. Franciele Santana de Sousa / UNIAGES
_____________________________________________________
Esp. Lucivânia de Oliveira Lisboa / CREAS DE ITABAIANA-SE
CRAS DE RIBEIRÓPOLIS -SE
Dedicamos para todos aqueles que enxergam o mundo com um olhar
sonhador de uma criança.
AGRADECIMENTOS – Ana Iolanda
The research is of fundamental importance, due to the debate about the System for Guaranteeing
Children’s and Adolescents’ Rights (SGCAR) and the need to understand its weaknesses, po-
tentials and challenges, entering the matter at the heart of its issue. In view of the above, the
networking ineffectiveness in the social protection system was perceived, since there is no ad-
equate dialogue, thus causing the weakening of full protection and enabling rights for children
and adolescents. In addition, it was discussed about the current social panorama, the Covid-19
pandemic and the impacts that the virus is causing in these children’s and adolescents’ lives
who are part of a vulnerability and social risk context, who need to adapt to this new corporate
dynamic. And, consequently, it also reaches the categories of professionals who work with this
audience. The general research objective is to understand the system weaknesses, potentials and
challenges for guaranteeing the children’s and adolescents’ rights and how this goes against
their personal and social development. The aforementioned research is of a qualitative order,
as it discusses the theme in its entirety, analyzing in depth the vast paths that were followed for
the emergence of the SGCAR, through a bibliographical study.
1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 16
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 76
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1 APRESENTAÇÃO
A mencionada pesquisa tem como tema: “Sistema de Garantia de Direitos das Crianças
e dos Adolescentes: fragilidades, potencialidades e desafios”, o qual tem como objetivo analisar
a atuação do Estado diante da proteção dos direitos da Criança e do Adolescente e discutir a
suas ações dentro do período de isolamento social, bem como fazer uma reflexão a respeito dos
impactos nas relações sociais de crianças e adolescentes que sofreram violações de direitos por
meio da família, sociedade e Estado.
É de grande importância abordar a respeito do Sistema de Garantia de Direitos das Cri-
anças e dos Adolescentes – SGDCA, uma vez que, esse sistema se apresenta como uma junção
de instituições de caráter protetivo que visa promover, defender e controlar a concretização dos
direitos das crianças e dos adolescentes, sua criação é resultado da necessidade de proteger o
público infanto-juvenil que carrega uma herança deixada pelo modo como a figura da criança
e adolescente sempre foi vista, desde os tempos mais primórdios da sua existência, pois, não
eram visualizados como cidadãos de direitos.
Dessa forma, não existia um reconhecimento de direito e cidadania e nem consideravam
a sua condição de pessoa em desenvolvimento, fazendo-se necessário reformular o modo de
pensar e enxergar esse público infanto-juvenil que ainda são acometidos pelas mais diversas
expressões da questão social, além disso, ainda se perpassa a ideia de que a criança e adoles-
cente são de total responsabilidade dos seus pais, cabendo aos mesmos o dever de garantir a
sua subsistência, educação e bem-estar, sendo que é uma responsabilidade conjunta da família,
sociedade e do Estado como previsto na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), que são uma das principais ferramentas de promoção de direitos e defesa
desse público.
Portanto, o Sistema de Garantia de Direitos das Crianças e dos adolescentes vem como
forma de articular e garantir a efetivação desses direitos, bem como reafirmar a sua cidadania,
buscando minimizar as expressões da questão social que afetam o público infanto-juvenil e
fortalecer o seu papel enquanto cidadão que possui direitos que precisam ser respeitados e ga-
rantidos.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), criado
pela Lei nº 8242/1991, tem um papel de suma importância no SGDCA, pois, é através desse
conselho que o sistema será monitorado, para além disso, é responsável por elaborar as normas
gerais responsáveis pela Política Nacional de Atendimento dos Direitos da Criança e do Ado-
lescente e de administrar as normas de proteção para esse público.
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O propósito inicial para a elaboração desse trabalho é entender a realidade desse sistema
que se apresenta de forma integral, por abranger todas as esferas da nossa sociedade, ainda
assim, encontra fragilidades na sua execução e na articulação da rede de proteção que impede
que suas potencialidades sejam totalmente efetivas e eficazes, demonstrando um grande desafio
para a viabilização de direitos.
Existe uma desresponsabilização do Estado diante o desenvolvimento infanto-juvenil,
dessa maneira, as crianças e adolescentes vítimas de violência e privação de direitos acabam
por ficarem desassistidas pela falta de um apoio qualificado da esfera pública. Consequente-
mente, isso também afetará nas ações do Sistema de Garantia de Direitos, principalmente no
que se trata de entidades e instituições responsáveis por promover os principais eixos que fazem
parte da sua composição.
O intuito dessa pesquisa é discorrer acerca do Sistema de Garantias de Direitos das Cri-
anças e dos Adolescentes trazendo suas fragilidades, potencialidades e desafios dando enfoque
nos impactos que tais problemáticas desse sistema podem debilitar o acesso de serviços e na
garantia de direitos para o público infanto-juvenil. Dessa forma, cabem aos responsáveis por
tais instituições que sejam tomadas medidas de garantir a eficiência dessa proteção, sendo im-
portante frisar a necessidade de investir na capacitação dos profissionais que atuam nessas en-
tidades e nas políticas sociais de atendimento às crianças e adolescentes, ainda mais em um
contexto de pandemia que acarreta o agravamento das mazelas sociais necessitando ainda mais
do SGDCA.
Além disso, no desdobrar da pesquisa, demostramos como a tríade família, sociedade e
Estado são os principais pilares para que os direitos da infância e adolescência sejam prestados
e garantidos. Quando existe a violação de direito por meio de um deles, ocasiona em uma fra-
gilização de vínculos que dificulta o acesso aos meios de proteção levando a uma negligência
que pode impactar no desenvolvimento pessoal e social desse público e consequentemente suas
relações sociais tornam-se enfraquecidas.
A justificativa da pesquisa consiste no entendimento do sistema de Garantia de Direitos
como uma articulação e integração de instituições e instâncias do poder público que visam pro-
mover a defesa, o controle e a efetivação dos direitos da criança e dos adolescentes. Também é
de suma importância compreender as fragilidades, as potencialidades e os desafios apresentados
nesse sistema, em vista que, a violação de direitos de crianças e adolescentes não se dá somente
pela família e a sociedade, mas também pelas entidades e instituições responsáveis de res-
guardá-los.
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explicam a respeito dos eixos de defesa, promoção e controle, bem como as fragilidades, po-
tencialidades e desafios que fazem parte desse sistema.
O capítulo três abordará os impactos sociais que acarretam a vida das crianças e dos
adolescentes que sofreram violações de direitos, trazendo os contextos de mazelas sociais que
afligem a sociedade e, por conseguinte o público infanto-juvenil, entendendo que a fase de
desenvolvimento é primordial para que esses vulneráveis possuam uma relação saudável não
somente familiar, mas também societária. Serão trazidos alguns avanços nas políticas sociais
desse público, mas frisando que muitas fragilidades nas três esferas de proteção social da cri-
ança e adolescente aumentam as chances de ocorrerem tais violações de direitos.
Sendo assim, abordaremos de forma mais focalizada, as três esferas de proteção a esse
público, que são: família, sociedade e Estado. O primeiro subtópico trará a discussão voltada
para a família como base no desenvolvimento das crianças e adolescentes, bem como, os estig-
mas de que agressões de familiares são maneiras educativas de criação, advindo de uma cultura
conservadora. Também discutimos a importância de empoderar e fortalecer os vínculos famili-
ares.
O subtópico sociedade, trata-se da importância da sociedade e sua participação direta na
proteção integral dos direitos das crianças e dos adolescentes. Enquanto o seu último subtópico,
relações com o Estado, demostra como este pode vim a ser um divisor de águas no que se refere
a garantia de proteção de direitos da criança e do adolescente, ao passo que, ao mesmo tempo
que é o principal agente na elaboração de leis e ações que garantam a proteção desse público é
também aquele tem o poder de limitar e ameaçar esses direitos, pois, focaliza políticas públicas,
culpabiliza esses indivíduos e suas famílias pela sua condição de vida, enfraquece a oferta de
serviços com privatizações e contrarreformas devido ao sistema neoliberal ao qual faz parte,
além disso, atua de forma parcial deixando toda a responsabilidade de ofertar a proteção integral
desses indivíduos para seus órgãos protetores como o Conselho Tutelar e a Política de Assis-
tência Social.
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2 ESTADO DA ARTE
O período colonial representou para a sociedade brasileira o berço de sua história, até
dado momento, não haviam documentos históricos ou que comprovassem a existência dos po-
vos nativos que aqui habitavam, e o descobrimento do Novo Mundo marcou a fase de miscige-
nação brasileira, de início com os índios e posteriormente com a chegada dos escravos vindos
da África, para trabalharem nas lavouras devido a resistência indígena em salvar suas terras
que culminou em um dos maiores massacres da nossa história, sendo preciso trazer a mão de
obra escrava para que os lucros aos absolutistas fossem garantidos.
[...] como não existia uma nação indígena e sim grupos dispersos, muitas vezes em
conflito, foi possível aos portugueses encontrar aliados entre os próprios indígenas,
na luta contra os grupos que resistiam a eles [...] isso não quer dizer que os índios não
tenham resistido fortemente aos colonizadores, sobretudo quando se tratou de escra-
vizá-los. Os índios que se submeteram ou foram submetidos sofreram a violência cul-
tural, as epidemias e mortes [...] uma forma excepcional de resistência dos índios con-
sistiu no isolamento, alcançado através de contínuos deslocamentos para regiões cada
vez mais pobres. Em limites muito estreitos, esse recurso permitiu a preservação de
uma herança biológica, social e cultural. Mas, no conjunto, a palavra "catástrofe" é
mesmo a mais adequada para designar o destino da população ameríndia. Milhões de
índios viviam no Brasil na época da conquista e apenas cerca de 250 mil existem nos
dias de hoje. (FAUSTO, 1996, p. 22).
Foi justamente após esse período, que surgiu uma cultura que até hoje se encontra en-
raizada no nosso país, que é a cultura do assistencialismo, ou seja, o Estado usa de um discurso
filantrópico para conquistar a popularidade do seu povo, quando na verdade, está apenas fa-
zendo o que lhe cabe enquanto governo que deve prover aos seus cidadãos os direitos que lhes
são garantidos por lei, e tal ação vai de encontro aos interesses dos burgueses que detém o
controle social dos grupos vulneráveis da sociedade, principalmente quando falamos dos escra-
vos e seus descendentes, que mesmo após o fim da escravatura, se encontravam totalmente sem
assistência do governo brasileiro.
As crianças e adolescentes carentes estavam relacionados à visão das famílias margina-
lizadas da época, algo que foi atrelado desde o período em que os portugueses chegaram ao
país, e a criação de algumas instituições de amparo a estes vulneráveis eram voltados a ideia de
“salvar” a alma daqueles que se desviaram das leis cristãs, desse modo, enquanto as crianças
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burguesas recebiam acesso à educação e outros meios de dignidade humana, as crianças e ado-
lescentes pobres recebiam uma escassa atenção do Estado, voltadas a visões de preconceito e
estigmas de marginalização.
O Estado absolutista português não atentava para a assistência social, uma vez que
estava preocupado com a preservação dos interesses das classes privilegiadas. Aos
poucos, porém, foi se compreendendo que o Estado teria a responsabilidade pela ad-
ministração dos negócios públicos, ou seja, pela economia em geral, e a assistência
seria responsabilidade da piedade particular e de associações leigas. A maior dificul-
dade em estudar o abandono de crianças consiste na ausência de testemunhos produ-
zidos por quem viveu a experiência. [...] famílias e crianças não deixaram seus depo-
imentos. A respeito desse assunto é possível consultar apenas os relatos das institui-
ções. (VENÂNCIO, 1999; RIZZINI, 2008; NOGUEIRA, 2010)
É interessante destacar que também foi nesse período que as crianças e adolescentes que
ficavam órfãos ou eram “rejeitados” por suas famílias que apresentavam dificuldades no mer-
cado de trabalho ou porque moravam em situação de vulnerabilidade habitacional, eram adota-
das por outras famílias que possuíam condições favoráveis para adoção, como também adota-
vam recém-nascidos que constantemente eram encontrados pelas ruas das cidades.
Essas ações de adoção não eram feitas de modo formal, muitas vezes por intermédio da
Igreja, podendo citar a criação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia na Bahia, onde
existia a “Roda dos Expostos”, um compartilhamento de cilindro onde as pessoas deixavam os
bebês nesse local para serem criados pelas associações religiosas.
Destarte, cabe frisar que apesar do Estado mediar ações nesse período por um viés as-
sistencialista e religioso, antes do marco simbólico do fim do período escravocrata, houve ten-
tativas do governo brasileiro em garantir direitos inerentes ao público vulnerável e que favore-
ciam de forma significativa as crianças e os adolescentes, como a promulgação da Lei do Ventre
Livre em 1871, estando muito relacionado às inúmeras pressões que o governo brasileiro sofria
de países estrangeiros que já haviam decretado o fim da escravidão.
A Lei do Ventre Livre baseava-se na primazia de que os filhos das mães escravas que
nascessem após a lei ser sancionada iriam ser livres, bem como, estas crianças deveriam ser
amparadas pelos senhores de suas mães até o período dos oito anos de idade, após o cumpri-
mento dessa fase, poderiam continuar como trabalhadores destes senhores até completar vinte
anos de idade, tal qual, poderia ocorrer destes senhores desejarem entregar a responsabilidade
do menor ao governo e receber uma indenização do Estado ou continuar com sua tutela até os
vinte e um anos. Mas, caso ocorresse situações de maus tratos ou trabalho excessivo, estes
senhores poderiam perder a guarda deste adolescente. Quando entregues de forma definitiva ao
governo, estes eram encaminhados a instituições estatais para prestar serviços, sendo assim, tal
lei foi essencial para intensificar as possibilidades de alforria e cidadania em tempos de escra-
vidão.
Após o fim da escravidão, os negros foram totalmente esquecidos pelo Estado, continu-
ando a ser o grupo mais vulnerável socialmente. Quando trazemos essa realidade para o público
da criança e do adolescente, o aspecto toma proporções ainda mais difíceis, a violência nas
cidades estava atrelada a marginalização das crianças e adolescentes de rua, que sem perspec-
tiva de uma cidadania e garantia de direitos de proteção social, cometiam inúmeros delitos,
sendo exploradas por meio do trabalho infantil, sem contar nos casos de abuso que muitos so-
friam nas casas dos senhores onde trabalhavam.
Apesar disso, a ação do Estado para inverter tal situação foi voltada a concepção repres-
siva, sendo assim, é criado em 11 de outubro de 1890 como forma punitiva a estas crianças e
adolescentes que cometiam delitos, o Código Criminal da República ao qual penalizava crian-
ças entre os nove e quatorze anos de idade.
Percebe-se que no Brasil sempre existiu por parte do Estado a tomada de ações por um
viés muito mais punitivo do que educativo e, quando falamos sobre crianças e adolescentes,
fica nítido que a problemática nunca foi tratada pela raiz. Observando o contexto histórico da
realidade dessa criança e adolescente, sempre foi priorizado a abordagem pontual do senso co-
mum, culpabilizando estes indivíduos pela situação a qual se encontravam, a prova disso é que
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os avanços relacionados à forma como o público infanto-juvenil é visto como uma responsabi-
lidade do Estado enquanto sujeitos de direitos foi tardia, durante um longo período, as ativida-
des voltadas a esse público eram de caráter repressivo e culpabilizador.
Os avanços na garantia de direitos as crianças e adolescentes foram muito lentos e não
efetivavam de fato, em uma redução da violência e ampliação da dignidade humana, sem contar
que a assistência a esse público ainda era através das instituições de caráter religioso, e essa
realidade culminou na necessidade de que o Estado intervisse mediante a promulgação de al-
gumas leis voltadas a uma assistência e proteção social mais eficaz aos menores delinquentes e
abandonados.
Para isso, foi criada em 5 de janeiro de 1921 a Lei nº 4.242, a qual passa a idade mínima
para que se respondam por atividades criminais a partir dos 14 anos de idade, bem como, mo-
dificou a visão aos tutores que em outrora cometiam abandono e possíveis violências, tendo
agora o poder de perderem a guarda das crianças e adolescentes que sofressem tais violações
de direitos.
Em 1921, a Lei nº 4.242 que fixou as despesas para o exercício daquele ano e autori-
zou o governo a organizar o serviço de assistência e proteção à infância abandonada
e delinquente (Artigo 3º), estabelecendo a possibilidade da nomeação de um juiz de
direito e funcionários necessários para o funcionamento de um juizado privativo de
menores (Artigo 3º, Alínea d). A Lei também deu as diretrizes para a elaboração do
Código Mello Matos [...] (ZANELLA; LARA, 2015, p.115)
Nessa época, a discussão em torno dos direitos das crianças e dos adolescentes tomavam
proporções mundiais, havendo em 1924 a aprovação da Assembleia da Liga das Nações em
relação à Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança. No Brasil, houve alguns pro-
gressos relacionados à atenção governamental voltada a criança e ao adolescente, podendo citar
o 1º Código de Menores em 10 de dezembro de 1927, em que, determina que agora a idade
mínima para responder pelos delitos era de 18 anos, como também, foi uma lei de avanços na
proteção social a esse público e determinou que crianças e adolescentes frequentassem escolas,
tal qual, as instituições como internatos se responsabilizassem pelos menores infratores e aban-
donados.
O panorama social, nesse período, ainda estava sobre os resquícios do período escravo-
crata, bem como, a sociedade brasileira vivia a intensificação da industrialização, e foi justa-
mente nessa época que ocorreu a tentativa do governo de embranquecer a população, mediante
a vinda dos trabalhadores imigrantes da Europa, alegando que estes trariam um trabalho mais
qualificado e uma cultura civilizatória, uma forma de reforçar o racismo estrutural brasileiro, e
paralelo a isso, com o aumento do êxodo rural de trabalhadores, principalmente vindos do Nor-
deste, que viam na metrópole uma forma de garantir uma melhor qualidade de vida, as cidades
cresciam sem que houvesse uma estrutura urbana e habitacional.
Nesse contexto, formam-se os cortiços e favelas brasileiras, de forma desorganizada e
com a ausência de um planejamento governamental que pudesse garantir boas condições de
moradia e políticas públicas que trouxessem uma qualidade de vida mais digna aos cidadãos
vulneráveis, que além de sofrerem com inúmeras mazelas sociais, eram estigmatizados pela
perspectiva da marginalização as crianças e adolescentes negros, que se encontravam desassis-
tidos perante as ações do Estado, que continuavam voltando à atenção para ações repressivas
contra estes indivíduos, sendo tal época responsável pela rotulação do termo “menor”, refe-
rindo-se as crianças de rua e sem estrutura familiar, os “desajustados”. Dessa maneira, percebe-
se que as edificações das favelas brasileiras serviram para reforçar uma segregação que já fazia
parte da sociedade e que se tornava ainda mais evidente.
O desenvolvimento das cidades [...] apresenta seu lado perverso e seu crescimento
acabou proporcionando um visível aumento da pobreza. As crianças eram as que mais
sofriam, pois as que não eram abandonadas nas rodas andavam maltrapilhas e desam-
paradas sem ter destino certo. Teve início a chamada “questão do menor”, uma vez
que a criança abandonada nas ruas poderia representar um constante perigo para a
sociedade, pois estava sujeita à delinquência e aos vícios, havendo, portanto, à exi-
gência de políticas públicas renovadas. (MARCÍLIO, 1998 apud RIZZINI, 2008, p.
106)
A conjuntura política da época adentrava a Era Getúlio Vargas, marcada pelo avanço da
industrialização, mediante o desenvolvimento de novas fábricas, que consequentemente fazia
crescer a classe proletária, composta por trabalhadores que atuavam nessas empresas capitalis-
tas e careciam de direitos sociais e trabalhistas, fazendo emergir uma intensificação na luta de
classes através de greves e manifestações sociais que exigiam melhores condições de trabalho.
“Na Era Vargas, o controle dos menores de idade das pessoas em situação de rua, das
prostitutas e dos vadios torna-se a principal atividade da política de segurança pública, ao
mesmo tempo que a repressão a esses grupos permanece na cultura policial.” (CAMPOS &
SILVA, 2018, p.217)
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O Estado responde a tais ações por uma mudança na postura interventiva, deixando de
tratar as expressões da questão social como caso somente da polícia, mas também de política,
ampliando políticas sociais, mas que permaneciam de caráter controlador e assistencialista, ali-
ados ao viés do conservadorismo religioso.
Destarte, espera-se que políticas sociais voltadas às crianças e os adolescentes também
sejam centralizadas por um viés filantrópico, visto que, os estigmas relacionados a este público
continuavam a perdurar pelos princípios da culpabilização do indivíduo, como também, perma-
necia a marginalização dos meninos de rua, relacionando-os aos desajustes familiares.
Para o Estado, reforçar as práticas da caridade era essencial para a perpetuação da po-
pularidade e ideologia Varguista, sendo assim, são criadas associações de caridade que acom-
panhavam as crianças nos primeiros anos de vida, instituições essas regidas pelas damas de
caridade, que geralmente eram as esposas dos políticos, filiadas a entidades religiosas e que
traziam a perspectiva de direito como caridade, cabendo reforçar que a gênese do Serviço Social
brasileiro surge nessa conjuntura de controle social e práticas conservadoras.
2.1.1 Direitos das Crianças e dos Adolescentes nos anos de 1930 a 1964
O início da década de 1930 foi essencial para o avanço de algumas políticas sociais e
trabalhistas que acabavam por gerar um maior poder de compra a população, que consequente-
mente beneficiava a economia, principalmente com a promulgação de legislações que preser-
vavam os direitos dos trabalhadores, que se tornavam prioridade governamental, desse modo,
entende-se que o conceito de cidadania no Brasil centralizava na figura do trabalhador de car-
teira assinada, ideais pautadas na meritocracia que fortalecia a perspectiva de marginalizados
daqueles que não possuíam um emprego formal, sendo assim, as mudanças legislativas privile-
giavam uma parte da população.
Dentre outras mudanças no campo jurídico da época, podemos citar o Código Eleitoral
em 1932 ao qual buscava impedir práticas do voto de cabresto, através do voto secreto, como
também inseria o direito da mulher ao voto. 1
Além disso, em 1932, ocorreu o novo Código Penal que fortalecia a ideia de que os
adolescentes até os 14 anos não podiam responder por crime penal, como também haveria por
1
Voto de cabresto: Sistema de controle político caracterizado pelo abuso de poder, pelo uso da máquina pública
para favorecer candidatos que compram votos ou usam de influência para intimidar eleitores; tem sua origem no
coronelismo: os coronéis latifundiários dominam suas cidades e regiões por meio do voto de cabresto. (VOTO DE
CABRESTO, 2021) Fonte: 7 graus, 2021. Disponível: </https://www.dicio.com.br/voto-de-cabresto/>. Acesso
em: 11/06/2021.
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A implantação do SAM tem mais a ver com a questão da ordem social que da assis-
tência propriamente dita. [...] Vinculada ao Ministério da justiça e do juizado de me-
nores, tem como competência orientar e fiscalizar educandários particulares, investi-
gar os menores para fins de internação e ajustamento social, proceder ao exame mé-
dico-psicopedagógico, abrigar e distribuir os menores pelos estabelecimentos, promo-
ver a colocação dos menores, incentivar a iniciativa particular de assistência a meno-
res e estudar as causas do abandono (FALEIROS, 2009 apud COSTA, 2012, p.5).
instituições que lidavam com tais vulneráveis. A redução das políticas sociais intensificava as
violações de direitos e mazelas sociais desse público, em 1 de dezembro de 1964, através da
Lei 4.513 é criado o FUNABEM( Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), iniciando um
tratamento ao menor por um viés de ordem nacional, que posteriormente iriam centralizar em
ordem estaduais, por meio da criação das Febems (Fundação Estadual para o Bem-Estar do
Menor), reforçando a problemática da criança e do adolescente a um viés policialesco, com
inúmeros casos de repressão, torturas e mortes.
estabelecimentos oficiais para crianças de 7 a 14 anos e no que diz respeito ao trabalho infantil
a única alteração referia-se a proibição do trabalho noturno e insalubre para menores de 18 anos,
enquanto a idade mínima para qualquer trabalho retrocedeu em um nível absurdo reduzindo de
14 para 12 anos de idade mínima.
Nesse mesmo período, temos a Lei n° 6.667, de outubro de 1979, ocasionando o 2°
Código de Menores de 1979 ainda apresentando um caráter punitivo já que esse é uma revisão
do primeiro código de menores em 1927, portanto, o documento permanecia seguindo a mesma
lógica punitiva e filantrópica, além disso, o Estado passou a ter uma participação maior nas
ações voltadas para infância e juventude. Uma delas fazia referência as medidas de prevenção
através das criações de centros especializados para o atendimento desses públicos, como consta
no Art. 9º desse mesmo código:
Assim, para aqueles que cometiam algum ato infracional ou eram abandonados e
consequentemente se encontravam em situação de rua, as internações ocorriam através das
FEBEMS, não como um meio de prevenção, mas de limpeza social como o “menor
abandonado” que não tinha a sua condição de pessoa em desenvolvimento levada em
consideração e nem mesmo existia uma separação do jovem abandonado daqueles sujeitos
maiores de idade que cometeram um ato infracional, ou seja, muitos jovens dividiam o mesmo
espaço com adultos que cometiam crimes mais graves.
Outro fator que perpetuava era o da divisão de classe social que transparecia um peso
maior para crianças pobres e negras visto que, a sociedade automaticamente já consideravam
que esses indivíduos poderiam possuir potencial para serem futuros criminosos, isto significa,
que ocorria um pré-julgamento e uma descriminação a respeito dessa população infanto-juvenil
não ofertando possibilidades de mudanças nesse paradigma social já que se perpetuava um
pensamento desdenhoso que levava a descrença da capacidade desses sujeitos de obterem uma
vida considerada digna para sociedade.
Podemos analisar que a lei n° 6.667/79 tinha como objetivo lidar com os casos de
abandonos daquela época, bem como com as práticas de infração penal cometido pelas crianças
e adolescentes, além disso também lidava com os desvios de condutas e a falta de assistência
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ou representação legal por parte desse público, mas nunca em uma perspectiva crítica, e sim,
reacionária sempre pensada no controle social através da punição e da repreensão.
Segundo Esteves (2016), a Lei 6697/79 deveria formular uma nova estratégia de
enfrentamento das ações evolutivas cometidas por adolescentes infratores em uma lógica de
prevenção, como registrado no seu Parágrafo Único do Art.1. Todavia, por seu conjunto de
fatores possui uma ideologia filantrópica e as suas ações não passavam de atividades de
isolamento dos adolescentes acarretando sua exclusão social.
Dessa forma, o 2° Código de menores abrange a sua estrutura, organização e ação
socioeducativa, porém, suas práticas de enfretamento não eram totalmente efetivas, devido ao
fato de ser, uma revisão do 1°código, ainda assim, as problemáticas envolvendo as crianças e
adolescentes deveriam possuir uma participação do Estado. Esta lei consistia-se em um
instrumento que visava o controle social da criança e do adolescente vítima de situação de
vulnerabilidade, abandono, exclusão social, omissão da família, da sociedade e do próprio
Estado ao que se refere aos direitos básicos.
teríamos o que seria o principal marco legal e de extrema importância para a garantia e
efetivação de direitos dos brasileiros a Constituição Federal de 1988, sendo um documento
que, tornou-se fundamental para a busca de um país mais igualitários e para o reconhecimento
da cidadania principalmente de crianças e adolescentes no nosso país.
O Brasil no seu processo de discursões em ampliar direitos e buscar efetivar a cidadania,
fez com que a nossa atual Constituição Federal, dispõe de diversos artigos que tratam sobre a
importância de garantir e efetivar os direitos básicos fundamentais inerentes a pessoa humana
incluindo o público infanto-juvenil estes que receberam o reconhecimento de pessoas em
condição peculiar de desenvolvimento.
É, através da Constituição de 1988 que temos garantido por leis os mais diversos
avanços e conquistas para a amenização da desigualdade social, por não fazer distinção classe
social, gênero, etnia e raça deixando explicitamente registrado que todos são iguais perante a
lei.
A sua promulgação direciona uma visão crítica a respeito das mazelas que fazem parte
da nossa sociedade, mostrou-se a necessidade de trazer uma melhor qualidade de vida a
população, visando a igualdade de direitos, a ampliação de políticas públicas e na distribuição
de renda e da criação de um Estado que não incentivasse os direitos individuais e não
naturalizasse as desigualdades sociais presentes no país, mas sim, ser democrático na busca da
efetividade dos direitos sociais, civis, humanos e da mesma maneiras das políticas públicas.
O processo de redemocratização dos anos 80 proporcionou um novo olhar para infância
e adolescência no Brasil, já que antes não eram vistos como cidadãos de direitos principalmente
aqueles julgados por um viés marginalizantes em uma justificativa pautada de desvio de caráter
por estar associada a cor e classe, acarretando a exclusão social e um tratamento desumano e
com estratégias que não visavam uma ressocialização desse público, reforçando ações inefici-
entes que não atendiam problemáticas em sua totalidade. Esse contexto exige intermédio dos
movimentos sociais para que tais situações de vulnerabilidade e desigualdade com a infância e
juventude tenham visibilidade e ações protetivas além de reconhecê-los como seres políticos
que careciam de atenção e intervenção diante da sua condição social.
Assim, o modelo de proteção integral de crianças e adolescentes que estão em situação
de vulnerabilidade social começa quando se reconhece as falhas existentes nos sistemas anteri-
ores e se analisa as necessidades de desestigmatizar os estereótipos apontados para esse público
e nas dissociações das práticas assistencialistas, paternalistas e caritativas que eram adotadas
na intervenção do Estado.
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atendimento que não sejam medidas paliativas, mas que sejam para o bem-estar e o crescimento
social e pessoal das crianças e dos adolescentes. Devido a lógica neoliberal ainda se encontram
desafios na prática e na sua efetivação tornando-se muitas vezes um contexto complexo.
Porém, mesmo diante desse cenário neoliberal que tende a enfraquecer as políticas so-
ciais e a negar direitos, não podemos deixar de comemorar os avanços conquistados na base
doutrinaria do Estatuto da Criança e do Adolescente que trouxeram mudanças que nem de longe
se parecem como os objetivos que eram abordados nos Códigos de Menores, que possuíam
medidas judiciais abordadas em situações irregulares ou de desvio de caráter e aplicavam pu-
nições severas como forma de educar.
Enquanto o ECA, parte do aspecto de proteção integral, uma lei que assegura direitos
para todas as crianças e adolescentes sem discriminação de qualquer tipo, são sujeitos e pessoas
em condição peculiar de desenvolvimento.
A concepção política não é mais de controle social da infância e da adolescência da
omissão e transgressão da família, da sociedade e do Estado em seus direitos básicos, ela passa
a ser instrumento de desenvolvimento social que é voltado para o conjunto da população in-
fanto-juvenil do país, garantindo proteção especial para aqueles que se encontram em risco
social e pessoal. Suas ações garantem direitos pessoais e sociais por meio da criação de opor-
tunidades e facilidades que permitem o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e so-
cial em condições de liberdade e dignidade, desassociando das antigas práticas preventivas e
terapêuticas que nada ajudava na qualidade de vida.
O ECA, como um instrumento de transformação para crianças e adolescentes, busca de
forma igualitária o fortalecimento de uma rede de proteção que detêm de uma visão social da
infância e adolescência que legitima as especificidades da criança e do adolescente como pes-
soas em condição peculiar de desenvolvimento e possuindo direito a proteção especial ade-
quando-se a sua condição etária.
estão em situação de vulnerabilidade social. É nesta lei que as crianças e adolescentes tem o
intermédio nas situações de violação de direitos garantindo a proteção nos casos de abuso,
abandono, exploração sexual, trabalho infantil, maus-tratos, negligência, discriminação e todas
as situações ao qual estejam em risco ou que o risco já foi instalado.
Para averiguar os cumprimentos dos direitos e as sanções as violações dos mesmos, o
ECA dispõe dos mecanismos de fiscalização que preveem as possibilidades de fiscalizar as
entidades governamentais e não governamentais, bem como, as medidas aplicáveis em casos
de descumprimentos por parte deles, prever as sanções administrativas e penais por ofensas aos
direitos assegurados à criança e aos adolescentes de não oferecimento ou a sua oferta irregular.
Consta nesses direitos o ensino obrigatório, o atendimento educacional especializado
para crianças e adolescentes com deficiência, o atendimento em creches e pré-escolas às
crianças de 0 a 6 de idade, dispõe também do ensino noturno regular adequado às condições do
educando, e o acesso as ações e serviços de saúde, escolarização e profissionalização dos
adolescentes privados de liberdade.
Outro avanço é no que diz respeito ao trabalho, a constituição cidadã de 1988, em seu
art. 7º, inciso XXXIII, fala sobre a proibição de qualquer tipo de trabalho de menores dezesseis
anos, exceto aqueles que estão em condição de aprendiz a partir de quatorze anos. Atualmente,
temos programas de aprendizagens voltados para os jovens, sendo um deles, o jovem aprendiz,
que possui uma legislação específica para regulamentar a sua profissão, estando
resguardada quanto os seus direitos trabalhistas específicos, assim como qualquer outro
trabalhador.
Sem dúvidas, uma das conquistas de direitos para o crescimento e desenvolvimento da
população infanto-juvenil foi o direito a educação, começando pelo âmbito da educação infantil.
Uma das primeiras etapas para o direcionamento da educação básica que se inicia desde a
infância. Sua organização é fundamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) em1996, formulada com bases nos princípios da Constituição de 88. A educação
também está presente no ECA como um dos direitos fundamentais para crianças e adolescentes
e para sua formação enquanto sujeito político de direito e reafirmação da cidadania.
Logo, para fortificar a proteção de crianças e adolescentes e assegurar os seus direitos,
dispomos de um sistema conhecido como Sistema de Garantia de Direitos (SGDCA), surgindo
em 2006, sendo um instrumento que corrobora com o Estatuto da Criança e do Adolescente por
meio de um trabalho em rede e a sua articulação ocorre entre as famílias, sociedade e o Poder
Público, operacionalizando nos direitos da criança e dos adolescentes através dos mecanismo
que compõem os eixos para a proteção integral dos direitos infanto-juvenil. Sua composição é
34
dada pelos mecanismos de defesa, promoção de direitos e controle social que tem como
competência a efetivação dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais. Mediante
a atuação desses eixos poderemos analisar, avaliar e cobrar as ações e medidas que devem ser
tomadas para garantir a efetivação de direitos e serviços para atendimento do público infanto-
juvenil.
É de competência da Defesa de Direitos empregar ações que visem não somente
proteger, mas traçar soluções diante das constantes ameaças ou violações de direitos, no que se
refere ao eixo de Promoção dos Direitos. É de responsabilidade do mesmo o desenvolvimento
de políticas de atendimento a direitos das crianças e dos adolescentes de forma transversal e
intersetorial, abrangendo tanto as políticas públicas como as sociais. Além de executar medidas
socioeducativas, os responsáveis por esse eixo, os órgãos públicos que são encarregados pela
Constituição Federal, têm como objetivo desenvolver programas e políticas sociais que sejam
de forma descentralizadas, havendo também a participação popular para uma melhor construção
de dispositivos e análise das necessidades básicas de crianças e adolescentes.
vulnerabilidade e sofrem com a precarização e defasagens dos serviços públicos e sociais que
são ofertados para essa população.
De acordo com Farinelli & Pierini (2016), para muitos daqueles atores e operadores do
Sistema de Garantia de Direitos das Crianças e dos Adolescente - SGDCA, a efetivação dos
direitos para a população infanto-juvenil, ainda possui alguns obstáculos, os princípios
constitucionais e legais, denotam o direito como algo que seria irreal e até mesmo inatingível
para nossa sociedade, tornando-se uma verdadeira utopia. É interessante contestar essa
concepção a respeito da SGDCA, ao passo que, uma utopia não se faz no direito, mas no
exercício dele, portanto, uma legislação sozinha não é o suficiente, precisa estar inserida em
um processo de avanços culturais, econômicos, sociais que consistira em uma luta diante de
retrocessos e de adesões e resistências.
Logo, a rede de proteção que deveria propor uma estrutura de garantia de direitos e uma
política de atendimento de forma articulada e intersetorial para efetivação de direitos encontram
dificuldades na oferta de serviços que acabam por serem limitados e muitas vezes tornam os
operadores desse sistema de proteção, que deveriam serem proativos e dinâmicos, em meros
executores em decorrência de um sistema neoliberal que minimiza condutas transformadoras e
emancipadoras. Consequentemente, afeta as ações intersetoriais que sofrem com as propostas
de uma ação focalizada e imediatista reduzindo a atuação do Estado e transformando a
elaboração e implementação de políticas públicas que deveriam ser emancipatórias e inclusivas
em centralizadas.
Percebe-se, que o enfrentamento dessas lacunas só é possível quando a proteção integral
para as crianças e adolescentes é pensada de forma coletiva, compartilhada e colaborativa entre
os três eixos que compõe o nosso sistema e quando estes se desprendem das amarras do
conservadorismo, uma herança deixada pelos antigos modelos de proteção, que não buscava
entender a realidade social. Portanto, para quebrar com essa antiga linha de pensamento é
preciso aspirar dentro das atuações profissionais e institucionais em uma busca de garantia
direitos que sejam realmente de forma igualitária e na perspectiva da equidade para que assim
aconteça um fortalecendo nas lutas pela democratização e emancipação social.
o governador Rui Costa determina o Decreto n° 19.529 em 16 de março de 2020, em que regu-
lamenta a tomada de medidas temporárias para enfrentamento do coronavírus, mediante a situ-
ação de emergência na saúde pública de caráter internacional, trazendo em seu art.3º acerca de
medidas que deveriam ser adotadas, a exemplo de isolamento, quarentena, realização de testes
médicos e laboratoriais, investigação epidemiológica, através dos boletins diários de casos e
etc.
Com o avanço da pandemia para as cidades do interior do estado, bem como, na capital
baiana, foram determinados decretos que buscaram intensificar o isolamento social e diminuir
a curva de contaminação da doença, sendo assim, regulamenta-se o Decreto n° 19.722 de 22 de
maio de 2020, ao qual, buscava antecipar os feriados estaduais e regionais. É interessante men-
cionar a importância do monitoramento no processo de combate a pandemia da Covid-19, al-
guns decretos eram alterados de acordo com o aumento ou diminuição dos casos nas cidades
do estado da Bahia.
Os impactos causados pelo vírus em um contexto no qual a desigualdade, violação de
direitos e exclusão social faz parte do cenário brasileiro demonstrou que o coronavírus vai além
de uma questão meramente biológica, é também uma questão social e como tal, deve ser estu-
dada como um processo biológico e social. Portanto, afeta todos os segmentos sociais que faz
parte da nossa sociedade, dessa forma, o que seria somente uma crise de saúde e sanitária se
torna também economia e política.
Diante disso, nos questionamos: Como está o funcionamento e o atendimento das insti-
tuições responsáveis? Como o isolamento está impactando na vida dessas crianças e adoles-
cente, principalmente naquelas que vivem na margem da pobreza? Como os eixos de defesa,
promoção e controle está atuando perante as demandas?
Obviamente, a pandemia tornou tudo mais complexo, se antes existia uma fragilização
bastante presente na articulação de rede, podemos observar e nos questionar como o Estado está
reagindo a esse cenário até porque estamos vivendo um colapso não somente de saúde e sani-
tário, mas político e econômico.
Desde o início da pandemia o atual presidente do Brasil Jair Bolsonaro, mostrou um
misto de desinformação e negacionismo em relação a Covid-19, realizando ações contrárias as
exigidas e orientadas pela Organização Mundial de Saúde. É notório a má gestão do governo e
a existência de uma inação e falta de uma Política Nacional para o controle do avanço do coro-
navírus e o resultado do agravamento da pandemia são as mais de mil mortes que são noticiadas
diariamente, os números exorbitantes de pessoas que são contagiadas dia após dia. Muitas des-
sas pessoas precisam ser hospitalizadas e não encontram vagas nos hospitais devido a
38
superlotação das unidades de saúde, e claro sem contar os inúmeros casos de óbitos que não
são notificados, temos um acesso limitado aos serviços de saúde. Enquanto outros países avan-
çam nas estratégias para impedir e combater a disseminação do vírus, Bolsonaro insiste em
discursos negacionistas, não somente do próprio vírus, mas da ciência e das pesquisas ao indicar
medicamentos que são comprovadamente ineficazes, a exemplo da cloroquina.
As dezenas de pessoas mortas pela covid-19 são noticiadas diariamente nas mais diver-
sas redes sociais, portais de notícias e mídias televisivas. O governo segue sendo responsável
pelo agravamento da pandemia da covid-19, fome, pobreza e da morte de muitos indivíduos
que estão sendo bombardeados pela crise que desde sempre atinge a classes minoritárias.
Esse contexto pandêmico atingiu de uma forma tão cruel e violenta a vida da população
vulnerável que sentem na pele a cada dia os impactos de um governo reacionário e conservador,
que retira os direitos de tantos indivíduos e famílias, oferecendo como alternativa de sobrevi-
vência nada além de práticas clientelistas e assistencialistas para suprir o mínimo do mínimo as
necessidades básicas da população.
Com as diversas falhas e erros cometidos durante a pandemia e diversos discursos con-
tra as medidas de isolamento, o nosso Governo Federal torna-se um governo omisso, homicida
e genocida por barrar toda e qualquer ação a favor de controlar a Covid-19, acelerando o con-
tágio e a morte de muitas pessoas. Nas declarações do Presidente da República existe um estí-
mulo e incentivo ao ódio dos direitos sociais e humanos. Em suas falas oferece curas com me-
dicamentos que não tem eficácia, recusa-se a comprar vacinas desprezando a ciência e não ofe-
recendo nenhuma estratégia nacional, apenas dão respostas insuficientes que em nada auxilia
no controle da propagação do vírus, sua política contrária incentiva a população a se
39
Até o momento desta pesquisa 04/05/2021, o Brasil possuía um total de 411.854 óbitos
desde o início da pandemia:
O Brasil registrou 3.025 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas e totalizou nesta terça-feira
(4) 411.854 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos
7 dias chegou a 2.361. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de -15%, indi-
cando tendência de estabilidade nos óbitos decorrentes do vírus. (G1, 2021)
Todos os dias ocorrem mais de duas mil mortes, número este que vão se superando a
cada dia, e se as subnotificações fossem contabilizadas, teríamos um número muito maior, que
não devem ser naturalizados, mas constantemente lembrados como vidas humanas e não deve-
mos esquecer que estas pessoas possuíam famílias, sonhos, objetivos e um futuro pela frente
que infelizmente, foram drasticamente interrompidos pela doença.
Se no início da pandemia não existia um imunizante adequado para a doença, no final
do ano de 2020, o mundo começou a criar esperanças com as possibilidades de vacinas que
respondiam positivamente aos testes clínicos contra o covid-19. No Brasil, ao final de janeiro
de 2021, uma vacina demonstrava indícios de eficácia contra o vírus, a CoronaVac, vacina de-
senvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan,
em São Paulo.
Em 2021 a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da vacina contra a
covid-19, sendo necessário depois tomar uma segunda dose para atingir a eficácia prometida e
determinada pelos estudos comprovados pelos testes, uma vez que, as respostas clínicas foram
mais eficientes com aplicação de uma dose extra. Em outros países também começaram o plano
de vacinação, mesmo existindo outras vacinas desenvolvidas contra o coronavírus, as únicas
disponíveis no Brasil até o momento desta pesquisa é a CoronaVac e AstraZeneca
40
Essas informações além de equivocadas são perigosas por ocasionar pânico, insegurança
e receio da população. O Presidente recusa-se a aceitar estratégias mais eficientes no combate
ao vírus, mas continua a defender assiduamente o uso da hidroxicloroquina como tratamento
precoce além de outras medicações que também já foram cientificamente comprovadas não
possuírem eficácia contra a doença.
A imprudência das ações de Bolsonaro e sua equipe, bem como, as suas estratégias bol-
sonaristas, motivadas por uma onda conservadora nos levar a refletir a respeito de quantas mor-
tes poderiam ser evitadas e quantas vidas poderiam ser salvas, quantas pessoas teriam direito a
uma mais morte digna. Essas ações aniquiladoras do presidente na gestão da pandemia violam
não somente o direito a saúde, mas também é uma violação do direito à vida da população
brasileira ao se negar investir em equipamentos necessários para salvar a população contami-
nada como a não realização de compras de oxigênios2, tendo em vista que, diversos Estados
sofrem com a falta dele, além da falta de leito devido as superlotações de unidades3. Bolsonaro
e alguns dos seus apoiadores não seguem as medidas corretas e não proporciona o incentivo a
ciência, pesquisa, fabricação e compra das vacinas, não criam estratégias que visem atender e
investir nas desigualdades e medidas de enfrentamento a pobreza.
Com isso, analisamos que nosso atual governo está impactando não somente no piora-
mento da pandemia, mas também invadindo da forma mais perversa e nociva possível a vida
de todos os brasileiros e principalmente daqueles que já fazem parte da segregação e das maze-
las sociais que já são existentes e latentes no nosso país.
É importante salientar que todas essas ações fazem com que a pandemia se perdure por
muito mais tempo, levando a uma permanência do agravamento dos mais diversos cenários de
violações de direitos, especialmente os das crianças e dos adolescentes, que tornam-se invisibi-
lizadas nesse cenário pandêmico, pois, se uma das medidas de segurança é o isolamento, não
podemos esquecer que os casos de violências acontecem também por membros da família, por-
tanto, essas crianças e adolescentes estarão enclausuradas com seus agressores e abusadores.
Nesse contexto, as escolas e a comunidade teriam um papel fundamental para denunci-
arem essas situações, mas com o fechamento das escolas a situação se torna ainda mais com-
plexa, pois os casos de violência doméstica, abuso e exploração sexual de menores passa a
aumentar, assim, torna-se o papel da sociedade necessária para que ocorra as denúncias e que
os casos possam ser levados para os serviços de proteção.
2
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a afirmar que o governo federal não tem nenhuma responsabi-
lidade sobre a falta de oxigênio que matou pacientes com covid-19 em hospitais públicos de Manaus. (CATRACA
LIVRE, 2021) Fonte: CATRACA LIVRE. Bolsonaro diz que falta oxigênio em Manaus não é problema do
governo. 2021. Disponível em: <https://catracalivre.com.br/cidadania/bolsonaro-diz-que-falta-de-oxigenio-em-
manaus-nao-e-problema-do-governo/>. Acesso em: 11/06/2021
3
Três dias foi a média de espera por vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para 1.240 pessoas que morreram na fila
com suspeita ou confirmação para Covid-19 no Pará, entre 1º janeiro e 26 de abril de 2021. (G1, 2021). Fonte: G1. Pacientes
com sintomas de Covid-19 que morreram na fila para UTI esperaram, em média, 3 dias por leito no Pará.
2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2021/06/08/tempo-medio-de-espera-por-uti-para-mortos-com-
suspeita-ou-confirmacao-e-de-3-dias-no-pa.ghtml>. Acesso em: 11/06/2021
42
A violação de direitos das crianças e dos adolescentes não tem uma classe social, isso
porque, todos estão sujeitos e expostos aos fatores de risco como abuso sexual e exploração
sexual, gravidez na adolescência, uso abusivo de álcool e outras drogas. Porém, é notável que
a população infanto-juvenil pobre sofre com toda carga de violação de direitos, por já se encon-
trarem em uma situação de vulnerabilidade e risco social.
A desresponsabilização do Estado, a crescente desestruturação de programas sociais, o
acesso aos bens e serviços desses públicos, os deixam desassistidos, sem novas possibilidades
que possam ser a longo prazo efetivos para a promoção da saúde, recuperação e proteção do
público. Além disso, também tem a sobrecarrega dos profissionais, deixando que a responsabi-
lidade recaia somente para as famílias e as instituições da assistência social, além é claro, de
retroceder as práticas antigas voltadas ao assistencialismo e filantropia.
Se durante três meses da pandemia essa população está relativamente coberta pelo
auxílio emergencial, o período pós-pandemia suscita preocupação porque, segundo
previsões de mercado, a crise econômica deve perdurar para muito além do prazo do
recebimento do auxílio emergencial e muitas mães e pais responsáveis por domicílios
não terão como arcar com as despesas básicas das crianças e dos adolescentes sob
suas responsabilidades. Então, é fundamental pensar em medidas de proteção com
período mais alargado para essa população até que as condições sanitárias e econômi-
cas se normalizem. Sob a responsabilidade dessa população encontram-se cerca de 30
milhões de crianças e adolescentes dependentes do rendimento de terceiros para so-
breviverem. (IPEA,2020, p.10)
vacinação das crianças e dos adolescentes como está programando pelo Programa Nacional de
Imunização/MS; o funcionamento e o fortalecimento dos conselhos tutelares, Ministério Pú-
blico, varas da justiça da infância e da adolescência, além do canal de denúncias como o Disque
100 e os serviços ofertados pelo Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescentes.
Uma alternativa é o cumprimento das orientações da Recomendação Conjunta-01-20-
MC, do Conselho Nacional de Justiça, juntamente com o Conselho Nacional do Ministério Pú-
blico, o Ministério da Cidadania e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
que reafirma as medidas de atendimento para as crianças e adolescentes que estão e são acolhi-
das pelas instituições de abrigo durante esse período de pandemia, entre outras.
Portanto, é importante pensar nos impactos sociais causados pela pandemia como tam-
bém para o mundo pós-pandemia, traçar estratégias que sejam imediatas e a longo prazo, arti-
cular com movimentos sociais e populares, informar aos poderes públicos, capacitar profissio-
nais a respeito não somente das suas atribuições. Mas, sobre todo o sistema de rede que faz
parte do Sistema de Garantia de Direitos para realizar encaminhamentos de demandas de acordo
com as problemáticas para que não ocorra uma sobrecarga para um único órgão causando uma
acumulação de demandas.
Assim, garantindo e efetivando os direitos desse público que requer um olhar mais
atento e crítico de nossos governantes, principalmente no que se refere criação de projetos,
programas e políticas públicas de atendimento para crianças e adolescentes, ainda mais em um
contexto de pandemia, pois, acabam por serem esquecidos e negligenciados pelo nosso Estado 4.
4
Levantamento da Secretaria Municipal de Saúde mostrou que em 2020 houve 1.494 notificações de violência
contra crianças com idade entre 0 e 9 anos e, em 2021, até o início de maio, foram 410 casos. As meninas são os
principais alvos (58,3%) e do total de vítimas, 66% são pretos e pardos. A imensa maioria desses atos acontecem
dentro de casa: 72%. (JORNAL DA UPS, 2021) Fonte: JORNAL DA UPS. Pandemia aumentou em 50% denún-
cias de violência contra crianças e adolescentes, 2021 Disponível em: https://prefeitura.rio/assistencia-social-di-
reitos-humanos/pandemia-aumentou-em-50-denuncias-de-violencia-contra-criancas-e-adolescentes/. Acesso em:
11/06/2021.
Na análise do presidente do Departamento Científico de Segurança da SBP, embora não haja ainda estatísticas
oficiais, “seguramente” o número de violência contra crianças e jovens cresceu durante a pandemia de covid-19.
Marco Gama observou que a criança poderia pedir socorro a um vizinho, à professora ou a um colega na escola, a
um padrinho com quem tenha proximidade afetiva. Mas, com o isolamento social imposto pela pandemia, a criança
que sofre maus-tratos está limitada ou presa no ambiente domiciliar. (AGÊNCIA BRASIL, 2021) Fonte:
AGÊNICIA BRASIL. Agressões contra crianças aumentaram na pandemia, 2021. Disponível em: https://agenci-
abrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2021-04/agressoes-contra-criancas-aumentaram-na-pandemia-diz-
especialista. Acesso em: 11/06/2021.
44
Em suma, a composição desse sistema visa uma articulação entre sociedade e governos
que buscam traçar estratégias e ações voltadas para a população infanto-juvenil, que são os
sujeitos protagonistas para a criação dessa rede de proteção. Assim, esse trabalho em rede dia-
loga com os municípios, judiciário, política de assistência, centro de educação e com a comu-
nidade local, logo, realizando um diálogo que inicia no cenário local até o âmbito nacional.
46
É de extrema relevância que ocorra um diálogo entre a rede, pois, é através dos encami-
nhamentos dos casos, as discussões a respeito das problemáticas com os profissionais respon-
sáveis e a troca de saberes que teremos resultados nos casos no atendimento e no acolhimento
das demandas referente a violação de direito. Assim, não pode de forma alguma ocorrer uma
ação isolada e fragmentada, pois, além de agravar a situação da violência e vulnerabilidade
social não está representando a verdadeira articulação de rede que é o combate a violação de
direito das crianças e dos adolescentes.
em que são acionadas as áreas de atuação jurídica, social e psicológica, almejando a saúde física
e mental das crianças e adolescentes. A busca pela participação da sociedade civil também é
um dos pontos primordiais do SGDCA almejando que os cidadãos busquem sua autonomia e
empoderamento através de sua participação social e política.
Os desafios ao SGDCA fazem parte de algo já intrínseco na sociedade brasileira, claro
que não podemos deixar de frisar novamente a atual situação da pandemia da Covid 19, a qual
ocasiona no agravamento da violência e pobreza e, por conseguinte das violações de direitos as
crianças e adolescentes. É preciso pontuar que a corrupção e burocracia cultural do Brasil pre-
judica que tais instituições que necessitam do repasse do Estado para que funcionem de maneira
efetiva acabam prejudicando a sua eficácia, através de ações de desvios governamentais, reba-
tendo também na problemática de ter que superar a cultura do clientelismo em relação às polí-
ticas sociais, um enorme desafio na atualidade.
Tudo isso vai de encontro a mais uma problemática brasileira que prejudica que o
SGDCA atinja a meta de seus três eixos, que é a ineficácia em trazer a autonomia e empodera-
mento dos sujeitos sociais. As ações de controle social muitas vezes são de caráter pontual, não
sendo um trabalho contínuo com as famílias vulneráveis que acabam por atingir as crianças e
adolescentes. Fortalece no Brasil a perspectiva fatalista de aceitação e comodismo da realidade
desigual em que encontram muitas intervenções que fazem parte de profissionais que desenvol-
vem trabalhos pontuais, que não vão além da problemática, sendo essencial haver uma mobili-
zação da comunidade, que por não conhecer os seus direitos, se encontram à mercê de práticas
voltadas a caridade através de políticos que só almejam sua popularidade.
Os estigmas de caráter fiscalizatório e punitivo do SGDCA ainda se apresentam como
um desafio, e tais preconceitos partem muitas vezes dos próprios profissionais das instituições
que fazem parte desse sistema, pois estes, adotam uma postura conservadora por meio de prá-
ticas e discursos de preconceito que marginalizam as crianças e adolescentes que se encontram
em situação de vulnerabilidade social. Podemos citar como exemplo, os adolescentes que cum-
prem medidas socioeducativas, preciso haver tanto uma superação das atividades pontuais, que
muitas vezes servem apenas para cumprir as horas destinadas ao cumprimento das medidas,
como também os estigmas que lhes são dados diariamente sejam pela sociedade ou profissio-
nais, sendo ambos responsáveis, juntamente com o Estado, pela busca de garantir as crianças e
adolescente uma qualidade de vida digna e igualitária.
51
Toda essa negligência acaba colocando em risco não somente o desenvolvimento in-
fanto-juvenil, como também a forma como tais indivíduos irão se relacionar socialmente. Tais
negligências tendem a impactar não somente as próprias crianças e adolescentes, mas uma so-
ciedade como um todo, pois garantir cidadania e dignidade a todos os cidadãos, começando
desde a fase da infância é o passo primordial para que se possa pensar em um futuro mais
igualitário e com mais oportunidades de crescimento pessoal e econômico.
Apesar dos avanços e da ampliação de programas de proteção social, vinculados aos
sistemas de proteção das crianças e dos adolescentes, bem como, a ampliação de projetos, dis-
cussões e campanhas que visam fortalecer o público infanto-juvenil, juntamente as suas famí-
lias. No cotidiano ainda são alarmantes os casos de violações de direitos às crianças e aos ado-
lescentes, que põem em risco não somente o seu crescimento enquanto cidadão, mas até mesmo
a sua própria vida, visto que, a ausência do cumprimento dos direitos a esse público pode levar
a perca precoce desses jovens, que necessitam desse aparato social para que desenvolvam uma
trajetória de vida que satisfaça a suas necessidades e lhe dê segurança para buscar adquirir suas
aspirações enquanto ser social.
condições em que estes podem ser realizados perante toda a sociedade. A incorpora-
ção dos instrumentos de proteção contra a exploração do trabalho infantil pode ofere-
cer mudanças importantes, produzindo uma nova cultura de eliminação do trabalho
precoce, e consequentemente de proteção aos direitos humanos no Brasil, mas se faz
necessária a efetiva participação popular na fiscalização, execução e controle das po-
líticas públicas realizadas pelo estado, para que se possa assim efetivar todos os direi-
tos das crianças e adolescentes. (PAGANINI, 2011, p.10)
A contemplação dos direitos inerentes as crianças e adolescentes são a base para a mi-
nimização de suas mazelas sociais, e compreender toda essa conjuntura nos faz entender a im-
portância de uma estrutura organizacional no que diz respeito ao Sistema de Proteção Social
que se apresenta em todo o território nacional, nas esferas municipais, regionais e federais.
Sendo assim, os impactos sociais da violação de direitos as crianças e adolescentes se apresen-
tam como uma problemática macrossocial, que se inicia em um pequeno município brasileiro,
mas que no âmbito federativo se apresenta como uma verdadeira “bola de neve”.
É importante frisar que toda uma sociedade é afetada quando suas crianças e adolescen-
tes sofrem inúmeras negligências, seja nas variadas políticas. É notório que se uma criança não
tem acesso à educação de qualidade, saúde, lazer, proteção etc. todo esse sistema organizacional
será afetado, não somente na vida desses cidadãos, mas no próprio país, o crescimento social e
econômico se dá mediante a concessão de tais direitos aos seus indivíduos. Se os direitos são
garantidos e as famílias possuem uma qualidade de vida instável, seja emocionalmente e finan-
ceiramente, a tendência é que toda essa sociedade saia ganhando tanto em questões de desen-
volvimento humano como econômico, ou seja através do aumento do poder de compra de uma
família que possui oportunidades justas de trabalho ou pela ampliação de políticas públicas as
pessoas vulneráveis.
Sendo assim, os impactos sociais referentes à violação dos direitos das crianças e dos
adolescentes são de caráter nacional. É preciso compreender essa realidade por um olhar crítico
diante das ações familiares, societárias e políticas. Entender que a ausência de uma garantia e
proteção por parte destes acarretará um futuro com crianças e adolescentes que carecem de uma
educação com qualidade, além de possíveis situações de trabalho infantil, escassez de
54
Ao longo da história, a família sempre foi o centro das relações sociais e vem evoluindo
de acordo as necessidades humanas e sua relação com a natureza, bem como, possuem suas
complexidades e semelhanças, desenvolvendo uma cultura familiar que varia de acordo com
suas relações internas, externas, saberes, práticas, dentre outras ações que influenciam no cres-
cimento pessoal dos componentes de sua família, gerando não apenas um ganho de conheci-
mento, mas também uma infinita troca de experiências que acarretará em um sentimento de
pertencimento.
Simionato e Oliveira (2003) explanam que a família passa por influências nos variados
aspectos, sendo eles, culturais, sociais, políticos e econômicos que terminam por acarretar mu-
danças no que se refere aos papéis e relações no interior dessa família, modificando a estrutura,
quando se trata da questão da composição familiar. Apesar disso, a família possui uma grande
capacidade de adaptação às novas exigências desse meio, assim, tem conseguido resistir a in-
tensas crises sociais, além de que, a família continua sendo a matriz mais importante para o
crescimento humano, bem como, a fundamental fonte de saúde dos seus componentes.
Destarte, essas relações intrafamiliares são pautadas no equilíbrio entre harmonias e
conflitos, tal qual, são carregadas de estigmas, principalmente quando falamos da relação entre
pais e filhos. Visto que a sociedade e até mesmo o Estado tendem a responsabilizar apenas os
pais como os únicos que devem prover todas as formas de subsistência a seus filhos, sendo que
55
essa autonomia paternal não é suficiente para que essa criança e adolescente detenha todos os
meios de possuir uma qualidade de vida digna para seu desenvolvimento humano.
Esses estigmas sociais direcionados aos pais, ao que se refere à forma como estes irão
criar os seus filhos, fazem parte de uma cultura conservadora do meio social e ela pode acarretar
em uma visão de que tanto a sociedade como o Estado podem se omitir do seu papel de proteção
social a esse público vulnerável, bem como, existe também a cultura de que a punição dada aos
filhos é uma forma de “educar”, assim naturalizam a violência dada às crianças e adolescentes,
deixando-os negligentes, sem segurança emocional e física. Desse modo, a família perde a fun-
ção de acolhimento e passa a existir um sentimento de manipulação afetiva e violência familiar,
não existindo uma tomada de estratégias educacionais que façam com que esse público cresça
tendo valores, limites e educação, mas sem o uso da agressão e punição.
Não é fácil romper com estigmas sociais que já estão impregnados há séculos na socie-
dade. Trabalhar as relações familiares é adentrar em um contexto muito mais amplo e sócio-
histórico, é compreender que a família necessita compartilhar as suas responsabilidades perante
suas crianças e adolescentes com o Estado e a sociedade civil, é entender que a família também
possui suas fragilidades internas. Óbvio que isso não pode ser usado como justificativa para
possíveis violações de direitos que esses venham a cometer contra seus filhos, mas é necessário
debater que a negligência e violência trazem consequências que podem perdurar por toda uma
vida. Sendo assim, é preciso voltar nossas atenções ao público infanto-juvenil buscando mini-
mizar suas mazelas sociais.
A grosso modo, a Constituição de 1988 assegura ao povo brasileiro onze direitos so-
ciais: educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência
social, proteção à maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados, além de
cinco direitos individuais e coletivos: à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade (artigos 5º e 6º). Particularmente à criança e ao adolescente são acrescen-
tados outros seis direitos aos descritos anteriormente: à cultura, à profissionalização,
à dignidade, ao respeito, à convivência familiar e à convivência comunitária (artigo
227). (MOREIRA & SALLES, 2015,p.2)
acabam por não promover uma universalização de direitos e não possuindo um repasse de re-
cursos suficientes para o desenvolvimento de mais projetos e programas que contribuam para
que o Estado tenha a efetiva responsabilidade, visto que, ao oferecer as políticas assistenciais e
as práticas jurídicas para as resolução dos conflitos em nossa sociedade, também de garantir
uma melhor qualidade de vida para a população infanto-juvenil.
Destarte, a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescentes
possuem furos na sua estrutural e composição jurídica, que podem da margem para que essas
brechas sejam usadas pelo sistema capitalista e assim manter o controle do aparato ideológico
no Estado enfraquecendo e causando oscilação na oferta dos seus serviços e na garantia de
direitos. Um exemplo disso são as medidas socioeducativas que tem como objetivo fazer com
que o adolescente se torne responsável pelo ato infracional cometido e trazendo um contexto
de reinserção social e familiar. Ou seja, procura alternativas para que esses indivíduos não vol-
tem a entrarem novamente em conflito com a lei, mas ao mesmo tempo que oferta as condições
necessárias para sua reinserção ele não prepara a sociedade para a inclusão dessa população,
dificultando que encontrem empregos, estudo, uma boa convivência social e familiar e acabam
sofrendo uma maior exclusão da sociedade.
Frente a essa discussão, para que exista uma efetivação da proteção integral de crianças
e adolescente, primeiramente precisamos reconhecer e entender o funcionamento de uma lógica
neoliberal que direciona as ações e serviços para uma perspectiva de uma ideologia que incen-
tiva a alienação, senso comum, a privatização e contrarreformas presentes em nossos sistemas
que obviamente impacta e dificulta a acessibilidade dessa população aos serviços e políticas
que lhe são de direitos.
Portanto, compreende-se que as crianças e adolescente estão em uma condição de de-
senvolvimento e que existem diversos fatores que os colocam em situação de vulnerabilidade,
violência, risco social e pessoal, de preconceito e discriminação que devem ser pensadas dentro
da realidade do meio social ao qual estão inseridos.
As estratégias de enfrentamento às vulnerabilidades na infância e na adolescência
consiste na atuação do Estado como símbolo de garantia e efetivação da proteção integral
através dos órgãos protetores, como o Conselho Tutelar e a Assistência Social, responsáveis
por atuarem diretamente nas demandas que envolvem os casos de ameaça e violação de direito.
O Conselho Tutelar tem características próprias por ser uma entidade pública que não
integra o Poder Judiciário, se diferencia dos outros Conselhos existentes no Brasil. Por essa
diferença peculiar, além de ser caracterizado por estar sujeito e subordinando ao ordenamento
jurídico do País, suas decisões são pautadas na autonomia de realizar e executar medidas que
julguem necessárias e cabíveis para suas demandas, mas desde que estejam dentro de sua legi-
timidade e suas atribuições legalmente definidas pelo ECA e correspondentes a Lei Municipal.
lesados; atendimento à criança autora de ato infracional; atendimento aos pais ou res-
ponsável; promover a execução de suas decisões; e a execução de medida de proteção
ao adolescente infrator (PASE, et al., 2020, p.6)
Como o Conselho Tutelar trabalha voltado para área da proteção e defesa dos direitos
da infância e juventude, tem como principal dever zelar pelo cumprimento dos deveres e direi-
tos dessa população, prestando e atuando no atendimento assistencial do direito da criança e do
adolescente e na fiscalização de políticas públicas. Ou seja, é um mediador e fiscalizador dos
direitos e das políticas públicas, além, de promover a aproximação da sociedade do Estado.
Sua intermediação consiste em ser uma conexão com todos aqueles órgãos que incor-
pora a rede de proteção de direitos, como um órgão intermediador suas ações na rede está na
política de assistência social, na consolidação dos direitos fundamentais da criança e do adoles-
cente, na política de saúde, na área de política de educação com seu trabalho nas escolas ao
encaminhar denúncias sobre violações de direitos, ainda mais no que se refere a garantia da
criança e do adolescente ao direito da educação.
Além de mediar entre as famílias, responsáveis e a escola para solucionar e propor
estratégias nas problemáticas relacionada ao público infanto-juvenil, dentro e fora do ambiente
escolar, o seu papel enquanto órgão mediador e fiscalizador é de atuar juntamente com o Mi-
nistério Público e a Justiça Estadual, tendo assim, competência para trabalhar em conjunto com
os órgãos jurisdicionados, para prevenção de violações de direitos quanto para o encaminha-
mento de situações de caráter de providências judiciais quando trata-se de situações que fogem
de suas competências. Logo, o Conselho tutelar é um importantíssimo órgão para a proteção
integral do direito das crianças e dos adolescentes e para a viabilização de acesso as políticas
públicas. Sua articulação com a sociedade e Estado é um fator importante, pois, fortalece o
funcionamento da composição de rede de proteção de crianças e adolescentes.
Portanto, a função de um conselheiro tutelar deve ser de contribuir efetivamente para
que esse público tenha acesso aos seus direitos. Além de proporcionar o acesso as políticas
públicas, deve também zelar pela proteção desses direitos realizando a fiscalização adequada
dos outros órgãos, não podendo agir ou atuar com base em valores e crenças pessoais ou mani-
festar interesses individuais em seu processo de trabalho, como também não deve manifestar
os interesses de políticos para visibilidade política do município. Uma vez que, por não propor-
cionar um atendimento qualificado ainda prejudica o bom funcionamento da rede.
Um profissional que atua de forma inadequada pode acabar por não viabilizar os direi-
tos corretamente, deixando com que aquela criança ou adolescente permaneça desprotegido e,
para além disso, é importante também que o profissional esteja preparado para as situações
62
dentro do seu espaço de trabalho, pois, infelizmente precisam lidar com os entraves da falta de
serviços que não são disponibilizados pelo município e até mesmo a falta de atuação do Estado,
tornando algumas estratégias inadequadas e insuficiente. E é nesse sentido que o profissional
precisa estar preparado e capacitado para traçar e sugerir novas possibilidade de estratégias para
efetivar a garantia de direitos diante de um cenário de retrocessos.
Ao que se refere a atuação da Assistência Social, é importante salientar que seu exercício
é atrelado a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), a Norma Operacional Básica do
Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), definida pela Constituição Federal de 1988
como uma política pública de direito e não contributiva, assim, passando a compor o Sistema
de Seguridade Social, ao lado também das políticas da Saúde e da Previdência Social, portanto,
constituindo-se em “Política de Proteção Social”.
Como política de proteção, significa que é de quem dela necessitar, ou seja, as crianças
e adolescentes também são sujeitos de intervenção da assistência social. Além disso, está dentro
do campo da rede de proteção do Sistema de Garantia de Direitos, fortalecendo a
universalização dos acessos de direitos e na responsabilidade estatal, sendo estruturada com
outras políticas que fazem parte da promoção e garantia da cidadania, dentro de um sistema de
proteção social.
Suas proteções sociais básicas consistem em prevenir as situações que possam
prejudicar veículos sociais que será por meio do Centro de Referência da Assistência Social
(CRAS) e na proteção especial de média complexidade, Centro de Referência Especializado
da Assistência Social que trata-se do (CREAS) como fortalecimento dos vínculos familiares ou
comunitários, e a alta complexidade, quando os vínculos familiares ou comunitários já estão
completamente rompidos e os usuários necessitam de um novo convívio social como os abrigos
institucionais.
63
A atenção na Proteção Social Especial tem como objetivo principal contribuir para a
prevenção de agravamentos e potencialização de recursos para o enfrentamento de
situações que envolvam risco pessoal e social, violência, fragilização e rompimento
de vínculos familiares, comunitários e/ou sociais. Nesse sentido, algumas situações
podem ser aqui elencadas: violência física, psicológica e negligência; abandono; vio-
lência sexual; situação de rua; trabalho infantil; cumprimento de medidas socioedu-
cativas em meio aberto; afastamento do convívio familiar, dentre outras. (BRASIL,
2011, p.7)
No início do ano de 2021, o Brasil acompanhou o caso do garoto de 11 anos que foi
encontrado preso dentro de um tambor ao qual já havia um mês que este se encontrava em tal
localidade. O pai, a madrasta, juntamente com a filha dela, foram presos, acusados de maus
tratos e alegaram que colocaram a criança no tambor, pois este apresentava comportamento
agressivo, além de fugir de casa.
O estado de saúde do garoto quando foi encontrado era muito delicado, apresentando
sinais de desnutrição e desidratação. A família do garoto apresenta histórico de uso de álcool e
drogas, além de violência, já que era de conhecimento dos vizinhos e do próprio conselho tutelar
que a criança era vítima de violência.
O Conselho Tutelar relatou que já havia feito o acompanhamento de denúncias destina-
das ao garoto há mais ou menos um ano antes do ocorrido. E, de acordo com um dos conselhei-
ros tutelares vai haver uma apuração para detectar possíveis falhas da equipe, bem como contou
que o garoto também era acompanhado pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), mas que
foi constatado pelos profissionais que havia apenas situações que direcionavam para uma média
complexidade, como briga familiar, mas nada que apontasse para maus tratos e tortura.
Após ser resgatado, o garoto ficou internado e logo depois transferido para uma insti-
tuição de apoio à criança e adolescente que foi abandonado ou que os responsáveis não possuem
condições de cuidá-lo, a exemplo de pobreza e violência, a “Casa Lar”, local responsável por
garantir acolhimento e proteção de forma temporária, enquanto as crianças e adolescentes não
são adotadas para possuírem uma vida mais digna.
• Caso Henry
Em março de 2021, o Brasil assiste a mais um caso que tomou todas as manchetes do
país, ao qual traz o assassinato de uma criança de apenas quatro anos de idade. A mãe, a pro-
fessora Monique Medeiros; e o padrasto, o médico e vereador Dr. Jairinho, foram presos acu-
sados pela morte do menino. No início das investigações, ambos alegaram que o menino havia
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sofrido um acidente doméstico que teria culminado na morte da criança, que depois de consta-
tada, foi iniciado por parte do casal tentativas de esconder as agressões, mediante o impedi-
mento que o corpo do menino passasse por uma necropsia e fosse encaminhado para o Instituto
Médico Legal - IML, mas a própria equipe hospitalar recomendou ao pai da vítima que reali-
zasse o estudo e procurasse autoridades policiais.
Após laudos, colhimento de dados que analisaram, mensagem via redes sociais e demais
provas técnicas, foram constatados as agressões e violências que não foram somente físicas,
mas também psicológicas. Com isso, a versão de que teria sido um acidente doméstico foi anu-
lada. Os primeiros depoimentos do casal eram de concordância, ambos relataram os aconteci-
mentos de forma semelhante. Os relatos do pai do Henry mostram que o menino se sentia des-
confortável quando sabia que iria ter que voltar ao apartamento onde a sua genitora morava,
tanto que chorava muito ao ponto de se sentir mal e vomitar.
Com o avanço nas investigações, outras pessoas foram sendo ouvidas, sendo algumas
fundamentais para o desenvolvimento do caso, a exemplo da babá Thayná, que de início relatou
trabalhar para uma família sem conflitos e bastante harmônica, mas logo depois os policiais ao
terem acesso às conversas entre a babá e a mãe de Henry, comprovaram que houve ocultação
de informações, já que nos diálogos ela relata para Monique que o padrasto havia agredido o
garoto, sendo assim, comprova que a mãe de Henry tinha conhecimento das agressões.
Depois de um mês de investigações, a mãe Monique e o vereador Jairinho foram presos,
outras acusações contra o padrasto foram identificadas, como agressão a mulheres e crianças.
As evidências de que a genitora de Henry foi ao salão de cabeleireiro dois dias depois de sepul-
tar o filho intensificaram a revolta da sociedade, além do testemunho da cabeleireira de que no
mês de fevereiro houve uma discussão entre o casal por meio de vídeo chamada em que o
menino relata ter apanhado de Jairinho, a mãe afirmava que o filho não a atrapalhava.
No final de abril de 2021, Monique muda seu depoimento mediante a escrita de uma
carta, alegando ter sofrido agressões de Jairinho e que mentiu nos relatos anteriores por se sentir
ameaçada, mas que tinha conhecimento das agressões que o seu filho sofria de seu marido. Até
o dado momento dessa pesquisa caso continua em aberto, podendo haver mudanças que modi-
fiquem a narrativa.
violência sofrida pela criança na cidade de Palmdale, Los Angeles, Estados Unidos, em 2013.
O caso demonstra a negligência sofrida pela criança não somente por parte da família, mas das
instituições que deveriam resguardá-lo, tanto que quatro assistentes sociais do Conselho Tutelar
foram acusados de alterar informações dos relatórios das visitas domiciliares realizadas na casa
do menino, alegando que não havia indícios de negligência, mesmo o menino apresentando
marcas de violência no corpo e a professora dele tendo entrado em contato com o Conselho
Tutelar do condado de Los Angeles, alertando sobre as agressões que o menino vinha sofrendo,
relatadas pelo próprio a sua educadora.
A morte do Gabriel evidencia o quanto os sistemas de proteção social foram falhos na
intervenção do caso do menino, mesmo havendo a articulação entre as redes da política de
assistência social e educação. Através do encaminhamento da rede escolar, os profissionais
omitiram informações e não realizaram o devido acompanhamento da criança, algo que poderia
ter evitado a morte do garoto. Tal falha aconteceu desde o momento da decisão de guarda do
menino, até porque, ao nascer, a mãe o deixou no hospital para que a família o criasse, e anos
depois ela decide ter a guarda do menino apenas com o intuito de receber benefícios sociais,
sendo assim, os órgãos e profissionais responsáveis pelo processo de guarda não levaram em
consideração questões afetivas na decisão de sua tutela, não houve uma análise por uma pers-
pectiva de vínculos familiares.
Após o contato dos assistentes sociais do Conselho Tutelar com a família do Gabriel,
ocorriam entrevistas e visitas domiciliares, mas nada era feito além de construção de relatórios
em que diziam não observar algo que presumisse a retirada da guarda, não havendo uma averi-
guação ou encaminhamento a equipamentos que pudessem fortalecer possíveis vínculos rom-
pidos da família. Ocorreram até situações em que a polícia visitou a casa do menino, mediante
o esforço da professora em auxiliá-lo, denunciando a situação aos policiais, mas nada foi feito.
E toda essa ausência de decisões e ações de proteção a vida do infante, culminou na morte do
Gabriel, que antes de morrer, sofreu inúmeras violências, físicas, morais, verbais e psicológicas,
sendo importante frisar que esse caso foi analisado por um viés homofóbico, já que a mãe e
padrasto do menino o agrediam muitas vezes, alegando que o garoto seria homossexual.
O caso da menina Isabella Nardoni marcou o país no ano de 2008. O pai, Alexandre
Nardoni; e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram os responsáveis pela morte da garota de
apenas cinco anos de idade. Ela foi arremessada pela janela do prédio onde o casal residia.
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Ambos alegaram nos primeiros relatos que uma possível terceira pessoa que havia entrado no
apartamento e teria jogado a menina pela sacada do prédio, mas após estudos dos legistas por
meio da análise de câmeras que fizeram a reconstituição do percurso do casal até o momento
que chegaram ao apartamento, deixam claro que não havia mais ninguém na residência além
do casal, Isabella e seus dois meios irmãos.
Com o avanço nas investigações do caso, foram constatados que Isabella antes de ser
jogada pela janela foi agredida e asfixiada. Na época, os jornais televisivos deram bastante
notoriedade ao caso, tornando-o como um dos mais famosos do país até hoje, por meio de co-
berturas exclusivas, entrevistas do casal ao programa televisivo “fantástico” e demais noticiá-
rios diários que sempre atualizavam a história que causou grande comoção nacional.
O promotor do caso, Excelentíssimo Sr. Francisco Cembranelli, também ganhou a mídia
na época do caso, por suas falas pertinentes e incisivas que nunca duvidava da participação do
casal no assassinato da menina. O casal foi condenado por meio de um júri popular e foi aguar-
dado por todo o Brasil, ambos foram sentenciados há quase 30 anos de prisão, até hoje o caso
ainda é muito relembrado e sempre acaba voltando a discussões quando ocorrem casos seme-
lhantes de violência e morte de crianças e adolescentes.
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3 PROJETO APLICÁVEL
3.2 APRESENTAÇÃO
[...] o foco que se privilegia neste trabalho é mais amplo e implicitamente congrega a
intersetorialidade em rede, onde a criança e o adolescente sejam efetivamente sujeitos
de direitos e de atenção prioritária. Quando nos voltamos para um segmento específico
da população e, neste caso, para a criança e para o adolescente, ao mencionarmos a
rede atribuímos, explicitamente, valor de intersetorialidade com ações desenvolvidas
em rede, vinculadas e interdependentes, ou seja, ações interligadas. (MONFREDINI
2013, p.106)
As motivações que nos conduziram na escolha desse projeto têm relação com as fragi-
lidades e desafios da intersetorialidade no SGDCA, as quais rebatem na proteção integral das
crianças e dos adolescentes e afetam a viabilização de direitos dessa população, por meio das
práticas conservadoras que afligem a articulação e integração de todas essas instâncias. Além
disso, muitos operadores do sistema não possuem uma capacidade técnica ampliada para atuar
com esse público de modo que trabalhem dentro de ações socioeducativa e que promovam a
cidadania.
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Esse projeto é de extrema relevância por tratar a problemática pela raiz, uma vez que a
intersetorialidade é a base da rede de todo o sistema de garantias de direitos. Se as instituições
trabalharem dentro dessa perspectiva de trabalho conjunto pautada em ações que direcionem
em uma visão de práticas ampliadas que são direcionadas ao atendimento e acolhimento do
público infanto-juvenil poderá proporcionar mudanças positivas nas condutas protetivas que
abarcam os três eixos que compõem o SGDCA.
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3.1 OBJETIVOS
• Trabalhar com os profissionais do SGDCA com o viés das formas de intervir com o
público infanto-juvenil partindo de uma perspectiva educativa e protetiva;
• Incentivar a comunidade a serem sujeitos ativos garantia da proteção integral dos direi-
tos da criança e do adolescente.
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3.2 METODOLOGIA
de capacitação. Se a equipe for grande, terá que ser feito um rodízio de pessoas ou uma modi-
ficação no cronograma.
Os conteúdos presentes no curso serão elaborados por duas profissionais da área de Ser-
viço Social que possuem capacidade teórico-metodológico, ético-político, técnico-operativo,
bem como desenvolveram a sua monografia voltada para temática do sistema de garantia de
direitos da criança e dos adolescentes com vista a abordar as fragilidades, potencialidades e
desafios existentes na rede de proteção integral do público infanto-juvenil. Para isso, foi desen-
volvido estudos bibliográficos voltados para temática supracitada.
CONTEÚDO DO CURSO
▪ Compreender o SGDCA e a importância do trabalho em rede;
▪ Trabalhar os 3 eixos:
➢ Promoção
➢ Defesa
➢ Controle
▪ Avaliação
73
3.3 RECURSOS
HUMANOS –
MATERIAIS –
NOTEBOOK 2
IMPRESSORA 1
MESA 2
CADEIRA 2
CELULAR 2
FINANCEIROS –
1 DATA SHOW R$ 675,00
1 TELA DE PROJEÇÃO R$ 469,00
1 PACOTE SULFITE A4 500F R$ 23,50
2 Câmera DSLR Canon R$ 5.300
2 Microfone R$ 448,00
2 Rebatedor R$ 146,98
2 Softbox R$ 396,36
2 Tripé R$ 327,8
TOTAL R$ 7.786,64
74
3.4 CRONOGRAMA
CONTEÚDOS DO CURSO
▪ Compreender o SGDCA e a importância do ✓ Origem do SGDCA;
trabalho em rede; ✓ Trabalho em rede;
✓ Fragilidades;
✓ Potencialidades;
✓ Desafios;
✓ Espaço para tirar dúvidas.
▪ Trabalhar os 3 eixos ✓ Funcionalidade de cada eixo;
➢ Promoção ✓ Trabalhar a interlocução desses
➢ Defesa três eixos;
➢ Controle ✓ Meios de evitar a focalização de
apenas um eixo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ESTADÃO SAÚDE SUMMIT. Coronavírus: remédios sem eficácia comprovada devem ser
banidos, 2021. Disponível em: <https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/coro-
navirus-remedios-sem-eficacia-comprovada-devem-ser-banidos/>. Acesso em: 11 de jun.
2021.
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lescente. Trabalho de Conclusão de Curso em Bacharelado Interdisciplinar em Ciências
77
Humanas - Universidade Federal De Juiz De Fora Instituto De Ciências Humanas, 2016. Dis-
ponível em: <Microsoft Word - DAVI DE ALMEIDA ESTEVES.doc (ufjf.br)>.
JUNQUEIRA, Diego. Sem tomar vacina, Bolsonaro boicota plano do governo de combate
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LOPES, Jacqueline Paulino; FERREIRA, Larissa Monforte. Breve histórico dos direitos das
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2010. Disponível em: <Breve histórico dos direitos das crianças e dos adolescentes e as inova-
ções do Estatuto da Criança e do Adolescente – lei 12.010/09 | Lopes | Revista do Curso de
Direito (metodista.br) >. Acesso em: 19 abril. 2021.
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adolescentes no contexto da pandemia da Covid-19: consequências e medidas necessárias
para o enfrentamento / Nota Técnica - 2020 - maio - Número 70 (Disoc): Proteção de crianças
e adolescentes no contexto da pandemia da Covid-19: consequências e medidas necessárias
para o enfrentamento. Brasília; IPEA; 20200500. 15 p. ilus. (Nota Técnica / IPEA. Disoc, 70).
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